^:m^
' vív \W\ ! F I f I í 1 1' ' ! ' ' I f í ti f i 'f ^^ ri 1 i í 'I ■ 1
IP > . I
LI Li
III
llllfllilllillilllllll
Wllllllll
I {' .1'
''S/3<^ :f^\
Presenteei to the
LiBRARY of the
UNIVERSITY OF TORONTO
by
Dr. António Gomes
Da Rocha Madahll
ll!llll!lllllll!lllll'
l! LTII
I li
III
m\
ii I
' I "ill Íií^^í^^l^l^'^1^
' I 1 li ''I 1 i I íl ' I
fíltílfllili
I
! II
I ! I li I lilli I jilli^^^^^^^
III
'/,r/^.^^ ^/sAá
O
i^íCe^
z ^7^/'
fmwMK^o^-m^ s^j.^
P R I M E 1 R A P A R T E
DA HISTÓRIA
ECCLESIASTICA DOS
Arcebispos DeBraga,E Dos Santos, E Varões
illurtreSjque floreccráo nefte Arccbiípado.
Por Dom Rodrigo da Cunha Arcebifpo , è^ fenhor de Braga^,
Primà^^das Hefpanhas.
Cy?^
Anno
1634-
!
Offerecida a Sereníssima Vi:rcemSanta
Maria de Bra2:a. ,
Em Vraoii, fcm tod.i< c: luencas necejjartas, fsr Alanoel Cnrd.-z.o mercador d* liurat.
Ij> IlliUlUIUir iM '
••t>«^..
te
•C^
*^^
l
i
.^
A P P R o V A C, A M.
VJ ejle liuro intitulado, Hiftoria Ecccleíiaílica dos Arcebif-
pos da íaiita Igreja de Braga , compoUo pello Illufirifsimo,
l^ ReuerendiJsimoJenhorD6Rodr/go da Cunha Ar cebifpo Primá^^
cujo nome manifejla bem a excellencia defeus efcritos^dos quaes co
gr ande fundamento pojj o affirmar o quefanto AmhrofiofermaS 48.
dife dehitftrmao de certo Bifpo ('taiica facúndia res diuinas dif-
feruit , vt prxdicacio eius plena fueric Sacerdotij gratia, oracoris
eloquência , inftkutione dodoris. Nec mirum^ íi is,qui in Pó-
cificio Priniacus honorcm obtinet,obtineacetiam in prasdican-
do Primatus cloquium j oprefente eíià mui conforme a nofia [an-
ta Fe Cathohcajj' bons costumes ^Isf me parece dignifsimo defe im-
primir. Lisboa , emfaá Francifco da cidade hoje 24. de laneiro de
16^4.. FrDiogodoSaluador.
V
APPROVAC, AM.
I com fumo goTio efteliuro intitulado ^ Hiftoria Eccleííafticá
dos Arcebiípos dafanta Igreja de Braga, & dos varões fan-
tosq em íeu Arcebiípado floreceraõ , coos Concilias Prouinciaes
que nellafe celebrarão , compofio pello lllujlrifsimo fenhor DÓ Ro-
drigo da Cunha Arcebifpo do dito Arcebifpado^tfPrima^dasHef-
panhaS) todo eile he hu ramalhete deflores celejliaes,i^ diuinas;ao
qual naó so a forma que a excellencia defeu Autor lhe deuÇque he a
fuprema que neíte género pode auer)ofa^inJigne^ mas tambe a ma-
téria de grade proueito efpiritual pêra as almas, iS'' nao menor eru-
dição pêra os doutos: pello que me parece dignifsimo defe efiampar^
em Lisboa nejia cafa de S, Roque dlfí^ompanhia de i^^f^- 'ultimo
de laneiro. 16^4. Doótor lorge Cabral.
V
Illas as informações podcfe imprimir cftcliuro intitulado,
Bifloria Ecclefajlica dosArcebifpos da S. Igreja deBraga, &
depois de impreíTo tornara a efte Cõfelho cõferido cò fcu origi-
nal pêra fe lhe dar licéça pcra corrcrXiíboa 3 1 . de laneiro de 1 63 4.
Gafpar PeretrA. D loa» da SyhA. Francifco Barreto. Maneei da Cmha.
Fr.Ioaode í^afctncelles.
APPROVAC.AM.
\
PO R mandado cie fua Magcftade no fcu defcmbargo do Pa-
ço^vicfteliuro intitulado, Hifloria Ecclejidfiica dos Arce-
bifpos da S. Igreja de Braga^if dos 'varjosfantos qmllaflorece-
r4o,compoíto pello ílluftriííimo,& Reuercndillimo ícnhor
Dó Rodrigo da Cunha Primaz das Hefpanhas , & não té coufa
em qfepoíía reparar, & tudo he conforme a muita piedade, co-
nhecido zelo da verdade, «5,: iníígne erudição _, q em vários trata-
dos témoíbado,& todo efte Reino confcíla.EmLifboa na cafa
deS.Roque da Companhia de Iesv. ij.dcFcuerciro.1^34.
Diogo de Areda,
QV Efe pojfa imprimir tjle liuro Vitia a enformarão do Dou-
tor Diogo de Areda, i^ licenças do finto Officio , tf ordi-
nário , ^ depois de imprefo tornara a efta mefaperafe
taxar , ttjem iJ!o nao correrá. Lisboa zi. de Feuereiro de 16^4.
CahrsU SéLizMU ^x/rett. L»M,B4net«t
>^?^<5. ^>^.gÍR?*^ ^^ yÍ^9r^<^$HÍin^
A
A V I R G
SENHORA NOSSA,
PADROEIRA DA IGREIA, E
Cidade De ^R^ÀGÀ.
Eílosmefmos títulos ^Virgem Santíssima^
que -vos offereci o tratado da Prima^^a de Braga,
he também 'voj^o o com que agorafayo a lu^ dos
Arcebifpos da mefma Igreja. Injusioforafepara os
publicar , lhe bujcajje outro faiior. Obra foi ^ofa
fubircm d dignidade defia Sè primeira de Htfpanha , que ^os U-
uantou altares y^ fe confagrou a ^oj^o nome. Ta es os efcolhesies^
quaes es pedia ^ofio feruiço , í^ auerem de ficar por esia 'via o
exetnplar do clero de húa Prouincia taó Catholica , a quem^ejfo
Filho Chrislo lESV tinha guardada a empre^^a deleuarempello
mundo a gloria defuafagrada Cru^. Em a^ofio empara confio re-
fucitar na memoria dos homens a fama, que debaixo do mefmo em-
pí^c^anhara^ tuútas Prelados , 'Iffi^do perfeitos , ^ morrendo
"Ê^antos,
PRO-
PROLOG O
Ontinuoufe o animo com que efcrcuemos as vi-
das dos Bifpos do Porto,quando tiuemos aquella
dignidadcjdcpois que fomos promouidos a ella
Primacic'il deBragai& logo traçamos de tirar aluz
as vidas de feus Arccbifpos, a quem a muita anti-
guidade tinha quaíí de todo efqueddos j em húa,& outra acção
pretendemos querer imitara S.Damafo nas vidas,q eícreueo de
íeus predeccílbres jfe o animo foi efte^ofim íe dilculpa cõ os im-
poíTiueis ,q fc nos repreícntaraõ, aííi porque eík obra confta de
coufas tãoantiguaSj&táoatrazadas j q quaíí nãocftáo na jur-
dição da memoria, como porque para auerigualas , importaua
reuoluer cartórios, apurar duuidas_,a ondeamcfmaantiguidade
faz confuraõ.Eftas,& outras rezoés(alé do goucrno de Prelazia,
tão dilatada^ S: taõ ocupada) nos tiueraõ quaíí diuertidos deite
intenco.Ejapòde fer foi deíconfiança tornarmos a elle. AIgúas
peílbas de erudição, & autoridade fabendo q nos ocupauamos
neíla obra nos informarão decouíâs muito importantes a efta
hilloria , que fe puderaõ efcondcra quênão foíTe muy veríado
na lição delias. Q^ádo efta primeira parte íècomcçaua a impri-
mir,nos mandou iua Mageíiade,q Deos guarde,aíliílir àdefcnía
da Villa de Vianaj& porventura q daqui lhe naceria, faír menos
pulida,Emendáoíè,& melhorãoíe entre maõs muitas coufas,em
q naõaduircia o eítudo perfíado. Na aueriguação da verdade,
entramos íèmprccóaninioliure,&:derapaixonado. Côas vidas
dos ArcebirposeícrcuemoySWos varões íàntos, ôc illultrcs do
Arcebifpado. Não era bem dinidifieaefcrituraaqueileSjaquem
a graça, Sc natureza fez quaíí irmãos. Cõ eíias rezoés faea pri-
meira parte,feimperfeita,de algija maneira defculpada. Trabalha-
remos q na fcgunda (começaracÕ o glorioío S. Giraldo, jã no
tempo de noílbs Reis,) aja tpcnos queemendar,&: não fera pe-
quena felicidade igualarfc o effeitoxom o animo ^ he género de
fatisfação moítrala ainda cm defejos.
5x-^. 3íi ffi ^iW ?íM m^. msJMM^tm
rgy.-iCJ-zJg-.jf-.gag: ae;3ag:rac-
FRANCISCVS PINTO
Da Veiga.
VJfiudio, ingenio^fiio tibi , Br achara, nuper
Hefperi<e ajíermtíiirafitprema mitr<e,
Nunc oOgitParcas truncata retexerejila,
Letfhnaf^ ^ondM cedere Pegafeis:
Iam prideu Vitaf anãos ^prima^ tiara
Donans orbi iterum cernere Pontífices.
Vrbs,quam mixtafalo Durij pr^labittir ■unda^
Hoc dederat múnus Pr^ful is ante tuis.
Quos igitur tanta caligine merferat auum.
Vtfpes humana -vixfuperejfet opis
Viuuntfãcrorum próceres ^monumenta^^terr is
Virtutum referunt munere, CFGNA,tuo,
Gaudete ô Jnim^ tali prdcone beatiõ
Nuncfimul in C4I0 -viuitis^iníj^folo.
Hic documenta datis mi feris mortalibusjlhc
Fulcite iraperif mole labantis ónus.
Vefirà etenim doar inâ ânimos formata iiiumtm
Chriflo regna dedit qu^Mahumetis erant,
Oceani^ domas rabiem ^ uiãricia Chnjii
Ignoto tribuit figna ^viderepolo.
Et, quo nulla dies ^què mirabile t>idit^
Império metas folis, isf orbis habet.
Cernitis antiqua lapfos ah origine mores ^
Ne decus id labes obruat iUa, date.
Hocfatagit ^elo Pr^ful, cura^ paterna
Mira ijetuflatis lux^baculi^ nitor.
Pr^claris pollensfludifSi opibufj^ Minerus
Clã pia Cecropiopenna leporefluit.
r<«.j—
Lí6UUiifh
x.
Ltcuim iter ingrefsis maiorum- lâmpada profcrt^
Ne pudor àprifca nonjit ahire "via.
He?'ois magnifoboles, ciii slirpis origo
Clara per innumeros continuatur aitos:
Quorum pr d cl are gesiis bellhj^ ^ ^^K'^^
Lufiadum lati nomen in orbe ijiget:
Queis hicphis reddet luci<; , quámfumpfa ah illis.
Nam Jua laus magnum, non aliena facit.
A Ccelo is tantus datus efl mortalibus author,
Virtutem Dtfcriptis fpargat "^bi^, fuis.
Scribere dumçj^ ^^i% wdulget gentibm ^teuum
Canefcatfeclis innumerabililus.
Nam mente, iffludio ^incendo Jeculafecit
Secula nepojfent a^lla nocerefibi.
h^^*á^^'5f'^h'*
!
,#
fo/.I.
' x^-jc 3t:*^ar Jgjr:»: lar m '.apaiLM :
tv t= *- :*rad>';
r'jg3r r ^^K-^sz^ti ^. í^?!]
r::3t jr:x-:^--r^M.^3írjtL
c'-Jg -^-y jrrgjr jc jr3«r:«--y»-'jr i
: arr- ^í:at jr jtrarr.r
FV
AC A
DA CIDADE DE
BRAGA^EQVAES FORAM SEVS
FVN DADORES.
CAPITVLO PRIMEIRO.
Ttokm,
l>b-2.c.6
Plin. nat.
hji.hb.if
\c.zo.
\Anton.in
iúncr.
C I D A D E de
Braga he húa
das nobres, &
antiguas , não
íò de Portu-
gal, mas anida de toda Hefpa-
nhaj& nas armas,& gloria mi
litarigoal côas mais famoías-,
Ptolomeu,o Emperador An-
tonino, &: Plínio lhe chamão
Augufta, que hc o mefmo , q
imperial, titulo com que os
Emperadorcs lionrauão as ci-
dades leaes, que mais íc auan-
tejauão no íeruiço do impé-
rio Pvcm.ano. Com o mcfmo
titulo deAaruftas , íaò co-
nhccidas , &í nomeadas Meti-
da, Artorga , & Caragoça in-
figne cidade de Aragão, &
outras mais de Herpanha,por
que o ganharão por obras de
valor, & por mercê , 8í fauor
dos Emperadorcs Romanos.
Rica lhe chama também Au-
fonio j quãdo diz falando áss
cidades lUullres de Heípa-
nha.
Qíu^finupclaguaãatfe Bra
charadiues.
A rezão parece que he tirada
de Plinio, o qual affírma, que
foy efta terra fertiliísima de
ouro,& outros metaes,& diz
de opinião de alguns , que de
Aílurias,Galliza,& Lufitania,
Te tirauão cada anno vinte mil
liuras de ouro, que íàõ vinte-
mii marcos da moeda, q hoje
corre, &: acreccnta, que em I
A nenhúa
ciarei vr
hes verbo
IJiIfalíí,
4-
Duart,
NfM.dff-
cyiff. de
Fortug,c,
22.
Cafitulo primeiro
lib. ^j\.
)-J-
Itb. I.
yiifupra
nenhúa outra terra durou por
tãto têpo efta fertilidade.No-
touobêluftino quando dií-
fc , cjue era ella Prouincia de
Galliza, tão rica de ouro, que
cm finos, &: peíados torrões,
o Icuantauão da terra os ara-
dos,quando a laurauão.E dos
• Aílurianos diz Silio Itálico,
que não tinhaÓ outro oíficio
mais que tirar ouro das en-
' traiihas da terra.
AUurauarus.
Vifcerihiis lacera tellurls mer-
gitur imis.
Et redit infelix effbjfo con-
colorauro.
E fe ouucrmos de dar credito
aos Ppetas acharemos,quc ate
nos rios de antre Douro &
Minho auia ouro em fuás
áreas: afsy o âiílc Silio Itálico
do Lyma,a quem osRomanos
chamarão rio do eíquecimen-
to,o qual Icuando fua corren-
te ao mar Oceano, junto à
villa de Viana perde o nome,
metêdofe cm fuás agoas, delle
diz o Poeta.
G)ui^ fuper Grauios lucentes
"voluit arenas,
Inferuíe referens popults obli-
uiaLethes.
A mefnía riqueza Icua no no-
me,& nas arcas, o rio Douro,
que dà principio à comarca de
antrc Douro , Sc Minho, &
corre j unto à cidade do Por-
to, o qual compara Silio ha-
lico com o Paótôlo de Alia,
rio abundante de ouro.
Hmc certant Paólole tibi Du
E aindaque as arcas deftcs rios
nãofejãodeouro, como os
Poetas fingirão , achafe poré
nellcs algú em meudos graÕs.
A caufa he por auer neftc Rei-
no muitas veas de ouro, Sc
quando as terras onde eftà ef-
condido felaurão, ou rom-
pem , as agoas do inuerno as
íeuão , ôc nos rios , Sc arcas
dcllcs,ondc fe vãometer,fi-
cãoallcnradosos graõsdo ri-
co,& preciofo metal, q ncllas
fe vè.Illo acontece ao Hcrmo
de Phrigia,aoPaâ:òlo de Afia,
ao Ganges da índia , Sc ao Pa-
do de Itália, tam celebrados
dos Poetas por abundantes,&:
ricos de ouro . Elias Vineto
tem para fy, que Braga fe cha-
ma rica pclla grande fertilida-
de dos valles da comarca de an
tre Douro,&: Minho,em cuio
coração cftà allentada , Sc de
cuias riquezas participa igo-
aes ( fe não melhores) as das
veigas, Sc campos mais abun-
dantes de Hcfpanha. Logo be
aífenra o titulo, & nome de
rica
d. l,b.
l.
Duarte
NHn.d,c,
2 2.
NoCorní^
ta de Au
fonio vhi
fupra.
fundação da cidade de Bragas.
Arrae!
€.12.
S anu Ag.
lih.l. c.
1
'r
rica^que Auzonio dà a Braga^
pois nclla auia tantas minas_,
tantas veas , &: rios de ouro^
tanta abundância, òc fertilida-
de de frutos j íe jà lhe naõ foi
dado por algíja liberalidade
iníignc^cjue vfafie com o Po-
uo Romano feruindoó com
algum dinheiro de importân-
cia perafocorro de fuás ligioês
&Í exércitos . Tudo fe pode
preíumit da generolidadc dos
antiguos moradores de Bra-
gados quais na milicia fizerão
illuftres façanhas, moílrando
ânimos esforçados , & húa
contumácia generofa contra
os Romanos,que luarao lan-
gue quarenta annoí em os
conquiftar.
t Da origem de Braga ha
cinco opinioês,toda5 lhe dão
diuerfos fundadores.' Come-
çando pellosmais antiguos.
Dom Mauro Ferrer he de pa-
recer , que foi fundada por
Egypcios,&;tiraefta cõiedu-
radehúa pedra antigua, que
cftànas coftasdacapelladeS.
Geraldo junto a Sc , com húa
dedicação à Deofa líis , q diz
aísy. Ijidifacrum. E daqui ar-
gue,q aos Egypcios fò perten-
ce cita fiidação , porq elles fo-
rão os q primeiro leuantaraó
tépIos,&; venerarão cõfacrifi-
cios a efta Deofa, <Sc a feu ma-
rido Ofiris.E fe lhe pcrgutar-
mos quando vieraõ os Egyp-
cios a antre Douro,& Muiho
pêra edificar Braga, rcfponde
facilmente, q vieraõ em cópa-
nhiadelupiter Oílris marido
de líis, quando paílbu a ¥{cí~
panha, & depois de fua morte
acalcanharão aHercules Egyp
cio ícu filho,aquellea que cha
maraò Marte pellas façanhas,
òc cíforço militar quádo vco
às mefmas Prouincias de Hef-
panha,cq dariaò principio a cf
ta cidade/undando nella o tc-
plo de líís may de feu capitão,
& Príncipe Hercules . A iuda
efta opinião a cartado Biípo
do Porto Hugo, q adiante lã-^
ciaremos , o qual alíirma có o
ArcebifpoCaledonio, que os
Egypcios forao os q fundarão
o téplo a líIs nefta Cidade de
Braga.
3 Da veneração deftesDeo-
fes entre osEgypciostrataDio
doro Siculo,&: dcfus Sacerdo
tesS. Ambrofio. Do letreiro
que acima referimos daremos
mais larga relação na vida de
S.Pedro de Rates, pêra onde
referuamos fua íígmficação.
4 Outros feguindodifferé-
tc caminho faó de parecer,
que foi fundada por Gregos,
i.hi(f.
S. Amb.
in Fpijf,
Epifcof.
£f^.çeí
ttas untig.
r.8. .
&
4
Capitulo primeiro
FUn. l't>'
•dM..
H-
m,^.
& não íaõ fracos os fundamé-
tos a que íearnmáo , porque
tem por íy a autoridade de
Plínio, Autor gtauiísinio, o
qual falando particularmente
de Braga^diz que foideGregos
fua ongcm,faõas palauras. A
Client comientHs Bracharum^
Hehni^Gronij^ C afiei íum Tide
Gr^corum fohoJes omnia. E os
Galleoos antiaos publicauão
de ly , t] procediao At Gregos
comoaftifmaTuftino. Gaílccí
ãUtemGvtecamfibi originem af-
fenint. E fendo Braga cabeça,
& lugar principal de Galliza,
cila auia de fer a primeira na fú
dação. E prouafe fer ilfo aísy
: pello nome deGrauios^que os
pouos deantre Douro_,& Mi-
nho tiucráoporaquelle tépo,
oqualfe diriuou com. "pouca
corrupção do nome, Graios,
q tinhão os Gregos , q a po-
uoarão como bem notou Si-
lio Itálico dizendo.
Et quos nunc Grani os mutnto
mmincGramm.
OEnccc mifere domas y/Htola^
Tide.
E quaes fofsé eftcs Gregos , q
edificarão Braga,& pouoarao
antre Douro, & Minho, c*^as •
mais terras deGaUiza, viando
cõ ellas de húa liberalidade tão ;
generoza , q não í ò lhe dcraô
fer,honr3,&: naciméto,mas a-
inda feus próprios nomes, hc
couía íabida,q foraõ quatro il
lullres capitães Gregos , os
quaes tornando pcra fuás ca-
las da guerra,& incédio deTro
ya, aportarão có a força,&: ri-
gor de tcpelladcs, q correrão
no mar,ein as prayas,& terras
deGalliza. Eítcsíe chamar ao
Diomedeí, Teucro, Altur, &
AmphilocOjOs quais côas ge-
res cj trazião pouoarao a ma-
y or parte defta prouincia , &
de Allurias agrcftes então, &
aíperiíTimas . E André de Re-
zende fala da vinda de Diome-
des,como de couía certiííima,
dizendo , q feus cõpanheiros
habitarão a terra, q cae da ou-
tra par te do rio Douro ( q he
efta de BragaJ conferuandofe
por muitos annosemlcu mo
do de viuer Grego, de forte, q
por excellencia erão conheci-
dos,&: nomeados por Graioí,
q tanto vai como Gregos. E
depois cotrompendole o vo-
cábulo, fe chatnaraõ Grauios ,
ou Gronios,como os nomci
Pcmponio Mella. Da entrada
deftes iníígnes capitães em
Galliza,teftemunha depois de
luft ino,Vazeu,eVolaterrano^
Floriaõ de Ocampo,frey Ber-
nardo de Brito, & o Bifpo
frcy
tiq.
3.r. 'exti-
ttm Híf-
fomx.
lufitiu d,
Itb. ^j^.
yhlater,
Geog. c.
Áe HtffA
nia.
no 11^9.
Flor.Uy,
& 42.
Brit. i.p.
monarth.
c. 11.
fundação da cidade de BragíLu.
5
Sa»doual
nas aiit:-
med. dl
Tui,
Duart.
Nun.díf
erif.c.vl.
Brit.i.p.
monarch
llb,Z.C.b
frei Prudcncio de Sandoual,
os quais largamente coiitaõ
cila vinda , 6c apontaõ algíías
das cidades que fundarão , en-
tre as quais íem duuida deuia
entrar -Sraga, pois era a prin-
cipal dos Pouos Grayos , ou
Grauios , da comarca dantre
DourOj& Mmho. Cayo cila
fádação pellos annos de 1 1 jo.
antes da vinda de Chrifto.
5 Outros tem por opinião,
q foi Braga fundada_, por Car-
thagineíes , aquelles q vicraõ
com o capitaõ Himilcon , &
ficarão antre Douro, &c Mi-
nho^pella ocaíía5,que logo ài
remoSj& lhe deraõ o nome de
Braga^q hoje tem. Sahio o ca-
pitão Himilcon Carthagines
das prayas de Andaluzia^com
húa groíla armada pêra defco-
brir alguas terras de Luíitania,
&c Galliza^ &: alcançar noticia
da gente, & couías mais nota-
ueis q aly paílauaõ.Depois de
dobrar o cabo de S.Vicente,&
o de Eípichel,que antiguamé-
te fe chamou promõtorio Bar
, barico,& naueo;ada toda a co-
I lia dcPortugal tê o rioDouro
cõ grandillimas tempeftades,
cançado ja dos trabalhos da
nauc^acão de mares, e climas,
q não tinha vifto, nem efprc-
mcntado , lhe foi forçado to-
mar porto,&: entrar com to-
da afrota.pella foz do Douro,
onde à pouca diílancia achou
hua pouoaçaõ de Gregos , q
viuiaÕ com policia ( era efte o
lugar de Gaya,quecíl;à defrõ-
te da cidade do Porto ) dos
quais foraõ bem recebidos os
Africanos,& tal conformida-
de, &: amor, tomarão entre fy,
&c fc deraõ por tão pagos da
companhia, que muitos dos
Gregos Ihâ quifcraõ fazer na
jornada,&embarcar cõ elle na
mefma frota. Dahy cõtinuou
Himilcon fua derrota vendo
todos os portoí de mar,q vaõ
atê o rio Minho , onde achou
bom gazalhado na gente Grc-
Com eíta or-
ga,quc ali viuia
dem foi defcobrindo os ma-
res ,q rodcaõ as terras de Galli-
za,&Bifcaya tê onde fe lanção
nellcs os montes Pirincos. Cõ
cluida cfta nauegação tornou
Himilcon pcllo próprio cami
nho q leuara demandando os
portos q tinha reconhecidos.
6 Cheo-ando a corta de Por-
tugal fobrcuco hua tépcftade
tão riguroíà , q fe viraõ quaíl
perdidos,& queredo tomar o
porto dosGregos,q acima dif-
femos,era o lugardeGaya,o
naõ pudcraõ fazer tanto a fcu
faluOj&: fem rifco da armada.
Ai
qu
Capitulo primeiro
qnão perdefsê muitas em bar
çoés_, laluandofe a gente em
bateis_, com que os Gregos lhe
acudirão. Vendo Himílcon a
frota dcftroçadaj& a impoísi-
bilidade _, que auiapara íe re-
parar o danoj que a braueza
dos mares, & força dos ven-
tos lhe tinhaõ caufado , com
o parecer dos principaes capi-
tães da armada, determinou
deixar a gente , mais cançada,
& mal tratada do marjCÕ pro-
uifaõ bartante , atê virem de
Andaluzia embarcaçoés,emq
íetornaíTem. Com efte acor-
do tratou Himilcon o nego-
cio com os Gregos do lugar,
pedindolhegazalhado pêra a-
quelies foldados , & licença
pêra ficarem cm fua compa-
nhia, &dos mais Gregos da
comarca, em quanto não vi-
nhão embarcaçoêí a buícalos,
&: a pagar a boa obra, q delles
eíperauão. Tãofacil foíper-
fuadir aos GregoSjComo difíi-
cultofo obrigar aos Africanos
a ficarem em terras taõ aparta-
das da fua,entreas efperanças,
^ temor de não verem mais
a pátria. Himilcõ fe fez a vela,
6 tornou pêra Andaluzia on-
de ertaua o exercito dos Afri-
canos.
7 ' Entretanto os Cartha^i-
nefes , que ficarão no porto
de Gaya cmAntredouro,&:Mi
nho, demaneira íe ouuerão
cò os naturais da terra , &í aísi
lhe fouberão grangearas von-
tadeí,queforáo delles muibé
hofpedadoSj& tão familiarmé
te os admitirão a fua conuer-
fação,que alguns delles efque-
cidos de fua própria natureza
fe cafarão na terra , &: tratarão
como naturacs. Seguirão íeu
exemplo os mais Africanos,
os quaes leuados da fertilida-
de do íítio , & bom animo, q
nos moradores dcUe conhe-
ciaõ,determinaraõ de confen-
timento comum, viuer ncfta
prouincia,& aparenrarfe cõ
léus naturaes, com condição,
que elles lhes deílem terras
em que fundaílem húa cida-
de, que fe gouernafle pellas
leys dos Carthaginefeí , fem
dependécia algiía dos Gregos,
ou de feus magiftrados . De
boa vontade vieraõ os natu-
raes na petição dos Africanos,
& afsinandolhes vários íítios
lhe contentou mais o pofto
onde eftà a cidade de Braga.
Começarão a obra, pêra mo-
rada fua dandolhe nome fe-
mclhante ao do rio Bragada,
que íe lança no mar dentro
das terras de Carthago , de
lUC
fundação da cidade de Bragd—i.
TolomeH
Viflo lo-
co.
1
que faz menção Tolomeu^
& outros autores , òc os
Turcos, & Mouros cm cu-
jo poder ellà agora aquella
Prouincia, mudado o nome
IhechamãoMegarada. Cò ef-
ta memoria do leu rio Braga-
da, dado por titulo à noua fú-
dação qucfazião_,quizera5 os
Africanos ter fempre prefen-
te a pátria onde naceraó , ali-
uio vnico das faudades em q
paflaõ a vida os defterrados.
Se ja o não fizerão com a té-
ção j que tiueraõ fempre os q
fundarão de nouo algúas ci-
dadcsjpondolhe os nomes da-
quelles lugares onde naceraõ,
como vemos em muitas de
Hcfpanha, & entre Douro,^
Minho^onde os moradores íe
chamarão Grauios dos Gre-
goSjOu Grayos,qo pouoarão
como atraz apontamos. Suce-
dco efta fundação pellos an-
nos da criação do miido 35'5 1
quatrocentos & trinta ^ híí,
antes do nacimento de Chri-
fto , como affirma Frei Ber-
nardo de Brito, òc outros au-
thorcs q feguc; com efta opi-
nião vai o PadreCofme de Ma
galhaês no Epigramma , que
fez a fundação dcfta cidade.
Naufrágio eieãi defgnat md-
ma Pícni
Dant nomen títulos , Ò^ noua
iura loco.
jEdificata , duces ítalos age
Brachara -"vince,
P<enus aitjproauos Marte imi-
tar e tuos.
8 A quarta opinião he dos
que iulgão, que foi Braga fun
dada por Gallos Ccltas.Apon
taóna graues authores^ &: a le-
guem Florião deOcampo, &c
Garibay dizendo que os Tur-
dulos,Andaluzes,& osGallos
Celtas moradores naLufita-
nia nas ribeiras do rio Gua-
diana, determinarão fair de
fuás terras , & entrar pello
mais interior de Hcfpanha
a c5quiftar,<S<: afundar nouos
lugares ; concertados na jor-
nada pellos annos de trezen-
tos & quinze, antes do naci-
mêto de Chrifto Senhor nof-
fo, fairão mais de trezentas
mil peífoas , & forão cami-
nhando pêra a ribeira do Te-
j o,oade fizerão algíjas pouo-
açoés. Paliarão o rio, & mar-
chando adiante pellas terras,
qhojeíaõda Coroa de Por-
tugal, pouoarão Coimbra, &
outros lugares ate chegar ao
rio Douro,ondc pararão pêra
defcançardos muitos traba-
lhos que auíão padecido na
jornada. Não quiferao osTur
chron.
c.li.
Flor. l,b,
Garmat
lib.^. c.
ic.
A4
dulcs
Capitulo primeiro.
dulos hir adiante, & ficarão
aly. Os Gallos Celtas, que tã-
bem íe chamauao Brachatos
atraucílaráo o Douro, 5c ctc-
dc fund;
ribe
pois cic tunciarcm nas riDeiras
delic húa pouoaçaó _, que cha-
marão Portoíiallo dode di-
ícm tomou o nome o Reino
de Portugal , forão pouoara
cidade de Braga_,& outros lu-
gares _, que caem na comarca
de antre Douro_,& Minhotos
quaes tomado o nome deíeus
fundadores fe chamarão Bra-
charo5 , & coda a Prouincia
Gallogrccia da miftura dos
Gallos, & Gregos_,qucauia na
comarcajE dahy corrompen-
doíe o nome íe chamou Gal-
liza , que hc o que hoje tem.
Lãçaõ ertanoua pouoaçaó de
Braga^feita pellos Gallos Cel-
tas , no anno de 296. antes do
iiacimcnto de Chrifto.
9 A quinta , & vitima opi-
nião hc do Doutor loaõ de
Barro5 na Gcographia de an-
treDouro,e Minho,o qual dà
a entender^quc foi Braga fun-
dação dos Romanos,dizêdo,
que cóforme a memorias aii-
tiguas, parece que foi edifica-
da quando Roma triunfaua,
& íe regia por Confulcs , ou
em tépos macs antiguos, por
qStrab^
)ao , Pli
inio , & outros
autores ja fazem delia mcn-
çãOjíS,: acrccenta/que quando
em PvOma ouue as guerras ci-
uis entre Cefar , &: Pompeo
muitos cidadaõsRomanos fo
giraõ pêra os portos de Hcí-
panha , & algús , que ficarão
quà do tempo de Cefar leua-
dos da fertilidade da terra fc
efqueceraõ da própria em que
nacerão , & que por cita re-
zaõ fe achaõ em Braga nomes
Romanos efcritos cm pedras,
quais faõ Valerios^Lucios ,Ser
uilios^TerencioSj Crifpino5_, e
outros, donde parece que fi-
ca com a opinião de fere Ro-
manos os fundadores
pois
lhe não da outros.
10 Entre opiniões tão va-
rias não he coufa fácil inter-
por iuizo,ou dar parecer. Aco
liado ao de Plinio por fua au-
toridade, & com a de luftino
tenho,que os Gregos compa-
nheiros de Diomedes , forão
os primeiros que lançarão os
aliceíles ao edificio da noua fíí
dação de Braga , porque fem
duuida Gregos forão os que
pouoarão antre Douro,&Mi
nho,& a mayor parte de Galli
za. Depois muitoí annos com
a entrada dos Cartha^inefes
íe illuílrou , & ennobreceo a
cidade com nouos, & ricos
edificios.
Dião
Co, -
lo-
fmdaçao da cidade de Bragã-i.
edifícios , crecco a nobreza ,
miílciplicoii o pouOj &: íiibio
a çrrande opulência a noua po-
uoaçao. Como hlha natural
da Colónia de Carthago foi
Bra<:a tábem herdeira do ódio
cõ que aquella cidade tratou
íempreao PouoRomanOjpor
que nas guerras _, que cõ ellc
teuejhc deu a cntender^q niío
degenera ua de filha de taõfa-
moía may. Nem menos del-
áiiíc áo. origem , & principio
dos Gregos íeus progenito-
rcs,porque delles herdarão os
Bracharenfcs a viueza do en-
gcnho,a habilidade, & íutileza
natural, que tem, ^ dos Car-
thaginefes o esforço ,a valen-
tia ^ ^ valor nas armas com q
igualara5,re ja naõ excederão,
as mais nacoés. Eftes foraõ os
progenitores que tcue Braga.
Erta íua antigua, & nobre
fundação , conforme a mais
certa, & íeguida opinião dos
Autores, que temos referido.
Auidaquc a primeira fc pude-
ra também feguir com mui-
to fundamento , pclla autori-
dade do Arccbifpo defta Igre-
ja Caledonio , òc do
BiípodoPortodõ
Hugo.
CAPITVLO II.
DAS GVERRAS QVE
teue Braga no tempo dos
Romanos.
DIFICADA a
cidade de Bra-
ea com tao
fclices princi-
pios,foi multi
plicando demancira , c]ue em
grandeza , & numero de gen-
te, fefesmuy populofa. No
anno de lyy.antes da vinda de
Chrillo, na guerra, que os
Bracharenfes tiueraõ com o
Pretor Romano Lúcio Po-
fthumio Albino,foraõ mor-
tos afio de efpada trinta & cin
CO mil Bracharenfes. Sucede-
rão nefta batalha os recontros
varios,quc refere frey Bernar-
do de Brito , na qual poflo cj
os Bracharenfes ficarão ven-
cidos, moftraráo com tudo o
inucnciuel animo que tinhaó,
& esforço pêra reíílfir atodo
o poder dos exércitos Roma-
nos.
z Porem fenefta batalha lhe
faltou a fortuna , bem os acõ-
panhou na jornada contra os
narch.li.
meímos
IO
Capítulo Çegundo^
Dicímos Romanos _, quando
tomando por capitão ícuao
valcroío Bracharcnfc Apnma-
no^aqucnialguns pella origc
que trazia de Africa chamaó
Aí:ricano _, entrarão pcllas ter-
ras dos inimigos^cm que fizc-
raõ cruel eítrago^ deílruindo,
& arruinando todos os luga-
res confederados do Pouo
'Honiano.Sahyollie ao cncÕ-
t-ro com hum^roílb exercito
! Luc.Flor
• ./il-.x.in
\bello Ik
I
O Pretor Marco Manilio;
po-
rem não podendo refiílir ao
esforço com que pelejauão os
jSracliareníes, foi por elles mi
ferauelmcnte desbaratado _, fi-
ncando no campo fcm vida a
mayor parte da gente dcfcu
exercito.
3 Com a mcfma ventura fe-
guiraõ a vitoria _, & pouco tê-
po depois alcançarão outra
naõ menos illuílre do Pretor
Calfurnio Pizao , o qual vin-
do de Roma confiado na boa
gente que trazia , ôc no valor
de fcu animo^ quis cometer o
exercito vitoriofo _, cuidando
reftaurar em hiá fô dia, as pcr-
das^que em muitos tiuera_,dos
Bracharcnfcs o Pouo Roma-
no.Porem não Ihefucedco co
mo imaginaua , porque roto
feu cxcrcito_,& mortos no ca-
po perto de fcis mil foldados^
& entre elles Terêncio Varro
Queltor^peflba de grande cõ-
ta,elle le acolheo a toda a prcf-
ía^chorando fua dcfgraça. Fi-
carão os Portugueíes de an-
tre Douro, & Minho taò ani-
mados com efta vitoria , òc
tão fenhores de tudo o que
ocupauaõ os Romanos , que
a lhe não morrer o feu capi-
tão Brachareníc de hum de-
faftre iunto de liúa cidade , q
tinhaõfitiada, chamada Blaí-
tophenifes,fem duuida acaba-
rão entaõ de todo o poder dos
Romanos.
4 Bem conhccco em outra
ocaííaõ o Pretor Dccio Bruto
o valor , naõ fó dos homens,
màs ainda das molheres de
Braga , quando entrando pcl-
las terras de antre Douro , &
Minho^peraas fogeitar,& me
ter debaixo do wwo Romano,
chegado perto dos muros de
Braga, achou nos moradores
tanto esforço,quc vindo com
elles a batalha de tal modo fc
ouueraÕ os noíTos^que os Ro
manos lhe foraÕ largando o
campo,& fe retirarão aos reais
c5 perda de muitos foldados,
fazendo as molheres de Bra-
ga tais feitos de armas , & io-
gando delias com tanta deftrc
za_jComo fe as tratarão fem-
pre.
Brit.d.
If.Z.c.zá
vbtjfufra
Brit. d,
i.pMlp.^.
c.iz*
Antiguedades de BragO—i.
II
prc , & fora efte exercício de
íua proíiliaõ.Com eíta^ & íe-
melhances vitorias auidas co-
rra os Romanos alcançarão
os Bracharenícs o nome de
valeroíos _, com que forão te-
midos ícnipre delia nação _, &
de todas as eílranpeiras.
CAPITVLO III.
D O S I T I O QJ- E
tinha Braga no tempo dos
Ror^:anos , ip" de aigúas an-
tiguidades , qfe achao nella
domefmo tempo.
S memorias
antiguas, que
ha em Braga
moftraÕ que
foi fempre ci-
dade grandioía. Sua primeira
fundação , òc aílcnto naõfoi
no lugar onde hoiefevè. Te-
ue feu principio iunto à Igre-
jadeSaõ Pedro de Maximinos
onde fe moll:rão hoic ruiiias
de grandes cdiíicios , que dão
tcrtemunho de íua anrigua ma
ieftadc , & ainda aparece hum
como meo circulo kigar^ on-
de ertaua o ampliiteatro , cm
i que os Brachareníeí ao modo
Romano cclebrauao fuás fe-
itas. E correndo deS. Pedro
ate o holpital de Saõ Marcos_,
íè vem ruinas , que moftraõ^
que atê ly fe eft endia a cidade
antigua.Tambem ha raftos de
aucr aquedudlos mui vzados
no tempo dos Romanos , c5
que fe prouia a cidade de agoa.
Merece memoria hííaílas grã^
dioío^pello qual fe trazia agoa
do rio A.ue , &c íè tomaua
por cima da ponte de Men-
guterres diftante quatro le-
goas defta cidade,& correndo
por cima do mofteiro de Fon-
tarcada vinha demandar o ca-
ftello de Lanhofo _, & da ly fe
metia cm Braga^ agora leuan-
tando em arcos nos lugares
baíxos,agora decendo por an-
tre montei _, & ferras , de que
hoic fe vem finais , & ruinas,
&o affirmaópeílbas antiguas,
& de grande autoridade com
o
teltemunho de vifta. Durou
fempre Braga em fua maiefta-
de,em quanto os Romanos
fenhorearaóHcfpanha, por-
que lhe dedicarão memorias,
éí leuantarao colunas , como
logo veremos. Parte das pe-
dras em que fe vem eftas me-
morias fc acharão em Braga,
parte vierão de outroslugarcs,
trazidas por ordé do illullrif-
limo
]2
Caf>ittdo terceiro,
íimo Senhor ArccbiípoDom
Diogo deSoiifajqa rcílaurou,
& iiiuíircu cõ CTrandes edifi-
o
cios.
i Eiitrc todas as pedras^ a q
parece mais antigua hcaque
hz menção do Empcrador
OdtauioAugLilio.Heamaior
das doze colunas_,quceftaõ le-
iiantadas no campo de Santa
Anna^ao redor da meíma her
mída. Seruiaõ de guias de ca-
minhos às legiões , &: exérci-
tos Romanos pcra naõ err are
quando pafiauaõ de híjas a ou
trás cidades. Erta coluna deq
himos falando fe Icuantoua
AuguftoCeíàr cm teítemu-
nho da obedicncia,que a pro-
uinciadcGallizalhedeu. Era
coufa vzadanaquelle tempo,
quando cntraua Coníul , ou
PrcconfuljPretor, ou Legado
na prouincia_,dcpois de lhe fer
dada obediência , cícreuereni
cm húa pedra aqucUe aâ:o de
fogeição , com que fora reco-
Khecido o Magiftrado, fican-
do cm lugar de efcritura pu-
blica , para fempre conÃar.
Naõ moftra eil:a pedra oCon-
fulado cm que fe pos^ mas fa-
b"cfc que foi quando Oótauio
ficou abfoluto fcnhor do Im-
pério Romano pcllosannos
7Z4.da fundação dcRoma 17.
annos antes da vinda de Chri-
11o Senhor Nolloao mundo,
diz afy.
C.C^SARI.AVG.F.
PONTIF. AVGVRI
CALLECIA.
Querem dizer efta prouincia
de Galliza a Cayo Cefar Au-
guílo Fclice^Põtifice , Augur.
5 A ntes que paliemos adia-
te,he neceílario aduertir pêra
melhor entêdimento deííe le
treirOj& dos mais que lança-
ranos depois delle _, q os Em-
peradorcs Romanos logo q
víurparaõ o gouernoMonar-
chicodo Império, também
pêra fy tomarão todos os ti-
tulos dos mais honrados ma-
giílrados que tiueráo os Ro-
manos, pêra moílrarem que
íe nãoapartauáo do antiguo
goucrno, & qucexercitauão
o poder de todos os ofíicios,
6 diíjuidades de Roma,
4 Chamarãoíc Auguítos^
titulo que fe deu a 0(5í:auio,
&: foi o primeiro Empcrador
que com clle íe nomeou ,por-
queaucndo vencido a prouin-
cia do Egypto no dia que tri-
unfou delia, o faudarão com
eílc nome diriuado do verbo
augeo , como dizendo. Quod
Romam auxerit^ q acrecentou
a Roma
Camil
Borrtl.de
cathec.c,
21.W. II.
Anúzuidaãe s de BraoO-^.
13
i.fv
.nxOr.Wf;
Clcf in
Lb.i.Fa.
Siktrd.
•« h-XtcÕ
Verbo ã:..
a PvOma , outros dizem que
vem eílc nome de Augúrio,
palaura dos íacrincios_, òc que
por ifto todas as couías de gra
cie cilima , ôc íantidade fecha-
m^auaó auguílas j aísy o diílc
Ouidio.
Súãa yocant ãugufla Paires,
aimiUa yocantur
TcmplaSocerdotum rité di-
cata manii.
E naó fó aos templos , mas a-
inda aos muros chamou Vir-
gdio AuíTuftos.
Centim oratores augufia ad-
m>€nia res^is
Ire lubet.
A imitação de 0<5lauio daua
o Senado PvOmano efte titulo
a todos os Emperadores _, co-
mo ampliadores do império;
úsy o enrendeo Ouidio qua-
do diíle.
Augeat imperinm nojlrí ducis^
au^eat annos.
5 Chamarãofe Augures,
porque fe tinha por coufa ía-
grada adiuinhar pello voo, de
canto das aues , és: por outras
íuperftiçoés, &: quem fe auã-
tcjaua nella ciência era tido
cm erande conta do Senado,
^candauaeíteoracioem peí-
foas illaíIrcSj Sz de grande re- 1 í
Plutarch
putação. A eíle íim pêra pa-
recerem mais religioíos , to-
marão o5 Emperadores o ti-
tulo de AugurcSj aiuntandoo
aos maisjcom queíe eníober-
beciaíua grandeza.
6 Também íe intitulaua5
Pontificcs Máximos. Foi efta
dignidade mui illultre emRo
ma, porque entedia com gra-
de íupcrioridade nos ritos , d<.
ccrcmonias dos templos, &
nas coufas tocãtes à Religião.
Numa Pompilio lhe deu
a prcíidencia íbbre os íacriíí- ^,^,^^,
cios , & poder Tuprem.© em \"> '^'''*
tudo o tocante a elles , ôc a- ^'^"'*'
uendo creado quatro da or-
dem dos Senadores , fez a hú
Pontifíce Máximo com po-
der fuperior aos outros. Per-
tencia a efte officio fazer guar-
dar a Religião, interpretar as
coufas fagradas , telas em ve-
neração, declarar em que al-
tares íe auiaõ de fazer os facri-
ficios, Sc em que dias, ôc tem-
pos: & o lurifconfulto Pom-
ponio affirma, que as leis dos
Romanos fe interpretauão
pello Collegio dos Pontífi-
ces. Por titulo nobre o aiun-
tou Augufto Ccíàr, com o
de Emperador, fendo o pri-
meiro que fe nomeou cõ am-
boSjimitandooosEmperado- j
l.z.íJe-
ittde ex
hisjf.orig
iur,
Giither.
de vet. iM
rePentifl
cJtb. I.
B
rcs.
14
Qãptulo tercenoj
Shtten in
OfUíi. s.
Jjlde.eth'
moJtb-'~)
c.iz.reta
tus tn c
clerosver
pePontí-
ftx zi.d.
\RKfmUb,
3 .antiq,
Romcin,
fin,
Baroit.to.
4. anna
Chnjii
383,
in Tácito
ITaeitMb
3.
-res q o fcguiraÕ , auendo que
coiiLiinha aos Moiiardias de
húcam grande império com
ogouerno temporal terem
iuntamente autoridade fuprc-
nia no cfpiritual, òc couíàs
fagradas . Conferuaraõ eftc
titulo ate o tempo do Empc-
rador Graciano,o qual paliou
prouifoês cm que madou lhe
não chamaílem PontificcMa-
ximo . Víàõ agora delle os
Summcs Pontífices Vigairos
de Chrifto na terra, em quem
aílenta milhor por rezao do
grande, & fobcrano poder,
que tem em toda a Igreja Ca-
tholica.
7 O poder deTribuno, com
que íe nomeaõ, fegundo Vo-
pifcOjfoi parte do poder real,
O primeiro Emperador,que
annexou eíte titulo aos da di-
gnidade imperial, foi lulio
Ccfar, outros querem que
foíle Oólauio Augufto.Auin-
cularaõno afy pêra fe fazcré a-
ceitosao pouo, moftrando.
que
if(
conleruauao o gouerno
antiguo,&:obrauáo,não com
poder fuprcmo de Empcra-
dorcs, fenaõ com a iurdicao
das dignidades, & oííicios do
Senado Romano. Húa das
prcrogatiuas,entre outras, de
I rtemxagiftrado era fer inuio-
laucl, que valia o mefmOjque
hum íeguro real pêra não po-
derem íer oftendidos os que
o adminiilrauão. Por eita re-
zao ellimauaõ a dignidade os
Empcradores Romanos , pa-
rccendolhc , que com cila ti-
nhaõ fua vida mais fegura das
treiçoés , que acompanhaó a
fortuna dos Reis , & grandes
Monarchas.
8 A dignidade de Conful,
que também tomarão, era a
íuprema, & maior, que auia
entre os Romanos . Subiafc
a ella por eleição , & duraua
humannojfc bem ouueal-
gús Confules , que for ao per-
petuos,comoVitclio.Por cUes
fe contauao os annos , como
notou Claudiano quando dií-
fe.
Friigíbus alternls^non confide^
computai annum.
E veo a valer o mefmo a pa-
laura Conful , que a palaura
anno , em algúas leis, que di-
zê,/«e die,Í!f Confule , que lí-
gnifica fem dia , & fem an-
no , Ordenauaõ os Conlu-
ies tudo o queconuinha ao
gouerno da Republica Ro-
mana, & das Prouincias.
Eraõ árbitros da paz , & da
guerra, faziaó iuntas pêra clei-
Schard.
tnlexver.
Cofiíl.
l.l.f.edi
tionis ff.
d: edcnd»
l.Ji arbi-
ter,ff. de
rohc.t. l.
cií taber-
nam, f.i
íf.depig.
ÇO
es.
Anúnúdades de BraoíL^^
15
r/m. nat.
h<fi.libq.,
c.yo.
D:o;i.lib.
43-
GracJjf-
cept.fore,
16.
7
eleições cie dignidades^exccií-
tauão as conlultas do íenado.
Elle titulo procurarão ocEm-
pcradorcs , que andaíle vnido
amageftade imperial por ler
o mais nobre que auia emRo-
ma.
9 Também fe chamauaõ
pays da pátria, O primeiro ci-
dadão Romaiio^a quem o po-
uo aclamou coro efte titulo^
foi MarcoTullio Cicero^quã-
do com a facúndia de íua lin-
j^oaíahio contra a coniuracao
de Catilina , depois dellc o to-
mou IulioCeíar,«Sc à Adriano
íe deu iuntamcnte com o im-
pério. O Emperador Tibé-
rio, o náo quis , ôc Nero o
rccufou por lhe parecer não
ccnuinha afua pouca idade.
A Trajano foi dado pellas
obras, que fez em beneficio
publico da cidade contra as
enchentes do Tybre , &c foi
aclamado pello fcnado, &
pouo Romano, com titulo
de Óptimo Principe,quc de-
pois íe deu a outros Empera-
dores.
O titulo deGermani-
10
co tomou Tibério Ceíar por
auer vencida, Sc fogeita a pro-
uincia de Alemanha , depois
à íua imitação qualí todos os
Emperndorcs fe chamarão
' Germânicos.
Também fe nomcauão Da
cicos. Britânicos, (ScParthi-
cos, ouporrezãode^auerem
fogeitadas eíías prouinciaí,
como fez o Emperador Mar-
co Aurélio, ouporfe quere-
rem honrar com os títulos
delias. I
O titulo de Máximo, que
tantas vezes fe lhe da he adu-
lação com que o pouo queria
engrandecer as vitorias , que
alcançauão os Emperadores,
ganhadas coma grandeza de
ícu esforço.
II Com cfta brcuedecla-
ração,que feruirà pêra os que
tem menos noticia dos titu-
los dos Emperadores , Sc an-
tiguidades Romianas j, torne-
mos aos letreiros , que fe a-
chão em Braga de tempos an-
tiquilfimos teílemunhas íem
fofpeitade íua nobreza,
li A Segunda pedra he do
tempo do Emperador Adria-
no rilho adoptiuo de Traja-
no , & íeu fobrinho; diz af-
Bi
IMP.
16
Capitulo terceiro.
IMP.C.ÍS. TRAIANO. ADRIANO,
AVG. PONT. MAX.TRIB.
POT.XVIII.COS. III. P.P.
A.BRACARA.AVG.M.P.
XXIII.
Quer dizer. Eíla coluna foi
polh ao Emperador Ccfar
Trajano Adriano Augufto ,
Pontífice Máximo, Tribuno
dez oiço vezes , Conful três,
pay da pátria. Pos íc vinte &
três milhas de Braga , que faõ
mais de fetc legoas & mea.
1 3 A terceira pedra he dedi-
cada ao EmperadorMarco Au
relio diz afsy.
IMP.C^SARI. DIVI.SE-
VERI.PIÍ.FIL.DIVI.MARCI
ANTONINI. NEP. DIVI ANTO-
NINÍPII PRONEP.DIVI ADRI^
ANI. AB NEP. DIVI TRAIANI
PAR.ETDIVI NERV..£AD.
NEP. M. AVRELIO ANTO-
NINO PIO FELICI AVG.PAR.
MAX. BRIT. MAX. GERMANI,
CO.MAX. PONT. MAX. TRIB.
POT. XII. IMP. III.CON.IIII.
P.P.PROCOS.
A foma dcfte letreiro íàÕ li-
fonjasao Emperador Marco
Aurélio , quer dizer .Ao Em-
perador CeíarMarcoAurelio,
Antonino Pio Fclice Augu-
fto,Parcico Máximo, Britâ-
nico Máximo, Germânico
Máximo, Pontífice Máximo,
Tribuno doze vezes,Empera-
dor três, Conful quatro , pay
da patria,Proconíul , Filho de
Diuo Seuero Pio, neto de Di-
uo Marco Aiitonino,biíneto
de Diuo Antonino Pio,cres-
neto de Diuo Adriano, q nar-
ro neto de Diuo Trajano , &
quinto neto de Diuo Nerua,
14 A 4. pedra té eitas letras.
^ DIVI
Antimidades de Braoa^.
17
DIVI. ANTONíNIPÍÍ. NEP. DÍVI
SEVERIPÍI. MAGNI FILIO ANTO-
NINO PONT. MAX. COS. II. PROCOS.
FORTíSS.PRINCIPI A BRACARA.
M. P. III.
Querem dizer . Eíla coluna '
foi dedicada àAnconino Pio
íilliode Diuo Antonino Pio
neco de Diuo Seuero Pio
Grande, Ponciííce Máximo,
Confulduas vezes, Procon-
iul,Forciíhmo Principe, Le-
uantouíe ella coluna três mi-
lhas de Braga , que he diftan-
cia de quafi húa legoa.
1 5 A quinta coluna, que hc
a mais antigua , & gallada do
tempo , fe dedicou ao Empe-
rador Maximino, & íe pos
no meo da praça publica , &
hoie íe coníerua hija Igreja,
com o nome de Saõ Pedro de
Maximinos de que açima fa-
lamos , &c hi^a porca da ci-
dade , que fe chama de Ma-
ximinos , não porque íeja
taõ antigua como à Igreja,
màs porque leua o caminho
pêra ella. Dizem as letras aísy.
IMP.C^SAR. C.IVLIVS. VERVS
MAXIMINVS. P.F. AVG. GERM.
MAX. DAG. MAX.SARMATIC.MAX.
PONT.MAX.TRIB.POT.V. IMPER.
VII. P.P. COS. PROCOS. ET. C. IV-
LIVS VERVS MAXIMINVS NO-
BILIS C^S. GERMA MAX.
PRINC. IVVENTVTIS FILIVS
D. N. IMP. C. IVLII VERI MAXI-
MINI. P.F. AVG. VIAS. ET PONTES
TEMPORIS VETVSTATE COLAP-
SOS RErtitucrunt.CVRANTE. QJDECIO
LEG. AVG. G. Pret. PR>€F.A
BP.AC.AVG.M.P.
B3
Sua
IS
Capitulo terceiro,
Sua llgniíicaúáo he. O Empe-
rador Ceíar Caio^Ialio^ Vero,
Maximino^Pio, Felice Aitgu-
ftoj gram vêcedor cie Germâ-
nia , gram vencedor deSar- {
macia^gram vencedor de Da-
cia^ Pontiíice Máximo , íínco
vczesTnbunOjfete vezes Em-
perador, Conful, Proconful_,
ôc Caio luiio Vero Maximi-
no nobiliilimo Ceíar ^ gram
vencedor de Alemanha^ gran-
de Príncipe dos macebos P^o-
manoSjFilho de noílo fenhor,
oEmpcrador Caio IulioVero_,
Maximino Pio Felice Augu-
fto_,mandaraõ concertar os ca-
minhos, & pontes, que o te-
po tinha arruinado.Teue car-
go da obra Quinto Decio ca-
pitão da Legiaó Augufta Ge-
mina dos Pretorianos, & o
concerto começou hua milha
da cidade de Braga A ueulta.
1 6 Quaií fo liemeftes cami-
nhos , & pontes,naõ ha noti-
cia, podiaõ fer os que leuaÕ a
Viana, & a Barcellos pêra a
parte do mar, porque cftes
crão mais afperos , & as pon-
tes a de Prado lançada fobre
o rio Càuado ^húalegoa de-
ita cidade, & outra na villa de
Barcellos fobre o mefmorio
duas legoas abaixo da de Pra-
do.
17 As mais pedras t] cítáo
no campo de Svinta Anna faõ
medidas de caminhos,dcdica-
das aos Emperadores Adria-
no,Comodo, e Caracalla,por
lílb as deixamos,& as na© po-
mos aqui.
1 8 Dentro da cidade hà ou-
tras memoriaSjCm pedras an-
tiquas. No alpendre daSê da
^ j c ^
parte de tora lunto a porta
traueíla eftà húa dedicação de
templo a algíí dos Deoíes da
Gentilidade, com eftas letras,
CONDITVM SVB IMP. C^-
SÀRIS PÀTRIS TATRl^.
Quer dizer foi edificado efte
templo fendo Emperador Ce-
íar Pai da pátria. Podia elle
Emperador íer lulio Ce—
far, porem como a pedra naõ
he inteira, &: lhe faltaõ letras
ficamos com efta duuida.
1 7 No Hoípital de S . Mar-
cos iunto aoMofteiro das frei-
ras de Noíla Senhora dos Re-
médios eftaõ as letras feguin-
tes.
AMAP.ANTVSSENECIO
NIS H.S.E.
Aqui eftà fcpultadoAmaran-
to Scnecio.Não fe íabe donde
veo cfta pedra. O nome con-
forma
jintiguidades de BragO—í.
19
torma com o cia villa de Ama-
rante_,mas o ccmpo naõ, por
ler tundacla cm aiinos mais
checados aos noílos.
zo Na Igreja de S, loao do
Souto parochia defta cidade,
eíU húa pedra com as letras Ic
CTuintes.
o
Q^aNTYS L.TVS Cl VALENTI-
Ni. F. H.s- pater FILIO.
F, C.
Quer dizer. Quinto Lucio fi-
lho de Tuíco Valentino eftà
aqui íepultado,reu pai lhe mã-
dou leuanuar efta íepultura.
II Dentro da cerca do Col-
legio de S. Paulo dos Padres
daCompanhia defta cidade cie
Braga, eftà húa pedra cõ eftas
letras.
IMP.CAESARI.
TRAIANO ADRIANO
AVG.
PONTIF. MAX.
TRIB.POTEST.XIX.
COS. III. P.P.
A.BRACAR.AVG.
I ALE.M.P. XXXV.
Em partes defta pedra eftão as
letras gaftadas , o q íc lê quer
dizer. Ao Emperador Gefar
Trajano, Adriano Augufto,
PontiEce Max. Tribuno i?.
vezes,Coníul tres^ pay da Pá-
tria, de Braga Augufta 3j.mii
paílbs , que vem à fer pouco
mais de onzelegoas.
zz No jardnn dos paços
Pontificais ha muitas memo-
rias antiguas cm pilares,& pe-
dras quadradas, com Epita-
phios de íepulturas , abertos
com letras Romanas,gaftadas
do tempo, & coníumidas da
antiguidade . Entre os letrei-
ros de doze pilares , que aly Te
vem,os que íe podem ler com
algum ílntido, a fora outros,
que eftaõ quebrados , faõ os
que fe leguem.
TARQVINVS.
CATVRONI.
F. XI. AN.
H. S.E.
Quer dizer. Aqui eftà fcpul-
tado Tarquino filho de Catu-
ron , de onze annos de ida-
de.
LARIB.
FL. SABINVS.
S.V.S.L.
Quer dÍ2;er.Dedicacío aos La-
res ( que os antiguos errada-
mente tinhao pellas almas,ou
Deofes das caías ) Flauio Sabi-
no fendo viuo , deixou por
B4
legado
20
Cã Pi
í
ítiíote
rcetroy
'
iecacio aiy meímo ella íepiil-
tLU-íij& ciosíeus.
i5 De hú varaõ aílinalado^
que fahio no tempo dos Ro-
manos delia cidade de Braga
pêra o gouerno de Prouincias
eftrangeiras, ha memoria em
Tarragona cidade principal
do Reino de Catalunha cm
húa pedra antigua,C|Lie cíH na
rua de Eícaimalincr,& íaz mê
cáo de húBracharcníe.chama-
do Quinto Poncio, quede-
uia ícr naquella cidade peíloa
abaiifada , & dizem as letras
aísy.
QJ^ONTIO.QJ.QVTR.
Seucro BRACARO Omnib.
Honor, ia fua Rcp. Funâ:o
Fia.
Quer dizer cila eftatua fe pos
à Quinto PontioScucro filho
de Quinto da Tribu Quirina^
natural da cidade de Braga^on-
de teuc todos os carços . &
oííicios honrados, &c iunta-
mente o- de Flamen • (nome
dos Sacerdotes Romanos.)
2.4 Alem deftas memorias,
que fe achaÕ nas colunas, òc
pedras referidas , ha outras , q
, não denotaõ menos antigui-
dade j & nobreza nefta cida-
i: de. Delia fahiáo féis vias , ou
caminhes militarcsidos (inco
trataAntonino Pio_,& outros
autores. O primeiro íahia pê-
ra as cidades do Porto,Coim-
bra , Leiria , Alcobaça, de Lis-
boa.O ícgundo he o caminho
maritimo,que leuaa Fao, &
Eípozcnde. Alguns autores
foi peiraõ fer o lugar de Fão o
de Aquas Cclenas , que íc np-
mea nos Concilios,de que cm
feu lugar trataremos,vill:o co-
mo o rio Càuado, que ahi íe
mete no mar ,fe chama Cela-
nius dos antiguos ^ & vem a
fer o meímo , que Áquas Ce-
laniaSjOu Celenas. E também
porque conformaõ as milhas
do itinerário do Emperador
Antonino cõ as líncolegoas
que hadeBraga,ao mefmo lu-
gar de Fáo.Iuliano fala confu-
íãméte neftamatcria.Êpoem
dous lugares dcíle nome iun-
to a Braga , hú pegado ao mar
a que chama Fáo , outro mais
perto no território de Bra-
ga. Outros dizem,que Aquas
Celenas he Iria Flauia , q ago-
ra fe chama o Padraõ. Outros
quehc o lugar de Saõlorge
dcCodeceda duas legoas.do
Padrão, que em outro tempo
fe chamou Celenes.
t j O terceiro caminho mj-
litar,vai por Ponte de Lyma,
a Tui
Dom.
lib.i,c.
III adtisr
Ó8.
Antiguidades de BragO—i.
21
a Tuijlria Flauia, Ôí Corunha.
He o caminho c]ue leuou lu-
lioCdar quando veoa Luli-
cania , t^ GaUiza. O quarto
ires , que
íc
de Gire
P
cortaua a lerra c
diuide Portugal de Galhza,
ôj Icuaà íerra^q chamaoPor-
telladeHonic Lobios_,Ore-
íe^ (Ik Lugo. Deíle caminho
íàhia outro,&: he o quinto^pe
ra Aírcrga^^' Leão_,de que faz
menção o Emperador Anto-
nino. Em todos auia colunas,
& letreiros Romanos.
16 O íexto caminho heo
que leua aGuimaraés^&Ama-
rante, de que naõ falou o Em-
perador Antonino, poré delle
coníla por pedras , & memo-
rias antiguas.
C A P I T V L O. IIII
D A D I FI S A M DE
Hefpanha , Conuentos iti-
ridicos^que nelía oum^ co-
mo Braga foi hú dos mais
conhecidos delia.
Crecêraà no
brezaj& títu-
los deíla ci-
dade de Bra-
ga^auer fido
Mm
I Conuento iuridico,& Chan-
cellaria no tempo dos Roma-
nos de toda a prouincia de
antre Douro, èc Minho.
Pêra o que íe ha de notar, que
os Romanos em diucríos tem
pos fizeraõ diuerfas reparti-
ções de Heípanha. Noanno
195. antes do Nacimento de
Chnílojfoy Heípanha diui-
dida em Citerior, & Vlterior,
& ambas prouincias Preto-
rias. Os primeiros Pretores
foraõ CaiOjOu Gneò Scmpro-
nio Tuditano,& Marco Hd-
uio. Com tudo os termos de-
itas duas prouincias íe varia-
raÕ,& confundirão em diuer-
fos tempos , porque no anno
ly^.antesdavindadeChriílo,
toda Hefpanha íc fez hi^afò
prouincia _, & osHefpanhoes
íe foraõ queixar aRoma da ti-
rania dos Pretores , auendo
duzentos annos _, que rega-
uaõ o campo cõ leu langue.
E no anno de 177. Marco
Cláudio Marcello foy Pretor
de toda Hefpanha. Porem lo-
go no anno de 165. antes de
Chriífo vir ao mundo/e tor-
nou Hefpanha a diuidir cm
duas prouincias, chamandoíe
Hefpanhaciterior aquella par
te, que iaz dos montes Piri-
neos ate os Marianos, qhoje
chamao
22
Capitulo quarto.
chamão ferra Morena , & cò-
prcndia os Reinos de Ara-
gão_,Naiiarra^Caftcllaa velha^
Leaõ , & Galliza^ a tê o rio
Douro. A tudo o mais cha-
marão HeípanhaVltcrior_, q
hc Andaluzia j & Luíitania,
em que íc comprcndem os
P.einos de Murça , Granada,
Cordoua, & Seuilha, que an-
tiguamcnte íe chamauão cõ
o nome de Betica , a Eíirema-
dura,& o Reino de Portugal,
a tê o rioDouro^que era a Lu-
fitania.
z Depois, no tempo que
Pompco teue ogouerno de
Helpanha, achando os Ro-
n'ianos,quc fe naõ podiaõ ^o-
ucrnar por dous Magilirados
p rouinciás taõ dilatadas,as di-
uidiraõ em trcs : Tarraconen -
íe,Betica,& Luíítana. NaTar-
raconeníe , que era a maior
por comprendcr tudo , o q
não era Andaluzia , Eftrema-
dura, & Portugal,puzcraõ fe-
te Chancellarias , a que cha-
mauão Connentos iuridicos.
Eraóeílcsos lugares onde as
partes acodião com fuás ap-
pellaçoês,e aggrauos,pcra nel-
les fenecerem , & íe dar final
determinação a fuás contro-
ucrllas. AíTentarão os Roma-
nos, como pcífcas de grande
goucrnonaadminiftração da
Republica ellas Pvclaçoes, &
Connentos nas cidades mais
principais,<í.\: cabeças das Pro-
uincias,& cm tal dirtãcia hi3.as
das outras, c]ue as partes naó
rccebeílcm oppreílaõ de lon-
gos caminhos , em irem re-
querer fua iuíliça . Fazião os
Proconíules , òc Pretores das
Prouincias a guerra no veraõ,
tendo fò per cxcrcicio as ar-
mas .No inuerno fe recolhião
a iulcrar as caufas , & determi-
nar duuidas neil:es Conuen-
tos iuridicos , vzando da paz
em proueito dos opprimi-
dos.
3 DeftasChancellarias a ma-
ior puzeraõ na cidade de Tar-
ragona, porque era como ca-
beça de toda a Prouincia , que
delia tomou o nome de Tar-
raconenfe.A fecunda íe aílen-
tou na cidade de Caragoça,
que entaõ fe chamaua Saldu-
ba. A terceira, em Carthagc-
na. A quarta em Clunia , que
hoic fe chama Corunha no
Biípado de Oíina , & he titu-
lo de Condado. Aquinta,em
Aftorea cabeça dos Aíluria-
nos. A íexta,cm Lugo cidade
de Galliza. A fecima Chan-
celaria aflentaraõ na cidade de
Braea.Tinha eila Chãcellaria
Gtlgh
de AmU
nothe.itr»
d^ Igyeja
de Ôfma
f.3.
muito
GrandeZj^s de BragO-j.
23
Narur ' m^^^i^o nuioi' iurdiçaõ que to-
hjiMb.}J\ das as outras , porque Çlinio
^-'í-i- j lhe aillna vinte & quatro ci-
dades com íuas comarcas , tV
cm íeu diíhicio auia duzentas
& íetenta & ílnco mil peílbas
queacodiaõcom íuas deman-
das a elta Relação.
4 Nas prouincias Betica, &
Lulitana,auia outras íeteChã-
cellarias, aílentadas nas cida-
des principais daqucUas pro-
uincias. As de Bctica^ ou A n-
daluzia eraõ as cidades de Ca-
diz^ Seuiila , Cordoua,& Eci-
ja. As dcLulitaniaeraõ as ci-
dades de Merida na£ftrema-
dura, Bejaj ouBadajos^como
d"fi2'iJ querem alguns. Si Santarém
tbíMrodi' cm Portugal. Muitas deitas
B.iiaj05. , ^jjpjgj eja5 iuntamente Co-
lónias dos Romanos. Trataõ
delias , & dos Conuentos iu-
ridicos difufamente Plínio,
Sexto Rufo, Strabão
MarcianoCapella,
6c outros.
G,l
f.i
C A P I T V L O. V.
DA GRANDEZAQZE
conferuou Braga na entra-
da dos Vândalos , Sueuos,
Jlános/mPormgaljt^ Gal
li^a.
M quãto du-
rou a Coroa,
& Reino dos
Sueuos em
Portugal , &
Galliza, coníeruou Braga a
grandeza que tinha, feruindo
de Corte aos Reis Sucuos,que
nella tinhaõ feu allento, &: pa-
ços reaes,&: daly dauaõ leis a
todas as outras cidades , &í lu-
gares de fua iurdição.
1 Co ufa fabida he , como
pellos annos de 41 o.do Naci-
mento de Chriílo começou
a decimar o Império Roma-
no, tendo o gouerno dclle
Arcádio , & Honório filhos
do grande Emperador Theo-
doíio, &foi Hefpaiiha entra-
da de nações barbaras,que a íc
nhorearão , & tirarão da fo-
geição do império Romano.
Sairaõ eftes Bárbaros das três
Prouincias do Nort e , Gocia,
111» ■*
Suécia,
chron. an\
no .].xo>
Brito 2.f.
mcnarch.
24
Capitulo qt-iinto,
Sueciaj& Noruega, entraado
por Itália j d: França ate che-
garem a Hcípanha^aíloiandOj
êc deílruindo tudo /azcndo-
fe íenhorcs de í^raiides Pro-
iiincias , metidas debaixo de
íeu iuf^Oj com o duro pefo de
fuás armas.Eraõ alguns de na-
ção Godos , que depois íe íi-
zeraõ fenhorcs de toda Hcí-
paiiha, outros Gatos , q ocu-
parão Catalunha, outros Vã-
dalo.í,que fenhorcaraõ a Bcti-
ca,&: dclles tomou o nome
de Vandalia^que corruptamé-
te íe chama Andaluzia. Ou-
tros SueuoSjSilingos , ^ Ala-
nos. Ficarão osGodos na Gal-
liaNarbonenfcj que depois íe
chamou França Gótica, & os
Sueuos, de que agora trata-
mos, depois de mudarem vá-
rios litios,vieraõ defcançar nas
terras, que hoie íàõ da Coroa
de Portugal , & parte do Rei-
no de Leão , do Tejo ate os
campoSjq chamarão dos Go-
dos, que caem nasterraída
mefma Coroa.
3 Foraõ crecendo tanto em
poder,com a felicidade de fuás
conquiftas, que tiueraõ ani-
mo pêra pertenderem lançar
aos Vândalos de fuás terras-, &
o mefmo tétaraõ com os Go-
dos , cuia potencia era mais
auantejada, querendo mouer~
lhe guerra, ik entrar com elles
em batalha. Foi íeu primeiro
Rei, ôí capitão Hermencrico,
o qual com o valor de fuás ar-
mas fc fez fenhor de GaUiza,
Sc Leaõ-, ôc Rechila filho íeu,
6: fucccílbr no Reino, crecco
no poder de modo, que as
couías dos Sueuos hiaõ mui
auante em profperidadc. Naõ
eraaísy nas matérias da Fè,&
verdadeira Religiaõ,cm que fi-
cauão mui atraz, porque não
feguindo a de Chriílo NoíTo
Saluador,huns delles eraõ Ido-
latras, outros Arrianos. Con-
uerteoíe Rechiario filho de
Rechila, mas durou pouco nos
vaílalos o efpirito , & feruor
catholicojporque com a mor-
te, & mudança do Príncipe
a íizeraó também na Fc,& os
Reis,que depois íucederaó no
eftado dos Sueuos, afsy abor-
recerão , & perfeguiraõ a P^e-
ligião Catholica. & miniif ros
delia , que roubauão, &de-
ílruyão as Igrejas,deílerrauão
osBiípos, & Sacerdotes, &
poredidos mandauaõ pren-
der todos os que em feu Rei-
no fcsuiííem a bãdeira de Chri
fto.
4 Começou efta perfcgui-
ção , no tépo dei R ei Maídra,
òíác
BrttJ. c.
deíirukaOíÇ^ reHí^iíir^cão de BraoO-^.
25
oc de leu íiilio Rcmiímundo,
Continuou com niayor cru-
eldade no tépo de R^echiliano^
o qual não íó dcílcirou Bií-
pos_,mas ainda mandou mui-
tas almas glorioías aoCeo por
meo do martyriOj c5 que aos
corpos tirou a vida . Final-
mente forao crecendoas he-
regias Arrianas com a perti-
nácia dos Reys Sueuos emas
fauorccer , & emparar , atè-
quevierão a deixar eila mal-
dita íeita no tempo de Theo-
domiropella pregação ácS.
Martinho de D ume ^ òc dos
Arcebifpos delia Igreja ^ co-
mo em íeu lugar diremos .
j Em rodo o tempo , que
durou o Reino dos Sueuos
atê ElRey Leouigildo .0 de-
li ruir _, & acabar de todo^
em que correrão 163. annos,
foi ícmpre Braga Corte dos
mefmos Reys , &: cidade illu-
ftre, cabeça de todo o Reino,
conleraando a grandeza
em que fora prin-
cipiada.
CA P I T V L O. VI.
DA ENTRADA
dos Mouros emHefpânha^
i^ como Bra^a foi deitrui-
da , llf depois reflaurada^
ÍP'dadapt;llosRejs de Lélio
a eUa Santa Si.
Adellruicão,
q Leouigil-
do íes no Rei
no dos Sue-
uos , coube
muita parte ã cidade de Bra-
ga, porque perdeo a grande-
za de Corre daquellcs Reys,
como ia perdera a honra de
Chanceliaria , & Conuento
iuridico,morada dos Procõ-
fules Romanos, com a entra-
da,&: ícnhorio dcs Sueuos. A
eíla calamidade particular íe
aiuntou logo a comum de to-
da Hefpanha , com a entrada
que nella fizcraõ os Mouros
deAfrica pellos annos de noí-
ía redenção 713. os quais
fazendofe fcnhores de Anda-
luzia , & da mayor parte de
Hefpanha^eatrarão a primei-
ra vcs pellas terrasdcPortugal,
òí Galiiza : chegarão a Braj^a, j
" c" íT
2Ó
(Capitulo feifio}
& viando com ella cio mcí-
cc
mo furor bárbaro, com que
tracaiião as mais cidades^ a de-
llruirão,& roubarão fazen-
do nella grande eltrago. Paf-
faraó adiante ate o rioMuiho,
& vendo a efterilidade da ter-
ra de Galliza_,& o pouco fru-
to que tirauão de fua con-
quiíía, determinarão .voltar
pêra as terras deEllremadu-
ra, mais abundantes, <k fer-
tis , que as de Galiiza.
i Com fua ida teuc lu-
gar cl Rei Dom Pelayo pêra
mandar reftaurar as cidades
deftruidas . Acodio logo a
Braga, como mais principal,
& que eltaua diante de todas.
O niefmo fez depois ElRei
Dom AfFonfo o cacholico , o
qual famdo com hum podc-
roío exercito de Galiiza foi
cobrando, & reftaurando a
tê a cidade do Porto tudo o
que os Mouros tinhao de-
ílruido. Neftc eftado fe acha-
ua Braga , quando reinando
Silo, & Mauregato fizerão os
Mouros outra entrada por
entre Douro, & Minho, &
chegando a ella a deílruiraó,
&c puzeraõ por terra , naõ fi-
cando em pê mais que a Igre-
ja de Saõ Pedro de Maximi-
nos , o A4orteiro de Saõ Mar-
tinho de Dume, & o de Saõ
Frutuoio , &í a Igreja de São
Vitouro, que íe vniraõ, k.
annexarão às Igrejas de Lu-
go, ôc Cõpoftela , em quato
Braga fe não redificaua.&tor-
nauaafcuantiguo ier.Com a
mefma condição , ^ clauíula
deu ElRey Dom Aftonío o
Caífo parte da cidade, aisy
deltruidacomo cifaua,aosBií-
pos de Lugo, como coníta de
húaeícritura, quceífã noar-
chiuodefta Igreja . Vltima-
mcnte fe reftaurou fendo Bif-
po Dom Pedro,como em íua
vida diremos. Daquclle tem-
po ate hoie eítà debaixo da
íogeição dos Arcebifpos de-
ita Igreja , que delia , &
feu termo íaõ íenhores com
todaaiurdiçáociuel, ôc cri-
mCjmcro , & mixto império,
femappellação, nem aggra-
uo nas cauías ciueis pêra as
Relações Rcacs por doação,q
delia lhe fizeraÓos Reys de
Leaõ confirmada pella Rai-
nhaDona Tareja molherdo
Conde Dom Henrique, &
pellos fenhores Reys delle
Reino , que depois fucede-
raõ.
3 Aiudou a pouoar efta ci-
dade, & a reftaurar, & engrá-
decer a Sê delia, o Conde D5
Henri-
deííruifao.Çf reflauraçaodeBrãOíí^>.
27
Henrique^ t^: a Rainha Dona
Tareja lua niolhcr,hõrandoa,
não lo c5 a fazer algú tempo
Corte, de caía íua na vidaj
mas ainda cfcolhendoa por
lepukura na morce , manda-
doíe enterrar na Clauílra da
melma Sê em hiia capella,
que fe chamo udoí Reis,por
ler íepulturafua.-donde da hy
amuitos anos pafloii ícus oí-
íosperaa capelia mor, que
de nouo fundaua, o Arcebif-
poDomDiogodcSoufa.Os
muros, que cercão a cidade,
íaõ antiguoscas torres fortes.
Com a liberalidade , que nella
vzaraõ os Arcebifpos , mo—
ftrandofc em a ampliar gene-
rofos, foi crccendo em edifí-
cios, & grandeza. Delia tem
faido Varões eminentes em
fantidadc : grandes cm le-
tras ,&iguaes nas armas aos
mayorcs capitães de Hefpa-
nha : de todos em feu lu-
gar faramençao cita hirtoria.
He regada com as agoasdo
rioDèllc, quelcua fua cor-
rente iunto ao melmo lugar,
d<. não fó fertiliza fuás vci--
gas , & campos , mas ainda
os faz apraziueis à vilta, &c os
torna com as flores, de que
os vefte ,hua alegre, & per-
petua primauera Ha na ci-
dade caíaSj& fmiilias mui no
brcsjos moradores paíTaõcc
dous mil,& oitocécos.Aléda
SèCathedral ha quatro Paro-
chias , Sa5 loao do Souto:
Santiago da Cidade : Saõ Vi-
touro, Saõ Pedro de Maxi-
minos. Os Mofteiros faõ leis;
trcs de Religiofos , & três de
Religiofas . Os nomes faõ:
Saõ Frutuoío de Religiofos
da Piedade : o Collcgio de
Saõ Paulo da Companhia de
lESV; o MoílcirodoPo-
pulo da ordem' de Santo Ago-
llinhodos Eremitas; o Mo-
íleiro do Saluador de Reli-
giofas de Saõ Bento : o dos
Remédios de Francifcanas: o
da Conceição da mcfma Or-
dem.
CAPITVLO VII.
COMO A CJDA DE
de Braga foi a primeira
de Hefpanha , que rece-
beo a Fé de Chriíío Senhor
Nojfo,
; C A B A M OS
^A ^ com os titulos,que
!^>5^¥i¥ or"3raõ a cidade de
Cz
Braga
aâatataaaiiMH
-'-^^íS^mlofeifih. <>k:A^.V;-:'f\
I
BragáièiTiquâtò republica fc-
CLilaf ^ tratando íô do gò-^--
"rl(bi1tí($ politico _, ícm atê gora
FiiiÇair mão de outra preroga-
tibá mayor^ Sc mais excellste,
que a illultra . Prerogatiua
-eípiritual , 3c diuina, baltantc
fopcralhepòra Goroa, & dar
òCetro , Sc Império de todas
as deHcípanha. lílo he feriei-
la a'primeira,que recebco a Fe
deChrifto Senhor NoíTo^ de-
pois dasProuincias de Palefti-
líà^ Goufa certa he,<que aglo-
ria, ôc grandeza das cidades
tio mundOj depois de vira el-
íc Chrifto Senhor Noflb^náo
confiltc fò nos antiguos tro-
pheos j ou arcos triumphais:
não nos capitães valerofos,
que com íuas proezas mere-
cerão triumphos dignos de
immort ilidadc : não nos pa-
ços, & edifícios funtuoíos;
mas em Teus ciàãd2Òs auerem
fido os primeiros , que deraõ
Os nomes a Ghrifto •, aceita-
rão íua Fe; militarão em fua
bandeira . Roma fc fez fe—
nhora de grandes prouincias
com o esforço de feus capi-
tães •, porem nunca chegou,
notcmpo, quefoi goucrna-
tlâ por Reis , Corifules , &
imperadores /àquèllc fuprc-
!n3i2?í'"^o;-^<^ honra , ôc glo-
-íjfíâr..
ria , em que- (e-í/io depoi^.
que abraçou a Fe de Ghrillo,
com que fc fez cabeça, &
Rainha do mundo , reconhe-
cida, & venerada por todos
os Rcys , &c Monarchas deL
Ic. Eftáhea prerogatiua ma-
yor de Braga. Deixando poisi
as outras, que tanto a illuíira-{
raõ , com íe adiantar a todas^
as cidades cm receber a Fè
de Ghrifto, mais que todas
fe Icuantòu , ôc cnnobrecco. .
1 Aiuntafc a efta primei-
ra exccllencia , outra fecundo."
que igualmente a engrande":
ce, ifto he, fer Primas de to-'
das as Ses , ôc Igrejas de Hef^
panha , Metropolitana de delz
íufFraganeas, que nos tcm-^
pos paíladoslhe reconhecerão
íogeição nas caufas Ecclcíia-
fticas , ôc nodefpacho, &dc-^
terminação delias. ^aÂ-O
3 Goufa íabida hè^ que
veo o gloriofoApoftolo San-
tiago pregar a Hefpanha ,
como o tem a tradição antir;
quifsima,& fc proua coma
autoridade de muitos Su--
mos Pontiíices, ôc autores
grauifsimos, como du-emos
na vida de Saõ Pedro de
Rates feu difcipulo , ôc pri-^
mciro Arccbifpo defta Igre^-
jade Braga. Veo o gloriofo
:0 .\l.
^j30-
Pregação da Te em BragO-s.
29
Cd. cu
tr&tR de
Aflorga
Apoftolo de leruíalem por
mar delembarcar cm algú dos
portos decncre DourOjôc Mi-
nho,que entáo era da Prouin-
ciade Galiiza. Demandou a
cidade de Braoa como mais
o
principal, & cabeça de toda a
ProLiincia , òc ahi começou a
precação doEuangelho, íc—
guindo o exemplo de Chrirto
íeuMeftrc, &dos Apoll:olos,
Quebulcando as cidades mais
populofas deraõ ncUas prin-
cipio á publicação da Lcy da
Graça Chrifto Senhor Noflb
pregou em lerulalcm, & Ca-
farnaú, cidades principais de
ludca \ Saõ Pedro cm Antio-
chia, depois em Roma; Saõ
Paulo em Damafco-, Saõ Mar-
cos cm Alexandria- Saõ Lu-
cas em Thebasj òí outros cm
outras cidades femelliantes.
O Aportolo Santiago fcguin-
do a mcfma ordem pregou
primeiro cm Braga cabeça de
Galiiza , depois nas cidades
mais principais de Hefpanhaj
que com lua preíença vifitou.
Conuerteo cm Braga àFède
Chrifto alguns dos morado-
res j & fez aqucllc iníigne mi-
lagre , que admirou os ludeus,
& gentes, qual foi reíucitar a
Saõ Pedro de Rates morto a-
uia muitas centennas de an-
nos , como em fuavida di-
remos.
4 EílaFè tão antigua re-
cebida nos corações dos Bra-
chareníes, pregada por San-
tiago j & prouadacom o Tan-
gue, que derramou logo por
cila o illuftre martyr Saõ Pe-
dro de Rates, coníeruou fem-
pre Braga , quando mais ar-
dião as perfeguiçocs dos ti-
ranos , dando ao Ceo mar~
tyres , que confeílaraõ a Chri-
fto,^ Prelados illuftresa efta
Igreja,que pregarão com gra-
de fcruor , & zelo a meíma
Fe Catholica,afè darem a vi-
da por cila , como veremos
no difcuiío delia hiftoria. E
aindaque antes dos Sueuos,
com a abominauel hcregia de
Prifcilliano , & depois de en-
trados eftcs Bárbaros com a
maldita feita de Arrio , que
elles íeguiaó,íe viraõ os Chri-
ftaõs de Braga em grande a-
perto , perfeguidos , & mal-
tratados dos hereges , com
tudo com a confillaõ da Fè
no coração, & na bocareíí-
ftiraõ a fua fúria , animados de
feus Paftores , os quais com
animo inuenciuci tomauão
fobrefy os golpes dos here-
ges, padecendo pclla pure-
za da Fé, perfeguiçoés, &
C3
deltcr-
30
'Capito/o
oitauo.
dedcrros.Cóiíerciclos os<S'ue-
uos f elh pregação de S. Mar-
tinho de Dutne , tornou a
Chrilbndade de Braga a co-
brar forças , & lançar raizes
perfcuerando na Fè _, que rece-
bco , ainda depois q os Mou-
ros a ocuparão, porque nefle
raeímo tempo lhe não falta-
rão Prelados , que cõ fua prè'
^nçáo, <?.' exemplo deraõ mo-
íf ras da Fe viua que nelles ar^
dia.
CAPITVLO VIII.
DAS DIVISÕES ,Q^E
fe fi^eraÓ dos Bifpados de
Hefpãnha , ,l;f dos que Je
afstnaraó 4 Metropoli de
Braga,
k^^^Xã. Or aueripuado
>^1a lídU-'? F^ temos, que ia
^LÃ i^^^\ antes da primei-
ra diuiíaõ dos
BifpadosdeHel
panha/eitaem tempo do gra-
de Emperador Conftantino,
auia Bilpados diítintos , &: fe-
parados em qualí todas as ci-
dades de Heípanha, & auia
Metropolitano Primaz de to-
da clja j o Arcebiípo de Bra^a
- - - -- '. ^ ^
.•^
fuceílordeSaó Pedro de Ra-
tes,a quem o ApoíloloSaii-
tiatro deu eíte titulo, fazen-
doo primeiro Biípo , & Pri-
maz de Hefpãnha. O meímo
Santo Martyr, &:illuílre Põ-
tificc Saó Pedro poz Bifpos
cm muitas cidades de Portu-
gal , & Galliza , como em fua
vida veremos, & fc moílra
ifto bem das cartas dos Sij-
mos Pontifices enuiadas aos
Bilpos deHeípanha,muito an-
tes de ftadiuifaõ, cm que j ale
chamauáo alguns, Bifpos da
primeira Sè, queheomcímo,
que Metropolitanos . E jà
quando íe celebrou o Conci-
lio Ehbcritano auia efta di—
ftinçáodcBilpadoJcIara: por-
que os Padres, que naquella
grane congregação íe acharão,
Hrmão nomeando cada hum
fua dioceíi , & a cidade de que
era Bifpo. , com a diíf inçáo
de Metropolitanos , òí Bif-
pos da primeira Sè. He bem
verdade, que no tempo, em
que os Emperadores leuanta-
raõperlcguiçoés contra algre-
ja , & durou em Helpanha
a Idolatria, & adoração dos
Deoícs da Gentilidade, craá
jurdição dos Prelados mui
curta, & limitados léus ter-
ritórios, porque no peito da-
r.EcclfÁ
la'lj q t;
rafíH itá
Chron atí
no.z',c, ■
Mj aÚ
de f^arg.
n í híft aé,
Msridá,
It 2 ca
uiell
es
igrejas [MÍfraga neas aBmga^'
H
Dextra
««.314.
Jf,lim„Qn
519. n.
PadilloA.
\ Ertt. z p.
ci^ícilcsSantos Prelados náo ri-
liha lui;ar cobiça , ou ambi-
ção, ./-v ivÇ"'^'i> "^ homa dos
biipos era padecerem traba-
lhos por Clinllo, & darem a
vida por tlie. Deitas nquezas
dp Ceo taziaó muita conta,
6,: pouca das demarcações da
terra, iobre que então nenhú
litigio auia: nem dezejos de
ampliar jurdiçoés ,ouacrecé-
tsr 13 lípados.
i Coaconueríaó docTtan-
de Conilancino amanheceo
ij a líucía Catholica a luz ao (a
grado Euangclho, eilcndeole
pelio mundo, creceraõ com
ilío os lubdito^aos Prelados,
as outlhas aos Paílores efpi-
rituaesicom cilas creceo tam-
bém a jurdiçáo, & ao mefmo
palio a renda . Por fe euitarê .
diícordias toi neceílario fazer j
uouadiuiíaõ, ou reformar a |
anrigua de todas as Igrejas de
Heípanha,affinando aos Me- !
tropolitanos as q Iheauiãode j
fcr luífragaaeas, & os limites,
a que cada hu fe auia de ellen-
dcr. Fezíe a primeira diuiíaò
cm tempo do grande Conftã-
tino , cm bíí Concilio de To-
ledo , a que ellc peílbalmentc
aíliftio ,como querem graucs
autores , contra o parecer de j
Morales,que nega cila vinda
de Conílantino a Hcíp.wha,
cçm algús fundamentos , que
tem fácil repo ih. O certo bc,
que a diuiíaó íc fez , çoipb co-
itada biftoria geral deneípa- '^^"^^
nha^ & nella íe côílituiraõ l-m- YJtyci„i
CO Igrejas Metropolitanas, a n? <»"«. j
faber,Cartbagena,quc depois '^f^^'^|i
fepaíloua Toledo, Tarrago- \dcap.it
na, iVíerida> que le paliou a
Igreja de Com portela. Braga,
&: Seuilha,qboje permanece
em feu próprio aílcnto. A
cada húa delias íeallinaraõ os
Biípados fuUraganeos , que
auiaõ de ter: trataremos íò dos
de Bfa^a, os mais pertencem
à billoria de Heípaaba, &: íe iMoraUt.
podem ver em Morales,Pa- j''^'*"-^
FaiitU
d loco.
dilha. Mariana autores dd-iManan,
la. -I''^'» ^' ^•
3 Dez Igrejas fuffraganeas
couberaõ a Braga neíla diui-
íaó, as quais naõíò eraó. do
P^eino deGalliza, &Callella,
mas ainda da Lulítania, de que
era cabeça Metida : os nomes
faõ.
AUurica. Agora Aílorga em
Caílella a velha.
T«í/€. Tuiem Galbza,i sbssí ^
Liicus. Lugo cm Galliza.
Conimbrica.Coimhià cm Por-
tugal.
Iria Flauia .. O Padraó cm
Galliza j mudouíceíla Igreja
C4
P
era
32
Capitulo oitauo.
pêra Compoftela.
Britonia. Agora Ouiecío , ou
(como querem outros) Mon-
donhedo- & alguns dizem c[
foihú lugar nelle Arcebiípa-
do^quc hoje fe chama Britian-
doSjCiicre Viana , & Ponte-
dehma.
Vifeum . Vifeu em Portugal.
Lamecú. Lamego cmPurtugal.
■Egidita. Hoje a Guarda em
Portugal , foi hú lugar que fe
chama Idanhaa velha.
Auria.Q^ he OrenfeemGal-
liza.
Razis Mouro aíTina outras
Igrejas a Braga nclla diuiíaõ
de Conftantino, & diz que
foraò, Dume,o Porto, Oren-
fe , Ouicdo, Aftorga , Brito-
nia , Iria, ou Compoftela,
Aliubra , Ifa, Tui. Das duas
Igrejas de Aliubra, &Ifa,não
temos noticia algúa, a Igreja
de D ume não ellaua ainda
fundada , & aíli naõ he mui
certa a demarcação de Ra-
zis.
4 Depois defta diuifaõ , go-
zou a Igreja de Braga o direi-
to de Metropolitana íbbre as
Igrejas,que temos rcferido,atè
que le fez outra no Concilio
deLugo celebrado cm Gal-
liza no anno de j65>. ao pri
meiro dia de laneiro. Reinan-
do Theodomiro. Nefte Con-
cilio fe leuantou cm Metro-
politana a Igreja de Lugo^com
íogeiçáo á de Braga , ^Iheaf-
Tmaraõ por fuíFragancas íin-
CO Igrejas Cathedraes , Oren-
íe,o Padraó, Aftorga , Tui,&
Britonia, Ficarão a Braga f a
quem tirarão as finco referi-
das) féis fuffragancas lòmente,
Coimbra, Vifeu, Lamego Ida-
nha, ou a Guarda, Porto, &
Dume . A cada húa deftas fe
limita o território, & diftriól:o
q ha de ter. A Dume íenáo dá
mais jurdição, quefobreafa-
miha,& cafa real, Qual cila fol-
ie diífcmos ja noCaralogo dos
Bifpos do Porto, & o diremos
outra vez, quando tratarmos
daquclle Concilio.
5 As terras , que fe deraõ à
Metropolitana de Braga íaó as
que íe leguem, de que ha hoje
mui pouca noticia. DizoCó-
cilio. A Igreja Metropolitana
de Braga tenha as Igrejas ao re-
dor , & Centocellas , Coctos,
Gentes millia, Laineto, Gilio-
les, Adoncffe, Aportis ,Ailó,
Ccutédones, Laubis, Celeoío,
Citania,Cereícs , Pctroncio,
Equeftsad faltum. Alcmdifto
os lugares de Panoyas , Lcta,
Bragança , Aftiaftigo , Tare-
go , Aunego , Aíetrobio , Be-
c. 4.T>p«
'
refle
«p^w»
Igrejas íuM^d^MâMa BragO-i .
3Í
■ent,'-.c-
refle , Palanrulíco Ceioíciic-
qtmmio, que íãô na õbedien-
idia íòtrinra lucrares.' ^' ^'■'^^^■^'-
\6 ■ Coin lurdiçao iiíás*ícis
; Igrejas Catkcdraes referidas ,
jSf*ria Metropolitana de Lu-
igòjCjue também lhe era íogci-
ítáyticoua Igreja Primas de
iFtàgapor todo o tempo que
diirou o Rcirio dos Sucuos.
Com a queda, > i3<: ruina deílCj
pèrdco Braga muita parte da
gTántJeza , ?l:iurdição que ti-
nha, porque todo o cuidado
doí Reis Godos era cmgran-
deccr a Toledo _, como cabe-
ça de leu império , aindaquc
fòiíle a curta da iurdição,& fa-
zenda alhea : Tirarão a digni-
dade de Metro pohtana, a que
fçra ieuantada à Igreja de Lu-
go, porque Braga fenão glo-
rrallc de ter como Primas Ar-
cíbifpos íuííragancos, ôc não
cònferuafle poÃe tão manife-
íii de ília Primaha. Também
Merrda ficou engrandecida cõ
as Igrejas de Coimbra, Viíeú,
Lamego, &r Idanha , que lhe
dèú , & tirou a Braga cl Rei
'Rècefuinrho à inftarícia , ôc
j0etição'de Orócio Metropo-
litano dá niefma Igreja de Mc
ffícíá;emhuÇ5cilio , qucahi
rc^cclebroit,"^! que prefidio
Q mdmQOi:QUcio,& allégp_u
que perccnciad a ÍMk -pr oiiiíí-'^
7 No atino de' Chrillo
<Í75 . quarto dei RciVuãba aos '
7.deNoucmbro , fc celebrou
humConcilo Prouincial em
Toledo , que foi onze ná
ordem dos que andão impfef-
fos , cm que fc òi^denou dutra
diàifaó dos Bifpados de Hcí-
panha, pcra ccftarem algúas *
duuidas , que fobrc os limites 'j/J^ ^*
dclles entre Prelados parti- 26.
cularcs auia. Não trataremos
das outras Cathcdraes , &c fp
diremos de Braga , que ncfta
repartição ficou c6 oito Igre-
jas , diz o Concilio afsy. Bra-
ga, & fua Metropoli tenha a
mefma Braga, Dumc , Porto,
chamado também Fclfabolc,
Tui, Orenfe , Iria, Lugo,&ri-
tonia, &Aílorga. ■^H'^M
8 Comcftas Igrejas pcr^'
manccco Braga, cm quanto"
durou o Reino dos Godos
em Hefpanha . Com a ruiiia
delia, & entrada dos Mouros,
perderão todas as Metropolis
de Hefpanha a íurdição, que
tinhaó nas fuffragancasjpellos
mouros aíTolarê, & deílruiré
tudo.O pouco, que ficou em
Braga depois que foi dcftruí-
da,fe encomendou ao Bifpo
de Lueo , como ia diílemos.
cent.j. e.
52.
Mdria»
lib.ó.c.
Cátp.
em
Capitulo oit^HOy
cm qunnto a cidade íe naó rc-
llicuya,& rcrtauraua.
9 Taiitoque foi reedificada
pello Biípo Dó Pedro , & en-
trou nella porArcebiípo o glo
riofoS. Geraldojlogo lhe forão
rcílituidas as Igrejas íufíraga-
neas anciguas •, as de Galliza
com pouca controueríiaias de
Portugal , Coimbra,& Lame-
go à força de breues Apoíloli-
cos^qucperailTo elle, ôc feus
fucccíTores ouucraô dos Su-
mos Pontífices. Tiueraõ de-
pois varias mudanças as fuf-
fragancas de Galliza , ôc Por-
tugal^com as cjue fez o Reino,
& a Metropcli de Merida pê-
ra a cidade de Compoftela , &
com ano ita erecção do Bifpa-
do de Lisboa em Arcebifpado.
De tudo tratara largamente a
fcgunda parte defta hilloria.
Aduirtindo que a villa de Via-
na deftc Arcebifpado foi em te
pos mui antiguosBiípadOjdc q
na pouca memoria. Depois fe
aiuntou ao Bifpado de Tui:da
hy vco à iurdição de Braga,
pcllo modo que diremos na
fegunda parte defta hiftoria,
quando chegar ao tempo que
iíloacontccco.
IO Ncíh illuftrc cidade de
I Braga, chamada Auguíla por
Magcltofa, rica por opulenta,
emula dos tropheos,^ trium-
phos Romanos,Corte,& mo-
radaRcal dos Principcs ,&:Pveis
Sueuos, primeira de Hefpanha
naconfiiraQ,& profiílaõda Fe,
Primas na honrn,& dií^nidade
Pontifical, regada com o fan-
gue de illuftres martyrcs,may,
& progenitora de varões aba-
lifadós nas armas , &c em todo
o género de ciências; nefta fi-
nalmente,a quem ficão curtos
todos os louuores mayores,
foioaílento , & morada dos
Prelados defta Igreja cuias vi-
das damos a luz.
C A P I T V L O. IX.
DOS concílios
Prouinciaes , quefe celebra-
rão em Braga.
Orquc nos ha
de fcr ncccíla-
rio falar mui-
tas vezes ne-
fta hiftoria ,
j nos Concílios, que fecelcbra-
I raó em Braga , pede a ordem
delia, que os lancemos aquij&r
demos hua breuc relação do
que nelles paflbu , & tépo em
quefe celebrarão.
1 Não
Concílios que Çe celebrarão emBrag.
VL_i.
iS
& fag.
32. cr
I i Naõ ha duuida , que íe \
congrecraraõ em Brasra aleús
CGncilíos_,antcs do primeiro,
comqucíahioalúz frei Ber-
nardo J.e Brito tirado da li-
uraria de Alcobaça , porque
pêra o bom goucrno de-
lta Igreja, «Sj de fuás Tuffira-
gaiíeaSjtSj pcra acodira vários
calos dcimportancia,que na-
qucllc primeiro tepo dapri-
mitiualcrreja acontecerão, de
força íeauiaõ de aumtarCõ-
cilios. E também não ha du-
uida, que depois do primeiro
íe celebrarão outros , de que
não temos mais noticia , que
afnrmaU:) luhano em vários
lugares^dizendoj que em Bra-
ga fe aiuntaraò Concihos pê-
ra acodir às heregias , que an-
dauão ateadas por toda GalU-
za. Os Concilios de que nos
ficarão aólas , & de que fazem
menção os autores íaõ finco,
3 Começando pello pri-
meiro ^& mais antÍ2uo,elIefe
celebrou, fendo Prelado defta
Igreja de Braga Pancraciano
pellos annos de Chriílo 41 o,
conformea melhor conta. O
motiuo queouue pêra fc a-
luntartoia entrada dos Ala-
nos, Sueuos,&; Vandalos,pel--
las terras de Luíítania,& Galli
7a. Eraõ elles parte Gentios,
& parte Arrianos,& as mayo-
res crueldades , que executa-
uão,era contra as Igrejas , &
Sacerdotes, roubando tudo o
que nellas achauão : abrião as
íepulturas dos Santos,& pro-
fanauão , & queimauão as ía-
gradas relíquias. Pêra reme-
dear clle dano conuocou
Pancraciano, Arcebifpo que
entaõ era de Braga, Concilio
dos Biípos feus íuíiraganeos,
«Si: dos mais quefe acharão em
Braga fugidos da violência, &:
força dos bárbaros pêra íc dar
ordem a fe cfconderem as re-
hquias dos Santos , demodo
que nem viellem as maõs , &
poder dos Herejcs , & Idola-
tras : nem por mui efcondidas
fe pcrdefle a memoria delias.
Os Prelados ^ que fc acharão
nerte Conciho,eftaõ nomea-
dos ncUe. Diz afsy traduzido
em Portueues , como o trás
frei Bernardo de Brito , & he
mui digno defer vilto , &c ía-
bido de todos,
4 Primeiro Concilio Bra-
charcnfe , celebrado em tem-
po de Pancraciano Biípo da
primeira Sê, (que vem a fcr o
mefmo,qiic Metropolitano.)
Aiútandofe os Bifpos Elipã
do de Coimbra \ Pamcrio da
Idanha -, Arifberto do PortOj
Dcodato
2-pM.6
C.2.
CapituL
o nono.
HifloY.
de Cueca
Deoíicito de LiigOj Gclaíio de
Merida ; Ponramio de Aíjue-
da;TiDurcio de Lamego; A^a-
thio de Iria-, Pedi-o de Nuiiia-
cia(que era CamorajOu Soria)
na Igreja de Santa Maria de
Braga ^ o fenhor Pancracia-
no Biípo da primeira Sè dií-
fe. Manifefto vos hc irmãos,
&c companheiros meus , co-
mo as gencesBarbaras deítrue
roda Heípanlia^ aííolão os cé-
plos,& põem à cfpada os fcr-
uos de lESV Chriíloj profa-
não as memorias dos Santos,
feus oíTos, templos, &: fepul-
turas \ quebraõ as forças do
Império , trazendo tudo na
meíma inquietação, que tem
as areftas mouidvis com a fú-
ria do vento . E fora das Pro-
uincias de Celtiberia , &c Car-
perania , todas as mais que hà
atê os montes Pireneos,eftão
debaixo de feu poder. E porq
efta defaiientura eftà ia quafi
pendendo fobre nofias cabe-
ças , me pareceo chamaruos,
pêra que cada hu proueia as
coufas que lhe tocão , & to-
cios mntamente acudao a co-
mum neceílldade da Igreja-
Proueiamos companheiros o
remédio das almas de noílhs
ouclhas^ porque a multidão
dos trabalho; as naõ conílrá-
ia a íeguir o cõfelho dcs mãos;
períeuerar no caminho dos
peccadores , & deícanlar no
aíTento peílilencial , apofta-
tando da Fè verdadeira. E pê-
ra iílo ponhamos ante os o-
Ihos de nofios íubditos exé-
plos de noíla conftancia , pa-
decendo por Chrifto parte
dos muitos tormentos , que
ellc quis íofrer por amor de
nos E porque algus dos Ala-
nos , Sueuos, & Vândalos,
íaõ Idolatras, & outros íegué
a hercgia Arriana,me pareceo
de volío coníentimento pro-
mulgar fen tença contra icme-
Ihantes erros, pêra mayor fir-
meza daFêCatholica. Que vos
parece ? Reíponderão.Iufto,
piadoío. Tanto , & conueniê-
te negocio. Pãcraciano. Creo
em hum Deos verdadeiro ,
eterno naÕ gerado, que não
procede doutré, o qual criou
o Ceo , &r 3 terra , Sc as cou-
fas que ahi fe encerrão viíi-
ueis , & inuifiueis. Todos os
Bifpos. Do próprio modo o
cremos nos . Pancraciano .
Creo cm húVerbo gerado do
mefmo Padre antes dos tem-
pos, D cos de Deos verdadei-
ro , da própria fuftancia do
Padre, fem o qual fc não í"ez
coufa algúa, & pello qual fo-
rao
a.iBLrJ^»i■eJ■^*"
CorícilíGs quefe celebrarão eyn BraoO-j.
17
rão creadas todas as couías.
Todos os Biípos. Da pró-
pria maneira o cremos nòs.
Pancraciano. Creo no Spi-
rito Santo _, que procede do
Padre , & do Verbo , hú com
elles em Diuindadc, que fa-
lou pella boca dos Proferas_,
veo fobre os Apoílolos _, &:
encheo deíua graça a Maria
MaydcIESV Chriílo. To-
dos os Biípos . Da própria
maneira o cremos nòs. Pan-
craciano . Creo que neíla
Trindade não ha mayor , ou
menor, primeiro, ou derra-
deiro , mas em rrcs diílin-
tas Peílbas ha híia i^ualda-
dc , hija Deidade , híja Diuin-
dade. Todos os Biípos. Do
próprio modo o cremos nòs.
Pancraciano . Condeno, ex-
comungo, reprouo , anathe-
matizo todos os que fenti—
rem, tiuerem, & pregarem
o contrario . Todos os Bií-
pos . Da própria maneira os
condenamos nòs. Pancra-
ciano . Creo que os Deo-
fes dos Gentios faõ Demó-
nios, tem boca, & não fa-
lão, olhos , & não vem , ou-
uidos , ^ não ouuem , nem
ha rcfpiração em fua boca.
Todos os Bifpos . Da pró-
pria maneira o cremos nòs.
Pancraciano. Creo^ que Noí-
íb Deos Trino cm Peílbas,
& hum em eílencia fez codas
as couías dc nada , & creou
de terra a nolío pay Adão ,
d: a Eua dc feu lado, deífruyo
o mundo por agoas , deu ley
a Moyfes , & nelles vkimos
tempos nos viíítou por leu
Filho, queíegundo a carne
naceo da geração de Dauid.
Todos . Da própria manei-
ra o cremos nòs . Pancra-
ciano .
Cond
eno
)rouo.
excomungo , & anathcmati-
zo todos os que tiuerem ,
& íentirem, & pregarem o
contrario. Todos. Do pró-
prio modo os condenamos
nòs . Pancraciano . Agora,
parecendouos bem a todos,
ordcneíc o que conuem fa-
zer das rehquias ,& memo-
rias dos Santos , principal-
mente das de noílbPadie S.
Pedro de Rates Apoitolo
delia Prouincia , que San-
tiago parente dc Noílb Sal-
iiador deixou nelía pcra fal-
uaçãodas almas.
Leunntoufe Eiipndo Bií-
podé Coimbra, & diirenão
poderemos todos cumprir
iílodamcfma maneira-, mas
parecendouos bem, faça ca-
da hum conforme lho pcr-
D
micir
38
£aptulo IX.
miciro tempo.
OsBarbaros eftão entre nos,
combatem a Lisboa , ganha-
rão jà Merida, Aílorga do
próprio modo , & viraó bre-
ucmenreíobre nos. Partafc
cada hum a feu Bifpado , &:
conforte os fieis , elconda os
corpos dos Santos em luga-
res decentes , & mandenos
húa relação dos lugares , &
couas onde os dcpolitarem,
porque não venhão a efquc-
cer por difcurío de tempo.
Refponderã todos . Parece—
nos iufto , bom , & conue-
niente confclho , vifta a ne-
cefsidade do tempo. Pancra-
ciano. Da própria maneira
me parece amim , que a vos.
Idcuos todos em paz , fò fi-
que noílb irmão Pontamio,
vifta a deftruição de fua Igre-
ja de Merida, que os Bárba-
ros tem opprimida. DiíTe
Pontamio. Irnicei cu tam-
bém pêra confolar minhas
Quelhas, & pêra padecer iun-
tamente com cilas trabalhos,
& perfeguiçoés pcllo amor
de 1 E S V Chrifto •, porque
não recebi a dignidade de
Bifpo fó pcra o tempo da
prorpcridade;masantcs pêra o
dos trabalhos»
.. Pancraciano. Excellcntes
palauras , iufto coníeiho,ap-
prouo a partida •, Dcos te cò-
ícruc. Todos osBifpos.Cõ-
íèructe Deos neíle bom con-
fclho , que nos também ap-
prouamos. Todos iuntamê-
te. Vamos na paz de I E S V
Chrifto Senhor NoíTo . Pan-
craciano, em nome de Dcos,
Bifpo de Braga. Pota mio, em
nome de Deos , Biípo de
Merida . Elipando, em no-
me deDcos,Bifpo de Coim-
bra. Pamerio, Bifpo da Ida-
nha . Arifbcrto Bifpo do
Porto. Dcosdedit, em no-
me de Dcos Bifpo deLugo.
Gelaíío , Bifpo de Eminio
( que hc Águeda, ) Tiburcio,
Bifpo de Lamego. Agathio,
Bifpo de Iria . Pedro cm no-
me de Deos, Bifpo deNu-
mancia , que hc Camora,
ou Soria. Ate qui o
Concilio pri-
meiro.
lafio.
CAPI-
Concílios que fe celebrarão em Bra^O-^.
39
Aforai
Itb.il.c.
51-
CA P I T V L O. X.
S E G V N D O CON-
cilio de Bra^a,
SEGVNDO
Concilio íc
cÕgregoUjSê-
do Lucrécio
Arccbiípode-
fta Igreja^Reynando em Por-
tugal, &: GallizaThcodonii-
ro Rcy dos Sueuos^no anno
de Chriílo de quinhentos &c
fcíenta &í três, como querem
alguns j & no de quinhentos
& fcíenta & quatro na opi-
nião de outros. As. cauías
que ouuc pcra fe celebrar fo-
rão fundadas na noua con-
uerfão dos Sucuos à Fe de
Chriílo SenhorNoíl'o_,de que
jà tratamos, &c adiante fala-
remos na vida de São Marti-
nho. Dcfejaua ElReyThco-
domiro, que íeus vaílallos
foíícm bem inílruidos na Fe
que profeílarão , & que per-
maneceílem naquclle cfta.ío,
& fe deílerraílcm os abuíos,
que auia,nacidos da Ignorân-
cia do Pouo. Tratou com o
Arccbifpo Lucrécio , ^ com
S.Martinho os meos conuc-
nientcs pcra confcguir o bem
das almas , que pretendia. Ai-
fcntoufe y que conuinha cha-
mar a Concilio todos os Pre-
lados doReyno, pei;anellcíc
dar forma de crer , & enlínar
aosParochos a doutrina, que
auião de dar afeus frcigueíes.
Aiuntarãofe pêra eiic elíeito
em Braga oito Biípos íulfra-
ganeos. As; matérias que aly
tratarão forão de grande im-
portancia , ^ íingular dou-
trina 3 como do Concilio tra-
duzido , que aqui lançamos
fe pode ver . Foy tido por
primeiro em quanto fenão
dcfcubrio o que atraz fica lan-
çado , que foi na verdade o
primeiro em ordem.
z Primeiro Concilio Bra-
charenfe celebrado no tercei-
ro anno de Theodomiro Rey
dosSueuos ao primero dia de
Mayo iunto ao tempo do
Papa Honório primeiro.
Como no anno terceiro dcl
Rey Theodomiro ao primei-
ro de Mayo íeaiunraílcmos
Bifpos fcguintcs daPronincia
D
de
40
Capitulo X.
de Galliza j Lucrécio , An-
clrc , Martinho , Coto , Hil-
dcnco, Luccncio , Timothco,
& Miliofo, & por manda-
do do fobrcdico Rcy Thco-
domiro fcachaílcm na Igre-
ja de Braga Metropolitana da
mefma Prouincia , afsentados
iuncamentc os BiípoSj & tan-
bcm os Sacerdotes, & aísi-
ftiiido os miniftros , òc to-
jo o Clero, Lucrécio Bifpo
da mefma Igreja diíle . Mui-
to tempo ha ( irmãos fantif-
íImos)que defcjauamos íc ce-
lebraíTe entre nos hum Con-
cilio de Sacerdotes , fegundo
o que ordenão os veneraueis
Cânones , & os decretos da
doutrina Catholica, & Apo-
ftolica : porque quando os
Sacerdotes iuntos cm nome
do Senhor bufcao com fau-
dauel altercação aquillo que
(fegundo a doutrina Apolto-
lica) fuftenta a vnião do fpi-
rito com vinculo de paz, não
fòcaufaó húa concórdia con-
ucniente às regras, & orde-
naçoésEccleííaílicas,mas efta-
I uel femprc,& firme no amor
fraternal. Agora pois que nof-
fo gloriofiííimo , d<. pijlllmo
filho , infpirado do Senhor,
nos conccdeo com autorida-
de Real hum dia, que defcja-
uamos ha tantos , pêra eftc
aiuntamento,& pêra que vni-
dos todos confidcraflemos o
que conucm : tratemos pri-
meiro ( íc vos parecer bem )
do eílado da Fê Catholica.
Depois difto íe lerão os iníli-
tutos dos Santos Padres , re-
ferindo os Cânones dellcs , &
no fim de tudo íe tratarão có
toda a diligencia, certas cou-
ías, que pertencem ao ferui-
ço de Deos , & ao ofiicio dos
Sacerdotes, pcra íc porucn-
tura algúas couíàs , ou por
dcícuido de ignorância , ou
por inaducrtencia da muita
antiguidade, fc guardão en-
tre nos diuerfamente , ou fe
tem por duuidofas , fe tor-
nem ( como he rezão ) a húa
forma razoauel , & verdadei-
ra . Todos os Bifpos diíle-
rão. O procedimento de vof-
ía Santidade he iulto , por-
que a cauía defte noíTo aiun-
tamento foi pêra nos redun-
dar algum proucito , de fe dar
ordem nas coufas da Igreja.
O Bifpo Lucrécio diíle. Tra-
temos primeiro dos eftatu—
tos , como ja diílemos aci-
ma ; paraque dado cafo , que
a conragião da heregia de Prií-
cilliano foíle deícuberta,& cõ
denada ha muito têpo nas Pro
uincias
Concilios que fe celebrarão em Braoa^.
4í
uincias de Herpai'iha,todauia,
porqnáo aja alguc/.j por igno
ranc!a,OLi enganado(como hc
ordinário ) có cícricuras apo-
criphaSjCÍ-tè aindainficionado
côa pcílc deílc erro ^ declare-
íc mais abercamete às peíloas
ignorantes , porque cites co-
mo habitão no elUemo, Ã:
derradeira parte deltaProuin-
cia,ou tem poLicOjOa quaíi
nenhum conhecimento , da
verdadeira erudição. Creo q
labc voíla Fraternidade^ q na-
quellc tépo , cm q a peçonha
da nefandiílinia íeita Priícilha
na^iníicionauaeftas regiões ^o
bcatiilimo Papa da cidade de
Roma Leão ^ que foi quaíí o
quadragefimo íoceílor do
ApoíloíoS. Pedro j mandou
fuás bulias ao Synodo_, quefc
aiuntou em Galhza contra a
heregia Priíciihana,por Tori-
bio Notário daSê Apoftoli-
ca-, por cuio mandado tambe
os BifposTarraconeníeSjCar-
thagincnles^LuritanoSj& An-
daluzes, feito entre fy Conci-
lio.&cfcrita húa regra da Fe,
contra a herecriadc Priíciliia-
no,cõ algús capitulos^a man-
darão a Balconio_,quc então
era Bifpo derta Igreja de Bra-
ga : pcllo quCj pois temos a-
qui àmão o treslado da Fe ío-
bredita, com todos ícus ca-
pítulos,parecendo bem a voí-
ias Reuerencias , recitelc pêra
enlino dos ignorantes. To-
o
dos os Bifpos diilerão. Muy
neceílaria he a lição deílcs ca-
pítulos , pêra que declaran-
doíeaos mais rudes os anti-
vuosinílitutos dosSantosPa-
dres , íe conheção os enga-
nos da heregia Priícílliana,
abominados, ó«: condenados
de tempo antiguo , pellos ío-
cellores do Bcmauenturado
Apoftolo S. Pedro. Leofe o
treslado da Fè com íeus capí-
tulos _, que por não caufarem
prolixidade le deixão de ajun-
tar a ellesaótos. Depois da li-
ção dos capítulos diííerão to-
dos os Biípos. Poílo que a li-
ção fe referilíe neceíTariamen-
te y todauía íe declarem com
mais euídencia, & chaneza
por capítulos diitíntos as
couías, que íe hão de euítar,
pêra que os que menos fa-
bemas entendáo : &c pondo
fentença de excomunhão, íe
condenem finalmente os en-
ganos do erro de Prifcillia—
no , pêra que qualquer Clé-
rigo, Monge, ou fccular,que
for achado crer , ou defen-
der coufa íemelhante, íe a-
parte logo do corpo , como
D3
mem-
'42-
Capitu
lo X.
aieaibro podre da Igreja,
pêra que da macula de íua
companhia, 6c maldade _,não
naça alcrúa aíronta aos fieis na
opinião dos que verdadeira-
mente crem , quando os vire
millurados com tal gente, Os
capitules, que fe propuíeraõ
contra a heregia PrifciUiana,
& fe tornarão a ler contém o
feguinte.
1 Se alguém não confcílar,
que o Padrc^ Filho,&: Spiritu
Santo faó três pelloas dehúa
íullancia , virtude , &c poder
afsy como enlína a Igreja Ca-
tholica,&Apoll:olica,masdií'-
fer q he húa peílba fòmentejde
tal modo, que o mefmo íeja
o Pay 5 que o Filho,&: Eípiri-
tu Santo, como dillerãoSa-
bellio, &í Prifcilliano , feia ex-
comungado
% Se alguém fora daSantif-
íima Trindade introduz ou-
tros não íei que nomes de di-
uindade^ dizendo, que a mef-
madiuindade he a Trindade,
afsy como osGnofticos, &
Prifcilliaiio diíl'eraõ,feia exco-
mungado.
3 Se alguém diz, que o Fi-
lho de Deos Noilb Senhor
lES V Chrillo não foi , antes
denacer da Virgem, como
diíleraó Paulo Samofaceno,&:
Photino, & Prifcilliano,íeia
excomungado.
4 Se alguém não honra ver-
dadeiramente o Nacimento
de Chrifro íegundo a carne,
mas finge diliimuladamcnte,
que o honra ieiuãdo no mef-
mo dia, & ao Domingo por-
que nãocrè,que Chrilto tem
verdadeira natureza humana,
afsy como diílerão Cedron,
Marcion,Manicheo , & Prif-
cilli^no , feia excomunga-
do,
j Se alguém cré,que os An-
jos, & almas humanas forão
da íurtancia de Deos , como
diílerão Manicheo, & Prifcil-
liano, feia excomungado.
6 Se alguém diz , que as al-
mas humanas peccarão pri-
meiro citando no Ceo,& por
ifto forão mandadas aterra,
viuerem corpos humanos,
como diíle Priícilliano , feja
excomungado.
7 Se algué diz , que o Dia-
bo não foi primeiro Anjo bõ,
feito por Deos, nem lua na-
tureza ler obra de Deos , mas
diz , que procedeo das treuas
fem têr criador,que o f ormaf-
fe , mas que elle he principio
femfuftancia domai ,como
diíferao Manicheo , & Prifcil-
liano, feia excomungado.
S Se
Concílios que fe celebrarão emBragO-^.
43
8 Sealguécrè, que o Dia-
bo ks algúas creattiras immií-
das , &c que o Diabo por lua
própria autoridade hz os
crouocs _,rayQs , cempellades,
(Sc eltcrilidades , como dilVe
Priícilliano, leia excõmua-
gacío.
9 '^e alguém crc , que as al-
mas, &í corpos humanos el-
tão lo<íeitos a fimios , e-eílrel-
las fadadas, como os Pasaõs,
& Priíciiliano diíleraõ, leia
excomungado.
10 Se alguém crer, que os
doze íííinos, conuem a faber,
as ellrcl!as,que os Machemaci-
cos collunilo obíeruar,eílão
repartidor por cada potencia
da alma, ou míbro do corpo,
correípondendo aos nomes
dos doze Patriarchas , como
diíle Priíciiliano , íeja excõ-
muncjado.
11 Se alguém condena os
cafamentos humanos ,& abo-
mina a geração dos que na-
cem dellesjcomo diíleraoMa-
nicheo,(í^ PrifeillianOjfeia ex-
comungado.
li Sc alguém diz, que a or-
c^anização do corpo humano
hc obra do Diabo,&: a forma-
ção dos mininos no ventre de
Tuas mãys diz que le faz por
índartria do Demónio, por
reiçaõ
onde nao cre a refur
das carnes,como difleráo Ma-
nicheo , & Priíciiliano ^ íeia
excomungado.
n
Se algaê diz , que a cria-
ção de todas as couías corpo-
raeSjnao he obra de Deos,mas
dos Anjos mãos, como diííe-
rão Manicheo,& Prifcilliano,
íeia excomungado.
14 Se alguém cuida, que os
manjares de carne, que Deos
deu pêra vío dos homens, íaõ
immundos, &: fe abílêdelles,
não por caufa de afíligir feu
corpo,mas pellos tèrpor cou
ia immunda, né come eruas,
cozidas iuntamente cõ a car-
ne,por elle refpeitOjComo en-
ílnarãoManicheo, & Priícii-
liano, feia excomungado.
1$ Se algum Clérigo, ou
Monge tiuer em fua com-
panhia alguas molheres em
lugar de parentas adoptiuas,
&í morar com ellas, ainda que
Ihefeiãomui coniuntas por
parentefco , não feneío may,
ou irmã, como enfinaua a lei-
ra de Priíciiliano, íeia exco-
mungado.
1 6 Se algué, na quinta feira
de Pafchoa , que fe chama da
Ceado Senhor, não ouue as
miílas da Igreja guardando o
ieium, ate a hora coíf amada
depois
D 4
44
Qafitulo X
depois de Noa , mas hon-
ra a tcíla , & quebra o icjum
deída hora dcTerça em que fe
dizem as miílas dos defuntos
conforme a feita de Prifcilha-
nOjfeja excomungado.
ij Se alguém ler as efcritu-
ras, que Prifcilliano depra-
uou, conforme a íeu erro, ou
os tratados, que Diâ:inio aii-
t^s de íc conuerter cfcrcueo
debaixo dos nomes de alguns
Patriarchas, Prophetas , ôc
Apollolos , fingindoos con-
formes a feus erros, & dcfen-
der,ou feguir íuas ficções Ím-
pias , ícja excomungado.
18 Propollos eftes capítu-
los, & tornados a ler o Biípo
Lucrécio diíie. Pois faõ de-
claradas , mais i&cil, & mani-
feftamente, ainda pêra o en-
tendimento dos ignorantes,
as coutas que os Catholi—
cos condcnão , ôc abominão,
me parece confecutiuamen-
te ncceííario ( parecendo
bem a voíTas Paternidades)
q fc nos declarem os inílitu-
tos dos Santos Padres , refe-
rindo os Cânones antiguos,
& fc não todos , ao menos fe
leaõ algus poucos, que pcrtê-
cem pcra inftrucção da dici-
plina Sacerdotal. Todos os
Bifpos diflerãoContentanos
efle parecer , & hè coufa con-
ueniente , que aquelles a que
apouca curiofidadefez por-
uentura eíquecer das Coníf i-
tuiçoés Eccleíiaílicas , oução,
& guardem as regras dos San-
tos Cânones. E íendo lidos
por hum liuro diante de todo
o Concilio os Cânones dos
Synodos,aísy Vniucríaes,co-
moNacionaes,© Biípo Lucré-
cio depois da lição acabada
diílc . Aooraxonhecereis ir-
mãos meus da própria lição
dos Cânones, como os Sacer-
dotes cõgregados não fó nos
Concílios Gcraes, mas ainda
nos Nacionaes ordenarão de
vniforme parecer as coufas q
conuinhão à ordem Eccleíía-
ftica , prouendo ícgundo re-
queria a necefsidade de cada
coufa , feíxuindo nífto a fen-
tença da doutrina Apoítoli-
ca, que diz. Approuay as cou-
fas, qfaõ boas,&guardayas.
Por tanto,fe parecer bêa voílà
Charidade, ordenemos entre
nos certos capítulos peraque
as coufas que não guardamos
todos dehummodoferedu-
zão totalmente a hiía própria
forma, auendo refpeíto a cer-
tas ceremonías Ecclcííafticas,
que fe guardaò , príncipalmê-
te nos confins defta Prouin-
cia.
Concílios que fe celehr<>nao ctuBví:.
c>
^'l-J.
45
cia^nao porcontumacia^nem
Deos o permita , mas como
diílemos acima , por igno-
rância, & pouca cLinofidade.
Todos os Bifpos diílerão te-
mos por coLila neceílaria , &
muy proueitoiaj queaquellas
ceremonias , que com vario,
& deíordenado coftumc,2uar
da cada num de nos, vnidos
entre todos , pella graça de
Deos íe celebrem com animo
conforme. E por tanto íe ha
aigú a couía grande ou peque-
na j, em que pareça citamos
difterétes torneie , como elH
dico,a liua forma ; ordenan-
do pêra ifto os capítulos ne-
ceílarios , tendo principalmé-
te com nofco inftrucçãoda
Sé Apoftolica fobre certas
couías particulares,que a pru-
dência de voflb predeccílor
Profuturo de venerauel me-
moria alcançou algú tempo
do íoceílor do Bemauentu-
rado Apoft olo S. Pedro \ Lu-
crécio Biípo diíle. Com rezão
lembraftes,írmãos meus^a au-
toridade daSè Apoífolica, a
qual poifo que no tempo
em que veo tolíe muy íabi-
da , todauia por firmeza do
teíHmunho , & inifrucção
de muitos , parecendo alsya
nofia conformidade pois a te-
mos entre mãos, leafe diante J
de todos . Todos os Biípos
dilkraõ.Iuílobe, pois quefc
fez menção da íobredita au-
toridade, que ouçáo todos os
circuníí:antes a douti ina, que
contem, Leofe então a auto-
ridade daSè Apoífolica diri-
gida ao Biípo Profuturo, que
por euitar prolixidade íe nao
aiuntou a elfas aâ:as : depois
de cuja lição diíle oBifpo Lu-
crécio . Agora vemos mais
claramente como nos fauore-
ce a doutrina Apoífolica, por
tanto conforme ao parecer de
vofla Fraternidade, íe algúa
coufa por ignorância he diíFe-
rentemente guardada por al-
guns,reduzafc a Iiúa forma, &■
regra igual por capitulos or-
denados entre nós. Propuze-
rãoíe os capitulos que conti-
nlião o íeguinte.
15) Aprouue a todos de co-
mum coníentimento , que fe
guarde liíja própria ordem de
cantar nos oííicios de Mari-
nas , & Vefporas , & não fe
miíturem , nem confundão
os particulares coft umes dos
Morteiros com a regra co-
mum da Igreja,
zo Aprouue também , que
pellas vigilias, & milíasdos
dias íblenes , fe leão na Igreja
todas.
46
Captuío X.
codas, &c as mcímas licoés, &
não outras clifíerentes.
II Alem curto aprouuc,(^
os Biípos não laudcm ao po-
uo de hum modo 5 & es Sa-
cerdotes doutro, mas todos
de hum modo , dizcndo^Do-
mmusjicpobifcumjco mo íeíè
no huro de Ruth. E o pouo
rei jp onda. Et cumfpiritu tiio^
aísy comoeníínarãoos Apo-
lloíos, ik o guarda todo o
Oriente , & não como o mu-
dou a heregia de PrifcilUano.
rz Aprouue também, que
as miílas fe celebre pella meí-
maordê, que Profuturo Bif-
po antiguamcnte deita Igre-
ja MetropoUtana recebeo cm
efcrito por autoridade da meP
maSêÀpoíliolica.
23 Aprouuealemdifto, que
ninguém deixe de guardar a-
Tl
quellc modo de bautizar,quc
teue de tempo antiguo a Me-
tropohtana Igreja de Braga,
Ãr recebeo o íobredito Biípo
Profuturo pêra tirar a duuida
de alguns, fcndolhe mandado
pellos roceíTores do Bemaué-
turado Apollolo S.Pedro.
14 Aprouue também , que
guardandofc a Primaíla do
Bifpo Metropolitano , os
mais Bifpos fegundo o tem-
po de fua coníàgração pre-
cedão huns aos outros na oi-
c!cm dosallentos.
ij Aprouue ale diílo, que
das rendas Ecclefiaíticas íefa-
ção trcs porções iguaes , híia
pêra os Biípos, outra pêra os
Sacerdotes , a terceira pêra
a fabrica,&: alampadas dalgre-
ja . Da quarta parte o Arci-
prcfte,ouArcediagOjquc a ad-
miniílrar faça fua ração ao
Bifpo.
tC Aprouue também, que
nenhum Bifpo oufe orde-
nar Clérigo de outro Bifpa-
do, conforme à prohibiçao
dos Cânones antiguos, íaluo
quando lhe moftrar rcuerc n-
das afsinadas pello feu pró-
prio Bifpo.
27 Aprouue alem diH:o,que
por quanto alguns Diáconos
defta Prouinciacoftumão tra
zcr as Eflòlas cícondidas de-
baixo das túnicas , de tal mo-
do que não parece terem dif-
fcrença dos Subdiaconos^tra-
gão daqui cm diante as Eitó-
las em cima do hombro , co-
mo he rezão.
28 Aprouue também, que
não fejaliciío a nenhú dosLci-
tores , por as mãos nos vafos
fagrados do altar, nem a ou-
tros alguns,íenão aos que fo-
rem ordenados pellos Bifpos
cm
Concílios que Çe celebrarão emBragO-A.
47
cm Subdiaconos,
19 Aproiiue demais dillo,
que os Leitores não cantem
lia Igreja cm habito, & or-
nato lecular, nem deixe íeus
grãos contorme ao rico gen-
tílico.
30 Aprouuc também , que
nenhúa coufa do tellamen-
to velho íe cante na Igreja
compoíla em verío , como
mandão os Santos Câno-
nes.
3 1 Aprouue também , que
não feja licito aos homens,^
molheres lei^ros entrar a co-
mungar dentro na capella,íe-
não íò aos Clérigos, como
ella ordenado nos Cânones
anti^uos.
3z Aprouue alem dill:o,quc
os Sacerdotes , que não co-
rnem carne, por cuitar a fof-
peitadaheregia de Priícillia-
no, os obriguem a comer al-
gúavez cruas cozidas có car-
ne, &: íedeíprezarem efte pre-
ceito, conuem ( íegundo que
os Santos Padres anti^uamê-
te ordenarão acerca dos taes)
pclla íoípeita deíla hcregia,
ícrem excomungados , & re-
mouidos totalmente do olfi-
cio Sacerdotal.
33 . Aprouuc também, que
• aqucllc5 que faó excomunga-
dos por heregiajOu outro cri-
me qualquer, ninguém pre-
iuma comunicar com elles,
como mandão os anti^uos e-
llatutos Canonicos_5 os quais
le alguém deíprcza volunta-
riamente , fc aparta aíy meí-
mo da comunhão dos fieis.
34 Aprouuc demais diílo,
qucaquelles que íe dão aíy
mefmos morte violeta, oucó
ferro , ou com peçonh a , ou
dcfpcnhandofe, ou enforcan-
doíe, fe não faça por elles co-
memoração algúa no íacrifi-
cio , nem fejão fcus corpos
leuados àícpulturacom píal-
mos ^ porque ha muitos, que
por ignorância víaõ diílo.
Aprouue também , que fc vfc
o meímo com aquelles que
faõ iuftiçados por fuás mal-
dades.
35- Aprouue também , que
aos cathecumenos, que mor-
rem fem a redenção do bau-
tifmo, do próprio modo fc-
náo faça commemoração no
facrificio,nem oíficio de pfal-
mos, porque também ilto fc
introduzio por ignorância.
3<J Aprouue alem diílo, que
os corpos dos defuntos cm
nenhum modo fc fcpultcm
détro nas Igrejas dos Santos,
mas quando for nccelíario,da
parte
48
Capitulo X.
parte deFóra , iuato ao muro
da Igreja, onde não hc tanto
de cltranhar _, porque íeas ci-
dades ate noííbs téposguar-
dão firmillimamcnte eltepri
uilegio , que dos circuitos de
ícus muros adentro, íenão íe-
pulte o corpo de qualquer de
funto de nenhú modo^quan-
to mais o deue de têr a reue-
rencia dos martyres vencra-
ueis.
37 Aprouue mais, que fc
algum Sacerdote depois defta
prohibição fe atreuera ben-
zer o óleo da Chriíma, ou fa-
grar igreja , ou altar , ícja de-
poi^o dcfcu officio, porque
os Cânones antiguos prohi-
bem tudo illo.
38 Aprouue também , que
ningué fubá de leigo ao grão
de Sacerdote fcm q primeiro
aprenda por hú anno inteiro
no ofiicio deLeitor,ou deDia-
cono a doutrina Eccleliaílica,
&:arsy doutrinado por cada
hú dos grãos fubá aoSaccrdo-
cio. Porque aílàz repreheníl-
uel hc, que aquellc, que ain-
da não aprendco,comcce jâ a
cnfinar, fendo iíto princi-
palmente prohibido pcllos
antiguos ertatutos dos Pa-
dres.
^9 Aprouue demais difto.
queíe pella liberalidade dos
fieis, ou nas fcílas dos mar-
tyres, ou na comemoração
dos defuntos le oftcrece al-
gúacoufa, íe aiunte fielmen-
te na mão de hú Sacerdote, &
por tempo determinado , ou
húa,ouduas vezes no anno
fediuida entre todos os Clé-
rigos, porque nacem grandes
diícordias da deíígualdade ,
quando cada hum em fua fo-
mana toma pêra fy aquillo q
fe oíferece.
40 Aprouue alé difto , que
ninguém fcatrcua, a trelpal-
íar os preceitos dos Cânones
antiguos , que agora íè refe-
rirão nefte Concilio. Eíc al-
guém por cõtumacia os que-
brantar, conuem que o depo-
nhão de feu officio.
Deixados os capitulos. Lu-
crécio Bifp o diíTc. Poisjàcó
'O fauor diuino determinamos
aquillo que pertencia à firme-
za da Fè Catholica, & ao offi-
cio do eitado Eccleííailico c5
vnanime conformidade , co-
mo era rezão,refl:a agora,que
cada hú de nos trabalhe , por
cnfinar, òí inftruir feu Bifpa-
do de todas aquellas coufas,
que faudauelmente íaõ infti-
tuidas, mediante a graça de
Deos . Eíc algum de aos em
luas
Concílios quefe celebrarão em Braoa^,
49
: íuasfreigticzias depois de la-
bidas as conilicuicoés defte
Concilio achar al^ú Clérigo,
OU Mõge cõcrario a elta dou-
crina_, ouo íencirviuer ainda
cm alí^ú erro da íeicaPriiciUia-
na , & o não deitar logoí-òra
ua Igreja excomungado, &
anarhemacizado de cal modo,
que nenhú dos fieis fe acreua
acomcr, né comunicar có ho-
me fcmclhance^ faiba aquelie
q ral home receber , q fica fo-
geico d excomunhão de todos
nollbs irmãos , & reo fem
duuida da fencéçaDiuina.To-
dos osBiípos diíTcrão.Qinef-
quer coulas , que mediante a
graça Diuina forão determi-
nadas por nos de comum cÕ-
ícntimenco, he neceíTario fc
guarde cõ vigilante cuidado,
as quaes peraque alcance fir-
meza de conforme Cõfticui-
cão ,cada hú fealfiae ncrtes
a.^os por íua própria mão.
Depois Ic feguio a fofcrip-
ção dos Bifpos. Lucrécio Bif-
po loeícreueo. André Biípo
íoeícrcueo. Martinho BiCpo
foefcreuco. Coto Bifpo focf-
creuco. Hildirico Biípo foef-
creuco. Lucrécio Bifpo foef-
creueo.TimotheoBilpo foef-
crcueo. Miliofo Biípo íoeí-
crcueo.
CAPITVLO. XI.
TERCEIRO CONCI-
lio Bracharenfe.
TERCEIRO
Concilio de
Braga íc cele-
brou no an-
no de Chri-
II0571. aos 15' diasdcDezc-
bro ReinandoAriamiro filho
dei Rcy Theodomiro. Prefi-
dio nelle o Arcebifpo S.Mar-
tinho de Dume. Cócorrerão
pêra íe celebrar os melmos
motiuos,& rc7oés, queouue
no Concilio paliado, porque
defcjando Ariamiro ícguir.ÔC
imitar a piedade,& zelo de leu
pay Theodemiro , tratou de
aumentar o culto diuino , &;
deilerrar de feus vaíTallos to-
dos os abufos que ficarão das
hercgias paíTadas . Pêra illode
confelhodeS. Martinho fez
ajuntarCócilio cm Braga,on-
decõ os mais Bifpos fijftraga-
neos acodio també o deLugo
Metropolitano ja reconhece-
doluperioridadeao de Braga
como a Primas de He^panha
Tratarão os Prelados,q aly fe
acharão có o Metropolitano
E &
50
(Capítulo XI.
I
.5^ Primas S.Martinho maté-
rias mui importantes à Fè, Sc
reformação dos coftumcs;tu
do fcpòdc ver no melmoCò-
cilio, que aqui lançamos, &
começa aísy.
Segundo ( afsy fc tinha er-
radamente íendo o terceiro)
Conciho Brachareníe.
Reinando Noílb Senhor
lES V Chrifto, & correndo a
era de 6 IO. no legiídoanno dei
ReyAriamiro aos quinze dias
de Dczembro^ajuntandofe os
Bifpos da Prouincia de Galli-
za^afsy da jurdição de Bra-
ga , como de Lugo, com feus
Metropolitanos por manda-
do do gloriolíílimo Rey aci-
ma nomeado, na Igreja Me-
tropolitana Bracharenfe_,con-
ucmafaber, Martinho, Ni-
tigio, Remifol, André, Lu-
cencio , Adorio , Veólimero,
Sardinario , Viator, Auila,
Polemo , Mayloc- eftando
eftes Bifpos aíTentados, &
prefentcs todos os Sacerdo-
tes ; Martinho Bifpo de Bra-
ga diíle. Porinfpiraçáo diui-
na tenho pêra mim, qucaco-
teceOjPadres Santiííimos,q de
ambas eftas Metropolís nos
ajuntalíemos em humfò Có-
cilio, ordenandoo afsy o fan-
tiíTimo Rey nolIb fíIho,pcra- 1
que não fones alegremos da
villa híjs dos outros,mas pe-
raque juntamente pratique-
mos as couías, que pertence
à orden\& diciplina Eccleíia-
ftica, porque noEuangclhofc
efcreue,q diíle o Senhor i onde
quer queeftiuerem dous , ou
três jútos em meu nomejahy
ertarei eunomeo delles. Ni-
tigio Biípo da Igreja de Lugo
dilfe , nem íe pode crer outra
coufa fenão, qconuem prin-
cipiar, & leuar ao fim aquiUo
que pertence ao proueito de
noílas almas: Mar tuiho Bifpo
diíIe.Cuido que fe lembrarão
voílas Fraternidades, q quan-
do íeajuntou o primeiro Cõ-
cilio de Bifpos na Igreja de
Braga-, depois de muitas cou-
fas,q íe determinarão pêra c5-
cordia daverdadeiraFè^decre-
tamos tambê algúas, q cõpré-
dem o direito dosCanones fa.
grados,cuj o proueito pêra fe
trazer a memoria c6 mais fa-
cilidade fera bê fe lea em vo /la
prefença o melmo papel ern q
fecõtèm,sédo todos derte pa-
recer.Todos os Biípos d.ilfe-
rão.Conué qucfe leão, /5«: os
oução todos os quceftão pre-
fentcs . Lidos pois tod os os
capitulos do primeiro Con-
cilio , que fe não ajuntão
ae
ftes
Concílios que Çe celebrarão em Bra^^O-/.
5í
a cftes aclos por euicar prcli-
xidadc.Marcinho Bifpo diíle.
Eílas couías pois (]uc agora
íe acabarão de referir, & que
então nos parecerão diícrc-
pancesencreíy, diiuidoíàs^ou
pouco ordenadas, eílão em
citado pêra com o fauor de
Deos alcançarem íuainuio-
lauel fi
rmeza , & as couías
então nao vierao a memoria,
ou pareceo trabalhofo acu-
mular muitas juntas naquel-
Ic primeiro Concilio , parece
neceííario trazelas agora à no-
ticia de voíla ianta Cliaridade,
pcUo particular rcípeito de
ferem apuradas, ventilandoas
emdjfpucaefpiritual, porque
os Santos Padres noílos pre-
deceíTores, ou fizerão ajuntar
Synodos Gèraes de todas as
partes por refpeito da con-
formidade da Fe verdadeira,
afsycomo oNiceno contra
Arrio,onde fe acharão 3 18. &
noConftantinopolitano co-
rra Macedónio ijo.õ^node
Ephefo contra Neílorio. 200.
& no de Calcedonia contra
Eutiches 630: ou ajuntarão
particulares Synodos , cada
hum em fua Prouincia , por
tirar difcordias, & emendar
negligencias de alguas pef—
foas.E conforme pedia a qua-
lidade áâs. cidpas , & o exceí-
ío de cada hi.m , afsy coníli-
cuirão particulares , &duu-
nas fentenças dos Cânones
mediante o Spirito Diuino,
que relidia entre elles , as
quaes nos conucm ler mui-
tas vezes , & guardalas . JE
porque mediante a graça de
Chrillo não haja nelk Pro-
uincia coufa duuidofa , acer-
ca da vnidade , & inteireza
da Fè , nos conuem agora
trabalhar particularmente ,
por ver fe achamos algúa
coufa digna de repr en faõ, &
alhea da doutrina Apoíloli-
ca, quea ignorância , ou ne-
gligencia introduziílè entre
nós: & recorrendo aostefti-
munhos das fantas efcritu-
ras, ou aos eflatutos dos Câ-
nones antiguos , òc inter-
pondo o confentimento de
todos,emcndcmos com mo-
derado difcurío as que nos
não contentarem. E primei-
ro de tudo ( íe afsy vos pa-
recer bem ) lidos os precci- í
tos, que o Bem.auenturado
Apoftolo SaÕ Pedro eícrc-
ueo claramente em fua Epi-
llola, pêra regra dos Sacerdo-
tes , tudo aquillo que virmos
fe faz entre nos fora do teor q
eníiiiou o Principe dos Apo- J
,E i ftolos.
52
Capimio XI.
Itolos^trabalhcmos fem deté-
çaalgúa de o reduzir a emêda^
peraq não aconteça, que pre-
gando aos outros , &c ícndo
nós imperfeitos , Icjamos có-
dcnados por aqliadiuina íen-
tença^que diz .Tu aborreceíle
a diciplina , & lãcallc minhas
palauras dctraz das coitas. To
dos os Bifpos diíTerão. Deíe-
jamos que fe traga a efte lu-
gar a Epiftola do Apoltolo S.
Pedro \ de que íefez menção,
& ouuir o texto onde cnfina
os Sacerdotes. Trazêdoíe en-
tão o liuro,re rcíiriraõ da pro-
priaEpiftola as coufas feguin-
tes. Velhos, rogauos eftecõ-
panhciro voíTo na idade , que
apacêteis as ouelhas de Deos,
que mora cm vos , prouen-
doas, nãoforçofa, masvo-
lútariamente,conforme Deos
quer : nem por reípeito de
intercíTe infame , mas gracio-
famente : nem como íenho-
res dos outros Sacerdotes,
mas na forma de quem apa-
ccta rebanho,&dc todo o co-
ração , pcra que quãdo appa-
rcccr o Principe dos Paílo-
res , recebais a coroa de glo-
ria , que nunca perde feu lu-
ftro. Lidas cftas coufas , diíle-
Irão todos os Bifpos. Agora
que temos conhecimento do
que fe refirio da Epiftola do
Bemauenturado ApoftoloS.
Pedro dcíejamos comofa-
uor da graça de Deos obe-
decer aos preceitos diuinos,
& imitar a forma da carta A-
poftolica, que nos foi lida,
em tudo o que diz ^ por que
nãoacõteça,q procedédoem
algúas couías fora de ordem^
fejamos{o que Deos não per-
mita) condenados pordiuino
juizorantes feguindoas piza-
das dos Santos Padres mere-
çamos fcr participantes de
íeudeícanfo, & mereçamos
com cUes alcançar a incor-
ruptiuel coroa de gloria pro-
metida. Pello que todos jun-
taméte pedimos a voíla Cha-
ridade , que com prendendo
breuemêtc todas ellas coufas
em particulares capitulos, &
o modo comoíe haõ de emé-
dar, as ajunteis a efte tratado,
pêra que íendo curiofamentc
lidas, &: trazidas com euide-
cia ao conhecimento de to-
dos nc)s,as foefcreua^& afline
cada hum com fua própria
mão pêra lua emenda, &: con-
firmação •, & cftas coufas de-
terminadas pêra perfeição do
oííicio Epifcopalaproueitem
naõ fó pêra nòs,mas ainda pê-
ra noílbs fuceflbres.
I Aprou-
Concílios quefe celebrarão em Braoa^.
5S
I AproLiue a todos os Bií-
pos , & ainda relcua, que dií-
corrédo osBiípos por todas
as Igrejas , d: por íeus Biípa-
doSj primeiro de tudo exami-
ne os Clérigos acerca da ordc,
que guardão em bautizar , d<.
celebrar Miíías , & do modo
que celebrao na igreja os oífi
cios: &: achando que proce-
dem bem^dem graças a Deos,
&: quando não , deué enhnar
os ignorantes, & mandarlhe,
que em todas as maneiras (cÕ-
forme diípoem os Cânones
anriguos ) os cathecumc-
nos concorráo à purifica-
ção do exorciímo vinte dias
antes doBautifmOinos quais
íerà elpecialmente cnfinado
aoscathecumenos o Symbo-
lo^que começa. Credo m ynú,
Deura Patrc?n,Í!fc. Depois q
os Biípos examinarê fcusCle-
rigosneftas matérias^ ao dia fe-
guintCj chamado o pouo da-
quella Igreja^o eníinem a fu-
gir dos erros da Idolatria , ôc
outros crimeSj como íaõ^ho-
micidio. adultério , juraméco
falfojteftimunho falío,& dos
mais peccados mortaes i ôc q
não facão a outré o que não
querião lhes fizelíem a elles,
&quecreãoa rcfurreiçao de
todos os homés , ^ o dia do
' juízo, no quaicadahúha de
receber íegundo íuas obras ròc
depois diito feito fc parta o
Biipo daquellalgrejapera ou-
tra.
i Aprouue,que nenhu dos
Blípos andando por feus Bif-
pacloSjtomealgua outra cou-
la pellas Igrejas mais q o re-
conhecimento de fua digni-
dade,queíaÕ dous íoldos, né
peça nas Igrejas parochiaes a
terceira parte das oííertas do
pouo, mas aqlla terceira parte
íe guarde,ou pêra cera,ou pê-
ra a fabrica da Igreja. E cada
anno fe façadaly fua ração ao
Biípo, porque íe o Biíjpo to-
mar aquella terceira parte deí-
poja a Igreja de cera, &c de te-
lhados .Da mefma maneira os
Sacerdotes,que faõCuras,náo
os obriguem a íeruir aos Bií-
pos em matérias algúas a mo-
do de íeus ercrauos,porq cila
ercrito,que não gouernem co
mo fenhores dos Sacerdotes .
3 Aprouue, que os Biípos
não recebão dadiuas als^uas
por ordenarem os Clérigos:
mas ,a(sy como eftà eícrito,a-
quillo querecebcm da mão de
Deos gracioíãmeiíte dem no
de graça ; nê íe venda a graça
de Deos , & impoííção das
maós por nenhú preço, porq
E 3 adiíi-
54
Capitulo XI.
adiffinição aiitigua dosPadres
afsy o determinou a cerca das
ordens Eccleííaíl:icas,dizendo
que feja excomungado o que
der, & receber. E porque al-
gúa> pellbas Togeitas a muitos
crimes , & que íeruem indig-
namente no altar, alcançarão
ella dignidade, nao por tefti-
munho de boas obras , mas
por largueza de peitas. Por
tanto conuem ordenar os Sa-
cerdotes, não por refpeito de
dadiuas , mas primeiro por
rigurofo exame , & depois
por telhmunho de muitas
peílbas.
4 Aprouue,que poraquel-
le pouco de balíamo bento,
quefe coftuma repartir pel-
las Igrejas pêra o Sacramento
do bautiímo , pcllo qual fc
coftuma pedir a cada pcílba,
que o leua,hija moeda chama-
da trcmiíTcs , que he a terça
parte de hum foldojfenão pe-
ça daqui cm diante coufa al-
gua, porque não aconteça,
que aquillo, que fc confagra
pêra faude das almas pella in-
uocação do Spirito Santo,
vcndendoo nos da maneira,
que Simão mago quis com-
prar por dinheiro o dom de
Dcos, íejamos vendidos na
condenação eterna.
5 Aprouue,quctodas as ve-
zes que os Biípos forem ro-
gados por qualquer dos fieis
pcra coníagrar Igrejas, não
peção algiía dadiua ao funda-
dor como íe lha deuefle , mas
fe clle por lua liure vontade
oíFerccer algiía coufa, nãoíe
lhe engeitc, mas lecftiuer po-
bre, ou necefsitado não íe lhe
peça coufa algua . E com tu-
do aduirta cada hum dos Bií-
pos , que não confagrc Igre-
ja fem primeiro receber pa-
trimónio pêra o fcruiço del-
ia confirmado por doação
em cfcrito, porque não hc
culpa leue a temeridade de cÕ-
fagrar húa Igreja fem cera,
&fem renda pcra fuftenta-
ção dos que hão de fcruir ncl-
Ia , como fe fora húa cafa par-
ticular.
6 Aprouuc, que fc alguém
edificar Igreja, não por deua-
ção da Fè , mas por intcreílc
dccobiça , parra com os Clé-
rigos a metade do que nella fe
recolhe das oífertas áo pouo,
pois fundou Igreja cm fuás
terras por caufa de ganho, co-
mo cm muitos lugares he fa-
ma que fe faz ainda agora.
E iílo fe dcuc guardar daqui
cm diante, que nenhum Bií-
po confmta tão abominauel
coufa.
Concílios que fè celebrarão emBraga^.
55
couía , nem ouíe confagrar
Un'eia hmdada mais debaixo
decóuição tributaria^ que do
patrocinio, & inuocaçáo dos
Santos.
7 Aprouue , que cada hum
dos Bilpos mande por fuás
Igrejas^ qaquelles que leuão
íeus mininos ao bautifmo, íe
voluntariamente quizeré por
lua dcuaçáo oferecer algúa
coulaíelhe receba:raas fe por
neceísidadc, & pobreza náo
tem couía que ofterecer _, não
lhe íeja tomado pellos Cléri-
gos penhor algum contra íua
vontade ^ porque muitos po-
bres com efte temor deixão
de trazer íeus filhos ao bau-
tiímo, os quais íe por ventu-
ra neíte meo têpo da dilação
partirem deíla vida fem gra-
ça do Bautiímo , conucm fc
tome coma de fua perdição
àquelles, por temor de cuja
auarezaíe apartarão da graça
do bautiímo.
8 Aprouue que fc alguém
demandar algú Clérigo accu-
fandoo de fornicação fe lhe
peção duas, ou três teftimu-
nhas conforme ao preceito
do Apoílolo Saõ Paulo-, o
qualíenão puder prouar oq
diííe, dando as tcíKmunhas,
a pena de excomunhão, que
merecia o accuíado , fe dè ao j
accuíador,
9 Aprouue,q depois que to-
das as couías forem ordena-
das, no Concilio dos Sacer-
dotes fe proponha cm toda a
maneira .que a
ha d
lade vir emca^
Pafch
da h
oa
luc
um anno.
fe declare pello Bifpo Metro-
politano, a quantos dias do
mes , & a quantos de Lua íc
ha de celebrar, o qual dia os
mais Biípos , ou Sacerdo-
tes notarão no Kalendario,
& vindo o dia do Nacimento
do Senhor eílando o pouo
prefentc o denunciara cada
hú em fua Igreja depois de fe
dizer o Euangelho.E no prin-
cipio da Quareíma ajuntan-
doíc as freigueílas vizinhas
por três dias , & correndo as
Igrejas dos Santos cantando
pfalmos,celebrê Ladainhas :&
ao terceiro dia,ditas asmiflas à
hora nona,ou decima, & del-
pedindo o pouo,fe lhe enco-
mende a guarda dos iej uns da
Quarcfraa,&: meada ella, lhe
lembrem, que vinte dias an-
tes oíFercção à purificação
dos exorcifníos os mininos,
qucfc ouuerem de bautizar.
IO Aprouue, que por quã-
to pello defatino de hum er-
ro introduzido ha pouco, ou
E4
por
56
(Capitulo XI.
I
por ventura pcUa corrupta
podricíáo aincía da antigua hc-
regia de Prifcilliano , loube-
mos que alguns Sacerdotes
pcrlcucráo no atreuimento
deíla p reíunçáo_,ouíando ce-
lebrar miílas pcllos defuntos
depois de tcré bebido vinho,
& feita collação. Por tanto
iílole guarde com amoefta-
çáo de íentença publica, òc
euidentc, que íe algum Sacer-
dote depoisdeíie noíTo cdí<íto
for comprendido mais ne-
ítc dcfatino de cÕfagrar obla-
ção no altar, não elfando em
icj um, mas tendo comido al-
gíjacouíâ, íeja logo priuado
de feu oíficio , òc depoílo das
ordens por feu próprio Bif-
po.
1 1 Ordenadas afsy eftas cou-
íàs , aprouue a todos pêra
cõíirmacão da guarda delias .
que cada hú as aílinaíle por
íua mão , feito entre todos
eftc acordo, quefealgu pafla-
dooshmites deites capitulos
fe quizer tornar aos coJf umes
defordenados^alem de encor-
rer em excomunhão de todo
o Concilio, faiba que tem fo-
breíy verdadeira fentençade
priuação de fua dignidade.
Martinho Bifpo da Igreja
Metropolitana de Braga, foer
ícreiíi nelles ados.
Remiíol, Bifpo da Igreja
de Vifeu , íoeícreui neíles a-
d:os.
Luccncio Bifpo da Igreja
de Coimbra, íoefcreui nelf es
awlos.
Adorio Bifpo da Igreja da
Idanha, íoeícreui nçrtesaétos.
Shrdinario , Bifpo da Igre-
ja de Lamego, foefcreui neftc
Concilio.
Viator, Bifpo da Igreja de
Magalona , íoefcreui neíles
aótos.
Nitigio, Bifpo Metropo-
litano dalgreja de Lugo, foef-
creuineftes a<5los.
André , Bifpo da Igreja de
Iria, foeícreui neíles aólos.
Auila, Bifpo dalgreja de
Tui, íoeícreui neíles aâios.
Pulento_, Biípo da Igreja
de Aftorga , foeícreui neíles
aólos.
Mayloc.Bifpo da Igreja de
Britonia , íoefcreui neíles
aólos.
I
CAPI-
Concílios que (è celebrarão emBrag/t->.
37
CAPITVLO. XII.
QVARTO CO N cílio
Bracharenfe.
QVARTO
Concilio de
Braga jfe ce-
lebrou fen-
do Rey de
Heípanha Vuamba no anno
deChriílo Ó75. cento &: três
annos depois doCócilio atraz
referido. Gouernaua então e-
rta Igreja o Arcebiípo Lcode-
cilioluliano, que nelle prelí-
dio. As rezoés,que ouue pêra
fe c5gregar/oráo faber ElRey
a necefs idade , que auia de re-
formação em alguns abufos
prejudiciaes ao elíado da Igre-
ja,a que quis acodir dando or-
dem que íe celebra ífe elteCõ-
cílio , em que íe tratarão ma-
térias de grande importância^
como fe pode ver do tranfun
todelle^queaqui lançamos.
Foy Nacional vifto alfiílir
nclle o Arcebiípo de Seuilha
luliano.
Terceiro ConcilioBracha-
renfe ( por tal era tido antes
de fe achar o primeiro/endo o
quarto ) celebrado ao quarto
anno dei Rey Vuamba^no an
no de Chriílo feiícétos & fe-
tenta & hnco.
Por ordê do Spíríto San-
to foy ajuntamos na Cidade
de Braea onde nos concrrcíia-
mos pêra auer de tratar áàs
coufas que indeuidamente íe
fazem dentro na Igreja; por-
que ajudandonos aquelle q
diz fe achara no mco dedous,
ou três j onde quer queforé
jíítos em íeu nome^cortemos
pella raiz os erros mal intro-
duzidos, leuantandonos c5-
tra elles com animo confor-
memos igual deíejo de apro-
ueirar . Ajuntandonos pois
em hum corpo pêra determi-
nação Synodal , &r aílentado
ca4^iial no lugar q lhe era de
uido, começamos primeiro a
tratar do Sacramento da San-
ta Fè , porque com a vaida-
de dos que difputao , ou com
a ignorância dos que pouco
fabcm, fenão tiueíle alçTum
erro neife Sacramento. E co-
mo nos apuraílemos na ver-
dadeira Fè, & nella como eni
eípelho nos moíf rallcmos pu
ros; demos graças ao Omni-
potente Deos de ver , que a
nenhú de nós efcurecera a nc-
uoa de algum erro cifmaticói
mas
Capttdo XII.
mas a to Jos nos moílrou idó-
neos nelte Sncramento a pii-
ra^c verdadeira pregação A po-
ílolica: ^ cambe porque eíla
reera de noíla Fè, a tornamos
^c ■ ■
arcrerircom as próprias pa-
lauras , ^ fenccnças queíabc-
mos , foi declarada no Con-
cilio Niceno. Cremos emhú
Deos Padre todo podcrofo,
feitor do Cco, òc da terra , &
criador das coufas vifiucis, &
inuifiucis, &em hú Senhor
I E S V Chrirto Filho dcDcos
Vnigenito, nacido do Padre,
antes de todos os tempos,
Deos de Deos, lume de lume,
Dcos verdadeiro de Deos ver-
dadeiro, nacido , & não feito,
& omufion com o Padre , cõ-
ucm afabcr,da mcfma fuflan-
cia com o Padre, pello qual
faõ feitas todas as coufas que
ha no Ceo, & na terra, o qual
por amor de nôs , & de noíTa
falua ção deceo dos Ceos , &
encarnou do Spirito S.& na-
ceo deMaria Virgé,& feiío ho
mê padeceo fo poder dePõcio
Pilato, foi fcpultado,& rcfur-
gio ao terceiro dia : fubio aos
Ccos,aílenroufeàmáo direita
de Dieos Padre : outra vez ha
devir julgar viuos, & mor-
tos,cu jo Reyno não terá fim.
Cremos também no Spirito
Santo Senhor^ &c viuificador,
q procede doPay,& doFilho,
&: cõ o Pay , & Filho íe ha de
adorar,& gloriíicar,que falou
pcllos Profetas j & húa íanta
Igreja Catholica , & Apollo-
lica,confcíramos hum bautif-
moperaremiílaõ dos pecca-
dos , cípcramos a refurreição
dos mortos, & a vida do mil-
do, quehadevir.Amen. De-
pois do Sacramêto defta San-
ta Fe, íc refirio no ajíítamen-
to de todos nòs hum mani-
fefto , & juntamente deíaco-
ftumado erro , que ja có ou-
tros da feita dePriícilliano foi
condenado nas fantas confti-
tuiçoés mandadas pellos Pa-
dres de Africa, òc Oriente a
cfta fanta Igreja de Braga,por
mão de hum vcnerauel Sacer-
dote, cuja lembrança nos fer-
ue de honroía benção, o qual
fe deue atalhar com tanto ar-
tificio de íabedoria, quanta he
a preuerfidade cõ que íe pro-
ua fer eníínado : porq de cer-
tas pellbas nos foi refirido , q
offerecião nos facrificios do
Senhor leite em lugar de vi-
nho , & que tinhão perafy
auerfe de dar ao pouoa Eu-
chariília lançada no vinho,
pêra inteireza da comunhão,
& o peor de tudo he,que não
fal-
Concílios que fè celebrarão emBraga^.
59
hltão aigús Sacerdotes, que
põem luas iguarias nos valos
do Senhor , ^ ouzão de co-
mer nelles. De outros Sacer-
dotes le nos diile , que eíque-
cida a ordem do collume Ec-
cleliaílico ouzão dizer milla
íem Eílóla , & c]ue na foleni-
dade dos martyres lançando
relíquias ao pclcoço,& allen-
tados em cadeiras tem pêra
ly_,quchc jufto íeré leuados
não menos, que pellos Diáco-
nos reueftidos em aluas ; &
também , que muitos Sacer-
dotes íem approuação mo-
ráo com molheresj & queal-
gus delles oprimem a íeus ir-
mãos honrados jacom grãos
de ordens com açoutes in-
conííderados, & que alem di-
ílo alguns leuados da cobiça
íimoniaca approuao debai-
xo de concerto aqucllcs que
íchão de ordenar, pêra que
depois de ordenados recebão
delles o dinheiro prometido-,
& quedebilitãOj & deminue
os criados da Igreja em leu
próprio feruiço faz êdo dano
ascoufas Eccleííafticas. To-
das as quaiscoufas jnos pare-
ceo ajuntar em ordem de tí-
tulos apartados , porque não
pareçáo referidas confufa—
mente;: •J!;í:í,;^^o:)!';iííí
I Como quer que todo o
crime, Sc peccado íe apague
com íacriHcios oflerecidosa
Deos , que fica pêra fe dar ao
Senhor em íatisfaçlo de deli-
ólos quando na própria obla-
ção do facrificio íe cometem
erros? Fomos informados cõ
certeza,quealgúas peílbas en-
golfadas em ambição climá-
tica ofterecem nos diuinos fa-
crifícios leite em lugar de vi-
nho cõtra as Difpoíiçoés Di-
uinas,& Conítituiçoés Apo-
ílolicasj outras, que dão ao
pouo a Euchariftia lançada
em vinho em' comprimento
da comunhão-, outras final-
mente, que oíFerecèm vinho
efprimido da vua no oSacra--
mento do Caliz do Sen hor,
a qual coufa quam contraria
íeja à doutrina Euangelica, Òc
Apoftolica , & contrapofta
aocoltumeda Igreja com fa-
cilidade fe proua da própria
fonte da verdade,da qual pro-
cederão os próprios myíle-
rios Sacramentaes , porque
quando o Meftre dg verdade
encomendou afeus dicipulos
o verdadeiro facrificio d^ nof-
fa íaude,{àt)emos que lhe não
foi encomendado leite debai-
xo deíle Sacraméto mas pão,
& vinho fomente \ & afsy õ
dl
iz
r
6o
Capitulo XIL
o diz a verdade Euangelica.
Tomou lESVS o páo ^ & o
Caliz,& bêzédoosdcuaícus
dicipulos.Deíxclc logo de of-
ferccer leite no íacriHcio pois
nos rcfplandece hu claro , ôc
manifello exemplo da verda-
de Euangelica, o qual não dei-
xa otíerecer outra coufafòra
de pao,& vinho. E quanto a
íc dar ao pouo por inteireza
da comunhão a Euchariília
junto ao Sangue:nem iílo ad-
mite o teftimunho trazido
do EuangelhOjOnde encomê-
dou aos A poftolos , íeu Cor-
po , ^ Sangue , porque apar-
tadamente fc faz menção da
encomenda do pão , & apar-
tadamente do Caliz. Porque
o pão molhado não lemos
que Chrifto o ácííc a outros,
íe não foi àquelle dicipulo , a
quemafopa molhada decla-
raíle por vendedor de feuMe-
ftre, fcm moftrar todauiaa
inrtituição deite Sacramento.
E quanto a fecõmugar o po-
uo com vinho efprimido do
cacho, conuem a íàber,de ba-
gos de vuas , hc coufa dema-
íiadamcnte confu farporque o
Caliz do Senhor f conforme
difputa hum certo Doutçr)
dcueíe olTerccer com aeoa, &C
vinho miíl:urado_,porque ve-
mos na agoa cntédcríe o po-
uo , & no vinho moiliraríeo
Sangue de Chriilo, por onde
quando no Caliz íe laça agoa
no vinho , fc ajunta o pouo a
Chriílo,^^ o pouo dos fieis k
ajunta , & incorpora com
aquelle em qué crè . A qual
incorporação, & ajuntamen-
to da agoa,&vinho de tal mo
do fc miftura no Caliz do Se-
nhor , que aquella miftura íe
não podefeparar, por onde
íc alguém ofícrecer vinho íò-
mente, começa o Sangue de
Chrifto a eítar fem nòs : &í íc
a agoa eftiucr fò , começa a e-
Ibr fem Chrifto . Pclloquc
quando fc oíFerece o cacho
fomente, no qual íe moftraó
fò os clíeitos de vinho,fc paí-
fa por alto o Sacramento de
noílâ redenção íinificadona
agoa : por onde não pode o
Caliz do Senhor fer agoa por
ílfò,ou vinho apartado, fc
hum^&outro fe não miftura.
E porque delia matéria pro-
cederão ja muitas,&muy no-
taucis fentcnças de noílbs an-
tepaííados, cujareligiofa pie-
dade pêra com Deos nos
enfinou os copiofos cfTcitos
deites Sacramentos , & nos
declarou fuás verdadeiras ia-
ft:ituiçoés,cõucm que todo o
erro.
Concílios quefc celebrarão em Braga^,
6i
erro, & prcfunção ícmelhan-
te ccílc daqui cm diante,
porque a delordcnada vniao
dos mãos não enfraqueça
oeílado da verdade.Por tan-
to não feja defte tempo cm
diante licito a peííoa algúa
oíFcreccr outra coufa nos di-
uinos facriíicios fe não ior
pão íòmcnrc , & o Caliz mi-
ílurado com vinho Sc a-
goa , conforme ao decreto
dos Concilios antiguos : &c
fazendo alguém daqui cm
diante fora daquilio queeíH
mandado ceiTarà de facriíícar
tanto tempo , ate que emen-
dado com legitima íatisfação
de penitencia torne ao offi-
cio de fua dignidade, que per-
deo.
z Dcucfe prouer com to-
da a diligencia &c cuidado_,que
aquelles,a cujo cargo parece
cííar o lugar do goucrno,não
fejãoviilos fazer afronta aos
celeíliacs Sacramentos , por-
que nos foi dito f coufa que
he horriucl de ouuir , & a-
bominaucl de crer) que al-
guns Sacerdotes leuados de
facrilega temeridade tomao
osvafos do Senhor pêra fcu
próprio fcraiço , & põem
nelles as iguarias cm feus ban-
quetes , da qual maldade ad-
mirados choramos , t\: cho-
rando paímamos de ver que
a humana temeridade prepa-
re pêra íy mefmaconuire na-
quelles vsfos_,emque fabc ter
inuocado o Spinto Santo ,
ôc depois de farta coma gui-
íados de carne no me imo lu-
gar em que foi viíla cele-
brar os diuinos myíícrios,
& naquelles meímos vafos
em queíòmcntc offereceo os
Sacramentos por perdão de
feus peccadoSjnaqucUcs mcf-
mos íàtisfaça a vontade de
feu paflàtempo . E por tan-
to a peíToa que daqui em
diante ffDr de tal prefunção,
que conhetendo os diuinos
vafos , & o vfo deíies,os mu-
dar aíeu próprio fcruiço , ou
os tomar pêra comer, ou be-
ber nelles, fera condenado em
priuação do grão , ou oftício
que tiuer de tal modo que
fendo fecular fique íogeitoa
perpetua excomunhão , &
íendo Religiofo , fique de-
pofto de feu oíício . E de-
baixo dcfta fcntença de con-
denação fc comprenderão
também aquelles , que íà—
bendoo tomarem pcra feus
vfos próprios os ornamentos
Ecclelíall:icos,vèos, ou quacf-
quer veí}imetas,&: alfayas,oa
F
62
Capitulo XII.
as entregarem a outrem pê-
ra ferem dadas , ou vendi-
das.
3 Porque fabcmosfcr man-
dado jpor antiguainílituição
da Igreja, que a todo o Saccr-
dotc,quando he ordenado , íc
lhe cinjão ambos os hombros
com a Ellòla,pcraque aqucllc,
a quem íe manda eltar í^m te-
mor entre as coufas profpe-
ras, & aduerfas^apparcça ícm-
pre cercado cm hú, doutro
hombro com ornamento de
virtude. Porque rezão pois
não toma ao tempo de facri-
ficar aquillo,quc não duuida
ter recebido no Sacramento
de fua ordem? Pelioque con-
ucmem toda a maneira, que
aquiilo que foi dado a ,cada
hum na confagração da hon-
ra , iíTo mefmo conferue na
oblação, ou recebimento de
fua faude, de tal modo , que
quando o Sacerdote, fe chega
a f olennidadc da miira,ou pê-
ra ofFcreccr facriíício a Dcos
por fy mefmo , ou pêra rece-
ber o Sacramento do Corpo,
& Sangue de Noífo Senhor
lESV Chriílo, não chegue de
outro niodo,que com a Eftò-
la pofta fobrc ambos os hom-
bros damaneira que foi con-
fagrado ao tempo que lhe de-
rão ordens,de tal maneira, q
apertado o pefcoço por cima
doshõbroscòa Eílòla venha
a fazer diante dos peitos o íí-
nalda cruz com ella, &c fe al-
guém fizer outra cofa, fique
íogeito a pena de excomu-
nhão merecida.
4 Aindaquc a antigua infti-
tuiçáo dos Cânones ordenaílc
muitos preceitos, & rcfolutas
conlUtuiçoés fobre atreuimc
to femelhãtc, nos todauia pôr
breuidade , & defejando tirar
toda a ocaílão de fornicação
determinamos cõ toda a au-
toridade, que fe guarde o fe-
guinte. Que nenhum Sacer-
dote , ou peílba Ecclelíaftica,
fem honcílo, & competente
teftimunho prefuma tratar
fecreramentecom quacfquer
molhcreSjfc não for com fua
própria may íòmcnte. E não
íò deixe de tratar com mo-
Iheres eftranhas,mas com fuás
próprias irmãs , & paren-
tas, porque libertado ellc com
a licença das irmãs , & paren-
tas fe não faça intrometido
pêra cometer a maldade: &
o tranrgreíTor defte preceito
faiba que ficará fogeito às leys
das penitencias por efpaço de
féis mefes.
^ Pois hc coufa proueitofa
pêra
Concilios quefe celebrarão em Bragd-.',
63
pêra os Sacerdotes tratarem
os myllerios diuinosj toda
via íe hà de cèr grande reío;uar
do, que ná torça cada núem
vzo de lua maldade própria,
aquiUocomquedeueru con-
tentar fò a Deos, mediante a
pureza de lua conciencia^por-
queeltà eícrito.Ay daquelles
que fazem a obra do Senhor
cnganofa, <Sjtibiamente.Pel-
loque Tendo referida em nof-
íb aj unramento , pêra effeito
de lhe dar remédio à deteíta-
uel prefunção de vilgus Bií-
pos^íoubcmos como alguns
dellcs quando hao de ir à
Igreja lançao as rcliquias ao
pcicoço nas íolênidades dos
martyres, pêra com a gloria
de mayor apparato , fc enfo-
berbcccrem diante dos ho--
mens , & ferdtft leuados , cm
certas cadeiras por Diáconos
reuelHdos em aluas , como
fe cllcs foliem arca das fa^ra-
das rcliquias. A qual preiun-
cão detcílauel, deue ler dero-
gada cm tudo , porque não
Ipreualcça íòmente a vaidade
disfarçada com appareciade
fantidade, fe o rcfpeito de ca-
da eftado não conhecer o
modo,qiic lhe hedeuido. Por
tanto fe guardara nefte par-
ticular o antiguo _, t\. foienne
collumc, que em quaelqucr
dias de feíla leuem íobre ícus
hombros a arca do Senhor,
não os Biípos,fcnão os Lcui-
tas,aos quacs fabemos, que
na ley velha foi encomenda-
da a meíhia obrigação. Mas
leoBilpo quizericuar por li"
melmo as relíquias , não ícja
elle leéíado cm cadeira pcílos
Diáconos , mas a pè cm com-
panhia da prociílaodopouo,
que vay aos aj untamentos, q
íe coílumão fazer nas lantas
Igrejas , & dcfte modo lerão
as rchquas do Senhor leuadas
pello mefmo Bifpord: quem
fabédoclfesinftitutos dilatar
a execuçãojcm quanto viucr
no cargo fcrà fufpcnfo da ad-
miniftração do Sacramento
do altar.
C Como quer que o Apo-
ftolo mande arguir,rogar , &
increpar com toda a paciécia,
foubcmos como alguns de
nolTos irmãos, deixada cif a
doutrina, fcagallão contra os
qja faó ordenados, &: os mal
tratão cõ tantos açoutes,quã-
tos poderão merecer faíteado
res de caminhos; por tanto a-
quelles, q ja merecerão grãos
Ecclcílafticos, como íaó os
Sacerdotes , Abbades,& Diá-
conos, quefòn das srraues
F X
OL
••cweavr^viMa
64
Capitulo XII.
1 6c raorraes culpas, mo dc-
uem fcr fo^eitos a caftií^o de
açoutes, naohccoiiLienicn-
cc , que qualquer Prelado a
cada paíTo, &í conforme a
ícu golloj & vontade osfo-
gcite a dor , Ã: caftigo de a-
çoutcs , lendo ellcs os feus
inais honrados mêbros, por-
que não aconteça , que fe-
rindo elle os membros j que
lhe faõ logeitcs perca a rcue-
récia, que lhe deuem feus fub-
ditoSjConformeaquilIo, que
hum certo Sábio diíle; O que
hecaífigado brandamente té
reípeito a quem o caftiga , &
a reprcnfaõ de aípercza de—
maííada, nem admite correi-
ção , nem emenda . Por
tanto íe alçucm leuado fò
de malícia voluntária , &
enfobcrbccido com a licen-
ça da dignidade que tem,
imaginar que deuem fer ca-
lligados fora defte modo,
que temos ordenado os fo-
brcditos fubditos honrados
ja com ordens , conforme
ao modo dos açoutes,que lhe
der, fera caíligado com pena
de cxc5munha5,&: deílerro.
7. Porque naõ conuem,
que o Dom do Spirito San-
to fc compre com dinheiro,
porto que fobre cfla mate—
'■> que
rao de Sa-
ria aja dmcrlos documen-
tos dos Cânones anticjuos,
toda via, porque he nccefla-
rio , que íe atalhe mais ve-
zes àquillo que ícm ceifar íe
comete :*por ranto,inlf ituin-
dohíía forma de noua coníli-
tuição ordenamos
quem por dar
cerdote a qualquer peílca q
feja, aceitar dadiua algúa , ou
promeíías delia, aííi antes co-
mo depois de íer ordenada,
& confentir de. algum mo-
do fer peitado por cíle reí-
peito , ou feja aqucllc que
deu , ou o que recebco, íerá
priuado de fcu grão confor-
me à fentença do Concilio
de Calccdonia.
8 Não conuem aos Rei-
tores das Igrejas fer diligen-
tes na admini1[?ração de íuas
coufas , &c remiUbs nas da
Igreja . Porque fe diz que
alguns Sacerdotes defbara-^
tão os criados da Igreja em
feu próprio feruiço, acrecen-
tando o proueito da fazen-
da própria , & continuando a
deífruição das couías deDeos.
Por onde quem com eíta
negligencia dilatar o melho-
ramento das couías diuinas,
feja obrigado com particu-
lar preceito, peraque íendo
calo.
Concílios que Çe celebrarão eyn BragO-..
65
caio , que com as coufas , &
rendas da Igreja acrecentaíle
proueico a íua tazeiída pró-
pria , ôc ouuefle com ifto ne-
gligencia, em melhorar os
bens Eccleriarticos,& Ihecau-
faíle diminuição , & perda,
reftiCLia à Igreja tudo o que
lhe diminuyo em ícus bens^
a cuja cuil:a,*?v: dclpeza fc lhe
prouar cêr acrecencado fua fa-
zenda. E fepor ventura ga-
itou algiJa couía doíeupelio
proueico,& fuftanciada Igre-
ja, & recebeo algua perda,
ou fez algúa defpeza, que cla-
ramente íe prôue, fe lhe recõ-
pêíe tudo da fazenda da meí-
•malgrcja , por cujo proueito
^e proua , que fez as taes áçÇ-
pezas.
9 Com ifto damos gra-
ças ao Omnipotente Deosj
depois rogamos pella paz,
íaude , & muitos annos de
vida "do« piadolííTntio Rey
Vuamba amador de Chri-
íloNoílb Senhor, cuja de-
uaçãonos ajuntou nell:e ía-
lutifero Concilio , rogando u
clemência diuina , que a glo-
ria de Chrifto confirme feu
Rcinoatéa vltimavelhice, &
no lo" conceda" áquclléDeõs,
que com o Padre ^ & Spirito
Santo , yiue, e tem gloria pê-
ra íempre dos ícmprcs. A-
mcn.
LedigioBifpo em nome de
Chrill:o loeícreueo.
luliano cm nome de Chri-
fto, Biipo de Seuilha fcefcre-
ueo.
Genitino em nome de Chri-
fto Bifpo da Igreja de Tui
íoefcreueo.
Froarico por vontade de
Deos , Biípo da Igreja de Bri-
tonia ioeícreueo.
Ifidoro Bifpo da Igreja de
Aftorga foefcreueo.
Aíario Bifpo da Igreja de
Orenfe confirmo.
Retogero Bifpo da Igreja
dcLugo íoefcreueo.
Hidulfo por íobrenome
Félix Bifpo da Igreja de Iria
íoeícreui.
Atê qui o quarto Conci-
lio Bracharenfe.
■**í>¥
t
F3
CAl'í-
66
Capitulo XIII.
CAPITVLO XIII.
CELEBRASEO
quinto Concilio de Braga.
QVÍNTO
Cócilio En-
chareníe le a-
júcou no an-
uo de 1^66.
fendo Arcebilpo defta Igreja
o fancillimo ^ Ôc doutillimo
varáo Dó frey Earcholomcu
dos Marcyres, gonernando o
Reino de Portugal a Rainha
dona Cacherina na menor
idade delRey DomSebaftião
feu neto. Abriofe em oito de
Setembro dia do Nacimento
de Noíla Senhora. AíTiftiráo
ncUe trcsBiípos íulíragancos^
Dom loáo Soares, de Coim-
bra.-Dom Rodrigo Pinheiro,
do Porto: Dom António Pi-
nheiro , de Miranda; todos
peíloas eminentes cm letras.
Faltou o Biípo de Vifeu por
eftar aquella Igreja neíla con-
iuncão fem Partor. Fizerãofe
Conllituiçoés , & Decretos
muy bem ordenados^ fegun-
do pedia o tempo,&: o ellado
dascoufas. Durou ajunta íc-
te mcfes , & veo a fe publicar
o Concilio ao primeiro de
Abril do anno feguinte de
mil & quinhentos ôc fefenta
&c íete. Foy apreícntado em
Roma ao Papa Pio V. ôc vi-
fto por autoridade Apoftoli-
ca : efti imprcflb em liuro
particular,que anda nas mãos
de todos.
HSSSS
VIDA
6/
',í^^
VIDA
DE S. PEDRO
DE RATES.
PRIMEIRO ARCEBISPO DE BRAGA,
Primas das Hefpanhas.
C A P I T V L O XIIII.
Trèga neíla a ley 6mngelica,çf funda^
a Igreja de ^raga^.
liftaS.Ioao. Falaó difcorde^
i,v;í>' '\\\\\\\\\\\\\\\\<\\\\m\f
O I dc todas
as Prouincias
do mundo
( iião falando
cm Palelli-
na) a primeira que recebco a
luz do Euangelno cfta nofla
de Herpanha^anticipandofe a
todas as outras naFè,cm pro-
noftico da muita vantagem^
qyc lhe faria no zelo de a prè-
gar,& dilatar. Teue por mc-
ftre , & pregador defta fua fe-
licidade^ ao grande Apollolo
Santiago, irmão do Euange-
osautores no anno dcíua vin-
da a Helpanha. Parece mais
prouauellançala no de 57. da
Encurnaçio de Chrifto,& vi-
timo do Império de Tibério
Cefar jCm que a põem Flauio
Dextro. Defembarcou o fa-
grado Apoftolo neíla coíia
do mar,quc corre do Douro
aciGallizaj&em Braga co-
meçou a dar principio a fua
pregação; porque aly era bem
fe cmpregaíTe primeiro íeu
zelo , Sc gcneroíídade, a onde
Dex. in
fhron.an
Cn.ufíi
56.
Paãã. r*
hifl. Ec
if cet^
F4
mais
6S
Qapitulo XÍIIL
6
00-
mais reinaua a Idolatria,«Sí aí-
lilliáo os Archiflamines, ou
Sacerdotes maiores daGenti-
lidade. Era neíle tempo Bra-
ga cidade illurt:re,& Conuen-
to luridico dos Romanos a
que acudiãoas caufas ciucis,
& crimes de muitas cidades
6c pouos , em tudo accomo-
dada pcra iiclía fe fundar a pri-
meira ^ & principal Igreja de
Heípanha.
t Entrou em Bríi^a o Santo
Apoíl:olo_,^ pêra entrar com
eftrõdo detrouao ( cujo filho
o chamara Chrifto Noílb Se-
nhor) fc foi a húafepultura
celebre , onde jazia encc-rrodo
de feiícentos annos hú Santo
Profeta ludcu de nação, &
que aly viera dar com outros
catiuos mandados de Baby-
lonia porNabuchodonofor,
chamado Malaclífas o velho,
ouSamuel o moço_,& em pre-
fença de infinito pouo, cha-
mado por clleo refucitou^em
nome de lES V Chrifto, aqué
vinha pregar , & publicar
por verdadeiro Deos. Bauti-
zou o pouco depois, & dan-
dolhc nome de Pedro o eí-
colhco, &c tomou por pri-
meiro, &c principal de todos
feus dicipulos.
5 Ia fe deixa ver o efpanro.
& admiração, que nos âni-
mos de todos caufariajaquelle
prodigio-, rcfpeitauão , & ve-
nerauãoao Santo Apoílolo
como homem vindo do Ceoj
ouuiãoiio como a embaixa-
■ dor do Verdadeiro Deos ^ &
como a meílapeiro de tão ale-
grés nouas lhe entregauão
poraluiçaras fuás almas, pêra
que tirandoas das treuas da
gentilidade, lhes abrifie a luz
da Fe , & metefe no caminho
dafaluaç^o.
4 Conuerriãofc também
alguns dos Iudeus,de que auia
grande numero em Braga^aíli
pella riqueza, &í comercio da
Cidade, como por aly aíllílir
o deíembargo,onde fe deípa-
chauão as caufas de toda a
Prouincia. -
j" • De Btaga (deixando jàfci-
taBifpo delia a São Pedro) fe
foi o íàgrado Apoílolo a ou-
tras cidades de Hefpanha ,c5
o niefriío intento de nçllas
pregar o Euangclho; Em Ca-
ragoça edificou por mandado
da Virgem Senhora Noíla.
( que fendo ainda naquclle.
tempo viaalhe appareccq^a
fua primeira Igreja , quclioje
cl\arnão do Pilar , SaiK^iario
dos mais notaucis Áo múdo,e
de cuja fijdação,& progrefios
atè
S. Tedrode Rates.
6ç
ICí7í1.Aíl
eh, el eh
Bordaizs
FetrusCe
tiediis m-
UoHin.iH
\r'tscanon.
q.zzx.z
acecheganui
\ a i magcllacíe , em
que hoje a vcmos^hà grandes
volumes elcritos.
ó Viíitada jà a mor parre
àc Heípanha , & publicado
nclla o EuaiigellTO, voltou o
Santo ApoítoloaBragaa vi-
litar aquelles Chrillãos, pri-
mícias da Fe de Europa.
Achou os ainda fem Igreja,
cm que fe cclebraílcm os my-
llerios lacrados. Pêra lha con-
lagrarfpois a contradição dos
Gentios não daua lu^ar a ou-
tro mais publico ) accomo-
dou em forma de capella hía
coua junto a hum templo da
DeolallisjOndechamauáo os
BanhoSjC leuantando nella al-
tar com titulo da Virgem
Senhora Noílà,diíl'ealy mif-
ía aíliftindolhe feus dicipu-
los, aíli os que trouxera de
leruíalem , como alguns ,
que por Heípanha fe lhe ajii-
taráo,&: outros Chriílaos , q
fe puderão achar prcfentes .
Effafoia primeira fundação
da Cathedral de Braga, os pri-
meiros fundamêtos daquelle
templo , onde depois íè cria-
rão, òí íepultarão tantos lan-
tos , & elclarecidos varões:
efte o fegundo Santuário, que
na terra teue a Rainha dos An
jos, edificado pcllo Patrão,&"
o Paire
AJonlh
if«.íí de
Zarago
ca.
dcteníor de Heípanha.
7 Çntregou logo 6>ntiago
aquella noiía Igreja ao ieu
BiipoS. Pedro, & declaran-
doo pello primeiro, & prmci-
pal de toda Heípanha ^ o in-
líruyo moíírandclhe qi;aes
pelicas auia de ordenar Bií-
pos , com que ritos , ík cere-
monias adminiíbar os Sacra-
mentos , &c outras coufas , q
abaixo nos contara S. Atha-
naíío , & a carta do Bifpo do
Porto Hugo, onde com par-
ticularidade íe refere. Seguiofe
depois a partida do SãtoApo-
ftoío a leruíalem , por Fran-
,<ça,lnglaterra,<5<: outras terras
q hojcfaó de Venezeanos,on
de també pregou o Euange-
lho,embarcandofe em hú dos
Portos de Galliza , que então
fe chamaua Bri^antiú.ôc a^o-
ra parece fer o da Corunha.
Gaílou por Heípanha neíla
fua peregrinação quatro an-
nos ; veo no de 37. voltou no 1 -^^*'''''
de 41 . com grande ícním^en- i Carus
to dos filhos , que por eftas '^' ^"•^^
partes deixaua.Logo no anno'
feguinte de 41. íucedeo feu
marty rio fendo dcgollado por
ElRey Herodes na fefta da
Pafchoa. O dia de fua entrada
cmHefpanha/e fcíkjaua neí-
la, com particular fclênidade
corno
70
Qapiulo XJIII.
nas adJí-
Max.
Bift4f. An
Chujli
37-
Ca yo, tn
37-
como o cellifica Heleca Ar-
ccbiípo deCaragoça naqucl-
las palauras.iVíc?»í?nV? dicf^fe-
fius^ab ipfius in Hijpania in-
grejju Sanai lacohi Zehedd
Jilij cehbris habetur.
8 Da certeza delh vinda fò,
duuidáoosque não querem
pefar quanto monta húa tra-
dição continuada por tantos
feculos, & recebida por tan-
tas Igrejas , quantas íaõ as de
Hefpanha. FÍ7erão delia par-
ticulares tratados •, o Condc-
ftablede CaftcUa Ioa5 Fer-
nandez de Vellafco \ D5 loão
Eeltran de Gucuaia Arcebií-
po de Compoftcla- Frey Frã-
cifco de Xodar Carmelita ^
Dom Mauro Fcrrer Cailella-,
loão Mariana, & GafparSan-
chczda Companhia de leíus.
Biuar, & Caro : comenta-
dores dcDextro .aonde ie po-
dem ver os autores jque a dão
por certa.
CAPITVLO XV.
POEMSE O TESTI-
munho de Sc.to Athanafio
Bifpo de Caragoça,isf a car
tadoBifpodoPortoD. Hu-
go^emquefe confirma a que
timos dito.
NT RE os
theíouros, q
a malicia dos
tcmpoSj ou a
incúria de nof
fos antepaílados, nos tinbaef-
condidos , não tórao meno-
res huns fragmentos deaigúas
obras de SatoAthanaíIoBiípo
de Caragcça, ôcdicipulo de
Santiago,delcubertos La pou-
cos annos pello Padre Bartho-
lomeu André de Oliuençada
Companhia de lESVS lente
de Theologia no feu Collegio
de Alcalà, & Prouinciai de
Cerdenha^ naocafião que vi-
íítaua aquclia Prouincia-, aly
os achou em hua liuraria da
mefma Ilha, & depois em ou-
tra de Aragão , &c os comuni-
cou ao Padre leronymo Ro-
man de ia HÍ2:uera da mcfma
Com-
S. T^edro de Rates,
71
et
Catal.di
htjfos dí
í'»rto c
2:1. p.
Companhia, varáo bem vcrfa-
do cm toda aanciguidadcj do
qual depois vieráo às mãos do
Biípo frey Pnidcncio de San-
doual ^Chronilla de fuaMa-
gertadc, de Efcolano. D.Mau-
ro CaiUllafcrrcr,& de outros
que c5 grandes approuaçoés
os publicarão, como nos jà
cm outro lugar diílemos .
Os fragmentos dizéafsy.
t EgonouiSanãum Petrú,
primum Bracharenfem Epifco-
pum , quemantiqmm piophe-
tam fufcitauit Sanãus laco-
bus Zebedtei filius magifier
meus. Hic "venerat cum duode-
cim tribubus mifsis àNabuchO'
donofor in Hífpaniam Hierofo-
lymis, duce Nabucho-Cerdan,
<vel Pyrrho Hifpanorum pr^-
feão. Diãus eU hic Prophe-
Ta Samuel itimor , 'vel Mala-
chias fenior,propter mor ií gr a'
uitatem , i^ ^vultus pulcbritu-
dinem Vrupropheu filius. Fa-
ãus Epifcopus muitos lud^orú
adfidem conuertit dicensfe "Yt-
nijfe cum illorum maioribus^llf
pradicajfe trãfmigratis,obffJJe
"peró Viginti annis poU. adutn^
tum eorum inHiJpania. Hic yir
Apoftolicus , acceptis á Sanão
Jacobo Inflimtionibus Apoíio-
lieis ^^uangelio., Í!f ordine mif-
f^e , ae cehbratione Sacramen-
' torum j '))enit Bracharam^Epi-
íiola^ Jpcíiolico plenas Jbiritu
jcripfit ad Ecclefias/in quibus
Epif copos infiituit , 'vt Irien-
fem^ Amphilochenfem , Eminie-
fem , Portuenfcm , 'vbi Sanãú
Bajilium condijcipulum pofuit^
qui illiper martyrium fublato
jticcefsit infede Bracharenfi
Epitaciumin Tudenf. Ifii^i-
ri diuiniplane^j Apoíiolici^ in-
íiar Apo(hlorum non in ^vria
femper njrbe morabantur , fed
'vbi rapiehat illos Spiritus Sã-
ãusferebantur,'Ví Epttacius^
qui nonfolum in Tudenfidiace^
Ji,fed in 'vrbe Lufitani^eAnt'
bracia pradicauit : quijignis,
i^ ijarietate linguarum jpra^
dicationem illujirabant '. nec
fali ibant pradicatumjedmul-
tis difcipulis comitati^'Ut fecit
Chriftus, Petrus , lacobus , ^
Apofioli cxteri. Vai em Por-
tuguês. £« conheci a São Pedro
B^o de Braga j a quem ofendo
hum dos Profetas antiguos^rc'
fucitou Santiago , filho do Ze-
bedeu, meu mefire. EUe tinha
<vindo com as do%^ tribus , qut
de lerufale madara Nabucho-
donofor aHeJ]panha, fendo capi
tão Nabucho-Cerdam, ouPyr-^
rho prefeito dos Hefpanhoes.
Chamoufe efi;e Profeta Sa-'
muel o moço , ou Malachias
CPe-
72
CapiVdlo XV.
o -velho pella grauidade de
jíUs cojlumes , l^ fermcfnra
de feu rojlo. Foi filho de Vrias
Profeta. Feito Bifpo comterteo
muitos ludeus á Fé dic^ndo,
que elle Viera comfeus antecef-
fores , Í!f lhesprègara,tf mor-
rerauinte annos depois de che-
garem a Hefpanba . Esie ija-
rão Apojlolico , recebendo de
Santiago as inTiituicots Apo-
flolicasy o Euangelho , is^ orde
de celebrar mifa , tf os mais
Sacramentos ^yeo a Braga j ef-
creueo muitas cartas cheas de
Jpirito ApoUolico dsJgrej.ts,
em^posBiJj)os]Ccmoforao Iria,
Amphilochia , Eminio , ^ o
Porto : onde pos a Sâo Baflio
feu dicipulo , o qual depois dt
feu martyrio lhe fucedeo em
Braga Jjf pos em Tui a Epita-
cio. Esles Varões diuinos ., ^
<uerdaddramente Apoftolicos^
nao [e d&ixauaofempre eUar em
bu lugar , mas á imitação dos
Apojlolos difcorriao por todos
aquelles onde os leuauao S pi-
rita Santo: como Epitacio , que
nao fá pregou em Tui , fenao
também em Ambracia , cidade
de Lujitania : illujlrando todos
fua pregação com milagres , ijf
variedade de línguas. Ntelles
fahi^to fés a pregar o Euagelho,
mas leuauao cofgo muitos dicipu
los.d imitach de Chrisio. SaS
Pedro,Santiago,i:f,m4Í<s Apo-
ftoíos. '
3 QMaes fejão as cidades cie
que ncltcs fragmentos fçfaz
menção j he ccico,c|ue Iria
fecíiama hojeo lu£çar do Pa-
drão cmGaliizajBifpado muy
antiguo_,que ícpafiou aCom-
poftèla depois que íe acharão
as relíquias do glorioío Apo-
ítol o Santiago. Aniphilocliia
fe chama Oreníe, cidade Epif-
copal no Reino de GaUiza;
foy edificada por hum capi-
tão Grego chamado Amphi-
loco, que lhe deu o nome-,de-
pois de perder eftc conferuoii
ode Orenfe, que hoje tem.
Eminio he a viila de Águeda
no Bifpado de Coimbra, cida-
de antiguamcnte Epifcopal,
como adiante diremos-,o Por-
to cõferua hoje o meímiO no-
me, & grandeza. Ambracia^
onde foi pregar Santo Epita-
cio , o Bifpo Sandoual a íàz
Plafencia , dentro da qual ain-
da hoje dura certa torre cha-
mada , Torre de Ambros, íun-
dação de Gregos , em memo-
ria de outra Ambracia de Gre-
cia^agora Larta^ãc que fazem
menção Ptolomeo, Strabam,
& Phnio.
4 A carta de Hugo , qucfe
li.
Sãj Tedro de ^R^tes.
7i
; an. Chrif
ti
> )■
tn cems^
ad Dcx.\
íeí^ue deícobrioo Leccccado
Gâípar Aiuarcz Louíada no
Cartório de S. Cruz de Coim-
bra é hú liaro antigiio de pcr-
íjaminho de letra «^Totica.iura-
métecõaChronica de SãPiro:
tralairei Francifco de Bjuar
entre os elogios deFlauio Dex
rro,&:faz delia méção na pri-
meira apologia peílo meímo
Dextro, & em outros lu^a-
res. Diz afsy Hugo, referindo
as palauras deCaledonio.
j S . Petriis ciuis Br achar e-
fis^quilif Samuel diólns, a Sa-
cio lacobo loannis fratre ^ Ze-
bedccifiliofufcitatusjn Epifco-
píiBracharcfcm cófecratus cí/,
Í5f ab eo mij^iis muitos ibi eius
generis ex tribubus difperfisjj'
ghiles couertit. Inde digrejfus,
Tyde, Mce^ predicai:, i^ per
tota marítima ora adpromonto
riú'ufij^ Cynthiú,fiue et Vlyjeú.
Infiituitquè ex difcipulis fui
magiflri^ quosfecú adduxerat,
Epifcopos Portucale , Eminio,
ConimbriC'e,Vlyfipone,Í!fvltra
N er eu promotor iú, ai ws: i!f ad
eius exepiú,non in yna tantum
Ciuitate cómorabatur ^fed ^lo
Jidei, mediterrânea citra,Í5^''ul
tra Tagú,populof(j^/ibi cómif-
fos ambieSyEgitani.ejCa lletiíC,
Emérita, Ambraciee^i^f inalijs
Fethnú,^ Ltétanorú urbibus
yerbii Der dijieminat^^ tr^fa-
610 ad Panonias Durwjn B ra-
charam Jugujlam redijt.Qum-
decim menfibus •'vix fere ehrpfs
eius magifier lace bus ad C^-
farauguíiam ecdicidam excita-
rat in honorem Deipar^e Vir-
ginis , creatOíjj inibi Athana-
JíQ, dijcefsit , (f Bracharã ije-
nit, 'ubifacrat eidem Domina
cumPioHiJpalenJi ,1^" Elpidio
Toletano Epifcopis, iff alijsex
primis eius difcipulis aliam
^diculam in quadam crypta
prope Balnea iuxta tcmplum
ab Aigyptíjs Jfidi quondam di-
catum , Í5^ inde Brigantia na-
icim tranfcendcns m Britania
appulit^ reliSlo Brachar^e Sane
to Petro eius Vicário , i^ pri-
mário inter alws , quos facra-
rat in Hijpania, Epf copos.
Sao Pedro cidadíio de Bra-
ga,o qual tíibemfe chamou Sa-
muel^refucitado por Santiago
filho do Zebedeojrmao de lor.o,
foi confagrado Bijpo de Braga-,
CQuerteo muitos ludeus dasTri
bus q andauão efpalhadas,e mui
tosGetios. Partio daly a pre-
gar a Tui^ e aoPadrao/por to-
da a cofia do mar ate o cabo de
S.Viccte,ou deLishoa.Dos dici
pulos defeu mesire,q cofigo leua
uafirdenoualgúsBifpos, no Por-
to,Agueda,Coinibra,l!fLif boa,
G &
74
Capitulo XV.
Isf outros alem do cabo de Fini-
Herra^ imitando a [eu mestre
naofedeixaua eflar em híiajò
cidade , antes com o ^elo da Fè
correndo todos os lucrares do
fertao^ àquem^ i^ Mc do Tejo^
if uijitando os pouos que lhe
for ao entregues , femeou apa-
laura de Deos na Idanha , em
Calencia ^ Merida , Plafencia,
tf em outras cidades dos Ve-
tots^ Iff Lu(itanos. PaJJando o
Douro em Panonias,fe tornou
a Braga Augufia . Pajfados
quaji quinze mefes , feu mefire
Santiago edificou emC aragoca
hum pequeno Oratório em hon-
ra da Virgem May de Deos^Í!f
pondo a hypor Bifpo a Athana-
fio fe recolheo a Braga^onde c6
Pio Bifpo de Seuilha , Elpidio
de Toledo, l^ outros de [eus
principaes dicipulos, confagrou
ámeÇma Virgem outro peque-
no Oratório em hú lugar foter-
raneo junto aos Banhos , í^
perto do templo , que antigua-
mente os Egypcios kuantarao
à Deofa Ifis. Dahy indofe em-
barcar à Corunha ^ foi tomar
porto em Inglaterra,deixando
em Braga a São Pedro por feu
Vigairo , tf Primas entre os
mais Bifpos^que confagrara em
Hejpanha.
6 Do templo cíclíís em que
fala Caledonio, junto do
qual fe edificou a primeira
Igreja defta cidade ^ ha ainda
oje memoria cm hija pedra, q
eitá detrás da Capella de Saõ
Giraldo, & diz aísy.
IJidi Aug.facrum.
Lucrécia Fida Sacerd.
Per P.Rom.tf Auguft.
CÓuetus Bracar Augufl. D.
As letras, & vcrfos, quefefe-
guemnãoíevem hoje nefta
pedra •, dcuiaõ eftar no tempo
queíc conferuaua inteira, &
não tinha a diuiíaò que agora
moftra depois que o tempo
a foi gaftando: memorias ha
que elbuerão nella.
Titus Ctclicus Tripés.
Fronto,if M.t^ L.Titi
Ftlij Pronepotes Ceclici
Frontonis renouarunt.
Afpice quãfubito marcet quod
fioruit ante!
Afpice quamfubito, quodiietit
ante , caditl
Nafcentes morimur ,fimfjj ab
origine pendet,
Ipfaq^ <uitafutcfemina mortis
habet.
Parece que quer dizer . A
Chãccllaria de BragaAuguíla,
dedicou
Sao Tedro de '\R^te$.
7S
lyffmsm
in( npiio
tiibds ati''
tiqms. I
LoayCítm
notts ad I
tertium I
ConftUít
Bra(har.\
Eltas Fi-
naus m |
comst.ad
Itb. df vf
hihus iUh
Jir.Aiifo-
\nij.
dedicou dle céplo a lils Augii
íla íendo Sacerdoniza Fida Lu-
crécia pclloPouo Romaiio^&
pcllos Auguílos, Tino Cclico
Tripés Fronto _, & Marco, &
Lúcio filhos de Tito , biínc-
tos de Célico Fronto o reno-
uarão.
7 Tinha aDeofa líis particu-
lares donzellas que a íeruiao,
& lhe coníagrauão íua pure-
za j húa dertas , ou a principal
era Lucrécia Fida, Fundarão o
templo os Egypcios em tem-
pos muy antiguos, como dif-
íemos atraz. Puzeráono em
melhor forma os de Braga, &
vltimamenteo renouaráo os
de que fala a pedra. Anda eíle
letreiro cm luito Lyplío , em
Loayfa , & Elias Víneto. Os
vltimos dous diftichos pa-
recem de tempo mais moder-
no , porque nem elles fazem
muito ao intento dos redifi-
cadores , nem em obras feme-
Ihantes, coftumauao por taes
poeíías. A íua ícntença he di-
gna de outra pedra mais pre-
ciofa_, que a em que elles fe
liaõ.
CAPITVLO XVL
DEFENDENSE OS
fragmítcs de Sf.to Àtbana-
Jio ; refutcofeas re^és dos
que os impugní-.o.
Aõ fe pode
facilmêtecrèr
a cõtradicão
com que ai- Eflaçoc
gí\s Autores s^<^59
pretenderáo desacreditar elles ~;
fragmentos, deícobrindo ( a
íeu parecer ) nelles tantas , ik
cão manifeítas defconucnien-
cias,quea ferem ainda aíli aui-
dos por de Santo Athanalio
íeriaa mayorde tcdas.Bemíe
poderão paílár em fdecio pel-
la repofta , que ja outros lhe
derão- mas por não parecer, q
calandoas fe admite , as pore-
mos também aqui. Dizé pois
em primeiro lugar diícorrédo
pella narração dos fragmétos.
z Com que rczão pode di-
zer Santo Athanaíio,q íeu cõ-
dicipuloSão Pedro de Rates,
& dicipulo do grade Apollo-
lo Sãtiago viera có as dozeTri
bus mandadas de lerufale por
Nabuchodonoíor aneípanha,
fe nem Nabiichodonofor veo ^
G i
nunca
1(^
Captulo XV.
nunca a efta Prouincia , nem
venceo das doze Tribus,em
tjiie eftaua diaidido o pouo
ludaico, mais que as duas de
Leui, <S<:dclLidà, cuja cabeça
era a cidade de lerulalem^que
elle deílruyo,& não as ou-
tras dez, que percéciaõao Rei-
no de Samaria, & propria-
mente fechamaua Ifrael, com
quem cile nunca teue guer-
ra , nem a podia ter , pois ao
tempo, que veo fobre leru-
falem,jaas dez Tribus eraò
deftruidas , & leuadas catiuas
aSyria por Salmanazar Rey
dos Afsyrios , como íe con-
ta no capitulo 17. do 4. liuro
dosReys.
3 Em íegundo lugar exa-
minando aqucllas palauras,
que Sa5 Pedro fe chamara pri-
meiro Samuel o mais moço,
ou Malachias o mais velho,
pella grauiJade de fcus coftu-
mes , & fermofura de feu ro-
llo, filho do Profeta Vrias.
Dizem^bem poderiao os He-
breus defterrados dar aSaõ
Pedro o nome de Samuel o
moço, quando viuia entre
elles, porque ja tinha paflâ-
do outro Samuel mais anti-
guo nos annos, de q ha gran^
de méçáo,no primeiro, Sc fe-
gundo liuro dos Reis, onde fe
contáoos íuceílos de leu ^o-
uerno,no tempo que foi luiz
do pouo de Deos ; mas q d\cs
lhe chamallem Malachias o
mais velho naõ podia por ne-
nhúa maneira íer, porque o
outro Profeta Malachias, que
a feu reípeito auia de íer o
mais moço , & he o vitimo
entre os Profetas , a que cha-
mamos menores , foi muitos
annos adiante, & profetizou
em ludea muito depois de
acabado ocatiueirode Nabu-
chodonofor , & redificado o
templo,como bem conieflu-
raraõ feus cxpoíítores, em eí-
pecial os Padres Gafpar San-
chez, de Cornelio á Lapide da
Companhia de lESV. Alem
difto o ProphetaVrias,de quê
dizem foi filho , fe he aquelle
de que fe faz menção em Je-
remias, & foi morto por loa-
chim Rey de ludà, nem pare-
ce teue filhos, nem foi cafa-
do,pois diílbnenhúa menção
faz o texto fagrado , nem São
leronimo fobre elle.
4 Em terceiro lugar conti-
nuando co os fragmentos em
quanto dizê, q Saõ Pedro de-
pois de refucitado, recebendo
de feu meftre Santiago as In-
ftituiçoésApoílolicas,oEuã-
gelho , & ordem da miíTa,
— .
Sao "Pedro de '^tes.
77
&: ctlebraç.io dos Sacnmen-
ccs.veoa Bracra. Arquem ais V.
Sc a primeira ordcnijquc tiiie-
rão as Coníliiuiçoés Apofto-
licas, Sc a primeira vez que le
viraõ e^criras/oi por SaõCle-
mcnredicipulo de Saó Pedro
ja depois de ter fua Cadeira
cm Rema, & por ventura de-
pois de íer morto ? como as
dcii Santiago a feu dicipulo
SaÕ Pedro tantos annos an-
tes ? E íe dos EuaneeliRas Foi
o prim.eiro cj eícreueo buan-
eeiho SaÕ Matheus , oito an-
nos depois de Chriílo íobido
vfdeMaf\^ aos Cccs , Sc HO tcrceifo do
■'^;";_;;;'':l Império de Caligula.prègan-
>Euai:geh | do ja SaÕ Pedro , & Saõ Paii-
ffarric.jf' lo em PvOma , coní:orme os
melhores cxpofitores, como
deu a feu dicipulo Saõ Pedro,
ogloriofo Santiago Euange-
Ihocm Heípanha logo que
vco a eila, fc ainda o Euange-
Iho não era efcrito, nem o foi
dahy a muitos annos? Quem
o ercreuco?Ou aq Euangelifta
o auemos de atribuir?
c Dizem em quarto lugar,
que Saõ Pedro de Rates- naõ
podia inílituir Bifpos em ci-
dades que não crao no mun-
do,nem foraõ da hy a muitos
annos edificadas. AdeEmi-
nio,quc vulgarmécc nomcao
por Águeda, começou a ícr
Cathedral no terceiro Cõcilio
de Toícdo,m2Ís de quinhccos
&c quarenta annos adiante dos
tempos em q viuco SaõPcdro
de Rates. A do Porco come-
çou pouco menosj fe os Sue-
uos,como pretende íeus mo-
radorcSjfcrão os q lhe deraõ
principio em o íício q hoje lc.
6 Dizem em quintolugar,
que a todo o bom juizo pa-
recera couía eícufada _, ^ íu-
perHuarefucirar o SantoApc-
itolo hú homem q auiamais
de íeifcentos annos ( confor-
me às contas que fazem bons
autores) era morto, pêra o fa-
zer Bifpo de Braga , quando
pêra outras cidades de igual
grandeza, fe contentaua có os
que enta Ó viuiaõ, & delles lhe
dauaBiípos, que íantiíhma-
menteas soi-ieri^auaõ, fem os
ir bufcar ao outro mundo,
donde trazellos tinha írran-
o
diflimos inconuenientes, &í
por ventura mayore? , que
os ja apontados. Porque fe S.
Pedro quando lhe chamaiiaõ
Samuel o moço, ou Mala-
chias o velho, & era hum dos
derterrados de lerufalem , vi-
nco conforme a ley de Deos,
como em efteito viueo , íal-
uoufefem duuida, & íua ai-
G 3
ma
7^
Qafítulo XVI.
ma quando fe apartou de
feu corpo foi Icuada ao íeyo
de Abraham , onde hiaõ as
dos outros juílos, & dahy
na ploriofa RefurreicaÕ de
Chriílo íahyo tambcglorio-
fa, íobindo com cllc aos Ccos
em companhia das mais que
então o acompanharão . E
não feria bem, queahúaal-
ma, queeR-auanoCeo, tirai-
íeDeos da bemauenturança^
6 lhe furpendelíe por tantos
annos o que ja lhe tinha da-
do^por húa tão leue occaíião,
como vir a ícr Biípo deBraga,
aucndo tantos que o podião
íer ; quanto mais,quea bem-
auenturança, de que íuaahna
jagozaua, na opinião dos me-
lhores Thcoioíios acoitados a
Santo Thomas pede de lua
mefma natureza perpetuida-
de na duração, em forma que
não p o fla acabar.
7 Dizem vitima mente que
ainda que eftcs fragmentos
não tiuerãoalgíjadas contra-
dições que padecem, bartaua
pêra ferem dados por faltos
apparecerem tão de repente,
que nenhum dos autores an-
tiguos argua, nem leuante a
matéria principal dellcs •, nem
dos modernos hàquemfea-
treua aos admitir por naó
admitirem tantas impofsibih-
dades.
8 Atéqui chcCTrloos auto-
res de que imos falando, os
quaes aconíelhão que osfrag-
mentos íe tornem a recolher
àsliurarias da lihadcCerde-
nha, &: Aragão , onde primei-
ro forão achados.
5> Rcípondendo agora ac-
ílas contradições, aduirtimos
ao leitor que por nenhum
caio põem duu ida os autores,
qucduuidão deíles frajnnen-
tos, cm S. Pedro de Rates ícr
o primeiro Bilpo de Braga, vc
principal dicipulo de Santia-
go, porque iílo confcílao li-
beralmente, &comno{co vc-
nèrão íuaspreciofas relíquias.
He pois a iua duuida princi-
pal íobre elle ler ludcu de na-
ção vindo com os dcílerra-
dos de lerufalcm aBabylonia,
& da hy a H elpanha,& íer (de-
pois de morto na ley deMoy-
lesmais de feiicentos annos)
rcfucitado outra vez^ á: feito
Chriilãopor Santiago, pêra
eíFeito de conuerter os ludcus
feus^naturaes , & i^ouernara
Igreja de Braga_,como íeu pri-
meiro Bifpo, & Paftor.
IO E porque daqui come-
cemos i faõ tantos os Hiilo-
riadores, que admitem por
aucri-
S.Tedrode Rates.
79
auciiguada a vinda de Nabu-
chodonoíor a Heípanha, que
íóreferilos ícria grande mo-
leíHaxicáonos os que na mar-
gem allcgamos. Não íaõ me-
nos os que aílentáo íercm
mandados os ludcus peilo
meímo Nabuchodonoíor a
todas eftas Prouincias^como
conquiíladas por elle. E íe bé
cilc Rey não venceo das do-
ze Tribus mais que as duas
Fir.eiid:.
SaloTKO.
B;:uír til
De.xtrít
nii.jS.n.
yírraes
dialog.z
^2'.vir/o\ todas eftas Prouincias^como
tib.uc.a.
de Leui , & ludà , quando de-
íiruyoaIeruíâIem,com nudo
muitos dos fogidos , & que
poderão efcapar do deítroço
desamaria por Salmanazar,
he de crer íe rccolherião a íeus
irmãos os da Tribu de ludà
ate ferem junta mente leuados
catiuos a Babylonia. Enefte
íentido be pode eícreuer Sãto
Athanaíío , que Nabuchodo-
noíor venceo as doze Tribus j
quanto mais , que íem eíla
conie(5tura íe falua o que o
Santo efcreueo, ôc dizemos
fragmentos j porque vindo
Nabuchodonoíor por fuás
grandes vitorias a fer fenhor
de todas as terras ^ que forão
de Salmanazar, como euiden-
tementc fe colhe da Efcritura
Sagrada^&o nota Iuliano,cn-
trando nas meímas terras os
Hebrcos das dez Tribus , &
inChrcn.
anChri-
íicando feus catiuos ^ bem os
podia mudar pcra onde qui-
[qUí^ juntamente com os que
Icuoude leruíalem das duas
Tribus deLeui ,&íudà^como
feuabíoluto íenhor: ô>: ainda
que os fragmentos parece
dizem que todas as doze Tri-
busforãode leruíalem, toma
o Santo Icrulalem por toda
Palertina , como he frafe vul-
gar na Efcritura Sagrada.onde
pella cidade principal, & Mc-
tropoli de to da a Prouincia fc
entende o Reyno cuja cabeça
hè . E com eíleito de Paleíti-
naf
airaoas qozc
:TribuSjque
vierão aHefpanha por ordem
de Nabuchodonoíor_,porque
as dez Tribus fairão no cati-
ueiro de Salmanazar , as duas
no de Babylonia : aísy que
nenhua contradição padecem
neíle particular os fragmen-
tos _, nem lha achaõ quantos
autores dão por certa a vinda
de Nabuchodonofor a Hq[~
panha , & com cUe, ou de or-
dem fua,a grande multidão
de ludeus que a pouoaraõ, Òc
inficionarão,
II Menos contradição tem
ainda o que em fegundo lugar
allegão, por<]ue náo he ne-
cefíario, pêra de dous homés
do meímo nome fe chamar
G4
hum
so
Cajniído XVL
hú mais velho ^ outro niaii
moço, que ambos viuáo ao
meímo tempo _, doutra ma-
neira tiraríehia nas famílias co
da a boa diílinçáo, onde por
cll:c5 termos mais velho ^ &
mais moço ie fmiíicáo ho-
mens ^ queviuerío hunsdos
outros muitas centenas de
annos ; he efta dillinçao do
velho , & do moço ^ por or-
dem aos que depois forão^pc-
raqueíe entenda de quemh-
láo , não fempre dos preíen-
tes. Os Hebreus deílerrados,
que conhecerão, ou tiueráo
noticia do noílo Saõ Pedro
quando era Malachias^chama-
uáollie mais velho \ não logo,,
mas quando depois veo a íer
nomeado o outro Malachias,
o mais moçOjpor ferem am-
bos Profetas, & ambos Va-
rões SanciíTímos. Bem fabe-
mos , que SaÕ leronymo faz
a Malachias o mais moço, que
he contado entre os Profetas
menorg;s , ja nacido , & pro-
fetizando no cerco de lerafa-
lem, & he dos que també fo-
rão deílerrados, e nefte fenti-
do vai ainda menos a contra-
dição fep"unda contra eíles
fragmentos , pois então era
direitamente chamarem os
Hebreus a São Pedro Mala-
(■"tde Sã
cmm.
chias o velho, & ao outro
Profeta Malachias o moço,
viiio como ambos erão do
nicimo tempo , òí o noíío o
antecedia nos annos. Porem
mais certo parece que Mala-
chias o moço morreo, &
profetizou em ludà depois de
acabado o catiueiro , íí^l redih-
cado o templo,<?c que não fo-
ráo hum & outro contempo-
râneos. A íegunda parte da
duuida ferefponde, queain-
daque a Eícritura Sagrada não Cormlã
diga que o Profeta Vrias tiuef-
fc filho , cÒ tudo não o nega,
&o argumento deomiííaò,
naõ condue, nem tem força.
Bafta pêra lhe darmos credito
hum autor que o airirma,ain-
daquc outros o não digaõ.
li Ao que dizem em ter-
ceiro lugar das conilituicoês
ApoftcIicas,&: Euangelhohc
muy facil a repoita, porque
aindaque o primeiro, que pos
em cfcritura eílas Coníf itui-
coêsfoiSaõ Clemente, &o
primeiro, que cfcreaeo Euan-
gelho S. Matheus •, toda via
como a boa ordem pedia, que
antes de os Sagrados Apoíío-
los fediuidirem pello.mundo
aflcntaííèm entre fy o que
auiaõde pregar, mandar, &í
ordenar acerca do Euançelho,
O
&
S.Tedrode Rates.
81
Ã: adminiftraçáo dos Sacra-
iT.entos; alsy era bem, quedou
poreícrico, ou de memoria
leiíaíle cada hum eílas mef-
mas couíasjpera as eníinarem^
&í darem aos fieis , principal-
mente aos que ordenallem
Biípos , Òj Paltores das oiie-
Ihas j que íe vieílem ao reba-
nho de Chriíto. Tal aconte-
ceo ao Apoftolo Santiago-
aquellas meímas coufas , em
queaflentarãoos Apoílolos,
edetreminaraõfe guardaíTem
pcUosChrillãos nell:a,& na-
quella matéria , a que os frag-
mentos, chamão Conllitui-
çoés Apollolicas, eflas deu,&
eníínou a íeu dicipulo Sa5
Pedro de Rates, fem lhe íer
neccílario efperar pellas que
cícreueo,& publicou SaõCle-
mentcjcomo também aquel-
le meímo Euangelho,que elle
vio , òc ouuio , &r de que foi
teftimunha de vifta, como
dicipulotão ertimado deChri-
fto^eíTe mcfmo, que foi o que
depois efcreuerão os quatro
Euangelitt^as , & Saõ Paulo
chamaEuangelhofeUjeíle deu,
& enílnou ao mcfmo Saõ Pe-
dro de Rates, como íem con-
tradição algúa eícreucm os
fragmentos.
I 13 A quarta contradição
das Igrejas em que Saõ Pedro
de Rates pos,&: ordenou Bií-
pos cuja fundação querem fa-
zer de menos antiguidade : íe
reíponde, que no que toca ao
Porto,onde Saõ Bafilio foi o
primeiro Bifpo,nenhúa duui-
da ha foi cidade mais antigua
que a pregação doEuangelho,
ou vinda de Santiago a Hei-
panha,naõ no litio,que hoje
tem, porque eíle efcolheraõ
osSueuos j mas no deGaya,
donde fe mudou como dilíe-
mos no Catalogo dos Bifpos
do Porto. Chamauafe entaõ
Calc,& pello bom Porto,que
aly faz o Douro, íeveoacha-
mar Portocale , donde o Rei-
no tomou o nome de Portu-
gal i faz de Cale mcnçaõ An-
tonino no feu itinerário. Emi-
niojuntoa Águeda foi lugar
antiquiílimo , òí nelle ouue
Bifpo na primitiua Igreja, po-
ílo por Saõ Pedro de Rates,
& defte Bifpado fe faz men-
ção no primeiro Cõcilio Bra-
charenfe , que traz frcy Ber-
nardo deBrito tirado da liura-
ria de Alcobaça , &; o lança-
mos no cap. 9. dcíla hiftoria
dõdc fe conuence q faõeíles
lugares mais antiguos,do que
os contraditores alfirmaõ.
14 A quinta contradição
em
I /». c. r.
c.z.fag.
26.
82
Qafiudo Xn.
em quanto fazem alheo de to-
do o bõ juizo auer tal reíur-
reiçaopor tão Icuecauía^co-
mo a de ler Bifpo de Braga
Saõ Pedro j refpondemos^q
naõ era Iciie cauíà , antes de
muito peio bufcar pcra húa
Prouincia como a de Heípa-
nha hum homé_, a quem por
leu profecajói natural coníie-
cido de ícus auòs , &í deíi'erra-
do com ellcs refpeitallem, &
veneraílem os ludeus, que
naqucUe tempo viuiao por
eilas partes. Leucmentc culpa
quem tem por muito reíuci-
tar Santiago a SaõPedr o mor-
to de feiícentos annos pêra
fundar a Fè emHeipanhajpera
íer Primas de todaella , pêra
fullituir as vezes de fcu Me-
ílre Santiago, que íe aufenta-
uai em fim pêra fer Meílre,
Pay, & Apollolo dos Hefpa-
nhoeSjComo lhe chama o pri-
meiroConciiiode Braga.Bem
íe vc quaes eftauão então os
ludeus de Heípanha^^: quan-
to necefsitauão de quem por
natural os conuencefe, por
da mefma ley algua hora os
encaminhaíle , Sc por morto
de tantos íeculos os encheíe
deefpanto. Afsy que não foi
leuc o fim a que efta prodigio-
I fa rcfurreição fe ordenou : foi
digniílima ca prouidcnciadi-
uina pois delia íe íeguirão ^ ôc
leguem ainda tantos bens.
15 Epofto que foiprodi—
giofa eita rcfurreição de Saõ
Pedro morto de tãtos annos,
não he com tudo marauiiha,
& milagre tão nouo,quenão
aja outros femelhantes, com
que fepoílã confirmar, & cõ-
ucncer a opinião dos que o
negão. Seja o primeiro o que
fe conta de Saõ Maurilio Bif-
po Andegauenfe em França^q
hoje fe chama Argies. Dizen-
do miíTaeile Santo chegou a
ellc húa molher com hú filho,
q eílaua em artigos de morte,
pedindo lhe deíle o Sacramé-
to da confirmação peraque
morrcíle com a graça delle.
Amauao a may muito pello
auer alcançado íendo elferil
por orações do meímoSanto.
Deteueíe elle muito no íacri-
ficioda mií]a,& entretanto
o moço cfpirou . Pareceoao
Santo , que por culpa fua
morrera fem o Sacraméto da
Confirmação , ôc foi tanto o
fentimento que teue , que de-
terminou calli^ar em fv aqlle
deícuido com nouas,c afperas
penitencias. Pêra eítc eftcito
íe íahio fecretamçnte da cida-
de, & fe embarcou em hum
nauio
/^V
r'
S. Tedro de Rates.
83
nauio, ciõdc íaindo em terra
íc concertou com húa pefloa
principal pêra Ihecultiuar,^,:
ter cuidado de húas hortas . O
ClerOj5.: pouo de Argies vcn-
doíeíem Paftor ficaraó ma-
goados,&: confufos^ &c muico
mais depois que Deos c5 va-
rias viíoés os foi períuadindo,
que buícaírem íeu Prelado.
Tratarão de o fazer, & cfco-
Ihendo quatro cidadãos dos
mais calificados , & prouen-
doos de todo onecellario pê-
ra o caminho, lhes ordenarão
que não tornaílem fem lhe
trazerem o fcu Bifpo,por quê
tanto fufpirauão.
i6 Muitos annos andarão
neib demanda ate que por húa
reuelação que tiuerão do Ceo
chegarão a caía daquella peí-
íoa principal, & viraõ a Mau-
rilio queleuaua ortaliça pêra
o íeruiço de feuamo ^ conhe-
cerãono , & marauilhados fe
lançarão a feus pès ,& lhe dif-
fcrão quem crão,& ao que vi-
nhão pedindolhe fe tornafle
comellesa Argies pêra bem,
e proueito daquellas ouelhas,
que Deos lhe tinha encarrega-
do . Turboufe o Santo com
aquella nouidade tão repenti-
na, depois de tanto tempo de
aufcncia. E ainda que lhe fa-
zião grande força os rogos, Si
lagrimas daquelles cidadãos,
nao fe deixou vécer dclles,an-
tes coníultou com o Ceo o q
auia de fazer, & pondoíe hv.a
noice em oração adormcceo^
& viohum Anjo,quelhe dií-
fe fe leuantaíle,& fizefle o que
deíejauaõ fuás ouelhas , pois
por luas orações Deos as ti-
nha guardado. Com ella re-
uelação do Ceo fe pos o San-
. to Biipo no outro dia a cami-
nho acompanhado de muita
gente, & defembarcando no
íeu Biípado foi recebido de
feus fubditos com grande fe-
ll:a,& alegria de todos. En-
trou na cidade , & foi à fe-
pulrurado moço,onde fazen-
do oração a Deoj que o reíu-
citaíle, ao mcímo paílo que o
Bifpoíe leuantou da oraçaõ,
fe ergueo o moço da fepultu-
raaucndo muitos annos que
jazia enterrado nella. Chrií-
mou o logo , chamoulhe Re-
nato, que vai omeímo que
duas vezes nacido •, dedicou o
à Igreja, & Deos o ornou de
tantas virtudes, que mereceo
fuceder noBifpado ao mefmo
S. Maurilio, ^ refplandecer
com muitos milagres , iV fer
digno dicipulo de tão grande
meftre.He de Sãto Antonino
Anton.z,
p.daftitn.
hl/?. ti. I o
oq
ue
H
Snri9 r,
to.em i3
de Sftíb.
Flejfant. \
2. p. 1 7.
de Set'if.
V^tnehio
ttm.Uno
fpec.hiji.
tib-i-jx.
Capitulo XVI.
o que temos referido, de Lou- 1
lenço SuriOjRibadenerajVin-
cenciOjcS: outros Autores.
17 Tenha o fcgundo lugar
outro milagre femelhantc de
Sáto Eítanislao Bifpo de Cra-
couia feito em hum defunto
de três annos que rcíucitou.
Comprou efle Santo pêra íua
Igreja híía herdade a hú home
chamado Pedro^era ja morto,
auia três annas , &c os herdei-
ros por comprazer a ElRey de
Polónia Boleslao moueraõ
demanda ao Bifpo dizendo q
lhe tinha vfurpado aqlla he r-
dade.Naò ouíàuaoas teftimu-
nhas dizer a verdade com te-
mor dei Rey. Pedio o Santo
três dias pêra trazer aly ao vê-
dedor defunto. Concederao-
Ihos z ombando da promella,
de muito mais da confiança
de quem a fazia. Gaitou o Sá-
to os três dias cm oração , &
no fim delles depois de dizer
miííafoi à fepultura onde cfta-
ua o defunto -, mandou tirar
a pedra, & defcobriro corpo-,
tocoulhe cò o bordão, que ti-
nha nas mãos , & mandou
que fe leuantaíTe.Obedeceo o
morto , & leuado a j uÍ2 o de-
pôs claramente que o preço
da herdade lhe fora entregue,
& encarregou a todos os pre-
ícntes fizefícm penitencia de
fcus peccados , &c íe arrepen-
deílem da molcltia , que cen-
tra j uíHça auião dado a Ella-
nislao. O Santo Bibiípo lhe
perguntou íe queria viuer al-
guns annos ncile mundo^que
lhos alcançaria de Deos. £í-
colhcoPedro tornarfe antes à
ícpultura,que ficar em húa vi-
da taõ pcrigoía, dizendo ao
Santo que eílaua no purgató-
rio , òc que lhe ficaua pouco
tempo de pagar os peccados
que auia cometido, que mais
queria cftar leguro de íua íal-
uação,que porfe encontin-
gencia de perdela , tornando
ao golfo dcíl:e mundoj ío lhe
pedia que rogafle a Deos lhe
remitiíle aquellas penas, Sc o
leuaíle dcprella a gozar da
bemauenturança- Pvefereelíe
milagre Lourenço Surio , Vi-
Ihegas , Ribadenera , & ou-
tros.
1 8 Naõ he menos notauel,
o q efcreuc o Padre frey Fran-
cifco Gonzaga de outra refur-
reição igualmente prodigiofa
qucnas Canareasfcz oBema-
uenturado Saõ Maclouio in-
do de Efcocia a viííralas. Foi
eíte Santo varaõ o primeiro
pregador Apoftolico queti-
ueraõ aquellas ilhas. Ncllasan-
Sario to.
3. 8. de\
Aíayo c.
16.
riiieg cr
Ribad.
Flofmt.
'i 7. d.e
Aíay}
De ori^im
nc ReliJ
gwnis
Fric.^.
pJH frin.
tou
S^o Tedro de Tl^ates.
85
dou rcceannoseníínando_,cõ-
ucrccndo^»?!: conquiítancio al-
iras pcra o Ceo. Entre outros
milagres que fez de grande ef-
panto pêra os naturaes foi re-
lu citar hú Gigante de eftra-
nha grandeza morto de mui-
tos annos, o qual rererio , &:
contou os tormentos que pa-
dcciác no Inferno os ludeus,
6v; Ge tios .Foi bautizado pcUo
Santc,& viueo depois muitos
annos com grande admiração
dos que o viaõ, «Sc rcíultou do
milagre grande fruto fpiritual
em todos os moradores da-
quellas ilhas.
19 Eemadmirauelhco qdc
huafanta donzella nofobre-
nom.e também admirauel, &
no nome Chriílina^cótaÕ au-
tores muy graues.Morreo ci\a
Santa de idade de doze annos
em SantoTrudon cidade de
Alemanha •, foi leuada ao lu-
gar do Purgatório ,ondevio,
& confiderou os grandes tor-
mentos que nelle padeciaõas
almas , & fé doeo de náo po-
I derajudalas_, ÔJ focorrelas-,da-
hy foi aprezentada diante do
Tribunal Diuino, onde Ihefoi
dito, que efcolheílefe queria
ficar na bemaucnturança, ou
tornar ao corpo, & fazer pc-
I nircncia pellas almas do Pur-
gatório, de cujas penas tanto
lelaítiraara/pcraasaliuiar, &
alcançar poí liio depois may.or
oloria. Eicoll;co a Santa tor-
narao mundo, Viueo quaren-
ta & dous annos gaílados em
aiperas penitencias, ^ obras
admiraueis em aj udadas almas
do Purgatório. Depois íe toi
pêra oCeo onde alcançou ma-
yores grãos de gloria. Saõ au-
tores deíla hiitoria lacobo
Biípo de Ancona , Dioniíío
Cartufiano,LaurencÍQ Surio,
frey Dimas,Ò<: outros.
10 Cõ ciles , & outros cxc-
plos que pudéramos referir,
ficara a rcfurreição de Saõ Pe-
dro de Rates menos duuidoía
no parecer daquelles que por
noua, & rara a quifcráo im-
pugnar , vendo "que lendo da
melma qualidade, & com as
incímascircunllancias os mi-
lagres que referimos naõ ouue
ate gora quem os j ulgaíle por
fufpcitos , nem quem tomaíle
a pena pcra calumniar. os au-
tores que os aífirnuo,&dáo
por certos.
t
4. Áe na»
f*tfí. Art.
Sí,r to.^,
mcHJe Ih
rltj,
Damaf,
tYAt. do
Purgat.
H
GAP.
-fl"
86
Capimlo XVÍI.
íL\'-^'C
CAPltVLO XVÍI.
C O N.Tl N VA A MA TE-
ria do capitMÍo pajfado em
defanfaò dos . fragmentos . de. '
fanão Athanajw. . .. > -;. r
EDE mais a
quinta obiec
cãó cõtra os
fragmétos re-
loiíicr onde
dtaua a alma de São Pedro
quando o refucitou Santiago.
O modo mais facil delhereí-
ponder he, q quando as almas
íairaõ do S ey o de Abrahaõ, &
Purgatório com Chrifto re-
íucitado na manhã de fua Re-
íurreição, & aos quarenta dias
fífbiraó com elle ao Ceo,nâo
foialyàdc Sao Pedro, antes
porque aísy importaua ao bé
da Igreja, Tc ficou na terra po-
fta no lugar que o mefmo Se-
nhor lhe deftinaria atê outra
vez íc vnir com feu corpo,
quando por orações de San-
tiago nelle entrou. Nem con-
tra ifto faz o verfo de Dauid.
Captiuam duxit captiuitatem-^
Porque pêra í'e cumprir bafta-
ua acompanharem ao Senhor
tantos milhares de almas quã-
tas o acompanharão j &r aísy
corno èfte texto nada emba-
raça aos Theologòs,que c^ii-
dão ficarão ainda aquclle dia
da Afcenfaõ de Chrifto rnui--
tas almas no Purgatório aca-
bando de penar o que ihes fal-
tatia, aísy pouco pode emba-'
raçar fer kíía das que ficarão
(naõ no Purgatório ) a deSaÕ
Pedro, pois íicaua pêra tanta
gloria de Dcos , íem poriílo
padecer violência o texto fa-
grado.
1 Mas porque luliano Aci-
preíle de Toledo diz, qdehúa
das cadeiras doGeoveo a al-
ma deSaõ Pedro -entrar ou-
tra vez cm íeu corpo , poftoq
naTheologia o naó temos por
tão vifto como na hiftoria: fa-
lando agora na meima cõfor-
midade parece não implica
efte feu dito^porque aindaquc
ferepreséte difficukoío depois
de húa alma ter a pofie da bem
auenturança priualla delia ^
iílo corre quando Deos obra
de Icy ordinária, & não quan-
do por fua omnipotência, a
que nada he impoíTiucl , quer
fair de todo o curfo ordinário.
Quantos Thcologos conce-
dem que das penas do Infer-
no, aonde cftaua padecendo,
tirou Deos a alma do Em—
perador
In adtierf
150.
Sao Tcdro de ^ates.
87
S.lho.in
(j.i.art 2
ad c^mntii
Et tu 4ci
ditiombus
AÀ tertii
pítrt.q.
drt.^.éà
ejuirttum
Durando
m ^.dijf,
4Í-7- 2.
adttrttu..
Gxbricl
fuftr Ca-
nen mif*
íca. ,6.
Ut.y.^a^
CordnbÂ
Ib. I. q
^i.tnfine
Ledefm*
sr.i^.fd
i6). f
Frçterea.
^buUnfe
tio 4. dos
Kfjs (ap.
4'í- 57-
Hiriq.-n
fnitjmitli.
^.c.i6.n.
3. disfer
tom^ ept-
rtiaÕIlhef
tAS njt vi
da de S.
Crtvtrit,
Emperador Trajano pcra a le- r
uar à bcmauenturançajcábem
podia tirar doCeo a de Saó Pe-
dro pêra a meter em ocalioés
de nouos mcrccimcntos,com
que lhe acrecentaíle a gloria
quando depois tornaíle aella.
SeinlHo(como acima faziío)
que a bemauéturança pede de
íy perpetuidade_j & he tal ac-
çáo,q luo pode acabar, dou-
tra maneira naÕ íeria perfeito
bem, & deixaria folicitos os
bcmaucnturados.Dirlheemos
quenê todos os Theologos
cntédem a natureza dabcma-
ucntu rança ícr de fy mefma
eterna,baíU feio porq nenhúa
força externa a podecorróper,
oqbaftapera tornar feguros
os que delia gozlo, alem de
fer taõ grande bem , que não
deixa aduertir aos bcmauen-
turados íè acabará, ou não ,a
fim de por iíTò terem algúfo-
brefalto,como lhe não cauíè
nenhij, poder Deos cõ efíeito
tirarlha quando queira obrar
tudo o que lhe hc pofsiuel.
Com outras rczoés defendem
os Theologos as palauras.re-
fcridas de Iuliano,as quais dei-
xamos por Efcholaílicas , &:
por não pertencer agora aue-
riguar o ponto defta queftão.
3 Na fubira, & repentina
apparição deilcs fragmentos
em Cerdenha,& Aragão, que
he o que no vitimo lugar ca-
lumniauão,tem menos rczáo
que em aigúa das deíconue-
niencias pafladas . Quantos
liuros apparecerão no mundo
de q não auia noticia nenhúa?
Quantos por fe não fazer cafo
dciles andão efquecidos,q ain-
da dcícobriraÕ muitas verda-
des, q hoje Ic ignoraõ? Grade
bem íbra íe fe poderão deíco-
brirosq ou o medo dos Gé
tios,ou a tyrania dos Mouros
fez cíconderemHerpanha,ou
embarcar pêra fora dclIa?Se va
lera algííacouíà efta obiccção,
quantas obras de Sãtos,& au-
tores grauifsimos ,q de nouo
fe publicarão feruiria virem a
luz de mayor afronta, &:có tu-
do acontece pello contrario.
Eftimaíè hoje muito maisS.
Dionifio Areopagita depois q
feus efcritos andaõ nasmaós áz
todos, eftando ícpultados no
efquecimcnto quafi izoo. an-
nos.Ninguéconhcceo 0$ Ida-
cios,os Valclaras, os SãPiros,
os Ilídoros,os Sebaftianos, &
outros q hoje fe lem cò tan-
to gofto, &c proueiro fenão
de poucos annos a cila parte,
em que homens curiofos , &
amigos do bé comum os pu-
H2.
blicaraó
iiS
Capimlo XVIII.
InUanem
Acítierf.
■m- 44-
». 190.
'■.etpag.zé
[^'•99 ■
VEcclefde
{lui foi.
'^fchola-
JHs hift.de
f^alen^. i
f. íib. 2
ir.i.
'0^aur.li.
t. Í.22.
PiUAY.M,
?
•^ r
blicaráo achandoos enrola-
dos em pergaminhos , de (]ue
ja íenáo fazia conta. Muitas
coufas antiguas deícobrc a ida
de prefente,& defcobrirão as
futuras em q os que hoje faõ,
ôc depois feguirem fc hão de
achar ignorantes.
4 Quáto mais q náo foi a ma-
téria deftcs fragmétos nos fe-
culos paílados tãodeíconhc-
cida_,que não faça delia men-
ção Caledonio Arccbifpode
Braga (cuja vida adiante efcre-
.ueremos) naqueelleefcreueo
de Sa5 Pedro de Rates_, & fica
cm parte referida acima na car-
ta dcHugo Bifpo do Porto.
Caledonio viueo.pellos annos
deiUo. ha 1373. HogoBifpo
do Porto florecia pellos an-
nos de II 00. como íc vè<la
Hiftoria Comportelanacujo
autor foi. Tem mmto dos
mefmos fragmentos Flauio
Dextro, quali tudo lunano,
Aciprcftc de Sãta lufta é To-
ledo,& cõtemporanco deHu-
jTo.Dõs modernos os recebe,
&feftcja dõPrudéciodeSan-
doual Bifpo deTui,& Pãplo-
na, o Chronifta Gafpar Efco-
Iano,Dõ Mauro Caífella Fer-
rer na hiftoria de Santiaeo:Fr.
Francitco de Biuar nos com é>
ros deFlauioDcxtro.
CAPITVLO XVIII.
EM QFE SEPROSEGVB
auida de SaÓ Pedro de Ra-
tes primeiro Àrcebijpo de
Braga.
Sfcntada na
forma q aci-
ma vimos a
refurreiçaõde
SaÕ Pedro de
Rates por feu meftrc Satiago,
rcfta paífarmos ao mais de íua
vida , fe bê ja delia temos da-
do algíja noticia no Catalogo
dosBifposdo Porto. Sobre a
pátria dcíle Santo Arccbifpo
ha algíjas opiniões . Braga o
pretende para fy, cõ o parecer
de luliano , q lhe chama cida-
dão delia , ôc o mefmo nome
lhe da o Arccbifpo Caledonio
na carta q atràz referimos, Frã
ça o quer nouamente por feu
natural cõ aautoridadcdeRo-
bcrto Cláudio presbytero de
Longres,o qual lhe dà por pá-
tria a cidade de Limoges^q por
outro nome fe chama Ratia-
ftú cóforme a lulio Ccfar , &
Ptolomco, & daqui di7,q to-
mou Saõ Pedro o febrenome
de Ratenfe, ou Ratiftenfe.
Ã"
l.f.C. 2.
Inltaritin
adHtrfn.
172. &
TnjHtt
Gat.Chri
[fian.fag,
344-
Sao Tedro de *\Rjates.
89
Icrcm.c,
'26.
A terceira, & mais certa opi-
nliohe que foi ludcii de na-
ção nacido na Proiiincia de
Palclliina _, &(como melhor fc
ccUigc dos fragm ecos de San-
to Athaíiario)dehúa das duas
Tribus Saccrdotal^ouRcalvê-
cidas j & leuadas catiuas a Ba-
bylonia por Nabucliodono-
íor. Seu pay fe chamou Vrias,
«?\: parece aquclle a quéElRey
loachim mandou tirar a vida
por lhe pregar o que clle não
queria ouuir, & o refere em
ília profecia Icremias leu con-
temporâneo. TeueSaõ Pedro
o mefmo dõ de profecia que
feu pay. Sahio dell:errado cõ
os mais catiuos de Babylo-
nia peilos annos da creação
do mundo 4743. conforme a
conta dosSetentajantes davin
da de Chrift o quinhentos &
oitenta & fere. Do nome pró-
prio que então tinha nos não
confia j conftanos porem o
chamauão 05 do feu tempo,
& os que depois delle (qlc-
guirão » Samuel o mais mo-
ço, ou Malachias o mais ve-
lho , pella femelhança que ti-
nha nafantidadecom os pro-
fetas Samuel , & Malachias,
de quem ha grande memoria
nos liuros fagrados.
1 Era na fermofura do ro-
llo,ôv: compoíição dos mcm
bros qual vcrdadeiramenre
pedia o nome de Malachias,
que conforme aos m.clhores
intepretes vai o meímo que
Anjo do Senhor. Sahio com
os íèus naturaes de Eabylo-
nia a Helpanha, quraido a ella
foraõ mandados por Nabu-
chodonofor ordenandoo aí-
I íy a diu ina prouidencia pêra q
aquelles catiucs tiuefiem com
quem íe coníolar ncll:a noua
aHição . Foi íua morada na
Prouinciadeantre Douro Ôc
Minho, &(íegundoefcreueo
Caledonio, &í refere Hugo)
morou,»3c toi cidadão dcíla ci-
dade de Braga, na qual não la-
bemos dizer né fe morou os
annos q teue de vida em H.q(~
panha , nem fe ncUa o tomo u
a morte. Como quer q foíle,
Santiago o refucitou mais de
quinhentos annos depois de
morto,c5 efpanto de todos os
q tiuerão noticia defta prodi-
giofa refurrcição . Pòslhcpor
nome Pedro no bautifmo em
memoriado gloriofoSaõ Pe-
dro Príncipe dos Apoílolos,
& ordcnãdoo logo Sacerdote
o deu por primeiro Prelado a
eífa Igreja , & por pedra fun-
damental ào edifício cípiritual
delia.
H3
Pai-
90
Caftmlo XFIII.
3 Paímaua o pouo coma
pregação de hú home morto
de, tantos annosjconuertuoíe
muitos , & não era menor o
numero dos Hebreus quan-
do lhe ouuiaó referiras coufas
de fcus antepaflàdos,& como
elle antiguamête fora daquella
ley , & agora profeílaua a de
Chriftojpor a outra fer ja aca-
bada, íegundo por fcus pro-
fetas eftaua muito dantes pro-
fctizado.Diícorreo por diucr-
fos lugares de Hefpanha;inlli-
tuyo varias Igrejas, dandolhe
nouos Bifpos, huns dos que
aprenderão na mefma cfchola
de feu meftre Sãtiago , outros
dos que elle próprio con—
uertia , & lhe parcciaõ mais
proueicofos , & acomodados
pêra regerem almas. Forao en-
tre eltcs , dous principais Saõ
Baíilio, a quem encarregou a
Igreja do Porto,& Santo Epi-
tacio a de Tui,ambos primei-
ros Bifpos delias. Também
nomeou outros nas de Iria
Flauia, de Amphilochia, de
Eminio, Coimbra,& Lisboa,
de cu j os nomes nos não ficou
noticia algíja . A todas eílas
Igrejas vifítaua, & acodia o
Santo com particular vigilân-
cia , como aquelle a quem
Santiago entregara a primeira
Igreja de Hefpanha , debaixo
de cuja obediencia,&emparo,
auiaõ de cílar as outras , que
pellos annos adiáte fe foílem
inftituindo,
4 No tempo que o glorio-
fo Saò Pedro eltaua gouer-
nando a fua Igreja de Braga,
foi em lerufalem morto por
Herodes Santiago feu meítrc
na volta quede Hefpanha fi-
zera àquclla cidade, naforma
que nos aótos dos Apoftolos
fe conta.Por diuina reuelaçao
alguns dos dicipulos que en-
tão trazia cõíÍgo,fe fairão com
o fagrado corpo de Paleftina,
«Sj embarcados no porto de
loppe , ou laíFa tomarão a via
de Hefpanha, & chegarão à
coll:a de Galliza , pêra aly lhe
darem a fepultura, que o Cco
Ihetipha determinada. Os par
ticulvires defta tresladação re-
ferimos ja em outro lugar,on-
de acrecentamos como na ci-
dade do Padrão fe ajuntarão
muitos dos dicipulos do San-
to Apoílolo,que por Hefpa-
nha viuiaõ efpalhados c5 os
mais que de Paleftina trazião
as fagradas rcliquias; & aly c5
grade veneração as collocarão
debaixo de hum altarjdizendo
miíla fobre ellas, como então
fe coftumaua. Naõ nomea
AHorAz
Cata!. I
Fl
auio
1
S.Tedrode Rates.
91
Bi fiar. in
' Dext.atit
Chufli
^Rodeft
1 Cdrm ad
Dext.an
Chriftt
Flauio Dextro entre osdici-
pulos que aqui íe acharão a
Saõ Pedro •, porem coniedtu-
rão graues autores,que a tudo
fc acharia preícnte não fò co-
mo particular , mas como ca-
beça de todos jdilpondo, Sc
ordenando as ccremonias da-
quelle piadofo , & rchgiofo
ado . Vefe hoje no mcfmo
lugar hua coluna com osvcr-
(os feguintcs.
Cum Sanãõ lacobofuit htcc
allata columm^
Ara^ infcripta fimul^ qu4
fuper eUpoJita^
Cuius difcipulifacrarút cre
dimus ambas ^
At^ exhis aram coUituere
fuam.
$ Entre outros artigos da
noíla Tanta Fc, prègaua Saõ
Pedro de Rates com mayor
fcruor aquclle, que fabia fora
particularmente apõtado pot
feu meftrc Santiago na infti-
tuiçáo do Credo, quando os
íkgrados Apoftolos antes de
íe diuidirem pello mundo o
ordenarão; ifto hc,quc o Ver-
bo Eterno encarnado naceo
de Santa MARIA fua May,
ficando cila fcmprc Virgem,
antes do parto , no parto , &
depois do parto. Com muita
atenção, &c piedade recebiaò
os Hcrpanhocs,& ouuiaõefla
verdade. Foi a principal a fi-
lha de hum Rcy ( alli fe cha-
mauão então os ícnhores das
cidades particulares)ou Regu-
lo de Braga, & íeudiftridío,
a qual leuada da fermofura de-
lta virtude a confagrou por
voto a feu criador. Confír-
maua o Santo a doutrina que
prègaua có muitos milagres.
Deu íaude afilha do Regulo,
aqualeftaua doente de lepra,
& com o milagre fe bautizou
ella, & fuamay, & ambas fo-
rãoinftruidas nos myiterios
da Fe. Naó podendo entre tâ-
to opayfofrera mudança da
filha,dcíejou vingar fe no me^
llrc,q lhe iníinaraaquella dou-
trina , com lhe tirar a vida.
6 Soube Saõ Pedro como o
bufcauão pêra o martyrizaréj
& parecendolhe q fua prefen-
ça era ainda ueceflaria a fuás
ouclhas(por ellas afsy lho pe-
direm) fe aufcntou de Braga
na forma que a feus pregado-
res, & fieis aconfelhara Chri-
fto. Porem mandando o Rcy
em feu feguimcnto o foraõ al-
cançar no lugar que hojecha-
mão Rates , quatro Icgoas de
Braga,ondc ja auia pouoação
H4 d<
92
Capitulo XVIIL
\
cleChrillaos,& ígrejaj& aly
diante do altar, aonde o acha-
rão de giolhos os miniltros
do tyraiio , lhe tirarão a vida
com cruéis golpes de cutila-
das, & eftocadas, fem ncnhú
dos fieis íe atreuer alhe dar fe-
pultura^ pello medo queti-
nhão dos Gentios. Mas orde-
nou aDiuina Prouidécia que
os próprios algozes o metcf-
íem debaixo das paredes da
mefma Igreja, q puzcraõ por
terra, cobrindoo de pedras,
porque de ningue fofieacha-
do^ncm reu€rcncic.do,&q de-
íia maneira eftiueíTe ate fc lhe
dar fepultura na Forma q logo
diremos.
7 Succdeo feu martyrio,fc-
gundo Flauio Dextro,pellos
anncsde4j". de nolíareden-
çáo,fendo Vigairo de Chriíío
na terra Saõ Pedro ^ & Empe*
radores Caligula, & Cláudio
feu fuceííor, òc tio.O Marty-
rôlogio Romano, & Breuia-
rio Brácharcnrc,o poecm 16.
de Abril,em que nclla cidade
fe fáz fuá fefta.Rèzão delle alê
defta Igreja os Padres de Saõ
Bento pello Breuiario nouo-,
os de Saõ Domingos por
caderno particularapprouado
pellos Summos Pontifices .
. A ndãofúas lições nos Breuia-
.T-
riosantiguos de Toledo, 6c
Santa Cruz de Coimbra ,&
nos de outras igrejas deHcf-
panha, q a eík de Braga tiue-
r.ioja algum tempo ícgeição
de íuffraganeas.
8 Falando de Saõ Pedro , &
íeu martyrio Flauio Dextro,
tem híias palauras , que gran-
demente diuidirão aos auto-
res defte tempo j hunsporca-
lumniarem as obras que cm
feu nome pouco haíairaõ a
luz, & as darem por falias , &
mentirofas •, outros por de-
fendclas como verdadeira s,&
próprias de cfcritor tão graue.
Diz pois aísy Flauio. Floret
memoria Sanãi Petri Ratenjís 'an.chr.f,
martyris primi Bracharenfs
Epijcopi , qui occifus eíi anno
4j .ad Ratem oppidum Bracca-
rorum in regione ophirina a ne-
potibus ophir illic appuljis nome
ohtinente. Vem a dizer , que
por aquclles tempos em que
hiacomfua hiiloria era cele-
bre a memoria de Saõ Pedro
de Rates martyr, & primeiro
Bifpo de Braga , o qual na re-
gião Ophirina afsy chama-
da dos netos de Ophir , que a
cila vierão,fora marty rizado
pellos annos quarenta & fin-
co de noíla redenção,
j 9 Aindaquc feja certo (dizê
in chrm.
6;.
os
S.Tedrode Rates.
93
Gen,e,\o,
Faral. li.
\
os que encontrão as obras de
Flauio Dcxtroj que no anno
de 4j. padcceíie martyrio cm
Rates o ^lorioío SaõPedro,«S:
que íollc o primeiro Biípo de
Braga, porque ell:a verdade
tem por ly o Martyrologio
Romano,a tradição deita Igre
ja,a autoridade de grauilsimos
cfcritores, os Breuiarios das
mais Igrejas , d<: famílias Rcli-
giolasrcom tudo, que Rates
caiíle na regiaõ de Ophir tão
celebre nas Diuinas letras, on-
de cada anno vinhao carregar
as nãos deSalamaõ de madeiras
preciofasjde ouro, & pedraria
íiniísima, íò o poderia dizer
quem não foubelle a falta que
naquellc lugar há de todas
eílas CO ufas.
1 o Mas a eftes fe pode rcf-
ponder, que Flauio Dextro
nunqua diíle fer a terra de
Ophir em q S. Pedro foi mar-
ty rizado aquella meíma a que
Salamão mandaua fuás nàos
pella riqueza de feu comercio,
ouro, & pedraria que daly le-
uauão; fò diíle que íe chama-
ua Ophir dos netos de Ophir,
de quem faz menção Moyfes
no Geneíis,& o Autor do Pa-
ralipomenon dizédo que aly
aperrarão na diuifaõ daslin-
^oa?;, pouoando aquella Pro-
uíncia, ôc dandolhe o nome
deíeu auo;& que eíla comar-
ca, <5c parte de terra le chamaf-
íe Ophir em algú têpo ha ba-
cantes conicâ:uras , porque
ainda hoje temos perto do
Douro a comarca que ncUe
vem dar com o nome da Fei-
ra, que parece
diriuadodode
Ophir •, &: fe bem a comafca
da Feira difta por algúas k-
gòas de Ratcs^& tem no meo
o rio Douro, naó heiíloba-
ftantepera ate la fe deixar de
ellender o nome <le Ophir.
1 1 Quanto itiais que naÕ
muitolõgc de Rates,ondefoi
o martyrio do Santo,hca o lu
^ar de Faõ vizinho da villa de
Efpo7;endc,onde òrio de Pra-
do entra no mar , & faz hum
porto acomodado pcra nelle
íepoderern recolher eftran-
geirõs, como cremos fe reco-
liíeraó os decendehtes de O-
phir , quê por áiy pouoaraó,
fundando ó lugaí de Faõ, que
ate no nome leua muito pêra
Ophir, & por Ventura fe cha-
mou afsy 'de fèu principio mu
dandolhe o tempo , & os an-
hos as letras. Faiiòrecem eftá
às
opinião alguais peífoas
em matérias de 'antiguidade
dizendo,que dieFaõ atê a villa
da Feira cótria' a Prouincia
Ophirma
LotifAtU,
& outras
94
Qafuulo XFIII.
eaf.i.
Ophirina afsy nomeada em
foraes antiguosde que ha me-
morias na torre do Tombo.
E daqui vco o nome de Faria^
com que hoje he conhecida
grande parte defta Comarca
nomcodaqual efta lítuadaa
Igreja de RatcSj onde padeceo
martyrio o noílb illultre Pre-
lado SaÕ Pedro j donde fe co-
lhe quecõ pouca corrupção
ficou a efta Comarca o nome
de terra de Faria que hoje tem
diriuado da Ophirina, com q
antiguamente fe nomcaua. E
ainda fe vê as ruinas de hú Ca-
ftello muy antiguOjqnella ou-
uc ^ o qual conferua o nome
de Caílello de Faria aílaz co-
nhecido nas Chronicas de
Portugal.
II Secom tudoiflojfenaõ
daõ ainda por contentes , àí
cuidãoque a terra de Ophir,
de que fala Dextro, & a da Ef-
critura Sagrada hc todahííaj
faibaõ que fe ao prefentc fe
não vem por antre Douro,
ô^ Minho, ou pello Condado
da Feira as madeiras prcciofas,
as pedras,& ouro,que fe carre-
gana nas nãos de Salamaó, as
ouue em tempos antiguos , q
por cíía rezão chamou à cida-
de de Braga o Poeta Aufonio
rica . como mortramos atràz
. JíS
declarando o verfo.
QjM^ fnu ^elagí iaãatfe
Bracbara diues.
Onde dcfcobrimos as muitas
riquezas, que nefta Comarca
auia)& ainda quando não foí-
fcm próprias da terra, podião
fer de carregação doutras par-
tes , & aqui , ou no porto de
Faõ,& Efpozcnde , ou em
qualquer outro defta cófta,q
pertcnceíle ainda à Prouincia
de Ophir, ou Faria carrcgaren-
fe pêra Paleftina , na torma q
hoje na cidade de Lisboa fe
carrega pêra todos os Reinos
de Europa, a pedraria do Ori-
ente •, & na do Porto , & villa
de Viannaos açucres , & pao
do Braziljiiaõ ícndo eftas cou-
fas nacidas ncfte Reino , antes
vindas a elle de outros bem
eftranhos.E afsy não vaõ muy
fora de caminho os autores,
que por eftas partes puzcrão
o Ophir de Salamaõ leuados
ou do nome daFeira,oudc
Faria &:Fa6.Podêfe ver as re-
zoés queapontão emBiuar,
& outros modernos.
1 5 Mas deixando efta quc-
•ftão do verdadeiro lugar de
Ophir tão difputada pellos
Efcriturarios , & tornando a
Saó
BitiAf. itt
Dext.an^
66, f^g,
144.
Pelliccr
in Gtng.
cal. 442*
«. 38.
Roderie.
Cure. in
n»t. nd
Dext.att,
Chr/f^-J
S.T^edrode Rates.
95
,Sao Pedro de Rares^ (cu fagra-
cio corpo elteuealgus dias cie-
baixo das pei.iraí,& entulho
onde o deixarão os miiiiftros
deíeu marcyriOj ate que foi
por Diuina reuelação deícu-
bercoa hu ermitão^ que por
aqiielies montes fazia penite-
cia, chamado Fchx , lamdo do
lugar onde oSanto jazia gran-
des labaredas de fogo _, & ou-
tras luzes verdadciramcnrece-
leftiaes, que como com o de-
do o eilaiiaõ moílrando. Cha-
mou o ermitão pcra o acom-
panhar neíla íanta obra a hú
íobrinho leu da mefma vida,e
inrtituto jambos alimparão o
ki^ar A' apouco trabalho en-
còtraráo as preciolas rehquias.
Derãolhe aly fepultura ^ cfpe-
randonoCeoque viria tem-
po/em que por reípeito de
Saó Pedro o mefmo lu2;ar foi-
fc mais ferquentado dos fieis,
& fuás reliquias tiueííem a dè-
uida veneração , Si Deos por
ellas obraíle infinitos niiia-
grés, ^
14 Cuprio o Ceoaosdous
ermitães o que efpcrauao,
porque a poucos tempos nao
obftantcs as perfeguiçoes dos
Gentios fe leuanrou aly hija
IgrejSj &í depois hú Moíleiro
deR eh"eioros da ordem de S3.0
Bento, guardas, & como rhe-
íoureir/)s do la<irado depofito
& r
por muitas ccnteiia<; de anãos,
ate que, extinguindo o tempo
os Religiolos, aquclle Moílei-
ro veo a ficar em Igreja paro-
chial, em que ainda hoje fe co-
íerua.
I $ Obrou Deos fempre , Si
ainda hoje obra muitos mi-
lagres pellas íagradas reliquias
dcíle illurtrc martyr. Hum
Sacerdote chamaíJo Pedro
doente de húa lon^a enfermi-
á:{àç, que lhe tinha debilitadas
as forcas, cncomendandofc ao
Santo alcançou faude perfeita,
& lhe foi dar as^ graças à íua
Igreja,ondc?gardecidoda mer-
cê todos os dias dizia miíla ^^
ajudaua nos oííicios diuinos.
16 Huamclherdolugarde
FaÕ cega auiadousannos foi
vilitaralepulturadoSãto,cn-
comendoufe a clle com o pei-
to por terra, & os olhos íeitos
duas fontes de lagrimas ^ rece-
bco virta nelles,& rompeo cm
louuores áo gloriofo martyr.
Outra molher que nãoouuia
chegandofe à fua fepultura co-
brou o fentido perdido.
17 Viuia alíombrado do De-
mónio hum homem por no-
me Pedro , & era muy mal
tratado do fpirito infernal ;
liurouoo
jsa^
96
Capmlo XVUL
LÍLirouoo Santo delia tribu-
lação fazendo o milagre pu*
blícamétcéprezença de mui-
tos^que o viráo coniosolhos.
18 Hum moço a quem hú
acidente de pariezia tinha
toiiiidoj & com a boca torci-
cla^ 6c vcka a húa orelha-.polio
diáte das rcíiquias do Saco alcá
çoa íkude miiagrofa ^ & íe foi
pcra íuacazatão íaõcomo fe
níica cÍLiera enfermidade alíjija.
1 9 Da Igreja de Rates com
o may or apparato que foi pof-
íiucJ, & nos diremos quando
aly chegara hilloria, tresladou
o íenhor Arcebifpo Dom Bal-
theíar Limpoo corpo do glo-
rioío Saõ Pedro pêra a Sc de-
lia cidade a 17. de Outubro de
i$S^' dandolhe capella parti-
cular á maõ dcreita da capella
mor. Eftão as relíquias íagra-
das fobre o altar em hum fe-
pulchrode pedra dourado cõ
letreiro que diz afsy.
Aqui iac!^ o corpo de Sao Pedro
Martyr dicipulo do Jpoíiolo
Santiago, tresladado da Igreja
de Rates por Dom Baltasar
Limpo Arcebifpo de Braga a
eflafepultura , quefe lhe /espe-
ra may or -veneração, tf por fer
o primeiro Prelado de^ia Igreja
aos ij.de.Oiaubro de lyji.
;Pçra mayor coníolacãç dos
naturaes dcíla cidade , & pêra
quecmcodoscrcceíTc o fel pei-
to dcuido ao Santo martyr,
quis oArccbifpo Dó Baltheíar
ncaíle defora aparte da cabeça
do Santo, pcraque cm gCvindcs
necefsidades pudeíle ler Icua-
danas prociílòcs, 6<:comíua
villa mouer o Ceo a piedade,
c miíericordia. Pcra elte eíFeito
fc encaíioou é prata , &c fc pos
no thcfouro deílaSè entre ou-
tras muitas rehquias que nella
cítão.
zo Na Capella cm que as re-
líquias fc coUocarão ordenou
o Arcebifpo DomBalthezar
Limpo íincocapellaés. Rèzão
todos os dias o oíficio Diui-
no,& dizem duas miífas. O
altar do Santo he priuilegia-
do •, tirafe nelle hua alma do
Purgatório offerecendo por
cila aly o diuino íacriíicio. Hà
por efte rcfpeito grande fre-
quência de Sacerdotes de todo
o Arcebiípado, a quemfcen-
comédão miflas naquelle al-
tar, & fe dizem todos os dias
muitas.
II De Saõ Pedro foi fempre
celebre a memoria por todos
cif es Reynos. No anno de 410
feaiuntou cmBragao primei-
ro Concilio de que ja fizemos
menção
Sao ^afilio.
97
&66.&
lo».
\ luliAHoir.
■j 190.
I AíeraUs
lin chren.
D.Mm-
rofcr. lih
2.C ic.
Brit.z.p.
mottAr li.
Biu^tr nd
Vext.un
té. fcm.
^.n6 &
Ca^o in-
net, ad
[jDext. AH
67.
Fr» l.ius
ât Souflt
na kiflo.
de S.Do.
Itb G.e.i
Cíititl.i.f
cap.2.
D;xt,an.
Chnf.y
íklian. in
aduerf.
m ¥ «•
171.
menção, a fim de proiier que
os Alanos, &i Sueuos não deí-
acataíícm íuas fagradas rcli-
cjuias, como de ordinário íà-
ziáo a todas as q podiaó defco-
brir : chamalhe aly o Conci-
Tio Pay, & Apollólo dcHeí-
panha, como aquellcdeque
tinha recebido a Fè depois áo
Apoftolo Santiago. E Icrciié
deSaõ Pedro de Rates ale dos
Ereuiarios que ja referimos,
Flauio Dextro, luliano, os au-
tores da hiíloria EccleílaíHca
de Hefpanha , Morales , Dom
Mauro Ferrcr, frey Bernardo
de Brito, Biuar, Caro, dou-
tros que ellcs referem.
»«■■ M I I I I ■ III !■ Ml ■ III I 11 ■ .. ■
. CAPITVLOXIX.
SAM BASÍLIO S B-
gundo Arcehijpo de Braga.
A5Baíílio,ou
Bafileo(dequê
jaefcreuemos
largam éte no
Catalop"odos
O
Bifpos do Porto ) foi,confor-
me a Flauio Dextro, luliano,
&aos mais autores, que de-
pois os feguirão,dicipulode
Santiago, & ou veocomelle
de lerufale a Hefpanha, como
parece mais prouauel : ou foi
nu dos que por fua prègaçHo
receberão- a Fècncie outros q
por cites Reinos conucrteo, c •
■ irouxealyo SancoApoílolo. '
Continuou com elle,em quá- :
to íe deteue emHefpanha,po- '
rê quandoTèouucdc partir o
deixou na companhia de S.Pe-
dro de Rates, peraq lhe aiudaf-
fe a plantara Fe,c leuar por diá
te a pregação do Euangellio.
z A vida q na cõpanhia.dc S, \
Pedro fez Saõ BaúliOjas virtu-
des que obrou , o zelo q mo-
ftraua na cõueríaõ dos infiéis^
mouerão ao Santo Prelado co
mo cabeça,Ò<: Primas de todos
os de Heípanha ao nomear, &:
fagrarpor Bifpo dacidade-do
Porto,afsy pello ter jútode fy,
& íc poder aproueitar de feus
confellios , como por aquella
Igreja pedir a prefcnjjadehú
taÕ grande Paftor.''. c:"' :''^ " -'.
3 Notcpo, q S.BallIiogo-
uernaua a Igreja do Porto,vic-
ráo aCalliza trazidas de lerufa-
le as reliquias de fcu meíbe Sã
tiago,na forma q ja noutro lu-
gar referimos. Achoufe sédu-
uida na ccllocação delias círia
Flauia,hoje o Padrão , com os
maisBiípos Hcfpanhoes cha-
mados pcraiíTo pcUos qas acó
panhauãoj ou mouidos inte-
riorméte pello Spirito Sáto^q
das Prouincijs por ondcan-
I dauão
fAg 86.
CatAlMt
Bi ff os âa
Port» c.z
p.t.
9«
Cdúíiulo XIX,
daulo «rpalhados os fez virá
obra tão pia , & religiofa. Aly
fe conhecerão todos j aly íe de-
ráo de nouo as mãos , pcra cò
mayorcs fcfuores concinuarê
na conucrraÕ dosHcfpanhoes,
a quem o Cco de nouo fauo*
recia com o thcfouro Ao cor-
po de hum Apoftolo taõ pa-
rente,&r taõ amado deChrifto.
4 PrcTidio a efte ado Saõ Pe
dro de Rates Arcebifpo de
Braga como Prelado de ma-
yor , òc mais autorizada Igre-
ja entre todas as de Herpànha.
Por feu confclho fe tornou
cada hum a fua eftancia, &
Saõ Bafílio âdo Porto. Aly
pcrfcuerou com os mefmos
exemplos , & feruores por cf-
paço de mais de fetc annos ate
que em Rates feu condicipulo
Sa5 Pedro foi martyrizado no
anno de 45'. do Nacimcnto de
Chrifto , & ellc eleito Arcebif-
po de Braga pcUo Clero da
mefma cidadc,no primeiro dia
domesdcNoucmbro, q de-
uia fer do mcfmo anno.
í Pouco ou nadafabemos
do que em Braga fez , afsy de
virtudes , como de milagres
Saõ Bafilio.Dc crer he feria em
húa/e outra coufaefclarecido,
como de ordinário eraõ os va-
rões que beberão na fonte pu-
riííímada efcholade Chrillo>
& feus Apoftolos.Naõ he pe-
queno argumento defta ver-
dade o tellimunho que delle
derão as Igrejas de Hefpanha
efcolhendoo pêra em compa-
nhia de Santo Athanaíio Bif-
po de Caragoçâ, & Elpidio de
Toledo vifitar emfuascadeas
ao Apoftolo Saõ Paulo prezo
em Roma, &:Ihe leuaracol-
Icéla ou efmola j que os fieis
lhe ofíercciaõ pêra aliuio de
•fuás necelTidades ^ &í remédio
dos mais ChriftãoSjá quem a
crueldade de Nero trazia grã-
demente atribulados. Cõtae-
fte fuceílb í uliano com as pa-
lauras íeguintes. In memoriji
Sanã^ ItifU reperi,quõdEcck
f<e HifpanU elegerunt Atbana^
Jiii C^farAUguflanú^Elpidm To
letanúi Bafilm Bracharenfem,
qui cu alfjs^etia exIudaifmo,lsf
Gentilismo Paulú njinãú íío-
m<e nji fitar ent^ipfii^ munera^isf
refeãiones deferentes confola-
renturiqíiod ipfe Paitlus cap, i o.
EpiíioU adHebrsos do^et dum
dicit:l:t ^inculh rneis cópafsi
eflisiid^fuitfub m^fe Septcbris
anno Dní quínquagefimo nono.
6 Eftimougrãdcméte oSã-
to Apoftolo a muita charida-
de dos ChrirtaõsHeípanhòes,
& alcgroufe fobremaneira : c5
abod
67
Sao 'jBaJí/Jo.
99
a boa vinda de tão SantosPre-
ladoSjCm que não foi menos a
cõíolação de vere acjuellc pro-
dígio do mundo , aquclla trõ-
beta do Eiiangelho,aquelle ra-
yo da Fé metido entre mal fci-
tcrcs com tanto golto deíua
alma, que por nenhúas hon-
ras do mudo trocara aquellas
íuas cadeas.
7 Diz Juliano que o Santo
Apoilolo agradece© por carta
às Igrejas de Heípanhaaqucl-
la obra, & vilita , fem duuida
porque teue paraíy queella
carta do Santo Apoílolo fora
cícrita não aos Hebreus de le-
rufalem, fenão aos que viuião
por Hcfpanha, como foi opi-
nião de alguns antiguos ,&í o
he hojedc muitos modernos
allegados pellos expoíitores da
meíina carta,onde íe pode ver.
8 De Roma voltou São Ba-
íilioà lua Igreja, & delia em
breue têpo á cidade de Plaíen-
cia, onde foube eftaua prelo '
Santo Epitacio BifpodcTui,
aiH pêra oferuir em fua prifaò,
como pêra dar animo aos fieis,
peraq naquelle trabalho 'naõ
perdeíTcmacòfiança. EmPla-
íencia o prenderão , & me-
terão na mefma cadea , on-
de cítaua Sãto Epitacio,&: am-
bos cm vinte & três de May o
7«» foi.
12.
i.p.r.2
Farg.ltb;
2*C.2
na perfeguição de Nero (o an-
no certo íenaõ fabejíairaõ del-
ia a padecer glorioío marryrio
executado cõ nouas , & varias
inuençoés de tormentos,
9 Delta" opinião he o Biípo
de TuiD. fr. Prudencio de Sã- Wl^f^
doual,.& nos a feguimosno
Catalogo dosBifpos doPorto.
Delia íeapartaMoreno deVar-
gas na hiítoriade Merida , on-
de aftirma côa autoridade do
Padre leronymo Roman de
laHiguera,que Santo Epitacio
companheiro no martyriodc
Saõ Bafilio era Bifpo Metro-
politano de Merida poílo aly
pelloApoitolo S.Pedro quã-
do veo a Heípanha , & que na
meíma cidade de Merida , ou
em Braga padeceo martyrio
em companhia de S. Baíílio.
Proua elte diicurfo com as
obras de Flauio Dextro efcri-
tas de mão , como íairão da
liuraria do morteiro de Fulda,
que dizéaísy falando de Santo
Eçitaáo.Petms •ut Chrijii Vi-
carms Hijpanias adijt , imagi-
nes AntiochiadeUtasaffert^Epe
netum ibi Stxti firmi tn Betica
reliquir, tf Emeriu Epitatiú.
Saõ Pedro como Vííjairo de
Chrifto veo a Heípanha trou-
xe deAntiochia algiãas imagês,
deixou em Motril cidade de
U
Anda-
iCO
Capitulo XIX.
A'
d.cap.
Andaluzia a Epeneco por Bii-
po, ^ emMerida aEpicaciOj
òc ainda que as palauras, Isf
Emérita Epitatium , faltem
no liuro imprelío de Flauio
Dextro, podia íer por erro,
ou deícuido de quê o copiou,
porque em fauor delias eíH
o telhmunliode autores cra-
uilsimos que as virao no ori-
ginal do Morteiro de Fulda,
como afiirma o mefmo Mo-
reno de Vargas.
IO Náo ha duuidaqucno
mefmo tempo concorre© ou-
tro EpitacioBiípo de Tui po-
fto naquella Igreja pello Pri-
mas de Braga S, Pedro de Ra-
teSjComo íc proua dos frag-
mentos de Santo Athanaíío,
de cuja autoridade fenão po-
de duuidar como temos mo-
ftrado . Q3I deíles dous fof-
fe o companheiro no marty-
rio'deSa5Bafiliomal lepòde
aueriguar, & menos a cida-
de em que padecerão. Muy
prouaucl he foíle em Braga,
ou em Merida, &c não em Pla-
fencia como quer oBifpode
Tui , porque o Epitacio , ou
Epiteto,que aly padeceo mar-
tyrio,nãoconcorreo no mef-
mo tempo com o noílo S. Ba-
ldio, nem com os dous Epita-
cios de Tui,& Merida porque
toi muitos annos depois , co-
foi muitos annos d
moíevè de Flauio Dextro, q
o põem no anuo de zój-, do
Nacimento de Chriílo.
II E (íc aucmos de dar cre-
dito aRodrigo Caro ) Ambra-
cia onde Dextro diz que pa-
deceo Santo Epitacio, náo he
Plafenciacm Caltella, como
querem muitos , mas hc hum
lugar em Portugal perto de
Braga, que fe chamou Bracia,
&íe pode conieóturar ícriaa
villa de Bracellos diftante três
legoas da cidade de Braga , on-
de efte Santo padeceria niarty-
rio , Se a conie(5tura parecer
leue,não hc contudo alhea de
matérias taõantiguas, onde fe
julga mais por opinioens du-
uidoías^ que por verdades cer-
tas, as quaes nefte argumen-
to faõ difticulrofas de achar.
Fazem menção do mar
li
tyrio defte Santo os Martyro-
logios,Romano , de Víuardo,
Maurelico,&: Molano,&: dous
de mãoantiquiísimos , liií da
Igjrcjade Plafencia, outío do.
Mofteiro de Rorís defte Arce-
bifpado,q prirtieiro foi dcCo-
neeós Regrantes , & agora he
anncxoao Collegio de Braga
dos Padres da Companhia de
I E S V. Anda fua vida em
efcritos demaõ, & em hum
Dext.an
Chrifii
Caro in
nottsDex
trum M ,
65.
Floílan-
Sao TiãÇillo,
lOI
ta not'^
May.
Chron
an.Chrif.
37'
CAtalJ.os
Bifpos do
Forta d
.f^C. 2.
Floflancorum de Heípaiiha;
que íillcga Baronio,&; nòs a eí-
creiícmqs jano Catalogo dos
Biípos do Porco.
13 Importa comtudoad-
uertirduas conías :a primeira
que fedeue fazer grade diftin-
çáo entre dous Santos Ball-
lios , ambos do mcínio nome,
& ambos dicipulos de Santia-
go •, hum o noflb Biípo do
Porto, ôíArcebiípode Bra-
ga , outro Biípo de Carthage-
na ,cujafefta íc celebra aos 4.
de Março , em que a põem o
Martyrologio Romano ; am-
bos diílinguc clara , & aberta-
mente Dextro , &í ambos cõ-
fundio luliano tendoos por
hum ; donde veo aatribuir as
obras de hum ao outro_,&: jul-
gar a ertc noílb por natural de
Granada, 3c aquelle mefmo
manco, que pedindo címola
à porta doTemplo chamadaEf-
peciofaalcãçou faude da mão
de SaÕ Pedro, fendo alyleua-
do por Teus pays ludeus de na-
I çáo j ôc profiliaó. Mas ja dif-
íemos em outro lugar , como
o manco que íarou Saò Pedro
não fora onoíTo Saõ Balllio,
fenão o outro Biípo de Car-
thagenapellos fu ndamentos ,
quenomeímo lugar aponta-
mos.
14 A íegunda coulàj qix
ÍCideue aducrcir hc, que Julia-
no faz ainda no anuo de 59.
viuo ao noílb Saõ Baíllio^pois
naquelle Setembro diz foi eí-
colíiido pêra villtar em Ro-
ma a Saõ Paulo. Pello que pa-
rece não padeceo martyrio no
de 57. em que nòs o puze—
mos no Catalogo dos Biípos
do Porto cncoitados a auto-
ridade do Biípo de Tui Dom
Prudenciodc Sandoual.Por-
uentura fucedcria node íeí-
íenta ficado deíla maneira go-
zando eíla Igreja de Brasa de
leu cuidado Paíloral quinze
annos inteiros , que tantos
vaõdeió. de Abril do anno
de4j, em que Saõ Pedro de
Rates foi martyrizado a ly.
deMayo do defeílenta em que
Saõ Baíílio padeceria pellaFè.
Gouernaua a Igreja de Deos
neíle tempo o Apoílolo Saõ
Pedro, &:ocupauaa monar-
chia Romana o Empctador
Cláudio Nero.
t
d..c.
íolef. de\
16.
I3
CAP.
«^w.
I02
(Capitulo XX.
Brh.z.p.
monarc.
lé.i.
tnmanuf.
Vdfconf.
tndtfcrip
Portug,
Dex. sn,
Chrtfli
300,
yafAuan
Gariklib
7.^.44,
Padil.cet
4 c. 14,
BiMar 4d
Dcxt.A».
^00. com
4.».4.
Caro an,
^ooJtt.h.
Romart.
in wAnH-
fcrtptis.
Duarte
Nun. dif
crip.c.Ao
CAPirVLO XX.
SJM SILFESTRE
Mártyr deBraga.
O R naõ dize-
rem alguns de-
maííadamête a-
feicoadosàscou-
ias delta Igreja que lhe tira-
mos os Santos ArGcbirpos,q
outros lhe dão,quifcmos aqui
fazer memoria de Saõ Silue-
ftre , a quemfrey Bernardo de
Brito , o Padre Gofme de Ma-
galhães, &r António de VaÍGÓ-
cellosfazé Arcebifpo deBra-
ga, & o dão por íuccflbr de
Saõ BaflUo . O fundamento
nos o não vemos, nem clles o
apontaõ.Sobre tudo nenhum
dos autores, que o poderão
chamar tal , lhe arsinaraõ cfta
Igreja-/e bem o chamao már-
tyr de Braga , como fa5,Dex-
tro , loão Vafeu , Garibay ,
Padilha,Biuar,Caro,frey Icro-
nymo Roman , Duarte Nu-
nez de Leão, de cuja autorida-
de nos não parcceo apartar-
nos , alem de o martyrio de
Saõ Silueltre com o de Saõ
Virou ro,Torcato , Cucufate,
& Santa Suzana íuceder pel-
los annos de Chrirto trezen-
tos & leis na perfeguiçáo de
Diocleciano(como em feu lu-
gar diremos jem que eíla Igre-
ja tinha Arcebifpos de nome
bem difíerente \ ôc nefte em q
agora imos íuceder a SaÕ Ba-
íilio Santo Ouidio. Pelloque
ainda que reconhecemos, Sc
eftimamos a Saõ Sylueftre co-
mo martyr gloriofo deita ci-
dade, nemelleíofrerà ©faça-
mos intrufo na dignidade Pri-
macial, nem ella ncceísita tan-
to de Arcebiípos martyres ,q
hajadehonrarfe cõ osalhcos
ondeosproprios,&: verdadei-
ros faõ tantos.
CAPITVLO XXI.
HERMOLJO.
Erão húas pa-
lauras de lu-
liano ocaíião
a algíjs terem
por Arcebif-
po de Braga , ã: fuceflor de
Saõ Baíllio a Hermolao: as pa-
lauras dizem: Pofimortem Ba-
jilij Bracharenfis pr<edicat ihi
Hermo-
/« íidMert
Santo Ouidio.
103
Dex, Alt
I34.M.3
Bermolauspoíi Toletams.Co-
mofc fora o mefmo pregar
cm Braga, qucfer Arcebiípo
de Braga.O certo he que Hcr-
molao pregou cm Braga, co-
mo clcrcuc
fc
íuli,
ano
)OU-
1
CO depois da morte âc SaõBa-
íilio i mas quefoíTc feu Arce-
biípo,& íuccíTor do Santo,
nem elle o diz, nem ainda o a-
cena. Se foi Arcebifpo de To-
ledo o aueriguarao os que té à
fua conta a hiftoria daquella
Igreja: nos o nlo achamos no-
meado por tal ê os Catálogos
comuns, porem traio Dextro,
& o recebc,& approua por tal
frcy Francifco de Biuar , aquê
remetemos. os curiofos.
ÇAPITVLO XXII.
SANTO OVÍDIO
terceiro Arcebifpo de 'Bra-
ga.
A N T O
^ Ouidio efcla-
recido porsã-
gue, & muito
mais por fuás
raras virtudes foi Romano,&
da primeira nobreza daquella
cidade . Viueo fendo Gentio
cm amizade CO o grade Philo-
fopho Séneca , & c6 Máximo
Cefonio varão Cõfular, grade
no nome,enas obras.Seguioo
quando na conjuração Pifo-
niana, foi dcfterrado por Ne-
ro u ilha de Sicília , ou Cerde-
nha, &: foube trocar as delicias
de Roma pellas incõmodida-
dcsdo dellerro pornaÕ def-
emparar naqucUa afflieçaõ a
ícu amigo.
1 Entendemos fe cõucrteria
a Fè de Chrifto noíTo Salua-
dorpella pregação dos Apo-
ftolos Saõ Pedro, & Saõ Pau-
lo,como o fizerão outros no-
biiifsimos Romanos . Depois
foi mandado a Hcfpanha* (fe-
gundo alguns conicóturaõ )
por ordem de Saõ Clemente
Papa a fim de em Braga o ele-
gerem por feu Prelado na oc-
cafião que vagaua cfta Cadei-
ra pelIamorte,& martyrio de
Saò Baíílio^íè ja oSanto fenão
defterrou de Roma por não
poder fofrer as injull:iças,&
deuaííidoês de Nero,que corh
fua mà vida efcandalizaua ain-
da os mais perdidos daquella
Republica.
3 Mas ou vicííe poreíle^ou
poraquelle rerpeito,J3Íua vin-
da foi depois dos verfos , que
emfeulouuor copos o Poeta
l4
Marcial
104
Capítulo XXII.
\lih»j Efè
lik-j.Epi\
Marcial quando o vio ir dc-
ftcrrndo com Cefonio, & de-
pois conferuar em vukos de
cera Tua imagem. Dizem afsy .
Maximus ille mus Ouidl €£-
foniiis kic efi,
Cuiusadbuc ^ultum ijtuida
cera tenet
Htinc Nero damnauit ^fed tu
damnare Ne ronem
Aufiis es , l!fp-ofugi _, nontm
fatafequi.
j£quoraper ScylU magnus co-
mes exulis ifii^
Qui modonolueras confulis ire
, comes.
Si ^iãura méis madanttir nó-
fnínachartis,
Etfas eíi cineri mefuperejfe
meOj
Âudiet hcecprafensjl^enpura^j
túrbajuíjje
Illi ts y ScneC4 qitjd fuit ille
fuo.
Celebrando o mefmo feito de
Ouidio o antepõem aPylades,
no que lhe acontcceo có Ore-
íles íeu grande amigo , & diz
mandanaolhe por ventura A-
gum retrato de Cefonio,quá-
to os verfo; do Epigrama
dão a entender.
Facundi Senec^pctens ami-
cp:s
1
Caro proximus , auí prior
Sereno.
Hic ejl Maximus ille , quem
frequenti
Félix litera pagina falutat .
Hunc tu per Siculas fecutus
landas ^
O mãlis Ouidi tacende lin-
guis,
Spreuiíli Domini furentis
iras.
Miranir Pylademfuum ye-
tuflaSi
Hccfit qui comes êxul i pa-
rem is.
Quis dijcrimina comparei
duorum?
B^fjli comes exuliNeroms.
Ao mefmo Ouidio pertence
também outro Epigrama de
Marcial, em que o certifica,
que não eílima menos o dia
de feu nacimento que cahio
no primeiro de Abril, que o
feu próprio, ao primeiro de
Março , pois ncfte recebeo fò
vida , naquellc hum amigo q
eílima mais que a mefma vida.
Si credis mihi Quinte( quod
mereris)
Natales Ouidi tuas Aprihs,
Vt noíiras amo Martias
Kalendas.
Félix 'Vtra^ lux diefj^ hobis.
lib.^.Efi
Sirnandi
J
Santo Ouidio.
105
MagalX
inM 5.
Brach c,i
Âaa''r.m]
u^valef/is\
ad Mar ■ |
tial. diFlo
43- J
Binar. ad
Dex. an.
Caro in
1 Vex. an.
\Dcxt. à.
an
95'
í
Signandi melioribus lapillis^
Hic <-vitãm tribuit ^ Jedhic
amicum^
Plusdiínt Quinte mihi tua
Kalendt€.
Outros Epigramas ha de Mar-
cial pêra Óuidio feitos ( como
dizíamos ) quando o Santo
ainda eftaua em Roma . Q^e
comclle, &c não com outro
do meírno nome fale o poeta,
o fentem os Padres Coime de
Magalhães, (3<: Mattheus Ra-
dero ambos da Companhia
de I E S V S , frey Franciíco
de Biuar , & Rodrigo Caro^
comentadores deFlauio Dex-
tro ^ mouidos todos de boas
conie<Siuras,que ncUes íc po-
dem ler , & fundados na auto-
ridade de Dextro , que aberta-
mente lhe chama cidadão Ro-
mano.
4 Foi degrandifsimavtili-
dade pêra erta Igreja a Prelazia
de Santo Ouidio. Florecerao
em feu tempo nella grandes
fantos^entre os quais fe con-
taõ íís noue filhas de Lúcio C.
Atilio , & de Cahia fua mo-^
lher,cujas vidas Ic verão adiã-
te. Elleas preferuou da mor-
te, por fuainduRria fe bauti-
zaraõ , & com fua fazenda
le criarão, creceraõ,& vierào a
darem grandiíllnias feruasde
Deos _, & vltimamente a pa-
decer martyrio , em tellmiu-
nho, & abono de noflafanta
Fè.Dalhe os parabéns deite il-
lullre feito o Padre leronymo
Roman da Companhia de
I E S V S em hum hymno,
q em louuor das Sãtas copos,
onde entre outras coufas diz.
Gaude Sacerdos Ouidi
Tu Bracharenfis Pontifex^
Qiu meruiflijilias
Tçt ad poios tranfmittere.
5 O anno cm que foi eleito
para eltaCadeira Pr.macial,diz
Flauio Dextro foi o de nouen-
ta& íínco cm que fucedeoa
SaóBafiHo-, não porque na-
quelle morreíle feu anteceílor,
pois não paílbu dos feílenta
do Nacimêto de Chriflo, mas
porque ate então parece eíle-
ue vaga cfta Igreja , como que
eiperaua por hum tal Prelado,
&tão digno fuceílbr dos léus
primeiros dous lumes j^aÕ
Pedro , & Sao Bafllio . Con-
tinuou no gouerno de -fua
Igreja por alguns annosro na-
mero certo fc não íabc. Se
morreo quando foi eleito feu
immèdiato íuceílbr Saõ Poli-
carpo , chegouaos annos 1 50.
■■■■Ml ■■■— ^— j ■■ III — ^^— ^i— ■^— "^^
de
Sandoual
lilf.de
Tui foU
43-
I06
Qaptulo XX 11.
Fafcocel.
ind fcrip.
in AÍ. S.
de Prim.
f 34.
de nofla redenção , & trinta
Ôí íinco de íuaPrelaíIa. Do
género de lua morte não ha
certeza :os de Braga Ihecha-
mão comummente martyrj&
parece que o foi, porque em
tempo de Flauio Dextro cm
que ja fe celebraua íuafella, fò
a dos Tantos martyres admitia,
Ò<:feí1:ejauaa Igreja Catholi-
ca. Martyr lhe chama o Padre
leronymo Roman em húa
carta íua,que anda lançada nos
liuros authêticos do Cartório
defta St. O mefmo titulo lhe
dão os Padres António deVaí-
concellos, & Coime de Maga-
lhães daCõpanhiadelESVS.
6 Seu corpo (agrado poíTue
efta Se , & o venera em par-
ticular fepultura metida na
parede bem junto à porta
da íancriftia à mão dercita quã
do íaem delia ; tem letreiro
que diz afsy. OJ?a Beati Omdij
tertij Epijcopi Bracharenjis.
He particular auogado do mal
dos ouuidoSj em que tem fei-
to notaueis milagres , por vc-
tura porque nefta parte pa-
deceria algum grande tormen-
to: comoacontccco a Santa
Águeda ficando auogada dos
peitos , Santa Luzia dos olhos,
Sãta Apollonia dos dêtcs pella
merma re2 ão. Tem nejlte Rei-
no algúas ermidas onde no dia
deíualeíta.
que vem aos três
de lunho, íe venera fua me-
moria com miíla , & pre-
gação, como fe faz na cidade
doPorto no íítio que chamão
a Bandeira junto ao moftciro
da Serra de Cónegos Regrátes
de Santo Agoílinho.
7 Finalmente íe hadead-
uertir que fe não celebra o Sã-
to nefte mes , k. dia, por ncllc
cair íua bcmauenturada mor-
te, mas porque efta Seoeí-
colheo por não ter em lunho
Santo algum que propriamé-
te lhe percença.De Santo Oui-
dio efcreuerão Flauio Dextro,
luliano , & os mais de que no
diícurfo de fua vida fizemos
menção. Gouernarão por eltc
tempo a Igreja deDeos o Papa
Saõ Lino lucellor do Apoíto-
loSaõ Pedro, & depois delle
Cleto primeiro do nomc,Cle-
mentc primeiro, Anacleto,
Euarillo, Alexandre primeiro.
Tiucraõ a monarchia do Im-
pério Romano,depois de Nc-
ro,Sergio Galba,OthoSyluio,
Aulo Vitellio, Vefpafiano, Ti-
to Vefpaííano, Domiciano,
Cocceio Nerua Hefpanhol,
como quer S. líídoro , Vi- ,
pio Trajano , & fcu íobrinho
ElioAdrianotábéHeíjpanhoes.
CAP-
hro.pag
9.
Saox^afcos BifpcÇf màrtjn
BArrúr.
in chtro-
grafh.
íit. Ctila-
taináfàl.
74-
CAPITVLO XXIII.
S A M MARCO
loao Bijpo^i^f martyr.
ORcftes an-
nos padece o
martyrio na
períeguiçáo
ao Empera-
<JorDomiciano oglodoío S.
Marcos por íobreiíomc loáõ
pcra vir noiírar, & enriquecer
a cidade de Braga com o the-
fouro de fuás fagradas reli--
quias que nclla fe vcnèrão.
-Foi efte Santo primo^& com-
panheiro do Apoftolo Saõ Ber
nabejteuc por meftre ao Prin-
cipcdos Apoftolos Saõ Pedro
em cuja efchola aprcndco , &
na do Doutor das Gentes Saõ
Paulo, com quem veo a ¥{t(-
panha, & pregou na antiguã
Bilbilis pátria do poeta Mar-
cial , que eftà íítuada -onde a-
gorâíevèa cidade de Calata-^
yud,ou(como querem alguns
com melhores fundamentos)
no monte Baubala mea Icgoâ
da mcfma cidade , no Bifpado
de Tarraçona do Rcyno de
Aragaõ. Daqui voltou o San-
Ito peira Roma ohdé pregou^
«5<:cm outra cidade de Itália^
que íuliano chama Allio , &
hoje fe conhece cbrii o hoine
de Caílcllo de fanta Scucrã.
Foi edificada pòr Gregos^ 6c
pcllos Aborigíilcs pouòs ian-
tiguos dè Itália. Sàõ Pedirò õír-
denou^d: fagrôu Bifpoâó nòf-
fo Santo, òc o ehiiiou a publi-
car o Euangelhô ã outros pó-
uõs de Itália chamados Eqtii-
colosj òs quais cáhiáò junto
aos Sabinos ^de que fazem iiiê-
çáo Phnio j & òutrós autores.
Aquipella pregação da Fè al-
cançou gloriofa pàlmá de mar-
tyrio na perfeguiçãò dè Do-
miciano fendo Prefidcíite Má-
ximo. DcfteSântõ fe faz mé-
ção cm muitos lugatcs dòs ac-
tos dos Apoftolos y &c na Epi-
ftola ad Coloífenfes lhe cha-
ma o Apoftolo Sáó Pàulò pri-
mo de Saõ Bernabe ^ & tàmbé
fala ncUé em outros lugares.
Cahio ícu martyrio aos zy. de
Setembro cm que o pocm o
Martyrologio Romano ,Scò
nôíòu Baronio no mefmo lu-
gar.
1 FoitrcslaJádoocorpô dó
gloriofo martyr para cfta ci-
dade de Braga oíide jaz em
húa capclla antiquifsimà da iri-
uocação , & nome do mefmo
in aduerf
M4rh
Plm. lÁ,
neid. lilf.
7- Õuid.
fitfi. itb.
3*
AA Cot.
SànÉô
108
Capitulo' XX IIL
dPanuA
Santo líta no campo dos Re-
médios em. hum ícpulchro
antiguo de lafpc cuberto com
hua pedra que guarda as ia-
gradas relíquias. Por eilas obra
Deos muitos milagres , ôc faõ
viíitadas,&: veneradas de mui-
ta gente que concorre de va-
rias partes deantrc Dourou
Minho. A terra que fe tira de
juntoà íepultura íerue de re-
médio pêra varias enfermida-
des, & com deuação he leuada
pêra cura de muitos doentes.
EíH junto àcapella fundado
hum hofpital em que fe curão
enfermos pobres : deílc Santo
tomou nome a rua que cha-
maó de Saõ Marcos , porque
leua àcapella ode eftà o corpo
fagrado.
3 Vifitou a oAciprcfíe lulia-
no vindo a Braga em compa-
nhia do Arcebiípo de Toledo
Dom Bernardo , fendo Arc^
bifpoSaõ Giraldo.Deteuefe al-
guns mefcs no lugar , & affir-
ma que vio as preciofas reli-
quias com os ollios , Sc vene-
rou com o peito por terra.
Delle he o que temos referido
do martyrio, ôc tresladação
pêra Braga deite rico rhefou-
ro. Também faz menção de-
ite Santo o Padre Vafcócellos,
mas com menos noticia delle
da que nos deu íulianc; por-
que nem alcançou, quefora o
Santo aquclle Marcos celebre
da igreja Primitiua dicipulo
tão nomeado , & cflimado
dos cjous íagrados Apoítolos,
nem que fora martyr illull:re
de Chriilo pella pregação da
Fe. Porem conforma com Ju-
liano, em quanto diz, que de-
pois de morto foi tresladado
pcra Braga. O tempo , 6c mo-
do porque efta tresladação fe
fez lios cncobrio a antiguida-
dcjôc os annos que fepultarão
com eíla outras muitas me-
morias antiguas , que illuitra-
uão a Igreja de Braga.
CAPITVLO XXIIII.
AS SANTAS NOVE
irmãs gémeas. Virgens , if
martyres.
M O Sa con-
tar neile capi-
tulo as vidas
de noue ir-
mãs virgens,
&: martyres glorioías de noíla
fanta Fè^nacidas todas de hum
parto mais prodigiofo ainda
-r
na
jis Santas noue irmãs.
IC9
tdufrfa
H'-y.Rc
^■Ih.I oh
ftJ.a m
M.f. ai
f í. • »rf
tí>rats de
CUfOS >^A
C í rttnhé
em Ualh
na graça , que na natureza^
pcis nclie íc vio o Cco co-
roado com nouc fcrmoíiííi-
mas eftrellas cujos admiraueis
rcíplandores igualmente o or-
não acile, & ennobrecem a
cjdade de Braga pátria íuaj òc
de Teu pay , a quem luliano
cFarra cidadão delia . Foraó
fill-as cfta? Santas donzcllas
de Lúcio Carilio, ou como
outros melhor conjcituraó
Lrcio Cavo Atilio varaõ Co-
fularnaturaldc Braga , Go-
uernador das Prouiucias de
I.ulirania,& Galiza pellos Ro-
manos, ^ de Calfia fua mo-
iher moradores ni cidade de
Praga anibosGencios,& gran-
des idolatras.
Foi
pois
o calo
fc
me
chcgandofe a hora do parto a
Callia fe vio nelle may de no-
uc filhas que por a miukidaõ
a eípantarão , &: enuergonha-
raó . Fioufc da parteira ( que
Mémn ^^ liÇ^es do Breuiario de Ci-
Mdu f4g. guéçaxhamaõSilla, &: depois
li" H?\ ^^^ ^^^"^^^ 5 ^ marcyr) & raan-
tflMM! ) doulhe que fcm ninguém fa-
jfn*stei- herdaquella monRruoíídade
qr.iat em rr ■ • r
iiuCiKí tomalie as crianças , òí atoga-
jmto A das as entcrraflc aonde nuqua
Ey^eflx mais apparcccflem. Quis que
Ssntahe] logò aly disntc de feus olhos
Sí/L ^^ executaíTeaquella crueldade.
mas Dccs ordenou as couías
demancira, que cem outia
gente que fobrcueo , cuuc de
íairda preícnça c'e Cóllla cõ
animo de cm lugar mais rcti-
rado por em execução precei-
to taõ deshumano. Jacllaua
aparelhada a dar a morte às
noue irmãs , quando indo cõ-
íiderando a cada húa per (y as
achou a todas bellas , & ftr-
moías. Parecialhe que com os
clhos , &: geflo, lhe pediao
as innocentes vida ^ òi como
era chriíl:ã fentiaíc interior-
mente moucr a conccderlha.
Temia porem a ira de Calíia
fe algúahoravieílcem noticia
det£.lcouía, mormente que
fe lhe naó dcfcobria modo cõ
que as pudeíTe criar . Porem
a tudo acudio a Diuina Pro-
uidencia porque as mininas
forão liures da morte , & bau-
tizadas porordêdoArccbifpo
defta Igreja SãtoOuidio,dãdo
lhes pornomeIancbra,ouGene
ucrâj Eumelia^ou Eufemia,Vi-
toria^Marciana, Germana^Gé-
ma,ou Marinha_,QMÍtcria5Baíi
lifajVuilgeforte^ ou Liberara.
3 Entregues aamàschriftãs
crecerão as noue irmãs em vir
tnde,& íàntidaíe ainda mais q
nos corpos jC nos annos, tíào
por mcítreao Sáto Arcebifpo
K
Ouidio
lio
CapndoXXIIII.
OuiHib qas iníinou, & inftru
yordecuja' efchola fairaõ dou-
tiiíimasnos myfterios de nof-
líífantaFè. Asfdçoés doro-
ftOj o ar, & géíto que de
íí dauão com a confronta-
ção de feus nacimentos fo-
raÕ abonando o teftimunho
da parteira , que muito de-
pois lhe declarou a cada húa
per fy,& a todas j tintas co-
mo erão irmãs, & filhas do
Gouernador Cayo Atílio na-
cidas do mefmo parto de fua
molhèr Callía, a qual as man-
dara matar, & tudo o mais
que em fcu nacimento acon-
tecera, &c acima deixanios re-
latado . Creraõ as Tantas don-
zcllas o que lhes dizia, &
certas ja da verdade defta re-
lação determinarão viuer to-
das juntas na mefma cafa, af-
fy pcra fe poderem confer—
uar melhor na FèjComo pera-
q creceíTem mais na virtude ,
& fantidade com os exem-
plos húas de outras . Vota-
rão pureza virginal, conía-
grando fuás almas , &C cor-
pos àquellefcnhor, que com
taõ milagrofo parto as fize-
ra nacer , nacidas as liurara
da morte, que fua may lhe
mandaua dar , criandoas , &
fuftentandoas atê ly com pro-
— - ^
uidencia taõ particular,
4 Naõ fe falaua em outra
coufa fe não na fanta vida
que as noue irmãs faziaÕj
pafmauão todos de entre tan-
ta fermoíura, prudência, Ôc
outros doens da natureza,
porque fe fazião eil:imar,a-
uer tanto reíguardo , de cau-
tella , mormente pretenden-
do muitos mancebos no-
bres, òí ricos cafar naquella
cafa onde pellas irmans fe-
rem tantas em numero , òc
os dotes naõ mais que as boas
partes naturaes de cada húa,
cuidauaõ feriaõ logo admi-
tidoí ; fucedendo tudo ao
contrario , porque a nenhú
dauão ouuidos, nem outra
repofta mais que dizerem, ti-
nhaõ ja todas efpòfo, aquém
por nenhu cafo deixariaÕ,
pois nem em riquezas , nem
em gentileza, ou nobreza po-
I deriaõ achar outros, que o
isualaífem . Naõ atinauao os
Gentios onde hia dar a repo-
fta das fantas irmãs, fe bem
a julgauão por verdadeira,
pello grande conceito que
tinhaõ formado de feus me-
recimentos. Nem fe atre-
uiaõ a inquietallas cÕ demaíía,
ou fobegidão jtanto fc faz efti-
mar, e venerara virtude,ainda
dos
As Santas noue irmãs».
íl
dos próprios inimigos. Eira
uão porem deíejoios dç ía-
ber quem feria aquelle cfpoío
de cada húa^ de cjucm táo
pagas viuiaõ todas > &: por
cjLiem engeicauão os nobres^
os ricos , ^c os mais pcra cíli-
mar, & pretender cie íua pá-
tria.
j- Vierâõ entre tanto gra-
des prouiíoés y ôc decretos do
Eniperador, & fenado Ro-
mano a Lúcio Atilio j cm que
íc lhe ordenaua perfeguiílèa
ferrOj& afogo a ley dos Cíiri-
rtãos , naõ deixando com vi-
da nem com fazenda a todos
quantos a profcflkfiem. To-
marão ellcs decretos a Cayo
Atilio eftando na cidade de
Tui junto às ribeiras do rio
Minho ; tilihâ elle ja noticia
das nóue irmãs,pella fama que
corria de í dafermofura^í^ pu-*
reza j mandou as trazer dian-
te fy pefa faber delias emq
ley víuiáo , & qual determi-
nauão íeguir daly poí diantC;
Chegadas a Tuy, 6c appre-
fcntadasem ícu tribunal^ ve-
do ja com os olhos^ & achan-
do ainda mais do que antes
IheContauão^lhe perguntou
onde naccrão, cujas filhas
crão , âz a quem adorauao , fe
aos Deofes immortaes au-
tores, 6c confcriíadorcs do
impcrio Romanoiíea ÍESV
Chriílo crucificado per feus
próprios naturaes ? Rcfpon-
dco Gcíicuera, ou Genebra
a quem as outras obedeciáoi
quanto à pátria ícnhor, fo-
mos todas nacidas na cilade
de Braga 3 noílb pay es tu
mcfmo, ôc tuamolherCaU
/ia noílà may ? A Fe que pro-
feflamos hc a de lESV Chri-f
fto noílo Senhor , verdadei-
ro Dcos, & verdadeiro Ho-
mem j a auem fe os feus cru-
cificarão, naõ foi por culpas
próprias que não ouuc, nem
podia auer em fiia pcíloa,
mas por deíla maneira faluar
ao género humano, refga-
tãdoo da tirania do Demónio
com o preço de feu próprio
langue.
6 Pafmado Atilio do que
ouiraa Genebra mandandoa
recolher com as outras ír-
mansj&: vigiar com boa guar-
da j depois de aduertir na> íei-^
coes 3 Ôc gei^os de cada húa,
que grandemente lhe rcpr€4
fentauão a Calfiajfe foi a con-
tarlhe o que ou u ira , ôc en-
formarfe com ella íe leua-
uão áquellas eõulas algiim
caminho , Naõ pode Cal-
fia ( ordenándoo afsv Dcos
'II iWiiiillBi
t
Kl
jera
112
Qafitulo XXI III.
IDcos pêra mayor gloria das
Sancas Virgens ) negar o que
rinha paílatío , & claramente
confeíTou ao marido a verda-
de •, porem acrccentcu que
cila mandara matar as nouc
filhas que parira, & que com
effeito lhe diflèra a parteira as
matara_, mas que poderia bem
fer o não fizeílc _, òí ferião
aquellas mefmas cm que lhe
faiaua^ o que com facilidade
íe poderia aueriguar afsy pella
meímaparteira^que ainda en-
tão viuia, como pella con-
frontação deíeu parto com
o naci mento das noue irmãs,
&: pellas amas que as criarão.
Pedio depois defta tão ma-
niferta ^ & hberal coníiílaõ
Calíia a feu marido a deixaf-
íe falar com aquellas donzel-
las , porque por ventura com
cila íe manifeftariaõ mais, &
fe declararia melhor a falíída-
de, ou verdade do que lhe ou-
uira.
7 Vindas à prefença da
may as noue Virgens^ ou-
ue nas primeiras villas gran-
de fobrefalto dehíja,& ou-
tra parte j nem Calíía por re-
conhecer em cada hua dei-
las íua própria imagem po-
dia falar, nem as filhas ven-
dofe com a may fabiaõ o que
auiãoJe dizer. O íirndoque
aly paflaraõ foi , que Calíia
reconhccco as noue irmãs por
filhas , &: ficou delias de—
fenganada que ja mais àú-
xarião a Fè de Chrifto, em
que fe criarão aindaque na
emprefa deixaílem a vida à
força de puros tormentos .
Com efta reícluçaò a dei-
xarão taõ afeiçoada à nofla
fanta ley, que não teue mais
animo pêra pedir às filhas íe
apartaííem dcila ; antes prc-
tendeo perfuadir ao marido
fe óuueíle com os Chriílãos
brandamente _, &: com aquel-
las noue donzellas , quando
naÕ com piedade, peilome-
nos com diísimulação. Po-
rem como Cayo Atiho te-
mia as íeys dos Emperado-
res , não dando nada pellas
amoeftaçoés da inolhcr íe
rcfolucoa por as Santas Vu"-
gcns a tormento, & o execu-
tara fe por via de Çalíia, &
reu elação de hum Anjo as
Santas não efcaparao de luas
maõs tomando vários ca-
minhos quacs o Ceo a ca-
da hGa lhe hia defcobrindo ate
finalmente alcançarem to--
das a palma do martyrio na
forma que iremos contando.
A fefia de todas juntas fe ce-
icb
rou
As Santas noue irynas.
11%
Icbrou por muito tempo em
Hefpanha aos 1 8. de laheiro,
como tcíliHca lulianOj não
obílancc cclebraríe a de cada
húaem particular fcgundo o
dia cm que derramarão Tan-
gue pella defenfaõ de noíla
íànu Fe.
CAPITVLO XXV.
DEFENDESE O
nacimento das Santas noue
irmãs Js^prouaje com outros
femelhantes.
Lgijs ouue, q
cmfeuscícri-
tos puzeraj
duuidana tra
dição deíla
Igreja, ôc de outras muitas,
onde a fefta deltas gloriofas
Virgens & marcyres fc cele-
bra, quanto ao particular de
ferem todas gémeas, que no
mais bem admitem o q delias
referiremos. Pello que nos pa-
rece© antes de entrarmos na
hiftoria dcíeus martyriosdar-
mosaqui húa brcue noticia de
outros partes igualmente mi-
lagroíos, & prodigiofos ; pe-^
raque não fique dte difficul-
toíb de crer, por mais impof-
iuiel que pareça.
2. E peraque vamos com di-
ftinção perguntamos primei-
ramente fe faz aqui duuida ne-
fte milagrofo parto íerem as
que delle naccrao tantas em
numero ? Sc rodas íerem fê-
meas ? ou fe por ventura con-
fifteadifficuldade em ches:a-
rem as noue u^mas a idade,q
pudeílem profeífar, ôc con-
fefiar a Fé de Chrifto ,atê por
ella darem fuás vidas,& derra-
marem íeu ianque?
Não fe pode duuidar do
parto por numerofo, porque
no Peloponefo pario húa mo
Ihcr quatro vezes^ línco filhos
de cada parto . Em Roma fc
vio o meímo em húa efcraua
do Emperador Augufto Ce-
fara qual pario finco filhos
de hum ventre, no campo.
Laurentino. Em Alemanha
ouue húa molher como affir-
maRauifioTextor, que pa-
no feíTenta filhos , finco de
cada parto i & ainda que na-
turalmente, conforme à opi-
nião de Arirtoteles , feja eftc
o mayor numero dos filhos
que podem nacer de híj parto:
PllX. Itb.
Getlítb.
10. noã»
Atic,f.3'
I.J?p4ter
fde/elHt
K3
con-
314
Capitulo XXV.
\âefiíiU
contudo rlinio , ôc outros
Cerra/.in' n J \
l.Arcfiii autores O eitcnclem ate o nu-
l/f »• f -i* mero de fete, trazendo exem-
plos de partos femelhan restos
quaes no Egypto eráo muy
frequentes atribuindo efta fe-
cundidade às agoas do rio Ni-
lo^ que fertiliza aquellaPro-
uincia. Nem os luriíconíul-
tos defconhccem o parto de
fete filhos j porque o julgáo
por natural ^ &: entre os par-
tos numcrofos que , refere
de granes autores aponta eítc
o lurifconfulto Paulo, Ôi o
não reproua Vlpiano, E que
efta fecundidade Icja tão pró-
pria nas molheres de entre
DourOj & Minho, onde na-
cerão as Santas noue irmãs,
como natural nas do Egypto,
íe proua com muitos exem-
plos de molheres, que parirão
trcSj& quatro juntos: & húa
onuc na quinta deVillamayor
daHõra deTcixcira por nome
Branca da Rocha a qual pario
quatorle crianças dehú parto
viuas, & que receberão o Sa-
cramento do Bautifrno. Ia fe
vjraõ em outras Regiões a-
borfos de doze, vinte, dc(t-
tcnta criaturas. De dous par-
tos pario certa Alemã , que
naquclle tempo viuiaemlta-
Fí/flj,. ' lia, vinte & hum filhos, onze ,
l.antiqui
ff. JJpars
htere.pct.
l &fi p4«
iiíVci ff.
ttiem.
Barbofa
in rsm^f.
ador l.
ííb.^Mt.
loj.w. Z.
Tlin.li.j
r.ii.
Mben.
r»al.li.<^,
tf aí ^.c.
w
Chromtr
por húa vez , 6c dez por
outra , chamauafe Doiothea.
O Conde Verbofíao em Po-
lónia ouue cm íua molher
de hum fò ventre trinta &
féis filhos ; naccrãolhe em
vinte de laneiro doannode
izóp.contao Martin Chro-
mcro autor daqueila nação de
grande diligencia , & autori-
dade.
5 Q2?m não fabe dos 3 éj.
filhos òd filhas que juntos pa-
rio Margarita filha de Florên-
cio quartoConde de Holãda,
molher de Hcrmanno Con-
de de Hennemberg,noanno
dci27j.ounodc 12.78. todos,
viuos,c todos em cftadoqpa
deílcm receber asoa do fapra-
do Bautiímo , como tê auto-
res grauiísimos:& ainda acre-
centáo alguns que em certo
moílciro deReligioías de São
Bernardo chamado Luíduno
fe conferua ainda hoje a íepul-
tura defta Margarita,^ de íeus
3Ó5 filhos com o epitaphio,
que podem ler os curioíos no
Bifpo de Vulturara Symaõ
Maiolo, onde fe diz que às
fêmeas íe pos o nome de líà-
bel , aos machos de loá.o,6c q
o parto foi em fefta feira San-
ta às noue horas da manhã
doanno de 12,76 eftando a
Conde-
jinehr.
n CUm.
S'
de Siiciroi
m 127c!
j>ag 308.1
Meyer]
innal. li.
9-
.'^^arcel.
Donat.iit
bifl.mfd,
.-.24.
MayoL
diescanic
eellequia
Sdnt^^ noue irmãs.
115
D.lhf.
fnmíi, ei
ibi fcribi
Ib.i d
\fi(nfi\'ítio
\6 nrt..^
Condeça nos qiiarcc^& dons
de íua idadcFicalogo quedeí-
contentar por numerolo o
parco das noílas noue ir-
mãs hc querer por vicio na
verdade dos q acabamos de re-
ferir,t\:de oacros femclhantcs,
que íc acharão nos meímos
autores^ & ter íò por verda-
deiro o que não palia do ordi-
nario^ou íe vecom osoihos.
4 Menos duuidoro,(?>:fabu-
loíofaz ainda dcí1:c parto das
Santas Porcuguefas o ícr to-
do deíemcas ;pcrq comoa na-
tureza cm femelhantes prodi-
gios perde muito de íua vir-
tude ^ Sc efíicacia pella efpa-
Ihar por tantos fogeitos, bem
(c deixa ver chegara a cada híí
com menos vigor, &c naõ po-
derá íair cem o mais perfeito,
&: femprc delia pretendido , q
he a geração de machoj& não
de fêmea, como mais nobre
naquellaefpecie: mais fácil fi-
caua logo ã natureza iendo os
indiuiduGs deíle parto noue
auercm de fcr todos fêmeas, q
todos machos. E por aqui bé
fe deixa ver, que tudo o que íe
lhe oppoem de fabulofo he
fcm fundamento , & fó afim
de negar o que em boa filoío-
phia fe não pode contradi-
zer.
5 Kem cuidamos quejanê
por nunieroío , nem por ler
todo de fen eas deixará de pa-
recer verdadeiro o parto çíc
Callia^por vital íy,pois lendo
ofuccílb natural nao parece
lepodião formar as noue fi-
lhas em tanta perfeição, que
che^aílem viuas a durar tan-
cos annos. E peraque conol-
íos meímos exemplos nos cõ-
uenção os que tem o contra-
rio,refpcndcmq em Egypto
nacião muitas vezes íete ôc
mais criaturas juntas j mas né
Solino que o conta , nem ou-
tro algum autor diz viuião
por muitas horas, quãto mais
per muitos annos , como vi-
ueraõ as noue Portuo-ueías.
Os aboríos de doze, vinte, &c
fetcnta criaturas , erão abor-
íos, & por taes janãofizem
proua em parto que todo fe lo
grou. Vioíe,he verdade,o Có-
deVerbofiao de húa fò vez pay
de trinta ôc leis filhos j mas
por tão pouco tcpo q nenhú
durou efpaço confidcrauel .
Os trezétos & feílenta &c íín-
co da CondeíTa Margarita , ale
de não paífar cada hum na grã-
deza da quá:idade do dedo me
nor da mão de hum homem,
na mcfma hora que naccrão,
morrerão,
K4 6 Menos
Ii6
Capitulo XXV-è
V
■Jí—
6 Mjiio^erãoos quatro fi-
lhos,& oiitms tantas filhas de
Faulla em tempo de Augufto;
os íínco de íua criada, outros
tantos que ouue cm íua mo-
Iher o doutor íoaõ Celími,
é Berna cidade de Suizcros no
anno de 1554. três machos_, de
duas fêmeas, & com tudo o
meímodia que osvio nacer,
eííe mcímo os vio morrer.
Como pode logo íer que as
Santas noue irmãs naceílem
perfeitas,conrinuaílem , òc fe
lograílemviuas por tantos ?.n-
nos contra a comum reera
da natureza , que nos partos
cm que fe moílra mais liberal
de indiuiduos,ahy he mais eí-
caíTa de perfeições , & mais a-
uarcnta deanno.^?
7 A rcpolta vnica , & prin-
cipal a cilas ob:ecçoés era per-
guntar donde íe collige que
o parto de Calíía,em queDeos
tiraua a luz noue donzcUas
pcra tanta gloria fua , as quais
com profeílarcm a virtude da
pureza acreditaííem em Hef-
panha o eftado virginal , & cõ
darem fua vida, Sí Tangue pcl-
la Fèa multiplicaíTem na mef-
ma Prouincia,era natural, &
naõ verdadeiraméte mila^ro-
10 ? Qj£em diíTe fe auia de me-
dir eile prodigiofo fucelTo
pellas leys da natureza ? De-
modo que fendo tudo o de-
mais neílas glorioías irmãs
railâgrofo , fô o parto ha de
fer natural? E afsy dizemos q
aindaquc por força da nature-
za quando as Santas naccílem
noue juntas íe naõ podeílem
conferuar por muitos dias vi-
uasjpodiaõ com tudo quando
a graça as padrinhaua5& a om-
nipotência Diuina era a que as
tiraua a luz.
8 Mas pcraque naõ pareça
nos valemos demilagres,eíla-
do fò no que pode a natureza,
& no que lem pertinácia fc
não pode negar : nas hiílorias
humanas encontramos cm
noffo abono, òc juftifícação
prouas efricaciiLmas. No fim
deite capitulo poremos os au-
tores em que íe achao . Duas
porem deforça auemos de re-
ferir aqui, com que fc verifica
bem fer verdadeiro o parto
das noíTas noue irmãs San-
tas.
9 Antes que paílcmos a
Reinos eftranhos comece-
mos pcUo que fucedeo no
noíTo de Portugal neftc Arce-
bifpado de Braga quinze Ic'
j goas da meíma cidade . Mo-
raua na villa de Chaues hííâ
molher nobre por nome dona
Maria
Santas noiíe irmas^.
\\f
Maria Mantclla, ou Mareei-
la eafada com hum homem
principal do lugar deAnhele^
chamado Fernaó Gralho. Efta
mandou hum dia chamar â
hum caz eiró feu pcra oocu-*
par em feruiço de cafa ; tar-
dou elle, & náo chegou ao te-
po que lhe fora ordenado ; re-
preadeo o a fenhora , & elle fe
dcículpou q naõ viera mais
cedo porque de hum parco de
fua molher lhe nacerao duas
crianças que o obrigarão a lhe
buícar amas que lhe deíTem
leite porque nâo perece ílem.
Efpantadaa íenhora do cafo
lhe reípondeo, que naõ po-
dia crer que parco de dous fi-
lhos foíTe íegicimo^ances o ti-
nha poradulterino,& lhe pa-
recia que â dous pays fe auia
de atribuir . Mal pareceo ao
marido Fernâò Gralho a re-
porta de fua molher, acodio
logo com reprenfaÕ, & o Ceo
naó tardou com o caftigo.
IO Andando o tempo veo
ella a conceber , & o marido
pcllo que lhe tinha ouuido
começou a vigiar o parto. Su-
cedeo que fendo elle hum dia
aufente pario ella {çx.t míninos
machos taõ petfeitos em to-
dos os membros como feo
parto fora de hu fò . Foi igual
ao cfpanto á perturbação Ve^
do com os olhos o humero
dos filhosj & coma confide-^
ração a afronta que delics lhe
auia de refultar le o parto fof-
fe pubhco na vilía^ & chegãf-
fe à noticia de feu marido. Vé-
dofe neite aperto intentou hú
feito cruel indigno de inay,
qual foi efcolherdoá mininos
hum que deixou em caía com
vidados féis fentenceoU à mor-
te , & cõmeteo a execução
a húa eícrauâ , aquém õs en-
tregou com ordem que logo
os foíle atogàr no rio Tâme-
ga para que nãõ appareceífém
mais no mundo.
II Hiaaefcrauatiraravida
aos innocences bufeando o
rio que auia de fer o inftrumé-
to defuâ morte. Quando de
repente appareceo íeu amõ
Fernão Gralho , a quem ella
deu as ilouas do parto de fua
fenhora , dizendo que parira
hum mi nino. Perguntoulhe
o amo que era o q Icuaua cu-
bcrto \ naó queria a eícraua
refponder, inííou o âmo , &
com ameaças lhe mandou de^
claraíTe o que leuauà.Náõ pó-^
de ella reííílir , & veo a cônfef-^
far pêra onde híá,e a execução
mortal que queria fa2ef ríáá
innocétes criáçàí5,pedindolhe
que
r -- ■ — ~'
kH^
capítulo XXV.
\
que à não deícubriííe, pois
ihc não hia niílo menos que
a própria vida, Tomou o pay
os mininos , & deu os a íeis
amas pcra que os crialíem.
12, Crecerão elles j & che-
gacíosa idade de trcsannos,©
pay os veílio damefmaiibrc
que tinha dado ao ííliio que
ficara cm cafa , & pellas amas
os mandou trazer ante fy hú
dia de feira pêra os ver juntos.
O de caía tomou húa cana, &:
fazendo os jogos próprios da
quclla idade fe pos acaualo nel-
la,& começou pellacaíàa pai-
far carreiras. Entrou a enueja
nos outros mininos , & qui-
zeraõ também fer figuras na-
quella fefta ^ bufcaráo canas»
&: entrarão no jogo ; forriofe
a may , & zombando diílc.
Também os villafinhos que-
brem correr como o noílo Fer-
não Gralho ( queafsy fecha-
maua o de cafa.) O marido lhe
refpondeo.Pois íabei, que o
pay^ & may de Fernando , fjõ
os mefmos que dos outros,&
melhor he ferem ganhados q
perdidos. O mefmofoi ouuir
ifto a molhcr que darlhe hum
acidente mortal nacido do fo-
brefaltodeverviuos os filhos
que tinha por mortos , & ca-
iado da cadeira em q eftaua
íc lhe acabou j untamentea vi-
da.
1 3 Crccerío os fete moços,
& vierão a ler homés de mui-
ta importância . Edificarão
■&: dotaráo íete Igrejas a ía-
ber Santa Maria de Morei-
ias 5 Santa Locaya , Santa
Maria Demcrcs anncxa ho-
je a comenda de Carrezedo,
Santa Maria de Caiu a o anne-
xa a comenda de Noguiraj
Vi liar de perdizes, o Moíleiro
DozOjde que ainda hoje ha no
ticia, & a mctad a da Igreja da
villa de Chaucs . Na meiíiia
Igrej a tiuerao capella particu-
lar da inuocação de Saõ
Domingos conhecida pcllo
nome de capella dos Gralhos^
Auianella altar em quefe <íi^
zia mifla , & três arcos meti-
dos na parede cora húa fepul-
tura cm que elUua a may &í
filhos ao viuo retratados com
húas letras que diziaõ aísy»
Aqtiija^Maria MantelU com
fius filhos arredor delia. Dcf-
íczfc a^capella auera feteiita an-
nos pataíc reformar o edificio
da Igreja. Dura hoje a admi-
niftração delia em hum decé-
dente defta geração dos Gra*
lhos. Anda tfta hiftoria na bo-
ca de todos os moradores da-
quclla villa , & em cfpccial na
familia
Santas mue. irmãs.
119
Eiuay in
cÕtDext,
4». 1 3 8 .
n.6.
Seu/a
Fio. de
Heffanh
e-i- ex-
eel.i.u.^
fan^ilia dos Gralhos. Apon-
to u a Biuar com po uca certeza
por falta de infonnaçãosa que
leguem outros autores.
14 PaíTaiido aos Reinos
eftranhos,contaíe por coufa
aueriguada que chegando cer-
ta pobre com ires crianças
gémeas confi-go a pedir címo-
la à CondeíTa de Alterf no
Reino de Suécia chamada Ir-
mentrudis , ella lhe rcfpon-
dco:que pois aneccííidadea
obrigauaa viucr da charidade
dos fieis , deixaííe em caía a-
quelles filhos _, peraque não
foííem teftimunhas de fua dc-
foneftidade, pois não era pof-
íiuel naccrcmlhe todos defeu
marido . Cortou efta repofta
o coração , ôc efcandalizou
grandemente a pobre mifera-
uel , & com os olhos no Ceo
arrazados cm lagrimas , pedio
a Deos, que a CondeíTa expri-
mentafle cm íy como fe com-
padecia a innoccncia , ôc ho-
neftidade de hija caiada com a
multiplicação dos íilhos no
parto.
15 Foy afsy, porque cm
menos de hum anno fe achou
Irmentrudis com doze filhos
todos nacidos na mefma hora,
todos viuos , todos de hum
parto , Ã: taõ perfeitoSjComo
íc não fora mais de hum íò.
Veolhelogo à memoria qfe
manifeílaua o parto todoa ieu
marido , feria j ulgada delle^Sí
caíligada por adultera •, pello
que conferuando fò hum dos
mininos , ordenou a hi;a cria-
da fua , de quem fazia confiã-
ça , lançaíle os outros no rio .
Mas foi a boa forte dos onze,
que leuandoos ella enuoltos
na fayaacafo encontrou com
o Principe feu fenhor . Teue
elle curiofidade de lhe pergun-
tar que leuaua , & ella indu-
rtria pêra lhe refponder que
huns cachorros , que parira
húa cadella fua,os quaes hia la-
çar no rio. Mollrai ( tornou o
Principe ) fe prcfta algu deiles
pêra o criarmos. Não fenhor_,
reípondeo a criadajquc vão ja
todos mortos, & dencnhúa
maneira pêra voíTa excellencia
os poder ver . Dizendo illo,
deu a andar com toda apreífa
pêra húa janella donde auia de
lançar as crianças no rio , que
lhe paílaua por baixo, temen-
dofe que íè acurioíldadedo
Conde paílaíle adiante , feria
defcuberto o parto da fenho-
ra,& fua impiedade. Sofreo o
fenhor mal a reííftécia da cria-
da , & feguindoa vio o que le-
uaua,dando com os olhos em |
-- oiizc
j:o
£apituh XXV.
onze crianças todas da meí^
ma bcllcza. Paímado delia, te
muiro mais dacaufa porque
crio condenadas à morcCjCjua
do ainda não comcçauaõa vi-
Lier , manda a criada tenha o
nciToceo em fej^rcdo , & fò
diea à Condefia cllaua bcni
fcico cudo o que lhe cncomc-
dara.
I ^ C hamou logo o Gon-
de a hú íeu moleiro , homem
depredar, íl'por íiiaviadcii
adiaerfa^ amas os onze mini-
nos pondo todo o cuidado,
(k vigilância cm fua boa cria-
ção. Creceraó,chegarão a ida-
de de féis annos , queria os o
py leuar ja pcra caía , òc tra-
tar ao defcuDcrto como filhos
feu? . Mandou pcra iílo veilir
a rodos da meíma libre de que
andaua vellido o que a may
confcruara, naõ auia diíFcren-
çalios no corpo, nas feições,
nos geít^seraõ os mefmos.
Eisqiic cm hum dia defefta,
entrao todos pclla porca den-
tro da camará onde a Condcf-
fa eftaua,aprercntalhos o C5-
de , & com a boca chea de ri-
fo ♦, vejamos ( diíle) fcnhora
fc vos atrciicisa medizcr qual
deftes doze he o voíTo filho?
Errauaõ os olhos da may em
tanrafeniclhança. Entre eftas
perplexidades acreccnta oC5- |
de j pois eíles ia 5 os onze que
mandaftes lançar no rio , pêra
nellc acabarem a vida, mas o
^Cco os cohferuou pêra alegria
voílà, òi honra dcfta caía: Foi-
Ihc logo contando tudo o que
no caio paíTarà, &c como fe
criarão os filhos , & o mais
fuceílo de fua vida ate aquclla
hora . Pafmada a Condcfíá
do que via, &ouuia lançada
aos pcs do Conde lhe pcdio
perdão : òc diante de hua ima-
gem de nofia Senhora , pcra-
que defte caio fícafle eterna
memoria, fizeraõ ambos doa-
ção à May de Deos daquclíc
fitio, ^ lhe prometerão de
ncUe edificar hum moííeiro
de Saõ Bento , como edifica-
rão, ondefcmpredcfdoanno
de 800. em que ifto fuccdco,
atê o prcfentc íc criarão gran-
des íogeicos alli cm letras ,
como em virtude Os miai-
nos tomarão por íobrc nome
Guulphen,que vai o mcfnío
que cachorros , cem alufaS
aos que fingia leuar a criada
quando foi perguntada pcllo
Conde, ôi fcraó o tronco de-
lia nobiliííima família no Rei-
no de Suécia,
17 Tcue eftc fuceflb por tc-
ftimunhastodoaqlle Reino
em
gar»
Santas nouc ir 'mas.
cm que por muicos íccalos
íoi celebradillinio , ceue a ca-
ía Giiuciphen^qiic por con-
íeruau íua memoria (.ícixoii
o appcllido de Altorfe ^ d:
tomou o que ihc deu taõ no-
taucl accntecimcnto , teue
a fundação do moileiro das
Vinhas j onde em pinturas
de grande preço, cm efcri--
turas de grande autoridade,
ôí principal menix na boca
de todos aqaelles Religioíos
íe vio por grande efpaço de
annos a verdadeira relaçio
dcilc , fcm nenhum autor, ou
daquella idade ^ ou dos que
depcis le íeguiraÕ fe atreuer
a lhe por tacha de fabuloío,
pêra que nelle ^ & no outro
que acras referimos riueílem
as noílas nouc Virgens, &
martyres abonado teílimu—
nho de íeu prodigiofo naci-
mcnto . Saluo fe noíTos ef-
critores, &naturacs,tcm por
afiunto crer os prodigios,&
milagres , que ou a natureza,
ou a graça obra por terras
eftranhas , & negar os que
na fu3 fe vira5,qualhe o de
Chaues que atras contamos,
& o parto delias noue Virgés,
de que feda por autora a tra-
diçãode tantas Igrejas, q(co-
mo acima diziamos) celebra-
I uaó a fcib Heílas beniaLicr.-
taradas írmans : acujcsniar-
tyrios em particular he bem
que ja nospaílemós,auiían-
do por vitima concluíàã de-
ite Jiícurfo a quem o ler,
que quando íe não der ain-
da por contente cem csca-
fos taõ íemcihantes que aqui
lhe referimos , poderá achar
outros ainda mais prodirio-
íos no Biípo de Vukurara
Simão Maiolo , cm Pedro
Bouill:au, Cláudio Teíleran-
te, & Francifco Btlforeírio,
de quê rccolheo grande par-
te o autor que fez o liuro
que intitulou hiRo-
rias prodigio-
íàs.
Mayol. 1
d-es (om '
ni,colloq,
Pedr.Ed'
liijliia p. j
1. c. 31.
ClitHd.
leJJ.r.p,
CAPI-
12;
Capitulo XXFL i_Jleu
nrr.
Martjr.
\iRo'inane
tzo.de Ití
\Martyr.
; Vfuarâo
(20 /«/;/<
CAPÍTVLO XXVI.
SANTA LIBERATA
Virgem,isf Martyrjma das
nouê itmas.
Omcçãdopor
Santa J.ibcra-
ta ^ pocm o
Martyrolo—
gioRoinanOj
& JeVÍ uardo a íua feíla em zo
JeIulho,com nomede Vuil-
scfortc. O Romano à\t afsy.
InLiijitaniaSanCl.i Vuilgefor-
tis Virginis , tf martyris^ qiu
proChrãiianafide,acpudi€Ítia
decertans , in cVuce meruitglo-
riofum obtinere trmmphiim. O
de Víuardo. In Portugallia
Satiã^ Vuilgefortis Virginis^
Isf martyris, qiu amore casii-
tatis , ^ Chriflian^ fidei in
cruce moriens , feliciter tran-
Jitiit ad Dominum. Vem hum,
j&: outro a dizer, que em Por-
tugal aos io.de lulho padeceo
martyrio pella Fè,& caftidade
Santa Vuilgefortc , pofta em
hiia Cruz.
•:i Antes que expliquemos
;as palauras referidas , cm q fc
contem o martyrio de Santa
Vuilgeforte,hcneceirario de-
clarar os nomes porqeílaglo-
,rioía Santa he nomeada-, huns
lhe chamáo Vuilgeforts , ou-
tros Liherata , osTudefcos,
OntcÓmera , q vai o meímo q
alegrc^íem triiteza,& Icmma-
Icnconia. De todos nos aduir-
tcm Flauio Dextro , Iuliano,o
Martyrologio Portugues_^Mo
rales^Padilha, Marieta, Fr.Ber-
nardo de Brico^IacoboGrelíe-
ro^Antonio de Vaíconcellos,
fr.Luis dos Anjos, &í outros.
3 O nome de Liberara deu
ocaíião a quafi todos os auto-
res de noflo têpo_,afsy Caftc-
Ihanos como Portugnezes, a
confundiré cõ outra Santa Li-
berara,cuja fcila celebra em i j
de lulho a Igreja de Siguença,
poraly gozar de feu preciofo
corpo, fendo ellas em fy bem
diífercntes. Porque Santa Libe
rata dcSiguença foi Ií:aliana,&
natural (fegundo temos por
mais prouauel)dcComo cida-
de do Ducado de Miláo cele-
bre pcllo fcu fàmoío lago, Sc
por ferpatna de ambos os Pli-
nios, tio,&: fobrinho, Scáz
Paulo louio Biípo deNocera,
q cfcreueo a hiíloriade ícu te-
po.A nòfiaSátaLiberatanacco
êBraga na forma q ja di liemos.
AS.Liberata deltaliapoc oMar
tyrologio Romano çm 1 8. de
lanciro dadolhc fò o titulo de
yirgc. Nouocõmi SãttcLiberãta
Áíartyr.
lujitio,
Itdtj.
Moral.lí
O.C. ly. I
Aííirieta
h..\.c.\^
r.Befn,
_ . À.da
mcnarch
ll.^.C.lS
Jacob.
GreJJ. de
crticclib.
i.r.íjS.
y.ifí on-
/-cLm dif
erip.Por,
Fr. luis
dos yln-
j os no lar
diA Port.
pag.ii.
Aíartyr,
Romum. !
i^.IannÀ
rtj.
Âííirtjr,
f^fuardo
iS.Ianu.:
<uirzinis:
I
Santa Lif^ercií
(L^.
«k-4-
-1 1
como também faz Víuardo.
Anoíiátoi alem de virgem
marcyr pclla Fe, & pella caíli-
c!ade, padecendo em lo de lu-
Iho. A Italiana tresladou de
Florença pcra Siguença o Bif-
po Dom Simaõ Giron com
particular licença no Pon-
tificado de Bonifácio VIII .
c]ue íncedeo entre os annos
doSenhor 1294. &: 1301. co-
mo conlla do Breuiario da-
qucUa Igreja, nas lições das
matinas em i $■. de Iulho,quã-
do aly fe celebra ella feíla j a
nofía Santa Liberara nunqua
foi a Itália , nem entrou na ci-
dade deComo nem na de Flo-
rença.
4 Porventura que fe o Bif-
po Dom Simaõ coníultaraa
Igreja de Como pátria de San-
ta Liberaca , acharaaly melhor
cnfcrmaçáode íua vida, por-
que fcgundo lem.os em Baro-
nio nas annotaçoês ao Mar-
tyrologio Romano em 18. de
Ianeiro,ella fe guarda nos car-
tórios daquelia Igreja. Mas
comocmSis^uençaauia mui-,
ta noticia da Sãta Liberara Por
tugueía , có facilidade , por os
efcritorcs daquelle têpo não
fazcrê djílinçáo entre híía &
outra ,acom.odaráo à Italiana.
as coutas q eraõ próprias da
PcrtugLicfa,ea efta muitas cia';
c] pertence a. Itália iia. Aducr-
tiraò delia cSfjzaõ ,conÍ!.ika-
dos íbbre a màteriaj per car:as
íuasdeA^ollo-Setébro.e Ou-
tubro de mil & quii^hentos
6l nouenta & hum ao 111a-
ftriílímo , & Reuerencilhmo
fenhor Dom ApoOinho de
Caílro noflo predeceiíor os
Doutores Alonfo Villeoas
beneficiado em SaÕ N4arcos
de Toledo \ Fernão B can có-
nego de Badajos, & o Padre
leronymo Roma delaHigue-
rada Companhia ce lESVS^
pelloas bem conhecidas por
doutas, ik. diligentes nas anti-
guidades , & hillorias dc.Hef-
paiiha, cõ cuja autoridade te-
nros por íem duuida ferem be
differeDtes as duas Santas Li-
beratas,de Itália, ou Siguença,
& a de Portugal,
y Continuando agora com
o que pertence a noíla Santa j
íua vida foi peifttiílirra,- por-
que íaindo de iua cala , & pa-.
tria quando fe apartarão en-
tre fy as Santas noue irmãs íe
retirou por muito tempo a
hum ermo -^ aly fe deu todaà
contemplação, das couías di-
uina^ cm companhia de ou-
tros chriílaós^, que a quize-
raó imitar viuendocom elles
«•(
Li
cm
124
Capitulo XXVI .
c.i2-n.y
DíS.AH,
Chnfti
,138.
li
Juliano
in rhron.
j».x j8.e/
I in Acbier.
cm forma de Religião •, donde
parece foi a primeira que ne-
llas partes do Occidente co-
meçou a vida folitaría. Do q
fe pode bem ver a grande glo-
ria derta cidade de Braga , pois
não fò foi a primeira que fora
deludearccebeo aFè^ a pri-
meira que deu virgens, àc
marcyres ao Ceo ( como
vimos em Saõ Pedro de Ra-
tcSj& naquella Princefa^a que
o meímo Santo conuerteo )
mas*tambema primeira que
no Occidente profeílou ávi-
da eremitica, que depois fe
dilatou tanto, & com tanto
aumento da Fè , & religião
Chriftam.
6 Defte ermo foi tira-
da, & leuada prefa çom to-
do^ feus companheiros Sáii-
ta Liberara à cidade de Am-
philochia , agora Ourenfe,
conforme a Flauio Dextro,
ou à de Cale, como parece
mais prouauel , & o diz cx-
preílamente luliano, pêra aly
ou a poder de tormentos per-
derem ávida, ou deixarem a
Fè. Cale fe chamou anti—
guamente hija grande pouoa-
çáo que fícaua na 1 margem
efqucrda do po Douro , a
quemdecc pêra fua foz,aIy
aonde agora efta Gaya, a qual
com toda fua jurildiçáoafsy
efpiritual como temporal
fe veo pcllo tempo adiante, &
ja no Reino dos5ueuos a mu-
dar pcra a outra margem do
rio,eiç q vemos edificada a n^
biliílima cidade do Porto,que
de Cale& Portus íc chama cm
latim Portucalc , & delia todo
o Reino Portugal, como mais
copiofamére tratamos no Ca-
talogo dos Biípos doPorto,
7 Trazida pois à cidade
de Cale ( ou pello nome da-
gora ) ao Porto diante do
tirano ( que alguns querem
folie feu próprio payjSan--
ta Liberara, Òc íeus compa-
nheirosi pêra que maisaate-
morizaíTe com a villa detan-
tas mortes, quiz que padc-
ceíTe diante delia aquclle ge-
nerofo eíquadraõ, que cm
vida a acompanhara , & íe—
guira. Foi muito pêra vera
conftancia que todos mo-
ftraraõ entre tantos , & tão
vários tormentos •, mas mui-
to mais a íjeneroíídade com
que a glorioía Virgem os a-
nimaua, & não deixaua ate de
todo os vcrefpirar.
8 Por afrontar a pureza da
Sãta ordenouCayo Atilio,ale
uallcaccrtolugarondehomés 1
perdidos lhe fizeflé força-, mas j
a Vir-
í>p.c,i.
S.cnta 0:^iter'ia^
12$
2 9
a Virgem gloriofa com o fa- |
uorcToCeoíedcfciícIco delles |
valercíamentc , & conforme
o pedia, ^ lhe eftaua prome-
tendo alíniíicação defeunomc
Vtiilge forte. Eíia he a peleja, q
os MartyrologiosRomano,&
ce Víuardo dizc nas palauras,
(^ ja referimos tcuca gloriola
Santa Liberara pella callidade.
Cepois a mandou o pay cruci-
ficar, 3c na truz a teiie viua ate
lhe corcirem a cabeça, como
cícrcueluliano, &diz cxpreí-
ínmcnte o Brcuiario de Si—
çucnca.
*) Foi feii martyrio pellos
annos de Chrillo 13S ,como
cxpreílamente o tellífica FJa-
uio Dextro dizêdo, Anno Do-
mini centefmo tri^efimo oclauo
V^tiilgefor risquei Liberata Ca-
tilij Lufítanorum regtdi Jilia
pafa eH Amphilochij. Toma-
rão grande deuação comeíla
Santa todos os pouos de Ale-
manha, chamáolhe ordinaria-
mente Sita OenfomeKy que vai
omeímoque alegre, &íeni
triíle7a. Porventura Ihcda-
riáo efte nome pella extraor-
dinária alegria coque fofrco
a morte, ou porque a tem por
Santa auogada contra o mal
de malenconia. As relíquias
àcí\ia erande Virgem , ôz Mar-
lyr fcpultaraõ os ChrilUos
na mcíma cidade dt Cale Naú
íabcmos fc tresladaílem daly
pêra outra parte^porq as de Si-
guença(como jadillemos)íaõ
as de Santa Liberara de Itá-
lia.
CAPITVLO xxvn.
SANTA QjlTERlA
Virgem, b' Martyr.
Aõha duui-
da fcr cila glo
rioíaSátahúa
das iioue fi-
lhas de Lúcio
C. Atílio ,aíli o diz có palauras_
claríílimasíuliano.yir-^íí? mea
cehbratur mazna rcli^ione Sn-
ãa Quitéria Jj oãoforores eius
per Hijpanias filias Lucij Cati-
l/J •■virí Confitlaris^ tf Pr^fidis
Galecu^ ijf Lufitanu , pátria
Bracharenjis , tf eius terr^
reguli. Q^er dizer, nefles tem-
pos íefeltejacõ grande deua-
ção por toda Hcípanha Santa
Qoiteria, &c fuás oito irmans
filhas de Lúcio Catiliovaraõ
CõfuIarPreíídéte de Gahza,«Se
de Lulítania natural de Braga^ ,
Sc fenhor da mefma terra. I
/« ííãntr
L3
Con
126
Capitulo XXVII.
! Fahnt.
2- Contão delta Santa os
autores que eícreucraõ íua vi-
Brimrio da , que mandando feu pay
quando foubc da aufencia, &
ftigida das filhas gente que
lhas bufcaílc , & trouxcílc
outra vez a caía 5 deu a pou-
cas jornadas com Quitéria, &
com todos os qucconíigole-
uaua. Perfuadirãoíe feriaó lo-
go todos mortos à força de
tormentos, afsy pellaFèquc
profeíl'auão,& perfcguia tan-
to Cayo Atilio, como por íe-
rem complices no delito da
filha acompanhandoa em fua
fugida . Mas Deos difpôs , &
ordenou as couías de maneira,
que Quitéria foi bem recebi-
da do pay,3«: com os mais paf-
fou com diflimulaçaÕ.
3 Tinha Qm teria grande
trato , & familiaridade com o
feu Anjo da Guarda. Appa-
rccialhc de ordinário cm for-
ma viííucl, (& com confelhos
a cncaminhaua ao que via fer
mais fcruiço Diuino. Elle lhe
aconfelhou que rctirandofca
tempos de fuás criadas, &
mais trafego da cafa do pay,
fubiífc ahiá monte que den-
tro da cerca dos paços ficaua,
& a hiftoria chama Oria j &
aly paílàflc algíías horas tra-
tando com feu efpofo,& com
os cidadãos da gloria, que de
boa vontade lhe aísiílirião.
Vieraõ a notar os da caía de
Cayo Atilio cilas taofrequé-
tcs faidas da Santa ao feu mo-
te, Sc como os entendimen-
tos dos homcs íaõ prontos
cm julgar todo o mal , entra-
rão cm fofpeitas que fazia a
Santa aquelles caminhos le-
uada de intentos dcshoncftos,
afrontofos pêra fua pcíloa, &
muito mais pêra a cafa de feu
4 • Chegarão eílas fofpei-
tas a Atiliojporem aSanta Vij;-
gem as 'desfez com tão cííca-
zcs argumentos de fitainno-
ccncia, que o pay nãofò íc
deu por fatisfcito, & dcfenga-
nadodo que malicio lamente
lhe quifcraõ perfuadir , mas
ainda liberalmente lhe conce-
deo fizcíle da ly por diante,
ainda com mais frequência a-
Suellas fuás retiradas do mo-
o que melhor lhe pareceflc.
Em oração eflaua a Santa húa
vez neftc monte quando ap-
parecendolhc o feu Anjo cm
forma muito mais fermofa,&
rcfplandeccnte que a ordiná-
ria, lhe reuclou como Deos
era fcruido Icualla em breuc pc
ra fy , pclla gloriofa morte do
martyrio.
5 Quan-
Síínta Qmteriã—f.
127
l
5 Quando a Santa deceo
cio monte achou pqr hof-
pcdes de ícu pay dous dos
principacs ícnhorcs daqucllas
Prouincias,cjueavinhão pedir
por niolhcr^ chamaa hiíloria
a hum dcUcsGermanOjdo ou-
tro calla o nome. Inclinauafc
A cílio a dar a hlha a Germano
pcllo bem que lhe eílaua elle
cafamcnto-, mas cila confidc-
rando o perigo em que aqucl-
las bodas a meciaó de perder
fua pureza, recorrendo à ora-
ção pedia a Deos lhe dcfco-
brifie caminho por onde pu-
delicperícuerar virgem , co-
mo a íua Diuina Magefta-
de tiiíha por voto prometi-
do. Aqui lhe tornou a appa-
recer o feu mefmo Anjo, que
a certificou da protecção Di-
uina prometendolheda parte
domeímoSenhorj queperíe-
ueraria-toda a fua vida virgé;
6 no cabo delia feria premia-
da com glorioía palma de
martyrio . Ordenoulhe mais
feíaille da cafa do pay pêra
aquellas terras onde cUc a iria
guiando , Icuando coníigo de
íuas criadas, & conhccidos,&
de outros chriftaõs , osquea
quizefiem acompanhar.
6 Logo que fe foubeda
partida , ou fugida de Qnjte-
ria , quiíera Germano ir cm
feu alcance, mas Atdio(por a
couía íe fazer com menos
eílrondo , & mais fuauidade)
ordenou fo fie gente de fua ca-
fa, aqual perfuadiíle à filha dci-
xaíTe os intentos que leuaua^
(ík fc cornafle à fua obedien-
cia,&:accitaífe as bodas de Ger-
mano , pois aquillo era o que
lhe conuinha pêra viuer quie-
ta , & autorizada. Adiante co-
taremos o que a eftes meíla-
gciros aconteceo com Santa
Quitéria. Entre tanto com
a boa guia do feu Anjo foi a
Santa dar cmhíã valle, aqucm
cercaua hum monte chamado
Columbino,ou Columbario,
não muito aípero de íubir, o
qual no mais alto tinha húa
ermida dedicada ao Principe
dos Apoftolos Saõ Pedro. Aly
diíle o Anjo à Santa que fe-
ria íua morada, & dos ícus ate
que Deos foífe feruido corti-
prir as promeílas que Ihcauia
feito . Afsyfoi, porque na-
qucllc monte, & ermida ga-
llauáo todos muitas horas em
oração , Sí paíTauáo as noi-
tes cm vigias -, viuiaõ cm per-
petuo jeium,&pcnitcncia:cm
fim fazião vida mais de Anjos
quede homens.
7 Pertencia o monte, &
L4
ermida
i~á
Capitulo XX VIL
crmiJa is terras de hum Tc-
nlior,a quem huns chamão
Lenciano_,OLitros Lucíiuan,ho
mem apoílata de noíla fanta
Fè, &: íobrcmanciraauareiito,
porque alem Ác outras tira-
nias que centra íeus vaflallos
tinha executado de nouo mã-
dará deípojar todas as Igrejas
dcrcudominio da prata, que
nellasauia , & traraua de ane-
xar os ChiiíHos, a quem as
pcrfeguiçoés dos Gentios dei-
xarão com vida, ainda com
mayores tributos dos que Ibc
eráo portos pêra poderem vi~
ucr. De tudo teuc reuelaçao
Santa Quitéria , pello que de-
terminando de tirar daquelle
miferaucl eílado aeílc deíauê-
turado peccador íe foi com fua
companhia (eráo por todos
trinca molheres,& íeis homés)
jà cidade onde moraua , & aly
com húa mais que humana
;fcrtaleza o reprendeo a elle
de fuás maldades , & a outros
dous Bifpos também apoda-
ras da Fè,prometendolhc a to-
dos da parte de Deos peidaõ^
; quando quifeficm emendar
ifuas vidas , & lançar maõ da
penitencia fugindo da juíliça
Diuina^que cllaua pêra defcar-
tegar (obre elles, canfada ja de
eíperar fua emenda , 5r de
íofrer íeus grandes deíafo-
ros.
8 bailio de fy Lenciano,
Ôc querendo arremeter à San-
ta jpera por fua própria ma 5
lhe tirara vida/endo impedi-
do dos íeusj fe contentou por
então com mandar meterem
hum cárcere a ella,6<:atodos
osqueaacompanhauão. Aly
cíHueraõ có eftreitillima guar-
da, fcm lhe darem fuítenta-
çáo algúa corporal. Mas Deos
teue particular cuidado de to-
dos mandandolhe o ícu Anjo
que osanimaíTe, ^<. confolaílc
apparecendo no próprio cár-
cere vcftido de luz , & fermo-
fura,de tal maneira que fò pcl-
la que fe via fora , & pello ce-
leftial cheiro, que de todo a-
qucile cárcere íe ícntia íair , as
guardas fcconuerteraõ,& pe-
dirão o fagrado Bautiímo à
Santa, que deboa vontade lhe
foi dado, inftruidos primeiro
nos myftcrios de noífa Santa
Vè^d<.:í outros muitos^quepor
fua induílria vinhâo ao cárce-
re ouuir a palaura Díuina.Cõ-
correraõ cambem a tomar a
benção da Santa Virgem vá-
rios enfermos ; a todos alcan-
çou de íeu Diuino efpofo a
faude afsy corporal como ef-
piritual, faindo de fua prcfen-
ça
Sdnta QmteriíL-..
129
ça muitos cegoSj & aleijados
com virta , pes ,&: mãos, ad-
mirados todos, & louuando
a Diuina mifericordia^quc taÕ
liberal íe molhaua com feus
Santos.
9 Perdia Lcnciano a paciên-
cia com as nouas deftcs pro-
dígios •, atribuyaos todos a ar-
te magica, Òc a poder diabóli-
co . E determinando de não
deixar com vida nem a Santa
QLiiteria , nem aos que leua-
dos de fuás palauras feguião
fua doutrina, com animo de
dar a execução eftes danados
intentos fe Tahio de feus pa-
ços acompanhado de muita
gente de armas . Ia eílauais
portas do cárcere quando íu-
bitamente lhe faltou todo o a-
lcnto,&: mouimento pêra en-
trar nelle, ficando immouel,
cego, òí fem ouuir/eito hum
tronco^ou húa cílatua de pe-
dra, ordenando© afsy Deos
pêra proueito feu , & daquel-
les que o acompanhauaõ. Bê
entenderão logo os criados
donde lhe vinha o mal, & dó-
de poderia cfpcrar , ^ auer o
remédio daquellc feu fubito
acidente. Tomarão no nos
braços , òc aprefcntaraó no a
Santa Quitéria, & cm feu no-
me prometerão de cumprir
lhe foílc
idado.
quanto me toílc man(
íe cila o tornaua a fua antigua
íaudc, ^ ao cílado cm que
pouco auia fe tinha viílo.Pe-
dioaSanta não mais que fe-
gurança pcra os guardas do
cárcere, & pêra todos aquel-
les que por lua pregação ie ti-
nhão conuertido à noílalan-
taFc, qucnemfcrião prcfos,
nem vexados nas peflbas _^hõ-
ra , ou fazenda . Com ilto fe
pos em oração*, & a. pouco
efpaço Léciano cobrou o ou-
uir, &c com.clle o conheci-
mento do miíeraucl cftado a
q o tinhaõ chegado feus pec-
cados; chorou, lamcntoufc,
pedio perdão à Santa , & a
íeus companheiros , olíere-
cendoíc a toda a latisfação,
quando Deos foífc ícruido
de lhe reílituir também a vi-
fta. Fcslhe Santa Quitéria o
final da Cruz nos olhos , ba-
fe j and olhe nellcs, & como fe
aquelle fpirito leuara coníigo
a vifta, afsy lha reílituyo pcr-
fcitilsima com grande con-
tentamento do mefmo Lcn-
cianOjC de todos os prcfentcs,
que grandemente íecompa-
dcciaó de ver ao fcuPrinci-
pe cego , mormente depois
queellc moftraua arrependi-
mento de ter perfeguido a-
íía
que
—
130
Cdpttulo XXVIL
j aqucllabemauencurada com-
j panhia. Quis leuar coníigo a
j íèiis paços a Santa Q^reria,
• mas a. Virgem íc eícazou de
entrar nellcs , dizendo que o
iiao faria em quanto fc não
.'dérpejaílem de tudo quanto
tinhaõ alhco , mormente da
fazenda das Igrejas^ ornamen-
tos fagrados , &í bens dos
; OhrirtaõSjque na períeguiçáo
paíkda lhe foraõ com tanta
; mjuftiçaroub^dos.
\ lOJO .Sempre foi difficultofo
dcreftituiro malleuado.Nem
ainda em tempo que emfy
exprimentaua Lenciano tan-
tas marauilhas pode acabar cõ-
íígo comprircfte confelho da
Santa, antes pello náoouuir
outra ve;í de fua boca íe a-
partou delia trifte, &: malen-
conizado. Tornoufe Santa
Quitéria com todos os fcus
ao íeu montCjd: aly viuia imi-
tando na terra o-quc í"azé no
Ceo os eípiritos, bemauentu-
radps. Rogauapòr Lenciano,
por feus vaflàllos, pellos dous
Biípofi de què ja Éilamos; &
obraua tanto a graça no cora-
çâo de todos quaiito fe vio
na grande mudança de Len-
ciano., porque cm brcues dias
arrependido de fuás culpas fez
reftituição inteira às Igrejas
do q lhe tinha leuado,aOs chri"
ílaòs de fuás fizêdas, <.\: pellos
pobres rcpartio com grr.nde
liberalidade muitos theíou—
ros.. . uio:} BUíiíiom 3í l
II Perafe afíesurar fe eítas
obras erao aceitas a Dcos liia-
dou Lenciano pedir a Santa
QjA^ceria quizeiie veríe com
elle na lua cidade, Òc paço^
aceitou o a Santa -Virgem,
porque ja não auia os mcon-
uenientcs paííados , ôí logo
que entrou pellas portas uc
Lenciano podo os olhos nclle
leuada de hum elpirito mais
que humano , bemauemtura-
dojdiíle, fois íenhor poisem
vidaíoubeíles fazer peniten-
cia de vollos peccados . Sem
duuida algúa fois hum dos
queaDiuiua bondade eíegeo
pêra lhe comunicar os grandes
bens que no Ceo tem apare-
lhados a íeus efcolhidos.- As
meínias nouas vos dou a vos
íantos Prelados •, he verdade
que como fracos cailles , mas
também hc verdade que co-
mo generoíos vós Icuantailcs.
Pcrícuerai que não eftà niuy
longe .voiía redenção.-paíla.rçis
embora dcrta vida pêra a eter-
na_,teiliiicandocó voílb fin-
guc o grande preço que fazeis
devoíIàFc, Também minha
1"
-?eri-
Sdnta OiHteriO-^.
121
pcrigrinação clU ja no fim, |
porque dacjui a onze dias I
me tara Deos , & aos que ;
comigo viucm am.erce tantas I
vezes por clie amim indigna 1
de tanto bem prometida , Ic-
uandonos a gozar de lua glo-
ria pclla illullre palma do mar-
tyrio.
\z Foi grande o aluoroço
com queLenciano,<3v: os dous
Biípos receberão as alegres
nouas de íeu perdaÕ. Naõ fe
lhe deícobria porem com^o em
tão breue eípaço piídelícacó-
tccer perderem a vida Santa
Quitéria, & íeus companhei-
ros lendo martyres , parecen-
dolhe que ninguém íeatrcuc-
ria na cidade aonde elle era íe-
nhor, & taõ poderoío , a co-
meter tal crueldade, E peraq
cm íua aulencia naó aconte-
ce0c algum delallre íeíoicÕ
a Santa , & todos os mais que
a acompanhauão, & grande
numero de íoldados pêra aly
a guardarem , &: defenderem
aquelles onze dias cm que a
Santa virgem dizia fe acabaria
por martyrio feu dcfterro.
Mas quem pòdc impedir as
traças da Proiiidencia Diur-
na ? Chegado ao monte Lcn-
cianocom a fua gente de ar-
l mas, em lugar dolílcncio, òl
quietação que aly buícauao
Santa Quitéria , icus compa-
nheiros yòí os dous Biípos,
que também Ic lhe queriaó
dar por dílcipulos , não íe ou-
uiapor todoaqucllc deílrito
mais que ellrondo , 5c ruído
de armas, <Sí outros impedi-
mçntos,&: iuquicraçocs que a
gente militar coíluma trazer
confino. Pedio então Santa
Quitéria a Lenciano os dclpc-
diHe a todos, porque quando
Deos quizelle defenclellos, ou-
tros prefidios mais aponto ti-
nha com que o pudeílc fazer,
Icm çntre tanto lhe íerê eltcr-
uo, antes grande ajuda pcra
continuar nos exercicios pêra
que le recolherão âqueíle mo-
te.
1 3 Em quãco Lenciano da-
ua ordem a que a íua gente
militar dcixaíVe o m.onre de
Pombeiro, &: fc recollicflc á
cidade C Atiho,& Germano,
pay , & efpoío que pertendia
íer de Sanna Qiiiteria , eípera-
uaõ ambos com ízrandx cui-
dado aos que tinhão cnuiado
bufcar a Sanca Qmccria. En-
contrarão na ertcs depois de
jacllarà fombra ào cm paro,
& protecção de Lenciano, &
por cila cauía fcnãoatrcucfão
a cõ violência a fazcré voltar
a caía
152
Capitulo XXVII.
a caía do pay , íe bem lhe per-
liuidirão com grandes rczocs
o qmzefie fazer de íua vonta-
de . A reporta foi que como
ella tinha Je muito tempo ef-
coihidoj &: tomado por eípo-
fo a Chrirto lES V , a quem fò
de ícus primeiros annos fe cõ-
íagrara, idlhe iiao ficaua ki-
Par de aceitar a Germano , né
a outro qualquer queaprete-
cíeíle , ou feu pay lhe bufcaí]c_,
& muito menos de viucr on-
de pudeílèm correr perigo
eíles íeus bons intentos ^ &
íàntos propoíítos. Referida
crta reporta a Cayo Atiiio,
dandoíe comeJla grandemen-
te por afrontado Germano _,
armado com o poder , »& li-
cença do que pretédia por fo-
gro , & muito mais de fua ira,
& furor , ajuntando grande
numero de íoldados, ÒJ guia-
do por alguns dos que íàbiaõ
onde Sáta Quitéria Hcaua, deu
como de repente fobre aquel-
la bemauéturada companhia;
òi íem ficar nenhum dos que
aly fe acharão com vida , os
paílou todos ao fio daefpa-
da. Foi a primeira Santa Qm-
teria morrendo às maÕs de [m
aportara, a quem a hirtoria ,
chama Dumano . Aconte-
cerão cm feu martyrio dous
calos bem notaueis.Foí o pri-
meiro que em lhe cortando a
cabeça a Santa Virgem a to-
mou com fuás mãos^ &ícfoi
andando com eila ate a ermi-
da de Saõ Pedro , que ja diílc-
mos eítaua naquelle monte.
O ícgundo , que por todo a-
qucUceípaço a forão acom-
panhando innumeraueis An-
jos, entoando cânticos de ale-
gria.
14 Qs mais que aly pa-
decerão forão trinta donzel-
las companheiras de Santa
Qj.iiteria ; a húa íò nomea a
hirtoria de ícu martvrio, &
diz íe chamaua Columba^on-
\ tros ha que lhe daÕ o titulo
j de Infanta, mas nada dizem
de íeu pay , nem de que cida-
de , ou P^eino era . Padecerão
também naquelle dia,os dous
fantos Biípos, (S:Lenciano o
íènhor daquella terra,cuja pe-
nitencia foi ta õ grata a Deos,
como por fua boca a Santa
Virçrem o certificara . A fora
ertes fe nomeaó Simplicio,Re
migio,& Columbano:demo-
do que por todos vieraõ a fa-
zer numero de quarenta peí-
foas , as mais delias ou quaíi
todas Portugucfas , fe o mar-
tyrio de Santa Quitéria foi
dentro nerte Reino, porque
no
Santa o^d^rrinho-s.
133
luUar,.
hl chrov.
\pig. 25.
«■19-
no particular de aueiiguar a
cic^adc onde aconrccco íia gra-
de diiierhdade de opiniões co-
das nacidas da muica incerte-
za que temos das coufas de
Hcípanha , pella grande bar-
baria, &deícuido de todas as
boas letras, que nella intro-
duzirão os Mouros, queiman-
do todos os cartórios, fk. me-
morias antiguas donde íe po-
dia tirar a certeza dcftas, & ou-
tras muitas antiguidades . Sò
luliano eícreue que Santo
Honorato íuceíloj de Santo
Eugénio o primeiro do nome
entre os Arcebifpos de Tole-
do íepultou com grande po-
pa, &apparatoa Santa Qui-
téria no lugar perto de ícu
mar ty rio , que elle diz fe cha-
maua Adura^ èc depois mu-
dou o nome em Margueli:^a
pcllos anncs deChriílo 130.
obrando Deos fempre naqucl-
le lugar infinitos milagres
peDa intcrceílao dcrta
gloriofa Portu-
gucfa.
t
CAPITVLO XXVIIl
S2'Ê['-TA 2^J'Rl'NHA
Virgem l^ mm-tyr hiM das
Santas noue irmãs.
INDAQVE
110 particular
do marcyrio
dcfla SátaVir-
iiê não tenlia-
mos a relaçáo , & certeza que
defejauamos, com tudo nos
coníta pella autoridade de Fla-
uio Dextro, ôc luliano foi húa
das noue hlhasdeCayo Atiiio,
& Calha,& que pella décniaò
daFè, & pureza padeceo glo-
rioíamente em Galiza júto da f^g- ai«
cidade de Amphilochia perto
deOrenfe, fuííraç^anea entáo
deftc Arcebirpado,húa das q o
tépo confumio cõ íer tao cele-
bre na antiguidade. Aspalau-
ras de Flauio Dextro faõ as fe-
çmmtcs.JmphitochiJinGallecia
Sanãa Marina ^elMargarita
Virgo tf martyrprofde Chri-
fliarht^lffpudicitiapaJJa efi. Em
Galiza na cidade de Amphilo-
chia padeceo martyrio pellaFê,
&c pella pureza S.Marinha, ou
MargaridaVirgé e marty r . Quã
íí o mefmo dizé as de luliano.
Dextro
IuIíaíio,
itt chroii,
u
M
Marina
I «»■ I
134
Cdfttulo XXVI 11.
Baron,
itmot iS,
Mij.
Marina prope Amphilochiii ur-
bempaj^aejfedicimr, O Mar-
tyrologio Romanocmi8.de
lulho íó diz. Galleci^ in HijpcU
nm. Sanób.^ Marina Virginis l:f
Martyris, Em Galiza da, de
Santa Marinha Virgê Ã: Mar-
tyr onde Baronio nas fuás an-
notaçoes nos r^cte ao Flòf-
fantorum deHefpanlia, &ao
thcfouro das pregações , que
cícreueo frey Thcmas dcTru-
gilho da crdé do^ Pregadores.
Porem tudo o que òt{\.cs au-
tores podemos collcgir vem
íòa dizer que Santa Marinha
padecco duas Icgoas da cidade
de OreníejOnde agora chamao
Agoas fanraSjpeJias trcs fontes
que aly arrebecaraÕ de três íal-
tosque na terra deu a cabeça
da gíoriofa Virgem, & martyr
quando lha cortarão como da
de Saõ Paulo reefcrcuc. Forao
ícmpre, & faó ainda hoje tão
milagrofas eftasfontes^quanto
bê mortraõ os innumeraueis
enfermos q bebendo dcllas,ou
lauandoíecõfuaagoa recupe-
rão a íaude perdida donde ícm
duuida tomarão o nome.
2. Moftrafe tábêncftcmef-
mo lugar debaixo da terra, hií
forno em q pello tirano a Sãta
foi lançada, naõ lhe fazêdo mal
I ofogo^c tcdclheomeímoref-
peito q em Babylonia tcuc aos
trcs Ifraelitas cõpanhciros de
Daniel quando por mandado
dcRey bárbaro foraò lançados
naquella grade fornalha. Aqui
neítc meímo forno fe confer-
ua hú pequeno buraco pello
qualhc tradiçãoq íahio delle a
Santaquãdoa quizcrão abra-
zar j ój foi o milagre notauel,
porc] por nenhiia via hc capaz
dcdar paflagéa hú corpo huina
Ho,pormai> dchcadoquefeja.
Mas feuDiuino efpofoa quem
a Santa tanto amaua,& eííiiTivi-
ua, parece lhe comunicou ain-
da neíla vida os dotes dos be-
mauenturados/otilizandolhe,
& efpiritualizandolhe íeus mé-
bros como ícnao occuparao
lugar j o que por ventura tam-
bém íe deue a pureza da glorio
fa Virge pella qual aísy como
nefta vida viuia jacomoAnjo,
afsy tinha as prerogatiuas de
Angélica , entrando & íaindo
fem lhe fazerem pejo , nem re-
fiftencia outros corpos com
íua quantidade.
3 Lcuantoufe em honra
da Santa fno mefmo lugar
que fe cré foi o de (eu mar-
tyrio, &r hcoqucdiíiemosfe
chamaAgoas fantas)húa Igreja
em feu louuor onde íe guar-
dáo, L^ veneraõfuas prccioías
úm
relíquias
\'
SantA Eufemia^.
155.
/;i'.
IO. c.\
in
chran.
tàftt. 4
^.coitar.
C.3.
relíquias , 6c pello tempo em
diante íe lhe edificarão outras
muitas, & muito fumptuoías i
por toda Hcfpanha , em efpe-
cial nas cidades de Toledo _, ôc
Scuilha. Em Galiza fc viraõ cm
tempos antiguos vários mo-
ftciros com o nome delia San-
ta . Morales nos certifica que
o de Saõ Saluador de Leres jú-
toaPonteaedra entre outros
muitos Santos íe dedicou tã-
bem a Sanca Marinha, ôc acre-
ccntaquefua íiindação he de
mais de feifcentos annos . O
Padre fr. António lepes faz ta-
bcm méçaõ de dous antiquif-
íímos mofteiros defta SantajO
primeiro chamarão Santa Ma-
rinha de Tofto edificado en-
tre ferras afperiííimas em terra
que chamáo Soneyra perto de
Mugia, & Mal pica.
4 O fecundo mofteiro cha-
marão Santa Marinha de Val-
uerde edificado na lerraCo-
rulhon fobre Villafranca, mea
IcCToa do infi^ne moíleiro de
Carrazedo noReino de Galiza,
ao-ora da Ordem deCiftcr, em
feas principios de fradesBétos.
Foi feu fundador ElRey Dom
Bermudo o II. do nome na era
de loiy.q faõ annos dcChrifto
989. o que tudo moílra a gra-
de deuação q de tempos anti-
guos fe tem có eíla gioriofa Sa-
ca nos Reinos de Hcfpanha. A
mayorcÕ tudo foi no Reino
de Portugal. Ha em feu nome
leuantadas grande numero de
Igrejas, ôc ermidas por todos
os Biipados do Reino,& no de
Coimbra húa villa não das dc-
menos importãciada Serrada
Eilrella chamada S. Marinha.
5 He porcgrandea cõtulaõ
que ha afsy na reza defta San-
ta como nas pinturas q em fuás
Igrejas íe vem, porque tendo
pouca noticia delia os que or-
denarão os Breuiarios de varias
Ses de Hcfpanha , &c os pin-
tores lhe foraó applicando as
CO ufas de outras duas Santas
Marinhas , de q ha grande me-
moria nas hiílorias antiguas ,
húa Alexandrina Virgc, outra
Antiochena Virgê &c martyr,
querendo fó dar a conhecer a
noífa Portuguefa,cu jas fcm du
uida faõ as Igrejas q em nome
de S. Marinha vemos leuanta-
das nefte Reino : (k có tudo de
ordinário as pinturas afsy de
íeus retabolos,como de íuas pa
redes faõ Jiora o q pertcce a S.
Marsarida.ou Marinha de An-
tiochia,horaoqàoutradeAle
xandria,q c5 o nome de Mari-
nho , & habito de Religiofo
viueo longos tempos em hum
Mi
moílei-
Ii6'
CafttuloXXVIIL
TlofpiytB,
^g.dc Ih-
11*0,
\truhb.i'
de Sadd.
Marina.
morteiro de Religiofos fa-
zendo oíílcio de Donato ferti
ler conhecida atê fua morte;
&aísyà primeira Santa Mari-
nha pertéce a pintura do dra-
gão que das entranhas lança a
Santa Virgem fá & íaUia/
porque em lua vida fe conta á
tentou o Demónio em figura
de dragão fingindo, pêra mais
a efpãtar^q a engoha, e tornaua
logo a vomitar. A fegunda fc
pode pintar vertida deReligio-
íb criado à portaria do mortei-
ro húmininOjOu trazédo pcra
a mcíma comunidade varias ca
ualgaduras carregadas de man-
to Í5
timcnto j oííicio em que aly fc
ocupaua^ ?k fcruia pello falfo
tertimunho q lhe leuãtou híía
molher de mao viuer dizendo
que a forçara , & ouuera delia
hum filho ; pello que foi Çtn-
tcnceada do feu Abbadc a criar
o minino a porta do morteiro
furtentandofcdas efmolas que
os Religiofos lhe dauão ate q
chegando o dia de fua morte
qucrendoa amortalhar conhe-
cerão fer dõzclla, &c innocente
do crime que fe lhe tkiha falfa-
mente arguído,5<: ella com tan
ta paciência fofrera
6 A verdadeira pintura da
noíTa Marinha Portugucfa fe-
ria pintar a Santa ja metida
em hum forno de grandes
labaredas , & ella andando
fobre as brazas , & entre as
chamas, como entre roías,
& branda viração ; ia cor-
tandoiheoal<7oz acabeça,que
pulando dos hombros da três
milagrofos íaltos , arrebentan-
do de cada hum aly aonde ca-
bia lua fonte de agoa faudauel
pêra todo o género de enfer-
midades , como acima deixa-
mos cfcrito , tomado da tra-
dição tão calificada cõ o dif-
curfo de tantos annos. Foi íeu
martyrio ou no mcfmo an-
nodci3o. ou não muitode-
pois do em que padecerão fuás
íantiflunas irmãs.
7 Efcreuem de Santa Mari-
nha,alem dos que ja temos re-
feridos , Ambroíio de Mora-
les, Marieta, Affonío Ville-
gas , frcy Thomas de Trugi-
Iho, frey Bernardo de Brito,
frey Luis dos Anjos, Antó-
nio de Vaíconcellos, o padre
Hiriberto Rofuueido no pri-
meiro liuro das vidas dos pa-
dres, nas annotaçoés que fis
à vida de Santa Marinha de
Alexandria, frcy Fran-
cifco de Biuarj&
outros.
(.?.)
lo.c.iS.
Marieta
/».4.í-.i4
Fille^ms
FlsJJant.
Brit 2f .
men, //,j
r« Io»
Fr .Luis
J.osAnjoi
líirâim
l^afconc.
in diferi f
Por.píj
44Í-
Bitt.tn ca
meta. ad
Dexi. an
138, «.J.
CAPI-
I
S^ma Eufe?nia^.
IS7
y
Sex an.
133,
CAPITVLO XXIX.
SANTA EVFEMIA
Virgtm^lff martyr.
ANTA
Eufemia foi a
quarta filha
cieC. Acilio,
& o'c Calíia
fua molhcr , fegundo a ordem
cjuc leuamos em as contar.
Padecco glorioíamcnte por
Chriílo nollo S^uador, de-
fendendo , & acreditando fua
Fè com aquella meíma con-
ftancia com que o fizerão fuás
noue irmãs. Três coufas nos
eicondeo ncífa bemauentura-
da Virgem &: martyr o tem-
po; o género de íeu martyrio,
p lugar dclle, & o tirano que a
mandou atormétar. Do mar-
tyrio naõ dis nada a fua lenda,
porque toda fe ocupou em
tratar de íua trcsladaçao pêra
a Igreja de Santa Marinha íua
irmãj Sc vltimamcnre pêra a
Sè de Orcnfe onde hoje fc ve-
nera feu fagrado corpo, como
logo diremos. Do lugar apõta
fò Dextro a prouincia de Ga-
liza dizendo. In eádem Galle-
cia S.Euphemia Virgo^ mar-
ryr. E luliano. Ampbilochium^
^biejl corpus Sanã^ Euphe-
mia , nunc Anipben dicitur in
Galecia . A cidade de Amphi-
lochia^aonde cfta o corpo de
Santa Eufemia.fe chama aflora
em Galiza Amphen. Amphi-
lochos chamarão os antiguos
aqucllespouos,a q hoje perté-
ce a cidade de Oreníedchum
Amphilocho Grego vindo
das guerras de Troya^q aly po-
uoou, & Amphilochia a fua
principal cidadela que depois
os Sueuosderaõnome Vuar-
mfee,& os dagora Oreníc, co-
mo ja diflemos . Eíla cidade cõ
ferua hoje_,& té em grade eíli-
ma ocorpo deS. Eufemia, poré
qfoíle o próprio lugar de feu
mar cy rio nem Dextro, nê lu-
lianojnem nenhil outro autor
q mereça crcditOjO eícreue.
1 O q parece mais prouaucl
hcqaly naquelle próprio lu-
gar onde ícu corpo foi acha-
do,& dõdc foi dado pcra algre
jadeS. Marinha^ cSí derta pcra
Oréfc padeceoaS. Virge.-íica
na Comarca de entre Douro,
Ã: Minho nas rayas de Gali-
za, & Portugaljonde chamão
Riocaldo, pellas muitas veas
de agoa quente, q aly arreben-
tào , entre hum valle que fa-
zé os cabeços da ferra deGere^^.
M 3 Forma
lílllAH,
Ll/l.li.^J
fupra Cl
13^
Capitulo XXIX.
Forma no mais alço de hum
delles a natureza húa alegre,
& apraziuel veiga, a que os
vizinhos por não fer muico
comprida , &c ellendida daõ
nome de Campilho, lugar
próprio pêra as feitas, òc jo-
gos dos paítores , em quanto
pello vallepace, ou leftea o
gado , de que a terra he alias a-
bundante . Aqui ( como em
outras ocaííoés coítumaua) íe
achou certo dia fò , & fcm cõ-
panhia algúa , hija paftorinha
por annos , & vida de grande
innocencia j vio entre as talif-
cas de certos penedos , que
cerrauão a veiga,rair húa maõ,
& ncUa hum anel de ouro,
após que fe Iheforao os olhos,
fem outra conííderaçao mais
que enriquecerfe com elle, ^
leuallo a íeu pay, que embaixo
no valle moraua . Tudo foi
o meímo , tirar o anel do de-
do onde o achara , &: ficar
muda; de modo que fem falia
fe recolheo à fua aldca , & fem
faber nem poder dizer mais,
quemoftrar o anel , & fazer
final pêra onde o achara. Paf-
mou o pay , & pafmaráo to-
dos os de cafa da marauilha,
& fò efperauão que amanhe-
ceíle pcra irem com a minina
onde encendiaõlhefucederao
cafo porque perdera a falia,
& donde trouxera o anel. Fa-
raó, eftaua ainda a maõ entre
aquellas meímas taliícas em
que a minina a vira , & tor-
nandolhea rcftituir o anel, a
muda íe achou logo com falia
taõ perfeita como le dantes
nenhúa couía lhe tiuera íu-
cedido.
3 Entre as alegrias do pay,
& fobrefalto dos prcfentes ,
fe ouuio húa voz íaida den-
tre os mefmos penedos que
dizia , aqui eíla o corpo de San-
ta Eufemia s, mudayo pêra a
Igreja de Satã Marinha. Pou-
ca dilação ouueda voz a exe-
cução . Deceo logo o pay da
paltorinha do monte, veo
dar recado na pouoação, le-
uou coníigo o Parocho,& os
moradores tomarão o fanto
corpo , que o Cco logo Ih^
manifeítou , & comprocif-
faõ a mais íolenne que lhe
foi poíliuel,no ícpulchroquc
fofria fua pobreza o collo-
caráo na Igreja de Santa Ma-
rinha , aquella mefma onde
elles ouuiãomifla, & era a fua
parochial.
4 Seguiraõfe após efta trcs-
ladação infinitos milagres,
ninguém aly bufcaua faude q
que a não achafle,acreditando
Deos
Santa Eufemia-^.
139
Deos fua gloriofa martyr cõ
a hzer auogada de todas as en-
fermidades . Era por cfte reí-
peico frequentadillimo o lu-
vinhão a ellecm roma-
&Gali-
par-
g3r>
na de todo Portugal ,
za^edificauãofe em outras
tcs varias Igrejas donomcda
meíma Santa , & não fe con-
tentando a sente de dar íeu
nome a lugares fagrados^o da-
uão também a pouoaçoés de
que ainda hoje íenomeaõ al-
gúas pellosRcinos deCaftcllai
&:no de Portugal em pouca
diftancia da villa dos Algodres
no Bifpado de Viíeu ha a de
Santa Eufemia , onde em 16.
de Setembro fe faz hiía gran-
de feira a que acodem merca-
dores de todo o Reino.
$ Aquypois neite lugar de
Campilho 'junto a Rio cal-
do cremos foi o martyrio da
Santa Virgem, porque ha aly
fitio acomodado pêra hija boa
pouoação, & de crer he efti-
uefle aly edificada , fe bem
nenhíís veftigios fe defco—
brcm hoje deita antiguida-
de.
C Na Igreja de Santa Ma-
rinha fua irmã cfteuc o glo-
Iriofo thcfouro por muitos
annos . Delia pretenderão
furrallo por muitas vezes
os Galegos ^ & íairaõ por al-
giias com feu intento , fe não
que a Santa milagrolamente
íe tornaua logo àquelle lugar,
renouandofe com clle mila-
gre de cada vez mais íua de-
uoção , & indo fempre cm
crecimento o concurfo da
gente mouida danouidade q
via, &: das nouas graças que
aly íeachauão.
7 AlTi foi andando o tempo
ate vir a dar nos annos de mil
cento & líncoenta &: tres,cm
que em Portugal reinaua o
gloriofiílimo Rcy Dom Af-
fonfo Henriques, & na Igreja
de Oreníc prcfidia hum íanto
Bifpo por nome Pedro Segui-
no varaõ de cfclarecida virtu-
de , & muy particular deuoto
da gloriofa Virgem & martyr
fanta Eufemia. Doyafc de ver
eftar fcu corpo em híja taõ pe-
quenalgreja &: em h\x lítio cn
talado entre dous montes , &
incapaz doutro edifício ma-
yor . Defejaua coUocallo on-
de eftiuelTe com mayor de-
cência , & veneração, E inté-
tara fem duuida mudallo a íua
Igreja Cathedral, fe os mila-
gtes palífados,&: o defejo que
a Santa moftrauadealy fe per-
petuar, o não eftoruaraõ.
8 Mouidocomtudodcou- \
M4
tro
140
CãfiUiloXXlX.
\
\
tro mayor elpiritOjaparcihan-
doíe primeiro com jeiuiiSjpe-
niceiíLia? , óí outras afíliçoês
do corpo j mandando enco-
mendar eftesíeus incétos por
todooíeuBiíjpado, inílando
comoraçoês,&: íacriíicios aííi
próprios como aihcos \ inuo-
cando íobre tudo o fauorda
mefma Santa, a quem deíeja-
ua em todaaquella Tua preten-
çáo agradar, buícando pêra
iíío o dia que lhe parecco
mais acomodado , & em que
feria menos fentido, fingindo
h\:iQí nouena à Santa fe deixou
aly cliar , & fez perder as fof-
peitas aos de Riocaldo ^ que
com trazerem grandes vigias
íobre o fanto corpo por en-
tão íc defcuidaraõ, nem íen-
tirão o furto fc naõ ja quan-
do lhe não pudcrão dar rcme-
dio.Lcuouo BifpoDom Pe-
dro as fagradãs rehquias pêra
Oreníe _, coUocou as na íua Sè
em capella própria, húadas
collateraes a mayor , &í pcra-
queficaíTeni mais veneradas,
& feguras , fechou as cm húa
fermòfa
arca de bronze
bem
dobradoj chapeandoa por fo-
ra com laminas de prata , que
jáaiy falcão j &deuia de rou-
f bar a impiedade, òí auareza de
'algiji^s foldados em tempos
de guerras. Sobre tudo abrio I
na parede da mefma capella hú
arco bem capaz da arca cerca-
do com íuas grades de krro
douradas , «Sc nella pos, ã: fe
vè hoje a Santa Virgem, &
martyr, obrando Deos por
fua iiitcrceílaõ infinitos mila-
gres.Sucedeo tudo iílo em 17.
de Agoílo , cm que cila trcs-
ladaçáofe celebra, &:nosde-
zaíeis fua inucnção , quando
a Santa fc dcícobrio ápaft ori-
nha na forma que acima dei-
xamos referido , luliano diz
que a fcíla delia Santa cae no
primeiro de Dezembro.Mar-
tyrologios antiguos ha quea
põem em 13. de Abril . Em
Portugal a feílejão cm 16, de
Sete mbro,porque como nof-
íos antepaífados lhe não fa-
biáo o dia proprio^eícolhcrão
o cm que íe celebra outra San-
ta Eufemia também Virgiem^
& martyr , & natural da cida-
de de Pilidia na Grccia,aquella
que approuou os decretos do
Concilio Caiccdonenfc no
quetocauaàs duas naturezas
deChriífoem hum fuppoílo
contra o hercc?e Eutiches,por
que fazendo o Pacriarcha de
Conftantinopla Anatolio cf-
creuer em hum papel o que
chron.
tocaua a eftc artigo de nofla
Santa
LegsSfS
cLiií. in
Br:. Ba-
ronif
«.2-f.
II |i-i«.« m*i«i ^
J
Santa Eufemia^.
141
Baron.ia
ar.not.zo
■■MítYtij.
lahca Fe íe^ando o conícfla-
mos os Carholicos,<S; noutro
o dcluaiio dos hereges, pondo
os a ambos de comum con-
fcntimentodehuns & outros
fobre o corpo da Sáta-' fechan-
do depois, ic íellando a íepal-
turajquando foi abrilla acha-
rão o papel dos hereges aos pès
de Sanca Eufemia, & o dos Ca-
thoiicos apertado em fua mão,
ecncoílado ao coração como
quem o ellimaua,& veneraua.
De outras iantas do meímo
nome fe faz menção no Mar-
tyrologio Romano a 2.0. de
Março , & a 3. de Setembro
como aly fe pode ver,aj untan-
do o que íobre eíles lugares
elcreue o Cardeal Baronio.
5) Guardaíeno thefouroda
Sede Orenfe como principal
peça dellc o anel que a pafto-
rinha achou no dedo da Santa;
hc de ouro baixo com hiãa pe-
dra que parece topázio , leuafe
dentro em húa caixinha de
prata com fua rede dourope-
ra milhor fer vifto , ôc tocado
dos enfermos: & por fer pren-
da de híía tal efpofa de Chrifto
noílo Saluador ã fua vifta , ôc
toque fe obrãomuitos,& gra-
des milagres em todo o géne-
ro de enfermos.
10 Eícreuem de Santa Eu-
femia o Breuiario de Orenfe
em 17. deAgoílo.(Fes aquella
reza o Bifpo Dom Afíonfo
immediato fuccflor de Dom
Pedro Seguino , que nos fur^
tou a Santa Eufemia , & diz
que tudo o que aly põem o
ouuioa pcíloas íidc dignas , q
a tudo íe acharão prcfcntes)
Morales , frcy loaõ dcMaric-
ta, frey Bernardo de Brito,
frcy Francifco de Biuar_i ^^y
Luís dos Anjos, &c outros.
Me mies
Itb. 4.Í'.
13-
Brit tom
•23
Biu/ir ad
Dex. an.
13 .«.5.
Fr, Luís
no ÍArd.
CAPITVLO XXX. í"'^-4
SANTA GENEBRA
Santa Germana, Santa Ba~
filiffa , Santa Vitoriais anta
Marciana. ^^
GLORIOSA
Sãta Genebra,
aquella, aquê
as mais irmãs
reípcitauão,&
obcdccião comoamay, pade-
ceo martyrio na cidade dcTui,
fegundo luliano em o primei-
ro deNouembro. Chamãfedo
nome defta Santa muitas mo-
Ihercs em Portugal pella par-
1 ticular dcuação que lhe tem.
I.
luliana,
in chron.
Que
em
142
C^.pimlo XXX.
lulian,
chyo f^g.
21.
mon, lib.
5.C.18.
Fr, Ltiis
dos-^njos
KO lard.
huLtr nà
Dex.an.
138.
; Víifcori.
ií« àcfcr.
\i.fag.zi
C^. em foi o tirano por cujo
mandado padeceo^que género
o de feu martyrio, em q iugar
elleja rcii corpo íc náo labe ate
hoje , nem noílos hiíloriado-
res o eícreuem.Eíla breue me-
moria achamos em luhano,
em frey Bernardo deBnta^nos
Padres frey Luis dos Anjos,
frey Franciíco de Biuar,<Sí An-
tonio de V"aíconcellos_, que to-
dos concordão íer húadas fi-
lhas de Cayo Atiho , & de íua
molher Calíia.
2. Santa Germana padeceo
cmCarthago cm ip.delaneiro,
com Paulo, Geroncio , laoua-
rio 5 Saturnino, Succeílb , lu-
lio Cato, òi Pia, dos quaes não
duuidamos fcriaõ també Por-
tugueres,& companheiros íêus
quando por fugir da perfegui-
çaõde íeupay aieuou o Spi-
ritoSãto a terras tão eílranhas.
Faz de todos menção o Mar-
tyrologioRomano no mefmo
dia, & os autores que atras
deixamos allegados.
5 De Santa BardiíTa diz lu-
lianoj que parando na Syria,
quando fe apartou de íuas ir-
mãs, foi ahi m.artyrizada cm
defenfaõ defua pureza, & nof-
fa Santa Fè , ao primeiro de
INouembro . Seguindo a lu-
liano , diííe elegantemente , o
padre leronymo Romã dela
Higuera,quc todas as trcs par-
tes do mundo ennobreccrão
com feu langue cilas glorio-
ías nouc martyres. Santa Ger-
mana là Africa morrendo cm
Carthago, Sãta Baíiliíla à Aíía
morrendo cm Syria , as outras
fcte a Europa morrendo em
varias cidades delia ^afsy o afiir-
ma em hum hymno , que co-
pos cm louuor das iiouc vir-
gens, que trás o Bifpo de Tui,
&dizarsy.
Te Syria o BafiUa.
Colit^ Germana Africa^
Et Gemueram próxima j
Tudenfis '~orbs Oceano.
Eumdiam^ Abogriga
Colit caput GalUci^
Culni frequentam annuo
Cantu refultans debito.
O "VOS inf ratice Martyres
Et Virgines caílifsim^
SIgnÚ 'veUris ^irginibus
Tui /íeis ad mar ty ri um.
Per Afric4,percjj Afie
Europa per confima.
Difperf* nutu cíclico
Orlem facrajiis fanguine.
Com tudo parece que em
Hcfpanha foi o martyrio de
Santa Bafiliíla em híía cidade,
que antiguamente fc chamaua,
me
Igltf. àe
luifol,
43-
Santa Genebra,Çf mais irmãs.
143
em lacim Syrmium. Florião de
Ocãpo quer que íeja Motril,
outros a f-ucm Vciles mala-
ia; aiitros Frií^iliaiia naPro-
• uinciadaAndalu2Ía,<S>: naqucl-
la parte, que pello Reino de
Granada toca no marMediter-
raneo. Donde entendemos , a-
ucrfe de ler cm luliano/alando
delta Santa Virgem. InSvrmio
Síinã.e BaJiHJfcc fororis SanSlce
QjfjterÍ£ , Òc naõ in Syria. A
mefma aduertencia fc deue fa-
zer no Marcyrolo£;io Roma-
no em 2.9. de Agolío em quã-
to apõem em Smirna , dizcn-
ào/ípud Smirnam natalis San-
ã<e BajilU , fendo a verdadeira
lição, apud Syrmium natalis
SanSlíC Bajilijfíe,
4 Santa Vióloria foi mar-
tyrizada em Cordoua , j unta-
mente com hum companhei-
ro feu por nome Acilclo. O
Prefidentede Andalufia Dion
os mandou a ambos açoutar
cruelmente, & meter em hum
cárcere cfcuro onde quatro
Anjos os acompanliaraó por
muitos dias. Tirados daquellc
lugar com grandes pedras ao
pelcofo foráo lançados no rio
Guadalquibir:mas nao fe indo
ao fundo,a Sãta Viótoria cor-
tarão os peitos y faindo delles
I leite em lugar de fangue, &a
icccandoaace de todo dar feu
{pinto a Deos. A Santo Acil-
clo cortarão a cabeça cm 17. de
Noucmbro,em cujo dia iuce-
dcocm Cordoua hum nota-
uel milagre, que conta Ado-
cem as palâuras íegumtes. yl>i
ob condemuationem mortis eorâ
eodem die ipforum Mártir ij 1 7.
Nouembris , rof^c ort<c fingulis
annis diuinitus colligâtur. lílo
he que em 17. de Nouembro
em que Santa Viòto ria , &í Sã-
to Acilclo padecerão nacem
milagroíamcnte roías na cida-
de de Cordoua lendo no cora-
ção do inuerno . O Martyro-
logio Romano chama a Santo
Acilclo irmão de Santa Vid:o-
ria , mas parece que não foi
mais que companheiro feu,
íaluofe irmão aly quer dizer
naFè,5<: deícjo de derramar
fangue pella defender. Falia de
SantaVidoria Prudencio,San-
to lúdoro no h ymno do Brc-
uiario Godo, &c outros.
$ Santa Marciana padcceo
mais adiãte alguns annos , que
fuás irmãs no de 155-. na cida-
de de Toledo. Tcue (eu mar-
tyriocoufas dignas de grande
memoria porque vendo a San-
ta fobre certa fonte hum idolo
que pcUos pès lançaua agoa,
entrando o Efpirito de Deos
nella
die 17,
Nmebr.
Prud,
fíynt. 4.
dí' Mar-
l<4
Qa^itulo XXX.
rnclla o fcs cm pedaços , pello
qua! foi prcfa , açoutada, poita
cm íugar onde podeíTe perder
fua pureza^defendendoa Deos
com hum groílb muro que
entre cila , tk. o primeiro que a
quis afrontar ícsde nono ap-
pareccr. Foi lançada a bcítas
feras , mas hum leaõchegan-
dofe brandamente a ella lhe
beijou os pèsjium touroaíc-
rio nos peitos , ^ vitima-
mente com hua feridade hum
leopardo fe foi agozardefcu
cfpoío. Certo ludeu que pri-
meiro que todos bradara íela-
çaíle a Santa a bcftas feras , foi
queimado com toda fua fami-
lía, pegandofelhe o fogo às ca-
fas, as quais tentando depois
edificar outros ludeus fubira-
mentc morriao. Todas cftas
coufas refere o hymnodcfua
fefta, que anda no Breuiario
Godoj&dizafsy.
Sacr<e trmmphim martyris
Celebret njox Ecclefi^:
Cammajit cimãis ijna
Marciana in íaudtVirgmis.
Qu^pafsioms prsmium
Dum tendit^ adipifcitur
Vltro adpaUíiramglorhe
Judet prompta concurrere.
B^cc nam^ adiiantc D^monis
Cernens allufiteffigiemy
\ Subciiius larga perpttint
Fluebut ijnda gnjuhus^
Qmmpr^dopudicitix
Dum inter ymhrasfequitur.
Oblata ex. templo c^litus. ,
Seduditurmaceria,^ iíTil" ■
Emifin nam§^ beftijs^ :\ . -:
leopercttrrtt percitm
Adoraturus "veniens
Non-comeflurus Firginem.
Atferapernix corpore^
Et maculofo tegmine
Lethali dente ad njltimum
MembrapuelU laniat.
Moxfiagris c^efa trahitur
Ceifa ad Pretor is atria,
At^ ludis illicitis,
Proíkrnit msbra Virginis.
Vinãa deindt Uipite
profana '-você includitur^
Sedp^nasfert biasphemi^^
Ruinas iff incendia.
Taurus de hincprojiliens
Forma, tfmugitu horribili
Sulcabat eius teneras
Papillas iãu -vulnerans^
Pofl hos triumpkos anima
Finclis elapfacorporis:
Plaudenspetit ad libera
S ummi poli f afligia.
DeoPatriJit gloria^i^c.
6 Quaíi com o mefmo gé-
nero de martyrio padeceo ou-
tra Marciana na Prouincia de
Africajq chamão Mauritânia
Cefarieníe
Santa Genebra ^Çf mais irmãs.
145
-1
Ittliano
in chroii»
Dextro.
an.Chrif.
iS5'
Ccíarieníe.Faz delia menção o
iVíartyrologio Romano em 9.
de laneiro . Teuca pclla mef-
ma que a noíla o Cardeal
Baronio, mas contra o rexco
do meímoMarcyrolo2Ío,que
: poê a Africana (como vimos)
a noucdc íaneiro , & 9 Porcu-
í^uezaa doze de lullio , dizen-
do: Toleti Sanã^ Marcians
Virginis l^ raartyris , qu.^pro
Jide Christibejlíjs obie£la^arij^,
a tauro difcerpta Martyrio co-
ronatur. Alem de o eícreuer
aísy expreílamente Iiiliano .
Marciana paj^a efi Toleti anno
15 j. álíquantopofl jororeSj 12.
lulij', mentiofit alterius fafsy
fe ha de ler, & não huius co-
mo tem a impreflao de lulia-
no de que víamos) inMarty-
rclogijSfl!f licet obierit a tauro
dilacerata , tamen h^ec altera
longe ytusiior eH . De Santa
Marciana efcreucumbem Fla-
uio Dextro as palauras fe-
guintes . Toleti patitur San-
ãa Marcianafilia Catelij Re-
giili Lujitani^fororcf^ oão alia-
rtm Virgimim^^lio^ i^ Late-
rano Confulibns.
l
CAPíTVLO XXXI,
s A H pohrcivnpo
quarto Arcebifpo de Braga. \
^^^^^ VcedcoS.Po-
^ '^0S ^^^^rpo n San-
^*^P| CO Ouidio.
CO
r^^^ Côílanospor
^^^ autoridade de
luliano. Brachar^poft Sanãú
Ouidium Sanãus PoUcarpus
EpiJ^opus Bracharenfs ad an-
num i}o. Em Braga depois de
SantoOuidio íucedeo Saó Po-
licarpo Bifpo de Braga pclios
annos de Chrifto 130. NaÕ íà-
bemos fc então foi cleito^ou fc
atê efte tempo feellcndeo feu
Pontificado , entrando tam-
bém nelle os annos que go-
uernou Santo Ouidio:nem te-
mos taó efiicazes conjeituras
que padeceria martyrio^como
as que tiuemos de Santo Oui-
diorporem como viueo em tc-
po de tantas perfeguiçoés de
crer he lhe fariaDeos a meíma
mercê _, &c nelle particular o
igualaria a feus antccclíores.Se
ria erro manifefto querer con-
fundir o no ífo Sãio Policarpo
cõ outro do mefmo nomcBif
po de Efmirna , & dicipulo
de S. loaõ Euangcliíla , cuja
m chron,
K.41.
N
fclla
146
Capitulo XXXII.
\inehron.
«.80.
fcftaíc celebra a 16. de laneiro.
Foraõ entre íímuy diffcrentes
quanto àspeflbas, ^ lugares
de fuás Prelazias j nos mereci-
mentos ambos valerão muito
diante de Deos , & ambos cõ-
priraÕ com a obrigação de íeu
nome/e Policarpo vai o mef-
mo que o que toma, Â: arre-
bata o Ceo. Quando Saó Po-
licarpo entrou no goucrno de-
fta Sè era 5ummo Pontifice
de Roma o Papa Alexandre
primeiro do nome, &Euipe-
radcírda Monarchia Romana
Adriano.
CAPITVLO XXXII.
SERERIJNO QVIN rO
Arcebifpo de Braga.
A Z luliano
Aciprcfte de
Toledofuceí-
íor dcSaòPo
licarpo a Sc-
reriano com húas palauras que
pouco mais vem a dizer em la-
tim do que temos dito em
Portuguez. Floret memoria
Sanai Fabiani Epifcopi Bra-
charenjis fucce(?oris Sereriani,
qui fuccefsit Policarpo.Todo "o
,\*íSN\\\\\i\V\\\\\\TO\\\\\\*\
mais q de íuas obras fe poderá
eícreuer cfcõdeo o tepo , co-
mo fez aoutrasmuitas de q pel
lo diícurío defla hiftoria nos
queixaremos aindaq debalde,
pois fò ficão em magoas eftas
queixas , &c feitos taò dignos
de eternidade como os queo-
brarão tantos , & tão illuílres
Prelados defta Igreja fepulta-
dos em eterno cíquccimcnto.
CAPITVLO XXXIII.
S AM F A B I A M VI.
Arcebifpo de Braga.
S mefmas pa-
lauras cõ que
luliano nos
deu a Sercria-
no por fucef-
for de S. Policarpo nos dão a
S. Fabião por im mediato a Se-
reriano, como delias fe \e. Flo-
ret memoria Sãfti Fabiani Epif
copiBrackarenfisfuccejJoris Se-
reriani^qui fuccefsit Policarpo.
Acrccéta logo. Obijt í o.Kale-
dasSeptcbrisanno z^o.Succefsit
ílli Narcijfus. Morreo S. Fa-
bião aos 13* de Agofto do an-
no de 230^ fucedéolheNarcif-
fo.O tépo de fua eleição,os an
nos q goucrnou ^ qual foi ÍUd
CrhtH*
morte
SãoFahiao.
147
morte, quaes as principaes
obrns , que fez cm bem de
luas oiicíhas íabc fò Deos,
que as remunerou , &:a an-
tiguidade que as conhecco,
ôc eftimou, pois por elias o
ajútou ao catalogo dos bem-
aucnturados.Gouernaráo por
cftesannos a igreja de Deos
depois do Papa Alexandre pri-
meiro Saõ Sixco í. S.Tclesfo-
ro , Saõ Hisjino , Saõ Pio I.
Santo Aniceto, Saõ Soter,
Santo Elcutherio, Saõ Viclor
I. Saõ Zeferino, Saõ Calix-
to , Saõ Vrbano I.& Saõ Pon-
ciano, Tiueraõ o Império Ro-
mano depois de Adriano os
Empcividores Antonino Pio,
Marco Aurélio Antonino
feu fuceílor, & genro, com
Lúcio Vero, Cómodo, Flel-
uio Pertinaz j Didio luliano,
Septimio Seuero , Antonino
Geta,Antonino Caracala feu
irmão , Macrino , ôc feu fi-
lho Diadunieno . Helioea-
balo, Alexandre Seuero
exccllente prin-
P
cif
3e.
CAPITVLO XXXÍIII.
S A M FÉLIX VIL
Arcehifpo de Braga.
A autorida-
de referida no
capitulo atras
diz luliano
que a Saõ Fa-
Diáo iucedco S. Narciílo. O q
pudera fer fc eilc depois no an-
uo,Z70. nos nomeara cwitro
fanto do meím.o nome .com
que cuidáramos foráodousiO
primeiro eíle de que agora
fallaro outro o fegundo, a que
os Alemães chamão o (eu
Apoftoío particularmente os
da cidade de Aufburg , cm la-
tim Augufta. Mas como naÕ
falle fenão de hú, aquelle racf-
mo que pregou por Alema-
nha , & padeceo em Girona,
Keceíla ria mente auemos por
horadefair da ordem , com
queellevai leuando os Arce-
bifpos delia Igreja, & dar por
fuccííor de Saõ FabiaÕ , não a
faõ Narciílo como clle faz,fe-
náoa faõ Félix pellos funda-
mentos q na vida de faõNar-
ciíroapõraremos,& agora não
he neceílario anticipar.
Ni
Afsy
J48
CapmlõXXXJllL '
í in chron.
h^g' 34
1»> 122.
i~ *Aísy que Sap Fclix foi
íuccflor de Saõ Fabião naCa-
tkira de Braga^ &a goucniou
pcUos aiinos de 141. & cr^j ce-
lebre fua memoria nodez88,
como aponta íulianonas pa-
lauras fcguintcs. Aíemoriace-
leb¥Ís:eratperhQí; tempus. fPa-
k do anno dè i88.*em cjuc
leuaua íualiiíiori^) I;? Galle-
aa Sa3ã'.FeÍ!ci^ Ep/fcopi Bra-
char^n.jfís,, qui fègebat Ecck-
fuimAnno 2-4f, Quantas cou-
ías çoTOP em riquilllmo the-
Touro; vão cícondidas neílas
palauras rauy dignas de íe
íaberem, que o tempo efcu-
receo íem delias nos dei--
xar mais que huns ]eues in-
dícios , porque pudeílemos
conjciturar as obras ^ & ma-
rauilhas que acenao . Naõ
ganhou o Santo memoria
tão ccrebre por toda Galli-
za em tempo de tantas pe r-
feguiçoês, cm que mais que
nunqua reinaua a idolatria fcm
obras na opinião dos ho-
mens fòra do curfo ordiná-
rio , & verdadeiramente Di-
uinas . Bem cremos he efta
cidade de Braga , de quem
pudéramos dizer o que feaf-
fírma de Roma, que feus edi-
fícios cftão fundados fobre
oífos de martyres, & fobre
corpos j cujas ahiias à força
de merecimentos ganharão o
Ceo. Por rnartyr temos tam-
bcni ao noílo Saõ Fthx ^ fe vai
algúa coulaaconjeicura, que
com bons autores acima fi-
zemos de Santo Ouidio, cu-
ja fella , &L memoria por ií-
lo dizíamos cclebrauaa Ijirc-
ja , porque dera íua vida em
defeníaõ da Fc^ viílo como
por aquellcs annos íò os mar-
tyres eraõ feílejados , o que
ainda agora por eílcs em q tan
to fíorecia a memoria do nof-
ío Saõ Félix íe í^uardaua inuio
lauelmente. Tiueráo o Sumo
Pontificado por elle tempo
depois de Ponciano, Antero,
òi Saõ Fabião , & forão Em-
peradores de Roma depois de
Alexandre Seuero^Cayo lulio
Maximino , de quem ha gran-
des memorias em Brat^a,
& o Empcrador Gor-
diano.
t •
12-
CAPI-
Grato,
149
CAPITVLO XXXV,
GRATO OITAVO
Arcebifpo de Braga.
' lultanoitt
ehron.
».28l.
Amos a Gra-
to o oitauo
lusarentreos
o
Arcebilposde
Braga por en-
tendermos cjue em nenhum
outro lhe cabe melhor , íe-
gundo o que íe colhe delulia-
no , em quê íò o achamos no-
meado por Arcebiípo defta
Igreja. Falando pois luliano
de Grato diz afsy. Magnamha
buit amicniam Melantkius cum
Grato Bracharenfi Pontífice^
ad quem GrattimSixtus Papa
Ut terás mifit^ls' adPalmatium
Toluanum , cateros^ Toleta-
nos antiUites. Quer dizer Me-
lancio Arcebiípo de Toledo
teue erande amizade com
Grato Arcebiípo de Bragada o
qualGrato SixtoPapa cícreuco
cartas, & a Palmacio ^ & mais
Biípos deToledo.Bê cremos
começou eíla amizade entre
Grato, «5c Mehncio do tempo,
queambos íeruiãoaSè déTo
ledo ; Gral o íendo nella Arce-
diago, òc Mclancio tendo ou-
tras dignidades pella? qur.cs
foi íobindo àvluma de Arce-
biípo . CõtinuaraõncíLibca
correípondencia todo o dií-
curfo de íuas prclszias j ajuda-
do fehú a outro, jegundo o re-
queria a necelsidade dos têpos.
1 Porucntura foi o noílb
ArcebifpcGrato de naçáoGre
gOjCcmo c foi leu amigo Me-
lácio,naturaes ambos deAthe-
nas,&: grandes conhecidos de
Saõ Sixto aísy m.eímoAtl.e
nieníe. DeMelancio labemcs
o trouxe a Hefpanha da cida-
de de Roma quando \eo a
ellaomcímo Saó Sixto antes
de íer eleito Summo Pon-
tiíicecíe trouxe tábem a Grato
íique debaixo da meíma con-
ieòlura, O certo he que Mela-
cio fe ficou em Toledo, Sc
aly perí^uerou atê íer eleito
Arcebiípo : & que Grato da-
quella Sé , & da dignidade de
Arcediago, foi tomado pêra
cíl:a,dandoo a conhecer ao cle-
ro de Brasa Teus raros mereci-
mentos »^ virtudes.
3 O Papa SaõSix to antes de
ferPontifice reíldio cm Heí-
'; panha,& nella preíidio como
i delegado da SèApaftolica em
; humConciho de Toledo,cO'
mo bem o proua Padilha
9 (^ II'
K^
con-
"—m
150
Capitulo XX XV.
Uom.
f , . concra Morales allec^^ndoa-
H.n.ix^\ qucllas paiauras de luliano.
I Ãíelantbius Atbenis ijenit To-
ktumquemfecum attukrat cu
OJw San6ius Sixtus, quiposiea
fuit Romanuí Pontifex. Dcíle
tempo ficou taõakiçoado aos
Biípos Heípanhoes j q depois
de creado Sumrno Poiííifi-
celhecícreueo carcas em eípe-
ciai aoArcebiípo Grato iiiftru-
indoo em alguas matérias im-
portantes às Igrejas de Heípa-
om. 1. 1 nha . Andahúa deftas no pri-
]CoHc.f^>g\ mciro tomo dos Concilios, &í
'conieçaaísy. Epijlola SanCti
Sixti Pap^ prima ad Gratum
quendíim Epifcopum. Epifcopus
Sixtiis Grato Cocpifcopojalun.
Nãoteue o autor que ajuntou
efta'í cartas noticia de que ci-
dade fora Bifpo Grato, deue-
mola a luliano como outras
muitas memorias doi Arce-
bifpos deftaSè.
4 Contem o principio da
carta o grande contentamen-
to com que o Santo Pontifi-
cerecebeo outra de Grato por
nclla moílrar o amor que ti-
nha a noflafan ta Fèj& o ódio
cò que aborrecia os erros dos
que mal viuiáo . Saõ as pró-
prias palauras. Deleãari y l^
^aiidere. me plurimum in Chri-
sio lESF Domino no/iro dile-
ãwnis tUic (cripta fecenit^ qni-
bus ewdenter oflenditur^quart'
tum catbohcam diligis fidem^
quantum praiiorum bominum
dttejlaris error em. Continua
depois a carta com dous pon-
tos eílcnciacs, o primeiro tra-
ta da geração do Verbo Éter-
no^que proua com toda a eru-
dição daSagrada Eícritura.No
ícgundomoílracomo os Bií-
pcs condenados podem ^ &
deu em appellarperaa Sé Apo-
Aolica,& Romana à qual pro-
priamente pertence decidir cm
Hnal íuas caulas. A data da car-
ta he ao primeiro de Sctébro,
íendo Conful Valeriano , ôí
DeciOjifto he no anno deChri
11:o conforme a Baronio z6o.
em que Grato ellaua gouer-
nandoerta Igreja.
5 Outra carta efcreueo Saõ
Sixto aos mais Bifpos de Heí-
panha,a qualfele nomeímo
primeiro tomo dosConcilios,
6 começa. Dikã.fsimis fra-
tribiis perHijpaniarum Prouin-
cias conjlitutis. luliano nas pa-
lauras que acima deixamos re-
feridas , diz que faó Sixto eí-
creueo a Palmacio Toletano,
Cccteros^ Toletanos Epifcopos.
Onde com euidencia errarão
osimpreílorcs porque ouue-
raó de dizer, c^teroscj.^ Hífpa-
ni^
Qrato.
151
riís EpiJ copos; pois bem fcciei- ' ^
xavcr, que cios Arccbi.ípos cie
Tcledo os menos cõcorrerão
comSaõ Sixto Papa, & aísy.
mal lhe eícreucria a todos.quã-
uo muito o fez a Palmacio,
mas não foi a carca cujo titulo
acabanios de reíerir, porque
eíl"a fó íe clirigio a todos os
Biípos de He{panha,e a nenhu
em particular •, & íe a algum
ouucra devir dirigida, auia de
ícr ao Primaz de Braga Gratc^
6.' naõ aPalmacioacuja Igreja
ncShúa fosicição dcuiaõ as de
Hcfoanha. Eíta feg-unda carta
de São Sixto tem a dataade-
2cAàí de lulho no Ccnfulado
de Vnleriano,& Decio^ que
he o mefmo anno deiéo. ^
aísy foi efcrita pouco tempo
primeiro que a de Grato.
6 Viueonoíeu Arcebif-
padoGrato por alguns aímos.
Sc entrou logo nelle depojs
do de 145-. em que era Arce-
bispo Saõ Feliy ja tinha de Ar-
ccbiípo de Braga quinze ân-
uos, porque tantos íe contao
ate o de z6o em que lhe efcre-
uco Saõ Sixto. Os mais que
paílou naõ o fabemos: certeza
nos {-!ca,q em todos feria gra-
to a Dcos,& a os nomes fegu-
do a obrigação de íeu nome.
Tiucrao poreífcs annos a Ca- 1
dciraPõtifical deRom-adejiois 1
de Saõ Fabiaó^Cornèlrò^Lu-
ciOj&Eftefanoí.a quéluccdco
S. Sixto II. do nome martyr de
Chrillo pella confiííao da Fè.
Imperarão depois de Gordia-
no os dous Philipes pay;, &
filho primeiros Imperadores
Chriftaõs^os dousDecios pay,
& filho , Virio GalloA' Volu-
fio íeu filho jValeriano, & Ga-
lieno pay,&: filho grandes
perfeguidores da Igreja Ca-
tholica.
CAPITVLO XXXVI.
SAM SECVNDO^ OV
Secimdino IX. Arcebifpo de
Braga.
O Martyrx)-
loí^io Roma-
o
de
no aos 25)
Abril fa
Igreja
a
men-
ção dos íantos martyres Aga-
pio, &Secundino com cífas
palauras tornadas cm Portu-
guês . Em Cirtc de Berbéria
os fantos martyres Agapio,
& Secuudino Biípos,os quaes
depois de hum largo deílerro.
N4
lue
152
CafituloXXXVL
laliAn. in
que padecerão nefta cidade ,
paflaraõ de fcu illuftrc Sacer-
dócio aglorioía coroa do mar-
tyrio na perfegLiição do Em-
pcrador Valeriano, na qual a
furiofa raiuados Gécios fe em-
brauecia pêra proua da Fe dos
juftos. Depois acrecentaou-
trosgloriofos martyres, que
com eiles dous padecerão ,
Emeliano foldado , Tertúlia ,
& Antónia Virgens , & outra
molhcr com dous filhos feus
ambos nacidos de Kum parto.
Naõ fe foubc determinar oCar
AtÁ Baronio nas annotaçoés
a cfte lugar em que cidades
os dous Santos Secundino, &:
Agapioforaó Prelados; nem o
Biipo Equilino , Vfuardo,
Adon , & Surio diíTcraõ mais
dcUes que nomearemnos ílm-
pleíméte por Biípos paíTando
pellos lugares de feus Bifpa-
dos.
1 Juliano Acciprefte de
Toledo falando dclles deu a
Sccundino a Prelazia de Bra-
ga , a Agapio a de Carthagena
com as palauras feguintcs. Cor-
pora SanSljrum martyrú Aga-
pij Carthaginmfis Hijpanu, isf
Secundiniyel Secundi Bracha-
renfis inHifpania m^jforumCir-
tem urbem Numidu in exiliú,
Tibipajsifuntfub Vahriano , à
quo pafsi funt exdium. No que
concorda admirauelmentc cõ
o MartyrologioRomano.Cõ-
lla logo .que o Sáto Secundo,
ou Secunduio foi Arcebifpo
deBra^a dellerrado da íuaígre-
ja pellaFe peraNumidia jun-
tamente com Agapio Bifpo
de Carthagena. Conllatambê
que em Cirtc onde elteuc de-
gradado (Agora Coni]:ancina
corte anciguamente DelRey
Maísiniíla ) foi martyrizado
gloriofamentc cõ SaõAgapio,
SaÕ Emcliaõ, Santa Tercitlla,
Antónia, &aditoíamaycom
os dous filhos innoccntes.
3 Parece q não durou çSáto
Prelado Secundinopor mui-
to tempo nefta Cadeira , nem
emfeu defterro, porq em lu-
Ihodo anno de 2.60. viuia ícu
anteceílbr Grato, como íe vè
da carta que naquelle annoSaõ
Sixto lhe eícreueo : & fe padc-
cco o defterro Saó Secunduio
por mandado de Valcriano
(cuja prizão por ElRey dePer-
íia Sapor fucedeo dous , ou
trcs annos a diante no anno de
163 . ) ficalhe fò efte Icue eípa-
ço de pouco mais de dous an-
nos, pêra o defterro ,& Pre-
lazia.
4 Pcrfeuerarão os corpos
dos glorioíos martyres cm
Ahica
na.
Miraut
inno Epf
I p.verb.
•onjlãti-
Secundo.
153
' Mián cL
Sur. die
Africa por miiicos annos na
meínia cidade em que pade-
cerão , ôc daly forão tieslada-
dos a Hefpanha , Reinaado
Dom Aftonfo o íexto,ac]uc
chamarão Emperador-, man-
dou os o Rey Mouro de pre-
íenre ao Conde Dom Raimú-
do senro do melmo Dom
Ailonío . Deu nos noticia de-
lia tresladação luliano acre-
cenrando as palauras acima re-
feridas as feguintes. Horum
corpora delata funt ad H;jpa-
mas{^ã\ã fò dos dou3 Santos
Bifpos , & não dos mais , que
no martyrio os acompanha-
rão ) mijfa dono Comití Rai-
mundo género Imperatoris Al-
dtfonfifexti. Não aponta lu-
liano o diaj& anno deíf a tres-
ladação , nem o lugar em que
as Santas Reiiquias forão col-
locadas^ mas por coula cele-
bre o deuia callar,& com tudo
ate elle bem nos encobrio a
antiguidade. Do martyrio de
Saõ Secundino ^ & mais com-
panheiros íeus fe pode ler Su-
rio nas vidas de Saõ Mariano,
& São laCobo. Bcda põem fua
fefta não como o Martyro
:
logio Romano aos Z9. de
Abril, mas aos 30. de Março.
Dos Emperadores que nefte
tempo gouernauão o Impé-
rio Romano ja diflemos.íe- i
rj?m Valenano , òc Guiieno
ícu. filho, o Sammo Pojntiíi-
cado tinha Saõ Dioniiio lacei-
lorde Saõ Sixto II.
cAPiTVLo xxxvri.
^^ A M THEOPÍilLO
Saturnino ^Is^ Reuocatd mar
tyres de Viana.
Ertcncêa eíla
liiíloriaos.Sá-
tos, que com
dtulo de mar-
cyres_, ou cõ-
felíores nacerão, ou morre-
rão nefteArcebiípado^porraes
contamos a Saõ Theophilo
Saturnino, 6c Reuocata glo-
rioíos caualleiros de Chrifto
naturaes da Villa de Viana húa
das principaes poucaçoés de
antreDoLiro, &: Minho, qaa-
tiguamente entrana na demar^
cação deGaliza fundada junto
ao mar na foz do rio Lima.
Foi primeiro cidade Epiícopal
muitos annos atê que no de
óio.fe vnio ao Biípado deTui,
Depois fe encorporou neífe
Arcebifpado . Da crrandeza,
anti-
.«.■\t<V;'d I
A Í.Max
m chron.
154
Capitulo XX XFIL
lih. I. f.
da âoArc
Santo,
an.Chrif
Vafe» in
anti2uiclade,& nobrezadcfta
Villa eícreuefrey Luis de Sou-
fa. He na comodidade do íl-
cio, fcrmofura dos edifícios,
&nobreza dos moradores hú'a
das principaes do Reino.
z Efta ciueraõ por pátria
os glorioíos martyres, Sc iiella
própria pêra mayoriurtrcícu
triumpharaõ da idolatria dan-
do íuas vidas pella Jefenfaó da
Fè.Foi oTirano por cujo mã-
dado padecerão lulio Miner-
uio Gouernador dcílas partes
de Hefpanha pello Empcrador
Valeriano. De tudo nos certi-
fica Fíauio Dextro dizendo.
Viande in Gaíluia prope Tudo
ciuitatempafsifiint Sanai mar
tyres Theophilus , ÍP* Sattirni-
nus, Isf Reiwcata '-virgo Çub
lulio Mineniio, in perfccutione
Impsratoris Vahriani^ qiufep-
timaefi, eademij^fub Decio. O
Padre António de Vafconcd-
ios allegando a Dextro acre-
centa oannoera quccftes glo-
riofos martyres padecerão ^ &
foi o de t6o. do Nacimcnto
de Chrifto, em que começaua
a fer Arcebifpo de Braga Saõ
Secundino , ou acabaua de fer
Grato feu antcccíTor.
3 Põem a fcíla deites glo-
riofos Santos o Martyrologio
Romano em 6. de Fcuerciro^
mas ícm apontar o lugar de
ícu martyrio. Com o mefmo
filencio pafla Vfuardo nasad-
dicoês a Moiano j Galazino
osbz martyres ctnlloiTia^mas
como cofturTxa leuar aly to-
dos os martyres de que não
teue noticia onde padecerão,
não fez couía noua em leuar
la também aos noílos Santos.
Alem dos autores ja nomea-
dos cfcrcueo delles frcy Pru-
dcncio de San^doual nas anci-
puidadcs de Tui, pondoos na
qaelle Biípado por Viana ai-
gúa hora lhe pertencer depois
que deixou de íer Biípado par-
ticular, como foi muitos an-
nos,não no íitio onde hoje
eíH, mas no monte que lhe fi-
ca ao Norte, & fe chamaao
preíente de fanéla Luzia. Ef-
creueo também Je fanta Rc-
uocata o Padre frey Luis dos
Anjos no feu Lirdim de Por-
tugal, onde a conta por
martyr, &: natural
de Viana.
i
i
?'>gAS'
P^tSl-
CAPI-
Caledonio.
m
CAPITVLO XXXVIIÍ.
CALEDONIO X,
Arcebifpo de Braga.
Aledonio ce-
lebre pella a-
mizade q te-
uecõSaõCy-
priano Bifpo
de Cartlia^o foi (fecundo opi-
niao de Pamelio) natural de
Africa ^ & nella Bifpo 3 como
parece fe colhe de varias car-
tas de SaõCypriaiio; & fegun-
do outrosEípanliol defta Pro-
uincia de antrc Douro, & Mi-
nho. Teue em quanto viueo
continua guerra com os herc-
gesNouacianos perfeguindoos
logo que em Africa Nouato
natural de Carthago fe come-
çou a declarar por inimigo da
Igreja , pregando , & cfcre-
ucndo que não auia nella po-^
der pêra perdoar peccados
aos jabautizados j nemfede-
uião chrifmar os que tiucílem
recebido o fagrado Bâutifmo^
ou caiar os q híja vez viuuaí^
fem . E também quando feu
dicipulo Notiaciano fe oppos
cm Roma a Saõ Corlielio pre-
tendendo tiralrihe o Sunnno
Pontificado i &í íicaffe com
ellcjCom o que inquietou gra-
uiílimamente a Igreja dando
principio as Idfmas , Co q por
varias vezes fe vio taõ afíligi-
dá.
z Em híía , &: outra CoU"
fa fe moftrou Caledonio filho
da Igreja, & obedientiíTimoa
Cadeira de Sao Pedro. Sahio a
campo.com a hngoa ,, &: com
a pena, porque em ambas era
eminentiflimò;&: tal eftrago
fez nefta cafta de heregéSjq ate
defuâ fombraâuiáo medo» De
pois que em Africa os cohuen-
ceopaílcua Roma em com*
panhia do Bifpo Portunaro 3
como efcreue SaõCypriano,&:
aly defpregandõ mais âs velas
de fua eloquência de todo õ
ponto tonfundiõ ao herege,
& feifmatieo Nouaciaiio^ <Sí
fez patête a iuftiçá de Saõ Cor-
nelio verdadeiro iucèílbí do
Apoftolo Saõ Pedro.
3 Daqui de Roma vol-
tando outra vez a Afticà paf-
fóu âHefpanha. A ocaííaó não
podemos faber, feria pefâájU"
dar efta Ptouincia, onde en-
tão andaua aòezà â petfegui-
çáõ dosGetios,& feinauâ mUÍ
I to a heresia pella vizinhança
nó
Capitulo XXXVIIL
de Africa. Deufeloíjo acoiihe-
cer pcUas obras , dezcjauãiio
em íy as cidades onde chega-
ua , ou prégauaj 6i fe ajgúa íe
viafem Prelado eílà a toda a
força o pretendia. Mcreceoo
porcmíò a cidade de Braga na
vacância de Saõ Secundo, de
cujoilluftre martyriopor íu-
ceder na mefma Africa onde
fe criara, d>c fora Bifpo Cale-
donio dcuia ter grande noti-
cia.
4 Entrou na fua Igreja, &:
como entrauatao dcfejado, òc
Ícom tanta opinião de letras_,&
íàntidade facilmente acabou
com fuás ouelhas tudo o que
delias pretendia. Os^ que por
medo das perfeguiçoés palia-
das tinhaõ deixada aFècom.-
pungidos com a pregação, &c
amoeftaçocs do Santo Prela-
do abjurarão , & anathema-
tizarão feus erros , &c nao dei-
xauão animo naqiselle cora-
ção,& entranhas taõ compaf-
ííuas , & verdadeiramente de
pay pêra lhe negar a peniten-
cia, 6í reconciliação que pe-
dião , Todauia como por a-
quellcs tempos femclnantes
reconciliações fe fazião mui-
to de vagar,^ depois de com-
pridas moftras de dor,»& arre-
pendimento ouue ( fegundo
parece) alguns que o quizerão
notar de fácil, òc metcrlheef-
crupLilo naquclla matéria lem-
brandolhc que da facilidade
no perdão íc tomaua ouzadia
pêra os crimes , &í que quem
íentia fempre aberta aporta
pêra entrar na cafa quando
quizcfle, também não eftima-
ua fairíe delia quando a von-
tade lho pedilíe.
j A eftcs auifos acrecenta-
rão cartas^ &: (fegundo íe mo-
ílra da que logo referiremos
de Caledonio) parece cfcreue-
ráoa Saõ Cypriano,cujas le-
tras erão .então celebres na
Chriftandade , peraque o San-
to Doutor o aduirtiílè, como
taõ amigo feu ^ daquella facili-
dade em admitir à Igreja osq
delia íe apartarão por apoífa-
zia . Da melma carta íe colhe
que não diísimulou SaÕ Cy-
priano o que de * Caledonio
lhe eícreuião antes logo lho
fez a faber lembrandolhe a cau-
tela com que naquelle parti-
cular era bem íe ouueílè, por-
que aquella íua facilidade não
folie em prejuízo dos que
ainda cílauão leuantados, &
em dano dos ja caidos, fazen'
doihes cílimar em menos a mi
fericotdia quando fe lhe daua
taõ barata.
Qãkãonlo,
157
/?? ccne.
aiT> X'.
ar.. 268
e L^alcdonio
iz aísy tornada
!.
i-^t-V
I G Chegou a carra cie S.Cypria
I noas niãosdeCaledoniOjVio,
& leo tudo o de q era norado,e
porq iiiuitas das coufas/j nel-
ía íecontinhão, naõ relarauão
o calo como palíaua^pera intci
rar ao Santo Prelado Ihcefcre-
lico outra carra dãdoihc ficlmê
te cota docjacêly tinha feito,
pcraq íe em algúa coufa fe def-
uiara ào caminho da verdade,
cllc como amigo leu particular
& mcflre de todos o encami-
nhaílc. A carta d--^'
trasBiuar, &d
em Portuí^uez
Caledonioa Cypriano^if?' aos
mais Sacerdotes ^refide em Car
thago faude. Afiecejsidade dos
tipos nos obriga a q nao có ceda-
mos temer ari ame nte reconcilia-
ção aos q a pede. Por & he necejfa
rio adiíirtiruos , q aquelles q a
primeiral^e^carraófacrijicâdj
aos ídolos fe tentados a Jegim-
da fe deixarão deflerrar por
nt-cfacrificar , Í!f perderão fiia
fa'::{enda , íp" bens , nos parece
que purgarão com ifio o primei-
ro deliSlo ^pois largando o que
tinkao , l^f fazendo penitencia
[eguema ChriUo Por tanto Fé-
lix minilíro de Decimo meu 'vi-
•^nhc , a quem eu conheço mui-
to berA^tf Viãoria Jua molher,
llf Lúcio todos fieis defierrados.
tf q !argarhfuasfa^end.is^i:f \,
eUciO em poder dofifco^ tf Bona
t^.bcm desterrada ^a que feu ma-
rido como arrajlos trouxe aofa
crificio^tf em qn^nto elle^tf ou-
tros facrificau^.o lhe tinhtioas
mãos gritando ella entretanto
que nao confentia em talfacrifi-
cio,queelles erao os que facriji-
caujo^ todos pede mifericordia
di-^endo qco esles aãos recupe-
rarão a Fé ^qtinhao perdida .,tf
arrepcdendofe cófejj'arf:.oa Chn
flo. E pofloque mspareceo que
fe lhe deuia conceder mifericor-
dia.,c'ótudoos enuiamos aVoJ^a
prefença peraq nh cometamos
aJgúa coufa q pareça nouidade.
Aquillo q entre -uosfe determi-
nar nos efcreufj. Saudai aos nof-
fos njos q te dos fo is noffos. Deos
yos guarde cê felices annos de
'■vida^isf jaude.
7 Be fe deixa ver deíla carta
o q Caiedonio có elia pretédia.
Pêra purgara calúnia õ cíeile os
de Bragaj ou aigús Bifpos feus
vizinhosefcreueráo aS.Cypria
no determinou o íapiéciílimo
Prelado moftrar ao lagrado
Doutor, & a fcu Cabido mais
pof cxéplos qcõ rezoés quaes
eráo os que eile admitia a pe-
nitencia. Pêra iíf o lhe cnuiou a
Félix minift ro do Bifpo De-
cimo fua molhcr Vivfloria ,
O
&
158
Capitulo XXXVJII.
Sc outro Chriftão por nome
Lúcio, & Bona afsi mefmo
cafada^a quem depois defacri-
fícarê a primeira vez aos ído-
los, quiferão os Gentios obri-
gar a que repeti ílem o mefmo
aéto pareccndolhc que o pri-
meiro fora mais por coníer-
uar as vidas , & fazenda, que
porafsyo fentirem no cora-
ção : mas clles pcríeuerando
confiantes profeíTarão liberal-
mente a Fè dcChrifto, per-
dendo honra, fazenda, & a
própria pátria , & com cftc a-
parelho , & moftras de verda-
deira contrição fetinhaò vin-
do aCaledonio pedindo recõci
liaçáo cõ a fanta madre Igreja.
8 Eftcs pois Ihecnuiaua
Caledonio,pera que viífe fe fe-
ria a cerrado, negarlhe, ou não,
o quepedião : & por aly fizcf-
fc conjeitura qual feria a pe-
nitencia dos outros reconci-
liados, quando aquclles en-
uiaua 3 Carthago , &c fazia du-
uida em os admitir , por não
cometer nouidadcs;.
9 Rcccbeo Saõ Cypria-
no cfta carta de Caledonio
como de amigo fcu particu-
lar, alegrandoíc , & fcftcjan-
do grandemente o modo com
queícauianaquellas matérias
tão conforme á boa opinião.
! quede fuás letras, & íàntida-
de tinha, Rcfpondeolhe com
húa carta, cujo principio em
Portugucz vem a dizer. Cy-
priano a Caledonio feu irmão
faude. Recebemos ipofias cartas,
irmão charifsimo aj?aí<i pru-
dentes, iff cheas de inteire':!:^,
i^ Fé; nem nos ejpantamos de
tudo fazeres com madure^a^^
confelhopois fois taÓ exercita-
do nas efcrituras fagradas .
Acertado he o 'ijojfo parecer a-
cerca de darmos a reconcilia-
ção a nojjos irmãos , da qual el-
lespor 'Verdadeira penitencia,
Is^ gloria da confij^ao de Chri-
ftofefica^eraÓ merecedores jufii-
fcadofe cÓ as mejmaspalauras,
com que dantes fe tinhao conde-
nados.Vxl Saõ Cypriano men-
ção delta íua repoíla ao Clero
Romano , inuiandolhe a mcf-
ma carta de Caledonio,a quem
ellcs muito bem conhecião
do tempo que naquella ci-
dade reíidira. Arcpoílaquede
SaõCypriano ouuc Caledonio
a mandou a todos os Metro-
politanos de Hefpanha, aísy
pêra juftificação fua,como pe-
raq clles tabc foubeflcm co-
mo cm femclhantes matérias,
fcauiãodcauer. Aísy o acha-
mos cm Marco Máximo, di-
zendo . Succefsit Narcijfus
Cale
Epifl.23
M.Max
tn chratit
!edo7
orno.
i>Ç»
<fw. 43(7.
B XO.
Caledónia adquemjcrílnt San-
ãiis Cyprianus ^ cuius epiflo-
las tranfmittit ad omnes Me-
tropolitanos Hifpanicc . Ou-
tras cartas andão do meímo
Santo, em que faz particu-
lar menção do noílo Prela-
do.
IO Ha cr^^nJc memo-
ria cm Flauio Dextro de Ca-
iedonio : entre outras cou-
ías eícreue, queícu nome era
celebre por toda Hefpanha,
& que com outros Biípos aí
llílira em hum Concilio de
Carthago , & nelle ^andau^.
aílinado . Per Hi^ani^ cele-
bris erat memoria, Pompo--
nij Paulati, Caledonij Bra-
charcnjts , Lueiani Cccfaraii-
gujlani Epifcopi , qiii pr^te}--
quamquod fuerunt fcriptores
egregtj , Concilio cuidam Car-
thaginenji , cum alijs Africa-
nis interfueriint , if fubfcri-
pferunt.l' orem efte Concilio
em que fpefcreueo Caledo-
nio não chegou a noíla no-
ticia , como também nenhúa
de fuás obras , fendo efcritor
famofo,como lhe chama Dex-
tro . Sabemos comtudo por
relação do Bifpo do Porto
Dom Hugo cm hua carta,
que cfcreuco ao Arcebifpo de
Braga Dom Mauricio, que
Caledonio coaipos elegante-
mente a vida de Saõ Pedro de
Rates. Lançamos a carta no ca-
pitulo ij.deíla hiíloria.
1 1 O tempo de feu go-
uerno nem por conjeituras
íe pode aueriguar ,faiuo que
viueo, Sc foi contemporâ-
neo deSáó Qypriano, & che-
2oa ao anno de duzentos «Sc
feílenta & cito , cm que te-
ue por fuceílor a Saõ Nar-
ciííb , como efcreue Dextro.
Era então Su mmo Pontifi—
cc depois de Sixto II, feu fu-
ceílor DicnyíiOjEmperador
de Roma Gallieno . De Ca-
ledonio efcreucm os ja rcí^e-
ridos Dextro , Marco Máxi-
mo , luliano , & dos moder-
nos Biuar, que hora lhe cha-
ma Santo , hora Beato , no-
mes que lhe nãodaõ ou-
tros autores mais
antiguos.
(t)
an.Chrif
>Ó8.
Bieiar i..\
eag.
O2
CAPI-
í6o-
(Capitulo XXX IX.
■
J>ext. an
Chrip
z68.
in cUron,
CAPITVLO XXXIX.
SAM N A R C I S S O
XI. Arcebifpo de Braga.
Vardamos pc-
raelle lugar as
rezoss porq
nosdeíuiamos
acima na vida
de Saõ Félix da ordem de Ju-
liano em contar os Arcebif-
pos de Braga no particular de
ler o mefmo SaõFelix fucelíor
de Saõ Fabião, & não SaÕ Nar-
ciílb como cUe aly o fazia. Se-
ja a primeira a autoridade de
Flauio Dcxtro,c[uc a Saõ Nar-
ciíío põem logo depois de Ca-
ledonio/& não de Fabião, co-
mo fe ve de fuás palauras . Ca-
ledonio Bracharenfi ^ad quem
fcrihit Sanóius Cyprianusyfuc-
cefsit Narcijjus-^ fegue a Dex-
tro MarcoMaximo continua-
dor de fua hiftoria,5«: Arcebif-
po de Caragoça affi miando o
mefmo. Succefsit Narcifius Ca
ledonio^ad quemfcribit Sanãus
Cyprianus^cuius epiflolas traf-
mittit ad omnes Hifpanu Me-
tropolitanos.
' i Seja a fegúda rezao, o cjue
os mcímos tempos pedem. lu-
liano diíle que S. Fabião pade-
cera a 13 .de Agoílio anno 2.30.
como referimos em lua vida>
mal podia logo iucederlhe São
Narcilío, porque eite foi mar-
tyrizado no anno de zyy. co-
mo logo veremos. E era quaíí
impoísiuel tiueííe4j.annos de
Arcebifpo em tépo que osBií-
pos durauão muy pouco _, ou
por logo darem luas vidas por
ChriftOjOu por ferem ja quã-
do erão eleitos de muita ida-
de,
3 Com igual facilidade fe
conuence não íer eíleglorio-
fo martyr Bifpo de Girona^
como alguns o quiferaõ fazer,
entreos quaes heo Padre Pe-
dro de Ribadeneira nos Sãtos
extrauagãtes. Moueofeporaly
padecer Saò NarciíTo, & fe in-
titular Bifpo^mas ate os mora-
dores daquella cidade virão
quaó mal encammhada hia
eíla opinião, porque o Padre
lofeph Ramon da Compa-
nhiadelESVS morador no
Collcgio de Girona Sc na-
tural de Catalunha a cujoPrin-
cipado aquclla cidade perten-
ce , efcreliendo ao Padre A n-^
tonio de Caftellobranco fo-
bre efta matéria húa carta ,
que
Flofanto.
18. ãc
nia.rç6u
Sao JsÇ^rcifo.
if)í
que temes em noílb podsr,
abertamente diz que nem
íer SaòNarciíío natural, nem
BifpocieGirona tinha funda-
mento algum na antiguidade,
o que proua com o próprio
letreiro da ícpultura do San-
to, que per nenhum caio o
chama Bilpo de Girona , não
deuendo callallo,poisnifto hia
taõ intereííada aquella cidade.
O letreiro diz aísy. AnnoDo-
mini z-j. quarto Knlendas No^
uembris beatiis Narcifus Epip
copm díi mi[fam cehbrat paf-
fus fuit Gerimdcc in loco "vbi
mmc lacetEcclefut Cathedralis^
ciim Diácono Felice. como íe
diílera.No anno do Senhor de
dozentos ôc fetenta Ôc fete a
vinte ôc noue de Outubro o
bemauenturado Biípo Nar—
ciíío dizendo miíla padeceo
martyrio em Girona, com Fé-
lix Diácono no lugar em que
agora jaz a Igreja Cathcdral.
Que coufa mais fácil, & me-
nos pêra callar que aquella pa-
hurajEpifcopuSjaaccentaúhe^
kuitis '-vrbisy ou Gerund^ quan-
do elleoouuera íido, mas os
antiguos reípeitarão naquelle
Epitáfio igualmente a verda-
de em que não quizeraó fal-
tar.
4 Não vão por aqui os fun-
damentos porque efte Reino,
òc a villa de Santarém preten-
dem por feu natural a SaoNar-
ciíib, Ôc os cidadãos de Braga
por íeupaltor, mais calefica-
dosfaó,^ na antiguidade fe
cftabclecem com a autorida-
dcdeFiauio Dextro , de Mar-
co Máximo, & deluliano, a
quem os modernos quafi to^
dos vaó/cguindo. Repitamos
as palauras de Máximo, & Ju-
liano, as de Dextro ja acima
as puzemos , porque cambem
nellas temos ocafiaó pcra dií~
correr pello mais de fuami-
lagrofa vida ^ diz Máximo»
Per hsc têmpora ceUbr is erat
memoria Sanãi Narcifsi Epif-
copi Bracharenfo in Hifpama
Rh^UOrtim ApoUoh ^ inijrbe
GerimdapajTiis ejifiib Aurélio.
Fuit hic ciuis Scalabitanus in
Lujttania , qui diuinitus ad--
monitus , reliãis Bracharen-
fibus^V^ndeliam petit. Quer
dizer. Por eífe tempo ( hia no
annodeChriílo feircentos&
doze) era celebre a memo-
ria de Saõ Narciífo Bifpo de
Braga em Heípanha Apo-
flolo àos Rheciosj padeceo
na cidade de Girona no tem-
po de Aureliano , foi natural
de Santarém na Lulífania,
Sc por infpiração do Ceo ^
v>ff.
O 3
deixan-
■"*•
162
Capmlo XXXIX.
Chron
j i» chron.
deixando os de Braga fe foi a
Vindelia. Iiilianodiz. A''^m'f-
fiis Bracharífis Epifcopus^Apo-
flolus AuguJ}^ Rhíetiorum re-
uerfus in Hijpaniam cum Archi-
diaconofiio Felicejj' focio mar-
tyrium Gerundce hoc tempopt
fub Aureliano Pr,etore,tf Pr^~
Jide proChriflopatitur Mc qua-
lí o mefmo que o que diz Má-
ximo . A cidade de Augulla
àos Rhccios íe chama hoje.
Augfburg, tem íeuBifpofuf-
fraganeo a Mocrúcia, ou Mcnz
na lingoa própria dos Ale-
mães,
$ AíTentada afsy a verdade
dç que Saó Narciílo foi por
nacimcnto Portuguez, &í por
eleição Arcebifpo de Braga, &
fuceíTor de Caledonio. Palfan-
do a contar por ordem fua vi-
da, elle naceo na vilia de San-
tarém de pays ricos, & de
srande nobreza , como nos
certifica M. Máximo , porque
foi parente muy chegado de
Pomponio Paulato Biípo de
Toledo varão da primeira , &
melhor nobreza deHcfpanha,
& dos mais bem aparentados
de toda ella. Eftudou cm mo-
ço as letras humanas , & em
mãccbo asDiuinas,nellasfahio
eminentiílimo , mas foi o íem
comparação muito mais no
exemplo de íua vida, & nas
grandes virtudes , em que fe
exercitaua.As letras, & exem-
plo o puzcraõ na Cadeira de-
lia cidade, onde com o tervi-
uiáo os naturaes della,& todos
os do Arcebilpado húa vida
bemauenturada j mas quando
mais o dezejauáo , &í ellima-
uão, entaõ lho tirou o Ceo
por particular infpiração Di-
urna, ordeiiandolhe deixafle
Braga , & fe paílaíle a pregar o
Euangelho a Alemanha, onde
era neceílaria fuaprefença, &
o efperaua grande fruto no
proucito das almas.
6 Obedeceo o Santo, pos fe
a caminho , acompanhado de
hum Arcediago de Braga cha-
mado Félix ; chegando a Ale-
manha foi demandar aquella
Prouincia em que cae a cidade
de A ugfb urg, chamada pellos
latinos Augufta Vindelicorumy
ou RhéCtwrum. Nella íem faber
onde ellaua fe agazalhou cm
caía de Hilária Rainha que
auia íído de Chipre , a qual de-
pois de perdida a Ilha íc reco-
lhera a Alemanha, & na cidade
de Augsburg viuia com húa
fua filha por nome Afra mo-
Iher pouco honefi:a,como de
ordinário o erao as de Chipre.
Cuidou Afra quando fe vio
com
SaõJ^^Qtrcifo
163
cem Narciílo em caía leria co-
mo qualquer dos oucros,que
a coflumauão frequentar ,
mas a poucas palauras enren-
cíeoler Bilpo de grande fanti-
dade, mormente depois que
o vio paflar toda a noite em
oração cercado de húa luz ce-
lellial, & oouuio afearlhe o
cftado em que viuia, o perigo
que corria fua faluaçao íe neile
perícueraua, oeícandalo que
daua ácidadetão pouco efpe-
rado de húa pefloa tão illuílre
cm que todos tinhão poftos
os olhos , pêra por ella regula-
rem íuas vidas.
7 Elias rezoés, & muito
mais o exemplo do Sãto Bil-
po mudarão aquella peccado-
ra. De improuilo deu de mão
às galas , éc veftjda de peniten-
cia pedio o íagrado Bautifmo,
que recebeo em companhia de
lua may Hilaria,emquemtã-
bem obrou muito a Diuina
graça, & de outras fuás cria-
das Digna, Eunomia , Entro-
pia,que aísy como a acompa-
1 nharaõnas culpas,aísy lhe qui
zcrão também fer companhei-
ras na conuerfaõ delias.
8 Conuerteo poraquellas
terras outros infinitos Ale-
mães à nolla fanta FèSaõ Nar-
ciílo ,^ obrou tantas , & taõ
eftupendas marauilhas , q por
ellas lhe chamarão Apoltolo
de Auguíla. Depois que teue
jafeitoChriítam grande par-
te da Prouincia , ordenados
Biípos , & Sacerdotes q a go-
uernalíem (entre os quacs foi
Dionyfio irmão de Aha^a que
encomédou a cidade de Au'2-
burg) paliou outra vez a Hel-
panha depois de noue mefes
de aulencia com animo de íc
reílituyr aos feus deBraga on-
de era grandemente deíejado.
9 Trouxe o caminho de
Alemanha por Catalunha , &:
dilcorrendo em forma Apo-
ftolica pellos principaes pouos
daquelle Principado veoà ci-
dade de Girona onde por aísy
o pedira neceílidade pregou
cõ may or zelo o íagrado Euã-
gelho. Deu logo tanta luz nos
olhos aos Gentios , que não a
podendo íofrer , acuíaraõ o
Santo diante do Prclídente L,
Cefonio Macro^o qual o man-
dou prender , & trazer diante
de íy; mas vendoo cem muita
eonílancia, &quec5nenhús
tormentos deixaua de confef-
(ar a Chrilto, finalmenae de-
pois de o atormentar cruelmé-
te o mandou maur a ferro to
muitas feridas , & golpes . O
letreiro de lua fepultura,como
I
04
acima
r64
Capitiío XXXIX.
dii
acima vimos , ciiz o tomou a
morte eílando dizendo miflà,
peraque acjuelle que toda a vi-
da viucra lacnlicado a DcoSj
acabaíTe vltimamente em ia-
criíicio.
IO Foi martirizado com o
Santo o íèu Diácono Feiixfc-
Jiciííimo por tal morte , &: tal
compnhia.-Santa Afra, quede
Alemanha com fua may ^ &
fuás três criadas viera acom-
ps nhando a Saõ Narciílb, tam-
bém aquclle dia foi queimada
viua pello mefmoTiranOj pur-
gando como fogo íâgrado do
martyrio o profano , em que
algúahora viaera. Seis dias de-
pois padecerão com o mefmo
Santo tormentos de fogo Sã-
ta Hilária may de Afra , Santa
Digna , Santa Eunomea, &c
Santa Eutropia fuás criadas^
como fe refere no Breuiario da
Igrçja de Augsburg , que per
ordê dò Cardeal Ottho Tru-
chíís Bifpo delia feimprimio
em Roma no anno de i jyo.
!i Ficarão as ía^radas reli-
quiaS de Saõ Narciílb na cida-
de de Girona, ondepadeceo.
Aly íaõ veneradas , èc eftima-
das de todos os Reinos de
Hefpatiha, conforme os mui-
tos milagres, que Deos nollo
Senhor por ellas obra. He efte
Santo Patrão daquclla cidade^
& da de Augíburg.Dcfta por-
que nella pregou a Fè_, & foi o
ícu primeiro Apoíloloj da-
quella , porque polluc o pre-
cíofo theiouro de fuás relí-
quias.
li He celebre por toda
Hefpanha o que em Girona
acontcceo a Carlos Rey de Si-
cília, òc a Felipe Rey de Fran-
ça na ocafião em que íaziaõ
guerra a Dom Pedro Rey de
Aragão. Tinhão ja os Fran-
ceíes ,& Sicilianos entrado a-
quella cidade á força darmas:
andauão na mayor fúria do fa-
ço os foldados ^ & como pêra
eftes nenhum lugar hafagra-
do entrarão na Igreja^ onde o
Santo cí^a fepultado, preten-
derão com violência roubar
todo o preciofo queíeruia em
íeu fepulchro ^ mas indo pêra
lançar maó da primeira peça
fubitamente fahio daqucllc íâ-
grado tumulo hum exercito
de mofcas de híía noua feição,
o qual efpalhandofe por fol-
dados, & cauallos, afsyosal-
uoroçou,& atormentou, que
íem tino nem acordo algum
defempararão a cidade,& a dei-
xarão liure , ficando muitos
dellcs mortos no capo. ElRey
(Jc França fc recclheo a Perpi-
nhã
ao
T eterno I.
165
Baron,
Aí-triyr.
1'í^.ALir
tij.
Barrar.
tit.Giro-
Rthadeíi,
J-lolJcitlt.
2. p. 18
eleA<farço
Bíuay /«
time. ad
Vext an
i77«-2;
Cfirus ai
27-. lit-
bar;,
choroor.
o
ttt.:sC)fO-
11 a.
AÍjgAlh
tn Al. f.
tn
nhão, onde dentro de poucos
dias morreo. Sucedeo eíle mi-
lagre em 8. de Setembro de
128Ó. & foi tão celebre por to-
da França, &í Heípanha^q paf-
íarão em prouerbio as moícas
dcSaõ Narciílb.
13 Pocm o Martyrologio
RomanoaSaõNarciílba i8.de
Março. A cidade de Aiiglbiirg
o fellejaeniit?.deOutubrOj&
então diz o letreiro de fua íe-
pultiira cjuc elle faleceo, Delle
efcreue Marco Velcero nos
íeusannaes, & Biípos de Aug-
fbiirí?, o ^longe Segifmun-
dono Chronicon Ecçlellaíli-
coda nieíina cidadc_,Henrique
EaifachioAbbadedeSãta Afra
nos Biípos de Augufta, Riba-
deneira , Biuar , Caro , Barrei-
ros _,& Magalhães, não falado
nos ja nomeados Dextro_,Ma-
ximo,Iuliano. Imperaua pel-
lo« annosde 177. ou 175. (co-
mo temos por mais prouauel
que o Santo padcceo) Aurelia-
no fuceílor deClaudio;eouer-
naua a Igreja de Deos o Sum-
mo Pontífice Félix.
14 He ncceflario aduertir-
mos no fim da vida de SaóNar
ciílo cjue alguns autores o
quizeraõ confundir com ou-
troNarcillb Bifpode lerufalé,
íendo ambos difitTcntes afsy
pellas igrejas quegouernarão,
como pcUos annos em que vi-
ueraó.Foj também Saò Fílix
Diácono de Saõ Narciflb, &:
Arcediago da Sé de Braga, &
padcceo martyrio juntamen-
te com o Santo, & foi outro
bem diferente de Saõ Fclix ir-
mão de Saõ Cucufate cie Bar-
celona, que tâfnbem em Giro-
na padeceo glorioíamête pella
Fè,como com juizo o nota
Biuar.
CAPITVLO XXXX.
PATERNO PRIMEIRO
donome^tfXII. Arcebijpo
de Br acra.
HEGADA
a nouadomar
tyrio de Saõ
Narciílb a ci-
dade de Bra-
ga,depoisdea feílejarem co-
mo merecia húaral conílan-
cia,entre as alegrias de o terem
no Ceo por martyr , & as tri-
ftezas de o perderem na rerra
por Prelado tratarão de lhe
dar fuceílor. Foi eíle lium San-
to varão afamado em letras, &c
fantídade , que então viuia, &
parece
an 2 77.
166
Capitulo XXXX,
-■-i^
{in ch^on.
\fag. 53
■
parece íeruia elta Sè, chamado
Paternojiome que ellaua vcr-
oadeiraraentepronorticádo as
entranhas de pay que pcllo
diícuríodefcu goucrno nelle
acharão íuas ouelhas,Muy ne-
ccflaria foi apefloadeParerno
pêra encher o lugar que eutao
largaua hum tão Santo Arcc-
bifpOj&taS valerofo martyr
como Narciílb^mas cíle fe ou-
ue tam.bem, que nem nadili-
j gencia com que acodia pello
bcrri dos feus , nem no zelo cõ
que defendia a Fè , & pcríeguia
os hereges, ocharáo nunqua
menos os de Braga. Falando
luliano dagrande opinião cie
fantidade, quede íi deixara Pa-
terno depois de morto a enca-
rece com as palauras feguintes.
Celebris erat memoria Paterni
Bracharenfs ad quem FelixPa-
pafcripjiti item idem Pontifex
fcripjít; ad Benignum Epifcopum
TarracoKenfem. Era celebre a
memoria de Paterno Bifpo de
Braga , a queni efcreueo o Pa-
pa Fehx, como também a Be-
nigno Biípo de Tarragona.
2. Acartado Summo Pon-
tifica hefem duuidaa primei-
ra entre as decretacs, quean-
daÕemfeu nome, no primei-
ro tomo dos Concílios. Diz o
íbbrefcrito . Charifsimo atí
'"■dl
I dileã/fsimo P^iternoCoepfccpo^
Felix Epifcopiis in Domino fa~
lutem. Segue o teor da carta.
Gaiidere mepíurímum^l^ extd-
tare in Dcnuno dileSíionis tu^
fcriptafeceruut , (rui hm em de-
ter ojlendis qiiantimi catholicâ
diligisfidem^ i^ quamurd hcçre-
ticum detefiaris errarem. Vem
a dizer o muito que fe alegrou
com a íua carta ^. pello amor q
nella moftrauaa Fè Cacnolicaj
«Sc aborrecimento aos hereges:
no fim o amceíla. Vtpro íiatu
-ck(ice , «y Sacerdotumeiíís
pro -vinhus elaborme Uitdcas^
Í!f ordmem Sanã^c Roman.^^ tf
Jpoftolicíe Ecclef,^ per omnia
teneasj yt frucimfos manipulos
Domino repr^f entes . Que po-
nha todo o Teu cuidado em de-
fender a Igreja Catholica , &
citado Sacerdotal, & que em
tildo j & por tudo guarde , &
íe acomode às ordens da Is:re-
ja Romana, & Apoíl:olica,pe-
raque íuas oífertas íejao agra-
daueis a Deos noflo Senhor.
No mais da carta fediz muiro
do modo com que fe ha de
preceder na acufaçáo dos Bií-
pos,&; Sacerdotes, òc quaes
peílbas deites podem denun-
ciar-como fuás caufas dcuem
ir por appellaçuo a Sè Apoílo-
lica dando por nullo , & de
nenhum
Sao Saiamao.
167
ílores 3.
f-j« cap,
2qS.
nenhum vigor tudo o que cm
contrario fe ordenar. Sua da-
ta parece foi pellos annos de
27/. o mefmo em que Paterno
foi eleito pêra Arcebifpo de
Braga , & Sa5 Félix pêra Sum-
mo Pontifice Aproueitoufe
muito delia Graciano pêra os
capitules do Decreto que na
margem allcgamos.
3 A outra carta de que lulia-
no faz menção eícreueo Saó
Félix a Benigno Bifpo de Tar-
ragona (he a terceira no pri-
meiro tomo dosConcilios das
que pertencem^a efte Papa)
chea toda de grande epudiçao,
6í que com euidencia conuen-
ce vários erros de muitos he-
reges daquelle tempo. Nem
húa nem outra apontão as ci-
dades em que Paterno , & Be-
nigno foraó Bifposi maior di-
uidi he a em que por illo fica-
mos aluliano poiselle no lo
declarou. SaÕ Félix foi marty-
rizadoemjo. demayodoan-
no de zyj- .ainda que alguns lhe
eftendem a vida mais adiante
atêo de 185. Paterno parece
que não venceo o de 290. por
quanto jaftelle era Arcebifpo
de Braga feu luceíTor Salamão,
comologo diremos. Viueo po
rem eíles q teue de vida cheo
de virtudes, & merecimentos.
que na cílimação dos homés
o fizeraõ celcbre,& na deDeos
gloriofo.Gouernauão porefte
tempo o império Romano de-
pois de Aureliano , Tac-ito òc
Floriano , Probo , Caro com
Carino &c Numcriano feus
fílhosDiocleciano,e Maximia-
no grandes perfeguidores da
Igreja. Os Papas foraõ Félix,
Eutychiano, Caio^ & Mar-
cellino.
CAPITVLO XXXXI.
S A M S A L A M A M
XIII. Arcebifpo de Braga.
A vida do Ar-
cebiipò Grato
falando de Me
lancio Arce-
bifpo de To-
ledo por ocafião da amizade,
que entre íí tiuerão , diílemos
como Melancio fora Grego
de nação , & natural de Athe-
nas trazido por Saó Sixto fe-
gundodonorne a Heípanha,
&dcixadonella,& no íerui-
ço da Sè de Toledo quando
voltou pêra Roma. Agora a-
crecctamos que deite Melãcio
foi
fufru Cãf
}5'
capitulo XX XXL
fug. 3J.
ãiã. fag.
íoiirmáoSaUmão , cuja vi'ia !
eomcçamos a contar, & am-
bos tios c1eMella,ou Melancio
Bilpo de Synocufura no Egy-
pco : taes os faz na opinião de
muitos luiiano dizendo. Bea-
tus Salamon ecdem annõ ( vay
leuando ahiíroria no de 290.)
fratcr Melanthij Tvktani , ^-vt
quidani dicunt pr^eU jedi Bra-
',chareitfi.f'utertjj patruus MelU,
à:el '^ídanthij Epifcopi SyKo-
cujlfr^ iii jBgypto De lua cria-
ção , Qi eftudo, das dignidades
que teue antes de íer eleito Ar-
cebifpp delta Sé não diz na-
da IuÍiano,& aisy dcforça alie-
mos de paílâr cõ elle ao anno
de fua eleição, que Foi no de
190, A opinião grande quede
fuás letras , 6c fantidade auia o
promoueo íem duuidaaeíla
mitra. luliano lhe chama. Vir
fanãus , llf egregié doBus , llf
peritus. Varão íanto íobrema-
neira doutora íabio.
2. Na ocafíão em que o
elegerão andaua por Hefpa-
nha com grandes forças a he-
resia dos Samofatenos : nesa-
uão eftes hereges a Diuindadc
dcChrifto, diziaõ que nelle
não auia mais quea peíloa hu-
mana, &:fó como homem, ÔJ
não como Deos auia de fer a-
dorado.-fentia muito o Sajito
Prelado ver ateada blasfémia
tão diabólica j prccuraua por
fy como PrimaZj& pcUos Bif-
pos de mais au toridade de Hcf-
panha atalhallaíogo em íeus
principioSjCÓuécêdoa jacom
autoridades clariííiinas da ía-
grada Efcrituraj ja com decla-
rar ao pouo a má vida , òc Del-
íímos coftumes de íeu autor.
Foieíle hum homem foberbo
chamado Paulo Samoíateno
Bifpo dç Anticchia,o qual lo-
igoqtiefe vio porto naquella
xiii^iidade viando mal daau-
«orid^de, «Sj-JNgndas Ecclelialli-
cas fc d<eu a f odo o género de
vicios, &veoa íer de grande
efcandalo a toda a Igreja Ca-
tholica , a qual não foítcndo
íeus abominaueis coftumes,
vendo que ja não podia darlhe
remédio procurou caliigallo
com o priuar da dignidade em
que ofauor ,& ambição o ci-
nhão pofto. I'*^ ' rfJv-r
3 Pêra proceder nifto mais
juftificada o naó quisiazer íe-
não em publico ConciÍio,cjue
na mefma cidade de A ntiochia
feconuocou autorizado com
a prefcnça , & prudência de S,
Gregório Bifpo de Neoccfa-
rea,a quem a multidão, & grã-
deza dos milagres que fez de-
rãoonome de Taumaturgo.
Nclle
\
Soo
SaL
ãrr<í^Q.
'^^■^cijiiiiiiaitBafcrij .
/
^ag. 28.
2%
Ncllc foi condenado por Iie-
itícico, «5c íacrilego cerro de^
Paulo,»?c eile depoílo da cadei-
ra Epilcopal , que indignamê-
re poíluya_,ôiem ícu lugar elei-
to Domno filho de Demetria-
noBilpo queauia fido daquel-
la Igreja.
4 Illo publicaua , & prè-
gaiiaaopouoo noílo zelofo
Prelado Salaniaõ,& muito fa-
zia_,(Sj obraua por atalhar àhe-
rcgià. Porem naõ parando ain-
da aqui feu zelo, com outros
deus meos eíícaciílmios pre-
tendeo a fogar de todo efta
ícmcnte diabólica. Foi o pri-
meiro auiíar por carta fua ao
Summo PontificeSaõMarccl-
Imo do que em Heípanha
paílaua acerca da heregia de
Paulo, peraque Tua Santidade
lhe defiè o remédio que mais
conueniente lhe pareccíPe.
Enuioulhe a carta por hum
Diácono feu peflbade impor-
tância, o qual de palaura o auia
de enformar bem de codas as
particularidades tocantes ao
meímo negocio. Tudofeco-
Ihe da repolfa do Summo
PontificeSaõ MarceUino, que
anda no'prim.eiro tomo dos
Concilios. E começa alsy tor-
nada em Portusiiez.
MarceUino Bifpoda Santa
Igreja Catholica tU cidade d^ '
Roma ao.Bifpo Saiam ao fau.í^
em o Senhor . Bem mojtrdo as
cartas de V. Fraternidade que
nos deu o ■'vojfo Diácono com
quanto lonuor ijos deixais le-
uar da "Verdade da Fé Catholi-
ca , ^ com quanto cindido an-
deis às obrigações de ^^Ijo of"
ficlo Paíioral , dandonos con-
ta dos erros q agorafe lettanta-
raÓ nej?as yofasProuicias/jfc.
lunto ao fim da carta torna a
dizer. Com tudoprouasles muy
amado irmão a affelto com que
refpeltais a Fe Chnsíam pois
defejals gtuzrdar pontualmen- ■
te tudo o que pertence á regra
dos Padres , è/ mandados Ca-^
tholicos y defpre':^ando erradas^
if prejndlciaes doutrinas ^tf
enjinando os preceitos Apojio-
llcos , isf regras da Verdadei-
ra Fè , ilfc. A carta foi cfcrita
a íeis de Setembro fendo Con-
j fulesDiocleciano,& Conílan-
tino.
f A fíaz encarecido fica o grã-
de zelo deft e íâto Prelado cõ
as palauras tãograues , &: taó
multiplicadas do Papa S, Mar-
eei!
1110
qp
arecc naoacaoaua
h
de achar rezoés, q ao juPro lhe
explicaíTem o muito q fentia
dos íàntos trabalhos, ô»f; cuida-
do Paftoral de Salamão,
P
Mas
170
Capitulo XXXXL
■-- t
6 Mas como a carta cíc
Marcellino naõ nomea a cida-
de cm queSalamaõ eraBifpo^
&c pode aucr alguém a quem
pareça tomamos pêra nos o
que naõ he noflb , luliano lo-
go depois das palauras que ja
referimos acrecentaas feguin-
tes. JdSalomonem Br achar en-
femfcripjit Marcellinns Ponti-
fex . A Salamaó Bifpo de Bra-
ga cfcreueo faõ Marcellino Pa-
pa. E como efta carta de Mar-
cellino hepera o Bifpo Sala-
maõ fcguefc com euiden-
ciafoi onoíTo, bem merece-
dor fem duuida -do muito
qucaly o louua o íanto Pon-
tifice.
7 Com efta carta de íàõ
Marcellino fc opôs de no-
uo o fanco Prelado ao furor
dos hereges, & fe de todo não
cxtinguio aquelles incêndios,
pello menos quebroulhe as
forças. Mas pêra que efte bem
não ficaíTc fò dentro dos ter-
mos do Arcebifpado de Braga,
&fe cõmunicaílcaos mais Pre-
lados de Hefpanha, paliou Sa-
lamaõ ao fegundo meo,que a-
cirna começauamos a dizer to
mado por remédio da noua
heregia.
8 Foi ellc ajuntar em Bra-
ga Concilio , como efcreue
luliano . & porque afsy o pe-
.dia o tempo , & ocafiaõ cre-
mos ícria Nacional. Nelle fc-
guindo os padres aly congre-
gados os decretos do Conci-
lio de Antiocliia,em que di lie-
mos prefidiraS.GregorioTau-
maturgo, tornarão de nouo a
condenar a Paulo Samofateno
com a íua noua blasfémia abo-
minando fua memoria,& apar
tandoo do numero dos fieis,
fulminando cenfuras grauifsi-
mas contra quem ouíaíle fe-
guillo , ou defendello. NaÕ fc
achou nefte Concilio Melan-
cio Arccbifpo de Toledo , a
caufa naõ efcreue luliano; ef-
creue porem que antes delle ti-
nha mandado a feu irmão Sa-
lamaõ os acíios do de Antio-
chia com húacarta fua peraque
melhor lhe conftafle de tudo
o que aly paflara,&; dos funda-
mentos porq aquelles padres
cõdenaraó ao maldito herege,
de q fe podia ajudar o Cõcilio
de Braga quãdo fe cõgregaíTc.
9 Fechado o Concilio man-
dou delle hua copia Salamaõ
aMelanciorcfpondendoIhe à
carta que fobre o de Antio-
chia thcauiaefcrito,&pcdin-
dolhc fizcfle executar feus de-
cretos como taõ proucitofos
ao bem de todas as Igrejas de
Hefpanha
dfag.6i
d.pjg6s
cleiíidcs a íciis grandes mereci-
mécos.Deixaua quando mor-
reo na Cadeira de Saõ Pedro
a Saõ Marcellino : no impé-
rio Romano aos Emperado-
rcs Diocleciano, & Maximia-
no.
CAPITVLO XXXXII.
SINAGIO.OV SINA-
grio XIIII. Arcebifpo de
Braga.
<^£m^^ Irado da ter-
W^Êi raperao Ceo
1/^A o Bemauen--
P^ turado Sala-
^^ mão^eícolheo
B J
I O Clero de Braga pêra Prelado
Sinagr
Hcípanha O meímo encarre-
gou, &L encomendou aos ou-
tros Bifpos: nem íeria íem fru-
to 5 porque o zelo como nc-
ílas marerias procedia o faziáo
vigiar fobre todos, & naõ per-
der ponto no que pêra bem^&
acrcccntamcnto da Fe lhe pa-
recia neceílario.
IO GoLiernou o Santo Bif-
po Salam.áo (pello que de lu-
lianoconfl[a)noue annos eíla
Igreja de Braga, foiíe no de
2^99. a gozar dos prémios tão
•íú,
171
leuaSmai^io varau emqi-cin
melhor viaoiieouxadas as vir-
tudes de fcu anteceííor ifoia
eleição pellos annos de >0o.
como achamos em Iuliiiao;& y^'
! 1
não íaz pêra cuidarmos foifua Ud/mii»
eleição mais cedo dizer Flauio '^^'''f'
r>. n r>- i>3 rt.ror.
Dextro que Horecera Sina- amuz^e,
grio no aiino de 190. porque
não he boa illação , ílorecia
Sinagrio, logo era Arcebií-
pode Braga, porque como a
vida de Sinagrio foi compri-
da antes de íer Arcebiípo, aísy
teue também tempo pêra fe
fazer celebre , & fmiofo cm
forma que com eíla fama, ôc
celebridade entraíle noArce-
bifpado onde depois a foi con-
tinuando , & acrecenrando cõ
obras mais illuítres , ôc 'gran-
dioías.
í Foi eftc anno de 300.
(Baronio o põem no de 30J. )
o em que por opiniaõ de Dex-^
tro,& Juliano íe celebrou em
Heípanha o Concilio Elibcri-
tano na cidade de Eliberi jun-
to a Granadaj& naõ em Coiy-
bre doCondado dcRuiicihon
cm Catalunha , como bem
prouanafiiaChoroí^raDhia o
doutiísimo Gal par Barreiros.
Nelle dizem os mcfmos Dex-
tro , & Juliano fe achou táoc
o noíío Sinagrio,&: qfoi entr^
P2: OS
luUa. d.
faU I.^^.
172
£aptulo XX XX II.
[an.^o^
Paâtlha
'37
os Prelados o que aííinou em
primeiro lugar j em íegun-
do Oíío Biípo de Cordo-
uajem terceiro Saberio de Se-
iiilha^ em quarto Melancio de
Toledo, preíidindo Felix Bií-
po deGuadix.
3 Deuocafiáoa fe ajun-
tar cfteConcilio quererem ver
& tratar nelle os Prelados de
Hcípanha o remédio com que
não desfaleccílem os fieis nas
prcíentcs períeguiçoés dos
Chriftaòs,que erão grauilli-
mas : & com que meos íe po-
deria aplacar a Deos peraque
ellemoueíle os corações dos
Principes inficis aqnão per-
íeguiííem com tanta fúria Tua
Igreja.
4 'Temos hoje defte Con-
cilio oitenta _, & hum decretos
em muitos dos quaes, ou por
rigurofos , ou por parecerem
fcifmaticos quizerão duuidar
alguns autores, em efpecial
^' Baroniojmas depois confide-
randoos melhor os veo a jul-
gar por Catholicos . Sairão em
fua defenfaõ Fernão deMen-
doça,& Padilha ambos com
notauel erudição , como fc
pode ver em fcuscfcritos.
5 Saídos defte Concilio
os dezanoucBiípos que nelle
fe acharão lhe foi intimado.
& aos mais Prelados deHeí-
panha hum decreto dos Em-
peradores Romanos (erão en-
tão Diocleciano, & Maximia-
no, ou Conftancio , &Gale-
rio) em que lhe mandaua en-
tregalsêaíeus miniftros quaes
querhuros fagrados que ou
eíliueflem em íeu poder, ou
delles tiueflem noticia , pren-
dendo aos que logo naõ obe-
decião. Mas como todos per-
íeueraflé cortantes não infifti-
rãomais,& os deixarão liures.
Fomos atê aqui com a narra-
ção de Dextro,& luliano.
6 Defcontentanos porem
nella diferem que fe achou
nefte Concilio o noílo Sina-
grio. Saõdous os principaes
fundamentos porque nosmo-
uemos . O primeiro porque
como até então não eftaua
decretado que os Biípos nos
Concílios ouardaflem a or-
dem no aííentar , & foeícre-
uer que tiuerão na fagração,
corria ainda preíídir fempre
o Primaz como Dignidade
mayor , & cabeça dos mais
Bifpos na forma que no pri-
meiro Cócilio de Toledo pre-
íídio Paterno Arcebifpo de-
rta Iprcja por fer a Primacial
de toda Heípanha .-logo não
fe achou aly Sinagrio Bracha-
renfe,
IiítianAn:
32.
Sao Vitom'ó\^ feíis cotnpí^^nheiros 7nãrtyr, i-^<^i
FaddLt
VaÇíu in
cap. 29.
reníc , vifto como Felix Biípo
de Guadixíoioq preiídio ao
'Concilio. -oiobi
7 ; O legando porq a Igreja
(] aly íe da a Sinagrio naqiicl-
le Concilio^ cõformeícve nas
íoiciipçocs que rras Loaiza, lie
aEpagicníe^ ou Bigcrreníe dií-
fcrcnciílima da Bracharcníe,
por<^ Bigerra , ou hç Vilhena,
comoaíaz Padilha, ou Bcjar
como cõ Pedro Anconio Bcu-
■ ter o lente Valeu ambas em te-
posantigu os, cidades Epiíco-
paes.Se ja Sinagrio não era Bií-
po Francês, & deTarba de Bi-
"orre, húa das íuílratianeas ao
Arcebifpo de Aueh,que em la-
tim íe chama Bigerra, & ícus
naturaes Bi^crrones, c] por al-
gum refpeito particular aly íe
acharia preícnte.Ellas, Si ou-
trt's cauías pêra não termos
pello Sinagrio Brachareníè o
q anda aíllnado no Concilio
Ehberitano apontamos ja na
noíla Primazia de Braga,&aísy
não ha peraq tornallas aqui a
repetir.
8 Durou o gouernode Si-
nagrio dez ate doze annos,por
quepellosde 314. davindade
Chrifto era Arcebifpo de Bra-
gaLeonciOjComo adiante dire-
mos. Noíeutépo padecerão
em BragaSaÕ Vitouro^ Santa
Su?;ana,Sí5>ía>çu{-ar6jS?iòTGr-i
çado, Sab r^iiuíílre mart^i'©».
:Ç<DncOÍTQC>:!$ÍKK^ant>C^^S,SiíT,
nios PÓ!:ihçe>;MarceIÍ!g:ft-|vía6
ccllo,EuíibÍ0-,^& Mciíjadcs, E
: dosEmperador-cs alcáçouDiq-:,
|clceiano,&;.Maximia,no, Con-"
ílancio^ÂTrCaíerio ,^^ vitima-
mente o grande ÇoníV^mino,.
C A P I T3Í &0 XX5ÍXPÍÍÍ."
S A M ri TO FR O,
Santa Susana , 'SaÓ Cil-
cufãte ,' ^M i Tòrcaío , í?"
• Sao SíiHéfire màftyrés de
Braga.- ■ •
i
i'íU.j.\.
J-\it^u yi.
."!' I
E ejfie o pró-
prio lugar é q
b^f dcuem.os fa-
^ zerméçãode-
íl:cs glorioíos
l-'ajen m
chrcu.fa,
10.
AíoraU.
lo.c. 1-1
Paddh'
marcyres, aindaq o Padre frey
Bernardo de Brito lhe quiz an
ticipar o tcpo dcíeu mar cyrio,
&lãçallos noímperio dcNero,
quando oglorioío Apoílolo
cias Gentes Saõ Paulo ycyo a, /'"^■'i'^
Heípanha: Temos em.nòílo bvarw;./»
fauor a Flauio Dextro , que os ""'• "'^
poenoannode 300. Valeu no tzJprf.
dejoó.cõ quêíc.vãoMorales,
Padilba,Baronio,& outros.
P3
174
Capitulo XXXX IH.
i He pois cjefaber que
'goucrnandoalgrcjade Braga
Sinagrio, cuja vida acabamos
de contar no capitulo paflado,
ouuenella humnianccbo ca-
thecumeno por nomcVidlor,
varaó de bom nome , ôc que
antes do bautifmo javiuia co-
mo Chriftaó abominando os
ídolos, & zombando de fua
falfadiuindade^natural de hija
aldeã perto de Braga chama-
da Paços .Sabia Viílor ao cam-
po húa manhã de Abril em
ocaílaó que os Gentios fahiaõ
também a correr os campos,
leuando com grande fefta as
imagês de Ceres, & Syluano
com as quais lhe dauaõ muitas
voltas, íacrificandolhc a certas
paragens vários animaes ,con-
fundindo cm híja duas íolen-
nidades, â que chamauaÓ ^w-
barualia^c^nc quer dizer cerco
dos campQSjpclIas voltas com
queeni prçcilíaõ os cingiaõ,&
Suilia pellos porcos que então
lacrifícauaõ aCcrcs,por lhe dar
annoprofpero, & fértil, En-
controufe Vidiorcom a pro-
ciílàõ , & como era manccbq
conhecido de todos quizcraó
os q hiáo nclla ajuntallo afy,
pêra que juntamente os aju-
dafle a íellejar. Efcufoufc Vi-
d:ot com o nouiciado Chri-
llão em queandaua, cujas pri-
meiras experiências eraõ fugir
dos ídolos, & de tudo o que
leuaíTe pêra fua veneração. In-
llara5 os Gentios, &pcllo me-
nos quizeraòrc coroaíle tam-
bém com húa capella de flores,
quaes clles todos traziaõ na ca-
beça pêra fcftejar afalfa Deofa.
Nem erta quis aceitar o vale-
rofo foldado , protcftando
que naõ poria cm fua cabeça
flores profanadas nos altares
dos falíos Deofes, a quem pri-
meiro fe offcreceraõ.
3 Amotinoufcopouocõ
eftaregofta, &:leuantando a
voz cm furiofos gritos , bra-
dauaõ a Ceres,& Syluano por
vingança , & ao Gouernador
da cidade Sérgio ( que entaó a-
certou de chegar) por jultiça.
MandouScrgio aparecer dian-
te de íy a Viáor , perguntou-
Ihe porque cauía deíprezaua
os Dcofcs , a quem os Empc-
radorcs Romanos por fuás
leys mandauão adorar . Aco-
dio o Santo mancebo cõ mui-
ta conftancia, confeílândo a
Icy deChrifto,queprofeflãua,
dando cm fauor delia rezoés
tão viuas 5 que não tendo que
rcfponder os Ge tios, nem que
allcgar cm contrario o Prefí-
dente valendoíe da força, &
vio-
SaÕ VitouroyÇf feus companheiros mart. 1 7 5
violência ( armas da ignorân-
cia) o mandou acara húa aruo-
re,& açoutar cruelmente, per-
ícucrando o Santo naquelle
tormento comrofto, &c cora-
ção alegre. Cheo entretanto
de paixão o Tirano mandou
vir de nouo laminas de fogo,
pentes de ferro , «V outros in-
flrumêcos de crueldade, Ã: lhe
fez com elles queimar , ôc dcl-
pedaçar todo o corpo ate lhe
apparecerem as entranhas. Fi-
nalmente vendo que naõ de-
fiftia de confeílar a Chrifto, ôc
quedos circundantes alguns
Ic inclinauãoa nolfa fanta Fe,
ordenou a hum de feus mini-
ílros lhe cortaífe a cabeça , ôc
defta maneira o mandou tri-
umphantc pêra o Ceo onde,
fendo bau rizado verdadeira-
mente em feu próprio fangue,
foi gozar da palma do marty-
rio. Executoufe efta fentença
fobre a ponte de pedra porque
fe paíla hum pequeno regato,
que daly a pouca diftancia fe
mete no rio Defte, chamafe o
lugar detêpos antiquifsimos
as Golladas, & he tradição có-
ftantelheveo o nome poro
Sani» aly fer degoUado.
4 Ficou o corpo deSaõ
Vidlor no campo,pera fer co-
mido dasfcras,porem cilas lhe
tiueraõo reípcito , que o Ti-
rano,c feus miniftros naõfou-
beráo guardar, Entretáto buf-
caudo os Chriftaõs ocaííaõ de
o recolher , cfperarão o ma-
yor íílcncio da noite quando
os Gentios cançados da fefta
do dia precedente fe entrega-
rão todos ao fono. Foi o prin-
cipal ncllc piadofo officio Saó
Silueílre,a quem alguns auto-
tores fazem Bifpo com pou-
co fundamento , como atras
deixamos prouado . Sepulta-
rãno perco do lugar de feu
martyrio , onde depois felhe
leuantou Igreja em feu nome
a qual com ciculo de Abbadia
vnidaà Gamara Arcebifpal de
Braga pcrícucra hoje, Sc foi ja
em cempos paliados mais ce-
lebre por fer morteiro deSaõ
Bento, como na vida de Saõ
Marcinho diremos.
í Acharão ao outro dia
menos os Gentios o Santo
corpo, & folpeitando logo o
queera vieraõadar queSilue-
ftre o leuara,& lhe dera fepul-
tura, lançarão maò delle, con-
feíTou o piadofo furto, & não
fendo pofsiuel fazerenlhe def-
cobrir onde o puzera o mef-
mo Sérgio o condenou à mor-
te mandandoo degollarcomo
^pagandolhe Deosa
citp4 a#.
lofTo o foi
P4
honra
176
CaptPílõ XXXXJIL\\\3 hãx
honra que deu ao martyrSa5
Vitouro com o fazer partici-
pá:e da mcí ma coroa do rnar-
ry rio^& cõ dar animo àcjuciles
ncmos Chriítaõs pcraque re-
colherem íeu corpOj& o ccl-
locaílcm coni o do Santo ca-
checLimeno Vi'ftor.
fí.i NaSrardou muito que
tambénãofoíiem preíos por
: Chníláos Santa Suíana irmã
'■ ueSaò Vi(5tor,Saõ Cucufacc,
&Sa5 Torcaco outros dous
u'maõs naCLiraesde Braga, &
todos degollados por ícntcn-
ça de Sérgio , de cujos corpos
íefezo mcímo por induílria
dos Chriftaõs , que fora feito
dos de Saò Viítor , & Saõ Sil-
ueftre_,ajuntandofe emhúíe-
pulchro os corpos todos,afsy
como ellauão juntas no Ceo
fuás almas gozando do pre-
mio de íeu gloriofo marty-
rio.
7 Na Igreja de Saõ Vi6í:or
(chamaíe vuigarméteSaõ Vi-
touro ) eftiuerão as preciofas
relíquias deftes inuenciueis ca-
ualleiros ate o annode iizo.
em que pêra Compoílellaas
tresladou o Bifpo daquella ci-
dade Dom Diogo Gclmires,
deixando fò em fua fepultura
alguns pequenos oílos de San-
ta Suzana , ordenandoo afsy o
j Ceo, peraquc eíia cidade não
j ficaíle ícni algúa reliquia de
I hum tão preciofo the.ouro.
Soubeic delles mandando o
illuílriííimo íènhor Dó Ap-o-
itinho de Callro Arcebiípo
Primaz abrir a íepultura no
mes de Outubro do anno de
ijpo. Deixou parte das rch-
quias aly onde eiUuão , parte
collocou no Santuário do feu
m.ofteiro do Populo , da ordé
dcSanto Acoílinho dos Erc-
mitas , que naquelle tempo
ediíicaua em Bra^a. Faz mcn-
çã o da tresladação deftes San-
tos pêra Compoftella o Lecé-
ceado Mohna na deícripçao
do Reino de GaHza dizendo.
Aly em CÓpoJlella alem do glo-
riofo
Ejiao outros corpos de yida a-
prouada:
De muitos milagres bemfolen-
nic^ados,
QuefaÓ Cucufate^SiliieJlre,Íff
Frutofo^
E Santa Sufana hum corpo
preciofo^
EUà logo junto aquella ci-
dade,
Eíies focorrem por necefsi-
dade
Seottpoalarga de fer mui
chmwfo.
8 Defta
Sao VitouroíÇf fct^ís companheiros mart. 1 7 7
8 Deílatrcsladaçáo, &
furto das fagradas relíquias da-
remos relação mais larga na
vida do Arcebifpo Saõ Giral-
do em cujo tempo fucedeo.
Cuidarão alguns que poro
LecenceadoMolina não fazer
menção neftes feus verfos de
São Torcato/eria por fer tref-
ladado porSao Rozendo da fe-
pulcura onde diíTemos eil:aua
em Saò Vicouro pêra o mo-
ííeiro de Cellanoua em Gali-
za , & não pêra Compoftella.
Mas foi confundirem a Saõ
Tcrcato Bifpo deGuadix ,&
dicipiilo de Santiago com o
noílo martyr de Braga , cujas
rdiquias nãoforão nunquaao
morteiro deCellanoua: lebem
o foraõ as de outro SaÕ Torca-
to Bifpo de Guadix.Differente
tambcm he eíle Saõ Torcato
doutroArcebifpo delia mefma
Igreja Félix Torcato a q vul-
garmente chamaõ Saõ Torca-
de,como em íua vida dire-
mos.
9 Ouue também grande
confufaõ entre Santa Suzana
virgem martyrizada em Iria
Flauia, & a nollà natural de
Paços irmã de Saõ Vitouro',
porque fazédo muitos deam-
bas húa, diziaõ que não Braga,
mas o Padrão fora o lugar de
■ ^ o
feu martyriorfaõ porem diffe-
rentiíhmas ,6c ainda que am-
bas parece cõcorrerão no mef-
mo tempo, todaiiia comodi-
uerfas as põem Flaaio Dextro Un. >oo.
falando primeiro da de Gali-
za , & depois da Bracharen-
fe.
Naõ he menor cnleo o
'« chroH»
IO
em que fe virão outros com
oglorioíoSaõCucufate, por-
que vendo eílaua feu íàgrado
corpo em Paris no infigne
mofteiro de Saõ Dionis em
capella parricular,& por outra
parte vendo que a SèdeCom-
poílella fe prcíaua de o ter ain-
daqueleuado a furto da Igreja
de Saõ Vitouro de Braga, pêra
fe não mal quiftarem cora al-
gúa dertas duas cidades con-
jeiturarão que na tresladação
do elorioío Martvr deuia de
auer algúa amigauel compofi-
ção entre Galegos , & France-
íes repartindo as íantas relí-
quias em forma que aísy Pa-
ris como Compoífella pu-
deflem dizer crão depoííto de
tão rico thefouro. Por aqui
foi o autor do Martyrologio
Portuguez concluindo a tref-
ladação de faõ Vitouro , Sil-
uál:re , Suzana, Torcato , &:
Cucufate com, as palauras fe-
guintes. O que dia^emos annais |
Com'
178
CapttuloXXXXIII.
Sm, to A-
3J./«/.
Eqiid Mb
6.c.i^6.
Moral,
libíe.t.z
Martst.
j.p.lth z
t.-jS.
P.tddh.
leent.^.e.
19.
Carrd.m
I anna. án,
3*4-
CqnipostelUnos quefeii corpo [h-
ia cie Sanca Suzana ) foi tresla-
dado pira confpoUella je pode
entCfidcr da 'mefma maneira q
do corpo de Sao Cucufatefi qual
nâo era todo fenao parte delU:,
porque a outra parte efiâ no
tnojteiro Real de S. Dioms jun-
to a París'em capella própria.
II Porem iiáo aconteceo
aísy, neni entre Galegos, &
Franceíes ouucalgúa hora tal
compoílçao, ou repartiçáo,
porque o SaiHo Cucufàtc que
foi a França , &c de quem go-
za Paris íoi natural de Barce-
lonaj & ahi martyrizacío , &
£cpultado,& depois tresladado
a Saõ Dionis:falão dclIeSurio,
Padilha , Carrilho , o Bifpo
Equilino , Morales,Marietaj&
oatros,(5<: todos o diilinc^uem
do noílo, quenaceo, & pade-
ceo em Braga, Ôj foi tresladado
à Igreja de Santiago de Com-
poílella na forma que acaba-
mos de referir.
li Tornado a faÕ Vitou-
ro ( a quem podemos chamar
o capitão defta companhia de
martyres) &r ao lugar de fcii
martyrio^nelle edificou o Ar-
cebifpo Dom Agortinho de
Caílro hiía pequena ermida,a
I fim de nella meter hua pedra,
fobre a qual he tradição foi o
Santo dcíroiiado, & cítaua no
meo do caminho com me-
nos decência da que fc deuia ao
langue que fobre cila íe derra-
mou. Quando forão os pe-
dreiros a leuantalla pêra a mo-
uerem de feu lugar metendo
as maõs por baixo da facecõ
queficaua aííentada na terra
he fama conílante as tirarão
tintas cm fangue tao frefco co
moíc naquella hora íairadas
veasdo lanto martyr. Aco-
diraõ logo muitos dos prefen-
tes,& com os lenços recolhe-
rão o preciofo liquor , que de-
pois applicado a diucrfas enfer-
midades tinha eífeitos niila-
grolos. A pedra fc meteo den-
tro na capella íechada cõ gra-
des, mas demaneira que pode
fer viíla de fora • Dillinguéíe
claramête nclía algúas nódoas
de fangue , & por efte refpeito
a tem os moradores defta ci-
dade em 2i'ande veneração.
13 Conclue o Doutor fr.
Bernardo de Brito a vicia de S.
Vitouro com querer dar a
origem a hua findda montaria
que em Braga fefaz na vefpe-
ra , &í madrugada do dia de S.
loaõ Bautifta, a que vulgar-
mente chamaõ do porco pre-
to,& porque elle a defcreuc cõ
elegância, queremos vacom
íuas
fuasmcfiTias palauras queíaõ
as feguintes.
Quero aduertir de cami-
nho hum anciguo coftume,
que dura na cidade de Braga
conferuado ao que íe pode
crer deíde eftes antiguos , ou
em memoria do que fuce-
deo no martyrio dos Santos,
ou por guardar aquelle modo
de refta ainda que gentihca,
todauia conuertida em melhor
vfo ,& heque em vcfperade
Saõ loaõ Bautifta (c põem a
cauallo a gente principal da ci-
dade , & paliando o rio Defte,
junto ao qual foráo (comoja
contamos)martyrizados os Sã
tos , Sc fe faziaó os jogos ^ &
feftas de Ceres , & Syluano,
findem que emprazao hum
porco , & gaftada a tarde cm
feftas , vaó ao dia do Santo pe-
la manhã fazer hija montaria
com hum porco negro , que
lhe là tem aparelhado , & fol-
tandoo lhe feguem o alcance
ao fom de cornetas , & vozes
q rcpreíéntão verdadeira mõ-
taria,&vem fcguindo contra a
cidade todo o tropel da gente,
ik fe ao paflar do rio fe lança
ao vao^&paíTa pella agua o dão
aos moleiros das azenhas que
ha na mefma ribcira,& toíiian
do a ponte fica da gente da ci-
SaÕ Vitouro>(f [eus companheiros mãrt. 1 79
Idade.E ella montaria que hoje
chamão do porco preto^cuido
eu que alude à memoria referi-
daj quando diz. Suilibus 'Verõ
Jinitis furtim d Chrifiianisjepe-
liunmr . Ate qui íaó palauras
de freyBernardo de B rit o.
Melhor nos parece q por fe-
ftcjar ao Sáto Prccurfor orde-
narão os antiguos de Braga q
na fua vcfpera , & dia ouueíle
verdadeira montaria de muitos
porcos monteies , &c outras
feras _, de que j unto ã cidade a-
uia grade quantidade por eftar
toda cercada de efpeflbs bof-
qucs, onde fe criauão,& mul-
tiplicauão com dano dos cam-
pos, »5dfeáras vizinhas. Efteexc-
rcicio,portoque faltarão as fer-
as, & íe pouoáraõ os bofques,
ficou fempreem vfo/azendo-
fe em modo de mõtaria a lou*
uor, & hora do Santo.
14 As feitas q diílemos cha-
mauaòos Gentios Ambarua-
lia^ & Suilia eraõ doutro mes,
&:dia,&: quando a q referimos
fe inftituira por fazer allufaÕ a
cftas,&conferuar conuertido
em melho r vfo o que no mar-
tyrio do Santo aconteceta,fi-
zcrâna Os Bracharenfes a ii.
de Abril dia próprio de Saõ
Vitouro, & não em 23. &: 14.
de lunho quando fefellejao
Bautiilâ,
380
Capitulo XXXXIIII.
{■Martyr,
tjiex. aih
Ihoo.n. 8.
1!
j
' monarc.
Bautifta, feguindonifloo co-
ílume vniuerfal Ja Igreja Ca-
tlioiicaja qual pêra comma-
yor facilidade ir tirando os ri-
res gentilicos , que pelio dif-
curfo do anno tinha intro-
duzido a Idolatria os foi mu-
dando 5 & conuertendo ( mas
nos mefmos dias ) emcerc-
monias fagradas , muitas das
quais ainda hoje perfcucráo,&
íeexcrcitãocom grade folen-
nidade,& magtííadc.
1$ Tiroufe por alguns an-
nqs no tempo do iilurtrifsi-
mo fcnhor Dom AfFonfoFur-
tado de Mendoça noíTo ante-
ceílbr ella fingida montaria,
parecendo aos do gouernoda
QÚaáe que não cóuinha achar-
fe íua nobreza naquelle taÕ
Icuc excrcicioj mas depois ad-
uirtindo noutros coftumes^ q
:pelIoquctem de antiguidade
uao lo ie toier ao,mas venerao
n^efte Reino,ordenou que afe-
ita fe reftituiílc outra vez , co-
mo cm eíFeito fe rellituyo.
íó DeSáo Vitouroefcre-
ue o martyrologio Romano,
Dextro, os autores Hefpa—
nhocs /rey Bcrnarcío de Brito,
<Sc outros: dos mais feus com-
panheiros cícreuerão os que
pello diícurfo defte capitulo
deixamos referidos.
!!•
CAPITVLO XXXXIIII.
SA'NTA ENGRACIA
Virgem ^Isf martyr natural
de Braga , Ò" defoito compa-
nheiros fem martyres.
Odefe quei-
xar Braga de
humpreciofo
roubo , que
lhe tinha fei-
to a antigua Lufitaniafquc ho-
je fe chama Portugal ) o qual
dcfcobrio Flauio Dextro pêra
mayor hora deíla cidadè,refti-
tuindolhe o q fempre foiíeu,e
lhe tirou o dcícuido dos paíla-
dos. Eílethcfouro hca Vir-
gem & martyr Santa Engra-
cia, a qual fendo dantes tida
por natural de Lufitania , fem
lhe darem lugar certo onde
naceíle, nos tirou toda aduui-
da Flauio Dextro dizendo que
nacera na cidade Augufta de
Braga.Saõaspalaurasas quefe
ícp-uem. Ibidem ( fala de Cara-
goça) San€íii Engratia njirgi'
nis i!f martyris ex Vrbe Bra-
chara Augufla.Do mefmo pa-
recer he o Padre frey Luís dos
Anjos
Santa Eno;rãcia^.
isr
lib. 10. c,
5'
Anjos, o qual pocin clia San-
ta cncrc as nacuracs cieBr2g[a.
Tábem o rckre afsy cõ a mcí-
ma autoridade de Dextro o
doutor Martim Carrilho na
vida de Saõ Valero , poíloque
cUe hc doutro parecer , fcguin
do a António de Nebrixa^ Ik
a Dom Mauro Ferreiros quaes
dizem que cila Santa ioi natu-
ral de C.arac^oçaíundados cm
huns veríos dePrudencio mal
intcrpretados^que trazem pel-
b íua opiniao^qucrendo q va-
lha mais húa conjcitura^ que a
autoridade exprefía de Flauio
Dextro. Deixando pois a no-
ua opinião de Nebrixa, que
com duuida fcguc o Doutor
Carrilho, damos lugar a San-
ta Engracia com o illuftrc te-
ci
ftimunho de Dextro entre os
Santos naturacs de Braga, a
qual fe pòdc gloriar de pro-
duzir em fy cao cxcellente
planta.
2- Foi efta Santa filha de hu
Rcy, ou Regulo ( titulo que
no tempo dos Romanos ti-
nhão os Principes, & homens
ricos que gouernauáo alguas
terras. )Efte (c chama Ontco-
mero , ôc tinha o ícnhoriode
grande parte dcLuíitania,em q
encrauão tabcm alguas terras
de Galiza.Era a Virgem Engra
o o
ciaChriftá , & auia fóto voto
de cailidade.Tratou feu pay de
a caiar com hií capitão, que al-
guns autores chamáo Duque
de Pv.uiíclhon nas faldras dos
montes Pyrcneos nas frontei-
ras de França. Feito o caíamen-
to quiz Ontcomero mandar
íua filha como conuinha a
grandeza de leu ellado :fora5
com ella dezoito peíToas prin-
cipacs de fua caía , & corte, &c
alguns delles parentes fcus, cu-
jos nomes eraõLupercio tio da
gloriofa Sãta,Optaco,Suceílo,
Marcial,Vrbano, Quintiliano,
PubhOjFronto, Fclix , Cecilia-
no,Euáto, Primiitiuo_j&Apo-
domio : outros quatro diz
o Poeta Prudencio que fe cha-
mauão Saturninos, & fua len-
da acrecenta , q alem defte no-
me comum tinháo algús par-
ticulares, que erão Matutino,
Carsiano,Ianusrio, & Faufto.
ApreíTou a illuftveVirgem fua
jornada porque tcue reuc-
laçaõ do Ceo que nclla auia
ds padecer martyrio , &: ir ce-
lebrar outras bodas mais ale-
gres com feu Efpofo Chrifto,
a quem tinha prometida fua
pureza.
3 Pofta a caminho cõ fcus c5-
panheiros chegou à cidade de
C.ara2oca,ondceftauaPublio i
Q^
Daciano
I82
CapmloXXXXlIII.
DacianoConiiílario emHef-
■ panha dos Emperadores Dio-
clecianOj&MaximianOjO qual
vco a ella pêra mádar almas ao
Ceo , & regar a terra com o
langue innocentede iníinicos
marcyrcs a que tirou a vida.
Foi tcrribel , &c cruel pcrllgui-
çâo erta em Hcípanha. Flore-
cia nella por cite tépo a Chri-
ftandade, ^ na cidade de C,a-
ragoça mais que em todas as
outras , porque corri a pre-
lença , & aílento que nella
tinha a Virgem gloriofiHima
do Pilar elkua fantiíícadâ , &
aífinada por cafa fua . He cer-
to que padecerão nella mais
martyrcs , que em algíía outra
dcHeípanha. Prudencio a cha-
ma caía de martyrcs, & â igua-
la com Roma affirmando que
em todas fuás portas fe acha
Tangue derramado porChrifto
íaõ os verfos,
Vix parens orbis ^ populofa
Pícni
Ipfd ijíx Roma j infoUo lo-
cata.
Te decuÉ noíiruní fuperarè
in ísio
Munere digna eíi
Omnibus portis facer immo--
latus
Sanguis exclujit genus inui-
dor um.
Dccmonum^iS' nigras pepiãit
tenehras
Vrbepiata.
4 Entrando â Santa uefta ci-
dadej& achandoa toda inquie-
ta cõ as mortes, & pregoes da
j uftiça,q cada dia íc ouuiáo pel
las ruas ; enformada da deshu-
manidadc cõ q íe procedia cÕ-
tra os Chriftáos,incitadadehií
fcruorofqeípiritO)& amorDi-
uino, q em leu peito ardia,foi
cõ muita preíla acompanhada
dos dezoito fidalgos parentes
Si criados de fua cala ao lugai:
ohdceftauaDaciano,& cõ ani-
mo varonil, &c forte o repren-
deo dos tormentos , & m orte
q daua aos innocentes Chri-
lláos por adoraré hú fó Deos
verdadeiro ^ & deíprezarc os
falíos Dcofcs da Gétilidade. Fi-
cou Daciano palmado de ver a
fcrmolura,&: graça da Virgem
Èngracia , o acõpanhamento
que trazia,& Uberdade cõ q ^i-
laua;& perguntando pcUa cõ-
dição dclua peíloa,pclla pátria,
que deixaua , &: pella téçáo cõ
que procuraua pellos Chri-
ftãos , gente aborrecida , & o-
diofã aos Emperadores, & cõ-
denadà por fuaslcisj conftan-
dolhe de tudojfem refpcitar ao
q fe deuia à nobreza do langue
detãoilluftredõzella,amácíõu
meter
- - - ■- I
I.-S.3!
Carrilha
à. Ice o.
meter no cárcere com ícus c5-
panheiros ^ &" vendo que to-
dos eítauaõfirrqcí cm ícu pro-
poíico os mdndoLi açoutar co
grande rigor . Reprendia en-
tre canto a fantaVirsé a cnicl-
dcide de Daciano , & na may of
forçado tormento fazia dei le
táo pouca conta , que bem
moíhaua na alegriíí do roíto
qiic o naó ellmiaua , nem ao
Tirano que amandaua acor-
im:nrar. ; ^qB 'k-iil «nij^t;
$ '■ ■ EmCjaragoçanoCon-
ocnco de lanra Engracia, que
pollueo thefouro daíepulcur;
ra da Santa ha húacolumna
de mármore , onde a tradição
ancigua,& piedade dos cida-
dãos rem por certo que foi
açoutada a Santa Virgem , &
porque a deuação do pouo era
tanta^que a leuauão a pedaços
como reliquias pêra remédio
de infirmidades^por fenão aca-
bar de todo fechouíe cõhíjas
grades de ferro com que fe
coníerua hoje, & he tocada,
&í venerada de todos os que
com deuaçaõ concorre àqiicl-
le Diuino Santuário.
6 Depois do tormento
dos açoutes , em que a Santa
íe moítrou inuenciuel/oi mã-
dada arraftar pella cidade ata-
da ao cabo de hum cauallo
como blasfema toncra a Ma-
?eftadé do Império. Hiaa Sa-
tã iiiuy alegre ueíte cormerí-^
TO< i & goltaua de ò paílccer
par ChrUto efpoío fcu^cW
gou. quebramaila icm fbrças)
& fem alento / ^ o l^íraDiQ a
mandou meter no cárcere.^ pê-
ra com mayorcs tormentos
pròuar 'fua tirmeza t No^ dia
íesuince foi a Virp;cm Icuada
qual' os torménos a deixarão
diante; do Tirano; o qual co-
nhecendo fua décerm.inaçáo,
&aconll:aneia com quecfta-
ua" a mandou pendurar em al-
to] òc rafgarlhé o ■ 'corpo-com
vnhas de i:erra ^^as quaes o r 5-
perão taó interiormente :que
lhe deícobriráo "as- entranhas,
& de volta coliialgua carne
lhe tirarão hum pedaço do fí-
gado , que depois com gran-
de veneração fe guardou mui-
tos annos , & o vio o Poeta
Prudenciocomo teftimunhaj
quando diz. jori£T
■iiii^f o ftôín •'!!'> 'jArr!^:?
Vidimtis -partem iecoris r.e-
uulfam hi^m '^àltijp
Vngulis longe iacuijfe pref-
Mors habet pallens aíiquid
tiiorum
Te quo^ 'viiia.
»i-
Q-i
Não
184
Çafitulõ XXXXIUL
Naó contente o Tirano com
eftc tormento, o qualfòba-
ftaua pcra lhe tirar a vida , afsy
como cílaua pendurada lhe
mandou cortar o peito eí-
qucrdo ate lhe dcícobrir o
coração . Corrido o Tirano
da muita conílancia á^ San ta
a mandou tirar do tormento,
& veítirhúavcftiduraque fe-
ria , ou por cobrir as chagas,
porque o não moueflem a pie
dade,ou(como temospor mais
certo ) pcra lhe dar mais pro-
longado tormento. Afsy foi
tornada a Santa ao cárcere, dei-
xando efmaltado o caminho
com grande copia de fanguc,
que corria das chagas,& a rou-
pa que lhe vcftiraõ fetingio,
& enfopou toda nclle , de mo-
do que mayor pena foi pêra
a Santa dilatarlhe o Tirano a
morte, que darlha, como no-
tou bem Prudencio.
8 Finalmente vedo o Ti-
rano o animo, &: valor da Vir-
gcm,& que naõ.aproucitauão
nada os tormentos , mandou
que lhe mcteflem hum crauo
de ferro na cabeça , com que
acabou de receber a palma do
raartyrio ^ Sc deu a alma a feu
Criador . Não lhe atrauefla-
raõ a cabeça com o crauo,nem
lho meterão pella tefta como
dizem os que cfcreuem fua vi-
dará moftrão algíáas pinturas
antiguas,mas por cima da ca-
beça no mais alto delia lho
pregarão . Illo fc vcTia pre-
cioia reliquia da cabeça da San-
ta , que fc coníerua hoje na ci-
dade deC,aragoça,& cftà aber-
ta por cima com hum buraco
da groíTurâ de hum dedo . O
crauo tema mefma groííura,
& efta tinto em fanguc com cvn.iM
ajguns finais dosmeolos da *»yí^<.
Santa, como dão teftimunho
os que o virão, & tiuerãocm
fuás maÕs.
9 Morta a gloriofa Vir-
gem mandou logo Daciano
làir do cárcere Icus compa-
nheiros, & pronunciou con-
tra elUs ícntcnça de morte, a
qualfe executou fora da cida-
de , onde forão degoUados no
mefmo dia, que a Santa pade-
cco . Foi fepultado ícu cor-
po honradamente, porque em
fua fepultura afsillirão Anjos^
& Efpiritos bemaucnturados,
que decerão do Ceo a honrar
otriumpho da Santa Virgé.
Saó Prudencio Bifpo de Tar-
ragonafoi o que lhe fez o offi-
cio da fepultura, não com ref-
onfos triftes mas com jubi-
os , & cânticos alegres. Viuia
eftcfanto Prelado, no tempo
Fc
c3
\%S
oiiepadeteo a Virgem Engra^
cm, &ajudaua j & conforca-
ua os Chriílaõs a padecer rnar-
tyrio na cidade de C,aragoça,
onde reiídia. Sepultada eíla
Santa por niiniíkric dos An-
jos como Santa Catherina no
monte Sinay, foi íuaíepuku-^
ra muy írec]uentadaj& ticía em
grande veneração em tempo
dos Godos , & a vilicauaõ os
eílrançeiros como hum dos
notaueís Santiiarios do mun-
do, Nelle íe recolherão as cin-
zas dos lantos martyrcs de
C^aragoça , & fe chaniaua a
Igreja das íancas Maflas*
IO SaõBraulio Bifpo da
mcfma cidade Iheredííicou o
templo pellosanncs de Chri-
íto 669. fazendo outra Igreja
encima da foterranea, onde
eftauaaantigua-, foiillocoftu-
medaquelles primeiros tem-
pos,nos quaes íe ediíicauáo as
Igrejas debaixo da terra pello
perigo que corriao fendo vi-
ílas pellos Tiranos. Depois cõ
a entrada dos Mouros emHeí-
panha procurarão os Cacho-
licosefcondcras reliquiasdos
martyres , ou leuallas coníigo
pellas não profanarem as mãos
íacrilegas dos Árabes. Naõ
puderão tirar as delia Igreja
por fer o thefourò delias muy
grande , efcondcrácnas debai-
xo da terra no melmo i igar
ondeeílauão3 & íc vem hoje.
Foi eíla Igreja derrubada pel-
los Mouros j polloque a ío-
terranea ficou cm feu íer pc r»-
manecendo íemprc Chriítaós
nella &na de noíia Senhora do
Pilar!
II Recuperada C,aragoça
por EiRey Dom Aííonío lor-
nou eíle Santuário a íe vene-
rar, & honrar como dances.
Noannodci58í>. ande Ma-
yo fe acharão os corpos de
Santa Engracia.^ & feus com-
panheiros, fazendoie hi:a obra
na Igreja das íantas Maílas,em
a qual cauando os oííciaesa
terra na altura que erancccíla
ria pcra fcgurar osaliceíieS íe
! defcobrio hum íepi- Ichro grá-
\ de de mármore, & cauando a
I baixo acharão outro, mais pe-
i queno betumado ao redor, a-^
brirãno , & viraÕ décrò doiis
■ vazosde pedra, hum déllescó
el-bas letras en talhadas. £w^r<?.f;rt?
V h-ginis ji\o olicro auiaeílas.
Lupercíj martyris . No fepul-
chro grande eííauão os oílbs
dos dezaíete companheiros de
■\ Sauta Engracia com titulo íe-
I parado, á:as fantas Maílas dos
I innumeraueis martyres quei-
^ mados em C,aragoça, cujas
„.-. Q^
cinzas
ISÓ
CaptuloXXXXIIII.
cinzas por ordem cJo Ceo íe
tornarão naquelksMaíIasprc-
cioías ,qucos Chriítáos reco-
lherão 3 & meterão no íepul-
chro , & da hi em diante íe ve-
I neraráo femprc com ertc no-
me. Depois de íe acharem as
fantas relíquias fe chama efta
Igreja de Santa Engracia per-
dendoíe o nome comum que
dantes tinha das íantas Maflas.
Celebra a Igreja de C,aragoça
eftaícílaa 13. de Março com
húa prociíTaõ foIcniíTima , &
com out/as três fcfteja as relí-
quias òt^cs fantosihúa em dia
de SantaEngracia a i <í.dc Abril;
outra dia de Saõ Lambcrto
martyr a 15). de lunho ; outra
dia dos innumeraueis marty-
res a 3. de Nouembro.
li Noanno de i4js>. El-
Rcy de Aragão & Nauarra
Dom loaÕ o II. pay do Ca-
tholico Rey Dom Fernando
padecendo híía grande enfer-
midade nos olhos,&: têdo qua
(i perdida a vifta , não lhe va-
lendo os remédios da terra a-
codioaos do Ceo tomando
por valedora a Santa Engracia,
pedio que lhe trouxcflèm o
cranocom que lhe pregarão a
cabeça pcra o por nos olhos,
prometendo àSanta que fe lhe
iítcauçaua faude lhe auia de
edificar hum Conuento deRe-
ligíofos de Saõ leronymona
íua Igreja. Acodio a Santa com
mezinha do Ceo , òc cobrou
ElRey inteira íaude,5í recu-
perou a vifta perdida. Tratou
logo de comprir o voto, & de
fundar o edifício, & não o po-
dendo effeituar por ocafião de
guerras,que teue , & da morte
q depois lhe fobreueo, ElRey
Catholico Dom Fernando feu
filho opôs em execuçãb,&no
annodei493. fe deu principio
à obra , &: fabrica do mofteiro
com magnificência^ & grande-
za Real. Continuou a depois
da morte de ElRcy Catholico
o Emperador Carlos Qujnto
íeu neto , íucefior da Monar-
chiade Hefpanha, honrando,
& engrandecendo eftc Con-
uento com largas mercês que
Ihefez. Recopilou omartyrio,
& as exccUencias defta Santa,
& feus companheiros Prudê-
cio cm hum elegante hymno,
& Marco Máximo Bifpo de
C,aragoça cifrou no Epriga-
ma feguuitc grande parte de
fcuslouuorcs.
Encratis oh niueos mores, nl-
mum^pudorem,
Et mage martyrij nomim
charapolo efi.
Chrini
Max.
addit.fol.
128.
J
Si': o Leôncio i
1^7
C(t. áf.c,
5-
Bmar.An
Chrijlt
Cárri,n4
\vtd.tdeS,
I Valer. c.
%
SMoyaU
fc.io. fjó
} Man AH.
cap. 12.
\Brit.2.p.
Mcnarc.
\(l.^.C.2t
I 'Kibade.
\Thf.z.p.
\-i6.Afril
Chrifii Sponja placeí Jupe-
runtíjj hommiij^ parenti;
Ctefiire^eijj -vrbis certapatro
na manct.
Sanguine. nohilitat quam fu-
jo,íf corporejeão,
Peãinihus^ bujlofola reliãa
fiio
Tepta dicata Jílú ■■videi htcc
in corpo re degens.
, Diç^nau/^ore amm^ lawea.
diznus honor.
Mciij , meitm^j gregem fart-
ólifsima refpice 'UÍ?'go,
Qujtihipro templis ^peãora
nojlra damus.
Hm c patrona tuis mala qiU'^
ám^cnibus arce.
Nos quefahite bea , hoUibus
obdefores.
Efcreucm a vida dcfla Santa
depois de muitos autores que
cita Padilha , Ôc Biuar , o dou-
torCarrilhojMorales^Mariana,
frcy Bernardo de Brito , lliba-
deneira, &: outros.
CAPITVLO XXXXV,
^^iVÍ LEÔNCIO
XV. Arcebijpo de Braga.
Vccdcm da-
qui por dian-
te mais alegres
tépos ua Igre-
ja Catilolieia
com o Iiijperio do grande Cõ-
ítanrino, em q a Fe começou
a refucitar, &: tomar alento a
religião Chriílá. lagouernaua
Conrtantino^ & jaabjuradaa
idolatria ícguiaas bandeiras ce
Chrillo quando Saõ Leôncio
natural de Conftantinopla^ 6í.
Filoíofo íapientirsimo eraAr-
cebifpo deBraga,naõ quefoíle
eleito depois do bautiímo de
Conftanuno , porque alguns
annos antes iuccdeo íua elei-
ção , mas porque entrou cm
Braga gouernando ja efle ex-
cellente Empcrador , viílo co-
mo no de 3 14. lhe eícrcueo S.
Melciades Papa , & aos mais
Bifpos de Hefpanha, nomean-
do íô três no principio da car-
ta 5 Marino , Bencdiílo , & ;l
Q4 Leoncioí
1S8
Capitulo XX XXV,
Chron-.
b<<^.3ia.
in chn».
Leôncio ^ o primeiro na opi-
niáode lulianoBifpo de To-
ledo i o fcgundo de Tarrago-
naj o terceiro de Braga_,quehe
o noílo Leôncio. A matéria, &:
faíUnciada carta he moftrar
como as caufas dos Biípos , ík
as que faõ de grande peio ^ ie~
não deuem determinar em fi-
nal íèm autoridade da Sc Apo-
llolica _, onde por appellação
haÓ de ler remetidas: ôc junta-
mete decidir qual dos dous Sa-
cramentos Bautifmo, & Con-
firmação hc mayor, & mais
fuíbncial pêra a íaluaçao. Vl-
timamente reproua o jejum
do Domingo , & quinta feira-,
porque naquelle tempo fe fa-
zia mais como rito gentilico.
que como penitencia, Sc cere-
monia Chrillam . Anda efta
carta no primeiro cómodos
Concilios. •
i Pêra ajudarem a feftejar o
bautifmo do grandeConftan-
tino diz luliano que manda-
rão a Roma as Igrejas de Hef-
panha noannode324.aham
Concilio,que naquella cidade
fc cclcbraua ê acção de graças
por mercê ra5 grande , alguns
de feusBifpos, entre osquaes
forão os de mayor importân-
cia o noílo LcÕcioJeBraga:&
Marino de Toledo. Preíidio
SaòSilueftrePapa^aíliíliraõ o
grande Conrtantino cõS. He-
lena fua may , &: z84. Biípos.
De canjinho íe ordenarão va-
rias coufas em fauor da Chii-
ílãdade,& bó gouerno de luas
Igrejas , ôc fecõdenaráo as he-
regias de Hipólito, Calixto, &c
Viâ:orino,como íe ve do mcí-
mo Concilio, que anda lança-
do no primeiro tomo onde os»
mais fc ajuntarão, & do que
Bare)i ,
íobre elle eícreucBaronio. 3- -«""•
5 Noannofeguintedesij.
fe celebrou em Nicea cidade
deBithyniao primeiro Con-
cilio Geral de toda a Chriílan-
dade. Chamou a elle o Papa
Saõ Silueftre os Bifpos aísy
Orientaes,como Occidentaesj
acudirão com preíla , & aluo-
roço todos os quefe puderâõ
achar prefentes, que foraõ em
numero 318. Mandou Coii-^
llantino ( que também quiz
com a magellade de íua peíloa
honrar aquelle aâ:o j prouer
com magnificência de todo o
neceílario aeíle grande ajun-
tamento de Prelados , òc a í uas
familias , & criados , fazendo
elle,como fe acha em bons au-
tores , osgaftos da ida^ &c vin-
da , fem confentir queacodif-
fe, &aífiíliírealyalgum,fcnão'
àculla de fua fazenda. Entre o s
que
32Í-
SaÕ Leôncio*
lífp
in-i*
Bt$éMt i»
314-. '
que fc acharão no Concilio
conta luliano a Saõ Leôncio
Arccbifpo de Braga ; a Cofto
de C^aragoçaj aNacalio Arce-
diago de Toledo. Dextro a-
crccenta os Bifpos de Scuilha,
& Barcelona fem os nomear^
& Natal Toledano , &c outros
muitos das Prouincias Betica,
^Tarraconenfe/cm fezcr mé-
çáodo nolTo Saõ Leôncio.
4 Naóícachaõ as foícrip-
çocsdeftcs Padres entre as que
temos do Concilio, ôc fòdc
Hcfpanha anda nclle aífinado
Ollo Bifpo de Cordoua, que
pello aísy ordenar o Concilio,
& o pedir Conftantinopreíi-
dio nclle,deixando oSanto P5-
tificc Silueítre(q por íua mui-
ta idade, & ii^dirpofiçocs fe
não pode achar prefcnteja prc-
lidencia daquelle grande ajun-
tamento a quem elle a quiíefle
encomendar j mandando (ò
dous Sacerdotes de Roma,Vi-
dor , &c Vincencio , não pêra
prefidirem, como bem proua
Biuar, mas pcra em feu nome
confirmarem os decretos que
aly fe eftabclcceflem.
^ Porem nem por faltara
firma do noflb Saõ Leôncio
ncftc Concilio, & dos mais
Bifpos nomeados porDcxtro,
& luliano feda lugar a fofpei-
tar vicio no que cllcscfcreue-
raó, porque cm Eufebio q en-
tão viuia , achamos as palauras
fe^uintes . £x ipfis Hífpanijs
ijnus nomine , ist fam4 celebri-
tate injignis cutn alijs mulús af-
fuit. Como dizendo , que có
Oíio varão cclcbcrrimo íc a-
charáo das Prouincias de Hcf-
panha outros muitos. Tam-
bém aly acha menos o Cardeal
Baronio aos íàntos Bifpos Spi-
ridiaõ,& Herpocracio, & Cy-
non Prelados de mâyor fama,
&cõíideração que muitos dos
que no Concilio aíílíliraõ.
C He pois de faber que por
a multidão dos Prelados fer
grande, òc por fecuitarem ou-
tros inconuenientes de prece-
dências que nas fofcripçocs
Í)odia aucr, fç tomou por mc-
hor expediente por fô na-
quelles adds o feu nome por
toda a fua "P^rouinciaoBifpo
qu€ o u ncUa fo flc cabeça dos
mais,ou quando elVc não cfti-
ucífe prcfente, o que prece-
delle na fagração. Por efte ref-
peito afllnou Ofio Bifpo de
Cordoua por todos os dcHef-
panha dizendo. OJim Epifco-
pus Cordubenfis ProuincU Híf-
pan't4^dixityita credo fcut fu-
periusfcripmm tfl . PcHos de
Egypto Santo Alcxãdre Bifpo •
lib.ycj
Bãren.i.
4inChrif.,
266,
,A9C
:-T.
1 ttdDext.
f
i
li
-
L-'
■'^■•- •'' ^^-^^^^^^^z»^^^-^^^^^^^^"-^'^' X ^ ^ ? <^^r
;jde ' Alexaiidtia... , • & alsy os
mâi». Cabia ao.'Hoílo S..>Leon-
ciacomoPrimâz de Heípaiiha
ler o quGálíinafle por coda a
■ fuaP-rouinciá,«i3s deuíe áqucl-
• la honra a Oiiopor rerTídõo
r,i)£eli4cnte do Goncilio^ '&íò
ípfiu: dèe Fet|>cito firmou ioob
tdè^ois de VKÍtoiv& Vmcécio,
por- ellcs o taierem em iioinc
do P.apa Saõ ■Siíueílre, primei-
ro que Eodo&ios mais Ptelá-
- dos.^e jà niftofcomo foípeita
Biuar) íenão teue também reí-
peito.a repreícntar Oiío aPrò-
uincia que entre as mais do
mimdoj não falando nade Pâ-
'leíliiaa , foi a primeira qne r«-
- cebeo a luz do Eiaangelho ía-
•gradç. '. ■;■*■.'■ :;j».;>. Oi <: «
ij • ■■■ ' ! /Dar conta^ das cauíás
-porque elle Concilio feajun-
-tou : dos Decretos que neile k
eftabeÍcGcrão3 & dê outras par-
ticularidades, q o fizeraÕ cele-
bre he dos autores que eícre-
uem hiftdria Pontificalj<& an-
naesEcclefiafticosrbafte dizer
aqui em íóma que ,delle fairaõ
Arrio,Phocino,& Hebio con-
denados, approuada a igualda-
de do Verbo Eterno íegunda
pcíloadaSantifsima Trindade
cõ o Padre Eterlio, & ordena-
do o íymbolo que começa.
Credo inDeú^l^c. donde pou-
l^-í
CO depois eõpos Santo)Atha- ■
naíio o que anda cni fèuríó-;
me. Si di ?: .Qj^cumqu è '%fuhfil- '-, j
mis ej?e . ' Em fim aly fedeu fa- *
ma j &c rcíplancíor a nofla lan-
ça íè j que ate aqu elle tempo
viuera clcondida pellas couas
da terra, ôc perlcguida péllos-
Emperadores Romanos com ,
a fúria das períiguiçoés paíla- //)
das. 1 ÕLà oíioii oh oò
8; •• Voltou de Nicèa a Eíerpa-
nha fechado ja o Concilio Saõ
£eolicio,ôc com trazer gran- \^^])
des dcfejos de chegar à fua Igreí
ja,& ie empregar todo em leu -
ícruiço, como naquclla jorna-
da o fizera no da ígrejaCatho-
lica j ordenou a Diuina Proui-
dencia que três legoas de Bra-
ga na Villade G^iimaraês o to-
mallea morte : aly deu leu el-
pirito a Deos , Ôc íe foi a gozar
do premio de feus trabalhos,
&í peregrinações. Faleceo a 19.
de Março de 31-6, Efereue de
íua morte luliano com eftas
breues palauras. Sanãus Leon-
tius Bracharenfis Pontifex re-
diem ex Concilio moritur Gtii-
maranij in Gallecia^ qtu time
dkebatttr Appollonia 1 9. Mar-
tij , anno 3 16. Faz menção Ac
Saõ Leôncio aos mefmos de-,
zanouc deMarço de 52^.0 Mar
tyrologtoRomano.Chamalhc |
d.^ag. j^o\
)0
Bifpo mas náo lhe nomea o
Bilpado_, nem o lugar de fiia
morte. Saõ as palauras. Eodem
diefdnèloriim Apollonij^i^Leo-
tij Epifcoporum. Na Villa de
Guimarães nenhúa noticia ha
deíuaíepultura. A tyrania,í5<:
barbaria dos Mouros nos lon-
gos annos que reinarão cm
Hefpanha confumiráo as mais
deftas memorias . Era Summò
Pontifíce ncíle anno de 3z6;
Sàò Siluertre íuceílbr do Papa
Mclciades ; & Empcrador o
grande Conftahtínô .
CAPITVLO XXXXVI.
A P OLL O N I O XVI
Jrcehifpo de Braga,
Intirão eran-
deméte o cle-
ro, &pouo de
Braga mor-
rcrlhc tanto á
'porta o grande Prelado Saò
• ^ 1
Leôncio-, eíperauano comal-
uoroço_,& poriílo feriao mais
ds lagrimas cõ que o chorarão.
Déraõlhe por fuccílbra Apol-
, loiiio; por tal o nomea lulia-
1 no. Leontio inSede Bracha-
Apollcnw. 1 9 i
renjfuccedií Apollonius . Naõ
deuia tardar muito a eleição,
porque jâ a Igrej a de Dcos go-
zaua de paz,ò<: liurcmente po-
dia exercitar as acções tocan-
tes a íua obrigação . Naõ dei-
xamos de íolpcÍtar,q foi Apol-
lonio aquelle melmo quecõ
Saõ Leôncio anda no Marty-
rologio Romano a is>.de Mar-
ço quando àiz. Eodem die San-
ãorum Apollomjy tf Leontij
Epifcoporum, ^oto^uc ajuntai-
los ambos o Martyroloeio .
íem a henhu nomear Bilpado,
& ieiído (como ternos proua-
docomiuliano)eíl:e Leôncio
noílb^ &c íuceflor íeu Apollo-
nio , indicio lie pêra afsy o cÕ-
leiturarmos.
2, No tempo dcftefanto
Prelado , íendo Arcebiípo de
Toledo Natal ^ aquelle que no
Concilio Romano fe achou,
como no capitulo paliado ef-
creucmos , fe celebrou na
meíma cidade de Toledo ou-
tro Concilio , em que por or-
dem de Conftantino , &:deli-
cençadcS. Silucftre(como o
nota Juliano) fe puzerao em.
melhor ordem os Biípados de
Hefpanha^ou pêra o difermos
com as palauras de Dextro .
Epifcoporum antiqua fedes^qu^e
fuos fines a mfe rant^receperiít . |
òe
Chron,
Dex,att.
Chrijíf
3a8.
_l
Ig2
Çapra r.S
MoraM.
PadilbA
[cent.i.c.
íc cornarão a rdlituir aos Bif-
pos de Hefpauha as terras an-
tiguas qucandauão alienadas.
Pcra iílo íe aílentarao as mef-
mas finco Mcnropoles,qucdá -
tes auia,Tarragona na Prouin-
cia Tarragoncníe , que cntáo
comprcndia osReinos de Ara-
gão^, Valença , Ôc Catalunha:
Mcndana Prouincia deLuíi-
tania, que depois íe paliou a
Compollella: Carthagena na
ProuinciaCarthaginenre/lon-
ãc fe mudou pcra Toledo: Se-
uilha na Prouincia Bccica ago-
ra Andaluzia. & Braga na Pro-
uincia de Galiza. A Tarragona
fc aílinaráo dez Bifpados 5 a
Carthagena 19.-, a Mcrida 8.
a Seuilha 9.3 Braga os dez íe-
guintes , Aftorga,Tui,Lugo,
Coimbra ^ o Padráo_, cujo Bif-
pado fe paflbu a Compoftella;
Briconia, quecfleue onde ago
ra he Ivlondonhedo,ou (como
outros querem) hc Britiandos
híjalcgoa de PontedeLyma;
Vifeu , Lamego , Idanha a vc-
lha,donde fe paílou a Cathc-
dral pcra a Guarda, & Oren-
5 Por cfcufado temos tratar
aqui fe ouue antes deftc Con-
cilio j& ordem de Conrtanti-
no dinifaõ de Biípados cm
Hefpanha , ou fe eíla foi a pri-
Capmlo XXXXVL
meira vez queícdelHnguiraõ,
òí Telhes determinarão certos
Innitcs, quando aspalaurasde
Dextro que ja referimos , &
outras de luliano que logo ci-
taremosacíiáo moílrando tão
claramétc.Iuliano falado deíU
diuiíaõdizafsy. Non quodtúc
c^iperint In Hijpama Aletropo-
Us ^qiufemper fuerunt nb Apo-
fiolis . O raefmo diíTemos fa-
lando do glorioío SaÕ Pedro
de Rates,o qual co mo Primaz
de todos eíles Reinos jCrigio^
&z deíbnguioCathedraeSjdeu-
Ihe Bifpos, naõ com jurdição
confufa , mas bem ordenada^
qual pede a Icrarchia Eccleíía-
ííica, ôc coníla das Epiftolas
DccretacSj que deixamos refe-
ridas ^ efcritas aos Biípos de
Hefpanha cm comum , <&: em
particular aos de Braga, & de
outras Igrejas, das quaes fe ve
que antes defte tempo auia cm
Hefpanha Bifpos diltintos, ôc
difterêças de Bifpados, chama-
dofe alguns Biípos da primei-
ra Sè,que hc o mefmo que Me
tropolitanosicomo cm íeulu-
gar jàmoítramos.
4 Tornando aoBifpoApol-
lonio , elle no feruiço defta
Igreja acabou em paz,deixan-
doa cm melhorordem pclla di-
uiíaÕ do Concilio Toledano,
_
Ttiii. ta^l
i9'
^faprac.S
Domiciano.
19 i
r ■ 'lÉll
6j muito mais por lua íui-
gulannduítria, &íaiKos tra-
balhos, dos qiiaes hoje goza o
premio merecido na conipa-
iihia dos íantos Prelados de-
fta Igreja anteceflores feus .
Era amda no anno de fua mor-
te Sum.mo Pontífice Saó Sil-
ueíhe^ & Emperador Con-
ílantino Magno.
CAPÍTVLO XXXXVIL
D O M I C IA N O,
que alguns intitulao Arce-
bijpo de Braga,
A Chtono-^
logia dos Ar-
cebiípos de
Braga, que cí-
ereueo Padi-
lha,nofim do re2;undotomo
da hiítoria Eccleííaflica dnda
nomeado logo depois de Saó
Pedro de Rates entre os Ar-
ccbifpos dcrta Igreja Domi-
ciano, oqualpellos annosde
trezentos & quarenta &fcte
diz Padilha íe achou, Ãraíli-
nou no Concilio a qutí vul-
garmente cham.amos Sardi-
ceníepor fe celebrar cm Saí^
dica agora Triadith-, cidade
de Thraciá , & ainda que não
pos mais qnçDomitianusEpif-
€opus chiitatis AtigufiíCjté pe-
ral! Padilha q o nome de Au-
gurta era próprio de Braga, \Si
por aqui le refolue fer Domi-
ciano íèu Arcebirpò. Ptimeí-
ío que clle foi dcíle parecer
Vafcu ieuadó da meíma con^
jcitLira, que potier de hum hi-
lloriador caó grâue , d: taõ '
benemérito de He í panha, liáò
era pouco de eftimarj le neíla
Prouiiicià nãbõúuera' outras
cidades ,que a íeu pf bprio no-
me ajuntarão os íobic nonies
de Augullas.Eíla repollànos
faz duuidoío fc tomado á Do^
miciano pêra aSè dcBràga fica-
remos cm reílítuiçáo aoutras^
que cõ iguais motiuòs o pod6
prctéderpera íy.Chamòuíe,&
íc chama ainda hojeBràga,Br^
chara Augujlã: mas tâinbem a
cidade de C,aiagoça cm Ara-
gão fechamóu^ & chama C4-
faraugufla , Merida na Luíi-
túnu, Emérita AtiguíLt^Adov-
ga ^ Afiurica Auguíla , Xatiua
no Reino de Valença , Sètdhis
Aiigusid^Bt]ã^òn^SLÒ.z]ò^ .Pdx
Aiiguíia. Coú\ que rezão lo-
go poderemos pretender mais
R juíliça
in chtàm
foi. ^Jl
vtrf.
194
CapttuloXXXXVII.
juftiça no Bifpo Domiciaiio
que qualquer das cidades no-
meadas.
i làTe quizermos fair de
Herpanha^quantas cidades en-
conaaremos com o titulo de
Au guitas ? em França as três,
Augujia Vocontwrum^ Augujla
Aufcorú, ou ^utiorú , Augufla
Pf^tona^é vulgar Dich,Aux,
e Olta cidades cachedraes nobi
lifsimas.No Viãmõte,Auguiia
Taurinorum , Turin , corte
hoje dos Duques de Saboya.
Na Alemanha , Augujia Tibe-
rij , hoje Regeníhurg, ou Ra-
tifbona, Augusta Treuirorum,
na hngoa da terraTrier,& pê-
ra nos Treueris , Augufla Vin-
dèlicorum ^ Auíburg,de quem
falamos na vida de Saõ Nar-
ci ílo. Augusta Veromanduorum^
cujo nome ao prcfentc he
Vérmand Abbai^ porque de-
itruindofe a cidade- antigua-
mente Epilcopal, & fuíFraga-
nea ao Arcebiípo de Reaes , fe
fundou aly hnm notaueí mo-
fteiro de São Bento^pcllo qual
fediz Vermand Abbadia, Que
diremos logo a tantas^ & tão
illuftres cidades , fe nos quize-
rcm pedir por Bifpo a Domi-
ciano? Tomarlho pcUo nome
de Augufta que Braga tem de-
pois do próprio, he manifefta I
lèm rezão , porque por ellas o
terem cm primeiro lugar, &
antes do titulo que acrecen-
tão como por moftradordas
prouincias onde eftaõ edifi-
cadas , pêra afsy ferem melhor
conhecidas , náo perdem an-
tes ganhão por mão às outras
efta contenda.
3 Por mais acertado te-
mos largar todo o direi-
to de Domiciano à cidade de
Beja, cujo Bifpo o faz A m-
brofio de Morales dizendo,
que aílinou nefte Concilio.
Domitianus PacisAuguft^Epif-
copus .Ou à de Aftorga a quem
o dà Biuar , ou com mais cer-
teza á de Badajòs , onde foi
primeiro Bifpo como affir—
mãooChroniílaGil GonçaU
ucz de Auila , & Morenc^e
Vargas , trazendo em confir-
mação diílo huns efçritosde
maóda Uuraria do Efcurial,
que leo o Doutor Rodrigo
de Ofma, onde eftaaflinado
Domiciano com efta firma.
Domitianus Epifcopus Pacis
Augufla , a qual elles pro-
uão foi a cidadtí de Badajòs;
cõ q fe tira toda a duuida,vifto
como os no flbs Arcebiípos
de Braga femprcfocfcreuerão
primeiro o nome da fua cida-
de , & depois fe queriaõ acrc-
lib. 19. c.
Binar a {
De M.An. .
Itatrt
EccleftA, I
d*!gr€J4
de ti Ada'
jos%
f^argA's ;
hiffor. ie
Mcrtdíi
li Z.C. li
centauao
Idacio /> oíí Epitacio
Í95
centauaõ o lobreiíome de Au-
guíU dizendo ; Domttianus
BrachaVíe Augufl^e Epijcopus.
Sobre tudo no anno de crezé-
tos & quarenta de íete^em cjue
o Concilio Sardicenle íe cele-
brou^ era ídacio Biípo defta
Cathredal, como diremos no
capitulo ícguinte: o que to-
talmente o exclue de Braga,
aindaque como no principio
diziamcs no lo quizeraõ dar
Vaícu , Padilha , &oBiípodc
Portalegre Dom Amador Ar-
raes quando diile quenoCõ-
cilio Sardicenfe fora Braga cha-
mada cidade Auguíla, o que fe i
não acha em outro lugar fe- •
não na firma do Biípo Do—
miciano ; no que falou com
algum defcuido do que tinha
acima cfcrito , quando cha-
mou a Domiciano Bif-
po não de Braga,
mas de Be-
ja-
^1
.H-
CAPITVLO XXXXVIÍI.
I D A C I o, o V E'PI-
tacio XVll. Árcebifpo de
Braga.
Orto o gran-
de Conllan-
tinopellosan
nos de 337. &
deixando por
herdeiros íeustres filhos Cõ-
ftantino,Conll;ancio,& Con-
fiante por quê repartio o Im-
pério, cabendo a Conílantino
aquclla parte a que depois cha-
marão Império Oriétal, fè dei-
xou logo no principio de íeu
goiíerno corromper da herc-
gia Arriana, pcrieguindo gra-
uilfimamente em quanto a vi-
da lhe durou aos Cacholicos,
jà com lhe coníiícar fuás fa-
zendas, jà com os priuardas
honras da Republica , jà final-
mente com à força de exquifi-
tos tormentos lhe tirar a vida.
ForãoosBifposq então viuiaõ
os a q coube o mais áspero de-
ita pcrfeguição,e aquelles prin
cipalmentc q mais íe dauão a
conhecer,ou pella fama de fua
íanticíadc, ou pell^ dignidade
de fuás Cadeiras.-:''
Ri
Mui-
192
Capitulo XXXXVIIL
m ehron.
z Muitos auia naquclla
confúhção em Hefpanha a
quem por fuás letras , &c eí-
critos acometiaó graiiciemen-
tc òs Arriauos. trão três os
principaes:Oílo Biípo de Cor-
doua, aquclle que prefidio 110
Concilio de Nicea : Olympio
ArccbifpodeToledo, quede
Thracia tinha vindo delíerra-
dorldaciOjOuEpitacio Arccbif-
po deBraga^de quê diz luliano
que fucedeo a ApoUonio.L^o-
tio in fede Bracharenfi fuccedit
ApoUonms yhuic i^Idatius. E
porque do anno de fua eleição
naõ fabcmos o certo,pera me-
lhor declararmos o mais que
delle efcreueo luliano , íera
neccílario tratarmos hix pou-
co de Orio,& Olympio.
j . A Ofio períeguiraõ a
toda a fúria os Arrianos , aca-
bando com o Emperador Cõ-
ftantino o tirafle duas vezes,
de Cordoua , onde viuia jà
cancado dos trabalhos , & na-
quella idade o trouxeílea Cõ-
ftantinopla,onde quando pel-
lo mefmo Emperador lho pe-
dir,não quizcíle condenará
Santo Athanafio,a poder de
tormentos perdelfe a vida.
Aísy foi que perfeuerando fir-
me Olío contra o que lhe pe-
dirão na prcícnça do Empera-
dor , fem o herege refpcitar a
hum varaõ taõ eminente, a
quem feu pay eft imara tanto,
íoi açoutado , &c com vários
tormentos dcípédaçado, co-
mo o conta Sozomeno dizen-
do . Verberibus , njt fama eíi
ibi fenexHofus c<efus. Emais
claramente Sócrates . Simul
atqiié fenex ille eorum fidei
afsentiri abnuebat , plag^ illi
erant infiiã^ , membraquè ma-
chinis diHorta . Naó talando
doutras perííguiçoés,&: afron-
tas de que dà larga conta San-
to Athanafio , & íe podem
ver na carta que efcreueo aos
do Ermo , porque toda he
hum memorial do muito que
Ofio padeceo por nolla fanta
Fè.
4 A OlympioBifpo fátifsimo
de Toledo, òc varão doutiísi-
mo perfiguiráo também pel-
la Fè os mefmos hereges Ar-
rianos.Defterrarãono deThra
cia ( onde era Bifpo ) pêra Hef-
panha . Viuendo em Toledo,
lhe dcraõ por feus grandes
merecimentos aquella mitra:
,ao queajudou não pouco fer
elle Português de nação natu-
ral de Lisboa-, mas ainda afsy o
não deixarão os hereges viuer
quieto có calunias a fim de o
odiaré CÓS. Athanaíio peraquc,
ou
Sofon.lib
4.r.5.
Socratet
lib, z,c.\
24.
5 .Àthan
Efifl. ai
folítarii
vitam 4-
gentes.
Mian in
hro.pag.
42.
Idâdoí, OH Epirdcio
\97
&
n:t CIO.
OU dc grado, ou de força/olíc
em lua condenação: mas tudo
foidcbaldc^porque todas eílas
.pcrí;guiçoês nuncjua pudc-
rcióeicureGer a firmeza. & pu-
reza-de íua conílancia, cjiial a
lih 1. CO-! viãoatè cm ícu nome prono-
íticada os hereges. Ha grande
í>cr7»''*, mençáoem Santo AgolUnho
2;iC:::«|deOlympio:chamalhc. Vir
Pcbgta- -magnsinEcclefiaJj' in Chrijlo
glçrU. Varão glorioío pêra có
Dtccs, Òí pêra com os homés,
& nas letras o põem entre os
írinèos , Cyprianos , Hilários,
Ambrolíos, Grcgorios , Inno-
cencios , Bafiliosjlcronymos.
Celebra a Igreja a fcfta de Sãto
Olympio,& a põem o Marty-
rologioRomanoaos ii.de lu-
Iho cõertas palauras. J>? Thra-
cia Sanai Olympij Epifcopi^
quiab Anianis fede depulfus
<onfè(^oroccubuit.
5 Tudo ifto diíTemos afim
de paliarmos ao que luliano
acrecenta do noíTo Santo Ar-
ccbifpo Idacio, ou Epitacio.
Vai luliano fazendo memoria
do muito que naquclle tempo
padeciaõ os Bifpos catholicos
pericguidos pellos Arrianos ;
diz cie Oíio, de Natalio,&:
de outros grauilUmos , &í
SantiíTimos Varões , & então
conciue.I» quibus mirecUruit
MímK.iH
41.
'Rpiratms Epifiopus Brachãrt-
jfii.F-orãoeítcs Prelados -nico'
íLinciâde fua Fe entre tantáá
pcrííguiçoé';, e dcllcrro$,çftrèl
ias rerplanclefcntes ;màs oSol
de todos foi £j)ÍLacio Arcebií^
po de Braga:tantofea'vâlor,&
esforço auantejou atodos ò"s
mães. -■ -••"•' ' ''- "^ - -■ ■
6 Cõgregoiífe pellos annos
de Chnllõ 3/9. em Riminc ci-
dade de Itália , ÔC luffraganeaa
Rauena o CohalioAriàíinen-
ferconcorrerãoa elle 510. Bif-
posCatholicoSjC 80. Arrianos.
Naõ faltou em' ajuntamento
tã faerado Epitacio, morméte
achandoflc aly Gíio,&0 lym-
pio fcus cópânhciros nas per-
feguiçoés dos Arfiaiios,^^ len-
do a caiifa q âly fe tratauâ a de
S. AthanafiOjeiTi que tanto hia
aos Bifpos Catholicos porei-
Ic defender a Fe do Concilio
Niceno , & fcr a principal oc-
cafiáo dos trabalhos que en-
tão todos padeciaõ em Rimi-
ne . Afsy como entre os mães
perfeguidos pellâ Fé adniira-
uelmentc reíplandccera Idacio^
afsy aqui entre os congrega^
dospella defender por excellc
cia fe auantejaua.Tomou a pe-
na, Sc do melmô Concilio j
dizIuliano,eícreueoaConítã- <
cio, quam deliberados eílauão '^j",\y^.,f*i
ÍMlian.
R 3
tod
CS
19$
CafUuloXXXXVni.
todos aqucllcs Bifpos Catho-
licos a morrerem pella Fe cn-
íinada , &c decretada no Con-
cilio NicenOjpor iíTo fenaó cã-
çaflc em os perfcguir, porque
clles naõ caiifariáo nunqua
cm padecer.
7 AchoufctambecmCor-
doua em outro Concilio a que
Oílopello muito que valia, òc
podia com os Bifpos de Hel-
panha , chamou a muitos del-
íes . Qujs cftc íanto Prelado
{ fanto lhe chama muitas ve-
zes San to Athanaíio,& os Sy-
ros çclcbrão fua fcfta 35. de
Noucmbro j no cabo de fua
vida(paflauajà cntaõ de cem
annos) purgar diante daquelle
grauiífimo ajuntamento de
Padres (erão elles mais de céto)
a culpa em que cairá quando
por pcrfuafaó de Conílancio
Emperador , & muito mais
por fua muita velhice comuni-
cou com os dous hereges Vr-
íacio, & Valente conocnados
por Arrianos , & grandes fau-
tores de ícu meftrc Arrio. Ef-
candalizoueftaacçaõ aos Ca-
tholicos que delia fouberão,&
foubcrãona todos , porque os
hereges pello muito que fazia
em ícu credito , òc do mefmo
Emperador a publicarão por
todo o mundo . Cahio O fio
no mal q tinha feito, òc como
daly parece fc fcguia qucrc-
gcitaua também os Decretos
do Concilio Niccno, & daua
por bem condenado a Santo
Athanalio : em prefença da-
quclles íantos Prelados decla-
rou primeiramente que cUc
femprc no animo , & na von-
tade fora Catholico,& quenú-
qua lhe paílãra pcllo pcníamé-
to crer outra couía que o que
cria, & cníínaua o Concilio
NicenOjde quem nunqua íe a-
partàra, fò que por fua grande
mifcria , de que eftaua grauif-
íimamente arrependido admi-
tira a fua comunicação Vrfa-
cio,&: Valente por fenãoa-
trcuer jàafofrer as importu-
nações de Conftancio , as ca-
lumnias dos hcreges,6«: muito
mais por entaõ entender que
ellcs tratauãodc viuerCatho-
licamentc , &: deixar de perfe-
guir os fieis.
8 Chorou Ofío eíla fra-
queza toda a vida , & não fe
dando ainda por contente c5
o que naquellc Concilio auia
feito, quando chegou à hora
da morte declarou em feu te-
ftamento morria na Fc do Cõ-
cilio Niccno , «5<: anethemati-
zaua Arrio ,& fuás blasfémias
com quem nunqua quizera
paz
iHÍián.m
chroH.
Idacio L ou SpíMcíô.
199
SaHtelJf-
doro de
vtr.tllHf.
*. 14.
Moral.
lib.it.e.
37.
Brit 2.p.
mtn.li.y
lan.Chrif.
(6j.
Dtxu An
ChriJ}.
l6ti
JulÍ4M. in
chrà.pa£.
paz ncnhúapor cllea naó que-
rer com Deos ^ & fua Igreja.
Dcfta maneira deu fua alma a
Deos acabando cm paz na ci-
dade de Cordoua, onde por
muitos annos fora Bifpo.Dou
tra maneira conráo fua morte
Santo Iíídoro,Moralcs,& frey
Bernardo de Brito ^ dizendo
fora defeftrada , & repentina:
mas o que deixamos referido
hefem duuida o certo , como
fe pode ver mais largamente
no Cardeal Baronio,&: em Fla-
uio Dextro.
9 Logo a pos a acção da
pcnitcciaj & coníiílaõ de Ofio
íe tratou o negocio de S. Atha-
naíIo,& correndo os votos,
naò ouuc nenhú dos prcfen-
tes y que o naÕ declaraíle por
innocéte,&fòra de todas as ca-
iu mnias com que os hereges
oinfamauão.Naõ conta Dex-
tro entre os Bifpos prefentcs
a efte Concilio o noífo Idacio,
ou Epitacio , contao porem
luliano , & acreccnta que em
Braga fez também ajuntar ou-
tros, em que fe condenarão os
mcfmosArrianos, & feefta-
belcceoa Fè do Cõcilio Nice-
no,& de feu autor Santo Atha-
naílo,& por ventura que com
os olhos neftes Conciliosdc
Cordoua,& de Braga efcreueo
Santo Athanafio. Diuerjis con-
filias per Galiiam , Bijpaniam, \^/Éplne
i^ Romam celebratis , omne^ tum.
quiineo conuentu fuère luci-
fugas , quífe et iam nunc occul-
tant^i^t qUitArrijfuntyfapiunt:^
Auxentium dico Mediolancfetn
Vrfatium^i^ Valmtem com-
muni calculo ijnius Jpiritus in
citati anathemate percujferút.
Querédo dizer que cm vários
Concílios, que fe tiucráo por
França , Heípanha , & Roma
todos aqucUes Padres leuados
do mefmo efpirito cÕdenaraõ
aos hereges Auxencio de Mi-
lão, Vríacio , ôc Valente , que
como aues no(5turnas anda-
uãopor antaõ efcondidos.
10 Neftc Concilio ce-
lebrado em Roma no anno de
364. referido por Santo Atha-
naílo fe achou também Epi-
tacio, como eícreue luhano,
em companhia de Gregório
Arcebifpo de Toledo , & Hi-
merio de Tarragona. EUe aca-
bado naó acabando em feus
peitos o zelo da Fè, & ódio da
hcrcgia deráo todos daly con-
íigo em Tianha cidade de Ca-
padócia nas raizes do monte
Tauro,onde fouberaó eíbuaó
juntosem outro Concilio os
Bifpos da Igreja Oriental , &
Ihcleuaraó osDecrctos,que no
IH chron,
P^i' 44-
uerf.fsg
106,
R4
Romano
200
Capitulo XXXXVIII.
Romano ícacabauio defa2er,
tV-ordem do Papa Feliríegun-
do do nome ficfanellcprcíídi-
rem' CO mo legados Apoítoli-
côs.' Chegarão ao Concilio
onde com íiia preiençn alegra-
rão grandemente aquelk • -ve-
rierauel ajtintamento. '■
íi A prejídencia do Conci-
lio de Tianha" com que o Pa-
pa Pélix' honrou a EpitaciOj &
a grande amifade que com S.
Baliho Magno teue nos fazem
forpeicar poderia fer Grego de
nação , & hum daquelles Bif-
pos dcfterrados deThracia por
Cõftsncio como o foi d finco,
& douro PreladoOlympio ícu
concêporaneo ■ &í depois elei-
ta Bifpo de Toledo emHefpa-
nha onde impcraua Cóftácino
grande Catholico, òc verda-
deiro imitador das virtudes de
íeu pay:ou pello menos fendo
moço Epicacio íeria mãdado a
Coilrtantinoplacomo o eráo
muitos dos Hefpanhoes pella
comunicação , que entaõ auia
entre eftasProuincias. Daqui
entendemos fe conhecerão S.
Bafiho Magno , <^ Epitacio ,
efcreuendoíè , & tratandofe
com amizade, poftoquedas
caitas de hum, & outro íicalle
pouca noticia : com tudo em
SaÕ Baíilio anda a que comc-
• ça. Quoniam nifíjperantibus^
íjfc. onde o íanto Doutor
louua com palauras de muito
encarecimento íua grande Fe,
ík fantidadc. Chegão as me-
morias de Epitacio aoanno de
366. do Nacimcnto de Chri-
fto , Naõ coníla íè foi o viti-
mo de íua vida^ou fe viueo al-
guns mais adiante. Gouerna-
rão a Cadeira de Saõ Pedro
por eíles annos depois do Pa-
pa Saõ Siluellrc, Marcos, lu-
lio,Liberio, Sc Saõ Félix II. do
do nome: o Império depois
do grande Conftantinc tiue-
rão Conllantc, Cóftancio , &
Conftantino feus filhos , de-
pois luliano Apoftata, louia-
noj ôc no Oriente Valente , ôc
noOccidentc Valentinianofeu
irmão .
CAPÍTVLO XXXXIX.
LJMPADIO XFIII.
Arcehifpo de Braga.
R A N D E
cõcendaíenos
oílcrece no
prefenrc capi-
tulo étre d oUç
graues autores Heípanhoc<
.^.íi.4A
&
antiguos
hamfãdio.
201
I .inciguosambos_,&: a quem co-
mo lume dahiltoiia Eccleíía-
ftica de Heípanha leuamos
kmpre diante pêra não errar,
entre tantas,& táo efpeflas cre-
uas quantas a confundcm_,&:
efcurecem. Pêra melhor deci-
dirmos a cõtenda, pois de for-
ça nos faz elte noíTo aíTunto
arbitro nella. He dcíaberque
Icuantandofe pellos annos em
que imos com eíla hilloria em
Galiza Priícilliano herege mal-
dito_,inquietou j& perturbou
grandemente por fy , & pellos
Biípos que o feguiao todas as
Igrejas de Hcípftiha , & mui-
tas das de França pella viíínhá-
ça, & trato , que entre húas,
& outras fempre ouue . Pêra
it dar remédio a efta peçonha
fcacodioà mais apurada tria-
ga dos CatholicoSj qual foi
ajuntar Concilio ao qualfoA
íem chamados os Bifpos das
terras inficionadas , que como
diflemos eraõ Hefpanha , &
Frâiiça . Efcolheofe pcra efte
ajuntamento a cidade de
C ara^oca alsy em reueren-
cia do iníignc Sanétuario , &
Igreja da Virgem do Pilar taõ
celebrada,&: venerada no mu-
do, como por ficar quaíí no
coração das Prouinciâs onde
rinhaabranHdoa hcrcgia, &
muito accõmodada pcra aiy
poderem vir os Bilpos Fran-
ceíes.
i Difcrepão os autores no
anno em que elle Concilio fe
publicou, & celebrou. Alguns
o põem no de 580. outros lo-
go no que {t íeguio de 381.
Dextro no de 384. Ói: não pa-
receo a diuerlidade de três , ou
quatro annos de tão pouca
importância ao Arcebiípo Dó
Garcia de Loayfa, que por el-
la não julgallè eílc Concilio
por outro diíFeréte do que an-
da na íua coUcição com titulo
deC^aragoça; & na verdade
bem pezadas ãs rezocs que
pêra iflb ha tem muito de pro-
uaiiel efte juizo. Mas não he
agora tempo de nos diucrtir-
mos com elle ^ abaixo terá feu
lugar.
3 Acodiraõj como jaco-
meçauamos a dizer,a elle Cõ-
cilio muytos Prelados ; conta
Dextro entre elles a idacioMe-
tropolitanõ de Bragâj& lulia-
no ( efte he todo o ponto da
contenda entre Dextro, <?c lu-
iiano ) chema ao Bracharenic
que aqui fe achou Lampadio.
As adas do Cocilio de C,ara-
goça , que trás Loayfa també
nomcaõaldacio.mas fem I?re-
ja . Os que nomea Dextro
384. «.7
"Dext, d.
an, 384.
lidian. sfi
'líiucrf.
lucremos
202
CaptdoXXXXVIUL
ÍUí
queremos vao com luas pa-
lauras como andáo na impref-
íàõdefr.FrãciícocíeBiuar. C^-
faraugufU alterum Cóciliiicó-
trahitur ^ pr.^fuit Phsdagius
Epífcopus^interfuerunt^ Epif-
copusBurdeg(tlcfs,Epifcop9 To
Icfanus , HeUnenJís(qui uenits
cx Ltijitaniaobijt GanaCíC Ve-
rocoíji oppido occafum ijerfus^
Tokto difias xxiiij. Aí. paj?. )
interfucre etiam Idatius Me-
tropolitãnus Bracharenjís, Au-
denttus Metropolitanas Tale-
tamis , Etherius Epifcopm Of-
fonenfís, Cartherius "vxamenfs ,
Líipus Epifcopus Telenjis , Fa-
hrius Epifcopus Ctefaraugitíta- .
nus^if alif inquibus EmiUBar-
cinontnfis^ ex Galha Sanãus
Martinus Turonenjis. Saõ em
Português. Ajuncatc Concilio
em C,aragoça,prehdionelleo
Bií po Phecíagio (falta a cidade
donde era Bifpo ) foraõ pre-
rentcsoBifpo de Bordeos , o
de Tolofa , o de Helna ( que
vindo dePorcugal morreoem
Ganaça lugar diílante de To-
ledo i4.milhas)Idacio Metro-
politano de Braga, Audcncio
de Toledo, Etheriodc OlTo-
noba, Cartherio de Ofma, Lo-
po de Tela (efteuejuntoaPa-
lencia, & tcue muitos annos
Biíno, que agora he o mcfmo
de Palencia) Valério de C^ai a-
goça5<S<: outrGS,cntre os quaes
Ic achou também Emiia de
Barcelcna^d: Saõ Martinho de
Turon.Os q andao em Loayla
íaóiO primeiro phedagio pre-
íidcntCji. Delfino, 3. Eutichia-
no,4. Apcllio, 5.Idacio,<í.Au-
gencio, 7* Carterio, S.Valerio,
5>. Lucio/ema nenhum porá
cidade onde era Bilpo. IiJia-
no põem quatro Metropoli-
tanos de Hefpanha , Lampa-
dio de Braga, Idacio dcMcri-
da,Leonas de Cartha2;cna . If-
mario de Tarragona,^ outros
de França, como Phitadio de
Narbona, Delfino deBordeos,
Saõ Martinho deTuron.
4 Aísy que Dextro cha-
ma ao noflo Arccbilpo q aqui
aílillio Idacio, & luliano cha-
malhe Lãpadio.He de ver qual
dos dous tem por fy a rezão,
òc qual menos inconucnien-
cia pêra o feguirmos. Eftao
por Dextro primeiramente os
tempos mais vizinhos aos dc-
fte Concilio, & afsy poderia
fabcr mais delle que luliano.
Naceo Dextro no anno de
368. & quando o Concilio fc
celebrou tinha jade idade 16.
que pêra quem logo ác moço
foi inclinado à hiftoria , & de-
terminou eícreuera Eccleíía-
flica
m adi-ter,
d. fag.
lio. tíi
471-
Lampadio.
203
ítica deHefpanha^erão baftan-
ces pêra não poder ignorar as
coutas q então fucedíaó, mor-
mente húa tão notória como
os Bifpos que naqucllc Con-
cilio tão celebre íe acharão,
5 Acrccentafc em fcgun-
do lugar em fauor de Dextro,
6 cm rczáõ dos mcfmos tem-
pos ícr por eftesannos Arce-
biípo de Braga Idacio, cuja vi-
da acabamos de efcreuer , &
cuja memoria diíTemos chc-
gaua ao de 366. náo porque
então logo mocreíle^mas por-
que dahy em diante naó en-
contramos com elle. Pois fc
agora lhe dà Flauio Dextro
mais iS.annos de vida,& o faz
ainda viuonode 384. náo ha
rezáo pêra os não aceitar-
mos.
6 E fc Idacio do Conci-
lio deC^aragoça não he o nof-
ío de Braga porque a viuer ate
oannode384. teria cntaõ de
Prelazia jó.annos , vifto co-
mo fcu anceceflbr Apollonio
faleceo pellos annos de 318. de
q memoria conílaqlogo en-
tãoldacio foi eleito Arcebifpo?
& não poderia aucr algús an-
nos de vacância, mayormcn-
tc em tempos que os Hereges
Arriaiios podiaÕ canto , & cõ
fuás prctenfoés > & valias cm-
baraçauaõ as Prelazias, preten-
dendo fubir a ellas ? Mas dado
que logo no mcímo anno, &
amda no meímomes,foí]e ciei
to Idacio, que m uitos crão pê-
ra aquella idade, onde os ho-
mens viuiaõ tanto,56. annos
de Bifpadoi quando no mef-
mo tempo de Idacio teue Ofio
Bifpo de Cordoua mais de 60.
annos de Prelado pois era Bif-
po no anno de 300. emquefe
celebrou o Concilio Eliberita-
no, & moirreo no de 360?
7 Nenhúa das-rezoés aci-
ma allegadas nos pode conué-
cera não aceitar delulianoo
Arcebiípo Lampadio que nos
da ; não porque anteponha-
mos fua au toridadc ã de Dex-
tro, que bem dillinguimos o
que a cada hú fe deue,mas por-
que fofpeitamos vicio no tex-
to de Dextro : & temos cui-
dentcs argumentos pêra cui-
darmos que aqucllas duas pa-
lauras,íí/^íi«í Metropolttanus
Br achar enJis^z\i\3LÕáç. áizzr no
próprio originaI,iVíg/-rí7/>o//><í-
nus Emeritenjís.
8 Seja o primeiro funda-
mento ( & aqui começaõ os ã
da parte de luliano fe nos of-
ferecem) que na verdade nos
nomes dos Bifpos dcfte Con-
cilio ha grande corrupção nos
cxcmpla-
Biuitr IH
Dex. 4«.
ioo.cem.
204
Capitulo X XXXVI II í.
IBjiren
annal to.
4, ann,
^ b) .
3oi»
exemplares de Fbuio DexcrOj
porque o de Rodrigo Caro
ccjnaísy, C-efaraupiJU alterú
Concilium contrabkur pr^fuit
Phsga dias Ep ifcopusBurdega-
k-nfis. Oiidc jà ddífcfcdo tex-
to de Biuar que naÕ nomeao
Eiípadode Phegadio , 5c o faz
outro di'fterc4itc do Biípo de
Bordeos, E íe quizefmos cõ-
fcrir os mcfiTtos nomes com
CS de Garcia de Loayla^aly cm
lugar de Lúpus ^ ãnàa^Lucius,
ôí emSeuero Sulpicio autor
daquelle tempo íe pocm ncfta
própria ocaíiaÓ Ithacio por
Biípo de Oííonoba , & nao
Etherio como efcreue o tex-
to de Dextro . Chamafe tam-
bém aly Cartherio Biípo; de
Ofma^aaeiKlo de chamarfc
de Tui, como diz íuiiano. Fi-
ca logo que nos tranfuntosdo
Concilio ha grandiíllma cor-
rupção nacida dos que três la-
daráodelles,oa daquelleseícc-
piares . O Cardeal Baronio
íe queixa que derte Concilio
não ternos mais que huns pe-
quenos fragmento? , &í eíles
fobrcmancira viciados nas fir-
mas dos Bifpo5 qucalliftiraõ.
Culpa he logo da efcíiturâ ^ Sc
não da pouca diligencia, ou ad-
j uertcncia de Dextro andar no
• Concilio Idatnis^-)Ot Lampit-
dius , Brachítrtnjis por Em&ri^
tenjis.
9 CJ fegun<3o fuiidameu-
taièja que neiíhúdos autores,
que falaó iicíl<2 Concilio ,fazé a
ídacio ArceBifpo <lc Braga^íal-
uo Dextro nelte dugar , que
[o fpeitamos v ic iad o ^a ntcs to-
dos diz^m fer aqueile mcímo
ídacio de. quem pouco aii^s,
&í no meímo anno tinha et-
crito Dextro , que cm Meti-
da auia celebrado hum Conci-
lio cotia Prifcilliano. E como
elle fcr^ o primeiro .i que ítrde-
nuncioii da hercgia deílc He-
rcíiarcha por Higiiiio Biípo de
Cordoua^&o principal pcrfe-
' suidor àc kus -erros- • kndo
entaõ,& muitos atíiios adiãii-
j t-eviuo, deforça auia de fèf
alyprefente pello menos por
leilão murmurar filtauão os
Bilpos de perto, onde íèiaclia-
uáo os de taõ ionjK^^âfc^ Í^\s Itjhr.
ídacio a quem e% ciafencià íe"
auia de cílranhaf , f)òrqt.íe que
dei le efcreue. '<7er/-è Idaclú ni-
hilperhi , nihiifdnãí hahui[je
d-efinio^fiiit audax, íoquax^ im-
prudens ^ pKefíímpnwfus ; que
não tinha nada de fantidadc,
muito de ouíadia, de locacida-
de, & de defpejo , tamben cí-
cteueria ^ deixaua por fobcrbo
de fe achar no principal ajun-
Seucr.
Siilpi libi
2* /dcr.
fupra.
tamenro
hamVddiQ.
205
ajuntamento que em reu cem- 5
po ouueia em Herpanha,onde
acodiraõ os Dclíiiics dcBor-
dcos, os Martinhos de Turon,
tacfamofos naíantidade.Foi io
£o ao Concilio .corno aftirma
luiJano, 5c o diílera Dextro íe
feus efcritos chefiarão a noílos
tempos com a pureza com <^
fairaó de fuás máos.
10 Por aqui temos rcfpon-
dido ao que fazia pclia parte
de Dextro, a cuja memoria,
»!k diligencia , não fc pode por
defeito. Teueo quem o co~
piou,ou a letra gothica em que
o acharão taó cega,& gaílada
òio répo q a palaura Emerittjis
faria parecer Bracharenjis.
1 1 De Idacio Arcebifpo de
Braga poder na occaíiaõ deíle
Concilio fer viuo , & acharíc
ncllejcoufa he que poderia íer,
mas como então íe tomauão
pcra as Prelazias homés jâ de
mayor idade,&: a quem por re-
zão de íua ancianidade rclpeitaí
ícm os íubditos5parecê muitos
annos deBifpo fincoêta & íeis,
porq de Ofio íe conta por gra-
de marauilha checar a tantos.
o
ElHmàramos muito a mefma
multidão de annos no ncíTo
Idacio, &Ihe ell:enderamos a
vida atè os tcpos do Concilio
de C_,aragoça íe Lapadio Arce-
I biípó dcíla igreja aly não alli-
ílira, &as conuenicncias que
apõtamos não pedirão acharfe
também nclle Idacio Metrcpó
litano de Mcrida. No q toca a
não íabcrmos mais dcLãpadio
qucaíliibr neíteCccilio-^prou-
ucraa Deos parara íò nclle : cõ
muitos outros auemos de en-
contrar em q nos íuceda o meí-
mo , & muitos deixaremos de
contar entre os Arcebiípos de-
ita Igreja,que na verdade o fo-
rão , por não chegarem a noí-
fa noticia memorias delles.
CAPITVLO L.
ÂVERIGVA SE SER
efle Concilio o mefmo que an-
da em Loavfa: dajse húa hre-
ue reíiíÇíto cie quem- foi o here-
ge Prijcill/ano,
^^ EM qui {éra-
mos paflàrpel
la matéria de-
íle capitulo
por não per-
tecer direitamcte à hiiloria de s
Arcebifpos de Braga, mas o fcr
Prifcilliano natural do Reino
deGaliza,cde Bilpado antigua-
méte íulíraganeoa cí le deB raga,
S ôcTc
206
Capitulo L.
d, locis
& fe condeiivir no Concilio
fua heregia nos obriga a fazer
menção dcllc.
1 O Arcebiípo Garcia de
Loayfa filiando do Concilio de
C.ara:^oça efcreue as fec^uintes
palauras. Fiiit aliud C^Jarau-
giijianum ConciliumpoU hoc, in
qiio primo damnata e/i h^rejts
Prijcilliani, cm etiam Aquita-
nU Epifcopi ínterfuerunt\Itha-
ciusjjf Idíicius ^ quiin hoc fub-
fcribunt flrenue fe gefferimt m
extirpanda Prifcilliani impie-
tate^ Seiíerus Sulpicius lib. z.
Querem dizer^depois daquelle
Concilio (quccllealy poé)ou-
uc outro em q primeiro fccõ-
denou a heregia de Prifcilliano,
onde tambê íc acharam os Bif-
pos de Aquitania; &osdous
Ithacio,& Idacio que aly foef-
creuem fe ouuerao generofa-
mentc na extirpação da heregia
de Priícilliano,como contaSe-
ucro Sulpicio nor.liuro.
3 As rezoês que pudcrão
mouer a Loayfa a ter cftes Có-
cilios por differentes parece fo
rão,porq no Concilio de C,a-
ragoçadeq falamos no capitu
lo paílãdoaflirtio S. Martinho
comoapõta Flauio Dextro, &
luliano i alíiílirão Lampadio^
Leonas^ Ôi Ifmario Mctropoli-
l tanos de Braga,Carthagena , & I
Tarragona j entre as fufcrip-
çoês nenhijafelèdeS. Marti-
nho, nécó íeu próprio nome,
né cõ a de Bilpo de Turon,né a
de algú dos três Metropolita-
nos.O Côcilio deC^aragoça ce
lebroufe no anuo deChriilo de
384. em q o poéDextrojelle de
Loayía no de 380. como defeu
principio cõlla, ou como quer
Baronio no de 3 8 1 .No deC,ara ^^^-^i- 1"
goçacondénoufe Prifcilliano,
&:íeus fecazes Inftancio,&: Sal
uiano Bifpos em Galiza, ôc Hi-
giniodeCordouarno de Loay-
fa nê húa palaura ha q acene cm
condenação de Prilcillianirtas^
todos feus Cânones falãoem
matérias de reformação, nada
em heregias.ErteSj&outros íe-
rião os motiuos deLoayfa por-
que julgou eílcsConciliospor
diíFcrentes.
4 Poftoqueeftas rezoês te-
nhâo aparência de verdadeiras,
cótudo porque nas hiítorias
deftes tempos fe não acha me-
moria de outro Concilio de
C,aragoça , & porq aísy píire-
ceotãbéa Seuerino Binio va-
rão doutifsimo em toda a anti-
guidade , os naó julgamos por
differentes.Eafsyallentando,q
o noíToCõciho, & o de Loay-
fa todo he o mefmo ; refpõdc-
mos,qfaltarénefte as firmas de
S.Mar-
Líimpadio.
207
Conc.Cz-
5 .Marcinho,& dose]uacroMe-
cropolicanos nio he por elles
sly íe náo achnrcm,íciiáo por-
que né as de todos andaõ ncl-
Ie_> como nem cm Flauio Dex-
tro, o qual depois de contar '
a muitos acrecenta, if ali/ , &
outros , querendo dizer que
os nao pii nha aly a todos.
j A variedade do anno de
380 381. ou 384. náo he ba-
íiante pêra fe terem por diíFe-
rcntes ; ode38o. que põem o
de Loayía pode andar viciado,
6 quando náo, o andará o de
384. de Fiauio Dextro j mas
mais íoípeitamos o primeiro.
Faltar a condenação de Priícil-
liano, Inftancio , Saluiano , &c
Higinio,ou foi porque fe náo
quiíeraó cançar coma tresla-
dar, pois o auiaõ de fazer no pri
meiro Concilio Toledano,on-
de anda por exteiifo^ ou por-
que os hereges Prifcillianiflas
a tirarinõ da ly.Nem hc verda-
de q fe não acena palaura no
ConciHo que toque a Prifcil-
liano, porque no Cânone 7. fe
ordena. Vt nemo fibi doãoris
nomm imponat. que ninguém
íe chame doutor,o que fe difle
por rczáo de Prifcilliano, o
qual fendo home leigo fe cha-
maua mcfl:re,Ã: doutor.
f> Na 5 tratarão os Prela-
dos deíleConcjlio de prccede-
cias de lugarcs,ne íe íàbe ao cer
to qual áos Mctropclitanos
rcíeridos preíidio. Dextro diz
que Phitadio , ou Phedagio de
Narbona , &c nos Cócilics de
Loayía cíHaííinado elle Prela-
do no primeiro lugar Porécó'
ífa do principio do mefmoCó
cílio q náo ouue prefidencia.
Deuia Phitadio Metropolita-
no de Narbona afllilir como
legado da Sé Ápollolica,&por
eíía rezaõ lhe deu Lampadio
Metropolitano & Primaz de
Braga o primeiro lugar fias fir-
mas : ^ o mefmo íizeraõ os
mais Metropolitanos de Heí-
panhareconhecédoaSc Apo-
ftoiicaRomana,&a peííoa q rc
preíétaua oSiimoPrelado delia.
7 PrilcillianOjCuja vida pro-
metemos neílecapitulojfoi na
tural deGaIiza,hoir»c nobre, &:
ricOj de íutil, mas peruerío
engenho, dcfcjoíode nouida-
des:ouuioaos dicipulosdehú
Marcosde nação Egypcio, que
vco a Hcfpanha,todos feiticei-
ros A' nicrromáres, dados a vi-
cios,efobremaneiratorpc5.Di
ziaÒ q nas peílbas da Sãtiííima
Trindade náo auia diílinçao,
nc nos caíãmêtos vinculo du-
rauel,antcs fe pocíiafazer diuor
ciocomo,e quádoacaíd híí lhe
S i pare
208
Capitulo L.
parecelle. As almas tinhao por
dcíuíbncia Diuiiia,os corpos
por íogeifos aos fignos cele-
llcs predominantes em cada
mébro detal maneira q vinhaõ
a negar a liberdade. Rcconhe-
cião ao Demónio por autor,
& criador de todo o viíiuel,em
fim enfmauáo outros deíua-
ríos íèmelhantes cm tudo ávi-
da que viuiáo.
8 Có taes meílres. fahio em
breue Pnlcilliano hú monítro
do Infernojmas porqde ordi-
nário as monílruoíídades pel-
lanouidade queté acháo quê
as receba com aplaufo^ achou
Priícilliano cópanheiros , hús
do pouo, outros da nobreza,
alguns tábédo Sacerdocio,em
queentrauãoBiípos taÕ cegos,
éc ignorantes q lhe dcraõ ou-
uidoSj& íeroraocoíeus erros
pello que tinhaÕ de profanos ,
(Vlaciuos , eípalhandoos por
todaHeípanha.
9 Naõ fe pode efconder ta-
tá impureza entre os cõplices
dellartracouíede remédio, foi
o primeiro q fahio a capo Hi-
ginio Bifpo de Cordoua, &
porque elle fò fe não atreueo a
extinguir o peftilencial fogo
que viatãoateado,cõmunicou
o negocio cõ Idacio Metropo-
litano de Merida,o qual cõ de-
mafiado zelo entedeo logo cõ
oBilpo Inílancio principal bu
tor dcPriícilliano,& de palaura
nos pulpitoSj&poreícritonas
cartas o deu a conhecer por he-
rege publicando, & cõdenãdo
feus erros .Foi iílo deitar azei-
te no fogo aos hereges racende-
raõfe inais,caheregia publica-
da,& dada a conhecer por hú
home como Idacio,&moll:ra-
da cõ effeito na peílba de hu m
Bifpo como câncer furioío to-
mou nouas forças,5j do remé-
dio fez peçonha pêra empeo-
rar.Não podia foffrer Idacio q
híj homem fècular perdido, &
cheo de vicios qual era Priícil-
liano foíle mertre deBiípos^ap
pellidandofe por cfte refpeito
meftre,&doutor:íentia muito
q Higinio Bifpo de Cordoua
(aquelleq primeiro denunciou
dePrifcilliano)fe declara fie por
feu dicipulo, Ajútou em Meti-
da hil Concilio,outro em ou-
tra cidade de Luíítania, q Dex-
tro não nomea : vltimamcnte
vedo qné ainda aísy aproueita
uanada,fezcÕfeu zelo ajútar
CõcilioNacional em Cjarago-
ça dos Bifpos de Hefpanha, &
França,ondcja tabê entrara a
cótagiaõ do nouo herege. Vie~
raõ ao Concilio Prelados gra-
uiílimos Phitadio , ou Phe-
dae
IO
Lnmpadio,
2C9
gadio Metropolitano de Nar-
boiía^quejà prcfidira em cu-
rro Concilio no Delfinadoj
Dclííno ArccbifpodeBordeos
aquéa Igreja hoje celebra por
Santo aos z4.deDezébroiLco-
nas Metropolitano de Cartha-
gena,& Lampadio de Braga: &;
lobre todos o grande S.Marti-
nho dcTuron, & outros que
noiucão Dextro, & Juliano.
I o Todos fem diícrcpan-
cia ncuhúa condenarão ao im-
piíilimo herege, cfcus lecazes^
podo grauiílimas penas a que
daly cm diante os cõmunicaí-
íe. Publicou a fenteça, ^ ficou
como Vigairo do Concilio na
queile particular Ithacio Biípo
de Oflbnoba no Algarue,pera-
q Te ainda perfiftiílem em íua
cÕtumacia aggrauaíTe as cêfu-
r3s,& chegaííe a mayores cafti-
goSjinuocando abraço fecu-
lar^&r quando foíle ncceílario
relaxandolhe os q fe achaílem
mais culpados. Nomeaua par-
ticularmente a fcntcnçadoCó
cilio trcsBiípoSjInílancio^Sal-
uiano^ &í Higinio. Os dous
primeiros vendofe afretados,
& condenados pelloConcilio,
por ver íe afsy podião melho-
rar fua caufa dcrao em outro
atreuimento peor ainda q os
1 paliados. Saçraraõ aPrifcilliano
em Biípo de AuiLi^mais por íe
authorizar aLsy,q a fcu niellrc_,
porque imaginaaão clles que
ficariáo có dcículpa,ô*: coran-
do íua cauía, quando íedilIeíTc
q íeguião , nâoahiJ home lei-
go,& profano,mas a hú a quê
íe mereci métos por Rebgioío
fubirão a dignidade de Biípo.
1 1 Os dous Idacios deMeri-
da,& OíFonobaj confiderando
q não podiáo atalhar mal táo
grande fem algúa viclcnciaja-
cudiráo ao braço íccular,&.' ai-
cançaráodoErnperador Gra-
ciano foílem deilerrados fora
de Hefpanha. Afsy íe cumprio
logo por prouizão lua,na qual
mandaua q das igrejas , villas,
& cidades onde foílem acha-
dos , fem rccuríb outro al-
gu , faiflem em termo limita-
do pêra as Prouincias que íeus
minilliros lhe alIinarido.Tiue-
raõ noticia os hereges dellc de-
creto,& antes q juridicamen-
te fe lhe intimaíie íetorao fain
do pêra diuerfos Reinos como
melhor lhe cílaua. OstresBií-
pos Prifcilliano,rníHcio,&Sal |
uiano tomarão a via dcRoma,
leuauãomuitasqueiíras cõtraos
Biípos do Cócilio de C.arago-
ça,ê efpecial cótra os dous ída-
ciosj intêtaráo oífcreccllas a S.
Damafo então Sijmo Pótifice;
S í
mas
2IQ
Capitulo L.
mas como elle jà por outras
vias tiidia informações verda-
deiras do que paílaua, nem
vcr,nemouuir os quis, &a
fe náo fairem efcondidos da
quella cúria fem duuida fo-
rão prcfos , & ca (ligados co-
mo mereciaõ. Saluiano antes
de partir de húa doença que
lhe deu j acabou em Roma em
fua apoftazia,&: pertinácia. Os
dous que ficauao tomarão o
caminho de Milaó, & foraõ
ter com Santo Ambrofio _, o
qual tendo noticia de fua vin-
da logo os lançou de fy , &
não confentio que fe detiuef-
íem na quella cidade. Tão vni-
dosviuiaõ cftesdous fantiíli-
mos Doutores Ambrofio, &
Damafo contra a hercgia^ tan-
to a aborrecião , & perfeguiaÕ
òs autores, & fautores delia.
12, Quando pello Ecclefia-
ftico fe viraõ fem remédio,
ou rccurfo algum , fofpeitan-
do que dadiuas , & oíFereci-
mentos lho abririao , & faci-
litariaõ pellofecular,meteráofe
com os validos doEmperador,
& tanto lhe offereccraõ que
vierão a impetrar outra contra
prouifaõ, peraquea dodefter-
ro fe não executafle,ncmos
Bifpos pudeílcm entender cõ
clles , ou com quem tiueíle
fua voz. Contentes com o deí-
pacho voltarão a Hefpanha
publicando vinhão vitoriofos
defeus contrários.
15 Era poreftes tempos
Voluencio Proconful de Hef-
panha, homem parcial, ami-
go de nouidades , & muito
mais de dadiuas. ConheceraÕ-
Ihe a condição, & com força
de dinheiro o eftimularaó cõ-
tra Ithacio , & como fe fora
de fua jurifdição o Icuaraó a
dar fentença de morte contra
elle^ & fem duuida íe executa-
ra fe o fanto Prelado fenaõ fo-
ra eícondido a França, onde
foi bem ou u ido do Prefeito
Pretório, o qual mandou lo-
go a Voluencio lhe enuiaílca
Prifcilliano, & Inftancio, &
todos os mais, queíe dauaõ
por cabeças daquella conjura-
ção . Como Gregório ( que
aílí chamauão o Prefeito ) os
ouue em íeu poder,remeteoos
a Roma ao Emperador , mas
elles comprando aly os fauo-
res afeus validos fizeraõ inhi-
bir ao Prefeito pêra não pro-
ceder contra elles , nem con-
tra os mais , & que a caufa fe
cometcífeaoVigairo deHefpa
nha de cuja venal j urtiça cÕce-
biaõ ainda melhoresefperãças,
q da do Procõful Voluencio.
14 Su-
LamPadio.
211
14 Sucedeo tudo lílona
ocaíiaõda morcede Graciano
quando Clemente Máximo
íe leuantou com o Império
pello motim do exercito , &
lem contradição de importân-
cia foi obedecido das Hefpa-
11 has, França, Inglaterra, ôc
Alemanha. Nefta mudança de
goucrnoacoftaraó os Bifpos
ídacios ( que ate ly andarão
taõ perrcguidos)com Clemen-
te Máximo, o qual como Ca-
tholico os recebeo com hora,
&c emparou íempre com jufti-
ça : relataraõlhe tudo o que
tinha fucedido , & depois de
bem informado pêra tudo ir
mais fem íofpeita de ódios , ôc
parcialidades lhe pedirão obri-
gallea Prifcilliano , & Inftan-
ciOj & aos feus principais allia-
dos deíTem rezão de Çy no Có-
cilio que então feajuntaua cm
Bordeos, & eftiueíTem pello
quealy fe determinaíTc . Aísy
o decretou Máximo, &:com
cfFeitoosdous Bifpos Prifcil-
liano , & Inftancio foraó pre-
fos, & aprefcntados no Con-
cilio onde também fe acharão
os dous Prelados ídacios . A
conclufaõfoi que a Inftancio
como publico , fk manifefto
herege priuou o Concilio do
Bifpado , & o mandou fair de
toda Hefpanha.-a Priícilliano
remeterão ao braço fecular de
Clemente Máximo, & o íize-
raõ leuar prefo à cidade dcTre-
uiris onde elle puzera íua cor-
te. Scguirãono os dous ída-
cios, accufarãono como Ca-
tholicos,& naõ podendo Prif-
cilliano darrezaõ concluden-
te,dcpois de grades altercações,
ôc muita variedade, veo final-
mente a fer condenado à mor-
te, como herege apoftatadc
noíla íanta Fé . Cortarãolhe em
Treuiris a cabeça com alegria
geral dos Catholicos, ôc gran-
diífima raiua dos hereges. Mas
não acabou aly com ellc fua
preuerfa feita , antes como
Idra infernal cortada aquella
principal cabeça rebentou c5
muitas outras, com grauiífi-
mo danno da Igreja Catholi-
ca, ate que a muita vigilância
dos Prelados Hefpanhoes, ôc a
mefma natureza da mentira,q
per fy vem a cair , ôc desfale-
ce r,dc todo afepultaraõ, no
que valerão muito os Prela-
dos que foraó fuccdendo ne-
fta Igreja , dando principio a
fcu prandc zelo o Arcebifpo
Lampadio,quc como alam pa-
da , ôc tocha de grande ref-
plandor os alumiou.
ij Defte illuftrc Arcc-
S4
bifpc
'•—.-ZXtf^-i'^'-
212
Capítulo LI.
biípo não temos outra me-
moria , nem noticia cio anno
em que morreo. Tinha por
clle tempo que aíliftio no Có-
cilio deC.aragoca oSummo
Pontificado 5aõ Damafo fu-
cc0or de Saó Fclix II. & de Li-
berio, & o Império Occiden-
tal depois de Valédniano,Gra-
ciano, & Valentiniano o mais
nouo ; & o Império Orientai
Theodofio, Por cites annos
faz menção Dextro de dons
Bifpos chamados Lampadios,
humdcOreto, outrode Bar-
celona fuceííor de Paciano pai
do mefmo FlauioDextro.
CAPITVLO LI.
AM DAMA
Pontifce Romano.
r<?Q&,^.r
s o
EMtãogran-
de prerogati-
ua a virtude
dos Santos, q
não fò os ho-
ra a ellcs , mas ainda as cidades,
& lugares onde naceraÕ. A
rczão eftàclara,porqueascou*
ias mais raras íaó as que tem
mais preço-& né todas as ter-
ras daÕ Santos, como não dão
I todas ouro, nem pedras prc-
cioíàs. E afsy aquellas que os
cnáo,^ostemno Ceo por
padroeiros não ha duuiJa que
íaõmais illuftrcs , que as ou-
tras, que os nao tem. Porque
a nobreza das cidades não c5-
íífteíòna clemência dosares,
fertilidade dos cãpos,&magni-
ficécia dos edifícios, mas mui-
to mais na virtude, & valor
dos varões ilíuftres, qucdefy
produzem . Daqui procede-
rão as competências, qucfete
cidades de Grécia tiuerão fo-
bre qual delias auia de ícr pá-
tria do gr ande Homero ,aué-
do cada hua que não podia al-
cançar mayor honra,que ter a
eftc iniígne Poeta por íilho, Sc
natural íèu. A meínia deman-
da moue Caftella ao Reino de
Portugalj querendolhe tomar
pêra (y ao Papa Saõ Damaío
pcra íe honrar, & enriquecer
comelle, ainda que feja rou-
bando ao Arcebifpadode Bra-
ga ,&àvillade Guimarães o
que por tantos titulos he fcu.
L A viila de Madrid hc a
que mais iníilic em eftc íanto
ferícu natural. Trás por íy a
autoridade de Flauio Dextro,
o qual diz afsy.LH^eriofiiccedit
Ditmafus ex Mantua Carpeta-
norú^alíjfacium ex Egeditar^n
Liijitanum,alij Tarraconenfem
. I. ■, I ^Km^a^ ■■■ ^. ■■■■■■■ ■■■— 1^»^ , ua
Quzt
fhro».4H\
Chrifí,. '
SaÕ Damafo.
213
SiculJt. I
Orgf.lhtf
Img Cajf
|^'£■r^.6'«'
\ mar ah.
! Madeira
in difcHT.
montis
Sãn.cap.
147.
CtlGõfal
de '•ttitLt
Grernd.
de Mad
íap.J.
Beuter.p,
,x.cap,2;)
Onuf, d:
Romaum
FontM i
c]ucr dizer, a Liberio íucede
Dainaíocle Madrid 5 outros o
fazem Portngucz natural da
Idanha; outros de Tarragona.
O meímo dizem Marineo Si-
culo, Dom Scbaílião de Oroí-
co , Gregório Lopez Madeira,
& omeltre Gil Gonçalucz de
Auila nas grádezas de Madrid,
onde affirma q eíla villa con-
lerua de muitos annos eíta tra-
dição confiante, & mollraa
Parochiade S. Saluador onde
foi bautizado,& em memoria
de que illo afsy paílou tê nel-
la pintada a Imagem do Santo.
Tarraeona cidade antigua , Sc
nobre de Catalunha pretende
também elle Santo, &allcga
cui feufauor a mefma autori-
dade de Flauio Dextro, & ao
Doutor Bcurcr,que afsy o diz
na fua Chronica geral de hízí-
panha. A Idanha lugar antiguo
do Reino de Portugal, onde
elteue o Biípado que depois fe
paílou pêra a Guarda,pretende
tambcni eíla honra, pella qual
f tz o luear referido de Flauio
DextrOj& Onufrio Veronen-
Ic autor araue na hiftoria dos
Pontinces Romanos impref-
ía em Veneza no anno de 1 j f 7.
3 Em quarto &c vitimo la-
gar, fendo a primeira no direi-
to^ & jiiftiça da cauía, eíHa
villa de Guimarães delle Arcc-
bifpado de Braga dirtante delia
três legoas , a qual tê cite San-
to por íilho, & natural fcu cÕ
mayores fundamentos , & cer-
teza,que os outros lugares que
referimos. Prouaíe claramen-
te com a autoridade de dous
Brcuiarios antiquiíTimos defta
Se de Braga , & de Euora , os
quacs conftantemcnte aííir-
mão na lenda defte Santo q
foi natural de Guimarães . O
mefmo tem o mellre loaõVa-
feu , Ambroíio de Morales,
Garibay,Pincda, Dom Mauro
Caftella Ferrer , hum Marty-
rolopio antiquiílimo da Igre-
ja de Palcncia ondeandáo cilas
palanras. Natale Sanai Da-
mafi Hifpani Vimarenenfis \ o
meímo affirmão o Cardeal ;
Ccfar Baronio , &c Padilha na
hill:oriaEcclehaílicade Hcípa-
nha, íò pella autoridade deífa
Igreja de Braga , que como a
Santo natural de fcu diílrito
Ihefefteja o dia, &c canta offi-
cio próprio , &c o tem por ícu
como couía certa, & aucrigua
1 da. Alem deíl:es teílimunhos
cão autorizados dos eftrangci-
iros temos outros dos natu-
raes, que naõ faõ demcnos cÕ-
i ta:o do meíl:rc André de Re-
zende na carta que eícrcueoa
Bar-
f^afen iri;
ehre. an.
87. &
369.
Aíerales
It.io.c.^.
Garib.in
cõpe.htfi.
l-p.lf.j,
c.)2.
Pineda
mcnarch
Ecclí. p,
DÕ Maié'
rõFerrer
tnhiJI.D.
lac, lih.
2 c, 23.
BartH,
tom. 4.
Padilha
cent.^,e.
fé.
214
Capitulo LI.
tn chrog,
titjvla-
ãrid.
Brito 2.
Fr. Luss
tias An
\jei tig LíT
dimpaq,
98.
SarhfíC
iaremif.
4Í ord li,
ytit.^9
Bercholaineu de Cabedo Có-
nego de Toledo , onde fc lhe
queixados autores qiiequcrc
fazer efte Santo natural dcMa-
drid, ou de Tarragona , o de
Gaípar Barreiros Cónego de
Bayyftr. £uora ^ o dc frei Bernardo de
Brito ^dc frei Luís dos Anjos,
deManoel Barbo ía,&: doutros
que ícria infinito nomear , os
quaes coní^antcmente aíTcn-
tão ícr Saõ Damafo natural
de Guimarães , onde k guarda
feu dia, &c fcílejacomo padro-
eiro, &: a Igreja Collegiada da
mefma villa lhe faz ofticio fo-
lenne pello ter por natural^ Sc
muitos pello mefmo refpeito
fe chamaõ do feu nome.
4 Deixando pois as opi-
niões contrarias,a que refpon-
demos autores Portuguezes,
que temos allegado -, aílenta-
mos por certo que Saõ Dama-
fo foi natural de Guimarães
deíle Arcebifpado de Braga, &
que por Santo nacido nelle, &
por honrarmos efta noíTa hi-
íloria com hú tãoillullrePon-
riíice ,fclhedeuianella o pri-
meiro lugari mas por não fa-
irmos da ordem dos tempos,
Ôr continuação de annosque
leuamos , ©guardamos pcra
efte. Stu pay fc chamou An-
tónio: teueo coníípo em Ro-
o
ma lendo Pontífice _, & a íua
niay , & húa irmã chamada
Irena, ou Evria , como coníla
do epitáfio da íepuitura de q
adiante trataremos . Foy eile
Santo o primeiro Heípanhol,
que ícallcntou «a Cadeira de
Saõ Pedro por morte do Papa
Liberio no anno dc 367. de-
pois de grades altercações en-
tre léus amigos, & os de Vrci-
fino , ou Vrfino Diácono , o
qual, depois de eleito Saõ Dar
mafo , pretendco víurpar o
Summo Pontificado. Mas ve-
do logo nos primeiros dias co
m.o não podia prcualecer con-
tra Saõ Damaío, fobornou cõ
os de fua facção a dous Diáco-
nos homens deprauados por
nome Concordio, & Calixto,
os quaes acuíaraõ o Santo Pó-
tifice arguindolhe que come-
tera hum adultério . Sentio o
Santo muito efte golpe , por-
que como era naturalmente
honefto , Sc guardara íempre
pureza de Virgem,como afiir-
ma Saõ leronymo^ laflima-
uafe de fe lhe arguir hum cri-
me tão alheo de fua honefii-
dade,&de fanta infâmia da pcí-
foa que repreíenraua . Foilhe
neceflãrio defcnderíe publica-
mente,& moftrar ao mundo^
q eftaua innocente. Fez ajútar
hum
Sao DarndÇo.
215
hum Concilio em Roma de
quarenta Biípos ,os cjuacs co-
nhecendo dacaulaoderaó por
hure da culpa de que íora calu-
niado , & condenarão aos fal-
fos acuíadorcs,caftigandoos cõ
graues penas, lançandoos do
grémio da Igreja^ ficando com
eíla approuação mais apurada
a virtude do Sanco. No meí-
mo ConciUo fc ordenou que
a pena q íe auia de dar ao acula-
do fedeíle ao acufador con-
fiando de fua calúnia, & fal-
íídade.
)■ Eftaua a Igreja nefle tê-
po com algúas inquietações,
porque na Oriental eraõ taõ
fauorecidas as heregias de Ar-
riOjquedifficultolamente Ica-
chaua quê publicamente ou-
zaíle profeflkr a Fe doConci-
hoNiceno. Padecião porella
martyrio muitos Catholicos
em Alexandria , Conftantino-
pla ^ & Antiochia , & muitos
varões Santiílimos, Ârdoutif-
fmios a defendiaõ com fcu
exemplo , ÒL doutrina : entre
os quaes tinhaó o primeiro lu-
gar o grande Bafilio, S. Gregó-
rio Nazianzeno , & Pedro Bif-
po de Alexandria. No Occi-
dente eftaua a Chriftandade
em paz , & quietação pofto q
não faltauão em muitas partes
alguns , que prccurauao de-
fender os deíatmos de Arrio:
contra os quacs le oppos va-
ronilmente o Santo Pontífice
aproueitandofe das letras do
diumo, & eloquente lerony-
mo , óc da fabidoria de Santo
Ambrofio Arcebiípo de Mi-
lão contra A polhnar, & ou-
tros hereges , que inquietauaõ
a Igreja cõblasfemiaSj ^' erros
abominaueis,pretcndédo afiir-
m.ar que o Verbo Eterno to-
mara carne humana íem alma
racional , & que as peílcas Di-
uinas erão entre ly deiíguaes.
Fez ajuntar Concilio em Ro-
ma,no qual fe condenou a he-
regiado Ímpio ApoUinar, &as
de todos os hereges da quelles
tempos , como confta de húa
carta do Santo Pontificcefcri-
ta a Pauhno Biípo de Antio-
chia.
6 LcLiantandòfe ncfte tépo
outras heregias , & falias dou-
trinas nas Prouincias do Orié-
te,pera as cortar pella raiz per-
fuadio Saõ Damalo ao grande
Emperador Theodoílo ( que
também era Hefpanhol)ajun-
tafle Concilio geral em Con-
ftantinopla, como erneíícito
fez. Acharaófe nclle 150. Bif-
pos, os quaes conformes to-
dos confeííaraõ a Fe doCocilio
Niccno,
2l6
Capitulo LI.
Niceno , ôc condenarão a Ma-
cedónio, & a outros hereijcs.
Confirmou Saó Damafo tudo
o decretado nellc Cócilio, que
foi em ordem o kgundo, ôc
primeiro Coníhntinopolita-
no^&: hum dos quatro gcracs,
que Saó Grcgono rcípcitaua
como os quatro Euangelhos.
Fez ley o EmperadorTKeodo-
lio em que mandou que todos
os iubditos do Império feguií-
íem a Religião que enílnouS.
Pedro em Roma , & que pro-
fcííauaíeu ruceíTorS.Damaío,
cõdênando todas as mais dou-
trinas que foliem contrarias a
cila. Também fe celebrou em
tempo deíle Santo Pontifice
outro Concilio na cidgide dc^
AquiléiajOnde íe achou Santo
Ambrofio grande perícguidor
dos hereges,
7 Ouue na primitiua Igre-
ja certos Sacerdotes q ííruiaó
nas aldeãs como companhei-
ros , ou vigairos dos Biipos,&:
poriíío fechamauão Chorepif-
copos da palaura Grega , Chore^
que quer dizer aldeã. Eraõ en-
tão neccíTarics, porque como
os Bifpos tinhão reíeruado pê-
ra fuás peíloas prouer aos po-
bres,& partir com elles os bcs
da Igreja j conuinha que ou-
ueíTe quem por outra via os a-
judafie , ^ defcarrcgaíie_,pGr.í
não podiãocom todo o traba-
lho. Depois eítes Chorepiíco-
pos , poílo que de íua iiiítitui -
ção naõ tinhaõ niayor digni-
dade que os Sacerdotes j com
tudo vieraõ por íoberba, &
ambição a víurpar tanto do of-
íicio Hpifcopal , que fe mctiaõ
em alguas acções , &: cercmo-
nias próprias dos Eifpos , &
alhcas do Sacerdócio. Pareceo
ao Santo Pontifice que conui-
nha atalhar a eíla dcfordem, òí
por decreto publico mandou
que naó oui^cííe mais eíles
Chorepifcopos fundado em q
Chrillo Senhor Noflo não ti-
iiera mais que Apcflolos que
íaóos Biípos, & dicipulos a
quem repreíentaõ os Sacerdo-
tes.Dellies Chorepifcopos tra-
tamos nas annotaçoés ao Dc-
cretOjOndccitanjos muitos au-
tores que dellcs falaõ.
8 Ordenou o Papa Sao Da-
mafo muitas coufas ncceíla-
rias ao bem vniucrfal da Igreja^
como foi mandar que todos
os fieis dizim.alícm os fruitos q
rccolheflem, que não fizcílem
tratos vfurarios, nem vfaílem
de feiticcrias j & íuperíliçocs:
mandou que a ^íil]"a dos dias
folénes fc cantaífc â hora de ter-
ça: ordenou q no fim dccada
tn cap.
ti.?.. Ai/lt
68.
F
jlaimo
Sdo Damafõ.
217
to.^.an,
384.
píalmo (e difleíle e toda a Is^rc-
jn Cacholica,, G/ír/rt PãtriJjFi
Iio^if Spiritui Sãfro^cm q íc da
igual, ^perpetuo louuor astrcs
Pclloas da Sátilsima Trindade.
Ordenou mais que íe ca,ncaílc
Ailckiia nas miílas c| íe celebrao
pcllo diícuiío do anno^íédo co
ítumecãtarfe íó pclla Pafchoa.
Mádou cj o Sacerdote antes de
começar a miíla dillcíle a cóíir-
laõ szèralcomo a^jora íe faz. Au
toriiou a veríaõ q S. leronymo
fez ca lagrada efcritura, &í nia-
dou q ic lelíe nalí^rejajporq ate
o leu têpo a mais vulgar,& re-
cebida era dos fetéta Interpre-
tes.Encarregou aosBifpos a re-
fidccia em leusBifpados , mo-
rtrádoiiiecomo era de direito
Diuino.Edificou ê Roma dous
templos íuntuofiíTimos, híi
dentro da cidade em honra de
S.Lourenço Martyr , o qual fe
chama cõmunmcnte S. Lou-
réço inDamafo,outro em lou-
uor dos A poftolos Saõ Pedro
& Saò Paulo no próprio lugar
em que feus íàgrados corpos
forão primeiro íepultados,po-
rtoque Baronio duuida deíbs
fundações.' Acabou as Igrejas
das San tas Virgés, & Martyres
Ruíina,& Secundaj & fazendo
buícar léus corpos os acllou,&
mádou por é ricos fepulchros
ornados dcveríoséíeulouucr.
9 Fez na Igreja Vaticana húa
tonte bautifmal de fabrica ^ &:
grandeza marauilhofajem q no
Sábado de Paíchoa íc íazia a bê-
çaõ das fontes,& íe bautiíauão
todos os cathccumenos,&: mi-
ninos q auia nacidade.Ncílafó
teacõtecco \'\í\ notauel milaí^rc
celebrado o Santo a íolénidade
da béçãoj& foi q chegando hú
home cõ hú filho íeu nos bra-
ços pêra oílereccr ao bautirmo,
, como a gente q concorria era
fnilita,&r/5 a'pci'fo grande faze-
do força hús aos outros por íe
adiantaí^,,^ ícre os|»primeij:os
cahib ao pay a criança na fonte^
de fe foi ao íi3do íení apparecer
por grade efpaço cò Iall:imaj&
cópaixão de todos os q a virão.
Acodio o Sato Põtiíice às iagri
mas do pay q choraua a perda
do filho, & cõ grande cõfianca
noCeo alcançou da Diuina Mi
fericordiaqo minino tornafie
viuo,& faõaciraadarJí^oa.Bau-
1 ■ r ■
tizouo logo o Santo , & reiío
Chriftaõ o tornou a feu pay
com dobrada vida, a da alma
por virtude do lagrado bau-
tiímo , & a do corpo por íuas
orações , & merecimentos.
10 Foi elegante Poeta, &ef-
creueo em vcrfo heróico mui-
tas obraSjparricularméte epita-
T fios
218
Capitulo LI.
fios que mandaua dculpir
nas rcpiil curas dos martyres,
Efcrcueo breue, & clegaiite-
menteas vidas de codos os Põ-
tifices Romanos fcus predecef-
foreSj aindaque Baronio cécfta
obra por alhea , & indigna de
tão excelente iuizo como o de
Saõ Daniaío. Iníticuyo a fefta
da AfsLipçáo deNoíla Senhora,
como diz Genebrardo , & po-
Itoque o Emperador Mauri-
cio a mandou muitos annos a-
diante celebrar ba íe de entêder-,
\]ue eftaua ja ífiilituiid^''cofticí
declara Baronio. , Fez em vida
miHCosmJÍjigres-^cntie ©s.cmae^;
deu virta a hum ccí^o pondo-
Ihe a mao íobre os olhos_,& di-
zendolhe aquellaspalauras. Fi-
des tua tefahmmfaciat. ForaÕ
os tempos em que Saõ Dama-
ío teueo Summo Pontificado
fecundiíHmos de varões emi-
nentes em letras , & íantidade
.como eraõ Saõ leronymo, cõ
q nem Saõ Damalo teue eftrei-
ta amiíade, &í lhe pedia feu pa-
recer j Ôc eoníelho em todas as
matérias de importância, re-
mctendolhefempre as de mais
peio , & confideraçáo ; Santo
Ambroíío Arcebiípo de Mi-
lão, Santo Agoftinho Bifpo de
Bona em Africa, Santo Hila-
I rio em Frãça,S. Balílio Ma^iio,
San Gregório Naziãzeno , Ci-
rilo Biípo de Icrulalem, Santo
Euíebio Biipode Vcrícli , Saõ
Martinho de Turõ, Santo Efré
Syro, Santo Epiphanio,o Ab-
bade Arccnio ^ & outros mui-
tos que íe podem ver emTri-
thcmio,(^Ballarmino.
1 1 Chegando o Santo Pon-
tificc a idade de quaii oitenta
annos , auendo dezanoue três
meies , &: alguns dias ,quego-
uernaua a Igreja de Deos , pal-
iou da vida prefente no anno
deChrillo 385. foi fepultado
"na Igreja que elle fundou nas
Catecumbas onde jà eftauão
Teu pay , may , & irmã, ôc dahy
andando o tempo forão fuás
reliquias trcsladadas à Igreja de
Saõ Lourenço onde rcíplande-
cerão com milagres. Seu nome
anda no Catalogo dos Santos,
ôc fazem delle menção o Mar-
tyrologio Romano, &: o de
Vfuardo aos onze de Dezébro,
que foi o diaJe fua morte. O
Cardeal CeíarBaronio traz hús
verfos, que Saõ Damafo man-
dou por na fepultura de fua
irmã Irena, a qual frcy Luis
dos Anjos diz, que foi com
feu irmão a Roma de tenra
idade aonde viueo ate quaíl zo.
annos dedicada a Deos em clau
íura de rcligiofa não dentro
o
7rirh.de
fnpt.Ec
clcf.
Pell.tr, m
chron, an
'o 370.
t/ím, 4.
a)h 384.
>hlU
No lafd
em
SiíoTaternoII.
í9
em al^um morteiro mas em
iua caia com habito relieioío,
apartada coda das couías do
mundo,& entregue a contem-
plação das do Cco. O epitáfio
diz ais y.
tíoc mmulo fncrat^ Deo nunc
mtmbra quiefcunt,
Etfo ror efi Damaji^ nonuji qui-
ris, Herena.
Vouerdt lucfefe Chrãio cu o»/-
ta mane r et
Virgims a)t merititm fanãus
pudor ipfeproharet.
Bis denas hyemes nec dum com-
pleuerat ^tas:
Propojttum mentis pietas njtne-
randapuelU
Magníficos fruãus dederat me-
lioribusannis:
H,€C germanaforornojlrrnunc
teftis amor is.
Cum fugeret mundum dederat
mihipignus honeflum^
Quamjibt cum raperet melior
time regia c<eíi,
Non timuit mor tem , cclos cum
libera adiret:
Sed dohii,fateor, confortiaper-
dere 'ijit<€.
Nunc-ijeniente Deo noHri re-
minlfcere Virzo
Vt tuaperDominumpríC^et mi-
hifacula lúmen.
CAPITVLOLÍI.
AM PATERNO
11. do nome ^ ou P arruino
XIX. Arcebijpo de Braga.
J OI S. Pater-
no de nobre
geração, &: da
principal gen^
te de Galiza^
dotado de muitas partes, infig-
nes letras , &í grande virtude.
Antes de íer Prelado teue ami-
zade muy direita cõSanto Am
brolío Arcebiípo de Milão ,<!:>:
com Simacho varão muv illu-
ftre, & principal peííoa do Se-
nado Romano,os quaes Iheeí-
creuião^tSi o trarauão cõ fami-
liandade^não fó quaudo eraAr-'
çebiipo dell:a Igreja , mas ain-
da em íecularjConhecendo bem
otalentOj& partes de q era do-
tado. A modcftia_, & exemplo
CO qiieviuiaofazião andar nos
olhos de todoSj^'Jauaõ preço
aluas brandes letras, & dou-
trina. Eilando vaga a Cadeira
Metropolitana , òc Primacial
de Braga , foi eleito pêra ella
porcómimi conientimento do
Clcro,<S>: pouo da cidade pcllos
T:
annos
220
(Capitulo LII.
luUan.tn
\ ehro.pag.
annos de 39Z. 011393. Sagrou-
fe logo com dous BifpoSjhum
chamadoSymphofio de Oren-
íc, outro Diótinio de Aftorga,
Eraõ effces Prelados hereges
inficionados comos erros de
Prifeilliano, & como taes efta-
uão apartados da Igreja , &
condenados pcllos BifposCa-
tholicos de Hcípanha. Tanto
queelles fouberáoque Patcr-
nofora ordenado pellos Bifpos
hereges , & fagrado Arcebiípo
deBraga^fizeraõ congregarCõ-
cilio na cidade de Toledo, onde
juntos todos depois de deícu-
tida a caufa , & bem examina-
da deráo íentença de priuação
contra Paterno depondoo do
Arccbifpado ; & tratando de
lhe dar íuceíTorproueraõ a Igre-
ja Primacial de Braga emSaõ
Profuturo, que de Africa auia
chegado a Hefpanha, como
adiante cm fua vida contare-
mos.
2, Grande foi o horror que
efta fentença do Concilio cau-
fou no coração dePaterno_,náo
por fe ver priuado da dignida-
de Primacial^ que não era na-
da ambiciofo , mas porque c6
ella lhe abrio Deos os olhos
pêra conhecer quã mal aducr-
tido fora é fc deixar fagrar por
Bifpos apartados da Igreja, &
cõdenados por ella. Qi-ieixoufe
aos meíraos Symphofio,& Di-
<5linio , porque fendo elles he-
reges , & condenados por taes
fe atreueraÕ afazer aquelle adio
da fagração. Afeoulhes a cul-
pa _,& tanto obrou com efta
amoeftação a graça Diuina nel-
les que cílando naquelle mef-
mo tempo(eraoannode40o.)
publicado outro Concilio em
Toledo feforaõ ai y todos três
com outros Bifpos, que tabem
osdous auião ordenado afim
de pedirê mifericordia de fuás
culpas com deteilação publica
de feus erros.Chegados ao Cõ-
cilio , & admitidos nellcjSym-
phoíio abjurou em prefença
de todos aquellesPadrcs a here-
gia de Priícilliano,& temerida-
de q cometera em fagrar algús
Bifpos de Galiza , &: a meíma
confiílaõ fez Didinio declara-
do tãbé por nereticos os huros
q em fauor de Prifciiliano auia
efcrito, de que fe faz menção
no Concilio Bracharcnfe tido
por primeiro . O noílo Arce-
bifpo Paterno também cõíci-
fou q fora ordenado pellosBif-
pos hereges,& q íabia a íeita de
Prifciiliano, mas tato que fora
Bifpo fe apartara de todo delia
com ahçáo dos liuros de San-
to Ambroíío,
3 Era
SaoTaterno II.
Bar tojç^,
'Chrijii
238.
3 Era nefte tempo ja mor-
to Saõ Profuturo , a quem cm
outro Concilio celebrado em
Toledo fora dado o Arcebiípa-'
do de Braga com o acima dilTe-
mos. Feitas as confilloés pro-
cederão os Padres do Concilio
a íeiítençadefinitiiiacontra os
culpados ja penitentes, & re-
conciliados. Aonoílb Pater-
no, a Symphoíío, &: a Dióti-
nio rcftituiraó as Igrejas que
dantes tinháo. Porem orde-
narão que não foílem admiti-
dos à comunicação dos Bifpos
ate ferem difpeníados pellaSc
Apoftolica,ou por Saõ Simpli-
ciano Arccbiípo de Milão, que
pêra iílb tinha autoridade do
SummoPontifíce.
4 Com eftas , & outras
fentençasque fe deraó contra
os Priícillianiftas íe fechou o
Concilio , & forão taõ verda-
deiras , &c de coração as ab-
jurações que de feus erros fi-
zera ó eíles Prelados que vie-
raÓ depois a fer Santos , con-
Icruando ate morte a pureza da
Fe que neítc Concilio profeí-
faraõ.viuendo com grande exê
pio, de excrcitandoíe em to-
do o (zenero de virtudes . Ce-
Icbra a Igreja de Aílorga afe-
íiade Saó Diólinio a dous do
mes de lunho . Tem officio
próprio, &nas lições que íe
rezão às matinas fe refere aucr
fido Grego de naçaõ , &: fe c5-
tão muitos adtoi de virtude em
que íe exercitou ; obra Dccs
muitos milagres com a terra
que íe tira de lua íepultura. Sua
vida eícreuê, depois de outros
PadilhajBiuar, & GilGòçaluez
de Auila. A Symphoílo chama
o me imo Concilio velho re-
ligiofo , &a Paterno louuadã-
dolhe o titulo de defeníor da
verdade Catholica ^ & defcu-
bridor dos erros dos hereges,
&Í Dextro lhe chama Santo,&
varão muy pio como adiante
diremos,
S Breuemente foi admi-
tido o noílo Santo Arcebif-
po pella Sè Apoílolica à co-
municação dos mai; Prelados
de Heípanha , como confia
da carta, que o Papa Anafta-
fio eícreueo aos Padres do
Concilio de Toledo, em que
lhe mandaua recebeíllm a lua
communicação o Santo Pre-
lado Patrumo , cu Paterno.
O mcfmo lhe eícreueo Saõ
Simpliciano Arcebiípo de Mi-
lão , como alírma luliano.
Reconciliado jà o Santo Ar-
cebifpo com grande alegria
dos Padres do Concilio co-
meçou logo a entender no ,
Cent. y,
Chr>(l,
38S«.3.
Gtl.Gon.
no theat,
I EccUJtít»
Jlico de
■^ftergi
cap.6.
fhlian.
in aittcr.
p<íÇ.88.
T3
gouer-
222
Capttuio LU.
Ifília» in
in thron
AÍArqttes
no defef.
e, 10,^.2
gouerno de fua Igreja , &
tratar com codas as forças de
apagar ofogodaheregia, que
por fcu Arcebifpado andaua
ateado.Fez ajuntar Cõcilio em
hum lugar de Galiza chamado
Aquas Cclenas, agora o Padrão
conforme algur
ns, ou como
». 1 . cum
an.Chrif.
386.
querem outros o lugar deFaõ
defte Arcebifpado, pêra o meí-
mo cffeico, de que fazem men-
ção luliano , &c o Padre frey
loaò Marques.
6 chegado o anno de Chri-
fto de 405. conforme a melhor
conta, íè ajuntou em Toledo
hum celebre Conciho Nacio-
nal de 19. Bifpos , que errada-
mente fetem por primeiro,ío-
brea mefma matéria da here-
gia de Prifcilliano , a qual ain-
da cftaua eftendida por toda
Hefpanha. Neftc Concilio co-
mo Primaz delia preíldio , ôc
teue o primeiro lugar Paterno
como delle fe ve,& o atfirmão
Dextro Juliano, Marco Máxi-
mo ,& outros autores que ci-
tamos no tratado da Primazia
defta Igreja, onde prouamos
clariífimamente efta verdade, a
qualconfeíTa Biuar nos còmé-
tarios a Flauio Dcxtro,& a tem
por certiífima.Nefte Cõcilio fe
íizeraõ vinte decretos muy im-
• portantes à reformação , dos
1
, 6|.
Chro.fag
49-
in chron.
an ^07.
quaes fe colhe as qualidades, &
partes que requeria o Conci-
Ho tiuellem aquelles que auiaó
deíerminiífros dalgreja.Trata
delle Concilio largamente Pa- jcf„f. ^
dilha na hiftoria Eccleííaftica,
onde põem todos os decretos
delle. Affirma luliano que veo
acfte Concilio de Toledo,em
que prefidio o nollo Primaz
Paterno , Exuperancio Bifpo
Metropolitano de Rauêna va-
rão fanto, cuja Igreja preten-
dia contra a de Milão, íer Pri-
maz de Itália. O mefmo diz
Flauio Dextro. Era Exuperan-
cio pretendente da Primafia de
Italia,& com tudo não preíí-
dio no Concilio , antes prefi-
dio Paterno Metropolitano de
Braga,& Primaz de Hefpanha:
donde fe tira grande argumen-
to em fauor delia Igreja, a que
reconheceo, &c refpcitouade
Rauêna como a Primaz.
7 O Padre frey loão Mar-
ques quis conjeiturar .contra
ella prefidencia taó euidente de
Paterno , dizendo que no Cõ-
cilio Toledano auido comíí-
mente por primeiro nas col-
lecçoes de Garcia de LoayíajOn
de elle aífir ma que foi Saõ Pro-
futuro eleito Arcebifpo dcBra-
ga ,não prefidio Paterno aísy
mefmo Arcebifpo defta Se , fe
não
d. cap. 10
í'2.
S^o Paterno II.
22S
não outro de difterente lirrcía,
íe bem do melmo nome dado
por ■ rezão q Paterno Bracha-
rcníe elhuia então depoílo do
Arcebilpadoj que adiante no
Concilio de Aquas Celenasfe
lhe cornou a reíiicuir. De am-
bas eílas couías coníla o con-
trario, & com cuidencia como
ja moRramos , porque Pater-
no Bracharenle prcfidio nefte
Concilio como Primaz ^ ja.
depois de rcíbtuido a Tua digni-
dade. As conjeituras do Pa-
dre frev loaõ Marques naõ po-
dem valer mais que a autori-
dade de três hilloriadores tão
oraues como Flauio Dextro,
Marco MaximOj«5>i luliano, &c
os próprios aélos, ôí modo de
proceder do Concilio , onde
Paterno Arcebiipo de Bragaíc
chama prcíidente, ôc propõem
em primeiro lugar o queiede-
ue tratar. Tambem.preíidio no
de Aaucfs CeienaSj& nelle con-
denou a heresia dos Prilciliia-
niílas reconciliado ja a Igreja,
>5j rcllicuido a íua dignidade;
& aísy mal podia aly ler reo,&
prehdente juntamente. Se
aduertira o Padre fr. loaõ Mar-
ques q erte Concilio de Aquas
Celenas antecedera no tempo
ao que anda com nome de
primeiro de Toledo, fuppofto
que nelle faz reconciliado a Pa-
terno,naõ ouucrade euardara
eleiçáodeProfuturo peraquã-
do ella naõ era nccclíaria, pois
Paterno ellaua hábil peia íer-
uirluaPrelaíia^òc com eífeito
reílituidoaella.
8 Fechado o Concilio de
Toledo em que prefidio Saó
Paterno, elle le veo pêra a
lua Igreja de Braga, onde con-
tinuou com a obra que tinha
começado , qual era a pagar de
todo a heregia do Reino de
Galiza, <Sj plantar nelle a ver-
dadeira Fe, (V dou crina Catho-
lica . Ocupado nelia obra^ Ôc
outras de grande coníideraçaOj
& importância o achou a mor-
te no anno de 407. em que foi
gozar da bemaueniurança, de-
pois de auer trabalhado, & pa-
decido muito em feu officio, an.cbyf
ôc obrigação Palloral. Santo 4*7''*-7'
lhe chamaDextro,e varão mui-
to douto, Sc pio. Saó as palau-
ras. Sanãus Paternus Epifco-
pus Bracharenjis , ^ui Concilio
Toletano 19. Epifcoporum pr^-
fiiit multis labor íbus , íít* tegri-
tudinibus anxius moritur , njir
egregiè doãus , i^fpius. Juliano
nos lugares citados lhe chama
também Santo , & varaÓ dou-
to , òc prudente, & nos o no-
meamos afsy fundados na au-
T4
toridade
21 4
Capítulo LI L
cap. j.
toridade de dous aurores, tão
graucs , & antiguos. Foy Pre-
lado deíla Igreja muis de it.
annos-, era Summo Pontífice
da Igreja Promana por ell:e ce-
po depois dcSiricio,&Anafta-
lio,o Papa Innocecio I.& Em-
peradorcs do Oriente, &í Occi-
dente Arcádio, & Honório fi-
lhos do s^randc Thcodoíío.
o
9 Por eíles annos, como dif-
femos no principio delia hi-
íloria, entrarão em Hefpanha
as nações Barbaras dos Godos,
AlànoSj Vândalos , & Sueuos,
os quacs a íenhorearão , Sc re-
partirão entre íy ficando qua-
lí cadahua de luas Prouincias
íogcitas a feu Rey particular.
Aly diflemos como os Sueuos
ficarão nas terras que hoje faó
da Coroa de Portugal, & parte
do Reino deLcaõ.Por tanto da
qui cm diante iremos aponri-
do os Reys que íenhoreauão
Hefpanha deixando a fuceífaõ
dos Empcradores que ti-
nhaõ perdido o me-
lhor delia.
CAPITVLO LIII.
A M PROFVrvRO
I. do nane XX. Ârcebifpo
de Braz^.
AQVELLE
CóciliodeTo
icdo,onde por
Ic deixar íagrar
dos dous i3ií-
pos então Priíciliianillas Sym-
phofiOj&Didinio diííeiíios to
ra priuado de lua Cadeira S. Pa-
terno, acrecencamos logo fe
lhe dera pcllos Padres do Con-
cilio por íuceílbr a Saõ Profu-
turo. íuliano o faz vindo a ^"i'^»''»
Hefpanha de Africa dizendo. A '
Profiiturus presbyter AfriCíC '
ijenit in Hijpanidm^ip' oh egré-
gias ^uirtutes^ Iff mentis fanãi-
MÊemfuccedit Paterno in Sede
Bracharenji. Foi efta fuccflãõ
naó pella morte de Paterno,
porque então Ihefucedco Pan-
craciano, como em lua vida di
rcmosjmas por fua priuação,
& depoííção do Arcebiípado
pello crime, que na fagraçao
cometeo,admitindo a cila Bií-
pos hereges tendo obrigação
de
Dtftnfor
Sao Profuturol.
2 2$
Femicto
6o. í. j.
biijor nc-
ner.
de os euitar como Cacholico,
(Sede os calligar como Metro-
politano íeu c]ue era , & como
Primaz de todas as Igrejas de
Hefpanha.
3 Não he taõ fácil de al-
cançar a caufa que tirou aSaÕ
Protuturo de Africa pêra o tra-
zer a Heípanha. Conjeicurao
Padre frei loaõ Marques íeria
mandado por Sãto Agollinlio
(cujo dicipulo diz foi,<5' ermi-
tão leu no niolíeirodoHorto)
ao primeiro Concilio de Tole-
do, pcra que aílilliíle nelle , Sc
dahy paflaíTe a Belém com as
cartas que do mefmo Santo le-
uaua a Saõ ler ony mo j & que
aqui no Concilio vendo aqucl-
les Padres íua grande íabidoria,
& rara modeiíia o elegerão por
Arcebifpo derta Sc na vacância
de Paterno, Pcra prouar ella
conjeituraaííenta como prin-
cipio verdadeiro que efte noílo
Profuturo heaquellede quem
fe faz menção nas cartas lo. &
149. de Santo Agoílinho , húa
peraSaõIeronymo , & outra
pêra o meímo Profuturo.
5 Naó falta quem duuide
defte juizo, & cõjeituras do
Padre frey loaõ Marques no
particular do noílo Profuturo
fer o portador das cartas de
Santo Agoítinho pêra Saõ Ic-
ronymo , &c aquelle a quem o
mefmo íanto efcrcue. Os mo-
tiuos faó que ao tempo que
íanto Agoílinho eícreuia ao fa-
grado Doutor era ainda Sa-
cerdote, &c naó Biípo como
elle o diz em outra carta_, fizé-
do menção deíla primeira que
Iheenuiaua por Profuturo c5
eílas palãims. Quasad te adhuc
presbyter literas pr^paranera
mittereper quendam Profutu-
rum fratrem noflrum tfc. E
como Santo Agortinho foi
eleito Bifpo no anno de3,9j".
parece muy cedo pêra mandar
ao primeiro Concilio de To-
ledo celebrado no anno de 400
a Profuturo, fmco annos an-
tes de elle fe ajuntar, & alguns
mais ie fe celebrou no anno de
405. como tem Dextro, &: ou-
tros autores.
4 Coníirmafe eíle funda-
mento côas palauras do meí-
mo íanto bc ponderadas. Diz
elle a São leronymo que jà lhe
tinha eícrito pella via de Pro-
futuro j mas que eleito Bifpo
naquella conjunção naó pode
fazera jornada, aísy pello im-
pedir a noua dignidade , como
porem breue morrer. Saõ as
palauras. Dum proficifci difpo-
nit collega nobisfaólus/s" Epif-
copatus farcina detentus hreiíi
defunãus
22Ó
Capitulo LI 11.
deftmólus eít. Onde clariííima-
mente o íaerado Doutor da a
entender que Profucuro na
Africa j òí antes de íair delia,
foi tomado pêra oBiípado que
breuemente largou , por Deos
o ieuar pêra o Ceo j donde íe
ve quedefta íua jornada pêra
Belém a fmco annos, os Pa-
dres do primeiro Concilio de
Toledo lhe não podiao dar a
Cadeira de que priuaraõ a Pa-
terno, nem osllnco annos íe
podião declarar por aquellcs
termos. Breiíi defimãus efi,
que denotão tempo mais cur-
to , &c abreuiado.
5 As rezocs referidas com
quefe impugnão as conjeitu-
ras do Padre Marques temais
de aparência que de força. A
nos vainos tanto em Saó Pro-
futurofero dequcfala,&aquê
cfcreuc o SantoDoutor,que (ò
quando com rezoês euidentes,
íe nos prouaííe era outro , dei-
xaríamos de o ter por tal . Di-
gamos primeiro o modo, &c
òcaííão porque veo a Hefpa-
nha,&: a que fim, & depois di-
remos como íe não encontra
com o que delle achamos em
Santo Agoftinho relponden-
dois rezoes^quetroxemosem
(-ontrario.
/: Entrou Profuturo em
oeníamento , ôc aílcntou con-
ligo de pcrigrinar aos iantos
lugares de lerufalem 3 deu con-
ta de leu intento a leu mellre
Sáto Agoílinho,oíanco Dou-
tor lhe aprouou aquella fua
ida; pcdiolhe depois que em
Belém íe viíle com Saõ le-
ronymo , que então aly viuia,
Ôjoviiitaík de íua parte, &
ihedeíleas cartas que porclle
lhe eícreuia.Sobre tudo lhe en-
comendou quiíeííe faber do
mcfmo Saõ leronymo que
íentia a cerca da origem das al-
mas ponto que íeduuidauai&
ignoraua tanto por aquelles
tempos . Vltimamente lhe a-
coníelhou quifeíle de caminho
paílar por Hefpanha, & achar-
íe em algum dos muitos Con-
cilios que nella íe celebrauão
contra os hereges Priicilliani-
rtas 5 &: aduertir cõ grande c5-
ííderação o que aquelles Pa-
dres dilfiniao acerca da doutri-
na de Priícilliano, queaffirma-
ua ferem as almas da fufran-
cia de Dcos , & relatar tudo a
Saõ leronymo , peraque elle
viftos , & examinados os De-
cretos das Igrejas do Occidcn-
te^pudeíle melhor reíponder-
Iheao que porelielhe manda-
ua perguntar.
7 A parelhoufeS. Profuturo
SaÕ Profuturo I.
227
pcra a jornada, tSc primeiro tra-
tou da de Heípanha peta onde
partio. Chegado a cila, faben-
do que em Toledo íe tinha pu-
blicado Concilio, fe quis achar
nclle , de como difle que era
dicipulo do grande Agoitinho,
&: hia enuiado por elle aSaõ
leronymo , não obftante fer
ainda Prés bytero3 lhe derao lu-
gar entre os mães Bi{poSj& foi
hum dos que affiíliraõ no Có-
cilio. Tratouíe aly acauíàdc
Symphoíío,DidtiniOj &í Pater-
no na forma que no capitulo
paííado contamos. Votou nel-
la Saõ Profuturo, falou tanto
ao certo , & tanto como dici-
pulo de quem era,que logo to-
do aquelle ajuntamento pos os
olhos nelle pêra grandes cou-
fas. Sucedeo pello difcurfodo
Conciho que os dous Biipos
Symphofio, & Diótinio forão
auidos, cv' condenados por he-
regeSj& Paterno quecomelles
fe lagrara por indigno do Ar-
cebilpado que poíluhia, pello
queopriuarão logo aly dellc,
& puzcraó como vimos acima
ê feu lugar aS.Profuturo.Não
valeriío ao nouo eleito efcuzas
alo-uas, ouue de abaixar os
hombros à carga, & deixar os
intentos de fua perigrinaçao.
-Vco c!e Toledo pêra Braga , vi-
nco poucos annos no Arcebis-
pado , (Sc cm breue tempo fe
foi gozar , naõ da ler u falem da
terra , pêra onde hia , mas da
Ccleftialj premio de feus gran-
des merecimentos.
CAPITVLO. LIIII.
AIVSTASE O D I S-
curfo pajfado com o que de S.
Profumro efcreue Scito Ago-
flinhoirefpondefe as obieiçoes^
Í5J' declarafe quantos Conci-
ctlios eUãO infertos uo pri-
meiro de Toledo .
Aõ encontra
o prcfentc dif-
curíooqdcS.
Profuturo ef-
creueo o San-
to Doutor, fendo ainda Presby-
tero^a Saõ leronymo , que por
hú irmão feu chamado Profu-
turo lhe tinha primeiro man-
dado cartas. Perquendamfra-
trem nojlrum Profuturum. Bê
fe íabe que osBifpos cliamão
a outros Bifpos irmãos ,' & do
mefmo modo os Sacerdotes a
outros Sacerdotesj chamar Sá_
to Agoftinho Sacerdote a Pro_ ^
fi
uturo
228
Capitulo LU II.
futuro irmão foi chamaríhe
Sacerdote, Tal chama ao noílo
Profaturo liúiãiio. Profuturus
Presbyter .4/>/Víí,ApareIhoufe
pcraa jornada da terra rantaj&
com eíícito fe partio a Hefpa-
nha Profuturo , liio diz fanto
Agollinho. Dumproficifci dif-
poivt ^ não de Africa pêra Heí-
panha, mas de Hefpanha pêra
Palcíiina fegúdo melhor íc co-
lhe úcS. ícronymOjO c|ual auê-
do às mãos as cartas de fanto
Agortinho refpondendo às q
leuaua Profaturo diz. Et item
Profuturum rctraSliim de itine-
re^tf EpiJcopumfaãnm ^udoci
morte conjumptus e(i , onde a-
qucilas palauras ^ retraãum de
itinere , faò a declaração do
proficifcidifponit. Ebemfe vc
que quem he tirado do cami-
nhoja eífaua ncile^como çm
Hefpanha cllauaS. Profututo
onde foi feito Bifpo como o
era fantoAíToftinho.iflo he no-
bis coUega jaãns ^ não qucja
então fanto Agoíiinho quan-
do fizcraõ Bifpo a Profuturo o
foílèjporque a eleição defte pê-
ra Braga fuccdeo primeiro que
a do fanto Doutor^íc não que
comocfcreuea faõ leronyrao
ja Bifpo diz que Profuturo o
foi como ellc o era. As palauras
de íanto Agoílinho , breui de- I
fimãus efi^ &Í as de íaõ lerony-
mo_, <ueIoci morte fub tatus eíi^
reíponJcm ao pouco tempo
j que Profuturo gozou a íua
Prelazia , leuandoo Deos pcra
íy em menos de dous an-
nos,
t Ficará eftedifcurfo mais
claro íc íe diílinguirem bem os
Cócilios que naquelle chama-
do primeiro de Toledo andão
infertos.Sinco diílintos, &di-
uerfos defcobrirà aly quem fi-
zer diligencia, porque taqtos
eílão claramente no meíhio
texto, & todos íínco ajuntou
em hum Garcia de Loay faj por
ventura com bom fundamen-
to, porque todos pertenciaõà
mel ma matéria , Sc íe congre-
garão
to.
3
fobr
e o me imo argume-
Digamos a ordem ,& an-
nos em que foraõ celebrados.
Ajuntaraõfc alguns Prelados
deHçfpanhaem Cóciliocõtra
os Priícillianiftas , íizerãonos
reconhecer fcus erros,&£cmcr
íuasccnfuras. Forao cõuenci-
dos por hereges Symphoíío
Bifpo de Orenfc, & Diítinio
Sacerdote, elfcs tomarão o ca-
minho de Milão, 3c foraõ va-
ler íe da autoridade de fanto A m
broho.Ouuioosbéofanto, 6c
pclla emmenda que lhe pro- j
meterão.
S^oProftituro I.
229
meterão ( comando a palaura a
Sympholio (^ náo ordenaria
Biípo a Did:inio)os enuiou ao
Concilio, qdenouo fcpubli-
cauaem Toledo, cícreucndo
aos Padres delie íirandes coiiías
c luaabonaçáojd: dado miúda
conta de ícus propofitos . Em
íaindo ceMiláo mudarão de pa
rccer.poiq Symphoíio íagrou
Biipode Ailorgaa Dicl;inio,&
ambos íagrarãoa Paterno Ar-
cebilpo delta Igreja. O nouo
Concilio a c] íanto Ambrofio
eícreuia le celebrou fem os três
apparccerem,, pelloqforão em
auíencia condenados cm priua-
ção de fuás dignidades,^: na de
Paterno foi pofto Profuturo,
como temos dito, tudo pellos
annos de 391. ou 393. em que
fanto Agoftinho ja viuiaem
Bona depois do bautifmojpar-
ce fecular^parte Sacerdote.
4 Apertados os três Bifpos,
Paterno,Symphofio, & Diól:i-
nio com a noua condenação,
começarão a entrar em fy , & a
reconhecer íeus erros, & peraq
fua penitencia foílea todos no-
tória acodirão a outro Cocilio
no anno de 4oo,ou de 405'. que
tambe cm Toledo fe ajuntaua,
&: aly com grandes lagrimas
conreflarão fuás culpas, &ab-
j urarão a hcregia , dctellarao a
I
PrifcilIiano,& íuadoucrinaríi- |
nalmencealy íe mollrarao vei- '
dadeiros,& Heis CatlioUcos: &c
foraõ outra vez admitidos ao
grémio da Igreja j & viando a-
cjuclles Padres de íuabcgnini-
dade rellicuirão osnouos pe-
nitentes a íuas Igrejas. Sym-
phofioieíicoucom ade Orê-
fe, Diólinio com a de Aílorga,
Paterno com a de Braga vaga
jàpor morte dcS. Protuturo,
que nclla tora cm leu lugar
prouido.
5 Muito foi o exemplo dos
três Rifpos reconciliados pêra
bê de nolla tanta Fe, mas eraõ
por outra parte em graõ nume-
ro os hereges , tomauao cada
dia nouas torças ^ dauão calor
com a potencia, &furoraíua
feita, em fim naõ perdiaõ pon-
to em a publicar, & dilatar,íem
embargo do que nos''Conci-
lios paliados fe tinha decreta-
do. Tornouíe a ajuntar ou-
tro Concilio em Toledo no
Pontificado de ínnocécio pri-
meiro, não muito adiante do
anno de 40f.Prcíidio nelleo
nofioS. Pater no jàrecõciliado,
6 rcftituido a íua Igreja, a que
como a Primaz de toda Helpa-
nha cabia, & pertencia de direi-
to aquclla prclidencia.
6 Tornarão dahy a mais de
V quarenta
230
Capmlo LIIIL
quarenta annos depois defte
Concilio a leuantar cabeça os
PriíciUianiítas. Gouernaua en-
tão a Igreja de Dcos o grande
S. Leaõ Papa. E como o zelo
deíua Fe o fazia acudir mais de
prcíTa onde o perigo eramayor,
efcreuGO a S. Tonbio Notário
da Se Apoftolica Bifpo de
Allorga, &íuccílbr de S. Dióti-
nioq cllccom as vezes Apo-
ftolicâscjuclhe daua fizeíle a-
j untar hú Concilio^emq de to-
do puzeíle fim à maldita feita
de Prifcilliano. Afsy fe fez , &
nerte Concilio fe ordenou a re-
gra da Fèq depois fe mandou
ao Arcebiípo de Braga Balco-
nio pêra lhe dar fua autoridade
como Primaz, òc a confirmar,
pois fenão achara prefentc no
Concilio r fucedeotudopellos
annos de 448.
7 Temos diftintos finco
Concilies. O primeiro em que
Symphofíoj & Di(5tinio fairao
a primeira vez cõdenados qua-
do fe forão valer de S. Ambro-
fio.Segúdo oaqfantoAmbro-
fio efcreueo em fauor de Sym-
phofio,e Di(5tinio_,& elles pro-
meterão, mas naõ quiferaÕ ap-
pareccr , & forão condenados
em aufcncia.Terceiro oemq jà
penitêtcs juntamente có Pater
no, a quem tinhaõ fagrado , fe
foraòapprefentar,&: ouueraõ
abfoluição reftituidos a feus
Bifpados, Quarto o emq prefi-
dioS. Paterno comoPrimàzdas
Hefpanhas em têpo do Papa
Innocenciol. Quinto o em q
eftabeleceoarcgradaFè,^ pre
fidioS. Toribio fendo Síímo
Pontífices. Leaõ Magno. To-
dos eftes fincoConcilios andão
infertos naquelle primeiro de
Toledo , q íe diz celebrado an-
no de 400. ou como te Dextro
anno de 405. & todos hc necef-
fariodiftinguir pêra fenão cõ-
meteréna hiftoria os erros em
que cairaõ por falta defta aduer
tencia grauiílimos autores.
8 Moftremos agora como
de todos eftes finco Concilies
fefaz méção nas aílas do q an-
da nomeado por primeiro To-
ledano. Faz fe méçaõ daquelle
primeiro por rezão de cuja ícn
têça,& penas contra os hereges
diflemos fe foraó Symphofio,
& Didinio valer de fantoAm-
brofio,& do fegíjdo, cm q naõ
quiferaÕ apparecer,& foraõ pri
uados de fuás dignidades naql-
las palaurasq começão.Aí<í^»ií
«Oílonde os Padres dizem que
bem fe deixa ver a paciência q
vfaraõ cõ elles aindaq naõ qui-
feraÕ appareccr noConcilio de
Toledo pêra onde os citarão,^
eh a-
Sao Prof^Uíro L
âsí
^Ot^^t^^^JÊà^ámi
chamauáo pêra ícrem oiuiidos I
ponque naõcompriraõas con-
dições cjiie elles meímos aly
puícraõ na preíença de íanto
Ambroíio. Prometerão ao ían-
to atemorizados do primeiro
Concilio que íe achariaõ no q
de nouo íecõgregaua, & Sym-
phoíío naó lagrariaBifpo a Di-
clinio.Nem lu!a,ne outra cou-
(a compriraõ, porque naó qui-
íeraõ apparecer no Concilio,
nem fizeraõ caio diílb,& mui-
to menos da íagraçáo de Diéti-
nio^que fora proiíibida a Sym-
pholio.
5> Do terceiro cm que os
tresBiíposfe reconciliarão, &
outros mais confta daquellas
palauras dosPadres,quc come-
ção.Excepufunt-, em q depois
de promulgados os Cânones,
qaly tinháo ordenados man-^
daraÕ que fe leílem as confif-
íoésdos Biípos reconciliados,
ô: todas vinhão aífinadas por
clles entre as quaes eftà a do
noílb Arcebiipo S. Paterno.
IO Ao quarto Cocilio em q
elle prefidio pertence a carta de
Imiocenciol. que no melmo
Concilio anda, c^ entrou no
Pontificado noannode4oo.ou
40i.Do quinto he a regra da fè
que Te mandou a Balconio lu-
ceílor de S, Paterno em tépo de
S. Lcaõ e] no anno de 440. foi
eleito Sumo Põtificc.A elle vi-
timo cõ todos os quatro iníèt-
tos nelle,& celebrados é annos
taÕ diueríos chama a coUecçaõ
de Loayía Concilio Toledano
primeiro.
C APITVLO. LV.
SEGVESE O MAIS OVE
pertcce d yida de. S. Pro futuro.
Ornado agora
ao noíloS.Pro
futuro<,& aoan
no de ília parti-
da de Africa pê-
ra Heípanha/Ha podia muy bé
fuceder no primeiro em q o
fanto viueo é Bona Sacerdote,
irtohe no de 3 92.. ou 3 9 3. & lo-
go no niefmo ano fer eleito no
Concilio de Toledo por Arce-
biipo de Braga (aindaq íuliano
poé alguns annos adiante ella
eleição)e morrer poucO depois,
íicádo efta Igreja vaga ate o íc-
guinte Cócilio de Toledo ceie*
brado no anno 400. ou 405. cm
qaella foi outra vez rertituido
S.Paterno-nêauemos deimagi
nar q a morte apreíiada de S.
Profuturo o não deixou gozar
dcíeu Arcebifpado alguns an-
nos, porque a lerem íb dous,
&c ainda três , bem (c podia \
dizer
cljyoHi
Vi
232
CaptuloLV.
dizer dellc que pouco o logra-
i'a,on que brcuemente o logra-
ra^ iié nos víamos inconuenié-
tepcralhc não ellendcrmos a
vida ate perto dos tempos do
Concilio em que S. Paterno foi
relUtuido, iíto he ate oanno
de 400. íe os termos porque fa-
laõ nabreuidadede lua morte
fanto Agoftinho , & íaõ lero-
nymo o não impedirão. Fica-
íe aísy dando melhor rezaoa
duas coufas que deforça íe haó
de perçútar. A primeira como
íaindo de Africa S, Profuturo
Sacerdote lhe eícreue fanto
Agoftmho como Bifpo,& cõ-
fulta fobre a eleição do Primaz
de NumidiajOuCarchagoj&q
pertencia lílo a hu Sacerdote
qual foi S. Profuturo ê Africa?
Refpondcfe q bc podia ferlhe a
carta efcrita a Braga,e querer fa
ber o SátoDoutor o q lhe pare
cia daqlla eleição.E q muito he
cõfultaííe a húBifpo irmão feu,
a que clle chamaua^^/í^r ergo.
z A dillancia dos lugares não
tira a comunicação antes iílb
faõ c^MUs^amicorÚ colloquia ab-
j^/?f íi.ComoProfuturo era ho-
me de erande iuizo tinha mui-
: ta noticiadas pefloas,q naquei-
la dignidade podião íer eleitas,
quer íaber delle fanto Agolli-
nho, qual julga por de mayo-
res merecimentos . Não foi a
morte de Profuturo taõ apreí-
íada que não deíle lugar a eíía
comunicação.
3 A fegunda coufa que fe pò
de perguntar hecomoíendoa
morte de S. Profuturo noBiípa j
do taõ apreílada , que parece
nem pêra íe fagrar lhe dão tem-
po Santo Agoftinho, & S. le-
ronymo cõ aquelles feus tão a-
pertados termos. Breui defun-
ãws , "veloci mortefublattís , S.
ProfuturoBracharenfe teue va-
gar pêra cõfultar a Se Apoílo-
lica em coufas tão graues , &c
auer delia repofta ^ polia em
execução como no Concilio
Bracharenfe auido commú-
mente por primeiro fe refere.
Dizem aly osBifpos congrega-
dos falando cõ Lucrécio. Pr^-
cipue cum iff de cateris quibuf-
dacaujis insíruâiione apud nos
Sedis Apoflolica habemus , qu<e
adin[lruãionê quÓdâ ijenerad^
memorize pr^edeceJ^orislpeUriPro
futuri ab ipfaBeatifsimi Petri
Cathedra direãa ^í/.Principal-
mête tendo nos inftrucção da
SèApoftolica lobrc certas cou-
fas,a qual veo dirigida daCadei
ra do BemauéturadoS, Pedro e
repofta de híía pergílta q lhe fez
antií^uaméte voílo predeceílbr
Profuturo de boa memoria.
Depois
SaoProfuturo L
i3i
Depois ordena o Concilio que
as Miíías íe digão com as cere-
monias, Òc pellaordé queaSè
Apoíloiica deu por eícrito a
Profuturo \ que ninguém no
modo de bautizarfe aparte do
que íempre vfou a Metropoli-
tana de Braga , o qual modo
ouue por eícrito da Se Apo-
íloiica Profuturo . Pêra todas
crtas coníultas por mais eftrei-
tos que pareção os termos dos
dous fagrados Doutores q jà
referimos ^derão lugar a Profu-
turo os aniios q neílalgreja vi-
ueo,porq quando menos,pella
conta de luliano foraõ dous,&
podiaõ fer três , òí mais fem fe
fizer violência algtJa às palauras
referidas.
4 Por não tornarmosdepois
à duuida que aqui logo fe pode
refoluer, dizemos q dos dous
Profuturos Arcebifpos defta
Primacial,o de q imos eícreuê-
do foi o de que falou o Cõcilio
de Braga nas palauras referidas,
òí não o fegundo do nome cu-
ja vida adiante terá feu lugarj
porq clfe fegildo como aly ve-
remos viuco pellos annos de
Chriífo $t$. ôc o Concilio
como diremos na vida deLucre
cio fc celebrou no de 563 .ôcnão
parece eí paço o de 3 8. annos, q
diftoudoCõciliOjpcra fe dizer
nellea Lucrécio de Profuturo 1
W.Quondam i:enerandte memo-
riíêprsdecejsoris nu Profiituri.
Melhor caê as palauras fobre o
Profuturo I. do nome cuja vi-
da imos referindojpois naqucU
le tépo era falecido auia mais de
163. annos, né o II. Profuturo
em efpaço de hú anno j ou ain^
da menos q durou nefta Igreja,
podia emprender as couías que
aly os Padres do Concilio atri-
bué aoProfuturo de que falão.
5 Reífadiícutirhúa cãjeitu-
ra do Padre Marques em quáto
faz a S. Profuturo dicipulo de
Santo AgoíHnho, & ermitão
da fua ordem no morteiro do
Horto.Temefte juizo grande
contradição nos Cónegos Re-
gulares de fanto Agoitinho , q
querendo pcra fy ao fanto Ar-*
cebifpo Profuturo não íofrem
que outrélho tome , Pennoto
religiofo do meímo habito , &
cónego de faó loaõ de Lateraó
quer prouar que lhe pertence
trazendo pêra iíío algunsfun-
damctos dos que jà referimos,
í?íaque temos dado foJução.
Porem a religião dos Ermitães
de íànto Agoftinho tem por fy
mais fundadas rezoés pêra dc-
fcder que he efte fanto feu^ tra*
las o Padre Marques onde fe
podem ver.
V3
6 Alem
234
(Capitulo LIIII.
Caro ~ad
Dext.an.^
^19 foi.
144.
6 Alem das que elle apon-
ta ha outra mais eÔicaz^ eíla he
o titulo dchúa carta ^ que Pau-
lo Orofio eícreueo de Africa a
efte Santo Prelado , o qual diz
afsy . Saneio^ i^ ijenerabili Di-
ro eiufdemfub Auguflino ercmi
condifcipião Profuturo Epifcopo
Bracbarenfi Orofius preshyter,
quehe o meímo que chamar
Paulo Oroííoafaó Profuturo
íeucondicipulo no meímo er-
mo debaixo de Agoftinho, &
confeílar que ambos erao er-
mitães do mefmo Santo. Que
Paulo Orofioo foíTeconífa de
Flauio Dextro como diremos
em fua vida. Efte titulo dei-
xou notado o padre frei Luis.
dos Anjos em huiiiliuro em
que copiou varias coufas que
tirou de liurarias que leo em
Remos eftranhos quando tra-
zia entre maõs as Chronicas
defta Ordem. Não diz on-
de achou as palauras referidas^
porem Trithemio faz menção
de hum liuro de Epirtolas de
Paulo Oroíío, o qual podia
eftar em algúa daquellas liura-
rias que vio , & reuolueo o
padre frei Luis cios Anjos^ po-
lloque dclle nao tenhamos no-
ticia. Do mefmo parecer he
também Rodrigo Caro , & fe
acoilaà opinião que affirmaq
foi faõ Profuturo monjCj ou
ermitão de fanto Agoftinho,
6 traz pêra ifto a autoridade
de luliano, que acima referi-
mos.
7 Fundou faõ Profuturo
alguns mofteiros, ou eremito-
rios neíte Reino- Conjeituras
ha que foi fundação fua, & re-
colhimento de ermitães deíla
Ordem o mofteiro de SaõMar-
tinho de Sandediftante húa le-
goa & mea da cidade de Bra-
ga junto ao rio Aue, o qual
foi depois de Religiofosaa Or-
dem de Saõ Bento edificado de
nouo por SnÕ Frutuo(jp Ar-
cdbifjTo defta Igfeja , agora co-
menda ife ordem de Chrifto.
Pellos annos de ^95. em que
veode Africa a Fíefpanha íàõ
Profuturo diz Flauio Dextro
que entrarão em Portugal os
monjes negros. Monachi nigri.
E ainda que não íie fácil de re-
foluer que ermitães , ou mon-
jes negros forao eftes que en-
trarão em Heípanha nefta oca-
f aõ^comtudojdeixando outras
opiniões^ não faltão autores
graues que dizem foraÕ ermi-
tães de íànto Agoftinho , que
paííaraõ de Africa a Hefpanha
pêra nella ftidarem mofteiros,
ôc fazerem vida folitaria^ & re-
ligioía.
Dext. /»
chron.an^
419.
Care \J.
an. 41^
8 Don-
São Profuturo í.
áJ5
8 Donde feconcluc que foi
íao Profuturo ermitão j & di-
cipulo de íanto Agofbinho, o
primeiro que neíte Reino pla-
tou a Religião dos Eremitas,
donde hão laido tantos íojei-
"tos abalizados em letras , tan-
tos Prelados , & varões illu-
ílres de que couberaõ a eíla Sè
depois de íaõ Profuturo dous
lUulbiífimos Arcebifpos, que
a honrar£o3& illuílrarao :eítcs
foraõ o fenhor Dom frei Ago-
AinhodeCallro^ &:o fenhor
Dom frei Aleixo de Menefes,
cujas vidas daremos a luz qua-
doahiftoria chegar aos felices
annos «m que go ucrnarão ella
Igreja.
O Concluamos a vida de
5. Profuturo com as palauras
de fanto Agoftinho na carta
149. chamalhe aly o fagrado
Doutor , alter egop\Mio Ago-
ftinho, encómio que fò pene-
trará bê quem bem penetrar
que coufa feja Agoftinho, Da
amizade dille faó íeronymo,
ampares facit \ ant inumlt. ou
faz em tudo íemelhantes àos
que íè amão , ou ja os acha fei-
tos. A femelhança entre Pro-
futuro, ^ Agoftinho he tanto
a própria, que por confilTaõ do
mefmo fanto Profuturo era
outro clle fem difcrepancia
nenhúa. Ventura foi da cidade
deBra^a merecer outro A 20-
ftinho,antes o meímo Aeofti-
nho por Prelado na pelíoa de
Profuturo. luliano , & outros
autores graues lhe chamáo fan-
to , &: como tal o venèraõ , &:
té por milagrofo os Religioíos
de íanto Acjoftinho dos Ere-
mitas cm toda Hefpanha. Aísy
o nomea o Senhor Aíccbifpo
Dom frei Aleixo de Meneies
em vários lueares do defenfo-
rio defta Ordem que deixou ef-
crito de mão , & nos comuni-
cou hum rcliriofo sraue delia.
Afsy lhe chama também o pa-
dre frei Luis dos Anjos, em hús
notados feus de maõ. Coníir-
maõefta tradição , & poíle va-
rias eftampas deftc illaftre Pre-
lado, onde fe vc eículpido , &
pintado com refplandor , & ti-
tulo de íanto . Foife a gozar
dabemauenturanÇa depois de
tèrgouernado fua Igreja quaíí
dous annos ; tantos lhe da o
padrefrei Luis dos Anjos em
hunseícritos de maõ que dei-
xou , que vem a fer pellos an-
nos de 395. Gouernauapòrefte
tempo a Igreja de Deos o Papa
Siricio, & o Império Arcadioj
& Honório.
Itílian. iu
chron. I
p^^.49. I
A/arcj.in
dcfenf.d. i
Í.2. I
Fr, Luis
dosAnjos
in vita I
D. ^go,-
V
CAP-
236
Capitule LV.
Chro>i_
CAPITVLO. LV.
P A N C R J C*I 0,0V
Pancraciano XXI. Arcibif
po de Braga.
N T R O V
nclk Arcebil-
padoProfutu-
ro pella ícncé-
ça dada contra
íaõ Paterno no Concilio Tolc-
dano pellos annos de 3í?z. ou
393. conforme a melhor conta
Icuou oD eos pêra íy antes que
iaó Paterno foíle reftituido a
Braga no Concilio de Toledo,
c] íe celebrou no anno de Cnri-
ito400.de íorte cjucdousfu-
ceíTores ceue faõ Paterno,hum
deíua priuação, outro de íua
rnorte.O primeiro jà diílemos
foraProfuturOjO legundo íe
chamou Pancracio,ou Pancra-
ciano. Por íucefibr lho da Ju-
liano com grandes abonos , de
recomendações de fua fé, zelo,
relidâo , & letras . Entrou na
Prelazia em tempos alíaz cala-
mitòlos , & na may or (u ria da
conquiíla dos Godos,Alànos,
Sucnos , & Vândalos , quando
efpalhados por Hcfpanha, naõ
perdoauão a profano , nem fa-
grado. Erão clles Bárbaros
húa miftura de toda a maldade^
parte Chriliáos inficionados
comaheregiadeArrio , parte
Gentios , ik grandes Idolatras,
mas todos muy conformes em
perfeguir os Catholicos,& em
roubaré , tk porem por terra as
Igrejas ,profanarem,& queima
remas lagradas reli
quias
de-
tterrarem os Bifpos , & mais
pefloas dedicadas ao culto Di-
uino,& cometerem outras im-
piedades , & abominações fa-
crilegas.
2, Temeofe Pancracio do
que poderia fucederà fua Igre-
ja, & a todas as mais de Hefpa-
nha,quis prouer com rcmcdio:
publicou Concilio pêra Braga
no anno de 410, feguindo ou-
tra melhor conta da que lena-
mos no Catalogo dos Bifpos
do Porto onde lançamos efte
Concilio no anno de 4x1 . Ajú-
taraõíe os Bifpos q a fúria dos
Bárbaros deixou vir (porque
os mais andauão defterrados)
o Metropolitano de Merida
Pontamio, ElipandoBifpode
Coimbra, Arifbef to Bifpo ão
Porco , Pamerio Bifpo daída-
nha, Deodato Bifpo de Lugo,
Gelallo Bifpo de Águeda, Ti-
burcio
l-p.e, 3.
FancrdCíõ.
217
burcio Biípo de LamegOj Aí^a-
cio Bilpo de Iria , Pedro Biípo
de Nuiiiancia.
3 He muito pêra ver a fa-
la com (]ue Pancracio deu prin
cipio ao Concilio . Propõem
primciramencc aos Padres aly
congregados o pêra que os
cliamaua, que era pêra lhe en-
carregar a obrigação que ti-
nhaõ de naquelle tempo taó
pcrigofo não deíempararé luas
ouelhas,delliesaíIiftirem com
exemplo , com doutrina , com
conítancia^ padecendo por el-
las ate darem a vida : mandaos
ellar a todos vigilantes , cora
grandilTuTio cuidado , villo
como os Bárbaros não podiaõ
tardar muito, pois jà poíluiaõ
muita parte de Hefpanha ; &
pello eftrago que fizeraó em
outros lugares aíTolando Igre-
jas , matando à eípada os íer-
uosdc Deos, profanando as
memorias , as reliquias , as fe-
pulturaSj os cemitérios dos
Santos, podiaõ bem conjei-
turar o que feria em fuás cida-
des quando la chegaílem. De-
pois, porque os Bárbaros de
■ quemfetemia5 ,& por quem
cíperauão,erão parteArrianos,
parte Gentios,os animou a cõ-
denarem fcus erros com híía
proíiílaõ da Fe que fizerão.Vl-
timamcnte tratarão entre íy o
modo com que as fa^radas re-
liquias naquclla perlcguição,
em elpecial as de Saõ Pedro de
Rates ( a quem chamão Pay,
&: Apoltolo de Helpanha ,
mandado por Santiago , pêra
lhes faluar luas almas) não fof-
fem afrontadas , & dciacatadas,
Pozfe obrigação aos Biípos
que nas fuás dioceíes as mãdaí-
íem eíconder em lugares fo-
terraneos,&: fizeílem dilf o híía
relação autentica , que man-
darião a Pancracio , peraque fe
não perdeíle a memoria , nem
das reliquias_,nem do lugar on-
de íc collocauão.
4 Entre os mais Padres do
Concilio alliílio também co-
mo ja diflemos Pontamio Bií-
po de Merida ^ cuja Igreja ti-
nhão os Bárbaros ja dellruida.
Quando foi ao dei pedir dosPre
lados pcra íeus Bilpados,difle o
prcfidente Pancracio, que íc
foliem em paz 3 refponderaõ
os mais fique fò noílb irmão
Pontamio por cifar deftruida
jà fua Igreja pellos Bárbaros.
Ao que o zeloío Prelado re-
plicou dizendo,que lhe não fo-
fria o animo deixarfe ficar au-
fente de fuás ouelhaSj& priuar-
íe dos trabalhos , &: calamida-
des, que com ellas podia pa-
ÁíerciX*
da na, hi»
Jlor. de
MeriâA
III"» 2.*.
decer,
23 8
Qapmlo LVL
Eptji,
,i8<?
deccr^doanimo que ihe podia
dar , porque náo aceitara a dig-
nidade Pontifical pêra deícan-
ço fe não pêra trabalho . Dig-
niísima íentéça de andar elcri-
ra na memoria, <k coração dos
Prelados. Quando foaraõ eftas
palauras nas orelhas de Pancra-
cio^d: dacjuelleíagradoajunta-
mento.naõíepuderão cerque
logo aly lhe não deílemos pa-
rabéns com palauras de grande
encareciméto. Pancracio diíle.
Optimum ■■ver hum ^ inJiiim con-
jilium^profeãmn approbOjferiiet
te Deus. Querendo dizer ò que
palauras? ò que cõlelho, como
me contenta eíla ida. Deos feja
em vofla guarda, &fauor, os
mais diflcraôDeos vos coníer-
uenefla boa determinação, q
a todos parece bem.
$ Naõ podia fanco Ago-
ítinho deixar de ter diante dos
olhos a Pontamio Bilpo de
Merida , &c aos mais Bifpos
deíle Concilio quando efcre-
u êdo a Honorato íobre a obri-
gação dos Prelados na perfe-
guição de fuás Igrejas,fe as po-
diaõ, ou não podiaõ defempa-
rar por íaluarem as vidas, ain-
da quefoílecom perigo efpiri-
tual deíuas ouelhas,reipondeo
delia maneira , tornando cm
Português fuás palauras. Dejle
modo fe ouuerao muitos fantos
Bifpos deHefpanha^ então fugi-
rão quMojà mo tinhao ouelhas^
(i que ajiijiir, por ferem acolhi-
das parte delias aparte mortas^
parte côfumidas nos cercos^par-
te leuadas catiuas : mas ainda
ajsi os mais delles fe deixarão
eftar com as que ficarão no meo
daquella multidíw de perigos. E
fe alguns as defempararao ^ isto
he o que nos dic^rnos que fe naÓ
deuefa^r , porque os taes cai-
rão, ou por erro, ou por temor.
Atê qui íaõ palauras de fanto
Agoftinho . Lançamos cíle
Concilio de Braga por inteiro
no capitulo nono deíla hifto-
ria, aly fe podem ver , Ôc notar
fuás particularidades.
6 Pouco depois deftcCõ-
cilio entrarão também os Bár-
baros pellaProuincia de antrc
Douro ^ &; Minho, & executa-
rão nella as mefmas cruelda-
des ) que pcllas mais terras de
Hefpanha tinhão cxxcutado.
Defterrarão de íuas Igrejas aos
Bifpos mais zelofos,& os obri-
garão catiuosaandar nas obras
publicas : tal aconteceo a Arif-
berto Bifpo do Porto , como
em fua vida diílèmos; tal ao
Bifpo £lipanJo,à Eííeno Sa-
cerdote, ôc a outros muitos.
Mas a principal fúria da perfe-
guição
Catai.
dosB:fpos
do Porto
I p.r.3.
Fancracio.
1 3
239
guiçaõ cahio fobre Pancracio
como cabeça dos mais Prela-
dos, & em cjuem os hereges
prctendaõ dcrnballos a todos.
Efcreuendo delta períeguição
o meímo Bifpo Arilberto,a
Samerio Arcediago deftaSéde
Eragajdizafsy. Doleofuper te
frater mi , doleofuper Epifcopu,
tf cdpHt ncfirum Pancratium^
doleofuper exulatwnem "Vejlra
ijidear Deus miferiam noUram
oculis mfericordu fiu. Onde
claramente dà a entender o de-
fterro de Fancracio cm com-
panhia do meímo Samerio c6-
padecendoíe de ambos , mas
muito mais de Pancracio^a que
chama cabeça lua, ou porque
aísy eftimaua fua virtude que
o trazia fobre a cabeça,ou por-
que como era Primaz de toda
Heípanha, a clle cabia bem,
6 naõa outrem o nome, 6c ti-
tulo de cabeça de todos.
7 Pello difcurfo da carta
lhe diz muito da braueza , &
fúria com que fehia acendendo
a perfeguiçáo , porque Coim-
bra era tomada , Elipando Bif-
po ( deuia fer da meíma cidade)
hiacatiuoj muitos feruos de
Deos eraõ mortos à efpada,Lif-
boa cÕprara àforça de dinheiro
lua liberdade , a Idanha eftaua
cercada, & apõta outras varias
calamidades, que padeciaõ)(S(r
fc podem ler na mefma carta,
que lançamos no Catalogo
dosBifpos do Porto.
8 Outra carta lauçamos
tambêaly do meímo Arifber-
to,pera o Arcediago Samerio:
onde lhe diz que paíTando por
Coimbra a noua(chamauáo a
velha onde antiguamcnte era
Condcixa)que Ataces Rcy dos
Alanos cdiíicaua , vira aly an-
dar trabalhado na obrados mu-
ros ao Bifpo Elipando, & ao
Sacerdote Eílèno cõ que gran-
demente íe conlolarajajudan-
doosaleuar aquella calamida-
de comúa,da qual auia boas ef-
peranças íairiaõ cedo, por quá-
to Cindafunda mclher do mef-
mo Ataces 5 & filha de Herme-
nerico Rey dos Sueuos era Ca-
thoiica, & terçaua pellos Fieis.
$ Muito prouauel he que
acabaria Pancracio a vida no
deilerro, porq naõ temos me-
moria tornaíle a efta Igreja^
mas nem ainda nelle durou
muito, porque eftado em Bra-
ga no anno de 410. em que ce-
lebrou o Concilio, ja no de
411. tinha porfucelíoraBalco-
nio, tantos forãoos trabalhos
que nelle padeceo:fe jaaefpa-
da dos Bárbaros lhe não tirou
a vida,& o fezgloriofo martyr
d^
i.p.í.j.
540
Capitulo LVIL
deChrirto^ foi Sumo Pontí-
fice em cjuanto gouernou o
íanro Arcebifpo Pancracio In-
nocencio primeiro . Rey dos
Sueuos HcrmeniricOjdos Ala-
nos; AtaceSj dos Vândalos Gú-
derico.
CAPITVLO LVII.
BALCONIO XXII
Arcehifpo de Braga.
ORTO,ou
pellos traba-
lhos do derter
rOjOLi pella cf
pada dos Bár-
baros o íanto Arcebiípo Pan
craciodeulheo clero de Braga
por ícLi íuceílbr a Balconio va-
rão de f^rande nobreza , & ri -
quezas, & na virtude, òc gene-
rofidade qual o pediaÕ aquclles
tempos tão calamitoíbs : viníe
nellc grande efficacia em con-
fundir os liereges,& muito ze-
lo em os conuertcr . Teue no
GilGeçai i^icímo zelo por companhei-
à! AhiI.i ro a feu erande amigo faò To-
ribio Biípo de Aftorga^ & por
feu confelho emcaminhaua as
CO ufas mais importantes de fua
■no theat.
ie Aflor
Igreja. Era faõ Toribio varaõ
de muita experiência , & íanti-
dadc, &: febre tudo era Notá-
rio nos Reinos de Hefpanha
doPontiíiceíaõLcáo Magno.
Com as calamidades prelentcs,
em que os Bárbaros tinhão
metidos todos eíles Reynos,
por o fauor que lhe dauáo re-
lucitou de nouo a maldita feita
de Priícilliano íepultada em
tantos Concilies, que contra
cila fe congregarão,
i Naó defcaníâuaS. To-
ribio por extinguir eíle incên-
dio, agora fc ajuntauacom o^
Prelados , agora os auifaua por
cartas fuás citando auícntes,co-
mo fez a Idacio Bifpo então de
Lamego , ík depois delta Pri-
mazia, & aCeponio aquém
nãofabcmos a Igreja ^proua-
uel he que foíle a de Braga co-
mo quer Gil Gonçaluez deAui
la, & que o nome de Ccponio
efteja viciado deuendo dizer
Balconio ( que então era Me-
tropolitano deftaígreja)& não
Ceponio de quem não ha no-
ticia. Efcreueo lambem S. To-
ribio ao Síimo Pontífice São
Leão dandolhc conta de todos
os erros , ^ hcregias em que
via cair aos Hcfpanhoes. An-
da em repoil:a da carta de Saõ
Toribio outra de Saõ Leão
admi'
^alcomo>
241
adiDÍiauel, &; por vencLira a
mais elegante , ôc erudicaquc
íc acha entre todas as íius De
crecacs.Rcfcréna cm vulgar os
Hiítoriadores Hefpanhoes^nel
Icsícpode ver.
3 No fim dcfta carta em-
comendaua SaõLcaõ a Saõ To-
ribio acodiíle ao verdadeiro re-
médio deíies males ^ fazendo
ajuntar os Bifpos cm Conci-
lio em que clle , (5c os Prela-
dos Idacio , &c Ccponio , ou
Balconio preíídiriio como
íeus legados. O primeiro a quê
Saó Toribio fez 3 faber cila
ordem do Síímo Pontiíicc, foi
o Arccbifpo Balconio, pedin-
dolhcquepor fua grande re-
ligião , & zelo da fè , foílc o
primeiro^que quizeíTc dar exc-
plo aos demais naquella obra
de tanto feruiço Diuino , afsy
como precedia a todos na dig-
nidade Pontifical. Menos pa-
lauras baftauão pcra o Arce-
bifpo Balconio, publicou lo-
go Concilio Prouincial aos
ícus fuffragancos no lugar de
Aquas Celenas j que como ja
outras vezes diíTemos , era Faõ
nelic Arcebiípado.
4 Achoufe prefente Saõ
Toribio nefte Concilio fem
duuida, por afsy lho ordenar
o PapaS.Leaõ^& ncUe preíidio
có os doas Prelados Idicio , ik
BalconioLegadosApoitolicos
pcraeíie elíeito, Condenoure
aqui com grande efficacia de
rezocs o maldito Priíciiliano,
anachematizoufefua me4T!oria^
fulminarãoíc grauilhmas cen-
íuras contra leu$ defclores^pro
ueofe có decretos aos muitos
abuíosj & ritos gentílicos, que
tornauáo a creccr na Igreja cõ
a entrada dos Barbaros.Faladc-
fte Concilio luliano, quando
àxz.Synodus habetur prope Bra
charam Aiigufiamin Galkcia.
Onde faó bem de norar aquel-
las palauras,^rci^e Br acharam^
porq prouáo muito a opinião
dos q dizem q Aquas Celenas
era o lugar q agora chamamos
Faõ,& fica finco legoas diftáte
deBraga na cofiado mar^&nío
o lugar de S- lorgcdcCodcííe-
da, nem o Padraó mais de de-
zoito léguas diílantes defta ci-
dade, fobrc q não các bc a pro-
^o(\(^20 prope ^6 át fy pede me-
nos legoa5, & diftancia de me-
nor confidcração.
f Grande menção faz tam-
bém o Concilio Bracharenícjt
auido cõmijmentc por pri-
meiro, deftc em que imos fa-
lando,logo no principio , &
propofta doArcebifpo Lucré-
cio aos mais Bifpos diz af^y.
Chron,
X
Credo
242
Capitulo LVII.
I
Credo atitem '-uefir^ Beatitudi-
nis fraternitatem noJ?e^ quia eo
tempore , qito In his B^egionibus
nefandifs im^e Prisa/Iian^feã<e
njenenafírpebant , Beatifsimus
Papa VrhisRomte Leo^qui qua-
dra gefimus fere extitit Apo-
Uoli Petri Juccejior per Tori-
bium Notarntm Sedis fu<ç ad
Synodum Gallecu contra im-
piam Prifcillianifeãam fcripta
fua direxit . O porruguez diz
cín brciies palauras o que aci-
ma fica dito em muitas.
6 Fechado o Concilio de
Aquas Celenas animando Saô
Toribio cora o exemplo de
Balconio Arccbifpo Primaz
aos mais Metropolitanos de
Hcfpanha , intimandolhe tam-
bém a ordem que tinha de Sa5
Leaõ Papa os fez congregar na
cidade de Toledo, & aly j untos
em Concilio tratar^^ decretar
as mcímas matérias que no de
Aquas Celenas íe tinháo pro-
pelias, U decretadas . Preíldio
nelle o melmo S. Toribio pel-
la comiílaõ do Síámo Pontifi-
ce, & legacia de que vfaua. No
anno deite Concilio variaÕ os
autores; mais prouauel lie foi
celebrado no de 447. ou 448.no
no do Pontificado de S. Leaõ.
O ajuntamcntofoigrauiísjrao
porque naõ faltou ncnhíí dos
Metropolitanos Heípanhoes:
aly íe achou ode Merida, ode
Tarragona , o de Carthagena,
«Sc Seuilha: naõ efteue preientc
o Arcebilpo Balconio por ter
ja celebrado outro Concilio fo
bre a mefma matéria cm A-
quas Celenas como fica di-
to.
7 Marco Máximo Arcc-
biípo de Caragoça-,o conta en-
tre os que afí-illiraõ nelle , ten-
do contra fy com euidcncia o
texto do meímoCÕcilio, quan-
do diz . Incipit regula jidei Ca-
tholiCíC contra omnes herefes, isf
quam maximè contra Prifcillia-
nifias , quam Epifcopi Tarra-
conenfes, Carthaginenjes , Luji-
tani^ (s^ Estiei fecerunt, tf cum
pr^cepto Pap<€ Fr bis Rom^Leo-
nis ad Balcomum Epifcopum
Galleci^ tranfmiferút.Em por-
tuguez. Começa a regra daFè
Catholica, contra todas as he-
regias , Sc principalmenteas de
Prifcilliano , a qual fizeraõ os
Bifpos de Tarragona , Cartha-
gena,Mcrida,& Seuilha,&mã-
daraõ por ordem do Papa de
Roma Leaõ ao Biípo de Gali-
za Balconio. Bem fe colhe de-
ftas palauras a aufencia deBal-
coniosporq fe eftiuera prefente
ouuera de dcípachar,cõfirmar,
e allinar a regra da Fè,&:não era
nccella-
iSf '
%'ílcomo»
24i
1.
Dccellâria cnuiaríclhe a Bra-
8 Por defender a Máximo
ài{fc íêu comentador Rodri-
go Caro , que aly mefmo no
Concilio ihe dcraó os Padres a
Balconio a regra da Fe , por af-
(y o ter mandado S, Lcaõ pcra
elle-a fazer executar na fua Pro-
uincia de Galiza , onde era ma-
yor a ncceílidade : &: que nem
apalaura tranfmiferunt , quer
ílgniScar outra coufa» pois pc-
ra íc verificar baftaua que a re-
ffra da Fè vicfie de húa mão em
outra , atô dar nas de Balconio.
Naò refponde eíla íaidaà eru-
dição , òc engenho de Jcu au-
tor ;, porque não pode fofrcr
o verbo tranfmitto a interpre-
tarão que clle lhe da , & ainda
que 3dmitamos,quc não quei-
ra dizer ( como na verdade
quer) que de Toledo vco a re-
gra da Fè a Braga pêra fe en-
tregar a Balconio ; íe elle tam-
bém foi prcrcnte,& nella deu
fcu voto, & a ajudou a fazer^
òi ordenar , porque diz o Có-
cilio que a fizeraõ os Bifpos
de Tarragona, de Merida,de
Carthagcna _, & Scuilha, &^
cala o de Braga ? Não fora*ifto
aggrauar em prefcnça hú Pre-
lado tão illuftre, & de tantos
merecimentos, & que na exe-
cução dos preceitos Ápoílo-
licos fora o primeiro , m.anda-
doajuntar Concilio cm Aquas
Celenas ? Dcmancira que te-
I iic lembrança faõ Leaò citan-
do aufcntc de por preceito à
quelles Prelados que clles át(-
ícm a regra da Fè a Balconio,
&í não a tiueraõ osprcfentcs
de o fazer participante na glo-
ria de a compor , alsy como o
fora no trabalho de aííirtir?
9 Da aufencia de Balco-
nio fc não pôde duuidar. Da
lembrança do Sumo Pontifi-
ce ( logo quefoi certificado de
como íc não achara prcíen-
te) em nuiíar, antes obrigar a
I íaõ Toribio , & aos mais Pa-
j drcs do Concilio lhe enuiaí
1 fcm a regra da Fe , fe deduz
! cfficacillimo argumento da au-
j toridadc , & dignidade Prima-
I ciai , que afsy o Vigairo de
{ Chrifto , como todos os Mc-
j tropolitanos de Hefpanhaaly
{ naquelle "Concilio congrega-
dos rccotihecerao em Balco-
nio j òc fenão ^rgníit»mos
que outro fim podia aqui aucc
fcnaõ foi dat4hc fu» autori-
dade , &: confirmalla Balconio
como Primaz de todaHcfjia-
nha , pcra com eíla confir-
mação ficar mais autorizada,
& liure de toda a calumnia.
■f
X 1
Nías
■^Mni— III i0m»
H4
Cdfmlo I^yiL
€a\
./.17.
tom.íjm
"•447
Mas por^que ja tratamos cftç
ponto no liuro da Primazia
de tta Igreja, o não fcguimos
maisagord. E lembramos que
naõ acode bem pellaMetropo-
iicana de Toledo quem diíler
.fe mandou a regra da Fe a Bal-
conio^náo pcra clle a confir-
mar como. Primaz, mas pêra
afazer executar na fua Prouin-
cia ( onde eraõ imayorcs as ne-
cefíldades ) como delegado do
Concilio j porque nem pcra
lhe darem os Padres aquelle
cargo era neccíTario preceito
do Sumo Pontificc,ncm a Pro-
uinciadeBalconio neceííitaua
mais que as outras da regra da
Fé j ant^s por ventura menos,
porque -ncnhúa outra, coufa
continlia efta mais, que aquillo
mefmo que no Concilio de
Aquas Gelenas auia pouco fe
decretara contra os Prifcillia-
niílasa& mais hereges , có que
fe .tinha prouido cScazmentc
nas coufas de Galiza,
íô AntesfoiíingularacÕ-,
jeituracom que deu faidaBa-
ronio a não fe achar prefcnte
neile Concilio o noílb Arce-
bifpo-, porque como auia pou-
co fe ajuntara com os Bifpos
dafug Prouincia fobreasmcf-
mas matérias que aly feauião
detratar, & decretar cm Aquas
Çclenas , ôc cUcs o tinhâo-fei-
to com tanta prudência, &.ía-
tisfação, não auia peráque d*
nouofe ajuncaííem outra vez
em Toledo j baílaua mandii;
rem la as adias do íea ConcF-
lio,como cremos mandarão,
ôc fer o prefidente o mcfmò
faõ Toribio, que tambê o fora
em Aquas Cclenas,pcra aquel-
Ics Padres fe darem porfatif-
feitos , & os aucrem por cícu-
fos . Sabendo contudo fàó
Lcaõ o que paífaua , ôc que
Balconio faltara no Concilio
combreuidade mandou a To-
ledo , ôc pos preceito aosMc-
tropolitanos aly congregados
que elles manda íTem a regrada
Fèa Balconio^ &fuftancíadí>
que no Concilio fe decretará
pêra ellc a confirmar como
Primaz , ôc naõ ficar exporta,
como diziamos^a algúa calum-
nia* A regra da Fe, que os Pa-
dres daquelle Concilio manda-
rão aBalconio pêra a autorizar
traduzida das aólas do primei-
ro Concilio Toledano na co-
lecção de Garcia de Loyafa hs a
feguinte.
Regra
%tlcomo>
245
REGRA DA FE C O N-
tra todíts as heregiits princi-
palmente cotra os Prifcillia-
nisiiis^ a qualf-^eraÓ os Bif-
pos Tarraconenfes, Car tha^
ginenfes, Lufitanos , Í5f An-
(íalw^espor mandado do Pa-
pa Leão , ò^ a mandarão a
Balconio Bijpo de Gali^-
C Reinos em hum Deos
verdadeiro ^ Padre Om-
nipotente , &: Filho , & Efpiri-
to Santo, Criador das co ufas
vifiueis , & inuiliueis, pello
qual todas as coufas faó feitas
no Ceo , ôc na terra, hú Deos,
que he húa Trindade daDiuina
fuftancia. Que o Padre não he
o mefmo Filho , mas que tem
Filho que não he o Payj que o
Filho não he Padre, mas que o
Filho de Deos he da natureza
do Padre. Que hc também Ef-
pirito Santo Confolador, que
nem he Padre, nem Filho, mas
procede do Padre, &: Filho •, al-
ú que o Padre naÕ he gerado, o
Filho he gerado , &c o Efpirito
I' Santo naõ hc gerado, mas pro-
cede do Pay,Ô^ do Filho.O Pa-
dre heaquclle a quem íe oiiuio
ella voz do Ceo.Efte he o meu
Filho amado , de quem eu me
latis fiz, a eíle ouui. O Filho he
o que diz. Eu íahi do Padre,
ôc de Deos vim a elíe mun-
do. O Coniolador heo Efpi-
rito , de que o Filho difle : íe eu
não for ao Padre, naõ vira o
Confolador. Que efta Trinda-
de he diílinta em Peílbas, vni-
da em fuflancia, indiuifiuel , &
indiíTerente em virtude, poder,
ík maseftade. Fora delta , não
cremos auer outra naturezaDi-
uina, ou de Anjo,ou de Eípiri-
to , ou de algúa virtude , que íe
polia ter por Deos. Cremos
pois que eííe Filho de Deos,
gerado de Deos Padre , antes
totalmente de todo principio,
fantificou o ventre da Virgem
M A R 1 A, & recebeo delia ver-
dadeira humanidade, fem obra
de varão , cóuem a íaber, duas
naturezas , Diuina, & Huma-
na juntas totalmente em híía
fò Peíroa,qualheNoílb Senhor
I E s V Chrifto. Que não ou-
uenclle corpo imaginário, ou
de algum modo fantailico,
mas folido , & verdadeiro :
que ouue fome , & fede, & fc
compadeceo, chorou, ôí ío-
freo tantas calamidades corpo-
raes. , Sc finalmente , toi cru-
cificado pellos ludeus , mor-
V3
to.
246
Qaptulo LVIIL
1 to 3 & íèpukadoj & refuci-
tou ao terceiro dia , òc conuer-
íou. depois com ícus dicipu-
losj&aos quarenta dias depois
de ília ReÍLirreiçáo fubio aos
Ceos . £ a elle Filho da Virgé
chamamos também Filho de
Deos,& ao Filho de Deos tam-
bém Filho da Virgem; Cremos
a futura reíurreiçáo da carne
humana: que a alma do ho-
mem náo he de fuílancia Di-
uina j ou de Deos Padre , mas
chamamoslhe criatura feita pel
la vontade de Deos . Sealgué
oudiíier, oucrer qelte mun-
do , & todas íuas coufas naÕ
íoraõ feitas pello Omnipoten-
te Deos , feja excomungado.
Se alguém diíler, & crer queo
melmo Deos Padre hc Filho,
ouEípirito SantOjíejaexcõmú-
gado. Se alguém diíler, ou crer
que o mefmo Filho he Padre,
ouEfpirito SantOjfeja cxcómú-
gado.Se alguém diíler , ou crer
que o Filho de Deos tomou
fomente carne humana fem
alma, íeja excomungado. Se al-
guém diííerjOu crer que oElpi-
rito Santo he Padre, ou Filho,
feja excomungado. Se alguém
diíler , ou crer que Clirifto
não naceo , íeja excomunga-
do. Scalguem difler, ou crer
que naceo aDiuindade,íeja ef-
cõmungado. Se alguém crer c]
a Diuindade deChriíl:o f oi con-
uertiuel,ou pafsiuel,íeja exco-
mungado. Se alguém diíler,ou
crer que o Deos daley antigua
foi outro diílcrente do da ley
Euangclica,íeja excomungado.
Se alguém difleíjOu crer queo
mundo foi criado por outro
Deos diííerenre daquelle de
quem Jhe efcrito No principio
fe^Deos o Ceo , Í5f a terra , fe-
ja excomungado. Se alguém
diíler, ou crer que os corpos
humanos não hão de refurgir
depois de mortos, íeja exco-
mungado. Se alguém difler,ou
crerqueaalma humana hc par-
te, ou fui^anciade Deos, fe-
ja excomungado , Se alguém
diíler, ou crer que fe hão de
ter por authêticas, & dignas de
veneração outras eícrituras fo-
ra daquellas, que a Igreja Ca-
tholica recebe, feja excomunga
do. Se alguém diífer , ou crer
fere aD luindade , & Humani-
dade húa fò natureza em Chri-
fl:o,feja excomungado. Se al-
guém diíler , ou creer que ha
algíja coufaDiuina que íe poíla
entender fora da Santiílima
Trindade, feja excomungado.
Se alguém tem pêra ly que ha
de dar credito a Mathcmatica,
ou Altrologia , íeja excomun-
gado.
"Bah
como.
H7
Bar»n.to
6. '"'».
47-
eado.Se alguém diíler, ou crer
que os calamentos das pelloas,
quefegundo aley Diuina íaõ
lícitos, le hão de euitar como
abominaucis,íeja excomunga-
do. Se alguém diller , ou crer
que as carnes das aues , ou ani-
maes , que forao concedidas
pêra mantimento, não íò le
haõ de deixar por via de penité-
cia corporal^mas ic hão de abo-
mmar^feja excomungado. Se
alguém no erro dePriíciUiano
leque, ou profefla lua ícita, pê-
ra fazer no Bautilmo da lalua-
cão outra coula difterente do
que faz a Cadeira de Sa5 Pe-
dro,íeja excomungado.
A tequi he a regra da fè.
II Efte Concilio de To-
ledo foi o primeirOjComo no-
tou Baronio, em que tratan-
dofe da Peílba Diuina do Eípi-
rito Santo na regra da Fe, que
ja referimos fe acrecentou a-
quella palaura j à Patre FiliOíj^
procedit j que o Efpirito Santo
procede do Pay,& do Filho •, o
que fe acrecentou naõ por au-
toridade fò dos Bifpos, que no
Concilio fe acharão, mas tiran-
doodacarradeSaõLeaõ Papa,
efcrita a faõ Toribio , na qual
condenando CS erros de Prií-
cilliano diz claramente que a
Diuina ^efloa doEfpirito San-
to procede do Pay,& doFilho.
Aíhfoi continuando ella ver-
dade Catholica em muitos
Concilios, que depois ie cele-
brarão emHeípanha,nos Sym-
bolos da Fê , que nelles íc Hze-
raõ.
11 Contamos ate gora o c]
pellos vlrimos annos de íua vi-
da fucedeo ao Arcebiipo Bal-
conio, por enfiarmos as cou-
tas pertencentes aos Concilios
de Aquas Celenas , & de Tole-
do, onde a hercgia de Prilcil-
liano foi denouo condenada.
Agora fera necellàrio tornar
hum pouco atras , & dizer da
carta que por Paulo Orofio
lhe cícreueo Auito Presbytero
natural de Braga , varão fa-
mofo em letras , & fantidade,
que por aquclles tempos alli-
Ifiaem lerufalem • Pêra o que
he de íaber , como querendo a
Diuina mifcricordia manifeftar
à fua Igreja as relíquias de íeu
primeiro martyr fanto Efte-
uão, & de Gamaliel , Nicode-
mus,& Abibon, cujas ícpul-
turasauia mais de quatrocen-
tos annos que eílanão eícon-
didaSjfem ícfabero lugar del-
ias , às foi reuelar a hum fanto
Sacerdote Grego de nação , &
morador em lerufalem por
nome Luciano, o qual as dei-
X4
CO brio
248
Capitulo LVII.
\ Baron> in
aot. ad
■ Aíartyr.
1 3. die
cobrio na forma que a Igreja
Cacholicanos eníina, fazendo
defta manifeilaçáo , ou inuen-
ção particular fefta aos trcs de
Agoí]:Oj& pondo todas as par-
ticularidades delia nas liçocs da
qucUe dia,
14 Aconteceo eíla mani-
feíi:açao quaíi naquelle meírno
tempo, em que Paulo Oroiío
chegauaa leruíalcm pellosan-
nosde4r5. Quando là o vio o
Sacerdote Auito^ como ambos
crão da mcíma terra, & ambos
do feruico da meíma Sè.vendo
que logo fe queria partir^ por
eníiquecer lua pátria com raõ
grande theíouro , & obri";aro
lanto martyr a lhe ler rauora-
uel diante dcDeoSjdetcrminou
mandarlhe algúa parte daquel-
las fagradas reíiquias, auendoas
deLucianOjComqucm corria
familiarmente . Teue Oroíio
por fingular felicidade voltar
de Paleííina a Braga carregado
com o preciofo theíouro. £n-
trcgoulho Auito, & comelle
lhe deu também a carta feguin-
te, cujo fobreeícrito dizia.
Ao Be^tifsimOjlsf mui amado
scpreemo Senhor oPapaBal-
conio^ a todo o clero, is^pouo
daJgreja de Braga ^AiiitoPres-
bvtero faude eterna deseja em
o Senhor.
Dentro cõtinha. Desejo, i^
rogo q tenhais fempre le branca
de mim^afsi como eu a mio perco
de Ipos em quanto me he pqfsiuel,
còpadecendome cÓ grade dor mi-
nha de ijoj^as tribulações , i!f
derramando la^rima^ contimuu
neftes Cantos lugares pella de~
jhuifio de no [[a pátria, per aque
o Senhor , ou nos reUitua a li-
berdade, pois nos quis amoeflar
com o ca(ligo, ou dè mais huma-
nidade àquelles q permitia pre-
ualecerem. Eufem diiuida Bea-
tifsimos irmãos ( como tomo por
tefiimunha ao mefmo Senhor
lESF Chriflo )pormuitU'S'Z>e-
^es me quis ir pêra ej?a terra,
pêra junto conuofco padecer yof-
Jos males, ougojlar de ijojlos
bens : mas impediofe meu defejo
"Vendo os inimigos ejpalhados
por toda Hejpanha,ijf receei que
deixando os lugares fantos , Isf
porijentura naô chegando a ej?a
terra, pagajfe íU penas da ousa-
dia inconjiderada atalhada de
todas as partes : masfoiferiiido
o mifericordiofo Deos de offere-
cer a meu defejo, Isf '^ojfo mere-
cimento a graça defua liberali-
dade, permitindo que meu ama-
t.fsimo filho, Isf companheiro no
Sacerdócio Orojio,fofie manda-
do a eflas partes pellos Bi(pos
Africanos , cuja char idade, ^
conjola-
^alconio.
349
confclacão me fe\parecer ^quan-
do o Dl , que njos tinha a todos
prefentes . Depois diílo em fer
ferindo o bemauenturado , tf
ruerdadeiramentefanto^ i!f pri-
meiro mart.yr janto Ejieuão, co-
roa de nojja gloria em Chrijio.
lESVydefe reuelar , is^ mani-
fejlar emdentemente com mila-
gres^ i^ ■'Virtudes naquelles pró-
prios, dias , em que o mefmo Oro-
Jiopreparaua cora incriuel defejp
fim partida^ cujas relíquias aui-
das por 'Vontade. de Deos^rnepa-,
receo mandar a ijojfa Charida-,
de , peraqut prefente como auo-
gado , l!f defenfor , tenha por,
bem acodir a i;oJ[fds petições,,
pois quando padecia martyrio..
chegou a rogar por feus próprios
inimigos. Afsy que irmãos Bea-
tifsimos , tra-^endoo eu de contii
nuo na memoria , Ist auendo oc-
cafiãoàcomodada, i^ ordenada
por Deos , não perdi ponto em
atcancãf "àlgua parte "dõTâTpU'
nouamente achado ^doSacer dote,
a quem elle fe reuelou , a qnal
grángeada com breuidade.^i^ ai'-.
can,cadacom[egredo^nãome de-
tiuéem i^ola mandar. MâdoWoJ
finalmentepello fanto filho ^ &
companheiro meu no Sacerdo^.
mo Orofio as relíquias do corpo
defanto ÉUeiúo primeiro mar-
tyr , afaberpó de fuá carne^ij/
i
n?ruos , ^ o qiiefepode cre^
mais firmemente ^ isf certamen-
te os oJ?os duros , mais chèirofos
que todas as confeições ^ Isf per-
fumes exquifitos em manifesto
final de fuafant idade; t^ pòrqtit
nâopudej^e auer algúã diiuida^
<-Dos mando juntamente a méfma
caria ^ÍSf relação do Santo Sa-
cerdo te , a quem foi feita are-
mUch^a qual elle à minha peti-
ção , i^ emfè defia njerdadè ef-
creueo primeiro em Grego , i?"
depois a:traduc^io em Latim; a
qual 'eu. defejo^ fantos\ hf hema-
tienturados irmãos \^ que 'Vdsà
r-ecebais tao finceramente^quãto
ella hi-vtrdadeLra; porque èfíou
certo, queafsícomoofanto mar-
p)irfe- quis reuelar y tfmanife-
fiar pêra bem do mnndo] que em
tanto perigo anda^ afsy feijòs
amardes tão grande penhor, co-
mo elle merece, com aprefença
de taI defenfor, 'vruireis daqui
pQr:.d'm7ítefeguros , y quietos.
A graça de-NoJfo Senhor! ES F
ChriflD^isi' do Efp ir ito. Santo fc-
jaconuofco irmãos amantifsimos
em o Senhor. Amen: Do fuccíTo
qjjexiueraô cilas íagrudãs reli-
quiaSjdiremos na vida de Pau-
lo OtqíÍo,^ quciii Auico as en-
tregou.
14 Era Auico fcm duuida
'vnacíirai defta cidade Presby ce-
ro
250
Marq ;«
dejenfe
limo ,..p
é e.% ,
is ttar, in
lent. átJ
Qafitulo LVIL
lodeíbSè, como lhe ehama
Idaciojfalando da inuençâo do
corpo de fanto Efteuáo , na-
quelías palauras. Extantexhis
geUii EpiJioUfupra diãi Pres-
byteri Luciani^ ifjanãi Auiti
Presbyteri Brackarenjis y qui
tunc Hierofolimis degehant. Se-
guem a luliano os Padres frei
loaõ Marques, frei Bernardo
de Brito , frei Francifco de Bi-
uar, &c António deVazcon-
ccIIos,&: outros muitos. Efta
verdade fcmoftra bem doaf-
V'xt an fef^Q com que Auitoefcrcue
in Jjfi r
Part, fag
qu<
aos de Braga , como lhe chama
pátria fua , como dcfcja ver-
*Patlt ^c <^o"^ fl^«A comofobrc tu-
do a enriquece com othcíou-
ro das rcliquias de fanto Eftc-
uão , peraqucinuocandoo na-
quella fua pcríeguição,quc dos
Bárbaros nouamcnte entrados
padcciáo , tiueíTcm quem de
Deoslhcalcançaflea conltan-
cia,&i paciência q o Santo mo-
ftrou no feu martyrio.
ly A Auito chama Ida-
cio Santo, como temos referi-
do, titulo com que cambem o
nomeão outros autores. A vi-
da que fazia em leruíaJcm, os
Tantos exercicios, cm qucan-
daua,a."; peílbas a quemtrataua
com mayor familiaridade , co-
mo eraoS.Presbytero 7-ueia-
Csnad dl
Virtiiluf,
\
no, moílraó bem quanto ac
jufto lhe afienta o titulo de
Santo,com que graues autores
o nomeaõ. Deuia acabar feus
dias naqucUcs mcímos luga-
res fagrados , onde a deuaçáp,
& piedade o leuarão.
16 Omaisqtocaaonoflo
Arcebifpo Balconio, & delle
pudemos defcobrir,he qi?c em
íanta vclhice,mas fobrc manei-
ra moleltâda pclla fúria , &
crueldade dos Bárbaros, aca-
bou fua vida,aflillindo fempre
a fuás ouclhas com doutrina,
& exemplo como bom , &
fielpaftor, indofe a gozar da
bcmauêturança não longe dos
annos de 448. tendo de A rcebif
po quaíí 36.Gouernaua a Igre-
ja de Deos depois de Zozimo,
Bonifacio,Ccleí\inOj & Sixto,
oPapaS.LeaóMagno.Era Rec-
ciario fuceílbr de Rcchila Rey
dosSueuos.
CAPITVLO LVIII.
P A V L O O R O S IO
injigne efcritor Ecdefaflico
AVLO Oroíío
Efcritor grauiíli-
mOj&cloquétif-
íimo, foi natural
de Bra^.i , ou da Comarca de
Portugal I
Pá til o Oro fio.
2Sl
Dextr.a
ehren.dii
307-
;4»7-
Porcugal, que chamamos entre
Douro ^<S«: Minho do dillri-
0>oi.i«íle Arcebiípado. Pouca
rezão tem quem nolo quer co-
rnar pêra Tarragona , ou Cor-
doua , porque na verdade exa-
minado bem íeu direito pou-
co^ ou nada lhes pertence. Am-
bas o pretenderão ; Cordoua
icm fundamento; Tarragona
com algum, por dizer Flauio
Dextro. Suh Paciano Barcino-
nenfi Epifcopo nafcimr Paulus
Orofim iunior , Tarraconenfis
ciiiis^ diÇcipulus Sanai Augusli-
«•/. Sendo Paciano (era o pay
de FiauioDextro) Biípo deBar-
celona naceo Panlo Orofioo
mais moço cidadão de Tarra-
gona . Ehe de notar, que fez
menção Dextro nelte kis^ar de
Paciano Biípo deBarcclona leu
pay, naõ por pertencer àquella
cidade o iiacimenco de Paulo
Orofío ya quem ellc chama ci-
dadão de TarraíTona: mas afim
o
dèflizer celebre o Pontificado
de Paciano, pois nellcnacera
hum Varaõtaõ eminente, &co-
nhecido no mundo por feus
cícritos,& rantidadc:ou( o que
parece m.ais cerco ) pello pa-
rentesco, que Paciano tinha cõ
Paulo Oroíío , como confeíla
I o mefmo Dextro dizêdo.-P/í«-
' ius Orofuis Flauij Oro/j filíus.,
confangutntuf.jj Paciani patris
mêi, cmifij^ Tanaconenfis.hky
que amcnção,queno tel-timu-
nho de Dextro íc faz de Pacia-
no Bilpo de Barcelona, ou na-
ceo de affeição , ou de paren-
tcfco^ & não por querer llgni-
ficar q aly naccra Paulo Oro-
íio,aquem clle faz cidadão de
Tarragona.
z Alem defteTeílimunho
deFlauio Dextro , tem Tarra-
gona outro do mefmo Paulo
Oroíio,quc de fy confeíla on-
de naceo , chamando fua a ci-
dade de Tarragona , que vai o
mefmo que pacria , &í terra de
feu nacimenco. Diz ellc afsy,
fazendo húa breue relação das
cidades quejàno Império fo-
raõ nobiliíllmas, & agora eraÕ
húas pequenas aldeãs , ou ca-
faes depois de as aílolar a fúria
dos Bãrbâvos. Extam adhuc per
diuerfâs ProuinaiM in magnarâ
Vrbiumrumis^paru4^i^ paupe-
res tedesfigna m i feriar um, Is^ m
mi num indicia feruantesjn qui-
bus nos quo.jj in Hífpama Tar-
raconem nojlram, confoíatione
miferi^ recentis , oflendimus .
Por Tarraf^ona eftaS outros
Uífl
fa
grauiUimos aurores, como lao
Volaterrano, Pedro António
Beuccrjfr.Francifco dcBiuar,&
osmais qiieallega oPadpe frei
loaò
difetif d.
25:
Capitulo LVIII.
loaó Marques.
3 Puzcmos os fLindamentos
de Tarragona : reíla mollrar-
mos os de Braga , a que íe náo
pode dar ca5 ficil loluçáo. Co-
mecemos pellos que achamos
na carta de Auico. em que fala-
mos no capitulo paílado. Aly
eícreue aos de Braga aqucUe
íeil natural , que quando vio a
Oroíío íe lhe reprefentou os
tinha a todos prcícntes • o que
náo foi íòporHefpanholjque
deílcs muitos tinha em lerufa-
Itm^diC nunqua de nação táo
pia faltarão pcrigrinos naquclla
cidade: foi por Oroíío os co-
n hcccr a todos , &r lhe dar no-
uas detodoSjdo Arccbifpo Bal-
conio , do clero , & de todo o
mais pouo , a quem náo era
poíliucl conhecer Oroíío fc
por aly fò pafiàra de caminho,
& aly fcn40 criara. Chama tã-
bemna mcfma carta A nito fi-
lho feu a Oroíío , não húa,mas
muitas vezes. Bem fabcmos o
coftume daquelle tempo, cm
que os Sacerdotes , ou Biípos
de mayor idade, chamauão aos
demenosannos filhos, mas o
contentamento com que Aui-
to recebcoaOrofiOjC as pergú-
tas que lhe fez , nos dão pro-
babiliilimas conjeituras que
Oroíío foi em Braga dicipulo
deAuito ,&por eííarezáolhe
chama também tantas vezes
filho. Sobre tudo íe Oroíío
náo tinha mais com os de Bra-
ga que ler de nação Heípa-
nhol , porque de tão boa von-
tade aceitou trazer as rcliquias
do fanto protomartyr Eíleuáo
à mcí-ma cidade , ficando cila
taõfora do caminho de Tarra-
gona?
4 Mayor proua ne ainda
queapaíladaaquc nos dà ían-
to A^ollinho. Éícreucndoelle
aS. leronymo por Oroíío lhe
diz ertas palauras tornadas cm
Portuguez . Veo ter comigo o
Religioffsimo mancebo Orofo ,
irmco meu napa^ Catholica^fi-
lho na )dade , companheiro na
honra do Sacerdócio, fotil no en-
genho , eloquente na pratica , à
fertiorado no defejo , com animo
defer ijafo proueitofo na cafa
de Deos Nojjò Senhor, pêra con-
trariar asfaljas^í^ danofas dou
trindí^que matauaÔ as almas dos
Hefpanhoes mais miferauelmi^
te do que ofe\ aos corpos a efpa-
da dos Bárbaros . DeBa terra
pois(que hejúto do marOceano)
^veo ter comigo , atraido da fa-
ma de poder ouuir demimalgúa
coufa daquellM^que defejauafa-
/'er,^í:.Muy longe fica do mar
Oceano a cidade de Tarracjona,
&
2. EfiL
aS.
Fáulo Orofto.
253
& muito junco ao Mcditerra-
ncOjpois he cerco que em íeus
muros bace o meímo mar , &
pegado a clle eítà íicuada. Co-
mo era logo aquçUe Orolío de
quem fala íanco Agoftinho de
junto ao Oceano, íe Tarrago-
na eíH taõ defuiada dellc?
5 Vejamos agora íc diz bem
com a cidade de Braga íítuala
íanco Agoílinho júto ao mar
Oceano^pois o porto querem
mais vizinho dilla delia íinco
Icgoas. Os quca rodeão entre
Douro, &Minho^ía5 na cofta
cio Oceano a cidade do Porto,
MacozinhoSj Villa de Conde,
Efpozede,Viana,Caminha; al-
guns finco legoaSj outros ain-
da mais diílantcs da cidade de
Braga. Com tudo por terra vi-
zinha ao maracõrauão os an-
tigos,& cõtemporaneos de S.
Agoftinho , como Aufonio
quãdo delia efcreueo.
Qu^lÍj Jinu pelagi iaSlat fe
Br achar a dines.
E como efta foílea opinião dos
autores daqlla idade, e ainda de
outros mais antiguos, a Braga
quis dar por pátria deOroíio S.
Agoílinho,e naó a Tarragona.
C També cila em fiuor de
Braçra a carta deS.Braulio Ar-
cebifpo de C,aragoça pcra S.
j Frutuofo ,entaõ Prcsbytero,
&: depois A rccbifpodeílalgrc-
ja.Tralla tr.Ioaõ deMarieta na
vida deS.Toribio o q delia nos
lerue he o feguince. EJ^a Pro-
uincia em qyiueis stprefoiabu
date de hoas letras, ip' a£ude^a^
Isf pêra ijos tra^r á memoria
algus dospajlados , ^os Ubrai
dos elegatijiimos ^i^ dom ifs imos
'varoês Orojio Presbytero^ tf
ToribioBiJpo.Bc wcmos q pcl-
la força das palauras, aísy per-
tence aBraga Orofio como lhe
pertéce S.Toribio,por fere va-
roês nacuraes da fuaProuincia,
de dcBifpados fuíFraganeos co-
mo era Aíl:orga,onde S.Tod-
bio foi Biípo j& afsy como nin
gué vedo o ceífimunho de tal
Prelado, ouzaria citar fora de
Galiza a S .Toribio,e fazello na
tural de- Catalunha ,a'fsy pella
mcfma autoridade de ncnhúa
maneira lhe hc licito tirar da
mefma Prouinciade Gahzaa
PauloOrorio,&: Icuallo a Tar-
ragona.
7 Alê dos fundamctos refe-
ridos temos autores muy gra-
nes, qfazc natural de Braga a
Paulo Orolio; íàõ clles Frácií-
codePadilha/r.íoaõMarques,
&í fr.Bernardo de BritOjallcgã-
doemfeu fauora Maneei Se-
uerim de Faria Chãtrc^d: Có-
nego deEnora^cuja autoridade
Aíarq.
t)l)! fitp.C.
10. í.^.
Brito z.p.
rricHC.rch
lib. 6 cap
^7»
254
Capitulo LIX.
fòfquando faltallem outros)
podia fazer prouauel a juftiça
delia cidade.
8 Os fundamentos em con-
trario por íy fe desfazem j não
negamos a Tarragona foi ci-
dadão feu Paulo Orofio , me-
receo a feus moradores da-
rcnlheaquellepriuiJegio , não
no dia de íeu nacimento, por-
que não naceo là , mas depois
jade fer capaz delle, oupor
feruíços que fezà própria ci-
dade_,ou por ella fe querer hõ-
rar cõ aquella noua adopção.
Dextro quando efcreueo. Pau
lus Orojius nafcitur cmis Tar-
raconenjis. Quis dizer. Naceo
Paulo Orofio, ó que agora he
cidadão de Tarragona. Aquel-
les termos deqvza omeímo
Orofio quando chama a Tar-
ragona lua Tarraconê noUra:
ao muito moftraõ q foi Hcf-
panhol ; o mefmo pudera di-
zer de Sagunto^ & de Cartha-
gena: quátas vezes nefta hiílo-
ria chamamos a Braga noíla,
fem por illb fermos delia na-
tural: faõ modos de falar , que
ou a affeição, ou o domicilio,
ou ambas as coufas juntas tra-
zê à pena fem por iílb perigar
a verdade , ou fc
le, ou lenegare as pá-
trias cm que nafcerao os que
dcUcs vzão.
CAPITVLO LIX.
CONT ASE O MAE S
que pertence a Vida de Pau-
lo Orqfo.
Aulo Orofio
nacido é Bra-
sa no anno
de 370. teue
por pay a Fia-
uio Orofio varaõ de conheci-
da nobreza, & muito parente
de faõ Paciano Bifpo de Barce-
lona,aquelle cujo filho foi Fla-
uio Dextro famofo efcritor
Hcfpanhol. Começou logo
cm íeus primeiros annos a a-
prcnder todas as boas letras,&
quando chegou a ij. de íua
idade era jà confumado nas
humanas , & com tanta emi-
nência que fanto Agoftinho
lhe pode encomêdar cfcreuef-
fe a fua Ormefla múdi ^como lo
go diremos. Teue por meftre
(ao que fe colhe por boas con-
jeituras)âqui mefmo emBra-
gaahijfanto Prcsbytero por
nome Auito,o qual mudando
a pátria, & paflandofe a leru-
falem,acabou naquelles íàntos
lugares a vida felicillimaméte.
Orde-
Fmdo Orojio.
255
Oidenouíe Oroíío de todas
as ordens, &: feapplicou com
grandiísimo cuidado ao ferui-
ço deita Sè. Eltando nelle^por
valerem então muito , & terc
deitado erandes raízes os hc-
fin-
í?
iDext.aih
'400.
f
Í4H-
reges Prilciliianiílas, que
gião ler nofla alma da mefma
iurtanciadeDeos ,porfabcro
que acerca deite ponto, então
muy altercado , fc auia de
crer^ paííou a Africa com ani-
mo de fe dar por dicipulo de
íanto Agoftinho ^ cuja fama
então era celebre por todo o
mudo. O íãto Doutor o rcce-
bco com notauel alegria_,& ai-
uoroço, porque logo vio nel-
leprande lutileza de engenho,
grande curioíídade de íaber,&
íobre tudo grande defejo de
aproueitar mais ainda noef-
piritoque nas letras.
2, Aprefentou juntam e-
te Oroíío a fanto Agortinho
certas cartas, que fobre a mef-
ma matéria da origem da al-
ma, & outras queftoés to-
cantes aos Prifcillianiíhis por
cUe lhe enuiaraõ três Biípos
defterrados de França, & que
depois o vieraõ também afcr
cm Catalunha : Horetes (ou-
tros lhe chamão Hcrodes) La-
zaro, òí Prudencio : febem o
Cardeal Baronio quer fe cha-
maflem Eutropio, ^ Paulo.
Como quer que fcfie, OroHo
pello que em fua alma fcntia
dcaproucitamcnto,& melho-
ria cípiritual entendeo fora
Diuina prouidencia,& miferi-
cordia,& naõ coníelho, ou
perfuafão humana, oquealy
o trouxera. Aísy o diz a íanto
Agoftinho com as palauras le-
guintes, tornadas em portu-
2UCZ. Deoí me mandou ter com
-vofco, delle efpero o que de njos
pretendo. Quado conjidero o co-
mo fe tracGuijir aqui^entao co-
nheço o porq "vim . Sahi de mi-
nha pátria fem Dotade ,[em ne-
cefsidade , fem confenthnento^
obrigado de híia ocultauioíen-
cia^atc quepu\ospcs nefia ter-
ra^ onde finalmente 'Vim a co--
nhecer, qera madado Dir terço
ijofco.'Nnõ quis logo que che-
gou Oroíío confuítar a íanto
Agoílinho fobrc as principaes
queíloésaqhia,bufcou tcpo
acõmodado,v5c efpcrou q o ia-
errado Doutor fedeíocupaílè
de muitas coufas,q trazia entre
maõs . Elle mefmo o conta c6
as palauras íeguintes. Ia eutt^
nhafinificado a V. Satidade o q
particularmste defejauafahs r,
mas ainda "Vos naÓ tinha dado
dijfo memorial , porq efperaua
-Deruos dcfocupado de outras ô-
Y
braf
256
Capitulo LIX.
: BinãT hl
' Dext,an,
j Chrifti
414.
i brííí ^ hiescÓpondo^ÍP' ditando, í
3 Pouco leíabé os annoSjCÍ
na efchola de Agoftinho leu
meftrcgallouOroíIo : hús os
eftêdemai4. outros nem hú
pcrfeko lhe concede. Os ter-
mos de talar de S. AcToilinho
nerta ida de Orolio naõ ío-
frem grandes dilações, porem
o aueriguallas he pouco neccí-
fario ao intento que leuamos.
4 Quis fanto Agoftinho
que viflc íaõ leronymo, & ti-
uefle noticia de hú tal foseito,
como Orolio-, pêra ellefim
tomou por expediéte naõ lhe
relponder à duuida principal
íobrequeoconlultarada ori-
gem das almas^eícuzandofe cõ
Tua infufficiencia, & dizendo-
Ihc que ninguênaquelles pon-
tos lhe daria melhor fatisfação
doquehúíanto velho íobre-
maneira erudito/Sc de quem jà
ouuira grades coufasjque por
fe retirar dos embaraços do
mundo eílaua recolhido em
Belém , chamado leronymo,
que íe lhe parecelle irconílil-
tallojheefcreueria porelle, &:
lhe pediria o ouuiire,& fatisfí-
zeííe fegundo aquella grande
ciência que Deos lhe dera.
5 Aceitou Oroíío a jornada^
Icuou cartas de grande recomé
dação de S. Agoftinho ; delias
íaõ as palauras que acima ja re-
petimos^em q o chama irmão
leu na paZjhlho na idade,com-
panhciro no Sacerdócio ^ luril
noengenhoj eloquêienapra-
tica^aleruorado no deíejo.Po-
ílo a caminho fem fazer dila-
ções por outros lugares, bre-
uemente chegou a terra íanta.
E pcrqueodeíejo ja lhe não
íofria outra coula , le foi logo
ver cõ S. leronymo^o qual li-
das as cartas de íanto Agofti-
nho^pondo os olhos no porta
dor,delcobrio ainda nelle mais
do que as cartas relatauaó. No
põto da duuida principal o in-
ll:ruyo tudo o que na matéria
alcançaua, & o íatisfez de ma-
neira, q fedeu por quieto, &
cõtente. Efcuzoufe porê de ef-
creuer íobre aqlle particular,
por não parecer enlinaua a hú
tal doutor comoS.Agollinho,
tomado por capa delta lua hu-
mildade o odio cõ que entaõ
recebiaõ muitosBiípos íeuseí-
critos, porque tédo elle cõpo-
íl:o contra PeWio,& moftra-
do com euidenciaíer herege,
Tl .
contudo em hum Concilio,
que nouamente íe congregara
em Dyosfpoh(chamãolheago
ra S. lorgede Lide) cidade fuf-
fraganea à Metropoli de lerufa
Icm,fora dado por Catholico,
com
Tmdo OrcCio.
257
como cj todos oscply fc acha-
rão cftauáo deíabridos com S.
lerony mo ^ por ccr rcntido,&
eícrico outra coufa. Tudo diz
0 faiito/.indaq embuçado , na
repoíla à carta de S. Agofli-
nho com aspalauras ícguintcs.
Recebi cÓ amor ao honrado '-va-
rão Orojío Preshytero irmão
njeii,tfJilho •'vofio^afsy por fuás
partes^cofhoporfer enuiadopor
Ipos-.porc chegou em tempo muy
trabalhofo^em o qualme eUi me-
lhor ca liar ^q falar ^ e cÓueqcef
fé nofos eíludos, tf q(como dic^
Apio)Çt '1)7^ dafacúdia canina.
6 Apartouíc com grandes
íaudadcs OrofiodeS, lerony-
nio-, tais as merecia o amor,&
afabilidade com q o tratou. Fez
Teu caminho por leruíalé^por
não fair de Palcflina Icm ver
aqucllafantaCidade,& lugares
confagrados coma prclença,
& fangue de Chriílo. Achou ,
aly afcu mcfi:reAuito,como
jâ referimos jdc quem foi mui-
feftejado , afsy por ferem am-
bos naturaes, como pcilas no-
uasquclhc deu de lua pátria
dos conhecidos , & cm eípe-
cialdo ArccbifpoBalconio , a
que jà parece deixara naquclla
Cadeira j quando íc aufentou
de Braga.
1 7 A uia Oroíí o de fazer pou-
ca detença cm Ierufalc,ôs: por-
que Icnão partiílc íem Auito
moftrar àíua pátria a muita
lembrança, que delia tinha^alé
da carta que cícrcueo a todos
emgèral,& jà referimos na vi-
da de Batconio , ouuc de Lu-
ciano (aquelleSacerdotc,a quê
lanto Eílcuáo' reuelou por a--
quelles mcfmos dias o lugar
onde eílaua ícpultado ) algus
oíl"òs^& carne do gloriofo fan
to martyr , & cõ a hiiloria da
mefma inucnção os entregou
a OrofiOjpcraq de fua parte os
dcííccm Braça cm arguméto
de feu amor , 6c como penho-
res CÓ q o fanto Leuita íe daria
por obrigado a daly por dian-
te a tomar debaixo de fua pro-
tecção, pois jà lhe ficauaper-
tecendo como depoíítaria de
fuás ReUquias.
8 Aceitou a piadofa carga
profio,&: contente fobrema-
neira com ella^ic veo a Hefpa-
nhatédoíempre os vetos prof
peros ate Bcna^ondc defêbar-
cou.Aquircpartiocõ o glorio
fo S. Agoftinho das fagradas
reliquias,q trazia obrãdoDcos
por ellas infinitos milagres,&
ediíícádoíe muitas Igrejas em
hora do olorioío fanto proto-
martyr^como fe ve em S. Ago
'^' ' dousliurosq cie-
liinho, enos
Y3
lia
258
Qãptulo LIX.
lEayon.in
i ■
fta mnteriaefcreueoEuodioBjí
po Vzalenfe. De Africa palía-
ua a Hcípanha_,mas chegando
a Ilha de Menorca , íoube co-
mo os Bárbaros tinhão toma-
dos todos os caminhos por
onde auia de paílar a Portugal,
& a Braga. Auendo outro cõ-
felhojôc apertando também
êom elle as faudades de íanto
Agoftinho determinou voltar
outra*^ve« a Affica ^ pêra nella
cíp'erar , o em que parauaó os
infortúnios de Heípanha.
%^ Antes cie partir, pêra
agradecer aos da cidade de Ma-
gona a hofpedaVem que lhe,
Hzeraõ repartio com •clles das
iquias do Sato marty r Efte-
o que trazia, as quaes o Bif-
po SçUero pos na Cafl^redal.
Naõ fe podem^facilmente re-
latar os muitos milagres qué
Deos naqucUa cidade obrou
pella interceflaój& merecime-»
tos do feu n>Q|%)^» Conuer-
teoíe hííagrande Synagoga , q
ai^4*iâ^ílj^ei-iÃ,vendofe ne-
ftacouerfaõ muitas das mara-
uiihas, qi^d pello defcrto lhe
fucéderao, as quaes refere ^à-
uero Bifpo da mefma Ilha na
carta , que mandou a Hefpa-
nha^ondeaponta notaueis mi-
lajrres.
o
I o Dcíla volta trabalhou
*e
grandemente Orofio porde-
íaiitorizar era Africa a Pelagio,
a quem (como dfílèiTaoà) ti-
nhão os Biípos do Concilio
deDiospoli dado -por Catho-
lico.Fez celebrar contra elle
outros dous Concílios, o de
Mela, ou Mileuitano II. & o
de Carthago: era ambos lahio
condenado porhe^e, & íua
doutrinadada por peruerfa,&
diaoolica . Depois de aiguns
^nnos ouue finalmente Oro-
íío de acabar íeu caminho , &
chegar a Braga , viuendo ain-
da Balconio,a quem eritregou
a mayor parte das relíquias, cÓ
queíahiode lerufalem . Per-,^
deofe nefta Sè a memoria de
theíburo taó preciofo , & naó
fe íabe ao certo onde foi col-
locadq. Ha nella húa arca an-
tíquiííima cuberta de laminas
de prata ,onde fe lançarão as
vHaJiq^ias de muitos Santos,
mas íem nomes. Nella^enten-
*d'em*o*s fe recottiefaõ também
eftas de S. Efteuáo, & obraria
Deos {lor ellas.os Tnil^res , q
em Menorca,(S«r Africa foi fer-
uido obrar,fenão que aly tiue-
rao a curioíídade , & agradeci-
mento dos Bifpos Seuero , &
Eup4jÍPo qf e os celebrarão cõ ^
o cxcplo de fanto Agoftinho,
& qua odefcuido de fe deixar
pafiar
e. (mUA
naílar tudo cmrilencio.
II Elcreueo Oroíio, co-
mo autor famoío" obras de
muitaconfideração.A piimei-
ra foi os fete Jiuros "dn Horme-
íia{ outros lem ) Or chefia mil-
flf/,à petição de fancoAgoíli-
nho ,a qucnf tánibem os de-
dicou, nos quaes fazendo mê-
ção de todas as calaniidades,
que fucederão no mundo ,
moftra que aos ChriíHos íe
deuia durar ainda o Império
RomanOj contra o que pe-
dião feus pecados , & que pel-
lo culto do verdadeiro DeoSj
auia ncUe paz , & quietação.
Calumniauaõ nelle tempo os
Gentios a religião ChriíH , &
publicauãoler cila a cauía da
queda_,(5i: deftruição do Impé-
rio, a quem oculto dos ído-
los tiuera íempre florente, &
em proíperidade. Aprouando
efta mefma obra de Oroíio
diíle Gelafio Papa . Louuamos
também a Orofio 'varaóerudi-
tifsimopella hiítoria tao necef-
faria , que com admirauel bre-
uidade efcreueo contra lU calii-
niM dos Gentios. Tinha traba-
lhado primeiro no mefmõ ar-
gumento o Poeta Prudencio
contra Symacho Prefeito de
»b>ma, éc trabalhou depois
S. AcToftinho nos ii. liuros
Fdíilo Oroíio.
^—
259
da Gi^de de Dcos que com-
pôs.
li Efcreueo mais Oroíio
humliuro Apologético con-
tra os Pelagianos, outro da rc-
zão da alma , dous de cartas
pêra íanto Agoftinho , òí ou-
tras peíloas, elcreueo também
fobre osCantaresdeSalamão:
Santo Agoftinho lhe mandou
o feu tratado contra os Prif-
cillianirtas, &Origiuiftas,ref-
pondendo as perguntas, que
o mefmo Oroíio íobre a ma-
téria Ihefez.Louuaraõno mui-
to,como vimos,o meímo Tan-
to Agoftinho, &: faõlerony-
mo , íanto AjJoftinho cha-
mandolhe religioílfiimo mã-
cebo-, íotii no engenho, elo-
quente na pratica, aferuorado
no delejo , íaõ leronymono-
meandoo Vir um bonorabils ,
varaõ digno de toda a honra, ^cio
Mas quem quifer ler íeus Elo- ^^'"^^'■'■
giosmaiscopioiamentc, veja
aíanto Antonino, a Vinccn-
cio Beluacenle,a Trithemio,
a Couarruuias , ôc frei Bernar-
do de Brito, Sc outros que
nellesfe acidarão citados.
13. No particular de fua
morte , ou lugar delia, não te-
mos coufa certa Marco Má-
ximo diz morreo em Cartha-
CTcna no anno de 47 r .tendo jà
2p't!t.ià
Trithcnt,
deferia^
Eccl.lllk '
Coujíb À
var. eap,
i6,n,tii
Brit.2.p.-
manar c.
lib- 6, c,
27.
Y 4
M.Max
rhroH.ãfi
471.
mais
2 6o
Capimlo LIX.
\ i'á. antro-
'foi.
{Padil.ch
Chnjíi
'3 4-
\J\íarq .«
[cio p.^
mais de ccnco de idade. Saó as
íuaspalauras. Paulus Orofius
Târraconenfs ciuis centená-
rio maior lijeniens ex Africa
CarthagineSpartaria moritur.
Volaccrrano ^ Tarafa , & Pa-
dilha o fazem morto em Afri-
ca, de ftáo em Carchagena,
porem naó daorczão ncnhua.
O certo hc que cm Africa vi-
ueo alguns annos debaixo de
íànco AízoíHnho , ícndo dici-
puio_, òí ermitão leu como
claramente affirma Flauio Dex
tro , & o dà por certo o Pa-
dre frei loão Marques. Vin-
do pêra Hcípanha podia mor-
rer em CaiMiagcnaj donde fo-
raõfcus ofibstresladadosaRo
ma, & ícpultados na Igreja de
Santo Eufebio , onde jâ ellaua
feu pay J&: tinhão próprio ja-
figo os da familia Oroáia. De-
dicou Ifidoro Bifpo de Cordoa,
ua o mais nouo a Paulo Oro-
íío o feu liuro das Allcgorias,
Dex.au. como qucr Dextro o qual lhe
chama o mais nouo pêra o di-
ilinguir doutro IfidoroBiípo
de Cordoua mais velho na ida-
de qefce fcgundo. Marco Má-
ximo falando dclfa mcfma
obra dedicada a Paulo Qxo-
íio» traz húas palauras, que
embaração , & fazem cuidar
que naõ íalou Dextro do nol-
4'3
in chroit.
(o Paulo Oroíío , fenáo dou"
tro diílerentci diz aísy Máxi-
mo. Sanãus JJidoriisJenior de-
dicai librum Allegoriartim Oro
fio Epifcpo Legionis Septim^
Gemina in Hijpania^ondc mu-
dou o termo iunior de Dextro
em fenior j & acrecenta o Bif-
pado de Leaó a Paulo Oroílo,
lendo afsy que em nenhum
outro autor íeacha folie Bif-
po. No particular do termo
fenior ^i^j' iunior , íenaõ encon-
trão Máximo , ôc Dextro.
Porque eíle comparou o líl-
doro de quem falaua com ou-
tro(foraõelles dous emCcrdo
ua) da meí ma cidade, que jà ti-
nha paliado, òí Máximo faz
dcllc allufaõ ao grande Illdoro
de Seu ilha taõ conhecido em
Helpanha , que foi muito de-
pois. No outro ponto do Bif-
pado de Lcaõ , mais cremos q
o PauloOroíIo de quem hú,&
outro falou, hc difterencc do
noílb, ainda queíemelhatc no
nome , na pátria , & no tem-
po j afsy concilia a Dextro,
ôc Máximo frei Francifco de
Biuar,reípondcdoa Pcnnoto.
O meftre Cano conta a Paulo
Orofio entre os Santos cano-
nizados/antas foraõ fuás vir-
tudes,& merecimentos.
CÃP.
pro Dex,
são Q^í^^^xiíniluino^^^c.
261
Dex. 4«
424.
CAPITVLO LX.
SAM MAXIMILIA-
no , ^ Vakntino Bifpos ^ Isf
martyres.
EcundiíTimos
de Santos fo-
raõ os tcpos
emqueBalco
niogoiierna-
ua cita Igreja. Alem dcAuito,
&: Paulo Orofio nosderaõ tá-
bé a Maximiliano,& Valétino
celebres ambos na inllgnc vil-
la de Viana íecjundo Dextro.
Prope Tilde in Gallecia m oppi
doViancJtSaSli PòtificesMaxi-
milianus, if Vakntinus clartt. ,
Ia Viana nos tinha dado os
fantos Theophilo, Saturnino,
&í Reuocata martyrcSjporque
naó foíle menos fecunda de
fogeitos raros na fantidadc, do
que íempre o foi dos mefmos
cm todos os exercicios pró-
prios da paz , ou da guerra,
Nefta villa nos achamos ao té-
poquefe imprimem as vidas
deftos Santos^ aílirtindo ade-
fenfaõde feus portos por or-
dem de fua Mageílade/jnde jà
clliucmos duas vezes com a
melmaordcm, & cargo. Pcl-
la grandeza com que nos rece-
berão, & fcílejaraõ feus mora-
dores quando nclla entramos,
ou pella obrigação do officio
de Prelado na paz, ou pella de
Fronteiro mor na milicia , lhe
reconhecemos íiranJes obri-
caçoes. Traz o Martyrologio
Romano eíles dous Sátos em
2.9. de Outubro, onde diz:
e odem diejanãoriim Epijcopo-
riim Maximiliani martyris, iff
Vakntini confefioris . Onde a
palaura confejjor, qnc fe ajun-
ta a íaõ Valencino, & cm Dex-
tro a ambos eftes Santos Pre-
lados lhe não nega a palma de
martyrio , vifto como a to-
dos os martyres q diante dos
Tyranos profeílauão,& con-
feíTauãoaFè deChriílo, cha-
mauaõ cófeííores, quaesforaÕ
os noííos dous íannfsimos
Bifpos quando mais atormé-
tados eraõ pellos Vândalos na
íua períeguição.
z
de feus Bifpados : podeíe con-
jeiturar foraõPrelados da meí-
ma villa de Viana em quanto
foi Bifpado particular , como
jàdilíemos. Molano os quis
leuar a Viena do Delfínado,
masfem ncnhu fundamento.
Tc
Não fabemos o lugar
rfr..trd.
dte 29.
.ti
Qaptulo LXI.
CtfsÍAn.
in colLit
Gcikid.õíe
íVir.iUiiJl.
\
ra7j.
I Se alçada do Martyrclogio f
dcíícdia i9.de Outubro anda-
ra como íeacha cm mu ices ef-
cricos de mão, auiaíc de Icraf-
fy. Eodem diefanãoriim Epif-
coporum Maximil/ani marty-
risjip" Falitimconfejjòris Fie-
í?'^ , mas entre a palaura Vícn^
meterão depois a íantaEnfe-
bia^ aS.Narciílb,S. íoaõ , &c S.
Doiiato,q nosde maõ ialta5,&
deixarão a palaura Vienn^ , pê-
ra aajuntaré a laõTheodoro,
dizendo. Vitnn^e depojitiofan-
ãi Theodori -. fem embargo
que nada pertencia a Viena,
poríer dicipuio,& fuceííor de
iaõPacomio no [jouerno do
feu mcftciro onde morreo, &■
foi ícpultadoj como fe pode
ver em Caísiano Genadio , &
Equilino, Nêhe poíliueldei-
xaíFem de falar neiie, quando
fora outro Theodoro Fran-
cês Saõ Gregório Turoncníe,
& Vincencio Beluacenfe, que
com tantas particularidades,
& miudefas efcrcueraõ dos
confcífores de França.
^?^
CAPITVLO LXI.
F A L E R I O I. DO
nomeXXIII. Arcebifpode
Braga.
O RR EO
o Arcebiípo
Valério pel-
los annos de
416. em que
lhe fucedco Idacio II. do no
me,& tile parece foi ofucef-
fordeEalconioj ifto he con-
jeitura noíla, porque lhe não
achamos outro fuccílor, &c os
annos,que correrão do de 448.
cm que ainda viuia Balconio
ate o cmq eílamcs^naõ laõ ca-
pazes de muitos outros. Te-
mos as palauras fcgaintes de
luliano, que nos dao noticia
dcftc Prelado. íí/í^rm ex íama-
cen(i Epifcõpus Bracharenjís
fiiccejfe.rat anno 4^6. Falerio.
Continuaua ainda faõ Leaó có
o Pontificado Romano. Era
Reciario Rey dos Sucuos,
Theodorico dos Godos.
ííílían,in
fhrt
55'
GAP.
Ida cio II.
26i
CAPITVLO LXII.
IDACIO II, DO N 0-
me XXIIII. Arcebífpo de
Braga.
E mais conhe-
cido nas hirto
rias o Arce-
bifpo Idacio
(cõ cuja vida
entramos) pclla cidade deLamc
go, onde primeiro foi Prela-
do, que peíia de Braga, onde
vltimamente o puzcraõ feus
mcrecimêtos: mas não he eíte
o enleo fò , que em fua vida íc
acha. Confundea grandemen-
te não fe diltino^uircm outros
três Idacios,quc ouue emHcf-
panha,todos Bifpos, &c todos
varões de grande nome. Do
primeiro q foi Arcebifpo de-
ita Primacial, diíTemos em fua
vida.Com elle cõcorrerao ou-
tros dous Idacios humMetro-
policano de Metida , a quem
chamão porfobrenome oCla-
ro , outro Bifpo de Oflonoba
no Algarue, ambos grandifsi-
mos perfeguidores de Prifcil-
iianOjC feusfequazes,dos quacs
também jàfalamos em outros
lugares.Foi o Idacio dcMerida,
aquelle de quem efcreueo Tan-
to Ifidoro. Idatius Hífpania-
rum Epfcopus cognomento , {p*
eloquio Clarus. E Bellarmino
quafí pellas mefmas palauras,
Idatius Jiue Ithatius Clarus E-
pifcopus Hifpanus de quo multa
Sulpitius in hiiioria facra . O
quarto na idade, & nome hc o
noílb Idacio. Outro ouue do
meímonome também etcri-
tor de húa breue Chronica , q
floreceo mais de cem annos
adiante defte tempo cm que
leuamos a hiíloria. O q fe po-
de alcançar da vida , & fucef-
fos de noílb Idacio he o fc-
guinte.
1 Foi Idacio de nação
Sueuo, como querem algús,
& de profiflaõ Gentio. Con-
uertcofe à noíTa íanta Fè pel-
los annos de Chrifto de 410.
na flor de íua idade, quado
o tempo lhe pedia as folturas
de mancebo, &as liberdades
de Idolatra . Tomou Deos
porinílrumento de fua con-
uerfaõ a íanta vida , & prega-
ção dos Bifpos Sueuos, pella
qual muitos do pouo, logo
os nobres, vltimamente os
Reis foraõ deixando as treuas
da gentilidade , & abraçando a
Ifidor. dt
vir illhjí.
Paddh.
CCHt.^.C,
14.
1
uz
204
Capiíído LXII.
\
luz do íàgradoEusngelho. Po-
rem então mais obrou nos co-
rações de todos a palauraDiui-
na , quando cóucr tido ja Ida-
cio lhes prègaua mais com o
exemplo de fua conuerfaó,
que com rezoesdefuaeioquê-
cia ; & na verdade era grande
eftimulo pêra todos feus na-
ruraes verem hum homem de
juízo cão claro, de fabcr tão
perfeito, de prudência tão co-
nhecida,, deixada a vaidade do5
ritos gentílicos^ fazerfe na ef-
chola de Chrifto por fojeição
aíeus Diuinos preceitos húa
criança ^ & por humildade o
minimode codos,nomeando-
fc fô pello appcllido de pecca-
dor na forma que faõ Mat-
thcuscm fua fagrada hiftoria
tomou pcra fy o de publi-
cano.
3 Com efta coníideração
auendofc de dar a conhecer
por quem fora antes de Chri-
ílaÕ , pondo de parte a nobre-
za de íeusauòs, a antiguidade
de fua familja , fô efcreuco de
fy. Idatij ad Deum comierfio
peccatons. Conuerfaòa Deos
de Idacio peccador.
4 Feito Chrillâo, & ap-
plicado pelia grande eminên-
cia de feu engenho aos myf-
terios fagrados , depois de ai- j
guns annos de íeruiço da Igre-
ja, veoa fer eleito Bifpo de
Lamcgo.Eitando no goucrno
deíla Igreja pella grande f^tis-
fação que deile tinha o Sumo
Pontiíice fao Leaó o Magno,
Iheeícrcueo fobre arcducçaõ
dos hereges Prifcillianiftas de
Hcfpanha,^: o fez i^lla ieu le-
gado cm companhia doutro
Bifpo por nome Cáponio ( q
nós julgamos com duuida fe-
ria Balconio Arcebifpo de
Braga como em fua vida difíc-
mos) & deíaõ Toribio Bifpo
de Aftorga,& por virtude de-
fta comiliaõ prcíidio no Con-
cilio de Toledo , que errada-
mente anda com titulo de pri-
meiro em companhia de faõ
Toribio.
j Doqueimosacontar nos
dà por teftiniunha o Padre fr.
Bernardo de Brito a fantolli-
dorOj&r a Laymundo em que
cUe diz anda o cafo mais por
extenfo. No tempo q Theo-
doricólley dos Godos íogei-
tou por armas o Reino dos
Sueuos , & grande parte das
mais Prouincias de Hcfpanha,
rccolheoíc a França , onde de
ordinário tinha fua corte. Dei-
xou no Reino vencido algus
capitães, que em ícu lugar o
p-oueruaílem. Eraõ cfl.es pella
mayor
Idãcio IL
26 \
niayor parte eílrangeiros^tra-
tduão íò de íe enriquecer a íy^
íem atentarem à vtilickde dos
pouos j tiranizandoos com
tributos, & leuando mais do
qucaÍLiftanciade íuas fazen-
das podia abranger . Eraõ as
queixas Icm conto , nenhum
o remédio delias pclla auíen-
ciado Rey, & informações de
íeus miniítros , os quaes por
executarem fua cubica dcf-
faziaõ a rezaÕdos qucixoíbs
com lançarem tudo â rebe-
lião y ^ deícontentamento do
eftadoprcfente affirmando q
pêra ter os vencidos em fogei-
çaó mayores opprefsoés ain-
da eraõ neceilarias.
7 Defeíperados os Sue-
uos do remédio acodiraó aos
Bifpos , & mais peílbas Ec-
clefiafticas peraque ellas tra-
taílem entre fy em que ma-
neira poderiaõ íair cie tan-
tas miíerias. Tomoufe de-
pois de varias coníuitas por
expediente partirem alguns
Biípos a França, & aly in-
formarem a Tlieodorico das
tiranias de fcus Gouernado-
res cubcrtas com o zelo de
feu Real feruiço , ma; na ver-
dade nacidas de peitos inimi-
gos , & cobiçofosj porque os
Sueuos naõ tratauao mais que
de íe conferuar debaixo de fua
protecção íem lhes lembra^
rem tempos paílados, de que
Ihefariaõdc nouo preito mc-^
nagem , quando Theodoríco
aísy o ordenalTe. Sô queriáo
que elle per íy vielfc gouer-
nalos , ou quando naõ lhe
dc& húa peflba natural, &
confidente, em qucfe achaf-
fe a lealdade de bom' vaíTal-
lo , & o amor de bom patri-
cio.
8 Logo todos puzeraõ os
olhos em Idacio, porque eraõ
muy conhecidas íuas grandes
partes 5 aceitou a jornada pcl-
io interelle do bem publico^
&c em companhia de outros
Prelados íe pos a caminho , 3c
a poucos dias cfteue na corte
de Theodoríco . Admitidos a
audiência elle em nome de to-
dos reprcfentou , ôc períua-
dio ao Rey quanto lhe era
encomendado , o qual pago
da eííicacia, & bom termo de
fuás rezoês, õc mouido tam-
bém da preíença de tantos
Prelados logo fenl mais di-
lação fez recolher a França
os Gouernadorcs, ôz aos Siie^
uos deu licença pêra de íua na
ção efcollierem por Rey hu q
cõformefuasleis,(3í coftumes
os gouernaííe rcconheccndoo
a elle
2(i(i
Captulo LXII.
in chrcn
\inchren.
aclle,&: aos mais Rcys Go-
dos feus decendentes com hú
pequeno tributo.
í> Ia fc vc quam bem rece-
bido feria Idacio cm Portu-
gal com taõ alegres nouas:
jà por lhe gratificarem cftc
grande feruiço feito a fua pá-
tria, eftando entaõ vaga a Pri-
macial de Braga por morte
de Valério o puzeraó nella ti-
randoo muito contra fua v5-
tadeda cidade de Lamego on-
de cftiucra^ muitos annos .
E porque ( como diziamos )
efte grande Prelado fe fez
mais conhecido no mundo
por Bifpo de Lamego, que dc-
fta Igreja, por não dizerem
os daquela cidade que o tra-
zcmos à de Braga fcm fun-
damento , poremos aqui os
autores, que depois de ícu o
fizcraó noíTo , peraque vejão
quam bem fundada leuamos
noílã j uftiça. Em trcs lugares
o nomèa Arcebifpo de Braga
luliano . O primeiro no an-
no de quatrocétos òc ííncoéta
& féis . Idatius tx Lamacenfi
Epifcopus Bracharenjis ^ fuc-
cejferatanno 4^6'Valerio. Ida-
cio Bifpo de Lamego paíTado
a Braga fuccdcra a Valério no
anno de quatrocentos & fm-
cocnta & fcis.O fcgundo. Per
hc€C tcpora Turibius S. Leonis I
prius notar ius, pátria Brigatiú
in Galecia , faãus monachus
pofi longas peregrinationes fe-
cum multdí adduxit reliquias,
ad Galtciam reuerfus .feri bit ad
Idatium^ tf Cepomum^ Ida-
tiuminquam Epifcopum Bra-
charenjem , ^t illi confulant
miferrimo Galecu Tiatui re-
pulluJafcente tunc Prifcilliano ■
rumh<ereji. Ia dcfte lugar de-
mos relação, porque por vir-
tude defta carta de Saò Tori-
bio Bifpo de Aftorga, Lega-
do de Saõ Leaõ cm Hefpanha,
Sc por outra do mefmo Papa
prefidío Idacio no Concilio
de Toledo, que anda com ti-
tulo de primeiro , fendo ainda
Bifpo de Lamego, a qual pre-
íidencia fe lhe cometeo pello
grande zelo com que defen-
dia a Fè Catholica, & perfe-
guia aos hereges. O terceiro:
Florebàt per h,ec têmpora Ca~
flinus Epifcopus Bracharen-
fis , qui fuccejíit Idatio anno
494. Florccia por efte tempo
Caftino Bifpo de Braga o qual
fuccdeo a Idacio no an.de 45>4.
A luliano feguiraõ Segiíberto,
loão Vafeu,Francifco de Padi-
Iha, &c frei Bernardo de Brito.
Sobre todos os ja nomeados
cftà a autoridade de Santo
Segther,
Ati.Chrif.
420.
Paidl.eet
5.f.i4.
Biit. vbi
fufra.
Ifld
oro
Id^cio IL
267
ílidoro nos íeus varões iliu- '
ílies •, & o original do moílci-
rode Alcobaça no titulo de
íuas obras o chama Bifpo de
Galiza, ^ na fraze dos efcrito-
rcs ,& Concilies daquclle tê-
po vai o mefmo q Metropoli-
tano de Galiza, qual entaõ era
oArcebifpodc Braga.
10 GoucrnoLiídacio cfta
Igreja por eípaço de trinta &
oito annos com aqucUc mef-
mo zelo j & prudência que na
de Lamego moftrara , experi-
mentada em tantas ocafioés,
& cm. fanta velhice fe foi a go-
zar do premio de fcus largos,
6»:continuos trabalhos pade-
cidos na reducçáo dos here-
ges Prifcillianirtas que o pcrfe-
guiraõ femprecomo inimigo
mortal. Paliou defta vida pel-
los annos de 494. depois de
fua conuerfaõ 74. Eícreueo
híia C hronica do que íucedeo
no mundo em cento & dez
annoSjComeçando no primei-
ro Confulado deTheodoíio,o
qual pella conta do Cardeal
Baronio cahio no anno de trc-
zctos ôc oitenta , acabando no
oitauo do Império de Leaó,
que foi no de quatrocentos &
nouenta. Nclla continuando
com Euíebio Cezarienfe, ou
pêra melhor dizer com Saõ
lercnymo^ conta muy parti-
cularmente as crueldades coni
que os Bárbaros acormenra-
uão os Hcfpanhoes , fk dc-
If ruyaõ fuás Igrejas, pcllo que
feouuera de intitular Idatkis
Archiepifcopus Bracharenfis ,
& não Epifcopus Lamacenfs.
pois quando a compôs, ôc
quando fahio com ella a luz
auia muitos annos era Arcc-
bifpode Braga. Gouernaraõ
a Igreja de Deos por eftes an-
nos depois de Saõ Leaõ , Hilá-
rio, Simiplicio, Fclix , & Gela-
fio:& o Reino dos Godos Ala-
rico , ôc Gefalarico, dos P^eis
Sucuos ha pouca noticia.
CAPITVLO LXIII.
SANTO A P O L L I'
nar Bifpo , i^ Martyr.
O 2 A eíle
Arcebifpado
as precioíàs
reliquias do
aloriofo fan-
to ApoUinar, ou Apollina-
rio,á: he nclle taõ venerado
feu fagrado corpo que fora
injuftiçapaflarcm íílencio íua
vida fem dar algúa nociciído
qi
ue
268
Capitulo LXIII.
queatradiçáoclos paílados a-
pregoa cie íiias obras , & telH-
raunhaó os preíentes de íuas
marauilhas. Guaidamos pêra
eftc lugar a vida defte fanco le-
r T 1 ■
uados do parecer de luliano
Aciprerte de Toledo , de que
logo trataremos.
2, Perto da villa da Torre de
Moncoruo na Comarca de
Tralos montes eftàolugar de
Vrros pouoaçáoantigua, cm
cuja Igreja(q em tempos atra-
zados foi matriz ) jaz o corpo
dogloriofo fanto Apollinar^
vilítado _, & frequentado dos
moradores de toda a Comar-
ca, & de outros de terras muy
remotas pellos grandes mila-
gres q Deos N. S. por fuain-
terceííaõ obra naquelle lugar.
3 O Lecenceado Gafpar Al-
uarezLouzada teuepera fy q
fora efte fanto Bifpo Francês,
&í entre outras memorias que
deixou na torre do Tombo fc
achou a feguinte. Santo Apol-
linario BifpoFrances,ttfeu cor
po,ou a mayor parte delle enter-
rado em hú lugar q chamao Vr-
ros ajunto do Douro termo da
Villa de MÓcoruo Reyno de Por
tiigal Arcebifpado deBraga .
Achou efta memoria na tor-
re do Tombo loaõde Mel-
lo Feo Abbade de Vrros, en-
tre outros papeis que buí-
caua pêra hua Igreja do pa-
droado Real fobre que an-
daua em requerimentos. Indo
ao lugar de Vrros hú Francês ,
peílba ao parecer de confidcra
ção^viíitar o fepulchro^&reli-
quias de S. ApoUinario pella
informação que teue de feus
milagres, diíle que o fanto era
Bifpo Francês , & que mere-
cia fcr muy venerado^porq era
conhecido por todo o mundo
pellas marauilhas que obraua.
4 luliano Acipreftc de inaâmr,
Toledo teue pêra fy que fora ^'*-2'43-
cfte Santo aquelle infigne ef-
critor Sidónio ApoUinar Bif-
po Aruernéíe em França,cuj3
vida depois de Gregório T u-
ronére,Génadio,BeIIarmino,c
outros efcreue Baronio no 6.
tomo dos annaes^ onde dà rela -fiig.iozx
ção de feu illuífre nacimento, j^ """•
dos oííicios,&: magiftrados q ^^6^^'
ocupou,das obras q compôs,
dacharidadeqcom os pobres
vfou,& finalmente da fantida-
decom que acabou a vida:flo-
receo pellos annosde48o. em
que leuamos efta hiftoria.
5 Vindo luliano a Braga có
o Arcebifpo de Toledo D.Ber
nardo no tempo q viíitou efta
Prouincia como legado que
era da Sè Apoftolica, vol-
tando
Santo Apcllinar.
26q
raiido pêra Callclla teuc no-
ticia e] ellaua no lugar deVrros
cicíle Arcebiípado o corpo de
S. Apollmar, &: enformadoíc
deíla verdade achou q era Si-
dónio ApoUinar, cuja fefta ce-
lebra a Igreja a i^ .deAgofl:o;&
q aly tora trazida grande par-
te de íuas fagradas rcliquiasiaf-
fy o teftimunhacoas palauras
ícguintes.jEr rediens ad Casiel-
lÁ in itmere audiui corpus ejfe
S. Jpollinaris^t^ doãumfuijfe
percepiSidomúÀpoUinarcEpj-
copii Aruernenfem^cuius ftíium
agitur 13 , AuguTit , cuius hona
pars corporis illuc adlata eíi,
Cõ efta opinião pafia luliano
Icuado das informações q teue,
de c] rcfulta grande hora a eftc
Arcebiípado em ter décro é fy
as relíquias de hú Prelado taõ
ranto,& efcritor taó iníígne.
6 A tradição antiguadoLu-
gar, òí de toda a Comarca té q
foi efle fanto Frãces de nação,
Bifpo, & juntamente marcyr^
&í conta que veo de húa po-
uoação quceftàda outra par-
te do Douro,& fe chamou an-
tiguamentc Calábria ,& hoje
Calaure_,no limite da villa de
Almédra^fituada no mais alto
de hú mote cercada ao redor de
muralha aruinadsj onde fcvc
letreiros antiguos , & outras
memorias q dão finacsde gra-
de antií^uidade Das raízes do
monre pcra a parte do meo din
nace húa ribeira muy frefca q
quaíl o rodea todo, onde fc ve
húa ermida da inuocação de
Nofla Senhora do Capo com
muitas pedras antiguas^ & le-
treiros gaftados do tcpo,& cõ
lumidos dos annos. Nclle mó
te, òc pouoaçocs vizinhas he
fama cõftantc q prègaua o fan
to aos moradores: dclle veo fa
gindo pcra o lugar de Vrros,
perfeguido dos inficis quelhc
querião tirar a vida porq prè-
gaua aChriito, &: publícaua
íualcy. Trazia o íanto hú bor-
dão nas maósj&pera proua de
íuaFê, e cófuíaõ dosq nella naó
querião crcr,bateocõ clle na
terra, & logo como íe fora hua
plãta verde pcgcu,e laçou rai-
zes,floreceo,eTcfez aruore. Ao
pè delia arrebetou húa fóte cia-
ra^cujas agoas imirauão em tu
doas do rio Doviro,como qfc
nellc tiueraõ íeu nacimétorpor
q indo clle enuoico tinhaõ tábc
as agoas da fóte a meíma cor, e
logo íe coauão tanto q as do
Dourotornauãoaíeu natural.
7 Os torm.cntos q o fanto
padeceo fe vem pintados no
rctabolo da capella a onde eíla.
No painel da parte direira,
23
fc
no
Qaptulo LXIII.
femollraofanto lançado no
chão atado pellos pês adous
touros brauos pêra o arraíta-
remàvifta do Tyrano, cjue
o mandaua atormentar j & el-
les perdida a braueza natural
femoftraò taõ manfos, que
nem forças tem pêra arra-
llarem o íanto . Da parte ef-
querdaeftà ofanto aílentado
à porta de húa Igreja veftido
de Pontifical , & dous touros
agioihados beiiandolhe a mão.
Vele em outro painel pregar
o fanto aos Gentios, arrimado
aos muros de hum templo^ou
caía antigua, & dentro , & fo-
ra delia muita gente vellida de
roupas largas ao parecer magi-
ftrados , S>í peíToas de autori-
dade. No vitimo painel eftà o
fanto pofto em oraçaõ cò mi-
tra na cabeça junto à aruore
em que fe c õuerteo o feu bor-
dão , & detrás delle o algoz
com hum alfange na maocõ
que lhe tirou a vida,& lhe deu
a palma degloriofo martyrio.
8 Ao lado efquerdo do
altar na parte da Epiftola eftà
o fepulchro do fanto leuanta-
do fobrc quatro leões de pe-
dra com o feu retrato aberto
nalageaj que cobre o tumu-
lo com capa , báculo , & bre-
uiario . Fica debaixo delle a fe-
pultura antigua do mefmo fan
to toíca, 5^ íem nenhum arti-
ficiOj donde fe tiraua terra que
leuauão os enfermos pcra cura
de varias enfermidades.
p Saõ infinitos os mila-
gres que obra Deos pellos me-
recimentos defte Santo. Sen-
do Abbade daquclla Igreja \ú
loaõPíz foi a ella certo Viííta-
dor do Arcebifpado, o qual
defcófiando de eftarem aly as
relíquias do Santo quiz fazer
experiência do que auia nafe-
pultura: procurou abrila , &
o mefmo foi intentar a obra
que perder cm continente a
vifta dos olhos. Abriraõfelhc
porem os da alma, &vio,&
conheceo o erro em que cairá
nacido de fua incredulidade.
Recorreoao fanto, &fazen-
dolhe híía nouena no mefmo
lugar, recuperou a vifta per-
dida.
IO Hum moço por no-
me Francifco da villa de Ra-
nhados aleijado de hiãa perna
que trazia fobre húa muleta,
indo em romaria à Igreja do
fanto, & cncornendandofea
ellc alcançou faude , & fcm
aleijão nenhua partio pêra fua
cafa deixando a muleta pendu-
rada nas paredes do templo
em teftimunho de fua cura, &
dT
S(^nto Apollinar.
271
do milagre do Santo.
II He grande o numero
de homens, & moços quebra-
dos^a quem eíle íanto deu in-
teira faudc. He particular auo-
gado derte mal , porque cha-
mandoo,& pedindolhc rcmc-
mediOjOu com orações, ou
comllieofferecercmhua mif-
ía lhe alcança logo remédio,
como íc vio em muitos que
neíle anno de 634. & nos
paliados publicarão efte mi-
lagre com grande gloria do fan
to martyr.
12, Hú homem de Riba
deCoalcuaua hum minino fi-
lho feu doente em romaria ao
fanto , pêra lhe pedir faude na
enfermidade que padecia. Mor
reo a criança no caminho, po-
ré náo deixou o pay de ir por
diante : chegou à fepultura do
fanto, proftoufe diante cíella,
offereceolhe com lagrimas o
minino morto,pediolhe vida,
o fanco lha alcaiíçou liberal-
mente , & refucitou o defun-
to com admiração de todos.
15 Leuando hum jorna-
IcirohiTia pedra em hum carro
pcra a fepultura cíofanto,quã-
do de nouo fe fazia , queren-
doa meter dentro da Igreja os
boys fe detiueraõ na entrada,
& agiolhãdo primeiro ambos
feleuantaraõ, &í foraõ cami-
nhando com a pedra reconhe-
cendo , (k venerando a fanti-
dadc do lugar , onde jazião as
reliquias de tao grande mar-
tyr.
14 Outros muitos mila-
gres fe contão dcfte fanto , os
quais andáo na boca , òc na
memoria dos moradores da
quellc lugar,& dos outros vi-
zinhos, de que tiuemos çn-
formações verdadeiras de pef-
foasdaComarca que hoje faõ
viuas, & fentiraõ emfy, &
experimentarão os meímos
milagres. O fcnhor Arccbifpo
de Braga Dom Frei Berthola-
meu dos Martyres quando
vilítaua a Parochia de Vrros,
hia fempre em romaria a Igre-
ja , & capella de fanto Apol-
linariojÃ: aly com o peito por
terra veneraua fuás reliquias,
& dizia, que ainda que não
foílem de algum dos fantos
Apollinares de que fe tinha no
ticia,podia5fer doutro do mef
mo nome, & de igual fanti-
dade, como bem moftrauão
os milagres que Deos Noífo
Senhor por eíle obraua.
I y Náo fabcmos ao certo
o tempo em q efte fanto flo-
receo,& alcançou a coroa de
martyrio.LãçamoIo nefte lu-
Z4
^ar
272
í
Capitulo LXIII.
gar correndo os aniios de 4í^o
por cair nelles o Pontificado
de Sydonio ApoUinar como
acima diíTcmos. Em cjuanto
na5 vier quem lhe ache lugar
mais certo, tcrà ella memoria
taõdciiicíaa íeus merecimen-
tos na hiíloria que imos te-
cendo dos Arcebiípos, 6c ían-
tos de Braga.
CAPITVLO LXiriI.
C A S r I N O XXV.
Arcebifpo de B raga.
O R morte
do Arccbilpo
Idacio fu ce-
de o na cadei-
ra Primacial
59-
\
iião loco]
de Braga Caftino varaõ muy
catholico , & religiofo de j^rã-
de nome, como telrimunha
luliano dizendo. Flor ebat per
h^c têmpora CaflinusEpiÇcopus
Bracharenjis,qiiifuccefsit Ida-
tio anno 494. fuit aiir apprime
çâtholicus. Tãbé nos dà noti-
cia luliano de húa legaciaApo-
ftolica^q o PapaHormifda lhe
cometeo cõítituindoo Vigai-
' rofeunaProuinciaBracharcfe,
faõ as palauras de luliano as q
Tc íeguem. Cum Orientis Ep/f-
copi curarirecufarent, Hormif-
da Pontifex pofuit Vicários ^
loanmm Epifcopum Tarraco-
nenfem Proiúncufiu Vicariú^
Salv.fiium B^tic^^tfpartis Lu-
Jitanice, Celfum Carthãginenjís
Prouincia _, Caftinum Bracha-
rejisiiulfetcjj idem Pontifex, iJt
qui in allqua regione reperi-
rentur^ irentcj^ omnes cum con~
fefsionejidei Catholico detesta-
tioneijj illorum errorum, qui
tunc grajfabaníur, i;j' omnes
Catholiciy qui pergerent ad re-
giones infeãas b^rejipro uiati-
cofdei fu^fecum ferrent tejii-
moniafideifiu, ea^ tabidis pu-
bliciefidei conjignata. Querem
dizer: naõ querendo os Bif-
p os do Oriente aceitar curado
Papa Hormifda pòs por Vi-
gairos íeus na Prouincia de
Tarragona aoBifpo delia loaó,
& na de Andaluzia,& parte da
Lufitania a Saluílio : na Car-
thagineníc a Ceifo , òc na de
BragaaCaftino : ordenou o
meímo Pontifice que rodos
os que fe achaíTcm em algiáa
terra foíTem cõ a confiflaõda
Fè Catholica^ & deteftação
dos erros que entaõ auia^ Sc
que todos osCatholicos ,que
fofiem a terras inficionadas de
hercgias.
C^Hhw.
271
I
hcregias Icuallem por moftras
cieíua Fè hum inltrumenco
delia firmado com autoridade
publica.
1 Pêra entendimento de-
itas palauras de Iuliano,& no-
ticia do que por ellies tempos
paíl'aua,& do oííicio de Vigai-
ro, que o Papa Hormifda deu
ao noíío Arcebilpo Caílino^
^ aos mais Metropolitanos
acima referidos: he de íaber,
quctãtoquco Papa Hormií-
da foi eleito Summo Ponti-
fice^ vendo que eftaua a Igreja
Catholica muy affligida, &
que as heregias Arriana,(S,: Eu-
tychiana eraó muy fauorcci-
dasdo Emperador Anaftaíio,
& deTheodorico em Itália, &
deTracimundo cm Africa^tc-
ue ordem com Thcodorico,
pcraque deíTc calor a que em
Roma fc celcbraíle hum Con-
cilio, em o qual fe difputaíle
muy de propoíítoa verdade
da Religião Catholica. Ajun-
touíc o Concilio, & nellc íe
condenou de nouo o erro de
Eutyches,& fe approuou , &
confirmou o Conciho Calce-
donenfe : &: porque hum dos
principaes defeníores da herc-
giaEutychiana eraloaõPatriar-
cha de Conítantinopla^ man-
doiio o Papa Hormiida amo -
cllar que Ic aparcaíle da-
quellaíeita, 5c confellaííecm
Chrilto Senhor' Noíío duas
naturezas. O ímpio Patriarcha
com o fauor do Empcrador
Analtaíío não fò não obede-
ceo à amoeftação do Sumo
Pontifice , mas ainda tratou
mal depalaura aos Legados da
Sê Apoll;olica,dosquaei era o
principal Ennodio Biípo de
Pauia ,miandandolhe que lo-
go fe íaiílbm de Conllancino-
pla:& fazcndoos embarcar em
hum nauio velho , <í\: roto, os
ameaçou que lhe mandaria
tirar a vida íetomallcm por-
to em alí?um lugar de Grécia.
Porem Deos que naocoílu-
ma deixar ícm caítigo íeme-
Ihantes deíobediencias , deu a
efte Ímpio Patriarcha o que
juftamente merecia, porque
antes que Ennodio chegafle a
Itália , deíjpcdio oCeo hum
rayo fobre elle, que o abrafou,
& lhe tirou a vida , deixando
com a morte vaga a Cadeira
o
deConll:antinopla,que inju-
ftamentepofluya. O mcímo
cartigo teue o Empcrador A-
naftalio, o qual com igual fo-
berba,^ arrogância reípon-
deo ao Papa Horm.ifda, ^ lo-
go vio fobre fy a pena, & vin-
gança delia, que o Ceo tomou
lança n-
;74
Qafitulo LXIÍII.
\
Baranjo.
é. cmi.
ÍChrifft
j i *
llhcfc, U.
3 •<••;.
lançado outro ray O com que
o priuou da vída, &c do im-
pério.
I 3 Neíie tempo o Papa
Hormiída como Paítor vigi-
laiitiísim.o que era tratou de
acodir às igrejas de Hefpanha
preuenindo osPrelados delias^
peraque com cuidado aren-
dcííem a que fc não íntrodu-
ziíFe aigum erro em feus Bif-
pados dos que cftauao con-
denados pcllo Concilio_, que
mandara celebrar^ íobre o que
cícreuco tambcm varias car-
tas a todos os Prelados dcHef-
panha em. comum, & cm par-
ticular húaaoBiípo loaõ de
Tarragona, & outra a Saluftio
Biípo de Seuilha, nas quaes os
faz Visairos , ôc Legados fcus
comctêdolhe luas vezes Apo-
rtolicas pcra congregarê Con-
cilio^ & ordenarem tudo o q
tocaíTe à matéria da Fé. Deflas
cartas faz menção Baronio_,&
Padilha^ entre as quaes anda
húa pcra todos os Bifpos de
Hefpanha com a copia da c5-
denaçãodos hereges Gregos,
ôc formada Fèpera com cila
fe guardarem os fieis decair
em feus erros , ôc não admi-
tirem a fua comunicação pcf-
foa algúa tocada delles fcm pri
meiro os abjurar, ôc fazer pu-
blica prohííaõ da Fe, pelio
teor da que na carta lhe en-
uiaua. A ocaíiaõque o Papa
tcuepcra mandar eílc auizo,
ôc caiTtcla a Heípanha/oi por
virem a Africa muitas pcííoas
do Império Oriental inficio-
nadas pella mayor parte dehe-
regia, & com animo deafe-
mear pellos lugares por onde
paílauão . Sendo pois certifi-
cado o Papa Hcrmifda por
íoaõ Metropolitano de Tar-
ragona , que alguns Gregos
vinhãoaHefpanha,& que fua
comunicação, juntamente cõ
a vizinhança de Africa, podia
fernociuaaos HcípanhoesCa-
tholicos, ôc pega r lhe o mal de
que andauáo contaminados,
mouido com zelo de verda-
deiro Paílor o fanto Pontífi-
ce lhe da na carta que dilTc-
mos faudaueisauifos,& docu-
mentos do que feria bemfa-
zcrfcneíta matéria.
4 A proteitação , ôc con-
fiílaõ da Fè,que o Papa diz ne-
fta carta auião de allinar as
pcííoas Oricntaes que quizcí-
íem fer admitidas à comuni-
cação dos Hcípanhoes , traz
Baronio, cujo treslado em
Portuguezdizaíli. O que em
primeiro lugar conuem fii^er
pêra falua cao da alma he guar-
dar
67^.
CaHino.
27$
d.an./^i']
■MÀM
te,
dar a reç^ra da njerdadeira Fe.
Í!f níío defuiar dcu coufas que
eflao decretadcvs pellos anti-
guos , nao deuendo efquecer o q
Chrijio Nojfo Senhor dijfe a S.
Pedro tu es Pedro , i^ffobre
efta pedra edificarei minha
Igreja,l:fc. Proícgue anathe-
matizaiido todas as hercgiaSj
& conclue dizendo. £y^ eu em
algúa coufa tentar de me apar-
tar deHaprofiJ?ao eu mefmo me
condeno lisf ejiaprofijfao afsi-
neipor minha maÓ ^ Í5^ a enca-
minhei ao Santo ^ isf <^enera-
uel Hormtjda Papa da cidade
de Roma .
$ Efta proíàíTaõ da Fe a-
uiaó de fazer todos os eftran-
geiros, que das partes Oricn-
taes vieííem 3 Hefpanha , pcra
com cila como pedra de to-
que fe darem a conhecer aos
Catholicos,& poderem fer
delles recebidos afuacõmuni
cação ', alem de fcr neíle tem-
po ( como o notou Baronio,
& aponta luliano) coufa muy
vfada cm Hefpanha , quando
algum catholico fahia delia,
& hia pêra as partes do Orien-
te leuar coníígo eftà profiílaó
da Fè, como triaga contra a
peçonha das heregias que por
aqucllas Prouincias andauão
mais acefas . Tal era a Fe dos
Hefpanhoes , taõ pura , & tão
viua naqucUes tempos , que
verdadeiramente cnuergonha
a frialdade da que le enxerga
neftcsnoílos.
6 Das cartas do Papa Hor-
mifda , & do q dizé Baronio,
&c Padilha não confta mais
quede dous Vigairos, ou Le-
gados que o Papa fez em Heí-
panha ; a faber loaõ Biípo de
Tarragona na meíma Prouin-
cia, & Saluftio Biípo Á^St-
uilha nas Prouincias de An-
daluzia, &c Luíitania. A eftes
ajunta luliano outros dous
Legados , a faber. Ceifo Biípo
de Toledo na Prouincia Car-
thaginenfe^& CaftinoBifpo
de Braga na Prouincia Bracha-
renfe-, & acrecenta que por
cartas do Sumo Pontiííce íí-
zcraóSynodos em fuás Igre-
jas os Bifpos loaõ de Scuilha^
Afcaniode Tarragona, Cafti-
no de Braga, Ceifo de Toledo,
todos varões em virtudes , &í
letras eminentiíTimos. íoan-
nes Bifpalenfis ( diz luliano)
Afcanius Tarraconenjis-, Caíii-
ms Bracharenjís ^ Celfus Tole-
tanm literis^ljf fanãitatepr^-
flantes Epifcopi frequentes Sy-
nodos habent infuis fedibus li-
teris Bormifd^ Pap4.
7 Dura a memoria defte
l__l_l_ 11- 'III I -i !■ - - llfTt»
cxcellente>
tH chroHé
p4g»6t.
\76
Capitulo LXV.
cj;irellence,& fanto Prelado , a
te os -annos de 524. em cjuc
deuiâfuceder íún bcniauentu-
rada morte, porque no nieí-
mo anuo achamos afcu fuc-
ccíToT Valério como logo di-
remos . Foi Arcebifpo defta
Igreja 30. annos^ porque fcn-
doeleiro no anno de 494. mor-
rcopellos ânuos de5Z4. pofto
Que luliano diga quefoipcl-
los annos de jjo, em q ha ma-
nifeílo erro daimpreílaó, por-
que doutra maneira fe en-
contraria configo mefmo lu-
liano pondo a Profuturo In-
ce ffor d€ Valério no anno cm
que morreoem Itália ElRey
Theodoríco^ que foi o de j-ió.
Era SummoPontificc por efte
tempo depois de GcIafio^Ana-
ílaíio, & Symacho, o Papa
Hormifda , òí loaôíeufuccí-
ror,& soucrnaua oReino dos
Godos Amalerico. Dos Reys
Sueuos por cftes annos naõ ha
noticia ; naõ mereciaÕ nome
porque o tinháo de hereges, &
eftaua todo ícu Reino conta-
minado com a pcruerfa feita
de Arrio.
CAPITVLOLXV.
VALÉRIO II. D O
nome XXVI. Arcebifpo de
Bm?a.
E Valério II.
do nome não
remos mais q
as palaurasdc
luliano. Flo-
rebatumc Valerius Epifcopus
Bracharenfs, qui CaBinofuc-
ctjkrntab anno ^^o. mfanãa
Sede Bracharenji. Florccia en-
tão Valério Bifpo Bracharcn-
fe, o qual tinha íiicedido a
Cartíno no anno de 550. Ia
diílcmos andaua viciado efte
algarifmo porque dizendo a -
diante luliano que Profutu-
ro fucedera a Valério no anno
da morte de Theodonco Go-
do Rey de Itália, comoefta
foíTc no anno de ^z6. bem íe
deixa ver cahio a fuccílaõ de
Valério muitos annos antes
do de 5 jo. & ainda alguns pri-
meiro que o de 5x6. pois de
ncccfsidade lhe aucmosdedar
algum tempo de gouerno an-
tes
chrorf
^ag.6o.
CbrijU.
Padtlhn
cet.b.c.
Tj-cfíítHro 11.
277
m chyon,
fug.61.
tes (Jc Profutiiro feu fuccf-
lor. Dizemos loro que pa-
rece poderia Vaicrio íer elci-
ro peilos annos de quinhca-
tos Ôz vinte quatro , ôc du-
rar ate o principio de quinhé-
tos Ã: vinte ímco, em que
foi 3 gozar da bemauenturan-
ça no Pontificado do Papa
Félix JI II. do nome íuceííor
do Papa loaõ, Reinando em
Hefpanha Amalaríco.
CA PITVLO LXVI.
PROFFTFRO II.
do nome XXVII. Arcebif-
po de Braga.
A M B E M
elle íanto Prc
lado íc logrou
pouco no Ar
cebiípado:foi
rcebiípo de Tar-
raeona íucedeo a Vaicrio no
o
anno de quinhentos & vinte
finco , & pouco depois mor-
reojdellcefcrcueoluliano. jPro-
futurus Archiepifcopus Tar-
raconenfisfuccedit Valeria. A-
prmieiro
I ciniadcixaniosaucriguado não
j fer erte (como algús cuidara õ)
o ProfutLiro de quem fala o
primeiro Concilio de Braga
entre os impreílos . Gouer-
naua por elle tempo a Igre-
ja de Deos o Papa Fclix IIII,
& rcinauaem Helpanha Ama
laríco.
CAPITVLO LXVII.
SANTO AVSBER-
to XXVIII. Arcebifpo de
Braga.
Oraõ taõ a-
preíladas as
mortes dos
dous Prela-
dos Valério,
& Profuturo , de que tra-
tamos nos capitules palia-
dos , que ambos naõ che-
garão a ter hum anno de Pre-
lazia nefta Cadeira de Bra-
ga , & afsy não ouue tem-
po pêra delles nos ficar al-
gija memoria. Sucedeolheo
illuftre, & fanto varaõ Auf-
ucrto , ou Aufberto Fra--
mengo de nação ^ ao qual
•5í«-4
Aa
lendo
171
Qãpitulo LXVIL
Maityr.
13. de
VfMrd.
tod.die.
Baron.iH
KOt
íendo cílrangciro deraõ íuas
pcrcízrinas virtudes ella Ca-
dcira Primacial de Braga, &í
depois foi pregar a Fiandes,
onde niorreo deixando de íy
illu lhe nome, & com riculo
de Apollolo daquella Pro-
uincia . lie venerado em coda
ella. Fazem memoria deite ían-
to Prelado o Martyrologio
Romano , & o de Vfuardo,
Baronio, Molano , ò>: outros
muitos que refere, os quacs o
nomeaõ porBiípode Cam-
Moia. m bray :Iuliano , Marco Maxi-
miaitfm j^q Pcdro Cabilon, o Bif-
cemh. po Equilino , rrei Prudencio
Eqmhno. Jg Sandoual, leronymoRo-
' '^■^'^^'j man delaHiguera, o Padre
I Coime de Magalhães nos lu-
MagaU gares que adiante referiremos,
*r/r'^r'' & o Cataloeo anci^uo dos
\no íimo \ Arcebiípos deita Igreja o no-
\àosAnjas nicaó pot PrcIado delia, &:
não ha duuida que o foi, &
queiucedeo nella por morte
deProfuturo, como diz ex-
preflamente luliano com as
palauras íeguintcs. Eodeman-
no Pro futuro Bracharenji fiic-
cedit Aufuertus-uir egregiepe-
rltus , if/fanãus in Sede Me-
tropolitana Bracharenfi. Chá-
malhe luliano nelle lugar muy
douto, & muy iantocomo
realmente o era.
Chren.
\rí
61.
2, Tanto que foi eleito
Arcebifpo de Braga , logo no
meímoannoteue h.m reuela-
çáo do Archanjo Saõ Miguel
peraque lhe cdiíicaíle, & con-
lagrailchum templo no Rei-
no de Galiza na Ilha Tum-
ba, hoje Tambo defronte do
Padraõ, a cuja coníagração af-
liítiraò osBilpos íeus fuítraga-
neos. DodeTuy no lo certi-
fica Sandoual nas Antiguida-
des daquella igreja . iVíarco
Máximo põem eita dedicação
cõ as palauras ieguintes. Auf-
bertus Bracharenjis Epifcopus
à Diuo Michaele Archangelo
diuinitus admonitus in injula
Tumba prope maré Gallaicum,
nec proculà Britânico templum
cumfuffraganeisMichaeli dedi-
cat.O mcímo afíirma qualí cõ
as mcímas palauras Franciico
Maurolico.
3 De hija embaixada ce-
lebre nos da noticia Marco
Máximo que fez a França,
pouco depois de eleito Arce-
bifpo por mandado daRainha
Crotildes molher de Amala-
ríco Rey dos Godos , a dar
conta aos Reys de França icus
irmãos dos aggrauos que re-
cebia de feu marido Amalari-
co por conicruara Religião
Catholica em que fora criada.
Sand.
Chr»n.
foi. 1.82.
verj.
17 Cíí/f,
Noutm.
Santo Aíisherto.
279
Mt-àÍAX
in chron,
vi. lá^
T IH
1/.
B.tron.tc,
FMlíl.Ut
As rczocs que ouue pêra fa- |
ztr o nofib íanto eila cm- j
baixada , ôc ler eleifo pêra I
cila aponraremos adiante. O !
lugar donde nos conlhi que |
elle a fez he de Marco Máxi-
mo, que diz afsy. Ausbertus
Bracharenfs Epifcopus ijir
ecreo-ius literis, prudentia , tf
rdi-y'wne , à Regina Crotdde
Amãlaríci Regis Vuijegotho'
rum htereticiconiuie Catholica
Ic^ãtus ad fratres eius Gallo-
ríín^ Rezes fecretò mittitur eo-
d(m nmpore. Querem dizer
no nicímo tempo Aufberto
Bilpo de Braga, varão abali-
zado cm letras j prudência^ &
Religião foi embaixador a Fra-
ca mandado em fegredo pella
Rainha Crotildes Catholica^
molherde Amalaríco herege
Rey dos Vuifegodos com re-
cado a fcus irmãos Reis de
França.
4 A caufadefta embaixa-
da, & o íim pcraque fe fez,
òc lucefloque teuehe neceíía-
rio referir peraque íe entenda
melhor . Prccopio, & Gre-
gório Turonéíe referidos por
Baronio , & Padiiha contaõ
que Amalaríco Rey de Hef-
panh3,«S<: de Gália Narbonen-
íe por poíluir pacificamente
as terras que tinha em França
cafou com Crotildes filha de!
R.cy Clodoueo, que fui o pri-
meiro Chriítaõ , que ou ue na-
quclla Prouincia •, o qual an-
tes de morrer partio o Reino
entre quatro filhos qiie ti-
nha Childcberto, Clotareo^
Theodcríco, 6z Clodomi-
ro. £ra Amalaríco Arriano,
& Crotildes Catholica 5 da
difPerença da religião nacco
a diícordia , & ódio, & era
tão grande o que A^malaríco
tinha a íua molher que a tra-
tauacom palauras muyafron-
tofas , & íaindo a Rainha pê-
ra ouuir m-ilía , <5>:aí]iftiraos
oíficios Diuinos nas Igrejas
dos Catholicos lhe manda-
ua o herege Rey lançar cou-
fas im mudas pcra a affligir , &
injuriar ; Sc chegou a taleftrc-
mo o ódio ejue lhe tinha, &
crueldade com que a trataua
que hum dia a ferio deirja-
neira que a Rainha laftima-
da eniopou hum lenço em
fangueque corria das feridas,
& o mandou a feu irmão
Childeberto com queixas das
injurias , 6í defprezos com
que leu marido a trataua.
Ell:a embaixada leuou o ían-
to Prelado Aulterto, como
afiirraa Marco Máximo, ain- ufoUZ^
daque Procopio , Gregório 1
Aai
T
uro-
2HO
Capitulo LXVII.
Turonenfc ^ Baronio , & os
mais aucores,quecontaõefte
caíonáo nomeao o embaixa-
dor delia.
$ Chegado o fanto Pre-
lado a França deu conta do
negocio a que hia , òc enfor-
mou a ElRey das afrontas que
padecia a RainhaCrotildes lua
irmã, dandolhe claras moftras
delias no lenço tinto cm fan-
gue , que lhe aprefentou , o
qualeftaua pedindo vingança
das injurias que a Rainha pa-
decia por fer catholica, &: ver-
dadeira chriftã. Tanto que
ElRey Childeberto vio o len-
ço banhado em fanguCjtS: ou-
uio as eflicazes rezoês com
queSãto Aufberto o perfuadia
a logo acodir ao perigo emque
eftauaa Rainha fua irmã por
conferuar a pureza catholica,
cheo de paixão, & defejo de
vingança ajuntou hum gran-
de exercito ^ òc com elle veo
a Hcípanha. Gregório Tu-
ronenfc , a quem fegue Baro-
nio, diz que Childeberto paf-
íou de França aHefpanha com
fua gente , òí chegou a hua ci-
dade mí^ritima, onde eftaua
Amalaríco, o qual vendofe
fem as forças necelíarias pêra
refiftir ao poder com que vi-
nha contra elle o Francês fcu
cunhado , determinou fuçir
por mar , & apreílandoo o
medo, ò deteue a auareza,por-
que cílando ja pêra íe embar-
car lhe lembrarão certas jo-
yas de muito preço, que lhe
ficauaõ no thezouro que dci-
xaua , & tornando à cidade
pêra as tomar , & leuarconlí-
go achou que Childeberto a
tinha ja entrado , & cftaua
íenhor delia j & não podendo
entrar na cidade , nem tornar '
íecom íegurançaaomar, en-
tre aperto , & defeiperação
fc acolheo o miferauel here-
ge ao fagrado de hiía Igreja
dos Catholicos, parecendo-
Ihe que aly poderia elcapar
comvida. Porem não per mi-
tio Deos que a Igreja valef-
fe a quem tantas vezes a ti-
nha profanado , & perfcgui-
do , & antes que Amalaríco
entraíTe nella lhe deu hum
foldado húa lançada, com que
acabou mifcrauelmentc a vi-
da . Eflc fim teue o maldito
herege perfeguidor da Re-
ligião Catholica , & da inno-
cente Rainha Crotildes, po-
ftoque Procopio, ík fanto líl-
doro referem o fuceílb doutra
maneira.
6 Profeguindoo Francês
a vitoria, que felifmente ouue
contra
.»**■
Santo Aust;€rto.
ifttn^'ita,Sá'fi^MrJ^
âáí
contra o herege icu cunhado
c defpojou de iuâs riquezas_>
6: mczouros , &c com elles, de
íi:a irn^ã íc tornou vkorio-
ío pêra França, No caminho
mcrreo a cathoiica, &c rcU-
gioía Rainha Crotildes,& toi
enterrada em Paris junto a feu
|.^y Clodoueo . Entre outras
peças ricas , &c de muito pre-
ço, que auia no thezourode
Amalarico achou Ghildcbcr-
toíeflèntacahces, & quinze
patenas todas de ouro, & pe-
dras precioias,& outros vazos
do culto Diuino riquiilmios;
os quaes mandou repartir pcl-
ias Irrcjas de França.
7 Cite rol o íucefloda
embaixada, que fez o nolío
fanto Prelado: pêra a qual de-
uia íer cfcolhido pella Rainha,
ais y pella autoridade da peííoa,
6í dignidade , como pcUas
muitas letras , d>í grande zelo
que tinha de acodir pella Reli-
gião , &: Fè Catholica: ao que
íeajuntaua íer Framengo de
nação, vizinho do Rcyno de
França , &: quaíí natural dclle^
& por ventura que vicíle a
ríclpanha com a Rainha ^ &
aísy Goncorriaó muitas rezoes
pêra ícír preferido neíla embai-
xada a todos os mais Prelados
defeus Reynos.
8 Goncluido com tào proí-
pçrofucèílb eíU negofeio Te re-
colheo Aufbercoà lua ígic-
ja, onde fua muita chatidÃdej
Ã: zelo da íahiação das alnias
o meteo noutro mayor, Rci-
nauãocntaõ ipor todoòRti-
no de Galiza os dcfuaríos^ &
heregias Arrianas, porque co-
mo osReis Sueuos eílauao in-
ficionados delias ieguíaõ os
membros a cabeça j & os vaí-
íalos ao fenhor , & afsy erà o
remédio difiicultoío. Prègauà
o fanto Prelado contra a maU
dica feita, moftrando a ceguei-
ra em que andauáo os que à fe-
guiaõ 3 òc perfuadindo com
rezoes viuas que àbrclçaífeni
a verdadeira Reli^ziaõ Githoli-
ca , fora da q liai íe não podiaò
faluar i Tanto pocíeõ exem-
plo da vida 3 & torça do efpi-
ritocom que prcgaua qaba-
lou o coração S.o Rey 3 &
mais peíloas da cafl Real ^ os
quaes conucr tidos a Deos em
humConcilioj que logo por
or Jem do meímo Rey fez a-
juntarofanto Prelado abju-
rara 5, &i Jcteílaràõ íolcniie-
mente í1 hercgià Arrianà èm
o
que ate encaõ Viucrao: & fi-
zeráó húa publica fcoiífííTaó
daFèi primeiro ò Réy í &
Rainha, depois feu filho Âria-
Aa3
inirol
282
Capitulo LXVIL
in chro».
mirOjlogo os Bifpos hereges,
ôc após elles os nobres, ôc
cortezaõs do paço^aqueip. fe-
guiraóo vulgo, ôc gente po-
pular . Aponta Marco Máxi-
mo que foi efta conuerfaõ no
annoclej3i. & ajunta queà
imitação delia fez depois ou-
tra abjuração femclhante em
Toledo ElRey Rccaredo com
as mefmas cercmonias dcte-
ftandoafeita Arriana. Saõ as
palaurasde Marco Máximo as
quefefeguem. TuncSueuorú
jitfohnnis renunciatio^l^f abiu-
ratio hterejts Ariana , iif Jídei
confefsio, njt pofl faãa eftjub
Reccaredo Rege Gothorum Ca-
tholico Toleti cum eifdem c^e-
remonijs. ^bmrauerunt primú
Rex , llf Regina^isf Ariamirus
eorum Jilius , deinde h^retici
Epifcopi ,poH Palatini , ljí'po-
pularesin Concilio, quodcolle-
git Regis império Ausbertus
Epifcopus Bracharenjis ante-
quamproficifceretur in Belgiú
cum alijs Epifcopis. Querem
dizer o que ja temos referi-
do.
9 Deftc Concilio, que
por ordem delRcy fez ajun-
tar o Arccbifpo Auíbcrto,
naõ temos Cânones, ou De-
cretos alguns , nem por ven-
'tura
os aucria.
porq
uc
fófc
cõgrcgou pêra a prcfiííaõ da
Fè,q de nouo faziaõosReis,&
Reino dos Sueuos. Naõ nos
conrta quacs foílem eftes Reis
nem como fe chamauáo, &
a rezão he porque do tempo
dei Rcy Rimiímundo ate a
entrada de Theo^míro no
Reino dos Sueuos, que foraÕ
quaíí cem annos ^ paflaõ os
Autores com tanto filencio as
coufas daquelle Reino, quené
da fuceílaò dos Reis, néain-
da dos nomes delles fe lem-
brarão 5 como fe ve de Jor-
nadas, Santo líidoro, ôc da
Chronicados Oftrogodos re-
feridos por frei Bernardo de
Brito i & Laimundo que mais
fc cftende nefta matéria naõ
faz mais que referir os nomes
de alguns ,os quaes fe naõa-
chaõ em outro autor : faó fuás
palauras as que fc fcguem , as
quacs trás frey Bernardo de
Brito. Multis deinde Suetiorum
Regibus in Arrianam h^erejirn
permanentihus, pojl Theodulu,
Varamundum^ Mironem, Pha-
ramirum , ^ alios , tandem
RegnipGtefiatem Theodimírus
ftifcepit. Querem dizer depois
difto permanecendo muitos
Reis dos Sueuos na heregia
Arriana depois de Thcodulo,
Varamíido, Miro,Pharamiro,
' &
,p mon.
d. ca
tp.io.
Santo Aii-herto.
2%l
& oucros,finalmentca Theo-
dimíro veo o fenhorio do
Reino. Parece que foi iítoju-
íto caíti^o de Dcos dado em
ratisfaçáode íua perfídia herc-
tica^em a qual depois defta ab-
juração tornarão a cair ate o
tcpo dei Rey Theodimíro, o
qual com a pregação , & dou-
trina de Saõ Martinho de Du-
me abjurou a hercgia Arria-
na , & abraçou com todos os
Suenos a pureza catholica co-
mo diremos cm íeu lugar.
IO Naó labemos fe logo
depois deíle Concilio , ou al-
^11 ns tempos adiante deixou
Santo Aufberto íua Igreja,
por ir pregar a Flandes donde
era natural. O certo hc que
elle emprendeo efta jornada,
& ao que parece feria por Di-
uina reuelaçaó^, como acon-
teceoaíaó Narciíío com a de
Alemanha. Temos nefte par-
ticular o teftimunho de Mar-
co Máximo que diz aísy. Idi
irt chron. ' ^'^^'t^KÍ^^^ ^ legatiOM , acl Belgiú
foi 183. parriam reuertitur , i^pradi-
cans ibidem , eius gentis ba-
be tur Apojlolus adannum^i i .
Q^r dizer ; tornado Aufber-
to da embaixada foi a Flandes
fua pátria , ôc pregando nella
hetido por Apoftolodaquel-
lagentepellos annos de 531.
A vida dcfte fanto breuemen-
te refere Molano 3*3. de De-
zembro, &: diz que em Cam-
bray fe celebra o tranfito de
Auíberto Bifpo da mefma ci-
dade raro em virtude , & fan-
tidade, em cujo tempo a Igre-
ja que lhe foi entregue gran-
demente florcceo : diz mais
que refplandeceo em tempo
de Dagoberto infigne Rey de
França, fendo Sacerdote de
vida muy approuada, & q em
feus dias , ík com fua prega-
ção começou marauilhoíà-
mcnte a floreccr a Religião
Chriftã na Prouincia deHe-
nao, & que teue nella por di-
cipulos a Laudeiino , 6c a ou-
tros varoés Apoftolicos com
cuja pregação começou a Pê
Catholica a refplandecer por
codaaquellaProuincia, Laíli-
mafe deauer poucanoticiada
vida defte Santo , & naó fica-
rem delle outras memorias :
diz finalmente que foi fepul-
tado na Igreja de fa5 Pedro,
que hoje elH dentro dos mu-
ros da cidade de Cambray ein
Flandes, & fe intitula A bba-
dia de fanto Auíb erto. Cele-
braíe feudiaa 13. de Dezem-
bro,em o qual o põem oMar-
tyrologio Romano : obra
Dcos Noílb Senhor por cllc
Aa 4
muy tos
2 84
£aj}ití/Jo LXVII:
4tt c.ãt
■foi Í9Z.
muytos milagres •. Contiíc j
cnrre os Biípos de Cambray^
& aísy o noir.ea Mcbiio , ói-
*n p-efa»: ^ti^ào <n\re coíiuertco a Pro-
fituLiii»-, uiHCia ríc Haiinoiíia (íjue ago-
ra íc chama Henao ) à Fe de
CimíloS. Nofib.
11'^' O Padre íeronymo
R^ornan dela Higuera cm húa
cavra,(pe eícreueo a Ga! par
Aludires LouZada rcpolla de
ouri-a^ cm que foiconlulcado
ícbre antiguidades deíla íanra
*I-greja , a qual eílà lançada r-o
pl'imciro tomo dos liuros aii-
thenticos do cartório delia ^ te
piera fy queefte fantoAuft er-
ro Biípo de Cambray , 3c pre-
gador Apoílolico da Prouin-
ciadcHcnao hconolío Au-
íhctto Arcebiípo de Braga.
Prouaõcom as rezoés que re-
feriremos tiradas da mcAiia
carta nó heípaiihol em que
eflaó. Depois de apontar a no-
ticia q ha da vida deílcíantOj
trazendo às palauras de Marco
MaximOj& deMolano nos lu-
gares referidos diz nisy.Deaqui
colijomtichdi cojlts^ loprimero^q
mfefahe bien lauida dejlefdn-
tú , como parece fue Prelado de
Braga ^y paru uluioenFIã-
des : lò fegundo que predico m
Flandes ,y en ejpecial en Cam-
bray, y hi-z^ grandíproutcho en
tampo de Dcgoherto hijú de
Cíofario,j nieto de! gr íi de Clo-
dmíeo , )' qiíeja^e en Camhraj\
y es Janto, aqui tenenros que cl
Bracharenfe pajTo a Flandes:
tenemos que predico en Cam-
bray , que fue en los tiempos de
los hijos de Clodoueo , quatro
hermanos ^y hennanos de Cro-
tilde hija de Clodoueo^ qtie esltí-
uo anos en Flandes : la concur-
rencia de los tiempos es la mif-
ma , 'i)no el nombre , fin que por
esios tiempos fe baile otro Auf-
berto en ningun autor fino ti
Bracharenfe. E depois dcrcf-
ponder adiias difficuldades, q
mouc^qual foi a rczão porque
deixou luas ouelhas, òc aqué
as encarregou continua di-
zcndo» T nofe marauilleij.m.
qifenofe baile fino en Primo
ObifpoCabilonenfe.,y en Ma.xi~
mo q Ausberto fuejje Ar^obifpo
de Braga , y fe baile tn otros
que fue en Cambray^ que afsia-
contece a autores -, que llaman
aS.Dionyfio Obfpo de Athema^
ctros de Paris. Direa i^.m.
mifentimientOj que yo tengo ai
de Cambray , y ai de Braga
por njno ,jv afsi lo ejcriuo por
las ra^nes dicbas, que a mi po-
bre jui^iofon de harta fuerca.,
Ciber dei que predico en Cam-
bray,que esluuo enFl andes ^que
con-
Santo Ausherto,
285
concurrio con Dagoberto , que
dexo Obifpo enfu lugar en Bra-
ga , quefe ha de pedir Jino de'
monjlracwnes de Euclides , que
en ejhts matérias nofe admiten^
ni entre cuerdosfepiden ,fegun
lo qual tengo a eíiepor elSanto^
que pone el Martyrologio Ro-
mano a i^. de Dec^cbre, ^m2.\s
abaixo conclue dizendo. T es
bienprobable que por la deuo-
cion que tenia a S. Pedro de
Ratesprimero Arfobifpo Bra-
charenfe pu^ejfe nobre àquel-
Ia Iglefia de S.Pedro, que llamá
Molano Sanãi Pètri^quejifue-
ra delprimero Pontífice Roma-
no aríadiera^Principis Apojlolo-
rum.Qom eltas conjeicuras,&:
outras tem por certo efte gra-
ue autor íer o noíTo fanto
Ausberto o mcfmo que pre-
gou em Cambray,&: foi Biípo
daquella cidade.
IX G raiide autoridade tem
os elcritos do Padre lerony-
mo Roman , & muito credi-
to fe deuea fuás opiniões j po-
rem nefta o não podemos fe-
í^uir, porque feconuence de
feus mefmos fundamentos
nãofer o Auíbcrto Bifpodc
Cambray de que fala Mola-
no em leu Martyrologio a 13.
dê Dezembro , o mefmo que
o noílb de Braga ^ porque ú
noflo,conformea Marco iMa-
ximo, luliano, &: Sandoualj
floreceo pcllos annosde jji.
nos quaes paílbu a França cõ
a embaixada que aucmos refe-
rido, 6c tornand-o a Flandes
fua pátria pregou ^ &: conuer-
teo nella os moradores de Hã-
nonia : o outro Santo Auf-
berto floreceo cem annos de-
pois no têpo dei Rey de Fran-
ça Dagoberto filho de Clo-
tarioll. o qual reynou deza-^
féis annos, &: morreo noanno
de 646. como affirma Molano
dizendo. Dagobertus Clotarij
filius regnat annis fexdecim mo-
rituranno (í4(;/No anno fe-
guintc de 647. põem fua mor-
te Baronio feguindo a Aimo-^
ino : donde confta cuidentc^
mente que não podiaó eíleá
dous Auíbertos ferhum fò,
pois entre o tempo de hum,
òc outro correrão largos cem
annos. Engainouíe leronymo
Roman com o Clotario de
quem era filho Dagoberto,
porque auendolhe de dar por
pay ãClotario II. do nome,nc
to deChilpcrico,& bifneto de
Clotario primeiro , lhe foi dar
a eftc feu bifauô ; & queni ad-
uirtir bem neftes dous Clo-
tarios, facilmente julgara com
noíco.
Com
I» recapt
tuUt.cj.
tomZ.*n
naU anu.
1 l-í >—
2S6
Ccipitulo
LXVIIL
} 13 Com eíle argumento
da ordem dos tempos, cjue hc
muy forçoío, fe desfazem to-
das as conjeituias contrarias,
<Sj fica ccirendo com euiden-
cia que o nolío íanto Arce-
biípo fíorcçeo em tempo do
primeiro Clotario íiiho do
grande Clodoueo, 6í irmão
de Crotildes, cuja embaixada
eileleuGu a França, & naó no
de Clotario ÍI. do nome pay
deDaejoberto quando viuia
Tanto AufbertoBiípode Ca-
bray, comofe prouadeMo-
lano, «5^i o temos molbado. O
certo he que pregou em Flan-
òits comoaííirm3MaximOj&
fez srãde fruto fua precação.
Nao nos çoníta íc tornou a
Braga, mais cuidamos mor-
rco era Cambray , èc ellà en-
terrado na Igreja de faõ Pedro,
& faz os milagres , que apon-
ta Molano. Por ventura íaõ as
obras deíle iníigne Prelado as
que fe atribuem ao outroAuf-
bçrto Bilpo de Cambray,que
foi c&m annos adiante, por fe
ter delle mais noticia , &: muy
pouca do noíTo fendo o Apo-
íuoíode Flandes, & a quem
todas squellas Prouincias de-
uem a luzido (agrado Euangc-
Iho.; Duri fua memoria te o
annode ^ji. Tinha porcílc
tempo o Sumo Pontificado o
Papa Bonifácio II. fuceííorde
Félix íni.& era ReydeHef-
panha Amalaríco.
CAPITVLOLXVIÍI.
IV LI A N O I. DO
nome , l^ XXIX. Arcebif-
po de Braga.
í$tm^^ã O K morte
I ^?Í te)|% de fanto Auf-
*^a WM^S^ berto,ou pcl-
pju la auzcnciaq
!^^ fezdeíualgre
ja pcra França ( como quer o
padre leronymo Romã na car-
ta referida no capitulo atraz)
lhe fucedo naPrimazia de Bra-
ga luliano Arcebifpo de Tole-
do,o qual pellos annos de 53 4.
tinha íocedido naquella Igre-
ja ao fanto Prelado Montano.
Dà teftimunho deita íucefsaÕ
o Aciprefte de Toledo luliano
àizcaáo.Sanão Pontijici Auf-
bertofiiccedit infede luUanus
Toíetantis.,regncibat túc Thctt-
dis,quifuccejierat in folio Go-
thonim Amalaríco .Qncx.ái'Ltr.
fuccdeo ao íanto PrcladoAuf-
bcrtoíuliano Bifpo deToledo,
laliati,
Chrc.fag
61.
DÕ lho-
m.ii 7 A'
ma) o \tr
dad, de
Dcxt.fd,
PadilhA
fio CmaI.
dcsAree-
bifpcs de
revnaua
luliano L
287
trafl.
prtm
h.c.
Z.9.
rey naua enta.õThaidis,ò qual
lucederano Rcyno dos Go»
dos a A malaricOj& logo abai-
xo diz que ÍLiliano o qual
auia íuccdido na Igreja de To-
ledo a Montano toi creslada-
do a Braga. lulianusfuccejjèrat
in Sede Toletana Montano^ ne-
cefsitatls canja, maximlj<euic~
tibus PrifciUianiftis , transla-
tus efl Bracharam. Icronymo
Roman na carta referida no
cnpirulo atraz tem pêra ly que
eíte Juliano foi primeiro Ar-
cediago de Braga •, Ôc que nel-
la ficou eleito por Arcebiípo
pellu auíencia de íantoAuf-
berto, & que depois foi tres-
ladado pêra Toledo. Naõ traz
por cila lua opinião autor ne-
nhum queaproue ; & contra
ella elU o lellimunho claro
de Juliano, oqualaífirma que
de Toledo veo o noílb Arce-
biípo Juliano pêra Braga : de-
uia íernecellana íua preíença
pêra acodir com remédio à
heregia dosPnícillianirtaSjque
naquelle tempo andauamuy
ateada por Galliza,
2. Delta translação ^ Si
mudança de Juliano pêra a Ga*
deira de Braga fe pode mal
formar argumento em fauor
^'■"1 da Primazia delia contra Tole-
^^' do, porque no tratado que
aei
fizemos íobrc cila matcna
molhamos ja fua pouca for-
ça , & eíficacia, vilto como os
Prelados aíli nos tempos paf-
fados, como preíentes palia-
rão lempre de liiáas a outras
Igrejas , atentando ou a ma-
yor comodidade, & proueito
delfas, ou daquellas ouclbas,
ouaoutrosreipcitos particu-
lares approuados pellaSèApo-
ilolica , & na5 íempre à dig-
nidade da Igreja pêra ondeie
mudauáo ^ como prouamos
com alguns exemplos . Naõ
ficou memorij de obra algúa,
que fizeíle efte Prelado fendo
Arcebifpo delia Igreja í com
o meírno filécio paílaõos au-
tores quetrataõ dos Arcebif-
pos de Toledo , porq Padilha
naó apõta delle couía algúa, &
o Chroniila Dó Thomas Ta-
mayo diz fomente q fucedeo
aMontano 110 anno de j'34-
Bem entendemos leria acaufa
o pouco tempo que viueo em
j húa, & outra Igreja . Foifua
morte pellos annos de 538»
porque nelle achamos jaaíeii
fuceflor Eleutherio comoa-
diante veremos . Tinha por
cftes annos a Cadeira de S.Pe*
dro depois de loaõ Il.e Agapi"
to oPapaSiluerio. E era Rey
de Hefpanha Theudis.
i :
GAP.
S'8
Capitulo LXIX,
' ^eAPITVLO LXIX.
EL E V T H E R I O
XXX. Arcebijpo de Bra-
ga.
Or-l;;!-!
r/j
! chro.
16,
O N T I^
nuando com
aordé delii-
iiano Aciprc-
íledcToledo,
a quem imos ícguindo na íii-
ceíjàõ dos Prelados defta Igrc-
/«/;:«. in ja,encrou nclla Eleiítherio por
P^. morte de luliano . Succefiit,
ãiz cWcy poflmodim Inliano in
Sede Bracharenfi Eleutherius:
Foiefte Prelado grande zela-
dor da pureza Catholica , va-
rão verdadeiramente Apoílo-
lico, fantifliraOj& de eminen-
tes virtudes , com cujo exem-
plo ^ &í com a pregação de S.
Martinho de Dume íe come-
çou adar principio à conuer-
íaô dos Sucuos , que depois
fcliímentc íc vco a concluir no
tempo dei Rey Theodimíro,
como diremos na vidadeSaõ
Martinho.
2, Confultou Eleuthcrio
ao Papa Siluerio por carta pe-
dindolhe dcclarafle leíepo-
dia5-toieraraÍgunsabuíos,que
íc comcciaõ nos Sacramentos,
& outras propofiçoés, que pa
reciáo heréticas por íerem
contrarias às que a Igreja ti-
nha , & cn/maua. Vigilio, que
cntaõ gouernaua a igreja de
Deos pcilo Papa Silueno de-
ílcrrado na Ilha Poncia , reí-
pondco acarta cõ outra chea
de erudição, & doutrina, que
anda no íctrúdo tomo dosCõ-
cilios entre os decretos do
Papa Vigilio , Sc a trazem Ba-
ronio , ^ Padilha . E ainda q
o titulo naó diz mais que
Dihãifsimo fratri Eutherio
Vigilius , ôc à amargem eftà
Ekutherio , Vigilio ao muy a-
mado irmão Eleuthcrio j íem
lhe chamar Biípo, nem por a
cidade donde o era :com tudo
da palaura irmaõ , de que vza
fe entende bem íerBifpo a peí-
íoa a quem eícreue, éc das pa-
lauras da carta , que logo refe-
riremos íe colhe que oBif-
poa quem hia dirigida mo-
raua /w extremis mundi parti-
btts^ nas vitimas partes do mu-
do, que na fraze dos autores
Romanos faõ os Reinos de
Portugal,& Galliza.
5 No particular do Biípa-
do naõ fe ertendeo Baronio
Bar os. an
279.
faâii h,
cenuú.c»
amais
_l
Eletuh
t \nm ■li; n*»!' ijpianii.úijarl^
etubeno.
2Hg
M.Max
(hro.x-íl,r,
iSò.
iíilian.in
cLra t.ia
6. a
a mais que dizer as palauaas fe*
guiares Qjijjndmautem fuerit
Eleuthtrius adqutmjcnbit^i^
ciiiiis ciuitatis Epifcopus licet
nulla mentiofít^ tatncn ipfum
fíiijje Epifcopn in extremis Hif-
t>ãni<e oris Occeano coniunciís^
'í>elin Lujitama^ant mGallecia
fatispojjumus ex epiíioU ar-
gumento collígere. líto he,q lhe
parecia íer algú Biípo na Lulí-
tania,oucmGalliza.Deilaclu-
Ilida lios tiraó M. Maximo,&
Itiliano^os quaes claramente
dizé c| aEleucherio Arccbiípo
de Braga íe eícreueo eíta carta,
como a varaó celebre naqaelle
tépo,& peííoa de grandes le-
tras, Tesúdo o nomea Juliano.
Ponhamos as palauras de hu,
& outro-.as ds M. Máximo di-
zem. Ekutherio Epifcopc Era-
charenji Figilius Papafc ribit.
As de luliano íaõ. Ekutherius
Epifcopus Bracharenfis ceie br is
habetm\íid quem nntea fcripjit
Vigiliiis Papa . A carta de Vigi-
lio tornada em porcugucz, he
afeguinte.
FIGILIO AO MF T
amado irmão Eleutherw.
3 Com muita alegria recebe-
mos ds cartas de ipojfaCharida-
de cheas de perguntas catholi-
Cds , tf damos muitas gracM a
Dcosporjerfcruido deprouer a
[lias ouclhas nas ultimas partes
do mundo de taespaUorts s qUè
pojiaó darlhepafto falidaucí tm
abundada^ i^ defendei las, pêra
qnao jejao dejpedaçadds pello
inimigo ant/guo demaneird,què
nco cayaó nos lacos de fuás trei'-
coes 'por onde fem duuida alca^
çareis a graça da bemauentura-^
^a prometida pello cuidado que
tcdes de inquirir^ if perguntar
o que conuem , por ttr noticia
perfeita da doutrina do Ceo;
porque ( conforme eflá efcri-
to ) bemauenturados os que ef-
codrinhaófeus tefiimunhos , tf
CS bufcf.o de todo o Coracao.
Tratando irmão charifsimo,tf
cójiderâdo em nojfo peito as cou
fasfobreqnos aueis cófiãtado^
acho q defejais ter a regra daFè
Catholica , caminhando pelUs
mefmAS pi^^das^pellas quaes fa
beisfifúdòu cÓ aFè dos Apoflo
los '.tf aindaá(como dijfe oReal
Propheta)o fom delles (e derra-
mou por todo o mundo tècsfns
da terra fe algúas coufas ha nef
fa Igreja^qeíià a ojofa cóta^ q
nãOesiejão claras com perfeita
lu^^ quifeftes recorrer à mejma
fóte^dóde manou a agoa jãuda^
uelfi qual intento abraçamos CÔ
a char idade deuida ^ pella con-
fiança que tiuejíes de querer fer
bb
inteiraij
290
Capitulo LXIX.
inteirado de ^>oJfcí^ duuidas có
mjjas.repofl^ts. Por tatojãudâ-
do em o Senhor a -u. Char ida-
de , refponderemos a cada hka
de ijofiai perguntas o qite acer-
ca delias tema autoridade da
Se Jposiol/ca, conforme a dici-
plina Catholica dandouos nos
capítulos feguintes regras fan-
tas pêra "vojfa mflruccao.
Primeiramente os que diluis
qiiefe contaminarão comahe-
regia de PrijciUiano:fanta^l!f
religiofamente julgais aiierem
dejer caíiigados coma detefla-
cãó conueniente à Reliiiao Ca-
tholica , porque de tal maneira
fe querem abster de comer carne
comprotefio de fingir abíiinen-
cia , que mais parece o fa\em
por abominar ( conforme afeu
erro) a comida da carne , que
naopella deuacao que fingem:
no que Ceguem o abominauel er-
ro de Manicbeu, cuja fuperfi:i-
cíto efláprohibida^ i^ anathe-
mati^ada,porq crc efi:esferim-
míido o mantimento da carne ^q
a misericórdia deDeos deupera
afuflentaçao humana^ em o q os
catholicos jufgao nao auer ne-
nhúa coufa immúda^porqoApo-
folo S.Paulo Doutor das Getes
efcreue afeu dicipulo Tito dic^e
do/od.ts as coujíufaó limpas aos
limpos ^i^ pêra os qo naofaó, co-
mo os infiéis nenhiia coifa ha lim
pa,porqfua alma , ij7^Juas con-
ciencias carecem de toda a lim-
pe':^. Confejjaó com a boca que
conhecem a D eo suporem com as
obras o negao., jendo ahomina-
ueis^Í5f mcredulos^if nao apro-
uadospera toda a boa obra. E o
me fmo S.Paulo efcreuedo a Ti-
motheojohre osmefmos erros, dic!;^
qnos tépos vindouros alguns Je
apartarão da Fe , dado ouuidos
a efpiritos de erro,i^ doutrinas
do Demonio^q có hypocrefiafa-
lâo mentiras, iff tendo cauteri-
zadas as concienciasprohibira Ó
o cafamento, i^Je abjierao dos
manjares ^q Deos criou,peraqos
fieis^i^ os q conhecer 6 a njerda-
de os recebefem c6 fa^imento
de graças , porq tudo o q Deos
criou he bó , ijf nenhúa coufa fe
ha de defpret^ar, antes fe ha de
receber, dado por ella aDco^gra
^as . Por tanto feguindo os Te-
neraueis Padres eíia doutrina
julgarão qdeuiaófer condena-
dos efpecialmente aquelles q fe
absfmejfem de comer carne,i:f q
crefê qfe auiao de euitar as cou
fas qfojfem mifluradits cÓ carne,
porque tâbe Nojfo Senhor lefu
Chrifi;o preuenw isio amoejian-
donos quado dife. O que entra
pella boca nao contamina ao ho-
me ^antês as coufas q fie por ella
o con-
EleutK
'oerio.
\9l
o contaminaótpello que nem re-
prouamos a abstinência que a-
orada a Deos ^ nem recebemos
em no[J'a companhia os que abo-
tninao as criaturas dò Senhor.
E no que toca a comofe deue
celebrar o Bautifmo , tambt di-
remos a nj. Char idade o q eíia-
beleceo,lf guarda a autoridade
Apostólica , tf pois no fim dos
pfalmos coflumao os Catholicos
d/^er , Gloria Patri^ Isf Filio^
íjf Spiritui Sanão^nouo erro hc
dizer o q nos diT^is q tirando
húa das dicocs conjuntiuas al-
guns quero diminuir o Docabulo
perfeito da T rindade^diçii^ndo.
Gloria Patriy if Filio Spiritui
Sanão. E a me.fma rec^o eui-
dentemente moflra que tirando
húa ccnjunçao quere dar a ente-
der q apejfoa do Filho , (f do
Efpirito Sato he húa mefma. E
pêra conuencer o erro dos qiflo
di^c,baiia o cj Chrifio N.S. en-
fmou q aos q crejfé,fe lhe dej?e o
Bautifmo com a inuocaçao da
Trindade, dizendo. I de, Í5f enfi-
nai a todas as gctes bauti^an-
doas em nome do Padre , i^ do
Filho, tf do Efpirito Santo ^ tf
nao diffe em nome do Padre^ f
do Filho Efpirito Satofenaoco
ignaes distinções miidou qfe no
meaft oPay^tf o Filho^tf o Ef
pinto Sato^tf afsy he coifa cla-
ra q os. que quer c ir contra efla
cofifâo to tal me t efe apartao da
doutrina do Senhor^if.perfeue-
randonefie erro, nao podem fer
da nojfa companhia.
Também aquelles que auen-
do recebido a graça do Bautf-
mofaudautl tornao a fer bauti-
c^dos pellos Arrianos , aberta
tem a porta do Inferno. Com
eíia 'VOS mandamos certos ca-
pítulos tirados de nojfo ar chi-
uo,em que ^vaopoflos emfua or-
dem os Decretos ejlabelecidos
por noffos antecefores em os tê'
pos pajfados^nos quaes conuem
muyto aduertir com efpecial
charidade,porqpor nojfos pec-
cados , eíta maldade fe leuan-
tou entre muita zente. Remete-
mos a 'vojjòjui^^o , tf dos ou-
tros Bifpos qfe a qualidade Jjf
deuação do penitente parecer
que merece perdão fe lhe conce-
da-.porem a reconciliação deUes
não ha de fer por impofiçao de
maÓSyque obra pella inuocaçao
do Efpirito Santo ,fenão cope-'
nitêciaproueitofa reflitumdoos
àfanta comunhão.
Quanto ao queperguntais a-
cerca de como, tf quando fe aja
de tornar a cofagrar aígúilgre
ja.A q efliuer caída reflaurar-
fea da fabrica da mefma Igre-
ja^ tf ^uendofe leuantado dos
Bb
alicef-
2gZ
Capitulo LXÍX.
aliceJfeSyjtm duuida nenhúaje
conja^rarà com' nt) [fa' foléne,
fã^^etidofe todooifficio da cófa-
gracúO, porem nao je auendo de
por ara, bailará hen^da !an~
çandolhè agoa benta tornando-
Iheapor o Santuarto^quttinha^
no lugar donde foi tirado.
■ No <iue toca afeitada- Paf-
i choa^nosa celebramos efie anno,
: querendo Deos^aos ii.de Abril;,
: ísf quanto' à orderndxi preces
no facrificio da mij?a,efid^ em
nenhú tempo , nem emfeiia al-
gúaas mudamos Je nao quefem-
pre confagramos , ^ offerece-
mos os doens aDeos de hum mef-
' mo modo . Porem nas feflas da
Pafchoa^daAfcenfao djSenhur,
isfnafelia do EJpirito Santo,
:if'da Eplphania , occorrendo
■feBas de Santos, fa^mos come-
moração ddtalfefta em dias c6-
uententès . No mais guarda-
■ mós a ordem cojiumada , pello
quetambem'Vos enuiamos com
eflao texto da^ preces Canóni-
cas que Cita recebido por tradi-
ção Apoftolicã . Epera quenj.
C bar idade faiba em que lugares
fehade' acrecentar o que eflà
ordenado pêra as feUas , tam-
: bem acrecentaremos as preces de
. dia de Pafchoa.
Com iíto temos refpondido às
■ pergunta/i de ■'V C bar ida de , Isf
rogamos a Deos Nojjo Senhor
quanto podemos multiplique os
■doesdefua graça em todas ^ts
Igrejas da Religião Catholica,
ilf- em todos aquelles qf enfieis,
^ queje]a (eruido gu.irdar a
todo ojeu pouo das treicots dos
inimigos efpirituaes, 15'' corpo -
faés . Também •'vos manda-
mos relíquias dos Bemauentu-
rados Apojhlos , ò^ Martyres,
esperando de njojfo bom defejo^
que CO jeus merecimentos feja
yoJjaFé ajudada,e acrecetada.
Se algum Bijpo , ou Presby-
tero nao baUti^ar conforme ao
preceito Diuino , em nome do
Padre , Í5f do Filho, i:f do Ef-
pirito Santo ^ fenaó em húapef-
foa , ou em duas da Trindade,
ou em três Padres , ou em três
Filhos,ou em tresEfpiritos San
.tos,eíte talfej a lançado daí gr e-
ja de Deos.
Nenhúapejfoa douta ^ ou ig-
norate duuidafer a Igreja Ro-
mana fundamento, tf forma de
todas as outras Igrejas, do qual
fundamento nenhu dos que bem
crê- ignora auert tomado prin-
cipio todas as Igrejas, por q ain-
daque a eleição de todos os Apo-
(iolosfoi igual có tudo aoBema-
ueturado S.Pedro foi cócedido
q precedefk aos mais , ijfpera
iffo foi chamado Cephas ^porque
he
Eleutherio.
293
bc cabeça , i:f o primeiro de to-
dos os ÃpoHolos . E o que pre-
cedeo na cabeia he necefiario
que fe figa emfeus membros-.pel-
locjafanta Igreja Romanapor
Jeu merecimento confagrada cÓ
a y>o^do Senhor^^ fortalecida
CÓ a autoridade dosfantos Pa-
dres, tema Primaria de todd^
as Igrejas , í?* a ella haÔ de fer
trazidos afsi os negócios gra-
nes , j«/;^05 , ^ querelas dos
Bifpos , como todas as quesíots,
Í!f canfas mayores de todas as
Igrejas como afua cabeça-.tfaj-
Jiquemfabe que precede a outro ^
nao Ihefeja graue, nem mole fio,
que outrem lhe preceda a elle,
porque a mefma Igreja, que hea
primeira, de tal modo quer con-
cederfuas ye^s às outras Igre-
jas que entendao q faÓ chama-
das peraparte do trabalho,^
naopera todo o poder. Pelloque
he coufa clara ferem referuadas
à mefma fanta Si Apoíiolica
todas as caufas dos Bifpos que
apellãopera ella , if todos os ^
negócios de coufas mayores,
principalmente que em todius
ejias coufas fempre ha de fer c6-
fultada^i^fe haÔ de efperarfuas
repoHas,Efe algum Bijpo aten-
tar apartarfe defte caminho ,
faiba que ha de dar conta de
fy a mefmafanta Sè ApofloUca^
nao f em perigo de fua honra.
Dada ao primeiro de Mar^o,
fendo Confules os efclarecidos
ojarozs Folujtano , l^ loao.
4 Ifto contém a carra De-
cretai do Papa Vigilio íuccf-
for de Syluerio em repofta
das duuidas Tobrc que foi
confultado pello noílo Pri-
maz Eleutherio.Náo temos
noticia do oue continháo os
Decretos que dÍ7, fe tirarão do
archiuo Romano, nem as pre-
ces, que íc hão de acrccentar
na mifla nos dias mais folcn-
neSjporque fenaõ imprimirão
cõ elta carta Decretai, a qual
anda lançada nos liuros que
eftão no archiuo defta Igreja,
Os CófuIcSj & data delia mo-
ftraõ fer feita pcllos annos de
538. qfoi ofcgundodo Ponti
ficado do Papa Syluerio co-
mo affirma Baronio.
j No tépo defte iníignePre-
lado veo S.Martinho aGalli-
za,& cõ íua pregação, & dou-
trina teue principio a cóuer-
faõdosSueuos^como ja tc0i-
mos,& veremos maiilargamê
tecmlua vidâ.-alsy o dilzíulia-
no. Huius Epifcopi tepore Mar
tinus GtíCcus natione \ quifuit
prius Epifcopus Dumicjis prope
Bracharam conmrtit Sueuos.
6 Dura a memoria defte fan
I to.f.^^
CÍUtoloc9
tn chron.
Bb 3
to
294
Capitulo LXX,
to Prelado, atè o anno Ác^^o. '
era q M, Máximo diz q foi pê-
ra o Ceo.Iuliano lhe chama va
rão fanco , & lhe dà por dici-
puloalaó Fulgencio : grande
honra pêra ElcLitherio íair de
íuaeíchola hum taó abaliza-
do íanto , t^ inílgne Doutor.
Foi a gozar da bemaucnturan-
ça depois de ter treze annos,
ou mais daPrimaziadeftalgre-
ja. No tempo de feuglorio-
ío tranllto gouernaua a Igre-
ja de Deos o Papa Vigilio. Era
Rey dos Godos AguiJa,depois
deTheLidis,& Theudifclo.
CA PI TV LO LXX.
LV C RE CIO XXXI.
Arcehifpo de Braga.
M M. Máxi-
mo, & lulia-
no achamos
a Lucrécio Ar
cebifpo Pri-
maz dcfta Igreja de Braga, os
qj^saffirmáo quç foi fucef-
M,Max for de Eleutherio. Marco Ma-
i&-7,verf ximo diz ã(sy. Elçutherio Bra-
charenfi defunão fuccedit Lu-
cretius : quehe omcrmoque
Miati. ellà dito. luliaho diz. £/g»í/;í;-
62!^^^' ^^^^ "^'^ Sanãus hoc anno mo-
ritfir , fuccedit illi Lucretius m
Sede. Br achar enji. Ncíte anno
morreo Eleutherio varaõ lan-
ço, a quem íuccdeo Lucrécio
na Sede Braga. Donde íe ve
o erro em que cairaõ o doutií-
ílmo Cardeal Ccfar Baronio,
S>í Mariana na hiltoria de Hei-
panha , em quanto aftirmáo
que Lucrécio íucedeo ao Ar-
cebifpo Profucuro enganados
com húas palauras , q íc achao
no Concilio Brachareníeaui-
do por primeiro, nas quacs íe
chama Profuturo predeccflbr
de Lucrécio, falando os Padres
do Concilio com o mefmo
Arcebiípo Lucrécio,^: pcdin-
dolhe que todos fe vniílem,&
conformaílem cm fuás Igre-
jas guardando os mefmos ri-
tos5& ceremoniasfagradaSjCO
mo as ouuera jade Roma íeu
predecefior P rofu tu ro. As pa-
lauras dizem, i^r-^c/^w^ cum if
de cateris quibiijdam caujis in-
JlruSUonem apudnos SedisApo-
Uolica habemus , qu4 adinter-
^ rogationem quondam "veneran-
díC memorize pr^edecefforis tui
Profuturi ah ipfa Beatifsimi
Petri Cathedra direãa eU .
Querem dizer j principalmen-
te tendo nos inftrucção da
Sé Apoftclica fobrc certas
couías , a qual vCo dirigi--
da da Cadeira de Saõ Pedro
c m
to.j.an.
Chnjh
468.
Ãíarian.
Lucrécio.
295
f ; adilua
VLcut 6.
cm reporta de húa pergunta
quclhetezantiguamentevoí-
lo precicceílor Profiicuro de
boa memoria. E poftoquc feja
certo auer dous Profuturos
Prelados deíla Igreja prede-
ceílores de Lucrecio_,como em
llias vidas temos moltrado,
nenhum delles foi immcdiato
antccellor íeti, porque ambos
florcceráo muitos annos an-
rcs.iS: fe meterão muitos Pre-
lados cm meyo entre elles , &
Lucrécio , de quem foi immc-
diato anteceílor Eleutherio,
como claramente dizem Má-
ximo, &í lulianõ , &c o eflà bé
moítrando a palaura, qiionda,
que na força da iatinidade lan-
ça mais longe do quefaó os
. annos, que corre entre o Pre-
lado paliado, & o que imme-
diatamente lhe fucede.
z Começou cfte illuftre
Prelado a gouernar íua Igreja
com grande zelo da pureza
daFè,& dalaluação das almas,
& ardentes defejos da refor-
mação dos coftumes. Corre-
do o anno de 563 , no primeiro
dia de Mavo. conforme a me-
Ihor opinião de Baíonio,Mo-
rales ,& Mariana', a quem fe-
guimos no Catalogo dos Bif-
posdo Porto (poífoquePa-
1 dilha na hilloria EcclcúalHca
tenha perafy q foi no anno de
561 .outros no de 564 )reinan-
do Theodimíro no terceiro
anno de íeu reinado o noíTo
Arcebilpo Lucrécio fez ajun-
tar Concilio Prouincial em
Braga dos Bifpos de Galliza,&:
Portugal _, de que era Metro-
politano, pêra confirmar aos
Sueuos naFè que tinhão re-
cebido pclla pregação , & mi-
lagres defaõ Martinho de Du-
me, a q ajudara muito a dou-
trina do meímo Lucrécio. Ne-
íle Concilio depois de íe tra-
tarem couías tocantes a Fe, «.V
deteftação , & abominação
das hercgias dos Prifcilliani-
llas , fe ordenarão Decretos
muy importãtes peraaadmi-
niftraçãodos Sacramentos,&
reformação da diciplina Ec-
clefialbca. Não fazemos aqui
efpecial menção delles,porquc
no capitulo ío.deíla hiftorialã
çamos eíleConcilio, oqual hc
tido cõmíjmence pello primei
roBrachárenfe,& o trazé Gar-
cia deLoayfa,Padilha,& fr. Ber
nardo de Brito. Teue pêra fy
■ M. Máximo q foi nacional eftc
Concilio: porem dos auto-
res referidos fe moftra o con-
crario,porque não confta que
fe achafle nelle Metropolita-
no algum, nem Bifpo de Hef-
panha.
In eolUn I
Côc.Hifu 1
Paitlh.
cent. 6,
caf 33.
Brito 2-f
monare. 1
Ub. 6.caf
13-
Bb
296
£ap'ttulo LXX.
d.cent,6.
panha^niais cjue os de Galiiza,
&c alguns cíc Portugal , donde
fc ve que não foi nacional,co-
mo imamnou Marco Maxi-
mo.
5 Muitas coufas ha ncíle
Concilio dignas dependera-
çáojcomo bem notou depois
deBaronio Padilha^ as cjuaes
nos dão noticia dos collu-
mes,cjuc auia nas Igrejas de
Hcípanha poraquelletempo,
6 dos abuios quccorriaó ncl-
la. Começando pcila relação,
que oArcebifpo Lucrécio fez,
propondo aos Prelados do
Concilioa condenação da fei-
ta de Prifcilliano , q auia mui-
tos annos eftaua decretada
pcllos Bifpos de Hefpanha , &
a regra da Fè,qucfe mandou
a BalconioArcebifpo de Bra-
ga , íe colhe claramente que
auia ainda neite tempo here-
ges Priícillianiftas em Hefpa-
nha , pois pareceo neceíTario
aos Bifpos que fe acharão pre-
fentes, propor nellc ly.Cano-
ncs, pêra de todo defterrarcm
efta heregia mais prejudicial
ainda que a de Arrio.
4 Também pudéramos
formar queixas do fecretario,
ou notário deíleConcilio,por
não lançarem asaâ:asdclle a
carta,que diz cfcreuco o Papa
a Proluturo Prelado dcrta Igrc
ja_,a qual por brcuidade naó
pocm , & pois íe leo no Con-
cilio ( como cUe diz ) também
fc ouuera de tresladar j & lan-
çar nelle. Tiucramos com ifto
mais Epillolas Decretaes das
que andão impreflas, efcritas
pcllos Síámos Pontifices aos
Prelados de Hefpanha.Naõ fa-
bemos defta que Papa a ef-
creueOj nem a qual dos dous
Profuturos: ainda que temos
por mais prouaucl foi cfcrita
ao primeiro do nome , como
cm fua vida tocamos. He gra-
de dor faltamos erta carta,que
deu ia fcr doutifsima , & de
muita erudição \ a breuidade
com que eícreucraõ, os anti-
guos nos fez eltc dãno,& del-
le nacco ficarem muitas cou-
fas enterradas em efquecimé-
to: milagre he podellas rcfuci-
tar,& darlhe luz.
5 Também nos confta
pcUo terceiro Decreto defte
Concilio quam antigua he a
differença da faudação _, que
guardaÕ os Bifpos na milía em
faudar ao pouo dizendo os
Bifpos. PaxiJobíSj da que os
Sacerdotes quando dizé. J^o-
minus Fohifcum, ôc poftoquc
o Concilio ordene que não
aja mais c.ftá differença, com
tudo
Lucrécio^
297
cent.6 c.
34-
tudo a determinação (le le in-
rrct{Lizio)naó perlcuerou,por
■cjuc hoje íe guarda o modo an
tiizuodeíaudarxomo le vc do
Ccremonial Romano.
6 Vlcimamente he de pÕ-
derar o <|ue íe decretou no ca-
pitulo li.dcrteCõciLo. Man-
dalealy -que na Igreja íenaõ
cantem veríos,ou hymnos,
nem outras poelías, fendo que
japorcíle tempo, &: muitos
annos antes vlaua a Igreja de
hymnos que nella íe cantauáo,
cõpollos pcra clle ctleito por
íanto Aunbroíío , Pradencio,
Scduhoj& outros: v^ oq mais
he depois dcfte Conciho eícre
ueo muitos o Papa íaõ Gre-
gorio^que nella íe cantaõ. Naó
íabcmos que caufas aueria pe-
raafsy o determinar o Conci-
lio : de crer he feriáo muy
vrgentes porem hoje naõíe
guarda efte Decreto, d>L íe can-
tão os hymnos ^ &: veríos cõ-
formea ordein doMiíIal, &
Brcuiario Romano, &: do que
ha tantosannos via cita Igreja
de Braga. Outras annotaçoes
a e lie Conciho íe podem ver
em Padilha^as quaes não refe-
rimos por naó alongar mais
ahilloria.
Porem porque nos ha
ocaíiocs repecilo,
he muito í
de aduertir queporeuitarem
os Padres aqui congregados
asduuidas de precedências de
lugares, a que jaós Prelados
deHcípanha íehiáoafl^eiçoaa»
do^ ordenarão que nos Con-
cilios, quanto aos lugares , &
íofcripçoés íe tiueíle relpei-
toà fagraçãodecada hum,^
não à dignidade , precedendo,
porem os Metropolitanos aos
Bilpos , aindaque folícm me-
nos antií^uos.
de fer neccííario em muitas | ' deóoy. ao primeiro dia dcía^
8 No fegundo annodo
Reinado de Leuuigildo Rcy
dos Godos cm Hclpanha, &
vndccimo de Theodimíro
Rey dosSueuos em Galliza íe
celebrou outro Concilio na
cidade de Lugo no primeiro
dia de laneiro do anno de 569.
como confta de húa eícritura,
que traz Morales , & a reíere
Padilha, polloque luliano diz
que toi no anno quinto de
Theodimíro. A efcritura co-
meça afsy. Tempore Sueuorum
fttb era 607- die Calend.Ianua-
ru Theodmfrus princeps Stie-
uorumConcíliúin ciuitate Luco
fieri p}'<€Cepit ad confirmanda
fidc Carholicam.tf pro dimrjis
EccUJi<e caufis, Qner dizer: no
cepo dosSueuos corrédo a era
Aforai,
ih llr.
Páll'i.
an 6 c,
37
62.
nciro
298
Cãútulo LXX .
Brita
li.é.r.j^
M Max
chron foi
cafí 18,
de Prtm,
neirò Theodomíro priacipe
dos Siicuos mandou ajuntai"
Concilio na cidade de Luí^o,
pêra fe eonnrmar a Fe Cacíio-
lica , Si fe trataré diuerías cau-
ías da Igreja.
5) Nefte Concilio preíl-
dío o noílo Arcebiípo Lucré-
cio como conlla do Conci-
lio , que traz frei Bernardo de
Brito, poítoquc Marco Máxi-
mo atHrma que prelidíoncl-
le íàõ Martinho de Dume, q
elledizcra jà por efte tempo
Arcebifpo de Braga . Porem
deueíe mais credito ao Conci-
lio referido, ondeie nomeaõ
naõ íò LucreciOj que nelle pre-
íidío, mas também os outros
Prelados , que nelle fe acha-
rão^ entre os quaes eíleue pre-
zente , òc allinou S. Marti-
nho Birpoqentaó era de Du-
me:>S: ais y femoftra ciaram e-
te que ainda não eraArcebirpo
de Braga, & que Lucrécio que
o era prelldío no Concilio cõ-
uocando , & chamando a elle
os Bifpos de Portugal, &í Ga-
liza , que refere Brito, & nos
apontamos no tratado da Pri-
mazia.
10 Facilmente fe pudera5
conciliar eítas duasopinioês,
fe difleramos que Lucrécio
preíidío nefteConcilio deLu-
go, que íoi o primeiro, & Saõ 1
Martinho prelIdio no íegúdo,
que íe celebrou no anno de
quinhentos & fetenta&dous
cm que ja era Arcebiípo de
Braga, pois no meímo anno
preíidío no Concilio,que cõ-
mt^mentefe tem por íegundo
de Bra^a .Porem naõ fofre efte
modo de concórdia húa eícri-
tura antigua, que eílà na Igtc-
jadeLugo ,& trata do íegun-
do Concilio Luceníc, porque
delia conítanão íe achar nel-
le íaõ Martinho , como bem
aduirtiraõMorales ,& Ferrer,
fundados na mcíma efcritura,
que referem. Alem de a efte
Concilio^ &Í ao Prcíidente dcl-
le Nitigio Metropolitano de
Lugo mandar íaõ Martinho o
cõpendio dos Concilies Orié-
taes, que de Grego traduzio
em Latim , como affirma Va-
feu dizcuào.Idem fanãiís Mar
tinus in compendium contraxit
Concilia Orientalia , isf Niti-
gio Litcenji Epifcopo Metropo-
litano , ac tcti Concilio Lucen-
ci tranjmijit. O meímo tem
Baronio 3 o que he manifefto
argumento de nelle fenãoa- J7.^
char , pois em tal cafo oftere-
cera de maõ em maõ o com.-
pédio,& não o mandara com
aquclla carta fua, que no prin-
Moral.
/'b.il. c.
62.
Fcrr.líb.
i.c.zz.
in chron,
an. ^6^,
.Chrtfi
cipio
Lucrécio»
299
J-'erJíb.2
i,f, cap.
4-
cipio delle vemos. Do que tu-
do conita como nem no pri-
meiro, nem no íesundo Con-
cilio de Lugo prelidío S. Mar-
tinho de Dumc , antes no pri-
meiro prefidio Lucrécio Pri-
maz de Braga, &: no fegundo
NitigioBilpo Metropolitano
íiaqucUa Igi'eja.
1 1 Pois falamos nefte C5-
cilio de Lugo, não hc rezão
paliar cm lilencio hiJa tradi-
ção notauel que ou nellc, co-
mo aflirma Ferrer, ou ja no
primeiro da mefma cidade de
Lugo-como com Morales , &
Brito o eícrcuemos no Cata-
logo dos Bifpos do Porto, te-
uc origem . He pois a tradi-
ção que na Igreja Cathcdral
de Lugo fe põem , & colloca
fcmprc o Diuiniílimo Sacra-
mento do altar dentro do Sa-
crário em forma^ que a fagra-
da Hoftia pofla fer vifta , de
adorada dos q cnrraò na mef-
ma Igreja. Sem duuidâ por-
que na meímia cidade em algú
deftesdous Concílios fe de-
cretou,& eftabeleceo a verda-
deira prezêça de Chrifto Nof-
fo Deos nefte Diuiniílimo,
& altiílimo Sacramento , a
quem os hereges daquelle té-
po tanto contradiziaõ . Pêra
memoria deite Beneficio quis
íempreaquella Sètcrà fuá vi-
fta a íeu Criador Sacrarnétjta'
do, tomando o Reyno de
Gjlliza a meíma Hoftia, &
Cálix por armas , ôc brazão
defua nobre2a,o que não fez
nenhum outro Reyno de Ca-
ftelkjíe bem algúas Igrejas
de Aragaõ, & Nauarra qui-
zeraõ imitar a de Lugo em te^
rcm a Sagrada Hoftia deícu-
berta^ quaes cilas fejão naõ
aponta Morales no lugaf que
dcixatrios referido.
11 • Tornando ao primei-
ro Concilio de Lugo/ em que
prcfidío o noíTo Lucrécio Pri-
maz de Braga, como temos
moftrâdo , depois de os Pa-
dres delle tratarem o que coil-
uinhãâo íím peraque fe ajun-
tarão, a rogo,& petição dei
Rey Theodimíro , por rezoês
de conueniencia,quc fe apon-
tarão, fizeraõ Metropolitana a
Igreja de Lugo , & a leuanca-
raõ à dignidade Arcebiípal; fi-
cando porem fogeita â Igreja
dcBraga, a quem auia de re-
conhecer como a Igreja fupe-
riof , & Primaz.
13 No tratado dâ Pri-
mazia defta Igreja dç Braga
moitramos bem aos autores
que defendem a de Toledo, &c
pretendem impugnar a noílã,
CAf^ iS,
iuam
300
(Capitulo LXX.
quaõ malíedeíembaraçãodo
argumento , que deite fcko
contra elles refulta , porque
nenhúa foluçuo he baílante
ao desfazer, vifto como ter
Metropolitanos íogeitos hc
íó de Cadeira Primacial^ o que
entre as de Heípanhaíó íc vio
em Braga, nunqua em Tole-
do ; òí íc não aponténo com
a autoridade de hum Cõcilio
inteiro , como nos morra-
mos , &: apontamos a Sè de
Lugo ainda depois de Metro-
politana. Não he poíliuel q
aqucllcs Padres aly congrega-
dos Tofreílem^ ou inouaflem
híía couía taõ contra os Saera-
dos Canones^jfe na Cadeira de
Braga fentiíTem , ou vcneraí-
femlò o direito Metropolita-
no íobreas deGalliza,(S^nãoo
Primacial íobre todas as de
Hcípanha,que nellaauia.
14 Ncrte Concilio fe c5-
cluyoadiuifaÓ dos Biípados,
que íc principiou no Bracha-
reníc, & feallinaraó à Igreja
de Lugo Icuantada ja em Mc-
tropohtana, & ao feu Prela-
do Nitirio os lufares da Co-
marca, que pofluyao onze
Condes, & outros chamados
Cairega, Lemos, ijf Cauarcos.
Aílinaráoihe por fufFraganeas
íínco Igrejas em Galliza,Oré-
fe, Aítorga, Iria Fiauia, que he
0 Padraò , Tuy , & Britonia,
queheOuiedo, ou Bntiandos
neíteArcebiípado entre as vil-
las de Viana _, ôc Ponte de Li-
ma : das pertencentes a elta
Cathedral de Braga fizemos
particular mêção ncll;ahifl;o-
ria, per iílb as não repetimos
aqui.
1 j Nefte Concilio fe acha-
rão com o Primaz Lucrécio
noueBifpos, que íenomeaõ
no fim do mcfmo Côncilio,q
traz Brito com as palauras Ic-
guintcs. Ej}^ he a diu/faó que
Jí^rao Lucrécio , Ederico ,
Adulfo^Lucencio , André , Ti-
motheo , Martinho , Melio^,
Polemio , isf Anila no Syno-
do de Lugo de todas as Igrejas,
que ha no Reyno dos Sueuos , a
qual ''vio 5 ^ louuou opijfsimo
Principe Theodimiro , a quem
Deos dè uida , i:f 'vitoria^ Í!f
todos dij^erao Amen. Garcia de
Loayfa naColIecção deite
Concilio , Morales,Padilha,&
Mariana naõ fazem niençaõ
dos Bifpos , q nelle aííiiftiraõ,
pellos não acharem nos ori-
ginaes donde o tresladaraõ:
pello que le deue à diligencia
de frei Bernardo de Brito, !k a
frei António de lepes a noti-
cia que temos delles, & també
í
r/>.8.
ã.i:. 14.
í'c
to.i.ret,
!• Anno
Chri/J:
563.
Li
icrccío.
\Faf.chro
\Lõlcr.2.
ip.r.lS.
Piidsl.cet
7.C.37.
Moral
Br!tid,!i4
Catai, I.
íclhedcue aquenojrdáodos
luearcs onde alguns eraõ Bif-
pcs j porque como dellcs
íc vc Lucrécio era Arcebií-
pode Braga j Martinho era
Biípo de Duir.e , Lucencio de
Coimbra, André delriaFla-
uia, Adulfo.diz Vafeu feguin-
do a Dom Lucas de Tuy^q foi
BiípodeLeaõ; ôc Lobcrano
liuro das grandezas da cidade,
6c Igreja de Leão , a quem íe-
gue Padilha,diz o meímo_, Ti-
motheoeraBiípo do Porto,
Meliozo de Britonia agora
Ouiedo,ouBritiandoSjHelde-
rico de Lugo , Coto de Tuy.
16 Nelle Concilio íeaííi-
naõ os termos, &: demarcações
doBifpado de Dume cÕhúa
Jingoagem , ôc modo de falar
taõ eícuro que embaraçou a
graues autores, porque íendo
íòas palauras eftas tornadas e
Portuguez. A Sè de Dumicfe
deu por jur dição a família , i:f
criados da cafa Real , fobre ci-
las fe íízeraõ muitos difcurfos
como fe pode ver em Mora-
Ics , & fr, Bernardo de Brito .
No Catalogo dos Bifpos do
Porto tratamosefta duuida,^:
refolucmos q a jurdição , q fe
deu ao Bifpo de Dume foi fo-
bre a familia,c\: criados da cafa,
&: adVual feruiço delRey,dòde
depois teuc erige a dignidade
de Capcilaõ mòr^qhojc dura,
& que delies fe hao cie cateij-
deras palauras referidas.
17 Poéíc em quelHo íobrc
eilê\ & outros Concilios de
Hefpanha , como podiao os
Reis mandar ajuntalIos,& or-
denar q nelles fe creafséde no-
uo Arcebiípados, ôc Bifpados,
fcni pêra illb confultarc, ôc a-
ueré licença do SíTimo Ponti-
ficc, ao qual como cabeça nas
coufas Ecclcílaílicas, ôc Vigai-
rodcChrifto pertence difpor,
ôc ordenar o q conué ao bem
das Igrejas. O Doutor fr. Ber-
nardo deBrico moueo depois
<Je outros a duuida,& pcra fair
delia apõta varias íoiuçocs. A
verdadeira be a q vltimamcte
refere, ôc tiueraõgrauiílimos
autores ; afaber, q os Reis de
Hefpanha,5i o Primaz, & Me
tropolitanos delia tinhão efpe
ciai autoridade do Papa pêra a-
jutar Cc)CÍlios,aIeuãtarnouas
Metrópoles, & ordenar todas
as mais couías tocantes ao elfa
do Eccleíiaftico, fem pêra ifib
auere de recorrer a Se, Apoílo
lica é cada cafo particular. Pel-
lo q nada faziaõ, ou intetauão
neílamateria,féautoridadcdos
Sumos Pontiíices, como íe ve
das palauras de húaefcritura,q
|-
Brit.d.c,
14.
Cc
depois
Capitulo LXX.
tomrj.an
572.
depois de Morales traz Ba-
ronio j & faõ as que fe Cegue.
Ezo Theodimirus Rex co£—
nomento etiam Mirus GalU-
cU totins ProuincU Rex^Deo,
eiufjuè gmetrki gloriofe Ma-
rine , ac ceteris Sanais cupiens
famulus ejje , i^ferims coadu-
nato, num Dti^Concilio in Lu-
cenji iam pr^fau Protimcu
njri^e , omnmm catholicorum
Epifcoporum ,feu religioforiim
'-virorum , nohis ab ipjis inti-
matum esi, i;no animo ^cordetj^
perfeClo : authoritatt etiam
Sedis Apoflolic^ Sanai Petri,
cuius legationem l^cti excepi-
mus. Eu Theodimíro por ío-
breiTome Miro, Rey deno-
daaProuincia de Galliza^dc-
íejando fer feruo, &c criado
deDeos, & da glorioia Vir-
gem Maria fua may , &c de
todos os Santos, ajuntando
na cidade de Lugo da meíma
Prouincia por vótade deDeos
hum Concilio de todos os
Biipos catholicos , ôc varões
relisiiofos^nosfoipor elles in-
timado citando vnanimes , ôc
cõ perfeito coração, & c6 au-
toridade daSèApoilolica de S.
Pedro ^ cuja embaixada rece-
bemos com aleí;!ria,&c.Don-
de íe moítra claramente , que
com autoridade dos Sumos*
Pontific-es íe cclebrauaó os
Concílios de Heípanha , po-
rtoque nelles fe náo declare.
Conrta mais que ElRcy Ario-
niiro tanto que entrou na íu-
ccílaõdo Reino, por morte
de feu pay Theodimíro, te-
ue logo embaixada do Papa
loaõ, ôc com ella recebeo os
poderes necellarios pcra no
Ecclefiailico ordenar com os
Prelados de íeuReyno, o que
foíle importante ao bem das
Ig rejas delle.
18 Concluída finalmen-
te a noua erecção da Metro-
poli de Lugo , & feitas as di-
uifoés dosBifpadosj&as mais
coufas importantes ao eftado
das Igrejas, & Chriftandade
dos Sueuos,íe fechou o Con-
cilio,& o Arcebifpo Lucreci o
fe veo pêra Braga conti-
nuar com fua obrigação ,
pregando com a doutrina , &
enlínandocom a vida. Deuia
paílalacom as enfermidades q
a velhice traz config-o.ou com
aquellas q acompanhão a ab-
ílinécia dos jullos,& o rigor
comqfetratão aly. Com cie -
fejos deconualecencia,diz lu-
liano , que fe fahio de Braga,
Sc fe recolheo no ermo Liba-
nieníe , cõ dous cõpanheiros,
1 hú Arcediago de Braga, outro
Bilpo"
Baron.ct'
tato loco.
rhron.
S .(^Martinho de Dumty^
"•• Táfia
30|
on
Biípo ToIctinOjCliaiiiado Tii-
nbio. Lucrecius^ diz luliaiio,
timore grattc Tmktudinis de-
jcrit Sedtm Bracharcnfem ,
è?' rctipitfe ad erémum Li-
banienfem cum focijs ^fcilicet
Archidiacono Bracharenji , ^
Turibio Toletino Epifcopo .
Efte ermo Libanieníe he ho-
je oquechamão ciefertosde
Santilhanaem Afturias , dos
quacs daremos mais iarga re-
lação na vida de faõ Tolo-
bcu Arcebirpo defta Igreja ,
que aly fe rccolheo. Nelles
acabou a vida faíitamente Lu-
crécio : dura fua memoria
atè os annos de quinhentos
iSc leííenta U nouCj cm o qual
ou no aniio feguinte de qui-
nhentos !k fetentalhefucedeo
faõ Martinho dê Dume. Era
por eílc tempo Summo Poil'-
tifice depois de VigiHo, òc Pe-
lado loaõ III. do nome: &
o
Rey dos Godos Leiíuigildo,
&dos Sucuos Theodimíro^
o qual morreo no anno de
quinhentos & fctcnta^Si
Ihcfuccdeo Ariamí^
rofeu filho*
(.?.)
CAPITVLO LXXl.
: A M MàRTInHO
de Dume XXXII. Arce-
hifpo de Braga^
Vem fao Martinho ã Braga,
conuerte os Sueuos , funda
o mofteiro de Dume^ljf
he eleito Bifpo
delle.
A V i D A
dò Santo Ar-
ccbifpo Elcií-
thcrio deixa-
mos cícrito
como no tempo de feu Ponti-
ficado começoii a cònuerfaó
dos Sufeuos,& teue principio
em Gálhza,& Portugal a Reli-
gião Catholica, q auía muitos
anos trocarão osRcysSueuos,
pellos erros, & heregias de Ar-
rÍQ,como temos dito nella
hiftoria^ Sucedeo pois q dcfí:-
jando muito ElRey Theodi-
míro alcâçar faude pcra feu fi-
lho o PrincipeMiro^q de ttiui-
tosdias viuia enfermo, &c{c
cuidaua não feria de muita du
ra, fez por íèus embaixadores
f*p.c.'ê^i
r«,
ífp
Cc z
grandes
o _^ ^_
304
£at)itulo LXXI.
grandes ofiertas ao ícpulchro
do glorioío confeíTor deChri-
llo faó Martinho Biípo de
Turs , ou Turon cm Fran-
ça a fim de alcançar íaudc.Naõ
teue cííeico eíta primeira em-
baixada,nem alcançou o en-
fermo remédio pcra fcu mal,
por o pay , & clle fcguircm a
maldita íeica de Arrio. Porem
prometendo ambos de abra-
çar a verdade Cathclica, que
enílnaua a Igreja Romana, &í
cm vida profcílara faó Marti-
nho, ícgundando com ou-
tra embaixada veo por me-
recimentos do gloriofo Con-
feíTor de Chriltoa alcançar o
pay a faude , que pcra o filho
pretendia , & ambos a da al-
ma abjurandãa abominaitel
hcregia de Arrio , & abraçan-
do a Fè decretada no lagrado
ConcihoNiceno. -
i Eftando as coèíàs dos
Sueuos neftes termos, &o
Rey , 3<, Príncipe apoftados
í a ferem verdadeiros catholi-
cos : ordenou a Diuina Pro-
uidcncia que naquelle mef-
mo tempo que de Turon fe
partirão os embaixadores de
Theodimíro pcra Portugal,
trazendo coníígo parte da ca-
pa de faõ Martinho , por cu-
ja intcrceflaõ o Principe logo
que veneralíe a íagrada reli-
quia auia de alcançar faude,
partiílc também de ler ufalem
pcra Heípanha (mouido pel-
ío EípiritoSáto)hú varaõ lau-
to qucentaõ aly viuia , &c íe
chamaua Martinho , pêra que
pregando a meíma Fè Catho-
íica ao Rey Theodimíro , &
fua corte, lhe íizefle aborrecer
a heregia deArrio,a quem pcl-
lo mihigreda laude do filho
ja abominaua , & deíejaua
abominaílem todos feus vaf-
fallos.
3 Era Martinho natural
de Vngria , como nos certi-
fícaó vários autores, & entre cl
Jes Aimoino , Marco Máxi-
mo , Venâncio Fortunato,
& faò Gregório Turoneníè,
& o mcfmo Santo o confefla
defy nos verfos, que del-
le refere o Bifpo de Segouia
Dom loão Perez nos Eícho-
lios que faz aos claros va-
rões de Sãto Ilídoro dizendo.
Pannonifs genitusytranfcêdens
tcquora ijaUa^
Galleci<e ingremium diuinis
ntitibus aâlus.
Onde ac^ucllas primeiras pa-
huns jPãnoni/s lenitus vale o
mcfmo q nacido emVngría , a
qual os geògraphosnalingoa
M.Max '
■hren.fol
i86,ver/
rctutnt, j
de laud, \
S. Marti
ttt. I
Greg.ln
runj/b.^
htfl.Frãc^
lati-
S .Q^íartinho de Dumç^.
■*-' •■' ■•«i^*»>»^--«*sw*5í5njwiís-««^
áQí
tn
chro-.i
latina charaaó Pãaonia como
jfie vula:ai*.<S^ íe acha a cada pai-
ío nos hiftoriadorcs.aindaque
lulianohede parecer concra-
riOj porque faz a eíte Santo cie
nação Grego, & deuia fer por
O Santo íet muy veríado nc-
lla língua.
4 TiraraÕno de fua pátria
(da quicomeção os quedelle
cícreuema relação de íua vi-
da, íem nos dizerem nadados
pays , & primeiros annosde
Tua mocidade ) & o Icuarãoa
Paleílina alsy os deíejos de
viíltaraquelles íantos lugares,
como a ocaíiaõ , que na cida-
de de lerufalem , onde então
viuiaÕ tantos homens famo-
fos cm letras poderia ter de
eítudara philoíophia, & Sa-
grada Efcritura, depois das le-
tras humanas pêra que tinha
raro engenho. E aísy foi por-
que em lerufalem aprendeo a
lingoa Grecra , & Latina em q
foiemincntiirimo,& íobrc tu-
do a philoíophia moral, &i le-
tras Diuinas em taó fobido
grão, que na õ ouue cm íeu té-
po quem lhe fizcíFe veiita-
gcm
f -.'. Acodiaõ a leruíàlem
muitos peregrinos de todas as
partes da Chriftandadc, em
cfpecial de Hefpanha : dellcs
í (ordenandooafsy Deos)íein-
formaua Maicinho do eJla lo
cm que cílaua a Fe naqucUes
Reynos. Soube como Hore-
ccndo primeiro aly muito a
Religião Catholica, íegui-
dados Reys Sucuos,vicra de
França demandar as partes
de Galliza hum herege por
nome Ayax , natural da meí-
ma Prouincia , mas criado cm
França na corte delRey Thco-
dorico, &c muito íeu validoj
o qual peruertendo primeiro
a FLcmiimundoRey dosSue-
uoSj pella Híduílria da Rainha
fua molher filha de Theodo-
ríco, cujo mcftre, &como
ayoelle era , perucrrera apos o
Rcy todos ícus vailalos , cm
forma que o Reyno inficio-
nado com a maldita íeita, fc a-
uia de todo perdido; mas que
o Rey que agora tinhao , por
fer de boa inclinação, 6c gran-
de entendimento, «3^" ver que
pellas" orâçoés de Icui-Bilpos
hereees não pudera alcançar
a íaudc que dcíejauaao Prínci-
pe herdeiro de íeus elladc«-,cn-
trara cm pcnlamentos de ab-
jurar a hcrcgia , j& í"a^el'{e da
mefníaFè^ 6j crença que lao
Martinho Bifpo dcTuroii íe-
guira psra ver íc por íuaiiiter-
ccíliõalcacauaofiíhQa íaude
Ce 3
que
306
Capitulo LXXL
que lhe fakaua, & queaeíle
fim tinha mandado embaixa-
dores a Turon pedir ao fanco
Bifpo,q aly jazia, faude pcra
Miro acompanhados de gra-
des dadiuas . Acrecencauaõ
porem que era muito de te-
mer que ainda em cafo que
o Rey recebeíTca verdadeira
Fèjdcpois os miniílros da mal-
dita feita , pella grande valia,
que com elle tinhaõ lha fizef-
íé deixar, ou pcllo menos im-
pediíTcm ao mais Rey no acci-
talla,porque faltauaoSacerdo-
tes zelofos por cuja índuílria,
fe fizeíTem calar aquelles mi-
niftros do Inferno, & fc fo-
mentaíTem , & leuaílem por
diante os bonsdefejos,quc no
pouo fe viaó, de deixarem a
Arrio , pella repugnância que
achauão em fua doutrina,
& pellos coftumcs tão deuaf-
íos em que viuiao os de fua
feita.
6 Compadeciafc faõ Mar-
tinho da gente Hefpanhola,
ouuindo eftas coufas; dcfcja-
ua ác ter ocallaõ de elle fer o
que lhe prêgaíle a verdadeira
Fe 3 porem eftaua tão fatisfei-
tode viuer,&aucr de morrer
naquelles mcfmos lugares,
onde o Saluador do munda
yiuera, & morrera,que fe não
podia perfuadir a deixalios .En
tre eftas perplexidades citan-
do híja noite porto cm oração
Ihereuelou Deos era vontade
fua fe partiíle de Paleftma a
Hcfpanha, & fc embarcaííe
em certa nao de Hefpanhoes,
que no porto de loppc acha-
ria aparelhada. O Santo o fez
aísy,&:combom vento che-
gou a Hcfpanha, defembar-
cando , como temos por cer-
to, cm algum dos portos de
entre Douro, & Minho,não
vindo direito à França, & a ci-
dade de Turon, como contra
o que expreflamente cfcrcue
faó Gregório Turonenfe qui-
zeraõ conjeitnrar alguns au-
tores.
7 Defembarcou faõ Mar-
tinho cm Portugal na mefma
ocaíião 5 em que de França ti-
nhaõ chegado a fegunda vez
os embaixadores de Thcodí-
míro ricos com a rcliquia da
capa de íàõ Martinho,^ mui-
to mais coma faude que com
cila trouxeraõ ao Príncipe.
Eftauá o Rey contentíííimo,
& fobremaneira defejofo de
jà largar a maldita feita Arria-
na, quando lhe vemnouas
que a Braga { refedia cntaõ
nerta cidade a Corte dos Sue-
uos) era chegado hum ho-
mem
S.iQy^ídrtmho de T>umc^'i.
hof
1
ca^. 6^i
mcm de nouo habito, de
prczença venerauel , de peni-
tencia rara , de cortumcs fan-
tillimos , & íobre tudo do
meírno nome que o Santo
àt quem recebera a faude pcra
oHlho. Feio logo vir diante
fy Theodimíro , &c por Deos
afsy o permitir íe lhe aíTci-
çoou tanto nas primeiras vi-
ftas , que de todo íe lhe cntre-
gou_j& o fez fenhor de feu co-
ração , & vontade . A mef-
ma afteiçaõ lhe cobrou oPrin-
cipe Miro , òi com elle toda ã
fidalguia SueUa,a quem fc-
guio o mais Reino, pcllo qual
em breuc fé efpalhoua fama
de fua vinda , & muito mais
a de feu exemplo^ & raras vir^
tudes.
8 Achou em Braga por Ar-
cebifpo faõ Martinho hum
varaõ degfandcfantidadc por
nome Elcuthcrio , de quem
acima falamos. Logo o efpi-
ritodc hum^ & outro ( por-
que eraõ muy fcmelhantes
nosintentos)federà5as maõs
pêra de todo deftcrrareni den^
treos vafallos de Theodimí-
ro a hercgia de Arrio. Come-
çarão pello Rey , que neftè
particular nenhíja difficulda-
depos,como ncrri ó Prínci-
pe feu filho pclla promeflai
' que a Deos tinha feito^ &: â feu
íeruo faõ Martmho Biípo
de Turón Ic lhe daua á iau-
de, que comelieito deu . Erâ
pêra ver o feruor com que os
mães íenhores do Reyno iè^
guiraõ o cxéplo de léus Priív
cipes , &a outra gente o de
feus fenhores. Aliiltiâ â to-
dos j &c ã todos inílruyâ fãò
Martinho^ primeiro em Bra-
ga, ôndé foraó as principáes
recóciliaçoés dos hereges ; de-
pois pcUas cidades do Reynój
pellas villas, pellos lugares,
pellas aldeas,queanéíihúapor
pequena que fofle dcixaua dé
acodir com a prczença,quan-
do entendia era afsy neceílaiio
pêra Icubeni. ) . :\
9 Reconèialiadosjàaò pre-
mio da igreja Cathòlicâ os
Sueuós , recolheofe faõ Mar-
tinho a Braga : & porque tra^
zia nos olhos não fó plantará
Fè Catholica nos Reynós de
Gallizà , mas ainda a Religião
do Patriarchá (aó Bento , em
cuja regra ,& vida monachal
he muy vefdíimel foílè iil-
Itruido por fãõ Mauro ^ oíi
por algum outro de íeus diçi-
pulos , pedio á ThéodirnífOj
(fé jà ellè não foi d que lha õf^-
fcrcccõjã Igreja de Duí1ie,que
de pouco auia edificado em
Ce 4
honra
S08
Cãptulo LXXL
rhron.fol
honra de faõ Martinho em ac-
ção de graças^ peila faudc que
ao filho cicra , pêra junco
delia edificar hum molleiro
da íua Ordem. Mais fez ainda
Theodimíro, porque ajudan-
,do à fabrica do mortciro^an-
tes fcndociico que aromem
toda a íua conra, fazcndoo de
obra magnifica , como apon-
ta Marco Máximo, logo que
iSé.vcrf o vio pouoado deMonges,dc
licença de Lucrécio Arcebifpo
que jà era de Braga por mor-
re de Eíeucherio, oleuancou
cm Sè Cachedral fuíFraganca
a Braga, fàzcndoJhcaílinar de-
pois no Concilio de Lugo
por fubditos a familia , ôc cafa
keal na forma qucjà eícre-
iiemos no Catálogo dos Bif-
pos do Porto, & diíTemosem
íèu lugar. NefteBifpado, de
nouo creadofoieIeito,& no-
meado por Bifpo o fanto va-
rão Martinho com alegria dei
Rey Theodimíro , & de toda
a corte , & logo foi fagrado
pello Arcebifpo Lucrécio, pê-
ra exercitar o poder da ordem
PontificaL
IO Com a noua digni-
dade Epifcopal creceo em laÕ
Martinho o zelo, & feruor do
bem das almasyachauaem Lu-
crécio feuMetropolitano que
í
' lhe reípondia a ícus intentos*
porque cm nada que queria,
& intentaua no íerui^o Diui-
no Ihefalcaua o lanto Prela-
do. Por indurtria de íaõ Mar- .
tinho , & pêra melhor fe ío-
eftabelecercm as couías da Fé,
publicou Lucrécio Concilio
emBraga,&foi o ícgundo dos
que íc celebrarão ncíla cidade,
íe bem,poi'fcro primeiro dos
impreílòs , teue ate noíTos ce-
pos o nome de primeiro, co-
mo jà deixamos dito na vida
do mefmo Lucrécio, onde
também demos algua noticia
de feus Dccrctos,taõ faudaucis
naquella ocaííaõ pêra o bom
gouernodas Igrejas de hlú-
panha. Dcucle tudo ao gran-
de zelo de faõ Martinho , co-
mo também o Concilio , que
fc celebrou cm Lugo , cm que
foi preíldcnte o meímo
Lucrécio ^ como em
fuc lugar dif-
femos.
fupue.jo
d, CfOm
CAP.
S.^i^dartifiLo de 'Dumc_;.
309
CAPILVLO LXXII.
HE ELEITO SAM
Martinho Arcebifpo deBra-
ga , refplandece em "Virtu-
des , l5f chama a Concilio os
Bifposfuffraganeos.
O R T O
Lucrécio co-
mo a ninguê
trazia Theo-
dimíro mais.
nos olhos que a faó Marti-
nho,logo foi nomeado, &
cieito por Arcebifpo de Bra-
ga, não obftantes as muitas eí-
cuzas, com que procuraua
lançar de feus hõbros efta no-
ua dignidade , nacidas todas,
& inucntadas por fua humil-
dade.Venocraõ os rogos do
Rey, doClero, &do pouo,
& aceitou íaõ Martinho a mi^
tra de Braga, ficando também
com o gouerno de feu mo-
fteiro, & Bifpado de Durae.
Então fe viraó refplandccer
mais aos olhos de todos as
grandes virtudes , de que ate
ly fò íabiaò os P^eligiofos de
Dume , porque poíto na digr
nidade Primacial as cõmuni-
cauaa íeus íubdiros: apren-
diaõ todos dclle a prudência
na decilaó das caulas^a julliça
cmdaracadahú oícu.orieor
cm cartigar os vicios onde
era necciiario , o caftigo pu-
blico, a miíericordia onde a
emenda, & conhecimento da
própria culpa a pediaõ, a pie-
dade , a efmola,onde íe íentia,
& ainda íofpcitaua a ncccfsi-
dadc , a religião pêra cÕ Deos
na aíliftencia , & frequência
dos officios Diuinos , d mao
tratamento de íy próprio nos
jejuns ,nos cilícios, nas dici-
plinas ,& muito em particu-
lar na cama i fobre as vigias
ferem tão frequentes, que jà
mais faltou no choro nas ho-
ras, que fc dizião de noite,
deixandofe ficar nellc em ora-
ção por largo efpaço,& com
tantas coníolaçoês do Ceo,
que por lhas não impedirem
o deixauão continuar nella
feus capellaésjíe bem por ou-
tra parte viao que leuando
aquellemodode vidão per-
deriâo mais de prefla.
X Ia o Saiito tinha alguns
annosde Arcebifpo quando
poraísy odczejar ElRey A-
riamíro filho , & fuceílbr de
I Theodimíro,& também pcra
íe
3!0
Capitulo LXXIL
fe acabarem de aílencar alguás
couías importantes às IgrejaSj
qiiccomo a Primaz lhe dc-
luaõ íogeição, conuocou fcgú
do Cõcilio em Braga no (tgxx-
do arino de AriamirojdeChri
lio qiiinhécos & feteca &:dous
cm quinze de Dezêbro.Foraõ
de muita importância os De-
cretos derte Concilio pellos
abulos, que com ellc fe reme-
diaraõ,em efpccial os que per-
tenciaõ aos &irpos , & Sacer-
dotes; porque a elics fe man-
dou íobgraues penas cclebraf-
fcm fempre cm jejum, & naó
depois de terem comido, co-
mo coftumauão a fazer nas
miílasdos defuntos : aosBif-
pos que fc moftraiTem mais
íolicitos na viíita de fuás Igre*
ps , & ncllas náo grauaíTem
nem ao pouo, nem aos Paro-
chos , pedindolhe pêra fua fu-
ílentaçáo o que clles naó po-
diaõ dar , nem ellcs leuar por
fer manifefíamente contra o
que os Cânones fagrados ti-
nhao dcterniinadotmas dillo,
& dos íantos Prelados , quê
aíllfliraõ no Concilio temos
, dito no cap. 1 1. defta hiílo-
' ria, onde lançamos o mefmo
Concilio, & Decretos j qnellc
íeíízcraõ.
3 Era a ocupação do íàn-
to Prelado depois do apro-
ueitamento de fua alma, aten-
der ao de íuas ouclhas. Viílta-
ua, enlínaua, & remediaua cò
tanto cuidado a cada húa co-
mo íe ciuera aquclla {ò,òc a tO"
das como fc náoforaó mais
que húa. Nunqua efta cidade,
éi Arccbifpado fc vi o mais flo
rente em todos os bonsco*
ftumes , que fe profeílauáo
entre Chriltãos , que no tem-
po dcftc fanto Prelado , cujas
obras heróicas recopila cm
poucas palauras a íua Icnda^
que anda no Breuiario Bra-
charenfc na terceira lição de
fua fefta dizendo. Infatigahi"
li fpiritu fana doãrinampr^"
dicatiit^ Cathoticam fidemjlabi-
liuitjfanãa Religionis normant
conflituit , E cckjicis formauit,
monajleria códidit. He o meí-
mo que dizer. Pregou com
humefpirito incanfaucl dou-
trina faáj eftabeleceo a Fè Ca^
tholicã, fez regras da fanta
Religião, ifto he, determinou
as ccremonias, de que no cul-
to Diuíno feauiade vzar,re-
formou as Igrejas , fundou
moíleiros . Pello incanfauel
cfpirito, & zelo fcruorofo,
com que pregou aos Sueuos,
& Godos a pureza da doutri-
na A poftolica, lhe chamauaó
os
S.Q^Íartinho de 'Dumc^.
311
os eícritores deícii tempo, «í^
CS que depois dcllc íe ícguiraÕ
Apoíloio de Hcípanha , co-
luna da Relitiiaó Cíiriílá^ re-
gra, & exemplar do ciílco Di-
uino , cV finalmente reforma-
dor do ettado Eccleriaftico,&:
hindador dos monges Heí-
panhoes , títulos com q hon-
rou Galliza , 6í todas as Pro-
uinciasde Hefpanha.
CAPITVLO LXXIIL
DOS MOSTEIRO S
que fundou faó Martinho
neíia Prouincia de entre
Doure ^l^ Minho.
N T R E
todas as ex-
cellencias de-
íleíanto^ne-
nhúa lhe có-
uem mais,q a de fundador de
morteiros, & pay de monges.
Naõ queremos agora trazer a
diíputa , lefoielle o primeiro
q a Hefpanha trouxe os reli-
oiofos da Ordem de faó Bcn-
to por não parecer tiramos
lua antiçTuidade ao rcliíriofiííi-
mo morteiro de íaõ Pedro de
Cardenha na dioccíí de Bur-
gos^ò,: a de íaò Cláudio j unto
aos muros de Leaõ, ao de (aÕ
Turibio deLienana,&: cm Por
tugal no Bilpado de Coimbra
aLoruaõ^Sc ao daVacariçatres
iegoas da mcfma cidade pcra
a banda do norte na eílrada
Real^q leua ao Porto, onde
chamão a Serra de Buílaco
agora Igreja parochial vnida
ao Collccio de Coimbra dos
PadresErmitaés de íanto Ago-
rtinho j os quaes fe diz foraS
edificados viuendo ainda o
gloriofo faó Bcnto,por mon-
ges, que elle pêra iilo de Itália
mandou. Não falando logo
neftes morteiros, & conce-
dendolhe liberalmente a pre-
ro^atiua de primeiros ; com
tudo nas terras da coroa dos
Reys Sueuos nenhúa duuida
temos foi o primeiro faõ Mar
tinho que edificou morteiros
da Ordem do gloriofo Patri-
archa faõ Bento . Começou
pello de Dume nos arrabal-
des de Braga , dedicado ao glo-
riofo íaõ Martinho Bifpo de
Turon , afsy por a Igreja , a q
. acortaua fer da inuocaçáo do
mefmo fanto , leuantada(co-
mo jà acima tocamos ) por
Theodimíro , em acção de
graças, pella íaude que aò filho
dera
512
T
Qapitulo LXXIII.
F/.Ant.
íep to.}
eem 3 ,4»
Chrijii,
éSz.
dera , como pella particular
deuaçãOjCjue o noílo Ía5 Mar-
tinho lhe tinha , por fer natu-
ral feu (era também íaó Mar-
tinho de Turon Vngaro de
nacimento) & de íeu próprio
nome.
z Foi logo em fua pri-
meira fundação o molleiro de
Dumc leuantado cm Igreja
Cathedral, & o feu AbbadeS.
Martinho confagrado em Bif-
po, &: ncíla prerogatiua foi
o primeiro, que na ordem de
faó Bento fe vio de Abbadia
Bifpado , de que depois ouue
muitos , & peraque aponte-
mos alguns em Hefpanha he
certo, que fò ElRey Vuam-
ba crigio nella forma dous , a
faber o moíleiro de faõ Pedro,
& faõ Paulo nos arrabalde; de
Toledo, a que chamauao Pre-
torienfe , & o da pequena vii-
la de A quis no Bifpado de
Merida em rcucrencia do gra-
de confeíTor de Chriílo íaó
Pimcnio Bifpo que fora de
Dume , aqucllc que firmou
no fexto Concilio Tolcdano,
òi aly cítaua enterrado. He
bem verdade que não dura-
rão eílcs dous Bifpados ,mais
queatêoConciloii. de To-
ledo, porque aly à petição de
Eniigio fuceííordc Vuamba,
foraò extintos j Sc tornados
Abbadias,como íe ve do meí-
mo Concilio. Taes dizem fo-
rão também os de faõ Salua- i2.'c.I
dordcLeirc, Santa Maria de
Nagcra, faó Martinho de Ab-
belda, ôz outros erigidos to-
dos em Cathedraes , â imita-
ção do noílo de Dume,o qual
abrio caminho na Ordem de
íaó Bento a cfla noua digni-
dade, & deu exemplo pcra
também íe fundarem muitas
Cathedraes , logo de feu prin-
cipio, ô*: fc admitirem em ou-
tras os Rcligioíbs de fan Ben-
to , de maneira que todo o
Cabido ficaua de Religiofos
feus ,no que ouue mais fre-
quência pcllos Reinos de In-
glaterra , Eícocia , Alema-
nha, ôc outras Prouincias do
Norte. Durou o moíleiro de
Dume por largos annos em
Biípado, floreccrão nellc gra-
des fantos , & vco a íer pro-
uerbio comum. Brachara
n^num tantum hahet Mani-
num Dumienfem ^ monaflerium
^tro de Dume plures hahet
Martinos Bracbarenfes , Bra-
ga não tcue mais que hu Mar-
tinho de Dume^porem o mo-
rteiro de Dume tem muitos
Martinhos de Braga.
3 Antes que paflcmosà
fundação
S .(^^artinho de Dumç_j,
313
Fundação de outros mollci- 1
los , nos parcceo referir aqui
hum nocauel milagre _, que na
íiircia de faõ Maitinho dcDu-
me aconteceo, nao obítante
quereremno leuaros autores
Ca{lclhaaos,comoAmbroíío
deMoraleSjoPadVefr. Anco'
niode lepes, òí outros à ígre-
jade Oreníc, mouidos com
argumentos de taõ pouca im-
portãcJa,quãta Ihemoílra fr.
Bernardo deBrito,a quê reme
temos oleicor. Andaamaraui
lha em S .Gregório Turonêíe,
o qual diz lha cocou Florécia-
no embaixador extraordinário
por ElRey de Fráça na Corte
de Ariamiro^de cuja boca Fio
récivino a ouuio muitas vezes.
4 Foi pois o cafo, que co^
mo a Igreja de S.Martinho de
Dumeíefundaílénocápo fo-
ra dos muros da cidade cm lu-
gar a que Thcodimíro fahia
arecrearíc muitas vezes , pêra
a entrada, & cercuito fer mais
frcíco, & apraziucl , mandou
poraly plantar muitas parrei-
ras,& no caminho que leuaua
direito aporta principal armar
húa fermofa latada, a que cha-
maua a latada de faó Marti-
nho . Era tempo em que as
vuas começáo a tomar cor,
quando Ariamíro fez húa de-
lias íaidas , como leu pay co-
ílumaua. Acompanhauáono
muitos criados feus ,era pe-
rigo que cada hum ie quize-
íe fazer nouo em tocar , ôc
goftar das vuas, que por fer-
moíaSi& ja meãs pintadas , fe
vinhão aos olhos , & eípcrra-
uão o apetite. OReyporem
tendo refpcito a faõ Marti-
nho , cuja era a parrcira,gaar-
daiuos ^diíTe , que não toqueis
as vuas, pêra que não acerte-
mos de oííender a leu dono,
& fenhor. Achauafe aly hum
moço , a quem 0 Turoncnfc,
chama chacorreiro dclRcy,
eíle tomando o dico por gra-
ça , & querendo delle mefmo
fazer fcíla,le as vuas,difle,fão,
ou não faõ de Saõ Martinho,
iílb náomeconlla amim, o
cm que não d uu ido he na v5-^
tade que tenho de ascomerj
tudo foi hum dizer cftas pa-
lauras, & afremáííarfeà par-
reira, pendurandofe de húa la-
ta com a mão direita, & pega-
do com a efquerda nõ cacho,
que melhor lhe parecco: ain-
da o nãò tinha cortado quan-
do fcntio fecarfelhe o braço cf
querdo , &: pe^arfclhea mão
com dores cão agudas àlata^
de que fe pendurara ^ que não
as podendo (ofrer gricatia
Dd irrc-
314
Capitulo Lixm.
■LttflMtfi ^iMl_i|iii,i.'~W
ú
irremíeliaueimcnte , chariían -
do pálios prczentcs íhc aco-
diíkrn, &i porS. M^rcidnoa
í^Liéoftcníiera , Iheperdoáfle,
tíbua ElRey fazenda oràcío
dentro Ra Igreja ^íahio às vo-
zes do miíerauel,& lâbendo o
<]ueera, quiscom fua própria
ejpada deeepar a maõ do atre-
uido^ porem adutrtido dos
íeus que nãoera aquclle oté-
po de acrecentar caUigos-a ca-
ll:igos,& poríê da parte da j u-
i^iça Diuina ,q tão rigurcfa-
inêtecatligaua ao delinquen-
te,anres ocafião dcf acodir por
perdão a fua niiíericordiai en-
trarão todos na Igreja, & po-
ítos por cerra pedirão a Deos
íleuantaííe a mão de fua ira,co-
mo leuantou rcltit-iiiiido o
braço ao cuipadoj & alegrado
-o Rf y por fe ver tamisem òc{-
pachadoem fua petição. Não
•diz o Turonenle fc achafle
prefent<;a eftcmilagrco nof^
lo S.Marrinho,que ja auia an-
tios era Arcebifpo de Bragaj
fe não cftcuc aly, he certo,
ofeftejariajprimeiro com ac-
ção de graças , 6í logo com o
diuulgar por toda a part€,eníl-
nandoaos fieis^quc dalyaprê-
deífem a eftimar , & rcfpeitar
as coufasconíã^radas aos San*-
tos, pois o Cco portão leuc
ocaiiãò, como era hú cacho';
duua* âi parreira de fcu íeruo '
Martinho, afsy fe moílraua
oífendido.
■5 'Palkmos aos outrosiiio^
' Íicir0s,de que també íabemos
forão edificados por íaô Mar-
tinho ^ & Icja o prirrveiro de-
pois dodeDumeoaquc-cha-
maráo Máximo na dioccfi de
Britonia, agora Britiandos ,
junto as ribeiiasdo Lima^ na
-margem direita do Pvio, co-
ineçando de fua fonte. F-icaua
cite morteiro -nas raizes do
monte Arga: deulhconome
<íe Máximo afsy a funtuofi-
dadedefeus edifícios, como
o grande numero de feus Rc-
ligioíos ,q âiy ícruiãoaDeos
Noílo Senhor .j de queman-
•da hum nocauel elogio, parte
de hi3a pratica , que o Abbade
Pollemio Çc% aos feus Rcii-
giofos de P-edrofo: reícrefè no
procmio das cõfticuiçoés «o-
uas de faõ Bento, qucfeiido
Gerai da Congregação deftcs
Reinos o Doutor frd Leão,
fcimprimioem Coimbra no
anno de 1^19. diz afsy con-
ucrtido de Latim cm Portu-
guez. Lembramos irmãos de q
maneira aqlles Anjos habitado-
res do moJleiroMaximo^yeJlidos
de cilicio no efpiriío^i:f')}irmde
do
S .Q^^Iartinho de Dumt^.
315
no(^o Padre faÓ Bento ^fuflen-
tatiíw emjeus hombroso Ceo^tf
tcrr-a^lf com fuás orações líber
tauU eíie Reino do cathieiro da
perjidia Arriana^nao menos fa-
biamente necios,que ignorante^
mente fabios. EJhsfaÓ os (lut
guardauão a regra ^q nojfofari'
tifsimo Padre efcreueo forfua
própria mao^ tra^ndoa na bo-
ca por eilima , {7' no coração
por obferuancia, Ejiesfao os q
merecerãofeu amor , fua adop-
cj.o^ttfua benção , feruos abe-
coados de Deos^ isf eílimados
dos hcmtns. Eíiesos q derwite^
tf de diafem cej^ar fe ertcómí-
dau^.o íify^ MS outros a Chri
fio nojjo Saluador.Eíies os^yi-^
ucndo ijmdos em hú coração}^
hfia ■vÓtade^ em biiamor ^ a(y
mefmos erto efpantofos , i!f dos
feculares julgados por Anjos Ifé
fiidos em corpos humanos: ^ q
coufa mais efpantofa,que njiue-
doem hum moUeiro tao rico^
táo eslimado do Rey^llf do Rey^
no ferem emfuoípejfoas tao po-
bres , tao humildes i nacidos
mais pêra o remédio dapobre^
que pêra o de fuás propritts ne-
cefs idades , negando á fy afu-
fientaçao peila pouparem pêra
os outros. Corrião par^lhtsa
dèuação dos monges ^llf os nouos
fogeitos^que o Ceo cada dia lhe
dauapor companheiros, Erire-
quiciâo'õ MoUtifo áporfi a tútn
fuiU doações Os féis , if nós
Religiofos delle erecia ú def
pre^o da^rique^ycrecia a Im^
mildade, Dejpejauafe a terra
depeccadores^ enchiafe o Ceo de
fantos. Ate qui oAbbadePoi-
lemio,
6 Aqui menos cie hua iegoà
deíla cidade pêra aparte do Oc
cidcnte temos o terceiro mo-
íteiro edificado por S.Marti-
nho^náó mui longe dos ann os
de ^Cí. He bê verdade,q o Cõ*
de Dõ Pedro faz feu fundador
a DóPáyo Gutcerrês da Syíua,
gouernadorde Portugal por
ElRey de Gaílella,& Lcaó D6
Arfoiífo Vl.do nome. Porem
conííderàdas as couras,& pefa
das de vagar as mcmorias^que
defte moílciro fe acháo aísy
neílé , como por outros defta
fagradaOrdé.diíFerentes foraó
íeus prmGipioSi&: muito mais
aiicigafuafúdação.Heefte o de
S. Martinho de Tibáés cabeça
de coda efta Religiãoi & porq
náo pareça, que tiramos fua
fundação a Dó Payo ^ &: a da^
mos a S. Martinho fem funda-
mento na autiguidadc.aquina
fua clauílra velha de q foi leua
ào pot minifteriódos Anjos
o fepulchro em q fe guarda o
I
Dd
corpo
3i6
Capitulo LXXIIL
corpo do gloriofóS. Giraldo,
como diremos em Tua vida,
eftaua húa pedra com a era de
Ceíar 600. em que parece foi
aly polla^q vem a fazer os an-
nos de Chrifto $61. têpo em
q ogloriofo S. Martinho era
Biípo de Dumc. Alem difto
entre os liuros do cartório do
moílciro dePedroíocm hum
decouías antiquiíTimas fc ve
cambe copiada húa carta de fr.
Drumario pêra fr. Fontano
ambos Rcligiofosdc S. Ben-
to,cuja dataheem7.de Ou-
tubro anno yyi. as palauras
quizemos porem latim por-
que ncllas temos hum aranzcl
de morteiros edificados por
faõ Martinho , dizem afsy .
De fruãu ^entris tui ( fala de
S. Martinho, &c pella frazcdo
pfalmoisi.) pofuerunt Deus,
tf fanãiis Pater noíier Bene-
diãusfuper fedes fuás monafle-
riumfcilicet Dumienfem^Anto-
ninú^Fiãorium, Tibianenfem^
Villare,Fargenfe , Magnatefe,
Turris, Claudinum^ Cabanenfe^
A ^r enfeude quibusjtcut de Pe-
tri retíbus,fas ejldicere,i!f rti-
pebatur rete pr^ multitudine
pifcium.Aconí\.ruiçá.o das pa-
lauras he clara . No que toca
ao morteiro de faõ Marti-
nho deTibaes,qconracncrc
os edificados pello noílo ían- 1
to Biípo, taleftauaja pellos
annos de ^71. em que a carta
íeeícrcuia: logo diremos de ca
da hum dos outros, apontan-
do onde fe edificarão , & em q
forma hoje pcrfeuèraõ.
7 Ale defte teftimunho
tão claro, tirado da pedra que
rcfcrimos,& da carta em que
acabamos
de fal
ar
lue am-
bos fazem ao morteiro deTi-
baés fundado cm vida 4c faõ
Martinho , temos contra o
Conde Dó Pedro as palauras
da vida de faõ Giraldo, clcri-
ta por Dom Bernardo Bifpo
de Coimbra ^ fcu companhei-
ro, & grande amigo,o qual fa-
lando como de Tibaés fora Ic-
uado o fepulchro em que col
locarão o fanto diz. Quod in
Ttbianenfi mona^erio à longis
retro temporibus in magna re-
uerentia feruabatur . Ifto he,
o qual fe guardaua aly de tem-
pos antiguos,o que í'c nao pu-
dera dizer , quando o mortei-
ro fora edificado por Payo
Guttcrrcs daSyIua,em tempo
que goucrnaua o Reino por
Dom AfFonfo o VI. porq do
principio de feu gouerno,que
foinoannodcioSo. ate o da
morte de S. Giraldoemy.de
I Dezembro de II o9.vaÕfõ i5>.
annos.
S. Quartinho de Dumç_y.
317
annos^efpaço que per nenliúa
maneira íofre poderfc expli-
car com o á longis retro í em-
porikts ^ como íc diíleramoSj
cíc tempos miiy anciguosdo
Bifpo Dom Bernardo.
8 Acreccntafc contra o
mcfmo Conde Dom Pedro a
doação q a Infanta Dona Vr-
raca fillia de £lRey Dom Fer-
nádo o Masno fez a lorgc Bif-
podeTuy de alguns mortei-
ros de Portugal. & entre elles,
medietatem monafterij Tibia-
nenfs^quodefiinlitore de Ca-
vado Território Bracharenfi^
^uodmonaflerium donauit mihi
Domina Fallafqmda. He fua
dacanoanno de 1071. noue
annos antes do goucrno de
Payo Gutterres da Sylua. To-
marão mal CS ReligiofQs de
Tibaés a renuncia que fez na
Infanta Dona Vrraca do pa-
droado do feu mofteiro Do-
na Vallafquida , derãolhe fuás
qucías por carta efcrita aRedu
fo,q dcuia fer peíToa de obriga-
ção de Vallafquidaj refpon-
deolhe. Viaaiojfacarta ^ Ò»*
mojireya a Dona Vallafqui-
da , mandoume que 'VOs certe-
jicajje da eflima em que 'Vos ti^
nha , t^ que ^os efcreuejfe que
aos filhos de S, Bento nacido de
\ fungue Real^do moUeiro de Ti-
bats^da njiila de Varí^eaytf de
Manhedo ejiaua bt ter empa-
droeirosReaeSyperaque melhor
os defcndejfem , ip' enriqutcef-
fem^ como faria Dona Vrraca
\ filha de ElR.ey Dom Fernando.
Eftas rezoés pella parte con-
traria traz fr. Bernardo de Bra-
ga, religiofo da mefma Ordc.
Outros argumétos^& conjei-
turas fc pode ver no Padre fr.
António lepes, pello q vem a
cõcluir fer o próprio fundador
de Tibaés S. Martinho, Óc feu
rcdificador Payo Gutterres da
Sylua. Forão grandes os tran-
zes que correo cfte mofteiro,
hoje he de notauel reforma-
ção A' cabeça dos de faó Ben-
to de Portugal.
p Tornando ao roteiro do
monge Drumario na fua carta
pêra Fontano, depois do mo-
fteiro de D ume nomea logo
Antoninúfi de fancoAntonio,
q bem fe deixa ver, he o q nós
chamamos vulgarmente Sato
^«íÍí<7.Eftaua edificado no mó
te Brito perto da freiguezia de
Barbudo ao norte defta noílâ
cidade de Braga: teuc feu prin-
cipio pellos annos jój. Fa-
lando deliePollemio,aquem
acima allcgamos , & cujo dif-
femoí era o Hlogio dos Rc-
ligiofos do mofteiroMaximo,
ík m. s.
to. l.Cct,
Dd
fazendo
"■pliWMBy**- - — ""
.1 .Vv
^ I § C-a^ituk
tazèiiíioalkizãõab nome de
Mòkir-c, dizY Qwd.dicam de
i Jnrcnmis noJMj, nan MàUris'^
\fed"aMeís'i, qtés WErenufépa-
■ PK^-s"Ant6nijlfamaEremi l)'tft
('■ ciílt&fés pVièdiCiH fub nnm j-ó^.
? Q\T?:'vos direi dos nõíl os An-
. rcil^iiiés, náode Moure , mas
de oÚFOjaos <]uác^,-como ver-
•dadt»õ6£fmicâésde noílo pay
laftCô Antão os apregoa a fa-
líia^ptJr dignos habitadores do
deíéíDo deído áiio de ^6^. &c.'
;Fiõfêceoneftemoftciro mui-
to o ciílco Diuino, auia ncllc
toda a noite Laus per cms^ch^x-
niauãore õs feiJs monges vul-
garmente pella muita fanti-
dadc^ que profeílauão imita-
dores dos de Dume. Foidè-
lliruido pclios MouroSjdcpois
rédificado no anno de 1031.
poi: hum Sacerdote chamado
Nuno For jas,&: depois no an-
no de 1096. emz4.de Abril
I doado ao bemauenrurado faó
Giraldo pêra fua Sc por Nuno
Soares padroeiro delle , a qual
doação confirmou, & ouue
por boa o Conde Dom Hen-
rique,& íeu filho ElReyDom
Affonío o fez couto alguns
anroi mais adiante.
10 Sç2.uç{q Fiãoriníim,
He efte fem dunidá odelaõ
Vítouro Igreja taõ conhecida
LXXIII.
■ — ■ '■ -™ ■- - .^i.ii-i ■■ ■ ^
héíla cidade : deufe pêra nella
víucrc frades, & fer Priorado
do moíleiro de íanto AnracS
deM<5ureao íeus Reii^ioíos
porhiim Vaíco Mendc/^ cuja
doação (e guarda no moíteiro
de Tibaés feita em dez de No-
uembro no anno 5(55. Conte
eftás palauras . Vobis <z>iris
Dei de monasierio de Moure
damus.Fillam ncsiram cum
omnibm ndfepertinentibtis^ cu
Ecclefa S^.ãi Fi£lorisp-o am-
mnbtís noflris^V' amoreDei^lPt
ihi faciatis templum fanãum
Domini -ijobis habitaculum 1 o.
Notiemb. ann. j-ój. Pella doa-
ção que fe fez a íaõ Giraldo do
moíleiro de fanto AntaÕde
Moure, cujo Priorado era
íaõ Vitouro de Braga , ficarão
os Arcebifpos íendo Abbades
d efta Igreja , como hoje o
Ííj5^ oh cr. -; -.:..a v:
1 9''-y^ ^''; Tibianenfe^ht o mef-
mo que o de Tibaés , jà diíTe-
mos o que nos pareceo baila-
ria pêra darmos noticia delle,
Fillare , chamafe hoje faó Sal-
uador de Villar de Frades , foi
edificado íem duuida por faõ
Martinho, & na Ordem de
íaõBéto pcrfeuerou por mui-
tas centenas de annoá . Eftà
quaíl na mcfmadiftancia de
Braga , & Barcellos, pofto na
marízcm
S.çí^íartinho de ^umc^:
319
maro^m ào Rio Caua.iocm
lagaríobrernaiíeira frelco , d:
apraziuel, He cradiçáo aiiti-
qiiiíimu que hum dos Ab-
badcs defaó Bento, que nclle
floreceráo, mctendoíe pello
boíque do inoíleiro leuado
da contemplação dos bés da
gloria, de que Deos Ibe quiz
dar algum íentimento , &:co-
nhccuiiento períeucrou im-
mouel nomefmo lugar mais
de letcfita aiinos , ícm iielles
nunqua comer, nem dormir,
nem dar fè , ou fer villo de
peííoa algúa . Recolhido a ca-
ía depois daqucUc largo cfpa-
ço , pareccndolhe que vi-
nha de dar hum breue pa íleo
pella horta, achou tudo taó
mudado, & trocado que nem
conhecia, nem era conhecido
dos frades que aly morauão.
Paímados de taó grande ma-
rauilha , &í fabido por conjci-
turas euidcntes , que cUe era o
Abbade, q aly fora em outro
tcmpo,& delaparecera fem fe
íabcr que caminho leuara,
perguntando donde eftiuera,
& cm que forma de vida gafta-
ra aquelles annos: contou co-
mo ínindo húa madrugada a
palíear pella cerca do molíei-
ro cm ocaíiaõ, que os paíTari-
nhoç todos íe desfàz-iaõ em
louuores de feu Criador paí-
íando cem a conílderaçao das
mu ficas áà terra às-doCeo,
fe lhe puzera em hum ramo
húa aue pequena n.'j corpo,
varia, & fermofa nas cores^&
de voz , òc armonia táo íua-
iic que em íèus dias nunqua
ouuira tal : eífa dliuera oa-
uindo todo aquelle tempo, '
íemclarfè deíy, nem dos an-
nos que paífaraò parecendolhc
todos hum breue moriíeuto.
Viueo ainda alguns dias de-
pois eíte íanto Religiofo. Na
fepultura em que o enterra-
rão, íelauroude obraderele-
uo cífc milagroío fuceílo,
que ainda duraua no tempo
q osConegos Regulares de S.
loão Euágehíta tomarão pof-
fe delfe morteiro por doa-
ção que dcUe fez ao meílre
loaó íeu fundador neftes Rei-
nos, & depois Bifpo de La-
mego, & Vifeu o Arccbifpo
delia Igreja de Braga Dom
Fernando da Guerra , pêra cu-
ja vida guardamos o mais que
delle íe poderia dizer.
II Vargenfe^I^lagnaten-
fe, forão a principio moftei-
; ros, & ambos fundados por
S*MartinhojO primeiro íc cha
mouS.Bêtoda Varfea,mea Ic-
goa de Barcellos:hc hoje Igre-
Dd
ja
32G
Capitulo LXXIIL
ja parochial vnida ao moliei-
lo de Villar de frades, por re-
nuncia, quedcllc fez o Ab-
bade Vafco Roíz Chantre de-
ita Se varão de muita virtu-
de, ôc fantos exemplos , foi
dos primeiros Cónegos Re-
gulares, que ncfie Reino ílo-
rcceraô , viuco no reinado de
Dom Aifonfo o Qinnto , ôc
era Villar de frades ellá fepul-
tado, 5aõ Martinho de Ma-
nhcdo fe vnío tábcm no mcf-
mo tempo, pcUo mefmo Ar-
ccbifpo Dom Fernando da
Guerra a Villar de frades ; era
então abbadia fccular , ôc nc-
íla forma pcrfeucra Koje,com
fea Vígairo, que adminiílra
os Sacramentos aos freigue-
zcs : dilla pouco cfpaço do
mcfmo moíteiro.
13 Tiirris ,0 moftciro
de faõ Saluador da Torre ,a
quem antiguamente chama-
uão S.Saluador de Dume,por
fcr colónia fua,&: grande imi-
tador de íua obfcruancia : he
hoje de faõ Domingos, vnido
ao moílciro de Viana pcllo
Illurtrifsimo fenhorDom frei
Bartholamcu dos Martyres
Arccbifpo Primaz: era ao tê-
poda vniaó abbadia íccular,
& jàdt muitos annos falta-
uão aly Rcligiofos. Claudinum
he o mofteiro de faõ Cláudio,,
he hoje Igreja parochial, teue
por fundador a íaõ Mar tinho.
Sòillo nos confta delle , &
não mais.
14, Cahanenfe^ heíâÕIoaõ
de Cabanas, foftentou em fua
proíperidadc fctcnta & finco
monges, que naquclla moíi-
tanha como águias gencro-
fas poíêraõ fua morada, hoje
he reíidécia de dousRcligiofos
A^enje chamouíe íaõ Cofmc
de Azere ,cíH cm Valdeucz,
hehojc Igreja parochial.
ij Temos dadobreue-
mente conta dos mofteiros,
que achamos na carta de frei
Drumario pêra Fontano, to-
dos íemduuida fundaçãode
faS Martinho. Outros acha-
mos ainda neftc noíTo Arcebif
pado de q temos prouaucis có
jeituras íoraÕ também porcl-
le edificados,mas como a cer-
teza não he tanta , & o outro
fundador que felheaílina feja
íaõ Frutuofo , pêra fua vida
guardamos o que delles pudé-
ramos cfcreucr.
16 Foi efta obra de fundar
morteiros hua das principaes
emquefe ocupou íaõ Marti-
nho, porque com o exemplo
dos monges fe reformauão
os mães Ecclcliaflicos , & a
çcnte
o
S. Quartinho cie 1)umcj.
321
gente Portugueza íe aíFei—
çoaua à religião , dando de
niáo aos goltosj & paflacem-
pos do mundo por fcguira
Chrifto crucificado , como
fcguiraõ muitos ^ enchcndoíc
demaneiraos morteiros , que
pôde dizer Drumario de tan-
tos , quantos nomeou na lua
carta. Riimpebamr rete pr4
miiltitudine pifcium. Alem di-
fto tinha ndles a gente pobre
(de que íemprc ouue grande
numero entre Douro, & Mi-
nho) o remédio de fuás necef-
íidades,porqueas mais defuas
rendas, que eraõ copiofas , fe
gaftauáo com os mifcraucis,
tomando pêra fy os Religio*
fos fò o que precifamente ba-
ftaua pcra fuftentaçáo da vi-
da : alem doutro fruito muy
principal ^ que daqui íiacia,
a raber,a continua oração,quc
pello Rcy,pello Rcyno,& to-
dos os eftados delle fazião õs
Religioíos a Deos NoíTo Se-
nhor» as quaes ,como de gen-
te tão fanra, não podcrião dei
xar de fcr muito agrada-
ucis 3 fua Diuina
Mageftadc.
CAPITVLO LXXim.
X> O $ L 1 F R O S,
ip* obras que compôs o glo-
rtojofaó Martinho.
Cupoufc tã-
bem S.Marti-
nho nacõpo-
íição de mui-
tos, ôc vários
tratados, de que fe pudeílèti*
rar proueito efpiritual , pcra
não fef fò pfoueitofo a fuás
ouclhas com a lingoa no puí-
obra
pico , com as obras na con-
uerfação , mas muito mais cõ
a pena nos liuros; gaftounos a
mayor, ôc melhor parte delles
o tempo, enuejândo como a-
uarento efte riquiílimo the-
fouro à Igreja de Braga , 6c
ao mundo todo a luz, & dou-
trina, que daqui poderiãô to-
mar os íieis,*ainda os que nos
ficarão correrão muitos an-
nos por de Séneca, o que não
he piqueno louuor de faõMar
tinho , pêra quem conhece o
cílylo daquelle graõphilofo-
pho:mas ja neftas vitimas im
pr^efloês deFrãça,&Alemanha
vem
322
tij kU,-j.
5>^'b. de
jt rip Ec-
íl c.t^.
Ifiili.
•verbo
Martin^
Ifil áe
20, Afar
leíl.
ãffcript.
EccUf
á.c, 1^.
vem com titulo de íeu pró-
prio autor. Acharfeaó no ;.
tomo da Bibliorheca dos Pa-
dres impreíla em Leaõ de Fra-
ca no anno i j-85>. Q primeiro
íc intitula Forma homíU a»/-
r-f, faz menção dclleíànto Ifi-
doro: o Breuiario delia Sè^Si-
gibcrto , &: Trithemio^dizem
o dedicou a ElRey Miro , que
foiTheodimíro, ou Ariamí-
ro leu fuceílor. O outro tra-
tado tem por titulo ^^ mor/-
hiís. Totalmente perecerão as
fuás cartas , em q íanto Illdo-
ro diz. Hortabatur nd emen-
datwnem^vitíe ^ conuerfaticní
f dei. orar ionis infiantiam, ele-
tmojynarum dijlribmionem^ ijf
fuperomnia ( cultum omnium
<T'irtutum)pietatem. Ex horta-
ua à emendada vida^vida con-
forme à Fè, inftancia na ora-
çáo„ largueza nas efmòlas , &
íobre tudo à piedade, afieõ, &
gala de todas as virtudes .
Também fe pcrdeo o outro
tratado, a que o Breuiario de
Braga nomea. Opufctilú de cor-
reóiione ruflicorú^ qui cújideUs
tj^ent idólis honor e exhibebant.
Da emenda dos rufticos , que
fendo fieis, faziaõ honra aos
Ídolos, Sigiberto affirma que
S. M.i-rtinho por maõ de Paf-
chaíio tresladou de Grego cm
Capítulo LX XIIIL
latim muitas íentenças de Er-
mitães doEgyptOj andãoal-
oúasna5 vidas dos Padres im-
prcílãs em Leáo de França no
anno de lóiy.illuílradas pello
Padre Hiriberto Rofuueydi
da Cópanhia de IESV,onde fc
poderão ler.
X A principal obra lite-
rária de faó Martinho, de que
hoje gozamos, he a colleiçâo,
& recopilaçáo , q fez de mui-
tos Cânones, tirados dos CÕ-
ciliosOricntaes, efcritos em
Grego, de que no Occidcnte,
& particularmente por Hcf-
panha,ncnhúa noticia fc ti-
nha , pclla ignorância da lín-
gua Grega. A eftes conuerteo
o Santo na Latina, &: faõ muy
allegados no Decreto de Gra-
ciano, fe bem com nome de
Martinho Fapa,auendo de fcr
com o de faõ Martinho Bifpo
de Dume 5 ou Arcebifpode
Braga jO que nãoaducrtimos
nos Comentos ao Decreto,
quando ao capitulo , / quis
presbyter , explicamos quem
fora S.Martinho Papa, áuédo
de explicar que fora S.Marti-
nho de Dume^ou oBracharê-
fc,de quem ja tínhamos dado
noticia,& nomeado porhym
dos rccopiladoresdoDccrcto
no prologo do mefmo liuro.
foi. 768.
BaroH.to,
7. atin.
Chrip.
583,
Dcd
ICOU
S.Q^Íértinho de T>mnt
c_>.
S3i
Dedicou ell:a íua Colieição
dos Cânones Orientaes laõ
Martinho a NitigioArccbiípo
dcLijgOj&aoCõcilioqaly íe
*ajuntou:o titulo diz aísy. Do-
mino meò hecttifsimo^ aC Apoíio
lic£ [edis honon fufpiciendo in
Chriíio fratri Nntgio Epif-
copo , njel ijniuerjo Concilio
Liicenfs Ecclefi^ , Martinus
Epifiopus^^c. Eftc heaquellc
n'crmoNifigio que fe achou
no Conciho de Braga, ôc Lu-
go como temos dito.
5 Por todas cftas obras
ircrcceoíaõ Martinho efcrc-
tier delle feu contemporâneo
faõ Gregório Turoneníe In
tantum fe literis imbuit ^ iJt
nulli fecundas fuis temporíbtis
haheretur. Eftudou, & foube
tanto, que a nenhum de íeu
tempo foi inferior, fendo q
concorrerão com elle neíle fe-
culo dos quinhentos , pêra os
feifccntosannoSjde Africa os
Fulgencios , os Ferrandos , os
EugippioSjOS Vi(5lores,os lu-
nilios ,os Primaíios, os Li-
teratos : de Aíía os Andres
CcfariêfeSjOS AnaftailosSinai-
tasrdc Europa os Ennodios,
os Mafcclhnos, os Auitos^os
BoecioSjOS CaíTiodoros, os
Lconcios,os luífos Orgilli-
tanosjdc Milão, os Dacios,
os Vciianciosj os Euoo;rios, òc
outros de que tcuc boa noti-
cia o Turoneníe, quando aísy
elcreuiadeS. Martinho. Lou*
ua depois diílo ao Santo de
grande poeta, òc traz em pro-
ua certos verfos , que na por^'
ta principal de fcu morteiro
de Dume ( que ficaua pcra a
cidade) mandara efeulpir, os
quaes por elegantes andauáo
na boca de todos:mas como a
fúria dos Mouros delfruyo
aquclla Igreja -^ ôc moíleiró^
perdeofe a pcdra,& perderão -
fe os vcríos, & a hos íò nos fi*
cou a magoa de nao podef^
mos gozar de fua elegância.
CAPITVLO LXXV.
DA oiti R I O S A
morte do bemauentiirado S,
Martinho de Dume,
EMOS da-
do a noticia?
que nos foi
poííiueldavi
da,& efcritos
deS. Martinho. Reífa agora
íua morte bemauêf urada,dc q
íempreviueo faudofo ^ pello
multo
jui I I MiiMlIlii^
3 24
Capitulo LXXV.
muico que dcfejaua veríe com
Dcos. Cahio eníermo ja cheo
de annos , armoufe com os
Sacramécos daígrcja próprios
daquclla hora , & Ibbrc hua
pobre caina cu berço dcíacco,
&c ciiiza^ cfpcrou o efpofo de
íua alma Chriílo lESV, o
qual Ihenaõfakoii em ocaíião.
taõ apertada, &lheapareceo
nnqucUa taõ alegre , & doce
prelença, com que coíluma
chamar as ahnas dcs U\às mais
amados, pêra as bodas eternas.
Trazia em Ita companhia a
Rainha dos Anjos , o ^lorio-
fo faÓ Martinho Bifpo de Tu-
ron,dequcm íempre como
natural í eu, ^ do feu nome
fora deuotiílmio: entre tacs
auogados , & defenforcs fe toi
cótentiílimo deíla vida pêra a
eterna cm vinte de Março do
anno de ^^}. chorando os
feus pello perderem, alegran-
doíe osbemauenturados pel-
lo ganharem . Antes de mor-
rer ordenou ícu teftamento^
em que difpos o queconui-
, nha pêra fua alma , deixando
j alguns legados ; nomeou por
executores , òz teftamentci-
ros aos Reis deftc Reino , co-
mo conrto do IO. Concilio
Tolcdano celebrado em tem-
po dclRey Receíuindo, on-
deie leuou o meímo tefta-
mcnco per hum fidalgo cha-
mado Vuamba , òi ElRey oc -
denou aos Bifpos tratalícmda
execução delle, poiscllauaà
conta dos Reys a obrigação
deocomprir. Quaes foliem
os legados do teítamento, 6.:
particularidades delle nosem-
cobrio o tempo, & iò nos íl-
cou cila curta memoria, que
os Padres daquclle Concilio
nos deixarão da efcricura , cu-
jas letras mereciaõ eterna lem-
brança.Enterrarão o íantono
ícu moíleiro de Dume , onde
elleue muitos annos vene-
rado dos fieis , que em feu
fepulcbroachauãoo remédio
de fuás necefsidades. Diziafe
cõmíímente pellos milagres
que hum obraua em França,
outro em Portugal, ter Deos
metida na maõ , & entregue
fija omnipotência aos dous
Martinhos : ena verdade , quê
bem conílderar as maraui-
Ihas feitas por hum, & outro
facilmente aísy o julgara,
i Com a entrada dos Mou-
ros em Hefpanba , & com a
dertruiçaõdefta cidade/ & mo
fteiro de Dumc,efconderaõ
os fieis as lanças relíquias, pêra
que os Bárbaros as não ò.cÇq-
iiimaílemi mas foi demaneira
S
ue
S .Q^Iarfmho de Dumc^,
325
que (cmpre íe cõferuou a me- I
moria, donde cftauao recolhi-
das ^icêq tornado melhores tê
pos ,ac]ucllcs meímos q rcdi-
íicarão o moíleiro as colloca-
ráo outra vez no leu próprio
Icpiílchro leu atado febre duas
colunnas na Capella mor da
meíma Igreja pêra aparte da
cpiíioIa.Dacjui as tirou o illu-
ítriilimo íenhorArcebiípo de
Braga Dó Manoel de Sou fa_,&
asfcchou no mefmo fcpui-
chro dentro do altar môr_,pera
a (eu tempo as tresladar a efta
Sc, <5j por entretanto dcííma-
ginaraosde Dumc que não
pretendia tirallos/enão Tegu-
rallos na poííe de tão rico the-
zouro , lendo a traça verdadei-
ra trazellas a Bracra fem fer fcn
tido primeiro que as mortraf-
íe coUccadas no lugar onde
dcíejaua^ pois mal podiao ad-
uertir os que as defendiaõ, fc
foltauão ou não de dentro do
altar, que fó por efte rerpeito
eícolhcra pêra ofantodepo-
fito.
3 Faícceo o Arcebifpo Dõ
Manoelde Soufa primeiro q
pudeíle por em execução efte
reuderenhoi& comoelleíó,
& poucos outros fabião do lu
gar das fagradaá reliquías,com
lua morte feperdeo a memo-
^
ria,& certeza ácQc eílauãoj fe
bé còftaua ícr na igreja deDu-
. mc.Entrou no Arccbirpado o
illuilriíiimOj&Reuendiíiimo
fenhor DõFr. Agoíl:inhode
Caftf o,& como tão zeloío da
honra, & gloria dos fatos Pre-
lados ícus anteceííorcs , man-
dou por todas asfgrejas,&mo
ftciros de fcu Arcebiípado fa-
zer,e fez por lua pelica muitas
penitécias,jejus^diciplina^,ora
çoés,cím.clas, &í outras obras
pias,pcraqaDiuina bondade,
&i mílcricordia íc dignafle def-
cobriro corpodoícgíidoApo
ílolo dePortu.^al S.Martinho,
aquém como a depoíito de
hú taó bcmaucnturado efpiri-
to defejaua dará veneração,
qpellosreusPortuguczes,cujo
mcftrc tinha fido naFè,&:pel-
los mães lieis, a quê com ícus
fantiflimos,& doutiííimos cf-
critos aknriiara,lhe era tão de-
uida.
4 Entre cflcs pêíamctosmo
uido , como clle dizia , de húa
efficacia, a que não podia rcíí-
ílir^ mandou desfazer o airar
mor da Igreja de Dume,ondc
fe achou hú fepulchro de pe-
dra como de cíhcmòs , & pê-
ra a pouca arte e] então auia na
efcultura,de obra mais q ordi-
naria,porq tinha na frotalcira
Ec CS
326
Capitulo LX XV.
os doze Apoltolosabcrcosao
cizel; noalcov & meo da mef-
ma frõtaleiraa SãtillimaTrin-
dade^em cada canto hú dos ge-
rogliíicos,q fe coítumáo pin-
tar c5 os Euangcliftas ^ Anjo,
Aguia,Leaõ,eTouro.Foi gra-
de o aluoroço dos prefcntes,
& muito mayor o doArccbif-
porchaniarãofe os homés ve-
Ihosda freigiiezia,& outros da
cidade,rcconhecerão o fepul-
chrojtertificaraõ fer o q eltiue
ra primeiro fobre as colunas
na Capclla mor refpeitado
de todo o pouo como de laò
Martinho,& cõ particular de-
uaçáo , fk piedade venerado
dos fcreniílimos P^eis Dom
loáoo lí, & Dom Manoel,
& yitimamentedo Infate Dõ
Luís, quádo paíTaraõ em ro-
maria a Santiago de Gailiza,
íegundo clles viraõ porfcus
próprios olhos nos vltimos
dous fenhores,&: do primeiro
lho relatauão íeus pays^í^ tam-
bém fc acharão prefentcs.
$ Reconhecido o fagradofe
pulchro,aindaq cõ grádiílima
cõtradição da freiguezia,o fez o
ArcebifpoPrimàz tresladarcõ
a mayor dececia,Ã:folénidade,
q Ihefoipoííiuel ao Morteiro
deS Frutuoío,&: entregar aly
àquelles Tantos Religiolos,pe-
raqfofsê íeus depoíítarios cm
qianto fe preparaua lugar na
íua Sè.x^briole ao tépo da en-
trega ofagrado íepulchro,&
foi tão celertial, &diuinoo
cheiro q todos os preféces fen-
tirão,&: por muitos dias íe íen
tio naquella cafa, q realmente
lhe parecia viuiaõ na gloria. E-
ra a íua fonte as fágradas reli-
qiiias cõprindofencllas tanto
àletra oàcS.Vãvlo.Chrifliho-
nus odorjumus. Notouíeícrê
tcdos CS oílbs do íanto em cf-
pecial os das canas / pernas fo
bre maneira grandes^quaes or-
dinariamente íàõ os homés de
Vngria,dõdeS. Martinho era
natural. De todos os do corpo
fò a cana de hú dos braços
fe achou menos rbemfofpei-
tamos a leuariao coníígo íe us
Religiofos quando obriga-
dos da fúria dos Mouros fe
paílàráo às ferras de Aílurias^
&í poucas legoas antes do por
to de Ribadeu,& nãológedõ
de agora eítà Mondonhedo
edificarão outro mofteiro cõ
o mefmo nome de Durne , &
inuocação dcS. Martinho,por
q em húa doação q fez àquel-
lesReligiofos,&aoBifpoTheo
dimíro certa fenhora por no-
meApala^é louuor de S. Marti
nhoacrecéta. Cum reliquu nof
cuntur
S .Q^d^rtinho de Du?nç_j>
Í27
cimtur cfie in Mendunio^i^Du
nncfis Sedís Prouinci<e Gal!^-
cu: CUJ2S relíquias eíião em
Mondonhcdo (chamaíe tãbé
eíte feíiúdo moftciro Dume
de Mondonhcdo) & em Du-
me da Prouiacia deGallizaj q
he o noíío dcfta cidaderafsy q
temos por muy prouauel,q
cRa cana do biaço,q nos falra,
foi a c] cnriqucceo a Dume de
Mondonhcdo, & lhe trouxe
todos os bés aísy erpírituaes,
comotêporacs ,em que por
muitos annos fevio florcccr.
6 De S.Frutuoío fe trcs-
ladou o fngrado corpo c5 pro
ciiiàõmuy foléne peraeftaSé
noãnode KJoó.Armouíe pe-
ia iíl: o, & pozíedefeflatodaa
cidadereftauão as ruas alcati-
fadas de boninas ^ as janelas
de tapeçaria,as portas de alta-
res^ í^perfumes. Nos morado
resde Braga fe via riqueza,
cocerto,louçanía,& febre tu-
do deuação, cada hú tinha a-
quelle dia por proprio,& cui-
daua q íe não vencia aos de--
mais,naocÕpria cõ fua obri-
gação. Ouue vários jogos, &
fedas de c3uallo,dãças, íolías,
em fim moftraua efta cidade
q íahia a agradecer ao feu Apo
ftolo morto os bés.q delle re-
cebera viuo.Forao collocadas
as (agradas rcliquias no altar
da Capclla de SátaMartha,jú-
to aS. Pedro dcRates àparcc di
reita do alrar mor da Se dcíla
Igreja de Braga,em hú tumu-
lo de pedra dourado de obra
curioia, fechado c5 húas gra-
des , & ao pè dclle abertas as
letras que fe fcguem.
Aqui efiào corpo de S. Marti'
nhoArcebifpo qfoi deita Satã
Igreja de Braga ^pellos annos
de 574.0 qualfi ArcebifpoDo
fr. Agoftinho de Itfit de ha
mtmoria noSynodoq celebrou
no mes de Outubro do anno de
1606. tresladou da Igreja de
Dume , na qual primeiro foi
Bifpo^i^f nella efiauafepuha-
do^tfo collocou neste tumulo.
O Collcgio da Copanhia de
lESV deita cidade celebrou a
tresladação dasreliquias dcrte
fanto c5 muitos verlos elcíjã-
tes,&epigramas rcltosem leu
louuor,di{correndo por fua
vida,& milagres , applicando
a cada híj particulares encó-
mios. Adiãte os laçaremos pc
raq os curiofos os poílaõ ver.
7 Vinco S.MartinhojCÕfor
meoTuronéíe^&rAimonio,
afsy na dignidade deBifpo de
Dumc,como deArcebií po de
Itiron.U
Irarti c.
37-
3 f.39- 1
Ec 1
Braí^a
328
faptplo LXXV-
20 Mur-
éj leã.
• Baron to.
lep.te^j,
íct.i.ítn.
IfJoy d:
\vir ilhifl.
liiron.
'^Lt/rpra
fená. li,
j .carmi.
Binga qualí trinta aiinos.
Morreo conforme ao Breuia-
rio tiefta Sè no de quinhen-
tos &c oitenta ôc noue , & por
eíl;a conta entrou em Portu-
gal no clec|uinhétos & feflen-
ra , &í nefte tempo põem íua
entrada o Cardeal Baronio, Fr.
Bernardo de Brito tem pcra
íy que morreo alguns annos
antes pellas rczoes que apon-
ta, ôc conclue que foi íua
morte no meímo anno, em
que fuccdeo a de Ariamíro
Rcy dos Sueuos, de quinhen-
tos ôc oitenta & três . O mcf-
mo afíirmafrci António de
lepes , &c he mais conforme
ao q tem luliano acercada fu-
ceflaõ do Arcebiípo Benigno
fuceflbr immcdiato de S.Mar-
tinho,como adiante em, fua vi
da diremos . Elcreucm dcfte
illulhe Prelado fanto Ilídoro,
o meímo Turonenfe , & Ve-
nâncio Fortunato_,a quem faõ
poucas todas as palauras peia
os louuores de íaõ Martinho^
porque ora lhe chama lu-
me clariílimo, que efpalhou
pcUo mundo aluz do myfte-
rio da SantiíTima Trindade,
ora o compara com Elias,
com faõ Pedro,com faõ Pau-
lo, com Santiago, com faõ
loáo, lembrando ao Reino de
Portugal quanto lhe deuc,
pcis IcinicltredeíuaFê, re-
gra de íeus coftumes, laura-
dordefcus corações como
arado da Cruz , &: da palaura
Diuina, enfim paíior que ha
de emparar , & goucrnar íuas
cuelhas, ate que na oloriajjf^f
~i>num ouile^is^ ^mis pastor. Voi
notauela deuaçao, que Ve-
nâncio teueao noílo íaõ Mar-
tinho , a piedade com quele
lhe encomenda,peraque la no
Ceo rogue por elle, pella Rai-
nha fanta Radigunda, que en-
tão indaviuia nomoíicirode
Putiers , àí pella Abbadeíía
Inês , cm que tantas vezes fa-
la cm íeus elcritcs . Aos Au-
tores que ja nomeamos fc po
dem ajuntar Siçibcrto ,Tri-
themio, Morales, Bellarmi-
no , Mariana, & outros mui-
tos. Quando morreo o glo-
riofolaõ Martinho era Pon-
tífice da Igreja Romana de-
pois de loáo 5 & Bencdido,
Pelagio II.& Reyde Hefpa-
nha o catholicoPrincipeRe
caredo; o Reino dos Suecos
fe acabou com a entrada que
nellefezLeuuigildo, & fica-
rão os Reys Godos fenhores
de toda Fícípanha.
ftr/ft c.\
19. é-
Thti.vbi
adUrm.
Je fcrtp,'.
Er:icjUjl\
Mãrianà'
hifl.de
Ihfptunh
/.j. c, ^,
CAP.
S .Quartinho de DH?nc^u
III >lliiMW
3^9
CAPITVLO LXXVI.
POESIAS VARIAS
feitiíí em lomor de S. Mar-
tinho,na tresladaçao defuas
reliquhis peni ejta Santa
Sè de Braga,
MARXÍNVS A B
Oriente Deo duce nniii^
gatmHifpaiiiam.
Ç\ Fid trepidas Martinet
^-* aliofubfole calentes
(liucre''vrbes ,patriam defere
Chrifius aitj
Nec dejiderio nimium tangare
parentuni
J, confcende ratem, te mare%l:^
aiira ■■Vocanti
Litttis in Hefperium <vemes^
'vbitorua luporim
Ora premes, ouihuspabula Uta
dabis.
Errant mi He méis fineíegem
mútUibusa^nte^
Tu dux erraatis ^tu pater esio
gyêgis.
IN H I S P A N I AM
^enitns pr^eficitur Du-
mienJiEccleJí^e.
Félici Hífpanos ratis ãppulit
alitefines^
Nec mora c.eleíiera Br achara
jentit cpcm.
En Mar t mus adest^ ardentis
abcrefaUilU
Milk '-vòlant, borrem tártara^
Chrijliis ouat;
H<erefis in flamas ^pieta4 ifigau
diafurgit.
Exornat meritum Dumia mi'-
tra caput.
Brachara ne inuideas^ tilUs ejl
Pater illefuturus
Exigua efl tanto Dimiamitra
^iro'
THEODIMIRfMREGEM
ah Ariana h^ref remcdt,
Filium ^Eterno Patre Re^ími-^
norem
Híerefi infeãus Theodimifus
inquit
Credidi j tabes eadem Sueuús
Inficit omnest
Você Martini mdiorafanUÉ
Audio; infeãus populiis loqUctc
Aiidiat ^ dicètmifer heu jtpuU
Noãe iacebam^ . {tus
APFD SVEVOS HAiRESt
Ariana infeãospr^edicdt
Spiritus iiíefácer Mar tini b^c
intonat cre^
Peãoris arcanos pande SueUt
finus.
AtquaíemfobokmDininam âg-
hcfce Piírentii
Accedet remoilovia mama tiiõ
Hícrefisjlfe -velUtfol celei\dif
cutit 'xmbras^
E
c 3
Ft
■ii<»i«.jj',ii iJtn líWinii
3áO
Capitulo LXXIV'
Vt Incem excipitis ^pandeSueue
Jinus^
C<ecigen4 magnum eflhomini
darepojfejalutem,
Císcorum regnis hanc dare
quantus honorl ■ v,
, .-■■■■ ■«
PRISCILLIÃNA
harefi damnata in i. Concilio
Brachartji^cui Epifcopus in-
terfuit, Dumienfe ca-
nobium adi-
■ "• Jicaí.
Diu inajpiram <voxfapien-
tiam
Martini^ iniquarH reprobat
hícrefim.
Prifcillianus dux cohortis
Viãus^ait^focij recedo.
NÓ 'vjitato robore fpiritus
Depr^elianti quisfapientia.
Sanus refiJlttlnoUra lúgit
Castra fuis populator au-
dax.
lungit phalanges pr^f diá-
rias^
'■ En Dumiéjis iugera pVccdij
Metitur^ in nos tecia iji-
ãor
Turrigero ^edeficat para-
tu.
Audispamntite duce Bel-
luam
Ma rtine ? ferrumfentiatj
^ pyram.
\
Prifcillianus fic Olympn \
Hydra ijiam expediet
cruenta.
DIVVS MARTINVS
poU morrem Lucretij Jrchie-
pifcopus renunciatus Concilium
\i.Epifcoporum indixit,
quod eji fecundum
Bracharenfe.
Viderat infano rugitu errare
leonês^
Martinus , rábido <^iderat ore
lupos.
Palores prcperatejnqiiit^ pro-
perate tyrannus
Tartareus' tendit retia mille
gregi,
Protinus occurrunt álacres; er-
rantihus aiunt
Jduenijfe ouibus Jentiat Orcus
opem.
Injcelus esl ar manda phalanx^
I Martine tremifcant
Tartara^-uirtutisjydera tan-
gat apex.
Qua patet auxilium Primatem
Hifpaniapofcit
Te Martine igregis tumemor
eUo tui-
Ille njibrentur , ait ^facraful-
mina,fulminet ather.
Hcerejis auãoresfulminanoftra
prtmant.
Quid nos ; <Dt fpeculuin ^it4
melioris amemur.
Paftorum
S.í^íartmho de ^umc^.
33 í
Paílorú pktas duólat in aflra
greges.
Brachara Concilium hoc 've-
nerare, hocfujpicit orbis.
Dijce htnc Primam gloria qua^
tatuiifi:
E X S r N O D I S
Patrum Orientalium mul-
ta ex Gr^co Latine
níertit.
Focepotens calamo^fuú Mar-
tinusouile 'liiija-
Seruat : Auernaksflix ligat ima
cartes.
£.-^ . íii ^ O .
Gr^ca Patrum moHUmektá le-
gens^plebs accipe dixit
Dogmata^ qu^efuerant Graca^
Latina damus.
Inflar apis , <^ifo benc olentes
floribus hortos j
Percipitisjideijithyma^ mella
date.
VOLVMEN S C R I~
pfit quatuor iJirtutú ad Miro-
nem GalUcu Regem cuí
titulus, Formula ho-
neUcet>it<e,
Infiruit in ^vitium Martinus
mille cohortes,
Nonpatitur fcelerum tõllere
moníira caputy
Nuncface^nunc ferro ^ nunc ejl
I fcelus arte piandum.
ReXi aitj)dic totó dogmata códe
Jinu.
Difcutit trrorum C4cam pru-
dentia noãem.
luflitioc humanum lanx regit
(Cquagefius.
yiãricem oUentat mentis con-
ftantiapalmam.
Laudatum nbus ponere difce
mo dum.
Formula a>iuendi regno pr4-
fcribitur: illa
Vtere^erunt regni temporafau^
fia tui,
SCRIPSIT OPFS^
culum de correãione ruíHcúrú^
quiSamaritanorum more
Deumjimuljs^ Ido-^
la colebant.
ímpia dumfequeris radiantis
Jgna metallii
O plebs^mUra Er ebi prodígio*
fa ^ides,
Quid demens tua prouuluisgt-'
nua ante Baalem?
Protinus error is contrahe ^e-
latuiy
Te Patet ^mplexu excipiet
Martinus^Olympi
Ojlendit 'Veram{tufequéPè)iUe
^uiam.
En líber in mánibtís ^ titulam
lege.diuidècultum "-^ ^'« "^
Dijsofferfaljis njerbéra^thura^
Deo.
Ee 4
LL
332
Capitulo LXXVII.
I JhUí
i67-
•f^tf
LIBRFM EPISTOLA-
rumfcripfir.,1^ alia --vo-
Miffa frequens cafios defcribit
. epifiola mores.
^uo yox ire neqiut^ littera mif-
Japoteft.
Non 'vni tantum mittuntur
-. opujcuíagenti.
Ega6 adeimt O^cidtkjfj^ pla-
E^ Martine tihíterritrum^n-
aiiUior orbis
Instruão orbe libris , a^ocibtis
mlrap&tis.
CAPITVLO LXXVII.
BENIGNO XXXIII.
Arcebifpo de Braga.
VLIANO
põem a Be-
nigno pòr íu
ceílor de SaÕ
Martinho de
Durnc com as palauras que fe
fcguem. Saneio Pontijici Mar
tino fuccôdit inSede Braóha-
renfi Bmignus 'virfanãíts,qui
ciiraíilijs inter fiiit 3. Concilio
ToJetano. Na ordem da fuceí-
íaõ concorda Juliano com
Marco JVlaximo, &: com am-
bos íeronymo Roman de la
Higuera nos lugares que a-
diancc citaremos. Porem que
feachaíle no terceiro Conci-
lio Tokdano não coníla , a n-
tes parece íe proua o contra-
rio do mefmo CQncilio im-
preílo, queanda .nacollccçáo
de Garcia deLoayía, porque
nelle aíiinou Pantardo Arce-
biípo d cila íanta Igrejas^: im
mediato fuceíTor deBcnigno>
como em íua vida diremos.
Pode bem íer, q aíTiftiria cm
outro Concilio dcToIcdo,de
que, não temos nem memo-
ria, nem ãõiãs , & que efle na
conta, & ordem de luliano
foífe o terceiro , poiloque o
não íçja nade Loayía, quecó*
íufamente ajuntou muitos, &
os mcteo todos debaixo de
hum titulo íòjcomo jaem ou
tro l'jgar deixamos prouado.
Foi Benigno varão illuftre, Sc
de rara virtude , como coníla
de lula carta que lhe cícreueo
o PapaPclagio II. a qual anda
no z.tomo dos Concílios en-
tre as epiftolas Dccretacs dc-
il:c Sumo Pontífice. Keem
repoíla doutra ,• que o lanto
Primaz lhe efcreuco conful-
tando
54-
"Benkno.
Cu
333
tando aSè Apoftolica ma)*
& meílra de todas as Igrejas^
íc CS Bifpos podiáo mudaríe
de húas cidades pêra outras,
lem inccruir licença ,& con-
íentimento do Sumo Pon-
tificc Romano, A carta hc
toda chea de erudição, & dou
trina, autorizada com mui-
tos lugares da Efcricura Sa-
grada acerca da mudança ,
lobre que fora coníultado:
poremos fomente o princi-
pio delia, porque fcm mais
leitura acharemos logo qual
íofle a virtude do noílo Pre-
lado Benigno approuada , &
canonizada pclla boca do Pa-
pa Pclagio, diz afsy.
EPISTOLA PELA-
gij Pcíp.ç II. ad Benignum
Arcbiepifcopum.
AN, ET QjTATENVS
liceat Epifcopis de yna ci-
uitate in aliam
tranjtre,
Dileãifsimo fratri Be-
nigno ^ Pelagius Epifcopus.
Leais fraternitatis nu literis
'~oigoremfidei m^, quem dudú
nou-efiimtís , agnouimus , con-
gratulares dileãioni tiu, qíiod
ad cuflodienduM ChriUigre-
gem paJloraUm curam •-jigi-
lanter impendis , tf pro tuis
fiibditis jolicims exijlis; ad
noílram enim Utitiam , í?" be-
nefaãa perueniunt , i^Jiali-
qua fecus quam oportet pro-
uenerint , non módico nos w.é-
rore comurbant .Mazna enim
gratulationem diurna concedit
gratia , quando tribuit inter
nos, i^ falutaris difciplin^
normas literis conferre , Í7*
peruenire ad pacificorum ilu-
dia favit peroptata . Exigit
ergodileãio tua confuka Se^
dis Apofiolice , Jilicitum for et
Epijcopum tranjire,aut muta-
ri de ciuitate ad ciuitati^i^c.
Em Portuguez quer dizer.
CARTA D O PAPA
Pelagio II. ao Arcebijpo
Benigno.
Pelagio Bifpo ao amado irmão
Benigno Arcebifpo, Tanto q
lemos d i;oJ?a carta logo en-
xergamos nella a "viue^a de
ijoj^a Fé., que de muy longe tí-
nhamos conhecida , i^ Dos da-
mos as graças do cuidado ^ i^f
'Vigilância pafloral , com que
guardais o rebanho de Chrifío^
tf defendeis njojfos fub ditos.
Todas as obras boas nos cau-
faó grande alegria ^ tf as que
onao
334
Cã viiuld LXX VIL
\íH Chron,
! an Chrs •
'/?' 53 1.
[vcrf.
fel. 103.
\VC7f,
i/upra caf
o mo jaó ^ l^fucedem ccmonh
■dfwm. nes dao arandiUima
trfjh^a . AUrceheparticuhn'
quenosfa^a Diuina -bonda-
de^ quando nos dá lugar perã
entre nós conferirmos ^ Is'' tra-
tarmos por cartas o que con-
uempcrafefa'^rem regrai de
doutrina faudauel ^ iff nos dei-
xa chegar ao fim d efe] a do da
pac^, Id' concórdia , pella qud
deiiemos a Deos facrificios pa-
cíficos. A questão fobre que
confultais a Sê Jpoílolica he,
fepode hum Bifpo mudarfe de
hm cidadepera outra^ i^c.
z Delta carta faz men-
ção Marco Máximo com as
palanras ícguinccs. Benignus
Epifcopus Br achar enfis flor et ^
ad quem Pelagius Papa 11.
huius nordinisfcribit^íumijj de
conUantia Fidei, de que alijs
pr.tclaris njirtutibus laudat.
Benigno Bifpo de Braga flo-
recCj ao qual Pelagio Papa II.
dcftc nomceícrcnc, &o loií-
ua de cõftanre na Pè , & dou-
tras exccllentes virtudes, Ic-
ronymo Roman de laFIigue-
ra em hua carta que anda no
primeiro tomo dos liuros do
Cartório defta Igreja, de a re-
ferimos na vida de íanto Auf-
berto affirma o mefmo, fa-
j 7cndo tambcm menção de- 1
Hta Decretai do Pana Pclapio
de cujo íobreícrito íc náo
pudera alcançar que o Be-
nigno, a quem o Papaeícre-
iieo era Arcebiípode Braga,
fe Marco Máximo no lo não
declarara.
3 He muito de notar
chamar nella o Papa a Benig-
no Arccbiípo, òí náo Me-
tropolitano, com.o naquclle
tempo íe vfaua, em o qual
aos Prelados, que agora cha-
mamos Arcebiípos , chama-
Liáo então Bifpos da primeira
Se, ou Metropolitanos, íem
fe vfar o titulo de Arccbiíp o,
que aqui lhe da o Sumo Pon-
tifice. Donde vieraõ a dizer
Autores grauiíli mos, q cfta
palaura Arcebiípo fe intro-
duzira em Heípanha depois
daexpuKaõ dos Mouros, co-
mo aíírmaõ os queimpu-
gnão a efcritura dos votos
de Santiago , em a quril fir-
mou o Arcebiípo de Cantá-
bria , dizendo , que não con-
flaua de hiftorias, ou efcritu-
ras deHefpanha,quecm tem-
po dclPvey Dom Ramiro pri
meiro ouueíle nella cfte ti-
tulo de Arcebifpo.
4 Contra elles rcfpon-
dendo a cOa objeiçao , mo-
flra doariflimamente Dom
Mauro
395
' ■C.16J0I.
20 Z
Mauro Ferrcr quaõ mal en-
caminhados foraõ os que íe -
guiraõ íemelhance opinião^
porque, como elie bc proua,
o nome de Arcebiípo hede
muitos annos introduzido
na Igreja, & fe víbu íèmpre
cm todas as idades nas de Hei*
panha antes ainda de nella en-
trarem Mouros,como coníla
dos Concílios que aponta , &
fe ve claramente dellia carta
do Papa Pebgio em que no-
mea,& da titulo de Arcebií-
po ao noílo Benigno , como
vfado ja,& praticado cm Hef-^
panha. E fe nos Cõcilios; ciei-
la fe não intitulauão afsy os
Arcebiípos, era porque o no-
me de Mctropcliranos,de que
vfauão, tinha mais de affabili-
dade, quede mageftade, 6c os
Prelados daquelle tépo âma-
uãoatêno efcrcucr o que os
mollraua pays j- ôc fugiaõde
qualquer lombra de íenhor.
Com outros fundamentos re-
futa Ferrcr a opinião contra-
ria que nellc fe podem ver.
5 Tornando ao noflb Pre-
lado ^fabemos que íe achou
prefente à cõfagraçao da Igre-
ja Cathedraí deToledo,que fe
fez pellos annos de Chriílo
jSy.fendo Rey Recaredo.Cõ-
uerteofe eíle Principe àFèCa-
thohca, deixando a hcrc.na
deArriõem que fora criado, a
qualabiurou, >íic detcílou pu-
blicamente , & com clle h ic-
raõomeímo todos (eus vaí-
íallos. Parece que oíangue do
gloriofo martyrfantoHermi-
nigildo feu irmão lhe fcruiâ
no peito,& dahipediaa Deos
pella conueríà5 de todos os
Godos , ôí Sueuos feus natu-
raes com mais efficacia do q
ode Abel pella vingança de
íeu irmão Caim* Foi grande
ajuda pêra fe confeguir elfe
bem de coda Heípanha cer
ElRey Rccaredo por coníe-
Iheiros osdows irmãos íaõ Le-
andro i ôc íaõ Fuígencio tios
íeus,os quaescõ grande cui-
dado trabalharão nefte nego-
cio, êc tanta diligencia [ujze-
raõ nellé, queo tinhão con-
cluido aos dous mefes primei-
ros cio Reinado de Recare-
do,reduzindo efte excellente
Principe à pureza da Fe Ca-
tholica- Entre outras virtu-
des que dellc celebra fánto líi-
doro, engrandece a liberalida-
de, cõ que fauoreceo. rellau-
rou,&enriqueceoas Igrejas,
reftituindolhe todos os bens,
tituloSj& preminencias,q íeu
pay Leouigildo Iheauia rou-
bado. A principal entre outras
obras
33Ó
(^apimio LXXVIL
íuUan, in
■.9-'
obias de Kcligiio que fez ^ foi
reilaiirar a Igreja mayor cie
Toledo tantas vezes profa-
nada pellos Biípos Arrianos
nos tempos atraz . Sagrouíe
algreja,&: peiaaíagraçáo del-
ia le a; u ncaraó comÊuphemio
Prelado de Toledo o iioílb
'Benieno, & outros Mecro-
policaiios , Fezfe a íagraçáo a
treze de Abril do anno de
Chriíio de quinhentos ik oi-
tenta &í lete em preíença dei
RcyRccaredo, & da Rainha
Bada , òc de muitos Bifpos,
Abbades, & fenhorcs do Rei-
no.
6 Não fe contentou o
fanto Prelado Benigno com
as obras que tinha feito cm
fua Igreja , pregando , & en-
finando _, mas ainda íe quii fa-
zer peregrino , &í romeiro
leuado do feruor da deuação
que tinha às reliquias dos ían-
tos. No anno de quinhentos
& oitenta Sc oito foi a Franca
viíitar o fepulchro ácS. Mar-
tinho Bifpo dcTurSjCuja fa-
ma era então muy celebre , òc
obraua Dcos por elle muitos
milagres.Nefta fanta peregri-
nação lhe fobreueo húa doen-
ça mortal^quelhe tirou a vida
na mefma cidade de Turs, on-
de cila enterrado fcfjundo.o
f^g.i\3,
quepclla autoridade ílc Gre , . .
"orio i uroneníc attirma 1
liano dizendo. Petrus cogno-
mento Benignas , ijt creditur,
Epijcopus Bracharenf.s , dum
anm ^^2>. "vifitat Turonefe-
pulchrumjanãl Martmi Pon-
tifcis Turonenjis , moritur, tf
ibidem^jepelittw^ ijt consiatex
Gregorij Turon enjis libro , in -
quam deniiraculis confejforum
cap. 15. O anno àcss^. cm q
luliano poemefta jornada de
Benigno elH viciado por erro
da impreííaõjporq ouuera de
por o de 588. cm qu-e n^i ver-
dade aconteceOjp^orque no fe-
guintede 589. entrou Pantar-
do íeu immediato fuceílor na
dienidade de Bra^a , como lo-
go diremos. Sinco annos go-
uernou eil:a igreja o lanto
Prelado Benigno , iempre
com grande fima de laari-
dade, 110 fimdellcslefoigO'
zar da gloria eterna . Prefidia
nertc tépo na Igreja de Deos
o Papa Pclagio II. & era Rey
dos Godos ^ &: Sueuos Rcca-
redo.
GAP.
Tontardo.
337
CAPITVLO LXXVIír.
PJNTJRDO XXXniL
Arcebifpo de Br a cr a.
O anno fe-
guinc^ depois
da morte do
ArcebiípoBe
nignOjqcayo
no de 589. Foi eleito pêra a dig-
nidade Primacial delia Igreja
Pantardo,oqual achamos no
mefníoannocm hum Con-
ciho de Toledo terceiro na or
dem dos q andaõ imprellbs^
em o qual allmou có os mais
Prelados que nelle íe acharão.
Era fenhor neíie tempo dos
ReinosdeHefpanhaElReyFla
uio Recaredo filho de Leoui-
gildo que fora grande herege
Arriano . Defuioufe o filho
da mà doutrina do pay,& to-
cado da graça Diuina íe con-
uertco, tendo noCeo a Teu
irmão o illuílre martyr Tan-
to Ermenigildo que por clle
intercedia ^ & na terra a faõ
Lcandro,& íaõFulgencio tios
icuSj que o inftniyão , &í en-
íínauáo,moílrandolheo ver-
dadeiro caminho da fuluação^
& acegueira dos erroi da he-
regia Arriana , como jàdiíle-
mos.Cõuertido o Rey deter-
minou ajuntar hú Conciho^
cm o qual clle,& íua molher a
Rainha Bada publicaméte pro
feílaíséaFè, òí Religião Ca-
tholica^q tinhão abraçado^ &
abjuraísé a hcregia de Arrio
em que dantes viueraó. Con-
gregoufe o Concilio na cida-
dade de Toledo no quarto an
no de Teu Reinado , na era de
62.J. quehe o anno de Chri-
fto de j85?.Foi nacional de to-
dos os Biípos dcHclpanha^iS^
França Gorbica^ 6c no nu-
mero dos Prelados na grande-
za j íuftancia, Sc peio das ma-
térias,q ncile íe trataraõ/oi hú
dos m.ais celebres, &demayor
importância q por eftes tem-
pos emHcfpanha ou ue. Acha-
rãofe nelle íinco Arcebi(pos_,
a laber Maííona deMerida,Eu
fi^mio de Toledo ^ Leandro de
Scuilha^Migecio de Narbona_,
Pátardo de Braga. Aílétarãofe
pella ordé dafagração^e por fer
maisantiguo q todos ^ teue o
primeiro lugar depois delRey
Rccaredo^MaíTona illuítrePre
lado de Merida, dotado de ra-
ras virtudes^comorcferePauIõ
Diácono ê íua vida^Sc Loayfa
More»,
âc r.tyg:
h'fiof. de
Aferi J.
Ff
nas
338
Capitulo LXXX.
\cAf. 4.
caf.
28.
nas íoícriploes do mefmo
Concilio. Era o noflb Arce-
biípo Pancardo o mais mo-
derno na lagraçáo de todos os
Metropolitanos que fe acha-
rão no Concilio^ porque no
meímoannodejS?. em que
fe celebrou, fci eleito pêra a
dignidade Primacial de Braga,
depois da morte doArcebiípo
Binigno, como acima diíle-
n\os,òc por efta rezáo aílinou
no vitimo lugar por guardara
ordem que le tinha dado no
Conciho Bracharêíe tido por
primeiro: cm que fe decretou,
q os Prelados fe aflentaflem
nos Concílios conforme o
tempo de fua fagraçáo fem
rclpeito a mayor Prelazia,co-
mo molhamos no tratado da
Primazia de Bra^a.
i Os Prelados de Por-
tugal , & Galliza, que fe acha-
rão nerte Concilio com feus
Metropolitanos de Merida,&
Braga, foráo Palmado Bifpo
de Badajoz, ou Beja,Pedro de
Oílbnoba no Algarue junto
a FarOjPaulo de Lisboa, Elcu-
therio de Salamanca , Poíli-
donio Bifpo de Eminio junto
a Águeda, Neuíila,& Gardin-
go de Tuy , loaõ de Dume,
Conftancio, &: Argiouito do
Porro, SuniladeVifcu.Phi-
lippe de Lamego , Domini-
codeIria,ouo Padrão, Be-
cilla deLugo,Falacio deAftor-
ga^ Lupacio de Orenfe.
3 A rezão porque aííi-
nãodousBiípos dehúa mef-
ma Igreja neítc Concilio, co-
mo Conltancio,& Argiouito
do Porto, Neuíila, &c Gar-
dingode Tuy, temos dado
largamente no Catalogo dos
Bilpos do Porto, onde diíTe-
mos,que ElRey Leouigildo
ordenara que todos osBifpos
que publicamente náo pro-
feílaflem a heregiaArrianafof-
fem derterrados de fuás Igre-
jas , &í em eíFcito o executou
afsy , priuando delias aos Bif-
posCatholicos , & mandan-
doos defterrados pcra varias
partes, pondo em leu lugar
Bifpos here^es,quegouernaí-
fem as Igrcj as que ficauáo íem
paftor. Concorrerão a efte
Concilio afsy os Prelados Ca-
tholicos ,comoos Arrianos,
ertes abjurarão as heregias cm
que viuiaó , & poífo que lar-
garão as Igrejas aos verdadei-
ros Bifpos , q delias foraõ de-
fl:errados,não perderão por if-
fo o titulo,q dantes tinhão,&
fe aílinaraõ como Prclados,in
titulandoíe Bifpos daquella;
mefmas cidades onde viuiâo
-,,- - Mini- -T rgi» '■ 3— fci:.-^ — t — I— ^-^^^—
intruíos
Fon tardo.
Tiafci*
339
Gavc. dè
I osíyf. m
h:it!i; Cie
Aí oral U
ii.c. n.
\dicl.loea.
incrufos como norarao gra-
uillimos autores.
4 He muy digno cíc pon-
deração o modo com que le
ailina o nollo Arccbiípo Pan-
tardo dizendo. Pantardm in
Chrijli nomine Ecclefi^ Catho-
líca Bracharenjis Metropoli-
tanus Epifcopiis GalUcUPro-
iúnciíe , his Confiitittionihus,
quihus in urbe Toletana inter -
fiiiannitens , tampro me^quam
profratre meo N itigioEpifco-
pQ de ciuitan Luci fiibfcripfi.
Pantardo cm nome de Chri-
fto Bilpo Metropolitano da
Igreja Catholica de Bragada
ProuinciadeGalliza coníenti,
&: aííiaeineRes decretos ,emq
me achei na cidade de Toledo
afsy por mim como por meu
irmão Nitigio Biípo da cida-
de de Lugo.
<• A muita idade de Nitigio
Metropolitano de Lugo atri-
buc Loayía não fe achar nclle
Conciho , &: acrcccnta que a
femelhantes Prelados impe-
didos jàpellos annosfecuílu-
mauaalíinarcoadjutorcs,que
por elles gouernaflem , & af-
líftiflem nos Concilios. Por
ventura q por vizinharê tan-
to as Igrejas de Braga,ô,i: Lugo
aceitaria eftc cuidado Pantar-
do, &í cj dahi lhe viria aííinar
per Nitigio no Concilio.-fe ju
o mefmo Nitigio impedido
por outros rcrpeitoso não c5-
ílituio (eu prccnrndcr. Achaõ
íe neíle Concilio dous Biípcs
q ambos fe afllnão de Lugo,
Nitigio por quê aíTinou Pan-
tardo,&BccilIa,qaflinou por
fy. Loayía os tê por diíTerêtes
Bifpados, íc bê ambos do mef-
mo nome,húcmGallizajOU-
trocm Aílurias , Nitigio diz
fcr Metropolitano de Lugo ^/ff^*.
cniGalliza, Becilla Biípo de
Lugo nas Afturias.
Não fatisfaz porem cfta
faida a Padiiha na hilloria Ec-
cleííaftica , mas quando pre-
tende dar outra , paíla fò com
dizcr,que tcdas eftas dificul-
dades, & incõuenientes reful-
tão de auer erros nos origi-
o
eet.6.c
naes
luc
íe
os naoouucra.
ccflàraõ as qucftoês referidas.
Confeíiamosos erros de que
Padilha^&Moralesfe qucixão,
mas não temos por tão mal
fundada a repofta de Loavíâ,
que por elics a ajamos de cn-
gcitar.Mclhor fe pudera ainda
rcfponderquedos dous Me-
tropolitanos deLugo, Nitigio
era o verdadeiro, BccilIã o in-
trufo porLeouigildo,&: q não
podêdoacharfe prcfêtcNitigio
(foíleeita^ou outra a rezão
Ff
de
i^.o
Qafitulo LXXVIIL
I 2. f. mo
Harth hb
v^-x
I de fua auícncia) aíliillio com
tudooinçruío, & herege por
náo tèt impedirncnto -pêra il-
7 irei Bernardo de Briro
; tem pêra íy que ncfte. Conci'
lio íe acharão dous Arcebií-
pos de Braga, o noílb Pantar-
; do, & ovitro por nome luha-
no, q cambe alhnou no mcf-
mo Concilio: corri elle fe vay
o LecenceadoGarpar Aluarez
Louzada em húa memoria q
fez de algúsArcebifposde Bra
ga , & tratando defte Conci-
lio dizqueaííinoanelle lulia-
no com as paíauras feguintes.
lulianus BracharenJisEcchJiá
Epifcopus fubfcripfit^ 3c acre-
centa que efte era Arriano in-
trufo porLeoiii^ildo,& Pan-
tardo que aíimou em quinto
lugar depois clelRey Recare-
do Bifpo Catholico . Porem
como o nome de luhano fe
não ache no Concilio que re-
fere Loayfa , nem Morales^
Padilha,ou Vafeu o nomeem
entre os que aíliíliraõ nelleji-
ccnça nos fica pêra nos con*
tentarmos fò com o noíTo
Pantardo fanto, ôc catho-
lico fem admitirmos a Julia-
no intrufo,& herege.
8 Depois que fe fechou j
o Concilio ^ veo o Arcebif- |
po Pantardo pêra ÍLa Igre-
ja j onde continuou em en-
íinar, ôí pregar a luas oue-
Ihas fazendo inteiramente of-
ficio de bom pallor. Era fua
preknça mais neceflaria que
nunqua pêra acudir à noua
conueríaó de íeus íubditos,
os quacs fe tinháo apartado
da hcrefria Arriana , òccõme-
çauáoa viuer como Catho-
hcos; a todos aíTittiajinílruia,
& doutrinaua comapeíToa,
com o coníelho , ôc muito
mais com o exemplo. Ne-
llas obras acabou fantamen-
te ávida polTio que dellenos
não ficou outra memoria.
Tinha porcftes annos O Su-
mo Pontificado o Papa Pe-
lagio II. & o cetro <le
Hefpanha Reca-
redo.
CAP.
Santo Eílâuao>
34 I
/ufa C.
iS.M.r.},
CAPITVLO LXXIX.
S A "N r O E S T E-
uao Abb^dt do moUeiro de.
Rates.
A vida de fa 5
Pedro de Ra-
tes primeiro
Arcebilpode
Braga deixa-
mos reterido^como o ermitão
Feiix^& íeuiobrinho, os que
acharão o corpo do íanco lhe
deraõ iepukura^cíperando no
Ceo , q breaemente naqueile
lugar íe leuaiiraria Igreja , &
moileiro onde íoas íagradas
relíquias fofrem viílcadas , &
veneradas dos Chriílãos. Não
diíTemos aly em que cepo fe
deu principio ao Molleiro,
porq a Igreja confta que fe fez
logo. Pódeleconjeiturar que
foi íua fundação primeiro q
a Heípanha viefsé mandados
pdlo fanno Patriarcha os Reli-
giofosdeS.BentOjporq naõ fe
pode duuidar auer em Hefpa-
nha muito primeiro q o fan-
to naceíle monges, & moftei-
ros fundados como jadiíle-
mos em outro lugar.
2, PcUos annos de 3 o?»
ihmiiiã.i
faz menção Flauio Dextro
do moílciro de Ticulcia na
Carpetania aonde fe ajunta
o rio Henarcs c6 o Tajunha_,
edificado pellos glorioíos mó
gcs , ^ marcyres de Chnfto
íaó Philiberto, &i Fabriciano.
Eíleue Ticulcia fcgundô Mo-
rales onde agora he Bayona
pegado cõ Aranjues taõ cele-
bre por todo o mundo. O
meímo Dextro nos certifica
da vinda â Hefpanha de cer-
tos Religioíos a que cllc cha-
ma Monges negros pellos an-
nos de 393, CanaU{'R,oáÚ2,o
CaroleCanacc, húadas cida-
des que Tolemeu poeninos \I)t:.\t*tu
Turdctanosda lem do Gua- *^^ ^"'^
diana)/» Lufaania Monachini-
gri ah anno 393 . nome que
muito depois derão os fagra-
dos Cânones aos filhos de faó
Bento, que agora propíiarnê-
te fe chamaõ taes. No Conci-
lio Eliberitnno pellos annos
de 300.no deG,aragoça pellos
de 380. ou 384. no de Toledo ftj^,\
auido por primeiro pellos de ; 6.
40Ó. ou pouco ítiais adiante j'^*^'^-'^"*
ha grande menção depeíloas
dedicadas a Dcos cõ eRe no-
me de monges afsy homens,
como molhercs -, & como
cm todas ãs coufas de pie-
dade efte Reino de Porfjgal,
Ff3
&i
342
Capitulo LXXIX.
ôídelle erta Prouincia de en-
tre DourOj& Minho fe auen-
cajoii
femi
•re aos mais
chro.jag
W9-
Helpanha,de cxer he come-
çarão por acjLii a fundar íeus
moll;eiros,& que o de faõ Pe-
dro de Rates íeria o primeiro
que nclla fe fundaílc.
3 Fizemos efta aduerten-
cia pêra virmos à narração de
hum fanto Abbadc do moitei
rode Rates por nome Eíle-
uáo,de quem diz Marco Má-
ximo íe achou entre outros
muitos q aíliftiraõ no tercei-
ro Concilio de Toledo, òc tã-
bem por nos parecer efte mo-
rteiro hum dos maisantiguos
defte Arcebifpado. E bem era
fo íle o primeiro, o que foi de-
dicado ao primeiro Martyr de
Heípanha o gloriofo íaò Pe-
dro de Rates primeiro Ar-
cebiípo, &c Primaz de toda
cila . He bem verda de, que
nas íirmas^que defte Concilio
trazem Loayfa , & Morales,
fenão acha a do Abbade Efte-
uão: mas como aly faltão ou-
tras,naõ he muito faltaíTe tam-
bém efta. Marco Máximo o
conta entre os mais , & o faz
da Ordem de faõ Bento dizê-
do . Sanãus Stephanus Abbcvs
Ratenjis Ordinis Sanai Bene-
diãi; parece qofeu moftei-
ro de Rates tinha nefte tem-
po aceitada ]à a re[^ra do lan-
to Patriarcha. Naõ podeauer
duuida ler efte mofteiro á:\
Ordem de faõ Bento , afsy
pella memoria, & tradi-çáo
quediílo ouue fempre entre
os naturaes da terra , como
porhum Breuedo PapaLcaó
X. que trata da crcaçáo das
comendas nouas,&: íe guarda
nefte cartório, no qual lhe
chama o Summo Pontífice
mofteiro de S. Bento naõ húa
mas muitas vezes.
4 No particular da vida
de S.Efteuáo AbbadCjnenhiJa
noticia podemos deícubrir,
aquelle Pay dos lumes.2«/ "J?/-
det in ahfconditoiã faberia bem
galardoar. O mefmo Marco
Máximo parece poe fua mor-
te no anno de quinhentos &
nouenta & oito, noue mais
adiante do Concilio em que fe
achou, &aíIinou. Diz afsy:
SanCliis Stephanus Rate pro-
pe Bracharam Augufiam: cm
Rates junto a Braga fanto
Efteuáo . Algúa foi peita te-
mos que efte lanto Abbade
Efteuáo he aquelle de quem
faz menção o Martyroloí^io
Romano a 13. de Feuereiro,
em cujo tranfito appareceo
grande multidão de Anjos
que
Santo Tolobeu.
343
Eiirot). in
br.
c. 1^. ty
[Hom. '.n
queíe deixarão ver dos pre-
íences , como refere faõ Gre-
gorioj &q em lugar de Rea-
te íe ha de ler aly Rate^Ac mo-
do que não fique Reate cida-
de de Itália, íenáo Rate mo-
rteiro de Portugal i porque
cfte lauto foi contemporâneo
de íàõ Gregório , &í deuiade
ter grande noticia de luas vir-
tudes.
CAPITVLO LXXX.
SANTO TOLOBEF,
ou Tobeu XXXX. Jrce-
bifpo de Braga.
E L LO S
teftimunhos
de MarcoMa
ximo,&: lu-
liano nos lu-
gares que adiante referiremos,
temos por certo que foi faõ
Tolobeu Arccbifpo deftalgre
ja,&: que delia íe fahio ao ae-
ferto da Pvcligião^pera ahi aca-
bar a vida tratando cÕ Deos,
& conílgo fò. Pouco fora dar
erta Prouincia de entre Dou-
ro, & Minho tanto quanto
deu á fagrada Religião de faó
Bento, íe Ihenaõ dera cam-
bem efclarecidos íogeitos,que
a ajudaílem a fundar , & hon-
rar por todos os Reynos de
Hefpanha,quando nclla a pri-
meira vez entrou. Naõ íe cõ-
tenta Deos íò de edifícios de
pedra, nem dà muito quem
lhe não da mais que a fazéda:
os que fe entregaò por verda-
deira fogeição a íeu feruiço
clles faõ os que oíFerecem a
Deos mayor , ôc mais eftima-
do facrificio. Tal foi o glorio-
fo fanco TolobeUjOu Tobeu,
de quem imos falando,
i Começauaeftandoel-
le gouernando íeuArcebif-
pado de Braga afundar o mo-
íleirodeiaó Martinho de Li-
euananas montanhas de San-
tilhana cm Afturias hum fan-
to monge natural de Palencia,
& de nobilifsima geração, por
nomeToribio. Eraõ grandes
os milagres,que Deos por elle
obraua, & grande afama com
que por todas as partes íe pu-
blicauão: chegou a Braga, ou-
u ioos, & ponderou os o Arcc-
bifpo Tolobeu,quãdo a pou-
cas horas de conlideração clle
fe íentio mouer de húaDiuina
infpiração pêra ir fcr feu con-
panheiro naquella fanra em-
Ff
prez;
344
Cafitulo LXX
preza^ íò rcpaiaua no modo
com c]ue poderia deixar o Ar-
cebifpado : nias Deos,cujaera
aqueila inlpiração , óc íancos
mouimentoSjlheabrio o ca-
minho cjual então lhe pa-
recco, & nos hoje não pode-
mos referir por não acharmos
diílb memoria. O cerco he
que o fanto Arcebiípofoi ,&
íe ajuntou a ToribiOj & com
ícu exemplo leu ou depois a
muitos outros,entre os quaes
íe contão Synobi Diácono,
Euíebio, Euíoílomo^ & lofa-
fo. Todos receberão o habito
de íaõ Bento da mão. de faõ
Toribio , & todos perfeuerã-
do nelleatèa morte acabarão
fantamente,&: faõ auidos ho-
]Cyôc venerados pcrfantos.
5 O principal trabalho
de faõ Tolobeu foi ocuparfe
todo na cultura, & edifício
deluaalmaj fazendofc rem-
plo agradauel da Diuina Ma-
geílade^ em fegundo lugar cõ
aqucUes íeus fantos compa-
nheiros , trazia pedra pêra o
edificio que hiao fundando,
ordenandoo Deos afsy ^ pera-
que aquelle molfeiro foííe
pcilo tempo adiante requiíli-
mothciourode fantidade,&
tamben) peraq naquellagran-
1 de perfeguição dos Mouros,
que eftaua pêra vir íobreHcf-
panha, tiueílem no meímo
molleiro, pclla afpereza, &:
íolidáo de ieu ílcio^onde íe ef-
condcr, & íàluar as fagradas
reiiquias, que por não íerem
profanadas dos inííeis^tirauáo
de feus lurares antiguos. De
todas cilas coufas daoccnta
os Chronillas de íaõ Bento,
Sandoualjôc kpesj por todas
paliamos, com ter tão gran-
de parte nellas faõ Tolobeu:
mas por não íerem fò íua^ nos
contentamos com moftrar
os autores em que fe podem i
ler.
4 Omoflciropcrfeucra a-
inda hoje debaixo dadicipli-
na , ôc regra de íaõ Bento : no
principio foi fua inuocaçaõ
de faõ Martinho o de Turon;
mas depois trazendofe pêra
aly o corpo de íaõ Tonbio
Biípo de Aif orga, de quem jà
l tantas vezes falamos , perdco
o nome da primeira inuoca-
ção , & ainda o do próprio
fundador S. Toribio inõge, &
tomou o de S. Toribio Bifpo.
Alguas ermidas poré fícaraó
no mais aípero, & interior da
montanha,& entre cilas a q íe
chamados Anjos por aly vi-
rem de ordinário conueríar
có o fanto monge os cfpiritos
S.mâ.fm
djçãa do
'inoftcíro j
de S . lo
fibio.
lef. cciít.
1. /tnn.
Ctl. Gõct
de /!'.úUt
theat.dí
)emaucntU'
Sjinto Toloheií.
3'4-5
bcmaucncurados com tanta
familiaridade, como íe jà o
tiuelkm por bemaucncura-
do. O mcfmo he de crer fa-
riaõcomfcus cIicipiilos> em
eípecialcom o Arcebilpo S.
Tolobeu , o qual no meímo
mofteiro acabou a vida > &í
nelle jaz lepukado , ainda que
do lugar de fua fepulcura fe
nãolabe.
j" Marco Máximo , & Ju-
liano fcm nos dizerem mais
que o cempo,& lugar em que
fíorecia a memoria de íaó To*
lobeu_,(Sc que fora primeiro
Arccbifpo de Braga , paflaó
pella relação de fuás virtudes:
jà nos contentáramos íenos
diíTeraõ a que Arcebifpofu-
ccdera , ou quem a elle lhe
fucedeo,quando fe retirou ao
mofteiro de Lieuana : mas nê
ifto fizeraõj & por iflb o dei-
xamos ficar nefte lugar, ate
lhe acharmos o fcu próprio.
Aspalauras de Máximo faõ.
^chrmfoi PcY h<ic tempora inmónte Li-
21-j.verj banienfi Aiiurtm cehbris ha-
betur memcria SanSli Tolõbei
Epifcopi Bracharenjis in Bi-
fpania. fala do anno de 611.
Mim. m luliano tem as palauras feguin
its.FloretSanãus Tolobetisin
eremo Libanicnfitertia die lu-
lif , quipriusfuerat Epifcopus
Max, iti
ehron..
Bracbdrenjis : an:bos fe refe-
rem não ao tempo defua vi-
da , ou morte, mas ao de íc js
milagres, &c frequência de íua
romagem no lugar de íua íe-
pulturaem3. de lulho quan-
do fe celebra íua fcfla. O pa-
dre frei António lepes pcem vbifA^rÁ
a fundação do mofteiro de
faõToribio,que faõ Tolobeu
ajudou a fuiidar^pcllos annos
de;37.mas como também fa-
la nella acercado tempo com
algum efcrupulo,eíre melmo
nos fica pcra lho não aífinar-
mos certo, «5i determinado.
CAPITVLO LXXXI.
S AM P E D RO IV-
lidtto XXXFl Arcebifpo
de Braga.
Hamamos a
efteíanto Ar-
ccbifpo Pe-
dro luliano,
ou luliano
Pedro por concordarmos o
nome que Ihedào Aciprefte
de fanta íufta com o que
achamos aílinado no terceiro
Conciijo,
>4^
Capítulo LXX XI.
Inlian iii
oc. lei
fkona !iíf
^f. 21.
5
Concilio^ quarto, & (extode i
Toledo pcllosannos deChri-
-íto 633. & ^3 íí. porque Iiilia-
no o chama Pedro^ & cile hr-
liia nos Concílios Iiiliano.
B..,, He bem verdade que no
'quarto Concilio de Tole-
Loajf.,ii\ Jq põem Loayla,com quem
Cor. vt/l (e^^^y O doutor frei Bernardo
dcBíico, dous Arcebifpos de
Braga^hum por nome Pedro,
outro luliano^&dizquc am-
bos aly andáo firmados. Mas
não Foi afsy, & o crio nacco
todo dos que copiarão cfte
Concilio dos fcus primeiros
originaes, porque achando ao
noílb Arcebiípo Petrus In-
lianiiSfiw luliamis Petrus Me-'
tropolitanus Br achar enfis^ não
aducrtindo que o nome com-
porto de dous era húíò, o de-
uidiraõ , & derão também a
dous ArcebiípoSjhum Pedro^
outro luliano , fazendo tro-
peçar a Loayfa,& frei Bernar-
do de Brito. Outra conjei-
tura Çqs Padilha melhor enca-
minhada porque ao Pedro q
achou, Epifcopus Bracharm-
Js faz Epifcopus Biterienfii^ a -
goraBifiers, ou Linguadoc.
em França , ôc fe deixou ficar
com o Arcebifpo luliano, que
elle teuepello próprio deBra-
g3-
ivias porque nao pare-
ça nos mouemos por quael
quer hmdamcntosduppondo
(como na verdade he) que o
Arcebiípo de Braga luhano.
íeachou nos Concílios
qiuar-
to & íexto de Toledo , & que
nos meimos afiiilío tambenà
como conlU de íua firma o
Metropohtano de Narbona
Sclua, faremos aproua defta
noflk opinião ciara tomandoa
das palauras de luliano qu-e di
zem aísy. Tempore Sefinandi
(goucrnou doanno63i. pêra
o de 63 j-) jioret Epifcopus Bra-
charenjis S. Petrus, poHea Nar
honcjis adannumc^C.mortuus.
Florcceo no tempo de Seíl-
nando faõ Pedro Bifpo dc;
Braga , que depois o foi de
Narbona , morrco no anno
dc 6/^C.
4 S. Pedro não podia íer mu
dado de Braga pcra Narbona
derdoannode63i.em qucco
mcçou a reinar Seílnando ate
o de fua morte 646. fe não em
ocaííaõ cm q algreja deNarbo
na,ou eftiueíTe vaga por mor-
ce,ou o feuMctropolitano im
pedido por muita idade , &c
indifpoíiçoés j de modo que
nãopudcflegoucrnar,&: foíle
neceflario darfelhe coadjutor,
o que por nenhúa via acon-
d^j^cgxzo
tcceo
Sn^edro lult^no.
i47
-
cecco por todo cíle tempo;
porque Narbona efteue tam-
bém prouida com oíeu Ar-
cebiípo Scliiaj que náo con-
tente elle com acodir , & aíli-
ftir ao que era próprio de íua
igreja , òc como das portas
adentro rfahia de França, de
não fazendo caio de jornada
taõ comprida , & de tantas
legcas, le vinha a Toledo por
naõ faltar naquelles ajunta-
mentos j onde íe tratauao nc-
eocios de tanto bê,&: vtilida-
de da Igreja Catliolica. Tal
o achamos firmado no Con-
cilio quarto de Toledo, anno
633. tal no ícxtOjanno63<S.aly
mefmoondeaífillío, & aíTi-
nou o noílo Arcebifpo lulia-
no. Naõ foi logo a mudança
do noílo faõ Pedro a Narbo-
na nos finco annos que cor-
rerão de hum a outro Con-
ciho.
y Menos podia fer antes,
&i logo no principio do Rei-
nado de SefinandOjCm q lulia
no diz floreceoj ifto hedo an-
no de 631. ate O de 63 3. em qíc
ajiãtou o quarto Cõcilio To-
lcdano,porque então neceíTa-
riamente auiamos de dizer fo-
ra faõ Pedro pêra Arcebifpo
de Narbona antes de Seluâ ^ a-
quelleqfc acha nos Cócilios,
6í qScIuaforafeu fuceííbrjOii
immediato,òu depois do im-
mediato porqa brcuidãdc do
tempo , & eftreiteza de dous
annos,naõ daua cfpaço perã
mayor numero de Arcebif-
pos . Mas refpoiíder por eílá
maneira tern manifella con^
tradição na morte de S. Pedro
Iuhão,a qual foi oito ahnos de
pois deSelua fe achar no fexto
Concilio Toledano : & afsy
mal lhe podia fuceder antes
do quarto, quando faõ Pedro
ainda era viuo , & por ventu-
ra fe não tratauà de fua mu-
dança.
6 Pcllo que aceitando à
Garcia de Loayfa, &:âopádré
frei Bernardo de Brito j o Pe-
dro que nos dão iio quarto
Concilio Toledano , &í dei-
xando nos ficar com o luliã-
no que aly achamos firmado^
ambos parece que fazem hum
fò nome, & húa fópeíToájiftó
he faõ Pedro Iuliano,cuja prè
fença honrou os tempos dei
Rey SefinandOjCuja autori-
dade deu íèr, & alma ao quar-
to y & fextõ Concílios Tole-^
danos, em que fe achou , cujd
velhice j & bemauenturada
fcpultura enriqueceo a cidadtí
de Narbona , pcra onde en-
tendemos foi mudado depois
dà
348
Qapitido LXXXL
íi.p. C.8.
da morte do Arcebilpo Selud,
gOLiciiiando aquclia cadeira
de íeis pêra oitoannos^. 5c ou-
tros tantos pouco niais ou
menos cfta de Braga.
7 Aíllftiraõcom clle no
quarto Concilio de Toledo
líldoro Arcebiípo de 5euilha,
Scluade Narbona,Elieuáo de
Merida, luíto deToledo,Au-
daxde Tarragona : de Portu-
gal aíiiíliraõ também Germa-
no deDume, Profucuro de
Lamego,Monteris da Ida n ha,
Siciíclo de Euora , Scruo de
Deos de Lagos no Algarue,
Vearico de Lisboa , Anfiulfo
do Porto j Mctropio dcBri-
tonia, ou Britiandos , Moda-
rio de Beja, Laufo de Vireu,&:
por ErraultioBifpo de Coim-
bra PvCtano fcu Arcipreíle.
No fexto Concilio aíliíliráo
Sclua Metropolitano de Nar-
bona, íulianodc Braga, Eu-
génio de Toledo , Honorato
deSeuilha : de' Portugal Si-
ciíclo de Euora, Profucuro de
Lamego , Pimenio de Dume,
Méccho da IdanhaVíibefodo
Porto(ourrospoé tábêAniiul
fo,mas erradamete , como te-
mos efcrito no noíío Catalo-
go dos Biípos áo Porto)Viari
codeLiCboa, Renato de Co-
imbra.larico dcVifeu. Derão-
le os afientos de hú , òc outro
Cõcilio pella antiguidade da ia
gração. Nelles deixamos ap-
pontadooque baíic quando
tratanjos dos Biípos do Por-
to, aly íc podem ver.
8 Concluindo com o q
toca a S. Pedro luhano, elle
veo a morrer em Narbona no
anno de 646. Sua morre feíle-
jou faó Frutuoío,queodeuia
de conhecer, com hum epi-
grama de que faz mcncáo tií-
bem luiiano^pcrquc logo a-
crccenra. Mcrtmis dd annum
6^6. njtfaãiim cehbrat San-
ãus Fruãuofus Archiepifcopus
Bracharífis . Nos o rcpetira-
mos aqui íc o acháramos em
hiliano, ou tiueramos noti-
cia dclle: porem, cu pormiui-
to íabido j ou por andar entre
as obras do íanto q íepcrde-
ráo,dcixou luhano de o refe-
rir, mas ainda afsy lhe agrade-
cemos erta noticia ,& o farão
como mais intcrcíladcs os
que tem goílo das letras hu-
manas , cuja parte tão prin-
cipal he a poella, pois a vem
acreditada em dous tao no-
raueis Prelados, faõ Frutuo-
fo, & faõ Martinho de Du- fy-t^c-lA*
me,conio em fua vida dilTe-
mcs ; goucrnaua a Igreja de
Dcos ao tempo que íaõ Pe-
dro
T morado.
3i.c>
' f« ckren.
dro íuliano faleceo, depois de -
Pcbgio lí.S.GregorioMagoOj
Sabaniano,Bonibcio 1ÍÍ. Bo-
nifácio IIÍÍ. Dcusdedic, Bo-
nifácio V.Moiiorio/veuerino,
íoaõ ÍII í. o Papa Thcodoro.
Era Rey dos Godos Cir^daf-
uinrho.
CAPÍTVLO LXXZIL
MANVCINO XXXni
ArcehJÇpo dí Braga,
•^ — - - I !■■ l-TT * *■ '— - " IWI-*-»
V^^^?-*^*^ 4 P n- - p rei -^ 'o
I âJ pl#Al&- ^^ íeu lucef- j
•láli^l^ íor -Pavíora-
ciof-'b ívilia-
no com tan-
ta breuidade^ &: iocerrcza do
tempo era qucfcrao Árcebií-
pos defta, Igr.eja j ^ quafi no:;
não deu niíiÍ5 q- Icus $j ornes.
Di'! :iUyrManuc:nifanS!J'iim ,\ '■ ■
"T//n celehis efi ínemcria Tc-
na íaau Sede Brsc;a Panora-
cáò. Com cila brcuidadc paf-
íaluliario (cm apontara eau-
í ia, porque foi dcllerrado , Ôí
lançado de íaa igreja , nem
as dicuníiancias com que
eftas coufas pàflàrao , êc con-
tentaíe com tazcr meiiçáo q
florecia íua memoria peilos
I annos de 66o. que íàõ zriais de
vinte^alcm donde vay sfta hi-
íloria. Por não acharmos
outro lugar onde pudeíTc
entrar mais cómodarnenie
lhe damos cfíe, Enúoorb-
iliíuircmos ao ícn próprio
(qi!ando defcobrirmos outra
noticia mais ciara d 3 feu f 'o-
«erno.
CAPÍTVLO LXXXIlí-
.PANORAcio xxxrxii.
Ârcshifpode Braga.
at,l^'' mdeexu-\ \ i (^4^^^^ suíoridaácdc
.cutlaccejsítmjede Jan-' \\ J^^J^hM^;^ íuiiaiL^o f<;re-^
Br achar snlí Panoratiusx i .MÁVjtí^tfJC rid4n6câpi-
lebre a mcnicria ao muy ■ jÈ^i^^àà»^ tuío atraz lu-
laiilt . CU! fiíccefsitmfede fan
ãa
hc ceie
lâíiro varaó Manucind na ci
dadw' de Toledo ,, Oínde eíle^
uc deílerrado , &: cin Braea
onde foi Arcebifpo , & da hv
degradado, a quen"^ fucedco
. eedso Pànorscio a Manuílno,
tia dignidade Primacial dcBra
ga.peraaaud Foi eleico^ou por
cáuía da morte, ou do dcíler-
ro dcManucino.
Gg
CAP.
«Ill
350
Capitulo LXXXIIII.
CAPITVLO LXXXIIII.
P O T A MJ O O PE-
nitente XXXIX. Arccbif-
po de Braga.
Orventuraq
fccom open
famento qui
fermos cor-
^ rer as hifto-
rias Ecclefiaílicas^ & fazer húa
breuc rcpitiçao de todos os ca
fos de penitencia que por ef-
pantoíos fecontão nellas,não
achemos outro que iguale ao
que temos entre máos^aindaq
com cUe venhão a compara-
ção todos os penitentes, cuja
conuerfaÔ efpantou o míído.
Heefte o ráto,& humiliíTimo
varaõ Ponmio Arccbifpo de
Braga,em quem por famofo
pcnicétc tiueraõ as idades paf-
íadas muito que enuejar,&
teraÕ as vindouras muito que
aprender.
z No oitauo Concilio
dcToledo achamos cfte fanto
& illuílrePrclado,autorizan-
do cõ fua prefença aquelle gra
uc ajuntamento q íe celebrou
noannode Chriílo (Sji. no
j-. do reinado delRey Receí-
uintho Principe rcligiofiíli-
mo. Teue o primeiro lugai
Oroncio Metropolitano de
iMerida^o fcgúdo António de
Seuilha,o terceiro Eugénio de
Toledo, o quarto o nollo Po-
tamio Metropolitano de Bra-
sa.fesuindo todos nosaísêtos,
&í firmas a ordê da íagraçao^q
naquelle tépo íe vfaua. Segui-
rão depois os mais Bifpos de
Hefpanha, & os que aíTinão
de Portugal, & Galliza faõ
Candidato de Aftorga, Abié-
cio de Euora , Filimiro deLa-
mcgo , Vnadila de Vifeu , A-
deodatodeBeja, Hermenfre-
do de Lugo, Sona de Orenfe,
Sifebertode Coimbra. Com
ertes Prelados fe acharão ou-
tros varões illuftres deHefpa-
nha. Trataráoíe neíle Con-
cilio muitas coufas importan-
tes à Religião Catholica , cul-
to Diuino,& reformação dos
coítumcs, pêra o que íe orde-
narão 13. decretos quePora-
mio cõ os mais Prelados con-
firmou, ^autorizou.
3 Fechado o Concilio re-
colheofePotamio a fua Igreja:
eflando no gouerno delia exer
citando todas as obras por-
cj fe fazia amado de Dcos,&
eltimado
y
Fotamio.
351
cíHmadodos homens , o ini-
n:iigo do género humano, q
não cella de tentar t)S que ve
mais adiantados na virtude,
mais amigos da penitencia,&
cuidadolos da laluaçao , ar-
mandolhc,comoaDauid,cõ
aviíia de húa molher, depois
de muitos dias de côbatc ofez
vltimamente cair, &í ofen-
dera Dcos, mas com tanto
recato que ninguém mais que
os dous íoubc,ou teue íofpei-
ta daquclla fraqueza. Paílou
a força da tétaçáo, tornou em
fy Potamio, vio o miferauel
citado em que tinha caido,
<S>: como por fua miferia íe
via fora da graça de Deos^re-
bentaua de dor, & fentimcn-
to,as lagrimas, os fufpiros,
que de dia , & denoite Jhc la-
hiaõ dos olhos,&do peito ti-
nháo pafmados aos de fua fa-*
miha, não labendo a ocaíião
de tão repétina nouidadcPri-
uoufeda mefa, da conuerfa-'
cão, naõ dormia , não faláua,
em íim fua vida era abrir o
Ceo com fufpiros, & desfazer
o corpo com penitencias*
4 Naõ contente ainda
diftOjCntrcgando o gouerno
do Arcebifpado a que lhe pa-
receo o faria cõ fatisfação,dei-
xando a cidade íe foi a hú higar
dcícrto, (Sj aly retirado entre
poucas paredes cm continuo
jejum, tk pranto durou por
quafi nouc mefesj no fim dos
quaes labendo que em Tole-
do eílaua junto Concilio,
que foi o decimo na ordé, &
coilccção de Garcia de Loay-
fa,de lua própria letra cícrc-
ueo àquelíegraucajuntanien-
to leu pcccado,pcdindolhe pe
nitencia, & relatandclhe par-
te da qucjacinha feito pclla
mcfma culpa. Grandes ferião
as circunflancias com que a*:^-
grauaria fua caida ^ & preten-
deria moílrarfe indigno áo lu
gnr em que fora pofto, onde o
precederão tantos Prelados
íãntiiíimos, efptlhos dcpu-
reza_,a quem elle afrontaua em
auerfido feu fuccífor. Cha-
mauãoaquelles Padres à car^
ta de V otamio ^ohlíterandíj pa-
gina , ^ abolenda literarum
ekmenta digna de íerrifcada,
& apagada rporc mais digna
he ella de fer eícrita cõletras de
ouro3porqfabidahea íenteça
de SiGregorio. j^d pretiú £ter
n^ Yit^peccatorú turpitudines
atterútur ^flendo déaurantW.
Carta efcrita có lagrimas ,hc
carta de ouro j digna de viucr
pêra fépre&,de íe não perder,
neaindaa menor virgula delia,
G22, So
o
r.%.
C.6.
3 52
Capitulo LXXXJIIL
Sò nos ficou derta a pequena
noticia que fe acha no decreto
do Concilio de que logo po-
remos a copia.
j" Lida a carta de Potamio,
pellos Padres do Concilio ad-
mirados de fuceílo taõ pouco
erperado^pcrfu adidos que ou
por temor, ou por humilda-
de fe imporia ícmelhante cri-
me^porqnem dapeíloa, nem
da vida, nem da dpinião,& fa-
ma de Potamio tal fe podia,
preíumirrjuntos todos osBií-
pos Èrà confelho particular
determinarão apparcceíle em
ília prefença Potamio, & que
depois de perguntado, & in-
quirido fe determinaria delle
o que pareceííe . Deípedirao
^comaquelle íeu decreto, &
còm o meímo mcnfaoeiro de
Potamio outro, o qual che-
gado àcafa onde o fanto pe-
nitente eftaua lhe notificou a
ordem dos Bilpos^ & o citou
Ipera em prefença apparecer
cm Toledo , onde o ficauão
todos efperando.
6 Sahiodaquclle cárcere
Potamio veftido de Taco c5
rofto , & habito de penitente,
& nefte modo íem mais ou-
tro aparelho, fe pos ao cami-
nho : chegou a Toledo , & fe
apprefentou naquelle grauca-
j unta me to. Caufou nos pre-
íentes cõpaixao tão miferaucl
eípcâ:aculo.Difle primciramé
te quem era , a dignidade que
tinha,o peccadoem que ca-
irá, & dilleo com tal íentimé-
to,quc todos desfeitos em la-
grimas perfiííiaõ cm hú pro-
fundo iilencio. Então hú da-
quelles fantos Prelados , to-
mando a mão não obrante o
queacabauadeouuir , & ti-
nha diante dos olhos, de no-
uo pèrgútcu da parte dcDeos
todo podcrofo a Potamio , q
lhe diflcfle na verdade fe era
o Potamio ( tão desfigurado
o tinha a penitencia) Arce-
bifpo de Braga, &le na ver-
dade efcreuera tal carta à quel-
le Concilio , & cometera o
crime quenella, & aly na prc-
íença de todos confeflàua : ou
fe por violência algúa , ou dc-
fejodeviuer abatido entre as
gentes fe impunha aquellete-
llimunho, porque fe aísy fof-
fe, Deos o caftigaria como in-
famador da dignidade Eccle-
T > r
íiaflica , & de peíloas cuja ra-
ma he mais de fuás ouelhas do
que própria.
7 Eftaua entre tanto Pota-
mio com a cabeça baixa , os
olhos desfeitos cm lagrimas,
tendo a todos os circunftãtes
em
Fotamio.
353
cm continuo pranto , & aífii-
çáo : mas peraque daquelle
calo cm que também mereci-
cía era a miícricordia,(Sí abíoi-
uiçáo (e não deííe fauor à hy-
pocrclia, & fingimento, or-
denarão de calligar comas
Icys de piedade o Reo pre-
fentc, & com todasas de ju-
ftiça tapar as portas a quem
fópor humildâJcquifcíle ef-
perdiçar íua fama ellando c6-
llicuido em dignidade Eccle-
ílallica.
8 AíènrençacõtraPotamio,
foi priuaréno pêra fempre do
gouerno do Arcebiípado_,íer-
uir toda fua vida das portas
adentro de hum moíleiro em
oflicios humildes,peraquecíc-
fta maneira o pay de toda a
bondade, & piedade foíle fer-
uido de lhe conceder o per-
dão , que com tantas lagry-
mas,& abatimento próprio
bufcara.No que tocaua a dig-
nidade quiferaõ os Padres lhe
íicaíle o nome de Arcebifpo
viílo como elle de fua pró-
pria vontade fem ninguém a
iíTo o conftranger, manifefta-
ra no Concilio fua culpa , &
fe offerccera a toda a pena que
mereceflc.Nomearaõ por Ar-
cebifpo de Bragaa faòFrutuo-
foBiípo deDume,a quem os
Padres do Concilio encarre-
garão o gouerno dcfte Aice-
bifpado , d: de toda a Prouin-
ciadeGalhza. Foraõ os que
fulminarão a fentença os vin-
te Prelados aífiítcntes com os
Metropolitanos Eugénio de
Toledo, Fugitiuode Seuilha,
Saó Frutuofo deBraga •, eraó
de Portugal, & GallizaÇe-
farioBifpode Liíboa, Sozi-
mo de Euora, Ermenfredo de
Lugo, Ilpidio de Allorga,
Flauio do Porto.
9 Mas porque fempre
os Padres íicaraÕ duuidofos
que tal crime como aquelle,
não cabia cm peflba da vida,
exemplo , & autoridade de
Potamio, & porque também
entre os prefentes foi muy
louuada , antes admirada a-
quellaconfiflaõ, & peniten-
cia, & Potamio,fe bem con-
denando, era acclamado por
fanto , peraque não ouuefle
quem Icuado da opinião de
valer por fingimentos fe im-
pufcílc femelhantes crimes,
decretarão que qualquer Bif-
po , Sacerdote , ou Diácono^
quede íy confcílaíle publica-
mente algum peccado mor-
tal, ou com verdade, ou com
mentira foífe priuado de fua
ordc, de dignidade. Ne^^ enim
Ge 3
abfol-
354
Capitulo LXXXIllI.
\
ahjolui{áã aly por rezao oCó-
cilio ) poteft is qui in Je ipjum
dixerip , quod diãum in alio
punir etur , quoniam omnis qui
Jibi fucrit mortis caufa maior
homicida ft. Porque fc não
pòdc abfolucraquellc que co-
rra fy confcíTar coufa que dita
doutro fe caftigàra , nem po-
de aucr maior homicida que o
que fcmata afy próprio.
I o Aceitou Potamio a
fcntcnça com amefma humil-
dade com que a bufcara, &
[ orque com palau ras não po-
dia, pois lhas impedia a for-
cado ícntimcnto com íolu-
ços arrancados do inrimodo
peito agradeceo àquella graue
congregação a mifericordia
que com cllc vfauão . Aqui
era ncccíTaria a pena do elo-
quentilTimo Doutor faõ Ic-
ronymo com mais rczão que
a nolTa^pera efcreuer cm abo-
nação dchiía penitencia, &
humildade tão extraordiná-
ria : porque fc fc admirou o
doutiífimo Santo, & defcjou
pcra dignamente engrandecer
a Fabiola mayor facúndia que
a fua, quando vio aquella ma-
trona da principal nobreza de
Roma depois deviuuaraíc-
gunda vez cuberta de faço, &
de cinza ir mcterfc nos alpen-
dres da Igreja de faõ loáode
Lateráo entre os penitentes
publicos,a hm de alcançar ab-
loluição do peccado,que co-
metera por ic caiai legunda
vez íendo viuo o primeiro
marido ^ fe vira cfte grande
DoutoraonoíTo penitétePo-
tamio com a meíma libre de
Fabiola,que eftremos de en-
carecimento faria em louuor
de taõ raro exemplo de peni-
tencia, & humildade. Grande
não íe pode negar foi a q mo-
ftrou Fabiola , grande fua pe-*'
nitencia , mas fe fe compara
com a de Potamio, tanto à-
quem fica húa da outra, quã*
tahea diífercnça que vay de
híja a outra peflba; porque Fa-
biola era (fe bê nobre) molher
particular, Potamio Arcebif-
po de Braga Primaz das Hef-
panhas ,coroa(como o pro-
prioConcilio lhe chamou)da-
quelle nobiliíHmo aj untam é-
to, varão de grandiílima íàn-
tidade, & que andaua nos
olhosde todos. Digamos logo
com mayor rczão pcUo nof-
fo penitente o que faõ lero-
nymo difíe pella iriatrona Fa-
biola. Qiupercata fietus iíie
non purget ? Qms inmteratas
macuhu hdc lamtta no ahíuttl
Que pcccados não purificara |
tal
T^otamio.
355
MartiAl
lib, í .
Efigr.z I
I.
■p.f . 9.
tal choro? Q^ue nódoas não la- »
uarão tais lagrimas? Com hua
leiíe mudança parece que cõ-
pcteaPotamio o louuor dou-
tro Romano, de quem diíle o
Poeta Marcial.
Maior decept£ fama ejl,t^ glo-
ria dextra.
Si non erraj^etjfecerat illa mi-
nus.
}^c verdade que errou, mas
quem também depois do erro
acertou, jà elle erro lhe pode
ícruir de gloria , & fama-, me-
nos fizera, fe não errara, pois
coma penitencia do erro fez
eterna íua memoria. Tudo o
que de Potamio temos con-
tado relata melhor o teor de
fua fentença , q anda no mef-
mo Concilio, & nos jà puze-
mos no Catalogo dos Bifpos
do Porto , mas por fazer tan-
to ao cafo a tornaremos agora
a repetir: diz afsy.
DE CRETO ACERCA
de Potamio Bifpo,
I r Pudéramos tocar de ejpa-
ço afonorofafrauta da frater-
nal alegria, por quanto a diui-
na piedade nos ajuntou a todos
concordes , isf unidos, is^ con-
iiinha euitar a triUe^a^pois me
diante a dicipUna parece tínha-
mos renouadas as regras que
pêra ella deraÔ nofos predecef-
fores. Mas em lugar do inííru-
mento alegre lançamos mao dos
trifles , i^ pecados feUros^ Ijf
em lugar de '^erfos cantamos
lamentações-^ gemendo acompa-
nhamos as lagrimas de Jere-
mias , if dioi^mos. Acaboufe o
goíto de nofio coração , l^ nojfa
muficafe conuerteo empranto^
ja diante de nosfe não <i)í mais
que ays.pois em nojfos olhos ije-
mosderribada a coroa de nojfa
cabeça jjuando coufa tão no-
hre , Í!f que tão fublime grão
alcançara cayo em lugar tão
'baixo , ti' humilde. He pois de
faber , que eílandonos emfan-
tapaT^, tratando das leys Ec-
clefiafticas , fe trouxe a noJ?o
ajuntamento hum memorial de
confiffao confufa, isf de letra
digna antes defer rifcada , que
Potamio Bifpo de Braga com-
pufera de feus próprios defei-
tos jditara de fua nota ,lsf ef-
creuera de fua mãop qual aber-
to feleo pello chorofo ajunta-
mento , mais com lagrimas que
compalauras , aquillo que con-
tinha o papel digno defer rifca-
do, i!f as letras indignas defe-
rem riflas. Ajuntados então 1
<^g4
em
S6
Capitulo LXXXIIÍL
■ntmmmmieé t
emfegredo^e particularméte os
Bifpos fizemos apparecer dian-
te nos ao próprio Bifpo, a qíicíft
filiando mai :: com lagrimas q
com re^cs lhe moííramos aber-
ta a efcntura de feus defeitos^
ijf nojfa confiífaó , a qual to-
mando elle, tf tornandoa a ler
fendo perguntado por nòsfe era
aquella intimação obra fita , Í!f
defua, nata , af firmou que tudo
o que tinha lido eraÓ palaura-s
fuás, if ofnalfeu. Outra ^e\
o amoejlamos , l^ efconjura-
mospello nome Diurno que df-
fejfe com verdade fepor njen-
turafe leuantaiia afy aqtíeUè
falfo teHimunho^ou alguém com
algíia -violência q confrangia
a ijfo. Ao que elle cofn '^o^ che-
rofa , Isf os clhos arra^des em
lagrimcíó, partindo íUpalauras
com foluços jurando pello nome
de Deos bradou que ijerdadti-
ramentc confejjauafeus defei-
tos, f em 'violência algua o con-
franger à confijfao delles j ^
queja por efpaço de quafi noue
mtfesfe tinha priuado dogouer
no defua igreja , Isf metido em
hum lugar esireitopera alyfa-
T^er penitencia. Sabido então ^
(sf declarado por fua fiel con-
fiffaó, que elle cairá em pecca-
do de dcshoneflidadt^ aindaque
os cânones [agrados determi-
nem que os tais lhe fejao tira-
díínfuds dignidades , nos toda-
via guardando as leis de mife-
ricordia lhe n^.o tiramos o no-
me de honra , que ellefe tirara
afy próprio pella confijfao de
feupêccadOj mas determinamos
com firme autoridade que elle
ftruife emoffitios de perpetua
penitencia ,if mi ferias, achan-
do fer melhor que elh caminhe
pellos afperos , ijf trabalhofos
caminhos dapenithia peraque
algiia hora chegue à morada
do defcanfo , que deixandoo à
largue'^1 defua ^ontadefepre
cipitajje na eterna condenação.
Determinamos entf.o por elei-
ção comum de todos que o '-vene-
rauel Bifpo de D ume Frutuo-
fo goueãnafje a Ignja deBra-
ga dtmantira que tornandoa
fcH cargo o gouerno de toda a
Metropoli daProuincia de Gal
lic^a^de todos osBifposJjfpouos
defua jurdçao ^ ilf o cuidado
de todoó iU almas daquella ígre
ja, de tal modo os componha, tf
conferue que glorifique a Nofo
Senhor coma inteire^ defeii
trabalho , à/ anos dé conten-
tamento com apa'^defua Igre-
ja. E porque importa preuenir
ao futuro pêra que no efiado da
pa^^fe nao leuante algúa inquie
tacão de demandx procurou >
noffa
S. Frutmfo
357
'Iran.de
Vnm.i.
Brach.c.
nofa ijiffilancia ajuntar a ef}e
decreto a fentenca dos Padres
que juiiamente condenarão ao
dito Bijpo Potamio.
12 Defte decreto fe tira
bom argumento em fauor da
Primazia da Igreja de Braga,
como ja mortramos em ou-
tro lugar, onde diíTemos que
as palauras de que vfaõ os Pa-
dres do Concilio, chamando
a Potamio coroa de íua cabe-
ça le não podem referir a ou-
tra luperioridade mais qucà
de Primaz, que Potamio Ar-
cebiípo de Braga tinha íobre
todos os Prelados do Conci-
ho,dequeelIeeraacoroa, &
cabeça, & como tal fentiraõ
íua queda,manifefl:ando a dor,
que caufou em todos com
palaucas de grauiílimo fcnti-
mento.
1 3 Fechado o Concilio
veo pêra Braga Potamio em
companhia de íaõ Frutuofo
ícuíuceílor no Arcebifpado;
& recolhendofe no molleiro
de Dume comos Religiofos
que ahy viuiaõ, continuou
em riguroíiííima penitencia
acè que Deos o leuou pêra o
deícanfo eterno a gozar da
companhia daquelles efpiri-
tos bemauenturados, a quem
com fua admirauel conuer-
íaó alegrou. Náo íàbemos o
dia em que íuccdeo feu glo-
rioío tranllto, íe bem foi qua-
íl dous annos depois de íua
priuação no de Chrill:o 6j8.
Pello inííçne exemplo de pe-
nitencia que deixou o venera
eífa Igreja de Braga , como a
varão íanto,í^ retrato viuode
humildade,& penitencia. Por
efte tepo em que fe fechou o
Cõcilio,& lhe fucedeo na dig
nidade Primaciais. Frutuofo
gouernaua a Igreja de Deos
depois de Theodoro Marti-
nho,& Eugénio o PapaVitalia
no i & reinaua em Heípanha
Recefuinthofuceílor deCin-
dafuintho.
■ - -- — -
CAPITVLO LXXXV.
S A M FRvrVOSO
XXXX. Arcehifpo de Bra-
ga.
NACIMENTO^
^ criação do gloriofo
S. Frutuofo^
OVTRINA
he cõmú dos
Sãtos Padres
dar Deos mui
tas vezes os
nomes àquelles, a quem pêra
>y
358
íy cícolheo conforme ao que
depois haõ de vir a fer, & vir-
tudes que hão de exercirarj
a Abraham deu efte nome,
porque o tinha predcílinado
pcra pay de todos os fieis ja faõ
Pedro o de pedra , porque íb-
bre elle determinaua fundar
fua Igreja^ afsy o fez também
a outros, de quem feria lar-
go tratar. Entre cftes fe pode
contar, & cera grande fun-
damento o gloriofo confeíTor
de Chriftofaõ Frutuofo ver-
dadeiramente, como de Ía5
Bento diííe íanto Thorras
Re if nomine Fruãmfus, Fru-
tuofo nas obras, & nomernas
obras pcllas marauilhas que
obrou cm íeruiço da Rehgiáo
Chriftaã cm quaíi todos os
Reynos de Hcípanha : no no-
me pellos incomparaueis be-
nefícios, que o Cco fez àquel-
les queemfeus perigos, & nc-
ceíTidades chamauáo porfeu
fauor , como em muitos exé-
plos moílrarcmos pciJo dif-
cur iode fua vida.
i Naceo o gioriofo con-
feíTor, & fantiínmo Primaz
das Heípanhas naquella Pro-
uincia de Galhza, que vizinha
com o Reino de Leáo ,& fe
chama hoje terra de Vierço,
chamada dos antiguos Vergi-
Capitulo LXXX J/^.
dum , de que feu pay era fe-
nhor, como doutras muitas
villas,6<: lugares q Ihevierao,
aísy por herança de íeus an-
cepalfados, como auidas em
caíairxnto cõ fua molher ma-
trona de igual nobre2a,& apa-
rentada j untamente com a ca-
fa Real , como o era íeu mari-
do , &: lho chama a ambos
ElRey Chindafuindo em húa
doação de que abaixo dire-
mos. Encobrionos o tempo
os nomes de hum , &c outro,
& os officios, que peíloa taó
illuílrc exercitaria por mcrcc
de feus Reys,& premio de me
recimentos jafsy na paz , co-
mo na guerra. Sò diz o Bre-
uiario defta nofla Sè na lenda Ué.
do Santo, que foi capitão do '1^^'
exercito do Rey fem declarar
fe o era geral , ou de aigúa c6-
panhia; mas de crerhe, que
peíloa de tantas prendas ti-
ueílc o primeiro lugar naguer
ra , èí como dcífe deuefabr
o Breuiario .-doutra maneira
cia qualquer oííicio militar
de pouca importância pêra
delle fe fazer memoria em par
ticular.
3 Tiuerão ,alem de íàõ
Frutuofo, feus pays húa filha,
que caiarão com hum caua-
leiro cm tudo igual fcu,fc não
na
I
I
Afrtl
S.Frutiwfo
3 59
na condição, porque era de-
mafiadaniente cubiçolb, co-
mo íe vio no que logo con-
taremos, & foi ocaííão de lhe
Deos encuruar os dias da vida,
& íe ver a pobre ícnhora qua-
Ti no meímo tempo viuua,
que caiada.
4 Sahia muitas vezes à
caça opay dofanco^exercicio
a que era muy inclinado , ã:
de caminho viíítaua íeus pa-
ílores , & codas as cafas do
campo, de que tinha muitas;
porque íuaauíencia náofizeí-
le deícuidados aos quinteiros :
leuaua coligo ao mininoFru-
tuofojCujo vnico trabalho era
andar notando por entre a-
quelles montes, & valles, em
qucdece, & fobe a terra de
Vierço,as lapas jasconcauida-
des, 6c o mais retirado das íer-
ranías, cobiçandoas, pêra nel-
las fe dar todo a Deos em vida
comtemplatiua fora do tra-
fego humano. Com eftcs pen
íamentos lar^aua al^íias ve-
zcs palauras , de que o pay vi-
nha a entender que o filho fe
criaua , & crecia mais pêra
Deos , que pêra o mundo. E
fe bem lhe não deu nunca azo
afedefcontétar do mundo no
modo em que o criaua,& tra-
taua trazendoo fenipre muy I
luzido.&com grande aconi-
panhamento de criados, fa-
zendoo exercitar cm todas as
boas manhas de filho de quê
era,(Sy: verdadeiro dclcendente
de íeus progenitores, toda via
Frutuoíb nos exercícios , c]o
habilitauão pêra o miado era-
pregauao menos tempo que
podia, deixãdofe logo ver hia
aclles mais por obedecer ao
pay, que pella inclinação,quc
a iílo o leuaíle Nos de pieda-
de era todo,& em todo o tem
po, retirandofe dentro em fua
caía, jaarezar, jà a meditar,
jãalerhuros cfpiricuacs, al-
cançando poredavia tal co-
nhecimento do pouco que
vai quanto os mundanos
cll:imão ^ que fó efperaua pel-
la morte do pay, pêra de todo
lhe dar demao ; o que muito
primeiro fizera, fe não fora
pello defgoftar, ôc molelliar,
porque notauelmen te íeaíHi-
gia em ver fe não continuaria
a nobreza de fuacafa naquelle
filho.
5 Tratou muitas vezes de
o cafar,mas o fanto moço c5
hum prudente defuio lhe hia
pcrfuadindo deílc primeiro
vida a fua irmaã, que como
mais velha , &: molhcr pedia
nãofedilacar tanto, porque )
en-
i
j
« 1
cucáo lhe ficaua a ciie mais a-
conco o co.tarfe quâiicío ja o
viíieni (em nc^uella prsciia o»
brigacão • por outra via cvm
os nisÍGios iatftíitos ds íe^usr
ti — r^^^-jtt
CAPnVLG IXXXVL
a vida icligioía fe bzia a irmã
deíaõFiutucfo deíçonccíVía-
ãiid. 5 & punha Vvirips .^cba- ; |
quês a qualquer çafamcn'íO^,| |
que íèlhs DtícrctÍ2_j ase quç íi- |
nalinentc Dao pode cngeitai;
o de ha m m.iMcebo cm tudo
z.is.C£]fbr«rãQic:/i bodas co- í
frandcs feitas, íç.bsravdc 0CíU-<
cos diasypcrqMc ppay cá noi-
Liá,& ctó laõFzutU.ofo-vcoá
enfermar, ti riioirercni bse-
ue icmpo deixando por ;
herdeiro a íaóFra-
tuofa de íeus
R E C R B E S A M
Fruiííofi) o habito defad Bê"
ta ^fiindii o 'i}}Qsieiro ãtfio
hãio , if Pcsíor^l^' outros
muWús de 'Rd(<'-'icíh.Â^ Re-
Ce J
í>:£i.-
:)! -iz ; Ú
bo de per cm 'cxccujao os
propoktos ar:, q íc: cíiara , q
.que d.cÍ3:?;do.'AÍ5^da'd£0.0;Cii- í
-•;;; i [rdiado coia iC^ clho .Ko .jliirc* j;
I f' t7,ue o..io.o-!iiiíar,dc :biis voií-
Ié ir
— ir-- r ■\ r ■ 11 •■ «
.! ii ! !?:aGC, ícliao.loía.oYíiTí.tjJocío
1 Trni 111 r» MU
p^|iínõçra'Biíp®rn$a > Tonando
I h' íídadí,:(icfrqnb da íííiáó de tào
'|:|;ilkiítrfePrí2bdo qucítaPruíno-
.' • pi; ío rornarroivabicc dó Patiiar-
: >| ÍI i cb S .BãcgciDajii^Q- Tc?iãcio
cora
S'Fntíí4ofo.
36r
com grande alegria de íua
alma , adiuinhandolhe o co-
ração os muitos, & gran-
des frutos j que dacjuella ten-
ra planta ao diante auiaõ de
nacer. Deteueo algum tem-
po em fua caía, &c compa-
nhia, inílruindoo em todas
as boas artes do efpirito de q
depois veo a íer taõ grande
mertre.
i Daqui fe fahio Frutuo-
fo com boa licença de feu
melire, leuado do amor da
vida íolitaria, & lembrado da-
quellcs montes, que na íua
terra íendo minino vira , &
defejara peranelles uiuerdef-
conhecido do mundo , Sc da-
do todo a Deos, como nos
de Subbcocm Itália o fizera
feu Padre Saõ Bento . Cor-
reoosa todos hum por hum,
contentoufe mais daquellc
em que logo edificou omo-
Iteiro de faó lulto, & Pa-
íior martyres gloriofos de
Chrifto, &naturaes da villa
de Alcala de Henares, a quem
os Latinos chamao Complu-
tum , &r cllepor iíío Ihede-
uia chamar o mofteiro de
Complutica , afsy como os
que foraõ feguindo varian-
do pouco o vocábulo lhe
chamarão Compludo como
ainda agcra fe chama. Naò J
íabemos dizer íe cílaua jà
então aly edificada a vilja,
que agora fe diz Molina Se-
ca, ou fe depois fe veo ae-
dificar como parece mais
proLiauel^, pois o Santo buf-
caua lugares fclitarios , Òc a-
partados do trafego das gen-
tes . O certo he que ella te-
ue o nome do pequeno ri-
beiro chamado Molina que
vay leuando feu caminho
pellas fraldas do monte, an-
tiguamcnte chamado Ira--
go , agora Porto do Rauanal
no Biípado de Aílorga.
5 O mefmo foi ter cafa
Saõ Frutuofo, que veríc cer-
cado de prande numero de
dicipulos , huns que de no-
uo tomauão o habito de
monges, outros que leua—
dos de íua fanra conuería—
ção, & notauel fama, que
de íuas virtudes auia,deixa-
uão os mofteiros anti^uos,
6 fe vinhaó a morar com
clle ; nenhuns fearrependiaõ
da cfchola , porque o mo-
fteiro florccia em todo o
género de fantidade, & no
temporal era hum dos bem
dotados de toda Hefpanha,
afsy porque o Santo lhe
appltcou grande parte de
Hh feu
Gil GoNÇt
de Anti,
ihfAtr.dt
36;
Capitulo LXXXVI.
de feu património , como
porq ElRcy Cindaíuintho o
tomou debaixo de fua pro-
teiçáo , & cnnqiiccco com
srandcs dadiuas. He bem vcr-
dade que no principio o
encontrou , leuado das fal-
fas informações do cunha-
do de São Frutuoío , o cjual
naó podia leuar em paciên-
cia, verle defraudado dos bés,
de que jàíedauapor íenhor,
quando o vio veítido no ha-
bito da Religião em caía de
íaõTonancio •, chegou a tan-
to a valia deílc fidalgo com
ElRev mòrinente quando
íc lhe veo olierecer com a pel-
íoa , & fazenda pêra hiía jor-
nada de confideração , cm
que hia muito da reputa—
■ çáò, òí credito de Heípa-
nha, & neceflariamente lea-
uiaõ de fazer grandes gafl:os,q
totalméte mandou íe metelíe
depofle dos bens de S .Frutuo
lojou jàertiueflcm appiicados
ao íeu morteiro, ou ao diàte íc
lhe pudefié applicar.Teue no-
uas derte taõ injufto decre-
to dei Rey Saõ Frutuoío ,
acodio a Deos com todos
teus Rcligioíos, pêra que lhes
valeíle , ^ acodille . Não lhe
fliltóu por muitos dias feu
jfauor , porque o cunhado
recolhendoíe da Corte , &
tratando de exercitar o que
alcançara , cayo em cama , &c
delia íe não leuantou ie não
pêra a íepultura , ceílaudo
com íua morte eftatrojnen-
ta.
4 Bem entenderão logo
todos, òí ate aomeímo Rey
Cindafuintho naõ paílou
por alto^ donde viera aquel-
íe cailigo ao defunto, ^ pu-
blicamente fe contaua pellas
praças, que quem quizcíle
comer o leu em paz, & por
muitos annos, fe não atre-
uefle a inquietar o Abbadc
de Compludo,nemaos léus
monges , porque tuihão a
Deos por dcfenior tanto a
olhos viftos,corao mortra-
ua o cafo que acabamos de
contar.
5 E pêra que ninguém,
folie ouíado a molellalos da
ly em diante, ácodio ao meí-
mo Cindaíuintho Saõ Fru-
tuoío pêra que lhe confir—
rr.aíle todas as doações , que
ertauão feitas aos Santos lu-
ílo , & Partor , & lhe def-
fe plenária licença peraq cm
outras partes de íeu Reino
íe ediíicaflem nouos moftei-
ros,vií-l:ocomonaquclle não
cabiaõ jà os muitos dici—
pulos
S'FrutHcfo.
63
pulos cjiie Deos lhe trazia.
Aísy o tez ElRey como nos
conliadchúa eícncura dada
cm dezoito de Outubro era
de Ccíar íeiícentos óc oiten-
ta 2c quatro, que vem a íer no
aiino de Chriíto íeiícentos &
quarenta & íeis , em que fir-
máo o meimo Key Cindaf-
uintho, a Rainha Receberga
lua molhcr, Eugénio Arcebií-
po de Toledo , Candidato
Biipo de Aíliorga^ cm cujo
Biípadocahia o molleiro, &
outros Abbades entre os quaes
he hum Ilefonlo, eíle hc o
grande fanto Ilcfonío Arce-
bifpoaísy mefmo pcllos tem-
pos adiante de Toledo. Aqui
nclla doação demarca o Rey
o couto de Compludoj & faz
menção de varias peças , que
lhe oíicrecco, como íaõ hú ca-
liz de prata com híja patena
fobrc dourada, húa cruz aísy
meímo íobredou rada, todo
o ornato de hum altar, hum
fmo a quem gaba de grande
voz , & muito fonôra , vá-
rios liuros , como o Pfaltei-
ro , os Diálogos ( deuiao íer
os de SaõGreíTorio)humPar-
íionnrio , & outros. Aqui nc-
fta doação chama pior varias
vezes o Rey a SaõFrutuofo
bemauentura(ío,íani5liírimo,
& nacido de iancrue Rcai -
Guardaícna Igreja de Allor-
ga, a quem Ic vco a annexar
pcllos tempos adiante a Ab-
badia de Conipludo, como
ainda hoje perleucra^ ôc fe-
gundo fua data , he húa das
mais antiguas eícrituras , que
em Heípanha Te podem a—
char.
6 Poftas as coufas do mo-'
fteiro de Compludo na al-
tura em que as vemos pel-
los merecimentos de São Fru-
tuoío , ôc pclla autoridade
Real , viuendo os monges
delle como Anjos na terra^
Sc efcufando jà a preíença de
íeu paftor , por também fe
liurar de muitos que alyo
bufcauáo, & fe dar com mais
quietação a Deos hum dia,
quando menos o cíperauao,
lhe defaparecco da villa, & íe
meteo mais pella montanha
dentro , onde fazendo húa
pequena cella , le empare-
dou dentro, fazendo vida de
reduzo , fem da ly íayr,
comendo fò o que lhe leua-
ua hum dicipulo que ou por
Diuina reuelação , ou por o
Santo fe lhe deícubrir, veo a
faber delle.
7 Nada fabemos do
tempo que nefla coua viueo
o íanto
Hl
11
364
(Capitulo LXXXVL
o íanco^mas eonftanos que
afsy fantificoucõíuapefloa,
& prefençaaquellelugar,que
veo a fer hum dos principaes
morteiros que em Hefpanha
teue a ordem de faõ Bento,
chamado íãò Pedro de Mon-
tes , principiado por faõ Fru-
tuoío , rellaurado por laõ
Genadio , & doze compa-
nheiros Teus, na era de no-
uccentos & trinta & três ^
que faõ annos de Chriflo oi-
tocentos & nouenta & fin-
co _, & pouco depois fendo ja
Bifpo de Aftorga dilatado em
mayor magnificência . Fica
efte morteiro ( eíchola verda-
deira de innumeraueis fantos,
& Prelados ) três legoas afa-
rtado da villade Ponferrada,
òc féis do de Ccmpludo na
mefma Prouincia de Vierço
Bifpadode Artorga. Dura a-
indahoje debaixo da dicipli-
na de faõ Bento ^ mas não
Abbadia por ly , nem com a
profperidade antigua ^ mas
Priorado de Valhadohd ca-
beça da congregação de toda
Hefpanha.
8 Outros morteiros e-
dificou na terra de Vierço
de que temos pouca , ou ne-
nhúa noticia. Sofpeitas ha q
foi hum delles oquechama-
uáo Viíuneníe junto a Vil-
lafranca.Tambem a Igreja col
legiadaderta Viliafoiem Icus
prmcipios morteiro da or-
dem de íaõ Bento, 6í hum
dos principaes que em Heí-
panha íe íoi^eitaraõ ao dcCki-
niem França. Não duuida-
mos poderia ter porfeu fun-
dador a Saõ Frutuofo, & não
íeria pequena gloria íua. De
Vierço paliou a Galliza Saõ
Frutuofo , &í de bom prin-
cipio fundou logo nclla o
morteiro Feoneníe,mas qual
elle foíle , & em que para-
gem fituado nos efcondeo
o tempo : huns o fazem a-
quelle mefmo, que fe cha-
mou Saõ Pedro de Calo—
go junto a Villanoua deA-
roca , outros Saõ loão do
Poyo , não muito dirtante de
Ponteuedra. Aly vizinho pa-
rece ertaua o de Caífroleon,
de quem diz íaõ Valério (a-
quelle que cfcreueo a vida
de Saõ Frutuofo) fer edifi-
cado por hum dicipulo do
mefmo Santo , fe Caftro-
leon he o mefmo ( como
fe cuida ) que Caftroueon,
hum monte fronteiro a faõ
loaõ do Poyojíítio accom-
modadiílimo pcra a vida,
que naquellcs tempos fà— 1
ziaõ
/
S-FrutH:Ç\
j )
ziaõ CS monges de faõ Ben-
to.
5? Enuejauão grande--
mcPite as outras Prouiijcias
de Htípanha o bem c|uc
poíiuyaõ os Reinos de Gal-
liza, d<. Leão com terem em
íyaSaó Frutuoío, & a tan-
tos moíieiros edificados por
fua induílria , & cheos de
infinitos dicipulos feus to-
dos varões Apoílolicos , &
verdadeiros imiradores deíeu
mcílrc Peraifto faziaõc|uã-
co podião pêra gozarem de
fua preíença. Entre todas íe
aL cnrajoLi mais a de Anda-
luzia porque eíla lhe oíTere-
cco luio muy apropofico pê-
ra edificar hum nobihllmio
moíleiro nouelegcasdillan- '
te do mar, &c da Ilha deCa-
diz ( que por eíle relpeito o
fanto lhe chamou Nono ) lo-
go taõ florente em íeus pri-
meiros annos , que o vio
P.ccipuum mir^ magnitiidinis,
i5' egreghm., como lhe cha-
ma o Autor de fua vida.
io Não foraõió os ho-
mens os que por Andalu-
zia ícguiraõ o exemplo de tao
srande fanto. Onue muitas
donzcllas de nobiliíiima ge-
ração , a quem fez tanta for-
ça o defejo de o imitarem
' que dando de n.á© a todos o.
regalos do mu n do íc v i s. hãc
a cile pedirlhe regra de Lem
viucr j &: íogeitaPidofc cm tu-
do a íua obediência . Foi co-
mo cabeça , &c guia das mais
húa por nome Benta dcta-
dade todas as partes qiicfaô
de eílima em hCa molher ;
era calada de pouco, febem
ainda náo fazia vida com
íeu marido. Eíía ajuntando
coníígo outras oitenta deíc-
melhantes prendas , indofe
ter com o íanto ao fcu mo-
lieiro Nono^taes rezoes lhe
foube dar, &í taõ claramen-
te vco a conhecer era trazi-
da por Deos, que logo lhe
mandou alyjuntoafy edifi-
car hum pobre edifício pê-
ra nelle feruirem ao Eípofo
1.
das virgens decujo amorvi-
nhão tão preíasj quam loi-
ras de tudo o que do mun-
do lhe podia roubar a aíFci-
çáo.
1 1 Naõ fe pode crer a
poeira , q por todas as partes
de fíeípanha leuantou cite
íuccflo : imaginauaófe ja os
pays fem filhas , os maridos
íem molheres, os irmãos fem
irmãs fc em breue náofoflem
à mão a faõ Frutuofo, & com
a força do braço real o não
Hh 5 obrigaííem
3 66
Capitulo LXX XVI.
brigaílem a não recebera leu
modo de vida molheralgua.
Vaõfe a ElRcy, eftranhaõlhc
com palauras peíadas fofrer
queas molhcres deixem fcus
maridos, as filhas feus pays,
mouidas de húa noua leuiaii-
dade introduzida porhú Er-
mitão , que com capa de fan-
tidadc cobria ( quanto pode a
malícia humana ) mil torpe-
zas, q a efle fim ( diziaõ) hiao
encaminhadas eftas falias con-
uerfocs de tantas donzellas,&
de taõ pouca idade. O q mais
íe queixou foi o efpofo deBe-
ta , a quem a hiíloria chama
Ardingo(refpondÍ3 aDczem-
bargadordopaço delRey ) &
como valia tanto com Cin-
dafuintho vco a lhe perfuadir,
que fe fizeflcm perguntas à
molhcr , & pello que ella ref-
pondefe íe j ulgaflé as demais.
Cometeofc o negocio ao Go-
uernadordaquella Prouincia:
foiíe ao mofteiro a onde viuia
Benta,chamaa a perguntas, &
do que delia ouuio ficou taõ
affeiçoado à vidados monges
daquelle mofteiro nouo, taõ
dcuoto de Saõ Frutuofo,
tão edificado das grandes vir-
tudes que daquellas Religio-
I fasfoube.quctiuera por gran-
de façanha (afsy o conreíTou
diante delRey ) não fe deixar |
aly ficar P^eligiofo com o fan-
to, &íua bemauenturadacÕ-
panhia . Liure ja Benta da-
quella afflição creceo tanto
em virtudes, quanto nem Saõ
Frutuofo fabia explicar, por-
que fempre que falaua delia
o fazia com admiração,^: to-
do o tempo que viueo pro-
curou fer encomendado cm
fuás orações, pedi ndclhe feu
parecer nos negoceos mais
árduos, Ãrdifficultofos que
fe lhe oífcreciaÕ , tendo íuas
repoftas por oráculos ,& fuás
cartas pcllos mais fieis con-
felheiros que podia
bufcar, nem
defejar.
I";
CAP.
S.Frutuofo.
167
CAPíTVLO LXXXVir.
MILAGRE S^Q^E
Deos NoJ?o Senhor obrou
pormeo defao Frutuvfo ^an-
tes de entrar em Portugal,
NT ES que
nos recolha-
mos CO mSaõ
Frutuofo a
Portugal, di-
gamos alguns dos milagres, q
fora delle lhe fucederaó.Foi hú
muito principal que palian-
do em Galliza a húa ilha com
alguns monges feus a fim de
buícarem nella íltio, pêra hú
mofteiro defcuidandofe os
marinheiros de amarrar o bar-
co em quanto fe alõgauão da
praya,as ondas o leuaraó pel-
lo mar, de forte que quan-
do voltarão ja o viraõ taõdi-
ftante de fy , que mal o alcan-
çauão com a vifta: deraõfc to-
dos por perdidos, pello lugar
fer deferto,& elles não terem
aly que comer , nem efperan-
ça de chegar àquella paragem
outra embarcação , em que
pudeííem voltar a pouoaao.
Puzeraõíe todos cm oração,]
pedirão a Deos mifcricordia,
íe não quando olhando huns
pêra os outros vem faltar de
entre fy Saó Frutuofoj então
íe lhe dobrarão as triítczas,
porem bufcandoo com os
olhos , eis que o vem vir ao
leme do barco taõ alegre, &(
contente, taõ direito a elles
como fe em toda a vida apren-
dera a arte de marinhagem.
Perguntaraõlhe quem o le-
uaradalyatèo barco, efpaço
tão difl:ante,fe o puzcrãolà
os Anjos , ou fora febre as a-
goas,mas nunquapuderaõ ti-
rar do fanto outra repofla
mais, que mandalos confiar
em Deos no meo de todos os
perigos , porque elle teria cui-
dado de tirar de todos a feus
feruos,como tirara aos filhos
delfraeldeEgypto, abrindo-
Ihe o mar vermclho,& os paf-
íara da banda da lem do lor-
dão quando vinhão a entrar
na terra prometida-
z Outra vez andando na
vilítados mofteiros, que fun-
dara em habito vil , àc def-
calço, foi achado de hú laura-
dor de mà condição, & pco*
res obras.Efletendoo por ef-
crauo fugitiuo procurou re-
telo à força de pancadas, &
Hh
ou-
3 68
Capitulo LX XXVII.
outras varias injurias ,pren-
dendoo, & cncaniinhandoo à
aldeã onde moraua pêra da
ly Ihebuícar olenhor de quê
cuidaua hia acolhido. Ncnhúa
outra palaura íc ouuia aoSan-
to entre citas afrontas íe não
aqucilajUaôíou efciauo,não
íou catiuo mais que do P^cy
da gloria de cujo catiuciro
nem qucrOjiiem pretendo fer
liurc. Pagou logo o miieraucl
laurador o mal que fizera^ por
que entrado o Demónio nel-
Ic o tratou com tanta deshu-
manidadc, que elle a íy pró-
prio ie desfazia às vnhas,&
aos dentes dando pcllos tron-
cos das aruores, &í ^ellas pe-
dras com a cabeça como fe
ncnhúa outra couía preten-
dera mais que acabar ávida.
Porem Saõ Frutuoío rogan-
do a Deos por elle o largou^
& deíapreílou o mao eípirito
reconhecendo primeiro feu
peccaJo, &c pedindo perdão
delle proftrado com grande
humildade, & íogeição aos pès
do Santo.
3 Coftumauaalgijas v€"
zes Saõ Frutuoío leuar neílas
vifitas hum jumeiííinhoaísy
com alguns liuros por onde
eftudauaj como com alguns
regalos pêra osfeusReligiofos
enfermes j qi,e de tudo o fa-
zia ícr piòuido o giáde amor
com qr.e o^ trataua. Sucedeo
pois que partirão híia vez cm
ocaíiaõ defraudes chuuciros
em que os ribeiros hiáo crcci-
dos lhe cayo em hum dcllcs o
feu jumenro. Sencio o Santo
a perda dcs liuros , & a falta
que íarião aos doentes os mi-
mos que entre cUes iheleua-
ua. Fez Icuantar o jumento,
&í querendo íaber ate onde
chegara a agoa, achou toda a
carga enxuta, como ie a que-
da tora no meode húacílra-
da j & não em parte , onde o
animal com quanto leuaua
lobre íy ficou debaixo do
rio.
4 ConcertoufeeiTiScui-
Iha com certos marinheiros
peraquc o leuaflèm altalica^
que hoje chamão Seuilha a
velha, pêra nly viíitar o cor-
po de iaó Geroncio : era o
tempo quando ou'.;eraõ de
tornar chuuofo pello q dif-
íimulaudo o arraiz com a
partida auíèntandoíc do bar-
co fe deixou ficar com íeus
companheiros por onde quis.
Impovtaua aoSanto fazer na-
quellcmermo dia volta a Se-
uilha,& como não aparcceísé
os que oauiao
de Icuar
fol-
tando
S.TrutmÇo
369
caiido o bnrco le meteo nellc
lem velaj& íem rcmos^o qual
cõ a preciofa carga hia taõ di-
reito j d<. bem marcado como
íeforaí^ouernado pello mais
deílro piloto daquella ribeira.
Outra marauilha aconceceo
aqui cambem muito notauel,
& foi que desfazendofeo Ceo
com agoa^íSj durando a tcm-
peítade todo o tempo que o
barco durou na paflagemj né
Ê^ota lhe cayo dentro,nem em
Saõ Frutuoío le via molhado
hum fò fio do feu manto, co-
mo o vio, k. notou oArcebif-
po que entáo era de Seuilha^ a
fôra outra inumerauel gente,
que logo ao íair do barco
lhe veo tomar a benção.
5 No tempo que ainda
viuia, ouemCompludo, ou
cm íaó Pedro dosMontes,em
ocafião que por aquellas bre-
nhas andauáo certos montei-
ros à caça de veados , fe aco-
Iheo ao lanto húa corça aco-
çada dos caês , & caçadores:
defendeoa elle de huns, & ou-
tros_,& foiella taó agradecida,
quedocampooíeguioatc o
morteiro, taõ domeftica co-
mo fede pequinina fe criara
comgentcxomia dafuamão^
jazia deitada aos feus pèsjacõ-
panhauao pêra onde quer que
I hia com mais caricias, que íe
fòra hum cachorrinho; le a ta-
zuo ficar em caía , auendo S.
Frutuoío de auícntarie delia,
afsy fe entrifticia, c^ magoaua
ate outra vez o tornar a ver^
como íe tiuera vlode rezaõ.
Por eftas,& outras boas par-
tes ^tinha,lhe era oSãto aíici-
çoado,ajudandoíe da gratidão
daquelle animal a ler mais
grato a feu criador de quem
tinha recebido outros mayo-
res benefícios. Acõteceo pois
que hum moço traueflb,por
dar pena a Saõ Frutuoío, em
tempo que a achou em lugar
pêra iílb,lhe matou a lua cor-
ça , mas pagou o logo com
húas rijas febres q lii£ derão,
& o puzeraõ em grande riíco
da vida , a qual íe não perdeo
de todo, foi porque à petição
de alguns , o Santo,quc nada*
fabiado matador,nem do que
lhe tinha fucedido , logo que
do fucelfo teue noticia o viíi-
toLiem fuacaíàjpos íuas la-
cradas mãos fobre elle , dan-
dolhe de improuifo a faude
qne Deos ( por dará feu fex-
uo aquella pequena aífli-
ção) lhe tinha
tirado.
CAP.
370
Capitulo LXXXVJIL
CAPITVLO LXXXVIII.
TRATA S..A M
Friituofo de ir a lerufalem,
impedelhe ElRey o pajfo có
ofa^er Bifpo de Dumejonde
efcreueo a regra que chamao
de SaÓFrutuofojdafe noticia
dos Bífpos de Dume.
Azião todas
eftas mabui-
Ihas , Ôc ou-
tras ^q feria Í5
go contar/a-
moíi Jíimo por codaHerpanha
a Saõ Frucuofojbufcauáono
todos em fuás eiifitmidades,
& ncceílidadcs, & nenhú fa-
hia de íua prefença fem o
defpacho que bufcaua . Com
o fruto de fuás pregações fe
defpouoauãoas cidades , & fe
enchiáo os ermos de nobilif-
fimos fogeitos , fendo de cada
vez mais', &c mais osquefe
conuertiáo a Deos.Por jafal-
tar ao Santo lugar ondereco-
Iher tantos dicipuloSj ôc mui-
to mais por fugir da aura po-
pular_, determinou paílar a le-
ruialem, peraaly no ícruiço.
daquelles íantos lugares , on-
de foi .obrada nolla redenção,
acabar o que lhe rellaua de vi-
da. Não pode íerranto emíe-
grcdoapartida, quealgús não
íoubellem delia. Auilaraõ lo-
go a ElRey Receíuintho, que
jàtinhaíucedidoaCindaluin-
tho , peraque a nao foftreíle
por não perderé feus R.einos
hum homé^que eralcm duui-
da a cclúnade todaHcfpanha-
Acodío o P^ey a tcdaa prclla,
&c a toda a vigíajpondo guar-
das nos caminhos, peraque S,
Frutuofo não pudeílc pa.Oar
fem lhe cayr nas maõs •,& afs y
foi, porque o tomarão , ôc o
trouxeraõaElRey,oqual pcl-
lo reter, & tirar de todo a ef-
perança de poder fazer aqucl-
la jornada ; cflando na mef-
ma ocaííaõ vago o Biipado de
DumCjO fez eleger por Bif-
po,&: o mandou refidir na íua
dioceíe, encomendando aos
monges daquelle mofteiro,&
muito mais ao Arcebifpo de
Braga o naodeixaflem fazer
compridas jornadas fòradellc,
& ainda nas da porta o trou-
xcflera de olho porque fe não
anfenfaíTe, & tornafie a in-
tentar a romaria de lerufa-
lem.
z Sã-
S.TrutHoÇo.
371
2, Sagrado jaSaõ Fr ucuo-
íocmBiípodeDume, & re-
colhido por cita occafiaõ a
Portugal, & a cila noíla cida-
de de Braga , nao fe pode crer
o fruto que daqui fez, afsy no
bom goflcHiOvdos morteiros
que deixaua fundados em va-
rias partes de Hcípanha, co-
mo no íeu de Dume,onde foi
recebido , Òc feftejado corno
hum Anjo do Ceo. Aqui ten-
do ja autoridade de Biípo ef-
creueoaregra dos monges, a
quechamão de Saõ Frutuofo,
& nos podemos chamar o
contraponto do canto chaò
da de Saõ Bento, Por ella alem
da própria ícqouernarão mui
tosannosos monges de Saõ
Bento de tocía Hcípanha, co-
mo aquelles que pella mayor
parte morauâo em mortei-
ros edificados ou por S. Fru-
tuoío , ou por feus dicipulos,
ou eraÕgouernados por mõ-
ges, que delles lairaõ,como
reformadores dos demais. Ani
mo tiuemos de por aqui toda
erta regra aísy noLatimem q
o Santo a efcreueo,como na
noíla linCToacem Portugueza,
mas pareceonos pertencia irto,
mais aos Chroniftas de faõ
Bento que coni rezáo íe deue
IP
d
rezar tanto de hurn logeito
foí
tãoefclarecido, como emHeí-
panha deu fua fagrada Reli-
gião, naõ deixando perder na-
da do que lhe pertence , &
muito menos a regra porque
íe fizeraõ íantiííimos tantos
efquadroés de monges coiiio
hoje gozáo da bemauentu-
rança.
3 Com tu Jo pêra que de-
ftj regra demos qualquer no-
ticia. Ella fe diuide em 1 3 .ca-
pítulos Nos dous primeiros
põem o íanto húa breue dif-
ferença entre os morteiros ,
que propriamente fe podem
chamar taes , & entre outros
que íõ no nome o eraõ. Cha-
ma aos verdadeiros , & pró-
prios, ps que íe fundão de li-
cença dos Prelados, em cuja
dioceíe caem , guardao algúa
regra das approuadas, òc laõ
eícholade perfeição. Molfei-
ros falíos, & fingidos chama
aquelles a- quem faltáo eítas
"três particularidados, ediíican-,
doíe fem licença dos Bifpos;.
viuendo fem regra , .<& náo fe
tratando nelles da virtude,
pello menos da verdadeira, q
da fingida-, & íimulada não
faltaraõ.aly aparências»
4 Com dous intentos fe
ediíicaua erta fcgunda forte de
morteirosro primeiro peracõ
eita
372
Capitulo LXXXVIII.
cila capa os que nelles viuiaõ,
OLifoílem leigos, ou Eccle-
liafticos feliurarem , & izen-
taremdc pagar dízimos àíua
parochia,& outros tributos
a (cus Príncipes , porque co-
mo os verdadeiros mofteiros
nada difto pagauao , preten-
diaõ os falfos cô nome fingi-
do lançar tabe de íy eílas obri'
ga^oés, no que auiagrandijí-
llraosinconucnienteSj & vi-
n hão muitas vezes a perder os
verdadeiros rcligiofos pellos
fairos,& mentiro fos.
5 O fegundo intento era,
que não podendo muitas ve-
zes os pays dar vida a feus fi-
lhos , & filhas, íè ajuntauão
cõ outros parcntesj& de co-
mum coníèntimento edifica-
uão hum dertes recolhimen-
tos,em que viuiao em comu-
nidade , mudando íó o habito
fecularjôiT tomando algum
mais honefto, & humilde, pê-
ra afsy com capa de religião,
6 feruiço Diuíno meterem
em cabeça ao mundo q não
por falta de poílibílidade,mas
de vontade deixauão de vi-
ucr como pedia fua nobreza,
òí eftado . E como de ordi-
nário os filhos aceitauão a-
quclla vida fò por refpeito dos
pays,dur3uão nella em quan-
to elles viuiaó,depoÍ3 de mor-
tos desfaziãofe os mofteiros,
&í cada hú leuaua a parte q nas
partilhas lhe cabia ; donde vê
acharmos muitas vezes nas
efcrituras antiguas feitas a ou-
tras Igrejas , ou mofteiros
doados eíles que fe desfazião,
& herdauão por naõ fere pro-
priamente mofteiros , fe não
fó no norfie , ou os vrcmos
paíTados a homens fcculares,
&: continuados em fuás fa-
mílias, O queaduertimos pc-
raque quem vir nefte noflb
Reino de Portugal, & achar
nas doações antiguas feita taõ
\ frequente menção de tantos
j.m oilciros^não cuide logoe-
i raõ dos verdadeiros , tV co-
mo perpétuos , fe não deftes
tcmporaes , & como edifica-
dos a vidas,& ainda menos íe-
gundodurauaa vontade dos
que aly íè recolhião,fe bem ao
tal lugar lhe ficaua fempreo
nome dos mofteiros , & por
clle era ordinariamente cha-
mado , & nomeado. Diz lo-
go Saõ Frutuoío que fò le ad-
mitão a viuer debaixo de fua
regra mofteiros quefore pró-
prios,* os fingidos por nenhil
cafo, porq os té, & julga por
deftruiçaõda verdadeira fantí-
dade, & diciplina regular.
6 No
S'Frutíiofo.
373
6 No terceiro capitulo
dirpoem a forma em que haõ
de ler eleitos osAbbades,man-
dandoqucpor iienhií modo
íc tomem peraelle ofíicio os
cjucde pouco tempo tiucrem
vindo àRcligiáoi mas os que
por longa experiência foraõ
prouados por todo o género
de mortificação. Aquienco-
menda também ábsmeímos
Abbades fujão quanto lhe for
poíliuel do trato dos fecula-
res^ ordenando a elle fim as
demandas dos feus morteiros
não por fuás próprias pcíToas,
fe não pellas de ícus procura-
dores , pêra com ifto teré me-
nos conuerlaçaó com elles.
7 No quarto capitulo
trata dos que hão de fer rece-
bidos ao habito , no qual pcf-
foa nenhúa exceptua, mini-
nos_, velhos, moços, varões,
liures, elcrauoSjCom tal con-
dição que cftes tragão carta
dalforria de feus fenhores. Po-
rem ordena que em todos fc
facão primeiro grandes expe-
riências pêra fc ver o efpirito
que os trazà Religião j húa
delias hecftejão rrcs dias, ^
três noites à porta do moftei-
ro,&: aly comão, & dur—
mão,foffrendoas reportadas,
q oporteiro,& mais Religio-
íos
s lhe cíerc
le cierem. A outra qi;e
fejáo primeiro muy bem cxa
minados íe deixão no mun-
do alçíía fazenda, porque em
calo que a tenhao ja reparti-
da toda aos pobrcs,então mã-
da os recebão , & não doutra
maneira,ficando féprc o mais
moderno no vitimo lugar da
comunidade.
8 O quinto capitulo to-
do he da obediência^ que deué
os monges a ícus Abbades, &
Prelados, como lhes hão de
declarar todos íèus penfamé-
tos, defcobrindolhc não fò
as tentações ,mas também as
virtudes^ pêra melhor ferem
delles guiados , & encami-
nhados . Aqui trata também
do Celleireiro, & do cuidado
que deueter da gente mais
pequena do i-norteiro,emcf-
pecial dos mininos, que aly
fecrião, pêra que não achem
menos os mimos de fuasmays.
9 No fexto fe encomen-
da a cura, & regalo dos enfer-
mos,a que não quer falte na-
daj poré a os enfermos cncomé
da a paciência, & foffrimento,
pois béfe deixa ver quãto def-
diz com híj Religiofo fer def-
contentadiço,&: mal foffrido:
&: como por mais cuidado q
fe tenh3,núqua pode aucr nos
li
moftci
374
Capitulo LXXXVIII.
mofteiros os regalos das ci-
dades,
10 No fetimo trata o íaiito
como hão de fer tentados
os que em mayor idade vieré
à Religião^porque corre mui-
to perigo venhaÕ buícar no
fim dos annos o deícanío, q
por ventura no mundo não
puderáo alcançar ^ a eííes or-
dena os ocupem de cõtinuo,
& não deixem ellar ocioíos,
& a elies encarrega gallem o
tempo em chorar os pccca-
dos da vida paííada,& naquel-
la hora vitima de fua vida pro-
curem cmmendar o que nas
outras paíladas efpcrdiçaraõ.
11 No 8. fe contem as
partes , que dcue ter o paftor
do moiVeiro , ou foíle queel-
le per ly guardaua o gado , ou
que tinha cuidado dos mais
paíiores , chama a efte mayo-
ral , lembrandolhe que de fua
boainduftria dependia o re-
galo dos enfermos , a criação
dos mininos,&o gazalhado
dos hofpcdes^porq eíle fògc-
nero de gêtc comia carne nos
mofteiroj;. Alem dirto da Iam
fe veílião os monges , &c do
gado que fe vendia, fereme-
diauão. outras faltas da com-
m unidade _, & fe refgatauaõ
muitos çatiuos: & peraque
folgue de exercitar cfte officio,
lhe traz a memoria lerem to-
dos os Patriarchas antiguos
paftorcs , lem eíla ocupa-
ção os impedir, antes aju-
dar muito a alcançar fantida-
de.
II No capitulo 5). apon-
ta as boas partes^ que dcue ter
o Abbade, & em particular
quatro coufas cm que as ha de
moílrar. Primeira cm pro-
curar que íe digaõ as horas
Canónicas com toda a pon-
tualidade. Segunda cm fe ajun-
tar com todos os mais Abba-
des da monranha(fala particu-
larmente com os da terra de
Vierço) no principio de cada
mes, peraaly rezarem húas la-
dainhas com muita deuação
por todos feus fubditos , pe-
raque Deos lhe de çraça pê-
ra os goucrnar bem , & elles
fe aproueitarem defcu gouer-
no. Terceira que feja dili-
gente na lição das fagradas ef-
crituras, & vidas dos íantos
Padres ,d6de ha de tirar luz,&
cfpirito pêra poder gouernar.
Quarta que fempre receba à
fua mefa os mondes hofpe-
deSjque Vierem de tora,& os
peregrinos queacodirem aos
morteiros, porque eírcs faõ
os de quem diz o Senhor , fui
h^f-
<S
S'FriUHcfo.
375
hoípedcj&iecolhertefníCj&c.
13 No 10. fala cio Prior
domoftejfOjO qual quer que
ícja íolicitp, & cuidadoío cíos
bens cemporaes cia caía , pcra-
qae o Abbadc dercanfando
ncllc poíla atender às couías
eípincuaes
ohncra o cambem
a dar conca codos os meles ao
Abbade da meíma fazenda,
pcraquc dcíla maneira a trace,
&L nienee com cuidado ^ &
não como íenlior proprio,pe-
raque tenhão delia íuj'parce
ospreros,oscaciuos,&:oucros
neceliicados, a que os moftci-
ros cuílumáoacodir.
14 No II. cmcomenda
com grandes palaurasa obe-
diência, que os monges de-
uem guardar, não fòaos Ab-
bades, & Priores, le não ram-
bem aos Decanos (chama De-
canos a cercos Relio-ioíos^que
tinhaõ cuidado dos mais re-
partidos de 10. em 10, ou de
io.emzo. conforme parecia
ao Abbade. )Ertes quer íejão
amados como pays , & cerni-
dos como íenhores daquelles
q os ciuerem a fcu cargo: po-
rem aduirceos que naõ acu-
dão aos Abbades cm coufas,&
penitencias de pouca impor-
cancia,mas por íy asrcpartão,
Sc facão executar fem repli-
ca, ou eicuzaaiiTua.
I) No II. da regras aos
Decanos , ôj lhe aponta o em
que parcicularmence hão de
aduercir, & zelar pcraquena
communidade não aja im-
perí-eiçoés.Em parrcicular or-
dena que quando os Mondes
le ajuntarem aos Domingos,
o Abbade inquira diligcncc-
mencc delles fe cem odio h 'is
aos oucros , & os Decanos di-
gão ncírc parcicular o que cê
notado , porque de codos fe
deftcrre pefte caõ pcrniciofa
como he a da diícordia entre
os que profcflaõ Rclií^iaõ.
iG O 13. contemos ter-
mos que fe deuem guardar
com os que na Relieião de
Saõ Benco fe chama 5 exco-
mungados. Pêra o que íe ha
dclaberqueem varias parces
da regra defteglorioíoPacriar-
cha íc põem hú gcncro de pe-
nicccia a que chamaõ excomu-
nhão, em q fe mãda ao delin-
quéce por culpas graues viucr
aparcado da comunidade ícm
o craco , & comunicação áos
oucros,em pa5,5: agoa,&: on-
eras penitécias q pareccr,atè o
culpado de todo ter lacisfei-
co fua culpa. Falando pois de-
iicsexcõmúgados S Frucuofo
diz eílas formaes palauras.
li 2,
Qiian-
376
Capitulo LXXXVIIL
Q^Liando algum for por fua
culpa excomungado leja re-
colhido em húa cellalò^ &i
íolitario , onde lhe não daraõ
decomer mais que paõ, &a-
goa , &c ifto a tarde quan-
do cearem os monges . Sua
reção fera não mais que meo
paò com pouca agoa fema
béção do Abbade.Elleja o ex-
cõmungado na cella priua--
do da conuerfação de léus ir-
mãos íem fer vificado mais q
de algum que lhe ordenar o
Abbade . Efteja meo deípi-
do^ ou veílido de cilicio def-
calço , & occupado nos fcr-
uTços baixos do moftciro. Po-
rem fc a penitencia ouuer de
durar dous, ou trcs dias nellcs
fe lhe não darã nada de comer.
Vltimamente põem o San-
to algúas palauras com que
fe ha de falar ao excomungado
todas injurioías,tS: afrontoías
peraquc del1:a maneira conhe-
ça fua culpa vendofe tratado
com rigor, & emcndandofc
tema cair ao diante cm ou-
tra femelhantc.
17 Acodião aqui ao moftci-
ro de Dume onde S.Frutuofo
era Bifpo todos os Abbades
dos mais , que por Hcfpa-
nha cftauão efpalhados , com
fuasduuidas , &: leuauão co-
mo oráculos as repoftas que
o fanto lhe daua. Era pêra ver
a alegria, a charidade,&: a facili-
dade com que aquelics Reli-
molos íubditos do íantoPiela
o
do íc ocupauãoemagazalhar
os hoípedes, o cuidado q ti-
nhãode os mandar aos íeus
mofteiros contentes, & ricos
dos exéplos que aly notauaõ
em cípecial em S. Frutuofo,
que a todos era hum viuo re-
trato de perfeição.
18 Não herezãoq paííemos
adianteíem primeiro darmos
húa breue relação dos illuftres
Prelados q teue a Igreja deDu
me,donde fairão três tão iníig
nescomoforaÕS.MarcinhoS.
Frutuofo,& S Rofcndohõra,
òí lulfre de toda Hefpanha. là
diífemos na vida de S. Marti- Ap.i-.7j.
nho de Dume como em íeus
dias fe leuantou em Cathedral
o mofteiro deS. Martinho q
elle edificara por ordédelRey
Theodimíro, & q o mefmo
fanto fora o primeiro q teue
aqucllaPrelazia, dódc foi tref-
ladado por morte do Arcebif-
po Lucrécio pcra eftalgreja de
Braga, & as gouernou ambas
cm quanto viueo,
19 Com cfte principio taõ
fclicc que Saõ Martinho deu
com fua prcfènça,& gouerno
à Igrc-
S'Friíiiiõfo.
177
a Igreja, S<. Sè de Dumc foi ci-
la creccnJo não lòem quanto
durou o fcnhorio dos Reys
Sueuos em Galliza; mas ainda
no tempo dos Godos, & de-
pois da ruina de Hefpanha
quando nas Ses náo auia mais
que Biípos titulares^ & depois
de rellaurados alguns lugares
de Galliza, ã: Portugal tam-
bem íe acha noticia delles.
20 A S. Martinho de Du-
me fucedco o Bifpo loao A-
chouíe no 3 . Concilio de To-
ledoannode ChriftojS?.
Benjamim confirmou em
Toledo o decreto delRey Gú-
demaro no anno de 610.
Germano:aííinou no quar-
to Còcilo dcToledo,áno 63 3 .
Pimenio :aíliftio no fexto
Concilio de Toledo anno 638
RecimiroíucePxor de Pi-
menio : firmou no Tetimo
Cõcilio de Toledo anno 64a.
Auianchimaro , era Prela-
do de D ume notépoq fe ce-
lebrou o 8. Concilio de To-
ledo no anno de 6 j'3. Porclle
aíTinou hum A bbade chama-
do Ofdulfo.
S. Frutuofo fucedeoa A-
uianchimaro, foi tresladado
peraa Igreja Primaz deBraga,
ficando cõ o gouerno deDu-
me,como adiante veremos.
Vnicencio; aíliiiio no ij.
Conciho dcToIedoanno í8S.
Quádo começou a primei-
ra rcltauração de Heípauha
pclío Reino de Galliza ha no-
ticia de alguns Prelados Je Du
jme. Suarioanno83o,
Martinho íe achou na fa-
graçaò da Igreja dcOuiedo no
Concilio que aly fe celebrou
no anno de 831.
Suaringo annosuj.
Saó Roíendo anno 5)73.
Nuno anno ioiy
Não achamos memoria dou-
tro Bíípo de Dume.
ii Por cfies annos fe re-
lUurou algreja/Sí Sè de Braga
como;dircmos na vida doBif-
po D. Pedro: então fe vnio,&
encorporou a Sede Dumccó
adcBraga,& fe lhe vniraó fuás
rendas. Hojehc Igreja paro-
chial^que fegoucrna porliu
Prior íobre quem carrega a
cura das almas .
ii Não íe perdco no re-
gifto de Roma a memoria de-
ite Bifpado de Dume, porque
uo anno de 1451. íe intitulou.
Bifpo delle por letras A po ílo-
licas fr. André de Torquema-
da-Biipodeaneldo illuíirifsi-
moíaihor Arccbiípo D. fr.
Baltafar Limpo como acha-
mos emfr.Ieronymo Romã.
'mM*>
Ii
CAP.
37S
Capitulo LXXXIX.
CAPITVLO LXXXIX.
VAI S A M F R V'
tuofo ao Concilio X. de To-
ledo onde he eleito Arcebif-
po de Braga : ijemperafua
Igreja , ^ trata da refor-
mação do Clero , ^ pouo
delia.
L G V N S
annos, ainda
que não mui
roSjViuco o
Santo ocupa-
do no gouerno do Bifpado,
& moftcirodeDumej& com
cllc titulo foi chamado ao de-
cimo Concilio de Toledo , q
fe cóuocaua pêra o Dezêbro
do anno de íeifcentos 6c íin-
coenta & féis, onde todos os
Padres que aly fc acharão o re-
ceberão, & feftejarão como
aquellcde quem tantas cou-
fas tinhão ouuido , & o defe-
jauãofobre maneira ver^ &
conhecer. Acharão nelle mais
ainda do que a fama apregoa-
Iua^ porque efta benção leue
íempre a virtude que conhe-
cida,& tratada íe faz mais cfti-
mar , & venerar,
i Em nenhú outro Pre-
lado dos que aly fe acharão
puzeraõos do Concilio tan-
to os olhos como em Saõ
Frutuofo^ porque acontecen-
do em quanto durou aquel-
le graue ajuntamento a con-
fiílaõdo Arcebifpo Potamio,
dequeemfua vida tratamos,
& fendo priuado por elle da
adminiftração do Arcebifpa-
doauendoíelhe de dar fucef-
for , em que eftiueíle bem,&
aíTentaílea Primazia de toda
Hefpanha,& juntamente re-
fizeífe, & rcftaurafle o que
efta Igreja tinh^ perdido com
o crime de Potamio, fò lan-
çarão maõ os Padres do Con-
cilio da pellba deS. Frutuofo,
fendo afsyq deuiaaífiftir no
mcfmoConcilio fanto Ilefon-
fo comoAbbade q era do mo-
fteiro Agalienfe, & que da hi
a poucos tempos foi tomado
pêra Arcebifpo de Toledo, &
outros vinte Bifpos , todos
de diocefes mayorcs , mas
nenhííde iguaes mcrecimcn-
ros.
3 Não cabia Braga de pra-
zer quando foube fe lhe tinha
dado por Prelado , & fuccf-
for de Potamio a Saõ Frutuo-
fo.
/»p.f. 84
S.Frutuofo.
379
lo, deullie por cartas o íeu
Cabido, &: coda a cidade os
parabéns da noua dignidade,
pediolhe le recolheíe o mais
cedo que lhe foíTc poííiuel à
fua Igreja j porque defcjauáo
ja vello,&:gozallo como pró-
prio, não obftante tercmno
ate ly taó vizinho cm Dumc.
Softreoeftemofteiro, & Bif-
pado melhor a promoção de
leu Paftor, quando Ihecon^
ftou ficaua também debaixo
de feugouerno, porque não
quifcraõ os Padres do Conci-
ho dar outro Bifpo a Dumc,
em quanto cUe viueflc, fe-
guindo o exemplo daquelles,
que em femelhantc eleição de
Saõ Martinho pêra Braga 0
deixarão ficarjuntamenteBif-
po de Dumc , donde fora to-
mado pêra a mefma Prima-
zia.
4 Aqui fc defcarrcgou
tambcm nefle Concilio El-
Rcy Rccefuintho da obriga-
ção de tertamentciro^ em que
como fuceíTordos Reys Sue-
uos entrara , & de executor
doteftamento de Saõ Marti-
nho, pedindo aos Padres con-
gregados quizeílem transferir
na pcíToa de Saõ Frutuofo a-
qucUe encargo , & encomen-
darlhe fizeíle cumprir o tefta- I
mento do Santo nas couíàs 6
ate aquelle tempo não efta-
uão dadas a execução. Afsy
o fizeraõ os Pndres, & afsy o
aceitou Saõ Frutuofo : enco-
mendarãolhe mais vííle, &
confideraíTe também o modo
& bom termo, que fc po-
deria tomar nos legados , que
a pobres deixara íeu antecef-
for Rccemiro Bifpo de Dume^
porque por excelfiuos carre-
gauão muito aquella Igreja,
&í por ferem em prol de ne-
cel]itados,& vitima vonta-
de de hum Prelado taó graue,
não era bem ficaílcm de todo
por cumprir.
S Outras coufas fe trata-
raõ,ô(: diffiniraõ naquelle Cõ-
cilio, de que nos não perten-
ce agora dar particular rela-
ção i mormente tendoo feito
na noífa hiíloria dos Bifpos
do Porto efcreuendo a vida
de Flâuio nono Bifpo daquel-
la Igreja , que também aly fe
achou prefente com Cefario
Bifpo de Lisboa, & Zozimo
deEuora. Firma neíle Con-
cilio Saõ Frutuofo ja como
Arcebifpo dê Braga, 6«rnáo
como Bifpo de Dume,fe bem
reteueemvida híja, & outra
Prelazia , como ja acima to-
camos.
if.c* 9.
íi
6 Ccr-
3S0
Capitulo LXXXIX.
6 Cerrado O CouciliOjd:
derpedidos de Tclcdo aíuas
Igiejasos Bilpos, que nclle
alliítiraõ vco a tomar poíle
òà fua SaõFruCLioío. Entrou
neíb cidade em Mayo do an-
no de íciícciítcs & líncoeiíta
&L íete 5 íoi recebido com co-
das as dcmonílraçoéi com
que os cidadãos delia podiaó
íjgniíicat o contétameiíto de
o terem coníígo: a feíla poré
mayor de codas,& pêra o fan-
todcmayor ^ollo íoi a com
que o íairao a receber os po-
bres, & crianças da terra i le-
uaua cada hum ícu ramo nas
máos, todos cantauao bendi-
to o que vem ^ cm nome do
1 Senhor.
I 7 A primeira coufa que
procurou laõ Frutuoío nelta
lua noua diíinidade foi refoc-.
mar léus lubditos mais ainda
com o exemplo de fua pcflba,
que com nouas íeys , ou pre-
ceitos,porque quando aquel-
Icíalta ficaõ eíles verdadeira-
mente mortos, & de nenhú
viçTor. Trouxe pêra íeus pa-
ços do moíleiro de Dume
muitos Rcligioíos de fanta vi-
da, & com elles viuia das por-
tas adentro em ranta peniten-
cia, quanta mal podia íoffrer
h'1'.n corpo humano, 6.:arsy
íe viaõ nellc as forças corpo-
raes taó gaíladas , a preícnça
exterior taó debilitada, q cau-
iaua notauel compaixão a to-
dos , & tanto mayor, quanto -.
maislhedeíejauãoa yida, &
íaudc,ccmo a pay,í^ bem fei-
tor comum. ísiunca dcípio o
cilicio, nunca dormio cm ca-
ma, em que íe viíicm outros
regalos pêra o corpo mais que
huas poucas de vides porcol-
cháo,húa manta de Iam de ca-
bras por cobertor : jejuaua
o mais do tempo , & entáo
com m^ayor eftreiteza, quan-
do pretendia alcançar de Deos
algúa tnerce pêra fuás ouelhas,
no que íhe íucederaõ cafos
milaçroíoSi
8 Viíítou por fua pcfloa
todo ícu Arcebiípado , & re-
m«dcou nas terras onde; en-
traua muitos abufos , &c era o_
ícu caminho de or-dinario a.
pè jfem multidão_de_cnados, \
nem gente que deíTc opreíraõ
aos pouos.No caíligar das eul
pas íempre o fazia amando os
culpados , & aborrecendo Gs
vicios-, não íoíFria ounelíe nas
peíloas Eccleíiallicas efcanda-
los, ^ muito menos nos Re-
ligioíosrprocurauafoficm fcr-
uidas as. igrejas com niage-
ílade,& limpeza, obrigando
aos
S.Frutuofo.
381
os Parochos, &aquelles cu-
jos craõ os fruitos que as pro-
uelíê de todos os parametos^
qucosmyftedos fagrados de
íy ertaò pedindo. Eltranhaua
fobremaneira em fuás ouelhas
o vicio da deshoneltidade^pcl-
lo que com feueriílimos ca-
ftigos o emendaua quando
era publico, ôc quando fecre-
to com penitencias no mef-
mo foro,& penas que atcmo-
j rizaílcm aos culpados , & os
acautclaílem pêra o futuro.
9 Braga como Metro—
poli,& cabeçada Primazia,
foi a que a mayor parte teue,
& o mayor fruito recebeo do
ztlodefte lauto Prelado, não
auendo entre osEcclcliaíHcos,
vendo a fuauidade de leu go-
uerno , o exemplo de fua vi-
da, quem naõ procuraíTe re-
tratallo cm fy,ou fofle das por
tas adentro pêra com fua pef-
foa,& as de feus familiares,ou
delias a fora pêra os eftra—
nhos.
10 Os feculares também
caminhauaó pella mefmaeftra
da, porq quando íè vc refor-
mado o Ecclefiaftico de força
fe ha de ver tal o mais corpo
da republica: diz tanto difto
faõ Valério efcritor da vida de
S. Frutuofo quea náoferel-
le o que efcreue , & o Icc^cico
dcfuaercrituraSaó Frutuoío,
podia fazer duuida vcrfe cm
táo pouco tempo mudança
tão notaucl em hú Arcebil-
pado tão eílédido como eíte,
& habitado de gentes tão dif-
ferentes nos coítumes,& mo-
do de viuer. Os que porem
mais fe auantejauão craõ os
Religioíos; reprefentauão os
molteiros no trato,&: conuer
façaó huns parayíos na terra,
& como taes eraõ bufcados
dos quede nouo fccõuertião
tantos em numero ,qiie jà o
íantonaõ prègaua deixaflem
o mundo , & leguiflem o. ca-
minho da Cruz cm comuni-
dades Religiofas, mas em fuás
cafas próprias, porque cm to-
da aparte fe daua Deos por bé
fcruido ^ taó bom de conten-
tai era. Muitas vezes lhe alie-
gaua que por eftarem muito
cheos os mofteiros, & não
muito ricos^naõ podião rece-
ber fogeitos de nouo , toman-
do às vezes o Demónio efta
ocâílaõ pêra lhe quebrar os fer
uores, quando viíTem os não
podiâó executar por obra,que
o ponto eftauaem lançarem
em toda a parte mão da peni-
tencia , pois cfta não fe ataua a
lugar , nem o habito , ou mo-
1
ílei
ro.
S2
Capitulo LXXXX.
íleiro era o q^ue fazia o Rc-
licioío.
CAPITVLO LXXXX.
r> O S MOSTEIROS
que Sao Frumofo fnndon
ém -vários Inçares de feu
Arcebifpado ^ i^ fora delle.
Omcçou o
Santo a edifi-
car algúsmo-
llciros cie no-
uoi cious no-
meá S. ValeriOjhuni temos a-
quià portajv^ he o mefmo q
hoje chamamos de SaóFru-
tuoío , de que logo diremos:
outro íe chamou Turonio de
que atcí^ora ncnhúa noticia
pudemos alcançar He bê ver-
dade qi;e por algum tempo
andamos em foi peita poderia
ícr o de Caftro deAuelans na
Comarca de Tralos montes
pouca dillancia da cidade de
Bragáça pêra aparte do Occi-
dente,' porque em papeis an-
tiguos achamos feraly grãde-
mentc venerado Saò Marti-
nho Bifpo dcTuronem Fran-
ça por rezão de húa grande re-
líquia íua, que no mollciro
ícconícruaua,donde fe pode-
ria chamar o moíteiro dcTu-
ron.Mas tazendo depois m.a-
yor diligencia íobre íua funda-
ção achamos cairnoannode
667. alguns annos adiante do
em c]uc bleceo Saõ Frutuofo:
donde íe ve não ler cíle mo-
íleiro fundado por crdê fua,
ou por renda particular que
em íeu teíiamento lhe appli-
caílcjcomo diziaõ , Sc con-
tauão íeus Rcligioíos, em
quanto aly períeueraraó (que
foi ate o tcpo de noílos auòs)
muitos cm numero , & ricos
cm poíleíloês, porque daqui
íairaõ boa parte dos reditos.^
queà petição do fcreniilimo
ReyDomíoaòo III, levni-
ráoaonouo Biípado de Mi-
randa , que ellcerigio, ficando
o moíleirocm parochia^^í: íò
com hum vigairo, qucnellc
adminillra os Sacramentos,
z Outros molkiroSjíe diz,
forão da fundação de Saõ Fru-
tuofo. Por talíe tçm oq ou-
ue na villa de Tomar^ moílei-
ro dos a que chamauão do-
brados por lerem de Religio-
fos, &c Religiofas diuididos
entre fy com íeus clauífroSjtSc
paredes em forma que não ,
pude lie
S.Fmtuofo,
3S3
2.;.^. 45
pu deíle perigar a honell idade.
Aqui foi Religiolaabcmaué-
curada íanca Ircna, ou Eiria,
aquellaquedeu o nomeàvil-
la de Santarém , padeceo mar-
tyrio noannode^yj. feisaii-
tes da morte de Saõ Frutuo-
(o^Sí li. da fundação do mo-
ftciro, que conforme a ifto íu
cedeo no anno de Chriílo de
641.
3 Mais direito tem ainda em
Saõ Frutuofo,& com mayor
rezáo o pode chamar por fú-
dadorfeu o molleiro delan-
toTirío de riba de Aue, no
Bifpado do Porto, íe bem na
hiftoria , que efcreuemos dos
Bifpos daquella Igreja , difle-
mos, cõformandonosconi o
Conde Dom Pedro, o funda-
ra o Infante Alboazar Rami-
res filho delRey Dom Rami-
rodeLeaõ legundodonome,
6c da Rainha Dona Aríigaa
que chamauãoaZahara (ilto
he a frol dafermofura) irmã
de Alboazar Iben Albocadão
fenhor de Gaya , &c de muitas
outras terras na Lufitania. Cò
tudo pêra eíle Infante naõ
fer auido por mais que re-
ftauradordomofteiro pcUos
annos de 965. temos cento &
Hncoenta & fete antes no de
808. liúaefcritura , em que fe
lhe doa cerra fazenda, & em
queairinãoo Abbadefr. Vit
cente Affonío, o Prior frey
Valco Ramires , outros qua
tro Rcligiofos : guardaíè no
Cartório do meimo moftei-
roj ôc fempre aly foi tradição
quedeuia feus primeiros fun-
damentos ao sloriofoSaõ Fru
tuoío, Q^ntoantiguamente
fe eftimaík erta caía moftraó
os jazigos, que ncUa hà de pef-
foas de grande confideração,
como íaõ o do Conde de Bar-
celos DomMartimGil , & de
fua molher a Condefa Dona
Violante Sanchez,aquelles cu
jos foraõ os caíaes , que hoje
tem em Chã de Couce. Tam-
bém entre os feus teflamcn-
teiros nomeou EiRey Dom
AfFõfoo II.aoAbbadedeíàn-
to Tirfo , & ao mofteiro dei-
xou quinhentos marauedis,
queícerão de ouro ,como pa-
rece, faziao fomma de 615. cru
zados, a quinhentos reis por
marauedi. n o -r.,-.
4 Podemos tambeiíi co-
tar entre os moftciros fun-
dados, ou por íaõ Frutuofo,
ou de fua licença o de faõ Mi-
guel de Rcfoyos no territó-
rio deBafto, porque achamos
aly fepulturas de pe0bas,que
morrerão em tempo do fanto,
como
384
Capitulo LX XXX,
como a de Dõ Gomez Soeiro
era 708. que raõannos deChri
ílo 670. &L no de 701. a do
Prior fr. Payo Soeiro. Mo-
ílrafc alem diílo Tua antigui-
dade pellaíènccnça, que feu
Abbade fr. Gomez Aftonío
deu contra fr. Hugo Ortíz
Abbade do molleiro de So-
brado, anno 8 55. como juiz
Aportolico Delegado pello
SnmmoPoncifice Leaó IIII.
Guardafe ainda hoje no meí-
mo mofteiro, & com ella ou-
tra carta de pergaminho jà
tão comida nas letns , que íò
íc podem ver as palaaras fe-
euinrcs, Poíi ohimm mum re^
linques eos ad fanai Michaelis
Refu^ienjts ^Ôclog^o mais abú-
xo.Frarresnojlri Refugienfes
orentpro nohh ficut de antiqua
alij fratres fecerút^faãa c har-
ta era í/e8í>3. que íaõannos de
Chrirto 8ij. onde he muito
de ponderar aqnelle termo,
ab antiqtio ^ porque fe nioftra
ter o morteiro ja muitos an-
nos de fundação , & como o
não achemos entre os que fe
contaõ fundados no tempo
de S. Martinho neceflariamé-
tcaucmos de dizer o foi no de
S.Frucuofo.
j" Entre os Abbadcs que
dcfte mofteiroforaõ tomados
pcra grandes Prelazias, dous
viera pcraelia noílade Bra-
ga,Dom Martinho eleito Ab-
bade no anoo deu 7S. & Dõ
Fernando,comocm leu lugar
diremos. Biípo foi também
fr. Bento Mendcz, o qual pê-
ra eíle efíeito renu,ncioii aAb-
badia noannode 105)7» porem
não ncs confta de queBifpado
fofle.
6 Benção foi também de
S. Ffutuoío o grande aluoro-
ço com que eítc Religiofo
moítciro recebcoa reforma-
ção cm que viue hoje por in-
duftria de feu cõmendatario
o Padre frei Diogo deMurça
da lagrada Ordem do efclare-
eido Doutor da Igreja S.Iero-
nymo , &c a liberalidade com
que repartindo fuás rendas em
trcs partcSjdasduas fundou os
dous Collcgios de S. lerony-
mo, &faõ Bento, ambos vi-
zinhos,&: ambos na cidade, &:
Vniueríídadc de Coimbra; da
terceira fuftenta feus Religio-
fos verdadeiros imitadores de
feu Padre faõ Bento _, & de feu
fundador o grande Arccbifpo
S.Frutuoío.
7 Aqui junto defta cida-
de de Braga tiucmos outros
dous moftciros ambos funda-
dos por Saõ Frutuofo : o pri-
meiro
SFnitwfoo
385
I nieiro dcS. Martinho de Side
t naeílradaqleuadcBragaaGui
niaracj pouco dillante do rio
deAue.Emhú liurodc viiíca-
çocsanciquiííiirjO achamos a
(ef^iiinte doação feita por S.
Frumcfoera dcCeíar 667 que
laõannos áGChni\o 62.9 .f^obií
fratribus 'msins de momUerlo
S Martini deSadí/ócedimiis re
dimsdeLujifinointksmcfynci-s^et
jnUentationêhGfphú^Í!fp£regri
nQrumlsi'c-i)n'td,tio aly os Re-
li-^ioíosatè o annc de 1444.6111
que era ArcebiípoDõ Fernan-
do da Guerra. Hojehe cõmé-
da de Chrifto. Alguns fazem
Q\{c moílcif o mais antiguo di-
zédo fora de ermitães de fan-
co A^crtinho .muitos annos
antes de aucr em Portugal Re-
ligiofos de S. Bento ,& depois
de o deixarem os ermitães en-
trara nclleS.Frutiiofo^&o po-
uoaradeReligiofos deS.Béco
de que ellc foi Abbade muitos
annos depois de fua primeira
fundação. O fegundo mortei-
ro fechamauaS. Saluador de
A rnofo húa lefzoa defta cidade,
naeOradado Porto. Vnioo o
Arccbirpo Dó lorge da Cofta
ao de Ponibeiro no anno de
i49j.peraaliuiodos gaílos ,q
aly íc fazião com os pobres, &:
peregrinos:hoje porem beAb
o
badiaíccuiar.
í unto a Pote de Lima dii
rou por muiros tepos , &: em i
grandiiTimaRciigiáo o mollci
ro de fanta Mana de Miwnda;
chamo ulhe em íeu tcíUméto
cõaiiuíaó s íeu nom?,& mui-
to mais à eípantoía íantidade
defcus Religiofos FjRey Dó
AíBcnfooil. Santa Maria de
Admirãnda^H^QxxzW^ huro do
moíiciro dcPedrofo cò q jà al-
legamos na vida de S. Marti-
nho na decima collação diz aí-
íi o Abbade a ícus Religiofos.
Vrina omass Cafsinenfes fwffe-
mmjcut ip'frarres noíiri Mi-
radulenfes^qni anno Díii 6 ^9. ar
duo in mote fuper Limiam Caf-
fníifecerút coiúãi, ip' fepara-
tijedalios fie , alios fc o per ar i
oporttf. Vê a dizer q dcfe jau a
aos feus Monges de Pedrofo
quacs erão os do molleiro de
Mirada, o qual edificarão aql-
les Pvcligioíos emhú mõteal-
to no anno de 659 ( he o meí-
mo em qmorreoS.Frutuoío)
outroCaífino na perfeição,vi-
uédo aly húsem comunidade,
outros como ermitaês,cõfor-
meDeoslhedauaa íentir.Ain
da hoje goza efla Igreja de grã
des priuilegios^que lhe conce-
derão ElRey Dom AíFonfo
líl. &c feus fuceíTores.
Kk 9 Ainda
386
Capitulo LXXXXL
9 Ainda aos paflados pu-
déramos ajuntar o mofteiro
deSaõSaluadordeGanfei jú-
to do Minho, & fronteiro à ci-
dade de Tuy 3 porque poílo q
alguns o tenhão por fundação
de S. Martinho de Dume,ou-
tros por de DõGaufrido hú fi-
dalgo honrado _, q viueo pel-
los annos deChrilto 980. com
tudo não hc taõ antigo como
S.Martinho, nem tão moder-
no como Gaufrido^ o qual foi
fò íeu rellaurador,& não fun-
dador como íe vé dis letras q
cíHoem húa pedra do edifí-
cio velho,& dizem.Do» Gau-
fridtis re^difcaror huius mo-
naíterij Sanãi Saluatoris era
1018. he o anno de Chrifto
980. Digamos fegundo as me-
lhores conjeituras , & o que
em fuás obras( que defejamos
íayão a luz ) deixou efcrito o
Padrefrei Bernardo de Braga
Reliaiofo da Ordem de S. Bê-
to varaõ mu y douto em todo
o género de antiguidade , q o
morteiro de Ganfei he obra de
S.Frutuofo,& como tal erti-
mado dos Reis defte Reino,
emeípecial dcDõ AíFoníoo
II. que em feu tertamento o
deixou por herdeirode toda a
fua prata laurada peraque feus
Rcligiofos o encõmendaíTcm
a Deos Noílb Senhor.
I o Dada efta breue noticia
dos morteiros qcõjeituramos
ferião fundados por S. Frucuo
fo, o fio da hirtoria pede nos
tornemos à narração de lua
vida, donde acima nos diuer-
timos.
CAPITVLO LXXXXI.
F V N D A S A M
Fruruofc o mofleiro de S.Sal
nadarei:/ os motiuos que te-
mpera o faT^r.
OgoqucSaõ
Frutuofo foi
elcitoArcebif
po de Braga,
começou ale
porem cõtéda entre erta Sç^^
leu primeiro Bifpado, & mo-
rteiro de Dume, qualauiadc
fer o que por fua morte go-
zaíle do preciofo thefouro de
fuás reliquias . Allegauão os
de Dume pertencerlheaelles
mais q aBraga,afsy pello titulo
de primeiro napoííe, como
por fer Religioío de S .Beto,&
auerfe de enterrar no leu habi
to,& entre íeus irmãos,como
ofizeraauia nãomuitos anos
S'Frutuofo.
3S7
I S. Martinho não obliaiite fer
tnmbeni Arcebifpo de Braga.
Eílauáoja de muito tempo
os delta cidade arrependidos
de confentir faifie deíeus mu-
ros, & de íuaSè hum taõ gra-
de, «Sl' taõ íanto Prelado co-
mo Saõ Martinho, &: fazia-
íelhe mao de íofrcr ou-
uirem falar em íemelhantcs
preteníoés aos de Dume.
Froteftauáo que nem man-
dandoo em fcu teftamcnto
Saó Frutuofo o largariaõ
morto a Dume , poiso Ceo
lho dera viuo , òí que os
Prelados nem viuos eraó
íeus^ mas de fua Igreja,quan-
ro mais mortos : que Du-
me o perdera quando Bra-
ga o ganhara , & que dcfta
era próprio Prelado , de Du-
me ró como adminiftrador,
como bê fe moftraua firman-
do nos Concilios Arcebifpo
de Braga , & não deDume.
z Ardeo tanto efta con-
tenda entre Braga , & Dume,
que quifcrao a diffiniíTe em vi-
da o mcfmo fanto por eícu-
zarem reuoltas depois de fua
morte: refpondeolhe de prin-
cipio que o melhor feria en-
terrarem feu corpo em hum
monturo ^ pois por feus pcc-
cados não merecia outra fepul
Cura , ou quando não lança-
remno em algum pego do rio
Cauado có hua pedra ao pef-
coçojperaque nunqua mais
apparcccíle. Dizialhe cm fe-
gundo lugar que da fcpultu-
ra, &Í honras do corpo íe de-
uia tratar pouco, ou nada,
pois finalmente auião de vira
acabar,o põtoeílaua nos Mau
folèosda alma que íaó as virtu
ács^ pellas quaes neíh vida os
homens fcíazcmimmortacs,
&c na outra bemauenturados.
3 Trabalhaua debalde Saõ
Frutuofo cm querer perfua-
dir aos de Braga,ou aos dcDu-
mc denjiiíícm daquclla preté
ião, & não procurafsc ter en-
trefy morroaquelle, a quem
tanto eUimauão viuo ; 6í por
lhe naõ deixar ocafião de
ódios depois de fua morte,tra
çou demancirao lugar de fua
íepultura, q ne Braga o tiueílc
propriamente por feu,néDu-
mc ficaííe íem elle.Mãdou me
diroefpaço,q vay da cidade
ate Dume,& bc no meo ^on-
de felcuantahu outeiro de fu-
bida fácil & vifla gracioía por
nome Montelhos fenhor das
alegres voltas, q vay dando o
rio de Prado por entre cam-
pos de eftremada fréfcura , &c
f-crtilidadc , atè porem termo
Kkz
aos
388
Capitulo LXXXXI.
aos olhos os montes, com
quefelheefconde o mar, &
muitas villas de importância,
como Ponte de Lyma, Barca,
os Arcos de Valdeues,& ou-
tras, mandou laurarhum mo
íí:eiro do nome do Salua-
dor, com intentos de nelle íe
íèpultar quando folie Deos
ícruidoleuallo pêra fy. Con-
tentou o meo de fatisfazer, &
aquietar a húa,&: a outra Igre-
ja,de que o fanto vfara, afsy
aos de Dume, como aos de
Bra^a. Acodiaó todos ate os
mais nobres a trabalhar no
cdificio como íe fora próprio
de cada hum : não regeitaua a
nenhum Saõ Frutuofo , por-
que logo no principio da obra
teuc reuelação o queria Deos
leuar pêra fy ella acabada ; &
como os defejos deíevcrna
bcmauenturança foraó nelle
fempre taõ acczos,fazia traba-
lhar de noite, & de dia os
officiaes aífiftindolhe com fua
prefença, & mandando do-
brar o jornal aos pobres, fc
1 bem com cfte titulo nenhum
o queria receber, & poriffc
Ihomandaua, com capa, ôc
nomcdecfmola.
4 Acabada a fabrica trou-
xe Saõ Frutuofo nouos habi-
tadores pêra cllaj vieraõ de
vanos morteiros por fatis-
fazer aos deíejos, com que
todos , òí cada hum pre-
tendia não ficar cxcluido da
honra, & bem de vizinhar
com elle, & participar de fua
fanta conucrlaçaõ. Paílouo
numero de quarenta, gen-
te efcolhida , &c digniílimos
filhos de íeu Padre o gran-
de Patriarcha Saõ Bento .
Dculhc por Abbade a hum
Religiofo, a quem de mini-
no criara em lua cafa, & fem-
pre o acompanhara por no-
me Diccncio , homem cm
quem cabia bem fcr Prela-
do de talccmmunidadc, &
efcolhido por hum taõ ma-
duro juizo,& prudência
como a de Saõ Fru-
tuofo.
CAP.
S'Frutiiofo.
3S9
CAPITVLO LXXXXU.
PASSA DESTA
'Vidapera a hemauentur an-
ca oglorwfo S.Frutuofo.
A quádoeíla
beniaucncu—
rada Colónia
fe rccolheo
noicii moílci
ro doSaluadorjazia enfermo o
I íanto^^ íe bem a enfermidade
aos médicos parecia leuc, elle
com riidoa teue pella vitima,
<^ aísy fe mandou leuar de íeu
paço a S. Saluador. Aly en-
fermo como ellaua celebrou
de Pontifical na noua íiireja
a primeira miíla, pregou a in-
finidade da gentCsquealy íea-
chou , & exhorcou a todos à
guarda daley Diuina,& em ef
pecial ofcz^depois de defpedi-
dos Cs feculares, aos Religio-
fos vindos de nouo,animan-
dcos com cfficaciílimas pa-
lauras à perfeição/5<: declaran-
dolhejcomo ellaua no fim da
vida , &: Deos o queria leuar
dentro eni breuesdias pêra fy,
pello qlhccncarregaua muiro,
o ajudaflem cõ fuás orações^
& lacrificios , & nillo lhe pvi-
gaííem o amor q lhe tinha, ôc
moílraria muito mais la do
CeOjCncomendandoos à Di-
i uinaProuid6xia,pcraq os gi'ar
daílCj^ cniparalie cm quánfo
andaíiem nelVa vida^peiaq ír;c
rccellem os bens dacutra^cu-
jodeiejo os trouxera à Reli-
giaó^Ó^cõícruaua nclla entre
o exercício de tantas virtudes,
quantas íabia/^ via enreque-
ciáo íuas almas.
t Entre eíias palauras , &• as
lagrimas daquellcs bcmaué-
turadosReligioíosJe fez leuar
à erifern}ariaj& aly em húa po
bre cama cuberto de ciliciOj&
cinza perfeuerou alguns dias,
em q ofoi cõíumindo húa fe-
bre Icnta^villtado fépre de íeus
cidadãos de Braga, «5^ de húa in
finidadedc pouo , & Rcligio-
fos,q acodiáo a tcmar íua íàn-
ta béçáo, 6: elle a daua a todos,
pedindclhe íe nao entrilliccf-
íem cõ iua mcrte,pois hiaago
zar dos bens eternos, onde ef-
peraua lhe foííem muito cedo
companheiros pêra ícr de to-
do perfeita fua gloria.
3 Chegauãofc jàos i6. de
Abrildoannode 659. termo,
de íua vida , ou ccmo quer o
BreuiarioBracharéfe, (S: lulia-
no o ãno.66)-,mãdouíenaveí- ^^ ^p^n
porá leuar à ígreja,e aly de no- | k^? ^
uo recebeoo^Sãtillimo Sacra- ri""/!!
metodatuciíariltiaporviatico [^^ 120,
& logo após elle o da extrema
Kk 3 vnçáo.
390
Capítulo LXX X XII.
vnçáo, depois perfeucrouem
amoroíos , & faudoíos coUo-
quios com Deos , & com a
Virgem Senhora NolTa, de
quêlempre foi deuotiílimo,
com o Anjo de Tua guarda, &
com outros efpiricos bem-
aucnturados todo aquelle dia,
ôc noite feguinte ate que no
romper da alua pêra os \6. de
Abril, dia próprio em que fe
celebra fua ferta deu íeu ben-
ditiíTimo cípirito nas mãos
de feu CriadorjCom as íuas le-
uantadas , & os olhos pollios
no Ceo onde ficarão depois
de morto taõ crauados,&: ele-
uados, que a todos os que o
vião cauíauão nouas íauda-
òts da bemauenturançaque
eílauaõ gozando.
4 Seu enterramento fe ce-
lebrou mais com lagrimas ,
que com pompa funeral^por-
que os Religiofos receando,
perder aquelle precioío the-
fouro,não obllante o que o
fanto difpunha em íeu tefta-
mento, & fe tinha }à decidido
cm fua vida,fem dobrar fmos,
nem darem outros argumen-
tos de fua morte , antes de a-
brirem as portas da Igreja o fe
pultaraõemPontifical na meí
ma fepultura,q o fanto laura-
ra pcra fy , òc fora não mais q
hum pobre nicho na parede
da partcdoEuangelho bé no
meo do corpo da Igreja. Aqui
o venerou por muitas cente-
nas de annos a fua cidade de
Braga, & todas as Prouincias
de Heípanha não obftantes as
calamidades , que com a en-
trada dos Mouros lhe fobre-
uieraõ : &í aindaa furia,& im-
piedade dejlcs bárbaros per-
doou alugar tão (agrado, rel-
pcitando o fanto, que o guar-
daua , & defendia com fuás
prcciolas reliquias.-porque aí-
lolando todas as Igrejas , òc
moíleiros vizinhos a Braga,
& pondo por terra qualquer
cafa de oração com quecn-
contrauaõ,fòao mofteirodo
Saluadorguardaraõintaótocm
forma que aquclla Igreja, que
hoje nelle vemos, hea mefma
que mandou edificar São Fru
tuofo.
5 Porem o mal que fe
não atreueo a nos fazer a per-
fidia Mahometana,tirando de
junto aos muros delia cida-
dadehumprelidio tal, como
o corpo de feu fantiíTimo Pre
lado,porquem fe via autori-
zada , & defendida , cfte nos
fez a piedade ^ & fanta ambi-
ção do Arccbifpo de Com-
poftellaDó Diogo Gclmircs,
o qua
J
S.Frtítuofo.
391
o qual vindo viiitar algúas
Igrejas , que como pertencé-
tcsa íua jurdiçáo , & meia
Arccbiípal, tinha nefta dio-
cclCjCntre as qucs eraõ as duas
deSaó Saluador,&: Saó Vitou
ro j aproueirandoíe da auíen-
ciado Arccbiípo Saó Giraldo
quecnrãcalíiltia em Roma,
écc\o dcícuido dos morado-
res derta cidade, leuou os cor-
pos dos gloriolos martyres,
SaòSyluellre, S. Cucuface,6«r
Tanta Suzana íua irmã, na for
fupraCMp maque jàdiííemos em luavi-
^^"''' da. & diremos mais lar^amé-
tcna(egunda parte delia hi-
íioria navidade (aõ Giraldo.
Também leuou o de Saõ Fru-
tuoío, deixando íò na fepul-
tura hum pequeno oíTo do
íanto, & hum pedaço da ca-
pa Arcebiípal com que foi
enterrado , abrindo a fepultu-
racom tanto fegredo, que pri
meito teue as preciosas reU-
quiasem CompotlelIa,do q
em Braga fe delle fè , q no las
roubara. Alyas collocou no
altar morda Igreja do fanto
Apoílolo Patrão dasHefpa-
nha<: ,& nella perfeueraraoos
quatro annos feguintes, em
quanto no cruzeiro da mef-
ma Igreja pcraa parte da Epi-
llola, le lhe lauraua húa fer-
rnoíacapella, em quedcnno
deqrolias , òc bem douradas
grades em húa arca de prata de
feitio raro as collocarão. He
cila capella frciguezia do ti-
tulo de S.vj Ffucuoío tem
delia cuidado hum Cardeal.
Cclebralc cõ tanta rragclla-
peem Compoltellaa feita de-
ite fantillimo Prelado , q nel-
la íe diz a miíla principal, não
no altar mòf do Apoftolo,
mas no de Saõ Frutuoío na
fua capella, aílillindo o Ar-
ccbiípo e^CardcaeSjConegos,
& mais prebendados , como
nas mayorcsfolcmnidades do
anno.
6 Por aquella pequena
relíquia , quediílemos ceixa-
rana íepulturado íanto , ou
por vontade, ou por dcícui-
do o Arcebifpo Dom Diogo
Gelmires, obrou femprc, &í
obra cada dia Deos infinitos
milagres , Tarando todo o gé-
nero de enfermos, q acodem a
lhe pedir remédio: nem pêra
eílc fim achamos menos o re-
ftantedeíeu corpo, que em
todo o tempo elia no íla Igre-
ja enuejarà àde Compoílel-
la . Defcuido foi de noílos
Rcys , chegando com fuás ar-
mas tanto adentro do Rcyno
deGalliza que fe fizeraõ íe-
Kk4
nhores,
39'
Caphdo LXXXXII.
xiliorcs 3 & poíluiráo cm vá-
rios tempos 2 mayor parte
dclle não procurarc, ou por-
for-ça,ou por concerto , relli-.
tuir outra vez a ku lugar,
eíle fagrado dcpoílto: mas pa-
rece os inípcdio o refpeito,
que fempre tiucraõ ^òc guar-
darão à caiado íanto Apo-fto-
lo j que a ella piedade , <!' não
aflilcadc vontade he bé atri-
buamos ella diílmuilaçáo a q
jã não cjuizcramos ter dado
nome de deícuido.
7 Orno rtciro de Saõ Sal-
uador fundação, &i íepulta-
ra de Saõ Frutuofo pcríe—
ueroulonsos annos debaixo
da regra , & diciplina de Saõ
Bento ^ criarãoíe nellc com a
prcíença das Tantas reliquias,
& muito mais com a memo-
r ia das virtudes de ícu funda
dor , grandes fantos: prou-
ueraa Deos que nos niocí-
cond^ra otcmpo,juntatncn"
te com íeus corpos , feus cxc -
pios , porque déramos acjui
de muito bca vontade rc.la-
ç ao dellcs . A entrada dos M ou
ros deuia fer a caufa de alv
não perfeuerarem,& aaufcn-
cia das preciofas relíquias de
S. Frutuofo denão procura-
rc(na paz de noílos Rcys)tor-
I nar ãqucUc fanruario. Entre-
gouo o Arccbiípo Dom Dio-
go de Souza aos RcJigioíos
de Saõ Franciíco da Prouincia
da Piedade a ocaluió diremos
em íua vida j ncllc perícueraó
ate o prcícntccom toda a edi-
ficação, & com grandiílimo
proucito deíla cidade, como
cada dia expermientaó feus
moradores. A inuocaçaõ naõ
he ]ã hoje de Saõ Saiuador,
mas deSaõ Frutuoío , 6í por
elle nome fe chama vulgar-
mente, cçdcndo o Senhor ao
ícruo^ pêra mais o honrar,
^ autorizar entre os ho-
mens.
8 Foi Saõ Frutuofo taõ
hmo ío cm íantidade , que do
mcfmomodo que a lanto Ifi-
doro daõ as Igrejas de Ficipa-
nha o primeiro lugar «as le-
tras, & doutrinai aísy a Saõ
Frutuoío fazem Principe da
vida monallica.Eaísy como o
outro iiluíírou a Igreja com
ícus cícritos , aísy dle a hó-
rou com íeus exemplos , po-
lioandoos ermos de Relieio-
los a imitação aos antiguos
Padres habitadores dos dcfcr-
tos d aThcbaida.Sairaõ de íua
cíchoia famofos dicipulos, os
quaes ennobreccraó muitas
Cadeiras Epiícopaes de Fíef-
panha onde foraõ Prelados.
Entre
S.Frutmfo.
393
Breu.Bra
ch.16.
y^pril lei
6,
PaMl.et
6 c jo.
Brtt.U é.
<-.i7.
cetz.An.
599-^.2.
Entre os mais eminentes Ic
contáodous ,hum chamado
Theodiíclo varaõ muito dou-
to, que depois fundou hum
morteiro no ermo, que en-
tão íechamaua Capo deLeáo,
onde acabou a vida chco de
virtudes , òc obras íantas.
9 O outro he o grande
loaõ deValclaracujasinlignes
letras ^ òí eloquência nas lin-
goas Latina , òc Grega foraõ
em Heípanha muy celebres.
Foi varaõ digniííimo de fer na
quelles tempos comparado,
com os mais excellentes Pre-
lados , afsy na elegância da
lingoa Grega, & Latina como
na erudição das fagradas le-
tras , rantidade,& inteireza de
vida . Foi Portuguez natural
davillade Santarém padeceo
perfeguiçoés, &c deíterro pel-
la detenfaõ da RcligiaõCatho-
lica, que defendia acerrima-
mente contra ElRey Leoui-
gildo , & osBifpos Arrianos.
Derãolhe feus merecimen-
tos o Bifpado de Girona no
Reino deCatalunha.Edificou
o mofteiro de Valclara: ef-
crcuem fua vida depois de Tri-
themio, & fanto iridoro,Pa-
dilha na hiftoria Eccleííaftica,
lepes, & fr .Bernardo de Brito
nafuaMonarchia.
10 Arezãodos tempos
em que floreceo parece que
repugnaao que aftirma o Bre-
uiarioBracIíareníe em quanto
o faz dicipulodeSaõFrutuo-
ío, porque viuia quaíi cem
annos antes deite tempo no
em que reinaua Leuuigildo,
em que o põem quafi todos
os autores que delle efcreuem.
Porem pella outra parte eíH
a autoridade das lições doBre-
uiario antigo Bracharen(e,que
afsy o dão por certo.
1 1 Não foi Arcebifpo de
Bragaeftc illuíke varão como
imaginou o Padre Vafconcel-
los na defcripçâo de Portugal, P^i-Í^'*
nem com eíte titulo fe acha
allinado em Concilio algum.
Teue fomente a Prelazia de
Girona onde foi Bifpo. Al-
guns autores affirmao que
tomou o habito da Religião
de São Bento no morteiro de
Dume junto aerta cidadede
Braga, fundados em que co-
mo Portuguez receberia em
Portugal , não em Caftella o
habito,mormentc florecendo
tanto naquelle tempo o mo-
fteiro de Dume em íantidade,
8c Religião,
1 2 Efcreuem de Saõ Fru- Baren. m
tuofojO fcu Chronirta Saõ "tí'"^
Valério, Moralcs, Baronio, 'iQ^jLii
fi
ley
Mãrtit.
*t0ifi. de
S. Pedro
*le Motes
Itf.ta.2
cèt. 2 an,
Bnt.z.p.
menar.li,
Fr,Dieff.
itiFlofié
Ribad.
Fhfi6.
394
CapmiloLXXXXIII.
77-
fg
frciloaõMarieta^fr. PriiJeií-
cio de SádoLial/r, António de
Icpes ,frei Bernardo de Brito,
oBreuiario Bracharenfe, frei
Diogo do Roíario, o Padre
Pedro Ribadenciraj&: outros
CAPITVLO LXXXXIII.
S A M Q^F I R I C O^
ou Qiúrmo XXXXJ.Arce-
bifpo de Braga,
A GRAN-
de memoria
dcílcSãcoPrc
lado em íuliá
no naqucilas
palauras.iVo» multo poJlÇjwri-
cm , qui Epifcoptts Bracharen-
fis Concilio Toletano interfuit^
i^ tcdijicanít templum Saneia
EulalU Barchmonenfis fucce-
dit Síinão Ildefofifo , Ò^ regit
Tòlètnnam Ecclefam, ad quem
^cut adEruigià Regem fcripfit
Sanãus Leô Papa. Querem
dizer não muito depois Qui-
rico , que foi Bifpo deBraga^
& cftcuc no Concilio de To-
ledo 3 ôc edificou o templo de
de Santa Eulália de Barcelo-
na íucedco a fanto Ilefonro.&
rece a Igreja de Toledo , ao
qual Gomo também aElRey
Eruigio eícrcueo íaõ Leáo Pa-
pa. O mcimo aftirma nos
aducríarios cóeftas palauras.
QnjricusJdeJ}^ Qiurimis exE-
pijcopo Bracharenji Toleta-
nus.
z Cabe o feu lugar na
ordem dos tempos a elíe ían-
to Arccbiípo logo depois de
Saõ Frutuofo cujo íuceílor
parece foi. Seu pay fe chamou
ClarioEmetrio Quirino, íeu
auò Odoarico Qinrino am-
bos camareiros dos Reys Go-
dos ,&decendentescomoeí-
creuem alguns do Preíidente
dcSiria Cnino de quem faz
mcnçaó oEuangeliítaS. Lu-
cas. O tempo que Qniri-
co aíTiíHo em Brjga depois
de feito Arcebifpo naõcon-
Oa por hiftoria algúa. Ju-
liano nas palauras que referi-
mos dà a entender que antes
deíua mudança aTolcdo^fe
achou em hum Concilio na
mefma cidade, & fundou o
templo de Santa Eulália de
Barcelona obra ainda pêra as
modernas de grande primor,
&architeíl:ura.
3 Como quer quefoílci
perdendo os de Toledo neftc
tempo, que Braga gozaua de
Saõ
S.Çljijrico.
395
f
in rhron
Í0.7,<~C»t
I mtpran
chro» An
66
29
'f^l
Saõ QujricOj ao feu grande
Prelado lantollefonfo em ty
de laneiro de 667. conforme a
Juliano j náo vendo por to-
das as Cathedraes de Hefpa-
nha cjuem melhor pudeíTe
fiiílituir, & íuprir ílias vezes
(fiados na pocécia delRey Vua
ba^ que o obrigaria a aceitar,
cjuandorccufalle ) o elegerão
por leu Prelado, Aceitou Qui-
lico naõ por fe melhorar mas
por gratificar aos Toledanos
a lembrança que delle tiuerao,
& os dcfejos j que moftraraõ
de o ter configo na fija cidade.
O Padre fr. António de lepes
falado do rucclTor de Sátolle-
fon(o , diz que foi Qjajrico
Religiofo de S. BentOj 6c Ab-
bade do molleiro Agaliéíe jú-
to a Toledo cuja benção, &
herança particular era dar fo-
gcitosperaaquella mitra. Po-
rem como naó nega fer pri-
meiro Arccbifpo de Braga, nê
nos lhe podemos negar efte
fanto ao íeu moíleiro Aga-
licnfc , nem a fua Religião.
4 Menos faz contra nos
affirmar Luitprando que foi
Saõ Quirico Bifpo de Barce-
lona,& que daly o tirarão feus
merecimentos pêra o gouer-
no da Igreja de Toledo por
morte de fanto Ilefonforpor-
que podia acontecer que foílb
Prelado de ambas as Igrejas
primeiro de Barcelona, & de-
pois de Braga , ou de ambas
juntamente, como vimos a
Saõ Martinho, & aSaóFru-
tuoío com a Igreja de Braga,
gouernarcm também a Sè de
Dume,dondeeraõBirpos, &
juntamente deíla Igreja de
Braga :& em tempos mais
modernos íabemos que o
Cardeal Dom lorge da Cofta
Arccbiípo de Braga reíídente
na Corte Romana poíluyo
juntamente com efte Arce-
bifpado muitas outras Prela-
zias,afsy em Porrug^l como
em Itália , de que em íua vida
daremos particular noticia.
5 Comeftadiftinção fe
conciliáo bem os dous textos
de luliano , & Luitprando,di-
zendo com efte que foi Saõ
Qujrico Bifpo de Barcelona,
6 com o outro que foi Arcc-
bifpo de Braga, ou emdiucr-
fos tempos, ou em hum mef-
mo, tendo juntamente am-
bas as Prelazias corno muitas
vezes fucedia por aquelles té-
pos, &í o vimos também nos
que depois fcguiráo.
6 E dizer Luitprando q
de Barcelona foi SaÕ Qmrico
mudado pêra Toledo,ha fe de
entender
396
Capitulo LXXXXIIL
entêcler cjue íucedcria fua tres-
ladaçáo cm tepo que o achaíle
cm i3arcclona o<:upacio, ou no
cdificio temporal cio templo
cie Santa Eulália queJe nouo
fundou jouem outra fabrica
eípiritual do be dasalmasda-
qucile Biípado que pediria
mais refidir o lanto em Barce-
lona que cm Braga. Aísyque
náo rcpt ouando a opinião de
Luitprando, que nouamente
deu a luz cõadcíeu elegante,
& futil engenho o doutiisimo
6 nobilijlimo efcritor Dom
Thomas Tamayo de Vargas
Chronirta de íua Mageftade,
temos coíTi luliano nos dous
lugares referidos que foi Saõ
Qujrico alguns annos Arcc-
biípo de Braga, & q illullrou,
&: honrou com fua prefença
eRalgreja por algum tempo.
7 Chegado o quarto an-
uo delRey Vuamb.i^Ã: 6, do
Sumo Põtince Adeodato^óyy.
do nacimenro de Chrifto fe
ajuntou em Toledo Concilio
em que airifttraÕ i7.Birpos,&:
prefidio Qujrico como Me-
tropolitano que craaícusfuf-
fraganeos. Os Cânones que
aly íe decretarão foraõ deza-
leis todos degrade importan-
ciSj (V em que o fanto Prelado
moílrou bem lua prudência
no2oucrnodosneo;ccios Ec-
clcliafticos.
8 Sempre nos mais Icuan-
rados montes fa(3 mayores as
tempeíbdes, & as torres mais
altas laõas primeiras em fcntir
osrayos. Montes íaõ por íua
grandeza osReys da terra, tor-
res íaõ por íua eminência, mas
montes em que a cnueja^ o
ódio , o íuror , & outras mais
tormentas deícarregao íua fú-
ria. Gozando eftaua,cm toda
a proíperidade_,de leu Ileyno,
onde por virtude íobira , &:
per esforço o coníerusra o
gloriofo Rey Vuamba , quan-
do leuado Eruigio de híía ce-
ga ambição ^ & cobiçofo cf-
pirito de mandar lhe deu fe-
cretamente peçonha , & tão
violenta que iogo o tirou de
feu juizo, & o chegou às por-
tas da morte.
6 Acodiraó os que fe acha-
rão prefentes em caio taõ fu-
bitorafeu paílor Qmrico: veo
logo,& vendo aoRey no viti-
mo da vida, ordenou primei-
ramente lhe deílem os Sacra-
mentos próprios daquclla ho-
ra,&o veftiíiem cm habito de
rcligiofojVifto como fempre
em vida o defejara pcra nclle
acabar. Alguns efcrcucm fer
efta vitima ceremonia traça de
Eruigio
■-S,On^
rico.
397
Y
epes ret.
.ítn.(>o\
ttil 3./.
cnMfait
dosRtys
Coda
Ernigio , pofqncf.como tinha
iTíírchinaáo leaanraríe com o
PvCiíiav veiído qo^eo accidcu-
ce da-peçonha hia paliando,
c|r.çtiiv^n,<:|uclla maiíeira iiiha
bilicai o iíicy pcrà ccntiiiLiar
QOVíx ogouerno j como peíloa
jàRclii^DÍa, & como tal in-
habil, íegundo o que então jà
íe piacka.ua, <S.: depois no de-
cimo íexto Concilio Toleda-
no íevcoia decretar. Tornou
yuaiiiba em (y, & vendoíe
iiaquelle habito , por não ád-
pir o que híía vezvellira^de
bôá vontade renunciou oíley
na,<?,: fefoi viua^Reliaiofo ao
moileiroque Ilidoro Pacenfc
chamaiantaMaria de Vuam-^
ba,& oPadre fr. António dcle-
p*cs de Pampliega entre Bur-
gos j &: Valladolid ^ ôc depois
a S. Pedro de Arlança onde cò-
tinuou íete annos em toda a
íantidadc , no cabo dos quaes
foi a tomar polle deoucra me-
lhor coroa. '";^7viií'
O Conde Dom Pedro no
7
feuNobilario diz q ElRey Vuá
baeíH enterrado neíla cidade
de Braga,liúa legoa diftáte del-
ia pêra o nacente. Náo íe apar
ta muito defta opinião oDou-
tor loaó de Barros na defcrip-
ção decntreDouro.&Minho^
porq affirma q nas ruínas da
■mtiguacidddcdcCirania c] eílc
m fundada em liG montt-diíK
te dcflu cidade- 'hóa itgoh- &í
mea peí-aónacctc,ert-í hiTmói-
TnentoaRt!t[uiílimc qeíH me
tido em liúa captlla íbtclTa-
iiea jaz o corpo delRcy Vuã-^
ba conforme a fama v ú!gdr,ôi
diz q heauido porfáí:oK^'al
íeja olugar certo da iepulrura
dclleReÍrgibio,ík iní;gnePrin
cipe mal o podemos alnfmar.
Pêra o tirarmos a Bragj,& aos
douslupares'5 apontamos em
q a rama publica q eíla íq-julta
dojtte tllà o coníente,ne o per
mitea- autoridade do Conde
Dom Pedtoi U ò crédito q fe
dàaos eícriros doDGuforloáo
de Barros ,q afsy o tcftemu-
'líbáo ^Bé vemos q pello tere
e'ntfe íy faze^grandes arreíoâ-
dos os da cidade de Toledo,co
mb fe podè'ver €n-.Morales,&
Mi2TÍana,& liiuito mayores os
.R.cligiofo5 do niGÍreiro de Saõ jz/.íS.c.ii
Pedro de Arlança^comoaqíjcl
les q cm vida gozarão de ícus
efclarecidos cxéplos,d:nâmor
te fentê ferem priuadôs deíua
fepuítnra íulianOj&Luitprán-
do no mofteiro de Pampliega
o fazé morto, ^ nada falaõ de V:'*''T'
iuatrcsíadnçao.Se darmos jen ^.^g 3^^
tença nelladuuidá^a deixamos
ao juízo de quem íem paixão
Moríil't,\
'AíariânÀ
Mhi!t íh\
(hro pag,
1)
LI
aqui-
398
Capitulo LXXXXIJL
[cap.S,
a quizer determinar. Foi Vuá-
ba cxcellentiílimo Príncipe,
ôí honra da nação Porcugue-
za : em ícu tempo íe fez , ou
pos em melhor ordem a di-
Liiíaõ das Metrópoles de Heí-
panha, & íe lhe aílinaraó os
Biípados íuíFraganeos , como
jà deixamos dito no principio
delia hiíloria.
8 Carrcgauãp ncftetcm
poos annos, as enfermida-^
; des,& os cuidados íobreQin-
rico, achauafe menos fuíh-
cie:nrc , & pronto pêra o
gouerno de íua Igreja: pêra
illo com as licenças , & con-
diçoêsrcc|uilitas fez nomear,
& fagrar por feu fuccflbra
luliano Arccdiapode Toledo
pcíioa em cjueconcorriao to-
das as boas partes pêra o nouo
cargo i ôc logo retirandofe ao
deíerto daReligiãoferccolheo
no moiteiro dePampliega on
de eftaua ElRey Vuamba com
habito Pvcl igiofo pêra aly j un-
tamentecomelle entender ío
configo gaitando cm íantos
exercicios o que lhe fobcjaua
devida. Acabou em paz aos
vinte de Nouembro. Enterra-
rãono cm íãnta Lcocadia, &
luliano feu íuccíTor lhe fez hú
elegante epitaphio que man-
dou abrir na pedra da fepul-
tura. Do anuo particular de
íua morte fe não (abe o cer-
to j alguns apontáo ode 6Bo.
ou 6 81. mas efte mais parece o
cm que renunciou , porque
feguiido luliano S. Quitico,
&: ElRey Eruido fucelior de
Vuamba tiuerao cartas de S.
Leaõ Papa II. do nome , q en-
trou no annode 685. Gouer-
naua por eftctepo a Igreja de
Deos (depois deVitaliano,Ade
odato,Dono,Agatho, & Leaõ
II. ) Benedito II. Era Rey de
Heípanha Eruigio.
CAPITVLO LXXXXIIII
R E C E S r I N T B O
Jbbade natural de Braga.
N T R E
os varões cf-
clarccidos da
ordem de São
Bento , que
por eftes tempos floreceraõ,
merece grande lugar o Abba-
dc Recefuintho natural de Bra
ga , varão illuftre em ían-
tidade:foiiníignepoeta,& O-
rador famofo como o tcftifi-
cão os verfos^qucdccontino
cnuiaua a Santo Ilefonfo,& as
cartas tão cheas dcpiedade^
& erudição que lhe efcrcuia.
" Ocu-
chro.fag»
Luitpr,
an 66 j,
D.7hom
in tiàt.pa!
60»
V.
Santa Vcatrlde.Ç^c.
Í99
Ocupou particularmente íeu ]
ciitienho em eícrcuer a vida,
'.ik martyrio deíanta Veatricíc;
natural dcílacidadcj & outros
dezoito ríiartvres feus com-
panheiros , que priracifo elli-
; ueraõíepultados cm C^arágo-
ça na Igreja de Nofla Senhora
do Pilar, He tudo o que aci-
ma referimos de Juliano Ar-
ciprcfte de Toledo rFaz tam-'
bemmençaõ dellc Luitpran-
do , & Jeu commcntador
Dom Thomas Tamayo de
Vargas. Parece que lie cite gra-
uevaraõo que em nome do
Arccbiípo Liuba aílinou no
decimo quarto Cõciiio deTo-
Iedo,como adiante veremos.
CAPITVLO LXXXXY.
SANTA VEATRI-
de ^ tf dezoito companhei-
ros Martyres.
ESTA
illuftre mar-
tyr natural
de Braga não
achamos ou-
tra mcmoria,mais que a q lu-
liano nos dà no lugar referi-
do no capitulo paliado. Ncl-
lediz que o Abbade Receí-
uintho filho da mefma cida-
de "de Braga cantou crií^ver-
(os elegantes os louuores 'de*
llafanta, & de dezoito mar-
tyres^ que dcuiaõ ler com-
panheiros /& haturaes íeus.
Eltiueraó as fantí; reliquias
ícjiultadas na ígrejii deNpí-
fa Senhora do Pilar deC,a-
ragoça . Em que tempo pa-
decerão eftís» gloriofos Ca-
ualleiros dcChrirto nos nlo
còlifta , «em do lugar on-
de derramífáõ, íeu Tangiie
peWa Fè. Com a entrada áos
Mouros/^' Calamidade ge-
rai de de Hélpaiiha íc per-
dco a noticia de taõ precio-
fo chezourõ.' Damoslhe e-
•rte lugar cm quanto não
achamos outro -que
mais lhe eon-
uenha.
.bjint:
. '.T^nonn:
-"*'•■■•«
^újt. iJíJâiiyii' i!i'jjc3
LI;
CAP.
400
«^wwH^^r?
Capitulo LXXXXFL
;m cb joiUíI oííjiiiu
CAPITVLO LXXXXVI.
iS-J M LEODECISJO:
. ;. Juliano XX JfeXIi; : Àree-:
\úhifpQdeBraga,tíi .i ,iJ.L.t
í •>
.r.T
,rkT
Rçsladado ,a
Toledo Saõ
Qyifiço par
ipprtc de ían-
to Ilcfoníb, 1
clcgco o clero de Braga por i
feu fuccíTor a LcodcçiHo luliá- ■
no, o qual vulgarmente fecha
mauaVrbano. ísíáo fabemos
íc he nome próprio , ou fe era
appellatiuo que lhe dcflc, d>c
ga nhaíTc fua muita vrbanida-
dc, & cortezia, pois efta não
encontra, antes acompanha
muito com a fantidade. En-
trou faó Leodcciíío luliano
Vrbano ao que parece ago-
iiernar efta Igreja pellos an-
nos de C6j, o meímo da mor-
te de Sáto Ilefóíojnos oito fe-
guintcsatèo de 67;. nenhúa
coufa notaucl achamos fua,
dcucdo clle obrar muitas muy
dignas de memoria. Nefte vi-
timo que foi o 4.dclRcy Vua-
ba fe publicou Concilio na-
, cional nefta cidade deBraga,&
foi o quarto na orde dos que
jáhojeandáo imprefíos , mas
o que cõmunmcnte fcallega
com nome de terceiro.
2. Acodiraõ os Bifpos fuf-
fraganeoi de Braga , òc com
■clles luliano Arccbifpo de Se-
uilha.cuja prefença fes cfte
Concilio nacional como jà
prouamos na nofla Primazia.
Foraó de fumma importância
os noue Decretos , que nellc
fe cftabtleccraÕ , rclatamolos
em feu lugar , feria fuperfluo
repetillos. Prefidío o noíTo
Primaz pella autoridade de feu
oflicio, & como tal aílinou
em primeiro lugar dizendo
Leodecifio Bifpo em nome de
Chrifto por fobrc nome lu-
liano reui,&foefcreuieftasCõ
ftituiçoês fegundo nos pare-
ceo fazelas por infpiração Di-
uina amim , & aos fantos Bif-
pos meus companheiros . Cõ
erte Concilio fe nos acaba tu-
do o que podíamos dizer do
noíTo Leodcciíío luliano.
3 Depois que fe publica-
rão as obras do Arciprefte de
Toledo,ouuc maisluz naslgre
jas deHcfpanha cm muitascou
fas q o tépo tinha fcpultadas
como jà cm vários lugares dc-
fta hiftoria diíTemos.D^s mais
obrigadas
S.Leodecifo.
40 1
in chton.
H'7S
obrigadas heícln duuida cila
igreja Primacial: Sc pcraq não
vamos mais longe deíle mcf-
mo Saõ LeodeciTio eFcreuc ò
próprio luíiano c|lie de Bra^á
foi crcsladado a Toledo/endo
afsy que defta cresládação to-
talmente ícnãò achaua memo
ria nos efcriróres defuavida.
Repicamos aqui as palauras,&
depois dando juiso íobre ci-
las diremos o que lios pare-
cer mais aJLiilado cóni a ver-
dade. Cekbratur SanBm Leo-
.decifus cognomento hãianus
diãtió etiamEpifcopus Êracha-
tYftfs Vrhamis,qui ijf lulianús
diãiís^poslEpifcopusToletamis.
GekbrareS.Leodeciho por ío
bre nome luliano chamado
também. Bifpó dê Braga Vr-
bano, èí lulianOjdepois Bifpo
de Toledo. Põem luliano eíla
memoria no anno de 667. cm
que paíTou de Braga a Toledo
Sa5 Q^irico por morte dcfân
to Ileíonro,& deuia Ter toma-
do pêra Arcebifpo defta ScS>.
Leodeciíioi onde pcríeuerou
aiè renunciar nelleS. Quirico
fcii prcdecclíor pellos annos
de 680. ou 681. quâildo por
velhice j & indifpoíiçoés dif-
íemos renunciara em luliano
Arcediago da meíma Igreja de
i.Tolcdo,o qual íe náo foi o
melmo que ò nòflb Leodeci-
Í!ô luliano, por nenhú modo
lhe cabe entrar naquclie Arce-
biípado íegúndo a ordena de
íuccdérjque át Sáo QinriGO
por diante foraÕ kuando os
Arcebifpòs de Toledo.
4 Que não fejaaquellè
lulíaho tm quem Saõ Qyiri-
co renunciou o níóíroLeúde-
ciíío luliano de Brágà parece
Goufa euídente,ajnda pcllâ au-
toridade doArcipreíte lulia-
iio^ a que nos chamamos jpòir
autor dcftà mudança, j^orqué
luliano falando dá renuiicia
de S. Quirico diz afsVi SanBus
Quiriciis mox posimorten^ gte^
riúfRegis Vuamb*e udio , l^
morboconfeãusy,fecerat conjfe-
crari inEpifiúpum ToktamM^
y' coadiutorem funm Âfchi-
diaconim Toletanse EccUfite lU
liam. S, Qmtico védofechièd
de anhos 3 & de enferrhidâdtís
fez fagrar pot feu fuceíTotâíu*
liano Arcediago de Toledo*
Que coufa mais fácil a luliano
Arciprefte que dizer erà Arcd-i
ccbifpo de Braga o nouo elcí-
tó,afsy cõrriodiílc eraArcedià
go deToledo.Em mayor rèpU
tacão ficaua íaberfc q fetoíKá-
uapcra áquellaSèhú Priríiàá
das Hefpanhãs^ q hCi Arcedia-
go fÈuPMáis hõrádò ficátiaQp]
hk
tmó
It
402
CafituloLXXXXVL
rico cõ hú Arcebifpo de Bra-
ga por fuccfíbr do que cõ hú
Arcediago por mais acredita-
do que folie. Não he polTiuel
que quem fazia menção da
cfignidade deArcediagoem lu
liano a náo fizeílc da de Arce-
bifpo quando dcpreícnteati-
ucra.
j- Quanto mais que fe o
Juliano de Toledo^ em quem
renunciou Saõ Quiríco/ora o
Lcodecifio Juliano de Braga
ouucraodedizcrem fua vida
faõ Félix afsy mefmo Arcebií-
po de Toledo pois lha efcre-
ueo em tempo que fua memo
riaeftaua tão frefca,(Si entre
cUe ,&: Juliano fe não metco
mais que Segiberto. Porê na
vida deífe fanto Prelado efcri-
ta por íaõFchx fe não acha me
moria de fua cilada em Braga,
pello que parece foi outro o
Juliano fuceífor de faõ Qoiri
coem Toledo j outro o Lco-
decifio Juliano Arcebifpo de
Braga.
6 Com todas eftas duui-
das , ainda fe poderá ( fe bem
não com tanta probabilidade)
fuftcntar o que atègora fomos
impugnando,afsy porque ne-
nhúa repugnância ficaria ten-
do Juliano Arciprefte confí-
go,como pelloque logo di-
remos da oníiflaõ de íaõFelix.
Juliano fe na eleição de Leo-
decifio peraTok:do lhe cha-
mou lò Arcedirgo daquclb
Se _,foi o mefmo que íe quife-
ra dizer que falaua daqucllc
Juliano que primeiro fora Ar-
cediago, & não do outro a
que chamarão Pomerio. Alê
difto com.o Juliano auia taõ
poucas paginas tinha efcrito
fera Lcodecifio Juliano Arce-
bifpo de Braga, & depois de
Toledo_,náoauia peraque rc-
petillo outra vcZj nem dalloa
conhecer pclla tal dignidade,,
baftaua qualquer outra , ainda
quefoíle tão inferior.
7 Saõ Fclix diligentiíli-
mofoiem cfcreuer a vidadc
faõ Juliano feu antcceíIor,bcm
deuia de o conhecer ^ & tratar
pois foraó contemporâneos,
Ãr moradores na mefma cida-
de : porem jà fe fabe que o ar-
gumento de omiílaõ nos au-
tores não faz proua conclu-
dente. Sc^ç. não acha em Saõ
Félix que Lcodecifio Juliano o
de Toledo foi Arcebifpo de
Braga, achafe em Juliano Ar-
ciprefte. Não o nega Félix, af-
firmao Juliano. Outros auto-
res que em no0bs tempos cf-
creueraõ a vida do mefmo fan
to, como o Chronifta mor
Dom
S.LeodeciJio.
403
Dom Thomas Tamayo fo-
ra 5 íeguindoafaõ FcIix,iS«: ca-
belhea meíma rcpofta.
8 Pode bem íer conten-
tem eftas rezoês aos que as Ic-
rem,óí que noseftranhem pa-
rar aqui com a vida de faõ Ju-
liano o de Toledo íem relatar-
mos o mais que dcUe íe conta:
pcUoqueoacrecentarcmos a-
qui em poucas palauras^ por-
que íc o fanto he também de
Braga, diuida he que lhe pa-
gamos , & fe he fò de Toledo
íèruiço he que nos poderá bé
remunerar,& agradecer.
9 PreíídioSaS Leodeci-
íío luliano fendo Arcebilpo
deTolcdo,como mais antigo
na fagraçáo^em quatroConci-
lios congregados na meíma
cidade, o II. 13. 14. ly. onde
fempre deu molhas de fua
grande virtude. Foi nas letras
infignecomodicipuloquecra
de fanto Eugénio III. do no-
me: foi emparo dos mifcra-
ueis ,verdugo(afsylFie chama
faõ Fclix ) dos íobcrbos, eraõ
fuás rendas afuftentaçaodos
pobres , o doce das orfans ,
orcfgatedos catiuos, a faudc
dos enfermos . Quanto de
Deos pretendia alcançaua cõ
fumma facilidade; cfcrcuco
, vários iiuros , em que difpu-
tou matérias degrauillima im
portancia," compôs hymnos,
íSi: cânticos de coulas fagradas,
cpitaphios,epigrámas emlou-
uordos fantos martyrcs, &
de muitos Arccbifpos feus
predeccílbrcs . Teuc muitas
homilias cheas de toda a boa
erudição ao pouo. Carteoufe
com muitos íantos da lua ida-
de, fempre com efpanco dos
que liáo íuas cartas. Refor-
mou o Brcuiario, fk Miflal de
ianto Ilidoro,acrecétou mui-
tas oraçoés,&: mandou fc can-
taííemnaíua Igreja 'todos os
officios Diuihos. Ncllas fan-
tas ocupações o tomou aínor-
te dez annos hum mes, & fe-
te dias depois de Arccbifpo de
Toledo^ em 8. de Março anno
de noíTa redenção típo.Foi en-
terrado em fanta Leocadia , &
daly cresladado pêra Ouiedo.
A Igreja deToledo lhe celebra
fua fertao meímo dia de íeu
bemaucnturado tranílto. Foi
Arcebifpodç Braga treze an-
nos, que juntos aos dez de
Toledo vem afazer 13 . de Pre-
lazia. Efcreuem delle depois
de Saó Félix Vfuardo , Trithe-
mio, Vafeu^ Baronio,Padilha,
Dom Thomas Tamayo , &
outros , o Arcebifpo de Tole-
do Dom Rodrigo Ximencz,
Li 4 àr
VfuarL
\mM»rt,
\SMaitff
[ lnth.de
Jcriot.Ec
Mart.t,
Aíartíj.
RtderM.
i-e.iz.
Padílh*
eh. 7. e.
66.
na vida
S. IftliÃ'
na.
404
! >5^ «í '
Capitulo LXXXX VIL
\ •& depois dclle o Ai)bade Tri-
rhciíiio o contundem cõ du-
crõ lulianoPomerio aísy Tnef-
mo ArcebiCpo deToledo-.mas
foiiiiaduertccia, porquecor-
rcrâo ítíuicos annos entre hú,
& -outro . Era na morte deftt
íanciíiímo Prelado Sumo Põ-
tifice( depois de BenedicVo II.
íoáo V. & Conon) Sérgio.,
& Rcy de Heípaiiha Egica.
'l!
hXXXXWÍh
Ivi
xx^
y\
CAPITVLO
L I F. È Ã
Arcebifpo de Braga.
Ellos annoS'
cíeChriftõ de
^<Ç8o. entrou
'^ Liubanogo-
ucrno deíla
Igreja deBraga fucedendo ncl-
la ao fanto PreladõLeodeciliô
luliano. Noannõ íeguintêde
68i, o achamos afíinado no
12,. Concilio ToledanOjO qual
mandou ajuntar ElRey Erui-
mado no Reyno pcllo eííia-
do Eccleíiallico, como aqiiel^ !
ieque tinha cão grande parte
na eleição dos Rcys. Ajunta-
rãoíc 110 Concilio 35. Bi ípos,
4. Abbadcà, 5. pocuradores,
ou Vigairos de Biípos auícn-
tes ;, & 15. varões illuftres of-
ficiacsdacaíâj&CorcedclRcy.
Abriofe o Concilio aos 9. de
laneiro do anno de 681. na
Igreja Pretorienfeda iiiuoca-
çáo dos Apoftolos Saõ Pedro^
& Saõ Pauloj achou íe preíen-
tc ElRey Eruígio , & fez húa
larga pratica ao Concilio tra-
tando nclla da ueccílidade que
aviia pêra fe ajuntar j & dos
proueitosque íc fcguemdcfe-
meihantes congregações .Tra-
touíe lego j depois de íe fazer
a proííílãõ da fè, de íe coníir-
m.ara eleição delRcy, vindo
pêra iíTo três cfcricuras q elle
apíeícntou,com que juítiíica-
ua'fua caufa, &í moílraua co-
mo fora fua eleição legitima.
íDepois diílo ordenarãofc trc-
zedecretos importantes áo go
ucrno das Igrejas , &: refor-
mação dos cultumes.Fcchou-
íc o Concilio aiy.de lanciro,
& no meímo dia ElRcy Er-
uigio promulgou húa Icy em
coníirmação dosDccrctosdcl
gio aíim de que osPrelados de
todo o Reyno approuaílê fua
eleição, &clle ficaíTcconíir-il lc;mandando queinuiolaucl-
mente
Liuba.
405
€*f. 34,
CmaI. i.|
f c 10.
LoAjf. m
colite fag
584- ,
M oral.
Ith 12, c.
5i'
PadiUh
7.f.57.
Martan
ii.ó.e 17
Brit.itf.
mttiAT.
it.6.e.2Í
mente fc guardaílcm com pe-
na de confiícação da decima
parte dos bens . AíTiftiraó no
Concilio quatro Metropoli-
tanos os quaes fc aflentarão,
& aírinaraÕ pella ordé da la-
graçáo. luliano Metropolita-
no de Seuilha teuc o primeiro
lugar, luliano de Toledo o fe
gundOjLiuba de Braga o ter-
ceiro, Efteuão de Merida o
quarto-.dc Portugal,&: Galliza
aíTinaraõ os Bifpos Tradlcmú-
do deEuora,GenccÍG de Tuy,
Froarico do Porto, Félix do
Padrão , Reparato de Vifeu,
loaõ de Beja, Gundjlfo de
Lamego, Eufraíío de Lu--
go.
í Dcíle Concilio cfcrcue-
mos largamente no tratado da
Primazia defta Igreja refutan-
do hum argumento que con-
tra ella do leu Texto Decreto
tomaó os dcfenfores de Tole-
do pello poder que aly fe deu
aos Metropolitanos daquella
Igreja pêra em auíéciadclRey
prouerem os Biípados vagos
de Hefpanlia. Porem no tra-
tado referido moftramos fua
pouca cflicacia. Vejafe defl:c
Concilio o Catalogo dos Bif-
pos do Porto , Loayfa,Mpra-
les , Padilha , Mariana, & frei
Bernardo de Brito.
3 Afiiflio outroílonof-
ío Prelado Liuba no 13. Con-
cilio de Toledo cujos Decre-
tos aíTinou. Congregoufe no
anno de Chriilo de 683. 34.
de Nouembro _, quaíi três an-
nos depois do Concilio duo-
décimo. Foi nacional porque
ncUe fe ajuntarão quatro Me-
tropolitanos , quarenta & oi-
to Bifpos, vinte fetc Vigairos,
dos Bifpos auícntes , & vinte
féis varões illuftres dos oífi-
ciacs d ô Paço. Celebroufe na
Igreja de Sãõ Pedro , fk Saõ
Paulo , achoufc nellc ElRcy
Eruigio,& deu aos Padres do
Concilio hum memorial de
coufas que queria fe reforma-
fem nellejo qual vifto por to-
dos começado pclla profiíTaõ,
& confiílaõ da Fc (lendofc
primeiro o Symbolo do Con-
cilio Niceno) fobrc taõ fanto
fundamento foraõ profeguin-
do no demais , & ordenarão
treze Decretos de grande va-
lidade ao gouerno das Igrejas
de Hefpanha , &c ao bem cfpi-
ritual dos fubditos. Allinaráo
nelle quatro Metropolitanos,
pella ordem , & antiguidade
da fagração, fendo o primeiro
como mais anciaõ luliano Mc
tropolitanodc Toledo, ofc-
gundo Liuba de Braga, orcr-
cciro
^
4o6
Capitulo LXXXXVIL
Loítyf. in
coller.BM
Moral.
lih 1 1, c.
li.6 c 17
Brit.d.e»
28.
cciro Eftcuão de Merida, o
quarco Florefindo de Seuilha.
Oí Bifpos dePorcugal,&Gal-
lÍ2a,qáenell:e Concilio (ca-
charão foráo Froarico Biípo
do Porto , Miro de Coimbra,
Reparato de Vifcu , Hilário
Biípo de Oreiiícj Gundulfo
de Lamego , Félix do Padrão,
EufrazíodcLugOjIoaõ de Be-
ja ^Traâ:emimdo de Euora,
AradeLiíboa. Dellc Conci-
lio trarão depois de VafeiT,
Garcia de Loay ía^Moralcí ,Pa-
dilha , Mariana, frei Bernardo
deBrito, &: outfos.
4; '.*' :Tambem achnmós mc-
PaJticit iTioria do noíTo Prelado Liu-
ba cm o i4,Concilio de Tole-
do, o qual por não poder aíG-
ftir peíToalmcnte , mandou
por léus procuradores , & Vi-
2iiros adous Abbades varões
infignes em virtude , ôc letras,
chamados Bamba, &c Reci-
fundo, os quaes cm feu nome
alímaraõ na maneira feguinte.
Bamba Abbade Vifrairo de
Liuba Metropolitano de Bra-
Ca. Recifundo Abbade Vi^ai-
ro de Liuba Mctropolirano de
Braga. Defta afliftencia dos
deus Abbades cm nome do
ÂiãJof. 1 Arcebiípo Liuba,alem dos Cõ
cilios,que trazem Loayra,Mo-
rales, & Padilha , faz menção
-í y y
luliano chamando lanto aefte
AbbadcBamba como adiante
veremos, n .«inci?.ob3j
5 ' Ajuntouíe elleConci-
lio nacidadcdc Toledo pou-
co mais de hum anno depois
do Concilio 13. no anno de
684. petaeftcitode feaccitarc
os Decretei do ícxto Conci-
lio aèral celebrado em Con-
llantinopla contra a heregia
de Apoiiinar que negauaduas
vontades emChrilto.Ecomo
íenáo achalTé naquelleCõcilio
Prelados de Hefpanhâ, orde-
nou ó PapaLeaõILdo nome
por hum Decreto particular,
que juntos todos fizeflcmou
tro Concilio , di nelle viílem,
6 aílmaflem os Decretos do
deConrtantinopIa,como cm
clrcito fefez no anno referido,
que foi o quinto delRey Erui-
gio . Não aílirtiraõ poré mais
que os Bifpos da Prouincia
Carthamnéie fuffraoancos do
Metropolitano de Toledo, os
mais enuiaraõ (eus Vieairos,
dz procuradores,'5c os do noí-
fo Prelado Liuba forao os
dous Abbades Bamba, & Re-
cifundo, de q acimafalamos,
os quaes fem duuida craõ Re-
licriofos daOrdemdeS, Bento
Abbades em morteiros defta
Religião da qual auia muitos,
)or
Bamha^.
407
por todo o Rcy 11 o, &emcí-
•pccial na Prouincia de entre
Douro, &: Minho, a qual re-
.ccbeo as Religiões de íanto
íAgoftinho,S. Bento, & de-
pois a de S.Bernardo comais
piedade, & veneraçáo,&com
Tiiayores rendas que todas as
outras Prouincias dePortugal.
Tratonle noConcilio do erro
de Apollinar, & íc condenou
em confirmação da ícntença
dos mais Padres juntos em
Conrtantinopla, & o treslado
de tudo íe mandou aRcma no
anno feguinte, tendo jà o Su-
mo Pontificado o PapaBenc-
di6to íegundo, como íe colhe
do meímoConciliOj&dos au-
tores que o referem.
6 Eflas íaõ as memorias
que tem.os do noílb Prelado
Liuba, o qual pouco tempo
depois do anno de 684. cmq
fe celebrou cílç Concilio pa-
rece fe foi aoCeo, porque já
achamos a feu fuccílbr Faufti-
no no decimo quarto Conci-
lio de Toledo pellos annos de
688. quatro mais adiante do
em que eftamos. Tinha por
erte tempo o gouerno da Igrc
jadeDeos o Papa Benediííto
11. Era Rey dos Godos Erui-
gio.
CAPITVLO LXXXXVIII.
B A MB A ABBADE
'varaófamo deste Ar cebif-
pado.
01 eftcfan-
to varaó Re-
ligiofo daOr-
dem de S. Be-
to , & Abba-
de,ao que fe pòdecrer,do mo-
fteiro dcSaõ Martinho de Sa-
de diftante da cidade de Braga
pouco mais de húa Icgoa pcra
oNacéte j unto ao rio de Aue.
Celebrandofe o decimo quar-
to Concilio de Toledo, cm
que auia de aííittir Liuba , que
então era Arcebifpo de Braga,
não o podendo fazer, ou por
ocupações, ou por enfermi-
dade, tendo boa noticiadas
muitas partes que concorriaó
no íanto Abbadc Bamba o
mandou em feu nome a Tole-
do pêra votaria aífinar por el
le naquclle graue ajuramento.
Achamos a firma deftc fanto
varaõcomaspalauras feguin-
tes . Bamba afens <-viceDomim
mei
40S--
Ca pHtdo L^iXXXVlll.
niú LiV.hãny Ep;f:opi Bracha-
fenfisfmditer. Também aifi-
ílio pello Txicíir.o Lii:ba oAb-
baae ReciruiiáJ qye-' c(c«ia^í^-F'
-o Receluiiuhoj de que cm ícu
, f.Q^.' liigár fizeinos-irieÀçáo.'*'^ '"^
a , íéchado'0 GoncilioRâba
íc recolíieo ao íeii niolldvo
onde viucocom grande excni
pio j c>:ercitandoíc cm todo
o género de virtudes, peilas
quaes mcreccõ que o vçiícÍ'í4-
íem cdiTio fáfo depois de mor- '
10 , & vihcaflemíuas íapraâas
relíquias: jaz íepulcado húa Ic-
g oa deft a cidade de 'Braga peia
o naccntc em "hua! -ígiéja j^-
róchial a que chamão íaiK*'
Locayadc Britéii:6'sy'que em
tempos mais aritiguOs h'c fama'
foi mofteiro da Ordem do Pa
irinrcha Saò Beíico, & ainda
iiojeíe vem nella^iruinas que
moftráo ília anri2;uida dc.ElH
a-ícpultiira do íanco junto à
porta trauefla da parte de fora
raza-cõ ochaõ íem obra, ncríi '
artificio algum. Alv he viíka-
da de todos os VizinlioSj&r có^^
marcaõs porque nella achão
remcdio pêra muitas enfermi-
dades leuando terra da mefma
fepultura que tem pof mila-
grofa pêra íàrar doenças incu-
raueis . A fama , & tradição
dos velhos tem por cerco eftar
„■
í \\ ot<iifoúohtiiQ A yómè -ne- ;j
írcbugáf j & Júliínd tcíl^íiiu-
nba de viíU 'q^tid^^Vi^c-^li vin
ck>a'Brágà cem õ -'Arèebií^^io
de-Tcledó'Dê^Bcpí?irjá'3UÃ)/í;í^
fuiin tr-ããu -ISi-aSaP€M^{ diz'
c\h)clií4'(k)í^-pJíPfn€0 Ârchiejyif-
copo Tólerãno- Ber^rdã ■mpfi'!
coi-jnisfmãí JhhiiTM 'Babiç^qui
inter fim Concilio decimo quar-
to ToIetáM -vicem '^gem dcnii-
m Ltíbmj -Efifcopi Brachars-
jfí, dicitnnj^ ./vulgo liUjlínãiis
Akb^s Bnmba. Ç^UGV dizcf, cm
quanto efíine no t-err icorio de
Braga cem 'meu. ícniior Ber-
nardo Arccbiípo dcToledo vi :
íltei o corpo dõ íáhto Abbade
Bamba , o qual eílcueno deci-
mo quarto Concilio de Tole^
do, &í nclie alTínôil porLu-
banio Bifpo de Bríiga-. Chíi--
maíc o íanto tíomúmence o
Abbade Bamba. ■•.«'•; ;
3 Eftando eíVe fantô cão per
todcnòs,<S>: fendo Rcligioío,
& Abbkle da Ordem do Pa-
triarchaS.Bento/^ fazendo
milagr-es a terra onde ellaÕ de-
poíitádos ícus oílosj delcuido
foi grande dos paliados naofa
zerem dclle ftlgúa memoria pc
ra crecer á teneraçáo q.opouo
Ihetetaõ deuidaa leu lagra-
do depofico^ por que Deos o-
bra tão exccllentes marauilhas
CAP.
\
Fauííin&*
409
CAPITVLO LXXXXIX.
FAVSriNO
XXXXIIII. Arcebifpo de
Braga.
Omeçamosa
vidadoAice-
biípo Faufti-
nopellacon-
jcicura<^clelle
w» chrifl ^32 ^ Padre fr António de le-
6^}, foi. pes Chroniíla da íagrada Or-
374^^*2 ^efj-j cie 535 Benco_, que o quer
dar por Religioío íeu , & af-
ias intereíladas váo as Cathe-
draes onde encraõ Prelados de
taõ fanta Faniilia , ôc muito
mais nos tempos em que ago-
ra lenamos efta hiftoria, que
laõ parte daquelles primeiros
trezentos annos,em que to-
dos os Religiofos que mor-
rerão nefte habito alcançarão
a faluaçáo, íegundo a reuela-
çaõ certa que diíTo ouue.
2 He pois a conjeitura a-
char firmado no decimo ter-
cio Concilio de Toledo Fau-
ftmo Abbadcj Abfalio, Ge-
roncio GailoriOj Gabriel, Si-
í;berío, Felix, Viiandô, &
Vincencio^aísy meímos Ab-
bades de Saõ Bento, que ti-
nháo entaõ ingar,& voto cm
todos os Concílios^ & depois
faltar logo no decimoquinto
Concilio da mefma cidade
a firma de Fauftino Abba--
dcnão faltando âs dos ou--
tros,& firmar de nouo hum
Arcebifpo de Braga com no-
medeFauftino. Ebcmfcvè
(diz elk autor) & fe moftra fé
muito diícurío que. eíle Fau-
ílino Arcebiípo he aqucilc
mefmo,quc antes aífinaua co-
mo Abbade , mormente fuce-
dendo iiio cm tempos emq
pêra as Prelazias fe bufcauao
Religiofos , & pêra as mitras
capcllos . Bem vemos pode-
ria acontecer fer outro o Fau-
fdno de Saó Bento, outro o
noílb Arcebifpo , que a fe-
melhançadonome naõarguc
identidade da peílba. Mas iílb
não tira a probabilidade que
tem a conjeitura do Padre le-
pes, a cu ja Religião damos de
boa vontade o ArcebifpoFau-
flino, & comecemos a efcre-
ucroq de fua vida pudemos
achar.
3 No primeiro anno dclPvCy
Egica luceílbr de Eruigio aos
quinze de Mayo do anno
Mm
l
de
4IO
CapiíuloLX XXX IX .
de Chrillo feiícentos & oité-
ta &c oiço, & primeiro do Pó-
tificadodo Papa Sérgio, fe ce-
lebrou Concilio nacional na
Igreja de S. Pedro chamada
Pretorienfe nos arrabaldes de
Toledo, quinze na ordem dos
impreílos daquella cidade.
Achoufe nelle o noíloArce-
biípo Fauftino com outros
quatro Metropoikanos^&fin-
coéta & íeis Bifpos, onze Ab-
badesjO ArciprcftedeToledo,
íinco procuradores, ou Vigai-
ros de Bifpos aufentes, & de-
íafete varoés liluftres ofticiacs
da cafa , & Corte Real .
4 Ajuntouíe o Concilio
por ordé delRcy Egica: as cau-
las que a iíTo o moucraõ, alem
de íe colherem do mefmo Có-
Moftd li
1 c. jé.
Padil ret
7. c. 6;.
cilio,as referem largaméteMo
rales , & Padilha onde fe pode
ver.Prefidío pclla ordem da fa
í^raçáo luliano Arcebifpo de
Toledo, aquellc cuja vida fi-
\fifr.^6. ca acraz referida , & como
mais antigo aíTmou também
no primeiro lugar: logo Suni-
fredo deNarbona , Florcfin-
do deSeuilha, depois como
mais moderno dos trcsFaufti-
no de Braga , no quinto lugar
Máximo de Merida.Os Bifpos
de Portugal, ^ Galliza, q nel-
le fcacharaójforaõFroarico do
Porto , Félix do Padraõ,Eufra
lio de Logo, VilkfoníodcVi-
íeu, Adelfio de Tuy , Trudtc-
mundp de Euora , Lauderico
de Liíboa , Miro deCoimbra,
Fioncio de Lamego, loaòde
Beja,Vinccncio de Dume,Mo
nefonfodaldanha.
5 Outra memoria acha-
mos deíle lUuílre Prelado no
decimoícxto Concilio de To-
ledo^ pclla qual nos confta fer
mudado dcíla Cadeira Prima-
cial de Braga à deSeuilha . A
caula paflou da maneira fe-
guTíitêTDepois dãmõrtc 5e S.
luliano Arcíbifpo de Toledo
foi promouído àquella Igre-
ja Sifibcrto pornomeaçáo,&
apprcfcntaçáo dclRcyEgica. A
poucos annos da noua digni-
dade, faindo por foberba fora
de fy, òí pareccndolhe que né
o Cco , nem os homens lho
eftranhariaó intentou em híí
dia de fefta dizer miíTacom
aquella mefma Cafula,em que
a may de Deos vertira a fanto
Ilefonfo , & o fizera fe hum
notauel horror lhe não ocu-
para os mêbros logoqmãdou
abrir o caixão onde como prc
ciofa rehquia fe conferuaua.
6 Deftc defatino paflou
a outros , q fem duuidaforaõ
como caftigos do primeiro^
fezíe
Fmíãma»
tezíc cabeça cie íediciofos^con
jurou contra íeu Rey, ^ em
certa ocaíiaõ tinha determina-
do tirarlhea vida íe hum dos
comphccs não defcobrira o
crime ao mefmo Rcy, que fez
lançar mao de Sifiberto , ôc
ter a bom recado , ate o entre-
gar a hum ConciUo que pêra
elle effeito fez ajuntar em To-
ledo, peraque aly foílccalH-
gadocomorco de lefaMage-
ítade humana, & como per-
turbador da paz publica. Veo
a parar aacuíaçaoem íenten-
ça diftinitiuado Concilio, em
que fe ordenou que Sifiber-
to folie depoftoda dignidade
Pontifical, ôc declarado por
publico excomungado, ôc lua
tazcnda , & bens confifcados,
6 elle pêra fempre dcftcrracío
de toda Hefpanha. Puzeraó
os Padres cm íeu lugar , por
afsy o pedir ElRey,a Félix Me-
tropolitano de Seuilha : em
Seuilhaa Fauílino Metropo-
litano de Braga: em Bragaa
Félix Bifpo do Porco, no-
meandoos pêra as Cadeiras a
onde os palíauao pella or-
dem que vaó nefta efcricu-
ra.
7 Congrcgoufe o Concilio
referido na Igtcja Precorien-
fe de Saõ Pedro , & Saõ Pau-
■li
411
lo em dous deMayodoannc
feifcentosiSs: nouenta &tres de
nolfa redenção, o íexto do
Papa Sérgio , & delRey Egica.
AlTiífirao nelle ííncoenta &
oito Bifpos , finco Abbades,
três Vigairos de Bifpos aufen-
ces , dczafeis varões illuílres
officiacs da cafa, ôc corte Real.
Preíídio Fclix Metropolitano
de Toledo depois de ler pa fia-
do de Seuilha àquella Cadeira,
& aílinou também no primei-
ro lugar j nofegundo Faufti-
no,jà como Metropolitano
de Seuilha i no terceiro Máxi-
mo Metropolitano dcMerida^
no quarto Vera Metropolita-
no de Tarragonaj no quinto
Fclix Metropolitano de Braí^a,
& Bifpo do Porco. Os Prela-
dos de PorcugaI,& Galliza que
nefte Concilio íe acharão fo-
raõjFrutuoío Bifpo deOrcníê,
Adelfio de Tuy, Potencio de
Lugo,Aurelio de Afl:orga,Ar-
concio de Euora , Emilla de
Coimbra,Fioncio de Lamego,
Lauderico de Liíboa, loaó de
Beja,Teudofredo de Vifcu,
8 Deraõ ocaíiaõ as mu-
danças feitas neíle Concilio
de Félix a Toledo , Fauítino
a Seuilha, &: Félix do Porto
a Braga pêra dous fundamen-
tos aos defenforcs da Pri—
Mm 2,
mazia
T
412
CafituloLXXXXlX.
traã. de
Prima,
Primazia de Toledo contra a
delia Igreja ; ôc ainda que jà
os temos proppftos , ôc lol-
tos cm feu lugar próprio , to-
dauiaaqui lhe cabe outra vez
mollrarmosa quãtochegao,
& os poremos mais em fauor
dos de Toledo , do que elles
ainda o fazem.
9 Pêra melhor fe enten-
der o primeiro, importa dizer
como os três Metropolitanos
de Toledo ^ Seuilha, «Sd Braga
no meímo dia, ôc acção do
Concilio forão poll:os nas
íuas Cadeiras íem precedência
algúa de tempo , porque tu-
do foi hú vagar Toledo por
depoííçáo, &priuação deSi-
fiberto , que fcr logo prouí-
do em Fclix de Seu ilha , ôc Se-
uilha em Fauflino de Braga, vi-
timamente Braga em Felix do
Porto,o que tudo feito come-
çarão a entraras matérias pró-
prias doConciho,fendo preíi-
denteonouo eleito de Tole-
do> fem,nem o de Seuilha , ôc
muito menos o de Braga a iílo
refiílirem. Aquientraagorao
primeiro argumento dos de
Tolcdo.Náo íe pode crer, di-
zem ellcs,que efta prelídencia
naceíTe de antiguidade da pro
moçaõ,oufagraçáo àqucllas
Cadeiras , pois todas foraõ
no meímo dia , ôc hora j na-
ceo logo da mayor dignidade,
ôc autoridade do Arcebifpo
de Toledo : vioa o eleito de
Braga, ôc Seuilha, & naó ten-
do com que a contradizer, &
refutar fofreraõ fer precedi-
dos por não lerem auidos por
ambicioíos dodereito, ôc pre-
minencias alheas.
10 O legundo argumen-
to formão na maneira leguin-
te. Se o Arcebiípo de Braga
Faullino tiuera qualquer pre-
íunçaõjOu ambição à Prima-
zia dasHeípanhas, fundada no
dereito de lua Igreja , como le
auia de periuadir a deixar Bra-
ga por Seuilha, ou com q pre-
texto fe atreuerião os Padres
do Concilio ofFerecerlhe tal
mudança, fe na troca fe tor-
naua tanto a traz na dignida-
de ? elles com tudo que o ele-
gerão, & Fauflino q aceitou a
eleição , entenderão íem du-
uida fe melhoraua na dignida-
de,&: autoridade da Igreja,tan
to, quanto hiadeSeuilha, ci-
dade principal de Andaluzia
à Braga, hua das de menor im
portancia na Prouincia de Gal
liza . Não pretendão logo os
nouos Arcebiípos de Braga a
PrimazíajCm q os aniiguos ce
deraõ,naõ íò aos de Toledo,
mas
Fauíií
mo.
413
mas aiiuiaaos de Seuilha.
II Ccmeçancíoa repo-
rta por eftc feguiido argumé-
coj dizemos queas circunftan-
ciasdo tempo traziáo confi-
go ocafioêsj com que os mu-
dados líaõ podia5,nem dcuiaõ
rcfirtir às mudanças fem ref-
peitara mayor,ou menor dig-
nidade. O mayor bem deita,
oudaquella Igreja, o feruiço
doRey,o bem publico,& mui
tas vezes a faude,& quietação
do que aceita a mudança mo-
ucriáoao Síimo Pontífice, &
aos Concílios de fuaautorida-
de,a c5cedela,&aosReys a pro
cu rala. Quem daqui quer fazer
argumcto de mayor dignida-
de,nê fe lébrados fuceílbs paf-
fadoSjnem dos prefcntesquer
fazer juizo pêra elles. Quantas
mudanças deílas conta Eufc-
bio Ceíaricnfe,quantas CaíTio
doro na vida de S. Proclo. No
mefmotépo q deftcArcebifpa
do de Braga paílou pêra o de
Lifboa oíenhorDõ AíFonfo
Furtado deMedoça noíío ante
celíor,fcdo neceflaria fuaaílif-
tcncia naquella cidade pcra go
uernar oReino,antes de lhe vi-
re as letras entrou em Liíboa
côa cruz Primacial leuantada,
& a leuaua femprc diate de fy,
cto q mandou fazer papeis au-
tênticos; táo fora eftaua de na
mudança fcntir menos da dig-
nidade que deixara.
1 2. A prefidencia de Fclix
ncfte Concilio/m que foi to-
mado de Seuilha pêra Arcebif-
po de Toledo naceolhe da ma
yorantiguidadc na nomeação,
& por ventura na fagraçáo.
Da nomeação confl:a,porque
vaga a Cadeira de Toledo pel-
lapriuaçãode Sifibcrto pro-
ucraõna logo os Padres cm Fé-
lix de Seuilha : depois de pro-
uida , cftando ja fem Prelado
Seuilha, & vaga pella mu-
dança do feu Arccbifpo no-
mearão por fuceílbraFaurti-
no de Braga: vagou também
por efta nomeação, & pro-
moção Braga: nefta vacância
puzeraó por feu Arccbifpo a
Félix Bifpo do Porto. He ver-
dade que a antecedência não
foi de muitos dias , mas nc-
ceífariameHtc pedia tempo,
& auia de fer de algúas ho-
ras , & cif as balfauão pêra
entrar o Decreto do fegun-
do Concilio Bracharenfe, &
quarto Tolcdano ,que ^os
Metropolitanos prefidiffe fem
prc o mais antiguo.
13 Nem parece ha du-
uida que ate na fagração de
Bifpo era Félix de Toledo
Mm 3
mais
414
(Capitulo C.
mais antiguo que Fauftino de
Seuilha,ou Fclix deBraga,por-
qiic ainda que Félix emScui-
Iha era mais moderno que Fau
ftino em Braga^pois com Fau
ftinojàBracharenfcaííina no
decimoquinto Cõcilio deTo-
Icdo Floreíindo de Seuillia, a
quem parece fuccdeo Felix,
iílo náo tira vir clle de Bifpo
doutra Igreja pêra Arcebiípo
daquellajComo de ordinário fe
coílumaua, & fer primeiro na
fagraçáo j o que também mi-
lita em Felix o noílb do Por-
to , o qual afsy mefmo não
era ainda Bifpo no mefmo Có
cilio decimoquinto, pois affi-
nou nelle feu anteceílorFroa-
rico. Concluimos logo ^ que
por dous principies ficou Fé-
lix paílado a Toledo preíidin-
do no Concilio^primeiro pel-
la antecedência da promoção,
Ôc confirmação de Metrop.'
litano dcToledo- fegundo pel-
la antiguidade na fagraçãojco-
mo difpunhão os Decretos
dos Concilios qucallegamos.
Rezão de Primazia nem a ou-
ue âqui,nem a podia auer,por-
quc nunca imaginarão os Ar-
cebifposantiguos de Toledo
> pertencerlhcj eífes cuidados
começarão no Arcebifpo Do
Bcrnardo,como em feu lugar
diremos.
14 Tornando ao Arce.
bifpo FauftinOjdepois de tref-
ladado à Igreja dcòcuilha, não
temos dellc outra noticia mais
que aííiílir no dccimoíetimo
Concilio Toledano pcUos an-
nosde feifccntos & noucnta
& quatro, em o qual aílinou
em íegundo lugar depois de
Felix Arcebifpo de Toledo.
Padilha no Catalogo dos Ar-
cebifpos de Seuilha não diz
mais que o que temos relata-
do de fua translação: dcuiaa-
cabara vida por aquclle mef-
mo tempo. Gouernaua então
a Igreja de Deos Sérgio. Era
Rey dos Godos Egica.
CAPITVLO C.
S A M FELIX
TorcatoMartyrXXXXV
Arcebifpo de Braga.
O V C O
mais temos
que dizer ne-
lle capitulo
da vida de S.
TorcatoFclixgloriofo martyr
dcnoíla íanta Fè , do que jà
diT-
S. Félix Torcato
415
i./>,
c.ll
diílemos delle no Catalogo
Áos Bilpos do Porco j onde
por fcr Biípo daqlla cidade ef-
creuèmosíua vida por cxtcfo.
2, Naceo Saõ Torcato Fe
iix na cidade de Toledo de fa-
niilia nobre , & que trazia lua
deccndenciados Torcatos Ro
manos : crioufe de pequeno à
lombra da Virgem Senhora
No/ía na Sè da lua meíma pá-
tria, a cujo leruiço logo nos
primeiros annos íe dedicou.
Foi fobindo pcllos grãos de
Subdiacono, Diácono , & vi-
timamente Sacerdote^ masjà
de tão conhecida virtude , de
de letras táo perfeitas ^ que lo-
go o fizeraó Arciprcfte, dig-
nidade donde fe tomarão mui
tos pêra Arccbifpos da mefma
Igreja i & não duuidamos o
fora Saõ Torcato Fclix _, íe os
deIriaFlauia (agora o Padraõ)
íe naó anticiparaõ âo efcolher^
& eleger por feu Prelado; on-
de íucedcoà outro fanto Bif-
po , por nome Hildulfo Fé-
lix , que anda aíTinado no ter-
ceiro Concilio Bracharenfe
dos que andauão ímpreílbs.
Daqui, vagando â Cadeira áó
Porto por morte do Bifpo
Froarico , os daquella cidade,
pello que conheciaõ de fcus
grandes merecimentos, o ele-
gerão pêra ella, tirandoo do
Padraõ, onde deixaua todos
com grandes faudades de lua
ia n ta vida, òí conueríaçáo.
3 Ertando na Igreja do
Porco , foraó chamados a no-
uo Concilio os Bifpos deHcr-
panha por ElRey Égica , com
acauíadâ treiçáo de Siliber-
co Arcebiípo , de que no capi-
tulo paliado íe deu relação.
Aly auendo as mudanças refe-
ridas dos Arccbifpos Félix de
Seuilha pcra Toledo^ & Faufti
no de Braga pêra Seuilha elc-
geoaquelh grande ajuntamen
to de Prelados,^ pos a S. Tor-
cato Fehx na Primacial de to-
da Fieípanha , não lhe tirando
poriíToo gouerno da Igreja
do Porto, antes dcixandoo fi-
car com ambas ,como nioílra
a íua firma no mefmo Conci-
ho^ que diz. Ego Félix in Dei
nomine Brãcharenjis , l^ Por-
tucalenjis fedmm Epifcopus b^c
decreta Synodalia à nobis edita
fiibfcripji. Cclebtouíe eífeCo
ciliopellos annos deChriftò
693 . no 6. de ElRey Egica , Ôc
foi o decimoícxto naoídem
dos que andão em Garcia de
Loayfa . No decimo ferira o
eonuocado mais hum annoa-
diante node6í;4. não acha-
mos airiiliflc S. Torcato Félix:,
Mm 4
>or-
Fadil cet
416
porque não anda aííinado no
Concilio cjue traz Garcia de
Loayfa, Ic bem Padilha o co-
ta entre os Metropolitanos,
que aiUítiraõ , & dizforaõ Fé-
lix de Toledo j Fauftino de
Seuilha _, Máximo de Merida,
Vera de Tarragona , & Fclix
de Braga.
4 Eftaua gouernando a
Igreja de Braga cftc íanto Pre-
lado quando íucedeo pcUos
grandes peccados de Heípanha
a entrada dos Mouros de quê
foiconquiftada, começando a
conquiíla Vlic Monarcha de
Babylonia , & graó Califa dos
Árabes, fendo feus capitães
Muça , & Tarif no anno de
Chrifto7i3. Eftes foraõ en-
trando por Portugal, & Gal-
liza dellruindo, & íogcitan-
do tudo não perdoando àfa-
grado , nem profano .Chegou
Muça ao território de Brapa,
& faindo a lhe fazer rofto o
noílo fanto Prelado coma-
quellas armas , com qnc faõ
Paulo manda armar ao folda-
do Chriftao, rcprendendoo
primeiramente das cruelda-
des,que vfaua com os homês,
& dos facrilegios que cometia
contra Deos , o fez fair tanto
de fy com ira , que lançando
mão delle,& de outros zy.cõ-
Capitulo C.
panheiros íeus todos cidadãos
cie Brnga,à força de puros tor-
mentos lhe tirou a vida, náo
lhe podendo tirar nunca a fè
do coração , & menos da bo-
ca confelíandoa íemprccon-
fbntcs, & valer ofos,ate final-
métc feirem a gozar de Deos,
pella illuftre palma do marty-
rio cm 16. deFeucreirodo an-
no 71 p.doNacimcnto deChri-
fto, como afíirma luliano.
j O lugar de fua morte
cremos foi naó muito longe
donde agora íe venera o cor-
po de Saó To reato , húa Icgoa
das ruinas da antigua cidade de
Citania , & mea da villa de
Guimarães j & por ventura
feria o mcfmo cm que os en-
terrarão os Chrifl:aõs,& fe edi
ficou hija pequena erraida,que
ainda hoje dura, Sc fe chama
Saó Torcade o velho. Aly por
meodc húa luzdoCeofoi a-
chado o preciofo thezouro,&
trazido com grande folcmni-
dade pêra o mofteiro dcfeu
nome, obra antiquiirmia,&
de cuja primeira fundação ne-
nhua noticia íc tem. lazem as
fagradas rcliquias em capella
particular, metidas emhufe-
pulchro de pedra tofca, a quê
lullentaõ quatro columnas
com grades de ferro ao redor
onde
ím adhct»
S. Félix Torcdto
417
ondelaó veneradas de todos
os moradores daquclla terra,
acrcditandoDeos a intcrcelíaó
de íeu ícruo com muitos mi-
lagres, que com a terra de fua
ícpultura,(Sj azeite de fua ala-
pada cada dia heíeruido obrar.
6 Ha ncrta Capella hum
thezouro grande de relíquias,
Guc Jeícobre hum letreiro q
cllà na parede junto ao altar
eícnto de letra gothica qdiz
aísv. Nomina iitjiorum quorum
hic requiejctint mcbra fanãoru
Vlncltíj^Martini^Romani^Fe-
licis^Stephani , Leucadice , Cí?-
lumb^,Sabin^^Chrisiet<£^Í!f lu
finu , Quer dizer os nomes
dosjuílos, 6c Tantos cujos
corpos aquideícáção laõ Vice
te,Martinho^Romano , Fclix-^
EíUuaó , Leocadia,Columba,
Sabina, Chrifl;eta,& Iiiftina.
Saõ fem duuida os nomes de
parte dos 2,7. cidadãos de Bra-
ga caualeiros de Chrifto, que
juntamente com S Torcato
padecerão martyrio pella con-
íiííaõ di Fè , Sc honrarão com
elle a cidade de Braga onde na-
ceraõ. Vefe outro letreiro na
mefru a capella onde fe vene-
raõ rs íantas relíquias , pcllo
qualconfta o anno em que pa
dcccD martyrio eftc íanto Pre
lado,dizaísy Foi martyrizado
ogloriofoS. Torcato no an-
no de íetecentos Sc dez. Ju-
liano leua outra conta dos an-
nosj como acima aponta-
mos, «S>:heamais verdadeira.
7 DeíejouElReyDõ Manoel,
como íe vede húa carta , que
íobre illb eícreueo ao Cabido
de Guimarães, q o íanto cor-
po lepaílaflè dódeeílà àquel-
la infigne Collegiada Igreja,
pêra eltar com mayor dccécia,
& veneração^ mas ao gloriofo
martyr parece lhe contentou
mais o lugar em que derra-
mou fcu langue, por dcfenlaõ
de íuaíè^& por animar na per-
íeuerança delia a Tuas ouclhas-,
ôíafsy nunca atègoratiueraó
eíleito osbonsdeícjos daquel-
le piadoío Rey.
8 Fez doação defte mo-
rteiro ElRey Dom Aííonfo
Henriquez aos Conigos Re-
granres de Santo Agoítinho;
&: ordenou aos mcímos fra-
des por hua carta íua que fe
guarda no cartório da Igre-
ja de íánta Maria de Oliuci-
ra, fe chamaíle o morteiro
primeiro de fanta Maria, &
depois de Saõ Torcado, mas
nem com iílb perdeo o titulo,
& fobrenome antiguo de Saõ
Torcado , que hoje conícr-»
ua,
9 Ellan
418
Capitulo C.
9 Eílanck» cm poder de
Conexos Regrantes pclla doa-
ção dclRcy Dom Affonío
Hcnriíjuczefte moílciro, ôc
juntamenceodaCoftada vil-
la de Guimarães , que hoje hc
<ie Rcligioíos de São lerony-
mo _, recufaraó feus Priores o-
bcdecerao Arccbilpo de Bra-
ga , allegando prefcripçao cò-
tra cile , mas o Summo Pon-
tífice Innoccncio III. lhes or-
<}enou o rcconheceílcm cm
tudo por feu íuperior ^ ôc lhe
dcíTem 3 deuida obedicncia,co
mo os mais fubditos dadio-
cefc , ôc defte Decreto fe fez o
capitulo. Cim non liceat de
prccfcriptiontbtis j onde fe deuc
emendar o titulo do texto,
que diz. Idem da Cosia , ^ de
fanão Donato Prioribus ^ por-
que (c ha de ler. Idem de Coíta^
íy difanãoTorcatoPrioribiis .
como conlla da integrado
mefmo texto, que anda lan-
çada no liuro quechamãoi^/-
dei do Cabido dcfl: a Igreja.
10 Veopor diícurfo de
annos a ferprouído eílemo-
iteiro cm Priores fccularcsi&r
neftc cflado cfiaua , quando
o vitimo poíluidor dellc loaó
dcBarrosConego deita Sè,por
Breuc Apoílolicodo Papa Six
to ÍIIÍ. o annexou à Igreja
Collegiada de Guimarães jun-
tamente com os de Saõ Gens
deMonteIongo,& Tolloés,
os quaes logo largou em íua
vidaj reíeruando pcra íy íò-
mente quaréta mil reis de pen
laõcada anno.
Tudo o que temos c5-
II
tado de SaõTorcato deuemos
à boa diligencia do Arcipretle
de Toledo íuiiano , comofe
vera de fuás próprias pala uras,
que quizemos repetir aqui .
Nonprocid Vimaro intraãii
Bracharenji 'vidi fepulchriim
Jariãifsimi Torcati, cognomen-
toFdicis^ Epifcopi Bracharen-
fs 5 íít' martyns , qui interfuit
de-cimofextõ Concilio Toletano-,
fuit pátria Toletamis^ljftius
<urbis Archipresbyter •, inde
Epifcopus Irienfis^ inde Por-
tuenjis , ^ Bracharenjis j oc~-
Cifiis tíi fidei caufa à perfi-
dis Sarracenis fub Alu^a anno
D.CCIXX. VI. KalendMar-
tiãSy ijt legi in Martyrologijs:
occifus eji ciim alijs njicintifep-
tem ciuibus Brachannfibus ;
Eius gratia 'vocatum ifi oppi-
dumprope Cóplutú, ideU Giia-
dalajaram, njicus Janãl Tor-
carifisf injine Toletani Epifco-
patíisfanãiFelicis, tf nunc Sa-
hélices , Isf prcpe-... coUniam
S. Félix Gallecorum , cdebrus
lHlUnÀ\
S.Felix Tcrcato
41V
est tanti "viri memoria. Vem a
dizer: que acompanhando el-
leàDcm Bernardo Arcebií-
do de Toledo, viíítou junco
a Guimarães o lepulchro de
Saõ Torcato Fclix Bifpo de
Braga , & marryr , o cjue fe a-
chou no dccimoíexto Conci-
lio Toledano, & que cíle ían-
tofora natural de Toledo Ar-
ciprcrte na mcíma Sè, depois
Bilpo do Padraõjdo Porco, &
vlcimamcnce de Braga^que fo-
ra morco p or cauía da Fe, pel-
los Sarracenos, fendo íeu ca-
picaõMuçano anno de 719.
cm i9. dePeuereiro como ti-
nha lido nos Marcyrologios
comvinte& fete outros léus
cópanheiros cidadãos de Bra-
ga: que por íeu refpeico junco
de Compludo, hií lugar que
de outros fe chamauaGuadala
jara, fe chamaua agora a aldeã
deSaó Torcato, & nas arrayas
do Arcebifpado de Toledo S.
Felizes ,agoraSahelices: & que
junto da Colonia(outros exê-
plares fuprem afalta defte nof-
ío comporem Ciuitatenfem)
de ciudad Rodrigo cm S. Feli-
zes dos Gallegos era celebre
fua memoria.
I i Pella relação taõ raeuda
de luliano fica o noíTo fan-
to Torcato Félix conhecido
D.Man.
Ferr.lib.
Z.C.llt
por outro muy diference de
aous íanuos do mcírno no-
me celebres nas Igrejas de
Hefpanha , cem quemmui-
cos autores o quizeraõ con-
fundir, He o primeiro S.Tor-
cato dicipulo de Santiago, &
hú dos que cllcconligo trou-
xe de ludea a Hcípanhaj"ou
nclla conuerteo, Bilpo que foi
de Guadixno Reino de Gra-
nada, & raartyr gloriofo de
noflafantaFè. Elte heaqucl-
le famolillimo Torcato, no
dia de cujo martyrio húaoli-
ueira , que nas còftas da fua
Igreja emGuadix eífaua/e co-
bria toda de flor, & outra
de azeitonas fermoííílimas, &
fazoadas pêra logo delias fe fa-
zer azeite, com que íè alumia-
uáoas alampadas, que diante
de fcu fepulchro ardiaõ . Du-
rou efte milagre ate os annos
de 714. em que já os Mouros
crão entrados em Heípanha,
& o corpo do fanto íe trcsla-
dou de Guadix ao morteiro de
fantaCorrrba de Rande Prio-
rado do morteiro de Cellano-
ua da ordem de Saõ Bento, fú-
dação deSaóP.ozendo^como \^g'rjfjl
em fua vida diílemos.Aly per Pm<? r.
feuerouatè o anno de 1196. ?•*■• '^
em que certos Portuguczes o
quiferaó furtar; mas andando
[^
toda
420
(Capítulo C.
I toda a noite , pclla manha íe
acharão cora o fagrado furto
às portas do mollciro de Cel-
lanoua ,repicandoíe por íy os
íinoSj&: fazendo acodir os re-
hgioíosà marauiiha,quecon-
feílàda pcUos PortuguezeSjCn
tregaráo o lagrado corpo ^ Sc
ellc foi tornado a leu lugarjatè
pouco depois ícr tresiadado
pcUo Cardeal íacintho(aqucl-
le que depois , íendo Papa , le
chamou Cclellmo III.) Lega-
do neftcs Reinos do Summo
Pontifice Alexandre III. com
a mayor folénidade que íoi
polliuei ao molleiro deCel-
lanoua.
13 Outra tresladaçâo fe
fez do mefmo fanto pêra o al-
tar mor, em que ocoilocarao,
ôc meterão cm húa arca de pra
ta de grande obra , onde fe vé
de figuras riquilíimas todos
ospaílosmais notaueisdeícu
martyrio . Foiiftopellos an-
nos de 1601 .achandoíe na ío-
lénidade o Bifpo de Oreníè
Dom Miguel, & grande mul-
tidão de pouo de toda a Co-
marca.Achoufe o coração do
gloriofo raartyr faõ,& inteiro
íem .corrupção algúa, como
também fe ve hú de feus bra-
ços _, cubcrto Je carne frefca,
no morteiro de íanta Maria de
ia Vega da Ordé de Ciífer no
Bilpado de Palécia. Afeita de-
lie iantoíe celebra em Cclla-
noua no primeiro de Mayo,
cm que o pocm o Martyrolo-
giodelànto Ihdoro:fazmcn-
ç:ãodelle oRomano aos 15. do
meímo mes , outros o põem
aos fmco. Padeceo no Icgun-
do, ou terceiro do Império de
Nero. Eícreuem lua vida Mo-
raleSjPadilhaj Brito, DÕMau-
roFcrrer,fr. António de lepes,
fr. Franciíco dcBiuar, Si ou-
tros .Nenhúa das coufas refe-
ridas deSaó Tcrcato Biípo de
Guadix percéceao noíloTor-
caco Fclix,nem leu corpo cif à
em S.Torcade de Guimarães,
pois o goza , & pollue o mo-
íleiro dcCelIanoua com argu-
mentos tão cuidentes. Muito
menos Ic pode dizer heacida-
de de Acci(onde foi Bifpo , Ôc
acontecia o milagre da oliuei-
ra ) a de Citania , que efteue
perto de Guimarães •, porque
Acci como jà diííemos ,hea
de Guadix taõ diftante, ík di-
ferente de Citania.
14 O outro S. Torcato foi
natural de Braga , &c com Saó
Cucufate, Sc ianta Suzana pa-
deceo martyrio na mefma oca
líão,& perfeguição,em que o
padecerão SaÕ Vi6lor, vulgar-
mente
Moral li
9-c.ii. I
\Padil.cêt
i.c.iy.
\Jr'crr'lib.
Z.C.lí.
Icp.c êí, J
l}r/t.2.p.\
ji-^í- i
\úiuar. in
[Dext.an}
66,cÕ.i,\
»>4.
S. Félix l^orcato.
421
mente S. VicouroCacechume-
meno,«5v: S, Silucftre_, de cujas
Ilidas demos ja relação em íeu
'fup.c,^2' próprio liigat Erraria quê qui-
zelle confundir elle Saõ Tor-
cato com o dcGuimaraésipor-
que íeu corpo clH na Igreja de
Santiago deGalIiza,leuado aly
dadeS.Vitouro deita cidade,
pello Arcebiípo Dom Diogo
Gelmircs jComoja diflcmos,
de heconílante tradição^ & o
teftificão hillorias de fè incor-
rupta, ôc que não padece con-
tradição.
15 Sò reíla agora exami-
narduas couías nas palauras,
que de luliano referimos, por-
que íe embaraçarão com ellas
algús cfcritores , Sc por lhe
não atinarem com a íaida,não
duuidaraõ arguillas de falias.
Hea primeira: como chamá-
doíeo noflofanto martyrdo
nome da pia Torcato, ôc de
fobrenome Félix, no decimo
fexco Concilio Toledano fc
firmou Felix,fé fe nomearTor
cato, pondo o fobre nome,c5-
tra o vzo daquelles téposjon-
de íempre os Bifpos firmauao
o nome proprio,núca o patro
nimico,& da farailia . He a fe-
gunda, cm que Martyroiogio
achou luliano o que nos con-
ta defte fantOi porque nos de
que vlàa Igreja Romana por
nenhúa via íe le o q cUe refere
16 Reípondcndo logo a
eíl:a fegunda duuida, certo he
que em diíFerentes Igrejas ou-
ue antiguamentc(& ainda ho-
je em algúgs ) diíFerentes Mar-
tyrologiosj de que fe foi per-
dendo o vzo depois q fe intro
duzio oRomano, ode Vfuar-
do,Â: outrosi&era coufa muy
ordinária terçada Cathedral
íeu MariyrologiOjCm q hia põ
do os varões mais illuftresq
nella florcceraõ,&: por ventu-
ra erão parte dertes as taboas q
chamauáo Diptycas j onde íe
clcreuiaõ os nomes dos Prela-
dos , ôc outros íàntos nota-
ueis , paraq dclles ouucííe me-
moria; as quacs afsy como fe
chamauão Jgiographos , il\o
he efcritura de íantos , afsy as
podia também chamar Iulia>
no Marf^rohgios^ irto he me-
moria dos m.artyres. Pergutar
agora a luliano em q Martyro
logio leo o q nos diílc de Saõ
Torcato , he querer pergutar
pellos Martyrologios , pellas
Diptycas antiquiíTmias das
Igrejas do Padra5,doPcrto,de
Braga, onde S. Torcato foiBif-
po,e pellas dcToledo onde foi
Arcipreftejq deforça cada hua
deftas cidades o auiaõ de ter
Nn
entre
422
(Capitulo CL
entre os feiís mais ill nitres va-
rões , como gloriofo mar-
tyrck nofia Fè. Todos elles
veria, & leria luliano, por^ pe
ra os defcobrir^iSj ler, teue cu-
rioridaciej& ocaíloés.
17 Indícios ha ferem aquel-
las palauras do Martyrologio
Romano em i6.dc Feuereiro
quãdo íe celebra a fefta do noí
lo íanco Bilpo , & feus vinte
& fere companheiros. Item
Sanãortím mar ty rum For tu-
nati , l:f Fdícís , If aliorum
ij. Isfc. em íeus verdadeiros
originaes , & primeira fonte.
Itt Sanãoriim TorcafiFelicis,
tf ãliorú, z-j. & q o defcuido
dos que os copiarão daquelles
manuícriptoSjdondediz Baro
nioforaõ tomados _, mudarão
Torcati em Forttinath &í por
lhes parecerê dous , meterão
entre Forttmati^di Fdicis a cõ
junção_,{7', não auendo de fer
afsy,pois todo o nome perté-
cia a hú fò fogeito.Em hú Mar
•tyroiogio antiquiflimo de
mão q foi dos conigos Regra-
tes do mofteiro de Roriz de-
fte Arccbifpado, que eftà no
Collegio da Companhia de
lESVSdefta cidade falta a cõ-
junçaõ^. Afsyqbé poderia
acontecer, q ate no Martyro-
logio Romano leria luliano j
parte do q nos deixou efcrito
deS.Torcato,& nãohaperaq
duuidar de fua verdade.
18 No q toca à primeira du
uida das palauras de lulianOjhe
coufa certa q osBifpos q aíli-
íHaõ nos Concílios íirmauaõ
cò o nome próprio, ou cõ o
íobrenome, ficando iílo em
feu arbítrio : & cada hú guar-
daua a form^a que melhor lhe
parecia. O Arcebifpo de Bra-
ga & Toledo Leodeciíío lu-
liano,no 13, 14, òc 1$. Conci-
lios Toledanos fempre aíll-
nou com o fobre nome de lu-
liano. Nos Cardeaes da Igreja
Romana fe vc efte coftume
mais frequente, ainda que ta-
bem muitas vezes deixáo o no
m.e da familia, & fe firmãocõ
o nome da peílba. Náo ouue
nefte particular regra táo cer-
ta^que pofla fazer argumen-
to prouauel por hu^^ ou ou-
tra parte. Em Saõ Torcato
parece corria mais aigúa re-
zaõ de fantidade pêra deixar
o Torcato , òí tomar o nome
de Félix : por que como aquel-
le era argumento de familia il-
luftrede que procedia , fazia
merecimento em o deixar,
pois lhe nacía a omiííàõ de
animo humilde, di defejofo
de encobrir fua nobreza .
Com
S. Viãor.
423
traH, de
Prim, c.
Cem tudo Deos ordenou q |
pcllode Torcaro.q efcondia, !
irais cj pcllo deFelix có que íir
maiia/oíle conhecido cm Por
tugal ; aindac}ne tambc pcllo
deFelix^ teueaílazdc felicida-
de lua memoria em Caftella:
comolcvè dos dous lugares
deS.Felices noArcebifpadode
Toledo, (Sc S.Felices dosGalle-
í^os nodcCidadRodrigo.Qnã
do padeceo martyrio o glorio
íoíáco^ depois de Sérgio loaõ
VI. loaÕ VIÍ. Sifinnio , &
Cóílantino tinha a Cadeira de
S.Pedro o Papa GrcgorioII. &
auia perdido a Monarchia de
Heípanha ElRey D. Rodrigo.
19 Foiogloriofo S.Torcato
Félix o vitimo Prelado, q teuc
eflalgreja em quanto durou o
Reino dos Godos. Ia diíTemos
como em íeu tempo entrarão
os Mouros em Heípanha,on-
de fizeraõ cruel eflraeo. Che-
garãoaBraga, &: executarão
nella o furor bárbaro , derru-
bando edificios,aílolando , òi
podo tudo por terra. Em quã-
to durou eíla calamidade ha
pouca memoria dos Prelados
defta Igreja^ porem confta que
confcruaraó fempre o titulo,
& honra de Primazes de Heí-
panha , como ja em outro lu-
^ar moftramos.
CAPITVLO Cl.
S A M VICTOR
martyr XXXXVI. Ârce-
bifpo de Braga,
Oraõ os tem-
posdequeeí-
creucmosjfe
bem calami-
tofos pêra o
cftado temporal de Hefpanha,
felicillimos c5 tudo pêra aRe-
ligiaõ,& Fè Catholica,porquc
quafi por todas fuás pouoa-
çoés,íe virão pelejar valerofa-
mente , não íó os Prelados de
mayor calidade,&:cõfideração,
mas toda a forte de fieis , cuja
cóftanciatraziaeípantados os
Mouros,abominando entretã
to muitos delles fua maldita
feita , & paflandofc a militar de
baixo das bandeiras deChrilio
verdadeiro capitão.
2, Tiueraõíemduuida gran-
de lugar entre os mais os Ar-
cebifpos de Braga como pri-
meiros na dignidade ; fcauiaõ-
nos fuás ouelhas alentadas , &
como forçadas de feu exêplo.
Tal fe moftrou no capitulo
paílàdo SaÕ Torcato Fclix ,
Nni
òí
424
'Capitulo CL
. Si ícjs 2.7. companheiros : tal
veremos noprelente aS. Vi-
dtor com outros dous , Ale-
xandre, 5: MucianOjOLi Maria-
no, íeizundo a variedade com
...
que (c ierão as primeiras letras
deíciínome quando foraõa-
chadns parte de íuas relíquias
noalrar mor deftaSè, como
I020 contaremos.
3 He pois o calo , que va-
gado a Primacial de Braga pel-
lo slorioío triunfo deS. Torça
to Fciixjà depois de deílrnidaa
cidade por MuçacapicáoMou
ro, o Clero delia tomou por
feu Prelado a S. Viólor, cujas
letras , ôí virtude entre todos
fe auétajaua.Era jà entaõaPre
lazía de Braga náo fò cargo de
honra, mas carga peíadiísima
de trabalhos pellarezáo dostê
pos,& eftado em qfe via a ci-
dadc,& mais terras de Heípa-
nha:porem afsy mais acomo-
dada pêra híi tal efpirito^ôí: ge-
ncroiídade como adeS. Vi-
élor. Aceitou a eieição.-não ía-
beremos dizer quantosannos
depois de morto S. Torcato:
poucos dcuiáo íer , pois entre
os sloriofos martvres nenhú
outro Arcebilpo achamos. Ar
dia entre tanto aperíeguiçáo
dos Mouros, & naquelles cõ
mayor fúria que mais encon-
trauão íuas abominações. Vi-
uiãoeícondidos, <k retirados
de íuas Igrejas íeus Paílores,
huns por couas, outros por
deíertos. Al^l!i^s porem , cm
que o zelo da Fè era mais fer-
uentc^acodiaõ aos lugares de
maycr perigo pêra darem ani-
mo aos cjue ja ellauão Prcla-
dos,& comcçauáo a entrar na
batalha da reliizião,
4 Baeçacidade do Reyno
dcCartclla era naquella cca-
ííaõ o amphiteatrOjCm que os
bárbaros exercitauáo mayores
crueldades nos íieis . Pêra aly
com todo o Ímpeto do eípiri-
to foi leuado o Arcebii po Vi-
d;or cõos dous cõpanheiros,
que ja acima nomeamos,& co
mo ate no nome leuauaale-
gurançada vitoria, por fuás
exhortaçoês a alcançarão pri-
meiro muitos martyrcs glorio
los ,a quem elle dentro de
poucos meies feguío, íendo
prelo com os íeus dous com-
panheiros,& mar ty rizados to
dos com exquiíiios géneros
detormentos/ofrendoos tao
alegres como quem nellcs ti-
nha a fegnrança da gloria , q
os efperaua. Sucedeo íeu mar-
tyrio j conforme a luliano,
em 16. de Setembro do an-
no de noílà redenção 734.
ou
S. Víãcn
425
ou em 17. de Outubro^lcnão
íaò outros os Santos Vicftor
Biípo , Alex-ancire , & Maria-
no^que neííc dia poeni niarty-
rizados cm Hcípanha o Mar-
cyroiogio Promano. As pa-
lauras deluliano dizem. Ali-
quanto prius , Jcilicet iC. Ka-
lendasOãob. Baecia.qu^ Bacia
dícitur, niinc Daeca S. Viãor
Epijcopus Bracharenfis^Alexa-
der ^hf Mucianusmartyres ^i^
concilies.
j Algíías relíquias deíles três
marcyres foraõ trazidas a eíla
cidade^ & collocadas no altar
mor da Sè quando reformou
feu edifício o Cõde DõHenri-
quc ha mais de quinhécos an-
nos.Alyforaõ achadas no té-
po do Arccbifpo DóDiogo de
Soufa , q faleceo em 1 9. de lu-
nho de ij'3z.quandore desfez
a capella velha,pera íe fazer a q
hojedura^ertando metidas em
húa boceta de chúboj& enucl
rasem pano delenço^cõ feu ro
culo dentro, cujas letras ,erão
asfcguintcs. OSSA.BB.MM.
VICTOR. EPISCOP. BRA-
CHAR.ETSOCIOR ALEX.
i!f MVXaáoÇc facilmente, 6c
fó na vitima do nome do fegi^-
do c(5panhciro deS. Vidor ou
ue algúa variedade^ porq híís a
tiL'craõ por V outros porA,&:
na verdade híía, & outra letra .
repreíenraua: o q deu occaíia j
a julgareao iamo^ ja por Mu-
cio^Muciano, Munio , Muni-
íio, jà por Martinho^ Marco^
Mário, ívdaíin.o, em í;m de ta-
ras outras maneirasquãcas ad-
mitia a Icrra mal coiihecida_,&
pcor formada.
6 De todo eíle fucc/lo deu re
laçáo cm hú papel de fua letra,
q eltá em noílb poder, ao fe-
nhor Arcebifpo Dõ fr. AgoíH
nhodeCaílrojO padre fr. Ber-
nardo de Bmga rcligiofo de S.
Bento muy veríado em to-
do o género de antiguidade de
cujos eícricos faz tanto caio o
hiftoriadcr da inefma religião
fr. A ntonio deíepes , como ncl
le encõtrarão os curiofos a ca-
da paíTo.Diz pois,q ellç achou
ella memoria no feu cartório
de Tibacs, efcrita por hum
Religioío, que cntaÕ aly vi^
uia chamado fr.Thecdoro: &:
acrecenta que lhe parece cflc
Saó Victor hum PvclÍ2Íoío feu
celebre então na fua Ordem,
& Abbade dos Moíleircs de
Tibacs , &í Miranda , & q del-
ia foi tirado pcra Arccbifpo
de Bra^a , & leuou conlmo
aos outros dous ( também
monges) Alexandre, &c Mu-
ciano^quãdo fe partío aBacça.
Nn3
"7 Con-
420
Capitulo CL
7 Coníultou íobre os nieí- f
mos três íantos martvrcs ao
Padre Icronymo Rúmaii dela
Higucra da Companhia de le-
í us o padre Pedro FranciícOj
dameíma Companhia , cuja
diligenciacmdeícobriros ían-
tos de Porcuíralfoi be conhe-
cida entre os íeusReligiolos:
mandoLilhe o Padre Higuera
por repoíla as palauras de lu-
liano na forma que aciraaas
relatamos. A carta origmaí deu
o padre ao íenhor Arcebiípo
Dom fr. Aízoílinho de Ca-
íbo3 porem cila não anda en-
tre as <jue o mefmo íenhor
mandou lançar em liuro,& íc
guardaõ neí1:e cartório: a co-
pia que o padre Pedro Fran-
ciíco guardou pêra fy nos fci
dada entre outros papeis ícus
onde achamos o que imos ú-
creuendo.
8 O Padre Cofme de Ma-
galhães o poé entre os Prela-
dos deita Igreja, o meímo faz
Gaípar Aluarez Loufada. Mas
nem iílb , nem o mais^ que
temos rcíerido foi baftante pe
ra o contarem por tal os que
ordenaraõo Catalogo da Sa-
criftia.Tão defcuidados íomos
cm couías próprias. Igual def-
cuido foi o do padre freiTheo
doro/cas precioíàs relíquias
achadas no altar velho lecol-
locarão outra V€z no nouo: .
de crer he que fy j & pois em
Heípanha náo achamos leuã-
tada outra íepultura ao reíHce
das relíquias deíles íantos mnr-
tyres/irualhe por taleíte noí-
fo altar, & íique lendo aos
moradores delta cidade hum
nouo, ôcfortiilmio aimazem,
como de ordinário chama às
íepulturas dos maryrcs Saò
Chryíoílomo. Era no tempo
que padecerão martyrío Saó
Vid:or, & feus companheiros
Somo Pontífice Zacharias,
Rey dasArturias^óc Galiza Dó
Aííonlo o Catholico,
9 Atèqui tinha chegado a
vida deile íanto quando por
carta f\ia dez;, de Abril dcfte
anno de 1634. o Choro niíta
mor de fua Mageikdc Dom
Thomas Tamayo de Vargas,
(varão de fnigular prudécía,&
incrediuel erudição em todo
o género de boas letras, como
íem cila noíla recomendação,
o telliíicaõ as obras com que
atègora enriqueceo Heípa-
nha) nos aduirtio dapreten-
ção que no gloriofo S. Vidlor
como Biípo íeu, & em feus
dous companheiros como na
eidos dentro de ícus muros,
tinha a cidade de Baeça,íem ad
mitir
«íw
S.Viãor.
4V
micir entralk Braga, nem ain-
da em requirimenco de os ancr
como proprioij.H porque lhe
pareceo fiindana coda noílà
julliça nas palauras que aci-
ma referimos de luliano da
maneira que na imprefiaò íai-
raóa luz ^ afiirma auer nellas
tantos erros comoíylÍabas,&
que pcUos manulcriptos le
deuem emendar na forma fe-
f^uinte Ali<iuanto prius ^fcili-
cet iG.KúkndM Oãobris Bae-
ti^^qu^ Biatianúc Baeca S.Fi
ãor Epifcopus Biattenjis AU-
xander^ ly Marianus martyres^
iff cor^c/iieí . Ficando por for-
ça deíla mudança de Bra-
charenfis , em Biatienfi:;^^ng3.
íemSaó Viâ:or,<S(: Baeça le-
nhora dacaufa, em que nunca
teue melhor fundada auçáo da
qihequifcraõdareítesmanuf-
criptos, & ella podia tomar
por auer íído o lugar em que
os noííos fantos valeroíamcn-
tc padecerão, & glorioíbs triú
p liara 6.
IO Acodindo pois pello
que nos toca agradecemos em
primeiro lugar, & eítimamos
aaduerrencia que íe nos da,
porque conhecemos o animo
de íeu autor , &í veneramos a
erudição de íeus efcritosrporé
feriamos notados de muito li-
bcraes , íe por tão leues fun-
damentos largaílcmos caõef-
clarecidos martyres. Sabemos
muito bem , que a Bacça cha-
mou Pcolemeu Bi^cia^ os La
unos Biatia ^ os Godos Bea-
tia, os Mouros,como hoje os
Heípanhoes,-ôí5;^p: ôí que em
tempos anciguos foi cidade
Epilcopal como fe ve, pellos
Concilios de Toledo n, 13.
14. ij. doutros. Não nega-
mos que poderá andar conta-
do por BiCpo fea Saõ Vidor,
foi porem fácil fer auido por
tal por auer aly padccido.Não
he iò a cidade dcBaeça a que fe
enriquece com íemelhanccs
furtos. Que não íeja íèu S.Vi-
ctor, nem léus dous compa-
nheiros,aquellas rehquias íuas
que ha mais de quinhentos an
nosforao collocadas no altar
mor da Sè de Braga,^ achadas
ha mais de cera annos nelle o
prouão fem fallencia, faluo fe
também aqui nos quiíl-rem
mudar o BracharenJIi\cm Bia
tienfs , como agora o fazem
em luliano. Os que naquelle
altar collocaraõ as íantas reli-
quias viueraõ mais vizinhos
ao tempo que o fánto Arce-
bifpo padeceo , & puderaó fa-
ber com certeza a que cidade
pertencia,&em qual padecera.
Nn4
Eiles
42 8
(^apiHtlõ Cl.
EUcs que lhe chamarão. Bra-
charífis por deBraga o tiueraõ,
&c não por de Baeça.
1 1 Qiianto mais que faz
entrarem duuidaanouahçao
de í uhano, que ou poderia na-
cerda períuafáo de algum a-
feiçoado a Bacça , ou da pou-
ca noticia do que fc rinha por
taoaueriguado cm Braga. Mui
ro he ( copiandofe todos cíles
nianuícriptos deíuhano , co-
mo tábem nos auiza o qo pu-
bhcou imprcíToDó Lourenço
Ramircz dei Prado do oriai-
, . . . ^
nalj queprnneiro veo a mao
do padre leronymo Roman
delaHiguera)Icr elle Bracha-
renfis^&í não Biatienjis^ como
achamos na fua carta^ cuja co-
pia guardou o padre Pedro
Frãcií'co;c agora apparecer de-
pois de íua morte como lição
legitima a Biatienjis, & riíca-
ca por baftarda , & fuppoííti-
cia, a Bracharenfs ? Naô te-
mos a Braga por tão pobre de
íantos Prelados quenecefsire
pêra os auer , de erros de húa
impreflaõ. Iflb he pêra outras
Igrejas, onde pêra auer íâncida
de hc neccílario andala mendi-
gando p-.liuros,qucdenouo
Te publicão. Mas rambem não
fotremoSjque nos autores, cu-
jas obra> apparccem de nouo,
quando lua narração diz com
os tempos, ík outras memo-
rias de particulares Igrejas íe
ponha vicio , pclío perigo
que dahi reíulta de nada íe
dar por certo. Temos por tão
juftihcado^ & amigo da ver-
dade ao Chronifta mor Dom
Thomas Tamavo autor de-
fta aduerrencia ^ que nem por
lha não recebermos deixara de
nos dar outras, nem terá por
ra5 mal fundada nofla juftiça
fobreSaó Vicftcr, que a não
anteponha ã da cidade de Bae-
ça. A lua carta, & rezoés íatis-
fizcmos com o que antes delia
tínhamos cfcrito de Saõ Vi-
ítor.
CAPITVLO Cl.
HERON IO XXXXFIL
Hermini^ildo XXXXP'III
Jacobo IL. Arcebijpos de
Braga,
CHAMOS
em Juliano q
cíles rres Pre-
lados de Bif-
pcs de C,ara-
goça foraó tresladados pêra a
òè
Ferdjfch
'de
/:^
lí'
\ iédeBropa. Porem não apó-
aJne.paA ^'-^ ^^'^^ ^^^ ^^^'^ ^^^"^ ^^^^ ^^^^^
lãdaçãOy nem íe acháo no Ca-
talogo dos Eiípos daquella
Igreja, que tez Padilha, & alsy
difi^.CLikcíanicnte Ic lhe pode
oliinar lugar certo O que nos
parece he, queforaõ não mais
que ticLf lares no tempo, que
cíleue encomendada ella Igre-
ja à de LugOjComo adiante ve
remos. E quando aísy não íe-
ja, lhe damos efte lugar cm
quanto íe lhe não pode aílinar
outro mais próprio.
c APiTVLo cm.
F E R D I S E N DO
L. Arcebifpo de Braga,
E os bons àt-
ípfe^^ íejos dográ-
f;Ê^!^^S) ^^ í^ey Dom
n\(^j^J^W AH-oío o Ca-
iÉf>^^^'fwiM^MCT) tholico che-
carão a crteito , mais de preíTa
onueramosde ver e(la cidade
de Braga , & íua Igreja tirada
das miíeraueis ruinas,em que
a deixarão a fúria mdlitar,*ík: cn-
cranhauel odio às coufas de
noíla fanra FédosMourosAra
bcs, queporeilaeiurarâo. Vi^
o pijísuiio lley quanta dor^^^,'
íencimento cauíaua nos cora-
ções de todos os fieis verem a
Igreja Primacial de toda Heí-
pauha^a cidade antiguamente
Chanccilaria do império, ôè
Corte dos Reys Sueuos polia
por terra ^ fem apparecer de
lua antigua mageltade mais
que os campos ondecítiuera.
Não podia coníidcrar íem
grande ientimento que húa
Sè fundada pcllas maõs do
Apoftolo Santiago, a íegunda
Igreja de toda a Chriítanda-
dc,em quea may de Deos fen-
do ainda viuajaera venerada;
a íepultura, & lacrario de tan-
tos , ôc taõ fantos Prelados
eftiueíícm por terra ícm elle
procurar leuantalla,pera qual
outra Phenix generoia de íuas
próprias cinzas renacer mais
fcrnnofa.
t Pêra fair com eftes in-
tentos, & obra verdadeiramé-
te de Rey Catholico , qual elle
era no nome, & nas acções,
praticou primeiro o negocio
com os de fuaCorte^-Sj depois
por confelho de todos, entre-
gou a empreza a Ferdi fendo
Arcebifpo titular da mefma
Igreja ( cík he a primeira me-
moria,qdefte Prelado temos)
pe
ra-
430
Capitulo CJII.
perac|ue elle, como mais intc-
rcçadojlhe delíe todo o calor.
Neíles bons princípios cftaua
areftaiiraçáo de Braga, quan-
do íobreciindo no íecimo an-
no de íeu reinado, di de noíTa
redenção 745. nouas guerras
com CS Mouros o diuerciraõ
deíla taõ íànta ocupação , òí
lhe quebrarão demancíra as
forças, que não pode tornara
clla^ainda que muito o dcíeja-
ua. De tudo o que temos re-
ferido nosdà relação húa carta
dclRey Dom AífonrooCa-
ftojque fe guarda no cartório
deita Igreja, pelía qual o Rey
como em encomenda, & cm
adminirtração da também o q
então auia defta Igreja à de Lu-
go, & diz o faz por lhe fatis-
fazero que lhe tomara para
enriquecera de Ouiedo, cujo
como fundador, & particular
protcâ:or íe tinha feito, t
3 Coftumauão os Reys
Catholicos fuceílbres de Dom
Pelayo porBifpos cm todas as
cidades Cathedraes, tanto que
as conquifèauaÓ , & tirauão
do poder dos Mouros. E ain-
da que os Bifpos naõ podiaõ
refidir em fuás Igrejas , nem
fazer feu officio por naÕ tere
rendas perafuafuftcntação,^
dosminiftros Eccieiíafticos,
por as cidades, ^<. téplos elía-
rem dellruidos,com tudocó-
feruauão íuapoílè, (Sc o titu-
lo dos Bifpados, & morrendo
hum fucedia outro na meíma
dignidade, 6<: Prelazia titular.
Por eftarezão recorrerão pri-
meiro muitos a Galiza, depois
a Afturias bufcãdo a Corte dos
Reis j&as cidades Epifcopaes
quecítauaóem pèizentas do
jugo, & fogeiçaódos Mouros
peranellas terem íufèétação,
& algija renda pêra paliarem a
vida, como tiueraõ na Igreja
de Iria , òc na de Ouiedo , on-
de a vinte Bifpos titulares fe
alíinaraõ Igrejas, de quefc fu-
ílentaíTem honcftamente, c6-
forme o aperto , &í neceífida-
de daquclles tempos, como
conftado Concilio de Ouie-
do, que fe celebrou cm tem-
po delRey Dom Aífonío o
Magno^deque adiante faremos
menção,^: de híía efcritura de
doação feita por ElRey Dom
Ordonho Il.à Igreja de San-
tiago, que traz Lobera nas
grandezas de Leão que tradu-
zida diz afsy.
5 Coiifanotauelhcque
quando os Mouros entrarão
em Hefpanha , & a deftruir ao
entre aquelles, que fugindo de
fua crueldade, fe retirarão às
mon-
Ferdifcndo.
431
moncanhas ds Aítu i' ias ,& Ga-
liza fjraó alguns Biipos, que
clcixãdoíuas Igrejas em mãos
dos Mouros acodiraõ ao Bií-
pado de Iria , o qual por eftar
no vlciaio deHeípanha qualí
n'i0 recebeo dano : de o Bifpo
que cncáo prefidia naquella
Cadeira por honra do Apofto
lo Santiago os recolheo , &c
acomodou, aílinandollie cer-
tas rendas de que pudeílem vi-
uer , &luftentar(ejatèqDeos
lhe reílituiíie a herança de feus
antepaííados . E porque os
Reys que me precederão fauo-
recendoos o Ceo tornarão a
cobrar muitas cidades , Sc ter-
ras, ôi lhe reftituiraõas Cadei-
ras Epifcopaesreuafsy mefmo
por auer vencido muitas vezes
meus inimigos , ôc tirado de
feu poder outras muitas ter-
ras quero (com confclho dos
Bifpos , Sc caualleiros ) que as
que pertencem a alguns Bif-
pos que como dito he fehão
íuftentado na Igreja de Iria
(aíabcr ode Tuy, &c Lame-
go) Ihefejáo reftituidaSjafsy
como lhe foraõ dadas, &c alíi-
nadas pellos Padres antiguos:
& afsy mefmo fe rellitua a
Igreja de Santiago aquillo que
antiguamente poíluyo.
j Deftaefcriturafe moftra
que ouue Biipos titulares em
todas as Igrejas ocupadas pel-
los Mouros , óc que fazião rc-
zidencia fora delias nos luga-
res onde felhe applicauaõ ren-
das pêra fe fuftentarem. Tal fu
cedeo aos Arcebiípos da Ca-
deira de Braga,os quaes depois
de ella dellruida por mais de
trezentos annos,que eíleue ar
ruinada,conferuaraõ fempre
o titulo de Arcebifpos, como
veremos adiante : &: aindaque
algúas vezes foíle cobrada , &c
rertaurada pellos Reis deLeao,
com tudo não na fuílenta-
uão^nem tinhao bafbntegê-
te pêra lhe por prefidios,que a
defendeflem. Afsy erteue com
Arcebifpos titulares até fua re-
ftauraçáo , que fefez no tem-
po do Bifpo Dom Pedro , co-
mo diremos em fua vida.
6 Tornando ao noílb Arce-
bifpo Ferdifendo , fábemos q
por fua induílria fe tirarão de-
lia cidade muitas relíquias de
martyres,&: outros fantos Pre
lados jque com íuasfepulturas
a honrauão,& defendiaõ. Te-
mendo que naÕ íícaílem aly
feguras , íefoi à cidade de Iria
Flauia , agora o PadraÕ , Sc as
leuoliconfigo, Ôc juntamen-
te muitas efcrituras de grande
conforme o
importância
achamos
4 32
Capitulo C.IIIL ,
achamos em memorias anti-
guas defte archiuo, & em hú
priuilcgio dclRey Ordonho,
cjuedetudofaz menção. Cha-
mamos a Fcrdifendo Arcebif-
po titular de Braga,porqueatè
oArcebiípo Dom Pedro em
cjuc efta Igreja começou a cor
nar ao que dances era , todos
os que íc chamarão Arcebif-
pos de Braga pararão fò em
ciculo,& nome, porqueaad-
miniftração de fuás terras ( fc
algúas lhe ficarão ) & das Igre-
jas de Dume S. Frucuofo_, òí
S. Pedro de Maximinos , &
S. Vicoiwro tudo pertencia ás I
Igrejas de Lugo , & Compo-
llela/\r não tinhao os Arcebif- i
pos em Braga, nemreíídencia i
onde morar, nem renda de q |
fc pudeílem íuftentar, como ,
acima dilícmos . Pellos annos
em que nos confta foi Arce-
bifno Fcrdifendo , era Vi^aico
deChrifto na terra depois de
Gregório II. & Gregório III.
ZachariaSjRey de Afturias,^&
Gailiza Dom AíFonfo o Ça-
tholico.
CAPITVLO c.iiir.
ARCARICOLI. Arce-
bifpo de Braga.
O I o Arce-
bifpo Arcari-
co varaõ da-
do por parti-
cular mercê
do Cco aos Remos de Hefpa-
nha no tempo, que tanto del-
le neceííitauão afsy a gente
vulí^ar, como os feus mais fa-
moíbs , 5^ illuftres Prelados.
Foi contemporâneo de Heli-
pando Arcebiípo de Toledo,
aquelle que perleuerandoalgú
tempo na boa, & fiel doutrina
da Igreja Catholica deu gran-
de exemplo de fy a fua Igreja,
ate que perfuadido de feu me-
ílrc Félix Bifpo de Vrgel veo a
cair noerro,qcllemefmo cn-
finaua dizendo que Chrifto
Senhor N.era fò filho adopti-
uo de Deos, & por nenhú ca-
fo natural. De dicipulo de Fé-
lix fe fez Helipando mefl:rc,&
pregador daquella mà, & dia-
bólica feita, perfuadindoa por
fua muita autoridade pri-
meiro
Jl_
ír.ciroa íeiís íubditos depois
a outrosamigos de nouidadcs.
Foi la u rand o o fogo, $í quan-
do os mais Prelados de Heípa-
nha le precatarão , & vieraõ a
aduernr^acharaõ qucFelix por
Catalunha, Elipando porCa-
ílella a maneira de duas fa-
chas do Inferno tinhão abra-
zado infinita gente ,diflicul-
tando a cahdade do mal , Si
os autores delle a prcíleza ,
& eficácia do rcmcdio, que
fe não podia por com facili-
dade,pcr íerem Bifpos, &:de
tanta autoridade,
z O que mais fentío , &
procurou apagar o incêndio
foi ArcaricoArcebifpodeBra-
f^ajafsy pella obrigação de fua
Primazía,como pellofcruoro
lo zelo de fua Fé .Efcreueo lo-
go a Elipando,pedindolhe vif-
íe o mao caminho,q leuaua,os
nouoserrosque hia metendo
em Hcfpanha, tão contrários
às Diuinas Efcrituras , onde
com tanta euidcncia fe mo-
ftraua a verdadeira, de natu-
ral filiação de Chrifto NoíTo
Saluador . E porq de todo fi-
caífe conucncido , largando a
pena por huj& outro teftamé
to.lhe fez hiía larga , & cõpri-
da releição de lugares da Efcri-
tura Sagrada j pondcrandoos
cdriCG.
/(■»■>
T^ O
com grande erudição dos Pa-
dres antigaos , & ac opanlian-
docs de viuas , & efficazcs re-
zoés trazidas cõ a íutileza ^ &:
agudeza de leu engenho tanto
aponto_,que Elipando Icndoas
logo começou a afloxar na
pregação de feu erro , & a ío-
frcr q outros eícreueílem , &
diíputaílem contra clle_,como
quem queria , 6i dcfcjaua ja
tornar outra vez ao que ncíía
matéria mandaua crer a Igreja
Catholica,& éfinauaó em íèus
efcritos os fa^radosOoutores.
3 Naõ contente com clxa
grande dilipencia Arcaricoxõ
uocou lego Concilio: o lugar
não aponta luliano , de quem
imos tirando toda cfta narra-
ção 3 deuiaíer algíía das cida-
des de Galliza em que reinaua
Vermudo: os Bifpos os da fua
Prouincia, & outros mais q fe
pudcílem ajuntar. Aly íc con-
denou a noua heregia por vo-
to j& decreto de todos aquel-
les Padres,& parece fe mãdou
de tudo o decretado relação a
Elipãdoro qual como jaanda-
ua abalado_,& defcõtéte da fua
opiniaõ^pella falfidadedclla,&
pellas cartas , q na mefma oc-
cafião auia recebido do Sumo
Põtifice Adriano primeiro do
nome, & de Carlos ívíagno
Oo
pouco
434
(Capitulo Cl III.
chro pa(>,
99'
pouco depoisEmperador,ou-
ue tctalmente de vomitar a
peçonha, & alimpar o cora-
ção j & entendimento de ve-
neno tão prejudicial. Pêra o
fazer com mais credito de
noíla íantaFé , ôc porque afsy
lho pediáo , & aconlelhaiiáo
também o íobredito Empera-
dor,& o noílo Arcebiípo Ar-
carico, chamando a Concilio
aToledo^ertando prefen tesos
Biípos Matano de Alcala, Pe-
dro de Oreto,Marcello de Va-
lença, & outros , proteftou q
elle em tudo,& por tudo que-
ria eftar na matéria da adop-
ção de Chriftó pellas determi-
nações da Igreja Catholica^do
que tudo fedeu conta a Ro-
ma por embaixadores particU'-
lares, fendo jà Siímo Pontifi-
ceLeãô III. do nome. Nefte
Concilio fe tratarão mais ou-
tras matérias de importância,
de q não fazemos aqui relação,
por não pertécerê a elfa hillo^
ria,& fe pode ver cm luhano.
4 Por outra parte Félix Bif-
podeVrgel tabem cahioem
fy,& paitindofea Roma de-
pois que eíkue naquella cida-
de, efperando hum dia ao Su-
mo Pontifice na Capellade
Saõ Pedro , fe lhe lançou aos
pes, & pedio perdão de feu
erro com grandes lagrimas:
leuouo nos braços Adriano,
ôi íem tratar de outras íatisfi-
çoés, ou penitencias , o man-
dou outra vez pêra íua Igreja,
donde parece o tinhão priua-
do os Concílios paliados , en-
comendando, & mandando
aos Bifposô admiti ílem , &
trataíTem como a bom, & íiel
Prelado Catholico.
S Pcríeuerou ate a morte
Elipando em fua penitencia,
Si arrependimento.-feftejarão-
na, Sc deraõlhe delia os para-
béns por cartas os Bifpos de
Itália, França, Sc Alemanha-,
porem as mais frequétes eraõ
as que recebia do nollo Arce-
bifpo Arcarico , a quê por to-
da a vida reconheceo humilde
por elle fer inftrumento prin-
cipal de fua reducçaõ. Do erro
de Elipando trata larga , Sc
eruditamente o padre Gabriel
Vafquez,o qual pellas muitas
rezoês , que allega contra fua
final penitencia,& conuerfaó,
a deixa muito em duuida^ co-
mo diííemos no tratado da
Primazia. O mais que per-
tence à vida de Elipando
profeguem Morales, Dom
Thomas Tamayo , Sc outros.
Ao Arcebifpo Arcarico cha-
ma luliano doutiílimo, Sc
lantif-
Arzimundo.
43 5
íantillimo : Goiíernou cila
Igreja entre os annos deChri
llo78o.&797.emq tiueráo a
Cadeira de Saõ Pedro ( depois
de 2acharias,Efi:euáo II. Efte-
uãoIII, Paulo, & Efteuão
lIII.)osSúmosPótiÍTÍcesAdria
no I. & Leão III EraõReis das
Aílurias Sylo, & Mauregato,
Vermudo primeiro defte no-
me,& vkimamcntc DõAíFon
fo o Cafto.
CAPITVLO C.V.
AR G I M FNDO LU.
Arcebifpo de Braga.
Articular af-
fciçáo teueíé-
preElRcyDõ
Affõfo o Ca-
fto à cidade
deOuiedo. Intituloufe Rey
delia, mudou pêra aly fua cor-
tc,cdificoulhea Igreja niayor,
no mcímo íitio ( mas de obra
maisexcellente)emq feu pay a
auia edificado. Sobre tudo pre
tendeo amplialla,& leuantalla
a Metropolitana^ tirando a-
quclle titulo, & dignidade à
de Lugo , que então puíluya
pcUo direito antiguo que em
algum tempo tiuera de Me-
a I I tropoiícana no tempo dos
ReisSueuos,que depois fe lhe
tirou quando aqucllc Reino
íc ajuntou com o dos Godos,
& íe deu Lugo por fulFraga-
neaà Igreja de Braga na diui-
laõ dos Birpados,q ue fe fez no
Concilio de Toledo, de que
tratamos cm feu lugar. De-
pois da entrada dos Aíouros
cmHelpanha,&:deftruição da
cidade de Braga começarão os
Bilpos de Lugo a intitularfc
Metropolitanos dos Prelados
titulares , & das Igrejas de
PortugalA' Galliza, que cfta-
uáo deftruidas pellos Mou-
ros, fcm terem outro funda-
mento mais qefte pcra a dig-
nidade Metropolitica de que
vfauáo.
i Pêra melhor expedição de
feus defcnhos , pcrfuadio El-
RcyDom Aííbnfoaos Biípos
das cidades defuaCoroajfc ajij
ta/Iem cm Cõcilio na deOuie-
do, & aly decõmíj coníènti-
mento,&: por votos de todos,
íccócluiílea dezejada ereiçao
da noua Metropoli, obrigado
aos Prelados fuffraganeosaLu
go darem obediência aos de
Ouicdo,rcconhecendo aquel-
la Igreja cm tudo como fupc-
rior,domodo que reconhe-
cião,& obedeciáo à de Lu^o. |
I
fÍíp.CAf,S
Ooi
Foi
436
CaptuloCVI.
Foi a vontade do Rey a regra
dados Prelados: ajútaraÕíeno
amio de Chrifto 8ii. exciíi-
guiraó o direito Metropoliti-
co, cjaeem Lugo pretendiaõ
os Prelados daquella Igreja-
paíTaráoiioa Ouiedo,como
conlla do mefino Concilio , a
que comúmente chamamos o
primeiro de Oiiiedo . Acha-
£ãofe/& aíTinarào nelle Ar-
gimundoBifpo de Braga, An-
dulfo de Ouiedo, Theodí-
miro de Coimbra , Diogo de
Tuy, Ouimaredo de Lugo,
Gomelo de Aftotsa , Vincen-
cio de Leão, Abundancio de
Palcncia, loa 5 de Occa.
s3-^íb r Naõobftantearefolu-
ção tomada neíle prnneiro
Concilio de Ouiedõ acerca da
V ,., ereiçáodanoua Mctropoli ,a
Igreja de Lugo perieuerou nó
titulo que ate aly poíTuyaj ate
oanno de 900. fem nunqua
fcus Prelados deixarem de íe
firmar nas juntas, &priuile-
gios Arcebiípos ; ou foffe
porque reclamarão os Decre-
tos do Concilio j ou porque
acharão lhe faltara a autori-
dade do Sumo Pontifice ,' ne-
ceííariaperaaquclla mudança^
onde osprejuizos, & danos
daMetropoh extindla lhe pare
I ciaõ notórios. Mas como nos
3 ''•i9*
Reis íe folie continuando fem
pre , & perpetuando a vonta-
de de acrecentarem Ouicdo,
não ceílàraÕ ate totalmen-
te a cíFeituarem. Mas diíto
diremos na vida do Arce-
bifpo Argimiro, por aly di-
reitamente pertencer. Tinha
por eftes annos a Cadeira de
Saó PedrOjdepoisdeLeaõ IIL
& íeu fuccíTor Eíleuao V. o
PapaPaíchoal L & o Reino de
Ouiedo,& GallizaElRcy Dó
AfFonfo o Cafto.
CAPITVLO C.VL
NO ST R J NO LIII.
Arcebifpo de Braga.
M TEMPO
delRey Dom
Alfófo o Ca-
fto no anno
dçChnftode
83 z coníta de inftru mentos
q eftão noarchiuo defta Igre-
ja celebraríe hum Concilio
em Ouiedo , em q fe achou o
noílo Arcebifpo Noftrano,&
nelle teue o primeiro lugar de-
pois de Ildcberto Legado da
Se Apoftolica, q prcíidíp no
Concilio.Depois deNoftrano
afliná
DuL
I:
cidw.
437
allina ^ylarcinho Bifpo de Dii- f
me . Não ha outra memoria
delle Prelado. Gouernaua a
Jgrcja de Deos por cfte tépo,
depois dePaíchoal , Eugénio^
d: V^alentino o Papa Gregório
IIÍÍ.EraReycle Allurias , &
GailizaDom Aftonío oCafto.
lib 3.r.3
CAPITVLO c.vir.
DF L C I D l o LIIII.
Arcebifpo de Braga.
Lguas peílbas
d outasjôi: en-
tre cilas fr, le-
ronymoRo-
man tempe-
ra fy , que Dulcidio , ou Dul-
cio Arcebifpo de Braga foi o
Prelado , que íe ackou prefen-
te na batalha de Oauijo, &
aífinou na eícritura da doação
dos votos , que íe oferecerão
a SantiagOjOs quaes ainda ho-
ie duraõ em Hefpanha . Traz
cfta eícritura Dó Mauro Fer-
rer na hiítoria de Santiago , &
he fua data no primeiro de
lunhodaeradeSyi. queheo
auno de Chriílo 834. Aílina-
raõ em primeiro lugar ElRey
Ramiro, & íua molher a Rai-
nha Vrraca/Sc leu Hiho ElRey
Ordonho,& ícu irmão ElRcy
Garcia. Logo depois dos Reis,
aílína,& confirma o nolío Ar
ccbifpo de Brag3,dizendo Eu
Dulcio Arcebifpo Cantabrié-
le, quemeachei prcíentc c6-
firmo : aílinaraõ mais os Bif-
pos Suario de Ouiedo, Oueco
de Aítorga,Salamaõ das Aílu-
riasj Rodrigo de Lugo , Pedro
deIria,com outros fildaigos,
& títulos da caía PvCal.
i Todaa duuida confifte
em o noílo Arcebiípo aílinar
com titulo de Arcebiípo Can-
tabrienfe, & não Bracharenfe,
como aílmarão todos os Ar-
cebiípos de Braga nos Concí-
lios , & ados em que fe acha-
uão. Mas toda ella ceíla com
dizer que anda errada a fo-
fcripfió, & onde ouuera de
dizer Bracharenfis , fc tresla-
dou por ignorância Canta—
britjis. Arezão he porque em
Hefpanha, onde a vitoria íu-
cedeo, èc a efcrituraíefeznãõ
auia Arcebifpo algum que íe
chamaííe Cantabrieníe , & fò
auia o Bracharenfe, que con-
forma muito com o nome
Cantabricnfe , em que ouue a
equiuocação . Prouaíc mais
porque todos os Bipfos que
O03
acom-
43 8
Capitulo C. VIL
acompanharão a ElRey Rami-
ro na jornada, & aHinaraõ na
elcritiira eraõ prelados de Gal-
liza : & naquelle tempo co-
ftumauaõ todos osBiípos do
Reino acompanhar íeus Reis
nas jornadas quefazião. Eaf-
fy naõ auia de faltar entre elles
o Arcebifpo de Braga, mayor-
mente íendo a jornada taõ pia,
& de tanto feruiço de Deos.
Ecõfirmafe illo» porque não
auia ncnhú Arcebifpo de Can-
tábria etn Hcfpanha , que pu-
de íTeacópanhar a ElRey, & fe
o auia em França, & tomou
titulo de toda a Prouincia, co-
mo quer Dom Mauro Fcrrer,
deixando as difKculdades que
tem eíla report:a,não tinha pe-
raquc vir de França ajudar a
El Rey Dom Ramiro, nem
nòsparaqueo admitir entre
os mais Bilpos deGalliza,pois
as hiftorias daquelle tempo
nenhúa menção fazem dcfta
vinda.
3 E coníla claramente q
a efcritura que traz Dom Mau
ro Ferrer elH viciada na cra_, &
nas firmas dos Prelados: na
era porque fua data foi dez an-
nos adiáte daquelle em que fe
lança,afabcrnaerade88i. &
não na de 871, cm q apoê Dó
Mauro Ferrer: nas firmas por-
que o BiípoOuecoque leal-
íina Jsíuricenfe le cuucra de
aííinar Aurienfe pois foi Bifpo
de Orcnfe_, &:náode Altor-
ga, como íeconuence clara-
mente da mcfma cícritura on-
de allinou Salomon Bifpo de
Aflcrga,&.' não podião alfinar
dous Bilpos da mcfma Igreja
no mcímo tempo. A cíle Bil-
po Oi:eco pcem no Cata-
logo dos Prelados da Igreja
de Orcníe emendando o er-
ro da cícritura que lhe chama
Jjftiricenje , o Doutor Frãcif-
co dcCarrcira doCapo conigo,
maeifiralda Sé de Orcníe em
hum Catalogo M. S. dos Bif-
pos daquella Igreja, que nos
cõmunicoUjfendo viuo ^ondc
proua q na era de 88z. que he
anno de Chriito 844 . fucedeo
a batalha deClauijo^&quepor
aquelle tempo era Oucco Bif-
po daquella Igreja , porque
na era de 886. que he an-
no de Chrifto 848, confir-
mou hum priuilegio que o
mefmo Rey Dom Ramiro o
I. deuâ Igreja deCaflro,que
elle vio, & Ico, Sc affirma que
he o mais notauel, & curiofo
de Hcfpanha: & em húa pedra
da Igreja de Caftroeftàeícri-
to em letras claras o tempo em
que foi fagrada, & o Prelado
lue
Suicídio
439
vo
thea/r.
Bifpo! ^e
■^ftorg.x.
cap. 1 1 .
que fez a fagraçao, & confta q
foio BifpoOuecooque a la-
grou no aiino de848. Diz afsy.
tpifcopHs Obeccus conf. no q
naõ aduretío o ClironiftaGil
Gonçaluezde Anila pondoa
Oueco encre os Biípos de A-
ftorga , enganado com a efcri-
cura referida, íendo na verdade
BifpodeOrenfe.
4 Donde te eira claro argu-
niéco,queaísyc3nn n-:i\ã fir-
ma do Bifpo de 0:éle Ousco,
ôc na datãyôc era eilà viciada a
eícritura,aísy oetUtaiibern
na firmado Arcebiípo DjIcí-
dio,aquem chama Canta-
hrienfís ^ deuendo cíiamarlhe
Bracharenjis. E de crer lie que
auendo Arcebifpo em Braga,
comoaaia,elleíolleo qaeaeó-
panliou aElRcy , & confir-
mou a eícritura, & nio o de
Cantábria eftrangeiro porfan
giie, defconhecido no titulo,
& pella incerteza do lugar on-
de era Arcebifpo, Prelado de
nenliuadiocefe. Pella que te-
mos por miy prouauel que
o Arcebifpo deBraga foi o que
(cachou naquella batalha, &c
que a firma Cantabrienfe eftà
viciada , por culpa de que não
foube ler,ou copiar o priuile-
^io em fua origem, afíío;uran-
dofelheapalaura Bracharenfe,
CMtabrienfe.
/ Deu motiuoefte erro,
à íè por duuida na eícritura re-
ferida, arguindoa alguns auto-
res de falíà , por allinar nella
Dulcidio Arcebifpo de Cantá-
bria Metropoli nunca nomea-
de entre as de Helpanha , em
todas quãtas diuifoés de Igre-
jas le fizeraõ nella, em tempo
dos Romaiios,Sueuos, & Go-
dosj&: aindaque Dom Mauro
Fcrrer íàtisfaz com boas re-
zoes aos fundamentos cm có*
trario. Com tudo não foltaâ
duuida.A melhor foluçãõ dei •
lahe, que Dulcidio foi A rce-
bifpo^BracIíarenfe, & não Cá-
tabrienfeji^ que no copiar, òi
lerda efcritura elleue o erro,
como parece coufa certa.
6 Outra duuida fe moue
também contra ell:a efcritura,
em quáto fe nomea nella Dul-
cidio com titulo de Arcebif-
po , não fe vfando naquelle
tempo, fenão o de Metropo-
litano. Mas pêra nolfo inten-
to importa pouco , viflo co-
mo fò pretendemos prouarâ
aíHílencia do Arcebifpo de
Brasa, &c não de Cantábria,
com ElRey Dom Ramiro no
tempo da batalha. Com tudo
o Homede Arcebifpo , c5 q fe
firmauãoos Metropolitanos^
O04 he
19.
440
QapttuloC.VlII.
/r^'77
d.
fap.j^
he muito mais antiguo em
Itália, Ôí: HefpanhajCjue ap-
prdente cícricura, comodif-
íemos na vida do Arccbirpo
Benigno ^ di fe proua de efcri-
turas antiguas do mefmo ce-
po, fobre que difcurfa larga,
& doutamente Dom Mauro
Ferrer. Quando Dulcidio re-
gia efta Igreja de Braga,gouer-
naua aCatholica Romana o
Papa Gregório IIII& era Rcy
deAfturias, &c Galliza Dom
Ramiro o primeiro.
CAPITVLO C.VIII.
G L A D I L A LV.
Arcebifpo de Braga.
M H V M
Concilio q fe
celebrou em
têpo delRey
Dom Rami-
ro I. foi eleito Arcebifpo de-
fta Igreja de BragaGladila Ab-
bade de hum molreiro do Pa-
triarcha íaõ Bento chamado
faõ Paulo de Trubias , junto
de Muros em Afturias. To-
mou efte Religioío varão o
habito de mõgc naquclle mo- 1
fteiro , a quem fez doação de
toda íua fazenda, &i nellevi-
veo em companhia dos Reli-
giofos,fazcndo vidamuy fan-
ta. Foi eleito Abbade, & da hy
o tirarão pêra a dignidade Ar-
cebiípal de Braga, os Padres de
hum Concilio ,que parece fe
ajuntou em tempo dclRey
Dom Ramiro. Sendo ja Arce-
bifpo no anno dcChriftode
86^. confirma todas as doa-
ções que de fua fazenda tinha
feito ao feu moftciro de Tru-
bias, aílinaõ na cferitura os
Bifpos Gomelo, Rodiíindo,
Scruato, Fronimino,Feliniro,
Paterno Abbade. He a data na
era deCcfar 901. que he anno
de Chrifto 863 . guardafe no ar
chiuo da Sc de Ouiedo , a que
efte mofteiro de Trubias com
outros muitos eftà vnido.Cõ-
fíao que temos dito do te-
ftimunho do mefmo Arcebif-
po Gladila, o qual falando cõ
os feus Relidofos Ihedilíeno
latim bárbaro daquelles tem-
pos aspalauras feguintes.-Pr^c-
teritis temporibusfub príncipe
Alfonfo eleãione Fratrum,pa-
ãum reziiU accefsi roboratu-
rus fvna cum Ccçteris presby-
ter is ^ Iffratribus , qui me ibi-
dem fibi ehgerunt abbatem in-
com-
S.. Comba ^^ S.Leonardo
441.
to.l cet.
) "
■4. Atm.
\Lhnfit
86j.
commutahiliter ibidem cúom-
nia mea , ^ fuhfequente domi-
nijsimoprincipe, me indignam
ad hoc , loco "v estro abflramm^
perjanãum Concilium ad Pon-
tijicalemperiienire gradum^de-
gensfuper Bracharenfem fe-
dem.QucTcm dizer o que jatc
mos referido. Trás o padre
frei António de Icpes eftas pa-
lauras naChronica da Ordem
de Saõ Benco,fcm nos dar ou-
relaçáo dos annos , ou
tra
lugar cm que fe celebrou a-
quelle Concilio, donde íahio
Gladila Arcebiípo de Braga,
nem do tempo que viueo .
Gouernaua por cites annos a
Igreja de Dcos,depois de Gre-
gório IIII. Sérgio 1 1. Leão
II II. & Benedito III. o Papa
Niculao primeiro: era Rey de
Leão & Afturias Dom
AfFonfo o Mag-
no.
^!n-?;-
CAPITVLO CJX.
A N TA C O MBA
Virgem , Is^ SaÔ Leonardo
feu irmao.
EV aComar-
ca de Tralof-
montes dous
irmãos fan-
tos ,qahon-
raraõ no tempo que os Mou-
ros tinhão ocupada toda a-
quella Comarca nadeíVriijçáo
geral dcHeípanha. Foraó eíles
aVirgemS, Comba, d:feu ir-
mão S. Leonardo. Naceo efta
fanta minina em hum lugar q
chamão Lamas de Orelhão na
Comarca de Tralofmontes
deftc Arcebifpado de Bragaj
era filha de hum laurador po-
brCjguardaua o gado de íeu
pay,& muito mais fua pure-
za, & virgindade, que tinha
ofFerecido a Chriífo efpofo
feu. Dotoua a natureza de fer-
mofura rara,cõ q íc fazia amar,
& cobiçar de todos, porque
leuaua aposfy os olhos,& co-
rações dos que a vião.. .Tinha
naquelle tempo
o gouerno
. V OA;'j <-*
4|2
r -iSíil^C Capitulo C.IX,
de toda a Comarca húMouro
poderofo que com titulo de
Rcy a fenhoreaua ; chegoulhe
informação da fermoíura da
Virgem Sanca Comba, & de
modo íclhe aíTeiçoou^que tra-
tou logo de a conquiftar , ou
por brandura,ou por força,&
violência. Vfou de promeflas,
ôc rogos, mas foi em vão por-
que a Tanta o defenganou que
tinha oíferecido fua pureza a
outro efpofo, & Rey mayor,
qual era o do Ceo,com quem
naó tiiihão comparação os
mayores Monarchas da ter-
ra. *''^ c
z Indignou fe o Mouro co
arepoíh, & por muitas dili-
gencias, que fez pêra a ver, ôc,
íe encontrar com ella -, a fanta
fcefcondia femprc de manei-
ra, que nunca pode alcançala
de vifta. Ardia em raiua o
Mouro, & não via remédio a
fua paixão. Sucedeo hum dia
que faindo à caça a hum mon-
te andaua a innocente paíto-
rinha defcuidada guardando o
Igado com fcu irmão Leonar-
do no mais alto da ferra. Vioa
o MurG,V^ corrêdo com mui-
ta pr^íTa pêra tomar vingan-
ça do deíprezo cõqueotra-
taua, valendofeaíànta mini-
nadoCeo, que com grande
feruordeelpirito chamou em
ícu fauor , milagrofamente íe
fez inuiííuel metcndofe por
dentro de hiía penedia, qucfe
abrio , & a recolheo em íy.
3 Ficou fruftrado o Ivlou-
ro fem mais ver aquella a que
cuidaua tinha debaixo da lan-
ça pcra lhe tirar com cila a vi-
da j<Sc milagrofamente ficou
o golpe imprcíTo na meíma
pedra ondea íãnta fe recolheo.
Porem não podendo vingar-
fc da Virgem fanta Cõba exe-
cutou a ira no innocéte pafto
rinhoLco nardo irmão da fan-
ta,a quem à força de feridas c5
a lança, que nas mãos leuaua
tirou a vida. Ficou efte mila-
greimpreíío naquella penedia,
ôi. muito mais na memoria
dos moradores dolugar.Ncllc
cftà híía ermida da inuocação
de íanta Comba, & no mon-
te onde fucedco o milagre na-
ceo logo hija fonte em teíti-
munho, &: prouadcUe, cujas
agoasfaõ taõ faudaueis , que
fe chama comijmente a fonte
fanta.Concorrealy muita gê-
te em romaria de toda a Co-
marca pedindo fauor à fanta
em fuás neceílidades. Antó-
nio Ferreira cantou eftc mila-
gre eleganteméte em oitauari-
ma,&cóclue ofuceílb dizédo. |
Senhores
S. Comba , Ç^' S.Leonardo
443
Senhor ef conto o que meus olhos ^irao
Vi osfinaes da pedra milagroja.
Bebi afama agoajjf outros, que ofentirao
Agoafanta lhe chamnojs' preciofa^
ifio os '-U1U0S aospaysyilf aucs ouuirãO
Hi floria diuina he^naofabulofa^
Os templos, i^ os altares duO boaprouay
E com milagres mil o Ceo o aproua.
Aly '-vem mil cruzes, aly ijem mil -votos
Cbuua ora leuao,ora o Ceofereno,
Nao efpanta a alta ferra aosfeus deuotos,
Nemcanfa ao ■velho^nem ao mo^o pequeno:
Dos ije^inhos lugares, ip" remotos
Vem os pafiores pedir agoa^ tf feno
Aly offerecer "Vem brancas pombas
Os mocos Lionardos, mocas Ccmbas,
Efcreuem deftes Tantos o Pa-
dre Vafconcellos na defcripção
de Portugal , & o Padre frei
Luís dos Anjos. O tempo, &
dcícuido dos paílados nos
'p^.iji. emcobriraõ o anno em que
íucedeo eíl:a marauilha Da-
moslhe o prefente lugar em
quáto lhe não achamos
outro mais pró-
prio.
I
CAPITVLO C.X.
A R G I MIRO LVI.
Arcebifpo de Braga.
Choufe efte
Prelado em
Compofteía
na fagração
da Igreja do
Apoftolo Santiago^ a qual ti-
nha mãdado edificar de obra
íuntuola
444-
Capitulo C.X»
I /> f. 12
funtuoía ElRey Dom Affonfo
o Magno. Fezfe ci\c aClo a íín
còdias do mesdeMayo do an-
node 8o9. (poftoqiie alguns
variaõ cfta conta) com a ma-
yor pompa,& folenidade que
acè aqucllc dia fe fizera outro
em Hcfpanhaj porque pêra el-
le veo a Compoftela ElRey
Dom Affoníocom a Rainha
dona Ximena , com os Infan-
tes feus filhos, 17. Prelados,
& quaíl todos os fenhores
Hefpanhoes. Confta iftodc
híía efcritura pubhca^ quelan-
çamos no Catalogo dos Bif-
pos do Porto aílas cfcura , de
cuja declaração ahy tratamos.
OsBifpos que fe acharão ála-
gração foraó loão de Auca,
Vicente de Leaõ, Gomelo de
Aftorga_,Hcrmigildo deOuie-
do, Dulcio de Salamanca ,
Naufto de Coimbra,Argimi-
ro de Lamego, Theodomíro
de VifcUjGumeado do Porto,
lacobo de Coria . Argimiro
T 1
de Braga, Diogo deTuy,Egi-
lade Orcnfe , Sifnando de Iria
Recaredo de Lugo , Theode-
ílndo de Britonia, Elcca de
C,aragoça.Naõha ordem al-
gua nas firmas, nem refpeiro a
dignidade mayor, ou Metro-
politana , cada hum dos Pre-
lados aíTinou como Ihepare-
ceo.O pouco 5 ou nada que
polTuyaõ defterrados de íuas
Igrejas ficandclhcíòos títu-
los delias era caula de não li-
tigarem muito íobre lugares,
&c le contentarem com os que
lhe ofierecia a forte, íem re-
correr a outros refpeitosde
mayor conlidcração.
1 Sagrada a Igreja de Cõ-
poftela, os mcím os Prelados,
queaífilliraõaoaiílo dalagra-
ção ajuntarão Concilio on-
ze meies depois na cidade de
Ouiedoperaleuantar aquella
Igreja a Sè Metropolina con-
forme a ordem , que auia do
Sumo Pontífice, &c fe fupri-
mir a dignidade Metropolita-
na de Lugo crcada auia m u itos
annos quando florecia o Rei-
no dos Sueuos , extinóla de-
pois no tempo que os Godos
íenhorearaõ toda Hefpanha,
& refu citada na entrada dos
I Mouros, com aruinadeBra-
ga , & fuás fuíFraganeas , co-
mo em íeu lugar deixamos re-
ferido . A carta que o Papa
loão IX.efcreuco a ElRey Do
AfFonfo fobre a mcfma ma-
téria da translação da dignida-
de Metropolitana da Igreja
de Lugo pêra a de Ouiedo
trás Mariana traduzida cm
Portuguez, & he a q íe feguc.
loão
Argemiro.
445
IluíÓ Bifpo feruo dos feiuos de
Deos à Ajfhri[oR.ey Chrisiianif-
jimo 5 íp' aos a^eneraueis Bif-
pos , iff Jbhades , tf mais
ChrisiaÓs. Pois que no cuida-
do de toda a Chrijlandade a
prouidencia Ditiina nos fea;^
jucej^or de Sh Pedro Príncipe
dos JpoJIolos j pella admoefia-
áo deNoJsoScnhor lESF Chri
jh fomos apertados ^c6 a qual cÔ
certa --vo^ de priuilegio amoe-
JIgu a S.Pedro dizendo 'Z>osfots
Pedro,tffohre efia pedra edi-
ficarei minhaJgrejaJJ' -vos da-
rei M cbaues do Reino do Ceo^
ijfc. Ao mefino outra ye^ dijfe,
chegando a hora defua gloriofa
paixdc, eu roguei por ti,porque
mio falte tuafè^ÍP^tu conuer ti-
do algúa "veT^^ confirma a teus
irmlios. Porem pois afiama de
■-uofiafantidade por <uia defres
irmãos Jjlpier ao Vifitar a Igre-
ja dos Apofiolos^Seuero^tf P>e-
^iderio Sacerdotes , nos he ma-
nifejta com marauilhofo cheiro
de bondade: com amoeflaçaofira
ternal njos exhorto que coma
graça de Deos por guia perfe-
uereis em hoM obras ^peraque a
abundante b ene ao de Sao Pe-
dro nojjo protethr , tf a no/ia
yos empare: tf tod^ as <ue\es
filhos charifs imos que algum de
yos qui^^er y>ir , ou mandar ter
có nofco,co toda a alegria de co-
ração, if gcUo efl)iritual,das-vl
timtts partes deGallici;a^da qual
Deosyosfe2^gouernadorcs/omo
legítimos filhos nofos yos recebe
remos E d Igreja de Ouiedo, q
conjofio cójentimítOy tf a "vof-
fa infianciafi-xiemos Metropoli-
tana ^mandamos ^tf cocedemos,
q deis todos a fogeicao deuida.
Afsimefmo madamos q tude o q
osReisyOU outros qiiaef quer fieis
jufilamzte haÓ offerecido,oii offe-
recert daqui em diante à dita
Igrejafeja yàlido^tffirmepera
todosepre. Exhorto outro fv a
todos q ajaes por encomendados
aos portadores deflcts noj^as le-
tras. Deos ^jos guarde.
3 DosBirpos^afliiliraõàfa
gração da Igreja de Cõpoftel-
la^iSsi feajúnrão nefteCõcilio,
parte craõ das cidades queeíla-
uáoem poder dclRey, parte
das q ocupauão osMouros,(S«:
fò tinhão o titulo, & nome de
BirpoSjtal era o coftume daql-
le tépo^em o qual de húas cida-
des,&: outras auia Biípos cuja
fuceííaõ nãofalcaua^pofto qas
cidades eftiueíle dcfl:ruidas,ou
ocupadaspellosMouroscomo
acraz tocamos. Eftes Prelados
fe ajuntarão na cidade de O-
uiedo por ordem delRey,
I onde cm comprimento da
pp
con
446
Capitulo C.X»
up.e,iz
j conceflàô Apoíloixa aílenta-
laõ que o Bilpo de Ouieúo
foflbArcebiípo , ôd nomearão
pêra aquella dignidade por vo
CO de todos a £f nunigildo Bií-
po damelnia igreja. Feita elU
crec^aõ, & nomeação, pare-
ceo que conuinha, que os Bií-
pos, que não tinháo Biípados
ajudallem ao deOuiedo, &
fe repartiíle o trabalho entre
todos , ôc cUe de fua renda os
fuftcntaíle , & que afsy a ertes
como aos mais Biípos aiíi naí-
íe Igrejas na cidade , ôc Biípa-
do de Ouiedo _, com cuja ren-
da fe fuiUntaficm ^ quando íè
celebraílem Concilios , & ti-
ueílem onde íe recolher nas
entradas, que de ordinário fa-
ziaÕ os Mouros nas cidades de
que eraõ Bifpos . Em compri-
méto dcfteDecretoaíIinaraõ a
dczafcii Bifpos q fe acharão no
Cócilio doze Igrejas. Coube
neíla repartição ao noíTo Ar-
ccbií pode Braga Argemiro,&
aos Bilpos deDume^á^ de Tuy
a Igreja deSãca Maria dcLugo,
fundada mca legoa de Ouiedo,
por ter rendas capazcspera fu-
iknrar tresPrelados.Aos mais
fcaííinaraõ outras Igrejas, co-
mo diííemos noCaraiogo dos
Bifpos do Porto. Também fe
aílinaraõ ca^a- pcra moraréos
I
Prelados , quando le aj uncaliê j
cm Ouiedo peia celebrar Cõ-
cilios. Deita repartição proce-
deochamaríeOuiedo naquel-
le tempo cidade dos Bilpos
porque a ellaacodião os Pre-
lados a quem os Mouros lan-
çauáode íuas Igrejas, & em
Ouiedoachauão iocorro, ôc
íuítétação.Acrecentou ElRey
Dom Afionío cila noua Me-
tropolijis: a engrandeceo com
rendas,òi: pnuiiegios.
4 Entre eites Prelados q
airiftiraõ nafagração da jgrcja
de Santiago nao põem Mora-
Icsaonolio Argemíro Arcebif
po de Braga,n orneando todos
os q aíliltiraõ nella, nê tambê
na iua opinião afliitío nefte
Concilio deOuiedo cclcbrad o
onzemefesdepoii dafagração,
porque os meímos Prelados
que le acharão nella,foraó os q
íe ajuntarão em Ouiedo pêra
celebraréo Concilio referido
no anno de 901. como diz o
mefmo Morales. Cõcudo a ver
dade he,q em hú,& outro a6to
fe achou prcfente,comoafíir-
mãoIuliano,Mariana,&fr.Ber
nardo de Brito,&: cõfta do in-
Itrumento da lagração,q laça-
mos no Caralogo,& de hú pti
uilegio delRey Dom Aílonlo
concedido no mefmo tempo.
f Aca-
^5-
Mtan. in
chro.fag.
^^urian .
It.J.e 18
monarch
CAf,l6.
Cttt/tl d.
eap, 1 i.
^Tloeodoniiro
4^7
j- Acabou íe o Concilio
noannode nouccencos & hú,
& com elle íe acabarão tam-
bém as memoi-ias, que hacjc
ArgemírOj o qual não tinha
mais que o titulo de Aiccbií-
po Primaz de Braga , por
porque a cidade eílaua deftrui-
da , íem templo , de Icm edi-
fícios^tudo os Mouros deíba-
ratarão _, S: puzerão por ter-
ra com fuás entradas . A íu-
ceílaõdos Summos Pontífi-
ces depois de Nicolao I. foi
continuando em Adriano II.
loão VIII. Marino , Adria-
no III. Elteuáo VI. Formo-
[oy Bonifácio VI. Elleuaõ VII
& loão IX. queporeiles an-
nos era Paftor vniuerfal de
toda Igreja conforme a con-
ta de Bellarmino. EraRey
de Lcaó , ôc Galliza
Dom Affonío o
Magno.
CAPITVLO CXI.
T H E O D O M I R O
LFII. Arctbifpo de Braga.
ESTE Pre-
lado faz mê-
ção luliano,
dizendo que
aiíiífioemhú
Concilio quaíi nacional, que
fe celebrou em Toledo no an-
no iioueccntos & dez do Na
cimento de Chrifto fendo Pre
lado daquella Igreja Blafio,
ou Bafileo. Acharáofe nelíe
os Bilpos Egas de Valença,
André de Merida, Tlicodo-
miro de Braga , Adclfío de
Euora,& outros trinta em nu-
meroifizeraõ cânones em que
tratarão da reformação do cle-
ro, &: da mudança da reza.
Naõ achamos de Blallo Ar-
cebifpo de Toledo^ nem do
Concilio referido outra noti-
cia mais qa de luliano , o qual
chamalántoa cfte Prelado, «í^
diz q morreo no annodc 9z6
<k que lhe fucedeo Viíírano
Arcediago da mefma Igreja
Ppz de
in chroH.
448
Capitulo C.XIL
chro.fag.
li 12.
deToledo. Náo o achamos po
rem no Catalogo dos Arce-
bilpos dclIajUem ha outra me-
moria íua.Gouernauaa Igreja
dcDeos por eftesannos (de-
pois de loaõ IX, Benedi(5to
IIII. LeaóV Chrill:oLiaõ,Ser-
gioIIIJAnartalio III. do no-
me ^ conforme a Bellarmino:
EraRey deLeaõDom Garcia
filho dei Rey Dom Affonío o
Magno.
CAPITVLO C.XII.
S I L V AN ATO LFIII
Arcebifpo de Braga.
A MB EM
nos dà me-
moria deíle
fantoPrclado
luliano dizé-
do que pellos annos deChri-
fto 930. florecião com fama
dcdoutiíTimos, & fantiffimos
Prelados Siluanato Bifpo de
Bra^a,& Florefmdo de Orcn-
fe , aos quais Bafílco Bifpo de
Toledo fendo viu o cfcreueo.
Não diz mais Juliano / Suce-
derão na Cadeira de Saõ Pe-
dro a Anaítafio III. Laudo,
loão X, Leão VI. Efteuáo
VIII. & loaóXI.queporefte
tempo tinha o Sumo Ponti-
ficado, conforme a Bellarmi-
no : era Rey de Lcaõ , & Gal-
liza Dom Sancho I. do no-
me filho delRey Dom Ra-
miro. II.
CAPITVLO C.XIIL
H E R O S LIX.
Arcebifpo de Braga.
Chafe me-
moria deftc
Prelado cm
hija doação,
q fez íaõ Ro-
fendo ao leu moiíeiro de Cel-
lanoua em Galliza a i6.dc Se-
tembro do anno de Chrifto
5)41. era de CeíarpSo. no de-
cimo anno doReinado de Dó
Ramiro em Ouiedo. Entre os
Prelados quenellaaflinaraõ fe
acha Heros, o qual firmou.
Ego Herus Bracharenfis Epif-
copiis Metropolitanus. Eu Hc-
ro Bifpo Metropolitano ác
Braga : os mais Bifpos , que fe
acharão
lie
eros.
'449
foi. 153.
fol.óo.cii
acharão prcícnres,como os te |
fere léronymo Roman de la
Higuera cm húa carta que
cícreueo ao Lecenciado Gaí-
par Aluarcz Louzada^qiic an-
da no primeiro tomo das cou-
fas memoraueis deíh Igreja,
íàó OuccoBifpode Ouiedo,
Dulcidio de Salamanca , Her-
minigildo Bifpo Legado da Sé
Apoftolica, Òueco Bifpo de
Leáo ^ Ssiamaõ de Aftorga,
Diogo de Oreníe , Vimara de
Tiiy , Gonçalo de Coimbra.
Sandoiialnas íuas antiguida-
des de Tuy refere eftcs Pre-
lados por outra ordem, de al-
gús com diuerfos nomes , di-
zendo que em primeiro lugar
aflinou Hermcigio Bifpo de
Tuy, chamandofe Bifpo , &
confeflorpcUos trabalhos que
padeceo eftando catiuo em
Cordoua \ & que Vimara ta-
bem Bifpo de Tuy, que naef-
critura aílínou fora fuceííor
de Hcrmoigio por renuncia-
ção, quefez nelle. Tudo po-
dia paílar aíTi, & achar Sando-
ual outra efcritura mais corrc-
Oi3. , donde tirafle aquella me-
moria do Biípo Hermoigio,
de que não confta conforme
as firmas, que referimos de
Icronymo Roman de la Hi-
guera: o qual aflirma que ou-
ue cíU cfcricura da mão do
Bifpo de Plazcr.cia De ni Pe-
dro G;l de Azeuedo com ou-
tras mais, que mandara co-
piar do moíteiro de Ceilano-
ua, fendo Bifpo de Orenfe.
Também fazmccãodonoíío
Heros Arccbifpo de Braga
Dom Mauro Fcrrer dizendo
que alíinou na doação , q fez
Saõ Rofendo ao moíleiro de
Cellanoua.
z Tem.os outra memoria dc-
ItcSátoPrcIado cmLuirprãdo,
o qual Ihcchama varão fantif-
íímo.Concorreocom clleno
mefmo tépo , òc foraõ ambos
amigos particulares. Viíirouo
vindo a Braga em romaria a
Santiago deGalliza,& lhe mã-
dou parte da fuaChronicaof-
fereccndolha com a carta fe-
guinte. A ocaíiáo que ouue pa
ralha mandar íe colhe da mcf-
ma carta , &dizaísy,
Sanãifsimo Patri,àfEm!m-
tifs imo Pap^ Heronio meritif-
mo Bracharenji Archiepijcopo
Ltútprandus Tcletumis Sub-
diaconus di latim officium tlli
debhtim^lsffalutem , tf/elici-
tatem 'eterna precatar. Effia-
ghafli à meferuulo tuofreqmtí
pene coniiicio fanai fsimeP ater ^
^ Eminentifsime Papa , qiiod
pro tua in rnepr^esiantia iuflius
•3.M?i
Pp3
imperare
450
(Capitulo CXI II.
imperare potuijjes , "Vtpro tua
in me meritifsima obferuantia
adnutum egoparere debui(?em.
Cum inuifi Sanai lacohi Zebe-
dxiJilif^Doãoris,ifJpoíloli no
firifacra ex "voto limina , -r^í
plera^ LuJitanU GallecUcj^
celebriora loca , ^ in primis
fanãifsimi Doáioris^Martyris,
tf Apojloli Petri primi eiuf-
dzm Jpojloli difcipuli^ primií^
Hifpaniarum Álartyris icdem
facram , ac admirabiles re~
liquias ; à te tuif^ minúiris
BracharccAuguflíe teão perhu-
maniter exceptus fum : tunc cu
fermonem /acerem opufculorum
meorum^lsf inte r illa Continua-
tionis Chronici mei duãi adan-
num ^60. ad Chronicon M.Ma-
ximi Benediãini monachifa-
pientifsimi poet^^ ijf Epifcopi
C sfarauguflam^l^f FlauijDex-
tri j tunc inieóla eU tibi cupido
ijidendi lituras meãs, quiaui-
derasDextrum,isf M. Maxi-
mum, tf íiudifs fanSiaru fcri-
pturarú , tf legendarú nostra-
rum rerum hifiorijs folabaris
labores prolix<e, tf infuauis ca-
ptiuitatis inter Mauros, promiji
fiatim mijjurumpartum meum
n^el potius abortiuum fetum,
malui^ qualemcum^ tibi casH-
gandum, quam nuUum mittere,
Jatius ducensparere comiter im
peranti , quam relii£lari comi-
j ter efflagitanti- anplaciturum
\ Jít hoc meum obfequioluprorfus
ignoro. Sifuerit ingratum^tu
•■videris, qui iufsifti;finplaceat
c et eros annos, quos addideram
tibimittam. Vale fanciifsime
Pater Jjfjanãum tuú licetpau
perculumfenatiim Fidelium^tf
minifiros in primis, Clerumf^fa
luta, qui •'verfantur inter lupos
"vtoues manfuet^, ac bárbaro -
rum carnificiníe injingulas ho-
ras fubiacent, ferentes cotinuas
iniurias , malediãa^ a Sarra-
cenis quorum gladius eorú im-
pendet ceruibus . S. fenex loan-
nes feruus Dei Toletanus an-
tifles mui t um te falutareiíibet.^
ac iniunxit mihi de te feire an
eius EpiTiola Cyclica in tuas ma
nus ^enerit. Iterum , tf tertio
'vale Taleti 4. Idus Oftobris.
Ara 981.
Em Porcuguez quer dizer.
Jo [antifsimo Padre, tf
eminentifsimo Papa Heronio
meritifsimo Arcebifpo de Bra-
ga^ Luitprando fubdiacono de
Toledo rogafaude , tf felici-
dade eterna , tf difculpa fal-
tar emfua obrigação. Pediftef-
meSdntifsimo Pay , tf eminen-
tifsimo Papa, a myferuo "Pofo,
quafi enuergonhãdome c6 rogos
cótinuos,aquillo que maisjufia-
mente
"lie
eroes.
451
mente me pudéreis mandar pel- '
la fiiperior idade que tendes em
mim; tf eu pellafogeiçao^q -vos
deuo ^obrigação tinha de obede-
cer a qualquer aceno iJoJ^o.Qua
do fui em romaria àfagrada
Igreja de Santiago filho do Ze-
bedeu , Doutor ^Í5f Apoflolo nofo,
tf aos lufares mais celebres de
Portugal ^ÍP' Gali^ , tf prin-
cipalmente ao f agrado tcplo, tf
admiraueis relíquias do fantif-
JimoDoutor martyr^ tf Apoflo-
lo Pedro primeiro dicipulo do
mefmo Apoflolo , tf primeiro
martyr de Hefpanha , em Bra-
ga Augufla foi hofpedado em
yojja cafa com muita humanida
depor n:;os, tf por DoJSos mini-
jlros. Então y> indo a falar em
meus efcritos , tf entre elles na
CÓtinuacão daminhaChronica.
que faço ate o anno de 9^0. pro-
feguiado a de Marco Máximo
monge defaÓ Bento poeta muy
fabio , tf Bifpo de C^aragoça^
tf afsy a de Flauio Dextro^logo
entr afies em defejos de yer meus
borrões por quanto auies njiHo
a Dextro , tf Marco Máximo^
tf aliuiaues com a lição dasfa-
gradíU efcritunts , tf hifiorias
os trabalhos do largo , tf peno -
fo catiueiro , que entre os Mou-
Iros padeceis, Prometiuos logo
mandar eíie meuparto , ou per a
melhor di^er ahortiuo , tf an-
tes quis mhdallo ajsy como Ipay
pêra o emendares , que deixallo
ficar-, aí/endoque era mai^s acer-
tado OL>edécer a "pojlo preceito,
que refifiir a rcgos tão comedi-
dos. Nãofei de herdade fie ijos
contentara eflepequenoferuico.
Senão conte tara culpa he "pofia,
que me obrigafies Je parecer bt
mandarucsei os mais annos q
^ou acrecentando. Guardeuos
Deos fiãtifisimo Pay^ tf M yofi-
fojantoí ainda que pobre) fiena-
do dos fieis. Saudai primeramt-
teaos ministros jtf ao clero qan
daÓ entre os lobos comoouelhas
manfias^tf tcdas as horas efiao
fiogeitas a crueldade dos bárba-
ros,fiofirendo continUíís iniurias^
tf mcvs pai atirai dos Mouros,
cuja efipada efilá fobre feus pef-
cocos. Ofanto iJtlho loãofieruo
de Deos Bifipo de Toledo ijos
manda muito fiaudar, tf ^^
ordenou qfoubefie de Iposfie Ipos
fora dada húa carta fiuafiobre
0 Cyclo, Húa^ tf muitM njez^s
tenhaes faude , Toledo ii. de
Outubro 5 era 9S1.
Defta carta fe colhe a fan-
cidade do Bifpo Hcros, os tra-
balhos , &c afrontas que pade-
cia no catiueiro dos Mouros,
a amizade particular com que
corria com Luitprádo, o qual
Pp4
lhe
452
CapiudoCXUL
|P'12«9
I
f
lhe ol-íercceo,&: iraiidou par ■
te da íaa Chronica , que con-
tinuou a Marco Máximo, &
a outra parte dedicou a Tra-
ólcmundoBifpo Elibcritano,
como coníia de íuas obras , q
agora deu aliiz o doutiííimo
[wíFí'^??»! Dom Thomas Tamayo de
" Vargas. Com eíla memoria íe
acabáo as q temos dcíl:e Prela-
do, cujas obras, & annos de
vida nos efcondeo aopreflàõ
em quccllcj òi. os mais Chri-
íHos viuião debaixo do jugo
dos Mouros. Tinha por eíles
annos o gouerno da Igreja de
Deos depois de loão XI. Leaõ
VII.5íEikuão IX.o PapaMar
rino lí.cõforme a conta de Bel
larmino.E era Rey de Ouiedo,
& Afturias Dom Ramiro III.
CAPITVLO CXIIII.
G O N C^ A L O IX.
Arccbifpo d& Braga.
1 fe
Aõtinhamos
noticiado Ar
cebiípo Gon-
çalo^ & agora
nos deu delle
lu?. Luitprando dizendo que
depois de viíitar ao fato velho
Heros Arccbilpo de Braga vi-
ra também emEminio (hej Ci-
to a Águeda no Biípado de
Coimbra )ao ícinto varaõGon-
çalo,oqual ouuira que íu-
cedera a Heros dahy a alguns
annos na dignidade Primacial
de Braga. Saõaspalauras. Có-
ueni Eminij Sanãum '^irum
Gundifaluà , quem audhã pofi
aíiquot annos Juccefsijfe Hero-
nio. He Luitprando teftima-
nha de ouuida , & não ha ou-
tra que o affirme . Nefta du-
uida pomos aqui a Gonça-
lo entre os Arcebifpos dcíla
Santa Igreja por lhe não tirar-
mos o lugar que Luitprando
lhe dà.
CAPITVLO CXV.
HERMIGILDO
LXI.Arcebifpode Braga.
K
A memoria
deftc fato em
liLi Concilio
Prouincial, q
naeradeiooj
annode Chrifto 9Ó9.1e cele-
brou no lugar deNauego a 17.
Santa Senhorinha deBasíc.
4>3
fag.^8,
CondeD,
Fedro tit
domes de lunho. Ncllcaíli-
i:oii onoílo Prelado Hcrme-
çildode Braga,Thecmiro de
Mondonhcdo^Rodeííndo de
Dunie,& Cellanoua ^ Gonça-
lo de Leão , Siínando de Iria,
ViliultodeTui. Faz menção
dcfte Concilio o Biipo Sando-
líal nas antiguidades deTuy,o
cjual nos deu noticia deftePre-
lado: Era Sumo Pontífice por
cíles annoSjdepois de Marino
II. Agapito II. loaõ XII. Leaó
VIII.Bencdiífto V.oPapaloaõ
XIII.Rey deLeaõ,& Galliza
DomBermudoII. porlobre
noip.e o^otoío.
CAPITVLO C.XVI.
SANTA SE N HO.
rinha de Bajlo.
Ahio doillu-
rtre troncOj
&antigua ca-
ía dosSoufas
de Portugal a
Senhorinha , pêra
mor honra, & gloriados decé
dentes defta nobilifsimafami-
lia. Foi filha de Hufo Hufes
Bclfajsl , ou Belfager Conde,
& íenhor das terras de Vieira,
Vireê íanra^ennorinna ,
.o
&í Bailo, ^' outfas muitas dé-
tre Douro,&:Minho neile Ar-
cebiípado,& neta de Dom So-
eiro Belfajal,cm quem o Con-
de Dom Pedro começa a con-
tar ageração dos Souíàs. Sua
may íe chamou Dona Tare-
ja íenhora nobiliísima, & foi
irmão feu o Conde Dom Gõ-
çalo Soares, peílba mAiy aíli-
nalada,&: de grande valor nas
armas có que íeruio aos Reis
de Leaó em fijas conquiftas.
Era de muy pouca idade fanta
Senhorinha quando morreo
Dona Tareja fua may. Foi
grande o fentimento do Con-
de Hufo com erta perda : cre-
ciamaisador quando via a fal-
ta, que fazia a doutrina, &
criação da may aos tenros an-
nos de fua filha Senhorinha.
Tratou de a offerecer , & de-
dicar a Deos, & pêra iflo a deu
a criar a hija dona grauifsima,
não menos nobre na geração^
queiníigne na virtude, ^' fan-
tidade da vida , chamada Do-
na Godina Abbadefladomo-
ftciro de São loao de Vieira
da Ordem do Patriarcha Saõ
Bento , & tia , como querem
alguns, da fanta minina, ir-
mã de íuamay Dona Tareja.
1 Não fe enganou o pay
na eleição que fez de meílra
peia
45-
(^apitulo C.XV.
peraíua íiiha^, porque Godi- i íuccílOj&pedindolhecomin-
na a pos no caminho dctocías
2s virtudes ^ que podiaõ caber
cm ráo tenra idade , agora en-
íínandca com a paiaura^agora
como exemplo da vida, in-
íiruindoa de tal modo noa-
mor , &í temor de DCOS3& no
rigor da vida religiofa.que veo
achegar ao mais alto , & íubi-
do grão de perfeição , q íe po-
dia cípcrar de táo curtos an-
nos. Jeiúaua amayor parte da
í o mana , trazia hum cilicio
junto da carne , tomaua cada
dia húa riguroía diciplina , to-
das Tuas obras eraõ penitencia,
fuás palauras falar no Ceo , &
no eípoío de fua alma Chri-
llo lESV.
3 Qnis hum fidalgo no-
biliífimo de fanguc, 6c cafa
Real aparentar fe com ella por
via de ca(améto,tendo noticia
de fuás muitas prendas : buf—
cou meos pêra lho dar a en-
tender/oubeo a penitente mi-
nina,& com hum defprezo
fanto , lhe mandou íignificar
quedeíiítilfedaquella preten-
fáo, porque os intentos, que
tinha, erão guiados a outras
bodas ditíerentes das que elle
procuraua. Vendofeo man-
cebo defptezado da íanta, acc-
dioao pay,dandolhe conta do
ílanciaíua filha pêra cafarcõ
ella. Pr.receoaoCondequclhc
vinha bem ocalamento,pcllas
muitas qualidades da peíioa q
o pedia. Falou com íua filiia,
reprcíentandolhe quãto con-
uinhaclíeituarfe o matrimo-
nio pcllas circunílancias que
nelle concorrião. Ouuio Se-
nhorinha ao pay, & com húa
refolução , 6c conftancia ma-
yor que a idade lhe reípondeo
quecítaua cafada com Chri-
íio cfpofo de íua alma,& que
por nenhum modo tomaria
outro aindaque foíle o mayor
monarcha da terra, pois ren-
do oferecida a P.ey , & fenhor
mayor fua pureza, a quem a
auia dedicado, não podia fem
grande facrilegio apartarfe de
láoreaes bodas.
4 Moucraõ tanto ao pay
efias palauras da filha pronun-
ciadascomoferuor do efpiri-
to,que lhe prometeo de a não
mquietar mais , nem falar em
outro cafamcnto. Agradcceo
o Ceo ao Conde cfte feruiço,
porque teue reuelaçao de hum
Anjo,que o aceitara a Diuina
Mageftade,ô<: o animauaa que
defieohabitode Religiofa de
Saõ Bento a fua filha. Obcdc-
ceoo Conde à inlpiraçaodo
Ceo
Santa Senhorinha de Bailo.
45 S
CeOjfoi ao morteiro de Vicir.i,
declarou a Abbadelía Godina,
&: a Senhorinha a tenção que
leuaiia/oi flicil de perí uadir ao
quetanto delejaua, tomou o
habito de Monja com grande
alegria de fua tia Godina;«St: en
tendendo que com o nouo
habito Ihecortiaó nouas obri-
gações de mayor penitencia,
& mais fantidade, acrecentou
asabftinencia? j &c jejuns, as
mortificaçoés,&dicipIinas de
forte , que íeruia não fò de
excmploj mas de admiração a
todas as freiras daquclle con-
uento.
5" Eramuy dadaàhção de
htiros efpirituaes , porque co-
nhecendo Godina íua mefcra,
o grande fruito que de íua li-
ção fe tira , & como por meo
delia fala a alma com Deos , a
inílruyo nertcexercicio,&: la-
ta ocupação : nella gaftaua
muitas horas do dia,& da noi-
te , paliando as vidas dos mar-
tyres,deque particularmente
eradeuotarconliderauaos tor-
mentos , que padecerão, as
pelejas quetiucraõ com os ti-
rnnos^a conflancia com que
fcfrcraõ os golpes que lhe ti-
rarão a vidarderramaua muitas
lagrimas , acompanhadas de
I huasenuejas fantas, & defejos
■grandiilimos de tambtm fcr
martyr de Chriílo , ík de buí-
car Cf alíáo _, em que defle a vi-
da por clle. E vendo que lho
não prometia o eílado que ti-
nha j nem auia modo peia c5-
fcguireíle intéto, deu em hCia
melanconiaprofundiflima, q
qualí a tiraua tora de íy_,& cau-
faua grande defconíolação nas
Religioías, em particular na
AbbadeíIaGodinaj a qual co-
nhecendo a caufa da trifteza
da fanta , a animou,<Sj confo-
lou, dizendolhe que a vida re-
ligiofa tomada no íeu rigor,
era também martyrio, &c tan-
to mayor que o que os marty-
rcs padecião , quanto era de-
mais duração , porque efte he
húa penitencia continua de
muitos 'àfinos, o outro hum
tormento de breues dias , ou
horas,que logo acaba.
6 Animada aVirgem Se-
nhorinha com os fantos con-
íelhosdeíua meftra Godina,
começou a tentar nouas pe-
nitencias , &: abufcar dentro
cm caía o martyrio que deie-
jaua padecer fora delia . Tra-
tauale com muita aípereza,
erão as diciphnas niayores, cõ
queíebanhauaem fangue,je-
juaua rodos os diasdalomana,
& não comia nelles mais que
húa
456
Capitulo C.XFI.
húa vez , &: os manjares eraó
paõ com (ãl^ôc cinza _, de mo-
do que íua vida era hum per-
petuo, ôc continuo martyrio,
cm cjuc a tê a morte perícuc-
rou.
7 Ncítc tempo chamou
Deos pêra fy a lanta Abbadcí-
fa Godina.Foi por vontade de
codas eleita pêra lhe fuccdcr
no oíHciOj& prelazia a Virgé
Senhorinha,na qual dignidade
fe tratou com canto rigor,que
de noLf o parecia começar a cõ-
quiílar o Ceo. Deulhe o Se-
nhor particular graça pêra fa-
zer milagres . Trazendo hum
dia trabalhadores nas herdades
do moleiro faltou vinho pê-
ra lhe dar,mandou vir hú vazo
de agoa, ôc fazendo íobreelle
oíinal da Cruz o cf>nucrteo
em vinho marauilholo,' &: lhe
aconteceo depois por muitas
vezes o mcfmo milagre^ q fez
o filho de Deos quando fc ma
nifertou ao mundo. Outra
vez crtãdoo paõ na eira ja de-
bulhado efperando tempo pê-
ra fe alimpar, & recolher , fo-
breueo húa tempcftade tão
grofla que muitas eiras fe per-
derão. Vendo a fanta o íirande
riícoem queeítaua o remédio
do Conuento, & o dos po-
bres que fuftentauajacodio ao
Ceo J& poítos os olhos nellc*
feito o final da Cruz contra a
tempeífade^ que vinha deÇ-
carrcgando iobre a terra a di-
uidio, &c apartou em torma,
que chouendo por todas as
partes/ò naquclle filio le vio
o ar íéreno , Ôc a terra tão fe-
cacomo íe nunca ouuera final
de tempellade.
8 Vifitouahum diao glo-
riofo Saõ Rolendo primo feu
honra, & luífredafamiliados
Souías, & ou foíle a lhe dar os
parabéns da noua prelazia, ou
a fazer vifitaçao no mofteiro^
& Religiofas delle , gaftou cõ
a fanta grande parte do dia em
1 praticas elpirituaes, & colic»-
i quiosDiuinos . Pareceomal
cila conueríaçãoa dous offi-
! ciaes , que concertauão entáo
j os telhados da cafa , foltaraÕ
i contra ella palauras de mur-
muração , atribuindo a fins
deshoneftos aquella pratica:
não lhe tardou o caítigo mui-
tas horas porque logo entrou
nelles o Demónio com can-
to Ímpeto , que deu com am-
bos do telhado abaixo, 6c fu-
bitamete os matou. As freiras
aÍTligidas com taõ repentino
cafo acodiraó a fanta Senhori-
nha, a qu-il compadecida del-
lescõ a virtude de luas orações
os
Santa Senhorinha.
457
1
os rellicuyoà vida que tinhaõ
perdida. Alguns Autores a-
tribuem eíle milaure a Saõ Ro
fendo jOs quaes íeguimos em
fua vida , quando dellc clcrc-
uemos. O cerco he,que como
os fancos ambos eraó os of-
fendidos da murmuração,
ambos concorrerão no per-
dão da culpa , & cm pedir
a Deos vida pêra aquelles mi-
leraueis.
S> Achou a lança que não
conuinha pêra Religiolas por
rezão do lítio o mofteiro de
Vieira , onde era Abbadeflaj
quis paílaríe pcra outro , que
em Barto léus parentes lhe fú-
daraõ, &í a quem o Conde feu
pay fizera iargasdoaçoés.Nãó
auia pêra o caminho paõ, nem
mantimento algum. Olhou a
íanca pêra o Ceo pcdiolhe re-
médio pofta cm oração, não
cardou muito, porque ao ou-
tro dia fe acharão à porta do
mofteiro íacos de farinha cõ
que as P^eligiofas tiueraõ paó
; baftante para o caminho. Nel-
le fuccdco húa marauilha bem
notauel, que ainda hoje dà te-
ftimunho.da virtude, 6c graça
Diuina deita Santa. Chegando
ellacõ luas freiras ao lugar de
Carrczedo, & querendo rezar
aly o officio Diuino , por fer
hora pêra illb,foi,raò grande o
eílrondo^que cõ fuás mal for-
madas vozes leuãtaraõ as rans
de húas lagoas , qcftauaõ per-
to,quenão podendo as freiras
continuar com a rezajhc mã-
douaSantaq fecallallem , &
não impcdillèm os louuorcs
que as Religiofas dauaõ a feu
Criador. Obedecerão cilas taõ
pontualmente, que alem de
lecallarem., nunca maisappa-
receraõ naquclle lugar.
IO Eftando no Choro huai
noite em oração com fuasRe-
ligiofas vio per reuelação Di-
uina, que a alma de leii pa-
rente laó Rozendo hia glo-
riofa a gozar da bcmauentu-
rança éterna,leuada por mãos
de Anjos, que com muficas
feílejauaõ lua gloria. Logo o
declarou às Religiolas,as quais
notando o dia , & hora fou-
bcraó como no melmo tem-
po morrera ofanco no íeu mo
fteiro deCellanouaem Galiza.
1 1 Com eftes fauores do
Ceo cheeôil a íanca ao fim de
fua vida. Prcparouíe pêra a
morte, deque ja tinha reuelí'-
ção por mèt> de hCia voz do
Ceo, què a chamara. Rece--
beo os Sacramentos da Igre-
ja com grandiílimadeuação,
defpedioíè de fuás RcH^ioías ,
1
íoii
QaptuloC.XVI.
& íefoiaqueilaalniabemauê-
turada a gozar dos prémios
eternos aos iz.de Abril do an-
iiQ de Chriilo 5?8i. íèndo de 58
annos de idade . Sepulcarãna
no mcínio moil:ciro(que hoje
íc chama do nome da Saora^
& he Igreja parrochial ) junto
aíuameítra, & ciaíàntaGor
diiia, & a íaó Geruaz, que al-
guns dizem era irmão da lan-
ça, aindaque o Conde Dom
Pedro o não nomea por tal-,
porem quando o não íeja_,não
ha duuida que foi da gera-
ção dos Souzas , & parente
da íanca em grão chegado .
He venerada fua fepuícura,tS«r
frequentada de ronieiros,que
cie mui longe vem a ella, pel-
los muitos milagres que Deos
ahi obra por meo das relí-
quias da Santa, 6c da terra
de fua fepultura, que tem
por milagroíà pêra curar ma-
leitas, éi outras enfermida-
des.
jz Fora mui largo contar
as marau ilhas queDeos obrou
porefta Santa depois de fua
morte. Chegou a fama delias
ao Arcebifpo dcfta Igreja de
Braga Dom Payo, & foi certi-
ficado q eftaua o fagrado cor-
po no fepulchro inteiro, & fc
corru pção. Qujs ver com os
olhos clle milagre, (S: tirarleda
duuida,em queeltauacó o pai
par com íuas própria? mãos.
Eis que neíte tempo chega hú
cego de nacimento á fepultu-
ra da Santa, pedindolhc luz
pcra íua cegueira. Defpachouo
cila logo cm preíençado Ar-
ccbilpo, dandolhea vifta nos
olhos do corpo que lhe pedia,
& abrindo os da almaãqqel-
le Prelado dcinaneira quede-
íiíHo de tocar na fepultura ,
dando com o cego,Ã: com to-
do o pouo que vio o milagre
infinitos louuoresa Deos, a-
chando que não eraõ neccfla-
rias mais prouas^ncmexperié-
cias dainCorrupçáo do corpo
da Santa áviftade taõ grande
marauilíia.
13 Efi;e,& outros iiiilagres
fcmelhantGS cia Santa fizerão
taó famoío ícu nome, que ti-
rarão de íuas caías a grandes
Príncipes pêra irem ver, &
viíítaraíàgrada fepultura, ã:
lhe pedir íocorro cm íuasne-
ccfsidades. Dõ Sancho Rcy de
Portugal primeiro do nome
viíitou cmpelíoa as relíquias
da Santa , & fez hiía noue-
naem fua Igreja pedíndolhe
faude pêra o Príncipe D5 Af-
fonfo feu filho, q eílaua enfer-
mo, &cm perigo de morte. 1
moiuircb
Defpach
ou
ú
S. Senhorinha-^
4S9
Ddpachou a íanra fua pe—
ciçáo , alcançando de Deos
íaude peraodcence.
14 Agradecido o Rey de-
lia merce, íez couto alua Igre
ja andando a pè correndo o cir
cuiiopor onde íeauia de de-
marcar, & fes q por ordem de
GonçaloMédes íenhor da cer-
ra_, fe leuanraílem os marcos.
Todo efte íuceílo nos relata
húaeícritura,q anda lançada
nos liuros do cartório deita
Igreja de Braga,& diz aísy.
• In nominejanãs , i^ indi-
uidiite Trinitatis Patris, Iff Fi
^ijyi^ Spiritus Sanai. Ego Rex
D. Sancius memor humance cÓ-
ditionis , iff mortalium cafus
perairatisquibusdampartibus
Regni mei caufa orationis '~uz-
ni ad locum 'ubi corpus Beatif-
fnici Virginis Stnorincc requief-
cit, inquo preces nosífas pront
decet Domino Deoftmdens ipsa
Virginem gemitibus , i!fftí]pí-
rijs pulfaui , quatenus ipfa a
Domino Deo Jiio precibusfuis
fiiper faíutem filio meo Domino
Alfonfo Regi impetrarei. Qua
diãapromtji me ereãurum mu-
ni tionis lapides qnos cautum j>o
cant in circmtu locifanâiifsi-
m^c Virginis , fi petita falus
orat tonem fecuta for et ^ immi-
nebat enim pericuhm mortis-;
fed oratiombiis gL r efe Virginis
expitlfimesl Igitur conjide-
rato termino hei per girum
pedibus méis ipfa loca peram-
bulam., i^ 'Dt competeret Di-
di perras erigere , í^^fi^^ per
manus D. Gondfalui Aíenen-
di j qui tum temporis Princcps
erat. Primus lápis ereóiiis eft
•X'bi intrat m Bafio riuulus ille
de McT^^s^
Sua lígnificação he o que
em Toma atraz reterimos.
Naóícefqueceo o Infante
Dom Áiíonib de reconhe-
cera faude recebida pellos me-
recimentos da Santa, porque
cm gratificação de tão grau^
de mercê tanto que tomou
o cetro mandou palíar híia
prouifaõ Real ^ peílaqualrc-
cebeo debaixo de íua pro-
tecção a Igreja da Santa, íeu
couto, & propriedades, lar-
gando todo o direito quenel-
las podia ter. He íua data em
Guimarães era mil & duzen-
tos èc íincoenta ôí oito, que
vem a cairnoannode Chri-
ílo mil & duzentos & vin-
te . Anda cila prouifaõ , en-
tre outras, lançada nos liuros
do arcliiuo deíla fanta igre-
ij- Cotinuaraõ osmaisReis de
Portugal nadeuação deftaSãta.
^
ElRey
46o
Capítulo C,X VI.
ElRcy Dom Aiíoníb terceiro
filho do meímo Dom Aííon-
roíegundo paílou duas cartas
em fauor da meíma Igreja^ &
terras de íanca Senhorinha.
ElRey Dom Pedro Cru an-
nexou à própria Igreja os
frutos da Parrochiade Tan-
ta Maria de Salto cm Barro-
(o com certas obrigaçoés,&
declara que Dona Inês de
Caftro mandara fazer a ca—
pella em que cílà fcpulrado
Saõ Geruaz . Saõ as palauras
da efcritura como as traz o
Ghronifta frei António Bran-
dão tiradas da torre do Tom-
bo as que fe fcguem.
Em nome deDeos amen.Sai-
bao quantos efla carta ^irem,
como eu Dom Pedro pella gra-
ça de Deos Rey de Portugal^
Ij" do Algarue , n honra , l^
feruico de Deos , l^ de Santa
Mana fua Madre- , ^ afsina-
damente à honra , isf louuor da
hemauenturadafanta Senhori-
nha de Bafio , ò^ do bemauen-
turado SaÓ Gerua^ , tf em
remimento de meus peccados fa-
ço doação à dita Igreja de
Santa Senhorinha pêra fempre ^
em guifa que nunca poJ?afer
reuogada^ de todo o direito que
ei do padroado da Igreja de [an-
ta Maria de Salto do Arcebif-
pado de Braga, isJ'c. E mais a-
baixo vindo aos encargos cõ
que a da diz afsy. Com tal con-
dição que qualquer que delia for
Abbade tenha hum capei lãO pê-
ra todofempre^ que cante em ca-
da hum dia M/Jfafobre o altar,
Iff diga Ai horas Canónicas em
húa cdpella que na dita Igreja
fes Dona Inês de Cajiro aonde
eííá c corpo de Saó Gerua':^ E
outro fy tenha hum mofinho que
ftrua o dito capellco na dita
Igreja de tudo o que lhe cum-
prir , if tenha pêra todofem-
pre três alampadas com a^^eite^
que também de dia, como de noi-
te efiemfempre acec^ts ^ i^ húa
efié diante o Crucifixo, outra an
te huja^feu corpo defanta Se-
nhorinha , if a outra na capei-
la ante o lugar huja^o corpo de
faó Gerua^. Dada em Valen-
ça de Riba Minho ^ quinze duu
de Setembro, ElRey o mandou,
Gonçalo Paes a fe^ era de mil
tf tre(^ntos,tf nouéta tf oito.
\6 Rèzão deftaíantaos
Religiofos do Patriarcha Saõ
Bento onde tem lições pro-
priaSjÃ: no Brcuiario de íanta
Cruz dcCoimbra.Eícreuê fua
vida, fr. António de lepeSjfr.
Bernar.deBrito/r.LuisdosAn
joSjoPadre António dcVaícõ-
cellos, Duarte Nuncz dcLeaõ,
oMarty-
«'■977''
Brtt
2.p.
wonarch
'''•7.C.15
Fr, Luts
lard pag
I^afco, in
53".
Dm Nii
nesna de
fcr.p.p^g.
Il4,llã
'ano.
461
líb.iz.c.
i-7'
chro.f.ig.
119.
0 Marcyrologio Português
dcs padres da Companhia de
lES VS,em ii, de Abril fr. An-
tónio Brandão na quarta par-
te da Monarchia.
CAPITVLO C.XVII.
1 V L 1 A N O LXII.
Arcehijpo de Braga.
ESTE Pre-
lado nos dà
noticia lulia-
no drzcndoq
foiArcebiípo
de Braga, ^ depois mudado
ao Arcebiípado de Toledo^on
de morreo no anno deChrifto
1038. & com muito fcntimé-
to , & lagrimas foi fepultado
na Igreja de fanta Eulália. Cha
malhe doutorj& eícritor de fa
grados Concílios^ òi. diz q fu-
cedeoem Toledo ac Arcebif-
po Zenapolio . O Catalogo
dos Arcebiípos daqlla Igreja,
nãopoêeÍLesdousPrclados cn
treos mais, né outros muitos^
que traz luliano. Os Papas q
fucederaõa loao XIII, toraõ
Dono,Benedi<íto VI. Benedi-
to VII. loaÕXIIII.Ioaò XV.
loaõ XVI. GreíTorio V. Silue-
, ueftre 11. loaó XVII. loaõ
XVIIÍ.Sergio,BenediaoVIIÍ
Icaó XIX.^^Sc BcnedidoIX q
ncfte tépo gouernaua. EraRey
de LeáoDó Fernãdo oMa;^no,
CAPITVLO C.XVIII.
SIGI F RI D O LXIIJ.
Arcehifpo de Braga.
r?5»
/^^l
(Ml O anno de
P|^ 1060. diz lu-
)^^^P) lianoqueveo
m^i a Heípanha
á5;.^g^^^^ Sieiirido Ab-
bade do moíleiro de Fulda em
Alemanha cm rcmcria a San-
tiago de Galliza , pêra vihtar o
corpo do íagrado Apoítolo,
&cífoi creado Arcebiípo de
Braga^q efteue eniTolcdo len-
do Arcebiípo Paícoal , & tor-
nando depois pêra íua pátria,
foi eleito pcllo clero , &í pouo
Biípo deMaguncia; ate qui
faõ palauras de luliano tra-
duzidas do latim . O padre
freiAntonio delepes naChro-
nica geral de Saõ Bento taz
mençáo de Sigifrido Abbade
do morteiro de Fulda ínHgnc
naquellc tempo na Prouincia
de Alemanha , pondoo no Ca
talogo delles cõ titulo deRcli-
giofiílimo, & de varaõ de ra-
ras partcsj diz que foi eleito
Qq 3 Arce
(hro.^agA
IZI.
ro,3. ff /3|
'<?«, 744.1
l/f/. 112.
i
4Ó:
QapitdoC.XVIll.
Aicebifpo de Maguncia, &:
que veo cm romaria a Santia-
go dcGallizacõ osArcebitpos
de Colónia , & Treuiris. Mas
parece não teuc noticia da
eleição de Sifrido em Arce-
bifpo de Braga, porque nem
Icucmentefalanella, culpa de
ertarem ainda em íeu tempo
efcõdidas as obras de luliano.
Podia bê reter Sifrido ambos
os Arcebifpados, porque o de
Braga era titular fomente Tem
rêda,& fem Igreja, & afsy não
impedia o de Maguncia.Aspa-
laurasdelepes facasfeguintes.
Sifrido ijaron de EpeHein
monge ReUgioJifsimo^y de rara
prudência , y con tales partes^
quefu nombre erafamofo en las
ProuincUs circunue^/ncu. En
elfegundo ano dei Abbadio mu-
rio Leopoldo ArcebifpodeMa-
guncia , en cujo lugar fuefub-
Hittiido Sifrido conguUo de He
rico IIII. Emperador, cuyas
partes fauorecia. Por eUa cau~
fafue d epue fio, porei Papa Gre
goriofetimo. Perofueluegore-
fiittiido porVrbanoPontifice fe-
gimdo defle nombre. D ejpues de-
stosfucej^os Sifrido Arçobifpo
de Maguncia, de quien ajamos
tratando, Engelberto Arçobif-
po de Treuins, Annon ArçobiJ-
po de Colónia empredieron a^na
pertgrinacion harto notablcy
denota^ porque fueron ejhs tns
Prelados a íerufakm^y a San-
tiago de Galileia. Boluiendo Si-
frido dejla jornada muno el
ano de 1084.
z Oannoda morte de Si-
frido, queaponta Icpes não
parece certo, porque íe cUe foi
reílituidoâ Igreja de Magun-
cia pello Papa Vrbano II. co-
mo lua elciçaó ao Summo Pó
tificadocailleno fimdoanno
de 1087. ou principio de 1088.
(como querBcllarmino)dcfor
ça le ha de lançara morte de
Sifrido alguns annos adiante
do de 1 084, ou atribuir fua re-
iHtuição ao meímo Gregório
VII. que o priuou do Arce-
bilpado i o que tem grande
contrariedade com a hiítoria
do íanto Pontiíice. Gouerna-
ráo a Cadeira de S. Pedro , de-
pois de Benedi(5lo IX. Grego-»
rio VI. Clemente II. Damafo
lí.LeáoIX.ViétorlI.Ellepha
noX.Niculao II Alexádrell.
óc Grogorio VII. Era Reyde
Lcaó Dom AfFonfo o VI.
3 O Catalogo dos Arce-
bifpos de Braga , q eftà na Sá-
crillia deftaíantaSc , nomea
mais alguns Prelados, que flo-
recerao no tempo que Braga
eíteue ocupada de Mouros,
si li fr ido.
46S
<k encomendada à Igreja de
LugOj tk Compolklla . Poré
contallos por nolíoshe tomar
a Liigo o q he íeii^ pois jamais
oforaõdc Braga. Nê baltaa-
charemíe allinados emalgúas
efcricuras ,& preuilegios com
titulo de Metropolitanos, por
q je efta dignidade tiucraõ os
deLugoem quanto durou o
Reino dos Sueuos ,E aindaque
no tempo, que íenhoreauáo
os Godos toda Heípanha^fe
extiníiuio.&acabourcom tu-
do côa entrada dos Mouros,
&: ruina de Braga , 6c das mais
Metropoles,& cidades Epílco-
paes de Heípanha, fauorecida
Lugo dos Reis de Aíturias , ôc
GallÍ7a,tornou a tomar o ti-
tulo de Metropolitana, aíTinã-
dofe cõ elle os Bifpos daquella
Igreja, ainda depois de fcpaílar
dnhy peraOuicdo a dignidade
Arcebifpal.E confta claramen-
te q no tempo queBraga efte-
ue encomendada aLugo tinha
paaticulares Arcebifpos q fir-
mauão com erte titulo, como
fc vedos que acima deixamos
referidos. Epoftoque não ti-
ne íTem rendas em Braga , ti-
nhão com tudo o titulo deMe
tropolitanoSj&lhefoiaílmada
renda na cidade deOuiedo co-
mo aosmaisPreladoSjpera del-
ia poderem viuer. ■ '.>{-.■ -
4 Prouaíc o q himos dízen-
zendocomeuidencia porque
elles Prclados,q a taboa da íá^
criltia chama de Bra^za , não fc
intitulão taeSjíe nãoMetropo-
litanos de Lugo como adiante
veremos, Pelloque íe não. po-
de dizer que eraó Metropclir
tanos de Braga, por que fe ofo-
raõ aísy íc aHinarão,o que não
fazem como diícuría bem Dó
MauroFerrcr trazédo em pro-
uaduas efcrituras,cm que mo
ftra que conferuaráo fempre
os Prelados de Braga, & Lu-
go o titulo dcMetropoIitanos.
A primeira efcritara he húa
doação q elRey DõOrdonho
II. fez ao Moíieiro de S. Pe-
dro de Montes no anno de
Chrirto 898. onde aíTuia o Bif-
po de Lugo RecaredojCom ti-
tulo deMetropolitano. A íegú
da cfcritura he húa doação q
S.Rozendo fez ao feu moíiei-
ro de Cellanoua no anno de
Chrifto 942..ondeaírmao Ar-
cebifpo de Braga Hcros cõ ti-
tulo de Metropolino, como
emfua vidadiílemos. E pou-
co neceíTiiauamos de todas as
piouas referidas,quádo temos
à mão húa tão euidentecomo
he aííinarem na mefma cfcritu
raaííi o Arcebifpo de Braga,
f .19 ^ag.
74'
0^4
como
464
Qapítulo C.XIX.
^fufra
ÍXlo.
como o Metropolitano de Lu
go. Elta he a da confagração
da Igreja de Sandago que re-
ferimos na vidado Arccbifpo
Argemiro , onde afluía Arge-
miro Bifpo de Braga , òí logo
mais abaixo depois de outros
Prelados Recarcdo Bilpo de
Lugo. O mcfmo íe ve no fe-
cundo Concilio da cidade de
Lugo,& no primeiro deOuic-
do, onde íe acharaóArgimun-
do Arccbiípo deBraga,& Vui-
maredo Bifpo de Lugo anno
de Chrifto 8ii . Donde íe
moftra a diftinçao, & diuer-
fidade deftes dous Prelados,
pois humíe intitulaMetropo-
litanodcBraga, o outro Me-
tropolitano de Lugo.
Pouco papel gaitaremos
cm repetir aqui os Prelados
deita taboaem que himos fa-
lando. E que fora muito ainda
lliedcuiamos mais, pello cui-
dado com que defenderão as
CO ufas de rta Igreja em quan-
to a tiucraõ debaixo de fua ad-
miniflração.Saõos fcguintcs.
Meti'opolitanos de Lugo que
a taboa deflaSe confunde
com os de Braga.
Odoario. Defte Prelado cõfta,
que foi varão fanto , & q pro-
curou reítaurar Brasa , &fc2
grandes diligencias porq lhe
I
I foíícmrerticuidos íeus bens.
Adulfo. Gladiano. Froilano.
Recaredo Gonçalo, Payo.
Diogo. Pedro. Maurelio.
Crefconio . Fe/trio. Defle di-
remos no capitulo íeguinte.
CAPITVLO C.XIX
DOM PEDRO LXVII.
Arcebijpo de Braga.
\
E M O S
poílo fim à
primeira par
te da hiítoria
delia Santa
Igreja , quafi com aquclla
melma boa fortuna, com que
a começamos , vindo a ciar
em íua reítauraçáo noutro
Arcebiípo taó fcmelbanteao
que primeiro a fundou Saõ Pe
dro de Rates , quanto fera fá-
cil collegir a quem ler a vi-
da de hum, & outro. Am-
bos no nome foraõ Pedros ,
& nas obras pedras viuas
defte edifício; ambos pcríê-
guidos pclla fúria do inimigo
infernal : ja armada com a po-
tencia dos Príncipes Gentios,
como miniftros particulares
Icus:
Dom Tedfo.
465
íeus: jacom a dos Clirilláos,
ou rcal informados , ou mal
intencionados, tudo a Hm de
a não deixarem íahir a luz
quando nacia , nem cjuando
outra vez íercftauraua . Mas
todos crtes ardis ^ & traças
diabólicas desfez a protecção
daqucUe mefmo Deos, que a-
indafòra deltas ocaííoés adc-
fendeo, &c conferuou , dan-
dolhe Prelados, que cm todas
fuás mayorcs tribulações a
gauernaífem, & emparaflem
naFè,que primeiro lhe foi pre-
gada pello leu Apollolo San-
tiago. Foraóeftesos Bafilios,
os Ouidios , os Martinlios,
& outros muitos , que feria
longo contar, mayormentc
tendp nos dada de íua vida, &c
acções taõ particular nociciaj
o q da do BiípoDò Pedro pu-
demosdefcobrir heolesuinte.
z Defejando o grande
Rey Dom Fernando primei-
ro do nome entre os de Cafte-
Iha , & Lcaõ deixar depois de
fuamortea feus líllips quie-
tos nos reynos,que parte her-
dara, parte conquiftara, & in-
cluyaó muitas Prouincias de
Hcípanha , os rcpartio ainda
em vida pcllos tres,q tiucra na
Rainha Dona Sancha,deixan-
I do nella repartiçáo(o queelle
nao imaiZinaua
donde
Fiiícas,
depois naceraò os incêndios,
com que íe vicraõ à abra-
far j a Dom Sancho como
a mais velho deu Callella a
velhaca Dom Aftonfo, que
logo no nacimento o íeguia,
Lcaõ,& Afturiasj a Dom Gar-
cia o de menos idade , Galliza
com tudo o que eílaua ganha-
do da outra parte do Douro,
atè oMódego , onde entrauaõ
Coimbra, Lamego , Vifeu , &
outras terrasa que propriamé-
te chamauão Portugal. To-
marão cada hum dos nouos
Reis poíTe do que lhe perten-
cia, & em quanto viucraõà
fombrade feu pay quietos, a-
creccntauão o aquirido com
nouas conquiftas de cida-
des, & villas , que de ncuo
rcdificauáo , &mandauãopo
uoar aly nos mefmos lugares
onde jà eftiueraõ outros anti-
guos arruinados, ^ deíli;ui-
dos pcUa fúria dos Mouros, q
como caftigodcDeos tinháo
oprimidas todas efla; Prouin-
cias. O q mais fe moflraua zelo
fo defta rertauraçào em feus
Reinos era ElRey Dó Garcia:
parece q não trataua em mais
que cm os tornar outra vez
áquellaantigua profperidade,
quando fe viraó mais floretes.
Qlí
Pe-
466
Capitulo C.XÍX.
3 Pêra irto quis começar
por Braga como principal ci-
dade de codas,& como aqueila
porquem começara a vida efpi
ritual de todaHeípanha, pella
pregação do Apoltolo Santia-
go. Achou o grande Rey que
defle azas a elles léus inten-
tos,porque ouuindolhos pra-
ticar algúas vezes o Biípo de
Lugo VeltriOjOu Veílriano,&
o de IriaCreíconio,lobre lhos
louarcm lhos facilitarão , ôc fe
oíFereceraõ a ferem os pri-
meiros pouoadores. Partidos
daCorteosdous Prelados le-
uãdoasprouifoês pêra a obra
neceíTariaSj chamarão cõ pri-
uilegios , ôc izcnçoês muitos
a quê a comodidade do lítio,
a bondade dos are;, afrefcura
dos campos de fy mcfmo eíla-
uãoconuidando. Lançarãofc
os nouosfundamentos da an-
tigua cidade no íitio aonde
agora fevè, & a Igreja Cathe-
dral,q maisleuauáo nosolhos,
com o nome da Virge Senho-
ra Noíla fe começou a leuan-
taripoiem nãoconfta do lu-
gar onde fe fundou, nem delle
fazem menção as memorias
antiguasdoarchiuo defta Se.
Ao tempo que começou cfta
noua reftauração da cidade
não auia nella mais que hum
[ caftcUo chamado de Maximi-
nos , onde hoje íe vem ruinas
delle , & dos muros antiguos,
& alguns dos prefentes, que
moraó vizinhos, íe lembraõ
irem por aly paredes altas , ôc
Icuarle muita pedra delias pê-
ra outros edifícios da cidade.
4 Toda a dificuldade efteuc
em fe rellituiré á noua Cathc-
dral íeus primeiros bens. Poí-
fuyaõnos entaó peífoas po-
derofas do Reino , Ã: vinhão
mal em lhe ferem tiradosrmas
o Rey como Catholico, que
era, chamado a cortes, fez íà-
ber a todos como a fabrica da-
qlla obra era em grade íeruiço,
& honra da Diuina Magcfta-
de,& darfclhe calor perten-
cia a fua nobreza •, pello que
lhe pedia muito lhe quifeíTem
largar todas as propriedades,
que tiueíTem daquella Igreja,
pois elle daly lhe daua , ôc
doaua as rendas,que poíluyão
no feu morteiro doCordoa-
rio peraque nellas fe pagafie a
cada hum pro rata o que fea-
chaíTe largaua.
j Não pode a fidalguia
dos preícntes reííftir a taõju-
fta petição delRey ^ fizeraõ
ceíTao cm fuás mãos dos bens
que poíluyão, & elle os en-
corporou outra vez nefta Sé.
Dell
es
^onTedro.
467
Dclles íe inll:ituiraõ capellaés
que logo começarão n rezar
em comunidade o ofíicio Di-
uino: applicaráoíeosremane-
ccntes pêra as obras Tem ate
encáo íe tratar de nomear Bií-
po, a quem íe delíe algúa ren-
da , continuando a Igreja
de Lngo com a adminiftração
detudo pellaantigua encomé-
da que da dita Igreja lhe fora
feita.
6 Neíles termos hiaEl-
Rey Dom Garcia cò a rcíUu-
ração de Braga, & fua Igreja,
quando fendo Deos feruido
icuar pcra íy a ElRey Dõ Fer-
nando fubitamcnte parou, oLi
pêra melhor dizer, deiandou
tudo com as nouas guerras, q
logofcfcguiraó. Porque del-
contcnte Dõ Sancho o filho
mais velho doRev defunto da
repartição, que o pay fizera de
feus Reinos, pretendendo que
aelleíòlhe pretencião como
mais velho , & que fora fei-
ta contra direito , & em graue
prejuizo feu,& de feus decen-
dentes , leuantando grandes
exércitos primeiro contra fcu
irmão Dom Garcia, depois
de vários fuceífoso veo a prê-
der , & fe fez fenhor de ícus
eíl:ados, retendoo fempre na
priíaõ ate finalmête vir a mor-
rer iiclla.
7 Osfenhores Gallegcs,
cujos foraõ os bcs reílituidos
deíia Igreja, tornarão apuxar
por elles , d<. depois de os aue-
rcm comiaõ também os que
íe lhe aílmaraõ no moíleiro
deCordoario , fem Dom Sa-
cho fe atreuer a lhe ir à mão,
porque como era entrado de
nouo no Reino fem outro di-
reito mais que o das armas , có
que vencera, & puzeraem pri-
zão ao Rei,& fenhor proprie-
tário , & natural dellc ^ não
queria com efta nouaopreílaõ
eícandalizallos mais , nem dar
ocaííãoa algum aleuantamé-
to.Cótinuou com tudo com
a reflauracão de Braga, mas có
menos calor do que o fazia
ElRey Dom García,& por lhe
parecer afsv necefiario lhe no-
meou nouo Arcebiípo. O ar-
chiuo , & memorias defta Sé
naõ dizem fe era clerigo/e reli
giofo,íòlhe chamaõ Dom Pe-
dro , de lhe daó titulo de va-
rão prudente , magnânimo,
zeloío de íua Igreja, & reftau-
rador de feus bens . Muitos o
fazem monge de Sao Bento,&
filho do moífeirodeCellano-
uacm GaUiza,fundação de S.
Rofendo , ou do de Tybaés
vizinho a eífa cidade , mas
'íBMvíR'^
4^8
Capitulo C.Xll
X.
oiilo não conlta ao cerco.
8 Vicenào ainda omcl-
moRey Dom Sancho ( lo-
go diremos cJe íua morte ) le
deu cao boa diligencia o Arce-
biipo Dom Pedro, & fe fez
ranço amar de codos os de fua
Prouincia , que por não que-
brarem com clle tinhaõ por
melhor relHcuirem lhe os bes
quecõílauaforão de íua igre-
ja. Aqui temos húa eícritura
nellearchiuOj em que íe con-
ta hum grande numero de-
lias propriedades , no íím da
qual conclue. Estas faô cts coii-
foí que aquirio o Bifpo de Bra-
ga Dom Pedro , este he o tefia-
mento das heranças que o Bifpo
de Bra^a Dom Pedro de boa
memoria aquirio por fua Ttir-
tude ; porque como a Igreja de
Braga esiiuej^e defirui da, i^ ar-
ruinada^ isf nao tiuej?e Pajlor q
procurajfe por ellap -venerauel
Pedro recebeo o officio de feu
Prelado , is^ das muitas herda-
de?,que amiguamente forao de-
Jla Metropoli, recuperou fegun-
do fuás forcas todas as q atra^
foraÓ nomeadas , tf naofatif-
feito com ifo trabalhou em qua
to -uiueo que fua Igreja alcan-
çajfe a honra^i^ dignidade^que
Je lhe deuia.
9 Afsy hia profeguindo
o Arcebiípo Dom Pedro na í
reílau ração de íua igreja de-
ícjoíodea por outra vez cm
lua ancigua grandezarcudo lhe
promeciaíuaboamduílriajtu-
do o fanco zelo com que en-
caminhaua fu.as acções , tudo
a facilidade com que le fazia
fenhor dos corações dos íidal-
gos Gallegos , & ainda dos
Caíl:elhanos,a quem era muy
aceito , mormente a ElRey
Dom Sancho , pello que co-
nhecia de íua virtude, & va-
lor.
10 Não durou muitos an-
nos o fauor,& valia , que teue
Dom Pedro com ElReyDom
Sancho, porque forão poucos
os de íua vida , que lhe tirou
a infame treição de Bellido
de Oltos_, o qual ellãdo ElRey
fobrc C,amora com preccn-
fão de a tirar a íua irmã Dona
Vrraca,fahio da cidade com ca
pa de concertos j & andando
tracandoos com ellcíòno ca-
po , o atraueífou às punhala-
das fcm os íeus lhe poderem
valer.
1 1 Com cfte fucccílb Dó
Affonfo,a quem Dom San-
cho leu irmaõ tinha tãbe deí-
pojado do Reyno deAfturias,
& Leaó , & obrigado à íe fazer
. Religiofono mofteiro deSa-
L
ízahum
o
'«'I
^om Fedro.
4Ó9
hagum, donde íc faira , & fora
fugido peia Toledo, pêra aly
viucr àlombra do Rey Mouro
dacjuella cidade. Por não fica-
rem à Dom Sancho filhos foi
jurado por Rey, & o que auia
pouco viuia à mercê do Rey
Mouro de Toledo , quaíl em
hum inftantefe vio fenhor do
melhor de todaHeípanlia.Náo
fe lhe deu cótudo a poíle dos
Reinos de feu irmãoDom Sa-
cho fem primeiro tomarju-
ramento nas maós do grande
Caualleiro Cid Ruy Diaz que
elle não fora íabedor, nem cõ-
fentidor na morte de Dom
Sancho. Porem aggrauou taco
crte ado aonouo Rey,pella
defcófiança q cótra elle íe mo
ftraua,que comando facisfação
na peílba do Cid, o deílerrou
de feus Reinos , vfando com
cllc de termos pouco deuidos
a fua fidalguia, & valor,
li Deuia entrar também
neíle juramento que fe pe-
dioaElRey Dom Àífonfo o
noflb Arcebifpo de Braga, &
ler elle hum dos que publica-
uáo fuccderaamortedeDom
Sancho por ordem , & indu-
ftria fua, porque ElRey o en-
controu íemprc, impedindo-
Iheda Sè Apoílolica opallio
Arcebiípal: & nao ceifou a
até
ma vontade que lhe tinha
de todo c. piiuar da digni-
dadeem qucíeu irmão o pu-
zera. O direito, ou poderes cõ
que fe atreueo a tal exorbi-
tância, nos o não fabcmos^
aquelles tempos em que os
Reis fe criauão, & viuiáo fem-
pre em guerra , lhe faziáo fácil
tudo quanto intentauão. Ne-
fte Dom Aífonío ( ainda que
por outra ocaíiaõ ) teue prin-
cipio oprouerbio, làajaoleys
onde querem Reys. O certo he
que o noílo Dom Pedro nao
podefazer outra coufa, mais q
ceder à potencia Real,& reco-
lhcríè,comooRey Iheman-
daua,ahum moífeiro pêra
nelle acabar o que lhe reífaua
de vida : qual eíte foílè nao ha
memoria :bem de crerhe não
feria , nem nos Reinos perté-
centes a Dom Garcia , né nos
de Callella , que na repartição
dopay couberaóa Dom San-
cho,pella muita mão que nd-
les teria o Arcebifpo Dom Pe-
dro: deuia deputarlhe algum
das Aílurias,ouReinodeLeaõ,
onde lhe parecia o teria mais
fcguro . Aly em fanta velhi-
ce todo ocupado na contem-
plação da bemauencurança, íé
lembranças nenhúas da digni-
dade de que fe via priuado.
acaDou
470
Capimlo C.XIX
acabou a vida , deíejado fem-
pre de íuas ouclhaSj& nomea-
do per íeu Paftor ainda de-
pois da eleição de laõCiraieío,
que íoi oc] Vac íucedeo. Acha-
mos neíle archiuo alguas doa-
ções feitas ao Arcebiípo Dom
Pedro em tempo cjuejàgo-
uernaiia íeu íucelíor ; & a re-
záo he porque viuia ainda no
moíleiro cm que ElRey Dom
Affonfo o fez recoliíer. En-
trou o Arcebiípo Dom Pedro
neiia Igreja pellos annos de
lo-jz. pouco mais, ou menosj
durou nella ate o de 1090. em
que foi eleito faõ Giraldo. Foi
como ja acima começauamos
a dizer , excellente Prelado, &
ifora hum dos mais notaueis
dcfta Igreja/elhe naõ faltara o
fauordelRey Dom Affonfo o
fexto. As mais das couías que
delle deixamos efcritas íelem
cmhúaefcritura que anda no
liuro, a que chamão Fidei do
archiuo deita Sé^ a qual tradu-
zida do latim em Portuguez.
diz afsy.
1 3 Depois que pellos pecca-
dos de feus moradores foiHef-
'panha deUruida ; os Chrijlaos
pella m/fericordia de Deos re-
cobrando nonas for 1^ as, começa-
rão a ganhar o perdido , ainda
que em largo num&ro de annos;
porê das terras aquiridcts <-vfa-
uaoàfeugoUo ^ trocando huns
em pofejioês feculares as Igre-
jas dedicadas ao cultoDiuinoJs'
fogeitando outros os templos ^ if
mofieiros celebr es -antiguamen-
te à outros de menos confidera-
Ção^os quaes de nouo fundauao.
Entre estes foi humP^ey chama-
do Ordonho que fogeitou a Igre-
ja de Braga ( a qual deuefer
Metropoli , l^ may de todas ^
de Hejpanha) a Santiago quan-
do a cidade de Braga eflaiia
dejhuida , tf feita hum monte
depedras . Pajfados nesla for-
ma muitos annos ^por morte do
Christiamfsimo Rey Dom Fer-
nando ^ a qual fucedeo ha pau-
CO em nofos tempos, diuidio feu
\ reino emires filhos ^ DomSan-
; cho. Dom Affonfo, tf DÓ Gar-
{ cia ; ao qual coube aparte Oc-
cidental, em que cae Braga. A
elle '-vierao Vejlrio Bifpo deLu-
go, Crefconio delria^ com ou-
tras pefoas Religiofas , tf ca-
ualleiros da terra, tf lhe ro-
garão mandaffe reflaurar a
Igreja de Braga , tf por nella
Bifpo . ElRey pareceolhe bem
esta petição, mandou chamar os
principaes de Santiago-, aos
quaes deu o mofleiro Cordario
de feu padroado pellos terras
que elles poffuyâo em Braga,tf
lhes
^M
^om PedrG>
^»*anaM0«!^
47 i
lhes dera hlRey Dom Ordonho,
Isf quis qUefoJ?mi rejlituidas à
Se da dita cidade: i!f os Prela-
dos nomeados começarão a edi-
ficara igreja de Braga da 7«-
ííocaçao da glonoja Virgem
Maria . Pajjado algum tempo,
femfer ainda eleito Bifpo, fe k-
uantou Elliey Dom San-cho cÓ-
trafeiiirmaó Dom Garcia^tf
o excluyo do Reino. E neíta oc-
cajiaÓ de reuoltas fe tornarão
os moradores dè Santiago (fem
elle entrar niJ?o)à meter depof-
fc do que tinhaê deixado à Bra-
ga por ordem dei Rey Dó Gar-
cia, retendo juntamente ô mo-
Ueiro Cordario ^queo próprio
Rey lhe dera ; Dom Sane bofes
depois eleger em Bifpo de Bra-
ga à Dom Pedro. Porem nem
lhe deu rendas , nem tratou de
recuperar o quefeu irmão Dom
Garcia auia dado, (^ finalmt-
te naófes eíie Rey coufa de cott-
fideraçâo por ter pouco tempo
de "vida. Dom Affonfo njeo a
pojfuir todo o fenborio de feu
pay jí^ teue muitas guerras có
Aíouros^j fes celebrar fy no do
alcançando dos legados Apoflo-
licosfe guardaj^em emfeusRey-
nos csfagrados Cânones . Po-
rem o Bifpo de Braga Dom Pe-
dro ntio alcançou a zraca deU
Rey y tf afsy nem delle outie
doações pêra fua Igreja ^ nem
fauores dos Legados Apoflo^
licos , antes foi exclui do do Bif
pado no fim defua '-vida , i^ o
confirangeraó dfe recolher em
hum mosteiro ^onde acabou feus
diíí6 . E afsy a Igreja de Bra-
ga pello pouco que pode ficou po-
bre , isf por cauja das difiert-
çocs que fe mouerao entre os
Príncipes fe nao acabou de
edificar ^ tf ficou expofia ã
muitos ãggrauos^ de que foraÔ
teHimimhas ^ tfc. Elta crocâ
ou eícambo íc fez na era de
mil & cencô Sc noue. Com
efta memoria fe acaba 5 as
que achamos do Arcebiípo
Dom Pcdio. Tinha por cíles
annos a Cadeira Ponciíical
de Roma ^ depois de Gregó-
rio VII. Viaor III. & Vr-
banoIL o Papa Pafcoal II.
Era Rey de Calklía, & Leaó
Dom AíFonfo oVL
iM>i'^>ilÉnf!Wiii
i I
i
4
!ii^'ii"íu. ^íi tcPíiSi O ; .
■iw V >-ii«.'i íÊkm^tm*j-ái
h
índice
DOS CAPITVLOS
DESTE LIVRO.
APITFLO
primeiro. Fun-
da c^^o da cida-
de de Braga,
íjf qitaesforaÓ
Jeus fundadores, -pag.i.
Cap. 1. Das guerras que teue
Braga no tempo dos Roma-
nos, pag. 9.
Captnilo 3 . Do f tio , que tinha
Braga no tempo dos Roma-
nos ^ i^ dealgúas antigui-
dades , que Je achaó nella
do mefmo tempo, pagina.
II.
Cap. 4. Da diuifaó de Hejpa-
nka , conuentos iuridicos,
que nella ouue,tf como Bra-
ga foi hil dos mais conhecidos
II,
delia, pag
Capitulo j-. Da grandec^a^que
conjeruou Braga na entra-
da dos Vândalos^ Sueuos,
Alanos , em Portugal , i^
Galli^.pag.z}.
Capitulo 6. da entrada dos Mou-
ros em Hefpanha , tf como
Braga foi deflruida^ Cf de-
pois reflaurada , tf dada
j pellos Reys de Leão a esta
I fantaSe.pag. 2.^.
Capitulo 7. Como a cidade de
Braga foi a primeira de
Hefpanha ^ que receheoa Fe
de Chrisio Senhor ncjlu.pag.
Cap ,8 . Das diuifoes^qfef^^erao
dos Bifpados de Hefpanha^
Rr
tf
índice
Cf dos queje afsinaraó a
': Metropoli de Braga.pag.
30-
Capitulo. 9. Dos Concílios Pro~
uinciaes , que fe ctUbrarao
em Braga.pag. 54-
Capitulo IO. fegundo Concilio
de Braga pag 3 9.
Capitulo 1 1 . Terceiro Concilio
de Braga. pag.^9-
Capitulo iz. Qjiarto Concilio
Br achar enfe.pag. 57.
Cdp. i^. Celebràje o quinto
Concilio de Braga, pagina
66.
Capitulo 14. Vem Santiago a
Hefpanha ,prèga nella a ley
Eiégelica, tf funda a Igrja
de Braga. pag. 6j.
Capitulo 1^. Poemfeoteftimu-
nho defanto Athanajio Bij~
po de C,aragoça, i^ a carta
do Bifpo do Porto Dom Hu-
go , em que fe confirma o que
temos dito pag. yo.
Cap. \6. Defendenfe os frag-
mentos defanto Athanafo;
refutãofe as re^^es dos que os
impugnão.pag. 75.
Capitulo ly. Continua a maté-
ria do capitulo pajfado em
defenfaÓ dos fragmentos
defanto Athanafo. pagina.
U.
Cap. 1 8. Em quefe profegue a
'vida de Saó Pedro de Ra-
tfs primeiro Arcebifpo de
Braga. pag. SS.
Capitulo 19. Saó Baf lio fegun-
do Arcebifpo de Braga.pag.
V-
Cap. zo. Saó Siluefíre Mar-
tyr de Braga pag. loi.
Capitulo II. Hermolao pagina.
lOZ.
Capitulo 12.. Santo Ouidio ter-
ceiro Arcebifpo de Braga.
pag. 103.
Capitulo 23. Sao Marcos loao
Bifpo., ij/ martyr. pag.
107.
Cap. 2.4. Asfantas uoue irmãs
gémeas. Virgens^ i:f marty-
r es. pag. 108.
Capitulo x^.Defendefeo naci-
mento das f antas noue ir-
mãs ^ Í!f prouafe com ou-
tros femelhantes pagina.
113.
Cap. z6. Santa Liberata Vir-
gem^ martyr , húa das no-
ue irmãs. pag. IIZ.
Capitulo irj. Santa Quitéria
Virgem ^tf martyr. pag.
10;.
Cap. 28. Santa Marinha Vir-
gem _, U martyr húa das
fantas noue irmãs. pag.
133-
Capitulo Z9- Santa Eufemia
Virgem , if martyr pag.
137- ___^
Cap.
Dos Ci^pi fulos.
Cápit. 30. Santa Gcnehra^Sâ-
ta Germana y SantaBajUif^
fa^SantãVitoria^SataMar-
ciana.pag.i^i.
Capitulo 31. Sao Policarpo
quarto Arcebifpo de Braga.
pag. i4j.
Capitulo 32,. Sereriano quinto
Arcebijpo de Braga. pag.
146.
Cap. 3 3 . Sao Fabião fexto Ar-
cebijpo de Braga, pagina.
Capitulo 34. Sao Félix feptimo
Arcebijpo de Braga. pagina.
14.7.
Capitulo 3 5. Grato oitauo
Arcebifpo de Braga.pagina.
J49-
Capitulo 36. Sao Secundo ^ou
Secundino nono Arcebijpo
de Braga pag. lyi.
Cap. 37. Sao Theophilo Sa-
turnino , i!f Reuocata Mar-
tyres de Viana pag .153.
Cap. 38. Caledónia decimo Ar-
cebijpo de Braga, pagina.
Capitulo 39. Sao Narcijfo 1 1 .
Arcebifpo de Braga. pag.
i6o.
Capitulo 40. Paterno primeiro
do nome , Í!f iz. Arcebifpo
de Braga pag.16^.
Capitulo 41. Sao Salamh 13.
Arcebifpo de Braga, pagina
ló
/ •
Cap. 4i, Sinagia^iou.Sinagrio
1 4. Arcebjpo de Braga pag.
171. ^ ■ ,
Capitulo 43 . Sãó Vitouro^ Çan ^
ta S ufana y faó Xucufatej
faÓ Torcato^Í!ffa6 Siluejlre
martyres de. Flraga.Lpagina
173. ■,■•-, :ít ' " ?•., ;,;.\'- ■•
Capitulo 44. Santa Engracia
Virgem^ iff martyr natural
de Braga ^y d f oito com-
panheiros feus martyr es.
pag. i2o.
Capitulo 4f. Sao Leôncio i)-.
Arcebijpo de Braga.pagina.
187.
Cap . 4^ . ApoJlonio 1 6 . Arcebif-
po de Braga .pag . 1 5) 1 .
Cap. 47. Domiciarw., que aigús
intitulaÓ Arcebijpo de Bra-
ga pag. 193-
Cap .48. Idacio^ ou Epitacio 1 7 .
Arcebifpo de Braga. pag. 1 9S-
Cap,^9.Lampadio 18. Arcebif-
po de Braga. pag. 100.
Cap.^o Aueriguafejerejle CÓ-
cilio o mefmo que anda em
Loavfa •, daj^e húa breue re-
lação de que foi o herege Prif
cilliano.pag.zo^.
Cap.yi. S. Damajh Pontífice
Romano. pag. II z.
Cap.$z. S. Pater no fegundo do
nome^ouPatruino 19. Arce-
bifpo de Braga.pag.z19.
iul "cãp.
Indi
ice
*S
Capitulo. ^■^. SaÓ Profuturo
primeã'0 do nome zo. Ar-
eebijpo de Braga, pagina
Capitulíf j4. Ajuítafe o dif—
curjo píij^ado como quede
de SaÓ Profuturo efcreue
fanto Agoflinbo j rejpon-
dej^e ás ohieiçoes, i^ decla-
ra fe quantos Concílios eíiao
. injertos no primeiro de To-
hdopag. 12.7
Cap. j-j-. Seguefe ornais, que
pertence à ^'ida de SaÓ Pro-
futuro.pag. 231.
Capitulo ^6. Pancracio ^ ou
Pancraciano zi . Arcebifpo
de Braga. pag. z^6.
Cap. 57. Balconio zz. Arcebif-
po de Braga. pag. 240.
Cap. ^8. Paulo Orofo infgne
efcritor Ecclefafico. pag.
Í50.
Cap. 59. Contafe ornais ^ que
pertence à a^ida de Paulo
Orofo. pag 15-4.
Cap. 60. SaÓ Maximiliano.,tf
Valentino Bifpos , tf Mar-
tyres.pag.i6i,
Cap. 61. Valério primeiro do
nome 2.3, Arcebifpo de Bra-
ga.pag. z6%.
Cap. 6t. Idacio fegundo do no-
me. 14. Arcebifpo de Braga,
pag. 2.6^.
Cap. 63. Santo Apollinar Bif
po , tf Martyrpag. 2.6 j.
Capitulo 64. CaUino 25. Ar-
cebifpo de Braga pagina
2.71.
Capitulo <Sy. Valério fegundo do
nome z6. Arcebifpo de Bra-
ga, pag. 2.76.
Capitulo 66 . Profuturo fegundo
do nome 2.7. Arcebifpo de
Braga .pag. zy-j.
Cap. 67. Santo Ausberto 28.
Arcebifpo de Braga pagina
Capitulo 68. Juliano primeiro
do nome, tf 29. Arcebifpo
de Braga pag. z86.
Capitulo <r«9. Eleuterio 3 o.
Arcebifpo de Braga, pagina
z88.
Capitulo 70. Lucrécio 3 r . Ar-
cebifpo de Braga. pag. z!).^
Capitulo yi.SaÓ Martinho de
Dume^z. Arcebifpo de Bra-
ga, pag. ^03.
Cap.-jz. he eleito SaÓ Marti-
nho Arcebifpo de Braga^ref-
plandece em ^virtudes , tf
chama a Concilio os Bifpos
fuffraganeos.pag. 3 09-
Cap. 73 . Dos Moíieiros ^ que
fundou SaÓ Martinho neíla
Prouincia de entre Douro^
tf Minho pag. -^11.
Cap. 74. Dos liuros,tf obrai
que compôs o gloriofo S, Mar
tinho.pag. 321.
— ' -^— — .
Cap.
Dos Capítulos.
\
C^.p. y^..Da glorio fa morte
do bemauenturado SaÓ Alar
tinho de Dume.pag. 3 2.3 .
Capitulo 76. Poejias ^ (irias
feitas em louuor de SaÓ Mar
tinho na tresladaçaade fuás
relíquias pêra a Santa Sé de
Braga pag. 319.
Capit. 77. Benigno i^.Arcebif-
po de Braga pag . 331.
Cap. 78, Pantardo 34. Arce-
bifpo de Braga. pag, ^^j.
Cap.-jo- Santo Esteuao Abba-
de do mojleiro de Rates. pag.
341.
Capit. ^o. Santo Tolobeu^ou
Tobeu 3 5 . Arcebifpo de Bra-
ga.pag.^^y
Cap. %i. SaÓ Pedro Juliano 36
Arcebifpo de Braga.pag.^4^
Capitulo 8i. Manucino 37.
Arcebifpo de Braga. pag.
349-
Capitulo 83. Panoracio 38.
Arcebifpo de Braga. pag.
349-
Cap. 84. Potamio o penitente.
3 9. Arcebifpo de Braga.pag.
350.
Capitulo. 85. SaÓ Frutuofo 40.
Arcebifpo de Braga. pag.
3Í7-
Capitulo 86. Recebe SaÓ Fru-
tuofo o habito de SaÓ Ben-
to , funda o mojleiro de S.
lufto , ^ Paftor^ Iff ou^
tros muitos de Rel'giofos,(f
Religiofís.pag. 360.
Cap. 87. Milagres que Deos
Nof o Senhor obrou por meo
de SaÓ Frutuofo antes de en-
trarem Portugal, pagina.
367.
Cap. S8 Trata SaÓ Frutuo-
fo de ir a lerufalem , impe-
delhe ElRey o paJ?o com o
fa^er Bifpo de Dume, on-
de efcreueo a regra , que
chamao de S. Frutuofo;dafe
noticia dos Bifpos de D ume.
pag. ^70.
Cap. 89. Vai SaÓ Frutuofo
a0 Concilio decimo de Tole-
do 3 onde he eleito Arcebif-
po de Braga: i^em pêra fua
Igreja , i^ trata da refor-
mação do Clero, if pouo del-
ia, pag. ^-8.
Cap. í?o. Dos mosteiros que SaÓ
Frutuofo fundou em vários
lugares de feu Arcebifpado,
Í!/ fora delle. pag. 3 8i.
Cap. 91. Funda SaÓ Frutuofo
o mojleiro de SaÓ Saluador,
^ os motiuos , que teue pê-
ra ofa^ifr-pag. 386.
Cãp. 92.. Pajfa deita ''oida pe-
va a bemauenturanca o glo-
riofo S. Frutuofo. pag. 389.
Cap. 93. SaÓ Qjtirico , cu Quj-
rino 41 . Arcebifpo de Braga
pag- 39^
Rr3
Cap.
índ
ice
Cãp. 94. Recefuintho Abhade
natural de Braga. pag. 398.
Cap. 9;. Santa Veatnde ^-Iff
defoito cópanheiros marty-
res.pag.^99.
Cap. 96. SaÓ Leod-ecijio Julia-
no 41, Arcebijpo de Braga,
pag. 400 ,
Cap. 9-7. Linha 45. Arcebifpo
de Braga. pag. ^^.04.
Cap. 98. Bamba Abbade ija-
raó Janto defie Arcebifpado.
pag. 407.
Cap. 99. Fàuflíno 44. Arcebif-
po de Braga. pag. 405».
Cap. 100. SaÔ Felix Torçato
tnartyr 45. Arcebifpo de
Braga.pag.414.
Cap. loi SaoViãor martyr
46. Arcebifpo de Braga. pag.
42-3.
Cap. loi. Heronio 47. Hermi-
nigildo, 48, lacobo 49 Ar-
cebifpo s de Braga. pag. 418.
Cap. 1 03 . Ferdifendo jo- Arce-
bifpo de B1aga.pag.419.
Cap. 104. Arcarico yi. Arce-
bifpo de Braga.pag. 431.
Cap. loy. Argimundo ^t. Arce-
bifpo de Braga.pag. 4^^.
Cap. \o6. Nosiram ^i- Arce-
bifpo de Braga.pag. 436.
Cap. 107. Dulcidio $4. Arce-
bifpo de Braga, pag.4^-'.
Cap. 108. Gladila jj. Arcebif-
po de Braga. pag. 440.
Cap. 109. Santa Comba Firgc.,
Í!7' SaÓ Leonardo fu irmaó.
441.
Cap. lio. Argimiro 56. Arce-
bijpo de Braga pag. 44^.
Cap. III. Theodomiro 57. Ar-
cebifpo de Braga. pag. 44-/.
Cap.iiz. Silitanato 57. Arce-
bifpo de Braga.pag. 44S.
Cap. 113. Heros jp. Arcebifpo
de Braga.pag. 448*
Cap. 114. Gonçalo. 60. Arce-
bifpo de Bragapag. 4^1.
Cap. ii^.hlermigildo 61. Ar-
cebifpo de Braga pag. 4^2.
Cap. 116. Santa Senhorinha de
Bafio. pag, 4^^.
Cap. iij. luliano 6z. Arcebif-
po de Braga. pag. 461 .
Cap. 118. Sigifrido 63. u4rce-
bifpo de Braga pag. 461 .
Cap. 119. Dom Pedro 64. Ar-
cebifpo de Braga. 464.
, -1 •.!.-.
Fim do índice dos Ca-
pítulos.
índice
índice
DAS COVSAS MAIS
NOTÁVEIS Q_VE-SE CONTEM
iieíte liuro.
O primeiro numero (ignifica o Capitulo^a
Jtgimdo apagina.
A
Abbade.
Bbadcs de SaÕ
Beto tinhaò lu-
gar.& voto em
todos os Con-
cilies, cap. 99.
pag. 405),
Abbadias de Saõ Bento erigi-
das em Bifpados. cap. 73.
pag. 311.
Acifclo.
Artyrio de Santo Acif-
clo.cap. 30.pag.143.
Nacem milagroíamente roías
M
d
no dia, em cjue íoi marty-
fc
rizado. Ibidem.
Efteue no cárcere com fanta
Vitoria, Ibidem
QuatroAnjos os acompanha-
rão no cárcere por muitos
dias. Ibidem.
Afra.
SAnta Afra foi filha de Hi-
lária de Chipre, cap. 39.
pag. i6t.
Como Saõ NarciíTo Arcebif-
po de Braga a conucrteo.
pag. 163.
Criadas que fcconucrteraõcó
feu exemplo. Ibidem^
Padeceo martvrio em Girona
com o mefmo S. Narciílb.
pag. 164.
Rr 4
Agapio.
índice.
.^,
Agapio.
SAgapio Bifpo de Carclia-
. gena,ondepacíeceomar-
tyrio.cap,36.pag. 1J2.
Agofiinho,
Eliquías que O Arcebif-
po Dom Agoílijnho,
de Caftro tresladou da Igrc
ja de Dume pêra a Sé de
Braga. cap. yj.pag. 3ij.
Águeda.
Villa dcAgueda foi Emi
nio cidade antiguamen-
te Epifcopal. cap. ij. pag.
Ambracia.
A
A
Mbracia fazem alguns
Plafencia. cap. ijpag.
72"
Ampkilochia.
\ MphilochiacidadeEpif-
jf~jL copal noReino de Gal-
liza íe chama hoje Orenfe.
cap.ii.pag.7z.
Foi edificada por híí capitão
G rego cha mado A mphilo-
co. Ibidem.
Anel.
c
Om hum anel milaíiro-
o
íamcte defcubrio o Cco
o corpo de íanra Eufemia,
cap. 2p. pag. 138.
Como fe guarda eíle anel na
SèdeOreníe.pag.141.
Anjo.
QVatro Anjos acompa-
nharão aSaõ Acifclo,
òc Sãta Vitoria no cár-
cere, cap. 30. pag, 143.
O Archanjo S.Miguel man-
dou a Saõ Auíberto Arce-
bifpo de Braga lhe edificaf-
fe hum téplo. cap. 67. pag.
27S.
Reuelação feita por hum An-
jo ao pay de íanra Senhori-
nha, cap.i 1j.pag.4j4.
Antiguidades.
Ntigu idades que fe a-
charaõ em Braga do
tempo dos Romanos, cap.
3. pag. ii.&feqq,
A
s
Apodomio.
Aó Apodomio Martyr
hiídos 18. companheiros
T)^^S CO!;fiS.
de lança Engracia. cap. 44.
pag. 181.ÒC 184.
Apollinar.
SAnto Apollinar Bifpo, &
marcyr.cap. 63 . pag. zóy.
èc íeqq.
Foi Francês de nação , pag.
lóS.&feq.
Batendo com o bordão na cer-
ra j em proua da Fè , flore-
ceo,&: lefcz húa aruore fer-
moía, & do pé arrcbcncou
húa fonce. pag. 2.69.
Eftà leu corpo íepultado na
Igreja do lugar de Vrros.
pag, i68.
Tormencos que padcceo pag.
169.
Os quebrados, que a elle fe
encomcndaõ cobraõ fau-
de.pag.171.
Milagres que Dcos obra por
os merecimencos deftc lan-
to,pag.i70.& 2.71.
Deuaçáo com que o Arccbif-
po Dom frei Bercholameu
dosMartyres vificaua fuás
Relíquias, pag. 171 .
O que li ntia acerca delias. Ibi-
dem.
Jpollonio,
Ia
Pollonio 16. Arccbif-
po de Braga. cap. 46.
pag. 191. &íeqq.
Arcarko.
ARcaricoji. Arcebif^o
de Braga p.ig. 104. pag.
432.. & leq.
Efcreuea ElipandOj& ajunta
Concilio.pag,433.
Arc&bifpo
ARcebifpos dcBraga por
mais de 30o.annos,quc
elleue arruinada conferua-
raõ oticulodc Arcebifpos
cap. 103.pag.451.
Na taboada Sancrartia daSè,
íe nomeaõ alguns Prelados
por Arcebiípos de Braga,
que o náoforaõ,lenáo de
Lugo cap. 118.pag.463,
Argimiro,
ARgimiro y6. Arcebif-
po de Braga cap. 110.
pag.443.&reqq.
Achoule cmCompoftela na
fa^ração da Igreja do Apo
ftolo Santiago pag. 443 .
Argmundo.
\ Rgimundo ji. Arcebif-
po de Braga .cap. 1 05. pag.
43;.
<A.-^
Jndice.
■ 43;.&íeq.
Athanafo.
FRagmécos ck fanto Atlia-
nnlío , que rratáo deSaó
Pedro de P.aces. cap. ij".
pag- 7 1-5^:72-
Dcfcndenfe es Fragmétos de
íanco AthanaííOj & refu-
tãoleas rezoés dos que os
impugnáo.cap. 16. pagjj.
&: ícqq.
Augusta.
A
Que cida Jes fc dà o ti-
tulo deAugullas, ôc
porque rezáo cap. i-pag.
i.pag.i93.& 1ÍP4.
Juito.
CArtadc AuitopcraBal-
conio Arceblípo dcBra
ga.cap. ;7. pag.i48.&feq,
Ausbeno.
SAnto Auíberto íS. Arce-
bifpode Braga. cap. 6-j,
pag.i77.&feqq.
Foi Framcngo da naçaõ. pag.
2-77- ^
Rcuelação que reue doArcha-
jo faõ Miguel, pêra liie edi-
ficar hú templo. pag.2.78.
Embaixada que fez a França
por mandado da Rainha
Crotild£s,p3g.2.78A' leqq.
Faz abjurar a heregia Arriana
pag. 28i.&ícq.
Setoi Biípo de Cambraypag.
zS^. &í icqq.
B.
Baeca.
Aeça foi cidade Epiíco-
pal. cap. 101. pag. 4^7.
Alguns querem que os três
martyrcs Vidlor , Alexan-
dre, & Mu ciano não per-
tençáo a Braga , mas fò a
Baeça _, mas com pouco fú-
damento.p2g.4i6 ôc 4IJ,
Balconio.
BAlconio i2. Arcebifpo
de Braga. cap. 57. pag.
240. «S*: feqq.
Foi grande amiijo de SaÕ To-
ribio Bifpo de Aftorga.
pag. MO.
Concilio que congregou pag.
Regra da Fè , que fizcraõ os
Bifpos , & mandarão a Bal-
conio. 245', ô»:íeq.
Carta que Auito eícreueo a
Balconio
'Das coufis.
Balconio por Paulo Oro-
i10.pag.z4S. (SíTleq.
Baltasar.
DOmfr. Baltafar Limpo
rrclladou o corpo de
Saõ Pedro de Rates pêra
a Sc de Braga. cap. 18,
pag.96.
Ordenou ouuefle íinco ca-
pcllaés na capella em qucas
lanças relíquias íe colloca-
raõ. Ibidem.
Bamba.
BAmba Abbade varaõ fan
to do Arcebifpado de
Braga. cap. 98. pag. 407.
& leq.
Onde ertà Icpulcado.pag. 408.
Bafilio.
SAÕ Bafilio fegundo Ar-
cebiípo de Braga. cap. 19.
pag.97-
Foi dicipulo de Santiago. Ibi-
dem.
Foi Biípo da cidade do Porto.
Ibidem.
Achoufe na collocaçãodas re-
liquias do Apoílolo San-
tiago em Iria Fiauia. Ibi-
dem.
Foi eleito das Igrejas de Hef-
panha peraco ían:o Atlia-
nafio vilitar o Apojtolo.^.
Paulo preío cm Roma ^ tk
leuarlheefmola.pag 98^
Padcceo njartyrio cm Plaíen-
ciacomíanco Epitacio.pag
Outros querem que em Mc-
rida, ou Braga. 9P. & 100,
Ouuedous íantos Baldios di-
cipulos de Santiago cap.i 5)-
pag. loo.&íeq.
Em que anno íoi martyriza-
do. pag. loi.
s
Bafdijfa.
Anta Baíílifla híja das lau-
tas noue irmás, onde pa-
dcceo Martyrio. cap. 30.
pag. i4i&leq.
C
B
Bemaumturado.
Orno pode tornar ao
mundo, &c reíucitar hú
bemauenturado, cuja al-
ma via a Deos.cap. 17,
pag. 86.& feq.
Benigno.
Enigno33.Arcebirpo de
Braga. cap.77.pag,3 31. &
feqq-
Carta
Índice .
Gaitas que lhe cícrcueo o Pa-
pa Pebgio. pag.335 A' ^cq.
Achou ftprefente àconfagra-
■ çãoda Igi*cja Cachcdralde
Tolçdo. pag. 33X-
Foi a França viíicar ofepul-
chro de Saõ Martinho Bif-
podeTurs- pag.336.
V
Bento.
Indados Religiofos de
Saõ Bento a Porcugal.
cap. 79. pag.34i.& íeq.
Reu elação de que nenhú dos
q em trezentos annos mor
reraõ no habito de Saõ Be-
to íe pcrdeo. cap, 99- pag.
409.
Muitas Abbadiasde Saõ Ben-
to erigidas em Bifpados.
cap. 73 -pag. 32-
Nas terras da Coroa dos Reis
Sueuos , foi o primeiro S.
Martinho, q edificou mo-
ftcirosda Ordem de S. Ben-
ro.cap.73.pag.311.
Bifpado.
íuifoés que fe fízeraõ
dos Bifpados de Hd-
panha, & dos que feafsi-
naraõ à Metropoh de Bra-
ga cap. 8. pagina. 30. &
íeqq.
Btfpo.
Ifposde Portug:iI,que fe
aiíinaraõ no quarto Có-
cilio dcTolcdo.cap. 8 1 .pag.
348.
A muitos Bifpos titulares fc
aíhnaraÒ Igrejas em Iiia,&
Ouiedo pcra íua fuílenta-
ção. cap. 103. pag. 450.
Culiunie dos Reis CathoU-
cos de por Biípos em todas •
as Igrejas Cathcdraes tanto
que as conquiílauáo cap.
103.pag.430.
Dàfe noticia dos Bifpos de
Dume. cap. 88. pag. 376.
Òí íeqq.
Bordão.
Ordaõ de Tanto ApoUi-
nar ílorcceo , ôc fe kz ar-
uore em confirmação da
Fe , & ao pe delie arreben-
tou húa íontc.cap. 63 .pag
Braga.
Q
Vai feja a cidade de Bra-
ga cap. i. pag.i.'
Porque tinha o titulo
de Aueurta-lbidem,
Porque rczão lhe chama Au-
zonioricajbidcm.
Da
Dã; CoíiÇcís.
D:\ origem de Braí^a ha cinco
Opinioés.pag.3.
Onerem alijuns foíie funda-
da por Egypcios , &: quais
íejão íeus fuadamencos.
. roidem.
Outros querem foíTe fundada
por Gregos.pag.5.6<: 4.
QLiaistoílcm eiies Grcgos^que
edificarão Braga.íbidem.
Opinião de outros que querê
folkBraga fundada porCar
thaginelesj& íeusfundamê
tos. cap.i.pag.f .
Qi^iarta opmiaõ hc.cjfoiBraga
fundada por Gallos Celtas.
A vitima opinião ne, qne foi
Braga fundada por Roma-
nos.pag. 8.
Que opinião fe ha de feguir a-
cerca da fundação de Braga,
cap. i.pag.8 & 9.
GueriaSj&VidoriaSjque teue
Braga no tempo dos Ro-
manos. cap.2..pag.9. &feqq
Do íitio que teue Braga no
tempo dos Romanoíi.cap.
3. pag. 11.^
Antiguidades qfe acharão em
Braga do tépo dos Romanos
cap . 3 . pag. iJ.&c feqq-
Foi Braga híi dos mais conhe-
eidos Conuétos juridicos,
q ouue em Hefpanha. cap.
1 4- pag. 2.1. &c feqq.
Dã grandeza q conferu ou Bra-
ga na entrada dos Vândalos
SueuoSj Alanos cm Portu-
gal,& Galli2a.cap.;.pag.i5
&reqq.
Seruio de Corte aos Reis Sue-
uoà.pag i3.
Como Braga na entrada dos
Mouros cm Heípanha, foi
deííruida, ôc depois rcítau-
rada, & dada pello^ Reis de
Leaõ a efta lanta Sè. cap. 6.
pag. Í5.& feqq.
Paílaò os moradores de Braga
de dous mil & oitocentos,
pag.iy.
Que parochias , ôc mofteiros
tem a cidade de Braga. pag.
Como a cidade de Braga foiá
primeira de Hcípanha,que
rccebeo a Fé de Chriílo.
cap. 7'pag. 27. & feqq.
O Apoílolo Santiago pregou
primeiro cm Braga 'cap. 7.
pag. 19.
Dos Biípados que fe aiUnarao
a Mctropoli de Braga. cap.
8.pag.3o.
Concílios Prouinciaes, quefe
celebrarão em Braga. cap.p.
pag.34.&fcqq.
Pertendc ElRcy Dom Garcia
a reílauraçáo de Braga. cap.
ii5>.pag.4íí6.& feq.
Ss
Cachorro
Índice.
F
C.
Cachorro.
Amilia dos cachorros on-
de teuc feu cronco. cap.
t$. pag. lio.
Caledónia.
CAledonio decimo Arce-
biípo de Braga. cap. 38.
pag. i;;.&:feqq.
Teiie grande amiíade com S.
Cypriaiio. pag. 1/5.
Teue continua guerra com os
hereges Nouacianos. pag.
Carta de Calcdonio peraSaõ
Cypriano. pag. 1J7.
RepoftadcS. Cypriaao. pag.
ij8.
Calfurnio.
Ç^ Alfurnio Pizão dcfbara-
tado por os Bracharen-
fes. cap. z. pag. 10.
o
Cantar.
Nde fe prohibio o can-
tar na Igreja verfos^ou
hymnos.cap. 70. pag.
^97'
Q
Capellao,
Em ordenou ouueíTe
cinco capellaés na ca-
pella onde crtaó as relí-
quias de S.Pedro de Ra-
tes.cap. 18. pag. 96.
C^arago^a
Ç^ jAragoça quam fértil de
niartyresj & porque re-
zaõ. cap. 44. pag.iSi^
Carta.
Ç^ Artade Auito pêra Bal-
coniOjArcebifpo de Bra-
ga, cap. J7- pag. 248. & íeq.
Q
Carthaginefes.
Verem alguns, que os
Carthaginefes fundaf-
fcm Braga. cap. I. pag./.
Cafsiano,
C Aõ Cafsiano martyr hum
dos 18. companheiros de
Santa Engracia .cap. 44, pag.
181. & 184.
Cajlino.
CAftino ij.Arcebifpo de
Braga cap. 64. pag.i7i. |
'Das CGiífas.
&: íeqq.
Con^ctclhe o Papa Horniifda
a legada Apoíiolica. pag.
Ceclliano.
SAõCeciliano martyr hú
dos dcloico companhei-
íos dcíantaEngracia. cap.
44. pag. iSi. ów 184.
Chorepfcopo.
CHorcpifcopos eraõ Sa-
ceidotes,que íeruiaõ nas
aldeãs como cõpanheiros,
OLiVigairos dosBiípos^cap.
;i.pag.2.i6. ^
Chainaraõíe aíli de^ Chore, pa-
laura Grega^que quer dizer
aldeã. Ibidem.
Tirou os o Papa SaÕ Damafo-
Ibidem.
Cidade.
E honra de hua cidade
ter hú fanto feu natu-
ral cap. 51. pag. 112.
Sete cidades contenderaõ^qual
auia de fer pátria de Ho-
mero. Ibidem.
A que cidades fe dà o titulo de
Auguílas , ôc porque re-
zão. cap. i.píig- 1. &pag.
193- 194.
Colunas.
Olunas varias com fcus
iecreircs , que íe achaõ
cm Braga aleuantadas a di-
ucrfos Empcradores Roma
nos cap. 3. pag. iz.&c pag.
16. &leqq.
Comba.
C Anta Comba Virgem, &
Saó Leonardo feu irmão.
cap. 109. pag. 441. (Sc íeqq.
Foi natural deLamas dcOrlhao
Ibidem.
Milagres com que Deosaíez
inuihuclen defenfaõde íua
Virgindade, pag. 441.
Fonte que naceo onde foce-
deo o milagre. Ibidem.
Concilio.
f~^ OnciíiosProuinciaeSjquc
íe celebrarão cm Braga,
cap. 5, pag. 3 4. &ícq.
Primeiro Concilio deBra^a.
cap í). pag, 35. &ícqq.
Segundo Concilio de Braga,
cap. 10. pag. 3í>.&: íeqq.
Algijas cGufas que nellefe or-
denarão. Ibidem
Capítulos que nellefe propu-
lerao contra a heregia Piif-
cilliana.pag.4i.& feqq.
Ss z
Terce iro
índice.
Terceiro Concilio de Braíra.
cap. ii.pag. 49. &leqq.
Algi^ias coLifas que nelle Con-
•cilio íe ordenarão. pag. jj.
& leqq.
Qnarco Concilio Bracharen-
k.cap.iz.pag.57, & feqq.
Coufas que nelie íe ordena-
rão. Ibidem.
Quinto Concilio Bracharenfe
cap.13. pag.6<$.
Quantos Concílios cfl:a5 in-
lertos no Primeiro de To-
ledo, cap. J4. pag. ziS. &c
Constituirão.
COnftituiçoes Apoftoli-
cas quando começarão,
cap, 16. pag. 80.
Como as deu o Apoftolo San-
tiago a faõ Pedro de Rates .
pag. 81.
c
Contiento.
OnuentosiuridicoSj que
ouueemHefpanha, &
comoBraoafoi liú dos mais
o
conhecidos. cap.4.pag. 21.
& feqq.
Crotildes.
A
Rainha Crotildes man-
da S. Auíbertopor em
baixador a França ^ &cau-
íasda embaixada, cap. 67.
pag. 278. & feqq.
S
Cumfate.
Aõ Cucufate marcyr de
Braga.cap.43. pag. 176,
6^177.
D.
Damafo.
Q Aõ Damafo Pontífice Ro-
mano, cap, 51, pag. 212,
& feqq.
Que lugares contendáo ter a
eíle íanto por natural, pag.
21 2. & íeq.
Foi natural da villa de Guima-
rães, pag. 213, & feqq.
Algúas coulas que ordenou,
pag. 214. &íeqq.
D
Decio.
Ecio Bruto vécido por
os Bracharcnfes. cap.
z. pag. 10.
s
• Digna.
Anta Digna quemfoi^&
onde íoi martyrizada.
cap. 39- pag- 163.164.
Domi-
Das £o::p'S,
Dcmlciano.
Omiciano que alguns
iniiculaõ Arcebiípo de
Braga. cap. 47. pag. 15)5, &
íeq.
Donde foi Bifpo. pag. i5'4-
Dulcidio.
Vlcidio j'4. Arcebifpo
de Braga. cap. 107. pag.
437.tl5»:leqq.
Achoufe prefente na batalha
dcClauijo. pag.437.
Aílinou na efcricura da doa-
ção dos vocos/íbidem.
Dume.
Elação dos illuílresPre-
lados , queteue a Igre-
ja de Dume. eap. S8. pag.
376. Sc feqq.
Durou o moítciro de Dume
largos annos em Biípado.
cap.75.pag-3i2-.
Que m f u nd o u o ni o fteir o de
D ume. pag. 311.
Fioreceraõ nelle grandes fan-
tos.das- 312..
Prouerbio que corna , Braga
naõ tcuc mais que hú Mar-
tinho de Dume ^ porem, o
mofteirode Dume té mui-
tos Marrinhos de Brara.
Ibidem.
Milagres com que Decs caíli-
gou a híi por tomar hú ca-
cho de vuas no mioíleiro
de Dume.cap.73 . pag. 313.
E.
Egica.
LReyEgica fez ajuntar
Concilio. Cvip. 99. pag.
410, ôc ícq.
Egypcios.
Verem algús q os Egyp-
cios fundaficra Braga,
& que fundamentos te-
4.
nhão.cap.i.p3g.3.
Eleiitherio.
Leutherio Trigcíimo Ar
cebiípodeBraga.cap.651.
pag. z88. ■ . ••1/
Carta do Papa Vigilio pcra E-
leutherio. pag. 189. & feqq.
luliano lhe chama varaõ ían-
to. pag. 194.
Tcue por dicipuloaíaõFulgé-
cio. Ibidem.
EUpandú.
Roteíiiçáo daFè,& pe^ii
tecia de Elipando. cap.
104. pag. 434
Ss 3
—^^t^^mf^'^
Ind,
ice.
434-
Autores que trataõde Elipan-
do. Ibidem^
Eminio.
EMinio he a villa deAguc-
dacap-ij-pag. 72.
Foi antiguamence cià^^ác Epií-
co pai. Ibidem.
Em Eminio ouuc Bifpo na pri
mkiua Igreja poííc por S.
Pedro de Rates. cap. 16.
pag. .81.
Engracia.
Q Anta Engracia Virgem,
& marryr natural de Bra
ga, & 18. companheiros
íeus martyres. cap.44.pag.
180, & fecjq.
Que tormentos padeceo.pag.
r83 -
Foi íepultada por minillerio
de Anjos. pag. iSj.
Ej)itacio.
Ç Aã Epitacio Bifpo de Tui
martyrizado em Plaíen-
cia com laõ Bafilio cap. 15).
pag. 99.
Alguns queré foííe Bifpo Me-
tropolitano de Mer ida. Ibi-
dem.
Onde padcceo martyrio- Ibi-
dem,
Epitacio, ou Idacioiy. Ar-
ceblípode Braga cap. 48.
pag. i9j.&íèqq.
Efieiíao.
REliquias de Santo Eíle-
uáocomoforaõ acha-
das _, & quem trouxe parte
delias a Braga. cap. 57. pag.
249. &cz^-j.
SaõEíteuaõ Abbade do mo-
lleiro de Rates, cap.79. pag.
341. & feq,
Achoufe no terceiro Conci-
lio de Toledo, pag. 342.
Foi contemporâneo de S.Gre-
gorio. pag. 3 43.
s
Euanto.
Ao Euanto martyr hum
dos iS. companheiros de
Santa Engracia cap. 44.
pag. 181. &: 184.
Eufemia.
SAnta Eufemia Virgem,
& martyr húa das noue
irmãs. cap. 29. pag. 137 &
feqq.
Onde erta o corpo deflaglo-
rioíaíanta. pag. 137.
Em
T>a< CCí:p^S.
Em que lugar padcceo mar-
tyrio.Ibidein.
Mílcigre notauel com que foi
delcuberco íeii ía<!rado cor-
po , ôc cresladado à Igreja
de íanta Marinha lua irmá.
pag. 138.
Como a íaiira eirada da Igreja
de íanta Marinha , tornaua
aelln.png. 139.
Como foi depois tresladado
ícu corpo aSè de Orenle.
Ibidem.
Ouue outra fanta Eufemia, q
aprouou com milagres os
decretos do Concilio Cal-
cedonenfe.pag. 140. & leq.
Autores queeícreuemde fan-
ta Eufemia, pag. 141.
s
Eunomea.
Anta Eunomea quem foi,
& onde padeceo marty-
rio.cap,3 5>. .pag .163.& feq.
s
Entropia,
AntaEutropia quem foi^
& onde padeceo Marty-
163. &í
no. cap. 39- f-^,
feq.
Excomunhão.
p
Enitencias que em varias
partes das regras de Saõ
Bento fecliamão exciíàiu-
nhoes.cap.88. pag, 37;.-
FabiãO.
C Aõ Fabiaõ fexto Arcebif-
po de Braga. cap. 3 3 . pag.
146.
Faujlino.
FAuftino 44 Arcebifpo
ds Braga cap, ^^. pag.
409. & feqq.
Foi Rcligioío de Saõ Bento.
pag. 409.
Aííiftionodecimotercio Cõ-
cilio de Toledo, pag. 409.
AlIiíHo no decimo íexto C6-
cilio de Toledo pa[^. 410.
Foi Metaopolitano de Seuilha
pag. 41 1 .& íeqq.
Fauíio.
C Aõ Faufto martyr hilcíos
18. companheiros de ían-
ta Enggracia. cap. 44. pag.
181. & 184.
R
Egrada Fè , que fizerão
muitos Bifpos , & má-
daraÕ a Balconio Arcebil-
Ss 4
po
Ind
ice
po de Braga, cap, jy. pa^.
Proíillaõ daFc,q o Papa Hor-
miída orcieíiou le fizelie.
cap. <Í4. pag. 2.74. t\:íeq.
Em confirmação da Fé o bor-
dão de SaóApolIinar flo-
reccOj<5ííe cornou aiuorc.cap.
63 pag. 171.
Milagroíanicnteaproiiou Tan-
ta Eufemia os Decretos do
Cócilio Calcedoneníc.cap.
iS^-pag-HC^ feq.
Feli:>
X.
S
Ao FelixfeptimoArcebií-
po de Braga. cap. 34-P^S
.. i47.&req.
Se foi martyr. pag. 148.
Saó Félix Torcaco martyr 45.
Arcebifpo de Braga. cap.
1 00. pag. 41 4. Ã: feqq.
Naceo na cidade de Toledo
pag.415. , . ,.
Foi Biípo de Iria Flauia. Ibi-
dem.
Foidahypcra Bifpo do Por-
to. Ibidem.
Foi marcy rizado com outros
i7.companhciros na entra-
da dos Mouros em Hei-
panha.pag 4KÍ.
QnaUoio lugar de fua morte.
Ibidem.
Nomes dcalgiís dos martyres
íeus companheiros, pag-
417.
Diferença entre o noílo fan-
tOj& outros dous do mef-
mo nome.pclg.419, Ôc leq.
SaõFehx martyr hum. dos 18.
companheiros de (anta En-
gracia. cã\^. 44. pag. i8i.
&184.
Ferdifendo.
FErdifendo ;o. Arcebifpo
de Braga. cap. 103. pag.
42.9.& feqq-
Leuou de Bra^a muitas reli-
qujasj&cícrituras impor-
tantes pêra a cidade de Iria,
por cauía dos Mouros. pag.
431..
Filko.
Arco prodigiofo deno-
ue filhas gcmeas^Virgésj
&fanta3. cap. 2,4. pag. 108.
& feqq.
Partos prodigioÍGs de muitos
filhos gémeos. pag. 113. &
feqq.
Flaiiio.
ELRey Flauio Recaredo
irmão de SaõErminigil-
ào , & íobrinho de 5ao
Leandro, «.S»: Saõ Fulgcncio.
cap 78.pag.337.
Concilio queajuntou. Ibidé.
Fronto.
Das Coupis.
Fronto.
Ç Aõ Fronto martyr hu dos
18. companheiros de íanta
Engracia.cap. 44. pag.iSi
&184.
Frutuofo.
C Aõ Frutuofo 4o.Arccbirpo
de Braga, cap.8;. pag. 3;7.
& íeqq.
Seu nacimento , & criação.
pag.3j8.«Sc íeq.
Recebe o iiabito de faó Ben-
to, pag. 360.
Funda o mofteiro de Saõ lu-
fto , & Paftor, & outros
muitos de Religiofos , de
Religioras,p3g.3 (ío. &rec[q.
Milagres queDeos obrou por
meo de faõ Frutuofo antes
de entrar em Portugal, cap.
gy.pag. 3(í7.&feqq.
Trata de ir a lerufalem, impe-
deoElRey comofazerBif-
po deDume^ ondeefcre-
ueo a regra^quechamáode
faõ Frutuofo. cap. ^^. pag.
370.& feqq.
Vai ao Concilio decimo de
Toledo, cap. 89. pag. 378.
&í Teqq.
Nellehe eleito Arcebifpo de
Braea. Ibidem.
o
I Vem pêra fua Igreja , trata da
reformação do clero, òc
pouo delia. íoidcm.
Moíleirosque S. Frutuofofú-
dou em vários lugares de
feu Arcebifpado , & fora
delle. cap. 90. pag. 38z.&
íeqq.
Funda S. Fruofo o mofteiro
de S.Saluador , & motiuos
que teue pêra iílb. cap. 91.
pag. 386. & feqq.
Suagloriofa morte. cap. pz.
pag. 3 89. & feqq.
G.
Q
Gallos.
Verem alguns que os
GaIlos,Ccltasfollèm os
primeiros fúdadores de
Braga. cap. I. pag. 7.,
Garcia,
E
LRey Dom Garcia pre-
tende a reftauração de
Braga.cap. 119. pag.466.&
feqq.
Genebra.
SAntaGencbra hua das no-
ue irmãs . cap. 30. pag-
141.
Padcceo martyrio na cidade
Tui. Ibidem.
Germana
->■*■
. Germana.
Ç Anta Germana hua das no-
ne irmãs. cap. 30. pag
Padoceo martyrio em Cartha
20 com outros rantos.Ibi-
£3
dem.
Gema^.
C Ao Gernaz querem algus
foííe irmáo de íanta Senho
rinha. cap. 116. pag. 4; 8.
G
Gladila.
Ladila 5 j. Arccbifpo de
Braga. cap. loS. pag.
440.
Foi Abbade de Saõ Bento. Ibi-
dem.
Gonçalo,
GOnçalo 60. Arcebifpo
de Braga. cap. 114. pag.
4J1.
Gralhas,
Arto prodigiofo nafami-
hai& geração dos Gra-
Ihos. cap. zj. pag. 117. &
fec|.
Grato,
GRatooitauo Arcebifpo
de Braga. cap. 35- pag.
índice
149.& íeqq.
Foi Arccbiípo deToIedo.pag,
14?.
Carta que lhe eícreuco o Papa
S. Sixto. pag. I/o.
Gregos.
OS Gregos fundarão a
Braga. cap. i. pag. 4.
&8.
Que Gregos foílem eftes. Ibi-
dem.
Guerra.
GVerras que teue Braga
com os Romanos. cap.
z.pag.5>. & feqq.
P
Guimarães,
Riorcsííe Guimarães fo-
geitos ao Arcebiípo de
Braga. cap. ioo.pag4i8.
Gulodice.
Ilagrccomque Deos
caítigou a gulodice
de hú cm tomar hú ca-
cho de vuas . cap. 73.
pag,3i3.
He regia.
Das (^OMpiSy
H.
ocjiia
Beregia.
CApicuIosqucfc propu-
feraõ no Tegundo Con-
cilio Bracharenfe contra a
Hercgia Priícilliana.cap.io
pag.4i. & íeqq.
Herminigildo.
HErminigiIdo48. Arce-
bi(podeBraga.cap loi
pag. 4i8.
Herminigildo 6i. Arccbifpo
de Braga, cap.11/.pag.4jz.
Hermolao.
HErmoIao prega emBra-
ga. cap. zi.pag.ioz.&
feq.
Na5 foi Arcebifpo de Braga.
Ibidem.
Qiiem o faz Arcebiípo de To
ledo. pag. 103.
H
4i8.
Heronio.
Eronio47. Arcebifpo
de Braga-cap. loi.pag.
Heroes.
HEroes.j5>. Arcebiípo de
Braga. J tap. 113. pag.
448. .il íL.
Aífinou em híja doação que
fez S.Rofcndo ao moftei-
rode Cellanoua. pag. 448.
Luitprando lhe chama varaó
fantiílimo.pag.449.
Mandalhe parce deluaChroni-
ca. Ibidem.
Hefpanha,
Dluerfas diuifoés que os
Romanos fizeraõ de
Hefpanha cap. 4,pag.ii.&:
frqq.
Que conuencos jurídicos ou-
ucnella. Ibidem.
miaria.
SAntaHilaria foiRainha de
Chipre.cap.39.pag. i6z.
SegueaSaõNarciíIo Arcebif-
po de Braga, que a conucr-
teo. Ibidem.
Padece martyrio em Girona.
pag. 164.
Homero.
s
Ete cidades contenderão
qualauia de ler pátria de
Homero
Ind
ice
Homero,cap. 51. pag.tii.
HormIJda
Ormirda Papa acbdea
arrancar as heregias.
j j f3f- <> 4.p3g • 2Í74. & íeq. '
o í J j . ;
. lacobo.
Acobo 49. Arcebifpo de
Braga. cap. loi.. pag.4i8.
Innuario.
Ao laiuiariomarcyr hum
dos 18. companheiros de
SantaEngracia.cap. 44, pag.
181. & 184.
Idacio.
IDacio, ouEpicacio 17, Ar-
cebiípo de Braga, cap, 48.
■ .•::pag. i9í.&íeqv]. ' -' v •
Foiperícguido dos Arriaiios.
jpag.i5)7-
ConciIi,o em que preíidio por
ordem do Papa Félix, pag,
2.00. ,
Foi grande amigo de Saõ Baíí-
ho Magno. Ibidem.
Idacio ícgundodo nome 24.
Arcebifpo de Braga. cap.
62, pag. 263. & ícqcj.
Foi de nação Sueuo pag. 263. ;
Foi Bilpo de Lamego. pag. 264 ^
Chronicaq cícreúeo,pag.267.
imperadores.
U;. U'
-ÍJiJ: • _^
IMpcradores RorÃaiios em
entrando no Império co-
mauão pêra {y todos os ti-
tulos dos mais honrados
magiftrados_,que tiueraõ os
Romanos, &porque rezáo
cap 3. pag li-
Chamauãoíe Auguftos pag.iz
Chamauáofe Augures. pag. 13
Intitulauãofc Pontiíices máxi-
mos pag. 13.
chamauáofe pays da Pátria.
pag.i;.
Outros ticulos cõ que fe cha-
mauáo. Ibidem.
Colunas com ícus letreiros q
le acharão em Braga alcuã-
tadas a vários Imperadores
cap.3.pag.i2.pag.i(í.&íeq.
A
E
Inferno.
Lima de Trajano tirada
das penas do Inferno
pêra oCeo.cap. 17.pag.86.
& feq,
Iria.
M Iria fe aílinaraõ Igre-
jasamuitosBilpos titu-
larei
D/rs £cnpiSy
titulares peraíua íullcnta-
cao.cap.103.pag. 430.
A
Irma.
S fancas nouc irmãs gé-
meas, Virgens, & mar-
tyres.cap.i4.pag.io8.&: íeq.
Vejafe apalaura.Parco.
TEmplo fundado a Deo-
la liis na cidade de Bra-
ga, cap.i.pag. 3. &pag-74-
èi íeq.
luliano.
IVliano primeiro do nome
ap.Arcebifpo de Braga cap.
68. pag.i8<j.& íeqq.
Foi primeiro A rcebiípo de To
ledo.pag. 2.87.
luliano 6%. Arcebifpo de Bra-
ga.cap. ii7.pag.46i.^
Foi mudado a Arccbiipo de
Toledo. Ibidem.
L.
L
Lampadio,
Ampadioig. Arcebifpo
de B raga . cap.4$>. pag.zoo
&feqq.
Sc aíliílio noConcilio de C^a-
ragoça. Ibidem.
Ley.
ONde teue principio o j
prouerbio, làvaõleys
onde querem Reys cap.
iií>. pag. 46Í).
Lenciano.
LEncianoconuertido mi-
lagrofamence por fanca
Quitéria cap.17.pag. 1 19.&
feq.
Seu marcyrio cõ outros mui-
tos, pag. 131,
Leodeclfo.
QAv Lcodccifio luliano 41.
Arcebiípo deBraga.cap.i5>6
pag.400.&'. feqq.
Vulgarmente fe chama Vrba-
I no.pag. 400.
• Congregou o quarto Conci-
lio Bracharenfe. Ibidem.
Foi depois Arcebifpo de Tolc-
dojconforme a alguns. pag.
401. & feq.
Foi em letras iníigne pag. 403.
Reformou oBreuiario,& mií-
fal de fantolfidoro. Ibidem.
Tt
Leonardo.
Indi
I Leonardo.
SA6 Leonardo, & faiitaCõ
ba fua irmã. cap. 105?.
pag. 441. &fec]q.
Naceo em Lamas de Orelhão,
Ibidem.
Foi morto pellos Mouros, &
com que ocaliaõ. pag. 441,
Leôncio.
SAõ Leôncio 1$. Arcebif-
po de Braga.cap. 4;. pag.
187. &reqq.
Foi natural dcGonftantinopla
pag. 187.
Faleceo navilladcGuimaraés.
pag. i^o.
L
Letreiro.
Etreiros de varias cold-
nas , que íe acharão em
Braga .aíeuanradas a diucr-
fosEmperadores Romanos
cap. 3. pag. li. & pag.i(í.
& feq.
' Liberata.
C Anta Liberata Virgem > òc
martyr húa das nouc irmãs
cap. zó. pag. 111. & íeqq.
Chamoulc Vuilgeforte, ou
Ontcomcra, ou Liberata
ice.
Ibidem.
Diftmgucfc de outra fanta Li-
berata. Ibidem.
Foi natural de Braga. Ibidem.
Onde padeccQMartyrio.pag.
124. &: íeq.
R
Lyma,
Io Lyma chamado rio
do cfquccimento. cap.
I , pag. 1.
Leua ouro em fuás áreas. Ibidé.
Liuba.
Lluba 43. Arcebifpo de
Braga.cap. P7- pag- 404.
& íeqq.
Achou íe no 12. &: 13. Con-
cilio Tolcdano. pag. 404.
òi feq.
Liuro.
Vitos liuros fe acha-
rão depois de largos
annos- cap. 16. pag.87.
M
Lúcio.
L
Veio Catilio pay das no-
^ uc irmãs gemeasjVirgcs,
& martyres. cap. 24. pag.
lop.&ícqq.
Lucrécio,
Das ÇouÇís,
- I
Lucrécio.
LVcrecio 31. Arccbifpo
de Braga. cap. 70, pag.
Z5>4.& fcqq.
Faz ajuntar Concilio em Bra-
ga , pêra coníirmar os Sue-
uosnaFé.pag. zs>j.
Lupercw.
Q Ao Lupercio martyr tio de
íanra Engracia. cap. 44.
pag.i8i.& 184.
M.
Maclottio.
C A5 Maclouio refucitahum
Gigante, cap. 16 pag.Sj.
Manucmo.
Anucino 37, Arcebif-
po de Braga. cap. 82.
pag. 349.
Marcial.
Oefias em que Marcial Fal
lacIeSátoOuidio.cap zt.
pag.104.
S. Marcial martyr hú dos 18.
companheiros de Tanta En-
gracia..cap,44.pag.i8i .ôc
1 84.
Marciaua.
Anta Marciana hua das
Tantas noue irmás. cap.
3o.p3g. i43.&Tcq.
Foi martyrizada na cidade de
Toledo Ibidem.
Maraiiilhas que emfeu marty-
rio acontecerão, pag. 143.
ôc feq.
Ouue outra Tanta Marciana-
pag.i44.& Teq.
Marcos.
Q Aõ Marcos loaõ BiTpo , &
martyr.cap. z3.pag.107. &c
Teq. I
Foi primo, & companheiro
doApoílolo Taó Bernabe.
pag.107.
Teue por meftres aos fagrados
Apol1:olosíaõPedro,& laó
Paulo. Ibidem.
Veo com íaó Paulo a HeTpa-
nha. Ibidem.
Onde pregou. Ibidem.
Onde Toi raartvrizado. íbi-
dera.
Foi Teu corpo Tresladado pe^
raBraga, &nelia eílài Ibi*
dem. • . ^r ;
O Aciprcfte Juliano viíltanclo
Teu Tepulchro aíHrma ver
Tuas rcliquias. pag. laS,-- \
Tz2,
Marinha .
Marinha.
SAnta Marinha Virgem, &
marcyr húa das Tantas no-
ue irmãs. cap. z8. pag. 133.
& feqq.
Ondepadcceomartyrio. pag.
133. &feq.
Três íalcos deufua cabcça,quá
do lha cortarão , & arrebs-
taraõ trcs fontes, pag. 134.
Saraõ muitos enfermos com a
agoa milagroíà deitas fon-
tes. Ibidem.
Vários mofteiros , Sc Igrejas
edificadas com o nome de-
lia Tanta. pag.i 35.
Confundem muitos efta fan-
ta com outras 'duas fantas
Marinhas, pag. i^s- &feq.
Qual fcja o verdadeiro modo
com que fc ha de pintar ca-
da húa deftas fantas Mari-
nhas, pag. 136.
Autores que efcreucm de íàn-
ta Marinha. Ibidem.
Maninho.
SAõ Martinho de Dume.
32,. Arcebifpo de Braga.
cap.71.pag.303.
Vem Saó Martinho a BragB,
conuertc os Sueuos ^ fun-
da o morteiro de Dume,&
índice.
he eleito Bifpo delle. pag.
303. &reqq.
He eleito Arcebifpo de Bra-
ga,& chama a Concho. pag
3 o5).& feqq.
Morteiros que fundou nefta
Prouincia de entre, Dou-
ro,& Minho.. pag. 311. &
feqq.
Liuros, & obras que compôs.
pag.3ii.&feqq.
A gloriofa morte do bcmauc-
turadoS. Martinho de Du
me.pag.3i3.& feqq.
Pocíias varias feitas em louuor
de Saó Martinho na tres-
ladaçãodeíuas relíquias pe
ra Braga. pag. 3zp.& feqq.
Pfouerbio tom que fe celc-
braua a fantidade de Saó
Martinho, cap. 73. pag.
3 li.
Martyr.
N Ornes dos 18. mnrtyrcs
companheiros de fanta
Engracia. cap.44. pag. 181.
& 184.
Quam grade foíle a multidão
dos martyres, emC^arago-
ça.pag.iSz.
Martyrologio.
CAda Cathedral tinha feu
Martyrologio cap.
pag. 4^-1.
100.
Matutino.
— ■—■—li. I I - , Am
Das Coufjs.
Matutino.
s
Aõ Mncucino marcvr hú
dosiS. companheiros de
lanta Engracia. cap.44.pag.
181. &184.
Mãurilio.
CAõMauiilio porque caufa
foge de leu Biípadocap.iíí.
pag. 82,. & íeq.
Como foi achado, & tornou
aclle. pag. 83.
Refucita hú moço depois de
muitos aiinos enterrado.
Ibidem.
Maximiliano.
C A5 Maximiliano Bifpo , &
martyr de Viana. cap. 60.
pag. xói.ôt feqq.
D
Metropolitano.
Ireico Metropoliaano
da Igreja de Liigo paf-
fado à de Ouiedo. cap. loj.
pag.43(í.
R
Miguel.
Euelaçáo do Archanjo
íàõ MicTuel a Aulberto
Arcebiípo deBraga.cap.67.
pag. 178.
MiLiare,
Milagre com que foi def-
cuberco, & mandado
cresladar o corpo de íanta
Eutemia.cap. 2.9. pag, 138.
Milagres que Deos obrou por
meodeS. Frutuolo sntcs
dccntrar em Portugal. cap.87.
pag. 367. & feqq.
Milagres com que Deos cafti-
gou a hu por tomar hCi ca-
chode vuas.cap.73.pag.313
Milagres que fez íanta Senho-
rmha deBafto. cap.i 1 6, pag.
4)- 6. & feq.
Milagres que Deos obra por
• os merecimentos de íunto
Apollinar.cap.(j3.pag.i7o-
& íeq.
Dando com o bordão na terra
fioreceo ^ & fe fez húa for-
moGaruore.pag.i(í5>-
VejaíTe a palaurajRefurreição,
Mojca.
Ofcas milagrofamen-
te produzidas, pêra
caíliigarem os que que-
riaõ roubar o fcpulchro
deS. Narciílb cap.39.pag
164.
Alosleiro.
Ofteiro deRatcs qu ãdo
fefúdon.c.7í?.pag.34Í
M
Tt3
Mofteiro
Indce .
Moíleirode Titulcia edifica-
do por íaõ Philiberto_, &
faõ Fabriciano. Ibidem.
Molteiro de íaõ Martinho dí
Lieuana^ quem o fundou^
& como depois mudou o
nome. cap. 8o. pag. 343.
& feq.
Mofteiros cjue faõ Frutuofo
fundou cm feu Arcebiípa-
Áo,^ fora delle. cap. 90.
pag. 381. & feqq.
Morteiro de S. Saluador fun-
dado por faó Frutuofo _, &
porq caufas, cap. pi. pag.
^U. &feqq.
São Frutuofo funda o moftei-
rode Saó lufto , & Paftor,
& outros muitos de Rc-
Iíctíoíos ,& Religiofas. cap.
86pag.36o. &:íeqq.
Mofteiros da Ordem de São
Bento, que foraõ edifica-
dos em Portugal viuendo
ainda o meímo fanto cap.
73 • pag- 311. & feqq.
E
Mouro.
Ntradados Mouros em
Herpanha,& como Bra-
ga foi deftruida.cap. <5.pag.
zj.&leqq.
Murmurador.
^ Aftigo que Deos deu.a
. dous murmuradores.
cap. 116. pag. 41 6.
N.
N
Nabuchodonofor.
Abuchodonofor veo a
Heipanha.cap.i6.pag.
19-
NarciJ?o.
SAõ Narciílo vndecimo
Arcebiípo de Braga. cap.
39. pag. 160. Sc feqq.
Foi natural de Santarém, pag.
i6i.&feq.
Pregou em Alemanha, pag.
Padeceo martyrio cmGirona,
com outros que tinha con
uertido, pag. 163. & feq.
Milagre com que forãocafti-
gados os que queriaõ rou-
bar íeu fepulchro.pag. 164.
Autores que delíis efcrçuem.
pag. 165,
N
Nome,
Ornes que pêra íy to-
mauáoos Imperadores
Romanos, cap. 3. pag. 12.
N
Noflrato.
Oftratoj'3. Arcebifpo
de Braga. cap. 106. pag.
436.
Das Çoi^Çis,
436.
Noue.
N
Oue irmãs oemeas todas
íantaSjVirgens &Marty-
res.cap.z4.pag. 108. & ícqq
O.
Ophir.
COmofe chamcBraga-ou
íeus arredoreSjOphirjOU
região Ophirina- cap. 18.
pag.^i.ôi feqq»
Optatõ.
SAõOptatomartyr com-
panheiro de fanta Engra-
cia.cap. 44,pag.i8i.&: 184.
D
Ordonho.
Oação feita por ElRey
Dom Ordonho II. à
Igreja de Santiago, cap,
105 pag.430 .
Orenfe.
ORen fe cidade Epifcopal
chamoufe Amphilo-
chia. cap.i^.pag.yz.
Foi edificada por Amphiloco
capitão Grego. Ibidem.
Ofa.
I
SAÕOfio ajunta Concilio,
& piitga nelle íua culpa,
cap. 48. pag.198..
Ouidio.
C Anto Ouidio terceiro Ar-
cebiípode Braga. cap. zz.
pag. 105. & íeqq.
Foi Romano nobihflimo,ami
godé Séneca Philoíopho,
èí MaximoCeíonio.lbidé.
Como fe conuerteo , ÔJ veo a
Braga. íbidem.
Poeíias qne em feu louuor fez
Marcial, pag. 104. & leq.
A elle fe deue a criação das no-
ue irmãns Virgens, & mar-
tyres. pag. 105.
Onde eílàíepultado. pag. 106.
Autores que efcreue delle , &
lhe chamaò martyr. pag-
io6.
Ouiedo.
EM Ouiedo fe aíTinaraô
Igrejas a muitos Bifpos
titulares, perafuftentaçáo.
cap. 103. pag. 430.
Affeiçáo que teue ElP.eyDom
AíFonío o Catholico ãci-
cidade de Ouiedo qap. Toj.
pag. 43 J. >'^ííf,'
Tt4
Porque
Jnd
ice
Porque rezáo fe chamaua O- í
uiedo cidade dos Bilpos
cap. 110.pag.446.
Ouro.
BRaga fcrtili/íima de ouro
cap.i.pag.i.
De Afturias _, Galliza, & Luíl-
taniale tirauao cada anno
vintcinii liuras de ouro. Ibi-
dem-
Rios de entre Douro , & Mi-
nho leuauão ouro em íuas
arcas.pag, i.
Rios celebrados dos Poetas
por riocs, & abundantes
de ouro. pag.i. .
P.
Padrão.
O Lugar do Padraõanti-
guamente Iria, Bifpa-
do mui antiguo, paííado a
Compoíicla depois õ che-
garão as Rehquias do Apo-
Itolo San tiago.i cap. i í .pag.
Pancracio.
Ancracio , ou Pancracia-
no zi . Arccbiípo de Bra-
ga.cap. f j. pag.23Ó.& feqq.
Ajuntou Conciho em Braga.
pag.236.
Foi deílcrrado na perfcguiçaõ
dos Bárbaros .pag. 235;.
Panoracio.
p
Anoracio38. Arccbiípo
de Braga. cap. 83 .pag .345)
Pantardo.
p
An tardo 34. Arcebifpo
de Braga, cap 78. pag. 337
& feqq.
Parto.
PArto prodigiofo de nouc
irmãs gemeasj todas Vir-
gens , & martyres.cap.24,pag
io8.&leqq.
Refcreníe outros muitos par-
tos marauiihoíoSj&prodi-
gioíos de muitos filhos jú-
tos.cap.zf.pag.n3.&ieqq.
Paterno.
"P Aterno primeiro do nomc^
&i 12. Arcebifpo de Braga
cap. 40.pag.16j. &feq.
Carta peraelle doPapaFclix.
pag. 1 U.
VejaíTcj Patruino.
Pttruin o.
'Das coiffas.
Patruino.
C Aó Paterno fegundo do no
me, ou Patruino i9.Arce-
biípo deBraga.cap.52-.pag.
zií?.S«:íeqq.
Teue grande amiladc com Tan-
to Ambrofio.pag.iis».
Foidcpofto porle íagrarcom
dous Biípos hereges . pag.
Faz abjurar os Bifpos hereges
fuás heregias. Ibidem.
He leftituido a feu Bifpado,
morto S.Profuturo.Ibidé.
Preíide cm hum Conciho na-
cional emToledo.pag.22r,
Òi feq.
Paulo,
Bifpos que foraõ eleitos
das Igrejas de Hefpanha
pêra vifitar a S.Paulo Apo-
fíolo prezo em Roma, &
leuarlíic cfmolas . cap. ip.
pag. 98.
Agardcce Saõ Paulo por carta
às Igrejas de Hefpanha a-
quUa obra. pag. 98. & feq.
Paulo Orojio.
"P AuloOrofíoiníígne efcri-
tor Eccleííaftico. cap. jS.
pag. 250. & íeqq.'
V
Foi natural de Brasa. pae,2f2.
&feq.
Foi dicipulo de fanto Agofti-
nho.pag. t$6.
Tratou com S. leronymo.
pag. 25Ó. & feq.
Trouxe a Braga relíquias de
fanto Efteuáo. pag. 2J7.&:
24P.
Obras que cfcreueo , & onde
morreo.pag. 2jí>.& 2,60.
Pedro.
DOm Pedro Í4. Arcebif-
po de Braga. cap. iip.
pag. 464. &c feqq.
Muitos o fazem monge de
Saõ Bento. cap. 115?. pag^
467.
Como o encontrou ElRey
Dom AfFonfo,& o priuou
da dignidade Archiepifco-
pal.pag. 469.
Nelle teue principio o prouer-
bio,là vão leis onde queré
Reys.pag. 469.
Como íe recolheo em hum
mofteiro.pag.469.
I Sao Pedro luliano.
SAõ Pedro Iiiliano 36. Ar-
cebifpo de Braga. cap. 81.
pag. 345. & feqq.
Aífiftio no 4. &c 6. Concilio
d^
IrJ
ice
de Toledo pag,347.
Foi mudado pêra Narbona.
Ibidem.
S. Pedro ãe Rates,
Ida de S. Pedro de Ra-
tes primeiro ArcebiípQ
de Braga, cap 14.pag.67. ôc
fcqq.
Depois de encerrado reifcécos
annos o refucicou em Bra-
ga o Apoftolo Santiago,
png. 68. - ^
Foi Profeta ludeii de nação^&
como Tc chamou primeiro
Ibidem.
Depois de refucitado o Bapti-
zou o Apoílolo Santiago^
& lhe deu o nome de Pe-
dro. Ibidem.
Confagrouo Bifpo deBraga^
o primeiro^ & principal de
toda Hefpanha.pag. 65?.
Fragmentos de ianto Athana-
lio, que tratão deSaÕ Pe-
dro de RateSj & explicação
delles. cap.i j'.pag,7i.& 72..
Carta de Hugo, que hlade
S. Pedro de Rates. cap. ij.
P3g-73.
Onde eíiaua a alma de faõ Pe-
dro de RateSj quando o re-
íucitou Santiago, cap. 17.-,
p-ig.86.
CoiTio podia vir doCeo,«& re
fucitar fendo Ecmauentu-
■
rado. Ibidem.
Sobre a pátria defaÕ Pedro de
Rates ha algiias opiniões,
pag. 88,
Chamauaíe Malachias, que
vai o meímo que Anjo do
Senhor, cap. 18. pag. 89.
Pos Biípos em diuerías Igre-
jas, & quais fejão.cap. 90.
Pregação , &í martyrio de Sao
Pedro de Rates . pag. 91 . ôc
feq.
Como le diga que faõ Pedro
de Rates foi martyrizado
na região Ophirina. pag.pi
& feqq.
Gomo foi achado por diuina
reuelação feu corpo. cap. iS
pag.95.
Milagres que o fanto fez. Ibi-
dem.
Scpulchro do fanto & letreiro
quenelleeítapag.96.
Trcsladou o corpo defteglo-
rioío íanco pcra a Se deBra
ga o Arcebifpo Dom frei
Baltaíar Limpo. pag. 96.
Capella,&:altar priuiligiado do
finto. Ibidem.
Chamalhe o ConcilioBracha-
reníe Pay , & Apoílolo de
Heípanha. cap- 18. pag. 9j.
PoeJ:a.
Ocíias cm que Marcial
louua a fanto Ouidio
Mi^^*— — MM I «I I w H-»'i ■ — ■III mi» » llil— ^— P
Arccbiípo.
Das Coufiis,
Arccbifpo dcBraga.cap-ii.
pag. 104.
Podias feitas em louuor de S.
Martinho na cresladaçao
de fuás relíquias, cap. 76.
pag. 3i9.&.'leqq.
s
Policarpo.
Ao Policarpo 4 Arccbif-
po de Braga. cap. 31. pag.
14;.
Porco.
c
Vílume de correr o por-
co preto em Braga onde
teue principio. cap.43. pag.
179-
Potamío.
POtamio o penitente 39.
Arcebifpo de Braga. cap.
84- pag.3;o. & feqq,
Achoufc no 8. Concilio To'
ledano.pag.350.
Penitencia que fez por cair em
hum peccadoda carne. pag.
3P-
Pedio penitencia dcftc pecca-
do no decimo CõcilioTo-
Icdano. pag. 3^1.
Foiporclle priuadodo Arcc-
biípado^ái feruio toda a vi-
da cm híja religião pag. 3 53.
Decreto acerca de Potaraio.
I pag.3y;.&feq.
Prmitiuo.
C Ao Primitiuo Martyr hú
dos i^. companheiros de
fanta Engracia.cap.44.pag.
181. & 184.
Prior.
T> Riorcs de Guimarães fogci
tos ao Arcebifpo de Braga
cap. 100.pag.418.
Prifcilliano.
CApitulosqueno fegun-
do Concilio Bracharcn-
fe fc propuferaó contra a
heregia Prifcilliana.cap.io.
pag. 42.. & feqq.
Quem foi o herege Prifcillia-
no.cap. jo.pag.207.& fcqq
Proftituro.
SAõ Profuturo primeiro
do nome, io. Arcebifpo
de Braga. cap.;3 .pag.ii4.&
ícqq.
Entrou no Arcebifpado por
dcpofiçáo, & priuação de
Paterno. Ibidem.
Foi dicipulo de fanto Agofti-
nho,& leuou cartas delle a
S leronymo.pag.iij.&feq
Foi
Indi
ice
Foi Ermitão o primeiro qu^e
nelle Reino fundou a reli-
gião cios Eremitas de Tanto
Agoil:inho.pag.2.3j"-
Profuturo fegundo do nome
zy. Arcebiípo deBraga.cap.
66 pag.177.
Proníerb.io.
PHouerbio com quefeex-
plicaua a íantidade gran-
de de S, Martinho , èc dos
Relipiofos do mofteiro de
Dume. cap. 73-pàg. 311.
Onde teue principio o prouer
biOjlâ vão Icys onde- que-
relieys.cap.119.pag.46i?. ^
Publio.
Saõ Publio martyr hú dos 18.
companheiros defanta En-
gracia. cap. 44. pag. 181 . &
184.
uehrado.
OVehrados acudindo a
Tanto Apolhnar cobraõ
laude. cap. 63.pag.171.
'mntiiiano.
Aõ Qojntiiiano martyr
hum dos 18. companhei-
ros de Tanta Eugracia. cap.
44.pag.181 . & 184.
Quirico.
C Aõ Qujrico,ou Quirino 41
Arcebiípo de Braga. cap.
93. pag,35>4..&Teqq.
Edificou o Templo de Tanta
Eulaha de Barcelona, pag.
394-
ETcreiíeolhcSãto Leaò Papa.
Ibidem.
Foi ArccbiToo de Toledo, &
Tuccíior deSico lleToiíío
pag.39y. ^ ;-*v^<'
Com que ocaííaõ veTlioo ha-
bito a Elíley Vuamba.pag.
396.
Renuncia o Arcebiípado , &
faz Te RehgioTo- pag. 398.
Ouiterra.
5 A n ta Qmteria Virgem , &
martyr híiadas noue irmãs.
cap. 2,7. pag. 1 2,5. & Teqq.
Trataua TamiUarmcnte com o
Anjo da Tua Guarda- pag.
116.
Como foi preTa em o cárcere
&0S que nelle conuerteo.
pag. 12.8. &Teq.
Seu martyrio, ôc de outros
muitos pag. 131.
Rayo.
*D^5 coujas.
(
i?^^'0.
R
Ayos que matarão hú
ao Pacriarcha de Con-
llátinopl3,& outro aoEm-
perador. cap- 94- pag. 273 •
Recifuintho.
REecifuintho Abbade na-
tural de Braga. cap. 94-
Couías queefcreuo. Ibidem.
&pag.39P.
Refra.
REgra da Fé contra todas
as hereíías,principalmê-
te contra os Priícillianiftas.
cap.j7.pag. 245.&rec|q.
Regra que chamáo de faõ Fru-
tuofo. cap. 88. pag.37i.&
Relíquias.
T) Eliquias de Sao Vidor,
fanto Alexandre, &: faõ
Muciano queforaõ achadas
no altar mor da Sè de Braea
o
cap. loi.pag. 415-.
Relíquias que na Igreja deDu-
meelcondeo o Arccbifpo
Dom Manoel deSoufa, pê-
ra as trefladar pêra a Sede
Braga.cap 7;. pag. 32;.
Como as achou , Si trefladou
o Arcebilpo Dom Agofti-
nho deCaftro. Ibidem .
Refurreicao.
FOi Saõ Pedro de Rates
refucitado depois de íeií-
centos annos.cap. 14. pag.
68.
Não foi leue a caufa de Tua re-
fureica5.cap.i6.pag.8i.
SaõMaurilio refucitou hií mo
ço depois de muitos annos
enterrado, pag. 83.
Santo Eflaniílao reíucica hum
defunto de três annos .pag.
84.
Saõ Maclouio re fu cita húgi-
gãte de muitos annos mor
to. cap- 16. pag.Sj-.
Como tornou à vida fanta
Chriftina.pag.8j.
ReuelacâO.
REuelaçãoquc emtrezê-
tos annos nenhú fe per-
deo dos que morrerão no
habito de faõ Bento, cap. 95>
pag. 409.
Reuocata.
SAntaRcuocata martyrde
Viana. cap. 37. pag. 153.
&feq.
Rio.
T) los que Icuáo ouro em
fuás áreas. cap. I. pag. 1.
Vv
Ro'
Irid,
ice.
Romanos.
Vercmalgus cjuc osRo-
manos funda iTem Bra-
ga cap.i.pag. 8.
Guerra? c[ue ceue Braga com
os Romanos. cap.z. pag.5?.
&C Teqq.
Rofa.
N
Acem rofas cada nnno
no dia ^ em que foraõ
martyrizados fato Aciíclo^
Òí fanta Vitoria, cãp. ^o.
pag.143.
Rofendo.
SA5 P.ofendo luftre dafa-
milia dosSoufas.cap.iió.
pag.4J3.
Vioa alma de unra Senhori-
nha acompanhada de An-
jos fabiraoCeo. pag. 4;7.
S.
Sagrííctio.
Olemnidade com quefe
fez a fagraçáo da Igreja
do Apoftolo Santiago em
Comportela.cap. no. pag.
444-
Salamao.
Q Aõ Salamão 15. Arcebifpo
de Braga. cap. 41. pag. 167.
de íeqq.
Foi Grego de nação irmão de
Melancio.pag. 168.
EfcrcLiellic faõ Marccilino.
pag.i^í?.
Saturnino.
SAòSaturninoMartyr na-
tural de Viana-cap.37. pag
lôj.ôc feqq.
Secundino,
CA5Secundo_,ou Secundino
9. Arcebifpo de Braga cap.
3^. pag. líi.&fcq.
Foi marty rizado em Cirtecõ
outros fantos.pag. ijz.
Trefladação de ícu corpo de
Africa pêra Hcfpanha. pag.
Senhorinha.
C Anta Senhorinha de Bailo.
cap. ii6.pag.4;3.
Foi de nobihfsmia familia dos
Soufas pag. 45-3 .
Nomes,titulos,& nobreza de
feus pays.Ibidem.
Criação que teueno moílei-
ro de São Icaó de Vieira.
Ibidcm.&pag.4j4.
Reuelaçãoq opay teuc^quca
fizcíleReligiofade faõ Ben-
to, pag. 4;4- ^
Era mui dada a lição de liuros
efpirituaes. pag.4;5"
Tcue particular graça do Cco
per a
Dds Coufas.
pêra fazer milagres .pag. 4)-6
Foi Abbadcílk no molleiro.
Ibidem.
Foi viíitada de São Rofendo
primo íeu , &c como neíla
ocafiaõDcos caftigou a dous
murmuradores.pag.4j-6. &
fcq.
Mudou as freiras pêra outro
moíkiro. pag. 47;.
Milagres que fez. Ibidem.
Vio a alma de S. Rofendo ir
pêra o Ceo acompanhada
de Anjos. pag. 4;7.
Sua morte gloriofa,&: fepul-
tura.pag.4c8.
Seu corpo mteirOj5>: fem cor-
rupção. Ibidem.
Milagres que fez depois de
morta. Ibidem
Asardecido ã fanta Dom San-
cho Rey de Portugal fez
Couto fua Igreja.pag. 4;8^
&.feq.
Deuaçáo de outros Reys de
Portugal a fanta Senhori-
nha, pag. 459. & fcq.
Autores quetratão dcfta fanta
pag. 460.
Sepultura.
C Epultura do Cõde D5 Hé-
riqucj & da Rainha Dona
Tarcja fua molher na Sc de
I Braga, .cap. 6. pag. 17.
Sereriano.
CEreriano quinto Arccbifpo
de Braga.cap.31. pag. 146.
Sigifrido,
^Igifrido 63. Arcebifpo de
Braga.c.riS.pag 46i.&reqq
Foi Abbadc do morteiro de
Fulda. pag.4^1.
Foi Arccbifpo de Maguncia.
pag. 461.
Siluanato
Slluanato 58. Arccbifpo de
Braga.cap.1ii.pag.448,
SilueTlre.
Ç AõSilueftremartyrdeBra
ga.cap. zo. pag.ioi.&cap.
43. pag- 17;. .
Reprouafe a opinião dos que
o fazem x^rcebiípo de Bra-
, ga.& fuceílòrdcS.Bafilio.
Ibidem.
Em que anno foi martyriza-
do. Ibidem.
Sinagio.
Çlnagiojou Sinagrio 14. Ar-
ccbifpo de Braga. cap. 41.
pag. i7i.&feq.
Achoufe no Concilio Eliberi-
tano. Ibidem.
Soufa.
T Ronco da nobilifsima
familiadosSoufas. cap.
iiíí.pag. ^^C.
Vv z
Sucefio.
índice.
Suceffb.
AõSuceíío martyr hu dos
i8. companheiros de fan-
taEngracia.cap.44.pag.181
&í 184.
Sufana,
s
Anta Sufana martyr de
Braga.cap.43. pag.ijíí.
T
Theodomiro,
Hcodomiro 57. Arcebií
po deBraga cap.n i .pag
447.
TheophiU.
' 5 A Tlieophiío Martyr na
Curai de Viana. cap. 37.
pag.ij3.&feq.
S anti azo.
Antigo veo a Hefpanha.
cap. 7. pag. 18. & pag-^7«
& feqq.
Pregou primeiro cm Braga.
pag.2.5^.
Rcfucicou a faõ Pedro de Ra-
tes. Ibidem. & pag. 68.
Entregou a faõ Pedro de Ra-
tes a Igreja de Braga. cap.
14.pag.o9.
Em ■ C^aragoça edificou por
mandado daVirgê Senhora
NoíTa a fua primeiralgreja,
que hoje chamão do Pilar,
pag. 68.
Quanto Cepoefteue oApoílo
lo Santiago cm Hefpanha.
cap. 14. pag. 69.
Solenidade cõ q líe fagrou em
Cõpoftda a Igreja do Apo
ílolo Santiago.cap.uo.pag
444.
Tihaes.
M
Ofleirode Tihaes fun-
dado por S. Martinho
cap.73.pag3ij.
Torcato
CAõTorcato martyr dcBra
ga.cap. 43.pag.176,
Idobeu.
C Anto Tolobeu , o u Tobcu
3j.Arccbifpo de Braga cap.
So.pag.343.&:feq.
Foi depois frade de faõ Bento
pag- 344-
Torihio,
Z
£lo , & virtude de ião To
ribioBifpo de Aftorga.
€3^/7 pag.z40. &íeq.
Trajam.
^as couÇds.
' Trajano.
ALma de Trajano tirada
das penas do Inferno pe
raoCeo.cap.17.pag. S6.ÔÍ
< fcq.
■'^ Treslada^ao,
T' Rcsladação de relíquias
quefez o ArcebifpoDo
Asoftinho de Caftro da
Igreja de Dume, pêra a Se
deBraga.cap 7y.pag.3iy.
Trcsladaçáo do corpo defaõ
Pedro de Rates 3 pêra aSè
dcBraga.cap.i8.pag.5>6.
V.
VaUntinô.
C Aõ Valcntino Bifpo, &
martyr de Viana. cap. 60.
pag. iói. &fcq.
Valério,
VAlerio primeiro do no-
me 23. Arcebiípo de
Braga, cap.ói.pag.iói.
Valério fcgundo do nome i6.
Arccbifpo deBraga.cap.^j.
pag.176
Featride.
ÇAnra Vcatride natural de
BragajÃ: 18. companheiros
martyres. cap 9^- p3g.399-
P^iana.
Viana foi primeiro cida-
de Epifcopal muitos an
nos. cap. 37. pag. 155.
SaõTheophilo, SaturninOi&
Reuocata martyres natu-
rais deViana. pag. 153. &feq.
Viana nobre comos inílgnes
dousBifpos^& martyres S.
Maximiliano,&: Valentino
cap.6o.pag.i6i.
Fronteiro mòr em Viana- pag.
z6i.
Viãor.
C Aõ Vi(5lor Martyr 46. Ar-
ccbifpo de Braga. cap. lõr.
pag. 42,3.&fcqq.
Sa5 Viólorcom Alexandrç,&
Muciano,faõ leuados aBae-
ça. pag.4i4-
Todos trcs padecem ahy mar-
tyrio. Ibidem.
Algúas relíquias deftes três
martyres foraõ trazidas a
Braga, &í collocadas no al-
tarmor. daSe.pag.41y.
Vitoria,
Vlârorias que alcançarão
os B rachar efes dos Ro-
manos -cap- z.pag^p^&ícqq-l
Vv3
Vitoria.
%.■
/.
Ind.
ice
Vitoria.
C Anta Vitoria Iiua das Tantas
nouc irmãs. cap. 30. ag.143
Ondepadcceo marcyrio.Ibidé
Nacem milagrofamence rofas
no dia, cm que foi marti-
rizado. Ibidem.
Vitouro^
Ç A5 Vitouro Marcyr deBra-
ga.c3p.43. pag.i73.& feqq
Sangue que íayo da pedra cm
que foi degollado.pag.178.
E
Voto,
Scriturados votos, que
feíizeraõ a Santiago. cap
j07.pag.437.
Vrbano.
s
A5 Vrbano marf-T hu dos !
18. companheiros .2 fanta
Engr3cia.cap.44..pag 181.
& 184.
Vuamba.
AElRey Vuamba quem
deu peçonha.cap. ^3.
pag.396.
Cõ que ocaííaõ tomou o Rey
o habito, & fe fez Rclimo-
_^ o
foIbidem,&pag. 397.
Onde eítà enterrado. Ibidem.
Vuas.
Ilagre com qucDcos
caítigou ahu por to-
mar hú cacho de vuas. cap.
73-pag.3i3-
M
Vuilgeforte.
ÇAntaVuilgeforteheo mef-
mo que fanta Libcrata, &c
fanta Ontconicra. cap. z6.
pag. itz.
X
A
Ximena.
Rairha Dona Ximena
veo a Compoftela l fa-
gração da Igreja do Apo-
lloloSãtiago. cap. II o. pag.
444.
Z.
Zelo.
y^ Elo de Balconio Arcebif-
po dcBraeacm conuertcr
o. hcr"; 'wS cap, y7.pag.2,4o.
Te.cnomeíííiozelo por cõ-
panheiro a ícu grande ami-
go Saó Toribio Bifpo de
Altorga.Ibidem.
Finis Laus Deo.
E%RJTjr.
p hgnihca pagina, c. coluna da pagina, n. numero do capitulo,
r. regra, começando a contar do principio do numero.
P2o.c.i.t}.2^.r.'j,Reinoem Principado. P.zo-c.l^n.^.r.^é ^pajíole, em ApoJIcl».
'P. ^ó.c.i.n.^. r.2. Gelaf') de ÁÍeriiaPotamsodc "■ d.-t tmGelaJío d: Aguedi*
Potamtod;Merid.i. P,6 ^.c,i.Ltodigio,em Leod!cifta.P.'y t:.x.-a,ii.r»'i'^.(3'h! em (^
h-ií. P. 8i. c. 2. w. 13. r, 10. PortecMe,em VortHcak, P, ^ . c, 2.». iç. r. 1 j, Argies,
cm Aagrs.P, i^j. c. z.n 1 r. 4^1 d^da, em UuaÍo. F. 139. e. 2. «. 6> *".I2. deuo^ão,
em d(HA<,ão. P. I ijo. c, I. n. 8. r, J. encomtndar efles.em encemmd^tr u Deas efln- Ikide
r. 32. dobrado, em laiirado. P. 145. c. 1. n, lA.anttfiHem.vtuJficr.em vetuí^ior, f. 148
r. í. ». 2. >■. 2j. cerebre, em celebre, P. 170. «■• i.h. 7. r. j. anno de iizo.em aun»
1102. P. lií. c. i.n.2,Y. 6.ch.ima,etn chamaH*. P»í^i. c, z.n i, r, ^. que no CÍ'
ctiio RomMio,em ^ no Cocilto K ena. P. 1^4. ;• I. n. i. r. 24. Reaes,em Rens. ^'.199
c. I. « ^, r. 18. cr defetiaitti Wj (^íe deupor liurt, P.2«í,c. z ». 3.r. Z chema,
emchamat P.zz^,c. I.».8.r'.3. máes de zz. annos, emnf 'ie iz.Minos, P.zza.
c, z. n. j. r. i.foi, entfes. P. 242. c. z.n 7, r. 26. 4p e a paUura , defpachar.
P. z6o, c. I. ». 3.r, lè. debatx» de S.Agof}inh»,em dtb*uo d/tdi/ciplina de S Agofitnha
P. 264, c. z-n. ^r. 15. Capomo, em Ceponto. P, 282 c.z.n, 9. r. 1 y, lornadas , em
lornandes, P. 308. c. 2, »• 10. r. lufe fos^»belecerem,em je efiabeltcerem. P, ^iij.c.z,
n.^.r, T,-^. ckicorretr» emchocarretro, Pt ^té.c.i.n 6 r". J3. Dumtenfem, entDu-
mienfe, er r. ^4. libtanenfem em ItbiAnen/e P, 346. c. it m. 2»»'í 26. Biterienjis , íw
Bitcrrenjís, Ibtdem, ou, em no. P, 372. e. 2.». y. r. 32. vremos , em vermos, P.^^^.c.
i.w. y. r.14. Afcig£t,em Arttga, P. ^o'j. e, i.». (5,n 8, ne dectmo qaârto Conctlw, em
no decimo quinto Concilio. P. j^i%. c. z,H, li. r. 19. VI. Calendas , em IV. Calendas
P, 419, c. I. n. 1 1. K, 46. 39. íie Fenereêro.em 26. de Feuereiro P.424. f.2, K.j.infine
Prelados,em prcfos. P. 43 3. e. 2. «. 2. r. 3 z mjfa, em rtejla, i'.4j'^. (. I. ». 14, r. 6.
de Gonçal Aííndet,em, de Dom Gonçalo Mwhfé,
rç
A '
ÂK^
'> ^V /\**
ÍT^^.-.-t^X^^
(!
^4
I
1 , r
K 1 1
I , iH ' ' '
i
'I'" 1, I I
li
I
|!, i 111
I i i |l
j ! f:,; uni:
1,1' , i.Pii,'i
i1"ii
'lliUi
iii 111,
!
Pli'l'Pii','i!!!niilif' ;tiMni'i!i,l
ii|
l,l,;Ili
P: I I i: .'
Tillil,
illi,Ti|i|ll'
'^:.r '
IrfA-
m^
^i^
IWi
-•;', i!*.