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Full text of "Historia e memorias"

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THE  ROYAL  CANADIAN  INSTITUTE 


THE  ROYAL  CANAD1AN  INSTITUTE 


HISTÓRIA  E  MEMÓRIAS 


ACIDOU  MS  SCIÍHCIAS  M  LISBOA 


HISTÓRIA  E  MEMÓIUAS 


UUI 


i  ms  mias  m  lis 


NOVA     S  ER]  E 
2.»  CLASSE 


MORAIS  E  POLITICAS,  E  BELAS  LETRAS 

TOMO  XII,  PARTE  II 


[1910  191G| 


LISBOA 

1910 


607- 
/£.<>-■  S~íT 


ÍNDICE 


HISTORIA 

Piginai 
Teixeira  de  Queiroz  —  Alocução  proferida  na  sessão  solene  da  Academia  das  Scién- 

cias  de  Lisboa  em  7  de  Dezembro  de  1913 ....  i 

Pina  Vidal  —  Relatório  dos  trabalhos,  lido  na  sessão  solene  da  Academia  das  Seiên- 

Lisboa  em  7  de  Dezembro  de  1913  ...           m 

Programa  da  Academia  das  Sei"'iicias  de  Lisboa  para  o  ano  de  1914,  anunciado  na  ses- 
são solene  de  7  de  Dezembro  de  1913 w\i 

Lista  d  is  sócios  da  Acade  ai  i  das  Sciências  de  Lisboa  em  27  de  Setembro  de  1913   .    .  x\w 

Lis   í  dos  empregados  da  Academia  das  Seiíncias  de  Lisboa  em  Dezembro  de  1913    .    .  xlviii 

Teixeira  de  Queiroz  —  Elogio  histórico  de  José  de  Sousa  Monteiro 99 

Rodolfo  Guimarães  —  Biografia  de  Francisco  Gomes  Teixeira 119 

Júlio  Dantas  — Elogio  de  Raimundo  António  de  Bulhão  Pato 435 


MEMORIAS 

Sousa  Viterbo  —  Notícia  acerca  da  vida  e  obras  de  João  Pinto  Delgado 1 

Edgar  Prestage  — Cartas  de  D.  Francisco  Manuel  de  Melo  escritas  a  António  Luís  de 

Azevedo 37 

Sousa  Viterbo  — A  literatura  espanhola  em  Portugal 131 


ALOCUÇÃO 


Presidente  da  Academia  FRANCISCO  TEIXEIRA  DE  QUEIROZ 

!M  SESSÃO  SOLESE  DE  7  DE  DEZBIBRO  DE  Í913 

REALIZADA  PARA  ENALTECER  A  MEMÓRIA 

MIMIDO  DE  BOLHÃO  PATO  E  A  DE  JOSÉ  DE  SOOSA  MONTEIRO 


A  Academia  das  Sciências  de  Lisboa  abre  hoje  ;is  portas  do  seu  templo 
para  celebrar  duas  memórias  queridas  nesta  casa.  O  nosso  instituto  precei- 
lua-nos  que  só  as  sciências  e  ;i  arte  pnra  de  escrever  e  bem  falar  nos  devem 

merecer  culto,  e  aqueles  a  quem  vamos  endereçar  as  nossas  homenagens  ca- 
nharam esse  galardão,  por  mais  de  um  titulo,  pois  foram  intemeratos  obreiros 
da  poesia  portuguesa  e  da  sua  lingua  forte,  na  qual  assenta  o  nosso  maior 
titulo  de  nobreza  e  é  a  nossa  carta  de  alforria.  Esta  secular  instituição  segue, 
ou  melhor,  acompanha  as  brilhantes  tradições  das  suas  irmãs  na  Europa,  de- 
fendendo o  pensamento  humano  na  sua  liberdade,  não  reconhecendo  como 
fronteiras,  que  se  lhe  devam  assinar,  senão  as  que  o  patriotismo,  a  sã  razão 
e  bom  gosto  aconselham. 

Aqui  dentro  todos  temos  o  direito  de  exprimir  as  nossas  ideas  com  a 
isenção  e  a  coragem  que  só  à  verdade  se  reconhece.  Não  há,  entre  nós,  paixão 
que  não  seja  a  de  bem  servir  o  progresso,  no  mais  lato  sentido,  e  as  nossas 
únicas  aspirações  consistem  em  que  a  Pátria  Portuguesa  continue  a  florescer 
e  a  adiantar-se,  tendo  por  alicerce  a  virtude,  que,  no  conceito  de  Montesquieu, 
deve  ser  a  base  duma  verdadeira  democracia. 

A  festa  que  vamos  celebrar,  na  presença  dos  altos  poderes  da  República 
e  de  tantas  pessoas  ilustres,  é  das  mais  simpáticas  e  justificadas:  é  a  come 
moração  de  dois  dos  nossos  morins,  de  dois  bravos  companheiros  de  trabalho, 
que  bem  mereceram  a  honra  das  palmas  académicas.  Esses  de  quem  ouvireis 
os  elogios  históricos  engrandeceram  as  letras  pátrias  na  poesia,  na  história 
e  em  toda  a  literatura.  Tais  actos  são  os  definidores  da  sua  imortalidade,  pois 
neles  se  lhes  regista  a  memória  paia  que  tique  para  os  vindouros.   É,  do 


HISTÓRIA  DA  ACADEMIA  DAS  SC1ÊNC1AS  DE  LISBOA 


mesmo  passo,  uma  afirmação  da  solidariedade  humana,  um  mixlo  de  saudade 
e  respeitoso  carinho. 

Estas  memorações  dão  alento  aos  que  ficam,  pelo  louvor  tributado  aos 
que  partiram.  Yè-se  que  o  individuo  continua  a  viver  na  espécie  e  que  se  Dão 
interrompe  um  só  instante  a  corrente  da  vida  social.  Deste  modo,  a  fé  salutar 
nos  destinos  dos  povos  se  revigora,  a  força  de  adiantar  se  acrescenta,  o  cora- 
ção, cheio  de  esperança,  continua  a  impelir-nos  no  caminho  do  porvir  e  a 
estrada  dessa  miragem  feliz,  que  é  o  progresso,  ao  qual  ninguém  ainda  soube 
pôr  baliza,  parece  encurtar-se. 

Em  nome  da  Academia  das  Sciéncias  de  Lisboa  vos  saúdo,  Senhores, 
agradecendo  a  vossa  preciosa  assistência. 


RELATÓRIO  DOS  TRABALHOS 

LIDO  PELO  SECRETARIO  GERAL 

ADRIANO    AUGUSTO    DE    PINA    VIDAL 


Senhor  Presidente  : 

Minhas  Senhoras: 
Meus  Senhores : 

Cumprindo,  mais  uma  vez,  o  dever  que  me  é  imposto  pelo  nosso  Esta- 
tuiu, venho  relatar-vos  os  fados  mais  importantes  ocorridos  na  Academia 
desde  a  sessão  pública,  realizada  em  20  de  Junho  de  1909,  até  este  momento. 

Serei  quanto  possível  breve  para  não  fatigar  a  vossa  atenção,  que  mais 
útil  e  agradavelmente  deverá  ser  aplicada  escutando  os  primores  literários, 
tpie  vos  dirão  o  nosso  ilustre  presidente.  Sr.  Teixeira  de  Queiroz,  e  o  presti- 
gioso académico,  Sr.  Júlio  Dantas,  tam  versados  em  modelar  a  Idea  nesta 
nossa  incomparável  língua  portuguesa. 

Uesculpai-me,  porém,  Senhores,  se,  dilatando  o  âmbito  a  que  restrita- 
mente se  deveria  restringir  a  minha  exposição,  rapidamente  me  refira  a  factos 
que  poderosamente  exerceram  a  sua  influencia  na  actividade  scientifiea  dos 
nossos  dias,  c  a  que  a  nossa  Academia  não  ficou  indiferente. 


E  uma  característica  do  nosso  tempo  a  necessidade  que  irresistivelmente 
impele  o  homem  a  dilatar  a  vida,  pelo  espaço  e  pelo  tempo,  numa  ânsia  fe- 
bril de  os  abarcar;  dai  essa  carreira  vertiginosa  que  a  sciència  e  a  indústria, 
em  intima  aliança,  prosseguem  através  de  velhas  ideas  e  antigos  métodos, 
num  como  que  ímpeto  de  destruição  reconstrutiva,  procurando  aniquilar  a 
distância  e  estreitar  em  breve  espaço  os  dilatados  domínios  da  sciència. 

A  navegação  aérea,  a  telegrafia  sem  fios,  a  rádio-actividade,  provocada 
ou  espontânea,  são  verdadeiros  saltos  revolucionários  nesse  avanço  progres- 


IlISTiiHIA  HA  ACADEMIA 


sivo  da  plena  conquista  da  existência,  que  só  pode  realizar-se  na  inteira 
conjugação  desses  dois  mundos  que  se  defrontam  e  se  completam  —  o  mundo 
da  matéria  e  o  mundo  do  pensamento. 

Este  reiatório  vos  provará  (pie  tam  importantes  factos  scienlíficos  não 
deixaram  indiferente  esta  Academia. 


Realizou  a  Academia,  em  28  de  Março  de  i  1* IO,  uma  sessão  pública 
para  celebrar  o  centenário  do  nascimento  do  glorioso  historiador  Alexandre 
Herculano,  orando  os  Srs.  Veiga  Beirão,  então  vice-presidente  da  Academia, 
e  os  sócios  efectivos  Srs.  Teixeira  de  Queiroz,  Consiglieri  Pedroso  e  Cristóvão 
Aires. 

Em  9  de  Junho  de  1910  efectuou-se  uma  sessão  publica  em  homenagem 
ao  Rei  de  Inglaterra.  Eduardo  VII,  na  qual,  depois  de  breves  alocuções  do 
presidente  e  do  vice-presidente,  discursaram,  em  nome  da  Primeira  Classe,  o 
Sr.  Venceslau  de  Lima,  que  pôs  em  relevo  o  carácter  scientifico  duma  impor- 
tante parte  da  obra  do  Rei  Eduardo,  e,  em  nome  da  Segunda  Classe,  o  Sr. 
Cristóvão  Aires,  que  expôs  largamente  o  papel  civilizador  da  Inglaterra  na 
evolução  do  mundo  moderno,  consignando  a  natureza  não  só  politica,  mas 
scientíGca  e  literária  das  intimas  e  afectuosas  relações  de  Eduardo  VII  com 
a  Nação  Portuguesa. 

Em  sessões  públicas,  e  com  a  assistência  do  Chefe  do  Estado  e  do  Mi- 
nistro do  Interior,  reuniu  extraordinariamente  a  assemblea  geral  em  27  de 
Abril  do  ano  findo  e  em  20  de  Fevereiro  do  actual. 

Na  primeira  destas  sessões  realizou  o  Sr.  Lopes  de  Mendonça  uma 
conferência  sobre  a  Utilidade  da  Tradição,  na  qual  acentuou  bem  a  necessi 
dade  de  comemorar  de  forma  condigna  os  dois  centenários  da  tomada  de  Ceuta 
e  da  morte  de  Afonso  de  Albuquerque,  que  coincidem  em  1915. 

Na  segunda,  o  Sr.  Almeida  Lima  discursou  largamente  sobre  a  Telegrafia 
sem  fios,  tornando  bem  compreensíveis  os  fundamentos  de  tam  notável  e  im- 
portante aplicação  das  ondas  Hertzianas. 


Um  dos  assuntos  que  mais  intensamente  preocupou  a  Academia  foi  o  da 
transferência  da  sua  tipografia  para  a  Imprensa  Nacional,  bem  como  o  do 
serviço  e  estipêndio,  por  tarefas,  das  publicações  subsidiadas  pelo  Estado,  em 


DAS  SCIENCIAS  DE  LISBOA  y 

conformidade  com  os  decretos  do  Governo  Provisório,  publicados  no  Diário 
do  Governo  de  -i  de  Novembro  de  1910. 

Representou  desde  logo  a  Academia  perante  o  Governo  e  o  Parlamento, 
procurando  evidenciar  quanto  iam  injustificáveis  golpes  entravariam  a  sua 
actividade,  que  antes  conviria  por  lodos  os  modos  excitar,  visto  que  um  dos 
principais  títulos  de  glória  dos  homens,  como  dos  povos,  é  a  sua  superior 
mentalidade :  os  seus  esforços,  porém,  tem  sido,  até  hoje,  baldados,  sem  que, 
contudo,  desespere  de  ver  apreciados,  como  crê  de  justiça,  os  serviços  que 
tem  prestado  ao  pais,  documentados  por  obras  que  não  deixarão  esquecer 
o  seu  nome. 


Em  sessão  de  20  de  Junho  do  ano  findo  encetou  a  Academia  a  discussão 
do  projecto  de  novos  estatutos,  elaborado  por  uma  comissão  especial,  discus- 
são que  continuou  em  sucessivas  sessões  e  que  ainda  não  terminou. 

Devendo  proceder-se  à  eleição  dos  cargos  académicos  para  o  ano  cor- 
rente, na  primeira  sessão  do  mês  de  Dezembro  do  ano  findo,  e  tendo  a  mu- 
dança do  regime  político  em  Portugal  invalidado  completamente  o  artigo  13:° 
dos  actuais  estatutos,  que  se  refere  aqueles  cargos,  resolveu  a  Academia,  na 
sua  sessão  de  7  Novembro  do  ano  passado,  que  aquele  artigo  tosse  desde 
logo  substituído  pelo  artigo  8.°  do  projecto,  que  é  o  seguinte : 

Os  cargos  da  Academia  são : 

Um  presidente,  que  é  presidente  da  classe  a  que  pertence  ; 

Um  vice-presidente,  que  é  o  presidente  da  outra  classe; 

Um  secretário  geral,  que  é  secretário  da  classe  a  que  pertence: 

Um  vice  secretário  geral,  que  é  secretário  da  outra  classe; 

Um  vice-presidente  para  cada  classe; 

Um  vice-secretário  para  cada  classe; 

Um  inspector  da  biblioteca. 

§  l.°  0  presidente  e  vice-presidente  da  Academia  serão  anualmente  elei- 
tos pela  assemblea  geral,  devendo  pertencera  classes  diferentes,  e  assumindo 
cada  um  deles  a  presidência  da  sua  respectiva  classe. 

A  presidência  da  Academia  renovar-se  há  cada  ano  alternadamente  entre 
as  duas  classes. 

§  2.°  Os  cargos  de  secretário  geral  e  vice-secretário  geral  são  perpétuos 
e  providos  pela  assemblea  geral. 


HISTORIA   DA  ACADEMIA 


>  :!."  0  inspector  da  biblioteca  é  eleito  de  cinco  em  cinco  anos  pela 
assemblea  geral. 

§  4."  Os  cargos  de  vice-presidentes  e  viee-secretários  das  classes  são 
anualmente  providos  pela  respectiva  classe. 

Esta  substituição  foi  pedida  ao  Governo  em  ofício  de  8  de  Novembro  do 
ano  passado,  que  a  aprovou  por  decreto  de  9,  publicado  no  Diário  do  Go- 
verno u.°  267,  de  13  do  mesmo  mês. 

Procedendo-se  às  eleições  em  sessão  da  assemblea  geral  de  19  de  De- 
zembro, foi  eleito  presidente  para  o  actual  ano  o  Sr.  Francisco  Teixeira  de 
Queiroz,  e  vice-presidente  o  Sr.  José  Joaquim  da  Silva  Amado. 


A  sessão  da  Segunda  Classe  de  25  de  Novembro  de  1909  foi  consagrada 
à  memória  do  secretário  da  classe,  José  de  Sousa  Monteiro,  sobre  cujas  gran- 
des qualidades  de  escritor,  de  poeta  e  de  académico,  discursaram  largamente 
os  Srs.  Veiga  Beirão,  António  Cândido,  Lopes  de  Mendonça,  Teixeira  de 
Queiroz,  Consiglieri  Pedroso,  Cristóvão  Aires,  Júlio  Dantas,  Moreira  de  Al- 
meida, Vítor  Ribeiro  e  David  Lopes. 

Nas  sessões  da  Segunda  Classe  de  11  de  Janeiro  e  9  de  Fevereiro  de 
1911  prestaram  homenagem  devida  ao  nosso  chorado  consócio  Sousa  Viterbo 
os  Srs.  Lopes  de  Mendonça,  Vítor  Ribeiro,  Leite  de  Vasconcelos,  David  Lopes, 
Coelho  de  Carvalho,  Teixeira  de  Queiroz,  Cristóvão  Aires  e  Pedro  de  Aze- 
vedo, que  exalçaram  os  méritos  de  tam  ilustre  sócio,  como  poeta,  como 
jornalista  e  como  o  mais  incansável  e  inteligente  investigador  dos  nossos 
arquivos  e  bibliotecas,  que,  apesar  da  sua  cegueira,  não  diminuiu  até  o  lim 
da  sua  existência  o  seu  incessante  amor  pelo  trabalho,  auxiliado  pela  sua  co- 
laboradora, distinta  secretária  e  extremosíssima  filha,  a  Sr.'  D.  Sofia  de 
Sousa  Viterbo. 

A  sessão  da  Segunda  Classe  de  11  de  Janeiro  do  ano  passado  constitui 
uma  imponente  homenagem  ao  falecido  sócio  correspondente,  Gabriel  Vitor 
do  Monte  Pereira,  discursando  os  Srs.  Teixeira  de  Queiroz,  Brito  Aranha, 
Leite  de  Vasconcelos  e  Pedro  de  Azevedo  sobre  o  vastíssimo  e  valioso  tra- 
balho do  primeiro  dos  bibliógrafos  e  arqueólogos  portugueses,  a  quem  a  Bi- 
blioteca Nacional  deve  imensos  serviços. 


DAS  SC1ÊNCUS  DF.  l.ISliUA 


S3o  importantíssimos  e  de  alto  valor  scientifico  e  literário  os  trabalhos 
apresentados  e  as  comunicações  realizadas,  gUer  nas  sessões  gerais  da  Aca- 
demia, quer  nas  sessões  especiais  das  suas  duas  classes. 

Limitar-me  liei,  porém,  para  cumprir  o  dever  de  relator,  a  uma  simples 
indicação  desses  trabalhos,  que  se  encontram  desenvolvidamente  descritos  nas 
actas  e  boletins  já  publicados. 

O  Sr.  Silva  Amado,  vice-presidente  da  Academia,  em  várias  sessões  da 
assemblea  geral  e  da  Primeira  Classe,  expôs  o  resultado  dalgumas  autopsias 
e  exames  médico-legais  a  que  procedeu,  a  fim  de  avaliar  os  instrumentos 
com  que  foram  feitas  diversas  ofensas  corporais,  e  quanto  possível  a  intenção 
que  a  elas  presidiu. 

Expôs  minuciosamente  os  diversos  caracteres  das  feridas  chamadas  con- 
tusas,  incisivas,  perfurantes,  etc,  demonstrando  que  as  feridas  por  arma  de 
fogo  são  perfurantes  e  contundentes. 

O  Sr.  Almeida  Lima,  vice-presidente  da  Primeira  Classe,  em  sessão  da 
assemblea  geral  de  4  de  Novembro  de  1 909,  ofereceu  à  Academia  uma  memória 
do  Sr.  Baltasar  Wilhelm,  recentemente  publicada  na  Alemanha,  reivindicando 
para  Portugal,  na  pessoa  do  padre  Bartolomeu  de  Gusmão,  a  primazia  da 
navegação  aérea. 

A  este  respeito  o  Sr.  Cristóvão  Aires  apresentou,  em  sessão  de  20  de 
Janeiro  de  1910,  cópia  autêntica  dum  documento  manuscrito,  existente  na 
Biblioteca  de  Évora,  feita  pelo  nosso  consócio  Sr.  Cunha  Gonçalves,  resolvendo 
a  Academia  publicar  no  Boletim  da  Segunda  Classe  tam  importante  documento. 

Em  sessão  da  Primeira  Classe  de  1  de  Julho  de  1909,  o  Sr.  Almeida 
Lima  fez  uma  comunicação  sobre  a  produção  de  correntes  eléctricas,  por  pro- 
cessos diferentes  dos  actualmente  empregados  e  que  devem  produzir  correntes 
induzidas  continuas.  As  suas  tentativas,  até  então  sem  resultado,  visavam  a 
transformar  o  movimento  de  rotação  numa  corrente  eléctrica  contínua,  o  que 
ainda  não  foi  realizado;  pois  que  as  máquinas  chamadas  de  correntes  continuas 
fornecem,  na  realidade,  um  mixto  de  correntes  alternativas  de  fases  diversas. 

Em  sessão  de  17  de  Março  de  1910,  o  mesmo  académico  dissertou  lar 
gamente  sobre  a  influência  das  pequenas  causas  no  sentido  da  evolução  de 
determinados  fenómenos.  Em  apoio  desta  tese  citou,  no  mundo  físico,  a  in- 
candescência, que  resulta  da  transformação  do  calor  em  luz,  e  que  é  influen- 
ciada pela  presença  de  quantidades  quási  infinitésimas  de  certas  substâncias; 


HISTORIA   DA   ACADEMIA 


b  ;i  fosforescência,  que  se  observa  em  certos  corpos  quando  misturados  com 
pequeníssimas  quantidades  de  corpos  estranhos. 

Nos  fenómenos,  de  ordem  biológica  e  mesmo  psicológica  observam-se 
também  grandes  efeitos  de  pequenas  causas. 

Esta  ordem  de  considerações  levou  o  Sr.  Almeida  Lima  a  procurar  ave- 
riguar se  na  composição  dos  tecidos  vegetais  ou  animais  intervém  pequenas 
porções  de  determinadas  substâncias,  características  de  cada  espécie. 

Em  sessão  de  4  do  corrente  fez  o  Sr.  Almeida  Lima  uma  desenvolvida 
comunicação  sobre  a  estrutura  descontinua  dos  campos  de  força  magnética, 
considerada  como  uma  aplicação  da  hipótese  dos  quantas  às  formas  poten- 
ciais da  energia;  sugerindo  também  a  hipótese  da  descontinuidade  da  estru- 
tura dos  líquidos  em  movimento,  que  espera  poder  confirmar  experimental- 
mente. 

O  Sr.  Lopes  de  Mendonça,  vice-presidente  da  Segunda  Classe,  a  pro- 
pósito do  nenhum  resultado  obtido  com  a  representação  da  Academia  sobre 
o  decreto  que  regula  as  publicações  subsidiadas,  fez,  em  sessão  da  Segunda 
Classe  de  12  de  Janeiro  de  1911,  uma  comunicação  para  provar  a  importância 
que  tem  no  pais  e  no  estrangeiro  as  publicações  académicas. 

Em  sessão  da  assemblea  geral  de  2  de  Maio  do  ano  findo  referiu-se  à 
comemoração  do  quarto  centenário  da  conquista  de  Ceuta,  proposta  em  8  de 
Junho  de  1911,  em  sessão  da  Segunda  Classe,  pelo  Sr.  David  Lopes,  e  que 
ampliou  mais  tarde  (Janeiro  de  1912)  propondo  a  dupla  comemoração  daquele 
facto  histórico  e  o  da  morte  de  Afonso  de  Albuquerque,  que  com  èle  coincide. 
Nessa  ocasião  expôs  os  trabalhos  já  executados,  e  outros  em  projecto,  pela 
comissão  nomeada  pela  Academia. 

Em  diversas  sessões  da  Segunda  Classe  fez  ainda  o  Sr.  Lopes  de  Men- 
donça as  seguintes  comunicações; 

l.a  Sobre  o  descobrimento  feito  pela  Sociedade  Britânica  «Fundo  da  ex- 
ploração do  Egipto»,  dum  drama  satírico  inédito  de  Sophocles  intitulado  «Os 
lchnoutas  ou  Pesquisadores»,  cuja  importância  exaltou  narrando  resumida- 
mente o  seu  entrecho ; 

2.a  Acerca  da  preciosa  colecção  de  manuscritos  de  Ribeiro  Saraiva, 
adquiridos  em  Londres  para  a  Biblioteca  Nacional,  por  iniciativa  do  nosso 
consócio  Sr.  Júlio  Dantas,  na  sua  qualidade  de  inspector  das  bibliotecas  e 
arquivos; 

3.a  Sobre  uma  paráfrase  dum  idílio  de  Teócrito  «As  Talíssias»,  cuja 
leitura  precedeu  de  várias  considerações  acerca  da  forma  poética  que  adoptou 
e  que  deu  um  extraordinário  brilho  e  encanto  ao  belo  idílio  do  poeta  Sira- 
cusano ; 


DAS  SCI1  NI  IAS   DE  LISBOA 


i.'  Satisfazendo  ao  compromisso,  tomado  com  a  Academia,  de  coleccionar 
nos  arquivos  o  que  importasse  à  uossa  história  em  Marrocos,  participou,  em 
sessão  de  H  de  Julho  de  1911,  ter  já  reunido  um  grande  número  de  docu- 
mentos de  valor,  tendo  coligido,  em  vista  da  actualidade  que  encerra,  uma 
noticia,  que  leu  à  Classe   sobre  o  posto  de  Agadir  português. 

•V  Na  mesma  sessão  leu  um  período  dum  interessante  códice  de  Alco- 
baça, referido  a  Afonso  de  Albuquerque,  e  a  anotação  que  êle  lhe  sugeriu!. 

G.1  Sobre  os  códices  da  Biblioteca  Nacional  de  Lisboa  relativos  a  Marro- 
cos, dando  noticia  do  texto  autógrafo  dum  tratado  de  paz  assinado  em  8  de 
Maio  de  1538  entre  o  Conde  de  Redondo,  capitão  de  Arzila  e  Muley  Abrahem, 
respectivamente  plenipotenciários  dos  Reis  de  Portugal  e  de  Fez,  tratado  que 
dá  lugar  a  interessantes  deduções  históricas. 

7.a  Acerca  de  vários  documentos  relativos  a  arquitectos  portugueses,  ou 
ao  serviço  de  Portugal,  e  dos  quais  não  teve  conhecimento  o  saudoso  académico 
Sousa  Viterbo,  e  por  isso  não  os  mencionou  no  seu  Dicionário  de  Arquitectos. 

8.a  Sobre  um  manuscrito  da  Misericórdia  de  Lisboa  intitulado  Um  breve 
Datado  memorial  das  cousas  que  poisaram  em  África  no  ano  de  7òCò',  especial- 
mente das  cousas  que  aconteceram  em  Arzila,  manuscrito  descoberto  pelo 
nosso  consócio  Sr.  Vítor  Ribeiro. 

9.*  Acerca  dum  estudo  sobre  o  penhor  das  barbas,  que  se  tornou  célebre, 
a  que  se  filia  um  gesto  igual,  sem  aparato  solene,  de  Afonso  de  Albuquerque, 
facto  que  não  se  tornou  notório. 

O  Sr.  Cristóvão  Aires,  vice-secretário  geral,  na  qualidade  de  inspector 
da  Biblioteca,  apresentou  a  academia  desenvolvidos  relatórios  do  serviço  a 
seu  cargo  durante  os  anos  de  1909  a  1912,  nos  quais  se  consigna  uni  aumento 
considerável  do  número  de  leitores,  devido,  sem  dúvida,  á  aquisição  de  obras 
de  alto  valor. 

O  mesmo  académico,  lastimando  a  irreparável  perda  do  sócio  correspon- 
dente estrangeiro  Sanches  de  Móguel,  leu  um  elogio  deste  notável  académico, 
que  muito  dedicado  foi  sempre  ao  nosso  pais. 

E,  em  sessão  da  Segunda  Classe  de  23  de  Março  de  1911,  tez  unia 
comunicação  sobre  o  procedimento  dos  oficiais  franceses,  aboletados  nas  casas 
de  Lisboa  por  ocasião  da  invasão  de  Junot.  Este  trabalho,  intitulado  O  Ge- 
neral Barão  de  Thiebanlt  em  Lisboa,  põe  em  relevo  o  fausto  dos  generais  fran- 
ceses á  custa  das  equipagens  e  pessoal  da  casa  rial,  e  os  abusos  praticados 
pelos  oficiais  franceses,  nas  casas  onde  estavam  aboletados,  cujo  procedimento 
contrasta  com  o  daquele  general. 

O  Sr.  Schiappa  Monteiro  fez  a  apreciação  da  obra  do  eminente  mate- 
mático Henri  Poincaré,  salientando  o  valor  dos  seus  descobrimentos  sobre  as 


XII  111ST0KIA   DA  ACADEMIA 

8.a  Acerca  dum  trecho  dum  trabalho  seu  sobre  a  numismática  em  Portu- 
ga] :  André  de  Resende  como  coleccionador  de  moedas  antigas,  esboçando  a 
biografia  do  nosso  antiquário  quinhentista,  relaciouando-o  com  o  movimento 
scientífico  da  época; 

9.a  Sobre  a  explicação  da  palavra  portuguesa  momo  no  sentido  de  «moeda 
fora  de  uso» ; 

10. a  Acerca  de  Peio  de  Moine  Anguíi,  do  século  xvi,  tradutor  dum  livro 
de  Budé  sobre  a  asse,  moeda  romana.  Esta  notícia  faz  parte  da  História  da 
Numismática  Portuguesa,  que  está  escrevendo  este  académico; 

ll.a  Em  sessão  de  24  de  Julho  último  leu  mais  um  extracto  deste  livro, 
que  se  refere  ao  humanista  do  século  xvi,  Jorge  Cardoso,  de  Lamego,  autor 
dum  raro  livrinho  de  Numismática  em  latim  e  português,  da  l.a  edição  do 
qual  apenas  se  conhecem  dois  exemplares,  um  que  está  na  livraria  do  Sr.  Vis- 
conde da  Esperança,  e  outro  na  biblioteca  de  Évora. 

O  Sr.  Cincinato  da  Cosia  fez  uma  comunicação  sobre  leveduras  alcoólicas 
e  fermentação  vinária,  apresentando  resultados  curiosos  de  observações  e  ex- 
periências feitas  no  seu  laboratório,  no  Instituto  Superior  de  Agronomia,  mos- 
trando a  importância  do  estudo  das  leveduras  alcoólicas,  não  só  pelo  lado  da 
indústria  vinícola,  mas  pelo  lado  propriamente  scientífico  dos  estudos  citológicos. 

O  Sr.  Júlio  Dantas  leu  à  Academia  uma  memória  intititulada  A  sífilis  de 
D.  João  H,  na  qual  se  ocupa  da  influência  por  esta  doença  exercida  sobre 
a  descendência,  e,  em  geral,  sobre  as  raças  riais  portuguesas. 

Fez  uma  comunicação  sobre  a  doença  e  morte  do  rei  D.  José  I,  baseada 
num  curioso  documento  inédito  dos  manuscritos  da  Biblioteca  Pública,  autó- 
grafo valioso  do  Marquês  de  Pombal,  com  o  diário  da  doença,  que  fornece 
elementos  clínicos  para  o  diagnóstico. 

Esta  comunicação  provocou  vivas  felicitações  da  Assemblea,  e  em  especial 
dos  médicos  presentes,  Srs.  Teixeira  de  Queiroz,  Silva  Amado  e  Baltasar 
Osório,  trocando-se  curiosas  impressões  entre  este  último  académico  e  o  con- 
ferente acerca  da  obra  médica  de  Curvo  Semedo  e  de  Fonseca  Henriques, 
notáveis  patologistas  do  século  xvm. 

Ainda  o  mesmo  académico,  Sr.  Júlio  Dantas,  apresentou  à  Academia 
um  estudo  sobre  indumentária  secular  e  religiosa  desde  o  século  xn  até  o 
século  xvi,  sob  a  forma  provisória  dum  vocabulário. 

Nesse  trabalho  estuda  muitos  vocábulos  ainda  não  recolhidos  na  língua 
portuguesa,  tratando  de  identificá-los,  quanto  possível,  com  os  estofos  ou 
as  peças  de  indumentária,  procurando  a  sua  origem  e  a  sua  forma  de  trans- 
missão, e  documentando-os  largamente. 


DAS  SCIÊNC1AS  !>!■.   MSBOA 


Em  sessão  de  Assemblea  Geral  de  2i  de  Novembro  do  ano  Dndo,  apre 
sentou  o  «Relatório  sobre  catalogação  nas  bibliotecas  do  Estadoí  ;  primeiro 
corpo  de  doutrina  que  sobre  o  assunto  se  estabeleceu  em  Portugal,  e  pelo 
qual  se  institui  a  catalogação  geral  na  primeira  biblioteca  do  pais. 

Ofereceu  também  à  Academia  um  documento  iconográfico  interessante: 
a  reprodução  fotográfica  dum  dos  trechos  da  livraria  fradesca  do  Varatojo, 
agora  transferida,  in  integro,  por  sua  iniciativa,  para  a  Biblioteca  Nacional 
de  Lisboa. 

Mencionarei  ainda  uma  desenvolvida  comunicação  que  o  Sr.  Júlio  Dantas 
fez  á  Segunda  Classe,  a  propósito  de  duas  colecções  de  cartas  muito  inte- 
ressantes paia  a  história  da  corte  e  da  vida  portuguesa  no  século  xviii:  uma, 
de  carias  de  Goubier  de  Barrault,  ainda  inéditas,  e  que  fazem  parte  dum 
dos  códices  da  Colecção  Pombalina  da  Biblioteca  Nacional  de  Lisboa;  outra, 
também  do  lim  do  século  xviii.  de  cartas  devidas  a  William  Costigan,  pseu- 
dónimo do  brigadeiro  John  Terrier. 

Finalmente,  apresentou  o  Sr.  Júlio  Dantas  alguns  documentos  relativos 
ao  segundo  confessor  da  rainha  D.  Maria  I,  o  bispo  do  Algarve  D.  João 
Maria  de  Melo,  cuja  acção  funesta  muito  concorreu  para  a  sua  loucura. 

O  Sr.  Carlos  Bocage  leu  à  Segunda  Classe  vários  trechos  do  seu  trabalho 
intitulado  Subsídios  para  o  estudo  das  relações  exteriores  de  Portugal,  em  se- 
guida à  restauração  — 1640-1649. 

o  Sr.  Brito  Aranha  leu  á  Segunda  Classe,  em  sessão  de  \0  de  Feve- 
reiro de  líilo,  um  estudo  intitulado  Imprensa  do  Brasil  e  Rodrigo  da  Fon- 
seca Magalhães,  repositório  de  valiosas  noticias  sobre  o  jornalismo  brasileiro 
nos  tempos  coloniais:  sobre  as  primeiras  tentativas  de  independência,  e  acerca 
do  célebre  estadista  português. 

Fm  sessão  de  24  de  Julho  último  leu  à  Classe  uma  carta  do  venerando 
escritor  e  poeta  Sr.  Próspero  Peragallo,  o  qual  insiste  em  não  acreditar  na 
lenda  que  fazia  de  Cristóvão  Colombo  um  cidadão  da  Galisa  e  judeu,  quando 
todos  os  documentos  até  agora  encontrados  e  divulgados  desmentem  essa 
lenda  por  absurda  e  fantástica,  confirmando  assim  o  que  em  sessão  de  14  de 
Dezembro  de  19 II  dissera  o  Sr.  Brito  Aranha. 

O  Sr.  Baltasar  Osório  referiu-se  aos  trabalhos  do  Dr.  Vau  Beneden.  mo> 
irando  que  existiu  em  Portugal  um  predecessor  de  Darwin  — o  jesuíta  Gaspar 
Afonso. 


MIS  1  (  UII A   HA   ACAItIC.MIA 


Referiu-se  ao  poema  de  Mistral.  Mireio,  e  à  Catedral,  de  Blasco  Ibanoz, 
que  lala  dum  monstro  que  em  Portugal  figurava  numa  procissão,  a  do  Corpo 
ilo  Deus,  segundo  Herculano,  monstro  denominado  «Tarrascon». 

O  mesmo  académico  fez  várias  comunicações  sobre  exemplares  oceano- 
gráficos muito  raros;  e  apresentou  fotografias  de  dois  peixes  das  grandes 
profundidades  Corynofoms  Compressus,  género  novo,  e  Nocantpus  Melonoveti- 
tes,  nova  espécie.  Estes  peixes  foram  pescados  em  Cezimbra  e  pela  primeira 
vez  se  dá  notícia  deles.  Mencionou  ainda  um  peixe  encontrado  nas  costas 
de  Portugal,  e  que  é  o  segundo  exemplar  conhecido  no  mundo  scientifico, 
existindo  outro  no  museu  dos  Estados  Unidos. 

Em  sessão  de  Assemblea  Geral  de  2  de  Novembro  de  1911,  o  Sr.  Bal- 
tasar Osório  fez  uma  comunicação  sobre  um  processo  original  que  os  pes- 
cadores de  Cezimbra  empregam  há  muito  tempo  para  atrair  os  peixes,  c  que 
envolve  fenómenos  scientíficos  do  mais  alto  interesse. 

O  Sr.  Edgar  Prestage  chamou  a  atenção  da  Academia  para  a  importância 
dos  registos  paroquiais  e  para  a  conveniência  de  os  publicar,  a  Qm  de  con- 
servar essas  relíquias  do  passado  e  facilitar  o  seu  estudo. 

Este  académico,  esperando  que  a  Academia  tome  a  iniciativa  de  tam 
importante  publicação,  ofereceu  uma  cópia  do  primeiro  livro  do  Registo  da 
Igreja  de  Santa  Cruz  do  Castelo,  o  qual  contém  os  termos  dos  baptismos 
desde  1 5 45  até  1G28;  dos  casamentos  e  óbitos  desde  1536  até  1028,  e  os 
nomes  dos  crismados  de  1547  a  1574. 

Foi  já  publicado  aquele  livro,  pelos  Srs.  Prestage  e  Pedro  de  Azevedo. 
Êle  contêm  termos  de  interesse  literário  e  histórico,  e  dá  uma  idea  da  po- 
pulação de  Lisboa  no  século  xvi  e  princípios  do  seguinte,  e  regista  a  enorme 
mortandade  por  ocasião  das  grandes  pestes. 

O  seu  lisonjeiro  acolhimento  resolveu  aqueles  académicos  a  oferecerem 
á  Academia  mais  um  Registo  paroquial,  o  da  Sé  de  Lisboa,  que  por  muitos 
motivos  se  recomendava  de  preferência  a  qualquer  outro. 

Os  livros  da  Sé  começam  em  1503,  e  os  quatro  primeiros  acabam  em  1010. 

O  Sr.  António  Cabreira  fez  em  Assembleas  Gerais  duas  comunicações: 
uma  intitulada  Análise  da  greve,  sua  solução  económica  e  jurídica,  outra  es- 
tabelecendo os  primeiros  princípios  da  Geometria  Hefracãva. 

Em  sessão  da  Primeira  Classe  discursou  largamente  sobre  um  estudo  ma- 
temático, económico  e  financeiro  da  nova  lei  da  contribuição  predial,  que  ten- 
cionava publicar. 

O  Sr.  Gama  Pinto,  em  sessão  de  Assemblea  Geral  de  15  de  Dezembro 
de   1910,  fez  uma  conferência,  confirmada  com  experiências  e  exposição  de 


DAS  8CI1  \<  IAS  ih    LISBOA 


aparelhos,  sobre  anestesia  geral  e  local,  especialmente  sob  o  ponto  de  vista 
das  suas  numerosas  operações. 

Em  sessão  da  Primeira  Classe  de  c2(>  de  Janeiro  do  mesmo  ano  fez 
uma  comunicação  sobre  a  lepra  em  geral  e  sobre  a  lepra  ocular  em  especial. 
Apresentou  à  Classe  exemplares  vivos  de  coelhos  e  porquinhos  da  índia,  ino- 
culados de  lepra,  e  discursou  desenvolvidamente  sobre  a  história  desta  doçura. 
bem  como  da  tuberculose,  da  doença  do  sono,  seus  bacilos  e  seu  tratamento. 

Referiu-se  à  Influência  das  cruzadas  no  derramamento  da  lepra;  ás  gafa- 
rias que  no  século  xiv  chegaram  a  vinte  mil,  e  às  doenças  que  nelas  se  con- 
fundiam com  a  lepra:  referiu-se  igualmente  aos  congressos  modernos  e  suas 
conclusões;  à  função  dos  ratos  e  dos  insectos  no  contágio  da  lepra  e  do  im- 
paludismo, etc. 

Demonstrou  ao  microscópio  o  bacilo  da  lepra,  comparando-o  com  o  da 
tuberculose,  e  espraiou-se  sobre  a  maneira  provável  da  transmissão  da  mo- 
léstia, concluindo  que  ela  deve  ser  directa  e  não  por  intermédio  de  insectos, 
como  ultimamente  se  tem  aventado. 

Por  fim,  depois  de  ter  feito  uma  resenha  das  tentativas  da  Inoculação  da 
lepra  no  homem  e  outros  animais,  mostrou  uni  coelho  em  que  conseguiu 
resultado  positivo  da  inoculação  de  produtos  leprosos  na  câmara  anterior; 
facto  raro,  senão  único,  na  história  da  transmissibilidade  da  lepra  aos  animais. 

Km  sessão  de  Assemblea  Geral  de  6  de  Abril  de  191 1,  o  Sr.  Gama  Pinto 
realizou  uma  comunicação  acerca  da  tuberculose,  apresentou  alguns  casos  de 
tuberculose  ocular  e  fez  a  propósito  considerações  sobre  a  tuberculose  em 
geral  e  seu  tratamento ;  concluindo  com  a  apresentação  de  animais  inocula- 
dos, de  preparações,  e  bem  assim  de  culturas  de  bacilo  sobre  soro  sanguíneo 
e  era  caldo. 

O  Sr.  Bettencourt  Ferreira,  a  propósito  dum  livro  de  llarvey,  do  qual 
julga  ter  encontrado  a  edição  primitiva  de  1651  na  Biblioteca  da  Faculdade 
de  Scências  de  Lisboa,  fez  uma  comunicação  sobre  a  obra  daquele  sábio  in- 
i;lt"'s :  como  anatómico  e  fisiologista,  descobrindo  a  circulação  do  sangue;  e 
como  naturalista,  estudando  a  função  geradora  em  vários  animais. 

O  mesmo  académico,  em  sessão  de  G  de  Junho  de  1911,  apresentou  uma 
nota  intitulada  O  Museu  da  Ajuda  e  a  iiirasão  francesa,  que  considera  impor- 
tante subsidio  para  a  história  das  scièncias  naturais  em  Portugal ;  e,  realizou, 
em  sessão  de  Assemblea  Geral  de  6  de  Julho  de  1911,  uma  comunicação 
acerca  da  documentação  para  a  história  dos  nossos  museus. 

O  Sr.  Zeferino  Falcão,  em  sessão  de  Assemblea  Geral  de  4  de  Novem- 
bro de   1909,  fez  uma  comunicação  sobre  os  trabalhos  e  conclusões  da  con- 


\\l  HISTÓRIA  HA  ACADEMIA 

feréncia  iaternacional,  reunida  em  Bergen,  na  Noruega,  pura  o  fim  de  debelar 
ii  flagelo  da  lepra.  Essas  conclusões,  lidas  por  aquele  nosso  consócio  e  ex- 
postas  na  lingua  em  que  foram  redigidas  pelo  congresso  internacional  de 
Bergen,  foram  publicadas  na  acla  da  referida  sessão. 

i.ni  sessão  de  Primeira  ciasse  fez  o  mesmo  académico  uma  comunicação 
sobre  um  caso  de  lepra  unilateral,  apresentando  várias  fotografias  e  radio- 
grafias. É  um  caso  único,  conforme  foi  constatado  no  Congresso  Internacional 
de  Dermatologia,  realizado  em  Roma,  em  Abril  do  ano  passado,  onde  o  Sr.  Falcão 
o  apresentou. 

O  Sr.  David  Lopes,  cm  sessão  de  Assemblea  Geral  de  20  de  Janeiro 
de  1910,  desempenhando-se  do  encargo  que  lhe  cometeu  a  Academia  em  ses- 
são de  4  de  Novembro  de  1909,  leu  um  relatório  sobre  as  duas  obras  ofere- 
i  iflas  pela  Biblioteca  de  Jolm  Ryland,  de  Manchester,  Catálogo  doa  Papiros 
dernóticos,  existentes  nessa  Biblioteca,  e  Catálogo  dos  manuscritos  coptas  da 
mesma  Biblioteca.  Nesse  relatório  faz  o  nosso  consócio  um  valioso  juízo  crí- 
tico, precedido  dalgumas  palavras  sobre  a  instituição  da  Biblioteca  de  John 
liyíand  e  das  riquezas  deslumbrantes  do  seu  tesouro. 

Em  sessão  da  Segunda  Classe  de  8  cie  Junho  de  1911,  o  Sr.  David  Lo- 
pes, concordando  com  as  ideas  apresentadas  pelo  Sr.  Lopes  de  Mendonça 
quanto  à  necessidade  de  publicar  a  massa  enorme  de  materiais  que  possuímos 
manuscritos  sobre  Marrocos,  propôs  que  em  1915  se  celebrasse  o  o.°  cente- 
nário da  conquista  de  Ceuta,  início  da  expansão  colonial  portuguesa. 

Em  aditamento  a  esta  proposta  propôs  o  Sr.  David  Lopes,  em  sessão  de 
27  de  Julho  de  1911,  que  se  acrescentasse  a  essa  celebração  um  número  de 
grande  interesse,  — o  duma  missão  scientífica  àquela  costa,  em  visita  ao  que 
lá  existe  ainda  atestando  a  acção  dos  portugueses. 

São  também  do  Sr.  David  Lopes  os  seguintes  trabalhos : 

1.°  Uma  memória  acerca  da  Batalha  de  Ourique,  que  demonstra  não  se 
poder  ter  realizado  no  local  onde  a  tradição  a  coloca,  isto  é,  no  baixo  Alen- 
tejo, mas  em  Chão  de  Ourique,  do  concelho  do  Cartaxo,  a  15  quilómetros  de 
Santarém ; 

2.°  Uma  comunicação  acerca  dos  Mozarabes,  isto  é,  dos  cristãos  que  vi- 
veram sob  o  domínio  árabe  na  Península; 

3.°  Em  nome  do  sócio  correspondente  estrangeiro,  o  Sr.  René  Basset, 
apresentou  um  estudo  intitulado  Notes  sur  la  langue  de  la  Guiné  au  xv  sièclc, 
que  foi  muito  apreciado  e  mandado  publicar  no  Boletim  da  Segunda  Classe. 

O  Sr.  Melo  Simas,  em  sessão  da  Primeira  Classe  de  17  de  Março  de  1910, 
deu  conta  dos  seus  estudos  astronómicos  reunidos  numa  nota  que  foi  publi- 


DAS  SC1ÈNCIAS  DK  LISBOA 


cada  nas  Memória*  da  Academia,  nova  série,  Primeira  Classe,  lomu  vh,  par- 
te ii,  na  qual  aquele  académico  conclui  pela  provável  eliplicidade  e  provável 
periodicidade  a  longo  prazo  do  cometa  de  1910. 

Em  Assembleas  Gerais  realizou  o  Sr.  Melo  Simas  duas  comunicações: 
uma  a  propósito  da  observação  por  êle  feita  do  eclipse  do  sol  de  17  de  Abril 
de  1912,  e  do  processo  prático  que  adoptou;  outra  relativa  ás  suas  obser- 
va.;.'"-; de  passagens,  durante  as  quais,  tendo  necessidade  de  determinar 
diariamente,  e  sempre  à  mesma  hora,  a  inclinação  do  instrumento,  notou 
que  essa  inclinação  parece  seguir  uma  certa  periodicidade  de  cerca  de  quinze 
dias  aproximadamente,  fenómeno  que  julga  relacionado  com  a  atracção  lunei- 
solar  sobre  o  globo  terrestre,  e  portanto  com  a  célebre  questão  das  marés 
terrestres. 

O  Sr.  Esteves  Pereira  fez  em  sessões  da  Segunda  Classe  as  seguintes  co- 
municações : 

1.°  Sobre  uma  notícia  bibliográfica  da  obra  de  Camilo  Bécari  intitulada 
Escritos  meditos  orientais  dos  negócios  orientais  da  Etiópia  desde  o  século  xvi 
até  o  século  xvni ; 

2.°  Acerca  duma  passagem  do  idílio  de  Teòcrito  denominado  Os  ceifeiros, 
com  a  qual  folgou  duplamente  o  Sr.  Lopes  de  Mendonça,  por  ter  dado  motivo 
a  esta  comunicação,  e  por  coincidirem  as  suas  hipóteses,  a  priori,  com  as 
conclusões  a  que  a  posteriori,  chegou  o  Sr.  Esteves  Pereira; 

3."  Acerca  das  palavras  e  frases  hebraicas  e  hebreu-latinas,  que  se  lêem 
numas  trovas  a  uma  moça  de  Luís  Enriques,  coligidas  no  Cancioneiro  Geral 
de  Garcia  de  Resende; 

4.°  Sobre  dois  fascículos  de  Pathologie  Orientalis,  que  apresentou  à 
Classe,  contendo  a  versão  etiópica  dos  livros  de  Job  e  Ester,  lendo  uma 
interessante  nota  acerca  da  importância  dos  textos  publicados. 

O  Sr.  Lúcio  de  Azevedo  e  Carlos  Bocage,  em  sessão  da  Segunda  Classe 
de  28  de  Março  do  ano  findo,  ocuparam-se  da  carta  do  Padre  António  Vieira, 
em  que  este  se  defende  de  certas  alegações  do  Conde  de  Ericeira  no  Portugal 
restaurado,  chamando  a  atenção  da  Academia  para  pontos  pouco  conhecidos 
da  nossa  história. 

O  Sr.  Pedro  de  Azevedo  fez  em  várias  sessões  da  Segunda  Classe  as 
seguintes  comunicações: 

1.°. Sobre  o  aparecimento  de  dois  valiosos  códices,  um  na  Biblioteca  de 
Viseu  e  outro  na  biblioteca  particular  do  Sr.  Conde  de  Arrochela.  O  1.°  é  o 
original  da  Virtuosa  Bemfeitoria  do  Infante  D.  Pedro,  o  2.°  é  um  exemplar 

4 


ÍIISTÚHIA  DA  ACADEMIA 


do  código  visigótico,  que  julga  ser  algum  dos  aproveitados  na  edição  espa- 
nhola, dos  quais  dois  são  considerados  perdidos. 

Conclui  o  Sr.  Azevedo  por  uma  resenha  dos  estudos  da  história  do  di- 
reito pátrio,  desde  o  seu  início  pela  reforma  da  Universidade  de  Coimbra, 
até  os  estudos  memoráveis  do  Sr.  Gama  Barros; 

2."  Sobre  a  Vila  de  Lordelo ; 

3.°  Acerca  do  resultado  das  suas  investigações  sobre  António  Bocarro, 
o  último  dos  grandes  cronistas  da  índia,  juntando  algumas  apreciações  feitas 
por  Bocarro,  e  outros  escritores  contemporâneos  dele,  sobre  o  carácter  dos 
portugueses; 

4.°  Acerca  dum  estudo  da  Chancelaria  de  Afonso  IV,  de  que  existem  só  dois 
livros,  que  apenas  contém  documentos  registados  até  o  ano  de  1342,  estando 
perdidos  os  outros,  que  chegavam  ao  final  do  reinado  daquele  soberano ; 

5."  Sobre  um  índice  completo  dos  nomes  dos  santos  mencionados  na 
respectiva  secção  do  Monumento,  Histórica; 

6.°  Sobre  os  sumários  de  vários  documentos,  que  se  encontram  em 
Londres  no  Public  liecord  Office,  relativos  a  embaixadores  que  vieram  a  Por- 
tugal em  negócios  de  Inglaterra  durante  a  Guerra  dos  cem  anos,  e  que  não 
foram  conhecidos  pelo  autor  do  Quadro  Elementar,  Visconde  de  Santarém ; 

7.°  Acerca  de  Fr.  Francisco  Agostinho  de  Macedo; 

8.°  Sobre  o  impressor  alemão  Blávio,  nascido  em  Colónia  em  1521,  e 
que  foi  preso  em  1561  pela  Inquisição  de  Lisboa,  por  denúncia  dum  seu 
colega  chamado  Mateus  Goteres,  que  o  acusava  de  ter  impresso  em  Granada 
bulas  falsas; 

9.°  Sobre  uns  trechos  do  diário  de  Herculano  durante  as  suas  viagens 
pelo  Minho  e  Beira  nos  anos  de  1853  e  1854,  trechos  que  se  referem  às 
freiras  de  Lorvão  e  a  Santa  Rosa  de  Viterbo; 

10.°  Acerca  duma  denúncia  contra  o  Fr.  Jorge  de  Carvalho,  familiar  e 
qualificador  do  Santo  Ofício,  irmão  do  bisavô  do  Marquês  de  Pombal.  Data 
de  1672  e  aponta  várias  interpretações  escandalosas  que  o  mesmo  frade  apre- 
sentou num  sermão  que  pregou  na  Sé  de  Lisboa  na  páscoa  daquele  ano ; 

11.°  Sobre  a  cópia  de  29  documentos,  datados  de  Julho  de  1261  a  Julho 
de  1265,  que  se  referem  ao  movimento  do  tesouro  de  D.  Afonso  III,  então 
depositado  no  mosteiro  de  Santa  Cruz  de  Coimbra; 

12.°  Sobre  o  cartulário  da  Sé  de  Braga,  que  tem  o  nome  da  Liber  fidei, 
onde  estão  transcritos  para  mais  de  800  documentos,  sendo  grande  número 
deles  dos  séculos  ix  e  x,  na  sua  grande  totalidade  inéditos. 

13.°  Finalmente,  sobre  um  documento  de  1390,  datado  de  Vila  do  Conde, 
pelo  qual  um  tabelião  nomeou  um  marinheiro  de  Azurara  seu  procurador  nos 
negócios  e  viagens  do  baixel  «Santa  Cruz»,  de  que  èle  tinha  a  terça  parte. 


DAS  SCIJ  NI  IAS  DE  LISBOA 


E  êste  o  quinto  documento  sobre  a  marinha  mercante  portuguesa  en- 
contrado pelo  Sr.  Azevedo,  sendo  o  mais  antigo  de  1330,  relativo  ao  naufrágio 
dum  baixel  no  porto  da  Pederneira. 

O  Sr.  José  de  Figueiredo,  em  sessão  da  Segunda  Classe  de  18  de  Abril 
do  ano  findo,  ofereceu,  em  nome  de  Emile  Bertanx,  o  seu  estudo  sobre  a 
História  da  arte  da  renascença  em  Portugal,  acentuando  a  importância  deste 
trabalho,  no  qual  colaborou. 

O  Sr.  Anselmo  Braamcamp  leu  á  Segunda  Classe  uma  desenvolvida  co- 
municação acerca  de  Gil  Vicente,  como  poeta  e  como  ourives. 

Referiu-se  também  êste  académico  a  um  certo  opúsculo  de  André  de 
Resende,  que  examinou  e  sobre  o  qual  fez  várias  observações. 

O  Sr.  Cunha  Gonçalves,  em  sessão  da  Segunda  Classe  de  2G  de  Julho 
de  1911,  leu  uma  memória  em  que  pretende  demonstrar  que  «na  organização 
económica  dos  romanos  se  encontram  os  caracteres  essenciais  do  capitalismo 
moderno». 

Em  sessão  de  25  de  Janeiro  do  ano  findo  fez  uma  conferência  tendo  por 
tema  as  Causas  de  criminalidade,  segundo  a  escola  psico-patológica. 

Em  sessão  de  18  de  Abril  do  mesmo  ano  leu  um  documento  que  encon- 
trou na  Biblioteca  de  Évora,  e  que  constitui  uma  valiosa  contribuição  aos 
trabalhos  da  Comissão  do  Centenário  da  tomada  de  Ceuta. 

O  Sr.  Marquês  de  Ávila  e  Bolama,  em  sessão  de  Assemblea  Geral  de  3 
de  Julho  de  1911,  leu  à  Academia  uma  memória  destinada  a  provar  que  a 
primeira  exposição  industrial  da  Europa  se  realizou  na  Vila  de  Oeiras,  no 
tempo  do  Marquês  de  Pombal. 

O  Sr.  Rodolfo  Dalgado,  na  sessão  da  Segunda  Classe  de  28  de  Março 
do  ano  passado,  ofereceu  o  seu  trabalho  acerca  da  Influência  do  vocabulário 
português  em  línguas  asiáticas,  e  em  sessão  de  9  de  Maio  do  mesmo  ano, 
leu  uma  comunicação  sobre  a  significação  da  palavra  Ola  —  folha  de  pal- 
meira—muito empregada  pelos  nossos  antigos  escritores,  especialmente  com 
respeito  às  cousas  de  Malabar,  e  que  da  parte  dos  lexicógrafos  portugueses 
não  tem  merecido  o  devido  tratamento. 

O  Sr.  José  Maria  Rodrigues  leu  à  Segunda  Classe  dois  estudos: 

1.°  Sobre  o  conjuntivo  do  imperfeito  e  o  infinito  pessoal  no  português, 


IIMViHU  DA  ACADKMIA 


que  provocou  uma  interessante  discussão  filológica  com  o  Sr.  Gonçalves  Viana 
e  Leite  de  Vasconcelos; 

2."  Sobre  o  Campo  Elísio  dos  Lusíadas  (vm.  3),  mencionando  as  dificul- 
dades oferecidas  pelas  quatro  explicações  que  tem  sido  propostas  para  a  pa- 
lavra eUsio. 

O  Sr.  Almeida  de  Eça  fez  uma  comunicação  sobre  uma  parte  da  História 
Marítima,  relativa  a* monografias  de  navios  notáveis  da  marinha  portuguesa, 
declarando  o  Sr.  Lopes  de  Mendonça  ter  já  pensado  num  trabalho  idêntico, 
para  o  qual  tem  apontamentos  de  valor. 

O  Sr.  António  Simões  Baião  fez  uma  comunicação  sobre  o  poeta  Pedro 
de  Andrade  Caminha  e  a  Inquisição,  prestando  a  devida  homenagem  aos  tra- 
balhos de  Sousa  Viterbo  e  da  Sr.  D.  Carolina  Miehaélis  de  Vasconcelos. 


Novas  publicações 

Depois  da  sessão  pública,  realizada  em  20  de  Junho  de  1909,  foi  publi- 
cado : 

Volume  ii  das  Actas  das  Assembleas  Gerais,  relativas  aos  anos  de  1906 
a  1910. 

Boletim  Bibliográfico  da  Academia  das  Sciências  de  Lisboa,  primeira  série, 
volume  i,  fascículos  i  e  u;  segunda  série,  volume  i,  fascículos  i  e  n. 

Pela  Primeira  Classe  foram  publicadas  as  seguintes  obras: 

Actas  das  Sessões,  volume  ir,  relativo  aos  anos  de  1905  a  1910. 

Subsídios  para  a  Historia  de  Cabo  Verde  e  Guiné,  pelo  sócio  correspon- 
dente Sr.  José  de  Sena  Barcelos,  parte  vi  e  parte  vn,  contendo  índice  por 
matérias  e  nomes  das  seis  partes  de  que  se  compõe  esta  obra. 

Les  applications  directes  et  indirectes  de  1'èleciricité  à  la  mèdecine  et  à  la 
chirurgie,  2ème  édition,  pelo  sócio  efectivo  Prof.  Sr.  Vergílio  Machado. 

Sobre  a  rotação  das  forças  à  roda  dos  pontos  de  aplicação  e  equilíbrio 
estático,  pelo  Sr.  Fernando  de  Almeida  Loureiro  e  Vasconcelos. 

The  Climate  of  Portugal  and  notes  on  its  health  resorts,  parte  i,  pelo 
sócio  correspondente  Sr.  G.  Dalgado. 

Como  publicações  da  Segunda  Classe  devo  mencionar  em  primeiro  lugar 
o  seu  Boletim,  que  toma  todos  os  dias  novo  incremento  e  nova  importância, 
merecendo  especial  menção  o  fascículo  ni  do  volume  m,  sabiamente  organi- 


DAS  SCIÊNCIAS  DE  LISBOA 


zado  pelo  Secretário  da  Classe  em  homenagem  a  Alexandre  Herculano,  em 
seguida  à  celebração  do  centenário  do  nascimento  de  tam  ilustre  escritor,  e 
composto  exclusivamente  de  estudos  e  documentos  relativos  ao  fundador  do 
Portugaliae  Monumento  Histórica. 

Chamarei  também  a  vossa  esclarecida  atenção  para  o  fascículo  i  do 
referido  volume  do  Boletim,  um  número  especial,  contribuição  da  Academia 
para  comemorar  o  centenário  da  Guerra  Peninsular;  obra  colectiva,  não  só 
de  diversos  académicos,  como  de  escritores  ilustres  estranhos  á  Academia. 

0  fascículo  i  do  volume  v  do  Boletim,  dedicado  a  D.  Carolina  Michaèlis 
de  Vasconcelos,  constitui  uma  homenagem  prestada  a  tam  eminente  escritora, 
como  reconhecimento  pela  maneira  como  ela  aceitou  o  convite  da  Academia 
para  examinar  o  manuscrito  de  Sá  de  Miranda,  conservado  pelo  arquivo  da 
Biblioteca  Nacional  de  Lisboa.  Acompanham  o  precioso  estudo  da  Sr.a  D.  Ca- 
rolina, artigos  de  M8"'  Lucie  Ey  e  dos  Srs.  Leite  de  Vasconcelos,  Oliveira 
Ramos  e  Ricardo  Jorge,  que  põem  em  relevo  os  inigualáveis  dotes  de  tam 
distinta  escritora. 

Publicou  mais  a  Segunda  Classe: 

Corpo  Diplomático  PortuguéSi  tomo  xiv,  dirigido  pelo  sócio  efectivo 
Sr.  Jaime  Moniz,  volume  que  abrange  os  documentos  relativos  ao  período  que 
decorre  de  1661  a  1667. 

Catálogo  bibliográfico  das  publicações  relativas  aos  descobrimentos  portu- 
gueses, pelo  sócio  efectivo  Consiglieri  Pedroso. 

Direito  Comercial  Português.  Esboço  do  curso  professado  no  Instituto 
Superior  de  Comércio,  pelo  sócio  efectivo  Sr.  Francisco  António  da  Veiga 
Beirão. 

Noticia  de  alguns  pintores  portugueses  e  de  outros  que,  sendo  estrangeiros, 
exerceram  a  sua  arte  em  Portugal,  terceira  série,  pelo  sócio  correspondente 
Sousa  Viterbo  (Publicação  póstuma). 

.1  fundadora  da  Igreja  do  Colégio  de  Santo  Antão  (da  Companhia  de 
./■sus  e  a  sua  sepultura.  Notícia  documental  apresentada  à  Academia  pelo 
sócio  correspondente  Sr.  Vítor  Ribeiro. 

Registos  Paroquiais  de  Lisboa.  Registo  da  freguesia  de  Santa  Cruz  do 
Castelo,  desde  1536  até  1628,  pelos  sócios  correspondentes  Srs.  Edgar  Pres- 
tage  e  Pedro  de  Azevedo. 

Nota  acerca  das  invasões  francesas  em  Portugal,  pelo  sócio  correspon- 
dente Sr.  Brito  Aranha. 

O  Instituto  Histórico  do  Brasil.  A  naturalidade  de  Cristóvão  Colombo; 
Gabriel  Pereira,  notas  biográficas  e  bibliográficas,  do  mesmo  autor. 


IISTuHIA   HA   ACADKMIA 


D.  Pedro,  poema  dramático  pelo  sócio  efectivo  José  de  Sousa  Monteiro. 
(Obra  póstuma). 

Centenário  do  nascimento  de  Alexandre  Herculano,  discursos  pronunciados 
na  sessão  pública,  de  28  de  Março  de  1910,  pelos  sócios  efectivos  Srs.  Veiga 
Beirão,  Teixeira  de  Queiroz,  Consiglieri  Pedroso  e  Cristóvão  Aires. 

O  Doutor  Storck  e  a  literatura  portuguesa.  Estudo  hislórico-bibliográfico 
pelo  sócio  efectivo  Sr.  J.  Leite  de  Vasconcelos. 

Carolina  MichaUis;  Gabriel  Pereira,  notícia  necrológica,  do  mesmo  autor. 

Pelo  sócio  correspondente  Sr.  Francisco  Maria  Esteves  Pereira : 

Homília  sobre  as  vodas  de  Cana  de  Galileia  a  S.  João  Crisóstomo;  Ho- 
milia sobre  o  baptismo  de  N.  S.  Jesus  Cristo  atribuída  a  S.  João  Crisóstomo ; 
Inscrição  de  Dário  O  Grande,  Rei  da  Pérsia. 

Os  Árabes  nas  obras  de  Alexandre  Herculano.  Notas  marginais  de  língua 
e  história  portuguesa,  pelo  sócio  correspondente  Sr.  David  de  Melo  Lopes. 

Dois  versos  dos  Lusíadas  e  O  Campo,  já  dito,  Elísio  dos  Lusíadas,  pelo 
sócio  correspondente  Sr.  José  Maria  Rodrigues. 

Origem  do  episódio  dos  Lusíadas  «O  Gigante  Adamastor*,  pelo  sócio  cor- 
respondente Sr.  Baltasar  Osório. 

Novos  estudos  sobre  Sá  de  Miranda,  pelo  sócio  correspondente  Sr.a  D.  Ca- 
rolina Michaélis  de  Vasconcelos. 

As  causas  da  criminalidade  segundo  a  nova  escola  psico-patológica,  pelo 
sócio  correspondente  Sr.  Luís  da  Cunba  Gonçalves. 

Catálogo  das  obras  da  Guerra  Peninsular,  existentes  na  Biblioteca  da 
Academia,  pelo  Sr.  Cardoso  de  Bettencourt. 

Notes  sur  la  langue  de  la  Guiné,  por  Mr.  René  Basset. 

Bibliografia  Luso- Judaica,  pelo  Sr.  Álvaro  Neves. 

Relação  das  obras  que  se  acham  actualmente  no  prelo 

Influência  do  vocabulário  português  nas  línguas  orientais,  por  Sebastião 
Rodolfo  Dalgado. 

The  Climate  of  Portugal  and  notes  on  its  health  resorts,  parte  u,  por 
D.  G.  Dalgado. 

D.  Francisco  Manuel  de  Mello,  por  Edgar  Prestage.     . 

Duarte  Galvão  e  sua  família,  por  Sousa  Viterbo. 

Conde  de  Schomberg,  pelo  Conde  de  S.  Mamede. 

Subsídios  para  a  História  Militar  das  nossas  lulas  civis,  por  F.  Sá  Chaves. 

Febres  infecciosas,  por  Geraldiuo  Brito. 

Livraria  do  Convento  de  Nossa  Senhora  de  Jesus  de  Lisboa.  Documentos 
coligidos  por  Álvaro  Neves. 


M3AS  HE  LISBOA 


.1  literatura  espanhola  em  Portugal,  resenha  bibliográfica  dos  livros  dos 
escritores  espanhóis  impressos  no  pais,  por  Sousa  Viterbo. 

Cartas  de  Afonso  de  Albuquerque,  volume  v. 

Boletim  da  Segunda  Classe,  volume  vi. 

Boletim  Bibliográfico,  I.'  série,  volume  i,  fascículo  m. 

Obras  da  Comissão  do  Centenário  da  tomada  de  Ceuta  e  morte  de  Afonso 
de  Albuquerque,  também  no  prelo. 

Consolações  dirigidas  a  Catarina  de  Neufoille,  Senhora  de  FYesne,  pre- 
faciado por  Carlos  Roma  du  Bocage. 

Crónica  da  Tomada  dt<  Ceuta  por  El-Rei  D.  Joham  o  primeiro,  revista 
por  F.  M.  Esteves  Pereira. 

Documentos  das  Chancelarias  riais  anteriores  a  1531,  relativos  a  Mar- 
rocos, coligidos  por  Pedro  de  Azevedo. 

Tomada  d>-  Arzila,  revisto  por  David  de  Melo  Lopes. 

Corpo  Cronológico,  Documentos  relativos  a  Marrocos,  coligidos  por  António 


Alteração  do  pessoal  da  Academia 

Na  Primeira  Classe  foram  eleitos : 

Sócios  efectivos,  os  correspondentes  Srs.:  José  Curry  da  Câmara  Cabral, 
Alfredo  Bensaúde  e  Bernardino  Camilo  Cincinato  da  Costa ; 

Sócios  correspondentes  nacionais,  os  Srs. :  António  Olimpio  Cagigal,  Artur 
Cardoso  Pereira,  Alberto  de  Aguiar,  Henrique  Bastos,  Marquês  de  Ávila  e 
Bolama  e  o  associado  provincial  Sr.  José  Pereira  do  Nascimento; 

Sócios  correspondentes  estrangeiros,  os  Srs.:  Camille  Torrend,  Hermann 
Griesbach,  Armand  Gautier,  Olimpio  Artur  Ribeiro  da  Fonseca  e  Oswaldo 
Gonçalves  da  Cruz. 

Na  Segunda  Classe  foram  eleitos: 

Sócios  efectivos,  os  correspondentes  Srs. :  Joaquim  Coelho  de  Carvalho, 

Aniceto  dos  Reis  Gonçalves  Viana,  José  Leite  de  Vasconcelos,  Júlio  Dan- 
tas :  e,  sem  transitarem  pela  classe  de  correspondentes,  os  Srs.  Artur  Pinto 
de  Miranda  Montenegro  e  José  Duarte  Ramalho  Ortigão; 

Sócios  correspondentes  nacionais,  os  Srs. :  Augusto  de  (lastro,  Manuel 
da  Silva  Gaio,  José  Estêvão  de  Morais  Sarmento,  Faustino  da  Fonseca,  Conde 
de  Bretiandos,  José  Caeiro  da  Mata,  Jacinto  Inácio  de  Brito  Bebèlo,  Pedro 
Augusto  de  Azevedo,  José  de  Figueiredo,  Anselmo  Braamcamp  Freire,  Júlio 
Moreira,  Luís  da  Cunha  Gonçalves,  Antero  de  Figueiredo,  Sebastião  Rodolfo 
Dalgado,  Constâncio  Roque  da  Costa,  Maximiano  Aragão,  José  Maria  Rodri- 


HISTÓRIA   DA    ACADEMIA 


guês,  Francisco  Xavier  da  Silva  Teles,  D.  Carolina  Michaèlis  de  Vasconcelos, 
D.  Maria  Amália  Vaz  de  Carvalho,  Vicente  de  Almeida  de  Eça,  Anlònio 
Eduardo  Simões  Baião,  José  Joaquim  Nunes,  João  de  Barros  e  o  associado 
provincial  Sr.  Cristóvão  Pinto. 

Sócios  correspondentes  estrangeiros,  os  Srs. :  Manuel  de  Oliveira  Lima, 
José  Gestoso  y  Peres,  Bené  Basset,  D.  Bafael  Errazuris  Urmeneta,  Donald 
Ferguson,  João  Lúcio  de  Azevedo,  Tobias  Monteiro,  José  Veríssimo,  Alberto 
de  Oliveira,  Charles  Oman,  Baimundo  Beazley,  Barão  do  Bio  Branco,  Manuel 
Álvaro  de  Sousa  Sá  Viana,  Léon  Poinsard,  Sílvio  Bomero,  Jean  Finot  e  Paulo 
Barreto. 

Nomeou  a  Segunda  Classe  associado  provincial  o  Sr.  Manuel  Paulo  Bocha. 

Se  é  grande  a  lista  de  nomes  de  homens  notáveis  nas  sciéncias  e  nas 
letras,  que  vieram  honrar  a  nossa  Academia,  não  é  menor  a  daqueles  cuja 
falta  sinceramente  deploramos. 

Mencionarei  em  primeiro  lugar  o  único  nosso  sócio  de  mérito,  Bulhão 
Pato,  um  dos  grandes  poetas  da  última  geração,  o  venerando  solitário  do 
Monte  de  Caparica,  glorioso  cantor  da  Paquita  e  brilhante  autor  de  nume- 
rosas publicações  poéticas.  Em  breve  ouvireis  o  seu  elogio  histórico  feito  por 
outro  insigne  poeta,  o  Sr.  Júlio  Dantas. 

Perdeu  a  Primeira  Classe  os  seguintes  sócios  efectivos : 
Miguel  Augusto  Bombarda,  notável  professor  e  psiquiatra,  cujo  brilhante 
espirito  por  tantas  vezes  cativou  a  atenção  da  Academia. 

Francisco  da  Fonseca  Benevides,  que  não  só  foi  um  verdadeiro  homem 
de  sciência,  como  um  notável  escritor  e  um  artista  de  aprimorado  gosto, 
que  se  revelava  sobretudo  na  sua  paixão  pela  música. 

Eduardo  Augusto  Mota,  notável  clinico  e  eminente  professor,  cujas  qua- 
lidades didácticas  tam  claramente  se  manifestaram  no  seu  importante  tratado 
de  farmacologia  e  terapêutica. 

Carlos  Augusto  May  Figueira,  igualmente  distinto  clínico  e  notável  pro- 
fessor. 

Na  Segunda  Classe  faltaram  os  sócios  efectivos : 

José  de  Sousa  Monteiro,  antigo  secretário  da  Classe,  a  quem  já  nos. re- 
ferimos, e  cujo  elogio  histórico,  elaborado  por  um  dos  mais  brilhantes  escri 
tores  da  Academia,  ao  nosso  digno  Presidente,  em  breve  ouvireis. 


NI  [AS  DE  LISBOA 


Zófimo  Consiglieri  Pedroso,  o  eminente  historiador  e  poliglota,  que  tanto 
se  salientou  nas  suas  patrióticas  tentativas  de  estreitar  os  laços  fraternais  qne 
dos  mina  aos  Estados  Unidos  do  Brasil,  nossa  República  irmã. 

Perdeu  a  Primeira  Classe  os  sócios  correspondentes  nacionais: 

Manuel  Vicente  \lfredo  da  Custa,  ilustre  clínico  e  eminente  professor, 

que  prestou  relevantes  serviços  à  instrução  e  cujo  belo  carácter  por  tantas 

formas  se  manifestou. 

Bernardino  de  Barros  Gomes,  laureado  aluno  da  Academia  Florestal  e 
Agrícola  na  Saxónia,  e  autor  de  importantes  trabalhos,  entre  os  quais  men- 
cionarei o  Relatório  florestal  sobre  as  matas  da  Machada  de  Vale  de  Zebro, 
que  constituiu  o  titulo  da  sua  candidatura. 

Adolfo  Ferreira  Loureiro,  um  dos  nossos  mais  distintos  engenheiros, 
autor  de  obras  importantes  relativas  aos  portos  marítimos,  do  projecto  do 
porto  de  Leixões,  e  um  dos  autores  do  projecto  das  obras  do  porto  de  Lisboa. 

Foi  lambem  um  literato  de  muito  valor,  como  o  atestam,  entre  outras. 
a  obra  em  dois  volumes  para  a  exposição  do  centenário  da  índia,  em  1898, 
intitulada  No  Oriente:  de  Nápoles  à  China. 

Eduardo  de  Abreu,  que  ocupou  um  lugar  de  destaque  na  tribuna,  na 
imprensa  e  no  parlamento,  e  que  foi  o  representante  da  Academia  no  cente- 
nário de  Calderon,  em  Madrid. 

José  Pereira  do  Nascimento,  médico  naval  e  distinto  colonial,  que  exerceu 
com  muita  distinção  várias  comissões  em  Angola  e  publicou  diversas  obras 
de  muito  interesse,  entre  as  quais  mencionarei  a  Colonização  do  planalto  de 
Benguela. 

Joaquim  Maria  da  Silva,  mui  hábil  jurisconsulto  e  professor  muito  con- 
siderado, autor  dos  Primeiros  Estudos  de  Filosofia  Racional,  trabalho  vasto 
e  profundo,  que  mereceu  os  maiores  elogios  de  Alexandre  Herculano. 

Perdeu  a  Segunda  Classe  os  sócios  correspondentes  nacionais: 

Miguel  Martins  Dantas,  diplomata  distinto,  célebre  autor  da  obra  muito 

conhecida  Les  Fanx  D.   Sebaslien,  que  lhe  abriu  as  portas  da  Academia  de 

Historia  de  Madrid. 

Zeferino  Brandão,  oficial  muito  ilustrado,  que  em  várias  publicações  re- 
velou não  vulgar  aptidão  literária  e  profundos  conhecimentos  históricos. 


HISTORIA  \>\  ACADEMIA 


José  Maria  Barbosa  de  Magalhães,  grande  jurisconsulto,  notável  advogado 
e  brilhante  parlamentar. 

Venâncio  Deslandes,  um  dos  que  exerceram  poderosa  influência  nas 
artes  gráficas  em  Portugal. 

Conde  de  Valenças,  advogado,  professor  e  autor  de  valiosos  estudos 
jurídicos. 

José  Cipriano  da  Costa  Goodolfim,  notável  propagandista  da  instrução 
popular  e  do  movimento  operário,  que  dedicou  toda  a  sua  vida  à  propaganda 
das  instituições  de  previdência. 

Sousa  Viterbo,  a  quem  já  nos  referimos. 

Visconde-  de  Sanches  de  Baena,  versado  nas  questões  heráldicas  e  ge- 
nealógicas, acerca  das  quais  publicou  obras  muito  interessantes. 

Júlio  Moreira,  consumado  humanista,  autor  duma  excelente  gramática 
da  língua  inglesa. 

Gabriel  Vitor  do  Monte  Pereira,  a  quem  já  tivemos  ocasião  de  nos  referir. 

José  Frederico  Laranjo,  professor,  eminente  jurisconsulto  e  parlamentar 
de  muito  valor. 

António  Joaquim  Lopes  da  Silva,  outro  distinto  jurisconsulto,  autor  do 
notável  Reportório  Jurídico  Português. 

João  da  Silva  Matos,  advogado  muito  notável,  que  teve  a  sua  época  bri- 
lhante nos  tribunais  de  Lisboa. 

Conde  de  Monsaraz,  poeta  encantador,  dum  sentimento  inegualável,  que, 
com  extraordinário  entusiasmo,  cantou  o  povo  em  poesias  muito  sentidas. 


Perdeu  a  Academia  os  seguintes  sócios  correspondentes  estrangeiros: 

Eduardo  Saavedra,  engenhoso  autor  de  diversas  publicações  literárias  e 
«científicas,  premiado  em  Espanha  com  a  medalha  Echegaray. 


DAS  SC1ÊNCIAS  DE  LISBOA 


Barão  do  Hio  Branco,  um  dos  mais  eminentes  estadistas,  entre  tanto. 
que  honram  o  Brasil,  e  autor  de  trabalhos  históricos  de  subido  merecimento. 

Edouard  vou  Beneden,  notável  professor  da  Universidade  de  Liége. 

Kar  von  Reinhard  Alster,  ilustre  professor  da  Escola  Politécnica  de  Munich. 

Donald  Ferguson,  grande  amigo  de  Portugal  e  cultor  infatigável  da  his- 
tória do  período  português  em  Ceilão,  tendo  traduzido  para  inglês  todas  as 
matérias  portuguesas  que  obteve  para  o  estudo  da  cidade  (pie  lhe  foi  berço. 

Menendez  y  Pelayo,  eminente  professor,  filósofo  e  critico,  justamente 
considerado  o  primeiro  escritor  espanhol  do  seu  tempo. 

Louis  Alphonse  Davanne,  antigo  mestre  de  conferências  da  Escola  de 
Pontes  e  Calçadas,  e  muito  notável  pelos  seus  estudos  fotográficos. 

Sanchez  de  Moguel,  distinto  catedrático  espanhol,  autor  de  importantes 
estudos  literários  e  históricos,  tanto  relativos  a  Espanha  como  a  Portugal. 

Eouis  Henry,  mui  notável  professor  da  Universidade  de  Louvain. 

Sigismond  Jaccoud,  antigo  e  notável  professor  da  Faculdade  de  Medicina 
de  Paris,  e  Secretário  perpétuo  da  Academia  de  Medicina  da  mesma  cidade. 

Henri  Poincaré,  cuja  poderosa  intuição  de  analista  e  de  filósofo  foi  uma 
honra,  não  só  para  a  França,  que  lhe  foi  berço,  mas  para  a  humanidade,  que 
enalteceu.  Foi  tido  sem  contestação  como  o  primeiro  analista  do  seu  tempo, 
e  a  sua  prodigiosa  erudição  é  demonstrada  pela  inexcedível  competência  com 
que  regeu  as  cadeiras  de  mecânica,  física  experimental,  física  matemática, 
cálculo  das  probabilidades  e  mecânica  celeste  na  Faculdade  de  Scièncias  de 
Paris,  onde  deixou  vestígio  da  sua  gigantesca  individualidade. 

Finalmente,  temos  ainda  a  lamentar  a  perda  dos  associados  provinciais: 
Barão  de  S.  Pedro,  diplomata  distinto,  e  António  Tomás  Pires,  escritor,  poeta  e 
erudito  investigador  arqueológico. 


Eis,  Senhores,  imanto  julguei  indispensável  relatar-vos  para  que  pudés- 
seis ajuizar  sobre  a  actividade  scientífica  e  literária  da  nossa  Academia,  que 


HISTÓRIA   DA   ACADEMIA  DAS  SCIÉNCIAS  DU  LISBOA 


se  esforça  por  manter  a  gloriosa  reputação  que  era  todo  o  mundo  civilizado 
tem  conseguido  conquistar;  e  é  profunda  convicção  minha,  certamente  com- 
partilhada por  todos  vós,  que  será  pelo  ardente  culto  do  bem,  do  belo  e 
da  verdade,  que  a  nossa  querida  Pátria  conseguirá  alcançar  o  objectivo  das 
suas  legitimas  aspirações;  e  confia  a  Academia  em  que  por  todos  será  ani- 
mada e  auxiliada  no  eficaz  desempenho  da  sua  missão  perante  esse  trans- 
cendente objectivo,  que  define  a  superior  missão  do  homem  na  existência 
universal. 


APÊNDICE 


PROGRAMA 


ACADEMIA  DAS  SCIÊNCIAS  DE  LISBOA 


ANUNCIADO  NA  SESSÃO  PÚBLICA 


7  DE  DEZEMBRO  DE  1913  PARA  O  ANO  DE  1914 


ASSUNTOS  PHOPOSTOS  PARA  PRÉMIO 
PRIMEIRA  CLASSE 

Em  sciências  matemáticas 

I.  —  Ampliar  a  teoria  das  variáveis  imaginárias  sob  o  ponto  de  vista 
analítico  e  geométrico. 

II.  —  Fazer  o  estudo  crítico  da  teoria  geométrica  da  curvatura  das  super- 
fícies, procurando  ao  mesmo  tempo  desenvolvê-la  e  aperfeiçoá-la  nalguns  pon- 
tos importantes. 

III.  —  Estudar  as  equações  de  dinâmica  sob  o  ponto  de  vista  da  sua 
integração. 

Em  sciências  fisicas 

I.  —  Influência  do  descobrimento  das  vibrações  irrefrangíveis  nas  teorias 
da  luz. 

II.  — Subsídios  prestados  pela  análise  espectral  ao  estudo  da  composi- 
ção química  das  terras  raras. 

Em  sciências  histórioo-naturais 

I. — Um  trabalho  monográfico  sobre  qualquer  grupo  animal  ou  vegetal 
da  fauna  ou  da  flora  portuguesa. 

II.  —  Estudo  do  vulcanismo  nas  ilhas  dos  Açores  nos  tempos  geológi- 
cos e  na  época  actual. 

Em  sciências  médioas 

I.  —  Progressos  da  serulogia  e  da  seroterapia. 


HISTÓRIA  DA    ACADEMIA 


SEGUNDA  CLASSE 


Em  literatura 


I.  — Estudo  sobre  Vicente  Nogueira,  seguido  do  extracto  da  sua  corres- 
pondência,  como  subsídio  para  a  História  Literária  de  Portugal. 

II.— Pascoal  José  de  Melo  como  precursor  da  Escola  Histórica  do  Di- 
reito em  Portugal. 

Em  sciencias  morais  e  jurisprudência 

A  Política  neutral  de  D.  Manuel  I  e  de  D.  João  III  durante  as  lulas  de 
Carlos  Y  e  de  Francisco  I. 

Em  soiéneias  económicas  e  administrativas 

Diversidade  das  nossas  colónias  africanas  debaixo  do  ponto  de  vista 
económico. 

Em  história  e  arqueologia 

I.  —  Esboço  do  maquinismo  tributário  e  das  rendas  públicas,  e  a  sua 
conexão  com  as  variantes  da  moeda,  nos  dois  primeiros  séculos  da  monarquia 
portuguesa. 

II. — Desenvolvimento  da  riqueza  pública,  da  indústria  e  do  comércio 
em  Portugal,  durante  as  últimas  duas  décadas  do  século  xm. 

Os  prémios  ordinários  consistem  em  uma  medalha  de  ouro  do  peso  de 
50  escudos.  Todas  as  pessoas  podem  a  eles  concorrer,  à  excepção  dos  sócios 
honorários  e  efectivos  da  Academia.  Abaixo  destes  prémios  principais  propõe 
a  Academia  também  a  honra  do  accessit,  que  consiste  em  uma  medalha  de  prata. 
Far-se  há  nas  Actas  e  História  da  Academia  menção  honorífica  da  Memória 
que  merecer  esta  distinção. 

As  condições  gerais  para  todos  os  assuntos  propostos  são : 

a)  Que  as  Memórias  que  vierem  a  concurso  sejam  escritas  em  português, 
sendo  seus  autores  naturais  deste  reino,  e  em  latim,  castelhano,  francês,  ita- 
liano, inglês,  ou  alemão,  sendo  estrangeiros ; 

b)  Que  sejam  entregues  na  Secretaria  da  Academia  por  todo  o  mês  de 
Julho  do  ano  em  que  houverem  de  ser  julgadas; 

c)  Que  os  nomes  dos  autores  venham  em  carta  fechada,  a  qual  traga  a 
mesma  divisa  que  a  Memória,  para  se  abrir  somente  no  caso  em  que  esta  seja 
premiada.  As  Memórias  premiadas  não  podem  ser  impressas  senão  por  ordem 
ou  com  licença  expressa  da  Academia,  e  esta  condição  igualmente  se  aplica 
a  todas  as  Memórias  que,  não  obtendo  prémio,  merecerem  contudo  a  honra 


DAS  SC1ÊNCIAS  DE  LISBO  i 


do  accessit.  Mas  nem  esta  distinção,  nem  a  adjudicação  do  prémio,  nem  ainda 
,i  publicação  determinada  ou  permitida  pela  Academia,  deverão  jamais  repu 
tar-se  como  argumento  decisivo  de  que  esta  Sociedade  aprova  absolutamente 
tudo  quanto  se  contiver  nas  Memórias  a  que  se  conceder  qualquer  destes  si- 
nais de  aprovação,  porém  somente  como  uma  prova  de  que  ao  seu  conceito 
se  desempenharam  os  autores,  se  não  inteiramente,  ao  menos  na  parte  mais 
importante  dos  assuntos  propostos. 

Lisboa,  Secretaria  da  Academia  das  Sciências,  em  7  de  Dezembro  de  1913. 


Adriano  Augusto  de  Pina  Vidal, 

•i  -  RETÁRIO   GERAL. 


LISTA  DOS  SÓCIOS 

ACADEMIA  DAS  SCIÊNCIAS  DE  LISBOA 

Em  %it  <lo  Setembro  tle  iin:« 


PRESIDENTE 
Dr.  Francisco  Teixeira  de  Queiroz. 

VICE  PRESIDENTE 
Dr.  José  Joaquim  da  Silva  Amado. 

SECRETÁRIO  GERAL 
Adriano  Augusto  de  Pina  Vidal. 

SÓCIOS  EFECTIVOS 

Classe  de  sciências  matemáticas,  físicas  e  naturais 

1."  Secção 

I  i  M  Ltii  is 

Alfredo  Augusto  Schiappa  Monteiro  de  Carvalho. 
César  Augusto  Campos  Rodrigues. 
Luis  Feliciano  Marrecas  Ferreira. 
Francisco  Gomes  Teixeira. 


IlISTiUUA   l»A    ACADEMIA 


2.'  Secção 

SCIÊNCIAS  FÍSICAS 

Adriano  augusto  de  Tina  Vidal,  Secretário  da  Classe. 

Carlos  Augusto  Murais, de  Almeida. 

Eduardo  Burnay. 

João  Maria  de  Almeida  Lima,  Yice-Presidente  da  Classe. 

Aquiles  Alfredo  da  silveira  Machado,  Vice-Secretário  da  Classe. 

3."  Secção 

SCIÊNCIAS  HISTÓRICO-NÀTURÀIS 

Alberto  Artur  Alexandre  Girard. 
1).  António  Xavier  Pereira  Coutinho. 
Dr.  Venceslau  de  Sousa  Pereira  Lima. 
Alfredo  Bensaúde. 
Bernardino  Camilo  Cincinato  da  Costa. 

4."  Secção 

SCIÊNCIAS  MÉDICAS 

Dr.  José  Joaquim  da  Silva  Amado,  Presidente  da  Classe. 
Dr.  Vergílio  César  da  Silveira  Machado. 
Dr.  José  Curry  da  Câmara  Cabral. 

Classe  de  sciências  morais,  politicas  e  belas  letras 
1."  Secção 

LITERATURA 

Dr.  Joaquim  Teófilo  Braga. 

Henrique  Lopes  de  Mendonça,  Yice-Presidente  da  Classe. 
Dr.  Francisco  Teixeira  de  Queiroz,  Presidente  da  Classe. 
José  Duarte  Bamalbo  Ortigão. 

Júlio  Dantas. 

2.»  Secção 

SCIÊNCIAS  MORAIS  E  JURISPRUDÊNCIA 

Lucas  Fernandes  Falcão. 

Dr.  Francisco  António  da  Veiga  Beirão. 

José  Luciano  de  Castro  Pereira  Corte  Bial. 

Joaquim  Coelho  de  Carvalho. 

Artur  Pinto  de  Miranda  Montenegro. 


h\>    Mill   NC.I  \>    Hl.    I.N|:n\ 


3."  Secção 

SCIKM-.IAS   Ef.oNÓMICO-AUMlNISTRATIVAS 


Dr.  António  Cândido  Ribeiro  da  Cosia. 

Cristóvão  Aires  de  Magalhães  Sepúlveda,  Secretário  da  (liasse. 

José  Fernandes  Costa. 

Conde  de  Sabugosa. 

Aniceto  dos  Heis  Gonçalves  Viana. 

4.'  Secção 

SI  11.  M  IAS,  HISTÓRIA  E  ARQUEOLOGIA 

Jaime  Constantino  de  Freitas  Moniz. 

Henrique  da  Gama  Barros,  Vice-Secretário  da  Classe. 

José  Ramos  Coelho. 

Júlio  Marques  de  Vilhena. 

José  Leite  de  Vasconcelos. 

SÓCIOS  CORRESPONDENTES  NACIONAIS 


Dr.  Matias  de  Carvalho  e  Vasconcelos. 

António  Cândido  de  Figueiredo. 

Conde  de  Azevedo  c  Silva. 

Alberto  Augusto  de  Almeida  Pimentel. 

Guilherme  José  Enes. 

Joaquim  Urbano  da  Veiga. 

Dr.  António  dos  Santos  Viegas. 

António  Evaristo  de  Orneias. 

João  Fagundo  da  Silva. 

Carlos  Roma  du  Bocage. 

José  Manuel  Rodrigues. 

José  da  Cunha  Navarro  de  Paiva. 

Francisco  Augusto  de  Oliveira  Feijão. 

Sabino  Maria  Teixeira  Coelho. 

Joaquim  de  Araújo. 

Pedro  Venceslau  de  Brito  Aranha. 

Paulo  Morais. 

Emílio  Dias. 

Alfredo  Luis  Lopes. 


MSTÓHIA  DA  ACADEMIA 


Ricardo  de  Almeida  loi 

António  de  Assis  Teixeira  de  Magalhães. 

Alberto  Teles  de  Utra  Machado. 

Hall  asar  Machado  da  Cindia  Osório. 

António  Bettencourt  Rodrigues. 

Júlio  de  Matos. 

António  Joaquim  Ferreira  da  Silva. 

Dr.  Bernardino  Luis  Machado  Guimarães. 

António  Emílio  de  Azevedo. 

Sebastião  Custódio  de  Sousa  Teles. 

Luis  António  Rebelo  da  Silva. 

Eduardo  Sequeira. 

Rodolfo  Ferreira  Dias  Guimarães. 

Gaspar  de  Queiroz  Ribeiro. 

roão  de  Melo  Viana. 

Joaquim  Ferreira  de  Sousa  Garcez. 

Dr.  João  Marcelino  Arroio. 

António  Viana  da  Silva  Carvalho. 

José  Cândido  Correia. 

José  Caldas. 

Manuel  Duarte  de  Almeida. 

Filipe  Eduardo  de  Almeida  Figueiredo. 

Augusto  Pereira  Nobre. 

Hermenegildo  Carlos  de  Brito  Capelo. 

Eduardo  Frederico  Schwalbach  Lucci. 

José  António  Ismael  Gracias. 

Manuel  António  Ferreira  Deusdado. 

José  Augusto  Moreira  de  Almeida. 

Eugénio  de  Castro  e  Almeida. 

António  Augusto  de  Carvalho  Monteiro. 

Dr.  José  Pedro  Teixeira. 

António  Francisco  Nogueira. 

Roberto  Belarmino  do  Rosário  Frias. 

Manuel  Martins  Capela. 

Joaquim  de  Vasconcelos. 

Frederico  Com. 

António  Cabreira. 

Visconde  de  Reguengo. 

Jorge  Godinho. 

Dr.Caetano  António  CláudioJidioRairnimdodaGamaPmto. 


DAS  SCIÊNCIAS  DE  LISBOA 


Dr.  João  José  de  Antas  Souto  Rodrigues. 

Dr.  Joaquim  de  Mariz. 

Dr.  António  Garcia  Ribeiro  de  Vasconcelos. 

Xavier  da  Cunha. 

Manuel  de  Sousa  da  Câmara. 

Júlio  Guilherme  tio  Bettencourt  Ferreira. 

Manuel  António  Moreira  Júnior. 

Alfredo  dos  Santos  Figueiredo. 

Dr.  Zeferino  Cândido  Falcão  Pacheco. 

Luis  Xavier  Barbosa  da  Costa. 

José  Nunes  Gonçalves. 

Raul  Bensaúde. 

Montalverne  de  Sequeira. 

João  Lopes  da  Silva  Martins  Júnior. 

Daniel  Gelásio  Dalgado. 

Joaquim  da  Silva  Tavares. 

Eduardo  Freire  de  Oliveira. 

João  da  Mota  Prego. 

Caetano  Francisco  Xavier  Gracias. 

José  Macia  Pereira  de  Lima. 

Jorge  Cândido  Heckeley  Cotter. 

José  Maria  de  Oliveira  Simões. 

Cristiano  José  de  Sena  Barcelos. 

Anselmo  Assis  de  Andrade. 

David  de  Melo  Lopes. 

Vítor  Maximiano  Ribeiro. 

Manuel  Soares  de  Melo  Simas. 

Dr.  S.  C.  da  Costa  Sacadura. 

Dr.  Maximiano  de  Lemos. 

Dr.  Azevedo  Neves. 

D.  Luis  de  Castro. 

Dr.  Aníbal  Bettencourt. 

Ricardo  Severo  da  Fonseca  Costa. 

António  dos  Santos  Bocha. 

Dr.  Alfredo  Carneiro  da  Cunha. 

Carlos  Malheiro  Dias. 

António  Correia  de  Oliveira. 

Francisco  Maria  Esteves  Pereira. 

João  Marques  de  Carvalho. 

João  Penha. 


HiSTÓRIA  DA  ACADEMIA 


Júlio  Brandão. 
António  Olímpio  Cagigal. 
Artur  Cardoso  Pereira. 
Dr.  Alberto  de  Aguiar. 
Augusto  de  Castro. 
Manuel  da  Silva  Gaio. 

têvão  de  Morais  Sarmento. 
Faustino  da  Fonseca. 

Gonçalo  Pereira  da  Silva  de  Sousa  Meneses  (Conde  de  Bertiaudos). 
Dr.  José  Caeiro  da  Mata. 
Dr.  Henrique  Bastos. 
Jacinto  Inácio  de  Brito  Rebelo. 
Pedro  Augusto  de  S.  Bartolomeu  de  Azevedo. 
José  de  Figueiredo. 
Anselmo  Braamcamp  Freire. 
Cristóvão  Pinto. 
Luís  da  Cunha  Gonçalves. 

António  José  de  Ávila  (Marquês  de  Ávila  e  Bolama). 
Antero  de  Figueiredo. 
Sebastião  Rodolfo  Dalgado. 
Constâncio  Roque  da  Costa. 
Maximiano  Aragão. 
Dr.  José  Maria  Rodrigues. 
Dr.  Francisco  Xavier  da  Silva  feles. 
Vicente  de  Almeida  Eça. 
D.  Maria  Amália  Vaz  de  CarvaJh). 
D.  Carolina  Michaèlis  de  Vasconcelos. 
António  Eduardo  Simões  Baião. 
José  Joaquim  Nunes. 
João  de  Barros. 

SÓCIOS  CORRESPONDENTES  ESTRANGEIROS 

DESDE   1835,  PELA  DATA  DA  ELEIÇÃO 

José  Martins  da  Cruz  Jobin.  Rio  de  Janeiro. 

João  Van  Heck.  Bruxelas. 

Luís  René  le  Canu.  Paris. 

Emílio  Blanchard.  Paris. 

Francisco  Zantedeschi.  Pádua. 

Tomás  V.  Wollaston.  Londres. 


DAS  SC1EMCIAS  DE  LISBOA 

Ricardo  Tomás  Lowe.  Londres. 

Júlio  Verreaux.  Paris. 

Adolfo  Legoyt.  Paris. 

Carlos  Vogel.  Boun. 

Henrique  Dupont.  Bruxelas. 

Artur  Morelet.  Dijon. 

Dr.  Luís  Rosselini.  Modem. 

Gustavo  de  Veer.  Dantzig. 

II.  Bourdiol.  /'./>■<>■. 

Dr.  G.  Eliot.  Estados  Unidos. 

Hofras  Franz  Steindacuner.   Viena. 

Nathalis  Rondot.  1'aris. 

Augusto  Teodoro  de  Griraui.  Berlim. 

Leão  Donnat.  Parts. 

Carlos  Faider.  Bruxelas. 

Dr.  Alberto  Erlenmeyer.  Bcmlorf. 

C.  Luis  Livet.  Paris. 
Conde  do  Montblan.  Paris. 

D.  Manuel  Rodrigues  de  Berlanga.  Málaga. 
Lord  Talbot  de  Malahide.  Dublin. 
losé  Descaisne.  P«m. 
Ricardo  Bowdler  Sbarpe.  Londres. 
Ernesto  Mònaci.  It<nu<i. 
Dr.  José  Dalton  Hoocker.  Lomlrrs. 
D.  José  Villaamil  y  Castro.  Madrid. 
F.  Boccourt.  Paris. 

José  de  Araújo  Ribeiro.  Ato  de  Janeiro. 
J.  i.  Auberlin.  Londres. 
Dr.  Bonnafond.  Parts. 
Paulo  Porto  Alegre.  Lisboa. 
Henrique  Guinier.  Cautterets. 
Conde  de  Casa  Valência.  Madrid. 
António  José  de  Freitas.  Lisboa. 
Clóvis  Lainarre.  Paris. 
A.  Vesselowsky.  Mascou. 
Dr.  Alfredo  Piragibe.  Rio  de  Janeiro. 
W.  1'.  Iliern.  Londres. 

Dr.  José  Pereira  Guimarães.  Rio  de  Janeiro. 
Carlos  Félix  Lenient.  Paris, 
II.  Howorth.  Londres. 


HISTÚKIA  DA  ACADEMIA 


Dr.  l.inest  Lambrou.  Luchon. 

C.  Le  Paige.  Liège. 

Dr.  Droixh.  Bruxelas. 

Aristides  Marre.  7V/m. 

Afonso  Rivier.  Bruxelas. 

Francisco  Michel.  Paris. 

Dr.  .1.  A.  Fort.  Parts 

Dr.  João  da  Costa  Lima  e  Castro.  Rio  de  Janeiro. 

Paulo  Choffat.  Lisboa. 

Adolfo  de  Ceuleneer.  G'«h</. 

Cipriano  de  Freitas.  Rio  de  Janeiro.  _ 

.Maurício  d'Ocagne.  Paris. 

Max  Durand  Fardel.  Vichy. 

Stanislas  Meunier.  Paris. 

Augusto  Meulemans.  Bruxelas. 

Léon  Lalleraand.  Paris. 

Ernesto  Lehr.  Lausanne. 

Emílio  Cartailhac.  Tolosa. 

Dr.  Isidoro  Neumann.  Vienna. 

Carlos  Féré.  Paris. 

Barão  de  Baye.  Paris. 

S.  Pozzi.  Paris. 

Júlio  Daveau.  Montpellier. 

J.  Fayer.  Londres. 

Carlos  Anjos  Laisant.  Paris. 

Máximo  Formont.  Paris. 

Estêvão  de  Carathéodory.  Bruxelas. 

J.  de  Mendizabal  Tamborrel.  J/toco. 

Aquiles  Millien.  Paris. 

D.  Zoei  Garcia  de  Galdeano.  Saragoça. 

René  Worms.  Paris. 

Duque  de  Loubat.  Paris. 

Próspero  Paragallo.  Roma. 

D.  Rafael  Maria  Labra.  Madrid. 

C.  M.  Gariel.  Paris. 

Henrique  Brocard.  Bar-le-Duc. 

Edgar  Prestage.  Londres. 

Alexandre  Frugoni.  Roma. 

Afonso  Celso.  Rio  de  Janeiro. 

Carlos  Lepierre.  Coimbra. 


NI  IAS  DE  USBO  I 


Francisco  António  Picot.  Rio  de  Janeiro. 
Dr.  Goran  de  Bforkman.  Stockholmo. 
Dr.  Hugo  Schuchardt.  OY</:. 
Dr.  Henrique  R.  Lang.  /Veia  Haven. 
Marcelino  Pelayo.  Madrid. 

I  ir  Sempere  y  Miquel.  Bon 
.1.  F.  de  Vssis  Brasil.  Buenos 
Júlio  Cornu.  P 

D.  José  de  Echegaray.  Madrid. 
A.  Martin.  Berlim. 

D.  Frederico  Oloriz  Aguilera.  Madrid. 
D. .Santiago  Ramon  y  Cajal.  Madrid. 
Dr.  Gabriel  Pouchet.  /'/■■'*. 
António  Padul 

D.  Angel  Rodri  ma  y  Arroquia.  México. 

Visconde  de  Révérend.  Paris. 
Príncipe  Rolando  Bonaparte.  Paris. 
Paulo  Mansion.  Gand. 
<;.  B.  de  Toni.  Pádua. 
Rodrigo  Octávio.  Rio  de  Janeiro. 
Dr.  A.  li.  Griffiths.  Londres. 
Dr.  António  da  Cunha  Rarbosa.  Iiio  de  Janeiro. 
João  Effont.   Bruxelas.  ■ 
Francisco  Deléage.    Vichy. 
José  Carlos  Rodrigues,  flw  de  Janeiro. 
Padre  Schmitz.  Funchal. 
Barão  Descamps.  Louvain. 
D.  José  R.  Carracido.  Madrid. 
Conde  de  ia  Vinaza.   Madrid. 
Ernesto  Lebon.  Parts. 
Barthélémi  Dupuy. 
Henri  Serégé.  Bordéus. 
Marquês  Guillio  Marchette  Ferrante.  Lisboa. 
F.  Raymond. 
Frédéric  L.  Koby. 
Octave  Noel.  A-V/í*. 
Haton  de  la  Goupillière.  P/»/7s. 
William  Edward  Purser.  VJ«Ws. 
Dr.  .Max  Neuburger.  Ftena. 
Dr.  Clemente  ferreira.  BrostX 


IIIVInltlA    HA   ACAIIL.MIA  HÁS  SCIKM.IAS  DE  LISHUA 


Padre  Gamille  Torrend. 

Dr.  Hermano  Griesbach.  Suiça. 

Manuel  de  oliveira  Lima.  Bruxelas. 

José  Gestoso  3  Peres.  Sevilha. 

René  Basset.  Argel. 

D.  Rafael  Errazuris  Urmeneta.  Argentina. 

João  Lúcio  de  Azevedo.  Lisboa. 

Vrmand  Gautier.  Paris. 

Tobias  Monteiro.  Brasil. 

José  Veríssimo.  Bio  de  Janeiro. 

Alberto  de  Oliveira.  Bio  de  Janeiro. 

Dr.  Olímpio  Artur  Ribeiro  da  Fonseca.  Bio  de  Janeiro^ 

Charles  Orman.  Oxford. 

Raimundo  Breazley.  Inglaterra. 

Oswaldo  Gonçalves  da  Cruz.  liio  de  Janeiro. 

Manuel  Álvaro  de  Sousa  Sá  Viana.  Bio  de  Janeiro. 

Léon  Poinsard.  Berna. 

Sílvio  Romero.  Bio  de  Janeiro. 

Jean  Finot.  Paris. 

Paulo  Barreto  (João  do  Rio).  Bio  de  Janeiro. 


ASSOCIADOS  PROVINCIAIS 

Henrique  Manuel  Ferreira  Rotelbo.   Vila  Bial. 

José  Mendes  Norton.  Lisboa.   Viana  do  Castelo. 

Francisco  Frederico  Hoppfer.  Lisboa. 

João  Augusto  Marques  Gomes.  Aveiro. 

Francisco  António  Rodrigues  Gusmão.  Portalegre. 

A.  L.  de  Almada  Negreiros.  Paris. 

Filoteio  Pereira  de  Andrade.  Goa. 

João  Baptista  Amâncio  Gracias.  Goa. 

João  Cardoso  Júnior.  Lisboa. 

Carlos  de  Azevedo  Meneses. 

Jaime  Pereira  Sampaio  Forjaz  de  Serpa  Pimentel.  Lisboa. 

Manuel  João  Paulo  Rocha.  Lagos. 


CONSELHO  ADMINISTRATIVO  DA  ACADEMIA 

NO  ANO  DE  1913 


Francisco  Teixeira  de  Queiroz. 

José  Joaquim  da  Silva  Amado. 

Adriano  Augusto  de  Pina  Vidal. 

Cristóvão  Aires  de  Magalhães  Sepúlveda. 

Alberto  Alexandre  Girard. 

Aquiles  Machado. 

Lins  Feliciano  Marrecas  Ferreira. 

Henrique  Lopes  de  Mendonça. 

José  Leite  de  Vasconcelos. 

Joaquim  Coelho  de  Carvalho. 


Empregados  da  Academia 


/."  Oficial-  -  Di'.  Rodrigo  Aires  de  M 
2."  Oficial.    -António  da  Gosta  Moreira. 
Amanuense.     Francisco  Vasques. 
Servente.  -  Joaquim  José  da  silva. 


/.   Oficial.     António  Ú varo  de  Oliveira  Neves. 

2°  Oficial.     Carlos  de  Mendonça  da  silva  Vieira. 

Fiel  dos  depósitos  </■■  impressos. — Carlos  de  Mendonça  da  silva  Vieira. 

Alçador  e  guarda  dos  depósitos  de  impressos. — Francisco  Rodrigues  Baptista 

de  Almeida. 
Continuo.—  José  Vasques. 
Servente.     João  Domingos. 

AULA    MAYNENSE 

Professor.—  Carlos  Augusto  Morais  de  Almeida. 
Guarda  da  aula.  —  João  Domingos. 


Porteiro  do  edifício. — José  Vasques. 
Guarda-portão. — Lino  de  Paiva  Monteiro. 


^1  SA    ÍITERBO 


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Fac-simile 
do  rosto  das  obras  poéticas  de  João  Pinto  Delgado 


NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA  E  OBRAS 


JOÃO    PINTO    DELGADO 


SOUSA  VITERBO 

Sócio  correspondente  da  Àcademii 


Parecer  da  secção  respectiva  sobre  esta  Memoria 

A  Noticia  acerca  da  vida  e  obras  de  João  Pinto  Delgado,  memoria 
apresentada  á  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  em  sessão  de  Se- 
gunda Classe  de  9  de  dezembro  do  1909,  pelo  sócio  correspondente  da 
mesma  Academia,  o  sr.  Dr.  Sousa  Viterbo,  para  ser  por  ella  publicada,  é 
digna  da  maior  estima,  ou  se  attenda  á  maneira  por  que  está  escripta,  ou 
ao  ponto  sobre  que  versa:  esclarecer  a  biographia  de  um  nosso  poeta  il- 
lustre  pelas  suas  obras,  quasi  todas  (as  conhecidas)  ria  língua  hespanhola, 
em  cuja  litleralura  tem  honroso  e  merecido  cabimento. 

Com  elYcito  o  estylo  de  João  Pinto  Delgado  é  puro  e  despido  dos 
arrebiques  de  mau  gosto  que  prejudicaram  tantos  talentos  da  sua  epo- 
cha;  a  sua  versificação  é  harmoniosa;  e  os  assumptos  que  trata,  em  ge- 
ral bíblicos,  vesle-os  da  majestade  própria;  o  que  tudo  lhe  tornou  favo- 
rável a  critica,  tanto  em  Portugal  como  em  Hespanha,  bastando  citar,  por 
todos,  entre  os  escriptores  dos  dois  paizes  que  o  elogiaram.  Barbosa  Ma- 
chado, Ribeiro  dos  Santos,  Menendez  y  Pelayo  e  De  los  Rios. 

Mas.  se  João  Pinto  Delgado  mereceu  geralmente  louvores,  o  seu 
nome  não  conseguiu  divulgar-se;  e  a  publicação  que  Ih'o  ha  dado,  inti- 
tulada Poema  de  la  Reyna  Ester,  Lamentaciones  dei  Propheta  Jeremias, 
Historia  de  Ruí  y  varias  poesias,  impressa  em  Rouen  em  1627,  não  lo- 
grou até  hoje,  que  se  saiba,  as  honras  de  segunda  edição. 

Him    i   Mem.  da  Acad— Tomo  xn.  Parts  ii  N.°  1  1 


1  NOTICIA    ICERCA  DA  VIDA  E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (2) 

Não  parou  aqui  a  infelicidade  de  João  Pinto  Delgado,  porque  até 
a  sua  pessoa  foi  confundida  com  outra  de  egual  nome,  do  Algarve,  e  tida 
alli  por  grande  trovador,  segundo  a  voz  publica,  individuo,  cuja  existên- 
cia a  memoria  funda  do  depoimento  de  um  confessante  do  Santo  Olíicio, 
e  que  morreu  por  1 592,  muito  antes  portanto  de  o  auetor  do  Poema  de  la 
Reina  Ester  publicar  esta  nina,  e  ainda  muito  mais  da  epoclia  provável 
do  seu  fallecimento:  1(>.'Í7  ou  1638. 

Esta  dualidade  deslinda-a  o  sr.  Dr.  Sousa  Viterbo  á  vista  do  depoi- 
mento e  com  varias  considerações,  mostrando  as  causas  que  induziram 
em  erro  os  escriptores  porluguezes  e  hespanhoes,  que  confundiram  um 
com  outro,  a  saber:  a  egualdade  entre  ambos  de  nome  e  de  naturalidade 
ou  residência,  pois  eram  do  Algarve  ou  ahi  moravam,  a  crença  religiosa, 
pois  seguiam  a  de  Moysés,  o  cultivo  da  poesia,  pois  versejavam  os  dois, 
e  até  a  semelhança  de  empregos,  pois,  se  o  auetor  do  Poema  de  la  Reyna 
Ester  foi  almoxarife  dos  mantimentos  e  pagamentos  de  Mazagão  de  1602 
a  1613,  antes  de  sahir  de  Portugal,  com  receio  naturalmente  do  Santo 
Oflicio,  o  seu  homonymo  serviu  de  feitor  da  cal  e  munições  que  do  reino 
do  Algarve  se  enviavam  para  os  logares  d'Africa. 

A  memoria  é  geralmente  apoiada  em  documentos,  que  fazem  d'ella 
parte;  ao  que  se  junta  um  capitulo  da  biblio<;  rapina  de  João  Pinto  Del- 
gado com  a  exacta  transcripção  do  titulo,  e  com  o  conteúdo  do  Poema 
de  la  Reyna  Ester,  o  que  mal  se  fizera  até  agora,  findando  com  differen- 
tes  composições  poéticas,  que  o  sr.  Dr.  Sousa  Viterbo  respigou  nalgu- 
mas obras,  nas  quaes  Delgado  louva  os  seus  auetores. 

Por  esta  exposição  vê-se  que  a  memoria  apresentada  merece  ser 
impressa  pela  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa. 


Lisboa,  7  de  janeiro  de  1910. 


Gama  Barros. 
Jayme  Moniz. 
Júlio  M.  de  Vilhena. 
Z.  Consiglieri  Pedroso. 
José  Ramos-Coelho  (relator). 


Noticia  acerca  da  vida  e  obras  de  João  Pinto  Delgado   . 


Raras  vezes  se  conjugam  tão  unanimes  osjuizos  favoráveis  acerca  de  um 
escriptor,  como  se  observa  com  respeito  a  João  Pinto  Delgado,  que  parece 
deveria  ter  garantido  um  logar  de  primazia  ao  Parnaso  peninsular,  ou  antes 
no  Parnaso  hespanhol,  porque  foi  quasi  exclusivamente  na  lingua  de  Gervan 
tes  que  elle  deixou  mostras  dos  primores  do  seu  incontestável  talento.  Não 
succede,  porém,  assim,  porque  não  o  vemos  descer  das  altas  regiões  a  que  o 
elevaram  os  applausos  da  erudição  e  da  critica.  O  seu  nome  não  se  vulgari- 
zou, e  creio  até  que  não  se  chegou  a  fazer  nova  edição  das  "suas  obras,  aliás 
tão  dignas  d'isso,  o  que  .se  explica  por  mais  de  um  motivo.  Os  versos  de  Del- 
gado são  de  uma  forma  demasiado  culta,  que  difficilmente  seriam  assimila- 
dos pelas  classes  populares,  e,  como  se  isto  Dão  bastasse, 'tinham  a  prejudi 
cal-os  um  ar  de  particularismo  hebraico,  havendo  o  auctor  escolhido  de  pre- 
ferencia os  seus  assumptos  no  Velha  Testamento.  Não  admira;  Delgado  perten- 
cia á  raça  dos  cbristãos  novos,  e  não  era  preciso  mais  nada  para  o  tornar 
suspeito,  quando  mesmo  não  judaizasse,  regressando  â  religião  de  seus  avós. 
A  sua  obra,  ainda  que  não  fosse  posta  no  Index  expurgatorio,  só  poderia  ni- 
trar clandestinamente  em  Hespanha,  inferindo-se  d'aqui  a  sua  extrema  rari- 
dade. 

Que  se  saiba,  a  vida  de  João  Pinto  Delgado  não  offerece,  como  a  de  Jorge 
iie  Montemor  e  outros,  nenhum  episodio  dramático  aventuroso  que  desperte 
a  curiosidade,  nem  as  suas  poesias  apresentam  elementos  para  um  estudo  psy- 
chologico  do  auctor.  São,  para  assim  dizer,  impessoacs,  sem  traduzirem  o  sen- 


I  NOTICIA  ACERCA   DA  VIDA  K  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  [l\ 

timento  próprio  de  quem  as  dictou,  as  luctas  do  seu  coração,  os  gritos  da  sua 

consciência,  que  se  limita  a  ser ho  da  consciência  alheia,  como  se  n'ella 

achara  as  naturaes  vibrações  da  sua  alma.  a  expressão  mais  pura  e  sincera 
das  Mias  dores  e  affectos.  Delgado  é  mais  um  artista  tia  palavra  do  que  um 
espirito  creador,  mais  um  apaixonado  da  forma  do  que  um  mysterioso  evoca- 
dor de  sentimentos.  É  vigoroso,  é  enérgico,  accommoda  sempre  a  phrase  á 
idéa  dominante,  mas  falta-lhe  a  originalidade,  limitando-se  a  reproduzir  as 
historias  bíblicas,  que  aão  perdem,  justo  é  dizel-o,  no  seu  traslado,  nada  das 
bellezas  primordiaes.  As  suas  paraphrases  não  temem  o  confronto  com  a  ins- 
piração  bíblica,  mas  sempre  são  uma  derivação  d'esta.  Não  ha  duvida  que 
Shakespeare,  o  colosso  da  poesia  britânica,  o  poeta  universal,  pois  raros  como 
elle  revolveram  tão  profundamente  o  espirito  e  o  coração  humano,  Shakes- 
peare, repito,  também  não  foi  de  uma  absoluta  originalidade  na  escolha  do 
seu  fundo  dramático,  antes  buscou  a  matéria  prima  das  suas  peças  na  his- 
toria, nas  lendas,  nas  tradições  e  contos  populares.  O  que  determina  a  gran- 
deza do  seu  génio  é  a  maneira  como  põe  em  jogo  os  homens  e  os  factos,  as 
idéas  e  os  sentimentos,  o  rigor  com  que  traça  os  caracteres,  e,  emfim,  o  em- 
prego de  um  estylo  e  uma  linguagem  que  tanto  nos  commovem,  como  nos 
obrigam  a  reflectir.  Dotado  ou  não  de  grandes  faculdades  inventivas,  João 
Pinto  Delgado,  de  uma  irreprehensivel  forma  litteraria,  é  um  admirável  inter- 
prete da  Bíblia,  e  com  estes  predicados  não  será  fácil  perder  a  reputação  até 
agora  adquirida,  embora  a  poesia  religiosa  não  actue  com  a  mesma  intensi- 
dade de  outros  tempos.  Repercutindo  as  Lamentações  de  Jeremias,  elle  é  um 
instrumento  de  primeira  ordem,  muito  superior  ao  mais  perfeito  gramophone, 
que  nos  dá,  sim,  a  voz  deliciosa  de  Caruzzo,  mas  n'um  som  nazalado,  mais 
um  arremedo  do  que  a  vibração  nitida  das  cordas  vocaes  do  eminente  cantor. 

Um  seu  compatriota  e  contemporâneo,  o  doutor  Miguel  da  Silveira,  por 
indole  de  raça  e  atavismo  de  crença,  seguiu-lhe  as  pisadas,  buscando  na  Bí- 
blia as  fontes  da  sua  inspiração.  Em  1638  publicou  em  Nápoles  um  poema 
heróico  em  oitava  rima  intitulado  El  Macabeo,  cuja  demasiada  extensão  já 
de  per  si  contribue  para  tornar  enfadonha  e  diffusa  a  obra,  diminuindo-lhe  o 
vigor  e  a  concisão,  qualidades  que  tanto  realçam  em  Delgado. 

Não  ha  duvida  que  Silveira  tinha  dotes  apreciáveis,  não  faltando  mesmo 
entre  os  modernos  quem  exalte  os  seus  merecimentos.  Mais  hyperbolico  e  re- 
tumbante que  Delgado,  não  evitou  como  este  a  influencia  do  culteranismo  e  da 
escola  de  Gongora,  influencia  de  que  raríssimos  conseguiram  salvar-se  indem- 
nes. Silveira  foi  uma  victima  dos  defeitos  da  sua  epocha,  de  que  não  se  res- 
gatou por  falta  de  um  talento  excepcional,  á  semelhança  de  um  astro  que  frou- 
xamente rompe  as  caliginosas  nuvens  que  empanam  a  sua  claridade. 

Em  1897  publiquei  um  breve  estudo  sobre  Delgado,  onde  exarei  a  im- 


'<  NOTK  !\   Al  ERGA   l>\   Vlli\   E  OURAS   Hl.  JOÃO 


pressão  <iue  recebi  directamente  da  leitura  dos  seus  elegantes  e  conceituosos 
estudo  que  refundo  e  amplio  agora,  não  duvidando  reforçar  o  parecer 
que  então  emitti  e  que  se  acha  expresso  nas  seguintes  palavras: 

«Efectivamente  a  poesia  de  Delgado  t .  ■  1 1 1  o  quer  que  seja  da  sublimidade 
da  Biblia,  o  que,  se  em  grande  parte  é  resultado  do  seu  talento,  é  devido  tam- 
bém á  alteza  da  matéria.  O  pensamento  é  levantado  e  a  forma  coaduna-se  com 
a  majestade  do  assumpto.  0  verso  é  harmonioso,  a  linguagem  é  casta,  o  es 
tylo  é  terso  e  puro,  despido  dos  arrebiques  da  epocha.  O  maior  elogio  d 
está  em  haver-se  afastado  do  culteranismo  que  então  dominava.  \  versificação 
é  elegante  e  donairosa,  tanto  nos  versos  decasyllabos,  como  mis  versos  de  arte 
menor,  mas  embora  titubeasse  na  escolha,  njío  deixaria  de  dar  a  preferencia 
ãs  quintilhas,  onde  me  parece  existir  mais  concisão  e  vigor,  como  quem  tra- 
duz ao  vivo  a  expressão  do  propheta.  Aqui  dou  um  trecho  para  confirmação 
e  amostra: 

Ó  vos  otros,  que  passais, 

Y  el  estremo,  a  que  é  llegado, 

Por  dicha,  no  imaginais, 

Yuestro  passo  apressurado 
Teneil,  por  ijue  me  veais. 

De  vuestra  lastiriw  fio, 
Que  si  con  el  Oceano 
No  pucde  medirse  un  rio, 
Digaes,  que  dolor  humano 
No  puede,  igualarse  ai  mio. 

De  aquello,  que  se  edifica, 
\  más  su  firmeza  alaba, 
Su  tin  la  fama  publica; 

Que.  lo  que  el  tiempo  fabrica 
El  mismo  tiempo  lo  acaba. 

No  fuí-  mi  ruína  assi, 

Que  ai  punto  que  me  olvide 

Del  cielo,  a  quien  offendi, 

Sin  tiempo  el  tiempo  llamé, 
Para  vengarse  de  mi. 

Llamandome  santidad 

Los  efetos  de  mis  manos 
Eran  justicia  y  verdad; 
Mas,  como  se  an  buelto  vanos, 
Seguieron  la  vanidad. 


i'ici\  aii  iu:\  n\  \in\  i. 


li, 


Llorando  el  dano  Israel 
Del  incauto  atrevimiento 
Del  ídolo  de  Betei, 
Yo  en  lugar  de  escarmiento, 
Segui  los  errores  dei. 


Yo  fuy  la  vifia  cercada 
Y  dei  rocio  celeste 
Era  mi  planta  bailada; 
Mas.  siendo  mi  fruto 

Fuy  de  gentiles  pisada. 


A  minha  opinião  coincide  em  mais  de  um  ponto  com  a  do  sr.  D.  Marcelino 
Menendez  y  Pelayo,  o  que  não  é  para  extranhar,  sendo  certo  que  o  illustre 
cathedratico  não  fez  outra  coisa  senão  corroborar  o  juizo  critico  de  outros  es- 
criptores  que  o  precederam.  O  coro  dos  elogios  é  geral  e  não  sei  de  nota  dis- 
cordante, facto  deveras  singular,  se  por  acaso  não  é  único,  nos  annaes  da 
litteratura.  O  bom  do  Homero  dormitava  algumas  vezes,  e  não  ha  génio  em 
cuja  pliotosphera,  intellectual  e  estlietica,  não  se  notem  manchas.  É  que  na  es- 
tructura  poética  de  Delgado  não  ha  d'essas  irregularidades  que  nos  pertur- 
bam, d'essas  fulgurações  que  nos  assombram. 

Da  obra  do  sábio  professor,  Historia  de  los  heterodoxos  espafioles,  vol.  u, 
pag.  006  e  seg.,  vou  trasladar  o  que  escreveu  acerca  do  nosso  conterrâneo, 
a  quem  colloca  entre  os  judaizantes: 

«Mucho  más  que  Rodriguez  de  (lastro l  vale  como  poeta  Moseh  Pinto  Del- 
gado, português  tambien  aunque  no  usó  en  sus  obras  impresas  otra  lengua 
que  la  eastellana.  Ilabiase  llamado  entre  los  cristianos  Juan,  y  huyendo  de 
la  Inquisicion,  fué  á  parar  á  Francia,  donde  estan  impresas  sus  obras,  sin 
ano  ni  lugar,  dedicadas  ai  Cardenal  de  Richelieu.  -  Contiene  este  tomo,  aparte 
de  varias  canciones  y  poesias  sueltas,  un  Poema  de  la  Reina  Ester,  en  sex- 
tettos;  La  Historia  de  Ruth,  en  redondil  las,  y  una  paráfrasis  de  las  Lamenta- 
tiones  de  Jeremias,  en  quintillas.  El  sentimiento  elegíaco  predomina  en  Moseh 
Pinto  Delgado,  sin  que  le  falten  condiciones  descriptivas.  Está  más  feliz  cuando 
traduce  las  sagradas  escripturas,  ó  se  inspira  en  ellas,  que  cuando  escribe 
de  cosecha  própria.  Se  distingue  por  el  buen  gusto  continuado  en  el  estylo 
y  en  el  lenguaje,  sin  que  sean  apenas  visibles  en  sus  delicados  versos  las 
huelas  de  afectation  y  culteranismo,  de  que  apenas  se  libro  ninguno  ingenio 


:  Refere-se  a  Estevão  Rodrigues  de  (lastro,  poeta  e  medico  portuguez. 
íEm8.°,  366  pag. 


(7)  NOTICIA  ACERCA   DA   VIDA   I    OBRAS  Dl    JOÃO  PINTO  DELGAI 


de  entonces.  En  [a  versificacion  es  diestro  y  fácil  mostrando  cierto  amor  y 
gasto  especial  por  los  metros  cortos  á  la  manera  de  los  antiguos  Caucione- 
ros.  No  desdena3  por  eso,  qí  se  muestra  torpe  en  el  uso  de  los  endecasilabos 
de  la  escuela  de  Garcilasso.  Como  poeta  de  índole  tierna  y  apaciblé  consi- 
gue  remedar  bien  el  idealismo  de  Petrarcha;  pêro  interesa  j  commueve  más 
cuando  Hora  sus  próprias  desdichas  3  se  dirige  ai  SeSor  con  arrebato  mís- 
tico, y  exclama : 

Del  tesoro  infinito 

|i>'  tu  divina  lumbre 

Á  mi  noche:  Sefior,  um  rayo  envia. 

Sea  tu  santa  inspiracion  mi  guia, 

Que  entre  |a  luz  dei  amoroso  fuego, 

Me  liame  en  el  desierto,  no  cursado 

De  mundana  memoria: 

Alli  desnudo,  j >« > r  tu  causa  ''1  ciego 

Velo  de  error,  el  habito  pasado, 

Dichoso  suba  i  contemplar  tu  gloria, 

Donde  mi  sér  por  milagroi 

Ya\  si  transfon 1  soberano  objeto. 

«Nunca  se  elevo  ;i  más  altura  Moseh  Pinto  Delgado;  mítica  hizo  tan  era  1- 
larda  muestra  de  su  fluidez  métrica  y  de  la  viva  penetracion  que  tenia  de 
las  cosas  bellas,  como  en  srj  parafrasis  de  los  Trenos  de  Jeremias,  que  es  la 
mejor  corona  de  su  memoria.  Apenas  hay  mejores  quintillas  en  todo  el  siglo 
xvu  y  de  Gjo  ningunas  tan  sencillas,  inspiradas  y  ricas  de  sentimiento: 

Qual  desventura,  oh  ciudad, 
Ba  vuelto  en  tan  triste  estado 
Tu  grandeza  y  majestad, 

Y  aquel  palaeio  sagrado 
En  estrago  y  soledad  .' 

Quien  a  mirarte  se  inclina 

V  tu.-  muros  derrocados 
Por  la  justicia  divina. 

Que  no  vea  en  tus  peccados, 
La  causa  de  tu  ruina? 

Qual  pecado  pudo  tanto 
Que  no  te  conosco  agAra? 
Mas  no  advirtiendo  me  espanto: 
Que  tu  fuiste  peccadora, 
I  i]ui''n  te  ha  juígado.  Santo. 


NOTICIA    ICERCA  DA  VIDA  l.  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (8) 


La  causa  por  que  caiste 
Y  por  que  humildo  baxaste 
De  la  gloria  en  que  te  viste, 
Fué  la  verdad  que  dexaste 
La  vanidad  que  seguiste. 

Lloren,  alfui.  entre  tanto 
Que  no  descansa  tu  mal, 
I  obliguen  ai  cielo  santo 
Que  no  puede  ser  el  llauto 
Á  sus  delitos  igual. 

Antes  de  proseguir  seja-me  licito  observar  que  o  sr.  Menendez  y  Pelayo 
não  teve  presente  a  edição  princeps,  que  eu  considero  única,  deixando-se  por- 
ventura guiar,  sem  lhe  fazer  referencia,  por  D.  José  Rodriguez  de  Castro,  que 
diz  que  as  obras  de  Delgado  foram  impressas  sem  declararão  de  logar  nem 
auno,  n'um  volume  de  3G6  pag.  em  8." 


II 


Se  os  pareceres  dos  diversos  escriptores  se  harmonizam  com  respeito 
aos  merecimentos  poéticos  de  João  Pinto  Delgado,  pelo  contrario  vêl-os-hemos 
em  sensível  discordância  com  relação  á  sua  vida  e  bibliographia. 

Diogo  Barbosa  Machado  na  sua  Biblintlteca  Lusitana  é  quem  nos  offerece 
mais  amplos  dados,  parecendo,  pelas  suas  minúcias,  tel-os  bebido  em  memo- 
rias contemporâneas  ou  de  algum  informador  tradicional  de  toda  a  confiança. 
Não  indica  expressamente  quem  fosse  o  confidente,  mas,  citando  em  primeiro  lo- 
gar, entre  os  auctores  que  se  occupam  de  Delgado,  a  João  Franco  Barreto,  tudo 
leva  a  crer  que  da  sua  Bibliotkeca  Portugueza  extractasse  os  respectivos  por- 
menores. A  obra  de  Barreto  ficou  inédita,  ignorando-se  o  seu  ulterior  destino, 
e  a  sua  perda  seria  assas  deplorável,  se  Barbosa,  como  elle  próprio  lealmente 
affirma,  não  a  tivesse  quanto  possível  utilizado. 

Passarei  a  reproduzir  o  artigo  da  Bibliotheca  Lusitana,  para  fazer  depois 
os  indispensáveis  commentarios: 

«João  Pinto  Delgado,  natural  da  cidade  de  Tavira  em  o  reino  do  Algarve, 
Provedor  da  pedra,  que  se  mandava  para  a  praça  de  Mazagão.  Foy  dotado 
de  tão  prodigiosa  memoria  que  ouvindo  qualquer  sermão  o  recitava  e  escrevia 


(9)  noticia  Acerca  da  vida  e  obras  de  joIo  pint slgado 


sem  lhe  faltar  a  menor  palavra,  assistiu  alguns  annos  em  Roma  e  Flandres 
onde  deixou  celebrado  o  seu  nome  pela  viveza  do  engenho  e  particular  génio 
que  teve  para  a  Poesia  Sagrada  e  Profana.  Morreu  junto  do  anno  de  1590, 
quando  contava  cincoenta  d lade. 

Custa  a  comprehender  como  Barbosa  -Machado,  e  i i  elle  mais  alguns 

dos  nossos  bibliographos,  incorressem  do  grave  anachronismo  de  attribuir  a 
João  Pinto  Delgado  uma  obra  publicada  em  1627,  quando  davam  o  seu  an- 
dor fallecido  em  1590.  Este  lado  só  poderia  acceitar-se  no  caso  da  obra  sa- 
hir  posthuma,  o  que  é  absolutamente  inadmissível,  pois  o  mesmo  que  a  rubri- 
cou com  o  seu  nome  a  dedicou  ao  Cardeal  de  Richelieu,  que  só  alcançou  este 
titulo  em  Uri:.'.  Sr  Barbosa  lovc  em  suas  mãos  os  poemas  de  Delgado,  que 
descreve  alias  com  alguma  exactidão,  de  certo  que  os  percorreu  muito  per 
functoriamente,  de  outro  modo  oão  teria  cabido  em  tão  evidente  equivoco. 

Não  pode  haver  duvida  acerca  da  existência,  no  terceiro  quartel  do  sé- 
culo xvi,  de  um  João  Pinto  Delgado,  exercendo  funcções  publicas  qo  Algarve, 
e  até  parece  que  Barbosa  teve  conhecimento,  directo  ou  indirecto,  dos  diplo- 
mas officiaes  que  lhe  dizem  respeito  e  que  dão  plena  autlientieidade  às  in- 
formações da  Bibliotheca  Luzitana. 

Effectivamente,  a  10  de  agosto  de  1578,  era  assignada  uma  carta  régia, 
pela  qual  se  nomeava  a  João  Pinto  Delgado  «para  servir  por  três  annos  o 
cargo  de  feitor  de  cal  e  munições,  que  do  reyno  do  Algarve  se  enviam  para 
os  logares  d'Africa,  isto  depois  de  acabado  o  provimento  de  Diogo  Lopes  de 
Sequeira.»1  Duas  cartas  de  quitação  vêm  demonstrar  que  elle  desempenhara 
outras  commissões,  muito  provavelmente  correlacionadas  com  o  seu  cargo 
principal.  A  primeira,  de  15  de  novembro  de  1389,  dava-o  quite  pelas  verbas 
que  recebera  e  dispendera  em  dinheiro  e  em  géneros,  na  qualidade  de  feitor 
da  cal  no  reino  do  Algarve,  de  outubro  de  1579  a  julho  de  1586.2  a  segunda, 
de  3  de  dezembro  de  1587,  dava-o  quite  pela  quantia  de  1:409#000  réis,  rae 
dispendera.  por  ordem  do  governador  do  Algarve,  Fernão  Telles  de  Menezes, 
no  provimento  da  gente  que  foi  em  soccorro  da  Villa  de  Lagos.3 

João  Pinto  Delgado  devia  ser  fallecido  approximadamente  em  1592  ou 
poucos  annos  mais  tarde,  porquanto,  em  carta  de  16  de  dezembro  de  1599, 
seu  filho  Gonçalo  Pinto  Delgado  era  nomeado  paia  substituir  o  pae  no  cargo 
de  feitor  de  cal  e  munições  que  do  reino  do  Algarve  vão  para  os  logares  de 
Africa.  Nesta  carta  se  fazem  duas  declarações  importantes:  a  primeira  é  que 


1  Vide  documento  n.°  1. 
Vide  documento  n.°  2. 
;  Vide  documento  n."  3. 
lliM'   R  -Mkm.  i>a  Ar.AU. — ToMn  xn.  Paute  h.  N.°  1. 


10  NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA  E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (10) 

o  Duque  de  Medina  SidoDia  promettera  a  João  Pinto  Delgado,  quando  este 
morresse,  o  oflicio  para  o  filho;  a  segunda  é  que  este  estava  exercendo  o 
cargo  havia  oito  annos,  talvez  por  simples  impedimento  do  pae  e  não  ainda 

por  suí rte.  Como  quer  que  seja,  a  epocha  do  fallecimento  de  João  Pinto 

Delgado  oão  se  distanceia  muito  da  que  lhe  marca  Barbosa  Machado.1 

Em  carta  de  19  de  janeiro  de  1588  foi  dada  serventia  do  oflicio  de  al- 
moxarife da  cidade  de  Tavira  a  João  Delgado,  residente  na  mesma  cidade. 

Destruída,  por  completo,  a  idealidade  entre  o  leitor  algarvio,  do  terceiro 
quartel  do  século  xvi,  e  o  poeta  de  La  Reina  Esther,  resta  saber  se  não  houve 
um  dualismo  poético  e  se  o  primeiro,  apesar  da  prosa  do  seu  tracto,  não  foi 
também  um  cultor  das  Musas.  Esta  hypothese  não  é  destituída  de  fundamento, 
não  é  supposição  imaginaria,  antes  temos  a  coníirmal-a,  e  a  dar-lhe  créditos 
de  authenticidade,  um  interessante  testemunho  contemporâneo. 

\os  oito  dias  do  mez  de  novembro  de  1585,  um  Balthasar  da  Costa,  que 
regressara  de  Anvers,  veiu  delatar  perante  a  Inquisição  muitas  coisas  que  ou- 
vira n'aquella  cidade  a  diversas  pessoas,  com  quem  alli  mesmo  convivera.  A 
sua  denuncia,  como  é  de  suppôr,  tresanda  por  todos  os  poros  a  judaísmo.  O 
que  interessa  mais  de  perto  ao  nosso  caso  é  o  que  relata  a  propósito  de  um 
Gonçallo  Delgado,  filho  de  João  Pinto  do  Algarve,  morador,  ao  que  suppunha, 
em  Villa  Nova  ide  Portimão),  homem  de  habilidades,  a  quem  el-rei  dera  um 
oflicio  na  Alfandega  e  que  era  grande  trovador.  Gonçalo  Delgado,  a  chama- 
mento do  pae,  viera  para  Portugal,  trazendo  comsigo  a  mulher,  com  quem 
havia  casado  de  pouco.  Balthasar  da  Costa  reportava-se  a  successos  decorri- 
dos três  annos  antes  da  sua  denuncia. 

Apesar  de  ser  bastante  vago  e  até  indeciso  nas  suas  declarações,  o  es- 
sencial do  depoimento  de  Balthasar  da  Costa  não  pode  deixar  de  ser  tomado 
no  devido  apreço  e  por  elle  ficamos  sabendo  que  João  Delgado  gosava  da 
fama  de  grande  trovador,  podendo  d'aqui,  sem  grande  risco,  deduzir-se,  que 
houve  uma  família  de  poetas  d'aquelle  appellido.2  João  Pinto  Delgado,  o  tro- 
vador do  século  xvi,  não  é  por  consequência  um  mitho,  sendo  para  sentir  que 
não  chegassem  até  nós  as  suas  producções,  pelas  quaes  podessemos  avaliar  os 
seus  merecimentos  poéticos,  e  até  que  ponto  era  justa  a  fama  que  lhe  attri- 
buiam  os  seus  contemporâneos.  Emquanto  ao  seu  homonymo  do  século  xvu 
procuremos  colligir  os  pormenores  biographicos,  mais  incertos  sem  duvida  que 
as  provas  da  sua  alta  valia  litteraria. 

Em  alvará  de  12  de  agosto  de  1602  foi  nomeado  João  Pinto  Delgado,  por 
espaço  de  três  annos,  para  o  logar  de  almoxarife  dos  mantimentos  e  pagamen- 


1  Viilò  documento  n.°  4. 

2  Vide  documento  n.°  5. 


(11)  NOTICIA   ACERCA   DA   VIDA   E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  II 

tos  de  Mazagão,  altendendo  a  que  havia  já  mais  de  sete  que  servia  n'aquella 
praça  com  anuas  e  cavallo.  Entrou  a  exercer  o  ofíicio  ao  primeiro  de  abril 
de  1603,  permanecendo  a'estas  funcções,  pelo  menos,  até  ao  fim  de  agosto  de 
lt;<»7.  segundo  consta  da  carta  de  quitação  que  Ibe  foi  passada  do  primeiro 
de  agosto  de  1613. ' 

Seria  este  individuo  o  auctor  do  Poema  de  la  Reyna  Ester?  Seria  filho  des- 
cendenti  ou  parente  próximo  do  feitor  algarvio?  Não  me  atrevo  a  affirmar 
coisa  nenhuma  em  definitivo.  O  que  sei  f  que  três  annos  depois  d'aquella 
carta  régia  appareceram  em  Lisboa  duas  manifestações  poéticas  de  João  Pinto 
Delgado.  São  ambas  de  pequeno  fôlego  e  fazem  parte  dos  versos  laudatorios 
que  antecedem  dois  livros  religiosos,  um  em  prosa,  outro  em  verso. 

Em  Hilii  sahiu  dos  prelos  de  Paulo  Craesbeeck  um  livro  em  'i."  assim 
intitulado:  Consolação  christã  e  hiz  para  o  povo  hebreu,  etc.  Seu  auctor  cha- 
mava-se  João  Baptista  d'Estè,  e  era  judeu  converso,  tendo  sido  baptisado  por 
|).  Theotonio  de  Bragança.  Aqui  deixou  Delgado  um  Madrigal  em  portuguez. 
Os  outros  poetas  que  juntamente  com  elle  collaboraram  no  encomiástico  flori 
legio  foram:  Francisco  .Nunes  d' Ávila,  António  Gomes  de  Oliveira,  Paulo  Gon- 
çalves de  Andrade,  Jerónimo  Freire  Serrão,  etc. 

No  mesmo  anno  imprimiu  Pedro  Craesbeeck,  n'um  volume  em  8.°  de  xi 
preliminares  innum.,  180  foi.,  e  mais  \  de  errata,  o  Poema  mystico  ih!  glo- 
rioso Sancto  António  de  Pádua,  de  Luiz  de  rovar,  em  treze  livros  mi  cantos 
de  oitava  lima.  No  verso  da  errata:  «Acabose  de  imprimir  este  libro  con  to 
das  las  licencias  uecessarias,  a  í  de  março  de  1616.  Lisboa,  lai  la  oflicina  de 
Pedro  Craesbeeck.» 

As  preliminares  comprehendem:  licenças,  taxa,  a  Nuestra  Senhora  dePAm- 
paro;  poesia  latina  de  Francisco  Soares,  da  companhia  de  Jesus,  sonetos  de 
António  Gomes  de  oliveira,  de  A.ffonso  Feliciano  de  la  Vega,  de  Paulo  Gon- 
çalves de  Andrade,  de  João  Pinto  Delgado,  de  Manuel  Fernandes;  prologo  ai 
lectar.  onde  se  refere  aos  que  escreveram  de  Santo  António  e  a  Mateo  Aleman. 

A  poesia  de  Delgado  é  um  soneto  em  bespanhol. 

Em  Iti-JT  achava-se  elle  em  França,  residindo  provavelmente  em  Rouen, 

onde  existia  então  uma  importante  colónia  de  lieltraizanles  portuguezes.  N'esta 

cidade  publicou  o  seu  volume  de  versps  dedicado  ao  cardeal  de  Richelieu,  que 
obteve  esta  dignidade  ecclesiastica  em  1622.  Do  exame  do  livro  nada  resulta, 
d'qnde  se  possa  aferir  a  qualidade  de  relações  entre  o  poeta  e  o  seu  Mi 
se  a  dedicatória  era  o  reconhecimento  de  nu  rcê  recebida,  ou  simples  me- 
morial a  despertar  a  generosidade  do  eminente  ministro;  se  o  nosso  compa- 
triota havia  prestado  algum  serviço  á  corte  de  França  ou  se  estava  prompto 


Vnli'  ili.iruuM'iit  »  n."  li  e 


12  NOTICIA    ÍCERCA   DA  VIDA  E  OBRAS  DE  IOÃO  PINTO  DELGADO  (12) 

a  fazel-o.  Apenas  se  colhe  da  prosa  de  Delgado,  não  menos  elegante  que  os 
seus  versos,  que  eslava  disposto  a  cantar  as  acções  do  exímio  estadista,  pro- 
messa que  nunca  chegou  a  realisar,  não  havendo  até  ninguém,  creio  eu,  que 
a  ella  se  refira.  Descontentamento  por  falta  de  estimulo?  confiança  trahida? 
esperança  desenganada?  Talvez. 

Os  quatro  sonetos  laudatorios,  que  antecedem  os  versos  de  Delgado,  po- 
deriam projectar  alguma  luz,  ainda  que  ténue,  sobre  a  sua  biographia,  mas, 
infelizmente,  são  anonymos,  e  assim  ficamos  privados  de  saber  d'estas  reia- 
ções  pessoaes,  constando-nos  apenas  dos  três  amigos  que  o  thuriferam  que 
um  era  de  Rouen  e  o  outro  de  Madrid. 

Não  obstante  ter  collaborado  em  livros  mysticos,  como  os  dois  que  apon- 
tei acima,  Delgado  não  se  julgaria  sullieientemente  a  coberto  das  suspeitas  do 
Santo  Oflicio,  e,  para  evitar  o  faro  dos  seus  esbirros,  teve  por  mais  prudente 
refugiar-se  no  estrangeiro,  d'onde  o  estariam  chamando  as  vozes  saudosas  dos 
amigos,  parentes  e  correligionários.  Liberto  do  pesadelo  inquisitória!  ponde 
voltar  á  lei  primitiva,  trocando  o  nome  de  João  em  Mosche  ou  Moysés. 

Innocencio  Francisco  da  Silva,  que  nunca  teve  ensejo  de  vèr  a  edição  de 
Rouen,  e  por  isso  lhe  deve  ser  desculpada  a  maneira  menos  criteriosa  com 
que  trata  este  assumpto,  reproduz  os  erros  biographicos  de  Barbosa,  a  quem 
nota  não  ter  falado  na  apostasia  do  poeta,  quando  por  certo  lhe  não  era  des- 
conhecida. Innocencio,  porém,  esqueceu-se  de  nos  indicar  quando  e  como  se 
deu  este  facto  e  qual  a  auctoridade  em  que  se  baseia. 

No  supplemento  ao  Diccionario,  vol.  x,  o  seu  continuador,  aproveitan- 
do-se  dos  apontamentos  de  Innocencio,  volta  a  falar  de  Delgado,  sendo  de 
pouca  monta  o  que  amplia  e  esclarece.  Diz  que  no  Catalogo  de  Isaac  da  Costa 
vem  descripto  um  exemplar  do  Poema  de  la  Reúna  Ester,  classificado  de  ra- 
ríssimo; manda  vêr  os  elogios  que  De  los  Rios  consagra  ao  auctor,  e  diz  final- 
mente que  Salva  dava  vivo  o  poeta  em  1627.  A  este  ultimo  ponto  redargue 
Innocencio,  desculpando-se:  «Assim  será.  O  erro  porém  se.  o  é,  observa  em 
suas  notas  o  auctor  d'este  Diccionario,  também  se  encontra  na  Bibliotheca  Lu- 
sitana.» 

Eu  não  duvido  da  mudança  de  crença  de  João  Pinto  Delgado,  antes  a 
julgo  um  caso  naturalíssimo:  um  argumento  a  favor  d'esta  hypothese  é  elle 
ter  sido  amigo  intimo  de  Zacuto  Lusitano,  com  quem  de  certo  conviveu  na 
Hollanda.  Em  1029  começou  a  publicar  o  illustre  medico  em  Amsterdam  a 
seguinte  obra:  De  medicorvtn  principvm,  libri  sex,  e  entre  o  coro  numerosís- 
simo dos  Iouvaminheiros,  tanto  em  prosa  como  em  verso,  destaca-se  Delgado, 
com  um  soneto  em  hespanhol,  com  estrambote,  por  baixo  do  qual  se  vè  esta 
legenda:  In  observantiw  et  amoris  gratiam  scribebat  amicissimus  et  perdoctus 
Joannes  Pintas  Delgado. 


13  NOTICIA    VCEW  \   DA   VIDA   1    OBRAS  hl.  KUO  1'1N1 U 

O  que  se  me  afigura  digno  de  estranheza  éelle  nem  sequer  n-estes  ver- 
sos  ter  posto  o  nome  de  Mosche,  que  lhe  dà  Miguel  de  Barrios  no  (  rodelas 
Musas,  como  se  vê: 

Del  poema  de  Esthei 

Mosche  Delgado  dá  esplendor  sonoro, 

V  correu  con  su  voz  en  ricas  plantas 

De  Jeremias  las  endechas  santas. 

Foi  o  meu  amigo  ecollegaDr.  Maximiano  de  Lemos,  um  infatigável  in- 
vestigador da  historia  da  medicina  portugueza,  quem  me  tndicou  a  existência 
d'  S   soneto  na  sua  monographia  acerca  de  Zacuto  Lusttano  publicada  no 

Sem  1909.  Desejando  saber  qual  era  o  volu à*  De  MedKorvmpnnc 

Zn  historia,  em  que  appareceu  o  soneto  de  Delgado,  pois  era  um  elemento 
Suciai  para  determinar  o  período  em  que  ainda  vivia  o  poeta,  respondeu  o 

m;.u  douto  confrade  que  oão  lhe  fora  possível,  ri Marte  as  activas    ili 

gencias  que  empregara,  examinar  as  primeiras  edições  das  seis  P^d»obn 
de  Zacuto,  mas  que  certamente  os  versos  teriam  apparecido  em  1637  ou  1638 
quando  se  publicaram  as  ultimas,  a  partir  .la  ....  Na  n.  .mpressa  em  1636,  e 
Joe  não  vêm,  como  teve  occasião  de  verificar  por  exame  directo 

Embora  este  ponto  não  esteja  positivamente  liquidado,  e  ora  .1.  duvida 
que  João  Pinto  Delgado  ainda  vivia  dez  annos  depois  da  publicação  do  seu 
,  vr„  ,,„  Rouen,  ignorando-se,  porém,  em  que  se  occupara  a  sua  actividade 
durante  este  lapso  de  tempo,  e  se  ao  cultivo  das  musas  se  entregara  com  par- 
ticular affecto.  Onde  e  quando  exhalou  o  ultimo  suspiro,  nao  ha  epitaphio,  nem 
obituário  que  registem  estas  particularidades. 

A  Enwlopedia  Judaica  j  The  l  wish  Encyclop,  die  ,  vol.  iv,  consagra  um 
artiíf0  a  Delgado,  onde  traz  pormenores  que  seriam  interessantes  e  dignos 
de  apreço,  s  não  viessem  de  mistura  com  erros  imperdoáveis.  Assim  diz  qu 
nascera  em  Tavira  em  1530  e  fallecera  em  1590.  Como  foi  que  este  dislate 
seTropagou  tão  irreflectidamente  atravez  de  tantos  livros  e  tantos  andores, 
;,„;!,„,'  a  obra  publicada  em  Rouen  destruía  pelos  fundamentos  todos  esses 

^ccrlscenta  a  mesma  Encyclopedia,  sem  precisar  a  fonte  de  informação 
que  elle  cursara  estudos  em  Salamanca,  onde  travara  amizade  com  ire,  Lu./. 

^  Tta  asserção  talvez  provenha  de  se  dizer  que  existe  grande  aflinidade 
entre  o   dos  poetas  no  tocante  ao  vigor  da  forma  e do  sentimento  religioso 
'  emoora  úm  fosse  exaltado  catholico,  e  outro  interprete  exclusivo  do  Velho 
^     L     Se  Delgado,  versando  as  estrophes  do  frade  hespanhol,  colheu  sa- 
fa»*» da  sua  leitura,  não  menos  aprenderia  nos  Versos  d* 


I  |  XOTICIA    \<  Klii:.\   DA   MOA   E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (14) 

lonr  de  Nuesíra  Sefiora,  impressos  em  Lisboa  por  António  Gonçalves,  con- 
secutivamente, em  1572  e  1573.  Este  livro,  no  estylo  e  melro  italiano,  foi 
composto  pelo  Ur.  Francisco  Lopes,  medico  da  rainha  D.  Catharina,  mulher 
ili;  I).  Jofio  III.  Dizem  que  era  portuguez,  postoque  unia  phrase  da  sua  de- 
dicatoria,  en  nuestra  Espana,  suscite  seri,-is  duvidas  acerca  da  sua  naturali- 
dade. Os  auctores  do  Ensayo  '/<■  nua  biblioteca  de  libros  raros  y  curiosos  te- 
cem-lhe  grandes  elogios,  rematando-os  por  esta  forma:  «el  estilo  y  frase  de 
Luis  do  Leon  parece  menos  original,  euando  se  lee  este  y  oiros  poetas  que  le 
precedieron." 

Delgado,  se  não  fui  amigo,  teve,  pelo  menos,  relações  litterarias  com  os 
dois  auctores  supramencionados,  cujas  obras  se  publicaram  em  Lisboa  em 
1616.  De  João  Baptista  d'Este  não  pude  colher  mais  nenhum  pormenor  bio- 
graphico.  Emquanto  a  Luiz  de  Tovar  encontra-se  registado,  na  Chancellaria 
di'  I).  1'ilippe  III,  um  alvará  com  loira  de  curta,  de  8  de  março  de  1622,  pelo 
qual  se  vê  que  Luiz  de  Tovar,  fidalgo  da  casa  de  el-rei,  filho  mais  velho  de  Pêro 
de  Tovar,  embarcava  para  a  índia  n'esse  anno  sem  se  designar  o  cargo  que 
ai  li  ia  exercer. l 

Luiz  de  Tovar  continuava  honrosamente  a  série  de  serviços  prestados  ao 
rei  e  a  pátria  pelos  seus  maiores.  Seu  pae  acompanhava-o  também  á  índia,  e, 
por  este  motivo,  recebia  novas  mercês  a  accrescentar  a  outras  com  que  a  mu- 
nificência régia  o  havia  já  premiado. 

Em  7  de  agosto  de  1609  era  feito  cavalleiro  do  habito  de  Christo, 2  sen- 
do-lhe  permitlido  o  uso  do  habito  de  oiro  por  alvará  de  26  de  novembro  do 
mesmo  anno.3 

Finalmente,  em  14  de  março  de  1622,  havendo-se-lhe  passado  alvará  de 
lembrança  da  commenda  de  Santa  Maria  de  Nave,  no  bispado  de  Lamego,  vaga 
por  fallecimento  de  João  Moniz,  «attendendo  aos  serviços  de  seu  pae  Sancho 
de  Tovar  e  aos  seus,  nYste  reino  e  armadas  delle,  e  a  se  dispor  este  anno  a 
ir  continual-os  na  índia,  onde  deverá  servir  quatro  annos,  e  voltando  ou  fal- 
lecendo  ficará  a  commenda  a  seu  filho  mais  velho»,  que  deveria  também  ir  á 
índia,  se  lhe  conferia  a  effectividade  da  dita  commenda,  devendo  cessar  a  frui- 
ção da  tença  que  tinha.4 

Esta  tença,  que  eiva  de  50$000  reis,  lòra-lhe  outorgada  por  carta  padrão 
de  6  de  março  de  1610,  para  a  usufruir  com  o  habito,  attendendo  a  haver-se 
embarcado  em  1606  na  armada  com  que  D.  Luiz  Fajardo  partiu  de  Lisboa  e  a 


1  Vide  doeumenlo  n.°  8. 

2  Torro  do  Tombo.  Chane  da  Ordem  de  Christo.  liv.  17,  11.  106  v.  e  107. 
'Ideio.  Idem.  liv.  9.  ti.  231. 

*  Idem.  Idem,  liv.  22,  A.  46. 


(15)  NOTICIA    ÍCERCA  DA  VIDA  1    OBRAS  DE  JOÃO  PINT LGADO  I  5 

lhe  pertencerem,  pela  renuncia  que  Q'elle  fizeram  seus  irmãos,  os  sen 
seu  pae  Sancho  de  Tovar,  que  foi  fidalgo  da  guarda  de  el-rei  D.  Sebastião  e 
seu  copeiro-mór,  acompanhando-o  duas  vezes  á  Vfrica,  onde  foi  ferido  e  ficou 
captivo  na  batalha  de  Alcácer  Quibir,  e  haver  fallecido  sem  lograr  a  com 
menda  de  Santa  Ovaia  de  Rio  Covo,  com  que  tinha  sido  despachado. ' 

Luiz  de  Tovar,  além  do  Poema  mystico  dei  glorioso  Santo  [ntonio,  dei- 
xou outras  pequenas  composições  i ticas,  dispersas  pelos  seguintes  livros: 

Relacion  de  las  fiestas  qve  ha  hecho  el  colégio  imprimi  de  la  compaiiia  de 
Jesus  de  Madrid  en  la  canonizacion  de  Sun  Tgnacio  de  Loyola  y  San  Francisco 
Xavier.  Por  Dom  Fernando  de  Monforte  \  Herrera.  Madrid,  1622. 

Relacion  de  las  fieslas  que  la  insigne  villa  de  Madrid  hizo  en  la  canoni- 
çasion  ■!■  su  Bienavenlurado  hijo  e  patron  Sim  Isidro  con  las  comedias  que  se 
representaron  y  los  versos  que  en  la  justa  poética  se  escrivieron.  Por  Lope  de 
Vega  Carpio.  Madrid,  1622. 

Gigantomachia  de  Manuel  de  Gallegos.  Lisboa,  1626. 

Varias  Poesias  de  Paulo  Gonçalves  de  Andrade.  Lisboa,  1629. 

Todas  estas  poesias  são  em  castelhano,  e  não  sei  que  Luiz  de  Tovar  es- 
crevesse qualquer  outra  na  sua  lingua  nativa. 


III 


Occupar-me-hei  agora  da  bibliographia  de  Delgado,  que  ofiferece  alguns 
pontos  menos  claros  e  confusos,  á  semelhança  da  sua  vida.  Barbosa  dá  com 
exactidão,  mas  sem  minudência,  o  titulo  e  o  formato  da  única  obra  que  o  au- 
ctor  fez  imprimir.  Effectivamente  parece  tel-a  visto,  ou,  quando  a  não  visse, 
guiou-se  por  informador  seguro.  Rodrigues  de  Castro  é  que  a  descreve  de  ma- 
neira que'  faz  suppôr  a  existência  de  outra  edição.  Diz  o  erudito  hespanhol  a 
pag.  506  do  tomo  i  da  sua  Biblioteca  Espafiola: 

«En  el  ano  dei  inundo  5482,  de  Christo  1722,  se  imprimiu  en  Leyden 
una  Parafrasis  de  los  Profetas  mayores,  escrita  em  Espano!  por  R.  Isaac  de 
Acosta,  y  publicada  con  estes  titnlos:  Conjecturas  Sagradas.  ■ .  - 


1  Vide  documento  n."  9. 


te 


LCER<  V  DA  VIDA  E  OBRAS  DE  JOÃO  IMNTM  DELGADO  (16) 


Depois  de  tratar  d'esta  obra,  occupa-se  do  Poema  de  la  Reina  Ester  pela 
seguinte  forma: 

«Por  este  mismo  tiempo  en  que  se  dieron  ã  luz  estas  Conjecturas  Sa- 
gradas, se  publico,  en  uu  tomo  en  8.»,  con  30(5  pag.,  sin  nota  de 5  lugar ,111 
ano  de  la  impression,  el  Poma  de  la  liana  Ester,  Lamentatwnes  dei  Profeta 
Termias,  Historia  de  lua,  .//  otras  poesias,  que  escribio  en  verso  Juan  I  into 
Delgado  Estas  preciosas  obras,  que  por  lo  sublime  de  su  estilo,  por  la  va- 
riedad  de  sus  metros,  y  por  la  elegância  de  sus  locuciones  han  merecido  la 
acceptation  de  los  doctos,  estãn  dedicadas  ai  Cardenal  de  lUcheheu,  Gran 
Uaestro  Supremo  y  superintendente  general  de  la  navegacion  y  Commerciode 
Francia;  y  por  ser  obras  muy  raras,  y  únicas  en  su  línea,  será  agradable 
el  espécimen  de  ellas.» 

Seguem-se  transcripções  bastante  extensas  de  cada  uma  das  partes  ou 
poemas  de  que  se  compõe  o  livro.  , 

A  primeira  objecção  que  suggere  o  trecho  acima  transcnpto  e  saber  como 
é  que  Rodrigues  de  Castro  foi  collocar  ao  lado  de  uma  obra  impressa  em  1722 
uma  outra  que  não  indicava  nem  logar,  nem  anno  de  impressão.  Que  circums- 
tancias  ou  que  considerações  o  impelliram  a  dar-lhe  esta  ordem  chronologica? 
Pois  a  dedicatória  ao  cardeal  de  Richelieu  não  era  uma  preciosa  indicação 

histórica?  _  ... 

A  dar-se  inteiro  credito  ao  que  aflirma  Rodrigues  de  Castro,  haveria  in- 
dubitavelmente outra  edição,  mas  suspeito  que  o  seu  exemplar  estaria  falho  do 
frontispício  gravado,  e  que  lhe  faltaria  egualmente  a  folha  final.  Elle  accusa 
366  pag  ,  ao  passo  que  o  exemplar  que  possuo  tem  368. 

Ribeiro  dos  Santos  occupa-se  de  João  Pinto  Delgado  nas  suas  Memorias 
da  liUeratura  Judaica  em  Portugal,  mas  vè-se  que  não  teve  conhecimento  di- 
recto das  suas  obras,  antes  se  guiou  pelo  que  encontrou  em  Rodrigues  de 
Castro.  Innocencio  da  Silva  não  foi  mais  feliz  e  nada  adeanla  ao  que  escre- 
veram os  seus  antecessores.  Nicolau  António  cita  a  edição  de  1627,  mas  dan- 
do-lhe  o  formato  em  4.°  _ 

Domingos  Garcia  Peres  fala  da  obra  e  do  auctor,  aproveitando-se  do  que 
leu  em  outros  bibliographos,  sem  o  menor  indicio  de  exame  pessoal. 

Eu  possuo  um  bello  exemplar,  que  mandei  vir  ha  annos  de  um  livreiro 
de  Anvers,  em  cujo  catalogo  o  vi  annunciado,  e  em  presença  d'elle  posso  dar 
ao  leitor  as  mais  exactas  e  minuciosas  informações. 

O  volume  é  effectivamente  em  8.°,  o  exame  do  formato  e  da  marcação 
não  deixam  a  menor  duvida  a  este  respeito:  cadernos  de  16  pag.  marcados 
\  A   4  até  Z  Z.  4.  O  rosto  é  gravado,  formando  uma  espécie  de  pórtico  ou 


(17)  NOTICIA  ACERCA   l'\   VIDA   l    OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  17 

antes  moldara:  no  topo,  um  quadro  allusivo  á  historia  de  Esther;  do  lado  es- 
qoerdo  de  quem  observa,  a  figura  de  Job;  do  lado  direito,  um  quadro  allusivo 
á  historia  de  Rut.  io  centro  o  titulo  pela  seguinte  forma: 

Poema 

de  la  Reyna  Ester 

Lamentaciones  dei 

Proplieta  leremias. 

Historia  de  Rut.  //.  varias  Poesias. 

Por  Ioan  Pinto  Delgado 

Al  ilustríssimo,  y  Reuerendissimo  Cardenal 

de  Richelieu,  Gran  Maestre,  Supremo 

H  Supérentendiente  General 

de  la  Nauegacion, 

1/  Comercio  </< 

Francia 

Á  Roven 

Na  base: 

Chèz  Dauid  du 

Petit  Vai,  Imprimeur 

ordinaire  du  Roy 

M.DC.XXVU. 

Os  primeiros  •">  fólios  são  innumerados  e  conteem,  além  do  frontispício, 
dedicatória  ao  Cardeal  de  Richelieu;  ai  kctor;  soneto  de  un  amigo,  sumiu  dei 
mismo;  soneto  de  un  amigo  de  Roan;  soneto  de  un  amigo  asistenteem  Madrid. 
A  dedicatória  não  tem  data  e  nenhuma  das  outras  peças  ministra  qualquer 
pormenor  elucidativo  para  a  vida  do  poeta  ou  para  a  bibliographia  da  obra. 

ii  Poema  de  la  Reyna  Ester,  em  sextilhas  endecassyllabas,  vae  dapag.  I 
até  pag.  III.  As  Lamentaciones  delpropheta  leremias,  em  quintilhas  de  redon 
dilha,  comeram  nas  pag.  ll-_'  e  terminam  nas  pag.  311.  A  Historia  de  Idt 
Moabita,  em  quadras  de  redondilha,  de  pag.  315  a  pag.  :íis.  Seguem-se  de 
pois,  de  pag.  :i'i9  a  368,  as  varias  Poesias,  comprehendendo  três  canções  era 
versos  heróicos,  intercalados  de  versus  de  redondilha,  assim  intituladas:  Can- 
cion,  aplicando  misericórdias  divinas,  y  defetos  próprios  a  la  solida  de  Egipto 
nsin  la  tierra  santa;  .1  la  sabidvria:  Cântico  á  la  solida  de  Egipto. 

Em  Portugal  não  tenho  noticia  da  existência  de  eutro  exemplar,  além  do 

Hm-  f.  Mem.  da  Acad.— Tomo  mi   Paute  ii.  N     1 


18  NuTICIA  ACERCA  DA  VIDA  E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (18 

meu,  pelo  menos  em  livraria  publica.  Salva  possuía  um,  em  não  muito  bom 
estado,  segundo  ouvi,  o  qual  vem  descripto  no  seu  catalogo  sob  o  n.°  881. 
Passou  para  a  livraria  Heredia,  em  cujo  catalogo  vem  egualmcnte  exarado. 
Na  venda  que  d'esta  livraria  se  fez  em  Paris,  creio  que  foi  arrematado  por 
ordem  do  sr.  A.  Fernandes  Thomaz. 

Nu  Ensayo  de  nua  Biblioteca,  de  Gallardo,  vem  também,  sob  o  n.°  3:483, 
descripto  uni  exemplar  pertencente  á  Bibliotheca  do  Infante  D.  Luiz.  Não  differe 
do  meu.  D.  Àdolpho  de  Castro,  ao  falar  do  Poema  de  In  Urina  Ester,  diz  que 
estas  poesias  se  imprimiram  em  Paris.  Foi  por  certo  equivoco;  ninguém  mais 
dá  conta  d'esta  edição. 

Kaiserling,  na  sua  Bibliotheca  Espafíola  Portuguesa  Judaica,  inclue  Del- 
gado,  indicando  a  edição  de  Rouen,  sem  offerecer  nenhum  pormenor  de  infor- 
mação própria. 

Ticknor,  na  sua  Historia  'la  Litteratura  Hespanhola,  traducção  de  Pascual 
de  Gayangos  e  Henrique  Vedia,  em  nota  a  pag.  182,  e  a  propósito  de  Frei  Luiz 
de  Leon,  dá  um  parecer  altamente  lisonjeiro  sobre  o  merecimento  poético  de 
Delgado : 

«Al  calificar  de  bebrea  el  alma  de  Leon,  recordamos  a  un  contemporâ- 
neo suyo,  muy  semejante  á  el  en  este  punto,  y  cuya  suerte  fué  mas  singular 
y  desgraciada. . .  En  todas  ellas  respira  el  amargo  resentimiento  de  su  des- 
tierro  y  hay  trozos  llenos  de  ternura  y  de  una  versificacion  armoniosa  y  de- 
licada, traduciendose  siempre  el  espirito  hebraico  de  su  autor  cuyo  nombre 
próprio  era  Mosen  Delgado.» 

Alguma  coisa,  porém,  se  deve  descontar  n'esta  apreciação  enthusiastica, 
porque  ha  uma  affirmativa  que  me  deixa  em  duvida  se  Ticknor  leria  attenta- 
mente  os  versos  de  Delgado.  Diz  elle  que  as  suas  poesias  são  escriptas  em 
coplas  antiguas  sonetos  y  otros  versos  ai  gusto  italiano.  Ora  sonetos  é  coisa 
que  não  apparece  no  livro,  exceptuando  os  laudatorios,  que  lhe  são  dedica- 
dos pelos  amigos  e  que  vêm  nas  preliminares. 

Dizem  Nicolau  António  e  Barbosa  que  elle  traduzira  em  oitava  rima  os 
Triumphos  de  Petrarcha,  que  ficaram  manuscriptos,  ignorando-se  o  destino 
d'esse  trabalho,  e  até  os  fundamentos  de  tal  noticia. 

Eis  o  que  pude  apurar  até  agora  acerca  do  cantor  de  Esther  e  Ruth.  A 
porta  não  ficou  cerrada,  e  por  ella  podem  entrar  os  que  pretendam  revolver 
mais  a  fundo  a  matéria,  ampliando  e  rectificando,  interpretando  com  mais  sa- 
gacidade os  dados  do  problema,  quando  o  não  decifrem  cabalmente.  No  de- 
curso d'esta  monographia  tive  ensejo  de  notar  alguns  erros  e  deficiências  nos 
meus  antecessores,  o  que  fiz,  escusado  seria  dizel-o,  não  com  o  vaidoso  in- 


(19)  NOTICIA    ICERI  \   DA   VIDA   E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  l!» 

luito  de  menoscabar  a  sua  memoria  ou  de  deprimir  as  suas  obi 
oas  com  o  firme  propósito  de  dar  aos  factos  o  inteiro  cunho  de  veracidade. 
Estou  portanto  convencido  que  não  mereço  a  pena  de  Talião  e  fico  esperando 
que  os  meus  defeitos  sejam  julgados  desapaixonadamente  uo  tribunal  da  jus- 
tiça benévola.  Com  isto  não  se  melindrará  o  meu  amor  próprio,  e  a] 
minha  intelligencia  ficará  resignadamente  triste,  por  não  subir  tão  alto,  pelo 
débil  das  suas  azas,  a  nivelar-se  com  o  vôo  dos  mais. 

Delgado  não  honrou  com  as  suas  producções  o  Parnaso  portuguez,  o  que 
não  quer  significar  que  elle  menospresasse,  como  filho  ingrato,  a  terra  que 
lhe  foi  berço.  Se  preferiu  á  lingua  de  Cervantes  á  de  Camões,  não  foi,  creio 
eu,  por  ter  mais  affecto  á  Hespanha,  pois  o  fanatismo  hespanhol  não  era  me 
nos  intolerante  contra  os  descendentes  da  rara  precita.  Os  hebraizantes  lusi- 
tanos não  se  envergonhavam  d'esta  designação,  antes  se  orgulhavam  d'ella, 
como  o  attestam  Amato,  Zacuto,  Samuel  Usque,  além  de  outros. 

Delgado  seguiu  a  corrente  dominadora  da  epocha.  O  idioma  castelhano 
preponderava  em  toda  a  península,  então  unificada,  e  havia-se  vulgarizado  em 
outros  paizes  da  Europa,  chegando  a  ser  muda  na  corte  de  França.  A  littera- 
tura  hespanhola  attingira  o  seu  máximo  explendor,  exercendo  uma  attracção 
poderosa.  O  iberismo  litterario  fora  mais  intenso  e  duradoiro  que  o  iberismo 
politico.  Durante  os  séculos  xvi  e  xvii  a  maior  parte  dos  nossos  escriptores 
collaboraram  nos  dois  idiomas,  havendo  alguns  que  fizeram  emprego  exclu- 
sivo do  hespanhol.  D.  João  IV,  apesar  de  ser  o  chefe  e  o  symbolo  da  nossa  au- 
tonomia, escreveu  em  castelhano  a  Defensa  </<■  tu  musica. 

Se  tivéssemos  de  condemnar  Delgado,  por  este  delicto,  muitos  seriamos 
réos  que  lhe  fariam  companhia.  Na  mesma  penalidade  seriam  incluídos  os 
que  compuzeram  em  latim,  defraudando  uns  e  outros  as  lettras  pátrias.  De 
alguns  d'elles  pouco  nos  deve  importar  a  sua  infidelidade,  porque  nem  a  lit- 
teratura  portugueza  perdeu,  nem  a  hespanhola  ganhou  com  as  manifestações 
do  seu  estro,  já  de  diminuta  concepção,  já  contaminado  pilo  gongorismo  ou 
outros  vicios  de  natureza  idêntica.  V  deserção  de  Delgado,  porem,  é  muito 
para  sentir,  pois  o  seu  talento  não  se  havia  de  mostrar  menos  fulgurante  na 
pratica  da  nossa  lingua.  Deixando  de  sei-  [mela  portuguez,  não  deixou  de  ser 
um  dos  bons  engenhos  da  nossa  teria.  Vestiu  o  seu  pensamento  de  forma  es- 
tranha, mas  o  vestuário  estrangeiro  não  desnaturaliza  o  homem. 

A  poesia  mystica  está  em  decadência,  como  está  decahindo  o  sentimento 
religioso  de  que  ella  é  filha  primogénita.  A  theologia  vae  sendo  substituída 
pela  sciencia  das  religiões.  Atravessamos  um  período  agudíssimo,  de  crise 
moral,  cujo  termo  e  cujas  consequências  são  difficilimas  de  prever.  Qualquer, 
porém,  que  seja  o  seu  resultado,  a  poesia  religiosa,  que  ião  vasto  logar  occupa 
em  todas  as  lilteraturas,  nunca  deixará  de  ser  devi  l  imente  apreciada,  já  pela 


30  NOTICIA  ACEHCÀ  DA  VIDA  E  OBHAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (20) 


soa  forma  eslhetica,  já  pela  vehemeDtía  ou  doçura  da  sua  inspiração,  já  por 
exprimir  um  especial  estado  d'alma  da  humanidade  inteira.  Delgado  não  será 
porventura  uma  estrella  de  primeira  grandeza  ua  constellação  onde  fulguram 
s.  João  da  Cruz,  Jacopone  de  Todi,  Santa  Theresa,  etc,  mas  pode  seguir,  sem 
medo,  no  rumo  da  poesia  religiosa,  porque  os  seus  versos  não  o  deixarão  res- 
valar ao  abysmo  do  insondável  esqoecimento. 


IV 


Poesias   avulsas  de  João  Pinto  Delgado 


Madrigal  no  livro  de  João  Baptista  dEste 

Mostrando-te  Baptista,  a  fé  a  escada, 
Da  terra  levantado  ao  céo  subiste ; 
Altos  mysterios  nella  descubriste, 
Que  só  podes  tocar  n'arca  sagrada. 

No  sol  diuino  a  vista  penetrando 
Firme  no  objecto  a  caridade  ardente; 
Que  a  seu  fogo  se  inclina  o  raio  santo : 
Milagrosos  efeitos  vás  mostrando 
E  d'armonia  angélica  contente 
Levas  o  coração  com  doce  espanto. 

Qual  mais  suave  canto 
Levou  pedras  trás  si  ?  mas  so  puderas 
Tanto  alcançar,  que  da  celeste  boca 
O  canto  entendes  que  altamente  toca 
N*arpa  do  céo  as  cordas  das  espheras. 


Soneto  no  «Poema  Mystico  dei  glorioso  Santo  António* 

Sujeto  es  tu  pluma,  el  que  pudiera 
Honrar  a  Esmirna,  y  dei  faborecido 
Rompes  con  luz  la  nube  dei  oluido 
Que  le  encubrió  la  imagen  verdadera 

Este  es  el  dia,  quando  António  espera 
(Seraphin  en  amor  todo  encendido) 
Que  quantos  ven  dei  Sol  la  tuba,  o  nido 
Sigan  alegres  su  real  bandera, 


(21) 


\nni:i.\   mi  u<:\  n\  \in\  i:  i.huas  ih    J"\h  i-inth  iiki.i.aiki 


Paloma  subes  de  la  tierra  ai  ciclo, 
Vngi  l  desciendes,  por  moslfar  la  gloria, 
Que  i  M  extasi  suspen  Ic  1 1  pensamienlo 

Felice  fue  la  voz,  felice  el  bu  16, 
Que  consei  uando  eterna  tu  memoria, 
Te  guarda,  alta  deydade,  eterno  assiento 


Soneto  nas  obras  de  Zacuto 

Cármen  Hispano  s<  i  miti  Lusilan 

Mr.lt, -i  et  Philosophi  praeclari 

Enfermo  el  hombre  dei  primo  peccado 
Exprimenta  su  mal,  muriendo  muere, 
Alta  piedad,  que  su  Qagueza  inliere, 
El  bien  le  ofrece  de  su  antiguo  estado. 

Mirando  ariba  alcansa  el  mismo  grado. 
Que  ya  per  jiera,  el  alma  quando  quiere, 
Y  el  cuerpo,  per  que  el  dan'e  se  modere, 
Mira  en  plantas  secreto  reseruado. 

Estas  virtudes  dos  en  ti  contemplo, 
Saldo  Zacuto,  ai  nombre  merecidas, 
Con  que  adquieres  desde  oy  premio  infinito. 

El  camino  enseiíando  de  dos  vidas, 
La  eterna  con  diuino  j  santo  exemplo, 
La  humana,  con  la  lengua,  y  con  lo  escrito 

Y  pues  en  lo  linito 
Con  tu  saber  lo  radical  dilatas. 
Son  ai  sumo  obrador  tus  obras  gratas. 


I    antim  el  amuris  gratiam  sevibebat,  amicíssimas  et 
perdoctus  Joannes  Pinlus  Delgado.1 


1  De  regresso  de  uma  viagem  a  Paris,  onde  foi  com  o  principal  intuito  de  estudar  os  mss. 
do  dr.  A.  N.  Ribeiro  Sanches,  o  erudito  professor,  meu  particular  amigo,  dr.  Maximiano  de  Le- 
mos, escreveu-nie  uma  carta  em  data  de  ;t  de  junho,  na  qual  me  diz  que,  tendo  ensejo  de  ver  a 
1."  edição  das  obras  de  Zacuto,  verificara  que  o  soneto  de  Delgado  está  no  vol.  m,  impresso  em 
1037.  D'aqui  julgo  poder  concluir-se  que  o  porta  amda  vivia  por  estes  annos. 


NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA   E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (22) 


Poesias  avulsas  de  D.  Luiz  de  Tovar 


Cancion  Real,  na  «Relacion  de  las  fiestas. .  .<>  de  Monforte  y  Herrera 

Al  Rey  nuestro  senor 

en  la  canonisacion  de  quatro  Santas  Espanholes ' 

Tu  en  breues  dias,  Príncipe  excelente, 

tu  en  quanto  el  fuego  abrasa,  o  el  elado 

Polo  hase  ofensas  a  contrario  suelo, 

temido  en  nombre,  en  obras  admirado, 

que  de  Ocaso  mayor  nasciste  Oriente, 

vistiendo  luzes  ai  confuso  velo, 

tu  a  quien  destina  el  cielo 

eternidades,  si  ai  valor  que  admira, 

breue  espacio  el  Sol  gira; 

pues  ai  principio  de  capases  aíios 

ilustras  desenganos, 

a  cuya  admiracion  quedo  vencida 

la  misma  muerte  que  te  ofrece  vida. 

Ya  triunfando  dei  tiempo  te  sublimas 

a  empresas  altas,  y  el  valor  que  heredas, 

mayor  que  en  tu  ascendência  en  ti  contêplo, 

porque  ai  que  beve  el  Nilo  vencer  puedas 

glorioso,  y  el  govierno  vil  oprimas, 

dei  dueíio  impio  dei  sagrado  templo : 

que  mas  constante  exemplo, 

que  las  Deidades  quatro,  a  que  oy  levantas 

adoraeiones  santas? 

y  ai  holocasto,  ai  esplendor  suave 

Gerarquia  mas  grave. 

Felipe  es  dueíio  (dise)  d'esta  hasaíía 

Por  tal  veneracion  gloriosa  Espana. 

Augmentan  sacro  honor  a  tus  divisas, 

Protectores  divinos,  por  quien  subes 

A  nuevas  aras  de  piadoso  officio, 

Mira  tu  nombre,  emulacion  de  nubes, 


1  As  canções  sobre  esta  parte  do  certamen  foram  poucas,  pêro  algunas  tan  valientes  que 
valen  por  muchas.  Laurearam-se  en  primero  lugar  las  de  D.  Luis  de  Tovar. 


,>:; 


PJOTN  IA    VCERCA   DA   VIDA   E  OBRAS  DE  IOÃO  PINTO  DELGADO  ~2'.] 


que  astros  imprime»,  quando  applausos  pisas 

premio  ai  zelo,  ai  cuydado,  ai  ben 

el  cielo  está  propicio 

a  tus  acciones,  si  en  su  trono  espiran 

(los  Santos  que  oy  admiran) 

opulências  ai  Reyno,  a  ti  prudência 

con  alta  providencia, 

que  reinar  con  principio  tan  dichoso, 

es  vaticínio  santo  a  fin  glorioso. 

Nobles  insígnias,  que  el  terror  ostentan 

de  la  sacra  tiara  solamente 

lisonj  i  sean  donde  acaba  el  dia 

si  quatro  santos  gosas  felismente 

ya  columnas  divinas  que  sustentan 

cl  peso  a  tu  christiana  monarquia, 

Francisco  diuidia 

Mares,  y  en  ellos  a  tu  império  sacros 

erigio  simulacros : 

Ignacio  a  tu  valor  valor  reparte 

porque  excedas  a  Marte, 

('dória  Isidro  te  dá,  Theresa  augmentos 

de  tu  emisferio  unidos  elementos. 


Cancion  en  la  «Relacion  de  las  fiestas. . . »  de  Lope  de  Vega 


Tv  claro  sostituto, 

Del  que  vio  en  el  Tabúr  luz  scintilãte, 

Tu  que  dás  en  tributo 

Quatro  basas  a  Iglesia  militante, 

Ya  divino  ornamento 

A  piedra  triangular  de  su  ciiniento. 

Tu  sábio  Palinuro, 

Que  incultos  mares  con  valor  nauegas, 

I  en  el  timon  seguro 

No  lemes  Sirtes,  pues  ai  cielo  entregas 

Naue  que  firme  subes 

i    ■  indo  estrellas,  despreciando  nuucs. 

Tu  Gregório,  que  imitas 

Al  Magno,  ya  en  el  nombre,  ya  en  las  obras. 

Y  en  terror  precipitas 

Primera  causa  de  la  culpa,  y  cobras 

La  oueja  que  baiana 

Presa  cn  cadenas,  de  la  culpa  esclaua. 


24  NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA  E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (24) 


Hcligiosa  se  humilla 

Madrid  de  tanto  Príncipe  excelente 

Madre  si  en  grave  silla 

Higes  de  inmenso  pielago  el  tridente, 

V  el  nombre  tuyo  aclama, 

Con  voz  de  hierrn.  leifgua  de  la  fama. 

Gracias,  ó  Padre,  tantas 

Te  dá,  quantas  oy  Aras  de  excelência, 

A  la  virtud  levantas 

Con  auxilio,  q  en  llamas  fue  assislceia 

Que  el  que  eterniza  a  tantos 

Veneracion  merece  entre  los  Sanctos. 

Ya  ducno  de  la  llave 

Celeste,  vendra  dia  a  gloria  tuya, 

Que  adoracion  suave 

De  Aroma  Altares  sacros  te  construya, 

Ofreciendo  propícios 

Votos,  y  a  tu  memoria  sacrifícios. . . 


Soneto  na  «Gigantomachia»  de  Manuol  de  Gallegos 


El  Pelio  coronado  de  profano 

Esquadrou  ai  Olympo  sacro  ofende; 

Pêro  en  castigo  el  Etna  ai  jasan  prende 

Que  en  vano  tiembla,  y  fuego  anliela  en  vano. 

Por  priuilegios  de  tu  culta  mano 
Discantando  este  horror  ai  cielo  asciende 
Cilhara,  que  por  tuya  enel  suspende, 
Lo  mortal  transformado  en  soberano. 

Júpiter  vibre  la  serpiente  trina 
Haziendo  en  Niza  a  la  Typbea  cama 
Meta,  que  el  mar  infame  con  su  spnma 

Que  tu,  felice  ingenio,  a  tal  ruyna 

En  quanto  biua  el  mundo  darás  faina, 
Digno  tropheo  de  tu  heróica  pluma. 


(25)         noticia  Acerca  da  vida  i:  obras  de  joão  pinto  delgado  25 


Soneto  nas  «Poesias  Varias»  de  Paulo  Gonçalves  dAndrada 

Canto  sonoro,  ó  Lauso,  en  quanto  fundo 
Nue\  i  Di  ida  i  de  Apolo  en  tu  instrumõto 
Dando  lisonjas,  culto,  ai  pensamiento, 
Hasta  que  a  Marte  cantes  furibundo. 

Meta  a  tu  vOs  l"s  términos  dei  mundo 
Son,  si  escuchando  el  admirable  acento 

■  i. 'ii  dei  dolor,  quietud  dei  \  iéto) 
La  fama  te  venera  sin  segundo 

De  artificiosa  ditara  <■!  ofiQcio 

Admire  dulcej  que  siguro  puedes 

Gozar  dei  tiempo  aplausos  que  te  ordena, 

Dedique  a  Anuir  acciones  tu  exercício 
(Jue  si  escrivicndo  dei  su  império  excedes, 
Serás  cantando  Orfco  de  ln>  penas. 


llisr.  f,  Mem.  ha  Acad.— Tomo  mi  Parte  u.  N     1 


DOCUMENTOS 


N.°  1 


Depoimento  de  Balthasar  da  Costa,  perante  o  Santo  Officio, 
acerca  de  João  Pinto  Delgado  e  de  sen  filho  Gonçalo 


«Aos  oito  dias  do  mes  de  novembro  de  mil  e  quinhentos  oitenta  e  cio 
quo  annos  em  Lisboa  nos  estaos  na  casa  do  despacho  da  Santa  [nquisiçam 
estando  ahy  o  padre  Jorge  Sarrão  deputado  do  concelho  geral  e  os  senhores 
inquisidores  pareceo  sem  ser  chamado  Baltasar  da  Costa.  • .  disse  que  hauera 
agora  três  annos  pouquo  mais  ou  menos  que  estando  elle  confesante  em  En- 
tes como  tem  dito  atraas  tinha  conuersaçam  com  Gonçalo  Delgado  christão 
nouo  mancebo  solteiro  filho  de  hun  João  Pinto  do  Algarue  nam  sabe  bem  certo 
de  que  lugar  e  morador  mas  que  lhe  parece  que  em  Villa  Noua  e  ouuio  di- 
zer que  tinha  seu  officio  em  Alfandega  e  que  era  grande  trouador  e  que  por 
suas  abilidades  ouuera  hum  oflirio  ou  dous  delRej  o  qual  Gonçalo  Delgado 
estava  en  Envés  em  casa  de  hum  seu  tio  cujo  nome  lhe  nam  lembra  merca 

dor  e  elle  confesante  conversou  por  tempo  de  hum  ano  com  este  G ;alo 

Delgado  o  qual  lhe  dise  por  vezes  que  era  judeu  e  elle  confesante  lhe  dise 
o  mesmo  de  sy  e  por  taes  se  conhecerão  hum  ao  outro.  E  perguntado  se  quando 
se  declarauam  por  judeus  se  esteue  presente  outra  pesoa  algua  respondeo 
que  alguas  vezes  esteue  presente  hum  cristam  nouo  desta  cidade  cujo  nome 
lhe  não  lembra  bem  mas  que  lhe  parece  que  o  nome  hera  Dias  o  qual  disia 
la  que  era  ourives  e  que  fora  frade  de  sam  Francisco  dos  Descalsos  mas  nam 
lhe  declarou  de  que  conuento  era  mas  que  estiuera  ja  aqui  no  erprital  de  Lis- 
boa e  este  frade  conuersaua  la  hum  Matheus  lopez  filho  de  Toam  Chilam  enris- 
tam nouo  morador  nesta  cidade  a  Madanela,  ao  qual  (bana  Dias  que  foi  frade 
ouuio  elle  confesante  dizer  la  em  Enues  que  fora  frade  e  que  andaua  perdido 

e  que  Deos  o  alumiara  em  fazer  Judeu  e  qu sra  c  isto  sabia  delle  também 

o  dito  Gonçalo  Delgado  o  qual  frade  andaua  paia  se  ir  pêra  Itália.  Pergun- 


NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA  E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (28) 


tado  se  a  este  Gonçalo  Delgado  e  ao  ditto  foão  Dias  que  foy  frade  se  lhe  uio 
fazer  alguas  ceremonias  Judaicas  de  Jejuns  ou  de  páscoas  ou  outra  algua  res- 
pondeo  que  lhe  nom  lembraua  uerlhas  fazer  nenliúa  ceremonia  mas  que  de 
palaura  se  couuersauam  lodos  três  como  judeus  e  declarou  elle  confessante 
que  estando  ainda  cm  Enues  o  dito  Gonçalo  Delgado  se  ueo  para  este  reino 
chamado  de  seu  pay  e  deue  de  estar  no  Algarue  onde  seu  pay  mora  e  a  este 
tempo  era  ja  casado  e  trouxe  pêra  qua  sua  molher  e  que  o  ditto  Martim  Lo- 
pez  filho  do  Chilam  deue  de  saber  como  se  chama  o  dito  frade.  Perguntado  se 
o  dito  Gonçalo  Delgado  conuersou  em  Envers  com  alguns  dos  judeus  portu- 
gueses que  tem  dito  atras  nesta  sua  confisão  respondeo  que  não  e  que  con- 
uersaua  com  os  mercadores  cordoueses.»  * 


N.°  2 


Alvará  nomeando  João  Pinto  Delgado  feitor  da  cal  e  munições, 
que  do  Algarve  se  mandam  para  as  praças  d'Africa 


«Eu  elRei  faço  saber  aos  que  este  aluara  virem  que  pela  cõfiança  que  te- 
nho em  João  Pinto  Delgado  que  nas  cousas  de  que  o  emcarregar  me  serui- 
raa  e  o  faraa  como  a  meu  serviço  cumpre,  e  por  lhe  fazer  mercê,  ey  por  bem 
e  me  praz  que  elle  syrua  o  cargo  de  feitor  da  caal  e  monições  que  do  Reyno 
do  Algarue  se  emvião  aos  lugares  d'Africa  por  tempo  de  três  annos,  que  se 
começará  depois  de  Diogo  Lopes  de  Sequeira  acabar  de  servir  o  tempo  que  tem 
por  prouisão  do  dia  em  que  lhe  fôr  dada  a  posse  em  diãte,  com  o  qual  cargo 
averá  dordenado  em  cada  huu  anuo  xxxiiij  bclx  rs.  que  he  outo  tanto  como 
com  o  dito  cargo  ouuerão  os  feitores  que  o  servirão  os  quaes  tomaraa  em  si 
do  dinheiro  que  lhe  fôr  êtregue  pêra  as  ditas  monições,  e  pelo  trellado  d'este 
aluaraa  que  será  registado  no  liuro  da  sua  despesa  pelo  escriuão  de  seu  cargo, 
lhe  será  leuado  em  despesa  o  que  montar  no  tempo  que  seruir  ao  dito  res- 
peito como  dito  hee;  pelo  que  mando  ao  prouedor  da  comarca  da  cidade  de 
Tauira  que  tanto  que  pela  dita  maneira  couber  entrar  ao  dito  João  Pinto  no 
dyto  cargo  lhe  de  a  posse  delle  e  lho  deixe  seruir  e  aver  o  dito  ordenado  e 
os  proes  e  percalços  que  lhe  direitamente  pertencerem,  e  elle  jurara  em  minha 
chancellaria  aos  sãtos  euãgelhos  que  bem  e  verdadeiramente  o  seruiraa,  guar- 


Livro  dos  reconciliados  do  anno  de  UiGO.  fl.  237. 


(29)         noticia  Acerca  da  vida  r  obras  de  ioão  pinto  delgado  -2\) 

damdo  a  mim  meu  serviço  e  as  partes  seu  direito,  o  qual  quero  que  valha 
como  carta  etc.  na  forma.  Jerónimo  de  Sequeira  o  fez  em  Lisboa  a  dezdagosto 
de  mil  be Ixxbiij.  Gaspar  Rebello  o  fez  escreuer.»1 


\.    3 


Carta  nomeando  Gonçalo  Delgado 
para  o  logar  de  seu  pae  João  Pinto  Delgado 


«Dom  Phillipe,  etc,  faço  saber  aos  que  esta  carta  vyrem  que  auendo 
respeito  a  João  Pinto  Delgado,  já  defunto,  ter  seruido  oito  annos  o  ofEcio  de 
feitor  da  cal  e  munições  que  do  Reyno  do  Algarue  se  enuiâo  nos  lugares 
dafrica,  e  as  boas  contas  que  delle  tem  dado,  e  a  seu  filho  Gonçallo  Delgado 
ter  seruido  o  mesmo  ofiQcio  passante  de  sete  annos,  de  que  também  deu  boa 
conta,  e  a  promessa  que  o  Duque  de  Medina  Cidonya  fez  o  anno  de  oitenta 
em  meu  seruiço  por  seu  falecimento  a  hum  seu  filho,  hei  por  bem  de  fazer 
mercê  delle  ao  dito  Gonçallo  Delgado,  o  qual  o  seruirá  emquanto  eu  o  ouuer 
por  bem  e  não  mandar  o  contrario;  e  emquanto  o  assi  seruir  aueraa  com  elle 
cinqoenta  mil  rs.  de  ordenado  em  cada  hum  anno,  que  he  outro  tanto  como 
ate  ora  ouue  o  dito  Gonçallo  Delgado  e  auia  o  dito  seu  pay  quando  o  seruia, 
e  todos  os  proes  e  percalços  que  lhe  direitamente  pertencerem,  do  qual  or- 
denado auera  pagamento  na  mesma  forma  em  que  te  ora  se  pagou,  e  pello 
treslado  desta  carta,  que  será  registada  no  liuro  de  sua  despesa  pello  escri- 
uão  de  seu  cargo  e  conhecimento  do  dito  Gonçallo  Delgado  lhe  será  leuado 
em  conta  o  dito  ordenado  com  certidão  do  gouernador  do  dito  Reino  do  Al- 
garue de  como  o  dito  Gonçallo  Delgado  seruio  o  dito  cargo,  ao  qual  mando  lhe 
dê  a  posse  delle  e  primeiro  juramento  dos  Sanctos  evangelhos  que  bem  e  uer- 
dadeiramente  o  sirua,  guardando  em  tudo  o  meu  serviço  e  ás  partes  seu  di- 
reito, de  que  se  fará  assento  nas  costas  desta  carta.  Diogo  de  Sousa  a  fez  em 
1  isboa  a  xbj  de  dezembro,  anuo  do  nascimento  do  nosso  Sõr  Jesu  X"  de  jbc 
hi\  i 1599).  Sebastião  dAbreu  a  fez  escreuer.»2 


1  Torre  do  Tombo.  Chancellaria  de  D  SebastiSo  o  I),  Hoiiri<]iii\  Doações,  liv.  i.'!,  II 
1  I.l.iii  Chancellaria  de  D.  Filippe  II.  Doações,  liv.  8,  li  298  \ 


,'!ll  NOTICIA  ÂCEHCA  DA  TODA  E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (30) 


N.°  4 


Carta  de  quitação  a  João  Pinto  Delgado 


«Dom  Filipe,  etc.  Aos  que  esta  minha  carta  de  quitaçam  virem  faço  sa- 
ber que  eu  mãdei  tomar  conta  em  meus  contos  do  Reino  e  casa  a  João  Pinto 
Delgado,  que  seruiu  de  feitor  da  cal  no  Reino  do  Algarue  doutubro  do  anno 
de  bclxxix  tee  julho  de  lxxxbj  e  pella  recadaçam  de  sua  conta  se  mostra  re- 
ceber de  dinheiro  dous  contos  nouenta  e  quatro  mil  e  seis  centos  rs.  e  de 
biscouto  vinte  e  cinquo  quintaes  e  meo  e  de  centeyo  quarêta  e  três  moios  e 
sete  alqueires  e  de  cal  mil  e  sesenta  e  dous.  moios  e  de  caruão  cinco  mil  e 
quinhêtos  e  sesenta  e  dous  sacos  e  outras  cousas  declaradas  no  enseramento 
da  dita  conta,  lio  que  tudo  despêdeu  e  êtregou  per  minhas  provisões  e  mã- 
dados  dos  vedores  de  minha  fasenda  sem  ficar  devêdo  cousa  algúa,  como  se 
vio  pella  dita  conta  que  lhe  foi  tomada  pello  cõtador  Gaspar  Lopes  de  Murga, 
e  vista  pello  provedor  Luiz  Giz  d'01iveira.  E  por  tanto  dou  por  quite  e  livre 
ao  dito  Joham  Pinto  do  dito  dinheiro  e  cousas  acima  e  das  mais  declaradas 
no  enseramento  da  sua  conta  e  a  todos  os  seus  herdeiros  pêra  que  nuca  em 
tempo  algum  pêra  isso  sejam  requeridos  nem  demãdados  em  meus  contos 
nem  fora  delles  por  assy  de  todo  ter  dado  conta  com  êntregua  como  dito  lie. 
Noteíiquo  assim  aos  vedores  de  minha  fasenda  e  mãdo  ao  cõtadôr  mor  dos 
ditos  cotos  e  a  todos  os  corregidores,  ouuidores,  juizes,  justiças  officiaes  e 
pessoas,  a  que  o  conhecimento  pertencer,  que  assy  o  cuprão,  guardem  e  fa- 
çam inteiramente  cumprir  e  guardar  sem  duvida  nem  embargo  algum  e  por 
firmesa  d'ello  lhe  mãdei  dar  esta  carta  de  quitaçam,  per  mym  asinada  e  pas- 
sada pela  Chancellaria  e  assei ada  com  o  o  meu  sello  pêdente.  Dada  em  Lis- 
boa aos  quinse  dias  de  Novembro.  Francisco  de  Vargas,  escriuão  dos  ditos 
contos  a  fez  de  jbcIxxxix.» ' 


1  Torre  do  Tombo.  Chancellaria  de  D.  Filippe  I.,  liv  1,  11  256  v 


(31)  NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA  E  OBRAS  Dl    JOÃO  PINTO  DELGADO  31 


Carta  de  quitação  a  João  Pinto  Delgado 


«D.  Filipe,  etc.,  faço  saber  aos  que  esta  minha  carta  de  quitação  vi- 
rem que  eu  mande}  tomar  conta  em  meus  contos  do  Reyno  e  casa  a  Johão 
Pinto  Delgado,  que  teue  cargo  do  provimêto  da  gente  que  o  anno  de  bclxxxbij 
foi  ao  socorro  da  cidade  de  Lagos,  no  Reynno  do  Algarue  e  pela  recadaçâo 
d'ella  se  mostra  receber  húu  coto  e  quatro  centos  e  uoue  mil  rs,  os  quais 
despendeo  per  mãdado  de  Fernão  Telles  de  Meneses  do  meu  conselb 
vernador  do  dito  Reyno  do  Ugarue  cõforme  a  húu  capitulo  de  húa  carta  my- 
oha,  sem  Qcar  deuendo  cousa  algQa,  como  se  vio  per  o  encerramêto  da  dita 
conta,  que  lhe  foi  fumada  pello  cõtador  Christouão  do  Garualhal  e  visto  pello 
prouedor  Luiz  Giz  d'01iveira.  E  por  tanto  dou  por  quite  e  livre  do  dito  di- 
nheiro acima  declarado  ao  dito  Johão  Pinto  Delgado  e  seus  erdeiros  pêra  que 
nuca  em  tempo  allgufl  por  isso  sejão  requeridos  nem  demandados  em  meus 

cotos  nem  fora  delles,  por  delle  ter  dado  cota,  como  dito  he.  Noteflc isí 

aos  vedores  de  minha  fasenda  e  mando  ao  contador  mor  dos  ditos  contos  etc, 
em  forma  Bernardo  Romeu  a  fez  a  iij  de  desembro  anno  do  nacimento  de 
Noso  Senhor  Jhu  Xpo  de  mil  belxxxbij.»  ' 


N.°  6 


Alvará  nomeando  Gonçalo  Delgado 
almoxarife  do  armazém  da  cidade  de  Tavira 


tEu  elRey  faço  saber  aos  que  este  aluará  virem  que  avendo  respeito  a 
boa  emfonnação  que  me  foi  dada  de  G.°  Delgado,  morador  na  cidade  de  Ta- 
vira, Reyno  do  Algarue,  ey  por  bem  e  me  praz  fazerlhe  mercê  da  seruêtia  do 
officio  dalmoxarife  do  almasem  da  dita  cidade  por  tempo  de  três  ânuos  na  ua- 


1  Torre  do  Tombo.  Chanc.  de  D.  Filippe  I.  Privilégios,  In    2,  fl.  104  v. 


32  NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA  E  OURAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (32) 

gaale  dos  prouidos  antes  de  doze  de  janeiro  deste  anno  presête  de  oitenta  e 
oito,  em  que  lhe  fiz  esta  mercê,  com  o  qual  cargo  avera  em  cada  hum  dos 
ditos  três  annos  o  mãtimento  ordenado  ao  dito  oflicio  e  os  proes  e  percalços 
que  lhe  pertencerem.  Notefiquo  assy  a  Fernão  Teles  de  Meneses,  do  meu  con- 
selho,  gouernador  do  dito  Reino  do  Algarue,  e  mãdollie  que  tanto  que  ao  dito 
G.°  Delgado  couber  êtrar  no  dito  oflicio  o  meta  em  posse  delle  e  lho  deixem 
seruir  o  dite  tempo  de  três  annos  e  auer  nelles  o  ordenado,  proes  c  percal- 
ços  que  lhe  pertencerem  como  dito  lie,  dãdolhe  primeiro  juramento  dos  san- 
tos euãgelhoSj  etc.,  e  ej  por  bem  que  valha  como  carta,  etc.  António  d'Aragão 
o  fez  em  Lisboa,  a  xix  de  janeiro  de  jbclxxxbiij.  I'."  de  Paiua  o  fez  escrever.» ' 


N.°  7 


Alvará  nomeando  almoxarife  de  Mazagão  a  João  Pinto  Delgado 


«Eu  elRey  faço  saber  aos  que  este  aluara  virem  que  avendo  respeito  a 
João  Pinto  Delgado  me  ter  seruido  na  villa  de  Mazagão  passante  de  sete  an- 
nos com  seu  cauallo  e  armas,  ey  por  bem  de  lhe  fazer  mercê  do  oflicio  de 
almoxarife  dos  mantimêtos  e  pagamêtos  da  dita  villa  por  tempo  de  três  an- 
nos e  averá  com  elle  o  ordenado  cõteudo  no  Regimento  e  todos  os  proes  e 
percalços  que  lhe  direitamente  pertencerem,  asi  como  tudo  tiuerão  e  ouue- 
rão  as  pesoas  que  ate  ora  seruirão  o  dito  cargo;  pello  que  mãdo  aos  capi- 
tães, cõtador  e  officiaes  da  dita  villa  que  dem  a  posse  do  dito  oflicio  ao  dito 
João  Pinto  e  lho  deixem  ter  e  seruir  pello  dito  tempo  de  três  annos  e  com 
elle  auer  o  dito  ordenado,  proes  e  percalços,  como  dito  he,  tomado  lhe  pri- 
meiro fiança  abonada  ao  recebimêto,  porque  minha  fazenda  fique  segura  con- 
forme ao  Regimento  delia  e  elle  jurará  na  chancelaria  aos  santos  euãgelhos 
que  bem  e  verdadeiramente  sirua,  de  que  se  fará  asento  nas  costas  deste  al- 
uara, que  valerá  como  carta,  etc.  Dyogo  de  Sousa  o  fez  em  Lisboa  a  doze  de 
agosto  de  mil  e  seis  centos  e  dous.  Sebastião  de  Abreu  o  fez  escreuer.»- 


i  Torre  do  Tombo.  Chane.  de  D.  Filippe  II.  Doações,  liv.  17.  ti   L39 
*  Idem.  Idem,  liv.  10.  fl.  172. 


(33)  NOTICIA  ÁCEnCA  DA   VIDA   E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DEI  33 


N.     B 


Carta  de  quitação 
a  João  Pinto  Delgado  como  almoxarife  de  Mazagão 


Dom  Filipe,  etc,  faço  saber  aos  que  esla  minha  carta  de  quitaçã 
rem  que  eu  mandei  tomar  conta  em  meus  contos  do  Reyno  i 
Pinto  Delgado,  que  seruio  de  Umoxarife  dos  mantimentos  e  pagamentos  da 
villa  de  Mazagão,  do  primeiro  de  abril  de  bjc  e  três  te  íim  de  agosto  de  bjc 
e  sete,  e  pella  recadação  delia  se  mostra  receber  em  o  dito  tempo  cincoenta 
c  dous  cintos  tresentos  e  douse  mil  quinhentos  e  oitenta  e  quatro  rs.,  de  trigo 
cinco  mil  seis  centos  oitenta  c  dons  moios  corenta  e  nove  alqueires  e  hua  l.a 
e  de  senteo  seis  centos  vinte  e  quatro  moios  cincoenta  e  oito  alqueires,  «•  de 
ceuada  dusentos  e  trinta  moios  trese  alqueires,  e  de  biscouto  mil  e  vinte  e 
três  quintaes,  três  arobas  e  dous  arates,  e  de  aros  mil  e  setenta  e  selo  arro- 
bas, e  de  poluora  dusentos  sessenta  e  noue  quintaes,  duas  arrobas  e  vinte  e 
quatro  arrates;  os  quaes  cincoenta  e  dous  contos,  tresentos  e  dose  mil  qui- 
nhentos e  oitêta  e  quatro  rs.  e  mais  cousas  acima  e  outras  declaradas  no  en- 
cerramento da  dita  cota  o  dito  João  Pinto  Delgado  despendeu  e  entregou  sem 
ficar  deuendo  cousa  alguma,  como  se  vio  pela  dita  cota,  que  foi  tomada  pello 
contador  Bertolameu  Soeiro  e  vista  pelo  prouedor  Francisco  da  Costa.  Pelo 
que  o  dou  por  quite  e  liure  a  elle  e  a  todos  os  seus  herdeiros  do  dito  di- 
nheiro. . .  Manuel  Cabral,  escrivão  dos  contos  do  Reino  e  casa  a  fes  em  Lix- 
boa  O  primeiro  de  agosto  ano  de  mil  seis  centos  e  trese. »  ' 


1  Torre  do  Tombo.  Chanc.  de  D.  Filippe  II.  Privilégios,  liv.  3,  li.  256  v. 
Hist.  E  Mem.  da  Acad.—  Tomo  xii.  Paute  ii.  .\     1. 


\ ia  ÂtíERCA  DA  VIDA  E  OBRAS  DE  JOÃO  PINTO  DELGADO  (34) 


N."  9 


Alvará  com  força  de  carta, 
ordenando  que  Luiz  de  Tovar  vença  soldo  e  moradia  emquanto  viver  na  índia 


«Eu  elRey  faso  saber  aos  que  este  aluara  virem  que  Eu  ey  por  bem  de 
fazer  mersse  a  Luiz  de  Touar  fidalgo  de  minha  casa,  filho  mais  uelho  de  Pe- 
dro de  Touar  que  este  prezente  anuo  de  622  se  embarca  para  a  índia  que 
uença  soldo  e  moradia  em  quanto  la  seruir  e  não  for  despachado  pello  que 
mando  ao  prouedor  e  officiaes  da  casa  da  índia  que  com  esta  declaração  o 
farão  asentar  no  titulo  dos  moradores  de  minha  casa  na  Matricula  geral  que 
ha  de  ir  pêra  aquellas  partes  e  ao  Vizo  Rey  ou  gouernador  delias  e  uedor 
de  minha  fazenda,  outro  ssi  lhe  mando  que  facão  comprir  e  guardar  o  que 
neste  se  contem  que  ualera  como  carta  sem  embargo  da  ordenação  em  con- 
trario Gonsalo  Pinto  de  Freitas  o  fez  em  Lisboa  a  8  de  março  de  1622.  Diogo 
Soares  a  fez  escreuer.» ' 


N.°  10 


Tença  de  50#000  réis  a  Pedro  de  Tovar 


«Dom  Phelipe,  etc,  como  gouernador  etc,  fasso  saber  aos  que  esta  minha 
carta  de  Padram  virem  que  auendo  respeito  aos  seruissos  que  Sancho  de  To- 
uar fez  a  elRey  Dom  Sebastião  meu  Primo  que  Sancta  Gloria  haja  seruindo 
de  fidalguo  de  sua  guarda  e  de  seu  copeiro  mor,  e  ao  acompanhar  en  ambas 
as  jornadas  de  afriqua,  e  ser  ferido  e  catiuo  na  batalha  de  Alcácer  e  a  fale- 
cer sem  lograr  a  commenda  de  Santa  Ouaya  de  Rio  Couo  com  que  estaua 
despachado,  e  pertencer  a  acção  de  seus  seruiços  a  seu  filho  Pedro  de  touar, 
meu  mosso  fidalgo  por  seus  Irmãos  lhe  renunciarem  a  aução  que  nelles  tinhão 
e  tendo  eu  também  respeito  ao  dito  Pedro  de  Touar  se  embarcar  na  armada 
com  que  Dom  Luis  faiardo  saiu  desta  cidade  de  Lixboa  o  anno  de  606.  Ey 


1  Torre  do  Tombo.  Chanc.  de  D.  Filippe  111,  liv.  I,  fl.  336. 


(35)  NOTICIA  ACERCA  DA  VIDA   E  OBRAS  Dl    JOÃO   PINTO   Dl  I  35 

por  bem  e  me  pras  de  lhe  fazer  mercê  de  oO£000  reis  de  renssa  cada  auuo 
para  os  ter  com  o  habito  da  dita  ordem  que  lhe  mandei  lançar  ate  ser  pro- 
aido  de  hõa  comenda  que  lhe  valha  200#O0O  réis.  E  tanto  que  delia  for  pro- 
vido larguara  os  ditos  50(5000  reis  da  tensa  e  os  não  auera  mais,  os  quais 
commessara  a  uencer  de  18  de  julho  do  ano  de  605  en  diante  em  que  lhe  li/. 
esta  mercê,  alem  do  mais  que  lhe  pellos  ditos  Respeitos  também  lis:  Pello 
que  mando  aos  vedores  de  minha  fazenda  lhe  facão  asentar  os  ditos  50^000 

reis  de  tensa  uo  livro  de  fazenda  da  Ordem.  E  do  dito  tem] m  diante  le- 

uar  cada  anno  no  quaderno  das  tenssas  dos  débitos  para  elles  lhe  serem  pa- 
gos, no  meu  thesoureiro  mor,  ou  en  quem  o  dito  cargo  seruir  com  certi 
dão  do  official  que  tiuer  carguo  dos  despachos,  de  como  o  dito  Pedro  de  to- 
uar  uão  lie  prouido  dehOa  commenda  de  200#000  reis  porque  tanto  que  o 
for  não  auera  mais  os  ditos  50#000  reis  de  tenssa  como  dito  he.  E  por  (ir 
meza  disso  lhe  mandei  dar  esta  carta  de  Padrão  por  mim  asinada  e  sellada 
do  sello  pendente  da  dita  ordem.  Dada  tia  cidade  de  Lisboa  aos  seis  dias  do 
mes  de  março.  Simão  Freire  a  fez  anno  do  nascimento  de  nosso  senhor  Jesus 
Christo  de  1610.  Luis  Borralho  a  fes  escreuer. 

<lÁ  margem:  Ouue  S.  M.  por  bem  por  sua  apostilla  que  os  50#000  reis 
da  tença  que  peru  de  lovar  tê  pelo  padrão  deste  Registo  de  que  auia  pagamento 
no  thesoureiro  mor  se  lhe  mude  o  pagamento  a  húa  das  casas  de  seus  direi- 
tos Reaes  desta  cidade  ou  almoxarifados  do  Reyno  onde  couberem  de  janeiro 
de  til-2  em  diante  de  que  se  mandou  por  esta  verba.  Lisboa  2í  de  janeiro 
de  c  1-2.» ! 


'Torre  do  Tombo.  Chanc.  da  Ordem  de  Christo,  liv.  9,  fl.  li; 


CARTAS 

]).  FRANCISCO  MANOEL  DE  MELLO 

ANTnMO  LI  IX  DE  AZEVEDO 

PUBLICADAS  COM  INTRODUCÇÍO  E  NOTAS 

EDCAB    PRESTAGE 

1  ntf  -la  Ar:i.t.'inia 

ua  l 

Parecer  da  secção  respectiva  sobre  esta  Memoria 

Entre  as  collecções  de  manuscritos  da  Btbliotheca  Nacional  de  Lis- 
boa uma  existe  com  o  n.°  i  55,  sol»  a  rubrica  «Cartas  de  D.  Francisco 
Manuel  de  Mello  escritas  a  António  Luiz  de  Azevedo»,  as  quaes  mere- 
ceram cuidadoso  estudo  do  nosso  consócio  o  Sr.  Edgar  Prestage,  que, 
sendo  estrangeiro,  ama  as  nossas  cousas  como  se  português  fora.  São 
escritos  na  maioria  inéditos,  pois  que  as  nove  carias  já  publicadas,  sob 
o  titulo  de  Cartas  familiares,  differem  das  manuscritas,  e  por  isso  con- 
veniente se  torna  a  sua  publicação  para  as  comparar,  o  que  o  nosso 
consócio  faz  com  o  cuidado  que  sempre  emprega  nus  seus  trabalhos, 
fjs  estudos  que  o  Sr.  Edgar  Prestage  tem  emprehendido  acerca  da  lite- 
ratura portuguesa  são  valiosos,  e  o  esautor-philosopho,  que  foi  D.  Fran- 
cisco Manuel  de  Mello,  lem-lhe  merecido  particular  atlenção.  Este  novo 
trabalho  auxilia  as  suas  investigações  acena  do  autor  da  Carta  de  guia 
de  casados  e  tem  toda  a  opporlunidade  para  o  estudo  que  emprehendeu, 
e  merece  que  a  Academia  das  Scieucias  de  Lisboa  autorize  a  sua  publi- 
cação. Por  isso  temos  a  honra  de  a  propor. 


Lisboa,  17  de  novembro  de  I9i0. 


Francisco  Teixeira  de  Queiroz. 
Henrique  Lopes  de  Mendonça. 
Ramalho  Ortigão. 


NTnonuccAo 


Entre  os  códices  do  Fundo  geral  dos  manuscritos  da  Uibliotheca  Nacional 
do  Lisboa  ha  um  com  o  numero  155,  que  se  intitula  ('.mins  de  J>.  Francisco 
Manuel  de  Mello  escritas  a  António  Luiz  de  Azeoedo  '.  É  um  volume  in  l.°  de  52 
folhas,  provavelmente  copia  de  outro  mais  antigo,  pois  apresenta  duas  letras 
diversas,  ambas,  segundo  a  opinião  do  meu  amigo  Sr.  Gabriel  Pereira,  do 
século  wiii,  ao  qual  pertence  a  encadernação;  traz  índice  posterior  em  data, 
com  bastantes  erros.  Na  lombada,  em  baixo,  tem  as  leiras  «J.  L.  1'.  A.»  doura- 
das, sem  outra  indicação  da  proveniência  do  códice.  Estas  cartas,  em  numero  do 
61,  dirigidas  por  D.  Francisco  ao  seu  consócio  na  Academia  de  Generosos, 
abrangem  os  annos  de  1647,  1648,  1649,  1650,  1651  e  IGW,  c  ha  uma  do 
1(503,  mas  esta  data  é  com  certeza  errada,  devendo  ler-sc  1653. 

Algumas  não  trazem  data,  mas  é  possível  lixar  mais  OU  menos  a  sua  época 
oeio  lugar  d'onde  foram' escritas.  Todas  estão  inéditas,  com  excepção  de 
nove,  que  foram  estampadas  por  Azevedo  nas  Coitos  Familiares,  mas  mesmo 

om  muitas  d'essas  ha  variantes  entn s.  e  o  livro,  bastantes  para  as  tornar 

dignas  de  reimpressão.  Algumas  dYstas  variantes  explicam-se  pelo  labor  lima 
que  soflrêrão  nas  mãos  do  seu  autor  antes  de  serem  impressas,  e  talvez  ou- 
tras pelo  desejo  que  o  autor  tinha  de  não  ferir  melindres. 

Sabemos  que  logo  depois  do  seu  regresso  á  pátria  no  primeiro  anuo  da 


1  0>  ilin-ininn"s  liibliographicos  ii, i<i  incluem  o de  António  Luiz  il"  Vzevedo,  natu 

ralmente  p lie   não  ter  publicado  livro  algum    S'a  Bibliotl i  Nacional  de  Lisboa  ha  uma 

pequena  colleccão  de  caria--  aulojnaplias  nu  lalitn  c  poituguds,  dirigidas  poi  ellc  rudito 

padre  Manuel   Caelano*de  Sousa  8  a  outras  pessoas  nos  annos  de  1682  e  1683  (ms.  "Tol  do 
Fundo  Antigo). 


iO  CARTAS  Dl:  D.   I  IIAMIsCO   MAM  KL  DK  MEU.n  (4) 


Restauração,  1>.  Francisco  começou  ;i  recolher  as  suas  epistolas  ',  e  em  1649 
diz  d'ellas:  «os  mais  d'estes  papeis  são  escritos  com  summa  infelicidade,  pri- 
são, desordem,  pouco  gosto,  espirito  oceupado  de  dores;  quanto  em  fim  que 
faz  desvariar  as  melhores  primas.  Comiudo,  por  minha  consolação,  dei,  já  lia 
muitos  annos,  em  ir  ajuntando  copias  mi  borrões  de  algumas  cartas,  que  boje 
vou  reduzindo  a  um  livro»2.  Ulteriormente,  cm  2<>  de  dezembro  do  mesmo 

aiiiin,  confessa  que  se  vae  occnpahd sm  alimpar  algumas  d'estas  cartas,  e 

estão  mais  i|r  200  já  cm  forma  que  se  podem  ler  e  julgar»3;  no  mes  seguinte 
conta  loo  '•.  Tudo  leva  a  crer  que  as  cartas  aqui  estampadas  estão  exacta- 
mente como  D.  Francisco  as  escreveu  (excepto  a  ortographia  e  outras  restric- 
ções  que  faço  adiante),  sem  cortes  nem  emendas,  sendo  por  isso  apreciáveis,  e 
contém  os  numes  das  pessoas  nellas  referidas,  ao  passo  que  no  livro  das  Car- 
tas Familiares  estes  numes  são  supprimidos.  No  códice  as  cartas  andam  bara- 
lhadas, mas  dispu  las,  quaatp  possível,  por  ordem  chronologica,  a  única  accei- 
lavel,  e  na  lista  do  começo  pus  entre  parentliesis  os  números  que  leni  no  ms. 
Agora  passo  a  dar  a  correspondência  das  9  cartas  manuscritas  com  as 
equivalentes  das  Carias  Familiares  para  facilitar  a  conferencia  a  quem  desejar 
fazé-la. 

Códice  Cariai  l';uiuliarcs 

6(8)  Cent.  iv  n."  i  s 

li;  (28)  Cent,  iv  n.°  2 

21  (52)  Cent.  iv  n.<>  3  fi 

22  (38)  Cent.  m  n.°  95  ' 
"    29  i  9  |  Cent.  iv  n."  76  s 

33  (20)  Cent.  v  n.°  6i 

:!,-;  (39)  Cent.  i  n.°  21  ,J 

40  (  1  )  Cent.  v  n."  100  <" 

53  (  5  )  Cent.  n  n.°  81 

C  para  admirar  que  Azevedo  se  tiSo  aproveitasse  de  mais  cartas  do  códice  na  coordenação 
do  livro,  e  que  os  seguintes  números  das  Cartas  Familiares  dirigidas  a  elle  não  se  encontrassem 
no  códice  — Cent.  li  n.°  94,  m,  49,  n.  9,  e  v,  48 


1  Carias  Fariiliares  (Roma  1664),  cent.  n,  n.°  11. 

2  Ibid,  ni.  97. 

3  lliid..  ih,  49  e  veja  v,  42  e  77. 

I  V.  o  n."  23  d'esta  collecção. 

•  É  dirigida  ao  Arcediago  Francisco  de  Sousa  de  Menezes. 

6  É  dirigida  a  «um  Ministro»  e  datada  de  setembro. 

:  Traz  o  n.°  94  no  livro,  mas  é  um  erro  ;  porque  a  centúria  3."  tem  duas  cartas  com  o  n.°  71. 

s  É  dirigida  a  «um  Ministro»  e  datada  de  20  de  marro,  em  lugar  de  15. 

II  É  dirigida  a  «uni  Ministro». 

10  Da  %'  edição  das  Cartas  Familiares.  Ditíere  da  carta  do  mesmo  numero  da  1.'  edição. 


(5)  CARTAS  DE  D.   FRANCISCO  MANI  l 


Do  mesmo  i lo  que  as  já  publicadas,  estas  <>l  cartas  pertencem  todas 

ao  género  familiar,  o  se  algumas  tem  os  conhecidos  defeitos  da  prosa  seis 
centistica,  laes  como  regras  embrulhadas  e  jogos  de  palavras  quasi  pueris, 
ouinis  são  escritas  em  estilo  «claro,  breve,  sentencioso  e  próprio,  sem  en 
leito,  rodeios,  nem  metáforas».  \  sua  paternidade  não  será  duvidosa  a  quem 
conhecer  os  outros  escritos  de  Ò.  Francisco  Manuel,  e  entre  ellas  ha  muitas 
em  tudo  dignas  do  primeiro  epistolographo  português  Alem  d'isso,  tem  incon- 
testável importância  bibliographica,  por  conterem  informações  novas  e  apro 
veit.iveis  sobre  o  seu  lalmr  liiterario  na  prisão.  Na  caria  10  encontramos  a 
explicação  do  frontispício  desenhado  á  ponna  que  adorna  o  bello  ms.  inédito 
dos  primeiros  ires  livros  (os  únicos  acabados)  do  Theodosio,  hoje  guardado 
na  Bibliotheca  Publica  de  Évora. 

Na  carta  .'ti  o  autor  discorre  sobre  o  Manifesto  que  vae  compondo  a  pe- 
dido de  D.  João  IV  em  justificação  do  procedimento  do  governo  porl 
para  com  as  duas  Armadas  Inglesas  de  Realistas  e  Parlamentados  que  que- 
riam bater-se  UO  Tejo  em  1650.  Deste  manifesto  existem  duas  redacções  ma- 
nuscritas na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (códices  3:557  e  8:577  do 
Fundo  antigo),  ambas  inéditas,  uma  incompleta,  mitra  inteira,  e  intitulam-se 
Astrea  Constante  e  El  Ptteblo  Lusitano  '.  A  carta  t\  traz  um  extenso  c 
curioso  commentario  acerca  do  soneto  composto  por  D.  Francisco  na  morte  de 
D.  Duarte,  irmão  do  Rei,  soneto  qu8  saiu  nas  Obras  Métricas  -'.  Em  lodo  o 
seu  traballio  liiterario  d'esla  época  Azevedo  é  consultado  como  critico  ajui- 
zado e  amigo.  D.  Francisco  assina  se  sen  discípulo,  e  Azevedo  aproveita  se 
da  sua  posição  oflicial  para  o  auxiliar  nas  peripécias  da  causa  d'ellè.  Parece 
que,  independentemente  de  D.  Francisco,  linha  concebido  a  ideia  de  reunir 
a  correspondência  epistolar  do  seu  amigo  ',  e  foj  seu  collaborador  activo 
nesta  empresa.  Na  carta  23  D.  Francifco  pede  lhe  para  mandar  as  cartas 
que  lhe  tinha  dirigido  e  que  este  escolhera  como  merecedoras  das  honras  da 
imprensa,  e  incumbe  Azevedo  de  escrever  um  prologo  para  servir  de  inlro- 
ducção  ao  livro  e  uma  dedicatória  a  Ruy  de  Moura  Telles. 

A  carta  continua  assim:  to  livro  vae  sem  ordem  escrito,  tendo  por  mais 
agradável  aqui  a  variedade»;  do  que  se  deprehende  que  da  falta  de  ordem 
cbronologica  nas  Cartas  Familiares  o  culpado  é  o  próprio  D.  Francisco. 
O  livro  definitivo  com  500  cartas  só  saiu  em  Roma  em  11564,  mas  Azevedo 
logo  annuiu  aos  desejos  de  D.  Francisco,  mandando-lhe  o  prologo  e  a  carta 


1  V  o  meu  artigo  D.JFranàsco  Minutei  de  Mello,  obras  autographat  e  ineditai  q< 
Uittorko  Poiiwjués,  1909. 

'-'  E  o  ii."  17  da  Lira  de  CU",  e  um  flagrante  exemplo  de  oonceptismo. 
'  V.  o  n.'  "2~2  d'csta  collecçSo. 


42  CAUTAS  DE  li.   FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (6) 


dedicatória.  Nd  sen  reparo  ao  borrão  d'aquelle,  D.  Francisco  mostra  partici- 
par da  mania  erudita  do  século,  pois  lembra  a  conveniência  de  illnstrá-lo 
com  «alguns  lugares  do  letras  humanas»,  aviso  cora  que  Azevedo  concordou, 
introduzindo  a  massa  de  citações  dos  clássicos  antigos  que  se  encontram  no 
prologo  i!as  Cartas.  <>  recado  Aos  Zoilos,  com  que  Azevedo  fedia  a  sua  intro- 
ducção,  evidentemente  não  desagrada  a  D.  Francisco,  apesar  do  seu  protesto. 

Mas  m  verdade  mánda-nos  dizer  que  elle  nunca  se  importou  muito  i i  os 

seus  críticos:  «se  me  murmurão,  me  rio,  se  me  emmendão,  me  aproveito,  e 
no  cabo  não  sou  tão  tonto  que  não  distinga  o  que  é  zelo  do  que  é  enveja»'. 
Gomtudo  elle  ficava  bem  contente  rum  a  boa  opinião  que  Azevedo  nutria  das 
carias,  pois  ligava  grande  importância  ao  juizo  do  douto  professor. 

Na  carta  39  diz  aguardar  mais  cartas  já  promettidas  por  Azevedo  «para 
que  as  vamos  salpicando  entre  as  mais.  Adubarão  as  outras,  trazendo  o  sa- 
bor da  estimação  que  V.  M.  lhes  ha  dado»;  da  carta  45  vè-se  que  o  pu- 
blico eslava  esperando  com  ansiedade  o  livro.  As  cartas  aqui  publicadas  Ira- 
zem  elementos  úteis  para  a  biographia  do  grande  prosador,  sendo  preciso 
para  a  intelligencia  do  texto  lembrar  os  seguintes  factos: 

Accusado  do  assassínio  de  um  certo  Francisco  Cardoso,  foi  preso  D.  Fran- 
cisco Manuel  em  10  de  novembro  de  1644. 

Processado  em  razão  do  supposto  crime  por  Domingos  Cardoso.,  pae  do 
morto,  foi  combmnado  pelo  Juiz  dos  Cavalleiros  em  degredo  perpetuo  para 
a  Africa  com  penas  pecuniárias,  e,  subindo  o  caso  á  Relação,  em  degredo 
para  a  índia  com  privação  da  sua  commenda,  sendo  multado  em  mais  do  que 
possuía,  segundo  a  sua  própria  declaração.  Parece  que  esta  sentença  foi  pro- 
mulgada em  2  de  março  de  1648.  Logo  pediu  3.a  Instancia,  assim  como  o 
seu  incansável  adversário,  e  lhe  foi  concedida  por  Alvará  de  2<>  de  abril  do 
mesmo  anuo. 

Houve  grande  demora  na  determinação  do  [deito,  mas  atinai,  em  "21  de 
maio  de  1650,  D.  Francisco- foi  sentenciado  em  degredo  perpetuo  no  brasil, 
e  dois  Alvarás  de  22  de  março  e  1  de  dezembro  de  1G52  o  mandaram  cum- 
prir a  sentença,  não  obstante  os  embargos  que  tinha  posto"2. 

Estava  recluso  na  Torre  de  Belém,  provavelmente  até  os  meados  de 
1646;  e  foi  então  mandado  para  a  Torre  Velha,  onde  ficou  até  :tl  de  março 
de  16503.  Nos  priucipios  d'este  anno  os  seus  inimigos  allegavam  que  elle 
estava  planeando  evadir-se:  «primeiro  disseram  que  inalei,  agora  que  fujo», 


1  V.  o  n.°  21  e  confere  eom  o  n.°  27  (Testa  collecçSo. 

-  V.  o   meu  primeiro  artigo  D.  Francisco  Manuel  de  Mello,  Dòcumehtos  Biographicos  no 
chivo  Histórico  Portttgiiez,  1909. 
3  V.  Curtas  Fawiíirim,  v.  33. 


CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  '|.'! 


diz  elle  ',  mas.  felizmente  para  D.  Francisco,  acoutecia  quejustaraeule  naquelle 
tempo  elle  andava  pedindo  a  sua  transferencia  para  o  Castello  de  Lisboa, 
prisão  mais  que  segura.  Em  virtude  d'cstas  calumnias,  foi  tratado  rum  ma 
rigor  dosacoslumado,  «prezo  de  novo  com  aperto,  com  guardas  e  com  des 
confianças*  -'.  o  que  motivou  o  desabafo;  «quatro  annos  ha  que  aqiii  estou;  em 
lodos  elles  se  fez  de  mj  confiança;  sempre  obrei  de  sorte  que  não  se  arre- 
pendeu de  fazer  de  mj  quem  '''1111  ella  me  tratava»3. 

Descreve  a  sua  situação  na  Torre  Velha  nestas  regras  simples,  mas  elo- 
quentes: «não  tenho  já  que  vender,  nem  que  empenhar,  nem  dinheiro  para  dar 
a  barcos,  nem  grãos  a  hospedes.  Que  será  de  my?  Estou  sobretudo  doente  de 
achaques  que  requerem  cura,  e,  neste  tempo,  tenho  dividas,  tenho  legados  .1 
que  dar  satisfação.    Vndo  em  vésperas  de  fazer  jornada  larga  e  incerta»*. 

Emfim  li.  Francisco  fez  um  appello  ao  Rei  ',  e  este  «c padecido  dos  seus 

trabalhos»  6  mandou  que  fosse  passado  para  o  Castello,  onde  estava  perlo  dos 
amigos  e  onde  podia  melhor  tratar  dos  seu 

Estas  cartas,  escritas  no  tempo  do  seu  enclausuramento,  formam  triste 
leitura.  Se  às  vezes  D.  Francisco  nutre  esperanças  e  mesmo  graceja,  mais 
frequentemente  cede  ao  desalento,  pois  como  elle  bem  diz,  «a  paciência  hu 
mana  é  cisterna  e  não  poço;  tem  um  certo  cabedal  de  que  tanto  se  tira,  que 
não  fica  nada;  então  como  não  cresce,  esgota»7. 

Ás  vezes  anda  quasi  fora  de  si  com  as  delongas  dos  juizes  e  o  ódio  dos 
seus  perseguidores,  resolvidos  a  conserva  lo  preso,  não  lhe  permittindo  o  ai 
livin  de  sair,  nem  para  o  exilio  8.  Tem  perdida  a  pátria  a  liberdade  e  a  la 
/nula.  mas  o  seu  animo  viril  e  constante  luta  sempre,  mesmo  nos  dias  de 
doença  e  entre  ferrolhos.  Auxilia  aos  seus  advogados  na  defesa,  dirigindo  ao 
Rei  e  aos  juizes  extensos  arrezoados  comprovativos  da  sua  innocencia,  puis 
erá  falle  por  si  quem  falia  pelos  outros»,  e  allicia  amigos  influentes 
para  se  servir  do  seu  préstimo  em  favor  próprio.  Emfim,  arranja  uma  caria 
de  intercessão  da  Rainha  Regente  de  França  '.  c,  devido  a  vários  esforços,  con 
segue  a  commulação  da  sua  pena.  Em  logar  de  ir  paia  a  índia,  é  mandado 


1  [bid    111     -  [81,  ii"  livro,  por  eu 
-  V.  o  numero  •_':!  d't>sla  cotli 
1  V.  ( 
tbid  .  1  ,  74 

•  V.  inei     29  d  esl  1  coll 

r'  V.  Cartas  Familiares,  iv,  81. 
1  V.  Cai  ;,  61. 

•  v.  ii  ui!  nero  32  d'i   la  rolli  cç5o 

'  Publicada   por  <  amillo  na   sua  edição  da  Carta  da  Guio   k  Casa 
!':  e  !.■  d'esta  collecrão. 


Vi  CARTAS  I>E  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (8) 


servir  ao  Rei  no  Brasil;  mais  nadai  Teve  um  presentimento  de  catastrophe 
quando  escrevia;  «tenho  observado  vae  o  meu  negocio  ás  mãos  de  Sua  Ma- 
jestade tão  perdido  emtim  como  meu,  e  supposto  que  de  sua  grandeza  muito 
pudera  confiar,  a  minha  fortuna  me  faz  temer  uno  menos» '. 

Ainda  tentou  um  ultimo  esforço  para  podei-  ficar  na  pátria  tão  amada, 
pois  existe  uma  carta  do  Visconde  de  Vilja  Nova  da  Cerveira  ao  Rei,  datada 
em  6  de  fevereiro  de  1654,  apoiando  a  pretensão  de  D.  Francisco  para  que 
fosse  mudado  o  desterro  do  Brasil  paia  unia  das  fronteiras  do  reino.  Tudo 
inútil I  E  em  17  de  abril  de  1653,  mais  de  dez  annos  depois  do  delicto  que  lhe 
foi  imputado,  D.  Francisco  Manuel  saiu  do  Tejo  para  as  terras  de  Saída  Cruz. 

Não  é  este  logar  próprio  para  discutir  as  causas  da  sua  desgraça.  Fique 
isto  para  a  sua  biographia,  que  tenho  entre  mãos. 

Apesar  de  altamente  vexatória  para  o  seu  espirito,  a  reclusão  de  D.  Fran- 
cisco nem  sempre  era  rigorosa.  Na  Torre  Velha  habitava  os  aposentos  do 
governador,  seu  amigo,  Ruy  Lourenço  de  Távora-,  recebia  hospedes3,  e 
saia  de  vez  em  quando  4.  Tinha  plena  liberdade  para  escrever  e  receber  car- 
tas, e  occupava-se  na  composição  de  vários  livros,  taes  como  o  Fenis  de  Africa, 
o  Panlheon  e  a  Carta  de  Guia  de  Casados.  For  incumbência  do  Rei  traba- 
lhava na  vida  do  Duque  U.  Theodosio,  pae  do  monarcha,  e  carteava-se  com 
D.  João  IV  sobre  este  assunto,  enviando  a  parle  já  feita  para  a  sua  approvação 5. 

Mandado  pelo  governo,  escrevia  vários  tratados  entre  os  quaes  os  ma- 
nifestos acima  referidos,  e  era  sem  duvida  para  melhor  observar  os  aconte- 
cimentos que  elle  assistia  na  Torre  da  Cabeça  Seca  á  tentativa  do  Almirante 
Blake  para  forçar  a  barra  G,  facto  que  talvez  motivou  a  lenda  da  sua  prisão 
naquella  Torre. 

Uma  vez  no  Castello,  D.  Francisco  estava  mais  á  vontade,  ao  menos  no 
principio,  pois  lá  linha  casa  própria  na  qual  os  peores  inimigos  eram  os 
piolhos:  «sirva  se  V.  Ex.'  de  me  conceder  uma  alçada  contra  estes  delin- 
quentes, mandando-me  uni  pentem  de  cana»7.  Mas  mesmo  ali  houve  mudan- 
ças da  sorte:  «muitos  dias  passei  ferrolhado  escrevendo  o  que  não  sabia» 8. 


1  V.  o  numero  21  d'esta  colleeção. 

2  V.  o  numero  41  e  cf.  Cartas  Familiares,  i,  93  e  v,  84.  Foi  naturalmente  nesta  occa- 
sião  que  D.  Francisco  collaborava  na  Historia  de  Varoens  illmtres  de  appellido  Tuiora,  im- 
pressa em  Paris  em  1648.  V.  Cartas  Familiares,  ti,  50. 

3  Ibid.,  i,  44,  ii,  44,  71  e  83. 
"  Ibid.,  i,  74  e  ii,  61. 

5  V.  o  numero  5  d'esta  colleeção. 

6  V.  Âstrea  Constante,  foi.  42  v.° 

7  V.  Cartas  Familiares,  v,  17. 
*  Ibid.,  v,  95. 


(9  I  CARTAS  DE   D.   I  RANI  ISl  O   MANUEL  DE  MELLO  I    i 


Parece  que  de  1652  em  diante  teve  licença  para  sair  sob  palavra9,  pois  a 
carta  36  d'esta  collecção  é  datada  de  !>  de  julho  da  quinta  <i1"'  possuía  em 
Alcântara,  a  Aula  politica  é  datada  da  Luz,  de  29  de  agosto  do  •uniu  seguinte, 
e  a  dedicatória  da  3."  Epanaphora  de  Bellas,  de  '•>  de  setembro  de  1654. 

D.   Francisco  Manuel   foi  não  só  insigi scritor,  mas  um  verdadeiro 

homem  de  bem,  como  evidenciam  as  suas  obras  e  o  testemunho  dos  seus 
contemporâneos,  que  não  tinham  empenho  em  louvar  a  um  vencido  da  vida, 
sendo  por  isso  insuspeitos.  No  meio  dos  seus  maiores  infortúnios  não  esque 
cia  ;i  desgraça  alheia,  e  é  realmente  coramovedor  encontrar  nesta  collecção 
de  cartas  nada  menos  de  seis  cujo  único  motivo  é  pedir  auxilio  e  protecção 
em  favor  dos  outros,  na  maior  parte  homens  da  sua  profissão,  a  militar 

Só  me  resta  dizer  que,  entre  as  cartas  sem  data,  as  que  foram  manda 
das  da  Torre  deviam  ter  sido  escritas  antes  de  31  de  março  de  1650,  sendo 
as  do  Castello  posteriores  áquelle  dia.  Nas  datas  o  copista  engana-se  às 
vezes:  por  exemplo  a  i|ue  tem  o  numero  -\-l  não  podia  ter  sido  escrita  da  Torre, 
pois  que  em  30  de  julho  de  1650  l>.  Francisco  já  estava  no  Castello.  Pelo 
conteúdo,  é  claro  que  o  numero  H>  deve  preceder  ao  '.'.  e  o  numero  -I  ao 
20;  mas  na  impossibilidade  de  lhes  assinar  as  datas  verdadeiras,  deixo-as 
como  estão  no  ms.  De  vez  em  quando  as  cartas  tem  regras  que  não  fazem 
sentido,  o  que  resulta  certamente  de  descuido  do  copista  anonymodo  códice, 
nestes  casos  ponho  uma  cruz.  Conservo  a  graphia,  apesar  de  variável,  limi- 
tando-me  a  desdobrar  as  palavras  abreviadas  e  corrigir  a  pontuação,  e  dou 
umas  notas  históricas  e  litterarias,  explicativas  do  texto.  O  meu  desejo,  ao 
publicar  estas  cartas,  é  trazer  novo  material  para  o  estudo  da  vida  de  um 
grande  português,  e  concorrer  com  mais  elementos  para  a  edição  completa 
das  suas  obras,  que  ha  de  fazer-se,  um  dia.  Que  a  minha  boa  vontade  releve 
as  inevitáveis  faltas  deste  trabalho,  feito  por  um  estrangeiro.  Aos  Srs.  Chris- 
toyão  Ayres,  Dr.  Leite  de  Vasconcellos,  Annibal  Fernandes  Thomás  e  a  Ex.m* 
Senhora  Dr."  Carolina  Michaêlis  de  Vasconcellos,  que  me  auxiliaram  com  con 
selhos  e  informações,  os  meus  mais  sinceros  agradecimentos. 


9  V.  o  numeru  4G  desta  collecção  e  Carias  Familiares,  i.  i*  Cf.  lambem  Epistola  Decla 
maioria,  p.  130 


ÍNDICE  DAS  CARTAS 
(COM   \-  SI  \<  DATAS  E  os  SÍTIOS  DE  ONDE  FORAM  ESCRITAS) 


1  (59) 

24  de  aovembn 

i  de  1647 

Torre. 

1  (16) 

ti  de  dezembn 

de   1647 

Torre. 

3  (23) 

13  de  dezembro 

de  1647 

Torre. 

S     (6) 

l  de  dezembro 

de  1648 

Torre. 

o  (61) 

lii  de  dezembro 

.li-  1648 

Torre. 

6    (8) 

28  de  janeiro 

de  1649 

Torre. 

7  (41) 

:tl  de  janeiro 

de  1649 

Torre. 

8  (36) 

l-j  de  fevereiro 

de  1649 

Torre. 

9  (54) 

16  de  março 

de  1649 

Torre. 

10    (2) 

.">  de  maio 

de  1649 

Torre. 

II  (26) 

9  de  maio 

de  1649 

Torre. 

lá     (4) 

1 1  de  junhu 

de  1649 

Torre. 

13  (37) 

14  de  jnnho 

de  1649 

Torre. 

14  (30) 

17  de  junho 

de  1649 

Torre. 

15  (46) 

l!»  de  junho 

de  1649 

Tone. 

16  (28) 

í  de  agosto 

de  1649 

Turre. 

17  (21) 

12  de  agosto 

de  1649 

Ti  niv. 

18  (14) 

29  de  agosto 

de   1649 

Torre. 

19  (60) 

!>  de  setembro 

de  1649 

Torre. 

20  (49) 

ih  de  setembro 

de   1649 

Torre. 

21  (52) 

-J  de  outubro 

de   1649 

Torre. 

22  (38) 

16  de  novembro  de  164!) 

Torre. 

23  (25) 

6  de  janeiro 

de  1650 

Torre. 

24  (35) 

:tl  de  janeiro 

de  1650 

Torre. 

25  (22) 

Ki  de  fevereiro 

de  1650 

Torre. 

48 


■  \ u r.\s  hk  n.  h;\\i:imii  mwiix  m:  .\ir.ixo 


(12) 


26  (43) 

25  de  fevereiro 

de  1650 

Torre. 

27  (15) 

6  de  março 

ii<'   1650 

Torre. 

28  dl) 

!i  de  marro 

de  1650 

Torre. 

29     (9) 

15  de  março 

de  1650 

Torre. 

30  (13) 

31  de  março 

de  1650 

Castello. 

31  (50) 

15  de  maio 

de  1650 

Castello. 

32  (48) 

30  de  julho 

de  1650 

Torre. 

33  (20) 

4  de  agosto 

de  1650 

Castello. 

34  (12) 

29  de  novembrr 

)  de  1650 

Castello. 

33  (39) 

10  de  fevereiro 

de  1651 

Castello. 

36    (3) 

9  de  julho 

de  1652 

Alcântara. 

37  (56) 

16  de  janeiro 

de  1663 

Secretaria. 

38  (10) 

domingo 

Torre^ 

39  (18) 

domingo 

Torre. 

40     (1) 

domingo 

Torre. 

41  (17) 

13 

Torre. 

42  (27) 

domingo 

Castello. 

43  (29) 

segunda-feira 

Castello. 

44  (32) 

terça-feira 

Castello. 

4o  (34) 

quarta-feira 

Castello. 

46  (42) 

quarta-feira 

Castello. 

47  (40) 

quarta-feira 

Castello. 

48  (58) 

quinta-feira 

Castello. 

49  (19) 

sexta-feira 

Castello. 

50  (44) 

sexta-feira 

Castello. 

51  (24) 

sexta-feira 

Castello. 

52  (31) 

sabbado 

Castello. 

53     (5) 

sabbado  santo 

Castello. 

54  (57) 

sabbado 

Castello. 

55  (53) 

— 

— 

56     (7) 

quinta-feira 

Casa. 

57  (51) 

quinta- feira 

Casa. 

58  (33) 

sexta-feira 

Casa. 

59  (45) 

— 

— 

60  (47) 

—  ■ 

— 

61  (55) 

— 

— 

Tem  V.  M. '"  de  thezouro  athe  o  escondido,  e  tenho  eu  de  pouco  ditozo 
o  não  poder  achallo.  Desde  aqui  faço  minhas  deligencias  por  sequer  não 
parecer  esquecido,  e  temo  já  que  athe  trampozo  pareça.  Entendi  pelas  cartas 
de  Paulo  Cràsbee  ',  lhe  não  tocava  a  elle  a  satisfação  dos  lYanchiosinos2;  se- 
guesse  loca  a  V.  M.c*;  e  dinheyro  em  mãos  de  prezo  não  he  de  boa  finca. 
Vão  aqui  os  dous  cruzados;  eu  fico  para  servir  a  V.  M.  ' .  Sobretudo  N.  S.or 
guarde  etc.  Torre  em  24  de  Novembro  de  1647. 

Am.0  e  dis. 

D.  F.  M. 


Senhor  António  de  Azevedo.  Item  se  ve  o  quanto  eu  havia  de  estimar  este 
papel  ile  V.  M.  no  como  tardou,  lie  de  25  do  passado,  e  o  recebo  em  fi  deste, 
dia  de  s.  Nicolao,  que  como  Pae  dos  órfãos  me  soccorreo,  e  me  cobriu  de 
boas  novas  de  V.  M.  Se  eu   fora  tão  eloquente  como  o  Sfior.  António  Luiz 


1  Paulo  Craesbeeck,  i>  conhecido  eilitor,  publicou  varias  obras  Me  1).  Francisco  Manuel, 
incluindo  o  Ecto  Politico,  a  Historia  dn  Catalunha,  e  El  Fenis  de  Africa. 

2  No  entender  de  1).  Carolina  Michaèlis  de  Vasconcellos  trala-se  aqui  da  paga  de  alguns 
livms  versando  sobre  a  veracidade  de  Franqui  (ou  Francfai)  Coneslaggio,  o  conhecido  hiato 
riador.  Vejam-se  os  Apologos  Dialogues,  p.  341,  e  as  Epanaphoras.  p.  186  (ed    1678 


.">(!  I   M,l  VS   DE  l>.   FRANCISCO   MANUEL  I)K  MELLO  (  1  St) 


de  Azevedo,  lãobem  dissera  de  alvoroços  e  saudades;  contento  me  com  que 
sejão  tãobera  empregadas,  ainda  que  não  sejão  tão  bem  ditas.  Meu  Compadre 
traz  os  pensamentos  muito  altos,  e  custar  lhe  ba  mais  do  possível  abayxalos 
tanto  que  se  lembre  de  mi;  sem  embargo  cá  tive  hum  Romanção  da  letra 
de  V.  .M.,  que  me  não  foy  menos  agradável  que  a  Muza  do  seu  Autor,  c  par 
e  meyo  de  sonetos;  a  tudo  Qz  resposta  com  um  simples  Romancinho.  Manha 
he  ila  gente  que  quer  bem,  não  querer  o  que  lhe  está  bem,  senão  o  que 
quer  a  quem  quer  bem.  Dislinde  o  diabo  estas  couzas.  Ora  enfim,  Snormeu, 
eu  estou  aqui  promplissimo  para  receber  a  V.  M.  nos  braços  da  minha  esti- 
marão, já  que  os  do  corpo  estão  atados  a  tantos  impossíveis,  que  não  acha- 
rão nas  ondas  do  mar  para  buscar  a  nado  os  Mestres  e  os  amigos.  Quando 
V.  M.  se  disponha  a  nos  dar  hum  dia,  pode  avizarme,  e  irà  a  fragata '.  Se 
do  Trajano-  ha  alguma  noticia,  também  poderá  vir  por  este.  Eis  aqui  o  paia 
que  eu  presto,  paia  pedir  e  causar.  Comludo  para  servir  a  V.  M.  muito  o 
de/ejo,  e  não  farey  o  que  devo,  ainda  fazendo  mais  do  que  poder.  Beije  V.  M. 
por  mi  as  mãos  a  meu  Compadre;  e  digalhe,  que-  se  não  emsoherheça  tanto 
com  a  saúde  (la  sua  Dama,  que  faça3  adoecer  seus  servidores.  Nosso  Suor  ele. 


Torre  (5  de  Dezembro  de  1647. 


Discip.0  e  am.° 
D.  F.  M. 


As  leys  que  derão  privilegio  ao  grande  Ofiicial,  me  parece  que  são  com- 
plices  de  muito  grandes  delictos;  porque  a  troco  de  ser  mayor  que  todos, 
até  grandes  lizongeyros  se  deyxão  ser  os  homens  honrados.  Agora  o  propozilo 
que  isto  leva,  não  direy  eu;  e  salvarey  assim  a  minha  malícia,  ou  o  meu 
despropozito.  Sejanos  muito  para  bem  a  Academia,  e  a  V.  M.  a  lição,  e  o 


1  A  fragata  servia  para  levar  hospedes  á  Torre  Velha,  da  Outra  Banda,  onde  1).  Francisco 
esiava  preso. 

-Referencia  a  qualquer  obra  de  Trajano  Boccalini,  o  celebre  satírico  e  critico  Italiano 
(ii.  1556,  na.  1623).  No  Hospital  <fe  Letras,  o  4.°  dos  Âpologos  Dialogaes,  um  .los  interlocutores  é 
o  livro  de  Boccalini,  /  llaijijiiniji.  nu  português,  Regaglios.  Sobre  este  escritor,  hoje  pouco  lido, 
lia  um  estudo  moderno  intitulado  Traiano  Boccalini  e  la  Literatura  critica  e  politica  nelSeicenlo, 
por  Giovanni  Mestiça.  Florença  \X~H.  Veja-se  Cartas  Familiares,  n,  K!>  e  m,  711  (7."i  no  livro). 

1  No  iiis.  lê-se  n  faça. 


I  15)  CAUTA-  DE  D.   KRANCISI  O  MÁN1  I  L  DE  MELLO  51 

Magistério  a  meu  compadre.  Até  hoje  me  n5o  Gzerão  digno,  nem  de  húa  no- 
ticia. Puis  também  Roma  tinha  Cidadãos  entre  os  Bárbaros.  Eu  soubi 
mister  de  Academia  bastantemente ;  por  que  a  agazalbey  em  minha  caza 
alguns  tempos'.  Muito  louvo  esse  exercício,  e  não  menos  peço  a  V.  M.  novas 
de  seus  progressos.  Cá  a  encommenda remos  a  Apollo  em  nossas  fracas  ora- 
ções. Entregará  a  V.  M.  o  portador  os  I.  0  do  elle  he  tão 
bom.  que  sempre  sabe  barato;  não  forão  estes  dias,  porque  n5o  tinha  porta- 
dor náutico  que  soubesse  sobir  à  gávea  de  V.  M.  Dezencarrego  na  lembrança 
de  V.  M.  as  memorias  que  devo  offerecer  a  meu  Compadre.  Estou  ôrompto 
ao  mandado  de  V.  M.  sempre  que  eu  o  sayba.  Nosso  Snor,  etc.  Torre  em  13 
de  Dezembro  de  1G47. 

Discip.0  D.  F.  M. 


Tudo  quero  imitar  de  V.  M.,  senão  o  esquecimento,  de  mi  assaz  mal 
merecido,  porque,  apezar  de  pezares  e  desvios,  faço  o  que  posso  por  servir 
a  V.  M.  Fiz  tanto,  que  soube  tinhamos  a  V.  M.  em  nova  occupação  de  penna 
e  tinta,  e  ainda  que  não  de  aquella  que  eu  desejava,  de  aquella  he  que  basta 
para  passar  a  outra  mais  descansada.  Tudo  o  que  nisto  me  falta  por  saber, 
faça  me  V.  M.  mercê  de  mo  avizar,  e  se  se  acha  de  maneyra  filozofo,  que  se 
não  embotará  com  a  profissão  politicai  Là  anda  o  nosso  Feniz ',  já  tão  vul- 
gar, como  as  mais  aves:  diga  me  V.  .M.  se  o  avistou,  e  se  se  engana  ainda 
com  elle  quando  impresso,  como  quando  manoescrito.  De  todos  os  successos 
de  V.  M.  eslimarey  muito  saber  parte,  e  se  nestas  paredes  ha  outra  couza, 
oxalá  que  eu  seja-  prestante  ao  serviço  de  V.  M.,  cuja  pessoa  guarde  Nosso 
Senhor  como  dezejo.  Torre  em  4  de  Dez.0  de  1648. 


D.  F.  M. 


1  fJSo  sabemos  qual  será  a  Academia  referida.  A  dos  Generosos  só  foi  fundada  nesle  mesmo 
anno  de  1047,  ao  que  parece.  Seria  a  chamada  Augusta,  mencionada  no  Tácito  Português  (có- 
dice 7ò8  do  Fundo  antigo  da  Bibiotheca  Nacional  de  Lisboa,  p.  116)  V 

1  A  t.*  parle  do  Fenis  foi  publicada  em  1648,  a  2.'  em  164'.'. 

2  No  ms>.  lê-se  :  eu  não  seja 


FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  I  16) 


Eu  scy  de  certo  lhe  serão  a  V.  M."  mais  penozas  as  minhas  desculpas, 
que  as  minhas  culpas.  Achaques,  aDições,  mizerias,  tudo  junto  fazem  hfta 
ruim  compozição  de  humor;  elle  sempre  estranho  ao  gosto,  e  obrigação.  Es- 
tas são  as  cauzas.  Estas  são  as  desculpas.  Agora  contra  as  culpas  me  não 
faltão  argumentos.  Posso  afirmar  (segundo  a  fraqueza  minha)  que  ou  não  re- 
cebi  papeis  de  V.  M.ce,  ou  lhe  respondi  logo.  .Mas  eu  não  quero  de  V.  M.ce 
tanto  a  justiça,  como  a  amizade.  Pode  ser  que  porque  acho  mais  depressa 
quem  me  faça  amizades  que  justiça.  De  todas  as  maneyras  me  he  propicia  a 
lembrança  de  V.  M. ',  suas  ventagens  alegríssimas.  Sò  me  falta  acabar  jà  de 
ver  lhe  as  que  forem  cortadas  pela  possibilidade,  já  que  não  poderão  ser 
pelos  moldes  do  meu  dezejo.  Dom  Francisco  meu  Primo l,  a  quem  sempre 
por  V.  M.ce  pergunto,  me  havia  dado  noticia  desta  ocupação  de  V.  M.ce.  Não 
me  quero  fazer  tão  morto  que  negue  a  estimey  tão  bem  pelos  meos  interes- 
ses como  pelos  de  V.  M.c*.  Eu  sempre  fui  apendix  de  secretarias;  em  Cas- 
tella  e  Portugal  tive  muitos  amigos  neste  exercício  a  quem  servi,  e  que  de 
mim  se  servirão.  Bem  creyo  me  continuará  V.  M.ce  nessa  posse.  E  porque 
não  sayamos  do  ponto,  nua  pessoa  de  minha  obrigação  tem  por  essa  via 
certo  justíssimo  requerimento,  e  cá  ninguém  que  lho  encaminhe;  mandou  me 
aqui  comissão,  para  que  desse  hum  vestido  a  quem  lhe  negociasse  sua  per- 
tenção.  Eu  fui  detendo-o,  esperando-lhe  esta  hora.  Ordeno  a  António  Va- 
rella5,  meu  errado,  busque  a  V.  M.ce,  e  o  informe.  He  couza  fácil.  Folgarey 
muito  que  aquillo  pouco  ou  muito  nos  fique  antes  em  caza  dos  amigos,  e 
destas  couzas  assim  não  creyo  que  faltarão  bem  dirigidas,  porque  eu  sou  as- 
saz atento  no  que  proponho. 

Guardo  com  grande  respeito  esta  aprovação  de  V.  M.ce  ao  nosso  Fénix, 
certo  que  eu  me  animey  a  acaballo  pela  que  V.  M.ce  lhe  deu  aos  princípios 3. 
A  segunda  parte  se  acaba ;  espero  não  desmereça  o  mesmo  contentamento. 


1  D.  Francisco  de  Mello,  primo  do  escritor,  foi  Trinchante  da  Casa  Real,  Camareiro-mor 
da  Rainhj  D.  Catharina  (mulher  do  Hei  Carlos  II  da  Inglaterra),  e  Embaixador  de  Portugal 
em  Londres,  onde  morreu  em  1078. 

2  António  Varella,  criado  de  D.  Francisco  Manuel,  foi  seu  testamenteiro  e  tutor  do  seu 
filho  D.  Jorge  Diogo  Manuel. 

3  Veja-se  o  que  eu  disse  na  Introducção  sobre  as  relações  liderarias  de  Azevedo  com 
D.  Francisco  Manuel. 


1  7  i  CARTAS  D]    D.   I  RANi  tS(  O  UA.NI  El    Dl    mi  U  O  53 


Mas  para  a  Historia  do  S.,,r  Duque  D.  Theodozio cito  eu  a  atenção  de  V.  M.  ; 
porque  tanto  pi  lo  i  ssumpto,  como  pelo  empenho,  e  sobre  tudo  : 
génio  meu,  espero  fazer  boa  escriptura.  Do  feito  espero  porem  mais  alguma 
parte  brevemente  do  S.  Magestade,  e  então  comunicala  aos  doutos.  Y.  M.  ■ 
se  aparelhe  para  furtar  ao  oflicio  suas  poucas  de  horas.  Vejo  o  Epitáfio  à 
morte  de  D.  M.H  de  Castro.  Eu  posso  ser  milhor  testemunha  que  ninguém 
de  snas  boas  partes  e  virtudes,  porque  como  uão  fomos  amigos,  serey  nesta 
parte  o  melhor  crido.  Elias  forão  muitas,  certefico  a  v.  \l.  ,  e  se  perdeo 
naquelle  Fidalgo  hu  muito  grande  e  útil  sogeito.  Tenha-o  Deus  no  Ci 
na  Terra  nunca  foi  mais  virtuozo  que  na  pena  de  V.  M.".  Também  eu  me 
haverey  de  valer  delia,  porque  Geando  em  vesporas  de  ser  julgado,  trago 
spiritu  de  fazer  lula  orarão  sobre  minhas  couzas,  a  qual  jà  a  alguns  estran- 
geyros,  com  quem  me  corro,  tenho  prometida  em  Romance1,  e  latim;  esta 
promessa  jà  invocando  o  beneplácito  e  benevolência  de  V.  M.co,  de  quem 
confio  me  não  faltará  nunca  em  fazer  mercê.  Sobretudo,  S.01  meu,  ficoprom- 
ptissimo  ao  serviço  de  V.  M. ",  ruja  pessoa  guarde  Nosso  S.01  como  dezejo. 
Torre  em  16  de  Dezembro  de  1HÍ8. 


Discipulo  e  servidor  de  V.  M. "' 
I).  /■'.  M. 

6 


Se  eu  sempre  poderá  alcançar  o  alivio  que  as  razões  de  V.  M.  me  trazem, 
não  receara  as  cauzas  xie  o  haver  mister.  Assim  digo  os  bons  effeytos  que 
destes  papeis  de  V.  M.  recebo.  Sem  duvida  peleja  com  armas  de  ventagem 
contra  a  fortuna  aquelle  que  tem  da  sua  parte  a  compayxão  dos  virtuozos. 
He  V.  M.  este.  Mil  haverá  que  digão  sou  indigno  do  ar  que  respiro.  Praza  a 
Deos  não  sejão  esses  os  que  acertem!  e  praza  lhe  de  que  eu  o  tema,  porque 
me  melhore,  e  faça  acertar  aos  outros  que  se  laslimão.  Eu  amo  tanto  aquel- 
les  a  quem  devo,  que  mais  depressa  me  animarey  a  emmendar  pelo  sen  cre 
dito,  que  pelo  meu  interece.  Sempre  são  violentíssimos  os  últimos  accidentes 
do  bem,  ou  do  mal.  Este  que  padesso,  quer  fazer  termo  no  esforço,  ou  de 


RonUmce,  aqui,  significa  poj 


i    Mil  \>    Hl.    h.    ril\\(  ISCII    \I\NI 


(18) 


belidade;  não  estranho  que  nesta ocazião  me  perturbe  tanto.  Desgraça  será 
grande,  por  certo,  perder  agora  com  a  dezesperação  o  sofrimento  passado. 
Sempre  ouvi  era  a  mayor  escapar  do  Cabo  da  Boa  Esperança,  e  vir  a  fazer 
naufrágio  na  boca  da  bana  '. 

A  Carta  de  El  Rey  Chrislianissimo-,  em  sua  lingua,  veyo  não  pouco  favo- 
recida.  Guardo-a  para  mais  perto  da  rezolução,  e  tenho  por  sem  duvida  irá 
logo  á  mão  de  V.  M.,  a  quem  eu  primeiro  remeterey  a  copia  delia. 

O  Papel  para  se  traduzir  vay.  Dos  milagres  do  affecto  de  V.  M.  tenho  eu 
aquella  certeza  que  me  dá  a  fee  de  nossa  amizade.  Determino  ajuntallo  às 
razões  que  por  mi  faz  o  meu  Advogado;  porque  justo  será  falle  também  por 
si  quem  falia  pelos  outros. 

Vay  o  segundo  Feniz  e  agora  se  acabará  de  conhecer  não  he  elle  único. 
Muito  obrigado  me  deyxa  este  Epygramma  do  D.or  Braz  Nunes  Menhãas3,  a 
cuja  pessoa  e  engenho  fuy  sempre  affeysoadissimo.  Assim  como  pude,  enge- 
nhey  cá  esse  Soneto  em  reconhecimento  dos  louvores  de  que  quiz  fazer  me 
parte.  Faça  me  V.  M.  mercê  de  lho  remeter,  haveudo-o  lido  e  emmendado. 

V.  M.  deve  saber  que  de  todo  sou  seu,  e  se  o  não  sabe,  deve  mo  V.  M. 
Sendo  isto  assim,  do  seu  não  tenho  para  que  lhe  fazer  offerecimento,  nem 
prezente.  Nosso  Senhor  etc.  Torre  em  28  de  Janeiro  de  1649. 


Discip."  am.°  e  C.°  de  V.  M. 
D.  F.  M. 


»  De  Lisboa. 

2  A  carta  do  Rei  de  França  está  escrita  de  Paris,  de  6  de  novembro  de  1648.  Este  trecho 
falta  na  carta  impressa  (Cartas  Familiares,  iv,  4). 

3  O  Di'.  Manhans  foi  medico  de  El-Rei  D.  João  IV  e  poeta.  Segundo  Barbosa  Machado,  a 
sua  mais  celebre  composição  poética  foi  um  Romance  satírico  contra  o  medico  António  da 
Motta.  por  se  lhe  preferir  em  tomar  o  pulso  á  Rainha  D.  Luisa  de  Gusmão  t  Escreveu  um  Epi- 
gramma  Latino  á  morte  de  D.  Maria  de  Alaide,  que  foi  publicado  nas  Memorias  F/tnebres  da 
dita  senhora  (Lisboa  1030).  collecçãopara  que  D.  Francisco  Manuel  também  contribuiu.  Veja-se 
o  artigo  do  Dr.  Sousa  Viterbo.  Médicos  Poetas  — Dr.  Braz  Nunes  Manhans,  impresso  no  numero 
de  2f>  de  Agosto  de  1  í-07  da  Revista  Medicina  Conlcwjinriiiicn. 


(19)  CARTAS  DE  D.   li;w  ISi  O  UAI 


\vv  me  falta  o  tempo  para  o  que  he}  mister,  como  se  o  eu  houvera 
mister  para  outra  couza  do  mayor  interesse  que  para  gastallo  com  V.  M.  na 
maneira  que  posso. 

A  copia  Latina  e  Franceza  da  Carta  dei  Rej  de  França  vay  para  que 
V.  M.  a  veja  e  se  prevenha,  pois  sem  duvida  ella  haverá  de  ir  a  mãos  de 
V.  M.M.  Peço  delia  por  agora  secreto,  porque  não  está  anula  oferecida  a 
S.  Magestade,  posto  que  eu  a  tenho  he  publico. 

Haverá  de  fallar  com  V.  M.    o  capitão  Henrique  Tavares  Homem,  e  posto 
que  Insulano,  não  he  péssimo,  mas  muito  homem  de  bem.  He  couza  bem 
minha;  tem  negocio  nessa  Secretaria;  sirva  sse  V.  .\1.  '  de  o  ouvir  como  meu 
amigo,  que  eu  fio  seja  elle  grato  à  mercê  que  de  V.  M.  "  receber,  i 
eu  tenho  assaz  de  parte. 

O  papel  que  dezejava  em  Latim,  me  parece  que  não  quer  a  ocazião  espe- 
rar por  ella,  porque  eu  queria  acostallo  no  meu  final  arrezoado;  mas  a  parte, 
acossando  me  a  todo  o  prepozito,  \a\  levando  o  processo  de  feyção  que  jâ 
não  tenho  tempo  para  nada.  A  vontade,  com  que  V.  M."  me  faz  mercê,  deixe 
a  V.  M.ca  ficar  no  seu  animo,  que  eu  me  vallerey  delia.  Nem  o  Soneto  do 
D.or  Manheas1  pode  ter  era,  porque  as  minhas  não  são  purpúreas;  emíim 
elle  he  dia,  e  eu  sou  noute  escura. 

Nosso  S.or  guarde  etc.  Torre  em  31  de  Janeyro  de  16i!). 


C.° 
D.  Fran.     '/. 


im  no  uts.  Veja  a  Carla  6. 


56  CAUTAS  DE  D.   FRANCISCO  MANOEL  DE  MELLO  (20) 


Porque  aqui  nada  haja  bom,  athê  a  ociozidade,  que  poder  bem  empregar, 
Dão  lia  nunca  dentro  do  mesmo  ócio,  e  silencio.  Nem  pude  estes  dias 
dar  de  mini  razão  a  V.  M."'.  nem  agora  em  melhor  forma  me  lie  possível. 
Desta  banda  me  dizem  andou  meu  Compadre,  mas  as  comadres  podem  mais. 
Ku  d  nSo  vi  porque  não  posso;  elle  teria  a  mesma  razão  de  me  não  fazer 
mercê.  Este  moço  me  disse  não  tinha  V.  M.ce  o  meu  primeiro  livro:  aqui  vay; 
e  se  eu  o  soubera  antes,  fora  o  primeiro,  e  em  melhor  maneira,  porque  tam- 
bém V.  M.ce  lie  o  primeiro  de  toda  a  maneira  em  minha  estimação.  Agora 
com  a  vinda  de  S.  Magestade,  e  com  estar  o  meu  feylo  ja  em  mão  do  Juis 
l!  ",  me  parece  se  encaminhara  este  meu  ultimo  desengano.  Eu  nego  que 
elle  falte  mais  que  à  ceremonia ;  sobretudo  me  guarde  N.  S.or  a  V.  M.  Torre 
12  ilr  Fevereiro  de  1649. 

A.  e  D. 

D.  F.  M. 


Senhor  meu,  cercos  de  tempestades,  e  tempestades  de  disgostos  me  tem 
entredito1  estes  dias,  para  mim  annos  e  tempos,  pois  falto  em  saber  de  V.  M.ce 

Ca,  pelo  que  passo  na  minha  toca,  vejo  qual  será  o  ruido  desses  Palácios; 
mas  também,  o  que  para  o  meu  animo  he  sobejo,  não  he  nada  para  os  grandes, 
que  tem  perdido  o  medo  aos  riscos,  ou  de  haverem  nelles  caido,  jà  os  não 
temem.  Não  he  pequena  obrigação  dos  bons  sogeytos  acomodarse  ao  audi- 
tório; assaz  fará  a  filozofia  que  fizer  tanto,  e  inútil  será  aquella  que  o  não 
fizer,  porque  saber  hum  para  seu  martírio,  he  prova  da  inorancia.  Colho  de 
tudo  ser  V.  M.ce  obrigado  a  dezabafar  entre  esse  seu  exercício  e  tomallo  na 
milhor  parte,  pois  delle  lhe  cahio  a  sorte;  que  assim  o  disse  David,  conso- 
landosse  de  lhe  haverem  cahido  os  laços  de  sua  tribulação  naquella  parte, 
donde  elle  por  tàes  os  reconhecia.  Boa  esta  a  minha  confiança !  e  deixo-me 


(2  1  I  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  hl'  MELLO  .»/ 

assim  pregar  a  hum  Mestre!  A  vontade  fez  ludo  islo ;  he  tão  podero 
assim  nos  faz  delirar  no  mal,  como  do  bem.  Estão  jà  vist  os1  em 

seu  lugar,  nem  eu  duvidey  Dunca  de  seu  acerto  quando  acerley  a  pedir  a 
V.  M.  os  fizesse.  Espero  que.  como  elles  são  o  primeyro  de  minha 
ella  seja  também  a  primeyra  das  minhas,  per  amor  delles.  Não  me  dà  o  tempo 
lugar  a  mais  que  a  pedii  .1  \.  M.  '.  como  sempre,  se  lembre  de  mi 
menos  para  mandarme,  que  para  me  fazer  mercê,  que  tudo  he  o  mesmo 
naquelles  que  de  bom  coração  servem,  ou  o  dezejão.  Nosso  S.0'  etc.  Torre, 
em  10  cie  Março  de  1649. 

s."  e  discípulo 

D.  F.   M. 

10 


Tudo  aquillo  que  embaraça,  quer  por  bem,  quer  por  mal,  lenho  estes 
dias  padessido,  Achaques,  Hospedes,  Negócios.  Eis  aqui  as  causas  de  Dão 
saber  de  V.  M.  em  lodo-  elles,  e  de  Dão  obedecer  a  V.  M.  e  mais  a  hum  Ião 
suave  preceyto  como  aquelle  de  mandar-me  lhe  dê  razão  de  mi,  que  eu 
como  devo  fazer  tanto. 

O  Livro  farey  hir  logo,  que  também  por  doença  de  quem  com  elles  me 
corre,  se-  dillatou  atègora.  Não  se  canse  V.  M.  de  sua  oceupação,  posto  que 
lhe  seja  pezada,  e  differente  de  seu  estudo,  certo  de  que  o  homem  Civil  sem 
ofllcio  he,  a  meo  juizo,  como  se  lhe  faltarão  as  mãos  ou  os  pees.  Pode 
V.  M.  ahi  valer  a  muitos  bons,  e  servir  a  Deos,  e  accommodarse.  Seja  lhe 
leve  pois,  Sefior,  hum  trabalho  que  pode  dar  tão  bons  frutos.  Mas  eu  que 
dos  outros  não  quero  ver  a  V.  M.  izento,  antes  de  novo  lhos  proponho. 

Neste  Livro  Theodozio,  que  a  S.  Magestade  escrevo,  de  que  determino 
fazerlhe  cedo  prezente,  fiz  debuxar  hum  Capricho  por  meu  Primo  D.  Fran- 
cisco, que  com  raro  acerto  o  poz  em  efTeyto,  para  delle  se  abrir  híía  estampa 
que  sirva  de  rostro  ao  verdadeyro  Livro;  mas  para  que  a  pintura  nem  a  ten- 
são fique  muda,  dezejo  explicalla  em  dous  Dísticos,  ao  pee  do  debuxo,  para 
o  que  fiz  deyxar  lugar.  He  tal  a  pintura:  — a  Verdade  em  figura  de  Nimpha, 
que  está  pintando  em  sua  estante,  e  por  detraz  à  orelha  lhe  dieta  o  que  ha 


'  Veja  a  Carta  10. 

*  No  ms.  si. 


58  CAUTAS  DE  Lt.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (22) 

de  pintar  outra  Ninfa,  que,  significa  a  Memoria.  Em  o  paynel  se  ve  a  pessoa 
do  Duque  Theodozio  armado,  como  pintura  feyla  da  Verdade,  e  da  Memoria. 
Por  detraz  está  .Mercúrio  moendo  Untas,  significando  o  estylo  (por  ser  elle  o 
Deus  da  Eloquência)  que  são  as  tintas  de  que  se  compõem  a  fermosa  historia. 
Os  Dísticos  dezejo  que  digão  couza  semelhante.  Pinta  a  Verdade  o  que  lhe 
dieta  a  Memoria,  e  da  Verdade  e  da  Memoria  he  fiel  retrato  a  Historia  de 
Theodozio,  a  quem  Mercúrio,  Deus  da  Eloquência,  prepara  as  cores  do  estylo. 
Taes  sogeytos  merece  Theodozio  se  oceupem  em  sua  immortalidade.  Isto  he 
assim  ruda  e  longamente  o  que  me  parece  conveniente  para  declarar  o  pen- 
samento da  pintura,  que  V.  M.  abreviara,  e  reduzirá  a  toda  perfeysão,  como 
espero. 

Meu  Compadre  ha  mister  mais  desculpas  quando  se  lembra  de  mi,  que 
quando  se  esquesse.  He  o  certo  que  eu  sem  ceremonia  lhe  sou  verdadeyrissimo 
amigo ;  e,  porque  o  sou,  he  bem  me  và  assim  ao  som  da  possibilidade.  Aqui 
me  tem  V.  M.  promptissimo  a  seu  serviço:  oxalá  nelle  vallesse  algua  couza. 
Torre  em  u-  de  Mayo  de  1649. 

Discip.0  e  am.°  de  V.  M. 

D.  Fr.  M. 

11 


Se  V.  M.  me  faltar  com  suas  lembranças,  acabarey  de  crer  que  tudo  me 
falta;  e  se  me  não  faltar  com  ellas,  consolar  me  ey  muito  de  tudo  o  mais  que 
me  faltar.  Ha  muitos  dias  que  não  tenho  novas  de  V.  M.  se  não  as  poucas 
que  me  deu  cã  meu  Compadre  quando  me  vio,  indo  à  sua  romaria.  Torne ' 
me  V.  M.  ao  que  era  meu,  que  era  não  ser  meu  e  ser  todo  de  V.  M.  cuja 
pessoa  guarde  Deos  como  desejo.  Torre  em  9  de  Mayo  de  1649. 


Am.0  e  Discip.0 
D.  F.  M. 


(23)  i  ai;!  IS  DE  D.  i  i;\M  IS<  n  m\m  EL  Dl  59 


12 


Senhor  meu.  O  certo  he  que  V.  M.  nasceo  tanto  para  Mestre,  como  pura 
amigo,  e  que  pode  ser  Mestre  das  amizades,  (iram].'  mercê  me  faz  V.  M. 
Desta  advertência.  Eu  de  verdade  sou  desconfiado  desta  minha  negra  fortuna, 
e  a  todos  cuido  que  enfado. 

Mereço  muito  a  António  tio  Couto  '  ler  me  elle  na  conta  dos  seus  amigos, 
e  particular  affeyçoado,  qual  fuy  sempre.  Eu  lhe  escrevo,  e  creyo  de  sua 
cortezia  não  deyxarà  passar  ocazião  em  que  me  possa  ser  bom.  Os  meus  ne- 
gocios  começarão  a  correr  por  lii  brevissimamente. 

Diga  me  V.  M.  por  me  lazer  mercê  se  aparecerão  já  lã  as  cartas  que  re- 
meti por  meu  Compadre  ao  Secretario,  e  aparecendo,  laça  me  V.  M.  mercê 
de  ler  com  attensão  a  Carta  que  escrevo  a  S.  Magestade2.  Nosso  Senhor  etc. 
Torre  11  de  Junho  de  1649. 

Am.0,  e  C.° 

D.  F.  M. 

13 


Muitos  são  os  interesses  que  me  vem  de  obedecer  a  V.  M." .  Aqui  vão  não 
só  a  carta  que  escrevi  a  S.  Magestade,  mas  outra,  que  também  escrevi  a 
hum  dos  meus  Juizes3.  Sey  que  ambas  são  largas,  mas  o  cazo  o  requere;  e 
como  tãobem  havião  de  ser  as  ultimas  nesta  matéria,  não  quis  me  esque- 
cesse nada,  bem  que  sim  esqueceo.  Veja  as  V.  M. "'.  e  mas  tornará,  fazendo 
me  a  mercê  de  me  emendar  a  mim,  pois  ellas  já  não  puderão  alcançar  essa 
dita.  Faça  me  V.  M.  mercê  de  avizar,  se  apareceo  já  là  a  de  França,  por- 
que a  inquietação  destes  dias  pôde  divirtir  os  instrumentos.  Sobretudo  N.  s.  ' 
etc.  Torre  em  14  de  Junho  de  649. 

A.  e  C. 

D.  F.  M. 


1  António  do  Couto  foi  Secretario  de  El  Rei  D.  João  IV. 

2  É  possível  que  esta  Carta  seja  o  Memorial  publicado  por  Camillo  Castello  Branco  na  sua 
edição  da  Curtn  da  Guia  de  Casados.  Cf.  as  Cartas  13  e  27. 

3  A  rarli  dirigida  por  I).  Francisco  Manuel  ao  seu  juiz  I).  Dioito  Marchâo  Tticniudo,  em  que 
o  informava  da  sua  justiça,  é  o  numero  3  fá  Centúria  Segunda  das  Cartas  Familiares. 


60  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (24) 


14 


Dias  lia,  Síir.  António  Luiz  de  Azevedo,  que  a  leytura  torna  '  a  graça  e 
;i  vida  de  quem  :i  lê;  assim  serão  as  minhas  cartas  differentes  na  mão  de 
V.  M.  ou  nas  alheas.  Se  ali  algua  couza  se  acertou,  a  dor  seria.  Já  disse  que 
semelhante  modo  tem  a  razão  em  ministrar  as  palavras,  que  as  armas  o  fu- 
ror. Não  só  não  vedo  a  vista  desses  papeis,  mas  peço  a  V.  M.  os  comunique 
a  quem  for  servido;  porque  manifestar  eu  a  minha  justiça,  nunca  me  pode 
ser  inconveniente.  Tirarey,  se  quer  assim,  a  conveniência  de  a  manifestar. 
Ajunte  aos2  mais  V.  M.  esoutro  papel,  que  era  aquelle  que  em  Latim  eu  de- 
zejo  ver  convertido.  Com  V.  M.  se  cansar  delles,  então  mos  tornará ;  porque 
são  todos  os  originaes  que  só  tenho.  Por  certo,  siior  meu,  que  se  os  pregões 
são  parte  do  castigo  3,  que  bem  altos  forão  os  que  se  tem  dado  de  minhas 
culpas,  e  me  poderão  assim  fazer  participe  de  toda  a  mizericordia.  Mas  tam- 
bém ha  culpas  ditozas,  sem  serem  as  de  Adam 4;  e  outras  mofinissimas,  sem 
que  as  de  Luzbel  fossem.  Persuado  me  que  a  Carta  de  El  Rey  da  França 
haverá  passado  à  Secretaria  de  Estado,  porque,  a  não  ser  assim,  já  nessa 
houvera  de  haver  noticia  delia.  Se  Y.  M.  pudesse  fazer  de  todo  este  meu 
pensamento  observação,  eu  receberia  grande  mercê  no  avizo.  Sobretudo 
"guarde  Deos  a  V.  M.  muitos  annos  como  dezejo.  Torre  em  17  de  Junho  de 


A.  C. 
D.  F.  M. 


1  Torna  (píer  diz<?r  traduz,  reflecte. 

2  No  ms.  os. 

3  Antigamente  quando  os  criminosos  iam  á  forca,  inamlavam-nos  parar  em  certos  pontos 
da  cidade  onde  se  apregoavam  as  suas  culpas. 

4  Allusão  á  phrase  de  S.'°  Agostinho  que  chamou  felix  culpa  ao  peccado  de  Adão  porque 
motivou  a  vinda  do  Redemptor. 


(25)  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  61 


15 


Sempre  Deos  depara  flores  âs  abelhas ;  sempre  aos  bons  bons  empn 
exercícios.  Não  estranho,  por  esta  regra,  que  por  mão  de  V.  M.     me  venhão 
sempre  boas   novas.    Estas  são  tanto  para  estimar,  como  V.  M. '  muy  bem 

sabe  advertir,  e  advertir  me.  Sey  lhe  não  esquecera  a  V.  M.  "  ponto  da  mercê 
que  me  faz,  quando  se  visse  em  ocazião  de  fazer  ma.  Do  qui  \.  M.  lá  fôr 
achando  acerca  devia  mensage,  me  faça  mercê  de  me  avizar,  que  este  pão  da 

esperança  lie  tão  yostozo.  como  o  maná;  a  tudo  sabe  e  a  todos  mantém.  De 
qovo  eivo  se  move  outro  negocio  acerca  do  qual  eu  serey  lá  nomeado;  por- 
que esta  nova  companhia  '.  havendo  intentado  ha  dias  valerse,  ou  servirsse 
de  ni\,  sou  eerto  que  de  fresco  com  instancia  ha  de  propor  esta  petição  a 
s.  Magestade.  Parece  me  terá  V.  M.ce  noticia  deste  negocio,  com  o  que  não 
se  me  ofifrece  que'  pedir  o  ajude  no  que  em  mão  de  Y.  M."  estiver,  porque 
creyo  que  sem  que  eu  o  peça,  o  fará  V.  M.ce,  segundo  sua  bondade,  e  a  ex- 
periência que  eu  delia  tenho.  Mendonça,  vendo  se  favorecido  de  V.  M.co.  não 
haverá  quem  possa  com  elle.  Parecia  me  que  com2  António  do  Couto  podia 
V.  M.  "  conferir  sobre  esta  matéria  nova.  De  tudo  espero  avizo  de  V.  M.ce  e 
do  em  que  eu  possa  empregar  me  em  seu  serviço.  Sobretudo  guarde  N.  S.or 
a  V.  M."  como  dezejo.  Torre  em  lil  de  Junho  de  16i9. 


Am."  e  C, 
I).  F.  M. 


1  A  Companhia  é  a  do  Commercio  do  Brasil,  cuja  fundação  se  acha  descrita  nas  Cariai 
Familiares,  cent.  m,  n.°  61.  As  capitulações,  52  em  numero,  foram  approvadas  por  Alvará  de 
10  de  Março  de  1649. 

2  No  ms;  a. 


l'd  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DK  MELLO  (26) 


16 


Então  se  podia  ler  de  mi  a  mayor  lastima,  quando  V.  M.  me  faltasse  por 
ella  mesmo.  Estas  são  de  aqueUas  piedades  rigurozas  que  soem  offender  a 
muitos,  jà  na  emmenda,  jà  no  remédio.  Lembresse  V.  M.  de  mi,  lastimesse 
embora,  e  alente  me  com  suas  razões,  que  eu  em  nada  menos  estimo  que  as 
melhores  obras. 

\qui  me  avizão  não  foy  tão  ruim  quanto  eu  esperava  a  rezolução.  Se  por 
estar  jà  fácil  o  raminho,  quizessem  acabar  de  despenhar  me,  certo  eu  ficaria 
devedor  à  obra,  posto  que  á  vontade  não.  Vi  com  grande  affecto  estes  papeis 
do  Religiozo  P.  U.  António  Ardizone1.  Em  papel  aparte  digo  meu  senti- 
mento, por  se  V.  M.  for  servido  comunicar  lho,  e,  de  caminho,  me  faça  V.  M. 
mercê  de  offerecer  mais  hum  animo  a  sua  devoção,  e  reverencia.  Sobretudo 
guarde  Nosso  Snor.  a  Y.  M.  como  dezejo.  Torre  em  4  de  Agosto  de  1049. 


A.  eC. 
D.  F.  M. 


1  P.  D.  António  Ardizzone  Spínola  foi  Clérigo  Hegular  Theatino,  oriundo  de  Nápoles. 
Veio  para  Lisboa  em  1648,  onde  fundou  o  convento  de  Nossa  Senhora  da  Divina  Providencia, 
sendo  nelle  Preposito  e  Visitador. 

O  seu  mais  importante  livro  é  o  Cordel  Triplicado  de  Amor  a  Chrislo  Jesii  Sacramen- 
tado, ao  Encuberto  de  Portugal  nacido,  a  teu  Reyno  restaurado,  Lançado  em  Ires  Lirros  de  Ser- 
mõens  da  Felis  Aclamaram  d' El  liei/  Dom  Ioam  IV. . .  Pregou  os  na  índia  na  See  Primacial  de 
Goa   e  em   Lisboa  un   Capella  Real.  Lisboa  1680. 

Tem  gravuras  de  Thomás  Dudley  e  outros,  sendo  as  melhores:  um  retrato  de El-Rei  D.  Pe- 
di. >  II  ;  um  do  autor,  que  se  figura  no  acto  de  dar  a  Santa  Communhão  aos  índios;  e  um, 
lindíssimo,  de  El-Rei  D.  João  IV,  quando  menino,  (reproduzido  por  Dr.  Joaquim  de  Vasconcel- 
ios  na  obra  importante  Catalogo  de  Musica  de  D.  João  IV,  vol.  a). 

Este  curioso  livro  é  boje  raro.  Contém  informações  importantes  sobre  o  estado  politico  e 
religioso  do  Império  Português  no  Oriente. 


(27)  <  Mil  VS  Dl     D.    I  RANI  [SI  O   M  LNl  l  I    DE  MELLO  G3 


17 


Se  os  breves  despachos  dessa  Caza  me  tirarem  o  saber  de  V.  M.  muitas 
vezes,  antes  quero  ser  requerente  que  despachado.  V.  M.  me  mande  min 
boas  novas  suas,  que  he  a  melhor  munição  para  |>assar  neste  Castello.  Em 
Palença '  estive,  e  se  não  vi  a  V.  M.,  o  li,  pelo  u\<'i\<'<  em  alguas  letras  de 
empresas.  Boas  são  as  letras  para  servir  aos  Santos,  e  pintar  no  Ceo,  mas 
que  seja  o  da  caza,  visto  que  cà  abayxo  tão  pouco  valem.  Espero  que  a 
final  consulta  do  meu  negocio  torne  a  esse  offlcio  brevemente,  e  eu  receba 
do  síior.  Secretario  aquelles  que  comigo  exercita,  eu  creyo,  e  devo;  confes- 
sa rey  sempre.  Não  lardarey  em  lembrallo  a  V.  M.,  para  que  ajudando  me  a 
rogar  lhe,  me  seja  V.  M.  também  acrèdor  dessa  boa  obra,  como  mu  he  da" 
boníssima  vontade.  Peco  a  V.  M.  se  uão  descuide  em  me  haver  aquellas  car- 
tas que  summamenle  me  importão,  e  por  isso  sò  fuy  perdellas.  Nosso  Snor. 
etc  Torre  em  12  de  Agosto  de  1049. 

A.  e  C. 

D.  F.  M. 

18 


Segundo  são  os  males  que  contra  mi  se  embrabecem,  «ão  me  estranhe 
V.  M.  o  calor,  senão  o  ter  ainda  alento  para  fazer  estas  letras.  Ou  isto  se 
quer  acabar,  ou  eu;  porque  as  opressões  vão  de  monte  a  monte.  Deos  me 
ensine  o  vâo,  que  eu  estou  fraco  e  cego. -Entendo  será  amenhãa  nessa  Secre- 
taria a  decantada  consulta  de  meus  Juizes.  Veremos  (segundo  espero)  mais 
esta  vez,  que  nem  por  muito  cuidar  as  couzas,  ellas  se  acertão.  Meus  lu- 
mes tenho  de  grande  variedade,  e  minhas  confuzões  das  suas.  Escrevo  ao 
Senhor  Secretario  largamente,  remeto  lhe  hua  Carta  para  S.  Magestade,  hum 
papel,  parte  de  aquella  declamação,  para  que2  se  houver  lugar  de  que  El  Rej 


1  Cidade  de  Castella  a  Velha,  com  uma  sé  notável. 

•'  lia  aqui  anacoluthia.  Elle  quer  dizei-:  para  que,  se  houver  lugar,  El- Rei  se  queira  infor- 
mar. Mas,  como  por  outro  I  ido,  podemos  dizer  :  paraTquc  haja  lugar  de  que  El-Reise  queira 
informar,  elle  soiiiiiiou  as  duas  sintaxes  (Leite  r>K  Vasi  ONi  i  i.uim 


64  CAUTAS  DF    D.  FÍMNCISCO  MANOEL  DE  MELLO  '(28) 


se  queyra  informar  do  processo.  Tudo  lhe  levará  João  Nunes  da  Cunha  ', 
mas  eu  tenho  com  V.  M.  a  fee  que  sua  fee  de  V.  M.  me  merece,  e  assim 
como  ultima  e  mor  encomenda  [teço  a  V.  M.  empregue  todo  o  seu  valor  e  bon- 
dade em  me  ajudar  pelos  meyos  que  lhe  forem  possíveis ;  que  quando  o  meu 
amor  o  não  merece  a  V.  M.,  ainda  assim  do  que  V.  M.  exercita  com  minhas 
couzas  bem  se  poderá  esperai-  esta  lastima  e  esta  obra  para  todas  as  boas. 
Guarde  Deos  a  V.  M.  como  dezejo.  Torre  em  29  de  Agosto  de  1649. 


\.  C 


19 


Senhor  meu,  certíssimo  de  que  nenhum  silencio  fará  a  V.  M.'e  esque- 
cido de  me  fazer  mercê,  se  me2  desculpar  o  passado  (em  que  verdadeira- 
mente não  sou  culpado),  pesso  a  V.  M.ce  muy  confiadamente  novas  mercês. 
Será  hoje,  athe  manhã,  em  mãos  do  S."r  Secretario  aquella  carta  dei  Rey  de 
França  em  meu  favor,  e  também  espero  haja  de  ser  logo  nas  de  V.  M.ce. 
Creyo  que  assim  na  tradução  delia,  como  em  todos  os3  accidentes  do  meu  ul- 
timo negocio,  que  haverão  estes  dias  de  correr  nessa  Secretaria,  me  fará 
V.  M.ce  aquelle  favor  e  mercê  que  sempre,  e  que  agora  me  he  tanto  mais 
necessário,  como  V.  M.ce  conhece.  De  meu  animo  não  tenho  que  dizer  a 
V.  M.ce,  sendo  seu  e  sendo  o  mesmo.  Sobre  tudo  N.  S.or  guarde  a  V.  M.ce. 
Torre  em  9  de  Setembro  de  1019. 

Am.0  e  D. 

■  D.  F.  M. 


1  JoSo  Nunes  da  Cunha,  l.°  Conde  de  S.  Vicente,  Deputado  da  Junta  dos  três  Estados, 
Gentilhomem  da  ('amara  do  Príncipe  D.  Tlieodosio,  e  Yice-Rei  da  índia,  onde  morreu  em 
1668,  aos  49  annos  da  sua  idade.  Foi  poeta  e  sócio  da  Academia  dos  Generosos.  D.  Francisco 
Manuel  dedicou-lhe  o  Fenis  de  Africa,  assim  como  o  soneto  53  da  Tuba  de  Calliope,  nas  Obras 
Métricas. 

2  No  ms.  i-e. 

3  No  ms.  o. 


(29  I  CARTAS  DE  D.   I  RANI  ISCO  MAM  li 


20 


Hà  infinitos  tempos  que  me  faltSo  novas  de  V.  Al.  ,  e  he  esta  búa  das 
circunstancias  que  bem  ajudam  a  minha  confusão  e  tristeza,  que  se  funda  em 
tantas  cauzas,  como  V.  Al."  haverá  conhecido,  e  conhecerá  o  Mundo,  quando 
ouvir  o  ecco  das  sem  razões  que  se  me  fazem,  respondendo  nos  effeytos.  Por 
là  me  fazem  crer  anda  essa  minha  consulta  ha  vinte  e  mais  dias;  e  sendo  o 
tempo  tal,  e  tal  o  negocio,  asseguro  a  V.  Al. "'.  como  Christão,  que  em  mayor 
enleyo  me  não  vi  nunca.  Vim  jà  a  sospeytar  se  S.  Magestade  haveria  man- 
dado fazer  alguma  secreta  deligencia,  movido  da  grande  variedade  devotos, 
donde  hà  dous  ex  diâmetro  opostos;  e  por  ventura  que  de  alguma  palavra  do 
S."r  Secretario  se  haja  colhido  bastante  ocazião  para  se  cuidar  assim.  Peço  a 
V.  M.ce  me  faça  mercê  de  observar  particularmente  tudo  o  que  lhe  for  pos- 
sível acerca  desta  matéria,  porque  com  qualquer  signal  de  dezengano  eu 
embainharey  essa  pouca  esperança  de  remédio,  e  me  torne  a  sogeytar  a 
hum  novo  encantamento,  pois  assim  he  bem  que  seja.  \  meu  Compadre  es- 
crevi sobre  isto  hà  dias,  de  que  não  vi  reposta;  bem  sey  que  está  de  quinta, 
e  me  conlentarey  que  passe  bem  e  que,  para  viver  gostozo,  alhe  o  esque- 
cer se  de  mim  ajunte  às  minhas  comodidades,  se  for  necessário.  Conserve 
me  V.  Al."  na  memoria  do  seu  olíicial  mayor  com  minhas  lembranças,  e  nas 
suas ',  que  lhe  sou  o  mayor  e  mais  afeiçoado  servidor  e  amigo.  Nosso  S.or 
guarde  a  V.  Al."  como  dezejo  ete.  Torre  em  18  de  Setembro  de  1649. 


\m."  e  C. 
D.  /■'.    M. 

21 


Que  correspondência  se  pôde  esperar  de  huma  alma  despedaçada  ?  Eu 
me  achara  ditozo,  se  sò  o  fosse  da  violência  a  pessoa,  com  tanto  que  ao  es- 
pirito se  perdoasse.  Là  chegão  as  lanças  da  sem  razão,  là  fere  a  dor,  là  mala 
a  malevolencia. 


00  CAUTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (30) 


lnda  mal,  porque  os  meos  disprimores  tem  tão  grande  desculpa.  Ando 
fora  de  mim  hà  muitos  tempos,  e  agora  ando  sem  mim;  porque  não  bastou 
que  me  destruhissem  estes  que  me  perseguem,  sem  '  que  também  me  enga- 
nassem. Tenho  observado  vaj  o 'meu  negocio  às  mãos  de  S.  Magestade  tão 
perdido  enfim  como  meu;  e  suposto  que  de  sua  grandeza  muito  pudera  con- 
liar-,  a  minha  fortuna  me  faz  temer  não  menos. 

Grande  escudo  lie  por  certo  aquelle  de  quem  V.  M.co  me  aviza  houve  por 
bem  cubrir  e  amparar  com  sua  sombra  minhas  desgraças.  Jà  pelo  S.or  D. 
Rodrigo  de  Menezes3  havia  sabido  a  singular  mercê  que  a  Senhora  Soror 
Maria  '■  fazia  a  meu  nome;  bem  mais  devida  esta  obra  ao  sangue  de  S.  Ex.a, 
que  ao  meu  merecimento,  de  lodo  indigno  de  ta!  auxilio.  Se  esta  Princeza 
quiz  mostrar  seu  poder  e  bondade  em  me  valer,  não  acertara  com  outro 
sugeyto  em  que  tudo  mais  se  luzisse;  porque  tamanha  disgraça  de  tão 
grande  favor  necessitava.  Mais  não  hà  em  mim;  mas  também  fora  ingratidão 
faltar  eu  com  material  para  esta  obra.  V.  M.ce  pôde  offrecer  me  a  seos  pès 
devotíssimo,  e  perpetuamente  obrigado,  e  necessitado  da  honra  em  que  S. 
Ex.a  comigo  se  exercita,  nesta  ultima  aflição  mais  necessária  que  em  ne- 
nhua  das  passadas.  Estou  certo  que  tanto  neste  rogo  e  olíerla,  como  em 
tudo  o  mais  que  me  tocar,  não  faltará  V.  M.co  em  me  fazer  mercê,  conforme 
tenho  visto  e  espero  ver  em  quanto  viva  e  lambem  merecer.  A  Consulta  pa- 
rece não  tardara  muito  em  vir  a  esta  secretaria. .  Queyra  Deos  seja  de  tal 
sorte  que  tenha  V.  M.ce  primeyro  o  contentamento  do  bom  successo,  e 
guarde  a  V.  M.ce  muitos  anos  como  dezejo.  Torre  em  2  de  outubro  de  Í649, 


Am.0  e  C.  de  V.  M. 
D.  F.  M. 


1  Hoje  dir-se-hia  senão. 

-Na  caria  impressa  (Carla*  Fam.,  IV,  ó)1é-se:  «Tenho  observado  vay  o  meo  negocio 
acima  tão  perdido  em  fim  como  meu.  E  siipposlo  que  da  Altura  muito  pudera  confiar»,  etc. 

3  Presidente  do  Paço.  Foi  a  elle  que  D.  Francisco  dedieou  as  Segundas  Três  Musas,  das 
Obras  Métricas. 

"  Esta  Princesa  era  filha  illegitima  de  El-Rei  D.  João  IV,  e  vivia  recolhida,  com  habito  de 
religiosa,  no  Mosteiro  de  Carnide. 


(31)  CARTAS  DE   D.   FRANCISCO   MANUEL  DE   MELLO 


22 


Direy  (não  sem  pejo,  mas  com  verdade)  me  incitou  a  escrever  estas  re- 
gras, a  vista  e  a  ouvida  do  sr.  JoSo  Roiz  de  Sá',  que  me  deo  hoje  muitas 
lembranças  de  V.  M.  ,  pelo  que  dou  muitas  graças  ;i  Deos,  porque  se  pello 
bem  qne  tas  a  todos  lhas  devemos,  quanto  mais  pelo  que  aos  amigos! 

Não  lhe  tiremos  à  mofina  sua  tamalaves  de  desconfiada.  Muito  he,  sendo 
feal  Somma,  s.  .  que  eu  me  vejo  em  tal  estado,  que,  contra  o  que  devo 
cuydar,  cuydo  que  a  todos  canso.  Nasce  daqui  o  silencio.  higo  eu  comigo: 
se  Job  se  enfadava  de  sy,  se  se  parecia  pezadOj  como  se  não  enfadarão  de 
mim,  como  lhes  não  serey  pezadissimo  aos  outros!  Acbaque-se  embora  á 
melancolia  este  argumento;  que  sobre  elle  está  a  fè  de  que  o  bom  animo  de 
V.  M."  me  não  faltará  nunca. 

Passo  a  pedir  a  V.  M.  me  dè  aquelle  antiguo  alivio,  que  me  mandava 
com  suas  cartas,  porque  sem  duvida  que  agora  que  athe  eu  me  vou  faltando 
a  mim  mesmo,  lie  que  necessita  de  mais  fortes  arrimos  este  edifício,  antes 
que  se  arruine;  salvo  se,  por  ser  ja  todo  por  terra,  não  ha  que  temer  lhe 
precepicio. 

Disserão  me  que  V.  M.c0  consistia  tanto  naquella  afeyção  com  que  olha 
minhas  obras,  que  se  determinava  a  ajuntar  algfias  cartas  minhas.  Não 
disputo  da  razão,  pois  conheço  he  a  que  digo.  Pregunto  sò  se  he  assim 
porque  poderey  servir  a  V.  M.  nesse  próprio  engano,  à  ley  de  bom  e  fiel 
libreo,  que  se  lança  com  seo  dono  de  tão  boa  vontade  ao  pego  como  ao 
campo.  N.  s.  guarde  a  V.  M.  como  dezejo.  Tone  em  16  de  novembro  de 
1649. 

A  e  C. 

I).  F.  M. 


1  João  Rodrigues  de  Sá  e  Menezes  foi  Commendador  de  Christo  e  Capitão  das  naus  da 
índia.  Escreveu   um   livro  importante,   intitulado  Rebellion  de  Cei/la:i  y  foi  progressos  de  stt 

•  Hl)  </,'  Omatmrtino  </<■  San  e  .Xnrona.  Lisboa  1681. 


68  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANOEL  DE  MELLO  (õ2) 


23 


ii  menos  que  devo  a  dons  papeis  de  V.  M..  que  recebi  juntos,  lie  a  res- 
posta de  ambOS.  Esta  divida  bem  se  pude  pagai',  ainda  que  tarde;  a  da  mer- 
cê que  oelles  me  faz  sò  pagara  merecendo  a;  mas  isso  he  impossível. 

Fico  de  novo  (como  V.  M.  ouviria)  em  novas  tribulações:  prezo  de  novo, 
com  apertos,  com  guardas,  e  com  desconfianças.  Não  sey  que  haja  dado  ou- 
tra cauza,  salvo  se  o  conformar  me  com  o  que  de  antes  padessia,  que  deve 
parecer  menos  do  que  querem  meus  inimigos.  Asseguro  a  V.  M.,  Snor  Antó- 
nio de  Azevedo,  que  me  tem  poslrado  de  todo  este  accidente,  e  que  deze- 
jando  como  o  mais  certo  remédio  delle  dar  a  V.  M.  esta  conta,  me  não  tem 
ajudado  até  hoje  o  espirito,  havendo  começado  como  com  o  atino  esta  novi- 
dade. V.  M.,  que  ouve  e  ve  os  que  vem  e  ouvem,  entenderá  melhor  as  cul- 
pas com  que  me  gravão,  e  se  disser  com  que  me  aggravão,  Deos  sabe  que 
mentirey  menos  que  os  que  me  gravão,  e  me  aggravão  com  tais  culpas.  Se- 
gundo vay  o  curso  das  minhas  mofinas,  veja  V.  M.  que  gosto,  que  tempo, 
que  animo  haverá  para  tratar  de  outra  couza  mais  que  lagrymas  e  afflicções. 
Eis  aqui  a  razão  de  não  haver  escrito  a  meu  Compadre,  restituindo-lhe  a 
prezunção  da  sua  ida.  Eis  aqui  a  de  haver  tardado  tanto  a  V.  M.  com  estas 
desconcertadas  regras. 

Este  ofiicio  de  Secretario  do  exercito  he  couza  entre  nos  nova,  e  que  o 
Conde  de  Alegrete  introduzio.  Nunca  serve,  havendo-o.  As  pessoas  que  o  oc- 
cuparão  antes,  são  bem  notórias,  e  ambas  de  honra  e  merecimento :  Antó- 
nio Gomes  de  Oliveira1,  e  Pedro  Varella. 

Em  Castella  vi  jà  couza  semelhante,  mas  menos  formal;  porque  sò  quan- 
do as  Armas  se  governão  por  mais  de  hQa  pessoa,  se  lhes  põem  Secretario, 
que  tome  e  concilie  os  pareceres.  Sem  embargo  vi  levarem  alguas  vezes  os 
Generaes  grandes  officiaes  das  Secretarias,  com  retensão  de  suas  prassas,  ou 
nomeação  de  novos  olficios,  por  quanto  aquelles  da  guerra  não  são  certos, 
como  ella  o  não  he. 

Discorro  largo  nisto,  porque  os  negócios  de  V.  M.  são  meos,  e  porque 
veja  V.  M.  se  não  enganou  em  me  communicar  esta  matéria.  Kezolvo  me  que 


1  António  Gomes  de  Oliveira  foi  secretario  de  Mathias  de  Albuquerque,  Conde  de  Ale- 
grete Deixou  os  seus  estudos  de  Direito  na  Universidade  de  Coimbra  para  servir  a  patriaeom 
a  espada  e  dislinguiu-3e  nas  batalhas  d.:  Montijo  e  das  Linhas  de  Elvas  Foi  poeta  estimado,  e 
publicou,  entre  outros  livros,  Idylfai  Marítimos  y  Rimas   Varias  (Lisboa  1617). 


33  |  Dl    D.    FRANI  tSCO   M  \M  l  I.  Dl  li',1 

se  pôde  bem  aceytar,  e  que  V.  M.  será  ali  estimadíssimo,  pois  Bellona  e  Mi- 
nerva he  bum  mesmo  génio. 

Mandando  me  V.  M.  as  cartas  que  tem,  ficará  este  Livro  em  boníssimo 
estado;  e,  agora  que  V.  M.  me  raeteo  em  atlentar  para  ellas,  vejo  que  tem 
algum  geyto.  Sirvasse  V.  M.  de  me  remeter  as  com  que  se  acha  em  que  eu 
rondo  meu  crédito,  n5o  sò  por  escolhidas  de  '  V.  M.,  mas  por  escritas  a  tal 
pessoa. 

Se  V.  \i.  fosse  servido  de  acompanhar  a  obra  com  algúa  introducçâo  sua, 
leria  eu  grandíssima  confiança  e  beneficio  nesse  favor.  Pareciame  si 
Prologo,  e  Introducçâo,  ou  Prologo  que  o  fosse;  e  que  \.  M.  houvesse  por 
bem  de  escrever  hOa  Dedicatória  da  nina  ao  sfior  Ruj  de  Moura  Telles  J,  que 

por  sábio  l i,  e  bom  amigo  meu.  e  dos  bons  (com  o  que  de  força  o  ha  de 

ser  de  V.  M.)  muito  a  merece,  isto  he  propozição,  e  não  pacto,  e  assim  pode 
ser  alterada  de  V.  M.,  como  fôr  servido.  O  livro  vay  sem  ordem  escrito, 
lendo  por  mais  agradável  anui  a  variedade,  e  me  parece  que  poderá  levar 
quatrocentas  Epistolas,  que,  como  as  mais  são  breves,  não  fará  fastiozo  vo- 
lume. Sobretudo  guarde  Nosso  Snor  a  V.  M.  como  dezejo.  Torre  em  (i  de 
Janeiro  de  ir>;io. 

\.  e  c.  de  \.  \l. 

D.  /•'.  .1/. 

24 


Dissera  me  V.  M.  injurias,  que  ellas  chegarão  mais  diligentes.  Este  papel 
de  V.  M.,  escrito  em  26,  recebo  hoje  31.  Veja  V.  \i.  como  poderey  ser 
pontual,  pois  nem  ainda  no  tempo  o  posso  servir  a  tempo.  Os  papeis  vi 
logo.  Direy  por  elles  o  que  disse  diante  de  mi  D.  João  de  Garay s  (que 
cortezão  para  allegarl),  mandando  se  lhe  um  cesto  de  ruim  fruía  em  hua 
famoza  azemola:  fes  que  a  recolhessem,  e  respondeo  que  In  mula  era  el 
presente.  Se  de  tão  bayxa  cotiza  posso  fazer  compararão,  Snor,  a  cai  ia  e 
Prologo  he  o  Livro.  0  Livro  nem  para  sua  carta  e  Prologo  pode  ser 
bastante.  V.  M.  escreve   dobrões,   eu,  quando   muito,  reales   singelos.  Hua 


1  No  ms.  a. 

*  líuy  de  Moura  Telles  foi  governador  de  MazagSo,  Conselheiro  de  Estado  e  Presidente 
do  Desembargo  do  1'aco. 

3  l).  JoSo  de  fiaray,  General  Hespanhol,  foi  um  dos 
Catalunha  em  1640-164 1,  o  da  Res- 

tauração 


70  DE  D.   FRANCIS!  0   M  INI  li.  DE   MELLO  (34) 


razão  de  V.  M.  vai  por  muitas  das  minhas.  Mas  emfim  pois  sou  o  Noyvo,  e 
me  ln'\  de  honrar  com  o  lugar  em  que  me  quiz  por  a  humanidadee  cortezia 
de  V.  M.,  digo  quanto  ã  Carta,  que  dezejara  metesse  V.  M.  ali  lambem  por 
motivo  da  offerta  a  mercê  que  o  Snor.  Ruy  de  Moura  me  faz  a  mi,  e  a  meus 
papeis,  parecendo  que  por  esta  cauza  lhe  ficarião  mais  decentes.  Com  hum 
pequeno  período  se  fará  tudo  isto,  que  eu  (f)  Gee  não  de  pouco  em  poucas 
palavras.  Quanto  ao  PrologO;  me  parece  (salvo  o  juizo  de  V.  M.  em  que  me 
salvo)  poderá  ser  illustrado  com  alguns  lugares  das  letras  humanas.  Dou  logo 
as  cauzas  porque  assim  me  parece.  A  primeira  porque  se  não  cuide  que  he 
supposto,  e  obra  minha,  cuja  pobre  erudição  não  se  pôde  equivocar  com  a 
de  V.  M.  A  -V  porque  indo  o  Livro  á  mão  de  pessoas  (se  bà  algíias  no 
Ueyno  ignorantes  do  nome  de  V.  M.)  vejão  essas  que  um  talento  cheyo  de  sa- 
bedoria faz  raso  daquelles  papeis  e  os  inculca  ao  juizo  publico;  couza  que  a 
meu  ver  rezultarà  em  boa  opinião  do  Livro,  aquém  dezejo  melhor  sorte  que 
a  seus  Irmãos,  por  ser  afilhado  de  V.  M.  Outras  razões  poderá  dar,  que  como 
são  menores  se  incluem  nestas.  Retenho  os  papeis  emquanto  V.  M.  me  aviza 
e  também  entretanto  os  não  faço  copiar.  O  recado  aos  Zoylos  he  bem  digno 
ile  V.  M..  mas  não  sey  se  da  obra.  Não  lhe  quero  mais  Dragões  que  lhe  guar- 
dem seu  fruto.  Assim  elle  fora  de  ouro,  como  seguro  estava.  Confesso  que  me 
consola  muito  a  nova  que  V.M.  me  manda  do  que  lhe  vay  parecendo  esse  Livro; 
o  certo  he  que  por  Castella  ninguém  fes  mayor  entrada  ;  mais  rica  sim  farião  ou- 
tros. Escrever  tanto  em  lingua  alheya,  e  que  se  pareça  com  o  honesto  que  dela 
vemos,  não  he  tão  pouco  que  a  mi  me  fosse  fácil.  Para  os  críticos  me  deu  Nosso 
Snor.  excellente  coração,  porque  sempre  vou  a  ganhar  comelles:  se  memormu- 
rão,  me  rio,  se  me  emmendão,  me  aproveyto ;  e  no  cabo,  não  sou  tão  tonto 
que  não  distinga  o  que  lie  zelo  do  que  he  enveja.  Duvido  se  tem  V.  M.  jà 
noticia  de  outro  livrinho  que  estou  imprimindo,  e  o  fiz  mais  depressa  que  a 
calsada  dos  Galhardos '.  Chamo  lhe  Pantheon  '2,  terá  quatro  atè  sinco  folhas, 


1  Ha  uma  lenda  da  Serra  da  Estreita  que  fala  da  ponle  dos  Galhardos,  feita  numa  noile 
pelos  Galhardos  (Diabos).    Vid.   Dr.  Leite  de  Vasconcellos,  Ensaios  Ethnographicos,  tomo  u, 

p.  I.'ts,  i'  Trtiiltrws  Populares  de  Portugal,  p.  315. 

Os  escritos  de  D.  Francisco  Manuel  são  uma  mina  riquíssima  para  o  folklorista,  pois  a 
um  grande  talento  e  a  um  extenso  saber  litterarioe  scientifieo  alliou  um  profundo  conhecimento 
das  tradições,  costumes  e  linguagem  do  povo.  (lonsulte-se  a  Feira  dns  Anexins,  as  Cartas  Fami- 
liares, os  A/mlugns  Dialugaes  e  as  Oln-as  Métricas,  passim.  Vejam-se  os  Estudos  sobre  o  Romau- 
cetro  Peninsular,  de  D.  Carolina  Michaelis. 

-  Pantheon,  à  la  immorl(il;<linl  dei  nombre  linde  Poema  Trágico.  Lisboa  1650.  Kste  poema 
de  D.  Francisco  Manuel,  dividido  em  duas  Soledades,  é  dedicado  a  memoria  de  D.  Maria  de 
Ataiile,  de  cujo  appellido  se  formou  o  anagramma  Itade.  Foi  reimpresso  nas  Obras  Métricas, 
na  Tiorba  de  Polymnia. 


CARTAS  DE  D.   II;  W  |  MIXI.o  7  l 

cora  2500  versos.  Cuido  que  liz  algua  couza  e  coma  negra tafuiaria de  o  tirar 
de  súbito  ;i  In  i  quem  quer  cegar  com  ella)  o  tenho  dissimulado 

tanto  qne  creyo  o  não  reveley  ainda  a  \.  M.,  mas  elle  será  lã  muito  em  breve. 
Ora  vamos  ao  Soneto  '.  de  que  lambem  duvidava  houvesse  noticia.  Sal) 

medo  fallarej  nelle,  porque  havendo  elle  recebido  a  alma  dos  Doulos, 
ia  de  conciencia  despilo  delia,  e  informalo  de  hú  tão  limitado  espi- 
rito. Considero  o  S.or  Infante  hO  raro,  e  nunca  visto  sogeylo  na  metapbora 
ii.'  aquella  rara  Vve;  e  digo  assim,  Que  paxaro  es  aqurl? (denotando  • 
vidade  :  Penachos  dt  oro  (entendo  por  sua  gentileza)  y  de  laurel  cenido  (pei- 
tas vitorias  de  que  se  adornou),  las  Augustas  insígnias   ;^  Vguias  de  Alemã 
nl i;i .  com  aluzão  ás  dos  Romanos,  das  qnaes  supposto  que  Júlio  fosse  o  in- 
ventor, por  serem  iizadas  despois  de  Vugusto  e  dos  Augustos,  bem  pi 
lhes  lie  o  adjectivo;  e  mais  próprio,  sendo  próprias  do  Império  Germânico). 
Con  las  de  Hercules  robustas  (com  os  leões  de  Castella,  com  alusão  ao  Nemeo 
de  que  Hercules  fes  brazão,  e  despojo).  Temblan  s«  ceíio,  temen  sit  decoro 
(Alemanha  tremeo  da  sombra,  quando  vio,  ou  pôde  ver  contra  sua  ingratidão 
irado   aquelle   Princepe;  Castella  temeu  o  respeito  que  lli»1  teria  o  mundo  . 
Sangre,   nó  pluma,  vierti   cada  poro.  (A  Natureza  lhe  fazia  lançar  sinaes  de 
enojo  justíssimo  de  sua  alma.  por  donde  antes  era  razão  que  brotassi 
pompas  e  bizarrias,  dignas  de  sen  real  estado.  Mais  claro:  era  nelle  cólera 
todo  o  cuydado  que  devia  a  sua  grandeza).  De  dòs  Piguelas  fatigado  injustas 
(de  se  ver  prezo  pello  temor  de  Castella,  e  pella  astúcia  de  Alemanha.  Pi 
guelas  são  as  que  chamamos  Pioses,  que  he  vox  própria  da  Citraria).  Dormido 
dcascabel  (Sintia  que  por  cauza  de  sua  prizão  estivesse  calada  a  vox  de  sua 
fama  heroyca).  Que  en  lydes  justas  (o  qual  cascavel,  a  qual  trombeta  da  fama) 
Rcsonante  esperava  el  Indo,  el  Moro:  em  lides  justas,  não  porque  elle 
o  animo  á  vingança  dos  que  assim  o  tratavão;  mas  porque  em  Gueri 
las  contra  os  Gentios  da  Imlia.  conda  os  Mouros  de  Africa,  esperava  de  fazer 
continuo  o  .som  do  seu  nome  pelo  mundo.  Torno  a  começar  com  outrostem 
lios,  dou  outros  sinaes  dizendo:  Nó  és  Fénix,  que  és  unis  uno.  Quero  dizer: 
dos  Fenis  muitos  houve,  porque  ha  um  despois  de  outro;  porem  deste  pás- 
saro, deste  herôe,  não  houve,  nem  haverá  semelhante.  Que  ês  unis  uno.  Mais 
hum  he  este  Príncipe  que  o  Fénix,  mais  único  que  elle  no  numero,  no  valor, 
na  calidade.  Diffo  mais:  Lusitânia  texio en cetros  sú  nido,  como  dizend 


i  Para  io  e  a  obra  fundamental  do  Sr.  Hamos-Coelho,  Histo- 

ria do  InfanU    D.   Duarte  (2  ti  mi  s,  Lisb  a  1889  90).  É  d 

entre  os  versos  transcritos  nesta  :arl  nlém  mais  | sias 

cujo  assunto  é  o  mesmo   lutam  [45  da  Viola  de 

Talia  e  116  e  !17  d  I  rania. 


72  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (36) 

cuyde  o  Fénix,  que  por  fazer  seu  ninho  em  Arábia,  e  de  lenhos  preciozos, 
se  iguala  rum  este  illustrissimo  pássaro,  porque  para  elle  teceo  a  Lusitânia, 
mais  nobre  que  a  arábia,  hum  ninho  mais  soberano.  Lusitânia  texio  en  cetros 
s/i  nido.  Tecer  o  ninho  he  boa  frasis;  e  seremcetros  os  adubios,  alta  prero- 
gativa.  Texto  en  cetros,  istp  be,  de  quantos  Reys,  quantos  descende,  se  ajun- 
tou a  soberania,  para  que  este  Príncipe  fpsse  nascido  e  criado.  Tantas  reales 
Milanês  marmol  alas  dificulta.  «Tantas  reales  alas»;  lautas  reaes  prendas, 
com  que  poderá  sobir  aos  mayores  Impérios:  lautos  pensamentos  gloriozos 
que  lhe  servião  de  azas;  e  aquellas  que  lhe  derão  em  sangue  e  brio  seus 
Reaes  ascendentes.  Dificulta:  prende,  cobre,  delem,  húa  só  pedra  de  Milão. 
Tão  bem  aludindo  a  aquillo  de  Alciato1  da  aza  com  a  mò  pendurada;  deno- 
tando que  não  ha  merecimento  que,  em  querendo  voar  alto,  se  não  ache  logo 
contrapezado  de  lula  pedra,  de  húa  disgraça,  que  o  não  detenha.  Marmol  di- 
ficulta: húa  pedra,  bua  campa,  sô  pôde  atalhar  seus  gloriozos  progressos.  Dou 
mais  sinaes  ainda  de  quem  seja,  visto  que  por  elles  o  quero  inculcar  ao  Mundo 
sem  o  nomear.  Dorô,  vengó  los  bosques  de  Germânia.  Dourou,  aformoseu,  fes 
claros  e  excelentes  os  bosques,  as  florestas  de  Alemanha,  com  o  grande  ex- 
plendor  de  suas  virtudes.  Vengó:  castigou  com  seu  valor  as  injurias  que  an- 
tes que  elle  apparecesse  naquelles  bosques,  havia  recebido  de  seus  Inimigos. 
Vengó.  Não  fora  nunca  Germânia  satisfeyta  de  seus  agravos,  senão  fora  pello 
braço  deste  capitão.  Limpia  prendiolo.  Estando  já  limpa  das  sombras  de  tanta 
afronta,  assi  pela  claridade  de  seu  animo,  como  limpa  de  seus  torpes  enemi- 
gosque  com  erros  lhe  manchavão  a  religião,  e  a  çujavão,  então  o  recolheo  à 
prizão.  As  vozes,  Limpia  prendiolo,  parece  que  não  esperava  a  mais  para  lhe 
ser  ingratíssima,  que  verse,  por  elle  acabada  de  limpar,  e  tornarse  a  seo  an- 
tiguo  Lustro.  Vistas  las  senales,  perdonala  ai  dolor3  sy  el  nombre  occulta. 
Tendo  mostrado  as  parles  deste  Princepe;  tendo  dito  que  não  teve  no  mundo 
igual;  tendo  relatado  os  benefícios  que  delle  receberão,  e  as  ingratidões  com 
que  lhe  pagarão:  não  é  jà  necessário  nomealo,  porque  nem  em  merecimen- 
tos  nem  em  disgraças  ha  outro  que  se  possa  trocar  com  elle.  Perdonala  ai 
dolor,  s//  el  nombre  occulta.  Não  se  atreve  a  minha  dôr  a  nomealo;  e  ainda 
que  a  vossa  para  ultimo  desengano  o  dezeje,  perdoay  este  silencio  ao  meu 
sintimento.  Pode.  se  aludir  neste  recato  ao  que  lançou  a  toalha,  ou  pintou, 
por  mostrar  assi  a  dor  do  sacrifício  de  Iphigenie,  que  elle  não  se  atreveo  a 


1  André  Aleialo,  eminente  jurisconsulto,  humanista  italiano  (n.  J492,  m.  1550),  compôs, 
entre  outras  obras,  o  Emblemaíum  libellus,  publicado  em  1522,—  collecção  de  sentenças  moraes 
em  dísticos  latinos,  que  teve  grande  popularidade  na  Península,  e  albures.  Uma  2  a  edição  muito 
aumentada  foi  feita  em  Augsburg  em  1531  pelo  antiquário  Conrad  Peutinger,  e  seguiu-se 
grande  numero  de  edições  illustradas  e  commentadas,  até  os  fins  do  século  xviri. 


(37)  l   \A1  kS  Dl    D.   I  RANÇISCO  W  II  T.\ 


pintar,  como  era  bem  que  fosse1.  Isto  foy  finalmente  senhor  meu,  o  que  eu 
desejey  de  dizer;  se  o  >ej ;  mas  tendo  a  \.  \l.  que  por  mim  res- 

ponda, >'ii  desprezo  qualquer  outro  oráculo.  Perdoe  V.  M.  a  impertinência 
com  qqe  me  declarey,  que  se  o  cansey,  a  queda  foj  de  ambos,  pois  em  can- 
sar a  V.  M.  fico  assas  castigado.  Iii>  que  esta  minha  satisfação  ha  pai 
se  sirva  V.  tf.  de  me  avizar,  e  lambem  de  guardar  esta  Paulina  ',  [mu-  se 
acazo  for  necessário  para  outrem,  para  quem  seja  mais  precisa  que  para 
V.  M."'  cuja  pessoa  Deos  guarde  como  dezejo.  De  negocio  escreverey  outro 
dia,  que  certo  hoje  fico  rendidissimo.  Torre  cm  31  'Ir  janeiro  de  1650. 


A.  e  C. 
n.  /•'.   M. 
25 


Infeliz  troca:  pui-  taes  Dísticos,  tal  Soneto.  Das  do  mundo.  Vaj  o  papel 
que  logo  achey,  como  a  verdade  a  de  cima.  Não  foy  dos  cotados  'I"  I'.  Ma- 
cedo3: e  não  vai  menos  por  não  ser  sellado.  Vai  sem  sello.  No  mais,  muito 
ha  que  dizer,  e  não  tudo.  lai  tremo  de  dar  lugares.  Justíssimo  temor  a  quem 
nem  para  si  o  pode  ter!  Já  hoje  be  preceylo  o  que  começou  COllfiauça.  Não  se) 


1  A  lenda  ,{•■  [phigenia  é  das  mais  conhecidas,  tendo  sido  vulgarizada  poi  | 
e  modernos,  mas  sobretudo  por  Euripides.  O  quadro  de  Timanthes,  em  que  aquelle  artista  re- 
presentou  Agamemnon  escondendo  o  rnsh.  para  não  ver  o  sacrifício  ila^uaiii1 

foi  uma  obra  prima  da  pintura  antiga.  Será  a  este  quadro  que  D.  Francisco 
neste  logar?  Se  assim  fosse,  seguia  o  exemplo  de  Jorge  Ferreira  a.  Vasconcellos,  o  qual  no 
ihmoriai  <i"  Tavola   Redonda,  cap.  xi.vn.  se  desculpa  na  descriçSo  da  Infanta  D.  Mari 
ho  pintor  que  cubrio  "  rosto  no  sacrifício  de  Eufi 

uma  .-.'iii;!  de  excommunhão  comminatoria  a  quem  nSo  revelar  o  que 
sabe  em  alguma  mal  sria  a-  que  —  por  essa  via  pode  haver  noticia.  Figuradamente,  ai 
compostura  acerba 

3  Padiv  Macedo  é  <>  «varSo  verdadeiramente  encyclopedico»  a  quem  D.  Francisco,  no  pre- 
facio ilas  suas  Obras  Métricas,  chama  «nuestro  insigne  Precetor  e  Amigo,  ■•!  I'.  M.  F.  Francis,-.. 
.1,-  Ifacedo,  cuyps  copiosos  caudales  logran  admirablemente  a,.-  Cátedras  muclios  púlpitos,  no 

p s  Tribunales  j  innumerabiles  Typos».  Qual  Pico  delia  Mirandola,  defendeu  mi  Veneza  em 

16S8  as  taladas  conclusões  de  omní  re  si  ibili  durante  três  dias,  e  depois,  em  1667,  maias  ainda 
mais  famosas  que  'luraram  oito  dias.  A  Republica  tributou-lhe  (puna-  .1,'  cidadão  i 
mandando  collocar  o  seu  retrato  na  Biblioteca  de  S.  Marcos,  e  deu-lhe  a  i 
phia  moral  da  Universidade  de  Pádua. 


/ 'l  CARTAS  DE  D.   FRANCISCO  MANUEL  DE   MELLO  (J38) 

como  me  haja  com  os  incertos  certos.  Digo  com  os  que  mandarão  obras  em 
seu  nome,  mas  ellas  sem  elle.  V.  M.  por  si  me  avize.  Conheci  e  fuy  amigo  e 
servidor  do  D.01  Jeronymo  Ribeiro,  Pae  do  Licenceado  Duarte  Ribeyro  l.  He 
nobre  cansão  á  sua:  melhor  que  as  mais,  a  meu  juizo.  Não  mo  pague,  mas 
sayba-o.  Recebo  a  .ura,  e  o  mais  que  sobre  ella  me  diz.  V.  M.  não  Qcarà  es- 
crito  nella.  0  Melodino  -  far  se  à  temer,  tendo  a  V.  M.  i>or  Padrinho,  qual  eu 
por  Mestre.  João  Róis  esteve  aqui,  que  me  deu  novas  de  V.  M.,  e  o  amo  por 
isso  mais;  lambem  da  Apologia  ao  Censor.  Todo  o  mundo  hc  açougue,  quem 
ln  ih  diz,  melhor  ouve, — coutão  as  velhas.  He  tardíssimo.  Venhão,  se  se  derem 
as  cartas,  e  quando  não,  sem  ellas  teremos  livro.  Alegre  estou  do  frontespi- 
cio;  o  nome  de  V.  M.  lhe  bastava  por  fachada.  Não  posso  mais.  Nosso  Snõr. 
ele.  Torre  em  10  de  Fevereiro  de  U550. 

A.  e  C. 

D.  F.  M. 

26 


Sobeja  me,  S.6r,  o  tempo,  e  falta  me  o  tempo.  Falta  me  porque  afligido  de 
achaques,  que  me  trás  o  que  sobeja,  para  nenhuma  outra  cousa  tenho  tempo, 
senão  para  me  doer  e  sentir  das  misérias  em  que  me  vejo,  e  para  temer  e 
assombrar  me  das  que  me  estão  esperando.  Vay  me  muito  mal  hà  alguns  dias; 
mas  nem  isto  ouzo  a  dizer  a  todos,  porque  o  ser  ouvido  com  desprezo  lie 
ainda  mayor  injuria  que  o  não  ser  ouvido.  Eis  aqui  a  cauza  por  onde  muitos 
lhe  dirão  a  V.  M."  que  passo  bem.  Muitos  hà  a  quem  eu,  nem  de  lastima  qui- 
zera  ser  devedor. 

Sou  amigo  de  justificar  minhas  acções,  e  se  os  papeis  forão  capazes  de 
segunda  razão,  atrevera  me  a  mostrar  como  não  delirava  na  pretenção  que 
tive  de  que  fosse  mandado  á  índia.  Mas  sobre  que  as  cauzas  erão  muitas,  e 
a  meu  juizo  justíssimas,  nunca  passou  de  dezejo  este  negocio,  e  só  o  em  que 
fiz  mayor  deligencia  foi  em  buscar  meyos  para  poder  entender  se  S.  Mages- 


1  Jeronymo  Ribeiro  foi  suecessivamente  Juiz  dos  Órfãos  e  do  Cível  de  Lisboa,  Provedor 
de  Guimarães  e  Corregedor  de  Évora.  Na  bibliotheca  ifesla  cidade  ha  cartas  de  D.  João  IV 
dirigidas  a  elle. 

2  Melodino  foi  nome  poético  escolhido  por  D.  Francisco  Manuel.  O  livro  de  que  se  trata 
aqui  intitula  se  Las  Três  Musas  dei  Melodino,  Lisboa  16i9,  com  poesias  em  castelhano,  que 
foram  reimpressas  nas  Ohms  Mtiriras. 


(39  i  CARI  kS   Hl    li.   i  i;  l.VI  ISI  O    ti  I      I  7."i 

lade  queria,  ou  não  mandar  me.  O  que  de  tudo  tenho  recolhido  lie  qin 
serve  qne  eu  và;  e  assim  tenho  jâ  cessado  de  falar  mais  nesta  materi 
curando  o  possível  compor  o  anim  i  para  qualquer  succe  so.  Porem  esta  pos- 
sibilidade, com  licença  dos  Estoycos,  he  assaz  dificultoza,  e  cuido  certo  que 
mais  vezes  se  consegue  poi  imbecilidade  que  por  constância;  porque  os  âni- 
mos, que  não  são  para  nada,  vemos  quazi  ordinariamente  levarem  melhor  as 
adversidades,  como  na  fraca  complei  imprimir  t3nlosua  vi 

a  enfermidade.  Assim  perdoa  o  rayo  ã  cana  fraca,  e  não  perdoa  ao  pinheyro 
robusto.  Emflm  Deos  dará  vigoi  para  sobrelevai  a  carga,  que  quanto  he  fazer 
conta  das  forças  naturaes  he  bem  ocioza  esperança.  Tenho  dito  a  V.  \l." 
quanto  sey  desta  minha  rezolução,  e  quanto  a  ninguém  disse. 

Bem  justo  era  que,  pois  eu  não  podia  servir  a  V.  M.  naquella  recomen  . 
dação  com  mais  que  a  deligencia,  essa  não  faltasse;  segundo  me  acuza  o  Es 
moler  mor,  parecia  me  que  V*.  \i.  "  desse  hum  memorialzinho  a  meu  Primo, 
para  que  o  desse  elle  de  sua  mão  à  Senhora  Dona  Mana  de  Portugal  '  sua 
irmã,  porque  venho  a  entender  que  a  Rainha  Nossa  Senhora  reparte  aquellas 
eleyções  pelas  encommendadas  das  Damas,  e  he  bem  razão  que  vão  a  bom 
lugar  todas  ns  Pessoas  que  tem  taes  \njos  da  (inania.  A  deligencia  he  tão 

fácil,  que    bom   será   não   deixar  de   a  fazer;    seremos  assim  todos  a  servir  a 

V.  \l. "'.  que  segundo  o  pouco  poder  nosso,  praza  a  Deos  que  ainda  todos  bas- 
temos. 

LembresseV.  M.  desta  promessa  da  Paschoa,  e  não  me  estranhe  as  lem 
brancas  que  eu  lhe  fizer  delia.  Os  princípios  do  livro  venhão  quando  a  \ .  M  "' 
lhe  for  mais  leve,  que  então  me  parecerão  melhor,  custando  lhe  a  V.  \i  '  me- 
nos trabalho.  Eu  me  entenderey  cà  com  D.  A."-'  no  tocante  às  cartas;  hasta  que 
selhe  haja  feyto  por  outrem  a  primeira  rogativa.  Se  V.  M. "'  tem  novas  de  Évora, 
diga  me. o  que  sabe  de  meu  Compadre.  Sobretudo  Nosso  s.iH  guarde  a  V.  M. 
como  de/ejo.  Torre  em  25  de  Fevereiro  de  1650. 

Am.0  o  C. 


1  lt.  Maria  de  Portugal  foi  tlaina  da   Rainha   I).  Luisa  e  ulteriormente  da  Kainha  1».  Cali 

rina,  cm  cujo  séquito  partiu  para  Inglaterra  com  o  titulo  de  •  londessa  de  Penalvi rendo 

em  1684    Nesti itras  cartas  D  Francisco  refere-ge  ao  seu  compadre,  qui lo 

deprehende,  vivia  em  Évora     lerá  talvez  Manuel  Severim  de  Faria,  chantre  eborense,  e  em 
nente  antiquário,  a  quem  eâo  dirigidos  os  seguintes  números  da 
ui.  20  e  80,  e  iv,  i3. 

-  Talvez  D.  António  Spínola,  já  referido  \    a  caria  l(i. 


CARTAS  Hl:  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (40) 


27 


.lá  se  não  passará  sem  mortificação  esta  Quaresma,  bavendosse  passados 
tantos  dias  delia  sem  que  eu  tenha  novas  de  V.  M.  lejum  d'alma  lie  este,  e 
que  não  pouco  enfraquesse  o  espirito  carecer  daquelle  ar  que  alenta  e  vivi- 
fica a  amizade,  qual  o  traio. 

Quando  V.  M.  melhore  desta  queyxa  das  mais,  seja  Deos  benditis- 

simo,  me  acho  convalescido.  Eu  jà  não  conto  por  trabalho  a  pena  continua. 
Desta  peçonha  soube  lazer  iguaria  (pôde,  senão  soube)  o  tempo,  e  a  nesces- 
sidade.  6,  e  o  que  se  ganha  em  não  ser  melindrozo  de  paciência!  Forrey 
me  eu  peio  menos  hum  lindo  disgosto  que  se  me  lua  àzando,  sò  com  se  me 
não  dar  ile  mi  mais  do  que  se  lhe  dà  a  quem  dezeja  fazermos. 

Vá  de  ludo.  Dizia  me  hontem  hum  Fidalgo  amigo  e  bom  amigo  (sesão  duas 
couzas  qúe  não  devião  ser)  ouvira  a  outro  Magnate  vituperar  me  altamente, 
fallando  nas  parvoisses  do  meu  livro,  por  thema,  ou  teyma  (que  as  tem,  teve, 
e  terá)  das  minhas  injurias.  Preguntey  lhe  em  que  se  rezolvia :  se  em  dizer 
mal  do  Livro,  ou  de  seu  Dono;  disse  me  que  do  Livro.  Respondi  lhe  que  lhe 
dicesse  que  de  mi  sentira  eu  muito  que  dissesse  mal,  porque  era  eu  já  velho 
para  emmendar  me ;  que  do  Livro  não  importava,  porque  eu  faria  outro  peyor 
que  lhe  contentasse.  Bem  necessários  me  são  estes  pós  na  testa,  que  me  lem- 
brem do  que  sou,  quando  me  vejo  cercado  de  outras  noticias  donde  os  mais 
sezudos  correm  mayor  perigo.  Os  dous  amigos  não  aportarão  ainda  cã ;  de- 
lendeo-lho  o  tempo  por  me  oíiender  a  mi,  que  el.le  teve  espada  nua  estes 
dias,  e  ha  muitos  que  de  tais  dous  gumes.  Eu  considero  a  V.  M.#na  índia. 
Tão  longe  por  sua  occupação.  Não  dê  a  tardança  algum  cuidado.  Mas  se  com- 
tudo  estão  jà  passados  pela  Chancellaria  do  Mestre,  muito  folgarey  de  que 
venhão  esses  papeis.  Se  João  Roiz  de  Saa,  nosso  amigo,  tem  feyto  romaria  a 
V.  M.  despois  que  cá  esteve,  dirá  dos  princípios  de  hum  discurso  em  que  me 
occupey  estes  dias,  e  para  que  a  V.  M.  cito,  dando  lugar  o  tempo.  Servirnos- 
ha  de  faltar.  Chamo-lhe  Carta  de  Guia  de  Cazados  i.  Houve  cauza  para  se 
escrever,  e  tem-me  enganado:  chegara  às  mãos  daquelle  critico,  e  dezenganar 
me  ey.  O  Pantheon  está  acabado  de  estampar,  e  também  irà  logo.  Requere 
não  sò  tempo,  mas  gosto  e  companhia. 

Eu  jà  que  das  abelhas  não  posso  tomar  o  mel,  tomo  pelo  menos  a  indus- 


A  Carla  de  Guia  de  Casados  foi  escrita  nos  princípios  á&  1050  e  publicada  em  1651. 


il  CARTAS  Dl    D.   FRANCISCO  MANUEL  DE   MELLO  77 

tria.  De  tudo  provo.  Escrevi  a  S.  Magestade  essa  Carta.  Entendo,  pelo  avizo 
que  tive,  irà  de  El  Rey,  e  jà  pode  ser  que  com  outro  papel 

om  que  o  Conselho  quer  eu  a  acompanhe.  Esteja  V.  M.  advertido, 
porque  eu  Dão  dezejo  nenhQ  bom  successo  que  não  deva  muito  ao  animo  de 
V.  M. 

Observey  (qão  sem  razão  devia  manifestar  ao  Senhor  dessa  Caza  a  pouca 
i';i/.riu  que  havia  para  duvidar  da  minha  boa  fee.  Respondeome  a  pessoa  a 
quem  o  pedi  se  havia  logrado  bem  a  diligencia ;  muito  quiz  conflrma 
nova.  intervindo  V.  M.  na  certeza  delia.  V.  M.  leya  em  penitencia,  que  não 
será  pequena  dar  attensão  a  tanto,  ainda  que  meu  não  fosse.  Nosso  s1  etc. 
Torre  em  6  de  Março  de  1650. 

A.  C. 


28 


Tão  deshorado,  como  eu,  vaj  este  papel  escrito  despois  das  duas  h 
que  no  ultimo  me  mandou  '  fosse  lá  o  meu  portador.  Estou  com  assa/  dezejos 
e  não  pouca  necessidade  de  saber  o  que  V.  M.  me  avi/ará  em  ordem  a  aquel- 
les  meus  particulares,  que  também  alguns  são  geraes  peio  que  comprehen 
dem.  Isto  lia  de  ser  de  tudo  de  V.  \i..  porque  eu  Dão  estou  sobo  lo  que  tenho 
escrito  para  mais  que  confessar  minha  fraqueza,  e  pedira  V.  M.  sua  pallavra. 
Aqui  tive  hoje  ao  D."  e  a  seu  Collega;  houve  soalheyro,  e  boas  praticas,  que 
o  nome  e  amor  que  lodos  temos  a  V.  M.  esmaltou.  Ao  Licenceadp  Duarte 
Ribeiro  hey  de  escrever;  V.  \l.  me  guarde  segredo  de  que  recebeo  esta, por 
Dão  parecer  que  falto.  Com  V.  M.  bem  me  averej  não  lhe  dizendo  agora  nada 
dos  papeis  que  recebi;  li  e  não  mereço  nem  louvalos.  De  guerra  me  convide 
V.  M.,  e  se  houve  por  là  jà  memoria  de  aquelia  minha  proposta.  Pi 
etc.  Torre  em  9  de  Marro  de  1650. 

C." 

D.  /••.  M. 


1  Entenda-se:  me  mandou  V  M 


78  CAUTAS  DE  D.   FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (42) 


29 


Fiquej  com  muito  sobresalto  com  a  nova  que  V.  M.  me  mandou  de  sua 
aflicção.  Se  se  pegão  os  achaques  corporaes  (e  mais  aos  que  mais  se  amão) 
porque  se  não  pegarão  os  do  Espirito?  Tenho  também  medo  de  preguntar  a 
\ .  \l.  d  Hm  daquelle  successo.  Ha  huns  engannos  que  nos  estão  bem;  e  nisto 
de  vida  e  morte,  a  cada  passo,  a  cada  accidente.  Escolheria  de  qualquer  modo 
Deos  o  que  mais  conviesse.  Sem  embargo  de  carne,  somos  obrigados  por 
suas  leys  a  sentir  e  a  chorar  o  que  magoa.  A  íilozofia  ie  ainda  a  christandade) 
lie  despois.  Não  farão  pouco  as  razões  quando  estejão  ali  parede  em  meyo 
com  as  lagrymas  para  consolar  os  desconsolados.  Oxalá  todo  o  meu  discurso 
seja  ociozo ;  mas  para  que  V.  M.  o  não  esteja  em  me  fazer  mercê,  sayba 
V.  M.  '  como  hoje  deo  o  P.  Confessor  liuma  petição  minha  a  S.  Magestade, 
porque  peço  se  sirva  S.  Magestade  de  me  mandar  passar  de  aqui  para  o 
Castello  de  Lisboa.  Kespondeo-me  logo,  achara  em  El  Key  tal  modo  que  es- 
perava cedo  mãdarme  a  resposta,  digo,  despacho.  Isto  lã  deve  de  correr  a 
meu  juízo,  e  porque  pode  ser,  escrevo  ao  Secretario,  e  lhe  remeto  por  minha 
via  a  Carta,  quiçá  com  animo  de  que  não  lenha  a  V.  M.  por  parcial  meo,  e 
assim  logre  melhor  sua  intensão. 

V.  M.  bem  sabe  e  vê  o  que  me  vay  nesta  mudãça  de  commodo  e  des- 
canso; não  lia  senão  ajudar  todos  a  ver  se  se  pode  abalar  este  Monte,  que 
de  difficuldades  pode  muito  bem  ter  o  nome.  Tenho  muito  que  escrever,  des- 
culpesse  assim  meu  desconcerto.  Sobretudo  guarde  Deos  a  V.  M.  e  me  traga 
a  mi  boas  novas  com  que  me  alegre  de  ver  V.  M.  fora  de  vizos.  Torre  em 
15  de  Março  de  1650. 

Am."  e  C° 

I).  F.  M. 


1  O  que  se  lá  d'aqui  até  o  Dm  falia  no  texto  que  saiu  impresso  nas  Carias  FanàUar 
76. 


í.'l  CABTAS   Dl    D.   FRANCISCO  MANUEL  DE  UELLU  7H 


30 


Deos  dos  trouxe.  Homens  aos  ajudarão.  Seja  Deos  louvado.  Seji s  ho- 
mens reconhecidos. 

Nem  para  isto  ha  hora;  mas  para  menos  que  isto  ha  em  V.  M.  amor  para 
se  dar  por  ora  por  satisfeyto.  Grande  alvoroço,  grande  obrigação,  braços  e 
coração  aberto,  saúde  pouca,  amigos  muitos,  juizo  escasso;  conteutemo  nos. 
Mil  dias  lie  hum  instante.  Os  Domingos  pela  menhãa  (o  destes  digo)  serão 
para  ;imbos  nós  a  propo/ito  de  ver  nos,  e  ouvir  nos.  Dirija  V.  M.  o»'  papel 
.1-  nossas  aras,  e  ponha  de  novo  ao  livro  da  obrigação  (se  cabem  ainda)  os 
beneflcios  grandes  e  muitos.  Nosso  Sur.  etc.  Castello  •'!!  de  Mareo  de  1650. 


31 


Se  este  nosso  desvio  nasce  da  ocuparão  de  uai  e  outro,  terey  esperança, 
como  de  al(mm  ócio,  de  alguma  emenda ;  mas  se  toca  em  desgraça  como  pa- 
rece, (e  minha)  não  há  senão  entregar  à  dezesperação.  Podia  ser  que  vendo 
me  jà  nesse  estado,  a  sorte  satisfeita  se  mudasse.  Bofe.  meu  S.or  António  de 
Vzevedo,  sempre  eu  dezejo  muito  dever  ;i  V.  \i.  ,  mas  quanto  he  agora,  não 
sò  o  dezejo,  mas  o  necessito.  Estão  me  de  prezente  succedendo  couzas  não 
poucas,  para  que  muito  e  muito  me  importava,  quando  menos  o  acerto,  huma 
conferencia  com  V.  M. "■'.  Haja-se  por  pedida. 

Terá  V.  M."  lá  ouvido  como  S.  Magestade  foi  servido  de  me  mandar  fa- 
zer hum  manifesto  em  justificação  do  procedimento  de  seos  ministros  acerca 
do  recebimento  e  mais  progressos  destas  armadas  Inglezas  '  (qne  enfim,  isto 
em  que  andamos,  he  Imã  ingrezia).  Occupadissimo  estou  com  este  papel  e 
assombrado,  vendo  a  muita  dezigualdade  que  ha  entre  a  sua  importância  e 
a  minha  suficiência.  Aqui  pudera  V.  M.     bem  socorrer  nos. 


mencionada  na  IntrodncçSo. 


80  CAUTAS  DE  n.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (44) 

NSo  são  tão  ditozos  os  meus  criados  que  saibão  aquelle  ócio  fabricado  dos 
Deuzes  '  onde  vive  Alexandre  de  Figueiroa2.  Por  essa  cauza  peço  a  V.  M.CL' 
se  sirva  de  lhe  querer  encaminhar  essa  carta,  que  lie  em  matéria  de  nego- 
cio, e  lumi  dos  principaes,  que  espero  tratar  a  V.  M.ce  quando  nos  virmos. 
No  entretanto  saiba  V.  \l."'.  que,  como  sempre,  me  tem  promptissimo  ao  seu 
serviço.  Sobretudo  guarde  N.  S.or  a  V.  M.ce  como  dezejo.  Castello  em  15  de 
.Mayo  de  1650. 

Am.0  e  C.  de  V.  M.oe 

]).  V.  1/. 

32 


Senhor  Meu;  Se  a  V.  M.co  lhe  for  prezente  o  que  tenho  padecido  estes 
tempos,  não  estranhará  V.  M.ce  que  me  falte  vida  e  alento,  senão  que  ainda 
lenha  algum  para  poder  animarme. 

Todo  o  ódio,  toda  a  iniquidade,  toda  a  violência,  toda  a  maldição  que 
cabe  em  homens,  e  homens  mãos,  se  armou  contra  mim,  fraco,  prezo,  abatido, 
e  indefezo;  veja  V.  M."  que  igual  batalha,  ou  que  esperança,  posso  ter  de 
victoria  neste  trance  ? 

Os  successos  são  tàes  e  tantos,  que  larga  escritura  pedião.  Faço  sacrifí- 
cio a  Deos  e  às  gentes  de  os  não  referir,  que  jà  disse  S.  Cipriano,  infamava 
todas  as  idades  quem  memorava  os  malefícios  passados :  as  passadas  com  a. 
memoria,  e  as  prezentes  com  o  exemplo.  Taes  couzas  melhor  he  que  se  ca- 
lem. Deos  as  publicara.  Espero  nelle  que  com  perpetuo  horror  as  castigue. 

Toda  esta  maquina  se  dispõem  a  perpetuar  me  nesta  prizão,  e  que  não  3 
consiga  aquelle  grande  alivio  (veja  V.  M.ce  que  tal)  de  hir  desterrado  para  o 
Brazil;  e  aquillo  que  nem  os  inimigos  pudèrão  negarme,  querem  que  o  tempo 
mo  negue,  dilatando  a  execução  d'este  juizo. 

He  já  subida  a  S.  Magestade  a  consulta  da  Meza  da  Conciencia;  constante 
couza  foi  dizerem  todos  que  la  se  havião  estranhado  de  que  os  juizes,  ha- 
vendo anno  e  meyo  que  o  erão,  e  provião  como  tàes  nos  autos,  agora  duvi- 
dassem se  o  podião  ser.  Elles  tinhão  nos  mesmos  autos  a  rezolução  donde 


i  Deus  nobis  haec  otia  fecit.  Virgílio,  Egl.  i,  6. 

-  Alexandre  de  Figueiroa  foi   Secretario  da  Rainha  D.  Luisa  e  poeta  da  Academia  dos 
Singulares.  Também  contribuiu  para  as  Memorias  Fúnebres  de  D.  Maria  de  Ataide. 
3  No  ms.  nos. 


I  lõ  CARtAS  DE  D.   FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  SI 

stas  sentenças  contra  mim,  havendo  eu  posto  a  hum  delles  a  própria 
sospeyção. 

Finalmente,  senhor  António  Luiz  de  Azevedo,  o  que  eu  peço  a  V.  u.    he 
o  que  V.  M. ' ,  sem  lho  cu  pedir,  sey  que  fizera:  que  \    M.     por  sua 
e  pelos  meyos  que  lhe  forem  possíveis,  queyra  ajudar  i^i;i  minha  pobn 

tenção,  lembrando  ao  Senhor  Secretario  dirija  e  alembr lisponha  o  des- 

pacho  delia,  porque  de  outra  sorte  eu  ficarey  aqui  athe  que  o  ecco  da  trom- 
beta do  Juízo  Universal  nos  chame  a  todos,  e  confunda,  como  confundirá  aos 
que  assim  me  tem  julgado,  e  não  acabão  ainda  agora. 

Eu  escrevo  ao  Senhor  Gaspar  de  Faria  '.  do  ruja  mão  espero  este  grande 
beneficio.  V.  \r  lhe  ofreça  sempre  dianti lerecimento  delir.  Ao  S.or  An- 
tónio do  Couto  me  tara  V.  m  mercê  da  mesma  recomendação;  e  a  mim  de 
perdoarme  a  cauza  da  relação  destas  lastimas,  as  quaes  eu  a  nenhús  ouvi 
dos  de  melhor  vontade  encaminho,  pois  sey  a  compayxão  que  Imo  de  achar 
na  de  \-  M. ''",  cuja  pessoa  Nosso  s.01  guarde  como  dezejo.  Tom'  em  30  de 
Julho  de  1650 

Am.0  e  G.  de  V.  M.  ' 

I).  F.  M. 
33 


Havendo  me  bailado  ha  tantos  dias.  creyo  haver  dito  a  V.  M.  como  nelles 
tenho  passado.  Mas  este  silencio  que  às  vezes  he  elegante,  não  me  hasta  a 
informar  de  como  V.  \i.  se  acha.  Isso  peço.  Agora  me  disserão  que  de  novo 
eslava  o  Snor  Secretario  sangrado,  couza  que  muito  sinto  e  he  para  sentir 
muito.  Sirvasse  V.  \t.  de  me  dizer  em  que  estado  esteja  o  achaque,  e  agra- 
decerey  mais  a  nova  da  melhoria.  Peço  sobre  tudo  a  V.  \l.  lhe  queira  enca- 
minhar parte  deste  cuidado  com  que  lico  e  estaiev,  sempre  que  o  snor  (.as- 
par  de  Faiia  não  estiver  como  eu  dezejo.  IVosso  Snor.  etc.  Castello  em  í  de 
igosto  de  I6b0. 

V.  e  G. 

I).  F.  M. 


■  Gasp  .i  de  Fafi  i  -    erim  foi  Secretario  das  Mercôs  de  EI-Rei  D.  João  i\'.  e  do  • 

selho.  Poeta  e  genealogista,  acrescentou  a  rica  Bibliolheca  herdada  de  Beu  tio,  Ma i  Severim 

de  faria,  e  mandou  gravar  <>  pritoeiro  retrato  de  Camões  que  saiu  nos  Dim 
i  Ifi24  . 


X-_>  CARTAS  Dl    l».   FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (46) 


34 

E  ,.„  sey  qvie  tenho  melhor  dita  com  as  minhas  intercessões  para  V.  M. 

\    M    com  enas  para  outrem;  mas  quem  he  senhor  da  minha  vontade, 

poaco  mais  achara  em  mi  de  proveyto,  e  este  seguramente  que  não  faltará  a 

V.  M-  nunca. 

0  Capitam  Diogo  da  Costa  Quintal  *  he  hum  soldado  de  todas  boas  cali- 
dades  e  de  cujo  valor  e  procedimentos  eu  tenho  larga  experiência.  Propõem 
agora'a  S  Magestade  sua  pertensão  para  por  ella  alcançar  algum  premio  de 
seus  serviços,  e  animasse  a  fazer  outros  de  novo.  Faço  certo  a  V.  M.  que 
toda  a.  honra  e  mercê  que  S.  Magestade  lhe  mandar  fazer,  será  delle  muito 
bem  merecida.  . 

Sirvasse  V.  M.  que  pelo  que  tocar  a  sua  pessoa  e  diligencia,  que  lhe  sou 
eu  servidor  e  amigo;  e  que  o  sou  tanto  de  V.  M.f  que  lhe  mereço  reparta 
com  os  outros  do  "favor  que  em  mi  faz  sobejo.  Nosso  Sfior  guarde  a  V.  M. 
como  dezejo  etc.  Castello  em  29  de  Novembro  de  Í650. 

A.  C. 
D.  F.  M. 
35 


Muitas  vezes  lie  fiel  a  vontade,  eu  digo  que,  sempre  que  lie  boa,  he  fiei. 
Não  me  espanto  que,  sendo  a  minha  tão  boa,  fosse  fiel,  e  acertasse  a  servir 
a  aquella  s."  e  em  companhia  de  V.  W  mais  certamente. 

V.  M.ce  me  enriquece  por  todos  os  modos.  Pode  ser  tão  liberal  de  the- 
souros  quem  tem  Ima  tão  rica  mina. 


i  Na  sua  edição  .las  Sondada  da  Terra  de  Fructuoso,  diz  A.  R.  de  Azevedo,  a  p.  MO, 
falando  do 'nome  Quintal:  .«  appellido  antigo  na  ilha  da  Madeira,  porque  já  Manoel  Thomaz  o 
aponta  na  Insulana ;  mas  só  delle  achamos  Diogo  da  Costa  de  Quintal  que  vivia  em  1662  e  então 
fundou  a  capella  de  Nossa  Senhora  das  Angustias  na  sua  fazenda  de  Morgado  a  oeste  de  Fun- 
chal». O  IurmKmo  dos  Uvros  das  Portarias  do  Rein?  regista  varias  mercês  fe.tas  a  este  mili- 
tar (V.  o  índice  do  vol.  i,  Lisboa  1909). 


1  'll  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MAN1  l.i.  DE  Ml  i  LO 


83 


Os  lugares  irSq  a  seu  lugar.  Sou  fraquíssimo  requerente,  e  oem  por  ser 
justa  a  pertensão,  me  fas  ouzado. 

Necessito  de  bua  remissão  ordinária  do  s.or  Secretario  nessa  petiçam 
para  que  se  veja  e  consulte  no  Conselho  da  Fazenda.  Peço  a  V.  M.  queyra 
tomar  á  sua  conta  este  pequeno  negocio;  pequeno,  se  for  medido  com  o 
animo  de  V.   M.",  grande,  se  com  o  meu  merecimento.  Castello  em  IO  de 

I  c\  RPAÍrn  ,l.i  c;  I 


Fevereiro  de  651. 


A.  e  C. 
D.  F.  M. 


36 


Snor  António  Luiz  de  Azevedo.  Pois  V.  \I.  se  ha  de  cansar  por  me 
fazer  m.ee,  como  costuma  sempre  (ou  por  me  fazer  mercê  se  não  ha  de  can- 
sar,, sirvasse  de  me  dar  algum  lugar*  de  Poeta  Latino  Clássico  em  que  nomee 
a  Mu/a  Cito,  e  a  Muza  Caliope,  em  versos  distinctos,  para  se  escreverem  ao 
pee  de  cada  bua  de  suas  liguras.  E  se  de  caminho  vierem  também  versos 
Mm  o  nome  de  Apulo  e  Orfeo,  terey  logo  tudo  o  que  hev  mister,  como  em 
V.  M.  acho  e  tenho  sempre.  Nosso  Snor,  etc.  Alcântara  9  de  Julho  de 
1652. 


C.° 

l>.  Fr.   M. 
37 


Com  Papel  e  Tinta  de  secretaria  não  posso  deichar  de  dizer  a  hum  Se- 
cretario couzas  de  boa  tinta. 

Senhor  meu,  esta  jornada  minha  já  se  vaj  apoderando  tanto  de  mim 
que  he  força  recolher  os  moveis,  jà  que  as  raizes  me  deyxàrão.  Sirvasse 


'  A  nota  seguinte  vem  á  margem  do  códice :  Horat.  2.  Cann.  Od.  12.- Vire  10  -Eneid 
■Lucre..   lb.  6.-SUUO  Ib.   I  -  TiLuIlu.  I.  2.    Kleg  4.  _  Ovid.   I.   ,   SZSTt 
íeis;  Yirg.  10.  JBneii 
No  ms. :  lugar  algw 


Bucolicis;  Virg.  10.  .Kneid. ;  Virg.  EclogTô."  "  ""  "  _  ""'^  '    '   ^  ~  ^   '" 


«Si  CAUTAS  DE  D.  KRANCK5CU  MANUEL  DE  MELLO  '  ("48) 

\  M.  de  me  mandar  as  Fontes  l,  que  suposto  não  sou  tão  seu  Narcizo  que 
nellas  perigue,  todavia,  por  serem  de  agoas  de  que  V.  M.ce  quiz  beber  pelos 
ouvidos,  que  também  são  bocas  da  Alma,  como  os  olhos,  be  muita  rezão  que 
eu  as  estime  como  as  Hipocreines  e  Aganipes.  Sobretudo  Nosso  S.or  etc.  Se- 
cretaria em  16  de  janeiro  de  1663. 

Am."  e  Dte.° 

I).  F.  M. 
38 


;  Bem  sey  que  ainda  be  mayor  por  possível  que  haver  boas  novas  que 
me  possão  ser  dadas,  o  não  mas  dar  V.  M.  Estas  estimo  tanto,  e  mais  pela 
circunstancia  que  pela  essensia.  Quiz  nosso  Senhor  que  no  próprio  tempo 
cm  que  alguns  que  me  devem  algíía  couza  me  estão  faltando,  outros  que 
nada  me  devem  se  lembrassem  de  mi.  A  qualquer  dos  dous  amigos  que  V.  M. 
tem  naquelle  Tribunal,  me  fará  V.  M.  favor  muy  grande,  manifestado  lhe  este 
meu  reconhecimento  e  grande  devoção  a  cada  hum  delles.  O  negocio  tem  gran- 
díssimas difíiculdades,  e  para  mi  mayores.  Pareceo  me  concorrer  a  elle  com  hum 
papel  que  estou  escrevendo  acerca  do  que  poderá  El  Rey  fazer  neste  cazo.  lie 
notável  o  empenho  com  que  me  emprego  na  obra;  bem  havia  mister  o  soc- 
corro  de  V.  M.  de  mais  perto.  Acaballoey  nesta  futura  semana,  e  será  apre- 
zentado  a  S.  Magestade;  ver  se  ha  então  distintamente  o  que  he  justiça,  e  o 
que  abuzão.  Velo  ha  V.  M.  logo.  Se  aquellas  Cartas,  e  Declamação  -  não  tem 
lã  lugar,  agora  me  servião  aqui  para  me  não  encontrar,  sequer,  com  o  que 
nellas  digo.  Faça  me  V.  M.  mercê  de  observar  qualquer  desses  movimentos, 
e  procurar  entender  (quanto  seja  licito)  se  por  essa  via  se  trata  do  negocio, 
ou  pela  de  estado. 

Quando  António  de  Couto  seja  necessário  para  ajudar  nos,  creyo  o  fará, 
como  promete.  Eu  de  mi  nada  prometo ;  por  que  sendo  de  V.  M.  todo,  fora 
prometer  o  dar  do  alheyo.  Nosso  Sr.  etc.  Torre  em  Domingo. 

C.  Alt.0 

D.  F.  M. 


1  Referencia  ao  ms.  da  Visita  cias  Fontes,  o  3."  dos  Apologos  Dialogues;  obra  de  D.  Fran- 
cisco Manuel  que  foi  publicada  posthumamente. 

'•  É  possível  que  esta  Declamarão  seja  a  Declamaram  jurídica,  inédita,  incluída  entre  as 
Obras  demonstrativas  no  calalogo  impresso  no  tomo  1  das  Obras  Morales  de  D.  Francisco 
Manuel.  (Veja  também  o  numero  59  desta  colleeção). 


i  i!»  I  GARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MAM  EL  DJ    Ml  LLU 


39 


Nada  me  embaração  os  meus  trabalhos,  para  que  falte  em  senlir  os  dis 
gostos  de  V.  M.  Espero  em  Nosso  Sfior.  que  a  resposta  deste  seja  dizer  me 
V.  VI.  tem  jà  fora  de  perigo  os  seus  quatro  Vnginhos.  Não  podia  \.  \i.  dey- 
\:iy  de  ser  amigo  de  quem  merece  o  sejão  todos  os  que  amão  a  bondade.  Fico 
muito  satisfeyto  de  que  \.  \i.  se  conforme  com  aquelle  meu  parecer,  v>  Car- 
tas  espero,  para  que  as  vamos  salpicando  entre  as  mais.  adubarão  as  outras, 
trazendo  o  sabor  da  estimação  que  V.  M.  lhes  lia  dado.  Se  V.  M.  por  lâ  tem 
alcançado  de  meus  negócios  algua  noticia,  muita  mercê  receberey  em  que  me 
reparta  do  licito,  e  possível.  Nosso  Snor.  etc.  Torre  em  D.° 

.1.  e  C. 

D.  F.  M. 
40 


Bem  mayor  mercê  he  a  que  V.  M.  me  faz,  mandando  me  peça  esta  ao  Es- 
molei- mor.  do  (pie  elle  me  fará  concedendo  no  la.  O  papel  vay  aqui,  e  por- 
que não  pareça  intercessão,  senão  negocio,  logo  lhe  escrevo  quanto  me  vay 
em  que  esta  encommendada  de  V.  M.  fique  servida.  Não  lhe  empeça,  ora.  a 
minha  boa  vontade.  Que  fora  a  minha  tal  que  coubera  nella  em  obra  quanto 
em  desejo!  Dos  meus  achaques,  muitos  e  porfiozos,  algua  cousa  tico  melho- 
rado, não  porem  que  me  dexem  dizer  mais.  Muito  deve  de  ser  o  trabalho,  e 
segundo  cà  soa,  mayor  agora  com  novas  de  inimigos.  Sempre  virá  a  tempo 
essa  obra,  que  como  da  mão  de  V.  M.,  não  lhe  pôde  faltar  essa  circunstan- 
cia. Quando  V.  M.  possa,  queyra  alegrar  me  com  ella,  e  as  mais  novas  e 
censuras.  Sobre  tudo  guarde  Deus  a  V.  M.  Torre  Domingo. 

Amigo  e  C  Att.°  de  V.  \l. 

D.  Francisco  Manoel. ' 


1  O  nosso  autor  costumava  assignar-se  D.  Fr.<  .!/.•'  ou  D  Fr.  Manuel.  A  BSsignalura 
I).  F.  M.,  que  se  acha,  tanto  nas  outras  cartas  do  Códice,  como  nas  Cartas  Familiares,  foi 
naturalmente  abreviada  assim  pelo  copista. 


86  CARTAS  DE  li.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (50) 


41 


Nem  saúde,  nem  tempo  tinha  para  estas  regras,  que  às  escuras  faço: 
V  M.  as  alumie  com  o  juizo,  e  boa  vontade.  Em  16  sobio  a  Consulta  do  Con- 
selho de  Guerra  sobre  o  negocio  das  Torres.  Em  19  se  deu  a  petição.  Hoje 
me  escreveo  o  P.  Confessor,  e  o  Camareyro  mor  que  S.  Magestade  lhes  dera 
o  sim  da  mudança '.  Se  couza  disto  apparecer,  ou  a  respeito  da  Carla  hou- 
ver lugar  de  que  V.  M.  o  lembre  ao  Snor.  Secretario,  grande  mercê  recebe- 
rey  nisso,  e  como  de  V.  M.  Ruy  Lourenço2  está  aqui:  ou  ambos  havemos  de 
estar  dezacominodados,  ou  hum  de  todo,  e  este  he  razão  que  seja  eu.  Enfim 
não  falta  em  que  padesser.  Deos  seja  louvado ;  se  damos  os  parabéns  de  haver 
hum  filho  entrado  no  Passo,  com  quanto  mayor  razão  os  daremos  de  haver 
entrado  no  Céo?  Não  dou  a  V.  M.  pezames  de  cousa  tão  felice ;  a  mágoa  pas- 
sará, e  a  Gloria  ticarà.  Nosso  Snor.  etc.  Torre  13. 


C.° 

J).  Fr.0  M. 

42 


Agora  me  vay  menos  mal;  porque  me  vay  melhor  de  novas  de  V.  M. 
que  meu  Compadre  me  tem  delias  mimozo.  Venhão  me  sempre  as  que  de  V. 
M.  dezejo,  mas  que  3  mas  tragão  os  inimigos,  quanto  mais  os  amigos ! 

V.  M.  bem  sabe  que  dey  eu  em  ser  como  nuvem ;  vou  tomar  as  aguas 
ao  Oceano,  para  as  chover  sobre  a  terra.  Não  he  menor  mar  hum  coração 
boníssimo,  qual  o  de  V.  M.  Aqui  se  acha  o  Capitam  António  Maciel,  natural 
da  Ilha  da  Madeira,  cujos  papeis  estão  em  mãos  de  V.  M.  Sou  lhe  eu  parti- 
cularmente obrigado,   e  he  elle  tal  pessoa,  que  por  sua  calidade  e  procedi- 


1  A  mudança  foi  para  o  Castello.  Cf.  a  carta  29. 

•  De  Ruy  Lourenço  já  falei  na  Introducçâo.  Elle  foi  Mestre  de  campo,  e  morreu  em  1657, 
no  cerco  de  Badajoz. 

3  Mas  que  «ainda  que». 


(51)  CABTAS FRANCISCO  MANUEL  Dl    MELLO  87 

mentos  merece  toda  a  cortezia.  Receberej  muito  particular  mercê  em  Ioda  a 
que  elle  de  V.  \i.  receber,  na  brevidade  e  favor  com  que  poder  tratar  o  seu 
negocio,  a  cujo  amparo,  sej  de  crio,  que  não  será  dezagradecido.  Sobre 
tudo  guarde  Nosso  Suor  a  \.  M.  como  dezejo.  Castello  em  D. 


A.  e  C. 

l>.  F.  M. 
43 


Grande  interdicto  lia  sido  este,  meu  Snõr  António  Luiz  de  Vzevedo.  \.  M. 
se  queyra  emmendar,  sequer  para  '  que  se  veja  que  pôde  ser  melhor  ainda. 
Ora  Snõr,  o  portador,  que  he  o  Capitam  Manoel  Martinz  Roxo,  capitam  mor 

de  Uegrete,  veyo  aqui  a  despachar  se.  Tardarão  lhe  seus  papeis,  e  está 
agora  confuzo  sobre  o  edital  que  tem  sahido  contra  os  despachos.  Faça  V.  M. 
mercê  de  me  avi/ar  se,  sem  embargo  delle,  se  poderá  pedir  ao  snõr.  Secre- 
tario que  receba  estes  papeis;  porque  lie  lastima  que  tão  honrado  soldado  se 
vá  sem  consolação  para  sua  caza.  Nosso  Snõr.  etc.  Castello  em  2.a  feira. 

A.  e  C. 

D.  F.  )l. 
44 


Aqui  estou  já  neste  Castello2,  como  pedia,  e  dezejata.  Bem  sey  quanto 
devo  ao  Suor  (iaspar  de  Faria  nesta  obra,  e  a  boa  intensão  de  V.  AI.  de 
que  mil  vezes  dou  a  V.  M.  as  graças,  pedindo  de  novo  que  esse  papel  me 
queira  V.  M.  pôr  em  mãos  do  s.or  Secretario,  porque  se  veja  que  assim  o 
buseão  os  meus  agradecimentos,  como  as  minhas  necessidades.  Nosso  Suor 
etc.  Castello  em  3/  feira. 

C.° 

D.  F.  M. 


1  No  mis.  lé-se  por  para. 

•  V.''-se  que  esta  carta  foi  escrita  logo  depois  da  chegada  do  D.  Francisco  ao  Ca&tello,ém 
.'11  il»'  mano  d.'  1650. 


8!S  cautas  de  d.  prancisco  mamei,  de  mello  (52) 


45 


Não  sey  por  onde  me  pareça  melhor  este  papel  de  V.  M.,  se  por  bom, 
se  por  novo!  Seja  por  tudo,  e  próprio  por  discreto:  enfim  por  de  V.  M. 

Dez  dias  pos  no  caminho.  Sempre  conheci  preguiçozas  as  boas  novas. 
Hoje  o  recebi,  respondo  lhe  hoje,  appellarey  à  brevidade  por  absolver  os  meus 
desvarios. 

Vejo  aqui  a  singular  honra  que  se  faz  a  meus  trabalhos;  elles  mudarão  o 
nome  e  o  preço,  se  me  fazem  capaz  de  tal  piedade.  Bem  disse  aquelle  por 
Troya  '  que  nunca  fora  tão  glorioza,  senão  fora  tão  mofina.  O  valor  da  Snra. 
Condeça  mal  podia  achar  desvalia  à  sua  proporsão;  compadecer-se-ha  de  mi, 
porque  em  tamanhas  desgraças  como  as  minhas,  sò  dizem  tamanhas  lastimas 
como  as  suas. 

Desta  copla  ouvi  jà  duvidar,  não  sem  razão;  duvidey,  e  duvido.  Entendo 
que  por  ventura  podia  assim  declarar  se. 

He  certo  que  os  vencedores  costumavão  offerecer  às  Damas  que  servião 
os  vencidos.  Havia  D.  Luiz  jà  dito  que  este  Espanhol  era  namorado  como  se 
fora  Português  -.  Podesse  crer  teria  feyto  tal  promessa  a  sua  Dama  como  voto 
de  seguir  este  costume. 

Pois  dis  agora:  Si  eres  dei  amor  cautivo:  isto  he,  se  tens  senor,  se  tens 
ídolo  que  adores,  vay  te  logo  desde  aqui,  antes  que  a  mi  me  seja  forçado 
entregarme  3  rendido  a  aquella  a  quem  prometi  os  despojos  da  minha  victo- 
ria,  que  me  pedirão  por  voto;  porque  pela  promessa,  pela  obrigação,  pela 
fineza,  pela  galantaria,  me  verey  obrigado  a  uzar  mal  da  sorte,  da  dita,  da 
ventura,  da  honra,  de  aver  te  vencido.  Lo  que  pense  que.  era  suerte ;  isto  que 
eu  tinha  por  achado  honrozo,  haverá  de  padesser,  e  eu  com  elle,  aquelle  gé- 
nero de  desgraça  de  me  não  mostrar  generozo  comtigo. 

.Mais  interpretações  lhe  daria  eu,  se  a  tardança  deste  papel  e  o  dezejo 
de  obedecer  lhe  me  dessem  tempo.  Se  não  he  mais  que  isto,  bem  pouco 
disse  D.  Luiz;  mas  os  Grandes,  e  os  desditozos  nessa  sò  couza  se  parecem, 
que  tudo  nelles  he  tido  por  mayor  e  por  mais  do  que  he. 


1  Referencia  an  cerco  da  Troya  pelos  Gregos,  assunto  da  Iliada  de  Homero. 

2  «Nosso  natural  lie  entre  as  mais  nações  conhecido  por  amoroso».  V.  Epanaphoras  (Ed. 
1676)  p.  286. 

3  No  ins.  lê-se  entregarse. 


(53)  CARTAS  DE  D.  FRAKCISCÒ  mim  i.i.  ih    viii.Ih  89 


Os  lagares  irão  em  seu  lugar,  e  vem  a  boníssimo  tempo,  por  que  ando 
eu  gulozo  de  acabar  com  aquellas  carias,  porque  me  sejão  de  alforria,  e  mu 
veja  sequer  por  ellas  livre  . i < > s  que  me  dizem  as  esperão.  Nosso  S  el 
tello  em  4."  feira. 


C." 

I).  /•'.  1/ 


46 


Digo  a  v.  \;.  que  estou  sentidíssimo;  porque  havendo  hontem  vindo  aqui 
o  S.or  Secretario,  me  não  achou  em  caza.  Jà  está  averiguado  que  o  fugir  às 
ditas  he  mais  desgraça  que  o  fugirem  ellas. 

Tinha  outro  dia  praticado  Dom  Álvaro  de  Abranches  '  certa  obra  que  la 
mandava  lazer,  e  dito  que  a  visse.  Avizàrão  me  que  não  lua  em  forma.  Acen- 
di-me  do  bom  zelo  e  fui  alli;  faltey  donde  me  era  necessário,  e  la  não  fazia 
falta.  Eis  aqui,  Senhor  meu.  que  tâes  são  os  passos  dos  desditozos;  errão 
pelo  caminho  do  aeerto. 

ii  mesmo  significo  ao  s."1  Gaspar  de  Faria  com  esoutro  papel;  queyra 
v.  SI.  encaminhalo  às  suas  maus,  que  bem  necessário  he  a  minhas  couzas 
chegar  a  ellas,  para  que  se  encaminhem.  Nosso  S.or  etc.  Castello  4.'  feira. 

Am.0  e  C. 

I).  Fran.     M. 
47 


Montem  enviey  daqui  liuma  Carla  para  S.  Magestade,  com  outra  para  o 
senhor  Secretario  por  um  criado  meu,  a  quem  mandey  as  desse  a  V.  M.  ;  e 
porque  não  sey  se  há  elle  feyto  esta  deligencia,  nem  que  fortuna  lhes  haja 
succedido,  peço  a  V.  \l."  ma  faça  de  me  mandar  avizar  da  que  souber  hão 
tido,  porque  me  importa  sabello. 

As  copias  delias  envio  a  V.  M.cc  para  que  as  veja,  se  he  que  V.  M/    uão 


1  1).  Álvaro  ile  Abranches  foi  Governador  das  Armas  da  Provineia  da  Beira.  Muito  con- 
tribuía para  a  acclamaçao  de  D.  Joio  IV.  sendo  •>  primeiro  que  arvorou  eui  Li  boa  a  bandeira 
nacional. 


90  CAI!  IAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (54) 


tem  noticia  delias;  e  despois  de  vistas,  me  faràV.  M.rr  mercê  de  mas  tornar, 
mandando  me  em  companhia  delias  muy  boas  novas  suas,  que  as  estimarey 
como  sempre  fiz;  e  que  V.  M/''  também  se  queyra  servir  de  mim  no  para 
que  entender  que  eu  valho,  que  não  faltarey  conforme  pedem  minhas  obri- 
gações: sobretudo  Nosso  S.or  etc.  Castello  em  4.a  feira. 

Am.0  e  C. 

D.  Fr."  M.el 

48 


Canonizados  são  os  merecimentos  deste  encommendado  de  V.  M. ',  sendo 
V.  M."  quem  os  calefica,  e  tendo  elle  por  elles  tão  pouca  valia,  que  não  tem 
mais  que  seu  valor,  couza  que  menos  vale  nesta  era!  Conheci  seu  Pay,  que 
era  bem  honrada  pessoa.  Do  filho  ouvi  sempre,  que  não  desmerecia  ser  de 
hum  Pay  honrado. 

Este  me  disserão  aqui  que  Dom  Lourenço  de  Almada  '  havia  feito  Alfe- 
res: eu  o  não  sey  de  certo,  logo  o  saberey;  e  quando  o  não  haja  feyto,  creya 
V.  M.r"  que  com  mais  calor  do  que  corre,  me  empregarey  em  obedecello. 

De  minhas  couzas  não  sey  nada,  nem  de  mim ;  quando  vejo  dessas  affey- 
ções  e  vejo  destas  obras,  sempre  me  lembra  bua  trova  do  Escarramão  2 

Sy  me  quieres  bien,  la  Mendes ; 
sy  me  tienes  voluntad, 
forçoza  ocazion  ès  esia, 
cn  que  lo  puedes  mostrar. 

V.  M.ce  ajunte  lã  a  Oração,  pois  lhe  dou  as  partes.  Nosso  S.or  etc.  Cas- 
tello em  5.a  feira. 

Am.0  e  Discípulo 

D.  Fr."  M. 


1  D.  Lourenço  de  Almada  foi  filho  de  D.  Antão  de  Almada.  Em  25  de  junho  de  1652 
recebeu  uma  commenda  com  o  habito  de  Christo  pelos  serviços  que  prestou  acompanhando 
seu  pae  quando  este  foi  por  Embaixador  a  Inglaterra  e  pelos  que  prestou  na  Armada  da  costa 
que  foi  contra  a  Armada  do  Parlamenlo  Inglês. 

2  Segundo  me  communica  a  Sr.a  D.  Carolina  Michaelis,  Escarramão,  ou  antes,  á  castelhana, 
Kscarraman,  era  o  nome  de  um  rufião  de  Sevilha.  A  trova  citada  íaz  parte  de  uma  Carta  de 
Escarraman  à  la  Menãez  (Xacara  1  da  Musa  v  de  Quevedo  e  cf.  o  Romance  xv  da  Musa  vi). 


(55)  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEI    DE  MELLO  91 


49 


Pelos  meus  descuidos  pode  V.  M.  julgar  os  meus  cuidados.  Não  tenho  mo- 
rar na  Corte  senão  o  andar  no  ar.  Espanta  me,  comtudo,  muito,  que  havendo 
tantos  que  o  gastem,  quantos  delle  se  mantém,  ainda  haja  ar  em  que  Míni- 
mos, que  nos  tenha,  e  que  nos  mantenha. 

Esse  papel  para  o  Snõr.  Gaspar  de  Faria  me  queyra  V.  M.  pòr  em  suas 
mãos,  c  se  o  tempo  desse  lugar  a  se  haver  resposta  delle,  grande  mercê  re- 
ceberia. Vay  aberto  para  que  V.  M.  o  veja,  e  veja  se  he  justa  essa  lembrança, 
o  mferindo  a  com  o  tempo  prezente.  Nosso  Snõr.  guarde  a  V.  M.  como  dezejo.  Gas- 
tello  6.a  feira. 

A.  eC.de  V.  M. 

D.  F.  M. 
50 


Por  certo,  senhor,  que  não  sey  cujo  he  o  mayor  agravo,  se  haver  eu 
faltado  a  V.  M."  na  correspondência  e  paga  do  que  a  V.  M.ce  devo,  se  cuy- 
dar  V.  M."'  de  mim  que  lhe  posso  haver  faltado. 

Esta  e  majores  deligencias  me  competem,  porque  o  meu  livro  se  veja 
nessa  caza ;  mas  com  toda  a  verdade  afirmo  a  V.  M.c"  que  nesta  não  entra- 
rão athe  hoje  outros  senão  três,  que  forão  a  S.  Magestades  e  A.  *.  Tenho 
mandado  encadernar  algús,  de  que  logo  em  vindo  farey  meu  prezente ;  ou 
por  melhor  dizer,  pagarey  meu  tributo.  V.  M.  "  bem  sabe  que  não  tenho  eu 
outro  tão  forte  escudo  em  que  me  fie,  como  o  animo  e  a  sabedoria  de  V.  M.™ 
O  mais  fica  para  a  .vista,  por  não  fazer  esperar  o  companheyro.  Beijo  as 
mãos  a  V.  M.cc  pela  honra  e  favor  que  faz  a  meos  encomendados.  Heys  ahi 
porque  lhos  eu  encomendo  a  V.  M.ce,  cuja  pessoa   guarde  Deos.  Castello 


feira. 


C. 
I).  Fr.  .»/.' 


Sua  Alteza,  talvez  D.  Affbiiso,  depois  Rei. 


CARI  IS  DE  n.  FRANCISCO  MANUEL  DE   MELLO  (56) 


51 


Ambos,  creyo,  que  somos  complices  do  ruim  successo  de  aquelle  seu 
encomendado  de  V.  M.,  se  o  elle  tiver  em  seu  negocio.  Porque,  visto  que 
elle  tem  tanta  justiça,  sò  nossos  dezejos  delle  aver  guardado  lhe  devião  de 
empecer.  Eu  fiz  logo  a  diligeucia  que  V.  M.  me  avizou  com  todo  o  alíecto, 
mas  como  delle  mesmo  me  receyo,  agora  duvido  mais.  Todavia  me  certificão 
o  mesmo  que  antes;  mas  entre  homeus  que  couza  he  certa,  senão  pezar  me  a 
mi  muito  de  valer  tão  pouco  no  serviço  de  V.  M.,  a  quem  Deos  guarde  como 
dezejo?  Castello  em  0.a  feira. 

A.  e  G. 

D.  F.  M. 
52 


Sfior  meu.  Despois  que  tudo  me  faltou,  jà  me  não  faltava  que  me  fal- 
tasse, se  não  o  tempo.  Vay  cà  grande  carestia,  e  certo  que  todo  o  que  se 
gasta  com  as  ceremonias,  se  furta  ao  Amor.  Apenas  posso  dizer  a  V.  i\I.  que 
recebi  o  papel  de  hontem,  e  que  me  parece  que  amenhãa  pela  menhãa  nos 
poderíamos  entender  hiía  migalha.  Hum  masso  vay  para  Évora,  e  outro  papel 
para  o  Snor  Secretario.  V.  M.  se  sirva  de  os  dispor  a  ambos,  como  se  enca- 
minhem. Sobretudo  guarde  Nosso  S'  a  V.  M.  como  dezejo.  Castello  em 
Sabbado. 

C.° 

D.  F.  M. 
53 


Nenhum  cuidado,  nenhum  ócio  pode,  nem  poderá  mais  que  a  minha  obri- 
gação. Isso  em  bom  portuguez  he  amor,  e  este  amor  empado  das  boas  obras 
jamais  vem  à  terra.  Os  officios  divinos  e  também  os  humanos  destes  dias 
me  certificarão  não  estaria  V.  M.  para  correspondências.  Eu  adoeci  e  sarey 
sem  mezinha.  Deo  me  Deus  o  mal  e  o  remédio,  por  isso  o  mal  durou  tão 


(57J  CARTAS  Dl    D.   FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  93 


pouco;  mas  servíndosse  de  me  curar  a  saúde,  a  fortuna  ainda  ficou  peço- 
nhenta. Pregunto  a  medo  a  V.  M.  se  acazo  daney  '  eu  em  servir  a  aquella 
sua  encomendada  de  V.  M.,  porque  não  sò  escrevi  aquelle  dia  ao  Esmoler 
mor,  mas  falley  a  outro  com  aperto.  A  boa  da  Dònna  levava  duas  couzas 
-landes  contra  si,  o  seu  merecimento,  e  o  meudezejo.  N5o  sey  certo  a  qual 
prefílhemos  o  mao  suecesso,  se  o  houve.  Da  saúde  de  V.  M.  não  se]  ha  mui- 
tos dias.  Estes  não  serão  contados  com  pedra  branca',  mas  o  será  "  em  que 
\.  M.  me  disser  que  passa  bem,  e  que  lhe  não  passa  a  memoria  daquelia 
promessa  da  Paschoa,  que  aqui  agora  se  pode  bem  comutar  com  mayor  inte- 
resse meo.  Sobre  tudo  nosso  Sfior  guarde  a  V.  M.  como  dezejo.  Castello, 
Sabbado  Santo. 


I).  Fr.     M. 


54 


An>l<\  estes  dias  tão  1'allo  de  saúde,  como  de  tempo,  que  ocupações  inú- 
teis, e  achaques  proíiozos  me  tem  levado.  Eis  aqui  a  rezão  de  tardar  em 
obedecer  a  V.  M.  %  a  que  dobem  se  ajuntou  o  esperar  eu  que  este  Capitão 
me  visse ;  e  parecer-me  faria  melhor  negocio  falando,  que  escrevendo.  O  pa- 
pel vay,  e  cã,  com  a  destreza  que  eu  soube,  enxeri  o  valor  alheyo,  para  que 
o  desse  aos  meus  rogos,  que  desrespeitos  não  bà  quem  os  agazalhe,  salvo 
V.  M.cc,  que  em  tudo  me  favorece,  e  mais  em  mandarme.  Nosso  S.or  guarde 
etr.  Castello,  Sabbado. 

A.  e  Cat.° 

I).  F.  M. 


1  No  nis.  darey. 
Oí  Cretenses  e  outros  povos  anligos  costumavam  marcar  os  dias  felizes  com  uma  pedra 
hranca  e  os  infelizes  com  uma  pedra  preta;  deilavam-nas  em  uma  urna  e  contavam-nas  no 
fim  rio  anno.  Cf.  Plínio,  Epistolar,  vi,  H,3. 


94  CARTAS  DE  D.  FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (58) 


55 


Amor  e  Deligencia,  já  tenho  ditto  que  tudo  lie  lium.  Não  quizera  des- 
mentir me  nas  obras;  nem  para  mais  palavras  fico,  tarde  e  achacozo.  O 
Panteon,  antes  de  corrente,  vay  a  V.  M.'1'  correndo,  como  para  seu  centro. 
Não  lhe  faltão  erros  de  impressão,  e  compozição  mais  ainda.  Requere  duas 
tardes  de  estudo,  e  soalheyro,  que  alumie  algumas  trevas.  Emfim,  Poema 
trágico  Qão  podia  ser  garrido.  Nem  aqui  sey  o  que  escrevo,  como  se  tam- 
bém fora  Panteon.  He  tardíssimo;  eu  darey  conta  de  mim  a  V.  M.ce  esta  se- 
mana. A  entrega  diz  que  está  feita.  Nosso  Sor  guarde,  etc. 


Gat.° 

D.  F.  M. 
56 


Dos  primeyros  quatro  volumes  que  agora  me  chegarão,  vão  dous  aos  Se- 
cretários, e  esse  3.°  a  V.  M.  Para  os  mais  amigos  não  faltarão,  em  querendo 
os  Livreyros.  Pague  me  V.  M.  o  que  lhe  offereço  com  o  emendar  muito  bem, 
e  riscar,  não  á  sua,  mas.  á  minha  vontade. 

O  papel  e  volume  que  vay  com  este  para  o  Sõr.  Gaspar  de  Faria  me  faça 
V.  M.  favor  de  encaminhar  lhe  breve  e  certamente.  Nosso  Sr  etc.  Caza  em 
5.a  feira. 


D.  F.  M. 
57 


Nem  a  minha  lembrança,  nem  a  minha  obrigação  necessitão  de  outra  au- 
toridade que  sua  divida,  para  que  cada  qual  as  pague  a  V.  M."  Esta  perten- 
ção  houvera  de  ser  minha,  e  athe  a  emmenda  de  meu  próprio  enteresse  fico 
devendo  a  V.  M.ce  nesta  advertência ;  mas  posso  certificar  a  V.  M.ce  que  de 


(59) 


i:\iii.\--  In-:  n.  i'it.\M:i>C'i  m  \m  i  i.  i>i    mi  i  ih 


minha  mão  somente  athe  hoje  tem  recebido  este  livro  os  Condes  de  Cantanhede 
e  Torre.  He  V.  M.  e  terceyro,  porque  a  S.  Magestade,  que  tem  nelle  a  parte 
de  seu  real  nome,  o  não  ofreci  ainda,  por  perguiça  dos  encadernadores '. 
Pague  me  V.  \l."  esta  fedilidade  â  nossa  afeição  com  riscar  e  avizar  me 
do  que  fazer  devo  em  seu  serviço.  X.  S."r  guarde  a  V.  M.  como  dezejo, 
etc.  Caza  5.a  feira. 

Am.0  e  serv.01  de  V.  M.00 

I).  F.  M. 

58 


Torno,  Snõr.  António  Luiz,  ao  meu  antigo  oficio  de  requerente^  ruim  se 

nelie  houvesse  tido  boa  sorte;  ou  torno  para  que  a  tenha  boa,  julgando 
por  impossível  que  a  Dão  acerte,  quando  acerto  em  ser  requerente  diante  de 
V.  M. 

D.  Angela  de  Britto,  mulher  do  Sargento  mor  que  foy  do  Porto,  Manoel 
Ribeiro,  tem  dado  os  seus  papeis  por  mãos  de  José  Guterres  ao  snõr.  Se- 
cretario Gaspar  de  Faria ;  e  eu  agora  por  estas  letras,  que  também  são  mãos 
e  obras  de  espirito,  me  aprezento,  rogando  a  V.  M.  que  na  brevidade  de  seu 
Decreto,  e  tudo  o  mais  que  V.  M.  poder  favorecer  a  esta  veuva,  se  sirva  de  o 
fazer,  entendendo  que  a  mi  me  faz  V.  M.  esta  mercê,  que  dàquem  e  dàlem 
saberey  reconhecer  sempre.  Nosso  Sr  etc.  Gaza  ti.a  leira. 

Am.0 

D.  F.  M. 


59 


Bem  sey  não  devo  a  V.  M."'  bua  vontade  inlhictifera ;  fértil  sim  de  af- 
fectos,  que  de  effeitos  espero  ver  abundante. 

Não  há  nada  como  Deos,  nem  nos  Ceos,  nem  no  Mundo.  Elle  he  bom 
para  tudo,  porque  he  tudo.  Nada  sem  Deos  he  nada.  Grande  honra,  grande 
proveyto,  tudo  junto,  recebo  nas  boas  orações  que  V.  M.ce  me  promete.  No 


1  Não  sei  qual  seja  o  livro  mencionado  nesta  caria.  As  Epanaphoras  foram  dedicadas  a 
El-Kei  D.  Affnnso  VI,  mas  só  sairam  em  1660. 


96  CARTAS  DE  D.   FRANCISCO  MANUEL  DE  MELLO  (00) 

animo  com  que  passo  meus  males,  vejo  assaz  de  satisfeyta  a  promessa.  Pouco 
lie  sò  hú  agradecimento  para  tantas  dividas. 

De  verdade  faltou  tempo  para  me  defender,  que  hú  homem  entre  outros 
que  nasceo  para  que  eu  moresse,  e  isso  pede,  nem  huma  liora  deyxa  em  vão 
de  me  perseguir.  Apurou  os  termos  judiciâes  da  cauza,  e  anda  sôfrego  des- 
tas Nàos  da  índia.  Emfim,  de  qualquer  modo  me  quer  encaminhar  para  o  ou- 
tro inundo.  Para  meu  brazão  e  memoria  pedirey  eu  cedo  a  V.  M.ro  o  mesmo 
que  agora  para  então  rezervo:  digo  o  trabalho  da  traducção  do  papel,  que  in- 
titulo Declamação,  ^  sey  me  será  necessária  toda  a  vida,  essa  que  ella  for. 

Grandíssima  mercê  receberey,  e  recebi,  na  com  que  V.  M."'  tratou  aquelle 
Capitão  meu  encommendado,  e  amigo.  Não  he  elle  sò  o  que  a  V.  M.ce  ha  de 
dever  a  mercê  que  lhe  fizer;  e  Deos,  que  por  todos  paga,  a  pagara  a  V.  M.ce, 
guardando  o  muitos  annos,  e  dando-lhe  todos  os  acressentameutos  que  me- 
rece. O  Feniz  assaz  voou ;  quando  chego  a  contentar  a  V.  M.ce,  já  o  dezo- 
brigo  de  que  contente  aos  mais.  Nosso  S.cr  guarde  etc. 

Discípulo  e  am.° 

D.  F.  M. 

60 


O  ruim  tempo  he  dos  amigos,  e  ainda  assim  he  o  melhor  tempo,  se  se 
achão  nelle.  Là  veria  e  ouviria  V.  M.ce  o  estrondo  dos  rayos  que  contra 
mim  se  fulminarão  de  novas  prizões,  e  perseguições,  para  que  de  todo  falta 
a  paciência.  Esse  papel  para  o  Senhor  Secretario  me  convém  que  V.  M.ce  se 
sirva  de  lho  dar  logo  em  podendo,  pois  falle  a  S.  Magestade  antes  que  là  se 
ajunte  aquella  Santa  Mêza  ',  para  mim  de  Thiestes,  donde  se  comem  os  filhos 
por  iguaria  -.  Obrara  V.  M.c°  nisto,  não  o  que  eu  lhe  mereço,  que  isso  he 
pouco,  mas  o  que  V.  Mce  comigo  esperdiça  de  favor  e  amizade,  pois  a  gasta 
com  quem  vai  tão  pouco.  E  pois  nunca  pesso  a  V.  M.ce  huma  sò  couza,  vão 
também  huns  papeis  deste  Alferes,  criado  meu,  portador  deste,  os  quàes 
requerem  somente  huma  remissão  ordinária  de  S.  A.  para  os  Estados.  Pelo 
despachar  com  brevidade,  não  digo  mais,  que  o  que  sempre  digo,  que  sou 
cativo  de  V.  M.ce 

D.  F.  M. 


1  A  Mesa  de  Consciência  e  Ordens,  tribunal  que  exercia  jurisdição,  quer  em  causas  civis 
quer  em  crimes,  sobre  os  que  pertenciam  ás  Ordens  Militares. 
i  Lusíadas,  III,  133. 


(61)  I   \l;i  IS  DE  D.   FRANCISCO  MAM  EL  DE  MELLO  (.'7 


61 


Sempre  rogo  a  Deos  pellas  necessidades  alheas,  porque  entre  ellas  ve 

nha  alguma  que  me  dè  o  merecimento  de  me  lastimar  delia,  e  a  paga  de  pe- 
dir por  ella  a  V.  NI.1'". 

Certo,  que  na  prezente  toda  esta  satisfação  concorre;  porque  a  pobreza 
e  dezemparo  da  Caza  de  Domingos  de  Barros  (criado  que  foi  de  S.  Mages- 
tade  era  ambas  as  fortunas1)  he  tanta,  que  em  nenhuma  outra  acção  \.  \i. 
pode  mostrar  melhor  o  seu  bom  animo  que  na  presente,  favorecendo  tudo  o 
que  for  possível  a  pretençao  de  sua  molher  e  filhos,  que  se  deve  comunicar 
a  V.  M.cc.  Eu  faley  jà,  e  escrevo  particularmente  ao  Sor.  Gaspar  de  Faria,  e 
creyo  que  tudo  terá  bom  Sm,  como  v.  M.  seja  o  meyo  deste  despacho. 
V.  M.ce  não  me  disse  nada  daquelles  cazados-,  e  eu  estou  tão  cobarde  que 
não  ouzo  a  perguntallo.  Sobretudo  Nosso  Senhor  guarde,  etc. 


C.°  de  V.  M. 
D.  F.  M. 


1  Fortuna  prospera  e  adversa. 

2  Referencia  á  Curta  de  Giim  tlr  Cusmlox. 


ELOGIO  HISTÓKICO 

DE 

JOSÉ  DE  SOUSA  MONTEIRO 


FRANCISCO  TEIXEIRA  DE  QUEIROZ 

Sucio  01- 


A  classe  de  letras  da  nossa  Academia,  escolhendo-me  para  enaltecer  a 
memória  do  seu  secretário  que  bem  a  serviu,  honrou  e  abrilhantou  durante 
tantos  anos,  obriga-me  a  reconhecimento  sincero.  Não  é  desvario  de  vai- 
dade o  ter  aceitado  a  tarefa  difícil;  mas  a  recusa  não  ma  consentiria  a  ami- 
zade que  tive  a  Sousa  Monteiro,  coração  de  poeta  e  cérebro  de  filósofo,  com 
aspectos  múltiplos,  sempre  inclinado  à  alta  meditação  e  ao  estudo:  memória 
excepcional,  cautelosa  no  adquirir  e  pródiga  no  despender.  Havê-lo  conhecido 
em  vida,  o  mesmo  é  que  ter  ficado  preso  nas  finas  malhas  da  conversa  va- 
riadíssima Beste  buscador  de  perfeição  no  trabalho  literário.  Na  procura  da 
verdade  filosófica  ou  histórica,  era  mineiro  de  candeia  na  mão  a  romper  o 
veio  aurífero;  mas,  à  luz  do  sol,  sabia  voar  como  a  borboleta  de  flor  em  flor, 
à  busca  de  cores  para  os  seus  sonetos.  Aquela  natureza  delicada,  um  tanto 
feminil,  retraia-se,  às  vezes,  ocultando-nos  o  sentir.  ^Quem  poderá,  pois,  ga- 
bar se  de  conhecer  a  sua  alma  toda?  Era  èle  como  a  sombra  que,  em  si, 
guarda  parte  da  luz  que  a  gerou.  Apesar  do  jeito  que  aparentava  de  repon- 
tador,  era  afectuosíssimo:  que  o  diga  o  rasto  de  saudade  que  deixou  na  vida, 
nos  poucos  corações  seus  eleitos,  o  que  tanto  dignifica  a  sua  memória.  Con- 
fessa èle,  algures,  qae  propendia  pouco  «a  ódios,  abominações  e  detestações 
fundas  ou  não»;  porque  das  cousas  que  «prezava,  amava,  admirava  sua  alma 
feita  por  índole  e  hábito  a  indulgências  e  branduras,  mais  ou  menos  corta- 
das de  desdéns» ...  era  a  bondade. 

Português  dos  antigos,  não  tolerava  transformações  violentas  e  desneces- 
sárias nesta  nossa  língua,  produto  de  laboração  demorada,  companheira  inti- 
ma e  segura  da  nacionalidade,  e  que  nunca  faltou,  quando  bem  sabida,  à 
sciència  no  seu  labor  incessante,  ao  filosofar  na  sua  expansão  dilatada,  e  que  é, 

Hist.  e  Mem.  da  Acad.  — Tomo  xii.  — Parte  ii.—  N.°  3. 


100  ELOGIO  HISTÓRICO  DE  JOSÉ  DE  SOUSA  MONTEIRO 


sobre  tudo  boa,  para  exprimir  sonhos  do  ideal,  na  poesia,  nos  afectos  que 
unem  os  homens  e  em  toda  a  arte  do  bem  dizer.  Das  outras  queria  apenas  o 
indispensável  na  técnica  das  descobertas  das  scièncias  de  aplicação,  quando 
lá  fora  se  geram.  E  esta  língua,  de  todos  nós  querida,  nas  mãos  delicadas  e 
habilidosas  de  Sousa  Monteiro,  adquiria  nobreza,  mormente  nos  assuntos  do 
i,  em  que  sua  mente  se  prazia  lidar.  Nio  me  desmentirei  quem  o  ler 
com  a  atenção  devida.  Não  admirará,  pois,  que  ele,  no  labor  tranquilo  das 
ideas,  que  estimava,  fosse  apaixonado,  pois  era  sincero  e  crente:  tinha  o  dom 
de  escutar  com  enlevo  os  mortos  que  lhe  falavam  de  jazidas  sagradas  pelo 
tempo;  eram  vozes  que  lhe  vinham  do  insondável,  do  mistério,  do  Além... 
e  enternecia-se  com  elas. 

Quaisquer  que  sejam  as  nossas  crenças  religiosas  ou  mesmo  que  não  te- 
nhamos nenhumas;  seja  qual  fòr  a  nossa  filosofia  de  predilecção,  ou  a  sciên- 
cia  que  lenhamos  aprendido. . .  o  passado,  para  quem  o  saiba  interrogar,  diz 
cousas  que  a  nossa  alma  recolhe  com  simpatia  e  respeito,  mesmo  que  as  ida- 
des, no  seu  revolver  continuo,  tenham  alterado  os  aspectos  da  existência  social, 
o  passado,  a  história,  é  o  refúgio  de  todos  os  sonhadores  inclinados  à  medita- 
ção, i'  Sousa  Monteiro  percebia-o  com  avidez.  Servia-se  — j  quantas  vezes  se 
serviu  dele!  —  para.  desmerecer  injustamente  o  presente,  mas  fazia-o  com 
altivez  de  convicto  e  batalhou  sempre  nesse  campo,  com  armas  liais  afiadas 
no  estudo.  Por  isso  aconselhava  preceitos  sociais,  alguns  esquecidos,  como  se 
a  nossa  inteligência  e  coração  nunca  tivessem  mudado.  Entendemos  que  esses 
belos  instrumentos  de  inquirição  se  alteram,  como  no  conceito  de  Pascal 
se  modifica  a  moral  que  eles  recebem,  consoante  os  tempos  e  os  lugares.  A 
educação,  excessivamente  humanista  de  Sousa  Monteiro,  clausurava-o  nos 
seus  limites  e  não  lhe  consentia  que  metesse,  na  equação  histórica,  muitos  dos 
elementos  novos,  que  outros  aplaudiam.  Eu  dele  me  afastei,  e  me  afasto,  em 
mais  dum  ponto  dos  que  formavam  as  suas  e  as  minhas  crenças  filosóficas, 
literárias  e  políticas;  porém,  oom  as  reservas  impostas  pela  minha  dignidade 
intelectual,  que  èle  sempre  respeitou,  encontrarei,  ainda  assim,  largo  campo 
para  vos  dizer,  Senhores,  quanto  foi  belo  o  espírito  deste  poeta,  deste  come- 
diôgrafo,  deste  romancista,  deste  exímio  discursador  académico;  icomo  foi  sa- 
gaz o  crítico,  o  filósofo  e  o  crente  que  êle  era !  Em  todos  esses  aspectos  da 
vida  intelectual  a  sua  alma  lidou.  Era  inquieto  e  ambicioso  de  produção: 
numa  carta  a  um  amigo  muito  querido,  confessava  que,  no  momento  em  que 
escrevia,  lhe  andavam  em  mão  vinte  e  cinco  obras  diferentes,  e  dessas,  so- 
mente cinco,  em  via  de  remate.  Não  veio  a  lume  todo  esse  labor  intenso ; 
mas,  do  que  nos  é  conhecido,  ressumbra  alma  insatisfeita,  e  dele  podemos 
afirmar,  com  o  sabido  critério  de  Rousseau,  que  os  seus  livros  são  bons,  pois 
na  sua  leitura  muita  cousa  se  aprende  para  se  ficar  melhorado. 


LOGIO  HISTÓRICO  DE  JOSÉ  DE  SOUSA   MONTEIRO  101 


A  oossa  alma,  até  para  o  fisiologista  é  uma  unidade.  Se]  ará  la  em  facul 
dades  pode  convir  ao  método  de  estudo,  mas  é  artificio.  Também  ;i  natureza 
é  uma,  na  sua  força  colossal,  mas  havemos  mester  de  a  dividir  para  a  com- 
preender: assim  a  obra  do  homem,  ou  dum  homem  só,  paia  bem  a  penetrar- 
mos, teremos  que  a  fragmentar.  Sousa  Monteiro,  no  seu  triplo  aspecto  de 
poeta,  filósofo  e  critico,  é  sempre  o  mesmo;  porém  diverso  em  si  mesmo. 

\  sua  primeira  manifestação  foi  de  poeta  e,  como  poeta,  versificador  a pu 
radissimo,  estudando  a  mecânica  dos  seus  versos  com  perfeito  conhecimento  da 

arte.  Eu  fujo  sempre  de  apreciar  ] tas.  porque  desconheço  a  musical  sciên- 

cia  do  ritmo.  A  natureza,  avara  comigo  cm  tudo,  esc leu-me  o  pod 

dor  ila  divina  linguagem.  Apesar  disso,  como  o  povo  rude  e  ignorante,  o  meu 
coração  adora  os  poetas,  mas  os  verdadeiros,  que  me  adormecem  as  dores 
vívidas,  e  me  normalizam  a  sensibilidade  com  a  melopeia  dos  seus 
Sinto-os,  mas  não  os  julgo,  pois  não  está  sujeito  ao  julgamento  duma  inteligên- 
cia vulgar  o  que  é  essência,  o  que  é  perfume,  o  que  é  visão  das  almas.  Per- 
doem-me  os  poetas  e  perdoe-me  Sousa  Monteiro  o  não  saber  extrair,  da  corola 
dos  seus  sonetos,  a  ambrósia  alucinadora  neles  contida.  Demais  o  autor  dos 
Entalhes  e  Camafeus  diz  que  «poetas  só  por  poetas  sejam  lidos»  e  que  de- 
testa pensadores,  não  poupando  na  repulsa  o  divino  Platão,  nem  Hegel,  os 
quais  admirava.  Discorrendo  para  acertar  com  boa  definição  de  poesia,  depois 
de  muitas  rever,  apadrinha  a  de  Edgar  Põe,  que  diz  ser  poesia :  The  rhythmi- 
cal  creation  of  Beauly.  A  criação  rítmica  de  beleza!  Como  isto  é  sintético, 
justo  e  quàsi  incompreensível  para  profanos. 

Nos  Poemas  escolhe  de  preferência  assuntos  do  passado,  em  que  a  ima- 
ginação si'  lhe  encontrava  mais  livre  para  idear.  Assim,  na  interpretação  do 
Cântico  das  Cânticos  atribuído  a  Salomão,  e  que  denomina  Esposa  dos  Can- 
tares, se  manifesta  nele  um  sentimento  bucólico,  meio  pagão.  Pela  notória  po- 
pularidade deste  trecho  bíblico,  pela  ressonância  que,  na  religião,  na  politica, 
e  na  faustosa  vida  lasciva,  o  seu  presumido  autor  ainda  conserva,  este  poema 
mereceu  a  Sousa  Monteiro,  como  tem  merecido  a  muitos  outros  poetas,  tra- 
balho de  esmero.  Na  interpretarão  seguiu  a  dos  chamados  ecléticos,  Bossuel 
à  frente,  que  entendem  ser  este  um  cântico  nupcial,  para  celebrar  a  união, 
desse  pequeno  mas  formoso  rei  da  Síria,  com  a  filha  do  rei  do  Egipto,  pois 
fala  nos  rápidos  corcéis,  que  arrastam  a  espumante  biga  do  sumo  Faraó.  Os 
tradicionalistas  hebreus  entendem  ser  este  um  cântico  para  celebrai-  a  união 
de  Deus  com  Israel,  seu  povo  dilecto,  e  os  modernos  exegetas  consideram, 
tais  páginas,  como  um  cerzido  de  poesias  bucólicas  anónimas.  Sousa  Monteiro 


102  ELOGIO  HISTÓItlCO  DE  JOSÉ  DE  SOUSA  MONTEinO 


rejeitou  estas  e  outras  interpretações  pela  sua,  que  é  a  da  Igreja,  aceita  uo 
Concílio  de  Constantinopla  de  1551. 

A  tam  célebre  como  encantadora  Sulamite,  talvez  por  violência  introdu- 
zida  no  palácio  do  rei  de  Jerusalém,  onde  se  manteve  sempre  altiva,  obsti- 
nada e  resistente,  com  o  coração  preso  à  sua  aldeia,  à  descuidosa  vida  pas- 
joril,  e  u  ouvido  à  escuta  dos  maravilhosos  sons  da  flauta  do  seu  zagal,  que 
Geara  pascendo  o  rebanho  comum  das  umbrosas  pastagens  da  Samaria,  teve, 
em  Sousa  .Monteiro,  um  intérprete  cheio  de  doçura  melancólica,  dum  buco- 
lismo dolente,  como  era  o  dos  nossos  quinhentistas. 

Nos  Sonetos,  todos  modelares  na  métrica,  mostra  grande  sentimento  pe- 
los animais.  Quási  se  lhe  vêem  lágrimas  por  causa  do  Pobre  Snap,  um  mí- 
sero cão  de  circo,  que  morre  com  os  olhos  na  juvenil  e  infida  consorte  ena- 
morada dum  rafeiro  de  viela;  levanta  memória  a  um  abandonado  Terra  nova, 
que,  após  vida  soberba  de  luxo,  morre  esquecido  num  lúgubre  canil.  É  vo- 
lume de  bem  cinzeladas  peças,  semeado  de  ironias  bondosas,  de  queixas  de 
amor,  de  piedade  por  todos  os  que  sofrem. 

Nos  Entahes  e  Camafeus  há  também  história,  lenda  e  acentuado  aplauso 
à  secular  instituição  da  igreja  católica.  No  viver  contemporâneo,  mal  lhe  re- 
pousa o  coração.  Num  soneto  ao  pontífice  Leão  XIII  diz  que,  em  volta  de  si, 
só  encontra  o  derruir  da  «razão,  justiça,  trono,  espada  e  lira» ;  por  isso  para 
êle  se  volta,  «num  sôfrego  anelar  de  luz,  de  paz  e  fé».  Não  se  encontrará, 
nas  suas  estrofes  a  Jesus  e  à  Virgem,  a  candura  simples  e  recolhida  dum  Frei 
Agostinho  da  Cruz,  o  humilde  arrabino,  nos  seus  piedosos  sonetos;  porém, 
reconhece-se  firmeza  no  conceito  e  na  crença. 

Era  alma  pouco  adequada  à  labuta  ardente  e  exaustiva  da  vida  actual; 
recolhia-se,  por  necessidade  íntima,  na  saudade  dos  tempos  idos  e  no  incom- 
preendido mistério  da  religião. 


O  seu  teatro,  que  todo  escreveu  em  verso,  compõem-se  de  três  peças. 
Tinha,  pela  exibição  scénica,  grande  entusiasmo.  Talvez  entendesse,  como 
Renan,  que  a  forma  dialogai  é  a  que  mais  convêm  para  expor  certas  ideas 
filosóficas,  às  quais  o  seu  espírito  se  inclinava.  A  sua  memória  excelente,  viva 
na  conversa,  recordava  frequentemente  os  gregos,  Shakspeare,  os  franceses 
do  século  áureo  e  muito  pouco  dos  dramaturgos  modernos.  Citava-os,  mimava-os 
recitando-os;  mas,  para  a  sua  primeira  obra  de  teatro,  foi  à  história  pro- 
curar assunto.  A  celebração  do  nosso  centenário  da  índia  lho  indicou:  o 
Auto  dos  Esquecidos  é  uma  página  dessa  peregrinação  famosa.  Os  humildes 
prenderam-lhe  a  imaginação;  para  eles  se  voltou  a  sua  alma  bondosa.  Não  os 


ELOGIO   HISTÓHICO   DE   IOS£    Dl    SOUSA   MONTEIRO  103 

podia  olvidar  aquele  que,  no  orgulho  alto  da  sua  personalidade,  na  defesa  da 
sua  dignidade  intelectual,  sempre  seguiu  bábitos  sociais  modestíssimos.  Os 
pequenos,  aqueles  que  compõem  verdadeiramente  a  história,  mas  de  quem  a 
história  não  Tala.  buscou-os  Sousa  Monteiro  au  pensar  na  nossa  epopeia  ma- 
rítima, e  bem  fez.  Era  acto  de  justiça. 

Compus  esta  comédia  em  verso,  como  compôs  as  outras  duas  peças. 
Porquê?  ,:Na  sua  compreensão,  excessivamente  idealista  de  toda  a  arte, 
acharia  mais  apropriado  o  verso  para  lhe  ennobrecer  o  assunto?  Talvez ;  porém 
nisso  nus  separamos  de  Sousa  Monteiro.  Sendo  o  teatro,  principalmente,  vida 
e  movimento,  e  como  não  é  uso  adoptar-se  a  forma  métrica  da  linguagem 
para  falar  comummente,  quere-nos  parecer  que  a  acção  perde  em  energia  e 
intensidade,  o  pensamento  em  prontidão  e  clareza,  se  dialogarmos  na  scena 
cm  verso.  No  teatro,  a  indispensável  sedarão  do  espectador  exige  que  indo 
seja  fácil  e  prontamente  compreensível.  Os  artifícios  da  métrica  prejudicarão 
o  interesse.  E  não  se  poderá  sustentar  que  assim  se  emprega  arte  mais  re- 
quintada e  difícil:  Lessing,  a  certa  pessoa  que  lhe  preguutara  o  motivo  de 
preferir  0  verso  pua  um  dos  seus  dramas,  respondeu  que  não  dispusera  de 
tempo  bastante  para  o  escrever  em  prosa. 

A  história,  a  grande  história,  no  seu  orgulho  enterra  os  pequenos,  que 
no  Auto  dos  Esquecidos  ressuscitam:  a  historia,  a  grande  história,  memora  reis, 
imperadores,  estadistas,  filósofos,  grandes  criminosos  e  grandes  santos;  mas 
deslembra  os  que  dão  realidade  ao  existir  social,  os  que  praticam  as  acções 
elementares,  de  que  se  forma  a  vida  dos  heróis.  A  brilhante  vida  marítima 
dos  portugueses  doutrora  tem,  nas  suas  dobras,  escondidos  aqueles  que  Sonsa 
Monteiro  achou.  Deu  lhe  Gil  Vicente  a  fórmula;  Gaspar  Correia,  o  das  Lendas, 
o  sentimento;  Garcia  de  Resende,  «o  obsequioso  e  gordo  historiador  de 
D.  João  II»,  os  chistes  e  remoques  à  nobreza,  tomados  do  Cancioneiro.  A  lei- 
tura desta  elegia  encanta  o  ouvido  e  humedece  os  olhos.  Sente-se  a  bravura 
e  religiosidade  do  povo  português,  o  seu  espirito  fatalista,  moléstia  constitu- 
cional, que  sempre  nos  acompanhou  na  vida  de  nação.  Eudeixas  suaves  me- 
moram um  grande  feito,  mas  o  velho  vizinho,  repetição  do  n  lho  do  Restelo, 
diz  condoído,  mas  alto,  verdades,  quando,  ao  ver  subirem  galhardamente  o 
Tejo  as  naus  que  voltam,  considera: 

Porém  toda  a  glória  custa 
sangue  a  sumos  e  pequenos 

É  cnmo  tanger  triste  na  festa  das  nossas  descobertas. 

Muito  outra,  bem  diferente  na  origem  e  no  sentir,  é  a  matéria  do  Falstaff. 
Pesquisou  a  no  grande  armazém  sbakspeareano,  onde  de  indo  se  encontra. 
Sir  John,  o  poltrão  do  Henrique  IV,  o  borracho  amorudo  e  cobiçoso  das  Alegres 


101  ELOGIO    HISTÓRICO   DE   JOSÉ   DE  SOUSA.  MOSTEIRO 


Comadres,  serviu  para  nova  encarnação.  Um  escritor  vale  pelo  número  de  im- 
i  duráveis  que  deixa  no  espirito  de  quem  o  lê.  Shakspeare  é  o  génio 
Monteiro  absorvia-se  frequentemente  na  sua  obra  imensa.  Por  isso, 
as  suas  e  bem  próprias,  com  palavras  do  seu  rico  vocabulário,  com- 
pôs o  tipo  grotesco,  algumas  vezes  chistoso  e  nunca  estúpido;  o  velhacaz  re- 
signado a  sanas  e  troças,  contanto  que  recolha  alimento  para  a  sua  sen- 
sualidade e  para   a  sua  gula,  premeditando  sempre  desforra,   que  nunca 
obtêm  completa.  É  a  parte  material  e  arguta  do  ser-homem,  a  besta  de  Xa- 
vier de  Maistre,  o  burguês  de  Flaubert,  o  Sancho  de  Cervantes,  o  Leporello 
do  D.  João  de  Mozart. . .  finalmente  a  adipe  inteligente,  com  todas  as  quali- 
dades, de  esperteza  manhosa,  de  covardia  revoltada. 

Sousa  Monteiro  aceita  os  dois  Falstaffs  do  genial  inglês,  funde  os  num  só 
e  que  sej a  —  tiiz  —  « a  expressão  eterna  do  amor  sensual,  grosseiro,  mixto  de 
carne  viva  e  lodo  extinto,  mas  variando  de  alvo,  mudando  de  objecto.  Na  forma 
adoptou  o  verso,  e  — explica— «usaram-se  metros  vários,  quási  todos  os  dra- 
maticamente possíveis,  não  menos  de  oito  e,  nesses  metros,  todos  os  ritmos, 
empregados  segundo  pedia  a  situação  ou  o  empenho  de  sentir  de  quem  falava  d. 
Tenha  ou  não  realidade  na  história,  seja  ou  não  seja,  este  Sir  John  de  Shaks- 
peare o  vencido  de  Bouvray-Sainte-Croix,  o  que  para  a  arte  pouco  importa, 
certo  é  que  Sousa  Monteiro  traçou  um  belo  poema  herói-cómieo,  recheado  de 
conceitos  sápidos,  com  ferroadas  certas  e  picantes  a  vícios  de  hoje  e  doutro 
tempo.  As  cartas  escritas  por  Falstaff  às  exemplares  matronas  Meg  e  Alice,  das 
qnais  cobiça  «menos  o  coração  do  que  as  chaves  da  burra  e  da  dispensa», 
formam,  quando  lidas  em  scena,  uni  episódio  capital  na  comédia,  o  qual  tem 
sido  aproveitado  por  quási  todos  os  glosadores  desta  personagem.  Quando  a 
enredadora  Quickiy  procura  persuadir  Sir  John  de  que  as  virtuosas  senhoras, 
o  esperam  com  tanta  impaciência  que  até  parece  bruxedo,  o  gabarola,  apal- 
pando-se  todo  com  delicia,  mãos  espalmadas  no  ventre,  informa-a: 

« I  ícauto  sem  esforço 

«Como  assobia  o  melro  ou  salta  alegre  o  corso 

Na  ocasião  em  que  Ford,  marido  de  Meg,  procura  atraí-lo  a  uma  cilada 
de  combinação  com  o  marido  de  Alice,  e  com  disfarçada  ironia  lhe  gaba  a 
lama  que  êle  tem  de  espadachim  de  preço,  o  poltrão  afirma-lhe: 

«Ás  vezes  mato  só  por  graça  e  por  recreio. 

Na  floresta  de  Windsor,  aonde  por  diversos  estratagemas  é  atraído  e  aí 
bem  sovado  por  todos  que  o  rodeiam,  apesar  de  conluso  e  escarnecido,  não 
perde  o  ânimo,  o  bom  humor,  a  travessura  grotesca,  a  resignação  que  funda 


ELOGIO   HISTÓRICO   DK   JOSÉ   DE  SOUSA  MONTEIRO  103 

cia  esperança  de  desforra,  e,  dorido,  diz  por  entre  lamúrias  ao  noivo  da  Blba 
de  Ford,  a  qual  minutos  antes  procurara  seduzir: 

nFicai  i'in  paz     por  i  m  [uanto 
<cAs  bodas  dispensam  zelos 
«Beija-lhe  em  | 

É  um  colosso  de  manha,  de  sensualidade,  de  bebedii 
Sir  John. 

Outpa  obra  teatral,  também  em  verso,  existe  de  Sousa  Monteiro— uma 
intitulada  D.  Pedro,  Infante  de  Portugal.  É  obra  inédita,  que 
Academia  mandou  imprimir  i   sairá  a  lume  com  prefá  ii 
António  Cândido,  um  dos  grandes  mestres  da  palavra  I  ortugal. 

Por  isso,  desde  já  asseveramos  que  este  assunto  Bcàrá  para  sempn 
tado1.  Pelo  título  se  adivinha  lerem-lhe  servido  de  lema  os  inditosos  amores 
de  Inês,  com  o  impetuoso  Qlho  de  Afonso  IV.  í:  mais  uma  página,  que  será 
das  mais  belas,  acerca  desse  drama  do  coração  que  tantos  artistas —músicos, 
pintores  e  poetas-  tem  enternecido. 


Amava  Sousa  .Monteiro  a  variedade  na  leitura  e  na  produção.  Espírito 
inquieto,  imaginação  alada,  fantasia  multiforme,  linha  necessidade  de  alternar 
as  impressões  recebidas,  com  as  que  procurava  criar.  Seduziu-o,  um  dia,  o 
romance  histórico,  para  o  que  tinha  excepcional  saber  acumulado.  Essa  for- 
mula de  estudar  almas  e  épocas,  muito  em  voga  na  -nação  anterioi 
foi  popularizada  entrenós  por  Herculano.  Escreveu  então  Os  amores  de  Júlia, 
seenas  da  antiga  Roma. 

Com  o  seu  conhecido  entusiasmo  pelo  grandioso  histórico  e  ungido,  na 
infância,  de  alta  cultura  latina,  traçar  obra,  cuja  ai 

capital  do  mundo  antigo,  era  lógico.  São  desses  actos  em  que  a  nossa  alma 
sofre  a  influência  externa,  julgando-os  espontâneos.  Ideou  o  livro  pela  volta 
dos  seus  trinta  anos,  já  com  a  razão  e  o  sentimento  amadurecidos  na  expe- 
riência da  vida  e  na  meditarão.  A  forma,  na  sua  prosa  excessivamente  colo- 


1  Depois  de  escritas  estas  páginas  foi  publicado  por  ordem  da  dos 
Sciéncias  de  Lisboa  a  Introdução  ao  Drama  D   Pedro,  à   Jo 

nosso  eminente  consócio  Dr.  António  Cândido.  Nao  nos  eu 
é  obra  acabada  no  dizer  e  nos  conceitos;  é  obra  dum 


106  ELOGIO   HISTÓRICO   DF.   JOSÉ   DE  SOUSA  MONTEIRO 

rida,  mereceu-lhe  tanto  esmero  como  a  escolha  de  lances  em  que  revelasse  o 
impudico  e  grandioso  viver  da  imensa  cidade.  Os  termos  empregados  são  es- 
colhidos com  o  fito  de  se  exprimir  com  a  maior  propriedade  e  certeza  ;  a  com- 
posição dos  períodos  diz  com  a  majestade  do  assunto;  há  paginas  informado- 
ras (pie  levariam  dias  a  lapidar.  O  efeito  estético  satisfazia-lhe  a  mente 
cobiçosa,  e  atendeu,  certamente,  mais  á  própria  sensibilidade  do  que  ao 
aplauso  público,  do  qual  sempre  se  mostrou  desdenhoso.  É  livro  que  põe  no 
caminho  dum  espírito  baliza  anunciadora  de  conspícua  laboração.  Roma,  a 
conquistadora,  a  mãe  duma  literatura,  que  Sousa  Monteiro  sobre  todas  admi- 
rava, avassalou-o.  Ao  pousar  o  ouvido  auscultador  sobre  o  seu  peilo  de  aço, 
recebia-lhe,  do  imenso  coração,  sons  que  exprimiam  acções  contraditórias :  a 
vileza,  a  luxúria,  a  crueldade  a  par  de  actos  heróicos,  prenhes  de  civilização, 
exemplos  desses  fortes  caracteres,  que  procuraram  em  vão  salvara  república. 
Certamente  que  à  sua  alma  casta  repugnavam  as  primeiras,  emquanto  lou- 
vava as  segundas. 

INa  descrição  da  vida  convulsiva  da  enganadora  capital,  com  que  abre  o 
romance,  logo  se  admira-  o  pintor  erudito,  que  dispõe,  com  peregrina  habi- 
lidade, duma  grande  variedade  de  cores.  São  deslumbrantes,  de  proeminente 
relevo,  essas  páginas  acerca  de  Roma  que  nos  trazem  à  mente  a  moderna 
Londres  —  duas  capitais  que,  nas  suas  misérias  e  nas  suas  grandezas,  são  com- 
paráveis. A  construção  material  moslra-se,  ora  opulenta,  ora  pobríssima; 
o  Campo  Márcio  com  os  seus  pórticos  de  inúmeras  colunas,  onde  gente 
ociosa  e  loquaz  procurava  aventuras  e  inquiria  de  escândalos,  não  está  muito 
distante  da  imunda  Saburra,  onde,  em  suja  e  lúgubre  taberna,  primeiro  se 
hospedam  a  ambubaia  Glicela  e  o  lutador  Asclipíades,  que  ambos  vinham  à 
cidade,  a  chamamento  de  Lívia,  mulher  de  Augusto,  para  a  auxiliarem  nos 
seus  enredos  políticos.  É  interessante  o  estudo  dessa  vida  faustosa  nos  cir- 
cos, à  mesa  dos  grandes,  no  foro  e  nas  alcovas  das  mundanas.  Nas  minú- 
cias, o  que  êle  averigou  da  indumcnta,  dos  cosméticos,  dos  segredos  des- 
sas mulheres  artificiosas,  que,  por  meio  de  enganos,  afastavam  os  maridos, 
para  atrair  os  amantes.  \  E  o  que  se  comia  nos  jantares!  jE  as  falas  e  segre- 
dos que  elas  escutavam,  recostadas,  nos  triclíuios,  entre  os  vapores  do  fa- 
lerno  e  do  ópimo-cós!. . . 

Nos  jogos  do  circo,  encontravam  o  maior  divertimento  os  romanos,  su- 
mos e  pequenos.  A  lasciva  Júlia,  (ilha  querida  do  imperador,  com  o  pescoço 
a  rir  da  neve,  logo  ao  rútilo  alvor  da  manhã,  atravessa  a  cidade  para  assistir 
a  uma  festa  de  circo  dada  em  sua  honra.  Caminha  lentamente  a  sua  liteira, 
por  entre  a  pressa  dos  adoradores.  E  quando,  do  seu  lugar,  assistida  pela  admi- 
ração de  todos,  sorrindo  à  turba  que  a  aplaude,  vê  descer  o  primeiro  ovo  da 
arquitrave,  os  olhos  vivos  fixam-se-lhe  nas  bigas  das  facções  combatentes,  que 


ELOGIO   HISTÓRICO   DE   JOSÉ   DE  SOUSA  MONTEIHO  107 

rompem  com  ímpeto.  Ajustam  se  os  carros,  nas  curvas  tam  unidos  que  à  vista 
parecem  esmagar-se;  os  látegos  dos  cocheiros  retorcem-se  oo  ar,  silvam,  esta- 
lam sobre  as  ancas  dos  corcéis,  alguns  gerados,  nas  orilhas  do  Trio.  de  éguas  que 
concebem  do  vento  (sic).  Solta  se  a  multidão  em  ovações  ao  triunfador.  Júlia 
com  a  túnica  scientemente  desmanchada,  para  < jue  o  generoso  pretor  Minúcio 
!he  espreite  com  a  sua  esmeralda,  um  dos  seios,  aplaudeo  destro  Asclipíades, 
o  seu  auriga,  depois  tomado  paia  amante.  Segue-se  o  espectáculo  doloroso  da 
luta  de  homens  com  tigres  hircanos,  leões  munidas  e  ursos  da  lusitánia.  \n> 
avestruzes,  aos  antílopes,  aos  búfalos,  peões  e  cavaleiros,  oferecem  suas  car 
ues  moles.  Os  gladiadores  de  Cápua,  de  Preneste,  de  Ravena  batem-se  até  a 
morte,  aos  pares  ou  em  catervas,  formando,  o  seu  sangue,  com  a  terra  da  arena, 
lama  nauseante,  o  descritivo  dessa  loucura  é  fremente,  estrangula  O  coração. 
Sousa  Monteiro  faz-nos  assistir  depois  às  scenas  da  vida  íntima  das  impu- 
dicas romanas.  Na  ceia  dada  por  Quinto  a  Júlia,  o  vinho  corre  como  um  liquido 
sensual;  no  templo  de  Isis,  a  deusa  da  voluptuosidade—  Voluptas  idiio  —  a 
cujas  cerimónias  lascivas  a  princesa  assiste,  com  o  rosto  coberto,  comparti- 
Ibando-as. . .  sentimos  o  coração  revoltado. 

A  paixão  neste  romance  encontra-se  mais  no  descritivo  do  que  no  entre- 
cho  e  nas  palavras  trocadas  entre  as  personagens.  Porém  há  diálogos  de  vigo- 
rosa contextura,  apesar  de  saírem  de  corações  romanos,  em  língua  lusa, 
que  não  era  a  deles.  O  de  Tibério  e  sua  mãe  Lívia,  que  se  esforça  pelo  guiar 
ao  trono  imperial;  e  o  de  Augusto  e  sua  filha  dilecta,  de  quem  o  dissoluto 
imperador  censura  os  actos  públicos  de  devassidão,  devem  ser  considerados 
modelares  no  género.  Tibério  lamenta-se  de  ser  o  escárneo  de  Roma,  como 
marido  da  pulcra  Júlia  e  quere  repudiá-la.  Lívia  exclama  cinicamente:  «Pasmo 
de  te  ouvir  Tibério!  Tám  declamadas  fraquezas,  não  são  da  nossa  raça!»  De 
longe  vem  a  torpe  razão  de  Estado  e  grandes  mestres  teve. 

Eis  a  síntese,  a  largas  pinceladas.  Para  que  este  valioso  trabalho  de  Sousa 
Monteiro  fosse  procurado  sofregamente,  bastava  que  o  bafejasse  um  raio  de 
amor  cândido,  qualquer  cousa  que  significasse  ternura  de  coração  —  a  inocên- 
cia, a  devoção  casta,  o  espirito  de  sacrifício  para  fim  moral  elevado,  o  sofri- 
mento pela  justiça Foi  esse  sopro  humano  que  salvou  do  esquecimento  o 

Quo  vadis  de  Sienkiewicz.  O  seu  autor  encontrou  na  conversão  de  Vinícius, 
no  casto  e  heróico  martírio  de  Lígia,  na  dedicação  de  Ursus,  e  até  na  vene- 
randa barba  de  Pedro  e  na  celestial  legenda  do  Cristo,  que  todas  as  páginas 
ilumina,  sentimentos,  todos  uniformes,  que  no  diama  introduziram  suave  cre- 
púsculo de  sonho.  O  autor  dos  Amores  de  Júlia  preferiu  castigar  a  proterva 
Roma  rebenlando-lhe  os  tumores,  escancarando-lhe  as  pústulas,  expondo-lhe 
a  nudez  asquerosa,  e  fé  lo  com  um  luxo  de  saber  e  uma  perfeição  no  descri- 
tivo, que  se  admiram,  mas  não  comovem.  É  exacto  e  justo ;  mas  é  duro. 


108  ELOGIO    HISTÔBICO   DE   JOSÉ   DE  SOUSA  MONTEIBO 


Páginas  que  enaltecem  a  sua  memória  e  aumentam  a  nossa  saudade  são 
as  que  escreveu  para  esta  Academia.  Neste  mesmo  lugar  donde  o  evoco,  vi-o 
eu,  vimo-lo  todos  nós;  ouvi-o  e  ouvimo-lo;  vibrante  nà  palavra,  lábios  fre- 
mentes, gesto  largo  uo  seu  corpo  apoucado...  vimo-lo,  ouvimo-lo  e  applau- 
dimo-lo  com  entusiasmo  recôndito.  Belo  cinzelador  de  frases  e  apurador  de 
conceitos;  estatuário  de  grandes  figuras  e  esconjurador  de  épocas,  tentavam- 
iio  as  glórias  perduráveis.  Apreciava  medir-sé  com  os  grandes  obreiros  do 
pensamento:  um  dia  era  Latino  Coelho,  cérebro  enciclopédico,  sensibilidade 
rara,  que  tanto  lidou  nas  sciências  da  natureza,  apreciando-lhes  as  conquis- 
tas experimentais,  como  estudou  a  metafísica  no  seu  divagar  sumptuoso, 
como  ideou  na  história,  na  literatura  e  na  eloquência;  noutro  comemora  o 
quinquagenàrio  do  trânsito  na  vida  de  Almeida  Garrett,  poeta  portuguesís- 
simo  que  soube  exprimir  as  dolências  da  nossa  alma,  ao  falar  de  mulheres  e 
de  Qores  com  devoção  de  apaixonado,  e  nas  Viagens  discorrer  com  tal  encanto 
e  simpleza.  que  até  as  crianças  o  podem  acompanhar.  Da  última  vez  que  subiu 
a  esta  cátedra,  que  para  mim  ficou  ensilvada,  foi  para  nos  falar  de  Mommsen, 
o  profundo  historiador  que,  após  tantos  séculos  de  estudos  anteriores,  soube 
refazer,  em  novas  bases,  a  história  de  Roma,  remoçando  lhe  a  vida  guerreira, 
politica,  económica  e  do  direito,  criado  por  essa  grande  alma  colectiva. 


Esse  que  vimos  poeta,  comediógrafo,  romancista  e  panegirista,  nos  pró. 
logos  de  obras  suas  e  de  estranhos,  prazia-lhe  também  a  critica  estética.  Gos- 
tava de  pôr  barreiras  a  escolas  e  de  definir  teorias.  Nas  substanciosas  páginas 
com  que  prefaciou  nova  e  rica  edição  do  Camões  de  Garrett,  escova,  desas. 
sombradamente,  da  cabeça  gloriosa  do  autor  das  Viagens,  a  caspa  de  român- 
tico com  que  lha  tinham  conspurcado.  Cm  fundamentado  estudo  explicou  o 
que  seja  romantismo  e  como  a  nossa  leviandade  importou  de  França  a  defor- 
mada doutrina  da  escola  que,  na  Alemanha,  florescera  sob  o  patronato  de 
Goethe  e  do  seu  matelote  e  rival  Sehiller,  com  a  legião  de  sábios  e  artistas 
que  emWeimar  proclamaram  a  unidade  da  Poesia  e  da  Vida.  A  qualquer  novo 
seguidor  do  credo  novo,  diz  Monteiro :  «cumpria-lhe  assumir,  compreender,  fun- 
dindo-as  soberano  em  si,  todas  as  múltiplas  manifestações  da  vida,  das  artes, 
das  sciências,  para  de  si  as  fazer  irradiar  depois,  sob  forma  a  um  tempo  mais 
subida  e  mais  pura».  Pretendia-se  fazer  de  novo  surgir  a  maneira  de  poetai 


ELOfitO    HISTÓRICO   DE   JOSl':    DE   SOUSA    MONTEIIU)  109 

dos  trovistas  da  idade  média,  esses  errantes  cantores  de  amoi ,  com  a  sua  crença 
ea  sua  fél  Na  imóbil,  impressionável e  agitada  França  —diz  o  rôman 
tisnio,  transformando  se,  oegou  o  amor  do  antigo,  que  os  alemães  conserva 
ram.  Esta  foi  a  base  da  campanha  de  Hugo,  contra  o  neo-classissismo».  Dai 
acrescenta  — «a  dramaturgia  fulgente,  mas  absurda  do  autor  do  Ernani,  as 
violências  de  sentimento,  as  brutezas  de  colorido  e  estilo».  O  nosso  Garrett 
era,  por  temperamento,  avesso  a  tais  exagerações,  como  o  era  ao  apego  dos 
alemães  à  idade  média.  Antes  se  reconhece  como  «espirito  disciplinado  pelo 
classissismo  magistral  dos  gregos  e  o  paladar  apurado  no  trato  dos  romanos 
altíssimos  de  Augusto».  Por  isso  Garrett  nem  era  romântico  a  maneira  dos 
alemães,  nem  ao  jeito  do  figurino  francês.  Falta-lhe  a  fé  e  a  crença  religiosa 
de  Novalis,  de  Brentano,  de  Klopstok  paia  ser  dos  primeiros;  não  nega  o 
valor  do  estudo  das  letras  antigas  como  o  fazem  os  segundos. 


O  filósofo  espiritualista  que  era  Sousa  Monteiro,  o  seu  ânimo  de  comba- 
tente  pela  fé  católica,  mais  do  que  em  nenhuma  outra  das  suas  obras  se  reco- 
nhece no  Santo  António  de  Lisboa,  que  denomina  Estudo  histórico  e  critico. 
É  mais  do  que  uma  biografia  comentada,  pois  compreende  a  explanação  da 
doutrina  teológica  que  venerava.  Decorria  o  século  xui,  na  Itália,  em  plena  o 
efervescente  controvérsia  escolástica,  já  bem  longe  dos  últimos  alentos  do 
paganismo  romano,  estrangulado  por  Oxigenes,  por  S.  Jerónimo,  pelo  viril 
Santo  Vmbrósio  e  principalmente  por  Agostinho,  o  célebre  bispo  de  Hipóna. 
Estes  revolucionários  do  quarto  século  combatiam  denodadamente  pela  liber- 
dade do  pensamento,  contra  Simaco  e  Volusiano,  representantes  do  conser- 
yantismo,  e  venceram,  como  acontece  sempre  vencer  o  fraco,  que  tem  razão, 
contra  o  forte  que  a  não  tem  e  se  lhe  opõe.  Este  livro,  escrito  para  a  ce 
lebração  do  sétimo  centenário  antoniano,  por  certo  de  muito  estaria  traçado 
na  mente  do  seu  autor.  É  a  sua  obra  capital  no  ponto  de  vista  filosófico,  e 
nela  compendia  vasta  erudição  metafísica.  «One  grandes  somas  de  virtudes  se 
tem  gasto  pior  causa  de  quimeras» — exclama  Próspero,  duque  de  Milão,  diante 
dos  seus  alambiques.  ;  Como  o  homem  mais  audaz  é  tímido  em  face  das  ideas 
absolutas,  que  a  sua  própria  mente  tem  criado!...  —  digo  eu. 

Estudar  Santo  António  no  seu  pensamento,  que  desde  a  mais  tenra  in- 
fância se  ocupou  de  cousas  divinas;  compreendê-lo  na  sua  palavra,  que  foi 
eloquentíssima  e  só  de  assuntos  do  céu  falou;  segui-lo  nos  actos  terrenos, 
sempre  conformes  á  vontade  de  Deus. . .  é  tomar  por  veredas,  ora  escuras, 
ora  luminosas,  onde  o  espírito  humano  tem  encontrado  as  suas  consolações 


HO  ELOGIO   HISTÓRICO   DF.   JOSK   DE   SOUSA    MONTEIRO 


mais  altas  e  os  seus  desvarios  mais  gloriosos.  Tal  a  traça  de  Sousa  Monteiro 
a  respeito  da  vida  dosanto.  Ao  considera  lo  no  pensamento,  encontra  um  mís- 
tico e  logo  penetra  na  selva  escara  dò  mistério,  que  é  a  miulez  da  boca  e  a 
audição  agudíssima  de  tudo  quanto  possa  entrar  no  cérebro  e  no  coração, 
vindo  do  Infinito.  Aqui  recebe-se  e  não  se  dá;  porque  a  alma  do  verdadeiro 
crente  é  avara,  o  que  de  Deus  obtêm  guarda-o  em  si,  só  para  si.  António, 
como  homem  de  fé,  compreendeu  toda  a  seiéneia  do  ser,  mais  pela  intuição  do 
que  pelo  raciocínio,  e  o  seu  biógrafo,  expondo  as  fases  de  tal  scièucia,  desde  a 
Grécia  pagã  até  a  metafísica  do  nosso  tempo,  diz  que  tudo  se  resume  no 
estudo  puro  de  Deus.  E  comenta,  concluindo:  «Defeito  o  termo  essencial  da 
síntese  cristã  é  Deus,  o  Deus  revelado  pelos  profetas,  pela  encarnação  do 
verbo,  pela  obra  da  Redenção  humana;  o  Deus  Absoluto,  Uno  e  ao  mesmo 
tempo  Trino,  criador  Supremo,  Supremo  moderador  de  tudo».  Estas  e  outras 
afirmações  mostram  dum  modo  claro  e  iniludível  a  rehgiosidade  de  Sousa 
.Monteiro,  por  éle  defendida  com  leituras  e  meditações  longas,  das  quais  esta 
obra  dá  testemunho.  Aqueles  que,  como  eu,  não  tem  asas  para  subir  a  altu- 
ras tais,  reconhecendo-se  privados  de  consolações  divinas,  não  tem  direito  de 
as  negar  a  quem  as  sentir.  A  fé  pode  discutir-se  e  bom  é  que  se  discuta  na 
sua  lisura,  pois  é  do  evangelho  que  os  actos  digam  com  as  palavras;  mas 
não  é  legítimo  pòr-se  em  dúvida  a  sua  existência  sincera.  É  acto  espiritual 
dos  mais  íntimos,  alucinação  talvez,  mas  facto  de  consciência.  Vive  nos  pín- 
caros altíssimos  do  sentimento  e  lá  se  demora  olhando  para  a  terra  nua.  Não 
serei  eu  quem  desmereça  a  incomparável  felicidade,  e  dela  me  confesso  admi- 
rador, num  S.  Francisco  de  Assis,  que,  voluntariamente,  se  despiu  de  todas 
as  riquezas  chegando  á  nudez  do  hábito,  para  nada  possuir  dos  homens,  nem 
mesmo  a  sciência  que  negava  —  oh!  admirável  exagero!  — para  se  conservar 
em  simpleza  absoluta  e  melhor  se  abrasar  e  consumir  na  chama  do  amor  di- 
vino. É  o  adormecer  da  razão,  e,  quantas  vezes,  a  razão  adormecida  terá  ga- 
rantido a  paz  do  existir !  É  necessário  que  o  gladiador  descanse  entre  dois 
combates,  emquanto  não  chega  o  verdadeiro  repouso  que  só  na  morte  se  en- 
contra. Cerremos  ouvidos,  neste  instante  de  convivência  com  uma  alma  reli- 
giosa, para  não  escutar  Diderot,  que  nos  diz:  Si  je  renonce  à  ma  raison,  je 
n'ai  plus  de  guide.  Este  vivaz  interlocutor  de  Catarina  da  Rússia  nunca  po- 
deria entender-se  com  um  homem  de  fé,  como  foi  José  de  Sousa  Monteiro. 
Outros  pontos  da  vida  de  Santo  António  são  explicados  com  ardor  e  lar- 
gueza :  a  sua  eloquência  abundantíssima  assoberbou  o  próprio  S.  Roaventura, 
que  lhe  chama  egrejius  predicaior.  Não  chegava  a  amplidão  dos  templos  para 
recolher  a  multidão  que  de  longe  vinha  para  o  escutar :  as  praças  nas  cidades, 
os  quietos  vales  entre  montanhas,  as  vastas  campinas  e  charnecas  sem  hori- 
zonte marcado,  selvas  escuras  e  gementes...  foram— quantas  vezes!  — os 


ELOOIO   HISTÓRICO   DE   JOSÉ   DE   SOUSA   MOXTEIHO  1  I  I 


templos  de  Deus,  onde  vibrara  a  sua  palavra  quente.  Perante  o  povo  humilde, 
não  era  o  teólogo  dos  congressos  religiosos  e  das  catedrais  civilizadas  e  opu- 
lentas,  antes  o  moralista,  cheio  de  candura,  que  exemplificava  para  persuadir. 

A  lingna  de  que  se  servia  era  o  italiano  vulgar,  e  nele  condenou  todos 
os  vícios  que  enfraquecem  a  pobre  natureaa  humana.  A  lascívia,  principal- 
mente, mereceu  lhe  as  mais  duras  agressões:  o  lascivo  é  «burro  preguiçoso;  é 
rã  a  coachar  no  charco  da  voluptuosidade ;  é  aranha  com  os  "lhos  cheios  de 
pecados  e  que,  pelos  lios  que  entretece,  vai  a  condenação  eterna;  é  insânia  e 
lepra  da  alma».  Para  reforçar  o  quadro  negro,  põem-lhe  diante  o  da  castidade 
que  é:  «lírio  mais  branco  do  que  a  neve.  mais  nítido  do  que  o  leite;  luz  [tara 
o  coração  obscurecido  pelas  sombras  da  sensualidade».  As  páginas  em  que 
Sousa  Monteiro  leu  essas  preás  oratórias  são  meras  condensações  rui  sá- 
bia língua  latina.  É  provável  que  tenham,  no  tocante  aos  sermões  para  o 
povo,  desmerecido  o  togo  de  espontaneidade  que  animava  a  palavra  do  santo. 
Porém,  naqueles  outros  discursos,  em  (pie  discutia  pontos  intrincados  de  dog- 
mática,  como  a  união,  em  Cristo,  das  duas  naturezas,  divina  e  humana,  que 
compara  ao  fogo  quando  se  une  ao  ferro,  donde  resulta  ter  o  ferro  a  eficácia 
e  o  poder  do  fogo:  o  mistério  da  Trindade,  que  para  alguns  teólogos  resume 
a  sciència  de  Deus  e  o  próprio  santo  considera  origem  de  tudo  quanto  existe, 
essa  linguagem  deve  ser  exacta.  Sousa  .Monteiro  trasladou-os  para  português 
com  as  cautelas  indispensáveis  em  assuntos,  para  definir  os  quais  a  lingua- 
gem do  homem  não  chega;  mas  era  tal  a  sua  preocupação  em  se  des- 
culpar de  qualquer  imperfeição  que  nos  diz:  «Logrei,  nesta  versão,  dar 
longes  só  da  ternvel  precisão  dos  textos.  Nestas  alturas  santas,  e  por  san- 
tas demasiado  altas,  não  se  pode  resfolgar  bem.  Titubia  o  animo  e  a  pa- 
lavra hesita». 

Mas  nos  sermões  de  moral  exemplificada,  o  dizer  corre  límpido  com 
fulgentes  encantos  e  risonhas  ingenuidades.  É  uma  linguagem  cheia  de  fé, 
como  a  dos  hinos  litúrgicos  da  idade  média,  que,  o  primeiro,  inventou  o 
grande  propagandista  Santo  Ambrósio,  que  Santo  Hilário  de  Poitiers  difun- 
diu na  Gália  e  com  que  o  nosso  Herculano  enfeitou  a  lenda  poética  do  seu 
Eurico.  Algumas  vezes  António  seguia  (com  maior  relevo  e  maior  saber)  o 
seu  modelo,  S.  Francisco  de  Assis,  principalmente  no  amor  dos  seres  criados, 
no  reconhecimento  efusivo  de  Deus  em  tudo  encontrado.  Falava-lhes,  como 
aconteceu  aos  peixes,  ou  deles  falava,  como  aconteceu  às  abelhas.  Estes  pe- 
quenos alados  enchiam-llie  de  deleite  o  coração:  eram,  no  segredo  com  que 
faziam  o  seu  mel,  comparáveis  às  mulheres  do  evangelho,  que,  afanosas,  pre- 
paravam em  silêncio  e  prece  os  perfumes  com  que  haviam  de  ungir  os  pés 
de  Jesus:  «Fabricam  umas  a  cera,  outras  o  mel  — diz  o  santo.  Sugam  umas, 
o  néctar,  transportam  outras  a  água  requerida,   recolhem  e  resguardam  o 


112  ELOGIO   HISTÓRICO   DE    JOSÉ   DU   SOUSA   MONTEIRO 


mel  feito.  Saem  estas  a  forragear  uns  campos  ao  romper  do  dia,  emquanto 
aquelas  se  refazem  0.0  descanso  e  esperam  que  as  despertem  para  também 
saírem  a  lidar  ao  sol.  São  como  as  santas  mulheres,  etc — »  Tal  divisão  de 
trabalho  não  corresponderá  ao  que  sobre  o  assunto  já  sabiam  os  entomolo- 
gistas  do  tempo;  porque  na  mordente  critica  que  lhe  fez  Sousa  Martins,  o 
santo  teria  lido  Plínio  de  pernas  para  o  ar;  porém  o  símile  é  belo  e  bem  ta- 
lhado. Acerca  da  industriosa  formiga,  na  qual  reconhece  a  falta  da  vista  co- 
mum paia  contemplar  a  natureza,  encontrando-lhe  só  coração  para  entesourar 
haveres,  exclama  António:  «Ó  alma  curiosa,  que  em  tanta  cousa  a  um  tempo 
te  dissipas. . .  não  procures  imitar  a  formiga,  mas  a  abelha:  dela  depende  a 
sabedoria". 

Porém,  os  maiores  entusiasmos  poéticos  do  santo,  todas  as  ternuras  do 
seu  coração,  iam  para  cousas  do  céu,  para  o  doce  nome  de  Maria,  legenda 
dourada,  que  tantas  imaginações  tem  deslumbrado.  Dos  evangelhos  apócrifos, 
os  que  mais  tem  prendido  a  mente  cristã,  são  aquele  ou  aqueles  que,  a  Igreja, 
conservou  por  estarem  dentro  do  seu  ponto  de  vista  doutrinal,  e  que  se  refe- 
rem à  geração,  nascimento,  educação,  práticas  no  templo  e  predestinação  de 
Maria  para  ser  a  mãe  do  redentor;  porque  neles  se  referem  episódios  da  in- 
fância, pregação  e  morte  de  Jesus.  A  poesia  da  idade  média  embelezou  ainda 
o  que  era  de  si  tam  belo.  Todo  esse  maravilhoso  anónimo,  vertido  às  man- 
cheias  no  coração  dos  crentes,  fez  mais  pelo  sentimento  religioso  do  que  os 
famosos  evangelhos  canónicos.  A  arte  cristã  deve-lhes  algumas  das  suas  me- 
lhores criações  na  pintura,  na  música,  na  poesia  e  principalmente  na  drama- 
turgia. Fundados  neles  se  apresentaram,  nos  tempos  da  idade  média,  durante 
séculos,  esses  encantadores  e  ingénuos  mistérios  em  que  entrava  Jesus  com 
a  bela  irradiação  da  sua  cabeça  loura,  Maria  com  o  sereno  e  inspirado  olhar 
e  José  com  a  sua  barba  de  velho  patriarca  ondulando  com  uma  brisa 
mansa. 

Nesta  corrente  de  idealismo  cristão,  entrava  ousadamente,  o  sapiente 
teólogo  António  de  Pádua  para  quem  Maria  é:  «Estrela  da  manhã,  cidade  de 
refúgio,  júbilo  do  coração,  mel  à  boca,  melodia  ao  ouvido.  É  árvore  formosís. 
sima  cujos  frutos  são  a  pureza  e  a  humildade.  É. . .  altar. . .  trono  de  mar. 
fim. ..  sólio  revestido  do  ouro  da  pobreza.  É  mar  amargo,  pois  no  preságio 
da  paixão  do  filho  bem  lhe  acerca  o  nome  de  amargura».  E  brada-nos  Sousa 
Monteiro,  citando  estas  palavras:  «iEra  ou  não  um  poeta  e  grande,  o  grande 
místico?...»  Respondemos:  era  um  poeta. 

Da  vida  do  santo,  sabe-se  como  apurado,  que  ainda  muito  novo  era  frade 
agostinho  em  Santa  Cruz  de  Coimbra  e  que  daí  transitou  para  a  companhia 
duns  franciscanos  estrangeiros  residentes  no  sitio  dos  Olivais,  cerca  da  mesma 
cidade,  onde  depois  se  levantou  um  convento  da  ordem,  patrocinado   com   o 


FXOGIO   HISTÓRICO   DF.   JOSK   DF.   SOUSA    MONTEIRO  113 


seu  nome.  A  propósito  desta  mudança,  escreve  o  nosso  extinto  consócio : 
cTrocon  a  correia,  o  hábito  e  i  murça  de  Santo  agostinho,  era  cuja  pobreza 
há  ainda  o  quer  que  è  do  mundo,  pelo  cordão  de  S.  Francisco,  o  grosseiro 
burel  de  S.  Francisco,  os  desprezos  de  S.  Francisco,  os  pés  descalços  de 
S.  Francisco  em  que  explende  o  céu».  De  Coimbra  cora  o  exemplo  dali  che- 
garem os  ossos  dos  santos  mártires  de  Marrocos,  enviados  por  um  infanti 
lugués.  a  sua  irmã  D.  Sancha,  cobiçou  glória  semelhante  e  partiu  paraoim- 
pério  africano  a  piocurNá-!a.  Não  teve  a  ditosa  sorte  dos  outros  frades,  não  con- 
quistou o  martírio  e,  na  volta,  uma  tempestade  miraculosa  atiron-o  àscostas 
da  Itália,  onde  o  seu  nome  tinha  de  adquirir  a  notoriedade  que  teve,  a  ponto 
de  ser  consenso  geral  o  julga  lo  dali  oriundo.  Outra  cousa  maior  do  que 
a  celebridade  la  se  lhe  deparou,  como  foi  o  conhecer  pessoalmente  opoa 
Assis,,  seu  superior  na  ordem  e  exemplo  na  virtude.  Segundo  Joergensen, 
na  recente  biografia  deste  santo,  os  dois  estimaram-se,  amaram-se  e  admira- 
rão,  i íiprocamente.  Como  Vntónio  fosse  considerado  mestre  em  teologia, 

que  aprendera  cm  Santa  Cruz,  e  o  cobiçassem  para  professar  essa  sciência  nu 
Montpeliier  e  Bolonha,  Francisco  de  Assis,  para  isso  requerido,  concedeu  a  li- 
segundo  diz  Celano,  sob  condição  do  que  lai  estudo  lho  não  fizesse 
desprezar  a  prece  e  nele  não  extinguisse  o  espirito  do  recolhimento  era  si, 
como  mandava  a  regra. 

No  Monte  Paulo  encontrou  António  asilo  o  solidão  para  meditar.  Nada, 
absolutamente  nada  possuindo  de  terreno,  na  sua  pobreza  voluntária  e  pro- 
curada, encontrou  a  completa  liberdade,  essencial  à  prática  da  ascese,  que  se 
gundo  Mouteiro  o  «a  elevação  da  alma  a  Deus,  a  sua  absorpção  tara  perfeita 
e  cabal,  quanto  possa  entendê-la  a  frouxa  mente  do  homem,  sem  ce 
da  humana  na  divina  natureza»...  Com  esta  prática,  chegou  à  extrema  debi- 
lidade e  delgadez  de  corpo,  e,  para  descer  do  seu  retiro,  só  o  podia  fazer 
amparado  pot  seus  irmãos  na  ordem,  As  pernas  tremiam-lhe,  o  seu  olhar 
era  pasmado,  como  0  dum  insano.  O  fim  da  vida  do  corpo  estava  próximo, 
logo  começaria  essa  outra  vida  que  a  imaginação  lhe  mostrava  superiormente 
bela,  duradoura  e  cheia  de  encantos. 


Desta  publicação,  do  estudo  histórico  e  crítico  de  Santo  António  de  Lis 
boa,  derivou  uma  polémica  interessantíssima  entre  dois  lídimos  espíritos,  que 

do  mesmo  passo  eram  penas  bem  aparadas.  Sousa  Martins,  nome  que  ao  re 
cordã-lo  a  todos  enche  de  saudade,  depois  de  ler  lido  o  livro  que  lhe  fora 
oferecido  pelo  autor,  cujo  íntimo  eia,  escreveu  lhe  uma  carta,  agradecido  pelo 


i  |  i  ELOGIO  HISTÓHICO  DE  JOSÉ  DE  SOUSA   MONTEIRO 

oferecimento  e  ironicamente  crítico  quanto  as  afirmações  de  excessivo  espiri- 
tualismo. Não  se  poderão  facilmente  encontrar  dois  homens  mais  separados 
pela  educação  intelectual  recebida  e  mais  unidos  pelo  mútuo  respeito  e  afecto. 
Monteiro  mais  literário,  melhor  cinzelador  de  frases  à  padre  António  Vieira, 
que  muito  amava  e  lia;  Martins  mais  espontâneo  e  ponteagudo.  Quando  o  sa- 
piente  médico  o  contradiz  nas  maravilhas  da  fé  religiosa,  e,  falando  das  trans- 
formações dos  órgãos  na  série  animal,  alude  à  hipotética  passagem  dos  qua- 
drumanos  para  o  homem,  o  que  daria  em  resultado  éle  Martins,  ter  possuído 
dois  valentíssimos  pés,  no  lugar  em  que  tinha  actualmente  duas  mãos,  Mon- 
teiro alfineta-o  dizendo-lhe:  — «Dois? . . .  Você,  Martins,  sempre  tem  cousas! ...» 
Porém  e  apesar  disso  as  expressões  do  mútuo  carinho  aparecem  por  entre 
argumentos  e  sarcasmos  como  lírios  entre  os  abrolhos.  Monteiro  com  encan- 
tadora tristeza,  aludindo  a  impiedade  de  Martins,  chama-lhe  «seu  enganado 
amigo»,  diz  ter  «a  certeza  do  seu  afecto»  e  jura  lhe  «inteira  admiração  e  ami- 
zade», apesar  do  fundo  abismo  que  os  separa. 

Sousa  Martins,  sempre  grande  pelo  coração,  diz-se  «contemporâneo  do  seu 
tempo»  chama-lhe  «místico  d'après  natwe»  e  di-lo  «autor  do  importantíssimo 
livro,  primor  de  dição,  de  erudição  e  de  crítica»,  considerando  estas  duas 
qualidades  de  natureza  extra  scientifica.  Denomina-o  «ourives  da  fé»  emquanto 
se  considera  a  si  mesmo,  simples  «tecelão  da  sciência».  Ao  falar  do  carácter 
de  Monteiro  é  duma  rasgada  e  nobre  franqueza:  admira-o  por  ter  «convicções 
raciocinadas»,  por  se  levantar  contra  «o  tom  do  dia»  que  é  o  materialismo 
ignorante.  Da  vida  modesta  que  vive,  diz  que  èle  se  «contenta  com  a  vaca  e  o 
riso,  a  vaca  da  sua  honradíssima  pobreza  e  o  riso  da  sua  saníssima  consciên- 
cia». Eram,  pois,  dois  inimigos  intelectuais  que  nasceram  para  se  amar  pelas 
prendas  reciprocas  do  coração  e  do  carácter  e  que,  na  esfera  superior  da  con- 
trovérsia, se  combatiam  rijamente,  sentindo-se  o  silvar  das  setas,  o  arpoar 
das  garrochas  e  o  palpitar  das  carnes  doloridas  na  batalha  incruenta. 

Condensar  assunto  tam  largo,  como  o  debatido  nessas  cartas  publicadas 
em  resumidíssimo  número,  por  mão  carinhosa  e  solicita  *,  é  tarefa  arriscada  e 
difícil,  posto  que  agradável,  para  mim.  Tentá-la-hei:  o  conhecimento  da  na- 
tureza, origem  e  fim  da  nossa  alma  tem  preocupado  o  homem  desde  que 
èle  existe.  Absurda  é  esta  investigação,  quando  para  o  estudo  seja  exclusi- 
vamente empregado,  o  método  dito  psicológico  —  nota  Comle—  visto  o  jul- 
gador e  o  julgado,  serem  um  só  e  o  mesmo.  Estas  páginas,  apesar  do  seu 


1  Foi  o  Sr.  António  Auguslo  de  Carvalho  Monteiro,  nosso  consócio,  quem  mandou  pro- 
ceder à  impressão  dessas  cartas,  após  a  licença  indispensável  das  pessoas  que  as  possuíam 
tirando  só  quatro  exemplares,  um  dos  quais  me  foi  facultado  para  leitura. 


ELOGIO    HISTÓRICO    I>K    JOS1     D]     SOUSA    MONTEIRO 


tom,  por  vezes  galhofeiro,  encerram  lição  variada  e  séria.  As  duas  últimas 
cartas,  as  mais  extensas,  são  dois  compêndios,  um  de  materialismo,  de  espi 
ritualismo  outro,  aquele  negativo  e  este  aplauditrvo  da  metafísica.  Sendo  a  raiz 
da  contenda  a  vida  de  Santo  António,  cujas  virtudes  místicas,  o  saber  humano 
e  milagrosa  existência  corporal,  Monteiro  exalça  e  Martins  enche  de  zombarias, 
os  dois  contendores  logo  de  começo  se  colocam  cada  um  no  seu  terreno  es- 
pecial. Para  Sousa  Martins,  Santo  António  era  um  mísero  doente  brighteano,  a 
incorruptibilidade  da  sua  lingua,  que  ainda  hoje  em  Pádua  se  mostra,  só  a 
pode  explicar  o  alcoolismo  ou  o  uso  aturado  de  sais  de  mercúrio  ou  arsenicais. 

•b  «Seria  o  santo  um  incontinent i  um  corrupto?»      exclama  o  erudito 

médico.  Dura  e  cruel  esta  ironia,  era  o  sopro  implacável  da  sciència  experi- 
mental a  destruir  o  belo  edifício  da  misticidade:  a  magreza  do  corpo,  adqui- 
rida na  prática  do  jejum  e  da  penitência,  paia  assim  ascender  a  divina  pre- 
sença, comparada  a  miséria  dum  vulgar  caso  patológico!  Não  podia  ser.  Mon- 
teiro reponta  fortemente,  chamando-lhe,  com  ácida  mofa,  doutor  sapientissimo, 
doutor  eximio.  Segue  demorada  a  correspondência  com  fortuna  vária,  ate  que 
para  última  peleja  escolhem  e  limpam  as  melhores  armas  e  escrevem  as  cartas 
a  que  aludimos,  cuja  composição  lhes  consumira  cerca  de  três  a  quatro  meses 
a  cada  um. 

\  natureza  da  nossa  alma  considera-a  Sousa  Martins  uma  energia,  soma- 
tório de  energias  várias  de  almas  celulares  espalhadas,  por  indo  o  corpo,  e 
reunidas  no  cérebro.  É  a  unidade  do  ser.  a  afirmação  da  existência  duma 
consciência  orgânica,  que,  Mademoiselle  d'Épinasse,  surpreendeu  num  sonho 
d'Alemberl  e  fixou  para  vindouros  conhecerem.  Sousa  Martins  dá  lhe  a  forma 
scientifica  actnal,  busca  a  sua  procedência  na  junção  das  forças  preexistentes 
no  óvulo  e  no  espermatosóide  progenitores,  que,  desenvolvendo-se  juntos  na 
vida  letal,  chegam  a  exlreina-uterina  na  forma  de  energia  máxima  e  harmónica 
no  nosso  cérebro.  É  a  consequência,  sem  demonstração  suficiente  ainda,  das 
ideas  que  os  hodiernos  fisiologistas  formam  da  vida  orgânica  e  que  levaram  o 
irónico  médico  a  alirmar-nos  que,  depois  da  sua  morte,  êle  tem  a  certeza  de 
não  ver  «  seu  próprio  cadáver;  porque  o  termo  do  existir  do  corpo  é- o 
Nadai  Sousa  Monteiro,  contraditando-o,  julga  que  a  nossa  alma  vive  vida  inde- 
pendente ilo  nosso  corpo.  É  força  imortal,  vinda  directamente  de  Deus;  mas  não 
assinala,  como  o  fazem  alguns  teólogos,  o  momento  especialíssimo  da  gera- 
ção em  que  o  inapreciável  favor  desse  contacto  se  opera,  estando  no  emtanto 
convencido  de  que  o  cérebro,  histológicamente,  é  mero  agente.  Se  os  patolo- 
gistas reconhecem  que,  a  determinadas  deteriorações  anatómicas  correspon- 
dem certas  manifestações  anormais  da  inteligência  e  do  sentir,  está  em  que, 
estragado  o  instrumento,  lógico  é  encontrarem-se  anomalias  no  seu  funciona- 
mento. Quanto  ao  destino  da  alma.  peia  morte  do  corpo,  entende  que  está 


||  d  BL0G10   HISTÓRICO    DE   JOSÉ    DE    SODSA    MONTEIRO 


i  Seio  de  Unis.  doade  proveio.  Posta  a  questão  neste  pé  e  com  esta 
exactidão  e  clareza,  logo  se  compreende  a  sua  irredqtibilidade,  tendo  de  con- 
tentar  se  o  sábio  com  a  sua  sciência  e  o  crente  com  a  sua  fé. 

Da  existência  da  nossa  alma,  da  qual,  nem  materialistas,  nem  espiritua- 
listas duvidam,  sai  o  alcance  das  nossas  aspirações,  a  idea  do  infinito  que  pode 
conter  e  contêm  a  idea  de  Deus.  Que  o  infinito  seja  uma  legitima  concepção 
do  espirito  humano,  ninguém  o  duvida;  que  o  infinito  contenha  indubitavel- 
mente e  a  afirme  a  existência  dum  Deus,  como  sendo  o  grande  arquitecto  e 
criador  de  todas  as  cousas,  disso  duvidaram,  duvidam  e  duvidarão  pensadores 
de  todos  os  tempos.  A  questão  do  sentimento  religioso,  forte  e  absoluto  em 
algumas  criaturas,  fraco  e  quási  não  existente  em  outras,  redu-la  Sousa  Mar- 
lius  3  existência,  no  nosso  cérebro,  de  células  a  que  chama  de  religiosidade 
iiuniii.  pouco  oh  nada  desenvolvidas  e  afirma,  como  observação  pessoal  que, 
no  actual  momento  histórico,  elas  vão  em  regresso,  e  por  isso  considerava 
a  nossa  época  como  falta  de  religião,  acrescentando  ainda  que  esse  distrito 
do  cérebro  se  tem  atrofiado  em  favor  dos  seus  vizinhos,  dados  a  sciências  e 
artes.  Monteiro  contesta  com  factos  recentes  de  propagação  do  catolicismo 
e  dà  exemplos  de  grandes  homens,  artistas  e  sábios,  que  são,  declarada- 
mente, almas  de  fé  ardente  e  crenças  vivas.  Para  ferir  mais  certeiramente 
Sousa  Martins,  o  autor  da  vida  de  Santo  António,  que  sabia  quanto  èle  admi- 
rava o  grande  experimentalista  Pasteur,  copia-ihe  as  suas  afirmações  deis- 
tas.  «A  idea  de  Deus  é  uma  forma  da  idea  do  infinito  —  diz  o  sábio  — aquele 
que  proclama  a  existência  do  infinito,  e  ninguém  a  ela  se  pode  furtar, 
acumula  nessa  afirmação  mais  de  sobrenatural  do  que  existe  em  todos  os 
milagres  de  todas  as  religiões ;  porque  o  infinito  tem  este  duplo  carácter  de 
se  impor  e  de  ser  incompreensível.  Quando  esta  noção  se  apodera  do  enten- 
dimento, não  há  senão  a  gente  prostrar-se».  Esta  citação  devia  doer  a  Sousa 
Martins,  que,  no  criador  da  microbiologia,  reconhece  um  dos  grandes,  talvez 
o  maior  luminar  do  experimentalismo  moderno;  mas  já  não  lhe  pôde  respon- 
der a  esta  carta,  por  a  sua  vida  afanosa  no  trabalho  não  lhe  permitir  tais 
debates  literários  e  filosóficos,  e  porque,  em  breve  tempo,  o  entusiasta  ho- 
mem de  sciência  foi  roubado,  pela  morte  implacável,  ao  convívio  dos  muitís- 
simos que  o  adoravam  e  admiravam.  Talvez  firmado  nessa  opinião  de  Pasteur 
é  que  Sousa  Monteiro  lhe  afirmara:  «O  acordo  (entre  naturalistas  e  espiritua- 
listas) há-de  vir  a  formar-se  por  força,  tudo  deriva  do  mesmo  foco  incomen- 
surável e  eterno,  duma  mesma  fonte,  sempre  e  em  tudo  certa  de  vida  e  luz». 

O  problema  ficou  sem  resolução  e  na  mesma  fosca  névoa  onde  os  dois 
contendores  o  tinham  encontrado.  Assim  tem  acontecido  sempre  que  o  de- 
vanear dos  homens  o  tem  soprado.  Não  há  argumentos  novos  para  isto.  As 
harmonias  de  Santo  António,  em  que  tam  desvanecidamente  falara  o  seu  bió- 


KLogio   HISTÓRICO   1 m:    ih     m>is\    Muviuhu 


grafo,  Dão  se  estenderam  aos  dois  amigos  aos  pontos  controvertidos.  Po 
i  .'mu.  .1  questão  era,  como  dissemos,  irredutível,  como  são  todas  aquelas  em  que 
o  sentimento  e  o  raciocínio  se  não  podem  fundir.  E,  nu  coração  grande  de 
Sousa  Monteiro,  apesar  das  falazes  palavras  de  esperança  que  emprega 
acerca  do  fnturo,  ficou  certa  nuvem  de  tristeza,  quando,  nu  final,  se  dirige  ao 
grandíssimo  de  Sousa  Martins,  dizendo-lhe:  «Não  nos  entendemos, 
meu  caro  Sousa  Martins.  Tudo  é  diverso  em  dós:  cárcere  de  partida,  pista, 
\  ático,  recursos,  preconceitos,  hábitos  e  jeitos  '1''  alma,  tudo.  Chegamos  na- 
turalmente a  metas  i^&utuiln  o  puniu  opostas.  Nem  você  me  percebe  ou  ex 
plica  a  mim,  nem  eu  avocè  o  percebo  ou  explico». 

E  não;  eram  ambos  rudes  de  mais  e  demais  inteiriços  oas  suas  convic 
ções,  para  tanto.  Faltava-lhes,  aos  dois,  o  que  requeria,  para  tratar  estas 
questões  :!  e  variável  sonhador  que  se  chamou  Ulaise  Pascal,  «le 

doute  discrète,  le  sourrire,  1'esprit  de  finessi  á  esta  a  forma  humana 

de  encontrar  em  debates  de  natureza  delicada  aquela  dose  de  certeza,  que  ao 
nosso  entendimento  é  dado  adquirir?...  Ah!...  eu  creio  que  sim. 

Disse. 


BIOGRAFIA 


FRANCISCO  SOMES  TEIXEIRA 


RODOLFO    GUIMARÃES 


t)  Dr.  Gomes  Teixeira  nasceu  a  28  de  Jaaeiro  de  1851  na  aldeia  de 
S.  Cosmado,  freguesia  de  Armamar,  pertencente  ao  distrito  de  Viseu,  tendo, 
portanto,  hoje  <>;{  anos  de  idade. 

Educado  na  sua  terra  natal,  onde  estudou  as  primeiras  letras  com  o  pro- 
fessor oficial  Gabriel  Mendes  Mourão,  adquiriu  uma  simplicidade  e  modéstia, 
no  vivei'  e  no  tratar,  que  nunca  perdeu,  não  obstante  mais  larde  residir  em 
cidades,  como  Coimbra,  Lisboa  e  Porto,  e  ter  visto  mundo. 

Seu  pai  destinava-o  para  padre,  mandando-o  para  Lamego  hospedar-sc 
em  casa  do  médico  Francisco  Mana  de  Carvalho,  seu  primo,  a  fim  de  frequen- 
tar, no  Colégio  do  padre  [{useira,  as  disciplinas  necessárias  a  essa  carreira. 
Como  igualmente  desejava  que  seu  filho  se  formasse  em  teologia,  e,  sendo 
possível,  também  em  direito,  e  visto  o  Liceu  de  Lamego  ser  de  _'.'  classe, 
não  servindo  os  exames  nele  feitos  para  a  matricula  na  Universidade,  ia  anual- 
mente o  moço  Comes  Teixeira  a  Coimbra,  algum  tempo  ''mies  dos  exames 
do  Liceu,  preparar-se  para  eles  no  Colégio  de  S.  Bento.  Entra  outros,  lá 
fez  o  de  geometria,  em  que  tivera  por  professor  o  referido  primo  medico. 
sendo  examinado  pelo  severo  Dr.  Rufino  Guerra  Osório,  lente  de  matemática 
na  Universidade,  que  o  aprovou. 

O  primo,  não  vendo  talvez  com  satisfação  que  o  jovem  Gomes  Teixeira 
seguisse  a  carreira  eclesiástica,  tratou  de  aconselhar  o  pai  do  futuro  sábio  a 
que  o  mandasse  formar  antes  em  matemática.  Manuel  Gomes  Teixeira  —as. 
sim  se  chamava  o  pai — não  se  opôs,  e  preguntando  ao  filho  por  qual  das 
duas  carreiras  optava,  respondeu  este  ser-lhe  indiferente  uma  ou  outra,  e 
portanto  seguiria  aquela  que  seu  pai  quisesse. 

Hint  k  Mbm.  da  Icàd.— Tomo  xii.  —  Pabte  n.     N.°  4. 


120  BIOGRAFIA  DE  FRANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  (2) 


•  Nesse  caso  tire-se  à  sorle»,  disse  Comes  Teixeira  pai.  li  a  Sorte  desti- 
nou Gomes  Teixeira  para  matemática  I 

Não  foi,  pois.  a  vocação,  ainda  latente,  que  o  impeliu  a  escolher  a  scién- 
cia  em  que  havia  de  se  tornar  uma  celebridade,  mas  simplesmente  o  acaso. 

Concluindo  os  preparatórios  exigidos  para  a  matrícula  na  Faculdade  de 
matemática,  nela  se  matriculou  em  Outubro  de  1869,  com  mais  60  compa- 
nheiros, que  iam  também  encetar  o  seu  curso  universitário. 

Lá  frequentou,  por  conseguinte,  no  ano  lectivo  de  1869-1870,  a  ca- 
deira do  Dr.  Torres  Coelho,  o  mais  severo  dos  professores  da  Faculdade. 
Tomando  verdadeiro  gosto  pela  álgebra  e  geometria  analítica,  matérias  de 
que  essa  cadeira  constava,  nela  obteve  prémio1,  sendo  o  único  aluno  do  l.u 
ano  que  o  alcançou. 

No  ano  lectivo  imediato,  1870-1871,  nesse  ano  terrível,  em  que  o  retlexo 
da  guerra  franco-prussiana  se  fez  sentir  em  quási  toda  a  Europa,  causando 
por  toda  a  parte  apreensões,  Comes  Teixeira,  bem  compenetrado  dos  deveres 
de  estudante,  alheando-se  de  ludo  para  somente  se  entregar  ao  estudo,  fre- 
quentou, cheio  de  entusiasmo,  a  cadeira  de  cálculo,  cujo  professor,  o  Dr.  Rai- 
mundo Venâncio  Rodrigues,  lhe  concedeu  no  fim  do  ano  um  partido,  e  a 
éle  só. 

Foi  no  decorrer  de  1871  que  o  moço  laureado  escreveu  o  seu  primeiro 
trabalho,  a  que  deu  o  título  de:  Desenvolvimento  das  funções  em  fracção  conti- 
nua. 

Nele  apresenta  fórmulas  para  desenvolver  as  funções  em  fracções  conti- 
nuas; transforma  em  seguida  estas  em  fracções  ordinárias,  e  aplica  as  frac- 
ções contínuas  ao  cálculo  integral  e  à  determinação  das  raízes  das  equações, 
observando  que  por  este  método  se  obtém  resultados  mais  convergentes  do 
que  pelos  métodos  de  Newton  e  de  Lagrange. 

Desejando  que  pessoa  competente  examinasse  o  seu  estudo,  pediu  Gomes 
Teixeira  a  Basílio  Alberto  de  Sousa  Pinto,  seu  condiscípulo,  para  o  mostrar 
a  seu  pai,  o  sábio  professor  da  Faculdade,  então  já  jubilado,  Dr.  Rodrigo 
Ribeiro  de  Sousa  Pinto,  director,  ao  tempo,  do  Observatório  Astronómico  da 
Universidade,  e  sócio  correspondente  desta  Academia. 

Da  melhor  vontade  viu  Sousa  !'into  o  trabalho,  e,  reconhecendo-lhe  valor 
e  novidade,  aconselhou  o  seu  autor  a  que  o  publicasse.  Assim  o  fez  Gomes 


i  _N,i  coiiuivj-irfiu  ila  Faculdade  foi  êle  proposfo  para  partido  pelo  seu  professor  Dr.  Coe- 
lho, como  consta  da  respectiva  acta,  ppondo-se  a  Iam  elevada  classificação,  por  nâo  ser.  cos- 
lunie  conceder-se  no  I.°  ano,  os  lentes  Drs.  Florêncio  Barreto  Feio  e  Gonçalves  Mamede. 

Ambos  esles  professores  propuserani-no.  todavia,  dois  anos  mais  tarde  para  partido, 

lias  cadeiras  o  mecânica  e  ^'•ometna  descritiva. 


(3)  BIOGRAFIA  DK  FRANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  121 


Teixeira,  em  fins  do  ano  de  líS7 1 .  sendo  impresso  na  tipografia  da  i  niver- 
sidade  e  dedicado  a  António  de  Almeida  Soeiro  de  Gamboa,  seu  companheiro 
desde  os  primeiros  anos  do  liceu,  actualmente  coronel  de  engenharia  do  qua- 
dro da  reserva. 

O  aparecimento  do  folheto  do  jovem  matemático  produziu  sensação  no 
meio  académico  coimbrão,  recebendo  Gomes  Teixeira  aplausos  e  palavras  de 
encitamento,  não  só  deis  seus  professores  e  dos  seus  condiscípulos,  que  o 
estimavam  e  admiravam,  mas  ainda  de  professores  estranhos  à  Universidade, 
como  Daniel  da  Silva,  sendo  este  sábio  um  dos  que  mais  o  animou  a  prosse- 
guir na  carreira  scientifica  que  iam  brilhantemente  encetava.  É  bem  signiíi 
Cativo  o  trecho  da  seguinte  carta  de  Dauiel,  quando,  a  ti  de  Janeiro  de  1872, 
agradecia  ú  opúsculo  que  lhe  oferecera  Go s  Teixeira: 

tA  paixão  pelo  estudo  das  sciências  matemáticas,  que  foi  em  mim  assaz 
desordenado  peio  excesso,  desde  muitos  anos  se  tem  reduzido  às  proporções 
modestas  de  amor  platónico.  A  diuturna  e  gravíssima  enfermidade  que  padeci, 
pelo  excesso  de  aplicação,  deixou  após  de  si  o  desabito  da  contensão  de  espí- 
rito e  mesmo  talvez  a  impossibilidade  para  as  aturadas  investigações.  Restou 
-me,  porém,  das  ruínas  do  meu  passado  scientífico  a  afeição  admirativa,  o 
vivo  inierésse  de  simpatia  que  me  ligam  sempre  àqueles  que  se  distinguiram 
dum  modo  notável  na  sciência,  objecto  das  minhas  predilecções.  Dizer,  pois, 
que  estimo  desde  lá  cordialmente  o  autor  da  memória  que  recebi,  é  muito 
mais  que  um  cumprimento  epistolar:  é  0  simples  enunciado  duma  condição 
inevitável  da  minha  organização». 

A  esta  carta  seguiram-se  muitas  outras,  cheias  de  conselhos  afecti 

que  Teixeira  conserva,  com  a  mesma  veneração  que  um  crente  tem  pelas 
relíquias  dum  santo,  como  recordação  do  sábio  e  do  amigo1. 

No  ano  lectivo  de  1871-1872  frequentou  Gomes  Teixeira,  com  o  mesmo 
r-xito.  o  3.°  ano  de  matemática  (mecânica  e  geometria  descritiva),  alcançando 
outro  partido,  único  no  curso,  e  no  ano  seguinte,  1872-1873,  fez  o  'i.  ano 
(astronomia  e  geodesia),  cujas  matérias  eram  de  Índole  diversa  daquela  para 
que   o   seu  espirito    estava    orientado,  obtendo,   contudo,  e  ele  só,  prémio  -'. 

Não  obstante  as  ocupações  e§colares  lhe  absorverem  muito  tempo,  pros- 
seguia nas  suas  locubrações  e  tratava   de   completar  o  seu  primeiro  trabalho 


1  Apontamentos  biográficos  de  Daniel  Awjnstoda  Silva  («Boi  da  Dir.  Geral  de  [ns 
Lisboa,  t  i,  1903,  p.  839) 

2  Tanto  no  4."  como  no  ;i.°  a So  eram  concedidos  partidos,  sendo,  por  i 

,i  mais  i>|i'v:nl:i  .•las>ili.\i./ã.'. 


\l-2  BIOGRAFIA  DE  FRANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  (4) 

com  a  aplicação  das  fracções  continuas  á  determinação  das  raizes  das  equa- 
ções, baseando-se  sobre  a  propriedade  reconhecida  por  Enler  «que  certas 
fracções  continuas  dão  resultados  mais  convergentes  que  as  séries,  ao  mesmo 
tempo  que  elas  são  sempre  finitas,  quando  as  funções  não  são  racionais». 

Este  novo  estudo,  sob  a  epígrafe:  «Aplicação  das  fracções  continuas  à 
determinação  das  raizes  das  equações»,  foi  apresentado  por  Daniel  da  Silva, 
em  I  de  Maio  de  1872,  a  esta  Academia— onde  pela  primeira  vez  foi  pro- 
nunciado o  nome  do  estudante  (iomes  Teixeira,  que  mais  tarde  tanto  a  havia 
de  honrar — a  qual  deliberou  que  o  trabalho  fosse  publicado  no  jornal  da 
l.a  classe.  Lá  se  encontra  no  t.  ív  (1872-1873 1  da  l.a  série,  a  pp.  89-94. 

Em  1873—1871  ei-lo,  finalmente,  no  último  ano  da  Faculdade  (mecâ- 
nica celeste  e  física  matemática),  que  terminou  em  Julho  de  1874,  obtendo 
prémio. 

Concluiu,  pois,  nesse  ano  a  sua  formatura  "com  a  classificação  de  mé- 
rito, ou,  como  vulgarmente  se  diz,  a  informação  de:  «Muito  bom  por  unani- 
midade, com  20  valores»,  nota  esta  que  nunca  na  Faculdade  de  Matemática 
havia  sido  conferida ',  nem  mais  tornou  a  sê-lo,  no  regime  de  valores  que 
então  vigorava,  e  continuou  até  1901  -. 

No  ano  seguinte,  1875,  fez,  a  8  de  Janeiro,  exame  de  licenciado,  e  acto 
de  conclusões  magnas  a  30  de  Junho  do  mesmo  ano. 

A  dissertação  inaugural  apresentada  a  esse  acto  grande  foi  verdadeira- 
mente notável,  toda  cheia  de  novidade,  destacando-se  por  completo  dos  me- 
lhores trabalhos  anteriores  e  posteriores,  escritos  para  idêntico  fim. 

Designava-se  ela :  Integração  das  equações  às  derivadas  parciais  de  se- 
gunda ordem,  e  abrange  quatro  capítulos.  O  primeiro  é  inteiramente  con- 
sagrado à  teoria  de  Ampere,  sobre  as  equações  ás  derivadas  parciais  de  se- 
gunda ordem,  que  o  autor  generaliza  a  um  qualquer  número  de  variáveis  in- 
dependentes. 

O  segundo  trata,  com  toda  a  generalidade,  das  transformações  de  Euler 
e  de  Imschenetsky. 


1  Pela  antiga  fornia  de  classificação,  muito  anterior  ;'i  época  em  que  o  Dr.  Gomes  Tei- 
xeira frequentou  a  Universidade,  a  maior  distinção  era  serem  tantos  os  MBB  quantos  os  vo- 
lantes, o  que  só  Manuel  Gonçalves  de  Miranda  (18U1;.  José  Ferreira  Pestana  (1819)  e  José 
Maria  lialdv  (1837),  haviam  alcançado.  (O  Conimbricense,  n.°  2519,  de  17  de  Julho  de  187ò). 

2  No  decreto  de  2i  de  Dezembro  de  1901,  publicado  no  Diário  do  Governo  n.°  294,  de 
28  do  mesmo  mês,  que  reforma  os  estudos  da  Universidade  de  Coimbra,  encontra-se  unia 
escala  de  valores,  com  a  correspondência  entre  ela  e  a  que  até  então  vigorava.  Assim,  ao 
passo  que  na  antiga  a  classificação  MB  ia  de  Jli  até  20  valores,  na  moderna  vai  somente 
de  18  s  20, 


(5)  BIOGRAFIA   DE  II;  A  MM ivii.s    I  LIM.Ili  \  12lj 


No  terceiro  são  expostos  os  métodos  de  Monge,  de  Ampere  e  de 
Imschenetsky. 

No  quarto,  finalmente,  apresenta  Gomes  Teixeira  o  resultado  das  suas 
investigações,  assaz  notáveis,  sobre  a  integração  das  equações  da  forma. 

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O  maior  elogio  desta  dissertação  fica  feito  dizendo  que  Forsyth,  que  a 
desconhecia,  obteve  posteriormente  vários  resultados  nela  consignados,  o 
bem  assim  que  M.  Goursst,  dedicou  um  belo  capítulo  das  suas  Leçons  sur 
Vintégration  des  êquations  attx  déricées  partieltes  du  second  ordre,  a  trans- 
formação, muito  mais  geral  que  as  de  Laplace  e  Imschenetsky,  devida  ao 
nosso  jovem  matemático. 

Primam  igualmente  pela  novidade  as  suas  leses  propostas  para  o  mes- 
mo acto,  uma  das  quais,  que  ele  defendeu  com  grande  brilho,  consistia  em 
um  método  novo  de  dedução  das  fórmulas  da  mecânica  celeste,  cujo  valor 
o  Dr.  José  Falcão,  seu  arguente,  solenemente  proclamou. 

Dezoito  dias  após  a  celebração  do  acto  de  conclusões  magnas,  ou  seja 
a  18  de  Julho  de  187"),  realizava-se  o  doutoramento  de  Gomes  Teixeira,  o 
qual  contava  24  anos  e  meio.  Foi  seu  padrinho  o  Conde  de  Samodães. 

Não  foi  Gomes  Teixeira  classificado  como  licenciado  por  ter  sido  o 
doutoramento  no  mesmo  ano.  Nesses  casos  dava-se  só  a  classificação  de 
doutor,  que  para  êle  fora  lambem  de:  «muito  bom  por  unanimidade,  com 
20  valores». 

Foi  um  sensacional  acontecimento  universitário,  pois  jamais  havia  sido 
conferida  esta  mais  alta  classificação  simultaneamente  no  bacharelato  e  no 
doutoramento. 


Passado  um  ano,  isto  é,  a  3U  de  Junho  de  1876,  abria-lhe  esta  casa  as 
Mias  portas,  elegendo-o  sócio  correspondente,  e"em  20  de  Dezembro  do 
mesmo  ano,  por  se  ter  jubilado  o  Dr.  Gonçalves  Mamede,  que  espontanea- 
mente para  então  reservara  o  pedido  da  sua  jubilação,  a  fim  de  não  haver 
demora  na  admissão  de  Gomes  Teixeira  ao  magistério,  tinha  êle  ingresso  no 
quadro  da  Faculdade  de  matemática,  como  lente  substituto,  precedendo  con- 
curso que  decorreu  brilhante. 

Para  ele  escreveu  o  moço  matemático  outra  "notável  dissertação,  com- 
pletamente fora  do  vulgar,  intitulada :  Sobre  o  emprego  dos  eixos  coordenados 
oblíquos  na  mecânica  analítica. 


1-1  BÍ0GRAF1A  DE  FRANCISCO  GOMES  TBIXB1RA  (6) 


abrange  ôste  estudo  Ires  capítulos.  No  primeiro,  começa  o  jovem  doutor 
por  mostrar  que  a  equação  que  traduz  o  principio  das  velocidades  virtuais, 
deduzida  por  Lagrange,  no  caso  dos  eixos  coordenados  rectangulares,  se  ve- 

riflca  igual ate  sendo  obliquos  os  eixos.  Km  seguida  trata  de  generalizaras 

fórmulas  de  Poinsot,  para  a  composição  das  forças,  no  caso  dos  eixos  oblí- 
quos,  e  conclui  por  estabelecer,  em  face  dessas  fórmulas,  o  princípio  do  pa- 
ralelipipedo  das  forças. 

\c  segundo  capitulo  deduz  do  princípio  das  velocidades  virtuais  as 
equações  que  exprimem  o  equilíbrio  do  sólido  invariável  quando  os  eixos  são 
obliquos,  equações  que  Poinsot  havia  já  obtido,  empregando  a  teoria  dos 
binários.  Gomes  Teixeira  faz  esta  dedução  de  dois  modos,  sendo  o  segundo 
baseado  sobre  as  fórmulas  que  exprimem  uma  generalização  nova  de  três 
outras  devidas  a  Euler. 

No  terceiro  capitulo,  estabelece  a  equação  geral  da  dinâmica  no  caso 
dos  eixos  oblíquos  e  finalmente  as  equações  do  movimento  do  sólido  inva- 
riável. 


Desejando  o  Governo  efectuar  o  primeiro  provimento  dos  astrónomos  de 
1."  classe  do  Observatório  Astronómico  de  Lisboa  (Tapada >,  que  acabava  de 
ser  montado,  consultou  a  este  respeito  esta  Academia,  a  qual  em  sessão  de 
i.*  classe  de  li  de  Julho  de  1878  escolheu  para  primeiro  astrónomo  e  direc- 
tor do  Observatório,  Frederico  Augusto  Oom,  ao  tempo  seu  sócio  efectivo; 
segundo  astrónomo  o  Sr.  Campos  Rodrigues,  presentemente  também  seu 
sócio  efectivo,  e  eminente  director-  desse  notável  Observatório ;  e  terceiro  as- 
trónomo o  Dr.  Gomes  Teixeira. 

Foi  êsle,  em  10  de  Julho  do  mesmo  ano,  nomeado,  por  decreto,  mas 
não  exonerado  de  substituto  de  Faculdade. 

De  poucos  meses  foi  a  ausência  dele  da  Faculdade,  regressando  a  ela,  a 
ocupar  o  seu  lugar  de  lente  substituto,  por  ter  sido  exonerado  a  seu  pedido, 
de  astrónomo,  em  28  de  Novembro  do  mesmo  ano. 

Falecendo  em  22  de  Novembro  de  1879  o  lente  de  prima  da  Faculdade, 
Dr.  Raimundo  Venâncio,  que  era  o  professor  de  cálculo,  foi  promovido  a  ca- 
tedrático o  Dr.  Rocha  Peixoto,  e  como  o  Dr.  Florêncio  Barreto  Feio  estava 
doente  e  em  via  de  jubilarão,  tomou  desde  logo  Gomes  Teixeira  conta  da 
cadeira  de  análise,  ficando  Rocha  Peixoto  na  de  geometria  descritiva. 

Pouco  depois  jubilava-se  Rarreto  Feio,  sendo  por  consequência  Gomes 
Teixeira  promovido  a  catedrático,  e  tomando  posse  em  Fevereiro  de  1880, 
conservou-se  na  regência  da  cadeira  sua  predilecta  durante  todo  o  tempo 
que  permaneceu  na  Universidade  de  Coimbra. 


7  BÍ0GRÀF1A   DE   FRANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  12Ô 

da  onde  dos  primeiros  anos  de  magistério  Gomes  Teixeira  pre- 
leccionou,  que  vai  agora  recebei  o  seu  nome,  e  nela  vai  igualmente  ser  colo- 
cado o  sen  busto  em  bronze,  sobre  um  pedestal  de  mármore,  constituindo 
este  pequeno  monumento,  erigido  por  iniciativa  da  actual  Faculdade  de  Scién- 
cias  da  l  niversidade  de  Coimbra  a  mais  justa  e  honrosa  homenagem  prestada 
ao  professor  que  tanto  a  elevou  dentro  e  fora  do  pais. 


Como  investigador  o  Dr.  Gomes  Teixeira  possui  no  mais  alto  grau  um 
espirito  essencialmente  generalizador,  que  lhe  permite,  induzindo  sobre  fór- 
mulas ou  propriedades  conhecidas,  obter  a  lei  geral  donde  dimanam  muitos 
resultados  novos. 

Dada  tal  orientação,  muitos  consideravam  o  ensino  que  êle  ministrava 
na  Faculdade  de  matemática  teórico  de  mais,  principalmente  não  se  desti- 
nando a  maior  parte  dos  seus  alunos  à  formatura  em  matemática,  mas  sim 
a  seguirem,  na  Escola  do  Exército,  os  cursos  das  armas  especiais,  do  antigo 
corpo  do  estado  maior  e  de  engenharia  civil.  E  dizia-se  que,  devido  a  essa 
orientação  do  seu  espirito,  Cumes  Teixeira  preocupava-se  talvez  mais  com  as 
generalizações  de  teorema-  e  de  fórmulas  do  que  se  importava  com  as  aplica- 
ções das  matérias  a  questões  qtie  mais  tarde  poderiam  ser  vantajosamente 
utilizadas  em  resistência  de  materiais,  em  hidráulica,  etc. 

Mas  a  culpa  não  era  sua,  mas  sim  resultante  dum  defeito  de  organização 
da  Faculdade,  por  nela  não  haver  uma  cadeira  de  análise  destinada  a  quem 
tivesse  de  frequentar  o  curso  completo  da  Faculdade,  e  outra  para  aqueles 
qae  seguissem  engenharia  civil  e  a  carreira  das  armas.  Hoje  acha-se  bas 
tante  remediado  esse  inconveniente  pela  criação  nas  Faculdades  de  Sciências 
de  uma  cadeira  de  análise  superior. 

Salvo  este  reparo,  Gomes  Teixeira  sabia,  como  ninguém,  interessar  os 
seus  discípulos  pela  sciência  que  professava. 

De  tempos  a  tempos  dava-lhes  questões  intrincadas  para  resolver,  e 
assim,  os  que  chegavam  a  resultados  satisfatórios,  iam  contribuir,  embora 
em  modestas  proporções,  para  o  progresso  da  sciência. 

É  assim  que  vemos  Duarte  Leite,  discípulo  de  Gomes  Teixeira  em 
188I-IS8-J,  estudar,  a  convite  do  mestre,  as  derivadas  de  ordem  qualquer 
de  a  em  ordem  a  X  quando  e  /'  (./■.  //  o),  trabalho  este  que  viu  a  111/,  da 
publicidade. 

No  mesmo  ano.  outro  discípulo.  Rodrigues  Braga,  há  pouco  falecido. 
sendo  médico  da  armada,  fez  idêntico  estudo,  também  muito  interessante, 


126  U10G1UF1A  DE  FHANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  (8) 

mas  diferente  do  de  Duarte  Leite.  Não  foi,  porém,  publicado3  existindo  ma- 
nuscrito na  Biblioteca  desta  Academia  (sala  dos  reservados). 

Duarte  Leite,  animado  pelo  bom  êxito  do  seu  primeiro  trabalho,  e  inci- 
tado pelo  Mestre,  abalançou-se  ;i  outras  questões  de  análise  incompletamente 
estudadas,  sendo  notável  a  forma  por  que  tratou  uma  delas,  que  o  grande 
Hermite  muito  apreciou,  fazendo  publicar  uma  parle  desse  estudo  no  Bulk- 
tin  de  Darbouxj  em  1883,  o  que  muito  honrou  o  talentoso  estudante. 

Em  1884,  Gomes  Teixeira,  por  conveniências  de  família,  solicitou  ê 
obteve  transferência  para  a  cadeira  de  Cálculo  diferencial  e  integral  da  Aca 
demia  Politécnica  do  Porto,  que  se  encontrava  vaga,  tomando  dela  posse  a 
26  de  Maio  daquele  ano. 

Ali  o  vemos  reger  ininterruptamente  essa  cadeira  desde  o  ano  lectivo  de 
1884-188'),  em  que  tive  a  honra  de  ser  seu  discípulo,  até  hoje,  ou  seja  du- 
rante trinta  anos. 

No  Porto,  continuou  Gomes  Teixeira  a  procurar  interessar  os  seus  alunos 
pelo  progresso  da  sciência  matemática,  dando-lhes  igualmente  questões  para 
resolvei 

Assim,  Raimundo  Ferreira  dos  Santos,  meu  condiscípulo,  já  falecido, 
obteve  a  expressão  da  derivada  de  ordem  n  de  y  em  relação  a  x,  em  função 
das  derivadas  das  variáveis  em  relação  a  nova  variável  independente. 

João  de  Oliveira  Ramos,  aluno  do  curso  de  1885-1886,  fez  um  interes- 
sante estudo  sobre  a  decomposição  das  funções  circulares;  o  mesmo  aluno, 
com  o  seu  condiscípulo  Casimiro  Jerónimo  de  Faria,  determinaram  os  coefi- 
cientes da  fórmula  que  dá  a  derivada  de  ordem  qualquer  das  funções  com- 
postas. Todos  estes  trabalhos  foram  publicados. 

Por  minha  parte,  também  nesse  tempo,  do  qual  conservo  as  mais 
gratas  recordações,  me  ocupei,  guiado  pelo  Dr.  Gomes  Teixeira,  de  várias 
questões,  em  que  me  sai  bem,  e,  animado  e  incitado  por  êle,  abalancei-me 
a  empresa  mais  arrojada,  tendo  a  satisfação  de  ver  os  meus  esforços  coroa- 
dos de  êxito  e  de  poder  estar  hoje  nesta  casa  a  falar  a  V.  Ex.as  de  meu  Mes- 
tre, com  o  qual  mantenho,  há  trinta  anos,  as  mais  amistosas  e  cordiais  re- 
lações. 

Com  que  entusiasmo  expunha  Gomes  Teixeira  as  doutrinas  que  se  acha- 
vam obscuras  ou  incompletamente  tratadas  no  livro  que  então  servia  de  texto, 
o  tratado  de  cálculo  de  Serret!  Ele,  que  se  exprimia  ordinariamente  com  difi- 
culdade, quando  chegava  o  momento  de  ter  de  expor  uma  teoria  nova,  ou 
qualquer  matéria  obscura,  fazia-o  com  tal  clareza  e  método  como  só  um 
grande  Mestre  o  podia  fazer. 

Nunca  se  me  apagará  da  memória  a  argumentação,  claramente  deduzida, 
que  vi  fazer,  em  1880,  a  Duarte  Leite,  por  ocasião  da  defesa  da  sua  magni- 


iíum.uaiia  ni.  i  ii  \.n<;im:m  mi\ii>  rir  riu  \ 


127 


Qca  dissertação:  «Integração  das  diferenciais  algébricas»,  no  concurso     um 
memorável  concurso  —  para  lente  da  Academia  Politécnica  do  Porto. 

Em  I88G  empreendeu  o  sábio  professor,  e  logo  realizou,  um;:  obra  de 
imenso  valor:  um  -Curso  de  análise  infinitesimais  que  estivesse  em  harmo- 
nia com  o  estado  em  que  então  se  encontrava  aquele  ramo  da  sciència  mate 
mática.  De  farto,  em  ISS7  apareceu  a  primeira  edição  do  seu  «Cálculo  dife 
rencialt,  sendo-lhe  por  esta  academia  concedido  em  1888  o  prémio  D.  Luís  I. 
correspondente  ao  ano  de  1887.  Nova  edição  saiu  cm  1890  o  uma  terceira 
nu  1896. 

Em  1889  foi  publicado  o  «Cálculo  integral»  (4.a  parte),  com  outra  edi- 
ção em  1893,  e  nu  1892  a  2."  parir  do  mesmo  «Cálculo  integral». 

Èsle  «Curso»,  em  três  volumes,  não  obstante  os  defeitos  rpu;  lhe  possam 
ser  apontados  — ,:  o  qne  há  que  não  tenha  defeitos? — é  um  tratado  composto 
segundo  um  plano  bem  definido  e  pensado,  com  novidade  na  exposição  das 
matérias,  dando  conta  de  todos  os  progressos  realizado.-  pela  análise;  numa 
palavra,  é  uma  obra  que  por  si  só  é  bastante  para  dar  nome  e  glória  a  um 
homem  de  sciència. 


Tendo  residido  o  Ur.  Gomes  Teixeira,  nesta  cidade  parte  do  ano  de 
IK7!>  e  dos  de  1883-1884,  devido  a  ser  Deputado  da  Nação,  tomou  activa 
parto  nos  trabalhos  da  I.'  classe  desta  Academia,  chegando  a  relatar,  não 
obstante  ser  sócio  correspondente,  os  pareceres  sobre  as  candidaturas  do 
professor  belga  Le  Paige,  e  do  Sr.  Schiappa  Monteiro,  actual  presidente  da 
secção  de  scièncias  matemáticas. 


Pouco  depois  de  obter  Gomes  Teixeira  transferencia  para  a  Academia 
Politécnica  do  Porto,  foi  nomeado  seu  director,  conservando-se  à  sua  frente 
até  1911,  em  que  fora,  por  decreto  de  23  de  Agosto,  nomeado  reitor  da 
nova  Universidade  do  Porto,  cargo  que  está  desempenhando  com  superior 
competência. 


Vejamos  agora  a  obra  scienlifica  do  sábio  professor. 

Logo  após  a  sua  entrada  para  a  Faculdade  de  matemática  da  Universi- 
dade de  Coimbra,  fundou  o  Jornal  de  scièncias  matemáticas  e  astronómicas, 
que  teve  gloriosa  existência,  marcando  época  nos  anais  da  sciència  portu- 
guesa. 


128  UI0GHAK1A  DE  KHANCISCO  GOMES  TE1XKIHA  (10) 

Apareceu  o  tomo  i  em  1877,  lendo-se  na  primeira  página  do  seu  fas- 
cículo I .°  o  seguinte : 

Começamos  hoje  a  publicação  dum  jornal  dedicado  às  sciências  matemáticas  e  astronó- 
micas. 

Quási  todos  os  países  da  Europa,  ainda  os  mais  pequenos,  sustentam,  além  das  publica- 
ções periódicas  publicadas  pelas  corporações  «científicas,  onde  vem  artigos  relativos  a  todas 
as  sciências,  jornais  de  iniciativa  particular  dedicados  exclusivamente  às  sciências  matemáti- 
cas ou  as  sciências  astronómicas.  Em  Portugal  não  existe  nenhum  deste  segundo  género. 

É  na  realidade  uma  empresa  difícil,  que  todavia  ousamos  empieender.  apesar  das  nossas 
poucas  forças,  confiados  no  auxílio  que  esperamos  dos  matemáticos  e  astrónomos  portu- 
gueses. 

É  nosso  objecto  a  publicação  de  memórias  relativas  às  matemáticas  puras,  â  mecâ- 
nica racional  e  aplicada,  à  física  matemática,  à  astronomia,  á  geodesia,  à  estereotomia,  etc. 

Em  cada  número  haverá  duas  secções,  uma  relativa  a  questões  de  matemática  superior 
outra  destinada  ás  pessoas  que  conhecem  só  as  matemáticas  que  se  ensinam  nos  nossos  cursos 
de  instrução  secundária,  na  qual  publicaremos  artigos  sobre  matemáticas  elementares,  noti- 
cias astronómicas,  etc,  para  cujo  bom  êxito  esperamos  que  concorrerão  os  professores  dos 
nossos  liceus  com  os  seus  artigos. 

A  este  entusiástico  chamamento  acorreram  logo  distintos  professores  das 
nossas  escolas,  como:  Francisco  Horta,  Mota  Pegado,  Amorim  Viana,  Schiappa 
Monteiro,  Marrecas  Ferreira,  Rocha  Peixoto,  e  tantos  outros,  que  publicaram 
nele  importantes  memórias  e  interessantes  notas,  servindo  de  incentivo,  a 
bem  dizer,  aos  novos,  que  sucessivamente  vieram  trazer  a  sua  contribuição 
para  a  realização  do  grandioso  monumento  que  o  Dr.  Gomes  Teixeira  pensara 
levantar. 

De  entre  esses  novos  devo  destacar  o  malogrado  tenente  de  artilharia  Mar- 
tins da  Silva,  que  tam  prematuramente  desapareceu  do  número  dos  vivos, 
e  outro  tenente  de  artilharia,  José  Manuel  Rodrigues,  hoje  coronel  e  profes- 
sor, e  que  há  muitos  anos  é  nosso  consócio,  seguindo-se-lhes  outros,  como 
Luis  Woodhouse,  Duarte  Leite,  Dr.  José  Bruno  de  Cabedo,  Dr.  José  Pedro 
Teixeira,  etc. 

O  Jornal  de  sciências  matemáticas  e  astronómicas,  que  adquiriu  notorie- 
dade durante  os  vinte  e  oito  anos  da  sua  existência,  contribuiu  poderosa- 
mente para  reanimar  em  Portugal  o  gosto  pelas  sciências  matemáticas,  e, 
graças  a  êle,  o  nosso  pais  tomou  sempre  parte  nos  trabalhos  internacionais, 
tendo  por  objecto  o  progresso  da  Matemática. 

Inútil  será  dizer  que  o  mais  assíduo  colaborador  do  jornal  fora  o  seu 
ilustre  director, 

Mantinha  já  a  esse  tempo  Gomes  Teixeira  relações  com  alguns  dos  mais 
ilustres  matemáticos  da  Europa,  que  por  êle  tinham  grande  simpatia,  a  saber: 
Hoúel,  que  logo  o  propôs  para  correspondente  da  Sociedade  das  Sciências 


(il)  BIOGRAFIA  DF.  HUNCISCO  GOMES  TEIXEIRA  (29 


Físicas  e  Naturais  de  Bordéus:  Hermite,  sempre  pronto  a  guiar  os  novos  talen- 
tosos, como  bem  acentuou  o  professor  Emílio  Boiei  em  uma  biografia  relati- 
vamente recente,  sendo  o  primeiro  sábio  estrangeiro  qne  veio  colaborar  ao 
jornal  de  Gomes  Teixeira,  logo  DO  2.°  fascículo  do  tomo  i;  Bellavilis.  Gutzmer, 
Lerchj  Rouché,  Júlio  Tannery,  e  outros  ainda  moços,  lais  como  Ernestd  Ce- 
saro  e  Maurício  d'Ocagne. 

Dentro  em  pouco  víamos  o  Dr.  Teixeira  colaborar  em  numerosos  jor- 
nais da  França,  Bélgica,  Itália,  Alemanha,  Áustria,  Suécia,  e  mais  tarde  em 
outros  de  Espanha,  Inglaterra  e  Holanda,  constituindo  este  lacto,  dada  sobre- 
tudo a  reputação  dalguns  deles  (como  o  Journal  de  Lionville,  e  de  Crellc, 
Acta  matemática  de  Mittag  Leffler,  Btdlelin  de  Darboux,  The  Quartely  Jour- 
nal, Annales  de  l'École  normak  supérieure  de  Paris,  Annali  di  matemática 
pura  ed  applicata.  e  as  memórias  das  Academias  dos  Linces  e  Rial  da  Bél- 
gica) o  seu  mais  brilhante  titulo  de  glória. 


Passemos  agora  em  rápida  revista  os  escritos  de  Gomes  Teixeira,  se- 
guindo a  ordem  cronológica,  e  assinalando,  no  decorrer,  os  seus  principais 
triunfos  académicos ; 

Sur  la  décomposition  des  fractions  ralionneUes  («Jorn.  de  Sc.  Math.  e 
Astr.»  Coimbra,  t.  i,  1877,  pp.  1-12,  17-24,  33-37,  49-56,  97-101,  113-1  Mj 
t.  ii,  1878,  pp.  33-41). 

Tendei  Hermite  deduzido  do  seu  Curso  de  análise  Fórmulas  directas  para  obter  os  nume- 
radores das  funções  simples,  nas  quais  se  pode  decompor  a  fracção  racional 


(x-a)  «+1  (x-b)  p  +  * 


generaliza  Gomes  Teixeira  esta  doutrina,  dando  às  express<3es  dos  numeradores  das  fracçCes 
simples  uma  forma  nova.  tendo  a  vantagem  de  apresentar  estes  numeradores  independente- 
mente uns  dos  outros. 

Noticia  sòbrc  Saturno  (Idem,  l.  i.  1877,  pp.  13-16,  25-32,  '»l-'»8.  (53- 
64,  90-93). 

Sur  le  nombre  des  fonctíons  arbitraires  des  intcgrales  des  équatíons  aur 
dérivées  partielles  («Mém.  de  la  Soe.  des  Sc.  de  Bordeaux»,  2."  série,  t.  u, 
1878,  pp.  315-321). 

Consiste  íste  trabalho  na  generalizado  «lo  teorema  de  Ampere  a  uma  equaçfio  rom 
qualquer  número  de  variáveis  independentes 


130  B106RAFIA  UE  FRANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  (12) 


Sobre  a  integração  das  equações  às  derivadas  parciais  lineares  de  2?  ordem 
(«Jora.  de  Sc.  Math.  e  Astr.»,  Coimbra,  t.  ii,  1878,  pp.  138-153). 

ExposiçSo  dum  método  novo  para  integrar  as  equações  às  derivadas  parciais  fle  á.* 
ordem,  no  raso  particular  da  funçío  arbitrária  do  integral  intermediário  conter  unicamente  as 
variáveis  x  e  y.  Faz  o  autor  depender  esta  integração  da  de  duas  equações  ás  derivadas  par- 
ciais de  1."  ordem,  nSo  simultâneas  e  independentes,  que  são  também  as  condições  necessárias 
e  suficientes  para  que  haja  um  integral  intermediário  com  uma  função  arbitrária  de  x  e  y. 

Noticia  sobre  BeUavitis  (Idem,  I.  n,  1878,  pp.  189-191). 

Sur  le  développement  des  fonctions  implicites  en  série  («Jorn.  de  Sc.  Math., 
Phy.  e  Nat.»,  Lisboa,  l.a  série,  t.  vn,  pp.  1879-80,  247-254;  «Journ.  de 
Math.  Purés  et  Appliq.»,  Paris,  1881,  pp.  278-282). 

Desenvolvimento  em  série  ordenada  segundo  as  potências  de  x  duma  função  de  u  defi- 
nida pelas  equações 

u  =  f(y) 
»  =  <+a,(p4(j)  +  a;2«p2  fo)-f +  •<■'"?„  (|fl 

obtendo  o  autor  uma  expressão  que  lem  como  caso  particular  a  fórmula  de  Lagrange. 

Sur  les  dérívées  d'ordre quelconque («Giora.  di  Matem.»,  Nápoles,  t.  xvni, 
1880,  pp.  301-307). 

Sobre  a  origem  e  sobre  os  princípios  do  cálculo  infinitesimal  («Jorn.  de  Sc. 
Math.  e  Astr.»,  Coimbra,  t.  m,  1881,  pp.  21-45). 

Sobre  a  multiplicação  dos  determinantes  (Idem,  m,   1881,  pp.   185—186). 

Demonstração  dum  lema  com  que  Dostor  faz  preceder  o  teorema  da  multiplicação  de 
determinantes. 

Sur  Vintégration  d'une  êquation  aux  dérivées  partielles  du  deuxième  ordre 
(«Comptes-rendus  de  1'Acad.  des  Sc.  de  Paris»,  t.  xcm,  1881,  pp.  702-703). 

Sur  lintégration  dune  classe  déquations  aux  dérivées  partielles  du  deu- 
xième ordre  («Bui.  de  1'Acad.  Roy.  de  Belgique»,  Bruxelas,  3e  série,  t.  m,  1882, 
pp.  486-488). 

Determina  o  autor  as  três  equações  para  que  a  equação  às  derivadas  parciais 

Ar  +  lís  +  Cí  +  D  =  o 
tenha  uni  integral  da  forma 

/'  (x,  y,  z.  p,  o)  =  <p  (x,  y) 
sendo  9  uma  função  arbitrária. 

Sur  une  formule  d'interpolation  («Mém.  de  la  Soe.  Roy.  des  Sc.  de  Liège», 
2.a  série,  t.  x,  1889,  pp.  i-7). 


13  BIOGRAFIA  DK  FRANCISCO  GOMES   rEIXEIRA  131 


Determinado  duma  função  inteira  de  j  de  que  se  conhecem  os  >  dores    issim  como  os 
das  suas  derivadas  para  valores  particulares  de  x  em  número  suficiente. 

Sur  la  théorie  des  imaginaires  (»Ann.  de  laSoc.Scient.de  Bruxelles», 
i    vii,  1883,  pp.  H7-427). 

Exposiçáo  nova  da  lheoria  de  Cauchj 

Solução  duma  questão  proposta  (*Jorn.  de  Sc.  Malh.  e  \sn.  .  C< bra, 

t.  v,  1*83,  pp.  [85-186  . 


Sur  1'interpolation  au  moyen  des  fonctions  circulaires  («Nouv.  Anu.  de 
Math.i,  Paris,  3.a  série,  t.  iv,  1885,  pp.  351-359). 

Exposicáo  do  desenvolvimento  de  certas  fórmulas  de  Hermite,  forni ndo  um  método 

de  interpolação  por  meio  duma  função  inteira  homo^-uea  de  sen.  x  e  de  cos.  r.  Dedução 
também  das  fórmulas  inversas  d iposiçáo  com  aplicarão  ao  cálculo  integral. 

Sur  In  détermination  de  la  partie  algébrique  de  Vintégrale  des  fonctions 
r-ationnelles  («Rendia  delia  R.  Accad.  dei  Lincei»,  Roma.  4.a8érie,  t.  i,  1885 
pp.   187-188). 

Sdbre  a  expressão  lim.  (l  +  ~)  («Rev.  Seient.  da  Soe.  Ateneu  do  Par- 
to, t.  i,  1885,  pp.  97-98). 

Sur  Vintégrale  j em  f{x)  dx  (aRendic.  delia  R.  Aecad.  dei  Lincei»,  Ro- 
ma, 4.'  série,  t.  i,  1885,  pp.  278-280). 

Sur  le  développement  des  fonctions  satisfaisant  à  une  question  différentielle 
(«Ann.  de  1'École  Norm.  Sup.»,  Paris,  3."  série,  t.  h.  1885,  pp.  321-324). 

I  rbrr  einen  Satz  der  ZaMentheorie  («Archiv.  der  Math.  und  Phys.»,  Ber- 
lim, ±a  série,  t.  ii-m.  1885,  pp.  265-268). 

Por  considerações  de  cálculo  integral,  demonstra  o  autor  um  teorema  que  havia  sido 
deduzido  por  meio  da  teoria  das  combinações. 

Sur  une  formule  d'Analyse  («Nouv.  Anu.  de  Math.»,  Paris.  3.3  série, 
t.  v,  1880,  pp.  36-39). 

Dedução  duma  fórmula  que  da  a  relação  das  expressões 

f(x)-f(x.)- -   ,J*~'r|,-/'i.,-.i 

calculadas  para  duas  funções  /'  e  F,  e  para  dois  valores  diferentes  de  i.  A  expressão  deduzida 
contém  a  de  Tavlor  e  algumas  fórmulas  de  f.auehv  ■'  de  1'eano. 


Í32  BIOGRAFIA  DE  KUANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  (14) 


Aplicação  da  fórmula  que  dá  as  derivadas  de  ordem  a  qualquer  das 
funções  de  funções  («Jorn.  de  Sc.  M;ith.  e  Astr.»,  (Coimbra,  t.  vii,  1886, 
pp.  150-  1  56). 

DeducSo  duma  fórmula  que  publicara  cm  1880  no  Giornale  di  balayliiii,  algumas  ex- 
pressões de  análise  que  se  obtém  de  ordinário  por  processo  diferente 

Sw  le  théorème  d'Eissenstein  («Anu.  de  1'École  Norm.  Sup.»,  Paris,  3.a 
série,  t.  m,  1886,  pp.  389-390;  Cassopis,  Praga,  t.  xxi,  1892,  pp.  100-102). 

Demonstração  elementar  dum  teorema,  abrangendo  o  de  Eissenstein,  sobre  as  séries 
inteiras  que  satisfazem  a  uma  equação  algébrica. 

Sw  une  l imiti'  relative  au.v  polygones  de  tegenâre  («Sitz.  der  Kgl. 
Bohmischen  Gesells.  der  Wissensch.»,  Praga,  1886,  pp.  19-20). 

Determinação  do  limite  para  que  tende  X  „,  quando  N  passar  pelo  infinito. 

Ueber  der  Eissenstein  schun  Satz  («Archiv.  der  Math.  und  Phys.»,  Leip- 
zig, 2.a  série,  t.  m,  1886,  pp.  315-317). 

Nova  demonstração  do  teorema  de  Eissenstein  baseada  sobre  a  formula  relativa  ás  de- 
rivadas de  ordem  qualquer  das  funções  implícitas. 

Extrai  t  d'une  lettre  à  M.  J.  Tanner;/  («Bui.  des  Sc.  Math.»,  Paris,  2." 
série,  t.  xi,  1887,  parte  i,  pp.  193-194). 

Estudo  duma  série  que  representa  uma  função  reciproca  doutra,  considerada  por  J. 
Tannery. 

Sur  un  théorème  de  M.  Hermite  relatif  à  l interpolation  («Journ.  fúr 
die  reine  und  angew.  Math.»,  Berlim,  t.  c,  1887,  pp.  80-84). 

Dedução  duma  fórmula  que  tem  como  casos  particulares  :  1 ",  uma  outra  devida  a  Her- 
mite, aplicável  quando  a  função  analítica  considerada  não  tem  poios ;  2.°,  alguns  resultados 
relativos  a  interpolação,  obtidos  por  este  eminente  geómelra. 

Sobre  o  desenvolvimento  em  série  das  funções  de  variáveis  imaginárias 
(«Jorn.  de  Sc.  Math.  e  Astr.»,  Coimbra,  t.  vm,  1887,  p.  17-24). 

Generalização  duma  fórmula  de  Mansion,  sobre  o  resto  da  série  de  Taylor,  às  funções 
de  variáveis  imaginárias,  por  meio  duma  fórmula  que  foi  publicada  por  Gomes  Teixeira  em 
1885  nos  Nouvelles  Annales,  e  deste  resultado  obtêm  uma  forma  nova  do  resto  da  série  de 
Taylor,  inteiramente  semelhante  à  que  aplica  às  variáveis  riais. 

Sobre  a  derivação  das  funções  compostas  («Idem»,  t.  vm,  1887,  pp.  120- 
131). 


(15)  BIOOR AFIA  DE  FRANCISCO  OOMES  TEIXEIRA  133 


Expõe  o  autor ;  I,1.  a  demonstração  do  teorema  relativo  a  derivação  das  funçOee  com- 

-  •.  uma  objecção  que  lhe  havia  sido  feita ;  3.°,  as  condições  para  as  quais  o  te nu 

tem  lugar. 

Exemples  de  fonctions  à  espaces  lacunaires  («Nouv.  Anu.  de  Ma  th.», 
Paris.  3.:i  série,  t.  vi,  1887,  pp.  13-48). 

Cita  Gomes  Teixeira  um  primeiro  exemplo  em  que  0  espaço  lacunar  6  um  circulo  :  de- 
pois um  outro  em  que  são  círculos  de  raioe  iguais:  finalmente,  estabelece  a  possibilidade  de 
haver  uma  função  coru  uni  número  infinito  de  espaços  lacunares. 

Démonstration  d'une  formule  <!>■  Waring  («Idem»,  3.1  série,  t.  vii,  1888, 
pp.  382-384). 

Nova  demonstração  duma  fórmula  de  yaring  que  da  a  soma  das  potências  do  grau  » 
das  raízes  duma  equação  algébrica. 

Sur  lajréduction  des  intégrales  hiper-elliptiques  («Sitz.  der  Kgl.  Bòhmi- 
scben  Geselis.  der  Wissench.»,  Praga,  1888,  pp.  222-227  ■.  «Jorn.  de  Sc. 
Math.  e  Astr».,  Coimbra,  t.  ix,  1888-1889,  pp.    164-170). 

Exírail  d'une  lettre  adressée  à  M.  Hermite  («Bui.  de  Sc.  Víath.»,  Paris, 
J.    série,  t.  xn.  1888,  i  parte,  pp.  272-276). 

Exposição  dum  teorema  sobre  a  derivação  dos  integrais  cujos  limites  são  infinitos. 

E iiini!  d'une  lettre  adressée  ii  M.  Hermite  («Bui.  de  Sc.  Math.  Paris,  2.' 
série,  t.  xu,  18*8,  i  parte,  pp.  228-231). 

Algumas  obsen  ições  para  demonstrar  que  é  preferível  estabelecer  directamente  um 
ceeto  teorema  (B),  que  se  deduz  de  ordinário  doutro  (A),  para  aproveitar  algumas  circuns- 
tâncias da  sua  demonstração  que  ficariam  desconhecidas  com  a  demonstração  do  teorema  ( \  |. 

Alguns  pontos  <ln  teoria  </<«  integrais  definidos  («Jorn.  de  Sc.  Math.  e 
Astr.».  Coimbra,  t.  ix,  1888-1889,  pp.  39-50). 

Estudo  dos  valores  médios  e  da  diferenciação  dos  integrais  definidos. 


Sabre  o  integral  f0  cot.  (x—a)  ,i.i  («Idem»,  t.  ix.  1888-1889,  pp.  113- 
liti:  «Nouv.  Anu.  de  Math.»,  Paris,  3.»  série,  t.  mu,  1889,  pp.  120-122). 

Dedução  drste  integral  dum  modo  elementar. 

Note  sur  1'intégration  des  équatiom  aux  dérivées  partielles  dn  second  or 
dre  («Idem»,  t.  ix,  1«88-1889,  pp.  103-172:  «Bui.  doía  Soe.  Math.  de 
France»,  Paris,  t.  xvn,  1889,  pp.  125-142). 


134  BIOGRAFIA  DK  FRANCISCO  GOMES  TKIXlilKA  (il)J 

Moiln  dc  obter,  por  considerações  directas,  a  transformação  e  simplificação  da  eiruaçâo 
às  derivadas  parciais  de  2.'  ordem. 

Hr  -f  2  Ks  +  L<  +  M  +  JV  i  ri  —  **)      0 

em  rme  //,  A.  /..  .)/,  A"  designam  funções  de  x,  y, :.  /<.  q. 

Extrah  d'une  kltre  adressée  à  M.  .1.  Tannery  («Bui.  des  Sc.  Math*.  Pa- 
ris, L2.;'  série,  t.  xm,  1889,  parle  i,  pp.  111-112). 

ExposiçSo  dum  teorema  sobre  a  derivação  das  integrais  de  limites  infinitos. 

Sur  le  développement  des  fonctions  implicites  («Journ.  de  Math.  Pures  et 
Appl.»,  Paris,  i."  série,  t.  v,  1889,  pp.  67-71). 

Desenvolvimento  em  série  ordenada  segundo  as  potências  de  x  duma  tinirão  u  definida 
pelas  duas  equações. 

«    -ti») 

y  =  í  +  *9l  (y)  +  x*-  o2  (y)  + +*„  +  ?„  fj  l 

A  fórmula  obtida  contêm  como  caso  particular  a  de  Lagrange. 

Sur  Vintégrále  f  rfix  («Sitz.  derKgl.  Bõhmischen  Gesells.  der  Wissench.» 
Praga,  1889,  pp.  118-120). 

Demonstração  de  dois  integrais  duplos  sobre  a  ipial  se  baseia  a  da  fórmula 

Extrait  d'une  letlre  adressée  à  M.  Hermite  («Bui.  des  Sc.  Math.»,  Pa- 
ris. 2.a  série,  t.  xiv,  1890,  parte  i,  pp.  200-208). 

Na  primeira  parle  desta  nota  trata  o  autor  do  desenvolvimento  de  funções  em  série  or- 
denadas segundo  as  potências  dos  senos,  a  qual  encerra  uni  teorema  que  representa  o  pri- 
meiro ensaio  nesta  doutrina.  Na  segunda  parte  generaliza  uma  fórmula  deduzida  por  Hermile 
para  o  caso  das  variáveis  imaginárias,  estudando  as  condições  de  convergência  da  série  que 
dele  resulta. 

Sur  les  êcrits  d'histoire  des  mathêmatiques  publiés  m  Portugal  («Bibl. 
Mat.»,  Stockolmo,  1890,  pp.  91-92). 

Eootension  d'un  théorème  de  Jacobi  («Monats.  fiir  Math.  und  Phys.», 
Viena,  t.  i,  1890,  pp.  481-484;  «El  Prog.  Mat.».  Saragossa,  l.a  série,  t.  i, 
1891,  pp.  121-125). 


(17i  BIOGRAFIA  DE  FRANCISCO  UOMES   1'EIXEIRA  \ '.'>'. 

Démontrer  lidentité  suivante 

l 


7   i      S 

'•  V         k       xl   ,-.:   '    (2!) 


le  signa  Sportant  sur  toutesles  valeurs  eittières,  positives  ou  nulles,  des  quanlilés 

■j..  ';.  . . .  >.  que  vérifient  les  deux  équalions  simultanées  «  3  ...  /.==»/. 
3  +  2)  ...  p''=i>.  («Mathesis»,  Gaod.  2.a  série,  i.  i,  1891,  pp.  143- 
144). 

Sobre  a  representação  da  função  log.  I'  (x)  por  um  integral  definido 
(«El  Prog.  Mal.».  Saragossa,  i.  x.  1891,  pp.  185-187). 

Demonstração  nova  da  fórmula  de  Gauss 

Extrait  dum  lettre  à  M.  Rouclu  («Nouv.  Ann.  de  Matb.»,  Paris,  3."  sé- 
rie, I.  x,   1891,  pp.  312-317). 

Generalização,  no  caso  de  n  irracional,  duma  demonstração  da  fórmula  de  Stirling. 

Notas  sobre  a  teoria  das  funções  elípticas  («Jorn.  de  Sc.  Math.  e  Astr.», 
Coimbra,  t.  x.  1891-1892,  pp.  150-155). 

Demonstração  directa  do  teorema  de  adição  de  funçãop  («);  do  seu  desenvolvimento 
em  série  e  das  suas  propriedades,  bem  como  das  das  funções  ;  í«i  e  o  («). 

Sobre  u  desenvolvimento  dm  funções  em  série  ordenada  •segundo  as  po 
téneias  de  senos  e  cosenos  («Idem»,  t.  s,   1891-1892,  pp.  35-48). 

Remarques  surVemploi  de  la  fonclion  p  (u)  dans  la  théorii  des  fonvtiom 
cUipliques  (tSitz.  der  Kg!.  Bóhraischen  Gesells.  der  Wissensch.»,  Praga,  1892, 
pp.  182-184). 

Considerando  a  função  sn.  it,  nota  o  autor  que  esta  função  lem  no  paralelogramo  dos 

periodos  'iA  e  i  i  F,  os  poios  i  A  e  ÍK      >  A',  e  que  os  resíduos  correspondentes  si 

~c         ■  sendo  A  o  módulo  de  sn  u. 

Sur  la  fonction  p  (u)  («Bui.  des  Sc.  Math.»,  Paris,  ~1.'  série,  l.  svi,  1892, 
parte  i,  pp.  76-80). 

Partindo  duma  definição  particular,  demonstra  o  autoi  que  aquela  função  satisfaz  a  uma 
cerla  equação  diferencial,  subsistindo  o  teorema  da  adição. 

.  Sobrr  la  descomposiciún  de  las  funeciones  ellipticas  sn.  u,  cn.  u,  dn.  u 
en  serie  de  fracciones  simples  («El  Prog.  Math  »,  Saragossa,  I.'  série,  I.  ii, 
1892,  pp.  <;:;-6n. 

Demonstração  nova  de  fórmulas  conhecidas. 

Mim    e  Mi:m.  da  Acad. —  Tomo  XII.  — Parte  II.-  -N.°  i  i 


136  BIOGKAFIA  DE  KltANCISCO  GOMES  TEIXE1KA  (18) 

Sobre  ,-i  desarrollo  de  p  (m)  eh  serie  de  fraccione» simples.  Idem,  l.8  série, 
l.  ii,   1892,  pp.  207-212. 

Demonstração  nova  de  fórmulas  conhecidas. 

Extrait  d' une  letlre  adressée  à  M.  Hermile  («Bui.  des  Sc.  Math.»,  Paris, 
2.'  série,  I.  xvu,  1893,  parte  i,  pp.  29-32. 

Modo  simples  de  formar  as  funrõeí.  analíticas  que  admitem  um  circulo  por  espaço  la- 
cunar, baseando-se  em  um  teorema  do  qual  se  encontra  uma  demonstração  intuitiva  no  Tra- 
tado de  análise  de  Pieard. 


Eis-nos  chegados  a  1895,  em  que  se  deu  um  facto  muito  honroso  para 
Gomes  Teixeira,  e  que  passou,  por  assim  dizer,  desapercebido  no  nosso 
país,  qual  foi  o  Prémio,  fora  de  concurso,  que  obteve  a  sua  memória  :  «Sobre 
o  desenvolvimento  das  funções  em  série»,  apresentada  ao  concurso  ordinário 
para  prémio  aberto  em  1893  pela  Academia  Rial  das  Sciências  de  Madrid. 

Esta  Academia  organiza  todos  os  anos  um  certame  scientifico,  para  o 
qual  há  sempre  três  pontos:  um  de  matemática,  outro  de  física  e.  o  terceiro 
de  sciências  naturais,  consistindo  as  distinções  em  prémio,  accessit  e 
menção  honrosa. 

O  autor  da  memória,  para  ser  admitido,  há-de  ser  ignorado  até  decisão 
final.  O  seu  nome  fica  oculto  e  a  memória  é  analisada  e  julgada,  sem  indi- 
cação alguma  acerca  do  seu  autor. 

O  tema  sobre  matemática  para  o  concurso  de  1893  era  o  seguinte: 
«Exposición  razonada  y  metódica  de  los  desarrollos  en  serie  de  las  funcciones 
matemáticas.  Teoria  general  de  los  mismos.  Significación  de  las  llamadas 
series  divergentes.  Investigación  de  una  série  tipica  de  la  qual,  à  ser  possi- 
ble,  se  deriven  como  casos  particulares  las  series  de  mayor  importância  y 
uso  en  analisis,  como  las  de  Taylor,  Lagrange  y  qualquiera  ótra  análoga». 

Tendo  o  Dr.  Gomes  Teixeira  concorrido  a  este  certame,  mas  apresen- 
tando a  sua  memória  em  português,  e  não  em  castelhano,  ou  em  latim,  como 
preceitua  o  regulamento  respectivo,  não  pôde  receber  o  prémio  ordinário  ;  no 
emtanto  a  Academia,  sciente  do  excepcional  valor  da  memória,  onde  o  espírito 
generalizador  do  seu  autor  se  revela  pujante,  tomou  a  deliberação  de  lhe 
conceder  prémio,  fora  do  concurso,  e  publicá-la  na  colecção  das  suas  Memó- 
rias, o  que  efectuou  em  1897. 


Continuemos  com  a  citação  dos  trabalhos  do  nosso  matemático: 


(19)  BIOGRAFIA  Dl;  I  RANCISl  0  GOMES    IE1XEIKA  137 

Sur  les  coarbes  parallèles  à  VelUpse  («Mém.  de  I  \<;kI.  roy.  de  Belgique  , 
Bruxelles,  t.  liii,  1895-1898,  pp.  1-39). 

Kxpõe  o  autor  a  teoria  analítica  das  ourvas  paralelas 
■  i-  pontos  múltiplos,  singulares,  etc,  assim  como  as  propriedades  destas  curvas  e  obtêm,  por 
uma  análise  elegante,  resultados  conhecidos.  <  loupa-se  em  seguida  das  pod  u  ii 

que  trata  a  fundo,  e  termina  i m  estudo  das  cui  lipse,  baseado 

método 

Sur  le  développemeni  des  [onctiom  en  série  ordonnée  suivani  les  puissance 
de»  sinus  ei  des  cosinus  de  la  variabh  («Journ.  fur  die  reine  und  angew. 
Uath.».  Berlim,  I.  cwi.   1896,  pp.   14-32). 

Nos  primeiros  parágrafos  desta  memória  sSo  estudadas  as  curvas  definidas  pelas  equa 
,   ;  ,    ■  r.   sendo  c  nina  constante  real   e  positiva,  e  .  unia   variável 

'I   +  '.</<• 

Se  ■•  <   1,  esta  equação  representa  uma  eurva  composta  de  dois  ramos  dispo 
métricamente  em  relação  ao  eixo  das  abi  il    ao  infinito,  fazendo  uma 

ondulações  de  igual  amplitude. 

Sendo  c        I.  se  /  l (a  i  fôi   halomorfa  aa  área  limitada  por  uma  das  ovais  repn 
tadas  pela  equação     sen.8;         c,  esta  função  pode    er  desenvolvida  eiu   ârie  da 

v,  |    \,  jen   >       \     i u "  .'■      

a  qual  se  verifica  para  todos  os  valore   do   i   representado    por] to   da    i     l  qui 

dera. 

Quaiiú"  jejaj        l,ea  função  /'(a.-)  holomorfa  aa  área  compreendida   entn    doi 

mos  da  curva  |  sen.  -        c, Is    id c  o  perii  do  2      i  funi  u  -  eptivi  I 

.i  seguinte  desenvoh  imento 

I 
-j-cos.  x  (B|       Bj  si  n.  '  +  B    sen.*  i 

Por  último  considera  o  autor  o  caso  da  função/  (x)  admitir  o  período  2u  ri 
ginário,  sendo  feita  a  aplicação  dos  resultados  obtidos  a  função  elíptica  sen.  x. 

Sur  le  àtveloppement  de  \  en  série  ordonnée  suivani  les  puissances  des  st 
nu*  de  la  variable  «Nonv.  \im.  de  Math.»,  Paris,  3.a  série,  t.  cxvi,  1896, 
pp.  260-274). 

Pemonstração  elementar  de  duas  fórmulas  que  publicou  em  1896  tio  Journal  de  Crelle. 

Sôbn  o  desenvolvimento  das  funções  em  série  («Mem.  de  la  l'«.  Acad.  de 
Sc.  de  Madrid,  t.  xvm.  1897,  pp.  1-116»). 

Mesta  memória,  premiada  pela  Academia  liial  «las  N-nmria-  <\>-  Madrid,  m-up 
Teixeira,  primeiramente  do  desenvolvimento  ordenado  segundo  as  potências  inteiras  e  posi 


138  U10URA1  l\  DE  FRANC1SC MES  TBIXElliA  (20) 


livas  duma  variável  iudependente,  rial  ou  imaginária,  expondo  os  diferentes  métodos  seguidas 
ilver  esta  questão,  estudando  assim  as  séries  de  Bernoulli  e  de  Taylor, 
completa  by.para  o  desenvolvimento  das  funções  das  variáveis  riais; 

raliza  às  funções  de  variáveis  imaginárias. 

método  de  Caucby,  baseado   na  teoria  dos  integrais  curvilíneos,  o 
di    Riemann    fundado  ia  teoria  das  funções  harmónicas,  e  o  do  VveierstrasN,  na  teoria  das 
ateiras. 

\  fórmula  do  desenvolvimento  das  funçõe>  em  série  segundo  as  potências  inteiras  e  ne- 
gativas, deduzida  por  Lanrent,  é  demonstrada  nu  3."  capítulo  pelo  método  de  Caucby,  e  no 
•">."  pelo  de  Weierstrass  e  Mittag-Leffler. 

Também  é  demonstrada  a  série  de  Burmann,  e  finalmente  deduz   uma  fórmula  nova 
de  Burmann,  Taylqr,  Lagrange  e  Laurent. 

Em  1897,  um  importante  acontecimento  veio  influir  na  orientação  scien- 
tifica  do  Dr.  Gomes  Teixeira. 

A  novo  concurso,  anunciado  pela  Academia  Kial  das  Sciéncias  de  Madrid 
em  1890,  se  apresentou  o  sábio  matemático.  O  assunto  que  serviu  para 
lenia  era: 

«Catalogo  ordenado  de  todas  las  curvas  de  qualquier  classe  que  han 
recebido  nombre  especial,  acompanado  de  uma  idea  sucinta  de  la  forma, 
ecuaciones  y  propriedades  geométricas  de  cada  una,  anadiendo  la  noticia  de 
los  libros,  6  autores,  que  primeramente  los  dieron  á  conocer». 

A  memória  que  êle  apresentou  tinba  por  titulo : 

Tratado  de  las  cuícas  especiales  notables,  tanta  planas  como  alabeadas. 

.Não  foi.  porém,  Gomes  Teixeira  o  único  concorrente.  A  esse  certame 
scientíflco  concorreu  também  o  professor  Gino  Loria,  da  Universidade  de 
Génova,  com  a  memória':  Las  curvas  planas  particulares,  algébricas  y  trans- 
cendentes. Teoria  e  historia.  Ensuyo  de  geometria  comparado  dei  plano,  e  ainda 
o  espanbol  D.  Joaquim  de  Vargas  e  Aguirre,  com  o  seu  Catalogo  general  de 
cuecas. 

Gomo  se  vê  pelo  meticuloso  relatório  que  a  comissão  encarregada  do 
exame  destas  três  memórias  redigiu,  o  qual  se  encontra  impresso  em  suple- 
mento ao  fascículo  xi  da  revista  El  Progreso  matemática  (Saragossa,  1900)., 
considerou  ela  digna  de  prémio  os  trabalhos  de  Gomes  Teixeira  e  de  Gino 
Loria,  o  que  levoji  a  Academia  de  Madrid  a  tomar  uma  resolução  sem  pre- 
cedente, a  saber:  solicitar  do  Ministro  do  Fomento  autorização  para  conceder 
extraordinariamente  dois  prémios,  em  vez  dum  único,  a  fim  de  serem  recom- 
peusadas  as  duas  aludidas  memórias,  como  era  de  justiça. 

O  Ministro  acedeu  do  melhor  grado,  sendo  pois  conferidos  dois  prémios, 
um  ao  geómetra  italiano  e  outro  ao  nosso  compatriota. 

15  para  notar  a  circunstância  de  que  tendo  Gomes  Teixeira  cultivado  du- 
rante 20  anos.  quási  exclusivamente  a  análise  infinitesimal,  onde  alcançou 


(21)  BÍOGB  II  IA  Dl    i  RAM  ISC IMES  n.l\i:ili\  L30 

merecida  uomeada.  e  concorrendo  a  um  certame  cujo  tema  proposto  versava 
sobre  geometria,  quis  o  acaso  que  o  seu  competidor  fosse,  sem  êle  o  suspei- 
tar; Gino  Loria,  um  dos  maiores  geómetras  da  actualidade;  puis  apesar  desta 
desigualdade,  o  trabalho  composto  pelo  analista  português  hombreou  honro 

sãmente  com  o  do  professor  Loria,  um  especialisti assunto    e  até  teve 

sobre  êle  superioridade  em  minúcias  e  em  clareza,  tanto  assim  que  .1  aca- 
demia de  Madrid  fez  preceder  a  publicação  da  memória  do  geómetra  italiano, 
pela  de  Gomes  Teixeira. 

Cousa  extraordinária !  Vem  de  is,*;:}  que  a  Academia  das  Sciências  de 
.Madrid  promove  anualmente  estes  certames,  e  em  matemática  apenas  até 
hoje  concedeu  ela  prémio  quatro  vezes:  em  IS7-J,  em  1893,  em  1897  e  em 
|s'.i!),  dois  deles  alcançados  pelo  nosso  sábio  compatriota. 

O  relatório  da  comissão  que  foi  encarregada  de  apreciar  as  três  memo 
rias  referidas,  foi  tornado  público  em  1900,  sendo  só  então  conhecidas  as 
suas  conclusões,  as  quais,  desta  vez,  não  passaram  desapercebidas  no 
país.  Assim,  a  l  niversidade  de  Coimbra  oficiara  em  i'\  de  Abril,  ao  Dr.  Go 
mes  Teixeira  e  ao  Presidenie  da  Academia  de  .Madrid,  congratulando-se  pelo 
sucedido,  e  pouco  tempo  depois  a  extinta  Câmara  dos  Pares,  em  sessão  de 
8  de  Maio  e  a  Câmara  dos  Deputados,  em  sessão  de  II  do  mesmo  mês, 
aprovou,  por  unanimidade,  votos  de  congratulação. 


V.pós  o  estudo  que  iam  bom  resultado  tivera.  Gomes  Teixeira,  o  antigo 
analista,  começou  a  ocupar-se,  de  preferência  e  com  entusiasmo,  de  quês 
iões  de  geometria,  que  adiou  muito  mais  interessantes  que  as  de  análise. 
evidentemente  muito  áridas,  chegando  um  dia,  em  conversa,  a  manifestar-me 
pesar  em  não  se  ter  há  mais  tempo  dedicado  á  geometria,  mais  fácil  que  a 
análise,  e  onde  se  encontram  a  cada  passo  horizontes  novos.  .Mas  o  meu 
querido  Mestre,  está  nesse  ponto  um  tanto  equivocado.  Se  hoje  êle  encontra 
na  geometria  esses  «horizontes  novos...  em  que  ela  é  tam  fecunda,  é  preci 
sãmente  por  ter  educado  o  sen  espirito  na  árida  e  difícil  análise. 


Continuemos  na  enumeração  dos  seus  trabalhos: 
Enveloppe  d'une  droite  de  longneur  donnée  s'appuyant  sur  dmx  droites 
1   l.lnterni.  des  Math.,  Paris,  t.  v,  1898.  pp.  162-163). 

SolnçSo  duma  questão  proposta. 


I  'lll  \!  IA   DE  FRANCISCO  liOMES  TKIXKIHA  (3i) 

Sobre  u  na  curva  natabíe  (*E1  Prog.  Mat.»,  Saragossa,  %.*  série,  1. 1,  1899, 
pp.  161-164). 

Determinação  analítica   do  invólucro  dam  segmento  rectilii de  comprimento  dado. 

apoiando-se  sobre  duas  rectas,  deduzindo,  por  um  processo  analítico  e  directo,  os  resultados 
mie  j;i  havia  obtido  na  solução  duma  questão  proposta  por  M.  Barjsien. 

Sm  les  séiies  ordonnêes  suivant  les  puissances  d' une  fonction  donnée 
iJouro.  Rir  die  reine  und  angew.  \lath.»,  Berlim,  1.  cxxii,  1000, pp.  97-128), 

\s  séries  de  Lagrange,  de  Burman  e  de  Laureiít  sâo  casos  particulares  duma  expressão 
apresentada  por  Gomes  Teixeira,  a  qual  dá  o  desenvolvimento  das  funções  em  série  ordenada 
do  as  potencias  positivas  e  negativas  duma  outra  função. 

Évaluation  directe  <!<■  Vaire  <l<-  la  développéc  de  Vellipse  («Llnterm.  des 
Math.í,  Paris  I.  vu,  1900,  pp.  20-21). 

Limaçon  </<■  Pasça/  (Idem,  idem,  p.  362). 

Sobre  los  furos  de  las  espiricas  de  Perseo  («Kl  Progr.  Mal.».  Saragossa, 
.'.'  série,  t.  a,  1900,  pp.  306-310). 

Métpdo  elementar  paia  determinar  as  espiritas  de  Perseo. 

Si  une  courbe  est  carráble  ri  rectifiable,  ses  courbes  parallèles  Ir  sont  filos 
aussi?  («Llnterm.  des  Malh.»,  Paris,  t.  vu,  1900,  p.  247). 

Síoticia  biográfica  sôbi*e  F.  da  Ponte  Horta  («Jorn.  de  Se.  Ma  th.  e  Astr.  », 
Lisboa,  I.  xiv,  1900-1901,  pp.  2-9). 

Sobre  anã  propriedud  de  los  foros  de  los  ovales  de  Cassini  («Rev.  Trim. 
de  Mal.»»,  Saragossa,  1.  í,  1901,  pp.  84-86). 

Demonstração  duma  propriedade  das  distâncias  aos  focos  dos  pontos  onde  uma  recta 
qualquer  encontra  as  ovais  de  Cassini. 

Sai  la  Irlrarasjiiilalr  ilr  Bcllavitis  («Mathesis,  Gand,  3."  série,  t.  xxi, 
1901,  pp.  217-219). 

Dedução,  pelos  métodos  ordinários  de  cálculo  diferencial,  das  propriedades  que  Bellavilis 
havia  estabelecido  pelo  método  das  equipulências. 

Em  1902  uma  nova  distinção,  digno  coroamento  das  anteriores,  veio 
consagrar  oficialmente  os  méritos  do  nosso  primeiro  matemático. 

O  Governo  Português,  por  portaria  de  8  de  Fevereiro,  inserta  na  folha 
oficial  de  3  de  Março,  determinou  que  se  procedesse  à  publicação  em  volume 
de  todos  os  trabalhos  do  Dr.  Gomes  Teixeira,  os  quais,  como  estamos  vendo, 
se  encontravam  dispersos  por  numerosos  jornais  e  colecções  de  memórias. 


33 


BIOGRAFIA  DK  FRANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  141 


Estão  já  publicados  seis  grossos  volumes,  o  pri iro  dos  quais  foi  em 

1904,  achando-se  o  sétimo  qo  prelo. 

De  190:2  ate  1908  foram  publicado  os  seguintes  trabalhos: 

Sw  la  courbt  éqmpotentielle  («Archiv.  dêr  Math.  und  Phys.B,  Leipzig, 
:!•  série,  t.  ih.  1902,  pp.  132-138) 

Exposição  dalgumas  indicações  sobre  ama  maneira  de  ipresentar  i  teoria  analítica  da 
curva  equipotencial,  deduzindo  algumas  propriedades  que  nSo  se  encontram  em  uma  memória 
de  Cayley. 

Sur  une  propriété  des  ovales  de  Descartes  («Mathesis,  Gand,  3."  série, 
1902,  pp.  138-437). 

Apontamentos  biográficos  sobre  Daniel  Augusto  da  Silva  («Boi.  da  Dir. 
Qar.  de  Instr.  Públ.»,  Lisboa,  i.  i,  1902,  pp.  829-840). 

Sur  le  développement  desfonctions  doublement  périodiques  de  second  espèce 
en  série  trigonometrique  (fJourn.  fiirdie  reine  und  angew.  Mathem.»,  Berlim, 
t.  ii.  cxxv,  1903,  pp.  301-318). 

Sabe-se  desenvolver  a  função 

f(í  +  2u)=f(i)  /■(,.•+  2  ,,')=  <■/(.»•) 

em  série  trigonométrica,  válida  em  lodo  o  plano  de  representação  da  variável  x,  e  também  em 
série  válida  na  zona  compreendida  entre  duas  rectas,  cuja  inclinação  sobre  o  eixo  é  igual  ao 
argumento  a. 

Gomes  Teixeira  demonstra  que  se  pode  tratar  esta  questão  no  caso  geral,  de  ser  c  um 
número  qualquer,  pela  teoria  dos  resíduo.-  de  Caucliv.  e  obtém,  não  somente  08  resultados  co- 
nhecidos, mas  ainda  outros. 

Sur  In  eonvergence  des  formules  d'interpolation  de  ÍMgranges  de  Gauss,  etr. 
(Idem,  t.  cxxvi,  1903,  pp.  116-162). 

Conhecendo  os  valores  que  toma  uma  funçSo  f  (x),  quando  se  atribui  a  x  os  vai 

O/,  «2,  ....  o„,  pode-se  formar  por  meio  da  formula  de  interpolação  de  Lagrange,  uma  fun- 
çSo inteira  de  r  que  tenha  estes  mesmos  valores  nos  pontos  o,,  a2, a,„. 

O  autor  ocoupa-se  na  primeira  parte  do  seu  trabalho  do  estudo  das  condições  para  que 
esta  funçSo  tenda  paia  f  (x)  quando  m  tender  para  o  infinito. 

Na  segunda  parte  do  sen  trabalho,  estuda  as  fórmulas  de  interpolação  trigonométrica, 
considerando  uma  fórmula  dada  por  Gauss,  e  mitra  indicada  por  llerniilc. 

Após  algumas  observações  gerais,  trata  Go -  Teixeira  em  particular  das  funções  perió- 
dicas, supondo  primeiramente  que    nt,  a2,  «3,  sejam  números  reais  arbitrários,  e  em 

seguida  raízes  da  equação  cos.  nx  =  o  ou  sen.  nx  —  o. 


I  'ri  B106BAFL4  r>K  FRANCISCO  GOMES  TK1XEIRA  (24) 


Sobri  la  temia  de  logarithemos  («Gac.  de  Mat.»,  Madrid,  t.  1,  1903. 
pp.  222-226). 

Kvunma  o  autor  se  ;i  unidade  pude  ser  base  dum  sistema  de, logaritmos, 

Remarques  sur  un  travail  publié  par  .V.  Bougaiev  («Bui.  de  la  Sor.  Malh. 
de  Kasan»,  2."  serie,  i.  xm,  pp.  1903,  74-78). 

Lu  ecuación  lineal  indeterminada  («Gac.  de  Mat.»,  Madrid,  t.  ri,  1904, 
pp.  68-70,  94-96). 

Sur  une  formule  trigonometrique  dHnterpolation  («L'Enseig.  Math.»,  Pa- 
ris-Genève,  t.  vi,  1904,  pp.  214-218). 

Dedução  duma  fórmula  para  delermiuar  uma  função  homogénea  do  grau  a-j-p (>.  —  1 1 

de  si'ii    c  p  cos.  .<•,  sendo  dados  os  valores  que  esta  função,  e  as  suas  derivadas  até  a  ordem 
-/.  -, >.,  tomam  nos  pontos  dados  .;-,,  ./••,,  .!■,, /■,. 

Sur  la  serie  <le  Lagrange  et  ses  applfcations  («Mém.  de  1'Acad.  Ro,\.  de 
Bêlgique»,  Bruxelles,  t.  i,  sciences,  1904,  pp.  1-29). 

Sur  les  fonctions  alef  de  Wronshi  («Prace  Mat.  Fizy»,  Varsóvia,  t.  xv. 
1904,  pp,  199-201). 

Método  paia  calcular  as  funções  alef  de  Wronski  por  meio  das  expressões  das  somas  das 
raízes  da  equação  algébrica  à  qual  elas  pertencem. 

Notes  sur  deux  travaux  d'Abel  relatifs  à  Vintégration  ães  différences  fintes 

(«Acta  Mat.»,  Estocolmo,  t.  xxvm,  1904,  pp.  235-242). 

Mittag-Leffler,  director  desta  notável  revista,  desejando  publicar  um  vo- 
lume comemorativo  do  centenário  do  nascimento  d'Abel,  dirigiu  convites  a  al- 
guns dos  mais  ilustres  matemáticos  da  Europa  para  nele  escreverem  artigos 
que  se  relacionassem  intimamente  com  a  obra  do  grande  analista  norueguês. 
Gomes  Teixeira  foi  um  dos  honrados  com  o  convite  do  director  de  Acta  Ma- 
temática, e  a  èle  acedendo  gostosamente,  colaborou  no  volume  especial  refe- 
rido com  o  trabalho  mencionado,  que  é  deveras  interessante. 

Sw  un  problème  de  Gauss  et  une  classe  particulière  de  fonctions  symêtri- 
ques  («Giorn.  di  Mat.»,  Nápoles,  t.  xlii,  1904,  pp.  337-338). 

Nula  sulVapplicaziom  dei  teorema  di  Fagnano  agli  archi  delia  Itimaca  di 
Pascal  e  delle  sinussoide  («Period.  di  Mat.  per  lTnsign.  Second.»,  Livorno, 
1.  xix,  1904,  pp.  275-277). 

Sejbre  una  propriedad  de  las  cubicas  circulares  («Rev.  Trim.  de  Mat.». 
Saragossa,  1.  ív,  1904,  pp.  214-215). 

Sur  la  théorie  des  cubiques  circulaires  et  les  quartiques  bicirculaires 
i  «Annali  di  Matemática  Pura  ed  Appl.»,  Milão,  3.a  serie,  t.  xi,  1904,  pp.  9-28). 


-'•">  BIOGRAFIA  DE  FRANCISCO  GOMES    rBIXElRA  143 


Determina  primeiramente  o  autor  os  centros  de  inversão  das  cúbicas  circulares  e  das 
quárticas  bicirculares.  Indica  um  modo  de  construir  as  quárticas  bicirculares  unicur.sais.  Fi 
nalmente,  demonstra  que  estas  curvas  sâo  as  cissoidais  de  duas  circunferências  reais  ou  ima- 
ginárias, existindo  era  geral  quatro  sistemas  de  circunferências  que  produzem  a  mesma  quár- 

lica. 

un  lhe  reclification  of  Booth's  logarithmic  eUipse  and  logaríthmk  hyper- 
b»la  < «The  Qaart.  Journ.  of  Puré  and  Appl.  Matli.»,  Londres,  t.  xxxvi,  1904, 

pp.  :ii5~fi0). 

Grandeza  dos  arcos  de  elipse  e  de  hipérbole  logarítmica  por  um  método  muito  mais  sim- 
ples que  o  empregado  por  Roolh. 

De  qualquier  series  quepueden  sumar-sepor  los  métodos  eletnentales  («Gae. 
de  \lat.,  Madrid,  t.  u,  l!)0í.  pp.  152-455). 

Ocupa-se  o  autor  duma  série  cuja  soma  é  e  que  se  pode  estudar  sem  sair  do 

domínio  da  álgebra  elementar 


Eis-nos  chegados  a  i90.*>.  Nesse  ano,  por  portaria  de  5  de  Maio,  foi  au- 
torizada a  Academia  Politécnica  do  Porto  a  iniciar  a  publicação  duma  revista 
consagrada  às  sciências  professadas  naquele  estabelecimento  de  ensino,  isto 
é.  às  matemáticas  puras  e  aplicadas,  à  física,  à  química,  à  história  natural  e 
às  sciências  sociais. 

A  nova  revista,  que  tomou  o  nome  de  Anais  Scientificos  da  Academia 
Politécnica  do  Parto,  e  é  dirigida  por  uma  comissão  de  lentes,  tendo  por  pre- 
sidente o  Dr.  Gomes  Teixeira,  substitui,  na  parte  relativa  às  matemáticas,  o 
Jornal  de  Sciências  Matemáticas  <■  Astronómicas,  que  findou  a  sua  publicação 
em  19(H. 

0  novo  jornal  scientífico,  onde  predominam  os  assuntos  matemáticos, 
tem  continuado  as  honrosas  tradições  daquele  que  substituíra,  e  adquiriu  já 
verdadeiro  renome  no  estrangeiro,  onde  está  sendo  muito  citado,  acorrendo 
a  èle  colaboração  de  matemáticos  ilustres  de  todos  os  países. 

Dada,  portanto,  a  alta  cotação  a  que  lá  fora  subiram  os  Anais,  as  memo- 
rias neles  publicadas,  não  ficam  sepultadas  nas  Bibliotecas  das  Universidades 
e  Academias,  como  infelizmente  sucede  com  numerosas  publicações  acadé- 
micas. 

Foi  neste  mesmo  ano  de  190."»  que  apareceu  o  tomo  xxu  das  Memórias 
da  Academia  Rial  das  Sciências  de  Madrid,  no  qual  foi  publicada  a  Memória 
sobre  as  curvas  notáveis,  premiada  em  1897,  e  a  que  aludi. 


144  HUliillAFIA  DE  FRANCISCO  GOMES  TEIXEIHA 


K  ela  dividida  em  catorze  capítulos.  Cada  curva,  que  recebe  um  nome 
particular,  e  é  tratada  directamente :  geração,  equação  cartesiana  ou  polar, 
tangente  e  normal,  raio  de  curvatura,  quadratura,  rectificação  e  uma  no- 
ticia histórica. 

Mais  tarde  foi  esta  Memória,  consideravelmente  desenvolvida,  e  com  mé- 
todo de  exposição  mais  harmónico,  publicada  em  francês,  sob  a  epígrafe : 
Traité  des  courbes  sptciales  rmarquable»  planes  cl  gaúches,  constituindo  tal 
obra  '.  que  teve  do  estrangeiro  um  sucesso  ainda  não  igualado,  por  ninguém, 
os  tomos  iv  (1908)  e  v  (1909)  das  Obras  de  Matemática  que  estão  sendo  pu- 
blicadas por  conta  do  Governo. 

Ainda  em  1905  e  nos  anos  seguintes  publicou  o  Dr.  Gomes  Teixeira  os 
os  seguintes  trabalhos: 

Sur  quelques  iittègrales  dèpàes  («Archiv.  der  Math.  und  Phys.»,  Leipzig, 
3.a  série,  t.  ix,  1905,  pp.  3-33). 

Fonction  numérique  («LTnterm.  des  Math.»,  Paris,  t.  xn,  1905,  pp. 
69-70). 

Sur  une  formule  pour  le  caleul  numérique  des  logarithmes  («Nouv.  Anu. 
de  Math.»,  Paris,  4.a  série,  t.  v,  1905,  pp.  36-45). 

Dedução,  pelo  cálculo  dos  valores  dos  logaritmos  dos  números,  duma  fórmula  que  po- 
derá ser  útil  em  algumas  circunstâncias. 

Sur  les  démonstrations  de  deux  formules  pour  lo  calcai  des  nombres  de 
Bemoulli  («L'Enseig.  Math.»,  Paris-Genève,  t.  vu,  1905,  pp.  442-446). 

Sur  le  nombre  des  tangentes  qu'on  peut  mener  à  une  courbe  par  un  point 
situe  sur  la  courbe  (Idem,  t.  vu,  1905,  pp.  138-141). 

Sobre  uma  questão  entre  Monteiro  da  Rocha  e  Anastácio  da  Cunha  («Ann. 
Sc.  da  Acad.  Pol.  do  Porto»,  t.  i,  1905,  pp.  7-15). 

Sur  quelques  propriétês  des  cubiques  («Nieuw  Archief  voor  wiskunde 
uitgegeven  door  hat  Wiskundig  Genootschap,  Amsterdam,  2.a  série,  1906, 
pp.  247-248). 

Sur  une  propriélé  de  la  strophoide  et  sur  les  cubiques  qui  voiueident  avec 
leurs  cissoidales  («Nouv.  Ann.  de  Math.»,  Paris,  4.a  série,  f.  vi,  1906,  pp.  337- 
343). 

Propriedade  interessante  da  estrofoíde,  n5o  ainda  notada,  e  generalização  do  resultado 
obtido. 


1  Foi  o  eminente  matemático  Dr  Haton  de  la  Goupillière  quem,  reconhecendo  o  alto 
mérilo  da  memoria  publicada  pela  Academia  de  Madrid,  aconselhou  e  incitou  Gomes  Teixeira, 
a  vertê-la  para  francos,  e  a  dar-lhe  maior  desenvolvimento,  constituindo  assim  um  Tratado 
único  no  género. 


BIOGRAFIA  DK  FRANCISCO  GOMES  ll.iU.iiiA  145 

Sur  deux  tnanièrcs  de  coiistruire  les  tphriques  de  Perseus  («Archie\  der 
Malh.  mui  Phys.»,  Leipzig,  3.    série,  t.  \i.  1906,  pp.  ti'i-71). 


Em  2o  de  Junho  de  1907  foi  Gomes  Teixeira  eleito  sócio  efectivo  desta 
Vcademia,  havendo  desde  logo  a  secção  de  sciências  matemáticas,  ao  parecer 
sobre  a  sua  candidatura,  deixado  bem  patente  que  reputava  aquele  ilustre 
professor  digno  da  mais  alta  distinção  que  esta  Academia  lhe  pode  confe- 
ferir:  a  de  sócia  de  mérito.  A  proposta,  devidamente  instruída,  para  tani  ilus- 
tre académico  ser  considerado  como  tal,  só  foi,  porém,  formulada  pela  secção 
de  sciências  matemáticas  alguns  meses  mais  tarde,  a  18  de  Janeiro  <le  1908, 
não  se  tendo  ainda,  sobre  ela.  prouunciado  a  Academia,  sendo  todavia  de 
crer  — esses  são  os  meus  votos      que  o  faça  brevemente. 

De  l!H)7  até  hoje  publicou  o  Dr.  Gomes  Teixeira  mais  os  trabalhos  que 
seguem: 

Sobre  a  construção  do  circulo  osculador  das  minais  circulares  v  das  guái 
ticos  bicirculares  (Ann.  da  Sc.  Acad.  Pol.  do  Porto»,  t,  n,  1907,  pp.   198- 

211). 

Oito  pequenas  notas,  bastante  interessantes,  relativas  à  construção  <io  circulo  oscu- 
lador,  quer  das  cúbicas  circulares,  quer  das  quárticas  bicirculares. 

Sobre  as  espiricas  de  Perseo  (Idem,  t.  n,  I!in7,  pp.  160-163). 

Determinarão  dos  pontos  de  inflexão  das  espiricas  de  Perseo,  assim  como  da  sua  área 
e  dos  volumes  dos  sólidos  gerados  por  revolução  em  Mmo  doa  eixos 

Sobre  os  hiperbolismos  das  cónicas  (Idem,  t.  n,  1907,  pp.  119-12(5). 

Examina  o  autor  os  hiperbolisiims  das  cónicas,  e  mostra  que  qualquer  curva  que  seja 
um  hiperbolismo  dum  círculo  que  éle  determina,  bem  como  qualquer  curva  que  seja  hiper- 
bolisrao  de  hipérbole  nâo  equilátera,  é-o  também  doutra  hipérbole  equilátera. 

Sóbrr  a»  integrais  de  Premei  (Idem,  t.  v,  l!i(i!t.  pp.  ("»«»— Tt* i . 

Os  integrais  de  Fresnel  podem  ser  obtidos  por  meio  da  inversSo  da  ordem  das  integra- 
ções dum  integral  duplo  com  limites  infinitos;  Gomes  Teixeira,  utilizando  este  método, obtém 
os  aludidos  integrais  por  uma  análise  diferente  da  que  lem  sido  empregada  pelos  autores  que 
tem  tratado  do  mesmo  assunto. 

Réponse  à  la  question  3507  (T.  Lemoyne),  («L'lnterm,  des  Mato.»,  Paris, 
t.  xvi,  1909,  p.  95). 


I  ili  BIOGRAFIA  Di:  FRANCISCO  COMES  TEIXEIRA  (28) 


Reponde  à  la  question  3551  (T.  Lemoyne),  (Idem,  p.  240). 
Réponse  à  la  question  3581  (G.  Espanet).  (Idem,  pp.  287-288). 
Sobre  >>  método  de  Gauss  para  o  cálculo  aproximado  dos  integrais  defi- 
nidos i  Anu.  da  \c:hI.  Pol.  do  Porto»,  1910,  pp.  220-223). 

Nova  demonstração  dura  resultado  obtido  por  Mansion  no  seu  Rèsumê  rfti  nuns  ã'al- 
gèbre. 

Réponse  à  la  question  3632  (T.  Lemoyne),  (Llatcrrn.  des  Math.»,  Paris, 
I.  xvii,  1910,  pp.  117-118). 

Réponse  à  la  question  3658  (Picpus),  (Idem,  pp.  142-143). 

[Igumas  propriedades  das  ouras  notáreis  («Jorn.  de  Math.  Phys.  e  Nat.», 
Lisboa,  2."  série,  t.  mi,  1910,  pp.  302-308). 

Dedução  de  interessantes  propriedades  da  trac.rriz  circular  e  da  cocleoide. 

Sur  la  développotde  de  la  parabole  du  second  ordre  («LInterm.  des  Math.», 
Paris,  t.  xvii.  1910). 

Note  i ir  Professor  Nuraniengar  Paper  («Proceed.  of  Edinburgh  Math., 
Soe»,  t.  xxix,  1910-1911). 

Sobre  una  nueva  proprieilarl  de  la*  risoides  y  nua  generalización  ile  estas 
curvas  («Rev.  de  la  Soe.  Math.  Espan.»,  Madrid,  t.  i,  1911-1912,  pp.  156- 
162). 

Note  ou  Recherches  of  Maclaurin  <>n  Circular  Cubics  («Proceed.  of  Edin- 
burgh Math.  Soe»,  t.  xxx,  1911-1912). 

Sur  une  propriété  de  la  lemniscate  de  Bemoulli  («Atti.  delle  Pontif. 
Accad.  dei  Nuovi  Lincei»,  Roma,  t.  lxv,  1912). 

Sobre  o  folium  de  Descartes  e  a  construção  duma  classe  de  cúbicas  -uni- 
versais («Ann.  da  Acad.  Pol.  do  Porto,  t.  vii,  1912,  pp.  186-189). 

Sur  les  courbes  semblables  à  leurs  conrbes  paraUèles  («LInterm.  des  Math.», 
Paris,  t.  xix,  1912). 

Sur  les  trajectoires  des  paraboles  cl  de  leurs  courbes  inverses  i«Giorn, 
di  Mat.»;  N;'ipoles,  t.  l,  1912). 

Sobre  algunas  propriedades  de  las  cubicas  («Rev.  de  la  Soe.  Mat.  Espan.», 
Madrid,  t.  u,  1912-1913,  pp.  5-12). 

Sobre  Ia  teoria  de  las  ruletas  (Idem,  t.  n,  1912-1913,  pp.  245-249). 

Sur  une  intégrak  ãéfinie  («Archiv.  der  Mat.  und  Phys.»,  Leipzig,  3.a  sé- 
rie, 1913,  t.  xxi,  p.  248). 

Pequenas  notas  sobre  a  geometria  das  curvas  especiais  («Ann.  da  Aca.  Pol. 
do  Porto»,  t.  vii,  1913,  pp.  121-124). 

Sobre  as  tangentes  à  astroide  (Idem,  t.  viu,  1913.  pp.  220-225). 


i^9i  BIOGRAFIA  DE  FRANCISCO  (ÍOMES  TE1XEMA  147 


Sui  la  développuhle  de  1'ellipse  («Nouv.  Vim.  de  VIath.»,  Paris, 
I.  xiii,  1913,  p.  III'. 

Sobre  as  roletas  das  cpicidóides  («Rev.   da  Univ.  de  Coimbra»,  t.  u, 
1913). 

Surtes  courbes  à  développée  interinédiaire  circulaire i «Munais,  fúr  Malhem. 
mui  Phys.»,  Vienna,  i.  xxiv,   1913,  p.  347). 

Sur  les  roulettes  circulaires  («Nouv,   \un.  de  Maih.».   Paris,  l."  sério, 
I.  xiii.  mu,  p.  438). 

Sm  les  courbes  isoptiques  et  les  podaires  (Idem,  Paris,  í.'  série,  i.  \i\, 
1914). 

Sur  la  courbe  représentée  par  1'équaiion  p      em2  sin  n  •  («Bendic.  dei 
Circ.  Mat.  di  Palermo»,  i.  xxxvii,  1914). 

Sur  ks  courbes  orbiformes  d'Euler  et  sur  une  généralisation  de  ces  cour- 
bes     \n-liiv.  der  Math.  and  Phys.»,  1914). 


No  decurso  de  quarenta  anos  de  vida  académica,  teve  o  nosso  sábio, 
além  dos  assinalados  triunfos  que  ligeiramente  deixo  apontados,  muitas  mais 
glorificações,  puis  assim  se  podem  chamar,  além  das  criticas  altamente  lison- 
geiras  feitas  aos  seus  escritos  nas  principais  revistas  matemáticas  do  mundo, 
a  sua  admissão  em  importantes  academias  e  sociedades  scientíflcas,  como  só- 
cio correspondente  e  sócio  honorário,  a  saber:  correspondente  da  «Société  des 
Sciences  Physiques  el  Naturelles  de  Bordeaux»,  da  «Société  Royale  des  Scien 
ces  de  Liège»,  da  «Kgl.  Bõhmische  Gesellschafl  derWissenschaften  de  Pragas, 
da  «Real  Academia  de  Ciências  Exactas,  Físicas  y  Naturales  de  Madrid»,  da 
Kaiserliche  Leopoldinish-Carolinische  Deutsche  \kademie  der  Naturforscher 
iHallei»,  ila  «Sociedad  António  Ai/ate,  do  México»,  da  «Société  Nationale 
des  Sciences  Natiuvilrs  el  Mathématiques  de  Cherbourg»,  da  «Accademia 
Pontifícia  Romana  dei  Nuovi  Lincei»,  da  «Real  Academia  de  Ciências  \  \r 
les  de  Barcelona»,  do  «Circolo  Matemático  de  Palermo»,  membro  honorário 
da  «Faculdad  de  Ciências  de  Lima  (Perui»,  e  sócio  honorário  do  «Instituto 
de  Coimbra-  e  das  «sociedades  de  matemática»  de  Madrid,  Karkow  e  Moscou. 

Tem  acompanhado  domes  Teixeira  o  movimento  matemático  do  estran- 
geiro, tendo  sido  sempre  o  seu  nome  incluído  — o  que  é  altamente  honroso 
para  Portugal — ,  nos  diversos  comités,  com  carácter  permanente,  organizados 
para  promover  o  progresso  das  sciências  matemáticas  e  do  seu  ensino. 

Assim  o  vemos:  vogal  da  «Commission  internationale  de  rEnseignement 
Mathématique»,  da  «Commission  permanente  internationale  duRépertoire  Bi- 
bliographique  de-  Sciences  Mathématiques»,  do   «Comité  de  Patronage  de 


148  BIOGRAFIA  DE  FRANCISCO  GOMES  TEIXEIRA  (30) 

L'Enseignemenl  Mathématique»,  e  colaborador  do  «International  Catalogue  nf 
Scienliflc  Litterature» . 

Km  1910,  de  Jiuiho  a  Setemb/o,  foi  Gomes  Teixeira,  com  outros  pro- 
fessores tia  Academia  Politécnica  do  Porto,  em  missão  de  estudo  ao  estran- 
geiro, onde  já  não  ia  ha  bastantes  anos. 

Percorreu  a  França,  Bélgica,  Holanda,  Alemanha,  Suiça  e  Itália,  visi- 
tando os  mais  importantes  institutos  de  ensino,  e  a  essa  viagem  bem  se  pode 
chamar  triunfal,  em  vista  das  homenagens  que  por  toda  a  parte  recebeu  de 
eminentes  homens  de  seiència1.  Assim,  não  devo  deixar  de  referir,  por  exem- 
plo, o  facto  do  grande  Klein  adiar  a  sua  ida  a  Berlim,  onde  tinha  de  ir  br 
mar  parle  nos  trabalhos  da  Câmara  dos  Senhores  (Câmara  Alta),  para  poder 
achar-se  em  Gottingue  por  ocasião  da  chegada  ali  de  Gomes  Teixeira  para 
visitar  a  celebre  Universidade.  Igualmente,  o  Dr.  Gntzmer,  sábio  professor 
da  Universidade  de  Halle,  foi  expressamente  a  Gottingue  encontrar-se  com  o 
o  nosso  matemático. 

Na  Itália,  assistiu,  na  Universidade  de  Pavia,  a  exames  de  mecânica,  ao 
lado  do  júri;  na  de  Bolonha,  a  quatro  exames  de  álgebra,  sentando-se  á  di- 
reita de  Pincherle;  e  na  de  Boma,  aos  de  geometria  analítica  e  geometria 
descritiva,  tornando  assento  entre  Castellnuovo  e  Pittarelli. 

Assistiu  também  a  um  doutoramento  ua  Universidade  de  Boma,  junto 
dos  examinadores. 

Em  1912  voltou  Gomes  Teixeira  ao  estrangeiro,  com  mais  dois  profes- 
sores da  hoje  Faculdade  de  Scièncias  da  Universidade  do  Pôrlo,  a  tomar  parte 
no  quiuto  Congresso  Internacional  de  Matemáticos,  que  se  realizou  em  Cam- 
bridge de  22  a  28  de  Agosto. 


Pela  despretensiosa  exposição  que  acabo  de  fazer  aos  meus  prezados 
consócios,  vè-se  que  a  carreira  de  Gomes  Teixeira,  quer  como  estudante, 
quer  como  professor  e  académico,  numa  palavra,  como  sábio,  que  tem 
levado  o  nome  português  a  todos  os  recantos  do  mundo,  é  verdadeiramente 
notável,  e  por  isso  compreendem  V.  Ex.as  quam  justificada  é  a  manifestação 
que  em  breve  se  vai  realizar  em  Coimbra. 


1  Vide  a  série  de  Cartas  publicadas  no  Comércio  do  Pértu  n."  121  e  124,  de  24  u  27 
de  Maio,  n."  128,  130,  132,  135,  143,  146,  147  e  132,  de  1,  3,  8,  9,  18,  23,  34  e  30  de  Junho. 
e  n.<"  155,  159.  168,  169,  de  3,  8,  15  e  20  de  Julho  de  1910. 


(31)  BIOGRAFIA  DE  FRANCISCO  GOMES   iki\iii;\  L49 

Como  discípulo  que  fui  de  Gomes  Teixeira,  associando-me  do  coração  a 
essa  homenagem,  julgo  do  meu  dever  rogar  a  V.  i'.\  ',  Sr.  Presidente,  se 
digne  propor  á  Assemblea  Gemi  um  voto  de  congratulação  da  nossa  Acade- 
mia pelo  alto  preito  com  que  vai  ser  honrado  um  seu  ilustre  sócio  efectivo, 

glória  da  nossa  Pátria. 

Lisboa,  em  i  de  Abril  de  191  i. 


A    LITTERATURA    HESPANHOLA 


PORTUGAL 


OUSA       VITERBO 


Iniroducção 

A  bibliographia,  para  que  não  pareça  unicamente  sciencia  de  livreiro,  deve 
ser  a  estatislica  da  actividade  intellectual  d'um  povo;  o  quadro,  para  assim  di- 
zer, esphygmographico,  onde  se  venham  reproduzir  as  pulsações  cerebraes 
duma  nacionalidade,  o  grau  mais  ou  menos  elevado  do  seu  funccionalismo  pen- 
sante. Um  inventario  d'esta  natureza,  rigorosa  e  metdodicamente  coordenado, 
ha-de  forçosamente  apresentai -nos  o  valor  moral  duma  rara  ou  d'um  estado, 
o  contingente  com  que  tem  contribuído  para  a  marcha  da  civilização,  para  os 
progressos  da  humanidade.  A  lilleratura,  no  sentido  mais  lato  da  palavra,  é 
o  espelho  onde  se  vem  reflectir  todas  as  aptidões,  de  qualquer  natureza  que 
cilas  sejam,  e  quem  tiver  perfeitamente  organizados  os  seus  quadros  litte- 
rarios  poderá  avaliar  da  sua  pujança  em  todos  os  ramos  das  manifestações  do 
espirito,  quer  estheticas,  quer  scientificas,  quer  proflssionaes. 

A  bibliographia  peninsular  tem  já  produzido  trabalhos  importantes,  mas 
ainda  está  longe  de  satisfazer  o  ideal  a  que,  na  nossa  humilde  opinião,  se 
pode  aspirar.  Tanto  a  Hespanl.a  como  Portugal  possuem,  n'este  género,  obras 
consideradas  justamente  dassicas,  como  as  Uibliolhecasde  Nicolau  António  e  de 
Barbosa  Machado,  mas  esses  monumentos  não  exprimem  de  per  si  só,  dum 
modo  completo,  o  grau  de  vitalidade  da  civilização  ibérica.  Depois  dos  traba- 
lhos d'aquelles  eminentes  bibliographos,  muitos  outros  se  tem  realizado,  tanto 
lá  como  cá,  mas  ha  muita  especialidade,  que  ainda  não  foi  convenientemente 
explorada,  e  falta,  portanto,  um  estudo  synthetico,  formado  sobre  essas  mono- 
IIist.  k  Hbm.  da  Ac.au—  Tu  mo  mi  parte  h.—  N.°  5  1 


152  A  LITTERATURA  HF.SPANHOLA  EM  PORTUGAL  (li) 

grapbias  indispensáveis,  que  dê  a  nota,  luminosa  e  vibrante,  unisona  egual- 
mente,  do  poderoso  organismo  psy enológico  da  nossa  raça. 

Por  certo  que  a  bibliographia  não  seria  bastante,  de  per  si  só,  a  nos  apre- 
sentar a  soinina  completa  de  todas  as  nossas  aptidões,  mas  ministrar-nos-hia, 
pelo  menos,  os  indícios  indispensáveis.  Assim  a  litteratura  artística  hespa- 
nbola,  assaz  restricta,  está  bem  longe  de  nos  fornecer  uma  idea  perfeita  do 
estado  Oorentissimo  que  attingiram  as  suas  importantes  escolas  de  pintura, 
entre  as  quaes  sobresaem  as  de  Madrid  e  de  Sevilha.  O  que  dizemos  com  re- 
lação à  pintura  poder-se-hia  applicar  a  outros  ramos  da  nossa  actividade,  ás 
artes  industriaes,  por  exemplo. 

Não  faltará  porventura  quem  estranhe  a  generalização  que  fazemos,  appli- 
cando  simultaneamente  as  nossas  considerações  a  Portugal  e  á  Hespanha.  O 
reparo,  porém,  tornar-se-ha  ocioso,  e  até  certo  ponto  importuno,  para  aquelles 
que,  aprofundando  a  historia  da  península,  tenham  reconhecido  a  intimidade 
que  sempre  nos  uniu  e  quasi  nos  irmanou,  sobretudo  em  certas  épocas  ca- 
racterísticas. Hoje  parece  que  estamos  mais  distanciados  da  Hespanha  que  da 
França,  mas  os  laços  de  família  não  se  extinguiram,  nem  se  poderiam  extin- 
guir, por  mais  alta  que  fosse  a  barreira  da  ignorância,  por  mais  fortes  que 
fossem  os  preconceitos  ou  as  antipathias.  Temos  para  nós  que,  longe  de  ser 
uma  inconveniência  ou  uma  leviandade,  será  até  um  acto  de  patriotismo  inata- 
cável o  demonstrar  qual  o  grau  de  influencia  civilizadora,  que  mutuamente  se 
tem  exercido  as  duas  mais  importantes  nacionalidades  da  península,  mostrando 
qual  a  parte  com  que  cada  uma  tem  contribuído  para  afirmar  a  exuberância 
vital  da  raça  ibérica.  O  confronto  não  nos  será  humilhante,  antes  nos  será 
glorioso,  principalmente  levando-se  em  linha  de  conta  a  proporcionalidade  dos 
nossos  recursos. 

Houve  uma  época  em  que  a  língua  portugueza,  elevando  litterariamente 
o  dialecto  galiziano,  e  depurando-se  na  convivência  e  na  escola  do  lyrismo 
provençal,  chegou  a  exercer  incontestada  supremacia  na  vida  culta  da  penín- 
sula. O  predomínio  da  corte  irovadoresca  de  D.  Dinis  circumscreveu-se,  po- 
rém, ás  regiões  da  poesia,  e  foi  limitado,  tanto  intensiva  como  extensiva- 
mente. A  lingua  castelhana  levou  a  palma  áquella,  cantando  afinal  o  triumpho 
definitivo.  O  seu  rasto  é  extenso  e  duradouro  na  nossa  litteratura,  assim  como 
é  extenso  o  rasto  que  deixaram  os  nossos  escriplores  na  litteratura  hespanhola. 
O  espirito  portuguez,  adoptando-lhe  as  formas  materiaes,  chegou  todavia,  em 
alguns  casos,  a  imprimir-lhe  caracter.  Que  o  diga,  por  exemplo,  a  Diana  de 
Jorge  de  Montemor. 

É  principalmente  no  século  xvi  e  no  século  xvu  que  a  litteratura  hespa- 
nhola se  torna  quasi  commum  aos  dois  paizes.  Este  phenomeno  explica-se  fa- 
cilmente, tendo  concorrido  para  elle  diversas  causas,  umas  naturaes,  outras 


(lll)  A  UTTERATDBÃ  HESPANHOLA  EU  PORTUGAL  153 

de  momento.  As  duas  cortes  não  só  se  estreitaram  fortemente  pelos  laços  de 
família,  mus  identificaram-se  na  sua  politica  e  nas  suas  aspirações  religiosas. 
A  vinda  frequente  de  princesas  bespanholas  trazia  aos  nossos  paços  um  sé- 
quito numeroso,  que  se  impunha  sem  grande  difficuldade  e  que  era  acceito 
gostosamente.  A  linguagem  castelhana  tornou-se  habitual  entre  os  coi 
que  procurariam  assim  lisonjear  as  rainhas.  De  Portugal  também  iam  prince- 
sas para  Castella,  e  isto  explica  o  apparecimento  n'aquella  corte  de  figuras 
salientes  como  Jorge  de  Montemor  e  Rui  Gomes  da  Silva,  mas  a  corte  de  Ma- 
drid absorvia  e  identificava  a  influencia  estranha. 

As  ordens  religiosas  eram  um  meio  frequente  de  relações  internacionaes. 
Numerosos  frades  bespanhoes  pregavam  nos  nossos  púlpitos,  ouviam  de  confis- 
são nos  nossos  confessionários  e  auxiliavam  na  cathechese  do  gentio  os  nossos 
evangelizadores.  Hasta  citar  Luis  de  Granada,  Anchieta,  S.  Francisco  Xavier. 
Muitos  d'elles  subiram  ás  cadeiras  do  episcopado,  e  eram  os  conselheiros  es- 
pirituaes  de  muitos  membros  da  família  real. 

A  reforma  da  Universidade  muito  contribuiu  também  para  accentuar  e 
generalizar  a  influencia  hespanhola.  D.  João  III  chamou  bastantes  professores 
daquella  nacionalidade,  alguns  dos  quaes  regentavam  com  grande  credito  em 
Salamanca.  Entre  elles  figura  como  proeminente  o  afamado  canonista  Martin 
de  Azpilcueta  Navarro.  Nos  seus  Diálogos  de  varia  historia,  Mariz,  referin 
dose  á  reforma  da  Universidade,  dá-nos  couta,  dos  professores  que  vieram 
do  estrangeiro.  Enxertaremos  aqui  os  trechos  que  se  referem  aos  bespanhoes: 

«Estes  forão  na  faculdade  de  theologia  o  Doutor  AíTonso  de  Prado,  na 
doutrina  de  Santo  Thomaz  eminente :  veyo  da  Vniversidade  de  Alcalá  para  a 
cadeyra  de  Prima.  Frey  Martinho  de  Ledesma  Castelhano,  da  Urdem  dos  pre- 
gadores, veyo  para  Lente  de  Vespora.  0  Doutor  Francisco  de  Mõsão  Caste 
lhano,  Pregador  muylo  douto  &  em  todas  as  partes  muyto  erudito,  veyo  tam- 
bém de  Alcalá ...» 

«Lentes  da  faculdade  de  Cânones  forão  em  a  Cadeyra  de  Prima  o  Doutor 
Martin  de  Azpilcueta  Navarro,  bem  conhecido  no  Mundo.  Estudou  em  Alcalá 
Artes  &  1'hilosophia;  em  Tolosa  Cânones  A  Leys,  A  logo  na  mesma  os  ensinou 
com  grande  nome;  d'ali  veyo  a  Salamanca  A  nella  quatorze  aiinos  a  enrique- 
ceu eõ  sua  doutrina.  Depois  solicitado  por  eIRey  Dõ  João  III,  de  Portugal,  4 
rogado  pelo  Emperador  Carlos  Quinto,  veyo  a  dar  principio  á  ultima  trasla- 
dação desta  Vniversidade,  A  a  ensinai-  o  Mundo,  assi  cõ  a  vida,  como  com  a 
sciencia,  que  foy  profundíssima,  muito  uniuersal  A  Catholica.  Para  a  Cadeyra 
de  Vespora,  juntamente  com  Nauarro,  veyo  o  Doutor  Luys  de  Alarcão,  tão 
uobre  em  sangue,  como  em  engenho  A  fertilidade  de  memoria  excellente,  em 
que  em  seu  tempo  ninguém  lhe  levou  a  vantagem.  0  Doutor  Joam  Morgovejo 


(54  A  UTTERATURA  HESPANBOLA  EM  PORTUGAL  (iv) 

na  muyta  continuarão  do  esludo  muylo  notauel,  de  na  bondade  da  vida  excel- 
lente». 

«A  faculdade  de  Leys  derão  principio:  O  Doutor. . .  &  sacedeolhe  o  Dou- 
tor Sãta  Cruz  Castelhano,  muy  grande  jurisconsulto». 

Com  relação  ao  Collegio  das  Artes  diz  o  mesmo  historiador: 

«E  o  mestre  João  Fiz,  que  tendo  ensinado  Rhetorica  nas  duas  Vniuersi- 
dades  de  Salamanca  &  Alcalá,  nesta  também  fez  o  mesmo  cõ  muyta  satisfa- 
ção e  applauso:  porque  foy  perfeyto  Orador  &  tão  geral  em  todas,  que  rara- 
mente se  acharia  seu  igual,  em  nenhua  Yniuersidade  do  mundo». 

Nada  mais  curioso  que  o  phenomeno  que  se  dá  na  elíervescencia  da  civi- 
lização portugueza,  no  século  xvi,  quando  o  nosso  espirito  e  a  nossa  activi- 
dade se  desenrolavam  d'uma  maneira  assombrosa.  Nenhum  povo,  n'essa  época, 
se  mostrou  mais  caracterizadamente  nacional,  pela  audácia  das  nossas  desco- 
bertas marítimas,  e  nenhum  povo  lançou  mais  elementos  estranhos  no  cadi- 
nho da  sua  civilização.  O  amor  da  sciencia  e  a  aventura  do  mundo  desconhe- 
cido impulsionavam-nos  egualmente.  Ao  mesmo  tempo  que  uma  chusma  de 
fidalgos  e  marinheiros,  de  soldados  e  pilotos,  se  abalançava  na  descoberta  e 
na  conquista  de  novos  mundos,  um  enxame  de  estudantes  talentosos  fre- 
quentava as  universidades  de  Hespanha.  de  França,  de  Itália  e  da  Bélgica,  dei- 
xando por  toda  a  parte  as  provas  da  sua  competência.  Muitos  discípulos. tor- 
naram-se  mestres,  e  mestres  eminentes,  e  na  própria  França  os  Gouveias, 
em  cuja  família  os  talentos  eram  hereditários,  chegaram  a  formar  uma  espé- 
cie de  dynastia  profissional l. 

Alguns  d'esses  estudantes,  que  tinham  alcançado  nome  em  Paris,  em  Bor- 
déus, em  Toulouse,  em  Salamanca,  em  Luvain,  e  n'outras  universidades 
ainda,  foram  chamados  por  D.  João  III  para  vir  propagar  a  sua  doutrina  e  os 
seus  methodos  de  ensino  em  Coimbra.  Com  elles  vieram  muitos  estrangeiros: 
franceses,  hespanhoes  e  d'outras  nacionalidades.  O  espirito  do  renascimento, 
que  percorria  então  a  Europa  como  uma  corrente  galvânica,  alimentava  egual- 
mente esse  bando  de  sábios,  ávidos  de  mostrar  os  seus  conhecimentos  e  de 
corresponder  ao  honroso  convite  do  rei.  Não  admira,  portanto,  que  o  classi- 


1  João  de  Banos  allude  ironicamente  aos  cabulas  portuguezea  que  cursavam  Paris,  e  di- 
rige-lhes  o  seu  remoque.  Na  sua  Grammnlica,  a  propósito  do  verbo  neutro,  formula  file  a  se- 
guinte oração  para  exemplo :  «Os  bómees  que  uã  a  Paris,  e  eslã  no  estudo  pouco  têpo,  e  fólgã 
de  levar  bóa  vida.  nâ  fica  có  muita  doutrina». 


(\)  A     UTTERATUBA  HKSfANHOI-A  EM  PORTUGAL  155 


cismo  desenrolasse  triumphante  a  sua  bandeira.  As  lingaas  antigas,  o  grego 
e  o  latira,  eram  o  vehiculo  indispensável  de  lodo  o  ensino.  Não  só  se  lia  por 
livros  latinos  e  gregos,  mas  até  o  idioma  do  Lacio  era  a  linguagem  familiar 
dos  estudantes.  Era  quasi  infamante,  mesmo  fora  das  aulas,  o  falar-se  a  lin- 
guagem vernácula.  O  autor  da  Descripção  e  debuxo  do  mosteiro  de  Santa  Cruz 
de  Coimbra,  estampado  na  oficina  Lypographica  do  mesmo  mosteiro  em  1541, 
dá-nos  este  testemunho:  »E  a  todos  he  opróbrio  falar  salvo  em  a  lingua  ro- 
mana ou  grega,  o  que  aos  olhos  dos  caminhantes  be  bii  espectáculo  di 
O  autor  da  Preparação  Espiritual  de  Catholicos,  obra  que  sahiu  anonyma  em 
Coimbra  dos  prelos  de  João  da  Barreira  e  de  João  Alvares,  a  \2  de  outubro 
de  1549,  explicando  o  motivo  por  que  pusera  no  corpo  da  obra  as  auctoridades 
ou  citações  em  latim,  dá,  entre  oulraSj  a  seguinte  razão:  «A  primeira  be  que 
eu  li/,  empremir  este  liurinho  em  Coimbra,  onde,  depois  que  sua  alteza  polia 
bondade  de  Deos,  e  por  sua  muita  virtude  creou  e  prãtou  esta  Católica  Vni- 
uersidade  ha  nella  tantos  e  tam  íamosos  letrados,  e  tantos  e  tam  singulares 
latinos:  e  frorece  nella  tanto  a  lingm  latina,  que  ato  os  meninos  que  nam 
sabem  ainda  falar  lingoagem,  saltem  já  lalar  latim».  Diego  Ximenez  Árias, 
indo  antecipadamente  ao  encontro  dos  reparos  que  lhe  poderiam  por  rja 
crever  em  vulgar,  dá  esta  satisfação  do  seu  procedimento:  «La  falta  de  la 
gloria  dei  Autor  por  escriuer  em  Romãce  (aunq'esto  ya  lo  vzan  graues  varo- 
nes)  se  recõpensara  suficiètemente  con  la  gracia  de  Vuestra  Alteza  y  prouecbo 
de  muchosí '. 

Alguns  escriptores  tinham  vergonha  de  escrever  em  vulgar  e  d'isso  se  pe- 
nitenciavam. Assim  o  filho  do  Dr.  Rui  Fernandes  pedia  vénia  de  seu  pae, 
sendo  jurisconsulto,  ter  escripto  em  portuguez  uma  obra  de  direito.  No  pro- 
logo do  seu  Libro  dr  la  verdâd  de  la  fé,  Fr.  João  Soares,  bispo  de  Coimbra, 
que  estudou  em  Salamanca,  julga-se  também  na  obrigação  de  dar  esta  des- 
culpa: «V  si  a  alguno  pareciere  que  la  tal  matéria  es  alta  fiara  linguage, 
acuerdesse  que  el  Credo  se  sabe  y  reza  em  romance  delos  que  nõ  sõ  letra- 
dos o  saben  la  lengua  latina.  V  lo  que  en  este  libro  se  trata  no  es  mas  que 
vna  declaracion  de  los  artículos  dei:  y  otras  cosas  de  la  sancta  fé  eatholica. 
Y  pues  es  bien  que  sepan  alguns  los  artículos  de  la  fé  in  romance,  tambien 
pin  deu  saber  la  declaracion  de  ellos  y  authoridades :  v  las  razones  que  a  esto 
siruens.  Mo  era  devido  lambem  ao  receio  que  linha  a  igreja  de  vêr  em 
vulgar  certas  obras  religiosas.  0  índice  de  D.  Jorge  de  Almeida  chegou  a 
prohibir  as  Horas  em  linguagem. 


li.  .Iu5u  111  do  mu  livro  /  -mi  .  m  I.l-Imm  .ih  I.V>J. 


156  A  LUTEHATUHA  BESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (.Vi) 


O  ensino  da  língua  latina  mereceu  sempre  singular  preferencia,  e  para 
o  demonstrar  basta  fazer  o  computo  das  grammaticas  latinas,  que  se  publica- 
ram em  Portugal  no  século  xvi.  Da  língua  grega,  que  saibamos,  ha  apenas  a 
de  Clenardo.  Meliodoro  de  Paiva  publicou  em  1532  um  Lexicon  Graecum 
&  Hebraicum,  impresso  no  mosteiro  de  Santa  Cruz,  que  nunca  pudemos  vêr, 
nem  sabemos  onde  exista  algum  exemplar.  O  hebraico  também  era  ensinado, 
como  se  Vê  da  obra  de  Heliodoro  de  Paiva,  e  d'uma  Grammatica  hebraea,  de 
Francisco  de  Távora,  impressa  em  Coimbra  por  João  Alvares  em  mdlxvi1. 
Ao  passo  que  durante  todo  aquelle  século  só  se  publicaram  duas  grammaticas 
portuguezas,  latinas  publicaram-se  as  seguintes,  de  que  temos  noticia  e  de 
que  vamos  dar  a  nota  cbronologica : 

1501. —  Thesaurus  Pauperum  sim  speculum  puerarum.  É  a  Grammatica 
de  Pastrana.  A.  R.  dos  Santos  duas  vezes  se  refere  a  esta  edição,  não  con- 
cordando, todavia,  nas  suas  descripções. 

1505. — Prosódia  Grammatica!  cum  summa  diligentia  correcta.  É  de  Es- 
tevão Cavalleiro,  e  foi  impressa  por  João  Pedro  Bonhomini. 

1513. — 2.a  edição  da  Grammatica  de  Pastrana,  de  que  existe  um  exem- 
plar na  Bibliotheca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro.  Pela  subscripção  final,  vê-se 
que  collaborou  na  obra  Pedro  Rombo,  celebre  professor  de  grammatica  que 
houve  na  Universidade  de  Lisboa,  e  de  quem  fala  com  louvor  Henrique  Caiado 
num  epigramma  latino  dirigido  a  Lourenço  Moniz. 

Outro  professor  afamado  da  mesma  Universidade  foi  frei  Xinal  (Frexe- 
nal?)  que  parece  hespanhol,  e  com  quem  D.  Manuel  mandava  aos  moços  fi- 
dalgos que  aprendessem.  Na  freguesia  de  S.  Thomé,  bairro  das  Escolas  Ge- 
rais, havia  uma  rua  do  Freixenal. 

1516. —  Ars  Virginis  Maria;.  É  de  Estevão  Cavalleiro.  Veja-se  Barbosa 
Machado. 

1522.—  Outra  edição  da  Grammatica  de  Pastrana,  de  que  dá  conta  Ri- 
beiro dos  Santos. 

1535. —  Grammatica  latina  de  D.  Máximo  de  Sousa.  Diz  no  fim:  Colim- 
brie  apud  ccenobium  diue  crucis,  Armo  dni  m.  d.  xxxv.  Exemplar  sem  fron- 
tispício na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

1538.—  Instilutiones  Grammatica;,  per  Nicolaum  Clenardum.  (Escudo 
de  armas  do  Cardeal  D.  Henrique).  Excusw  Bracarw  Anno  m.  d.  xxxviii; 
sumptibus  Guliclmi  a  Troie,  ele.  Cum  privilegio  régio,  ele.  8.°  de  cevu  fólios. 
Exemplar  pertencente  ao  Sr.  Macedo  Braga. 


1  O  nome  de  Francisco  de  Távora  não  se  inscreve  no  Dicáonario  Bibliograpkieo.  Vimos 
um  exemplar  desla  Grammatica  na  Bibliotheca  da  Ajuda. 


(vil)  A.  LITTERATUKA  BESPANHOLA   EM   PORTUGAL  157 

1840.  De  perbonm  conjugatione  commenlarius,  de  André  de  Resende. 
Barbosa  attribue  a  edição  a  este  anno,  mas  não  traz  designação.  Foi  impres- 
sor Lais  Rodrigues. 

1546. —  Institutiones  Grammaticce  Latina  Nicolai  Clenardi.  Per  Joannm 
Vaswum  Burgensem  aucta  &  recognita.  Impressa  Conimbricw  uuxlvi.  Exem- 
plar na  Bibliotheca  da  Ajuda  '. 

1852. —  Aelii  Antonii  Nebrissensis  Grammatica.  Cum  privilegio  u.  d.  i.ii. 
Apesar  desta  edição  não  trazer  indicação  de  lugar  nem  de  impressão,  não 
duvidamos  attiibui-la  a  Lisboa  e  a  Luís  Rodrigues.  A  portada  é  a  mesma  da 
Viciosa  Vergonha,  de  João  de  Barros,  sem  os  enfeites  que  a  circundam.  Bi- 
bliotheca da  Ajuda. 

1553. —  Rudimento  gramática-.  Indicação  de  Bibeiro  dos  Santos. 

1554.— Ediç3o  idêntica  á  de  1552.  Existente  também  na  Bibliotheca  da 
Ajuda. 

1865. —  Gramática  Despauterii.  Indicação  de  Ribeiro  dos  Santos. 

1557. —  Institutiones  in  latinam  Knguam,  de  Jeronymo  Cardoso,  Lisboa, 
por  João  da  Barreira.  Descripla  em  Barbosa  Machado. 

1861. —  Grammatica  Despauterii.  Braga.  Indicação  de  Ribeiro  dos  Santos. 

1882. —  2.a  edição  da  Grammatica  de  Jeronymo  Cardoso,  Lisboa,  por 
João  Blavio.  Descripta  em  Barbosa  Machado. 

1565.— ih  libram  quartum  Antonii  Nebrissensis  de  construetione  decem 
partiam  orationis  Cadabalis  Grani]  Calydonij  lucidissima  explanatio.  Lisboa, 
por  Francisco  Correia.  Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

ÍSlI.—Emmanuelis  Alvari  é  Societate  lesv  De  Instilulione  Grammatica 
Ubri  três.  Lisboa,  por  João  da  Barreira.  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

1572. —  Grammatica;  duo  compendia  in  metkodum  contracta,  út  nihil  re- 
dundei, ma  decet.  Ebora  apud  Burgensem.  E  de  Fernão  Soares  Homem.  Des- 
cripta em  Barbosa  Machado. 

No  Corpus  poetaram  lusitanorum,  entre  as  poesias  dn  Jorge  Coelho,  vem 
um  epigramma  a  esta  grammatica. 

1379.—  Grammatica;  institutiones  a  Roderico  Lopez  a  Sigura  nuper  ardi 
toe.  atque  ExceUentissmo  Domino  Sebastiano  Portugaliae  Regi  dicatae  felicitei- 
incipiunt.  Lisboa,  por  João  Alvares. 

Vem  descripta  sob  o  n.°  2:78i,  cm  Gallardo,  que  conjectura  que  esta  se- 
ria já  2.a  edição. 


1  Reproduziu-se  esta  edição  em  Salamanca,  por  João  de  Jujita,  sem  anno,  mas  prova- 
velmente em  1551,  data  do  Privilegio.  Traz  um  epigramma  de  Jorge  Coelho.  Veja-se  a  sua 
descripção  em  Gallardo.  Catalogo  de  una  biblioteca,  sob  o  n.°  4:180.  0  epigramma  de  Jorge 
Coelho  já  vinha  na  edição  de  Coimbra. 


158  A  LITTKRAITHA  HESPÀNHOLA  F.M  POBTUGAL  (vill) 


1377.— 2.a  edição  do  Compendio  de  Fernão  Soares  Homem,  impresso 
em  .Coimbra  por  João  Alvares.  Descripto  em  Barbosa  Machado. 

1596.—  Grammatica  Latina  de  Manuel  Alvares,  2."  edição,  Évora,  por 
Manuel  de  Lyra. 

Lri!i!).-  Gommentarium  in  Manuais  Akari  Grammalicam  Latinam.  Évora, 
por  Manuel  de  Lyra. 

De  anno  incerto  e  sem  designação  de  tjpographia  ha  ainda  um  compendio 
intitulado  Elementa  Grammatica,  de  João  1'ennndes,  sevilhano,  um  dos  pro- 
fessores chamados  por  D.  João  III  para  reger  cadeira  na  Universidade  de 
Coimbra.  Cita-o  Manuel  Monteiro  na  prefacio  do  seu  Metkodo  de  Grammatica 
Latina. 

Por  esta  enumeração,  que  de  certo  não  é  completa,  se  vè  quanto  estava 
generalizado  entre  nós  o  estudo  disciplinai  da  lingua  latina  e  com  quanto  ri- 
gor e  estima  se  professava.  Alguns  compêndios,  como  o  de  Pastrana,  eram 
de  origem  hespanhola,  modificados  e  accrescentados  por  portuguezes.  Outros 
eram  devidos  a  professores  hespanhoes,  que  residiram  em  Portugal,  como  os 
de  Ruy  Lopes  de  Sigura  e  Cadabal  Gravio  Calidonio.  Em  compensação  bas- 
tantes portuguezes  alcançaram  nome  em  Hespanha  no  ensino  da  lingua  de 
Virgílio.  Citaremos  em  primeiro  lugar  o  distinto  humanista  Ayres  Barbosa, 
de  quem  André  de  Resende  se  confessa  discípulo ',  Francisco  Martins,  que 
compoz  diversos  tractados  da  sua  especialidade2,  Diogo  Barbosa,  Latinilatis 
Primarias  Salmanticae,  e  Gaspar  Alvares  da  Veiga,  que  publicou  em  1G09  o 
seu  compendio  Bios  con  tu  ayuda,  etc.  Todos  elles  leccionaram  em  Salamanca 3. 

Não  era  só  nas  aulas,  nas  palestras  escolares,  nos  escriptos  scientificos 
e  litterarios  que  o  latim  florescia  exuberante.  No  theatro,  sobretudo  quando 
este  era  um  exercício  de  estudantes,  o  sen  emprego  tornou-se  indispensável. 


1  Na  nota  34  dos  Commentarios  ao  seu  poema  Viéentiui  Levita  et  Martyr,  diz  André  de 
Resende:  «Sed  de  hac  re  multa  Gellius,  &  plura  Arius  Lusitanus  magister  olim  noster  in  sua 
Prosódia».  B.  Machado,  em  vez  duma  Prosódia,  atlrijuo  a  Ayres  Barbosa  um  tractado  de  Or- 
tkographia,  impresso  em  Salamanca  em  1517. 

2  A  Francisco  Martins  dedicou  Fernando  dei  Pozi  o  seu  tractado  grammatical  Per  b-eres 
fí  uiiles,  etc,  impresso  em  Salamanca  em  15'67.  Vidi;  (íallardo  n.°3:518. 

3  Outros  professores  portuguezes  ensinaram  latim  no  estrangeiro,  sem  ser  em  Hespanha. 
Barbosa  cita-nos  Gaspar  Lopes,  auetor  d'uma  gmurutiea  latina  impressa  em  Flandres,  e 
Francisco  de  Brito,  auetor  doutra,  publicada  em  Vene-.a  em  1509.  A  grammatica  do  jesuíta  Ma- 
nuel Alvares  teve  grande  acolhida  em  toda  a  Europa,  sendo  muito  commentada  e  recebendo 
muitas  vezes  o  beneficio  da  imprensa  em  diííerente?  p  lizes.  Marlin  Cueva,  auetor  do  tractado 
Be  corrupto  docende  Grammatice  Latine  Genere,  estampado  em  Antuérpia  em  lSò'0,  diz  que 
eompuzera  a  sua  obra  a  rogos  d'um  frade  portuguez  (An'onio  Sanches),  que  ensinava  gram- 
matica em  Mantua.  Vide  Gallardo  n.°  1:969. 


(ix)  A  L1TTKR.VITHA  BESEANHOLA   KM  PORTUGAL  i.r>!) 


Quando  1>.  João  III  visitou  a  Universidade  de  Coimbra,  ao  tempo  em  que  ella, 
com  os  novos  professores,  attingira  o  seu  apogeu,  foi  lhe  representada  uma 

comedia  latina,  salpicada  de  dilos  picantes,  no  estylo  d  Uni  dos  mais  applau 
didos  cómicos  da  velha  Roma.  As  graças  plautinas  não  agradaram,  porém, 

no  dizer  do  padre  I.uis  da  Cruz,  aos  homens  graves,  e  por  isso  OS  jesuítas, 
que  tanto  exploraram  o  lheatro,  considerando-o  como  um  dos  melhores  e  mais 
attrahentes  passatempos  para  os  seus  alumnos,  produziram  grande  numero  de 

tragedias  e  comedias,  de  fundo  religioso  e  moral.  Ás  vezes  lambem  esco- 
lhiam para  assumpto  das  suas  tragi-comedias  factos  históricos  e  patrióticos, 
como  a  Batalha  de  Ourique  e  a  Descoberta  e  conquista  da  índia.  Esta  ultima 
foi  representada  com  um  esplendor  extraordinário  por  occasião  da  vinda  a 
Lisboa  de  Filipe  III.  Os  Collegios  da  Companhia  brilharam  com  as  suas  re- 
presentações dramáticas,  em  occasião  de  grandes  festas,  até  aos  últimos  dias 
da  sua  existência  em  Portugal. 

Os  elementos  clássicos  e  os  elementos  estranhos  lançaram  profundas  o 
extensas  raizes  na  educação  da  mocidade  portugueza,  contribuindo  para  a 
desnacionalizar  e  para  lhe  dar  um  caracter  cosmopolita,  universal,  ecléctico 
Era  necessário  que  a  nossa  individualidade  fosse  bastante  forte  paia  não  per- 
der de  todo  as  suas  qualidades  innatas,  a  pujança  da  sua  originalidade.  Diver- 
sas correntes  actuavam  no  nosso  meio  social,  até  que  o  jesuitismo  as  fundiu 
e  converteu  na  sua  propaganda  poderosa.  Os  lentes  que  vieram  do  estrangeiro 
introduziam  no  nosso  paiz  as  ideas  da  reforma  litteraria,  já  que  as  ideas  da 
reforma  religiosa  encontravam  uma  barreira  invencível  nas  fogueiras  inquisi- 
toriaes.  O  espirito  da  civilização  europeia  invadia-nos  e  subjugava-nos,  pro- 
duzindo uma  raça  de  humanistas,  de  que  poderia  orgulbar-se  qualquer  nação. 
ainda  de  mais  poderosos  recursos  que  a  nossa.  As  escolas  de  França,  de  Itália 
e  de  Hespanha,  tinham  aqui  quem  as  representasse  dignamente  nos  estudantes 
(pie  as  haviam  frequentado  e  nos  professores  que  de  lá  nos  vieram.  Como 
hoje  ainda,  Paris  estendia  então  sobre  as  nossas  cabeças  o  virente  ramo  da 
arvore  da  sciencia.  Se  os  cursos  das  suas  escolas  eram  ambicionados  pelos 
nossos  estudiosos,  a  litteratura  também  não  deixava  de  ser  tomada  em  alguns 
casos  como  modelo.  Os  autos  de  Gil  Vicente  resentem-se  muito  dos  Myslerios 
franceses.  N'uma  das  suas  peças  o  diabo  fala  em  francez.  No  Auto  da  Ave 
Maria,  de  António  Prestes,  a  mesma  personagem  fala  hespanhol.  Parece  que 
a  lingua  portugueza  era  desconhecida  no  inferno.  Lisonjaria  nacional  dos 
nossos  poetas  I 

Os  portuguezes  que  se  doutoraram  em  Paris  e  nDutras  universidades  de 
França  não  serão  menos  abundantes  que  os  que  se  doutoraram  nas  universi- 
dades de  Hespanha.  ()s  reis  de  Portugal  sustentavam  ali  numerosos  pensio- 
nistas. O  Çollège  de  Sainte-Barbe,  pela  nacionalidade  dos  alumnos  e dos profes- 


160  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  BH  POHTUGAL  (x) 


sores,  qaasi  chegou  :i  ser  unia  instituição  portugueza.  O  doulor  João  Claro 
publicou  em  Paris,  em  1500,  o  seu  Livro  de  Horas  em  porluguez.  Ali  publi- 
caram também:  Diogo  de  Sá  o  sen  tractado  De  Navigatíone,  contra  as  doutri- 
nas de  Pedro  Nunes;  e  Miguel  de  Cabedo,  em  1547,  a  sua  traducção  cm  la- 
tim da  comedia  de  \ristophaiies,  Plvivs.  outros  exemplos  semelhantes  se  po- 
deriam adduzir.  Diogo  de  Gouveia  sustentava  relações  amigáveis  com  os  poe- 
tas francezes,  como  se  deduz  das  suas  poesias  latinas.  Trasladou  uma  de  Ma- 
rol  6  dedicou  o  Epigramma  x.w  do  seu  livro  u  Ad  Portas  Gallos.  Gonçalo  da 
Silva,  bacharel  formado  em  Paris  e  prior  de  Alcobaça,  traduziu  do  francez  o 
Libro  da  rida  e  milagres  do  glorioso  e  bcaventurado  São  Bernardo,  impresso 
por  mandado  da  rainha  D.  Catarina,  na  officina  lisbonense  de  Lais  Rodrigues, 
em  15  ii. 

No  século  xiv  (1362),  outro  monge  do  mesmo  mosteiro,  Fr.  Vitorio  de 
Braga,  traduziu  o  Castello  Perigoso,  que  se  conserva  manuscripto.  D.  Filipa 
de  Lencastre,  talha  do  Infante  D.  Pedro,  o  d'Alfarrobeira,  traduziu  o  livro 
dos  Evangelhos,  precioso  manuscripto  que  existia  no  mosteiro  de  Odivellas, 
e  que  se  diz,  não  sabemos  com  que  fundamento,  ter  passado,  com  a  extin- 
ção d'aquella  casa  religiosa,  para  o  poder  do  patriarcha.  Os  filhos  de  João  I 
usaram  nas  suas  divisas  a  língua  de  sua  mãe,  que  era  então  a  lingua  da 
corte  ingleza.  O  talenl  de  bien  faire  do  infante  D.  Henrique  tornou-se  a  di- 
visa inspiradora  dos  descobrimentos  marítimos  portuguezes.  Tínhamos  o  ta- 
lento de  bem  fazer  as  descobertas. 

Se  as  litteraturas  clássicas  e  a  litteratura  e  sciencia  franceza  actuaram 
com  tamanho  poderio  sobre  a  cultura  nacional;  se  os  escriptores  italianos, 
já  directamente,  já  por  intermédio  dos  escriptores  hespanhoes,  nos  seduziram 
com  as  suas  bellezas  e  se  nos  impuseram  como  modelos;  acima  de  tudo  isto 
devemos  collocar  todavia  a  influencia  da  lingua  e  da  litteratura  hespanhola.  A 
vizinhança,  o  contacto  social  e  politico;  a  communidade  da  procedência;  a  pro- 
miscuidade das  tradições  históricas ;  a  identidade  de  pensamentos  e  de  aspi- 
rações; tudo  isto  nos  explica  o  phenomeno. 

Os  reis  portuguezes  foram  geralmente  affeiçoados  ás  letras,  e  muitos  es- 
criptores estranhos,  sobretudo  hespanhoes,  vinham  buscar  a  sua  protecção. 
É  grande  o  numero  de  livros  que  estes  lhes  dedicaram,  sendo  alguns  d:esses 
trabalhos  directamente  inspirados  ou  eneommendados  pelos  nossos  monar- 
chas.  Passaremos  a  dar  a  prova. 

Mossen  Joannot  Matorell,  cavalheiro  valenciano,  traduziu  do  portuguez  a 
novella  Tiranl  lo  Blanch  e  dedicou-a  ao  infante  D.  Fernando,  pae  de  el-rei 
D.  Manuel.  O  texto  portuguez,  que  era  por  sua  parte  traducção  do  inglez,  per- 
deu-se,  e,  se  não  fora  a  versão  valenciana,  ignoraríamos  completamente  a 
existência  d'este  producto  da  nossa  actividade  litteraria.  São  frequentes  os  tra- 


(xi)  A  LITTERÀTORAJBESPAIIHOU  EM  PORTOGAL  16! 

balhos  portugaezes,  cujos  originaes  se  extraviaram  e  de  que  temos  apenas 
noticia  pelas  versões  estranhas.  Varnhagen,  ao  seu  estudo  acerca  da  Littera- 
tttra  dos  livros  de  caoaUaria  (Vienna  1872),  conjecturava  que  a  novella  de 
Matoreli  teria  sido  traduzida  do  portuguez.  A  sua  conjectura  Dão  é  bem  ex- 
plicita, porque  nlo  dá  bem  claramente  a  entender  se  a  traducção  portugueza 
seria  feita  directamente  sobre  o  original  ou  sobre  a  versão  Matoreli.  Se  Var 
nbagen  tivesse  lido  o  frontispício  da  2.*  edição  (Barcelona  1497),  as  suas 
duvidas  Dão  teriam  razão  de  ser  '. 

Alonso  de  Gartajena,  bispo  de  Burgos,  traduziu  do  latim  em  romance 
a  Retórica  de  Gicero,  a  pedido  de  elrei  l>.  Duarte.  Gartajena  viera  a  Por- 
tugal como  enviado  do  Bei  Catholico,  e  foi  durante  a  sua  estada  ua  nossa 
corte  que  el-rei  lhe  solicitou  o  emprehendimento  d  aquella  traducção. 

O  manuscripto  conserva-se  no  Escurial.  (Gallardo,  n."  1:638). 

Bnire  os  manuscriptos  da  selecta  livraria  do  Conde-Duque  de  San  Lurar, 
D.  Gaspar  de  Guzman,  existia  Un  libro  de  Poesias  Castellanas  de  arte  mayor, 
dedicadas  a  el-rei  D.  Àffonso  V,  de  Portugal.  Ao  mesmo  soberano  dedicou 
Mossen  Diogo  de  Valera  o  seu  Traindo  de  los  Rieptos  e  desafios. 

Fr.  .Martin  Cueva  consagrou  o  seu  compendio  de  grammatica  latina,  De 
corrupto  docende  Grammalice,  ao  príncipe  D.  Filipe,  lilho  de  D.  João  III.  Na 
dedicatória  diz  elle  que  o  motivo  de  compor  a  sua  obra  fora  haver  lhe  rogado 
um  religioso  portuguez  da  sua  ordem,  que  ensinava  grammatica  em  Man  tua, 
ao  passo  que  elle  a  ensinava  havia  quatro  annos  em  Veneza  aos  seus  convén- 
tuaes,  que  lhe  communicasse  o  seu  methodo.  Celebra,  n  esta  especialidade,  o 
merecimento  do  mesmo  príncipe,  António  Pinheiro.  A  dedicatória  é  datada 
de  Bruges,  a  10  das  calendas  de  dezembro  do  anno  de  1549.  Segue-se  uma 
carta  a  Fr.  António  Sanches,  que  e  o  sobredito  religioso  portuguez. 

O  Cathecismo  pequeno,  de  Fr.  Diogo  Orliz,  impresso  em  Lisboa  por  Va- 
lentim Fernandes  e  João  Pedro  Bonhomini.  em  1504,  foi  offerecido  a  D.  Ma- 
nuel. 

Ao  infante  D.  Luis  dedicou  Francisco  de  Vilallobos,  doutor  em  medicina, 
o  seu  Libro  titulado  Los  problemas  que  traria  de  cuerpos  mturalès,  impresso 
em  Zaragoça  em  1544. 

É  sobretudo  a  D.  João  III  e  a  sua  esposa  D.  Catarina  que  nós  encon- 
tramos maior  numero  de  dedicatórias  subscriptadas  por  autores  hespanhoes,  já 


1  Eis  o  que  diz  Varohagen  :  «Esta  novella,  tesoro  de  contento  y  mina  de  passatempo  no 
conceito  de  Cervantes,  foi  impressa  por  primeira  vez  em  Valência,  no  anno  de  1490,  na  pró- 
pria língua  valenciana,  e  não  é  impossível  que  chegasse  a  ser  traduzida  ao  portuguez».  Ob. 
«(.,  p.  111. 


1(1-2  .\  i.ri  li  HA  i  i  li  A  HESPANHOEA  EM  PORTUGAL  (xuj 

dos  que  residiam  no  reino,  chamados  para  o  ensino  ou  para  outros  mesteres, 
já  d'aquelles  que  residiam  fora  de  Portugal.  Eis  aqui  a  relação  dos  livros,  que 
estio  u'este  caso,  c  de  que  temos  tomado  nota.  Principiaremos  pelos  que  foram 
dirigidos  ao  rei: 

a)  Comiença  el  libro  primero  dr  la  i'claraciõ  de  instrumètos.  de  Juan  Her- 
mínio, Ossuna,  1348—1549. 

b)  Libro  ih<  mvsica  de  vihuela  de  mano,  de  Luys  Milan,  Valência  1536. 

c)  Tractado  llamado  frúcto  de  todos  los  attetos:  contra  el  mal  serpentino, 
(ir  liuy  Diaz  ile  Islã,  Sevilla  1542. 

d)  Libro  de  enfermidades  contagiosas,  de  Francisco  Franco,  Sevilla  156Í). 

e)  Libro  primero  dei  espejo  dei  Príncipe  Christiano,  do  doutor  Francisco 
de  Monçon,  Lisboa  1544.  A  2.a  edição,  Lisboa  1571,  é  dedicada  a  D.  Se- 
bastião. 

f)  Enchiridion  o  Manual  de  Doctrina  Chrisliana,  de  fray  Diego  Ximenez 
Árias.  Lisboa  1552. 

g)  Obra  deuotissima  intitulada  de  Septe  verbis  domini,  de  fray  Juan  de 
Xodar,  Sevilla  1532. 

h)  Historia  de  la  Iglezia  que  Uaman  Ecclesiaslica  y  Iripartita,  de  fray 
Juan  de  la  Cruz,  Lisboa  1541. 

i)  Questio  de  Fascinalione  edita  a  Gaspare  de  Ribero  in  medicina  licètiato 
e  illustrissime  Caterine  lusitanie  regine  medico.  Sem  designação  de  lugar,- typo- 
grapliia  ou  anno,  mas  provavelmente  impresso  em  Lisboa.  No  verso  do  fron- 
tispício a  dedicatória  ao  rei.  Veja-se  o  Catalogo  de  Gallardo,  sob  n.°  3:621. 

j)  Ad  Ioannem  Terlium  inuictissimum  Portugalliae  &  Algarbiorum  regem 
Africam,  Arabicum,  Persicum,  Indicam  principem  piissimum.  Duae  Johannis 
Femandi  Rhetoris  Conimbricenses  orationes.  Coimbra  1548. 

Ribeiro  dos  Santos  attribue  ao  mesmo  auetor  uma  edição  dos  Colloquios, 
de  Erasmo,  impressos  em  Coimbra  em  1550,  e  dedicados  também  a  D.  João  III. 

k)  Psalterio  de  Darid  en  linguage  Castelhano,  de  Gomes  de  Santo  Firmia. 
Não  traz  data,  mas  o  privilegio  é  de  1529. 

I)  Historia  passionis,  de  Diogo  Ortiz,  bispo  de  Ceuta,  Lisboa  1542. 
m)  Libro  llamado  menosprecio  de  Corte  y  alabança  de  Aldeã,  de  D.  Antó- 
nio de  Guevara. 

Estes  são  os  livros,  que  conhecemos,  offerecidos  a  D.  João  III.  A  lista, 
como  se  vè,  é  já  extensa  bastante,  e  estará  porventura  longe  do  seu  termo. 
Julgamos  opportuno  encerra-la,  mencionando  o  nome  de  Luis  Vives,  que  dedi- 
cou ao  nosso  monarcha  os  seus  tractados  De  artibus.  De  tradendis  disciplinis  e 
De  corruptis  artibus.  El-rei  correspondeu  generosamente  á  offerta,  presenteando 
o  illustre  sábio,  alem  duma  grossa  quantia  em  dinheiro,  com  um  gomil  de  pra- 
ia, incrustado  de  pedras,  e  uma  mesa  de  ébano.  Colhemos  esta  noticia  no 


(XHl)  A  UTTKRATDRi  BESPANHOLA  KM  PORTUGAL  163 

livro  do  Sr.  Van  den  Bussche,  Fíandre  et  Portugal,  que  baseia  a  sua  asser- 
ção numa  noia  colhida  dos  archivos  da  igreja  de  Jerusalém,  era  Bruges1. 

Na  dedicatória  de  Vives,  datada  de  Bruges,  exalçam-se  por  estas  pala- 
vras os  feitos  dos  portuguezes:  Ausi  sunl  progenitores  tui,  Lusitânia  egressi, 
nova  maria,  novas  terras,  nova  atque  incógnita  sidera  scrutari.  Primum  littus 
Atlantici  maris,  dejectis  inde  Igarenis,  occuparunt.  Erecti  tonguis  ultra  viam 
solis,  penetrárunt  ad  orbera  nobis  adversum,  permensi  maré  uationale  sub 
jEthiopia:  hinc  ad  Maré  Bubrum  adquo  fauces  persici  sinus  munierunl  sibi 
arces.  Transgressique  supra  ostiura  [adi  fluminis,  in  feracissima  el  beatíssima 
Índia1  totius  ora,  jus  sibi  et  ditionem  quaesiverunt.  Ostenderunl  uobis  vias  caeli 
ac  pelagi  nuDquam  anda,  ne  fando  quidem  auditas:  populos  nationesque,  ul 
riln  ac  Barbárie  admirabiles,  ila  etiam  iis  opibus  quos  lantopere  affectus  nos- 
tri  suspiciunt.  Plane  geueri  humano  suas  est  orbis  patefaclus . . . » . 

Vejamos  agora  as  obras  dedicadas  a  l>.  Catarina.  São  as  seguintes: 

a)  Comento  ô  Repetición  dei  capitulo  Quando  De  Consêcralione,  de  As- 
pilcueta  Navarro.  Coimbra  1550. 

b)  Tratado  de  la  vida  loores  y  excelências  dei  glorioso  apostolo  y  bienauen- 
lurado  euangelista  san  Juan,  de  Fr.  Diego  de  Estella.  Lisboa  1554. 

c)  Libro  de  S.  Juan  Climaco,  llamado  Escala  Spiritual,  de  Fr.  Luis  de 
Granada.  Lisboa  1562. 

d)  Segunda  parte  dei  libro  llamado  Caia  de  Pecadores,  do  mesmo.  Lis- 
boa 1557. 

e)  Carro  de  las  donas,  de  Fr.  Francisco  Jimenez.  Valladolid  1542.  Foi 
traduzido  do  catalão  em  hespanhol  por  um  religioso  de  S.  Francisco,  que  foi 

quem  0  dedicou  a  l>.  Catarina. 

f)  Tratado  Uamado  Mistérios  dt  la  devocion,  compuesto  por  un  Religioso 
de  la  órden  de  San  Francisco  de  la  provinda  de  Santiago.  ■  ■  Burgos  1537. 

gj  Alphonsi  Rod.  de  Gueuara  Granatensis,  in  Academia  Conimbricenci  rei 
medicai  professoris,  &  Inclytae  Regina  mediei  physici,  in  pluribus  ex  iis  qui 
bus  Galenus  impugnalur  ab  Andrea  Vesario  Bruxelêsi  in  cõstructione  &  usu 
partium  corporis  fiumani,  defensio,  ele.  Coimbra,  por  João  da  Barreira,  1559. 
Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa. 

Mal le  Àranda,  professor  de  musica  na  Universidade  de  Coimbra,  de- 
dicou os  seus  Tratados  de  canto  llano  e  de  calo  mesurable  ao  infante  l>.  AÉfonso, 
filho  de  D.  Manuel,  cardeal  e  arcebispo  de  Lisboa.  Cadabal  Gravio  Calidonio 
o  seu Encomiasticon  Cármen  ao  infante  D.  António,  e  o  seu  tractadode  gram- 
matica  latina  a  D.  Sebastião.  D.  Juan  de  Malara  offereceu  a  D.  Joanna,  infanta 


Vau   il.'ii  liu^rhr.  ,,!,.  nl  . 


164  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (xiv) 


das  Hespanhas  c  princesa  de  Portugal,  a  sua  obra  La Psyche,  que  se  conserva 
manuscripta.  Esta  infanta  foi  cisada  com  o  maliogràdo  príncipe  D.  João,  de 
cujo  matrimonio  nasceu  D.  Sebastião.  Alonso  Ortiz  dedicou  um  dos  seus 
tractados  impressos  em  Sevilha  em  1493  á  princesa  de  Portugal.  Garcilaso  de 
la  Vega,  o  Inca,  dirigin  ao  Duque  de  Bragança  a  sua  Florida,  impressa  em 
Lisboa  em  1605.  Podíamos  accrescentar  ainda  mais  algumas  indicações,  mas 
parece-nos  que  são  já  bastantes. 


As  successivas  allianças  de  família  entre  as  duas  cortes,  as  relações  so- 
ciaes  e  politicas,  a  afinidade  de  raça,  eram  poderosos  elementos  para  que  a 
civilização  hespanhola  exercesse  a  sua  hegemonia  sobre  a  nossa.  Accrescente-se 
a  isto  o  cila  estar  em  contacto  directo  com  os  mais  poderosos  centros  intellec- 
tuaes  da  Europa,  a  Itália,  as  Flandres,  a  Alíemanha  e  a  França,  e  esta  circums- 
tancia  bastaria  para  lhe  dar  um  lugar  de  superioridade.  A  Hespanba  atrahia- 
nos  inquestionavelmente,  e  os  nossos  homens  de  letras  desejavam,  por  inter- 
médio d'ella,  tornar-se  conhecidos  no  mundo  culto,  escrevendo  na  lingua,  que 
era,  n  aquella  época,  das  mais  estimadas  e  familiares,  graças  á  importância 
politica  e  militar  da  nação  que  a  falava.  É  grande  o  numero  de  escriptores 
portuguezes  que  contribuíram  para  augmentar  o  rico  manancial  da  litteratura 
hespanhola.  O  Catalogo  do  Sr.  Garcia  Peres  demonstra  á  saciedade  qual  foi  o 
contingente  poderoso  que  offereeemos  para  engrossar  o  caudal.  Os  nossos  poe- 
tas não  só  escreviam  na  lingua  hespanhola,  mas  tomavam  em  alguns  casos  por 
modelo  os  escriptores  daquella  nação.  No  século  xvi  Garcilaso  e  Boscan  são 
considerados  mestres  a  par  dos  mestres  italianos.  No  século  xvn  o  predomí- 
nio de  Gongora  tomou  proporções  extraordinárias.  Nos  nossos  clássicos  en- 
contram-se  amiúde  citações  e  referencias  a  livros  hespanhoes.  Em  Gil  Vicente 
vemos  apontadas,  por  exemplo,  as  seguintes  novellas:  Carcel  de  amor  e  Pere- 
grino amador.  As  allusões  a  romances  hespanhoes  enxameiam  nas  peças  dos 
nossos  dramaturgos  e  nos  versos  dos  nossos  poetas. 

Uma  circumstancia  especial,  própria  da  nossa  Índole,  a  mania  do  estran- 
geirismo, feição  de  tendência  cosmopolita,  contribuiu  em  grande  parte  para 
o  alastramento  da  litteratura  hespanhola.  António  Ferreira  é  dos  poucos  que 
conservam  inalterável  o  seu  afinco  á  lingua  materna.  Em  volta  d'elle  girava 
uma  roda  de  amigos  e  admiradores,  mas  poucos  foram  os  que  adoptaram  á 
risca  os  princípios  que  elle  proclamara  no  seu  credo  poetico-nacional : 


Floreca,  fale,  cante,  ouça-se,  e  viva 
A  Portuguesa  lingua,  e  já  onde  fôr 
Senhora  vá  de  si,  soberba  e  altiva. 


(XV)  A  LITTERAlTltA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  i(i.""i 

Foi  a  Pedro  de  Andrade  Caminha  que  elle  dirigiu  a  epistola  em  que  lhe 
faz  a  apologia  da  linguà  natal,  e  foi  Pedro  de  Andrade  Caminha  o  que  adop- 
tou com  mais  fidelidade  as  suas  doutrinas,  pois  apenas  escreveu,  que  se  co- 
nheçam, unias  duas  poesias  em  hespanhol. 

Gil  Vicente,  uma  das  mais  características  individualidades  d: ssa  litte- 

ratura,  compoz  a  maior  parte  das  suas  peras  em  idioma  castelhano.  É  curioso, 
e  merece  advertir-se,  a  mescla,  que  elle  e  outros  poetas  dramáticos  da  sua 
faziam  das  duas  línguas,  empregando-as  intencionalmente  segundo  a 
qualidade  das  personagens,  reservando  a  portugueza  para  as  mais  nobres  mi 
qualificadas.  A  dualidade  ou  emprego  das  duas  línguas  acha-se  exóellentémente 
accentuada  no  Dialogo  em  defensão  da  língua  portugueza,  de  Pêro  de  Magalhães 
Gandavo,  em  que  se  discriminam  os  géneros,  em  que  uma  e  outra  terão  e 
devem  ter  a  preferencia.  \  nossa  merece  ser  escolhida  nas  comedias  em  prosa 
e  no  verso  heróico,  ao  passo  que  a  hespanhola  leva  vantagem  nas  trovas  re- 
dondas e  garridas,  que  naturalmente  parecem  feylas  &  inuentadas  paru  ella  '. 

Já  trinta  e  quatro  annos  antes  João  de  barros  sustentara  idêntica  doutrina, 
pondo  em  parallelo  as  línguas  neo-latinas,  a  franceza,  a  italiana,  a  hespanhola, 
e  confrontando  mais  particularmente  esta  ultima  com  a  portugueza.  Assim, 
diz  elle  no  Dialogo  em  louvor  (la  nossa  linguagem: 

tA  linguagem  Portuguesa,  que  tenha  esta  gravidade,  nõ  perde  a  força 
pêra  declarar,  nioiier.  deleitar,  e  exortar  a  parte  a  que  se  inclina:  seia  em 
qualquer  género  de  escritura.  Verdade  é  ser  em  si  tio  honesta  e  casta  que 
parece  nõ  consenti!'  em  si  hua  tal  obra  como  celestina.  E  Gil  Vicente  cómico 
que  a  mais  tratou  em  composturas  que  algua  pessoa  destes  reynost  nunca  se 
atreveo  a  introduzir  hii  Centurio  Português;  porque  como  o  nã  cõsete  a  na- 
çam,  assy  o  não  sofre  a  linguagem.  Certo,  a  quem  nã  falecer  matéria,  e  en- 
genho pêra  demonstrar  sua  tençâm,  em  nossa  linguagem  não  lhe  falecera  vo 
cabulos.  Porque  de  crer  é  que  se  Aristóteles  fora  nosso  natural,  nã  fora  bus- 
car linguagem  emprestada  para  escreuer  na  filosofia  e  em  todalas  outras  ma- 
térias de  que  tratou». 

João  de  Barros  é,  para  assim  dizer,  o  antecessor  de  António  Ferreira.  O 


1  Xuni  discurso,  pronunciado  na  Academia  dos  Generosos  de  Lisboa  por  D.  Francisco 
Manuel  de  Mello,  um  dos  espiriti  s  mais  cultos  e  um  dos  escriptores  mais  notáveis  do  meado  do 
século  xvii.enntv  elle  nra  |  te  ao  de  Gapdavo  Enumerando  os  estylos,  em  que 

as  línguas  ni.iis  se  disling  i  I  ha  o  cómico  como  se  chega  para  os  de  Castella.  O 

grave  para  os  de  Poriugal-.  Este  discursa  vem  na  colleççSo  das  suas  obras  poéticas  Las  três 
Melodino,  impressas  eia  I66á  em  LeSo  de  Franca,  I».  Francisco  Manuel  é  dos  escrip- 
tores portuguezes  um  dos  que  melhor  possuíram  o  idioma  hespanhol,  sobretudo  na  prosa,  cheia 
de  concisão  e  energia. 


166  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  1'OliTUGAL  (xVl) 


que  este  Pez  na  poesia,  fez  aquelle  na  prosa.  Um  e  outro  souberam  demons- 
trar, com  varonil  espirito,  que  o  idioma  portuguez  é  roupagem  digna  de  ves- 
tir os  mais  nobres  e  delirados  pensamentos. 

Não  obstante  a  theoria  e  o  exemplo  dos  dois  preceptores,  duas  correntes 
se  manifestaram  n'este  caso.  Havia  portuguezes  que  escreviam  em  hespanhol, 
por  desaffecto  á  língua  própria  ou  para  corresponderem  ao  gosto  do  publico 
pelas  cousas  estranhas;  ao  passo  que  outros  adoptavam  aquella  língua  pelo  de- 
sejo, até  certo  ponto  justificado  e  justo,  de  vulgarisarem  mais  o  seu  pensamento, 
de  expandirem  mais  a  gloria  do  seu  nome  ou  a  gloria  do  seu  paiz.  Felizmente, 
Camões,  apesar  de  ter  composto  parte  da  sua  lyrica  em  hespanhol,  comprehen- 
deu  de  sobra  que  o  seu  poema,  tão  repassado  de  patriotismo,  perderia  uma 
das  suas  qualidades  essenciaes,  se  fosse  escriplo  em  lingua  estranha. 

O  testemunho  de  desaffecto,  que  consagramos  muitas  vezes  a  tudo  que  é 
nosso,  é  bastante  frequente  para  que  deixemos  de  o  assignalar,  marcando- o 
ao  mesmo  tempo  com  o  ferrete  que  merece.  Exaggeramo-lo  talvez;  damos 
a  esse  sentimento  uma  forma  exterior  que  elle  não  tem  na  realidade,  mas 
a  queixa  encontra-se  amargamente  repetida  em  muitos  dos  nossos  escriptores, 
e  já  é  para  estranhar  que  tenhamos  de  nos  insurgir  contra  semelhante  manifes- 
tação de  hostilidade  nacional.  Citamos  acima  Gandavo  e  será  elle  quem  venha 
mais  uma  vez  em  nosso  apoio.  Eis  as  palavras  que  elle  põe  na  boca  de  um 
dos  interlocutores  do  seu  Dialogo,  Petronio:  «A  isso  vos  respondo,  senhor  Fa- 
lencio,  que  esta  nação  Portugueza  pela  mayor  parte,  é  mais  affeiçoada  às  cousas 
dos  outros  Reinos,  que  às  da  sua  mesma  natureza,  cousa  que  se  não  acha 
nas  outras  nações:  porque  lodos  engrandecem  sua  lingua,  e  fazem  muito  pelas 
cousas  que  quadram  nelia,  sós  os  Portuguezes  parece  que  negam  nesta  parle 
o  amor  à  natureza». 

Razão  semelhante  nos  dá  Simão  Machado  para  escrever  em  hespanhol  as 
suas  comedias: 

«...  por  natureza 
E  constellação  do  clima, 
Esla  nação  portugueza 
-O  nada  extrangeiro  estima, 
O  muito  dos  seus  despreza 
Vendo  quam  mal  acceilaes 
As  obras  dos  naluraes, 
Fiz  esla  em  lingua  extrangeira 
Por  ver  se  d'esta  maneira 
Como  a  elles  me  tiataes. 
Fiome  no  castelhano 
Fiome  em  dar  novidade, 
Se  n'uma  e  noutra  me  engano, 
Vós,  Portugal,  eu  o  panno, 
Cortae  à  vossa  vontade. 


(xvil)  A  LITTKHATUU  HESPANHOLA   KM  PORTUGAL  1G7 

Apesar  (Teste  desamor  à  lingua  pátria,  apesar  d'esta  affeição  ao  estran- 
geirismo, é  certo,  por  outro  lado,  que  alguns  escriptores  tinham  escrúpulo  em 
usar  a  liogna  estranha,  e  disso  pediam  vénia  ao  publico,  escusando  se  perante 
aquelles,  que  de  tal  delicio  previamente  os  accusariam.  Ha  mais  de  um  enver- 
gonhado que  se  penitenceia  da  sua  culpa.  Henrique  Garcez,  aosso  compatriota, 
foi  um  d'esles  espíritos  aventurosos  que  procurou  fora  da  pátria  mais  largo 
campo  a  sua  actividade.  Dirigindo-se  as  [ndias  occidentaes,  ali  prestou  impor- 
tantes serviços  na  exploração  das  minas  do  azongue,  em  que  parece  ser  pe- 
rito e  ter  particular  competência.  Os  trabalhos  mineralógicos  não  o  absorve- 
ram, porém,  completamente,  não  o  desviaram  do  cultivo  das  letras,  paia  as 
quaes  tinha  não  vulgar  inclinação.  Não  só  poetava  com  facilidade,  mas  pos- 
suiu o  conhecimento  das  diversas  línguas,  de  que  fez  traducções  para  a  liespa- 
nhola.  Assim  do  latim  traduziu  o  livro  de  Francisco  Patrício,  De  Regno;  do 
italiano  Sonetos  e  Canções,  de  Petrarca;  e  do  portuguez  os  Lusíadas.  Da  Ira- 
ducção  dote  poema  não  linha  que  dar  satisfação  aos*seus  compatriotas;  por 
issn  que  prestava  um  serviço  ao  seu  pai/.,  vulgarizando  o  seu  melhor  poema. 
Por  causa  da  traducção  da  lyrica  de  Petrarca  é  que  elle  julgou  dever  adoptar 
o  processo  de  Pilatos,  lavando  em  publico  as  mãos,  para  mostrar  a  pureza 
das  suas  intenções.  Nas  folhas  preliminares  lia  poesias  laudatorias  de  diver- 
sos, e  entre  ellas  o  soneto  assim  encabeçado: 

Vn  amigo  responde  por  /'<  pluma 

Henrique,  que  cl  Ocaso  enriquesciste, 

con  el  instable  azogue  que  lias  hallado, 

eu  ilonde  dantes  nunca  fue  tratado, 

fundado  en  solo  lo  que  dei  leyste  : 
Yo  no  puedo  entender  como  pudisle 

estado  en  tantas  partes  derramado 

dar  ai  Petrarcha  en  lengua  trasladado 

diversa  d,'  la  que  usan  do  nasciste: 
Espana  mucho  deve  ciertamente 

a  tus  vigílias,  pues  que  lai  riqueza 

do  alma  \  cuerpo  te  das  lan  francamente. 
Sro  cesses,  persevera  alegremente, 

quet  suecessor  de  Carlos  su  grandeza 

contigo  mostrará  cumplidamente. 

A  este  soneto  e  a  qualquer  mitra  objecção  idêntica,  que  se  lhe  pudera 
apresentar,  responde  elle  n'estas  ires  oitavas: 

Y  si  el  frasis  fuere  regulado 

ai  Duero  \  Porlo  encargo  mi  desculpa. 

donde  el  humano  velo  me  fue  dado 

que  alli  cíescio  mi  huesso,  neruio  y  puipa, 

HiST.  f.  Meu.  n.\  Acad  —Tomo  mi.  paivie  ii.—  N."  ■  >'  - 


168  A  UTTKKATIHA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (xVlll) 


Aunque  por  otra  parte  bien  mirado 
oo  scé  si  esta  disculpa  mas  me  culpa, 
ijue  pues  a  tal  empresa  me  atrevia 
dirari,  fuera  mejor  eh  lengua  mia. 

úença  no  me  lo  impidiera 

por  mil  vias  mostrara  mi  descargo, 

y  la  mas  importante  dVllas,  era, 

mas  ta|.\  ipiVs  mejor  passar  de  largo, 

Que  enlin  ello  fuc  todo  véntõlera, 

\  \n  tienpo  mal  gastado,  y  mny  amargo, 

tanto,  que  en  el  no  vi  jamas  contento, 

mas  ya  enliendo  que  fuera  antes  tormento. 

Con  lo  diclio  el  estar  tan  desviado 

y  lexos  de  mi  pátria  Lusitana 

fue  causa  que  ai  Pelrarcha  trasladado 

lo  diesse  mas  en  lengua  Casteilana 

que  no  en  la  mia,  aun  que  he  muy  bien  provado 

que  la  es  muy  semejãte,  y  quasi  hermana, 

de  que  espero  (si  bivo)  que  mi  diestra 

Venga  algun  tienpo  a  dar  entera  muestra. 


A  promessa  exarada  n'esles  últimos  versos,  que  saibamos,  não  se  reali- 
zou. De  Henrique  Garcez  só  se  conhecem  as  três  obras  acima  mencionadas, 
todas  em  hespanhol,  mas  é  possivel  que  deixasse  inédita  alguma  composição, 
de  que  não  restam,  porém,  vestígios.  Deve-se  observar  que  Garcez  publicou 
todas  as  suas  obras  em  Madrid,  em  1591,  quando  Portugal  tinha  perdido  a 
sua  autonomia  e  estava  sob  o  domínio  dos  Filipes. 

Antes  d'elle,  já  outro  poeta  nosso,  bastante  notável,  se  justificava  publica- 
mente de  escrever  em  hespanhol  o  seu  poema  Felicíssima  Vicioria.  Com  elle  não 
se  dava  a  mesma  circumstancia,  que  se  dava  com  Henrique  Garcez,  de  residir 
em  Hespanha,  mas  havia  outra,  porém,  que  lhe  servia  de  desculpa:  era  ter 
costela  de  fidalguia  hespanhola.  Eis  as  palavras  que  elle  emprega  em  sua 
defesa: 


«La  lengua  y  frasis  castellano,  escogi,  aunque  murmurado  y  arguido  de 
nlgunos  de  mi  pátria.  Con  los  quales  non  me  he  valido  dezir  que  los  Mendo- 
ças  y  Baçanes  de  Castilla,  abuelos  mios,  a  ello  me  dan  licencia,  cuya  sangre 
en  vn  mismo  grado  me  fuerça  y  obliga  quasi  con  ygual  razon.  Por  estes  y 
por  otros  mil  inconvenientes  hé  passado,  y  a  todos  facilmente  ha  resistido  el 
desseo  de  presentar  a  V.  M.  este  libro  debuxado  de  mi  mano,  para  que  la 
variedad  de  las  colores,  y  la  inuencion  de  la  pintura  a  que  V.  M.  es  inclinado, 


(XIX)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  169 


haga  fácil  aqael  peso  j  moléstia  de  vna  lectura  falta  de  inuencion,  y  de  aquel 
ornamento  y  polido  estilo  que  eu  los  grandes  ingenios  solo  se  hallan». 

Este  poema  tem  por  assumpto  a  vicloria  de  Lepanto,  uma  das  paginas 
mais  gloriosas  da  ^marinha  hespanhola  e  christS,  e  foi  dedicado  a  i''ilipe  II. 


Nos  fins  do  século  xvi  e  nos  princípios  do  século  xvn,  a  unidade,  politica 
da  península  tinha  tornado  quasi  commum  o  idioma  hespanhol,  deixando  na 
sombra  o  portuguez.  No  emtanto  é  digno  de  observar-se  que  dois  dos  nossos 
primeiros  prosadores,  senão  os  primeiros,  Fr.  Luisde  Sousa  e  António  Vieira, 
compuseram  as  suas  obras,  primores  de  classicismo,  no  idioma  pátrio.  O 
primeiro,  por  causa  do  incêndio  do  seu  palácio  em  Almada,  ateado  n'um  mo- 
mento de  indignação  varonil,  refugiara-se  em  Madrid,  e  ahi  publicou,  em  1000, 
as  obras  de  Jayme  Falcão.  0  prefacio  <|ue  as  antecede  é  escripto  em  latim, 
n  um  estylo  vigoroso,  que  contrasta  solemnemente  com  a  prosa  suavíssima  da 
Vida  do  Arcebispo.  È  que  então  Fr.  Luis  de  Sousa,  o  brioso  Manuel  de  Sousa 
Coutinho,  ainda  não  havia  trocado  u  farda  de  capitão  de  cavallaria  pelo  habito 
de  dominicano,  e  como  que  tinha  na  mão,  não  a  penna,  mas  a  espada.  Era  o 
fidalgo  cavalheiroso  e  altivo;  não  era  o  frade  humilde  do  convento  de  liemlica. 

Manuel  de  Gallegos,  ao  publicar  o  Templo  da  Memoria,  poema  em  que 
se  decantam  as  bodas  do  Duque  de  Bragança,  queixa-se  do  desprezo  em  que 
os  litteratos  portuguezes  deixaram  cahir  a  sua  lingua.  Diz  elle: 

«A  Lingua  Portugueza,  como  não  é  oje  a  que  domina,  esquecerãose  delia 
os  engenhos,  que  com  seus  escritos  a  podião  enriquecer,  &  autorizai-:  A-  quem 
agora  se  atreve  a  sahir  ao  mundo  com  hum  livro  de  versos  em  Portuguez 
arriscase  a  parecer  humilde;  pois  escreve  numa  lingua,  cujas  frasis,  A-  cujas 
vozes  se  usão  nas  praças  o  que  não  deixa  de  ser  embaraço  para  a  alttueza; 
que  as  palavras,  de  que  menos  usamos,  soão  bem,  &  agradam  em  razão  da 
nouídade,  A-  porisso  os  retóricos  lhe  chamão  peregrinas». 

O  mais  curioso  é  que,  feita  a  independência  politica,  a  dependência  litte- 
raria  e  linguistica  proseguiu.  Muitos  dos  escriptOS  destinados  a  celebrar  a 
nossa  autonomia  e  os  feitos  que  se  praticaram  durante  a  longa  campanha 
separatista,  foram  exarados  na  lingua  de  Calderon  e  de  Quevedo.  O  próprio 
D.  João  IV  escreveu  em  hespanhol  a  sua  Defensa  de  In  musica  moderna. 

Como  já  dissemos,  alguns  dos  nossos  escriplores  eram  levados  a  usar  do 

hespanhol  pelo  desejo  de  se  tornarem   mais  conhecidos,  pois  esta  lingua  era 


170  \  l  n  TKUATl  HA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (XX) 

não  só  mais  vulgar  na  península,  mas  na  Europa;  É  este  o  motivo  que  allega 
Pedro  Nunes  na  dedicatória  ao  infante  1).  Henrique  do  seu  Libro  de  Álgebra, 
impresso  em  Anvers  em  l.ri(37.  I>iz  elle  que  primeiro  a  escrevera  em  portu- 
guez,  como  a  vira  Sua  Alteza,  mas  que  depois  a  trasladara  a  castelhano,  por 
6er  mais  cornmum  em  toda  a  Hespanha  que  a  nossa.  Pedro  Teixeira  explica  da 
mesma  forma  o  seu  procedimento  ao  publicar  as  suas  Relaciones,  impressas 
também  em  Anvers  em  10  IO1. 

Muitos  dos  nossos  escriplores  manejaram  perfeitamente  a  lingua  hespa- 
nhola,  principalmente  os  que  residiram  em  Hespanha,  mas  os  que  nunca  sahi- 
ram  de  Portugal  apresentaram  por  vezes  vicios  pátrios,  verdadeiros  provin- 
cianismos  para  bem  dizer.  Gallardo,  no  seu  Ensayo  de  una  biblioteca,  aponta 
de  quando  em  quando  alguns  lusismos,  que  maculavam,  o  que  não  é  comludo 
para  estranhai',  a  pureza  das  composições  dos  nossos  compatriotas.  Faria  e 
Sousa' diz  que  muitos  dos  portuguezes,  que  escreviam  em  castelhano,  mos- 
travam claramente  que  não  sabiam  nenhuma  das  duas  línguas.  Parece  que  os 
residentes  em  Castella  se  orgulhavam  de  possuir,  como  naturaes,  o  idioma 
estranho.  Miguel  Botelho  de  Carvalho  faz  observação  idêntica  á  de  Faria  no 
seu  Pastor  de  Clenarda.  Referindo-se  a  1).  Bernarda  Ferreira  de  Lacerda  e  ao 
seu  poema,  tão  apreciado  no  paiz  vizinho,  La  reslauracion  de  Esparta,  apesar 
de  o  encarecer  bastante,  repara  que  ella  não  tivesse  acertado  no  uso  dos  vo- 
cábulos castelhanos,  pension  quesuelen  pagar  los  ijue  escriuen  en  légua  extranha, 
sin  auer  estado  algunos  aítos  en  cl  mismo  lieyno,  o  sin  coninumicarlo  con  per- 
sonas  experimentadas  en  la  misma  lengua.  Todavia  ha  muitos  escriptores  por- 
tuguezes, como  Gil  Vicente,  Sá  de  Miranda,  Camões,  Bernardes,  Jorge  de 
Montemor,  João  Pinto  Delgado  e  D.  Francisco  Manuel  de  Mello,  considerados 
a  par  dos  clássicos  hespanhoes.  Perez  de  Montalvan  faz  o  seguinte  elogio  de 
um  portuguez,  que  versava  admiravelmente  o  hespanhol:  «...  como  discreto 
e  doctamente  encarece  Don  Álvaro  de  Athaide  Sumiller  de  su  Magestad,  con- 
sumado Teólogo,  y  Português  en  el  ingenio  solamente,  porque  en  el  linguage 
es  tan  perfeto  Castellano,  que  pudiera  su  nacion  tener  zelos  de  la  elegância 
con  que  habla  en  ageno  idioma. . .  »2. 


1  Diz  elle  no  prefacio  da  sua  obra :  «Primero  escrevi  estas  relaciones  en  mi  lengua  ma- 
terna Portugueza,  y  solo  el  primei-  libro  hasta  la  entrada  de  los  Árabes  en  la  Pérsia,  y  que- 
riendolo  imprimir  por  licencia  que  ya  para  ello  tenia,  mude  de  parecer,  obligado  de  la  instan- 
cia y  consejo  de  amigos,  puselo  en  lengua  Castellana  aíiadiendo  el  segundo  libro  basta  nues- 
tros  dias:  iU7g3do  que  en  esta  lengua  quedava  mas  couimunicable :  y  mi  pátria  antes  riciba 
servido  que  ofensa:  no  dubdo  que  como  ya  escrito  en  lengua  no  própria,  Heve  el  estylo  y 
balda  muchas  impropriedades  que  tu  cândido  lector  corrigeras  con  tu  prudência  y  saber». 

2  Montalvan,  Pau  para  todos,  edição  de  Lisboa,  1691,  p.  431. 


(xxi)  A  L1TTERATURA   IIKSPANHOLA   EM   1'ORTUGAl,  171 


Não  contentes  os  nossos  escriplores  era  compor  emhespanhol,  ainda  faziam 
na  mesm;i  língua  as  traducções  tiradas  de  outros  idiomas,  o  latim,  o  fraucez,  o 
italiano!  tatonio  Rodrigues  Portugal,  rei  de  armas,  verteu  do  francez  a  Crónica 
Uamada:  el  triumpho  de  los  nuece  preciados  de  la  fuma.  impressa  em  Lisboa 
por  Germão  Gallardo,  em  1530.  Salusque  Lusitano  fez  uma  lraducç5o  do 
Petrarca,  De  los  sonetos,  sanciones,  madrigales  y  sextinas,  Veneza  1567.  Hen- 
rique Garcez  publicou  mais  tarde  Madrid  1591)  outra  traducção  da  lyrica  do 
mesmo  poeta.  Já  atrás  nos  referimos  a  dia.  Os  Cantos  de  Jacopone  da  Todi 
e  as  Sentencias  são  traducções  anonymas,  mas  fundamentadamente,  em  nosso 
conceito,  de  auctor  porluguez.  adiante,  nu  cerpo  da  nina,  trataremos  com 
mais  amplitude  este  ponto,  nos  artigos  correspondentes.  Nuno  Fernando  do 
Cano  traduziu  do  latim  Los  provérbios  de  Salomõ  y  espejo  de  peccadores,  im- 
pressos em  Lisboa  por  Luis  Rodrigues,  em  1544.  Km  1551  publicaram-se 
em  Coimbra  os  Tractados  'In  >i,l>i  espiritual  de  João  Taulero  e  no  prologo  do 
interprete  (anonymo)  fe-se  a  seguinte  declaração:  «y  porque  ri  prouecho  que 
sus  autores  pretendierõ  en  estas  obras  y  que  sin  duda  podia  hallar  los  que 
con  humildad  y  attencion  las  leysen:  sea  comun  a  los  lides  ignorantes  de 
lenguas  extranas,  trasladei  as  en  lêguage  comun  destes  reynos».  Jeronymo  Lo- 
pes, escudeiro  del-rei  D.  João  III.  declara  ler  traduzido  do  allemão  a  segunda 
parte  do  Clmian  ih'  Landanis;  mas  esta  maneira  de  dizer  era  costume  da 
maior  parte  dos  componedores  de  historias  novellescas  o  romances  de  caval- 
larias.  Fr.  António  de  Portalegre  traduziu  elle  próprio  para  hespanhol  a  sua 
Meditação  da  pai.rão  de  Christo. 

Alguns  eseriptores  liespanboes  também  publicaram  livros  em  porluguez, 
mas  foram  poucos,  e  alguns  d'elles  suppomos  até  que  dariam  os  seus  manus- 
criptos  a  traduzir,  ou  quando  escrevessem  originariamente  na  nossa  língua  os 
dariam  a  limar,  antes  de  estampados,  a  eseriptores  portuguezes.  Citamos  Ortiz 
de Villegas,  auctor  do  Cathecismo  pequeno,  Fr.  Luis  de  Granada,  Pêro  Domeneco  e, 
nos  tempos  modernos,  Urcullu,  que  compoz  um  extenso  tractado  de  geographia. 
Merece  registar-se  que  muitos  portuguezes,  apesar  de  adoptarem  a  lín- 
gua castelhana,  não  abandonavam  a  sua  nacionalidade,  e  como  faziam  gala  do 
epitheto  lusitano,  ainda  mesmo  no  tempo  em  que  a  união  politica  da  península 
se  tinha  consubstanciado  no  domínio  filipino. 


O  theatro,  que  tanto  esplendor  alcançou  no  reino  vizinho,  dilatando  por 
toda  a  Europa  os  raios  fulgurantes  da  constellação  dos  seus  poetas  dramáti- 
cos, foi  um  dos  vehiculos  principaes  da  preponderância  hespanhola  no  nosso 


172  a  urrauTiniA  hespanhola  em  portugal  (xxn) 


paiz.  Não  cra  só  a  parte  litteraria,  'propriamente  dita,  que  actuava  no  nosso 
espirito;  era  por  egual  a  parle  puramente  plástica.  Ao  passo  que  alguns  poe- 
tas, como  Mattos  Fragoso,  Jacinto  Cordeiro  e  Freire  de  Andrade,  brilhavam 
entre  os  ingeníos  dramáticos  de  Hespanha,  successivas  companhias  de  comedian- 
tes hespanhoes  vinham  representar  nos  pateos  de  Lisboa.  As  leis  de  Filipe  II 
e  de  seus  suecessores  eram  tolerantes  e  velavam  com  a  sua  égide  os  pobres 
cómicos,  a  quem  a  Inquisição,  o  Ordinário  e  outras  auetoridades  não  viam 
com  bons  olhos.  O  poder  real  acobertou-se  com  o  manto  de  misericórdia,  fa- 
zendo dos  divertimentos  theatraes  uma  receita  abundante  em  favor  do  Hospi- 
tal de  Todos  os  Santos.  Um  manuscripto  existente  na  Bibliotheca  Nacional  de 
Madrid,  e  de  que  Gallardo  transcreve  extractos  no  seu  Ensai/o  de  nua  Biblio- 
teca sob  o  n.°  554,  fornece-nos  curiosos  apontamentos  sobre  alguns  adores 
portuguezes,  que  mais  se  tornaram  salientes,  e  sobre  alguns  actores  bespa- 
nhoes  que  estiveram  em  Portugal.  Os  actores  portuguezes  de  que  faz  menção 
são  estes  dois: 

João  Sequeira  de  Lima.—  Vo\  casado  com  Teresa  Garay,  de  quem  se  se- 
parou. Gonsorciou-se,  em  segundas  núpcias,  com  D.  Maria  do  Prado,  senhora 
fina,  que  falleceu  de  modo  bastante  extraordinário.  Acercando-se  duma  de- 
functa,  que  estava  de  corpo  presente  na  Rua  de  las  Huertas,  ficou  tão  impres- 
sionada com  aquelle  aspecto,  que  enfermou  e  morreu. 

Em  1691,  Sequeira  foi  mettido  nos  cárceres  inquisitoriaes,  attribuindo-se 
a  sua  prisão  ao  seguinte  motivo :  estando  amancebado  com  a  Grifona,  e  esta 
morrendo,  fê-la  retratar  defuncta,  collocou  o  retrato  em  um  nicho  com  corti- 
nados, e  de  noite,  com  luzes  accesas,  punha-se  em  extasis  diante  d'ella.  A 
louca  religião  do  amor!  Accrescenta-se,  porem,  que  sabira  incólume  das  gar- 
ras do  Santo  Officio. 

Luis  de  Mendoza. —  Tem  biographia  menos  romântica.  Fazia  com  acceita- 
ção  os  papeis  de  barbas.  Em  1662  já  era  mencionado  no  livro  da  Fazenda. 
Morreu  em  1684. 

Dos  actores  castelhanos,  que  estiverem  em  Portugal,  dá-se  noticia  dos 
seguintes : 

Petronilla  Jiraja. — Esteve  muito  tempo  em  Lisboa,  onde  se  diz  que  gozara 
os  favores  de  elrei,  por  cujo  motivo  e  por  desconfianças  da  rainha,  se  retirou 
a  Madrid,  cheia  de  jóias  e  de  fatos  riquíssimos,  que  despertavam  a  curiosidade 
do  publico,  que  acudia  mais  a  vêr  os  enfeites  que  a  mulher,  que  com  elles  se 
adereçava.  Entrou  para  a  companhia  de  José  Prado,  de  quem  pariu,  em  1721, 
um  filho  monstro. 

Afonso  de  Medina.  —  Figurou  primeiro  de  musico,  na  companhia  de  Fer- 
nando Roman,  em  1689,  em  Guimarães. 

Domingo  Labrana. — Morreu  em  Lisboa,  em  1703. 


(Win)  A  LlTTERATUÍA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  17.'! 

Diego  Rodriguaz.— Natural  de  Granada.  Em  \l\~-i  representava  em  Ma- 
drid na  companhia  de  José  de  Prado.  Esteve  em  Lisboa,  onde  matou  à  beira- 
mar  um  portagnez,  que  dizia  mal  dos  castelhanos,  Outro  portugueí 
lheu  cm  casa,  e  ahi  o  homisiado  se  exercitou  na  arte  de  ourivesaria,  traba- 
lhando cm  filigrana.  \>  buscas  da  justiça  não  cessaram,  mas  elle  conseguiu 
escapar-se  na  guarda-roupa  duma  companhia  de  comediantes. 

Estebam  Vallespin.  -Nasceu  em  Palma,  onde  casou,  muito  moço,  em 
1673.  Veio  com  uma  companhia  a  Portugal,  onde  esteve  um  anno,  particular- 
mente em  Lisboa.  Depois  de  uma  vida  bastante  accidentada,  morreu  no  reino 
de  Aragão  cm  1711. 

Francisco  António  Palomino.  Esteve  cm  Lisboa  cm  [671,  na  companhia 
de  Isidoro  Huano. 

Juan  de  Espafía.  -Gracioso.  D'elle  se  conta  a  seguinte  aventura.  Estando 
em  Lisboa,  na  quinta  do  Marquez  de  Fronteira,  viu  pintada  nos  azulejos  do 
jardim  uma  batalha  entre  hespanhoes  e  portuguezes,  em  que  se  representava 
D.  Joio  de  Áustria  fugindo  e  o  Marquês  de  Fronteira  no  .sen  encalço  dando- 
Ihe  espadeiradas.  Juan  de  Espana  ficou  ião  indignado  com  csie  quadro  que 
puxando  da  espada,  principiou  de  bradar:  «Ah!  perros  de  portuguezes!»  E 
espatificou  os  azulejos.  Avisado  o  Marquez,  acudiu  logo  com  outros  portugue- 
zes, e  dariam  cabo  do  actor,  a  não  lerem  intercedido  os  rogos  das  damas  do 
tlieatro,  valendo  lhe  sobre  isto  o  favor  que  linha  no  publico. 

É  possível  que  a  aneçdota  lenha  algum  fundamento,  mas  acha-se  pelo 
menos  muito  exaggerada.  Os  quadros  históricos  formados  de  azulejos,  repre- 
sentando as  batalhas  da  independência,  e  em  que  desempenhou  Ião  brilhante 
papel  o  primeiro  Marquez  de  Fronteira,  estão  ornamentando  uma  sala  do  pa- 
lácio, e  não  o  jardim.  E,  que  saibamos,  conservam-se  intactos,  sem  vestígios 
dos  golpes  do  irado  Juan  d<>  Espana. 

buis  Geronymo. — Granadino.  Esteve  em  Portugal  em  1689,  em  compa- 
nhia de  Fernando  Homan.  Em  1700  representava  em  Valladolid. 

Pedro  Labc. — Veio  por  um  desgosto  para  Portugal, onde  entrou  na  comedia. 

Pedro  de  Espinosa.— Era  em  I7<>|  apuntador  na  companhia  de  João  An- 
tónio, em  Lisboa.  Morreu  em  1709. 

Dos  tempos  modernos  seria  interminável  a  relação,  se  quizessemos  apre- 
sentar a  nota  de  todas  as  companhias  de  zarzuela,  que  leni  representado  nos 
theatros  portuguezes,  sendo  não  poucas  as  estreitas  que  tem  despertado,  como 
a  Zamocois,  o  enthusiasmo  th>  nossas  plateias.  Basta  dizer  que  bastantes  hes- 
panholas  si1  tem  ostentado  nos  nossos  palcos,  escripturadas  em  companhias 
portuguezas.  principalmente  em  companhias  de  canto. 

Para  mostrar  quanto  a  litteratura  dramática  hespanhola  estava  vulgari- 
zada entre  nós,   recordaremos  duas  composições  satyricas,  uma  delias  do 


17Í  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EU  PORTUGAL  (xxiv) 

tempo  de  D.  Affonso  VI,  e  ;i  outra  mais  recente,  de  Tbomaz  Pinto  Brandão. 
Tanto  numa  como  noutra  se  faz  uma  enumeração  extensa  de  comedias  hes- 
panholas,  servindo  os  seus  títulos  de  allusões  salyricas  e  de  remoques  in- 
dividuaes.  Os  curiosos  poderão  recorrer  ao  Catalogo  do  Sr.  Garcia  Teres, 
onde  se  acham  transcriptas  na  integra. 

No  século  xvi  os  dramaturgos  portuguezes  forneceram  elementos  bas- 
tantes para  as  representações  theatraes,  tanto  palacianas  como  populares.  Ape- 
sar de  não  haver  documentos  indiscutíveis  que  mostrem  a  existência  de  thea- 
tros  públicos  antes  dos  Filipes,  podemos  todavia  conjecturar  da  sua  existên- 
cia por  algumas  referencias,  sobretudo  pela  declaração  que  se  lè  no  Intróito 
da  Tragicomedia  alegórica  d' El  Paraíso  y  d' El  Infierno,  impressa  em  Burgos 
em  1539,  e  que  é  uma  traducção  ou  imitação  de  um  dos  melhores  Autos  de 
Gil  Vicente,  pertencente  à  trilogia  das  Barcas: 

!  Mia  fé  yo  os  quiero  ronlar 
No  sé  qué  vi  en  Lisboa, 
Que  dicen  que  es  cosa  boa 
Segun  su  comun  liablar. 

Enxertaremos  aqui  uma  noticia  que  nos  parece  servirá  de  auxiliar  para 
o  estudo  das  relações  e  das  influencias  dramáticas  dos  dois  paizes.  João  Mal- 
donado publicou  em  Burgos,  em  1535,  uma  comedia  latina  Hispaniola.  Diz  elle 
no  prologo  que  um  rapaz  lha  furtara,  e  que,  sendo  dada  à  luz  contra  sua 
vontade,  fora  representada  sumptuosamente  diante  da  corte  de  D.  Leonor, 
terceira  mulher  de  D.  Manuel. . .  et  apud  Helionoram,  Gallia:  Reginam,  nua; 
tunc  eral  Portugallia,  non  levi  sumptu  acta.  spectante  Procerum  caterva,  Sum- 
moque  Smatti*.  , 


Com  o  theatro  anda  intimamente  relacionada  a  musica,  e  decerto  que  não 
foi  pequeno  o  numero  de  cantores  e  músicos  hespanhoes,  que  vieram  a  Por- 
tugal de  passagem  ou  que  aqui  se  estabeleceram.  Mateo  de  Aranda  foi  pro- 
fessor de  musica  na  Universidade  na  primeira  metade  do  século  xvi.  Garcia 
de  Besende,  entre  os  músicos  celebres  do  seu  tempo,  menciona  um  Badajoz, 
cujo  nome  indica  a  procedência.  A  fama  de  Morales  achou  echo  nos  versos  do 
auto  de  António  Prestes,  o  Mouro  encantado.  Francisco  Garro  publicava  em 
Lisboa  as  suas  obras,  em  1600,  na  imprensa  de  Pedro  Craesbeeck.  António 


'  Gallaido,  CuIuIoqo,  sob  n.°  2:879. 


I\\\  I  .V  LITTERATUBA  HESPANHOLA  ESI  PORTUGAL  I  /■» 

Cabeçõn  esteve  também  em  Lisboa,  fazendo  parle  da  capella  real.  Té  y  Sagau 
foi  director  da  impressão  de  musica  ao  reinado  de  I».  João  \  e  existem  d'elle 

diversas  composições  mosicaes.  Os  villancicos  que  se  cantavi as  igrejas, 

pelo  Natal  e  outras  festividades  sacras,  tinham  quasi  todos  a  letra  emhespa 
nhol.  É  abundantíssima  entre  nos  esta  especialidade  litleraria.  A  Bibliotheca 
Nacional  de  Lisboa  e  a  do  Rio  de  Janeiro  possuem  importantes  collecções.  \  que 
pertence  a  esta  ultima  havia  sido  formada  pelo  abalizado  bibliographo  Bar- 
bosa Machado. 

Os  músicos  portuguezes  lambem  exerceram  brilhantemente  a  sua  pro 
fissão  em  Hespanha,  já  na  corte,  já  nas  capellas  das  diversas  calhedraes.  Al- 
guns compositores,  como  Francisco  Guerreiro  e  Francisco  Correia  de  Araújo, 
tem  sido.  porém,  indevidamente  considerados  como  portuguezes,  quando  nos 
parece  indiscutível  a  sua  nacionalidade  hespanhola.  Ser-nos-hia  muito  honroso 
tê-los  na  conta  de  nossos  compatriotas,  mas  antes  a  nossa  faliotazinha,  ainda 
que  pobre,  de  que  o  rico  vestuário  ostentado  por  empréstimo.  A  lista  fica  di- 
minuída, mas  não  nos  envergonha.  \  testa  d'ella  vemos  figurar  o  grande  poeta 
Jorge  de  Montemor,  que  foi  para  Hespanha  a  titulo  de  cantor  da  capella  da 
Infanta  D.  Maria. 

Depois  da  tbeologia  e  do  direito  canónico,  as  sciencias  hespanholas,  que 
mais  nos  invadiram,  foram  a  astrologia  e  a  medicina.  São  numerosos  os  me 
dicos  daquella  nacionalidade,  que  frequentaram  a  nossa  corte  e  que  trataram 
nos  nossos  lrospitaes '.  N"este  ponto,  porem,  talvez  o  balanço  nos  seja  favorá- 
vel, porque  e  extenso  o  rol  dos  médicos  portuguezes,  que  regentaram  cadei- 
ras  nas  universidades  hespanhola.-  e  que  exerceram  clinica  n'aquelle  pai/.. 
A  lista  da.-  obras  por  elles  ali  publicadas  também  é  extensa  e  importante. 

A  astrologia  hespanhola  deu-nos  um  Zacuto,  que  floresceu  no  século  xv,  e 
cujo  Almanach,  um  dos  primeiros  produetos  da  imprensa  portugueza,  ainda 
hoje  e  apreciado.  Outros  astrólogos  hespanhoes  figuraram  por  vezes  nos  con- 
selhos dos  nosso-  reis,  na  consulta  das  descobertas.  O  bacharel  mestre  Joham, 
physico  e  cirurgião  de  el-rei  D.  Manuel,  acompanhou  Vivares  Cabral  na  des- 
coberta do  Brasil,  e  ve-se  que  foi  encarregado  de  observações  astronómicas. 
D'elles  dá  conta  ao  monarcha  portuguez  em  carta  que  lhe  dirigiu,  e  cujo  ori- 
ginal se  conserva  na  Torre  do  Tombo*.  \>  Chronologias  e  Reportorios  do 
tempo  eram  na  maior  parte  de  procedência  hespanhola.  Valentim  Fernandes 


1  Garcia  Peres  inclne  no  sen  catalogo  a  Francisco  Franco,  que  foi  medico  de  l>  JoSo  III 
e  a  quem  Jorge  Cardoso  dá  por  natural  de  Villa  Viçosa  Do  seu  /.<<  ro  de  enfermidades,  im- 
presso em  Sevilha  em  1569,  se  vê,  porém,  que  era  natural  de  Xativa,  reino  de  Valência. 

*  Corpo  Chronologicdj  P.  9  ',  maço  2,  doe.  2.  Varnfaagen  publicou-a  entre  os  documen- 
tos que  comprovam  a  sua  Historia  Geral  do  Brasil. 


170  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (XXVI) 

traduziu,  augmentando  o  e  corrigindo-o,  o  Reportório  dos  tempos,  de  André  de 
i.v,  que  teve  repetidas  edições  no  século  xvi.  Luis  Rodrigues  reimprimiu  em 
Lisboa,  em  1543,  o  Repertório  de  UêpOj  de  Salaya.  O  mesmo  fez  em  157G  o 
typograpbo  António  Ribeiro  com  relação  à  Chrmographia  de  Hieronymo  de 
Chaves. 

Portugal  também  contribuiu  pela  sua  parte  para  augmentar  neste  ponto 
a  litteratura  scientifica  hespanhola.  Francisco  Faleiro1  publicou  em  153b,  em 
Sevilha,  um  Tractado  dei  Esphera  y  dei  arte  de  marear.  João  Baptista  Lavanha 
foi  cosmographo  real,  é  d'elle  existe  na  Bibliotheca  Nacional  de  .Madrid  um 
manuscripto  original  illumlnado  para  uso  de  Filipe  IV,  Descripcion  dei  uni- 
verso. 

Na  mesma  Bibliotheca  existe  outro  manuscripto  (A  a,  57)  Arte  de  navegar, 
traducido  ai  castellano  por  Juan  Cedillo  fíiaz,  e  cujo  auetor,  Pedro  Nimez  de 
San,  ê  evidentemente  portuguez.  Luis  Freire  da  Silva  deu  á  luz  em  Barce- 
lona, em  1038.  unias  Ephemerides  generales  de  los  movimientos  de  los  cielos.  Co- 
lombo pussuia  na  sua  bibliotheca  um  manuscripto  do  infante  D.  Henrique,  &• 
Creto  de  los  secretos  de  astrologia,  que  ainda  boje  se  conserva  na  Bibliotheca 
Colombina  de  Sevilha.  Na  bibliotheca  do  Conde  Duque  de  S.  Lucar  (D.  Gaspar 
de  Gustnan)  existia  um  manuscripto  do  popular  auetor  do  Thesoro  de  prudentes, 
assim  intitulado:  Tesoro  magistral  de  Gaspar  Cardozo  de  Sequeira,  de  scien- 
cia  mathematica,  em  castelhano.  Diversos  pilotos  e  cosmographos  portuguezes 
foram  offerecer  os  seus  serviços  á  corte  de  Hespanha,  divulgando  ali  os  se- 
gredos das  nossas  navegações.  A  marinha  hespanhola  inscreve  nas  paginas 
mais  gloriosas  dos  seus  annaes  os  nomes  de  dois  descobridores  notáveis  — Fer- 
nando de  Magalhães,  o  que  deu  primeiramente  a  volla  ao  mundo,  e  Pedro 
Teixeira  de  Queiroz,  um  dos  descobridores  da  Austrália.  Colombo,  antes  de 
arvorar  nas  suas  naus  a  bandeira  dos  reis  catholicos,  tinha  sido  companheiro 
dos  valentes  marítimos,  que  fundaram  o  castello  da  Mina  e  dobraram  o  Cabo 
da  Boa  Esperança. 


1  A  proposilo  d' ou  Iro  Faleiro,  portuguez,  lé-se  na  obra  do  Dr.  Diego  Cisneros  «Sitio  na- 
Idralraa  J  propriedades  de  la  ciudad  de  Méjico»,  impressa  nesta  cidade  em  1618,  o  seguinte 
trecho : 

«Dividieron  los  antiguos  la  tierra  en  três  parles  principales:  Ásia.  Africa y  Europa;  los 
modernos,  que  á  fuerza  de  immenso  trabajo  y  atrevido  animo  se  determinaron  à  experimentar 
más  que  no  ellos,  hallaron  la  cuarta  parle,  que  vulgarmente  se  dice  América,  ó  índias,  atri- 
buyendose  a  si  la  gloria  Américo  Vespucio,  no  habicndola  bailado  el,  segun  la  más  cierta  opi- 
nion,  sino  Huy  Falero,  português :  y  que  lueron  suyas  las  descripeiones  cou  que  el  Almi- 
rante Cólon  se  determino  à  bacer  cierto  esto  descobrimiento  y  nuevo  mundo».  (Cap.  xvi, 
foi.  74) 


(xXVIl)  A  I.ITII SRATI  T.A  «ESPANHOLA  EM  PORTUGAL 


Muitas  outras  especialidades  poderíamos  apontar,  fazendo  o  respectivo 
confronto.  Das  que  mencionamos  ainda  seria  possível  maior  desenvolvimento, 
mas  os  traços  que  lançámos  dão  já  uma  idea,  senão  exacta,  pelo  menos  muito 
aproximada,  do  ediflcio  que  esboçámos. 

A.  resenha  bibliographica  que  elaborámos  é  a  pedra  dum  monumento  le- 
vantado em  honra  da  actividade  litteraria  e  da  civilização  peninsular.  Com  o 
seu  Catalogo,  o  Sr.  GarciaPeres  revelou,  por  um  lado,  a  puja  ura  da  nossa 
cultura,  por  outro  lado,  a  parte  importante,  com  que  Portugal  contribuiu 
para  augmentar  os  lhesouros  intellectuaes  da  Hespanha.  Estimamos  que  se  faça, 
se  desenvolva,  e  se  complete  esta  estatística,  dos  seus  variados  e  numero- 
sos aspectos,  não  por  uma  rivalidade  mesquinha,  mas  por  uma  emulação 
sincera  e  generosa.  Quaesquer  que  sejam  as  ideas  politicas  e  históricas,  que 
secularmente  nos  separam  de  He6panha,  esse  antagonismo  não  poderá  evitar 
que  no  campo  da  sciencia  fraternizem  as  duas  nações,  ajustando  serenamente 
as  coutas  do  que  se  devem  mutuamente  nesta  herança  e  conquista  do  saber, 
n'esta  lacta  gloriosa  do  progresso.  A  questão  da  lingua  é  urna  questão  secun- 
daria quando  attentemos  unicamente  na  originalidade  e  na  pujança  do  pensa- 
mento criador.  O  I).  Quixote  seria  sempre  apreciado  e  louvado,  ainda  que 
fosse  escripto  primitivamente  em  lingua  de  menos  valor  e  importância.  Menos 
conhecido  e  o  portuguez  e  isso  não  obstou  a  que  os  Lutiadas  fossem  apre- 
ciados pelo  mundo  culto   como  uma   das  obras  primas  do  engenho  humano. 

O  trabalho  que  nós  hoje  apresentamos  demonstra  que  a  litteratura  hespa- 
nhola  se  tinha  vulgarizado  muito  no  nosso  paiz,  sobretudo  nos  fins  do  século 
xvi  e  nos  princípios  do  século  xvu.  Não  ha  hoje  em  Portugal  pessoa  a  quem 
os  livros  castelhanos  lhe  não  sejam  tão  naturaes  como  os  próprios  portugue- 
zes,  dizia  Simão  Lopes,  ao  prefaciar  a  traducção  do  Fios  Sanctorum,  de  Ville- 
gas,  impresso  em  Lisboa  em  1598.  Não  recenseamos  somente  os  livros  escrip- 
tos em  hespanhol,  mas  também  os  escriptos  em  latim  e  mesmo  em  porluguez, 
porque  o  nosso  intento  principal  foi  mostrar  a  produetividade  intellectual, 
qualquer  que  fosse  a  forma  da  sua  manifestação.  Confessamos  que  muitas 
vezes  nos  sentimos  um  pouco  descoroçoado  e  abatido,  porque  não  ha  nada 
mais  enfadonho  do  que  ter  de  examinar  dezenas  e  dezenas  de  volumes  de 
pouco  valor  intrínseco  e  que  só  poderiam  ser  tidos  em  alguma  conta  pelos 
fanáticos  do  tempo.  Custa  a  crer,  como  sendo  tão  abundantes  os  escriptos 
theologieos  e  mysticos  de  auetores  portuguezes,  ainda  fosse  necessário  repro- 
duzir os  trabalhos  de  auetores  hespanhoes,  alguns  dos  quaes,  aliás,  de  bem 


178  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGA*  (xxvill) 

escasso  merecimento.  Podíamos  ter  feito  uma  selecção,  mas  entendemos  que 
devíamos  fazer  menção  de  ludo  que  chegasse  ao  nosso  conhecimento,  porque 
isso  era  mesmo  um  elemento  demonstrativo  e  característico  das  influencias 
do  meio  e  da  época,  decrescia  ainda  uma  circumstancia :  o  que  não  servisse 
para  o  estudo  puramente  litterario,  serviria  pelo  menos  para  o  estudo  do  mo- 
vimento mercantil  da  typographia  e  livraria. 

Não  poucos  livros  hespanl s  receberam  aquio  baptismo  da  imprensa.  Não 

ê  pequeno  b  rol  das  edições  prínceps.  Diversas  circumstancias  contribuíram 
para  islo,  sendo  uma  delias  puramente  mercantil:  o  ser  acaso  mais  fácil  e 
mais  barato  o  trabalho  dos  nossos  typographos.  Outras  vezes  era  isso  devido 
aos  auetores  residirem  entre  nós  ou  virem  aqui.  já  por  circumstancias  da  vida 
official,  já  por  outras  que  nos  são  desconhecidas.  Assim  ainda  não  pudemos 
averiguar  o  motivo  que  trouxera  a  Portugal  o  celebrado  auetor  do  Gttzman 
d'Alfarache.  Alguns  apaixonados  bibliophilos  portuguezes  gostavam  de  pos- 
suir nas  suas  livrarias  manuscriptos  de  auetores  hespanhoes.  Luís  Briseno, 
querendo  publicar  uma  edição  das  obras  de  Garcilaso  de  la  Vega,  príncipe 
de  los  poetas  castellanos,  dirigiu-se  ao-Dr.  Vicente  Nogueira,  grande  erudito, 
pedindo-lhe  os  manuscriptos  que  possuísse  do  poeta,  mas  Nogueira  não  poude 
satisfazer  o  pedido  porque,  havendo  emprestado  o  seu  códice,  não  lh'o  resti- 
tuíram. A  edição  foi  feita  em  Lisboa  em  1626  por  Pedro  Craesbeeck  e  com 
os  mesmos  delicados  typos  com  que  este  impressor  dera  à  luz  uma  edição  dos 
Lusíadas.  O  arcebispo  de  Lisboa  D.  Luis  de  Sousa,  conselheiro  de  estado  de 
D.  Pedro  II,  possuía  uma  livraria  magnifica,  e  parece  que  foi  por  algum  có- 
dice seu  que  se  imprimiu  em  Lisboa,  em  1690,  El  Fénix  Caslellano,  de  D. 
António  de  Mendonça.  Os  luminares  da  litleratura  hespanhola  foram  aqui  re- 
produzidos immediatamente,  como  suecedeu  com  Cervantes.  Aleman,  Lope  de 
Vega,  Quevedo,  Perez  de  Montalvan,  Galvez  de  Monlalvo,  Malon  de  Chaide, 
Gongora,  Garcilaso  de  la  Vega  e  muitos  outros  receberam  em  Lisboa  a  con- 
sagração da  imprensa. 

Um  dia,  se  nos  permittirem  as  debilitadas  forças  e  nos  não  faltar  o  tempo, 
estenderemos  o  nosso  trabalho,  aproveitando  os  subsídios  que  jã  possuímos, 
para  fazer  uma  resenha  idêntica  relativamente  às  obras  dos  portuguezes  im- 
pressas em  Hespanha.  E,  se  pudermos,  completaremos  essa  indicação  com  a 
lista  dos  portuguezes  que  no  paiz  vizinho  tiverem  por  qualquer  modo  alcançado 
algum  renome,  já  nas  armas,  já  na  sciencia  ou  nas  artes.  Feito  o  respectivo 
inventario,  realizado  o  balanço,  quer-nos  parecer  que  a  nossa  nacionalidade 
não  teria  muito  de  que  se  julgar  abatida.  E  quando  porventura  o  resultado  nos 
fosse  desfavorável,  quando  a  comparação,  proporcionalmente  feita,  das  nossas 
forças  e  das  da  Hespanha,  nos  revelasse  um  grau  de  inferioridade,  nem  por 
isso  calaríamos  a  verdade,  antes   a  houvéramos  de  proclamar  com  justiça, 


(wix)  A  ÚTTJSRATUR.A   HESPANHOLA   EM   PORTUGAL  17!' 


para  que  essa  confissão  publica  e  sincera  nos  viesse  servir  de  ensinamento  e 
de  estimulo. 

Não  nos  entontece  a  pueril  vaidade  de  ler  realizado  uma  obra  completa 
e  perfeita.  N'estes  assumptos  é  difilcil,  senão  impossível,  o  dizer  a  ultima  pala 
vra  e  exbaurir  completamente  a  matéria.  AJèm  d'isso  é  a  primeira  vez  que 
se  leva  a  cabo  um  ensaio  d"csta  natureza  e  lia-de  resentir  seda  falta  de  explora 
ções  preliminares,  tio  auxilio  dos  pombeiros,  que  nos  fossem  esclarecendo  o 
caminho,  como  acontece  cora  os  atravessadores  do  continente  negro.  Se  não 
Qzemos  uma  obra  prima  de  critica,  cheia  de  tbeorias  transcendentes  e  de  hypo 
lheses  arrojadas,  coordenámos  pelo  menos  uma  razoável  somma  de  apontamen- 
tos curiosos,  colhidos,  na  sua  quasi  totalidade,  directamente  e  em  primeira 
mão.  N'este  intuito  empregámos  os  nossos  mais  ardentes  esforços,  e  se  não 
atlingimos  o  ideal  da  perfeição,  resta-nos  a  convicção  de  haver  feito  conscien- 
ciosamente uma  obra,  modesta  sim,  mas  útil:  útil  sobretudo,  se  fôr  encarada, 
como  entendemos  que  o  deve  ser,  debaixo  do  ponto  de  vista  que  deixamos 
delineado  e  a  que  procurámos  obedecer. 


I3IBLIOGRAP1II  A 


Abarca  (Juan  Fernandes).  Discurso  de  las  partes  y  calidades,  con  que 
forma  ttn  buen  secretario,  con  catorze  capítulos,  que  debe  guardar  para  su  en* 
teresa.  Lisboa,  Pedro  Craesbeeck,  1618.  V."  vm-244  lis. 

N."  778  'In  Catalogo  do  Marquez  de  Pombal. 

Agreda  (Soror  Maria  de  Jesus).  Wystica  civdad  de  Dios  milagro  de  su 
omnipotência,  y  abysmo  de  In  grada.  Historia  divina,  y  vida  de  la  virgen 
Madre  de  Dios,  reyna,  y  sefíora  nvestra  Maria  Santíssima,  Restauradora  de  la 
culpa  de  Eva,  y  Medianera  de  la  Uniria.  Ofrecida  ai  muy  ilustre  seflor  Uni- 
ria de  Mello,  do  conselho  de  ara  alteza,  montero-mayor  dei  Reyno  etc.  Manifes 
toda  en  estos  últimos  sigbs  por  la  misma  Sefíora  a  su  Esclava  Soror  Maria  de 
Jesus,  abadesa  de  ri  convento  de  la  Immaculada  Concepcion,  de  la  Villa  de 
Agreda,  etc.  Primeira  parir.  Lisboa.  En  la  Emprenta  de  António  Craesbeeck  de 
Mello,  Impressor  de  la  Casa  Real.  Afio  .1/.  DC.  LXXXI. 

l  vol.  foi.  I7(i  lis.  prel.  imi.,  íi-J  pags.  de  texto,  mais  156  de  notas.  A 
dedicatória  é  precedida  por  um  bello  escudo  gravado  por  Ignatio.  Depois  do 
prologo  e  antes  da  vida  da  venerável  madre,  o  seu  retrato  em  gravura. 

A  segunda  parte,  976  pags.,  mais  65  de  notas,  foi  impressa  por  Miguel 
Manescal  em  M.  !><:.  LXXX,  e  tem  um  ante-roslo  gravado,  assignado  por 
And.  C. 

A  terceira  parte,  196  pags.,  mais  '.',:>  de  notas,  tem  também  um  ante-rosto 
gravado,  e  foi  impressa  por  António  Craesbeeck  de  Mello,  cm  M.  DC.  LXXXI. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Aguilar  y  Prado  (D.  Jacinto  de). —  Certíssima  relacion  de  la  nitrada  qve 
hi:<>  Sr  Magestad,  e  nas  Altezas  eu  Lisboa ;  y  de  la  tornada  que  hizieron  las 
galeras  de  Espafía,  a  de  Portugal,  desde  ri  Puerto  de  Santa  Maria  hasta  la  [a- 
mosa  ciudad  de  Lisboa.  Donde  se  refiere  las  prevenciones,  fiesias,  y  grandezas 
que  se  hizieron  <n  riia  y  otras  muchas  rasas  notables,  sucedidas  en  esta  facion. 
Compvesta  pia-  Don  làcinto  de  Aguilar  y  Prado,  natural  de  la  ciudad  de  lira- 


18^  A.  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (2) 

nada,  .//  soldado  de  su  Magestad,  que  en  esta  tornada  se  halló.  Dirigida  ai  ge- 
neroso  Conde  de  Saldaiía,  Apulo  presente  de  la  iniciou  Espaftola,  Cauallerizo 
mayor  dei  Príncipe  de  Castilla,  Gehtilhombre  de  Cumaru  dei  Re//  nuestro  Se- 
fior, //  primer  Gentilhombw  de  la  de  su  Alteza,  Comendador  mayor  de  Cal- 
traua,  Capita»  de  vna  de  las  compartias  de  los  hombres  de  Armas  de  Castilla, 
hijo  dei  Ilustríssimo  e  excelente  Cardenal  de  Ler  ma,  tau  conocido  en  el  mando, 
por  sus  grandezas,  como  por  su  antigua  caliãad.  Con  todas  las  licencias  ne- 
cessárias. Impresso  en  Lisboa,  por  Pedro  Craesbeeck.  Aíto  de  M.  DC.  XIX. 

'(.",  2:í  lis.  siga.  A.-E.  Descripto  em  Gallardo  sob  n.°  51. 

4.°,  2  fls.  inn.,  20  mim.  pela  frente. 

Nos  dois  fólios  piei.,  licenças,  um  soneto  em  latim  de  António  de  Paiva, 
portuguez,  «en  loor  dei  autor»,  outro  em hespanhol  de  D.  António  Quadrado 
de  Lacueva,  e  dedicatória. 

Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa. 

Bibliolheea  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  (Animes,  8.°,  290  e  291). 

Albornoz  (D.  Diego  de). —  Cartilla  politica  ij  chrístiana.  Ofrccela  a  los 
pies  dei  liey  N.  Sef/or  D.  Diego  de  Albornoz,  Tesorero,  e  Canonigo  de  la  Santa 
Iglesia  de  Carthagena.  Dedicada  ai  excellentissimo  sefior  D.  Jvan  Mascarei/as, 
Conde  de  la  Torre,  Sefior  de  los  Lugares  de  Cocilin,  ij  Vereda  en  el  Estado  de 
la  índia,  ele.  En  Lisboa.  En  la  Emprenta  de  António  Craesbeeck  de  Mello  Im- 
pressor dei  Rey  nuestro  Sefior,  y  de  Sn  Alteza.  Aíio  1667.  A  costa  de  Miguel 
Manescal,  Mercader  de  libros. 

1  vol.  8.°,  11  pags.  prel.  inn.,  118  fls.  numeradas  pela  frente,  mais  30 
fls.  inn.  de  índice  de  los  Lugares  Latinos. 

0  livro  abre  com  a  dedicatória,  4  pags.,  de  Miguel  Manescal  a  D.  João 
Mascarenhas.  As  matérias  são  dispostas  em  forma  de  alphabeto. 

Alcântara  (Fr.  Pedro  de).—  Tratado  de  la  oracion  y  meditacion  recopi- 
lado por  el  R.  I'.  F.  Pedro  de  Alcântara  Frayle  menor  de  la  orden  dei  B. 
S.  Francisco.  Anadiose  ai  cubo  vna  breue  Introduction  para  los  que  comienean 
a  seruir  a  Dios:  y  vn  Tratado  de  los  três  votos  de  la  Religion.  Compuesto  por 
F.  llieronymo  de  Ferrara.  Impresso  en  Lisboa  en  casa  de  Joannes  Dlauio  de 
Colónia.  Con  Real  Priuilegio. 

1  vol.  16.°,  7  fls.  prel.  inn.,  107  lis.  numeradas  pela  frente.  Segue-se 
depois,  sem  paginação,  o  Tratado  de  llieronymo  de  Ferrara. 

Exemplar  da  Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa. 

Alcocer  (Fray  Juan  de).  —  Cerimonial  de  la  missa  en  el  qval  se  ponèn  ti.- 
das  las  Rubricas  gmeralrs,  e  algunas  particulares  dei  Missal  Romano  que  dia- 


i3l  A  MTTERATURA  HESPANHOLA  EM  l TUGAL  183 

ulgô  Pio  V,  y  mando  reconocer  Clemente  VIU.  con  aduertencias,  y  resoluciones 
de  muchas  dudas  q  se  pueden  ofrecer.  Recopilado  por  Fray  Jnan  de  Alcocer  de 
la  Orden  de  S.  Francisco  de  la  Regular  Obseruancia  de  la  Prouincia  de  Ara- 
gon.  Dirigido  ai  Santíssimo  Sacramento  dei  Aliar.  En  Lisboa.  Con  las  licen- 
cias necessárias.  Por  Pairo  Craesbeeck.  Afio  1622.  A  costa  de  Domingos  Cor- 
tines, mercader  de  libros. 

I  vol.  8.",  7  lis.  prel.  inn.,  201   numeradas  pela  frente,  afora  -2  lábias. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Aleman  >  Matheo). —  a;  Primem  parte  de  Gvzman  de  Alfarrache  por  Ma- 
ta' Aleman,  enndo  delRey  don  Felippo  III,  nuestro  sefior,  y  natural  vezino  de 
Seuilla.  Dirigida  a  I).  Francisco  de  lin/as.  Marquez  de  Posa,  Sefior  de  la  casa 
ile  Monçon,  Presidente  dei  Consejo  de  In  hazienda  de  su  Majeslad,  y  tribunales 
de  ella.  Con  licencia  de  la  Santa  Inquisicion.  F.n  Lisboa.  En  casa  de  Jorge 
Rodrigues.  Ano  M.  DC.  A  insta  de  Luys  Peres,  mercader  de  limos. 

í.°,  !)  tis.  prel.  inn.,  120,  56,  numeradas  |>cla  frente.  0  primeiro  livro  vae 
ale  folio  69,  o  segundo  até  120,  e  leni  no  final:  «Fim  dei  segundo  libro:  en 
Lisboa  por  Jorge  Rodrigues  Impressor.  Ano  1600».  O  terceiro  livro  tem  nu- 
merarão especial. 

Brune t,  fiando-se  no  catalogo  de  M.  G.  Gancia,  livreiro  em  Brighton,  diz 
que  esta  edição  contêm  três  partes,  quando  só  contém  três  livros.  Um  pouco 
de  reflexão  mostraria  o  anachronismo  do  equivoco. 

Esta  edição  soffreu  alguns  cortes,  conforme  se  deprehende  de  uma  das  cen- 
suras, assignada  por  Frei  António  Tarrique:  «Revi  este  Liuro,  &  emendado  o 
que  vay  riscado:  iras  folhas  6  A  17  á  :í.*>.  Não  ha  nelle  cousa  contra  a  fé  & 
bõs  costumes.  Em  sete  de  Janeiro  de  600». 

<i  exemplar  que  examinámos  pertence  hoje  à  Bibliotheca  Nacional  de  Lis- 
boa, tendo  feito  parte  da  livraria  de  Camillo  Castello  Branco,  onde  vem  des- 
cripto  no  respectivo  catalogo  sob  o  n."  1:136. 

In  Primeraparte  de  Gusman  de  Alfarache,  compuesto  por  Matheo  Aleman. 
Em  Coimbra,  na  oficina  de  Anti  mio  de  Mariz.  /'.  Genro  e  Herdeyro  Diogo 
Gomez  Loureiro,  1600. 

8.°  pequeno. 

Esta  a  descripção  do  catalogo  Miro  (n.°  395),  que  transcrevemos  por  não 
lermos  encontrado  ainda  nenhum  exemplar  d'esta  edição. 

António  de  Mariz  deve  ter  fallecido  nos  Dns  de  1590,  «porquanto,  na  en- 
trada de  1600.,  a  4  de  janeiro,  concedeu  a  mesa  do  santo  oflicio  de  Lisboa  a 
seu  genro  e  herdeiro  Diogo  Gomes  Loureiro,  impressor  da  universidade,  li- 
cença para  dar  na  impressão,  com  as  emendas  postas  pelo  revedor,  o  livro 
Hi<t  k  Mem.  da  A'  u) —  Tomo  mi.  parte  ir. — N.°  5  :í 


1S4  \  L1TTERATURA  HESPANHOLÀ  EM  PORTUGAL  (4) 


de  Mateo  /Ueman  intitulado  Guzman  de  Alfarache,  estampado  naquelle  anno 
nos  prelos  de  António  de  Mariz».  Deslandes,  Dteumentos  para  a  historia  da 
typagraphia,  i:1  edição,  p.  69,  nota. 

Vendido  no  leilão  Miro  (com  a  segunda  parte  de  Luxan  dê  Sayauedra, 
Barcelona  1602)  por  -li'-')  francos. 

c)  Segunda  parte  dela  vida  d''  Guzman  de  Alfarache,  Atalaya  de  la  rida 
umana  por  Mateo  Aleman,  su  verdadero  autor.  Eu  Lisboa,  impresso  por  Pe- 
dro Crasbeeck,  1604. 

í.°  pequeno. 

L  a  edição  princeps  d'esta  segunda  parte,  impressa  em  Lisboa,  durante 
a  residência  aqui  do  seu  auctor.  Ainda  a  não  lográmos  vêr  nem  temos  até 
agora  noticia  de  outro  exemplar,  por  isso  transcrevemos  a  sua  descripção  do 
catalogo  Miro  ( n.°  39C),  o  qual  accrescenta : 

«Première  édition  de  la  seconde  partie  de  Guzman  d' Alfarache,  pré- 
cieuse  et  fort  vare.  Õn  peut  voir  dans  le  Catalogue  de  Salva  une  longue  note 
au  sujet  de  cette  édition,  et  oú  il  est  dil  qu'il  ívest  pas  fixe  sur  la  date  exacte 
de  ce  volume.  II  ne  sait  pas  sil  a  été  publié  en  1604  ou  1605.  n"ayant jamais 
pu  en  voir  un  exemplaire. 

«Quant  à  Bnmet  il  dit  que  ce  volume  a  paru  pour  la  première  fois  en 
16U0.  Cest  une  grave  erreur,  car,  comme  l'a  dit  Salva,  la  première  édition 
de  la  première  partie  est  de  1599;  la  continuation,  par  Lujan  de  Sayavedra, 
ne  parut  pour  la  première  fois  qu'en  1602,  et  ce  nest  qu'après,  que  le  véri- 
table  auteur  refondit  son  manuscript  et  le  publia.  Voici  la  description  de  ce 
précieux  volume:  15  feuillets  préliminaires,  y  compris  celui  oú  se  trouve  un 
joli  portrait  de  1'auteur,  grave  sur  bois;  64  lis.  pour  la  première  partie,  HO 
pour  la  deuxième,  113  pour  la  troisième.  Quelques  petites  taches  et  mouil- 
lures». 

Vendido  no  leilão  Miro  por  230  francos. 

d)  Seg-unda  Parte  de  la  Vida  de  Gvsman  de  Alfarache,  Atalaya  de  Ia  rida 
umana.  Por  Mateo  Aleman,  su  verdadero  Autor.  Dirigida  a  Dom  .Ivan  de  Men- 
donça Marquez  de  San  German,  Comendador  dei  Campo  de  Mõtiel,  Gentilom- 
bre  de  la  Camará  de  el  Bei  nuestro  senor,  Teniente  General  de  las  Guardas  i 
Cavallaria  de  Espana,  Capilan  General  de  los  Reynos  de  Portugal.  En  Lis- 
boa. Impressa  con  licencia  de  la  Sancta  Inquisicion:  Por  António  Aluarez. 
Afio  de  160.5.  Con  Previlegio. 

8.°,  284  fls.  numeradas  pela  frente. 

Nas  preliminares:  licenças;  privilegio;  dedicatória  do  auctor  ao  Marquez 
de  San  German,  ao  Leitor;  elogio  do  alferes  Luis  de  Valdez  a  Matbeo  Aleman; 


5)  A  LITTERATI  li\   HESPAN A  EM  PORTUGAL  1  Sã 

poesias  diversas,  a  saber:  l.°  \l  Libro  e!  ai  auctore  fatto  da  mi  suo  amico 
(soneto  italiano);  2.°  Fratris  Custodii  Lupi,  Lusitani,  ordinis  Sanctissimae 
Trinitatis  de  libri  utilitate  (em  latim);  :\.°  Del  mismo  (soneto  em  hespanhol); 
ià  M;iiih:ruin  Alemanum  de  sim  Qusmano  (poesia  latina  de  Ruy  Fernandez 
de  Almada);  Joannis  Riberii  Lusitano  ad  Authorem  (Encomiastiehon) ;  El  Li- 
cenciado Miguel  de  Cardenas  Galmaestra,  a  MateoAleman  (soneto  em  hespa- 
nhol). Segue-se  a  Tabla  e  no  fim  d'esta,  em  frente  ao  primeiro  folio,  o  re- 
trato do  auctor,  tendo  por  baixo  Legendo  simulque  peragrando:  na  parte  su- 
perior, de  um  e  de  outro  lado,  um  brasão  e  um  emblema;  este  com  a  ins- 
cripção  Ab  insidiis  non  est  prudentia.  No  fim  do  livro  «Laus  Deo»,  rematando 
com  a  figura  de  um  leão. 

O  retrato,  com  traje  militar,  aponta  com  o  index  da  mão  da  direita  para 
d  emblema;  a  mão  esquerda  pousa  num  livro  fechado,  cujo  fecho  tem  a  se- 
guinte palavra  corta;  o  livro  descansa  sobre  uma  carteira  ou  pasta,  que  tem 
nos  ângulos  umas  estrellas  e  na  face  vertical  esquerda  um  Y  maiúsculo.  Será 
a  inicial  do  gravador?  Este  retrato  é  o  mesmo  que  adorna  o  San  Amónio  de 
Pndra. 

Damos  em  seguida  a  Informação,  a  Licença  e  o  Privilegio.  Êis  a  primeira: 

sPor  Mandado  do  supremo  Conselho  da  Santa  Inquisição.  Vi  &  examiney 
este  livro  intitulado  segunda  parte  de  Guzmão  de  Alfarache  Atalaya  de  la 
vida  umana,  A-  com  as  emendas  que  lhe  fiz  não  fica  tendo  cousa  algQa  contra 
nossa  Santa  Fé,  A-  bons  costumes.  Antes  me  parece,  que  alem  do  muito  en- 
genho A-  eloquência  que  nelle  mostra  o  Auctor  lhe  cabe  com  muita  razão  o 
nome  de  Atalaya,  porque  assi  como  da  Atalaya  se  descobrem  os  perigos  A 
se  dá  noticia  delles  aos  navegantes  e  caminheiros,  não  para  cair  nellas  (?), 
senão  para  os  fugir.  Assi  se  pode  avisar  com  este  livro  o  curioso  Leitor, 
para  com  elle  se  prevenir  contra  muitos  males  que  vão  pello  mundo  os  evitar 
A  se  defender  delles.  Dada  em  o  Gollegio  de  Santo  Augustino  de  Lisboa,  a 
sete  de  Septembro  de  1604.  —  Frei  António  Freire». 

«Vista  a  informação,  podese  imprimir  este  livro  intitulado  segunda  parte 
de  (lu/mão  de  Alfarache.  4  depois  de  impresso,  torne  a  este  Conselho  pêra 
se  conferir  com  o  original,  A  se  dar  licença  pêra  correr,  A  sem  ella  não  cor- 
rerá. Em  Lisboa  a  nove  de  Septembro  de  1604.= Marcos  Teixeira  Ruy  Pi- 
rez  da  Veiga». 

Privilegio 

«Ev  el  Rey  faço  saber  aos  q  este  alvará  virem,  q  Mateo  Alemão  ora  es- 
tudante  nesta  Cidade,  me  enviou  dizer  por  sua  petição,  que  elle  compôs  a 
segunda  parte  do  livro  intitulado  Guzmão  de  Alfarache  Atalaya  da  vida  umana. 
0  qual  imprimiu  nesta  Cidade  cr.  licença  do  Saído  Officio.   E  me  pedia  llve  ti- 


186  A  L1TTERATIHA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (6) 

zesse  mercê  concederlhe  Privilegio  para  por  tempo  de  dez  amios  nenhúa 
pessoa  o  possa  imprimir,  nem  mandar  imprimir,  nem  trazer  de  fora  do 
Heyno.  E  vista  sua  petição  por  lhe  fazer  mercê,  ey  por  bem,  que  por  tempo 
de  dez  anos  impressor,  nê  livreiro  algií,  nem  outra  pessoa  de  qualquer  cali- 
dade  que  seja,  não  possa  imprimir,  nem  mandar  imprimir  nesta  Cidade,  nê 
trazer  de  fora  do  Reyno  o  dito  livro,  salvo  as  pessoas  que  para  isso  tiverem 
seu  poder.  E  qualquer  impressor,  livreiro,  ou  outra  pessoa  que  imprimir,  ou 
mandar  imprimir,  ou  trazer  de  fora  do  Reyno  o  dito  livro,  durante  o  dito 
tempo  de  dez  annos,  perdera  para  elle  Mateo  Alemão  todos  os  volumes  que 
lhe  forem  achados.  E  alem  disso  encorrerá  em  pena  de  cincoenta  cruzados, 
ametade  para  eaptivos,  &  a  outra  metade  para  quem  o  accusar.  E  mando  a 
todas  as  justiças,  officiaes,  A-  pessoas  a  que  o  conhecimento  desto  pertencer, 
que  cumprão,  &  guardem,  como  nella  se  contem.  O  qual  ey  por  bem,  que 
valha  como  carta,  posto  que  o  effeito  delle  aja  de  durar  mais  de  hum  ano, 
sem  embargo  da  ordenação  em  contrario.  Sebastião  Pereira  a  fez  em  Lisboa 
a  quatro  de  Dezembro  de  mil  seiscentos,  &  quatro.  Duarte  Corrêa  o  fez  es- 
crever. Rey». 

O  exemplar  acabado  de  descrever  pertence  á  Bibliotheca  Municipal  do 
Porto.  Se  a  edição  anterior  é  raríssima,  esta  não  o  é  menos,  sendo  até  agora 
desconhecida.  Ao  Sr.  Calheiros,  dislincto  official,  que  foi  d'aquella  bibliotheca, 
devemos  os  apontamentos  que  a  este  respeito  e  a  nosso  pedido  se  dignou 
sollicitamente  enviar-nos. 

Damos  em  seguida  as  poesias  que  se  acham  nas  folhas  preliminares : 

Al  libro  et  avctore  fatto  da  un  suo  amico 

Sotto  una  bella  &  poética  fintione 
con  Iroppo  ingegno  &  arte  fabricata, 
non  manco  degna  d'esser  celebrata, 
che  la  Metanioiphosis  di  Nasone: 

La  vi  ta  scelerata  d'un  poltrone 
vedrai  con  alto  stil  fabuleggiata, 
acchio  che  la  virlu  sia  cercata; 
lasciato  il  vitio  dogni  mal  cagione 

Proccacia,  come  accorto  uccelatore, 
col  battuto  \  pentito  prigioniero 
pigliar  ogni  eàttivo  il  faggio  auctore 

Lecui  lodi  cantara  volontiero 
ma  per  lor  moltitudine,  &  splendore 
bisogna,  che  le  canti  un'altro  Homero. 


A  LITTKRATl RA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  18/ 


Ad  Matthaevm  Alemanum  de  suo  Guzmano 


Ruy  Fernandez  de  Almada 

Vilibus  exeinplis  Pharij  quid  gramli.i  ccelanl  ' 

Plauaque  cur  simulans  ab  dicliore  lypo .' 
Nempévetanl  Sophioe  mysteria  prodere  vulgo 

Inlimiusque  animo  pressa  figura  manet. 
Ilis  ducibus  Guzmane  geris,  ceu  Proteus  alterj 

Plana  sub  obscuro,  magna  minore  lypo. 
Ergo  cum  scile  Maritais  u.i')rMn.7x  dones 

Te  sibi  («Taío|*  Hispalis  alma  canal. 


loannis  Riberii  Lvsitano  ad  Authorem 

Encomiastichon 

Laus,  Matthae,  libi  superes!  post  fala  peremnis 

Quam  nullo  minuel  lempore,  tempus  edax. 
Orbe  pererrato  virtulem  extendere  factis, 

Pactum  ingens:  opus  est  Martis  &  artis  opus. 
Fortunam  maior  uariam  superare  labore, 

Herculeis  raanquiribus  iste  labor. 
Maius  opus,  maior  labor  est  coluisse  Minervam: 

Maior  &  exproprio  condere  Marte  libros: 
Heroas  decorare  solent  duo  nomina  Mars,  Ars: 

Muneraiu  pariter  Martis,  &  Arlis  habes. 
Mars  dedit  invictum,  quo  tendis  ad  árdua,  pectus: 

Excoluit  menten  doeta  Minervam  tuara. 
lugenij  monumenta  fui  super  aethera  nota. 

Testantur  larga  prsestita  dona  raanu. 
Multa  Hispana  canil  Musa:  at  qui  nullus  Ibera 

Dogmala  pinxit  adiou-  v:?TSr'-<  *»  pwfcfc. 
Testes  tiic  est  codex  módico  qui  vendilur  sere: 

Attãlicas  superant,  quas  dabit  emptus,  opes. 
Cuius  ab  aspectu  usorsus  eompressit  inanes, 

Invidia,  heu  multis  iniuriosa  nimis. 
Zoile  transuerso  calamo  qui  uulnera  figis, 

Iprocul,  en  contra  numina  bella  para-. 
Contra  Mercurium,  Phoebum.  contraque  Minervam, 

Morlalis  poterit  tela  moverè  manusí 
Quis  quis  auarus  ades,  redimis  qui  sanguine  gemmas 

Gemma  libi  parvo  uenditur  8  re,  ueni. 


188  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (8) 


Hauris  ah  effossa  pretiosa  pericula  terra: 

llir  liber  arcanas  fundei,  &  addel  opes. 
))■•  color  '--i  dives,  fuluo  quod  palie)  in  >. 

Non  sunl  divitise  delitiseque  simul 
At  liber  bic  auri  uenis  qui  pulcher  abundai, 

Nunc  lilii  delitias,  diuitiasque  dabit, 
Aureus  hic  certe  gemma  est  pretiosa,  libellusl 

Quis  tenui  geramara  respual  sere,  datam. 


El  licenciado  Migvel  de  Cardenas  Calmaestra  a  Mateo  Aleman 

Soneto 

Que  entre  las  armas  de  11. iroico  Achilles 
teuiplen  su  Lira  el  Griego  i  Mantuano 
i  entone  el  verso  el  Cordoves  Lucano 
para  las  dissenciones  mas  civiles: 

Qui-  i-oii  sentencias  graves  i  sutiles 
alumbre  ai  mundo  el  orador  Romano 
i  entre  la  fértil  pluma  dei  Toscano 
Sabia  Helicona.  tu  licor  destiles: 

Hazaiía  es  alta,  i  mucha  gallardia, 
aunque  los  hizo  faciles  i  prestos, 
la  ocasion,  los  sujelos  i  la  historia 

Peio  que  de  la  uiuilde  picardia 
Mateo  Aleman  levante  a  lodos  estos 
exemplo  es  digno  de  immortàl  memoria. 

Na  Bibliotheca  da  Ajuda  existe  o  seguinte  manuscripto : 
g)  Tercem  parle  de  Gusman  de  Alfarache.   Su  Autor  Félix  Machado  da 
Silva  Castro,  1."  Marques  de,  Montebelo. 

Este  é  o  frontispício.  Na  folha  immediata  diz:  Libro primero  de  la  terçara 
parle  de  Gusman  de  Alfarache.  Segue  em  letra  posterior,  mas  aspada  por 
cima :  Ba  livraria  da  Graça  de  Lisboa,  e  continua  :  Quénia  como  trato  de 
emendar  su  vida  desde  que  salio  de  la  galera  y  sapo  quien  era  su  padre  verda- 
dero.  Compuesta  por  Félix  Marques,  calhedratico  de  prima  en  la  Picardia  sin 
salário.  Dedicale  a  la  senoria  livre  de  los  magnificios,  y  muy  illttslres  senores 
Esportilleros  de  Madrid. — No  fim  da  dedicatória  assigna-se:  Félix  Mar[quez 
Cathedratico  de]  prima  el  la  Picardia  sin  salário.  A  parte  meltida  entre  pa- 
rentheses  rectangulares acha-se  escripta  em  uma  tira  de  papel  ali  coitada,  atra- 


U  A   LITTERATURA   HESPAM \   I  \i  1'ORTUCAl  18(J 

vez  da  qual  senão  percebe  o  que  fora  escripto  por  baixo  (Telia.  Na  primeira 
«ias  quatro  guardas  ou  folhas  em  branco  que  lem  antes  do  frontispício  diz  em 
letra  lalvez  d  esle  século  o  seguinte: 

N.  li.  0  sen  verdadeiro  author  he  o  primeiro  Marquez  de  Montebello; 
e  e  este  o  original».  Effectivamente  não  deixa  duvida  de  ser  esle  o  original, 
pelas  muitas  emendas  que  apresenta,  todas  em  tiras  Me  papel  colladas  sobre 
os  erros;  bem  como  pela  proveniência  de  haver  pertencido  a  livraria  do  con- 
vento >la  Graça,  onde  Barbosa  Machado  tomo  n,  p.  7)  afirma  tê-lo  visto.  É 
um  vol.  in-fol.  ordinário,  contendo  alem  do  frontispício  e dedicatória,  r>'il  pa- 
ginas com  o  índice. 

Esta  noticia  foi-nos  communicada  pelo  Sr.  Rodrigo  Vicente  de  Almeida, 
que  era  intelligente  e  prestimoso  official  da  Bibliolheca  da  Ajuda. 

A  obra  que  vamos  em  seguida  descrever  não  foi  impressa  em  Portugal, 
mas  parece-nos  que  merece  ter  aqui  natural  cabida,  não  só  por  causa  do 
assumpto,  mas  por  outras  circunstancias,  que  nos  fazem  suppor  que  houvesse 
uma  edição  princeps,  de  Lisboa,  anterior  á  de  Sevilha.  Alem  do  auctor  se  achar 
por  esse  tempo  em  Portugal,  é  de  notar  que  uma  das  approvações,  em  portu- 
guez,  e  de  Fray  Luis  dos  Anjos,  datada  de  S.  Francisco  de  Xabregas,  de  Lis 
boa,  a  2í  de  novembro  de  1603.  A  segunda  por  Fray  Gregório  líuyz,  é  da- 
tada de  S.  Francisco  de  Valladolid  a  7  de  dezembro  do  mesmo  anno. 

f)  San  António  de  Padva  <lr  Mateo  Aleman.  Dirigido  ai  Heyno  y  narm/t 
instituía.  Con  licencia  dei  Santo  Oficio  de  la  Tnquisicion,  y  Previlegios  de  su 
Magestad  para  Castilla  y  Portugal.  Impresso  en  Sevilla  por  Clemente  Hidalgo. 
Ano  1604. 

'i.",  :>:!  ti-,  prel.  inn.,  íl7  numeradas  pela  frente;  alem  de  mais  7  inn. 
de  Tabla. 

Nas  preliminares contêm-se : Approvações ;  erratas;  dedicatória;  elogio  de 
Matheo  Aleman  por  Ivan  Lopez  dei  Valle:  poesias  ao  autor,  de  Lope  de  Vega, 
D.  Jlodrigo  de  Ayala  y  Castro,  Dou  Hieronymo  Cortes,  nielo  dei  grau  Cortes, 
Ana  de  la  Pvente.  .Ivan  Lopez  dei  Valle,  ao  letor,  poesias  latina-  ao  Santo. 
Depois  dos  versos  seguc-se  uma  tolha  solta  com  um  retrato,  que  é  por  certo 
o  de  Matheo  Aleman.  E  o  mesmo  que  vem  na  segunda  parte  de  Ciisman  de 
Alfarache,  atraz  descripto. 

No  elogio  de  Lopez  dei  Valle  ha  a  seguinte  allusão  á  2."  parte  de  Guz- 
man  de  Alfarache: 

«La  vida  dei  bienaventurado  San  António  tio  eu  su  intercession,  que 
servira  de  espuelas,  a  los  varones  perfetos,  para  que  lo  sean  mas,  alentados 
de, la  variedad  de  discursos  que  a  diferentes  propósitos  se  apuntam  eu  este 
libro,  y  la  de  Ciizman  de  Alfarache,  cuya  segunda  parte,  aviendo  ya  cum- 
plido  con  esta  que  lo  fue  (por  voto)  de  necessidade  se  imprimira  presto, 


11)0  A  L1TTEKATIRA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (10) 

para  desterrar  la  que  sin  verdadero  nombre  de  autor,  y  contrahaziendo  el  de 
Matheo  Aleman,  salio  em  Valência  el  ano  passado». 

D'este  trecho  se  collige  que  a  Vida  de  San  António  devia  sahir  antes  da 
segunda  parte  do  Gtizman,  ou  pelo  menos  estava  para  isso  preparada.  Mais 
um  argumento  a  lavor  da  nossa  hypolhèse  da  edição  princeps  de  Lisboa. 

Uma  das  composições  poéticas  dirigidas  ao  celebrado  èscriptor  é  em  por- 
tuguez,  e  aqui  a  reproduzimos,  tendo  o  leitor  o  cuidado  de  emendar  os  hespa- 
nholismos,  que  o  impressor  lhe  introduziu  e  o  revisor  deixou  escapar. 
Ei-lo : 

Devino  António  estrela  rutilante  : 
Do  povo  Portuges  gloria  A  amparo, 
Sagrado  protector,  iV  ezemplo  claro, 
Da  virtude  na  terra  mais  contanle. 

Se  Portugal  não  deu  quem  de  vos  cante, 
Por  de  louvor  aos  seus  ser  sempre  avaro 
Da  alheya  pátria  Aleman  engenho  raro, 
Desta  empresa  quisestes  fosse  Atlante 

Com  ella  seu  estilo  sublimado, 
Qual  pedra  preciosa  en  rico  engaste, 
Mais  nos  olhos  do  mundo  resplandece 

E  assi  de  haver  a  um  Santo  tal  louvado, 
Sem  da  murmuração  temer  contraste, 
De  enveja  a  mesma  enveja  desfalece. 

Ê  anonymo.  Apenas  corrigimos  o  4.°  verso  da  2.a  quadra,  onde  estava 
«foge»  evidentemente  por  «fosse».  A  este  soneto  segue-se  o  retraio. 

O  San  António  de  Padra,  se  não  foi  publicado  primitivamente  ern  Lis- 
boa, foi  pelo  menos  escripto  aqui,  onde  o  auctor  residiu,  não  sabemos  por  que 
motivo.  As  provas  da  sua  estada  entre  nós  não  faltam.  Ainda  quando  o  não 
dissesse  o  alvará  do  privilegio  do  Gusman,  di-lo-ia  o  auctor.  O  capitulo  V 
da  vida  do  nosso  celebrado  thaumaturgo  é  uma  descripção  de  Lisboa,  se  não 
muito  particularizada,  bastante  curiosa  pelo  menos  e  feita  de  visa.  N'elle  tece 
um  levantado  elogio  aos  portuguezes,  gabando  muito  a  educação  recatada  das 
mulheres.  O  seguinte  período  mostra-nos  que  elle  falava  como  observador 
ocular:  «Quiero  aqui  con  verdad  referir,  y  como  testigo  de  vista,  que  profes- 
san  la  Religion  con  tanta  observância  y  santidad,  y  tratan  las  cosas  dei  culto 
divino  con  tanto  respelo  devocion  y  cuidado,  que  a  los  Paganos  convierten, 
a  los  destraidos  edifican,  a  los  justos  alegran,  y  a  todos  en  general  ponen 
grande  admiracion,  y  sirven  de  buen  exemplo*. 


II  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  Eil  PORTUGAL 


Possue  um  bello  exemplar  d'esta  obra  o  distinto  bibliophilo  o  Sr.  Fer- 
reira das  Neves  Sobrinho. 

No  catalogo  da  «Biblioteca  selecta  dei  Conde-Duque  de  Sanlúcar»,  vem 
descrip.ta  a  segainte  edição: 

Víateo  Aleman.     Historia  de  San  António  de  Pádua,  in-4.°,  Lisboa  ItjOo. 

II.,    I!)  . 

Alvarado  (M.  F.  António  de».  —  Arte  de  bien  morir,  y  goia  dei  comino  de 
la  muerte.  Compvesta  por  el  m.  i\  António  de  Aluarado,  Predicador  de  S.  Be 
nito  eiReal  de  VaUadolid.  Dirigida  a  Jesu  Chi  isto  nuestro  Sefíoi:  Impresso  en 
Lisboa  por  industria  dei  P.  /•'.  Marcos  de  la  Trinidad  P.  de  la  Prouincia  de 
la  III  Orden  de  S.  Fi'ancisco.  Con  licencia,  por  Pedro  Crasbeeck  16 1 6.  A  costa 
de  Thome  do  Valle  mercader  de  libros. 

IG.°,  7  lis.  prel.  inn.,  '.)1*2  numeradas  pela  frente,  mais  3  inn.  de  Índice 
No  fim:  Impresso  em  Lisboa  por  Pedro  Crasbeeck.  Ano  IGL'i  (sic). 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Alvarez  (Fray  António). — a)  Primera  parte  de  la  Sylva  spiritval  de  va- 
rias consideraciones,  para  entretenimiento  dei  alma  christiana.  Compuesta  pw 
el  padre  Fray  António  Aluarez,  Predicador  de  la  orden  dei  Seraphico  Padre 
sant  Francisco,  y  de  la  Prouincia  de  Sanctiago.  I  agora  en  esta  lercera  im 
pression  de  nuetto  corregida  por  el  mismo  Autor.  Dirigida  a  dona  Meneia  de 
Requesens  y  Çnfíiga,  condessa  de  Benauenle.  [Làminazinha].  En  Lisboa.  Con 
licencia  en  casa  de  Si  moa  Lopes,  Impressor  de  libros.  Anã  M.  I).  KCIV. 

'i.",  :i  lis.  prel.  inn.,  523  pags.  afora  a  Tabla.O  titulo  a  preto  e  encarnado. 

A  licença,  de  Fiei  Barlholomeu  Ferreira,  é  assim  concebida: 

a  Vi  por  mandado  de  S.  A.  este  libro,  cujo  titulo  he  Sylua  Spiritual  ú<- 
varias  consideraciones,  autor  o  Padre  Fray  António  Aluarez.  E  não  tem  cousa 
contra  nossa  sagrada  religião  &  bõs  costumes,  antes  a  doctrina  lie  de  muita 
edificação,  A  fará  muito  frueto  a  sua  lição.  2  de  Nouembro  de  1393o. 

Segunda  parte,  impressa  pelo  mesmo  livreiro  e  no  mesmo  anno. 

\.°.  Mi-2  pags..  afora  Índice  e  Tabla. 

b)  Addiciones  a  la  Sylva  Spiritual,  y  su  tirara  porte.  En  Lisboa.  Con  li- 
cencia de  la  Saneia  Inquisician,  y  Ordinário.  En  casa  </<■  Simon  Lopez.  M.D.C.  V. 

í.".  3  fls.  prel.  inn..  746  pags.,  afora  índice  inn. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Barbosa  diz  que  o  auetor  é  portuguez. 

Alvarez  (Thomaz).—  Vide  Innocencio  da  Silva,  Diccionario  Bibliographico, 
i.  vn,  p.  319. 


192  A  LOTERATCRA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (12) 


Alvarez  de  los  Reyes  (Manuel). —  Libro  real  de  las  alabanças  de  la  glo- 
riosa santa  Ana  y  san  loachin,  y  su  carta  executória,  //letras  en  loor  de  oiros 
santos.  Compuesto  por  Manuel  Aluarez  de  los  Reyes  Ciudadano  de  la  Cindad 
de  san  Christottal  Islã  de  Tenerife  de  las  siete  de  Canária.  [Estampinha :  mo- 
nogramma  da  Companhia  de  Jesus].  Con  privilegio  de  Castilla  y  Portugal. 

Segue-se  ii  1."  folio  com  Emmmdas. 

O  -2."  folio  é  qua>i  cheio  com  um  escudo  de  armas  reaes  portuguezas, 
tendo  por  cima:  Dirigido  a  Doiía  Ana,  de  Velasco  Duquesa  de  Bargança,  è 
pela  parte  inferior:  Impresso  con  licença  da  Sancta  Inquisição  por  Jorge  Ro- 
drigues.  Anno  de  1604.  Impresso  á  costa  dei  Autor.  Seguem-se  sonetos  ao 
auetor,  de  Alonso  de  Crasto  Macedo,  Don  Alonso  Prego  de  Villafane,  Salinas, 
resposta  do  auetor,  etc. 

8.°,  sem  numeração,  52  fólios  com  o  frontispício. 

O  soneto  de  Salinas  é  d'este  theor: 

Aluarez  aduierte  buelue  con  lu  intento 
No  te  metas  en  mar  dei  mundo  vano 
Porq  perderte,  y  anegarte  es  llano 
Sino  lleuas  de  arriba  el  íundamêlo. 

Siempre  tu  zelo  é  mirado  atento 
Veo  que  en  el  bien  publico  te  gano 
En  esso  pierdes,  porque  el  cortesano 
"Es  gouemado  solo  por  el  viento. 

Porq  quitar,  poner,  aduierte.  cuêta 
questa  suspenso  baxo  de  la  Luna 
y  ai  se  menoscaua  el  que  acrecienta 

En  la  occasion  que  tienes  oportuna, 
Para  que  se  acreciente  la  real  rêta 
Ten  confiança  en  Dios  y  no  in  fortuna. 

Villancico  ai  Nino  Iesus 

Nino  diuino  de  luz 

amor  os  haze  la  guerra 

que  oy  verteis  agua  en  la  tierra 

y  ai  morir  sangre  en,  la  Cruz. 

'  la  eomençais  a  sentir 
en  aquel  pesebre  echado 
que  si  oy  aueys  llorado 
en  Cruz  aueys  de  morir. 


I  13)  A  L1TTERÀTURA  HESPANHOLA  l.M  PORTUGAL  l'.l.' 


Para  dai  ai  alma  luz 

ordei 1  padre  esta  guerra 

vertaj  s  03  agua  en  la  tierra 
j  ai  ii j'  tu'  sangre  en  la  Cruz 


Romance  ai  yloiioso  apostolo  San  Pablo 

rf>  duros  hierros  cargado 
estauá  Pablo  glorioso 
aquel  escogido  vaso 
aquel  Capitão  famoso 
aquel  diuino  Soldado 

aquella  coluna  lir 

que  Uios  labrú  por  su  muno, 
el  despertador  glorioso 
ile  las  almas  en  peccado, 
aquel  camino  dei  cielo 
de  mil  virtudes  sembrado 
el  rayo  viu"  encendido 
que  abrasa  los  mas  elados, 
aquel  defensor  de  Christo 
j  de  su  nombre  sagrado 
aquel  diamante  fino 
en  la  Fe  que  ha  professado 
aquel  rubi  encendido 
en  charidad  abrasado 
aquel  espejo  glorioso 
donde  Dios  se  ha  remirado 
eslà  puesto  de  rodillas 
-■li  viuo  amor  abrasado 
pidiendo  esfuerço  j  fauor 
a  Christo  crucificado, 
diziendo:  Padre  querido 
aqui  estoy  aparejado 

|i  ira  la  n rte  dichosa 

d i  fin  tan  desseado, 

a  ti  corno  a  Sefior  mio 

me  ofreseo  y  põgo  en  tus  manos 

j  a  mi  alma  pues  es  tuya 

a  ti  la  entrego  y  encargo 

pues  la  compraste,  j  costò 

la  sangre  de  tu  costado 

y  el  morir  en  vna  Cruz 

con  ânsias  agonizado 

recibeme  Padre  mio 

•  ■li  este  iu  amoi  sagrado 


194  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (14) 


pues  sabes  que  le  entregue, 
el  mio  en  siendo  llamado, 
y  vos  cuerpo  no  tembleis 
pues  oy  sereys  desatado 
m.  desmays  ni  temais 
que  lêdreis  gloria  3  descanso, 
estando  en  esto  e]  pastor 
puestas  las  manos  orando 
oye  que  abren  las  puertas 
los  lieros  sayones  brauos, 
\  que  le  quieren  lleuar 
para  ser  marlyrizado 
alegre  sala  e  humilde 

ai  Ciei il  .vraeias  dando 

y  Uegado  ya  a)  lugar 

v 1  alfange  blandeando 

en  la  mano  dei  sayon 
que  le  mira  amenaçando 
acaba  sayon  le  dize 
leuânta  ya  esos  duros  braços 
qui  si  oy  por  Christo  muero 
oy  viuire  eternizada 
y  en  esse  golpe  que  dieres 
esta  el  viuir  con  descanso 
y  con  enojo  el  sayon 
vn  fiero  golpe  le  ha  dado 
apartando  la  cabeça 
dei  cuerpo  glorioso  y  sanlo 
la  cabeça  salta  en  tierra 
três  vezes  donde  ha  saltado 
Ires  fuentes  de  agua  viua 
obrando  el  cielo  el  milagre 
que  quiere  Dios  q  se  entienda 
quanto  ama  a  sus  amados. 

Alvarez  era  da  casa  do  condestavel  de  Gastella  e  acompanhou  por  certo 
a  filha  deste  que  veio  a  casar-se  com  o  Duque  de  Bragança. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Alvia  de  Castro  (D.  Fernando).  —  D.  Fernando  Alvia  de  Castro  foi 
também  dos  que  residiram  no  nosso  paiz.  Natural  de  Logrono  e  cavalleiro  da 
Ordem  de  Calatrava,  desempenhou  um  cargo  oílicial  na  época  do  domínio 
filipino,  sendo  vedor  geral  da  gente  de  guerra  e  presídios  dos  reinos  de 
Portugal.  Outras  funcções  flscaes  exerceu  conjuntamente,  pois  tinha  a  seu 
cargo  as  coisas  de  contrabando.  D'esta  ultima  circumstancia  nos  dá  conheci- 
mento uma  representação  do  município  de  Lisboa  de  li  de  março  de  103 1 , 


15)  A  UTTEftATURA  HESPANHOLA  EM   PORTUGAL  195 


na  qual  pedi'  providencias  a  sua  magestade  contra  os  vexames  praticados 
por  aquelle  funccionario  contra  a  gente  de  negocio,  na  interpretação  de  leis 
relativas  ao  commercio  externo  e  asiático  '. 

D.  Fernando  Alvia  de  Castro  teve  permanência  bastante  longa  em  Por- 
tugal, estando  já  em  Lisboa  em  1616,  pois  n'este  anno  aqui  estampou,  nos 
prelos  de  Pedro  Craesbeeck,  a  sua  Verdadera  razon  de  Estado.  Do  anno 
seguinte  irmos  nota  de  uma  ordem  sua  de  pagamento  a  Luis  Alvarez  de  An- 
drade por  diversas  pinturas  que  executou  para  a  armada  real,  do  cominando 
de  D.  Fradique. 

Na  chancellaria  de  D.  Filipe  111  está  registado  um  alvará,  de  17  de  maio 
de  1624,  pelo  qual  lhe  foram  concedidos  sessenta  mil  reaes  por  anno  para 
arrendamento  das  casas  em  que  se  aposentasse,  conforme  tinha  o  seu  ante- 
cessor. Kste  alvará  é  do  theor  seguinte: 

«Eu  El  Rey  faso  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  eu  ei  por  bem  de 
fazer  mercê  a  Don  Fernando  dAluia  de  Crasto,  uedor  geral  da  junta  de 
guerra  deste  reino,  de  sessenta  mil  rs.  de  aposentadoria  para  pagamento  das 
cassas  em  que  uiuer,  que  he  outro  tanto  como  tinha  e  auia  seu  antesesor 
conforme  nua  carta  delrei  meo  senor  e  pai,  que  santa  gloria  aja,  de  uinte  e 
sete  de  outubro  do  ano  de  seis  sentos  e  dezaseis,  os  quaes  sessenta  mill  rs. 
se  lhe  pagarão  desde  o  primeiro  de  maio  de  seis  sentos  e  uinte  dois  en  deante, 
emquanto  seruir  o  dito  cargo:  pelo  que  mando  ao  meo  aposentador  mor  lhe 
fasa  lleuar  cada  ano  nas  folhas  das  ditas  aposentadorias  os  ditos  sessenta 
mil  rs.  de  aposentadoria  como  dito  he,  e  este  se  cumprirá. . .  Ccistouão  d'Orta 
o  fes  en  Lisboa  a  desasete  de  maio  de  mil  e  seis  sentos  e  uinte  quatro.  Luis 
de  Figueiredo  o  fes  escrever»-. 

Alvia  de  Castro  presenceou  a  revolução  de  dezembro  de  1640,  não  adhe- 
rindõ,  como  bom  castelhano,  ao  novo  estado  de  coisas.  Por  este  motivo 
certamente  foi  mandado  recolher  com  toda  a  vigilância  no  castello  de  S.  Jorge, 
onde  se  achava  com  sentinella  á  vista.  No  livro  n  da  Secretaria  da  Guerra, 
II.  42  verso,  acha-se  registado  o  seguinte  mandado: 

«O  sargento  mor  do  Castello  de  São  Jorge  Rui  Tavares  Viegas  porá 
guarda  de  soldados  a  Thomas  Dibio  e  a  D.  Fernando  Dalvia  de  Castro  para 
que  lhe  assistam  de  dia  e  de  noite  sem  os  deixarem  sair  nem  comonicar-se 
de  pallavra  nem  por  escrito  tomando-lhes  os  papeis  e  entrarem  e  saírem  em 
suas  casas  os  quaes  remeterá  a  este  Conselho.  Lisboa,  2  de  março  de  1641». 


1  Esle  documento  foi  publicado  pelo  sr.  E.  Freire  i 
di  >s  Elementos  para  a  historia  d»  município  de  Lisboa. 

•  Tone  do  Tombo.  Chancellaria  de  D.  Filipe  m.  DoaçO 


190  \  I  nri.RATl  RA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  I  U>) 


Alvia  de  Castro  não  foi  só  prosador,  foi  também  poeta,  embora  não  lhe 
conheçamos  nenhuma  produeção  neste  género.  Manuel  de  Galhegos  é  quem 
lhe  confere  as  honras  de  sacerdote  de  Apollo,  incitando  o  a  entrai'  com  a  sua 
voz  no  coro  epithalaniico  entoado  nas  bodas  do  Duque  de  Bragança,  que 
poucos  ânuos  depois  devia  ser  o  restaurador  da  pátria  e  o  fundador  de  uma 
nova  dynaslia.  0  poema  de  Galhegos  foi  impresso  em  Lisboa  em  16:3").  e  no 
livro  iv.  quintilha  202,  se  faz  o  convite  por  esta  forma: 

í)e  Dom  Fernando  Albia  de  Castro  vejo 
J:'i  temperada  a  lira  Castelhana. 
Que  inda  que  lie  Castelhana  o  claro  Tejo 
A  honra  na  Academia  Lusitana. 
Cante  pois  (o  Fernando)  a  vossa  Musa. 
E  a  metro  o  Panegerico  redusa. 

0  culto  das  musas  eslava  todavia  em  honra  na  familia  de  Alvia  de  Castro, 
pois  não  menos  de  quatro  sobrinhos  seus,  entre  os  quaes  uma  senhora,  col- 
labqraram  nas  poesias  laudatOrias  que  antecedem  a  Memoria  y  discurso  politico 
por  la  mvy  noble  y  mvy  leal  civdad  de  Logrono. 

A  actividade  litteraria  de  Alvia  de  Castro  não  foi  escassa,  pois  desde  1616 
até  16X1  deu  ao  prelo  sete  volumes,  sendo  seus  impressores  Pedro  e  Lourenço 
Craesbeeck.  Nicolau  António,  na  sua  Bibliotheca  Hispânica,  cita-as  todas,  me- 
nos uma,  Traducion  dei  Compendio,  etc,  mas  em  compensação  refere-se  a 
outra,  que  não  pudemos  encontrar  nem  vimos  mencionada  em  qualquer  outro 
auctor.  É  uma  traducção  franceza  de  Pedro  Mathoei,  que  escreveu  umas  obser- 
vações sobre  o  estado  e  vida  do  sr.  deVilleroy. 

Alvia  de  Castro  duas  vezes  se  occupou  de  coisas  nossas,  colligindo  os 
aphorismos  da  primeira  Década  de  João  de  Barros  e  fazendo  o  panegyrico  do 
Duque  de  Barcellos. 

Nos  Vários  efletos  de  amor,  en  cinco  novelas  exemplares,  de  Alonso  de  Alcalá 
II  Herrera,  residente  y  natural  de  la  inclyta  ciudad  de  Lisboa,  vem  no  principio 
uma  carta  ao  auctor,  por  D.  Fernando  Alvia  de  Castro. 

As  novellas,  impressas  em  Lisboa  em  1641.  teem  a  particularidade  de 
serem  escriptas  cada  uma  d'ellas  sem  uma  das  cinco  vogaes  respectivas. 

Luis  Marinho  de  Azevedo,  na  sua  Fundação,  antiguidades  e  grandezas  da 
mui  insigne  cidade  de  Lisboa,  etc,  obra  impressa  pela  primeira  vez  em  Lisboa 
em  1652,  procura  demonstrar  no  capitulo  xn  do  livro  iv  da  parte  ii,  que  a 
geração  dos  Duques  de  Flandres  provinha  de  um  nobre  porluguez,  de  nome 
Lyderico.  Depois  de  citar  a  opinião  de  Manuel  Soeiro,  acerescenta: 

«E  muito  mais  que  a  Manuel  Sueyro,  deve  Portugal  a  D.  Fernando  Alvia 
de  Castro,  vedor  geral  que  foi  da  gente  de  guerra  d'elle;  cujas  letras  humanas, 
erudição  e  perfeito  juizo  em  todas  as  matérias  o  fizeram  bem  conhecido». 


(17j  A   LITTERATURA   UESPANHOLA   EM   PORTUGAL  197 

Transcreve  em  seguida  -is  palavras  que  Uvia  de  Castro  exarou  a  esle 
propósito  no  seu  Panegírico...  dei  Eu     Duque  de  Barcelos. 

Alvia  de  Castro,  além  de  escriplor,  era  lambem  bibliophilo,  ajuntando 
uma  livraria,  que  parece  deveria  ser  importante. 

\  ío  sabemos  se  foi  vendida  por  elle,  pelo.-  herdeiros  ou  em  resultado  de 
sequestro.  0  que  sabemos  é  que  a  adquiriu  Sebastião  César  de  Meneses,  que 
exerceu  altos  cargos  no  episcopado,  na  magistratura  e  na  politica.  Foi  homem 
douto  e  escriptor  de  merecimento,  deixando  obras  de  apreço,  tanto  aa  lingua 
materna,  como  na  latina. 

Em  uma  das  suas  cartas  a  Vicente  Nogueira,  datada  de  23  de  agosto  de 
lti'i7.  escrevia  o  Condi'  da  Vidigueira,  primeiro  Marquez  de  Nisa,  o  seguinte: 

«...  quando  a  primeira  vez  me  parti  para  França,  se  me  vendia  toda  a 
livraria  de  l>.  Fernando  Uvia  por  tresentos  mil  reis.  a  prazos;  mas  como  eu 
ainda  então  andava  com  OS  olhos  fechados,  sem  ver  mundo,  a  não  COmprey, 
de  que  me  tenho  arrependido,...  cuido  que  a  comprou  Sebastião  Cesár». 

Em  11  de  outubro  do  referido  anno,  escreve  ainda  em  carta  dirigida  ao 
mesmo: 

o  \  livraria  de  I».  Fernando  de  Alvia  será  importante  lirar-se  ao  bispo  do 
Porto  (Sebastião  César  de  Meneses,  de  quem  atraz  falei),  porque,  a  querel-a 
elle  vender,  Iba  comprara  eu  sem  duvyda. . .» 

A  este  propósito  consulte-se  o  opúsculo  do  sr.  Ramos  Coelho,  Oprimeiro 
Marquez  de  Sisa,  pags.  12  e  15. 

Na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  existe  uma  obra,  e  porventura  haverá 
mais.  com  este  ex-Ubris  á  mão  e  sobre  o  frontispício:  es  de  mi  dum  Fernando 
aluiu  de  Castro.  A  obra  intilula-se:  Carias  que  os  padres  e  irmãos  da  campai/ia 
de  lesus  que  andão  nos  Reynos  de  lapão  escreuerão,  etc.  Em  Coimbra,  em  casa 
de  António  de  Mariz.  Anuo  de  1570.  Acha-se  na  secção  dos  Reservados,  B-92. 

Do  que  se  pôde  deprehender  das  cartas  do  Conde  da  Vidigueira,  Uvia  de 
Castro  teria  fallecido  pouco  depois  da  sua  prisão,  a  não  ser  que  a  venda  da 
sua  livraria,  por  sequestro,  ainda  se  effectuasse  emquanto  estava  no  carcen 

N'um  dos  volumes  de  Miscellaneas  da  Bibliotheca  da  Universidade  de 
Coimbra  existe,  no  que  tem  o  n.°  477,  uma  collecção  de  Diplomas  de  nomeação 
para  vários  cargos  e  serviços  passados  a  /arar  de  .hum  de  Soto,  e  atiestados  de 
serviços  por  elle  prestados,  etc.  Muitos  d'estes  diplomas  são  subscriptos  por 
Fernando  Alvia  de  Castro.  Veja  se  o  Archivo  Bibliographico,  da  l  Diversidade 
de  Coimbra,  volume  viu,  n.°  5,  pag.  76  e  seguintes. 

mnocencio  Francisco  da  Silva  incluiu  o  nome  de  Alvia  de  Castro  no  seu 
Diccionario  Bibliographico  tomo  n.  pag.  269),  descrevendo  apenas  os  Apho- 
rismos  y  exemplos  políticos  y  militares  e  referindo- se  ao  Panegírico  genealógico, 
que  mereceu  os  elogios  de  D.  António  Caetano  de  Sousa  no  Apparaio  á 


198  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (i8) 


Historia  Genealógica  da  Casa  Real.  Innocencio  explica  o  motivo,  per  que 
procedeu  d'esta  maneira,  não  costumando  dar  cabimento  no  seu  Diccionario 
a  auetores  estrangeiros,  senão  áquelles  que  escreveram  em  portuguez.  Fez 
esta  excepção  para  corrigir  um  erro  que  António  de  Moraes  Silva,  que  enumera 
Alvia  de  Castro  entre  os  auetores  de  que  se  aproveitou  para  o  sen  Diccionario 
da  lingaa  portugueza. 

Eis  a  relação  das  obras  de  Alvia  de  Castro,  das  quaes  as  três  primeiras 
vêem  descriptas  no  Ensayo  de  una  biblioteca,  de  Gallardo,  e  a  quarta  no 
Catalogo,  de  Salva: 

a)  Vefdadera  razon  de  Estado.  Discvrso  politico  de  Don  Fernando  Alvia 
de  Castro,  Prouedor  de  la  Real  armada  y  exercito  dei  mar  Oceano,  y  de  la 
gente  de  guerra,  y  galeras  dei  Reyno  de  Portugal,  por  el  Rey  nuestro  Senor. 
Dirigido  a  Don  António  de  Çuftiga  Comendador  de  Ribera,  Del  Consejo  de 
guerra  de  su  Magestad,  y  su  Capitan  general  dei  mismo  Reyno  de  Portugal. 
Con  todas  las  licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck,  Ano  1616. 
t  vol.  in-8.°,  76  fls.  registo  §  A.S. 

Bibliotheca  da  Ajuda. 

b)  Aphorismos,  y  exemplos  políticos,  y  militares.  Sacados  de  la  primera 
Década  de  luan  de  Barros.  Por  Don  Fernando  Alvia  de  Castro  Prouedor  de  la 
Real  Armada,  y  Exercito  dei  mar  Oceano,  y  de  la  gente  de  guerra  dei  Reyno 
de  Portugal.  Por  el  Rey  nuestro  senor.  A  Don  Diego  de  Sylvo,  y  Mendoza, 
Duque  de  Francauila,  Marques  de  Alenquer,  Conde  de  Salinas,  y  Ribadeo, 
Comendador  de  Herrera  en  la  Õrden  de  Alcântara:  Virrey,  y  capitan  General 
de  los  Reynos  de  Portugal.  Por  su  Magestad,  dei  Consejo  de  Estado,  y  Veedor 
da  hazienda  dei.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Por  Pedro 
Craesbeeck.  Impressor  dei  Rey.  Ano  1621. 

1  vol.  in-4.°,  112  fls.,  registo  §-§§.  A-A  a. 

Existem  exemplares  na  Bibliotheca  de  Lisboa  e  Bibliotheca  da  Ajuda. 
D.  Francisco  Manuel  de  Mello,  no  seu  Hospital  das  lettras,  refere-se  a  esta 
obra,  pondo  na  boca  de  Quevedo  e  Bocalino  os  seguintes  dizeres:  « Quevedo: 
Não;  quanto  á  falta  de  aphorismos  políticos  não  perderá  nada  João  de  Barros, 
se  D.  Fernando  de  Alvia  e  Castro  continuará  os  que  d'elle  tirou  e  imprimiu, 
das  entranhas  da  primeira  Década.  Bocalino:  Buscou-os  sem  falta  de  mergulho 
porque  elles  não  apparecem  á  face  do  estylo,  mas  por  isto  se  verifica  a 
observação  do  outro  que  dizia  que  todo  o  homem  tinha  sua  graça  se  lh'a 
sabiam  encontrar  e  lh'a  queriam  achar». 

o  Pedaços  primeros  de  vn  discvrso  largo  en  las  cosas  de  Alemania,  Espana, 
Francia.   En  forma   de  Epitome.   Contienen  Católico  Verdadero  de  Espana. 


i  l!)i  A  UTTERATORA  HKSPANHOLA  EM  PORTUGAL  199 

Enganos  de  Francia  y  desenganos.  Por  Don  Fernando  Aluia  de  Castro.  Cauallero 
de  In  Orden  de  la  Caiatraua,  Veedor  General  de  la  gente  de  guerra,  y  / 
de  los  Reynos  de  Portugal.  Con  las  It  irias.  En  Lisboa.  Poi  I 

Craesbeeck.  Impressor  dt   Sw   \Iagestad.  Afio  WDCXXXVI. 

I  vol.  in-4.°,  34  II-..  registo  A.  II. 

Todas  estas  tres  obras  descriptas  em  Gallardo  sob  os  n.°    1 7  7  a  179. 

Existe  um  exemplar  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

d)  Panegírico  genealógico  y  moral  dei  excelent.""  dvque  de  Barcelos,  i  \rmas 
dòs  duques).  Por  Don  Fernando   ilvia  de  Castro,  etc. 

En  Lisboa.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  Por  Pedro  Craesbeeck. 
Impressor  dei  Rey.  Ano 

ln-i.".  3  lis.  prel.  iiiii.  68  fólios  numerados  pela  frente,  dssignado  no 
liin  pelo  auctor  e  datado:  En  Lisboa  a  18  de  dezembro  de  1627. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  da  \jinl.i. 

i  Traducion  dei  Compendio  italiano  de  la  vida  dei  santo  Francisco  Xavier. 
Hecha  por  Don  Fernando  Aluia  de  Castro,  Cauallero,  etc.  Dirigida  ai  mismo 
Santo.  En  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck,  ano  U 

In-s.'.  8  lis.  prel.  iim..  93  II-.,  mais  2  inn.  de  Tabla. 

Na  primeira  pagina  dos  preliminares  traz  uma  explicação  do  auctor  sobre 
as  muitas  erratas  do  livro,  sendo  tão  pequeno;  N'uma  das  paginas  vem  a 
traducção  do  frontispício  dá  obra  italiana,  impressa  em  Roma  em  1622  pelos 
herdeiros  de  Bartolomé  Zaneto.  Seu  auctor  Mutio  Vítelleschio. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

f)  Memoria  y  áiscvrso  politico  por  la  mvy  npble,  y  mvy  leal  civdad  de 
Logrono.  En  prveba,  y  calificacion  de  se  juslicia,  para  que  tenga  effecto  la 
ni, i n,i  que  elRey  Don  loan  el  Segundo  le  hizo  afio  de  I  111.  de  voto  en  Cortes 
en  los  de  Caslilla.  (Escudo  de  armas).  Por  Don  Fernando  Alvia  de  Castro. 
Cauallero  de  h  Orden  de  Caiatraua,  Veedor  General  de  la  gente  de  gueira,  y 
presídios  de  los  Reynos  de  Portugal.  (Escudo  de  armas).  En  Lisboa.  Con  licencia. 
por  Lorenço  Craesbeeck.  Impressor  delRey,  ano  1633. 

m-4.°,  140  pags.  além  de  16  inn.  de  prel.,  incluindo  o  frontispício.  Entre 
pags.  Ti  e  75  uma  folha  solta  com  gravura.  Nas  folhas  preliminares,  além 
das  licenças  e  approvações,  entre  as  ultimas  das  quaes  se  deve  destacar  a  de 
Diogo  de  Paiva  de  Audrade,  em  portuguez,  conteem  se  as  seguintes  poesias 
laudatorias:  de  Francisco  Lopes  de  Zarate,  bastante  extensa,  I».  Francisca  de 
Alvia,  sobrinha  do  auctor,  Don  Diogo  Jacinto  de  Rueda  y  Herrera,  Don  Diogo 
da  Fonseca  Villagomez,  Don  Manuel  de  Castejon  y  Mendoza,  Joan  deTreuijano, 

Hist  f.  Mem.  da  Acad  —  Tomo  xn,  parte  n. — N    ■■  4 


200  A  UTTERATURA  HFSPANHOLA  Eli  PORTUGAL  (20) 

licenciado  Don  António  Vasquez  de  A.cuna,  Dou  Francisco  Onofre  de  Barrinuebo, 
sobrinho  do  auctor,  Don  Ramiro  Yanez  de  Cabredo,  sobrinho  do  auctor, 
Bernardino  de  Hobredo,  de  um  amigo,  Don  Geronymo  de  Aluia,  sobrinho  do 
auctor. 

Todas  as  poesias  são  em  forma  de  soneto,  à  excepção  da  primeira,  que 
é  uma  Cancion  e  da  ultima  que  é  uma  Decima.  Vê-se  que  a  família  de  D.  Fer- 
nando era  dedicada  ao  cultivo  das  musas,  ainda  que  não  fosse  senão  em  honra 
do  seu  parente. 

I  ih  exemplar  d'esta  obra  foi  arrematado  no  leilão  da  livraria  Merello 
pelo  sr.  Duque  T.  Serclaes. 

A  Bibliotheca  da  Ajuda  possue  também  um  exemplar. 

g)  Observaciones  do  esta/lo  y  da  Historia  sobre  la  vida,  y  servidos  dei 
Seuor  de  Villeroy;  ex  gallico  Petri  Mathcei.  Lisboa  1631. 
In-16.° 

Anchieta  (José  d). —  Veja-se  Innocencio,  Diccionario,  t.  iv  e  xu  e  os 
Annaes  da  Bibliotheca  do  Rio  de  Janeiro,  fascículo  1.°  e  seguintes. 

Andrade  (Alònso  de).—  Itinerário  historial  qve  debe  gvardar  el  hombre 
para  cominar  ai  cieio.  ãispvesto  en  treinta  y  três  grados,  por  los  treinta  y  três 
Anos  de  la  rida  de  Chrislo  Nuestro  Redemptor,  y  las  virtudes  que  en  ellos  exer- 
cito. Por  el  Padre  Âlonso  de  Andrade  de  la  Compartia  de  Jesus,  natural  de  To- 
ledo, Calificador  dei  Consejo  Supremo  de  la  Santa,  ij  General  Inquisicion.  Pri- 
mem, segunda  y  tercera  parte,  en  que  aora  se  afiade  el  ter  cero  Tomo  que  an- 
tes andava  a  parte  con  titulo  de  Patrocínio  de  Nuestra  Seuora,  y  por  ser  todos 
exemplos  de  la  Yirgen  ha  paredão  juntados  todos  en  uu  Tomo.  En  que  se  pone 
una  breve  cronologia  de  toda  la  vida  de  Christo  y  los  grados  de  sus  virtudes, 
hasta  los  diez  y  nueve  Anos  de  su  edad.  Dedicado  ai  ilvstrissimo  senor  Garcia 
de  Mello  dei  Consejo  de  Su  Magestad,  Monteio  Mayor  dei  Rei/no,  etc. 

En  Lisboa.  En  la  Imprenta  de  Theotonio  Crasbeeck  de  Mello,  Impressor 
de  su  Magestad.  Ano  de  1687. 

Foi.,  10  fls.  prel.  inn.,  701  pags.,  afora  índice  de  las  cosas  notables. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Angeles  (Fr.  Juan  de  los).— Fr.  João  de  los  Angeles,  confessor  das  frei- 
ras descalças  da  Ordem  de  S.  Francisco  da  villa  de  Madrid,  requereu,  com 
todas  as  licenças  precisas,  a  de  imprimir  no  reino  de  Portugal  o  livro  que 
compusera  com  o  titulo   Considerationum  Spiritialium  super  libram  canlici 


-  i  |  A  LITTERATURA   IUM'\\ A    I.M   ['ORTIGAL  20J 

canticorum  Salamonis.  Foi-lhe  a  licença  concedidaj  pelo  tempo  'li'  dez  annos, 
em  alvará  passado  em  Valladolid  a  5  de  dezembro  <\»  anuo  de  1600. 
Deslandes,  Documentos,  parte  11,  p.  83. 

António  dei  Rey  Uon  Ivan  .  Epitaiamio  a  las  felizes  bodas  de  los  Sr 
Sói  s  Condes  di  Regalados,  el  Sefíor  Don  luan  Gomez  de  Abreu  e  Lima  y  la 
Seãora  l>.  Inês  dt  Vilaragud  y  Abreu,  hija  de  los  muy  ilustres  sefiores  Marque 
ses  de  Llaneras  y  Condes  de  Olocau.  Que  consagra  y  pone  a  svs  pies  Don  Ivan 
António  dei  Rey. 

í.1.  ií  lis.  numeradas  pela  frente,  sem  designação  de  lugar  ou  imprensa,  i: 
possivel  que  seja  impresso  em  Hespanha.  Pomo-lo  aqui  a  titulo  de  curiosidade. 

Bihliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Collecção  2:455  vermelho. 

Apolinar  (P.  Francisco).      Manval  moral  én  el  qval  brevissimamente  se  dá 

noticia  de  los  principales  casos  morales  que  ha  menester  saber  el  que  professa 

el  confessionário.   Compvesto  por  el  /'.  Francisco  Apolinar  de  los  Clérigos  Re, 

glares  Menores,   Leclor  de  Teologia  de  sus  Colégios  de   Salamanca  y  Alcalá. 

a.  Na  ofjicina  de  Manoel  Diaz.  Impressor  da   Vniversidade  mino  1668. 

8      10  pags.  prel.  inn.,  375  pags.  alma  índice. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Apoyos  dt   la  verdad  catalana  contra  las  obieciones  de  vna  justificacion, 

hizo  en  nombre  dei  Rey  Catholico  contra  esta  Prouincia.  Con  los  cargos, 

qve  inivstamente  se  le  impusieron,  por  vnos  papeies  volãte?,  y  descargas  a  ellos. 

Con  todas  as  licenças  necessárias.   Em  Lisboa.    Por  Jorge  Rodriguez.   Anno 

de  1642. 

i.".  28  fólios  (com  o  frontispício)  sem  numeração. 

Uma  das  licenças  reza  do  seguinte  modo: 

«Manda  el  Rej  N.  S..que  pello  Desembargo  do  Paço  se  despache  licença, 
&  Privilegio  a  Lourêço  de  Quirós  liureiro,  para  fazer  imprimir  quatro  liuros 
sobre  as  cousas  de  Catalunha,  que  o  Embaxador  daquelle  Principado  presen- 
ton  a  s.  Magestade,  que  offerecerá  com  esta  portaria.  Em  Lisboa  a  6  de  Mayo 
de  64 !.  Francisco  de  Lucena». 

0  mesmo  se  lê  nos  seguintes  opúsculos: 

Noticia  Vniversal  de  Catalvfía,  por  el  1!.  D.  \.  \.  ^ .  VI.  F.  D.  P.  It.  N. 

Epitome  de  los  Princípios  y  Progressos,  de  Gaspar  Sala. 

Aranda  (Luis  de).-  Glosa  peregrina  compuesta  por  Luys  de  Aranda  >> 
zino  de  la  ciudad  de  Vbeda.  Va  repartida  en  run-o  Cânticos.  Foi  impressa  em 
Sevilla  em  casa  de  Juan  de  Leon  junto  a  las  siele  Rebueltas  en  1604. 


1>|I^  A  LITTERATUBA  HESͻANHOLà EM  PORTUGAL  (22) 

Descripta  pelo  Sr.  Conde  de  Sabugosa  a  p.  10  da  sua  edição  do  Auto  da 
Festa,  de  Gil  \  icente. 

Gallardo,  a  p.  255  do  Ensayo  de  una  Biblioteca  descreve  uma  edição 
de  1607  da  mesma  cidade,  impressa  «en  casa  de  la  biuda  de  Alõso  de  la  Baf- 
rera». 

Aranda  (Matbeo  de).—")  Tractado  dcãto  llano  nueuamente  compuestopor 
\Iatheo  de  arada  maestro  en  musica.  Dirigido  ai  muy  alto  e  jllustiissimo  sefíor 
don  Allonso  cardinal  Infante  de  Portugal.  Arçobispo  de  Lixboa.  Obispo  Deitora 
comendatario  de  Alcobaça  etc.  com  preuilegio  real.  Esle  titulo,  dentro  d'uma 
portada,  eslá  por  baixo  das  armas  dò  cardeal]. 

No  verso  do  rosto  o  «Preuilegio:  Dom  joã  per  graça  de  Deos  Rey... 
Jorge  fernandes  a  fez  em  euora:  a  vinte  e  oyto  de  Junho.  De  mil  e  quinhen- 
tos e  trinta  e  três»; 

Segue  «Prologuo-  considerando  munchas  vezes  muy  alto  y  illustris- 
simo. . . " 

No  folio  3.°,  no  alto:  «Conclusion  priíriera  de  las  siete  letras  dei  canto». 

Segue,  contendo  37  folhas  sem  numeração,  nem  reclamos,  em  íi  cader- 
nos, 8.°,  desde  iaí,  contendo  este  somente  seis  tolhas. 

Na  subscripção  final  lè-se: 

"Fue  impressa  la  presente  obra  en  la  muy  Doble  cibdad  de  Lixboa  por 
German  Gallarde:  a  veynte  y  seis  de  Setiembre  ano  de  mil  y  quinientos  y 
treynta  y  três». 

In  Tractado  de  cato  mSsurable:  y  contrapueto :  nueuamêie  cõpuesto  por 
Matheo  de  arada  maestro  e  musica.  Dirigido  aí  mui  alto  //  illustrissimo  seí/or 
dõ  Alõso.  Cardenal  Infame  de  Portugal.  Arçobispo  de  Lixboa.  obispo  Deuorã. 
Comedatario  dAlcobaça.  Com  Priuilegià  Real.  [Este  titulo  num  frontispício 
egual  ao  da  obra  anterior]. 

8.u,  30  folhas  sem  numeração  em  5  cadernos,  contendo  o  E  apenas  4  fo- 
lhas, na  ultima  das  quaes: 

«Fue  impressa  la  presente  obra  de  Cato  mensurable  y  contrapunctò.  En 
la  muy  noble  y  semp  leal  ciudad  de  Lixboa  por  German  Galhard  Empremi- 
dor.  Acabose  aios  quatro  dias  dei  mes  de  Sêtiebre  De  Mil  e  qnientos:  treynta 
y  cico  ■'■■  yfr. 

A  impressão  é  em  caracteres  gothicos. 

Descripção  feita  sobre  os  exemplares  da  Bibliotheca  Publica  de  Évora. 
Acham-se  egualmenledescriptos  (^n.083),  embora  com  algumas  incorrecções,  no 
catalogo  da  livraria  Ferrão,  vendida  em  leilão,  na  Rua  Larga  de  S.  Roque, 
por  intermédio  do  agente  C.  J.  da  Cunha.  Foram  arrematados  por  180;H)00 
reis  para  o  livreiro  Cohn,  de  Berlim.  Atai  se  lhes  dá  o  formato  de  4.° 


23)  A  L1TTE1UTUHA  HESPANHOLA   I  M   PORTUGAL  203 


Ribeiro  dos  Santos  (Memorias,  p.  lis  dá  os  dois  tratados  impressos 
em  1533.  Riano  descreve-os  também  na  sua  nina  sobre  instrumentos  músicos 
(em  inglez). 

Aranda  foi  professor  de  musica  ua  Universidade  de  Coimbra. 

Na  acta  do  conselho  universitário,  de  12  de  fevereiro  de  1546,  foi  orde- 
nado que  se  paguem  para  a  capella  sete  mil  reis  de  livros,  os  quaes  se  hão 
de  pagar  a  Santilhana  livreiro  e  os  pague  NicoJao  Leitão  e  os  carreguem  so- 
bre Matheus  d'Aranda,  que  são  três  livros  encadernados  com  suas  capas,  e 
que  pague  mais  Nicoláo  Leitão  outro  livro  de  vinte  missas  que  custa  dois 
cruzados  e  o  carregue  sobre  Matheus  d'Aranda».  (Gabriel  Pereira,  «Noticias 
varias  da  Universidade»,  Aurora  do  Cavado,  n.°  698,  anno  de  1881  . 

Matheo  de  Aranda  não  era  bem  recebido  pela  gente  de  Coimbra,  por  ser 
estrangeiro,  talvez.  No  conselho  universitário  de  II  de  agosto  de  1548  quei- 
xou-se  amargamente  o  seu  compatriota  João  Fernandez  id'insultos  q  lhe  ti- 
nham dirigido  e  nessa  occasião  se  declarou  q  o  facto  não  era  novo  e  que 
por  caso  similhante  morrera  de  pura  paixão  o  mestre  de  musica  Matheo  de 
Aranda  >. 

0  cadáver  ou  a  ossada  do  musico  hespanhol  foi  levada  para  Évora.  No 
livro  dos  defuntos  da  Misericórdia  de  Évora,  que  principia  em  1547,  a  lis.  86, 
lé  se : 

«Enterramentos  em  junho  de  1549:  aos  L2  dias  enterrou  a  misericórdia  a 
ossada  de  matheus  daranda  que  veio  de  Coimbra;  deram  desmola  duzentos 
reis». 

Foi  o  Sr.  Gabriel  Pereira  quem  descobriu  este  assumpto. 

Em  I55J  havia  em  Lisboa  um  musico  d"  mesmo  appellido,  Diogo  de 
Aranda,  talvez  parente  de  Matheo. 

Uma  caria  regia,  de  7  de  junho  d'aquelle  anno,  recommendava  á  camará 
de  Lisboa,  a  pedido  do  infante  D.  Luis,  que  o  admitissem  no  lugar  de  tan- 
gedor  de  órgãos  da  casa  de  Santo  António,  bavendo  respeito  a  servir  ha  mais 
de  21  annos  a  casa  e  a  deixai  os  de  Santa  Justa,  com  o  partido  que  com  elles 
tinha. 

(Freire,  Elementos  para  a  historia  do  Município  de  Lisboa,  i.  i.  p.  562). 

Arce  (Francisco  de).  Fiestas  reales  de  Lisboa,  desde  que  el  Rey  nuestro 
Sefior  entra,  hasta  que  salto.  Por  Francisco  de  Arce  Eçcriuqno  de  su  Magestad. 
Con  i/iii  Loa  ai  Príncipe  nuestro  sefior,  qut  toca  a  la  jornada.  Dedicado  n  In 
noble  ciudad.  [Escudo  d'armas  reaes  portuguezas].  Impresso  en  Lisboa.  Com 
todas,  as  Licenças  n  cessarias  por  Jorge  Rodriguez,  neste  anno  </<  619. 

1  vol..  l.°  Exemplar  truncado  pertencente  á  Bibliotheca  Nacional  de 
Lisboa. 


Jlll  A  UTTERATURA  HESPANHOLA   I-..M  PORTUGAL  (24) 

Nas  preliminares  tem  poesias  ao  auctor  de :— •  «D.  António  Maldonado,  D.  An- 
tonio  Quadrado,  de  vn  Grande  de  Portugal,  de  Asensio  de  Sequeira,  Lusitano, 
de  vna  Dama  (quintilhas))  de  otra  Dama  (redondillas),  de  vn  famoso  predica- 
dor, dei  licenceado  Benauides,  de  vn  curiosomusico  e  poeta,  de  Micer  de  Di- 
mas, de  vn  cauallero  seuillano,  de  l>.  Pedro  Ossorio.  de  vna  Dama  que  se  queria 
casar  con  el  Autor,  de  l>.  Rodrigo  de  Menezes,  de  D.  Francisco  Manrique». 

A  descripção  é  em  Luas.  (Ungidas  a  unia  dama  madrilena.  Depois  da 
sexta  loa,  uma  descripção  em  prosa— «Festas  reales  de  Toros  con  las  inven- 
ciones de  danças,  bayles  y  juegos»  —que  occupa  9  folhas. 

O  exemplar  que  examinámos  pertence  á  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa, 
e  faltam-lhe  folhas  no  fim.  Gallárdo  (Ensayo  de  una  Biblioteca)  dá  noticia  cir- 
cumstanCiada  da  obra  sob  o  n.°  233.  É  em  4.°  c  tem  26  pags.,  sem  numera- 
ção. \coinpanha-a  um  retraio,  que  falta  egualmente  no  exemplar  da  Bibliotheca 
Nacional,  o  qual  tem  este  dístico—  «Ku  los  cuarenta  anus  de  mi  edad  el  fa- 
moso Enrique  me  fecit».  —  Seria  portuguez  este  artista? 

No  tomo  iv  do  Ensaio  de  una  biblioteca  (n.°  i:456)  se  descreve  outra 
obra  de  Arce,  que  a  subscreve  com  mais  um  nome—  Francisco  de  Leon  y  Arce. 
Tem  também  o  retraio  do  auctor,  com  a  seguinte  legenda  — «Portugal  me  co- 
pio en  bronce  ano  1629  en  los  10  de  mi  edad». — Deve  ser  1619.  Não  sei  de 
quem  seja  o  erro:  se  da  própria  estampa,  se  de  Gallárdo  que  copiou  mal. 

O  auctor  queixa-se  da  rivalidade  de  outros  poetas  e  dos  trabalhos  e  pri- 
sões que  soffreu,  mas  ao  mesmo  tempo  alardeia  a  protecção  de  grandes  se- 
nhores, que  lhe  valeram,  como  o  Duque  de  Bragança  e  o  Conde  de  Medellin. 

De  Juan  de  Arce,  irmão  ou  parente  do  auctor,  ha  um  manuscripto  na  Bi- 
bliotheca Nacional  de  Madrid  —  «Belación  dei  estado  de  Portugal  desde  que 
se  rebelo  basta  el  ano  de  1642  que  se  hallaba  prisionero».  —  Vide  emGallardo 
respectivo  catalogo. 

A  Bibliotheca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro  possue  um  exemplar  perten- 
cente á  collecção  Barbosa  Machado,  n.°  943  (Ánriaes,  8.°,  292). 

Árias  (Francisco). —  Tratado  dei  Rosário  devotíssimo  de  los  sinquenta  mys- 
lerios  de  Ghristo  Sefior  nuestro3  y  de  su  benditissima  Madre,  sacado  de  las 
obras  de  Ludouico  Blosio,  u  trasladado  de  latin  en  romance  por  el  Padre  Fran- 
cisco Árias  de  la  compafiia  de  Jesus.  Con  vna  medilacion  sobre  cada  vn  mys- 
terio.  En  el  fin  deste  tratado  estan  treze  aduertencias  compuestas  por  el  nrismo 
Padre  Francisco  Árias,  en  las  quales  ensena  el  buen  vso  deste  santo  Rosário. 
Con  todas  las  licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck,  Impres- 
sor dei  Rey  y  a  su  costa,  ano  1624. 

12.°,  22  lis.  prel.  inn..  I8.*i  tis.  numeradas  pela  frente. 

Biblioteca  Nacional  de  Lisboa. 


25  A  L1TTERATURA  «ESPANHOLA  E.M  POR!  20") 

Árias  Perez  (Pedro).-  Primavera,  y  Flor  de  los  meiores  romances  que 
han  solido,  aora  en  esta  Corte,  recogidos  de  rum:-  Poetas.  Por  el  licenceado 
Pedro  irias  Perez.  Dirigido  ai  maestro  Tirso  de  Molina.  Con  todas  ias  licen 
cias  necessárias    En  Lisboa.  Por  Mateus  Pinheiro.  Anno  M.  DC.   \\\i. 

8.°,  7  tis.  prel.  inn.,  lio  fls.  neradas  pela  frente. 

Nas  preliminares:  «licenças,  dedicatória  a  Tirso  de  Molina,  Prologo  ai 
lector,  decima  dei  Padre  Fraj  Plácido  de  Vguilar,  Tabla  de  los -Romances». 

A  approvação  é  desta  forma: 

*Vi  esta  Primavera;  4  flor  de  Romances,  Autor  Pêro  Vrias  Perez,  &  não 
tem  cousa  contra  nossa  sãta  fé,  &  bom  costumes.  Em  S.  Bernardo  de  Lisboa, 
em  ::i  de  Julbo  de  626.  Fr.  Feliciano  Montei*. 

Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

Parece  que  a  I.'  edição  d'este  Romancero  é  a  de  Madrid,  1621,  descripta 
no  Catalogo  de  Duran.  Salva  calcula  que  a  edição  de  Lisboa  será  a  oitava. 

Arteaga  (Félix  de),  a)  Obras  posthvmas  divinas  y  hvmanas  dedon  Félix 
<lr  Arteaga  .  A  la  si  nora  Dona  Mana  de  Ataíde,  Dama  de  la  Reyna  A.  S.  Con 
todas  las  licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Por  Paulo  Crus/uni.  Impressor  de 
las  Ordenes  Militares  y  a  su  costa.  Anno  1645. 

12."  (?),  336pags. 

Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

\  l.a  edição  é  de  Madrid,  1641.  Cita-a  Salva.  Tanto  este  como  Barrera 
alludem  á  edição  de  Lisboa,  mas  parece  não  a  terem  visto. 

D.  Félix  de  Arteaga  era  o  P.  Fr.  Hortensio  Félix  Paravicino  j    Vrteaga. 

In  Avisos  para  la  muerte,  Lisboa,  1659,  24.  1  vol.  Indicarão  de  Garcia 
Peres.  Temol-os,  porem,  descriptos  sob  o  nome  de  Rarnirez  Avellano. 

Avendano  (Fray  Ghristoval  de).—  a)  Sermones  dei  Adviento  con  sus  festi- 
vidades y  santos.  Predicadas  en  el  Hospital  Real  de  Zaragoza.  Por  el  maestro 
fray  Cristoual  de  Auendano,  de  la  Orden  de  N.  S.  dei  Cármen  Calçado.  Dirigido 
ai  mvy  poderoso,  y  esclarecido  príncipe  Ranucio  Farnesio,  quarto  duque  de 
Parma.  y  de  Placencia,  etc.  En  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck.  Impressor  dei 
Hei/.  MDCXX.  A  costa  de  Thome  do  Valle  mercader  de  libros. 

\.°.  14  pags.  inn.  -J-ii;  fólios  a  2col.  numeradas  pela  frente,  mais  -1\  lis. 
inn.  de  Tabla. 

Exemplar  <\r  Rodrigues,  livreiro. 

b)  Sermones  para  algvnas  festividades  de  los  Santos,  predicados  en  la  Corte 
de  Madrid.  /•.'/<  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck,  impressor  dei  Rey.  Afío  1626. 


206  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (26) 

\."  a  2  (dl..  5  fls.  inn.,  :>:!'.)  numeradas  pela  frente,  mais  ^í)  hm.  de  Tabla. 
Exemplar  de  Rodrigues,  livreiro. 

c)  Marial.de  las  /lestas  ordinárias,  y  extraordinárias  de  la  Wadrede  Dios, 
Sefíora  nuestra,  con  Sermories  ai  fin  de  sus  celestiales  Padres.  Dedicado  a  la 
Wagestad  dei  Espirita  San/n.  infinita  Dias,  y  Seãoi'  de  Cielo,  y  tiara,  de  lo  vi- 

sible,  è  imisible.  Compvesto  por  el  padre  maestro  fr.  Christoual  de  Auendafío, 
dei  Orden  de  Nuestra  Sefíora  dei  Carina,  Definidor  de.  su  Prouincia  de  Castilla 
la  Vieja,  y  natural  de  la  iniiy  noble  Ciudad  de  Valladolid.  [Gravurinba  de 
.Nossa  Senhora  .  En  Lisboa.  Con  las  licencias  necessárias.  Par  Pedro  Craesbeeck 
Impressor  dei  Rey.  Afio  1620.  A  casta  de  Thome  do  Vale,  mercader  de  libras. 

i.".  9  fls.  prel.j  248  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  44  inn.  de  Tabla. — 
(N,°  L2i:i  do  Cataloga  do  Marquez  de  Castello  Melhor). 

Exemplar  do  Rodrigues,  livreiro. 

d)  Sermones  sobre  las  Erangelias  de  la  Quaresma.  Lisboa,  António  Alva- 
res, 1624. 

4.°  (N.°  2 lo  do  Catalogo  do  Marquez  de  Castello  Melhor). 

e\  Sermones  sobre  los  Evangelias  de  la  graresma.  Predicados  en  la  Cai  lede 
Madrid.  Por  el  V.  M.  F.  Christoval  de  Arendalto,  de  la  Orden  de  N.  S.  dei 
Cármen,  g  difinidor  segundo  de  su  Prouincia.  Aora  nvevamente  Iodas  en  vn 
ralninen,  con  los  Índices  juntos,  y  emendados.  Dirigido  ai  ilvslr.m°  e  rever.™  S. 
D.  Rodrigo  d'Acufía,  Obispo  de  la  Ciudad  dei  Piaria  de  Portugal  dei  Consejo 
de  estado  de  su  Magestad,  &c.  [Armas  do  bispo].  Con  todas  las  licencias,  ij 
approuaciones  necessárias.  Eu  Lisboa.  Por  António  Aluanz.  Impressor  y  Mer- 
cader de  libros.  Y  a  su  costa.  Afio  de  M.  DC.  XXIIII. 

4.°,  7  fls.  prel.  inn.,  :s.">:t  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

A  dedicatória  de  António  Alvarez  é  em  bespanhol. 

No  fim  do  volume,  em  folha  solta,  o  escudo  do  livreiro  —  Moysés  diante 
da  rocha  donde  mana  agua,  e  o  dislico  «Demonstrat  mihivias  tuas  Domine» — 
Por  baixo:  En  Lisboa.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  Por  António  Alua- 
rez.  Ano  1624. 

Ribliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

AvendafiQ  (Pedro  de). — Sermom  s  para  las  festividades  de  Christo  N.  S<  hor. 
Dedicados  ai  amar,  con  qve  dio  la  vida  por  los  pecadores.  Por  el  licenciada 
Pedro  de  Auendafío,  Comissária  de  la  santa  Cruzada.  Beneficiado  mayor  de  la 
Parrochial  de  San  Facundo  de  la  Villa  de  Medina  dei  Campo,  y  natural  delia. 
Anno  de  1644.  Con  todas  as  licenças  necessárias.  Em  Lisboa.  Por  António  Al- 
uarez  Impressor  dei  Rey  N.  Senhor. 


(27)  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  EH  PORTUGAL  207 


Is.  prel.  ioa.,  :í7o  pags.,  afora  Tabla.  No  verso  da  ultima  folha  o 
escudo  do  impressor — Moysés,  etc. 

sermões  foram  impressos  em  Aloalá  em  1638. 
Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Ávila  (Padre  Maestro).—  Libro  Espiritval  qve  trata  delos  maios  lenguages 

dei  mundo,  carne  y  demónio,  y  de  los  remédios  contra  ellos.   De  la  Fe,  y  dei 

conoscimiento,  rfi  la  penitêcia  de  la  Oracion,  Meditacion,  y  Passion  de 

lestt  Christo,  .//  dei  amof  dgos  próximos.  9,   Compuesto  por  el 

Reuerendo  Padre  Maestro  Anila,  predicador  enel   Andaluzia.  ^    Dirigido  ai 

Uluslrissimo  Sefíoi  don  Alonso  d   Aguilar,  Marques  de  Priego,  Sefíor  de  la  casa 

d*   Aguilar.  *    Visto  y  aprouado  por  los  sefiores  dei  consejo  ih-  su  \Iagestad,  de 

la  saneia  geral  Inquisicion:  em  Lisboa,  afio  de  Íõ89.  Pio  fim      Impresso  em 

:ii  licença,  en  casa  d<  Afonso  Lopes,  (num  1589. 

1  vol.  8.°  peq.,  356  fls.  aumeradas  pela  frente,  mais   14  inn.  de  Tabla. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Avisos  dei  feliz  svcesso  de  las  cosas  espiriluales,  y  temporales  en  diurnas 
provindas  de  la  índia,  conquistas,  y  nauegaciones  de  los  Portugueses  por  los 
afios  1628  y  1629. 

Este  titulo  ua  cabeça  da  primeira  pagina. 

No  tini  da  narrativa  —  Em  Lisboa.  Por  Mathias  Rodrigues.  Anno  de 
1630. 

Seguem-se  as  licenças.  É  interessante  a  approvação  de  Jorge  Cabral: 

«Vi  esta  Relação,  na  qual  se  dá  noticia  dos  felices  sucessos  que  ouue, 

assi  no  temporal,  com i  espiritual  em  diuersas  prouincias  da  Índia.  Rtbiopia, 

conquistas,  &  nauegações  dos  Portugueses,  nos  annos  de  1628  &  1629,  com 
verdade,  brevidade,  &  bom  estilo:  vay  en  língua  não  materna  mas  peregrina, 
posto  que  em  Europa  tam'cõmua,  para  que  como  tal  possa  correr,  &  consolar, 
i  tantas  aflições  de  peste,  &  guerra,  con  os  felicíssimos  sucessos  que 
ouue  na  Ásia,  &  na  África,  pelo  que  me  parece  muy  digna  de  se  estampar. 
Lisboa  nesta  casa  de  S.  Roque  da  Companhia  de  Iesu.  28  de  Outubro  de  630. 

Doctor  Iorge  Cabral». 

4.°  sem  numeração.  \,  A  i,  8  fólios. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Avisos  militares  sobre  el  servido  dela  ynfanteria  en  guarniâon  y  cam- 
pafUx...   Tercera  edicion.  Lisboa,  na  offidna  de  José  da  Costa  Coimbra,  1757. 
2  vol.,  sendo  um  de  17!)  pags.  e  outro  de  221. 
Bibliotheca  da  Ajuda. 


208  A  UTTERATURA   BESPÃNHOLA  EM  POBTDGAL  (28) 


Azevedo  (Luis  de). — Marial,  Discvrsos  morales  de  la  Reina  dei  ciclo  nvestra 
Seflora.  Compvestos  por  el  padre  fray  Lvis  de  Azeuedo,  Predicador  de  la  orden 
de  nuestro  Padre  san  Áugustin.  Gravura  representando  Nossa  Senhora  com  o 
menino  ao  collo.  Por  baixo:  Com  licença  da  saneia  Inquisição.  Km  Lisboa. 
Impresso  por  Pedro  Crasbeeck.  Anno  MDCÍI. 

I  vol.  in-fol.  a  2  col.,  3  lis.  prel.  hm.,  608  pags.,  mais  iO  hm.  de 
tablas. 

Exemplar  do  Coelho,  livreiro. 

Será  portuguez?  Garcia  Perez,  não  o  cita,  porem,  no  seu  Catalogo. 

Azpiicueta  Navarro  (Martin  de).  — a)  Capitvlo  veynte  y  ocho  de  las  Addi- 
ciones  'lil  Manual  de  Confessores  de  Doctor  Mentiu  de  Azpiicueta  Nauarro, 
afiadido  por  cl  mimo  Author.  Con  so  Tabla.  Con  licencia  dei  Consejo  General 
de  la  Saneia  Inquisicion.  En  Lisboa,  Impresso  por  António  Ribero,  Afio  de  1.575. 

8.°,  A-Aiuj,  etc,  59  tolhas  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  — Theologia  dogmática. 

A.pprovação  de  I».  Affonso  de  Caslello  Branco. 

In  Relectio.  §.  in  Leailicn  sub  cap.  Quis  aliquando.  de  ptenit.  dist.  I.  quw 
de  anno  inbelea,  &  iobelea  indulgentia  principaliter  agens,  totam  indulgentiarum 
matéria  ai  exhaurit:  exponitq;  quinque  Extrauag.  de  poenit.  d-  remiss.  ciim 
multaram  nouarum  qucestionu  decisione*  Aveterum  resolutione:  vsui  quotidiano 
accommodata.  Quw  habita  fuit  in  inclyta  Lusitânia;  Conibrica,  per  Marlinum 
ab  Azpiicueta  lureconsultu  Nauarrum,  sacrae  militiee  ordinis  Beatos  Maria 
Roncceuallis  Commendatariúm.  MDL.  Vij  Id.  Nouêbris.  Contenta  in  ea  versa 
pagilla  indicai. — No  fim,  por  baixo  da  approvação  de  fr.  Martinho  de  Ledesma: 
Conimbricat  Ioannes  Barrerius,  &  Ioannes  aluaras  typographi  Regii  excudebant. 
Septimo  Id.  Nouemb.  M.D.L. 

8.°,  335  pags.,  afora  Índice. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Relectio  cap.  Ha  quarundam  de  ludecis,  in  epia  de  rebus  ad  Sarracenos 
deferri  prohibitis,  <(■  censuris  ob  id  latis  non  segniter  dispulalur,  cõposita  & 
pronuciata  in  inclyta  Conimbricêsi  Academia,  per  Martinvm  ab  Azpiicueta 
iureconsultum  Nauarrum,  primaria'  funclionis  gymnastam,  qui  ante  duodecim 
a  unos  fuerat  eiusdê  funclionis  in  prwclarissime.  Conimbricae  MDL.  —  No  fim, 
antes  do  índice:  Conimbricce  Ioannes  Barrerius,  &  Ioannes  Aluaras  typographi 
Regii  excudebant:  Septimo  calend.  Nouemb.  MDL. 

8.°,  239  pags.,  fora  Índice. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


29  A  LITTERATURA   I1ESPAKHOLA   EM   PORTUCAL  209 

Tractado  d<  las  rentas  rf<   los  Benefícios  Ecclesiasticos:  para  sal 
que  se  han  de  gastar,  y  a  quien  se  han  de  dar  y  dexar.  Fundado  en  el  cap. 
final.  XVI.  quest.  I.  Compuesto  por  el  Doctor  Martin  de  Azpilcueta  A 
Cathedratico  lubilado  de  Prima,  en  Cânones.  Con  su  i> 

•  nido  en  este  tractado  se  vera  en  la  pagina  siguiente.  (Escudo  do  im- 
pressor: 1 1 1 ■ . :  14 Ti t >  alado  .  Km  Coimbra.  Por  han  de  Barrera,  Impressor  de  la 
tmiuersidad.  Afio  de  M.D.LXVJI.  Con  Priuilegio  Apostólico,  Real,  de  Portugal, 
Castilla,  Nauarra  >/  Francia.  No  fim:  impresso  em  Coimbra,  por  loan  de 
Barrera,  ano  dei  Seííor,  dt    W.D.LXVJI. 

'>.".  5  lis.  piei.  hm.  com  privilégios  e  dedicatória  ao  rei  de  Hespanha, 
•Vi  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  6  inn.  de  Tabla. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

-i  Comento  6  Repeticion  dei  capitulo  Quando.  I><  consecratione.  distin.  I. 
compuesto  y  dt  >  a  emendado  /«>/•  el  Doctor  Martin  de  Azpilcueta 

Navarro:  cathedratico  de  prima,  etc.  Por  luan  Barrera  y  Tuan  Alvares,  im- 
-  dei  Rey  en  la  Universidad  de  Coimbra,  a  W  de  Mio  de  tõõO.  Vendese 
cu  los  Palácios  dei  Rey,  en  i  impressores  á  cient  maravedis  ó  m, 

toston. 

s.°.  letra  goth.,  178  pags.  (n.1  52  de  princípios).  Dedicatória  á  rainha 
l>.  Catharina.  Prologo  ai  Cristiano  lector.  Tabla. 

Gallardo  :í-J'.. 

/'  Addicion  de  la  repeticion  dei  capitulo  Quando...  etc,  compuesta  por  el 
Doctor  Vartin,  rir.  Vista  por  los  Diputados  de  ia  Suaria  Inquisicion  tsíôl. 
Tassado  en  50  mvs  por  ser  el  papel  grande  y  la  letra  pequena. 

s.".  22  i  pags.,  mais  16  de  princípios. 

g)  Commento  en  romance  a  manera  de  repeticion  lai  ma  y  scholastica  tf< 
turistas  sobre  el  capitulo  Quando  de  cõsecratione  disl.  prima.  Cõpuesto  p  el 
doctor  Martin  de  Azpicnella  Nauarro,  cathedratico  de  prima  e  cânones  dia  vni- 
uersidad  de  Coimbra,  enel  exercido  de  todas  leiras  muy  sublimada.  Enel  qual 
de  rayz  se  trata  de  la  oracion,  lanas  rama, iras  y  oiros  officios  diuinos;  y 
quando,  como  y  porque  se  han  de  dezir  en  el  choro  y  fana  dei.  ■ .  t  vna  cõ  el 
auiso  de  las  faltas,  q  en  ellos  se  ha:?,  y  las  causas  de  que  nascen,  y  con  que 
perecen. 

Ne  me  vilem  pules  ob  anu,  iam  vulgar^,  interspice,  quod  cere  tigò,  aiiru. 

Conimbricae.  Sonos  Octo.  W.D.XLV. 

Titulo  a  vermelho  e  preto  dentro  da  portada  gravada,  representando  um 
pórtico. 


210  A  LITT15RATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (30) 

I  vol.  J..0  (marcação  de  8.°),  600  pags.  alem  do  Reportório  inuumerado. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  — e  de  Nepomuceno— que 
tem  do  fim,  por  letra  de  mão:  Eu  emPmi  esta  obra  Ioam  de  Barreyra. 

h)  Martini  Abazpilcueta  Nauarri  iuriscõsulti  in  três  de  pcenitentia  distinc- 
tiones  posteriores  commentarij.  Adiectus  est  in  calce  libri  locupletissimus  indeop: 
Conimbrice.  Ex  offlcina  lohannis  Alvari  et  Ioannis  Barrerii.  Anno  M.D.XLII. 
Cu  gratia  et  priuilegio.  — Este  titulo  dentro  d'uma  portada  gravada.  No  fim: 
In  Nobili  Lvsitanorvm  Commbricana  Academia.  lohannes  Aluaras,  &  Ioannes 
Barrerius  typographi  excudebãt.  Anno  M.D.XLII  quarto  calendas  Augustas. 

Ej)lio  (marcação  de  i.°),  6  lis.  piei.  inn.,  incluindo  frontispício,  :i96  pags., 
mais  18  lis.  inn.  de  Index. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

i)  Comment."  en  romance  a  manera  de  repeticion  latina  y  scholastica  de 
Iuristas  sobre  el  capitulo  Inter  verba  XI  q.  III.  Cõpuesto  por  el  Doctor  Martin 
ilr  AzpUcueta  Nauarro  cathedratico  de  prima  en  Cânones  de  la  miuersidad  de. 
Coimbra,  e  nel  exercido  de  todas  leiras  muy  sublimada.  Enel  qual  derayzse 
trata,  quando  el  dezir,  oyr,  o  huyr  las  alabanças,  los  vitupérios,  y  las  detraclumes 
o  murmuraciones,  es  mérito,  quando  venial  peccado,  y  quãdo  mortal. 

Liber  ad  ervditum  lectorem. 

Noli  erudite  lector,  qui  minime  vulgaria  sermone  ac  amiclu  vulgari  tego, 
contemnere:  Nam  introspectns  silenus  quidam  Alcibiadis  videri  tibi  forte •  potero. 
Vale. 

Conimbricae.  (Pridie  Idus  Aprilis  M  D  XLHII).  Ex  o/pcina  Johãnis  Bar- 
reriy  Et  Johanis  Aluari. 

Frontispício  gravado.  1  vol.  foi.,  200  pags.  alem  de  outras  por  innumerar. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

;)  Libro  de  la  oraciõ  horas  canónicas,  y  otros  ojficios  diuinos,  dei  Doctor 
Martin  de  AzpUcueta  Nauarro  cathedratico  jubilado  de  Prima  de  Cânones  en  la 
miuersidad  de  Coimbra,  nuenamvti>  reuisto.  El  qual  va  a  manera  de  repeticion 
latina,  sobre  el  capitulo  Quando,  de  consecrationr  distintione  prima.  Fite  im- 
presso  eu  Coimbra,  por  Iuan  de  Barreia  impressor  dei  Rey.  M.D.LXI.  Vendese 
con  la  adicion,  en  dento  y  quarenta  marauedis. 

8.°,  24  fls.  prel.  inn.  incluindo  o  frontispício,  476  pags.,  mais  1  folio  inn. 
contendo  um  Breve  de  Paulo  III  ao  auctor. 

Nas  preliminares  da  dedicatória  á  rainha  D.  Catharina,  epistola  de  João 
de  Jaureguiçar  a  D.  Remigio  de  Gori  arcediago  pompelonense,  Tabla,  app.  de 
Fr.  Martinho  de  Ledesma. 


■11  A  L1TTERATUUA  HESPAfíHOLA  I  M   PO]  211 

A  dedicatória  á  rainha  principiai  «Las  mismas  causas)  razones,  que  los 

dos  i s  passados  Reyna  Christiamssima  ponian  lei de  dedicai  aV.  \. 

dos  obras,  vna  de  Latin,  y  otra  de  Romance,  etc». 

Por  baixo  da  dedicatória  a  seguinte  declaração:  «Eu  esta  segunda  im- 
prension  quitose  mucho  dei  Latin,  porque  se  dezia  que  resfriaua  su  encuêtro 
a  los  que  ao  lo  entêdian». 

Texto  em  caracteres  gothicos. 

Exemplar  de  José  Maria  Nepomuceno. 

k)  Reflectiu  sim-  iterata  prcelectio  non  modo  tenebrosi:  sed  &  tenebricosi.  c. 
Accepta  de  restit.  spolial.  cõposita  &  pronuciata  cora  frequentíssimo,  eruditís- 
simo, ac  lõge  illustri  auditório,  in  inclyta  Lusitaniae  Conlbricensi  Academia, 
pei  Wartinu  ab  Azpilcueta  iureconsullu  Nauairu,  nunc  eius  in  sacra  facultate 
canonu  pritnariae  functionis  gymnastã,  qut  ante  npueno  annos  fuerat  eiusdem 
functionis  in  praeclarissima  Salmanlicensi. 

Contenta  in  ea  versa  pagella  indicai. 
MDXLVI1 

8.°,  274  pags.  .Nu  fim: 

In  iclyta  Conimbrica  lohannes  Barrerivs  et  lõh.  Alvarez,  regiis  Vypographi 
excudebant.  Anno  »  Christo  mito  MDXLVI1  Idus  Septebres. 

Vimos  um  exemplar  na  loja  do  Rodrigues,  numerado  1402. 

l>  Capitulo  vinte  </  ocho  de  las  adiciones  dei  Manual  ih-  cõfessores  dei  doctor 
Martin  iÂzpilcueta  Namrra,  (Titulo  dentro  'In  frontispício  gravado).  No  fim: 
Fue  impresso  i-n  Euora  ê  casa  de  Christoual  ih-  Burgos  Cauallero  de  casa  dei 
Rey.  Afio  de  1/    I).  LXXXI. 

8.°,  153  fólios  numerados  pela  frente,  afora  extensa  Tabla,  no  cabo  da 
qual  vem  a  subscripção  final  acima  transcripta. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

N.i  egreja  de  Santo  António  dos  Portuguezes  em  Roma  existe  o  seu  tumulo 
com  o  seguinte  epitaphio: 

li.  o.  M. 

Martinvs.  ah.  Azimlcveta  Navahrys. 

II.  S.  E. 

DlVINI.   Hvma.movi;.  lvms 

CONSVMISS. 

Qvi.  Salmanti&k.  Primvm 

Deiindf..  Conimbricae. 

Faventibvs.  Portcgalliae.  Kegibys. 


212  A  I.HTKItAII  HA  IlESPANHOLA    EM   PORTUGAL  (32) 

1\>.  Pont.  Docvit. 

Ho.mam.  Profectvs. 

fio  V.  Gregório  XIII.  Xisto  V.  PP.  MM. 

Cahvs 

Omnib.  Nationib.  Grãtvs 

Hvic.  Xenodochio.  Benekicvs 

Obiit.  XI.  Kal.  Ivl.  M.  D.  L.  XXXVII. 

jEtatis.  A.nno  XGIV.  M.  Vi.  D.  VIII. 

mvltis.  doctuinàe.  suar.. 

Pervvlgatis.  Monvmentis 

Maiitinvs.  Zvria 

Avv.ncllo.  B.  M. 

Pos. 

Gaetano  Frascarelli  Inscrizioni  Portoghesi 

Roma  1868 

Bacarrao  (Jorge).  —  No  Lyma,  cpllecção  de  poesias  de  Diogo  Bernardes, 
impressas  pela  voz  primeira  em  Lisboa,  por  Simão  Lopes,  em  1596,  vem  duas 
cartas  (tercetos)  em  hespanhol,  a  xvn  e  a  xix,  a  primeira  das  quaes  tem  a 
seguinte  subscripção: 

«De  Jorge  Bacarrao  Aragonês,  estando  por  Alferez  em  Ponte  de  Lyma,  de 
hua  companhia  de  Soldados,  donde  me  escreveo,  estando  eu  na  Ponte  da  Barca» . 

Barco  Centenera  (Don  Martin  dei).  —  Argentina  \  Y  Conqrista  dei  Rio  \  de 
la  Plata,  con  oiros  acae-\cimientos  de  los  Reynos  dei  Peru,  Tucuman,  y  esta-\do 
dei  Brasil,  por  el  Arcediano  don  Martin  dei  j  Barro  Centenera. 

Dirigida  a  don  Cristouàl  de  Mura,  Marques  de  Castel  Ro-  \  drigo,  Virrey, 
Gouernador,  y  Capitan  general  de  Poria-  |  gal  par  el  Rey  Philipo  III,  nuestro 
Senor.  (Gravura  tosca,  representando  armas  reaes  portuguezas,  coroadas).  Con 
licencia,  En  Lisboa,  Por  Pedro  Crasbeeck.  1602. 

1  vol.,  i.°,  3  lis.  prol.  inn.,  230  lis.  numeradas  pela  frente. 

As  licenças  oecupam  o  verso  do  titulo.  Nas  preliminares  contam-se:  De- 
dicatória do  auctor  ao  Marquez  de  Castello  Rodrigo;  Soneto  do  auctor  a  sua 
obra;  poesias  ao  auctor  de  loan  de  Zumarraga  Ybarguen,  Diego  de  Guzman, 
Pêro  Ximenez,  Gamino  Corrêa,  Valeriano  de  Frias  de  Castillo.  Transcrevere- 
mos o  soneto  d'este  ultimo  por  ser  portuguez: 

E]  Rio  de  la  Plata  queda  vfano, 
Por  ver  tan  celebrada  mi  memoria, 
Pregunto  qual  merece  mayor  gloria, 
El  Rio  o  su  poeta  Trugillano 


(33)  \  l.lill  li.VUllA  UESPANHOLA   EM   PORTUi     i 


De  Fri  is  de  I     ti 

Dai     ila   Irgentin  i  bel] 

^    i  -  u  due le  ih  [i  mi"  sobei 

\  eiiid  Mus  is  ;ozad  dei  nueuo  Appolo, 
Nimpbas  di  (  rico  Tejo  coi  Di  ma 
Dexad  la  antigua  fonte  Cabaliu 

Mirad  que  aquesto  Barco  basta  solo 
Que  a  la  prouincia  arriba  Lusitana, 
Por  eropn  sa  trayendo  su  Argentina. 

A  dedicatória  é  assignada  de  Lisboa  a  10  de  maio  de  1601.  0  auctor 
subscreve-se  perpetuo  capellão  doViso-rej  e  declara  ler  peregrinado  vinte  e 
quatro  annos  pelas  regiões  do  Rio  da  Prata,  o  poema  tem  xxvm  cantos  e  é 
muito  curioso  pelo  lado  histórico,  interessando-nos  egualmente  pelo  que  res- 
peita ao  domínio  do  Brasil.  Os  dois  últimos  cantos  referem  as  desastrosas 
tentativas  dos  inglezes  para  se  apoderarem  de  parir  d'aquelle  paiz.  Transcre- 
veremos os  titulos  dos  três  últimos  cantos,  que  são  os  que  mais  nos  impo- 
rtam: 

Canto  XXVI.  — Como  el  capitan  Tbomas  Candis  senhor  de  Mitiley  salio 
de  Inglaterra,  j  atrauesso  el  estrecho  de  Magallanes,  y  tomo  tierra  en  la  Puna 
y  Payta  ene!  Peru,  y  de  buelta  tomo  vn  nauio  que  vénia  de  la  China. 

Canto  XXVII.— En  este  canto  se  trata  de  la  toma  3  roljo  dei  puerto  de 
Santos  v  s.  Vicente,  j  de  los  insultos  j  maldades  que  alli  hizo  el  Capitan 
Tbomas  Candis  senor  de  Mitiley,  )  Capitan  general  de  la  Reyna  de  Inglaterra. 

Canto  XXVIII. — En  este  canto  se  cventa  la  gran  victoria  que  tuuieron 
los  Portugueses  contra  el  senor  de  Mitiley,  y  de  su  perdida,  y  desbarate  de 
su  armada. 

Exemplar  do  Sr.  Ferreira  das  Neves.  .Nu  leilão  do  Innocencio  foi  ven- 
dido um  (11."  '>G7j  por  ll;>:u>i>  para  Fernando  Palha. 

Xavier  Cordeiro  possue  ou  possuía  pelo  monos  \  cantos  d'um  poema  em 
portuguez  com  titulo  idêntico.  Argentineida,  lendo  por  assumpto  a  guerra  do 
Rio  da  Prata,  em  que  o  auctor  entrou.  É  escripto  por  Paulino  Joaquim  Leitão, 
official  da  aunada  fallecido  em  1831.  Vide  este  muni'  no  Diccionario  de  Inno- 
cencio. 

Gallardo,  no  Ensayo  de  una  biblioteca  espaãola,  dá  a  descripção  do 
poema  de  Centenera. 

Na  Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa  ha  um  exemplar. 

Ferreira  das  Neves  arrematou  outro  exemplar  no  leilão  de  Merello  poi 
64000  réis. 


214  a   I.ITTKRATURA   HESPANHOLA  EM   PORTUGAL  (34) 

Barkman  i  \ndiv).  -  Compendio  dei  Deseoso  .//  por  otro  nombre  Espejo  de 
religiosos,  que  fue  compuesto  por  mi  Religioso  de  la  Orden  dei  D.  Máximo  San 
Hieronymo.  Recopilado  por  André  Barkman  natural  de  Rippen  en  Denemark. 
Coimbra,  No  Real  Collegio  das  Aries  da  Companhia  de  Jesu,  Com  iodas  as  li- 
cenças necessárias.  Anno  de  M.D.CCXV. 

Antes  do  frontispício  ama  gravura,  tendo  inferiormente  Deseozo. 

I  vol.  12.°,  33S  pags. 

Vide  El  Deseoso. 

Barros  (Alonso  de).  —  a)  feriu  de  los  provérbios  morales  de  Alonso  de 
Barros,  anuir,  dei  Rey  nuestro  seãor.  Dirigidos  ai  Reverendíssimo  sefhor  don 
Garcia  de  Loaysa  Giron  Arçobispo  de  Toledo,  Primado  de  las  Espafias,  y  dei 
consejo  de  Estado  dei  Rey  nuestro  seãor.  Avo  JtiJT.  Impressos  em  Lisboa,  Com 
todas  as  licenças  necessárias.  Por  Jorge  Rodriguez.  (Colophon)  Impresso  em 
Lisboa  com  os  licenças  necessárias,  por  Jorge  Rodriguts  afio  1617. 

1  vol.  8."  pequeno,  54  lis.  numeradas  pela  frente,  afora  preliminares. 

0)  Provérbios  morales  Heraclito,  de  Alonso  deVarros,  concordados  porei 
Maestro  Bartolomé  Ximenez  Patqn.  Al  Retor,  y  Maestro  dei  Colégio  Imperial  de 
la  Compafiia  de  leses  de  la  Villa  de  Madrid  (Escudo  da  Companhia)  Con  todas 
las  licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck.  Afio  1617 .  A  costa 
de  Tomé  dei  Valle  Mercader  de  litros. 

í,",  92  lis.  reg.  A-M. 

Reprodução  da  edição  de  Baeza  de  1615. 

Descriptos  em  Gallardo  sob  os  n.os  1333,  1334. 

Barzia  y  Zambrana  (D.  Josepli  dei.  —  a)  Compendio  de  los  sinco  tomos  dei 

despertador  christiano.  Lisboa,  tia  oj\kina  de  Miguel  Deslandes,  1684. 
In  4.°  peq. 
N.°  196  do  catalogo  do  Marquez  de  Pombal. 

b)  Despertador  Christiano  de  Sermones  doctrinales,  sobre  particulares  as- 
sumptos, dispuesto  para  cjue  buelva  en  su  acuerdo  el  pecador,  y  vença  el  peli- 
groso  letargo  de  sus  culpas,  animandosè  a  la  penitencia.  Sn  actor  el  doctor 
D.  Joseph  de  Barzia  y  Zambrana.  natural  de  la  cindad  de  Málaga,  ele.  Lisboa. 
Na  officina  de  Migrei  Deslandes.  MDCLXXXV.  A  custa  de  António. 

1  vol.  iu  í.",  9  tis.  inn.,  432  pags. 
Exemplar  do  cabo  Luiz. 

c)  Sermon  en  la  accion  de  gradas  ai  S.  Christo  de  la  colma:  por  la 
preservacion  de  los  grandes  danos,  que  amenazò  á  Gr  anu  da  el  extraordinário 


35  A  LITTERATURA   «ESPANHOLA  EM  PORTUGAL  li  1  ."> 

(o  dei  dia  9  à  0  Ivz,  y  le 

dedica  a  la  milagrosa  imagem  dei  Santo  Christo  de  la  Coluna  dei  Hospital  de 
Corpus  Christi,  la  Hermandad  de  la  Caridad,  de  Corpus  Christij  >,    ' 
Seíiora  de  la  Misericórdia  de  esta  Ciudad  de  Granada.  Predicole  el  doctor 
D.  Joseph  de  Barzia,  y  Zambrana,  Canonigo  de  la  Iglesia  Colegial  insigne  dei 
y  Cathedraíico  de  Sagrada  Escritura  de  sus  Escuelas. 

Lisboa:  Na  oficina  de  \1  .   V.D.C.LXXXI.  Com  lodosas  li- 

cenças necessárias.  .1  custa  de  António  Leite  Puma,  Mercador  de  Liuros  na 
Bua  Noua. 

I  vol.  i.°,  6  pags.  mu..  24  pags.  a  L2  col. 

d)  Decimas  ao  Desengano  do  Mundo.  Compostas  pello  Doutor  Dom  Joseph 
de  Baniu,  y  Zambrana  &c.  Publicadas  por  José  Barboza  Machado:  E  as  offe- 

senhor  D.  Diogo  dt  Faro  &  Sousa,  etc. 
Lisboa,  na  oficina  de  Miguel  Deslandes.  Anno  de  1681.  Com  todas  as 
licenças. 

\i:  de  82  pags. 

Exemplar  do  Nepomuceno.  lia  lambera  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

e)  Decimas  ao  desengano  do  mundo  compostas  pelo  doutor  Dum  Joseph  de 
Bania  >/  Zambrana  &c  F.  dadas  segunda  vez  a  eslãpa  por  hum  devoto.  Lisboa. 
Por  Manuel  Lopes  Ferreira.  MD.CC.  Com  as  licenças  necessárias. 

12.°  84  pags. 

Exemplar  do  Sr.  A.  Almeida  Campos,  do  Porto. 
Traz  nu  fim — Decimas  que  estam  na  Ermida  do  desengano  nu  S.  Calha- 
rina  </•  Bibamar.  São  12  decimas  em  portuguez. 

Basílio  Sanctoro  (Doutor  fuan  .  —  Piada  espiritual,  en  que  se  contienen 
seis  libros.  Becopilados  de  antiguos,  claríssimos  y  santos doctores.  Lisboa  d;<>7. 
2  tomu>,  folio. 
Bibliotheca  Publica  Municipal  d"  Porto. 

Bazelar  (António).  Defensa  evangélica  de  la  cognacion,  y  parentesco  de 
glorioso  apostol,  y  n/iro  Patron  d,-  Espafta  Santiago  el  mayor  mu 
Christo  Bedentor  nuestro  m  quanto  hombre.  Compvesla  por  elpadre  Pr.  António 
Bazelar  dei  Orden  de  S.  Francisco,  Predicador  y  Lector  de  Theologia  Mara! 
dei  Conuento  d,-  S.  Lorenço  de  la  Ciudad  de  Santiago,  y  Calificador  dei  Santa 
Oficio  de  la  Inquisicion.  Natural  de  la  Villa  de  Bedondela,  Arçobispado  en  lo 
temporal  dr  Santiago.  Corregida  en  esta  segunda  impression  por  el  mismo 
Autor,  y  ahaãidos  algunos  milagres  que  wscedieron  a  Peregrinos,  y  el  funda- 
mento di'  trair  conchas  eu  los  sombreros  quando  hazen  esta  Bomeria  <<  Santiago. 

HlST    E  MEM.  DA  ACAD  —Tom..  mi.  PARTE  II  -    \  "  ■•  •') 


a  utti:hatuí\  bespanhola  em  portugal  (36) 


.  ai  mismo  Apostol  Santiago  Zébedeo,  vnico  Patron  de  Espafía.  (Es- 
tampa losca,  mas  curiosa,  representando  Nossa  Senhora  e  um  peregrino). 
Con  todas  las  licencias  necessárias.  Impresso  em  Coimbra.  Por  Nicolao  Carva- 
lho. Ano  1631. 

í.  .  l-il  pags.  e  mais  I  inn.  de  errata. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Bermudez  e  Alfaro  (L.  Juan).  —  El  Narciso  Flor  traducida  dei  Cefiso  ai 
Iliis.  Por  El  licenciado  Iuan  Bermudez  i  Alfaro.  Ofrecida  en  três  centúrias 
M  reuerendo  /'.  Fr.  Diego  Bermudez,  hermano  suyo}  //  predicador  en  la  Seráfica 
Religion.  Lilio  cultiuado  en  cadencias  rimas,  sino  tan  oloroso  como  en  sas  pater- 
nos exametros.  Imitacion  deldulce  Poeta  Latino  en  las  transformaciones  quinta  i 
se. iia  de  sa  tercem  libro.  Com  licença.  En  Lisboa  por  Iorge  Rodriguez.  Ano  1018. 

S.".  .Vi  lis.,  sign.  A.  II. 

Descripto  em  Gallardo  sob  o  n.°  1:372. 

Boccacio  (Juan).  —  libro  llaniaâo  Fiameta  \  porque  trata  de  los  amures 
ile  vna  note/Ide  \  duefía  napolitana  llamada  Fiameta  el  j  qual  compuso  el  famoso 
Juan  roca  \  cio  poeta  florentino:  vacompue  |  slo  por  sotil  y  elegante  estilo.  \  Da 
a  entender  mau  po/rti  \  cularizadamente  los  |  efectos  que  haze  \  el  amor  en  los  \ 
ânimos  ocupados  de  pasiones  enamoradas.  Lo  qual  es  de  gran  J>  |  uecho  por  el 
aniso  q  |  enello  se  da  en  |  tal  ca\so.  \  1541. 

No  reverso  principia  o  Índice,  que  termina  no  branco  da  folha  segunda; 
na  volta  d'esta,  parte  do  prologo,  que  finda  no  resto  da  terceira,  principiando 
ali  a  obra,  e  nas  costas  da  sétima  da  sigla  1,  se  lê: 

«Fenece  el  libro  de  Fiameta  cõpuesto  por  el  famoso  |  poeta  Iuã  bocacio  | 
fue  impresso  en  la  muy  no  |  ble  y  leal  ciudad  de  Lixboa  por  Luys  |  Rodriguez 
librero  dl  Rey  uso  |  sefior.  Acabose  a  xudias  |  dDiziebre.  Ano  |  deM.  d.XL  | 
y  vno». 

4.°  do  letra  gothica.  Sigas.  a-1.  de  8  tis.;  a  ultima  oceupada  unicamente 
pelo  escudo  do  impressor.  São  88  íls.  ao  lodo. 

Ha  um  exemplar  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  outro  na  de  Évora. 
Salva  descreve  o  seu  exemplar  a  pags.  2!)  e  30  do  tomo  n  do  seu  Catalogo. 

Descripto  sob  o  n.°  388  no  catalogo  Miro,  em  cujo  leilão  foi  vendido 
por  39o  francos. 

Existia  uma  antiga  traducção  portuguéza  de  Bocacio.  Possuia-a  na  sua 
bibliotheca  o  condestavel  de  Portugal  D.  Pedro,  rei  de  Aragão.  Eis  como  se 
acha  descripta  no  seu  inventario,  sob  o  n.°  92: 

«Item  un  altre  libre  a  forma  de  full  script  en  pergami  e  en  vulgar  castella 
o  português,  appellat  Ioan  bocaci,  cuernat  de  nou  ab  ports  de  fust  cubertes 


(37)  A  LITTERATURA  HESPANH01  \  EM  PORTI   iAl  217 


de  cuyre  vermell  empremptadés  ab  quatre  gaffets  e  quatre  scudets  de  leuto 
ab  parxes  de  seda». 

Boscan  y  Garcilaso.-    Las  obras  de  Boscan  y  algunas  deGarciah 
la  Vega. 

Brunet,  refêrindo-se  a  Bouterwecl<  e  ao  catalogo  de  Pajol  d'Ousenbray, 
cita  uma  edição  de  Lisboa,  de  1543,  í.",  que  Salva  julga  poder  considerar-se 
terceira  edição. 

Vide  Salva,  n.c  'i7:!. 

Eis  o  que  diz  Brunet:  -l  ne  édition  de  Lisbonne,  1543,  in  Io,  estportée 
dans  le  raiai,  de  Pajot  d'Osenbray,  n"  1997,  et,  au  rapport  de  Bouterweck, 
il  s'en  trouve  an  exemplaire  dans  la  bibliolhèque  de  Gòttingen». 

Parece  não  haver  duvida  sobre  a  existência  d'esta  edição,  provavelmente 
feita  por  Luis  Rodrigues.  .Numa  edição  de  Barcelona,  de  Carlos  Imoros, ter- 
minada a  2<>  de  março  de  1543,  vem  um  privilegio  por  dez  annos  do  rei  de 
Portugal,  datado  de  Almeirim  a  18  de  março  de  1543.  Embora  custe  a  con- 
ciliar estas  duas  datas,  o  que  é  indiscutível  é  que  o  privilegio  do  rei  de  Portu- 
gal só  poderia  servir  para  uma  edição  portugueza.Vide  Gallardo,  sobn,    1:452, 

Bravo  (Fr.  Joseph  Vicente  Diaz).— El  confessor  instruído:  obra  canónico- 

mural.  Lisboa  17õT. 

1  vol.,  4.° 

N.°  566  do  catalogo  da  Bibliotlieca  Publica  do  Porto.  Bibliotheca  Nacional 
de  Lisboa. 

Bustos  de  Olmedilla  (D.  Gonzalo). — El  monstrvo  horrible  deGrecia,  mortal 
inimigo  dei  hombre,  domado  por  D.  Gonzalo  Bvstos  de  Olmedilla,  Medico  de  ta 
Real  Cartuja  dei  Paulur,  natural  de  la  Villa  de  Gascuefia  en  el  Obispado  de 
Cuenca...  Lisboa  En  la  Officina  de  Ivan  de  la  Costa.  MDCLXXV. 

8.°,  48  inn.,  163  pags.  e  mais  Ires  no  lim  com  as  licenças. 

Como  ás  vezes,  debaixo  de  uma  ruim  capa,  se  esconde  um  bom  bebedor! 
Quem  diria  que  este  livro,  com  um  titulo  tão  extravagante,  era  um  tratado 
contra  a  sangria? 

Gallardo  (n.°  1:513)  descreve  a  edição  de  Valência,  1669,  que  supj tos 

ser  a  primitiva. 

Cáceres  y  Soto-Nlayor  (F.  don  António  de).  —  Paraphrasis  de  |  los 
Psalmos  |  de  David:  \  redvzidos  ai  phrasiSj  y  modos  de  ha  blar  de  la  lengua 
Espafiola,  en  el  sentido  que  los  dixo  el  Prophe  \  la  segun  que  los  entiendem  los 
Sonetos.  |  Gompvesto  por  F.  don  António  de  Cace  |  res  y  Soto  Mayor,  Obispo  de 


218  A   l.rni.liATUKA   HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (38) 


Astorga,  dei  consejo  dei  Rey  mastro  \  sefior,  y  su  confessor.  \  Dirigido  a  Ia 
catholica  magestad  |  dei  Rey  nuestro  seíior  Don  Philippe  III  deste  nombre.  |  Va 
despues  dei  estilo  ordinário  el  Psalmo  LcetattiSj  y  el  de  Profundis,  en  el  que  el 
Auctor  solta  predicar  j  los  Psalmos,  en  cl  qual  ceran  los  predicadores  como  los 
han  ile  reduz/r  a  estilo  predicable.  (Vinheta,  em  oval,  com  a  effigie  de  Ghristo). 
Con  licencia  de  la  saneia  Inquisicion,  dei  liei/  y  Ordinário.  En  Lisboa,  En  la 
officina  de  Pedro  Crasbeeck.  Ano  de  1616-. 

No  primeiro  folio  licenças  e  no  verso  o  privilegio  real,  em  portuguez,  a 
lavor  de  frey  Luiz  Gonçalves,  dominicano,  que  foi  quem  mandou  imprimir  o 
livro.  Segue-se  Dedicatória  ao  rei,  de  frei  Luiz,  e  o  Prologo,  do  mesmo,  ex- 
plicando os  motivos  por  que  editava  o  livro. 

1  vol.,  folio,  a  2  col.  numeradas  pela  frente,  mais  7  pags.  hm.  de 
Tabla. 

No  fim:  Acabose  de  imprimir  este  liuro,  en  Lisboa,  con  todas  las  licencias 
necessárias,  por  Pedro  Crasbeeck.  Ano  1616,  2  enero. 

Cadabal  Gravio  Calidonio  (Álvaro  de  Cadaval  Valladares  de  SotoMayor). — 
Foi  este  poeta  grande  amigo  do  bispo  D.  Rodrigo  Pinheiro,  conforme  escreve 
D.  Rodrigo  da  Cunha  no  seu  Catalogo  dos  Bispos  do  Porto  (2.a  parte,  pag.  301). 
Este  mesmo  auctor  explica  assim  o  motivo  por  que  o  poeta  se  intitulava  Gravio 
Calidonio:  «...  e  em  especial  huma  que  escreveo  a  seu  grande  amigo  o  Poeta 
Cadabal  Grauio,  Calidonio,  natural  da  cidade  de  Tuy  em  Galiza,  que  deuia 
tomar  este  nome  por  sua  pátria  ser  pouoação  de  Diomedes  Rey  de  Calidonia, 
&  dos  Gregos  (corrupto  o  vocábulo  Grauios)  que  com  elle  vierão,  etc». 

As  obras  de  Cadabal  offerecem  curiosos  pormenores  para  a  sua  biographia 
e  para  a  historia  da  sua  estada  e  relações  em  Portugal.  Na  Pitgographia  nos 
conta  elle  o  motivo  de  sua  amisade  e  convivência  com  Rodrigo  Pinheiro. 
Regressando  de  Lisboa,  junto  de  Coimbra  foi  escouceado  por  um  cavallo  na 
boca,  de  que  resultou  estar  quasi  ás  portas  da  morte.  A  hemorrhagia  durou-lhe 
vinte  dias  e  quasi  lhe  tirou  a  esperança  de  salvamento.  Partindo  para  o  Porto 
gravemente  enfermo,  ali  foi  recebido  e  agasalhado  carinhosamente  pelo  bispo, 
que  lhe  dispensou  todos  os  cuidados  e  favores. 

Publicou  grande  numero  de  opúsculos  em  Portugal,  quasi  todos  em  latim, 
a  saber: 

a)  Deichthyotyrannide.  Liber  in  Lvsitanorvm  Regvm  gradam,  et  commen- 
dationem  d  Cadabale  Grauio  editus  (Gravura :  Armas  reaes,  encimadas  por 
chapeo  cardinalício).  Por  baixo:  Subijt  sanctae  Tnquisitionis  examen.  Ex  o/ficina 
loannis  Blauij  de  Agripina  Colónia.  Anno  1563. 

I  vol.,  4.°,  7  fólios  inn. 


(39)  A  L1TTERATCRA  HESPANUOLA  I.M  PORTUGAL  219 


E  um  poemeto  em  versos  latinos  dedicado  ao  infante  I».  Henrique.  No 
verso  do  frontispício  o  argumento  da  obra.  A.  dedicatória  é  assignada:  Com- 
postellae  sexto  Callendas  Augusti.  Anuo  t563. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

b)  De  magno  atque  universalt  calaclysmOj  Tckthyotyrannide  liber  in  Lvsi- 
tanorvm  Regvm  gratiam  et  commendationem. . .  Excudebat  Franciscus  Corrêa. . . 
Vlyssippone  1565, 

l." 

Tem  no  frontispício  anuas  similhantes  ao  anterior.  Deve  ser  -.'  edição. 
Exemplar  do  Dr.  A.  M.  Simões  de  Castro,  de  Coimbra. 
Exemplar  da  Bibliotheca  de  Évora. 

c)  De  obitu  et  apotheosi  inuictissimi  Toannis  Tertii...  \ec  non  de  miseranda 
regince  Catharinte  lamentatione  opus.  Ex  officina  Toannis  Blauij  de  Agrippina 
Colónia.  1563.  No  frontispício  as  armas  da  rainha. 

4." 

Exemplar  do  Dr.  Augusto  Mendes  Simões  de  Castro,  de  Coimbra. 

d)  A  mesma  obra.  Outra  edição,  cum  Scholijs  et  annotalionibus.  Tem quasi 
o  dobro  das  paginas  da  l.a  Vlissipone  excudebat  Franciscus  Correia  L>«;.'>. 

Ilibeiro  dos  Santos  {Memorias,  tomo  vm,  pag.  117)  refere-se  a  esta  edi- 
ção... a  obra  de  Cadabal  Gravio  Calydonio  na  morte  de  El-Rei  1).  João  111 
em  1365. 

Exemplar  de  Simões  de  Castro.  Bibliotheca  de  Évora  e  Bibliotheca  Nacio- 
nal do  Rio  de  Janeiro,  N."  521  da  collecção  I!.  Machado. 

pi  1»  librem  qvartvm  Antonii  Nebríssensis  de  construetione  decem  parlium 
orationis  Cadabalis  Gmuij  Calydonij  lucidissima  explanalio.  (Armas  reaes  por- 
tuguezas).  Subijt  sandeu  Inquisitionis  examen:  Ex  officina  Francisci  Corrêa 
Typographi Serinissimi  Cardinalis  Henrici.  AnnolõGõ.  Vlyssippone.  Hcecbreuiter 
Cadabal  quondam  dictmitt  in  vrbe  Amphilocki  unto.  qua  dicitur  Aureus  Ensis. 

8.n,  com  aspecto  de  4.",  A  A  4,  B  B  4,  etc,  34  1'olios  numerados  pela  frente, 
incluindo  o  frontispício.  Bibliotheca  Real  da  Vjuda. 

No  2."  folio  dedicatória  em  verso  a  D.  Sebastião.  Nas  ultimas  folhas, 
diversas  poesias  latinas;  de  Diogo  de  Arroio  (Didaci  de  Arroio)  Vuriensis,  ao 
auetor;  de  certo  poeta  (cujusdam  peregrini  poetae)  contra  Marianvm  Gàprifi- 
i-viii,  detractor  gallegO,  e  em  louvor  de  Cadabal;  Salyra  de  Cadabal  contra 
certo  professor  de  grammatica  (quem  Bardum  Pandulphum  appelare  libet); 
de  Simão  Roscio,  estudante  (Paschalis  Roscii  ciuis  Auriensis  filii),  inqvosdam 


22G  A  LITTEBÀTURA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (40) 


rvsticcmos  poetas,  &  Cadabalis  Grauij  Calydonij  prceceptoris  sui  honorem.  Entre 
estas  poesias  vem  também  uma  epistola  em  prosa  de  Cadabal  dirigida  a  Je- 
ronymo  Campano,  professor  de  primeira  classe  ein  Compostella. 

f)  Varias  composições  em  versos  latinos,  sem  frontispício  próprio  e  sem 
numeração  de  paginas,  podendo  talvez  ser  continuação  de  outro  folheto.  Estas 
composições  são : 

a)  In  laudem. . .  Balthasaris  Limpis.  Archiepiscopi  Bracharensi . . . 

b)  Ad. .  ■  dominum  Gasparem  de  Auellaneda  de  Stuniga,  Cõpostella- 

nen.  Archiepiscopam.  ■ . 

c)  De  laboribus  Herculeis. 

Na  ultima  pagina  a  seguinte  indicação:  Excudebat  Ioannes  Blauius  ex 
Agrippina  Colónia  Vlissipone  1563. 

Exemplar  e  communicação  de  k.  M.  Simões  de  Castro,  de  Coimbra. 

g)  Rithma  en  honor,  celebridad  y  recommendacion  dei  Ilhislrissimo  sefíor, 
el  Obispo  âon  Iulian  de  Alba,  capellan  mayor  dei  Cfirislianissimo  y  muy  alto  y 
poderoso  Rey  don  Sebastian,  y  vno  de  los  de  su  consejo.  Con  relacion  de  la  hedad 
de  oro,  en  la  qual  Saturno  reynó:  y  de  la  hedad  de  hierro  en  que  agora  uiuimos. 
Cadabal  Grauio  Calydonio  Author.  (Gravurinha:  o  carneiro  paschal  ao  centro 
com  o  dístico  em  volta:  Qui  tolis  peccala  mvndi  miserere  nobis.  —  Yor  cima  o 
chapéo  prelaticio.  Debaixo  da  gravura  um  dístico  em  grego  em  três  linhas). 

No  verso  do  frontispício: 

Fue  la  presente  obra  vista,  examinada,  y  approbada  por  la  sancta  Inqui- 
sicion  y  authoridad  ordinária. 

Fue  impressa  en  la  Real  ciudad  de  Lisbona,  en  casa  de  Francisco  correa 
impressor  dei  sereníssimo  Cardenal  Infante  dõ  Henriq,  a  XV  de  Nomêbre  ano 
de  1566. 

Copla  dei  Impressor  ai  prudente  Lector: 

Lector  venerable  si  qui,eres  saber 
La  bondad  nianifiesta  de  don  Iulian, 
Del  Rei  de  Occidente  mayor  capellan, 
Esle  breue  tractado  procura  de  leer, 
Adonde  muy  presto  podras  conocer 
Sin  mucho  trabajo  con  facilidad, 
Sus  allos  conceptos,  y  felicidad, 
Sus  claras  virtudes  y  gran  merescer. 
De  las  quales  scribe  con  muebo  primor 
En  Latin  y  Romãce  y  en  metro  sonãte 
Avn  que  breuemente,  el  Poeta  elegãte 
Cadabal  Valladares  de  Soto  Mayor, 


(4í)  A   UTTERATURA  HESPANHOLA   EM   POl  221 

El  iin  ii  lod  birtn, 

Estes  versos  põe  aos  o  poeta  ua  boca  do  impressor,  mas  são  evidente- 
mente da  sua  lavra.  Disfarçou  mal  a  sua  excessiva  modéstia. 

Depois  d'estes  versos  vem  28  quintilhas  de  arte  maior,  do  auctor,  de  que 
transcrevemos  a  l.a  paia  amostra: 

Enaíjlla  corriente  tnucl  i 

Del  i 

Que  íu    I    b   I    ■ 

De  paz  y  juslieia.  y  bon 

Quandi 

Segue-se  Soneto  dei  Poeta  Aluaro  'li  Cadabal  valladares  de  Solo  riiayorao 
bvipo  D.  Jidian  sobre  la  Apographia.  V.  i-w .  .  to,  que  nada  tem  de 

soneto. 

I  vol.  in  i.°,  ;>  lis.  imi.  No  fundo  da  pagina  final  uma  curiosa  gravura, 
representando  um  homem  armado,  de  pé,  entre  signos. 

Em  seguida  a  este  opúsculo,  outro  que  é  sua  continuação,  embora  com 
frontispício  á  parte: 

In  praeclarissimi,  alqve  beneficientissimi  episcopi  Miani  de  Alba,  rerum 
Sacrarum  Regii  Prcefecti  Corporis  &  uni  nu  egrégias  dotes,  elegãs  ac  breuis 
Apographia.  Cadabale  Grauio  Calidonio  authorè.  i  \  mesma  gravura  da  portada 
acima,  com  o  mesmo  dístico  inferior  em  grego).  Por  baixo:  subiit  sãcto  In- 
quisitionis  examen,  cu  ordinariae  authoritatis  approbatione. 

Prosa  e  verso.  Traz  também  composições  de  João  Rodrigues  de  Sá. 

i: ,  1 5  fólios  imi. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Outro  em  poder  de  i.  M. 
Simões  de  Castro,  no  qual  vem  primeiro  a  parte  latina  e  depois  a  Rithma. 

h)  Pityographia.  (Este  titulo  acha-se  superiormente  a  uma  gravura  re 
presentandd  as  armas  do  bispo  portuense  I».  Rodrigo  Pinheiro).  Pela  parte 
inferior:  In  amplíssimas  illvstrissimi  praestantissimiq  Doctoris  Roderici  Pinarij 
Portugallensis  Episcopi  laudes,  egregiasq  dotes,  cum  generis,  titulorum,  acvir- 
tutum  eiusdem  in  signi  commendatione,  graphicaq;  ornalissimae  villae  Sanctae 
Crucis  ilc  Maia  descriptione  Libriduo,  cum  annotationibus  &  scholiis.  Cadabale 
Graniu  Calydonio  authore.  Subij  sanctae  Inquisitiõnis,  acOrdinariae  authoritatis 
examen.  Excudebat  Antonius  t;<»i*<iii*  Typographus  Olyssipone.  Anno  a  glorio- 
sissimae  Virginis  sacratíssimo  parto  1568. 


---  A  L1TTERATUBA  HESPANHOLA  I  M  PORTUGAL  (42) 

l  \ol.,  i.".  25  fólios  Dumerados  pela  frente.  Exemplar  da  Bibliotheca  Na- 
cional de  Lisboa. 

No  verso  do  frontispício: 

Operís  argumentam 

aRedeuntem  Olyssipone  Cadabalem  Graium  iuxtn  Conimbricam  èquns 
calcipeta  in  os  ferrato  sic  percussit  pede,  vt  param  alfuerit,  quin  expirarei. 
Per  viginti  dies  mananle  sanguinè  mortuus  sine  vela  salutis  spe  ab  omnibus 
existimabatur.  tnde  Portugalliam  segre  venit.  Ad  praestantissimum,  beneficen- 
tissimq  doei. nem  Rodericum  Pinarium  Portugallensem  Episcopum  ruri  iuxta 
marem  philosophantem,  fanmlum  suum  iam  ferme  moriês  (vt  dilectissimu 
Mecaenatem  suum  ante  obitiim  salutaret)  praemiserat.  Puer  abijt.  literasEpes- 
copi  iucundissimas  cum  amo  reportai,  quibus  leclis  Cadabal  Graius  in  pris- 
tinum  statum  a  mortis  limine  reuocatus  est.  Pro  tali  beneficio,  ac  singulari 
munere  insignes  títulos,  egrégias  virtutes,  generosos  animi  conceptus  &  im- 
mortale  decus  eiusdem,  non  sine  magno  constantis  amoris  testimonio  graphica 
depingit». 

De  partis  huius  operis 

«Sex  huius  operis  partes  existunt.  In  prima  describitur  pinus  cum  auibus 
earumq  vocibus.  In  secunda  Pityos  &  Atys  antiquíssima  metamorphosis.  In 
tertia  depíngitur  terribilis  Leo,  cum  clarissimi  Episcopi  Roderici  Pinarij  vir- 
tutum,  titulorum,  ac  nobilitatis  encómio.  In  quarta,  et  eleganter  constructa 
villa  eiusdem  praesulis,  cui  nomen  Sancta  Cruz  de  Maia,  cum  Eedificijs,  bortis, 
plantis,  luco,  sacrisq  Diuorum  templis  concelebratur.  In  quinta  supradictorum 
cum  autboris  asseueratione  beneíiceatissimum  virQ  testiíicatio  est.  In  sexta 
vero  perquã  iucudus  Lethis  ac  viatoris  cuiusdam  colloquium,  fontiumq  septem 
varia'  inscriptiones  circa  finem  habentur.  Ilis  quoq  doctissimi  viri  Ioannis 
Roderici  de  Sa  Portugallensis  areis  pralecti  de  rústica}  yitffi  principatu  adiecta 
carmina  sunt». 

Rodrigo  da  Cunha  dá-nos  lambem  no  seu  Catalogo  dos  Bispos  (pag.  304  e 
305)  uma  enumeração  das  partes  d'esta  obra,  mas  enganou-se  na  conta.  Eis 
o  que  elle  escreve: 

«Tem  toda  esta  obra  cinco  partes,  na  primeira,  em  graça  do  bispo,  poi- 
se chamar  Pinheiro,  descreue  elegantem."'  hum  pinheiro  com  as  aues  que 
nelles  costumão  fazer  seos  ninhos,  onde  põem  as  vozes  de  cada  huma.  Na 
segunda  conta  como  a  Nimpha  Pitys,  &  o  moco  Atys,  se  tornarão  em  pinheiros. 
Na  terceira  pinta  o  Leão  rapante,  que  nas  armas  do  Bispo  está  arremetendo 
ao  pinheiro.  Na  quarta  celebra  todas  as  grandezas  da  quinta  de  sãta  Cruz, 
os  edifícios,  as  aruores,  as  hortas,  o  bosque,  as  ermidas,  as  fontes.  Na  quinta, 
canta  com  toda  a  variedade,  a  frescura  do  Rio  Lessa,  a  quem  chama  Lethes 
misturando  sempre  em  cada  nua  destas  partes  muitos  versos  em  louuor  do 


i-'!  A  L1TTERATURA   HESPANHOLA   IM   PORTUGAI  ^'2.'? 

Bispo,  que  lhos  soube  bem  pagai  com  as  muitas  merçes  que  Ibe  fez,  de  sorte 
:  razão  lhe  chama  muitas  vezes  o  seu  Mecenas». 
A  numeração  está  errada  nos  dois  últimos  fólios,  devendo  ser  27  e  28 
e  não  ±2  e  25.  lia  ainda  outros  erros  de  paginai 

Brachyologia.  I  ti  titulo  poi  cima'd'umas  armas  reaes  portuguezas). 
Por  baixo:  Inviclissimorvm  ac  perinde  clarissimorum  triumphalittmq  Lusitaniae 
Regum  Hercidisq  monstrorum  domitoris  laborum,  ml  prudentissimum  beneficen- 
tissimumq  Principem  Editar  dum,  serenissimi  Principis  Eduardi  charissimum 
/iliuin,  felicissimi  Regis  Emamtelis  longe  dignissimum  nepotem,  cum  eiusdem 
luculenta  commendatione  breuissima  relatio,  quae  Brachyologia  sitie  Laconismus 
inscribitur.  Ac  simul  de  praestantissimai  Principis  Munir,  illustrissimiq  viri 
Alexandri  Farnesij,  Parmae  necnon  Placentiai  Principis  nuptis  Bruxella?  cele- 
bratis  tertio  Tdtis  Nouembris,  anno  1565.  Cadabali  Grauio  Calydonio  antore. 
■  Subii  sanctce  Inquisitionis  examen,  cum  Ordinarice  authoi  itatis  comprobatione, 
ar  nihil,  quod  pium  Lectorem  offendat,  habet.  Excudebat  Anlonius  Gonsales 
Typograpkus  Olyssippone,  anno  1568.  Pridie  Kal.  Martij. 

i.",  \\±  fólios  numerados  pela  frente. 

Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto  e  Bibliotheca  Nacional  do  Rio  de 
Janeiro,  n.°  709. 

Tem  diversos  capítulos  em  [irosa  muito  curiosos:  um  d'elles  intitula-se 
Animaks  et  auium  vocês : — Elephantes  barriunt,  runcanl  Tygres,  rugiunt 
Leonês,  fremuni  Lynces,  vneantVrsi,  etc. 

Insere  uma  poesia  dedicada  a  Pêro  de  Andrade  Caminha  — Ad  generosvm 
ac  perinde  virtutis  studiosum  oratorem,  atque  rociam  Petrum  ab  Andrade, 
serenissimi  clarissimique  Principis  Eduardi  Cubicularium,  Cadabalis  Grauij 
Calidonij  Monocolon  Encomiasticonque  carmen. 

Em  uma  annotação  a  esta  poesia:  «Periphrasis  a  loco.  quasi  dicat.  Petrus 
ab  Andrade  vir  egregius,  &  quauis  laude  dignus  natus  est  a  claris  parentibus 
in  ciuitate  quae  Portugaltia  dicilur,  nõ  proeul  ab  ostio  Durij  sita». 

;■)  Por  baixo  das  armas  reaes  portuguezas  o  seguinte  titulo: 

Ad  magnificenlmimvm  illvstrissimumq,  Principem  Antonium,  serenissimi 
necnõ  animosissimi  Principis  Lodouici  charissimum  filium,  forlunatissimi  Chris- 
tianissimiq  Lusitanie  Regis  Emanuelis  non  a  pernandum  nepotem,  Cractique 
Priorem  Cadabalis  Grauij  Calydonij  Monocolon  Encomiasticonque  carmen.  Subiit 
Sanctae  inquisitionis  examen,  etc  Excudebat  Antonivs  Gonsales  Typograpkus 
Olyssippone,  Anno  t5683  16  Cal.  \Iai. 

\:\  8  lis.  numeradas  pela  frente. 

Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto  e  Bibliotheca  Nacional  do  Rio  de 
.lancil-,.,  v  7  lo  da  collecção  B.  Mai  bado. 


224  A  LITTERATCJRA  HESPANHOLA  EM  PUKTUGAL  (44) 

k)  Trivmphalis  Ttmvlus.-  (Águia  de  duas  cabeças;  entre  ellas  a  coroa 
imperial).  Por  baixo:  Invictissimi  Caroli  Quinti  Ccesaris  Avgvsti  Romanorvm 
ImperatoriSj  Hispaniarvm  Clarissimi  regis  trivmphalis  condignvsque  tvmulus 
Cadabale  Gravio  Calydonio  Tydensi  avthore.  Sancta  inquisitionis  etc.  Excudebat 
Antonivs  Gonsales  Typographus  Olyssippone.  Anuo  lõô'8  octauo  Calendas  Maias. 

i.",  26  fólios. 

Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

Na  dedicatória  a  Filippe  dá  indicação  das  obras  que  escreveu: 

tln  Incem  supeiioris  minis  haud  inutilem,  circa  Latinam  Syntaxim,  para- 
phrasim  ad  felicissimum  Regem  Sebaslianum  (fias  mim  studijs,  ac  a:tati  con- 
sulebam)  (é  o  opúsculo  descripto  sob  letra  e);  Fortunatissimique  Ioannis  tertij 
Apotheosim,  cum  prudentíssima;  Regina  Catharinw  Lugubri  lamentatione  ad 
eundam  Reginam  (é  o  opúsculo  descripto  sob  letra  c);  Vniuersalem  Cataclysmum 
ih  husitanorum  Principum  commendationem,  ad  serenissimum  Cardinalem 
Henricum  (é  o  descripto  sob  letra  a);  Bràchiologiam  ad  nobilissimum  Príncipem 
Eduardum  (é  o  descripto  sob  letra  i)\  Piti/ographiam  ad  benemeritim  de  me 
Rodericum  Pinariam  Porlugallensem  Episcopum  (é  o  descripto  sob  letra  h); 
Encomiaslicon  carmen  ad  prwcelletem  iuuenem  Antonium  serenissimi  Principis 
Lodouici  fúium,  qui  te  vnice  colet,  obseruat,  amat,  mirisque  in  caiam  laudibus 
dignissime  tollit  (é  o  descripto  sob  letra  j) ;  Nunallaqae  alia  opuscula  pro  meo 
capln  atque  mediocritate,  non  sine  solicitudine  iamen  (ita  enim  providw  rerum 
parenti  Natura?  placuit,  ut  prwstantissima  quwque  non  nisi  summis  rigilijs 
assiduoque  labore  consequerémurj  adideram  inueçtissime  Philippe». 

Nicolau  António  parece  ter  conhecido  apenas  um  dos  opúsculos  deste 
poeta,  mas  refere-se  brevemente  a  élQ  n'estes  dois  pequenos  artigos: 

«Gadavallis  Gravius  —  Caledonius,  Gallsecus,  poeta  Latinus,  auspiciis 
Pinarii  episcopi. 

«Descriptionem  versibus  fecit  villae  S.  ,Crucis,  atque  edidit  1568,  in  4. 

«Gadavallis  de  Sotomayor,  Bracharensis,  praecéptor  grammaticae  ai  tis  sub 
Sebastiano  rege  plura  Latina  Poemata  seripsit,  Gardoso  teste.  Nisi  Gadavallis 
Gravius  supra  laudatus  sit». 

A  observação  de  Nicolau  António  é  justa  e  justificada. 

João  Baptista  de  Gastro  enumera-o  entre  os  poetas  portuguezes  e  dá-o 
como  natural  de  Braga.  Befere  o  que  diz  Faria  e  Sousa  no  commentario  ao 
soneto  90  da  Centúria  2  de  Camões.  O  nosso  poeta,  vendo  as  poesias  de 
Cadaval,  pareceram-lhe  tão  boas  que  teve  inveja  d'ellas. 

Calatayud  (Pedro  de).— Pratica  de  la  vida  dulce  y  racional  dei  Christiano. 
dispvesta  por  el  Reverendíssimo  P.  Pedro  de  Calatayud,  Maestro  de  Tlieologia, 


(45)  A  UTTERATURA  BESPANHOLA  I  \\  PORTUGAL 


y  \fissionero  A  instancias  de  mm  Seíiora 

principal,  para  su  direccion,  ele.  Quarta  impression.  Coimbra:  En  el  Real 
Sollegio  á  1743. 

1  TOl.    I»''.'.    I  i-  [ 

Bibliotheca  Nacional  de  Li 

Calderon  (D.  Rodrigo).  —  a)  Carta',  y  relacion  verdadera  dei  nacimientò, 
vida,  y  muerte  de  don  Rodrigo  Calderon;  en  que  se  declaran  los  títulos,  officios, 
y  rentas  que  tenia,  //  las  sentencias  que  contra  el  se  dieron.-  -Nu  lim:  / 
Impresso  por  Geraldo  da  Vinha.  Anuo  1621. 

Folio,  2  folhas. 

h)  Relacion  de  lo  sucedido  en  la  execucion  de  la  sentencia  que  se  dio  a 
don  Rodrigo  Calderon,  Miercoles  y  lueues,  veinte  y  ventiuno  dei  mes  de  Octubre 
de  1621  aftos.  —  No  lim:  Em  Lisboa.  Com  licença  da  sdncta  Inquisição,  Ordi- 
nário, &  Paço.  Por  Pedro  Craesbeeck  impi r  dei  Rey.  Anno  1621. 

Folio  2  folhas. 

Ha  ainda  um  terceiro  opúsculo  sobre  o  assumpto:  sem  logar  de  impressão. 
Descriptos  em  Gallardo  sob  os  n.os  171  a  173. 

Calvo  Asensio  (Gonzalo).— Los  celos  dei  Bardo.  Poema  por  Anlom 
dano  de  Castilho.  Ve>  Gonsalo  Calvo  Asensio. 

Porto.  Imprensa  Portugueza  1870. 

8.°,  29  pags.  Traz  uo  principio  um  soneto  com  estrambote,  do  traduetor, 
«a  cl  inspirado  autor  de  Os  Ciúmes  do  Bardo  a  el  Homero  português  A.ntonio 
Feliciano  de  Castilho»,  e  mais  uma  espécie  de  explicação  critica  acerca  do 
poema. 

Camargo  (Padre  [gnacio  de  .—  Discurso  Theologico  sobre  los  Theatros  y 
Comedias  de  este  siglo,  En  que  por  todo  género  de  autoridades,  en  especial  de 
los  Santos  Padres  de  la  Iglesia,  y  Doctores  Escolásticos,  y  por  princípios  sólidos 
de  la  Theologia,  st  rt  melve  con  claridad  la  queslion,  de  si  es,  ó  no,  pecado  grave 
el  ver  Comedias,  con,.,  se  representan  oy  en  los  Theatros  de  Espana:  Consàgrab 
a  la  Emperalris  puríssima  de  los  cielos,  Maria  Santíssima,  Madre  de  Dios,  y 
Seíiora  Nuestra,  concebida  en  plenitud  de  gracia,  y  Jusltcia  original  ai  instante 
primero  de  su  ser,  el  padn  Ignacio  de  Camargo  de  la  Compania  de  Jesus,  Lector 
de  Theologia  en  su  Real  Colégio  de  v  .  En  la  Emprenta  de 

Miguel  Manescal,  Impressor  dei  Santo  Oficio.  A  costa  de  António  Leyte  Pereira, 
mercader  de  libroi  en  la  Calle  Nueva.  M.D.C.XC.  Con  todas  las  licencias 
necessários. 

1  vol.  i.",  li  pags.  ii  ih  .  de  dedicatória,  approví •  licenças,  211  pags. 


226  A  UITKIUHKA  HESPANBOU  EM  PORTUGA!  (46) 


Parece  que  a  i.a  edição  foi  de  Silamanca,  por  Lucas  Perez,  1689.  Des- 
creve-a  Gallardo  sob  o  n.,J  1548. 
Exemplar  de  Rodriguez. 

Câncer  y  Velasco  (D.  Geronimo  de).  —  a)  Obras  varias  de  don  Geronimo 
de  Câncer  y  Velasco:  qve  en  esta  segunda  impression  publica  en  Lisboa  Henrique 
falête  de  Oliveira,  en  su  officina.  Anò  1657.  Con  todas  las  licencias. 

1  vol.  12.°,  5  lis.  prel.  iiiu.,  251  pags. 

Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

In  Obras  varias  de  D.  Geronimo  de  Câncer  y  Velasco.  Anadidas  en  esta 
tercera  impression.  En  Lisboa,  por  António  Rodrigues  d'Abrev.  A  costa  de  An- 
tónio Leyte  Perora,  Mercader  de  Libros.  Ano  1675.  Con  las  licencias  necessárias. 

1  vol.  12.°,  10  pags.  prel.  inn.,  251  pags.  Nas  preliminares:  prologo  de 
D.  Ivã  de  Zavalita,  em  prosa,  e  Retrato  de  una  Dama,  poesia.  Traz  no  fim, 
de  pags.  199  em  diante,  a  comedia  burlesca  La  Mverte  de  Baldovinos. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Salva  diz  que  Barrera  cita  uma  edição  de  Lisboa,  António  Rodrigues, 
1671.  Foi  equivoco.  Barrera  cita  effectivamente,  mas  é  a  de  Lisboa  1675. 

Cancionero.  —  Cancionero  de  romances  en  que  estan  recopilados  la  mayor 
parte  de  los  romances.  Lisboa,  por  Manuel  de  Lyra,  1581. 
1  vol.,  12.°. 
Diz  Rrunet  que  contem  182  romances.  Vide  Salva,  notas  ao  n.°  193. 

Canizares  (D.  José  de).  —  d)  Amor  aumenta  el  valor.  Fiesta  que  se  executo 
en  el  Palácio  dei  Marquês  de  los  Balbases  Embaxador  Extraordinário  de  su 
Magestad  Calholica  (que  Dios  guarde)  en  esta  Corte,  con  el  plausible  motivo  de 
lia  verse  efectuado  los  Despozorios  dei  Sereníssimo  Seíior  Príncipe  de  Astúrias 
Dou  Fernando,  con  la  Sereníssima  Si  nora  Infanta  de  Portugal  Dona  Maria: 
en. ..  de  Henero  de  1728  (Vinheta).  Lisboa  Occidental,  en  la  Patriarcal  Oficina 
de  la  Musica.  Ano  de  M.CC. XXVIII.  (sic)  Con  todas  las  licencias  necessárias. 

4.°,  1  11.,  72  pags. 

Este  folheto  faz  parte  da  collecç.ão  Barbosa  Machado  e  acha-se  a  sua 
descripção  nos  Annaes  da  Bibliotheca  Nacional  do  Bio  de  Janeiro,  vol.  n, 
pags.  137,  acerescentada  com  a  seguinte  annotação: 

«Começa  a  composição  por  uma  Loa:  vem  o  primeiro  acto  do  Melodramiua: 
segue-se  o  Entremes  mievo  de  la  Qaenta  dei  Gallego,  e  termina  tudo  pelos  actos 
segundo  e  terceiro  do  Melodramma.  Segundo  uma  nota  exarada  a  pag.  10,  a 
composição  poética  è  de  D.  Joseph  de  Canizares.  A  musica  foi  de  D.  Jaime 


(47)  .\  UTTERATUKA   «ESPANHOLA   EM   l'<n \,  227 

Facco,  D.  Joseph  de  Nebra  e  l».  Felipe  Falconi,  Executoa-se  esta  romposição 
no  dia  is  de  janeiro  de  1728,  segundo  refere  fr.  José  da  Natividade  em  sen 
Fasto  de  hymeneo». 

Com  o  titulo  de  Amor  aumenta  el  amor  não  achamos  esta  composição 
entre  as  de  Canizares,  relacionadas  por  Barrera  j  Leirado.  Encontramos, 
porem,  Las  amazonas  de  Espana,  de  que  se  faz  menção  do  follieto  seguinte: 

6)  Las  Amazonas  de  Espana.  Fiesta  que  se  represento  en  el  Palácio  dei 
Marques  de  los  Balbases  embaxador  extraordinário  de  su  Magestad  Catholica 
(que  Dios  guarde)  con  el  motivo  de  haver  hecho  su  entrada  publica,  y  de 
obsequiar  el  feliz  tratado  matrimonial  dei  Sereníssimo  Sefíor  Don  Fernando 
Príncipe  de  Astúrias:  con  la  Sereníssima  Sefíora  Infanta  de  Poi'tugál  Dona  Varia 
Barbara,  glorioso  asumpto  de  su  Comision  (Vinheta).  Lisboa  Occidental.  Eu  la 
Patriarcal  Officina  de  la  Musica.  Ano  WDCCXXVH. 

í.°,  52  paus. 

Bibliotheca  da  Ajuda. 

Cano  (D.  FranciSGO).—  Foi  bispo  do  Algarve  e  capellão  da  rainha  D.  Ga- 
tharina. 

Nos  manuscriptos  da  Torre  do  Tombo  i  I7.V»)  lia  a  seguinte  obra  sua: 
Exposicion  de  los  Siete  Salinas  penitenciales. 
Tem  um  desenho  á  penna. 

Cargos  contra  el  emule  Uvque,  y  Memorial  de  avisos  que  cierto  ministro 
de  Castilla  prezentó  a  s/t  Rey  Don  Felippe  el  IV para  reparacion  de  su  malograda 
Monarchia.  -No  fim:  Em  Lisboa.  Com  todas  as  licenças  necessárias.  Na  officina 
de  Lourenço  de  Anveres.  Anua  de  1<J44. 

1  vol.  i.°,  7  lis.  inn.  lia  um  exemplar  d'este  opúsculo  na  Bibliotheca 
Nacional  de  Lisboa. 

Cario  Magno. — Historia  dei  Emperador  Carla  Magno,  etc. 
Gallàrdo,  em  nota  ao  n.°  192,  cita  duas  edições  portuguezas: 

a)  Lisboa,  por  Domingo  de  Fonseca,  1615,  foi.  de  30  lis.,  som  contar  o 
frontispício,  a  -2  columnas; 

In  Coimbra,  por  José  ^ntunez,  8.°,  1732. 

Carrion  Pardo  iJuan  de).  —  Tratado  como  se  deven  formar  las  qvatro 
esqvadrones,  en  qve  milita  nuestra  nacion  Espanola:  Eu  el  qual  se  hallaran 


228  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (48) 


cosas  muy  curiosas  tocantes  ai  origen  de  las  Armas.  (Vinhetasintaa:  um  leão 
rompente).  Dirigido  ai  illvstrissimo,  y  excellentissimo  Sefior  Dou  Ivan  de  Sylva, 
Conde  de  Portalegre,  Comêdador  dela  Obreria  de  la  Ordè  de  Calalraua,  Mayof- 
dotno  Mayor,  y  <l<  I  Consejo  de  Estado  de  su  Mageslad,  su  Gouernador,  y  Ca- 
pitan  General  destos  Reynos  de  Portugal.  Compuesto  por  Iuan  de  Carrion  Pardo, 
Capitan  de  Infanteria  Espafíola,  por  el  Rey  ntiestro  sefior.  Impresso  em  Lisboa: 
Cõ  licêeia  de  la  Sancta  Inquisiciõ,  por  António  Aluarez.  Ano  de  MJ).  LXXXXV. 

8.°,  k-  fólios  inn.  incluindo  frontispício,  11  numerados  pela  frente,  mais 
í  inn. 

No  verso  do  frontispício  as  licenças,  sendo  a  approvação  inquisitorial 
assignada  por  Francisco  Pereira.  No  i.°  folio  e  no  verso  «dous  sonetos  do 
capitan  Andres  Rey  de  Artieda  ao  conde  de  Portalegre».  No  2.°  folio  «Soneto 
de  fray  Alonso  de  Espinosa  ao  Capitan  Iuan  de  Carrion».  No  verso  começa  o 
prologo,  que  oceupa  duas  paginas.  No  verso  do  3.°  folio,  uma  gravura  oval 
com  um  retrato  de  militar,  que  talvez  seja  o  auetor.  Este  retrato  acha-se 
reproduzido  numa  das  folhas  linaes  innumeradas.  A  obra  principia  por  um 
tractado  de  arismetica.  No  verso  do  3.°  folio  outro  retrato,  maior  e  mais 
ornamentado  que  o  anterior.  Talvez  que  o  do  conde  de  Portalegre.  Este 
retrato  acha-se  lambem  reproduzido  no  verso  do  folio  14,  \  obra  tem  também 
dois  escudos  com  armas  reaes  poftuguezas,  encimadas  pelo  dragão!  Um  maior 
que  o  outro. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  —  N"~3u77"0- 

Del  Capitan  Andres  Rey  de  Artieda,  ai  Conde  de  Portalegre 
Soneto 

Para  Poder  vencer  a  los  Troyanos, 
Dos  hõbres  escogio,  el  General  Gwego, 
til  vno  de  prudência,  y  de  sossiego, 
El  oiro,  valoroso  por  sus  manos. 

Con  sus  consejos  vtiles,  y  sanos, 
Vlisses  començo  a  entabter  el  juego, 
Lteuolo  Aquiles  a  euehillo,  j  Fuego, 
Con  sus  proezas,  y  heehos  soberanos. 

Ambas  cosas  de  tanto  ser,  y  peso, 
Qúiso  el  Cielo  sefior  eomuniearte, 
Liberalmente  con  notable  i 


Pues  lupiter  le  influye  por  su  parte, 
Valor,  çagacidad,  prudência.  &  seso, 
y  sus  azeros,  y  potencia  Marte. 


(49)  Al.lTli  iNHOLA  EM  PORTUGAL  ±2\\ 

Al  Capitan  Ivau  de  Carrion  Pardo.  Fray  Alonso  de  Espinosa 

Soneto 

Do  la  inuension,  y  origen  dei  arreo, 
De  q  •■■  adorn  i,  y  visl 

I».'  pistas  de  esquadroneSj  q  aqui  leo, 
Singuno  tratar  pudo  (segui)  creo), 

el  Estandarte, 
.  dieron  por  tropheo. 

:i  Pardo,  digo,  que  a  mi  gusto, 
D      \       Wili 

Ni  dedicarlo  a  oiro.  fuera  justo, 
11  3  iquiêl 

Que  tal  subjecto,  tal  arrim 

Cartas.  —  Copia  de  vna  caria,  qve  escriuio  vn  Espafiol  Residente  m  la 
Cttria  Romana,  a  vn  Ministro  superior  dei  Estado  de  Milan.  —  No  fim:  En 
Genoua  a  10  de  Abril  1645.  Aora  en  Lisboa,  con  licencias,  por  Puniu  Craesbeeck 
1645. 

4.°,  7  pags.  inn. 

Bibliotheca  da  Ajuda. 

Carvajal  (Diego  de). —  Relacion  dei  caso  o  casos  notablçs,  qve  han  socedido 
en  la  civdad  de  Milan  estos  trt  s  mesi  s  próximos  passados.  Cm  ntase  en  que  forma, 
sin  corrupcvm  de  Ayres  inuentaron  diabólicos  ministros  inimigos  de  Dios,  y  de 
la  Catholica  Corona  de  Espafía,  que  Dios  siempre  prospere,  empestar,  y  conta- 
minar toda  In  tierra,  de  que  son  muertos  cerca  de  ochenta  mil  personas  y 
ãespoblada  la  Ciudad  de  Pauta,  hecho  todo  por  rua  inuenciçn  diabólica  jamas 
vista  en  el  mundo,  y  relatase  los  que  se  han  cõdeneulo,  y  el  suplicio  que  se  les 
dio,  ij  las  diligencias  que  se  hazen.  —  No  fim:  Con  todas  as  licenças  necessárias: 
Km  Lisboa  por  Mattheus  Pinheito,  &  vendese  en  sua  casa  ao  Poço  da  Fotea 
anno  1630.  Vou  faixada  esta  Relação  na  Mesa  do  Paço  a  5  reis  a  folha. 

Foi.  i  fls.  O  texto  é  firmado  na  Simoneta  de  .Milan  a  2G  de  agosto  de  630. 

Descripto  em  Gallardo  sob  o  n.°  1:641.  O  Pinheito  talvez  seja  erro  de 
copia,  em  logar  de  Pinheiro. 

Casiano  (Juan). — Breve  discurso  acerca  dei  cometa,  de.  Lisboa,  por  Pedro 
Craesbeeck,  1018. 


230  A  LITTERATURA   IIESRANHOLA  EM  PORTUGAL  (50) 


s.   o  auctor  diz-se  licenciado  astrólogo  de  Sevilha. 
Cxi  mplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 
Vide  Mexia  (Pedro). 

Castillo  (Fr.  Francisco  dei). —  Migaias  caydas  de  la  mesa  de  los  santos  y 
doctores  de  la  yglesia.  Colegidas  y  aplicadas  a  todos  los  Euangelios  de  la  Qua- 
resma. Por  Ff.  Francisco  dei  Castillo  de  la  Orden  de  S.  Agustin  en  la  Pronincia 
dei  Andaluzia,  y  natural  de  la  Ciudad  de  Cadiz.  Anno  1621.  Con  todas  las 
licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Por  António  Alvarez,  Impressor  y  Mercader 
de  Libras. 

1  vul.,  8.°,  3  lis.  prel.  inn.,  310  num.  pela  frente,  mais  9i  pags.  de 
índice. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Castro  (Francisco  de). —  Christiana  reformacion,  assi  de  el  pecador  como 
de  el  virtvoso.  (Estàmpinha:  Ghristo  entre  as  santas  mulheres).  Por  el  P.  Fran- 
cisco de  Castro  de  la  Compania  de  Jesus,  natural  de  Granada.  Aora  de  nuevo 
sacado  a  luz  por  industria  de  Pablo  Craesbeeck.  Lisboa.  En  la  Officina  Craes- 
beeckiana.  Anuo  1656. 

i  1  vol.,  8.°,  4  lis.  prel.  inn.  incluindo  frontispício,  674  pags.  afora  Tabla 
inn.  11  pags. 

Reprodução  da  edição  de  Sevilha  de  1630. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Castro  y  Afiaya  (D.  Pedro  de).  —  Amoras  de  Diana.  Por  D.on  Pedro  de 
Castro  y  Anaija,  natural  de  Mareia.  A  Senhora  D.  Maria  da  Sylua  Religiosa 
em  o  Comento  Real  de  S.  Clara  de  Coimbra.  Em  Coimbra.  Com  todas  as 
licenças  necessárias.  Na  Officina  de  Manuel  Dias  Impressor  da  Vnitiersidqde. 
armo  1654. 

1  vol.,  8.°,  10  fls.  inn.,  contendo  dedicatória  do  livreiro,  licenças,  versos 
ao  auctor,  339  pags.  —  É  uma  espécie  de  novella  em  prosa  e  verso. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  c  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Catom. — Castigos  e  enx-\empros  de  Calom. 

Este  titulo  acha-se  por  baixo  d'uma  estampa,  representando  um  professor 
sentado;  a  seus  pés  um  individuo,  de  joelhos,  com  livro  aberto:  outros  dous 
de  cada  lado  com  livros  também. 

Pela  parte  inferior  do  titulo  larga  tarja. 

No  verso  curiosa  estampa:  —  Nossa  Senhora  num  throno;  dum  lado  um 
bispo,  do  outro  uma  santa. 


(51)  A   LITTERATURA   IIESPANHOLA   EM   PORTUCAI  231 


\To  alto  do  primeiro  folio: 

Aqui  comieçan  los  castigos  ij  ilotrinau  que  dio  el  sábio  ruína  a  su  hijo. 

i  fue  vn  hõbre  que  dezian  ealon 
rastígaua  a  su  hijo  cu  muj  grà"  ilcuociii 
como  pusiessse  vi,  vida  en  buena  inlêcion 
guarnecido  de  coslumbres  j  de  buena  razon 

\        orno  ei  padre  >■!  hijo  nombre  auia 

ii  los  c  isti  os  dei  padre  •  I  coraçon  leni  - 

eu  dichos  y  eu  I Ims  ai  padre  bien  seguia 

assi  ci yrèis  el  padre  le  dezia 

£  como  el  moço  de  su  padre  era  mandado 

y  '' saber  costumbres  era  muj  alavado 

de  In  que  lo  casti  o  lonio  muj  grau  cuydado 
començo  se  a  guarnecer  por  ser  bien  dotrinado       Ele 

V  fim: 

Fue  impresso  el  presente  tratado  min  mtty  nobley  leal  cibdad  de  Lybsoa  (sic) 
por  Germã  galharde  Francês  aios  doze  dias  de  Seplembre.  Mm  de  mill  y  qui- 
iiienlos  //  .1.1  j  anos. 

Dios  sea  Intuiu.  Amen. 

I  vol.,  l.°,  12  lis.  inn.  cora  o  frontispício.  Km  cada  pagina  7  quadras. 
It.  aij  avj. 

Exemplar  existente  na  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto.  Pertencera 
a  Santa  Cru/,  de  Coimbra.  Nu  mesmo  volume  acham-se  encadernados  os 
seguintes  opúsculos: 

a)  Despertador  de  peccadores:  Inueutado  /»>/'  rim  deUos.  Impresso  em 
Burgos,  segundo  a  declaração  final,  a  :!<>  de  março  de  l"i'il. 

In  Glosa  famosíssima  </<■  Alonso  de  seruantes.—Sem  data,  com  caracteres 
golhicos.  Parece  ser  a  descripta  por  Salva. 

ri  Glosa  Famosa,  de  Luys  Perez,  Valladolid  12  abril  1664. 

Gallardo  (514)  descreve  uma  edição  de  Burgos,  MDLxiij,  por  Felippe  de 
Junta. 

Haverá  alguma  correlaçno  entre  esta  obra  e  a  do  mesmo  titulo  de  Mosen 
Gonzalo  Garcia  de  Santa  Maria?  (Vide  Gallardo.  II.  2:316). 

Veja-se  o  que  deixamos  escripto  sob  este  nome. 

Veja-se  em  Salva  outra  obra  de  Gonzalo  Garcia  de  Santa  Maria  m."  3:876). 
IIist  e  Mem.  da  Acad— Tomo  yn  paute  u.     N.°  5  6 


$32  A   L1TTEHATURA   IIKSlMMlui.A   KM  1'OHTUOAL  (52) 

Na  livraria  do  (libo  de  Colombo  vem  descripta  (a.°  :i::i-2^i  a  seguinte 
obra,  que  é  talvez  a  primeira  edição  castelhana,  anterior  á  de  Lisboa: 

«Castigos  j  ejemplos  de  Platon  (sic):  procedea  en  manera  de  coplas. 
I.  iEn  Roma  fué  un  bombre».  I>.  «Ya  laVirgen  Maria-.  Es  en  'i."  —  Coslú 
en  Medina  dei  Campo  8  maravedis». 

Cavallaria  (Romances  de).-  -a)  Primaleon.  (Este  titulo  está  por  cima 
d  'uma  c-tairipa  que  representa  um  eavalleiro  armado  de  ponto  em  branco,  de 
espada  desembainhada,  e  galopando).  Por  baixo:  Libro  dei  inucncible  eabaUero 
Primaleon  hijo  de  Palmerin  de  Oliua  donde  se  tractan  los  sus  altos  hechos  en 
armas  y  los  de  Polmdos  su  hermano,  y  los  de  don  Duardos  Príncipe  de  Ingla- 
terra, y  de  oiros  pv<  ciados  caualleros  do  la  Corte  dei  Emp"rador  Palmerin. 
Fue  impresso  con  licencia  en  Lisboa,  tn  casa  de  Manoel  Joan.  Impressor  de 
libras.  Afio  de  1566.  Vende-se  en  casa  de  Frãcisco  Graphea  y  de  Frãcisco  Fer- 
nãdez  libreros,  en  la  Rua  nona.  -No  fim:  Aqui  hace  jin  el  libro  dei  ualeroso 
y  esforçado  cauallero  Primaleon,  hijo  de  Palmerin  de  Oliua.  Fue  impresso  en 
Lisboa  <n  casa  de  Manoel  loan.  En  este  ano  de  MDLXVI. 

Folio,  letra  gothica,  a  2  rol.,  242  lis. 

No  verso  do  frontispício  a  dedicatórias  Al  muy  Magnifico  senor  loan  Ala- 
mos de  Barrientos,  Capitan  de  su  Mageslad  .//  Begidor  de  la  rilla  de  Medina 
dei  Campo . . .  Benito  Boyer  S. 

Descripto  em  Gallardo  sob  o  n."  997. 

b)  Primaleon.  (Este  titulo  a  vermelho  se  lè  sobre  uma  grande  estampa 
representando  um  eavalleiro,  que  oceupa  quasi  toda  a  pagina).  Por  baixo 
lê-se:  Libro  que  trata  de  los  valerosos  ij  es/orçados  hechos  en  armas  de.  Pri- 
maleon, hijo  dei  Emperador  Palmerin,  y  de  su  hermano  Polendos:  y  de  Don 
Duardos  Príncipe  de  Inglaterra,  y  de  outros  preciados  caualleros  dela  Corte 
dei  Emperador  Palmerin.  Con  licencia  dcl  Supremo  Consejo  de  la  Mesa  Ge- 
neral  de  la  Saneia  Inquisicion.  En  Lisboa.  Impresso  eu  casa  de  Simon  Lopez 
Mercader  de  Libras.  Ano  de  1598. 

No  reverso  do  frontispício  as  licenças.  A  Enformação  do  Padre  Reaedor 
diz:  «Vi  este  Liuro  à-  alimpeio  de  alguas  cousas;  Em  o  mais  não  tem  cousa 
algúa  contra  a  Fé,  ou  bõs  costumes.  Frey  António  Tarrique». 

Este  mesmo  Tarrique  é  o  que  alimpou  também  o  Gusman  dWI/ar- 
rache. 

1  vol.,  folio,  a  2  col..  typo  redondo,  17  linhas  nas  columnas  compactas. 
226  fólios  numerados  em  arábico.  A  numeração  dos  capítulos  seguida  até  ao 
298.°,  como  na  de  1566,  e  sem  a  separação  das  Ires  parles  feita  por  Delicado 
na  edição  de  153:1. 


53)  A   LITTBKATI  l;\   IIESPANHOM   I  M   l'OKTI  (JAI  233 


No  verso  do  folio  2â6  Iraz  as  seguintes  coplas  «I* 

O  in  que  desseas  balallas  leer 
amigo  de  Marte  A  belligera  gente 
hablas  de  amores  de  estilo  excelenl  • 
rieplos  A  lides  procuras  saber : 
iquilas  de  Vénus  podras  conocer 
de  Marte  Minerua  A  sabroso  Cupido 
razi  nes  j  hablas  en  lodo  sentido 
K  libro  aplazihle  si  quieres  lener 

Aqui  la  excelência  de  Túlio  exmaltad  i 
vence  j  excede  a  los  libros  hyspanos 
las  guerras  de  Troya  de  grecia  romanos 
debuxa  coti  pluma  de  sciencia  dorada 
aqui  palmerin  i  orona  su  eçpada 
las  cosas  dei  hijo  gran  Primaleon 
demueslra  inuencibles  con  mucha  razon 
e  buelue  las  otras  vencibles  en  nada. 

Aqui  se  declara  de  caualleria 
doctrina  &  manera  de  en  guerras  biuir 
reptar  por  palabras  saber  combatir 
a  toda  persona  que  aleue  liazia: 
aqui  por  donzellas  traçaua  j  hendia 
la  espada  <le  Primaleon  los  reptados 
muestra  ganarse  por  armas  ditados 
[>or  sciencia  virtudes  j  gei logia 

Aqui  se  sublima  la  gente  chrisliana 

i  sarícta  razon  &  catholica  rida 

;i  yr  contra  maios  incita  e  combida 

*«aqiie  pari matéria  profana 

la  lengua  adelgaza  sotil  caslellana 
espajo  &  carreaa  de  los  que  ventura 
prdsiguen  la  honra  de  clara  natura 
que  haze  succedan  en  mas  soberana 

E  neste  esma  lado  &  muy  rico  dechado 
vau  esculpidas  muj  bellas  labores 
de  paz  j  de  guerra  j  de  castos  amores 
por  mano  de  duefia  prudente  labrado 
es  por  exemplo  de  lodos  notado 
(jne  lo  verisimil  veamos  en  flor 
es  de  augustobrica  aquesla  labor 
que  en  Lisboa  se  ha  agora  estampado 


234  A  LITTERATURA  HESPANHOLA   EM   PORTUGAL  !•>')) 


Recucrda  &  contempla  discreto  lector 

qvan  vtile  sea  teer  sus  Fengl s 

y  eu  letras  de  oro  notar  las  raa - 

que  fueren  notables  si  ouieres  sabor 
ruega  &  snplieaos  su  historiador 

no  ii rda  ni  roa  sus  hablas  algunq 

porque  no  \cMnos  se  atreue  ninguno 
hazer  l.in  gran  libro  &  de  tanto  dulçor 
Dko  Gkatias 

Segue-se  o  colophon  do  impressor: 

Aqvi  haze  fin  d  libro  de  Pamerin  (sic)  |  Emperador  de  Constantinopla. 
El  qual  traia  de  los  altos  &  muy  estre-  |  madós  hechos  eu  anuas  que  hizo  su 
kijo  Primaleon:  &  de  las  eslra-  \  Tias  auenturas  q  a  su  honra  <&  con  minha 
gloria  acabo.  E  assi  nus  |  mo  trata  de  los  grandes  hechos  que  en  anuas  hizie- 
roíi :  &  de  |  lãs  marauillosas  auéntúras  que  acabaron  los  muy  precia-  |  dos 
caualleros  Polendos  hijo  dei  Emperador  Pai  |  merin  y  de  Don  Duardos  Prín- 
cipe de  In-  j  glaterra.  historia  es  muy  dulce  &  apla  |  zible:  traduzida  de  lo 
griego  en  \  miestra  lengua  castellana.  |  Impresso  En  Lisboa.  A  custa  de  Simão 
Lopes  Mercador  de  limos. 

Exemplar  da  Bibliotheea  Nacional  de  Lisboa. 

Vide  Varhagen.  Da  Litteratura  dos  Livros  de  CavaUarias,  pags.  91,  220 
e  seguintes. 

Um  exemplar  vendido  no  leilão  Miro  pui'  59  francos.  Catalogo  n."  354. 

c)  Florando  d' Inglaterra.  Por  baixo  d'nm  eavalleiro  com  espada  desem- 
bainhada, o  seguinte  titulo:  Comieuça  la  coronica  dei  ualiente  y  esforçado  pft- 
cipe  dv  Florãdo  dlvglatierra,  hijo  dl  noble  y  esforçado  pricipe  Paladiano,  en 
q  se  cuètã  las  grades  y  marauillosas  auêturas  a  q  dio  fin  por  amores  d'la  her- 
mosa  prícesa  Roselinda  hija  dei  empddor  de  lhana.  -  No  fim :  Aqui  se  acaba  la 
primera,  segunda  y  tercera  parte  de  la  crónica  dei  muy  esforçado  y  animoso 
príncipe  don  Florãdo  de  lnglatierra:  hijo  dei  príncipe  Paladiano  y  de  la  prin- 
cesa Aquilea:  en  la  qual  se  hã  coutado  los  grandes  hechos  (pie  en  armas  hizo  y 
las  grandes  aventuras  a  que  dio  fin  por  amores  dv  lu  princesa  Roselinda,  hija 
dei  Emperador  de  Romã.  Fue  impressa  en  la  mu//  noble  //  leal  ciudad  de  Lis- 
bona  por  German  Gãllarde,  impressor  dlibros.  Acabose  a  reynte  dias  dei  mes 
dv  Abril.  En  el  ano  de  mil  e  quinientos  //  quarenta  &  cinco  anos. 

Folio,  letra  gothica,  a  duas  columnas,  com  gravuras  de  madeira  interca- 
ladas no  texto.  É  dividido  em  três  partes,  a  ultima  das  quaes  começa  no  fo- 
lio cLxxui  com  portada  á  parte  e  o  seguinte  titulo:  «Tercera  parte  de  D.  Flo- 
rando». 


55)  A    I.ITTKUATIUA    IIKSIWMH  H.A    LM    1'ORTUliAI  235 

As  duas  primeiras  parles  d'esla  obra,  cujo  auctor  aão  se  declara,  ainda 
que  conste  do  prologo  que  foi  portuguez  ou  vizinho  de  Lisboa,  irem  a  dala 
de  :íi>  de  fevereiro.  Não  se  conhece  d'el!a  mais  edição  alem  da  que  acabamos 
de  descrever.  (Bibliotheca  de  l>.  José  de  Salamanca). 

Esta  é  a  descripção  que  nos  dá  Gallardo,  sob  o  n.°  734. 

Num  catalogo  do  livreiro  de  Londres,  Beraard  Quaritch,  com  data  de 
abril  de  1890,  e  intitulado  l  catalogue  <</  medieval  litterature:  romances  of 
chivalry,  costume  and  pageanliy  of  lhe  middle  ages,  vem,  sob  o  n.°  338,  des- 
cripto  um  exemplar  do  Florando,  posto  ã  venda  por  lo<>  libras.  Traz  a  se- 
guinte annotação,  que  contraria,  emquanto  á  nacionalidade  do  auctor,  a  opi- 
nião de  Gallardo  e  de  Brunei : 

«This  is  one  of  lhe  rarest  oí  ali  tlie  romances  of  chivalry.  Besides  this 
perfecl  copy  only  one  other  'and  thal  imperfect)  lias  been  recorded.  The 
whereabouts  of  lhe  imperfecl  copy  is  now  onknown. 

iThe  author  was  nol  a  Portuguese,  as  Brunefs  continuator  supposed 
from  a  misinterprelalion  ol  lhe  preface.  He  simplj  happened  to  be  in  Lisbon 
in  1545.  The  storj  is  feigned  lo  have  beéii  translated  from  an  English  origi- 
nal at  a  time  wben  he  was  resident,  for  pnrposes  ofbusiness,  «in  this... 
noble  and  for-most-famous-deeds-of  knights-errant-  renowned-in-arms  ceie 
brated  isle  of  England».  Of  lhe  language  of  lhe  country  lie  tought  little, 
as  he  uses  the  phrase  «barbara  lengua  como  la  Inglesa».  The  Florando 
ina\  be  assigned  to  the  Palmerin  cycle,  simply  as  a  supposed  Eúglish  chro- 
nicle;  but  the  only  connexion  which  the  book  itself  suggests  is  with  the 
romance  Palladien  d'Angleterre  (Lyons,  15ÍJ5),  a  work  professedlj  derived 
from  the  Spanish,  but  usually  supposed  to  be  an  original  composition  of 
Claude  Collet.  The  íirsi  chapter-heading  in  Florando  runs  thus:  «Capitulo 
primero  de  vna  marauillosa  auenlura  que  ai  nacimienlo  dei  príncipe  Pala- 
diano  aparecio.  En  la  cibdad  de  Londres  entre  los  palácios  dei  Re)  Mi 
lanor  su  padre".  In  the.lasl  chapter  of  the  primera  parte,  Florando  is  bom 
to  Paladiano;  and  \ve  may  fairl)  conclude  thal  this  firsl  pari  of  Florando, 
dealing  wholly  with  lhe  bero's  talher,  was  the  real  original  of  Claude  Colei  s 
romances. 

I  in  exemplar  da  livraria  Thonias  Crofls  il7H:C  foi  vendido  por  I  libra 
e  7  shillingsl  Vide  Salva,  n.°  2:466. 

di  Lisvarte  de  Urrem.  (Este  titulo,  a  vermelho,  está  sobre  uma  gravura 
grande  representando  dois  cavalleiros).  Por  baixo  da  estampa  segue,  a  prelo 
e  encarnado:  Libro  septimo  de  Amadis,  en  el  qual  se  trafã  los  grandes  hechos 
en  minas  de  Lisuarte  de  Grécia  hijo  de  Esplandian.  Y  de  los  grandes  hechos 
de  Perion  de  Gaula. 


^.'{(i  A   LITTERATURA  HESPANHOLA   EM   PORTUGAL  561 


•  En  el  qual  se  bailara  el  eslrafío  nascimieulo  dei  cauallero  dei  urcUtiíe 
espada. 

•  Impresso  en  Lisboa  com  licença.  A!io  de  1587. 

y,  reverso  do  fronlispicio  as  licenças.  \  de  frey  Bartholomeu  Perneira 

diz  assim: 

«Vi  por  mandado  de  S.  A.  esle  limo  &  emendado  como  \a\  não  lem 
cousa  por  onde  se  não  deua  imprimir». 

No  folio  2.°  ;i  cabeça  do  capitulo  é  dò  teor  seguinle-í 

Comiença  ta  eliminai  de  los  famosos  caualferos  limar  \  le  de  Greeia  y 
Perion  de  Gania,  hijos  de  los  valientns  y  esforçados  caualleros  Ama  \  dis  de 
Gaula  Rey  de  la  gran  Bretafíu,  y  de  Esplandian  m  hijo  Emperador  de  Côs 
tau  \  (inópia,  segun  que  la  escreuio  el  gran  sábio  cu  los  magicas,  Alquife. 
Emendada  de  ai  |  gunos  vocablos  que  corrompidos  estauan  por  el  antigue- 
doil.  La  qual  traia  de  las  grandes  cauallerias  que  por  estos  dos  grandíssi- 
mos príncipes  passaron,  j  segun  que  por  ella  paresceru.  )  fue  dirigida  aí 
reueren  \  dissinto  y  muy  magnifico  seíior  don  Diego  j  de  Deça  Arçobispo  de 
Seuilla. 

No  fim: 

Fenesce  el  Septimo  Libro  de  Amadis,  enel  qval  se  Irata  i  lie  los  grandes 
y  famosos  hechos  en  armas,  de  los  muy  esforçados  Ca  [  ualleros  Lisuarte  de 
Grécia,  hijo  dei  Rey  Amadis.  Fue  impres  j  so  en  la  Ciudad  de  Lisboa,  en  casa 
de  Afon  j  so  Lopez.  Acabose  ai  fm  de  Oclubre  \  De  1587. 

Folio,  a  2  col.,  typo  redondo.  Tem  G  capítulos. 

Exemplares  da  Bibliollieea  Nacional  de  Lisboa  e  Uibliotheca  da  Ajuda. 

Vendido  por  75  francos  no  leilão  Miro,  n.°  3'i3. 

e)  Amadis  de  Grécia.  Chronica  dei  muy  va  |  liente  y  esforçada  príncipe 
;/  Caualero  de  la  ardiente  espada  Amadis  de  Grécia,  hijo  de  |  Lisuarte  de  Gre- 
eia, Emperador  de  Constantinopla,  y  |  de  Trapisqnda,  y  Rey  de  Rodas.  Que 
irada  j  de  bis  sus  grandes  linhos  en  Armas,  y  de  los  sus  altos,  ij  eslraiíos  \ 
Amores:  |  )  es  el  noueuo  libro  de  Amadis  de  Gaula.  j  Impresso  en  Lisboa,  con 
licencia  de  la  Saneia  Tnquisicion,  en  casa  de  Simon  Lope:  |  Mercader  de  Li- 
bras, Ano  Í59G. 

Antecede  esle  titulo  uma  estampa  de  negro  e  colorido,  como  toda  a  letra 
da  portada,  que  representa  um  personagem  a  cavallo,  e  o  dístico  Amadis  de 
Grécia  por  cima  da  cabeça.  Ao  II.  96  principia  a  Segvnda  porte  dei  libro  dei 
mei/  ralienie  ij  espirrada  cauallero  Amadis  de  Grécia:  el  qual  trata  de  los  gran- 
des hechos,  assi  en  armas,  como  en  amores,  que  por  el  ij  por  Lisuarte  de  Gré- 
cia su  padre  passar  on.  La  qual  fue  sacada  de  griego  en  latiu,  y  de  latiu  en 
romance,  segun  que  lo  eserinio  cl  gran  sábio  Alquife  en  las  Magicas.  Emenda- 


A   LOTERATURA   UKSPANH0LA   K51   ['ORTUliAL  237 


dos  algunos  vocablos  que  /»'/•  ta  i/rau  anliguedad  delia  estauan  corrompidos. 
(Al  fm  se  repelen  las  seftas  <!•  la  impression 

Folio,  ti  II.-.  prel.  i'  252  lis.,  principiando  ;i  numeração  pelo  folio  3. 

Salva,  i.  ii.  pags.  I-.»  e  13. 

liruuel  cita  mu  exemplar  existente  na  Uibliolheca  Nacional  de  Paris 
^Imperial).  \  numeração  de  Brunei  é  5  e  232  lis.  a  -2  col.,  leiras  re 
doudas. 

Vendido  por  ò''.i  francos  no  leilão  Miro,  n."  344. 

Gallardo  descreve-o  também,  dizendo  que  lem  232  lis.  e  mais  'i  [irei. 
Vide  ii.    393. 

f)  Florisel  de  Niquea.  Estampa  representando  um  rei  a  cavallo.  É  a 
mesma  da  obra  de  Francisco  Uvares  acerca  do  Preste  João.  Por  baixo:  /.'/ 
coronica  delos  muy  volteies  caualleros  don  Florisel  de  Niquea  y  el  fuérte  Anã 
xartes  hijos  dei  excelente  príncipe  imadis  de  greda.  Emendada  dei  estilo  anlt 
guo  segun  que  la  escrínio  Cirfea  reyna  de  .1/ gines  por  el  noble  cauallero  Feli- 
ciano de  Silua.  Foy  visto  <£  aprottado  este  libro  pellos  deputados  da  sinta  in 
quisição  &  ordinário.  Impresso  e  lixboa  e  casa  de  Mimos  fíorges  opressor  dei 
rey  nosso  senhor.  -No  fim:  Acabouse  o  presente  livro  em  a  muy  nobre  &  leal 
cidade  tl>  Lixboa  nus  xa  dias  de  Abril  de  1566.  Em  casa  de  Manos  borges 
Impressor  delRey  nosso  Senhor. 

Folio  pequeno,  3  fls.  prel.  de  Tabla,  ccxxji  fls. 

d  livro  segundo  principia  no  folio  cxvi. 

Exemplar  da  Biblioteca  Municipal  do  Porto:  tem  no  fim  algumas  folhas 
m; scriptas. 

Gallardo  descreve-o,  pelo  exemplar  da  Bibliotheca  de  Salamanca,  c  dá  lhe 
ccxxxn  folhas.  Vide  n."  397.  Varhagen  inclina-se  a  que  houvesse  uma  edição 
de  Lisboa  de  l*>'.i7  Vide  Livros  de  Gavallaria,  pag.  224. 

!/)  Terceira  parle  de  Florisel  de  Niquea.  La  terçera  parte  de  ia  coronica 
dil  muy  excelente  príncipe  dou  Florisel  de  Niquea,  en  la  qual  se  trata  ih- las 
grandes  hazafias  de  los  excellenlissimos  príncipes  Don  Rogel  de  Grécia,  q  el 
segundo  Agesilao,  hijos  de  los  excellentissimos  príncipes  don  Florisel  de  Niquea 
//  don  Falanges  de  Astro.  No  lim:  Acabose  la  choronica  delos  vitoriosos  et 
invincibles  càvalleros  Dou  Rogel  de  Greda  el  el  segundo  \gesilao  hijos  de  los 
excelentíssimos  príncipes  don  Florisel  de  Niquea  y  don  Falanges  de  Astra :  la 
quale  fue  corrigida  por  Feliciano  da  Silva,  de  algunos  yerros  que  en  la  trans- 
lacion  que  se  hizo  dei  gríego  en  latin  por  el  gran  hystoriador  Falistes  Campaneo 
avia.  Inipfessa  en  la  ynsigne  dudad  de  Évora,  en  raso  de  los  erederos  de  An- 
dris  de  Burgos. 


238  A    I.UTMí.VHItA   IIKS1WMI0I.A    KM   PORTUGAL  (58) 


Sem  data  (por  1550).  Pequeno  in-folio,  golhico,  a  -2  col.,  v.  !'.:  lil  comp. 
à  froid,  ir.  dor. 

aExemplaire  bien  conserve.  Ce  volume,  ires  rare,  forme  la  I  le  partie  des 
Amadis;  ii  se  compose  de  3  ff.  prél.,  \  compris  le  titre,  sur  lequcl  se  trouvc 
uuc  gravare  sur  bois,  el  de  285  ff.  chifres.  Branet  cite  ce  volume  (í'après 
|'exemplaire  de  la  Bibliothèque  Naiionak,  auquel  il  manque  sans  doute  lés 
2  ff.  de  Prohemio,  car  il  ne  parle  pas  de  ces  denx  feuillelss. 

Catalogo  Miro,  n."  346.  VeDdido  por  305  francos. 

Salva  possuiu  uni  exemplar  d'esta  edição,  que  descreve.  Referindo-se  a 
Brunet,  cila  outra  de  Lisboa,  de  1566,  por  Marcos  Borges.  Não  haverá  equi- 
voco com  a  edição  de  Florisel  de  Niquea,  do  mesmo  anno  e  do  mesmo  im- 
pressor? 

Gallardo  também  descreve  um  exemplar  da  Bibliotheca  de  Salamanca. 
Vide  n."  403. 

A  supposição  (In  andor  do  catalogo  de  Miro,  de  que  a  impressão  seria 
de  1550,  é  inadmissível. 

Cayrasco  de  Figueroa  (Barlolome). -  -Templo  militante.  Fios  sanclorvm, 
II  trivmphos  de  ses  virtudes.  Dirigido  a  la  M.  C.  dei  Rey  Don  Phelippe  Tercero 
deste  nombre.  -Armas  reaes;  d'um  e  d'outro  lado:  Ano  1613.  -Debaixo:  Por 
Don  Barlolome  Cayrasco  de  Figueroa,  Prior,  y  Canonigo  de  la  Iglesia  Cainhai 
de  Canana.  Primera  y  segvnda  parti'.  Con  las  licencias  necessárias,  y  Priuile- 
gios  Reales  de  Castilla,  Portugal,  y  Aragon.  Em  Lisboa,  por  Pedro  Craesbeeck. 

Este  Ululo  está  dentro  d'uma  portada  gravada,  formada  por  qualorze 
medalhões  representando  a  vida  de  Christo  e  os  quatro  evangelistas. 

1  vol.  folio  a  2  col.,  5  tis.  prel.  inn.,  531  pags.  Ao  fundo  da  pag.  528 
tem  a  seguinte  inscripção:  Em  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck.  Ano,  1612. 

As  folhas  preliminares  contém:  privilégios,  approvações  e  licenças,  poesias 
ao  auetor,  cartas  dedicatórias  a  el-rei;  ai  lector;  Cancion  a  la  magestad  dei 
Rey.  No  fim  desta  canção  o  seguinte  disticho: 

Donni  llarioloinei  Cayrasci  de  Figueroa,  insulae  Canariae  oriundi,  nobilis 
genere,  ipsiusque  insulae  sanctae  Caihcilralis  Ecclesiae  Prioris,  &  emerili  Ca- 
nonici,  siicrae  &  humanae  doctrinae  sapienlissimi,  Musarumque  lubae,  &  noui 
Hispani  sagfuci,  (Sdrujulos  vocant)  inuentoris,  eloquijque  oratoris  eloquentis- 
simi,  Mineraae  filij,  de  Sancionou  lande  jireconis,  perpeÇuae  famis,  laudis,  & 
gloriae  dignissimi,  ab  inuido  Zoylo  ob  ingenij  claritalem,  &  praeslaritiam  lair 
dali,  Catholicae  Fidei  amantissimi,  haeresis  perseculoris  acerrimi,  nriuiis 
Doctoris,  <t-  siiuudi  cera  effigies. 

Inferiormente,  o  retrato  num  medalhão,  fendo  de  um  e  oulro  lado: 
Ano  1600,  e  por  baixo:  Mtatis  suae  Anno  LX. 


•'''.'  A   L1TTERATI  liA   IIESPANIIOLA  EM  1'ORTUCAl  239 

\  :;.1  e  i.'  parte  tem  frontispicios  idênticos  á  I.1.  com  modificações  nas 
dedicatórias.  A  3.a  é  dirigida  á  rainha  Dona  Margarita  de  Vustria.Tem  armas 
reaes  e  d'um  e  d'outro  lado:  Ano  1618.  Tem  '-''ri  pags.  e  'i  prel.  inn.  com 
licenças,  dedicatória,  versos  ao  andor,  e  o  retrato. 

A  í.'  parte  é  dirigida  a  Don  Francisco  de  Sandoual,  Duque  de  Lerma, 
Marques  de  Denia,  etc.  \>  suas  armas  substituem  as  anua.-,  reaes.  Diz  em 
baixo:  Em  Lisboa  por  Pedro  Craesbeech  VSlõ.  Sc  não  ha  engano  n'este  unir 
simo,  não  sabemos  explicar  como  a  3."  parte  fosse  publicada  depois  da  í.a 
i;  um  volume  de  289  pags.  Nas  preliminares  contém  uma  canção,  em  tos 
cano,  ao  auctor,  -por  Leonardo  Tvrriano,  ingeniero  general  dei  Reynode  Por 
tugal  por  su  Magestad.n 

A  edição  pode  dizer-se,  senão  luxuosa,  pelo  menos  esmerada.  Cada  as- 
sumpto ou  vida  de  santo  divide-se  em  duas  partes;  a  primeira,  espécie  de 
introdução,  em  itálico;  o  mais  em  redondo.  A  canção  a  Filipi  e  III  é  em  exdru 
xulos  rimados: 

Bulucd  las  sacras  Iflbres  a  esle  Cântico 
David  guei  rero.  Salomon  pacifico, 
Ali  xandre  nouel,  César  calholico, 
Y  el  açúcar  vercjs,  fruto  magnifico, 
Que  'ai  mi  ingenio  deste  reyno  Allático 


i  mi 


Tres  longas  composições  preliminares  são  lambem  em  exdruxulos  sem 

N.°  7IU  do  catalogo  de  Innocencio. 

Celestina  (La). —  Tragicómedia  de  Calisto  y  Melibea. 
Salva  refere-se  ao  catalogo  do  Sr.  Marquez  de  Morante,  onde  vem  des- 
cripla  uma  edição:  Lisboa,  Luiz  Rodrigues,  1540,  '». 

Prohibido  pela  Inquisição  em  Portugal.  Ver  os  respectivos  Index. 

Cervantes  (Alonso  de).  -Desconfiamos  que  este  Cervantes  residiria  em 
Lisboa,  onde  exerceu  algum  cargo  de  magistratura  no  reinado  de  l>.  Manuel. 
É  porventura  a  elle  que  se  refere  o  Dr.  João  de  Faria,  nosso  embaixador  em 
Roma,  na  carta  que  em  í  de  setembro  de  1.512  dirigiu  d'aquella  cidade  a 
el-rei,  e  na  qual  se  queixa  amargamente  da  parcialidade  de  um  juiz  Cervantes, 
que  fazia  melhores  coplas  as  freiras  do  Alemtejo  do  que  fazia  justiça.  Veja-se 
o  ai  Imo  que  publicámos  a  esle  propósito  no  Jornal  da  Manhã,  do  PorlOj  de 
30  de  si  'lembro  de  1889. 

Nicolau  António  não  dá  noticia  de  Cervantes.  Ribeiro  dos  Santos,  enun- 
ciando os    trabalhos  typographicos  executados  em  Lisboa  em  1501,  aponta 


'J'|U  a  UTTERATURA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (60) 

succintamente  i Glosa  famosíssima  sobrelas  Coplas  de  Don  Jorge  Manrique,  ele. 
por  Valentim  Fernandes,  também  raro».  (Memorias  de  Lilteraiura  Por,tugueza, 
publicadas  pela  Academia,  tomo  viu,  pag.  97). 

Brunei  foi  quem  descreveu  primeiro  a  edição  princeps,  de  Lisboa.  Salva 
diz  ler  visto  um  exemplar  d;essa  edição,  eximindo-se  de  a  descrever  «porque 
Brunei  la  trae  con  bastante  exactitud».  0  Ensayo  de  una  Biblioteca  Espá- 
fiola  descreve-a  duas  vezes,  sem  que  da  segunda  vez  faça,  como  seria  natu- 
ral,  referencia  á  primeira.  A  segunda  descripção  (n.°  i:396J  é  mais  desenvol- 
vida e  apresenta  algumas  differenças.  Aqui  a  damos  na  integra: 

tCon  privilegio.  Glosa  famosíssima  sobre  las  coplas  de  dõ  jorgemanriq. 

«En  foi.  menor.  Siri  foliación.  Sign.  A-C  de  ti  fólios  (menos  la  A  que 
tiene  8). 

«A  continuación  dei  titulo  que  dejamos  copiado,  el  escudo  de  armas  de 
los  Zímigas,  y  debajo  esta  leyenda; 

I  ,i  vanda  \  cadena  son  çiertas  senales 

de  armas  y  gloria  de  lierlios  nombrados, 

ile  <;u»niga  fueron  los  antepassados 

que  aquellas  dexaron  :  por  ser  immorlaleí 

fueron  fundadas  por  casos  reates 

dinos  de  Ioda  perpetua  alabança 

que  agora  se  hallan  no  menos  mas  lales 

en  esle  quês  quinto  de  no  transuersales 

en  quien  liene  [mesta  mu\  firme  su  estanca 

«Al  titi,  y  debajo  de  im  grabado  que  representa  dos  santos  rezando  a' 
Eterno  y  los  muertos  saliendo  de  sus  tumbas,  y  junto  ai  escudo  dei  impresor: 

«.Acabose  la  presente  obro  corregiãa  y  emendada  par  el  misnvo  autor  é 
imprimida  en  la  muy  noble  cybdad  de  Lisbona  repito  de  Portugal  por  Yalen- 
tin  fernãdez  de  la  prouintia  <le  morauia  Ario  dei  naçimiento  de  ntiestro  seí/or 
jhesu  xpo  di1  mil  n  quinienlos  y  ano  ano.  A  diez  dias  dei  mes  de  Abril». 

«  \  la  vuelta  de  la  portada  im  grabado,  en  el  cual  un  ángel  sostiene  en 
una  cinta  á  guisa  de  lema  el  conocido  verso:  Recuerdt '  el  alma  dormida... 

«Debajo  dei  grabado  la  siguiente  advertência: 

«La  glosa  dela  psente  obra  procede  segun  que  por  cila  se  maestro  a  cada 
copla  de  las  di'  don  jorge  quatro  cíiuiene  a  saber  sobre  cada  pie  principal  una 
copla  acabado  cu  <l  mismo.  los  qles  van  puestos  m  el  jiu  por  a.  b.  c.  d.  salvo 
cinco  (pie  eu  esta  obro  se  hallarán  epte  por  no  tener  en  si/  soloy  sentencia  vau 
en  cl  médio,  y  acaba  la  glosa  y  ossi  se  poilráu  ver  y  aigun  delia  fruto  gustar 
s'//  con  beniiiola  y  piadosa  correcion  de  los  discretos  fueren  recebi/las  de  ba.ro 

ile  la  qual  dicen  lo  que  por  ellas  parece ... 
«Prólogo  de  Cervantes. 


61)  \   LITTERATUKA  HISSPANHOLA   EM   POKTIUAL  241 

i  roxio. 

lidición  lan  bella  como  rara». 

0  exemplar,  cuja  descripção  se  acaba  de  ler,  pertence  á  bibliolheca 
Uhagõn. 

Anteriormente  a  este,  linha  Gallardo  (ou  os  seus  runlinuad s   des 

cripto  sob  u  n."  -J:7-'i'i  um  exemplar,  fallo  de  porladu,  pertencente  á  bibliu 
Iheca  do  infante  D.  Luis.  Coinparem-se  as  duas  descripções  «•  noteni-se  as 
differenças. 

Na  Bibliulheca  Municipal  do  Porte  lia  uma  edição  em  l.°,  em  golhicu, 
sem  data,  que  parece  ser  a  descripta  por  Salva,  sob  o  u.  757..  A  ortogra 
|ilii;i  do  nome  de  Cervantes  apparece,  porem,  differente:  Glosa  Famosíssima 
de  Alotiso  de  seruanles. 

Cervantes  de  Saavedra  (Miguel  de).-  a)  /.'/  Ingenioso  \  Hiáalcju  Uon 
Quixote  de  la  Mancha.  Cotnpueslo  pm  Miguel  ile  Cervantes  \  Saauedra.  (Gra- 
vura, moldurada  num  quadrilátero  com  10,5  conlimelros  de  largo  e  8  cenli 
melros  de  altura,  representando  um  çavalleiro  de  espada  desembainhada,  c 
n;i  frente  um  soldado  a  pé,  de  espada  e  lança).  Em  Lisboa.  \  Impresso  com 
lisenra  do  Santo  Oficia  por  Iorge  j  fíodriguez.  Anno  de  ItíOô. 

'i.",  !i  lis.  prel.  hm.,  219  lis.  numeradas  pela  frente  (por  crio,  o  211) 
está  209)  e  mais  I  inn.,  a  2  col. 

Nas  preliminares  contem-se  informações  e  licenças;  prologo;  diversas 
poesias,  a  saber:  «ai  libro  de  Don  Qvixote  de  la  Mancha  Vrgandá  la  desco- 
nócida;  Àmadis  de  Gavla  a  don  Quixote  ^  la  Mancha  (sonelo);  dou  Belianis 
de  Grécia  a  don  Quixote  de  la  Mancha  (soneto);  la  sènora  Oriana  a  Dvlziuea 
dei  Toboso  (soneto);  Gandalin  escvderd  de  Amadis  de  Gaula  a  Sancho  Pança, 
escudero  de  Don  Quixote  (soneto);  dei  donoso  poeta  entreverado  a  Sancho 
Pança,  \  Roziante  (duas  decimas);  Oilando  Furioso  a  don  Quichote  de  la  Mau 
ch.i  (soneto);  el  cavallero  dei  Febo,  a  don  Quixote  de  la  Mancha  (soneto); 
de  Solisflan  a  Don  Qvixote  (soneto);  dialogo  entre  Babieca  y  Rozinante  (so- 
neto)». 

Kis  a  informação  e  approvação : 

•Por  mandado  do  Supremo  Conselho  da  santa,  a  Geral  Inquisição,  vi,  & 
examinei  este  liuro  intitulado  el  Ingenioso  Hidalgo  Dou  Quixote  de  la  Man- 
cha. Assi  como  vay  não  leua  cousa  algua  dessoante  á  doutrina  Catholica.  E 
polia  múyla  eloquência,  &  engenho  que  o  Author  nelle  mostra  me  parece  se 
lhe  pode  dar  licença  que  neste  Keyno  se  imprima  para  entertimento,  i\r  re- 
creação. Dada  no  Collegio  <\r  santo  Vgustinho  de  Lisboa  a  26  de  Feuereyro 
de  605. 

«Frej   Vntonio  Freyre». 


242  A  L1TTEBATUBA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (62) 


«Vista  a  informaram  podesse  Imprimir  este  liuro  intitulado  el  Ingenioso 

HidalgO  Don  Quixote,  &  depois  de  impresso  torne  a  este  Conselho  para  se 
conferir,  4  sem   ella   uão   correia.    Em   Lisboa  o  primem   de  Marro  de  <>'>.">. 

«Marcos  Teyxeira  Ruy  Pires  da  Veyga». 

Exemplar  que  fazia  parte  da  livraria  de  José  Maria  Nepomuceno.  Salva 
possuía  outro,  que  descreve  sob  o  u. "  1:544,  e  nunca  tinha  visto  outro,  pelo 
que  suppunha  esta  edição  ainda  mais  rara  que  as  primeiras  castelhanas.  Eis 
como  elle  commenta  a  sna  descripção: 

«Se  ha  dicho  constantemente  que  las  dos  ediciones  madrilenas  de  Cuesta 
sou  primera  y  segunda;  sin  embargo  yo  coloco  la  de  Jorge  Rodrigues  de  Lis- 
boa, como  segunda,  pues  el  no  tener  suprimido  el  passage  antes  citado  dei 
cap.  26,  hace  ver  que  se  copio  de  la  príncipe  madrilena  immediatamente  des- 
pues  de  su  publicacion,  y  asi  lo  evidencia  el  llevar  una  aprobacion  de  Fr.  An- 
tónio Freyre  dei  26  de  febrero  de  1605,  es  decir,  poço  más  de  dos  meses  de 
haber  fechado  Gallo  de  Andrade  la  Tassa  de  la  original. 

«Si  bajo  el  punto  de  vista  literário  las  ediciones  de  Madrid  tal  vez  sean 
preferibles  á  la  portuguesa,  esta  las  avantaja  de  mucho  en  cuanto  á  rareza: 
conozeo  alguns  exemplares  de  aquellas:  de  esta  no  he  cisto  oiro». 

Gallardo  descreve,  sob  o  n."  1:767,  um  exemplar  pertencente  á  biblio- 
lheca  de  D.  Pascual  de  Gayangos.  No  leilão  Miro  foi  vendido  um  exemplar 
da  l.a  e  2.a  parte,  edição  de  Jorge  Rodrigues,  por  1:250  francos.  Vide  res- 
pectivo catalogo,  n."  378. 

b)  Segunda  pane.  |  Del  Ingenioso  |  CavaUero  Don  Qui  |  xote  de  la  Man- 
cha. |  Por  Migrei  de  Cervantes  Saave  \  dra,  Autor  de  su  primera  junte. 
Dirigida  a  don  Pedro  Fernan  |  dez  de  Castro,  Conde  de  Lemos,  de  Andrade, 
y  de  Yillidua.  |  Marques  de  Sorrio,  Gentilhombre  de  la  Câmara  de  su  Ma 
ijes  |  tad.  Comendador  de  la  Encomienda  de  Penafiel*  y  la  \  Zarca  de  la  Or- 
den  de  Alcântara,  Virrey,  Gouerna  \  dor,  y  Capitou  General  dei  Iteyno  de 
Napo  |  les,  y  Presidente  dei  supremo  Con  \  sejo  de  Itália.  (Gravura  num  qua- 
drilátero, medindo  72  millimetros  de  comprimento  por  50  de  alto,  represen- 
tando dois  cavalleiros  alacando-se  de  lança  em  riste).  De  um  lado,  .1/'/":  do 
outro,  1617.  Por  baixo  da  estampa :  Com  lodos  as  licenças  necessárias.  \  Im- 
presso Em  Lisboa  por  lorge  Rodriguez. 

4.°,  6  tis.  prel.  iun.,  306  lis.  numeradas  pela  frente,  a  2  col. 

Nas  preliminares:  licenças,  prologo,  dedicatória  e  tabla.  As  licenças  são 
d'este  teor: 

«Podesse  dar  licença  peia  que  se  imprima  este  liuro  intitulado  don  Qui- 
xote, emendado  na  forma  que  agora  esta,  em  Lisboa  em  S.  Francisco  de 
Enxobregas  a  12  de  Agosto  de  616.  Fr.  Luis  dos  Anjos». 


(63)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA   EM   PORTUGAL  24.') 

•  Vista  a  informação  podesse  imprimir  este  linro  intitulado  Don  Quixoti 
assi  emmendado  como  vaj :  &  despois  de  impresso  torne  a  este  Conselho  pêra 
se  conferir  A  dar  licença  pêra  correr,  &  sem  ella  não  correra,  em  Liáboa  a  ±2 
de  Agosto  de  <'»ic>. 

i  Bertolameu  da  Fonsequa.  António  diaz  Cardoso. 

«Fr.  Manoel  Coelho». 

«Podesse  imprimir  este  liuro  aos  -J">  de  Agosto  de  616  &  impresso  torne. 
Damião  Viegas». 

iDam  licença  ao  suplicante  que  possa  mandar  imprimir  este  liuro  intitu- 
lado Don  Quixote,  visto  a  que  tem  do  Santo  oflicio,  4  do  Ordinário,  depois 
de  impresso  tornará,  pêra  se  taxar,  4  sem  isso  não  correrá,  em  Lisboa  a  10 
de  Setembro  de  tilii.  Gama.  Luis  Machado». 

cTaxão  esta  Segunda  parte  de  dõ  Quixote  de  la  Mancha,  em  duzentos  & 
quarenta  reis  ?  papel,  em  Lisboa  a  17  de  laneiro  de  r>l7. 

«Pinto.  Machado». 

Exemplar  que  fazia  parte  da  livraria  de  J.  M.  Nepomuceno.  .Nu  catalogo 
de  José  Gomes  Monteiro  havia  um,  descripto  sub  o  n."  ±331. 

Salva  não  possuiu  esta  segunda  parte,  mas  refere-se  a  ella  quando  an- 
nota  a  edição  de  Bruxellas,  de  1616,  sob  o  n.  1:553.  Eis  o  período  que  elle 
consagra  a  este  assumpto: 

«Navarrete  cita  otra  de  Lisboa,  Jorge  Rodriguez3  con  todas  las  licenças 
necessárias.  .1/'/"  1617,  4.°,  que  debe  contarse  como  cuárta  impression,  por- 
que haj  en  ella  aprobaciones  fechadas  hasta  el  lo  de  setiembro  de  1616 y  la 
Tassa  es  dei  17  de  euero  de  1617.  Supongo  que  este  tomo  lo  imprimiria  Ro- 
driguez  para  unido  ai  primero  que  tengo  y  dió  á  luz  en  1005». 

c)  El  Ingenio  |  so  Hidalgo  Don  \  Qvixote  de  la  \  Mancha.  \  Compuesto 
por  Miguel  de  Cer  uantes  Saauedra.  (Dos  grabaditos  en  madera).  Con  licen- 
cia de  la  S.  Inquisicion.  En  Lisboa:  Impresso  por  Pedro  Craesbeeck.  Ano 
M.DCV. 

8.°,  160  lis.,  sig.  **  •  AKkk.  Portada,  verso  em  branco.  Lie:  Ti,  -l\\  y  27 
Marzo  1605.  Prol.;  Al  libro  Urganda  la  Desconocida.  Sonetos  à  I).  Quijote  de 
la  Mancha,  de  Amadis  de  Gaula  y  de  Belianis  de  Grécia.  Oiro  de  la  Sra. 
Oriaua  à  Dulcinea.  Otro  de  Gandalin  á  Sancho  Panza.  Dos  décimas  dei  Do- 
noso,  poeta  entreverado,  à  Sancho  Panza  y  Rocinante.  Soneto  dei  Caballero 
dei  Febo  à  D.  Quijote  de  la  Mancha.  Oiro  en  diálogo  entre  liabieca  y  Roci- 
nante. Texto. 

Exemplar  descripto  por  Gallardo,  sob  n."  1:766,  pertencente  a  biblio- 
theca  de  Gayangos. 

Salva  não  possuía,  mas  viu  esta  edição,  que  descreve  emnotaaon.0 1:544. 


_"l  I  \   I.ITII  i;  V.  1 1  BA   III  M'A\IIh|.\   EM   P0RT1  GAL  li'l 


Tanto  de  uma  como  de  outra  edição  possue  exemplares  o  Sr.  I>.  .losé  Maria 
As.Mi7.in.  d.'  Sevilha. 

d)  Novelas  exemplares  d  Miguel  </<■  Ceruantes  Saauedra.  Dirigido, 
etc.  (Sigue  un  escudo  parecido  ai  de  Guesia;  no  pude  comparar  si  era  el 
mismo  puesto  en  la  ciliciou  de  1614,  que  lleva  el  nombre  de  este  im- 
presor).  Con  !<>>Ia^  las  licencias  &  aproi\aciones  necessárias,  em  Lisboa.  /'«/• 
António  Aluar ez.  Afio  1*>17.  Tosado  en  la  Mesa  </<•  palácio  a  180  reis  mi 
papel. 

i."  peq.  como  la  impresion  de  1614,  a  dos  col..  í  hojas  prel.  y  2:5(1  fols. 
En  la  ultima  se  repite  la  fecha. 

Tal  é  a  descripção  que  se  encontra  em  Salva,  em  nota  ao  n.°  1:746.  Na 
Bibliotheca  Municipal  do  Porto  ha  um  exemplar  com  falta  de  frontispício  e  das 
dnas  primeiras  folhas.' 

Salva  sustenta  que  ;i  edição  de  luan  de  la  Cuesla,  Madrid  1614,  é  suppo- 
siticia,  e  deve  ser  considerada  de  Lisboa,  de  António  Alvarez.  Vejam-se  as 
razões  da  sua  coujectura,  quasi  affirmação,  em  nota  ao  n."  1:744. 

Um  exemplar  da  edição  de  1617,  vendido  no  leilão  Miro  por  203  fran- 
cos. Vide  respectivo  catalogo  n.°  408. 

é)  La  discreta  Galatea  de  Migvel  ij-rnauh-s  Saauedra.  Diuidida  enseys 
Libras.  (Escudo  do  impressor:  um  moço,  peregrino,  deante  de  uma  rocha; 
em  volta  o  dístico:  demonstra  miki  rins  iras  Domine),  dm  todas  las  licen- 
cias necessárias.  Em  Lisboa,  Par  António  Mame:.  Afio  1618.  Tasado  em  150 
reis  em  papel. 

8.°,  3  fls.  prel.  inn.,  375  lis.  numeradas  pela  frente.  No  verso  da  ultima 
o  escudo  do  impressor,  tendo  por  baixo:  Em  Lisboa.  Con  iodas  las  licencias 
necessárias.  Por  António  Aíuarez.  Anno  1618. 

No  verso  do  frontispício  as  licenças.  A  do  Santo  OfReio  é  do  In  ir  se- 
guinte : 

«Este  liuro  não  tem  cousa  que  empida  poderse  tornar  a  imprimir. 
Em  S.  Domingos  de  Lisboa,  14  de  Iulho  de  1617.  Erey  Thomas  de  san  Do- 


Nas  preliminares:  Cvriosos  lectores  (4  pags.):  sonetos  ao  auctor  de  Lvys 
Galves  de  Montaluo,  don  Lvys  de  Bargas  Manrique.  Lopes  Maldonado. 

Exemplares  das  bibtiothecas:  Nacional  de  Lisboa,  Universidade  de  Coim- 
bra e  Municipal  do  Porto. 

Gallardo  também  a  descreve  sob  o  n."  1:762.  Exemplar  de  Gayangos, 
Salva  suppõe  que  a  edição  de  Lisboa  é  feita  pela  de  Baeza,  a  única  em  que  o 
livro  se  denomina  La  disereta  Galatea.  Estamos  persuadidos  que  houve  uma 


65 


líAli  li\   IIKSI'AMI 


edição  de  Lisboa  ante ■  á  de  1017  >.  N'uma  edição  de  Paris,  acabada  de  im- 
primir a  li  de  outubro  de  I6U,  vêem  insertas  licenças  em  porluguoz,  da- 
tadas de  Lisboa  a  15  de  fevereiro  de  1590.  (Veja  se  Gallardo,  n.  1:761)  \ 
nossa  hypothese  robustece  se  com  o  dizer  da  approvação  acima  Iranscripta: 
■Este  liuro  uão  tem  cousa  que  empida  poder-se  tornai  a  imprimir». 

I  Los  trabaios  de  Persiles,  y  Siyismvmlo,  historia  setentrional.  Poi  Mi- 
guel de  Cervantes  Saauedra.  Dirigido  a  don  Pedro  Fernandez  de  Castro  Conde 
de  Lemos,  de  Andrade,  de  Villalua,  Marques  de  Sorria,  GentUhombre  de  la 
Camará  de  su  Magestad,  Presidente  dei  Consejo  supremo  de  Itália,  Comen- 
dador de  hi  Encomienda  de  la  Zarca,  de  la  Orden  di  llcantara.  (Rectângulo 
enquadrando  uma  rosa  Bwi  Lisboa.  Com  todas  as  licenças  necessárias.  Poi 
lorge  Rodriguez.    \nno   1617. 

í. ",  3  foi.  prel.  inii..  ^JIS  numeradas  pela  frente,  a  2  col.  No  verso  da 
ultima  folha:  Impressa  en  Lisboa  por  Torje  liodriguez.  Afio  M.DC.XV1I. 

Nas  preliminares:  licenças;  a  el  sepvlcro  de  Migvel  de  Ceruantes  Saaue- 
dra,  Ingenio  Christiano,  por  Luys  Francisco  Calderon  (soneto);  dedicatória 
do  auetor  ao  Conde  de  Lemos:  prologo. 


1  Nota. —  Sobe  titulo  A  'Galalea»  de  Cervantes  publicou  Sousa  Viterbo,  no  Diário  d< 
Noticias  de  í  de  junho  do  1905,  o  seguinte  : 

•  No  artigo  liililhtiinijihia  >■■  i  rutiiim .  publicado  ii"  liuinn  de  Noticias  de  '  «lo  maio,  des- 
crevi uma  edição  da  Galatea,  sahida  dos  prelos  de  António  Alvares,  em  Lisboa,  no  anuo  de 
1618.  Alii.  fundando-me  em  dois  factos,  aventava  a  hypothese  de  que  anteriormente  a  Galalea 
já  havia  sido  impressa  em  Lisl 

«O  Sr.  Jordão  de  Freitas,  distincto  bibliographo  e  conservador  da  Bibliolheca  da 
Ajuda,  leve  a  amabilidade  de  me  communicar  pessoalmente  a  confirmação  da  minha  hypo- 
these. A  prova  nã lategorica,  absolutamente  positiva,  mas  é  tilo  convincente,  embora  nSo 

seja  directa,  que  nSo  poderá  deixar  de  ser  acceita  por  todos  os  espíritos,  ainda  os  mais  me- 
ticulosos. 

«Na  Bibiiotheca  da  Ajuda  existe  um  exemplar  da  edição  de  Paris  de  161.1,  descripta  no 
Eusayo  de  Gallardo,  e  custa  a  crer 10  este  notável  bibliographo,  alias  ISo  curioso  de  inves- 
tigar ioda-  as  particularidades  interessantes,  que  se  podem  saccar  das  folhas  preliminai 
tivesse  ligado  a  devida  atlençâo  á  advertência  de  César  Oudin,  sob  o  titulo  de  «A  los  estudio- 
sos j  amadores  de  las  lenguas  estrangeras» 

«Foi  o  que  loz  o  Sr.  Freitas  e  nSo  perdeu  o  tempo  com  a  leitura  d'esta peça.  Oudin,  que 
era  um  erudito  e  um  polyglotta,  linha  especial  affeição  pela  litteralura  he  panhola  e  viera  á 
península  em  1610  paia  recolher  livros  de'prazenteiro  entretenimento,  divulgando-os  depois 
na  sua  pátria.  I»>/  elle  que  procurara  a  obra  de  Cervantes  por  Ioda  a  Castella  e  outras  partes 

sem  ler  a  felicid  ide  de  a  alcançar.  Vindo,  porém,  a  Portugal,  em  ontr sm  Évora  exemplares 

de  uma  edição  feita  em  Lisboa,  a  qual  era  baslanti  defeituosa  lanto  na  parte,malerial  como  na 
parte  iitterafia,  la  liando  lhe  até  alguns  versos  e  linhas  em  prosa   Apesar  disso,  serviu  sed'ella 


246  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  KM   PORTUGAL  (60) 


A  informação  do  Santo  Officio  reza  assim: 

«Este  liuro  emendado  como  esfá  não  tem  cousa  qne  impida  poderse  im- 
primir, por  quanto  contem  honestas  historias,  &  grande  recreação,  posto  que 
fabulosas.  Em  São  Domingos  de  Lisboa  a  \?  de  Abril  de  617.  Fr.  Thomas 
de  S.  Domingos». 

Exemplares  das  bibliolhecas  Nacional  de  Lisboa  e  da  Universidade  de 
Coimbra. 

Um  exemplar  da  livraria  Innocencio  (n.°  392)  foi  vendido  em  leilão  por 
100050  réis. 

Gallardo  descreve  também,  sob  o  n.°  1:783,  um  exemplar  pertencente  ;i 
bibliotheca  de  Gayangos. 

Céspedes  y  Meneses  (Gonzalo  de).  —  a)  Varia  \  forlvna  \  dei  soldado  | 
Pindaro.  \  Por  dou  Gonçalo  de.  Céspedes  y  Meneses  vezino  e  na  \  lurai  de  Ma- 
drid, j  .1/  Excelentíssimo  sefior  dou  Manuel  Alonso  Perez  de  \  Guzman  el  Bueno 
Duque  de  Medina  Sidónia.  (Escudo  do  impressor i.  Cem  Iodas  las  licencias  ne- 
cessárias. |  Lisboa.  Por  Geraldo  de  la  Vifía.  626. 

4.°,  4  fls.  prel.,  188  fls. 


para  a  edição  de  Paris,  eorrigindo-a  convenientemente.  Merece  vulgarisar-se  a  confissão  do 
Sr.  Oudin,  que  é  iio  theor  seguinte : 

«A  los  estvdiosos  y  amadores  de  las  lenguas  estrangeras.  S. —  Llevome  la  euriosidad  a  Es- 
pana el  ano  passado,  y  mouiorae  la  misma  estando  alli,  a  que  yo  buscasse  libros  de  gusto  y 
entretenimiêto,  y  que  fuessen  de  mayor  pronecho,  j  conformes  a  lo  que  es  de  mi  profession, 
y  lambien  para  poder  contentar  a  otros  curiosos.  Ya  yo  sabia  de  algnnos  que  ofros  vezes  auian 
sido  traydos  por  aca.  pêro  como  tuuiesse  principalmente  en  mi  memoria  a  este  de  la  Gala- 
tea.  libro  ciertamente  digno  (en  su  género)  de  ser  acogido  y  leydo  de  estudiosos  de  la  len- 
gua  que  babla.  tanto  por  su  eloquente  y  elaro  estilo,  como  por  la  sutil  inuencion,  y  lindo  en- 
treteximiento,  de  entricadas  auenturas  y  apazibles  historias  que  condene.  De  mas  desto  por 
ser  dei  autbor  que  inuento  y  escriuio  aquel  libro,  no  sin  razon,  intitulado  El  inr/eniosn  hidahjo 
dou  Quixote  de  la  Mancha.  Busquelo  casi  por  toda  Castilla  y  aun  por  otras  partes.,  sin  poderle 
bailar,  basta  que  passando  a  Portugal,  y  llegando  a  vna  ciudàd  fuera  de  cambio  llamada 
Euora,  tope  con  algunos  poços  exemplares:  compre  \no  dellos,  mas  leyendole  vi  que  la  iin- 
pression.  que  era  d^  Lisboa,  lenia  amenas  erratas,  no  solo  en  los  caracteres,  pêro  aim  falta- 
uan  algunos  versos  y  réglones  de  prosa  enteros  (lorregiloj  lemendelo,  lo  mejor  ijue  supe; 
tambien  lo  he  visto  en  la  presente  impression,  para  (pie  ^aliesse  vn  poço  mas  limpio  y  cor- 
recto que  antes.  Ruego  os  pues  lo  recibays  cou  lâ  buena  volfltad,  como  es  las  que  luue  siem- 
pre  de  seruiros,  basta  q  y  dõde  yo  pueda  =C.  ovdins. 

«É  evidente  que  se  fez  em  Lisboa  uma  edição  da  Galalea  não  só  a  anterior  á  de  1618. 
mas  ainda  antes  de  1611,  sendo  muito  provavelmente  de  1590.  pois  as  licenças  sã«>  de  feve- 
reiro deste  anuo.  O  que  resta  agora  saber  é  o  nome  do  impressor. 

«Ter-se-ha,  perdido  completamente  esta  edição,  ou  poderão  os  bibliopbilos  nutrir  a  espe- 
rança de  que  venha  a  apparecer  qualquer  dia  algum  exemplar  inesperado?» 


(67  I  A   LITTERATI  li  \   HESI'ANHOLA   EM   i 


\~  licenças  são  de  Lisboa:  8  de  janeiro  e  6  de  fevereiro  de  1625.  De- 
dicatória subscripta  por  o  auclor.  «Al  tectom.  Erra  la.  Texto. 

Exemplar  pertencente  ;i  bibliolheca  il-'  Gayangos;  vem  descriplo  v,,i, 
u  ii.  1:793,  ii"  Ensayo  de  una  Biblioteca  espaõola  </.  livras  raras  >/  curio- 
sos, de  Gallardo  Parece  ser  a  edição  princeps.  Vide  lambem  Salva,  sob 
n.'    I:7f,:t. 

b)  Primera  parti  de  la  historia  de  /'.  Frlippe  el  llll.  Rey delas  Espanas. 
Por  Dou  Gonçalo  ih-  Céspedes//  Meneses.  (Armas  reaes  hespanbolas).  Al  e.i 
iil:--  seíioi   Don  lorge  de  Cardenas  Manrrique,  duque  de  Najara,  y  Maqueda. 
(Outro  brasão  de  armas,  decerto  as  de  D.  Jorge).  De  um  e  oiítro  lado:  Immú 
de  1631.  Em  Lisboa,  con  licencia  la  imprimio  Pedro  Craesbeeck. 

Folio,  :i  (Is.  prel.  inn.,  <ii>7  pags.  a  2  col. 

Nas  preliminares:  Duas  approvações  do  Santo  Officio,  uma  do  Dr.  Fr.  Ma- 
ouel  de  Lemos,  outra  de  Fr.  Thomaz  de  S.  Domingos  Magister.  Licenças  da 
Inquisição,  do  Ordinário,  do  Paço.  Taxa  do  livro  a  dois  cruzados  em  papel. 
Dedicatória  do  auctor;  epistola  ou  elogio  ao  auctor  de  Francisco  Tello,  Le- 
gionensi,  em  latim. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

i  Poema  iragico  dei  Espaííol  Gerardo,  y  desengano  dei  amor  lascivo.  Pri- 
mera y  segunda  parte.  Nvevamente  corregido  y  emendado  en  esta  vitima  im- 
pression  por  don  Gonçalo  de  Céspedes  y  Menezes,  vezino  ij  natural  de  Madrid, 
s/i  mis-mo  {utor.  I  don  Gomez  Svarez  de  Figveroa  y  Cordoua,  Duque  de  Fe- 
ria, Marquez  de  Villalua,  Sefíor  de  las  casas  de  Saluatierra,  Comendador  de 
Segura  de  la  Sierra,  Virrey  y  Capitam  General  dei  Rei/no  de  Valência.  Afio 
(escudo  do  impressor)  U>'2õ.  Con  todas  las  licencias,  //  approuaciones  necessá- 
rias. En  Lisboa.  Por   {ntonio  Munir:.   )  a  su  costa. 

i.  .  .'i  II.-.  prel.  inn.,  ~2'M  fólios. 

No  verso  do  frontispício  informação  e  licenças. 

\-  preliminares  conieem:  Dedicatória;  S to  de  D.  Sebaslian  de  Cespe 

des  y  Menezes  ai  duque  de  Feria;  \l  lector   prosa  ;  2  decimas  dei  Maestro 

Espinel  ;i  don  Gonçalo  de  Céspedes  y  Menezes;  S los  de  I».  Francisco  Da 

ualos  y  Orozeo.  Luis  Velez  de  Gueuara,  Gonçalo  de  \,\;il;i,  dona  Beatriz  de 
Zuniga  y  Alarcon;  Epistola  a  los  lectores  de  Sebastião  de  Céspedes  y  Mene 
zés;  Al  Lector  e  El  Poema  ;il  lector  (sonetos). 

A  primeira  parte  acaba  com  o  folio  123  (por  erro  223). 

A  segunda  parte  Inn  frontispício  á  parte  e  no  verso:  «Al  lector».  Dois 
fólios  innumerados,  com  poesias  de  diversos:  de  D.  Francisco  de  Avalos  j 
Orozeo  ;i  L).  Gonçalo  de  Céspedes  j  Menezes;  Felipe  Bernardo  dei  Castillo, 

IIist.  e  Meu.  da  Acad— Tom.,  mi   pabte  n.— N.°  S 


[48  A   L1TTERATURA   HESPANHOLA  HM   PORTUGAL  (08) 


l>.  Diego  de  Agreda,  I».  luan  Bui/  de  Alarcon  \  Mendooa,  D.  Bernardo  Ber- 
mudez  Caruajal,  luan  de  Vergara  de  la  Seroa,  Goriçalo  de  \\aia. 

\;i  epistola  de  l>.  Sebastian  de  Céspedes  ha  a  seguinte  allusão  a  Camões: 

Si  fuera  oiro  famoso  tau  di  ci  elo 
como  desuanecido  \  arroganti . 
hipócrita  quica  de  lo  perfi  to. 
Que  pudiera  medir  con  el  Gigante 
Apolo  Português,  honor  de  Espana 
sii  balbuciante  Musa  >  lira  infante. 

Exemplarei  da  Bibliotheca  da  Ajuda  e  Biblioteca  Municipal  do  Porto. 
Descripta  em  Gallardo,  sob  o  n.°  1:799,  que  desereve  também  outra  edição 
do  mesmo  impressor,  sob  o  n.°  1:796. 

d)  No  catalogo  dà  livraria  de  Joaquim  Pereira  da  Costa  (Lisboa  1873) 
vem  descripta  outra  edição  da  Varia  fortuna  dei  soldado  Pindaro,  Lisboa  1640, 
8."  Vide  Q.°  'í-Ví. 

Céspedes  y  Velazco  (Francisco  de). — Tratado  |  de  la  gineta  provechoso 
y  breve  \  Compuesto  por  el  Capitan  Francisco  de  j  Céspedes  y  Velazco.  Vezino 
II  natural  de  la  Vttla  de  Moguer.  \  [no  (escudo  do  auctor)  1609.  |  Dirigido 
ai  Scítor  ilaii  Gaspar  de  Guzman,  Conde  de  Oliuares,  Alcaijde  de  las  Meneares 
i/  Maraçaiuis  reales  de  Seuilla.  Y  Comendador  de  Biberos  \  ilel  abito  de  Cala- 
iraiia,  &c  !  Em  Lisboa,  par  Luys  Estupinan. 

8.",  16  folhas,  sign.  A-B.  Portada,  verso  em  branco.  Dedicatória  (n'ella 
falia  de  luan  Gallardo  de  Céspedes,  irmão  do  auctor).  Al  lector.  Composições 
laudatorias  de  Melchor  de  Salablanca,  D.  Pedro  de  los  Rios  Osório.  1>.  Fran- 
cisco de  Paz  Balboa,  y  Don  Baltasar  de  Salablanca.  Texto. 

0  auctor,  segundo  as  composições  laudatorias,  esteve  por  varias  vezes 
em  alem-mar. 

Exemplar  da  bibliotheca  de  Gayangos,  descripto  por  Gallardo  sob  o 
u."  1:792. 

Cevallos  (P.). —  Discursa  apologético  por  la  devocion  ai  Sagrado  Corazon 
de  Jesus. 

En  Lisboa,  en  la  olíicina  de  António  Bodriguez  Gallardo,  1800.  8.°, 
209  pags. 

Bibliotheca  da  Ajuda,  cc-7-13. 

Vide  Zehallos. 


(69)  \   L1TTERATURA   IIESPANHOLA   EM   PORTUGAL  249 


Chafrion  (Bartolomé). —  Arte  universal  de  la  guerra  dei  Príncipe  fíay- 
mundo  Montecttcoli  TmienU  general  de  las  \rmas  dei  Seuor  Emperador.  Tra- 
duciílo  de  Italiano  en  Espniiol,  por  Dou  Barlolomé  Chafrion  Alferez  di  Infan- 
leria  Espanola  dei  Tercio  de  Vidência.  Kn  la  Itnprenta  de  Miguel  Wanescal  Im 
prtssoi  do  Santo  Officio.    \no  1708. 

Tem  anle-roslo  gravado  e  na  parle  inferior  da  gravura:  Arte  vniuersal 
de  la  gverra, 

l  vol.  16.°,  20  pags.  prel.  inn.,  142  pags.  com  estampas  desdobráveis. 
Nas  preliminares:  dedicatória  a  Feliz  Joseph  Macliado  de  Mendonça  Eça  Cas 

tro  de  Vasc :elos    mestre  de  campo  do  terço  velho  da  guarnição  dè  Cha 

ves.  Ê  assignada  pelo  capitão  Joseph  Velloso  Barros.  Além  da  dedicatória, 
tabla. 

Exemplar  de  Macedo  Braga. 

Chaves  (Hieronymo  de  .  Chronographia  o  reportório  de  los  tiem  pos, 
el  mas  copioso  y  preciso  que  hasta  ahora  \  ha  solido  a  In:  |  Compveslo  por 
Hieronymo  de  Chaves  Aslrologo  ij  Cosmographo. 

Retrato  do  auctor,  de  gravura  em  madeira,  num  medalhão  oval,  met- 
iíiIh  n'um  quadrilongo,  tendo  em  volta  a  seguinte  legenda:  Virtus  in  infirmi- 
late  perficitur. 

Afíadiose  l  en  esta  vitima  impression  una  Tabla  perpetua  para  sabe)  las 
Limas  |  nueuas:  y  otra  regia  y  tabla  perpetua  para  sabei'  la  liara  de  la  ma- 
rea:  i)  assi  mismo  otra  tabla  perpetua  de  las  fiestas  mouiles.  \  Con  licècia  dei 
cõsejo  general  de  la  saneia  Inquisiciõ,  i)  Ordinário.  \  Con  privilegio. 

1576,  i.°,  de  vm  inn.,  188  (Is.  numeradas  só  na  frente  e  n  inn.,  con- 
tendo a  tábua  das  luas  novas  e  a  das  marés,  em  portuguez.  Nu  verso  da  fo- 
lha 188  acha  se  a  seguinte  subscripção: 

Aqvi  fenesce  el  reportório  de  Hyeronimo  de.  Chaues,  el  mas  copioso  qiu 
hasta  agora  lia  salido  a  luz  Foi  impresso  em  Lisboa  por  íntonio  Ribero.  Inno 
1560. 

No  verso  da  folha  de  rosto  encontram  se  as  licenças  para  a  impressão, 
e  m;i  folha  seguinte  um  prologo  de  João  de  Hespanha  Liureiro  ao  Cândido  le- 
ctor,  no  qual,  fallando  dos  motivos  que  o  deliberaram  a  reimprimir  este  livro, 
diz:  ...  &  vendo  quanto  proueito  recebem  todos  dos  liuros  que  chamamos 
Reportorios,  quando  são  c  impostos  com  a  erudição  &  prudência  que  a  ma- 

leria  requere,  determinei  polia  obrigação  que  tenho  de  u  officio  &  desejo 

qne  em  mim  mora  de  seruir  á  Republica,  imprimir  este,  que  cõpoz  o  licen- 
ciado Hieronymo  de  Chi s  natural  de  Seuilha,  q  d'esta  matéria  se  pode  affir- 

niar  (sem  fazer  agrauo  a  alguém)  que  tractou  melhore  mais  copiosamête  que 
quantos  ategora  d'ella  escreueram,  &c». 


250  A   I.IITKUAII  HA  «ESPANHOLA   EM  POBTUGAL  (70) 

Aproveitamos  esta  descripção  e  transcripção  das  Cartas  bibliographicas  de 
Vnnibal  Fernandes  Thomaz,  2."  serie,  pag.  31.  Pelo  trecho  transcripto  se  w 
que  Chaves  Qão  é  portuguez  como  suppoz  Innocencio.  {Diccionarió,  I.  m, 
pag.  259). 

Na  Bibliotheca  Municipal  do  Porto  lia  um  exemplar.  Vendeu-se  outro  no 
leilão  do  Marquez  de  Gaslello  Melhor  (u."  430).  Outro  na  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Chaves  (Fr.  Thomaz).  a)  Svnima  sacramentorum  cr  doctrina  Fraticisci 
Victorij  Dominicani  saem  Theologiat  olim  apud  Salmãticã  Prhnarij  professo- 
ris.  F.  T/mina  Chauio  eiusdem  ordinis  authore.  Olysippone.  Apud  loanmm 
Barrerium.  Typ.  /(•  M.D.LXHU. 

i  vol.  8.",  :{  lis.  prel.  inn.,  220  lis.  numeradas  pela  frente,  afora  Tabula. 
No  liiu  leni:  Impressvm  Vlijssipp.  Per  loannem  Barrerium.  Quintus  idas  Au- 
gust.  MDLXII1L 

Nas  preliminares,  prologo  em  latim  de  João  de  Barreira,  no  leitor,  e  carta 
de  Thomaz  de  Chaves,  egualmente  em  latim,  ao  reverendo  Francisco  Perez. 
D'esta  edição  falia  Ribeiro  dos  Santos  (pag.  103). 

b)  Svmma,  etc.  Conimbrim.  Apvd  loannem  Barrerivm.  typographum  re- 
f/irm.  tôtíO.  —  No  l i ih :  Conimbrico?.  Excudebat  loannes  Bairerius  Typogra- 
phns  Regius.  Amo  Domird.  MULXVL  vj  Calendas  Aprilis. 

I  vol.  8.°,  1  foi.  prel.  inn.  230  numeradas  pela  frente,  afora  Tabia.  No 
frontispício,  por  baixo  do  titulo,  o  escudo  que  usava  Luiz  Rodrigues,  o  dragão 
enroscado  e  encimando  uni  tronco  com  a  divisa  salvs  vite.  Esta  edição  não 
traz  o  prologo  riu  latim  do  impressor,  que  vinha  na  edição  de  1564. 

A  approvação  é  de  Fr.  Manuel  da  Veiga  e  diz:  «Vidi  totum  hoc  opus,  & 
nil  in  eo  inueni  quod  pias  aures  possil  ofifenderes. 

c)  Svmma,  ele.  lime  mdilioni  accesserunt  multes  quaistioms,  ex  sanclo- 
rum  Concilioru  decretis,  preeserlim  Tridentini,  &  alioru,  qua;  antea  desiãera- 
batur,  cura  &  studio,  H.  V.  F.  ThomiB  >i  Chaues.  (Monogramma  da  Compa- 
nhia de  Jesust.  Vlyssipone.  Excudebat  Emmanuel  de  Lyra.  Expensis  Symonis 
Lope:  Bibliopolce.  Anuo,  MDLXXXII. — No  verso  da  ultima  folha  da  Tábua: 
Olyssippòne,  Apud  Luram.  M.  D.  LXXX1I1. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

d)  Sriitma  Sacramentorum  ecclesiae,  ex  doctrina  fralis  Francisci  à  Victo- 
ria,  ordinis  PrinlicatoiHin.  apud  Salmanticam  olim  primar ij  Cathedi atici,  per 
Reuerendum  pairem  Pratsentatum  Fruírem  T/tomam  à  Chaues  illius  discipulum. 
Ad  (Ilustríssima  ae  Reuerêdissimum  dfvm  D.  Gasparê  à  Stuftiga  &  Auellaneda 


I  7  I  I  A   L1TTERATURA   HESPANHOLA   I '.M   PORTUGAL  '2~>  1 


Archiepiscopu  Cupostellanu.  Huic  ea  lertia    [uthoris  recognitione,  num  denuò 
multo  plures  '/uniu  antea  quaestiones  accesserunl,  necnon  &  «incluíam  Conct 
liorum,  prwsertim  Tridenlini,  &  aliorttm  decretis  aueta,  focupletata,  <//</  Mus 
trata  est.  (Estampinha:  Chrislo  entre  n  Magdalena  e  S.  João  Evangi 
Conimbricae,  In  cedibtis   Intonij  à  \iaris,  Vniuersitatis  Typographi.  Anno  1573. 

Impressa  com  licença  dos  Deputados  da  Santa  Inquisição. 

8.°,  3fls.  prel.  inn.,  is'i  [is.  uumeradas  pela  frente.  No  verso  doía: 
Conimbricae.  Exçudebat  \nlonius  à  l/am,  Vniuersitatis  Typographus.  Anno 
Domini.   i/.  D.  LXXII.   Wenst    Souembri.  Segue-se  Tabula  innumerada. 

Innocencio,  baseando-se  cm  Barbosa  Machado  e  Fr.  Pedro  Monteiro,  dá 
a  Tbomaz  de  Chaves  como  porluguez.  Não  esta,  porém,  averiguado  este  ponto. 

Nicolau  Vntonio  ili/  o  seguinte  de  Tbomaz  <lr  Chaves: 

«Tliomas  de  Chaves  — ordinis  Praedicatorum  collegil  ia  schedis  suinmi 
viri  Francisci  Victoriae  pariter  Dominicani  alumnus  ipse  Stephanise  ad  Sal- 
manticam  domus». 

I  vol.  8.°,  l-:>  (Is.  numeradas  pela  frente,  afora  Tabula. 

A  approvação  é  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira: 

«De  mandato  lllustrissimi  &  Reuerendissimi  D.  D.  Georgij  de  Almeida 
Archiepiscopi  Vlyssiponensis  dignissimi,  vidi  summam  hanc  de  Sacramentis 
Magistri  Fr.  Francisci  de  Victoria,  &  indico  dignam  que,  prelo  tradatur,  ex 
puncto  loco  í  1  lo  in  matéria  de  Baptismo  questione  38,  vbi  dicitur,  Inter  patri- 
niim  vero  filiosq;  ejus,  &  baplizatum  contrahitur  affinitas  spiritualis.  Decreuil 
enim  postea  sacrum  Concilium  Tridenlinum  oppositura,  Sess.  24.  de  refor- 
matione  malrimonii,  cap.  -'  . 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Chaves  Masa  (D.  Pedro  de). —  Llanlos  fúnebres  a  la  sentida,  lamenta- 
hlv.  ...  muerte  de  la...  scfiora  dofía  Maria  Sophia  Isavel  de  Neoburgo  reyna 
de  Portugal;  que  consagra  y  dedica...  don  Pedro  de  Citares  Masa,  su  au- 
tor. ■  ■  Lisboa.  ■  .  in  la  Imprenta  de  Hermínio  da  Costa.  Ano  1699. 

i. ".  14  pags.,  .i  ultima  das  quaes  inn. 

Collecção  Barbosa  Machado,  n.°  548. 

Claramonte  (Andres  de),  ftelacion  dei  nascimiento  dei  nueuo  In  fã  ir.  y 
de  hi  muerte  y  enlierro  de  la  Reyna  nueslra  Seãora.  Escrita  en  Ires  Romances 
por  Andres  de  Claramõte. — No  lim :  En  Coimbra  Impresso  con  licencia  de  la 
Santa  Inquisicion,  por  Diogo  tíomez  de  Loureyro.  1611. 

'i.'.  'i  lis.  inn. 

Exemplar  da  Biblioteca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro. 

Collecção  de  Barbosa  Machado,  n.°  I  is. 


252  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (72) 

Este  escriptor  é  por  certo  o  poeta  uespanbol  Andres  de  Claramoule  j 
Corroy,  auctor  da  Letania  morai  que  Gallardo  descreve  desenvolvidamente 
uo  seu  Ensayo  de  una  biblioteca,  sob  o  a.°  1:843.  Não  encontrámos,  porém, 
uem  em  Gallardo  nem  em  Salva,  noticia  da  Relacian,  que  e  portanto  a  pri- 
meira publicação  de  Claramonte.  A  Litania  é  de  1612^-1613. 

Collaz08  (Baltbazar). — Nicolau  António  diz  apenas  que  elle  era  natu- 
ral de  Paredes  de  la  Nava,  e  que  publicou  duas  obras:  Comentários  de 
la  fundaáon,  impressa  em  Valência  em  I-jG(í,  e  a  seguinte,  impressa  em 
Lisboa: 

Diecisiele  Colóquios,  y  Discursos  de  nulos  asuntos.  Videlicet  inter  alia: 
Que  se  sustenta  con  trabaoco  la  honra  sin  hacienâa.  Trabaxos  de  ta  guerra,  y 
lo  mal  que  $e  medra.  Que  el  oficio  de  legisla,  y  Mercader  es  noble.  Que  el  mundo 
siempre  ha  sido  de  una  numera.  La  vida  de  galera.  Grandezas  de  Sevilla.  De- 
claracion  de  algunos  ofícios  y  nombres  militares.  Olysipone  apud  "Emmanuelem 
Joannem,  1578. 

I  vol.  8.° 

Comedias.—  a)  Doze  Comedias  las  mus  famosas  que  asta  ama  han  sa- 
lido  de  los  mejores,  y  mas  insignes  Podas.  Tercera  parle.  Dedicadas  ai  Se- 
íior  Lvis  de  Sovsa,  etc.  En  Lisboa.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  Por 
António  Aluarez  Impressor  DelBey  N.  S.  Anno  1649.  Taixão  estas  Come- 
dias a  dons  vintes  cada  hàa.  Lisboa  a  17  de  Dezembro  de  1648.  I.  Pinheiro, 
T.  Pinheiro.  S.  César.  Coelho.  A  casto  de  Iuan  Leite  Pereira  Mercader  de 
Libras. 

i.°,  "1  pags.  piei.  inn.,  Í80  pags. 

No  verso  do  frontispício,  licenças  e  indice  das  comedias.  Eis  os  seus  tí- 
tulos e  auctores: 

Mas  valera  callarlo  que  no  dezirlo.—  D.  Geronymo  Villayzau; 

.1  m  tiempo  lley,  y  Vassalo.— Ires  ingenios:; 

Mudanças  de  la  fortvna  e  firmezas  dei  amor.     ChristovaJ  de  Monroy; 

Lo  mas  priva  lo  menos.-  -Diego  António  de  Cifontes; 

Enganar  para  reynar. —  António  Enriqvez  Gomes; 

Todo  svceda  ai  revés.  -D.  Pedro  Rosete  Nino; 

Babilónia  de  amor.  — D.  Fadrique  de  la  Camâra; 

/).  Florisel  de  Niquea.  —  Doctor  Ivan  Perez  de  Montaluan ; 

Por  el  esfverço  la  dicha.—  D.  António  Coello; 

Amor,  Ingenio  y  Muger. — Dòctor  Mira  de  Mescva; 

Galau,  Tercem  y  Marido. —  Alonso  de  Sousa: 

No  aii  culpa  donde  ag  amor. —  Bachíljer  Ivan  de  Vega  Beltran. 


73  I  A  L1TTKH  \li  II  V   HliSRANHOI.A   EM   l'l  R'l  253 


i  io  Leile  Pereira :  «Delibereime  ;i  sair  a  luz  cu  este 
terceiro  volume  de  Comedias,  fruto  dos  mais  polidos  engenhos,  que  a  repu- 
blica literária  em  >i  conte:  etc.» 

Exemplar  .la  Real  Bibliotheca  da  \juda. 

Barrera  também  descreve  esta  edição  (pag.  708).  Salva  refere  se  a  ella 
ii."  1:226)  mas  designa  o  impressoi  pilo  nome  de  .\lonso,  em  vez  de  Antó- 
nio. A  indicação  de  Tercera  parti  dá  a  entender  que  talvez  se  tivessem  pu 
blicado  em  Lisboa  as  anteriores.  Barri  ra  diz  que  Uonso  de  Sousa  é  porlu 
guez,  i'  que  é  mais  mu  nome  a  accresceutar  a  Bibliotheca  Lusitana,  de  Bar- 
bosa Machado. 

/"  Barrera  descreve  mu  tomo  de  Cm, m/tus,  adquirido  por  D.  Pascual  de 
Gayangos  em  Portugal,  que  não  tem  frontispício  especial,  tendo  cada  uma  das 
rui lia-  paginação  a  parle.  Contém : 

El  conde  'Ir  Sex.     De  I».  Vntonio  Cocllo  (segundo  diz  ; 

Progne  ij  Filomena.      De  Bojas  Zorrilla; 

Lu  mayor  hazana  de  Portugal.     Sem  nome  de  auctor,  mas  é  de  Manuel 

de  Araújo  de  Castro.  No  lim  d'esla  uma  folha  c< i  escudo  do  impressor  e 

o  colophon:  Em  Lisboa,  com  todas  as  licenças  necessárias.  Por  António  Alua 
rez,  Impressor  dei  Rey  nosso  Senhor,  Anno  de  1645; 

El  Mariscai  'ir  Viron.     De  VIontalban; 

Ofender  con  las  finezas.     De  Villayzan; 

Peligrar  en  los  remédios—  De  Rojas  Zorilla; 

/•;/  cataian  Serralonga.  !»'■  D.  Vntonio  Coello,  Rojas  Zorrilla  y  Luis 
\i'liv.  de  Gucvara.  No  lim  este  colophon:  En  Lisboa  por  António  AluareZj  Im- 
pressor dei  Reg.    \im><  'Ir  1645; 

Sn  liai/  amigo  para  amigo.     De  Rojas  Zorrilla; 

Obligados  y  ofendidos.-    De  Rojas  Zorrilla; 

Sufrir  mas  poi  querer  mus.--  De  Villayzan; 

.Ví)  hay  w  pthlir  siendo  Rey.     De  Rojas  Zorrilla. 

I,  Doce  Comedias  las  mos  grandiosas  qve  hasta  aora  han  solido,  De  los 
mejores,  y  mas  insignes  Poetas.  Aora  </<  nueuo  impressas.  Dedicadas  a  António 
Pestana  de  Miranda.  Lisboa.  Con  licencia.  Por  Pablo  Craesbeeck.  A  costa  de 
Felipe  George  mercada  de  libros.  Afio  1653.  Vendese  en  la  Rua  noua  en  su 
casa. 

í." 

Approvação  do  Dr.  Frey  Adrião  Pedro,  Lisboa  7  de  novembro  de  1652. 
Licenças,  Lisboa  lá,  15  e  16  do  mesmo  mez  e  anuo.  Outra  approvação  do 
mesmo  censor,  13  de  julho  de   1653.  Nova  licença,  Lisboa  15  de  julho  de 


!_'-Vl  a  LITTKRATURA   HESPANHOLA  EM   PORTUGAL  (74) 

1653.  Taxa,  17  de  julho  de  1653.  Dedicatória  do  editor  George  ao  Sr.  Antó- 
nio Pestana  de  Miranda,  escrivão  do  crime  da  Curte,  datada  de  Lisboa  a  í) 
de  julho  de  1653.  Tábua  das  comedias. 

Este  raro  e  apreciável  livro,  que  D.  Pascual  de  Gayangos  adquiriu  em 
Portugal,  é  uma  reproducção,  quasi  por  metade,  respectivamente.,  dos  iuii- 
lulados:  El  mejor  de  los  mejores  libros  que  han  salido  de  comedias  nuevas 
(Alcalá  1651,  Madrid  1653),  do  qual  contém  7  peças,  e  Flor  de  las  mejores 
doce  comedias  de  los  mayores  Ingenios  de  Espafía  (Madrid  1652),  do  qual  com- 
prehende  cinco. 

São,  pois,  as  peras  seguintes,: 

El  Cain  de  Cútalufia.- De  Rojas  Zorrilla; 

El  Príncipe  perseguido.  De  três  auctores  (diz  na  Tábua).  É  de  licl- 
monte,  Mordo  e  Martinez.  Na  epigraphe  do  texto  se  attribue  a  Moreto; 

El  Príncipe  prodigioso.—  De  dois  auctores  (diz  a  Tábua).  É  de  Mattos  c 
Moreto.  No  texto  se  attribue  a  Mattos; 

El  garrote  mas  bien  dado. — De  Galderon; 

La  Luini  de  la  Sierra.—De  Luiz  Velez  de  Guevara; 

A  gran  dano  gran  remedia.—  Na  Tábua  attribuc-se  a  D.  Rodrigo  de  Her- 
rera  e  no  texto  a  Villayzan,  a  quem  pertence; 

El  CabaUero  de  Olmedo.— De  Monteser; 

El  pleito  qae  puso  ai  diablo  el  Cara  de  Madrilejos.-  -De  três  ingeuios.  .No 
texto  expressa  os  seus  nomes:  Luiz  Velez  de  Guevara,  primora  jornada;  Ro- 
jas  Zorrilla,  segunda,  e  Mira  d'Amezcua,  tercera; 

El  privado  perseguido. —  De  Luiz.  Vide/  de  Guevara; 

Celos  na  ofenden  ai  sol.—  De  Enriquez  Gomez; 

Competidores  ij  amigos.— De  D.  António  de  Huerla; 

La  guarda  de  si  mesmo.  (No  texto  diz:  El  guardarse  a  si  mesmo).  De 
Galderon. 

Barrera,  pag.  709.  Salva  também  a  descreve,  sob  o  ri."  130.  Diz  que 
o  volume  tem  4  lis.  prel.  e  498  pags. 

d)  Comedias  de  los  mejores  y  mas  insignes  Ingenios  de  Espana. 

Lisboa  1652,  4." 

Tal  é  a  suecinta  descripção  de  Barrera,  que  apenas  logrou  ver  um  exem- 
plar incompleto  pertencente  a  D.  Pascual  de  Gayangos.  Salva  também  pos- 
suía um  exemplar  nas  mesmas  condições  (n.°  1:190)  e  deu  o  titulo  segundo 
os  apontamentos  do  Sr.  Duran.  Coincide  com  o  que  lhe  dá  Barrera.  com 
uma  differença  apenas.  Aonde  o  Sr.  Barrera  põe  Ingenios  traz  Salva  Pãe- 
las.  O  barão  de  Sehack  também  citou  este  volume,  que  contém  as  seguintes 
comedias : 


(70J  A  UTTERATORA  HESPANI10LA  EM  PORTUGAL  25ÍÍ 

II  principi  constante.     De  C  iltleron  ; 
/•,'/  conde  Alar  cos.     De  D.  Guillen  de  Castro; 
El  pèrfecto  caballero.     De  D.  Guillen  de  Caslro; 
/.</  batalla  dei  honor.     De  Lope ; 
Reinar  despues  de  morir.     De  Luiz  Velez  de  Uuevara; 
/.-/  y/r  ////r,A  /i/  porfia.     De  Coello ; 
Lo  jwe  mi//  juicios  'hl  ci' In.     |ii'  Montalban; 
Errar  princípios  de  amor.     De  Rosete; 
Ar/  ///////o/-  hazafía  de  Carlos  V. —  De  Jimenez  linciso; 
Lances  de  amor  e  fortuna.— Da  Caiderou  ; 
Envidias  vencen  fortunas.-    De  Monroj  ; 

/•:/  pjemplo  mayor  de  la  desdicha.  -De  Lope  (a  quem  ú  allribuida),  mas 
é  d.'  Mira  d'Amezcua. 

Sue/los  //.//.  7//-'  -1//  verdades  1/  l>.  Phelipe  I 7.  ph  Estremadura.  Comedia 
nueva. —  Tem  no  fim:  Inipresso  en  Lisboa. 

í.".  -2\  pags. 

Numa  Miscellanea  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (11."  2:922  verme- 
lho lia  umas  poucas  de  comedias  da  mesma  época  e  mais  mu  menos  referen 
tes  ao  mesmo  assumpto,  ;i  saber: 

.1/  freir  de  los  hvevos; 

No  liiu/  tiempo  qve  no  se  (legue,  entremes ; 

tfazir  cuenta  sin  la  huespeda,  Zarzuela  qne  se  representa  actualmente  en 
Yilln   Viciosa  de  Portugal,  Recreo  dei  Rey  Dou  Palio:  Zaragoça  1704. 

j  Comedia  famosa  dei  Recibimienlo  que  le  hizo  el  Rey  D.  Pedro  de  Por- 
tugal nl  Archiduque  Carlos.  Primem  y  segunda  jornada.— Gafa  uma  d'ellas 
de  í  fls.  in  í.".  lendo  no  fim:  /•.'//  Lisboa,  con  las  licencias  necessárias.  Afio 
de  17  a  1. 

Promelte  terceira  jornada. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  th-  Lisboa  (n.°  2:922  vermelho). 

Compendio  ild  derecho  <ii'  la  Augustissima  Casa  de  Áustria  a  la  sueces- 
sion  de  Espafia.-  No  verso  da  ultima  folha:  Lisboa,  na  Oficina  de  Valentim 
1I0  Cosia  Deslandes,  Impressor  de  Sua  Wagestade.  Anno  1704. 

i.°.  29  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (n.°  15:179). 

Copia  de  la  caria  qve  embio  a  m  Magestad  el  gran  Turco,  Soldan  Soli- 
mini  Hamet.  Tambien  se  dá  comia  dei  grandioso  presente  une  h>  presente.     Na 


•Jõli  a  LITTERATUKA   HESPANUOLA  EM  PORTUGAL  (70) 

seguada  pagina,  em  continuação:  Relacion  de  la  alegre  entrada  en público, 
que  hizo  en  Roma  el  excelente  sefíor  don  Fernando  Enriquez  Afan  de  Ribera, 
Duque  de  Alcala,  Embaxador  extraordinário  por  la  Católica  Wagesta-d  dei  Rey 
don  Felipe  Quarto  nueslro  sefíor.  \  27  de  Mio  desie  afio  de  1625. — No  fim, 
depois  das  licenças:  Em  Lisboa.  Por  Geraldo  da  Vinha.  Anno  1625. 
Folio,  'i  pags. 

Corduva  y  Figueroa  (D.  Diego  e  D.  Joseph  de).— Ia  gran  comedia  Ren- 
dirse  a  la  obligacion.  De  Don  Diego  e  Don  Joseph  de  Corduva  y  Figueroa,  caval- 
leros  de  In  Orden  de  Alcântara. —  No  hm:  Lisboa.  Con  todas  las  licencias  neces- 
sárias. Em  In  emprenta  de  Bernardo  da  Costa  Carvalho,  Afio  de  17<>7.  A  cosia 
de  Manoel  de  Figuerelo  Mercader  de  libros.  A  S.  António. 

I  vdI.  'i.°,  40  pags. 

Tem  na  primeira  folha  o  numero  da  serie  88.  Ter-se-hiam  publicado 
mais  em  Lisboa? 

Cortez  'Geronimo). —  El  curioso  de  vários  secretos  de  naturaleza. 

Lisboa  160 1,  8.° 

Indicação  de  Garcia  Peres,  de  Setúbal. 

Courelia  (Fr.  Jayme  de).— Por  alvará  de  21  de  fevereiro  de  1693  foi 
concedido  privilegio  por  cinco  annos  ao  livreiro  Manuel  Lopes  Ferreira,  de 
Lisboa,  para  a  impressão  e  venda  do  livro  de  Jayme  Courelia,  Plalica  dei  con- 
(icionario. 

Deslaudes,  Documentos,  parte  i,  pag.  SI. 

a)  Pratica  dei  confessionário,  Lisboa  1693,  1  vol.  foi.; 

In  Idem,  Lisboa  16í>4-1695,  2  vols.  foi.; 

ci  Idem,  Coimbra  1708,  2  tomos  ou  1  vol.  foi.: 

d)  Idem,  Coimbra  1721,  2  tomos  ou  1  vol.  foi.; 

e)  Summa  de  la  Theologia  moral,  Lisboa  1696,  I  vol.  foi. 

Vide  Catalogo  da  Bibliotheca  Municipal  do  Porto  (Leilão)  n.os  1:046  e 
seguintes. 

a)  Pratica  de  d  Confessionário,  y  explicacion  de  las  proposiciones  conde- 
nadas por  la  Saiitidad  de  N.  S.  P.  Innocencio  XI.  y  Alexandre  Vil.  Su  imi- 
tiria, Ins  casos  mas  selectos,  ele.  Decima  quarta  impression. .  ■  I  ij  II  parte. 
Consagrala  a  In  emperatriz  de  Ins  Cielos  Mina  Santíssima  Nossa  Senhora  el 
R.m0  P.  Fr.  Jayme  de  Corella,  capvchinho,  ex-leclor  de  theologia,  missionário 
apostólico,  ij  Predicador  de   Sn   Mai/estad,  Jjiju  de  la  Santa   Provinda  de  la 


77  \   i  II  II  RATURA   Hl  SPANHOI.A   I.M   PORTUliAL  25i 


Puríssima  Concepcion,  dei  Reyno  de  Navarra,  &c.  En  Lisboa.  Enla  Emprenta 
de  Manuel  Lopes  Ferreyra  y  u  su  cosia.  M.DC.XCV. 

:i<>  pags.  prel.  inn.,  193  p 

A  segunda  parte  tem  frontispício  especial,  mas  a  numeração  prosegue. 

Um).  Drama  impression.  M.D.C.XCJII.    Mesmo  impressor). 
Será  edição  a  valer,  ou  ;i  de  IC9S  repetição  d'esta? 

c  Summa  dela  Theologia  Moral,  ele.  St  avlhor  el rever endis.  I'  /•/.  Jaymv 
Corella  Savarro,  '-ir.  Primera  Parte.  En  Coimbra.  Na  Officina  'ir  loam  Antu- 
nes. Anno  de  1694. 

I  vol.  foi.,  212  pags. 

Idem.  Segunda  parir.  Lisboa.  En  la  Emprenta  </<    Manoel  Lopes  Fer- 
reira, ii  a  su  costa.  M.DC.XCIV. 
1  vol.  foi.,  283  pags. 

Suma  J,  i,i  Theologia  moral,  l  e  II  Parte.  En  Listam.  Eu  la  Emprenta 
ilr  Manuel  Lopes  Herrera,  y  a  -"  costa.   MDCXCVI. 

I  vol.  foi.,  tendo  ;i  primeira  parte  -I-  pags.  e  ;i  segunda  i's:i. 

Cruz  Fr.  Juan  Ar  la).— a  \ 'uma  bonita  portada  gravada  o  seguinte 
titulo  a  preto  e  encarnado:  Historia  de  la  Tglesia  que  llaman  Ecclesiastica  y 
triparttía:  abreuiada  y  trasladada  de  latin  en  Castellano:  por  vn  denoto  Reli- 
gioso de  la  orden  de  s  mio  Domingo.  Con  privilegio  real.  Mil  DXLi. 

1  vol.  foi.,  lypo  gothico,  7  Qs.  prel.  inn.,  171  lis.  numeradas  pela  frente. 
Nas  preliminares  contem-se:  dedicatória  a  D.  João  III.  prologo  do  interprete 
ao  leitor,  avisos  e  tabla. 

No  lim :  A  '■'•'/  de  Dioa  y  de  la  gloriosa  Virgen  Muna  se  acabo  de  impri- 
ma la  presente  hisloría  de  la  Yglesia  de  Dios.  Agora  nuevamente  trasladada  de 
latin  en  romance  por  vn  <l<  noto  padre  de  la  ordè  de  sanl  Domingos.  La  '/uai 
fue  vista  y  examinada  por  los  reueièdos  padres:  el  Prior  d' sanl  Domingos  d  la 
dicha  ciitdad  //  fray  Alexo  de  Sancta  Maria  subprior  y  fray  Chrisloual  de  Vai- 
buena.  Que  por  el  sefior  Infante  'l"  inrriq  inquisidor  general  en  estos  Reynos 
d' Portugal  tienen  cargo  de  examinar  los  libros  que  se  hahde  empremvr  y  leer. 
Y  dizen  que  la  (raduzion  esta  fiel  y  prouechosa  para  que  elpueblo  la  leu.  )  por 
tanta  dieron  licècia  a  Luys  Rodrigwz  librero  delRey  qw  la  emprima:  y  firma- 
ronla  de  sus  nombres.  kabose  en  la  muy  noble  y  leal  ciitdad  de  Lisboa  a  x\ 
de  Octubre  1541. 

N'este  exemplar  não  se  declara  o  nome  do  Lraductor,  mas  sim  na  segunda 
edição,  cuja  descripção  passamos  a  fazer. 


258  A   L1TTKRATURA  HKSWANUOLA   EU   PORTUGAL  (78) 


N'uma  portada  gravada  o  seguinte  titulo: 

b)  Hystoria  de  la  Yglesia  que  liamã  Ecclesiastica  y  Triparlila.  Abreuiada 
ii  trasladada  de  Latin  en  castellano  por  vn  Religioso  dela  orden  de  saneio  Do- 
mingo. )  aora  nueuamente  reuista  y  cotregida  por  el  mesmo  interprete.  Afio  de 
MDLHII.  i.oii  priuilegio  real. 

No  verso  do  frontispício  uma  nota  manuscripta  acerca  da  raridade  do 
livro,  mencionando  os  auetores  que  faliam  de  Fray  Júan  de  la  Cruz. 

I  vol.  foi.  a  i  col.,  171  foi.,  caracteres  gothicos,  com  excepção  do  fron- 
tispício, dedicatória  a  l>.  João  III,  e  aviso.  No  (im  do  folio  171  lê-se: 

.4  loor  de  THos  y  de  la  gloriosa  Virgem  Maria  acabo  de  se  empremir  la 
presente  historia  de  la  Ygksia  de  Dios  trasladada  d'  latin  e  romance  por  el 
padre  frey  llian  de  la  era:  d'  la  ordê  de  predicadores  de  la  prouincia  de  Por- 
tugal a  aliara  de  nueuo  cotregida  par  el  mismo  interprete. 

Fae  impressa  en  la  muy  noble  ciudai  de  Coimbra,  por  iuaii  Aluarez,  im- 
pressor dei  Rey  nuestro  seftor  a  veinle  y  siete  dei  mes  de  Agosto  de  MDLiiij. 

Possue  exemplar  de  uma  e  outra  edição  a  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Coronica  de  la  Orden  de  predicadores,  de  sv  principio  y  sucesso  hasta 
nuestra  edad,  y  de  la  rida  dei  bien  anenturado  saneio  Domingo  su  fundador, 
y  de  los  sonetos  y  rarones  memorables  7  m  ella  florecieron.  Copilada  de  Histo- 
rias antigiias,  por  el  padre  fray  laan  de  la  Cruz  professo  de  la  mesma  Orden 
de  la  prouincia  de  Espana:  dirigida  ai  sereníssimo  Príncipe  de  Castilla  Don 
Carlos,  &c.  %  Acrecentargnse  muchas  cosas  de  memorias  antiquas  de  la  orden 
por  diligencia  de  algunos  Religiosos  dei  Conuento  de  Lixboa,  de  la  Prouincia 
de  Porlogal,  a  cm/as  manos  riuo  esta  Coronica.  y  la  hizieron  estãpar. — No 
fim  tem:  Acabose  este  primer  volume  a  xxiiij  dias  de  Dezienibre  dei  presente 
ano  de  MPLXVfí.  en  la  emprenta  de  Manuel  laan  con  licencia  dei  Ordinário 
II  deputados  dei  saneio  O/jicio,  y  dei  Reuerèdo  padre  Maestro  fray  Francisca 
Forero  prouincial  de  la  prouincia  de  Porlogal. 

1  vol.  foi.,  w  foi.  prel.  inn.,  cclvii  fólios. 

0  frontispício  tarjado.  No  alto  um  frontão,  sustentado  por  duas  espécies 
de  columnas,  formadas  pelas  imagens  de  dois  santos  cada  uma.  Nas  prelimi- 
nares: carta  do  auetor  ao  Príncipe  D.  Carlos,  prologo,  prologo  do  1.°  livro, 
índice  das  matérias. 

Bibliotheca  Naeional  de  Lisboa. 

d)   Dialogo  sobre   la   necessidud  //  obligaciou  y  provecho  de   la  oraciou. 

Lisboa  1555,  1." 

Catalogo  do  Visconde  de  Pereira? 


(79)  k  LITTEKATURA  HESPANHOLA  EM  POUTUGAI  25i) 

e)  Treijnta  y  dos  Sermones  dei  Padrt  Fr.  Juan  de  In  Cruz. 

Lisboa,  JoSo  lilavin.  1558,  l± 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Ribeiro  dos  Santos,  pag.  122. 

Desseoso  (El),  a)  Este  titulo  está  por  cima  de  uma  elegante  portada  gra- 
vada, que  tem  ao  centro  a  estampa  do  calvário,  circundada  d'este  dístico:  Ve 
inii  ml  me  '1111)11  s  i/m  laboralis  et  onerali  estis  vt  ego  reficiam  vos.  Por  baixo: 
Tratado  (lamado  el  Desseoso  \  n  poi  oiro  nombn  Espejo  de  religiosos  i  agora  de 
a, a  uo  visto  i/  examinado  |  //  aftadido  la  quarta  y  quinta  parle  que  hasta  agora 
nu  Im  sulo  impressa.  NO  Qm:  .1  gloria  ij  honra  de  lesu  christo  nuestro  sobe 
rano  redemptor  >/  de  su  gloriosa  madre  nuestro.  scfíora.  Aqui  se  acaba  el  linro 
llamado  Desseoso  que  por  otro  nombre  se  llama  Espejo  de  religiosos:  compuesto 
/nu  ni  devoto  religioso  di  In  orden  </<■  sefíor  sant  Hieronitno  nueuamente  tradu 
zulu  </.  lingua  catalana  i  n  um  sim  vulgar  insidiam).  )  afiadida  In  quarta  // 
quinta  parte  q  hasta  agora  no  hauia  sido  impressa.  Fue  impresso  cu  l<i  mm/ 
noble  i/  muij  leal  ciudad  </<  Lisboa  en  casa  <l  buis  rodriguez  Itbrero  dei  He// 
firo  sefior.    [cabose  a  Hij  tinis  dagosto  De  MDXLj  1 1541). 

i.°,  sem  paginação,  rubrica  aiiliiii. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  É  a  edição  ;i  que  se  refere 
Ribeiro  dos  Santos. 

0  Desejoso  foi  traduzido  nu  portuguez.  Vide  Innocencio,  vol.  iv,  n."  1:093. 

In  Ti  at  imhi  lltiiiitnlti  ri  Desseoso  ij  por  otro  nombre,  Espejo  de  Religiosos. 
Agora  de  unem,  coiregido,  g  anadida  In  sei  ia  parti-,  que  /insta  agora  no  Im 
sido  impressa.  (Laminasinha,  Christo  entre  as  Santas  Mulheres),  Em  Lisboa. 
Impresso  con  licencia  de  In  Saneia  //  General  Inquisicion,  ij  Ordinário:  Poi- 
António  Aluarez  1:~>88. 

1  vol.  8.°,  7  lis.  piri.  imi . ,  268  numeradas  pela  frente,  mais  'i  inn.  de  tabla. 
No  verso  do  frontispício  uma  estampa  representando  o  Salvador  coroado 

c  com  d  symbolo  do  império  na  mão.  Por  baixo:  I  costa  de  Pedro  de  Flores 
lilirern. 

\  informação  é  de  Fr.  Bertholameu  Ferreyra: 

«Por  mandado  de  S.  \.  vi  o  liuro  chamado  Desseoso,  a-  emmendado 
como  vay  o  lilulo  do  primeiro  capitulo  da  quarta  parte,  me  parece  que  seraa 
proueitoso  imprimirse,  por  cõter  boa  doctrioa:  especialmente  arma  para  a 
gente  religiosa,  adúertindo  que  o  estilo  he  todo  parabólico,  A-  as  palauras  de 
fora  são  significatiuas  doutras  cousas  spirituaes». 

Diversas  lainiuasilas  nas  folhas  preliminares. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Outro  de  Nepomuceno. 


Jlill  A  MTTERATCRA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (80) 

\  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  possue  as  seguintes  edições  hespanholas: 
Sevilha,    1530;   Burgos,    1548-4554;   Alcalá,  1554;  Salamanca,  I57í  e 
1580;  Toledo,  1536  (nos  reservados). 

Diaz  Bravo  (Er.  Joseph  Vicente).—  El  Confessor  instruído  en  lo  que  loca 
à  su  complice  m  el  pecado  torpe,  contra  el  sexto  Precepto  dei  Decálogo,  segun 
las  Gmstituciones  ultimas  de  N.  SS.  Padre  Benediclo  XIV.  Obra  canonico-mo- 
tal. . .  nuevamenie  corregido,  y  anadido  por  su  Autor  el  M.  li.  P.  M.  F.  Io- 
seph  Vicente  Diai  Bravo,  Doctor  en  Theologia,  Examinador  Synodal  de  los 
Obispados  de  Barbastro,  y  Tarazona,  Calificadór  dei  Santo  Oficio  de  la  Inqui- 
sicion  de  Navarra:  y  Prior  dei  Cármen  Observante  de  TudeUt.  Offerecido  ao 
eminentíssimo  e  reverendíssimo  senhor  Cardeal  Patriarcha  l>.  Jazi'  Manoel  do 
Conselho  de  Sua  Magestade,  e  seu  Capellão  Mór,  par  Amónio  da  Silva  Escrivão 
do  registo  geral  da  Torre  de  Belém.  Lisboa:  na  Officina  de  Dom  najas  Gonsal" 
ves.  Amai  17.~i7. 

1  vol.  'i.",  1 1  pags.  prel.  inn.,  240  pags. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Diez  de  Aux  y  Granada  (D.  Fernando  Álvaro). —  Séneca  y  Neron,  com- 
presto  par  D.  Fernando  Aluara  Diez  de  Aux  y  Granada.  Dirigido  ai  Sr.  Juan 
Rodriguez  de  Sàa,  conde  de  Penaguião.  Camarero  mayor  de  su  Magestad,  y 
de  su  Conscjo  de  Guerra,  ele.  Con  licencia  y  Priuilegio  Real,  en  Lisboa,  por 
Mamei  Gomes  de  Ca  malha,  y  a  su  costa.  Ano  M.DC.XXXXVIH. 

8.°,  8  pags.  prel.  incraindo  a  portada,  160  pags. 

Domeneco  (Pedro).  —  o)  Doctrina  \  muy  proveitosa  pa  todo  christão  \  de 
qualquer  estado  que  seja:  ti  \  rado  do  Espelho  de  bem  ri  J  uer,  que  fez hu pre- 
ga- |  dor  da  ordem  de  j  sani  Agustinho  \  &  de  outros  j  liaras  de  |  notas.  \  Co- 
pilado  por  reuerendo  pa-  \  dre  Pedro  domeneco,  reytor  dos  pobres  órfãos  de 
lesu  da  Cidade  |  de  Lixboa. 

No  verso  do  titulo  lia  unia  gravura  muito  tosca,  representando  Christo 
crucificado,  com  a  Magdalena  aos  pés,  e  a  seguinte  legenda: 

Tíbi  derelictus  esf  pauper 
Orphano  lu  eris  adiutor 

Este  opúsculo  não  tem  paginação,  mas  as  signaturas  chegam  a  biiij,  com- 
prehendendo  13  pequenos  fólios,  cuja  chapa  lypographica  medeOin,075XOra,052. 
O  titulo  é  em  romano;  tudo  o  mais  em  gothieo. 

Na  ultima  pagina  ha  a  licença  em  latim,  datada  de  20  de  outubro  de 
1550,  assignada  por  Hieronymus  ab  Oleastro,  deputado  do  Supremo  Inquisi- 


81  rEHATURA   HESPANII01  \   l  M   PORTI  G  \\  26J 


dor,  permittindo  a  impressão  com  a  clausula  de  que  se  declare  o n   d 

auctor,  ul  typis  possit  modo  nomen  atithoris  titulo  Wm  perfigatur. 

Segue-se,  no  mesmo  formato  e  typo,  sendo  também  o  titulo  em  r ano, 

ii  segundo  opúsculo,  continuação  d'este : 

[visos  de    como  os  proues  órfãos  de  \  lesu  si  hão  d(  auei  naspe 
grinações  &  romarias    que  fizerem.   E  outras  \  doctrinas  &  conside  I  rações 
mui/ proueito  \  sas  d  neces     sarias.     Feitos  pelo  reucrendo  padn  '  Pêro  dome 
iirtii  Reytor  d'elles. 

No  verso  do  titulo  tem  também  uma  gravura  representando  Christo  cru- 
cificado, mas  differente  da  do  primeiro  opúsculo,  rum  esta  legenda: 

Estraneus  factus  suin  Iribus  méis 
&  peregrinus  filijs  matris  mere 

Segue  se  o  Prolog -  Vvisos,  que  comprehendem  50  foi.,  sem  nume- 
ração, mas  as  signaturas,  que  vem  seguidas  do  precedente  opúsculo,  chegam 
a  h  iiij. 

Na  penúltima  pagina  encontra  se  a  licença,  em  latim,  na  qual  Marcus 

R erus,  por  mandado  do  bispo  de  Coimbra,  D.  João  Soares,  julga  o  livro 

muito  proveitoso  a  quem  o  ler.  \"  verso  da  licença  a  divisa  do  dragão  enros- 
cado, com  a  legenda  salus  vitae. 

O  livro  não  designa  impressão  nem  traz  assignada  data  e  local.  A  divisa 
do  impressor  poder  nos-hia  fazer  suppor  que  foi  Luiz  Rodrigues  e  que  fora 
estampado  em  Lisboa  por  fins  de  l.'i.*it>  ou  princípios  de  1551.  Causa-nos 
todavia  alguma  estranheza  que  uma  das  approvações,  a  de  Marcos  Romero, 
fosse  passada  por  um  lente  da  i  niversidade  e  por  ordem  do  bispo  de  Coim- 
bra. Impresso  n'esta  cidade,  em  ]'■>'■>->,  vimos  um  opúsculo  impresso  por  João 
Alvares  e  João  da  Barreira,  eni  que  apparece  Lambem  a  divisa  do  dragão 
alado. 

O  único  exemplar,  até  hoje  conhecido,  da  obra  de  Pedro  Domeneco 
existia  em  poder  do  Sr.  José  do  Canto,  da  ilha  de  S.  Miguel,  que  leve  a  bon- 
dade de  nus  enviar  a  sua  descripção  completa,  consultando  nos  sobre  quem 
era  o  auctor,  que  até  hoje  passou  completamente  desconhecido  aos  nossos 
bibliophilos.  Parece  nos  ter  achado  a  incógnita  do  problema  na  noticia  que 
se  lè  nu  Summario  de  Christovão  Rodrigues  de  Oliveira,  sob  o  titulo  de  Col- 
legio  da  Irmandade  dos  Órfãos  de  Jesv.  Diz  elle: 

i  Esta  Irmandade,  e  Collegio  dos  Órfãos  de  Jesv  ha  pouco  que  foi  fundada 
por  hum  Padre  Catalão,  etc.» 

Por  certo  que  não  erraremos  identificando  o  padre  catalão  com  Pedro 
Domeneco.  Por  esta  circumstancia  o  incluímos  na  nossa  obra. 


26Í  A   UTTERATUBA  HESPANHOLA   EM  POHTUGAL  (82 


A  ajuizar  pelos  excerptos  que  nos  enviou  o  Sr.  José  do  Cauto,  a  obra 
ile  Pedro  Domeneco  é  escripta  em  boa  linguagem  da  época  e  é  interessantís- 
sima para  a  historia  dos  costumes  da  época,  devendo  inclnir-se  na  collecção 
das  chronicas  religiosas,  ^qui  damos,  para  amostra,  o  Prologo  do  segundo 
opúsculo: 

^Filhos  meus  iiiiiy  amados,  e  gerados  no  dulcíssimo  sangue  dq  humilde 

cordeiro  Chr8  Jesu.  Ho  ; >r  grande  que  em  ho  senhor  vos  tenho  me  faz 

cõtinuamente  cuidar  como  vos  poderes  melhor  aproveitar  em  as  cousas  do 
serviço  de  Deos,  e  bem  das  vossas  almas.  Mouendome  também  a  isto  ho 
carrego  que  nosso  senhor  delias  me  tem  dado:  ainda  que  eu  para  isto,  como 
para  todo  ho  mais  me  ache  muyto  indigno;  porem  sua  misericórdia  he  Iam 
grade  que  aos  fracos  como  eu  esforça,  e  ajuda,  e  supre  os  defeytos  dos  bõs 
desejos,  que  elle  por  sua  bõdade,  de  vossa  salnaçam  me  tem  dado.  K  por 
lauto  vendo  eu  que  muytas  vezes  era  necessário  mãdaruos  a  alguas  peregri- 
nações e  romarias  p.*  <j  fizésseis  algu  seruiço  a  nosso  senor  e  proueito  a 
vossas  almas,  e  tínheis  necessidade  de  saberdes  ho  como  vos  auieis  de  auer 
nellas,  por  nam  poder  yr  sempre  com  vosco  algum  padre,  determiney  de  vos 
fazer  estes  auisos,  para  que  estes  supprissem  o  q  minha  presença  podia  la- 
zer. Encommendouos  muyto  que  os  leais  muytas  vezes,  e  muyto  mais  pro- 
cureis de  os  cumprir:  por  que  nos  certifico  que  se  os  guardardes  bem,  os 
trabalhos  que  nas  romarias  tomardes,  seram  muy  aceitos  a  nosso  senhor,  e 
galardoados  na  gloria  e  bemauêturança  que  esperamos  a  qual  elle  por  sua 
bondade,  queira  conceder  a  mi  e  a  vós.  Amen».  _ 

Exemplo  dos  avisos,  que  são  numerosos  e  para  Iodas  as  situações  ima- 
gináveis : 

«Depois  de  lanado  o  rosto  e  mãos  tomareis  os  bordões  e  sacos,  e  agar- 
decendo  aquellas  pessoas  que  vos  tem  agasalhado  direis  que  nosso  senhor 
lhes  pague  aquella  caridade  que  vos  fizeram,  pedindolhes  perdam  se  lhe  des- 
tes algum  descontentamento  ou  mao  exemplo». 

«Nam  leuareis  com  vosco  senã  ho  pão  que  ouuerdes  mester  nem  peçais 
mais  daquillo  q  vos  for  necessário,  e  se  vos  sobejar  day  o  que  fica  por  amor 
de  Deos,  e  nam  o  vedais  por  nenhua  maneyra,  e  tende  grande  fee  que  Deos 
vos  prouera  ê  todas  vossas  necessidades». 

Nicolau  António,  na  sua  Bibliotheca,  dá  a  seguinte  noticia  de  um  Jero- 
nymo  Domenec,  valenciano,  jesuíta: 

«Hieronymus  Domenec,  Valentinus,  Jesuíta,  ex  primis  Ignatii  patriarchíe 
sodalibus,  magna  vir  pietate  A-  religionis  observantia,  primus  Siculse  província1 
res  admnistravit,  deinde  in  Aragonia  ad  suos  reversus  piíefedi  vices.  Seripsit 
Siculis  anno  MDXLVII. 

«Gathechismum.  In  loto  regno  auctore.  ipso  pro  rege  usurpatum». 


83J  A  LITTIUATI-HA  HESPANHOLA   KM   PORTUGAL  263 


Echaburu  (D.  Juan  de  Espínola  Baeza). — El  Confessor  instruído,  etc.,poi  <l 
M.  R.  /'.  Pablo  Sefieri,  traduzido  poi  D.  Juan  de  Espínola  Bm  za  Echaburu.  Coim- 
bra. Na  O/fic.  de  António  Simões  Ferreira  Impressor  da  Univers.  Annode  1751. 

I  vol.  lá.",  368  pags. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (n.°  3:057). 

Encarnacion  (D.  Pedro  de  la).     Fúnebres  queixas  dei  dolor. 

Lfcboa,  por  Mai I  Lopes  Herrera,  1696,  l.°,  32  pags 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Enganos  de  los  desenganos,  Vícios  en  los  remédios  descubiertos  a  mejor  luz 
de  la  razon,  y  expuestos  a  la  dei  mundo,  para  sossiego  d  inquietos,  alienlo  de 
los  Hespafíoles  verdadercs,  y  confusion  de  Infieles  Hispafío-Gallos.  Lisboa.  En 
la  Officina  de  Miguel  Manescal,  Impressor  dei  Santo  (ijjiem.  Afio  de  1704.  Con 
las  licencias  necessárias. 

i.°,  á  pags.  inn.,  1:20  pags.  e  mais  1  inu.  de  erratas. 

É  resposta  a  um  papel  intitulado  Desengano  de  ignorantes,  remédio  de 
apasionados,  ele. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (n.°  15:179). 

Enriquez  (P.  F.  Ivan). — Qvestiones  praticas  de  casos  morales.  Por  el  P.  F. 
Ivan  Enriquez,  dei  ordem  de  S.  Agostinho,  Predicador,  y  Lector  de  Theologia 
Moral.  Anadidas  en  esta  decima  impression.  Ciai  dos  Tablas,  la  vna  de  las  Ma- 
térias, y  la  otra  de  casas  notables.  O/ferecidas  ao  muy  Illustre  Sen  la  a-  o  Senhor 
Manoel  Pimentel  de  Sonsa,  Inquisidor  Apostólico  &  Prezidenle  do  s.  Officio  da 
Inquisição  de  Coimbra.  &  Cónego  Prebendado  na  See  da  mesma  Cidade.  &c. 
(Estampa  representando  um  escudo  de  anuas,  soffrivel  gravura  de  João  Go 
mes).  En  Coimbra.  Con  todas  as  licenças  necessárias.  Na  Impressa  da  Viuva 
de  Manoel  Carvalho  Impressor  da  Vniversidade  Anno  1668. 

1  vol.  í.°,  6  pags.  prel.  inn.,  146  pags.,  afora  tabla. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Enriquez  de  Rivera  il>.  Fradique). — Este  libro  es  de  el  viaje  que  hize  a 
lerusalem  de  todas  las  cosas  que  en  el  me  pasaron  desde  une  sali  de  mi  casa 
de  Bornos.  miercoles  24  de  Nouiembre  de  518  hasta  20  de  Otubre  de  520  que 
entre  en  Seuilla.  Yo  Don  Fadriqve  Enriquez  de  Hurra  Marq.s  de  Tarifa.  En 
Lisboa.  Ano  de  1H08. 

Este  titulo  numa  bonita  portada  gravada,  sem  nome  do  artista. 

No  fim:  Impreso  en  Lisboa  con  licencia  y  priuilegio  de  la  santa  Inquisi- 
cion:  En  casa  d<    Intonio  Aluar ez.    [fio  de  1608. 

'i.'.  2  lis.  prel.  inn.,  237  numeradas  pela  frente. 
IIiít.  k  Mem.  da  Acad. —  Tomo  mi,  parte  ir. —  X.0  5.  8 


_'i'''i  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EH  POKTUGAL  (S4) 


Nas  preliminares:  Requerimento  do  Duque  de  Âlcálá,  pedindo  revedor 
para  o  livro  que  quer  mandar  imprimir;  Approvação  de  Fr.  I.u.vs  dos  Anjos, 
e  Summario  do  privilegio  (em  portuguez)  concedendo  ao  Duque  de  Alcalá 
privilegio  por  dez  annos.  Datado  <lr  23  de  junho  de  H'>'»7. 

A  narrativa  da  viagem  termina  no  folio  L86.  No  verso  d'este  a  seguinte 
declaração : 

Estes  versos  de  loan  dei  Enzina,  fumoso  poeta  en  su  tiempo,  dexó  el  Mar- 
ques de  Tarifa  escriplos  en  su  libro:  que  por  auerle  acompafiado  ri.  m  su  pere- 
grinacion,  quiso  tambien,  que  este  Viage  acompafiasse  el  suyo.  Y  por  guardar 
,1  orden  de  el  original,  se  imprimierqn  aqui. 

A  folio  187  principia  a  narrativa,  em  verso  de  arte  maior,  da  Viagem  de 
loan  dei  Enzina.  Curiosos  pormenores  para  a  sua  biographia.  Termina  no 
verso  do  folio  220.  No  folio  227,  Romance  y  Svmma  de  todo  el  Viaje  de  loan 

dei  Enzina.  Começa : 

Yo  me  partiera  de  Roma, 
para  Ierusalen  ir, 
fuerame  paia  Venecia. 
por  mejor  via  seguir. 
Que  de  alli  los  peregrinos 
cada  afio  suelen  partir: 
embarquem?  en  (in  de  lunio, 
per  mi  viaje  cumplir. 

É  para  reparar  que  Gallardo,  aliás  tão  minucioso  na  descripção  dos 
livros,  a[iontando  qualquer  circumslancia  mais  importante  que  n'elles  se  lhe 
depara,  não  li/esse  menção  da  parte  poética  de  Enzina.  que  se  contém  na 
viagem  do  Marquez  de  Tarifa. 

Salva  (n.°  371 >  refere-se  a  uma  edição  de  Lisboa  de  1580,  mas  de  modo 
muito  confuso. 

A  Historia  da  Universidade  de  Salamanca  também  dá  como  impressa  em 
Lisboa,  em  1580,  a  Tribalgia  da  Via  Sucia  de  Jerusalém,  de  Juan  de  la  Encina. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Ercilla  y  Zuniga  (Alonso  de). —  a)  Primera  parte  de  lu  Aramaria,  ele. 

Lisboa,  António  Ribero,  1582. 

12  fls.  prel.,  149  tis.  o  uma  folha  com  um  escudo. 

b)  Segvnda  parte  de  la  Ai  arcana .. .  Que  traiu  de  la  porfiada  guerra 
entre  los  Espaãoles  y  Araucanos. 

S.  I.  (Lisboa),  António  Ribero,  MDLXÍX. 

12.°,  130  fls.,  incluindo  as  preliminares,  e  no  fim  2  ou  mais  folhas  com 
appendices  e  vários  elogios  em  verso. 


(85)  \  I.ITTKIIAITHA  HESPANHOLA   EM   PORTOGA]  265 


Diz  Salva,  de  quem  tiramos  esta  descripção,  que  este  ultimo  millesimo 
deve  estar  errado.   Salva,  Catalogo,  vol.  i,  pag.  220). 

Entre  as  poesias  encomiásticas  dedicadas  a  Ercilla  ha  um  soneto  i  m  poi 
tuguez  de  l>.  Isabel  de  Castro  j   Andrade. 

Escarate  Ledesma  'I».  António).  En  la  desgraciada  mtterle  dei  sefioi 
don  Miguel,  fujo  dei  magnânimo  sefíor  D.  Pedro  II.  Romance  escripto  por 
Don  António  Escarate  Ledesma,  Clérigo  fíeglar,  Examinador  Synodal  dei 
Arzobispado  de  Toledo,  Juez  de  sus  concursos,  Theologo  de  la  Reverenda  Ca- 
mera  Apostólica,  Examinador  de  la  Nunciatura  de  Espafia,  y  Predicador  de 
la  Magestad  Cesárea. 

'i.".  5  pags.  É  uma  composição  em  quadras  octossylabas,  Segue  logo  por 
baixo  do  titulo.  Sem  indicação  de  logar  nem  de  imprensa,  mas  provavelmente 
é  de  Lisboa. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  fazendo  parte  da  collec- 
ção  1:298  de  litteratura. 

Salva  accusa  a  existência  de  um  soneto  acróstico  á  morte  de  D.  Maria 
Lvisa  de  Bourbon  por  D.  Raymundo  Escarate  5  Ledesma.  Vide  no  seu  Cata- 
logo n.'  11. 

Escobar  (Iuan  de),  a)  Hysloria  dei  mvy  noble  1/  valeroso  cauallero.  el 
Cid  Ruy  Diez  de  Biuar:  /•.'//  Romances:  En  Lenguaje  antiguo.  Recopilados 
por  Iuan  de  Escobar.  Dirigida  a  Don  Rodrigo  de  Valençuela.,  Regidor  de,  la 
Giudad  á  [ndujar.  En  Lisboa,  Impressa  con  licencia  de  la  Saneio  Inquisi- 
don.  Por  António  Ahtarez.  Anuo  MCCCCCCI. — Em  volta  do  titulo,  na  parte 
superior  e  lateraes:  Soy  el  Cid  honra  de  Espana  Sialgunopudosermas— 
En  mis  obras  lo  veras. 

8.°,  ií  Ds.  prel.  com  app.,  licenças,  dedicatória,  soneto  de  Iuan  Mendez, 
Tabla,  l'il  fólios.  Falta,  porém,  pelo  menos  I  folio. 

\  approvação  é  de  Fr.  Manuel  Coelho:  iVi  este  liuro  da  Hystoria  do 
Cid  Ruy  Diez  en  Romances  antigos,  não  tem  cousa  algua  por  onde  se  não 
possa  imprimir». 

\  licença  é  de  20  de  outubro  de  610  (troca  dos  dois  nltimos  algarismos). 

Exemplar  pertencente  á  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

b)  Historia  dei  mm/  noble,  etc.  En  Lisboa  ■  .  .  /<<"■  António  Aluar ez, 
MCCCCCCV. 

8.°,  L>i2  fólios. 

Parece  ser  uma  reproducção  exacta  da  antecedente,  senão  uma  contra- 
facção. Appareceu  de  venda  no  leilão  da  livraria  do  Marquez  de  Castello 


266  A  L1TTKKATIHA  HESPANHOLA  EM  PORTrGAL  (86) 

.Melhor,  onde  foi  arrematada  por  Fernando  Palha  pela  quantia  de  500010 
réis.  Veja-se  o  respectivo  catalogo  sob  o  n."  1:081. 

c)  Historia  dei  muy  noble  y  valeroso  cavallero  el  Cid  Ruy  Diez  d,-  Ui- 
var. Lisboa,  poi  António  Alvarez,  1615. 

Esta  edição  assim  vem  descripta  no  catalogo  da  livraria  Gubian,  sob  o 
íi."  893,  sendo  vendida  por  5)5000  réis. 

d)  Idem.  Lisboa,  1650,  12.°  Edição  indicada  num  apontamento  do  pae 
de  Salva. 

As  edições  d'este  romanceiro  teem  sido  muito  numerosas.  À  mais  antiga 
que  se  conhecia  era  a  descripta  por  Brunei,  Alcalá  (1612),  Juan  Gracian  (12.°). 
Sahá,  a  mais  antiga  que  possuía,  era  a  de  Çaragoça,  por  luan  de  Larumbe, 
1618.  A  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto  possue  uma  edição  de  Alcalá, 
por  Maria  Fernandez,  1661,  em  que  vem  reproduzida  a  approvação  de  Fr.  Ma- 
noel Coelho,  prova  de  que  alguma  das  edições  porluguezas  lhe  serviu  de  mo- 
delo. O  exemplar  que  descrevemos  em  primeiro  logar  affirma  com  grande 
antecedência  que  pertence  a  Lisboa  a  prioridade  da  edição  primitiva.  Appa- 
recerá  ainda  quem  lhe  venha  tomar  a  deanteira? 

Barbosa  Machado  enumera  um  João  de  Escovar,  que  foi  musico  e  poeta, 
auetor  de  um  auto.  Floresceu  nos  fins  do  século  xvi,  princípios  do  xvn.  Em 
1582  era  procurador  da  irmandade  de  S.  Julião  de  Lisboa  um  Juan  d'Esco- 
bar.  Veja-se  o  livro  que  á  procissão  d'esta  egreja  dedicou  Izidro  Velasquez 
Salamantino.  Que  affinidade  haveria  entre  estes  dois  Escobares  e  o  que  col- 
leccionou  o  Romanceiro? 

As  edições  hespanholas,  de  Alcalá  1614  e  Segóvia  1621,  também  trazem 
a  approvação  de  Fr.  Manuel  Coelho,  em  portuguez.  São  as  únicas  descriptas 
por  Gallardo,  sob  os  n.08  2:111  e  2:112. 

Escobar  y  Mendoza  (P.  António  de). — Nveva  Geivsalem  Maria.  Poema 
heroyco.  Por  el  P.  António  de  Escobar  y  Mendoza,  de  la  Compartia  de  Iesvs. 
Fundase  en  los  doze  preciosos  cimientos  de  la  mystica  Ciudad,  la  vida  y  rxcel- 
lencias  de  la  Virgem  Madre  de  Dios.  (Gravurinha  de  metal).  De  um  e  outro 
lado  d'ella :  Offerecido  a  Nossa  Senhora.  Por  baixo :  Por  Domingos  Carneiro. 

O  ante-rosto  diz:  Nveva  Gervsalem  Maria.  Poema  heroyco.  En  Lisboa. 
An.  1662.  Um  e  outro  a  preto  e  encarnado. 

8.°,  10  fls.  prel.  inn.,  320  fls.,  mais  3  inn.  É  de  advertir  que  até  100 
vão  as  folhas  numeradas  por  pagina,  de  um  e  outro  lado;  d'ahi  por  deante 
os  fólios  de  um  só  lado. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 


(87)  A  UTTERATURA   HESPANHOLA   EM   PORTUOA1  267 

Espejo  dia  vida  humana  repartido  ê  sie  \  te  jornadas:  aplicadas  a  los 
siri,  dias  de  la  sema-  \  mi.  I  i  tambien  vn  ,  sermõ  do  glorioso  sam  \  Bernardo 
dei  menospn  cio  dei  mudo.  )  vn  memorial  dela  passiõ  repartido  po>  su  ti 
cõtèplaciones  alas  sie    ir  horas  canónicas. 

Este  titulo  está  muna  portada  de  gravura  nada  primorosa. 

Por  baixo:  Impresso  en  Ebora  con  licencia. 

No  liin:  Fue  impresso  nln  gloria  ie  dios  y  de  su  bcdila  madre,  <  i<  Ebora 
en  casa  de  Andres  de  Burgos  a  l-~>  de  Setiêbre  de  1574. 

8. ■',  sem  numeração,  rubrica  aij  nv. 

Exemplar  da  Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa. 

Espínola  y  Torres  (D.  Juan) . — Transformaciones  y  robôs  de  Júpiter,  y  ce 
los  te  Juno,  por  I>.  Juan  Espínola  y  Torres.  Dirigidos  ai  padre  maestro  fray  Au 
guslin  Espínola,  su  tio,  Prior  dei  Convento  de  Santo  Domingo  de  Guztnan  el  Real 
deJerez  dela  Frontera.  Con  licencia,  en  Lisboa  por  Jorge  Rodriguez.  Mo  1619. 

I  vnl.  s.".  l2  tis.  prel.,  66  numeradas  pela  frente,  mais  9  no  Qm,  Tabla 
de  los  nombres  poéticos. 

É  um  poema  de  seis  cantos  em  oitava  rima.  Descripto  por  Gallardo  sob 
o  ii.    2:130. 

Estella  (P.  P.  Diego  de).— o)  Tratado  de  la  \  vida  loores  y  excelências 
dei  glorioso  a  \  postol  y  bienauenturado  euangelisla  san  hian;  cl  mas  amado 
li  querido  discípulo  '  de  Chrislo  nuestro  saluador:  cõpuesto  \  porei  /'.  /•'.  Diego 
de  Estella,  de  la  or  \  den  de  los  frailes  menores:  dirigido  j  a  la  muy  alta  ij 
muy  poderosa  rey  \  na  de  Portugal,  .//  por  mãda  \  do  de  su  alteza  agora  nue 
uamente  impresso.  \  Con  real  priuilegio  y  visto  poi  la  sancta  inquisicion.  \  Nota 
q  el  autor  mas  da  en  este  libro  \  de  lo  que  promete:  porque  a  bveltas  de  los 
loores  de  San  Juan,  rum  entretevidas  |  algunas  matérias  morales:  de  manera 
.)  no  solo  a  los  deuolos  de  san  Juan  es  apla  \  zible,  pêro  aun  a  todos  los  pe- 
les Chris  j  tianos  vlil  y  prouechoso. 

No  reverso  uma  gravura,  representando  o  martyrio  de  nm  santo  dentro 
de  unia  caldeira. 

Dedicatória  á  rainha  e  prologo  ao  leitor,  4  pags. 

Subscripção  final:  .1  loor  y  gloria  de    Dios.  acabose  el  tractado  de  la  rida 
//  excelêeias  dei  glo  |  rioso  euangeUsta  sant  luan,  en  la  nau/  noble  y  siempre 
leal  ciudad  de  Lisbona,  en  la  imprêta  ãe  German  .  gallarde  imprimidor  dei  re$ 
nuestro  sefior.  \  Acabose  a  nueue  dei  mes  de  Au    gusto.  Afio  de  mil  y  qúi 
fiientos  ij  cinquen  \  ta  y  qm  |  tio. 

|.°,  foi.  ccvnj  numeradas  pela  Frente,  mais  6  pags.  inn.  de  tabla  e 
errata. 


kJl)S  a  LHTI.HAII HA   HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (88) 

\  portada  d  este  livro  é  a  da  l.a  edição  dos  Lusíadas,  por  isso  muitos 

camonistas  o  c prehendem  nas  suas  collecções.  Exemplar  do  Dr.  Carvalho 

Monteiro. 

b)  Primera  parte  dei  libro  de  la  vanidad  dei  mvnflo.  Hecho porei  R.  P.  F. 
Diego  de  Estella,  de  la  orden  de  Sant  Francisco.  (Mesmo  escudo  das  Medita- 
ciones).  Quanto  este  libro  sen  mayor  que  el  passado,  y  la  ventajà  q  haze  ai  de 
hasta  aqui,  m  la  bailia  desta  hoja  la  vera  el  Lector.  Con  licencia  y  aprobacion 
dei  Consejo  general  de  la  saneia  Inquisicion  1576.—  No  fim:  Fve  impresso  en 
la  oficina  de  António  Ribéro  1576. 

1  vol.  s.°,  ^  lis.  prel.  inn.,  246  fls.  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

A  «Licença  &  approuação  do  Conselho  geral  da  santa  Inquisição»  é  do 
Ih '  seguinte: 

«Vi  as  três  partes  do  libro  intitulado  Vanidad  dei  mundo,  por  mandado 
do  conselho  geral  da  saneia  Inquisição,  cõposto  por  o  padre  frey  Diogo  de' 
Estella.  Cuja  doctrina  me  parece  christaã,  &  pia  &  de  muyta  deuaçâo,  confir- 
mada com  muyta  lição  dos  Sãctos,  &  authoridades  da  sancta  Scriptura,  por 
onde  julgo  será  proueytosa  para  os  bõs  costumes,  &  digna  de  se  imprimir. 
En  fe  do  qual  assiney  aquy  a  xxv  Doutubro  l.'i7.ri. 

«Frei  Bartholomeu  Ferreira». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

A  declaração  que  tem  no  verso  do  frontispício  é  como  segue : 

«El  impresor  ai  Lector.  Al  libro  que  solia  andar  hasta  aqui  de  este  titulo, 
auadio  tanto  el  autor  dei,  que  teniendo  antes  cada  parte  dei  passado  quarenta 
capítulos  pequenos,  tiene  agora  cada  parte  de  las  três  deste  libro  cien  capítu- 
los giandes:  por  auer  acrecentado  los  capítulos  dei  primero,  y  aíiadir  a  cada 
parte  sesenta  capitulos  de  nueuo:  y  assi  a  causa  de  su  grandeza  va  en  três 
volumines  differentes  distlncto,  Y  no  solo  ha  crecido  mucho  en  quantidad, 
siendo  este  de  agora  casi  quatro  talo  mayor  que  el  passado:  pêro  aun  tam- 
bien  e'n  qualidad,  por  ser  el  presente  tan  lleno  de  escriptura  y  copioso  en 
sentencias,  q  haza  grandíssima  ventaja  ai  de  hasta  aqui,  y  tanta  que  es  otro». 

A  segunda  e  terceira  parte  foram  impressas  no  mesmo  anno  e  na  mesma 
ollicina  typographiea.  A  segunda  tem  249  fls.  numeradas  pela  frente;  a  ter- 
ceira tem  252.  No  final  da  terceira  parte  lê-se:  Fveron  impressas  estas  três 
parles  dei  libro  de  la  Vanidad  dei  mando  m  Lisboa  en  la  oficina  de  \titonio  Ri- 
béro. 1676. 

Parece  que  terá  havido  alguma  edição  anterior. 

c)  Primera  parle  dei  libro  de  la  Vanidad  dei  Mundo.  Hecho  por  cl  H.  P.  F. 
Diei/o  de  Estella.  de  la  Orden  de  Sant  Francisco.  (Laminasinha).  Con  licencia 


(89)  A   LITTERATURA   HKSPAMIOLA   EM   l'ORTUGAI  260 

dei  supremo  Çonsejo  dr  In  sancta  y  General  Inquisicion,  /»'/■  Manuel  de  Lyra. 
Armo  de  MDLXXXIIII. 

1  vol.  8.°,  •_'  lis.  inii.,  273  lis.  numeradas  pela  frente. 

A  approvação  é  ainda  de  Fr.  Barlliolomeu  Ferreira.  DiJTere  todavia  um 
pouco  da  anterior.  Eii-a: 

«Por  mandado  do  [Ilustríssimo  &  Reuerendissimo  Senor  Arcebispo  de 
Lisboa,  Inquisidor  Geeral  destes  Regnos,  examiney  o  liuro  chamado  Vanidad 
dei  mundo,  &  me  pareceo  a  doctrina  delle,  sãa  &  proueitosa,  onde  não  ha 
cousa  contra  nossa  sancta  fee,  nõ  cõtra  os  bõs  costumes,  &  será  muyto  grande 
seruiço  Deos  (sic)  imprimirse. 

«Frey  Bartholomeu  Ferreyra». 

A  segunda  e  terceira  parte  são  impressas  pelo  mesmo  impressor  e  no 
mesmo  anno. 

Ao  vol.  ih  anda  annexo: 

Tabvla  rcrvm  omnivm,  quae  continenlur  in  iribus  libris  H.  /'.  /•'.  Didaci 
Stellae,  Ordinis  Minoram,  de  Vaniiale  seadi,  Euãgelijs  Dominicarum  todas 
anui.  &,  Sanctorum  accõmodata.  Excudebal  Emmanuel  de  Lyra  Typographus. 
Cum  facultate  Supremi  Consilii  Generalis  ínquisilionis.  Anno,  ÍÕ83. 

8.     [32  pags.  numeradas  pela  frente. 

d  i  Meditaciones  devotíssimas  dei  amor  de  Dios.  Hechas  por  el  li.  /'.  /•'. 
Diego  de  Estella,  de  la  Orden  de  Sanl  Francisco.  [Escudo  representando  uma 
palmeira,  tendo  de  um  lado  o  Douro  e  do  outro  o  Minho  (vem  em  Salva)]. 
Impressas  con  licencia  y  approbacion.  1Õ78. —  No  fim :  Fveron  impressas  estas 
Meditaciones  dei  amor  de  lhos,  en  Lixboa,  por    intonio  Ribero.  1678. 

I  vol.  8.°,  291  lis.  numeradas  pela  frente,  arrua  5  inn.  de  Tabla. 

\  approvação,  «p.1  os  Reynos  j  Senorios  de  Portugal»,  é  de  Fr.  Bar- 
tholomeu Ferreira  e  do  II r  seguinte : 

«Vi  estas  Meditações  do  Amor  de  Deos  por  mandado  do  supremo  Conse 
lli<>  da  sancta  &  geral  Inquisição,  &  me  parecem  catholicas  &  denotas,  & 
dignas  de  se  imprimirem 

d  escudo  é  o  nu1. sino  que  vem  ua  Felicíssima  Victoria,  de  Jeronymo  Corte 
Real,  e  que  Salva  transcreve  no  vol.  i,  pag.  210. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Sacional  de  Lisboa. 

d  iíappa  de  Portugal  considera  Diego  de  Estella  porluguez. 

lia  uma  edição  de  Salamanca  de   1576. 

Na  approvação  diz-se  que  Diego  de  Estella  era  «predicador  doctis  imo 
dei  convento  de  S.  Francisco  de  Salamanca». 

Alliulr  aos  «Libros  de  la  Vanidad  dei  mundo»  e  á  «la  obra  grande  que 
compuso  sobre  el  Euangelio  de  Sanl  Lucas». 


^>7<»  A  i.i  I  ll.iiAM  RA  HESPANHOLA  EM  PORTl  GAL  (90) 

Av  Meditaciones  foram  vendidas  por  HO  réis  no  leilão  Gastello  Melhor. 
A  nina  sobre  S.  Lucas,  em  Latim,  foi  vendida  no  mesmo  leilão  por  190  réis. 
É  de  Salamanca,  1575.  Vide  n.os  1:107  e  1:108. 

Everardo •>  (Padre). — Copia  de  vna  Consvlta  qvefuzo  elsenor  Inqvisidor 
general  confessor  de  la  Magestad  Catholica  de  la  tteyna  de  Espana.  Respon- 
dendo a  una  Caria  que  escrevia  a  S.  Magestad  el  senor  D.  luan  de  Áustria. 
de  la  Villa  de  Consuegra,  en  21  de  Ociubre  de  este  afio,  salisfatiendo  a  los  car- 
gos que  le  kaze  en  eito.— No  fim:  Em  Lisboa.  Com  Iodas  as  lio  uras  necessa 
rias.  Na  Officina  de  Domingos  Carneiro  669. 

1  vol.,  i.°,  -'•  pags. 

Exemplar  de  Luiz  António. 

Fajardo  (L.  de  Figueiroa).— Arte  de  computo  ecclesiasiico. 
Coimbra  1604,  4." 
N.°  ""21  de  [nnocencio. 

Fernandez  (Gabriel). — Comedia  famosa  ai  Capitan  de  Pamplona. 

Lisboa,  por  João  Galvão,  1682. 

Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  secção  de  litteratura,  H,  H,  5,  39. 

Fernandez  (Iuan).—  a)  Ad  loannem  Tertivm  inuictissimum  Põrtugallia,  é 
Algarbiorum  regem  Africum,  Arabicum,  Persicum,  Indicum  principem  piissi- 
uium.  Duae  Iohannis  Fernandi  Rhetoris  Conimbricensis  orationes.  Aã  Princi- 
pem Lvdovicvm  De  Celebritate  Academiae  Conimbri<xn.  Oiratio  funebris  habita 
in  funere  inclyli  Eduardi  Filij  D.  N.  li.  Conimbricae  M.D.XLYIII. 

8.°,  36  íls.  sem  numerarão. 

A  segunda  oração  tem  frontispício  aparte: 

Oratio  funebris  qvam  in  fonere  inclyti  Eduardi  F.  D.  N.  II.  habuit  lona- 
nes  Fernandus  Rhetor  Conimbricensis.  Apud  inclytam  Conimbricam. 

Alguns  trechos  em  caracteres  gregos.  Exemplar  solfado  da  Bibliotheca 
Nacional  de  Lisboa  (historia).  Ribeiro  dos  Santos  (Memórias  de  Litteratura, 
t.  viu   pag.  87)  descreve  esta  obra,  attribuindo  ao  mesmo  auctor  a  seguinte: 

b)  CoUoquios  de  Erasmo.  Coimbra  1650.  Dedicados  a  D.  João  III  e  ao 
Cardeal  Infante  par  João  Fernandes,  de  Sevilha.  (Idem,  pag.  88). 

Pedro  de  Mariz,  referindo-se  aos  mestres  que  D.  João  III  mandara  vir  para 
ensinar  na  Universidade  de  Coimbra,  escreve  a  respeito  de  João  Fernandes: 

«E  o  mestre  João  Fernãdes,  que  tendo  ensinado  Rhelorica  nas  duas  Vni- 
uersidades  Salamanca  e  Alcalaa,  nesta  também  fez  o  mesmo  com  muyta  satis- 


(91)  A  UTTERATURA  «ESPANHOLA   i:m  PORTUGA]  27  I 

façSo  a  applanso:  porque  foi  perfeyto  orador,  e  muy  douto  nas  sciencias  & 
línguas:  A-  taõ  geral  rui  todas,  que  raramente  se  acharia  seu  igual  em  ne 
nluia  vniuersidade  do  Mundo».    Diálogos  de  varia  historia,  11.  222  v.), 

\  cidade  de  Coimbra  parece  que  nau  estava  satisfeita  com  os  estudos 
universitários  que  l».  João  III  para  alli  transferira,  e  insultava  sobretudo  ns 
professores  estrangeiros.  Talvez  fossem  quem  sabe!  —  rivalidades  suscita- 
das pelos  antigos  estudos  monásticos  alli  existentes,  por  ventura  por  Santa 
Cru/..  No  conselho  universitário  de  li  de  agosto  de  1548  queixou  se  Mestre 
João  Fernandes  dos  graves  insultos  que  recebera  da  gente  da  cidade,  que  não 
duvidava  do  atacar  a  própria  pessoa  doirei,  dizendo  que  Meus  lhe  perdoasse 

por  ler  trazido  taes  homens  á  terra.  João  Fernandes  strou-se  profunda 

mente  resentido  o  magoado,  negando-se  a  principio  a  repetir  os  nomes  insul- 
tuosos, que  contra  elle  haviam  proferido,  tão  afrontosos  e  vis  os  considerava. 
Por  ultimo,  sempre  se  resolveu  a  revidar  algumas  d'essas  phrases,  como  cas- 
telhano, judeu  avenedico. 

Este  já  não  era  o  primeiro  caso.  Segundo  a  acta,  outro  idêntico  se  dera 
com  Matlieo  de  Aranda.  que  por  isso  morreu  de  pura  paixão. 

Veja-se  Matheo  de  Aranda. 

Noticias  carias  da  Universidade  de  Coimbra,  extra hidas  dos  livros  dos 
conselhos  (1546  a  1548).  Artigos  publicados  por  Gabriel  Pereira  na  Aurora 
do  Caiado,  n.°  697  e  seguintes. 

Barbosa  Machado  considera  Fernandes  como  portuguez,  o  que  é  inexacto. 
.No  artigo  relativo  a  João  Rodrigues  de  Sá  diz  que  Fernaudes  impugnara  um 
parecer  de  Sá,  em  que  sustentava  que  certa  arvore  eia  um  plátano. 

Barbosa  cita  uma  provisão  de  1).  João  111,  de  10  de  setembro  de  1539, 
para  João  Fernandes  ser  examinador  de  grammatica,  e  outra,  de  \  de  maio 
de  1542,  para  mestre  de  rhetorica. 

No  catalogo  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (litteratura)  está  0  verbete 
relativo  a  uma  Ars  rhetorica,  de  João  Fernandes,  mas  a  obra  não  apparece. 

c)  Ad  Serenissimum  Lusitânia!  Prinàpem  loannem  Filiam   D.  N.  Regis 
loannis  III  jam  feliciter.  Regem  designatum  Elemento  Grammatices  rum  adno- 
tationibus  ia  eadem  per  loannem  Fernandum  Hispalensem  Rhetorem  Regum  ia 
inclyta  Conimbrice. 
'  8.°,  155(?). 

Vide  Tbeopbilo  Braga,  Historia  da  Universidade,  I.  i.  pag.  584. 

Fernanclez  de  Soto  (Bodrigo).  Relacion,  y  verdadero  romance,  en  que  se 
declaran  roa  individualidad  los  Reales  desposorios,  </»<'  ia  la  Corte  de  Lisboa 

se  çelebraron  roa  los  Sereníssimos  Senores  Príncipes  de  las  Astúrias,  y  Brasi- 


272  A  LITTERATURA  «ESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (92) 


les,  con  las  Sereníssimas  Sefíoras  Infantas  de  Espafía  y  Portugal,  y  de  las 
sokmnes  festas,  q  por  ires  dias  se  celebraron  cu  obsequio  de  las  Reates  Núpcias. 
Cõpuesto  i>/>r  Rodrigo  Fernandez  de  Soto,  este  presente  afio  de  1728. 

Este  tilulo  por  baixo  de  uma  gravura  tosca;  anuas  reaes  portuguezas. 
Segue  logo  o  romance. 

No  fim:  Lisboa  Occidental.  Na  Officina.  de  Miguel  Rodrigues.  Com  todas  as 
licenças  necessárias. 

i.°,  'i  pags.  inn. 

Fiesco  (.1.  ■!.)• — Suefío  dei  católico  politico.  Dirigido  ai  seMr  I).  Luis  de 
Portugal,  emule  de  Vimioso. 
Lisboa  1629,  18.° 
N.°  "os  do  catalogo  de  Innocencio. 

Figueroa  (Francisco  de). — a)  Por  baixo  de  Ires  gravuras,  sendo  a  do 
centro  um  pagem  e  as  dós  lados  Nossa  Senhora  e  o  Calvário,  lé  se  o  seguinte 
titulo  em  gothico:  Aqui  se  contienen  dos  nolables  y  graciosos  Romances  nobre 
dos  marauillosos  milagros,  que  sucedierõ  nu  este  afio.  De  MDLXXVI.  El  pri- 
mero  em  la  ciudad  de  Auifíon  en  Frãcia,  com  hum  hijo  de  vna  Muda.  y  vn 
judio  Y  el  segundo  em  Alemafia  la  alta,  cõ  vn  Sacerdote,  que  desseaua  Der  a 
Jesu  Christo  enforma  de  nino.  y  assi  permitia  nuestro  sefior  mostrarsele  vn  dia 
diziendo  missa.  Co»  dos  glosas  o  dos  vilancicos.  Cõpuesfos  por  Francisco  d'  Fi- 
gueroa. priuado  dela  vista,  vezino  de  Murcia. 

Por  cima  das  gravuras  tem  as  licenças,  parte  em  gothico,  parte  em  re- 
dondo, pela  seguinte  forma: 

«Licenças  dos  Illustrissimos,  &  reueròdissimos  senhores  do  supremo  cõse- 
Iho  da  santa  &  geral  Inquisição. 

«Podem  se  imprimir  vista  a  informação,  cõforme  a  ella  &  cõ  as  declara- 
ções que  se  apontam,  ôv  liiis  dos  nouamõle  impressos  tornarão  a  esta  mesa 
cõ  os  originaes  pêra  ver  se  concordam,  A  este  despacho  se  imprimira  no 
principio  das  ditas  Obras,  as  quaes  nam  correrão  antes  de-  se  confferirem  em 
Lixboa  a  xxn  de  Setêbro  de  1578.  Paulo  Affouso.  Dõ  miguei  de  Castro.  An- 
tónio Telles». 

4.°,  4  fólios  sem  paginação,  ao  verso  do  ultimo  uma  gravura. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Será  este  Francisco  de  Figueroa  o  Francisco  Gonzalez  de  Figueroa,  de 
que  dá  noticia  Salva  sob  o  n.°  49? 

b)  Obras  de  Francisco  de  Figueroa,  Laureado  Pindaro  hespafíol.  Publica- 
das por  el  Licenciada  Luis  Tribaldos  de  Toledo,  cronista  mayor  dei  Rey  nuestro 


(93)  A  L1TTERATUKA  HESPANHOJ  \  I.M   PORTUGA]  273 

sefíor  por  las  índias,  bibliotecário  dei  conde  de  Olivares,  Duque  y  gran  cancil- 
ler  &c.  Dedicadas  a  Don  Vicente  Svguera,  referendário  de  ambas  signaluras  de 
su  Santidad,  dei  Consejo  de  las  dos  Wagestades,  Cesárea  y  Católica,  gentilliom- 
bre  de  la  camará  dei  Sereníssimo  irchiduque  de  Áustria,  íseopoldo.  Con  todas 
las  licencias  necesarias.  Lisboa,  por  Pedro  Craesbeeck,  impressor  dei  li>!/  nues- 
tro  sefíor.  ano  1625.  \  costa  de  intonio  Luis,  Mercader. 

8.  ,  sem  paginação. 

No  catalogo  do  leilão  de  Conde  annuncia  se  outra  edição  do  mesmo  im- 
pressor, de  1626.  Vide  Salva. 

No  leilão  de  Innocencio  (n  '  720  foi  vendido  um  exemplar  por  20560  réis. 

O  exemplar  do  Marquez  de  Gastello  Melhor  parece  ser  de  1626.  Des- 
cripto  suecintamente.  Vide  q.°  3:746. 

Fimia  (Gomes  de  Santo).  «Psallerio  de  David  en  Lenguage  Castellano, 
impresso  con  licencia  y  mandado  DelRey  nuestro  Senhor  con  privilegio  de  su 
Alteza.  Tem  no  frontispício  por  cima  do  titulo  de  hum  lado  as  vrmas  Reaes 
de  Portugal,  e  do  outro  a  Esfera:  e  ao  fim  do  Titulo  por  baixo  uma  Cruz 
pequena;  uo  reverso  vem  o  privilegio  datado  de  três  de  Setembro  de  1529; 
na  segunda  folha  a  Dedicatória  ao  Rei.  Segue-se  o  Reportório  dos  Psalmos,  e 
depois  òs  trez  Prólogos  de  S.  Jeronymo;  logo  o  Livro  dos  Hymnos,  Psalmos, 
e  Solilóquios,  em  que  se  seguio  a  urdem  de  Santo  Athanazio,  e  a  interpretação 
de  Angelo  Policiano.  L)o  Privilegio  e  Dedicatória  se  vê,  que  Gomes  de  Santo 
Fimia,  Castelhano,  fez  imprimir  esta  obra  por  licença  que  para  isso  houve  d'El- 
Rei.  Na  primeira  folha  tem  por  letra  de  mão  esta  nota  Lisboa  1529.  Anonymo; 
foi  mandado  imprimir  por  EIRey  de  Portugal.  Comtudo  do  mesmo  privilegio, 
e  dedicatória  parece,  que  o  seu  toithor  fui  o  mesmo  Gomes  de  Santo  Fimia. 
lie  obra  raríssima,  de  que  só  vimes  um  exemplar  na  Livraria  de  Enxobregas». 

Transcrevemos  esta  descripção  ipsis  verbis  da  Memoria  sobre  a  Historia 
da  Typographia  Portugueza  do  século  XVI,  por  António  Ribeiro  dos  Santos, 
no  tomo  viu  das  Memorias  de  Litteralura  da   \cademia  (pags.  99  e  IO0). 

Brunei  cita  uma  edição  de  Lisboa  de  1529.  Foi  em  Ribeiro  dos  Santos 
que  elle  colheu  por  ventura  a  noticia. 

Veja-se  a  nota  intitulada  A  livraria  do  prior  do  Crato  em  l'ans.  ao 
tomo  vi  da  Lisboa  Antiga,  de  Júlio  de  Castilho. 

Em  \±  de  janeiro  de  1493  escreveu  el-rei  á  camará  de  Lisboa,  pedindo- 
lhe  que  concedesse  carta  de  naturalização  a  Santo  Fimia. 

Talvez  seja  o  mesmo.  Vide  Archivo  Municipal  de  Lisboa,  tomo  i,  pag.  364. 

Flegetonte  (El  capitan)-  La  Crysélia  ãe  Lidaceti,  famosa  ti  verdadera 
historia  de  vários  acontecimientos  de  amor  y  anuas.  Con  graciozas  digressio- 


27'l  \  UTTEBATORA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (94) 

nes  de  encantamienlos,  y  colóquios  pastor iles.  Del  capiían  Flegeionle  Cómico 
Inflamado.  Com  licença,  em  Lisboa,  por  Pedro  Craesbeeck,  1621. 

s,"  pequeno,  de  viu-312  pags. 

Salva  (18U-I812)  descreve  .a  primeira  edição  (Paris  1609)  e  outra  de 
Madrid,  por  Padilla,  1720.  Na  advertência  d'esta  ultima  se  diz  que  é  a  ter- 
ceira edição,  salva,  no  entanto,  pergunta  pela  segunda.  É  provável,  porém, 
que  seja  a  de  Lisboa,  que  elle  desconheceu. 

Vide  Catalogo  de  Manuel  Francisco  Pereira  de  Sousa,  n.°  588. 

Florencia  (Geronymo  de). —  Sermon  qve  predico  a  la  magestad  catholica 
dei  rey  don  Filipe  llll.  A.  S.  el  padre  Geronymo  de  Florencia,  religioso  de  la 
Compartia  de  íesns,  Predicador  de  su  Magestad,  y  Cõfessor  de  stis  Altezas  los 
Sereníssimos  Infantes  D.  Carlos,  y  I).  Fernando  Cardinal,  y  Arçobispo  de  To- 
ledo, en  las  Honras  que  su  Magestad  hizo  dei  Rey  Felipe  111  su  padre  ij  N.  S. 
que  Dios  lime,  en  San  Geronymo  el  Heal  de  Madrid,  a  4  de  Mayo  de  1621. 
Dirigido  ai  Rey  nuestro  Sefior.  Ano  1621.  Impresso  en  Lisboa.  Com  todas  as 
licenças  necessárias  por  João  Rodriguez. 

i.",  'ii  lis.  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa. 

Flores  (Pedro). —  Ramillete  de  Flores.  Oraria,  quinta  y  sexta  parte  de 
Flor  de  Romances  nueuos,  nunca  hasta  agora  impressos,  llamado,  Ramillete  de 
Flores:  De  muchos,  granes,  y  diuersos  Autores.  Recopilado  no  cõ poço  trauajo: 
por  Pedro  Flores  Librero:  Y  a  su  costa  impresso.  Y  demas  desto  va  ai  cabo  la 
tercera  parte  de  el  Araucana,  en  nueue  Romances,  excepto  la  enlrada  de  este 
Reyno  de  Portugal,  que  por  ser  tau  notória  a  lodos  tio  se  pone.  Con  licencia  y 
Priuilegio.  En  Lisboa.  Por  António  Aluarez  Impressor.  Ano  de  15.93.  Vendese 
eu  casa  de  el  mismo  Flores,  ai  Pelorinho  Velho. 

1  vol.  12.°,  13  lis.  piei.  iim.,  444  numeradas  pela  frente.  As  innume- 
radas  conteem:  licenças,  prologo,  poesias  a  Pedro  Flores  e  um  romance 
seu  em  resposta.  A  quinta  e  sexta  parte  tem  frontispício  especial,  mas  a 
numeração  continua.  A  Approuação  de  Fr.  Bartholameu  Ferreira  é  do  theor 
seguinte : 

«Vi  por  mandado  de  sua  Alteza  estes  Romances  de  diuersos  Autores 
catholicos,  colligidos  por  Pedro  Flores,  &  tirado  o  que  vay,  não  tem  cousa 
contra  nossa  Sancta  Fé,  e  bõs  costumes:  A-  os  mais  forão  ja  impressos, 
&  aprouados:  Parece  que  não  tem  cousa  por  que  se  não  deuão  de  impri- 
mir». 

Pela  approvaçào  e  por  outras  referencias  se  vê  que  Pedro  flores  leria 
sem  duvida  colligido  e  publicado  também  as  três  partes  anteriores.  Não  se 


(95)  A  LITTERATDRA  HESPANHOLA  l.M  PORTUGAL  27í 


conhecem  todavia.  A  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  só  possue  o  exemplar 
acima  descripto.  Salva  menciona  também  esta  edição,  transcrevendo  a  des- 
cripção  de  Duran.  Ahi  se  descrevem  mais  edições  hespanholas  de  Pedro  Fio 
res.  Veja  se  Catalogo  de  Salva,  tomo  i,  pags.  159  e  160. 

Fonseca  (Christoval  de).-  a)  Tratado  dei  amor  de  Dios.  Compuesto  poi 
il  Padre  Mestre  Frey  Chrísloual  ih'  Fonseca,  rfi  la  Orden  de  San/  Augustin. 
Van  de  nueuo  aRadidas  en  esta  impression  três  copiossissimas  Tablas,  ele. 
(Gravurinha  representando  Christo  crucificado  entre  as  santas  mulheres). 
Em  Lisboa.  Impresso  cu  licêeia  da  Sãcta  Inquisicion.  Por  Pedro  Crasbeeck. 
Afio  Í603. 

I  vol.  8.°,  7  lis.  prel.  inn.,  339  (Is.  numeradas  pela  frente.  Tem  no  fim, 
sem  paginação,  em  68  lis.: 

dabla  alphabetica,  qve  resvelve  lo  qve  principalmente  se  trata  en  esto 
libro  dei  Amor  de  Dios,  dei  Padre  Vlaeslro  Cristoual  de  Fonseca.  Con  otras 
dos  Tablas  de  Scriptura.  Hecha  por  el  Padre  Fray  Domingo  de  los  Revés, 
Predicador  dei  Gonnento  de  Sancti  Spiritus,  de  la  Orden  de  Sant  Domingo 
de  A  ia  nda». 

Exemplar  de  Coelho. 

Pela  licença  (16  de  maio  de  1602),  assignada  por  Fr.  Manuel  Coelho  se 
vê  que  o  livro  já  linha  sido  impresso  em  Lisboa.  Effectivamente  no  catalogo 
Ferrão  (n.°  170)  vem  descripta  nina  edição  de  l*i98,  por  António  Alvares. 

b)  Vida  de  Christo  Sefíor  Nuestro. 
Lisboa  1600-1603,  2  vol.  4.° 

N.°  1:456  do  catalogo  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

c)  Primera  parle  de  la  Vida  de  Christo  seRor  nveslro.  Compuesta  par  el 
Padre  Maestro  Fray  Christoual  de  Fonseca  dt  la  Orden  dei  glorioso  Padre  Sun 
Augustin.  Van  emendados  en  esta  impression  algunos  descuidos  de  la  primera, 
ii  anadidas  cosas  de  mucha  importância.  (Figura  oval,  representando  o  busto 
de  Christo).  En  Lisboa.  Impresso  con  licencia  de  la  Saneia  Inquisicion,  y  Or- 
dinário. Por  António  Aluarez.  Anno  de  1600.   t  costa  de  los  erederos  de  Simon 

Lu/ir:. 

I  vol.  folio  pequeno,  a  2  col.,  3  ds.  prel.  inn.,  .'dl  numeradas  pela 
frente,  afora  Index.  Na  ultima  pagina  estampa  grande  oval,  representando  a 
Mater  dolorosa. 

Frontispício  a  preto  e  encarnado. 

Será  portuguez?  \s  licenças  em  hespanhoL 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


276  A  LITTERÀTURA  HÉSPANHOLA  EM  PORTUGAL  (96) 


Gallego  (Iuan  Nicario).-   El  dia  dos  de  Mayo,  Elegia. 
Lisboa,  1809,  8  pags.  * 

N.°  1:659  do  catálogo  de  Kart  W.  Hiersemann  (Bibliotheca  Hispano-Por- 
lugueza),  Leipzig  1889. 

Gallo  (António).  Regimiento  militar,  qve  (raia  de  como  los  saldados  se 
li, unir  gouernar,  obedecer,  y  guardai  las  ordenes,  y  como  los  oficiales  los  han 
de  gouernar.  Compvesto  por  el  sargento  mayor  António  Gallo,  Cauallero  pro- 
fesso de  la  Orden  de  Christo.  (Armas  reaes  portuguezas).  Con  todas  las  licen- 
cias necessárias  En  Lisboa.  Por  Pablo  Craesbeeck.  Impressor,  &  Liurero  de 
las  ires  Ordenes  Militares. 

I  vol.  4.°,  sem  data,  3  fls.  prel.  inn..  78  fls.  numeradas  pela  frente, 
I  (1.  desdobrável.  A  taxa  do  livro  é  de  3  de  dezembro  de  1044.  A  dedicató- 
ria é  a  el-rei.  Principia:  «Por  más  de  treinta  e  ocho  anos  he  seruido  en 
este  Reyno  de  Portugal  en  la  milícia,  etc».  No  verso  da  fl.  24  trata  de  um 
caso  militai-,  quando  commandava  junto  de  Elvas  uma  força  de  310  infantes 
e  80  cavallos,  em  frente  do  inimigo. 

Duvidamos  se  será  liespanhol.  Se  o  era,  ficou  ao  serviço  de  Portugal. 

Exemplar  do  .Museu  Britânico. 

No  Portugal  Restaurado,  livro  4.",  pag.  215,  vem  narrado  o  episodio  da 
sortida  de  Elvas. 

Galvez  de  Montalvo  (Luis). — El  Pastor  de  Philida.  Compuesto  por  Lúys 
Galuez  de  Monlaluo  Gentilhombre  cortesano.  (Gravura:  homem  tocando  gaita 
de  folies  deante  de  uma  arvore).  Dirigido  ai  mvy  Illustre  senor  don  Henrique 
de  Mendoça  y  Aragon.  Impresso  en  Lisboa  por  Belchior  Rodrigues  con' licencia 
de,  los  senhores  Inquisidores,  aím  de  1589. 

8.°,  248  fls.  numeradas  pela  frente. 

Antes  de  começar  a  obra,  sonetos  de  Don  Lorenço  Soarez  de  Mendoça, 
IhVgn  de  Lasarte,  Pedro  de  Mendoça,  D.  Francisco  de  Mendoça,  Doctor  Cam- 
param*. Gregório  de  Godoy,  e  dedicatória  do  auctor  a  don  Enrique  de  Men- 
doça y  Aragon.  No  verso  do  folio  final  um  soneto  ai  libro,  de  su  autor. 

Não  publica  a  approvação  inquisitória]  nem  as  licenças. 

Exemplares  de  Jeronymo  Ferreira  das  Neves  e  Bibliotheca  Nacional  de 
Lisboa. 

Garau  (Fr.  Francisco). — El  sábio  instruída  de  la  Naturaleza  en  quarenta 

ma. notas  politicas  c  morales. 
Lisboa,  1087,  2  tomos. 
N."  470  do  catalogo  de  Cruz  Coutinho.  Vide  também  n.°  515. 


97  A  L1TTEBAT0RA  HESPANHOl  \   EM  PORTUGAL  '277 

Garcez  y  Gralla  <l>.  Gabriel).  O  aome  de  D.  Gabriel  Garcez  3  Gralla 
nãc  se  acha  iascripto  Deni  no  Ensayo  de  una  biblioteca,  de  Gallarda,  nem  no 
di  Salva,  nem  tão  pouco  no  Catalogo  bibliográfico  e  biográfico  dei 
teatro  antiguo  espafíol,  de  Barrera  j  Leirado,  onde  devera  figurar,  por  ler 
composto,  segundo  dizem,  algumas  comedias.  Sabemos  da  sua  existência 
por  dois  livros  publicados  cm  Lisboa  e  de  que  abaixo  apresentamos  ;i  des 
cripção.  Tanto  n'um  como  n'outro  se  dá  como  natural  da  Calalunha,  capi- 
tã  :avalleiro.  Segundo  o  Dr.  André  .Nunes  da  Silva,  illustrou  com  ;i  In/. 

do  seu  engenho  o  velho ivo  mundo,  a  Europa  e  a  America.  Ignoramos 

o  motivo  que  i'  trouxe  a  Lisboa,  e  se  teria  aqui  alguma  occupação,  alem  da 
litteraria,  que  decerto  lhe  grangeou  o  patrocínio  de  alguns  fidalgos,  sobre 
tudo  «li1  D.  João  de  Sousa  da  Silveira,  a  quem  dedicou  a  obra  que  passamos 
a  descrever: 

a)  Vénus  y  Adónis  Fabula  trágica  |  que  dedica  n  Dm,  hum  de  Sosa  | 
•  h  Silveira  |  el  capitan  '  ii<>n  Gabriel  Garcez  //  Gralla  Cavalleiro  Catalan. 
(Escudo  de  armas  gravado  era  cobre  com  a  assignatura  f.  Manuel  de  Almeida). 
Lisboa.  En  !<i  officina  'li'  Henrique  Valente  de  Oliveira.  Afio  Í6Õ6. 

'1.".  ií  fls.  piri.  hm.,  incluindo  o  frontispício,  23  pags. 

Na.  preliminares:  »  \  quien  leyere;  Poesias  dedicadas  ao  auctor;  Licen- 
ças; Dedicatória  (em  cinco  oitavas)  ai  senor  Don  .Ivan  de  Sosa  da  Sylueira, 
Alcayde  mayor  de  la  villa  dr  Tomar,  Comendador  dr  la  Orden  de  Ghristo, 
de  las  encomiendas  de  Olallas,  y  de  las  Pias,  Veedor  de  la  Casa  de  la  Reyna 
N.  s.  Presidente  dei  Senado  dr  la  Gamara  de  la  Ciudad  de  Lisboa,  General 
que  fue  dei  exercito  de  Trás  los  Montes,  \  gouernador  de  aquella  Prouincia 
por  Su  Magestad  ;  Vrgumento». 

o  poema  é  em  i4  oitavas. 

As  poesias  encomiásticas  ao  auctor  são  as  seguintes: 

D.  1  R.  I'.  D.  Prospero  dos  Martyres,  Cónego  Regular: 

Decima 

Consagre   egundo  aiflor 
\  I-  te  Adónis  elegante 
Vénus,  se  pretende  amante 
\  111   11  de  Marte  o  rigor: 
De  Adónis,  que  agora  Ite  flor 
A  (lôr  este  Uoni3  leua . 
Desli  que  immortal  .1  eleua 
Não  tema,  \  enus  rizonha, 

Nem  boca  que  se  II ponha, 

Piem  dente  que  se  lhe  atreua. 


278  A  L1TTERÀTURA  KESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (M) 


De  D.  Emmanuel  de  Soto  Mayor: 


El  emprender  es  valor, 
Conseguir  felicidad, 

Y  en  todo  con  grauedad 
Tu  caudal  muestra  primor: 
A  li  acuda  por  fauor, 

No  a  la  Castalia  fuente, 
El  que  coronar  su  frente 
De  lauro  immortal  presuma. 
Que  es  oráculo  tu  pluma 
D.-  Aprtlo  más  eloipienle. 

Seguem-se  dez  anagrammas  e  duas  decimas  de  Alonso  de  AJcalá  y  Hei 
fera. 

As  decimas  são  as  seguintes: 

Si  de  Garcilaso  aprueua 
La  lyia  y  dulçor  Thalia, 

Y  su  métrica  harmonia 
Hasta  Hippoerene  le  eleua  : 
Vuestro  Adónis  la  reprueua, 
(Solar  Cid)  y  en  el  Parnaso, 
Si  fue,  Sol,  le  dá  el  Occaso, 

Y  haze,  remontado  ai  cielo, 
Angélico  vuestro  buelo, 

Y  el  de  Garcilaso,  laso. 

Si  dei  Marino  el  pincel, 
A  su  Adónis  lan  lasciuo, 
Muerto,  le  retrata  viuo, 

Y  el  se  immortalisa  en  el : 
Más  se  eterniza  (ó  Gabriel) 
Vuestro  Adónis  Peregrino. 

Y  vós  en  el.  por  Diuino, 
Pues  tanto  honesto  excedeis, 

Que  en  norabrê,  5  pluma,  os  liazcis 
Angélico  :  v  el,  Marino. 

Do  muy  Reverendo  Padre  Fr.  N.: 

Redondillas 
Solo  tu  pluma  pudiera 
Dar  a  Adónis  nueva  vida. 
Que  en  sus  rasgos  repetida, 
Más  galan  se  considera. 


99)  A   L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGA!  L27'.l 


Alma  dás,  i  n  bn  ue  suma, 
;  de  su  Historia, 
V  se  lleua 
Ei  aciei 

Los  aplausos  de  Deidad 
Lo  solicita  In  lyra, 
Disfracando  \n.i  mentira 
Con  achaques  de  verdad. 

Solo,  j  Sol  le  a  de  aplaudir 
El  Parnaseo  parecer, 
Por  solo  en  el  merecer, 
Solo  y  solo  i  ii  el  dezir. 

L'm  exemplar  (Testa  obra,  único  de  que  até  agora  tivemos  conhecimento, 
fazia  parte  de  um  volume  de  Miscellanea  (n.°  8:548),  pertencente  á  livraria 
arrematado  por  Jeronymo  Ferreira  das  Neves. 

A  outra  obra,  de  que  nos  vamos  occupar,  foi  certamente  publicada  pos- 
iluima.  mi  em  segunda  edição,  mas,  n'esta  ultima  bipothese,  com  accrescen 
lamentos  posteriores.  Eis  a  .sua  descripção  bibliograpbica : 

b\  Ocupacion  en  el  retiro,  comprehendida  en  In  sylva,  que  en  respuesta 
de  otra,  embia  desde  su  quinta  Cal  uniu  n  Ergasto,  Descrive  Chrislim 
virtuosos  exercícios,  passatiempos  apacibles,  y  entretenimiento  dei  campo.  Per- 
suade communes,  y  generales  enganos  de  varias  opiniones,  que  se  padecen  en 
el  siglo.  Inculca  evidentes  desenganos  para  reformacion  de  In  vida,  y  prepara 
oion  ile  In  muerte.  Compuesta  /»"■  el  capitan  I).  Gabriel  Garcez  y  Gralla,  ca- 
valkro  Caialan,  y  dedicada  ai  senor  Francisco  de  Web,  Comendador  -le  s.  r, 
dro  de  los  Comi*,  //  de  s.  Martin  'le  Pinei,  ambas  en  la  Orden  de  Christo,  y 
Capitem  de  Infantaria.  Por  Francisco  Lm*  Ameno.  Lisboa:  l~.n  la  Inprenta 
ile  António  Isidoro  da  Affonsec.  Afio  de  1/  DCC  XLII.  Con  todas  las  licencias 
necessárias. 

1  vol.  i.",  '■'<■)  tis.  prel.  inn.,  121  pags.  Nas  preliminares  contém  se: 
Al  vulgo,  bien,  ó  mal  intencionado»;  dedicatória,  historico-genealogica, 
em  portuguez,  muito  extensa,  assignada  por  Francisco  Luís  Uneno:  diz  abi 
que  na  casa  Mello  achou  sombra  o  engenho  do  auctor;  Licenças,  algumas  das 
quaes  bastante  desenvolvidas;  Epigramma  latino  de  João  de  Couto  de  An- 
drade; Decima  do  li.  i".  Mestre  F.  V:  Do  M.  R.  P.  o  doutor  André  Nunes  da 
Silva,  em  louvor  do  capitão  I).  Gabriel  Garcez  y  Gralla.  Refere  se  ao  idonis 
do  auctor  e  a  comedias  suas.  Diz  que  elle  foi  sol,  que  não  cabendo  na  Eu 

Hist.  e  Mem.  da  Acad. — Tomo  mi  parte  11.—  .V   5  9 


280  A   I.I TIT.lt A  ITiU  HESPANHOLA   EM  PORTUGAL  {^^) 

ropa,  illuslrou  a  America.  Depois  de  algumas  phrases  muito  encomiásticas, 
remata  com  o  seguinte  soneto: 

Ú  tu  Gabriel,  que  dessa  estancia  inculta 
Descubres  las  traiciones  dei  engafio, 
*i  dei  sábio  ignorado  de 
Inculcas  la  vereda  siompre  occulta. 

(i  quanto  bien  ai  mundo  le  resulta 
Del  alto  buelo  de  tu  pluma  estrano, 
Puès  nos  ensenas  qu  tnto  offi  nde  el  dano, 
Puès  'in-  declaras  quanto  el  bien  abulta. 

Farol  luziente,  tu  escrivir  facundo 
Al  orbe  alumbra,  que  gozoso  admira 
Los  rayos  de  tu  ingeíio  sin  segundo. 

Puòs  en  el  melro  de  tu  dulce  lyra, 
Si  la  verdad  por  li  conoce  el  mundo. 
Por  ti  escarmiente  el  mundo  la  mentira. 

«A  cierto  prelado,  tau  doctO,  como  enrolado,  y  perseguido,  amigo  par- 
ticular dei  Author».  Esta  dedicatória  ou  epistola  é  assim  datada:  «Deste  re- 
tiro, Enerb,  a  8  de  1007  annos». 

Isto  prova  que  a  obra  estava  escripta  setenta  e  cinco  ânuos  antes  de  ser 
impressa. 

Innocencio  Francisco  da  Silva  parece  não  ter  conhecido  esta  obra,  pois 
não  a  menciona  no  seu  Diccionario,  o  que  todavia  não  é  para  estranhar,  sendo 
o  seu  auctor  estrangeiro  e  a  obra  escripta  em  hespanhol.  Poderia,  porém, 
cital-a  indirectamente  nos  artigos  allusivos  ao  doutor  André  Nunes  da  Silva, 
e  a  Francisco  Luis  Ameno. 

Para  se  fazer  uma  leve  ideia  do  merecimento  poético  de  D.  Gabriel,  da- 
remos aqui  o  trecho  inicial  da  sua  Occupacion  en  el  retiro: 


Dividia  el  montante 
De  Ciréo  flamante 
I.a  luz  d"  la-  tinieblas, 
Sombras  hiriendo,  acuchiflando  nieblas 

Galan  Apolo  de  la  bella  Aurora. 

Que  quando  ai  cielo  rle,  "/  campo  llora; 

La  rubicunda  greíia, 
Que  entre  Olimpos,  y  Caucasos  despeCa  ; 


'  1**1  i  A   L1TTERAT0RA   UESPANUUL.A   l.\l   PORTUGAL  JS  I 


iiundo  : 
Quando  de  mi  profundo 

ei in  dcspierlos,  qno  rnorimos, 
Hurlaml 
M''\  i  iun  vivicndo 

d  verso  que  sublinhamos  encontra  se  quasi  textualmente  no  (inal  da  oi- 
tava 'ii  do  canto  i  da  Ulysseia,  \ ma  lieroico  de  Gabriel  Pereira  de  Castro. 

Aqui  transcrevemos  toda  a  estancia,  para  que  o  leitor  possa  fazer  o  con- 
fronto e,  com  Lodo  o  conhecimento  de  causa,  formular  o  seu  juizo: 

Aos    í;    e  !a\  a  Ulysse    i   pi  rando, 
Qn  indo  j  i  de  Laton  i  -  filh  i  ardenle. 
Pi  o    b  ilcõi  ••'li   lurora  pa  seando 
Mo  i:  n  i  .1    i  u  i  luz  i  •  ■•■.  i  gente : 

ili. já  '!    p  irolas  l 

i  Is  i-ainpos,  | [ui   as  portas  do  Oi 

i  indo  aljofai    ahn    i  bel!  i    Lurora 
Que  quando  i 3    •  a    n po    choi 

A  Ulysseia  sahiu  posthuma  á  luz  da  publicidade,  em  Lisboa,  nu  1636, 
quatro  annos  depois  da  morte  do  seu  auctor.  \  segunda  edição,  feita  pelos 
cuidados  de  seu  irmão  Luiz  Pereira  de  Castro,  não  lem  ;i  data  da  impressão, 
mas  calcula  [nnocencio  da  Silva  que  é  dos  annos  de  1642  ou  1643.  N'ella  se 
corrigiu  sensatamente  a  palavra  sbolcões»  do  terceiro  verso  para  «balcões». 

\  chronologia  demonstra  a  evidencia  que  não  foi  Gabriel  Pereira  que 
Garcez  j  Gralla,  mas  mui  este  que  trocou  as  primas  do  seu  appel- 
liilu  pelas  do  pavão,  com  que  pretendeu  enfeitar-se. 

Desta  obra  lia  dois  exemplares  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  um 
dos  quaes  pertenceu  ao  Hospício  Real  de  S.  João  Nepomuceno  dos  Car li- 
lás Descalços,  conforme  se  vê  do  ex-libris  manuscripto:  Ex-libris — Hospitii 
Regii  S.  Joannis  Vepomucenii  Carmel.  Discai. 

Este  convento,  de  religiosos  allemães,  foi  fundado  em  IToT  por  )».  Ma- 
ria Anua  de  Auslria.  malhei'  de  D.  João  V,  e  n'e||e  se  aeha  hoje  estabelecido 
o  Asylo  de  Santa  Catharina.  Veja-se  o  que  diz  João  Baptista  de  Castro,  a 
pag,  396  do  vol.  ih  do  seu  Mappa  de  Portugal. 

Garcia  de  Alexandre  (João  Baptista). —  Cancion  real  ai  altíssimo  misté- 
rio </•  el  l"'  \faria  w  l<>  sacratíssima  incarnacion  de  el  Verbo  Dios  Eterno, 
principio  de  nuestra  feliz  redempcion.  Romance  chãos  de  ri  mundo  en  la  muni, 


282  \  I.ll  TÊRATl  RA  HÉSPANHOLA  I.M  PORTUGAL  (102) 


de  el  Fénix  Christo  seftor  nueslro  y  alegria  universal  en  su  reswreccion.  \  In 
sereníssima  sefíora  princeza  Margarita  de  Saboya,  duqtCeza  de  Mantua,  etc. 
Lisboa,  por  António  Alvarez,  1638. 

'».",  :!í  iim..  22,  l!»  iiin.  pags.,  3  estampas  gravadas,  impressas  em  se- 
parado. 

O  auctor  era  bacharel  pela  Universidade  de  Salamanca.  Exercia  em  Lis- 
boa o  cargo  de  fiscal  do  real  commercio  e  contrabando  nos  reinos  de  Portu- 
gal e  da  Junta  do  embargo  de  bens  dos  francezes.  A  obra  contém  muitas  poe- 
sias laudatorias  dedicadas  ao  auctor,  sendo  grande  numero  d'ellas  escriptas 
pòr  senhoras.  Veja  se  Diccionario  Bibliographico,  tomo  xin,  pag.  301. 

Ha  um  exemplar  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Garcia  de  Santa  Maria  (Mosen  Gonçalo).  Veja-se  o  artigo  de  Innocen- 
cio  da  silva,  e  artigos  de  Salva   n."  3:876)  e  Gaílardo  (n.°  2:312  e  seguintes!. 

Garcilasso  de  la  Vega  (El  Ynca). — a)  La  Florida  dei  Ynca.  Historia  dei 
adelanta-  !  do  Hernando  de  Soto,  Gotíernador  y  capi-  \  tan  general  dei  Reyno 
ih'  la  Florida,  y  de  atros  heróicos  cauãlleros  Espafiotes  ê  Índios;  escrita  por  el 
Ynca  Garcillasso  \  de  la  Vega.  capitai)  de  su  Magestaã,  |  uai  arai  de  la  grau 
ciudad  dei  Coz-  co,  cabeça  de  los  Reynos  y  |  prouihcias  dei  Peru.  \  Dirigida 
aí  sereníssimo  Príncipe,  Duque  de  Bragança,  etc.  ]  Con  licencia  de  In  sancta 
Inquisicion.  \  En  Lisbona.  |  Impresso  por  Pedro  Crasbeeck.  \  Ano  1605.  \  Con 
prhHlegio  Real. 

i.°,  10  pags,  inn.  com  licenças,  dedicatória,  proemio,  3.'>1  fls.  numera- 
das pela  frente,  mais  13  pags.  inn.  de  tabla. 

Edição  princêps. 

In  Commentarios  reates,  que  tratan  dei  origen  de  los  Incas,  reyes  que  fue- 
ron  dei  Peru,  de  su  idolatria,  Ienes  y  govierno  en  paz  y  en  guerra :  de  sus  vi- 
das e  conquistas  y  de  todo  lo  que  fue  aguei  Império  ij  su  republica  antes  que 
los  Èspanoles  pássãroh  a  el.  Lisboa,  afficina  de  Pedro  Crasbeeck,  1609. 

Folio,  com  umas  armas  gravadas. 

Edição  princtps.  ,\T."  1:281  do  catalogo  Ferrão. 

Garro  (Francisco). —  Fràncisci  Garri,  j  Nationi  nacarri:  \  nvnc  in  regia 
capella  olisiponensi  capellani,  et  ih  eadem  mi  \  sices  práefecti  opera  aliqitot:  \ 
Ad  Philippvm  tertivm  hispãniarum  |  Regem,  secundi  Lusitaniae.  |  Nuncpnmum 
ih  lacem  edita.  \  Cum  facultate  sanctae  Inquisiiionis  &  Ordinarii  |  Olisipone.  | 
Ex  o/jicina  Petri  Crasbeeck  Anno  hino. 

Jóáquini  dé  Vasconcellos,  Archito  Artístico,  fase.  3.'\  pag.  ;!í. 


(103)  \  L1TTERATUR.A   HliSPANHOl  \   1M   PORTUfiAI  283 


Gerardo  Lobo  ih.  Eugénio).  Rasgo  épico  de  la  conquista  de  Oran,  que 
ii  la  diversion  de  los  oficiales  de  los  Regimienfos  de  Guardiãs  Espaflolas,  y  Wa- 
lonas,  dedica  el  afecto  de  Qon  Eugénio  Gerardo  1  mo  Compafiero 

sut/Oj  em  170  Octavas.  Lisboa  Occidental,  en  la  imprenta  de  Musica.  Con  las 
licencias  necessárias.  Vendese  en  la  misma  Imprenta. 

Sem  daia.  4.".  36  pags.,  incluindo  o  frontispício. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisl 

Gil  de  Godoy  (Fr.  Juan).     o)  El  mejor  Guzman  N.  P.  S.  Domingo. 

Lisboa  1602,  _'  volumes. 

v    1:092  do  catalogo  de  Cruz  Coutinho. 

In  El  mejor  Guzman  de  los  buenos  Y.  /'.  S.  Domingo,  patriarca  de  los 
predicadores.  Predicado,  y  aplavdido,  por  el  menor  de  sus  hijos.  Fr.  Ivan  Gil 
de  Godoy,  maestro  en  sagrada  theologia:  prrdicador  general  de  la  tinira  de 
predicadores,  y  de  sv  magestad:  prior  que  ftte  dei  Ilustríssimo  Convento  de 
S.  Estevan  de  Salamanca;  Difinidor  dos  vezes,  Vicário  General  de  la  Provin- 
da de  Espafía,  etç. 

Vimos  o  vol.  ii  (enorme  calhamaço)  na  loja  do  livreiro  Rodrigues.  Rota 
a  ultima  parte  do  frontispício,  por  isso  não  vimps  a  data:  não  deve,  porém, 
ser  a  que  está  acima. 

Godinez  (Miguel). — Practica  de  la  Theologia  mystica,  escrita  por  el  M.  li. 
/'.  .1/.  Miguel  Godinez,  de  la  Compafíia  de  Jesus,  Cathedratico  de  Theologia  en 
el  Colégio  de  Sua  Pedro,  y  San  Pablo  de  la  Ciudad  de  México.  0.  D.  y  C.  ai 
excelem,  y  reverend.  sefior  D.  Fr.  .los,'  Mana  de  Fonseca  y  Évora,  etc,  por  el 
I'.  Domingos  Gomes  Santiago.  Lisboa.  En  la  Offlc.  de  Francisco  de  Sylva,  li- 
brero  de  la  Academia  Real  y  Senado.  Afio  de  1741. 

1  vol.  8.°,  16  pags.  prol.  inn.,  í-ii  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Gonçalez  de  Mendoça  (Fraj  Juan).  Itinerário  \  y  compendio  de  las 
rosas  notables  que  asy  desde  Espana  |  hasta  ri  Reyno  'Iria  China,  y  de  la 
Chi  j  naà  Espafía,  boluiendo  por  la  índia  '  Oriental,  despues  de  auer  da-  do 
buelía,  á  cosi  iodo  ri  ;  Mando.  |  Enel  '/rui  se  ti  aio  de  los  ritos,  cerirnoniqs,  y 
costumbres  |  de  lu  gente  que  en  todo  ri  ay,  y  de  la  \  riqueza,  fertilidad,  y  for 
taleza  de  \  muchos  Reynos,  y  lu  descripeion  de  iodos  ellos. 

*  llrr/iu  por  ri  mui/  Reuerêdo  padre  Maestro  fray  luã  \  Gonçalez  de  Men- 
doça de  la  ordm  de  S.  Augustin,  assi  por  to  que  el  ha  visto,  como  por  rela- 
cion  verdadera  \  que  tuuo  dei  padre  Mn  rim  Ignacio  de  Loyala  y  sus  |  compa 


284  \  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (104) 

fieros  religiosos  Descalços  dela  Orden  \  de  sant  Francisco,  que  lo  anduuieron 
todo  el  afio  de  158  í. 

^1  Impresso  em  Lisboa  em  S.  Philippe  ,  el  Real.  Afio  de  MDLXXXVj. 

•i  Con  licença  da  sancta  y  J  Geral  Inquisição. 

1  vol.  8.°,  135  lis.  numeradas  pela  frente,  incluindo  o  frontispício.  Nu 

verso  d'este  :i  tabla,  que  occupa  í  pags.  (xxvn  cap.).  Segue-se  (em  5  pags.): 

\  los  padres  y  hermanos  religiosos  descalços,  delas  Ordenes  dei  Seraphico 

Padre  s.  Francisco,  y  de  nuestra  Senora  dei  Cármen,  fray  Geronymo  Gracian 

de  la  madre  de  Dios,  Carmelita  Descalço.  S.». 

N'esta  carta  se  explicam  os  motivos  da  publicação  do  Itinerário,  como  se 
pode  ver  pelo  seguinte  trecho  inicial: 

«Con  las  nãos  q  llegaron  de  la  índia  a  esta  ciudad  de  Lisboa,  por  fm  de 
Agosto,  deste  ano  de  86.  Rescibi  cartas  de  nuestro  hermano,  el  Padre  fray 
Martin  Ignacio  de  Loyola,  Comissário  dela  ('bina :  enlas  quales  de  mas  dei 
buê  suecesso  de  su  nauegacion,  da  cuêta  dei  grã  frueto  q  se  puede  hazer 
enlas  almas  de  la  Gêlilidad,  y  el  aparejo  q  aora  de  nueuo  ay  para  poder 
meterse  enel  grémio  dela  yglesia,  inumerable  multitud  dllas,  si  viiiesse- minis- 
tros q  acudiessen  ã  su  cõuersiõ:  y  torna  á  èncargarme  lo  que  le  offreci, 
quando  bezimos  nuestro  vinculo  de  bermandad:  que  fue  animar  e  afervorar 
a  Ys.  Rs.  q  se  dispongan  á  tomar  tau  alta  empressa.  Y  para  ponerles  este 
animo,  y  aferuorarles  este  desseo,  me  parecio  hazer  imprimir  en  estos  Reynos 
de  Portugal,  este  Itinerário,  q  el  mesmo  padre  fra\  Martin,  escribio  dei  otro 
viage  que  bizo  antes  deste:  el  qual  hizo  imprimir  en  Madrid,  el  padre  Maes- 
tro, fray  Iuã  Gonçales  de  Mendoça,  dela  Orden  de  S.  Àuguslm,  en  la  tercera 
parte  de  su  libro,  q  trata  delas  grandezas  dela  China,  ahadiendo  algunas 
cosas  de  las  que  el  mesmo  vio». 

Exemplares  de  Vieira  Pinto  e  Nepomuceno. 

Yeja-se  o  artigo  de  Gracian  de  la  Madre  de  Dios  (Fray  Hieronymo). 

Lêr  Salva  a  respeito  de  Gonzales  de  Mendoza,  especialmente  n.°  3:337. 

Ha  um  exemplar  na  Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa. 

Gonçjora  (D.  Luiz  de). —  a)  Obras  de  Dou  Lr  is  de  Gongora.  Primeva 
parle.  Sacadas  a  luz  de  nueuo,  ij  enmendadas  en  esta  vitima  impression, 
Lisboa.  En  la  Oficina  de  Ivan  da  Costa.  Con  todas  las  licencias.  Ano 
MDC.LXVH. 

A  primeira  parte  tem  2  pags.  prel.  inn.,  com  a  dedicatória  subscripta 
por  Joseph  de  Faria  Manuel  a  D.  Anna  Maria  de  Portugal,  dama  da  rainha; 
390  pags.  A  segunda,  425  pags.,  tendo  no  verso  da  ultima  folha  a  licença  e 
a  taxa.  Foram  taxadas  as  obras  de  Gongora,  primeira  e  segunda  parte,-,  em 
200  réis  em  papel. 


(105)  A  LITTERATl  li\   HESPANHOLA  EM   PORTUGAL  285 

Bonita  edição,  typo  mignon.  k  ultima  | sia  da  segunda  parte  è  a  Can- 

cion  (em  exdruxulos)  a  las  Lusíadas  di  Camões,  que  traduxo  de  Portu* 
Castellano  Luis  de  Gomez  de  Tapia. 

Exemplar  de  Jeronj I  ei  reira  das  Neves. 

■    Obras  d*  />.  Lvis  de  Gonyora,  ele.  (Titulo  idêntico  ao  de  cima  . 

Lisboa,  Paulo  Crasbeeck,  1646-1647,  2  vols.  12." 

Edição  mencionada  por  Salva.  Vide  n.°  642  do  respectivo  catalogo. 

Gonzalez  (Thyrso). —  Synopsis  tractatus  Theologici  Ebora;  ea   Typ.  Aca 

*h  mor  1697. 

8.°.  32  pags.  iniL.  243  pags. 
Exemplar  da  Bibliotheca  da  Vjuda. 

Gonzalo  (Árias).-  Memorial  en  defensa  de  las  mogeres  de  Espana,  y  de 
bis  vestidos  y  adornos  de  que  usan.  U  reij  V.  Sor.  D.  Licenciado  Árias  Gon- 
çalo. 1.  C.  Lisboa,  António  Alvarez,  1630. 

\:.  I  11.  de  portada  e  58  fls. 

Obra  curiosa,  diz  Salva,  que  a  descreve  uo  tomo  u,  pag.  785. 

Gracian  (Lorenzo).  a)  El  Discreto  de  Lorenço  Gracian,  qve  pvblica 
I).  Vincencio  hum  de  Lastanosa.  Em  Coimbra.  Cõ  todas  as  liceças  necessárias. 
Na  Officina  de  Thome  Carualho  Impressor  da  Vniuersidade.   \nno  1656. 

1  vol.  16.",  li  pags.  inu..  127  pags. 

No  reverso  da  ultima  pagina  lê-se:  «Em  Coimbra.  Por  Thome  Carualho 
Impressor  da  Vniuersidade,  Anno  1647»! 

b)  Arte  de  Ingenio,  Tratado  de  la  agvdeza.  En  que  se  explican  todos  los 
modos,  y  diferêeias  de  Conceptos.  Por  Lorenço  Gracian.  Dedicado  a  D.  Joam 
da  Costa,  etc.  Em  Lisboa..  Com  todas  as  licenças  necessárias.  Na  Officina  Cras- 
beckiana.  An.  1659.  Por  Simão  Antunes  de  Almeyda. 

i  vol.  8.°,  5  fls.  inn.,  Ill  numeradas  pela  frente.  Nas  primeiras  con- 
tem-se:  licenças;  dedicatória  de  Simão  A.  de  Almeida;  ai  lector.  lia  n'esta 
obra  frequentes  referencias  e  elogios  a  Camões,  de  que  se  transcrevem  trechos. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Oracvlo  Mamai  y  Wte  de  Prvdencia.  Sacada  de  los  Aforismos,  qve  se  dis- 
cvrren  en  las  obras  de  Lorenço  Gracian.  Publicala  D.  \  incendo  Ivan  de  Lastanosa. 
Lisboa.  Can  licencia.  En  la  Officina  de  Henrique  Valente  de  Oliueira.  Afio  1657. 

12.°,  272  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


_'Sli  \  I.ITTKIíAIIHA  HE§PANHOLA  EM  PORTUGAL  (106) 

No  verso  do  frontispício  approvações  e  licenças.  Segue-se  1  foi.  inu.  com 
dedicatória  a  Francisco  de  Britto  Freire,  Comendador  da  Villa  de  Midoens, 
General  da  Armada  da  Costa. 

Nu  lundu  da  ultima  folha  lè-se: 

«1,0  impresso  de  Lorenço  Garcian  en  este  Reyno  eslo  siguiente: 

../•:/  Heroe; 

"W  Discreto; 

t  /•;/  Oritícon.  Primera  parte; 

«El  Criticon.  Segunda  parte». 

il )  El  Criticon;  primem  parte.  En  la  primavera  de  la  nine:  y  en  el  estio 
de  la  juventud.  Sn  autor  Lorenzo  Gracian.  Lisboa  con  iodas  las  licencias  neces- 
sárias. /■'//  In  officina  de  Henrique  Valente  de  Oliveira.  Afio  1656. 

s.",  3  Qs.  prel.  inu.,  280  pags. 

A  approvação  de  Fr.  Adi  ião  Pedro  reza  assim : 

«Por  mandado  do  Conselho  Geral  do  Santo  Officio  vi  este  livro,  cujo 
titulo  he,  El  Criticon,  primeira  parte,  Autor  Lourenço  Gracian,  ja  impresso 
em  Zaragoza ;  não  tem  cousa  contra  nossa  Santa  Fé,  ou  bõs  costumes,  antes 
he  livro  digno  de  andar  nas  mãos  de  todos,  porque  ensina  deleitando,  A-  de- 
b;ix<>  de  bua  metáfora  mostra  o  des*engano  do  mundo  cõ  muita  erudição.  Lis- 
boa no  Convento  da  Santíssima  Trindade  em  8  de  Fevereiro  de  656». 

e)  El  Criticon,  segvnda  parte.  Jviziosa  cortesana  filosofia,  en  el  otono  de 
la  vqronile  edad.  Lisboa,  na  mesma  officina,  AM  1657. 
S.°,  14  pags.  prel.  inn.,  288  pags. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

/ ')  El  Heroe.  Coimbra,  por  Thomé  de  Carvalho,  1660. 
16.° 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

No  catalogo  Bertrand  (livros  bespanhpes)  vem  uma  edição  do  El  Criticon, 
primeira,  segunda  e  terceira  parte,  Lisboa  1736-1761,  3  tomos. 

Gracian  Dantisco  (Lucas). — Galateo  Espanol.  Autor,  Lucas  Gracian  de 
Antisco,  criado  de  su  Magestad.  Y  de  nueuo  va  anadido  el  Destierro  de  Igno- 
rância, que  es  Quaternário  de  Auisos  conuinientes  a  este  nuestro  Galateo.  Y 
agora  de  nueuo,  la  inor  ânsia  y  vnos  versos.  Con  licencia.  En  Lisboa,  en  casa 
de  Iorge  Rodrigues.  Afio  1598.  A  costa  de  Francisco  Perez  Librero  y  Merca/ler 
de  libros  y  vendese  en  su  tienda  ai  Pelorinho  Velho. 

1  vol.  12.°,  9  fls.  prel.  inn.,  132  fls.  numeradas  pela  frente. 


i  107  i  a  UTTERATUUA  HESPANpOLA   EM   PORTUGAL  28' 


Depois  do  Galai  i:  i  stos  versos  estan  en  Roma  escritos  con  letras  de 
oro»,  i  lis.  inii.  Depois,  com  numeração  separada:  Destierros  de  ignorân- 
cia. Nueuamente  compuesto  j  sacado  en  lengaa  Italiana,  por  Oracio  Rimi- 
naldo  Bolonez.  V  agora  traduzido  de  lengua  italiana  en  Castellaua.  Impresso 
con  licencia  en  Lisboa».  56  As.  numeradas  pela  frente. 

Nas  9  fls.  prel.  contem-se:  Informação;  licença;  dedicatória  a  loachiu 
Santi  Goseller  de  la  Ciudad  de  Barcelona  i  IS  de  junio  de  1593);  outra  a  Gon 

calo  \r-<ii.    de  Molina   assignada  Lucas  Gracian  Dantisco);  ai  letor;  s stos 

de  Galues  de  Montaluo,  doctor  Francisco  de  Campuçana,  Lope  de  Vega,  Gas- 
par de  Morales ;  tabla. 

A  informação  é  de  Fr.  Manuel  Goelho: 

"Vi  este  Liuro  intitulado  Galateo  Espano!  con  vn  tratado  junto  a  elle 
caju  titulo  lie  destierro  de  ignoranciaj  &  outro  de  sentenças  de  Francisco  de 
Gusmão  assi  como  vão  não  tem  cousa  algõa  por  onde  se  não  possão  impri- 
mir >. 

A  licença  é  datada  de  23  de  junho  de  1598. 

Exemplares  de  Neves  e  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Gracian  de  la  Madre  cie  Dios  (Fray  Hieronymo). — a)  Stimvlo  de  In  pro- 
pagacion  de  la  fee.  Contiene  el  vincvlo  de  hértnandad  entre  los  Padres  descal- 
ços, de  nuestra  Sefíora  dei  Monte  Carmelo,  y  dei  Seraphico  Padre  Sant  Fran 
cisco,  para  ayudarse  y  fauorescer  se  en  la  conuersion  de  la  Gentilidad.  )  vna 
Exôrtacion  para  eUo:  Hecha  por  Fray  Hieronymo  Gracian,  de  la  madre  de 
Dios,  Carmelita  descalço.  Con  licencia  de  la  sumiu  y  General  Inquisicion.  //// 
presso  en  Lisboa  en  Sant  Philippe,  de  los  Carmelitas  descalços,  por  Andres 
Lobato.  Afio  de  M.  I).  LXXXVj. 

8.°  pequeno,  71  fólios  numerados  pela  frente. 

No  verso  do  frontispício  tem  a  seguinte  approvação: 

«Por  mandado  de  su  Alteza,  vi  este  tractado,  cujo  titulo  he,  Vinculo  y 
bermandade  perpetua.  Cod  vna  exortação,  para  yo  pregar  ò  saneio  Euange- 
Iho,  as  terras  dos  Gentios,  &  toda  a  doctrina  que  aqui  se  cõprende,  he  catho- 
liça,  4  niuytii  proueytosa,  pêra  mouer  os  Religiosos  ao  zelo  da  conuersão  das 
almas,  &  será  grande  seruiço  de  Deus,  imprimirse.  Frey  Bertbolameu  Fer- 
reyra». 

Segue-se : 

i  Uos  padres  y  hermanos,  de  la  ordê  denuestra  será  Senora  dei  Cármen 
de  los  descalços.  Fray  Hieronymo  Gracian  de  la  madre  de  Dios  Salud. 

Contiene  este  libro  el  fin  que  mouio  a  los  Padres  Carmelitas  descalços, 
ha  azer  hermãdad  cõ  los  Padres  descalços  Franciscos,  para  la  cõuersion  de 
infieles,  y  la  escriptura  que  sobre  esto  se  otorgo;  Ia  ijiial  embiamos  luego  á 


288  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (108) 

Roma,  para  que  nuestros  Reuerendissimos  Generales  y  su  Sactidad  la  cõflr- 
masse.  ^  vna  exortaciõ  para  proseguir  esta  impressa,  y  porq  todos  los  q  la 
leyerê,  se  anime  á  ganar  almas  para  Dios,  y  los  religiosos  destas  dos  orde- 
nes, sepamos  a  lo  que  estamos  obligados  y  correspõda  cada  vno  con  lo  que 
pudiere  segun  su  talento  me  parecio  seria  bien  hazer  mir  [(sic)  será  impri- 
mir? y  juntamête  con  el  Itinerário  q  nuestro  hermano  fray  Martin  Ignacio 
de  Loyola,  escribio  dei  viage  q  el  y  sus  compaõeros  hizieron  ala  China,  q 
puso  en  su  libro  de  la  historia  de  las  cosas  notables  de  afjllos  Reynos,  el 
muy  Reueivdo  Padre  Maestro,  fray  lua  Gõçales  de  Mêdoça,  de  la  orden  de 
S.  Augustin.  Para  q  viêdo  la  mucha  mies  q  blãquea,  y  está  aparejada  pa  el 
baptismo,  y  los  poços  obreros  çj  ay  se  anime  a  yr  a  segar  lo  que  Chrislo 
nuestro  bii~  sêbro  cõ  su  preciosíssimo  sangre.  Es  la  primera  cosa  q  se  im- 
prime en  ia  imprenta  deste  couêto  de  S.  Pbilipe,  despues  dias  bulias  de  la 
Cruzada,  v  viêdo  vuestras  reverècias  enella  la  occupacion  que  lie  tenido,  da- 
ran  por  bien  empleado  el  tiempo,  que  enestos  Reynos  de  Portugal  lie  gastado, 
y  me  encommendaraná  Dios,  para  que  prosiga  con  lo  demas  que  se  va  im- 
primiendo». 

Veja-se,  porque  tem  relação  com  este,  o  artigo  consagrado  a  Gonçalez 
de  Meudoça  (Fray  Iuan). 

Exemplar  de  Jeronymo  Ferreira  das  Neves.  A  impressão  é  incorrecta  e 
descuidada. 

b)  tampara  incendida.  Libro  de  la  perfection  religiosa :  enel  qual  se  traia 
lo  que  deue  hazer  el  alma  para  con  Dios,  para  con  su  próximo,  y  para  con- 
sigo mistna :  y  para  la  perfecta  guarda  de  su  regia,  y  de  los  três  votos.  Por  el 
P.  Fr.  Hieronymo  Gracian  de  la  Madre  de  Dios,  vicário  Prouincial  de  los  Des- 
calços Carmelitas  de  la  Prouincia  de  Portugal.  (Vinheta :  Virgem  com  o  me- 
nino ao  colo).  En  Lisboa,  Impressa  con  licencia  por  Manuel  de  Lyra,  1586. — 
No  fim:  Impressa  en  Lisboa,  por  Manuel  de  Lyra,  M.  D.LXKXVI. 

8.°  pequeno,  m-56  tis.  numeradas  pela  frente.  A  Segvnda  Parte  tem 
i-60  fls.,  mas  parece  que  ainda  lhe  falta  alguma  cousa. 

No  verso  do  frontispício  a  approvação  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Publica  de  Évora. 

Nicolau  António  descreve  grande  numero  de  obras  d'este  frade,  mas 
cremos  que  não  menciona  nenhuma  impressa  em  Portugal. 

Granada  (Fr.  Luis  de). — a)  Comlemptus  mudi,  nimiamente  romançado  y 
corregido.  Anadiose  aqui  vn  breue  tractado  de  três  principales  exercícios  cõ  que 
se  alcança  la  diuina  grã:  q  son  Orõn,  Confessiõ  y  comuniõ.  Cõ  vna  breue  re- 
gia de  vida  xpiana:  cõpuesto  por  el  ft.  P.  frey  Luys  de  Granada  de  la  ordè  de 


(109)  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  289 

S.  Domígo.  1555.— No  fim:  .1  </V«;  áe  Jesu  Christo  haze  fin  el presente  tra 
dado,  intitulado  Cõlêptus  mudi,  aora  mteuamète  romançado  por  muy  mejor  & 
mas  apazible  estilo  </  solia  estar.  Fue  nisto  y  examinado  por  los  muy  reuerê 
ires  Inquisidores.  /■'  con  su  licêcia  y  mandado  impresso  en  la  muy  no- 
ble  a  siempre  leal  ciudad  de  Euora:  en  casa  de  Andres  de  Burgos,  impssor  dei 
Cardenal  infante.  MDL  I . 

I  vol.  12.°,  190  lis.  sem  numeração;  sign.  aij  qvij. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  de  .1.  M.  Nepomu- 
ceno. 

Com  esta  obra  e  edição  costuma  andar  junta  a  seguinte,  de  que  Nepo- 
mucene  possuía  exemplar  cm  separado: 

b  Siguense  unas  oraciones  y  exercícios  </<■  deuocion  mm/  prouechosos.  Re- 
copilados de  dittersos  y  granes  andores  pm  >i  reuerendo  padre  Frey  Luys  de 
Granada,  dt  la  orden  de  saneio  Domingo  \  1555).  -No  lim:  Fue  impresso  este 
lii'ra  de  oraciones  y  exercidos  en  In  muy  noble  &  muy  leal  ciudad  de  Erma. 
i  n  casa  de  Andres  de  Burgos  impressor  dei  Cardenal  infante.  Acabose  u  quinze 
dias  ilrl  mes  de  Odubre  dei  afio  1555. 

c)  Contemptus  mudi,  rir.  Impresso  en  Lisboa  en  casa  'Ir  íoannes  Blauio 
de  Colónia  1557. 

i  vol.  1-2.",  178  lis.  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 
As  Oraciones  y  exercidos,  do  mesmo  impressor  e  anuo,  com  frontispício 
e  paginação  á  parte. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

d)  Contemptus  mudi.  Nueuamente  romãçado  y  corregido.  Afíadiosele  vn 
bretie  tractado  de  oraciones,  y  exercidos  de  deuocion  muy  prouechosos.  Beco- 
pilados  de  diuersos  y  graues  autores,  por  ri  li.  i>.  Fray  Luys  de  Granada,  de 
In  orden  de  sancto  Domingo.  Impresso  en  Lisboa.  A  costa  de  luan  de  Borgofia 
librero  dei  Rey  1563. 

1  vol.  12.°,  I7!i  fls.  numeradas  pela  frente. 

Tem  em  continuação: 

Siguèse  runs  oraciones  y  exercidos  de  deuodõ  mm/  prouechosos.  Recopila- 
dos de  diuersos  >j  graues  auetores  por  el  reuerendo  fidre  frey  Luijs  de  Granada. 
Prouincial  de  la  Proiiiucia  de  Portugal,  de  la  otden  de  sancto  domingo.  Im- 
presso en  Lisboa  eu  casa  de  loan  de  Barrera  en  el  arco  de  san  Mamede.  h~>tí:i. 
Con  priuilegio  real. 

42  lis.  numeradas  pela  frente,  alma  Tabla  innumerada. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


390  A  UTTERATURA  iiksiwmiui.a  EM  PORTUGA!,  (110) 

e)  Contemptus  mundi,  etc.  En  Lixboa.  A  costa  de  luan  Despafíar,  1573. 
No  mesmo  volume: 

Sigvense  t»uxs  oraciones,  etc.  Impresso  en  Lisboa  en  casa  de  António  Gon- 
calues  \ll>Llll  (faltam  de  certo  os  dois  \  i. 

12.e,  'rJ  lis.  Dumeradas  pela  frente,  afora  Tabla  innumerada. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

/ )  Cohtemptvs  Mvndi,  etc.  Agora  de  minto  emêdado.,  y  acrecentado  por  el 
mismo  Padre,  con  el  Calendário  nueuo.  Impresso  con  licencia.  En  casa  de  An- 
tonio  Ribero.  A  costa  de  luan  Despana,  y  Miguel  Darenas.  1589.  (Frontispício 
a  prel incarnado). 

1  vol.  12.°,  II  lis.  prel.  inn.,  -'20  fls.  numeradas  pela  frente. 

As  Oraciones  tem  frontispicio  especial,  mas  a  numeração  segue  a  mesma. 
A  approvação  é  de  Bartholomeu  Ferreira: 

«Vi  por  mandado  de  S.  A.  este  Contemptus  mundi,  A-  conte  iloctrina  ea- 
tholica,  &  será  seruiço  de  Deus  imprimirse». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

g)  Conlemptvs  Mvndi,  etc.  En  Lisboa.  Impresso  con  licencia  de  la  S.  In- 
quisicion  por  Jorge  Rodrigues.  1623. 

1  vol.  12.°,  280  fls.  numeradas  pela  frente. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

h)  Contemples  Mundi  o  Menosprecio  dei  Mundo.  Afíadidos  vnos  tratados 
deuotissimos,  y  Litanias  de  que  vsa  la  Iglesia.  En  Lisboa  por  Matinas  Rodri- 
gues. Ano  de  1631. 

1  vol.  16.°,  7  fls.  prel.  inn.,  348  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

i)  Contemptus  Mundi  o  Menosprecio  dei  Mundo,  afíadidos  unos  tratados, 
y  Litania,  de  que  usa  la  Iglesia.  Anno  1649.  En  Lisboa,  en  la  celebre  ofíicina 
de  Pablo  Craesbeeck,  y  a  su  costa. 

1  vol.  24.°,  6-268  fls. 

Exemplar  de  Nepomuceno.  * 

/)  Contemptus  mundi,  nueuamente  romançado,  y  corrigido.  Afíadiosele  un 
breue  Tratado  de  Oraciones,  y  Exercidos  de  deuocion  niuy  prouechosos,  Reco- 
pilados ih'  diuersos,  y  granes  Autores.  En  Lisboa.  Con  licencia.  En  la  Officina 
de  Henrique  Valente  de  Oliueira  Impressor  dei  Rei  N.  S.  Afio  1660. 

1  vol.  8.°  (como  32.°),  610  pags.  e  mais  7  inn.  de  Tabla. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 


íll  I  l  A  LITTr.li.ViniA  HESPANHOl  \   EM  PORTUGAL  'J'.»  1 

/,  CoUectaneá  \foralis  Philosophiae  in  Ires  tomos  distribuía:  quorum  pri- 
mus  seleclissitnãs  senleiítias  ea  omnibus  Senecae  operibus,  Secundus  tx  morali- 
bus  opusculis  Plutarchi;  Tertim  clarissimorum  principum  &  philosophorum  in- 
signiora  apophthgmata,  hoc  est,  dicla  memorabilia  compleclilur.  Quw  omnia 
per  communes  locos  digesta  sunt,  il  studiosus  lector  quid  in  quouis  argumentt 
Hbi  commodum  fuerit,  inuenire  facile  queal.  Collectore  F.  Ludovico  Gra- 
nateR.  monacko  Dominicano.  Olisippone,  Excudebat  Franciscut 
niss.  Cardinalis  ///.  Typogra.  1571. 

::  tomos  em  l  vol.  8.°,  1:017  pags.  e  mais  6  inn.  de  Index. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto  e  da  Bibliotheca 
Nacional  de  Lisboa. 

I)  Libro  de  S.  loan  Climaco,  llamado  Escala  Spiritval:  En  elqualsedes 
crive  treinta  Escalones,  por  dõde  pueden  subir  los  hõbres  a  i"  cumbre  d,  In 
perfeclion. 

•  Florescia  este  S.  Doctor  en  tiempo  de  los  Emperadores  Constante  //  Cons- 
tâncio: Escreuio  cu  lengua  Griega,  mil  //  tantos  afios  lm :  y  fue  agora  tercera 
vez  trasladado  en  lengua  Caslellana  por  <  u  Religioso  <!•  In  orden  d,-  S.  Do- 
mingo. 

^f  Afíadieronsele  vnas  breues  Annotaciones  en  los  primeros  cinco  Capítu- 
los, para  In  inteligência  de  ellos. 

■  Vendese  en  Lixboa  cu  In  Rua  de  los  lisa/tlmis:  En  casa  de  loannes 
Blauio  impressor.  Ano  1562. — No  fim:  Impresso  eu  Lixboa  en  casa  de  loan- 
nes Blauio  ilc  Colónia  n  xxx  dias  de  Febrero  de  1562  afíos. 

I  vol.  8.°,  lo  tis.  prel.  inn..  220  Eis.  aumeradas  pela  frente. 

No  verso  <  1 « >  frontispício  a  seguinte  declaração: 

«Fue  examinado  este  Libro  por  ri  R.  I'.  I'.  Francisco  Foreyro  Examina- 
dor de  libros  por  cl  Reuerendissimo  y  sereníssimo  Cardenal  Infante  D.  Enri- 
que, Inquisidor  general -en  estes  Reynos  de  Portugal,  etc.i 

Esta  edição  sabiu  anonyma.  Nas  preliminares:  Dedicatória  á  rainha  de 
Çortuga),  I».  Catharina;  \\  christiano  lector;  Tahla.  Na  dedicatória,  o  tra- 
duetor  explica  o  motivo  do  seu  trabalho.  Referiodo-se  ás  duas  traducções 
hespapholas  existentes,  acerescenta:  «De  Las  quales  traslaciones  la  vna  es 
tambien  antigua,  que  apenas  entiêde:  y  la  otra  es  mu\  nueua,  hecba  poi  vn 
Aragonês  o  Valenciano:  la  qual  nu  es  menos  escura  \  diííicil  íj  la  passada, 
assi  por  la  difficuldad  dei  Libro,  como  pbr  muchos  vocablos  que  tiene  pere 
grinos  y  estrangeros,  como  son  Bahorrina,  soledubre,  inrobable  y  otros  tales. 
V  pareciendome  que  bastaria  para  la  intellígencia  dei  Libro  mudar  estos  \<> 
cablos,  y  aclarar  mas  algunos  logares  dei,  comence  a  hazer  esto  assi:  *i  sien- 
dome  forçado  recorrer  alguas  vezes  ala  fuente  dei  Original,  baile  quem  um- 


"-2'^2  A  I.MTKlun  KA  HESPANHOU  KM  PORTUGAL  lll^j 

chas  partes  era  tan  differête  el  sentido  que  ilaua  el  Interprete  dei  de  la  leira 
dei  Autor,  que  me  fue  forçado  tomar  todo  el  trabajo  de  la  Translacion  de 
nueuo». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Ribeiro  dos  Santos  (Memorias  de  Litteralura,  tomo  vm,  pag.  123)  diz 
que  esta  é  a  terceira  edição,  sem  todavia  apontar  as  anteriores.  Quer-nos  pa- 
recer que  é  mais  um  d'aquelles  equívocos,  em  que  tão  frequentemente  incor- 
ria o,  aliás,  douto  investigador.  A  causa  de  seu  erro  está  na  maneira  como 
interpretou  unia  passagem  do  titulo  agora  tercera  vez  trasladado  en  lengua 
castellana.  Se  Ribeiro  dos  Santos  houvesse  lido  o  trecho  que  transcrevemos, 
nlo  teria  emitlido  semelhante  opinião. 

m)  Compendio  de  doctrina  Christãa  recopilado  de  diuersos  andores  que 
desta  matéria  escreuerão,  jielo  R.  P.  F.  Lw/s  de  Granada,  Prouincial  tia  or- 
den  </<■  S.  Domingos.  AcrecerUarãose  ao  cabo  treze  Sermões  tios  principais  fes- 
tas ilo  aii no:  pelo  mesmo  Autor,  i Escudo  de  armas).  Foy  impresso  em  Lixboa 
<m  casa  de  Toannes  Blauio  de  Agripina  Colónia,  impressor  delrey  nosso  senhor. 
Acabousi'  aos  xxr  dias  Dabril.  Anno  1559.  Com  priuilegio  Real  por  'Ir:  ahnos. 
(Este  frontispício  é  em  redondo,  com  excepção  da  declaração  do  impressor, 
em  gothico). 

1  vol.  4.°,  3  lis.  prel.  inn.,  Clxxiiij  numeradas  pela  frente. 

O  texto  é  em  gothico  com  alguma  mistura  de  redondo.  .Nas  prelimina- 
res: Ao  Christam  Lector  (em  gripho)  e  Tavoada  (em  redondo).  No  verso  do 
frontispício  a  seguinte  declaração: 

«Foy  visto  e  examinado  per  o  Reuerendo  Padre  frey  Francisco  Foreyro 
examinador  dos  liuros  por  o  Sereníssimo  Cardeal  UTante  Inquisidor  mor  nes- 
tes reynos  de  Portugal». 

No  verso  da  ultima  folha,  o  escudo  do  impressor,  tendo  por  baixo:  Fim 
ila  doctrina  Christãa. 

Seguem  no  mesmo  volume  os  Sermões,  que  tem  frontispício  e  paginação 
á  parte : 

n)  Segvemse  treze  sermões  'las  ires  paschoas  ilo  anno,  &  das  principaes 
festas  de  Christo  nosso  Sálwdor,  &  de  Nossa  Senhora.  Pelo  R.  P.  F.  Luys  de 
Granada,  Prouihcial  da  orden  de  S.  Domingos  na  prouincia  de  Portugal.  Foi/ 
impresso  em  Lisboa  em  casa  de  Ioannis  Blauio  de  Agrippina  Colónia,  Impres- 
sor (bino/  nosso  senhor.  Acabouse  aos  xx  'lias  do  mes  de  Mayo.  Anno  1509. 
Com  priuilegio  Real  por  dez  annos.  (Este  frontispício  n  uma  tarja  formada  por 
doze  estampinhas  religiosas).-— No  verso  a  declaração  de  que  foram  examina- 
dos por  Fr.  Francisco  Foreiro.  No  verso  da  ultima  folha  o  escudo  do  imprés- 


(li.3)  A  UTTERATURA   HESPANHOLA   EN   PORTUGA]  2'.I3 

sor,  tendo  por  baixo:  Foy  impresso  em  Lisboa  em  casa  ih  loannet  Blauio  de 
Colónia.  Anno  tõ59. 

I  vol.  %.°,  l  II.  prel.  inri. ,  liiii  numeradas  pela  (rente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  reservados  n.    iiii. 

Ha  outra  edição  de  Coimbra,  do  Compendio,  de  1789. 

D.  Lihro  llamado  Guia  ih  peccailores  mel  qual  se  enseha  todo  lo  qm  el 
Chrisliano  deue  hazer,  denth  el  principio  de  su  Conuersion  hasta  el  fin  de  la 
Perfection.  Compuesto  por  el  Reuerendo  Padre  Fray  Lais  de  Granada  ih  la 
orden  ih.  S.  Domingo.  Impresso  en  Lisboa  en  cisa  de  loannes  th  lilaniu  de 
Colónia  1556.  Con  priuilegio  real  por  diez   [ftos. 

I  vol.  12.  (?),  •>  fls.  prel.  iiin.,  áo-2  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

Tem  no  Bm:  »Este  volumen  Christiano  Lector  crescio  mas  delo  que  se 
pensaua  y  por  esto  lo  que  resta  va  en  otro  volumen». 

É  dedicado:  «A  la  mu\  magnifica  Seiíora,  la  Senora  Dona  Cínica  de 
Mêdoça,  en  Montemayor  el  nueuo». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa 

(p  Segunda  parte  dei  lihro  llamado  Guia  de  peccadores,  en  la  qual  se  trata 
th  três  muy  principales  médios  con  que  se  alcança  la  diuina  grada  que  son  Ora- 
cion  Confession,  y  Comunion.  Va  entretexido  aqui  vn  vita  Christi  muy  deuoto, 
II  ni  piadoso  exercido  en  I"  consideradon  de  los  benefícios  divinos  con  olras 
muchas  oraciones  para  diuersos  propósitos  y  affeclos.  Por  el  Reuerendo  Padre 
F,  Luys  de  Granada  Prouincial  de  la  orden  de  S.  Domingos  en  la  Prouincia 
de  Portugal.  Impresso  <n  Lisboa  en  casa  <!<•  loannes  lllaui<>  </<■  Colónia  1557. 
Con  priuilegio  Real  por  diez  anos. 

1  vol.  \-l. ",  7  lis.  prel.  inn..,  2!)'i  numeradas  pela  frente. 

Tem  typo  gothico  entremeado.  Dedicatória  a  rainha  D.  Catharina. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

q)  Guia  'ir  Peccailores,  en  In  qual  se  trata  copiosamente  (!>■  las  grades 
requezas  y  hermosura  de  lo  Virtude:  ij  dei  rumino  que  se  ha  <!<■  llevar  para 
alcançaria.  Impressa  con  licencia  de  la  Sãcta  Inquisidõ.  l'or  António  Alvares 
impressor  </<  Hinos.  Mm  de  1594. 

8.°,  :i:í6,  í  lis. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

n  Manval  de  diuersos  Oraciones  y  spiriluales  exercidos,  cõpuesto  por  ri 
li.  I'.  F.  Luys  rir  Granada,  Prouincial  de  la  ordê  ih'  S.  Domingos  en  la  prouin- 
cia de  Portugal.  Anadiose  vna  breue  y  summaria  institucion,  para  los  que 
comiençã  a  semir  a  bios,  mayormente  en  las  religiones,  por  ri  mismo  Autor. 


VJ(»I  A  LITTKKATUKA  HESPÁNHOLA  EM  PORTUGAL  (^^) 

Impresso  en  Lisboa  en  casa  de  loannes  Muniu  de  Colónia  a  lô  de  May  o.  Ano 
Con  priuilegio  Real  por  diez  afíos.  .No  verso:  Fue  ris/n  y  examinado 
este  tratado  por  el  Reuerendissimo  y  sereníssimo  Cardenal  lúfante  Inquisidor 
general  en  los  Reynos  de  Portugal. 

I  vol.  L2.".  5  Qs.  prel.  inn.,  210  numeradas  pela  frente.  Alguns  capítu- 
los são  adornados  a  principio  por  laminasinhas  religiosas. 

Km  continuação: 

Seguese  vna  breue  institucion  y  regia  de  bien  biuir,  pára  personas  deuotas 
li  sprituales,  especialmente  para  religiosos  y  religiosas.  (Laminasinha).  Impresso 
en  Lisboa  en  casa  de  loannes  Blauio  de  Colónia  Armo  1569. 

-2'ò  lis.  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  incompleto  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

s)  Oraciones  y  spiritvales  exercidos,  recopilados  por  el  li.  P.  F.  Luys  dé 
Granada,  de  la  ordem,  de  S.  Domingo.  Agora  nvevamente  reuisto  y  acrecentado 
por  el  mismo  Autfior,  como  en  lu  Tabla  se  vera.  Con  el  avreo  nvmero,  Lira 
Dominical,  y  Fiestas  mouiles,  conforme  ai  Kalendario  mimo.  Con  Ih  /teia.  Por 
António  Ribero  impressor  de  Sn  Magestad.  MDLXXXIII.  (Este  titulo  é  a  preto 
e  encarnado). 

1  vol.  12.°,  15  fls.  prel.  inn.,  183  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

A  approvação  ê  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira  e  resa  assim: 

«Por  mandado  do  illustrissimo  &  Reuerendissimo  senor  Arcebispo  de 
Lisboa,  Inquisidor  geral  destes  Reinos,  vi  estas  adições  que  ajuntou  o  Padre 
Frey  Luis  de  Granada  agora  nouamenle  a  este  seu  Manual  de  orações,  á-  não 
tem  cousa  cõtra  a  Fee  &  bõs  costumes,  á-  podemse  imprimir». 

D'esta  approvação  se  deprehende  que  esta  obra  não  é  por  ventura  senão 
uma  nova  edição  da  anterior. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

t)  Libro  de  la  Oracion,  y  Meditacion,  en  el  oral  se  trácia  dela  considera- 
cion  de  los  principales  Mysterios  de  nuestra  Fé.  Con  otros  três  breues  tractà- 
dos  de  la  excellencia  de  las  principales  obras  penitenciales :  que  son,  Limosna, 
Ayuno,  y  Oracion.  Compvesto  por  fray  Luys  de  Granada  de  la  Orden  de  Saneio 
Domingo.  Este  Libro  Christiano  Lector,  sale  agora  nueuwmente  afiadido,  y 
emendado,  y  quasi  hecho  oiro  de  riueuo,  por  el  mismo  Author,  con  approbacion, 
li  licencia.  )  assi  agora  puede  correr,  y  ser  leydo  de  todos.  En  Lisboa.  Impresso 
con  licencia  de  la  Sancta  Inquisicion,  y  Ordinário:  Por  António  Aluafez  Impres- 
sor. Ano  de  MDLXC11  (sic). 

1  vol.  8.°,  7  fls.  prel.  inn.,  440  fls.  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla 
innumerada. 


1  !•">'  \  LITTEBATURA   HESPANHOU   EM  PORTUGAL  295 

0  /.  do  millesimo  é  a  mais.  A  impressão  deve  ser  de  1592,  puis  a  licença 
é  ii.'  s  de  agosto  d  este  anno. 

A  approvação,  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira,  é  assim  concebida: 
«Vi  por  mandado  de  S.  A.  este  Liuro  da  Oração,  a-  Meditação,  '1"  Padre 
Frej  Luys  de  Granada,  A  será  seruiço  ih'  nosso  Senhor  imprimirse,  rum  con 
dição,  que  seja  da  impressão  do  anuo  de  1561  A  dabi  por  diante:  A  não  <> 

da  impressão  antes  do  Ai !<■  1561.  Por  que  se  emendarão  depois,  com 

consentimento  do  mesmo  Autoi   . 

No  verso  das  licenças  uma  gravura  representando  o  presépio.  Tem  ainda 

uniras. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  'li'  Lisboa  e  de  Nepomuceno. 

u)  Libro  <i<  Oracion,  etc.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  En  Lisboa. 
Por  António  Aluarez.  Afio  </<    1612.  Esta  tayxado  em  dous  tostões  em  papel. 

1  vol.  8.°,  de  8-430  lis. 
Exemplar  de  Nepomuceno. 

v)  Doctrina  Spiritval,  repartida  en  seys  tratados,  que  s<  senalan  en  la 
buella  desta  hoja.  Recopilados  por  el  />'.  /'.  /•'.  Luys  de  Granada,  de  sus  mis- 
mas  obras.  (Gravurinha).  mpresso  con  licencia  dei  santo  officio,  y  Ordiná- 
rio, por  António  Ribero,  1589.  .1  costa  de  luan  Despana,  y  Miguel  Darenas 
Libreros. 

I  vol.  16.°,  H  pags.  inn.,  264  numeradas  pela  frente. 

A  approvação  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira,  diz: 

«Por  mandado  de  s.  A.  \i  esta  Doctrina  spiritual,  a  mo  parece  digna 
ila  impressão,  por  não  ter  cousa  cõtra  a  fee  A  bõos  costumes,  A  poderá 
fazer  muito  proueito  a-  almas ». 

Exemplar  'la  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

x)  Memorial  dé  to  que  deue  hazer  >l  Chrisliano  con  algunas  Oraciones  mwj 
denotas  para  pedir  el  amor  de  Dios  ij  para  oiros  propósitos.  Compuesto  por  d 
R.  /'.  Fray  L>u/s  de  Granada  de  la  orden  de  Sondo  Domingo.  Vendese  en  caso 
il<'  loannes  Blauio  Imprimidvr  en  la  ma  ih   los  Escuderos.  En  Lisboa  156 í. 

I  vol.  lti.  .  sem  paginação. 

No  verso  do  frontispício  a  declaração  de  que  os  dois  tratados,  do  que 
consta  o  livro,  foram  revistos  pm  Fr.  Francisco  1'oreyro. 

O  volume  divide-se  em  três  partes : 

l.a  Memorial.—  Sig.  A2C  í  ; 

-l.  Tratado  de  algvnas  muy  denotas  Oraciones  para  prouocar  ai  amor  de 
li,  \&    ,,  de  las  olras  virtudes.      Dedicado  á  infanta  I».  Maria.  A2Lv; 

Hist.  e  Mejí.  da  Acad. —  Tomo  xii  partk  n. — N.°  5  lo 


296  A   I.ITIKIIATI  HA   IlESPANHOLA  EM   PORTUGAL  |H<>) 


3."  Vita  Chrisli.  En  el  qual  se  contienen  los  prinàpales  passos  y  mysterios 
tle  In  vida  de  Christo.     42Q2. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

y  Explicatio  copiosior  Concionis  habilae  in  consecratione  Reuerenãissimi 
I).  Antonij  Pinarij  mri  laudatissimi  de  oflicio  é  moribus  Episcoporu,  <t\i<>- 
rumq  Praslatorum.  Pa  li.  P.  F.  Ludouicum  Grãnatmsem  ordinis  />'.  Dominici 
professorem.  Caia  facultate  &  approbatione  sancli  officij.  (Estampinha:  um 
santo  l)i<|»i!.  OUjsipom  excudebaí  Frãnciscus  Corrêa  Typographus  Serenissimi 
Cardinalis  Henrici   \n/m  tôôõ. 

8. .  3  fls.  prel.  inn.,  '.)"  fls.  numeradas  pela  frente. 

No  reverso  do  frontispício:  Argvmentvm  operis. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  tle  Lisboa  (Parenetica)  e  Bibliotheca 
da  Ajuda. 

Ha  exemplares  que  teem  a  folha  do  rosto  mais  singela.  Possuímos  um, 
por  signal  em  muito  bom  estado.  Reza  assim: 

Condo  /•'.  Ludouici  Granatensis  de  officio  &  moribus  Episcoporum  habita 
Olyssip.  in  consecratione  Reuerendissi.  I).  Animai  Pinarij  Episcopi  Mirandefl. 
(Estampinha,  como  no  anterion.  Oli/ssipone  c.icudebal  Franciscus  Corrêa  Thy- 
pograpkus  regius.  Anno  1565. 

No  verso,  em  vez  do  Argvmentvm  operis  a  Operis  aprobatio,  de  Fr.  Ma- 
nuel da  Veiga.  No  demais  em  tudo  egual  ao  anterior. 

A  Condo  anda  ánnexa  e  como  que  faz  sequencia  ao  Stymvlvs  pastorvm, 
de  D.  Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  tanto  que  a  errata  que  vem  no  final  da 
Condo  e  commum  ás  duas  obras. 

z)  Sermon  en  que  se  da  aviso  que  en  las  caydas  publicas  de  algunas  per- 
sonaSj  ni  se  pierda  el  credito  de  l<i  verlude  de  los  buenos',  ai  césar  y  se  entibie 

el  buen  propósito  de  los  /tacos.  En   Lisboa.  Impresso  con  licencia  dei  Suado 
Officio,  ii  dei  ordinário,  por  António  Ribero   1588. 

N.".  36  lis.  sem  numeração. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

aa)  Sermon  en  qve  se  da  aviso  que  en  los  caydas  pvblicas  de  aígunas  per- 
sonas,  ni  se  pierda  el  credito  de  la  virtitd  de  los  btienos,  ni  cesse,  y  se  entibie 
.  /  buen  propósito  de  los  flavos.  Compueslo  por  el  Reuerendo  /'.  .1/.  Fray  Luys 
de  Granada  dela  Orden  de  S.  Domingo.  En  Lisboa,  Impresso  con  licencia  en 
casa  de  António  Ribero.    1589.   Vendense  en  casa  de  Iuan  Despafia  Liurero. 

8.",  sem  numeração. 

Exemplar,  a  que  faliam  algumas  folhas  no  fim.,  da  Bibliotheca  Nacional 
de  Lisboa. 


(11/)  A   LITTERATURA   IIESPANIIOLA   EM  PORTUGAL  _".'y 

No  verso  do  frontispício  a  appro\ 

«Digo  eu  frey  Bertolameu  Ferreira  Mestre  em  sancta  Theologia,  Depu- 
tado do  s.ancto  ofificio,  a  examinador  dos  liuros  nestes  Reinos,  que  vi  por 
mãdado  d(  S.  \.  este  sermão  do  muito  Reuerêdo  Padre  Mestre  !'.  Luís  de 
Granada,  &  tenho  a  doctrina  delle,  por  Calholica,  como  lie  toda  >u;i  doctrina, 
tV  por  muito  necessária,  &  proueitosa  nestes  lèpos,  4  digna,  que  se  imprima 
nos  corações  dos  horaês:  en  ree  do  qual  assinej  aqui.  Frej  Bertholamen 
Ferreira». 

Ha  outro  exemplar  na  Bibliolhi  ca  da  \juda,  completo. 

bb)  Perla  Preciosíssima.  (Vinhetasinha  representando  Nossa  Senliora).  ina- 
dida  y  emendada  poi  el  reuerendo  padre  Frey  Luys  de  Granada.  Con  licccia. 
Impresso.  t575. —  Nu  fim:  A  honra  de  Dios,  y  de  su  gloriosa  madre,  Iprimio 
la  presente  obra  en  la  muy  noble  y  siempre  leal  ciudad  de  Lisboa  en  casa  de 
Marcos  Borges  imprimidor  dei  Rey,  aos  dez  dias  de  Agosto  de  Í57õ. 

I  \«)i.  i-2.u.  Í31  pags.  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  de  Jeronymo  Ferreira  das  Neves. 

No  indice  dos  livros  prohibidos,  de  1578,  i  c lemnada  a  Perla  Preciosa. 

Ha  uma  obra  com  titulo  idêntico  em  portuguez:  Pérola  preciosa  ornada 
com  excellenles  documentos  e  avisos  espirituaes  para  desterro  do  peccado  e  exe) 
cicio  de  virtudes,  escripta  por  Jacome  Carvalho  do  Cauto  e  publicada  pela  pri 
meira  vez  em  Lisboa  por  Pedro  Craesbeeck,  1610,  12.°  Será  traducção  ou 
imitação  da  obra  de  Granada? 

cc)  Primvs  tomvs  Concionvm  de.  lempore,  qvae  d  prima  Dominial  Aduen- 
tus  vsqne  ad  Quadragesimae  initiam  in  Ecclesia  haberi  solent.  Adiectae  svnt 
ih  fine  quinque  de  Pamitentia  conciones,  quae  diebus  Dominicis  in  Quadragé- 
sima posl  meridiem  kabitae  sunt.  Autore  II  /'.  /•'.  Ludovico  Granateu.  sacrae 
Theologiae  professore,  monacko  Dominicano.  Olysippone,  In  ofpcina  loannis 
Barrerij,  expensis  loannis  Hispani  Bibliopolae.  Amo,  Domini,  1575.  Con  priut 
legio  de  Castilla  y  Amuou.  Esta  tassado  a  três  marauedis  el  pliego. 

Tem  no  verso  da  pagina  589:  Explicit  primvs  tomus,  qui  conciones  ea$ 
conluiei,  quae  ab  initio  Dominia  íduentus  vsque  ad  inilium  Quadragesimae 
habenlw.  Excudebat  Olysippone  loannes  Barrerius  Typographus  regius,  expen- 
sis loannis  Hispani.  Í573  <  iic). 

Segue-se  com  novo  frontispício: 

Seqvvntnr  qvinqve  'ir  pamitentia  conciones,  habitae  in  Quadragésima  post 
meridiem:  in  quibus  primum  guidem  exhorlatio  ml  pwnilentiam  conlinetur: 
deinde  uno  ratione  vera  pamitentia,  cl  peccatorum  confessio  agenda  sit,  tradi 
inc.  Avtore  eodem  fi.  /'.  /*'.  Lvdovico  Granatensi,  monacko  Dominicano.  (Es- 


298  a  L1ÍTERATURA   HESPANUOLA   EM   PORTUGAL  (**°) 


tampa  formada  por  diversos  quadrinhos  religiosos).  Olysippone  excuãebai  Ioan 
nes  Barrerius,  expensis  loannis  Hispani.  Anua  Domini  MDL.XXIIII. 

Segue  a  numeração  até  pag.  694.  No  verso  d'esta  a  subscripção": 

Olysippone  Excudebal  loannes  Barrerius  Typographus  Regius,  expensis 
loannis  Hispani.  Anno  Domini  1674.  Mense  Aprílis. 

1  vol.  í.'.  6  pags.  prel.  inn.,  694  pags. 

.Nas  preliminares:  alvarás  de  privilégios  e  licenças.  A  Approbatio  Theo- 
logorum  è  do  theor  seguinte: 

iEx  speciali  commissione  atq;  mandato  Serenissimi  Cardinalis  Iffantis 
Portugalliae,  Inquisitória  generalis  huius  Regni,  perlegimus  três  tomos  con- 
cionum  R.  P.  F.  Ludovici  Granaten.  à  prima  Dominica  Aduentus  vsq;  ad  fes- 
imii  sacratissimi  corporis  Christi;  nihilq;  in  eis  offendimus,  quod  vel  ortho- 
doxae  fidei;  vel  bonis  moribus  aduersaretur.  Quo  circa  digníssimos  duximuSj 
c]iii  in  lucem  ederentur.  Continenl  enim  sanam  salularemq  ;  doctrinam,  pielate 

ac  deuoti i  plenissimam,  eãdemq;  perspicua  &  pura  oratione  descriptam : 

nec  solum  diuini  verbi  cõcionatoribus,  sed  omnibus  etiam  pié  in  Ghristo 
viuere  voluntibus  cumprimis  vtílem  &  necessariam.  In  cúius  rem  lidem  nomina 
nostra  subscripsimus.  Datae  Olysippone.  VIII  Calend.  Decêb.  1575.  F.  Anto- 
nius  de  sancto  Dominico  Magister.  F.  Bartholomaeus  Ferreira,  Praesentatus», 

Secvndus  tomvs,  c/r.  1675.—  Tem  no  fim:  Olysippone  Excudebat  loannes 
Barrerius  Typographus  Regius,  expensis  loannis  Hispani,  Anno  Domini,  1574. 
Mense  Aprilis. 

'i,",  li)  pags.  prel.  inn.,  866  pags. 

Terlivs  tomvs,  etc.  Olysippone  Excudebal  Antonius  Riberiux,  r.rprusis  loan- 
nis Hispani  bibliopolae.  Anno  Domini,  1676. —  No  fim,  depois  da  indicação  do 
registo:  OfyÈippone  Excudebat  Antonius  Riberius,  expensis  loannis  Hispani. 
Anno  Domini,  1575.  Mense  Ianuario. 

10  pags.  prel.  inn.,  671  pags. 

No  verso  do  frontispício  outra  approvação,  que  differe  alguma  cousa  da 
já  transcripta : 

«Nos  frater  Antonius  de  S.  Dominico  sacrae  Theologjae  in  Academia 
Conimbricensi  primarius  lector  &  frater  Bartholomeus  Ferreira  in  Theologia 
Presentatus,  &  examini  librorum,  qui  aliunde  importantur  prefectus  ex  spe- 
ciali comissione  &  mandato  inanu  própria  subscriplo  Serenissimi  Cardinalis 
Infantis  Henrici,  Generalis  Inquisitoris  in  regno  Portugaliae,  perlegimus  lias 
conciones  K.  P.  F.  Ludouici  Granatensis  sacrae  Theologiae  prófessofis  quae, 
á  Paschate  Dominicae  Resurrectionis  vsque  ad  festum  sacratissimi  corporis 
Cliiisíi  habentur:  nihilq;  in  eis  offendimus,  quod  vel  orthodoxae  fidei,  aul 
bonis  moribus  aduersaretur.  Ideoq;  dignas  duximus  quae  prelo  mandarentur, 
quod  eas  omnibus  diuini  verbi  concionatoribus,  caeterisq;  pietatis  cultoribus 


1  I  9)  A   I.ITTI.HAM  II  \   HESPANHOLA   EM   POB  I  299 


maxime  vtiles  a-  salutares  speramus.  In  cuius  rei  (idem  nomiua  nnslra  sub: 
cripsimus.  Olysippone  1573». 

Exemplar  da  Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa. 

dd  i  Segvndo  volume  dei  Memorial  de  In  vida  Chmtiana  en  </  qual  se  con 
tienen  los  três  Tratados  postreros  '/w  pertenecen  u  los  exercícios  'Ir  In  deuocion, 
y  dei  um. n-  de  Dios.  Compuesto  /<<</■  el  It.  /'.  fray  Luys  '!'■  Granada  </<  ' 
,h  s.  Domingo     Gravurinha).  Vendesc  en  Lixboa  en  casa  de  Francisco  Corrêa 
impressor  dei  Cardenal,  en  Valuerde.   \uu<>  de  1565. 

s .",  I  il.  prel.  iini.,  316  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  <\r  Lisboa. 

Na  mesma  bibliotheca  ha  uma  obra  intitulada  Adiciones  <\i  Memorial  de 
In  Vita  Christiana  que  compvzo  el  li.  /'.  Fray  Luys  'Ir  Granada,  etc,  Sala 
manca  MDLXXXIII1,  onde  se  encontra  a  seguinle  approvação: 

iNos  os  padres  abaxo  nomeados  por  commissam  do  muyto  li.  I'.  Mestre 
F.  Frãcisco  de  Bouadilla  Prouincial  da  prouincia  de  Portugal  vimos  estas  adi 
ciões  do  Memoria]  da  vida  Cbristãa  que  compôs  o  li.  P.  Mestre  Frej  Luis  de 
Granada.  Nas  quaes  nam  achamos  cousa  algúa  que  nam  seja  conforme  a 
doctrina  catholica  da  sancta  madre  ejgreja,  mas  antes  nus  parece  liuro  muyto 
necessário  para  as  pessoas  que  querem  alcançar  o  caminho  da  perfeiçam  como 
luram  todos  os  outros  liuros  que  o  sobredito  I'.  compôs.  Polo  qual  nos  parece 
digníssimo  de  se  imprimir.  En  S.  Domingos  de  Lisboa  a  25  de  Março  1573. 
\ntnniiis  di'  Saneio  Domenico.  Frey  Bertbolomeu  Ferreira  presentado 
em  s.  Theol». 

Por  esta  approvação  se  vê  que  houve  edição  de  Lisboa  das  Addições 

Svmma  de  Fray  Lvys  ih  Granada,  qve  trata  dei  exercido  espiritual  en 
,i  qual  se  iratan  con  breuedad,  y  sustancia  los  Mysterios  'Ir  la  Passion,  y  Res- 
surreccion  de  N.  S.  lesu  Chrisli.  Trata  tambien  dei  conocimiêlo  de  si  mesmo,  y 
misérias  de  In  vida  y  munir  y  dei  juyzio  final,  ih1  las  /nuns  dei  infierno,  y 
gozos  dei  parayzo,  y  ih'  los  bienes  de  Dios.  Abreuiada  por  el  Padre  Fray  Her 

muniu    ih-    Yillnrml.    IJrilil    unis    runs   DoCUmmtOS  '/Ui'  ri    M.   Illilli   ilr  Allihl,   il/n 

n  ih  mãcebo  Discípulo  suyo.  Eu  Lisboa.  Con  licencia.  Por  António  iluarez. 
Afio  633. 

1  vol.  16.°,  numerado  pela  frente.  Depois  de  foi.  112  deixa  de  sei 
numerado. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

ff)  ohms  espirituales  dei  venerable  padre  maestro  fray  Luis  de  Granada 
dei  Orden  de  Santo  Domingo.  Tomo  primero  que  contiene  In  Guia  ih-  Pecado- 


300  A  UTTERATUBA  HESPANHOLA  EM  POBTUGAL  (120) 


res  cxorlacion  a  la  virtud,  y  guarda  de  los  Manãamientos,  ele.  B«  segundo 
logar  trata  de  la  Oracion,  y  Meditacion,  y  de  las  três  principales  ninas  peni- 
íenciales,  que  son  Oracion,  Ayuno,  y  Limosna,  etc  Dcdicasea  la  excellentissima 
sefiora  Dona  Thercsa  de  Moscoso,  Hurlado  y  Mendoza,  Margueza  de  Santa 
Cia:,  y  Aya  de  las  Sereníssimos  Príncipe  //  Infantis  de  Portugal,  rir.  En 
Lisboa,  En  la  Imprenta  de  Bernardo  >la  Cosia  Carvalho,  dai  todas  las  licen- 
cias necessárias.  Afio  MDCCXIH. 

I  vol.  foi.,  520  pags. 

A  dedicatória  é  assignada  por  Fr.  Manuel  de  Lima. 

Tumo  segundo.  En  Lisboa.  En  la  Imprenta  <!<■  António  Pedrozo  Caíram. 
Ano  MDCCXIH. 

I  vol.  foi-,  564  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

gg)  Ecclesíasticw  Rhetoricce,  sive  de  ratione  concionandi,  Libri  sex.  Âuthore 
Ludovico  Granatensi,  Sacrw  Theologice  Professore,  Ordinis  Prwdicalorum.  Jttssn 
Josephi  I  regh  fidelissimi  Instauratis  Artiam  stndiis  in  lacem  editi.  Olisipone, 
Typis  Regiis  Silvianiis  MDCGLXII. 

1  vol.  4.°,  023  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

hh)  Ecclesiaslicae  lihetorica:  sue  de  ratione  concionandi  libri  sex.  nunc 
primum  in  lurem  editi.  AtUhore  li.  P.  F.  Ludouico  Granateã.  sacra;  Throlo- 
i/iiv  professore,  monacho  Dominicano.  Fatias  mellis  compósita  rerha,  dulcedo 
animae,  &  sanitas  ossium.  Qui  sapiens  est  corde,  appellabitur  prudens,  &  qui 
ditlcis  eloqnio,  maiora  reperiel.  Prouerb.  16.  Olysippone,  Excudebal  Antonius 
Riberius,  expensis  Ioannis  Hispani  Bibliopolm.  Anno  Domino  lõ7<>\  Crm  pri- 
vilegio. 

Esta  taxado  a  . . .  em  papel. 

1  vol.  4.°,  7  fis.  prol.  iun.,  3tiá  pags..  mais  1  íl.  inn.  com  registo  e 
declaração  do  impressor. 

No  verso  do  frontispício:  Approbatio  examinatorum: 

«Nos  frater  Bartholomeus  Ferreira  in  Theologia  presentatus,  A-  examini 
librorum,  qui  aliunde  importantur,  prefectns,  &  F.  Gaspar  Leytão  in  eadem 
Theologia  praesentatus,  ex  speciali  commissione  A  mandato  manu  própria 
subscripto  Serenissimi  Gàrdinalis  Infantis  llenrici,  Generalis  Inquisitoris  in 
Regno  Portugália?,  perlegimus  hos  sex  de  concionandi  ratione  libros,  quos 
R.  P.  F.  Ludouicus  Granatensis  sacrae  Theologia?  professor,  in  concionato- 
rmn  gratiam  scripsil:  nihilq  in  eis  offendimus,  quod  vel  orthodoxa'  fidei, 
aut  bonis  moribus  aduersaretur.  Ideoq  dignos  duximus,  qui  prelo  mandarem 


'  1-1  A   UTTERATURA  HESPANHOLA   EM   PORTUGAL  .'101 

tur.  quod  eos  omnit)us  diuini  verbi  c :ionaloribus,  maxime  vtiles  A  saluta- 
res fore  speraraus.  In  cuius  rei  fide omina  noslra  subscripsiinus.  Olysip 

pone,  1575. 

V.  Bartholomceus  Fei  reira,  l'.  Gaspar  Li 

«Preesentalus.  Prtosentatu 

Exemplares  da  Bibliolheca  Publica  VIunicipal  do  Porto  e  Bibliotheen  Na 
cional  de  Lisboa. 

Nicolau  António  dá  esla  obra  como  impressa  apud  Lazorum  Ribero.  Gon 
verteu,  por  equivoco,  António  em  Lazaro.  Lazaro  Kibeiro  6  um  nome  mui 
pletamente  estranl a  typographia  portugueza. 

Entendemos  dever  dar  aqui  a  descripção  da  seguinte  obra,  que,  impre  a 
nu  Japão,  o  foi  todavia  no  collegio  portuguez  dos  jesuítas  em  Vmacusa: 

ti)  Fides  no  Dõxi  toxite  /'.  /•'.  Luis  de  Grana  <l<i  amaretaru  xo  no 
riam.  Con  uo  Companhia  no  Superiores  no  go  saicacu  vomotte  no  cotoba 
ni  vasu.  ;  Tesvs  /">  Companhia  m>  Collegio  Amacusa  ni  voite  Supeiiom 
no  go  men  |  quio  toxite  core  uo  fun  ni  qizamu  mono  nasi.  \  Cn  xuxxe  yori 
MD.L.XXXU.  (0  fronlispicio  tem  uma  gravura  nu  centro:  Christo  entre  os 
apóstolos  i'  s.  Tliniiu:'  locando  no  corpo  do  divino  mestre). 

8.°;  prefacio  de  '■'<  pags.;  breve  do  papa  Gregório  \lll  dirigido  a  IV.  Luis, 
'i  pags.;  prefacio  do  auetor,  5  pags.;  segue  o  texto:  Hl!)  pags.;  errata,  I  pag.; 
tábua  das  matérias,  7  pags.:  glossário,  2í  pags. 

Diz  Satow  (Ernest  Mason)  que  é  uma  traducção  do  ^>uinni<>  de  lu  Intro- 
duecion  dei  Symbolo  de  In  /•>.  de  Fr.  Luis  de  Granada.  Exemplar  existente  na 
Bibliotheca  da  Universidade  de  Leyde. 

o  mesmo  bibliograpbo  descreve  ainda  outra  obra  impressa  pelos  jesuítas 
no  Japão,  Contemptus  mundi.  Será  traducção  do  livro  de  Granada  do  mesmo 
Ululo.'  Veja-se  The  jesuii  mission  press  u*  Japan,  Í691-1610,  bj  Ernest  Ma- 
son  Satow,  privatelj  printed.  1888. 

No  Livro  iln  Regra  ilc  Sancto  [gostinho :  e  das  Constituições  perpetuas  dos 
Religiosos  pobres  hermilãos  </"  serra  bossa,  ele,  encontra-se  a  seguinte  refe- 
rencia ii. i  cap.  mui.  »Da  ereação,  &  do  ensino,  «a  do  Mestre  dos  Nouiços»: 

«Item  (os  mestres  de  noviços)  ensinalosbão  a  mar  (que  lie  pedir  mercê 
a  nosso  Senhor)  com  muita  deuaçam,  a-  darse  a  exercícios  spirituaes,  &  a 
liçam  Mos  liuros  denotos,  como  sam  os  do  mestre  Krey  Luis  de  Granada,  da 
ordem  dos  Pregadores,  e  outros  similhantes». 

li  \  Ecdesiasticai  Rhetorico3  sive  ih'  ralione  voncionandi  libri  sex. 

Edição  'la  Imprensa  Nacional.  Veja-se  o  respectivo  catalogo. 


'Ai)-}  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (  1 -- ) 


Guerra  y  Ribera  (Fr.  Manuel  de). —  Sermones  vários  de  santos,  dedicados 
ai  sereníssimo  seflor,  el  sefior  don  Ivan  de  ivstria.  Predicados  por  Fr.  Manuel 
de  Guerra,  y  Ribera,  Doctor  Theologo  poria  Vniuersiãad de  Salamanca,  y  Ca- 
tedrático de  Filosofia  en  ella,  Predicador  de  Su  Magestad,  y  Redemptor  General 
por  In  Provinda  de  Castilla,  de  la  Orden  de  la  Santíssima  Trinidad  Redempcion 
de  Cautivos.  Bwi  Lisboa  Na  Offkina  de  Domingos  Carneyro.  Anno  las:;.  Com 
as  licenças  necessárias. 

1  vol.  4.".  »i  pags.  prel.  inn.,  503  pags.,  afora  índice. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Guevara  (D.  Antpnio  de).— a)  Libro  llamado  Menosprecio  de  corte  y  ala- 
bança  de  Aldeã.  Dirigido  ai  muy  alto,  y  muy  poderoso  sefior  Rey  de  Portugal, 
Don  luan  Tercero  deste  nombre. 

Coimbra,  officina  de  Manuel  Dias,  1657,  8.° 

Seguem-se  no  mesmo  volume,  com  paginação  e  numeração  especial: 

Libro  llamãdo  Aviso  de  Privados  y  Doctrina  de  Cortesanos; 

Libro  de  los  inventores  dei  arte  de  marear  y  de  muchos  trabajos  que  se 
passan  en  las  galeras. 

h)  Monte  Calvário;  primera,  y  segvnda  parte,  A  la  escellentissima  sefíora 
li.  Lvisa  Maria  de  Meneses,  marqvesa  de  Govveia,  y  Condeça  de  Portalegre, 
ele.  Compuesto  por  el  ilustre  sefior  !>.  António  de  Gvevara,  obispo  ih'  Mondo- 
nedo,  predicador,  y  chronista  mayor  dei  imperador  Carlos  Quinto,  y  de  su  con- 
sejo.  Traia  de  lodos  los  mysterios,  ele.  Lisboa.  A  despesa  de  António  Craes-. 
beeck  d»'  Mello,  Impressor  d,-  lu  Casa  Real.  Anno  MDCLXXVI. 

'i.":  a  primeira  parle  omi  313  pags..  a  segunda  com  362. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Gumiel  (Pablo  dei.— José  de  Torres,  incansável  investigador  de  tudo  o  que 
dizia  respeito  ao  archipelago  dos  Açores,  na  sua  numerosa  e  valiosíssima  Col- 
lecçâo  de  Variedades  Açorianas  possuia  um  exemplar  do  seguinte  poema  épico: 

La  Yieio  \  ria  q  tuim  don  Alua-  \  ro  liara  Marqs  de  i  Sãcta  Cruz  contra 
Felipe  Stroço  en  la  j  ysla  de  S.  Miguel  a  \  26  d'Iulio  1582.  \  Cõpuesta  por  Pa- 
blo |  de  gumiel  natural  \  de  Cuenca.  j  Dirigida  ai  muy  il-  \  lustre  sefior  Sebas- 
liã  !  de  Santoyo  de  la  ca-  j  mara  de  su  Mag.  '  Con  pri-     uilegio  \  Real. 

Não  tem  lugar  da  impressão  nem  nome  do  impressor,  mas  mostra  ser 
impressa  em  Lisboa,  onde  foi  para  isso  licenciada  em  5  de  novembro  de 
1582.  É  um  poema  épico  em  sete,  cantos  e  em  oitava  rima.  O  frontispício  está 
contido  numa  portada  gravada  em  madeira. 

Vide  Innocencio,  vol.  v,  artigo  José  de  Torres. 


|  123)  A   UTTERATDRA   «ESPANHOLA  EM  PORTUGA1  303 

Ha  mu  soneto  de  Pablo  de  Gumie]  numa  obra  idêntica:  La  victoriosa  con- 
quista, ele,  por  Garcia  de  Clareou  (Gaspar).  Vide  Gallardo,  lomo  111,  pag.  18. 

Outro  soneto  de  Gumie]  na  obra  El  sitio  y  toma  de  Anvers,  de  Miguel 
Giner    1587  ,  \  ide  Gallardo,  tomo  ru,  pag.  i6. 

Guzman  (Francisco  de),  a  Sentencias  qenerales  de  Fiancisco  de.  Guz- 
uniu.  agora  nueuamente  corrigidas.  Con  licencia,  Impresso  eii  Lisboa,  eu  casa 
Rodriguez  Afio  de  lõ98.  \  costa  de  Francisco  Perez  tíercader  de  libros 
y  vêdese  en  su  tienda  ai  Pelorinho  Velho. 

I  vol.  12.  .  180  lis.,  sendo  10  preliminares.  Registo  A.-P.,  todos  de 
1-2  lis.  A  numeração  é  erradíssima. 

Deve  ser  esta  a  edição  a  que  se  refere  Nicolau  António,  dando-lhe  o 
lilulo  de  Decreto  de  Sábios,  e  á  qual  se  referem  Salva  e  Brunei,  citando  o 
grande  bibliophilo  hespanhol. 

Ribeiro  dos  Santos  (pag.  I-Jii  diz  que  dos  prelos  de  Jorge  Rodrigues 
salina  ii  livro  Sentencias  generales  de  Francisco  de  Guzman,  in  16.°  Existia 
na  Bibliotheca  Hasseana. 

b)  Glosa  sobre  la  obra  qve  hizo  Don  George  Manrique  a  la  muerte  dei 
Maestre  de  Santiago,  Don  Rodrigo  Manrique  su  Padre.  Las  quales  se  pueden 
aplicar  a  estos  tiempos  presentes.  (Dois  gravados,  um  dos  quaes  representa 
um  cavalleiro  armado  e  o  outro  a  morte).  Dirigida  a  la  mini  alia.  y  min/  escla- 
recida, i/  Christianissima  Princesa  Dofía  Leonor,  Reyna  de  Francia.  Con  oiro 
Romance,  y  su  glosa,  quando  el  Emperador  Cario  Quinto  entro  en  Francia  por 
la  parte  de  Fíandes,  cm,  grande  exercito:  En  ri  afio  de  íõéõ.  Con  licencia,  en 
Lisboa.  Por  António  Aluarez.  Ano  1633. 

i      £0  il     rubricadas,  sem  paginação,  em  reclamos. 

Na  penúltima  pagina  e  depois  do  Laus-Deus  diz: 

Podesse  imprimir.  Em  Lisboa  en  Sancto  Elo//.  ■/  de  julho  dt  1619.  \l.  Vi- 
cente da  Resurrecção.  Con  las  licencio*  necessárias.  Em  Lisboa.  Vo,  António 
Aluarez.  .\inio  1633.  \a  mo  de  Don  lulianes.  sobre  o  arco  de  leses. 

A  ultima  pagina  é  oceupada  por  uma  gravura  representando  uma  coroa 
de  espinhos.  A  licença,  <  i  *  -  HW'.),  da  a  entender  que  houve  alguma  edição 
anterior  a  1633. 

As  duas  obras  descriptas  por  Gallardo  sob  os  u.    2:449  e  2:451. 

c)  Trivfnphos  morales,  de  Francisco  Guzman.  Dirigidos  ai  felicíssimo  Rey 
don  Phelipe  segundo  desto  nombre,  nuestro  sefíor.  (Armas  reaes  de  Hespanha). 
impressos  por  Andres  Lobato.  Ano  de  M.D.LX.XXYJj. 

8.°,  196  fólios,  principiando  a  uumeração  no  folio  5. 


304  .\   LITTERATURA  «ESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (124) 


O  exemplar,  pertencente  á  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto,  está, 
porém,  incompleto,  faltando-lhe  algumas  folhas  no  fim. 

Nas  preliminares:  licenças.  A  approvação  é  do  seguinte  theor: 

«Vi  por  mandado  do  supremo  Conselho,  da  Sancta  &  Geral  Inquisição, 
estes  Triumphos  de  Francisco  de  Guzmão,  &  não  tem  nada  contra  nossa  -anda 
fee,  &  bõs  costumes,  &  podense  imprimir.  F.  Bertholameu  Ferreyra». 

A  licença  é  de  17  de  junho  de  Ki85. 

No  verso:  Tabla  de  las  matérias;  Soneto  de  Simon  de  Ribera  corrector 
de  la  imprenta  en  loor  de  la  obra;  Soneto  dei  mismo. 

A  obra  é  adornada  de  muitas  gravuras,  mas  muito  toscas. 

Num  catalogo  do  livreiro  madrileno  Gabriel  Sanchez  (1885)  vimos  an- 
nunciado  um  exemplar  ao  preço  de  30  pesetas. 

Guzman  teve  grande  voga  em  seu  tempo,  como  o  provam  as  repetidas 
edições  das  suas  obras,  algumas  das  quaes  no  nosso  paiz.  Cervantes  ceie- 
brow-n  assim  no  seu  Carito  de  Caliope: 

De  aquel  que  la  Cristiana  poesia 

Tan  en  su  ponto  ha  puesto,  en  tanta  gloria. 

Haja  la  fama  y  la  memoria  mia 

Famosa  para  siempre  su  memoria: 

De  donde  naceá  donde  nmere  el  dia 

La  ciência  sea  y  la  bondad  notória 

Del  gran  Francisco  de  Guzman,  que  el  arte 

De  Febo  sabe  asi  como  el  de  Marte. 

Que  extraordinário  contraste  entre  este  elogio  e  a  apreciação  actual  dos 
auctores  do  Ensayo  de  una  biblioteca  de  libros  raros: 

«La  poesia  de  Guzman  es  ima  prosa  rimada,  árida  y  seca:  los  conceptos 
y  sentencias  son  comunes  y  triviales.  Es  libro  que  se  lee  con  fatiga  y  ancie- 
dad  (Los  Triunfos  moralesi».  Vide  n.°  2:444. 

Guzman  (Lorenzo  de). — El  primer  keroe  atribvlos  de  la  heroicidad,  con- 
templados. En  la  vida  de  Iosue,  Caudillo  dei  Pueblo  de  Bios:  y  el  primer  Heroc 
entre  los  siete.  Por  el  P.  M.  Fr.  Lorenzo  de  Gazman,  Lector  de  Theologia,  en 
S.  Felipe  dr  Madrid,  y  jubilado  en  la  Provinda  de  (Jastilla,  dei  Orden  de  san 
Aguslin.  En  Coimbra.  Por  Thomè  Carvallo  Impressor  de  la  Vnirersidad,  Ario 
limo. 

1G.°,  6  pags.  prel.  inn.,  187  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Henriquez  de  Guzman  i Dona  Felicianai.— a\  Tragicomeãia  |  Los  Jardi- 
nes   y  campos  sabeos :  j  primera  ij  seganda  pai  te  con  diez  coros  y  cuatrn  !  en- 


125)  A     UTTERATURA  HESl'ANIIOU  EM  l'ORTLT0AL  305 


treactas.  Compuesla  por  Dona  Feliciano  Henriqim  rf<  Guzman.  Dedicada  a 
Doha  Carlota  Henriquez  //  ti  Dofía  Madalena  de  Guz  mau  sus  hermanas 
Monjas  •  u  Santa  ínès  de  Sevilla.  (Escudo  aberto  em  madeira  .  Com  licencia, 
en  Coimbra  por  Jacome  Carvallo,  afio  de  1624.  Primera  parti 

1  vol.  í."    '  .  35  lis.  numeradas  pela  frente  e  mais  12  preliminares. 

N  fi >  >  consta  ter  existido  em  Coimbra  typographo  cham  ido  Jacome  Carvallo. 

Segunda    parle  de  la     tragicomedia     Los  Jardines  y  campos  sal 
compuesla  por  /'<</>«  Feliciano  Enriquez  dt  Guzman.     Dedicada  à  l>.  Lorenzo 
d-  Ribera  Gárabilo.  En  Lisboa  por  /'.  Crasbeck,  afio  </<   1624. 

\:\  36  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  '<  preliminares. 

Descriptos  por  Gallardo,  sob  os  n.os  2:463  e  2:464. 

ci  n.  Pascual  Gayangos  possuía  um  exemplar  d'esta  obra,  com  ;i  dilíe- 
rença,  porém,  de  que  a  primeira  parte  é  publicada  em  Lisboa,  sendo,  por- 
tanto, segunda  edição  portuguesa.  Descreve  a  assim  Barrera  no  seu  Cata- 
logo  (pag.  I  í  í  i : 

Tragicomedia:  Los  (ardines  y  Campos  Sabeos-.  Primera  y  segunda  parle, 
con  diez  coros  y  cuatro  entreactos.  Por  dofía  Feliciano  Enriquez  dt  Guzman. 
Dedicada  á  dofía  Carlota  Enriquez  y  á  dona  Madalena  de  Guzman,  sus  her- 
muitas,  monjas  em  Santa  Ynés  de  Sevilla.  (Escudo  de  los  Enriquez,  Guzmanes 
y  Leonês  Garavitos).  Con  licencia,  en  Lisboa,  por  Gerardo  de  la  Vifia,  afio  1627. 

i. 

Os  coros  e  entreactos  tem  portada  á  parte,  com  data  de  1628  e  sem  in- 
dicação typographica. 

Hernandez  de  Velasco  (El  doctor  Gregório).  -La  Eneida  de  Virgílio, 
príncipe  de  los  Poetas  latinos  traduzida  en  octaua  rima.  y  verso  Castellano: 
ahora  en  esta  vitima  impression  /'formada,  y  limada  con  macho  estúdio,  i/ 
cuydado,  de  tal  manera,  qut  se  puede  dezir  nueua  traduccion.  Dirigida  a  la 
S.  C.  H.  M.  dei  Rey  Don  Philippe  segundo  deste  nombre,  nuestro  senor,  Hase 
anadido  en  esta  octaua  impression  lo  siguienle.  Las  dos  Eglogas  de  Virgílio, 
Pnmrru,  y  Quarta.  El  libro  tredecimo  de  Mapheo  Vegio  Pacta  Laudense,  inli 
taludo.  Supplemento  de  la  Eneida  de  Virgílio.  Vna  tabla,  que  contiene  la  decla 
raciõ  de  los  nombres  próprios,  y  vocablos,  y  lugares  dificultosos,  esparzidos  por 
toda  la  obra.  Svstine,  et  obstine.  En  Lisboa.  Con  todas  las  licencias  necessárias. 
Impressa  en  casa  de  Vicente  Alvarez,    ino  Í614.  Tayxada  a  160  rs.  cm  papel. 

6  pags.  iim..  '-"iii  licenças,  dedicatória  (pela  subscripção  da  qual  se  vè  o 
nome  do  traduetor  el  Doctor  Gregório  Hernãdez  de  Velasco),  poesias  latinas 
ao  traduetor  e  um  soneto  em  hespanhol. 


.'{(Mi  \   I.ITll  li\TI  t(A   HESPANHOLA   EM  PORTUGAL  (126) 


Seguera-se  16  pags.  iim..  com  a  primeira  e  qilarta  éclogas.  Depois  é  que 
vem  a  Iraducção  da  Eneida. 

I  vol.  s.  peq.,  182  Qs.  numeradas  pela  frente,  mais  84  pags.  inn.,  con- 
tendo a  Tabla  ou  Declaracion  de  los  nombres  próprios,  y  lugares  difficul- 
tosos,  etc. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Escola  de  Bellas-Artes  de  Lisboa. 

Um  exemplar  vendido  por  1)5000  réis  no  leilão  de  Innocencio  Francisco 
da  Silva.  Vide  respectivo  catalogo,  n.°  1:976. 

Herrera  >  Alexandro). —  Akgacion  jurídica  en  que  por  las  verdades  mas  so- 
lidas <i>  In  jurisprudência  se  mueslra  el  infalible  derecho  con  que  los  reynos  ?/ 
sefiorios  <l<'  Espafía  pertenesen  por  mtterte  del-rey  Catholico  Cario  II ai  Semi. 
Sr.  Archiduqm  de  Áustria  Carlos  III.  verdadero  y  legitimo  Rey  de  las  Espafias, 

Lisboa,  1704,  folio.  Imprensa  de  Valentim  de  acosta  Deslandes. 

V  iiíts  do  catalogo  do  Marquez  de  Pombal. 

N.°  566  «lo  catalogo  de  Ferrão,  onde  vem  mais  largamente  descripta. 

N.°  1:773  do  catalogo  Duplicados  da  Bibliotheca  Publica  .Municipal  do 
Porto. 

Herrera  (António  de). —  Historia  de  lo  svcedido  en  Escoria,  e  Inglaterra 
en  qvarenta  y  qvatro  afros  que  riam  Maria  Esluarda  Reyna  de  Escoem.  Es- 
crita por  António  de  Herrera  criado  dei  Rey  nueslro  sefíor  %  Dirigida  a  Don 
Diego  Fernandez  de  Cabrera  y  Bobadilla,  Conde  de  Chinchon,  Mayordomo  de 
su  Magestad,  su  Tesorero  general  de  los  Reynos  de  la  Corona  de  Aragon,  y  de 
sus  Consejos  de  Araaon,  y  linha  e  Alcayde  de  perpetuo  de  los  Alcaçares  Reales 
de  la  Ciudad  de  Segouia.  Con  licencia,  ^f  Impresso  en  Lisboa,  por  Manuel 
de  Li/ra.  1590. 

8.",  173  fólios  numerados  pela  frente,  mais  3  inn.  de  Tabla. 

A  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  possue  dois  exemplares:  um  d'elles 
pertenceu  á  Cartuxa  de  Évora,  segundo  a  nota  manuscripta  no  verso  do  fron- 
tispício, a  qual  è  do  tbeor  seguinte: 

«Libro  de  la  Cartuxa  de  scala  coeli  que  dio  el  111. ra0  y  R.m"  enx.°  Padre 
D.  Theotonio  de  Bergança  Arçobispo  de  Euora  fundador  de  la  dha  casa... 

Nas  preliminares:  Licenças:  Dedicatória  do  auetor,  datada  de  Madrid  a 
20  de  maio  de  1589;  El  avtor  ai  lecior;  Approvação  do  Doctor  Abril. 

A  approvação  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira  é  muito  singela : 

«Por  mandado  de  S.  A.  examiney  este  liuro,  &  me  parece  digno  de  se 
imprimir. . 

Salva  descreve,  em  nota  ao  n.°  2:97o,  uma  edição  de  Madrid  (por  Pe- 
dro de  Madrigal)  1589. 


(127)  v    UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  307 


Herrera  Sotomayor  (D.  Miguel  de).-  Motivos  qiu  expone  Do»  Miguel 
de  Herrera  Sotomayor,  hijo  'li-1  capitah  de  infantaria  montada,  Don  Manuel 
i/r    Herrera,   Governador  en  actual  servido,  por  el  Calh  Espaíia 

ri  Seflor  l>.   Felippt    V.  (que  Dios  Guardt  •  de  la    Vueva  Galizia,  en  la  Ame- 
rica,  y  Nueva  Espana  Notário  Publico  ij    ippostolh 

di  la  Christandad,  par  la  Seá  Appostolica;  para  ar  r  venido  desde 
In  Ciudad  de  Badajoz,  n  esta  Corte,  con  la  milagrosa  imagen  de  Maria  San- 
tíssima, con  ri  iiiiila  ih'  Diriím  Pastora  de  mestras  aluais.  Con  «na  dedica- 
tória, sonetos,  y  decimas,  que  rmdidamentt  pone  debaxo  dei  Real  amparo,  de 
la  Sereníssima  Sefiora  Princeza,  dei  Bracil.  En  reconoscido  agradecimiento, 
par  ri  li, /to  vesti  <>.  <i»r  su  Alteza,  a  ilaila  ,i  dicha  Soberana  Pastora.  Lis 
boa:  Afia  M.DCC.XLII. 

1."  13  pags.  inii.  Tem  um  romance  heróico  e  um  soueto  cm  portuguez. 
Que  portuguezl  e  que  hespanhol ! 

(i  titulo  d'esta  obra  faz  lembrar  a  ponte  do  Manzanares  em  Madrid. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Hinojosa  y  Carvajal  (P.  I-'.  Álvaro  de).—  Libro  de  la  mia.  1/  milagros 
«A  s.  Ines  con  otras  runas  obras  a  la  Diiiino.  Compuesto  por  ./  /'.  /■'.  Aluaro 
de  Hinojosa  y  Caruajal,  Monge  de  S.  Benito,  Colegial  Theologo  en  el  Colégio 
de  S.  Benito  de-  Coimbra  en  el  Reyno  >l  Portugal.  Dirigido  a  Dona  las, ir 
Vargas,  y  Caruajal  muger  de  don  Rodrigo  Calderon  seftor  de  las  Vilas  de  siete 
Iglesias,  a  la  alma.  y  de  la  Camará  de  su  Magestad.  Con  privicegio  (sic)  Real. 
Tnpresso  com  licença  da  S.  Inquisição,  &  ar, Imana.  Em  Braga,  Em  rasa  de 
Fructuoso  Lourenço  de  Basto,  &  a  sua  custa.  Anno  H.D.CXI. 

I  vol.  í.",  1 1  (Is.  prel.  imi.,  107  pags. 

0  Libro  de  la  Vida  é  um  poema  em  10  cantos  e  oitava  rima.  Termina  a 
pag.  I7<>. 

.\as  preliminares:  Licenças;  Svma  do  Privilegio;  Licença  da  Ordem; 
Dedicatória  interessantíssima  a  Dona  lues  de  Vargas  3  Carvajal;  Al  Lector; 
Del  Capjtan  Don  Gaspar  de  Hinojosa  y  Caruajal  hermano  dei  imtor,  soneto; 
Del  Padre  Fraj  Ugustin  de  la  Gracia  Colegial  Theologo  enel  Colégio  de 
s.  Benito  de  la  Vniuersidad  de  Coinbra  ai  Autor,  endechas;  A  S.  Ines  virgen,  j 
mari.vr  cuya  vida  el  Vuthor  escriue  en  el  principio  deste  libro,  romance;  Tabla. 

As  prelimincres  comprehendem  li  fólios  inn.,  incluindo  frontispício. 

A  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  possue  Ires  exemplares  d'esta  obra. 

A  dedicatória,  interessantíssima  pelos  dados  biographicos,  é  do  theoi  se- 
guinte : 

«.1  Dofia  Ines  -Ir  Vargas,  y  Carvajal  muget  'ir  don  Rodrigo  Calderon  Se 
fuá  dr  las  Villas  de  sair  Iglesias,  y  la  alma,  y  ,1,  la  Camará  dr  su  Magestad. 


308  A  L1TTERATI  HA   HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (.128) 


■  Svelleo  los  hombres,  que  por  alguna  ocazion  forçosa  salen  de  sus  tierras 
dexando  a  caso  allá  algun  thesoro,  informar  dello  a  sus  hijos,  para  que  an- 
dando el  tiempo  -'pau  adonde  quedo,  j  puedan  áprouecharse  dei:  lo  mismo 
me  ha  acaecido  a  mi,  aquien  mi  padre  dou  íuan  de  Hinojosa  y  Caruajal  en 
compania  de  mi  madre  duna  [nes  de  Loyola  saco  de  Gastilla  mi  pátria,  \ 
Iraxo  de  quatro  anos  a  este  Reync  de  Portugal  por  ocasion  de  guerras,  en 
que  el  dicho  padre  mio  andaua  ocupado  siruiendo  a  su  Magestad  con  cargos 
de  milícia:  y  sacandome  (como  he  dicho)  de  mi  pátria  siempró  mis  padres 
tuuieron  especial  cuydado  de  auisarme  dei  lhesoro,  que  allá  les  quedaua,  y 
dei  lugar  donde  li'  bailaria.  Este  thesoro  es  el  de  la  nobleza,  j  antiguedadde 
sangre:  el  lugar,  adonde  me  dixèron,  que  lo  bailaria,  es  V.  m.  en  quien  depo- 
sito, v  athesoró  la  família  de  los  Caruajales  toda  su  hora,  nobleza,  y  virtnd 
juntandosele  a  esto,  para  que  en  todo  se  eternize,  y  queda  más  perfecta,  el 
felicíssimo  casamiento,  a  cuya  causa  se  vnió,  y  vinculo  esta  familia  con  la  de 
los  nobilíssimos  Calderones,  con  que  la  familia  Caruajal  quedo  en  su  punto, 
supuesto  que  ha  produzido  varones  muy  famosos,  q  todo  el  mundo  sabe,  y 
por  esso  dexo  de  nombrar:  y  no  va  fuera  de  camino,  que  yo  busque  este 
lhesoro  que  (como  digo)  está  en  Y.  m.  recopilado,  pues  por  auer  quedado 
tan  solo  me  puedo  tener  por  heredero  deste  bien,  pues  las  guerras  en  que 
la  mayor  parle  de  mis  deudos  más  cercanos  han  seruido,  los  han  consumido 
poço  a  poço  quasi  lodos:  conuiene  a  saber,  a  don  Auguslin  hermano  de  mi 
padre,  que  murió  peleando  en  vna  galera  de  Turcos  en  la  batalla  naual,  don 
Francisco  tambien  hermano  de  mi  padre  raurió  en  Chile  peleando,  don  Luys 
mi  hermano  muriò  viniendo  de  la  jornada  de  Bretana  el  ano  de  nouenta,  y 
cinco,  don  Luys  mi  sobrino  murió  en  el  Canal  de  Inglatierra  peléãdo  y  vlti- 
mamête  fue  Dios  seruido  de  lleuar  a  mi  padre  siendo  Castellano  dei  Castillo 
de  S.  Iuan  de  la  Foz  dei  Puerlo,  y  en  el  mismo  tiempo  ai  seíior  don  Aluam 
de  Caruajal  Limosnero  mayor  de  su  Magestad,  y  ai  seíior  don  Alonso  de  Soto 
mayor,  aquien  tenia  en  lugar  de  padre;  supuestas  estas  razones  alguna  he 
tenido  en  tenerme  (pues  he  quedado  tan  solo)  por  heredero  deste  bien,  aun- 
que  no  digo  bien  en  hablar  en  singular,  pues  somos  dos,  aquien  toca,  que 
es  el  Capitan  don  Gaspar  de  Hinojosa,  y  Caruajal  mi  hermano,  que  tiene  la 
misma  razon,  y  derecho,  que  yo:  yo  y  cl  con  tener  a  V.  m.  por  Senora,  y  am- 
paro no  sentimos  la  falta,  que  nos  han  hecho  los.  que  he  contado,  pues  todo 
lo  hallamos  en  V.  m.  aquien  suplico  acepte  este  pequeno  seruicio,  que  em- 
prendi  en  tiempo.  que  andaua  ocupado  en  mis  estúdios  solo  por  entender, 
que  seruia  eu  ello  a  V.  m.  por  tratar  en  este  liuro  la  vida  de  S.  lues,  aquien 
V.  ra.  por  muchas  razones  deue  de  ser  aficionada:  aerecenté  más  essas  varias 
obras,  porque  no  quise  partir  cosa  tan  poça  en  dos  libros:  y  por  lo  que  ga- 
naua  en  que  essas  obras  saliesseu  tambien  debaxo  dei  nombre,  y  amparo  de 


|  129)  A  LITTERATORA  HESPANHOLA   I  M   PORTUGAL  309 

V.  iii.  cuya  [Ilustríssima  persona  en  compania  de  mi  senor  dou  Rodrigo  guarde 
.•I  cielo.  Vale». 

n  auctoi  veiu  para  Portugal  aos  V  annos  de  edade,  por  occasião  de 
guei  ras. 

Este  livro  é  mu  valioso  Cancioneiro  de  devoção. 

Vi  obra  do  I'.  M.  Fr.  Gregório  Baptista,  monge  beneditino,  Completas  da 
vida  de  Christo  (Lisboa  l ( i ^ : i  ,  vem  um  soneto  em  portuguez  do  padre  Frej 
António  de  Caruajal,  Collegial  Theologo.  \.i  relação  de  Sardinha  Mimoso  vem 
duas  poesias  de  Hinojosa  ao  padre  António  de  Sousa,  auctor  da  tragi-come- 
ili;i  representada  pelos  jesuitas  cm  honra  de  D.  Filippe. 

Hita  (Gines  Perez  de).     Historia  de  los  vandos  de  los  zegris  e  abena  rrages. 
Lisbo;i.  António  Alvarez,  1610. 

Hontalba  et  Arce  il>.  Petrus  de). —  a)  Egrégia  sancti  sacramenli  Matri- 
monii  honorificentia.  Lisbonue.  1760. 
Folio. 

b\  Tractatus  apicilegius,  canonicus  foi-ensis  de  jure  supervenienti  in  onmi 
judicio.  Lisboa  1760. 
2  vi ils.  folio. 
Catalogo  da  liyraria  Pombal,  u."    1:036  e  1:039. 

Hurtado  de  Mendoza  (António),  a)  Vida  de-  V.  Senora,  \>or  António 
Hurtado,  ih'  Mendoça,  Comendador  d,'  Zunia,  de  la  Orden  de  Cqlatraua,  Se 
crelario  de  Camará  ih-  su  Magestad,  y  de  lusticia  en  la  Suprema  Inquisicion. 
En  Lisboa,  A  custa  de  Wigvel  Manescal,  mercador  de  Liuros  na  Rua  Noua 
MDCLXJX.  Com  iodos  as  licenças  necessárias. 

I  vol.  12.°,  \  pags.  prel.,  134  pags. 

Nas  preliminares,  a  dedicatória  á  Sereníssima  Infanta  de  Portugal  Con 
tem  786  quadras  uumeradas  e  mais  duas  por  numerar. 

Salva  uciona  como  primeira  edição  uma  de  Nápoles  de  Wúl. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

b)  Cl  Fénix  Castellano,  D.  António  de  Mendoça,  Renascido  de  la  grande 
Bibliotheca  dei  Ilustríssimo  Sefwi  I).  Lais  de  Sousa,  Arçobispo  de  Lisboa,  Ca- 
pellan  Wayor*  dei  Consejo  de  Estado  d'el  Sereníssimo  Reg  de  Portugal  Dou  Pe- 
dro 11.  A  la  excellentissima  sefiora  D.  Mariana  de  Sousa,  marqueza  de  Arron 
ches,  condessa  de  Miranda,  ele.  En  Lisboa.  En  la  Emprenta  de  Miguel  Manes 
cal,  Impressor  de  su  Ilustríssima.  WDCXC.  Con  iodas  las  licencias  necessárias. 

I  vol.  l.°,  a  -2  col.,  <>  pags.  prel.  inn.,  I6í  pags. 


310  A  I.ITTKKATIHA  BESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (130) 


Na  dedicatória  e  ao  prologo  fazem-se  os  mais  levantados  elogios  á  biblio- 
theca  de  D.  Luis  de  Sousa,  «aquella  gran  madre  de  toda  La  divina  y  humana 
erudicion».  Parece  que  a  edição  foi  feita  por  algum  manuscripto  que  possuía 
aquelle  bibiiophilo,  e  é  considerada  edição  ptinceps.  A  de  %drid  (Juan  de 
Zufiiga,  1728)  declara  ser  segunda.  Uma  e  outra  vêem  descriptas  no  Cata- 
logo de  Salva,  sm-'u<  dramática,  sob  os  n.0s  1:284  e  1:285.  Eis  o  Resumo  do 
que  contém  a  edição  de  Lisboa: 

«Vários  Romances,  Decimas  y  Letras  a  diferentes  assuntos; 

«El  Poema  Sacro  de  Maria  Santíssima; 

«La  Comedia,  No  ay  amor  donde  ay  agravio,  que  anda  eu  nombre  dei 
autor,  y  tiene  sus  duvidas; 

«La  Comedia,  El  trato  muda  costumbre; 

«La  Comedia,  Los  empenos  dei  mêtir; 

«La  Comedia,  Mas  merece  quiê  mas  ama ; 

«La  Comedia,  Querer  por  solo  querer; 

«Las  (lestas  de  Aranjuez»: 

Bello  exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  dourado  por  folhas, 
com  armas  nas  pastas.  É  pena  estar  traçado. 

0  Santo  Officio,  dando  licença  para  a  impressão  das  obras,  não  permit- 
tiu  comtudo  que  se  publicasse  o  romance,  que  começa  «De  tu  beldad  sòn  pri- 
mores» e  tem  por  titulo  A  una  Dama.  que  lenia  un  nouio  &c. 

A  Vida  de  Nossa  Senhora  compõe-se  de  788  quadras  e  tem  estas  obser- 
vações a  seguir: 

«Este  Romance,  haviendo  alcançado  tau  elevado  punto  de  piedad,  y  ele- 
gância, auu  no  conseguió  la  ultima  demano  de  su  Author,  assi  se  colige  de 
la  siguiente  advertência,  que  está  en  el  manuscripto  ai  fim: 

«Hase  de  pintar  la  porfia  de  las  Cores  de  los  Angeles,  sobre  de  que 
Hierarquia  havia  de  ser  la  Virgen ;  si  dei  Amor  de  los  Seraflnes,  y  assi  de 
las  demás  virtudes  de  las  otras  Hierarquias,  y  que  fue  el  pfimer  pleito  en 
que  todos  tuvieron  razon.  Y  tambien  que  los  Patriarcas,  y  Profetas  buscaron 
alli  eminência  de  sus  Virtudes,  y  fueron  dibuxo  de  las  que  en  aquel  género 
tenia  Mana. 

«Algunas  coplas  sueltas  estavan  tambien  escritas  ai  tin,  las  quales  se  han 
colocado  donde  han  parecido  más  oportunas,  menos  Ias  dos  siguientes,  que 
estavan  duplicadas  con  otras.  que  se  han  puesto  en  su  lugar,  que  lodo  de- 
nota, que  su  dueno  aun  no  habia  perfeccionado  esta  Obra». 

Seguem-se  mais  duas  quadras. 

c)  Tractado  llamado  el  desseoso  y  por  otro  nombrè  Espejo  de  Religiosos 
Agora  de  nuevo  corregido,  ij  afíadida  la  seria  parle,  que  hasta  agora  no  ha 


(131)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  1)1  PORTUGAL  311 

sido  impressa.  En  Lisboa.  Impresso  con  licencia  de  la  Saneia  y  General  Inqm 
sicion,  y  ordinário:  Por  António  Miou:.  Íõ88. 

8  ,  8-268-4  fólios. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

Ha  outra  edição  mais  antiga,  de  que  fala  A.  Ribeiro  dos  Santos,  1/  »i 
rias,  pag.  P27.  Vide  Gallardo,  n.°  590. 

Hurtado  de  Mendoza  (Diego).     Lazarillo  de  Tormes.  Historia  entretenida, 
etc.  Lisboa,  Domingos  Carneiro,  1660. 
!.",  'i7  pags. 
Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Ignacio  de  Porres  (D.  Francisco),  a)  Escvela  de  discursos.  Formada  ti 
sermones  vários,  escritos  por  diferentes  Autores,  Maestros  Grandes  de  la  Predi 
cacion.  Con  tabla  para  las  Ferias  mayores  de  Quaresma,  dispitesta  por  el  do- 
çtw  D.  Francis  Ignacio  de  Porres.  Ano  (escudo  do  livreiro:  um  sol,  toado  por 
baixo  oblectat  et  ilvminat)  1649.  En  Lisboa,  Con  licencia.  Kit  la  Imprenta  i 
Pablo  Craesbeeck. 

1.",  15  fls.  prel.  inn.,  17-2  numeradas  pela  frente. 

No  verso  do  frontispício,  Index  dos  sermones  (13),  que  são  dos  seguin- 
tes auetores:  Pedro  de  Sant  Joseph,  Pablo  de  .Me/a,  Cosme  Zapata,  Gregório 
de  Santilan,  Manuel  de  Naxera,  Francisco  Riojano,  Ignacio  Cotino,  luan  Antó- 
nio Vzon,  Frantiseo  Boil,  Francisco  de  Quintana,  luan  Telles  de  Portillo, 
Andres  Seraple  de  Touar,  Diego  Curie  de  Ayala.  O  ultimo  sermão  (xiu)  de  la 
Gloriosa  Santa  Engracia,  de  Manuel  de  Naxera.  tem  frontispício  e  numeração 
aparte  (24  fólios)  e  é  datado  de  1648. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

b)  Discvrsos  morales  paru  los  miercoles,  viernes,  y  domingos  ti*'  la  evan 
Contenidos  en  el  primer  tomo.  1  Lvnes,  martes,  jveves  y  sábados  en  el  segundo. 
Con  indice  para  las  ferias  mayores  de  la  cuaresma.  Por  el  doctor  D.  Francisco 
Ignacio  de  Porres.  A  la  sagrada  y  esclarecida  Religion  de  la  Compafíia  de 
Iesvs.  Impressos  tercera  vez.  En  Lisboa.  En  la  emprenta  de  Lorenço  de  Am  - 
res  y  a  su  cosia.  Anuo  MDC.XLIIH. 

1.",  2  pags.  prel.  inn.,  8í<;  pag.,  afora  Tabla. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Tomo  tercero.  Idem,  idem,  MDCXLV. 

í7."i  pags. 

É  muito  curiosa  a  approvação  do  chronista  l'r.  Francisco  Brandão,  elo- 
giando o  auetor  por  considerar  Vjriato  portuguez. 

Hist.  e  Mem.  da  Acad.—  Tomo  mi  parte  h.—  NT.°  5.  H 


312  A  LITTERATORA  HESPAWHOLA  EM  PORT0GÀL  (132) 

d 1  Discvrsos  elocventes  en  alabança  deâiezmntoe.  Estritos  per ú  deter 
Don  Francisco  Ignacio  de  Porres,  Catedrático  de  la  lenam  Sagrada  en  la 
Vniuersidad  de  Alcala.  Dedicados  ai  illvstrissimo  sefior  Don  Rodrigo  de  Mello, 
hijo  dei  muy  Ilustre  Sefior  Marques  de  Heirera.  Co»  Tabla  para  las  ferias 
mayores  de  maresma.  En  Lisboa  en  la  enprenta  de  Domingos  Lopes  Rosa  y  a 
su  costa.  Ano  de  M.DC.XXXXVIII. 

'i.1.  9  n>.  iiin..  561  pags.,  afóra  Tabla  innumerada. 

O  airte-rosto  é  uma  grande  e  bella  gravura,  assignada  V;  escudo  de 
armas  encimado  por  um  chapéu  episcopal  ou  cardinalício. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Inês  de  la  Cruz  (Soror  Iuana).—  Tercer  tomo  de  las  obras,  y  fama  pós- 
tuma de  sor  Juana,  etc. 
Lisboa  1701,  4.° 
Barrem.  Catalogo.  ■  ■  dei  teatro  amigue  espafiól,  pag.  112. 

Insigne  mctoria  que  el  Sefior  Marquez  de  Guadalcazar,  Virrey  en  el  Reyno 
dei  Piru,  ha  alcançado  en  los  puertos  de  Lima,  //  Callao,  contra  vna  armada 
poderosa  de  Olanda,  despachada  por  orden  dei  Conde  Maurício.  Dase  atenta  dt 
como  ii  enemigo  lle.uaua  intento  de  coger  la  prata  de  su  Magestad:  y  cl  desas- 
trado fui  que  tuuo  por  mono  de  los  Espafióles.  Auisase  tambien  de  vna  declarar 
cion  que  hizo  m  soldado  dei  enemigp,  Francis  de  nacion,  y  en  su  profession 
Católico,  llamado  Iuan  de  Bulas,  que  huyô  de  su  exercito,  ante  el  schor  Virrey, 
a  ocho  de  Enero  deste  ano  de  1625. 

Este  titulo  está  no  alto  da  primeira  pagina. 

No  fim  tem  as  licenças,  em  poríuguez,  de  agosto  de  1625,  e  a  taxa, 
a  4  réis.  Sem  lugar  de  impressão.  As  licenças  são  de  Lisboa. 

Fulio  pequeno,  4  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Islã  (Lasaro  de  la). —  No  catalogo  do  Marquez  de  Castello  Melhor  vem 
descripla  sob  o  n."  1:655  a  seguinte  obra,  cujo  auetor  parece  ser  hespauhol, 
embora  o  titulo  seja  em  portuguez: 

Breve  tratado  da  artilharia. 

Lisboa  1676,  8.° 

Jarava  (Hernando).— Por  debaixo  de  uma  gravura  representando  um  rei 
(David»  tocando  no  psalterio,  e  ao  fundo  uma  cidade  oriental,  lè-se  o  seguinte: 

«Libro  muy  prouechoso  para  todo  fiel  christiano  el  qual  mãdo  traduziria 
muy  poderosa  y  chrislianissima  seíiora  Leonor  Reyna  de  Frãcia». 


i3.'i'  A   UTTERATCRA  HESPANHOLA   EM  PORTUGAL  3i.'l 


0  grifado  a  tinta  preta,  o  mais  a  encarnado.  \  gravura  é  a  mesma  do 
Liuro  atra  hos  sete  peccados  mortays,  que  vem  reproduzida  no 
Diccionario  de  Innoceucio,  lomo  x.  artigo  Diogo  Oitiz.  O  Livro  dos  remédios 
foi  impresso  por  Luis  Uodrigues  em  1543. 

No  verso  do  titul lenço  da  obra : 

•Lo  que  se  sigue  en  el  presente  libro  es  I"  siguiente: 
Los  siete  psaim  is  penitêciales ; 

luioze  psalmos  dei  canticungrado ; 
>Las  lamentaciones  de  Jeremias: 
•  jjuese  lo  prime ro  ma  carta  para  la  dicha  reyna :  en  la  qual  se  declara 
como  .se  lia  de  entender  todo  lo  que  en  este  libro  va  escrito; 
•Otra  carta  para  el  lector: 

tTraduzido  por  el  maestro  Hernando  laraua  capellan  de  la  dicha  sefiora 
Reyna». 

A  carta  á  rainha  de  França  é  muito  interessante.,  como  se  pode  avaliar 
pelo  primeiro  período,  que  transcrevemos: 

aPudiera  ai  presête  tener  acabado  de  traduzir  todo  el  psalterio  \  embiar 
a  vuestra  magestad  los  psalmos  que  me  falta  por  embiar:  sino  porque  de 
nueuo:  quãdo  me  parti  d'  paris  vuestra  magestad  me  mãdo  traduzir  las  lamê- 
-  de  Jeremias:  y  que  en  ellas  pusiesse  vna  breue  exposiciõ  de  la  ma- 
nera  q  la  ponia  en  los  psalmos:  lo  qual  yo  he  heclio  aun  que  uo  lan  presto 
como  quisiera:  porq  he  estado  de  cõtino  muy  enfermo:  despues  que  a  esta 
vriiuersidad  vine». 

1  vol.  8.°,  sem  paginação,  rubricado  em  baixo,  impresso  a  vermelho  e 
preto,  caracteres  golhicos. 

No  fim:  Fue  impreso  enla  muy  noble  y    sãpre  leal  cinda  d  de  Lixboa:  en 
In     oflicina  d'  Luys  Rodrigues  libre  \  ro  delRey  nosso  sefior.  Fue  visto  j  por  los 
deputados  de  la  Sancta     Inquisicion.  Acabose  aios     quinze  dias  dei  n 
mil  y  qui    nientos  y  qua  \  rêta  y  qua     tro  nuns. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Vide  Fiinia  (Gomes  de  Santa),  Psalterio  de  Lisboa,,  de  1529. 

v  índice  probibitivo  de  1578,  elaborado  por  Kr.  Barlholomeu  ferreira, 
vêem  prohibidos  os  Psalmos  Penitenciaes  &  o  Canticum  grado  &  as  Lamen- 
tações romançadas  por  mestre  laraua. 

Joseph  (P.  Fr.  Jorge  de  S.  .  El  Solitário  contemplativo,  y  gvia  espiritval, 
sacada  de  diuersos  Sonetos,  y  Padres  espirituales.  Compuesto,  y  recopilado  poi 
el  P.  Fr.  Jorge  de  S.  Joseph  Religioso  descalço  dei  Ordê  de  N.  Sefiora  rfi  la 
Merced,  Redêpciõ  de  Captiuos  de  la  Prouincia  dei  Andaluzia.  Dedicado  a  N.  P. 
Rmo.  i).  Frãcisco  dx   Ribera.  M.  en  S.  Theologia,  digníssimo  General  de  todo 


314  A  UTTERATORA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (134) 

el  Orden  de  .v.  S,  de  la  Merced,  Redêpciõ  de  captiws,  Sefior  de  Alijar.  En  Lis- 
boa con  las  licencias  necessárias,  por  lorge  Rodrigues.  Afio  1616. 

1  vol.  8.°,  7  fls.  prel.  inn.,  125  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotlieca  Nacional  de  Lisboa. 

Joseph  (Maria  de  S.).  Uma  das  fundadoras  do  convento  carmelitano  de 
Santo  Alberto,  em  Lisboa,  lendo  vindo  para  esse  fim  de  Sevilha.  Tinha  algum 
talento  poético  e  fazia  composições  dramáticas  acomodadas  ao  exercício  das 
noviças:  entre  ellas  um  dialogo  entre  uma  mestra  e  uma  discípula.  Fr.  Bel- 
chior de  Sant  Anna  insere  no  tomo  i  da  Cluonica  de  carmelitas  descalços  diver- 
sas poesias  d'esta  freira.  O  seguinte  soneto  faz  parte  do  sobredito  dialogo: 

Pobre  •'!  vestido,  limpio  sin  cuidado, 
Vn  rostro  afable,  grane,  alegre,  bonesto, 
Vn  trato  honroso,  sincero  y  modesto. 
A  la  verdad  >■!  coraçon  ligado. 

Vn  valoroso  peebo  ai  bien  atado, 
Sin  que  temor,  o  amor  le  mude  el  puesto, 
Conforme  a  Dios,  en  todo  ai  hombre  opuesto, 
Por  si  mismo  temblando  sossegado. 

Buscar  a  Dios,  por  solo  ser  Dios  bueno, 
Abraçar  eon  el  alma  la  pobreza, 
Tener  por  liberlad  el  ser  mandada, 

El  coraçon  vazio,  de  Dios  Ueno  : 
Conocer  la  soberuia  en  su  baxeza, 
Esto  es  ser  Carmelita  reformada. 

Joseph  (Fr.  Pedro  de  San). —  a)  Sermon  de  la  saneia  ervz  predicado  por 
el  R.  P.  fray  Pedro  de  San  Ioseph  Redor  dei  Colégio  de  Augústinos  descalços 
de  la  Ciudad  de  Huêsca,  en  la  veneracion  particular,  que  la  Ciudad  de  Cala- 
tayud  hizo  a  la  Saneia  Cruz,  en  la  Parroquia  de  San  Andres,  de  la  dicha 
Ciudad.  Dado  a  la  estampa  por  el  doctor  Don  Francisco  Ignacio  de  Porres. 
En  Lisboa,  por  Pablo  Craesbeeck  Ano  de  1*548.  (Traz  no  principio  a  relação 
de  19  sermões,  que  hão  de  ser  dados  á  estampa  por  1).  Francisco  Ignacio  de 
Porres.  Este  é  o  primeiro). 

4.",  14  (Is.  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotlieca  Nacional  de  Lisboa  (collecção  n.°  2:048). 

6)  Glorias  de  Maria  Santíssima  en  sermones  dvplicados  para  todas  svs  fes- 
tividades. Por  el  Padre  Fr.  Pedro  de  S.  Joseph,  Dipnidor  de  la  Prouincia  de 


(135)  A  l.irmiAIM,  \   HESPANHOLA  EM   PORTUT.A]  315 

Castilla  de  Agustinos  Descalços.  Em  Coimbra.  Na  Oficina  de  Thome  Carualho 
Impressor  da  Vniuersidade  inno  de  1658. 

\:\  li  pags.  prel.  ian.,  546  pags.,  afóra  Tabla. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Discvrsos  morales  para  domingos!  miercoles,  ij  viernes  de  qvaresma,  prt 
r/i  la  catedral  dt  In  civdad  dt  Hvesca.  Por  el  P.  Fray  Pedro  de  S.  Jo- 
seph,  prior  dei  Conuento  de  Barcelona  de  Agustinos  Descalços.  Los  discvrsos 
para  los  restantes  dias  de  la  semana  irán  en  el  segundo  Forno,  con  que  salirà 
a  luz  toda  la  Quaresma  continua,  como  en  dicha  Catedral  se  predico.  Con 
iodas  as  licencias  necessárias.  Em  Coimbra.  Na  Officina  de  Manoel  Dias  Im- 
pressor da  Vniuersidade  inno  do  Senhor  Í663. 

1  vol.  i.",  2  lis.  inii..  274  (ls.  numeradas  pela  frente,  afóra  Índice. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Laso  de  la  Vega  (Garci). —  a)  Obras  \  de  ,  Garcilasso  dela  Vega  \  Prín- 
cipe de  los  Poe  \  las  Castella-  j  nos.  [  Cuidadosamentt  revistas  en  esta  \  ultima 
edicion  por  ri  Doctor  \  buis  Brist  fio  de  Córdova  ,  residente  <■»  Madrid.  \  Dedi- 
cadas |  a  Don  Vicente  Noguera  Referendário  \  de  ambas  signaturas  de  su  San- 
tidad,  [  dei  Consejo  de  las  dos  Magestades  |  Cesárea  i  Catholica;  Gentil-  |  hom- 
brt  'Ir  In  Camará  dei  sereníssimo  Archiduq  \  de  Áustria  Leo-  |  poldo.  \  Con 
■  das  las  licencias  necessárias.  /•.'//  Lisboa.  |  i>m-  Pedro  Crasbeeck.  Impressor 
dei     lie;/  N.  S.  1626. 

1  vol.  12.°,  18  pags.  prel.  iiiu.,  141  pags. 

As  preliminares  contém:  Licença.  No  verso  d'esta  um  brasão,  talvez  o  de 
Nogueira,  com  dístico  latino,  em  verso,  por  baixo;  Dedicatória  do  editor 
D.  Luis  Briseno  a  D.  Vicente  Nogueira;  Prologo  de  Luis  Briseno. 

Da  dedicatória  extrahiremos  <>  seguinte  curioso  trecho: 

«Movido  yo  deste  parecer,  i  de  vários  ruegos  de  otros  muclios  amigos, 
determine  encargarme  deste  trabajo;  i  en  orden  a  el  pedi  a  V.  m.  el  ano 
passado,  que  de  su  raríssima  i  selectissima  bibliotheca  me  socorriesse  con 
algun  buen  manuscripto  de  Garcilasso,  para  cotejar  con  el,  lo  ya  impresso; 
i  publicar  lo  que  aun  no  lo  estuviesse :  i  andando  aora  en  esto,  llegaron  de 
ahi,  bien  acaso  a  mis  manos,  unas  Lusíadas  dei  famoso  Camões,  en  forma 
muy  pequena:  mas  de  letra  tau  legible.  que  Inego  ia  codiciè  para  mi  libro; 
i  me  resolvi  (aunque  fuesse  con  mucho  mayor  costa)  a  hazerle  imprimir  eu 
essa  ciudad  de  Lisboa;  porque  no  see  que  en  ninguna  otra  de  Espana  se 
hallen  semejantes  caracteres;  i  tambien  porque  a  la  sombra  de  tal  Mecenas, 
como  V.  m.  i  en  su  vezindad  no  podrã  temer  ninguna  contradicion  o  azar: 
antes  bien  saldra  a  la  plaza  con  gran  confiança.  Ofresco  pues  a  V.  m.  las 


.''.  |l>  A   I.ITTKUAIUHA  HE8PANH0LÁ  KM  PORTUGAL  (136) 

obras  deste  ilustre  Cavallero,  Príncipe  de  nnostra  poesia:  i  ofrescoselas  mui 
justamente:  porque  siendo  V.  na.  tarabien  por  sus  padres  abuelos,  i  ascen- 
dientes  Cavallero  ilustre  parece  Príncipe  eu  todas  las  dotes  de  un  grau 
animo:  etc». 

u  elogio  prosegue. 

V  dedicatória,  assignada  pelo  Dr.  Luis  Briaeão  (ie  Córdova,  tem  a  se- 
guinte data:  «Madrid  2  de  Mayo  de  1626». 

0  prologo  é  do  mesmo  e  d'elle  sacamos  os  seguintes  dizwes: 

«Algunas  otras  Poesias  ai  snyas  aun  no  publicadas,  que  procure  haver, 
mas  en  balde:  pues,  si  bien  interpuse  médio  tau  autorizado  i  eficaz,  como  el 
dei  sefior  Don  Vicente  Noguera  dei  Goosejo  de  su  Magestad,  l'ue  mui  tarde; 
porque  las  que  su  merced  heredò  de  la  senora  Dona  Iuana  de  Castro  (a  la 
qual  las  havia  dado  el  Maestro  fray  Domingo  de  Guzman  escritas  de  su  pró- 
pria mano,  por  legitimas  de  su  padre)  estava  ya  mera  de  las  suyas,  que  en 
las  tan  liberales  nada  para  mucho;  i  havialas  presentado  a  quien  pensaua  que 
las  publicaria,  mas  no  lo  hizo,  i  ni  aun  aora.  haviendosele  instãtemente  para 
esta  ocasiõ  pedido  (siquiera  prestadas)  se  las  bolviò». 

A  avaliar  pelos  trechos  transcriptos,  vè-se  bem  quanto  é  o  valor  da  dedi- 
catória e  do  prologo  para  a  biographia,  não  só  do  poeta,  mas  do  erudito 
Vicente  Nogueira,  sob  cuja  protecção  se  publicaram  outras  obras  hespanholas. 
O  Santo  Officio  encontrou  no  seu  espolio  noventa  e  seis  exemplares  da  edição 
de  Garcilasso.  Diz  assim  a  verba  do  inventario  inquisitória! :  «Garcilassos  no- 
venta e  seis  volumes,  também  em  papel,  a  oito  rs.,  valem  setecentos  sessenta 
e  oito  rs.» 

Quem  seria  o  individuo  a  quem  D.  Vicente  Nogueira  emprestou  o  ma- 
nuscripto  de  Garcilasso?  É  muito  de  crer  que  fosse  Tamayo  de  Vargas,  que, 
em  1622,  publicara  em  Madrid  as  obras  do  poeta.  Eis  aqui  uma  passagem 
do  editor  que  abona  a  nossa  hypothese : 

«De  los  versos  castellanos  (de  Garcilaso),  demas  de  los  que  havemos  hal- 
lado,  pudieramos  anadir  otros,  devidos  á  Ia  diligencia  i  curiosidad  de  don 
Vicente  Noguera  i  de  don  Francisco  López  de  Aguilar,  que  con  liberalidad 
me  los  comunicaron,  si  no  temiera  las  dudas  de  nuestros  Aristarchos». 

O  exemplar  que  examinámos  pertence  á  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa ; 
é  impresso  no  mesmo  typo  diamante  da  edição  dos  Lusíadas  de  1626.  Perten- 
cera a  Monsenhor  Ferreira  e  acha-se  encadernado  com  a  Silvia  de  Li/sardo, 
recopilada  por  Lourenço  Crasbeeck  e  impressa  por  Pedro  Crasbeeck. 

b)  Obras  |  de  |  Garcilasso  \  de  la  Vega  |  Príncipe  de  los  Poe-  |  tas  Cas- 
tella  |  nos.  \  Al  Revercndis-  \  simo  Padre  Frag  Luis  de  |  Sosa,  Religioso  de  la 
Orden   de  San  |  Auguslin.  |  Con  las  licencias  necessárias.  |  En  Lisboa.  |  Por 


(137)  A  LlTTi:i;.vui;.\   BE5PAMH0LA   EM   PORTUGAI  '.\  I  i 

Lourmço  Craeshe$i  \  Asm  1632.  |  .1  cosia  tbeeck,  merca 

libros. 

I  vol.  i2.°  (ou  Hi."-.'.  typo  diamante,  5  il>.  prel.,  141  pags. 

Nas  preliminares:  licenças;  dedicatória;  prologo  de  Briseno.  \  dedica- 
tória, em  vez  de  ser  a  Vicente  Nogueira,  é  em  portuguez,  de  Paali 
Craesbeeek  a  Fr.  Luis  de  Sousa.  0  prologo^  de  Briseno,  é  mutilado  na  parte 
que  diz  respeito  às  diligencias  empregadas  para  alcançar  o  maausGripto  de 
Nogueira. 

Exemplar  da  BiWiotheoa  Nacional  de  Lisboa.  No  tini  do  prologo  tem 
escripto  por  letra  de  mão;  «He  de  António  da  Paixão  da  Costa  e  Craesbeck». 


Notamos  que  os  dois  primeiros  versos  do  primeiro  soneto  de  Garcilaso, 
Quando  me  paro  a  contemplar  mi  estado,  são  semelhantes  aos  dois  primeiros 
do  primeiro  soneto  das  Rimas  Sacras,  de  Lope  de  Vega. 

Da  edição  de  Ki-ii;  havia  um  exemplar  (n.°  &746)  no  leilão  do  Marquez 
de  Castello  Melhor. 

Ledesma  (Alonso  de),     a    Conceptos     Espiritvales    De  Alonso  de     !.■ 
desma,  natural  de    Se§ouiaL     Dirigidos  a  nvestra     Sefíom  de  Fnenci4a.  (Gra- 

vurinha.  representanâe  Nossa  Senhora  a  amamentar nino  .  En  Lisboa. 

Impresso  eon  Ucentia  ih-  In   Sanefa  Inqui    mim:  Por  António  Aluar ez.  \ 
Ano  160$. 

I  vol.  *.".  i;í  ils.  prel.  irin..  258  lis.  nunieradas  peia  frente,  mais  13  pags. 
inn.  de  Tabla. 

.Nas  folhas  preliminares:  licenças;  dedicatória  do  aactor  a  Nossa  Senhora 
de  Fueucisla;  de  fray  Juan  de  Arenas  ai  lector;  carta  de  la  Civdad  de  Se- 
gouia  ai  Consejo  Real;  redondillas  de  Don  DiegO  de  Abendano y  dei  Alama  a 
Nvestra  Sehora :  versos  ao  auetor  de  Francisco  \i'ias  de  Vargas.  Rieronymo 
de  Virucs  y  Árias.  Alonso  Franco,  Franri.ro  de  Vergara,  António  Garcia, 
Alonso  Rosales  Aguilar,  Juan  de  Cootreia.-. 

í,  curiosa  a  analyse  do  padre  revedor,  que  é  da  tbeor  seguinte: 
«Podese  imprimir  emendado  em  alfas  logares,  que  tem  as  emendas  em 
a  margè,  &  o  cabo  do  libro  estão  as  folhas.  E  he  necessário,  que  se  confirão 
despois  de  impresso  com  este  original,  porque  tem  algua  erros  claros,  como 
he  folhas  13.  Christo  nacio  eselauo,  que  esta  cõdènade  por  el  Papa  lla- 
driano  X  (sit)  &  por  o  ConcrRo  Franesfordíense  acisoeieatos  anos  ha,  4  fo- 
lhas 232  (está  um  pouco  illegivel  este  numero)  dize  que  Christo  es  Dios,  y 
vn  alma  de  Dios.  Este  segSdo  es  Cambies  erro:  "\  assi  iene  otras  cosas  seme- 
Ihanles,  que  emenden  leyendolo  todo  leter  por  leter.  S.  Roque  i  de  Mayode 
602:  Pêro  Paulo  Foreyro». 


318  A  LITTERATURÀ  HKSfAMK >l.A  KM  PORTUGAL  (J*^) 

Este  jesuíta,  se  uâo  era  hespanhol,  parecia-o,  pela  mistura  que  aqui  faz 
das  línguas  portugueza  e  hespanhola. 

Bonito  exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

//)  O  catalogo  da  livraria  Ferrão  nua  Larga  de  S.  Roque)  cita  outra  edi- 
ão  de  1602  e  do  mesmo  impressor.  É  possível,  attendendo  á  data  da  licença. 
Vide  respectivo  catalogo.  n.°  635. 

A  Segunda  Parle  de  los  Conceptos  Eapirituales  l Burgos,  1606i  traz  pri- 
vilegio  para  Portugal  (20  de  setembro  de  1605)  e  notificação  do  privilegio 
portnguez.  Vide  Gallardo,  n.°  2:t>62. 

Os  jesuítas  cantaram  na  Ethiopia  uma  poesia  de  Ledesma.  Vide  Relação 
dé  Fr.  Manuel  da  Veiga,  pags.  38  e  seguintes. 

Ledesma  (Fr.  Martinho  de).-- Era  professor  na  Universidade  de  Alcaiá, 
de  onde  veio  para  a  de  Coimbra,  jubiiando-se  depois  de  30  annos  de  serviço. 
Falleceu  em  Coimbra  a  15  de  agosto  de  1574.  Jaz  sepultado  na  capella-mór 
do  collegio  de  S.  Thomaz.  Vide  Sousa,  Historia  de  S.  Domingos,  parte  i, 
livro  ni,  capitulo  v. 

Foi  revisor  de  livros ;  entre  outros  deu  a  approvação  para  a  Vida  &  mi- 
lagres da  gloriosa  Raynha  sancta  Isabel,  impressa  em  Coimbra  em  1560. 

No  conselho  universitário  de  8  de  fevereiro  de  1546  pediu  elle  licença 
para  ir  a  Roma,  por  estar  eleito  para  o  capitulo  geral  da  sua  ordem. 

Ba  delle  uma  trova,  entre  outras  que  se  fizeram  aos  filhos  do  Conde  de 
Odemira,  por  irem  caçar,  escondidos,  na  Semana  Santa  a  um  logar  seu,  por 
nome  Velarinho.  Eis  a  trova  de  Ledesma: 

Quieia  Dios  que  no  sea  esta 

La  caza  de  Roncesvalles, 

Que  os  perdais  alia  eu  las  ealles, 

Y  aqua  deis  nesta  ante  fiesta. 

Culpa  lá  se  manifiesta, 

Fue  sin  tempo  y  sin  designo 

La  casa  de  Velarinho. 

Estas  trovas  foram  publicadas  por  Joaquim  Ignacio  de  Freitas  no  opúsculo 
intitulado  Sonetos  a  D.  Guiomar,  Coimbra  1826. 

Ignacio  de  Moraes  dedica-lhe  os  seguintes  versos  no  seu  Conimbricae 
Encomium: 

Templuin  etiam  dominice  tibi  candore  refulget,  Coikgium  Sanai 

Atque  nouum  extruitur  non  proeul  à  veteri.  Donuma. 

Pnpfeclus  staluit  Martinus  Pallade  doctus  Frater Martin  de 


Cndesti,  atque  idem  relligiosus  homo. 


(139)  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  3  19 


a    In  quartum  libram   Magistrx  sententiarum.   Conimbricae   tõõõ-1560. 

2  rols.  folio. 

N."  2:034  dos  Duplicados  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

Martinho  de  Ledesma  foi  examinador  da  Santa  Inquisição  na  Universidade 
de  Coimbra,  segundo  se  deprehende  das  seguintes  obras: 

No  verso  da  Preparação  espiritual  de  catholicos  vem  a  seguinte  declaração: 

«Foy  vista,  examinada  e  approuada  a  presente  obra  pelos  veneraueis 
doutores,  mestre  Payo  Rodrigues,  e  mestre  Frei  Martinho  de  Ledesma,  exa- 
minadores da  Sancta  Inquisição,  em  esta  real  Vniuersidade  de  Coimbra  e  com 
sua  authoridade  impressa». 

A  Preparação  concluiu  a  sua  impressão  em  Coimbra  a  12  de  outubro  de 
1549.  Vide  Innocencio,  tomo  vn,  pag.  ±1. 

\  nina  de  l>.  Sancho  de  Noronha,  impressa  em  Coimbra  por  Francisco 
Correia^  a  í  de  setembro  de  1549,  Tractado  mural  de  louuores,  etc,  tem  no 
fim  a  approvação  do  l»r.  Fr.  .Martinho  de  Ledesma  «per  commissam  do  car- 
deal dom  Anrrique  Inquisidor  mór  em  estes  reynos  de  Portugal». 

Também  deu  licença  para  a  approvação  da  obra  Vida  &  milagr  i  da  glo- 
riosa Raynha  sumiu  Jsabel,  molher  do  caíholico  Hei/  dõ  dini*  sexto  de  Portu- 
gal,  Coimbra,  por  João  da  Barreira,  MDLX.  (.Vide  CimeUos,  pag.  334 

b)  Secvnda  qvarta  Doctoris  Fraíris  Martini  Ledesmii,  m  insigm  Conim- 
bricensi  Academia  publice  professoris,  atqrin  sacra  Thvologia  primarij.  Conim- 
bricae. .\ptnl  loannem  Aluarum  typographum  Regiutn.  Anno  MDLX  mense  Ia- 
nuarij. 

I  vol.  folio,  13  tis.  prel.  inn.,  674  fólios  numerados  pela  frente. 

Tem  no  frontispício,  em  baixo,  por  letra  de  mão:  «Dooado  pello  III." 
Snr.  D.  Aff."  de  Castel  Branco  B.°  Conde  ao  Coll.0  de  lesvs». 

A  approvação  é  do  L)r.  Diogo  de  Gouveia. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Fr.  Amador  Arraes,  no  Dialogo  segundo,  em  que  trata  da  gente  judaica, 
Ig-se  a  seguinte  passagem:  «Em  nossos  tempos  meu  mestre  Ledesma  cathe- 
dratico  de  prima  em  Theptogia,  na  vniuersidade  de  Coimbra  ensinaua  estas 
duas  conclusões».  (Diálogos  de  D.  Fr.  Amador  Ãrraiz  Dispo  de  Portalegre. 
Fm  Coimbra,  por  António  de  Mariz,  1589,  l.°.  folio  46). 

Ledesma  'Fr.  Pedro  de).-  a    Si/ ma  de  todo  lo  que  toca  d  los  sacramentos. 
Lisboa  1617,  2  vols.  folio. 

li  i  Segvnda  parte  de  la  Svmma  en  la  qval  se  cifra,  y  svmma  todo  lo  moral, 
II  casos  de  consciência  que  no  pertenrcen  a  los  Sacramentos,  con  todas  las  iludas 


'.\'20  A   L1TTGRAT1  RA   IIKSI'.\MI(  li. A   BI   WWDBGAL  (Í4fr) 


c^/í  sm  mzones  brevemente  puestas.  Compvem  por  el  padre  maestro  fray  Pedro 
de  Ledesma  de  la  Orden  de  Sancto  Dom/uno,  Catkedratico  dfe  Vísceras  en  la 
Vnitiersi  taã  de  Salamanca.  Va  en  esta  vítima  impressim  anadido  el  Tratada 
dei  estado  de  (Oitos  tos  temores.  Dedicada  ai  illcstr.'""  y  nverèad  ™  senor  dou 
Fernã  Martins  Mascarei/as.  Qbtsps  dei  Algarbe,  dei  Cnnsejo  de  sn  Mage-iad, 
y  Inquisidor  general  en  los  Reyms  de  Portugal .  (Estampa*:  um  santo  escre- 
ncihIu,  inspirado  pelo  Espirito  Santo i.  En  Lisboa.  Impresso  por  Pedro  Cras- 
oeeek.  )  a  sn  costa.  Ai/o  M.DC.XVII. 

1  vol.  folio,  G88  pags.,  afora  Tabla. 

No  mesmo  volume,  com  frontispício  idêntico: 

Addiciíans  a  la  seqnnda  parte,  etc. 

I  vol.,  !":}  pags.,  a  tora  Ta  1)1  a. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Lizana  i  Fr.  Francisco  de).—  Doclrinas  evangélicas  para  las  ferias  ma  go- 
res de  la  Quaresma.  En  sermones,  qve  ha  escrito,  y  predicado  cl  padre  maestro 
fray  Francisco  de  Lizana,  Comendador  que  ha  sido  dos  rezes  dei  Convento  de 
la  Ciudad  de  Citenca  y  Difimdor  de  ta  Pronncia  de,  Castilla,  dei  Orden  de 
Nuestra  SeUare  de  la  Merced,  Rcdencion  de.  Cautiros.  Llera  ijratro  elencos  mvy 
copiosos.  El  primero,  de  las  Doclrinas  Titulares  de  los  Sermones.  El  segundo, 
en  que  se  aplica/i  las  Domi  nicas  de  Adríenlo,  y  Sepluayesima .  El  tercero,  de  la 
Sagrada  Escritura.  Y  el  quarto,  de  las  cosas  Notables.  Oferecido  ai  ikslrissimo 
senor  Dom  Lris  de  Sorsa,  maestro  en  la  sagrada  lheologia  en  la  Vniuersidad 
de  Coimbra,  ele.  Em  Coimbra.  Na  Officina  de  Manoel  Dias  Impressor  da  Vni- 
ceisidaile:  Anno  liJó'6. 

1  vol.  4.",  a  2  coL  5  tis.  inn.,  254  fis.  numeradas  pela  frente,  mais 
27  fls.  inn.  de  elencos. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

Llontisca  y  Ribas  (Fr.  António). — Obsercaciones  criticas,  joco-serias  sobre 
ciertos  memoriales  dei  ultimo  Impuynador  dei  Theatro  Critico,  el  li.  P.  Fr.  Fran- 
cisco Soto  y  Mame,  Chronisla,  General  de  la  Orden  de  N.  Padre  Sam  Francisco, 
Por  Fr.  António  Llontisca  y  Ribas,  de  la  misma  Seráfica  Religion.  Lisboa,  na 
officina  de  Miguel  Manescal  da  Cosia,  Impressor  do  Santo  Officio.  Anno  1751. 

4.°,  40  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Loarte  (Gaspar).— Existem  duas  obras  em  portuguez,  de  Gaspar  Loarte, 
tiradas  do  migar  italiano,  ambas  descriptas  em  innocencio.  Uma  delias  inti- 
tula-se  Inslruiçam  éè  adtterlencias,  etc.  e  foi  impressa  em  Lisboa  em  1587  por 


Ill  A   l.lTTKH\rn;A   BB3PAHH0LA   !.M  PORTUGAL  32  I 


António  Ribeiro.  Possuía  um  exemplai  José  d<>  Canto.  \  outra,  impressa 
no  mesmo  anuo-,  não  traa  o  aome  do  typographo,  sendo  decerto  editada  pela 
Companhia  dte  Jesus,  cujo  monogramma  apresenta  ao  frontispício.  Também 
Dão  declara  qae  seja  traduzida  d"  italiano.  IntituJa-se  tmtrviçam  ,r  avisos 
pêra  meditar  os  mysterios  do  Rosário  da  vanctissima  Virgem  Muna.  Feitos  peUo 
Bnwrêdo  Podre  Gaspar  Loarte  doctar  Theologo  da  Companhia  de  leso.  tano 
cencio  Dão  viu  esta  obra  e  cita-a  referindo  ae  ao  catalogo  da  Academia.  Este 
dia  que  é  de  formato  24.°  Efiectivamente  é  um  volumesinno  pequeno,  mas  os 
cadernos  são  de  16  paga.,  logo  em  formato  de  8.°,  rubricados  A  Al  n  \\\  ate 
R  R4.  Vimos  um  exemplar  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  onde  existem 
outras  obras,  cm  italiano,  do  mesmo  auctor. 

(iallaiMo,  no  -cu  Ensayo  de  una  btbuateea,  descreve  um  manoscripto 
intitulado  Granada  ó  deseripcion  kistorial  </</  insigne  rema,  etc.  (a.0  77;$'.  cm 
que  mi  Breve  catalogo  dr  los  hijos  de  Gramada  que  hnn  estrito,  se  ia/  a  se- 
guinte menção: 

«Kl  L.  Gaspar  de  Loarte  escribió  nn  libro  dei  Bosario;  j  otro  detConó- 
õmiento  próprio  . 

Como  quer  que  seja,  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  eacoatramos  a 
seguinte  impressão  lisbonense  de  uma  versão  hespanhola: 

Constelo  dr  los  afligidos.  Donde  se  trata  d,-  los  prwedm,  !l  remedias  di- 
las  tribulaciones.  Prouechoso  assi  para  los  Siglares  esmoipara  los  Religiosos; 
mayormente  Confessores:  donde  podran  sarar  consuelos  para  aplicara  los  peni- 
tentes. Compvesto  por  el  1'inhr  Gaspar  Loarte  Boetor  Ihaohgo  ée  la  Compafiia 
di'  lesus.  Impresso  en  Roma  mi  A  ano  lí>73,  en  lengua  italiana,  t/aoranueua- 
mentt  traduzido  en  lenam  r  alijar.  En  Lisboa.  Con  todas  las  licencias  necessá- 
rias: Por  Pedro  Craesbeeck  Impressor  dei  /te//.  Afio  1627. 

1  vol.  \i.".  •')  lis.  preL  iim..  192  numeradas  pela  frente 

Lopez  ÍJWego). — •)  las  obras  dr  Piblio  Virgílio  Manai  traduzidas  m 

prosa   castellana,  por   Dirão   Lopez,   natural  dr  la  Villa  dr  Valência,  Ordrn  d, 

Alcântara,  1/  Preceptor  ea  la  Villa  dr  oimrdo.  Cen  eammento  »  mnotaciones, 

donde  se  drclaran  las  historias,  1/  [abalas,  //  el  sentida  dr  los  nrsos  difficultOSOS 

que  tiène  ri  poeta.  Dirigido  a  Pedro  César  Deça,  cavallero  dr  la  Orden,  1/  Mi 

licia  dr  y.  S.  fesa  Cliristo.  //  Comendador  dr  la  rncoinimda  dr  S.  Salaador 
dr  Minhotârs.  Ano  (togas  de  brasão  de  armas)  Í620>.  En  Lisboa.  Por  António 
Alrurr:  impressor  1/  Wèrcader  dr  libras.  )  <t  m  rosto,  fossado  por  los  Sena 
rrs  drl  Consrjo  a  3QQ  uiaraardis  en  papei. 

Depois  das  licenças:  dedii  aloria  do  impressor  a  Pedro  César  Deça.  Se- 
gjH8-S£  um  epigramma  latino  de  Christovão  de  Barros,  que,  em  nome  de 
auctor,  dedica  a  obra  a  Pedro  César  de  Eça;  mais  duas  poesias  latinas  do 


322  A  LITTKRATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (142) 


mesmo;  prologo  do  auctor;  labla  de  las  historias ;  vida  de  Virgílio;  tabla  de 
los  auclores  referidos  en  esta  obra.  Tudo  isto  occupa  10  pags.  innumeradas. 

0  nosso  exemplar  não  está  completo:  faltam-lhe  algumas  folhas  finaes:  vae  até 
II.  370,  só  numeradas  pela  frente.  As  Éclogas  acabam  no  verso  do  folio  14, 
seguindo-se-lhe  O  commento.  As  Georgicas  principiam  no  folio  41,  princi- 
piando o  seu  commento  no  verso  do  folio  74.  A  Eneyda  principia  no  verso 
do  folio  103;  o  seu  commento  no  folio  257.  \" 

Edirão  desconhecida  de  Salva,  que  cita  a  primeira,  de  1601,  Córdova. 
Refere-se  também  ás  de  Madrid,  1614,  e  Córdoba,  1620.  Ignora  portanto  esta. 

b)  Las  obras  de  Pvblio  Virgílio  Maron.  Tradvzido  em  prossa  (sic)  castel- 
lana  por  Diego  Lopez,  natural  de  la  Villa  de  Valência,  Orden  de  Alcântara,  y 
Preceptor  en  la  Villa  de  Olmedo.  Con  Comento,  y  anotaciones,  donde  se  decla- 
ra» las  historias,  y  fabulas,  y  el  sentido  de  los  tersos  dificultosos  qve  tiene  el 
Poeta.  Aora  en  esta  vitima  impression,  anadido,  y  enmendado.  (Escudo  de 
Cuesta,  da  edição  de  D.  Quixote,  Madrid  1605 1.  Con  todas  las  licencias,  y 
approbaciones  necessárias.  En  ]Lisboa,  Por  António  Aluarez,  Aíto  de  1627. 

1  vol.  4.°,  a  2  col.,  3  fls.  prel.  inn.,  291  numeradas  pela  frente,  mais 

1  inn.,  com  um  escudo,  e  por  baixo :  En  Lisboa.  Con  todas  las  licencias  neces- 
sárias. Por  António  Aluarez.  Ano  1627. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Aulo  Pérsio  Flacco,  traducido  en  lengua  rastellana. 
Lisboa  1609,  8.° 

Esta  é  a  succinta  descripção  que  encontramos  no  catalogo  da  livraria  de 
Joaquim  Pereira  da  Costa,  sob  o  n."  1:706. 

Na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  existe  a  seguinte  edição: 

Avio  Pérsio  Flacco,  tradvzido  en  lengva  castellana  por  Diego  Lopez,  natu- 
ral de  la  Villa  de  Valência,  Orden  de  Alcântara,  y  Preceptor  en  la  ciudad  de 
Toro,  etc.  Burgos,  por  Iuan  Baptista  Varesio.  1009. 

8.°,  228  fls.  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  n.°  3:002  preto. 

Lopez  de  Sigura  (Rui). — IWammaticm  institutiones  a  Roderico  Lopez  a  Si- 
gura  nuper  wdita>,  atque  F.xcellentissimo  Domino  Sebastiano,  Portugália  Regi,  di- 
cata,  fceliciter  incipiunt.  (Escudo  de  armas  reaes  de  Portugal).  Ulyssipone,  ex  ofi- 
cina Joannis  Alrari,  typographi  Regii  anno  1573:  cum  gratia  et  privilegio  Régio. 

Em  4.°,  letra  bastarda  por  la  mayor  parte,  sin  foliación,  sign.  Gg. 

Dedicatória  latina ;  Prólogo  latino  de  Enrique  Manuel,  lusitano ;  Epi- 
grama latino  dei  mismo ;  Idem  de  António  Marquez  ai  autor. 


(143)  A  UTTERATURA  HESPANHOLA   EM  PORTUGAL  323 

Las  correspondências  que  pi Sigura  en  las  conjugaciones,  etc,  están 

en  castellano. 

Las  regias  de  géneros  y  pretéritos  están  en  verso  j  son  diversas  de  las 
de  Nebrija.  Acompáõalas  un  copioso  comentário  en  prosa  en  latin. 

Debe  esta  de  ser  segunda  impresión,  como  lo  indica  el  nuper,  pues  ya 
el  ano  de  1566  el  maestro  Sánchez  de  las  Brojas,  en  la  cuarta  edición  de 
sus  Breves  instituciones  de  Gramática  latina,  hecha  en  Salamanca  por  Matias 
Gast,  tira  contra  López  Sigura : 

«Denique  it  sentit  Quintilianus  etiam  si  quidam  nebulo  obganiat,  qui 
com  meras  nugas  Regi  Lusitanorum  inculcarit,  dente  rodeie  lupino  seciire 
bonos  auctores  se  posse  putet:  quem  nominare  non  audeo,  ne  méis  scriptis 
aliquando  fiat  illustris». 

A  este  propósito  dice  Mayans  en  la  vida  dei  Brocensej  §  xlviii: 

«Quis  ille  fuerit  néscio.  Oportel  eum  scripsisse  posl  editas  priores  Insti 
tuciones  (Brocense)  anno  1562,  el  ante  has  posteriores  1566  . 

Conviene  también  averiguar  si  ya  en  alguna  de  sus  três  impresiones  el 
Brocense  tiraba  contra  Sigura,  y  si  este  se  habia  antes  disparado  contra  él  á 
tiro  hecho. 

Descripção  copiada  de  Gallardo,  Ensayo  de  una  biblioteca,  n.°  2:784. 

Lopez  de  Ubeda.  O  Vergel  de  Flores  divinas  traz  o  privilegio  datado  de 
Poriugal  (Lisboa  3  de  dezembro  de  1581).  Teria  havido  alguma  edição  por- 
tugueza? 

A  primeira  edição  conhecida  é  de  1582  (Alcalá  de  Henares). 

Vide  Ensayo  de  nua  biblioteca. 

Lossa  (P.  Francisco).  La  vida  que  hizo  el  sieruo  de  Dias  Gregório  Lo- 
pez en  algunos  Lugares  de  esta  \  Nueva  Espana.  \  Por  el  Licenciado  Francisco 
Lassa  Presbítero  Cara:  que  fue  en  la  Iglesia  Cathedral  de  M<  ria,,  dirigida  a., 
Illustris  sinto.  &  Reverendíssimo  Senhor  hma  Miguel  de  Castro  Metropolitano 
Arçobispo  desta  Cidade  </<■  j  Lisboa  \  Com  as  licenças  necessárias,  j  Em  Lisboa. 
Por  Pedro  Crasbeech    Anno  1615.    Esta  tayxado  este  Lina  a  50  reys  em  papel. 

[2.°,  Ki-107-1  lis. 

Exemplares  de  Nepomuceno  e  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  Historia, 
T,  9,  2). 

Lujan  de  Sayauedra  (Matheo).— a)  Segvnda  parte  de  la  rida  dei  Picaro 
Guzman  de  Alfarrache  compvesta  por  Matheo  Luxan  de  Sayauedra,  na/aral 
vezinho  de  SeuiUa.  Lisboa,  par  António  Alvares,  1603. 

8.°  peq.,  4  tis.  inn.  de  licença  e  prologo,  223  pags.,  mais  .'i  inn.  de  Tabla. 

Vide  Aleman  (Matheo). 


.'{-J'l  A  I.ITTI-HAITIU  HBSRANH0LA  EM  FORTOGáL  (14  il 

Salv;i  não  menciona  as  edições  de  Lisboa.  Descreve  unia  de  Madrid  1603, 
suppondo  que  a  primeira  será  de  Valência  1602. 

Ir.  Segvnda  j  parte  <te  .  la  tdda  dei   Pt    caro  Gvzmom  \  de  Alfarache.  | 
Compvesta  por  Motim  Lvxan  de  Saya  •  unira,  natural  vezino  de  |  Seuilla. 
Dirigido  a  don  das  |  par  Mercado-  y  Catroz,  legitimo  herde     ro  ie  las  Baro- 
nias de  Bunyol,  y  Si«-  ,  te  águas.  \  Em  Lisboa.  j  Ml)  CHI.     Impressa  com  Li- 
censsa  por  Jorge  Rodriguez. 

I  vol.  8.°,  _í:í  i  folies,  incluindo  frontispício  e  Tabla.  A  numeração  está 
frequentemente  errada:  assim,  de  folio  120  salta  a  -ií\,  mas  não  conserva 
depms  a  regularidade.  A  tlltima  folha  numerada,  antes  da  Tahla.  é  -2i>K 
quando  a  anterior  é  319. 

No  fim  leni:  Impresso  en  j  Lisboa  por  Iorze  (sic)  Rodri-  guez.  Arruo  de  \ 
1603. 

0  revedor  foi  Fr.  Manuel  Coelho  e  a  sua  approvação  e  do  theor  se- 
guinte: 

«Esta  segunda  parte  de  la  vida  dei  Picaro  Guzmau  de  Alfarache  nam 
tem  cousa  algua  contra  a  nossa  sancta  fé  calholica  nem  contra  os  bos  costu- 
mes. Antes  os  louua  eu  todas  as  occasiões  que  se  offerecem,  &  condena  os 
mãos.  Alem  disto  lie  Liuro  variósso  (?),  &  corioso,  ã-  pior  estas  rezõis  digno 
de  se  imprimir». 

Exemplar  de  Jeronymo  Ferreira,  das  Neves. 

Lumbier  (Raymundo). —  Noticia  de  las  sesenta  y  cinco  proposieiones  nue- 
vamente  condenadas  por  N.  SS.  /'.  Innocencio  XI,  mediante  su  Derreto  de  2  de 
Mayo  dei  Ano  1679.  Publicala  el  reverendíssimo  P.  M.  Fr.  Raymvndo  Lvm- 
birr.  catedrático  de  Prima  de  la  Yntrersuiuil  de  Saragoça*  Examinador  Sino- 
dal de  Sn  Arçobispado,  Calificador  de  la  Santa  Inquisicion  de  Aragon,  y  de  la 
Suprema.  Predicador  de  su  Magestad,  y  dos  rezes  Exprovincial  de  la  Provín- 
cia de  Aragon,  dei  Orden  de  Nuestra  Sefiora  dei  Cármen.  Reconocida  por  su 
autor:  de  nvevo  condenada,  //  m  muchas  parles  nuevainenle  afiadidas.  Sétima 
impression,  afiadidas  las  quarenta,  y  cinco  Proposieiones  de  Alexandre  VII. 
Lisboa.  Na  Officina  de  Domingos  Carneiro.  An/m  de  1083.  Com  as  licenças 
necessárias. 

'k".  10  pags.  prel.  hm.,  336  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Luque  (Jiian  de). —  Divina  poesia  y  vários  mnceplos  d  las  fiestas  principa- 
les  dá  Ano  que  se  ponen  por  su  Calendário.  Con  los  santos  mtebos  //  todo  género 
de  poesias.  Ponense  ai  fin  en  verso  los  dias  en  que  caen  las  fiestas  de  guardar. 


li.)  A  LlTT!.lUlt'l;A   HESffAMHOLA  EM   1'Oim'i.AI. 

)'  la  quenta  para  saiu-  de  memoria  las  mouiles.  Porei  lioenceado  Jvan  de 
Impe.  Lisboa  tuna  (hum)  de  Lira,   ífto  tk  ÍGO&. 

8      6  Qs.  preL,  560  pags. 

li;i  D'este  volunn  em  todo  o  género  de  metros,  mas  abun- 

<!ain  especxalmesle  os  romances  e  vilhancicos,  alguns  em  dialogo  e  um  em 
in  de  Guiné. 

No  fim  varias  peças  dramáticas,  entre  as  quaes  uma:  A  la  Bedencion  dei 
género  humano.  Pleito  ejecitiivo  entre  el  Género  humano  y  el  Castigo,  l 
di  Cristo  torneo,  uma  loa  e  quatro  autos. 

Barrera  não  faz  no  seu  catalogo  a  menor  menção  d'este  livro  e  do  seu 
auctor,  o  que  dá  ideia  da  singular  raridade  d'esle  livro. 

V-eja  se  também  a  descripção  d'este  livro  em  Gallardo,  sob  o  n.°  2:851, 
onde  'li/-  que  o  impressor  é  Gima  (sic)  de  Lira. 

Madre  de  Dios  yYr.  Valentim  de  la).-— Fwero  de  la  conciencia,  obra 
utilíssima  para  los  ministros,  \  y  ministério  dei  Santo  Sacramento  de  la  Peni- 
tencia, donde  ha-  ,  llaràn  quanta  necessitan  para  hazerse  suficientes  en  la 

a  aciertOj  y  j  fruto  à  lapractka.  Contiene  cinco 
tratados.  El  primero  de  la  jurisdiccion  dei  Ministro,  conforme  las  nuevos  De- 
cretos, y  Bit-  las  Apostólicas:  //  de  atras  noticias  necessárias.  El  segundo  dei 
Juyzio  Sacramental  entre  Confessor,  y  penitente:  donde  se  'rata  de  los  Pre- 
ceplos  dei  Decálogo,  è  Igle-  \  sia.  El  tercero  de  los  Sacramentos.  El  qua 
las  Censuras,  è  Itregularidad.  El  quinto,  Notas  sobre  las  Proposiciones  con- 
denadas por  Alexandra  VIL  U.  A  lo  ultimo  se  ponen  las  Difíni- 
ciones  de  todas  las  matérias  \lorales.  |  Vease  el  prologo  ai  lector.  j  Ofrecida  a 
la  gloriosa  i  Santa  Theresá  \  de  Jesvs  ;  por  Fr.  Valentin  de  la  Madre  á 
Carmelita  Descalço,  y  Lector  de  Theologia  Moral.  Lisboa,  !■:>,  la  Imprenta 
</.  Valentin  a  Costa  Deslandes,  |  Impressor  th'  Su  Magestad,  y  à  su  costa  im- 
M.DCCIX.  ,  Con  todas  las  licencias  necessárias. 

!  vol.  V. ",  lii  pags.  prel.  inn.,  563 

Nas  preliminares:  Dedicatória  «A  la  mayor  lombrera  de  ia  Mística  Theo- 
Santa  Theresa];  Prologo  ai  Lector;  índice  de  los  tratados,  capitolos,  y 
Parrafos;  Licenças. 

Si  gue  o  texto,  incluindi índice  de  la-,  cosas  que  contiene  este  tomo». 

Bibliotheca  da  Ajuda,  :2-m-:>7.  Este  exemplar  pertenceu  á  Bibliotheca 
da  Congregação  do  Oratório  das  Necessidades,  em  cujo  catalogo  linha  a  mar- 
cação seguinte:  fj. 

Magalona.  Este  titulo  está  por  cima  de  um  busto  de  mulher,  cm  mol- 
dura circular,  tosca  gravura  em  madeira.  Por  baixo:  Historia  dela  linda  !/</- 


:{2li  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (146) 


galona  hija  delRey  de  Nápoles;  y  dei  muy  nuble,  y  es  \  forçado  cavallero  Pier- 
res  de  Provença,  y  de  las  |  muchas  adversidades ;  y  grande*  t  rabujas,  \  quepas- 
saron,  sirndo  sempre  conslan  j  tes  en  la  virtud,  y  como  despues  \  reynaron,  y 
acabaron  su  ruía  honradamente  en  servi  j  cio  de  Dios.—  No  fim:  Foy  visto,  e 
aprovado  pelo  Padre  Fr.  Manoel  Coelho.  Impresso  em  Lisboa  por  António  Alça- 
res, anno  de  1625.  Taxado  na' Mesa  do  Paço  a  quatro  reis  a  folha. 

4.°,  41  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  na  collecção  de  autos  do 
século  xmi.  N.°  3:012,  vermelho. 

Maldonado  (Fr.  Pedro». — ai  Traça y  exercidos  de  vn  oratório.  Compvesto 
por  F.  Pedro  Maldonado.  Religioso  de  la  Orden  de  San  Augustin  de  Seuilla. 
Dedicado  a  Dona  Ana  Centurion  de  Cordoua  condesa  de  Ride.  Con  previlegio 
real,  y  con  licencia  de  la  Sancta  Inquisicion  y  dei  Ordinário.  Impresso  en  Lis- 
boa En  la  Officitia  De  lorge  Rodrigues  Anno  de  1600.  (Frontispício  gravado, 
tendo  ao  centro  um  bonito  medalhão  com  emblemas  religiosos). 

1  vol.  4.°,  18  pags.  inn.,  54,  82,  116  fls.  numeradas  pela  frente,  mais 
3  tis.  inn.  de  Tabla.  Cada  livro  tem  numeração  especial,  excepto  o  quarto, 
que  é  continuação  do  terceiro. 

O  auctor  era  natural  da  cidade  de  Sevilha  e  residia  em  Lisboa  ao  tempo 
em  que  imprimia  a  sua  obra,  conforme  se  vê  da  dedicatória,  datada  d"esta 
cidade  a  1  de  março  de  1609.  Era  frade  augustiano  e  estava  no  convento  da 
Graça. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

b)  Commentarii  in  Psalmos  David.  Avclhore  frater  Pedro  Maldonado  His- 
palensi  Ordinis  B.  Augustini.  Ad  D.  Didaccm  de  los  Cobos,  <£•  Mendoça,  Comi- 
tem  de  Ride.  Cvm  facvltale  svperiorvm,  &  cum  Priuilegio  Regis.  Vlisipone  E.c- 
cudebat  Antonius  Aluar ez.  Anno  1609. 

8.°,  11  fólios  prel.  inn.,  238  numerados  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

ci  Lecíiones  sacrae  in  primam  Canonicam  B.  Joannis  Apostoli.  Olisipone 
1609. 

Assim  mencionado  nos  verbetes  de  theologia  da  Bibliotheca  Nacional  de 
Lisboa,  com  a  nota  inutilisado. 

d)  Consuelo  de  justos.  Compueslo  por  el  P.  Pedro  Maldonado,  Religioso 
de  la  orden  de  San  Agustin  de  Seuilla.  Dedicado  a  Doíia  Felipa  de  la  Madre 
de  Dios,  primera  Vireina  de  la  índia,  y  ahora  monja  en  la  Esperanza  de  Lis- 


I  lí  7  A  UTTERATDRA  HESPANHOLA  i:\l  PORTUGAL  327 


boa  (empresa  do  aactor).  Con  privilegio  Real  y  con  licencia  de  la  Sancta  In- 
qvisicionj  y  dá  ordinário.  Impreso  en  Lisboa  en  la  oficina  de  Pedro  Crasbeck. 
Anno  1609.— Ho  lini :  Fm  de  la  Primera  parte  dei  Consuelo  de  los  justos.  Im 
presso  com  as  licenças  necessárias  por  Pedro  Crasbeeck.  Em  Lisboa.  Anno  d* 
1009. 

l.°,  frontispício  gravado,  li  pags.  prel.,  144  pags.  (Gallardo  diz  que  o 
formato  è  de  i.°,  mas  os  cadernos  são  de  16  pags.  Veja-se  n.°  2:881), 

É  interessante  pela  portada  e  pela  introducção  oa  dedicatória. 

Ha  um  exemplar  na  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Malon  de  Chaide  (Fr.  Pedro). — Libro  de  la  Conversion  dela  Magdalena, 
en  que  se  ponen  los  ires  estados  que  tuuo  de  Pecadora  y  de  Penitente,  y  de  Gra- 
da: fundado  sobre  el  Euangelio  que  pone  la  Ygksia  en  su  fiesta,  que  dizei  Ha 
gabai  lesum  quidam  Pharisaeus,  vt  manducarei  cum  Mo:  Luc  7  F.  Cõpuesto 
por  'I  Maestro  Fray  Pedro  Malon  de  Chaide,  de  la  orden  de  S.  Augustin.  Con 
licencia.  En  Lisboa,  Impresso  por  Pedro  Crasbeeck.  Ano  MDCJ.  A  costa  de 
Domingos  Martinr:.  mercador  de  libros. 

1  vol.  8.",  I  fl.  inn.  com  approvaçSo  e  licença,  341  lis.  numeradas  pela 
frente. 

A  approvação  de  Fr.  António  Tarrique  é  deste  theor: 

«Vi  este  liuro,  «i-  emendado  o  que  vay  riscado  nas  folhas  125  e  nas  189 
no  mais  não  ha  cousa  contra  a  fé  &  bõs  costumes.  Em  28  de  Ianeiro  de  601». 

A  primeira  edição  desta  obra  parece  ser  a  de  Barcelona  1588,  8.°,  que 
traz  Nicolau  António. 

0  prologo  6  importante  pela  critica  pbilologica  e  poética.  Traz  curiosas 
referencias  ás  Dianas  e  outras  obras  idênticas. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  na  secção  de  theologia 
ascética. 

Maiianitas  dei  molar,  Dialogo  critico  joco-serio,  en  que  entre  vaiios  inter- 
locutores se  formam  Censuras,  y  Crisis  con  notable  acierto  sobre  las  observa-' 
ciones,  que  Fr.  António  Llontisca  hizo  ai  Memorial  de  el  M.  li.  /'.  Fr.  Fran- 
cisco de  Soto  I)  Mame,  Chronista  General  de  la  Orden  de  N.  I'.  San  Francisco. 
Lisboa  Anno  M.D.C CLII.  Com  Licenças. 

\:\  99  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Maria  (Fray  Juan  de  Santa). —  Republica  //  Policia  christiana.  Vara  reyes 
y  príncipes,  y  para  los  que  en  el  gouierno  tienè  sus  rezes.  Compuesto  por  Fray 
Jnan  de  Santa  Mana.  Religioso  Descalço,  de  la  Prouincia  de  San  Ioseph,  de  la 

Hist.  e  Mem.  da  Acad— Tomo  mi  paute  u  —  N."  5  12 


328  A  LITTERATURA  HESFANHOLA  EM  PORTUGAL  (148) 

Orden  de  nateiro  glorioso  Padre  San  Francisco.  (Gravurinlia  representando 
S.  José  em  adoração  ao  menino,  semelhante  á  que  anda  no  poema  de  Valdi- 
vieso).—  De  um  e  de  outro  lado:  Ano  1621.  Con  licencia  de  la  S.  Inquisi- 
cion,  Ordinário,  y  Paço.  En  Lisboa.  Por  António  Alvarez.  Impressor,  y  Mer- 
cader  de  Libros. 

1  vol.  8.°,  7  lis.  prel.  inn.,  2(>.'i  lis.  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  de  Coelho. 

Marne  (Fr.  Francisco  de  Soto  y).—  Reflexiones  critico-apologeticas  sobre 
las  obras  dei  R.  P.  M.  Fr.  Benito  Geronymo  Feijão. 
Lisboa  1751,  2  vols.  4.° 
N.°  2:185  do  catalogo  de  I.  G.  Monteiro. 

Marquez  (F.  Joan). — a)  El  Governador  Christiano,  dedvcido  de  las  vidas 
de  Moysen,  y  Josve,  Príncipes  dei  Pveblo  de  Dios.  Por  el  maestro  F.  Jvan  Mar- 
qvez,  de  la  Orden  de  san  Augustin,  Cathedratico  de  Visperas  de  Theologia  de 
la  Vniuersidad  de  Salamanca.  Dirigido  a  Dou  Gomez  Svarez  de  Figveroa  y 
Cordoua.  Duque  de  Feria,  ele.  Con  qvatro  tablas  mvy  copiosas.  La  primera  de 
los  Capítulos :  Ia  segunda  de  las  Questiones:  la  ler  cera  de  las  cosas  notables:  y 
la  quarta  de  los  lugares  de  Escritura.  (Por  baixo  deste  titulo  uma  gravura 
representando  uma  águia  sustentando  um  escudo  de  armas).  En  Lisboa  por 
Pedro  Crasbeeck.  Afio  M.DC.XIIII. 

1  vol.  folio,  a  2  cols.,  5  fólios  inn.,  393  pags.,  mais  23  pags.  inn.  de 
Tablas. 

Exemplares  de  Rodrigues  e  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Esta  obra  é  citada  por  Fr.  Luis  de  Sousa,  Annaes  de  D.  João  III. 

b)  Los  dos  estados  de  la  espritval  Hiervsalem,  sobre  los  Psalmos  CXXV.  y 
CXXXVI.  Por  el  maestro  F.  Joan  Marquez,  de  la  orden  de  S.  Augustin.  Diri- 
gido a  don  Cltristoval  Gomez  de  Sandoval,  marqvez  de  Cea,  &  Gentil-hombre 
de  la  Camará  ddRey  Nueslro  Sefior,  etc.  (Gravurinlia  representando  David  em 
adoração  e  no  alto  um  anjo  empunhando  uma  espada).  De  um  e  de  outro 
lado:  Afio  1609.  Impresso.  Con  licencia  de  la  S.  Inquisicion.  En  Lisboa.  Por 
Jorge  Rodrigvez.  Está  Tassado  en  Trezentos  reis,  en  papel. 

1  vol.  4.°,  3  íls.  prel.  inn.,  284  fls.  numeradas  pela  frente,  mais  48  fls. 
inn.  de  Index  e  Tabla. 

Exemplar  de  Coelho. 

Marti  y  Viladamor  (D.  Francisco).—  Noticia  universal  de  Catalufia.  En 
amor,  servidos  y  finezas,  admirable.  En  agrários,  opresiones  y  desprecios,  su- 


(149)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA   EM  PORTUGAL  329 

frida.  En  constitucumes,  privilégios,  y  libertades,  valerosa.  En  altera 
movimientos  y  debates,  disculpada.  En  defensas,  repulsas  y  evasiones,  encogida. 
En  Dios,  razon  y  armas,  prevenida.  )  siempre  en  su  fidelidad,  constante.  Por 
eí  B.  D.  a.  v.  y.  m.  E.  D.  I'.  I).  N.  En  Lisboa,  por  António  Alvarez,  1641. 

i.°  pequeno. 

[L,'auteur  de  cet  opuscule  rare  est  1>.  Francisco  Marli  y  Viladamor,  abo- 
gado  de  Barcelona.  Ce  traité,  qui  contienl  une  defense  de  la  conduite  de  la 
Catalogne  en  1G40,  obligea  son  auteur  à  cacher  son  nom». 

Catalogo  Miro,  n."  ,*i^l.  Vendido  por  10  francos. 

Descripto  em  Salva,  sob  o  n."  3:080. 

Martyr  Coma  (I).  F.  Pedro),  -a  Directorivm  cvratorvm  ó  inlrvction  de 
eiras,  vtil  y  prouechoso  pura  los  que  tienen  cargo  de  Animas.  Compuesto  por 
el  Illustrissimo,  y  Reverendíssimo  Seflor  D<»i  E.  Vidro  Martyr  Coma  Obispo 
de  Elna.  Nueuamente  traduzido  de  lengua  Catalã  na  en  vulgar  Castellano.  Con 
licencia.  (Estampinfia:  Chrislo  entre  as  santas  mulheres).  En  Lisboa.  En  casa 
de  António  Alvarez.  Anu  de  1591. 

8.°,  7  tis.  prel.  inn.  de  Tabla,  1G0  tis.  numeradas  pela  frente. 

No  verso  do  frontispício,  licenças.  A  approvação  de  Fr.  Bartholomeu  Fer- 
reira é  do  theor  seguinte : 

«Vi  por  mandado  de  S.  A.  este  liuro,  A-  tenho  a  lição  delle  por  prouei- 
tosa,  &  catholica  para  cõfessores,  &  penitentes,  por  onde  julgo  ser  digno  da 
impressão». 

Exemplar  da  livraria  Ferreira,  da  Rua  Áurea. 

b)  Directorum  cvratorvm,  etc.  En  Lisboa  por  António  Aluarez,  1622. 

i  vol.  8.°,  li  fls.  prel.  inn.,  201  tis.  numeradas  pela  frente.  Depois  do 
frontispício  uma  folha  com  uma  gravura  em  cada  lauda;  curiosas. 

Pela  approvação  de  Fr.  Tbomaz  de  S.  Domingos,  vè-se  que  o  livro  teve 
muitas  edições:  «Este  liuro  Directorium  Curatorum  foy  muytas  vezes  im- 
presso &  se  pode  tornar  a  imprimir  por  vtil,  assim  p.a  confessores  como  pe- 
nitentes». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Idem,  Coimbra,  Mariz,  1593. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Medina  (Fr.  Bartholome  de).— Breve  instrvetion  de  como  se  hade  admnis- 

trar  el  sacramento  de  la  penitencia  dividida  en  dos  Kbros:  com pvesta  por  el  pa- 
dre Maestre  fray  Bartholome  de  Medina,  Calhedratico  de  prima  de  Theologia  en 


330  A  I.1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (150) 

la  Vniuersidad  de  Salamanca,  de  la  orden  de  saneio  Domingo.  En  la  cjval  se 
contiene  In  que  hade  saber,  y  hazer,  el  sábio  confessor  para  curar  almas,  y 
todo  lo  que  deue  hazer  el  penitête  para  cõseguvr  el  fruclo  de  tan  admirable  me- 
dicina. Con  SU  talila  mii//  copiosa.  Con  licencia  impresso  en  casa  de  Manuel 
de  Lyra.  Afio  de  1591. 

8.°,  7  lis.  prel.  inn.,  331  fls.  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla  innu- 
merada. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  de  Évora. 

Parece  ter  havido  edições  anteriores,  não  só  por  a  licença  ser  de  2  de 
setembro  de  1586,  mas  por  n'ella  se  dizer:  «Poderá  o  supricante  imprimir 
esta  summa  de  Medina,  visto  como  foi  ja  vista,  &  impressa  com  licença  desta 
mesa,  á-  depois  de  impressa  tornará  a  esta  mesa,  etc». 

Na  Bibliotheca  da  Ajuda  ha  uma  edição  de  1582,  com  approvação  de 
Fr.  Bartholomeu  Ferreira. 

Memorial  que  el  Duque  de  Osuna  embió  a  su  Magestad  en  defension  suya.— 
No  fim:  En  Lisboa.  Com  licença  da  S.  Inquisição,  Ordinário  &  Paço.  Por 
Pedro  Crasbeeck  Impressor  delReij.  Taixão  esta  folha  em  cinco  reis  em  Lisboa 
13  Agosto  1621. 

Folio  de  4  pags. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

Mendoça  (D.  Diego  de). — Gverra  |  de  Granada  |  hecha  por  el  rei  de  Es- 
pana don  Philippe  II.  nuestro  seftor  contra  |  los  Moriscos  de  aguei  reino,  sus 
rebeldes.  \  Historia  escrita  en  quatro  libros.  |  Por  don  Diego  de  Mendoça,  dei 
cousejo  dei  Empera-  |  dor  don  Carlos  V.  su  Embaxador  en  Roma,  \  i  Venecia; 
su  Governador  i  Capitan  Ge-  |  neral  en  Toscana.  \  Publicada  por  el  licenciado 
Lais  Tribaldos  de  Toledo,  \  Chronisla  mayor  dei  Rey  nuestro  sefwr  por  las  | 
índias,  residente  en  la  corte  de  Madrid,  \  i  por  el  dedicada  |  A  don  Vicente  No- 
guera,  Referendário  de  ambas  Si  \  gnaturas  de  su  Sanctidad,  dei  Consejo  de  las 
dos  Magestades  Cesárea  i  Catholica,  gentilhom-  \  bre  de  la  Camará  dei  Archi- 
duque  de  j  Áustria  Leopoldo.  \  Con  todas  las  licencias  necessárias.  \  En  Lis- 
boa |  Por  Giraldo  de  /a*  Vifia.  Con  privilegio.  Ano  1627. 

Na  primeira  folha  innumerada,  as  licenças  e  privilegio  em  portuguez. 
No  verso  d"esta  folha  um  escudo  de  armas,  tendo  por  baixo  oito  versos  lati- 
nos assignados  D.  B.  Segue-se  a  dedicatória  a  Don  Vicente  Nogvera,  em 
13.  pags.  inn.  É  um  elogio  e  ao  mesmo  tempo  um  esboço  genealógico  dos 
Nogueiras.  Segue-se  em  3  pags.  inn.  a  dedicatória  ao  leitor.  Depois  2  pags. 
inn.:  Breve  Memoria  de  la  vida  i  mverle  de  don  Diego  de  Mendoça  escrita  por 
Don  Baltazar  de  Çuniga.  Seguem-se  2  pags.  inn.:  hilroduccion  de  Don  Jvan 


(,151)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  HM  PORTUGAL  331 

de  Silva  conde  de  Portalegre...  a  la  historia  de  Granada  de  dou  D 
Mendoça. 

\  obra  é  em  formato  de  í.  ,  de  127  tis.  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  de  Jeronymo  Ferreira  das  Noves. 

N.    1:054  do  catalogo  Pombal. 

No  leilão  de  Innocencio  vendeu  se  um  exemplar  por  350  reis.  «N.0  1:161). 

Mercurius  Ibericus,  que  relata  algunos  casos  notables  que  succedieron  en 
Irlanda,  despues  qut  tomo  las  armas  por  defender  la  Religion  Catholica. 
Lisboa,  por  Domingos  Lopes  Rosa,  1645,  í." 

Mexia  (Pedro). —  Discurso  sobre  los  dos  cometas,  que  se  vieron  por  elmes 
de  Noviembro  dei  ano  passado  de  1618.  Por  Pedro  Mexia,  tnathematico,  resi 
dente  en  Lisboa,  A  l>.  Rodrigo  Sarmiento  de  VUoa  Villandrando  y  Lacerda, 
conde  de  Salinas,  etc. 

Lisboa,  por  Pedro  Craesbeeck,  1619,  l.°,  15  lis.  inn. 

Descripto  incidentalmente  por  Innocencio  oo  artigo  dedicado  a  Manuel 
Bocarro  Francez. 

Por  certo  que  este  Mexia  é  inteiramente  differente  dos  Mejias  (Pedros), 
mencionados  em  Gallardo  e  Salva. 

Existe  um  exemplar  na  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Sobre  estes  cometas  os  mathematicos  e  astrónomos  do  tempo  escreve- 
ram as  suas  lucubrações.  Além  dos  opúsculos  que  menciona  Innocencio  no 
artigo  sobre  Manuel  Bocarro  Francez,  publicou-se  mais  um,  de  Juan  Gasiano. 
Veja-se  este  nome. 

Micheli  y  Marquez  (D.  José).— La  corte  confusa  y  agonisante  restaurada 
por  Judith  hebrea. 
Lisboa  JG."iò\  8.° 

Catalogo  (In  Marquez  de  Castello  Melhor,  n.°  2:196. 
Salva  menciona  outra  obra  deste  auctor  (vol.  u,  pag.  8). 

Molina  (Fr.  António  de). — Instrvccion  de  sacerdotes  en  qve  se  les  da  do- 
trina  muy  importante,  para  conocer  la  alteza  dei  sagrado  oficio  Sacerdotal:  y  para 
exercilark  debidamente.  Sarada  toda  de  los  santos  Padres  y  Dm,, ris  de  la  Yglesia. 
Por  Fray  António  de  Molina,  indigno  monge  d,-  lo  Cartuxa  de  Miraflores.  Los  tra- 
tados que  conliene  se  dizen  en  la  plana  siguienle.  Con  licencia  de  la  S.  Inquisicion, 
Ordinário  y  Paço.  En  Lisboa:  En  la  officina  de  Pedro  Crasbeeck.  1611.  Vendese 
en  casa  d.  Domingos  Mar  tines,  mercader  de  libros.  Esta  lassado  a  ...  en  papel, 

1  vol.  4.°,  33  lis.  piei.  inn.,  284  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


.'532  A  LITTEIUTUÍU  IlliSPA.NIlOLA  EM  POHTUGAL  (152) 

ll.i  outros  exemplares  das  edições  de  Lisboa  de  17.'i7  e  1781.  Yeja-se  o 
catalogo  dos  Duplicados  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

Molina  (Luiz  dei.  — ai  Concórdia  liberi  urbitrii  cvm  graíiae  donis,  divino 
praescieniui.  providencia,  prcedestinalione,  et  reprobatione,  ad  nonmtllos  primae 
partis  D.  Thomav  artículos.  Doctore  Ludouico  Molina  primário  quondam  in 
Eborensi  Academia  Theologiae  professore  ê  socielate  Jesv  autore.  Adiecti  sunt 
duo  índices,  rerum  alter,  alter  eortm  seriplurae  locorum,  qui  vel  e.r  professo, 
vel  obiter  e.rplicantur,  eode  autore.  Oh/ssipone.  Apud  António  Riberiutn  typogra- 
phum  regium.  MDLXXXVHI.  Cum  priuilegio  et  farullate  superiorum.  Expensis 
Joãnis  Hispani  &  Michaelis  de  Arenas  Bibliopolarum. 

',.'.  5  tis.  inn.,  512  pags.,  mais  2i  tis.  inn.  de  Index. 

A  approvação,  em  latim,  é  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira.  Um  exemplar 
desta  obra  fez  parte  da  collecção  de  livros  enviados  por  Portugal  para  a  sec- 
ção da  Historia  do  trabalho,  na  exposição  universal  de  Paris  de  1867.  Vide 
Description  des  monnaies,  médaitles  et  atares  objects  darl  concernant  1'Histoire 
portugaise  du  travail,  por  A.  C.  Teixeira  de  Aragão. 

Encadernado  com  esta  obra  encontra-se: 

b)  Appendix  ad  Concordiam  liberi  arbilrii  cem  gratiae  donis,  divina  praes- 
cientia,  providentia,  praedestinatione,  et  reprobatione.  Doctore  Ludouico  Molina 
Primário  quondam  in  Eborensi  Academia  Theologiae  professore  è  Socielate  Iesv 
autore.  Olyssipone.  Apud  Emman.  de  Lyra  Typographum.  M.D.LXXXIX.  Cum 
facultate  Superiorum. 

1  vol.  4.°,  44  pags. 

Ha,  pelo  menos,  cinco  exemplares  d'estas  obras  na  Bibliotheca  Nacional 
de  Lisboa. 

Ler  a  biographia  de  Molina  em  Balthazar  Telles,  Chronica  da  Companhia 
de  lesu,  tomo  n. 

Monçon  (Francisco  de). —  a)  Libro  pri  \  mero  dl  espejo  dei  prlcipe  chris- 
ti  |  ano :  que  trata  como  se  ha  deriar  \  vn  príncipe  o  nino  generoso  des  |  de  su 
Herna  uiftez  cõ  todos  los  \  exercidos  y  virtudes  que  le  con  |  uienen  hasta  ser 
earon  perfecto  \  contiene  muy  singulares  doctri  \  nas  morales  y  apazibles.  \  Con 
preuillegio  real.  \  M.D.Xliiij. 

Este  titulo  acha-se  dentro  de  uma  portada,  suspensa  por  duas  cariatides 
assentes  sobre  duas  esphinges.  Na  parte  superior  ha  duas  figuras,  que,  sus- 
pendendo um  manto,  ajoelham  sobre  uma  lapide,  em  que  se  lè  Mcsis  dicatvm. 
No  centro  da  parte  inferior  da  portada  tem  a  Fénix  cercada  de  uma  fita  com 
a  inscripção  Xunc  revkisco. 


(153)  \  i.n n.HATl'KA  RBBPANttOLA  FM  PORfUÔAL 


A  inseripçSq  Soai  é  d'este  II r: 

A  gloria  de  dios  y  de  su  bêdita  ma  \  dre  la  virgen  Mana  nuestra  sefiora 
se  acabo  ú  libro  prime-  j  ro  dei  perfecto  príncipe  christiano  aguara  nueuamêd 
hecho  por  el  doctor  Frãcisco  de  Monçon  cappellã  \  y  predicador  dei  serenisimo 
rei/  do/i  luã  de  Por  \  tiigal  tercera  deste  nombre  Cathredatico  de  \  saneia  teolo- 
gia en  la  vniitersidad  de  Goitn  |  bra  fue  visto  tj  examinado  por  los  reue  rendos 
padres  deputados  dela  sã-  cia  inquisicion  fue  impreso  en  lis  boa  ê  casa  ie 
Luis  Rodrignez  |  Kbrero  delrey  nuestro  sefior  acabasse  a  los  xxtóij  di  |  as  dei 
mes  de  Mio  de    MM.xl.iiij  afíos. 

No  verso  do  frontispício,  um  escudo  de  armas  pórtnguezas,  com  o  tim- 
bre do  dragão  sobre  uma  vizeira.  A  folha  immediata  e  seu  verso  contém  a 
Memoria  de  los  yerros.  Na  outra  vem  a  Tabla  dos  capitules,  que,  além  d'esla, 
occopa  mais  três  paginas.  Até  aqai  sem  numeração. 

Fl.  I,  Prologo  primeiro,  até  Verso  da  11.  2; 

Fl.  3,  Prologo  segudo,  até  verso  da  II.  5; 

Fl.  5,  verso,  no  (im,  Prologo  tercero,  até  II.  7: 

Fl.  7.  verso,  Capitulo  primero,  e  segue  até  II.  cxci  (191). 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda  [Raros,  ."iO-xn-17  .  Outro,  sem  fron- 
tispício, na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Ribeiro  dos  Santos  (Memorias  de  Litteratura,  tomo  viu,  pag.  102),  refe- 
rindo-se  ás  edições  lisboetas  do  século  xvi,  attribue  o  Espejo  dei  Princepe  ao 
anno  de  1545. 

b)  Libro  primero  dei  espejo  dei  \  Príncipe  Christiano,  campueslo  y  |  nimia- 
mente. feUisto,  ij  mug  êmen  !  dado,  con  nueita  composicion,  y  |  mucha  addi- 
cion:  por  el  Doctor  Frã  |  cisco  de  Monçon,  anja  leccion  es  \  mwj  prouechosa 
a  todo  género  de  personas  discretas,  aitnque  sean  pre-  |  dicadores  y  corlesanos, 
por  las  mu-  |  chás  y  sabias  sentencias,  y  mug  fa-  \  mosos  y  illustres  exemplos 
(pie  se  |  ponen:  adõde  eon  varia  leccion  \  g  erudicion  se  cõlfene  vna  \  perfecta 
dodrina  mo  |  ral  Ckfiêliana.  \  Esta  aprouado  por  el  Saneio  officio,  y  por  el  \ 
reuerendissimo  senor  el  Arçobispo  \  de  Lisboa.  \  Impresso  cm  casa  de  António 
gonçaluez  |  impressor  dei  illustrissimo  g  reueren  \  dissimo  sefior  don  lorge  Ar- 
co- i  bispo  de  Lisboa.  Este  titulo  dentro  de  tarja  gravada.  Na  tarja  inferior: 
Aos  30  de  junho  M.D.LXXI,  o  que  não  está  em  harmonia  com  a  subscripç3o 
final,  que  é:  Acabose  esta  segunda  ímpression  deste  primero  libro  dei  Espejo 
de  Príncipe  Christiano,  enmèdado  y  ãfUtdido,  o  por  |  tnejor  dezir,  atra  vez 
nueuamente  compueslo  por  su  mismo  Au-  |  thor,  a  gloria  de  Dios  nuestro  Setím . 
y  de  su  bendita  ma  \  dre.  En  casa  de  António  Gonçalues  Impressor  de  |  libros 
en  la  Cibdad  de  Lisboa  aios  2"  de  Júlio,  De  1Õ71  Anos. 

1  vol.  folio,  a  2  rol.,  226  lis.  numeradas  pela  frente. 


334  A  UTTERÃTBRA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (154) 

No  verso  do  frontispício  a  approyaçao  de  Fr.  Barlholomeu  Ferreira: 
«Ly  com  advertência  este  Liuro  primeiro  do  Espelho  do  Princepe  Chris- 
tião  (sic),  por  comissão  do  sereníssimo  Cardeal  Diante  Inquisidor  mór.  Achey 
nelle  muyta  A  varia  erudiçam,  A-  nenhua  cousa  contra  a  Fee  Abõs  costumes; 
&  a  meu  juyso  a  liçam  do  Liuro  fará  grande  proucito  a  Republica;  A  será 
seruiço  de  Deos  A  do  Reyno  comunicarse  A  impremirse  obra  tam  docta  A 
tam  vniuersal». 

Segue-se:  «Epistola  dedicatória  ai  muy  alto  y  muy  poderoso  senor  Rey 
don  Sebastian  primero  deste  nombre,  zelador  de  la  Fe,  Rey  de  Portugal  y 
de  los  Algarues  etc:  Por  su  predicador  y  capellan,  el  doctor  Francisco  de 
Monçon  Canonigo  magistral  en  la  Sancta  See  y  Yglesia  Metropolitana  de  Lis- 
boa: Sobre  la  correpcion  y  addicion,  o  por  mejor  dezir  nueua  composicion 
dei  primero  libro  dei  espejo  dei  Príncipe  Christiano»,  2  pags.  inn.  Vem 
depois  a  Tabla  dei  libro  e  errata,  8  pags.  inn.,  e  em  seguida  o  «Prologo  pri- 
meiro (sic)  dirigido  ai  muy  alto  y  muy  poderoso  senor  zelador  dela  Fe  Chris- 
tiana,  elRey  don  Iohan  tercero  deste  nobre,  Rey  de  Portugal  y  de  los  Algar- 
ues, senor  de  Guinea,  y  de  la  conquista  y  nauegacion  dela  Ethiopia,  Arábia, 
Pérsia  y  índia.  Por  su  capellan  y  predicador  el  Doctor  Francisco  de  Monçon, 
Calhedratico  de  Theologia  en  su  insigne  Vniuersidad  de  Coimbra». 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  da  Ajuda. 

O  titulo  d'esta  obra  dá  claramente  a  entender  que  Francisco  de  Monçon 
a  continuaria.  Elle  mesmo  chega  a  referir-se  a  um  segundo  livro.  Faltando 
da  invenção  do  xadrez,  escreve:  «aunque  se  tiene  que  fue  mas  anligua  inuen- 
ciõ  de  vn  Philosopho,  segun  q  el  segudo  Libro  dei  Príncipe  Christiano  haze 
mencion»  (cap.  37,  folio  87  r).  Quer-nos  parecer,  porém,  que  esta  segunda 
parte  não  se  chegou  a  publicar:  pelo  menos  ainda  não  lhe  achamos  rasto. 
Declara  o  auctor  que  foi  na  velhice,  por  certo  nos  ócios  da  sua  conesia  lisbo- 
nense, que  elle  reviu  o  seu  livro. 

A  obra  do  Dr.  Francisco  de  Monçon  é  digna  de  apreço,  não  só  por  nos 
revelar  a  doutrina  dominante  da  época  no  tocante  á  matéria  da  educação,  mas 
pelas  muitas  referencias  históricas  de  que  vem  semeada,  algumas  delias  para 
bem  dizer  inéditas.  A  erudição  clássica  é  dominante,  mas  as  allusões  aos  fa- 
ctos contemporâneos  são  sufficientes  para  tornar  a  obra  verdadeiramente  inte- 
ressante. Os  últimos  capítulos  do  livro  são  dedicados  à  apotheose  de  D.  João  III, 
que  elle  compara  a  Salomão,  tirante,  bem  entendido,  o  caso  das  setecentas 
concubinas.  O  nosso  monarca  era  um  Salomão . . .  catholico. 

c)  Norte  de  cõfessores  compuesto  por  el  doctor  de  Mõçon  predicador  dei  rey 
nuestro  senor:  adõde  se  tralan  las  partes  que  han  de  tener  los  Sacerdotes  q 
confiessan:  y  declararse  la  orden  q  han  de  guardar  en  sus  confessiones :  y  la 


155  A  LITTERATUIU  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  335 

numera  que  Urna  en  determinar  los  casos  y  dubdas  que  aUi  se  offrescen.  Es 
obra  muy  prouechoso  para  todo  género  de  personas  \  principalmente  para  los 

que  tienen  cargo  de  confessar.  1  esta  aprouada  por  muy  exceletes  perlados  y 
doctos  varones.  Fue  vista  por  la  sancta  inquisicion.  (Kste  titulo  esta  dentro 
de  uma  singela  mas  bonita  portada  tarjada.  No  verso  do  frontispício  o  es- 
cudo  real  encimado  por  um  dragão).  No  fim:  A  loor  de  Dios  y  de  la  gloriosa 
Virgen  nuestra  sefiora  se  acabo  de  imprimir  el  libro  llamado  norte  de  confesso- 
res i  compitesto  por  el  doctor  de  Mõçon:  fue  visto  y  aprouado  por  los  deputados 
de  lo  saneia  inquisicion.  Imprimiosse  en  casa  de  Luis  rodrigttez  librero  dei  rey 
nosso  senhor  y  escudero  de  su  cosa.  Acabosse  a  los  doze  dias  dei  7nes  de  Mayo: 
de  mil  ii  quintetos  y  quarenta  y  sus  unos.  (No  verso  o  escudo  do  impressor). 

1  vol.  8.",  sem  paginarão,  74  lis.,  rubrica  Aij  Jvj. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  encadernado,  com  o  n.°  3:OG0 
(Theologia). 

Ribeiro  dos  Sanlos,  dando  suecinta  noticia  desta  obra,  cujo  auetor  não 
designa,  attribuiu-a,  como  impressão,  ao  typographo  Jorge  Rodrigues.  Inno- 
ceucio  da  Silva,  notando  o  anachronismo,  cahiu  em  outro,  opinando  que  tal- 
vez fosse  João  Rodrigues.  Este  impressor  é,  todavia,  do  século  xvu.  Innocen- 
cio  não  viu  a  obra.  A  nossa  deseripção  desfaz  todas  as  duvidas.  Veja  se  a 
Memoria  pina  a  historio  ,la  lypographia  portuguesa  no  escuto  xri,  por  Ribeiro 
dos  Santos,  no  tomo  viu  das  Memorias  de  litteralura,  da  Academia,  pag.  126, 
e  o  artigo  Norte  de  confessores  no  Diccionarío  de  Innocencio. 

Outro  exemplar  na  Bibliotheca  de  Évora. 

d  i  Avisos  Spiritvales,  que  ensefían  como  el  suefío  corporal  sea  prouechoso 
ai  spiritu.  Compuesto  por  el  Doctor  Francisco  de  Monçon.  (Escudo  com  armas 
reaes  coroadas  por  um  chapéu  cardinalício).  Visto  //  examinado  por  los  Depu- 
tados dela  sancta  Inquisicion.  Impressa  en  Lixboa,  En  casa  de  Foannes  Blauio 
de  Colónia.  Ano  1563. 

i  vol.  8.°,  3  fls.  inn.,  64  numeradas  pela  frente. 

No  verso  do  frontispício,  as  approvações  de  Fr.  Jeronymo  de  Azambuja 
(20  de  janeiro  de  1560)  e  de  Fr.  Manuel  da  Veiga  (23  de  abril  de  1563). 

e)  Norte  de  Ydiotas.  Compuesto  y  reuislo  por  el  Doctor  Francisco  de  Mõ 
çon.  Adomle  se  traía  vn  exercido  muy  spirituàl  y  prouechoso.  (Escudo  de  ar- 
mas). Visto  y  aprouado  por  los  Deputados  dela  saneia  Inquisicion.  Impresso  en 
Lixboa,  En  casa  de  Ioannes  Blauio  de  Colónia.  Ano  de  1663. 

I  vol.  8.°,  -28  lis.  numeradas  pela  frente. 

Bonito  exemplar,  encadernado  com  a  obra  antecedente,  sob  o  n.°  1:5(55' 
i  Theologia  ascética). 


.'!•'!'')  A  LITTEHATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (156) 

A  obra  i  dedicada,  como  se  vê  do  prologo,  a  «dona  Maria  de  silua,  mu- 
ger  dei  S.  Francisco  de  Sousa  tauares  por  su  deuoto  orador  el  doctor  Frã- 
cisco  de  Mõçon».  Esta  dedicatória,  que  em  seguida  transcrevemos,  é  muito 
interessante,  não  só  para  a  historia  do  livro,  mas  para  a  historia  da  vida  in- 
tima de  D.  Maria  da  Silva. 

Este  Francisco  de  Sousa  Tavares  é  provavelmente  o  auctor  do  Liuro  de 
doctrina  spiritual. 

«Ala  mvy  magnifica  sefíora  áoíia  Maria  de  silua,  miiger  dei  S.  Francisco 
de  Sousa  Tauares.  Su  denoto  orador  el  Doctor  Frãcisco  de  Mõçon. 

«Sant  Ambrósio  como  glorioso  Doctor  dela  yglesia,  da  vn  consejo  singu- 
lar diziêdo.  No  loes  a  ningun  hõbre  en  su  vida,  loale  despues  de  su  muerte, 
quãdo  el  que  loa  no  será  notado  de  lisongero,  ni  el  que  es  loado,  será  tentado 
con  alguna  elacion  o  presuncion.  De  aqui  tomaste  ocasion  lavnque  no  era  efi- 
caz i  muy  magnifica  senora,  para  avdarme  cõ  humildad,  que  no  os  dedicasse 
los  Tratados  dela  vida  spiritual  que  ha  compuesto,  como  me  parecia  q  era 
obligado  a  hazer,  considerando  que  la  doctrina  que  contienen,  mas  la  aprendi 
de  vuestra  conuersacion,  que  dela  lecion,  pues  los  exemplos  presentes  tienen 
mas  energia  y  eficácia  para  mouer  a  ymitar  los,  que  los  passados  que  leemos 
en  los  Libros. 

«Mas  si  considerardes  prudente  senora,  que  nuestro  Maestro  y  Redêptor 
vniuersal  nos  auisa,  que  las  obras  buenas  se  publiquen,  para  que  se  de  hõrra 
y  gloria  a  su  padre  celestial,  no  deuierades  de  recelar  que  se  publicara.  Como 
essa  vuestra  casa  es  hospital  de  pobres,  y  meson  de  peregrinos,  y  escuela 
adoi.de  se  exercitau  las  obras  dela  vida  actiua  con  toda  charidad,  y  assi  es  vn 
monesterio  y  casa  de  relegion :  a  donde  se  reciben  muy  frequentemête  los 
sanctos  sacramentos,  y  se  exercitan  perfectamête  los  exercícios  spirituales  dela 
vida  contemplatiua,  ocupado  senores  y  criados  no  pequena  parte  dei  tiempo 
en  sanctas  meditaciones,  segQ  que  van  sumadas  en  este  breue  tratadico,  de- 
baxo  dei  titulo  de  vna  noble  y  deuota  muger,  q  vos  representa  ai  viuo,  avn 
que  se  finge,  que  esta  no  sabia  leer:  porque  se  da  general  exemplo  a  todas 
las  personas,  que  avn  que  no  tengan  lecion  de  libros,  se  podran  exercitar  en 
todos  los  exercícios  dela  vida  spiritual.  El  qual  Tratado  se  imprimio  con  vues- 
tra licencia,  y  a  vuestra  incitacion,  y  bien  parescio  ser  cosa  vuestra,  porque 
ha  sido  aprouado  por  todos  los  Inquisidores  de  Espana,  avn  que  han  vedado 
con  razou  otros  que  tratauan  de  doctrina  spiritual,  porque  no  conueniã  para 
estos  miserables  tiempos.  Mas  la  deste  ha  sido  tan  accepta,  que  se  han  aproue- 
chado  todos  de  su  lecion :  de  manera,  que  ya~no  se  halla  ninguno,  ni  yo  le 
tengo  para  dar  aios  que  me  le  piden :  por  donde  por  hazer  obra  de  charidad, 
acorde  de  tornarle  a  limar  y  reuer,  y  que  se  imprimiesse  junto  con  otro  Tra- 
tado, que  se  intitula  Auisos  Spirituales,  que  me  pedieron  que  sacasse  a  hiz. 


(157)  A   i.li  n  ::\  11  !;\  UESPÀNHOLA  EM  PORTUGA1  'MM 

Lo  que  se  os  pide  (amautissima  senora  en  Christo    es,  que  con  el  /elo  de 
vuestra  perfecta  charidad,  pidais  en  vuestras  aceptas  5  inflamadas  01  u 
a  nuestro  Senor:  que  esta  lecion  sea  para  prouecho  spiritual  delos  próxi- 
mos, 3  a  gloria  suya.  La  qual  todos  le  demos  como  somos  obligados,  por  los 
siglos  delos  siglos.  Amen». 

As  ultimas  .'>  pags.  são  occupadas  pela  Oracion  que  hizo  el  Hey  Manases. 

A  obra  é  adornada  com  laminasinhas  religiosas,  adequadas  aos  assumptos 
de  cada  capitulo  ou  declaracion. 

Acerca  do  doutor  Monçon  lè  se  nos  Annaes  de  h.  João  Hl,  de  Pr.  Luis 
dé  Sousa  (xO: 

«El  Maestro  Gil  Gonçales  de  Ávila,  que  vive  a  s.  Martin,  en  las  espaldas 
de  los  Premostratenses,  cronista  delRey,  me  promete  livros  dei  Doctor  Mon- 
çon escritos  em  Portugal,  huns  impressos,  e  outros  de  mão,  e  a  relação  parti- 
cular de  como  entrou  a  Inquisição  em  Portugal,  etc». 

Pedro  de  Mariz,  nos  seus  Diálogos  de  varia  historia,  escreve  d'elle  o 
9eguinte: 

«O  Doutor  Francisco  de  Monsão  Castelhano,  Pregador  muyto  douto,  e  em 
todas  as  partes  muyto  erudito,  veyo  também  de  Alralá».  (2.1  edição, folio  153o). 

Nas  Antiguidades  de  Lisboa,  de  António  Coelho  Gasco,  manuscripto  da 
Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  encontramos  a  seguinte  curiosa  nota  biogra- 
phica  do  Dr.  Francisco  de  Monçon: 

«A  todos  hê"  conhecido  aquelle  grande  Theologo,  o  Doctor  Francisco  de 
Monçon,  lente  iubilado  na  sagrada  Theologia,  e  Cónego  Doctoral  da  Sancta 
See  de  Lixboa,  e  de  nassão  Castelhano :  cuia  rara  virtude  foj  muj  grande : 
era  muyto  grande  amigo  de  D.s  Pois  sendo  pessoa  tão  authorisada  e  de  muyto 
credito,  e  nobresa,  pello  tempo  da  peste  grande,  quis  ficar  na  See,  offerecen- 
dosse  a  ella,  por  amor  de  D.8,  gastando  suas  rendas  com  os  doentes:  cuio 
corpo  iaz  enterrado  nos  claustros  da  See,  iunto  a  capela  do  Benegnissimo 
Iss.,  e  por  sua  humildade  ias  da  banda  de  fora.  Este  illustre  uarão  entre  os 
muytos  liuros  fes,  hê  hu  muy  docto,  e  muy  senteneioso,  a  que  intitulou  Es- 
peio  dei  Príncipe  Ghristiano:  em  cuio  graue  volume,  no  capitulo  nouenla, 
diz  a  rasão  porque  Ulyxes,  Príncipe  Grego,  ueio  edificar  Lixboa:  cuia  opinião 
uerifica  com  hystoriadores,  como  Homero,  e  com  a  opinião  uulgar,  q  vai 
mais  que  tudo»,  (cap.  xv,  folio  31). 

Prymeyra  parte  das  antiguidades  da  muy  nobre  Cidade  de  Lixboa,  Impo- 
rto do  mundo  e  Princesa  do  Mar  Oceano. 

Exemplar  que  pertenceu  á  livraria  de  D.  Francisco  de  Mello  Manuel. 

Montalvo  i\:v.  Diego  de).  Venida  de  la  Soberana  Virgende  Gvadalvpea 
Espana  Sr  dichosa  invencion:  y  de  íos  milagrosos  fauores,  que  ha  hecho  a  sus 


338  A  L1TTERATURA  IIKSPAMluLA  EM  PORTUGAL  (158) 

deuotos.  Por  el  /'.  Fr.  Diego  de  Montalvo  Monge  Professo,  y  Predicador  desta 
Santa  Casa.  Al  Sereníssimo  príncipe  don  luan  Duque  de  Bargança,  &c.  Tomo 
primero.  (Escudo  de  armas  da  casa  de  Bragança).  Ano  1631.  En  Lisboa,  Cõ 

/mins  los  licencias  necessárias,  por  Pedro  Craesbeeck. 

\.°,  a  á  cols.,  6  fls.  prel.  inn.,  312  numeradas  pela  frente. 
Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Monte  Oliveti. —  Prática  regular  y  modo  de  proceder  cn  las  visilaciones 
judiciales  de  los  religiosos  de  la  seráfica  religion  de  Sari  Francisco. 

Lisboa  1635,  4.° 

'(Apêndice  primero  ai  Catalogo  de  libros  raros  de  Gabriel  Sanchez,  Madrid 
1885). 

Será  hespanhol? 

Montoya  (Fray  Luys  de). —  a)  Tomo  primero  de  la  segunda  parte  de  la 
vida  de  lesus  dulcíssimo,  hijo  de  Dios  y  de  la  Virgen  Maria  nueslra  Senora: 
que  trata  de  sus  obras  y  palabras  diuinas  y  humanas,  segun  que  las  escriuen 
los  quatro  Ettangelistas.  Fite  copilada  por  Fray  Luys  de  Montoya  Religioso  df 
la  ordem,  de  los  Hermitafíos  dei  bienauenturado  Padre  saneio  Auguslin.  ^f  Tienen 
en  este  libro  los  Christianos  deuotos  declaradas  las  obras  de  amor:  que  nos  ha 
hecho  nuestro  Sefíor  Dios,  para  nos  mouer  a  lo  amar  y  sentir.  Y  t iene  aqui  los 
predicadores  y  estudiosos  declarados  machos  lugares  de  la  sagrada  Escriptura, 
para  entender  y  sentir  los  mysterios  altíssimos  de  nuestra  saneia  Fee.  Fite  vista 
y  examinada  esta  obra  por  el  Ordinário  y  por  los  deputados  dei  saneio  officio. 
Foy  impresso  este  liuro  en  Lisboa  em  casa  de  António  gonçaluez  impremidor  de 
Liuros.  Anno  de  1568. 

i  vol.  4.°,  5  fls.  prel.  inn.,  303  fls.  numeradas  pela  frente. 

No  verso  do  frontispício  uma  grande  estampa  de  Nossa  Senhora,  lendo 
aos  cantos  os  emblemas  dos  Evangelistas. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Vendido  por  29  francos  no  leilão  Miro,  em  cujo  catalogo  vem  descripío 
sob  o  n.°  6. 

b)  Obras  de  los  qce  aman  a  Dios  copiladas  por  fray  Luís  de  Montoya  de 
la  orden  de  bis  hermitafíos  dei  bienauenturado  padre  soneto  Auguslin  Obispo  y 
doctor  de  selã  yglesia.  Vendemse  en  casa  de  Christouão  Lopez  liureiro  á  See. 
Com  preuilegio  Real.  156õ.  (Este  titulo  acha-se  por  baixo  de  uma  vinheta 
representando  Nossa  Senhora  amamentando  o  Menino,  e  em  volta  d'ella  a 
saudação  em  latim  Ave'  Maria,  ele.). — No  fim:  Foy  impresso  em  Lixboa  em 


(15!))  A  L1TTERATURA  «ESPANHOLA  EM  PORTUGA1  33il 


casa  de  loam  da  Barreyra  impressor  delRey  nosso  senhor,  aos  quinz<        l 
neiro.  De  M.D.LXIIIII. 

8.  ,  7  Os.  prel.  iiin..  -2'rl  numeradas  pela  frente,  mais  '■>  lis.  inn.  di   rabia. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  de  Nepomuceno  i  n.°  I: Kit; 
do  catalogo  da  sua  livraria). 

[gnacio  de  Moraes,  referindo  se  ao  convento  da  Graça,  fundado  por 
D.  João  111.  como  diz  a  inscripção  da  portaria,  a  instancias,  por  certo,  de 
Fr.  I.uis  de  Montoya,  dedica  lhe  estes  versos  no  seu  Conimbricae  Encomium: 

Praeterea  Charitas  diclum  de  nomine  templo 

Eminet,  iramensi  grande  labore  opus.  Colfejíuin  Qratiae. 

Fundauil  monachi  Lodouici  industria,  docto 

Qui  populum  mores  edocet  ore  pios.  FrtUi   l 

Namque  Augustini  vitam,  moresque  prol 

E  terris  rertam  nstrat  ia  astra  viam. 

Mora  (Fr.  luan  de),  a)  Enigma  numérico  pradicable  explicado  en  cinco 
tratados  de  números  doctrinales  con  veinle  y  nna  Oraciones  Panegyricas  de  dife- 
rentes assumptos:  ilustrado  con  diversas  Sentencias  Morales,  y  Politicas:  ador- 
nado cm»  muchas  humanidades,  y  noticias  raras:  hermesado  con  Ucas  innu- 
merables  para  diversos  Sermones.  Enriquezido  con  ires  Índices  copiosos.  Compu- 
solo  el  Hm.  /'.  AV.  Iuan  de  Mura.  leclor  de  Theologia  en  la  Cathedra  de  Prima, 
Hijo  de  la  Saneia  Província  de  S.  Pedro  de  Alcanlra  de  los  Religiosos  menores 
descalços  dei  Seraphico  S.  Francisco  de  la  Gudad  de  Granada.  Dalo  segunda 
vez  o  lo  imprenta,  e  h  dedica  a  la  Virgen  Maria  su  afectuoso  esclavo  Feliciano 
liebclo.  Lisboa  Occidental.  Fn  la  imprenta  de  Pedro  Ferreira.  Afio  MDCCXVII1. 

I  vol.  folio,  í  pags.  inn.,  .'»T7  pags.,  afora  copioso  índice  innumerado. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  do  Lisboa. 

lia  edições  de  Lisboa  do  1678  e  de  1718. 

h>  Pencil  Eucharistico,  Lisboa  1732. 
I  vol.  folio. 

Moran  (Jorge  Henriques). —  Regimiento  politico  dei  hombre  en  edad  flore 

eieide. 

Lisboa,  António  Pedroso  Galram,  1697,  'i.° 
N.°  563  do  catalogo  Forniu. 

Morejon  (Padre  Pedro). — Historia  \  y  Macion  de  lo  svcedido  \  en  los 
reinos  de  Iapon  |  y  China,  en  la  /piai  se  continua  la  j  gran  persecucion  que  ha 
auido  |  í'«  ajlla  Iglesia,  desde  el  afio  de  615  hasta  cl  de  19.  \  Por  el  Padre 
Pedro  Morejon  de  la  \  Compafíia  de  .lisas.  Procurador  de  |  la  Prouincia  de 


3Í0  A  UTTERATURA  IIESIANHOLA  EM  PORTUdAL  (160) 


Japon,  natural  \  de  Medina  dei  Campo.  \  Afio  (monogramma  da  Companhia) 
1621.  |  Con  licêcia  en  Lisboa  por  Iuan  Rodriguez. 

\  °,  (»  pags.  inn.  com  approvação,  licença,  prologo  e  relação  dos  marty- 
res,  200  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  8  pags.  inn.  de  Tabla. 

Exemplares  de  Neves  e  Macedo  Braga. 

Vendido  por  5#800  réis  no  leilão  Ferrão  (n.°  801). 

Mosquera  (Juan). — Relacion  de  la  sei/alada,  y  como  milagrosa  conqvista 

dei  paterno  império  consegrida  dei  sereníssimo  príncipe  Ivan  Demétrio,  Gran 
Duque  de  Moscouia,  en  el  Afio  de  1605.  lentamente  con  sv  cornnacion,  y  con 
lei  qve  a  hecho  despues  que  fite  cortinado,  desde  el  ultimo  dei  Mes  de  Iulio,  hasta 
agora,  recogido  todo  de  vários  y  verdaderos  auisos,  venidos  de  aqwllas  partes 
en  ãiuersas  uezes:  traduzido  de  lengua  Italiana  en  nuestro  vulgar  Castellano. 
Por  luan  Mosquera  Religioso  de  la  Compania  de  Jesus.  Ano  1606.  Con  licen- 
cia de  la  Saneta  Inquisicion.  Impresso  en  Lisboa,  Em  casa  de  António  Alvarez. 

I  vol.  4.°,  20  fls.  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

No  verso  do  frontispício  tem  a  seguinte  nota  manuscripta :  «Bibliothecae 
S.  Crucis  dono  dedit  Petrus  Homo  frade  cujus  anima  requiescatinpace.  Amen». 

Munné  (Juan  Wencesl ao).  —  Ecos  dei  Alma.  Poesias  espafiolas.  Coimbra, 
Imprensa  da  Universidade,  1859. 

1  vol.  8.°,  189  pags. 

A  ultima  parte  do  livro,  intitulada  Coroa  Poética,  é  formada  de  poesias 
portuguezas,  compostas  por  Rodrigues  Cordeiro,  Augusto  Luso,  Silva  Mattos, 
Araujo-Juzarte,  Visconde  de  Pindella,  Augusto  Sarmento  e  Tavares  Crespo. 
São  dedicadas  aos  dois  irmãos  Munnés,  João  Wenceslau  e  Camila.  A  formo- 
sura d"esta  parece  ter  inspirado  particularmente  aos  nossos  poetas.  Um  d'el- 
les,  no  enthusiasmo  do  seu  estro,  rimou  «Camões»  com  «irmões».  Força  de 
rima  a  quanto  obrigas!  Vê-se  que  os  dois  irmãos  eram  cantores  de  theatro 
e  que  percorreram  em  passeio  artístico  algumas  cidades  de  Portugal.  Na  poe- 
sia Actor  y  Poeta  Munné  apresenta  alguns  dados  auto-biographicos.  Logo  de- 
pois de  entrar  no  nosso  paiz  perdeu  a  mãe  em  Portalegre.  Depois  deu  con- 
certos em  Coimbra,  Leiria,  Guimarães  e  Vianna. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

Murioz  (D.  Francisco).—  Funiculo  áureo,  tríplice  indissoluble  el  muy  alto, 
y  todo  poderoso  sefíor  digníssimo  rey  de  Portugal,  el  Invictissitno  Emperador 
siempre  Augusto,  y  á  la  Excelsa  Mageslad  Catholica  Rey  de  Espafia,  y  ai  Sa- 
cro Epithalamio,  Nttpciales  leas,  Real  Himeneo  de  la  Princesa  de  Espafia  mies- 


(161)  A  LITTERATORA  HE8PANHOLA  KM  PORTUGAL  341 

tra  Sefíora  la  Sereníssima  Sefíora  l>.  Marianna  Victoria  con  el  sereníssimo 
siempre  maruim  sefior  Don  Joseph  Príncipe  dei  Brasil,  y  la  Sereníssima  Prin- 
cesa nuestra  Sefíora  Dofla  Maria  Barbara  Glona  de  Portugal,  honor  dei  Áus- 
tria, con  el  Sereníssimo  Sefíor  Príncipe  de  Astúrias.  Don  Fernando.  Cante  Eu- 
ropa, competiendole  profvsos  gozos  a  la  real  Casa  de  Castilla;  sea  Índice  de 
tanta  universal  alegria  la  que  ai  glorioso  nombre  dei  Sereníssimo  Príncipe  dei 
Brasil  consagra  un  ingenio  andaluz,  que  prostrado  á  sus  Reales  plantas  le  feli- 
cita, y  adora  el  )l.  D.  Francisco  Muno;,  protonotario  apostólico,  examinador, 
y  Theologo  de  la  Nunciatura  de  Espana.  Lisboa  Occidental,  en  la  Patriarcal 
impression  de  la  Musica.  Afio  de  MDCCXXVII. 
\  vol.  4.°,  78  pags.  prel.  inn.,  itiT  pags. 

0  auctor  ora  natural  de  Granada.  Pelo  t:\travagante  do  titulo  se  fica 
fazendo  ideia  da  obra  e  do  que  ella  vale. 

Murillo  (Fraj  Diego). —  a)  Discvrsos  predicables  sobre  los  Evangelios  qve 
canta  la  Jglesia  en  los  qvatro  domingos  dei  aduiento,  y  festas  piincipales  que 
oceurren  en  este  tiempo  hasta  la  Sepluagessima.  Compuestos  por  el  padre  fray 
Diego  Murillo,  Lector  de  Theologia,  y  Guardian  dei  Conuento  de  nuestra  Sefíora 
de  Jesus  de  Caragoça.  Tomo  primero.  (Gravurinlia  de  madeira).  Com  licença. 
Em  Lisboa  por  lorge  Rodriguez.  Anno  de  1604.  A  custa  de  Domingos  Martiz, 
&  lorge  Artur. 

1  vol.  i.°,  .'!  fólios  prel.  inn.,  798  pags.,  a  â  cols.,  mais  47  pags.  inn. 
de  Index. 

Exemplar  de  Rodrigues. 
Ainda  só  vimos  o  tomo  i. 

b\  Discursos  predicables  sobre  los  Evangelios  que  canta  la  Iglesia  en  los 
Domingos  y  ferias  desde  bi  Sepluagessima  hasta  la  Ressurrecion  dei  Sefior. 
Lisboa  António  Alvarez  1602. 

4.°,  YIU--202-LXXXII  pags. 

N.°  98o  do  catalogo  de  Pereira  e  Sousa  (Lisboa  1890). 

Naxera  iR.  P.  Manuel  dei.— ai  Temos  visto  d'este  jesuíta  vários  ser- 
mões avulsos,  mas  com  numeração  seguida,  próprios  a  formar  eollecção.  Te- 
mos presente  um  das  quarenta  horas,  que  vae  de  lis.  44  a  65  (numeradas 
pela  frente).  No  tim  a  seguinte  nota : 

«Los  Sermones,  que  esta  ya  impressos  dei  Autor,  son  los  siguientes.  De 
la  Concepcion,  dei  santíssimo  Sacramento,  dei  Mandato,  y  este  de  las  quarenta 
horas,  a  el  se  sigue,  el  de  San  Francisco  Xavier. 

«o  impressor  Paulo  Craesbeeck,  1047». 


l\'lJ2  A   L1ITKI1ATLHA   HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (162) 


In  Sermones  sobre  los  versos  de  lo  Mtserere,  predicados  los  Viernes  por  la 
(arde  en  el  conuento  real  de.  la  Encarnacion,  por  el  padre  Manoel  de  Nascera, 
Catedrático  antes  de  Sagrada  Escritura  en  su  Colégio  de  la  Cõpaítia  de  Jesas 
de  la  Vniuersidad  de  Alcala,  despues  de  politicas  en  los  Estúdios  Reales  dei  ím- 
perial  de  Madrid.  Em  Coimbra.  Na  Ofíicina  de  Thome  Carualho  Impressor  da 
Vniuersidade  Anuo  1656. 

1  vol.  4.°,  a  2  col.,  19  fólios  inn.,  553  pags.,  mais  28  fls.  inn.  de  Tabla. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

c)  Sermones  panegíricos,  predicados  en  las  festividades  de  la  Virgen  Nves- 
tra  Si  í/ora.  Dados  a  la  segunda  impression  por  Domingos  Carnero,  mercader 
de  libros.  Lisboa.  En  la  Officina  Graesbeeckiana.  Ano  1651. 

1  vol.  4.°,  a  2  cols.,  29  fls.  inn.,  520  pags. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

d  t  Sermon  de  la  Concepcion  de  la  Virgem  mestra  Senora  predicado  etc. 
Com  todas  as  licencias  necessárias.  Impresso  em  Lisboa  por  Pablo  Craesbeeck, 
Impressor  y  Libvero  de  las  três  Ordenes  Militares  Afio  1647. 

4.°,  242  fls. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

e)  Sermon  de  la  Concepcion  de  la  Virgen  nuestra  Senora.  Predicado  por 
el  R.  P.  Manvel  de  Naxera  Catredatico  de  Escritura  de  la  Compafiia  de  lesrs 
en  la  Uniuersidad  de  Alcalá.  Diolo  a  la  estopa  el  D.  Dõ  Frãcisco  Ignacio  de 
Porres.  Dedicado  ai  Palriarcha  S.  Joseph.  (Estampa:  Nossa  Senhora).  Con 
todas  las  licencias  necessárias.  Impresso  en  Lisboa.  Por  Paulo  Craesbeeck,  Im- 
pressor y  Librero  de  las  três  Ordenes  Militares.  Ano  1646. 

4.°,  39  pags.  numeradas  pela  frente. 

No  mesmo  opúsculo,  do  folio  25  em  deante,  Sermon  dei  Santíssimo  Sa- 
cramento. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

f)  Sermon  de  la  gloriosa  Sancta  Engracia  y  de  los  inumerables  Martyres 
de  Zaragoza,  etc.  Lisboa.  Por  Pablo  Craesbeck  Ano  1648. 

24  fls.  numeradas  pela  frente. 

Nebrija  (Aelio  António  de).— a)  JElij  Antonii  Nebrissensis  Grammalica. 
Cem  privilegio.  M.B.LU. 

8.°,  sem  numeração:  AA5-XX2.  Esta  ultima  folha  só  tem  8  pags. 
Apesar  d'esta  edição  não  trazer  indicação  de  logar  nem  de  impiessor, 


(163)  A   UTTERATURA  «ESPANHOLA   I.M   PORTUGAL  3M 

não  duvidamos  classiGcal-a  de  Lisboa  e  attribuil-a  a  Luis  Rodrigues.  \  por- 
tada é  a  mesma  da  Viciosa  vergonha,  de  João  de  Barros,  sem  os  enfeites  que 
a  circundam. 

Bonito  exemplar  da  Bibliotheca  da  Vjuda. 

b)  Idem.  idem. 

Outro  exemplar  idêntico,  naas  do  anno  de  1554.  Dir-se-hia  fraude  typo- 
graphica,  mas  não  parece  pelo  exame  a  que  procedemos. 

Nicolas  (Vito  de  San). —  Historia  dela  vida,  virtudes  y  mi  logros  dei  beato 
padre  Don  Joseph  Calasanz,  fundador  y  patriarcha  de  la  Religion  Mariana  de 
Clérigos  Regulares,  Pobres,  de  la  Madre  de  Dias,  de  las  Escuetas  Pias,  con  un 
resumen  de  noticias  chronologicas  pertenecientes  d  esta  Sagrada  Religion  por  el 
padre  Vito  de  San  Nicolas,  Commissario  general  de  la  misma  en  esta  Corte, 
Dedicala  a  la  Reyna  nuestra  Sefiora  Uofía  Maria  [na  Victoria  de  li  rbon,  que 
Dios  guarde.  Lisboa,  Na  Offkina  de  Miguel  Manescal  da  Cosia,  Impressor  do 
Santo  Ofíkio. 

I  vol.  í.".  23  fólios  prel.  inn.,  :)74  pags. 

Do  prologo  vê  se  que  o  auctorveiu  a  Lisboa  encarregado  pela  sua  Ordem 
de  propagar  a  religião  dos  Clérigos  Regulares  das  Escolas  Pias.  0  livro  é 
pois  indispensável  complemento  a  collecção  das  chronicas  religiosas  portu- 
guezas.  No  mesmo  prologo  diz  ainda  oauetor:  sQuise  escrivir  la  presente 
Historia  en  Italiano,  pêro  discurri  que  seria  ocioso  el  trabajo,  porque  no  todos 
entiendem  este  idioma,  por  ser  forastero,  y  assi  determine  escrivirla  en  len 
gua  Castellana;  etc». 

Seria  Nicolas  italiano  ou  de  origem  italiana  ' 

Nieremberg  (P.  [uan  Eusébio).— et)  De  la  diferença  entre  lo  temporal  y 
eterno.  Crisol  de  desenganos,  con  la  memoria  de  la  eternidad,  postrimerias  hu- 
manas, y  principales  Mistérios  Divinos.  Por  el  V.  Ivan  Evsebio  Nieremberg,  de 
la  CompaRia  de  Iesvs.  Al  illvstre  sefíor  André  Fritado  y  Mendoça,  dum,  y  ca 
nonigo  de  la  Saneia  Iglesia  Metropolitana  de  esta  ciudad,  etc.  Lisboa.  Con  1/ 
cencia.  En  la  Oficina  d' António  Oraesbeeck  de  Mello,  Impressor  de  Su  Alteza. 
Ah.  1665. 

4.°,  10  pags.  prel.  inn.,  420  pags.,  mais  40  pags.  inn.  de  Autoridades 
latinas,  Índices  de  las  cosas  notables,  Ivgares  de  la  Sagrada  Escritura. 

b\  De  la  diferencia  entre  lo  temporal  y  lo  eterno.  Ebora  1678. 
4.° 

N.°  2:371  do  catalogo  manuscripto  da  Camará  Municipal. 
Hist.  e  Mem.  da  Agad— Tomo  >h  parte  ii.—  N.°  5  13 


.'{'l'l  A  L1TTEHAT0RA  HESPAMIOfcA  KM  PORTUGAL  (164  I 

c)  Dictamenes  dei  padre  Jvan  Evsebio  Nieremberg  de  la  Compafíiá  de  .le- 
sos. Recogidos  de.  svs  obras,  y  afiadidos  por  el  mismo  Autor.  A  Don  Joseph  de 
Saattedra  Marques  de  Bibas.  Afio  1658.  Usina  1658.  En  la  Oficina  êe  Henri- 
que Valente  de  Oliuera. 

I  ml.  12. \  328  pags. 

Exemplar  de  Rodrig 

d  i  Outra  edição.  Lisboa  1667,  1-2. " 

i  D  In  hermosvra  de  Dios  y  sv  amabilidad  por  las  infinitas  perfecciones 
dei  ser  divino.  En  Lisboa.  Por  Domingos  Carnero  y  a  su  costa.  Afio  M.D.CLX. 

I  vol.  8.°,  7  fólios  imi.,  231  fólios  numerados  pela  frente,  mais  5  inn. 
de  índice. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

/  i  De  la  aficion  //  amor  de  Mana  Virgem  Sacratíssima  Madre  de  Jesus 
Dios  y  hõbre  que  la  deven  lener  lodos  los  redimidos  de  su  fíijo.  En  Lisboa  por 
António  Al:  Impressor  DelRey  X.  S.  1648. 

16.°,  4,  -202  lis. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

Niseno  (P.  Fr.  Diego). — a)  Asvníos  predicables  para  los  domingos,  miesr- 
coles,  ií  viernes  de  qvaresma.  Por  el  P.  Fr.  Dirijo  Niseno,  Predicador  dei 
Conuento  de  San  Basílio  de  Madrid,  natural  dr  Alcazaren,  de  Castilla  la  rieja. 
En  Lisboa  por  Pedro  Craesbeeck  Impressor  delRey.  Ano  M.DC. XXVIII.  A  costa 
dê  Thome  dei  Valle  Mercader  de  libros. 

I  vol.  4.°,  a  2  cols.,  7  fólios  inn.,  312  tis.  numeradas  pela  frente,  mais 
12  fls.  inn.  de  Índice. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

b)  [suntos  ;  Predicables  para  \  todos  los  Domingos  despues  j  de  Pentecos- 
tes. |  Por  el  P.  Fr.  Diego  Niseno,  j  Monge  de  la  Sagrada  Beligion  |  dei  Gran 
Basílio,  j  .4/  Ilustríssimo  S:'  \  D.  Al"  Perez  de  Guzman  Arç."  |  de  Tiro.  Pa- 
triarca de  las  índias,  [  Capellan,  i  Limosnero  Mauor,  \  de  su  Mageslad.  \  Con 
Priuilegio,  en  Madrid.  \  Por  Francisco  Martinez.  \  Ano  103o. 

I  vol.  í.".  8  lis.  inn.,  292  numeradas,  mais  34  inn. 
Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

c)  Asvntos  |  Predicables,  para  |  Todos  los  Dias  de  Ctturesma.  |  Con  algu- 
nos  Sermones  afiadidos  j  Tomo  Primem.  |  Por  el  P.  Fr.  Diego  Niseno  |  Abad 
dei  Monasterio  de  S.  \  Basílio  Magno  de  \  Madrid.  \  A  Nvestro  Beverêdo  |  P. 
Fr.  Ignacio  de  Guona  Prou.1  \  en  Castilla  de  la  dicha  Orden.  [  Con  privilegio, 


lti")  A  UTTEHATURA  HESPANHO!  \  EN  PORTUGA 

i a  Madrid,     Por  Disgo  Flamenco  Afio  dt     1631.     No  I 
'/io,  ,ii  Madrid,     Por  Fran.ct  Marlines,  Afio  de  \  1631. 

I  voJ.  l.".  6  Os.  um . .  298  numeradas,  mais  20  im  .   ':  imo  l  -  T< 
10  Qs.  inn.,  A'i-2  numeradas,  mais  -Ji>  iim. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Vjuda. 

d)  Asvntos     Predicables    para   todos  los    domingo 
Adviento  ai  ult  •  reccion.     Por      /'   /'< .  D 

[bad    dei  Monasterio  dei  Gran  Basílio    de  Madrid      l    Eí    l 
D.  Ivan     Alonso  Enriquei  de  Gabrera  Mini-    rante  de  Gastilla    \  En  Lisboa.  . 
la  S.  Inquisicion,  Ordinário,     i  dei  Rei. 

A  costa  de  Tome  do  Valle,  mercader  <! 
I  vol.  i.'.  13  As.  inn.,  330  numeradas,  mais  26  inn. 
Exemplar  da  Bibliotbeca  da  Ajuda. 

El  Gran  Padre  de  los  Creyentes  Abrahan,  en  moi  y  la- 

trina predicable.  Avtor  Fr.  Diego  Niseno  munir  dela  Sagrada  Religion  ■' 
Padre,  y  Doctor  de  la  Iglesia  S.  Basílio;  despues  rfi  lesu  Christo,  ylos 
los,  primer  Legislador,  facilmente  Príncipe,  y  im-Uto  Patriarcha  de  ■'• 
Vongi  í.  Ao  illvstrissimo  senhor  Dou  Hieronimo  Mascarenhas,  Reytor  do  l 
de  San  Pedro  da  Vniuersidade  dt   Coimbra,  d    Cónego  na  Saneia  -      • 
cidade.  (Brasão  de  anuas.  De  um  e  de  outro  lado:  Amw  de  1636).  Ueiia 
índices:  de  Libros,  y  Capítulos,  de  la  Sagrada  Escriptura,  Cosas  Notai 
Remissiones  a  los  Euangelios  de  la  Quaresma.  Con  las  licencias  >■ 
Lisboa.  Por  António  Aluarez. 

4.°,  a  2  col.,  7  fólios  prel.  inn..  249  numeradas  pela  frente,  afora  I 
innumerado. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Noticia,     a  individual  dei  sagrado  culto,  con  qve  la  d 
Lisboa  celebro  en  un  Odor, uai  de  solemnes  festas  la  canomzacion  dei  gl 
sano  S.  Andres  Avelino  de  los  Clérigos  Regulares  Teatinos,  en  su  tg 
nuestra  Sefiora  de  la  Divina  Providencia,  con  la  descripeion  de  su  ma 
adorno.  Hizola,  motivado  de  su  devocion,  un  Espaftol  Matritense.  En 
En  la  Imprenta  Real  Deslandesiana.  M.DCCXIII. 

'i.'.  31  pags. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  Bibliotheca  do  B 
Janeiro,  collecçSo  Barbosa  Machado  e  Vnnibal  Fernandes. 

//)  Breve  noticia  dei  certamen  sacro-poetico  con  que  prevenieron  los  . 
gos  Reglares  Teatinos  de  la  Divina  Providencia  de  esta  gran  Corte  dt  Lisboa 


346  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (166) 

/■  i  natalício  dei  gloriosíssimo  S.  Andres  Avelino  en  aplauso  de  su  canonizar 
.  Hizola,  por  su  devocion,  un  Espafíol  Matritense.  Lisboa.  En  la  Imprenta 
de  Miguel  Manescal,  Impressor  dei  Santo  Officio,  y  de  la  Sereníssima  Casa  de 
Bragança    ín~o  de  1714.  Con  todas  las  licencias  necessárias. 
4.°,  lá  pags. 

Exemplar  da  Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa  (collecção  Z|4  19,  a."  1:841, 
H  storia) 

c)  Noticias  n  imias  de  varias  partis  publicadas  em  Zaragoça  d  14,  y  veni- 
Valencia  á  21  de  Deziembre  1706.  coo  la  carta,  que  el  Sefíor  Conde  de  la 
',!,i  escriviò  à  su  Magestad  (que  Dios  guarde),  y  otra  que  se  cogiò  ai  Ceruo, 
que  vénia  d   Francia  escrita  ai  Duque  de  Berbic  en  10  de  Deziembre  de  1706. — 
No  fim:  Impressa  en  Valência,  y  aora  en  Lisboa,  En  la  Emprenta  d<-  António 
':'  Irozo  Caíram.  Con  las  licencias  necessárias.  Ano  1707. 
4.°,  10  pags. 
Exemplar  da  Bibliotheea  Nacional  de  Lisboa. 

Noydens  i  Padre  Benito  Remigio). — Pratica  de  erras,  y  confessores,'ydoclrina 
;>■  i  penitentes:  en  qve  con  mecha  errdicion,  y  singular  claridad  se  trata n 
todas  las  matérias  de  la  Theologiã  Moral:  Por  el  padre  Benito  Remigio  Noy- 
dens, antrerpiense,  theologo,  y  religioso  de  la  Sagrada  Religion  de  los  Padres 
■  Regulares  Menores.  Dezima  Septima  Eáicion.  Etc.  En  Lisboa.  Con 
todas  las  licencias  necessárias.  En  la  Emprenta  de  Migvel  Manescal,  Librero 
de  Su  Alteza,  y  dei  llluslrissimo  Sefíor  Arcobispo  de  Lisboa.  Ano  1680. 

1  vol.  folio,  2  pags.  prel.  hm.,  540  pags.,  afora  Tabla. 

Exemplar  da  Bibliotheea  Nacional  de  Lisboa. 

Ochoa  tíe  la  Salde  (Iuan).—  a)  Prímera  parte  de  la  Carolea  \  Inchirí- 
dion,  qve  trata  de,  la  \  Vida  y  Hechos  dei  Inuictissimo  Emperador  Don  Carlos 
Quinto  de  este  Nombre,  y  de  muchas  notables  cosas  en  ella  sucedidas  hasta  el 
Ano  de  lõõô.  Dirigida  ai  Excelentíssimo  Sefíor  Don  Aluaro  de  Baçan,  Mar- 
ques de  Saneia  Cruz,  Comendador  mayor  de  Leon,  dei  Consejo  cie  su  Majes- 
tad,  y  su  Capita»  general  dei  Mar  Oceano  y  Reynos  de  Portugal.  (Brasão  de 
armas  do  Marquez  de  Santa  Cruz,  n'um  quadrilongo,  onde  se  acha  inscripto 
o  seguinte  dístico:  Don  Álvaro  de  Baçan  Primero  Marques  de  Santa  Cruz). 
Recopilada  en  dos  partes  por  Iuan  Ochoa  de  la  Salde,  Prior  perpetuo  de  Sant 
luan  de  Letran.  Impressa  con  Licencia  dei  Consejo  general  de  la  Sancta  Inqui' 
sicion,  Afio  de  M.  D.  LXKXV.  Con  privilegio  real. 

1  vol.  folio,  4  fls.  prel.  inn.,  451  fólios  numerados  pela  frente,  incluindo 
a  Tabla. 


167l  A  LITTERATUHA   UESPANH01  \   EM   PORTUGAL  347 


A  obra  termina  ao  verso  do  folio  iii.  ao  fundo  do  qual  s< 
guinte  declaração: 

Fm  impressa  esta  Primera  parte  de  l"  Carolea  inchiridion,  a  costi 
mismo  Author,  en  su  própria  posada,  en  Lisboa,  /<"/■  Ma 
Ribeiro  <■  Anlon  (sic)    Uuarez  impressores,  con  licencia  dei  swpi 
dela  santa  Inquisicion,  como  e&  costumbn   enestos  Rei/nos.  Acabt 
dei  mes  de  Deziembre.  >l<   1585.  La  Segunda  t><irt<'  desta  h 
luego. 

Não  consta  que  esta  promessa  se  reali 

.Nas  folhas  preliminares  contém-se:  licenças  e  appn 
privilegio,  riu  portuguez;  dedicatória  a  l>.  Uvaro  de  Baçau,  e  pn 

\  approvação,  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira,  é  do  theor  segu 

«Digoe^  Frej  Bertholameu  Ferreyra  Mestre  em  sancta  rheologia,  de] 
da  Sancta  Inquisição,  &  Reuedor  dos  Liuros,  que  vi  por  mandado  do  illus- 
trissimo  &  Reuerendissimo  Senhor    Vreebispo  de  Lisboa,  Inquisidoí    - 
digníssimo,  destes  Reynos  de  Portugal,  este  Liuro,  cujo  titulo  he,  G 
Inchiridion,  etc.  No  qual  não  ha  proposição  herética,  nem  errónea 
nem  escandalosa,  antes  tem  cousas  de  edificação,  ã  \a\  escriph   por  mi  il 
bom  estylo,  ã-  engenhoso,  por  onde  julgo,  que  se  deue  de  imprimir   certifico 
d  assi  xij  de  Dezembro  de  mil  &  quinhentos  &  oitenta  &dous.  Frey  Be 
lameu  Ferreyra». 

N'este  volume  se  encontra  a  narrativa  de  muitos  factos  da  historia 
temporanea  portugueza,  como  tomada  de  Azamor,  etc. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

No  leilão  Gubian  foi  vendido  um  exemplar  (n.°  988    poi  i  10 

b)  Chronica  dei  \  esforçado  príncipe  ;  y  capitan  lorgi  Caslrioto  r< 
Epiro,  o  Albânia,  traduzida  dei  lenguage  Português  enel  Castellam  p< 
Ochoa  de  la  Salde  Príor  per-  !  petito  de  Suni  luan  de  Letran.  Dirigida 
ylusire  seSíor  Dou  Alonso  de  Baçan  Comendador  de  Vallaga.  (Escudo  de 
tendo  em  volta,  num  quadrilátero:  Dou  Álvaro  de  Baçan  Primero  Vai 
Santa  Cruz,.  Eu  Lisboa.  Inpresa  con  licencia e aprobacion  dei  Consejo 
de  In  santa  Inquisicion.  Afío  de  1588.  Con  privilegio  real. 

I  vol.  folio,  a  2  col.,  -1  fólios  prel.  inn.  de  licenças  e  dedicatória,  VM  '  >- 
lios  numerados  pela  frente,  mais  3  fólios  inn.  de  Tabla.  Não  tem  colopl 
typographo,  nem  indicação  de  typographia,  mas  a  impressão  é  identii 
Carolea. 

A  approvação,  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira,  é  do  theor  seguinte: 

Vi  por  mandado  de  su  Alteza  esta  traslação  da  Chronica  de  lorgi 

trioto.  4  tiradas  algúas  cousas  do  original  antigo,  que  não  soauãi   bei 


S4S  A  LITTERATURA  HE8PANH0LA  EU  PORTUGAL  (168) 


ii-Mi  nada  contra  a  Fee  &  bõs  costumes,  nem  cousa  porque  se  não  deua  de 
imprimir,  antes   le  boa  lição,  &  digna  de  se  saber». 

Nicolau  António  cita  unia  edição  de  Sevilha  de  1528,  que  não  existe. 

a    por  anachronica.  0  illustre  bibfiophilo  equivocon-se  duas  vezes,  no 

;ui!iu  e  na  data,  Innocencio  da  Silva,  corrigindo  o  anachronismo,  emenda  que 

a  edição  sewa  di    IS82.  Vê-se  que  não  teve  conhecimento  da  edição  de  Lis- 

uc  sem  duvida  se  pode  reputar  prmceps.  Salva  descreve  a  edição  de 

Madrid  de  M.D.XGVII. 

\  edição  de  Lisboa  é  primorosa  e  o  exemplar  que  temos  á  vista  é  excellente. 
fteiieace  ao  nosso  amigo  e  eximio  bibliophilo  Ferreira  das  Neves  Sobrinho. 

Vendido  po]    50  trancos  no  leilão  Miro  (respectivo  catalogo  n.°  343;. 

Ontiveros  António  Maldonado  de). — Barbosa  dá-o  equivocadamente  como 
jaez.  Innocencio  contesta,  baseado  nos  testemunhos  de  José  Caetano  de 
Almeida  e  D.  Thomaz  Caetano  do  Bem.  Publicou: 

'Dos  breves  tratados  sobre  dos  perguntas  que  se  hizieron  en  la  mesa  dei  se- 
fif-r  D.  Thmdosio,  Duque  de  Bragança.  Lisboa,  por  German  Galharde,  1548. 

4.° 

STide  Ian$eenei@,  tomo  i,  pag.  194,  e  torno  ix,  pag.  lol    artigo  583). 

Oropesa  [Marti  Lasso  de). — La  hystoria  \  que  escreuio  en  latin  el  poe  \  ta 
'f.uo.mo:  trasladada  c  |  Castellano  por  Marti  |  Lasso  de  Oropesa  \  secretario 
dela  ex  |  cellête  >efíora  \  marquesa  dei  |  Zenete  cõ  |  dessa  de  Nasson. . .  (Este 
titulo,  a  vermelho  e  preto,  está  numa  portada  de  figuras,  tendo  no  fundo  e 
ao  centro  as  armas  portuguezas.  Esta  portada  é  de  outros  livros). 

Segue-se  a  dedicatória:  Al  may  magnifico  sefíor  don  Pedro  de  Gueuara 
sefíor  de  Juan  Vela  cõmèdador  de  Valência  dei  vêtoso  y  de  Benamexi  cama- 
■raro  de  stt  Magemd,  5  pags.  Segue-se  Vida  de  Marco  anneo  Lucano,  3  pags. 
innumeradas.  Segue-se  Las  Causas  generales  por  dõde  se  momo  esta  guerra 
iam  grande  que  escriue  Lucano. 

JSo  fim:  Agut  se  acaba»  los  diez  li  |  bros  de  las  guerras  ciuiles  que  com- 
puso  eu  verso  ke_  ■  roj/co  el  famoso  poeta  Lucano  traduzidos  en  ro  I  niance  castel- 
lano por  Martin  Laso  dorope  |  sa  secretario  de  la  sefíora  Marquesa  dei  |  zenete. 
Jímprimierõse  an  la  insigne  \  ciudad  de  Lisbona  a  XX  de  mayo  \  de  mil  <£■  quietos  y 
quoreta  |  ?/  tm  cfios  por  Luijs  \  Rodrigwz  libre  \  ro  dei  fíeij  \  nosso  se  |  flor. 

•4.°,  letra  gothica.  16  inn.  e  cliiii  fls. 

Exemplar  pertencente  ao  sr.  Ferreira  Neves. 

A  traducção  é  em  prosa. 

Ha  uma  edição  de  Burgos  de  1538,  foi.  Vide  Catalogo  Castello  Melhor, 
ti.c  1:914. 


(169)  A  UTTEMTURA  «ESPANHOLA   EM  PORTUGAL  349 


Ortiz  de  Villegas    D.  Diego      I.         K 
Veio  para   Portugal  acompanhando  a  princesa  D.  Joanna,  chamada  a 
excellente  senhora,  na  qualidade  de  seu  confessor.  Bem  recebido  na  côrle,  foi 
nomeado  bispo  de  Ceuta  e  depois  de  Viseu.  Morreu  em  Almeirim  em  1519. 
Para  a  sua  biographia  veja  se  o  que  escreveu  V.  Alexandre  Lobo  na  sua  R< 

sumida  noticia  dos  Bispos  d,  Viseu  primeiro  volu das  suas  obras  e  Dr.  Lev> 

Jordão  (Visconde  de  Paiva  Manso)  na  Wemoria  sobre  o&  bispados  d\  Ceuta  < 
Tanger.  Escreveu: 

«    Calkecismo  pequeno  da  doctrina  &  instruiçam  que  os  cpaãos  fiam  de 

obrar  peru  conseguir  a  benauenturança  eterna  feilo  &  copilado  pollo 

reuerendissimo  sefior  dom  Dioguo  ortiz  bispo  de  çepta.  Emprimido  com  priuile- 

gi<>  dei  Rey  nosso  senhor.  &c.  (Este  titulo  tem  por  cima  a  esphéra  armilar  e 

por  baixo  as  armas  do  bispo).     No  fim  da  ultima  folha:  Acabase  o  calheçismo 

da  doctrina  &  instruiçam  qut  os  xpaãns  ham  de  creer  &  obrar  pêra  con 

a  bemauenlarança  eterna,  feyto  <i   copilado  pollo  reuèrêdissiino  senhor 

dom  Dioguo  ortiz  bispo  de  çepta.  /•.'  etnpmido  em  a  muy  nobrt  cidade  </■ 

per  Valenti  fernãdez  alemã  &  lohã  pedro  boõhomini  dt  cramona  aos  xx  dias 

de  lulho.  Era  de  mdl  &  quinhêlos  &  qlro  annos. 

1  vol.  folio,  lxxviij  fólios,  gothico,  bella  impressão.  No  verso  uma  grande 
estampa  representando  um  bispo  sentado  deante  de  uma  estante  de  livros;  ao 
longe  um  armário  tendo  livros  e  um  tinteiro  por  cima.  Um  cão  ao  fundo.  No 
alto,  um  anjo  despregando  uma  tarja  com  um  versículo  de  [saias.  No  folio  11, 
dedicatória  em  latim  a  D.  Manuel.  No  verso  o  proemio,  explicando  o  motivo 
por  4111'  escreveu  a  obra,  declarando  ter  escripto  outra  mais  longa:  <  E  si  ai 
gau  quiser  mantiimento  de  liaram  leea  tio  cathecismo  mor  que  desta  mesma 
matéria  escreuêinôs».  Se  se  chegou  a  publicar,  não  ha  noticia  de  nenhum 
exemplai-  nem  da  sua  impressão. 

Exemplar  da  Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa. 

b  Historia  passionis  Domini  lesu,  ex  quattor:  in  unam:  per  reueren- 
dum  dominam  Didacum  Hortijz  ã  Villegas,  uisen,  Episcopum:  cum  eiusdê 
plana  &  catholica  explanatione.  (Este  titulo  por  baixo  de  uma  estampa  repre- 
sentando o  Calvário,  tudo  enquadrado  por  ornamentação  de  flores  e  pas 
saros).—  No  fim,  em  folha  separada:  Absobotum  esl  opvs  Historiae  Passionis 
Qominicaedàe  et  anuo  a  nativitate  Domini  millesimo  quingentesimo  quadragi 
simo  secwtdo  olisbonae.  (No  verso  d'esta  folha  o  escudo  grande  de  Luis  lio- 
dfágues  . 

4.°,  cadernos  A  Aiij.  sem  numeração,  34  folio.-,  incluindo  frontispício  e 
folha  de  subscripeão  final. 


350  A   UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (170) 


Mo  verso  do  frontispício  começa  a  dedicatória:  dnvictissimo  principi 
loãni  iij  Lusitanie.  d-c.  Regi  potêtissimo  lacobus  Hortiiz  a  Villegas  Episcopus 
Septêsis  eiusdêq,  Régie,  celsiludinis  à  consiliis  atq;  decaqus. 

liem  per  difficilem  existimauerúl  perili  4  sapientis  viri,  clemêtissime 
lic\,  doctrine  sue  archana  diuersis  hominurn  ingenijs  proponere  censenda. 
Porro,  quò  quis  ad  ipsius  scientie  proprius  accedit,  eò  longius  ab  ea  se 
distare  pulai.  El  bona  paro  nostre  scientia  esl  scire  q  niliil  scimus.  Si.  n. 
noua  d  inaudita  tibi  excogitasse  videaris,  aoimaduerte  paciiici  Salomonis  cõ- 
cionê  rererentem  nihil  nouu  sub  solo.  Vnde  uullo  preconio.  cus  indico  exhol- 
lendos,  qui  vix  adepta  Iriú  uocaboleru  origine  passim  libros  edíit,  increuit.  n. 
adeo  librorum  copia,  esl  bonarum  literarum  amatores  a  quo  debeant  inchoare 
dubitent  (esl  nãq;  ars  longa  &  vila  breuis).  Accidit  prolde  scriptoribus  nostri 
temporis,  ul  nihil  ex  próprio  fonte  promant:  sed  mutatis  verbis  nõnullis,  q 
maiores  scripserunt,  quasi  aliquid  noui  ex  Africa  nobis  ferãt,  enarrãt,  quod 
elaré  innotnil  bis,  qui  antiquorum  volumina  versarunt.  In  antiquis.  n.  est 
sapientia  &  in  multo  tempore  prúdêtia.  Quam  obre  istius  doctissimi  Presidis 
tui  quõdam  preceptoris  in  sacro  sanetã  Christi  passionê  ex  quattuor  in  una 
coilectam,  scholia  retractaui  prelo  cõmittere  excudêda.  Cui  quidê  Antistili 
utinã  muitos  episcopos  bec  mísera  cõditio  têporum  baberet  símiles.  Veru  quia 
ipse  cu  esset  tu  prudentia,  tu  doctrina  luculenter  preditus  non  sesse  huic  ne- 
guem ingessit:  sed  uoluntate  &  império  patrui  tui  Serenissimi  Regis  Ioan- 
nis.  ij.  incitatus  potius  q;  domestica  laude  dnctus  bãc  puiciam  subiuit.  Volui 
ita<| ;  inuictissime  Rex,  quod  ipsemet  patruo  tuo  dedicauerat,  tibi  offerre:  ul 
qui  eius  doctrine  Iac  suxisti  infans,  nnnc  demu  in  maturiore  etate  A-  feliciore 
statu  cõstitutus  eius  reminiscaris,  qui  te  velut  antiquus  Simeõ  infantulQ  Iesum 
in  ulnis  tenuit  A-  asporiauit.  Tibi  inq;  inuictissime  Rex.  boc  múnus  libes  offerre 
udui.  Quippe  qui  beneficiis  accumulatus  uicê  reddere  nõ  ualeo,  animo  saltem 
nõ  pigro  tibi,  cui  omnia  debeo  lucubrationes  alienas  (nec  a  me  longe  alienas, 
eius  cu  sine  sanguine  iunctus)  dicaui.  Ecce  igitur,  Clemêtissime  príceps.  En 
foetus  eius,  cuius  tu  fatus  es,  fetu  inrjuam,  quem  velut  pares  materno  amore 
sua  doctrina  aluit  &  illustrauit:  foetum,  ob  quem  regnu  boc  mérito  sese  iacti- 
tat:  eo  q  sub  tãto  Príncipe  ei  cõtigerit  militare:  foetum,  quem  adeo  amplecte- 
batur  &  venerabatur  ut  non  nisi  morte  oceupatus  d-  senecta  fracidus  des- 
cruerit:  quê  nempe  dií  uiueret,  regali  insignitum  diademate  summo  affectu 
exoptauit  iutueri.  Habes.  n.  in  bis  scholiis  abditas  doctorum  hominurn  diffi- 
cultates  enucleatas,  omni  prorsus  ambiguitate  explosa.  Habes  unde  de  Christo 
passioè  possis  laetari :  quia  te  redemit,  deuictis  potestatibus  aeris  huius,  & 
morlis  acerbitate  repressa.  Habes,  und  plagas:  eocj  nostris  scoeleribus  d  fla- 
giliis  tot  d  tanta  pertuleritu  itiorum  monstra.  Et  q  tam  mirabile  exposuerit 
pietiu  pro  ingratis  d  obduralis  hõinibus,  qui  dominum  suum  non  cognoscunt, 


(171)  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA    EW   PORTUGA1  3 

qaê  bruta  reuereotor.  Sicut  scriptura  esl  glorificabil  me  bestia  agri,  di 
&  strutiones,  quia  dedi  in  deserto  aquã.  Hãc  ttaq;  aquã,  i  lementissime  Prin 
ceps,  tibi  propino,  quam  ex  hac  editione  hauries,  quse  te  reficial  A  satiel  in 
illtam  .flcniaiii.  Ainrn   . 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  (Reservados,  n.°  953  . 

Reproduzimos  a  dedicatória  d  esta  obra,  não  só  porque  ella  explica  o 
motivo  da  publicação,  mas  também  por  algumas  ideias  que  expõe  acerca  da 
originalidade  litteraria.  Gomo  se  vê;  a  Historia  Passionis  foi  impressa  pos- 
thuma,  dada  á  luz  por  um  sobrinho  do  auctor,  seu  homonymo,  bispo  de 
Ceuta,  como  o  tio.  A  differença  é  que  se  conservou  n'este  bispado  enão  teve 
;i  mitra  de  Viseu.  I».  Diogo  Orliz  foi  do  conselho  cosmographico  de  el-rei  e  foi 
um  dos  que  se  mostraram  contrários  á  empresa  de  Colombo.  Só  esta  circuns- 
tancia bastaria  para  o  fazer  relembrado.  Foi  também  professor  de  D.  João  III, 
quando  infante.  Orador  notável,  pregou  em  diversas  cerimonias  históricas  im- 
portantes. 

Ortiz  de  Villegas  (D.  Diego)  -'.  i.  Sobrinho  do  antecedenti  .  Bispo  de 
Ceuta,  tnnocencio  confundiu  as  duas  individualidades,  atlribuindo  ao  primeiro 
a  obra  seguinte,  que  é  indubitavelmente  do  segundo: 

(O  Cerimonial  da  missa  rezada  segudo  cuslume  Romão,  e  se  guarda  no 
Capella  dei  Rey  d  Portugal  dõ  Johão  terceyro  deste  nome  nosso  senhor.  Com 
ho  oflicio  dos  sabbados  e  outras  adições.  Com  priuilegio  de  sua  alteza.  (Este 
titulo  é  mettido  em  uma  tarja,  tendo  por  rima  uma  vinheta,  que  representa 
um  padre  e  acolyto  ante  um  altar,  com  todos  os  mártyrios  do  Senhor).— No 
verso  do  rosto  diz:  Cerimonial  da  missa  rezada  priuada  segudo  custume  Ro- 
mão. Recopilado  i  de  nono  augmetado  e  emendado  pelh  muyto  reuerendo  <■ 
muyto  magnifico  senhor,  H>  senhor  I).  Diogo  Ortiz  de  Villegas,  bispo  de  Cepta, 
primas  d'Africa,  ele,  etc.  Com  o  o/ficio  dos  sabbados. —  E  no  fim:  Acabous. 
este  tracto io  cerimonial  da  missa,  segudo  custume  Romão,  etc.  E  de  nòuç 
augmentado  ■■  enmendado  cõ  ho  officio  dós  sabbados.  .1  louvor  de  d's  e  de  nossa 
senhora,  etc.  impresso,  em  Lisboa,  por  Germão  Gallardo...  Aos  y  dias  ih-  Se- 
tembro do  anno  ii  1541. 

i.°,  gotlnc»,  IG  lis. 

0  único  exemplar  conhecido  existe  na  Bibliotheca  de  Évora.  Tomamos 
a  sua  descripção  de  Innocencio. 

Osuna  (Duque  de).— Memorial  que  et  duque  de  (huno...  en  defension 
suya.  (Este  titulo,  que  se  acha  no  alto  da  pagina,  não  se  pode  ler  por  cora 
pleto  por  estar  muito  aparado).-— No  fim.  Em  Lisboa.  Com  licença  da  S.  In- 


352  A  LíTTERATUBA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (172) 

quisição,  Ordinário,  &  Paço.  Por  Pedro  Crasbeeck,  Impressor  dei  Bey.  Taixão 
esta  folha  em  cinco  reis  em  Lisboa  13  Agosto  i62í. 
Folio    i  pags. 

Ouando  (Fraj  luao  de). —  o)  Consideraciones  y  Exercícios  sanctos  sobre 
los  evangelios  de  las  Dominicas  áespttes  de  Penthecosles.  Compvesto  por  d  padre 
fray  Jttan  de  Ouando,  Lector  jubilado,  de  la  Prouincia  de  Santiago.  Natural 
de  In  muy  noble  y  muy  leal  Villa  de  Cáceres.  Dirigido  a  Dou  Francisco  de. 
Sosa,  obispo  de  Canária.  Sperabo  in  Homine  Deo.  (Monogramma  de  Jesus  uum 
escudete  oval).  Gaudeo  in  Deo  lese  meo.  Con  licencia  de  la  Saneia  Inqvisicion,  y 
dei  Ordinário.  ímpnsso  en  Lisboa,  en  la  Ófficina  de  Luys  Eslupifían.  Afio  de  1GOO. 

1  vol.  foi.,  a  2  col.,  a  primeira  parte  com  128  fólios  numerados  pela 
frente,  a  segunda  com  88,  afora  Tabla. 

lista  segunda  parte  parece  .ter  sido  impressa  por  outro,  pois  diz  no  fim: 
Impresso  en  Lisboa  en  la  imprenta  de  Vicente  Alvarez.  Afio  de  M.DC.IX. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

b)  Copioso  tratado  sobre  la  primem  dominicu  de  advienlo,  dispiesto  por 
Discursos  y  Consideraciones.  En  que  se  trata  dei  rigurõeissimo  dia  dei  Iayzio, 
con  las  mas  Dominicas  de  Aduiento,  llenas  de  loores  dei  Baptista,  con  loores  de 
oiros  Sanctos,  y  de  S.  Juan  Eaangelista.  Compvesto  por  el  padre  Fray  Iuan  de 
Ouando,  Lector  jubilado,  de  la  Prouincia  de.  Santiago.  Dirigido  a  don  Ivan  pri- 
mero  rey  de  Cândia  en  el  Império  de  Ceijlam.  Afio  1610.  Con  licencia  de  la 
saneia  inqvisicion,  dei  Ordinário  y  dei  Palácio.  Impresso  en  Lisboa,  en  la  Óffi- 
cina de  Vicente  Aluarez. 

1  vol.  folio,  a  2  col.,  3  fls.  prel.  inn.,  6G,  91  numeradas  pela  frente. 

Palácio  i  Paulo  dej. —  a)  Svma  Caietana,  sa  |  cada  en  knguage  Castel- 
la  |  no:  Con  Annolaciones  de  |  muchas  dubdus  y  ca-  |  sos  de  consci-  |  encia.  \ 
Por  d  M.  Pavio  de  Palácio  \  Natural  de  Granada.  \  Por  mandado  y  con  ap- 
probacion  dei  \  Reuerendiss.  y  Sereniss.  S.  Dõ  Henri-  \  que,  Canlenal,  Infante 
de  Por-  |  lugal,  y  Arçobispo  de  Ebora.  écet.  \  Fue  impresso  en  Lisboa  en  casa 
de  Joannes  de  Blauio  de  Colónia.  Acabose  a  los  xx  dias  |  de  Mayo  de  1557. 
Con  priuilegio  Real. 

8.°,  x  fls.  s.  n.,  501  lis.  numeradas  pela  frente,  n  s.  n.,  contendo-se  nas 
x  fls.  preliminares:  rosto;  declaração  de  que  foi  visto  e  examinado  pelo  padre 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres  e  por  Diogo  de  Moraes ;  epistola  do  traduetor 
ao  cardeal  D.  Henrique;  prologo  de  Fr.  Luis  de  Granada,  e  tabla.  As  duas 
ultimas  folhas  sem  numeração  são  preenchidas  com  as  erratas. 


(173)  A   LITTEKATTRA   USSPANHOLA   KM  PORTUGAL  .'!õ!5 


6    Svmma     Gaietana,  sacada  en  lenguage  Caslellano:  con   [n 
nes  <!<•  muchas  dubdas  y  casos  de    consciência.     Por  el  M.  Pado  de  Palácio 
Natural  de  Granada.     Segunda  edicion,  en  algum  a.     Por 

mandado  y  con  approbacion  dei  lieueren-    diss.  y  Sereniss.  S.  Don  Henrique, 
Cardenal,  Iffantt    ■'-    Portugal,  y   írçobispo    de  Ebora.  A-caet.     Fiu  impresso 
a  en  la  rua  di  los  Escudi      ros  en  casa  dt  Joannes  Blauio  dt  Colónia. 
A    cabose  a  los  x  dias  de  Setembro  rfi   1560.  Con  / 

8   .  \u  fls.  s.  ii..  'it'.'.i  Ds.  numeradas  pela  frente. 

i  l  i  segunda  edição  apenas  differe  da  antecedente  era  ler  .-is  erratas  in- 
cluídas nas  xn  Qs.  preliminares,  que,  na  primeira,  estão  no  fim. 

Transcrevemos  esta  descripção  do  Boletim  da  Bibliographia  Portuguesa, 
vii].  i  1 1879),  Q,ags.  7  e  seguintes. 

Innocencio  descreve  só  a  primeira  edição,  conjecturando,  porém,  a  exis- 
tencia  de  uma  segunda,  anterior  á  chamada  terceira  edição,  em  portuguez, 
de  1566. 

Na  bibliotheca  do  Marquez  de  Castello  Melhor  havia  exemplares  da  se- 
gunda e  terceira  edições.  Vide  n.os  -J:.'ií(i  e  ±'->'t~. 

Ribeiro  dos  Santos  (pag.  123)  refere-se  ã  esta  edição. 

Da  Svma  Caietana  se  publicaram  traducções  em  portoguez,  sendo  uma 
dVllas,  segundo  parece  ao  Sr.  Tito  de  Noronha,  do  próprio  auctor.  Eis  a  sua 
descripção.  segundo  se  encontra  em  Innocencio: 

c)  Svmma  Caetana,  trasladada  em  lingoagem  português,  com  annotações 
de  muitas  duuidas  <;  casos  é  consciência.  Por  ho  Horto,  Paulo  de  Palácio, 
cathedratico  de  S.  Scriptura  na  uniuersidade  de  Coimbra.  Poí  mandado  e  com 
approuação  do  Cardeal  Jffante,  Arcebispo  de  Lisboa,  Inquisidor  Mor  destet  Rey 
•,,/  em  esta  terceira  'dirão  todos  os  Decretos  de  S.  Concilio  Tridentino, 
que  sam  a  propósito  dos  casos  de  consciência.  Com  priuilegio  real  \ 
amos.  1566.— lio  fim:  Foy  impressa  a  presente  obra  da  Summa  Caietana  em 
Coimbra  por  João  de  Barreyra,  impressor  da  Universidade.  Acabouse  aos  xxi 
dias  do  no:  de  Janeyro.  Aoon  M   I).  LXVI. 

8.°,  vi-49-2  lis.  numeradas  pela  frente. 

\pesar  de  se  dizer  terceira  edição,  é  certo  que  houve  outra  anterior, 
impressa  em  Braga  em  1565,  por  António  de  Mariz  e  traduzida  pelo  padre 
Fr.  Diogo  do  Rosário.  Desta  tradúcção  fizeram-se  mais  duas  edições,  ambas 
do  mesmo  impressor,  sendo  uma  de  Braga  1 1566)  e  outra  de  Coimbra    1573 

No  artigo  Diogo  do  Rosário,  escreve  Innocencio:  «Ha  outra  versão  por- 
tagueza  da  mesma  Summa  feita  por  Paulo  de  Palácio,  a  qual  foi  varias  rezes 
reimpressa».  No  artigo  consagrado  a  Paulo  de  Palácio  não  cita,  porém,  ue 
nliuma  d'essas  reimpressões,  nem  tão  pouco  as  acusa  o  Sr.  Tito  de  Noronha. 


,'i5'l  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (^74) 


De  Paulo  de  Palácio  publicaram-se  mais  em  Portugal  as  seguintes  obras : 

d)  In  sacrosantvm  lesu  Ckristi  Euangelium  secvndvm  Matthaeavm  enna- 
rationes.  Per  Pavlvm  de  Palácio  Granatensem,  Augmtissimi  CardinaliSj  &  Se- 
renissirm  Augmtissimi  Principis  Henrici  Concionatorem:  &  S.  Scripturae  in 
clyta  Lusilanorum  Conimbricensi  Academia  professorem:  Omnia  Ecclesiae  indi- 
cio svbmissa  svnto.  Conimbricae.  Eoc  officina  Ioannis  Barrerij  Typographi  Re- 
gij.  M.D.LXIIII.  Cvm  Privilegio  Regis:  é  facvltate  Inquisitoris  &  Ordinarii. 

Folio,  20-404  pags. 

Veja-se  o  artigo  sobre  Paulo  de  Palácio  publicado  por  Tito  de  Noronha 
no  Boletim  de  Bibliographia  Portugueza,  vol.  i,  pags.  59  o  seguintes. 

e)  In  dvodecim  prophetas,  qvos  minores  vocant,  commenlarivs  pivs  et  doctus. 
Po  Pavlvm  de  Palácio  Granatensem  D.  Henrrici  Lusitânia;  Regis,  &  S.  B.  E. 
Cardinalis  Concionatorem:  &  D.  Catharinm  Lusitanorum  Regina)  Eleemosyna- 
niini:  &  S.  Lilerarum  in  Inclyta  Gonimbricensium  Academia  Enarrotorê.  Cem 
índice  rervm  insigniòrvm.  Omnia  jvdicio  S.  B.  E.  svbdita  sento.  (Escudo  do 
impressor).  Apud  Villam  Viridem  Franeurnm.  Eieudebat  Anionius  Bibériús 
Typographus.  Anno  Domini  MDLXXXT.  Cum  facultate  &  approbatione  Supremi 
Senatus  S.  tnquisitionis  Generalis  &  Ordinarij.  Cvm  privilegio.— No  fim:  Apud 
Villam  Viridem  Franoorum,  in  wdibvs  Pavli  Palacii  Salazarii,  hvivs  librí  avtho: 
ris.  Mense  Novembri.  Anno  Salvlis.  M.D.LXXXI. 

1  vol.  folio,  a  2  col.,  3  fls.  prel.  inn.,  276  pags. 

No  verso  do  frontispício  a  approvação  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira: 

«De  mandato  lllustrissimi  &  Reuerendissimi  Domini  Georgii  de  Almeyda 
Inquisitoris  Generalis  &  Archiepiscopi  Vlisiponensis  dignissimi,  Kxaminaui 
laudatissima  Commentaria  in  duodecim  Prophetas  minores,  Pauli  de  Palatio, 
Doctoris  Sacraruni  Literarum  olim  in  gimnasio  Conimbricensi,  in  quibus  nihil 
est  quod  Christianse  aduersetur  religioni,  sed  omnia  sapiunl  hominem  pium, 
A-  doctum:  &  sunt  prasdicatoribus  verbi  Dei  valde  necessária  á-  vtilia.  Qua- 
propter  digna  sunt  qure  in  lucem  íedantur.  xx  Augusti  I.'i79». 
«Frater  Bartliolomaeus  Ferreyra». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

f)  In  Ecclesiasticvm  Commenlarivs  pies  et  doctvs.  Per  Pavlum  de  Palácio 
Granatensem  D.  Henrici  Lusitânia-  Regis,  &  S.  Romance  Ecclesice  Cardinalis 
Concionatorem:  &  I).  Catharince  Lusilanorum  Begina?  Eleemosijnarium:  &  S. 
Literarum  in  Inclyta  Gonimbricensium  Academia  Enarratorem,  Cem  índice  re- 
rvm insigniòrvm.  Omnia  judicio  S.  B.  Ecclesice  súbdita  svnto.  (Escudo  do 
impressor).  Apud  Villam  Viridem  Francorum.  Ereudebat  Antonius  Biberius 
Typographus.  Anno  Domini  M.D.LXXXI.  Cvm  facvltate  et  Approbatione  Supe- 


I  175)  A   UTTERATURA  HESPANHOLA  I.M   PORTUGAL 


•  natus  S.  Inquisitionis  GeneraUs  éOrdinarii.  No  fim:  Lavs  Deo.  Apud 
Villam  Viridem  Francorum.  In  adibus  Pauli  Palatij  Salazarij,  huius  Libri 
[utkoris.    inno  Í58Í. 

I  vol.  folio,  a  2  col.,  :í  fólios  prel.  iim.,  i.'iti  pags. 

No  verso  do  frontispício  a  Approbatio  de  Fr,  Bartholomeu  Ferreira. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


Palafox  y  Mendonça  (U.  Juan  áe).—Peregrinacion  de  Philotea  ai  santo 
templo  y  monte  de  la  crvz.  Del  ilvstrissima  y  reiterendissimo  Seftor  Um,  Juan  di 
Palafox  y  Mendoça,  Obispo  de  (hum.  &c.  .1  la  excellentissima  sefíora  Ih  Lvisa 
Maria  de  Meneses,  Marquesa  de  Góuea,  y  Condessa  de  Portalegre.  &c.  Lisboa. 
En  la  o/ficina  de  Henrique  Valente  d\  Oliuera.  Impressor  delRey  S.  S.  Afio 
1660.— No  fim:  Con  licencia  F.n  Lisboa  en  la  officina  de  Henrique  Valente  de 
Olivera.  Impressor  dei  Rey  nuestro  Seftor.  .\í/o  MDCLX. 

1  vol.  8.°,  ti  pag.  prel.  'i<U  pags. 

Exemplar  de  Rodrigues. 


Panegyrico  apologético  por  la  desagrauiada  Lusitânia:  Di  la  servilvd 
inivsta,  dei  lyranico  yugo,  y  de  la  insoportable  tirania  de  Castilla.  Con  ú  de- 
ii clm.  virtvd,  y  cvydado  de  Don  Ivan  IV.  Rey  Insto,  legitimo  seftor,  y  buen 
Padre,  Afio  sessêta  de  su  cautiuidad.  Al  terrible,  y  mageslvoso,  y  ai  que  quita 
la  vida,  y  espirita  a  los  Príncipes,  ai  espantoso  con  los  Reys  de  la  tierra. 
Psal.  75.  Impresso  en  Frauda  en  Latvn.  Y  despues  en  Barcelona  traduzido,  >'■ 
impresso,  y  ora  de  nueuo  en  esta  Ciudad  de  Lisboa.  Com  todas  as  licencias  ne- 
cessárias. Impresso  por  .Ima*'  Rodrigues.  Atam  de  1641.  .1  custa  de  Lourenço 
de  Queirós,  liureiro  do  Estado  dt  Bragança. 

í.',  22  fólios. 

Exemplai  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Paravicino  (Fr.  Ortensio  Félix).— a)  Oracumes  evangélicas  de  adviento, 
qvaresma  y  de  sanctis.  Predicadas  por  el  mvy  /(.  /'.  M.  F.  Ortensio  Felia  Pa- 
rauicino,  dei  Ordê  de  la  S.m"  Trinidad,  Redêpcion  de  Cautivos,  y  Predicador 
delas  Cal.  M.  Felipe  3  y  4,  Prouincial,  y  Vicário  General  dos  rezes  de  la 
Prouincia  de  Castilla:  y  atras  dos  Comissário  Visitador  de  la  Andaluzia.  Saca- 
das  a  Ivz,  por  el  mu//  Reuerendo  /'.  M.  F.  Fernando  Reminez,  Padre  dela  dicha 
Prouincia  de  Castilla,  Leoa  y  Nauarra,  Procurador,  etc.  Ofrecidas  a  la  prote- 
cion  de  la  Virgen  Maria  de  lietancor  la  Grande,  Concebida  sin  macula  de  pe- 
cado  original.  (Gravara  tosca  de  madeira,  representando  Nossa  Senhora.  De 


356  A   LITTKRATUnA  IIESPAN1I0LA  KM  PORTUGAL  (^6) 


um  c  outro  lado:  Afio  de  Í647).  En  Lisboa.  Con  Urinem  de  la  S.  Tnoukicion, 
Ordinário,  y  dt  su  Vagestad.  Por  intonio  Aluarez  Impressor  delRey  N.  Sefíor. 
y  a  s/i  costa. 

I  vol.  folio,  -2  col.,  2  pags.  prel.  mu.,  mais  20  pags.  inn.  de  índice 

b)  Oraciones  evangélicas,  qve  en  las  festividades  de  Christo  N.  S.  y  su. 
s.  Madre  predico,  ele.  (frontispício  exactamente  idêntico  ao  da  obra  ante- 
rior. Mesmo  anno  de  impressão). 

1  vol.  folio,  -2  pags.  prel.  inn.,  453  pags.,  mais  15  pags.  inn.  de  índice. 

c)  Oraciones  evangélicas  y  panegíricos  fvnerales,  qve  a  diuersos  intentos 
dixe  el  reuerendissmo  padre  maestro  Fr.  Hortênsia  Felis  Parauicino,  Predica- 
dor de  las  Sfagestades  de  Filippo  Tercer  y  Quarte;  vna  y  olra  vez  Prouincial, 
II  Viraria  General  en  la  Prouincia  de  Castilla:  atras  dos  Visitador  Apostólico 
en  la  de  Andaluzia,  dei  Orden  de  Redentores  de  la  Santíssima  Trinidad.  Saca- 
das a  Ivz  por  cl  Padre  Fr.  Christòual  Nunez,  Predicador  general  de  la  misma 
Orden,  en  Madrid,  y  agora  nueuammte  impressas  en  Lisboa.  Dirigidas  al  R. 
1'.  Fr.  Diego  César,  ele.  Con  licencia.  En  Lisboa  por  Pablo  Craesbeeck.  Im- 
pressor y  Librero  de  las  Ordenes  Militares  y  a  su  costa.  Afio  1646. 

i.°,  6  pags.  prel.  inn.,  :J95  pags. 

Traz  um  sermão  de  Santa  Isabel,  Rainha  de  Portugal. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

d  <  Santa  Isabel,  gloriosíssima  reyna  de  Portvgal,  Sermon  o  oracion  evan- 
gélica en  la  Solenidade  de  su  Canon izarion.  El  Maestro  Fra/j  Horlensio  Félix 
Parauicino,  Predicador  de  su  Magestad,  dei  Orden  de  la  Santíssima  Trinidad,  y 
Redencion  de  cautiuos,  la  dixo.  En  Madrid.  En  la  lmprenla  Real.  Afio  M. DC. XXV. 
Aora  en  Lisboa,  En  la  Imprenta  d"  Domingos  Lopes  Rosa.  Afio  M.DC.XL.IV. 

1  vol.  4.°,  32  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Pardo  (Padre  Geronimo). —  Discvrsos  Euangelicos,  para  las  solemniiades 
principales  de  los  Santos.  Con  Ires  índices  copiosos,  de  Escriptura,  de  Cosas 
Notables,  y  para  las  Ferias  mayores  de  la  Quaresma,  y  otro  al  principio  de 
los  Discursos.  (Gravurinha  representando  Nossa  Senhora  com  o  menino  e  um 
santo  adorando-a).  Predicolos  el  Padre  Geronimo  Pardo,  antes  Lector  de  Theo- 
logia  en  Alcald,  y  Salamanca,  y  aora  Assistente  Prouincial  de  los  Clérigos 
Reglares  Menores;  Calificador  de  la  Suprema,  y  Visitador  de  los  Libros,  e  Libre- 
rias  destos  Reynos,  por  comicion  dei  Consejo  de  la  Santa,  y  General  Inquisi- 
vion.  En  Lisboa,  Dom.05  Carneiro,  1661. 

I  vol.  4.°,  9  fls.  prel.  inn.,  445  pags.  a  2  col.,  mais  26  fls.  inn.  de  índice. 


17/'  A  UTTERATl  [RA  HESPANHOLA  I.M  PORTUGAL  357 

Contém  26  sermões.  No  fim  da  Tabki  que  os  enumera,  diz:  «As  Festas  de 

Chrjsto,  >li smo  Vutor.  se  ficam  estampando,  pêra  breuemente sahirem  a  luz». 

-     i  este  Geronimo  Pardo  o  mesmo  que  Geronimo  Pardo  de  Villaroel? 

Pardo  de  Villaroel  (Padre  Geronimo).      Discursos  evangélicos  para  las 
solemnidades   de  los  mysterios  <><    Chrislo.  ('">/  quatro  índices  muy  < 
(Gravurinha).  Predicolos  el  i/.  li.  P.  Geronimo  Pardo  rfi   VUla  Boel  Pt 

Clérigos  Menores  de  esta  Prouincia  de  Espana  Calificador  de  la  Su- 
prema, y  Visitador  de  los  libros,  y  librerias  de  estos  Reynos.  En  Coimbra.  Na 
Officina  de  Manoel  Dias.  Impressor  da  Vniuersidade.  Ann 

aLi  este  liuro  de  Discursos  Euangelicos  sobre  as  festas  de  Christo,  com- 
posto pello  M.  li.  P.  Hieronymo  Pardo,  da  sagrada  Orden  dos  Cleri) 
nores,  não  contém  cousa  que  impida  o  passarse  licença  pêra  se  imprimir  neste 
Rcyno.  Lisboa  no  Conuento  de  S.  Domingos  em  10  de  Junho  de  1661.  Frey 
Barthol eu  Ferreyrá». 

Anteriormente  tem : 

«O  Padre  Mestre  Frey  Bartholameu  Ferreyrá  Qualificador  do  Santo  Offi- 
ja  'i  liuro  de  que  se  faz  menção,  &  informe  con  seu  parecer. 
Lisboa  3  de  [unho  de  1661. 

iPacheco.  -  Rocha.  A.  S.  de  Castro». 

i.".  9  foUos  prel.  inn.,  518  fólios,  afora  Índice  copioso. 

Vê-se  qui  este  Bartholomeu  Ferreira  é  posterior  ao  censor  dos  Lusíadas, 
seu  homonymo. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Paredes  (Fr.  Bernardo  de). —  a)  Campafla  Espirilcal  ordenada  con  plv- 
mas  de  Santos,  y  de  interpretes  Sai/nulos  paru  conquistar  el  Alma.  Dispvesta 
desde  el  primer  domingo  de  Aduiento  hasta  la  Quinquagesima.  Por  el  /'.  Fr. 
li*  muniu  de  Paredes  Predicador  dei  Conuento  de  nuéstra  Sefíora  dei  Cármen 
é  [ntigua  Observância  de. Madrid.  Em  Coimbra.  Na  Officina  de  Manoel  Dias 
Impressor  da  Vniuersidade  atum  1665. 

í.".  3  lis.  prel.  inn.,  136  pags. 

Exemplar  'la  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

h  Harmonia  mystica  y  mural .  para  divertir  dei  vicio,  y  accionara  la  vir- 
ttid.  Conliene  los  sermones  qve  se  predican  en  los  Domingos,  Miercoles,  y  Vier- 
ws  ile  la  Quaresma  hntamente  los  qve  en  la  semana  Santa  st  predican.  Âvtor 
et  /'.  Fr.  Bernardo  de  Paredes,  Predicador  dei  Conuento  de  N.  SeRora  dei  Cár- 
men de  Antigua  Obseruancia  de  Madrid.  Em  Coimbra.  Na  Officina  de  Thome 
Carualhs  Empremar  da  Vniuersidad.  An.  M.DC.LJV. 

i.°;  a  lis.  prel.  inn..  .*)3^)  pags.,  afora  índio  . 


'}-><s  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (178) 

Parecer  do  chronista-mór  Doutor  Kr.  Francisco  Brandão. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Parra  y  Cote  <l'v.  Alonso).  lieal  solemnisacion  natalícia  en  debida  piau- 
sible  celebridad  d  el  felice  cumplimiento  de  afws  de  la  augustissima,  y  fiedetis- 
sima  sefiora  D.  Maria/m  Viciaria...  a  cuja  magestad...  dedica  reverente  el 

p.  f.  Alonso  Parra  y  Cote Lisboa  M.DCC.LI.  Na  Oficina  de  Joseph  da 

Costa  Coimbra. 

í.°,   12  lis.  inii.,  62  pags. 

N.°  346  da  collecção  Barbosa  Machado,  qos  Annaes  'la  Bibliotheca  Nacio- 

do  Rio  dr  Janeiro. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Pastrana  (ML  Juan  dei.— Ribeiro  do?  Santos,  referindo-se  ás  edições 
feitas  em  Lisboa  no  anno  de  1501,  descreve  a  seguinte: 

a)  «Thesaurus  Pauperum  sive  speculum  puerorum,  em  4.°  e  em  golhico; 
por  João  Pedro  de  Bonis  hominibus,  ou  Bonhomini  edição  raríssima.  Tinha 
antes  sido  impresso  em  Salamanca  ainda  no  século  xv,  quanto  parece:  he 
obra  do  Mestre  João  Pastrana :  vem  no  flm  o  Tratado  do  Báculo  dos  cegos 
de  António  Martins,  primeiro  Mestre  que  houve  na  Universidade  de  Lisboa ; 
e  feito  ludo  emendado  e  correcto  por  João  Vaz,  Bacharel:  traz  estampado  no 
frontispício  á  direita  as  Armas  Reaes  de  Portugal,  e  á  esquerefa  em  propor- 
ção igual  numa  Esfera  com  seu  pé,  e  por  baixo  em  letra  Gothica  maiúscula  — 
Grammática  Pastranae.  Possuía  um  exemplar  d'esta  edição  Ignacio  de  Carva- 
lho e  Sousa,  Académico  da  Academia  Real  da  Historia  Portugueza»  ipag.  97). 

Mais  adeante,  tratando  de  Bonhomini,  acerescenta  em  nota : 
«Esta  obra  do  Thesouro  dos  pobres  sahio  com  este  iilu\o  =  A  ntonii  Mar- 
lini  quondam  hujus  Artis  Pastranae  in  alma  Universitate  Ulixbonensi  praece- 
ptoris  materiarum  editio  a  báculo  coelorum  \sk)  breviter  collecta  incipit:  e 
acaba :  —  Magistri  Johannis  de  Pastrana  cum  conjugationibus  tempor  moviter 
inventis  cum  materiebus  Antonii  Martini  etc,  per  venerabilem  Johannem  Petri 
de  bonis  hominibus  de  Cremona  in  splendidissima  Ulixbona  Givitate  quarto  Ka- 
lendas  Decembris  impressum  anno  Dane  (sic)  millesimo  quingentessimo  primo 
felice  sydere  explicita  ipags.  124  e  125  das  Memorias  de  Litleralura,  tomo  viu). 

b)  2.a  edição.  lol3. 

Ribeiro  dos  Santos  diz  que  ha  um  exemplar  na  Bibliotheca  da  Ajuda  (pag.  98). 

c)  3.a  edição.  1522  (pag.  99). 

Gallardo,  sob  os  n.11'  3:351  e  3:352,  cita  duas  ediçces  hespanholas:  uma 
sem  lugar  nem  anno,  outra  de  1583.  Pergunta:  Que  ano  se  hizo  Ia  primera? 


(179)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  .'j.>9 

O  exemplar  da  Grammatica  de  Pastrana,  que  Ribeiro  dos  Santos  dá  como 
existente  na  Bibliolheea  da  Ajuda,  é  sem  duvida  o  que  hoje  se  conserva  na 
Bibliotheca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro,  e  que  vem  descripto  da  seguinte  ma 
neira  no  Catalogo  da  exposição  permanente  dos  Ctwlios,  da  mesma  Biblio- 
theca : 

*N.°  112.— (Thesaurus  Pauperum  sive  Speculumpuerorum).  In-fol.  goth.». 

Impresso  a  duas  tintas.  Consta  de  41  tis.  sem  numeração.  <»  nosso  exem- 
plar tem  apenas  40,  faltando  lhe  a  folha  do  frontispício,  onde,  segundo  Ri- 
beiro dos  Santos,  traz  estampadas,  á  direita,  as  armas  reaes  de  Portugal,  e 
á  esquerda,  em  proporção  egual,  uma  esphera,  e  por  baixo,  em  letra  gothica 
maiúscula :  Grammatica  Pastranae. 

A  segunda  folha  começa  com  estas  palavras,  impressas  com  tinta  ver 
melha : 

«Incipit  compendium  breue  vtile  siue  tractatus  intitulatus:  Thesaurus 
pauperum  siue  speculum  puerorum  editum  a  magistro  Iohãne  de  pastrana». 

Em  seguida  a  este  Tratado  vem: 

«Antonij  martini  primi  quondã  huius  artis  pastrane  in  alma  vniuersitate 
Ulixbonensi  preceptoris ;  materierum  editio  a  báculo  cecorum  breuiter  collecta 
incipit». 

No  fim  a  declaração : 

«Explicit  materiaruz  editio  a  Petro  rõbo  ex  báculo  cecoru  breuiter  colle- 
cta. Impressa  vero  Ulixbone.  Anno  domini  millesimo  qngentesimo  xuj  sydere». 

(t  exemplar  tem  o  carimbo  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 


Pawlowski  (Padre  Daniel).— Locucion  de  Dios  ai  corazon  de  el  Heligioso 
eu  el  retiro  Sagrado  de  bs  Exercícios  Espirituales,  compuesta  en  Imiíh  por  el 
padre  Daniel  Pawlowski.  de  la  CompaMa  de  Jesus,  Doctor  y  Cathedratico  'Ir 
Theologia  en  su  Província  de  Polónia.  Traducida  en  Castellano  por  un  Reli- 
gioso de  la  misma  Compartia.  Coimbra.  En  el  Real  Colégio  de  las  Avies  de  la 
Compania  de  Iesus,  Afio  de  M.D.CC. XXXIX. 

8.°,  4  pags.  prel.  inn.,  288  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


Pedraza  (Fray  Iuan  de).— o)  Confessionário  muy  prouechoso  assi  pa  sa- 
cerdotes como  pa  penitêtes :  por  el  qual  todo  christiano  sabra  en  que  peca  o  no 
jirca  si  mortal  ó  venialmête  en  los  diez  mãdamientos  y  siele  pecados  capitales. 
Nueuamête  copilado  por  Iuan  de  Pedraza,  maestro  en  theologia.  (Este  titulo  em 
frontispício  tarjadoi. —  No  íim:  Fite  impresso  el  presente  tratado  en  lo  muy  no 
ble  y  siempre  leal  ciudad  de  Lisbona  en  roso  de  German  Gallaide  Impressor  de 
Hist.  e  Meu.  da  Acad.— Tomo  xii,  parte  ii. —  N.°  5.  14 


300  A  LITTERATURA  HF.SPANHOLA  EM  PORTUGAL  (180) 

libros:  a  los  quatro  dias  dei  nos  de  Morro.  Ano  de  mil  y  quinientos  y  qrenta 
y  seis  anos.  ȣ<  Vendelos  Jorge  daguilar  a  la  piaria  do  Ferro;  a  treinta  reys. 

1  vol.  8.°,  sem  numeração,  48  fls.  com  o  frontispício,  caracteres  gotliicos. 

No  verso  do  frontispício  começa  logo  o  prologo  a  don  Fernando  de  Me- 
nezes Arcobispo  de  Lisbona  y  capellan  mayor  dei  rey. 

Exemplar  da  Bibliothera  Nacional  de  Lisboa  (n.°  30G9),  (Theol.  Dog.). 

No  mesmo  volume  encadernado  a  Monçon. 

Pertenceu  a  Livraria  de  Alcobaça. 

b)  Confessionário  mui/  provechoso  assi  para  Sacerdotes  como  para  penitè- 
tes:  por  el  ijl  todo  xpia.no  sabra  en  q  peca  mortal  o  venialmête.  Aora  inwua- 
mente  copilaâo  por  luan  de  Pedraza  Maestro  en  sanefa  Theologia.  M.D.LIX. — 
No  fim,  em  folha  solta:  Fite  empeso  este  tratado  en  Euora  en  casa  de  André 
de  Burgos.  (No  verso  d'esta  umas  armas  toscas). 

8.°  pequeno,  gothico,  portada  gravada,  GO  fls.  inn. 

c)  Svmma  de  casos  de  consciência  aora  nueuamèle  compuesta  por  el  doctor 
Fray  Joan  de  Pedraza  en  dos  breues  rolnmines  rnuy  necessária  a  Ecclesiasticos 
y  seculares  a  confessores  y  penitentes.  (Escudo,  com  o  dragão  enrolado:  dragão 
pequeno).  Fite  vista  y  aOadida  segundo  el  sancto  Concilio  Tridentino.  Ano  de 
M.D.LXV. —  No  fim,  debaixo  de  um  versículo  da  Bíblia :  Impresso  en  Coimbra 
por  Ioan  Aluarez.  Acabose  a  los  x  dias  de  Iunio  M.D.LXYII. 

8.°,  246  fólios  numerados  pela  frente. 
Dedicatória  a  D.  Julião  de  Alva,  bispo  de  Miranda. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Pedraza  era  frade  de  S.  Domingos  e  diz  o  Claustro  dominicano  (vol.  i, 
pag.  77)  que  fora  leDte  da  Universidade. 

Perea  de  Bernal  (Afonso). —  Suppomos  ser  hespanbol.  Foi  professor  de 
musica  na  Universidade  de  Coimbra.  Publicou  nesta  cidade  uma  Arte  de  can- 
tochão,  de  João  Martinez,  traduzida  e  ampliada,  da  qual  se  encontra  no.Dic- 
cionario  bibliographico  (tomo  x,  pag.  314)  a  seguinte  descripção: 

«Arte  de  Cantochão  posta  e  reduzida  em  sua  inteira  perfeição,  segudo  a 
pratica  d'elle,  muito  necessária,  etc...  Acrescentada  de  nouo  com  as  entoa- 
ções de  cousas  necessárias  por  Alonso  Perez,  sendo  cathedratico  de  musica 
na  universidade  de  Coimbra.  Impressa  por  António  de  Barreira,  impressor 
delRey  Nosso  Senhor.  Anno  de  1597.  8.°  de  68  pags.». 

Iuan  Martinez  foi  clérigo  maestro  de  los  moços  de  Coro  de  la  sancta  yglesia 
de  Seuilla.  A  primeira  edição  da  sua  Arte  de  Cato  llano  suppomos  ser  a  que 
se  acabou  em  Alcalá  de  Henares  a  16  de  janeiro  de  1332.  Vide  Gallardo, 


(181)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  361 


n.°  2:933.  Na  Bibliotbeca  de  Évora  existe  um  exemplar  de  ediç5o  mais  an- 
tiga, de  Sevilha,  por  João  Cromberger,  1330. 

Innocencio  erron  o  nome.  Em  vez  de  Perea  poz  Perez.  A  li.  St-,  ao  Se- 
gueme  alguas  anisas..  ,è  que  vem  declarado  o  nome  por  inteiro,  Afonso 
Perea  de  Bernal. 

Peres  (Fr.  (eronimo). —  Escvela  de  Oracion,  contemplacton,  mortificacion  ti- 
las passiones,  y  otras  matérias,  principales  dela  Dactrina  Espiritual.  Compvetta 
por  el  padre  Fray  luan  de,  Jesus  Mana.  Carmelita  Descalço,  natural  de  Cala- 
horra.  Al  illvstrissimo  S.  lha,  Marim  Afonso  Mexia,  Obispa  de  Lamego  dei 
Consejo  de  su  Magestad.  (Escudo  com  as  armas  do  bispo).  En  Lisboa.  Por 
Pedro  Crasbeeck.  Ano  1616.  Vendese  na  rua  Noua  em  casa  de  Manoel  Pereira. 

1  vol.  8.°  pequeno,  150  pags.  numeradas  pela  frente 

Na  licença,  assignada  por  Fr.  António  de  Saldanha,  é  que  se  faz  a  se- 
guinte declaração  acerca  dõ  auclor  e  traductor:  «Vi  este  liuro  composto  pelo 
padre  frey  loão  de  lesus  Maria,  en  Italiano,  &  traduzido  por  Fr.  leronimo 
Peres  en  Espanhol,  etc». 

Exemplar  da  Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa. 

Perez  de  Guzman  (Fernan).— a)  Las  sietecfilas  dei  do  cto  &  noble  canal- 
In»  Fruíam  perez  de  guzmã:  \  las  quales  sou  bien  scientificas  y  de  grades  á 
diuersas  matérias  &  muy  prouechosas:  J  por  las  quales  qualquier  hõbrepue-  \  de 
tomar  regia  &  doctrina  y  ex$-  \  pio  de  bien  uiuir.  |  Agora  nueuamête  ipssas 

enl  |  ano  de  mil  //  quintetos  n  \  quarenta  y  vno.  '■  .  (Este  titulo  está  por  haixo 
de  uma  vinheta  em  madeira,  que  representa  um  personagem  escrevendo,  e 
tudo,  menos  as  três  ultimas  linhas,  circuitado  por  uma  orla).— No  fim,  nas 
cosias  da  ultima  folha  lê-se:  Fueron  impressas  las  setecientas  dei  noble  |  eaual- 
lero  Fernã  perez  de  guzman  enla  mu//  noble  |  <t-  mui/  leal  ciudad  d'  Lisboa  por 
Lui/s  Bodriguez  |  Ubrero  dei  Rey  nuestro  seuor.  AcabarQse  efil  ano  \  dei  na 
cimièto  ile  ui o  sefior  Jesu  ícpo  de  M. Ii.il/. 

i:\  lettra  gotbjca,  sem  paginação,  Sigp.  a-f.,  todas  de  8  fls. 

Este  volume,  além  das  Setecentas,  conta  oulras  obras  do  mesmo  aactor. 
Nicolau  António  refere-se  a  outra  edição  de  I.ishoa,  l.'ilá,  í.",  mas  suppõe 
Salva  que  será  equivoco.  Kefere-se  a  outra  de  HHá,  que  será  lalvez  a  ultima. 

b)  Las  sietecientas  dei  Docto  &  noble  cauallero  Fernan  Perez  de  Qusman, 
la-,  quales  sou  bien  scientificadas  y  <!<■  granas»  ê  diuersas  matérias  &  muy  pro* 
ueeliosas:  por  las  quales  qualquier  fiambre  puede  tomar  regra  y  doctrina  //  e.mii- 
plo  iie  bien  biuir.  auno  1664.  Agora  nouamenie  impressas,  y  vistas  por  la  saneia 
niquisiciou.  (Este  titulo  esta  por  baixa  de  uma  laminaaita,  representando  a 


362  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (182) 


fonte  da  sabedoria,  da  qual  se  aproximam  dois  personagens  para  beberem 
das  suas  aguas).— Por  cima  da  lamina:  Exemplo  para  bien  biuir. 

Nas  costas  do  frontispício  principia  o  Index,  que  chega  á  folha  seguinte 
sig.  uij  e  na  terceira  começa  a  obra,  que  termina  no  reverso  da  sig.  Kiiij  com 
o  seguinte  colophon : 

Fueron  impressas  las  siete  dentas  dei  noble  cauallero  Fernan  Perez  de 
Guzman,  en  la  noble  y  muy  leal  ciudai  de  Lixboa,  en  casa  de  la  vinda  que  fite 
muger  de  German  Gallard.  Y  acabaronse  enel  afio  de  M.D.Lviiij.  A  los  vinte  y 
uno  de  Março. 

4.°,  lettra  gothica. 

D'esta  edição  ha  um  exemplar  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  A  des- 
cripção  coincide  com  a  de  Salva. 

Perez  Licea  (Iuan). —  o)  Excelências  de  la  Tercera  Orden  dei  Seráfico  Padre 
San  Francisco,  y  la  primera  procission  hecha  en  la  Ciudad  dei  Funchal  de  la  Ysla 
de  la  Madera.  Por  el  Teniente  Iuan  Perez  Licea  Hermano  professo  de  la  dicha 
Orden Ano  (vinheta  xilographica)  1621. . .  .  Em  Lisboa.  Por  António  Aluarez. 

4.°,  2  fls.  inn.,  17  numeradas  pela  frente. 

Contém:  titulo;  licenças;  dedicatória  ao  p.  fr.  António  de  S.  Luiz,  defi- 
nidor da  Província,  dous  sonetos  a  S.  Francisco,  o  poemeto  composto  de  dous 
cantos  em  oitava  rythma,  e  um  soneto :  Soliloqvio  de  vn  hermano  nouicio,  &c. 

Pertencente  á  collecção  Barbosa  Machado,  existente  na  Bibliotheca  do  Bio 
de  Janeiro.  Descripto  no  respectivo  catalogo  sob  o  n."  1:792. 

Cremos  que  o  auetor  é  hespanhol. 

No  Catalogo  n.°  4  dos  livreiros  Pereira  da  Silva  d  C.a  (Lisboa  1905;  vem 
descripto  um  exemplar,  posto  á  venda  pelo  preço  de  12?j000  reis.  É  o  n.°  3:620, 
a  pag.  279. 

b)  Vida  admirável  y  preciosa  muerte  de  la  Bienaventarada  Sancta  Marga- 
rida de  Cartona,  de  la  Orden  de  Penitencia  dei  Seráfico  Padre  San  Francisco. 
Dirigida  a  Gaspar  Fernandes  Gondin  Ministro  de  la  dicha  Orden  en  la  Islã  de 
la  Madera. —  No  fim:  Impresso  en  Lisboa  con  todas  las  licencias  necessárias 
por  Paulo  Craesbeeck.  Anno  1633. 

1  vol.  8.°,  de  H-138fls. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

Perez  de  Montalvan  (Juan).—  a)  Para  |  Todos  |  Exemplos  morales,  hu- 
manos, y  divinos,  en  que  se  tratem  divei~sas  matérias,  ciências  y  facultades. 
Repartidos  en  los  siete  dias  de  la  semana,  y  con  ahjvnas  adiciones  nvevas  en 
esta  undécima  impression.  Por  el  doclor  Iuan  Pirez  de  Montalvan,  natural  de 
Madrid,  y  Notário  dei  Santo  Officio  de  la  Inquisicion.  Offrecido  a  la  Sefiora 


(18Ml  A  LITTF.RATIRA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  363 

Dofia  Maria  Constantina  de  Sylva.  (Gravurinha,  representando  um  le5o  rom 
pente  e  coroado  n'nma  cercadura  oval  de  espinhos  ou  silvas).  Lisboa.  En  la 
Oflicina  de  Domingo  Carnero,  Impressor  de  las  três  Ordones  Militares.  Con  las 
licencias  necessárias,    {fio  Í691. 

1  vol.  i.",  i'>  pags.  prel.  inn.,  507  pags. 

Na  primeira  das  paginas  preliminares  a  dedicatória,  em  portuguez,  de 
Domingos  Carneiro  a  D.  Maria  Constantina  da  Silva,  religiosa  em  Odivellas. 

Exemplar  que  compramos  a  Rodrigues  por  30000  reis,  bastante  traçado. 

In  Svcessos  ij  Prodígios  de  Amar.  En  ocho  nocelas  exemplares.  A/iadido  en 
esta  vitima  impression  el  Orfeu  a  la  Decima  Musa.  dei  mismo  Autor.  Por  el 
Licenciado  Ivan  Peres  de  Montaluan,  natural  de  Madrid.  Km  Coimbra.  Na 
Officina  de  Tnomé  Carvalho  Impressor  da  Vniuersidade.   [nno  1656. 

8.°,  :i  lis.  prel.  com  licenças,  tabla  e  diversas  poesias;  487  pags. 

Segue,  em  nova  paginação,  o  Orfeo  en  lengva  casteUana,  76  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Publica  Municipal  do  Porto. 

Perpinham  iPero  de). —  Valenciano.  Jesuíta.  Leu  nos  collegios  da  Com- 
panhia.  em  Lisboa,  Évora  e  Coimbra.  Esteve  depois  em  Homa  e  Paris,  onde 
falleceu  na  florente  edade  de  .30"  annos.  Era  grande  orador  e  polemista.  ffelle 
escreve  Fr.  Baltliazar  Telles: 

«Elle  foy  o  primeyro  que  com  muyta  eloquência,  á  graça,  neste  anno  de 
looo,  ao  primeyro  dia  de  Outubro,  quando  os  nossos  sahiram  a  primeyra 
vez  a  ler  no  Collegio  real  das  Artes,  em  presença  de  toda  a  Vniuersidade,  & 
do  Bispo  Conde  Dom  loam  Soares,  deo  conta  dos  Collegios,  q  já  tinha  a  Compa- 
nhia, A  das  escholas,  q  já  tomara  a  seu  cargo,  &  das  causas  porque  aceytava 
esta  oceupaçam  de  ensinar  Philosophia,  &  letras  humanas;  mostrando  como 
semelhantes  exercícios,  que  parecem  muy  exteriores,  nam  desdouram,  antes 
iilustram  muyto  a  perfeyçam  religiosa  da  Companhia:  .No  mesmo  anno  literário 
leve  ii  Padre  Pêro  de  Perpinham  outras  duas  orações  publicas,  huma  em  De- 
zembro, nas  exéquias  do  sereníssimo  Infante  D.  Luis,  raro  exemplo  de  Prince- 
pes  Chrislãos;  e  outra  a  quatro  de  lulho,  na  lesta  da  Rainha  S.  [zabel,  continuado 
os  dons  annos  seguintes,  conforme  os  estatutos  da  mesma  Vniversidade,  em  ter 
as  orações  (que  chamam  da  Bainha  Santa  i  empregando  sua  eloquência,  &  seu 
talento  na  excelleucia  das  períeyções  daquella  alma  bendita,  idaquelie  corpo  in- 
corrupto; tudo  com  grande  aplauso  da  Vniversidade,  &  admiraçam  dos  ouvintes». 

Isto  lè-se  a  pag.  .*>í):t  da  Chronica  da  Companhia  de  Jesv.  Já  antes  (pag.  19l 
fallando  do  mesmo  sujeito,  tinha  escripto  Balthazaf  Telles: 

«Delle  temos  hoje  varias  óraçoens  impressas,  que  andam  em  hum  volume, 
muitas  delias  eia  louvor  da  Rainha  saneia  Isabel,  lidas  diante  da  Vniversidade 


364  A  I.1TTERATIRA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (184) 


de  Coimbra ;  de  cuja  grande  eloquência,  4  particular  erudiçam  pudéramos 
escrever  outro  livro  mayor  que  o  das  suas  óraçoens,  etc». 
Nunca  vimos  a  obra  a  que  se  refere  Balthazar  Telles. 

Pinamonti  duan  Pedro  dei. —  Exercícios  espirituales  de  S-  Ignacio  de 
Loyola,  dispostos  en  italiano  para  los  seglares  por  el  padre  lua»  Pedro  de  Pina- 
monti, de  la  Compartia  de  Jesus  y  traducidos  en  romance  por  oiro  Padre  de  la 
misma  Compartia.  A  costa  de  D.  Carlos  Santos  Valiente,  vecino  de  la  Giudad 
de  tíuenos-Ayres.  Lisboa  en  la  Regia  Imprenta  Sylviana,  y  de  la  Academia 
Real.  M.DCC.LII.  Con  todas  las  licencias  necessárias. 

4.°,  11  lis.  prel.  inn.,  415  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Plana  (Don  Pedro  Joseph  de  la). —  a)  Preludio  Encomiástico  y  Representa- 
do» panegyrica  con  qve  la  família  de  el  illvstrissimo  Sefíor  D.  Emanuel  de  Sent- 
manat,  y  de  latiuza,  Marques  de  Caslel  dos  Rios,  de  el  Consexo  de  su  Magestad 
Catholica,  e»  el  supremo  de  Guerra,  y  su  Embiado  extrahorditiario  en  esta  Corte 
de  Portugal,  continua  en  celebridad  de  el  feliz  dia,  en  que  el  Sereníssimo  Sefíor 
Príncipe  D.  Juan,  cumple  sus  quatro  dichosissimos  anos.  Compuesto  por  el  lizen- 
ciado  Don  Pedro  Joseph  de  la  Plana,  etc.  Lisboa  Na  Officina  de  Miguel  Manescal 
Impressor  do  Santo  Officio,  Ano  de  1693.  Con  todas  as  licenças  necessárias. 

4.",  12  pags.  inn.  (poesias  laudatorias  ao  auctor),  31  pags. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  Nacional  do 
Rio  de  Janeiro  (vol.  xm,  pag.  162). 

b)  Lustral  Celebridad  con  que  las  esclarecidas  Províncias  de  el  Nobilíssimo 
Reyno  de  Portugal  concurren  reverentes,  y  obsequiosas  ai  aplauso  de  el  felicís- 
simo prímer  Lustro,  que  cumple  el  Sereníssimo  Senor  Príncipe  Don  Juan,  en  el 
faustissimo  dia  22  de  Octubre  de  1694.  combidando  á  que  le  publique  el  affec- 
tuosso  respecto  de  la  família  de  el  Illustrissimo  Sefíor  Don  Manoel  de  Sentma- 
nat,  y  de  Lanuza,  Marques  de  Gastei  dos  Rios,  de  el  Consexo  de  su  Majestad 
Catholica  en  el  Suppremo  de  Guerra,  y  su  Embiado  Extraordinário  en  Portu- 
gal. Repitiendo  en  la  feslividad  de  tanto  dia,  su  humilde  afecto,  la  pluma  de  el 
Licenciado  Don  Pedro  Joseph  de  la  Plana,  Notário  Apposlolico  Secretario,  y  Vi- 
sitador de  el  Illustrissimo  Seíior  Arpo  Obispo  Diocesis  de  Barbastro,  Cura  de  la 
Iglesia  Metropolitana  de  Nuestra  Seíiora  de  el  Pilar  de  Zaragoza,  y  de  las  Igle- 
sias  de  Rida,  y  Savinan  en  el  Reyno  de  Aragon.  Em  Lisboa.  Na  Officina  de 
Miguel  Manescal,  Impressor  do  Santo  Officio.  Anno  MDCXCIV. 

4.°,  8  pags.  prel.  inn.,  48  pags.  Adornada  de  5  gravuras,  representando 
os  escudos  ou  tarxetas  das  províncias  que  entram  em  scena. 


(185)  A  L1TTERATURA  HESPANH01  \  EM  PORTUGAL  365 

Ê  uma  ci idia  ou  loa,  em  verso,  bastante  interessante. 

Nas  paginas  preliminares  lia  versos  laudatorios,  em  hespanhol,  e  alguns 
em  portugaez,  do  Conde  da  Ericeira,  do  Sr.  de  Mello,  de  D.  Francisco  Ma 
carenhas  Henriquez,  de  ^ndré  Rodrigues  de  Mattos,  do  padre  l».  Gaspar  da 
Encarnação,  do  padre  D.  Leonardo  de  S.  José,  do  padre  D.  Mo  de  Christo 
e  do  Visconde  de  Asseca.  Transcrevemos  um  soneto  de  D.  Leonardo  de 
S.  José : 

Ho\  [Uo  iflrmavSo, 

Entre  vários  abusos  que 
Que  de  todos  iquelles  que  moriSo  (sic) 
A  outi pi  ilina 

Co  a    ido  ei  1 1\  ío 

Nesta  falsa  opinião  em  que  viviío, 
Mas  que  muito  iheciâo, 

Quando  se  os  ralsos  Deoses  adoravSo. 

Quem  ler  esl 

Pai  to  de  vosso  dmirá 

Qu     o     omii  o    m  ilhores  leva  a  palma; 

Si  mi  temor  d  i  sensura  rigurosa, 

barbara  opinião  talvez  seguira, 
Dissera  que  de  Lopo  era  vossa  alma. 

Exemplar  de  Luis  António. 

lia  também  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bíbliothefa  Nacional  do 
Rio  de  Janeiro. 

c)  Concurso  festivo  de  las  anuiu*  en  que  obsequiosamente  unidas empefían 
los  afectos  á  celebrar  el  faustissimo  dia  22  de  Octubre  de  1696,  en  que  cumple 
s«  sexto  afio  el  Sereníssimo  sefíor  príncipe  Doa  Jvan.  Continuando  esta  celebri- 
dad  en  su  casa,  a  gloria  de  tanto  dia,  la  respectuosa  atencion  de  el  iUmtris- 
simo  sefíor  f).  Manuel  de  Oins,  e.tc.  Lisboa  Na  Officina  de  Miguel  Maneecal, 
Impressor  do  Santo  Officio,  anno  de  1696. 

1.°,  .*i  lis.  prel.  iim.,  29  pags. 

É  uma  composição  dramática  em  verso  no  gosto  da  anterior. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Li.-boa  e  Bibliotheca  Nacional  do 
Rio  de  Janeiro. 


PlataíFr.  Iuan  de  la).— Defensorio  po»  la  antigvedad,  legisladores,  y  santos 
de  la  sagrada  Religion  de  N.  Sefíora  dei  Cármen,  de  la  anta/na  obseruancia. 
Por  el  P.  Fr.  Ivan  de  la  Plata,  Predicador  >j  coronista  dei  mimo  Orden,  natu- 


360  A  L1TTKRATURA  HESPANHOLA  EM  1'OHTUUAL  (186) 


rol  de  Seuilla.  Dedicado  a  la  se/tora  D.  Antónia  Enriquez,  Digníssima  Priora 
de  la  Termo  Orden  de  nuestra  Sefwra  dei  Cármen.  Fite  impresso  en  Seuilla, 
ano  P,W.  Aora  segunda  vez  con  iodas  las  licencias.  En  Lisboa.  Por  Paulo 
Craetbeeck  Impressor  de  las  Ordines  Militares.  Afio  164õ. 

4.°,  6  pags.  prel.  inn.,  i  i3  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheea  Nacional  de  Lisboa. 

Pradilla  Barnuevo  i  Francisco  de).— Tratado  y  summa  de  todas  las  leyes 
penates,  ele.  Lisboa,  por  António  Alvares,  1615. 
1  vol.  8.° 
Exemplar  da  Uibliotheca  da  Ajuda. 

Proclamacion  católica  a  la  magestad  piadosa  de  Felipe  el  Grande,  Rey  de 
las  Espanas,  y  emperador  de  las  índias  nveslro  sefwr.  (Este  titulo  por  baixo 
de  uma  gravura  tosca,  representando  dois  anjos  adorando  uma  custodia).  Los 
conselleres,  Consejo  de  dento  de  la  Ciudad  de  Barcelona.  Impresso  en  Barce- 
lona, &  agora  em  Lisboa  por  António  Aluarez  Impressor  dei  Rey  nosso  Senhor. 
Anno  de  1641. 

4.".  169  pags.,  mais  3  inn.  de  índice. 

Pujol  (D.  Francisco).— a)  Respuesta  a  un  amigo  y  avisos  para  todos.  De- 
dicada ai  il.m°  Sr.  Redor,  y  claustro  de  la  Real,  y  Pontifícia  Universidad  de 
la  Ciudad  de  Santo  Domingo,  Capital  de  la  Islã  Espaãola,  una  de  las  Antil- 
las.  Con  la  que  se  satisface  a  una  pregunta  dei  Doei.  D.  Joseph  Eusébio  Llano 
Zapala,  Examinador  de  la  Facultad  de  Medicina,  y  Professor  publico  de  His- 
toria Natural,  y  leuguas  sabias.  Siendo  su  autor  Dou  Francisco  Pujol,  doei.  en 
medicina,  revalidado  por  el  Real  Protho-Medicat  de  Castilla,  agregado  ai  de 
Portugal,  Sócio  Physico-Medico  de  la  Regia  Sociedad  de  Ciências  de  Sevilla, 
Académico  de  las  Reales  Academias  Medico-Matritense  de  Nra.  Seftora  de  la  Es- 
peranza,  y  de  la  Portopolitana,  Natural  dei  Lugar  de  Santa  Maria  de  Olost., 
Obispado  de  Vicli  en  el  Principado  de  Cathalufia,  Medico  en  la  Corte  de  Lis- 
boa. Lisboa.  Na  Off.  de  Joseph  Filippe.  MDCCLXI. 

4.°,  23  pags.  Tem  em  seguida  mais  8  pags. 

Outra  carta  dirigida  á  Universidade  de  S.  Thomaz  de  Aquino,  fundada 
no  convento  imperial  dei  Sagrado  Orden  de  Predicadores,  en  la  Islã  de  Santo 
Domingo,  Cabeza  de  las  Lucayas. 

Ambas  são  datadas  de  Cadiz:  a  primeira,  de  10  de  janeiro  de  1758,  e  a 
segunda,  de  2  de  junho  do  mesmo  anno. 

Exemplar  da  liibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  n.°  2:978  (amarelloi. 


(187l  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  .'{67 


b)  Carta  apologética,  critico-medica.  Su  author,  el  doclor  D.  Francisco  PI. 
medico  en  la  corte  de  Lisboa  <èc.  Natural  dei  Principado  de  Catalufía.  Dada  á 
luz,  por  un  Cacallero  Portuguez,  amante  ilc  la  Verdad,  y  de  la  publica  Salud. 
Lisboa.  En  la  Imprenta  de  Joseph  Phelippe.  Afio  1760. 

4. ■',  20  pags. 

É  uma  resposta  a  um  papel  attribuido  a  Joaquim  Pedro  de  Abreu.  Versa 
sobre  a  enfermidade,  que  tirou  a  vida  ao  Conde  dos  Anus. 

Quesiion  d'amor. —  No  frontispício,  debaixo  de  varias  tiguras.  gravadas 
em  madeira,  lè-se:  libro  Uamado  'pus/mu  (sic)  |  de  amor. 

1  vol.  l.°,  64  pags.  inn.,  caracteres  gothicos. 

A  ultima  pagina,  na  II.  63,  conclue  deste  modo: 

Fenescc  el  libro  Uamado  que-  |  slion  de  amor.  Impresso  en  Lisboa  en  casa 
de  Luys  Ro-  \  driguez  tibrero  d'lrey  m/estro  seíior.  Acabose  el  pri-  \  mer  dia  de 
Diziembre.  Armo  de  MD.XL. 

No  verso  desta  pagina  o  escudo  do  impressor. 

Possuía  uni  exemplar  F.  A.  Varnhagen,  que  o  descreve  na  sua  obra  Da 
Litteralura  dos  livros  de  cacalbiria,  (Yienna  1872),  pags.  229  e  seguintes. 

Quevedo  Villegas  (D.  Francisco  de) — a)  Desvelos  sofiolientos  y  verdades 
sanadas.  Por  Don  Francisco  de  Quevedo  Villegas,  Cauallero  dei  Ordcn  de  San- 
tiago, y  Sefior  de  la  Villa  de  Iuan  Abad.  Corregido  y  enmendado  agora  de 
nueuo,  por  el  mismo  Autor,  y  afiadido  vn  tratado  de  la  Casa  de  Locos  de 
Amor.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  En  Lisboa  por  Luís  de  Sousa, 
1629. 

8.°,  3  fls.  prel.  inn..  191  pags. 

A  approvação  do  Santo  Officio,  assignada  por  Fr.  Feliciano  Moutel,  é 
muito  curiosa  pela  sensatez  e  espirito  de  tolerância.  Diz  assim : 

«Este  Liuro  nam  tem  cousa  contra  nossa  santa  Fé,  nem  os  bons  costu- 
mes, antes  he  por  estremo  engraçado;  nem  o  que  se  riscou  he  perjuizo  im- 
primirse,  porque  se  ouuerem  de  riscar  os  chistes,  á  graças  que  dizem  os 
Autores  não  ouuera  no  mundo  comedias,  contos,  nem  autos  pêra  entreteni- 
mento da  gente,  do  que  se  seguira  mayor  dano,  que  de  se  ler  em  bum  Au- 
tor huma  ociosidade.  Em  Sam  Bernardo  de  Lisboa  a  20  de  Dezembro  de  628». 

b)  Desvelos  sonolientos,  Lisboa,  Mathias  Rodrigues,  MDCXXXUI. 
8.°  pequeno. 

Catalogo  do  Marquez  de  Castello  Melhor  e  catalogo  de  Pereira  da  Costa, 
1788. 


368  A  LITTERAITRA  HÊSPANMQLA  EM  PORTUGAL  (188) 

c)  Politica  de  Dios,  Govierno  de  Christo.  Avtor  Don  Francisco  de  Queuedo 
Villegas,  Cauallero  dei  Ordcn  de  Santiago,  serior  de  la  villa  de  la  Torre  de  Iuan 
AbOd.  A  dou  Gaspar  de  Gvsman  Conde  Duque,  grãn  Canciller  mi  senor.  Lleva 
atíadidos  três  capitulo*  que  le  faltauan,  y  algunas  planas,  y  renglones,  y  va 
restituído  a  la  verdad  de  su  original.  (Dous  textos  de  S.  Paulo  e  S.  Joan). 
Ano  1630.  Con  licencio.  En  Lisboa.  Por  Malhias  Rodrigues.  A  cosia  de  Domin- 
gos Pedroso  Mercader  de  libros. 

1  vol.  8.°,  13  fls.  prel.  inn.,  00  num.  pela  frente,  mais  2  imi.  de  Tabla. 

d)  Las  obras  dei  Marques  VirgiUo  Malvezzi.  Dauid  perseguido,  Rómulo,  y 
Tar quino.  Tradvzido  de  italiano,  por  Don  Francisco  de  Queuedo  Villegas.  Caual- 
lero dei  Abilo  de  Santiago,  Sefíor  de  la  Villa  de  Iuã  Abad.  Dedicados.  A  Antó- 
nio de  Saldana  Cauallero  professo  dei  habito  de  Christo,  y  Capitan  de  cauallos, 
de  las  caraças,  en  las  fronteras  de  Alentejo.  En  Lisboa.  Con  todas  las  licencias 
necessárias.  Por  Paulo  Craesbeck.  Ano  de  1648.  Impressos  d  costa  de  Iuan 
Leite  Perera,  mercader  de  libros.  Vendese  en  su  casa. 

1  vol.  8.°,  6  pags.  inn.  com  licenças  e  dedicatória  do  editor  em  portu- 
guez,  140  pags.  numeradas  pela  frente. 

É  curiosa  uma  das  licenças,  que  dá  indicações  para  a  historia  bibliogra- 
phica  do  livro.  Por  isso  a  transcrevemos : 

«Vi  estes  três  liuros  do  Marquez  Virgílio  Maluezzi,  a  saber  Dauid  perse- 
guido, impresso  ern  Tortosa  no  anno  de  636.  Tarquino  o  soberbo,  impresso 
em  Madrid,  no  anno  de  63o.  Rómulo,  impresso  em  Tortosa,  no  anno  de  636. 
Não  tem  cousa  que  encontre  nossa  santa  fé.  ou  bons  costumes.  Lisboa,  no 
Gonuento  de  Santíssima  Trindade,  em  16  de  março  de  646. 
«O  D.  Er.  Adrião  Pedro». 

Salva  cita,  sob  o  nome  de  Virgílio  Malvezzi,  a  seguinte  obra :  David  per- 
segvido.  Traduzido  dei  Toscano  en  Espanol  Caslellano.  Por  don  Aluaro  de  To- 
ledo. Barcelona,  Pedro  Lacavelleria,  1636,  8." 

É  curioso  que  na  edição  portugueza,  no  principio  do  David  persegvido, 
também  diz:  «tradvzido  de  Toscano  en  Espanol  Gastellano  por  Don  Aluaro  de 
Toledo»." 

N.°  690  do  catalogo  de  Ferrão. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

e)  El  Pamasso  Espaftol,  Monte  en  dos  cvmbres  dividido.  Con  las  nveve 
mvsas  castellanas.  Donde  se  contienen  poesias  de  D.  Francisco  de  Queuedo  Vil- 
legas, Cauallero  de  la  Orden  de  Santiago,  y  senor  de  la  Villa  de  la  Torre  de 
Juan  Abad.  Al  senor  Salvador  Corrêa  de  Saa,  y  Benauides,  Gouernador,  y 
Capitan  General  de  los  Reynos  de  Angola,  dei  Consejo  de  Guerra  de  S.  Ma- 


(189)  A  LITTERATDRA  BESPANHOU  IM  PORlUGAL  369 


gestad,  etc.  flvstradas  por  Don  Joseph  António  Gonzalez  de  Salas,  Caual- 
lero  de  la  Orden  de  Calatraua,  y  sefior  de  la  antigua  casa  de  los  Gonzalez  de 
Vadiella.  Con  Licencia.  En  Lisboa.  En  la  tmprenta  de  Pablo  Crasbeeck.  Afio 
1652. 

I  vol.  4.°,  IO  pags.  prel.  um..  SOO  pags.,  mais  IS  iim.  de  Sumários. 

Na  dedicatória  do  livreiro  lé  se  o  seguinte  período:  «...  este  livro  das 
obras  em  verso  do  grande  Poeta  D.  Francisco  de  Quevedo,  que  por  minha 
industria  sae  segunda  vez  a  arrecadar  o  aplauso  do  mundo. ..».  Esta  maneira 
de  dizer  pode  ficar  sujeita  a  duas  Interpretações:  ou  que  Paulo  Crasbeeck  edi- 
tava pela  segunda  vez  a  obra,  ou  que  publicava  a  segunda  edição. 

Salva  {Catalogo,  lomoi,  pag.  187)  descreve,  sobon."  1:366,  uma  .edição 
de  Madrid  de  1668,  no  prologo  da  qual  o  editor,  Mateo  de  la  Bastida,  declara 
que  é  a  terceira  edição,  <>  distincto  bibliographo  hespanhol  declara,  porém, 
que  ignora  a  data  das  edições  anteriores. 

Exemplar  da  Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa. 

f)  Ensefiaça  Entretenida  y  Donairosa  Moralidade  comprehendida  en  el  Ar- 
chivo  Ingenioso  de  las  Obras  escritas  en  Prosa  He  Doa  Francisco  de  Qvevedo 
Villegas,  Cauattero  de  la  Orden  de  Santiago,  y  Seítor  de  la  Villa  de  la  Torre 
de  Iuan  Abad.  Contienense  en  este  Tomo,  las  que  sparcidas  en  differentes  Libros 
hasta  aora  se  han  impresso.  Ofrecidas  "  Pedro  Severim  d'-  Noronha.  En  Lisboa. 
Con  todas  las  licencias  necessárias.  Km  la  Imprenta  de  Pablo  Craesbeeck,  y  á 
su  costa.  Ano  de  1657. 

•  1  vol.  4.°,  2  cols.,  4  pags.  irm.  483,  92  pags. 

A  dedicatória,  em  portuguez,  assignada  por  Paulo  Crasbeeck,  tem  a  data 
de  9  de  junho  de  1657.  Occupa  as  duas  primeiras  paginas  innumeradas. 
Na  terceira  os  titulos  das  Obras  contenidas  en  este  tomo,  e  no  verso  as  licen- 
ças. Eis  a  lista  das  obras: 

La  historia,  y  Vida  de  el  gran  Tucano,  dinidida  en  dos  Libros,  folio  1 ; 
El  Suefio  de  las  Calaveras,  folio  88 ;  El  Alguacil  Alguacilado,  folio  95 ;  Las 
Zahurdas  de  Pluton,  folio  103;  El  Mundo  por  de  dentro,  folio  131;  La  Visita 
de  los  Chistes,  folio  14í ;  Cartas  dei  Cauallero  de  la  Tenaça,  folio  173;  Libro 
de  todas  las  cosas,  y  otras  trinchas  unis,  folio  182;  Aguja  de  navegar  Cultos, 
foi.  192;  1m  Culta  Laliniparla.  folio  194;  El  Entremetida.  La  Ducfla,  y  el 
Soplon,  folio  200:  El  mento  ih'  cuenlos,  folio  234;  Casa  de  los  Locos  de  Amor, 
folio  234;  La  Prematica  dei  tiempo.  folio  2o8;  Govierno  superior  de  Dios,  y 
tirania  de  Satanás,  folio  322 ;  El  Perro  y  la  Calentura,  Novela  Peregrina, 
folio  266 ;  Tira  la  piedra,  y  esconde  la  mano,  folio  286 ;  Los  Remédios  de  qual- 
quier  Fortuna,  folio  304;  Vida  de  Marco  Bruto,  folio  406;  Vida  de  S.  Paulo  (sic) 
Apostol  en  el  fim,  folio  1. 


370  A  LITTERATURA  llt.SPANHOLA  EM  PORTUGAL  (190) 


Como  se  vé,  a  Vida  de  San  Pablo  tem  numeração  á  parte  (92  pags.)  e  é 
por  cerlo  tiragem  ou  edição  separada. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

g)  Primeva  parte  de  la  vida  de  Marco  Brvto.  Escriuiola  por  el  Texto  de 
Plutarco,  ponderada  con  discursos,  D.  Francisco  de  Quevedo  Villegas,  Cauallero 
de  la  Orden  de  Santiago,  seftor  de  la  Villa  de  Iuan  Abad.  A  don  Francisco 
Manuel  de  Mello,  Comendador  dei  Espinel,  en  la  Orden  de  Christo.  En  Lisboa. 
Con  todas  as  licencias  necessárias.  Por  Pablo  Craesbeeck.  Aíio  de  1647. 

\-l.°,  H  lis.  piei.  inn.,  240  pags. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  da  Ajuda. 

h)  La  caída  para  levantar  se.  El  ciego  para  dar  vista.  El  montante  de  la 
iglesia.  En  la  vida  de  san  Pablo  Apostol.  Escriue  Don  Francisco  de  Queuedo 
Villegas.  Obra  Teóloga,  Ética  y  Polilica.  Al  seuor  D.  Francisco  de  Faro  Conde 
de.  Odemira,  dei  Consejo  de  S.  Magestad,  y  Veedor  de  su  Real  hazienda.  &c.  Em 
Lisboa.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  Por  Pablo  Craesbeeck.  Afio  de  1648. 

12.",  H  íls.  prel.  inn.,  126  numeradas  pela  frente. 

Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Nepomuceno  possuia  um  exemplar  com  ante-rosto  gravado  em  chapa 
de  cobre. 

Quinhones  (D.  Juan  de).— Carta  que  escrivio  ai  P.  Fr.  Diego  de  los  Reys, 
de  Madrid  a  Sevilla.  Lisboa,  o/ficina  de  Lourenço  de  Anveres,  1642. 
4.° 
Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Ramirez  Arellano  (D.  Luis). —  Avisos  para  la  mverte.  Escritos  por  algu- 
nos  Ingenios  de  Espana.  Anadidos  en  esta  segunda  impression  con  algunas  obras 
de  Ingenios  Portuguezes.  Dedicados  a  Christo  crucificado.  En  Lisboa.  Con  todas 
las  licencias  necessárias.  Por  Domingos   Carneiro,  y  a  su  costa,  ano  1659. 

1  vol.  16.°,  11  fls.  prel.  inn.,  14o  (?)  numeradas  pela  frente. 

O  exemplar  que  examinamos  pertence  á  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e 
vai  só  até  fls.  143.  Vè-se,  porém,  pelo  indice  que  só  lhe  poderá  faltar  uma 
folha. 

Na  licença,  assignada  por  Fr.  Agostinho  de  Cordes  (S.  Domingos  de 
Bernfica  10  de  Mayo  de  1658),  diz-se  que  este  livro  fora  publicado  por 
D.  Luiz  de  Avellano,  em  Barcelona  em  16o6.  Os  ingenhos  portuguezes 
são  António  Barbosa  Bacelar,  Joseph  de  Faria  Manuel  e  Soror  Violante 
do  Geu. 


(191j  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  371 

Gallardo  {Erisayó  de  una  Biblioteca*  descreve  dnas  edições,  ambas  de 
Madrid,  uma  de  1634,  outra  de  1659  (n."  3:5(57  e  3:568).  Salva  descreve 
varias  e  refere-se  á  de  Lisboa,  que  não  descreve  completamente  por  faltar  ao 
seu  exemplar  o  frontispício.  Vê-se  por  aqui  que  são  144  as  folhas.  Da  lhe  o 
formato  de  24.°  (Salva,  n.°  165  a  168). 

Ramon  Marti  (Angel). — A  la  feliz  Uegada  a  Lisboa  de  S.  A.  R.  el  SS.  In 
[ante  D.  Miguel.  Melodrama  alegórico  en  un  acto.  Lisboa,  1828,  Imprensa  da 
Rua  dos  Fanqueiros. 

4.°,  10  pags. 

O  auctor  era  Taquigrapho  mayor  de  las  Cortes  de  Portugal. 

Exemplar  de  Annibal  Fernandes  Thomaz. 

Rebolledo  (Conde  de).  Voto  dei  Conde  Rebolledo  natvral  de  Leon,  sobre 
las  tregvas  de  Portugal.  Lisboa.  Con  las  licencias  necessárias.  En  la  Emprenta 
de  Diego  Soares  de  Bullones.  Ano  1667. 

4.°,  3  tis.  inn.,  incluindo  o  frontispício. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Relaciones. — o)  Relacion  de  ma  carta  qve  vn  sefior  de  la  Corte  embio  a 
m  amigo  svyo.  En  qve  trata  de  lo  que  succedio  en  la  muerte  dei  Rey  Don 
Felippe  Tercero.  . .  Y  ansi  mesmo  le  da  cuenta  de  lo  que  el  nueuo  Rey  su  hijo 
a  comencado  a  hazer,  y  ha  hecha  hasta  la  fecha  desta.  Impressa  em  Lisboa  por 
laão  Rodrigues.  Anno  de  1621. 

4.°,  8  lis.  inn. 

N.°  468  da  collecção  Barbosa  Machado  nos  Annaes  da  Bibliotheca  Nacio- 
nal do  Hio  de  Janeiro. 

b)  Relacion  de  dos  milagros  que  dios  obro  en  fíalia,  por  intercession  de 
S.  Rita  de  Casia,  y  el  renerable  padre  Fr.  Atuíres  Monreal,  ambos  de  la  obser- 
vância dei  Ordem  dei  Grau  Padre  San  Augustin. 

Começa  logo  a  Relacion  em  verso,  a  2  cols.,  3  pags.,  4." 

No  fim: — IÂsboa  Occidental,  eu  la  Impression  de  Musica.  Con  las  licencias 

necessárias.  Ano  1730. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  fazendo  parte  da  collecção 

1:426  (azul). 

c)  Relacion  de  las  fiestas  reales  y  icego  de  cartas,  qve  la  magestad  catholica 
dei  rey  nvestro  seíior  hizo  a  los  reinte  y  vno  de  Agosto  deste  presente  a  Tio,  para 
honrar  y  festejar  los  tratados  desposorios  dei  sereníssimo  Príncipe  de  Galês,  con 

a  sefiora  Infanta  dona  Maria  de  Áustria.  Lleua  ai  fin  vna  carta  en  que  trata, 
como  se  juraron  las  capitvlaciones  por  su  Magestad,  y  Príncipe  de  Galés  de  los 


372  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (192) 

casamientos,  y  de  la  despedida  dei  Príncipe,  y  buella  a  Inglaterra,  y  de  las 
grandiosas  dadiuas  que  su  Majestad  le  dio,  y  a  atros  Ingleses  Caualleros:  y 
ansi  mimo  lo  que  el  Príncipe  de  Galos  ofrecio  ai  Rey,  Reyna,  Infanta,  è  In- 
fantes.—'Sn  fim :  Em  Lisboa.  Com  licença  da  S.  Inquisição,  Ordinário,  &  Paço 
por  Pedro  Crasbeeck  Impressor  dei  Rey  Anno  1623.  Taxase  em  oito  reis.  Em 
Lisboa  a  25  de  Setembro  de  1623.  D.  de  Mello.  Araújo. 

Folio,  4  fólios  inn. 

Exemplar  de  José  Borges  Pereira  (Inflas). 

d)  Verdadera,  y  breue  relacion  de  las  exéquias,  y  deposito  dei  cuerpo  de 
su  Alteza  el  sehor  Archiduque  Alberto  (que  este  en  gloria)  en  Brusselas,  en  la 
Capilla  dei  Sfmctissimo  Sacramenta  dei  Milagro.^-No  fim:  Com  todas  as  licen- 
ças tiecessarias.  Em  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck  Impressor  dei  Rey.  Anno 
1622. 

Folio,  2  fls. 

Descripto  em  Gallardo  sob  o  n.°  339. . 

e)  Relacion  de  las  Fiestas  que  los  Príncipes  y  Nobleza  de  Francia  por  man- 
dado de  los  Reyes  christianissimos  han  hecho  a  la  alegria  de  los  casamientos  de 
Espaí/a.  Impresso  en  Lisboa  con  licencia  de  la  santa  Inquisiciõ,  por  Pedro 
Graueez,-  este  afio  de  1612. 

Por  baixo  deste  titulo  começa  o  texto,  que  occupa  4  fls.  em  4.° 
O  Graueez  é  por  certo  erro,  devendo  ler-se  Gracez. 
Gallardo,  n.°  4:384. 

f)  Relacion.  de  las  cosas  de  Iapon,  China,  y  Filipinas.  Y  de  la  cruel  per- 
secucion  que  padece  aquella  Christiandad  y  dei  numero  de  Martyres  que  en  ella 
lia  auido.  Assi  mismo  se  dizen  los  espantosos  terremotos,  y  aberturas  de  tierra, 
juntandose  los  motes  imos  con  otros,  assolado  Ciudades,  y  haziendo  grandes 
estragos.  Escrito  por  vn  Religioso  de  la  Compartia,  que  assiste  en  las  Filipi- 
nas, a  oiro  de  México,  y  de  alli  emhiado  en  el  auiso  a  los  de  la  Ciudad  de 
Seuilla.  Ano  (monogramma  da  Companhia)  1621.  Impressa  en  Lisboa  con  todas 
as  licenças  necessárias  por  João  Rodrigues.  t 

4.°,  4  foliòs  inn. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


q)  Relacion  breve  de  los  grandes  y  rigurosos  martírios  que  el  ano 
de  1622  dieron  en  el  Iapon  a  ciento  yfUez  y  ocho  illustrissimos  Martyres,  sa- 
cada principalmente  de  las  cartas  de  los  Padres  de  la  Compania  de  Jesus  que 
alli  residen:  y  de  lo  que  han  referido  muchas  personas  de  aquel  Rey  no  que  en 


(193)  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  373 


dos  nauios  Uegaron  a  la  ciudad  dè  Munia  a  12  de  Agosto  de  1623.  (Este  titulo 
acha-se  do  alto  da  primeira  pagina).  No  lim  da  ultima:  Con  todas  las  licen- 
cias necessárias.  Lisboa.  Por  Giraldo  da  Vinha.  Atino  1624.  Ettá  conforme 
cot)  o  seu  original.  Lisboa  19  d*  Julho  de  1624.  D.  Jorge  Cabral.  Tavcasse  esta 
relação  em  ■  ■  ■  reis. 

Folio,  4  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

In  Relacion  (segunda)  de  la  sumptuosa  mirada  çon  pallio  en  Madrid  dei 
Príncipe  de  Inglaterra.  Lisboa.  Giraldo  da  Vinha,  1623, 
Folio,  í  pags. 
Mannscriptos.  WisceUanea,  tomo  n,  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Ribadeneyra  (Padre  Pedro  de),  a)  Hystoria  ecclesiastica  dei  scismu  dei 
Reyno  de  Inglaterra.  En  la  anal  se  trata  las  cosas  mas  notables  q  hatt  sucedido 
en  aquel  Reyno  tocãtes  a  nuestra  saneia  Religion,  desde  que  començo  hasta  la 
muerte  de  la  Reyna  de  Escócia.  Recogida  de  diuersos  y  graues  Autores,  por  el 
Padre  Pedro  de  Ribadeneyra,  de  la  Compafíia  de  Tesus.  Dirigido  ai  Príncipe 
de  EspaTía  Don  Felipe  nuestro  sefíor.  En  Lisboa.  Impressa  con  licencia  de  la 
Sancta  Inquisiciõ  y  Ordinário:  En  casa  de  António  Aluar ez.  Ano  de  1588. 

8.°,  M  lis.  prel.  iiiu.,  249  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  tí  hm.  de 
Tabla. 

\  approvaçãò,  de  IV.  IJartholomeu  Ferreira,  é  do  theor  seguinte: 

«Vi  esta  Hystoria  Ecclesiastica,  por  mandado  de  s.  A.  &  alem  de  não 
ter  cousa  contra  nossa  Sancta  Fé,  lie  Hystoria  de  edificação,  á-  será  muito 
proueitosa  aos  Lectores,  &  he  digna  de  ser  sabida  de  todos,  por  onde  será 
muito  seruiço  de  Deos  imprimirse». 

A  segunda  parte  tem  o  mesmo  frontispício  (sem  indicar  todavia  segunda 
parto,  mas  as  licenças  são  differentes.  Diz  a  de  Fr.  Nartliolomeu  Fer- 
reira : 

«for  mandado  de  S,  A.  Vi  esta  segyda  parte  da  Scjsma  de  Inglaterra, 
Autor  o  padre  Pedro  de  Ribadeneyra  da  Companhia  de  lesv,  &  me  parece, 
que  será  seruiço  de  Deos  imprimirse,  á  fará  muito  frueto  a  sua  lição,  assi 
para  nossa  Saneia  Fé,  como  para  os  bõS  costumes». 

8.",  7  tis.  prel.  uni.,  108  tis. 

Tem  no  lim:  En  Lisboa.  En  casa  de  Manoel  de  Lyra,  Ano  de  1594. 

b\  Hystoria  ecclesiastica  dei  scisma  dei  reino  de  Inglaterra,  En  la  e/iial  se 
tratan  tas  cosas  mas  notables  que  bati  sucedido  en  aguei  Reyna  tocantes  a  nues- 
tra santa  Religion,  desde  que  çomenço,  hasta  la  muerte  de  la  Reyna  de  Escócia. 


374  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (194) 


fíecogida  de  diuersos  y  graues  Autores,  por  el  Padre  Pedro  de  Ribadeneyra,  de 
la  CompaUia  de  lesvs.  Dirigida  ai  Príncipe  de  Espafia  Don  Felipe  nuestro  se 
fíor.  Impressa  con  licencia  por  Manuel  de  Lyra  1589. 

S.°,  1 1  fls.  prel.  inn.,  258  fls.,  afora  4  inn.  de  Tabla.  Tem  só  os  dois  livros. 

A  approvação,  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira,  é  a  mesma  de  1588. 

Ha  uma  traducção  portugueza  de  Pedro  Nicolau  de  Andrade,  Lisboa  1732. 
Vide  este  nome  em  Innocencio. 

António  Ribeiro  dos  Santos  (Memorias  de  Litteratura  da  Academia, 
tomo  viu,  pag.  113)  menciona  uma  edição  em  2  vols.,  8.°,  estampados,  o 
primeiro  em  1588  e  o  segundo  em  1594.  É  a  descripta  em  a).  Innocencio 
declara  ter  possuído  uma  edição  differente  das  citadas,  pois  era  n'um  só  vo- 
lume e  tinha  374  fls.  numeradas  pela  frente. 

Ribero  (Dr.  Gaspar  de). — Questio  de  Fascinatione  edita  a  Gaspare  ã  Ri- 
bero in  medicina  Licêtiato  et  ilustrissime  Caterim  lusitanie  regine  &  medico.— 
No  fim :  Deo  grãs.  ^f  Explicit  qstio  de  fascinatioê  a  Gaspare  de  Ribero  in  Me- 
dicina licêtiato.  Et  illuslrissime  Katherine:  Lusitanie  Regine  <£•  edita:  istillo 
repetitionis  compósita. 

4.°,  14  fls.  inn.,  sig.  a-b. 

Sem  designação  de  lugar,  imprensa  ou  anno.  O  frontispício  representa 
ao  fundo  um  astrolábio.  No  reverso  dedicatória  ao  rei  D.  João  de  Portu- 
gal (3.°). 

O  auctor  parece-nos  hespanhol.  A  circunstancia  do  auctor  ser  medico 
da  rainha  D.  Catharina  e  o  ser  o  livro  editado  ou  mandado  imprimir  por  ella 
leva-nos  a  crer  que  seria  impresso  em  Lisboa. 

Descripto  em  Gallardo  sob  o  n.°  3:621. 

Na  livraria  do  filho  de  Colombo  havia  uma  obra  com  titulo  idêntico : 

Traclatus  de  fascinatione,  editus  a  Didaco  Alvari  Chama.  (Yide  Gallardo). 

Barbosa  falia  de  um  medico  portuguez,  que  cursou  as  faculdades  de 
Coimbra  e  Salamanca  e  também  escreveu  um  Tractatus  de  fascinatione,  que 
não  se  publicou  por  falta  de  licença.  Veja-se  o  artigo  João  Caldeira  na  Biblio- 
theca  Lusitana. 

Ribes  (Joseph  de). — Comedia  famosa.  El  sitio  de  Barcelona,  y  fuga  dei 
dvque  de  Anjott.  De  Joseph  de  Ribes. — No  fim:  Em  Lisboa.  Con  todas  las  licen- 
cias necessárias.  Em  la  imprenta  de  Bernardo  da  Costa  Carvalho.  Ano  1707. 
A  costa  de  Manoel  de  Figueyredo  mercader  de  libros  baxo  el  arco  de  la  Conso- 
acion  a  San  António. 

4.°,  36  pag. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


I  '  "5  A  LITTERATI  l;A   III  SI'ANHOM   R.M  I'0RT1  OAL 

Roa  (PadreMartin  de),  a)  Benefícios  dei  S."  Angel  de  nvestra  grarda. 
Por  el  P.  Muniu  de  Boa,  de  la  Compartia  de  fesvs  Ano  (mouogramma  tia 
Companhia)  1634.  Con  las  licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Por  António 
Aluar cz. 

1  vol.  8.°,  6  lis.  prel.  inn.,  162  numeradas  pela  frente. 

6  Estado  de  los  bienavenlvrados  en  el  cielo.  />•  los  mitos  en  el  limbo.  De 
los  condenados  en  el  inficrno:  ij  de  todo  esto  Vniuerso  despues  de  la  resurrecion, 
y  juizio  vniuersal.  Por  el  padre  tiartin  de  Boa  de  la  CompaRia  de  lesas.  Con 
licencia.  En  Lisboa.  Por  António   [luares,    [nno  1630. 

I  rol  8.°,  116  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  5  inn.  de  Advertências 
e  índice. 

c    Estado  de  las  almas  de  Purgatório.  Correspondência  que  hazen  a  sus 
fiores.  Meditaliones,  >  vários  Exemplos  a  este  propósito.  Pot  el  P    \ía\ 
lin  th'  Boa  de  la  Compania  de  leses.  Con  licencia  dela  S.  Inquisirion ,  Ordi- 
nário, y  dei  Bey.  Em  Lisboa  por  Giraldo  da  Vinha.  Anuo  1024. 

I  vol.  16.°,  7  (Is.  prel.  inn.,  190  numeradas  pela  frente. 

d    Idem,  nina.  Em  Lisboa.  Poi  Matlheus  Pinheiro.  Anno  1627. 
1  vol.  16.°;  o  exemplar  vae  só  até  II.  151,  faltando  lhe  algumas. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Rocha  y  Figueroa  (Dnii  Gomez  de  la).  Filosofia  moral  derivada  dela 
alta  [rente  dei  grande  Aristóteles  slagirita.  Escribiola  en  toscano  el  conde  cacal- 
lero  gran  cruz  Don  Manuel  Tliesauro  Patrício  Turinense.  Traducela  en  Espa 
Tiol  D"/t  Gomez  de  In  Rocha,  </  Figucroa.  Dedicala  ai  excellentissimo  senou 
l>.  Ivan  Li  is  de  Orleans,  conde  de  Charni,  genlilhombre  de  In  rumina  de  sw 
magestad,  capitan  general  de  lu  cavalleria  de  Estremadura.  Lisboa.  Eu  In  /»«- 
prenta  </<■  António  Craesbeech  </<    1/.//"  Impressor  de  la  Casa  Beal.  Afío  de  1682. 

t  vol.  'i.",  18  pags.  inn.  de  dedicatória,  prologo,  licenças  e  índice,  140 
pags.,  -2.  col. 

Pela  Suma  dei  privilegio  se  vê  que  o  auetor  era  «vecino  j  natural  de  la 
ciudad  de  Badajoz».  A  licença,  de  Madrid,  inn  a  data  de  outubro  de  1681. 

N."  :!-..'>*_!  do  catalogo  do  Marquez  de  Caslello  Melhor. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Rodriguez  (Lucas).  \Romancero  hysloriado  mu  mucha  variedad  de  glosas 
u  Sonetos  a  nl  fui  una  floresta  pastoril,  y  cartas  pasloriles.  Hecho  y  recopilado 
por  Lucas  Bodriguez,  escriplor  de  la  vniuersidad  '!<■   Ucala  'Ir  Henares.   I>> 

HlST.  E  MKM    DA  ACAD         fOMOTIl    PARTE  II.—  N.°  5,  l? 


376  A  LITTKRATUBA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (196) 


rígida  ai  Wustrissimo  senor  Melchior  de  Herrera  Marques  deAufion,  dei  Consejo 
de  hazienda  de  su  Magestad.  (Escudo  do  impressor).   Impresso  por  Andres 

LobatO.      \í«>    U.n.L.rr.nuj. 

I  vul.  12.",  263  fólios,  sig.  A-Y.  Figuras  em  madeira. 

A  approvaçSo,  sem  data,  é  de  Fr.  Bartholomen  Ferreira  e  a  licença  de 
Lisboa  29  de  julho  de  1584. 

Apesar  de  não  indicar  lugar,  pela  approvação,  licença  e  nome  do  im- 
pressor  vê-se  que  é  de  Lisboa. 

Gallardo,  que  descreve  esta  edição  sob  o  n.°  3:659,  suppõe  que  falte  ao 
seu  exemplar  uma  folha  no  caderno  final. 

Rodriguez  de  Guevara  (Alfonso). —  Alphonsi  Rod.  de  gueuara  Granaten- 
sis,  in  Academia  Conimbricensi  rei  medicce  professoris,  &  ínclitas  Regina  mediei 
phisici,  in  pluribus  ex  ijs  quibus  Galenus  impugnatuf  ab  Andrea  Vesalio  Bru- 
xeíêsi  in  cõstructione  &  vsu  partiam  corporis  humani,  defensio:  Et  nonnullo- 
rum  iji/ip  in  anatomè  deficere  videbantur  supplementum.  Cgnimbricce.  Apud  loan. 
Bauerium  Typographu  Regiam.  M.D.LIX. 

8.°,  caderno  de  16  pags.;  rubricado  AAinj  etc,  7  íls.  prel.  inn.,  298 
pags.,  mais  1  fl.  inn.  de  erratas,  mais  3  íls.  de  indiee  coordenado  pelo  licen- 
ciado Diogo  de  Ribeira  dacobum  à  Ribeira),  mais  1  fl.  avulsa  com  a  appro- 
vação de  Marcvs  Romoevs. 

Nas  preliminares,  dedicatória  ã  rainha  e  prologo  ao  leitor,  o  qual  é 
muito  interessante  para  a  biographia  do  auetor  e  para  a  historia  da  medicina 
hespanhola. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (sala  4.a,  n.°  7:359j.  É  mui- 
tíssimo curioso  este  exemplar:  numa  das  guardas,  declaração  de  ter  sido 
dadiva  do  auetor  no  anno  seguinte  ao  da  publicação.  Descobrimos  que  o  per- 
gaminho que  servia  de  capa  continha  um  desenho  muito  apreciável  e  bem 
conservado  —  a  planta  de  um  palácio,  casas  de  saa  senhoria  —  do  século  xvr, 
talvez  o  palácio  dos  Vidigueiras,  a  S.  Roque.  É  documento  precioso,  artístico 
e  archeologico,  e  que  merece  ser  seriamente  estudado. 


Rojas  (D.  António  de). —  Vida  dei  espirita  para  tener  oracion  y  anion 
con  Dios  segun  los  sagrados  Dadores,  que  eu  la  contemplar  ia»,  anion, 
y  myslica  Theologia  mas  se  aventajaron,  compuesto  por  D.  António  de 
Rojas. 

Lisboa  1645,  12.°,  viu  pags.  con  licencias,  censura  y  ai  pio  Lector, 
331  pags.  de  texto  e  mais  6  inn.  de  Tabla. 

Communicação  de  Garcia  Peres. 


(197  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  Eil  POBTUGÁ)  .'i7/ 

Rojas  (luan  Luís  de).—  Relacione*  de  algvnos  svcessos  prostreros  de  H>/ 
beria.  Salida  de  los  Woriscos  d*  Espafía,  y  entrega  de  Alarache.  Dirigidas  a 
Dou  Fernando  Mascarenhas  Cauallero  de  la  Orden  Militar  de  Christo.  Com- 
puesta  por  Tuan  Luis  de  Rojas.  Em  Lisboa  Impresso  por  lorge  Rodriguéz.  Com 
as  licêças  necessárias.  Anno  de  1613.  Ta i  ado  na  Vesa  do  Paço  40  reis  em  papel. 

8.    pequeno,  :i  fólios,  prel.  inn.,  90  numerados  pela  frente. 

Nas  preliminares:  licenças;  dedicatória  do  auctor,  muito  encomiástica, 
de  I».  Fernando  Mascarenhas,  e  El  iutor  a  la  obra  \fadrigal. 

V.  temas  Rei  icion  si  I 

\l.-iin  Cririco  Zoilo, 

\  menos  que  a  Ceniza  condenare 

l'or  bárbaro  tu 

Que  \n  Mecenas  te  doi  con  q  eternizas 

Mas  i) ii  la  \  ida  fama  en  tus  cenizas 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Roman  (Fraj  Hieronymo).  a)  Historia  de  la  rola  dei  mvy  religioso  Varon 
Fray  Luys  de  Montoya  de  la  orden  de  San!  Augustin,  Vicário  General  en  la 
Prouincia  de  Portugal  de  la  mesma  orden.  Ordenada  por  Fray  Hieronymo  Ro- 
man, Coronista  de  la  misma  orden  de  Sant  Augustin.  Dedicadaala  mnylllus- 
ora  Dona  Cecília  Deça.  (Este  titulo  está  por  cima  de  um  brasão  de  ar- 
mas, que  occupa  mais  de  metade  da  pagina). 

Estas  armas  acham-se  repetidas  nas  obras  de  Publio  Virgílio,  traduc- 
ção  'ii:  prosa  castelhana  de  Diego  Lopez,  Lisboa  1020.  Consultar  esta 
obra. 

0  exemplar  que  temos  presente,  talvez  por  aparado,  não  tem  a  indica- 
ção typograpbica,  mas  dizia  Nepomuceno  que  fora  impresso  cm  Lisboa  em 
1589  por  António  Alvarez. 

1  vol.  8.°,  19  lis.  prel.  inn.,  110  fls.  numeradas  pela  frente. 

No  verso  do  rosto  vem  logo  a  approvação  e  licenças.  O  parecer  de  Frey 
Bartholomeu  Ferreira  é  do  theor  seguinte: 

«Vi  por  mandado  de  S.  A.  a  vida  do  Religioso  Padre  Fray  Luys  de 
Montoya:  Composta  polo  Reuerendo  Padre  Fray  Hieronymo  Roman,  Cho- 
ronista  da  ordem  de  Saneio  Augustinho,  na  qual  não  ha  cousa  contra  nossa 
Fé  &  bõs  costumes,  antes  exemplos  de  edificação,  para  imitação  dos  reli- 
giosos  &  pessoas  spirituaes,  por  onde  a  tenho  por  digna  da  impressão.  Com 
tanto  que  se  imprima  a  aprouação  do  Ordinário  das  obras  marauilhosas, 
que  aqui  se  referem,  que  o  Senhor  fez  pelo  seu  seruo,  7  de  Dezêbro  I58R. 

Frej  Berlholameu  Ferreira». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 


378  A  I.ITTEIUTURA  IIESFANIIOLA  EM  PORTUGAL  (^^) 

Salva  iii."  3:506)  só  menciona  de  Hieronymo  Roman  a  Historia  de  los 
das  Religiosos  infantes  de  Portugal,  Medina,  1595.  Gallardo  desereve  esta 
e  a  Crónica  de  la  órden  de  los  Ermitvnos  dei  glorioso  Padre  Santo  Angus- 
ti/i,  etc,  Salamanca  1569. 

Braz  Freire  de  Fina  imprimiu  em  Lião,  em  1(127.  a  seguinte  obra:  De 
rebvs  S.  Elisabeth®  Lvsitanorvm  Regina  Lilri  dvo;  na  nota  preliminar  dos 
auctores  que  trataram  ou  se  referiram  a  Santa  Isabel,  diz  o  seguinte:  «Fra- 
ter  Didacus  de  Rosário  Dominicanae  familiar,  &  Frater  Hieronymus  Romanus 
Augustiniana;,  vterque  suam  Lusitanè». 

Não  sabemos  da  existência  d'esta  obra:  do  prologo  da  Historia  de  los 
ilos  Religiosos  vê-se  que  o  auctor  tinha  recolhido  en  diez  y  seis  centúrias  as 
Vidas  ile  los  Sanctos  de  Espafia  e  ahi  incluiria  por  certo  a  Vida  de  Santa 
Isabel. 

O  auctor  da  Historia  Genealógica,  D.  António  Caetano  de  Sousa,  refe- 
re-se  ainda  a  outro  trabalho  histórico  de  Roman,  de  que  ninguém  accusa 
exemplar  ou  dá  noticia.  Seria  talvez  manuscripto. 

Existe  effecti vãmente  um  manuscripto  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa, 
que  estava  prompto  para  imprimir. 

b)  Historia  de  la  Ínclita  cavalleria  de  San  Tiago  en  la  corona  de  Portu- 
gal. Por  fraij  Jeronymo  Roman. 

4.°,  76  fls.  numeradas  de  um  só  lado. 

Manuscripto  pertencente  á  collecção  Pombalina,  n.°  24,  na  Bibliotheca 
Nacional  de  Lisboa. 

Parecia  que  estava  prompta  para  a  impressão,  pois  já  tinha  a  approva- 
ção  da  ordem. 

Outra  copia  na  livraria  dos  Condes  de  Tarouca.  Vide  Catalogo,  pag.  20. 

c)  La  Historia  dei  religiosíssimo  y  Real  Monesterio  de  Alcovaça  de  la  orden 
de  San  Bernardo. 

Acha-se  no  códice  686  da  collecção  Pombalina,  de  11.  200  a  255. 

d)  Historia  de  la  Ínclita  cavalleria  de  Avis  en  la  corona  de  Portugal. 
Tem  no  fim  a  approvação  (1591)  e  licença  para  se  imprimir.  Copia  do 

original,  que  se  conservava  na  livraria  do  Marquez  de  Gouveia. 
4.°,  203  pags. 
Códice  23  da  collecção  Pombalina  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

e)  Historia  de  la  ynclita  Cauallaria  de  Christo  en  la  Corona  de  Portugal. 
Incompleta,  começando  em  11.  71  e  terminando  em  11.  157. 


(1.99)  A  UTTERATORA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  'M\\ 

No  códice  <iis  da  collecção  Pombalina. 

No  códice  688  da  mesma  collecçi nconlra-se  outro  fragmento  d'esta 

obra,  de  il.  II  a  50  do  volume  ou  «los  volumes  de  que  ella  se  compunha. 

Na  Refaçam  Svmmaria  da  Vida...  de  Dou  Theotonio,  quarto  arcebispo  de 
Euora,  por  Nicolau  Agostinho,  impressa  em  Évora  em  1614,  lè-se  o  seguinte 
trecho  (11.  58): 

-  ^.conteceo,  estando  recolhido  oa  Quinta  de  Valverde,  só  em  cujo  seruiço 
eu  estaua  com  elle,  chegar  alli  o  Padre  Frey  Hieronimo  Romano  Castelhano, 
Religioso  da  orden  de  Sancto  Agostinho,  que  escreueo  as  Republicas,  dizen- 
dolhe,  que  linha  entre  mãos  escreuer  hua  historia  Pontifical  das  vidas, Afei- 
tos de  iodos  os  Bispos  de  Hespanha,  pello  que  vinha  a  sua  Senhoria  infor- 
marse,  &  saber  o  qne  delle  podia  escreuer:  o  Arcebispo  o  não  admittio,  nem 
recebeo  com  aquella  graça,  com  que  costumaua  agazalhar  a  todos,  em  espe- 
cial  estrangeiros:  antes  logo  o  fez  e  mandou  despedir,  sem  lhe  mandar  dar 
cousa  alguma,  nem  por  via  de  esmolla,  para  seu  caminho,  de  que  o  padre 
se  espantou,  como  cousa  não  esperada,  de  quem  desejaua  seruir  e  em  sua  bis 
lona  louuar*. 


Romance  kecho  quando  El  Emperador  Cario  Quinto  entro  en  Franciapot 
la  parte  de  Flandres  com  grande  exercito  en  el  Afio  de  1545.  Impresso  com  li- 
cença ifa  Sãcta  inquisição  por  intonio  Aluarez.  Anno  MCCCCCCII. 

Tem  no  frontispício  um  retrato  que  se  diz  ser  de  I).  Álvaro  de  Bazan, 
Marquez  de  Santa  Cruz. 

Este  retrato  foi  muitas  vezes  tomado  como  sendo  de  D.  Sebastião.  Para 
esclarecimento  veja-se  a  gravura  respectiva  no  catalogo  de  Salva.  Tem  no  fim 
em  vinheta  as  armas  de  Portugal. 

Descripto  pelo  Sr.  Conde  de  Sabugosa,  a  pag.  H  da  sua  edição  do  Auto 
da  Festa,  de  Gil  Vicente. 


Sabuco  de  Nantes  (Dona  Oliva).-  -Nveva  Filosofia  de  la  natvraleza  dei 
hombre,  no  conocida,  ni  alcançada  de  los  grandes  filósofos  antiguos:  la  i/ual 
mejora  la  vida,  y  salitd  humana:  con  las  addiciones  de  la  segunda  impressiõ, 
y  (en  esta  lercera)  espurgada.  Composta  por  Dofía  Oliua  Sabuco.  Dirigida  ao 
l.  S.  D.  loão  Lobo  liarão  D'albito,  «tr.  (Escudo  de  armas  do  Barão  de  Al- 
vito). Impresso  e  Braga,  cõ  as  licêças  necessárias,  por  Fructuoso  Lourêço  de 
Basto,  Ano  de  M.DC.XXII.—  Ho  verso  do  frontispício:  lo  que  contiene  esta 
nveva  filosofia. 

8.°,  :{  lis.  prel.  inu..  IIV7  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  9  lis.  inn. 
com  Tabla,  licenças  e  dedicatória. 


.'5SII  A  LITTERATURA  MtSPANliULA  EM  PORTUGAL  (200) 

Transcrevemos  o  primeiro  período  desta  por  nos  parecer  interessante 
para  a  historia  do  livro : 

(Este  Liuro  de  Dona  Oliua  he  forçado  sair  cobarde,  pello  mao  sucesso 
da  segunda  impressão  em  que  o  mandarão  recolher:  4  por  ser  seu  autor 
hfia  molher ;  a  quem,  como  fraca  he  mais  natural  o  temor,  particularmente 
em  impressos  semelhãtes;  tam  alheas  de  sua  protissão,  4  a  que  tam  poucas 
se  atreuerão.  Pello  que  o  Liuro,  4  sua  autora  (ainda  depois  de  morta)  parece 
me  estão  pedindo  o  não  tire  outra  vez  a  luz  sem  protector  que  com  seu  valor 
0  anime,  4  defenda  das  caliiuinias  de  que  o  fauor  de  nu  Monarcha  o  nã  pode 
defender,  etc». 

Salva  descreve  a  primeira  edição,  Madrid,  P.  Madrigal,  MD.LXXXVL  A 
segunda  é  do  mesmo  impressor,  1388.  Na  dedicatória  a  Felippe  II  a  auctora 
assigna-se  Oliva  de  Nantes  Sabuco  Barrera. 

Manuel  Gomes  Alvares,  natural  da  Bahia  de  Todos  os  Santos  (Brasil), 
publicou  uma  tradúcção  desta  obra:  Lisboa  1734,  4.°,  xxiv-olO  pags.  Veja-se 
o  respectivo  artigo  de  Innocencio. 

Sagredo  (Diego  de). — Dentro  de  uma  portada  gravada,  com  figuras,  que 
já  temos  visto  em  outras  obras,  está  o  seguinte  titulo,  a  preto  e  encarnado, 
em  nove  linhas : 

a)  Medidas  dl  \  Romano  agora  nimiamente  |  impressas  y  anadidas  de 
mu-  |  chás  piegas  &  figuras  muy  ne  \  cessarias  aios  officiales  que  |  gúieren  se- 
guir las  formado  \  nes  de  las  Basas,  Colunas,  \  Capiteis,  y  olras  pieças  de  \ 
los  edifícios  anliguos.  (...)  \  Afio  MDXLii. 

No  verso  segue-se  a  dedicatória  ao  arcebispo  de  Toledo,  primas  de  las 
espanas.  É  curioso  que,  no  exemplar  que  vimos,  estas  duas  palavras  estão 
riscadas  com  tinta.  É  por  esta  dedicatória  que  se  vè  o  nome  do  auctor — 
Diego  de  Sagredo,  capellan  de  la  Reyna  nuestra  senora,  etc. 

4.°,  42  fólios  inn.  caracteres  gothicos. 

No  íim  da  ultima  folha:  Imprimiose  el  presente  tratado  intitulado  medidas 
dei  Romano  enla  muy  noble  y  siempre  leal  ciudad  de  Lisbona  agora  nueua- 
mente  acrecentadas  muchas  cosas  que  de  antes  tenian  muy  necessárias.  Impri- 
mido por  Luiz  Rodrigues  libreto  dei  Rey  íiosso  sehor.  Acabose  a  xv  dias  dei 
mes  de  Enero  d  mil  quiniètos  y  quarenta  y  dos  anos. 

No  reverso  da  ultima  folha  o  escudo  de  Luiz  Rodrigues. 

Exemplares  de  Nepomuceno  e  Bibliotheca  de  Évora. 

A  portada  é  semelhante,  senão  egual,  á  do  Insino  Chrislão,  reproduzida 
no  Diccionario  de  Innocencio,  tomo  x. 

Veja-se  o  que  diz,  em  nota,  Tito  de  Noronha  no  seu  opúsculo  acerca  das 
Ordenações  (Archeologia  Artística). 


30i  A  l.ll  II  HAIM,\  HESPANHOLA  IM  PORTUGAL  381 


6)  Medidas  dei  Romano  necessárias  a  los  officiales  que  quieren  seguir  las 
formaciones  de  las  bases,  columnas,  etc. 

Joaquim  de  Vasconcellos  diz  que  se  publicaram  duas  edições  d'esta  obra 
rui  Lisboa,  por  Luiz  Rodrigues,  em  jaDeiro  e  junho  de  1542.  (Archeologia 
Artística,  fase.  í.  ,  pag.  77  , 

\  edição  descripta  por  Salva  é  de  1544,  Toledo.  Refere-se  a  uma  de 
Lisboa,  que  possuiu,  1541  (Luiz  Rodrigues). 

A  primeira  edição  parece  ser  de  Toledo,  1526,  segundo  se  vè  no  Ca- 
talogo de  la  Biblioteca  de  Sora. 

Veja-se  Salva,  lomo  u,  pags.  368  e  369. 

Ribeiro  dos  Santos  (pag.  101 1  refere-se  á  edição  de  1542  (Luis  Rodrigues). 

Sala  (Fr.  Gaspar),     o)  Noticia  universal  de  Catalufia.  Con  todas  as  licen 
ças  necessárias.  1641.  En  Lisboa.  Por  António  Alvarez,  Impressor  delRey  N.  S. 
I  vol.  4.°,  8-135  pags. 

6)  Princípios  y  progressos  de  las  Guerras  dei  Principado  de  Catalufia,  y 
setialada  vitoria  en  Monjuyque.  Afio  1640  y  1641.  En  Lisboa.  Con  todas  las 
licencias.  Por  António  Aluarez  Impressor  delRey  N.  S.  641. 

l.  ,  38  fls.  sem  numeração. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

c)  Epitome  de  los  principias,  y  progressos  de  las  numa*  de  Catalufia  en 
los  anos  de  1640.  y  1641.  y  sefíalada  vitoria  de  Monjuyque.  Escricelo  el  /'.  1/. 
/•'.  Gaspar  Sala  dei  Ordeú  de  Sm/  lugustin,  Catedrático  de  Theohgia  de  la 
Vniuersidad  de  Barcelona,  y  Letoi  Magistral  de  la  Sancta  Iglesia  de  Lerida. 
Dedicado  a  los  mvy  ilvslres  seflores  Deputados,  y  Ohidores  y  a  los  mvy  ilvstres 
seflores  comelleres,  y  sábio  Consejo  de  la  Ciudad  de  Barcebna.  Por  mandado 
de  los  seflores  Deputados.' En  Barcelona.  Por  Pedro  Lacaualleria.  Afio  1641. 
E  agora  Impresso  en  Lisboa  pello  mesmo  original.  Por  António  Aluarez,  tm 
pressor  dei  Rey  nosso  Senhor.  Anuo  1641. 

l.°,  iii  lis.  sem  numeração. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (Historia  llll  6  13). 

Salaya  (Sancho  de).  Reportório  de  I  tuipo  nueuamènte  coiregí  \  do  por 
el  famoso  Sm/dm  d  Salaya  calhedratico  ã  Astrologia  enla  Vniu&rsi  \  dad  de 
salmoura:  el  qual  \  tãbiê  afiadio  enel  /"//"  |  rio  imxij.  afios  sobre  lo  que  an- 
dam   impresso  has  |  ta  agora.  \  M.D.xliij.  \  Laus  Deo. 

\  portada  é  como  a  da  Viciosa  vergonha)  de  João  de  BaTros,  sem  as 
Qores  circundantes. 


382  \   Liril.llAll  ll\   HESPANHQLA   EM  PORTUGAL  (202) 


No  verso  do  rosto:  «Al  lector». 

Na  pagina  seguinte:  «Comiença  el  Repertório  de  los  liempos». 

8.",  gothico,  cadernos  de  A  a  K,  sem  numeração  nem  reclamos. 

A  paginação,  sem  embargo  do  formato,  é  desegual,  porque  alguns  cader 
nos  teem  seis  folhas  em  vez  de  oito. 

No  privilegio  do  raríssimo  livro  do  portuguez  Francisco  Falem,  Tratada 
dei  Esphera,  impresso  em  Sevilha  em  1535,  vem  a  seguinte  referencia  a  Salay a: 

«ia  Reyna.  Por  quãto  por  parte  de  vos  Francisco  Falero  me  fue  hecha 
rela. 'iõ  q  vos  cõ  ceio  de  nos  seinir  hezistes  vn  tratado  dei  esphera  y  arte  de 
marear  en  légua  castellana. . .  nmy  necessária  para  los  nauegãtes  el  ql  vos 
psentastes  ante  el  dotor  Salaya  firo  prothomedicb  y  catedrático  de  astrologia 
en  la  vniuersidad  de  salamãca  para  q  lo  examinasse,  etc.  Tordesillas  a  xvnj 
dias  d'J  mes  d'agosto  de  !\1.D.  y  xxxij  anos». 

A  subscripção  linal  da  obra  alraz  descripta  é : 

Fue  impresso  enla  muy  noble  sempre  leal  Ciudad  de  Lisbona.  Acabose  a 
xv.  dias  dr  Março:  en  casa  de  Luys  Rodrigaez:  librero  dei  lie//  nuestro  sefior. 
Afio  ill  nacimiento  de  nuestro  sefior  Jesu  Christo  de  1513.  Laus  Deo. 

Exemplar  da  Bibliotheca  de  Évora. 

Salcedo  (Gonçalo  de). — Examen  dela  Verdad  en  respuesta  a  los  tratados 
de  los  direchos  de  la  Reyna  Christianissima. 
Lisboa,  1600,  folio. 
Catalogo  de  livros  hespanhoes  da  Livraria  Bertrand. 

Salmeron  (Fray  Marcos). —  Tesoru  escondido  eu  el  campo  de  la  hvmanidad 
dei  hijo  de  Dios.  Bichas  de  Maria,  Piedras  preciosas,  esplendor  hèrmoso  de  sus 
solemnidades.  Por  el  maestro  fray  Marcos  Salmeron,  Prouinciàl  que  fue,  y  Vi- 
cário Prouincial  que  es  de  la  Provinda  de  Castilla  dei  Orden  de  nuestra  Sefiora 
de  la  Merced  Redempcion  de  Cautiuos,  ('.edificador  dei  Consejo  de  su  Magestad 
de  la  suprema,  y  general  ínquisicion.  En  Coimbra.  En  la  o/jicina  de  Manvel 
Dias  impressor  de  la  Vniuersidade:  afia  M.DC.LIX. 

1  vol.  4.",  !)  fls.  inn.,  512  pag.,  mais  19  lis.  inn.  de  Índice. 

Salzedo  (Garcia  de). — Vide  artigo  relativo  a  Thomaz  Alvarez. 

Salzedo  (Fr.  Marcos  de).  —  Norte  de  Capellanas,  y  Guia  de  Militares. 
Obra  muy  útil  para  los  RR.  Padres  Capelanes  de  los  Regimientos,  Confessores, 
Sacerdotes,  e  para  todo  Militar,  y  demiis  Catholicos,  compuesta  por  el  Padre 
Fr.  Marcos  Salzedo,  Religioso  de  la  Sagrada  Orden  de  Predicadores,  Capellan 
mayor  en  d  Regimiento  de  Cavalleria  dr  Moura,  y  Serpa,  ofrecida  ai  muy 
alto.  a  'poderoso  sefíor  Ih  Juan  Y.  el  Magnânimo,  Nuestro  Senor,  Rey  de  Por- 


(203)  A  LllTERATURA  IlESPANHOLA   l.M   PORTUGAL  383 

tugal.  Lisboa  Occidental,  en  la  Palriarchal  Impression  de  la  Musica 
\I.DA  C.  \\\ll.  Con  todas  las  licmcias  nsccssarias. 

I  vul.  í.".  15  lis.  prel.  inii..  69!)  pag. 

Da  Cintura,  w-tv  que  o  auctor  era  Valenciano. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

Sanchez  (Francii  o        Franc.  Sumiu,  Brocensis,  in  Inclyla  Salmai 
Academia  Primarii  Rhetorices  &  Graxa  Língua'  Doctoris,  Minerva,  seu  d 
Língua;  latina  Commentarius,  cm  inserta  sttnt,  uncis  inclusa  qua:  addidil  Gasp. 
Scioppius,  et  subjectat  sins  paginis  Notai  Jac.  Perizonij.  Edilio  nova,  jussit  He 
gis  Fidelissimi  Josephi  I.  Vlyssipone  M.DCCLX. 

8.°,  In  fls.  prel.  iiin..  siri  pag.,  mais  32  pag.  com  De  partibus  orationis, 
afora  copioso  índice  inu. 

0  ante-rosto  é  uma  estampa,  sem  nome  de  gravador,  allusiva  á  obra. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Sanchez  (Thomé). —  a)  Compendivm  lotivs  traclalvs  desando  matrimonii 
Sacramenti,  H.  P.  Thomac  Sanches  i  Societatu  lesu.  Ab  Emanvele  Lavrenlio 
Soares  Vlissyponensi,  Praesbglero  The,ologo,  alphabelicé  breuiter  dispositum. 
(Estampinha  religiosa).  Wyssipone.  Ex  offkina  Gerardi  de  Vinea.  Anno  1021. 
Expensis  Melchieris  Pereira  Bibliophilae. 

1  vn!.  8.°,  249  fólios  numerados  pela  frente. 

h    idem,  idem,  1622  (mesmo  impressor). 
I  vol.  8.",  316  tis.  numeradas  pela  frente. 

Sandoval  (D.  Juan  Bautista  de).  Ensayos  poéticos.  Lisboa,  En  la  Im- 
prenla  Nacional,  18õõ. 

1  vol.  8."  grande,  106  pag.,  mais  '1  inu.  de  Índice. 
Pouco  valor  poético.  . 
Exemplar  de  Rodrigues. 

Sandoval  'Uniu  Fray  Prudencio  de).  Antigvedad  <i<  la  Civdad  y  Iglesia 
Calhedral  <l<  Toy,  y  <!<■  los  obispos  qve  se  saue  aya  aui<lo  en  ella.  Sacada  de 
los  concílios,  n  cartas  Reates,  y  otros  papeies,  por  Don  Fray  Prudencio  de 
Sandoual  su  Obispo,  coronista  de  su  Magestad.  (Gravurinha  de  Nossa  Se- 
nhora). Impresso  com  licenças  tia  S.  Inquisição  &  Ordinário.  Km  Braga. 
Em  casa  de  Fructuoso  Lourenço  de  Basto.  Anno  1610. 

I  vol.  i.",  íi  lis.  prel.  inu..  203  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

No  leilão  da  livraria  de  Innocencio  foi  vendido  um  exemplar  para  Ker- 
nando  Palbá  por  :30-j:>h  réis. 


384  A  LITTERATORA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (204) 

Santiago  (Fr.  Hernando  de).  Consideraciones  sobre  todos  los  Evangelios 
de  los  domingos,  y  fiestas  de  la  qvaresma.  Cõ  m  breue  Pafaphrasis  de  la 
letra  de  cada  mo  dellos.  Compuesto  por  el  /'.  M.  F.  Hernando  de  Sanctiago 
di  la  Orden  de  N.  Senora  de  la  Merced,  Redempcion  de  captiuos.  Dirigido 
a  Don  Pedro  Fernandez  de  Cardona,  Marques  de  Priego,  Sefíor  de  la  Cosa 
de  Aguilar.  En  Lisboa.  Impresso  con  licencia  de  la  Saneia  Inguisicion,  Por 
António  Aluarez.  Afio  de  MDXCVIIL  -No  fim:  Acabose  este  libro  de  impri- 
mir a  los  quinze   dias  de  Hebrero  de  Í598.  por  António  Aluarez  Impressor. 

Frontispício  a  preto  e  encarnado. 

'».",  3  íls.  [irei.  inn.,  416  numeradas  pela  frente. 

Licença  de  Fr.  Manuel  Coelho. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

N.°  1:116  do  Catalogo  Ferrão. 

Ribeiro  dos  Santos  falia  desta  obra,  sem  todavia  citar  o  anuo  (Manual 
de  Litteralura,  pag.  1 1 3  > . 

Santíssimo  Sacramento  (Fr.  Juan  dei).—  Viaje  g  peregrinacion  de  Ieru- 
salen,  que  hizo  cl  Hermano  Fr.  Juan  de  cl  Santíssimo  Sacramento,  Religioso  lego 
de  el  Orden  de  nuestro  Seráfico  Padre  San  Francisco,  y  hijo  de  la  Provinda 
de  San  Gabriel,  y  morador  que  fue  en  el  Colégio  Seminário  de  Arcos.  Dedicalo 
a  EIRey  D.  Juan  V  nuestro  Seiíor.  Lisboa.  En  la  Emprenta  de  Domingo  Gon- 
sales.  M.DCC.XLIV.  Con  las  licencias  necessárias. 

8.°,  38  pags.  prel.  inn.,  327  pags. 

Nas  preliminares:  Dedicatória  a  la  católica  mano  de  D.  Juan  V;  pro- 
logo; licenças  e  approvações  liespanholas  e  portugaezas;  Tabla.  Pelas  ulti- 
mas licenças  vê-se  que  a  edição  de  Lisboa  era  uma  reimpressão. 

O  auetor  assigna-se  Fr.  Juan  dei  Santíssimo  Sacramento  y  Robleda.  A 
sua  dedicatória  é  datada  da  corte  de  Lisboa,  Septiembre  de  1744. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

O  livro  é  adornado  com  uma  estampa  de  Nossa  Senhora,  gravura  de  Debrie. 

Sartolo  (P.  Bernardo). — El  Doctor  >;rimio  g  cenerable  P.  Francisco  Sua- 
rez  ile  la  Compartia  de  Jesus,  en  la  fiel  imagen  de  sus  heróicas  virtudes.  Edi 
ciõti  segunda.  Coimbra,  en  el  Real  Colégio  de  las  Artes.  1731. 

4.°,  <i-l  inn.,  503  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  das  Necessidades  ^-. 

Scarion  de  Pavia  iBartolome).—  Doctnna  militar.  En  la  qml  sé  trata 

de  los  principias  y  causas  porque  fue  bailada  en  el  mundo  la  Milícia,  y  como 
con  razõ  y  justa  causa  fue  hallada  de  los  hombres,  y  fue  aprobada  de  Dios. 


(205  .\  LirrniAii  u.\  hespanhou  iím  poh 

Y  despues  se  va  de  grado  en  grado  descurriendo  de  las  obligaciones  ij  advertên- 
cias, q  /uni  de  saber  y  tenei  forfi  s  tos  q  nguen  la  soldadesca,  començando  dei 
Capitan  general  hasta  el  menor  soldado  por  mui/  uisofío  que  sea.  !>■■  Barlo 
lom  Scarion  de  Pauia.  Gravurasita).  En  Lisboa.  Impresso  po)  Pedro  Cras 
beeck.  dei  Auclor. 

i :.  .'i  lis.  prel  iím..  109  numeradas  pela  frente,  afora  i  no  fim  de  Ta- 
bla  de  las  cosas  notables  e  Tabla  de  los  avtores. 

Nas  preliminares:  aprovações  e  licenças;  Alvará;  Dedicatória  do  anctor 
ao  conde  de  Portalegre,  datada  de  J.'i  de  junho  de  1598;  no  fim  d'ella, 
occupando  uma  pagina  inteira,  um  leão  coroado;  Soneto  do  auctor  ao  conde 
de  Portalegre;  Soneto  ao  auctor,  de  Alexandre  Massay. 

Eis  os  dois  sonetos : 

Al  conde  de  Portalegre 

Por  ei  valor  j  sciencia  alia  admirable 

Kn  Armas,  j  ;i  nte 

Affirman  de  Leuante  hasta  el  Pouienle 

Que  sois  Dou  tuan  de  Silua  tncõparable, 
No  foé  Pom| ii  hechos  ma-  loable 

M  de  gloria  cefiido  justamente. 

;  r  i  méis  i  "I-'  obediente, 

Si  «'I  coo  sangre  la  Mar  hizo  espantable, 
El  Occeano,  el  Aguila,  j  Lisbon 

Di  quanto  afçais  el  ínclito  estandarte 

Cada  vno  por  testigo  se  , 
V  eterno  quieren,  los  que  siruen  Marte 

Seguir  el  gran  Le le  la  corona, 

Por  aprendei  de  la  Milícia  ''I  arte. 

De  Alexandre  Massay  ai  avetor 

De  aquel  linage  claro  mas  que  el  dia, 

Di  .  qu  lia  n  elli  nte 

Nacistes  Scarion  resplandeciente 

Qual  rayo,  que  mas  claro  '■!  sol  embia. 
d  prudência,  esfuerço  j  gallardia 

i  isasti  -  escreuir  tan  altamente 

De  la  milícia  y  bellicosa  gente 

Lo  que  es  eterna  g\oria  <le  Pauia. 
Desla  doctrina  si  nus  bien  miramos, 

Jíuestros  ojos  p  iiores, 

Que  escrito  tienen  de  milícia  el  arte 
Diremos,  que  los  otros  fueron  ramos. 

'i  d  estos  fuistes  vos  el  fruto,  j 

Por  mas  grSdeza,  j  oombre  ai  fiero  Mait»- 


38(5  A   UTTl  l.AiriiA   BESPAN ,A   EM  PORTUGAL  (206) 


A  approvação  é  (Teste  theor: 

«Vi  este  liuro,  por  mandado  do  supremo  conselho  do  sancto  Officio, 
c  não  lia  nelle  cousa  contra  a  fé,  ou  bus  costumes.  Em  lf>  de  Fevereiro  de 
1598.  Fr.  António  Tarrique», 

0  auctor  era  italiano,  segundo  se  colhe  da  sua  dedicatória,  e  natural  de 
Pavia,  conforme  indica  o  seu  appellido  e  o  soneto  de  Massay.  Eis  um  periodo 
da  dedicatória: 

«No  haziendopor  agora  mencion  de  las  batallas  y  empresas  adonde  me 
he  hallado,  y  como  vine  de  Itália  a  ja  jornada  deste  Reyno  de  Portugal  con 
mucha  costa,  j  gasto  de  mi  haziêda,  j  seruido  en  el  por  Mar  y  Tierra,  por 
auenturero,  por  official,  y  con  veutaja  dei  Rey,  desde  el  principio  basta 
agora,  que  avn  siruoi . 

Scarion  veio  de  certo  a  Portugal  paia  combater  a  annunciada  invasão 
ingleza. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Sebastia  y  Vila  (D.  Pedro).— Documentos  passados  a  favor  de  l>.  Pedro 
Sebastia  y  Vila,  auctor  do  novo  systema  completo  de  calygraphia,  professor 
theorico-pratico  de  vários  còllegios  e  corpos  militares,  presidente  nato  de  diver- 
sas sociedades  calygraphicas  do  Porto,  Vianna  do  Castello,  Madrid,  Corunha. 
S.  Thiago,  Ferral,  Ponlevedra,  Orense,  Vigo,  Liigo,  Tuy,  etc,  etc,  por  indi- 
víduos de  differentes  classes  da  península;  aos  quaes  deu  instrucçm  calygra- 
phica  em  Hespanha  e  Portugal.  Porto,  Typographia  Commercial,  rua  de  Bel- 
lomonle,  n."  .57,  1851. 

8.°,  31  pags. 

Nas  costas  da  capa  vem  annunciada  em  3ia  edição  uma  Collecção  de 
leu  ih  ingleza,  em  21  lições. 

Este  opúsculo  não  vem  mencionado  em  Innocencio,  que  descreve  outras 
obras  tio  auctor,  posteriormente  impressas  em  Lisboa. 

Segóvia  y  Peralta  (D.  Gaspar  Ibanes). —  Dissertaciones  eclesiásticas  por 
el  honor  de  los  antiguos  tutelares  contra  las  ficciones  modernas.  Lisboa,  lmp. 
Silviana,  17 17. 

2  tomos  em  1  vol.  folio. 

N.°  593  do  Catalogo  Ferrão- 

Catalogo  Bertrand. 

Segura  (Francisco  dei. —  a)  Prímera  Parte  \  DelRoman-  \  cero  historiado, 
truta  di  los  hazanozos  ]  hechos  de  los  Chrislianissimos  He-  \  yes  de  Portugal.  ' 


207  A  L1TTERATURA   HESPANHOLA   EM  PORTUGAL  38/ 


Dirigido  ai  illvstrissimo  sefíor   Don   Migvel  de  Noroíta,  Mrritissimo  < 
binares,  dei   Cõsejo  de  s?<    Wajestad,   Comendador  de  Noyda  y  Barranco*. 
Compvesto  /"</•  el  alferez  Fruncisco  rf<   Segura,  criado  'Ir  su  Magestad,  Nalu 
rui  de  hl    ViUa  de  Atiença.  '   \no    Brasão  de  armas)  Í610.  j  En  Lisboa.  Im 
presso  con  licencia  de  In  S.  Inquisicion,  y  Prinilegio  real.     i'.n  la  imprenta  de 
Vicente  Almrez. 

1  vol.  8.°,  li  lis.  prel.  iiui.,  isj  numeradas  pela  frente. 

Nas  preliminares  comprehende-se :  licenças;  dedicatória  do  auctor  ao 
conde  de  Linhares,  datada  de  Lisboa  a  !>  de  novembro  de  1609;  i 
em  hespanhol  ao  ronde;  aos  leitores,  explicando  o  motivo  por  que  o  auctor 
compoz  a  obra;  carta  de  Gonçalo  Vaz  Coutinho;  3  sonetos  em  portuguez, 
riu  nome  de  auctor,  .1  Francisco  de  Segura ;  e  por  fim  unias  quadras  do 
auctor  ;to  seu  Romancero.  Por  baixo  da  ultima  pagina  preliminar,  duas  gra- 
ciosas gravurinhas,  representando  homens  de  anuas,  mu  a  pé,  outro  a 
cavallo. 

Nas  paginas  que  consagra  aos  leitores  explica  elle  os  motivos  por  que, 
sendo  estrangeiro,  trata  de  um  assumpto  nacional,  o  ser  filho  de  pães  lole 

d; s  e  ter  nascido  em  Atiença  não  o  impedira  de  escrever  o  que  sentiu  da 

invictissima  nação  pprtugueza.  Os  melhores  annos  da  sua  vida  passara-os 
em  Portugal;  desde  1»  treze  que  ficara  cm  Ponta  Delgada,  mu  seguida  á 
batalha  naval  cm  que  o  marquez  de  Santa  Cruz  vencera  Philippe  Strozzi. 
AH  recebera  muitos  benefícios,  principalmente  do  conde  de  ViUa  Franca  e  do 
esforçado  cavalleiro  Gonçalo  Vaz  Coutinho,  seus  generales  capilanes.  Além 
dVsias  circumstancias,  outra  occorria  e  era  ter  o  excellenle  poeta  lusitano 
Duarte  Nunes  {sic)*  escripto  cm  castelhano,  e  cm  maravilhoso  estylo,  um 
poema  heróico  cm  que  celebrou  a  restauração  de  Granada  pelos  reis  catholi- 
cos.  .ia  que  houvera  mu  portuguez  que  cantara  as  proezas  castelhanas,  era 
bem  que  um  castelhano  cantasse  os  feitos  heróicos  dos  porluguezes. 

\  carta  de  Gonçalo  Vaz  Coutinho  é  muito  importante,  sobretudo  pela 
maneira  como  ajuizava,  sob  pleno  domínio  philippino,  da  infeliz  campanha 
de  resistência  intentada  pelo  Prior  do  Crato.  Reproduzimol-a  aqui  como  um 
documento  histórico: 

«Gonçalo  Vaz  Coutinho  dei  Consejo  de  su  Magcstad  ai  Alferez  Frãcisco 
de  Segura  entretenido,  cerca  de  la  persona  dei  Virrey  de  Portugal,  en  res 
puesla  de  vna  carta  que  le  escreuio. 

«Nvnca  desejey  de  ser  Poeta  como  agora,  que  só  rum  o  ser,  &  iam  bom, 
como   a   matéria  requeria,  pudera  declarar  <>  gosto,  que  recebi  rum  estes 


1  Deve  ser  l»ii  n  i-   hi .- 


388  A  UTTERATUKA  HESPANHOLA  EN  hUiTUGAL  (208) 


Romances  de  V.  M.  porque  alem  do  estilo,  &  conceptos  tam  leuantadòs,  &  his- 
toria verdadeira  tam  poeticamente  cantada,  notey  ires  cousas,  que  delias 
resultam  a  Portugual  (sic),  que  sempre  lhe  desejey  com  lastima  particular  de 
nelle  faltarem.  A  primeira  as  cousas  de  nossos  Reys  antiguos  serem  notó- 
rias, &  diuulgadas  pello  mundo,  que  faltaua,  assi  pela  falta,  que  nellas  ouue 
de  Coronistas,  como  por  os  que  o  íorão,  averem  escripto  na  lingoa  materna, 
que  Iam  pouco  se  deixa  entender  das  estrangeyras,  &  a  outra  que  desejada 
aprendêramos  dos  Lacederaonios,  que  costumauão  escrever  em  metro  os  fey- 
tos  heroycos  dos  seus.  pêra  que  os  mocos  os  cantassem,  &  daqui  lhes 
nàcesse,  nam  só  fazeremse  práticos  nas  hystorias  de  sua  pátria,  que  imporia 
muyto  pêra  o  bom  gouerno,  senam  moueremse,  &  incitaremse  a  obras  simi- 
lhantes,  á  leuarem  este  desejo  desdas  ietas  rias  mãys,  &  crecerlhes  com  a 
idade,  4  pêra  isto  lie  marauilhoso,  &  fácil  o  estilo  dos  Romances.  A  terceyra, 
nam  quisera  dizer,  mas  v.  m.  como  amigo  velho  me  terá  segredo,  cõ  grande 
ânsia  desejaua  que  particularmente  os  Castelhanos  tiuessem  noticia  de  nos- 
sas cousas,  porque  os  antigos,  que  as  sabiam,  por  experiência,  d-  proua  são 
acabados,  os  modernos  (de  trinta  annos  pêra  ca)  sem  fundamento  algum, 
tomando  o  da  perda  dei  Rey  Dou  Sebastião  em  que  não  ouue  mais  erro,  que 
de  demasiado  amor,  &  obediência  a  nosso  Rey  i  se  se  pode  chamar  erro)  &  do 
recontro,  que  o  exercito  de  sua  Magestad  dei  Rey  Dom  Philippe,  que  está  em 
gloria,  teue  em  Alcântara  (que  sem  rezam  chamam  batalla,  &  conquista»  con- 
tra o  prior  Dom  António,  &  seus  apayxonados,  sem  forma  de  exercito,  &  com 
falta  de  tudo,  o  que  se  requeria  pêra  o  ser,  pois  lhe  faltaua  o  primeiro, 
&  principal,  que  era  gouerno,  &  inda  que  auia  algus  fidalgos  esforçados, 
&  soldados  valentes,  bem  sabemos  que  vai  pouco  o  esforço,  &  valentia  nos 
soldados,  quando  falta  o  gouerno,  &  pratica  no  geral,  por  onde  Pompeyo 
Magno  dizia  em  Lucano  Dux  sit  intiis  castris  sénior,  dum  milis  in  Mis;  E 
sobre  tudo  o  restante  do  Reyno  todo  da  parte  de  sua  Magestade,  á  a  do 
Prior,  gente  rizonha,  mal  armada,  d-  pior  disciplinada,  &  assi  pouco  obe- 
diente, e  em  fim  nam  tinha  mais  de  exercito,  que  ser  hum  corpo  de  gente, 
que  no  mais  era  um  puro  chãos,  d-  bastaua  pêra  o  ser,  quando  nam  ouuera 
outras  cousas  que  auia  auerse  publicado,  é  dado  liberdade  a  negros  captiuos, 
que  negra  ordem,  e  disciplina  auiam  estes  de  ler?  infamam  a  nação  Portu- 
guesa, e  fora  isto  (o  que  pior  he)  algus  escreuem,  e  notão  cousas,  que  pode- 
rão ser  bem  notadas,  se  guardaram  a  principal  parte  que  a  historia  requere, 
e  sem  a  qual,  nem  nome  merece  de  historia  os  escriptos  em  que  falta.  A 
tudo  isto  confio  V.  M.  acudirá,  leuando,  pois  começou,  ao  fim  esta  obra,  em 
que  mostrara  (como  se  e-spera  de  homem  tam  bem  nacido)  o  agradecimento, 
que  deue  a  amizade,  e  boa  correspondência,  que  em  sua  mocidade  achou 
nos   Portugueses   com  que  se  criou  nas  Ilhas,  e  a  todos  nos  obrigara  a  pro- 


(209)  a  [.irri-.lt.ui  i;\  RESPANBOLA  Eli  PORTUGAL  389 

curarm  >s  seu  aerecentamento,  «•  creo  também  obrigara  a  el  Rey  dosso  Senhor, 
como  iam  afeyçoado  a  Portugal,  fazerlhe  muyta  mercê,  e  darlbe  húa  praça 
mnj   honrada,  que  eu  com  minhas  tuna-  me  offereço  a  procurar,  tio 
nhor,  &  de  Santarém  25  de  Julho  1609.  Gonçalo  Vaz  Coutinho». 

Salva  diz  que  ha  umaterceira  edição,  de  Lisboa  161  i,  !2.°Cita-a  Duran. 
Na  Primavera  y  Flor  de  Romances,  de  Ária-  Perez,  ha  uma  2.*  parte  de 
Francisco  de  Segura.  Veja-se  Gallardo,  n.°  273. 

A  edição  de  1610,  Vicente  Uvarez,  foi  vendida  por  73  francos  ao  leilão 
Miro.  (Catalogo,  n.   246). 

\    Primavera  y  flor  de  los  mejores  muni  uns.  de  Árias  Perez  (Lisboa 

Matheus  Pinheiro,  1626  .  justamente  cora  a  Secunda  parte,  de  Segura  (Sara- 

1629)  foi  vendida  por  750  francos  no  leilão  Miro.   Catalogo,  n.°  259). 

\a  Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa  ha  um  pliego,  de  Segura,  Relacion 
<lfl  lastimoso  sucesso  que  nuestro  Seflor  fue  sentido  sucediesse  en  la  Islã  de  In 
'.  etc  São  três  romances. 
Barcelona,  Gabriel  Graello,  1614,  \:.  8  pags. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Obras  varias    secção  de 
historia),  II II  3,8. 

Este  pliego  é  desconhecido  dos  bibliophilos  hespanhoes.  Reproduzido  no 
[tchivo  dos  Açores.  Mencionado  na  Bibliotheca  Açoriana. 

Sentencias,  a)  Primera  paru  de  las  sentencias  \  que  hasta  /mestras 
tiempos,  para  le  buenos  costimbres,  estan  por  di  j  uersos  Auto- 

res escriptaSj  eneste  tratado  summariamente  referidas,  en  su  próprio  estilo. 
)  traduzi  '  das  enel  nuestro  :  comun.  Conueniente  licion,  a  toda  \  suerte  y 
estado  de  gentes.  W.D.LIIII.  No  fim:  Fue  impressa  la  presenti  obra,  en  la 
mini  noble  y  si?  |  pre  leal  ciudad  de  Lixbona,  en  casa  de  German  Galhardo 
Impressor  dei  Rey  nuestro  seflor.  |  [cabose  a  treze  dias  de  Nouiembri,  \  De  uni 
&  quintetos  y  cincuenta  y  yitatro. 

O  frontispício  está  n  uma  portada  similbante  á  da  I."  edição  dos  Lusía- 
das de  1572,  rum  d  pelicano  voltado  para  a  esquerda.  A  obra  é  antecedida 
de  um  prologo  ao  leitor  e  termina  por  uma  Respvesta  a  algvnas  objecciones, 
i/ir  sobre  el  presente  tratado  se  dizen,  o  pveden  dizir.  Occupa  7  pags.  É  inte- 
ressantíssima e,  se  não  levanta  o  veu  mysteriosd  que  cobre  o  auetor,  fornece 
todavia  pormenores  curiosíssimos,  i  ma  das  aceusações  >\uc  se  faria  ou  pode- 
ria fazer  ao  auetor  era  não  ser  competente:  V  algunos  ha  parecido,  que  el 
autor  no  deuiera  emprender  esta  oceupaciõ,  por  ser  differente  de  su  officio, 
j  profession,  diziêdo,  que  a  las  letras,  y  a  los  estudiosos  delias,  se  le  haze 


.*{!)()  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGÁÍ  (210) 

:■  i  ■  mia  irreuerõcia,  en  ser  tratadas  por  ingenios  menos  curiosos,  y  distrahi- 
dos  en  otros  exercícios  de]  mundo».  Não  se  comprèhende  bem  hoje  o  alcance 
d'esta  objecção,  mas  parece  deprehender-se  d'ella  que  o  auctor  não  era 
homem  de  gabinete,  mas  homem  de  acção,  talvez  militar— distrahido  en 
oiro  exercido  dei  mundo.  \  resposta  que  elle  dá  é  fácil  e  victoriosa:  a  maté- 
ria não  era  particular  de  ninguém,  mas  commum  a  todos. 

Outra  objecção  é  que  a  nina  não  devia  ser  escripta  em  linguagem  alheia, 
donde  conjecturamos,  cremos  que  com  todo  o  fundamento,  que  o  auctor  era 
portuguez.  Confronte  o  leitor  a  nossa  bypothese  com  o  seguinte  trecho:  «A 
otros  ha  parecido,  q  no  deuiera  esto  ser  en  ageno  lêguage,  mas  uel  suyo 
natural,  presumiêdo  q  enesto  se  hizo  menos  acatamiêto  ala  autoridad,  que  a 
la  pátria,  y  a  sus  costumhres  se  deue.  fionflesso  ser  esta  obligacion  muy 
grande.  \  que  el  autor  tuuiera  mucha  culpa,  si  enesto  no  tuuiera  mejor  fun- 
damento. Aceptose  este  lenguage,  no  por  mejor,  mas  por  mas  general,  ypor 
que  los  otros  son  particularmête  de  los  suyos,  y  este  quasi  es  tan  próprio  a 
los  agenos,  como  a  los  suyos.  ^^  esto  esta  claro,  porque  eneste  estylo,  en 
que  va,  lo  lenemos  nos,  y  ellos,  y  nel  nuestro,  lo  tuuieramos  solamente 
nosotros.  V  como  estas  dos  naciones  sean  en  verdad,  y  en  amor,  y  trata- 
niiento  tan  conformes,  es  justo  que  se  comuniquen  en  todo,  lo  que  virtuosa- 
mente pudieren».  . 

Se Innocencio tivesse  lido  este  trecho  estamos  persuadido  que  se  lhe  dis- 
siparia a  duvida  sobre  a  nacionalidade  do  auctor.  Respondendo  ainda  a  outra 
objecção,  o  auctor  promette  publicar  uma  segunda  parte,  mas  esta  promessa 
não  ha  indícios  de  ter  sido  cumprida. 

Gallardo  sustenta  a  principio  que  o  traductor  era  hespanhol,  divergindo 
de  Nicolau  António,  mas  acaba  por  admiltir  o  contrario. 

/;)  Primera  parte  de  las  sentencias  que  hasta  naestros  tiempos,  porá  edi- 
ficación  de  buenos  costumbres,  estan  por  diuersos  Autores  escritas,  neste  tratado 
summariamente  referidas,  en  su  próprio  estilo.  Y  traduzidas  ai  <l  nuestro 
comum.  Conueniente  licion  a  toda  suerle  y  estudo  dr  gentes.  MDL1HL-  No 
tini:  Fite  impresso  lo  presente  obro,  en  la  muy  noble  y  siempre  leal  ciudad  de 
Coimbra,  por  Joan  Aluarez  impressor  dei  Rey  nuestro  seTtor'.  Acabose  a  veinte 
dias  de  Marro.  De  mil  y  quinientos  y  cineuenta  y  cinco  unos. 

i.",  leltra  cursiva,  340  pags.  inclusas  as  preliminares  e  mais  I  II.  de 
Yerros,  no  verso  da  qual  a  subscripção  do  impressor.  Hespanhol  de  um  lado, 
latim  do  outro. 

Esta  ultima  edição  vem  descripta  por  Innocencio.  (Tomo  vn,  pags.  254). 
Ahi  nota  que  esta  portada  tem  a  singularidade  de  ser  similhante  a  que  appa- 
receu  nas  I.as  edições  dos  Lusíadas. 


A    l.ll  ILIIAIl  KA    lll>l'A\l|n|.A    I.M    PnKlTr.  A I. 


No  Catalogo  Ferrão  vem  descri pto  um  exemplar  da  edição  anterior. 

Não  se  vil»'  se  <>  auctor  da  "Ma  é  liespanhol  ou  portuguez. 

I  ih  exemplar  da  I.'  ediçi i  Catalogo  do  Rocha,  n."  840. 

\  imos  também  um  exemplar  da  edição  que  o  Salva  descreve  em  primeiro 
logar.  Pertence  ao  Bernardino  eslauceiro.  A  portada  é  ;i  mesma  do  I usino 
i:inistã,i. 

«Nombres  de  los  \vlores,  que  las  presentes  sentencias  cscriuen: 

Plutarcho,  rito  Livio,  Quintiliano,  Soneca,  Plinio  de  la  natural  historia, 
Plínio  el  moço,  Saluslio,  Quuinto  Curcio,  Valério  Máximo,  Lúcio  Floro,  Túlio, 
Aulo  Gelio  y  otros  diversos   Autores,  De  diuersos   Vutores  Griegos,  Suelo 

nio  Tranquilo,  Publio  Mimo,  Vergilio,  Ouidio,  lloratio,  .1 uai,  Planto,  De 

diversos  poetas,  otros,  De  ambos  derechos,  S.  Hieronymo,  S.  Cipriano, 
s.  Vlju-iíiim.  s.  Vmbrosio,  S.  Bernaldo,  s.  Cbrisostomo,  Plalon,  Vristote 
les,  Erasmo,  S.  Gregório 

Serpi  (Kr.  Dimas).  Tratado  contra  Lvthero  //  otros  hereges  segrn  el 
decreto  dei  S.  C.  Trident.  con  singular  dotrina  </*■  SN.  DD.  Griegos,  Latiu. 
a  Hebreos.  Con  setenta  consideraciones  sobre  las  leciones  ih'  Job.  Dirigido  ai 
illvstrissimo  don  Diego  te  Couarruuias  Vicicanciller  de  Aragon,  dei  Consejo 
dei  ftey  .V.  S.  y  Comendador  <!<■  Montesa.  Compveslo  /«>/■  Fray  Dimas  Serpi 
Calaritano  </<-  la  orden  </<•  S.  Francisco,  Obseruante,  /'.  de  la  Prouincia  rir 
Sardefia,  y  Commissario  \postolico.  Mima  de  nueuo  corregido  conforme  ai 
Catalogo  de  CastiUa.  (Estampinha:  Mater  dolorosa).  Con  todas  las  licencias 
ij  aprouaciones  necessárias.  Eu  Lisboa.  Por  António  Uuarez.  Afio  D;  17.  To- 
cado aa  Mesa  de  Palácio  em  300  reis  nu  papel. 

i.".  7  lis.  prel.  um..  266  lis. 

Tem  a  seguir,  com  fronlispicio  e  paginação  especial: 

Tratado  </<■  Consideraciones  espirilvales,  sobre  las  liciones  dei  Oficio  de 
Dif untos.  Recopilado  <le  los  qvc  los  Santos  y  grauissimos  Doctores  Iam  escrito 
sobn  Joh.  dou  singular  Docliina  para  Predicadores,  deuolos  y  curiosos.  tjim- 
puesto  ij  afiadido  por  el  mismo  Autor.  (Estampinha).  Con  todas  las  licencias 
necessárias.  En  Lisboa.  Por  António  Alvarez.  Mio  1617. 

100  fólios  afora  copioso  Index  innumerado. 

A  approvação,  de  ±\  de  junho  de  1614,  de  Erey  António  Saldanha,  diz 
que  este  livro  é  a  quarta  vez  que  se  imprime. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  \juda.  Pertenceu  a  António  Lourenço  Cami- 
nha. 

No  Catalogo  Miro  havia  um  exemplar  (n.°  60),  vendido  por  I!)  francos. 

salva  (vide  ti."  3:514)  descreve  varias  edições  hespanholas,  mas  desco- 
nheceu a  ile  Lisboa. 

IIist.  e  Meu.  da  Ai.au.  —  Tomo  xii,  r-Aim:  ii.—  N    :>  16 


'.V.)'2  A  UTTERATUBA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (212) 


Nas  preliminares  vêem  dois  sonetos  em  bespanbol  de  Fr.  Boaventura 
Machado. 

Silva  y  Figueroa(l).  Gracia  da).  ■  Hispanicae  Historiae  Breviarivm.  Avtore 
illvstrissimOj  (C  Generossissimo  D.  Don  (iraria  de  Silva,  cf-  Figueiróa  a  Phi- 
lippi  Hl  Hispaniarum  Monarchae  Cõsiliario,  eiusque  ad  Xaá  Abbas  Persarum 
Rege  Legato.  Nvnc  primvm  edil  Antonius  Furtado  da  Rocha.  Olysipone.  Cum 
facultate  Superiorum.  Apud  Emanuelem  a  Silva.— No  fim:  Goae  Orientalis 
Indiae  Melropoleos,  Nonis  funii  1615. —  No  folio  1.":  Jllr.sins.sinu  el  generosis- 
simi  li.  Don  Garciae  de  Silva  &  Figueróa  Ad  Mostrem  el  Genirosum  li.  Dom 
Vincentiutn  Noyuéram. 

i  vol.  10.",  00  pags.,  typo  itálico. 

D.  Gracia  da  Silva  y  Figueiróa  foi  embaixador  á  Pérsia.  Acerca  d'esta 
embaixada  ha  curiosos  documentos  no  tomo  m  dos  Documentos  remettidos  da 
Imlia  ou  Livro  das  Monções,  e  uma  lista  (pags.  119  e  seguintes)  do  rico  pre- 
sente que  elle  levou  ao  Xá. 

O  Hispanicae  Historiae  Breviarmn  escapou  ás  indagações  de  Mr.  Alfred 
Morei  Fatio  e  Graça  Barreto,  e  é  mais  um  testemunho  de  consideração  a 
accrescentar  áquelles  de  que  foi  alvo  D.  Vicente  Nogueira.  Veja-se  n'este 
catalogo  os  nomes  de  Figueróa  (Francisco  de)  e  Mendoça  (Diogo  dei. 

O  cavalheiro  de  Oliveira  linha,  entre  os  manuscriptos  da  sua  bibliotheca, 
o  seguinte: 

Comentários  de  D.  Garcia  da  Silva  de  la  Embaxada  que  da  parte  dei 
Hi\i/  de  Espana  Philipe  III  hizo  ai  Hey  de.  Pérsia,  1018,  folio. 

Vide  Mémoires  de  Portugal,  1."  vol.,  pag.  379. 

N"uina  collecção  de  Chronicas  publicadas  em  Madrid,  no  ultimo  quartel 
do  século  passado,  por  D.  Eugénio  Llaguno  Amirola  y  D.  Francisco  Cerda 
y  Bico,  impressor  António  de  Sanche,  vem  la  Vida  dei  grau  Tamerlan  sacada 
de  los  Comentários,  que  escrebió  Don  Garcia  de.  Silva  y  Figueróa.  <  Vide  Salva, 
Catalogo,  n.°  2:900). 

Na  Bibliotheca  do  conde-duque  de  Sanlúcar  existia  o  seguinte  manuseripto : 

Garcia  da  Silva  (D.). —  Sus  Comentários  sobre  su  Viaje  a  Pérsia,  y  lo 
que  le  sucedió.  Y  un  tomo  De  las  cosas  de  la  índia  y  sus  nacegaciones,  en 
folio  (Caj.  18,  núms.  12,  13). 

0  exemplar  do  Hispânia;  Historia1  Breviarivm,  acima  descripto,  existe 
na  secção  dos  reservados  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Encontramos  na 
mesma  Bibliotheca,  na  secção  de  historia,  outro  exemplar,  cujo  frontispício  é 
diflerente,  e  que  é  do  theor  seguinte : 

Hispanicae  Historiae  Breviarivm.  Ad  d listrem,  et  generosum  D.  Don  Vin- 
centium Noguerám  lt.  P.  p.  utriusque  Signaturae  Referendarium,   Sacrarum 


213  A   UTTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  393 

Wagestalum  Cacsareae  d  Catholicat  Consiliarium,  Leopoldt  iustriai  ArdQ 
Cubicidarium.  Avtore  illvstrissimo,  et  generosíssimo  D.  Dnn  Garcia  th 
li  Figueróa  Philippi  III  Hispaniarum  Monarchae  Consiliario,  eiusque  aW  Xaá 
Abbàs  Persarum  Hegi  Le/jalo,  /'.'/.  Bibliotheca  Nogverica  nunc primiim  edil  Anto 
ttius  Furtado  de  Rocha  presbyter,  eidem  l>.  I>>m  Vincentio  <<  sacris;  m  Collegiali 
S.  Petri  Ponta- Delgadensis  Ecclesia,  Philippi  fíegis  1111  nominalione  tlesignatus 
bvneficiarius.  Olysippone.  opnd  Emmanuelcm  n  Silva.  i<l'J8.  (Segue-sc  um  folio 
iiinumerado  de  approvações  e  licenças). 

A  approvação  da  Inquisição,  cm  latim,  é  assignada  por  Fr.  Thomaz  de 
S.  Domingos. 

Este  folio  Lambem  falta  no  primeiro  exemplar. 

Diiferem,  pois,  entre  si:  no  frontispício  (o  primeiro  dos  quaes  não  tem 
data)  e  nesta  folha  innumerada  de  licenças.  No  mais,  absolutamente  eguais. 

Conhecemos  a  seguinte  obra,  que  existe  mi  preciosa  livraria  'lo  nosso 
amigo  Ferreira  das  Neves: 

Vambassadedi  /'.  Garcias  de  Silva  Figoeroaen  Perse,  contenant  la  politi- 
qoe  </'  ce  grand  empire,  les  maurs  <ln  fíoy  Schach  Abbas,  &  vne  Helation  exacti 
de  tons  les  liem  de  Perst  •(  des  Indes,  <<u  cét  Ambassadeur  a  este  l' espace  de  hilil 
années  qu'il  y  a  demeuré.  Traduite  de  l'Espagnol  /»//  Monsieur  De  Wicqforl. 
(Estampa:  talvez  o  escudo  do  impressor).  .1  Paris,  Cliez  lean  De  Pvis,  rui!  S. 
íacques,  à  /</  Couronne  d'Or.  M.DC.LXVJ1.  Avec  privilege  dv  lt<>//. 

I  vol.,  i.\  l<i  pags.  prel:  iim.,  5060  afora  Table  generale  innumerada. 

No  Qnal  do  prologo  lia  o  seguinte;  período  elucidativo  para  a  historia  do 
livro: 

«Cette  Helation  na  pas  este  dressée  par  Figveroa,  mais  seulement  sur 
ses  memoires,  par  vn  de  ses  gens  qui  1'auoil  accompagné  dans  son  Ambas- 
sade;  lequel  peut-estre  ne  lu\  a  pas  donné  toute  la  perfection  que  son  Mais- 
tre  luy  eusl  píi  donner:  mais  les  defauts  en  onl  este  reparez  autanl  qu'ils  le 
pouuoienl  estre,  par  celuj  qui  a  pris  la  peine  de  la  traduire.  Vous  connoi- 
trez  assez  quand  ie  ne  vous  li'  dirois  pas,  que  c'esl  vne  personne  de  condi- 
tion  4  de  raie  mente,  qui  a  beaucoup  derudilion,  &  qui  scail  pailailcmeul 
les  plus  belles  langues  qui  ayent  cours  dans  la  Chrestienté.  On  peut  dire  que 
son  Estude,  .-es  Voyages  A  ses  Emplois  qui  onl  tousiours  este  for!  conside- 
rabies,  l'out  naturalisé  dans  tous  les  Pays  de  ia  Chrestienté;  il  parle  et  il 
ecfit  bien  en  François,  que  beaucoup  de  nos  ^utheurs  onl.  sujei  de  lui  por- 
ter  enuie.  Si  le  public  reçoil  son  trauail  auec  1'acceuil  qu'il  merite,  ie  croy 
qu'il  se  disposera  a  luy  en  donner  d'autres  plus  importans  dans  ces  sortes 
de  malieres,  &  mesme  dans  1'Histoire,  pour  laquelle  il  a  vn  talent  toul  parti- 
culier,  iV-  des  lumieres  qui  ne  sonl  pas  comnnines». 

Seria  esta  versão  feita  sobre  um  original  impresso  nu  manuscripto? 


394  A   I.ITTI.IIATI  HA  HESPANHOLA   EM   PORTUGAL  (214) 

Soarez  (Cypriano).-  Da  Companhia  de  Jesus.  Foi  dos  primeiros  mestres 
que  deram  principio  ás  classes  no  collegio  de  Santo  Anlam  de  Lisboa.  Ali 
regeu  uma  cadeira  de  rhetorica  e  deu  licções  de  grego.  Era  doutor  pela  uni- 
versidade de  Évora.  Ensinou  escriptura  divina  no  Collegio  de  Coimbra,  onde 
foi  principal.  D'ali  passou,  por  obediência,  para  o  Collegio  de  Alcaiá.  Era 
natural  de  Ocanha,  do  arcebispado  de  Toledo,  e  veio  ;i  fallecer  em  Placencia 
no  anno  de  1S93,  com  perto  de  80  annos.  Fr.  Baltbazar  Telles,  de  quem 
tomamos  estes  apontamentos,  nem  sempre  está  accordé  comsigo  próprio, 
pois  ora  o  dá  fallecido  em  Alcaiá,  ora  em  Placencia.  Leia-se  a  Chronica  da 
Companhia  de  Jesv,  tomo  n.  pags.  IS  e  592. 

Publicou: 

a)  De  Arte.  Rhetorica  Libri  três  ex  Arislotele,  Cicerone,  &  Quintiliano, 
prcecipue  deprompti,  Authore  Cypriano  Soarez  Sacerdote  Societalis  Jesv.  1M0110- 
gramma  da  Companhia).  Cum  facultate  inguisitoris  <&  ordinarij,  quam  seuuens 
pagina  indicai.  Conimbricae  Apud  Ioannem  Barrerium.  1562. 

8.°,  5  tis.  prel.,  116  tis.  numeradas  pela  frente. 

V)  Idem,  1575,  Coimbra,  por  João  de  Barreira. 

c)  Idem,  1583,  Coimbra,  por  António  de  Maris. 

d)  Idem,  1590,  Coimbra,  por  João  de  Barreira. 

Soarez  (Francisco). — a)  Jesuíta,  natural  de  Granada;  conhecido  pelo 
nome  de  Granatense.  Opus  virtule  et  statu  religiones. 

-2  V0l„  folio.  Coimbra,  Pedro  Craesbeeek,  1608,  100!». 
Vide  .Martins  de  Carvalho.  Apontamentos,  pag.  á!*iJ. 

In  Epitome  delucida,  brevis  et  resoluta  disputationum  Theologicarum,  ele., 
Ulyssipone,  Typis  Gerardi  ú  Vinea.  1626. 
i.°,  26  hln.,  419  pag. 
Exemplar  da  Bibliotbeca  da  Ajuda. 

Solanes  (Dotor  Francisco). —  Comedia  famosa  intitulada,  Duelos  de  amor 
ii  desden;  eu  papel,  cinta,  y  retrato.  lÂsboa,  por  António  Pedroso  (lalrão, 
1712. 

4.°,  36  pags. 

Exemplar  da  Bibliotbeca  da  Ajuda. 

Não  encontramos  o  nome  d'este  anclor  nas  bibliographlas  hespanholas. 


(215)  \  liiiiiímh;\  hespanhola  em  pob  ;!'.'.") 

Solis  y  Gante  D.  Joseph  de  . —  Fabulas  d»  Eco,  >/  Narciso,  la  primem, 
escrita  por  el  excellentissimo  seflor  duque  de  Monlellano,  la  segunda,  respon- 
dida pm  los  mismos  consonanles  por  el  conde  dt  Ericeira  D.  Francisco  Kavier 
de  Menezes.  Con  una  idéa  epitalamica  de  las  Reales  Vodas  de  los  Príncepes, 
celebradas  en  Caya  em  1729. 

Depois  das  licenças,  novo  frontispício: 

Fabula  de  Eco,  y  Narciso  escrita  por  el  seRor  D.  Joseph  de  Solis  >/  GanU  . 
marques  de  Caslel  Novo,  duque  de  Monlellano.  Sacola  a  luz  Don  Vicente  Ha 
caUar,  y  Sanna,  dei  lleyno  de  Cerdefía,  y  en  el  Cavailarizo  mayor  de  su 
Magestad,  y  de  su  Consejo,  y  Governador  de  Caller. 

Segue-se  o  prologo  de  D.  Vicente  e  logo  a  Fabula  era  M5  oitavas  nume- 
radas, occupando  até  pags.  39.  Vem  separada,  egualmente  com  frontispício 
próprio,  a  obra  de  I».  Francisco  Xavier  de  Menezes :  Narciso  de  Hipocrene, 
Ecco  d<  la  Fama,  etc.  Lisboa  Occidental.  En  la  Imprenta  Herreiriana. 
MDCCXXIX. 

I  vol.  l.°,  6  pag.  prel.  inn.,  s:>  pag. 

N. >  fina:  in;ii>  !»  pags.  inn.  com  o  catalogo  das  obras  do  Conde  da  Eri- 
ceira  I».  Francisco  Kavier  de  Menezes). 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Soria  (Fr.  Francisco  áe).—  Sermon  predicado  en  la  solemne  octava,  qve 
la  Cowjregacion  dei  Santo  Oficio  celebro  en  el  Real  Conumlo  <1e  S.  Domingo, 
n  los  desagrauios  ih'  Cliristo  ofendido  en  su  Imagen.  Por  el  V.  Fr.  Francisco 
de  Soria,  de  la  Orden  dei  gran  Patriarca  S.  Basílio  Calificador  <lrf  Santo 
Tribunal  '/<■  /"  Inquisicion.  Con  todas  los  licencias  necessárias.  En  Lisboa.  Eu 
la  Oficina  de  Domingos  Lopes  Rosa.  Afio  M.DC.XL.IV. 

'i.',  15  IK  nu radas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Soto  .1 1 1 ;i 1 1  de).  Compendio  de  la  Svma  ih'  Toledo.  1'or  cl  /'.  .1/.  F. 
.hum  ih'  Solo,  Predicador  mayor  dei  Colégio  Real  <h'  la  Orden  de  S.  Augustin 
ih'  Alai  la.  Diuidido  cm  ires  Libros,  y  dos  Tratados,  y  afiadido  cl  de  Online, 
II  mas  emendado  nesta  segunda  impression.  Dirigida  ai  D.  Afonso  Furtado  de 
Mêdoça  Dean  en  lu  inetropoli  d»  Lisboa,  ''.ou  las  licencias  necessárias.  Em  Lis- 
hou  por  Pedro  Crasbeeck.  1616.  Tassado  "...  em  papel.  I  costa  de  Sebastian 
Garcia  Librero. 

I   vol.   16.°,  '■'<  il>.  prel.  inn.,  -JN-"i  numeradas  pela  frente,  afora  Tabla. 

Soto    IV.  Lucas  de  .     Relacion  verdadera  de  gran  admiracion  y  espanto, 

//  ihi/na  ih-  ser  contada,  laqual  embió  el  Padre  fray  Lucas  de  Soto,  Religioso 


39C  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (216) 


Descalço  de  la  Orden  de  San  Francisco,  desde  la  ciudad  de  Manila  en  las  Fili- 
pinas, á  sit  Hermano  que  se  llama  Diego  Lopez  de  Solo,  mercailer  de  la  ciu- 
dad de  Lisboa,  dandole  menta  de  los  grandes  sucessos  y  prodígios,  y  desgraçais 
que  a  auido  en  la  villa  de  Fresno,  y  en  oiro  lugar  que  se  llama  Vai  hermoso, 
distantes  dos  léguas  de  la  ciudad  de  Manila  en  las  Filipinas,  y  porque  son  dignas 
de  ser  contadas,  escriuo  esta  Relacion,  que  sucedio  a  veynte  y  quatro  de  Mayo, 
de  1622,  ii  duro  hasta  á  três  de  Agosto  dei  mismo  ano,  cada  dia  su  prodígio. 
No  Sm:  Con  licencia,  Impressa  en  Lisboa  por  António  Alvarez,  ano  1623, 

Folio,  2  lis.  O  texto  é  subscripto  pelo  auetor:  Manila,  8  Agosto  \Cr>L2. 
Gallardo,  n."  3:967. 

Spiritu-Santo  (Cathalina  dei).—  Relacion  j  de  como  se  ha  \  fvndado  en 
Alcan-  :  tara  de  Portvgal  ivnto  a  \  Lisboa,  el  nau/  deuoto  Monasterio  de  N.  S. 
de  la  Quietado» ,  por  la  Catholica  Magestad  dei  Rey  N.  S.  D.  Philippe  II  de 
gloriosa  memoria  para  las  monjas  peregrinas  de  S.  Clara  de  la  primera  Regia, 
renidas  de  la  Prouincia  de  Alemania  Baxa,  despues  de  los  hereges  las  hauer 
perseguido,  y  desterrado  de  tierras  en  tierras  por  quatro  rezes.  —  Compvesta 
por  la  madre  sor  Cathalina  dei  Spiritu  Saneio  Monja  dei  mismo  Monasterio. — 
Dirigida  a  la  sereníssima  Infanta  Sor  Margarita  de  la  Cruz,  Monja  en  el  Mo- 
nasterio de  las  descalças  en  Madrid.  En  esta  historia  se  veran  muy  ilustres  mar- 
h/rins,  que  la  Seraphica  Orden  Franciscana  ha  padecido  con  strepitu  de  publica 
justicia.  En  Lisboa.  Por  Pedro  Craesbeeck  Impressor  dei  Rey.  Afio  1627. 

1  vol.  i.°,  7  fls.  piei.  inn.,  3-'i  numeradas  pela  frente. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

As  7  folhas  preliminares  comprehendem —  dedicatória  da  auetora  e  pro- 
logo de  Fray  Juan  de  las  Llagas.  É  n'este  prologo  que  se  encontra  o  seguinte 
trecho  que  elucida  a  naturalidade  da  auetora:  «La  Authora  que  esta  historia 
escrivio  es  la  Madre  Sor  Cathalina  dei  Spritu  S:into,  Ia  qual  siendo  monja 
professa  de  Santa  Clara  de  las  vrbanas  reformadas,  biufendo  en  el  Monasterio 
de  Hoochstrata,  ciudad  de  Brabaule,  íue  muy  perseguida  por  ser  hija  de  \n 
cauallero  Hespanol  11  amado  Don  Luis  Carrillo,  gouernador  de  aquel  Con- 
dado, etc.» 

É  obra  interessante  para  a  historia  das  luetas  religiosas  nos  Paizes  Bai- 
xos. Innocencio  descreve-a  como  anonyma,  prova  de  que  não  a  viu. 

Stafford  (Padre  Ignacio). — a)  Historia  de  la  celestial  vocacion  a  la  mis- 
sion  de  la  índia  dei  Padre  Marcelo  Francisco  Mastrili.  —  Lisboa,  1630. 
i.",  por  António  Alvarez,  4-136  pags. 

b)  Elementos  mathematicos  por  el  Padre  Ignacio  Stafford  de  la  Compaflia 


-1/  A   i.ll  II  li\H  HA    III  >l'AMIo|.\    im   PORTOOAI  ^!'.'7 


de  Jesus  a  la  Noblesa  Lusitana.  En  la  Real  Academia  Sfathemalica  dei  Collegio 
di  S.  Anton  de  la  Còmpafíia  de  Jesus  de  Lisboa.  En  Lisboa.  /•.'//  la  imprenta 
de  Mathias  Rodrigues.  Ano  de  16H4. 

i  semplar  de  Nepomuceno. 

Este  SlaiTord  cremos  ser  inglez,  ou  pelo  menos  de  origem  ingleza. 

Sumario  de  In  vida  </<7  primer  arçobispo  de  Granada,  dõ  frey  Hernãdo 
de  Talauera:  y  dt  s«  gliosa  muerle.  Dirigido  <il  Cardenal  tiro  sefior.  Visto  y 
examinado  por  el  sefior  inquisidor.  (Este  titulo  u'uma  portada  gravada).  —  No 
fim:  A  loor  y  honra  de  Dios  se  acabo  el  presenh  libro  de  la  ruía  dei  primem 
Arçobispo  de  Granada.  I  isto  y  examinado  por  el  muy  reuerêdo  sefior  licenciado 
Pedraluarez  de  Paredes  inquisidor  en  este  arçobispado.  Fue  impresso  en  Euora 
en  casa  de  Andres  de  Burgos  impssor  y  cauallero  de  In  casa  delCardinal  infante: 
n  u  dias  de  Otubre  de  M.D.lvij  aftos. 

s."  sem  numeração,  HM)  fólios  com  o  frontispício. 

Nu  I."  folio:  «Prologo  de  andres  de  Burgos  imprimidor  ;il  Cardinal  in- 
fante sn  sefior; 

«Tabla  de  vícios; 

«En  las  primeras  impressiones,  las  mas  delas  vezes  salen  algunos  vicios 
de  letras  de  mas  o  de  menos,  que  mudar)  la  inlencion  dei  auetor,  &  porensta 
yr  alguos  vicios  se  pone  aquj  esta  tabla  por  la  qual  se  entenderau  como  se 
deue  leer; 

«Carta  dei  andor  íj  recopilo  esta  obra  ai  muy  magnifico  sefior  el  sefior 
don  Luys'Obispo  de  Salamanca,  por  cuyo  mandado  fue  recopilada». 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Ha  também  um  exemplar  na  Bibliotheca  da  Vjuda. 

Gallardo  descreve  unia  edição,  de  letra  gothica,  sem  data.  (Vide  n.°  1:200). 

Sygeu  Toledano  (D.).— É  o  pae  da  celebre  Luisa  Sygéa.  Encontramos 
d  file  uma  caria,  em  latim,  datada  de  Lisboa  aos  í  idos  de  Fevereiro  de  MDLXij, 
dirigida  a  Miguel  Cabedo.  Vem  no  final  das  poesias  d' este  no  appenso  ao  tra- 
tado jurídico  de  seu  filho  Gonçalo  Mendes  de  Vasconcellos  e  Cabedo—  Diver- 
som/,  jvris  argvmentarum,  Coimbra.  Vntonio  de  Barreira,  1594.  A  sobredita 
epistola  é  epigraphada  da  seguinte  forma: 

D.  Sygeus  Toletamu  Wichaeli  Cabedio  Régio  senatori,  salutem. 

Sylvestre  (Gregório).— Apesar  de  nascido  em  Lisboa,  deve  ser  conside- 
rado bespanhol,  não  só  por  ser  filho  de  pães  hespanhoes,  mas  por  ter  vivido, 
desde  creança,  em  Hespanha,  onde  exerceu  a  sua  actividade  musical  e  por- 


398 


I.ITTKltATI  liA   III.SI'AMIO|.A    ).M    PORTI  GAL 


(218) 


tica.  Os  seus  versos,  todos  em  lingua  castelhana,  foram  publicados  posthu- 
uios,  sob  o  seguinte  titulo: 

Las  obras  dei  famoso  poeta  Gregório  Silvestre.  \  Recopiladas  y  corregi- 
das,  por  |  diligencia  de  sus  herederos:  I  y  de  Pedro  de  Cáceres,  \  y  Espinosa. 
Dirigidas  por  los  mismos  here  \  deros,  ai  III.'""  //  l{."  Sefwr.  j  Don  Jtian  Mêdez 
<1r  Saluatier  j  ra,  Arcobispp  de  Granada,  &c.  \  Con  licencia.  Impressas  em 
Lisboa,  por  Manuel  j  de  Lyra.  [no  W/2.  A  custa  de  Pedro  Flores  Librero. 
Ven    dêse  en  su  casa  ai  Pelorifto  vcllo. 

Informação  de  Fr.  Bertolameu  Ferreira.  Informação  e  censura  de  Pedro 
Laynez.  Diversas  poesias  laudatorias  ao  arcebispo  de  Granada.  Carla  ao  mesmo 
da  viuva  do  poeta,  Joana  de  Caçorla  y  Palencia.  Conta  que  as  poesias  de  seu 
marido  andavam  dispersas  e  adulteradas,  como  filhos  degenerados  que  per- 
deram cedo  o  carinho  e  bafejo  paterno.  Ella,  porem,  era  mãe  destes  órfãos  e 
não  os  queria  abandonados  e  por  isso  encarregou  do  colleccionamento  e  revisão 
a  Pedro  de  Cáceres  y  Espinosa,  não  só  grandemente  entendido  em  poesia, 
mas  também  o  maior  amigo  de  Silvestre,  e  por  isso  duas  vezes  competente. 

Segue  se  o  «Discvrso  breve  sobre  la  vida,  y  costumbres  de  Gregório  Syl- 
uestre,  necessário  para  entendimento  de  sus  obras  por  Pedro  de  Cáceres  y 
Espinosa».  Vae  de  folhas  8  a  19.  Na  folha  20  um  epitaphio  feito  pelo  mesmo 
biographo,  e  no  verso  desta  folha  um  soneto  de  Francisco  Caseales.  Na  fo- 
lha 1\  principiam  as  obras  do  poeta  divididas  em  í  livros. 

Um  vol.  em  Li. "  de  432  lis.  numeradas  pela  frente.  No  verso  da  ultima 
folha  a  subscripção  Con  Licencia.  En  Lisboa  por  Manuel  de  Lyra,  impres- 
sor de  Libros.  ãno  1592.  Segue-se  a  Tabla,  \t  pags.  innumeradas. 

Mais  de  um  exemplar  em  poder  de  Jeronymo  Ferreira  das  Neves. 

A  approvação  de  Fr.  Bartholomeu  Ferreira  é  do  theor  seguinte: 

«Por  mandado  de  sua  A.  vi  esle  liuro,  <&  assi  emendado  como  vay  não  leni 
cousa  contra  nossa  saneia  Fe,  nem  cousa  p  onde  se  não  deua  de  imprimir». 

A  licença,  assinada  por  António  de  Mendoça  e  Diogo  de  Sousa,  c  de  'i 
de  Abril  de  90. 

Barbosa  dá  João  Rodrigues,  pae  de  Gregório  Silvestre,  como  portuguez. 

Taulero  (Fray  Iuã).  —  a)  Iiistituciones,  o  dotrinas  dei  excelente  Theologo 
Fray  Iuã  Taulero.  Coimbra,  1551. 
1  vol. 
N.°  1:043  do  Catalogo  do  Casliço. 

b)  Institutiones  de  Taulero  (Exemplar  falto  de  frontispício,  mas  pelo  bo- 
cado que  resta  vè-se  que  foi  impresso)  em  Coimbra. 
I  vol.  8.°,  312  pag. 


(219)  A   L1TTKRATURA   HESPANHOI  \   EM   PORTUGAI  399 


e)  Tratados  <U  vida  spiriiual,  que  ensefian  corno  el  híibre  subira  tlrl  es- 
tado dei peccado  a  h  vttmbrr.  de  In  perfevlion.  Impressa  por  mandado,  *i  con 
approbacion  dei  muy  alto  ij  illustrissima  sefior  don  Emriqtte  Cardenal  de  lu 
santa  iylesia  Homana,  InfanU  rti  Portugal,  av.  En  Coymbra  MDI.I.  Com  jni- 
uilegio  Real. 

1  vol.  8.°,  -jos-jsii  pags.  \  pags.  208  acaba  «De  la  Vitoria  de  si  mesmo» 
e  começa  numeração  nova  com  o  «Espejo  dei  Uma». 

No  fim:  Ha:e  fin  el  presente  volumen,  en  que  se  conlienen  los  wys  tratados 
de  lu  vida  spiriiual.  Impresso  ri,  Coymbra.   WDLI. 

No  verso  do  frontispício  lê 

•Este  volumen  contiene  siete  tratados  de  vida  spiritual,  conuiene  saber. 

I.  de  la  conuersioo  dei  pecador,  i.  de  la  victoria  de  si  mes 3.  de  la  dis- 

crecion.  í.  dei  espejo  dei  alma.  d.  de  la  oracion.  c>.  de  cien  pregíitas  cõ  sus 
respuestas  cerca  de  la  oracion:  compuèstas  por  dõ  Seraphino  de  fermo  cano 
nigo  regalar,  en  légua  Italiana.  7.  Las  instituciones  de  perfeciõ  de  fraj  luã  de 
Taulero  de  la  orden  de  predicadores,  escritos  en  latin:  trasladados  en  légua 
espaúola,  j  impressos  por  mandado  3  con  approbacion  dei  mm  alto  príncipe 
j  illuslrissimo  sefior  dõ  Enrique  Cardenal  de  la  santa  iglesia  Romana  Infante 
!    Portugal,  Açu 

Scgue-se:  Prologo  dei  iuterprete  de  los  siguieulos  tratados  ai  loctor.  Faz 
grandes  elogios  ao  cardeal. 

K  interessante  o  seguinte  paragrapho: 

^  porque  el  pr icho  que  sus  autores  pretiídierõ  en  estas  obras  j  que 

sin  duda  podrã  hallar  los  que  con  humildad  3  altêcion  las  leyeren;  sea  comD 
a  los  fieles  ignorantes  de  lenguas  estranas,   trasladelas  en  lõguage  comíi 

dotes  \< ■> 

Vcêrca  de  João  Thaulero  vide  Innocencio,  tomo  11,  pags.  134,  artigo  De- 
votos Exercidos,  e  o  artigo  Fr.  Marcos  de  Lisboa. 

Té  y  Sagau  (Jayme  de  la;.— Jayme  de  la  Té  >  Sagau  não  é  um  des 
conhecido.  0  seu  nome  acha-se  registado  no  Diccionario  Bibliographicv  de 

lu ;encio  Francisco  da  Silva  (vol.  ih,  pag.  -J.'i(>   e  a  pag.  "Jr>s  do  vol.  11  do 

Diccionario  Biographico  de  Músicos  Portugueses,  o  primeiro,  em  resumido 
artigo,  menciona-o  apenas  como  typographo  ou  proprietário  da  Ofíicina  <\< 
Musica,  que  foi  uma  das  principaes  na  primeira  metade  do  século  kvih.  Jul- 
gava-o  de  procedência  estrangeira,  mas  ignorava  a  sua  nacionalidade,  assim 
como  quaesquer  outros  pormenores  biograpbiços,  afirmando  que  o  seu  nome 
apparecia  repetidas  vezes  nos  rostos  e  dedicatórias  de  diversas  obras  d'aquela 
época.  Cita,  além  d'isso,  o  juízo  pouco  favorável  que  a  seu  respeito  exa 
rou  Francisco  Xavier  de  Oliveira  110  tomo  11,  pag.  :>I7.  das  suas  Memorias: 


41)0  A  LITTBRATUKA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (220) 

«era  homem  de  génio,  e  patarata:  por  fora  cordas  de  viola,  por  dentro  pão 
bolorento». 

0  sr.  Ernesto  Vieira  apresenta-nos  la  Té  y  Sagau  como  compositor  de 
musica,  indicando-nos  alguns  volumes  de  Cantatas,  de  que  elle  próprio  escre- 
veu a  letra,  impressos  na  sua  officina. 

.Nus  podemos  ampliar  a  biographia  de  la  Té  y  Sagau,  cuja  variada  apti- 
dão arlista,  artífice  e  homem  de  letras— não  sabemos  se  corresponderia  a 
um  relevante  merecimento. 

Jayme  era  natural  de  Barcelona  e  viera  para  Lisboa  ahi  por  ITits  na 
companhia  do  padre  Cienfuegos,  sob  ruja  protecção  e  arrimo  vivera  durante 
7  annos.  Tendo-se  este  retirado  para  a  corte  de  Vienna,  ficou  la  Té  y  Sagau 
um  tanto  ao  desamparo  e  querendo  D.  João  V  favorecel-o,  lhe  concedeu  pri- 
vilegio em  12  de  outubro  de  I7l'i  para  que  ninguém,  além  delle,  por  espaço 
de  10  ânuos,  podesse  ter  outra  impressão  de  musica,  á  similhança  do  que  se 
praticava  em  Madrid  e  outras  capitães  da  Europa  (Vide  doe.  i). 

Além  deste  privilegio,  o  musico  barcelonez  recebeu  ainda  outras  provas 
de  estima  e  consideração  de  D.  João  V,  o  que  bem  mostra  a  influencia  que 
linha  na  corte,  graças  ao  valimento  que  lhe  concedera  a  esposa  d'aquelle  mo- 
narca, D.  Mariaiina  d  Áustria. 

Em  2í  de  maio  de  1 T 1  - >  recebeu  os  alvarás  para  ser  armado  cavallciro,  usar 
do  habito  de  ouro.  e  ser-lhe  lançado  este.  os  qúaes  estão  registados  no  liv.  20 
da  Ordem  de  Santiago  a  II.  110  v  e  seguintes.  A  carta  de  profissão  tem  a 
data  de  31  de  junho  de  1710  e  está  registada  no  mesmo  livro  a  II.  185.. 
Além  da  mercê  recebeu  um  padrão  de  12$000  réis  de  tença,  lambem  registada 
no  liv.  26,  a  fl.  76  v. 

La  Té  era  de  baixa  estirpe  e  por  conseguinte  pouco  faltou  para  que  dei- 
xasse de  lograr  o  habito  de  Santiago.  Sendo  necessário  proceder-se  ás  forma- 
lidades indispensáveis  para  receber  as  respectivas  insígnias,  pelas  provanças 
e  inquirições  que  se  effectuaram  em  Lisboa,  visto  a  difficuldade  de  se  rèali- 
sarem  na  Catalunha,  verilicou-se  que  elle  não  tinha  as  habilitações  suffiçien- 
tes,  isto  é,  os  documentos  próprios  a  comprovar  a  limpeza  de  sangue.  De 
nobreza  é  que  não  havia  nada  nos  seus  antepassados,  sendo  até  muito  pro- 
blemático que  os  seus  avós  fossem  christãos  velhos.  A  magnanimidade  real 
manleve-se,  porém,  superior  a  todos  os  escrúpulos,  comprazendo  galante- 
mente com  as  instancias  da  rainha.  Dessas  duvidas,  d'essas  perplexidades, 
d'esses  obstáculos,  exarados  nas  provanças  é  que  resulta  o  conhecimento  da 
arvore  genealógica  de  Sagau.  Seu  pae  e  avô  do  mesmo  nome,  e  sua  avó  L'r- 
suía  Peinado  eram  naturaes  do  condado  de  Ruselho,  principado  da  Catalunha, 
e  seu  avó  materno  Pedro  Pons  e  sua  avó  Magdalena  Arnês  e  sua  mãe  Madroná 
Pons  eram  naturaes  da  villa  de  Marturel,  bispado  de  Barcelona.  O  pae,  se- 


--I  A   l.ll  llltui  l;\   IIKSPANIIOLA  EM  1'OUTUfíAI  'i < >  1 


gundo  uma  testemunha,  era  musico  que  cantava  por  estipendio;  o  avô  pa 
terno  fora  dançador  e  a  mãe  lavadeira.  (Vide  doe.  li  . 

Na  Officina  de  Sagau  não  se  raziam  somente  impressões  de  musica,  mas 
também  se  publicavam  outros  livros,  alguns  dos  quaes  revestiam  um  caracter 
artístico,  verdadeiras  edições  de  luxo,  como  por  exemplo  as  I  Uimas  acções 
iln  Duque  D.  Nuno  Alvares  Pereira  de  Mello,  dadas  á  luz  em  17:5o  e  enrique- 
cidas de  numerosas  estampas. 

\  Jornada  que  o  seniior  António  de  Ubuquerqw  Coelho,  ...  fez  de  Gòa 
a  Macau,  impressa  n'esta  ultima  cidade,  foi  reeditada  em  Lisboa  em  1 7  :t^  por 
Jayme  de  la  Té,  na  sua  Officina  de  Musica.  O  impressor  offerece  ;i  edição  a 
D.  Jayme  de  Mello,  terceiro  Duque  de  Cadaval,  e  na  dedicatória,  assaz  ex 
tensa,  escripta  em  portuguez,  patenteia-lhe  o  seu  reconhecimento  por  haver 
mandado  estampar  na  sua  Officina,  em  edição  monumental,  as  1'ltimas  acções 
do  Duque  l>.  Nuno  Alvares  Pereira  de  Mello.  \lii  se  faz  uma  importante  refe- 
rencia a  M.  Guillard,  egualmenle  destro  no  pincel  >  no  buril.  É  unia  partícula 
ridade  curiosíssima  para  a  biographia  d'este  artista.  \  dedicatória  de  Sagau 
merece  ser  lida  e  confrontada  com  a  descripção  que  fez  Innocencio  da  Silva  da 
obra  atras  mencionada. 

Além  das  Cantatas  o  Sr.   Ernesto  Vieira  cita   a   composição  musical 

de  diversos  villancicos  nos  ai s  de  17-Jl  e  IT-j:;  e  um  Oratório  a  S.  Vi 

cenle. 

Este  ultimo  merece,  porém,  ser  mais  especificado,  pois  n'elle  se  revela 
ser  auetor  dos  versos  o  cónego  Julião  Maciel,  de  quem  não  faz  menção  Inno- 
cencio ila  Silva,  mas  que  vem  apontado  no  Catalogo  de  Domingos  Garcia  Pe- 
res. Eis  aqui  o  titulo,  segundo  o  exemplar  que  examinámos  na  Bibliotheca 
Nacional  de  Lisboa: 

Oratório  que  se  canto,  con  vários  instrumentos,  en  22  de  Enero:  Fiesta 
ilri  glorioso,  Invicto,  Mártir,  >'.  Vicente,  Palron  de  [mbas  Lisboas:  en  la  Me 
tropolitana  Cathedràl  de  Oriente.  Siendo  magordomos  los  seRores  arcediano  de 
Saníaren,  etc.  Compuso  los  metros  el  seftor  Canonigo  Julian  \íaci>l:  ij  In  mu- 
sica I).  Jayme  /Ir  La  Té  e  Sagau. 

Lisboa  Occidental.  En  la  Imprenta  de  Musica.  Ano  1719.  Con  las  licencias 
necessárias. 

8."  pequeno,  21  pags. 

Conhecemos  outra  nina.  em  que  Sagau  collaborou  com  o  seu  talento 
musical,  sendo  a  leira  de  outro  poeta. 

É  a  seguinte : 

La  comedia  El  poder  de  la  armonia,  fiesta  de  zarzvela,  que  a  los  felices 
aftos  dei  rey. .  .  </<>/'  Juan  V.  si-  represento  en  su  Real  Palácio  el  <lin  22  de 
Octubre  tl<'   1713.  De  Luis  Calisto  de   Vcosta  \  Faria.  Compuso  la  musica 


402  A  LITTERÁTURA   HESPANHOLA  EM   PORTUGAL  (222) 


don  Jayme  de  La  Té,  y  Sagau.  i  Vnnas  portuguezas).  Km  Lisboa,  Kn  la  lm 
prenta  Real  Deslandesiana.  MDCCXHI. 

'<.",  'd  pags. 

Bibliotheca  Nacional  do  Rio  de  Janeiro.  Coltecção  de  Uarbosa  Machado. 
Descripta  sol»  o  n.°  21!)  nos  Annaes  da  mesma  bibliolheca,  vol.  m,  pag.  164. 

La  Té  y  Sagau  deixou  um  filho  Jayme  Domingos  de  la  Té  y  Sagau,  que 
subscreve  a  dedicatória  da  edição  das  Décadas,  de  Diogo  do  Couto,  de  1 73<i 
iDecadas  IV.  V).  Diz  que  o  pae  deixou  a  impressão  adeantada— que  tivera 
esta  herança— e  a  mira  obriga-me  a  gloria  de  patrício. 

D'esle  trecho  se  pude  claramente  deduzir  que  Jayme  de  la  Té  y  Sagau 
era  fallecido  em  1736  e  que  seu  filho  Jayme  Domingos  nascera  em  Portugal, 
onde  provavelmente  seu  pae  se  matrimoniara. 

Explanámos  razoavelmente,  cremos,  a  biographia  de  Sagau,  o  que  não 
obsta  a  que  novos  dados,  sdggeridos  por  estes,  venham  intercalar  se  n"ella, 
esclareçendo-a  e  completando-a  quanto  possível. 

o  exame  minucioso  de  todos  os  livros  impressos  na  Typographia  da  Mn 
nca  e  de  outros  contemporâneos  fornecerá  sem  duvida  importantes  subsídios, 
Lanto  para  a  historia  da  fundação  e  desenvolvimento  d'aquella  O/ficina,  como 
para  a  historia  do  seu  fundador  e  do  movimento  artístico  e  industrial  da 
época,  sobretudo  nas  suas  relações  com  a  musica. 

Seguem-se  agora  os  documentos  comprovativos. 

Carta  de  privilegio  paia  a  impressão  de  musica: 

«D.  João  por  graça  de  Deos  Rey  de  Portugal,  etc.  Taco  saber  que  Jayme 
de  La  Té  y  Sagau  cavalleiro  da  ordem  de  Santiago  me  reprezentou  por  sua 
petição  que  havia  sete  annos  que  se  achava  nesta  corte  havendosse  mantido 
nella  com  o  arrimo  do  padre  Cienfuegos  o  qual  paçandosse  a  corte  de  Vienna 
Jicara  elle  supplicante  Com  tam  lemitadas  eonviniencias  que  não  hera  possí- 
vel manterse  com  aquela  decência  que  athe  aqui  se  manteve.  Pédindome  lhe 
fizesse  mercê  conceder  previlegio  para  poder  fazer  impremir  e  vender  niuziea 
como  se  fazia  na  corte  de  Madrid  e  em  todas  as  mais  partes  da  Europa  e  que 
ninguém  senão  elle  podese  ter  a  dita  impreção  e  visto  o  que  alegou:  Iley 
por  bem  concedei'  ao  supplicante  o  previlegio  de  que  las  menção  por  tempo 
de  des  annos  paia  que  durante  elles  nenhum  impresor  Livreiro  nem  outra 
qualquer  pessoa  possa  impremir  vender  nem  mandar  vir  de  fora  do  Reyno 
muzica  sem  licença  do  supplicante  subpena  de  perder  todos  os  volumes  que 
lhe  forem  achados  para  o  mesmo  supplicante  e  de  pagar  sincoenta  cruzados 
ametade  para  o  acuzador  e  a  outra  para  a  minha  Camará  Ueal  e  esta  provi- 
zão  se  cumprira  como  nella  se  conthem  de  que  pagou  de  novos  direitos  qui- 
nhentos e  quarenta  reis  que  se  carregarão  ao  thesoureiro  delles  a  f.  201-v 
do  L."  '■)."  de  sua  receita  e  se  registou  o  conhecimento  em  forma  no  L."  :>." 


(--3)  \  LITTERATURA  UESPANHOLA  EM  PORTUGAL  U)3 

'l"  registo  geral  :i  II.  I7.'i.  El-Rey  Nosso  Senhor  o  mandou  por  seu  especial 
mandado  pellos  dczembargadores  Vntonio  dos  Santos  de  Oliveira  c  Vnlnnio  de 
Beja  de  Noronha  auihos  do  seu  conselho  e  seus  Dezombargadores  do  Pacn 
Jnseph  da  M.iy.-i  e  Faria  a  fes  em  Lisboa  a  doze  de  outubro  de  mil  setecentos 
u  quinze.  Pagou  desta  duzentos  réis.  Manuel  de  Castro  Guimarães  .1  les  escrever. 
\iiiiinio  dos  Santos  de  Oliveira.  Vnloniu  de  Beja  de  Noronha.  Por  rezolução  de 
s.  Magestade  de  I  í  de  Setembro  de  I71íi  em  consulta  do  Uezembargn  do  Paço 
c  em  observância  da  Lei  de  i\  de  Julho  de  1713 — Josepli  Galvão  de  Lacerda 
Pagou  quinhentos  e  quarenta  réis.  Lisboa  :!l  de  Outubro  de  I7i:>  Dom  Mi 
guel  Maldonado      Consertado     Luis  Siqueira  de  Saa». 

lo  II.  .1  11 

Provanças  para  o  habito  de  Santiago: 

Senhor  Jayme  de  La  Té  j  Sagau  reprezenta  a  \.  Magestade  em  Ima 
su;i  petição  que  V.  Magestade  lhe  fez  mercê  do  habito  da  ordem  de  S.  Tiago 
pellos  respeitos  que  lhe  foram  presentes,  e  serviços  que  tem  feito  á  Raynha 
Nossa  Senhora  e  porque  he  natural  da  cidade  de  Barcelona,  e  sen  paj  e  \\<< 
do  mesmo  nome  e  sua  Vvó  I  rsula  Peinado  erão  naturais  do  Condado  de 
Ruselhó  Principado  de  Catalunha  e  seu  \\ô  materno  Pedro  Pons  e  sua  Wó 
Magdalena  Vrnés  e  sua  Mai  Madrona  Pons  erão  naturais  da  villa  de  Mar- 
turel  Bispado  de  Barcelona,  em  cujos  destrictos  sem  comunicação  com  este 
reino  não  lia  cavaleiro  de  algíía  das  ordens  a  quem  se  possam  cometer 
as  diligencias  e  provanças  da  limpeza  do  sangue  do  sup.tc  e  nesta  corte 
como  pátria  comua  ha  muitas  pessoas  naturais  daquelles  pai/es  que  possão 
depor  da  sua  nobreza  e  sangue  e  V.  Magestade  costuma  dispençar  em 
semelhantes  impedimentos  como  se  tem  practicado  com  pessoas  de  varias 
nações  e  o  sup.'1  não  desmerece  esta  graça.  P.  a  V.  M.il;.  '  lhe  faça 
mercê  dispençar  com  elle  para  que  nesta  corte  se  lhe  facão  as  suas  inqui- 
rições por  não  haver  naquelles  payzes  cavaleiro  a  quem  se  cometa  esta 
deligencia  F.  por  V.  Man.1,  mandar  que  a  dita  petição  se  veja  neste  Tribunal 
e  se  consulte  o  que  parecer  sem  embargo  das  ordens  em  contrario.  Pareci 
que  V.  Mag.dl  tara  mercê  ao  sup.,e  de  dispençar  com  elle  para  que  nesta  ci- 
dade se  lhe  façam  as  suas  diligencias,  visto  na  sua  Pátria  e  de  seus  pays  e 
Avós,  não  haver  cavaleiro  a  quem  se  cometão  e  V.  Mag.d6  ler  concedido  esta 
graça  a  outros  habilitandos.  Lisboa  li  de  Abril  de  1714.  Joam  Bibeiro  Fer- 
reira—D. Henrique  de  Noronha  Forão  votos  os  I».  I).  Dom  Francisco  de 
Souza  e  Domingos  de  Souza  s.  Tiago  Ferraz. 

«Como  parece     Lisboa  7  de  Maio  de  171 '1.-    Uma  rubrica». 

«Senhor  \  D.  Jayme  de  La  Té  j  Sagau  foi  V.  Mag.*1"  servido  fazer  mercê 
do  habito  da  ordem  de  S.  Tiago  e  paia  o  poder  receber  se  lhe  mandarão  fazer 


A  LITTERATURA  HESPANUOLA  KM  PORTUGAL  (224) 


as  provanças  de  sua  habilitação  das  quais  constou  que  em  sua  pessoa  concor- 
rem as  partes  pessoaes;  porém  que  seus  pays  e  Avós  não  tiverão  nobreza 
algua  por  serem  pessoas  de  segunda  condição  e  que  o  paj  era  muzico  que 
cantava  por  estipendio  dizendo  nua  testemunha  que  o  Avô  paterno  fora  Dan- 
çador  e  outra  que  se  dizia  fora  a  May  do  justificante  lavandeira;  e  porqne 
lãobem  não  ha  sulnVicnic  noticia  dos  Avós,  nem  se  açhão  legitimamente  pro- 
vadas suas  origens,  como  também  as  dos  Pays,  e  posto  não  haja  testemunha 
algua  que  deponha  de  defeito  de  sangue  do  justificante  antes  alguas  dizem 
que  tem  hum  Irmão  Clérigo,  como  porem  'pella  falta  de  prova  das  ditas  natu- 
ralidades e  da  que  tem  as  testemunhas  do  conhecimento;  e  sufficiente  noticia 
dos  quatro  Avós,  não  aílirmão  nem  podem  depor  que  elles  fossem  christãos 
velhos  c  limpos  de  sangue,  e  ;issim  tique  faltando  a  prova  pozitiva  da  limpeza 
do  justificante  que  se  devia  mostrar  na  forma  de  direito  e  DeDnitorios  das 
ordens  paia  se  poder  julgar  por  habel.  E  ordenando-se  ao  justificante  decla- 
rasse as  naturalidades  dos  ditos  seus  pays  e  Avós,  e  o  mais  que  tivesse  a 
esse  respeito  pedir  por  bua  petição  por  elle  assinada  se  lhe  sentenciassem 
as  suas  inquirições  no  Estado  em  que  se  achavão  se  julgou  pelos  referidos 
impedimentos  por  inhabil  para  entrar  na  ordem  do  que  se  dá  conta  a  V.  Mag.'1" 
como  governador  e  perpetuo  Administrador  delia  na  forma  que  o  dispõem  os 
Definilorios.  Lisboa  7  de  Fevereiro  de  I71S  —  João  de  Mesquita  e  Matos  — 
Dom  Francisco  de  Souza  —  Joam  Ribeiro  Ferreira. 

«Está  bem.  Lisboa  13  de.  Fevereiro  de  1715.  —  Uma  rubrica». 

«Senhor  —  Das  prouanças  que  se  mandarão  fazer  a  Dom  Jayme  de  La  Te 
y  Sagau  para  receber  o  habito  de  S.  Tiago  de  que  V.  Mag.?e  lhe  fes  mercê, 
constou  que  seus  pays  e  Avós  não  tiverão  nobreza  algua,  por  serem  pessoas 
de  segunda  condição  e  que  o  pay  hera  muzico  que  cantava  por  estipendio,  di- 
zendo bua  testemunha  que  o  Avô  paterno  fora  Dançador  e  outra  que  se  dizia 
1'ôra  a  May  do  justificante  Lavandeira;  e  por  não  haver  sufficiente  noticia  dos 
pays  e  Avós  e  tãòbem  se  não  acharem  legitimamente  provadas  suas  origens, 
posto  não  houvece  testemunha  algua  que  depuzece  de  defeito  de  sangue,  pella 
falta  de  prova  das  ditas  naturalidades  e  da  que  tem  as  testemunhas  do  conhe- 
cimento, e  sufficiente  noticia  dos  quatro  Avós,  não  affirmarem  nem  poderem 
depor  que  elles  fossem  christãos  velhos  e  limpos  de  sangue  e  assim  faltace  a 
prova  pozitiva  da  limpeza  do  justificante,  se  julgou  por  inhabil  para  entrar  na 
ordem  do  que  pella  consulta  induza  se  deu  conta  a  V.  Mag.de  a  que  foy  ser- 
vido mandar  responder  que  estava  bem. — Tendo  o  sup.'e  esta  noticia  recorreo 
a  V.  Mag.'1''  com  bua  petição  em  que  refere  que  V.  Mag.'le  foi  servido  honrallo 
com  o  dito  habito  de  Santiago  cujas  provanças  se  haviam  feito  nesta  côrtè 
como  pátria  comua  e  não  se  havendo  achado  bastantes  testemunhas  por  fazer 


(225)  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EU  PORTUGAL  105 

Ima  declaração  de  occupações  que  liverão  os  pays  e  Avo-  paternos  delle 
supp."  eslava  por  esta  causa  excluydo  de  pessuir  a  lionra  que  V.  Mag.  '  lhe 
havia  feito.  1'.  a  \ .  Magestade  seja  servido  dispençallo  nas  mechanicas  e 
impedimentos  que  por  parte  de  seus  pays  e  Wós  lhe  rezullarão  I.  por 
V.  Mag.'le  mandar  que  a  dita  petição  se  veja  neste  Tribunal  e  se  consulte  o 
que  parecer  sem  embargo  das  ordens  em  contrario  Sendo  tudo  visto  Pa 
receo  que  visto  V.  Mag.'le  haver  condecorado  o  habilitando  rum  a  mercê  do 
habito  a  contemplação  da  Raynha  Nossa  Senhora  e  a  mesma  Senhora  se  ser 
vir  de  interpor  para  rum  elle  na  prezente  suplica  a  sua  soberana  protecção 
como  se  fizera  prezente  neste  Tribuual  devia  V.  Mag.dl  haver  por  bem  dis 
pençallo  pois  o  respeito  de  hua  tal  intercessão  hera  justíssima  canza  para 
facilitar  hua  dispença  que  não  depende  mais  que  da  real  grandeza  deV.  Mag.de 
Lisboa  12  de  Abril  de  1715  João  da  Mesquita  e  Matos  Joam  Ribeiro  Fer- 
reira—Dom Francisco  de  Souza  Como  parece.  Lisboa  13  de  Março  de 
1715.  Uma  rubrica. — (Torre  do  Tombo,  Meza  da  Consciência  e  Ordem 
Maço  8,  m"  •'».  da  Urdi  m  dt   S.  Tiago). 

Tello  de  Leon  (Fr.  Francisco).  Discursos  de  la  nalividad  dei  f/loriosn 
san  Ivan  Baptista.  Predicados  en  nveslro  convento  de  la  Santíssima  Trinidad 
de  la  muy  Real  Ciudad  de  Lisboa.  Por  el  padre  maestro  fr.  Francisco  Tello  de 
Leon  Religioso  de  la  misma  Orden,  natural  de  la  Ciudad  de  Granada.  En  la 
fiesta  de  la  cofradia  de  S.  Juan  Baptista  en  su  mismo  dia,  en  estepresenle  afio. 
Dedicados  a  Don  Rodrigo  de  la  Camará,  Conde  de  Villa  Franca  de  luro,  Ca- 
pitan  y  Gouernador  General  de  la  Ma  de  S.  Miguel.  En  Lisboa  Com  lulas  lai 
licenças  necessárias.  En  la  Emprenta  de  Girardo  de  la  Vinea.  Afio  1628. 

4.°,  !.'i  I1-.  prel.,  75  pags. 

Nas  preliminares:  licenças,  dedicatória,  Genealogia  de  don  Rodrigo  de  la 
Gamara,  Conde  de  Villa  Franca  e  Genealogia  de  la  mvi  excellente  j  noblc 
senora  dotia  Maria  de  Faro. 

Exemplar  da  Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa. 

Teresa  de  Jesus  (Santa).-  a)  Tratado  \  qve  escrivio  la  madre  Teresa 
de  Jesvs.  .1  las  hermanas  Religiosas  de  la  orden  de  miestra  Seítora  dei  Cár- 
men dei  Miau-  steria  dei  Seia»-  sanei  Josepf.  (sic)  De  Anila  de  donde  ala 
sazon  era  \  Prima  y  fundadora. 

(  Fue  impressa  la  presente  obra,  |  enla  min/  noble  y  siempre  leal  ciudad 
ile  Euora,  en  casa  de  la  Viuda  Mu  \  ver  que  fue  de  \ndres  de  Bur-  gos,  que 
saneia  gloria  aya.     1583. 

No  verso  do  frontispício  estão  as  licenças,  a  saber: 

<^j  Vista  á  enformação  do  padre  Bertolameu  Ferreyra  podersea  imprimir, 


jdi;  a  UTTERaTURA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (226 J 


tiradas  as  clausulas  que  estão  riscadas,  &  antes  de  correr  tomara  a  cela  mesa 
hum  dos  liuros  impressos  cõ  isste  original,  pêra  se  cotejarê  lium  com  outro 
em  Lixboa  a  sele  de  Outubro  de  M.H.IAW  K  esta  licença  se  porá  do  prin- 
i  ipio  rio  liuro  <j  si'  imprimir. 

Paulo  Ifonso  Intonio  de  Mendoça». 

"■  Conforma  rum  o  original,  pode  correi  em  Lixhoa  a  oylo  de  Fciw- 
reyro  1583. 

Paulo  Mbnso.  António  de  Mendoça». 

Segue  n;i  pagina  seguinte  a  dedicatória  ou  saudação  do  arcebispo  de  Évora 
li.  Teodósio  ile  Bragança  ás  madres  dos  mosteiros  da  primeira  regra  de  Nossa 
Senhora  do  Carmo.  Parece  ter  sido  eile  o  editor  da  obra  pelo  seguinte  pe  riodo: 

«\  no  es  pequena  consolacion  ver  que  aun  despues  de  su  fallecimienlo 
su  espiritu  biue  enla  doctrina  deste  libro,  que  ella  con  el  sancto  zelo,  que 
lenia  de  aprouechar  a  sus  hijas,  ordeno  y  compuso  para  solas  ellas,  pidien- 
dome  encarecidamente  lo  mandasse  yo  imprimir  para  solo  este  effecto:  porque 
auiendo  algunos  traslados  de  mano,  haliaronse  muchas  rosas  trocadas,  de  como 
ella  las  auia  escrito,  lo  qual  se  remediaria  con  la  impression». 

0  Tratado  é  o  Camifio  de  perfecion. 

1  vol.  8.°,  II  lis.  piei.  inn.,  143  lis.  numeradas  pela  frente.  A  1.-'  linha 
do  titulo  dos  capítulos  é  em  gothieo.  Este  exemplar  pertence  a  Jeronymo  Fer- 
reira das  Neves,  que  o  arrematou  na  livraria  Pombal  <n.°  2:152).  No  mesmo 
volume  acha-se  encadernada  uma  obra.  sem  designação  de  Jogar  nem  de  im- 
pressor, mas  reconhece-se  que  é  do  mesmo  antecedente,  lntitula-se: 

b)  La  Vida  y  \  milagros  de  el  glorioso  padre  \  san  Alberto,  de  la  sagrada 
religion,  de  mestra  se      nora  dei  carmen.  \   Va  esta  obra  dirigida  a  la  muy 
religiosa  se  j  fiora  madre  nueslra  Teresa  de  .lesas:  fan-  J  dadora  de  las  descal- 
ças Carmelitas:     A  em/a  instancia  se  escribe:  ij  se    pune  muchas  cosas  ftw  |  ra 
dela  historia  |  pa  mas  glo  |  ria  de  es  |  te  glo  \  rioso  |  sancto.  \  Afio  de  lõ82* 

I  vol.  8.",  de  ii  fólios  numerados  pela  frente. 

Na  Helaçam  Srmmaria  da  vida  do  illvstrissimo  el  reverendíssimo  Senhor 
Dom  Theotonio  de.  Bragãça,  quarto  Arcebispo  de  Euora.  lê-se  a  seguinte  pas- 
sagem: 

«Não  teue  amisade  com  nenhua  Freira  em  particular:  assi  súbdita,  como 
qualquer  outra:  Só  estando  em  Salamanca,  comunicou,  &  tratou  com  muita 
familiaridade  a  Madre  Saneia  Tareza  de  lesvs,  fundadora  dos  Carmelitas  des- 
calços, pellas  grandes  partes  que  nesta  Sancta  Madre  conheceo:  assi  de  Sancti- 
dade,  como  de  prudência,  que  ella  tinha:  Elle  foy  o  primeiro,  que  lhe  mandou 
imprimir  o  seu  Liuro,  que  [ella  compôs,  chamado  caminho  de  perfeição». 
iFolio  i5). 


(227)  A  UTTERATURA  HESPANHOLÀ  I.M  PORTUGAL  407 


A  Relaçam  é  de  Nicolau  Vgostinho  e  foi  impressa  em  Évora,  anuo  de 
liili.  por  Francisco  Simões,  impressor  e  livreiro  da  l  diversidade. 

c)  Los  libros  de  La  \fadre  Santa  Theresa  de  Jesvs,  Fundadora  de  la 
reformacioh  de  los  Descalços,  y  Descalças  de  Nuestra  Sefíora  dei  Cármen. 
D  mirro  corregidos  con  stt  original,  y  afíadido  Tablas  muy  copiosas  en  esta 
vitima  impression.  Ao  Illustr.  &  Reitercnd.  Sefíòr  D.  Afonso  Furtado  de  Men- 
donça Arcebispo  de  Lisboa,  Gouernador  de  Portugal  &c.  (Gravura  repre- 
sentando Santa  Theresa,  escrevendo  um  livro  e  recebendo  a  inspiração  do 
Espirito  Santo).— Por  baixo:  Com  Licença.  Em  Lisboa.  Por  António  Aluar ez. 
Afio  1628. 

1  vol.  i.°,  II  lis.  prel.,  560  pags.  a  2  col.,  mais  20  Qs.  innumeradas  de 
Tabla  de  las  cosas  nolables. 
Este  volume  contem: 

La  vida  de  la  Sancta,  escrita  por  ella  misma; 
Comino  de  perfecion; 
Castillo  interior,  o  las  moradas. 
N."  3:6  1:2  do  Catalogo  do  Marquez  de  Caslello  Melhor. 

d)  Ims  obras  de  la  S.  Madre  Teresa  de  Jesvs  fvndadora  de  la  reformácion 
ilr  las  Descalças,  y  Descalços  de  N.  Sefíora  dei  Cármen.  Primera  Tly  III  Parte. 
St;  vida.  Comino  de  Perfeccion,  y  Munida*,  Fundaciones,  Cõceptos  y  todas  sus 
obras.  En  Lisboa.  Cõ  licencia.  Por  Ant.  M:  (António  Alvarez)  Tmp.  Del  Rey 
N.  S.  1654.  (Este  titulo  acha-se  ao  centro  d'uma  portada  gravada  —  gravura 
pouco  primorosa  —  por  baixo  da  imagem  da  Santa,  sentada  n'uma  cadeira, 
escrevendo.  Aos  lados,  a  oliveira  e  a  palmeira  com  dísticos  enrolados  nos 
troncos,  tendo  as  raizes  nas  armas  carmelitas). 

Em  -2  vol.,  tendo  o  2.°  a  mesma  portada  que  o  I."  Este  com  17  lis. 
prel.  inn.,  642  pags.,  mais  19  lis.  inn.  de  Tabla  de  las  cosas  notables.  O  2.° 
'.i  lis.  prel.  inn.,  TOS  pags.,  mais  III  lis.  inn.  Tabla. 

Pelas  licenças  vê-se  que  esta  edição  é  uma  reprodução  da  de  Anvers,  de 
1646,  cm  :í  volumes. 

Exemplam  d  Coelho. 

Thalesio  i  Pedro).  -Foi  professor  na  Universidade.  Compoz  uma  Arte  de 
Cantocham  em  portuguez,  de  que  mnocencio  aponta  duas  edições. 

No  Registo  de  Consultas  da  Mesa  da  Consciência  logo  ao  principio  do 
anuo  de  1616  a  16 17  encontra-se  curiosa  informação  a  respeito  de  Thalesio. 
Vide  Ernesto  Vieira,  Diccionario  biographico  de  músicos  Portugueses. 

Hist.  e  Mem.  da  Acad.— Tomo  mi   parte  ii. —  N."  .">  17 


408  A  LITTERATURA  IIESPANHOLA  EM  PORTUGAL 

Timoneda  (Juan  de).— a)  Aliuio  <l<-  ca  \  minantes,  Cõpuesto  por  |  Juã  de 
Timoneda.  \  E  nesta  vitima  impssion  |  vã  quitados  muchos  cue  \  los  desones- 
tos: ij  afia  |  didos  oiros  muy  \  graciosos.  Impresso  em  Euora  en  \  casa  de  Andres 
de     Burgos  |  1575. 

Veja-se  o  fac-simile  do  frontispício  em  Innocencio,  Diccionario,  vol.  x, 
pag.  142. 

b)  El  Vatrafíuelo.  Lisboa,  1580.    Suprimida  la  patraãa  8.a>. 

Sem  mais  indicação  em  Barrera,  pags.  395. 

Tode  (Fr.  Jacopone  de).  —  Cantos  j  morales,  |  spirilrales,  y  \  contemplati- 
vos. |  Compuestos  por  el  Beato  F.  Iacopone  j  de  Tode,  Fraijle  menor.  \  Tradvzidos 
nueva-  |  mente  de  vulgar  Italiano  em  Hespafíol.  |  Damos  en  ires  Classes  por 
mas  prouecho  de  su  lecion.  |  Que  es  de  admirables  effectos  en  lis  almas.  |  Cm 
Incutiu  dei  Ordinário,  y  dei  Sancto  Offlcio  |  En  Lisboa.  \  En  casa  de  Francisco 
Corrêa,  |  Impressor  do  Sereniss.  |  Cardenal  ///".  |  M.D.LXXVI.  |  Esta  lassado  a 
60  marauedis  en  Papel. 

1  vol  8.°,  li  fis.  prel.  inn.,  224  fls.  numeradas  pela  frente. 

No  reverso  do  frontispício  a  divisão  da  obra  em  três  classes. 

Nas  folhas  preliminares:  Approbaçam  do  Sancto  officio. 

É  do  lheor  seguinte: 

«Vy  por  mandado  da  sancta  &  geral  inquisiçam  hum  liuro  cujo  titulo  he: 
Cantos  morales,  spirituales,  y  contemplatiuos  &c.  Os  quaes  foram  compostos 
polo  Beato  F.  Jacopone,  em  rylhma  &  medida  Italiana.  E  agora  trasladados  de 
nouo  em  lingua  Castelhana. 

«Os  quaes  sam  de  muita  edificaçam  &  doclrina,  &  nam  tem  cousa  contra 
nossa  sagrada  religiam  &  bõs  custumes,  &  me  parece  que  tiraram  delle  muito 
fructo  os  lectores  deuolos,  á-  se  diuertirã  as  pessoas  de  outros  versos  profa- 
nos á-  amor  mundano,  vendo  aqui  tantos  affectos-á  effectos  de  diuino  amor. 
Polaqual  razam  sinto  serem  dignos  de  se  imprimirem,  juntamente  com  hfia 
carta  que  vay  no  começo,  &  nua  anotaçam  sobre  a  obra  do  Padre  F.  Marcos 
ministro  prouincial  da  prouincia  de  sancto  António.  Em  fe  do  qual  assiney 
aqui  oje  11  d'Agosto  de  1575. 

F.  Bartholomeu  Ferreyra». 

Alvará  de  13  de  março  de  1576  para  que  Belchior  Maciel  possa  imprimir 
ou  mandar  imprimir  o  livro  composto  pelo  beato  frei  Jacopone  da  dita  ordem, 
que  hum  religioso  delia  tradazio  de  italliano  em  lingoagem  castelhana. 

Deslandes  publicou  este  Alvará  nos  seus  Documentos  para  a  historia 
da  typographia  portugueza,  mas  com  a  data  de  14  de  março  conforme  achou 
nos  registos  da  Chancellaria  de  D.  Sebastião.  É  curioso  que  o  Alvará  diga 
que  os  Cânticos  foram  traduzidos  por  um  religioso  franciscano,  quando  na 


(229  ,\  UTTERATDRA  HESPANHOLA  EM  POB  Í09 


advertência  do  Interprete  ao  Ledo)  se  affirnia  cousa  maito  differente,  como 
adeante  se  verá. 

Aunolaçam  de  F.  Marcos  em  a  obra  seguinte  do  li.  F.  lacopone.  F.  Me- 
nor. 

Esla  Annotaçam  é  quasi  a  mesma  cousa  que  se  lé  no  Prologo  sobre  a 
doutrina  do  bea  irtugueza,  que  fr.  Mar- 

cos inserira  no  Bnal  da  Parte  segunda  Jus  chronicas  dos  l<Yad  s  Menores. 

Principia  o  Prologo: 

«Tanto  poder  tê  o  de]  rauado  juizo  iS  opinião  das  cousas,  que  por  boas 
A-  proueitosas  que  sejam,  as  Imas  as  pode  fazer  ter  por  mas  A- danosas,  como 
libem  as  mas  pode  fazer  ter  em  cota  de  loas  a-  proueitosas». 

Comrrii  da  Annotaçam: 

«Tem  tanto  poder  o  errado  juizo  A-  opiniam  das  cousas,  que  por  boas  A 
proueitosas  que  sejam,  as  faz  ter  por  mas  a-  danosas;  como  lambem  as  mas 
faz  ler  por  boas». 

«Ao  mvyto  R.  l\  Luys  Gonçaluez  da  Camará,  da  Companhia  de  Jesus, 
Confessor  A  Mestre  dei  Rey  nosso  senhor,  Frey  Marcos  d,'  Lisboa  frade  me- 
nor deseja  a  saúde  eterna. 

«Bem  lembrará  a  v.  K.  q  ê  Roma  me  deu  os  cantos  italianos  do  bêauêtu- 
radO  f.  lacopone  frade  menor  peia  q  cõ  elles  me  eõsolasse  A-  estoirasse  na 
peregrinara  q  entã  fazia  por  cansa  da  historia  da  nossa  ordê.  E  verdadeira- 
mente eu  recebi  delles  os  effectos  q  me  V.  li.  prometeo.  E  vi  com  quanta 
razam  os  padres  de  sua  santa  companhia  se  seruem  &  aproueitam  de  sua 
familiar  lição.  Amua  os  tomo  a  V.  II.  em  romance  traduzidos  poi  pessoa  de 
saber  e  peito  christão,  peraque  V.  R.  os  laca  imprimir  A-  se  possam  commu- 
nicar  a  muitas  almas  deuotas,  A-  façam  nellas  mouimentos  a-  effectos  do  desprezo 
do  mundo  a  do  amor  de  Deos,  a  que  tam  marauilhosamente  moue  esta  fer- 
uente  liçam.  E  lambem  porq  os  nobres  e  curiosos  tenham  hum  limo  que  com 
saauidade  os  aparte  dos  enganos  do  mundo,  A-  os  faça  conhecer  A  sentir  a 
verdade  A  effectos  do  diuino  amor,  pêra  que  somos  criados.  E  sem  duuida 
quem  com  atençam  christam  ler  estes  cãtos  lã  deuotos  &  aferuorados  em  Deos, 
nam  estranhará  as  pessoas  religiosas  os  lermos  A  nos  aproueitarmos  delles,  & 
os  communicarmos  assi  em  uma  e  verso  como  foram  compostos  por  seu  con- 
templatiuo  A  feruente  author,  por  o  muilo  frúilo  spiritual  q  álles  se  tira. 
E  puuesse  á  nosso  Senor,  que  a  lioam  destes  cãtos  tam  deuotos,  moraes  a  con- 
templatiuos,  tizes.se  conhecer  aos  discretos  A  curiosos  mundanos,  quam  baixos 
vijs,  A  mortaes  sã  seus  amores,  em  q  vãinrie  occupã  seus  ingenhos  cõ  elegã- 

tes  Rimas,  A  lhas  fizesse  lançar  das  mãos  que  não  seria  este  pequeno  ganho 

de  tempo,  A  de  sanctos  pensamentos  A  desejos.  V.  li.  a  que  nosso  Senhor  pos 
nesse  lugar  de  lata  authoridade  os  pode  incitar  a  isso  mais  que  lodos,  como 


410  A  UTTERATCRA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (530) 

sêpre  trabalhou  fazer.  O  mesmo  senhor  por  sua  bõdade  infinita  de  a  V.  R.  os 
prémios  da  elema  gloria. 

«O  Interprete.  Ao  Lector, 

«A  primeira  pessoa.  Lector  amigo,  que  me  mostrou  as  obras  do  Beato 
Jacopone  que  sam  em  i'ma  Italiana,  foyo  padre  frey  Marcos  de  Lixboa  Minis- 
tro da  prouincia  de  Saneio  António  de  Portugal.  Que  com  o  mesmo  spiritu  & 
diligencia,  rum  que  pos  em  ordem  &  copillou  as  chronicas  do  glorioso  padre 
sam  Francisco,  o  que  tem  acabado  cõ  muyto  louuor  de  Deos,  &  de  sua  reli- 
giam,  com  esse  mesmo  desejo  me  rogou  as  quizesse  traduzir  em  hespanhol. 
I.n  as  comecey  a  ler,  A-  posto  que  a  grandeza  da  matéria,  &  alteza  dos  con- 
ceptos  me  espantou  &  me  fez  recear  cargo  tam  desigoal  a  meus  hombros, 
todauia  tem  tanta  força  comigo  ver  o  feruor  A-  suauidade  com  que  aquelle 
arrebatado  Spirito  traia  seus  amores  com  nosso  Senhor,  A  o  artificio  A  inuen- 
çam  com  que  moue  os  aífeclos  como  poeta  ingeniosissimo  que  era,  que  sem 
cuidar  que  nisso  fazia  mais  que  passar  algus  pedaços  do  dia,  comecey  a  tra- 
duzir alguns  cantos  que  pêra  isso  escolhy;  mas  estes  acabados  em  qualquer 
outro  com  que  me  encontrara,  achaua  tanta  riqueza  de  conceptos  A-  tantas 
cousas  bastantes  a  mouer  d-  inflammar  qualquer  spirito  por  muy  frio  A  descaido 
que  cstiuesse:  que  me  pareceo  bua  muyto  grande  culpa,  nam  se  comunicar 
aos  que  carecem  do  Italiano  hum  Iam  grande  thesouro.  E  por  isso  da  minha 
parte  nam  quis  cair  nella,  &  como  pude  os  acabei  de  traduzir  todos.  A  mayor 
difGculdade  que  aquy  tine,  foi  na  variedade  das  lingoas,  A-  na  escuridade  dos 
vocábulos,  com  que  este  seruo  de  Deos  nos  quis  communicar  estes  segredos 
seus,  A  do  amor  diuino.  Porque  tam  desejoso  foy  em  todas  as  suas  cousas 
mostrar  bQ  grande  desprezo  A-  auorrecimento  de  sy.  que  nam  somente  na  vida 
o  vsou  estranho  A  quiçá  nunca  visto,  mas  inda  pêra  a  scriptura  buscou  as  ' 
mais  grosseiras  lingoas,  as  palavras  mais  toscas,  escuras,  A-  desusadas,  que 
no  Italiano  pode  achar.  A  profundeza  grande  das  matérias  me  deu  tam- 
bém trabalho,  porque  como  as  mais  delias  sejam  cousas  que  desaparecem 
aos  nossos  olhos,  &  onde  o  humano  juyso  de  todo  fica  cego,  em  muitas  delias 
me  deixey  guiar  do  author,  sem  fazer  mais  que  irme  após  elle  seguindo  seus 
mesmos  termos  A-  palauras.  O  que  forçadamente  impedio  poderse  vsar  na  tra- 
duçam  de  mais  culto  A  ornamento.  Porque  alem  de  tudo  isto  faltar  em  mi, 
inda  que  o  ouuera  mo  nam  consentia  a  alteza  das  matérias,  em  que  me  nam 
ousei  afastar  hum  só  paço  da  estrada  segujda  do  aulhor.  E  foy  também  isto 
causa  que  muytas  cousas  fiquem  escuras,  A  quasi  de  todo  nam  intelligiueis 
aos  spirilos  terrenos  A  tam  oceupados  nas  cousas  do  mundo  como  o  meu: 
mas  nam  será  assi  aos  spirituaes,  A  que  na  suauidade  da  contemplaçam  par- 
ticipam dos  segredos  do  amor  diuino  &  do  ceo.  Na  maneyra  do  verso  segui 
também  o  que  mais  acomodado  me  pareceo  a  matéria,  A  aquelle  género  em 


(231)  A  L1TTERATURA  UESPANHOLA  EM  POR!  411 


que  cada  canto  prymeiramente  foj  composto  d- gerado.  Resta  agora,  Christao 
Leclor,  pedirmos  a  aquelle  Amor  puro  de  cuja  bondade  &  fermosura  se  aqui 
principalmente  trata  que  a  liçam  destes  cantos  acenda  em  nossas  aímasalgQa 

faisca  daquelle  diuino  feruor,  com  que  elles  por  o  beato  la  ;o] e  foram  com 

Porq  sendo  assi  tu  perdoaras  leuemente  as  faltas  que  da  minha  parle 
aqui  achares  i  que  nam  seram  poucas  |  &  eu  me  auerej  por  bem  pago  do 
trabalho  4  tempo  que  se  nisto  gastou.  Vale». 

Veja-se  o  artigo  que  acerca  de  Jacopone  de  Tode  publicámos  no  Jornal  da 
Manha,  do  Porto,  de  13  de  janeiro  de  1890.  Alii  sustentamos  a  hypothese  de 
que  o  traductor  fosse  portuguez. 

O  exemplar  descripto  é  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  No  leilão  da 
livraria  Castello  Melhor  vendeu-se  um  (n.°  3:637)  por  2(5050  réis.  Na  livraria 
Cruz  Coutinho  havia  outro. 

Tomas  (D.  Fr.  Afonso  de  s...  Carta  pastoral  dei  ilustríssimo  y  reveren- 
díssimo seftor  I).  Fr.  Alonso  de  S.  Tomas  Obispo  de  Málaga,  dei  Consejo  de  su 
Magestad,  &c.  .1  los  fieles  de  su  obispado,  exorlandolos  a  hazimiento  de  gra- 
das, en  ocasion  dei  Triunfo  que  tuvieron  las  Armas  Cesáreas,  y  Católicas  contra 
las  Otomanas,  el  dia  12  de  Setiembn  de  1683.  En  Lisboa.  En  la  Emprenla  de 
Miguel  Manescal,  Librero  de  la  Sereníssima  Casa  de  Bragança,  e  de  S.  Ilus- 
tríssima. Afio  de  M.DC.LXXXIV. 

'i.',  31  pags. 

Exemplar  do  Pereira,  alfarrabista. 

Torre  il).  Francisco  de  la).  —  El  Peregrino  Atlante  |  S.  Francisco  Xa- 
vier |  Apostol  dei  Oriente  \  Epilome  historiei),  j  y  \  panegyrico  \  de  sv  ruía.  y 
prodígios.  \  Ecrivelo  \  Don  Francisco  de  la  Torre,    cavallero  dei  habito  de  Cala- 
trava.  \  Yseofrece  |  alpariarcha  j  S.  Ignacio  \  de  Loyola  |  p  \  Domingt 
iieiro,  !  y  a  su  Costa  Impresso.  I  Em  Lisboa.  \  Com  todas  las  Licencias 
sarias.     Aíio  MDC.LXX1V. 

4.°,  -276  pags.,  com  uma  gravura  deP.  Miotte,  representando  o  martyrio 
de  uni  San  In. 

Torre  Herrera  (Fr.  Pedro  de  la).  —  Sermon  dei  gloriozo  San  Pedro  de 
Alcântara,  predicado  en  la  micra  colónia  dei  Sacramento  en  la  celebracion  de 
los  mutinis  Despozorios  de  nuestros  Sereníssimos  Príncipes  el  Sefíor  Don  Joseph 
Príncipe  dei  Brasil  con  la  Sefíora  Dofía  Maria  Anua  Vitoria  Princeza  de  Cas 
tília,  y  dei  Sereníssimo  Princepe  de  Astúrias  Don  Fernando  Filippe  con  la  Se- 
reníssima Sefíora  Princeza  de  Portugal  Dofía  Maria.  Colocandose  juntamente 
una  Ejfigie  en  una  Capilla  nuevamente  erigida,  y  dedicada  ai  sobredicho  Santo 
m  el  sitio,  y  bateria,  de  donde  se  defienden  las  naves,  y  mas  embarcaciones 


412  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (232) 

ancoradas  de  qualquier  insulto,  cuya  obra  y  devocion  se,  deve  a  la  experiência, 
y  Chrisliandad  en  expensas,  y  solicitud  dei  Sefíor  Dou  Amónio  Pedro  de  Vas- 
concelos, Hidalgo  de  la  Gaza  de  Su  Magestad  Portugueza,  Ayudante  General  de 
sim  Exércitos,  Cavallero  professo  de  la  Orden  de  Christo,  y  Governador  actual 
de  la  Colónia  dei  Sacramento.  Predicolo  el  mucho  reverendo  padre  Fr.  Pedro  de 
la  Torre  Herrera,  Religiozo  de  la  Observância  dei  Assombro  de  la  Penitencia, 
Prototypo  de  la  Santidad,  y  abrazado  Serafim  m/estro  Padre  San  Francisco, 
Predicador  jubilado,  ex  Pro-Ministro,  y  Padre,  de  la  Santa  Província  dei  Tu- 
cuman  Paraguay,  y  Rio  de  la  Plata,  y  Revisor  de  libros  en  el  Santo  Tribunal 
de  la  Inquizicion  en  1729.  Dedicado  ai  mis/no  don  Pedro  de  Alcântara  por  Fran- 
cisco Ferram  de  Castel- Branco,  Cavallero  de  la  Orden  de  Christo,  Hidalgo  de  la 
Caza  de  Su  Magestad  Portugueza,  y  Coronel  de  Infanteria  Reformado  en  sus 
Reales  Exércitos.  Lisboa  Occidental.  Na  Officina  de  Pedro  Ferreira,,  Impressor 
da  Sereníssima  Rainha  N.  S.  Anno  de  MDCCXXXII. 

4.°,  O  pags.  inn.,  37. 

Exemplar  da  Bibliotlieca  Nacional  de  Lisboa. 

Torres  (Padre  Iuan  de). — Primem  parte  de  la  Philosophia  moral  de  prín- 
cipes para  su  bvena  criança  y  gouiérno :  y  para  personas  de  todos  estados. 
Compvesla  por  el  padre  Iuan  de  Torres,  de  la  Compafíia  de  leses.  Dirigida  a 
don  Gomez  Davila,  marques  de  Velada,  dei  Consejo  de  estado:  Ayo  y  mayordomo 
mayor  dei  Príncipe  nuestro  Sefíor.  Tratanse  en  cila  matérias  muy  vtiles  para 
Predicadores.  Con  licencia  de  la  Santa  Inquisicion  y  Ordinário.  En  Lisboa. 
Impresso  por  Pedro  Crasbeeck.  Anno  M.D.C. II. 

1  vol.  folio,  30  pags.  inn.,  786  pags.,  mais  37  fls.  inn.  de  Tabla. 

O  auetor,  pela  dedicatória,  vè-se  que  era  do  Collegio  jesuítico  de  Ávila. 

A  approvação  de  Madrid  é  de  1  de  maio  de  1595. 

Vendido  por  840  réis  no  leilão  do  Marquez  de  Castello  Melhor  (n.°  3:650). 

Gallardo  também  descreve  (n.°  4:074)  uma  edição  d'esta  obra,  Burgos, 
1602. 

N'ella  se  dá  a  noticia,  en  la  Tabla,  que  fr.  Pedro  Ponce  ensinou  a  fallar 
os  mudos. 

Exemplar  do  Rodrigues. 

Torres  Portugal  (Joan  de).  —  Obras  en  alabança  de  la  Santa  Crvz.  Com- 
puesla  por  el  Alferes  Joan  de  Torres  Portugal.  Dirigido  ai  Padre  Fray  António 
de  Montarroyo,  de  la  Orden  dei  bienauenturado  San  Augustin,  en  el  contento 
de  Lima  en  el  Peru.  En  Lisboa.  Impresso  por  Pedro  Crasbeeck  1605. 

Descripta  pelo  sr.  Conde  de  Sabugosa  a  pag.  41  da  sua  edição  do  Auto 
da  Festa,  de  Gil  Vicente. 


(233)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PO  413 


Não  sabemos  se  o  auctor  era  hespaahol  ou  portu  i  tencionam 

Garcia  Peres,  Gallardo  nem  Salva. 

Trabajos  que  posa  la  triste  bolsa.  Ohm  llamada  |  /  <s  trabajos  qw  passa 
la  triste  Bolsa  \  En  Lisboa,  ('.mi  licencia  •'•  la  S.  Inquisicion,  Ordinário,  y 
Palácio  |  Por  António  Aluarez.  inno  de  1639.  Con  Priuilegio  Real.  No  Om: 
Em  Lisboa.  Con  licença.  Por  António  Aluarez.  Anno  rfi    1639. 

í.".  i  lis.  a  2  eol.  sig.  \. 

É  um  dialogo  em  quintilhas  entro  Bolsa,  Galan  y  Dama, 

Descripto  em  Gallardo  sob  o  n.°  1:227. 

Tractado  de  como  ;  san  Francisco  busco,  y  hallo  a  su  muy  |  qrida  sefíora 
In  saneia  Pobreza.  Man  \  dado  transladar  do  latin  en  lingoage  &  j  emprimir 
por  el  Duque  de  Uru  gança  &  de  Guimarães,  &c.  j  Dõ  James:  por glo  \  riay 
edificacion  \  de  los  bue  \  nos  j  religiozos  de  san  Francisco  [  y  en  légua  Castel- 
lana  |  por  aprouechar  |  en  toda  E  spafía.  Impresso  en  Lixbona  en  casa  de 
Joannes  Blauio  |  de  Colónia.  1555. 

I  vii,..  s.1  peq.  (ou  12.°?  .  2-2  pags.  inn.,  caracteres  gothicos. 

Bonito  exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

É  possível  que  esta  tradução  fosse  feita,  não  por  hespanhol,  mas  por 
portuguez.  Damos  todavia  esta  indicação  por  esta  obra  ser  muito  rara.  e  não 
vir  descripta  ainda— suppomos  — em  nenhum  bibliographo. 

Ribeiro  dos  Santos  refere-se  a  cila.  Vide  Memorias,  pag.  122. 

Vide  no  Diccionario  de  Innoceacio,  Supplemento,  artigo  Como  S.  Fran- 
cisco buscasse  a  pobresa. 

Traducion  de  una  Memoria  reparti/la  en  Olanda  a  principio  dei  Afio 
passado  de  1706.  por  un  Confidente  de  In  Francia,  y  de  su  Respuesta.  Impresso 
en  Valência,  y  aora  èn  Lisboa.  En  la  Imprenta  de  António  Pedrozb  Õalrão. 
Con  las  licencias  necessárias,  y  Privilegio  Real.  Ano  1707. 

4.°,  ")6  pags. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Trinidad  (Fr.  Iuan  de  lai.—  Discvrsos  predicables  de  la  iransformacion  de 
la  alma  en  Bios,  y  médios  para  llegar  d  ella.  Fcndados  en  la  exposicion  de 
aquellas  palabras  dei  capitulo  octauo  de  los  Cânticos.  Pone  me  vt  signaculum 
super  cor  tuum  rt  signaculum  super  brachium  luum.  En  las  quales,  ilehu.ro 
denombre,  y  metáfora  de  Sello,  se  exkorta  este  santo  exercido.  Por  fray  Ivan 
de  la  Trinidad  Lector  de  Teologia  jubilado,  y  Padre  dela  Prouincia  de  Sun  Ga- 
briel, de  Descalços  de  nuestro  Padre  Sun  Francisco.  A  la  mvy  ilvstre,  y  noble 


414  A  L1TTERATIRA  BESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (234) 


Sefíora  dofía  Beatriz  de  Mendoça  Barreto,  &c.  En  Lisboa.  Por  Lorenço  Craes- 
beeck  impressor  dei  Rey.  Afia  1633. 

4.°,  -o  fls.  inn.,  350  numeradas  pela  frente,  afora  índice. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 
Não  será  portuguez? 

Turuley  (Acham).  — Prognostico  que  escrevio  un  doclo  moro  en  língua 
arábica,  el  afio  de  mil  y  ducientos.  Traduxoleen  griegoJochin  Meniez,  natural 
de  la  villa  de  Merida,  esclàvo  en  Jerusalém,  y  por  el  mismo  en  maestro  idioma 
caslellano.  Lisboa.  En  la  Emprenta  de  Miguel  Manescal,  1688. 

4.°  de  7  pags.  inn. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Urcullu  (D.  José  de). — "Vide  Diccionario  de  Innocencio,  tomo  v,  pag.  149. 

Valderrama  (P.  M.  F.  Pedro  de).  —  a)  Primera  parle  de  los  Exercícios 
espirilvales  para  todas  las  festividades  de  los  santos.  Compresto  por  el  P.  M. 
F.  Pedro  de  Valderrama,  de  la  Orden  de  san  Augustin,  natural  de  la  Ciudad  de 
Seuilla.  Dedicada  a  Don  Luijs  Mendez  de  Haro  Marques  dei  Carpio  y  sefior  de 
la  casa  de  Haro.  Ano  (estampita,  um  coração  atravessado)  1606.  Con  licencia 
de  la  Santa  Inqvisicion.  Impresso  en  lÂsboa,  en  casa  de  António  Aluarez.  Con 
Preuilegio  Real. 

1  vol.  4.°,  a  2  col.,  7  fls.  prel.  inn.,  552  fls.  numeradas  pela  frente. 

b)  Segvnda  parte,  ele.  (Frontispício  idêntico  á  primeira  parte,  com  a  dif- 
ferença  de  ser  a  preto  e  encarnado — Mesmo  impressor.  Afio  1607). 

1  vol.,  4.°,  6  fls.  prel.  inn.,  466  numeradas  pela  frente. 

É  um  sermonario. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Primera  parle  de  los  Exercidos  espiritvales  para  todos  los  dias  de  la 
qvaresma,  compvesta  por  el  Padre  Maestro  Fray  Pedro  de  Valderrama,  de  la 
Orden  de  nueslro  P.  S.  Augustin,  y  natural  de  la  Ciudad  de  Seuilla.  Dirigida 
ai  Illvstrissimo  sehor  don  Fernando  Nifío  de  Gueuara,  Cardenal  y  Arcebispo  de 
Seuilla,  y  dei  Consejo  de  estado  de  su  Mageslad.  (Estampa  representando  um 
santo  com  mitra  e  báculo  e  unia  torre  na  mão).  En  Lisboa.  Con  licença  de  la 
santa  Inquisicion.  Por  Jorge  Rodriguez.  Anno  1605. 

1  vol.  folio,  2  col.,  3  fls.  prel.  inn.,  272  pags.  numeradas  pela  frente. 
No  mesmo  volume  e  no  mesmo  formato. 


(235)  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  Í15 


d)  Segvnda  parte,  etc.—En  Lisboa,  Impresso  por  Pedro  Craesh 

de  UlxM. 

•J7(i  tis.  numeradas  pela  frente. 

e)  Tercera  parle— En  Lisboa,  Impresso  por  Pedro  Craesbeeck.  Ano  de 
MDCV1. 

168  fls>  oumeradas  pela  frente,  alem  da  extensa  Tabla.  É  curioso  que 
tanto  a  segunda  como  a  terceira  parte,  digam  no  Qm  que  foram  impressas  no 
anuo  de  1605. 

Valdivielso  (José  de).  — a)  Doze  autos  sacramentales  y  dos  Comedias  divi- 
nas. Por  cl  maestro  Joseph  de  Valdeuielso.  Dedicados  nesta  impressão  ao  Santís- 
simo Sua 'intento  (Gravurinha  delicada  ;  dois  anjos  adorando  o  cálice;  por  cima 
o  letreiro:  louuado  seia  o  Santíssimo  Sacramento).  Em  Braga.  Em  casa  <le 
Fructuoso  Lourenço  de  Basto,  por  seu  Irmão  Francisco  Fernandes  de  Basto. 
Ano  MDC.XXIIII. 

l.°,  1  folio  prel.  inn.,  185  fólios. 

No  verso  do  frontispício  tem  a  Relação  das  Comedias,  as  licenças  e  a 
tassa.  A  approvação  de  Bertholameu  Guerreiro  diz  o  seguinte: 

a  Vi  este  liuro  de  Joseph  de  Valdeuielso,  por  ordem  de  V.  Ulustrissima, 
contem  doze  Actos  Sacramêtais,  &  duas  Comedias.  0  Autor  he  conhecido  por 
douto,  &  pio  em  outras  obras;  nesta  presente  se  mostra  o  mesmo,  á- merece 
que  V.  S.  Ulustrissima  lhe  faça  toda  a  mercê,  que  também  o  será  para  os 
entendidos,  e  doutos  que  acharão  em  sua  lição  proueito,  &  gosto,  assi  polia 
agudeza  do  estilo  como  polia  piedade  dos  conceitos,  que  em  tudo  ajudão  a 
firmeza  da  fé  e  pureza  dos  costumes.  S.  Roque,  17  de  Mayo  1623». 

A  taxa  é  de  cento  e  vinte  reis. 

O  sr.  Theophilo  Braga  na  sua  Historia  do  theatro  portuguez  (A  Comediu 
clássica  e  os  Tragicomedias),  guiando-se  pela  nota  manuscripta  d'um  seu  exem- 
plar, diz  que  os  Autos  Sacramentales,  impressos  em  Braga,  são  de  Lope  de 
Vega,  e  que  os  livreiros  Fructuoso  e  Francisco  de  Basto  os  attribuiram  a  Val- 
divielso. Esta  observação  parece  todavia  destituída  de  fundamento.  A  edição 
bracharense  contém,  pela  mesma  ordem,  o  mesmo  numero  de  peças  que  a 
1.*  edição,  feita  dois  annos  antes  em  Toledo,  16:22.  por  luan  Ruyz,  e  nenhum 
bibliophilfi  hespanhol  faz  o  reparo  que  Valdivielso  plagiasse  Lope  de  Vega. 
Eis  o  elencho  das  peças : 

El  Villano  en  sv  rincon. 

El  hospital  de  los  locos. 

Los  cavtivos  libres. 

El  fénix  de  mnor. 


416  A  LITTEIUTIHA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (23(i) 

La  amistad  en  el  peligro. 

Psiqve,  11  Cvpido,  Christo,  y  el  alma. 

El  hanére  encantado. 

Las  ferias  dei  alma. 

El  peregrino. 

De  la  serra  na  tle  Plasmem. 

Del  hiio  pródigo. 

Arbol  de  la  vida. 

Comedias  divinas 

El  nacimiento  de  la  meior. 
Del  angel  de  la  gvarda. 

No  fim  tem:  En  Braga.  En  casa  de  Fructuoso  Lourenço  de  Basto,  por  seu 
irmão  Francisco  Fernandez  de  Basto. 
Exemplar  da  Bibliotiieca  da  Ajuda. 

b)  Vida,  excellencias  y  muerte  dei  gloriosíssimo  Patriarca  y  esposo  de  nuestra 
Sefíora  san  Joseph,  etc.  (Gravurinha  representando  a  fugida  de  Nossa  Senhora: 
de  um  e  outro  lado  —  Anno  1609).  Impresso  com  licença  do  Santo  Oficio  por 
Francisco  de  Lyra,  d  custa  de  Francisco  Lopez  liureiro.  Taxado  a  oito  vintes 
em  papel. 

8.°,  10  fls.  inu.,  com  licenças,  versos,  prologo,  354  fls. 
Exemplar  pertencente  ao  sr.  Marquez  de  Jerez  de  los  Caballeros,  Se 
vilha. 

c)  La  vida,  excellencias  y  muerte  de  S.  Joseph,  etc.  Lisboa  Pedro  Craes- 
beeck. 

8.°,  354  fólios. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda.  Na  mesma  Bibliotiieca  existe  outro 
exemplar  sem  frontispício,  que  diz  no  fim:  Lisboa  por  Pedro  Crasbeeck 
MD  CXI.  As  licenças,  porém,  differem. 

d)  Vida,  excellencias,  etc.  (Estampinha:  S.  José  em  adoração  a  Nossa  Se- 
nhora com  o  Menino  ao  colo;  — de  um  e  outro  lado:  16-15.— Por  baixo: 
van  emmendadas  en  esta  impression  algunas  cosas  por  el  mismo  autor.  En  Lis- 
boa: cõ  licêeia:  Por  Pedro  Cresbeeck.  Está  faixado  a  150  reis  em  papel.  —  No 
fim,  sob  o  escudo  do  impressor:  En  Lisboa.  Por  Pedro  Crasbeeck.  M-DC.XV. 

8.°,  11  fls.  prel.  inn.,  354  fls..  mais  2  inn.  com  poesias. 


!-■'!/  |  A  UTTERATDRA  BESPANHOU  EM  PORTUGAL  417 

e)  Vida,  excellencias,  etc.  Anno  (Estampinha,  1654).  Com  todas  as  i 
ias.  En  Lisboa.  Por  António  Alvarez.  Imp.  dei  liey  N.  Senhor. 
8.     9  tis.  prel.  inn.,  354  fólios. 
Exemplares  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  e  da  Ajuda. 

Valvidares  y  Longo  (P.  Fr.  Ramon).— Fabulas  satíricas,  politicas  y  mo- 

)bre  el  actual  estado  de  la  Europa.  Por  el  /'.  Fr.  Ramon  Valvidares  y 

Longo,  dei  Orden  de  S.  Geronimo  de  la  Congregacion  de  Espana.  Profeso  dei 

Monasterio  de  Bornos,  y  Académico  de  la  Real  Academia  de  buenas  letras  de 

Sevilla.  1811. 

1-2.  .  is  pags.  inn.  (dedicatória),  xxu  (Razon  de  esta  obra),  279,  mais  uma 
de  errata. 

A  dedicatória  é  a  I).  Carlota  Joaquina,  infanta  de  Espana  j  Princesa  dei 
Brasil  (mulher  de  D.  João  VI).  <>  auctor  subscreve-se  seu  atento  CapeUan. 

O  nosso  exemplar  não  declara  o  logar  da  impressão  e  só  diz  na  parte  in- 
ferior do  titulo,  por  letra  de  mão:  Lx."  na  Impressão  Regia.  Uma  anta  ma- 
uuscripta,  inserida  uo  principio  das  Fabulas,  accrescenta: 

«Isto  não  tem  merecimento  nenhum:  he  obra  muito  podre  e  miserável. 
Depois  de  licenciada  duvidarão  deixa-la  correr  por  julgarem  ofifendião  as  Pes- 
soas Reaes  de  quem  aqui  parece  se  falia  com  pouco  respeito.  Por  fim  de  muitas 
diligencias  do  A.  que  adegava  ler  feitQ  despeza  a  qual  lhe  dizião  pagar  pois 
que  a  fez  fiado  na  licença  para  a  impressão,  deixarão-a  correr  mudandose  lhe 

0  rosto  ou  titulo  em  outro  sem  declarar  impressão». 

0  exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda  tem  impresso,  no  frontispício:  En 
la  Imprenta  Real  Afio  1811.  Con  licencia  d-  la  Meza  dei  Desembargo  do  Paço. 

Vega  (Cristoval  de).— Casos  raros  de  la  confession.  Con  regias,  y  modo 
fácil  para  hazer  rua  buena  Confession  General,  ò  Particular.  Y  vnas  aduer- 
tendas  para  tener  perfecta  Contricion:  y  para  disponerse  bien  en  ri  articulo  de 
la  muerte.  Sexta  impression.  Por  el  V.  Christoval  de  Vega  de  la  Compania  de 

1  II  S  (Este  mouogramma  sobre  uma  flor).  En  Lisboa.  Por  Jvan  de  la  Costa. 
M.DC.LXVII.  Con  Iodas  las  licencias. 

1  vol.  12.°,  2  pags.  prel.  inn.  (dedicatória);  oOí  pags.,  mais  7  inn.  de 
indice  e  licenças. 

É  offerecidò  pi  lo  editor  ao  jesuita  Manuel  Monteiro  e  na  dedicatória,  es- 
cripta  em  estylo  culto  e  allegorico,  diz  que  fora  impresso  em  Castella  cinco 
vezes,  no  tempo  de  dois  annos. 

Vega  (Fr.  Diego  de  la).  —  Parayso  de  la  gloria  de  los  Santos  donde  se 
trata  de  svs  prerogativas  y  exçellençias.  Primero  y  segundo  Tomo.  Compuesto 


418  A  L1TT1ÍRATURA  HESPANHOLA  FM  POHTUGAL  (238) 


por  el  Padre  fray  Diego  de  la  Vega.  Lector  de  Theologia,  en  el  insigne  conuento 
de  san  luan  de  los  Reyes  de  Toledo.  (Estampa,  gravura  tosca).  Con  licencia  de 
In  saneia  Inquisicion  y  Ordinário.  En  Lisbona:  Impresso  por  Pedro  Crasbeeck. 
Ano  de  MDCIJI.  A  costa  de  Domingos  Martinz,  mercador  de  libros. 

3  vol.  fólios  a  2  col.  em  um.— 0  tomo  i,  22  fls.  prel.  inn.,  296  pags. 
(por  erro  206);  o  tomo  n,  sem  frontispício  especial,  135  fls.  numeradas  pela 
frente;  diz  no  fim:  Acabovse  de  imprimir  este  segvndo  tomo  em  caso  de  Jorge 
Rodriguez  Impressor,  Aos  oito  dias  de  Septembro.  Anno  de  1603. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Vega  Carpio  (Lope  de).  —  a)  Rimas  |  de  Lope  |  de  Vega  |  Carpio.  \  A 
Dom  Fernando  \  Coutinho,  Manchai  de  Por-  |  tuqal,  Alcaide  mór  de  \  Pinhel, 
&c.  |  Con  licencia  de  la  S.  Inquisicion.  \  En  Lisboa.  \  Impresso  por  Pedro 
CrasheecU.  \  Afio  1605.  \  A  custa  de  Domingos  Fernandez  mercador  de  |  Muros, 
vendemse  em  sua  casa,  &  na  capella  dei  Rey. 

i  vol.  4.",  9  lis.  prel.  inn.,  116  numeradas  pela  frente. 

As  folhas  preliminares  conlém :  licenças,  dedicatória  do  editor  Domingos 
Fernandez,  em  portuguez,  a  Dom  Fernando  Coutinho;  dedicatória  em  verso 
ao  mesmo  do  auetor;  prologo  do  auetor;  poesias  a  Lope  de  Vega  de  Christoval 
de  Virves,  António  Ortiz  Melgarejo,  dona  Isabel  de  Ribadeneyra,  Juan  d'Agui- 
lar,  Luys  Velez  de  Santander,  Ivan  de  Pina,  don  Baltazar  de  Lvzon  y  Boba- 
dilla,  Camila  Lvcinda ;  Tabla. 

Do  prologo  se  vê  o  contheudo  do  livro.  Transcreveremos  o  seguinte  pe- 
ríodo elucidativo: 

«Aqui  tienes  (Letor)  dos  centúrias  de  Sonetos,  aunq  impressos  otra  vez 
en  mi  Angélica ;  pêro  van  acompaiíados  de  las  Rimas  que  entonces  no  salieron 
a  luz,  porque  excedia  el  numero  a  lo  que  permite  vn  libro  en  otauo  folio. 
Dellos  no  digo  nada,  pues  los  as  visto,  de  las  Rimas  tã  poço,  pues  las  as  de 
ver.  Hallarás  três  Eglogas,  vn  Dialogo,  dos  Epístolas,  algunas  Estancias,  So- 
netos, y  Epitáfios  Fúnebres  y  dos  Bomances,  que  no  me  puedo  persuadir  que 
desdigan  de  la  autoridad  de  las  Bimas,  aunque  se  atreue  a  su  facilidad  la 
gente  ignorante,  porq  no  se  obligan  a  la  corresponsiõ  de  las  cadêeias». 

No  mesmo  anno  se  publicaram  as  Doze  Comedias:  um  e  outro  livro  licen- 
ceados  por  Fr.  António  Freyre.  Uma  particularidade  notamos,  porem:  a  licença 
das  Rimas  é  datada  do  Collegio  de  Santo  Agustinho,  a  i  de  junho  de  1605 ; 
a  das  Comedias,  do  Collegio  de  Santo  Antão,  a  26  de  agosto  de  1604. 

Os  camonistas  costumam  recensear  nas  suas  collecções  as  Rimas.  0 
Sr.  Brito  Aranha  (tomo  xiv  do  Diccionario  Bibliographico,  pag.  354)  menciona 
esta  obra,  dizendo  que  ella  contém  trechos  dos  Lusíadas  e  das  Rimas.  Não 
nos  parece  absolutamente  exacto.  O  que  ella  contém  é  um  soneto  em  diversas 


(239)  A  LITTERATURA  HE6PANH0LA  EM  PORTUGAL  I  19 

línguas,  para  o  qual  contribuíram  diversos  poetas,  entre  os  quaes  Camões, 
com  dois  versos.  K  o  soneto  cxu,  que  passamos  a  transcrevei  : 

De  versos  diferentes  tomados  de  Horácio,  Ariosto,  Petrarca,  Camões,  Tasso, 
el  Serafino,  Boscan  y  Garcilaso: 

Le  donne  i  caualieri,  le  ai gli  amori,  \. 

Km  dolces  jogos  en  pracer  contino,  I  . 
Fuggo  pei  piu  non  esser  pellegrino,  P. 
M  i  3u  nel  cielo  infra  i  beati  chosi   T 

Dulce  &  decoram  esl  pro  pátria  mori,  II. 
Sforçame  amor,  Fortuna,  el  mio  di  • 
.Ni  es  oiucho  en  tanto  mal  ser  adiuino,  li. 
Seguendole  ire,  e  i  glovenil  furori,  Ar. 

Satis  b  -   I  inis,  li. 

Parlo  in  rime  aspre,  e  di  dulceza  ignude,  P. 

D  si  i  passado  bera  que  min. -a  fora. 

No  ay  1ií<mi  íj  en  mal  no  se  couierla  j  mude,  G. 

fíec  prata  ■■.mis  albicanl  pruinis,  II. 

La  mii  i  se  arresta  mi  hora.  P. 

Os  versos  tomados  a  Camões  são:  da  estancia  s:  do  canto  i\  dos  Lusía- 
das; e  do  soneto  xxn.  0  primeiro  verso  foi  todavia  italianisado.  lia  também 
nas  Rimas  uni  soneto  a  D.  [gnez  de  Castro,  outro  á  jornada  de  Africa,  um 
epitaphio  ao  triste  heroe  d'essa  jornada  e  um  soneto  que  faz  lembrar  o  de 
Camões  —  Sete  annos  de  pastor  Jacob  servia.  É  o  quinto.  Eil-o: 

Siruio  .1  icob  I"-  siete  lar; 

Breues,  si  el  (in  qual  la  esperança  fuera, 

A  Lia  goza,  y  a  Rachel  espera 

( Itros  siete  despues,  llorando  enjj  ifios 

\-h  guardan  palabra  los 

ifecto  i  me,  y  considera, 
Que  la  podra  gozar  antes  que  muera, 

Y  que  tuuieron  termino  sus  danos. 

Triste  de  mi,  sin  limite  que  mida 

Lo  que  vn  engano  ai  sufrimiento  cu  ista, 

Y  sin  remediu  que  el  agrauio  pida. 

A\  de  aquel  alma  í  padecer  dispuesta 
I  >       spera  ^-n  Rachel  en  la  otra  vida, 

Y  tiene  a  Lia  para  siempre  en  esla 

Exemplar  de  Jeronymo  Ferreira  das  Neves. 


420  *  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (240) 

No  leilão  de  Innocencio  foi  vendido  um  exemplar  por  2#3O0  réis  l  a.°  l  :943 1. 
Exemplares  aa  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  tia  Ajuda  e  Silva  Barbosa. 

b)  Rimas  Sacras.  Primera  parir  de  Lope  de  Vega  Carpio,  clérigo  presbg- 
tero.  Dirigidas  ai  Padre  Fray  Marim  de  san  Grilo  Religioso  Descalço  de 
nuestra  Seflora  dei  Cármen.  Con  todas  las  licencias  necessárias.  Em  Lisboa. 
Por  Pedro  Crasbeéck  y  a  su  cosia.  M.D.C. XVI. 

I  vol.  8.°,  7  lis.  prel.  hm.,  188  lis.  numeradas  pela  frente,  mais  4  inn. 
de  Tabla. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

c)  Rimas  Sacras  de  Lope  ilc  Vega  Carpio,  Clérigo  Presbytero.  Con  cien 
octanas  a  la  mia  de  la  Magdalena.  (Gravurinha :  Christo  crucificado  entre 
Nossa  Senhora  e  S.  João  Evangelista).  Lisboa.  Con  licencia  de  los  Superio- 
res. En  la  Officina  de  Henrique  Valente  de  Olivera,  Ano  1658. 

1  vol.  8.°,  3  lis.  prel.  inn.,  180  fls.  numeradas  pela  frente,  4  íls.  inn. 
de  Tabla. 

Exemplar  nas  Bibliolhecas  Nacional  de  Lisboa  e  da  Ajuda.  Temos  tam- 
bém um. 

d)  Doze  |  Comedias  \  de  Lope  de  Vega  Carpio  |  com  as  loas  |  ao  principio.  \ 
Dirigidas  ao  Senhor  Gonçalo  Pirez  |  Carualho  Prouédor  das  obras  \  dei  Reg 
nosso  Senhor.  \  As  rjne  neste  libro  st'  conthem  cão  na  volta  d'esta  folha.  |  Im- 
pressas com  licença  da  Santa  lnqui-  \  sição.  Por  Jorge  Rodriguez,  |  Anno  de 
1605.  I  A  custa  dr  Estendo  Lopez  mercador  de  Liaras,  vrn  |  desse  em  sua  casa 
&  na  Capella  |  dei  Reg.  (Frontispício  tarjado). 

i  vol.  4.°,  3  lis.  prel.  inn.,  322  lis.  numeradas  pela  frente.  No  verso  do 
frontispício  as  comedias  contidas  no  livro  por  esta  ordem: 
Primeira  parle: 
Los  Donagres  de  Malico. 
Cerco  de  santa  fee. 
Vida  y  mnerte  dei  Rei)  Biíba. 
La  traycion  bien  acertada. 
El  hijo  de  Reduan. 

Segunda  parte : 
Nacimiênto  de  Vrsõ  g  Valentin. 

El  casamiento  en  la  muerte  y  ecfios  de  Bem.  dei  Carpio. 
La  Escolástica  zelosa. 
La  amistad  pagada. 
La  comedia  dei  molino. 
El  testimonio  vengado. 


(241)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  421 

Apesar  do  titulo  dizer  que  são  doze  comedias,  vê-se  que  falta  uma.  que 
vem  a  ser  Carlos  el  perseguido. 

Nas  preliminares:  licenças;  dedicatória,  em  portuguez,  ao  Sr.  Gonçalo 
Pires  Carvalho,  assignada  por  Estevão  Lopez;  prologo  ao  leitor,  em  hespa- 
uliõl,  sem  assignatnra,  e  a'elle  se  promette  outro  volume  de  todos  los  mas 
granes  Anime*  que  en  esta  matéria  han  escrito. 

Exemplar  de  Jeronymo  Ferreira  das  Neves.  Também  ha  na  Bibliotheca 
Nacional  de  Lisboa. 

0  Sr.  Teophilo  Braga  (Historia  do  theatro  portuguez;  A  Comedia  clássica 
e  as  tragi-comedias,  pag.  297)  diz  que  a  l.a  parte  das  Comedias  de  Lope  de 
Vega  fora  impressa  em  Portugal  em  1612,  trazendo  a  approvaç3o  pelos  jesuítas 
do  Collegio  de  Santo  Antão.  O  exemplar  acima  descripto  contesta  similhante 
asserção.  A  edição  é  de  1605.  A  approvação  é  de  26  de  agosto  de  1604,  datada 
do  Collegio  de  Santo  Antão  e  assignada  por  frei  António  freire.  Salva  aponta  a 
seguinte  edição,  que  é  por  certo  aquella  a  que  se  refere  o  Sr.  Theophilo  Braga. 

e)  Segunda  parte  de  las  comedias  de  Lopo  de  Vega  Carpia.  Lisboa.  Pedra 
Crasbeed;,  1612. 

4.°,  í  tis.  prel.,  342  numeradas. 

Vccrescenta  Salva:  «En  una  advertência  ó  prologo  en  português  que 
precede  á  esta  impression,  se  dice,  eran  ya  mas  de  quinientas  las  comedias 
de  Lope  representadas». 

Anterior  todavia  a  estas  duas  edições  é  a  seguinte,  de  que  lia  uni  exem- 
plar na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa  (n.°  5:550). 

f)  Seis  Comedias  de  Lope  de  Vega  Carpio,  >/  de  atros  avtores  cuios  nom- 
bres  delias  son  estos: 

4.  De  la  destruicion  de  Constantinopla. 

2.  De  la  fundada»  de  la  Alhambra  de  Granada. 

3.  De  los  amigos  enojados. 

4.  De  la  liberlad  de  Castilla. 
:;.  De  la*  hazafías  dei  Cid. 
6.  Del  perseguido. 

Con  licencia  de  la  Santa  Inquisicion  y  Ordinário.  En  Lisboa.  Impresso 
por  Pedro  Crasbeeck.  Anno  MD  CHI.  Con  priuilegio  de  diez  anos.  A  costa  de 
Francisco  Lopez. 

1  vol.  4.°,  27-2  (Is.  numeradas  pela  frente. 

As  comedias  não  se  acham  na  ordem  indicada  no  frontispício;  mas  na 
seguinte : 

1.  De  la  destruicion  de  Constantinopla. 


Í2.2  A  L1TTKRATUKA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (242) 

2.  Fundacion  de  Alhambra. 

3.  Libertad  de  Castilla. 

'i .  Ha  canas  dei  Cid. 

'■>.  Amigos  enojados. 

6.  Dei  perseguido. 

Barrera,  seguindo  neste  ponto  o  próprio  Lope  de  Vega,  considerou  esln 
edição  como  apocrypha  (pag.  425),  mas  reformou  mais  tarde  a  sua  opinião 
em  vista  do  exemplar  que  examinou  (pag.  679).  Só  uma  das  comedias  é  que 
é  de  Lope  de  Vega,  el  Perseguido.  Barrera  attribue  a  Destruicion  de  Constan- 
tinopla a  Gabriel  Lobo  Lasso  de  la  Vega;  a  Libertad  de  Castilla  e  as  Horárias 
dei  Cid  attribue-as  problematicamente  a  Linan;  as  outras  só  affirma  que  não 
são  de  Lope. 

g)  lervsalem  Cohqvistada.  Epopeya  Trágica.  De  Lope  Felis  de  Vega  Car- 
pia, Familiar  dei  Santo  oficio.  A  la  Magestad  de  Felipe  Hermenegildo  Primero 
deste  nombre,  y  Tercero  dei  Primero —  Legant  prias,  &  postea  despiciãt  ne 
videantur  non  ex  indicio,  sed  ex  odii  praésumptione  ignorata  dãnare.  Hiero.  in 
praefactione  Isay.  ad  Paul.  &  Eust.  (Gravurinba  oval,  representando  Cliristo 
crucificado  entre  Nossa  Senbora  e  Santo  Agostinho).  En  Lisboa.  En  la  im- 
prenta  de  Vicente  Aluarez.  Ano  de  MDC.Xl. 

1  vol.  i.°,  15  lis.  prel.  inn.,  536  numeradas  pela  frente.  Tem  alguma 
numeração  errada. 

As  preliminares  contém  :  Licenças.  A  de  Frey  António  Freyre  é  do  theor 
seguinte:  «Vi  este  Liuro  de  Lope  Félix  de  Vega  Garpio,  intitulado  Hierusalem 
Libertada.  He  de  muyta  erudição,  &  engenho,  &  não  tem  cousa  algua  contra 
a  Doctrina  Gatholica.  En  Lisboa  a  15  de  Dezembro  de  1609»;  Dedicatória  a 
el-rey  de  Lope  de  Vega;  Epigramma  latino  de  Francisco  Gutierrez;  Advertência 
de  Baltasar  Elysio  de  Medinilla  Toledano  a  los  aficionados  a  los  escritos  de 
Lope  de  Vega  Garpio.— A  seguir,  verso  da  3.a  folha,  o  retrato  de  Lope  de  Vega. 
Elogio  de  Lope  de  Vega  por  Francisco  Pacheco.  Prologo  ao  Conde  de  Saldanha. 
Versos  latinos  ao  retrato  do  rei  — in  Adelplionsi  Castellae  Regis  Effigiem.  Re- 
trato do  Rei. 

A  l.a  edição  da  lervsalem  foi  estampada  em  Madrid,  por  Iuan  de  la  Cuesta, 
em  1609;  é  de  suppor  que  a  de  Lisboa  seja  uma  exacta  reprodução,  até  nos 
retratos. 

Exemplares  nas  Ribliofhecas  Nacional  de  Lisboa  e  da  Ajuda. 

h)  Tragedia  |  verdadeira,  e  lastimosa,  |  na  qual  se  relata  a  vida  pri- 
são, &  morte  de  Dom  \  Aluara  de  Luna  Condestable  de  Castella,  &  Mes  |  tre- 
de  Sancliago  recopilada  em   Romances  |  antigos,  &  modernos  pollo  famoso  j 


l_2Í3l  A  LITTER  ATURA   HESPANHOM  l'.M  PORTUGAL  'll'.\ 


Poeta  Lopo  de  Veiga  Carpia  Vinhetas;  Ires  figuras)  /•.'  leua  no  ealm  dom 
romances  nonos  sobre  o  q  dixe  el  l(, ,  li.  Filipe,  a  seu  filho  ditei)  nosso  Seõoi 
Pudese  imprimir.  Lisl>oa  em  S.  Eloy  7  </<■  julho  de  ÍG2.').  \l.  Vicente  <ln  H< 
surreiçâo.  Cõ  as  licenças  necessárias.  \'<n  António  Mnarez.  Na  ma  j  de  Dom 
Julianes,  sobre  o  Arco  </<  lesm  de  /'/.;.;.  Tayxa  mi  mesa  </"  Paço  n  Ires  m- 
u  follia. 

í."  Ifi  lis.  imi..  incluindo  <>  frnntispicio.  Rubrica  \,  \.  8. 

No  vcis,.  do  frontispicio:  «Relaçam  breue  ria  vida  do  Condeslable  Hum 

Uuaro  de  Lnna  recopilada  da  Chrouica  de  D loão.  Por  [osepli  Eerreyra, 

em  porlnguez».  Seguem  no  folio  os  romances,  rui  liospanhol,  a  -J  col. 

liste  opúsculo  faz  parle  de  um  volume  de  Miscellaneas,  pertencente  .1 
livraria  VIerello  e  arrematado  por  Jeronymo  Ferreira  das  Neves. 

;  Solilóquios  i  amorosos  de  un  alma  n  Dios  \  Escritos  en  len  \  fjuo  La 
tina  //«;•  el  muy  lii>  j  verendo  Padre  Graviel  Padecopio.  En  Lisboa.  En  la  em- 
prenta  de  Lottrenço  </'■  Anveres,  7  u  su  costa,  ano  1644. 

ml:,  de  l -J-.ss  lis. 

Exemplar  de  Nepomuceno. 

Graviel  Padecopio  é  o  nume  anagrammatico  de  Lopc  de  Vega. 

Vega  y  Quadros  (Manuel  de).  Retiro  de  profanas  comvnicaciones  neces 
sario  a  las  esposas  de  Christo.  Sumiu  a  Ir:  por  orden  dei  eminentíssimo  seftor 
Don  Baltazar  de  Woscoso  y  Sandoual,  Cardenal  de  la  santa  Iglesia  de  Roma, 
Arçobispo  de  la  ih1  Toledo,  Chanciller  Mayôr  de  Caslilla,  el  licenciado  Manvel 
de  Vega  y  Quadros,  Racionero  de  la  santa  Iglesia  de  Toledo,  Visitador  il?  los 
Conuenlos  </<j  Monjas  dista  Çiudad,  y  su  Partido,  Capellan  de  Honor  de  Sn 
Wagestad.  Dedicase  a  todas  las  Esposas  de  Christo,  habitadoras  de  sus  sagrados 
Monasterios.  Impresso  segunda  ri-:,  con  todas  licencias,  por  orden  devn  zeloso. 
En  Lisboa,  l.n  la  offieina  Craesbeclciana.  Afio  ífiõõ. 

1.  .  :{  lis.  prel.  kn.,  i.\-l  pags.,  mais  -1  de  indice  innumeradas. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Velazquez  Salamantino  (Isidro),  a)  La  entrada  qve  en  el  num  de  Por- 
Vogal  hizo  la  S.  C.  K.  M.  de  don  Pkilippe,  invictissimo  Rey  de  las  Espaíias, 
segundo  deste  nombre,  primero  de  Portugal,  assi  con  su  Real  presencia,  emito 
con  el  exercito  de  su  felice  campo.  Hecho  por  Isidro  Velazquez  Salamantino, 
andante  en  Corte.  (Escudo  de  Manuel  de  Lyra,  substituído  o  centro  por  umas 
armas  reaes  porluguezas).  Impresso  con  licencia,  examen,  y  apprabacion,  por 
Manuel  de  Lyra.   I  costa  de  Simon  Lopez  Librero. 

No  verso  do  ultimo  folio  (160)  o  escodo  de  Manuel  de  Lyra   os  ursos 

IIist.  e  Meu.  da  Acad.— Tomo  xii  paute  11.— N.°  5  Is 


I  J  I  A   I.ITII.HATUIÍA   III.SIWMIOI.A  EM   PORTUGAL  (2*4) 


usados  por  João  Blavio)  lendo  em  cima:  «Por  Manuel  de  Lyra»  c  pela  parte 
inferior:  ■M.D.LXXXIII». 

4.°,  :t  lis.  prel.  iim.,  afora  frontispício,  160  numeradas  pela  frente. 

toas  preliminares:  Licencia,  sonetos  em  hespanhol  (dois,  encomiásticos 
aó  auetor  pelo  licenciado  Fonseca  da  Sylua  eDon  António  Pereira,  c  dois  do 
próprio  auetor:  a  la  vnion  de  los  Reinos  e  A  la  S.  C.  H.  Mageslad)  dedica- 
tória ao  rei  e  ai  lector.  Licencia:  «Por  mandado  dei  Illustrissimo  y  Reuerê- 
dissimo  senor  Arçobispo  de  Lisboa,  Inquisidor  general  en  estos  reynos  de 
Portugal,  vi,  j  examine  este  libro,  intitulado  Las  entras,  y  casos  dignos  de 
cuento,  etc.  V  me  parece  digno  de  se  imprimir,  por  no  liallar  en  el  cosa  contra 
nueslra  sagrada  religion,  y  buenas  cosiumbres,  ni  cosa  scandalosá,  ni  inde- 
cente, en  Ice  de  lo  qual,  íirmee  aqui 

Fr.  Bartholomé  Ferreyra. 

^i  Visla  la  informacion,  puedese  imprimir.  En  Lisboa,  17  de  Octnbre, 
de  81. 

Manuel  de  Quadros  Jorge  Serrano        António  de  Mendoça.» 

No  alto  das  paginas  o  seguinte  titulo:  Casos  diijnos  de  mento. 

Exemplar  da  Bibliolheca  Nacional  de  Lisboa. 

1>)  La  orden  qve  se  tvvo  en  Ia  solemne  procession  que.  hizieron  los  denotas 
cofmdes  dei  sanctissimo  Sacramento,  de  la  yglesia  dr  seftor  S.  hílian,  en  la 
Ciudad  de  Lisboa,  celebrando  la  festiuidad  ih'  s/t  Cofradia.  Domingo  dos  de 
Septiembrp  Afio  de  1582.  Con  licencia  y  Prittilegio  Real.  Impresso  en  la  muy 
noble  y  leal  Ciudad  de  Lisboa,  por  Manuel  de  Lyra  1582. 

I  vol.  8.°,  87  fls.  numeradas  pela  frente. 

No  privilegio,  em  portuguez,  é  que  se  declara  o  nome  do  auetor  — Isidro 
Velazquez.  natural  de  Salamanca.  A  approvação  é  de  Fr.  Barlholomeu  Ferreira. 
Nas  folhas  preliminares  vem  algumas  poesias,  e,  entre  ellas,  o  seguinte  curioso 
soneto : 

Del  Autor  ai  Reyno 

Todo  lo  que  el  Tajo  eiiie  y  baila 
Dueró,  y  Mino;  algarae,  j  los  Islanos 
Con  la  índia,  ai  ciclo  alce  las  manos 
Pues  piisêe  por  Key,  ai  rey  despafia 

Quebrante  su  furor,  la  ira  y  sana 
llagan  liga  y  vnion  los  Lusitanos 
Cõ  los  nueuos  cõsorles  Castellanos 
Desterrando  la  paz  toda  cizafia 


(245)  A  UTTERATURA  HESPANII0LA  KM  PORTUGAL  125 


Aplaqui 

■se  el  rigor  j  la  braneza 
■se  la  anligua  tlcuoeioii 
los  pódios  nohlcs  una  1 

Imi 

l.iu.t 

o  i  Lisboa  la 

i  i  l  ..  ■. 

Qm 

Itiu 

iga  a 

csla  -ii  ilcuol 
,  Dios  por  la 

a  proc 
vida  di 

I  iii  bello  propagandista  da  união  ibérica  o  Sr.  Velazquez  Salamanlinnl 

\  Bibliollieca  Nacional  de  Lisboa  possue  um  exemplar  d'esla  obra  i Iro 

pertencia  a  José  Maria  Nepomuceuo.  Existe  lambem  na  Bibliolheca  Nacio- 
nal ilo  Rio  de  Janeiro,  assim  como  o  opúsculo  seguinte  i  \nnaes,  tomo  viu, 
pag.  *  10». 

\n  principio  do  século  passado  publicou-se  um  opúsculo  sobre  o  mesmo 
assumpto,  baseado  principalmente  na  narrativa  de  Velazquez.  Foi  composto  por 
Joaquim  Roberto  da  Silva,  de  rujas  circunstancias  pessoaes  não  deram  infor- 
mação nem  Barbosa  nem  Innocencio  da  silva.  Eis  a  descripção  do  opúsculo: 

iRelação  da  solemne  procissão  do  Corpo  de  Deus,  que  aos  •>  de  Setem- 
bro de  l-iS-2  fez  ;i  Irmandade  do  SS.  Sacramento  da  freguesia  de  S.  Julião 
desta  cidade,  em  acção  de  graças  pela  victoria  que  as  nossas  armas  alcança- 
ram ao  mesmo  tempo  da  armada  françeza:  extrahida  de  algumas  memorias 
manuscriptas  e  fidedignas  d'aquelle  tempo,  e  de  um  livro  composto  na  lingua 
castelhana  por  Isidoro  Velasquez,  etc.  Lisboa,  por  José  António  da  Silva.  1731, 
i. ".  de  20  pags. 

Possuía  um  exemplar  d'este  opúsculo  o  Sr.  José  Maria  Nepomuceno. 

o  auctor  do  Agiologio  Lusitano  cita,  alem  da  descripção  de  Velazquez,  uma 
em  verso  latino,  de  Pedro  Fernandes,  publicada  em  1S89  (ou  1359?).  Vide 
[giologio  Lusitano,  tomo  m.  pag.  324). 

A  procissão  de  2  de  setembro  parece  que  fora  feita  com  o  máximo  apparato 
em  attenção  a  ser  presenceada  por  Filippo  II,  que  estava  em  Lisboa,  lendo 
vindo  a  tomar  posse  do  seu  novo  reino.  Foi  uma  das  cousas  que  mais  o  ini 
pressionaram,  segundo  se  deprehende  da  carta  que  elle,  logo  no  dia  seguinte, 
endereçou  a  .-nas  filhas.  Lis  o  que  o  monarca  escreve: 

«No  puedo  responderes  agora,  que  lengo  mucho  que  hazer  y  es  tarde; 
v  assi  lo  dexaré  para  el  Umes,  por  deciros  algo  de  la  procesion  que  vimos 
ayer,  my  hermana  y  uiys  sobrinos  y  yo,  desde  las  ventanas  de  la  Rua  Nova 
que  están  pasado  el  aposento  de  mi  hermana.  'i  aunque  creo  que  muchos 
èscrivirán  delia,  no  quiero  dexar  de  deciros  que  fué  muj  buena.  Es  solamente 
de  una  perocba,  que  lo  es  desta  casa,  que  se  Mama  Sant  Jian,  qu'es  Sant  .lu- 
lian,  como  creo  que  ya  lo  sabeis;  en  todas  las  de  aqui  vau  baziendo  las  pro- 
cesiones  después  de  Corpus  Christi,  como  ay  tambien  se  baze.  V  esta  vi  agora 


Í26  A  LITTERATURA  HESPANHOU  F.M  PORTUGAL  (246) 


mi  ano,  no  sé  si  os  escrivi,  mus  entonces  faé  ordinária,  y  algunos  anos  de 
tarde  cri  larde  dicen  que  la  hazen  muy  bier^  y  esto  poças  vezes,  porque  les 
cnesla  mucho.  Yã  la  de  ayer  no  pudo  dexar  de  ser  asi,  porque  cierlo  fué  muy 

I na;  5  aunque  decian  mucho  delia  \  yo  pense  que  no  avia  de  parecer  poi 

esto  lambien,  lia  parecido  aun  mejor  de  lo  que  lodos  pensávamos;  j  cierlo 
me  ha  pesado  mucho  de  que  no  la  viésedes,  ni  vuestro  hermano,  aunque  hubo 
unos  diablos  que  parecian  á  las  pinturas  de  Hieronimo  Bosc,  de  que  creyo  que 
tuviera  myedo.  Diéronme,  la  larde  antes,  un  papel  de  las  cosas  que  iban  en 
l;i  procession  fnera  de  las  ordinárias,  y  fué  muy  necesario,  porque  le  luvimos, 
v  por  d  entendíamos  loque  era  cada  cosa;  y  aqui  os  le  embio:  por  donde  lo 
entendereis,  aunque  va  mucho  de  visto  á  escrito:  y  lo  que  dei  no  enlendiéredes 
os  lo  podrà  declarar  dona  Maria  Manuel».  Letlres,  pag.  IS7. 

ci  Lu  orden  une  se  tuim  eu  la  solene  procession  une  hizieron  los  denoto* 
cofrades  dei  Sãctissimo  Sacramêlo,  de  la  iglesia  de  S.  lulian,  eu  la  ciudad  de 
Lisboa,  celebrado  la  festiuidad  de  sua  cofradia,  Domingo,  dos  de  Septiêbre,  de 
ÍÕ82.  Con  licencia.  Impresso  en  Lisboa  en  casa  rir  Manuel  de  Lyra.  1582. 

8.",  88  lis.  numeradas  de  um  só  lado,  incluindo  frontispício  e  mais  7  de 
preliminares.  No  verso  do  frontispício  uma  oitava  em  verso  hendecassyllabo, 
declarando  o  nome  do  auetor,  Isidro  Velazquez,  e  logo  em  seguida  a  appro- 
vação  ou  censura  de  Frei  Bartholomeu  Ferreira,  que  é  do  lheor  seguinte: 

«For  mandado  do  lllustrissimo  A-  Reverendíssimo  Senhor,  Arcebispo  de 
Lisboa,  Inquisidor  Geral  digníssimo,  destes  Regnos,  Examinei  este  tratado, 
onde  se  refere  a  procissão,  do  sanctissimo  sacramento,  q  Qzerão  os  fregueses. 
&  confrades  de  Saiu  Gião,  &  se  couta  por  ordem,  dé  bon  estilo,  da  maneira, 
que  se  representou,  A-  porque  na  lai  relação  não  lia  cousa  contra  nossa  sa- 
grada religião,  antes  he  de  muyta  edificação,  &  causara  deuação  pareceme 
digna  de  se  imprimir. —  Bartolomeu  Ferreira». 

Em  seguida:  «Vista  a  informação  podesse  imprimir,  A-  depois  de  im- 
presso tornara  ã  esta  mesa.  hum  dos  nouamente  impressos,  com  ò  original 
pêra  se  cõferir  com  elle,  A  se  lhe  dar  licença  pêra  correr.  Em  Lisboa,  1Í2  de 
Nouembrô,  de  82.— .Manoel  de  Cuadros,  Paulo  Afonso,  António  de  Mèdoça». 

Vem  depois:  oitava  hendecassyllaba  elogiando  o  zelo  dos  porluguezes  por 
motivo  d'esta  procissão;  Sonelo  dei  autor  ai  Reyno;  Soneto  en  fauor  dei  Autor, 
de  vn  Cortesano;  A  la  M.  H.  (soneto  a  D.  Filippei;  A  la  S.  C.  R.  M.  de  Don 
Philippe,  inuictissimo  Rey  de  las  Espanas,  etc.  (prosa);  Exortacion  a  los  de- 
noteis, charos  y  muy  amados  hermanos,  de  la  deuola  y  biê  ordenada  cofradia, 
dei  sanctissimo  sacramêto  de  la  perroquia,  de  senor  S.  .lulian,  en  la  Ciudad 
de  Lisboa;  El  avtor,  ai  Lector. 

Exemplar  de  Annibal  Fernandes  Thomaz. 


(247)  A  LITTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  i -I - 


Vera  Luis  de),  a)  Devlaracion  copiosa  de  la  dotrina  chrisliana  com 
pvesta  poi  ordeii  dei  Beatíssimo  Padre  Clemente  VIU.  poi  el  padre  Itoberto  é 
Belarmino  de  /</  Cõpailia  de  lesas,  Cardenal  que  es  dt  la  S.  Iglesia.  Vista,  >i 
aprouada  /»</'  /'(  Congreyacion  de  In  reforma.  Traduzida  de  língua  Italiana  en 
Castellana  por  Lttis  de  vera,  Secretario  dei  Duque  dt  Mõteleõ.  )  dei  próprio 
aftadida  en  esta  vitima  impression,  vna  Lucha,  o  combate  espiritual  dei  alma 
cu  sus  afectos  desordenados.  Con  adiciones  de  eaêplos  ai  fin  de  los  capítulos,  por 
,l  Maestro  Sebastian  dt  Urio  Catedrático  de  /'num  de  Griego,  y  Corrector  de 
libros  en  la  Vniuersidad  de  Mana.  Em  Lisboa.  Por  Malhias  Rodrigues.  Não 
lem  data,  sendo  as  licenças  de  1629,  1630  e  1634). 

I  vol.  8.°,  II  fls.  prel.  inn.,  208  fls.  e  mais  15  inn.  de  iudice. 

Exemplares  de  Rodrigues  i1  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

6)  Lvcha  o  Combate  espiritval  dei  alma  con  sus  afectos  desordenados.  Com 
presto  en  lengua  Italiana  po>  nu  sieruo  de.  Dios,  y  traduzido  en  In  Castellana 
por  Luys  de  Vera,  secretario,  ele.  Tambien  van  traduzidas  ai  fin  las  medita- 
ciunes  de  los  dolores  menlales  de  Christo  N.  S.  dei  próprio  \utor.  \'.u  Lisboa, 
p  Mathias  Rodrigues.  Anno  de  Í630. 

s.".  65  fólios,  mais  '■'<  pags.  inu.  de  indice. 

Eslas  duas  obras  costumam  andai  juntas  encadernadas. 

Exemplar  da  líibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Verdade  desnuda  armada  de  razon  sucesos  enrtegables  con  que  triunfa  de 
los  embustes,  y  enredos  que  se  k  oponen  en  ttn  papel,  quecon  aprobacion,  dize, 
dei  Excellentissimo  Sefíoi  Arçobispo  de  Zaragoça  ha  esparcido  la  malícia,  puni 
ofuscar  el  derecho  de  la  Magestad  de  Carlos  tercero  (que  Dios  guarde)  a  In 
Corona  de  Espana  ;  puni  desluzir  el  credito  de  las  irmãs  de  los  Min/los;  e  puni 
denigrar  la  fidelidad,  y  valor  de  los  Calalanes.  No  liia:  En  Lisboa.  En  la  Tm- 
prenla  de   intonio  Pedroso  Galram.  Afio  1706. 

..',  28  pags. 

Exemplar  de  Jeronymo  Ferreira  das  Neves. 

Verídico  Espanol  (El  .  K  um  periódico,  lilterario,  politico  e  noticioso, 
de  'i111-'  se  publicaram  !>  números,  sendo  o  I."  de  limes  2  de  noviembre,  e  o 
ultimu  de  sabbado  -i\  do  mesmo  mez. 

L°j  8  pags.  cada  numero. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  3-U-IO/14-i4954-prelo. 

Vermell  y  Busquets  (D.  Luis).  Este  artista  viajou  em  Portugal  e  aqui 
trabalhou.  Tiron  desenhos  de  pelourinhos  e  outros  monumentos,  alguns  dos 


'l'_'S  \  i.nn-.UATI  HA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (248) 


ijuaes  se  podem  ver  no  Occidente.  Reproduziu  em  ponto  pequeno,  em  ma- 
deira de  nogueira,  a  pia  baptismal  da  egreja  das  Caldas  da  Rainha.  Possuía 
este  modelo  o  Sr.  José  Gregório  da  Silva  Barbosa,  que  a  arrematou,  com  ou- 
tros objectos,  no  leilão  de  I».  Fernando  (Vide  numero  do  respectivo  catalogo) 
por  i5fH00  reis. 

A  esle  propósito  escreveu  Vermell  no  primeiro  opúsculo  abaixo  descriptu, 
pags.  26-27: 

«A  pia  baptismal  feita  em  duas  peças  de  pedra  fina,  lê  de  forma  octogona 
e  de  composição  bastante  rara  na  collocação  de  quatro  animaes  chimerieos: 
o  seu  ornato  é  muito  e  de  transição  do  gosto  ogival  ao  do  renascimento, 
transição  que  constitue  o  n'este  reino  chamado  «manuelino».  Esta  pia  fez-me 
entrar  em  tentação  de  copiar  delia  em  relevo  só  urna  oitava  parte,  para  que 
nesta  villa  os  fabricantes  de  louça  a  reproduzissem,  porem  foram  preguiçosos 
em  fazer  a  forma,  por  cuja  razão  acabei  de  entalhar  a  pia  toda,  em  madeira 
de  nogal  muito  vistosa,  no  que  soffri  bastante  de  animo  pela  grande  paciência 
de  lavrar  as  Ires  ordens  octogonas,  cada  ordem  de  ornato  egual,  menos  a 
tampa  que  foi  toda  original  meu;  constância  que  por  lim  foi  premiada,  pois 
S.  M.  El-Rei  D.  Fernando  gostou  da  copia  da  pia  e  se  dignou  adquiril-a,  tendo 
alem  disto  por  bem  11'esla  occasião,  honrar-me  com  o  título  de  esculptor  e 
entalhadòr  da  sua  real  casa». 

Publicou  no  nosso  paiz  os  dois  seguintes  opúsculos: 

a)  Origem  do  real  hospital  e  da  villa  das  Caldas  da  Rainha.  Com  mais 
alguma  noticia  interessante  assim  histórica  como  archeologica,  e  lambem  acerca 
da  virtude  das  aguas  mineraes  da  dita  villa.  Excerpto  do  Tomo  ri  da  ohm 
inédita  das  Viagens  de  D.  Lais  Vermell  ij  Busqueis  (o  peregrino  hespatihol) . 
Pintor,  e  esculptor-eutalhador  da  Real  Casa  de  Sua  Magestude  o  Senhor  D.  Fer- 
nando. Lisboa.  Typographia  Universal  de  Thoma:  Quintino  Antunes,  Impressor 
da  Casa  Real,  Rua  dos  Calafates  110.  1878. 

16.°,  38  pags. 

b  i  0  Púlpito  da  igreja  de  Santa  Cruz  de  Coimbra  ou  a  jóia  artística,  em 
paira,  mais  formosa  de  Portugal.  Adegarias  e  allusões  que  contém,  interpretadas 
e  descriptas  por  D.  Luis  Vermell  y  Busqueis  (o  peregrino  hespanltol)  Pintor,  e 
esculptor-entalhador  da  Real  Casa  de  Sua  Magestade  o  senhor  D.  Fernando. 
Excerpto  do  tomo  n  da  obra  inédita  das  «  Viagens»  do  dito  auetor.  Coimbra, 
Imprensa  Litleraria,  1880. 

1  vol.  8.°,  \"2  pags.  com  uma  estampa  litograpbica  de  Ribeiro,  represen- 
tando o  dragão  que  ornamenta  a  extremidade  inferior  do  púlpito. 

No  Tribuno  Popular,  periódico  de  Coimbra,  no  numero  correspondente 
a  3  de  setembro  de  1870,  publicou  um  artigo  em  hespanliol,  Impresiones  de 


24Í)  \   LITTERATURA   «ESPANHOLA   EM   1'ORTUGAL  I -'•• 


Bussaco,  de  que  o  Sr.  Simões  de  l  astro  reproduz  alguns  trechos  no  seu  Guia 
histórico  do  Bussaco,  cuja  I."  edição  é  de  Coimbra,  1873. 

Na  Bibliographia  da  Imprensa  da  Universidade  de  1872  e  1873  consa- 
gra-lhe  um  artigo  o  Sr.  Seabra  de  Albuquerque. 

Victoria  (Francisco).     Vide  Chaves  (Thumaz). 

Vida  {l.ii'  y  nwerle  dei  padre  mceslre  Fray  Irou  Bernal  de  lo  ordvn  *l. 
nueslra  seflora  de  las  \fercedes,  ele. 

Muriú  en  SeviUa,  miercoles  veynte  y  nu  dias  dei  uns  de  noviembre  uno  de 
mil  seiscentos  tj  uno.  Impressa  mm  licença  do  Santa  Inquisição,  por  António 
Aliiare:.  Anno  WCCCCCCM. 

Tem  uma  vinheta  que  figura  um  bispo  abençoando  um  pi ukíjm'.  que 
tem  junto  a  si  uns  escudos  com  as  três  flores  de  li/.  .Nu  fim  tem  outra 
vinheta. 

Descriplo  pelo  Sr.  Conde  de  Sabugosa  a  pag.  13  da  sua  edição  do  Auto 
:in  Festa,  de  Gil  Vicente. 

Villalobos  (Estèuan).      Primera  parle  |  Dd  Theso  !  ro  da  Divina  Poesia 
donde  se  conlienen  varias  obras  de  detto    cion  de  diucrsos  autores,  cuyos  Ulu- 
las   se  veran  a  la  buelta  de  la     hoja.  |  Recopilado  por  1  Esteuan  Villalobos. 
Impresso  en  Lisboa  con  \  licencia  por  forje  Rodriguez  Impressor  |   [no  de  1598. 
\  cosi  i  de  Pedro  Flores,  mercader  de  Libras.   Vendese  en  su  lienda  ai  Peloiino 
Velho  junto  a  la  rua  noua. 

No  reverso  as  licenças. 

Na  I.1  folha  innumerada  o  elenco  das  obras  contidas,  a  saber: 

Svma  de  la  vida  dei  Saraphico  padre  san  Francisco  por  don  Lope  de  Sul 
uns.  Dirigida  a  dofta  Antónia  Pacheco,  Priora  dei  monaslerio  de  la  Conçepcion 
de  In  villa  de  Escalona. 

*'  Breue  suma  de  la  admirable  conuersion  y  ruiu  ilv  la  gloriosa  Magda 
Ima,  cu  estancias,  dê  incierto  amor. 

*'  La  sagrada  Passion  de  nuestro  Redemptor  Jesu  Christo,  en  redõdiltas, 
por  fray  Pedro  Juan  Micon. 

*[[  Kl  llanto  de  san  Pedro,  compuesto  en  estancias  italianas  por  Luys  Fran- 
silo,  y  traducido  en  redondillas  por  Luys  Galues  de  Monlaluo. 

*  Sátiras  morales,  en  arte  mayor,  y  redondillas,  por  Aluar  Gomez,  cuyas 
fueron  las  villas  de  Pioz,  y  Aranton. 

ilada  uma  d'estas  partes  tem  frontispício  especial,  excepto  a  i.a  A  2.a, 
depois  do  titulo  «En  estancias  sacada  a  luz  por  Esteuan  de  Viilalouos  (sic)*. 
0  da  :{.•'  tem  uma  gravurinha  representando  Christo  entre  as  santas  mulhe- 


430  A  L1TTERATURA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (250) 

res.  0  litolo  pela  parte  superior,  e  na  inferior  'Sarada  a  luz  por  Frey Pedro 
.'  11:111  Mirou». 

I  vol.  8.°.  8  inn.,  223  tis.  numeradas  pela  frente.  Do  folio  I9í)  em  deante 
ha  erro  de  numeração  lendo-se  100,  onde  se  devia  ler  200,  etc. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Vide  Catalogo  da  Biblio- 
Uieca  da  Rua  Larga  de  S.  Roque  (Ferrão)  n."  1:312. 

ii  exemplar  de  Innocencio  foi  vendido  [»or  750  réis!  Vide  n."  1:966. 

Barbosa  erradamente  designou  este  auctor  por  portuguez.  Vide  o  Diccio- 
nario  de  Innocencio,  vol.  n-  pag.  2'i2. 

Villalobos  (Fr.  Henrique  dei.  —a)  Svmma  de  Ia  Theologia  Moral,  y  ca. 
nonica.  Comi/resta  por  el  R.  P.  F.  Henrique  de  Villalobos,  Lector  de  /'rima  de 
Theologia  lubilado  de  S.  Francisco  el  Real  de  Salamanca,  y  Padre  de  la  Pro- 
uincia  de  Santiago,  natural  de  Zamora.  (Estampa)  Con  licencia  de  la  S.  Inqui- 
sio»,  Ordinário  y  dei  fíey.  En  Lisboa.  Por  Pedro  Crasbeeck  Impressor  ilel  Rey. 
Aíto  li)23.  A  custa  de  Domingas  Marlinz  mercador  de  liuros. 

Kolio,  i  pags.  prel.  inn..  (ií)l  afora  Tabla. 

In  Seguida  parte:  Ibid.  ibid.  1027. 
20  pags.  prel.  inn.,  73í  afora  Tabla  innumerada. 
Ha  l.a  parte  ha  exemplares  com  outro  frontispício. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Villaroel  (Gaspar).  —  Dos  sermones  en  la  fiesta  de  N.  /'.  S.  Avgmtin  cl 
vno;  y  en  la  Canonizacion  dei  glorioso  San  Ignacio  de  Loyola  el  oiro.  Por  el 
Padre  Maestro  Fr.  Gaspar  de  Villaroel  de  la  Orden  de  nuestro  Padre  S.  Âu- 
guslin  de  la  Prouincia  dei  Peru.  Prior  ij  Vicário  Prouincial  dei  Conuento  de 
In  Ciudad  de  Casco.  Dispuestos  por  cl  Padre  Predicador  Fray  Luys  de  Lagos 
su  compaíiero.  A  nvestro  muy  Reverendo  Padre  Maestro  Fray  Francisco  de  la 
Sema  Prouincial  absoluto  de  la  Prouincia  de  nuestro  Padre  San  Augustin  dei 
Peru,  Cathedratico  de  Theologia  de  proprieãúd  en  la  Vniuersidad  Kcal  de  la 
Ciudad  de  Lima.  lia  Lisboa  por  António  Aluarez.  Anuo  de  lU-lí. 

Cada  um  destes  sermões  tem  frontispício  e  paginação  á  parle  —  o  I.". 
.">  lis.  prel.  inn.,  14  tis.;  o  2.°,  1  prel.  inn.,  16  fls.  Nas  preliminares  do  1.°, 
uma  dedicatória  de  Fr.  Luys  dos  Anjos  datada  de  Lisboa  a  10  de  novembro 
de  1631.  Algumas  referencias  curiosas  á  vida  litteraria  do  auctor. 

Villegas  (Alonso  de).  —  Fios  sanctonun :  segunda  parle,  y  Historia  Gene- 
ral en  cjue  se  escribe  la  rida  de  la  Virgen,  Lisboa  1610,  tomo  a. 
Catalogo  de  Bertrand. 


(25i  I  A     III  rERATI  BA    ili>i'W \   I  \i  PORTI  CAI  \'\\ 


Villegas  (.Pedro  Feniaiido  de).     Floscolus  Sacramintorum  Petro  Ferd.  rfi 
Villegas  Archidt  icono  Burgett  Authore.  In  eorum  graliam  qui  Sacris  initiart 
uudent,  ab  innumeris,  quibm  kaclenus  scatebal,  mendis,  diligeiíti  cura  repui 
gatus.  (Gravurintía  oval  com  armas  episcopaes).   Visei.   Excudebal   Emanuel 
luannes  Typographus  D.  D.  Georgim  0'attaide,  Episc.  Visensis.  Anno  WDLXXII. 

I  vol.  8.°  (ou  12."?),  :t  lis.  prel.  inn.,  7-.!  numeradas  pela  frente.  No  verso 
■  In  frontispício  ;i  approvação  de  Fraler  Didacus  de  Miranda:  «Vidi,  ac  perlegi 
hoc  opus:  in  quo  omnia  lidei  orthodoxae,  ac  sanctorum  Patrum  senlentiis 
consonant».  Nas  preliminares  Dedicatória  de  Pedro  Fernando  de  Villegas, 
Sanctae  Ecclesiae  Burgensis  Archidiaconus;  duas  poesias  Patinas,  uma  das 
quaes  'In  presbytero  ^ndré  Gomes  ao  estudioso  leitor. 

Exemplar  da  Bibliotlieca  Nacional  de  Lisboa  n.°  -J:-'i.'!.'>  (T.  Dog). 

Ribeiro  dos  Santos  (Memorias,  pag.  HO),  diz  que  existia  um  exemplar 
n,i  Real  Bibliothcca  de  Lisboa,  junto  com  >>  volume  que  tem  por  titulo:  Cen 
sura  in  Glossas  et  Aiiditiones  Júris  Canonici,  Olisipone  lõ75,  li." 

Fernando  Cólon  tinha  na  sua  livraria  um  exemplar  d'esta  obra,  impressa 
em  Paris  ;i  i(*>  do  novembro  de  IS10  (n.°  :!i.'i  do  seu  catalogo). 

Esta  obra  foi  enviada  á  exposição  de  Paris  de  1867  •-ir/mu  </«  travail), 
figurando  no  respectivo  catalogo  sob  o  ri."  256-bis,  com  a  designação,  por 
ventura  errada,  de  ser  o  formato  cm  \: 

Visorio  de  Perpifian  (Henrique). — Anagramma  il<-  la  vida  Iwmana:  cò- 
/mesta  por  Henrique  Visorio  de  Perpifian.  Dirigida  a  D.  Francisco  Lopez  de 
çufiiga,  Sefior  dei  Condado  de  Pedrosa,  y  de  las  Villas  de  Vaydes,  y  Couela, 
n  TorreziUas  dei  Pinar,  //  sus  Aldeãs.  (Este  titulo  está  por  cima  de  um  escudo 
de  armas)  Por  baixo:  /•.'//  Lisboa.  Impressa  mu  lieencia,  /«>/•  António  âltiarez, 
v  Afonso  Lopez,  ÍÕ90. 

I  vol.  8.°,  15  ll>.  prel.  um..  6i  IN.  numeradas  pela  frente. 

Nas  preliminares',  alem  das  licenças,  contem:  La  Descendência  dela  illuslre 
Casa  de  Çuniga;  versos  em  latim  de  Gabriel  Pereira  de  Castro  e  Vicente 
Nunes  Ferreira;  e  Proemio  de  Henrique  Visorio.  La  Descendência  ú  uma  compo 
sição  de  :ii  oitavas  liendecassylabas.  .V  approvação,  de  Bartholomeu  Ferreira. 
e  do  llieor  seguinte: 

«Vi  por  mandado  de  sua  Alteza  estes  cãtos,  ou  Anagramma  de  la  vida 
humana.  A  uani  tem  cousa  contra  nossa  Sãcla  Fé  A  bons  costumes,  antes 
coutem  muyta  edificação,  erudição,  A-  curiosidade  nas  cousas  diuinas,  &  scien 
cias  humanas.  Vão  aqui  alguas  fições  poéticas  a  lugares,  q  he  estilo  admiti- 
remse  para  ornamento  do  verso-. 

La  Anagramma  é  um  poema  de  vario  metro  em  ti  cantos. 

No  I."  se  cuenta  la  creacion  dei  hombre.  y  cxccllencia  dei  iugenio; 


Hl!  a  LITTERATURA  HBSPANHOLA  EM  PORTUGAL  (252) 

No  -2."  >r  prosigue  en  la  contemplacion  dei  ingente,  tratando  de  la  Ks- 
phera ; 

No  3.°  se  trata  de  la  creacion  de  Eua,  y  el  poder  qoe  Dios  dio  a  los  pri- 
meros  padres; 

No  í."  se  trata  como  Adam  peccó,  y  como  Diosvino  ai  mundo  por  repa- 
rar este  peccado; 

No  .">."  se  trata  dei  Juyzio  linal ; 

Nu  6.°  se  trata  algnnos  santos  contemplatiuos. 

<•  poema  termina  no  verso  da  11.  b"3.  Na  64."  uma  poesia  latina  do  auetor 
ao  leitor. 

Exemplai-  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Havia  outro  no  leilão  da  livraria  do  Marquez  de  Gastello  Melhor,  n."  :J:G20. 

Ximenez  (  Kray  Diego).  —  Enchiridion  (no  alto  da  paginai.  —  Por  baixo 
logo  a  seguir  em  typo  maior:  Enchiridion  o  Manual  de  Doctrina  Christiana  (que 
tambieti  pttede  seruir  de  Confessionário)  diuidido  en  cimo  parles:  eu  que  por  via 
de  preguntas  y  respuestas  se  ensenã  ai  Christiano  iodo  lo  q  deite  creer.  y  no 
ereer:  dessear  //  aborrecer:  hazer  y  no  luizer:  saber  y  no  saber.  Hecho  y  copi- 
lado  por  el  fi.  P.  jray  Diego  Xiniciuz,  de  la  orden  de  los  Predicadores.  Dirigido 
ai  Bey  de  Portugal-  La  tabla  de  lo  que  aqui  se  traia  se  vera  luego  trás  el  pro- 
logo. Con  priuilegio  pura  lo  de  Portugal  <r  de  Caslilla  por  diez  anos.  M.D.LII. 
Pttede  ijr  con  esto  sn  Sermõ  de  la  Magdalena,  //  la  E.rposiciou  dei  Miserere.  No 
lim:  Fue  impressa  esta  obra  en  la  insigne  y  siempre  leal  ciudad  de  Lisbona  eu 
casa  de  German  Gallarde  Impressor  dei  liey  nueslro  seftor.  Acabose  de  imprimir 
aios  rj  dias  de  Mago  de  M.D.LII. 

1  vol.  8.°,  8  lis.  prel.-inn.,  cclj  tis.  numeradas  pela  frente,  mais  1  innu- 
merada.  Caracteres  gothicos. 

No  verso  do  frontispício  começa  o  prologo  a  D.  João  III,  datado  da  se- 
guinte fornia:  «Deste  cõuêto  tan  suyo  de  S.  Domingo  de  Lisbona  a  x  de  Mayo 
de  M.DLII».  No  verso  da  II.  ccli  termina  a  obra,  seguindo-se  esta  poesia: 


Vn  amigo  ai  Enchiridion  y  a 

Doctrina  christiana,  y  Enchiridion 
Usa  salír  luziente  luzero 
Norte  y  espejo  de  nuestra  nacion 
No  temas  la  légua  dei  maldicionero. 
Al  ímiy  prepotête  Dò  loã  el  tercem 
Animoso  y  grã  rey  dei  buê  Portugal 
Tcdras  por  letor  j  patrõ  verdadero 
oiro  por  esle  no  te  dirá  mal. 


\   Ml  11  BATI  BA   HESPANHOLA   KM   POHTI  CAI  b'ò'3 


llor  sobrada  por  libros  perfeclos 
Importante  a  la  fe  j  concierlo  de  \  ida 
A  vícios,  remédios,  virtudes,  preceplos 
De  doml  i  no  cojas  la  miei  escogida 
l'',n  li  liatlaran  despues  de  leyda 
No  menos  que  eu  ladas  (sír)  las  buenas  doèlrina 
Urden  y  peso,  breuedad  eslendida 
Itazon,  elaridad,  sentencias  diuinas. 

1 1  cuerdo  lector  si  quieres  ser  bucnu 
\i  ai  Manual  le  dexen  lus  manos 
\i  dexe  de  siempre  andai'  en  tu  seno 
\  trueco  de  histórias  >  libros  liuianos. 
Pues  como  el  mâjar  elos  cuerpos  humanos 
Assi  como  ''I  es,  les  da  lus  humores 
No  de  otra  manera  I"-  pechos  chrislianos 
roni  in  costumbi  es  --■-  un  sus  doclores. 

Xaraues  j  purgas  tendran  los  lectores 
^  mas  buen  manjar  i'ii  esta  oficina 
Én  que  purgando  sus  vicios  j  errom 

Engorden  y  crezcan  en  vidas  jores 

Zelo,  virtudes,  \  sana  doctrina 


Em  seguida  a  approvação  em  lalim  de  li.  Jerouimo  de  Azambuja.  l'or 
ultimo  o  colophon  de  Gallarde. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa,  n.°  1:477  (Tb.  Dog.). 
Vide  n.°  3:896  do  catalogo  do  Marquez  de  Gaslello  Melhor. 

Ximenez  Árias  (Fr.  Diego  .  a)  Lexicon  Ecclesiaslicon  latino  hispaniccm, 
ex  sacris  Bibliis,  Conciliis,  Pontificam  ac  Teologoru  Decretis,  diuorum  vilis, 
variis  Dictionnariis,  aliisq:  probatiss.  scriptoribus  concinnatum,  seruata  vbiq ; 
vera  etymologie,  orthographiae,  d  accentus  ratione.  Opus  nouum.  Autore 
F.  Didaco  Ximenez  Árias,  Ucantarensi.  Theologo,  Ord.  Praedicatorum.  Quantas 
ventajas  haga  este  Vocabulário  ai  mus  nueuo  de  Rod.  de  Saneia  Ella,  no  solo  en 
millares  de  mas  vocablos,  mas  en  otras  cosas,  cotejandolas  lo  conoceras.  Al/hi 
va  el  Computo  (Escudo  de  armas  archiepiácopaes)  Braccarae,  Apud  Antoniu 
a  Mmis.  Typographum  Reuerêdiss.  I).  Archiepiscopi  Hispaniárum  primális, 
alqz  de  eiusdem  licêtia.  1569.  No  lim:  Bracarae.  Apud  Antonium  à  Haris, 
Typographu  Reuerendiss.  I).  Archtepis.  Hispan.  primális.  Anno  lõ6i>.  Quarto 
nonas  Januarii,  vel  die  -2  Januarii. 

I  vol.  4.°  a  1  col.,  3  fls.  prel.  um.,  ^is  numeradas  pela  frente. 

Tem  a  seguir  •'»  Qs.  sem  numeração:  Arte  dei  Computo  nueuamente  cõpuesta 
por  el  Btíchiller  Uieronymo  de  Valêcia,  muy  vlil  y  necessária  a  todas  las  personas 
Ecclesiaslicas,  y  im  menos  aios  esludiãtes.  En  In  qual  -<■  cõtiene  el  Áureo  numero, 


|.'!'l  A  I.1TTKIUTURA   HESPANHOM  EM  POBTUGAL  (254) 

Letra  Dominical.  Fkstus  mottibles  cõcurrenle  cõ  la  lana.  Qiialrotêporas,  Vela- 
cioncs,  Nonas,  Idus  CalMas,  Ulympias,  Era  át  César  cõ  las  Indictiones.  )  vna 
tabla  por  la  qual  ppetuamele  se  sabran  las  fiesías  moitibles  de  cada  vn  afio. 
Agora  niieuamele  corregido  d  machos  errores  por  el  Licèciado  Buenauentura 
Ceruantes  de  Morales. 

In  Lexicon  Ecclesiasticvm  latino-hispanicvnn,  etc.  Olyssipone,  excudebal 
[nionius  Itihcrias.  expensis  Joannis  Hispani,  &  Michaelis  de  Arejais  Bibliopo- 
luram.   1588. 

1  vol.  'i.",  :!'J(i  lis.  numeradas  pela  frente. 

Esta  edição  traz  também  o  computo,  que  vae  incluído  na  numeração 
geral. 

Alem  das  approvações  liespanholas  tem  a  seguinte  de  Fr.  Barlholomeu 
Ferreira: 

«Vi  por  mandado  do  illustrissimo  &  Reuerendissimo  senor  Arcebispo 
inquisidor  mor,  &c.  este  Vocabulário  Ecclesiastico  do  padre  F.  Diogo  Xi- 
menez  &  uon  tem  cousa  contra  a  fee  &  bons  costumes,  &  podese  impri- 


ci  Sermon  mal  denoto.  Li:  German  Gallard.  lõôí. 
Exemplar  da  Bibliotheca  de  Évora. 

Xodar  (Fray  luan  de).  —Innocencio  incluiu,  diibidalivàmente,  este  nome 
mi  Oiccionario  Bibliographico.  Nicolau  António  e  IV.  João  Baptista  de  Santo  \n- 
lonio  consideram  n'o  portuguez,  mas  Barbosa  Machado  não  o  inscreveu  na 
sua  Bibliotheca.  Parece-nos  que  é  effecti vãmente  hespanhol.  Vimos,  em  poder 
do  Sr.  Macedo  Braga  um  exemplar  da  obra  descripta  por  Innocencio,  cuja 
descripção  passamos  a  lazer,  visto  o  nosso  bibliographo  ser  muito  suecinto  e 
incompleto. 

Obra  deuotissima  intitulada  de  Septez  verbis  domini.  Hecha  por  cl  lime- 
rcilo  ij  religioso  padre  fray  luan  de  Xodar:  licenciado  en  santa  llieologia :  predi- 
cador muy  famosa:  professo  d'la  sagrada  horden  de  penitencia  de  observada 
dei  glorioso  ij  seraphico  padre  sant  Frãcisco:  morador  dei  monesterio  d'  nucslra 
senora  dl  Valle:  desta  muy  voble  cibdad  de  Seuilla  ai  presente.  Commissario 
general  dela  ilicha  hordê  en  los  rei/nos  d' Portugal.  Dirigida  ai  muy  lalo  (sic) 
cê  muy  poderoso  &  inuictissimo  príncipe  don  luan  por  la  grada  de  dias  reij 
de  Portugal  &c.  i  Este  titulo  por  debaixo  de  umas  armas  reaes  portuguezas). 
Frontispício  largamente  tarjado.  No  verso  do  rosto  principia  a  Epistola  prohe- 
mial  a  D.  João  III  (3  pags.)  E  muito  elogiosa  e  nella  declara  que  vem  como 
commissario  geral  da  sagrada  ordem  da  penitencia  em  todos  os  reinos  de 


(255)  A   UTTKKATURA   HESPANHOLA   EM   1'ORTUOAI  í-35 


Portugal  para  tomar  obediência,  visitar  e  reformar  a  dita  ordem.  Allude  a  cartas 

de  rec ndação  da  imperatriz  irmã  de  l>.  João  III.  Datada  de  Sevilha, 

mosteiro  de  Nossa  Senhora  dei  Vallc,  a  20  de  janeiro  de  IS32 

hmocencio  diz  que  o  formato  è  de  folio  <•  assii seu  aspecto,  mas  as 

ruhricas  são  de  8.°,  a  ai .  b  br,  ele.  -'iJ  fólios  nu rados  pela  frente,  incluindo 

o  rosto  e  ;i  tabla,  mais  uma  innumerada  com  ;i  declaração  Lypographica.  \a 
exemplar  examinado  por  Innocencio  decerto  (pie  lhe  faltavam  as  Ires  folhas 
finaes.  <»  colophon  resa  assim: 

"I  (jloria  y  ulaltança  de  uueslro  Seíior  Jesit  cliri&to:  y  de  la  sacratíssima 
ni</rii  Maria  Madre:  y  de  la  gloria  de  toda  ta  corte  celestial,  \qni  se  acaban 
los  pologos  de  la  muy  santa  i/  denalisshna  obra  de  las  siete palabras  ipie  divhn 
pro  '  uueslro  sefior:  Hecha  por  el  R/merendo  //  religioso  padre  Fray  Irtan  de 
Kodar:  licenciado  en  santa  tlieologia:  professo  dela  sagrada  orden  de  penitencia 
de  obseruancia  :  dei  glorioso  y  seraphico  padre  sanl  Francisco:  Commissario  gene- 
ral dela  dicha  hordê  enlos  reynos  de  Portugal.  Fue  impressa  enla  insigne  ciudad 
dt  Seuilla  por  el  discreto  varo  Barlkolome  Perez  impssor:  en  la  casse  d' ela  tierpe. 
fue  vista  y  examinada  en  el  colégio  desolo  Thomas  de  Aquino:  por  el  min/ 
Reuerendo  /'mire  fray  Geronimo  de  In  Magdalena  frayle  professo  dela  Orden  de 
los  Predicadores:  colegial  dei  dicho  Colégio  por  mandado  dei  ordinário  dela 
dicha  cibdad  y  diocesis.  Acabose  n.  xj  dias  dei  mes  de  março.  \fio  dei  nasci- 
mienlo  de  nueslro  saJuador  Jesu  christo  de  mil  quinientos  1/  treynta  y  dos  aftos». 

Caracteres  gothicos  cora  algumas  gravuras. 

Ribeiro  dos  Santos,  segundo  Innocencio,  dá  esta  obra  como  impressa 
lambera  em  Lisboa.  Ainda  não  vimos  esta  edição,  se  a  houve. 

Yepes  1  l-Y;i>  Diego  de).  Vida,  virlvdes,  1/  milagros,  de  la  Bienaventivada 
virgen  Teresa  de  lesus,  Madre  y  Fundadora  de  In  nueua  Reformacion  de  la 
Diego  Orden  de  los  Descalçosj  1/  Descalças  de  nuestra  Seítora  dei  Cármen.  Por 
Fray  de  Yepes.  Lisboa,  Pedro  Crasbeeck,  1616. 

\:\  36  As.  prel.  e  880  pags. 

\>  preliminares  contem  licenças,  dedicatória  a  Paulo  \.  Tabla  e  ProJogo, 
«doude  se  ponen  vários  testimonios  de  personas  graues,  doctas  \  santas,  que 
aprovaron  el  espirito  de  la  Santa  Madre  Teresa  de  Jesus».  (Salva,  u,  pags.  i><ií  1. 

Vimos  lambem  um  exemplar  d  esta  obra. 

Zacuto  (Abraham).  Celebre  astrónomo  ao  serviço  de  D.  Manuel.  Era 
natural  de  Salamanca.  Publicou  a  seguinte  obra: 

Almanach  perpetuum  Celestium  moluum  aslronomi  Zaculi.  cujas  Radia  esl 
1473.  Leiria  1495. 

I  vn I.  '.." 


I.ili  A  LITTERATUnA   HESPANHOLA   KM   PORTUGAL  (250) 

Ribeiro  dos  Santos  dá  circunstanciada  noticia  d'esta  obra  nas  Memorias 
tohrc  a  tgpographia  •  pag.  10)  e  nas  Memorias  solire  os  malkemalicos  porlugmzes. 

No  catalogo  lia  livraria  do  filho  de  Colombo  (n."  3:130)  vem  descripla 
;i  seguinte  obra : 

Tabula  labularum  celeslium  molnttm  astron.  Rabi  Ahraham  Zacmi.  Est. 
ih  i."  [mpr.  anno  1496  sole  existente  in  lu  gradn. 

Possuía  também  a  edição  de  Veneza  de  1502,  e  um  tratado  manuscriplo 
nu  hespanbol  (n.°  i:174 1. 

Zamora  (Alonso  de).-  Flor  de  virlvdes.  \  Tratado  j  de  varias  sentencias, 
y  doe-  |  trinas  de  lo  Sagrada  Escriptura,  y  de  \  oiros  Sábios  antiguos.  Com- 
pueslo  cu  I  Metro  brene,  prouechoso,  por  Alonso  \  de.  {.amora,  Maestro,  Regente 
eu  la  |  Vniuersidad  de  Alcala  <bj  lie-  \  mires.  Agora  nueuamen  j  te  impresso.  ; 
Eu  Lisboa  !  Con  licencia  de  la  Saneia  Inquisicion.  |  Impresso  por  António 
Aluarez.  '  Am  de  MCCCCCCI.  |  A  costa  de  Diego  Rodrigues  Librero,  \  A  la 
Misericórdia. 

i  vol.  8.°,  sem  numeração,  76  lis.  inclusive  o  frontispício.  Rubrica  A-I  o. 
No  verso  do  frontispício,  a  licença  de  Frev  António  Tarrique,  assim  concebida: 

«Vi  este  Liuro,  ha  se  de  emmendar  as  folhas  71.  e  as  folhas  1 18,  pag.  2. 
Ma  se  de  emendar  a  troua  de  modo  que  diga  o  q  o  lugar  da  Escriptura  diz. 
Em  27,  de  Feuereyro,  de  601.  Podese  imprimir». 

O  argumento  de  la  obra  oceupa  \  paginas  tarjadas.  Na  5.a  pagina  egual- 
mente  tarjada  a  Inuocacion  (duas  oitavas).  No  verso  desta,  duas  gravuras 
toscas,  mas  curiosas  por  extravagantes. 

A.o  lado  dos  versos  o  texto  correspondente  das  Escripliirás. 

Nas  ultimas  5  paginas  as  seguintes 

Sentencias  em  Portuguez 

Muyto  vêee  quem  se  vence, 
muylo  diz  quem  não  diz  tudo 
ao  discreto  pertence, 
a  lenipos  fazerse  mudo. 

Não  lançar  de  tudo  mão 
nem  de  muylo  confiado, 
grande  dom  lie  ser  calado. 
iV  valer  de  conjunção. 

Grande  saber  he  o  siso 
a  quem  delle  sabe  vsar. 
nunca  vi  aproveytar 
falar  mal  em  perjuyzo. 


(257)  A   UTTERATURA   HESPANHOLA   EM   PORTUGAI  Í-3Í 


i>.   falai  romo  doente 
não  In-  boa  presunção. 
;i  \  irlirosá  tenção 
.li  quem  ilesrulp  i  ausente 

ii  sofrer  lie  ile  prudente 
ilo  neeeo  a  iinpasciencia, 

pobreza  rom  pasci 'ia 

lie  riqueza  diferente. 

São  lii  eslad ilenle, 

ii-iii  amizade  segura, 
nunca  \  i  amigo  ausente 
si>  nau  foj  liniii  de  ventura. 

i  ti  alliuos  pensamentos 

\  i  muylos  baj  xos  em| os, 

:>  eobiçosos  ènsejos 
\  i  eaj  r  dallos  ass<  ntos 

\  homês  uontentaliiios 
\  i  sempre  permanecer, 
n<  espritos  bayxos  capliuns 
não  lhe  vi  cabeça  erguer 

Não  \  i  a  mão  fazer  fruj  l". 
nem  sem  Deos  hauer  saúde, 
nem  villão  i\w  veyo  a  muito 
esperar  delle  virtude. 

Nem  ha  vida  sem  sossobra, 
nem  vi  tempo  sem  mudança, 
nem  perder  a  esperança 
de  Dons  quem  por  elle  obra 

Mn\  grade  trabalho  lie  viuer 
em  aldeã  acanhado, 
vitupério  ha  de  vei 
a  homem  desconfiado. 

Muj  lo  saber  he  danoso 
grande  mal  he  sor  ygual, 
o  saber  fundado  cm  mal 

para  a  alma  lie  pirigoso. 

O  honrado,  o  virluoso 
deue  ser  rauy  confiado, 
n  Christão  escropuloso 
nãu  vem  destar  arreygado 


liiS  A  l.lIll.ltATlltA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (258) 


ii  desrreto  abalizado 


Trazer  a  honra  embicada 
não  vem  de  tela  segura, 
quem  se  fia  da  ventura 
trás  i  rabeca  quebrada 


\  Hlll 


,1,1. 


nenhíia  justiça  lem 
quem  rarece  dn  dereneia. 

Todo  homem  bilicoso 
não  pode  viuer  contente, 
regra  he  de  homem  prudente 
connersíir  con  virtuoso 

Quem  da  verdade  he  zeloso 
delia  mesma  se  sostenta, 
••onuersar.  com  periposo  |  ') 
he  andar  sempre  em  tormêla. 

Quem  Je  muito  lança  mão 
fica  contino  sem  nada 
a  pessoa  abalizada 
se  vé  na  reputação. 

Nas  obras,  &  condição 
se  conhece  o  bom  amigo, 
LV  no  zelo,  &  na  tenção 
quem  no  seerelo  he  immigo. 

Fr.  António  Tarrique  foi  o  mesmo  que  reviu  a  Primeira  parte  do  Gus- 
man  d'Alfarrache  e  do  Primaleon. 

As  edições  liespanholas  do  século  xvi  intitulam-se  Loor  de  virtudes  e 
não  como  está.  Flor  de  virtudes. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa. 

Innocencio  ivol.  xm,  pag.  328,  artigo  D.  Luiz)  diz  que  estas  quadras, 
são  attribuidas,  não  sabe  com  que  fundamento,  ao  infante  D.  Luiz. 

Zamora  (Pr.  Lorenço  de).  —  o)  Discvrsos  sobre  los  mysterios  qve  en  l<i 
Quaresma  se  celebram.  Compvestos  por  el  P.  Fr.  Lorenço  de  Zamora,  Manje  de 


(259  A  LITTERATURA   HESPANH01  \   EM   PORTUGAL 


In  Orden  de  S.  Bernardo,  Lector  rfi  Escriptura  dei  Colégio  de  In  mesma  sic 
Orden,  en  la  Vniuersidad  de  Alcala.  Dirigidos  ai  illvslrissimo  y  fíeuerendissimo 
Seftor  don  Bernardo  de  Sandoual  y  Roxas,  Wçobispo  de  Toledo,  ele.  En  Lis- 
boa, por  Pedro  Crasbeeck.   1604. 

I  vol.  4. ■-'.  a  ú  col.,  3  lis.  prel.  inn.,  7-J7  pags.,  mais  20  fls.  inn.  de  Tabla. 

Exemplar  de  Rodrigues. 

Wonarchia  Mystica.  Lisboa,  /'.  Crasbeeck,  1606. 
Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Livraria  dos  herdeiros  de 
F.  M.  de  Mello  (n.°  1:210). 

Zapata  l>.  Luis).  El  arte  poética  de  Horatio,  Iradvcida  de  Latin  <n 
Espafiol  por  dou  Luis  Çapala  seUor  de  las  villas,  y  lugares  dei  Cehel,  y  de  fu- 
brecelada,  alcaide  perpetuo  de  caslildeferro  cautor  y  la  rabita  patron  de  la 
capilla  de  S.  lua»  Bautisla,  alcayde  de  llerena.  Al  conde  de  Chinchou  don  Diego 
de  bouadilla,  mayordomo  de  su  Magestad,  y  de  su  consejo,  tesorero  de  Ara 
gon.—  No  fim:  Em  Lisboa,  em  casa  rir  Alexandre  de  Syqueira.  Annode  1592. 
Finis. 

I  vol.  i.'.  28  il>.  (as  duas  primeiras  sem  siglas  e  as  restantes  A-G). 

Descripto  em  Gallardo  sob  o  n.°  1:362. 

Zavaleta  (D.  [uan  de),  -a)  El  dia  de  fiesta,  primera  /unir.  Qve  contiene 
el  dia  de  fiesta  por  la  maftana.  Sr  avtor  don  Ivan  Zavaleta  (Gravura:  esèudo 
armoriai)  Offerecido  ao  senhor  Alexandre  da  Sylva,  Inquisidor  Apostólico  no 
Tribunal  do  S.  Officio  da  Inquisição  de  Coimbra;  &  Cónego  na  Sé  de  Braga, 
,{r.  Em  Coimbra,  com  as  licenças  necessárias,  Na  Offkina  de  Thome  Carvalho 
Impressor  da  Vniversidade,  Anno  de  1666.  \  custa  de  Jozeph  Ferreira 
dor  de  livros. 

I  vol.  8.".  6  pags.  prel.  inn.,  com  dedicatória  do  editor,  Tabla  e  licenças, 
248  paginas.  A  approvaç5o  do  Santo  Officio  é  de  Bartholomen  Ferreira: 

«Li  os  dous  livros  primeira,  4  segunda  parte,  intitulados  dia  de  Fiesta 
por  Ia  manana,  j  dia  de  Fiesta  por  la  tarde:  &  não  achei  nelles  cousa  alguna 
contra  nossa  Santa  Fé,  ou  bons  costumes;  antes  Doutrina  sam,  &  Conselhos 
muito  discretos  pêra  apartar  de  vicios,  &  reformar  costumes;  &  assim  se  pode 
passar  a  licença  q  se  pede.  Lisboa  no  Convénio  de  S.  Domingos  em  ;>.')  de 
Janeiro  de  1665.  Fr.  Bertholameu  Ferreira». 

Não  confundir  este  com  o  Barlbolonieu  Ferreira,  do  século  wi,  o  primeiro 
censor  dos  Lusíadas. 

Exemplar  de  Almeida  Santos. 

Hist.  e  Mem.  da  Acad.— Tomo  xii  paute  n.— N.°  5.  19 


4'iU  A  LlTTEli.VHKA  HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (260) 

b)  El  ília  de  fiesta  por  la  tarde.  Parir  segvnãa.  Sr  aviar  D.  Ivan  de  Za- 
voleta.  Em  Lisboa.  Com  as  Hauras  necessárias.  Na  Offkina  de  Domingos  Car- 
neyro.  A/um  de  1666. 

8.°,  2  pags.  inn.,  de  licenças  e  Tabla,  203  pags. 

c)  Errores  celebrados  de  la  antiguedad.  Lisboa,  na  o//',  de  Domingos  Car- 
neiro,  1665. 

8.°,  frontispício  a  duas  rores,  com  vinheta. 

N.°  1:555  do  catalogo  de  Manuel  Francisco  Pereira  de  Sousa. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

d)  Theatro  dei  /mudar,  el  hombre.  Vida  dei  Conde  de  Matisio.  Sv  avtor 
don  luan  de  Zabalela.  En  Coimbra,  Con  todas  as  Licenças  necessárias.  Por 
Thome  Canalha,  Impressor  da  Vniuersidade:  Afio  de  1661. 

8."  (ou  12,°?)  4  pags.  prel.  inn.,  180  pags.,  mais  2  inn.  de  licenças. 

Exemplar  da  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.  Obras  varias  (secção  de 
polygraphia)  n."  14:902.  Com  esta  obra  acha-se  encadernada  a  seguinte: 
Histoire  de  Arrelio,  et  Isabelle,  filie  dv  Roy  d'Escosse,  nouvellement  traduict  en 
quatre  langues,  Italien,  Espaignol,  François,  &  Anglois.  Seguem-se  os  títulos 
nas  outras  línguas:  A  Bruxelle,  C/tez  Iean  Mommart,  d>  Iean  Reyns,  Anuo 
de  1008. 

Zevallos  (Fr.  Fernando  de).  —  La  falsa  filosofia  o  el  deismo  refutado  en 
todas  sus  hipotesis  y  convencido  de  crimen  de  estado. 
I  de  Lesa  Religion. 

II  de  Lesa  Magestad. 

III  de  Lesa  Sociedad. 

IV  de  Lesa  Humanidad. 

En  el  Libro  sexto  se  proponen  los  remédios  contra  su  mortal  contagio.  En 
esta  tercem  edicion  se  da  esta  Obra  completa  en  onze  Tomos.  Tomo  primero. 
Une  sirbe  de  aparato  a  toda  la  obra.  Su  autor  el  P.  M.  Zevallos,  Ex-general 
de  la  Congregation  de  San  Geronimo  de  Espana.  En  Lisboa.  En  la  Oficina  de 
Juan  Procopio  Corrêa  da  Silva.  Anno  MDCCC.  Con  licença  da  Meza  do  De- 
sembargo do  Paço. 

4.°,  1  vol.,  em  2  partes,  tendo  a  I.a  7  lis.  prel.  inn.,  108  pags.,  e  a  2.a 
246  pags.  afora  mais  13  inn.  de  índice  e  errata. 

Nas  preliminares,  longa  dedicatória  ao  rei  de  Portugal,  assignada  por 
Fr.  Fernando  de  Zevallos. 

Exemplar  da  Bibliotheca  da  Ajuda. 

Uma  Sociedade  de  Amigos  Calholicos  está  actualmente  {novembro  de  1892) 


(26i)  A  LITTERATURA   HESPANHOLA   EM   PORTUGA1  III 

publicando,  às  cadernetas,  em  Granada,  a  obra  de  Zevallos  D.  Fr.  Fernando 
Ceballos  y  Mier).  [slo  nos  participou  Garcia  Peres. 
Vide  Cevallos. 

Ziniga  Juan  .  -El  Terremoto,  y  sn  uso,  dktamen  ê  el  li.  P.  '/.  Fr. 
Benito  Feijoo,  dei  consejo  de  su  mageslad,  ele.  Ex-plorado  por  el  lie.  Juan  de 
Ziniga,  que  le  dedica  ai  sefior  conde  de  Vai  é  Parayso,  ele.  Lisboa  Í7õl.  Na 
nlfic.  de  José  da  Costa  Coimbra. 

i.'  de  12  mu.,  mi  pags. 

Zuniga  y  Arista  (D.  Gregório  de).  -Doctrina  dei  cavallo  y  arte  de  m- 
frenar.  Lisboa  1705. 

í."  Gravnra  e  estampa  de  dobrar. 

.Y"  ."is  do  catalogo  de  Cruz  Coutinho. 

Descripto  em  Salva,  sob  o  nome  de  Zuniga  \    Crista,  tomo  u,  pag.  :>'.u. 


ADDLTAMEXTO 


Na  collecção  de  opúsculos  relativos  a  t(UO  existente  na  Torre  do  Tombo 
(8-B-38)  lia  uma  comedia  intitulada  Contra  si  faz  quem  mal  cuida,  em  que 
se  defende  o  emprego  da  lingua  portugueza  contra  o  castelhano.  Muito  inte- 
ressante. É  de  D.  I ardo  Saraiva  Coutinho. 


Interessantíssima  a  justificação  de  Pedro  Barbosa  Homem,  por  ler  escripto 
em  hespanhol  a  sua  obra  Discurso*  de  la  jurídica  y  verdadera  razon  de  estado. 

Louva  muito  a  lingua  portugueza,  que  diz  participar  da  franceza  e  hespa- 
nhola;  mostra  que  ella  possue  as  cinco  principaes  qualidades  de  uma  lingua. 


DECLARAÇÃO 


A  memoria  que  acaba  de  ler-se  foi  elaborada  pelos  annos  de  1890 

a  1892,  vinte  ai s  anles  do  fallecimento  do  auclor.  As  referencias  que 

se  fazem  ao  lurai  da  existência  dos  livros  aqui  mencionados  e  aos  pos- 
suidores de  alguns  são,  por  conseguinte,  todas  relativas  ao  tempo  em 
que  a  memoria  foi  escripta. 


ÍNDICE 


IntroducçSo (i)  a  ixxix)  151 

Abarca  (Juan  Fernandes) (1)  181 

-  iror  Maria  de  Jesus 1 1  181 

Aguilar  y  Prado  (D.  Jacinto  de) ih  181 

Ubornoz  (D.  Diego  de) (2  182 

Alcântara  (Fr.  Pedro  de) (2)  182 

Alcocer  (Fray  Juan  de) (2)  182 

Aleman  (Matheo) I)  183 

Al  varado  (M   F.  António  de) .          ill  191 

Alvarez  (Fray  António) Ill  191 

Alvarez  (Thomaz) illi  191 

Alvarez  de  los- Reyes  (Manuel) (12)  192 

Alvia  de  Castro  (D.  Fernando) (14j  194 

Anchieta  (José  de) (20)  20U 

Andrade  (Alonso  de) (20)  200 

Vngeies  (Fr.  Juan  de  los) (20)  200 

António  dei  Re)  (Don  Ivan) (21)  201 

Apolinar  (P.  Francisco) (21)  201 

Apoyos  de  la  verdad  calalana,  etc. (21)  201 

Aranda  (Luis  de) (21)  201 

Aranda  (Matheo  de) (22)  202 

Arce  (Francisco  de) (23)  203 

Árias  (Francisco)               (24)  204 

Árias  Perez  (Pedro) (25)  205 

Arteaga  (Félix  de) (25)  205 

Avenda Fray  Christoval  de) (25)  205 

Avendafio  (Pedro  de) (26)  206 

Ávila  (Padre  Maestro)     (27)  207 

Avisos  dei  feliz  svcesso  de  las  cosas  espirituaies,  etc,  .       (27)  207 

Avisos  militares,  etc (27)  207 

Azevedo  (Luis  de) (28)  208 

Azpilcueta  Navarro  (Martin  de) (28)  208 

Bacanrao  (Jorge) (32)  212 


|'|S  A  LITraiATI  HA  HESPANUOLA  EM  PORTUGAL  (208) 


Barco  Centenera  (Don  Martin  dei) (32.)  212 

Barkman  (André) (34)  214 

Barros  i  Vlonso  de) (34)  214 

Barzia  j  Zambrana  (D.  Joseph  de) (34)  214 

Basílio  Sanctoro  (Doutor  Iuan) i'x'<  213 

Bazelar  (António) (35)  215 

Bermudezj  Alfaro  (L.  Iuan) (36)  216 

Boccacio  (Juan) (36)  216 

Boscan  y  Garcilaso (37)  217 

Bravo  (Fr  Joseph  Vicente  Diaz) (37)  217 

Bustos  de  Olmedilla  (D.  Gonçalo) (37)  217 

Cáceres  y  Soto-Mayor  (F.  don  António  de) (37)  217 

Cadabal  Gravio  Calidonio  (Álvaro  de  Cadaval  Valladiues  de  Soto  Mayoij  ....  (38)  218 

Calatayud  (Pedro  dei  - •    •    ■  (44)  224 

Calderon  (D.  Rodrigo) (43)  223 

Calvo  Asencio  (Gonzalo)     (45)  223 

Camargo  (Padre  Ignacio  de) (45)  223 

Câncer  y  Velasco  (D.  Gerohimo  de) . (46)  226 

Cancionero (46)  220 

Canizares  (D.  José  de) (46)  226 

Cano  (D.  Francisco) (47)  227 

Cargos  contra  el  conde  Duque,  etc (47)  227 

Cario  Magno (i7.1  227 

Carrion  Pardo  (Juan  de) ■  (47)  227 

Cartas (49)  229 

Carvajal  (Diego  de) •  (49)  229 

Casiano  (Juan) (49)  229 

Castillo  (Fr.  Francisco  dei) (50)  230 

Castro  (Francisco  de) (50)  230 

Castro  y  Ailaya  (D.  Pedro  de) (50)  230 

Catom (50)  230 

(/.avaliaria  (Romances  de) (52)  232 

Cayrasco  de  Figueroa  (Bartoloiné)     .    .    .s (58)  238 

Celestina  (La) (59)  239 

Cervantes  (Alonso  de) (59)  239 

Cervantes  Saavedra  (Miguel  de) (61 1  241 

Céspedes  y  Meneses  (Gonzalo  de) (60)  246 

Céspedes  y  Velasco  (Francisco  de) (68)  248 

Cevallos  (P.) (68)  248 

Chafrion  (Bartoloiné) • (69)  249 

Chaves  (Hieronymo  de) (69)  249 

Chaves  (Fr.  Thômaz) (70)  250 

Chaves  Masa  (D.  Pedro  de) (71)  251 

Claramonte  (Andres  de) (71)  251 

Collazos  (Balthazar) (72)  252 

Comedias (72)  252 

Compendio  dei  derecho,  etc (75)  255 

Copia  de  una  carta,  etc (75)  253 


(269 


rr.i 


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256 

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250 

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260 

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263 

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265 

(85) 

265 

(86) 

266 

(87) 

207 

(87) 

267 

(87) 

267 

(90) 

270 

(90) 

270 

(90) 

:>7n 

Corduva  )  Figueroa  (D   Diego  e  D.  Joseph  dei 

Gortez  (Geronimo) 

i  (Fr.  layme  de) 

Cruz  (Fr.  Juan  de  la 

Desseoso  i  El) 

Diaz  Bravo  i  Fr  Joseph  Vicente) 

Diez  de  \n\  j  Granada  (D.  Fernando  Alvaroj 

i  lomi  ii'  co  (Pedro) 

Echaburu  d).  Juan  de  Espínola  Baeza) 

Encarnacion  (D.  Pedro  de  la) 

Enganos  de  los  desenganos,  etc 

Enriquez  (P,  F.  Ivan) 

Enriquez  de  Hivera    D   Fradiquel 

Ercill  i  5  Zuniga  (Alonso  dej 

Escarate  Ledesma  (D   António) . 

Escobai  (Iuan  de) 

Escobar  j  Mendoza  (P.  António  de) 

Espejo  de  la  vida,  etc     

Espínola  j  Torres  (D.  Juan)  . 
Este  lia  (P.  F.  Diego  de) 

Everardo  (?)  (Padre) ... 

Fajardo  (L.  de  Figueiroa)  . 
Fernandez  (Gabriel  i     .   .   .   . 

Fernandez  (Iuan1) (90)    270 

Fernandez  de  Soto  (Rodrigo) (91)    271 

Fii  sco  (J.  J.) (92)     272 

Figueroa  (Francisco  de) (92)     272 

Fimia  (Gomes  de  Santo) (93)    273 

Flegetonte  (El  capitan) (93)    273 

Flon  ncia  (Geronymo  de)  (94 

Flores  (Pedro) (94)     274 

Fonseca  (Christoval  de) (95)    275 

Gallego  (Iuan  Nicario) (96)    276 

Gallo  (António)    .  . (96)    276 

Galvcz  ile  Montalvo  (Luis) (96)     276 

Garau  (Fr.  Francisco) (96)    276 

Garcez  j  Gralla  (D.  Gabriel) (97)    277 

Garcia  de  Alexandre  (João  Baptista)     (101)    281 

Garcia  de  Santa  Maria  (Mosen  Gonçalo) (102)    282 

Garcilasso  de  la  Vega  (El  Vnca)       (102)    282 

Garro  (Francisco) (102)     282 

Gerardo  Lobo  (D.  Eugénio) (103)    283 

GildeGodoj  (Fr.  Juan) (103)    283 

Godinez  (Miguel)     (103)    283 

Gonçalez  de  Mendoça  (Fray  Juan) (103)    283 

Gongora  (D.  Luiz  de) (104)    284 

Gonzalez  (Thyrso)   . (105)    285 

Gonzalo  (Árias) (105)    283 


Í-50  A  L1TTERATUBA   HESPANHOLA  EM  PORTUGAL  (270) 


Gracian  (Lorenzo) (WS)  285 

Gracian  Dantisco  (Lucas) (106)  286 

Gracian  de  la  Madre  de  Dios  (Fray  Hieronj ). (107)  -s' 

Granada  (Fr  Luis  de)     ' (108)  288 

Guerra  3  Ribera  (Fr.  Manuel  de) •   •  (122)  302 

Gnevara  (D.  António  de) (122)  302 

Gumiel  (Pablode)          (122)  302 

Guzman  (Francisco  de) (12;i)  303 

Guzman  (Lorenzo  de) (124)  304 

Henriquez  de  Guzman  (Doíía  Felieiana) (124)  304 

1  In  nandez  de  Velasco  (El  doctor  Gregório) (125)  305 

Herrera  (Alexandra) (126)  306 

Herrera  (António  de) (126)  306 

Herrera  Solomayor  (D.  Miguel  de) (127)  307 

Hinojosa  y  Carvajal  (P.  F.  Álvaro  de) (127)  307 

II, ta  (Gines  Perez  de) (129)  309 

Hontalba  y  Arce  (D.  Pedro  de)     (129)  309 

Hurtado.de  Mendoza  (Antonro) (129)  309 

Hurtado  de  Mendoza  (Diego) (131)  311 

[gnacio  de  Porres  (D.  Francisco) (I31i  31 1 

lues  de  la  Cruz  (Soror  Iuanai (132)  312 

Insigne  victoria,  ete. (132)  31u. 

Islã  (Lasaro  de  la) (132)  312 

Jarava  (Hernando) (132)  312 

Joseph  fP.  Fr.  Jorge  de  S.) ■    ■  (133)  313 

Joseph  (Maria  de  S.) (134)  314 

Joseph  (Fr.  Pedro  de  San) (134)  314 

Laso  de  la  Vega  (Garci) (135)  315 

Ledesma  (Alonso  de) (137)  317 

Ledesma  (Fr.  Martinho  de) (138)  318 

Ledesma  (Fr.  Pedro  de) (139)  319 

Lizana  (Fr.  Francisco  de) (140)  320 

Llontiscay  Ribas  (Fr.  António) (140)  320 

Loarte  (Gaspar) (140>  320 

Lopez  (Diego) (141)  321 

Lopez  de  Sigura  (Rui) (142)  322 

Lopez  de  Ubeda (143)  323 

I.ossa  (P.  Francisco) (14;i»  323 

Lujan  de  Sayauedra  (Matheo) (l'*;i)  323 

Lumbier  (Raymundo) (144)  324 

Luque  (Juan  de) (144)  324 

Madre  de  Dios  (Fr.  Valentim  de  la) (145)  325 

Magalona (i45)  32S 

Maldonado  (Fr.  Pedro) (146)  326 

Malon  de  Chaicle  (Fr.  Pedro) (147)  327 

Mananitas  dei  molar,  etc (147)  327 

Maria  (Fray  Juan  de  Santa) (147)  327 

Mame  (Fr.  Francisco  de  Soto  y) (148,1  328 


(271) 


í:.I 


Marquez  i  F.  Joan  |   . 
Marti  3  Viladamor  (D.  Fra 
Martyr  <  ora      D    I     Pedi  i) 
Me  lina    Fr.  Bartholome  de) 
Memorial,  etc 

D   Di  ."  de) 
-  i'i  :-  cus,  etc.  . 

.Iro) 

Micheli  \  Marquez    D.  Ji 
\|  olina  i  Fr    Intonio  de) 

Molioa  i  Luiz  de) 

Wonçon    Francisco  de 

Montalvo  (Fr.  Diego  de).    . 
Monte  Oliveti 
Montoya  i  Fraj  Luys  de) 
Mora  i  Fr  lua»  dei  . 
Moran  (Jorge  Henriques) 

Padre  Pedro) 

(Juan) 

M  unné  (Joan  Wenceslao) 
M  uíioz  (D.  Francisco  i  . 
Murillo  (Fray  Diego)  . 
Naxera  iR   P.  Manuel  de) 
Nebrija  (Aelio  António  ile  i 
Nicolas  i  Vito  de  San)  . 
Nieremberg  il'.  luan  Eusébio) 
Niseno  (P   Kr.  Diego  i  .    .    .    . 

Noticia,  ele. 

Noydens  I  Padre  Benito  Remigio 

la  Salde  (luan) 

Ontiveros  (António  Maldonado  de) 

Oropesa  (Marti  Lasso  de) 

Ortizde  Villegas  (D.  Diego)  i  I 
Ortiz  de  Villegas  (D.  Diego     - 

Osuna  'Duque  dei 

Ouando  (Fray  luan  de)      ... 

Palácio  i Paulo  dei 

Palafox  y  Mendonça  (D.  Juan  de). 

Panegyric  Ic 

Para\icino  (Fr.  Ortensio  Feli 

Pardo  i  Padre  Geronimo) 

Pardo  de  Villaroel  (Padre  Geronimo) 

Paredes  (Fr.  Bernardo  de) 

Parra  y  Cote  (Fr.  Alonso) 

Pastrana  (M.  Juan  de) 

Pawlowski  (Padre  Daniel) 

Pedraza  (Fraj  luan  de)  

Perea  de  Berrial  (Afonso i 


(149) 

I  I  49  I 

(150) 
(130) 

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(1S1) 

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(151) 
(152) 
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(157) 

158 
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(159) 

(159) 
i  160 
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(161) 
161) 
(162) 
(163) 


(163) 

343 

(164) 

344 

(165) 

345 

i 166) 

346 

(166) 

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(168) 

348 

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(169) 

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359 

(179) 

359 

(180) 

360 

152  A  LITTERATURA  HESPANHOU  KM  PORTUGAL  (272) 


Peres  (Fr  leronimo)       (181)  361 

Perez  de  Guzman  (Fcrnan) (181)  361 

Perez  Licea  (Iuan) (182)  362 

Perez  de  Montalvan  (Juan) (182)  362 

Perpinham  (Pêro  de)      (183)  363 

Pinamonti  (Iuan  Pedro  de) (184)  364 

Plana  (Don  Pedro  Joseph  de  la) (184)  364 

Plata  (Fr  Iuan  de  ia) (185)  36S 

Pradilla  Barnuevo  (Francisco  de) (186)  360 

Proclamacion  católica,  etc (186)  306 

Pujol  (D.  Francisco) (186)  366 

Uueslion  d'amor (187)  :*67 

Quevedo  Villegas  (D  Francisco  de) (187)  367 

Quinhones  (D.  Juan  de) (190)  :170 

Ramirez  Arellano  (D.  Luis) (190)  370 

Ramon  Marti  (Angel) (191)  371 

Rebolledo  (Conde  de)     (191)  :!7i 

Relaciones H9H  371 

Ri badeneyra  (Padre  Pedro  do (193)  373 

Hibero  (Dr.  Gaspar  de) (194)  374 

Ribés  (Joseph  de) (194)  :i74 

Roa  (Padre  Martin  de) (195)  375 

Rocha  y  Figueroa  (Don  Gomez  de  la) (195)  375 

Rodriguez  (Lucas) (105)  575 

Rodriguez  de  Guevara  (Alfonso) (196)  570 

Rojas  (D.  António  de) (1%)  376 

Rojas  (Iuan  Luis  de) (197)  :i77 

Rouian  (Fray  Hieronymo) (197)  377 

Romance,  etc.  ..  . (199)  3?9 

Sabuco  de  Nantes  (Dofia  Oliva) • (199)  379 

Sagredo  (Diego  dei (200)  -.'180 

.Sala  (Kr.  Gaspar) (201)  :i81 

Salaya  (Sancho  de) (201)  381 

Salcedo  (Gonçalo  de) (202)  382 

Salmeron  (Fray  Marcos) (202)  382 

Salzedo  (Garcia  de) (202)  382 

Salzedo  (Fr.  Marcos  de) (202)  382 

Sanchez  (Francisco) (203)  383 

Sanchez  (Thomé) (203)  383 

Sandoval  (D.  Juan  Bautisla  de) (203)  383 

Sandoval  (Dom  Fray  Prudencio  de) (203)  383 

Santiago  (Fr.  Hernando  de) (204)  384 

Santíssimo  Sacramento  (Fr.  Juan  dei) (204)  384 

Sartolo(P.  Bernardo) (204)  384 

Scarion  de  Pavia  (Bartolome) (204)  384 

Segóvia  y  Peralta  (D.  Gaspar  lbanes) (206)  386 

Segura  ( Francisco  de) 1 206)  386 

Sentencias (209)  389 


173 


i.-,:: 


Serpi  (Fr.  Dimas) 

Silva  \  Figueroa  >U  Garcia  da) 
Soarez  i  Cj  priano) 
Soarez  i  Francisco)  . 

Dotoi  i    . 

-     -      Gani     D    I  is  pi   de) 
Sm  ia  (Fr.  Francisco  de) 

n  ile) 

Soto  (Fr.  Lucas  de) 

Spirilu-Sanlo  (Cathaliiia  dei) 

si  ifford  i  Padre  [gnacio)  .  .... 

Sumario  de  la  vida  dei  primer  arçobispo  de  Granada,  etc 

Sygeu  Toledano  (D.)  

S\  Ivestre  (Gregório) 

Taulero  (Fraj  tuS) 

-  '      i     de  la)  ... 

Leon  (Fr.  Fr  incis  :oJ 
-  inta  i  . 
I  Pedro)      ... 

Timon  ida  (Juan  de) 

I  ide    Fr  Jaci  pone  de) 

Fi     \  lonso  de  S.) 
Torre  1 1>   Francisco  de  la  i  . 
Torre  Herrera  i  \'v  Pedro  de  la  i 
Torres  i  Padre  luan  de  i   . 
Torres  Portugal  (Joan  de)  .  ... 

Ti  ili  ijos  que  pasa  la  Iriste  bolsa  

Tractado  de  como  san  Francisco,  otc 

I I  i .  1 le  una  Memoria  repartida  ''ii  Olanda.  etc. 

Trinidad  i  Fr.  Iuan  de  la) 

i  ,! ii'       Acham) 

I  r.-iillu  il).  José  dei 

Valderrama  (P.  M.  F.  Pedro  de)    .  

Valdivielso  (José  de)  .  . 

i  1 11  Fr-  Ramon  I 

•  oval  de) 

Vega  (Fr.  Diego  de  la) .    .   .   . 

Vega  C  trpio  (Lope  de) 

Qoadros  (Manuel  de) 
Saiam  uitino  i  Isidro  i . 

Vera  (Luis  de).       

Verdade  desnuda  armada  de  razon,  etc. 

Verídico  Espano!  i  El) 

Vermell  3  Busqueis  li)   Luis) 

Victoria  (Francisco) 

Vida  (La)  _\  mverte  dei  padre  meeslre  Fraj  Ivan  Bernal, 

Vila    li   Pedro  Sebastiá  e) " 

Villalobos  (Esteuan) 


(211)  391 

(215)  95 

-T  195 
215 

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(217)  1197 

(217)  397 

(217)  397 

_i"  II  1 
(22! 


103 
225      105 

227)     407 
228      108 


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(233 


(234) 
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(238) 
243) 
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(247) 
1247) 
(247) 
(247) 
(249) 
(249) 
(249) 
(249) 


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427 
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129 
42'.i 
129 


'l.Vi  A  UTTERATURA  HESPANHOLA  KM  PORTUGAL  (27-5 


Villalobos  (Fr  Henrique  de) (250)  130 

Villaroel  (Gaspar)       (250)  130 

Villegas  i  \ !■.!.>, ,  de)       (250)  130 

Vil  legas  (Pedro  Fernando  de)       (231)  131 

Visorio  de  Perpifian  (Henrique) (2ali  431 

Ximenez  (Frej  Diego) (252)  132 

Ximenes  toas  (Fr.  Diego) (253)  133 

Xodar  (Fraj  Iuan  de). (254)  134 

Vepes  (Diegode) (255)  435 

Zacuto  (Abraham)  .       (255)  135 

Zamora  (Alonso  de) (256)  136 

Zamora  (Fr.  Lorenço  de) (258)  138 

Zapata  (D.  Lui$) (259)  139 

Zavaleta  (D.  Iuan  de) (259)  i.'(9 

Zevallos  (Fr.  Fernando  de) (260)  440 

Ziíiiga  (Juan) (261)  441 

Zuniga  y  Arista  (D.  Gregório  de) (261)  441 


Additamento (263)    443 

Declaração (265)    445 


ELOGIO 


líAlMUNDO  ANTÓNIO  DE  BULHÃO  PATO 


Jl    I.Io    DANTAS 


Senhor  Presidente  da  República: 
Minhas  Senhoras: 
Prez  udos  Consócios: 
Mi.i  s  Senhores: 

Quando  esta  academia,  em  sessão  de  26  de  Junho  ultimo,  teve  a 
rosidade  de  elevar-me  á  categoria  de  seu  sócio  efectivo,  conferindo-me  a  mais 
alta  honra  a  que  pode  aspirar  em  Portugal  um  homem  de  sciéncia  ou  um 
homem  de  letras,  experimentei  uma  impressão  simultânea  e  contraditória  de 
viva  alegria  e  de  tristeza  profunda.  Eu  ora  precisamente  um  dos  sócios  cor- 
respondentes mais  moços;  aquele,  decerto,  que  menos  motivos  tinha  para 
esperar  da  Academia  a  consagração  da  efectividade,      suprema  consagração 

que  só  se  alcança  quando  a| ta  a  neve  dos  cabelos  brancos  e  a  mocidade 

para  sempre  desapareceu.  O  voto  que  me  elevou  foi  |>ara  mini  o  adeus  eterno 
a  juventude  que  não  volta.  Senti,  pela  primeira  vez.  com  o  júbilo  duma 
vitória,  a  dôr  duma  despedida.  Saiu.  com  os  olhos  turvos  de  lágrimas,  a 
poria  de  oiro  da  mocidade.  Na  cadeira  académica  que  vim  ocupar,  palpitam, 
ressurgem,  iluminam-se  ainda  as  cm/as  da  mais  nobre  decrepitude  que  eu 
conheci.  É  a  cadeira  de  Bulhão  Pato.  Quis  ,,  acaso,  senhor  supremo  da  vida 


ELOGIO  DE  RAIMUNDO  ANTÓNIO  DE   IU  I.IIÃO  PATU  (456) 


e  da  morte,  que  à  singular  honra  ile  o  admirar  eu  juntasse  a  glória  imerecida 
de  lhe  suceder.  Venho  cumprir  hoje  o  primeiro  dos  deveres  que  essa  sucessão 
me  impõe.  Venho  pronunciar  algumas  palavras  —que  a  velha  praxe  académica 
exige  que  sejam  lidas—  sobre  aquele  que  foi  um  dos  maiores  poetas  do  seu 
tempo,  a  última  relíquia,  do  neo-romantismo  português,  unia  das  figuras  em 
que  mais  vivamente  encarnou  a  alma  generosa  c  ardente  da  raça.  Que  a 
grandeza  do  assunto  perdoe  a  pobreza  do  orador. 

Bulhão  Patol 

Dir-se-ia  um  desaparecido  de  ha  trinta  ou  quarenta  annos.  Parece  que 
o  envolvem  já  as  sombras  longínquas  do  tempo.  Temos  a  impressão  de  que 
nos  resta  dele  apenas  uma  tradição  remota.  O  seu  perfil  pálido,  a  sua  cabeça 
de  espectro  coroada  pela  ténue  névoa  de  prata  dos  cabelos,  as  suas  mãos 
ósseas,  compridas  e  trémulas,  parecem  surgir  para  nós  através  de  duas,  de 
três  gerações  distantes,  como  um  eco  do  romantismo  exausto,  como  a  sombra 
de  um  daguerreotipo  esmaecido,  —  feitos  de  vagas  reminiscências,  de  traços 
apagados,  de  memórias  confusas.  E,  entretanto,  Bulhão  Pato  morreu  há  um 
anno  apenas.  É  uma  figura  de  ontem.  É  um  desaparecido  de  ontem.  Ainda 
há  trese  meses,  num  dia  de  sol  criador,  numa  atmosfera  de  oiro  fluido,  entre 
lufadas  de  poeira  ardente,  que  mordiam,  que  queimavam,  que  abrasavam,  eu 
o  acompanhei  ao  pobre  cemitério  do  Monte,  a  pé,  subindo  os  córregos  estreitos 
e  pedregosos  da  Outra  Banda.  Ainda  há  pouco  eu  saí  confrangido  da  sua 
casa  simples,  da  sua  casa  modesta,  das  quatro  paredes  quasi  nuas  onde  o 
amigo  de  Herculano  vivia,  entre  uma  estante  velha  que  bocejava  a  um  canto 
e  uma  amendoeira  florida  e  doirada  do  sol  que  parecia  entrar,  como  uma 
bênção,  pela  janela  entre-aberta.  A  minha  mão  sente  ainda  a  pressão  débil  da 
sua  mão.  Morreu  ontem,  é  certo.  ;Mas  há  quanto  tempo,  há  quantos  annos 
deixara  iniludivelmente  de  viver  esse  grande  espírito  que  encheu  de  bravura, 
de  truculência,  de  pitoresco,  de  paixão,  uma  época  que  a  tristeza  byroniana 
cobria  da  sua  asa  negra  e  para  a  qual  os  poetas,  estirpe  de  Júpiter,  eram 
ainda  uma  expressão  sagrada  da  divindade  omnipotente!  jHá  quanto  tempo 
estava  morto,  pelo  anacronismo  da  sua  própria  existência,  o  leão  da  Assembleia 
Estrangeira  e  dos  bailes  do  Bato,  isolado  agora  no  damasco  desbotado  das 
suas  recordações,  nas  flores  secas  do  seu  passado  turbulento,  no  bafio  glorioso 
das  suas  atitudes,  na  retórica  setembrista  da  sua  eloquência  admirável!  Era 
esse  anacronismo  a  razão  suprema  do  seu  isolamento.  Fugira  da  geração 
actual,  porque  nada  tinha  já  de  comum  com  ela.  Pertencia  a  uma  outra 
época,  a  um  outro  mundo.  É  nos  outros  que  nós  vivemos;  — e  êle  vira  morrer, 
cair  em  volta  de  si,  alma  a  alma,  vida  a  vida,  a  sua  existência  inteira.  Tinham 
já  desaparecido,  na  poeira  impalpável  do  tempo,  as  bocas  que  êle  beijara, 
os  corações  em  que  êle  vivera,  os  braços  amigos  que  o  tinham  amparado, 


(457)  ELOGIO   DE  I!  UMI  NDO  ANTÓNIO  DE   BI  I  H  l 


as  mãos  leais  que  o  tinham  aplaudido.  Olhava  agora  era  volta:  eram  todos 
desconhecidos  paia  èle  e  êle  era  quási  um  desconhecido  para  todos.  Entn 
o  velho  poeta  e  o  mundo  novo  que  o  rodeava,  nada  havia  já  de  comum.  Eram 
estranhos  um  ao  outro.  Restava-lhe  pobre  decrepitude  gloriosa I  refu 
giar-se  no  seu  passado  longínquo  e  viver  com  sombras.  \  sua  saudade  animava 
espectros.  A  sua  palavra  evocava  mortos,  [mobilizou-se.  Cristalizou.  Passaram 
por  êle  as  modas,  sem  o  atingir.  O  pensamento  moderno  aflorou  o  seu  espirito 
cultíssimo,  sem  o  penetrar.  Manteve  o  lipo,  a  cabeleira,  os  gestos,  o  senti- 
mento-, a  eloquência,  o  psiquismo  do  seu  tempo.  Em  1912,  respira  ainda. 
voluptuosamente,  a  plenos  pulmões,  a  atmosfera  luminosa  de  1840.  Como 
essas  velhas  sedas  salpicadas  de  pepueniuas  flores,  que  dormiam  vinte,  trinta 
anos  nas  gavetas  das  nossas  avós,  c  onde  parecia  guardar-se,  conservai  si 
indefinidamente,  como  uma  relíquia,  o  resto  dum  perfume  religioso  e  es 
qnecido,  —  todas  as  palavras,  todo-  o-  pensamentos  de  Bulhão  Pato  vinham 
doirados  dessa  patine  antiga,  em  lodos  êlés  palpitava  essa  atmosfera  moita 
de  capela  fechada,  que  não  era  ainda  bafio  e  que  não  era  já  aroma,  mas  que 
o  afastava,  que  o  distanciava  de  nos,  que  0  relegava  para  outra  idade,  para 
outro  meio,  para  outra  época.  iComo  êle  devia  ter  sentido,  vivamente,  a  mágua 
de  não  ter  morrido  mais  cedol  jComo  ele  suportou,  com  resignação  e  com 
doçura,  a  agonia  imensa  de  sobreviver  a  si  próprio! 

Não.  O  tempo,  não  é  transformando-nos  que  nos  envelhece:  é  transfor- 
mando, em  volta  de  nós,  tudo  o  que  nos  rodeia.  A  mais  dolorosa  impressão 
da  velhice  não  vem  da  decrepitude;  vem  do  isolamento.  Desmorona-se  à  volta 
de  nós  tudo  quanto  nos  era  familiar;  desaparecem,  uma  a  uma,  todas  as  ima- 
gens queridas;  caem,  como  folhas  secas  de  outomno,  todas  as  afeiçoe.-,,  .sorriso 
a  sorriso,  coração  a  coração;  e  quando  um  dia,  na  obstinação  de  viver,  olha- 
mos em  torno  de  nós,  — como  tudo  está  já  mudado,  como  nos  desconhecemos 
tudo,  como  tudo  nos  desconhece  a  nós,  e  como  essa  humanidade  nova  em  que 
já  se  não  criam  afectos,  cheia  de  estranheza  e  de  hostilidade,  nos  cava  fundo 
na  alma  a  impressão  viva  da  solidão  e  do  abandono,  a  mais  desoladora,  a  mais 
pungente,  a  mais  dolorosa  de  toda  a  velhice  humana!  Há  figuras  senis  que 
procuram  ainda  adaptar-se.  viver  na  sociedade  a  que  já  não  pertencem  e  onde 
são  elementos  estranhos;  há  velhos  que  se  permitem  a  ilusão  de  criar  afeições 
novas;  que  tentam  penetrar-se  do  espirito  moderno  que  os  rodeia,  que  os 
solicita,  que  os  envolve.  Bulirão  Pato,  não.  Imobilizou-se  no  seu  passado,  re- 
fugiou-se  no  seu  anacronismo,  conservou-se  irredutível  no  seu  isolamento. 
A  voz  do  grande  poeta  era,  há  muito  tempo,  uma  voz  de  além  túmulo.  As 
suas  novas  obras  tinham  já  o  ar  carinhoso  e  envelhecido  de  póstumas.  A  ge- 
ração que  o  entendia  desaparecera  há  muito.  Os  sentimentos  que  o  agitavam 
vinham  do  tempo  do  penteado  à  polka  e  dos  bailes  do  Manleigueiro.  As  suas 


BLOGJO  DE  RAIMUNDO  ANTm.MO  DE  MUIÃn  PATO  (458) 


paixões  vestiam  se  de  organdi  cor  de  rosa  e  dançavam  ainda  ao  som  da  rabeca 
do  Mazzoni.  Tudo  nele  estava  fora  de  moda.  As  suas  próprias  atitudes,  os 
seus  próprios  gestos  pareciam  desenhar-se  dentro  da  casaca  de  briche  de 
Passos  Manuel.  A  sua  eloquência,  a  sua  voz,  a  sua  ênfase,  pertenciam  àquele 
Parlamento  grave  e  retórico  que  Soto  Maior  deslumbrou  com  o  seu  carriek 
vermelho,  e  onde  gesticulavam,  cheias  de  anéis,  as  mãos  pálidas  de  Garrett. 
Por  isso  o  nobre  académico  que  foi  Bulhão  Pato,  desintegrado  da  sua  geração 
e  da  sua  época,  verdadeiro  prolongamento,  verdadeira  resonáncia  sentimental 
de  1811».  se  conservou,  até  o  íim  da  vida,  uma  figura  admirável  de  pitoresco 
e  de  anedota.  Era  um  sobrevivente;  era  um  antepassado.  Para  o  poder  admi- 
rar, para  o  poder  compreender,  temos  de  recuar  no  tempo  e  de  colocà-lo,  em 
plena  mocidade,  em  plena  torça,  em  pleno  brilho,  dentro  da  sociedade  a  que 
pertenceu. 

O  melhor  retrato  que  nos  resta  de  Bulhão  Pato  pintou-o  Columbano. 
É  o  poeta  da  decrepitude.  Uns  olhos  vivos,  argutos,  negros,  scintilam  numa 
lace  branca  de  apóstolo.  A  barba,  como  uma  onda  revolta  de  prata  oleosa, 
cobre-lhe  o  pescoço  devastado.  As  mãos,  apoiadas  na  bengala,  são  reflexivas 
e  enérgicas.  Na  expressão,  que  a  doçura  da  velhice  tranquilizou,  advinha-se 
ainda  uma  relíquia  do  antigo  pannache.  Dir-se-há  que  na  mesma  face  se  juntam 
a  velhice  deTolstoi  e  a  velhice  de  d'Artagnan.  É  uma  obra  prima  da  pintura 
portuguesa.  É  a  mais  alta  expressão  que  pode  atingir,  na  interpretação  da 
máscara  humana,  o  génio  dum  pintor.  —  Mas  já  não  é  Bulhão  Pato.  — 
O  poeta  da  Paquifa  tem  eternamente  trinta  annos.  O  poeta  da  Paquita  não 
envelheceu  ainda.  Vejo-o,  advinho-o,  evoco-o.  Tem  os  cabelos  negros,  a  polpa 
do  lábio  vermelha  e  moça,  o  sol  da  Espanha  a  arder-lhe  nos  olhos,  a  pele 
doirada  e  húmida  de  seiva,  o  corpo  firme  e  esbelto,  o  gesto  impetuoso  e  largo. 
É  o  homem  fatal  do  seu  tempo.  Ondula  pelas  salas,  nos  serões  da  Regaleira, 
nos  bailes  dos  marqueses  de  Viana,  passeando  os  olhos  profundos,  sacudindo 
a  juba  preta.  O  seu  pulso  é  rijo  como  o  aço;  o  seu  olhar  é  macio  como  o 
veludo.  Os  homens  temem-no;  as  mulheres  enlanguescem  ao  vè-lo  passar. 
Toma,  em  Sévres  e  oiro,  o  caldo  de  galinha  das  sautehes  do  Farrobo;  soluça 
e  geme,  rodeado  de  saias  de  balão,  os  versos  «se  coras  não  conto»;  e  as  mais 
belas  mulheres,  a  própria  madame  Barrow,  ministra  da  América,  finge  ar- 
gueiros  para  que  êle  lhe  sopre  os  olhos.  Garrett,  velho,  postiço,  espartilhado, 
ministro,  rabujento,  sonhando  com  a  Ordem  de  Malta  e  penteando  o  chino  de 
Londres,  não  as  interessa  já.  Ao  deus  que  morre  opõem  o  deus  que  nasce. 
Bulhão  Pato  é  o  Musset  do  Passeio  Público,  o  Alfred  de  Vigny  do  Marrare  de 
polimento.  A  sua  pêra  negra,  a  sua  pêra  impertinente  de  fauno  esbelto,  cofiada 
sempre  por  uma  mão  sólida  e  forte,  enche  de  virilidade  o  seu  tipo  romântico. 
A  fama  do  talento  ilumina-o.  É  o  pupilo  de  Herculano,  é  o  amigo  de  Rebelo 


í  Í-59)  10  DE  RAIMUNDO    LNTÚNIO   DE  BI  LHÃO  PATO  •"» 

d;i  Silva,  tem  a  costela  de  oiro  de  Ipolo.  Cortejam-no  nas  ruas.  amimam-no 
nas  salas,  querem-no  ih»  Parlamento,  chamam-no  da  Academia.  Patuleia 
ral,  cheio  de  energia  e  de  raça,  a  sua  alma  está  com  o  povo,  vibra  com  o 
povo,  palpita  com  o  povo.  audacioso,  eloquente,  tom  um  dia  oa  Mia  mão  o 
poder,  o  domínio,  a  força.  Mas  a  tudo  renuncia  a  soberba  da  -na  pobreza,  o 
orgulho  formidável  da  sua  independência,  <>  poeta  humilde  tem  gestos  de 
grande  de  Espanha:  |Que  importa  o  mando,  que  importa  o  poder,  que  importa 
a  glória!  Bastava  que  a  vida  lhe  corresse  entre  um  sorriso  de  mulher  e  uma 
Iara  de  Champagne,  entre  uma  ode  de  Horário  e  uma  .arada  às  lebres.  E  de 
manhã,  antes  do  sol  nascido,  quando  principia  a  cantar  o  tentilhão  madrugador, 
a  toutinegra  barbiruiva,  o  pisco  cbalreiro,  êle  ai  vai  com  o  seu  polvorinho 

e  o   seu  chumbeiro,   a   sua  espingarda  e  o  seu  cão  de  mostra,  varejando  nos 

carrascais  as  perdizes  velhas,  batendo  nos  baldios  os  coelhos  encovilados. 
O  panteisla,  perdido  no  seio  ila  natureza  selvagem,  bebendo  a  largos  haustos 
o  vento  agreste  das  montanhas,  —  a  cada  perdiz  que  abate,  a  cada  lebracho 
que  os  dentes  do  cão  sacodem,  encontra  um  verso  de  oiro  da-  suas  <;n>i<jt>as, 
um  ritmo  carinhoso  das  suas  éclogas  cristãs,  e  a  sua  alma  simples,  a  sua  alma 
tranquila,  a  sua  alma  religiosa  sobe  num  êxtase  para  Deus.  Não  lhe  peçam  a 
filosofia  da   -ua  obra.  Não  lhe  perguntem  a  razão  da  sua  existência.  Sente 

porque  .-ente,  vive  porque  vive,  ama  | pie  ama.  o  .-eu  génio  de  instinto 

llutua  entre  duas  emoções:  uma  mulher  que  sucumbe  e  uma  perdiz  que  abale, 
um  tiro  que  fuzila  e  um  beijo  que  murmura,  uma  liga  que  foge  e  uma  lebre 
que  salta.  A  natureza  é  para  ele  um  festim  dionisíaco;  a  mulher  6  para  ele 
um  mistério  profundo.  Entre  è-se  festim  e  esse  mistério,  entre  esse  explendor 
e  essa  interrogação,  oscila,  palpita,  estremece  toda  a  obra  de  Bulhão  Pato. 
Das  Poesias  as  Canções  da  Tarde,  das  Paisagens  ás  Flores  agrestes,  da  Paquita 

ao  Livro  do  Monte,  essa  obra  fiue,  canta,  explende,  alaga, —  agori lodiosa 

e  doce,  logo  convulsa  e  violenta:  florindo  hoje  em  idílios,  lampejando  amanhã 
em  sátiras:  ora  sóbria,  ora  truculenta;  num  dia  caricia,  noutro  tempestade; 
mas  sempre  raça,  mas  sempre  orgulho,  mas  fidalguia  sempre.  O  patuleia 
pica-se  di'  nobreza  dos  quatro  costados.  No  .-eu  anel  esquar(ela-se  o  brasão 
do-  Patos  Rjaes  de  Ucochetc.  Nas  suas  genealogias  remota-  surge,  como  um 
sorriso,  o  burel  de  Santo  António  de  Lisboa.  Esse  burel  humilde  e  essa  lidai 
guia  de  berço  unein-se,  aliam-se,  resurgem,  renascem  na  figura  do  poeta. 
Dão-lhe  a  sua  pobreza  de  franciscano  c  a  sua  soberba  de  príncipe.  Dão-lhe, 
acima  de  tudo,  o  seu  grande,  o  seu  imenso,  o  ,-eu  enternecido  amor  a  terra 
portuguesa,  ao  sol  de  Portugal,  ao  povo  de  Portugal,  que  êle  cauta,  que  ele 
admira,  que  ele  exalta,  no  seu  ímpeto  retórico,  na  sua  ênfase  castelhana,  no 
seu  gesto  redondo, —  nesse  gesto  instintivo,  hereditário,  de  quem  leva  a  mão 
a  um  talabarte  para  arrancar  da  bainha  a  espada  de  I).  luas! 


(i  ELOGIO  DE  RAIMUNDO  ANTÓNIO  PE  BULHÃO  PATO        (4G0) 

Pobre  Bulhão  Pato!  |Velno  poeta  grandioso  em  tudo,  na  figura,  no  talento, 
na  pobreza  e  no  orgulho!  Se  lià  Deus;  st:  é  certo  que  a  morte  nos  ilumina, 
nos  transfigura,  nos  rejuvenesce,  —  estou  a  vê  lo,  fidalgo,  suntuoso,  exagerado, 
espanhol,  vestido  num  gibão  prelo  deYelasquez,  sacudir  a  juba,  cofiar  a  pêra 
de  fauno  velho,  avançar  na  luz  ofuscante  de  alêtn  túmulo,  pôr  a  mão  sobre  o 
ombro  formidável  de  Deus  e  perguntar-lhe  familiarmente:  —  «Kapaz,  como 
vais  tu?» 

Disse. 


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