Skip to main content

Full text of "Primeira[-segunda] parte da Historia ecclesiastica dos arcebispos de Braga, e dos santos, e varoes illustres, que florecerão neste arcebispado"

See other formats


^:m^ 


' vív \W\ !  F I f I  í  1 1' ' ! ' ' I    f  í ti f  i   'f ^^   ri  1  i    í  'I ■  1 


IP  >  .  I 


LI    Li 


III 


llllfllilllillilllllll 


Wllllllll 


I     {'  .1' 


''S/3<^  :f^\ 


Presenteei  to  the 
LiBRARY  of  the 

UNIVERSITY  OF  TORONTO 

by 
Dr.  António  Gomes 
Da  Rocha  Madahll 


ll!llll!lllllll!lllll' 


l!    LTII 


I  li 


III 


m\ 


ii    I 


'  I  "ill  Íií^^í^^l^l^'^1^ 


'     I  1  li  ''I        1  i  I íl  '       I 


fíltílfllili 


I 


!     II 


I      !     I     li  I       lilli  I    jilli^^^^^^^ 


III 


'/,r/^.^^  ^/sAá 


O 


i^íCe^ 


z  ^7^/' 


fmwMK^o^-m^     s^j.^ 


P  R  I  M  E  1  R  A    P  A  R  T  E 

DA  HISTÓRIA 

ECCLESIASTICA    DOS 

Arcebispos  DeBraga,E  Dos  Santos, E  Varões 
illurtreSjque  floreccráo  nefte  Arccbiípado. 

Por  Dom  Rodrigo  da  Cunha  Arcebifpo ,  è^  fenhor  de  Braga^, 
Primà^^das  Hefpanhas. 


Cy?^ 


Anno 


1634- 


! 


Offerecida  a  Sereníssima  Vi:rcemSanta 


Maria  de  Bra2:a.  , 


Em  Vraoii,  fcm  tod.i<  c:  luencas  necejjartas,  fsr  Alanoel  Cnrd.-z.o  mercador  d*  liurat. 


Ij>  IlliUlUIUir  iM     ' 


••t>«^.. 


te 


•C^ 


*^^ 


l 


i 


.^ 


A  P  P  R  o  V  A  C,  A  M. 

VJ  ejle  liuro  intitulado,  Hiftoria  Ecccleíiaílica  dos  Arcebif- 
pos  da  íaiita  Igreja  de  Braga  ,  compoUo pello  Illufirifsimo, 
l^  ReuerendiJsimoJenhorD6Rodr/go  da  Cunha  Ar cebifpo  Primá^^ 
cujo  nome  manifejla  bem  a  excellencia  defeus  efcritos^dos  quaes  co 
gr  ande  fundamento  pojj  o  affirmar  o  quefanto  AmhrofiofermaS  48. 
dife  dehitftrmao  de  certo  Bifpo  ('taiica  facúndia  res  diuinas  dif- 
feruit ,  vt  prxdicacio  eius  plena fueric  Sacerdotij  gratia,  oracoris 
eloquência  ,  inftkutione  dodoris.  Nec  mirum^  íi  is,qui  in  Pó- 
cificio  Priniacus  honorcm  obtinet,obtineacetiam  in  prasdican- 
do  Primatus  cloquium  j  oprefente  eíià  mui  conforme  a  nofia [an- 
ta Fe  Cathohcajj'  bons  costumes  ^Isf  me  parece  dignifsimo  defe  im- 
primir. Lisboa ,  emfaá  Francifco  da  cidade  hoje  24.  de  laneiro  de 
16^4..  FrDiogodoSaluador. 


V 


APPROVAC,  AM. 

I  com  fumo  goTio  efteliuro  intitulado  ^  Hiftoria  Eccleííafticá 
dos  Arcebiípos  dafanta  Igreja  de  Braga, &  dos  varões  fan- 
tosq  em  íeu  Arcebiípado  floreceraõ ,  coos  Concilias  Prouinciaes 
que  nellafe  celebrarão  ,  compofio pello  lllujlrifsimo  fenhor  DÓ  Ro- 
drigo da  Cunha  Arcebifpo  do  dito  Arcebifpado^tfPrima^dasHef- 
panhaS)  todo  eile he  hu  ramalhete  deflores  celejliaes,i^  diuinas;ao 
qual  naó  so  a  forma  que  a  excellencia  defeu  Autor  lhe  deuÇque  he  a 
fuprema  que  neíte  género  pode  auer)ofa^inJigne^  mas  tambe  a  ma- 
téria de  grade proueito  efpiritual pêra  as  almas, iS''  nao  menor  eru- 
dição pêra  os  doutos:  pello  que  me  parece  dignifsimo  defe  efiampar^ 
em  Lisboa  nejia  cafa  de  S, Roque  dlfí^ompanhia  de  i^^f^-  'ultimo 
de  laneiro. 16^4.  Doótor  lorge  Cabral. 


V 


Illas  as  informações  podcfe  imprimir  cftcliuro  intitulado, 
Bifloria  Ecclefajlica  dosArcebifpos  da  S.  Igreja  deBraga,  & 
depois  de  impreíTo  tornara  a  efte  Cõfelho  cõferido  cò  fcu  origi- 
nal pêra  fe  lhe  dar  licéça  pcra  corrcrXiíboa  3 1 .  de  laneiro  de  1 63  4. 


Gafpar  PeretrA.     D  loa»  da  SyhA.    Francifco  Barreto.     Maneei  da  Cmha. 

Fr.Ioaode  í^afctncelles. 


APPROVAC.AM. 


\ 


PO  R  mandado  cie  fua  Magcftade  no  fcu  defcmbargo  do  Pa- 
ço^vicfteliuro  intitulado,  Hifloria  Ecclejidfiica  dos  Arce- 
bifpos  da  S.  Igreja  de  Braga^if  dos  'varjosfantos  qmllaflorece- 
r4o,compoíto  pello  ílluftriííimo,&  Reuercndillimo  ícnhor 
Dó  Rodrigo  da  Cunha  Primaz  das  Hefpanhas ,  &  não  té  coufa 
em  qfepoíía  reparar, &  tudo  he  conforme  a  muita  piedade,  co- 
nhecido zelo  da  verdade, «5,:  iníígne  erudição  _,  q  em  vários  trata- 
dos témoíbado,&  todo  efte Reino  confcíla.EmLifboa  na cafa 
deS.Roque  da  Companhia  de  Iesv.  ij.dcFcuerciro.1^34. 


Diogo  de  Areda, 


QV  Efe  pojfa  imprimir  tjle  liuro  Vitia  a  enformarão  do  Dou- 
tor Diogo  de  Areda,  i^  licenças  do  finto  Officio ,  tf  ordi- 
nário ,  ^  depois  de  imprefo  tornara  a  efta  mefaperafe 
taxar ,  ttjem  iJ!o  nao  correrá.  Lisboa  zi.  de  Feuereiro  de  16^4. 

CahrsU      SéLizMU    ^x/rett.     L»M,B4net«t 


>^?^<5.  ^>^.gÍR?*^  ^^  yÍ^9r^<^$HÍin^ 


A 


A   V  I  R  G 

SENHORA  NOSSA, 

PADROEIRA  DA  IGREIA,  E 
Cidade  De ^R^ÀGÀ. 


Eílosmefmos  títulos  ^Virgem  Santíssima^ 
que -vos  offereci  o  tratado  da  Prima^^a  de  Braga, 
he  também  'voj^o  o  com  que  agorafayo  a  lu^  dos 
Arcebifpos  da  mefma  Igreja.  Injusioforafepara  os 
publicar ,  lhe  bujcajje  outro  faiior.  Obra  foi  ^ofa 
fubircm  d  dignidade  defia  Sè  primeira  de  Htfpanha  ,  que  ^os  U- 
uantou  altares  y^  fe  confagrou  a  ^oj^o  nome.  Ta  es  os  efcolhesies^ 
quaes  es  pedia  ^ofio  feruiço ,  í^  auerem  de  ficar  por  esia  'via  o 
exetnplar  do  clero  de  húa  Prouincia  taó  Catholica ,  a  quem^ejfo 
Filho  Chrislo  lESV  tinha  guardada  a  empre^^a  deleuarempello 
mundo  a  gloria  defuafagrada  Cru^.  Em  a^ofio  empara  confio  re- 
fucitar  na  memoria  dos  homens  a  fama,  que  debaixo  do  mefmo  em- 
pí^c^anhara^ tuútas  Prelados ,  'Iffi^do perfeitos ,  ^  morrendo 
"Ê^antos, 


PRO- 


PROLOG  O 

Ontinuoufe  o  animo  com  que  efcrcuemos  as  vi- 
das dos  Bifpos  do  Porto,quando  tiuemos  aquella 
dignidadcjdcpois  que  fomos  promouidos  a  ella 
Primacic'il  deBragai&  logo  traçamos  de  tirar  aluz 
as  vidas  de  feus  Arccbifpos,  a  quem  a  muita  anti- 
guidade tinha  quaíí  de  todo  efqueddos  j  em  húa,&  outra  acção 
pretendemos  querer  imitara  S.Damafo  nas  vidas,q  eícreueo  de 
íeus  predeccílbres jfe  o  animo  foi efte^ofim  íe dilculpa cõ  os  im- 
poíTiueis ,q  fc  nos  repreícntaraõ,  aííi  porque  eík  obra  confta  de 
coufas  tãoantiguaSj&táoatrazadas  j  q quaíí  nãocftáo  na  jur- 
dição  da  memoria,  como  porque  para  auerigualas ,  importaua 
reuoluer cartórios,  apurar duuidas_,a ondeamcfmaantiguidade 
faz  confuraõ.Eftas,&  outras  rezoés(alé  do  goucrno  de  Prelazia, 
tão  dilatada^  S:  taõ  ocupada)  nos  tiueraõ  quaíí  diuertidos  deite 
intenco.Ejapòde  fer  foi  deíconfiança  tornarmos  a  elle.  AIgúas 
peílbas  de  erudição,  &  autoridade  fabendo  q  nos  ocupauamos 
neíla  obra  nos  informarão  decouíâs  muito  importantes  a  efta 
hilloria ,  que  fe  puderaõ  efcondcra  quênão  foíTe  muy  veríado 
na  lição  delias.  Q^ádo  efta  primeira  parte  íècomcçaua  a  impri- 
mir,nos  mandou  iua  Mageíiade,q  Deos  guarde,aíliílir  àdefcnía 
da  Villa  de  Vianaj&  porventura q  daqui  lhe  naceria,  faír  menos 
pulida,Emendáoíè,&  melhorãoíe  entre  maõs  muitas  coufas,em 
q  naõaduircia  o  eítudo  perfíado.  Na  aueriguação  da  verdade, 
entramos  íèmprccóaninioliure,&:derapaixonado. Côas  vidas 
dos  ArcebirposeícrcuemoySWos  varões  íàntos,  ôc  illultrcs  do 
Arcebifpado.  Não  era  bem  dinidifieaefcrituraaqueileSjaquem 
a  graça,  Sc  natureza  fez  quaíí  irmãos.  Cõ  eíias  rezoés  faea  pri- 
meira parte,feimperfeita,de  algija  maneira  defculpada. Trabalha- 
remos q  na  fcgunda  (começaracÕ  o  glorioío  S.  Giraldo,  jã  no 
tempo  de  noílbs  Reis,)  aja  tpcnos  queemendar,&:  não  fera  pe- 
quena felicidade  igualarfc  o  effeitoxom  o  animo  ^  he  género  de 
fatisfação  moítrala  ainda  cm  defejos. 


5x-^.  3íi  ffi  ^iW  ?íM  m^.  msJMM^tm 


rgy.-iCJ-zJg-.jf-.gag:  ae;3ag:rac- 


FRANCISCVS     PINTO 
Da  Veiga. 


VJfiudio,  ingenio^fiio  tibi ,  Br  achara, nuper 
Hefperi<e  ajíermtíiirafitprema  mitr<e, 
Nunc  oOgitParcas  truncata  retexerejila, 

Letfhnaf^  ^ondM  cedere  Pegafeis: 
Iam  prideu  Vitaf anãos ^prima^  tiara 

Donans  orbi  iterum  cernere  Pontífices. 
Vrbs,quam  mixtafalo  Durij pr^labittir  ■unda^ 

Hoc  dederat  múnus  Pr^ful  is  ante  tuis. 
Quos  igitur  tanta  caligine  merferat  auum. 

Vtfpes  humana  -vixfuperejfet  opis 
Viuuntfãcrorum  próceres  ^monumenta^^terr  is 

Virtutum referunt munere,  CFGNA,tuo, 
Gaudete  ô  Jnim^  tali prdcone  beatiõ 

Nuncfimul  in  C4I0  -viuitis^iníj^folo. 
Hic  documenta  datis  mi  feris  mortalibusjlhc 

Fulcite  iraperif  mole  labantis  ónus. 
Vefirà  etenim  doar inâ  ânimos  formata  iiiumtm 

Chriflo  regna  dedit  qu^Mahumetis  erant, 
Oceani^  domas  rabiem ^  uiãricia  Chnjii 

Ignoto  tribuit  figna  ^viderepolo. 
Et,  quo  nulla  dies  ^què  mirabile  t>idit^ 

Império  metas  folis,  isf  orbis  habet. 
Cernitis  antiqua  lapfos  ah  origine  mores ^ 

Ne  decus  id  labes  obruat  iUa,  date. 
Hocfatagit  ^elo  Pr^ful,  cura^  paterna 

Mira  ijetuflatis  lux^baculi^  nitor. 
Pr^claris  pollensfludifSi  opibufj^  Minerus 
Clã  pia  Cecropiopenna  leporefluit. 


r<«.j— 


Lí6UUiifh 


x. 


Ltcuim  iter  ingrefsis  maiorum-  lâmpada profcrt^ 

Ne  pudor  àprifca  nonjit  ahire  "via. 
He?'ois  magnifoboles,  ciii  slirpis  origo 

Clara  per  innumeros  continuatur  aitos: 
Quorum  pr  d  cl  are  gesiis  bellhj^  ^  ^^K'^^ 

Lufiadum  lati  nomen  in  orbe  ijiget: 
Queis  hicphis  reddet  luci<; ,  quámfumpfa  ah  illis. 

Nam  Jua  laus  magnum,  non  aliena  facit. 
A  Ccelo  is  tantus  datus  efl  mortalibus  author, 

Virtutem  Dtfcriptis  fpargat  "^bi^,  fuis. 
Scribere  dumçj^  ^^i%  wdulget  gentibm  ^teuum 

Canefcatfeclis  innumerabililus. 
Nam  mente,  iffludio  ^incendo Jeculafecit 

Secula  nepojfent  a^lla  nocerefibi. 


h^^*á^^'5f'^h'* 


! 


,# 


fo/.I. 


'  x^-jc  3t:*^ar  Jgjr:»:  lar  m  '.apaiLM  : 


tv  t=  *-  :*rad>'; 


r'jg3r  r  ^^K-^sz^ti  ^. í^?!] 


r::3t  jr:x-:^--r^M.^3írjtL 


c'-Jg  -^-y  jrrgjr  jc  jr3«r:«--y»-'jr  i 


:  arr-  ^í:at  jr  jtrarr.r 


FV 


AC  A 


DA     CIDADE  DE 

BRAGA^EQVAES  FORAM  SEVS 

FVN  DADORES. 

CAPITVLO     PRIMEIRO. 


Ttokm, 
l>b-2.c.6 
Plin.  nat. 

hji.hb.if 

\c.zo. 
\Anton.in 
iúncr. 


C  I  D  A  D  E  de 
Braga  he  húa 
das  nobres,  & 
antiguas ,  não 
íò  de  Portu- 
gal, mas  anida  de  toda  Hefpa- 
nhaj&  nas  armas,&  gloria  mi 
litarigoal côas  mais  famoías-, 
Ptolomeu,o  Emperador  An- 
tonino, &:  Plínio  lhe  chamão 
Augufta,  que  hc  o  mefmo ,  q 
imperial,  titulo  com  que  os 
Emperadorcs  lionrauão  as  ci- 
dades leaes,  que  mais  íc  auan- 
tejauão  no  íeruiço  do  impé- 
rio Pvcm.ano.  Com  o  mcfmo 
titulo  deAaruftas  ,  íaò  co- 
nhccidas ,  &í  nomeadas  Meti- 
da, Artorga ,  &  Caragoça  in- 
figne  cidade  de  Aragão,  & 


outras  mais  de  Herpanha,por 
que  o  ganharão  por  obras  de 
valor,  &  por  mercê  ,  8í  fauor 
dos  Emperadorcs  Romanos. 
Rica  lhe  chama  também  Au- 
fonio  j  quãdo  diz  falando  áss 
cidades  lUullres  de  Heípa- 
nha. 
Qíu^finupclaguaãatfe  Bra 

charadiues. 
A  rezão  parece  que  he  tirada 
de  Plinio,  o  qual  affírma,  que 
foy  efta  terra  fertiliísima  de 
ouro,&  outros  metaes,&  diz 
de  opinião  de  alguns ,  que  de 
Aílurias,Galliza,&  Lufitania, 
Te  tirauão  cada  anno  vinte  mil 
liuras  de  ouro,  que  íàõ  vinte- 
mii  marcos  da  moeda,  q  hoje 
corre,  &:  acreccnta,  que  em  I 

A  nenhúa 


ciarei  vr 
hes  verbo 
IJiIfalíí, 


4- 


Duart, 

NfM.dff- 
cyiff.  de 
Fortug,c, 

22. 


Cafitulo  primeiro 


lib.  ^j\. 


)-J- 


Itb.  I. 


yiifupra 


nenhúa  outra  terra  durou  por 
tãto  têpo  efta  fertilidade.No- 
touobêluftino  quando  dií- 
fc ,  cjue  era  ella  Prouincia  de 
Galliza,  tão  rica  de  ouro,  que 
cm  finos,  &:  peíados  torrões, 
o  Icuantauão  da  terra  os  ara- 
dos,quando  a  laurauão.E  dos 
•  Aílurianos  diz  Silio  Itálico, 
que  não  tinhaÓ  outro  oíficio 
mais  que  tirar  ouro  das  en- 
'  traiihas  da  terra. 

AUurauarus. 
Vifcerihiis  lacera  tellurls  mer- 

gitur  imis. 
Et  redit  infelix  effbjfo  con- 
colorauro. 
E  fe  ouucrmos  de  dar  credito 
aos  Ppetas  acharemos,quc  ate 
nos  rios  de  antre  Douro  & 
Minho  auia  ouro  em  fuás 
áreas:  afsy  o  âiílc  Silio  Itálico 
do  Lyma,a  quem  osRomanos 
chamarão  rio  do  eíquecimen- 
to,o  qual  Icuando  fua  corren- 
te ao  mar  Oceano,  junto  à 
villa  de  Viana  perde  o  nome, 
metêdofe  cm  fuás  agoas,  delle 
diz  o  Poeta. 
G)ui^  fuper  Grauios  lucentes 

"voluit  arenas, 
Inferuíe  referens popults  obli- 

uiaLethes. 
A  mefnía  riqueza  Icua  no  no- 
me,&  nas  arcas,  o  rio  Douro, 
que  dà  principio  à  comarca  de 


antrc  Douro  ,  Sc  Minho,  & 
corre  j  unto  à  cidade  do  Por- 
to, o  qual  compara  Silio  ha- 
lico  com  o  Paótôlo  de  Alia, 
rio  abundante  de  ouro. 
Hmc  certant  Paólole  tibi  Du 

E  aindaque  as  arcas  deftcs  rios 
nãofejãodeouro,  como  os 
Poetas  fingirão ,  achafe  poré 
nellcs  algú  em  meudos  graÕs. 
A  caufa  he  por  auer  neftc  Rei- 
no muitas  veas  de  ouro,  Sc 
quando  as  terras  onde  eftà  ef- 
condido  felaurão,  ou  rom- 
pem ,  as  agoas  do  inuerno  as 
íeuão ,  ôc  nos  rios ,  Sc  arcas 
dcllcs,ondc  fe  vãometer,fi- 
cãoallcnradosos  graõsdo  ri- 
co,&  preciofo  metal,  q  ncllas 
fe  vè.Illo  acontece  ao  Hcrmo 
de  Phrigia,aoPaâ:òlo  de  Afia, 
ao  Ganges  da  índia ,  Sc  ao  Pa- 
do de  Itália,  tam  celebrados 
dos  Poetas  por  abundantes,&: 
ricos  de  ouro .  Elias  Vineto 
tem  para  fy,  que  Braga  fe  cha- 
ma rica  pclla  grande  fertilida- 
de dos  valles  da  comarca  de  an 
tre  Douro,&:  Minho,em  cuio 
coração  cftà  allentada ,  Sc  de 
cuias  riquezas  participa  igo- 
aes  (  fe  não  melhores)  as  das 
veigas,  Sc  campos  mais  abun- 
dantes de  Hcfpanha.  Logo  be 
aífenra  o  titulo,  &  nome  de 

rica 


d.  l,b. 


l. 


Duarte 

NHn.d,c, 
2  2. 


NoCorní^ 
ta  de  Au 
fonio  vhi 
fupra. 


fundação  da  cidade  de  Bragas. 


Arrae! 

€.12. 


S anu  Ag. 
lih.l.  c. 

1 


'r 


rica^que  Auzonio  dà  a  Braga^ 
pois  nclla  auia  tantas  minas_, 
tantas  veas ,  &:  rios  de  ouro^ 
tanta  abundância,  òc  fertilida- 
de de  frutos  j  íe  jà  lhe  naõ  foi 
dado  por  algíja  liberalidade 
iníignc^cjue  vfafie  com  o  Po- 
uo  Romano  feruindoó  com 
algum  dinheiro  de  importân- 
cia perafocorro  de  fuás  ligioês 
&Í  exércitos  .  Tudo  fe  pode 
preíumit  da  generolidadc  dos 
antiguos  moradores  de  Bra- 
gados quais  na  milicia  fizerão 
illuftres  façanhas,  moílrando 
ânimos  esforçados ,  &  húa 
contumácia  generofa  contra 
os  Romanos,que  luarao  lan- 
gue quarenta  annoí  em  os 
conquiftar. 

t  Da  origem  de  Braga  ha 
cinco  opinioês,toda5  lhe  dão 
diuerfos  fundadores.'  Come- 
çando pellosmais  antiguos. 
Dom  Mauro  Ferrer  he  de  pa- 
recer ,  que  foi  fundada  por 
Egypcios,&;tiraefta  cõiedu- 
radehúa  pedra  antigua,  que 
cftànas  coftasdacapelladeS. 
Geraldo  junto  a  Sc ,  com  húa 
dedicação  à  Deofa  líis ,  q  diz 
aísy.  Ijidifacrum.  E  daqui  ar- 
gue,q  aos  Egypcios  fò  perten- 
ce cita  fiidação ,  porq  elles  fo- 
rão  os  q  primeiro  leuantaraó 
tépIos,&;  venerarão cõfacrifi- 


cios  a  efta  Deofa,  <Sc  a feu ma- 
rido Ofiris.E  fe  lhe  pcrgutar- 
mos  quando  vieraõ  os  Egyp- 
cios a  antre  Douro,&  Muiho 
pêra  edificar  Braga,  rcfponde 
facilmente,  q  vieraõ  em  cópa- 
nhiadelupiter  Oílris  marido 
de  líis,  quando  paílbu  a  ¥{cí~ 
panha,  &  depois  de  fua  morte 
acalcanharão  aHercules  Egyp 
cio  ícu  filho,aquellea  que  cha 
maraò  Marte  pellas  façanhas, 
òc  cíforço  militar  quádo  vco 
às  mefmas  Prouincias  de  Hef- 
panha,cq  dariaò  principio  a  cf 
ta  cidade/undando  nella  o  tc- 
plo  de  líís  may  de  feu  capitão, 
&  Príncipe  Hercules .  A  iuda 
efta  opinião  a  cartado  Biípo 
do  Porto  Hugo,  q  adiante  lã-^ 
ciaremos ,  o  qual  alíirma  có  o 
ArcebifpoCaledonio,  que  os 
Egypcios  forao  os  q  fundarão 
o  téplo  a  líIs  nefta  Cidade  de 
Braga. 

3  Da  veneração  deftesDeo- 
fes  entre  osEgypciostrataDio 
doro  Siculo,&:  dcfus  Sacerdo 
tesS.  Ambrofio.  Do  letreiro 
que  acima  referimos  daremos 
mais  larga  relação  na  vida  de 
S.Pedro  de  Rates,  pêra  onde 
referuamos  fua  íígmficação. 

4  Outros  feguindodifferé- 
tc  caminho  faó  de  parecer, 
que  foi  fundada  por  Gregos, 


i.hi(f. 

S.  Amb. 
in   Fpijf, 

Epifcof. 

£f^.çeí 
ttas  untig. 
r.8.  . 


& 


4 


Capitulo  primeiro 


FUn.  l't>' 


•dM.. 


H- 


m,^. 


&  não  íaõ  fracos  os  fundamé- 
tos  a  que  íearnmáo  ,  porque 
tem  por  íy  a  autoridade  de 
Plínio,  Autor  gtauiísinio,  o 
qual  falando  particularmente 
de  Braga^diz  que  foideGregos 
fua  ongcm,faõas  palauras.  A 
Client  comientHs  Bracharum^ 
Hehni^Gronij^  C afiei íum  Tide 
Gr^corum  fohoJes  omnia.  E  os 
Galleoos  antiaos  publicauão 
de  ly  ,  t]  procediao  At  Gregos 
comoaftifmaTuftino.  Gaílccí 
ãUtemGvtecamfibi  originem  af- 
fenint.  E  fendo  Braga  cabeça, 
&  lugar  principal  de  Galliza, 
cila  auia  de  fer  a  primeira  na  fú 
dação.  E  prouafe  fer  ilfo  aísy 
:  pello  nome  deGrauios^que  os 
pouos  deantre  Douro_,&  Mi- 
nho tiucráoporaquelle  tépo, 
oqualfe  diriuou  com.  "pouca 
corrupção  do  nome,  Graios, 
q  tinhão  os  Gregos ,  q  a  po- 
uoarão  como  bem  notou  Si- 
lio  Itálico  dizendo. 
Et  quos  nunc  Grani  os  mutnto 

mmincGramm. 
OEnccc  mifere  domas  y/Htola^ 
Tide. 
E  quaes  fofsé  eftcs  Gregos ,  q 
edificarão  Braga,&  pouoarao 
antre  Douro,  &  Minho,  c*^as  • 
mais  terras  deGaUiza,  viando 
cõ  ellas  de  húa  liberalidade  tão  ; 
generoza ,  q  não  í  ò  lhe  dcraô 


fer,honr3,&:  naciméto,mas  a- 
inda  feus  próprios  nomes,  hc 
couía  íabida,q  foraõ  quatro  il 
lullres  capitães  Gregos  ,  os 
quaes  tornando  pcra  fuás  ca- 
las da  guerra,&  incédio  deTro 
ya,  aportarão  có  a  força,&:  ri- 
gor de  tcpelladcs,  q  correrão 
no  mar,ein  as  prayas,&  terras 
deGalliza.  Eítcsíe  chamar  ao 
Diomedeí,  Teucro,  Altur,  & 
AmphilocOjOs  quais  côas  ge- 
res cj  trazião  pouoarao  a  ma- 
y or  parte  defta  prouincia ,  & 
de  Allurias  agrcftes  então,  & 
aíperiíTimas .  E  André  de  Re- 
zende fala  da  vinda  de  Diome- 
des,como  de  couía  certiííima, 
dizendo ,  q  feus  cõpanheiros 
habitarão  a  terra,  q  cae  da  ou- 
tra par  te  do  rio  Douro  (  q  he 
efta  de  BragaJ  conferuandofe 
por  muitos  annosemlcu  mo 
do  de  viuer  Grego,  de  forte,  q 
por  excellencia  erão  conheci- 
dos,&:  nomeados  por  Graioí, 
q  tanto  vai  como  Gregos.  E 
depois  cotrompendole  o  vo- 
cábulo, fe  chatnaraõ  Grauios , 
ou  Gronios,como  os  nomci 
Pcmponio  Mella.  Da  entrada 
deftes  iníígnes  capitães  em 
Galliza,teftemunha  depois  de 
luft  ino,Vazeu,eVolaterrano^ 
Floriaõ  de  Ocampo,frey  Ber- 
nardo de  Brito,  &  o  Bifpo 

frcy 


tiq. 


3.r.  'exti- 
ttm  Híf- 

fomx. 
lufitiu  d, 
Itb.  ^j^. 
yhlater, 
Geog.  c. 
Áe  HtffA 
nia. 

no  11^9. 
Flor.Uy, 

&  42. 
Brit.  i.p. 

monarth. 
c.  11. 


fundação  da  cidade  de  BragíLu. 


5 


Sa»doual 
nas  aiit:- 
med.  dl 
Tui, 


Duart. 

Nun.díf 
erif.c.vl. 


Brit.i.p. 
monarch 
llb,Z.C.b 


frei  Prudcncio  de  Sandoual, 
os  quais  largamente  coiitaõ 
cila  vinda ,  6c  apontaõ  algíías 
das  cidades  que  fundarão  ,  en- 
tre as  quais  íem  duuida  deuia 
entrar  -Sraga,  pois  era  a  prin- 
cipal dos  Pouos  Grayos ,  ou 
Grauios ,  da  comarca  dantre 
DourOj&  Mmho.  Cayo  cila 
fádação  pellos  annos  de  1 1  jo. 
antes  da  vinda  de  Chrifto. 
5  Outros  tem  por  opinião, 
q  foi  Braga  fundada_,  por  Car- 
thagineíes ,  aquelles  q  vicraõ 
com  o  capitaõ  Himilcon  ,  & 
ficarão  antre  Douro,  &c  Mi- 
nho^pella  ocaíía5,que  logo  ài 
remoSj&  lhe  deraõ  o  nome  de 
Braga^q  hoje  tem.  Sahio  o  ca- 
pitão Himilcon  Carthagines 
das  prayas  de  Andaluzia^com 
húa  groíla armada  pêra  defco- 
brir  alguas  terras  de  Luíitania, 
&c  Galliza^  &:  alcançar  noticia 
da  gente, &  couías  mais  nota- 
ueis  q  aly  paílauaõ.Depois  de 
dobrar  o  cabo  de  S.Vicente,& 
o  de  Eípichel,que  antiguamé- 
te  fe  chamou  promõtorio  Bar 
,  barico,&  naueo;ada  toda  a  co- 
I  lia  dcPortugal  tê  o  rioDouro 
cõ  grandillimas  tempeftades, 
cançado  ja  dos  trabalhos  da 
nauc^acão  de  mares,  e  climas, 
q  não  tinha  vifto,  nem  efprc- 
mcntado ,  lhe  foi  forçado  to- 


mar porto,&:  entrar  com  to- 
da afrota.pella  foz  do  Douro, 
onde  à  pouca  diílancia  achou 
hua  pouoaçaõ  de  Gregos ,  q 
viuiaÕ  com  policia  ( era  efte  o 
lugar  de  Gaya,quecíl;à  defrõ- 
te  da  cidade  do  Porto )  dos 
quais  foraõ  bem  recebidos  os 
Africanos,&  tal  conformida- 
de, &:  amor,  tomarão  entre  fy, 
&c  fc  deraõ  por  tão  pagos  da 
companhia,  que  muitos  dos 
Gregos  Ihâ  quifcraõ  fazer  na 
jornada,&embarcar  cõ  elle  na 
mefma  frota.  Dahy  cõtinuou 
Himilcon  fua  derrota  vendo 
todos  os  portoí  de  mar,q  vaõ 
atê  o  rio  Minho  ,  onde  achou 


bom  gazalhado  na  gente  Grc- 
Com  eíta  or- 


ga,quc  ali  viuia 


dem  foi  defcobrindo  os  ma- 
res ,q  rodcaõ  as  terras  de  Galli- 
za,&Bifcaya  tê  onde  fe  lanção 
nellcs  os  montes  Pirincos.  Cõ 
cluida  cfta  nauegação  tornou 
Himilcon  pcllo  próprio  cami 
nho  q  leuara  demandando  os 
portos  q  tinha  reconhecidos. 
6  Cheo-ando  a  corta  de  Por- 
tugal  fobrcuco  hua  tépcftade 
tão  riguroíà ,  q  fe  viraõ  quaíl 
perdidos,&  queredo  tomar  o 
porto  dosGregos,q  acima  dif- 
femos,era  o  lugardeGaya,o 
naõ  pudcraõ  fazer  tanto  a  fcu 
faluOj&:  fem  rifco  da  armada. 


Ai 


qu 


Capitulo  primeiro 


qnão  perdefsê  muitas  em  bar 
çoés_,  laluandofe  a  gente  em 
bateis_,  com  que  os  Gregos  lhe 
acudirão.  Vendo  Himílcon  a 
frota  dcftroçadaj&  a  impoísi- 
bilidade  _,  que  auiapara  íe  re- 
parar o  danoj  que  a  braueza 
dos  mares,  &  força  dos  ven- 
tos lhe  tinhaõ  caufado ,  com 
o  parecer  dos  principaes  capi- 
tães da  armada,  determinou 
deixar  a  gente ,  mais  cançada, 
&  mal  tratada  do  marjCÕ  pro- 
uifaõ  bartante ,  atê  virem  de 
Andaluzia  embarcaçoés,emq 
íetornaíTem.  Com  efte  acor- 
do tratou  Himilcon  o  nego- 
cio com  os  Gregos  do  lugar, 
pedindolhegazalhado  pêra  a- 
quelies  foldados ,  &  licença 
pêra  ficarem  cm  fua  compa- 
nhia, &dos  mais  Gregos  da 
comarca,  em  quanto  não  vi- 
nhão  embarcaçoêí  a  buícalos, 
&:  a  pagar  a  boa  obra,  q  delles 
eíperauão.  Tãofacil  foíper- 
fuadir  aos  GregoSjComo  difíi- 
cultofo  obrigar  aos  Africanos 
a  ficarem  em  terras  taõ  aparta- 
das da  fua,entreas  efperanças, 
^  temor  de  não  verem  mais 
a  pátria.  Himilcõ  fe  fez  a  vela, 

6  tornou  pêra  Andaluzia  on- 
de ertaua  o  exercito  dos  Afri- 
canos. 

7  '  Entretanto  os  Cartha^i- 


nefes ,  que  ficarão  no  porto 
de  Gaya  cmAntredouro,&:Mi 
nho,  demaneira  íe  ouuerão 
cò  os  naturais  da  terra ,  &í  aísi 
lhe  fouberão  grangearas  von- 
tadeí,queforáo  delles  muibé 
hofpedadoSj&  tão  familiarmé 
te  os  admitirão  a  fua  conuer- 
fação,que  alguns  delles  efque- 
cidos  de  fua  própria  natureza 
fe  cafarão  na  terra ,  &:  tratarão 
como  naturacs.  Seguirão  íeu 
exemplo  os  mais  Africanos, 
os  quaes  leuados  da  fertilida- 
de do  íítio ,  &  bom  animo,  q 
nos  moradores  dcUe  conhe- 
ciaõ,determinaraõ  de  confen- 
timento  comum,  viuer  ncfta 
prouincia,&  aparenrarfe  cõ 
léus  naturaes,  com  condição, 
que  elles  lhes  deílem  terras 
em  que  fundaílem  húa  cida- 
de, que  fe  gouernafle  pellas 
leys  dos  Carthaginefeí  ,  fem 
dependécia  algiía  dos  Gregos, 
ou  de  feus  magiftrados .  De 
boa  vontade  vieraõ  os  natu- 
raes na  petição  dos  Africanos, 
&  afsinandolhes  vários  íítios 
lhe  contentou  mais  o  pofto 
onde  eftà  a  cidade  de  Braga. 
Começarão  a  obra,  pêra  mo- 
rada fua  dandolhe  nome  fe- 
mclhante  ao  do  rio  Bragada, 
que  íe  lança  no  mar  dentro 
das  terras  de  Carthago  ,  de 


lUC 


fundação  da  cidade  de  Bragd—i. 


TolomeH 


Viflo  lo- 
co. 


1 


que  faz  menção  Tolomeu^ 
&  outros  autores  ,    òc  os 
Turcos,  &  Mouros  cm  cu- 
jo poder  ellà  agora  aquella 
Prouincia,  mudado  o  nome 
IhechamãoMegarada.  Cò  ef- 
ta  memoria  do  leu  rio  Braga- 
da, dado  por  titulo  à  noua  fú- 
dação  qucfazião_,quizera5  os 
Africanos  ter  fempre  prefen- 
te  a  pátria  onde  naceraó ,  ali- 
uio  vnico  das  faudades  em  q 
paflaõ  a  vida  os  defterrados. 
Se  ja  o  não  fizerão  com  a  té- 
ção  j  que  tiueraõ  fempre  os  q 
fundarão  de  nouo  algúas  ci- 
dadcsjpondolhe  os  nomes  da- 
quelles  lugares  onde  naceraõ, 
como  vemos  em  muitas  de 
Hcfpanha,  &  entre  Douro,^ 
Minho^onde  os  moradores  íe 
chamarão  Grauios  dos  Gre- 
goSjOu  Grayos,qo  pouoarão 
como  atraz  apontamos. Suce- 
dco  efta  fundação  pellos  an- 
nos  da  criação  do  miido  35'5 1 
quatrocentos  &  trinta  ^  híí, 
antes  do  nacimento  de  Chri- 
fto ,  como  affirma  Frei  Ber- 
nardo de  Brito,  òc  outros  au- 
thorcs  q  feguc;  com  efta  opi- 
nião vai  o  PadreCofme  de  Ma 
galhaês  no  Epigramma ,  que 
fez  a  fundação  dcfta  cidade. 
Naufrágio  eieãi  defgnat  md- 
ma  Pícni 


Dant  nomen  títulos ,  Ò^  noua 
iura  loco. 

jEdificata ,  duces  ítalos  age 
Brachara  -"vince, 

P<enus  aitjproauos Marte  imi- 
tar e  tuos. 
8     A  quarta  opinião  he  dos 
que  iulgão,  que  foi  Braga  fun 
dada  por  Gallos  Ccltas.Apon 
taóna  graues  authores^  &:  a  le- 
guem Florião  deOcampo,  &c 
Garibay  dizendo  que  os  Tur- 
dulos,Andaluzes,&  osGallos 
Celtas  moradores  naLufita- 
nia  nas  ribeiras  do  rio  Gua- 
diana, determinarão  fair  de 
fuás  terras ,   &   entrar  pello 
mais  interior    de   Hcfpanha 
a  c5quiftar,<S<:  afundar  nouos 
lugares  ;  concertados  na  jor- 
nada pellos  annos  de  trezen- 
tos &  quinze,  antes  do  naci- 
mêto  de  Chrifto  Senhor  nof- 
fo,  fairão  mais  de  trezentas 
mil  peífoas  ,  &  forão  cami- 
nhando pêra  a  ribeira  do  Te- 
j  o,oade  fizerão  algíjas  pouo- 
açoés. Paliarão  o  rio,  &  mar- 
chando adiante  pellas  terras, 
qhojeíaõda  Coroa  de  Por- 
tugal, pouoarão  Coimbra,  & 
outros  lugares  ate  chegar  ao 
rio  Douro,ondc  pararão  pêra 
defcançardos  muitos  traba- 
lhos que  auíão  padecido  na 
jornada. Não  quiferao  osTur 


chron. 


c.li. 


Flor.  l,b, 

Garmat 
lib.^.  c. 
ic. 


A4 


dulcs 


Capitulo  primeiro. 


dulos  hir adiante,  &  ficarão 
aly.  Os  Gallos  Celtas,  que  tã- 
bem  íe  chamauao  Brachatos 
atraucílaráo  o  Douro,  5c  ctc- 


dc  fund; 


ribe 


pois  cic  tunciarcm  nas  riDeiras 
delic  húa  pouoaçaó  _,  que  cha- 
marão Portoíiallo  dode  di- 
ícm  tomou  o  nome  o  Reino 
de  Portugal ,  forão  pouoara 
cidade  de  Braga_,&  outros  lu- 
gares _,  que  caem  na  comarca 
de  antre  Douro_,&  Minhotos 
quaes  tomado  o  nome  deíeus 
fundadores  fe  chamarão  Bra- 
charo5 ,  &  coda  a  Prouincia 
Gallogrccia  da  miftura  dos 
Gallos,  &  Gregos_,qucauia  na 
comarcajE  dahy  corrompen- 
doíe  o  nome  íe  chamou  Gal- 
liza ,  que  hc  o  que  hoje  tem. 
Lãçaõ  ertanoua  pouoaçaó  de 
Braga^feita  pellos  Gallos  Cel- 
tas ,  no  anno  de  296.  antes  do 
iiacimcnto  de  Chrifto. 
9  A  quinta  ,  &  vitima  opi- 
nião hc  do  Doutor  loaõ  de 
Barro5  na  Gcographia  de  an- 
treDouro,e  Minho,o  qual  dà 
a  entender^quc  foi  Braga  fun- 
dação dos  Romanos,dizêdo, 
que  cóforme  a  memorias  aii- 
tiguas,  parece  que  foi  edifica- 
da quando  Roma  triunfaua, 
&  íe  regia  por  Confulcs ,  ou 
em  tépos  macs  antiguos,  por 
qStrab^ 


)ao ,  Pli 


inio  ,  &  outros 


autores  ja  fazem  delia  mcn- 
çãOjíS,:  acrccenta/que  quando 
em  PvOma  ouue  as  guerras  ci- 
uis  entre  Cefar ,  &:  Pompeo 
muitos  cidadaõsRomanos  fo 
giraõ  pêra  os  portos  de  Hcí- 
panha ,  &  algús ,  que  ficarão 
quà  do  tempo  de  Cefar  leua- 
dos  da  fertilidade  da  terra  fc 
efqueceraõ  da  própria  em  que 
nacerão ,  &  que  por  cita  re- 
zaõ  fe  achaõ  em  Braga  nomes 
Romanos  efcritos  cm  pedras, 
quais  faõ  Valerios^Lucios  ,Ser 
uilios^TerencioSj  Crifpino5_,  e 
outros,  donde  parece  que  fi- 
ca com  a  opinião  de  fere  Ro- 


manos   os  fundadores 


pois 


lhe  não  da  outros. 
10  Entre  opiniões  tão  va- 
rias não  he  coufa  fácil  inter- 
por iuizo,ou  dar  parecer.  Aco 
liado  ao  de  Plinio  por  fua  au- 
toridade, &  com  a  de  luftino 
tenho,que  os  Gregos  compa- 
nheiros de  Diomedes ,  forão 
os  primeiros  que  lançarão  os 
aliceíles  ao  edificio  da  noua  fíí 
dação  de  Braga ,  porque  fem 
duuida  Gregos  forão  os  que 
pouoarão  antre  Douro,&Mi 
nho,&  a  mayor  parte  de  Galli 
za. Depois  muitoí  annos  com 
a  entrada  dos  Cartha^inefes 
íe  illuílrou  ,  &  ennobreceo  a 
cidade  com  nouos,  &  ricos 

edificios. 


Dião 

Co,     - 


lo- 


fmdaçao  da  cidade  de  Bragã-i. 


edifícios ,  crecco  a  nobreza , 
miílciplicoii  o  pouOj  &:  íiibio 
a  çrrande  opulência  a  noua  po- 
uoaçao.  Como  hlha  natural 
da  Colónia  de  Carthago  foi 
Bra<:a  tábem  herdeira  do  ódio 
cõ  que  aquella  cidade  tratou 
íempreao  PouoRomanOjpor 
que  nas  guerras  _,  que  cõ  ellc 
teuejhc  deu  a  cntender^q  niío 
degenera ua  de  filha  de  taõfa- 
moía  may.  Nem  menos  del- 
áiiíc  áo.  origem  ,  &  principio 
dos  Gregos  íeus  progenito- 
rcs,porque  delles  herdarão  os 
Bracharenfcs  a  viueza  do  en- 
gcnho,a  habilidade,  &  íutileza 
natural,  que  tem,  ^  dos  Car- 
thaginefes  o  esforço  ,a  valen- 
tia ^  ^  valor  nas  armas  com  q 
igualara5,re  ja  naõ  excederão, 
as  mais  nacoés.  Eftes  foraõ  os 
progenitores  que  tcue  Braga. 
Erta  íua  antigua,  &  nobre 
fundação ,  conforme  a  mais 
certa,  &  íeguida  opinião  dos 
Autores,  que  temos  referido. 
Auidaquc  a  primeira  fc  pude- 
ra também  feguir  com  mui- 
to fundamento  ,  pclla  autori- 
dade do  Arccbifpo  defta  Igre- 
ja Caledonio  ,  òc  do 
BiípodoPortodõ 
Hugo. 


CAPITVLO  II. 

DAS  GVERRAS  QVE 
teue  Braga  no  tempo  dos 
Romanos. 


DIFICADA  a 
cidade  de  Bra- 


ea    com  tao 


fclices  princi- 
pios,foi  multi 
plicando  demancira  ,  c]ue  em 
grandeza  ,  &  numero  de  gen- 
te, fefesmuy  populofa.  No 
anno  de  lyy.antes  da  vinda  de 
Chrillo,  na  guerra,  que  os 
Bracharenfes  tiueraõ  com  o 
Pretor  Romano  Lúcio  Po- 
fthumio  Albino,foraõ  mor- 
tos afio  de  efpada  trinta  &  cin 
CO  mil  Bracharenfes.  Sucede- 
rão nefta  batalha  os  recontros 
varios,quc  refere  frey  Bernar- 
do de  Brito  ,  na  qual  poflo  cj 
os  Bracharenfes  ficarão  ven- 
cidos, moftraráo  com  tudo  o 
inucnciuel  animo  que  tinhaó, 
&  esforço  pêra  reíílfir  atodo 
o  poder  dos  exércitos  Roma- 
nos. 

z  Porem  fenefta  batalha  lhe 
faltou  a  fortuna ,  bem  os  acõ- 
panhou  na  jornada  contra  os 


narch.li. 


meímos 


IO 


Capítulo  Çegundo^ 


Dicímos  Romanos  _,  quando 
tomando  por  capitão  ícuao 
valcroío  Bracharcnfc  Apnma- 
no^aqucnialguns  pella  origc 
que  trazia  de  Africa  chamaó 
Aí:ricano  _,  entrarão  pcllas  ter- 
ras dos  inimigos^cm  que  fizc- 
raõ  cruel  eítrago^  deílruindo, 
&  arruinando  todos  os  luga- 
res confederados  do  Pouo 
'Honiano.Sahyollie  ao  cncÕ- 
t-ro  com  hum^roílb  exercito 


!  Luc.Flor 


•  ./il-.x.in 
\bello  Ik 


I 


O  Pretor  Marco  Manilio; 


po- 


rem  não  podendo  refiílir  ao 
esforço  com  que  pelejauão  os 
jSracliareníes,  foi  por  elles  mi 
ferauelmcnte  desbaratado  _,  fi- 
ncando no  campo  fcm  vida  a 
mayor  parte  da  gente  dcfcu 
exercito. 

3  Com  a  mcfma  ventura  fe- 
guiraõ  a  vitoria  _,  &  pouco  tê- 
po  depois  alcançarão  outra 
naõ  menos  illuílre  do  Pretor 
Calfurnio  Pizao ,  o  qual  vin- 
do de  Roma  confiado  na  boa 
gente  que  trazia ,  ôc  no  valor 
de  fcu  animo^  quis  cometer  o 
exercito  vitoriofo  _,  cuidando 
reftaurar  em  hiá  fô  dia,  as  pcr- 
das^que  em  muitos  tiuera_,dos 
Bracharcnfcs  o  Pouo  Roma- 
no.Porem  não  Ihefucedco  co 
mo  imaginaua ,  porque  roto 
feu  cxcrcito_,&  mortos  no  ca- 
po perto  de  fcis  mil  foldados^ 


&  entre  elles  Terêncio  Varro 
Queltor^peflba  de  grande  cõ- 
ta,elle  le  acolheo  a  toda  a  prcf- 
ía^chorando  fua  dcfgraça.  Fi- 
carão os  Portugueíes  de  an- 
tre  Douro, &  Minho  taò  ani- 
mados com  efta  vitoria  ,  òc 
tão  fenhores  de  tudo  o  que 
ocupauaõ  os  Romanos ,  que 
a  lhe  não  morrer  o  feu  capi- 
tão Brachareníc  de  hum  de- 
faftre  iunto  de  liúa  cidade  ,  q 
tinhaõfitiada, chamada  Blaí- 
tophenifes,fem  duuida  acaba- 
rão entaõ  de  todo  o  poder  dos 
Romanos. 

4  Bem  conhccco  em  outra 
ocaííaõ  o  Pretor  Dccio  Bruto 
o  valor ,  naõ  fó  dos  homens, 
màs  ainda  das  molheres  de 
Braga  ,  quando  entrando  pcl- 
las terras  de  antre  Douro  ,  & 
Minho^peraas  fogeitar,&  me 
ter  debaixo  do  wwo  Romano, 
chegado  perto  dos  muros  de 
Braga,  achou  nos  moradores 
tanto  esforço,quc  vindo  com 
elles  a  batalha  de  tal  modo  fc 
ouueraÕ  os  noíTos^que  os  Ro 
manos  lhe  foraÕ  largando  o 
campo,&  fe  retirarão  aos  reais 
c5  perda  de  muitos  foldados, 
fazendo  as  molheres  de  Bra- 
ga tais  feitos  de  armas ,  &  io- 
gando  delias  com  tanta  deftrc 
za_jComo  fe  as  tratarão  fem- 

pre. 


Brit.d. 
If.Z.c.zá 


vbtjfufra 


Brit.  d, 

i.pMlp.^. 

c.iz* 


Antiguedades  de  BragO—i. 


II 


prc  ,  &  fora  efte  exercício  de 
íua  proíiliaõ.Com  eíta^  &  íe- 
melhances  vitorias  auidas  co- 
rra os  Romanos  alcançarão 
os  Bracharenícs  o  nome  de 
valeroíos  _,  com  que  forão  te- 
midos ícnipre  delia  nação  _,  & 
de  todas  as  eílranpeiras. 


CAPITVLO    III. 

D  O    S  I  T  I  O     QJ-  E 

tinha  Braga  no  tempo  dos 
Ror^:anos ,  ip"  de  aigúas  an- 
tiguidades ,  qfe  achao  nella 
domefmo  tempo. 


S  memorias 
antiguas,  que 
ha  em  Braga 
moftraÕ  que 
foi  fempre  ci- 
dade grandioía.  Sua  primeira 
fundação  ,  òc  aílcnto  naõfoi 
no  lugar  onde  hoiefevè.  Te- 
ue  feu  principio  iunto  à  Igre- 
jadeSaõ  Pedro  de  Maximinos 
onde  fe  moll:rão  hoic  ruiiias 
de  grandes  cdiíicios ,  que  dão 
tcrtemunho  de  íua  anrigua  ma 
ieftadc ,  &  ainda  aparece  hum 
como  meo  circulo  kigar^  on- 
de ertaua  o  ampliiteatro ,  cm 
i  que  os  Brachareníeí  ao  modo 


Romano  cclebrauao  fuás  fe- 
itas. E  correndo  deS.  Pedro 
ate  o  holpital  de  Saõ  Marcos_, 
íè  vem  ruinas ,  que  moftraõ^ 
que  atê  ly  fe  eft endia  a  cidade 
antigua.Tambem  ha  raftos  de 
aucr  aquedudlos  mui  vzados 
no  tempo  dos  Romanos ,  c5 
que  fe  prouia  a  cidade  de  agoa. 
Merece  memoria  hííaílas  grã^ 
dioío^pello  qual  fe  trazia  agoa 
do  rio  A.ue  ,  &c  íè   tomaua 
por  cima  da  ponte  de  Men- 
guterres  diftante  quatro   le- 
goas  defta  cidade,&  correndo 
por  cima  do  mofteiro  de  Fon- 
tarcada  vinha  demandar  o  ca- 
ftello  de  Lanhofo  _,  &  da  ly  fe 
metia  cm  Braga^  agora  leuan- 
tando  em  arcos  nos  lugares 
baíxos,agora  decendo  por  an- 
tre  montei  _,  &  ferras ,  de  que 
hoic  fe  vem  finais ,  &  ruinas, 
&o  affirmaópeílbas  antiguas, 

&  de  grande  autoridade  com 
o 

teltemunho  de  vifta.  Durou 
fempre  Braga  em  fua  maiefta- 
de,em  quanto  os  Romanos 
fenhorearaóHcfpanha,  por- 
que lhe  dedicarão  memorias, 
éí  leuantarao  colunas ,  como 
logo  veremos.  Parte  das  pe- 
dras em  que  fe  vem  eftas  me- 
morias fc  acharão  em  Braga, 
parte  vierão  de  outroslugarcs, 
trazidas  por  ordé do  illullrif- 


limo 


]2 


Caf>ittdo  terceiro, 


íimo  Senhor  ArccbiípoDom 

Diogo  deSoiifajqa  rcílaurou, 

&  iiiuíircu  cõ  CTrandes  edifi- 
o 

cios. 

i  Eiitrc  todas  as  pedras^  a  q 
parece  mais  antigua  hcaque 
hz  menção  do  Empcrador 
OdtauioAugLilio.Heamaior 
das  doze  colunas_,quceftaõ  le- 
iiantadas  no  campo  de  Santa 
Anna^ao  redor  da  meíma  her 
mída.  Seruiaõ  de  guias  de  ca- 
minhos às  legiões ,  &:  exérci- 
tos Romanos  pcra  naõ  err are 
quando  pafiauaõ  de  híjas  a  ou 
trás  cidades. Erta coluna  deq 
himos  falando  fe  Icuantoua 
AuguftoCeíàr  cm  teítemu- 
nho  da  obedicncia,que  a  pro- 
uinciadcGallizalhedeu.  Era 
coufa  vzadanaquelle  tempo, 
quando  cntraua  Coníul ,  ou 
PrcconfuljPretor,  ou  Legado 
na  prouincia_,dcpois  de  lhe  fer 
dada  obediência ,  cícreuereni 
cm  húa  pedra  aqucUe  aâ:o  de 
fogeição ,  com  que  fora  reco- 
Khecido  o  Magiftrado,  fican- 
do cm  lugar  de  efcritura  pu- 
blica ,  para  fempre  conÃar. 
Naõ  moftra  eil:a  pedra  oCon- 
fulado  cm  que  fe  pos^  mas  fa- 
b"cfc  que  foi  quando  Oótauio 
ficou  abfoluto  fcnhor  do  Im- 
pério Romano  pcllosannos 
7Z4.da  fundação  dcRoma  17. 


annos  antes  da  vinda  de  Chri- 
11o  Senhor  Nolloao  mundo, 
diz  afy. 

C.C^SARI.AVG.F. 

PONTIF.  AVGVRI 
CALLECIA. 

Querem  dizer  efta  prouincia 
de  Galliza  a  Cayo  Cefar  Au- 
guílo  Fclice^Põtifice ,  Augur. 

5  A  ntes  que  paliemos  adia- 
te,he  neceílario  aduertir  pêra 
melhor  entêdimento  deííe  le 
treirOj&  dos  mais  que  lança- 
ranos  depois  delle  _,  q  os  Em- 
peradorcs  Romanos  logo  q 
víurparaõ  o  gouernoMonar- 
chicodo  Império,  também 
pêra  fy  tomarão  todos  os  ti- 
tulos  dos  mais  honrados  ma- 
giílrados  que  tiueráo  os  Ro- 
manos, pêra  moílrarem  que 
íe  nãoapartauáo  do  antiguo 
goucrno,  &  qucexercitauão 
o  poder  de  todos  os  ofíicios, 

6  diíjuidades  de  Roma, 

4  Chamarãoíc  Auguítos^ 
titulo  que  fe  deu  a  0(5í:auio, 
&:  foi  o  primeiro  Empcrador 
que  com  clle  íe  nomeou  ,por- 
queaucndo  vencido  a  prouin- 
cia do  Egypto  no  dia  que  tri- 
unfou delia,  o  faudarão  com 
eílc  nome  diriuado  do  verbo 
augeo ,  como  dizendo.  Quod 
Romam  auxerit^  q  acrecentou 

a  Roma 


Camil 

Borrtl.de 

cathec.c, 

21.W.  II. 


Anúzuidaãe s  de  BraoO-^. 


13 


i.fv 


.nxOr.Wf; 


Clcf   in 


Lb.i.Fa. 


Siktrd. 

•«  h-XtcÕ 

Verbo  ã:.. 


a  PvOma  ,  outros  dizem  que 
vem  eílc  nome  de  Augúrio, 
palaura  dos  íacrincios_,  òc  que 
por  ifto  todas  as  couías  de  gra 
cie  cilima ,  ôc  íantidade  fecha- 
m^auaó  auguílas  j  aísy  o  diílc 
Ouidio. 

Súãa  yocant  ãugufla  Paires, 

aimiUa  yocantur 
TcmplaSocerdotum  rité  di- 
cata  manii. 
E  naó  fó  aos  templos ,  mas  a- 
inda  aos  muros  chamou  Vir- 
gdio  AuíTuftos. 

Centim  oratores  augufia  ad- 
m>€nia  res^is 

Ire  lubet. 

A  imitação  de  0<5lauio  daua 
o  Senado  PvOmano  efte  titulo 
a  todos  os  Emperadores  _,  co- 
mo ampliadores  do  império; 
úsy  o  enrendeo  Ouidio  qua- 
do  diíle. 

Augeat  imperinm  nojlrí  ducis^ 
au^eat  annos. 
5  Chamarãofe  Augures, 
porque  fe  tinha  por  coufa  ía- 
grada  adiuinhar  pello  voo,  de 
canto  das  aues ,  és:  por  outras 
íuperftiçoés,  &:  quem  fe  auã- 
tcjaua  nella  ciência  era  tido 
cm  erande  conta  do  Senado, 
^candauaeíteoracioem  peí- 


foas  illaíIrcSj  Sz  de  grande  re- 1  í 


Plutarch 


putação.  A  eíle  íim  pêra  pa- 
recerem mais  religioíos ,  to- 
marão o5  Emperadores  o  ti- 
tulo de  AugurcSj  aiuntandoo 
aos  maisjcom  queíe  eníober- 
beciaíua  grandeza. 
6       Também  íe  intitulaua5 
Pontificcs  Máximos.  Foi  efta 
dignidade  mui  illultre  emRo 
ma,  porque  entedia  com  gra- 
de íupcrioridade  nos  ritos ,  d<. 
ccrcmonias  dos  templos,  & 
nas  coufas  tocãtes  à  Religião. 
Numa    Pompilio    lhe    deu 
a  prcíidencia  íbbre  os  íacriíí-  ^,^,^^, 
cios ,  &  poder  Tuprem.©  em  \">  '^'''* 
tudo  o  tocante  a  elles ,  ôc  a-  ^'^"'*' 
uendo  creado  quatro  da  or- 
dem dos  Senadores ,  fez  a  hú 
Pontifíce  Máximo  com  po- 
der fuperior  aos  outros.  Per- 
tencia a  efte  officio  fazer  guar- 
dar a  Religião,  interpretar  as 
coufas  fagradas ,  telas  em  ve- 
neração, declarar  em  que  al- 
tares íe  auiaõ  de  fazer  os  facri- 
ficios,  Sc  em  que  dias,  ôc  tem- 
pos: &  o  lurifconfulto  Pom- 
ponio  affirma,  que  as  leis  dos 
Romanos    fe   interpretauão 
pello  Collegio  dos  Pontífi- 
ces. Por  titulo  nobre  o  aiun- 
tou  Augufto  Ccíàr,  com  o 
de  Emperador,  fendo  o  pri- 
meiro que  fe  nomeou  cõ  am- 
boSjimitandooosEmperado-  j 


l.z.íJe- 
ittde  ex 
hisjf.orig 
iur, 

Giither. 
de  vet.  iM 
rePentifl 
cJtb.  I. 


B 


rcs. 


14 


Qãptulo  tercenoj 


Shtten  in 
OfUíi.  s. 
Jjlde.eth' 
moJtb-'~) 
c.iz.reta 
tus  tn  c 
clerosver 
pePontí- 
ftx  zi.d. 
\RKfmUb, 
3  .antiq, 
Romcin, 

fin, 

Baroit.to. 
4.  anna 
Chnjii 
383, 


in  Tácito 


ITaeitMb 
3. 


-res  q  o  fcguiraÕ  ,  auendo  que 
coiiLiinha  aos  Moiiardias  de 
húcam  grande  império  com 
ogouerno  temporal  terem 
iuntamente  autoridade  fuprc- 
nia  no  cfpiritual,  òc  couíàs 
fagradas  .  Conferuaraõ  eftc 
titulo  ate  o  tempo  do  Empc- 
rador  Graciano,o  qual  paliou 
prouifoês  cm  que  madou  lhe 
não  chamaílem  PontificcMa- 
ximo .  Víàõ  agora  delle  os 
Summcs  Pontífices  Vigairos 
de  Chrifto  na  terra,  em  quem 
aílenta  milhor  por  rezao  do 
grande,  &  fobcrano  poder, 
que  tem  em  toda  a  Igreja  Ca- 
tholica. 

7  O  poder  deTribuno,  com 
que  íe  nomeaõ,  fegundo  Vo- 
pifcOjfoi  parte  do  poder  real, 
O  primeiro  Emperador,que 
annexou  eíte  titulo  aos  da  di- 
gnidade  imperial,  foi  lulio 
Ccfar,  outros  querem  que 
foíle  Oólauio  Augufto.Auin- 
cularaõno  afy  pêra  fe  fazcré  a- 
ceitosao  pouo,  moftrando. 


que 


if( 


conleruauao  o  gouerno 
antiguo,&:obrauáo,não  com 
poder  fuprcmo  de  Empcra- 
dorcs,  fenaõ  com  a  iurdicao 
das  dignidades,  &  oííicios  do 
Senado  Romano.  Húa  das 
prcrogatiuas,entre  outras,  de 
I  rtemxagiftrado  era  fer  inuio- 


laucl,  que  valia  o  mefmOjque 
hum  íeguro  real  pêra  não  po- 
derem íer  oftendidos  os  que 
o  adminiilrauão.  Por  eita  re- 
zao ellimauaõ  a  dignidade  os 
Empcradores  Romanos ,  pa- 
rccendolhc  ,  que  com  cila  ti- 
nhaõ  fua  vida  mais  fegura  das 
treiçoés ,  que  acompanhaó  a 
fortuna  dos  Reis ,  &  grandes 
Monarchas. 

8  A  dignidade  de  Conful, 
que  também  tomarão,  era  a 
íuprema,  &  maior,  que auia 
entre  os  Romanos  .  Subiafc 
a  ella  por  eleição  ,  &  duraua 
humannojfc  bem  ouueal- 
gús  Confules ,  que  for  ao  per- 
petuos,comoVitclio.Por  cUes 
fe  contauao  os  annos ,  como 
notou  Claudiano  quando  dií- 
fe. 

Friigíbus  alternls^non  confide^ 
computai  annum. 

E  veo  a  valer  o  mefmo  a  pa- 
laura  Conful ,  que  a  palaura 
anno ,  em  algúas  leis,  que  di- 
zê,/«e  die,Í!f  Confule  ,  que  lí- 
gnifica  fem  dia  ,  &  fem  an- 
no ,  Ordenauaõ  os  Conlu- 
ies tudo  o  queconuinha  ao 
gouerno  da  Republica  Ro- 
mana, &  das  Prouincias. 
Eraõ  árbitros  da  paz ,  &  da 
guerra,  faziaó  iuntas  pêra  clei- 


Schard. 
tnlexver. 
Cofiíl. 


l.l.f.edi 
tionis  ff. 
d:  edcnd» 
l.Ji  arbi- 
ter,ff.  de 
rohc.t.  l. 
cií  taber- 
nam,  f.i 
íf.depig. 


ÇO 


es. 


Anúnúdades  de  BraoíL^^ 


15 


r/m.  nat. 
h<fi.libq., 
c.yo. 


D:o;i.lib. 
43- 


GracJjf- 

cept.fore, 

16. 


7 


eleições  cie  dignidades^exccií- 
tauão  as  conlultas  do  íenado. 
Elle  titulo  procurarão  ocEm- 
pcradorcs ,  que  andaíle  vnido 
amageftade  imperial  por  ler 
o  mais  nobre  que  auia  emRo- 
ma. 

9  Também  fe  chamauaõ 
pays  da  pátria,  O  primeiro  ci- 
dadão Romaiio^a  quem  o  po- 
uo  aclamou  coro  efte  titulo^ 
foi  MarcoTullio  Cicero^quã- 
do  com  a  facúndia  de  íua  lin- 
j^oaíahio  contra  a  coniuracao 
de  Catilina ,  depois  dellc  o  to- 
mou IulioCeíar,«Sc  à  Adriano 
íe  deu  iuntamcnte  com  o  im- 
pério. O  Emperador  Tibé- 
rio, o  náo  quis ,  ôc  Nero  o 
rccufou  por  lhe  parecer  não 
ccnuinha  afua  pouca  idade. 
A  Trajano  foi  dado  pellas 
obras,  que  fez  em  beneficio 
publico  da  cidade  contra  as 
enchentes  do  Tybre ,  &c  foi 
aclamado  pello  fcnado,  & 
pouo  Romano,  com  titulo 
de  Óptimo  Principe,quc  de- 
pois íe  deu  a  outros  Empera- 
dores. 

O  titulo  deGermani- 


10 


co  tomou  Tibério  Ceíar  por 
auer  vencida,  Sc  fogeita  a  pro- 
uincia  de  Alemanha ,  depois 
à  íua  imitação  qualí  todos  os 
Emperndorcs    fe    chamarão 


'  Germânicos. 

Também  fe  nomcauão  Da 
cicos.  Britânicos,  (ScParthi- 
cos,  ouporrezãode^auerem 
fogeitadas  eíías  prouinciaí, 
como  fez  o  Emperador  Mar- 
co Aurélio,  ouporfe  quere- 
rem honrar  com  os  títulos 
delias.  I 

O  titulo  de  Máximo,  que 
tantas  vezes  fe  lhe  da  he  adu- 
lação com  que  o  pouo  queria 
engrandecer  as  vitorias ,  que 
alcançauão  os  Emperadores, 
ganhadas  coma  grandeza  de 
ícu  esforço. 

II  Com  cfta  brcuedecla- 
ração,que  feruirà  pêra  os  que 
tem  menos  noticia  dos  titu- 
los  dos  Emperadores ,  Sc  an- 
tiguidades Romianas  j,  torne- 
mos aos  letreiros ,  que  fe  a- 
chão  em  Braga  de  tempos  an- 
tiquilfimos  teílemunhas  íem 
fofpeitade  íua  nobreza, 
li  A  Segunda  pedra  he  do 
tempo  do  Emperador  Adria- 
no rilho  adoptiuo  de  Traja- 
no ,  &  íeu  fobrinho;  diz  af- 


Bi 


IMP. 


16 


Capitulo  terceiro. 


IMP.C.ÍS.  TRAIANO.  ADRIANO, 
AVG.  PONT.  MAX.TRIB. 
POT.XVIII.COS.  III. P.P. 
A.BRACARA.AVG.M.P. 
XXIII. 


Quer  dizer.  Eíla  coluna  foi 
polh  ao  Emperador  Ccfar 
Trajano  Adriano  Augufto , 
Pontífice  Máximo,  Tribuno 
dez  oiço  vezes  ,  Conful  três, 
pay  da  pátria.  Pos  íc  vinte  & 


três  milhas  de  Braga ,  que  faõ 
mais  de  fetc  legoas  &  mea. 
1 3      A  terceira  pedra  he  dedi- 
cada ao  EmperadorMarco  Au 
relio  diz  afsy. 


IMP.C^SARI.  DIVI.SE- 
VERI.PIÍ.FIL.DIVI.MARCI 
ANTONINI. NEP.  DIVI ANTO- 
NINÍPII  PRONEP.DIVI  ADRI^ 
ANI.  AB  NEP.  DIVI  TRAIANI 
PAR.ETDIVI  NERV..£AD. 
NEP.  M.  AVRELIO  ANTO- 
NINO PIO  FELICI  AVG.PAR. 
MAX.  BRIT.  MAX.  GERMANI, 
CO.MAX.  PONT.  MAX.  TRIB. 
POT.  XII.  IMP.  III.CON.IIII. 
P.P.PROCOS. 


A  foma  dcfte  letreiro  íàÕ  li- 
fonjasao  Emperador  Marco 
Aurélio ,  quer  dizer  .Ao  Em- 
perador CeíarMarcoAurelio, 
Antonino  Pio  Fclice  Augu- 
fto,Parcico  Máximo,  Britâ- 
nico Máximo,  Germânico 
Máximo,  Pontífice  Máximo, 
Tribuno  doze  vezes,Empera- 


dor  três,  Conful  quatro ,  pay 
da  patria,Proconíul ,  Filho  de 
Diuo  Seuero  Pio,  neto  de  Di- 
uo  Marco  Aiitonino,biíneto 
de  Diuo  Antonino  Pio,cres- 
neto  de  Diuo  Adriano,  q nar- 
ro neto  de  Diuo  Trajano ,  & 
quinto  neto  de  Diuo  Nerua, 
14     A  4.  pedra  té  eitas  letras. 

^  DIVI 


Antimidades  de  Braoa^. 


17 


DIVI.  ANTONíNIPÍÍ.  NEP.  DÍVI 
SEVERIPÍI.  MAGNI  FILIO  ANTO- 
NINO PONT.  MAX.  COS.  II.  PROCOS. 

FORTíSS.PRINCIPI  A  BRACARA. 

M.  P.  III. 


Querem  dizer  .  Eíla  coluna  ' 
foi  dedicada  àAnconino  Pio 
íilliode  Diuo  Antonino  Pio 
neco  de  Diuo  Seuero  Pio 
Grande,  Ponciííce  Máximo, 
Confulduas  vezes,  Procon- 
iul,Forciíhmo  Principe,  Le- 
uantouíe  ella  coluna  três  mi- 
lhas de  Braga ,  que  he  diftan- 
cia  de  quafi  húa  legoa. 
1 5  A  quinta  coluna,  que  hc 
a  mais  antigua ,  &  gallada  do 


tempo  ,  fe  dedicou  ao  Empe- 
rador  Maximino,  &  íe  pos 
no  meo  da  praça  publica ,  & 
hoie  íe  coníerua  hija  Igreja, 
com  o  nome  de  Saõ  Pedro  de 
Maximinos  de  que  açima  fa- 
lamos ,  &c  hi^a  porca  da  ci- 
dade ,  que  fe  chama  de  Ma- 
ximinos  ,  não  porque  íeja 
taõ  antigua  como  à  Igreja, 
màs  porque  leua  o  caminho 
pêra  ella. Dizem  as  letras  aísy. 


IMP.C^SAR.  C.IVLIVS.  VERVS 
MAXIMINVS.  P.F.  AVG.  GERM. 
MAX.  DAG.  MAX.SARMATIC.MAX. 
PONT.MAX.TRIB.POT.V.  IMPER. 
VII.  P.P.  COS.  PROCOS.  ET.  C.  IV- 
LIVS  VERVS  MAXIMINVS  NO- 
BILIS  C^S.  GERMA  MAX. 
PRINC.  IVVENTVTIS  FILIVS 
D.  N.  IMP.  C.  IVLII VERI MAXI- 
MINI.  P.F.  AVG.  VIAS.  ET  PONTES 
TEMPORIS  VETVSTATE  COLAP- 
SOS RErtitucrunt.CVRANTE.  QJDECIO 
LEG.  AVG.  G.  Pret.  PR>€F.A 
BP.AC.AVG.M.P. 


B3 


Sua 


IS 


Capitulo  terceiro, 


Sua  llgniíicaúáo  he.  O  Empe- 
rador  Ceíar  Caio^Ialio^  Vero, 
Maximino^Pio,  Felice  Aitgu- 
ftoj  gram  vêcedor  cie  Germâ- 
nia ,  gram  vencedor  deSar-  { 
macia^gram  vencedor  de  Da- 
cia^  Pontiíice  Máximo  ,  íínco 
vczesTnbunOjfete  vezes  Em- 
perador,  Conful,  Proconful_, 
ôc  Caio  luiio  Vero  Maximi- 
no nobiliilimo  Ceíar  ^  gram 
vencedor  de  Alemanha^  gran- 
de Príncipe  dos  macebos  P^o- 
manoSjFilho  de  noílo  fenhor, 
oEmpcrador  Caio  IulioVero_, 
Maximino  Pio  Felice  Augu- 
fto_,mandaraõ  concertar  os  ca- 
minhos, &  pontes, que  o  te- 
po  tinha  arruinado.Teue  car- 
go da  obra  Quinto  Decio  ca- 
pitão da  Legiaó  Augufta  Ge- 
mina dos  Pretorianos,  &  o 
concerto  começou  hua  milha 
da  cidade  de  Braga  A  ueulta. 
1 6  Quaií  fo  liemeftes  cami- 
nhos ,  &  pontes,naõ  ha  noti- 
cia, podiaõ  fer  os  que  leuaÕ  a 
Viana,  &  a  Barcellos  pêra  a 
parte  do  mar,  porque  cftes 
crão  mais  afperos ,  &  as  pon- 
tes a  de  Prado  lançada  fobre 
o  rio  Càuado  ^húalegoa  de- 
ita cidade,  &  outra  na  villa  de 
Barcellos  fobre  o  mefmorio 
duas  legoas  abaixo  da  de  Pra- 
do. 


17  As  mais  pedras  t]  cítáo 
no  campo  de  Svinta  Anna  faõ 
medidas  de  caminhos,dcdica- 
das  aos  Emperadores  Adria- 
no,Comodo,  e  Caracalla,por 
lílb  as  deixamos,&  as  na©  po- 
mos aqui. 

1 8  Dentro  da  cidade  hà  ou- 
tras memoriaSjCm  pedras  an- 
tiquas. No  alpendre  daSê  da 

^       j    c     ^ 
parte  de  tora  lunto  a  porta 

traueíla  eftà  húa  dedicação  de 

templo  a  algíí  dos  Deoíes  da 

Gentilidade,  com  eftas  letras, 

CONDITVM  SVB  IMP.  C^- 
SÀRIS  PÀTRIS   TATRl^. 

Quer  dizer  foi  edificado  efte 
templo  fendo  Emperador  Ce- 
íar Pai  da  pátria.  Podia  elle 
Emperador  íer  lulio  Ce— 
far,  porem  como  a  pedra  naõ 
he  inteira,  &:  lhe  faltaõ  letras 
ficamos  com  efta  duuida. 
1 7  No  Hoípital  de  S .  Mar- 
cos iunto  aoMofteiro  das  frei- 
ras de  Noíla  Senhora  dos  Re- 
médios eftaõ  as  letras  feguin- 
tes. 

AMAP.ANTVSSENECIO 
NIS  H.S.E. 

Aqui  eftà  fcpultadoAmaran- 
to  Scnecio.Não  fe  íabe  donde 
veo  cfta  pedra.  O  nome  con- 
forma 


jintiguidades  de  BragO—í. 


19 


torma  com  o  cia  villa  de  Ama- 
rante_,mas  o  ccmpo  naõ,  por 
ler  tundacla  cm  aiinos  mais 
checados  aos  noílos. 
zo  Na  Igreja  de  S,  loao  do 
Souto  parochia  defta  cidade, 
eíU  húa  pedra  com  as  letras  Ic 
CTuintes. 

o 

Q^aNTYS  L.TVS  Cl  VALENTI- 

Ni.  F.  H.s-  pater  FILIO. 

F,    C. 

Quer  dizer.  Quinto  Lucio  fi- 
lho de  Tuíco  Valentino  eftà 
aqui  íepultado,reu  pai  lhe  mã- 
dou  leuanuar  efta  íepultura. 
II  Dentro  da  cerca  do  Col- 
legio  de  S.  Paulo  dos  Padres 
daCompanhia  defta  cidade  cie 
Braga,  eftà  húa  pedra  cõ  eftas 
letras. 

IMP.CAESARI. 
TRAIANO  ADRIANO 
AVG. 
PONTIF.  MAX. 
TRIB.POTEST.XIX. 

COS.  III.  P.P. 
A.BRACAR.AVG. 
I ALE.M.P.  XXXV. 

Em  partes  defta  pedra  eftão  as 
letras  gaftadas ,  o  q  íc  lê  quer 
dizer.  Ao  Emperador  Gefar 
Trajano, Adriano  Augufto, 
PontiEce  Max.  Tribuno  i?. 


vezes,Coníul  tres^  pay  da  Pá- 
tria, de  Braga  Augufta  3j.mii 
paílbs ,  que  vem  à  fer  pouco 
mais  de  onzelegoas. 
zz  No  jardnn  dos  paços 
Pontificais  ha  muitas  memo- 
rias antiguas  cm  pilares,&  pe- 
dras quadradas,  com  Epita- 
phios  de  íepulturas ,  abertos 
com  letras  Romanas,gaftadas 
do  tempo,  &  coníumidas  da 
antiguidade .  Entre  os  letrei- 
ros de  doze  pilares ,  que  aly  Te 
vem,os  que  íe  podem  ler  com 
algum  ílntido,  a  fora  outros, 
que  eftaõ  quebrados  ,  faõ  os 
que  fe  leguem. 

TARQVINVS. 
CATVRONI. 
F.  XI.  AN. 
H.  S.E. 

Quer  dizer.  Aqui  eftà  fcpul- 
tado  Tarquino  filho  de  Catu- 
ron  ,  de  onze  annos  de  ida- 
de. 

LARIB. 
FL.  SABINVS. 
S.V.S.L. 

Quer  dÍ2;er.Dedicacío  aos  La- 
res (  que  os  antiguos  errada- 
mente tinhao  pellas  almas,ou 
Deofes  das  caías )  Flauio  Sabi- 
no fendo  viuo  ,  deixou  por 


B4 


legado 


20 


Cã  Pi 
í 


ítiíote 


rcetroy 


' 


iecacio  aiy  meímo  ella  íepiil- 
tLU-íij&  ciosíeus. 
i5  De  hú  varaõ  aílinalado^ 
que  fahio  no  tempo  dos  Ro- 
manos delia  cidade  de  Braga 
pêra  o  gouerno  de  Prouincias 
eftrangeiras,  ha  memoria  em 
Tarragona  cidade  principal 
do  Reino  de  Catalunha  cm 
húa  pedra  antigua,C|Lie  cíH  na 
rua  de  Eícaimalincr,&  íaz  mê 
cáo  de  húBracharcníe.chama- 
do  Quinto  Poncio,  quede- 
uia  ícr  naquella  cidade  peíloa 
abaiifada  ,  &  dizem  as  letras 


aísy. 


QJ^ONTIO.QJ.QVTR. 
Seucro  BRACARO  Omnib. 
Honor,  ia  fua  Rcp.  Funâ:o 
Fia. 

Quer  dizer  cila  eftatua  fe  pos 
à  Quinto  PontioScucro  filho 
de  Quinto  da  Tribu  Quirina^ 
natural  da  cidade  de  Braga^on- 
de  teuc  todos  os  carços .  & 
oííicios  honrados,  &c  iunta- 
mente  o-  de  Flamen  •  (nome 
dos  Sacerdotes  Romanos.) 
2.4  Alem  deftas  memorias, 
que  fe  achaÕ  nas  colunas,  òc 
pedras  referidas ,  ha  outras  ,  q 

,  não  denotaõ  menos  antigui- 
dade j  &  nobreza  nefta  cida- 

i:  de.  Delia  fahiáo  féis  vias ,  ou 


caminhes  militarcsidos  (inco 
trataAntonino  Pio_,&  outros 
autores.  O  primeiro  íahia  pê- 
ra as  cidades  do  Porto,Coim- 
bra  ,  Leiria ,  Alcobaça,  de  Lis- 
boa.O  ícgundo  he  o  caminho 
maritimo,que  leuaa  Fao,  & 
Eípozcnde.  Alguns  autores 
foi  peiraõ  fer  o  lugar  de  Fão  o 
de  Aquas  Cclenas  ,  que  íc  np- 
mea  nos  Concilios,de  que  cm 
feu  lugar  trataremos,vill:o  co- 
mo o  rio  Càuado,  que  ahi  íe 
mete  no  mar  ,fe  chama  Cela- 
nius  dos  antiguos  ^  &  vem  a 
fer  o  meímo  ,  que  Áquas  Ce- 
laniaSjOu  Celenas.  E  também 
porque conformaõ  as  milhas 
do  itinerário  do  Emperador 
Antonino  cõ  as  líncolegoas 
que  hadeBraga,ao  mefmo  lu- 
gar de  Fáo.Iuliano  fala  confu- 
íãméte  neftamatcria.Êpoem 
dous  lugares  dcíle  nome  iun- 
to  a  Braga ,  hú  pegado  ao  mar 
a  que  chama  Fáo ,  outro  mais 
perto  no  território  de  Bra- 
ga. Outros  dizem,que  Aquas 
Celenas  he  Iria  Flauia ,  q  ago- 
ra fe  chama  o  Padraõ. Outros 
quehc  o  lugar  de  Saõlorge 
dcCodeceda  duas  legoas.do 
Padrão,  que  em  outro  tempo 
fe  chamou  Celenes. 
t  j      O  terceiro  caminho  mj- 
litar,vai  por  Ponte  de  Lyma, 

a  Tui 


Dom. 
lib.i,c. 


III  adtisr 
Ó8. 


Antiguidades  de  BragO—i. 


21 


a  Tuijlria  Flauia,  Ôí  Corunha. 
He  o  caminho  c]ue  leuou  lu- 
lioCdar  quando  veoa  Luli- 
cania  ,  t^  GaUiza.   O  quarto 

ires ,  que 


íc 


de  Gire 


P 


cortaua  a  lerra  c 
diuide  Portugal  de  Galhza, 
ôj  Icuaà  íerra^q  chamaoPor- 
telladeHonic  Lobios_,Ore- 
íe^  (Ik  Lugo.  Deíle  caminho 
íàhia  outro,&:  he  o  quinto^pe 
ra  Aírcrga^^'  Leão_,de  que  faz 
menção  o  Emperador  Anto- 
nino. Em  todos  auia  colunas, 
&  letreiros  Romanos. 
16  O  íexto  caminho  heo 
que  leua  aGuimaraés^&Ama- 
rante,  de  que  naõ  falou  o  Em- 
perador Antonino,  poré  delle 
coníla  por  pedras ,  &  memo- 
rias antiguas. 


C  A  P  I  T  V  L  O.  IIII 

D  A  D  I  FI  S  A  M  DE 

Hefpanha  ,  Conuentos  iti- 
ridicos^que  nelía  oum^  co- 
mo Braga  foi  hú  dos  mais 
conhecidos  delia. 


Crecêraà  no 
brezaj&  títu- 
los deíla  ci- 
dade de  Bra- 
ga^auer  fido 


Mm 


I  Conuento  iuridico,&  Chan- 
cellaria  no  tempo  dos  Roma- 
nos de  toda  a  prouincia  de 
antre  Douro,   èc  Minho. 
Pêra  o  que  íe  ha  de  notar,  que 
os  Romanos  em  diucríos  tem 
pos  fizeraõ  diuerfas  reparti- 
ções de  Heípanha.  Noanno 
195.  antes  do  Nacimento  de 
Chnílojfoy Heípanha  diui- 
dida  em  Citerior,  &  Vlterior, 
&  ambas  prouincias    Preto- 
rias.  Os  primeiros  Pretores 
foraõ  CaiOjOu  Gneò  Scmpro- 
nio  Tuditano,&  Marco  Hd- 
uio.  Com  tudo  os  termos  de- 
itas duas  prouincias  íe  varia- 
raÕ,&  confundirão  em  diuer- 
fos  tempos ,  porque  no  anno 
ly^.antesdavindadeChriílo, 
toda  Hefpanha  íc  fez  hi^afò 
prouincia  _,  &  osHefpanhoes 
íe  foraõ  queixar  aRoma  da  ti- 
rania dos  Pretores ,    auendo 
duzentos  annos  _,    que  rega- 
uaõ  o  campo  cõ  leu  langue. 
E   no   anno  de  177.  Marco 
Cláudio  Marcello  foy  Pretor 
de  toda  Hefpanha.  Porem  lo- 
go no  anno  de  165.  antes  de 
Chriífo  vir  ao  mundo/e  tor- 
nou Hefpanha  a  diuidir    cm 
duas  prouincias,  chamandoíe 
Hefpanhaciterior  aquella  par 
te,  que  iaz  dos  montes  Piri- 
neos  ate  os  Marianos,  qhoje 


chamao 


22 


Capitulo  quarto. 


chamão  ferra  Morena ,  &  cò- 
prcndia  os  Reinos  de  Ara- 
gão_,Naiiarra^Caftcllaa  velha^ 
Leaõ  ,  &  Galliza^  a  tê  o  rio 
Douro.  A  tudo  o  mais  cha- 
marão HeípanhaVltcrior_,  q 
hc  Andaluzia  j  &  Luíitania, 
em  que  íc  comprcndem  os 
P.einos  de  Murça  ,  Granada, 
Cordoua,  &  Seuilha,  que  an- 
tiguamcnte  íe  chamauão  cõ 
o  nome  de  Betica ,  a  Eíirema- 
dura,&  o  Reino  de  Portugal, 
a  tê  o  rioDouro^que  era  a  Lu- 
fitania. 

z      Depois,  no  tempo  que 
Pompco  teue  ogouerno  de 
Helpanha,  achando  os  Ro- 
n'ianos,quc  fe  naõ  podiaõ  ^o- 
ucrnar  por  dous  Magilirados 
p  rouinciás  taõ  dilatadas,as  di- 
uidiraõ  em  trcs :  Tarraconen  - 
íe,Betica,&  Luíítana.  NaTar- 
raconeníe  ,  que  era  a  maior 
por  comprendcr  tudo  ,  o  q 
não  era  Andaluzia  ,  Eftrema- 
dura,  &  Portugal,puzcraõ  fe- 
te  Chancellarias ,  a  que  cha- 
mauão Connentos  iuridicos. 
Eraóeílcsos  lugares  onde  as 
partes  acodião  com  fuás  ap- 
pellaçoês,e  aggrauos,pcra  nel- 
les  fenecerem ,  &  íe  dar  final 
determinação  a  fuás  contro- 
ucrllas.  AíTentarão  os  Roma- 
nos, como  pcífcas  de  grande 


goucrnonaadminiftração  da 
Republica  ellas  Pvclaçoes,  & 
Connentos  nas  cidades  mais 
principais,<í.\:  cabeças  das  Pro- 
uincias,&  cm  tal  dirtãcia  hi3.as 
das  outras,  c]ue  as  partes  naó 
rccebeílcm  oppreílaõ  de  lon- 
gos caminhos ,  em  irem  re- 
querer fua  iuíliça  .  Fazião  os 
Proconíules ,  òc  Pretores  das 
Prouincias  a  guerra  no  veraõ, 
tendo  fò  per  cxcrcicio  as  ar- 
mas .No  inuerno  fe  recolhião 
a  iulcrar  as  caufas ,  &  determi- 
nar  duuidas  neil:es  Conuen- 
tos  iuridicos ,  vzando  da  paz 
em  proueito  dos  opprimi- 
dos. 

3  DeftasChancellarias  a  ma- 
ior puzeraõ  na  cidade  de  Tar- 
ragona,  porque  era  como  ca- 
beça de  toda  a  Prouincia ,  que 
delia  tomou  o  nome  de  Tar- 
raconenfe.A  fecunda  íe  aílen- 
tou  na  cidade  de  Caragoça, 
que  entaõ  fe  chamaua  Saldu- 
ba.  A  terceira,  em  Carthagc- 
na.  A  quarta  em  Clunia ,  que 
hoic  fe  chama  Corunha  no 
Biípado  de  Oíina  ,  &  he  titu- 
lo de  Condado.  Aquinta,em 
Aftorea  cabeça  dos  Aíluria- 
nos.  A  íexta,cm  Lugo  cidade 
de  Galliza.  A  fecima  Chan- 
celaria aflentaraõ  na  cidade  de 
Braea.Tinha  eila  Chãcellaria 


Gtlgh 
de  AmU 
nothe.itr» 
d^  Igyeja 
de  Ôfma 
f.3. 


muito 


GrandeZj^s  de  BragO-j. 


23 


Narur '  m^^^i^o  nuioi'  iurdiçaõ  que  to- 
hjiMb.}J\  das  as  outras  ,  porque  Çlinio 
^-'í-i-  j  lhe  aillna  vinte  &  quatro  ci- 
dades com  íuas  comarcas ,  tV 
cm  íeu  diíhicio  auia  duzentas 
&  íetenta  &  ílnco  mil  peílbas 
queacodiaõcom  íuas  deman- 
das  a  elta  Relação. 
4  Nas  prouincias  Betica,  & 
Lulitana,auia  outras  íeteChã- 
cellarias,  aílentadas  nas  cida- 
des principais  daqucUas  pro- 
uincias. As  de  Bctica^  ou  A  n- 
daluzia  eraõ  as  cidades  de  Ca- 
diz^  Seuiila ,  Cordoua,&  Eci- 
ja.  As  dcLulitaniaeraõ  as  ci- 
dades de  Merida  na£ftrema- 
dura,  Bejaj  ouBadajos^como 
d"fi2'iJ  querem  alguns.  Si  Santarém 
tbíMrodi'  cm  Portugal.  Muitas  deitas 
B.iiaj05. ,  ^jjpjgj  eja5  iuntamente  Co- 
lónias dos  Romanos.  Trataõ 
delias ,  &  dos  Conuentos  iu- 
ridicos  difufamente  Plínio, 
Sexto  Rufo,  Strabão 
MarcianoCapella, 
6c  outros. 


G,l 


f.i 


C  A  P  I  T  V  L  O.  V. 

DA  GRANDEZAQZE 
conferuou  Braga  na  entra- 
da dos  Vândalos ,  Sueuos, 
Jlános/mPormgaljt^  Gal 
li^a. 


M  quãto  du- 
rou a  Coroa, 
&  Reino  dos 
Sueuos  em 
Portugal ,  & 
Galliza,  coníeruou  Braga  a 
grandeza  que  tinha,  feruindo 
de  Corte  aos  Reis  Sucuos,que 
nella  tinhaõ  feu  allento,  &:  pa- 
ços reaes,&:  daly  dauaõ  leis  a 
todas  as  outras  cidades ,  &í  lu- 
gares de  fua  iurdição. 
1  Co  ufa  fabida  he ,  como 
pellos  annos  de 41  o.do  Naci- 
mento  de  Chriílo  começou 
a  decimar  o  Império  Roma- 
no, tendo  o  gouerno  dclle 
Arcádio  ,  &  Honório  filhos 
do  grande  Emperador  Theo- 
doíio,  &foi  Hefpaiiha  entra- 
da de  nações  barbaras,que  a  íc 
nhorearão ,  &  tirarão  da  fo- 
geição  do  império  Romano. 
Sairaõ  eftes  Bárbaros  das  três 

Prouincias  do  Nort  e ,  Gocia, 

111»  ■* 

Suécia, 


chron.  an\ 
no  .].xo> 


Brito  2.f. 
mcnarch. 


24 


Capitulo  qt-iinto, 


Sueciaj&  Noruega,  entraado 
por  Itália  j  d:  França  ate  che- 
garem a  Hcípanha^aíloiandOj 
êc  deílruindo  tudo  /azcndo- 
fe  íenhorcs  de  í^raiides  Pro- 
iiincias ,  metidas  debaixo  de 
íeu  iuf^Oj  com  o  duro  pefo  de 
fuás  armas.Eraõ  alguns  de  na- 
ção Godos ,  que  depois  íe  íi- 
zeraõ  fenhorcs  de  toda  Hcí- 
paiiha,  outros  Gatos ,  q  ocu- 
parão Catalunha,  outros  Vã- 
dalo.í,que  fenhorcaraõ  a  Bcti- 
ca,&:  dclles  tomou  o  nome 
de  Vandalia^que  corruptamé- 
te  íe  chama  Andaluzia.  Ou- 
tros SueuoSjSilingos ,  ^  Ala- 
nos. Ficarão  osGodos  na  Gal- 
liaNarbonenfcj  que  depois  íe 
chamou  França  Gótica,  &  os 
Sueuos,  de  que  agora  trata- 
mos, depois  de  mudarem  vá- 
rios litios,vieraõ  defcançar  nas 
terras,  que  hoie  íàõ  da  Coroa 
de  Portugal ,  &  parte  do  Rei- 
no de  Leão  ,  do  Tejo  ate  os 
campoSjq  chamarão  dos  Go- 
dos, que  caem  nasterraída 
mefma  Coroa. 

3  Foraõ  crecendo  tanto  em 
poder,com  a  felicidade  de  fuás 
conquiftas,  que  tiueraõ  ani- 
mo pêra  pertenderem  lançar 
aos  Vândalos  de  fuás  terras-,  & 
o  mefmo  tétaraõ  com  os  Go- 
dos ,  cuia  potencia  era  mais 


auantejada,  querendo  mouer~ 
lhe  guerra,  ik  entrar  com  elles 
em  batalha.  Foi  íeu  primeiro 
Rei,  ôí  capitão  Hermencrico, 
o  qual  com  o  valor  de  fuás  ar- 
mas fc  fez  fenhor  de  GaUiza, 
Sc  Leaõ-,  ôc  Rechila  filho  íeu, 
6:  fucccílbr  no  Reino,  crecco 
no  poder  de  modo,  que  as 
couías  dos  Sueuos  hiaõ  mui 
auante  em  profperidadc.  Naõ 
eraaísy  nas  matérias  da Fè,& 
verdadeira  Religiaõ,cm  que  fi- 
cauão  mui  atraz,  porque  não 
feguindo  a  de  Chriílo  NoíTo 
Saluador,huns  delles  eraõ  Ido- 
latras, outros  Arrianos.  Con- 
uerteoíe  Rechiario  filho  de 
Rechila, mas  durou  pouco  nos 
vaílalos  o  efpirito ,  &  feruor 
catholicojporque  com  a  mor- 
te, &  mudança  do  Príncipe 
a  íizeraó  também  na  Fc,&  os 
Reis,que  depois  íucederaó  no 
eftado  dos  Sueuos,  afsy  abor- 
recerão ,  &  perfeguiraõ  a  P^e- 
ligião  Catholica.  &  miniif  ros 
delia  ,  que  roubauão,  &de- 
ílruyão  as  Igrejas,deílerrauão 
osBiípos,  &  Sacerdotes,  & 
poredidos  mandauaõ  pren- 
der todos  os  que  em  feu  Rei- 
no fcsuiííem  a  bãdeira  de  Chri 
fto. 

4     Começou  efta  perfcgui- 
ção ,  no  tépo  dei  R  ei  Maídra, 

òíác 


BrttJ.  c. 


deíirukaOíÇ^  reHí^iíir^cão  de  BraoO-^. 


25 


oc  de  leu  íiilio  Rcmiímundo, 
Continuou  com  niayor  cru- 
eldade no  tépo  de  R^echiliano^ 
o  qual  não  íó  dcílcirou  Bií- 
pos_,mas  ainda  mandou  mui- 
tas almas  glorioías  aoCeo  por 
meo  do  martyriOj  c5  que  aos 
corpos  tirou  a  vida .  Final- 
mente forao  crecendoas  he- 
regias  Arrianas  com  a  perti- 
nácia dos  Reys  Sueuos  emas 
fauorccer  ,  &  emparar ,  atè- 
quevierão  a  deixar  eila  mal- 
dita íeita  no  tempo  de  Theo- 
domiropella  pregação  ácS. 
Martinho  de  D  ume  ^  òc  dos 
Arcebifpos  delia  Igreja  ^  co- 
mo em  íeu  lugar  diremos . 
j  Em  rodo  o  tempo ,  que 
durou  o  Reino  dos  Sueuos 
atê  ElRey  Leouigildo  .0  de- 
li ruir  _,  &  acabar  de  todo^ 
em  que  correrão  163. annos, 
foi  ícmpre  Braga  Corte  dos 
mefmos  Reys ,  &:  cidade  illu- 
ftre,  cabeça  de  todo  o  Reino, 
conleraando  a  grandeza 
em  que  fora  prin- 
cipiada. 


CA  P  I  T  V  L  O.   VI. 

DA  ENTRADA 
dos  Mouros  emHefpânha^ 
i^  como  Bra^a  foi  deitrui- 
da ,  llf  depois  reflaurada^ 
ÍP'dadapt;llosRejs  de  Lélio 
a  eUa  Santa  Si. 


Adellruicão, 
q  Leouigil- 
do íes  no  Rei 
no  dos  Sue- 
uos ,  coube 
muita   parte  ã  cidade  de  Bra- 
ga, porque  perdeo  a  grande- 
za de  Corre  daquellcs  Reys, 
como  ia  perdera  a  honra  de 
Chanceliaria ,  &  Conuento 
iuridico,morada  dos  Procõ- 
fules  Romanos,  com  a  entra- 
da,&:  ícnhorio  dcs  Sueuos.  A 
eíla  calamidade  particular  íe 
aiuntou  logo  a  comum  de  to- 
da Hefpanha ,  com  a  entrada 
que  nella  fizcraõ  os  Mouros 
deAfrica  pellos  annos  de  noí- 
ía   redenção  713.   os    quais 
fazendofe  fcnhores  de  Anda- 
luzia ,  &  da  mayor  parte  de 
Hefpanha^eatrarão  a  primei- 
ra vcs  pellas  terrasdcPortugal, 
òí  Galiiza  :  chegarão  a  Braj^a,  j 

"  c"  íT 


2Ó 


(Capitulo  feifio} 


&  viando  com  ella  cio  mcí- 


cc 


mo  furor  bárbaro,  com  que 
tracaiião  as  mais  cidades^  a  de- 
llruirão,&  roubarão  fazen- 
do nella  grande  eltrago.  Paf- 
faraó  adiante  ate  o  rioMuiho, 
&  vendo  a  efterilidade  da  ter- 
ra de  Galliza_,&  o  pouco  fru- 
to que  tirauão  de  fua  con- 
quiíía,  determinarão  .voltar 
pêra  as  terras  deEllremadu- 
ra, mais  abundantes,  <k  fer- 
tis ,  que  as  de  Galiiza. 
i         Com  fua  ida  teuc  lu- 
gar cl  Rei  Dom  Pelayo  pêra 
mandar  reftaurar  as  cidades 
deftruidas  .   Acodio  logo  a 
Braga,  como  mais  principal, 
&  que  eltaua  diante  de  todas. 
O  niefmo  fez  depois  ElRei 
Dom  AfFonfo  o  cacholico ,  o 
qual  famdo  com  hum  podc- 
roío  exercito  de  Galiiza  foi 
cobrando,  &  reftaurando  a 
tê  a  cidade  do  Porto  tudo  o 
que   os  Mouros  tinhao  de- 
ílruido.  Neftc  eftado  fe  acha- 
ua  Braga  ,  quando  reinando 
Silo,  &  Mauregato  fizerão  os 
Mouros  outra  entrada  por 
entre  Douro,  &  Minho,  & 
chegando  a  ella  a  deílruiraó, 
&c  puzeraõ  por  terra ,  naõ  fi- 
cando em  pê  mais  que  a  Igre- 
ja de  Saõ  Pedro  de  Maximi- 
nos ,  o  A4orteiro  de  Saõ  Mar- 


tinho de  Dume,  &  o  de  Saõ 
Frutuoio ,  &í  a  Igreja  de  São 
Vitouro,  que  íe  vniraõ,  k. 
annexarão  às  Igrejas  de  Lu- 
go,  ôc  Cõpoftela ,  em  quato 
Braga  fe  não  redificaua.&tor- 
nauaafcuantiguo  ier.Com  a 
mefma  condição ,  ^  clauíula 
deu  ElRey  Dom  Aftonío  o 
Caífo  parte  da  cidade, aisy 
deltruidacomo  cifaua,aosBií- 
pos  de  Lugo,  como  coníta  de 
húaeícritura,  quceífã  noar- 
chiuodefta  Igreja  .  Vltima- 
mcnte  fe  reftaurou  fendo  Bif- 
po  Dom  Pedro,como  em  íua 
vida  diremos.  Daquclle  tem- 
po ate  hoie  eítà  debaixo  da 
íogeição  dos  Arcebifpos  de- 
ita Igreja  ,  que  delia  ,  & 
feu  termo  íaõ  íenhores  com 
todaaiurdiçáociuel,  ôc  cri- 
mCjmcro  ,  &  mixto  império, 
femappellação,  nem  aggra- 
uo  nas  cauías  ciueis  pêra  as 
Relações  Rcacs  por  doação,q 
delia  lhe  fizeraÓos  Reys  de 
Leaõ  confirmada  pella  Rai- 
nhaDona  Tareja  molherdo 
Conde  Dom  Henrique,  & 
pellos  fenhores  Reys  delle 
Reino  ,  que  depois  fucede- 
raõ. 

3  Aiudou  a  pouoar  efta  ci- 
dade, &  a  reftaurar,  &  engrá- 
decer  a  Sê  delia,  o  Conde  D5 

Henri- 


deííruifao.Çf  reflauraçaodeBrãOíí^>. 


27 


Henrique^  t^:  a  Rainha  Dona 
Tareja  lua  niolhcr,hõrandoa, 
não  lo  c5  a  fazer  algú  tempo 
Corte,  de  caía  íua  na  vidaj 
mas  ainda  cfcolhendoa  por 
lepukura  na  morce ,  manda- 
doíe  enterrar  na  Clauílra  da 
melma  Sê  em  hiia  capella, 
que  fe chamo udoí  Reis,por 
ler  íepulturafua.-donde  da  hy 
amuitos  anos  pafloii  ícus  oí- 
íosperaa  capelia  mor,  que 
de  nouo  fundaua,  o  Arcebif- 
poDomDiogodcSoufa.Os 
muros,  que  cercão  a  cidade, 
íaõ  antiguoscas  torres  fortes. 
Com  a  liberalidade ,  que  nella 
vzaraõ  os  Arcebifpos ,  mo— 
ftrandofc  em  a  ampliar  gene- 
rofos,  foi  crccendo  em  edifí- 
cios, &  grandeza.  Delia  tem 
faido  Varões  eminentes  em 
fantidadc  :  grandes  cm  le- 
tras ,&iguaes  nas  armas  aos 
mayorcs  capitães  de  Hefpa- 
nha :  de  todos  em  feu  lu- 
gar faramençao  cita  hirtoria. 
He  regada  com  as  agoasdo 
rioDèllc,  quelcua  fua  cor- 
rente iunto  ao  melmo  lugar, 
d<.  não  fó  fertiliza  fuás  vci-- 
gas ,  &  campos ,  mas  ainda 
os  faz  apraziueis  à  vilta,  &c  os 
torna  com  as  flores,  de  que 
os  vefte  ,hua alegre,  &  per- 
petua primauera    Ha  na  ci- 


dade caíaSj&  fmiilias  mui  no 
brcsjos  moradores  paíTaõcc 
dous  mil,&  oitocécos.Aléda 
SèCathedral  ha  quatro  Paro- 
chias ,  Sa5  loao  do  Souto: 
Santiago  da  Cidade  :  Saõ  Vi- 
touro,  Saõ  Pedro  de  Maxi- 
minos.  Os  Mofteiros  faõ  leis; 
trcs  de  Religiofos ,  &  três  de 
Religiofas  .  Os  nomes  faõ: 
Saõ  Frutuoío  de  Religiofos 
da  Piedade  :  o  Collcgio  de 
Saõ  Paulo  da  Companhia  de 
lESV;  o  MoílcirodoPo- 
pulo  da  ordem'  de  Santo  Ago- 
llinhodos  Eremitas;  o  Mo- 
íleiro  do  Saluador  de  Reli- 
giofas de  Saõ  Bento  :  o  dos 
Remédios  de  Francifcanas:  o 
da  Conceição  da  mcfma  Or- 
dem. 


CAPITVLO  VII. 

COMO  A  CJDA  DE 
de  Braga  foi  a  primeira 
de  Hefpanha  ,  que  rece- 
beo  a  Fé  de  Chriíío  Senhor 
Nojfo, 


;  C  A  B  A  M  OS 

^A  ^  com  os  titulos,que 
!^>5^¥i¥  or"3raõ  a  cidade  de 


Cz 


Braga 


aâatataaaiiMH 


-'-^^íS^mlofeifih.  <>k:A^.V;-:'f\ 


I 


BragáièiTiquâtò  republica  fc- 
CLilaf  ^    tratando  íô  do   gò-^-- 
"rl(bi1tí($  politico  _,  ícm  atê  gora 
FiiiÇair  mão  de  outra  preroga- 
tibá  mayor^  Sc  mais  excellste, 
que  a   illultra  .   Prerogatiua 
-eípiritual ,  3c  diuina,  baltantc 
fopcralhepòra  Goroa,  &  dar 
òCetro ,  Sc  Império  de  todas 
as  deHcípanha.  lílo  he  feriei- 
la  a'primeira,que  recebco  a  Fe 
deChrifto  Senhor  NoíTo^  de- 
pois dasProuincias  de  Palefti- 
líà^  Goufa certa  he,<que aglo- 
ria,  ôc  grandeza  das  cidades 
tio  mundOj  depois  de  vira  el- 
íc  Chrifto  Senhor  Noflb^náo 
confiltc  fò  nos  antiguos  tro- 
pheos  j  ou  arcos  triumphais: 
não  nos  capitães  valerofos, 
que  com  íuas  proezas  mere- 
cerão triumphos  dignos  de 
immort  ilidadc :  não  nos  pa- 
ços, &  edifícios  funtuoíos; 
mas  em  Teus  ciàãd2Òs  auerem 
fido  os  primeiros ,  que  deraõ 
Os  nomes  a  Ghrifto  •,  aceita- 
rão íua  Fe;  militarão  em  fua 
bandeira  .   Roma  fc  fez  fe— 
nhora  de  grandes  prouincias 
com  o  esforço  de  feus  capi- 
tães •,  porem  nunca  chegou, 
notcmpo,  quefoi  goucrna- 
tlâ  por  Reis ,  Corifules ,   & 
imperadores /àquèllc  fuprc- 
!n3i2?í'"^o;-^<^  honra  ,   ôc  glo- 


-íjfíâr.. 


ria ,   em  que-  (e-í/io  depoi^. 
que  abraçou  a  Fe  de  Ghrillo, 
com  que  fc  fez   cabeça,  & 
Rainha  do  mundo ,  reconhe- 
cida, &  venerada  por  todos 
os  Rcys  ,  &c  Monarchas  deL 
Ic.  Eftáhea  prerogatiua  ma- 
yor  de  Braga.  Deixando  poisi 
as  outras,  que  tanto  a  illuíira-{ 
raõ ,  com  íe  adiantar  a  todas^ 
as  cidades    cm  receber  a  Fè 
de  Ghrifto,  mais  que  todas 
fe  Icuantòu ,  ôc  cnnobrecco.  . 
1         Aiuntafc  a  efta  primei- 
ra exccllencia ,  outra  fecundo." 
que  igualmente  a  engrande": 
ce,  ifto  he,  fer  Primas  de  to-' 
das  as  Ses ,  ôc  Igrejas  de  Hef^ 
panha ,  Metropolitana  de  delz 
íufFraganeas,  que  nos    tcm-^ 
pos  paíladoslhe  reconhecerão 
íogeição  nas  caufas  Ecclcíia- 
fticas ,  ôc  nodefpacho,  &dc-^ 
terminação  delias.        ^aÂ-O 
3         Goufa  íabida  hè^  que 
veo  o  gloriofoApoftolo  San- 
tiago pregar  a   Hefpanha  , 
como  o  tem  a  tradição  antir; 
quifsima,&  fc  proua  coma 
autoridade  de  muitos  Su-- 
mos  Pontiíices,  ôc  autores 
grauifsimos,  como  du-emos 
na  vida  de  Saõ  Pedro    de 
Rates  feu  difcipulo  ,  ôc  pri-^ 
mciro  Arccbifpo  defta  Igre^- 
jade  Braga.  Veo  o  gloriofo 


:0    .\l. 


^j30- 


Pregação  da  Te  em  BragO-s. 


29 


Cd.  cu 

tr&tR  de 

Aflorga 


Apoftolo  de  leruíalem  por 
mar  delembarcar  cm  algú  dos 
portos  decncre  DourOjôc  Mi- 
nho,que  entáo  era  da  Prouin- 
ciade  Galiiza.  Demandou  a 
cidade  de  Braoa  como  mais 

o 

principal,  &  cabeça  de  toda  a 
ProLiincia  ,  òc  ahi  começou  a 
precação  doEuangelho,  íc— 
guindo  o  exemplo  de  Chrirto 
íeuMeftrc,  &dos  Apoll:olos, 
Quebulcando  as  cidades  mais 
populofas  deraõ  ncUas  prin- 
cipio á  publicação  da  Lcy  da 
Graça  Chrifto  Senhor  Noflb 
pregou  em  lerulalcm,  &  Ca- 
farnaú,  cidades  principais  de 
ludca  \  Saõ  Pedro  cm  Antio- 
chia, depois  em  Roma;  Saõ 
Paulo  em  Damafco-,  Saõ  Mar- 
cos cm  Alexandria- Saõ  Lu- 
cas em  Thebasj  òí  outros  cm 
outras  cidades  femelliantes. 
O  Aportolo  Santiago  fcguin- 
do  a  mcfma  ordem  pregou 
primeiro  cm  Braga  cabeça  de 
Galiiza  ,  depois  nas  cidades 
mais  principais  de  Hefpanhaj 
que  com  lua  preíença  vifitou. 
Conuerteo  cm  Braga  àFède 
Chrifto  alguns  dos  morado- 
res j  &  fez  aqucllc  iníigne  mi- 
lagre ,  que  admirou  os  ludeus, 
&  gentes, qual  foi reíucitar a 
Saõ  Pedro  de  Rates  morto  a- 
uia  muitas  centennas  de  an- 


nos  ,  como  em  fuavida  di- 
remos. 

4  EílaFè  tão  antigua  re- 
cebida nos  corações  dos  Bra- 
chareníes,  pregada  por  San- 
tiago j  &  prouadacom  o  Tan- 
gue, que  derramou  logo  por 
cila  o  illuftre  martyr  Saõ  Pe- 
dro de  Rates,  coníeruou  fem- 
pre  Braga ,  quando  mais  ar- 
dião  as  perfeguiçocs  dos  ti- 
ranos ,  dando  ao  Ceo  mar~ 
tyres ,  que  confeílaraõ  a  Chri- 
fto,^ Prelados  illuftresa  efta 
Igreja,que  pregarão  com  gra- 
de fcruor  ,  &  zelo  a  meíma 
Fe  Catholica,afè darem  a  vi- 
da por  cila  ,  como  veremos 
no  difcuiío  delia  hiftoria.  E 
aindaque  antes  dos  Sueuos, 
com  a  abominauel  hcregia  de 
Prifcilliano ,  &  depois  de  en- 
trados eftcs  Bárbaros  com  a 
maldita  feita  de  Arrio  ,  que 
elles  íeguiaó,íe  viraõ  os  Chri- 
ftaõs  de  Braga  em  grande  a- 
perto  ,  perfeguidos ,  &  mal- 
tratados dos  hereges ,  com 
tudo  com  a  confillaõ  da  Fè 
no  coração,  &  na  bocareíí- 
ftiraõ  a  fua  fúria ,  animados  de 
feus  Paftores ,  os  quais  com 
animo  inuenciuci  tomauão 
fobrefy  os  golpes  dos  here- 
ges, padecendo  pclla  pure- 
za da  Fé,  perfeguiçoés,   & 


C3 


deltcr- 


30 


'Capito/o 


oitauo. 


dedcrros.Cóiíerciclos  os<S'ue- 
uos  f  elh  pregação  de  S. Mar- 
tinho de  Dutne  ,  tornou  a 
Chrilbndade  de  Braga  a  co- 
brar forças ,  &  lançar  raizes 
perfcuerando  na  Fè  _,  que  rece- 
bco  ,  ainda  depois  q  os  Mou- 
ros a  ocuparão,  porque nefle 
raeímo  tempo  lhe  não  falta- 
rão Prelados ,  que  cõ  fua  prè' 
^nçáo,  <?.'  exemplo  deraõ  mo- 
íf  ras  da  Fe  viua  que  nelles  ar^ 
dia. 


CAPITVLO  VIII. 

DAS  DIVISÕES  ,Q^E 

fe  fi^eraÓ  dos  Bifpados  de 
Hefpãnha  ,  ,l;f  dos  que  Je 
afstnaraó  4  Metropoli  de 
Braga, 


k^^^Xã.  Or  aueripuado 
>^1a  lídU-'?  F^  temos,  que  ia 
^LÃ  i^^^\  antes  da  primei- 
ra diuiíaõ  dos 
BifpadosdeHel 
panha/eitaem  tempo  do  gra- 
de Emperador  Conftantino, 
auia  Bilpados  diítintos ,  &:  fe- 
parados  em  qualí  todas  as  ci- 
dades de  Heípanha,  &  auia 
Metropolitano  Primaz  de  to- 
da clja  j  o  Arcebiípo  de  Bra^a 

-  -    -  -- '. ^  ^ 


.•^ 


fuceílordeSaó  Pedro  de  Ra- 
tes,a  quem  o  ApoíloloSaii- 
tiatro  deu  eíte  titulo,  fazen- 
doo  primeiro  Biípo ,  &  Pri- 
maz de  Hefpãnha.  O  meímo 
Santo  Martyr,  &:illuílre  Põ- 
tificc  Saó  Pedro  poz  Bifpos 
cm  muitas  cidades  de  Portu- 
gal ,  &  Galliza ,  como  em  fua 
vida  veremos,  &  fc  moílra 
ifto  bem  das  cartas  dos  Sij- 
mos  Pontifices  enuiadas  aos 
Bilpos  deHeípanha,muito an- 
tes de  ftadiuifaõ,  cm  que  j  ale 
chamauáo  alguns,  Bifpos  da 
primeira  Sè,  queheomcímo, 
que  Metropolitanos  .  E  jà 
quando  íe  celebrou  o  Conci- 
lio Ehbcritano  auia  efta  di— 
ftinçáodcBilpadoJcIara:  por- 
que os  Padres,  que  naquella 
grane  congregação  íe  acharão, 
Hrmão  nomeando  cada  hum 
fua  dioceíi ,  &  a  cidade  de  que 
era  Bifpo. ,  com  a  diíf  inçáo 
de  Metropolitanos  ,  òí  Bif- 
pos da  primeira  Sè.  He  bem 
verdade,  que  no  tempo, em 
que  os  Emperadores  leuanta- 
raõperlcguiçoés  contra  algre- 
ja  ,  &  durou  em  Helpanha 
a  Idolatria,  &  adoração  dos 
Deoícs  da  Gentilidade,  craá 
jurdição  dos  Prelados  mui 
curta,  &  limitados  léus  ter- 
ritórios, porque  no  peito  da- 


r.EcclfÁ 

la'lj  q  t; 
rafíH  itá 
Chron  atí 

no.z',c,  ■ 
Mj  aÚ 

de  f^arg. 
n  í  híft  aé, 
Msridá, 

It  2  ca 


uiell 


es 


igrejas  [MÍfraga  neas  aBmga^' 


H 


Dextra 
««.314. 
Jf,lim„Qn 
519.  n. 

PadilloA. 
\  Ertt.  z  p. 


ci^ícilcsSantos  Prelados  náo  ri- 
liha  lui;ar  cobiça ,  ou  ambi- 
ção, ./-v  ivÇ"'^'i>  "^  homa  dos 
biipos  era  padecerem  traba- 
lhos por  Clinllo,  &  darem  a 
vida  por  tlie.  Deitas  nquezas 
dp  Ceo  taziaó  muita  conta, 
6,:  pouca  das  demarcações  da 
terra,  iobre  que  então  nenhú 
litigio  auia:  nem  dezejos  de 
ampliar  jurdiçoés  ,ouacrecé- 
tsr  13  lípados. 

i      Coaconueríaó  docTtan- 
de  Conilancino    amanheceo 
ij  a  líucía  Catholica  a  luz  ao  (a 
grado  Euangclho,  eilcndeole 
pelio  mundo,  creceraõ  com 
ilío  os  lubdito^aos  Prelados, 
as  outlhas  aos  Paílores  efpi- 
rituaesicom  cilas  creceo  tam- 
bém a  jurdiçáo,  &  ao  mefmo 
palio  a  renda  .  Por  fe  euitarê  . 
diícordias  toi  neceílario  fazer  j 
uouadiuiíaõ,  ou  reformar  a  | 
anrigua  de  todas  as  Igrejas  de 
Heípanha,affinando  aos  Me- ! 
tropolitanos  as  q  Iheauiãode  j 
fcr  luífragaaeas,  &  os  limites, 
a  que  cada  hu  fe  auia  de  ellen- 
dcr.  Fezíe  a  primeira  diuiíaò 
cm  tempo  do  grande  Conftã- 
tino ,  cm  bíí  Concilio  de  To- 
ledo ,  a  que  ellc  peílbalmentc 
aíliftio  ,como  querem  graucs 
autores ,  contra  o  parecer  de  j 
Morales,que  nega  cila  vinda 


de  Conílantino  a  Hcíp.wha, 
cçm  algús  fundamentos ,  que 
tem  fácil  repo  ih.  O  certo  bc, 
que  a  diuiíaó  íc  fez ,  çoipb  co- 
itada biftoria  geral  deneípa-  '^^"^^ 
nha^  &  nella  íe  côílituiraõ  l-m-  YJtyci„i 
CO  Igrejas  Metropolitanas,  a  n?  <»"«.  j 
faber,Cartbagena,quc  depois  '^f^^'^|i 
fepaíloua  Toledo,  Tarrago-  \dcap.it 
na,  iVíerida>  que  le  paliou  a 
Igreja  de  Com  portela.  Braga, 
&:  Seuilha,qboje  permanece 
em  feu  próprio  aílcnto.  A 
cada  húa  delias  íeallinaraõ  os 
Biípados  fuUraganeos  ,  que 
auiaõ  de  ter:  trataremos  íò  dos 
de  Bfa^a,  os  mais  pertencem 
à  billoria  de  Heípaaba,  &:  íe  iMoraUt. 
podem  ver  em  Morales,Pa-  j''^'*"-^ 


FaiitU 
d  loco. 


dilha.   Mariana  autores   dd-iManan, 
la.  -I''^'»  ^'  ^• 

3  Dez  Igrejas  fuffraganeas 
couberaõ  a  Braga  neíla  diui- 
íaó, as  quais  naõíò  eraó.  do 
P^eino  deGalliza,  &Callella, 
mas  ainda  da  Lulítania,  de  que 
era  cabeça  Metida :  os  nomes 
faõ. 

AUurica.  Agora  Aílorga  em 
Caílella  a  velha. 
T«í/€.  Tuiem  Galbza,i  sbssí  ^ 
Liicus.  Lugo  cm  Galliza. 
Conimbrica.Coimhià  cm  Por- 
tugal. 

Iria  Flauia ..  O  Padraó  cm 
Galliza  j  mudouíceíla  Igreja 


C4 


P 


era 


32 


Capitulo  oitauo. 


pêra  Compoftela. 
Britonia.  Agora  Ouiecío  ,  ou 
(como  querem  outros)  Mon- 
donhedo-  &  alguns  dizem  c[ 
foihú  lugar  nelle  Arcebiípa- 
do^quc  hoje  fe  chama  Britian- 
doSjCiicre  Viana  ,  &  Ponte- 
dehma. 

Vifeum  .  Vifeu  em  Portugal. 
Lamecú.  Lamego  cmPurtugal. 
■Egidita.  Hoje  a  Guarda  em 
Portugal ,  foi  hú  lugar  que  fe 
chama  Idanhaa  velha. 
Auria.Q^  he  OrenfeemGal- 
liza. 

Razis  Mouro aíTina  outras 
Igrejas  a  Braga  nclla  diuiíaõ 
de  Conftantino,  &  diz  que 
foraò,  Dume,o  Porto,  Oren- 
fe ,  Ouicdo,  Aftorga  ,  Brito- 
nia ,  Iria,  ou  Compoftela, 
Aliubra  ,  Ifa,  Tui.  Das  duas 
Igrejas  de  Aliubra,  &Ifa,não 
temos  noticia  algúa,  a  Igreja 
de  D  ume  não  ellaua  ainda 
fundada  ,  &  aíli  naõ  he  mui 
certa  a  demarcação  de  Ra- 
zis. 

4  Depois  defta  diuifaõ ,  go- 
zou a  Igreja  de  Braga  o  direi- 
to de  Metropolitana  íbbre  as 
Igrejas,que  temos  rcferido,atè 
que  le  fez  outra  no  Concilio 
deLugo  celebrado  cm  Gal- 
liza  no  anno  de  j65>.  ao  pri 
meiro  dia  de  laneiro.  Reinan- 


do Theodomiro.  Nefte  Con- 
cilio fe  leuantou  cm  Metro- 
politana a  Igreja  de  Lugo^com 
íogeiçáo  á  de  Braga  ,  ^Iheaf- 
Tmaraõ  por  fuíFragancas  íin- 
CO  Igrejas  Cathedraes ,  Oren- 
íe,o  Padraó,  Aftorga  ,  Tui,& 
Britonia,  Ficarão  a  Braga  f  a 
quem  tirarão  as  finco  referi- 
das) féis  fuffragancas  lòmente, 
Coimbra,  Vifeu,  Lamego  Ida- 
nha,  ou  a  Guarda,  Porto,  & 
Dume .  A  cada  húa  deftas  fe 
limita  o  território,  &  diftriól:o 
q  ha  de  ter.  A  Dume  íenáo  dá 
mais  jurdição,  quefobreafa- 
miha,&  cafa  real, Qual  cila  fol- 
ie diífcmos  ja  noCaralogo  dos 
Bifpos  do  Porto, &  o  diremos 
outra  vez,  quando  tratarmos 
daquclle  Concilio. 
5  As  terras ,  que  fe  deraõ  à 
Metropolitana  de  Braga  íaó  as 
que  íe  leguem,  de  que  ha  hoje 
mui  pouca  noticia.  DizoCó- 
cilio.  A  Igreja  Metropolitana 
de  Braga  tenha  as  Igrejas  ao  re- 
dor ,  &  Centocellas ,  Coctos, 
Gentes  millia,  Laineto,  Gilio- 
les,  Adoncffe,  Aportis  ,Ailó, 
Ccutédones,  Laubis,  Celeoío, 
Citania,Cereícs ,  Pctroncio, 
Equeftsad  faltum.  Alcmdifto 
os  lugares  de  Panoyas ,  Lcta, 
Bragança  ,  Aftiaftigo ,  Tare- 
go ,  Aunego ,  Aíetrobio  ,  Be- 


c.  4.T>p« 


' 


refle 


«p^w» 


Igrejas  íuM^d^MâMa  BragO-i . 


3Í 


■ent,'-.c- 


refle ,  Palanrulíco  Ceioíciic- 
qtmmio,  que  íãô  na  õbedien- 
idia  íòtrinra lucrares.'  ^' ^'■'^^^■^'- 
\6  ■  Coin  lurdiçao  iiíás*ícis 
;  Igrejas  Catkcdraes  referidas , 
jSf*ria  Metropolitana  de  Lu- 
igòjCjue  também  lhe  era  íogci- 
ítáyticoua  Igreja  Primas  de 
iFtàgapor  todo  o  tempo  que 
diirou  o  Rcirio  dos  Sucuos. 
Com  a  queda,  >  i3<:  ruina  deílCj 
pèrdco  Braga  muita  parte  da 
gTántJeza  ,  ?l:iurdição  que  ti- 
nha, porque  todo  o  cuidado 
doí  Reis  Godos  era  cmgran- 
deccr  a  Toledo  _,  como  cabe- 
ça de  leu  império ,  aindaquc 
fòiíle  a  curta  da  iurdição,&  fa- 
zenda alhea :  Tirarão  a  digni- 
dade de  Metro  pohtana,  a  que 
fçra  ieuantada  à  Igreja  de  Lu- 
go,  porque  Braga  fenão  glo- 
rrallc  de  ter  como  Primas  Ar- 
cíbifpos  íuííragancos,  ôc  não 
cònferuafle  poÃe  tão  manife- 
íii  de  ília  Primaha.  Também 
Merrda ficou  engrandecida  cõ 
as  Igrejas  de  Coimbra,  Viíeú, 
Lamego,  &r  Idanha  ,  que  lhe 
dèú  ,  &  tirou  a  Braga  cl  Rei 
'Rècefuinrho  à  inftarícia  ,  ôc 
j0etição'de  Orócio  Metropo- 
litano dá  niefma  Igreja  de  Mc 
ffícíá;emhuÇ5cilio ,  qucahi 
rc^cclebroit,"^!  que  prefidio 
Q  mdmQOi:QUcio,&  allégp_u 


que  perccnciad  a  ÍMk  -pr oiiiíí-'^ 

7  No  atino  de' Chrillo 
<Í75 .  quarto  dei  RciVuãba  aos ' 
7.deNoucmbro ,  fc celebrou 
humConcilo  Prouincial  em 
Toledo ,    que  foi    onze   ná 
ordem  dos  que  andão  impfef- 
fos ,  cm  que  fc  òi^denou  dutra 
diàifaó  dos  Bifpados  de  Hcí- 
panha,  pcra  ccftarem  algúas  * 
duuidas ,  que  fobrc  os  limites  'j/J^  ^* 
dclles    entre  Prelados   parti-  26. 
cularcs  auia.  Não  trataremos 
das  outras  Cathcdraes  ,  &c  fp 
diremos  de  Braga ,  que  ncfta 
repartição  ficou  c6  oito  Igre- 
jas ,  diz  o  Concilio  afsy.  Bra- 
ga, &  fua  Metropoli   tenha  a 
mefma  Braga,  Dumc  ,  Porto, 
chamado  também  Fclfabolc, 
Tui,  Orenfe ,  Iria,  Lugo,&ri- 
tonia,  &Aílorga.  ■^H'^M 

8  Comcftas  Igrejas  pcr^' 
manccco  Braga,  cm  quanto" 
durou  o  Reino  dos  Godos 
em  Hefpanha  .  Com  a  ruiiia 
delia,  &  entrada  dos  Mouros, 
perderão  todas  as  Metropolis 
de  Hefpanha  a  íurdição,  que 
tinhaó  nas  fuffragancasjpellos 
mouros  aíTolarê,  &  deílruiré 
tudo.O  pouco,  que  ficou  em 
Braga  depois  que  foi  dcftruí- 
da,fe  encomendou  ao  Bifpo 
de  Lueo ,  como  ia  diílemos. 


cent.j.  e. 
52. 

Mdria» 
lib.ó.c. 


Cátp. 


em 


Capitulo  oit^HOy 


cm  qunnto  a  cidade  íe  naó  rc- 
llicuya,&  rcrtauraua. 
9      Taiitoque  foi  reedificada 
pello  Biípo  Dó  Pedro  ,  &  en- 
trou nella  porArcebiípo  o  glo 
riofoS.  Geraldojlogo  lhe  forão 
rcílituidas  as  Igrejas  íufíraga- 
neas  anciguas  •,  as  de  Galliza 
com  pouca  controueríiaias  de 
Portugal ,  Coimbra,&  Lame- 
go à  força  de  breues  Apoíloli- 
cos^qucperailTo  elle,  ôc  feus 
fucccíTores  ouucraô  dos  Su- 
mos Pontífices.  Tiueraõ  de- 
pois varias  mudanças    as  fuf- 
fragancas  de  Galliza ,  ôc  Por- 
tugal^com  as  cjue  fez  o  Reino, 
&  a  Metropcli  de  Merida  pê- 
ra a  cidade  de  Compoftela ,  & 
com  ano ita erecção  do  Bifpa- 
do  de  Lisboa  em  Arcebifpado. 
De  tudo  tratara  largamente  a 
fcgunda  parte  defta  hilloria. 
Aduirtindo  que  a  villa  de  Via- 
na deftc  Arcebifpado  foi  em  te 
pos  mui  antiguosBiípadOjdc  q 
na  pouca  memoria.  Depois  fe 
aiuntou  ao  Bifpado  de  Tui:da 
hy  vco  à  iurdição  de  Braga, 
pcllo  modo  que  diremos    na 
fegunda  parte  defta  hiftoria, 
quando  chegar  ao  tempo  que 
iíloacontccco. 
IO      Ncíh  illuftrc  cidade  de 

I  Braga,  chamada  Auguíla  por 
Magcltofa,  rica  por  opulenta, 


emula  dos  tropheos,^  trium- 
phos  Romanos,Corte,&  mo- 
radaRcal  dos  Principcs  ,&:Pveis 
Sueuos,  primeira  de  Hefpanha 
naconfiiraQ,&  profiílaõda  Fe, 
Primas  na  honrn,&  dií^nidade 
Pontifical,  regada  com  o  fan- 
gue  de  illuftres  martyrcs,may, 
&  progenitora  de  varões  aba- 
lifadós  nas  armas ,  &c  em  todo 
o  género  de  ciências;  nefta  fi- 
nalmente,a  quem  ficão  curtos 
todos  os  louuores  mayores, 
foioaílento  ,  &  morada  dos 
Prelados  defta  Igreja  cuias  vi- 
das damos  a  luz. 


C  A  P  I  T  V  L  O.  IX. 

DOS     concílios 

Prouinciaes ,  quefe  celebra- 
rão em  Braga. 


Orquc  nos  ha 
de  fcr  ncccíla- 
rio  falar  mui- 
tas vezes  ne- 
fta hiftoria  , 
j  nos  Concílios, que  fecelcbra- 
I  raó  em  Braga ,  pede  a  ordem 
delia,  que  os  lancemos  aquij&r 
demos  hua  breuc  relação  do 
que  nelles  paflbu ,  &  tépo  em 
quefe  celebrarão. 


1  Não 


Concílios  que Çe  celebrarão  emBrag. 


VL_i. 


iS 


&  fag. 
32.  cr 


I  i       Naõ  ha  duuida ,  que  íe  \ 
congrecraraõ  em  Brasra  aleús 
CGncilíos_,antcs  do  primeiro, 
comqucíahioalúz  frei  Ber- 
nardo J.e  Brito  tirado  da   li- 
uraria  de  Alcobaça ,  porque 
pêra    o  bom  goucrno     de- 
lta Igreja,  «Sj  de  fuás  Tuffira- 
gaiíeaSjtSj  pcra  acodira  vários 
calos  dcimportancia,que  na- 
qucllc  primeiro  tepo  dapri- 
mitiualcrreja acontecerão,  de 
força  íeauiaõ  de  aumtarCõ- 
cilios.  E  também  não  ha  du- 
uida,  que  depois  do  primeiro 
íe  celebrarão  outros  ,  de  que 
não  temos  mais  noticia ,  que 
afnrmaU:)  luhano  em  vários 
lugares^dizendoj  que  em  Bra- 
ga fe  aiuntaraò  Concihos  pê- 
ra acodir  às  heregias ,  que  an- 
dauão  ateadas  por  toda  GalU- 
za.  Os  Concilios  de  que  nos 
ficarão  aólas ,  &  de  que  fazem 
menção  os  autores  íaõ  finco, 
3       Começando  pello  pri- 
meiro ^&  mais  antÍ2uo,elIefe 
celebrou,  fendo  Prelado  defta 
Igreja  de  Braga  Pancraciano 
pellos annos de  Chriílo  41  o, 
conformea  melhor  conta.  O 
motiuo  queouue  pêra  fc  a- 
luntartoia  entrada  dos  Ala- 
nos, Sueuos,&;  Vandalos,pel-- 
las  terras  de  Luíítania,&  Galli 
7a.  Eraõ  elles  parte  Gentios, 


&  parte  Arrianos,&  as  mayo- 
res  crueldades ,  que  executa- 
uão,era  contra  as  Igrejas ,  & 
Sacerdotes,  roubando  tudo  o 
que  nellas  achauão  :  abrião  as 
íepulturas  dos  Santos,&  pro- 
fanauão ,  &  queimauão  as  ía- 
gradas  relíquias.   Pêra  reme- 
dear   clle     dano   conuocou 
Pancraciano,  Arcebifpo    que 
entaõ  era  de  Braga,  Concilio 
dos  Biípos  feus  íuíiraganeos, 
«Si:  dos  mais  quefe  acharão  em 
Braga  fugidos  da  violência,  &: 
força  dos  bárbaros  pêra  íc  dar 
ordem  a  fe  cfconderem  as  re- 
hquias  dos  Santos ,  demodo 
que  nem  viellem  as  maõs ,  & 
poder  dos  Herejcs ,  &  Idola- 
tras :  nem  por  mui  efcondidas 
fe  pcrdefle  a  memoria  delias. 
Os  Prelados  ^  que  fc  acharão 
nerte  Conciho,eftaõ  nomea- 
dos ncUe.  Diz  afsy  traduzido 
em  Portueues ,  como  o  trás 
frei  Bernardo  de  Brito  ,  &  he 
mui  digno  defer  vilto ,  &c  ía- 
bido  de  todos, 

4  Primeiro  Concilio  Bra- 
charcnfe ,  celebrado  em  tem- 
po de  Pancraciano  Biípo  da 
primeira  Sê, (que  vem  a  fcr  o 
mefmo,qiic  Metropolitano.) 
Aiútandofe  os  Bifpos  Elipã 
do  de  Coimbra  \  Pamcrio  da 
Idanha  -,  Arifberto  do  PortOj 

Dcodato 


2-pM.6 

C.2. 


CapituL 


o  nono. 


HifloY. 

de  Cueca 


Deoíicito  de  LiigOj  Gclaíio  de 
Merida  ;  Ponramio  de  Aíjue- 
da;TiDurcio  de  Lamego;  A^a- 
thio  de  Iria-,  Pedi-o  de  Nuiiia- 
cia(que  era  CamorajOu  Soria) 
na  Igreja  de  Santa  Maria  de 
Braga  ^  o  fenhor  Pancracia- 
no  Biípo  da  primeira  Sè  dií- 
fe.  Manifefto  vos  hc  irmãos, 
&c  companheiros  meus  ,  co- 
mo as  gencesBarbaras  deítrue 
roda  Heípanlia^  aííolão  os  cé- 
plos,&  põem  à  cfpada  os  fcr- 
uos  de  lESV  Chriíloj  profa- 
não  as  memorias  dos  Santos, 
feus  oíTos,  templos,  &:  fepul- 
turas  \  quebraõ  as  forças  do 
Império ,  trazendo  tudo  na 
meíma  inquietação,  que  tem 
as  areftas  mouidvis  com  a  fú- 
ria do  vento  .  E  fora  das  Pro- 
uincias  de  Celtiberia ,  &c  Car- 
perania ,  todas  as  mais  que  hà 
atê  os  montes  Pireneos,eftão 
debaixo  de  feu  poder.  E  porq 
efta  defaiientura  eftà  ia  quafi 
pendendo  fobre  nofias  cabe- 
ças ,  me  pareceo  chamaruos, 
pêra  que  cada  hu  proueia  as 
coufas  que  lhe  tocão  ,  &  to- 


cios  mntamente  acudao  a  co- 
mum neceílldade  da  Igreja- 
Proueiamos  companheiros  o 
remédio  das  almas  de  noílhs 
ouclhas^  porque  a  multidão 
dos  trabalho;  as  naõ  conílrá- 


ia a íeguir  o  cõfelho  dcs mãos; 
períeuerar  no  caminho  dos 
peccadores ,   &  deícanlar  no 
aíTento  peílilencial  ,  apofta- 
tando  da Fè  verdadeira.  E  pê- 
ra iílo  ponhamos  ante  os  o- 
Ihos  de  nofios  íubditos  exé- 
plos  de  noíla  conftancia  ,  pa- 
decendo por  Chrifto   parte 
dos  muitos  tormentos ,  que 
ellc  quis  íofrer  por  amor  de 
nos  E  porque  algus  dos  Ala- 
nos ,  Sueuos,  &  Vândalos, 
íaõ  Idolatras,  &  outros  íegué 
a  hercgia  Arriana,me  pareceo 
de  volío  coníentimento  pro- 
mulgar fen tença  contra  icme- 
Ihantes  erros,  pêra  mayor  fir- 
meza daFêCatholica.  Que  vos 
parece  ?  Reíponderão.Iufto, 
piadoío.  Tanto  ,  &  conueniê- 
te  negocio.  Pãcraciano.  Creo 
em  hum  Deos  verdadeiro , 
eterno naÕ gerado,  que  não 
procede  doutré,  o  qual  criou 
o  Ceo ,  &r  3  terra ,  Sc  as  cou- 
fas que  ahi  fe  encerrão  viíi- 
ueis ,  &  inuifiueis.  Todos  os 
Bifpos.  Do  próprio  modo  o 
cremos  nos .   Pancraciano  . 
Creo  cm  húVerbo  gerado  do 
mefmo  Padre  antes  dos  tem- 
pos, D  cos  de  Deos  verdadei- 
ro ,  da  própria  fuftancia  do 
Padre,  fem  o  qual  fc  não  í"ez 
coufa  algúa,  &  pello  qual  fo- 


rao 


a.iBLrJ^»i■eJ■^*" 


CorícilíGs  quefe  celebrarão  eyn  BraoO-j. 


17 


rão  creadas  todas  as  couías. 
Todos  os  Biípos.  Da  pró- 
pria maneira  o  cremos  nòs. 
Pancraciano.  Creo  no  Spi- 
rito  Santo  _,  que  procede  do 
Padre ,  &  do  Verbo ,  hú  com 
elles  em  Diuindadc,  que  fa- 
lou pella  boca  dos  Proferas_, 
veo  fobre  os  Apoílolos  _,  &: 
encheo  deíua  graça  a  Maria 
MaydcIESV  Chriílo. To- 
dos os  Biípos  .  Da  própria 
maneira  o  cremos  nòs.  Pan- 
craciano .  Creo  que  neíla 
Trindade  não  ha  mayor  ,  ou 
menor,  primeiro,  ou  derra- 
deiro ,  mas  em  rrcs  diílin- 
tas  Peílbas  ha  híia  i^ualda- 
dc ,  hija  Deidade ,  híja  Diuin- 
dade.  Todos  os  Biípos. Do 
próprio  modo  o  cremos  nòs. 
Pancraciano .  Condeno,  ex- 
comungo, reprouo ,  anathe- 
matizo  todos  os  que  fenti— 
rem,  tiuerem,  &  pregarem 
o  contrario  .  Todos  os  Bií- 
pos .  Da  própria  maneira  os 
condenamos  nòs.  Pancra- 
ciano .  Creo  que  os  Deo- 
fes  dos  Gentios  faõ  Demó- 
nios, tem  boca,  &  não  fa- 
lão,  olhos ,  &  não  vem ,  ou- 
uidos ,  ^  não  ouuem ,  nem 
ha  rcfpiração  em  fua  boca. 
Todos  os  Bifpos .  Da  pró- 
pria maneira  o  cremos  nòs. 


Pancraciano.  Creo^  que  Noí- 
íb  Deos  Trino  cm  Peílbas, 
&  hum  em  eílencia  fez  codas 
as  couías  dc  nada  ,  &  creou 
de  terra  a  nolío  pay  Adão , 
d:  a  Eua  dc  feu  lado,  deífruyo 
o  mundo  por  agoas ,  deu  ley 
a  Moyfes ,  &  nelles  vkimos 
tempos  nos  viíítou  por  leu 
Filho,  queíegundo  a  carne 
naceo  da  geração  de  Dauid. 
Todos .  Da  própria  manei- 
ra o  cremos  nòs .    Pancra- 


ciano . 


Cond 


eno 


)rouo. 


excomungo ,  &  anathcmati- 
zo  todos  os  que  tiuerem , 
&  íentirem,  &  pregarem  o 
contrario.  Todos.  Do  pró- 
prio modo  os  condenamos 
nòs .  Pancraciano  .  Agora, 
parecendouos  bem  a  todos, 
ordcneíc  o  que  conuem  fa- 
zer das  rehquias  ,&  memo- 
rias dos  Santos  ,  principal- 
mente das  de  noílbPadie  S. 
Pedro  de  Rates  Apoitolo 
delia  Prouincia  ,  que  San- 
tiago parente  dc  Noílb  Sal- 
iiador  deixou  nelía  pcra  fal- 
uaçãodas  almas. 

Leunntoufe  Eiipndo  Bií- 
podé Coimbra,  &  diirenão 
poderemos  todos  cumprir 
iílodamcfma  maneira-,  mas 
parecendouos  bem, faça  ca- 
da hum  conforme  lho  pcr- 


D 


micir 


38 


£aptulo  IX. 


miciro  tempo. 

OsBarbaros  eftão  entre  nos, 
combatem  a  Lisboa ,  ganha- 
rão jà  Merida,  Aílorga  do 
próprio  modo ,  &  viraó  bre- 
ucmenreíobre  nos.  Partafc 
cada  hum  a  feu  Bifpado ,  &: 
conforte  os  fieis ,  elconda  os 
corpos  dos  Santos  em  luga- 
res decentes ,  &  mandenos 
húa  relação  dos  lugares ,  & 
couas  onde  os  dcpolitarem, 
porque  não  venhão  a  efquc- 
cer  por  difcurío  de  tempo. 
Refponderã  todos  .  Parece— 
nos  iufto  ,  bom ,  &  conue- 
niente  confclho ,  vifta  a  ne- 
cefsidade  do  tempo.  Pancra- 
ciano.  Da  própria  maneira 
me  parece  amim ,  que  a  vos. 
Idcuos  todos  em  paz ,  fò  fi- 
que noílb  irmão  Pontamio, 
vifta  a  deftruição  de  fua  Igre- 
ja de  Merida,  que  os  Bárba- 
ros tem  opprimida.  DiíTe 
Pontamio.  Irnicei  cu  tam- 
bém pêra  confolar  minhas 
Quelhas,  &  pêra  padecer  iun- 
tamente  com  cilas  trabalhos, 
&  perfeguiçoés  pcllo  amor 
de  1  E  S  V  Chrifto  •,  porque 
não  recebi  a  dignidade  de 
Bifpo  fó  pcra  o  tempo  da 
prorpcridade;masantcs  pêra  o 
dos  trabalhos» 

..  Pancraciano.  Excellcntes 


palauras , iufto  coníeiho,ap- 
prouo  a  partida  •,  Dcos  te  cò- 
ícruc.  Todos  osBifpos.Cõ- 
íèructe  Deos  neíle  bom  con- 
fclho ,  que  nos  também  ap- 
prouamos.  Todos  iuntamê- 
te.  Vamos  na  paz  de  I E  S  V 
Chrifto  Senhor  NoíTo  .  Pan- 
craciano, em  nome  de  Dcos, 
Bifpo  de  Braga. Pota  mio,  em 
nome  de  Deos  ,  Biípo  de 
Merida  .  Elipando,  em  no- 
me deDcos,Bifpo  de  Coim- 
bra. Pamerio,  Bifpo  da  Ida- 
nha  .  Arifbcrto  Bifpo  do 
Porto.  Dcosdedit,  em  no- 
me de  Dcos  Bifpo  deLugo. 
Gelaíío ,  Bifpo  de  Eminio 
(  que  hc  Águeda, )  Tiburcio, 
Bifpo  de  Lamego.  Agathio, 
Bifpo  de  Iria .  Pedro  cm  no- 
me de  Deos,  Bifpo  deNu- 
mancia ,  que  hc  Camora, 
ou  Soria.  Ate  qui  o 
Concilio  pri- 
meiro. 


lafio. 


CAPI- 


Concílios  que  fe  celebrarão  em  Bra^O-^. 


39 


Aforai 
Itb.il.c. 

51- 


CA  P  I  T  V  L  O.  X. 


S  E  G  V  N  D  O     CON- 
cilio  de  Bra^a, 


SEGVNDO 

Concilio  íc 
cÕgregoUjSê- 
do  Lucrécio 
Arccbiípode- 
fta  Igreja^Reynando  em  Por- 
tugal, &:  GallizaThcodonii- 
ro  Rcy  dos  Sueuos^no  anno 
de  Chriílo  de  quinhentos  &c 
fcíenta  &í  três,  como  querem 
alguns  j  &  no  de  quinhentos 
&  fcíenta  &  quatro  na  opi- 
nião de  outros.  As.  cauías 
que  ouuc  pcra  fe  celebrar  fo- 
rão  fundadas  na  noua  con- 
uerfão  dos  Sucuos  à  Fe  de 
Chriílo  SenhorNoíl'o_,de  que 
jà tratamos,  &c  adiante  fala- 
remos na  vida  de  São  Marti- 
nho. Dcfejaua  ElReyThco- 
domiro,  que  íeus  vaílallos 
foíícm  bem  inílruidos  na  Fe 
que  profeílarão ,  &  que  per- 


maneceílem  naquclle  cfta.ío, 
&  fe  deílerraílcm  os  abuíos, 
que  auia,nacidos  da  Ignorân- 
cia do  Pouo.    Tratou  com  o 
Arccbifpo  Lucrécio ,  ^  com 
S.Martinho  os  meos  conuc- 
nientcs  pcra  confcguir  o  bem 
das  almas ,  que  pretendia.  Ai- 
fcntoufe  y  que  conuinha  cha- 
mar a  Concilio  todos  os  Pre- 
lados doReyno,  pei;anellcíc 
dar  forma  de  crer ,  &  enlínar 
aosParochos  a  doutrina,  que 
auião  de  dar  afeus  frcigueíes. 
Aiuntarãofe  pêra  eiic  elíeito 
em  Braga  oito  Biípos  íulfra- 
ganeos.  As;  matérias  que  aly 
tratarão  forão  de  grande  im- 
portancia  ,  ^  íingular  dou- 
trina 3  como  do  Concilio  tra- 
duzido ,   que  aqui  lançamos 
fe  pode  ver  .     Foy  tido  por 
primeiro  em   quanto   fenão 
dcfcubrio  o  que  atraz  fica  lan- 
çado ,  que  foi  na  verdade  o 
primeiro  em  ordem. 
z         Primeiro  Concilio  Bra- 
charenfe  celebrado  no  tercei- 
ro anno  de  Theodomiro  Rey 
dosSueuos  ao  primero  dia  de 
Mayo  iunto  ao  tempo    do 
Papa  Honório  primeiro. 
Como  no  anno  terceiro  dcl 
Rey  Theodomiro  ao  primei- 
ro de  Mayo  íeaiunraílcmos 
Bifpos  fcguintcs  daPronincia 


D 


de 


40 


Capitulo  X. 


de  Galliza  j  Lucrécio  ,  An- 
clrc  ,  Martinho ,  Coto ,  Hil- 
dcnco,  Luccncio ,  Timothco, 
&  Miliofo,  &  por  manda- 
do do  fobrcdico  Rcy  Thco- 
domiro  fcachaílcm  na  Igre- 
ja de  Braga  Metropolitana  da 
mefma  Prouincia ,  afsentados 
iuncamentc  os  BiípoSj  &  tan- 
bcm  os  Sacerdotes,  &  aísi- 
ftiiido  os  miniftros ,  òc  to- 
jo o  Clero,  Lucrécio  Bifpo 
da  mefma  Igreja  diíle .  Mui- 
to tempo  ha  ( irmãos  fantif- 
íImos)que  defcjauamos  íc  ce- 
lebraíTe  entre  nos  hum  Con- 
cilio de  Sacerdotes ,  fegundo 
o  que  ordenão  os  veneraueis 
Cânones ,  &  os  decretos  da 
doutrina  Catholica,  &  Apo- 
ftolica  :  porque  quando  os 
Sacerdotes  iuntos  cm  nome 
do  Senhor  bufcao  com  fau- 
dauel  altercação  aquillo  que 
(fegundo  a  doutrina  Apolto- 
lica)  fuftenta  a  vnião  do  fpi- 
rito  com  vinculo  de  paz,  não 
fòcaufaó  húa  concórdia  con- 
ucniente  às  regras,  &  orde- 
naçoésEccleííaílicas,mas  efta- 
I  uel  femprc,&  firme  no  amor 
fraternal.  Agora  pois  que  nof- 
fo  gloriofiííimo ,  d<.  pijlllmo 
filho  ,  infpirado  do  Senhor, 
nos  conccdeo  com  autorida- 
de Real  hum  dia,  que  defcja- 


uamos ha  tantos ,  pêra  eftc 
aiuntamento,&  pêra  que  vni- 
dos  todos  confidcraflemos  o 
que  conucm  :  tratemos  pri- 
meiro ( íc  vos  parecer  bem ) 
do  eílado  da  Fê  Catholica. 
Depois  difto  íe  lerão  os  iníli- 
tutos  dos  Santos  Padres ,  re- 
ferindo os  Cânones  dellcs ,  & 
no  fim  de  tudo  íe  tratarão  có 
toda  a  diligencia,  certas  cou- 
ías,  que  pertencem  ao  ferui- 
ço  de  Deos ,  &  ao  ofiicio  dos 
Sacerdotes,  pcra  íc  porucn- 
tura  algúas  couíàs ,  ou  por 
dcícuido  de  ignorância ,  ou 
por  inaducrtencia  da  muita 
antiguidade,  fc  guardão  en- 
tre nos  diuerfamente ,  ou  fe 
tem  por  duuidofas ,  fe  tor- 
nem ( como  he  rezão )  a  húa 
forma  razoauel ,  &  verdadei- 
ra .  Todos  os  Bifpos  diíle- 
rão.  O  procedimento  de  vof- 
ía  Santidade  he  iulto ,  por- 
que a  cauía  defte  noíTo  aiun- 
tamento  foi  pêra  nos  redun- 
dar algum  proucito ,  de  fe  dar 
ordem  nas  coufas  da  Igreja. 
O  Bifpo  Lucrécio  diíle.  Tra- 
temos primeiro  dos  eftatu— 
tos  ,  como  ja  diílemos  aci- 
ma ;  paraque  dado  cafo ,  que 
a  conragião  da  heregia  de  Prií- 
cilliano  foíle  deícuberta,&  cõ 
denada  ha  muito  têpo  nas  Pro 

uincias 


Concilios  que  fe  celebrarão  em  Braoa^. 


4í 


uincias  de  Herpai'iha,todauia, 
porqnáo  aja  alguc/.j  por  igno 
ranc!a,OLi  enganado(como  hc 
ordinário  )  có  cícricuras  apo- 
criphaSjCÍ-tè  aindainficionado 
côa pcílc deílc erro  ^  declare- 
íc  mais  abercamete  às  peíloas 
ignorantes ,  porque  cites  co- 
mo habitão  no  elUemo,  Ã: 
derradeira  parte  deltaProuin- 
cia,ou  tem  poLicOjOa  quaíi 
nenhum  conhecimento ,  da 
verdadeira  erudição.  Creo  q 
labc  voíla  Fraternidade^  q  na- 
quellc  tépo ,  cm  q  a  peçonha 
da  nefandiílinia  íeita  Priícilha 
na^iníicionauaeftas  regiões  ^o 
bcatiilimo  Papa  da  cidade  de 
Roma  Leão  ^  que  foi  quaíí  o 
quadragefimo  íoceílor  do 
ApoíloíoS.  Pedro  j  mandou 
fuás  bulias  ao  Synodo_,  quefc 
aiuntou  em  Galhza  contra  a 
heregia  Priíciihana,por  Tori- 
bio  Notário  daSê  Apoftoli- 
ca-,  por  cuio  mandado  tambe 
os  BifposTarraconeníeSjCar- 
thagincnles^LuritanoSj&  An- 
daluzes, feito  entre  fy  Conci- 
lio.&cfcrita  húa  regra  da  Fe, 
contra  a  herecriadc  Priíciliia- 
no,cõ  algús  capitulos^a  man- 
darão a  Balconio_,quc  então 
era  Bifpo  derta  Igreja  de  Bra- 
ga :  pcllo  quCj  pois  temos  a- 
qui  àmão  o  treslado  da  Fe  ío- 


bredita,  com  todos  ícus  ca- 
pítulos,parecendo  bem  a  voí- 
ias  Reuerencias ,  recitelc  pêra 

enlino  dos  ignorantes.  To- 
o 

dos  os  Bifpos  diilerão.  Muy 
neceílaria  he  a  lição  deílcs  ca- 
pítulos ,  pêra  que  declaran- 
doíeaos  mais  rudes  os  anti- 
vuosinílitutos  dosSantosPa- 
dres ,  íe  conheção  os  enga- 
nos  da  heregia  Priícílliana, 
abominados,  ó«:  condenados 
de  tempo  antiguo  ,  pellos  ío- 
cellores   do  Bcmauenturado 
Apoftolo  S.  Pedro.  Leofe  o 
treslado  da  Fè  com  íeus  capí- 
tulos _,  que  por  não  caufarem 
prolixidade  le  deixão  de  ajun- 
tar a  ellesaótos.  Depois  da  li- 
ção dos  capítulos  diííerão  to- 
dos os  Biípos.  Poílo  que  a  li- 
ção fe  referilíe  neceíTariamen- 
te  y  todauía  íe  declarem  com 
mais  euídencia,  &  chaneza 
por   capítulos    diitíntos    as 
couías,  que  íe  hão  de  euítar, 
pêra  que  os  que  menos   fa- 
bemas  entendáo  :  &c  pondo 
fentença  de  excomunhão,  íe 
condenem  finalmente  os  en- 
ganos do  erro  de  Prifcillia— 
no  ,  pêra  que  qualquer  Clé- 
rigo, Monge,  ou  fccular,que 
for  achado  crer ,  ou  defen- 
der coufa  íemelhante,  íe  a- 
parte  logo  do  corpo  ,  como 


D3 


mem- 


'42- 


Capitu 


lo  X. 


aieaibro  podre  da  Igreja, 
pêra  que  da  macula  de  íua 
companhia,  6c  maldade  _,não 
naça  alcrúa  aíronta  aos  fieis  na 
opinião  dos  que  verdadeira- 
mente crem ,  quando  os  vire 
millurados  com  tal  gente, Os 
capitules,  que  fe  propuíeraõ 
contra  a  heregia  PrifciUiana, 
&  fe  tornarão  a  ler  contém  o 
feguinte. 

1  Se  alguém  não  confcílar, 
que  o  Padrc^  Filho,&:  Spiritu 
Santo  faó  três  pelloas  dehúa 
íullancia  ,  virtude ,  &c  poder 
afsy  como  enlína  a  Igreja  Ca- 
tholica,&Apoll:olica,masdií'- 
fer  q  he  húa  peílba  fòmentejde 
tal  modo,  que  o  mefmo  íeja 
o  Pay  5  que  o  Filho,&:  Eípiri- 
tu  Santo,  como  dillerãoSa- 
bellio,  &í  Prifcilliano  ,  feia  ex- 
comungado 

%  Se  alguém  fora  daSantif- 
íima  Trindade  introduz  ou- 
tros não  íei  que  nomes  de  di- 
uindade^  dizendo,  que  a  mef- 
madiuindade  he  a  Trindade, 
afsy  como  osGnofticos,  & 
Prifcilliaiio  diíl'eraõ,feia  exco- 
mungado. 

3  Se  alguém  diz,  que  o  Fi- 
lho de  Deos  Noilb  Senhor 
lES  V  Chrillo  não  foi ,  antes 
denacer  da  Virgem,  como 
diíleraó  Paulo  Samofaceno,&: 


Photino,  &  Prifcilliano,íeia 
excomungado. 
4  Se  alguém  não  honra  ver- 
dadeiramente o  Nacimento 
de  Chrifro  íegundo  a  carne, 
mas  finge  diliimuladamcnte, 
que  o  honra  ieiuãdo  no  mef- 
mo dia,  &  ao  Domingo  por- 
que nãocrè,que  Chrilto  tem 
verdadeira  natureza  humana, 
afsy  como  diílerão  Cedron, 
Marcion,Manicheo ,  &  Prif- 
cilli^no  ,  feia  excomunga- 
do, 

j  Se  alguém  cré,que  os  An- 
jos, &  almas  humanas  forão 
da  íurtancia  de  Deos ,  como 
diílerão  Manicheo,  &  Prifcil- 
liano,  feia  excomungado. 

6  Se  alguém  diz ,  que  as  al- 
mas humanas  peccarão  pri- 
meiro citando  no  Ceo,&  por 
ifto  forão  mandadas  aterra, 
viuerem  corpos  humanos, 
como  diíle  Priícilliano ,  feja 
excomungado. 

7  Se  algué  diz ,  que  o  Dia- 
bo não  foi  primeiro  Anjo  bõ, 
feito  por  Deos,  nem  lua  na- 
tureza ler  obra  de  Deos ,  mas 
diz ,  que  procedeo  das  treuas 
fem  têr  criador,que  o  f  ormaf- 
fe ,  mas  que  elle  he  principio 
femfuftancia  domai  ,como 
diíferao  Manicheo ,  &  Prifcil- 
liano,  feia  excomungado. 

S  Se 


Concílios  que  fe  celebrarão  emBragO-^. 


43 


8  Sealguécrè,  que  o  Dia- 
bo ks  algúas  creattiras  immií- 
das ,  &c  que  o  Diabo  por  lua 
própria  autoridade  hz  os 
crouocs  _,rayQs ,  cempellades, 
(Sc  eltcrilidades ,  como  dilVe 
Priícilliano,  leia  excõmua- 


gacío. 


9  '^e  alguém  crc ,  que  as  al- 
mas, &í  corpos  humanos  el- 
tão  lo<íeitos  a  fimios ,  e-eílrel- 
las  fadadas,  como  os  Pasaõs, 
&  Priíciiliano  diíleraõ,  leia 
excomungado. 

10  Se  alguém  crer,  que  os 
doze  íííinos,  conuem  a  faber, 
as  ellrcl!as,que  os  Machemaci- 
cos  collunilo  obíeruar,eílão 
repartidor  por  cada  potencia 
da  alma,  ou  míbro  do  corpo, 
correípondendo  aos  nomes 
dos  doze  Patriarchas ,  como 
diíle  Priíciiliano ,  íeja  excõ- 
muncjado. 

11  Se  alguém  condena  os 
cafamentos  humanos  ,&  abo- 
mina a  geração  dos  que  na- 
cem  dellesjcomo  diíleraoMa- 
nicheo,(í^  PrifeillianOjfeia  ex- 
comungado. 

li  Sc  alguém  diz,  que  a  or- 
c^anização  do  corpo  humano 
hc  obra  do  Diabo,&:  a  forma- 
ção dos  mininos  no  ventre  de 
Tuas  mãys  diz  que  le  faz  por 
índartria  do  Demónio,  por 


reiçaõ 


onde   nao  cre  a   refur 

das  carnes,como  difleráo  Ma- 

nicheo  ,  &  Priíciiliano  ^  íeia 


excomungado. 


n 


Se  algaê  diz  ,  que  a  cria- 
ção de  todas  as  couías  corpo- 
raeSjnao  he  obra  de  Deos,mas 
dos  Anjos  mãos, como  diííe- 
rão  Manicheo,&  Prifcilliano, 
íeia  excomungado. 
14     Se  alguém  cuida,  que  os 
manjares  de  carne,  que  Deos 
deu  pêra  vío  dos  homens,  íaõ 
immundos,  &:  fe  abílêdelles, 
não  por  caufa  de  afíligir  feu 
corpo,mas  pellos  tèrpor  cou 
ia  immunda,  né  come  eruas, 
cozidas  iuntamente  cõ  a  car- 
ne,por  elle  refpeitOjComo  en- 
ílnarãoManicheo,  &  Priícii- 
liano, feia   excomungado. 
1$      Se  algum  Clérigo,  ou 
Monge  tiuer  em  fua  com- 
panhia alguas   molheres  em 
lugar  de  parentas  adoptiuas, 
&í  morar  com  ellas,  ainda  que 
Ihefeiãomui  coniuntas  por 
parentefco ,  não  feneío  may, 
ou  irmã,  como  enfinaua  a  lei- 
ra de  Priíciiliano,  íeia   exco- 
mungado. 

1 6  Se  algué,  na  quinta  feira 
de  Pafchoa ,  que  fe  chama  da 
Ceado  Senhor,  não  ouue  as 
miílas  da  Igreja  guardando  o 
ieium,  ate  a  hora  coíf  amada 

depois 


D  4 


44 


Qafitulo  X 


depois  de  Noa  ,  mas  hon- 
ra a  tcíla ,  &  quebra  o  icjum 
deída  hora  dcTerça  em  que  fe 
dizem  as  miílas  dos  defuntos 
conforme  a  feita  de  Prifcilha- 
nOjfeja  excomungado. 
ij     Se  alguém  ler  as  efcritu- 
ras,  que  Prifcilliano  depra- 
uou,  conforme  a  íeu  erro,  ou 
os  tratados,  que  Diâ:inio  aii- 
t^s  de  íc  conuerter  cfcrcueo 
debaixo  dos  nomes  de  alguns 
Patriarchas,   Prophetas  ,  ôc 
Apollolos ,  fingindoos  con- 
formes a  feus  erros,  &  dcfen- 
der,ou  feguir  íuas  ficções  Ím- 
pias ,  ícja  excomungado. 
18     Propollos  eftes  capítu- 
los, &  tornados  a  ler  o  Biípo 
Lucrécio  diíie.   Pois  faõ  de- 
claradas ,  mais  i&cil,  &  mani- 
feftamente,  ainda  pêra  o  en- 
tendimento dos  ignorantes, 
as  coutas  que  os   Catholi— 
cos  condcnão ,  ôc  abominão, 
me  parece  confecutiuamen- 
te    ncceííario    (    parecendo 
bem  a  voíTas  Paternidades) 
q  fc  nos  declarem  os  inílitu- 
tos  dos  Santos  Padres ,  refe- 
rindo os  Cânones  antiguos, 
&  fc  não  todos ,  ao  menos  fe 
leaõ  algus  poucos,  que  pcrtê- 
cem  pcra  inftrucção  da  dici- 
plina  Sacerdotal.  Todos  os 
Bifpos  diflerãoContentanos 


efle  parecer ,  &  hè  coufa  con- 
ueniente ,  que  aquelles  a  que 
apouca  curiofidadefez  por- 
uentura  eíquecer  das  Coníf  i- 
tuiçoés  Eccleíiaílicas ,  oução, 
&  guardem  as  regras  dos  San- 
tos Cânones.  E  íendo  lidos 
por  hum  liuro  diante  de  todo 
o  Concilio  os  Cânones  dos 
Synodos,aísy  Vniucríaes,co- 
moNacionaes,©  Biípo  Lucré- 
cio depois  da  lição  acabada 
diílc .  Aooraxonhecereis  ir- 
mãos  meus  da  própria  lição 
dos  Cânones,  como  os  Sacer- 
dotes cõgregados  não  fó  nos 
Concílios  Gcraes,  mas  ainda 
nos  Nacionaes  ordenarão  de 
vniforme  parecer  as  coufas  q 
conuinhão  à  ordem  Eccleíía- 
ftica ,  prouendo  ícgundo  re- 
queria a  necefsidade  de  cada 
coufa ,  feíxuindo  nífto  a  fen- 
tença  da  doutrina  Apoítoli- 
ca,  que  diz.  Approuay  as  cou- 
fas, qfaõ  boas,&guardayas. 
Por  tanto,fe  parecer  bêa  voílà 
Charidade,  ordenemos  entre 
nos  certos  capítulos  peraque 
as  coufas  que  não  guardamos 
todos  dehummodoferedu- 
zão  totalmente  a  hiía  própria 
forma,  auendo  refpeíto  a  cer- 
tas ceremonías  Ecclcííafticas, 
que  fe  guardaò ,  príncipalmê- 
te  nos  confins  defta  Prouin- 


cia. 


Concílios  que  fe  celehr<>nao  ctuBví:. 


c> 


^'l-J. 


45 


cia^nao  porcontumacia^nem 
Deos  o  permita ,  mas  como 
diílemos  acima  ,  por  igno- 
rância, &  pouca  cLinofidade. 
Todos  os  Bifpos  diílerão  te- 
mos por  coLila  neceílaria ,  & 
muy  proueitoiaj  queaquellas 
ceremonias ,  que  com  vario, 
&  deíordenado  coftumc,2uar 
da  cada  num  de  nos,  vnidos 
entre  todos  ,  pella  graça  de 
Deos  íe  celebrem  com  animo 
conforme.  E  por  tanto  íe  ha 
aigú a  couía  grande  ou  peque- 
na j,  em  que  pareça  citamos 
difterétes  torneie ,  como  elH 
dico,a  liua  forma  ;  ordenan- 
do pêra  ifto  os  capítulos  ne- 
ceílarios  ,  tendo  principalmé- 
te  com  nofco  inftrucçãoda 
Sé  Apoftolica  fobre  certas 
couías  particulares,que  a  pru- 
dência de  voflb  predeccílor 
Profuturo  de  venerauel  me- 
moria alcançou  algú  tempo 
do  íoceílor  do  Bemauentu- 
rado  Apoft olo  S.  Pedro  \  Lu- 
crécio Biípo  diíle.  Com  rezão 
lembraftes,írmãos  meus^a  au- 
toridade daSè  Apoífolica,  a 
qual  poifo  que  no  tempo 
em  que  veo  tolíe  muy  íabi- 
da ,  todauia  por  firmeza  do 
teíHmunho  ,  &  inifrucção 
de  muitos  ,  parecendo  alsya 
nofia  conformidade  pois  a  te- 


mos entre  mãos,  leafe  diante  J 
de  todos .  Todos  os  Biípos 
dilkraõ.Iuílobe,  pois  quefc 
fez  menção  da  íobredita  au- 
toridade, que  ouçáo  todos  os 
circuníí:antes  a  douti  ina,  que 
contem,  Leofe  então  a  auto- 
ridade daSè  Apoífolica  diri- 
gida ao  Biípo  Profuturo,  que 
por  euitar  prolixidade  íe  nao 
aiuntou  a  elfas  aâ:as  :  depois 
de  cuja  lição  diíle  oBifpo  Lu- 
crécio .  Agora  vemos  mais 
claramente  como  nos  fauore- 
ce  a  doutrina  Apoífolica,  por 
tanto  conforme  ao  parecer  de 
vofla  Fraternidade,  íe  algúa 
coufa  por  ignorância  he  diíFe- 
rentemente  guardada  por  al- 
guns,reduzafc  a  Iiúa  forma,  &■ 
regra  igual  por  capitulos  or- 
denados entre  nós.  Propuze- 
rãoíe  os  capitulos  que  conti- 
nlião  o  íeguinte. 
15)  Aprouue  a  todos  de  co- 
mum coníentimento  ,  que  fe 
guarde  liíja  própria  ordem  de 
cantar  nos  oííicios  de  Mari- 
nas ,  &  Vefporas ,  &  não  fe 
miíturem  ,  nem  confundão 
os  particulares  coft umes  dos 
Morteiros  com  a  regra  co- 
mum da  Igreja, 
zo  Aprouue  também  ,  que 
pellas  vigilias,  &  milíasdos 
dias  íblenes ,  fe  leão  na  Igreja 


todas. 


46 


Captuío  X. 


codas,  &c  as  mcímas  licoés,  & 
não  outras  clifíerentes. 
II  Alem  curto  aprouuc,(^ 
os  Biípos  não  laudcm  ao  po- 
uo  de  hum  modo  5  &  es  Sa- 
cerdotes doutro,  mas  todos 
de  hum  modo ,  dizcndo^Do- 
mmusjicpobifcumjco mo  íeíè 
no  huro  de  Ruth.  E  o  pouo 
rei jp onda.  Et  cumfpiritu  tiio^ 
aísy  comoeníínarãoos  Apo- 
lloíos,  ik  o  guarda  todo  o 
Oriente ,  &  não  como  o  mu- 
dou a  heregia  de  PrifcilUano. 
rz  Aprouue  também,  que 
as  miílas  fe  celebre  pella  meí- 
maordê,  que  Profuturo  Bif- 
po  antiguamcnte  deita  Igre- 
ja MetropoUtana  recebeo  cm 
efcrito  por  autoridade  da  meP 
maSêÀpoíliolica. 
23  Aprouuealemdifto,  que 
ninguém  deixe  de  guardar  a- 

Tl 

quellc  modo  de  bautizar,quc 
teue  de  tempo  antiguo  a  Me- 
tropohtana  Igreja  de  Braga, 
Ãr  recebeo  o  íobredito  Biípo 
Profuturo  pêra  tirar  a  duuida 
de  alguns,  fcndolhe  mandado 
pellos  roceíTores  do  Bemaué- 
turado  Apollolo  S.Pedro. 
14  Aprouue  também ,  que 
guardandofc  a  Primaíla  do 
Bifpo  Metropolitano  ,  os 
mais  Bifpos  fegundo  o  tem- 
po de  fua  coníàgração  pre- 


cedão  huns  aos  outros  na  oi- 
c!cm  dosallentos. 
ij  Aprouue  ale  diílo,  que 
das  rendas  Ecclefiaíticas  íefa- 
ção  trcs  porções  iguaes ,  híia 
pêra  os  Biípos,  outra  pêra  os 
Sacerdotes  ,  a  terceira  pêra 
a  fabrica,&:  alampadas  dalgre- 
ja  .  Da  quarta  parte  o  Arci- 
prcfte,ouArcediagOjquc  a  ad- 
miniílrar  faça  fua  ração  ao 
Bifpo. 

tC  Aprouue  também,  que 
nenhum  Bifpo  oufe  orde- 
nar Clérigo  de  outro  Bifpa- 
do, conforme  à  prohibiçao 
dos  Cânones  antiguos,  íaluo 
quando  lhe  moftrar  rcuerc n- 
das  afsinadas  pello  feu  pró- 
prio Bifpo. 

27  Aprouue  alem  diH:o,que 
por  quanto  alguns  Diáconos 
defta  Prouinciacoftumão  tra 
zcr  as  Eflòlas  cícondidas  de- 
baixo das  túnicas ,  de  tal  mo- 
do que  não  parece  terem  dif- 
fcrença  dos  Subdiaconos^tra- 
gão  daqui  cm  diante  as  Eitó- 
las  em  cima  do  hombro ,  co- 
mo he  rezão. 

28  Aprouue  também, que 
não  fejaliciío  a  nenhú  dosLci- 
tores ,  por  as  mãos  nos  vafos 
fagrados  do  altar,  nem  a  ou- 
tros alguns,íenão  aos  que  fo- 
rem ordenados  pellos  Bifpos 


cm 


Concílios  que Çe  celebrarão  emBragO-A. 


47 


cm  Subdiaconos, 
19  Aproiiue  demais  dillo, 
que  os  Leitores  não  cantem 
lia  Igreja  cm  habito,  &  or- 
nato lecular,  nem  deixe  íeus 
grãos  contorme  ao  rico  gen- 
tílico. 

30  Aprouuc  também ,  que 
nenhúa  coufa  do  tellamen- 
to  velho  íe  cante  na  Igreja 
compoíla  em  verío ,  como 
mandão  os  Santos  Câno- 
nes. 

3 1  Aprouue  também ,  que 
não  feja  licito  aos  homens,^ 
molheres  lei^ros  entrar  a  co- 
mungar  dentro  na  capella,íe- 
não  íò  aos  Clérigos,  como 
ella  ordenado  nos  Cânones 
anti^uos. 

3z  Aprouue  alem  dill:o,quc 
os  Sacerdotes  ,  que  não  co- 
rnem carne,  por  cuitar  a  fof- 
peitadaheregia  de  Priícillia- 
no,  os  obriguem  a  comer  al- 
gúavez  cruas  cozidas  có  car- 
ne, &:  íedeíprezarem  efte  pre- 
ceito, conuem  ( íegundo  que 
os  Santos  Padres  anti^uamê- 
te  ordenarão  acerca  dos  taes) 
pclla  íoípeita  deíla  hcregia, 
ícrem  excomungados ,  &  re- 
mouidos  totalmente  do  olfi- 
cio  Sacerdotal. 
33  .  Aprouuc  também,  que 
•  aqucllc5  que  faó  excomunga- 


dos por  heregiajOu  outro  cri- 
me qualquer,  ninguém  pre- 
iuma  comunicar  com  elles, 
como  mandão  os  anti^uos  e- 
llatutos  Canonicos_5  os  quais 
le alguém  deíprcza  volunta- 
riamente ,  fc  aparta  aíy  meí- 
mo  da  comunhão  dos  fieis. 
34  Aprouuc  demais  diílo, 
qucaquelles  que  íe  dão  aíy 
mefmos  morte  violeta,  oucó 
ferro ,  ou  com  peçonh  a ,  ou 
dcfpcnhandofe,  ou  enforcan- 
doíe,  fe  não  faça  por  elles  co- 
memoração algúa  no  íacrifi- 
cio  ,  nem  fejão  fcus  corpos 
leuados  àícpulturacom  píal- 
mos  ^  porque  ha  muitos,  que 
por  ignorância  víaõ  diílo. 
Aprouue  também ,  que  fc  vfc 
o  meímo  com  aquelles  que 
faõ  iuftiçados  por  fuás  mal- 
dades. 

35-     Aprouue  também  ,  que 
aos  cathecumenos,  que  mor- 
rem fem  a  redenção  do  bau- 
tifmo,  do  próprio  modo  fc- 
náo  faça  commemoração  no 
facrificio,nem  oíficio  de  pfal- 
mos,  porque  também  ilto  fc 
introduzio  por  ignorância. 
3<J    Aprouue  alem  diílo,  que 
os  corpos  dos  defuntos  cm 
nenhum  modo  fc  fcpultcm 
détro  nas  Igrejas  dos  Santos, 
mas  quando  for  nccelíario,da 


parte 


48 


Capitulo  X. 


parte  deFóra ,  iuato  ao  muro 
da  Igreja,  onde  não  hc  tanto 
de  cltranhar  _,  porque  íeas  ci- 
dades ate  noííbs  téposguar- 
dão  firmillimamcnte  eltepri 
uilegio ,  que  dos  circuitos  de 
ícus  muros  adentro,  íenão  íe- 
pulte  o  corpo  de  qualquer  de 
funto  de  nenhú  modo^quan- 
to  mais  o  deue  de  têr  a  reue- 
rencia  dos  martyres  vencra- 
ueis. 

37  Aprouue  mais,  que  fc 
algum  Sacerdote  depois  defta 
prohibição  fe  atreuera  ben- 
zer o  óleo  da  Chriíma,  ou  fa- 
grar  igreja ,  ou  altar ,  ícja  de- 
poi^o  dcfcu  officio,  porque 
os  Cânones  antiguos  prohi- 
bem  tudo  illo. 

38  Aprouue  também  ,  que 
ningué  fubá  de  leigo  ao  grão 
de  Sacerdote  fcm  q  primeiro 
aprenda  por  hú  anno  inteiro 
no  ofiicio  deLeitor,ou  deDia- 
cono  a  doutrina  Eccleliaílica, 
&:arsy  doutrinado  por  cada 
hú  dos  grãos  fubá  aoSaccrdo- 
cio.  Porque aílàz  repreheníl- 
uel  hc,  que  aquellc,  que  ain- 
da não  aprendco,comcce  jâ  a 
cnfinar,  fendo  iíto  princi- 
palmente prohibido  pcllos 
antiguos  ertatutos  dos  Pa- 
dres. 

^9     Aprouue  demais  difto. 


queíe  pella  liberalidade  dos 
fieis,  ou  nas  fcílas  dos  mar- 
tyres, ou  na  comemoração 
dos  defuntos  le  oftcrece  al- 
gúacoufa,  íe  aiunte  fielmen- 
te na  mão  de  hú  Sacerdote, & 
por  tempo  determinado ,  ou 
húa,ouduas  vezes  no  anno 
fediuida  entre  todos  os  Clé- 
rigos, porque  nacem  grandes 
diícordias  da  deíígualdade , 
quando  cada  hum  em  fua  fo- 
mana  toma  pêra  fy  aquillo  q 
fe  oíferece. 

40  Aprouue  alé  difto  ,  que 
ninguém  fcatrcua,  a  trelpal- 
íar  os  preceitos  dos  Cânones 
antiguos ,  que  agora  íè  refe- 
rirão nefte  Concilio.  Eíc  al- 
guém por  cõtumacia  os  que- 
brantar, conuem  que  o  depo- 
nhão  de  feu  officio. 

Deixados  os  capitulos. Lu- 
crécio Bifp  o  diíTc.  Poisjàcó 
'O  fauor  diuino  determinamos 
aquillo  que  pertencia  à  firme- 
za da  Fè  Catholica,  &  ao  offi- 
cio do  eitado  Eccleííailico  c5 
vnanime  conformidade ,  co- 
mo era  rezão,refl:a  agora,que 
cada  hú  de  nos  trabalhe ,  por 
cnfinar,  òí  inftruir  feu  Bifpa- 
do  de  todas  aquellas  coufas, 
que  faudauelmente  íaõ  infti- 
tuidas,  mediante  a  graça  de 
Deos .  Eíc  algum  de  aos  em 


luas 


Concílios  quefe  celebrarão  em  Braoa^, 


49 


:  íuasfreigticzias  depois  de  la- 
bidas  as  conilicuicoés  defte 
Concilio  achar  al^ú  Clérigo, 
OU  Mõge  cõcrario  a  elta  dou- 
crina_,  ouo  íencirviuer  ainda 
cm  alí^ú  erro  da  íeicaPriiciUia- 
na  ,  &  o  não  deitar  logoí-òra 
ua  Igreja  excomungado,  & 
anarhemacizado  de  cal  modo, 
que  nenhú  dos  fieis  fe  acreua 
acomcr,  né  comunicar  có  ho- 
me fcmclhance^  faiba  aquelie 
q  ral  home  receber ,  q  fica  fo- 
geico  d  excomunhão  de  todos 
nollbs  irmãos  ,  &  reo  fem 
duuida  da  fencéçaDiuina.To- 
dos  osBiípos  diíTcrão.Qinef- 
quer  coulas ,  que  mediante  a 
graça  Diuina  forão  determi- 
nadas por  nos  de  comum  cÕ- 
ícntimenco,  he  neceíTario  fc 
guarde  cõ  vigilante  cuidado, 
as  quaes  peraque  alcance  fir- 
meza de  conforme  Cõfticui- 
cão  ,cada  hú  fealfiae  ncrtes 
a.^os  por  íua  própria  mão. 
Depois  Ic  feguio  a  fofcrip- 
ção  dos  Bifpos.  Lucrécio  Bif- 
po  loeícreueo.   André  Biípo 
íoeícrcueo.  Martinho  BiCpo 
foefcreuco.  Coto  Bifpo  focf- 
creuco.  Hildirico  Biípo  foef- 
creuco.  Lucrécio  Bifpo  foef- 
creueo.TimotheoBilpo  foef- 
crcueo.  Miliofo  Biípo  íoeí- 
crcueo. 


CAPITVLO.  XI. 

TERCEIRO  CONCI- 

lio  Bracharenfe. 


TERCEIRO 

Concilio  de 
Braga  íc  cele- 
brou no  an- 
no  de  Chri- 
II0571.  aos  15'  diasdcDezc- 
bro  ReinandoAriamiro  filho 
dei  Rcy  Theodomiro.   Prefi- 
dio  nelle  o  Arcebifpo  S.Mar- 
tinho de  Dume.  Cócorrerão 
pêra  íe  celebrar  os  melmos 
motiuos,&  rc7oés,  queouue 
no  Concilio  paliado,  porque 
defcjando  Ariamiro  ícguir.ÔC 
imitar  a  piedade,&  zelo  de  leu 
pay  Theodemiro ,  tratou  de 
aumentar  o  culto  diuino  ,  &; 
deilerrar  de  feus  vaíTallos  to- 
dos os  abufos  que  ficarão  das 
hercgias  paíTadas .  Pêra  illode 
confelhodeS.  Martinho  fez 
ajuntarCócilio  cm  Braga,on- 
decõ  os  mais  Bifpos  fijftraga- 
neos  acodio  també  o  deLugo 
Metropolitano  ja  reconhece- 
doluperioridadeao  de  Braga 
como  a  Primas  de  He^panha 
Tratarão  os  Prelados,q  aly  fe 
acharão  có  o  Metropolitano 

E  & 


50 


(Capítulo  XI. 


I 


.5^  Primas  S.Martinho  maté- 
rias mui  importantes  à  Fè,  Sc 
reformação  dos  coftumcs;tu 
do  fcpòdc  ver  no  melmoCò- 
cilio,  que  aqui  lançamos,  & 
começa  aísy. 

Segundo  (  afsy  fc  tinha  er- 
radamente íendo  o  terceiro) 
Conciho  Brachareníe. 

Reinando  Noílb  Senhor 
lES  V  Chrifto,  &  correndo  a 
era  de  6 IO. no  legiídoanno  dei 
ReyAriamiro  aos  quinze  dias 
de  Dczembro^ajuntandofe  os 
Bifpos  da  Prouincia  de  Galli- 
za^afsy  da  jurdição  de  Bra- 
ga ,  como  de  Lugo,  com  feus 
Metropolitanos  por  manda- 
do do  gloriolíílimo  Rey  aci- 
ma nomeado,  na  Igreja  Me- 
tropolitana Bracharenfe_,con- 
ucmafaber,  Martinho,  Ni- 
tigio,  Remifol,  André,  Lu- 
cencio ,  Adorio  ,  Veólimero, 
Sardinario  ,  Viator,  Auila, 
Polemo  ,  Mayloc-  eftando 
eftes  Bifpos  aíTentados,  & 
prefentcs  todos  os  Sacerdo- 
tes ;  Martinho  Bifpo  de  Bra- 
ga diíle.  Porinfpiraçáo  diui- 
na  tenho  pêra  mim,  qucaco- 
teceOjPadres  Santiííimos,q  de 
ambas  eftas  Metropolís  nos 
ajuntalíemos  em  humfò  Có- 
cilio,  ordenandoo  afsy  o  fan- 
tiíTimo  Rey  nolIb  fíIho,pcra- 1 


que  não  fones  alegremos  da 
villa  híjs  dos  outros,mas  pe- 
raque  juntamente  pratique- 
mos as  couías,  que  pertence 
à  orden\&  diciplina  Eccleíia- 
ftica, porque  noEuangclhofc 
efcreue,q  diíle  o  Senhor i onde 
quer  queeftiuerem  dous ,  ou 
três  jútos  em  meu  nomejahy 
ertarei  eunomeo  delles.  Ni- 
tigio  Biípo  da  Igreja  de  Lugo 
dilfe ,  nem  íe  pode  crer  outra 
coufa  fenão,  qconuem  prin- 
cipiar, &  leuar  ao  fim  aquiUo 
que  pertence  ao  proueito  de 
noílas  almas: Mar tuiho  Bifpo 
diíIe.Cuido  que  fe  lembrarão 
voílas  Fraternidades,  q  quan- 
do íeajuntou  o  primeiro  Cõ- 
cilio  de  Bifpos  na  Igreja  de 
Braga-, depois  de  muitas  cou- 
fas,q  íe  determinarão  pêra  c5- 
cordia  daverdadeiraFè^decre- 
tamos  tambê  algúas,  q  cõpré- 
dem  o  direito  dosCanones  fa. 
grados,cuj  o  proueito  pêra  fe 
trazer  a  memoria  c6  mais  fa- 
cilidade fera  bê  fe  lea  em  vo  /la 
prefença  o  melmo  papel  ern  q 
fecõtèm,sédo  todos  derte  pa- 
recer.Todos  os  Biípos  d.ilfe- 
rão.Conué qucfe  leão,  /5«:  os 
oução  todos  os  quceftão pre- 
fentcs .  Lidos  pois  tod  os  os 
capitulos  do  primeiro  Con- 
cilio ,  que   fe  não  ajuntão 


ae 


ftes 


Concílios  que  Çe  celebrarão  em  Bra^^O-/. 


5í 


a  cftes  aclos  por  euicar  prcli- 
xidadc.Marcinho  Bifpo  diíle. 
Eílas  couías  pois  (]uc  agora 
íe  acabarão  de  referir,  &  que 
então  nos  parecerão  diícrc- 
pancesencreíy,  diiuidoíàs^ou 
pouco  ordenadas,  eílão  em 
citado  pêra  com  o  fauor  de 
Deos  alcançarem  íuainuio- 


lauel  fi 


rmeza  ,  &  as  couías 


então  nao  vierao  a  memoria, 
ou   pareceo  trabalhofo  acu- 
mular muitas  juntas  naquel- 
Ic  primeiro  Concilio ,  parece 
neceííario  trazelas  agora  à  no- 
ticia  de  voíla  ianta  Cliaridade, 
pcUo    particular  rcípeito  de 
ferem  apuradas,  ventilandoas 
emdjfpucaefpiritual,  porque 
os  Santos  Padres  noílos  pre- 
deceíTores,  ou  fizerão  ajuntar 
Synodos  Gèraes   de  todas  as 
partes  por  refpeito  da  con- 
formidade da  Fe  verdadeira, 
afsycomo  oNiceno  contra 
Arrio,onde  fe  acharão  3 18.  & 
noConftantinopolitano  co- 
rra Macedónio  ijo.õ^node 
Ephefo  contra  Neílorio. 200. 
&  no  de  Calcedonia  contra 
Eutiches  630:  ou  ajuntarão 
particulares  Synodos  ,  cada 
hum  em  fua  Prouincia ,  por 
tirar  difcordias,  &  emendar 
negligencias  de  alguas  pef— 
foas.E  conforme  pedia  a  qua- 


lidade áâs.  cidpas ,  &  o  exceí- 
ío  de  cada  hi.m  ,  afsy  coníli- 
cuirão  particulares  ,  &duu- 
nas  fentenças  dos  Cânones 
mediante  o  Spirito  Diuino, 
que  relidia  entre  elles  ,  as 
quaes  nos  conucm  ler  mui- 
tas vezes  ,  &   guardalas .  JE 
porque  mediante  a  graça  de 
Chrillo  não  haja  nelk  Pro- 
uincia coufa  duuidofa ,  acer- 
ca da  vnidade  ,   &  inteireza 
da  Fè  ,  nos   conuem   agora 
trabalhar    particularmente , 
por  ver  fe    achamos  algúa 
coufa  digna  de  repr  en  faõ,  & 
alhea  da  doutrina    Apoíloli- 
ca,  quea  ignorância ,  ou  ne- 
gligencia introduziílè  entre 
nós:  &  recorrendo  aostefti- 
munhos  das   fantas    efcritu- 
ras,  ou  aos  eflatutos  dos  Câ- 
nones antiguos  ,   òc  inter- 
pondo o  confentimento  de 
todos,emcndcmos  com  mo- 
derado difcurío  as   que  nos 
não  contentarem.  E  primei- 
ro de  tudo  ( íe  afsy  vos  pa- 
recer bem )   lidos  os  precci-  í 
tos,  que  o  Bem.auenturado 
Apoftolo  SaÕ  Pedro  eícrc- 
ueo  claramente  em  fua  Epi- 
llola,  pêra  regra  dos  Sacerdo- 
tes ,  tudo  aquillo  que  virmos 
fe  faz  entre  nos  fora  do  teor  q 
eníiiiou  o  Principe  dos  Apo-  J 

,E  i  ftolos. 


52 


Capimio  XI. 


Itolos^trabalhcmos  fem  deté- 
çaalgúa  de  o  reduzir  a  emêda^ 
peraq  não  aconteça,  que  pre- 
gando aos  outros ,  &c  ícndo 
nós  imperfeitos ,  Icjamos  có- 
dcnados  por  aqliadiuina  íen- 
tença^que  diz  .Tu  aborreceíle 
a  diciplina ,  &  lãcallc  minhas 
palauras  dctraz  das  coitas. To 
dos  os  Bifpos  diíTerão.  Deíe- 
jamos  que  fe  traga  a  efte  lu- 
gar a  Epiftola  do  Apoltolo  S. 
Pedro  \  de  que  íefez  menção, 
&  ouuir  o  texto  onde  cnfina 
os  Sacerdotes.  Trazêdoíe  en- 
tão o  liuro,re  rcíiriraõ  da  pro- 
priaEpiftola  as  coufas  feguin- 
tes.  Velhos,  rogauos  eftecõ- 
panhciro  voíTo  na  idade ,  que 
apacêteis  as  ouelhas  de  Deos, 
que  mora  cm  vos  ,  prouen- 
doas,  nãoforçofa,  masvo- 
lútariamente,conforme  Deos 
quer  :  nem  por  reípeito  de 
intercíTe  infame ,  mas  gracio- 
famente  :  nem  como  íenho- 
res  dos   outros  Sacerdotes, 
mas  na  forma  de  quem  apa- 
ccta  rebanho,&dc  todo  o  co- 
ração ,  pcra  que  quãdo  appa- 
rcccr  o  Principe  dos  Paílo- 
res ,  recebais  a  coroa  de  glo- 
ria ,  que  nunca  perde  feu  lu- 
ftro.  Lidas  cftas  coufas ,  diíle- 

Irão  todos  os  Bifpos.  Agora 
que  temos  conhecimento  do 


que  fe  refirio  da  Epiftola  do 
Bemauenturado  ApoftoloS. 
Pedro  dcíejamos  comofa- 
uor  da  graça  de  Deos  obe- 
decer aos  preceitos  diuinos, 
&  imitar  a  forma  da  carta  A- 
poftolica,  que  nos  foi  lida, 
em  tudo  o  que  diz  ^  por  que 
nãoacõteça,q  procedédoem 
algúas  couías  fora  de  ordem^ 
fejamos{o  que  Deos  não  per- 
mita) condenados  pordiuino 
juizorantes  feguindoas  piza- 
das  dos  Santos  Padres  mere- 
çamos fcr  participantes  de 
íeudeícanfo,  &  mereçamos 
com  cUes  alcançar  a  incor- 
ruptiuel  coroa  de  gloria  pro- 
metida. Pello  que  todos  jun- 
taméte  pedimos  a  voíla  Cha- 
ridade  ,  que  com  prendendo 
breuemêtc  todas  ellas  coufas 
em  particulares  capitulos,  & 
o  modo  comoíe  haõ  de  emé- 
dar,  as  ajunteis  a  efte  tratado, 
pêra  que  íendo  curiofamentc 
lidas,  &:  trazidas  com  euide- 
cia  ao  conhecimento  de  to- 
dos nc)s,as  foefcreua^&  afline 
cada  hum  com  fua  própria 
mão  pêra  lua  emenda, &:  con- 
firmação •,  &  cftas  coufas  de- 
terminadas pêra  perfeição  do 
oííicio  Epifcopalaproueitem 
naõ  fó  pêra  nòs,mas  ainda  pê- 
ra noílbs  fuceflbres. 

I     Aprou- 


Concílios  quefe  celebrarão  em  Braoa^. 


5S 


I  AproLiue  a  todos  os  Bií- 
pos ,  &  ainda  relcua,  que  dií- 
corrédo  osBiípos  por  todas 
as  Igrejas ,  d:  por  íeus  Biípa- 
doSj  primeiro  de  tudo  exami- 
ne os  Clérigos  acerca  da  ordc, 
que  guardão  em  bautizar ,  d<. 
celebrar  Miíías ,  &  do  modo 
que  celebrao  na  igreja  os  oífi 
cios:  &:  achando  que  proce- 
dem bem^dem  graças  a  Deos, 
&:  quando  não ,  deué  enhnar 
os  ignorantes,  &  mandarlhe, 
que  em  todas  as  maneiras  (cÕ- 
forme  diípoem  os  Cânones 
anriguos  )  os  cathecumc- 
nos  concorráo  à  purifica- 
ção do  exorciímo  vinte  dias 
antes  doBautifmOinos  quais 
íerà  elpecialmente  cnfinado 
aoscathecumenos  o  Symbo- 
lo^que  começa.  Credo  m  ynú, 
Deura  Patrc?n,Í!fc.  Depois  q 
os  Biípos  examinarê  fcusCle- 
rigosneftas  matérias^ ao  dia  fe- 
guintCj  chamado  o  pouo  da- 
quella  Igreja^o  eníinem  a  fu- 
gir dos  erros  da  Idolatria  ,  ôc 
outros  crimeSj  como  íaõ^ho- 
micidio.  adultério ,  juraméco 
falfojteftimunho  falío,&  dos 
mais  peccados  mortaes  i  ôc  q 
não  facão  a  outré  o  que  não 
querião  lhes  fizelíem  a  elles, 
&quecreãoa  rcfurreiçao  de 
todos  os  homés ,  ^  o  dia  do 


'  juízo, no  quaicadahúha  de 
receber  íegundo  íuas  obras  ròc 
depois  diito  feito  fc  parta  o 
Biipo  daquellalgrejapera  ou- 
tra. 

i  Aprouue,que  nenhu  dos 
Blípos  andando  por  feus  Bif- 
pacloSjtomealgua  outra  cou- 
la  pellas  Igrejas  mais  q  o  re- 
conhecimento de  fua  digni- 
dade,queíaÕ  dous  íoldos,  né 
peça  nas  Igrejas  parochiaes  a 
terceira  parte  das  oííertas  do 
pouo,  mas  aqlla  terceira  parte 
íe  guarde,ou  pêra  cera,ou  pê- 
ra a  fabrica  da  Igreja.  E  cada 
anno  fe  façadaly  fua  ração  ao 
Biípo,  porque  íe  o  Biíjpo  to- 
mar aquella  terceira  parte  deí- 
poja a  Igreja  de  cera,  &c  de  te- 
lhados .Da  mefma  maneira  os 
Sacerdotes,que  faõCuras,náo 
os  obriguem  a  íeruir  aos  Bií- 
pos  em  matérias  algúas  a  mo- 
do de  íeus  ercrauos,porq  cila 
ercrito,que  não  gouernem  co 
mo  fenhores  dos  Sacerdotes . 
3  Aprouue,  que  os  Biípos 
não  recebão  dadiuas  als^uas 
por  ordenarem  os  Clérigos: 
mas  ,a(sy  como  eftà  eícrito,a- 
quillo  querecebcm  da  mão  de 
Deos  gracioíãmeiíte  dem  no 
de  graça  ;  nê  íe  venda  a  graça 
de  Deos ,  &  impoííção  das 
maós  por  nenhú  preço,  porq 

E  3  adiíi- 


54 


Capitulo  XI. 


adiffinição  aiitigua  dosPadres 
afsy  o  determinou  a  cerca  das 
ordens  Eccleííaíl:icas,dizendo 
que  feja  excomungado  o  que 
der,  &  receber.  E  porque  al- 
gúa>  pellbas  Togeitas  a  muitos 
crimes  ,  &  que  íeruem  indig- 
namente no  altar,  alcançarão 
ella  dignidade,  nao  por  tefti- 
munho  de  boas  obras ,  mas 
por  largueza  de  peitas.  Por 
tanto  conuem  ordenar  os  Sa- 
cerdotes, não  por  refpeito  de 
dadiuas ,  mas  primeiro  por 
rigurofo  exame  ,  &  depois 
por  telhmunho  de  muitas 
peílbas. 

4  Aprouue,que  poraquel- 
le  pouco  de  balíamo  bento, 
quefe  coftuma  repartir  pel- 
las  Igrejas  pêra  o  Sacramento 
do  bautiímo ,  pcllo  qual  fc 
coftuma  pedir  a  cada  pcílba, 
que  o  leua,hija  moeda  chama- 
da trcmiíTcs ,  que  he  a  terça 
parte  de  hum  foldojfenão  pe- 
ça daqui  cm  diante  coufa  al- 
gua,  porque  não  aconteça, 
que  aquillo,  que  fc  confagra 
pêra  faude  das  almas  pella  in- 
uocação  do  Spirito  Santo, 
vcndendoo  nos  da  maneira, 
que  Simão  mago  quis  com- 
prar por  dinheiro  o  dom  de 
Dcos,  íejamos  vendidos  na 
condenação  eterna. 


5  Aprouue,quctodas  as  ve- 
zes que  os  Biípos  forem  ro- 
gados por  qualquer  dos  fieis 
pcra  coníagrar  Igrejas,  não 
peção  algiía  dadiua  ao  funda- 
dor como  íe  lha  deuefle ,  mas 
fe  clle  por  lua  liure  vontade 
oíFerccer  algiía  coufa,  nãoíe 
lhe  engeitc,  mas  lecftiuer  po- 
bre, ou  necefsitado  não  íe  lhe 
peça  coufa  algua  .  E  com  tu- 
do aduirta  cada  hum  dos  Bií- 
pos ,  que  não  confagrc  Igre- 
ja fem  primeiro  receber  pa- 
trimónio pêra  o  fcruiço  del- 
ia confirmado  por  doação 
em  cfcrito,  porque  não  hc 
culpa  leue  a  temeridade  de  cÕ- 
fagrar  húa  Igreja  fem  cera, 
&fem  renda  pcra  fuftenta- 
ção  dos  que  hão  de  fcruir  ncl- 
Ia ,  como  fe  fora  húa  cafa  par- 
ticular. 

6  Aprouuc,  que  fc  alguém 
edificar  Igreja,  não  por  deua- 
ção  da  Fè ,  mas  por  intcreílc 
dccobiça  ,  parra  com  os  Clé- 
rigos a  metade  do  que  nella  fe 
recolhe  das  oífertas  áo  pouo, 
pois  fundou  Igreja  cm  fuás 
terras  por  caufa  de  ganho, co- 
mo cm  muitos  lugares  he  fa- 
ma que  fe  faz  ainda  agora. 
E  iílo  fe  dcuc  guardar  daqui 
cm  diante,  que  nenhum  Bií- 
po  confmta  tão  abominauel 

coufa. 


Concílios  que  fè  celebrarão  emBraga^. 


55 


couía  ,  nem  ouíe  confagrar 
Un'eia  hmdada  mais  debaixo 
decóuição  tributaria^  que  do 
patrocinio,  &  inuocaçáo  dos 
Santos. 

7  Aprouue ,  que  cada  hum 
dos  Bilpos  mande  por  fuás 
Igrejas^  qaquelles  que  leuão 
íeus  mininos  ao  bautifmo,  íe 
voluntariamente  quizeré  por 
lua  dcuaçáo  oferecer  algúa 
coulaíelhe  receba:raas  fe  por 
neceísidadc,  &  pobreza  náo 
tem  couía  que  ofterecer  _,  não 
lhe  íeja  tomado  pellos  Cléri- 
gos penhor  algum  contra  íua 
vontade  ^  porque  muitos  po- 
bres com  efte  temor  deixão 
de  trazer  íeus  filhos  ao  bau- 
tiímo,  os  quais  íe  por  ventu- 
ra neíte  meo  têpo  da  dilação 
partirem  deíla  vida  fem  gra- 
ça do  Bautiímo  ,  conucm  fc 
tome  coma  de  fua  perdição 
àquelles,  por  temor  de  cuja 
auarezaíe  apartarão  da  graça 
do  bautiímo. 

8  Aprouue  que  fc  alguém 
demandar  algú  Clérigo  accu- 
fandoo  de  fornicação  fe  lhe 
peção  duas,  ou  três  teftimu- 
nhas  conforme  ao  preceito 
do  Apoílolo  Saõ  Paulo-,  o 
qualíenão  puder  prouar  oq 
diííe,  dando  as  tcíKmunhas, 
a  pena  de  excomunhão,  que 


merecia  o  accuíado  ,  fe  dè  ao  j 
accuíador, 

9  Aprouue,q  depois  que  to- 
das as  couías  forem  ordena- 
das, no  Concilio  dos  Sacer- 
dotes fe  proponha  cm  toda  a 


maneira  .que a 


ha  d 


lade  vir  emca^ 


Pafch 
da  h 


oa 


luc 


um  anno. 


fe  declare  pello  Bifpo  Metro- 
politano,  a  quantos  dias  do 
mes ,  &  a  quantos  de  Lua  íc 
ha  de  celebrar,  o  qual  dia  os 
mais  Biípos  ,  ou  Sacerdo- 
tes notarão  no  Kalendario, 
&  vindo  o  dia  do  Nacimento 
do  Senhor  eílando  o  pouo 
prefentc  o  denunciara  cada 
hú  em  fua  Igreja  depois  de  fe 
dizer  o  Euangelho.E  no  prin- 
cipio da  Quareíma  ajuntan- 
doíc  as  freigueílas  vizinhas 
por  três  dias ,  &  correndo  as 
Igrejas  dos  Santos  cantando 
pfalmos,celebrê  Ladainhas  :& 
ao  terceiro  dia,ditas  asmiflas  à 
hora  nona,ou  decima,  &  del- 
pedindo  o  pouo,fe  lhe  enco- 
mende a  guarda  dos  iej  uns  da 
Quarcfraa,&:  meada  ella,  lhe 
lembrem,  que  vinte  dias  an- 
tes oíFercção  à  purificação 
dos  exorcifníos  os  mininos, 
qucfc  ouuerem  de  bautizar. 
IO  Aprouue,  que  por  quã- 
to  pello  defatino  de  hum  er- 
ro introduzido  ha  pouco,  ou 


E4 


por 


56 


(Capitulo  XI. 


I 


por  ventura  pcUa  corrupta 
podricíáo  aincía  da  antigua  hc- 
regia  de  Prifcilliano ,  loube- 
mos  que  alguns    Sacerdotes 
pcrlcucráo   no  atreuimento 
deíla  p  reíunçáo_,ouíando  ce- 
lebrar miílas  pcllos  defuntos 
depois  de  tcré  bebido  vinho, 
&  feita  collação.   Por  tanto 
iílole  guarde  com  amoefta- 
çáo  de  íentença  publica,  òc 
euidentc,  que  íe  algum  Sacer- 
dote depoisdeíie  noíTo  cdí<íto 
for   comprendido  mais   ne- 
ítc  dcfatino  de  cÕfagrar  obla- 
ção no  altar,  não  elfando  em 
icj  um,  mas  tendo  comido  al- 
gíjacouíâ,  íeja  logo  priuado 
de  feu  oíficio ,  òc  depoílo  das 
ordens  por  feu  próprio  Bif- 
po. 

1 1  Ordenadas  afsy  eftas  cou- 
íàs  ,  aprouue  a  todos  pêra 
cõíirmacão  da  guarda  delias . 
que  cada  hú  as  aílinaíle  por 
íua  mão  ,  feito  entre  todos 
eftc  acordo,  quefealgu  pafla- 
dooshmites  deites  capitulos 
fe  quizer  tornar  aos  coJf  umes 
defordenados^alem  de  encor- 
rer  em  excomunhão  de  todo 
o  Concilio,  faiba  que  tem  fo- 
breíy  verdadeira  fentençade 
priuação  de  fua  dignidade. 

Martinho  Bifpo  da  Igreja 
Metropolitana  de  Braga,  foer 


ícreiíi  nelles  ados. 

Remiíol,  Bifpo  da  Igreja 
de  Vifeu  ,  íoeícreui  neíles  a- 
d:os. 

Luccncio  Bifpo  da  Igreja 
de  Coimbra,  íoefcreui  nelf  es 
awlos. 

Adorio  Bifpo  da  Igreja  da 
Idanha,  íoeícreui nçrtesaétos. 

Shrdinario ,  Bifpo  da  Igre- 
ja de  Lamego,  foefcreui  neftc 
Concilio. 

Viator,  Bifpo  da  Igreja  de 
Magalona  ,  íoefcreui  neíles 
aótos. 

Nitigio,  Bifpo  Metropo- 
litano dalgreja  de  Lugo,  foef- 
creuineftes  a<5los. 

André ,  Bifpo  da  Igreja  de 
Iria,  foeícreui  neíles  aólos. 

Auila, Bifpo  dalgreja  de 
Tui,  íoeícreui  neíles  aâios. 

Pulento_,  Biípo  da  Igreja 
de  Aftorga  ,  foeícreui  neíles 
aólos. 

Mayloc.Bifpo  da  Igreja  de 
Britonia  ,    íoefcreui  neíles 
aólos. 


I 


CAPI- 


Concílios  que  (è  celebrarão  emBrag/t->. 


37 


CAPITVLO.   XII. 

QVARTO  CO  N  cílio 

Bracharenfe. 


QVARTO 

Concilio  de 
Braga  jfe  ce- 
lebrou fen- 
do Rey  de 
Heípanha  Vuamba  no  anno 
deChriílo  Ó75.  cento  &:  três 
annos  depois  doCócilio  atraz 
referido.  Gouernaua  então  e- 
rta  Igreja  o  Arcebiípo  Lcode- 
cilioluliano,  que  nelle  prelí- 
dio.  As  rezoés,que  ouue  pêra 
fe  c5gregar/oráo  faber  ElRey 
a  necefs idade  ,  que  auia  de  re- 
formação em  alguns  abufos 
prejudiciaes  ao  elíado  da  Igre- 
ja,a  que  quis  acodir  dando  or- 
dem que  íe  celebra ífe  elteCõ- 
cílio  ,  em  que  íe  tratarão  ma- 
térias de  grande  importância^ 
como  fe  pode  ver  do  tranfun 
todelle^queaqui  lançamos. 
Foy  Nacional  vifto  alfiílir 
nclle  o  Arcebiípo  de  Seuilha 
luliano. 

Terceiro  ConcilioBracha- 
renfe  (  por  tal  era  tido  antes 
de  fe  achar  o  primeiro/endo  o 


quarto  )  celebrado  ao  quarto 
anno  dei  Rey  Vuamba^no  an 
no  de  Chriílo  feiícétos  &  fe- 
tenta  &  hnco. 

Por  ordê  do  Spíríto  San- 
to foy  ajuntamos  na  Cidade 
de  Braea  onde  nos  concrrcíia- 
mos  pêra  auer  de  tratar  áàs 
coufas  que  indeuidamente  íe 
fazem  dentro  na  Igreja;  por- 
que ajudandonos  aquelle  q 
diz  fe  achara  no  mco  dedous, 
ou  três  j  onde  quer  queforé 
jíítos  em  íeu  nome^cortemos 
pella  raiz  os  erros  mal  intro- 
duzidos, leuantandonos  c5- 
tra  elles  com  animo  confor- 
memos igual  deíejo  de  apro- 
ueirar .  Ajuntandonos  pois 
em  hum  corpo  pêra  determi- 
nação Synodal ,  &r  aílentado 
ca4^iial  no  lugar  q  lhe  era  de 
uido,  começamos  primeiro  a 
tratar  do  Sacramento  da  San- 
ta Fè ,  porque  com  a  vaida- 
de dos  que  difputao  ,  ou  com 
a  ignorância  dos  que  pouco 
fabcm,  fenão  tiueíle  alçTum 
erro  neife  Sacramento.  E  co- 
mo nos  apuraílemos  na  ver- 
dadeira Fè,  &  nella  como  eni 
eípelho  nos  moíf rallcmos  pu 
ros;  demos  graças  ao  Omni- 
potente Deos  de  ver  ,  que  a 
nenhú  de  nós  efcurecera  a  nc- 
uoa  de  algum  erro  cifmaticói 


mas 


Capttdo  XII. 


mas  a  to  Jos  nos  moílrou  idó- 
neos nelte  Sncramento  a  pii- 
ra^c  verdadeira  pregação  A  po- 
ílolica:  ^  cambe  porque  eíla 

reera  de  noíla  Fè,  a  tornamos 

^c  ■  ■ 

arcrerircom  as  próprias  pa- 

lauras ,  ^  fenccnças  queíabc- 
mos  ,  foi  declarada  no  Con- 
cilio Niceno.  Cremos  emhú 
Deos  Padre  todo  podcrofo, 
feitor  do  Cco,  òc  da  terra ,  & 
criador  das  coufas  vifiucis,  & 
inuifiucis,  &em  hú  Senhor 
I  E  S  V  Chrirto  Filho  dcDcos 
Vnigenito,  nacido  do  Padre, 
antes  de  todos  os  tempos, 
Deos  de  Deos,  lume  de  lume, 
Dcos  verdadeiro  de  Deos  ver- 
dadeiro, nacido  ,  &  não  feito, 
&  omufion  com  o  Padre ,  cõ- 
ucm  afabcr,da  mcfma  fuflan- 
cia  com  o  Padre,  pello  qual 
faõ  feitas  todas  as  coufas  que 
ha  no  Ceo,  &  na  terra,  o  qual 
por  amor  de  nôs ,  &  de  noíTa 
falua ção  deceo  dos  Ceos ,  & 
encarnou  do  Spirito  S.&  na- 
ceo  deMaria  Virgé,&  feiío  ho 
mê  padeceo  fo  poder  dePõcio 
Pilato,  foi  fcpultado,&  rcfur- 
gio  ao  terceiro  dia :  fubio  aos 
Ccos,aílenroufeàmáo  direita 
de  Dieos  Padre  :  outra  vez  ha 
devir  julgar  viuos,  &  mor- 
tos,cu  jo  Reyno  não  terá  fim. 
Cremos  também  no  Spirito 


Santo  Senhor^  &c  viuificador, 
q  procede  doPay,&  doFilho, 
&:  cõ  o  Pay ,  &  Filho  íe  ha  de 
adorar,&  gloriíicar,que  falou 
pcllos  Profetas  j  &  húa  íanta 
Igreja  Catholica ,  &  Apollo- 
lica,confcíramos  hum  bautif- 
moperaremiílaõ  dos  pecca- 
dos ,  cípcramos  a  refurreição 
dos  mortos,  &  a  vida  do  mil- 
do,  quehadevir.Amen.  De- 
pois do  Sacramêto  defta  San- 
ta Fe,  íc  refirio  no  ajíítamen- 
to  de  todos  nòs  hum  mani- 
fefto ,  &  juntamente  deíaco- 
ftumado  erro ,  que  ja  có  ou- 
tros da  feita  dePriícilliano  foi 
condenado  nas  fantas  confti- 
tuiçoés  mandadas  pellos  Pa- 
dres de  Africa,  òc  Oriente  a 
cfta  fanta  Igreja  de  Braga,por 
mão  de  hum  vcnerauel  Sacer- 
dote, cuja  lembrança  nos  fer- 
ue  de  honroía  benção,  o  qual 
fe  deue  atalhar  com  tanto  ar- 
tificio de  íabedoria,  quanta  he 
a  preuerfidade  cõ  que  íe  pro- 
ua  fer  eníínado  :  porq  de  cer- 
tas pellbas  nos  foi  refirido  ,  q 
offerecião  nos  facrificios  do 
Senhor  leite  em  lugar  de  vi- 
nho ,  &  que  tinhão  perafy 
auerfe  de  dar  ao  pouoa  Eu- 
chariília  lançada  no  vinho, 
pêra  inteireza  da  comunhão, 
&  o  peor  de  tudo  he,que  não 

fal- 


Concílios  que  fè  celebrarão  emBraga^. 


59 


hltão  aigús  Sacerdotes, que 
põem  luas  iguarias  nos  valos 
do  Senhor ,  ^  ouzão  de  co- 
mer nelles.  De  outros  Sacer- 
dotes le  nos  diile  ,  que  eíque- 
cida  a  ordem  do  collume  Ec- 
cleliaílico  ouzão  dizer  milla 
íem  Eílóla ,  &  c]ue  na  foleni- 
dade  dos  martyres  lançando 
relíquias  ao  pclcoço,&  allen- 
tados  em  cadeiras  tem  pêra 
ly_,quchc  jufto  íeré  leuados 
não  menos, que  pellos  Diáco- 
nos reueftidos  em  aluas ;  & 
também ,  que  muitos  Sacer- 
dotes íem  approuação  mo- 
ráo  com  molheresj  &  queal- 
gus  delles  oprimem  a  íeus  ir- 
mãos honrados  jacom  grãos 
de  ordens  com  açoutes  in- 
conííderados,  &  que  alem  di- 
ílo  alguns  leuados  da  cobiça 
íimoniaca  approuao   debai- 
xo de  concerto  aqucllcs  que 
íchão  de  ordenar,  pêra  que 
depois  de  ordenados  recebão 
delles  o  dinheiro  prometido-, 
&  quedebilitãOj  &  deminue 
os  criados  da  Igreja    em  leu 
próprio  feruiço  faz  êdo  dano 
ascoufas  Eccleííafticas.    To- 
das as  quaiscoufas  jnos  pare- 
ceo  ajuntar  em  ordem  de  tí- 
tulos apartados ,  porque  não 
pareçáo  referidas    confufa— 
mente;:  •J!;í:í,;^^o:)!';iííí 


I       Como  quer  que  todo  o 
crime,  Sc  peccado  íe apague 
com  íacriHcios  oflerecidosa 
Deos ,  que  fica  pêra  fe  dar  ao 
Senhor  em  íatisfaçlo  de  deli- 
ólos  quando  na  própria  obla- 
ção do  facrificio  íe  cometem 
erros?  Fomos  informados  cõ 
certeza,quealgúas  peílbas  en- 
golfadas em  ambição  climá- 
tica ofterecem  nos  diuinos  fa- 
crifícios  leite  em  lugar  de  vi- 
nho cõtra  as  Difpoíiçoés  Di- 
uinas,&  Conítituiçoés  Apo- 
ílolicasj  outras,  que  dão  ao 
pouo  a  Euchariftia  lançada 
em  vinho  em'  comprimento 
da  comunhão-,  outras  final- 
mente, que  oíFerecèm  vinho 
efprimido  da  vua  no  oSacra-- 
mento  do  Caliz  do  Sen  hor, 
a  qual  coufa  quam  contraria 
íeja  à  doutrina  Euangelica,  Òc 
Apoftolica ,   &  contrapofta 
aocoltumeda  Igreja  com  fa- 
cilidade fe  proua  da  própria 
fonte  da  verdade,da  qual  pro- 
cederão os  próprios  myíle- 
rios  Sacramentaes  ,  porque 
quando  o  Meftre  dg  verdade 
encomendou  afeus  dicipulos 
o  verdadeiro  facrificio  d^  nof- 
fa  íaude,{àt)emos  que  lhe  não 
foi  encomendado  leite  debai- 
xo deíle  Sacraméto  mas  pão, 
&  vinho  fomente  \  &  afsy  õ 


dl 


iz 


r 


6o 


Capitulo  XIL 


o  diz  a  verdade  Euangelica. 
Tomou  lESVS  o  páo  ^  &  o 
Caliz,&  bêzédoosdcuaícus 
dicipulos.Deíxclc  logo  de  of- 
ferccer  leite  no  íacriHcio  pois 
nos  rcfplandece  hu  claro  ,  ôc 
manifello  exemplo  da  verda- 
de Euangelica,  o  qual  não  dei- 
xa otíerecer  outra  coufafòra 
de  pao,&  vinho.   E  quanto  a 
íc  dar  ao  pouo  por  inteireza 
da  comunhão  a  Euchariília 
junto  ao  Sangue:nem  iílo  ad- 
mite  o  teftimunho  trazido 
do  EuangelhOjOnde  encomê- 
dou  aos  A poftolos ,  íeu  Cor- 
po ,  ^  Sangue ,  porque  apar- 
tadamente fc  faz  menção  da 
encomenda  do  pão ,  &  apar- 
tadamente do  Caliz.  Porque 
o  pão  molhado   não    lemos 
que  Chrifto  o  ácííc  a  outros, 
íe  não  foi  àquelle  dicipulo ,  a 
quemafopa  molhada  decla- 
raíle  por  vendedor  de  feuMe- 
ftre,  fcm  moftrar  todauiaa 
inrtituição  deite  Sacramento. 
E  quanto  a  fecõmugar  o  po- 
uo com  vinho  efprimido  do 
cacho,  conuem  a  íàber,de  ba- 
gos de  vuas ,  hc  coufa  dema- 
íiadamcnte  confu  farporque  o 
Caliz  do  Senhor  f  conforme 
difputa  hum  certo  Doutçr) 
dcueíe  olTerccer  com  aeoa,  &C 
vinho  miíl:urado_,porque  ve- 


mos na  agoa  cntédcríe  o  po- 
uo ,  &  no  vinho  moiliraríeo 
Sangue  de  Chriilo,  por  onde 
quando  no  Caliz  íe  laça  agoa 
no  vinho ,  fc  ajunta  o  pouo  a 
Chriílo,^^  o  pouo  dos  fieis  k 
ajunta  ,  &  incorpora  com 
aquelle  em  qué  crè .    A  qual 
incorporação,  &  ajuntamen- 
to da  agoa,&vinho  de  tal  mo 
do  fc  miftura  no  Caliz  do  Se- 
nhor ,  que  aquella  miftura  íe 
não  podefeparar,  por  onde 
íc  alguém  ofícrecer  vinho  íò- 
mente,  começa  o  Sangue  de 
Chrifto  a  eítar  fem  nòs :  &í  íc 
a  agoa  eftiucr  fò ,  começa  a  e- 
Ibr  fem  Chrifto .  Pclloquc 
quando  fc  oíFerece  o  cacho 
fomente,  no  qual  íe  moftraó 
fò  os  clíeitos  de  vinho,fc  paí- 
fa  por  alto  o  Sacramento  de 
noílâ  redenção  íinificadona 
agoa  :  por  onde  não  pode  o 
Caliz  do  Senhor  fer  agoa  por 
ílfò,ou  vinho  apartado, fc 
hum^&outro  fe  não  miftura. 
E  porque  delia  matéria  pro- 
cederão ja  muitas,&muy  no- 
taucis  fentcnças  de  noílbs  an- 
tepaííados,  cujareligiofa  pie- 
dade pêra  com  Deos  nos 
enfinou  os  copiofos  cfTcitos 
deites   Sacramentos ,  &  nos 
declarou  fuás  verdadeiras  ia- 
ft:ituiçoés,cõucm  que  todo  o 


erro. 


Concílios  quefc  celebrarão  em  Braga^, 


6i 


erro,  &  prcfunção  ícmelhan- 
te  ccílc  daqui  cm  diante, 
porque  a  delordcnada  vniao 
dos  mãos  não  enfraqueça 
oeílado  da  verdade.Por  tan- 
to não  feja  defte  tempo  cm 
diante  licito  a  peííoa  algúa 
oíFcreccr  outra  coufa  nos  di- 
uinos  facriíicios  fe  não  ior 
pão  íòmcnrc  ,  &  o  Caliz  mi- 
ílurado  com  vinho  Sc  a- 
goa  ,  conforme  ao  decreto 
dos  Concilios  antiguos :  &c 
fazendo  alguém  daqui  cm 
diante  fora  daquilio  queeíH 
mandado  ceiTarà  de  facriíícar 
tanto  tempo ,  ate  que  emen- 
dado com  legitima  íatisfação 
de  penitencia  torne  ao  offi- 
cio  de  fua  dignidade,  que  per- 
deo. 

z  Dcucfe  prouer  com  to- 
da a  diligencia  &c  cuidado_,que 
aquelles,a  cujo  cargo  parece 
cííar  o  lugar  do  goucrno,não 
fejãoviilos  fazer  afronta  aos 
celeíliacs  Sacramentos ,  por- 
que nos  foi  dito  f  coufa  que 
he  horriucl  de  ouuir  ,  &  a- 
bominaucl  de  crer)  que  al- 
guns Sacerdotes  leuados  de 
facrilega  temeridade  tomao 
osvafos  do  Senhor  pêra  fcu 
próprio  fcraiço  ,  &  põem 
nelles  as  iguarias  cm  feus  ban- 
quetes ,  da  qual  maldade  ad- 


mirados   choramos ,  t\:  cho- 
rando   paímamos  de  ver  que 
a  humana  temeridade  prepa- 
re pêra  íy  mefmaconuire  na- 
quelles  vsfos_,emque  fabc  ter 
inuocado  o  Spinto  Santo  , 
ôc  depois  de  farta  coma  gui- 
íados  de  carne  no  me  imo  lu- 
gar em  que  foi  viíla  cele- 
brar os    diuinos    myíícrios, 
&  naquelles   meímos   vafos 
em  queíòmcntc  offereceo  os 
Sacramentos  por  perdão  de 
feus  peccadoSjnaqucUcs  mcf- 
mos  íàtisfaça  a  vontade  de 
feu  paflàtempo  .  E  por  tan- 
to a  peíToa    que  daqui  em 
diante  ffDr  de  tal  prefunção, 
que  conhetendo  os  diuinos 
vafos ,  &  o  vfo  deíies,os  mu- 
dar aíeu  próprio  fcruiço ,  ou 
os  tomar  pêra  comer,  ou  be- 
ber nelles,  fera  condenado  em 
priuação  do  grão ,  ou  oftício 
que  tiuer  de  tal  modo  que 
fendo fecular  fique  íogeitoa 
perpetua   excomunhão  ,    & 
íendo  Religiofo  ,  fique  de- 
pofto  de  feu  oíício  .  E  de- 
baixo dcfta  fcntença  de  con- 
denação   fc    comprenderão 
também  aquelles  ,   que  íà— 
bendoo  tomarem  pcra  feus 
vfos  próprios  os  ornamentos 
Ecclelíall:icos,vèos,  ou  quacf- 
quer  veí}imetas,&:  alfayas,oa 


F 


62 


Capitulo  XII. 


as  entregarem  a  outrem  pê- 
ra ferem  dadas  ,  ou  vendi- 
das. 

3      Porque  fabcmosfcr  man- 
dado jpor  antiguainílituição 
da  Igreja,  que  a  todo  o  Saccr- 
dotc,quando  he  ordenado ,  íc 
lhe  cinjão  ambos  os  hombros 
com  a  Ellòla,pcraque  aqucllc, 
a  quem  íe  manda  eltar  í^m  te- 
mor entre  as  coufas  profpe- 
ras,  &  aduerfas^apparcça  ícm- 
pre  cercado  cm  hú,  doutro 
hombro  com  ornamento  de 
virtude.  Porque  rezão  pois 
não  toma  ao  tempo  de  facri- 
ficar  aquillo,quc  não  duuida 
ter  recebido  no  Sacramento 
de  fua  ordem?  Pelioque  con- 
ucmem  toda  a  maneira,  que 
aquiilo  que  foi  dado  a  ,cada 
hum  na  confagração  da  hon- 
ra ,  iíTo   mefmo  conferue  na 
oblação,  ou  recebimento  de 
fua  faude,  de  tal  modo ,  que 
quando  o  Sacerdote,  fe  chega 
a  f  olennidadc  da  miira,ou  pê- 
ra ofFcreccr  facriíício  a  Dcos 
por  fy  mefmo ,  ou  pêra  rece- 
ber o  Sacramento  do  Corpo, 
&  Sangue  de  Noífo  Senhor 
lESV  Chriílo,  não  chegue  de 
outro  niodo,que  com  a  Eftò- 
la  pofta  fobrc  ambos  os  hom- 
bros damaneira  que  foi  con- 
fagrado  ao  tempo  que  lhe  de- 


rão  ordens,de  tal  maneira,  q 
apertado  o  pefcoço  por  cima 
doshõbroscòa  Eílòla  venha 
a  fazer  diante  dos  peitos  o  íí- 
nalda  cruz  com  ella,  &c  fe  al- 
guém fizer  outra  cofa,  fique 
íogeito  a  pena  de  excomu- 
nhão merecida. 
4  Aindaquc  a  antigua  infti- 
tuiçáo  dos  Cânones  ordenaílc 
muitos  preceitos,  &  rcfolutas 
conlUtuiçoés  fobre  atreuimc 
to  femelhãtc,  nos  todauia  pôr 
breuidade ,  &  defejando  tirar 
toda  a  ocaílão  de  fornicação 
determinamos  cõ  toda  a  au- 
toridade, que  fe  guarde  o  fe- 
guinte.  Que  nenhum  Sacer- 
dote ,  ou  peílba  Ecclelíaftica, 
fem  honcílo,  &  competente 
teftimunho  prefuma  tratar 
fecreramentecom  quacfquer 
molhcreSjfc  não  for  com  fua 
própria  may  íòmcnte.  E  não 
íò  deixe  de  tratar  com  mo- 
Iheres  eftranhas,mas  com  fuás 
próprias  irmãs  ,  &  paren- 
tas, porque  libertado  ellc  com 
a  licença  das  irmãs ,  &  paren- 
tas fe  não  faça  intrometido 
pêra  cometer  a  maldade:  & 
o  tranrgreíTor  defte  preceito 
faiba  que  ficará  fogeito  às  leys 
das  penitencias  por  efpaço  de 
féis  mefes. 
^      Pois  hc  coufa  proueitofa 


pêra 


Concilios  quefe  celebrarão  em  Bragd-.', 


63 


pêra  os  Sacerdotes  tratarem 
os  myllerios  diuinosj  toda 
via  íe  hà  de  cèr  grande  reío;uar 
do,  que  ná  torça  cada  núem 
vzo  de  lua  maldade  própria, 
aquiUocomquedeueru  con- 
tentar fò  a  Deos,  mediante  a 
pureza  de  lua  conciencia^por- 
queeltà  eícrito.Ay  daquelles 
que  fazem  a  obra  do  Senhor 
cnganofa,  <Sjtibiamente.Pel- 
loque  Tendo  referida  em  nof- 
íb  aj  unramento ,  pêra  effeito 
de  lhe  dar  remédio  à  deteíta- 
uel  prefunção  de  vilgus  Bií- 
pos^íoubcmos  como  alguns 
dellcs  quando  hao  de  ir  à 
Igreja  lançao  as  rcliquias  ao 
pcicoço  nas  íolênidades  dos 
martyres,  pêra  com  a  gloria 
de  mayor  apparato  ,  fc  enfo- 
berbcccrem  diante  dos  ho-- 
mens ,  &  ferdtft  leuados ,  cm 
certas  cadeiras  por  Diáconos 
reuelHdos  em  aluas ,  como 
fe  cllcs  foliem  arca  das  fa^ra- 
das  rcliquias.  A  qual  preiun- 
cão  detcílauel,  deue  ler  dero- 
gada  cm  tudo ,  porque  não 

Ipreualcça  íòmente  a  vaidade 
disfarçada  com  appareciade 
fantidade,  fe  o  rcfpeito  de  ca- 
da eftado  não  conhecer  o 
modo,qiic  lhe  hedeuido.  Por 
tanto  fe  guardara  nefte  par- 
ticular o  antiguo  _,  t\.  foienne 


collumc,  que  em  quaelqucr 
dias  de  feíla  leuem  íobre  ícus 
hombros  a  arca  do  Senhor, 
não  os  Biípos,fcnão  os  Lcui- 
tas,aos  quacs  fabemos,  que 
na  ley  velha  foi  encomenda- 
da a  meíhia  obrigação.  Mas 
leoBilpo  quizericuar  por  li" 
melmo  as  relíquias ,  não  ícja 
elle  leéíado  cm  cadeira  pcílos 
Diáconos ,  mas  a  pè  cm  com- 
panhia da  prociílaodopouo, 
que  vay  aos  aj  untamentos,  q 
íe  coílumão  fazer  nas  lantas 
Igrejas ,  &  dcfte  modo  lerão 
as  rchquas  do  Senhor  leuadas 
pello  mefmo  Bifpord:  quem 
fabédoclfesinftitutos  dilatar 
a  execuçãojcm  quanto  viucr 
no  cargo  fcrà  fufpcnfo  da  ad- 
miniftração  do  Sacramento 
do  altar. 

C  Como  quer  que  o  Apo- 
ftolo  mande  arguir,rogar  ,  & 
increpar  com  toda  a  paciécia, 
foubcmos  como  alguns  de 
nolTos  irmãos,  deixada  cif  a 
doutrina,  fcagallão  contra  os 
qja  faó  ordenados,  &:  os  mal 
tratão  cõ  tantos  açoutes,quã- 
tos  poderão  merecer  faíteado 
res  de  caminhos;  por  tanto a- 
quelles,  q  ja  merecerão  grãos 
Ecclcílafticos,  como  íaó  os 
Sacerdotes ,  Abbades,&  Diá- 
conos,  quefòn  das  srraues 


F  X 


OL 


••cweavr^viMa 


64 


Capitulo  XII. 


1  6c  raorraes  culpas,  mo  dc- 
uem  fcr  fo^eitos  a  caftií^o  de 
açoutes,   naohccoiiLienicn- 
cc  ,  que  qualquer  Prelado  a 
cada  paíTo,    &í  conforme  a 
ícu  golloj  &  vontade  osfo- 
gcite  a  dor ,  Ã:  caftigo  de  a- 
çoutcs ,   lendo  ellcs  os  feus 
inais  honrados  mêbros,  por- 
que não  aconteça  ,  que  fe- 
rindo elle  os  membros  j  que 
lhe  faõ  logeitcs  perca  a  rcue- 
récia,  que  lhe  deuem  feus  fub- 
ditoSjConformeaquilIo,  que 
hum  certo  Sábio  diíle;  O  que 
hecaífigado  brandamente  té 
reípeito  a  quem  o  caftiga ,  & 
a  reprcnfaõ  de  aípercza  de— 
maííada,  nem  admite  correi- 
ção ,   nem    emenda  .    Por 
tanto  íe  alçucm  leuado   fò 
de  malícia   voluntária  ,  & 
enfobcrbccido  com  a  licen- 
ça da  dignidade    que  tem, 
imaginar  que  deuem  fer  ca- 
lligados    fora  defte   modo, 
que  temos  ordenado  os  fo- 
brcditos  fubditos    honrados 
ja  com    ordens  ,  conforme 
ao  modo  dos  açoutes,que  lhe 
der,  fera  caíligado  com  pena 
de  cxc5munha5,&:  deílerro. 
7.       Porque  naõ  conuem, 
que  o  Dom  do  Spirito  San- 
to fc  compre  com  dinheiro, 
porto  que  fobre  cfla  mate— 


'■>    que 
rao  de  Sa- 


ria  aja  dmcrlos    documen- 
tos dos  Cânones  anticjuos, 
toda  via,  porque  he  nccefla- 
rio  ,  que  íe  atalhe  mais  ve- 
zes àquillo  que  ícm  ceifar  íe 
comete  :*por  ranto,inlf  ituin- 
dohíía  forma  de  noua  coníli- 
tuição    ordenamos 
quem  por  dar 
cerdote  a  qualquer  peílca  q 
feja,  aceitar  dadiua  algúa  ,  ou 
promeíías  delia,  aííi  antes  co- 
mo depois  de  íer  ordenada, 
&  confentir  de. algum  mo- 
do fer  peitado  por  cíle  reí- 
peito ,  ou  feja  aqucllc  que 
deu ,   ou  o  que  recebco,  íerá 
priuado  de  fcu  grão  confor- 
me à  fentença  do  Concilio 
de  Calccdonia. 
8       Não  conuem  aos  Rei- 
tores das  Igrejas  fer  diligen- 
tes na  admini1[?ração  de  íuas 
coufas ,  &c  remiUbs   nas   da 
Igreja .  Porque  fe  diz    que 
alguns  Sacerdotes  defbara-^ 
tão  os  criados  da  Igreja  em 
feu  próprio  feruiço,  acrecen- 
tando  o  proueito  da  fazen- 
da própria ,  &  continuando  a 
deífruição  das  couías  deDeos. 
Por  onde  quem    com  eíta 
negligencia  dilatar  o  melho- 
ramento das  couías  diuinas, 
feja  obrigado  com  particu- 
lar preceito,  peraque  íendo 


calo. 


Concílios  que  Çe  celebrarão  eyn  BragO-.. 


65 


caio ,  que  com  as  coufas ,  & 
rendas  da  Igreja  acrecentaíle 
proueico  a  íua  tazeiída  pró- 
pria ,  ôc  ouuefle  com  ifto  ne- 
gligencia, em  melhorar  os 
bens  Eccleriarticos,&  Ihecau- 
faíle  diminuição  ,  &  perda, 
reftiCLia  à  Igreja  tudo  o  que 
lhe  diminuyo  em  ícus  bens^ 
a  cuja  cuil:a,*?v:  dclpeza  fc  lhe 
prouar  cêr  acrecencado  fua  fa- 
zenda. E  fepor  ventura  ga- 
itou algiJa  couía  doíeupelio 
proueico,&  fuftanciada  Igre- 
ja, &  recebeo  algua  perda, 
ou  fez  algúa  defpeza,  que  cla- 
ramente íe  prôue,  fe  lhe  recõ- 
pêíe  tudo  da  fazenda  da  meí- 
•malgrcja ,  por  cujo  proueito 
^e  proua ,  que  fez  as  taes  áçÇ- 
pezas. 

9  Com  ifto  damos  gra- 
ças ao  Omnipotente  Deosj 
depois  rogamos  pella  paz, 
íaude  ,  &  muitos  annos  de 
vida  "do«  piadolííTntio  Rey 
Vuamba  amador  de  Chri- 
íloNoílb  Senhor,  cuja  de- 
uaçãonos  ajuntou  nell:e  ía- 
lutifero  Concilio ,  rogando  u 
clemência  diuina ,  que  a  glo- 
ria de  Chrifto  confirme  feu 
Rcinoatéa  vltimavelhice,  & 
no  lo" conceda"  áquclléDeõs, 
que  com  o  Padre ^  &  Spirito 
Santo ,  yiue,  e  tem  gloria  pê- 


ra íempre  dos  ícmprcs.    A- 
mcn. 

LedigioBifpo  em  nome  de 
Chrill:o  loeícreueo. 

luliano  cm  nome  de  Chri- 
fto, Biipo  de  Seuilha  fcefcre- 
ueo. 

Genitino  em  nome  de  Chri- 
fto Bifpo  da  Igreja  de  Tui 
íoefcreueo. 

Froarico  por  vontade  de 
Deos ,  Biípo  da  Igreja  de  Bri- 
tonia  ioeícreueo. 

Ifidoro  Bifpo  da  Igreja  de 
Aftorga  foefcreueo. 

Aíario  Bifpo  da  Igreja  de 
Orenfe  confirmo. 

Retogero  Bifpo  da  Igreja 
dcLugo  íoefcreueo. 

Hidulfo  por  íobrenome 
Félix  Bifpo  da  Igreja  de  Iria 
íoeícreui. 

Atê  qui  o  quarto  Conci- 
lio Bracharenfe. 


■**í>¥ 


t 


F3 


CAl'í- 


66 


Capitulo  XIII. 


CAPITVLO  XIII. 

CELEBRASEO 
quinto  Concilio  de  Braga. 


QVÍNTO 
Cócilio  En- 
chareníe  le  a- 
júcou  no  an- 
uo de  1^66. 
fendo  Arcebilpo  defta  Igreja 
o  fancillimo  ^  Ôc  doutillimo 
varáo  Dó  frey  Earcholomcu 
dos  Marcyres,  gonernando  o 
Reino  de  Portugal  a  Rainha 
dona  Cacherina  na  menor 
idade  delRey  DomSebaftião 
feu  neto.  Abriofe  em  oito  de 
Setembro  dia  do  Nacimento 
de  Noíla  Senhora.  AíTiftiráo 


ncUe  trcsBiípos  íulíragancos^ 
Dom  loáo  Soares,  de  Coim- 
bra.-Dom  Rodrigo  Pinheiro, 
do  Porto:  Dom  António  Pi- 
nheiro ,  de  Miranda;  todos 
peíloas  eminentes  cm  letras. 
Faltou  o  Biípo  de  Vifeu  por 
eftar  aquella  Igreja  neíla  con- 
iuncão  fem  Partor.  Fizerãofe 
Conllituiçoés ,  &  Decretos 
muy  bem  ordenados^  fegun- 
do  pedia  o  tempo,&:  o  ellado 
dascoufas.  Durou  ajunta  íc- 
te  mcfes ,  &  veo  a  fe  publicar 
o  Concilio  ao  primeiro  de 
Abril  do  anno  feguinte  de 
mil  &  quinhentos  ôc  fefenta 
&c  íete.  Foy  apreícntado  em 
Roma  ao  Papa  Pio  V.  ôc  vi- 
fto  por  autoridade  Apoftoli- 
ca :  efti  imprcflb  em  liuro 
particular,que  anda  nas  mãos 
de  todos. 


HSSSS 


VIDA 


6/ 


',í^^ 


VIDA 

DE  S.  PEDRO 

DE  RATES. 

PRIMEIRO  ARCEBISPO  DE  BRAGA, 
Primas  das  Hefpanhas. 

C  A  P  I  T  V  L  O     XIIII. 

Trèga  neíla  a  ley  6mngelica,çf  funda^ 
a  Igreja  de  ^raga^. 

liftaS.Ioao.  Falaó  difcorde^ 


i,v;í>'  '\\\\\\\\\\\\\\\\<\\\\m\f 


O I  dc  todas 
as  Prouincias 
do  mundo 
( iião  falando 
cm  Palelli- 
na)  a  primeira  que  recebco  a 
luz  do  Euangelno  cfta  nofla 
de  Herpanha^anticipandofe  a 
todas  as  outras  naFè,cm  pro- 
noftico  da  muita  vantagem^ 
qyc  lhe  faria  no  zelo  de  a  prè- 
gar,&  dilatar.  Teue  por  mc- 
ftre ,  &  pregador  defta  fua  fe- 
licidade^ ao  grande  Apollolo 
Santiago,  irmão  do  Euange- 


osautores  no  anno  dcíua  vin- 
da a  Helpanha.  Parece  mais 
prouauellançala  no  de  57.  da 
Encurnaçio  de  Chrifto,&  vi- 
timo do  Império  de  Tibério 
Cefar  jCm  que  a  põem  Flauio 
Dextro.  Defembarcou  o  fa- 
grado  Apoftolo  neíla  coíia 
do  mar,quc  corre  do  Douro 
aciGallizaj&em  Braga  co- 
meçou a  dar  principio  a  fua 
pregação; porque  aly  era  bem 
fe  cmpregaíTe  primeiro  íeu 
zelo ,  Sc  gcneroíídade,  a  onde 


Dex.  in 

fhron.an 

Cn.ufíi 
56. 

Paãã.  r* 

hifl.  Ec 

if  cet^ 


F4 


mais 


6S 


Qapitulo  XÍIIL 


6 


00- 


mais  reinaua  a  Idolatria,«Sí  aí- 
lilliáo  os  Archiflamines,  ou 
Sacerdotes  maiores  daGenti- 
lidade.  Era  neíle  tempo  Bra- 
ga cidade  illurt:re,&  Conuen- 
to  luridico  dos  Romanos  a 
que  acudiãoas  caufas  ciucis, 
&  crimes  de  muitas  cidades 
6c  pouos ,  em  tudo  accomo- 
dada  pcra  iiclía  fe  fundar  a  pri- 
meira ^  &  principal  Igreja  de 
Heípanha. 

t     Entrou  em  Bríi^a  o  Santo 
Apoíl:olo_,^  pêra  entrar  com 
eftrõdo  detrouao  ( cujo  filho 
o  chamara  Chrifto  Noílb  Se- 
nhor) fc  foi  a  húafepultura 
celebre  ,  onde  jazia  encc-rrodo 
de  feiícentos  annos  hú  Santo 
Profeta  ludcu  de  nação,  & 
que  aly  viera  dar  com  outros 
catiuos  mandados  de  Baby- 
lonia  porNabuchodonofor, 
chamado  Malaclífas  o  velho, 
ouSamuel  o  moço_,&  em  pre- 
fença  de  infinito  pouo,  cha- 
mado por  clleo  refucitou^em 
nome  de  lES  V  Chrifto,  aqué 
vinha    pregar  ,   &  publicar 
por  verdadeiro  Deos.  Bauti- 
zou  o  pouco  depois,  &  dan- 
dolhc  nome  de  Pedro  o  eí- 
colhco,  &c  tomou  por  pri- 
meiro, &c  principal  de  todos 
feus  dicipulos. 
5      Ia  fe  deixa  ver  o  efpanro. 


&  admiração,  que  nos  âni- 
mos de  todos  caufariajaquelle 
prodigio-,  rcfpeitauão ,  &  ve- 
nerauãoao  Santo  Apoílolo 
como  homem  vindo  do  Ceoj 
ouuiãoiio  como  a  embaixa- 
■  dor  do  Verdadeiro  Deos  ^  & 
como  a  meílapeiro  de  tão  ale- 
grés  nouas  lhe  entregauão 
poraluiçaras  fuás  almas,  pêra 
que  tirandoas  das  treuas  da 
gentilidade,  lhes  abrifie  a  luz 
da  Fe ,  &  metefe  no  caminho 
dafaluaç^o. 

4  Conuerriãofc  também 
alguns  dos  Iudeus,de  que  auia 
grande  numero  em  Braga^aíli 
pella  riqueza,  &í  comercio  da 
Cidade,  como  por  aly  aíllílir 
o  deíembargo,onde  fe  deípa- 
chauão  as  caufas  de  toda  a 
Prouincia.  - 

j"  •  De  Btaga  (deixando  jàfci- 
taBifpo  delia  a  São  Pedro)  fe 
foi  o  íàgrado  Apoílolo  a  ou- 
tras cidades  de  Hefpanha  ,c5 
o  niefriío  intento  de  nçllas 
pregar  o  Euangclho;  Em  Ca- 
ragoça  edificou  por  mandado 
da  Virgem  Senhora  Noíla. 
(  que  fendo  ainda  naquclle. 
tempo  viaalhe  appareccq^a 
fua  primeira  Igreja ,  quclioje 
cl\arnão  do  Pilar ,  SaiK^iario 
dos  mais  notaucis  Áo  múdo,e 


de  cuja  fijdação,&  progrefios 


atè 


S.  Tedrode  Rates. 


6ç 


ICí7í1.Aíl 

eh,  el  eh 
Bordaizs 

FetrusCe 
tiediis  m- 

UoHin.iH 

\r'tscanon. 
q.zzx.z 


acecheganui 


\  a  i  magcllacíe ,  em 
que  hoje  a  vcmos^hà  grandes 
volumes  elcritos. 
ó       Viíitada  jà  a  mor  parre 
àc  Heípanha  ,  &  publicado 
nclla  o  EuaiigellTO,  voltou  o 
Santo  ApoítoloaBragaa  vi- 
litar  aquelles  Chrillãos,  pri- 
mícias   da  Fe  de  Europa. 
Achou  os  ainda  fem  Igreja, 
cm  que  fe  cclebraílcm  os  my- 
llerios  lacrados. Pêra  lha  con- 
lagrarfpois  a  contradição  dos 
Gentios  não  daua  lu^ar  a  ou- 
tro  mais  publico  )  accomo- 
dou  em  forma  de  capella  hía 
coua  junto  a  hum  templo  da 
DeolallisjOndechamauáo  os 
BanhoSjC  leuantando  nella  al- 
tar com  titulo  da  Virgem 
Senhora  Noílà,diíl'ealy  mif- 
ía   aíliftindolhe  feus  dicipu- 
los,  aíli  os  que  trouxera  de 
leruíalem  ,   como    alguns , 
que  por  Heípanha  fe  lhe  ajii- 
taráo,&:  outros  Chriílaos ,  q 
fe  puderão  achar  prcfentes . 
Effafoia  primeira  fundação 
da  Cathedral  de  Braga,  os  pri- 
meiros fundamêtos  daquelle 
templo ,  onde  depois  íè  cria- 
rão, òí  íepultarão  tantos  lan- 
tos ,  &  elclarecidos  varões: 
efte  o  fegundo  Santuário,  que 
na  terra  teue  a  Rainha  dos  An 
jos,  edificado  pcllo  Patrão,&" 


o  Paire 
AJonlh 

if«.íí  de 
Zarago 

ca. 


dcteníor  de  Heípanha. 
7  Çntregou  logo  6>ntiago 
aquella  noiía  Igreja  ao  ieu 
BiipoS.  Pedro,  &  declaran- 
doo  pello  primeiro, &  prmci- 
pal  de  toda  Heípanha  ^  o  in- 
líruyo  moíírandclhe  qi;aes 
pelicas  auia  de  ordenar  Bií- 
pos ,  com  que  ritos ,  ík  cere- 
monias  adminiíbar  os  Sacra- 
mentos ,  &c  outras  coufas ,  q 
abaixo  nos  contara  S.  Atha- 
naíío ,  &  a  carta  do  Bifpo  do 
Porto  Hugo,  onde  com  par- 
ticularidade íe  refere. Seguiofe 
depois  a  partida  do  SãtoApo- 
ftoío  a  leruíalem  ,  por  Fran- 
,<ça,lnglaterra,<5<:  outras  terras 
q  hojcfaó  de  Venezeanos,on 
de  també  pregou  o  Euange- 
lho,embarcandofe  em  hú  dos 
Portos  de  Galliza  ,  que  então 
fe  chamaua  Bri^antiú.ôc  a^o- 
ra  parece  fer  o  da  Corunha. 
Gaílou  por  Heípanha  neíla 
fua  peregrinação  quatro  an- 
nos  ;  veo  no  de  37. voltou  no  1  -^^*''''' 
de  41 .  com  grande  ícním^en-  i  Carus 
to  dos  filhos ,  que  por  eftas  '^'  ^"•^^ 
partes  deixaua.Logo  no  anno' 
feguinte  de  41.  íucedeo  feu 
marty  rio  fendo  dcgollado  por 
ElRey  Herodes  na  fefta  da 
Pafchoa.  O  dia  de  fua  entrada 
cmHefpanha/e  fcíkjaua  neí- 
la, com  particular  fclênidade 


corno 


70 


Qapiulo  XJIII. 


nas  adJí- 
Max. 


Bift4f.  An 

Chujli 

37- 

Ca  yo,  tn 

37- 


como  o  cellifica  Heleca  Ar- 
ccbiípo  deCaragoça  naqucl- 
las  palauras.iVíc?»í?nV?  dicf^fe- 
fius^ab  ipfius  in  Hijpania  in- 
grejju  Sanai  lacohi  Zehedd 
Jilij  cehbris  habetur. 
8  Da  certeza  delh  vinda  fò, 
duuidáoosque  não  querem 
pefar  quanto  monta  húa  tra- 
dição continuada  por  tantos 
feculos,  &  recebida  por  tan- 
tas Igrejas ,  quantas  íaõ  as  de 
Hefpanha.  FÍ7erão  delia  par- 
ticulares tratados  •,  o  Condc- 
ftablede  CaftcUa  Ioa5  Fer- 
nandez  de  Vellafco  \  D5  loão 
Eeltran  de  Gucuaia  Arcebií- 
po  de  Compoftcla-  Frey  Frã- 
cifco  de  Xodar  Carmelita  ^ 
Dom  Mauro  Fcrrer  Cailella-, 
loão  Mariana,  &  GafparSan- 
chczda  Companhia  de  leíus. 
Biuar,  &  Caro  :  comenta- 
dores dcDextro  .aonde  ie  po- 
dem ver  os  autores  jque  a  dão 
por  certa. 


CAPITVLO  XV. 

POEMSE  O  TESTI- 
munho  de  Sc.to  Athanafio 
Bifpo  de  Caragoça,isf  a  car 
tadoBifpodoPortoD.  Hu- 
go^emquefe  confirma  a  que 
timos  dito. 


NT  RE  os 

theíouros,  q 
a  malicia  dos 
tcmpoSj  ou  a 
incúria  de  nof 
fos  antepaílados,  nos  tinbaef- 
condidos ,  não  tórao  meno- 
res huns  fragmentos  deaigúas 
obras  de  SatoAthanaíIoBiípo 
de  Caragcça,  ôcdicipulo  de 
Santiago,delcubertos La  pou- 
cos annos  pello  Padre  Bartho- 
lomeu  André  de  Oliuençada 
Companhia  de  lESVS  lente 
de  Theologia  no  feu  Collegio 
de  Alcalà,  &  Prouinciai  de 
Cerdenha^  naocafião  que  vi- 
íítaua  aquclia  Prouincia-,  aly 
os  achou  em  hua  liuraria  da 
mefma  Ilha,  &  depois  em  ou- 
tra de  Aragão ,  &c  os  comuni- 
cou ao  Padre  leronymo  Ro- 
man  de  ia  HÍ2:uera  da  mcfma 


Com- 


S.  T^edro  de  Rates, 


71 


et 


Catal.di 
htjfos  dí 
í'»rto  c 

2:1.  p. 


Companhia,  varáo  bem  vcrfa- 
do  cm  toda  aanciguidadcj  do 
qual  depois  vieráo  às  mãos  do 
Biípo  frey  Pnidcncio  de  San- 
doual  ^Chronilla  de  fuaMa- 
gertadc,  de  Efcolano.  D.Mau- 
ro  CaiUllafcrrcr,&  de  outros 
que  c5  grandes  approuaçoés 
os  publicarão,  como  nos  jà 
cm  outro  lugar  diílemos . 
Os  fragmentos  dizéafsy. 
t  EgonouiSanãum  Petrú, 
primum  Bracharenfem  Epifco- 
pum ,  quemantiqmm  piophe- 
tam  fufcitauit  Sanãus  laco- 
bus  Zebedtei  filius  magifier 
meus.  Hic  "venerat  cum  duode- 
cim  tribubus  mifsis  àNabuchO' 
donofor  in  Hífpaniam  Hierofo- 
lymis,  duce  Nabucho-Cerdan, 
<vel  Pyrrho  Hifpanorum  pr^- 
feão.  Diãus  eU  hic  Prophe- 
Ta  Samuel  itimor ,  'vel  Mala- 
chias  fenior,propter  mor  ií  gr  a' 
uitatem ,  i^  ^vultus  pulcbritu- 
dinem  Vrupropheu  filius. Fa- 
ãus  Epifcopus  muitos  lud^orú 
adfidem  conuertit  dicensfe  "Yt- 
nijfe  cum  illorum  maioribus^llf 
pradicajfe  trãfmigratis,obffJJe 
"peró  Viginti  annis  poU.  adutn^ 
tum  eorum  inHiJpania.  Hic  yir 
Apoftolicus ,  acceptis  á  Sanão 
Jacobo  Inflimtionibus  Apoíio- 
lieis ^^uangelio.,  Í!f  ordine  mif- 
f^e ,  ae  cehbratione  Sacramen- 


'  torum  j  '))enit  Bracharam^Epi- 
íiola^  Jpcíiolico  plenas  Jbiritu 
jcripfit  ad  Ecclefias/in  quibus 
Epif copos  infiituit ,  'vt  Irien- 
fem^  Amphilochenfem ,  Eminie- 
fem ,  Portuenfcm ,  'vbi  Sanãú 
Bajilium  condijcipulum  pofuit^ 
qui  illiper  martyrium  fublato 
jticcefsit  infede  Bracharenfi 
Epitaciumin  Tudenf.  Ifii^i- 
ri  diuiniplane^j  Apoíiolici^  in- 
íiar  Apo(hlorum  non  in  ^vria 
femper  njrbe  morabantur  ,  fed 
'vbi  rapiehat  illos  Spiritus  Sã- 
ãusferebantur,'Ví  Epttacius^ 
qui  nonfolum  in  Tudenfidiace^ 
Ji,fed  in  'vrbe  Lufitani^eAnt' 
bracia  pradicauit :  quijignis, 
i^  ijarietate  linguarum  jpra^ 
dicationem  illujirabant '.  nec 
fali  ibant  pradicatumjedmul- 
tis  difcipulis  comitati^'Ut  fecit 
Chriftus,  Petrus ,  lacobus ,  ^ 
Apofioli  cxteri.    Vai  em  Por- 
tuguês. £«  conheci  a  São  Pedro 
B^o  de  Braga  j  a  quem  ofendo 
hum  dos  Profetas  antiguos^rc' 
fucitou  Santiago ,  filho  do  Ze- 
bedeu,  meu  mefire.  EUe  tinha 
<vindo  com  as  do%^  tribus  ,  qut 
de  lerufale  madara  Nabucho- 
donofor  aHeJ]panha, fendo  capi 
tão  Nabucho-Cerdam,  ouPyr-^ 
rho  prefeito  dos  Hefpanhoes. 
Chamoufe  efi;e  Profeta  Sa-' 
muel  o  moço  ,  ou  Malachias 


CPe- 


72 


CapiVdlo   XV. 


o  -velho  pella  grauidade  de 
jíUs  cojlumes  ,  l^  fermcfnra 
de  feu  rojlo.   Foi  filho  de  Vrias 
Profeta.  Feito  Bifpo  comterteo 
muitos  ludeus  á  Fé  dic^ndo, 
que  elle  Viera  comfeus  antecef- 
fores ,  Í!f  lhesprègara,tf  mor- 
rerauinte  annos  depois  de  che- 
garem a  Hefpanba .  Esie  ija- 
rão  Apojlolico  ,  recebendo  de 
Santiago  as  inTiituicots  Apo- 
flolicasy  o  Euangelho  ,  is^  orde 
de  celebrar  mifa ,  tf  os  mais 
Sacramentos ^yeo  a  Braga  j  ef- 
creueo  muitas  cartas  cheas  de 
Jpirito  ApoUolico  dsJgrej.ts, 
em^posBiJj)os]Ccmoforao  Iria, 
Amphilochia ,   Eminio  ,  ^  o 
Porto :  onde  pos  a  Sâo  Baflio 
feu  dicipulo ,  o  qual  depois  dt 
feu  martyrio  lhe  fucedeo  em 
Braga  Jjf  pos  em  Tui  a  Epita- 
cio.  Esles  Varões  diuinos .,  ^ 
<uerdaddramente  Apoftolicos^ 
nao  [e  d&ixauaofempre  eUar  em 
bu  lugar ,  mas  á  imitação  dos 
Apojlolos  difcorriao  por  todos 
aquelles  onde  os  leuauao  S pi- 
rita Santo:  como  Epitacio ,  que 
nao  fá  pregou  em  Tui ,  fenao 
também  em  Ambracia ,  cidade 
de  Lujitania  :  illujlrando  todos 
fua pregação  com  milagres ,  ijf 
variedade  de  línguas. Ntelles 
fahi^to  fés  a  pregar  o  Euagelho, 
mas  leuauao  cofgo  muitos  dicipu 


los.d  imitach  de  Chrisio.  SaS 
Pedro,Santiago,i:f,m4Í<s  Apo- 
ftoíos.  ' 

3  QMaes  fejão  as  cidades  cie 
que  ncltcs  fragmentos  fçfaz 
menção  j  he  ccico,c|ue  Iria 
fecíiama  hojeo  lu£çar  do  Pa- 
drão cmGaliizajBifpado  muy 
antiguo_,que  ícpafiou  aCom- 
poftèla depois  que  íe  acharão 
as  relíquias  do  glorioío  Apo- 
ítol o  Santiago.  Aniphilocliia 
fe  chama  Oreníe,  cidade  Epif- 
copal  no  Reino  de  GaUiza; 
foy  edificada  por  hum  capi- 
tão Grego  chamado  Amphi- 
loco,  que  lhe  deu  o  nome-,de- 
pois  de  perder  eftc  conferuoii 
ode  Orenfe,  que  hoje  tem. 
Eminio  he  a  viila  de  Águeda 
no  Bifpado  de  Coimbra,  cida- 
de antiguamcnte  Epifcopal, 
como  adiante  diremos-,o  Por- 
to cõferua  hoje  o  meímiO  no- 
me, &  grandeza.  Ambracia^ 
onde  foi  pregar  Santo  Epita- 
cio ,  o  Bifpo  Sandoual  a  íàz 
Plafencia ,  dentro  da  qual  ain- 
da hoje  dura  certa  torre  cha- 
mada ,  Torre  de  Ambros,  íun- 
dação  de  Gregos  ,  em  memo- 
ria de  outra  Ambracia  de  Gre- 
cia^agora  Larta^ãc  que  fazem 
menção  Ptolomeo,  Strabam, 
&  Phnio. 
4      A  carta  de  Hugo ,  qucfe 


li. 


Sãj  Tedro  de  ^R^tes. 


7i 


;  an.  Chrif 


ti 


>  )■ 


tn  cems^ 
ad  Dcx.\ 


íeí^ue  deícobrioo  Leccccado 
Gâípar  Aiuarcz  Louíada   no 
Cartório  de  S.  Cruz  de  Coim- 
bra é  hú  liaro  antigiio  de  pcr- 
íjaminho  de  letra  «^Totica.iura- 
métecõaChronica  de  SãPiro: 
tralairei  Francifco  de  Bjuar 
entre  os  elogios  deFlauio  Dex 
rro,&:faz  delia  méção  na  pri- 
meira apologia  peílo  meímo 
Dextro,  &  em  outros  lu^a- 
res.  Diz  afsy  Hugo,  referindo 
as  palauras  deCaledonio. 
j     S .  Petriis  ciuis  Br  achar  e- 
fis^quilif  Samuel  diólns,  a  Sa- 
cio lacobo  loannis  fratre  ^  Ze- 
bedccifiliofufcitatusjn  Epifco- 
píiBracharcfcm  cófecratus  cí/, 
Í5f  ab  eo  mij^iis  muitos  ibi  eius 
generis  ex  tribubus  difperfisjj' 
ghiles  couertit.  Inde  digrejfus, 
Tyde,  Mce^  predicai:,  i^ per 
tota  marítima  ora  adpromonto 
riú'ufij^  Cynthiú,fiue  et  Vlyjeú. 
Infiituitquè   ex  difcipulis  fui 
magiflri^  quosfecú  adduxerat, 
Epifcopos  Portucale  ,  Eminio, 
ConimbriC'e,Vlyfipone,Í!fvltra 
N  er  eu  promotor  iú,  ai  ws:  i!f  ad 
eius  exepiú,non  in  yna  tantum 
Ciuitate  cómorabatur  ^fed  ^lo 
Jidei, mediterrânea  citra,Í5^''ul 
tra  Tagú,populof(j^/ibi  cómif- 
fos  ambieSyEgitani.ejCa  lletiíC, 
Emérita, Ambraciee^i^f  inalijs 
Fethnú,^  Ltétanorú  urbibus 


yerbii  Der  dijieminat^^  tr^fa- 
610  ad  Panonias  Durwjn  B ra- 
charam Jugujlam  redijt.Qum- 
decim  menfibus  •'vix  fere  ehrpfs 
eius  magifier  lace  bus  ad  C^- 
farauguíiam   ecdicidam  excita- 
rat  in  honorem  Deipar^e  Vir- 
ginis  ,  creatOíjj  inibi  Athana- 
JíQ,  dijcefsit ,  (f  Bracharã  ije- 
nit,  'ubifacrat  eidem  Domina 
cumPioHiJpalenJi  ,1^"  Elpidio 
Toletano  Epifcopis,  iff  alijsex 
primis   eius    difcipulis    aliam 
^diculam  in  quadam    crypta 
prope  Balnea   iuxta  tcmplum 
ab  Aigyptíjs  Jfidi  quondam  di- 
catum ,  Í5^  inde  Brigantia  na- 
icim  tranfcendcns  m    Britania 
appulit^  reliSlo  Brachar^e  Sane 
to  Petro  eius  Vicário  ,  i^  pri- 
mário inter  alws  ,  quos  facra- 
rat  in  Hijpania,   Epf copos. 

Sao  Pedro   cidadíio  de  Bra- 
ga,o  qual  tíibemfe  chamou  Sa- 
muel^refucitado  por  Santiago 
filho  do  Zebedeojrmao  de  lor.o, 
foi  confagrado  Bijpo  de  Braga-, 
CQuerteo  muitos  ludeus  dasTri 
bus  q  andauão  efpalhadas,e  mui 
tosGetios.    Partio  daly  a  pre- 
gar a  Tui^  e  aoPadrao/por  to- 
da a  cofia  do  mar  ate  o  cabo  de 
S.Viccte,ou  deLishoa.Dos  dici 
pulos  defeu  mesire,q  cofigo  leua 
uafirdenoualgúsBifpos, no  Por- 
to,Agueda,Coinibra,l!fLif  boa, 

G  & 


74 


Capitulo  XV. 


Isf  outros  alem  do  cabo  de  Fini- 
Herra^  imitando  a  [eu  mestre 
naofedeixaua  eflar  em  híiajò 
cidade  ,  antes  com  o  ^elo  da  Fè 
correndo  todos  os  lucrares  do 
fertao^  àquem^  i^  Mc  do  Tejo^ 
if  uijitando  os  pouos  que  lhe 
for  ao  entregues ,  femeou  apa- 
laura  de  Deos  na    Idanha ,  em 
Calencia  ^  Merida  ,  Plafencia, 
tf  em  outras  cidades  dos  Ve- 
tots^  Iff  Lu(itanos.  PaJJando  o 
Douro  em  Panonias,fe  tornou 
a  Braga  Augufia .   Pajfados 
quaji  quinze  mefes ,  feu  mefire 
Santiago  edificou  emC  aragoca 
hum  pequeno  Oratório  em  hon- 
ra da  Virgem  May  de  Deos^Í!f 
pondo  a  hypor  Bifpo  a  Athana- 
fio  fe  recolheo  a  Braga^onde  c6 
Pio  Bifpo  de  Seuilha  ,  Elpidio 
de  Toledo,  l^  outros  de  [eus 
principaes  dicipulos,  confagrou 
ámeÇma  Virgem  outro  peque- 
no Oratório  em  hú  lugar  foter- 
raneo  junto   aos  Banhos  ,  í^ 
perto  do  templo ,  que  antigua- 
mente  os  Egypcios  kuantarao 
à  Deofa  Ifis.    Dahy  indofe  em- 
barcar à   Corunha  ^  foi  tomar 
porto  em  Inglaterra,deixando 
em  Braga  a  São  Pedro  por  feu 
Vigairo ,  tf  Primas  entre  os 
mais  Bifpos^que  confagrara  em 
Hejpanha. 
6    Do  templo  cíclíís  em  que 


fala  Caledonio,  junto  do 
qual  fe  edificou  a  primeira 
Igreja  defta  cidade  ^  ha  ainda 
oje  memoria  cm  hija  pedra,  q 
eitá  detrás  da  Capella  de  Saõ 
Giraldo,  &  diz  aísy. 

IJidi  Aug.facrum. 
Lucrécia  Fida  Sacerd. 
Per  P.Rom.tf  Auguft. 
CÓuetus  Bracar  Augufl.  D. 

As  letras,  &  vcrfos,  quefefe- 
guemnãoíevem  hoje  nefta 
pedra  •,  dcuiaõ  eftar  no  tempo 
queíc  conferuaua  inteira, & 
não  tinha  a  diuiíaò  que  agora 
moftra  depois  que  o  tempo 
a  foi  gaftando:  memorias  ha 
que  elbuerão  nella. 

Titus  Ctclicus  Tripés. 
Fronto,if  M.t^  L.Titi 
Ftlij  Pronepotes  Ceclici 
Frontonis  renouarunt. 

Afpice  quãfubito  marcet  quod 

fioruit  ante! 
Afpice  quamfubito,  quodiietit 

ante ,  caditl 
Nafcentes  morimur  ,fimfjj  ab 

origine  pendet, 
Ipfaq^  <uitafutcfemina  mortis 

habet. 
Parece  que  quer  dizer .   A 
Chãccllaria  de  BragaAuguíla, 


dedicou 


Sao  Tedro  de  '\R^te$. 


7S 


lyffmsm 
in(  npiio 
tiibds  ati'' 
tiqms.  I 
LoayCítm 
notts  ad  I 
tertium  I 
ConftUít 
Bra(har.\ 
Eltas  Fi- 
naus  m  | 
comst.ad 
Itb.  df  vf 
hihus  iUh 
Jir.Aiifo- 
\nij. 


dedicou  dle  céplo  a  lils  Augii 
íla  íendo  Sacerdoniza  Fida  Lu- 
crécia pclloPouo  Romaiio^& 
pcllos  Auguílos,  Tino  Cclico 
Tripés  Fronto  _,  &  Marco,  & 
Lúcio  filhos  de  Tito  ,  biínc- 
tos  de  Célico  Fronto  o  reno- 
uarão. 

7  Tinha  aDeofa  líis particu- 
lares donzellas  que  a  íeruiao, 
&  lhe  coníagrauão  íua  pure- 
za j  húa  dertas ,  ou  a  principal 
era  Lucrécia  Fida,  Fundarão  o 
templo  os  Egypcios  em  tem- 
pos muy  antiguos,  como  dif- 
íemos  atraz.  Puzeráono  em 
melhor  forma  os  de  Braga,  & 
vltimamenteo  renouaráo  os 
de  que  fala  a  pedra.  Anda  eíle 
letreiro  cm  luito  Lyplío ,  em 
Loayfa ,  &  Elias  Víneto.  Os 
vltimos  dous  diftichos  pa- 
recem de  tempo  mais  moder- 
no ,  porque  nem  elles  fazem 
muito  ao  intento  dos  redifi- 
cadores ,  nem  em  obras  feme- 
Ihantes,  coftumauao  por  taes 
poeíías.  A  íua  ícntença  he  di- 
gna de  outra  pedra  mais  pre- 
ciofa_,  que  a  em  que  elles  fe 
liaõ. 


CAPITVLO  XVL 

DEFENDENSE     OS 

fragmítcs  de  Sf.to  Àtbana- 
Jio ;  refutcofeas  re^és  dos 
que  os  impugní-.o. 


Aõ  fe  pode 
facilmêtecrèr 
a  cõtradicão 


com  que  ai-  Eflaçoc 
gí\s  Autores  s^<^59 
pretenderáo  desacreditar  elles  ~; 
fragmentos,  deícobrindo  ( a 
íeu  parecer  )  nelles  tantas ,  ik 
cão  manifeítas  defconucnien- 
cias,quea  ferem  ainda  aíli  aui- 
dos  por  de  Santo  Athanalio 
íeriaa  mayorde  tcdas.Bemíe 
poderão  paílár  em  fdecio  pel- 
la  repofta  ,  que  ja  outros  lhe 
derão- mas  por  não  parecer,  q 
calandoas  fe  admite  ,  as  pore- 
mos também  aqui.  Dizé  pois 
em  primeiro  lugar  diícorrédo 
pella  narração  dos  fragmétos. 
z  Com  que  rczão  pode  di- 
zer Santo  Athanaíio,q  íeu  cõ- 
dicipuloSão  Pedro  de  Rates, 
&  dicipulo  do  grade  Apollo- 
lo  Sãtiago  viera  có  as  dozeTri 
bus  mandadas  de  lerufale  por 
Nabuchodonoíor  aneípanha, 
fe  nem  Nabiichodonofor  veo  ^ 


G  i 


nunca 


1(^ 


Captulo  XV. 


nunca  a  efta  Prouincia ,  nem 
venceo  das  doze  Tribus,em 
tjiie  eftaua  diaidido  o  pouo 
ludaico,  mais  que  as  duas  de 
Leui,  <S<:dclLidà,  cuja  cabeça 
era  a  cidade  de  lerulalem^que 
elle  deílruyo,&  não  as  ou- 
tras dez, que  percéciaõao  Rei- 
no de  Samaria,  &  propria- 
mente fechamaua  Ifrael,  com 
quem  cile  nunca  teue  guer- 
ra ,  nem  a  podia  ter ,  pois  ao 
tempo,  que  veo  fobre  leru- 
falem,jaas  dez  Tribus  eraò 
deftruidas ,  &  leuadas  catiuas 
aSyria  por  Salmanazar  Rey 
dos  Afsyrios ,  como  íe  con- 
ta no  capitulo  17.  do  4.  liuro 
dosReys. 

3  Em  íegundo  lugar  exa- 
minando aqucllas  palauras, 
que  Sa5  Pedro  fe  chamara  pri- 
meiro Samuel  o  mais  moço, 
ou  Malachias  o  mais  velho, 
pella  grauiJade  de  fcus  coftu- 
mes  ,  &  fermofura  de  feu  ro- 
llo,  filho  do  Profeta  Vrias. 
Dizem^bem  poderiao  os  He- 
breus defterrados  dar  aSaõ 
Pedro  o  nome  de  Samuel  o 
moço,  quando  viuia  entre 
elles,  porque  ja  tinha  paflâ- 
do  outro  Samuel  mais  anti- 
guo  nos  annos,  de  q  ha  gran^ 
de  méçáo,no  primeiro,  Sc  fe- 
gundo  liuro  dos  Reis,  onde  fe 


contáoos  íuceílos  de  leu  ^o- 
uerno,no  tempo  que  foi  luiz 
do  pouo  de  Deos ;  mas  q  d\cs 
lhe  chamallem  Malachias  o 
mais  velho  naõ  podia  por  ne- 
nhúa  maneira  íer,  porque  o 
outro  Profeta  Malachias, que 
a  feu  reípeito  auia  de  íer  o 
mais  moço  ,  &  he  o  vitimo 
entre  os  Profetas ,  a  que  cha- 
mamos menores ,  foi  muitos 
annos  adiante,  &  profetizou 
em  ludea  muito  depois  de 
acabado  ocatiueirode  Nabu- 
chodonofor ,  &  redificado  o 
templo,como  bem  conieflu- 
raraõ  feus  cxpoíítores,  em  eí- 
pecial  os  Padres  Gafpar  San- 
chez,  de  Cornelio  á  Lapide  da 
Companhia  de  lESV.  Alem 
difto  o  ProphetaVrias,de  quê 
dizem  foi  filho  ,  fe  he  aquelle 
de  que  fe  faz  menção  em  Je- 
remias, &  foi  morto  por  loa- 
chim  Rey  de  ludà,  nem  pare- 
ce teue  filhos,  nem  foi  cafa- 
do,pois  diílbnenhúa  menção 
faz  o  texto  fagrado ,  nem  São 
leronimo  fobre  elle. 
4  Em  terceiro  lugar  conti- 
nuando co  os  fragmentos  em 
quanto  dizê,  q  Saõ  Pedro  de- 
pois de  refucitado, recebendo 
de  feu  meftre  Santiago  as  In- 
ftituiçoésApoílolicas,oEuã- 

gelho  ,  &  ordem   da  miíTa, 

— . 


Sao  "Pedro  de  '^tes. 


77 


&:  ctlebraç.io  dos  Sacnmen- 
ccs.veoa  Bracra.  Arquem  ais  V. 
Sc  a  primeira  ordcnijquc  tiiie- 
rão  as  Coníliiuiçoés  Apofto- 
licas,  Sc  a  primeira  vez  que  le 
viraõ  e^criras/oi  por  SaõCle- 
mcnredicipulo  de  Saó Pedro 
ja  depois  de  ter  fua  Cadeira 
cm  Rema,  &  por  ventura  de- 
pois de  íer  morto  ?  como  as 
dcii  Santiago  a  feu  dicipulo 
SaÕ  Pedro  tantos  annos  an- 
tes ?  E  íe  dos  EuaneeliRas  Foi 
o  prim.eiro  cj  eícreueo  buan- 
eeiho  SaÕ  Matheus ,  oito  an- 
nos  depois  de  Chriílo  íobido 
vfdeMaf\^  aos  Cccs ,  Sc  HO  tcrceifo  do 
■'^;";_;;;'':l  Império  de  Caligula.prègan- 
>Euai:geh  |  do  ja  SaÕ  Pedro  ,  &  Saõ  Paii- 
ffarric.jf'  lo  em  PvOma  ,  coní:orme  os 
melhores  cxpofitores,  como 
deu  a  feu  dicipulo  Saõ  Pedro, 
ogloriofo  Santiago  Euange- 
Ihocm  Heípanha  logo  que 
vco  a  eila,  fc ainda  o  Euange- 
Iho  não  era  efcrito,  nem  o  foi 
dahy  a  muitos  annos?  Quem 
o  ercreuco?Ou  aq  Euangelifta 
o  auemos  de  atribuir? 
c  Dizem  em  quarto  lugar, 
que  Saõ  Pedro  de  Rates-  naõ 
podia  inílituir  Bifpos  em  ci- 
dades que  não  crao  no  mun- 
do,nem  foraõ  da  hy  a  muitos 
annos  edificadas.  AdeEmi- 
nio,quc  vulgarmécc  nomcao 


por  Águeda,  começou  a  ícr 
Cathedral  no  terceiro  Cõcilio 
de  Toícdo,m2Ís  de  quinhccos 
&c  quarenta  annos  adiante  dos 
tempos  em  q  viuco  SaõPcdro 
de  Rates.  A  do  Porco  come- 
çou pouco  menosj  fe  os  Sue- 
uos,como  pretende  íeus  mo- 
radorcSjfcrão  os  q  lhe  deraõ 
principio  em  o  íício  q  hoje  lc. 
6  Dizem  em  quintolugar, 
que  a  todo  o  bom  juizo  pa- 
recera couía  eícufada  _,  ^  íu- 
perHuarefucirar  o  SantoApc- 
itolo  hú  homem  q  auiamais 
de  íeifcentos  annos  (  confor- 
me às  contas  que  fazem  bons 
autores)  era  morto, pêra  o  fa- 
zer Bifpo  de  Braga  ,  quando 
pêra  outras  cidades  de  igual 
grandeza,  fe  contentaua  có  os 
que  enta  Ó  viuiaõ,  &  delles  lhe 
dauaBiípos,  que  íantiíhma- 
menteas  soi-ieri^auaõ,  fem  os 
ir  bufcar  ao  outro  mundo, 
donde  trazellos  tinha  írran- 

o 

diflimos  inconuenientes,  &í 
por  ventura  mayore?  ,  que 
os  ja  apontados.  Porque  fe  S. 
Pedro  quando  lhe  chamaiiaõ 
Samuel  o  moço,  ou  Mala- 
chias  o  velho,  &  era  hum  dos 
derterrados  de  lerufalem ,  vi- 
nco conforme  a  ley  de  Deos, 
como  em  efteito  viueo ,  íal- 
uoufefem  duuida,  &  íua  ai- 


G  3 


ma 


7^ 


Qafítulo  XVI. 


ma  quando  fe  apartou  de 
feu  corpo  foi  Icuada  ao  íeyo 
de  Abraham  ,  onde  hiaõ  as 
dos  outros  juílos,  &  dahy 
na  ploriofa  RefurreicaÕ  de 
Chriílo  íahyo  tambcglorio- 
fa,  íobindo  com  cllc  aos  Ccos 
em  companhia  das  mais  que 
então  o  acompanharão  .  E 
não  feria  bem,  queahúaal- 
ma,  queeR-auanoCeo,  tirai- 
íeDeos  da  bemauenturança^ 

6  lhe furpendelíe  por  tantos 
annos  o  que  ja  lhe  tinha  da- 
do^por  húa  tão  leue  occaíião, 
como  vir  a  ícr  Biípo  deBraga, 
aucndo  tantos  que  o  podião 
íer  ;  quanto  mais,quea  bem- 
auenturança,  de  que  íuaahna 
jagozaua,  na  opinião  dos  me- 
lhores Thcoioíios  acoitados  a 
Santo  Thomas  pede  de  lua 
mefma  natureza  perpetuida- 
de na  duração,  em  forma  que 
não  p  o  fla  acabar. 

7  Dizem  vitima  mente  que 
ainda  que  eftcs  fragmentos 
não  tiuerãoalgíjadas  contra- 
dições que  padecem,  bartaua 
pêra  ferem  dados  por  faltos 
apparecerem  tão  de  repente, 
que  nenhum  dos  autores  an- 
tiguos  argua,  nem  leuante  a 
matéria  principal  dellcs  •,  nem 
dos  modernos  hàquemfea- 
treua  aos    admitir    por  naó 


admitirem  tantas  impofsibih- 
dades. 

8  Atéqui  chcCTrloos  auto- 
res de  que  imos  falando,  os 
quaes  aconíelhão  que  osfrag- 
mentos  íe  tornem  a  recolher 
àsliurarias  da  lihadcCerde- 
nha,  &:  Aragão ,  onde  primei- 
ro forão  achados. 
5>  Rcípondendo  agora  ac- 
ílas  contradições,  aduirtimos 
ao  leitor  que  por  nenhum 
caio  põem  duu ida  os  autores, 
qucduuidão  deíles  frajnnen- 
tos,  cm  S.  Pedro  de  Rates  ícr 
o  primeiro  Bilpo  de  Braga,  vc 
principal  dicipulo  de  Santia- 
go, porque  iílo  confcílao  li- 
beralmente, &comno{co  vc- 
nèrão  íuaspreciofas  relíquias. 
He  pois  a  iua  duuida  princi- 
pal íobre  elle  ler  ludcu  de  na- 
ção vindo  com  os  dcílerra- 
dos  de  lerufalcm  aBabylonia, 
&  da  hy  a  H  elpanha,&  íer  (de- 
pois de  morto  na  ley  deMoy- 
lesmais  de  feiicentos  annos) 
rcfucitado  outra  vez^  á:  feito 
Chriilãopor  Santiago,  pêra 
eíFeito  de  conuerter  os  ludcus 
feus^naturaes ,  &  i^ouernara 
Igreja  de  Braga_,como  íeu  pri- 
meiro Bifpo,  &  Paftor. 
IO  E  porque  daqui  come- 
cemos i  faõ  tantos  os  Hiilo- 
riadores,  que  admitem  por 

aucri- 


S.Tedrode  Rates. 


79 


auciiguada  a  vinda  de Nabu- 
chodonoíor  a  Heípanha,  que 
íóreferilos  ícria  grande  mo- 
leíHaxicáonos  os  que  na  mar- 
gem allcgamos.  Não  íaõ  me- 
nos os  que  aílentáo  íercm 
mandados  os  ludcus  peilo 
meímo  Nabuchodonoíor  a 
todas  eftas  Prouincias^como 
conquiíladas  por  elle.  E  íe  bé 
cilc  Rey  não  venceo  das  do- 
ze Tribus  mais  que  as  duas 


Fir.eiid:. 

SaloTKO. 

B;:uír  til 

De.xtrít 

nii.jS.n. 

yírraes 
dialog.z 

^2'.vir/o\  todas  eftas  Prouincias^como 

tib.uc.a. 

de  Leui ,  &  ludà  ,  quando  de- 
íiruyoaIeruíâIem,com  nudo 
muitos  dos  fogidos ,  &  que 
poderão  efcapar  do  deítroço 
desamaria  por  Salmanazar, 
he  de  crer  íe  rccolherião  a  íeus 
irmãos  os  da  Tribu  de  ludà 
ate  ferem  junta  mente  leuados 
catiuos  a  Babylonia.  Enefte 
íentido  be  pode  eícreuer  Sãto 
Athanaíío ,  que  Nabuchodo- 
noíor venceo  as  doze  Tribus  j 
quanto  mais ,  que  íem  eíla 
conie(5tura  íe  falua  o  que  o 
Santo efcreueo,  ôc  dizemos 
fragmentos  j  porque  vindo 
Nabuchodonoíor   por   fuás 
grandes  vitorias  a  fer  fenhor 
de  todas  as  terras  ^  que  forão 
de  Salmanazar,  como  euiden- 
tementc  fe  colhe  da  Efcritura 
Sagrada^&o  nota  Iuliano,cn- 
trando  nas  meímas  terras  os 
Hebrcos  das  dez  Tribus ,  & 


inChrcn. 
anChri- 


íicando  feus  catiuos  ^  bem  os 
podia  mudar  pcra  onde  qui- 
[qUí^  juntamente  com  os  que 
Icuoude  leruíalem  das  duas 
Tribus  deLeui  ,&íudà^como 
feuabíoluto  íenhor:  ô>:  ainda 
que  os    fragmentos     parece 
dizem  que  todas  as  doze  Tri- 
busforãode  leruíalem, toma 
o  Santo  Icrulalem  por  toda 
Palertina  ,  como  he  frafe  vul- 
gar na  Efcritura  Sagrada.onde 
pella  cidade  principal,  &  Mc- 
tropoli  de  to  da  a  Prouincia  fc 
entende  o  Reyno  cuja  cabeça 
hè  .  E  com  eíleito  de  Paleíti- 
naf 


airaoas  qozc 


:TribuSjque 
vierão  aHefpanha  por  ordem 
de  Nabuchodonoíor_,porque 
as  dez  Tribus  fairão  no  cati- 
ueiro  de  Salmanazar  ,  as  duas 
no  de  Babylonia  :  aísy  que 
nenhua  contradição  padecem 
neíle  particular  os  fragmen- 
tos _,  nem  lha  achaõ  quantos 
autores  dão  por  certa  a  vinda 
de  Nabuchodonofor  a  Hq[~ 
panha ,  &  com  cUe,  ou  de  or- 
dem fua,a  grande  multidão 
de  ludeus  que  a  pouoaraõ,  Òc 
inficionarão, 

II  Menos  contradição  tem 
ainda  o  que  em  fegundo  lugar 
allegão,  por<]ue  náo  he  ne- 
cefíario,  pêra  de  dous  homés 
do  meímo   nome  fe  chamar 


G4 


hum 


so 


Cajniído  XVL 


hú  mais  velho  ^  outro  niaii 
moço,  que  ambos  viuáo  ao 
meímo  tempo  _,  doutra  ma- 
neira tiraríehia  nas  famílias  co 
da  a  boa  diílinçáo,  onde  por 
cll:c5  termos  mais  velho ^  & 
mais  moço  ie  fmiíicáo  ho- 
mens ^  queviuerío  hunsdos 
outros    muitas   centenas  de 
annos  ;  he  efta  dillinçao  do 
velho  ,  &  do  moço  ^  por  or- 
dem  aos  que  depois  forão^pc- 
raqueíe  entenda  de  quemh- 
láo ,  não  fempre  dos  preíen- 
tes.  Os  Hebreus  deílerrados, 
que  conhecerão,  ou  tiueráo 
noticia  do   noílo  Saõ  Pedro 
quando  era  Malachias^chama- 
uáollie  mais  velho  \  não  logo,, 
mas  quando  depois  veo  a  íer 
nomeado  o  outro  Malachias, 
o  mais  moçOjpor  ferem  am- 
bos Profetas,  &  ambos  Va- 
rões SanciíTímos.   Bem  fabe- 
mos ,  que  SaÕ  leronymo  faz 
a  Malachias  o  mais  moço, que 
he  contado  entre  os  Profetas 
menorg;s ,  ja  nacido ,  &  pro- 
fetizando no  cerco  de  lerafa- 
lem,  &  he  dos  que  també  fo- 
rão  deílerrados,  e  nefte  fenti- 
do  vai  ainda  menos  a  contra- 
dição fep"unda  contra   eíles 
fragmentos  ,  pois  então  era 
direitamente    chamarem    os 
Hebreus  a  São  Pedro  Mala- 


(■"tde  Sã 
cmm. 


chias  o  velho,  &  ao  outro 
Profeta  Malachias  o  moço, 
viiio  como  ambos  erão  do 
nicimo  tempo ,  òí  o  noíío  o 
antecedia  nos  annos.  Porem 
mais  certo  parece  que  Mala- 
chias  o  moço    morreo,  & 
profetizou  em  ludà  depois  de 
acabado  o  catiueiro  ,  íí^l  redih- 
cado  o  templo,<?c  que  não  fo- 
ráo  hum  &  outro  contempo- 
râneos. A  íegunda  parte  da 
duuida  ferefponde,  queain- 
daque  a  Eícritura  Sagrada  não  Cormlã 
diga  que  o  Profeta  Vrias  tiuef- 
fc  filho ,  cÒ  tudo  não  o  nega, 
&o  argumento  deomiííaò, 
naõ  condue,  nem  tem  força. 
Bafta  pêra  lhe  darmos  credito 
hum  autor  que  o  airirma,ain- 
daquc  outros  o  não  digaõ. 
li       Ao  que  dizem  em  ter- 
ceiro lugar  das  conilituicoês 
ApoftcIicas,&:  Euangelhohc 
muy  facil  a  repoita,  porque 
aindaque  o  primeiro,  que  pos 
em  cfcritura  eílas  Coníf itui- 
coêsfoiSaõ  Clemente,  &o 
primeiro,  que  cfcreaeo  Euan- 
gelho  S.  Matheus  •,  toda  via 
como  a  boa  ordem  pedia, que 
antes  de  os  Sagrados  Apoíío- 
los  fediuidirem  pello.mundo 
aflcntaííèm  entre  fy   o   que 
auiaõde  pregar,  mandar,  &í 
ordenar  acerca  do  Euançelho, 

O 


& 


S.Tedrode  Rates. 


81 


Ã:  adminiftraçáo  dos  Sacra- 
iT.entos;  alsy  era  bem, quedou 
poreícrico,  ou  de  memoria 
leiíaíle  cada  hum  eílas  mef- 
mas  couíasjpera  as  eníinarem^ 
&í  darem  aos  fieis ,  principal- 
mente aos  que  ordenallem 
Biípos  ,  Òj  Paltores  das  oiie- 
Ihas  j  que  íe  vieílem  ao  reba- 
nho de  Chriíto.  Tal  aconte- 
ceo  ao  Apoftolo  Santiago- 
aquellas  meímas  coufas  ,  em 
queaflentarãoos  Apoílolos, 
edetreminaraõfe  guardaíTem 
pcUosChrillãos  nell:a,&  na- 
quella  matéria ,  a  que  os  frag- 
mentos, chamão  Conllitui- 
çoés  Apollolicas,  eflas  deu,& 
eníínou  a  íeu  dicipulo  Sa5 
Pedro  de  Rates,  fem  lhe  íer 
neccílario  efperar  pellas  que 
cícreueo,&  publicou  SaõCle- 
mentcjcomo  também  aquel- 
le  meímo  Euangelho,que  elle 
vio ,  òc  ouuio ,  &r  de  que  foi 
teftimunha  de  vifta,  como 
dicipulotão  ertimado  deChri- 
fto^eíTe  mcfmo,  que  foi  o  que 
depois  efcreuerão  os  quatro 
Euangelitt^as ,  &  Saõ  Paulo 
chamaEuangelhofeUjeíle  deu, 
&  enílnou  ao  mcfmo  Saõ  Pe- 
dro de  Rates,  como  íem  con- 
tradição algúa  eícreucm  os 
fragmentos. 
I  13       A  quarta  contradição 


das  Igrejas  em  que  Saõ  Pedro 
de  Rates  pos,&:  ordenou  Bií- 
pos cuja  fundação  querem  fa- 
zer de  menos  antiguidade :  íe 
reíponde,  que  no  que  toca  ao 
Porto,onde  Saõ  Bafilio  foi  o 
primeiro  Bifpo,nenhúa  duui- 
da  ha  foi  cidade  mais  antigua 
que  a  pregação  doEuangelho, 
ou  vinda  de  Santiago  a  Hei- 
panha,naõ  no  litio,que  hoje 
tem,  porque  eíle  efcolheraõ 
osSueuos  j  mas  no  deGaya, 
donde  fe  mudou  como  dilíe- 
mos  no  Catalogo  dos  Bifpos 
do  Porto.  Chamauafe  entaõ 
Calc,&  pello  bom  Porto,que 
aly  faz  o  Douro,  íeveoacha- 
mar  Portocale  ,  donde  o  Rei- 
no tomou  o  nome  de  Portu- 
gal i  faz  de  Cale  mcnçaõ  An- 
tonino no  feu  itinerário. Emi- 
niojuntoa  Águeda  foi  lugar 
antiquiílimo ,  òí  nelle  ouue 
Bifpo  na  primitiua  Igreja,  po- 
ílo  por  Saõ  Pedro  de  Rates, 
&  defte  Bifpado  fe  faz  men- 
ção no  primeiro  Cõcilio  Bra- 
charenfe  ,  que  traz  frcy  Ber- 
nardo deBrito  tirado  da  liura- 
ria  de  Alcobaça ,  &;  o  lança- 
mos no  cap.  9.  dcíla  hiftoria 
dõdc  fe  conuence  q  faõeíles 
lugares  mais  antiguos,do  que 
os  contraditores  alfirmaõ. 
14       A  quinta  contradição 

em 


I  /».  c.  r. 

c.z.fag. 
26. 


82 


Qafiudo  Xn. 


em  quanto  fazem  alheo  de  to- 
do o  bõ  juizo  auer  tal  reíur- 
reiçaopor  tão  Icuecauía^co- 
mo  a  de  ler  Bifpo  de  Braga 
Saõ Pedro  j  refpondemos^q 
naõ  era  Iciie  cauíà ,  antes  de 
muito  peio  bufcar  pcra  húa 
Prouincia  como  a  de  Heípa- 
nha  hum  homé_,  a  quem  por 
leu  profecajói  natural  coníie- 
cido  de  ícus  auòs ,  &í  deíi'erra- 
do  com  ellcs  refpeitallem,  & 
veneraílem  os   ludeus,   que 
naqucUe  tempo   viuiao  por 
eilas  partes.  Leucmentc  culpa 
quem  tem  por  muito  reíuci- 
tar  Santiago  a  SaõPedr  o  mor- 
to de  feiícentos  annos   pêra 
fundar  a  Fè  emHeipanhajpera 
íer  Primas  de  todaella  ,  pêra 
fullituir  as    vezes  de  fcu  Me- 
ílre  Santiago,  que  íe  aufenta- 
uai  em  fim   pêra  fer  Meílre, 
Pay,  &  Apollolo  dos  Hefpa- 
nhoeSjComo  lhe  chama  o  pri- 
meiroConciiiode  Braga.Bem 
íe  vc  quaes  eftauão  então  os 
ludeus  de  Heípanha^^:  quan- 
to necefsitauão  de  quem  por 
natural  os  conuencefe,  por 
da  mefma  ley  algua  hora  os 
encaminhaíle ,  Sc  por  morto 
de  tantos    íeculos  os  encheíe 
deefpanto.  Afsy  que  não  foi 
leuc  o  fim  a  que  efta  prodigio- 
I  fa  rcfurreição  fe  ordenou  :  foi 


digniílima  ca  prouidcnciadi- 
uina  pois  delia  íe  íeguirão  ^  ôc 
leguem  ainda  tantos  bens. 
15  Epofto  que  foiprodi— 
giofa  eita  rcfurreição  de  Saõ 
Pedro  morto  de  tãtos  annos, 
não  he  com  tudo  marauiiha, 
&  milagre  tão  nouo,quenão 
aja  outros  femelhantes,  com 
que  fepoílã  confirmar,  &  cõ- 
ucncer  a  opinião  dos  que  o 
negão.  Seja  o  primeiro  o  que 
fe  conta  de  Saõ  Maurilio  Bif- 
po Andegauenfe  em  França^q 
hoje  fe  chama  Argies.  Dizen- 
do miíTaeile  Santo  chegou  a 
ellc  húa  molher  com  hú  filho, 
q  eílaua  em  artigos  de  morte, 
pedindo  lhe  deíle  o  Sacramé- 
to  da  confirmação  peraque 
morrcíle  com  a  graça  delle. 
Amauao  a  may  muito  pello 
auer  alcançado  íendo  elferil 
por  orações  do  meímoSanto. 
Deteueíe  elle  muito  no  íacri- 
ficioda  mií]a,&  entretanto 
o  moço  cfpirou  .  Pareceoao 
Santo  ,  que  por  culpa  fua 
morrera  fem  o  Sacraméto  da 
Confirmação ,  ôc  foi  tanto  o 
fentimento  que  teue ,  que  de- 
terminou calli^ar  em  fv  aqlle 
deícuido  com  nouas,c  afperas 
penitencias.  Pêra  eítc  eftcito 
íe  íahio  fecretamçnte  da  cida- 
de, &  fe  embarcou  em  hum 

nauio 


/^V 


r' 


S.  Tedro  de  Rates. 


83 


nauio,  ciõdc  íaindo  em  terra 
íc concertou  com  húa  pefloa 
principal  pêra  Ihecultiuar,^,: 
ter  cuidado  de  húas  hortas .  O 
ClerOj5.:  pouo  de  Argies  vcn- 
doíeíem  Paftor  ficaraó  ma- 
goados,&:  confufos^  &c  muico 
mais  depois  que  Deos  c5  va- 
rias viíoés  os  foi  períuadindo, 
que  buícaírem  íeu  Prelado. 
Tratarão  de  o  fazer,  &  cfco- 
Ihendo  quatro  cidadãos  dos 
mais  calificados ,  &  prouen- 
doos  de  todo  onecellario  pê- 
ra o  caminho,  lhes  ordenarão 
que  não  tornaílem  fem  lhe 
trazerem  o  fcu  Bifpo,por  quê 
tanto  fufpirauão. 
i6  Muitos  annos  andarão 
neib  demanda  ate  que  por  húa 
reuelação  que  tiuerão  do  Ceo 
chegarão  a  caía  daquella  peí- 
íoa  principal,  &  viraõ  a  Mau- 
rilio  queleuaua  ortaliça  pêra 
o  íeruiço  de  feuamo  ^  conhe- 
cerãono  ,  &  marauilhados  fe 
lançarão  a  feus  pès  ,&  lhe  dif- 
fcrão  quem  crão,&  ao  que  vi- 
nhão  pedindolhe  fe  tornafle 
comellesa  Argies  pêra  bem, 
e  proueito  daquellas  ouelhas, 
que  Deos  lhe  tinha  encarrega- 
do .  Turboufe  o  Santo  com 
aquella  nouidade  tão  repenti- 
na, depois  de  tanto  tempo  de 
aufcncia.  E  ainda  que  lhe  fa- 


zião  grande  força  os  rogos,  Si 
lagrimas  daquelles    cidadãos, 
nao  fe  deixou  vécer  dclles,an- 
tes  coníultou  com  o  Ceo  o  q 
auia  de  fazer,  &  pondoíe  hv.a 
noice  em  oração  adormcceo^ 
&  viohum  Anjo,quelhe  dií- 
fe  fe  leuantaíle,&  fizefle  o  que 
deíejauaõ  fuás  ouelhas  ,  pois 
por  luas  orações  Deos  as  ti- 
nha guardado.  Com  ella  re- 
uelação do  Ceo  fe  pos  o  San- 
.  to  Biipo  no  outro  dia  a  cami- 
nho acompanhado  de  muita 
gente, &  defembarcando  no 
íeu  Biípado  foi  recebido  de 
feus  fubditos  com  grande  fe- 
ll:a,& alegria  de  todos.  En- 
trou na  cidade  ,   &    foi  à  fe- 
pulrurado  moço,onde  fazen- 
do oração  a  Deoj  que  o  reíu- 
citaíle,  ao  mcímo  paílo  que  o 
Bifpoíe  leuantou  da  oraçaõ, 
fe  ergueo  o  moço  da  fepultu- 
raaucndo  muitos  annos  que 
jazia  enterrado  nella.    Chrií- 
mou  o  logo ,  chamoulhe  Re- 
nato, que  vai  omeímo  que 
duas  vezes  nacido  •,  dedicou  o 
à  Igreja,  &  Deos  o  ornou  de 
tantas  virtudes,  que  mereceo 
fuceder  noBifpado  ao  mefmo 
S.  Maurilio,  ^  refplandecer 
com  muitos  milagres ,  iV  fer 
digno  dicipulo  de  tão  grande 
meftre.He  de  Sãto  Antonino 


Anton.z, 

p.daftitn. 
hl/?. ti.  I  o 


oq 


ue 


H 


Snri9  r, 
to.em  i3 
de  Sftíb. 

Flejfant.  \ 

2.  p.  1 7. 

de  Set'if. 

V^tnehio 

ttm.Uno 

fpec.hiji. 

tib-i-jx. 


Capitulo  XVI. 


o  que  temos  referido,  de  Lou- 1 
lenço  SuriOjRibadenerajVin- 
cenciOjcS:  outros  Autores. 
17  Tenha  o  fcgundo  lugar 
outro  milagre  femelhantc  de 
Sáto  Eítanislao  Bifpo  de  Cra- 
couia  feito  em  hum  defunto 
de  três  annos  que  rcíucitou. 
Comprou  efle  Santo  pêra  íua 
Igreja  híía  herdade  a  hú  home 
chamado  Pedro^era  ja  morto, 
auia  três  annas ,  &c  os  herdei- 
ros por  comprazer  a  ElRey  de 
Polónia  Boleslao  moueraõ 
demanda  ao  Bifpo  dizendo  q 
lhe  tinha  vfurpado  aqlla  he  r- 
dade.Naò  ouíàuaoas  teftimu- 
nhas  dizer  a  verdade  com  te- 
mor dei  Rey.  Pedio  o  Santo 
três  dias  pêra  trazer  aly  ao  vê- 
dedor  defunto.  Concederao- 
Ihos  z  ombando  da  promella, 
de  muito  mais  da  confiança 
de  quem  a  fazia.  Gaitou  o  Sá- 
to os  três  dias  cm  oração ,  & 
no  fim  delles  depois  de  dizer 
miííafoi  à  fepultura  onde  cfta- 
ua  o  defunto  -,  mandou  tirar 
a  pedra,  &  defcobriro  corpo-, 
tocoulhe  cò  o  bordão,  que  ti- 
nha nas  mãos ,  &  mandou 
que  fe  leuantaíTe.Obedeceo  o 
morto ,  &  leuado  a  j  uÍ2  o  de- 
pôs claramente  que  o  preço 
da  herdade  lhe  fora  entregue, 
&  encarregou  a  todos  os  pre- 


ícntes  fizefícm  penitencia  de 
fcus  peccados ,  &c  íe  arrepen- 
deílem  da  molcltia  ,  que  cen- 
tra j  uíHça  auião  dado  a  Ella- 
nislao.  O  Santo  Bibiípo  lhe 
perguntou  íe  queria  viuer  al- 
guns annos  ncile  mundo^que 
lhos  alcançaria  de  Deos.  £í- 
colhcoPedro  tornarfe  antes  à 
ícpultura,que  ficar  em  húa  vi- 
da taõ  pcrigoía,  dizendo  ao 
Santo  que  eílaua  no  purgató- 
rio ,  òc  que  lhe  ficaua  pouco 
tempo  de  pagar  os  peccados 
que  auia  cometido,  que  mais 
queria  cftar  leguro  de  íua  íal- 
uação,que  porfe  encontin- 
gencia  de  perdela  ,  tornando 
ao  golfo  dcíl:e  mundoj  ío  lhe 
pedia  que  rogafle  a  Deos  lhe 
remitiíle  aquellas  penas,  Sc  o 
leuaíle  dcprella  a  gozar  da 
bemauenturança-  Pvefereelíe 
milagre  Lourenço  Surio ,  Vi- 
Ihegas ,  Ribadenera  ,  &  ou- 
tros. 

1 8  Naõ  he  menos  notauel, 
o  q  efcreuc  o  Padre  frey  Fran- 
cifco  Gonzaga  de  outra  refur- 
reição  igualmente  prodigiofa 
qucnas  Canareasfcz  oBema- 
uenturado  Saõ  Maclouio  in- 
do de  Efcocia  a  viííralas.  Foi 
eíte  Santo  varaõ  o  primeiro 
pregador  Apoftolico  queti- 
ueraõ  aquellas  ilhas. Ncllasan- 


Sario  to. 
3.  8.  de\ 
Aíayo  c. 
16. 

riiieg  cr 

Ribad. 
Flofmt. 
'i  7.  d.e 
Aíay} 

De  ori^im 
nc   ReliJ 
gwnis 
Fric.^. 
pJH  frin. 


tou 


S^o  Tedro  de  Tl^ates. 


85 


dou  rcceannoseníínando_,cõ- 
ucrccndo^»?!:  conquiítancio  al- 
iras  pcra  o  Ceo.  Entre  outros 
milagres  que  fez  de  grande  ef- 
panto  pêra  os  naturaes  foi  re- 
lu citar  hú  Gigante  de  eftra- 
nha  grandeza  morto  de  mui- 
tos  annos,  o  qual  rererio ,  &: 
contou  os  tormentos  que  pa- 
dcciác  no  Inferno  os  ludeus, 
6v;  Ge  tios  .Foi  bautizado  pcUo 
Santc,&  viueo  depois  muitos 
annos  com  grande  admiração 
dos  que  o  viaõ,  «Sc  rcíultou  do 
milagre  grande  fruto  fpiritual 
em  todos  os  moradores  da- 
quellas  ilhas. 

19    Eemadmirauelhco  qdc 
huafanta  donzella  nofobre- 
nom.e  também  admirauel,  & 
no  nome  Chriílina^cótaÕ  au- 
tores muy  graues.Morreo  ci\a 
Santa  de  idade  de  doze  annos 
em  SantoTrudon  cidade  de 
Alemanha  •,  foi  leuada  ao  lu- 
gar do  Purgatório  ,ondevio, 
&  confiderou  os  grandes  tor- 
mentos que  nelle  padeciaõas 
almas ,  &  fé  doeo  de  náo  po- 
I  derajudalas_,  ÔJ  focorrelas-,da- 
hy  foi  aprezentada  diante  do 
Tribunal  Diuino,  onde  Ihefoi 
dito,  que  efcolheílefe queria 
ficar  na  bemaucnturança,  ou 
tornar  ao  corpo,  &  fazer  pc- 
I  nircncia  pellas  almas  do  Pur- 


gatório, de  cujas  penas  tanto 
lelaítiraara/pcraasaliuiar,  & 
alcançar  poí  liio  depois  may.or 
oloria.  Eicoll;co  a  Santa  tor- 
narao  mundo,  Viueo  quaren- 
ta &  dous annos  gaílados  em 
aiperas  penitencias,  ^  obras 
admiraueis  em  aj  udadas  almas 
do  Purgatório.  Depois  íe  toi 
pêra  oCeo  onde  alcançou  ma- 
yores  grãos  de  gloria.  Saõ  au- 
tores deíla    hiitoria  lacobo 
Biípo  de  Ancona  ,  Dioniíío 
Cartufiano,LaurencÍQ  Surio, 
frey  Dimas,Ò<:  outros. 
10     Cõ  ciles  ,  &  outros  cxc- 
plos  que  pudéramos  referir, 
ficara  a  rcfurreição  de  Saõ  Pe- 
dro de  Rates  menos  duuidoía 
no  parecer  daquelles  que  por 
noua,  &  rara  a  quifcráo  im- 
pugnar ,  vendo  "que  lendo  da 
melma  qualidade,  &  com  as 
incímascircunllancias  os  mi- 
lagres que  referimos  naõ  ouue 
ate  gora  quem  os  j  ulgaíle  por 
fufpcitos ,  nem  quem  tomaíle 
a  pena  pcra  calumniar.  os  au- 
tores que  os  aífirnuo,&dáo 
por  certos. 

t 


4.  Áe  na» 
f*tfí.  Art. 

Sí,r  to.^, 
mcHJe  Ih 

rltj, 
Damaf, 

tYAt.   do 

Purgat. 


H 


GAP. 


-fl" 


86 


Capimlo  XVÍI. 


íL\'-^'C 


CAPltVLO  XVÍI. 

C  O  N.Tl  N  VA  A  MA  TE- 
ria  do  capitMÍo  pajfado  em 
defanfaò  dos .  fragmentos .  de. ' 
fanão  Athanajw.    .    ..  >  -;.  r 


EDE  mais  a 
quinta  obiec 
cãó  cõtra  os 
fragmétos  re- 
loiíicr  onde 
dtaua  a  alma  de  São  Pedro 
quando  o  refucitou  Santiago. 
O  modo  mais  facil  delhereí- 
ponder  he,  q  quando  as  almas 
íairaõ  do  S  ey  o  de  Abrahaõ,  & 
Purgatório  com  Chrifto  re- 
íucitado  na  manhã  de  fua  Re- 
íurreição,  &  aos  quarenta  dias 
fífbiraó  com  elle  ao  Ceo,nâo 
foialyàdc  Sao  Pedro,  antes 
porque  aísy  importaua  ao  bé 
da  Igreja,  Tc  ficou  na  terra  po- 
fta  no  lugar  que  o  mefmo  Se- 
nhor lhe  deftinaria  atê  outra 
vez  íc  vnir  com  feu  corpo, 
quando  por  orações  de  San- 
tiago nelle  entrou. Nem  con- 
tra ifto  faz  o  verfo  de  Dauid. 
Captiuam  duxit  captiuitatem-^ 
Porque  pêra  í'e  cumprir  bafta- 
ua  acompanharem  ao  Senhor 
tantos  milhares  de  almas  quã- 


tas  o  acompanharão  j  &r  aísy 
corno  èfte  texto  nada  emba- 
raça aos  Theologòs,que c^ii- 
dão  ficarão  ainda  aquclle  dia 
da  Afcenfaõ  de  Chrifto  rnui-- 
tas  almas  no  Purgatório  aca- 
bando de  penar  o  que  ihes  fal- 
tatia,  aísy  pouco  pode  emba-' 
raçar  fer  kíía  das  que  ficarão 
(naõ  no  Purgatório  )  a  deSaÕ 
Pedro,  pois  íicaua  pêra  tanta 
gloria  de  Dcos ,  íem  poriílo 
padecer  violência  o  texto  fa- 
grado. 

1  Mas  porque  luliano  Aci- 
preíle  de  Toledo  diz,  qdehúa 
das  cadeiras  doGeoveo  a  al- 
ma deSaõ  Pedro  -entrar  ou- 
tra vez  cm  íeu  corpo ,  poftoq 
naTheologia  o  naó  temos  por 
tão  vifto  como  na  hiftoria: fa- 
lando agora  na  meima  cõfor- 
midade  parece  não  implica 
efte  feu  dito^porque  aindaquc 
ferepreséte  difficukoío  depois 
de  húa  alma  ter  a  pofie  da  bem 
auenturança  priualla  delia  ^ 
iílo  corre  quando  Deos  obra 
de  Icy  ordinária,  &  não  quan- 
do por  fua  omnipotência, a 
que  nada  he  impoíTiucl ,  quer 
fair  de  todo  o  curfo  ordinário. 
Quantos  Thcologos  conce- 
dem que  das  penas  do  Infer- 
no, aonde  cftaua  padecendo, 
tirou  Deos  a  alma  do  Em— 

perador 


In  adtierf 
150. 


Sao  Tcdro  de  ^ates. 


87 


S.lho.in 

(j.i.art  2 
ad  c^mntii 

Et  tu  4ci 

ditiombus 

AÀ  tertii 

pítrt.q. 

drt.^.éà 

ejuirttum 

Durando 

m  ^.dijf, 

4Í-7-  2. 

adttrttu.. 

Gxbricl 

fuftr  Ca- 

nen  mif* 

íca.  ,6. 

Ut.y.^a^ 

Cordnb 
Ib.  I.  q 
^i.tnfine 
Ledefm* 

sr.i^.fd 
i6).  f 

Frçterea. 
^buUnfe 
tio  4.  dos 
Kfjs  (ap. 

4'í-  57- 
Hiriq.-n 

fnitjmitli. 

^.c.i6.n. 

3.  disfer 

tom^  ept- 
rtiaÕIlhef 
tAS  njt  vi 
da  de  S. 
Crtvtrit, 


Emperador  Trajano  pcra  a  le-  r 
uar  à  bcmauenturançajcábem 
podia  tirar  doCeo  a  de  Saó  Pe- 
dro pêra  a  meter  em  ocalioés 
de  nouos  mcrccimcntos,com 
que  lhe  acrecentaíle  a  gloria 
quando  depois  tornaíle  aella. 
SeinlHo(como  acima  faziío) 
que  a  bemauéturança  pede  de 
íy  perpetuidade_j  &  he  tal  ac- 
çáo,q  luo  pode  acabar,  dou- 
tra maneira  naÕ  íeria  perfeito 
bem,  &  deixaria  folicitos  os 
bcmaucnturados.Dirlheemos 
quenê  todos  os  Theologos 
cntédem  a  natureza  dabcma- 
ucntu rança  ícr  de  fy  mefma 
eterna,baíU  feio  porq  nenhúa 
força  externa  a  podecorróper, 
oqbaftapera  tornar  feguros 
os  que  delia  gozlo,  alem  de 
fer  taõ  grande  bem ,  que  não 
deixa  aduertir  aos  bcmauen- 
turados  íè  acabará,  ou  não  ,a 
fim  de  por  iíTò  terem  algúfo- 
brefalto,como  lhe  não  cauíè 
nenhij,  poder  Deos  cõ  efíeito 
tirarlha  quando  queira  obrar 
tudo  o  que  lhe  hc  pofsiuel. 
Com  outras  rczoés  defendem 
os  Theologos  as  palauras.re- 
fcridas  de  Iuliano,as  quais  dei- 
xamos por  Efcholaílicas ,  &: 
por  não  pertencer  agora  aue- 
riguar  o  ponto  defta  queftão. 
3       Na fubira,  &  repentina 


apparição  deilcs  fragmentos 
em  Cerdenha,&  Aragão,  que 
he  o  que  no  vitimo  lugar  ca- 
lumniauão,tem  menos  rczáo 
que  em  aigúa  das  deíconue- 
niencias  pafladas .  Quantos 
liuros  apparecerão  no  mundo 
de  q  não  auia  noticia  nenhúa? 
Quantos  por  fe  não  fazer  cafo 
dciles  andão  efquecidos,q  ain- 
da dcícobriraÕ  muitas  verda- 
des, q  hoje  Ic  ignoraõ?  Grade 
bem  íbra  íe  fe  poderão  deíco- 
brirosq  ou  o  medo  dos  Gé 
tios,ou  a  tyrania  dos  Mouros 
fez  cíconderemHerpanha,ou 
embarcar  pêra  fora  dclIa?Se  va 
lera  algííacouíà  efta  obiccção, 
quantas  obras  de  Sãtos,&  au- 
tores grauifsimos  ,q  de  nouo 
fe  publicarão  feruiria  virem  a 
luz  de  mayor  afronta, &:có  tu- 
do acontece  pello  contrario. 
Eftimaíè  hoje  muito  maisS. 
Dionifio  Areopagita  depois  q 
feus  efcritos  andaõ  nasmaós  áz 
todos,  eftando  ícpultados  no 
efquecimcnto  quafi  izoo.  an- 
nos.Ninguéconhcceo  0$  Ida- 
cios,os  Valclaras,  os  SãPiros, 
os  Ilídoros,os  Sebaftianos,  & 
outros  q  hoje  fe  lem  cò  tan- 
to gofto,  &c  proueiro  fenão 
de  poucos  annos  a  cila  parte, 
em  que  homens  curiofos ,  & 
amigos  do  bé  comum  os  pu- 


H2. 


blicaraó 


iiS 


Capimlo  XVIII. 


InUanem 
Acítierf. 

■m-  44- 
».  190. 

'■.etpag.zé 
[^'•99  ■ 

VEcclefde 
{lui   foi. 

'^fchola- 
JHs  hift.de 
f^alen^.  i 
f.  íib.  2 
ir.i. 

'0^aur.li. 
t.    Í.22. 

PiUAY.M, 

? 

•^  r 


blicaráo  achandoos    enrola- 
dos em  pergaminhos ,  de  (]ue 
ja  íenáo  fazia  conta.  Muitas 
coufas  antiguas  deícobrc  a  ida 
de  prefente,&  defcobrirão  as 
futuras  em  q  os  que  hoje  faõ, 
ôc  depois  feguirem  fc  hão  de 
achar  ignorantes. 
4  Quáto  mais  q  náo  foi  a  ma- 
téria deftcs  fragmétos  nos  fe- 
culos  paílados  tãodeíconhc- 
cida_,que  não  faça  delia  men- 
ção Caledonio  Arccbifpode 
Braga  (cuja  vida  adiante  efcre- 
.ueremos)  naqueelleefcreueo 
de  Sa5  Pedro  de  Rates_,  &  fica 
cm  parte  referida  acima  na  car- 
ta dcHugo  Bifpo  do  Porto. 
Caledonio  viueo.pellos  annos 
deiUo.  ha  1373.  HogoBifpo 
do  Porto  florecia  pellos  an- 
nos de  II 00.  como  íc  vè<la 
Hiftoria  Comportelanacujo 
autor  foi.   Tem  mmto  dos 
mefmos  fragmentos    Flauio 
Dextro, quali  tudo  lunano, 
Aciprcftc  de  Sãta  lufta  é  To- 
ledo,&  cõtemporanco  deHu- 
jTo.Dõs  modernos  os  recebe, 
&feftcja  dõPrudéciodeSan- 
doual  Bifpo  deTui,&  Pãplo- 
na,  o  Chronifta  Gafpar  Efco- 
Iano,Dõ  Mauro  Caífella  Fer- 
rer  na  hiftoria  de  Santiaeo:Fr. 
Francitco  de  Biuar  nos  com é> 
ros  deFlauioDcxtro. 


CAPITVLO  XVIII. 

EM  QFE  SEPROSEGVB 
auida  de  SaÓ  Pedro  de  Ra- 
tes primeiro  Àrcebijpo  de 
Braga. 

Sfcntada  na 
forma  q  aci- 
ma vimos  a 
refurreiçaõde 
SaÕ  Pedro  de 
Rates  por  feu  meftrc  Satiago, 
rcfta  paífarmos  ao  mais  de  íua 
vida ,  fe  bê  ja  delia  temos  da- 
do algíja  noticia  no  Catalogo 
dosBifposdo  Porto.  Sobre  a 
pátria  dcíle  Santo  Arccbifpo 
ha  algíjas  opiniões .  Braga  o 
pretende  para  fy,  cõ  o  parecer 
de  luliano ,  q  lhe  chama  cida- 
dão delia  ,  ôc  o  mefmo  nome 
lhe  da  o  Arccbifpo  Caledonio 
na  carta  q  atràz  referimos, Frã 
ça  o  quer  nouamente  por  feu 
natural  cõ  aautoridadcdeRo- 
bcrto  Cláudio  presbytero  de 
Longres,o  qual  lhe  dà  por  pá- 
tria a  cidade  de  Limoges^q  por 
outro  nome  fe  chama  Ratia- 
ftú  cóforme  a  lulio  Ccfar ,  & 
Ptolomco,  &  daqui  di7,q  to- 
mou Saõ  Pedro  o  febrenome 
de  Ratenfe,   ou  Ratiftenfe. 

Ã" 


l.f.C.  2. 

Inltaritin 
adHtrfn. 
172.  & 


TnjHtt 

Gat.Chri 
[fian.fag, 

344- 


Sao  Tedro  de  *\Rjates. 


89 


Icrcm.c, 

'26. 


A  terceira,  &  mais  certa  opi- 
nliohe  que  foi  ludcii  de  na- 
ção nacido  na  Proiiincia  de 
Palclliina  _,  &(como  melhor  fc 
ccUigc  dos  fragm ecos  de  San- 
to Athaíiario)dehúa  das  duas 
Tribus  Saccrdotal^ouRcalvê- 
cidas  j  &  leuadas  catiuas  a  Ba- 
bylonia  por  Nabucliodono- 
íor.  Seu  pay  fe  chamou  Vrias, 
«?\:  parece  aquclle  a  quéElRey 
loachim  mandou  tirar  a  vida 
por  lhe  pregar  o  que  clle  não 
queria  ouuir,  &  o  refere  em 
ília  profecia  Icremias  leu  con- 
temporâneo. TeueSaõ  Pedro 
o  mefmo  dõ  de  profecia  que 
feu  pay.  Sahio  dell:errado  cõ 
os  mais  catiuos  de  Babylo- 
nia  peilos  annos  da  creação 
do  mundo  4743.  conforme  a 
conta  dosSetentajantes  davin 
da  de  Chrift o  quinhentos  & 
oitenta  &  fere.  Do  nome  pró- 
prio que  então  tinha  nos  não 
confia  j  conftanos  porem  o 
chamauão  05  do  feu  tempo, 
&  os  que  depois  delle  (qlc- 
guirão »  Samuel  o  mais  mo- 
ço,  ou  Malachias  o  mais  ve- 
lho ,  pella  femelhança  que  ti- 
nha nafantidadecom  os  pro- 
fetas Samuel  ,  &  Malachias, 
de  quem  ha  grande  memoria 
nos  liuros  fagrados. 
1       Era  na  fermofura  do  ro- 


llo,ôv:  compoíição  dos  mcm 
bros  qual  vcrdadeiramenre 
pedia  o  nome  de  Malachias, 
que  conforme  aos  m.clhores 
intepretes  vai  o  meímo  que 
Anjo  do  Senhor.  Sahio  com 
os  íèus  naturaes  de  Eabylo- 
nia  a  Helpanha,  quraido  a  ella 
foraõ  mandados  por  Nabu- 
chodonofor  ordenandoo  aí- 
I  íy  a  diu  ina  prouidencia  pêra  q 
aquelles  catiucs  tiuefiem  com 
quem  íe  coníolar  ncll:a  noua 
aHição  .  Foi  íua  morada  na 
Prouinciadeantre  Douro  Ôc 
Minho,  &(íegundoefcreueo 
Caledonio,  &í  refere  Hugo) 
morou,»3c  toi  cidadão  dcíla  ci- 
dade de  Braga,  na  qual  não  la- 
bemos  dizer  né  fe  morou  os 
annos  q  teue  de  vida  em  H.q(~ 
panha  ,  nem  fe  ncUa  o  tomo  u 
a  morte.  Como  quer  q  foíle, 
Santiago  o  refucitou  mais  de 
quinhentos  annos  depois  de 
morto,c5  efpanto  de  todos  os 
q  tiuerão  noticia  defta  prodi- 
giofa  refurrcição .  Pòslhcpor 
nome  Pedro  no  bautifmo  em 
memoriado  gloriofoSaõ  Pe- 
dro  Príncipe  dos  Apoílolos, 
&  ordcnãdoo  logo  Sacerdote 
o  deu  por  primeiro  Prelado  a 
eífa  Igreja  ,  &  por  pedra  fun- 
damental ào  edifício  cípiritual 
delia. 


H3 


Pai- 


90 


Caftmlo  XFIII. 


3      Paímaua  o  pouo  coma 
pregação  de  hú  home  morto 
de,  tantos  annosjconuertuoíe 
muitos ,  &  não  era  menor  o 
numero  dos  Hebreus   quan- 
do lhe  ouuiaó  referiras  coufas 
de  fcus  antepaflàdos,&  como 
elle  antiguamête  fora  daquella 
ley ,  &  agora  profeílaua  a  de 
Chriftojpor  a  outra  fer  ja  aca- 
bada, íegundo  por  fcus  pro- 
fetas eftaua  muito  dantes  pro- 
fctizado.Diícorreo  por  diucr- 
fos  lugares  de  Hefpanha;inlli- 
tuyo  varias  Igrejas,  dandolhe 
nouos  Bifpos,  huns  dos  que 
aprenderão  na  mefma  cfchola 
de  feu  meftre  Sãtiago ,  outros 
dos  que   elle  próprio  con— 
uertia ,  &  lhe  parcciaõ  mais 
proueicofos  ,  &  acomodados 
pêra  regerem  almas.  Forao  en- 
tre eltcs ,  dous  principais  Saõ 
Baíilio,  a  quem  encarregou  a 
Igreja  do  Porto,&  Santo  Epi- 
tacio  a  de  Tui,ambos  primei- 
ros Bifpos  delias.  Também 
nomeou   outros  nas  de  Iria 
Flauia,  de  Amphilochia,  de 
Eminio,  Coimbra,&  Lisboa, 
de  cu  j  os  nomes  nos  não  ficou 
noticia  algíja .    A  todas  eílas 
Igrejas  vifítaua,  &  acodia  o 
Santo  com  particular  vigilân- 
cia ,  como  aquelle  a  quem 
Santiago  entregara  a  primeira 


Igreja  de  Hefpanha ,  debaixo 
de  cuja  obediencia,&emparo, 
auiaõ  de  cílar  as  outras ,  que 
pellos  annos  adiáte  fe  foílem 
inftituindo, 

4     No  tempo  que  o  glorio- 
fo  Saò  Pedro  eltaua  gouer- 
nando  a  fua  Igreja  de  Braga, 
foi  em  lerufalem  morto  por 
Herodes  Santiago  feu  meítrc 
na  volta  quede  Hefpanha  fi- 
zera àquclla  cidade,  naforma 
que  nos  aótos  dos  Apoftolos 
fe  conta.Por  diuina  reuelaçao 
alguns  dos  dicipulos  que  en- 
tão trazia  cõíÍgo,fe  fairão  com 
o  fagrado  corpo  de  Paleftina, 
«Sj  embarcados  no  porto  de 
loppe ,  ou  laíFa  tomarão  a  via 
de  Hefpanha,  &   chegarão à 
coll:a  de  Galliza ,  pêra  aly  lhe 
darem  a  fepultura,  que  o  Cco 
Ihetipha  determinada. Os  par 
ticulvires  defta  tresladação  re- 
ferimos ja  em  outro  lugar,on- 
de  acrecentamos  como  na  ci- 
dade do  Padrão  fe  ajuntarão 
muitos  dos  dicipulos  do  San- 
to Apoílolo,que  por  Hefpa- 
nha viuiaõ  efpalhados  c5  os 
mais  que  de  Paleftina  trazião 
as  fagradas  rcliquias;  &  aly  c5 
grade  veneração  as  collocarão 
debaixo  de  hum  altarjdizendo 
miíla  fobre  ellas,  como  então 
fe  coftumaua.    Naõ  nomea 


AHorAz 


Cata!.  I 


Fl 


auio 


1 


S.Tedrode  Rates. 


91 


Bi  fiar.  in 
'  Dext.atit 

Chufli 


^Rodeft 
1  Cdrm  ad 
Dext.an 

Chriftt 


Flauio  Dextro  entre  osdici- 
pulos  que  aqui  íe  acharão  a 
Saõ  Pedro  •,  porem  coniedtu- 
rão  graues  autores,que  a  tudo 
fc  acharia  preícnte  não  fò  co- 
mo particular ,  mas  como  ca- 
beça de  todos  jdilpondo,  Sc 
ordenando  as  ccremonias  da- 
quelle  piadofo  ,  &  rchgiofo 
ado .  Vefe  hoje  no  mcfmo 
lugar  hua  coluna  com  osvcr- 
(os  feguintcs. 

Cum  Sanãõ  lacobofuit  htcc 

allata  columm^ 
Ara^  infcripta  fimul^  qu4 
fuper  eUpoJita^ 
Cuius  difcipulifacrarút  cre 

dimus  ambas  ^ 
At^  exhis  aram  coUituere 
fuam. 

$  Entre  outros  artigos  da 
noíla Tanta  Fc,  prègaua  Saõ 
Pedro  de  Rates  com  mayor 
fcruor  aquclle,  que  fabia  fora 
particularmente  apõtado  pot 
feu  meftrc  Santiago  na  infti- 
tuiçáo  do  Credo,  quando  os 
íkgrados  Apoftolos  antes  de 
íe  diuidirem  pello  mundo  o 
ordenarão;  ifto  hc,quc  o  Ver- 
bo Eterno  encarnado  naceo 
de  Santa  MARIA  fua  May, 
ficando  cila  fcmprc  Virgem, 
antes  do  parto  ,  no  parto ,  & 


depois  do  parto.  Com  muita 
atenção,  &c  piedade  recebiaò 
os  Hcrpanhocs,&  ouuiaõefla 
verdade.  Foi  a  principal  a  fi- 
lha de  hum  Rcy  ( alli  fe  cha- 
mauão  então  os  ícnhores  das 
cidades  particulares)ou  Regu- 
lo de  Braga,  &  íeudiftridío, 
a  qual  leuada  da  fermofura  de- 
lta virtude  a  confagrou  por 
voto  a  feu  criador.  Confír- 
maua  o  Santo  a  doutrina  que 
prègaua  có  muitos  milagres. 
Deu  íaude afilha  do  Regulo, 
aqualeftaua  doente  de  lepra, 
&  com  o  milagre  fe  bautizou 
ella,  &  fuamay,  &  ambas  fo- 
rãoinftruidas  nos  myiterios 
da  Fe.  Naó  podendo  entre  tâ- 
to  opayfofrera  mudança  da 
filha,dcíejou  vingar  fe  no  me^ 
llrc,q  lhe  iníinaraaquella  dou- 
trina ,  com  lhe  tirar  a  vida. 
6    Soube  Saõ  Pedro  como  o 
bufcauão  pêra  o  martyrizaréj 
&  parecendolhe  q  fua  prefen- 
ça  era  ainda  ueceflaria  a  fuás 
ouclhas(por  ellas  afsy  lho  pe- 
direm)  fe  aufcntou  de  Braga 
na  forma  que  a  feus  pregado- 
res, &  fieis  aconfelhara  Chri- 
fto.  Porem  mandando  o  Rcy 
em  feu  feguimcnto  o  foraõ  al- 
cançar no  lugar  que hojecha- 
mão  Rates ,  quatro  Icgoas  de 
Braga,ondc  ja  auia  pouoação 

H4  d< 


92 


Capitulo  XVIIL 


\ 


cleChrillaos,&  ígrejaj&  aly 
diante  do  altar,  aonde  o  acha- 
rão de  giolhos  os  miniltros 
do  tyraiio  ,  lhe  tirarão  a  vida 
com  cruéis  golpes  de  cutila- 
das, &  eftocadas,  fem  ncnhú 
dos  fieis  íe  atreuer  alhe  dar  fe- 
pultura^  pello  medo  queti- 
nhão  dos  Gentios.  Mas  orde- 
nou aDiuina  Prouidécia  que 
os  próprios  algozes  o  metcf- 
íem  debaixo  das  paredes  da 
mefma  Igreja,  q  puzcraõ  por 
terra,  cobrindoo  de  pedras, 
porque  de  ningue  fofieacha- 
do^ncm  reu€rcncic.do,&q  de- 
íia  maneira  eftiueíTe  ate  fc  lhe 
dar  fepultura  na  Forma  q  logo 
diremos. 

7     Succdeo  feu  martyrio,fc- 

gundo  Flauio  Dextro,pellos 

anncsde4j".  de  nolíareden- 

çáo,fendo  Vigairo  de  Chriíío 

na  terra  Saõ  Pedro  ^  &  Empe* 

radores  Caligula,  &  Cláudio 

feu  fuceííor,  òc  tio.O  Marty- 

rôlogio  Romano,  &  Breuia- 

rio  Brácharcnrc,o  poecm  16. 

de  Abril,em  que  nclla  cidade 

fe  fáz  fuá  fefta.Rèzão  delle  alê 

defta  Igreja  os  Padres  de  Saõ 

Bento  pello  Breuiario  nouo-, 

os   de  Saõ  Domingos   por 

caderno  particularapprouado 

pellos  Summos  Pontifices  . 

.  A ndãofúas  lições  nos  Breuia- 

.T- 


riosantiguos  de  Toledo,  6c 
Santa  Cruz  de  Coimbra  ,& 
nos  de  outras  igrejas  deHcf- 
panha,  q  a  eík  de  Braga  tiue- 
r.ioja  algum  tempo  ícgeição 
de  íuffraganeas. 
8     Falando  de  Saõ  Pedro ,  & 
íeu  martyrio  Flauio  Dextro, 
tem  híias  palauras ,  que  gran- 
demente diuidirão  aos  auto- 
res defte  tempo  j  hunsporca- 
lumniarem  as  obras  que  cm 
feu  nome  pouco  haíairaõ  a 
luz,  &  as  darem  por  falias ,  & 
mentirofas  •,  outros   por  de- 
fendclas  como  verdadeira s,& 
próprias  de  cfcritor  tão  graue. 
Diz  pois  aísy  Flauio.    Floret 
memoria  Sanãi  Petri  Ratenjís  'an.chr.f, 
martyris  primi   Bracharenfs 
Epijcopi ,  qui  occifus  eíi  anno 
4j  .ad  Ratem  oppidum  Bracca- 
rorum  in  regione  ophirina  a  ne- 
potibus  ophir  illic  appuljis  nome 
ohtinente.  Vem  a  dizer ,  que 
por  aquclles  tempos  em  que 
hiacomfua  hiiloria  era  cele- 
bre a  memoria   de  Saõ  Pedro 
de  Rates  martyr,  &  primeiro 
Bifpo  de  Braga ,  o  qual  na  re- 
gião Ophirina   afsy  chama- 
da dos  netos  de  Ophir ,  que  a 
cila  vierão,fora  marty rizado 
pellos  annos  quarenta  &  fin- 
co de  noíla  redenção, 
j  9     Aindaquc  feja  certo  (dizê 


in  chrm. 


6;. 


os 


S.Tedrode  Rates. 


93 


Gen,e,\o, 

Faral.  li. 


\ 


os  que  encontrão  as  obras  de 
Flauio  Dcxtroj  que  no  anno 
de  4j.  padcceíie  martyrio  cm 
Rates  o  ^lorioío  SaõPedro,«S: 
que  íollc  o  primeiro  Biípo  de 
Braga,  porque  ell:a  verdade 
tem  por  ly  o  Martyrologio 
Romano,a  tradição  deita  Igre 
ja,a autoridade  de  grauilsimos 
cfcritores,  os  Breuiarios  das 
mais  Igrejas ,  d<:  famílias  Rcli- 
giolasrcom  tudo,  que  Rates 
caiíle  na  regiaõ  de  Ophir  tão 
celebre  nas  Diuinas  letras, on- 
de cada  anno  vinhao  carregar 
as  nãos  deSalamaõ  de  madeiras 
preciofasjde  ouro,  &  pedraria 
íiniísima,  íò  o  poderia  dizer 
quem  não  foubelle  a  falta  que 
naquellc  lugar  há  de  todas 
eílas  CO  ufas. 

1  o  Mas  a  eftes  fe  pode  rcf- 
ponder,  que  Flauio  Dextro 
nunqua  diíle  fer  a  terra  de 
Ophir  em  q  S.  Pedro  foi  mar- 
ty  rizado  aquella  meíma  a  que 
Salamão  mandaua  fuás  nàos 
pella  riqueza  de  feu  comercio, 
ouro,  &  pedraria  que  daly  le- 
uauão;  fò  diíle  que  íe  chama- 
ua  Ophir  dos  netos  de  Ophir, 
de  quem  faz  menção  Moyfes 
no  Geneíis,&  o  Autor  do  Pa- 
ralipomenon  dizédo  que  aly 
aperrarão  na  diuifaõ  daslin- 
^oa?;,  pouoando  aquella  Pro- 


uíncia,  ôc  dandolhe  o  nome 
deíeu  auo;&  que  eíla  comar- 
ca, <5c  parte  de  terra  le  chamaf- 
íe  Ophir  em  algú  têpo  ha  ba- 
cantes conicâ:uras ,  porque 
ainda  hoje  temos  perto  do 
Douro  a  comarca  que  ncUe 
vem  dar  com  o  nome  da  Fei- 


ra, que  parece 


diriuadodode 


Ophir  •,  &:  fe  bem  a  comafca 
da  Feira  difta  por  algúas  k- 
gòas  de  Ratcs^&  tem  no  meo 
o  rio  Douro,  naó  heiíloba- 
ftantepera  ate  la  fe  deixar  de 
ellender  o  nome  <le  Ophir. 
1 1  Quanto  itiais  que  naÕ 
muitolõgc  de  Rates,ondefoi 
o  martyrio  do  Santo,hca  o  lu 
^ar  de  Faõ  vizinho  da  villa  de 
Efpo7;endc,onde  òrio  de  Pra- 
do entra  no  mar ,  &  faz  hum 
porto  acomodado  pcra  nelle 
íepoderern  recolher  eftran- 
geirõs,  como  cremos  fe  reco- 
liíeraó  os  decendehtes  de  O- 
phir ,  quê  por  áiy  pouoaraó, 
fundando  ó  lugaí  de  Faõ,  que 
ate  no  nome  leua  muito  pêra 
Ophir,  &  por  Ventura  fe  cha- 
mou afsy 'de  fèu  principio  mu 
dandolhe  o  tempo ,  &  os  an- 
hos as  letras.  Faiiòrecem  eftá 

às 


opinião  alguais  peífoas 
em  matérias  de  'antiguidade 
dizendo,que  dieFaõ  atê  a  villa 
da  Feira  cótria' a  Prouincia 

Ophirma 


LotifAtU, 
&  outras 


94 


Qafuulo  XFIII. 


eaf.i. 


Ophirina  afsy  nomeada  em 
foraes  antiguosde  que  ha  me- 
morias na  torre  do  Tombo. 
E  daqui  vco  o  nome  de  Faria^ 
com  que  hoje  he  conhecida 
grande  parte  defta  Comarca 
nomcodaqual  efta  lítuadaa 
Igreja  de  RatcSj  onde  padeceo 
martyrio  o  noílb  illultre  Pre- 
lado SaÕ  Pedro  j  donde  fe  co- 
lhe quecõ  pouca  corrupção 
ficou  a  efta  Comarca  o  nome 
de  terra  de  Faria  que  hoje  tem 
diriuado  da  Ophirina,  com  q 
antiguamente  fe  nomcaua.  E 
ainda  fe  vê  as  ruinas  de  hú  Ca- 
ftello  muy  antiguOjqnella  ou- 
uc  ^  o  qual  conferua  o  nome 
de  Caílello  de  Faria  aílaz  co- 
nhecido nas  Chronicas  de 
Portugal. 

II  Secom  tudoiflojfenaõ 
daõ  ainda  por  contentes ,  àí 
cuidãoque  a  terra  de  Ophir, 
de  que  fala  Dextro,  &  a  da  Ef- 
critura  Sagrada  hc  todahííaj 
faibaõ  que  fe  ao  prefentc  fe 
não  vem  por  antre  Douro, 
ô^  Minho,  ou  pello  Condado 
da  Feira  as  madeiras  prcciofas, 
as  pedras,&  ouro,que  fe  carre- 
gana  nas  nãos  de  Salamaó,  as 
ouue  em  tempos  antiguos ,  q 
por  cíía  rezão  chamou  à  cida- 
de de  Braga  o  Poeta  Aufonio 
rica  .  como  mortramos  atràz 


.  JíS 


declarando  o  verfo. 

QjM^  fnu  ^elagí  iaãatfe 
Bracbara  diues. 

Onde  dcfcobrimos  as  muitas 
riquezas,  que  nefta  Comarca 
auia)&  ainda  quando  não  foí- 
fcm  próprias  da  terra,  podião 
fer  de  carregação  doutras  par- 
tes ,  &  aqui ,  ou  no  porto  de 
Faõ,&  Efpozcnde  ,  ou  em 
qualquer  outro  defta  cófta,q 
pertcnceíle  ainda  à  Prouincia 
de  Ophir,  ou  Faria  carrcgaren- 
fe  pêra  Paleftina ,  na  torma  q 
hoje  na  cidade  de  Lisboa  fe 
carrega  pêra  todos  os  Reinos 
de  Europa,  a  pedraria  do  Ori- 
ente •,  &  na  do  Porto ,  &  villa 
de  Viannaos  açucres ,  &  pao 
do  Braziljiiaõ  ícndo  eftas  cou- 
fas  nacidas  ncfte  Reino ,  antes 
vindas  a  elle  de  outros  bem 
eftranhos.E  afsy  não  vaõ  muy 
fora  de  caminho  os  autores, 
que  por  eftas  partes  puzcrão 
o  Ophir  de  Salamaõ  leuados 
ou  do  nome  daFeira,oudc 
Faria  &:Fa6.Podêfe  ver  as  re- 
zoés  queapontão  emBiuar, 
&  outros  modernos. 
1 5  Mas  deixando  efta  quc- 
•ftão  do  verdadeiro  lugar  de 
Ophir  tão  difputada  pellos 
Efcriturarios ,  &  tornando  a 

Saó 


BitiAf.  itt 

Dext.an^ 
66,  f^g, 

144. 

Pelliccr 
in  Gtng. 
cal.  442* 
«.  38. 
Roderie. 
Cure.    in 
n»t.  nd 
Dext.att, 
Chr/f^-J 


S.T^edrode  Rates. 


95 


,Sao  Pedro  de  Rares^  (cu  fagra- 
cio  corpo  elteuealgus  dias  cie- 
baixo  das  pei.iraí,&  entulho 
onde  o  deixarão  os  miiiiftros 
deíeu  marcyriOj  ate  que  foi 
por  Diuina  reuelação  deícu- 
bercoa  hu  ermitão^  que  por 
aqiielies  montes  fazia  penite- 
cia,  chamado  Fchx ,  lamdo  do 
lugar  onde  oSanto  jazia  gran- 
des labaredas  de  fogo  _,  &  ou- 
tras luzes  verdadciramcnrece- 
leftiaes,  que  como  com  o  de- 
do o  eilaiiaõ  moílrando. Cha- 
mou o  ermitão  pcra  o  acom- 
panhar neíla  íanta  obra  a  hú 
íobrinho  leu  da  mefma  vida,e 
inrtituto jambos  alimparão  o 
ki^ar  A'  apouco  trabalho  en- 
còtraráo  as  preciolas  rehquias. 
Derãolhe  aly  fepultura  ^  cfpe- 
randonoCeoque  viria  tem- 
po/em  que  por  reípeito  de 
Saó  Pedro  o  mefmo  lu2;ar  foi- 
fc  mais  ferquentado  dos  fieis, 
&  fuás  reliquias  tiueííem  a  dè- 
uida  veneração ,  Si  Deos  por 
ellas  obraíle  infinitos  niiia- 

grés,     ^ 

14  Cuprio  o  Ceoaosdous 
ermitães  o  que  efpcrauao, 
porque  a  poucos  tempos  nao 
obftantcs  as  perfeguiçoes  dos 
Gentios  fe  leuanrou  aly  hija 
IgrejSj  &í  depois  hú  Moíleiro 
deR  eh"eioros  da  ordem  de  S3.0 


Bento, guardas,  &  como  rhe- 

íoureir/)s  do  la<irado  depofito 
&  r 

por  muitas  ccnteiia<;  de  anãos, 
ate  que,  extinguindo  o  tempo 
os  Religiolos,  aquclle  Moílei- 
ro veo  a  ficar  em  Igreja  paro- 
chial,  em  que  ainda  hoje  fe  co- 
íerua. 

I  $  Obrou  Deos  fempre ,  Si 
ainda  hoje  obra  muitos  mi- 
lagres pellas  íagradas  reliquias 
dcíle  illurtrc  martyr.  Hum 
Sacerdote  chamaíJo  Pedro 
doente  de  húa  lon^a  enfermi- 
á:{àç,  que  lhe  tinha  debilitadas 
as  forcas,  cncomendandofc  ao 
Santo  alcançou  faude  perfeita, 
&  lhe  foi  dar  as^ graças  à  íua 
Igreja,ondc?gardecidoda  mer- 
cê todos  os  dias  dizia  miíla  ^^ 
ajudaua  nos  oííicios  diuinos. 

16  Huamclherdolugarde 
FaÕ  cega  auiadousannos  foi 
vilitaralepulturadoSãto,cn- 
comendoufe  a  clle  com  o  pei- 
to por  terra,  &  os  olhos  íeitos 
duas  fontes  de  lagrimas  ^  rece- 
bco  virta  nelles,&  rompeo  cm 
louuores  áo  gloriofo  martyr. 
Outra  molher  que  nãoouuia 
chegandofe  à  fua  fepultura  co- 
brou o  fentido  perdido. 

17  Viuia  alíombrado  do  De- 
mónio hum  homem  por  no- 
me Pedro  ,  &  era  muy  mal 
tratado  do  fpirito  infernal ; 

liurouoo 


jsa^ 


96 


Capmlo  XVUL 


LÍLirouoo  Santo  delia  tribu- 
lação fazendo  o  milagre  pu* 
blícamétcéprezença  de  mui- 
tos^que  o  viráo  coniosolhos. 

18  Hum  moço  a  quem  hú 
acidente  de  pariezia  tinha 
toiiiidoj  &  com  a  boca  torci- 
cla^  6c  vcka  a  húa  orelha-.polio 
diáte  das  rcíiquias  do  Saco  alcá 
çoa  íkude  miiagrofa  ^  &  íe  foi 
pcra  íuacazatão  íaõcomo  fe 
níica  cÍLiera  enfermidade  alíjija. 

1 9  Da  Igreja  de  Rates  com 
o  may or  apparato  que  foi  pof- 
íiucJ,  &  nos  diremos  quando 
aly  chegara  hilloria,  tresladou 
o  íenhor  Arcebifpo  Dom  Bal- 
theíar  Limpoo  corpo  do  glo- 
rioío  Saõ  Pedro  pêra  a  Sc  de- 
lia cidade  a  17. de  Outubro  de 
i$S^'  dandolhe  capella  parti- 
cular á  maõ  dcreita  da  capella 
mor.  Eftão  as  relíquias íagra- 
das  fobre  o  altar  em  hum  fe- 
pulchrode  pedra  dourado  cõ 
letreiro  que  diz  afsy. 

Aqui  iac!^  o  corpo  de  Sao  Pedro 
Martyr  dicipulo  do  Jpoíiolo 
Santiago,  tresladado  da  Igreja 
de  Rates  por  Dom  Baltasar 
Limpo  Arcebifpo  de  Braga  a 
eflafepultura ,  quefe  lhe  /espe- 
ra may  or  -veneração, tf  por fer 
o  primeiro  Prelado  de^ia  Igreja 
aos  ij.de.Oiaubro  de  lyji. 


;Pçra  mayor  coníolacãç  dos 
naturaes  dcíla  cidade ,  &  pêra 
quecmcodoscrcceíTc  o  fel  pei- 
to dcuido  ao  Santo  martyr, 
quis  oArccbifpo  Dó  Baltheíar 
ncaíle  defora aparte  da  cabeça 
do  Santo,  pcraque  cm  gCvindcs 
necefsidades  pudeíle  ler  Icua- 
danas  prociílòcs,  6<:comíua 
villa  mouer  o  Ceo  a  piedade, 
c  miíericordia.  Pcra  elte  eíFeito 
fc  encaíioou  é  prata ,  &c  fc  pos 
no  thcfouro  deílaSè  entre  ou- 
tras muitas  rehquias  que  nella 
cítão. 

zo  Na  Capella  cm  que  as  re- 
líquias fc  coUocarão  ordenou 
o  Arcebifpo  DomBalthezar 
Limpo  íincocapellaés.  Rèzão 
todos  os  dias  o  oíficio  Diui- 
no,&  dizem  duas  miífas.  O 
altar  do  Santo  he  priuilegia- 
do  •,  tirafe  nelle  hua  alma  do 
Purgatório  offerecendo  por 
cila  aly  o  diuino  íacriíicio.  Hà 
por  efte  rcfpeito  grande  fre- 
quência de  Sacerdotes  de  todo 
o  Arcebiípado,  a  quemfcen- 
comédão  miflas  naquelle  al- 
tar, &  fe  dizem  todos  os  dias 
muitas. 

II  De  Saõ  Pedro  foi fempre 
celebre  a  memoria  por  todos 
cif  es  Reynos.  No  anno  de  410 
feaiuntou  cmBragao  primei- 
ro Concilio  de  que  ja  fizemos 

menção 


Sao  ^afilio. 


97 


&66.& 

lo». 

\  luliAHoir. 

■j  190. 
I  AíeraUs 
lin  chren. 

D.Mm- 
rofcr.  lih 
2.C  ic. 
Brit.z.p. 
mottAr  li. 

Biu^tr  nd 
Vext.un 
té.  fcm. 

^.n6  & 

Ca^o  in- 
net,    ad 
[jDext.  AH 
67. 

Fr»  l.ius 
ât  Souflt 
na  kiflo. 
de  S.Do. 
Itb  G.e.i 


Cíititl.i.f 

cap.2. 

D;xt,an. 

Chnf.y 

íklian.  in 

aduerf. 

m  ¥  «• 
171. 


menção,  a  fim  de  proiier  que 
os  Alanos,  &i  Sueuos  não  deí- 
acataíícm  íuas  fagradas  rcli- 
cjuias,  como  de  ordinário  íà- 
ziáo  a  todas  as  q  podiaó  defco- 
brir  :  chamalhe  aly  o  Conci- 
Tio  Pay,  &  Apollólo  dcHeí- 
panha,  como  aquellcdeque 
tinha  recebido  a  Fè  depois  áo 
Apoftolo  Santiago.  E  Icrciié 
deSaõ  Pedro  de  Rates  ale  dos 
Ereuiarios  que  ja  referimos, 
Flauio  Dextro,  luliano,  os  au- 
tores da  hiíloria  EccleílaíHca 
de  Hefpanha ,  Morales ,  Dom 
Mauro Ferrcr,  frey  Bernardo 
de  Brito,  Biuar,  Caro,  dou- 
tros que  ellcs  referem. 

»«■■       M    I     I       I    I  ■  III  !■      Ml       ■  III    I  11  ■  ..  ■ 

.   CAPITVLOXIX. 
SAM    BASÍLIO    S  B- 
gundo  Arcehijpo  de  Braga. 

A5Baíílio,ou 
Bafileo(dequê 
jaefcreuemos 
largam éte  no 
Catalop"odos 

O 

Bifpos  do  Porto )  foi,confor- 
me  a  Flauio  Dextro,  luliano, 
&aos  mais  autores,  que  de- 
pois os  feguirão,dicipulode 
Santiago, &  ou  veocomelle 
de  lerufale  a  Hefpanha,  como 
parece  mais  prouauel :  ou  foi 
nu  dos  que  por  fua  prègaçHo 


receberão-  a  Fècncie  outros  q 
por  cites  Reinos  conucrteo,  c  • 
■  irouxealyo  SancoApoílolo.  ' 
Continuou  com  elle,em  quá-  : 
to  íe  deteue  emHefpanha,po-  ' 
rê  quandoTèouucdc  partir  o 
deixou  na  companhia  de  S.Pe- 
dro de  Rates, peraq  lhe  aiudaf- 
fe  a  plantara  Fe,c  leuar  por  diá 
te  a  pregação  do  Euangellio. 
z  A  vida  q  na  cõpanhia.dc  S,  \ 
Pedro  fez  Saõ  BaúliOjas  virtu- 
des que  obrou ,  o  zelo  q  mo- 
ftraua  na  cõueríaõ  dos  infiéis^ 
mouerão  ao  Santo  Prelado  co 
mo  cabeça,Ò<:  Primas  de  todos 
os  de  Heípanha  ao  nomear, &: 
fagrarpor  Bifpo  dacidade-do 
Porto,afsy  pello  ter  jútode  fy, 
&  íc  poder  aproueitar  de  feus 
confellios ,  como  por  aquella 
Igreja  pedir  a  prefcnjjadehú 
taÕ  grande  Paftor.''.  c:"'  :''^  "  -'. 
3  Notcpo,  q  S.BallIiogo- 
uernaua  a  Igreja  do  Porto,vic- 
ráo  aCalliza  trazidas  de  lerufa- 
le as  reliquias  de  fcu  meíbe  Sã 
tiago,na  forma  q  ja  noutro  lu- 
gar referimos.  Achoufe  sédu- 
uida  na  ccllocação  delias  círia 
Flauia,hoje  o  Padrão  ,  com  os 
maisBiípos  Hcfpanhoes  cha- 
mados pcraiíTo  pcUos  qas  acó 
panhauãoj  ou  mouidos  inte- 
riorméte  pello  Spirito  Sáto^q 
das  Prouincijs  por  ondcan- 

I  dauão 


fAg  86. 


CatAlMt 
Bi  ff  os  âa 
Port»  c.z 
p.t. 


9« 


Cdúíiulo  XIX, 


daulo  «rpalhados  os  fez  virá 
obra  tão  pia ,  &  religiofa.  Aly 
fe  conhecerão  todos  j  aly  íe  de- 
ráo  de  nouo  as  mãos ,  pcra  cò 
mayorcs  fcfuores  concinuarê 
na  conucrraÕ  dosHcfpanhoes, 
a  quem  o  Cco  de  nouo  fauo* 
recia  com  o  thcfouro  Ao  cor- 
po de  hum  Apoftolo  taõ  pa- 
rente,&r  taõ  amado deChrifto. 
4     PrcTidio  a  efte  ado  Saõ  Pe 
dro  de  Rates   Arcebifpo  de 
Braga  como  Prelado  de  ma- 
yor ,  òc  mais  autorizada  Igre- 
ja entre  todas  as  de  Herpànha. 
Por  feu  confclho  fe  tornou 
cada  hum  a  fua  eftancia,  & 
Saõ  Bafílio  âdo  Porto.  Aly 
pcrfcuerou  com  os  mefmos 
exemplos ,  &  feruores  por  cf- 
paço  de  mais  de  fetc  annos  ate 
que  em  Rates  feu  condicipulo 
Sa5  Pedro  foi  martyrizado  no 
anno  de  45'.  do  Nacimcnto  de 
Chrifto ,  &  ellc  eleito  Arcebif- 
po de  Braga   pcUo  Clero  da 
mefma  cidadc,no  primeiro  dia 
domesdcNoucmbro,  q  de- 
uia  fer  do  mcfmo  anno. 
í      Pouco  ou  nadafabemos 
do  que  em  Braga  fez ,  afsy  de 
virtudes  ,  como  de  milagres 
Saõ  Bafilio.Dc  crer  he  feria  em 
húa/e  outra  coufaefclarecido, 
como  de  ordinário  eraõ  os  va- 
rões que  beberão  na  fonte  pu- 


riííímada  efcholade  Chrillo> 
&  feus  Apoftolos.Naõ  he  pe- 
queno argumento  defta  ver- 
dade o  tellimunho  que  delle 
derão  as  Igrejas  de  Hefpanha 
efcolhendoo  pêra  em  compa- 
nhia de  Santo  Athanaíio  Bif- 
po  de  Caragoçâ,  &  Elpidio  de 
Toledo  vifitar  emfuascadeas 
ao  Apoftolo  Saõ  Paulo  prezo 
em  Roma,  &:Ihe  leuaracol- 
Icéla    ou  efmola  j  que  os  fieis 
lhe  ofíercciaõ  pêra  aliuio  de 
•fuás  necelTidades  ^  &í  remédio 
dos  mais  ChriftãoSjá  quem  a 
crueldade  de  Nero  trazia  grã- 
demente atribulados.  Cõtae- 
fte  fuceílb  í uliano  com  as  pa- 
lauras  íeguintes.   In  memoriji 
Sanã^  ItifU  reperi,quõdEcck 
f<e  HifpanU  elegerunt  Atbana^ 
Jiii  C^farAUguflanú^Elpidm  To 
letanúi  Bafilm  Bracharenfem, 
qui  cu  alfjs^etia  exIudaifmo,lsf 
Gentilismo  Paulú  njinãú  íío- 
m<e  nji fitar  ent^ipfii^  munera^isf 
refeãiones  deferentes  confola- 
renturiqíiod  ipfe  Paitlus  cap,  i  o. 
EpiíioU  adHebrsos  do^et  dum 
dicit:l:t  ^inculh  rneis  cópafsi 
eflisiid^fuitfub  m^fe  Septcbris 
anno  Dní  quínquagefimo  nono. 
6     Eftimougrãdcméte  oSã- 
to  Apoftolo  a  muita  charida- 
de  dos  ChrirtaõsHeípanhòes, 
&  alcgroufe  fobremaneira  :  c5 

abod 


67 


Sao  'jBaJí/Jo. 


99 


a  boa  vinda  de  tão  SantosPre- 
ladoSjCm  que  não  foi  menos  a 
cõíolação  de  vere  acjuellc  pro- 
dígio do  mundo ,  aquclla  trõ- 
beta  do  Eiiangelho,aquelle  ra- 
yo  da  Fé  metido  entre  mal  fci- 
tcrcs  com  tanto  golto  deíua 
alma,  que  por  nenhúas  hon- 
ras do  mudo  trocara  aquellas 
íuas  cadeas. 

7  Diz  Juliano  que  o  Santo 
Apoilolo  agradece©  por  carta 
às  Igrejas  de  Heípanhaaqucl- 
la  obra,  &  vilita ,  fem  duuida 
porque  teue  paraíy  queella 
carta  do  Santo  Apoílolo  fora 
cícrita  não  aos  Hebreus  de  le- 
rufalem,  fenão  aos  que  viuião 
por  Hcfpanha,  como  foi  opi- 
nião de  alguns  antiguos  ,&í  o 
he  hojedc muitos  modernos 
allegados  pellos  expoíitores  da 
meíina  carta,onde  íe  pode  ver. 

8  De  Roma  voltou  São  Ba- 
íilioà  lua  Igreja,  &  delia  em 
breue  têpo  á  cidade  de  Plaíen- 
cia,  onde  foube  eftaua  prelo ' 
Santo  Epitacio  BifpodcTui, 
aiH  pêra  oferuir  em  fua  prifaò, 
como  pêra  dar  animo  aos  fieis, 
peraq  naquelle  trabalho 'naõ 
perdeíTcmacòfiança.  EmPla- 
íencia  o  prenderão  ,  &  me- 
terão na  mefma  cadea ,  on- 
de cítaua  Sãto  Epitacio,&:  am- 
bos cm  vinte  &  três  de  May  o 


7«»  foi. 
12. 

i.p.r.2 

Farg.ltb; 

2*C.2 


na  perfeguição  de  Nero  (o  an- 
no  certo  íenaõ  fabejíairaõ  del- 
ia a  padecer glorioío  marryrio 
executado  cõ  nouas ,  &  varias 
inuençoés  de  tormentos, 
9  Delta" opinião  he  o  Biípo 
de  TuiD.  fr.  Prudencio  de  Sã-  Wl^f^ 
doual,.&  nos  a  feguimosno 
Catalogo  dosBifpos  doPorto. 
Delia  íeapartaMoreno  deVar- 
gas  na  hiítoriade  Merida ,  on- 
de aftirma  côa  autoridade  do 
Padre  leronymo  Roman  de 
laHiguera,que  Santo  Epitacio 
companheiro  no  martyriodc 
Saõ  Bafilio  era  Bifpo  Metro- 
politano de  Merida  poílo  aly 
pelloApoitolo  S.Pedro  quã- 
do  veo  a  Heípanha ,  &  que  na 
meíma  cidade  de  Merida ,  ou 
em  Braga  padeceo  martyrio 
em  companhia  de  S.  Baíílio. 
Proua  elte  diicurfo  com  as 
obras  de  Flauio  Dextro  efcri- 
tas  de  mão ,  como  íairão  da 
liuraria  do  morteiro  de  Fulda, 
que  dizéaísy  falando  de  Santo 
Eçitaáo.Petms  •ut  Chrijii  Vi- 
carms  Hijpanias  adijt ,  imagi- 
nes AntiochiadeUtasaffert^Epe 
netum  ibi  Stxti  firmi  tn  Betica 
reliquir,  tf  Emeriu  Epitatiú. 
Saõ  Pedro  como  Vííjairo  de 
Chrifto  veo  a  Heípanha  trou- 
xe deAntiochia  algiãas  imagês, 
deixou  em  Motril  cidade  de 


U 


Anda- 


iCO 


Capitulo  XIX. 


A' 
d.cap. 


Andaluzia  a  Epeneco  por  Bii- 
po,  ^  emMerida  aEpicaciOj 
òc  ainda  que  as  palauras,  Isf 
Emérita  Epitatium  ,  faltem 
no  liuro  imprelío  de  Flauio 
Dextro,  podia  íer  por  erro, 
ou  deícuido  de  quê  o  copiou, 
porque  em  fauor  delias  eíH 
o  telhmunliode  autores  cra- 
uilsimos  que  as  virao  no  ori- 
ginal do  Morteiro  de  Fulda, 
como  afiirma  o  mefmo Mo- 
reno de  Vargas. 
IO  Náo  ha  duuidaqucno 
mefmo  tempo  concorre©  ou- 
tro EpitacioBiípo  de  Tui  po- 
fto  naquella  Igreja  pello  Pri- 
mas de  Braga  S,  Pedro  de  Ra- 
teSjComo  íc  proua  dos  frag- 
mentos de  Santo  Athanaíío, 
de  cuja  autoridade  fenão  po- 
de duuidar  como  temos  mo- 
ftrado  .  Q3I  deíles  dous  fof- 
fe  o  companheiro  no  marty- 
rio'deSa5Bafiliomal  lepòde 
aueriguar,  &  menos  a  cida- 
de em  que  padecerão.  Muy 
prouaucl  he  foíle  em  Braga, 
ou  em  Merida,  &c  não  em  Pla- 
fencia  como  quer  oBifpode 
Tui ,  porque  o  Epitacio ,  ou 
Epiteto,que  aly  padeceo  mar- 
tyrio,nãoconcorreo  no  mef- 
mo tempo  com  o  noílo  S. Ba- 
ldio, nem  com  os  dous  Epita- 
cios  de  Tui,&  Merida  porque 


toi  muitos  annos  depois ,  co- 


foi  muitos  annos  d 
moíevè  de  Flauio  Dextro,  q 
o  põem  no  anuo  de  zój-,  do 
Nacimento  de  Chriílo. 
II  E  (íc  aucmos  de  dar  cre- 
dito aRodrigo  Caro  )  Ambra- 
cia  onde  Dextro  diz  que  pa- 
deceo Santo  Epitacio,  náo  he 
Plafenciacm  Caltella,  como 
querem  muitos ,  mas  hc  hum 
lugar  em  Portugal  perto  de 
Braga,  que  fe  chamou  Bracia, 
&íe  pode  conieóturar  ícriaa 
villa  de  Bracellos  diftante  três 
legoas  da  cidade  de  Braga  ,  on- 
de efte  Santo  padeceria  niarty- 
rio ,  Se  a  conie(5tura  parecer 
leue,não  hc  contudo  alhea  de 
matérias  taõantiguas,  onde  fe 
julga  mais  por  opinioens  du- 
uidoías^  que  por  verdades  cer- 
tas, as  quaes  nefte  argumen- 
to faõ  difticulrofas  de  achar. 
Fazem  menção  do  mar 


li 


tyrio  defte  Santo  os  Martyro- 
logios,Romano ,  de  Víuardo, 
Maurelico,&:  Molano,&:  dous 
de  mãoantiquiísimos ,  liií  da 
Igjrcjade  Plafencia,  outío  do. 
Mofteiro  de  Rorís  defte  Arce- 
bifpado,q  prirtieiro  foi  dcCo- 
neeós  Regrantes ,  &  agora  he 
anncxoao  Collegio  de  Braga 
dos  Padres  da  Companhia  de 
I  E  S  V.  Anda  fua  vida  em 
efcritos  demaõ,  &  em  hum 


Dext.an 
Chrifii 

Caro  in 
nottsDex 

trum  M , 
65. 


Floílan- 


Sao  TiãÇillo, 


lOI 


ta  not'^ 
May. 


Chron 
an.Chrif. 

37' 


CAtalJ.os 
Bifpos  do 
Forta  d 

.f^C.  2. 


Floflancorum  de  Heípaiiha; 
que  íillcga  Baronio,&;  nòs  a  eí- 
creiícmqs  jano  Catalogo  dos 
Biípos  do  Porco. 
13  Importa  comtudoad- 
uertirduas  conías  :a  primeira 
que  fedeue  fazer  grade  diftin- 
çáo  entre  dous  Santos  Ball- 
lios ,  ambos  do  mcínio  nome, 
&  ambos  dicipulos  de  Santia- 
go •,  hum  o  noflb  Biípo  do 
Porto,  ôíArcebiípode  Bra- 
ga ,  outro  Biípo  de  Carthage- 
na  ,cujafefta  íc celebra  aos  4. 
de  Março ,  em  que  a  põem  o 
Martyrologio  Romano ;  am- 
bos diílinguc  clara ,  &  aberta- 
mente Dextro ,  &í  ambos  cõ- 
fundio  luliano  tendoos  por 
hum  ;  donde  veo  aatribuir  as 
obras  de  hum  ao  outro_,&:  jul- 
gar a  ertc  noílb  por  natural  de 
Granada,  3c  aquelle  mefmo 
manco, que  pedindo  címola 
à  porta  doTemplo  chamadaEf- 
peciofaalcãçou  faude  da  mão 
de SaÕ Pedro,  fendo alyleua- 
do  por  Teus  pays  ludeus  de  na- 
I  çáo  j  ôc  profiliaó.  Mas  ja  dif- 
íemos  em  outro  lugar ,  como 
o  manco  que  íarou  Saò  Pedro 
não  fora  onoíTo  Saõ  Balllio, 
fenão  o  outro  Biípo  de  Car- 
thagenapellos  fu  ndamentos , 
quenomeímo  lugar  aponta- 
mos. 


14  A  íegunda  coulàj  qix 
ÍCideue  aducrcir hc, que  Julia- 
no faz  ainda  no  anuo  de  59. 
viuo  ao  noílb  Saõ  Baíllio^pois 
naquelle  Setembro  diz  foi  eí- 
colíiido  pêra  villtar  em  Ro- 
ma a  Saõ  Paulo.  Pello  que  pa- 
rece não  padeceo  martyrio  no 
de  57.  em  que  nòs  o  puze— 
mos  no  Catalogo  dos  Biípos 
do  Porto  cncoitados  a  auto- 
ridade do  Biípo  de  Tui  Dom 
Prudenciodc  Sandoual.Por- 
uentura  fucedcria  node  íeí- 
íenta  ficado  deíla  maneira  go- 
zando eíla  Igreja  de  Brasa  de 
leu  cuidado  Paíloral  quinze 
annos  inteiros  ,  que  tantos 
vaõdeió.  de  Abril  do  anno 
de4j,  em  que  Saõ  Pedro  de 
Rates  foi  martyrizado  a  ly. 
deMayo  do  defeílenta  em  que 
Saõ  Baíílio  padeceria  pellaFè. 
Gouernaua  a  Igreja  de  Deos 
neíle  tempo  o  Apoílolo  Saõ 
Pedro,  &:ocupauaa  monar- 
chia  Romana  o  Empctador 
Cláudio  Nero. 


t 


d..c. 


íolef.  de\ 
16. 


I3 


CAP. 


«^w. 


I02 


(Capitulo  XX. 


Brh.z.p. 
monarc. 
lé.i. 

tnmanuf. 
Vdfconf. 
tndtfcrip 
Portug, 

Dex.  sn, 

Chrtfli 

300, 

yafAuan 

Gariklib 
7.^.44, 
Padil.cet 
4  c.  14, 
BiMar  4d 
Dcxt.A». 
^00. com 

4.».4. 

Caro  an, 
^ooJtt.h. 
Romart. 
in  wAnH- 
fcrtptis. 
Duarte 
Nun.  dif 
crip.c.Ao 


CAPirVLO  XX. 

SJM     SILFESTRE 
Mártyr  deBraga. 

O  R    naõ  dize- 
rem alguns  de- 
maííadamête  a- 
feicoadosàscou- 
ias  delta  Igreja   que  lhe  tira- 
mos os  Santos  ArGcbirpos,q 
outros  lhe  dão,quifcmos  aqui 
fazer  memoria  de  Saõ  Silue- 
ftre ,  a  quemfrey  Bernardo  de 
Brito ,  o  Padre  Gofme  de  Ma- 
galhães, &r  António  de  VaÍGÓ- 
cellosfazé  Arcebifpo  deBra- 
ga, &  o  dão  por  íuccflbr  de 
Saõ  BaflUo .   O  fundamento 
nos  o  não  vemos,  nem  clles  o 
apontaõ.Sobre  tudo  nenhum 
dos  autores,  que  o  poderão 
chamar  tal ,  lhe  arsinaraõ  cfta 
Igreja-/e  bem  o  chamao  már- 
tyr de  Braga  ,  como  fa5,Dex- 
tro ,  loão  Vafeu  ,   Garibay , 
Padilha,Biuar,Caro,frey  Icro- 
nymo  Roman  ,  Duarte  Nu- 
nez  de  Leão,  de  cuja  autorida- 
de nos  não  parcceo  apartar- 
nos ,  alem  de  o  martyrio  de 
Saõ  Silueltre  com  o  de  Saõ 
Virou ro,Torcato ,  Cucufate, 


&  Santa  Suzana  íuceder  pel- 
los  annos  de  Chrirto  trezen- 
tos &  leis  na  perfeguiçáo  de 
Diocleciano(como  em  feu  lu- 
gar diremos  jem  que  eíla  Igre- 
ja tinha  Arcebifpos  de  nome 
bem  difíerente  \  ôc  nefte  em  q 
agora  imos  íuceder  a  SaÕ  Ba- 
íilio  Santo  Ouidio.  Pelloque 
ainda  que  reconhecemos,  Sc 
eftimamos  a  Saõ  Sylueftre  co- 
mo martyr  gloriofo  deita  ci- 
dade, nemelleíofrerà  ©faça- 
mos intrufo  na  dignidade  Pri- 
macial, nem  ella  ncceísita  tan- 
to de  Arcebiípos  martyres  ,q 
hajadehonrarfe  cõ  osalhcos 
ondeosproprios,&:  verdadei- 
ros faõ  tantos. 


CAPITVLO  XXI. 
HERMOLJO. 


Erão  húas  pa- 
lauras  de  lu- 
liano  ocaíião 
a  algíjs  terem 
por  Arcebif- 
po de  Braga ,  ã:  fuceflor  de 
Saõ  Baíllio  a  Hermolao:  as  pa- 
lauras  dizem:  Pofimortem  Ba- 
jilij  Bracharenfis  pr<edicat  ihi 

Hermo- 


/« íidMert 


Santo  Ouidio. 


103 


Dex,  Alt 
I34.M.3 


Bermolauspoíi  Toletams.Co- 
mofc  fora  o  mefmo  pregar 
cm  Braga,  qucfer  Arcebiípo 
de  Braga.O  certo  he  que  Hcr- 
molao  pregou  cm  Braga,  co- 


mo  clcrcuc 


fc 


íuli, 


ano 


)OU- 


1 


CO  depois  da  morte  âc  SaõBa- 
íilio  i  mas  quefoíTc  feu  Arce- 
biípo,&  íuccíTor  do  Santo, 
nem  elle  o  diz,  nem  ainda  o  a- 
cena.  Se  foi  Arcebifpo  de  To- 
ledo o  aueriguarao  os  que  té  à 
fua  conta  a  hiftoria  daquella 
Igreja:  nos  o  nlo  achamos  no- 
meado por  tal  ê  os  Catálogos 
comuns, porem  traio  Dextro, 
&  o  recebc,&  approua  por  tal 
frcy  Francifco  de  Biuar ,  aquê 
remetemos. os  curiofos. 


ÇAPITVLO  XXII. 

SANTO  OVÍDIO 

terceiro  Arcebifpo  de  'Bra- 
ga. 


A  N  T  O 

^  Ouidio  efcla- 
recido  porsã- 
gue,  &  muito 
mais  por  fuás 
raras  virtudes  foi  Romano,& 
da  primeira  nobreza  daquella 
cidade .  Viueo  fendo  Gentio 


cm  amizade  CO  o  grade  Philo- 
fopho  Séneca ,  &  c6  Máximo 
Cefonio  varão  Cõfular,  grade 
no  nome,enas  obras.Seguioo 
quando  na  conjuração  Pifo- 
niana,  foi  dcfterrado  por  Ne- 
ro u  ilha  de  Sicília ,  ou  Cerde- 
nha,  &:  foube  trocar  as  delicias 
de  Roma  pellas  incõmodida- 
dcsdo  dellerro  pornaÕ  def- 
emparar  naqucUa  afflieçaõ  a 
ícu  amigo. 

1     Entendemos  fe  cõucrteria 
a  Fè  de  Chrifto  noíTo  Salua- 
dorpella  pregação  dos  Apo- 
ftolos  Saõ  Pedro,  &  Saõ  Pau- 
lo,como  o  fizerão  outros  no- 
biiifsimos  Romanos .  Depois 
foi  mandado  a  Hcfpanha*  (fe- 
gundo  alguns   conicóturaõ ) 
por  ordem  de  Saõ  Clemente 
Papa  a  fim  de  em  Braga  o  ele- 
gerem por  feu  Prelado  na  oc- 
cafião  que  vagaua  cfta  Cadei- 
ra pelIamorte,&  martyrio  de 
Saò  Baíílio^íè  ja  oSanto  fenão 
defterrou  de  Roma  por  não 
poder  fofrer  as  injull:iças,& 
deuaííidoês  de  Nero,que  corh 
fua  mà  vida  efcandalizaua  ain- 
da os  mais  perdidos  daquella 
Republica. 

3  Mas  ou  vicííe  poreíle^ou 
poraquelle  rerpeito,J3Íua  vin- 
da foi  depois  dos  verfos ,  que 
emfeulouuor  copos  o  Poeta 


l4 


Marcial 


104 


Capítulo  XXII. 


\lih»j  Efè 


lik-j.Epi\ 


Marcial  quando  o  vio  ir  dc- 
ftcrrndo  com  Cefonio,  &  de- 
pois conferuar  em  vukos  de 
cera  Tua  imagem.  Dizem  afsy . 

Maximus  ille  mus  Ouidl  €£- 

foniiis  kic  efi, 
Cuiusadbuc  ^ultum  ijtuida 

cera  tenet 
Htinc  Nero  damnauit  ^fed  tu 

damnare  Ne  ronem 
Aufiis  es ,  l!fp-ofugi  _,  nontm 
fatafequi. 
j£quoraper  ScylU  magnus  co- 
mes exulis  ifii^ 
Qui  modonolueras  confulis  ire 
,  comes. 
Si  ^iãura  méis  madanttir  nó- 

fnínachartis, 
Etfas  eíi  cineri  mefuperejfe 

meOj 
Âudiet  hcecprafensjl^enpura^j 

túrbajuíjje 
Illi  ts  y  ScneC4  qitjd  fuit  ille 

fuo. 
Celebrando  o  mefmo  feito  de 
Ouidio  o  antepõem  aPylades, 
no  que  lhe  acontcceo  có  Ore- 
íles  íeu  grande  amigo ,  &  diz 
mandanaolhe  por  ventura  A- 
gum  retrato  de  Cefonio,quá- 
to  os  verfo;  do  Epigrama 
dão  a  entender. 

Facundi  Senec^pctens  ami- 
cp:s 


1 


Caro  proximus  ,  auí  prior 

Sereno. 
Hic  ejl  Maximus  ille  ,  quem 

frequenti 
Félix  litera  pagina  falutat . 
Hunc  tu  per  Siculas  fecutus 

landas  ^ 
O  mãlis  Ouidi  tacende  lin- 

guis, 
Spreuiíli  Domini  furentis 

iras. 
Miranir  Pylademfuum  ye- 

tuflaSi 
Hccfit  qui  comes  êxul i  pa- 
rem is. 
Quis  dijcrimina   comparei 

duorum? 
B^fjli  comes  exuliNeroms. 

Ao  mefmo  Ouidio  pertence 
também  outro  Epigrama  de 
Marcial,  em  que  o  certifica, 
que  não  eílima  menos  o  dia 
de  feu  nacimento  que  cahio 
no  primeiro  de  Abril,  que  o 
feu  próprio,  ao  primeiro  de 
Março  ,  pois  ncfte  recebeo  fò 
vida ,  naquellc  hum  amigo  q 
eílima  mais  que  a  mefma  vida. 

Si  credis  mihi  Quinte(  quod 

mereris) 
Natales  Ouidi  tuas  Aprihs, 
Vt  noíiras  amo  Martias 
Kalendas. 
Félix  'Vtra^  lux  diefj^  hobis. 


lib.^.Efi 


Sirnandi 


J 


Santo  Ouidio. 


105 


MagalX 
inM  5. 

Brach  c,i 

Âaa''r.m] 
u^valef/is\ 
ad  Mar  ■  | 
tial.  diFlo 

43-  J 
Binar. ad 

Dex.  an. 

Caro    in 
1  Vex.  an. 

\Dcxt.  à. 


an 


95' 


í 


Signandi  melioribus  lapillis^ 
Hic  <-vitãm  tribuit ^  Jedhic 

amicum^ 
Plusdiínt  Quinte  mihi  tua 

Kalendt€. 

Outros  Epigramas  ha  de  Mar- 
cial pêra  Óuidio  feitos  ( como 
dizíamos )  quando  o  Santo 
ainda  eftaua  em  Roma .  Q^e 
comclle,  &c  não  com  outro 
do  meírno  nome  fale  o  poeta, 
o  fentem  os  Padres  Coime  de 
Magalhães,  (3<:  Mattheus  Ra- 
dero  ambos  da  Companhia 
de  I  E  S  V  S  ,  frey  Franciíco 
de  Biuar ,  &  Rodrigo  Caro^ 
comentadores  deFlauio  Dex- 
tro ^  mouidos  todos  de  boas 
conie<Siuras,que  ncUes  íc  po- 
dem ler ,  &  fundados  na  auto- 
ridade de  Dextro ,  que  aberta- 
mente lhe  chama  cidadão  Ro- 
mano. 

4       Foi  degrandifsimavtili- 
dade  pêra erta  Igreja  a  Prelazia 
de  Santo  Ouidio.  Florecerao 
em  feu  tempo  nella  grandes 
fantos^entre  os  quais  fe  con- 
taõ  íís  noue  filhas  de  Lúcio  C. 
Atilio  ,  &  de  Cahia  fua  mo-^ 
lher,cujas  vidas  Ic  verão  adiã- 
te.  Elleas  preferuou  da  mor- 
te, por  fuainduRria  fe  bauti- 
zaraõ ,  &  com  fua    fazenda 
le  criarão,  creceraõ,&  vierào  a 


darem  grandiíllnias  feruasde 
Deos  _,  &  vltimamente  a  pa- 
decer martyrio ,  em  tellmiu- 
nho,  &  abono  de  noflafanta 
Fè.Dalhe  os  parabéns  deite  il- 
lullre  feito  o  Padre  leronymo 
Roman  da  Companhia  de 
I  E  S  V  S  em  hum  hymno, 
q  em  louuor  das  Sãtas  copos, 
onde  entre  outras  coufas  diz. 

Gaude  Sacerdos  Ouidi 
Tu  Bracharenfis  Pontifex^ 
Qiu  meruiflijilias 
Tçt  ad  poios  tranfmittere. 

5  O  anno  cm  que  foi  eleito 
para  eltaCadeira  Pr.macial,diz 
Flauio  Dextro  foi  o  de  nouen- 
ta&  íínco  cm  que  fucedeoa 
SaóBafiHo-,  não  porque  na- 
quelle  morreíle  feu  anteceílor, 
pois  não  paílbu  dos  feílenta 
do  Nacimêto  de  Chriflo,  mas 
porque  ate  então  parece  eíle- 
ue  vaga  cfta  Igreja ,  como  que 
eiperaua  por  hum  tal  Prelado, 
&tão  digno  fuceílbr  dos  léus 
primeiros  dous  lumes  j^aÕ 
Pedro  ,  &  Sao  Bafllio  .  Con- 
tinuou no  gouerno  de  -fua 
Igreja  por  alguns  annosro  na- 
mero  certo  fc  não  íabc.  Se 
morreo  quando  foi  eleito  feu 
immèdiato  íuceílbr  Saõ  Poli- 
carpo ,  chegouaos  annos  1 50. 

■■■■Ml     ■■■— ^— j  ■■  III  — ^^— ^i— ■^— "^^ 

de 


Sandoual 
lilf.de 
Tui  foU 
43- 


I06 


Qaptulo  XX 11. 


Fafcocel. 
ind  fcrip. 

in  AÍ.  S. 
de  Prim. 
f  34. 


de  nofla  redenção ,  &  trinta 
Ôí  íinco  de  íuaPrelaíIa.  Do 
género  de  lua  morte  não  ha 
certeza  :os  de  Braga  Ihecha- 
mão  comummente  martyrj& 
parece  que  o  foi,  porque  em 
tempo  de  Flauio  Dextro  cm 
que  ja  fe  celebraua  íuafella,  fò 
a  dos  Tantos  martyres  admitia, 
Ò<:feí1:ejauaa  Igreja  Catholi- 
ca.  Martyr  lhe  chama  o  Padre 
leronymo  Roman  em  húa 
carta  íua,que  anda  lançada  nos 
liuros  authêticos  do  Cartório 
defta  St.  O  mefmo  titulo  lhe 
dão  os  Padres  António  deVaí- 
concellos,  &  Coime  de  Maga- 
lhães daCõpanhiadelESVS. 
6  Seu  corpo  (agrado  poíTue 
efta  Se ,  &  o  venera  em  par- 
ticular fepultura  metida  na 
parede  bem  junto  à  porta 
da  íancriftia  à  mão  dercita  quã 
do  íaem  delia  ;  tem  letreiro 
que  diz  afsy.  OJ?a  Beati  Omdij 
tertij  Epijcopi  Bracharenjis. 
He  particular  auogado  do  mal 
dos  ouuidoSj  em  que  tem  fei- 
to notaueis  milagres ,  por  vc- 
tura  porque  nefta  parte  pa- 
deceria algum  grande  tormen- 
to:  comoacontccco  a  Santa 
Águeda  ficando  auogada  dos 
peitos ,  Santa  Luzia  dos  olhos, 
Sãta  Apollonia  dos  dêtcs  pella 
merma  re2  ão.  Tem  nejlte  Rei- 


no algúas  ermidas  onde  no  dia 


deíualeíta. 


que  vem  aos  três 


de  lunho,  íe  venera  fua  me- 
moria com  miíla ,  &  pre- 
gação, como  fe  faz  na  cidade 
doPorto  no  íítio  que  chamão 
a  Bandeira  junto  ao  moftciro 
da  Serra  de  Cónegos  Regrátes 
de  Santo  Agoílinho. 
7  Finalmente  íe  hadead- 
uertir  que  fe  não  celebra  o  Sã- 
to  nefte  mes ,  k.  dia,  por  ncllc 
cair  íua  bcmauenturada  mor- 
te, mas  porque  efta  Seoeí- 
colheo  por  não  ter  em  lunho 
Santo  algum  que  propriamé- 
te  lhe  percença.De  Santo  Oui- 
dio  efcreuerão  Flauio  Dextro, 
luliano ,  &  os  mais  de  que  no 
diícurfo  de  fua  vida  fizemos 
menção. Gouernarão  por  eltc 
tempo  a  Igreja  deDeos  o  Papa 
Saõ  Lino  lucellor  do  Apoíto- 
loSaõ  Pedro,  &  depois  delle 
Cleto  primeiro  do  nomc,Cle- 
mentc  primeiro,  Anacleto, 
Euarillo,  Alexandre  primeiro. 
Tiucraõ  a  monarchia  do  Im- 
pério Romano,depois  de  Nc- 
ro,Sergio  Galba,OthoSyluio, 
Aulo  Vitellio,  Vefpafiano,  Ti- 
to Vefpaííano,  Domiciano, 
Cocceio  Nerua  Hefpanhol, 
como  quer  S.  líídoro  ,  Vi- , 
pio  Trajano ,  &  fcu  íobrinho 
ElioAdrianotábéHeíjpanhoes. 

CAP- 


hro.pag 
9. 


Saox^afcos  BifpcÇf  màrtjn 


BArrúr. 

in  chtro- 
grafh. 
íit.  Ctila- 
taináfàl. 

74- 


CAPITVLO  XXIII. 

S  A  M    MARCO 
loao  Bijpo^i^f  martyr. 


ORcftes  an- 
nos  padece  o 
martyrio   na 
períeguiçáo 
ao    Empera- 
<JorDomiciano  oglodoío  S. 
Marcos  por  íobreiíomc  loáõ 
pcra  vir  noiírar,  &  enriquecer 
a  cidade  de  Braga  com  o  the- 
fouro  de  fuás  fagradas  reli-- 
quias  que  nclla  fe  vcnèrão. 
-Foi  efte  Santo  primo^&  com- 
panheiro do  Apoftolo  Saõ  Ber 
nabejteuc  por  meftre  ao  Prin- 
cipcdos  Apoftolos  Saõ  Pedro 
em  cuja  efchola  aprcndco ,  & 
na  do  Doutor  das  Gentes  Saõ 
Paulo,  com  quem  veo  a  ¥{t(- 
panha,  &  pregou  na  antiguã 
Bilbilis  pátria  do  poeta  Mar- 
cial ,  que  eftà  íítuada  -onde  a- 
gorâíevèa  cidade  de  Calata-^ 
yud,ou(como  querem  alguns 
com  melhores  fundamentos) 
no  monte  Baubala  mea  Icgoâ 
da  mcfma  cidade ,  no  Bifpado 
de  Tarraçona  do  Rcyno  de 
Aragaõ.  Daqui  voltou  o  San- 


Ito  peira  Roma  ohdé  pregou^ 
«5<:cm  outra  cidade  de   Itália^ 
que  íuliano  chama  Allio ,  & 
hoje  fe  conhece  cbrii  o  hoine 
de  Caílcllo  de  fanta  Scucrã. 
Foi  edificada  pòr  Gregos^  6c 
pcllos  Aborigíilcs  pouòs  ian- 
tiguos  dè  Itália.  Sàõ  Pedirò  õír- 
denou^d:  fagrôu  Bifpoâó  nòf- 
fo  Santo,  òc  o  ehiiiou  a  publi- 
car o  Euangelhô  ã  outros  pó- 
uõs  de  Itália  chamados  Eqtii- 
colosj  òs  quais  cáhiáò  junto 
aos  Sabinos  ^de  que  fazem  iiiê- 
çáo  Phnio  j  &  òutrós  autores. 
Aquipella  pregação  da  Fè al- 
cançou gloriofa  pàlmá  de  mar- 
tyrio na  perfeguiçãò  dè  Do- 
miciano  fendo  Prefidcíite  Má- 
ximo. DcfteSântõ  fe  faz  mé- 
ção  cm  muitos  lugatcs  dòs  ac- 
tos dos  Apoftolos  y  &c  na  Epi- 
ftola  ad  Coloífenfes  lhe  cha- 
ma o  Apoftolo  Sáó  Pàulò  pri- 
mo de  Saõ  Bernabe  ^  &  tàmbé 
fala  ncUé  em  outros  lugares. 
Cahio  ícu  martyrio  aos  zy.  de 
Setembro  cm  que  o  pocm  o 
Martyrologio  Romano  ,Scò 
nôíòu  Baronio  no  mefmo  lu- 
gar. 

1  FoitrcslaJádoocorpô  dó 
gloriofo  martyr  para  cfta  ci- 
dade de  Braga  oíide  jaz  em 
húa  capclla  antiquifsimà  da  iri- 
uocação ,  &  nome  do  mefmo 


in  aduerf 
M4rh 


Plm.  lÁ, 

neid.  lilf. 
7-  Õuid. 

fitfi.  itb. 
3* 


AA  Cot. 


SànÉô 


108 


Capitulo'  XX IIL 


dPanuA 


Santo  líta  no  campo  dos  Re- 
médios em.  hum  ícpulchro 
antiguo  de  lafpc  cuberto  com 
hua  pedra  que  guarda  as  ia- 
gradas  relíquias. Por  eilas  obra 
Deos  muitos  milagres ,  ôc  faõ 
viíitadas,&:  veneradas  de  mui- 
ta gente  que  concorre  de  va- 
rias partes  deantrc  Dourou 
Minho.  A  terra  que  fe  tira  de 
juntoà  íepultura  íerue  de  re- 
médio pêra  varias  enfermida- 
des, &  com  deuação  he  leuada 
pêra  cura  de  muitos  doentes. 
EíH  junto  àcapella  fundado 
hum  hofpital  em  que  fe  curão 
enfermos  pobres :  deílc  Santo 
tomou  nome  a  rua  que  cha- 
maó  de  Saõ  Marcos ,  porque 
leua  àcapella  ode  eftà  o  corpo 
fagrado. 

3  Vifitou  a  oAciprcfíe  lulia- 
no  vindo  a  Braga  em  compa- 
nhia do  Arcebiípo  de  Toledo 
Dom  Bernardo ,  fendo  Arc^ 
bifpoSaõ  Giraldo.Deteuefe  al- 
guns mefcs  no  lugar ,  &  affir- 
ma  que  vio  as  preciofas  reli- 
quias  com  os  ollios ,  Sc  vene- 
rou com  o  peito  por  terra. 
Delle  he  o  que  temos  referido 
do  martyrio,  ôc  tresladação 
pêra  Braga  deite  rico  rhefou- 
ro.  Também  faz  menção  de- 
ite Santo  o  Padre  Vafcócellos, 
mas  com  menos  noticia  delle 


da  que  nos  deu  íulianc;  por- 
que nem  alcançou,  quefora  o 
Santo  aquclle  Marcos  celebre 
da  igreja  Primitiua  dicipulo 
tão  nomeado ,  &  cflimado 
dos  cjous  íagrados  Apoítolos, 
nem  que  fora  martyr  illull:re 
de  Chriilo  pella  pregação  da 
Fe.  Porem  conforma  com  Ju- 
liano, em  quanto  diz,  que  de- 
pois de  morto  foi  tresladado 
pcra  Braga.  O  tempo ,  6c  mo- 
do porque  efta  tresladação  fe 
fez  lios  cncobrio  a  antiguida- 
dcjôc  os  annos  que  fepultarão 
com  eíla  outras  muitas  me- 
morias antiguas ,  que  illuitra- 
uão  a  Igreja  de  Braga. 


CAPITVLO  XXIIII. 

AS  SANTAS  NOVE 
irmãs  gémeas.  Virgens ,  if 
martyres. 


M  O  Sa con- 
tar neile  capi- 
tulo as  vidas 
de  noue  ir- 
mãs virgens, 
&:  martyres  glorioías  de  noíla 
fanta  Fè^nacidas  todas  de  hum 
parto  mais  prodigiofo  ainda 


-r 
na 


jis  Santas  noue  irmãs. 


IC9 


tdufrfa 


H'-y.Rc 

^■Ih.I  oh 
ftJ.a  m 
M.f.  ai 

f  í.  •  »rf 
tí>rats  de 

CUfOS  >^A 

C  í  rttnhé 
em  Ualh 


na  graça  ,  que  na  natureza^ 
pcis  nclie  íc  vio  o  Cco  co- 
roado com  nouc  fcrmoíiííi- 
mas  eftrellas  cujos  admiraueis 
rcíplandores  igualmente  o  or- 
não  acile,  &  ennobrecem  a 
cjdade  de  Braga  pátria  íuaj  òc 
de  Teu  pay ,  a  quem  luliano 
cFarra  cidadão  delia  .  Foraó 
fill-as  cfta?  Santas  donzcllas 
de  Lúcio  Carilio,  ou  como 
outros  melhor  conjcituraó 
Lrcio  Cavo  Atilio  varaõ  Co- 
fularnaturaldc  Braga  ,  Go- 
uernador  das  Prouiucias  de 
I.ulirania,&  Galiza  pellos  Ro- 
manos,  ^  de  Calfia  fua  mo- 
iher  moradores  ni  cidade  de 
Praga  anibosGencios,&  gran- 
des idolatras. 


Foi 


pois 


o  calo 


fc 


me 


chcgandofe  a  hora  do  parto  a 
Callia  fe  vio  nelle  may  de  no- 
uc filhas  que  por  a  miukidaõ 
a  eípantarão ,  &:  enuergonha- 
raó  .  Fioufc  da  parteira  ( que 
Mémn  ^^  liÇ^es  do  Breuiario  de  Ci- 
Mdu  f4g.  guéçaxhamaõSilla,  &:  depois 

li"  H?\  ^^^  ^^^"^^^  5  ^  marcyr)  &  raan- 
tflMM!  )  doulhe  que  fcm  ninguém  fa- 
jfn*stei-  herdaquella  monRruoíídade 

qr.iat  em  rr  ■  •      r 

iiuCiKí  tomalie  as  crianças ,  òí  atoga- 
jmto  A  das  as  entcrraflc  aonde  nuqua 
Ey^eflx  mais apparcccflem.  Quis  que 
Ssntahe]  logò  aly  disntc  de  feus  olhos 
Sí/L       ^^  executaíTeaquella  crueldade. 


mas  Dccs  ordenou  as  couías 
demancira,  que  cem  outia 
gente  que  fobrcueo ,  cuuc  de 
íairda  preícnça  c'e  Cóllla  cõ 
animo  de  cm  lugar  mais  rcti- 
rado  por  em  execução  precei- 
to taõ  deshumano.  Jacllaua 
aparelhada  a  dar  a  morte  às 
noue  irmãs ,  quando  indo  cõ- 
íiderando  a  cada  húa  per  (y  as 
achou  a  todas  bellas ,  &  ftr- 
moías.  Parecialhe  que  com  os 
clhos ,  &:  geflo,  lhe  pediao 
as  innocentes  vida  ^  òi  como 
era  chriíl:ã  fentiaíc  interior- 
mente moucr  a  conccderlha. 
Temia  porem  a  ira  de  Calíia 
fe  algúahoravieílcem  noticia 
det£.lcouía,  mormente  que 
fe  lhe  naó  dcfcobria  modo  cõ 
que  as  pudeíTe  criar .  Porem 
a  tudo  acudio  a  Diuina  Pro- 
uidencia  porque  as  mininas 
forão  liures  da  morte ,  &  bau- 
tizadas  porordêdoArccbifpo 
defta  Igreja  SãtoOuidio,dãdo 
lhes  pornomeIancbra,ouGene 
ucrâj  Eumelia^ou  Eufemia,Vi- 
toria^Marciana,  Germana^Gé- 
ma,ou  Marinha_,QMÍtcria5Baíi 
lifajVuilgeforte^  ou  Liberara. 
3  Entregues  aamàschriftãs 
crecerão  as  noue  irmãs  em  vir 
tnde,&  íàntidaíe  ainda  mais  q 
nos  corpos jC  nos  annos,  tíào 
por  mcítreao  Sáto  Arcebifpo 


K 


Ouidio 


lio 


CapndoXXIIII. 


OuiHib  qas  iníinou,  &  inftru 
yordecuja'  efchola  fairaõ  dou- 
tiiíimasnos  myfterios  de  nof- 
líífantaFè.  Asfdçoés  doro- 
ftOj  o  ar,  &  géíto  que  de 
íí  dauão  com  a  confronta- 
ção de  feus  nacimentos  fo- 
raÕ  abonando  o  teftimunho 
da  parteira ,  que  muito  de- 
pois lhe  declarou  a  cada  húa 
per  fy,&  a  todas  j  tintas  co- 
mo erão  irmãs,  &  filhas  do 
Gouernador  Cayo  Atílio  na- 
cidas  do  mefmo  parto  de  fua 
molhèr  Callía,  a  qual  as  man- 
dara matar,  &  tudo  o  mais 
que  em  fcu  nacimento  acon- 
tecera, &c  acima  deixanios  re- 
latado .  Creraõ  as  Tantas  don- 
zcllas  o  que  lhes  dizia,  & 
certas  ja  da  verdade  defta  re- 
lação determinarão  viuer  to- 
das juntas  na  mefma  cafa,  af- 
fy  pcra  fe  poderem  confer— 
uar  melhor  na  FèjComo  pera- 
q  creceíTem  mais  na  virtude  , 
&  fantidade  com  os  exem- 
plos húas  de  outras .  Vota- 
rão pureza  virginal,  conía- 
grando  fuás  almas ,  &C  cor- 
pos àquellefcnhor,  que  com 
taõ  milagrofo  parto  as  fize- 
ra nacer  ,  nacidas  as  liurara 
da  morte,  que  fua  may  lhe 
mandaua  dar ,  criandoas ,  & 

fuftentandoas  atê  ly  com  pro- 
—  -  ^ 


uidencia  taõ  particular, 
4  Naõ  fe  falaua  em  outra 
coufa  fe  não  na  fanta  vida 
que  as  noue  irmãs  faziaÕj 
pafmauão  todos  de  entre  tan- 
ta fermoíura,  prudência,  Ôc 
outros  doens  da  natureza, 
porque  fe  fazião  eil:imar,a- 
uer  tanto  reíguardo  ,  de  cau- 
tella  ,  mormente  pretenden- 
do muitos  mancebos  no- 
bres, òí  ricos  cafar  naquella 
cafa  onde  pellas  irmans  fe- 
rem tantas  em  numero ,  òc 
os  dotes  naõ  mais  que  as  boas 
partes  naturaes  de  cada  húa, 
cuidauaõ  feriaõ  logo  admi- 
tidoí  ;  fucedendo  tudo  ao 
contrario  ,  porque  a  nenhú 
dauão  ouuidos,  nem  outra 
repofta  mais  que  dizerem,  ti- 
nhaõ  ja  todas  efpòfo,  aquém 
por  nenhu  cafo  deixariaÕ, 
pois  nem  em  riquezas ,  nem 
em  gentileza, ou  nobreza  po- 
I  deriaõ  achar  outros,  que  o 
isualaífem  .  Naõ  atinauao  os 
Gentios  onde  hia  dar  a  repo- 
fta das  fantas  irmãs,  fe  bem 
a  julgauão  por  verdadeira, 
pello  grande  conceito  que 
tinhaõ  formado  de  feus  me- 
recimentos. Nem  fe  atre- 
uiaõ  a  inquietallas  cÕ  demaíía, 
ou  fobegidão jtanto  fc  faz  efti- 
mar,  e  venerara  virtude,ainda 


dos 


As  Santas  noue  irmãs». 


íl 


dos  próprios  inimigos.  Eira 
uão  porem  deíejoios  dç  ía- 
ber  quem  feria  aquelle  cfpoío 
de  cada  húa^  de  cjucm  táo 
pagas  viuiaõ  todas  >  &:  por 
cjLiem  engeicauão  os  nobres^ 
os  ricos ,  ^c  os  mais  pcra  cíli- 
mar,  &  pretender  cie  íua  pá- 
tria. 

j-  Vierâõ  entre  tanto  gra- 
des prouiíoés  y  ôc  decretos  do 
Eniperador,  &  fenado  Ro- 
mano a  Lúcio  Atilio  j  cm  que 
íc  lhe  ordenaua  perfeguiílèa 
ferrOj&  afogo  a  ley  dos  Cíiri- 
rtãos ,  naõ  deixando  com  vi- 
da nem  com  fazenda  a  todos 
quantos  a  profcflkfiem.  To- 
marão ellcs  decretos  a  Cayo 
Atilio  eftando  na  cidade  de 
Tui  junto  às  ribeiras  do  rio 
Minho ;  tilihâ  elle  ja  noticia 
das  nóue  irmãs,pella  fama  que 
corria  de  í  dafermofura^í^  pu-* 
reza  j  mandou  as  trazer  dian- 
te fy  pefa  faber  delias  emq 
ley  víuiáo  ,  &  qual  determi- 
nauão  íeguir  daly  poí  diantC; 
Chegadas  a  Tuy,  6c  appre- 
fcntadasem  ícu  tribunal^  ve- 
do ja  com  os  olhos^  &  achan- 
do ainda  mais  do  que  antes 
IheContauão^lhe  perguntou 
onde  naccrão,  cujas  filhas 
crão ,  âz  a  quem  adorauao  ,  fe 
aos  Deofes   immortaes     au- 


tores, 6c  confcriíadorcs  do 
impcrio  Romanoiíea  ÍESV 
Chriílo  crucificado  per  feus 
próprios   naturaes  ?  Rcfpon- 
dco  Gcíicuera,  ou   Genebra 
a  quem  as  outras  obedeciáoi 
quanto  à  pátria  ícnhor,  fo- 
mos todas  nacidas  na  cilade 
de  Braga  3   noílb   pay   es  tu 
mcfmo,   ôc  tuamolherCaU 
/ia  noílà  may  ?  A  Fe  que  pro- 
feflamos  hc  a  de  lESV  Chri-f 
fto  noílo  Senhor ,  verdadei- 
ro Dcos,   &  verdadeiro  Ho- 
mem j  a  auem  fe  os  feus  cru- 
cificarão,  naõ  foi  por  culpas 
próprias  que  não  ouuc,  nem 
podia   auer  em    fiia  pcíloa, 
mas  por  deíla maneira faluar 
ao  género  humano,   refga- 
tãdoo  da  tirania  do  Demónio 
com  o  preço  de  feu  próprio 
langue. 

6  Pafmado  Atilio  do  que 
ouiraa  Genebra  mandandoa 
recolher  com  as  outras  ír- 
mansj&:  vigiar  com  boa  guar- 
da j  depois  de  aduertir  na>  íei-^ 
coes  3  Ôc  gei^os  de  cada  húa, 
que  grandemente  lhe  rcpr€4 
fentauão  a  Calfiajfe  foi  a  con- 
tarlhe  o  que  ou u ira  ,  ôc  en- 
formarfe  com  ella  íe  leua- 
uão  áquellas  eõulas  algiim 
caminho  ,  Naõ  pode  Cal- 
fia  (  ordenándoo  afsv  Dcos 


'II    iWiiiillBi 
t 


Kl 


jera 


112 


Qafitulo  XXI III. 


IDcos  pêra  mayor  gloria  das 
Sancas  Virgens  )  negar  o  que 
rinha  paílatío  ,  &  claramente 
confeíTou  ao  marido  a  verda- 
de •,  porem  acrccentcu  que 
cila  mandara  matar  as  nouc 
filhas  que  parira,  &  que  com 
effeito  lhe  diflèra  a  parteira  as 
matara_,  mas  que  poderia  bem 
fer  o  não  fizeílc  _,  òí  ferião 
aquellas  mefmas  cm  que  lhe 
faiaua^  o  que  com  facilidade 
íe  poderia  aueriguar  afsy  pella 
meímaparteira^que  ainda  en- 
tão viuia,  como  pella  con- 
frontação deíeu  parto  com 
o  naci mento  das  noue  irmãs, 
&:  pellas  amas  que  as  criarão. 
Pedio  depois  defta  tão  ma- 
niferta  ^  &  hberal  coníiílaõ 
Calíia  a  feu  marido  a  deixaf- 
íe  falar  com  aquellas  donzel- 
las ,  porque  por  ventura  com 
cila  íe  manifeftariaõ  mais,  & 
fe  declararia  melhor  a  falíída- 
de,  ou  verdade  do  que  lhe  ou- 
uira. 

7  Vindas  à  prefença  da 
may  as  noue  Virgens^  ou- 
ue  nas  primeiras  villas  gran- 
de fobrefalto  dehíja,&  ou- 
tra parte  j  nem  Calíía  por  re- 
conhecer em  cada  hua  dei- 
las  íua  própria  imagem  po- 
dia falar,  nem  as  filhas  ven- 
dofe  com  a  may  fabiaõ  o  que 


auiãoJe  dizer.  O  íirndoque 
aly  paflaraõ  foi ,  que  Calíia 
reconhccco  as  noue  irmãs  por 
filhas  ,  &:  ficou  delias  de— 
fenganada  que  ja  mais  àú- 
xarião  a  Fè  de  Chrifto,  em 
que  fe  criarão  aindaque  na 
emprefa  deixaílem  a  vida  à 
força  de  puros  tormentos . 
Com  efta  reícluçaò  a  dei- 
xarão taõ  afeiçoada  à  nofla 
fanta  ley,  que  não  teue  mais 
animo  pêra  pedir  às  filhas  íe 
apartaííem  dcila  ;  antes  prc- 
tendeo  perfuadir  ao  marido 
fe  óuueíle  com  os  Chriílãos 
brandamente  _,  &:  com  aquel- 
las noue  donzellas  ,  quando 
naÕ  com  piedade,  peilome- 
nos  com  diísimulação.  Po- 
rem como  Cayo  Atiho  te- 
mia as  íeys  dos  Emperado- 
res  ,  não  dando  nada  pellas 
amoeftaçoés  da  inolhcr  íe 
rcfolucoa  por  as  Santas  Vu"- 
gcns  a  tormento,  &  o  execu- 
tara fe  por  via  de  Çalíia,  & 
reu elação  de  hum  Anjo  as 
Santas  não  efcaparao  de  luas 
maõs  tomando  vários  ca- 
minhos quacs  o  Ceo  a  ca- 
da hGa  lhe  hia  defcobrindo  ate 
finalmente  alcançarem  to-- 
das  a  palma  do  martyrio  na 
forma  que  iremos  contando. 
A  fefia de  todas  juntas  fe  ce- 


icb 


rou 


As  Santas  noue  irynas. 


11% 


Icbrou  por  muito  tempo  em 
Hefpanha  aos  1 8.  de  laheiro, 
como  tcíliHca  lulianOj  não 
obílancc  cclebraríe  a  de  cada 
húaem  particular  fcgundo  o 
dia  cm  que  derramarão  Tan- 
gue pella  defenfaõ  de  noíla 
íànu  Fe. 


CAPITVLO  XXV. 

DEFENDESE  O 
nacimento  das  Santas  noue 
irmãs  Js^prouaje  com  outros 
femelhantes. 


Lgijs  ouue,  q 
cmfeuscícri- 
tos  puzeraj 
duuidana  tra 
dição  deíla 
Igreja,  ôc  de  outras  muitas, 
onde  a  fefta  deltas  gloriofas 
Virgens  &  marcyres  fc  cele- 
bra, quanto  ao  particular  de 
ferem  todas  gémeas,  que  no 
mais  bem  admitem  o  q  delias 
referiremos. Pello  que  nos  pa- 
rece© antes  de  entrarmos  na 
hiftoria  dcíeus  martyriosdar- 
mosaqui  húa  brcue  noticia  de 


outros  partes  igualmente  mi- 
lagroíos,  &  prodigiofos ;  pe-^ 
raque  não  fique  dte  difficul- 
toíb  de  crer,  por  mais  impof- 
iuiel  que  pareça. 
2.  E  peraque  vamos  com  di- 
ftinção  perguntamos  primei- 
ramente fe  faz  aqui  duuida  ne- 
fte  milagrofo  parto  íerem  as 
que  delle  naccrao  tantas  em 
numero  ?  Sc  rodas  íerem  fê- 
meas ?  ou  fe  por  ventura  con- 
fifteadifficuldade  em  ches:a- 
rem  as  noue  u^mas  a  idade,q 
pudeílem  profeífar,  ôc  con- 
fefiar  a  Fé  de  Chrifto  ,atê  por 
ella  darem  fuás  vidas,&  derra- 
marem íeu  ianque? 

Não  fe  pode  duuidar  do 
parto  por  numerofo,  porque 
no  Peloponefo  pario  húa  mo 
Ihcr  quatro  vezes^  línco  filhos 
de  cada  parto .  Em  Roma  fc 
vio  o  meímo  em  húa  efcraua 
do  Emperador  Augufto  Ce- 
fara  qual  pario  finco  filhos 
de  hum  ventre,  no  campo. 
Laurentino.  Em  Alemanha 
ouue  húa  molher  como  affir- 
maRauifioTextor,  que  pa- 
no feíTenta  filhos ,  finco  de 
cada  parto  i  &  ainda  que  na- 
turalmente, conforme  à  opi- 
nião de  Arirtoteles ,  feja  eftc 
o  mayor  numero  dos  filhos 
que  podem  nacer  de  híj  parto: 


PllX.  Itb. 


Getlítb. 
10.  noã» 
Atic,f.3' 


I.J?p4ter 

fde/elHt 


K3 


con- 


314 


Capitulo  XXV. 


\âefiíiU 


contudo  rlinio  ,  ôc  outros 

Cerra/.in'  n       J  \ 

l.Arcfiii  autores  O  eitcnclem  ate  o  nu- 
l/f  »•  f -i*  mero  de  fete,  trazendo  exem- 
plos de  partos  femelhan  restos 
quaes  no  Egypto  eráo  muy 
frequentes  atribuindo  efta  fe- 
cundidade às  agoas  do  rio  Ni- 
lo^ que  fertiliza  aquellaPro- 
uincia.  Nem  os  luriíconíul- 
tos  defconhccem  o  parto  de 
fete  filhos  j  porque  o  julgáo 
por  natural  ^  &:  entre  os  par- 
tos numcrofos  que  ,  refere 
de  granes  autores  aponta  eítc 
o  lurifconfulto  Paulo,  Ôi  o 
não  reproua  Vlpiano,  E  que 
efta  fecundidade  Icja  tão  pró- 
pria nas  molheres  de  entre 
DourOj  &  Minho,  onde  na- 
cerão  as  Santas  noue  irmãs, 
como  natural  nas  do  Egypto, 
íe  proua  com  muitos  exem- 
plos de  molheres,  que  parirão 
trcSj&  quatro  juntos:  &  húa 
onuc  na  quinta  deVillamayor 
daHõra  deTcixcira  por  nome 
Branca  da  Rocha  a  qual  pario 
quatorle  crianças  dehú  parto 
viuas,  &  que  receberão  o  Sa- 
cramento do  Bautifrno.  Ia  fe 
vjraõ  em  outras  Regiões  a- 
borfos  de  doze,  vinte,  dc(t- 
tcnta  criaturas.  De  dous  par- 
tos pario  certa  Alemã  ,  que 
naquclle  tempo  viuiaemlta- 

Fí/flj,.    '  lia,  vinte  &  hum  filhos,  onze  , 


l.antiqui 
ff.  JJpars 
htere.pct. 
l  &fi  p4« 
iiíVci  ff. 
ttiem. 


Barbofa 
in  rsm^f. 
ador  l. 
ííb.^Mt. 
loj.w.  Z. 

Tlin.li.j 
r.ii. 

Mben. 

r»al.li.<^, 
tf  aí  ^.c. 

w 

Chromtr 


por  húa  vez  ,  6c  dez  por 
outra ,  chamauafe  Doiothea. 
O  Conde  Verbofíao  em  Po- 
lónia ouue  cm  íua  molher 
de  hum  fò  ventre  trinta  & 
féis  filhos  ;  naccrãolhe  em 
vinte  de  laneiro  doannode 
izóp.contao  Martin  Chro- 
mcro  autor  daqueila  nação  de 
grande  diligencia  ,  &  autori- 
dade. 

5  Q2?m  não  fabe  dos  3  éj. 
filhos  òd  filhas  que  juntos  pa- 
rio Margarita  filha  de  Florên- 
cio quartoConde  de  Holãda, 
molher  de  Hcrmanno  Con- 
de de  Hennemberg,noanno 
dci27j.ounodc  12.78.  todos, 
viuos,c  todos  em  cftadoqpa 
deílcm  receber  asoa  do  fapra- 
do  Bautiímo  ,  como  tê  auto- 
res grauiísimos:&  ainda  acre- 
centáo  alguns  que  em  certo 
moílciro  deReligioías  de  São 
Bernardo  chamado  Luíduno 
fe  conferua  ainda  hoje  a  íepul- 
tura  defta  Margarita,^  de  íeus 
3Ó5  filhos  com  o  epitaphio, 
que  podem  ler  os  curioíos  no 
Bifpo  de  Vulturara  Symaõ 
Maiolo,  onde  fe  diz  que  às 
fêmeas  íe  pos  o  nome  de  líà- 
bel ,  aos  machos  de  loá.o,6c  q 
o  parto  foi  em  fefta  feira  San- 
ta às  noue  horas  da  manhã 
doanno  de   12,76   eftando  a 

Conde- 


jinehr. 
n  CUm. 

S' 

de  Siiciroi 
m  127c! 
j>ag  308.1 
Meyer] 
innal.  li. 

9- 

.'^^arcel. 
Donat.iit 

bifl.mfd, 
.-.24. 


MayoL 
diescanic 
eellequia 


Sdnt^^  noue  irmãs. 


115 


D.lhf. 

fnmíi,  ei 
ibi  fcribi 

Ib.i  d 
\fi(nfi\'ítio 

\6  nrt..^ 


Condeça  nos  qiiarcc^&  dons 
de  íua  idadcFicalogo  quedeí- 
contentar  por  numerolo  o 
parco  das  noílas  noue  ir- 
mãs hc  querer  por  vicio  na 
verdade  dos  q  acabamos  de  re- 
ferir,t\:de  oacros  femclhantcs, 
que  íc  acharão  nos  meímos 
autores^  &  ter  íò  por  verda- 
deiro o  que  não  palia  do  ordi- 
nario^ou  íe  vecom  osoihos. 
4  Menos  duuidoro,(?>:fabu- 
loíofaz  ainda  dcí1:c  parto  das 
Santas  Porcuguefas  o  ícr  to- 
do  deíemcas  ;pcrq  comoa  na- 
tureza cm  femelhantes  prodi- 
gios  perde  muito  de  íua  vir- 
tude ^  Sc  efíicacia  pella  efpa- 
Ihar  por  tantos  fogeitos,  bem 
(c  deixa  ver  chegara  a  cada  híí 
com  menos  vigor,  &c  naõ  po- 
derá íair  cem  o  mais  perfeito, 
&:  femprc  delia  pretendido ,  q 
he  a  geração  de  machoj&  não 
de  fêmea,  como  mais  nobre 
naquellaefpecie:  mais  fácil  fi- 
caua  logo  ã  natureza  iendo  os 
indiuiduGs  deíle  parto  noue 
auercm  de  fcr  todos  fêmeas,  q 
todos  machos.  E  por  aqui  bé 
fe  deixa  ver,  que  tudo  o  que  íe 
lhe  oppoem  de  fabulofo  he 
fcm  fundamento ,  &  fó  afim 
de  negar  o  que  em  boa  filoío- 
phia  fe  não  pode  contradi- 
zer. 


5  Kem  cuidamos  quejanê 
por  nunieroío  ,  nem  por  ler 
todo  de  fen  eas  deixará  de  pa- 
recer verdadeiro  o  parto  çíc 
Callia^por  vital  íy,pois  lendo 
ofuccílb  natural  nao  parece 
lepodião  formar  as  noue  fi- 
lhas em  tanta  perfeição,  que 
che^aílem  viuas  a  durar  tan- 
cos  annos.  E  peraque  conol- 
íos  meímos  exemplos  nos  cõ- 
uenção  os  que  tem  o  contra- 
rio,refpcndcmq  em  Egypto 
nacião  muitas  vezes  íete  ôc 
mais  criaturas  juntas  j  mas  né 
Solino  que  o  conta ,  nem  ou- 
tro algum  autor  diz  viuião 
por  muitas  horas,  quãto  mais 
per  muitos  annos ,  como  vi- 
ueraõ  as  noue  Portuo-ueías. 
Os  aboríos  de  doze,  vinte,  &c 
fetcnta  criaturas ,  erão  abor- 
íos, &  por  taes  janãofizem 
proua  em  parto  que  todo  fe  lo 
grou.  Vioíe,he  verdade,o  Có- 
deVerbofiao  de  húa  fò  vez  pay 
de  trinta  ôc  leis  filhos  j  mas 
por  tão  pouco  tcpo  q  nenhú 
durou  efpaço  confidcrauel . 
Os  trezétos  &  feílenta  &c  íín- 
co  da  CondeíTa  Margarita ,  ale 
de  não  paífar  cada  hum  na  grã- 
deza  da  quá:idade  do  dedo  me 
nor  da  mão  de  hum  homem, 
na  mcfma  hora  que  naccrão, 

morrerão,  

K4  6  Menos 


Ii6 


Capitulo  XXV-è 


V 
■Jí— 


6  Mjiio^erãoos  quatro  fi- 
lhos,&  oiitms  tantas  filhas  de 
Faulla  em  tempo  de  Augufto; 
os íínco de íua criada,  outros 
tantos  que  ouue  cm  íua  mo- 
Iher  o  doutor  íoaõ  Celími, 
é  Berna  cidade  de  Suizcros  no 
anno  de  1554.  três  machos_,  de 
duas  fêmeas,  &  com  tudo  o 
meímodia  que  osvio  nacer, 
eííe  mcímo  os  vio  morrer. 
Como  pode  logo  íer  que  as 
Santas  noue  irmãs  naceílem 
perfeitas,conrinuaílem ,  òc  fe 
lograílemviuas  por  tantos  ?.n- 
nos  contra  a  comum  reera 
da  natureza ,  que  nos  partos 
cm  que  fe  moílra  mais  liberal 
de  indiuiduos,ahy  he  mais  eí- 
caíTa  de  perfeições ,  &  mais  a- 
uarcnta  deanno.^? 

7  A  rcpolta  vnica ,  &  prin- 
cipal a  cilas  ob:ecçoés  era  per- 
guntar donde  íe  collige  que 
o  parto  de  Calíía,em  queDeos 
tiraua  a  luz  noue  donzcUas 
pcra  tanta  gloria  fua  ,  as  quais 
com  profeílarcm  a  virtude  da 
pureza  acreditaííem  em  Hef- 
panha  o  eftado  virginal ,  &  cõ 
darem  fua  vida,  Sí  Tangue  pcl- 
la  Fèa  multiplicaíTem  na  mef- 
ma  Prouincia,era  natural,  & 
naõ  verdadeiraméte  mila^ro- 
10  ?  Qj£em  diíTe  fe  auia  de  me- 
dir eile   prodigiofo    fucelTo 


pellas  leys  da  natureza  ?  De- 
modo  que  fendo  tudo  o  de- 
mais neílas  glorioías  irmãs 
railâgrofo ,  fô  o  parto  ha  de 
fer  natural?  E  afsy  dizemos  q 
aindaquc  por  força  da  nature- 
za quando  as  Santas  naccílem 
noue  juntas  íe  naõ  podeílem 
conferuar  por  muitos  dias  vi- 
uasjpodiaõ  com  tudo  quando 
a  graça  as  padrinhaua5&  a  om- 
nipotência Diuina  era  a  que  as 
tiraua  a  luz. 

8  Mas  pcraque  naõ  pareça 
nos  valemos  demilagres,eíla- 
do  fò  no  que  pode  a  natureza, 
&  no  que  lem  pertinácia  fc 
não  pode  negar :  nas  hiílorias 
humanas  encontramos  cm 
noffo  abono,  òc  juftifícação 
prouas  efricaciiLmas. No  fim 
deite  capitulo  poremos  os  au- 
tores em  que  íe  achao  .  Duas 
porem  deforça  auemos  de  re- 
ferir aqui,  com  que  fc  verifica 
bem  fer  verdadeiro  o  parto 
das  noíTas  noue  irmãs  San- 
tas. 

9  Antes  que  paílcmos  a 
Reinos  eftranhos  comece- 
mos pcUo  que  fucedeo  no 
noíTo  de  Portugal  neftc  Arce- 
bifpado  de  Braga  quinze  Ic' 

j  goas  da  meíma  cidade  .  Mo- 
raua  na  villa  de  Chaues  hííâ 
molher  nobre  por  nome  dona 


Maria 


Santas  noiíe  irmas^. 


\\f 


Maria  Mantclla,  ou  Mareei- 
la  eafada  com  hum  homem 
principal  do  lugar  deAnhele^ 
chamado  Fernaó  Gralho. Efta 
mandou  hum  dia  chamar  â 
hum  caz  eiró  feu  pcra  oocu-* 
par  em  feruiço  de  cafa  ;  tar- 
dou elle,  &  náo  chegou  ao  te- 
po  que  lhe  fora  ordenado ;  re- 
preadeo  o  a  fenhora ,  &  elle  fe 
dcículpou  q  naõ   viera  mais 
cedo  porque  de  hum  parco  de 
fua  molher  lhe  nacerao  duas 
crianças  que  o  obrigarão  a  lhe 
buícar  amas  que  lhe   deíTem 
leite  porque  nâo  perece  ílem. 
Efpantadaa  íenhora  do    cafo 
lhe  reípondeo,  que  naõ  po- 
dia crer  que  parco  de  dous  fi- 
lhos foíTe  íegicimo^ances  o  ti- 
nha poradulterino,&  lhe  pa- 
recia que  â  dous  pays  fe  auia 
de  atribuir .  Mal  pareceo  ao 
marido  Fernâò  Gralho  a  re- 
porta de  fua  molher,  acodio 
logo  com  reprenfaÕ,  &  o  Ceo 
naó  tardou  com  o  caftigo. 
IO      Andando  o  tempo  veo 
ella  a  conceber ,  &  o  marido 
pcllo  que  lhe  tinha  ouuido 
começou  a  vigiar  o  parto.  Su- 
cedeo  que  fendo  elle  hum  dia 
aufente  pario  ella  {çx.t  míninos 
machos  taõ  petfeitos  em  to- 
dos os  membros  como  feo 
parto  fora  de  hu  fò  .  Foi  igual 


ao  cfpanto  á  perturbação  Ve^ 
do  com  os  olhos  o  humero 
dos  filhosj  &  coma  confide-^ 
ração  a  afronta  que  delics  lhe 
auia  de  refultar  le  o  parto  fof- 
fe  pubhco  na  vilía^  &  chegãf- 
fe  à  noticia  de  feu  marido. Vé- 
dofe  neite aperto  intentou  hú 
feito  cruel  indigno  de  inay, 
qual  foi  efcolherdoá  mininos 
hum  que  deixou  em  caía  com 
vidados  féis  fentenceoU  à  mor- 
te ,  &  cõmeteo  a  execução 
a  húa  eícrauâ ,  aquém  õs  en- 
tregou com  ordem  que  logo 
os  foíle  atogàr  no  rio  Tâme- 
ga para  que  nãõ  appareceífém 
mais  no  mundo. 
II       Hiaaefcrauatiraravida 
aos  innocences  bufeando  o 
rio  que  auia  de  fer  o  inftrumé- 
to  defuâ  morte.  Quando  de 
repente  appareceo  íeu  amõ 
Fernão  Gralho  ,  a  quem  ella 
deu  as  ilouas  do  parto  de  fua 
fenhora ,  dizendo  que  parira 
hum  mi  nino.   Perguntoulhe 
o  amo  que  era  o  q  Icuaua  cu- 
bcrto  \  naó   queria  a  eícraua 
refponder,  inííou  o  âmo  ,  & 
com  ameaças  lhe  mandou  de^ 
claraíTe  o  que  leuauà.Náõ  pó-^ 
de  ella  reííílir ,  &  veo  a  cônfef-^ 
far  pêra  onde  híá,e  a  execução 
mortal  que  queria  fa2ef  ríáá 
innocétes  criáçàí5,pedindolhe 


que 

r  --  ■ — ~' 


kH^ 


capítulo  XXV. 


\ 


que  à  não  deícubriííe,  pois 
ihc  não  hia  niílo  menos  que 
a  própria  vida,  Tomou  o  pay 
os  mininos ,  &  deu  os  a  íeis 
amas  pcra  que  os  crialíem. 
12,  Crecerão  elles  j  &  che- 
gacíosa  idade  de  trcsannos,© 
pay  os  veílio  damefmaiibrc 
que  tinha  dado  ao  ííliio  que 
ficara  cm  cafa ,  &  pellas  amas 
os  mandou  trazer  ante  fy  hú 
dia  de  feira  pêra  os  ver  juntos. 
O  de  caía  tomou  húa  cana,  &: 
fazendo  os  jogos  próprios  da 
quclla  idade  fe  pos  acaualo  nel- 
la,&  começou  pellacaíàa  pai- 
far  carreiras.  Entrou  a  enueja 
nos  outros  mininos ,  &  qui- 
zeraõ  também  fer  figuras  na- 
quella  fefta  ^  bufcaráo  canas» 
&:  entrarão  no  jogo  ;  forriofe 
a  may  ,  &  zombando  diílc. 
Também  os  villafinhos  que- 
brem correr  como  o  noílo  Fer- 
não Gralho  (  queafsy  fecha- 
maua  o  de  cafa.)  O  marido  lhe 
refpondeo.Pois  íabei,  que  o 
pay^  &  may  de  Fernando ,  fjõ 
os  mefmos  que  dos  outros,& 
melhor  he  ferem  ganhados  q 
perdidos.  O  mefmofoi  ouuir 
ifto  a  molhcr  que  darlhe  hum 
acidente  mortal  nacido  do  fo- 
brefaltodeverviuos  os  filhos 
que  tinha  por  mortos ,  &  ca- 
iado da  cadeira  em  q  eftaua 


íc  lhe  acabou  j  untamentea  vi- 
da. 

1 3  Crccerío  os  fete  moços, 
&  vierão  a  ler  homés  de  mui- 
ta importância  .  Edificarão 
■&:  dotaráo  íete  Igrejas  a  ía- 
ber  Santa  Maria  de  Morei- 
ias  5  Santa  Locaya  ,  Santa 
Maria  Demcrcs  anncxa  ho- 
je a  comenda  de  Carrezedo, 
Santa  Maria  de  Caiu  a  o  anne- 
xa  a  comenda  de  Noguiraj 
Vi  liar  de  perdizes,  o  Moíleiro 
DozOjde  que  ainda  hoje  ha  no 
ticia,  &  a  mctad  a  da  Igreja  da 
villa  de  Chaucs .  Na  meiíiia 
Igrej  a  tiuerao  capella  particu- 
lar da  inuocação  de  Saõ 
Domingos  conhecida  pcllo 
nome  de  capella  dos  Gralhos^ 
Auianella  altar  em  quefe  <íi^ 
zia  mifla ,  &  três  arcos  meti- 
dos na  parede  cora  húa  fepul- 
tura  cm  que  elUua  a  may  &í 
filhos  ao  viuo  retratados  com 
húas  letras  que  diziaõ  aísy» 
Aqtiija^Maria  MantelU  com 
fius filhos  arredor  delia.  Dcf- 
íczfc  a^capella  auera  feteiita  an- 
nos  pataíc  reformar  o  edificio 
da  Igreja.  Dura  hoje  a  admi- 
niftração  delia  em  hum  decé- 
dente  defta  geração  dos  Gra* 
lhos.  Anda  tfta  hiftoria  na  bo- 
ca de  todos  os  moradores  da- 
quclla  villa ,  &  em  cfpccial  na 

familia 


Santas  mue.  irmãs. 


119 


Eiuay  in 
cÕtDext, 
4».  1 3  8 . 
n.6. 

Seu/a 
Fio.  de 
Heffanh 
e-i-  ex- 
eel.i.u.^ 


fan^ilia  dos  Gralhos.  Apon- 
to u  a  Biuar  com  po  uca  certeza 
por  falta  de  infonnaçãosa  que 
leguem  outros  autores. 

14  PaíTaiido  aos  Reinos 
eftranhos,contaíe  por  coufa 
aueriguada  que  chegando  cer- 
ta pobre  com  ires  crianças 
gémeas  confi-go  a  pedir  címo- 
la  à  CondeíTa  de  Alterf  no 
Reino  de  Suécia  chamada  Ir- 
mentrudis  ,  ella  lhe  rcfpon- 
dco:que  pois  aneccííidadea 
obrigauaa  viucr  da  charidade 
dos  fieis  ,  deixaííe  em  caía  a- 
quelles  filhos  _,  peraque  não 
foííem  teftimunhas  de fua  dc- 
foneftidade,  pois  não  era  pof- 
íiuel  naccrcmlhe  todos  defeu 
marido  .  Cortou  efta  repofta 
o  coração  ,  ôc  efcandalizou 
grandemente  a  pobre  mifera- 
uel ,  &  com  os  olhos  no  Ceo 
arrazados  cm  lagrimas ,  pedio 
a  Deos,  que  a  CondeíTa  expri- 
mentafle  cm  íy  como  fe  com- 
padecia a  innoccncia ,  ôc  ho- 
neftidade  de  hija  caiada  com  a 
multiplicação  dos  íilhos  no 
parto. 

15  Foy  afsy,  porque  cm 
menos  de  hum  anno  fe  achou 
Irmentrudis  com  doze  filhos 
todos  nacidos  na  mefma  hora, 
todos  viuos ,  todos  de  hum 
parto ,  Ã:  taõ  perfeitoSjComo 


íc  não  fora  mais  de  hum  íò. 
Veolhelogo  à  memoria  qfe 
manifeílaua  o  parto  todoa  ieu 
marido ,  feria  j  ulgada  delle^Sí 
caíligada  por  adultera  •,  pello 
que  conferuando  fò  hum  dos 
mininos ,  ordenou  a  hi;a  cria- 
da fua ,  de  quem  fazia  confiã- 
ça ,  lançaíle  os  outros  no  rio . 
Mas  foi  a  boa  forte  dos  onze, 
que  leuandoos  ella  enuoltos 
na  fayaacafo  encontrou  com 
o  Principe  feu  fenhor  .  Teue 
elle  curiofidade  de  lhe  pergun- 
tar que  leuaua ,  &  ella  indu- 
rtria  pêra  lhe  refponder  que 
huns  cachorros  ,  que  parira 
húa  cadella  fua,os  quaes  hia  la- 
çar no  rio.  Mollrai  ( tornou  o 
Principe  )  fe  prcfta  algu  deiles 
pêra  o  criarmos.  Não  fenhor_, 
reípondeo  a criadajquc  vão  ja 
todos  mortos,  &  dencnhúa 
maneira  pêra  voíTa  excellencia 
os  poder  ver .  Dizendo  illo, 
deu  a  andar  com  toda  apreífa 
pêra  húa  janella  donde  auia  de 
lançar  as  crianças  no  rio ,  que 
lhe  paílaua  por  baixo,  temen- 
dofe  que  íè  acurioíldadedo 
Conde  paílaíle  adiante ,  feria 
defcuberto  o  parto  da  fenho- 
ra,&  fua  impiedade.  Sofreo  o 
fenhor  mal  a  reííftécia  da  cria- 
da ,  &  feguindoa  vio  o  que  le- 
uaua,dando  com  os  olhos  em  | 


-- oiizc 


j:o 


£apituh  XXV. 


onze  crianças  todas  da  meí^ 
ma  bcllcza.  Paímado  delia,  te 
muiro  mais  dacaufa  porque 
crio  condenadas  à  morcCjCjua 
do  ainda  não  comcçauaõa  vi- 
Lier ,  manda  a  criada  tenha  o 
nciToceo  em  fej^rcdo ,  &  fò 
diea  à  Condefia  cllaua  bcni 
fcico  cudo  o  que  lhe  cncomc- 
dara. 

I  ^  C  hamou  logo  o  Gon- 
de  a  hú  íeu  moleiro ,  homem 
depredar,  íl'por  íiiaviadcii 
adiaerfa^  amas  os  onze  mini- 
nos  pondo  todo  o  cuidado, 
(k  vigilância  cm  fua  boa  cria- 
ção. Creceraó,chegarão  a  ida- 
de de  féis  annos ,  queria  os  o 
py  leuar  ja  pcra  caía  ,  òc  tra- 
tar ao defcuDcrto  como  filhos 
feu? .  Mandou  pcra  iílo  veilir 
a  rodos  da  meíma  libre  de  que 
andaua  vellido  o  que  a  may 
confcruara,  naõ  auia  diíFcren- 
çalios  no  corpo,  nas  feições, 
nos  geít^seraõ  os  mefmos. 
Eisqiic  cm  hum  dia  defefta, 
entrao  todos  pclla  porca  den- 
tro da  camará  onde  a  Condcf- 
fa  eftaua,aprercntalhos  o  C5- 
de ,  &  com  a  boca  chea  de  ri- 
fo ♦,  vejamos  ( diíle)  fcnhora 
fc  vos  atrciicisa  medizcr  qual 
deftes  doze  he  o  voíTo  filho? 
Errauaõ  os  olhos  da  may  em 
tanrafeniclhança.  Entre  eftas 


perplexidades  acreccnta  oC5-  | 
de  j  pois  eíles  ia 5  os  onze  que 
mandaftes  lançar  no  rio ,  pêra 
nellc acabarem  a  vida,  mas  o 
^Cco  os  cohferuou  pêra  alegria 
voílà,  òi  honra  dcfta  caía:  Foi- 
Ihc  logo  contando  tudo  o  que 
no  caio  paíTarà,  &c  como  fe 
criarão  os  filhos ,  &  o  mais 
fuceílo  de  fua  vida  ate  aquclla 
hora .  Pafmada  a  Condcfíá 
do  que  via,  &ouuia  lançada 
aos  pcs  do  Conde  lhe  pcdio 
perdão  :  òc  diante  de  hua  ima- 
gem de  nofia  Senhora ,  pcra- 
que  defte  caio  fícafle  eterna 
memoria,  fizeraõ  ambos  doa- 
ção à  May  de  Deos  daquclíc 
fitio,  ^  lhe  prometerão  de 
ncUe  edificar  hum  moííeiro 
de  Saõ  Bento ,  como  edifica- 
rão, ondefcmpredcfdoanno 
de  800.  em  que  ifto  fuccdco, 
atê  o  prcfentc  íc  criarão  gran- 
des íogeicos  alli  cm  letras , 
como  em  virtude    Os  miai- 
nos  tomarão  por  íobrc  nome 
Guulphen,que  vai  o  mcfnío 
que  cachorros  ,  cem  alufaS 
aos  que  fingia  leuar  a  criada 
quando  foi  perguntada  pcllo 
Conde,  ôi  fcraó  o  tronco  de- 
lia nobiliííima  família  no  Rei- 
no de  Suécia, 

17     Tcue  eftc  fuceflb  por  tc- 
ftimunhastodoaqlle  Reino 


em 


gar» 


Santas  nouc  ir 'mas. 


cm  que  por  muicos  íccalos 
íoi  celebradillinio  ,  ceue  a  ca- 
ía Giiuciphen^qiic  por  con- 
íeruau  íua  memoria  (.ícixoii 
o  appcllido  de  Altorfe  ^  d: 
tomou  o  que  ihc  deu  taõ  no- 
taucl  accntecimcnto  ,  teue 
a  fundação  do  moileiro  das 
Vinhas  j  onde  em  pinturas 
de  grande  preço,  cm  efcri-- 
turas  de  grande  autoridade, 
ôí  principal menix  na  boca 
de  todos  aqaelles  Religioíos 
íe  vio  por  grande  efpaço  de 
annos  a  verdadeira  relaçio 
dcilc ,  fcm  nenhum  autor,  ou 
daquella  idade  ^  ou  dos  que 
depcis  le  íeguiraÕ  fe  atreuer 
a  lhe  por  tacha  de  fabuloío, 
pêra  que  nelle  ^  &  no  outro 
que  acras  referimos  riueílem 
as  noílas  nouc  Virgens,  & 
martyres  abonado  teílimu— 
nho  de  íeu  prodigiofo  naci- 
mcnto .  Saluo  fe  noíTos  ef- 
critores,  &naturacs,tcm  por 
afiunto  crer  os  prodigios,& 
milagres ,  que  ou  a  natureza, 
ou  a  graça  obra  por  terras 
eftranhas ,  &  negar  os  que 
na  fu3  fe  vira5,qualhe  o  de 
Chaues  que  atras  contamos, 
&  o  parto  delias  noue  Virgés, 
de  que  feda  por  autora  a  tra- 
diçãode  tantas  Igrejas,  q(co- 
mo  acima  diziamos)  celebra- 


I  uaó  a  fcib  Heílas    beniaLicr.- 
taradas  írmans :  acujcsniar- 
tyrios  em  particular  he  bem 
que  ja  nospaílemós,auiían- 
do  por  vitima  concluíàã  de- 
ite Jiícurfo    a  quem  o  ler, 
que  quando  íe  não  der  ain- 
da por  contente  cem  csca- 
fos  taõ  íemcihantes  que  aqui 
lhe  referimos ,  poderá  achar 
outros  ainda  mais  prodirio- 
íos  no    Biípo  de  Vukurara 
Simão   Maiolo  ,    cm  Pedro 
Bouill:au,  Cláudio  Teíleran- 
te,  &  Francifco  Btlforeírio, 
de  quê  rccolheo  grande  par- 
te o  autor  que  fez  o  liuro 
que  intitulou  hiRo- 
rias  prodigio- 
íàs. 


Mayol.  1 
d-es  (om ' 
ni,colloq, 

Pedr.Ed' 
liijliia  p.  j 
1.  c.  31. 
ClitHd. 
leJJ.r.p, 


CAPI- 


12; 


Capitulo  XXFL       i_Jleu 


nrr. 


Martjr. 
\iRo'inane 
tzo.de  Ití 


\Martyr. 
;  Vfuarâo 
(20  /«/;/< 


CAPÍTVLO  XXVI. 

SANTA  LIBERATA 

Virgem,isf  Martyrjma  das 
nouê  itmas. 

Omcçãdopor 
Santa  J.ibcra- 
ta  ^  pocm  o 
Martyrolo— 
gioRoinanOj 
&  JeVÍ uardo  a  íua  feíla  em  zo 
JeIulho,com  nomede  Vuil- 
scfortc.  O  Romano  à\t  afsy. 
InLiijitaniaSanCl.i  Vuilgefor- 
tis  Virginis  ,  tf  martyris^  qiu 
proChrãiianafide,acpudi€Ítia 
decertans  ,  in  cVuce  meruitglo- 
riofum  obtinere  trmmphiim.  O 
de  Víuardo.  In  Portugallia 
Satiã^  Vuilgefortis  Virginis^ 
Isf  martyris,  qiu  amore  casii- 
tatis  ,  ^  Chriflian^  fidei  in 
cruce  moriens  ,  feliciter  tran- 
Jitiit ad Dominum.  Vem  hum, 
j&:  outro  a  dizer,  que  em  Por- 
tugal aos  io.de  lulho  padeceo 
martyrio  pella  Fè,&  caftidade 
Santa  Vuilgefortc ,  pofta  em 
hiia  Cruz. 

•:i      Antes  que  expliquemos 
;as  palauras  referidas ,  cm  q  fc 
contem  o  martyrio  de  Santa 
Vuilgeforte,hcneceirario  de- 
clarar os  nomes  porqeílaglo- 
,rioía Santa  he  nomeada-,  huns 


lhe  chamáo  Vuilgeforts  ,  ou- 
tros Liherata  ,  osTudefcos, 
OntcÓmera ,  q  vai  o  meímo  q 
alegrc^íem  triiteza,&  Icmma- 
Icnconia.  De  todos  nos  aduir- 
tcm  Flauio  Dextro ,  Iuliano,o 
Martyrologio  Portugues_^Mo 
rales^Padilha,  Marieta,  Fr.Ber- 
nardo  de  Brico^IacoboGrelíe- 
ro^Antonio  de  Vaíconcellos, 
fr.Luis  dos  Anjos,  &í  outros. 
3  O  nome  de  Liberara  deu 
ocaíião  a  quafi  todos  os  auto- 
res de  noflo  têpo_,afsy  Caftc- 
Ihanos  como  Portugnezes,  a 
confundiré  cõ  outra  Santa  Li- 
berara,cuja  fcila  celebra  em  i  j 
de  lulho  a  Igreja  de  Siguença, 
poraly  gozar  de  feu  preciofo 
corpo,  fendo  ellas  em  fy  bem 
diífercntes. Porque  Santa  Libe 
rata  dcSiguença  foi  Ií:aliana,& 
natural  (fegundo  temos  por 
mais  prouauel)dcComo  cida- 
de do  Ducado  de  Miláo  cele- 
bre pcllo  fcu  fàmoío  lago,  Sc 
por  ferpatna  de  ambos  os  Pli- 
nios,  tio,&:  fobrinho,  Scáz 
Paulo  louio  Biípo  deNocera, 
q  cfcreueo  a  hiíloriade  ícu  te- 
po.A  nòfiaSátaLiberatanacco 
êBraga  na  forma  q  ja  di liemos. 
AS.Liberata  deltaliapoc  oMar 
tyrologio  Romano  çm  1 8.  de 
lanciro  dadolhc  fò  o  titulo  de 
yirgc.  Nouocõmi  SãttcLiberãta 


Áíartyr. 
lujitio, 

Itdtj. 
Moral.lí 

O.C.  ly.  I 

Aííirieta 
h..\.c.\^ 
r.Befn, 
_  .  À.da 
mcnarch 

ll.^.C.lS 

Jacob. 

GreJJ.  de 
crticclib. 
i.r.íjS. 
y.ifí  on- 
/-cLm  dif 
erip.Por, 

Fr.  luis 
dos  yln- 
j os  no  lar 
diA  Port. 
pag.ii. 


Aíartyr, 

Romum.  ! 

i^.IannÀ 

rtj. 

Âííirtjr, 

f^fuardo 

iS.Ianu.: 


<uirzinis: 


I 


Santa  Lif^ercií 


(L^. 


«k-4- 


-1  1 


como  também  faz  Víuardo. 
Anoíiátoi  alem  de  virgem 
marcyr  pclla  Fe,  &  pella  caíli- 
c!ade,  padecendo  em  lo  de  lu- 
Iho.  A  Italiana  tresladou  de 
Florença  pcra  Siguença  o  Bif- 
po  Dom  Simaõ  Giron  com 
particular  licença  no  Pon- 
tificado de  Bonifácio  VIII . 
c]ue  íncedeo  entre  os  annos 
doSenhor  1294.  &:  1301.  co- 
mo conlla  do  Breuiario  da- 
qucUa  Igreja,  nas  lições  das 
matinas  em  i  $■.  de  Iulho,quã- 
do  aly  fe  celebra  ella  feíla  j  a 
nofía Santa  Liberara  nunqua 
foi  a  Itália  ,  nem  entrou  na  ci- 
dade deComo  nem  na  de  Flo- 
rença. 

4     Porventura  que  fe  o  Bif- 
po  Dom  Simaõ  coníultaraa 
Igreja  de  Como  pátria  de  San- 
ta Liberaca ,  acharaaly  melhor 
cnfcrmaçáode  íua  vida,  por- 
que fcgundo  lem.os  em  Baro- 
nio  nas  annotaçoês  ao  Mar- 
tyrologio  Romano  em  18.  de 
Ianeiro,ella  fe  guarda  nos  car- 
tórios daquelia  Igreja.    Mas 
comocmSis^uençaauia  mui-, 
ta  noticia  da  Sãta  Liberara  Por 
tugueía  ,  có  facilidade ,  por  os 
efcritorcs  daquelle  têpo  não 
fazcrê  djílinçáo  entre  híía  & 
outra  ,acom.odaráo  à  Italiana. 
as  coutas  q  eraõ  próprias  da 


PcrtugLicfa,ea  efta  muitas  cia'; 
c]  pertence  a. Itália iia.  Aducr- 
tiraò  delia  cSfjzaõ  ,conÍ!.ika- 
dos  íbbre  a  màteriaj  per  car:as 
íuasdeA^ollo-Setébro.e  Ou- 
tubro  de  mil  &  quii^hentos 
6l  nouenta  &  hum  ao   111a- 
ftriílímo ,  &  Reuerencilhmo 
fenhor  Dom    ApoOinho  de 
Caílro  noflo  predeceiíor  os 
Doutores    Alonfo     Villeoas 
beneficiado  em  SaÕ  N4arcos 
de  Toledo  \  Fernão  B  can  có- 
nego de  Badajos,  &  o  Padre 
leronymo  Roma  delaHigue- 
rada  Companhia  ce  lESVS^ 
pelloas  bem  conhecidas  por 
doutas,  ik.  diligentes  nas  anti- 
guidades ,  &  hillorias  dc.Hef- 
paiiha,  cõ  cuja  autoridade  te- 
nros por  íem  duuida  ferem  be 
differeDtes  as  duas  Santas  Li- 
beratas,de  Itália,  ou  Siguença, 
&  a  de  Portugal, 
y      Continuando  agora  com 
o  que  pertence  a  noíla  Santa  j 
íua  vida  foi  peifttiílirra,- por- 
que íaindo  de  iua  cala ,  &  pa-. 
tria  quando  fe  apartarão  en- 
tre fy  as  Santas  noue  irmãs  íe 
retirou  por  muito  tempo  a 
hum  ermo -^  aly  fe  deu  todaà 
contemplação,  das  couías  di- 
uina^  cm  companhia  de  ou- 
tros chriílaós^,  que  a  quize- 
raó  imitar  viuendocom  elles 


«•( 


Li 


cm 


124 


Capitulo  XXVI . 


c.i2-n.y 


DíS.AH, 

Chnfti 
,138. 


li 


Juliano 
in  rhron. 

j».x  j8.e/ 
I  in  Acbier. 


cm  forma  de  Religião  •,  donde 
parece  foi  a  primeira  que  ne- 
llas  partes  do  Occidente  co- 
meçou a  vida  folitaría.  Do  q 
fe  pode  bem  ver  a  grande  glo- 
ria derta  cidade  de  Braga  ,  pois 
não  fò  foi  a  primeira  que  fora 
deludearccebeo  aFè^  a  pri- 
meira que    deu   virgens,  àc 
marcyres  ao    Ceo  (   como 
vimos  em  Saõ  Pedro  de  Ra- 
tcSj&  naquella  Princefa^a  que 
o  meímo  Santo  conuerteo  ) 
mas*tambema  primeira  que 
no  Occidente profeílou  ávi- 
da  eremitica,  que  depois  fe 
dilatou  tanto,  &  com  tanto 
aumento  da  Fè  ,  &  religião 
Chriftam. 

6  Defte  ermo  foi  tira- 

da,  &  leuada  prefa  çom  to- 
do^ feus  companheiros  Sáii- 
ta  Liberara  à  cidade  de  Am- 
philochia  ,  agora  Ourenfe, 
conforme  a  Flauio  Dextro, 
ou  à  de  Cale,  como  parece 
mais  prouauel ,  &  o  diz  cx- 
preílamente  luliano,  pêra  aly 
ou  a  poder  de  tormentos  per- 
derem ávida,  ou  deixarem  a 
Fè.  Cale  fe  chamou  anti— 
guamente  hija  grande  pouoa- 
çáo  que  fícaua  na  1  margem 
efqucrda  do  po  Douro  ,  a 
quemdecc  pêra  fua  foz,aIy 
aonde  agora  efta  Gaya,  a  qual 


com  toda  fua  jurildiçáoafsy 
efpiritual  como  temporal 
fe  veo  pcllo  tempo  adiante,  & 
ja  no  Reino  dos5ueuos  a  mu- 
dar pcra  a  outra  margem  do 
rio,eiç  q  vemos  edificada  a  n^ 
biliílima  cidade  do  Porto,que 
de  Cale&  Portus  íc  chama  cm 
latim  Portucalc ,  &  delia  todo 
o  Reino  Portugal,  como  mais 
copiofamére  tratamos  no  Ca- 
talogo dos  Biípos  doPorto, 
7  Trazida  pois  à  cidade 

de  Cale  (  ou  pello  nome   da- 
gora  )  ao  Porto    diante  do 
tirano  (  que    alguns  querem 
folie  feu  próprio  payjSan-- 
ta  Liberara,  Òc  íeus  compa- 
nheirosi  pêra  que  maisaate- 
morizaíTe  com  a  villa  detan- 
tas    mortes,  quiz  que  padc- 
ceíTe  diante  delia  aquclle  ge- 
nerofo   eíquadraõ,   que  cm 
vida  a  acompanhara  ,  &  íe— 
guira.  Foi  muito  pêra  vera 
conftancia  que  todos    mo- 
ftraraõ  entre  tantos ,  &  tão 
vários  tormentos  •,  mas  mui- 
to mais  a  íjeneroíídade  com 
que  a  glorioía  Virgem  os  a- 
nimaua,  &  não  deixaua  ate  de 
todo  os  vcrefpirar. 
8      Por  afrontar  a  pureza  da 
Sãta  ordenouCayo  Atilio,ale 
uallcaccrtolugarondehomés  1 
perdidos  lhe  fizeflé  força-,  mas  j 

a  Vir- 


í>p.c,i. 


S.cnta  0:^iter'ia^ 


12$ 


2   9 


a  Virgem  gloriofa  com  o  fa-  | 
uorcToCeoíedcfciícIco  delles  | 
valercíamentc ,  &  conforme 
o  pedia,  ^  lhe  eftaua  prome- 
tendo alíniíicação  defeunomc 
Vtiilge forte.  Eíia  he  a  peleja,  q 
os  MartyrologiosRomano,& 
ce  Víuardo  dizc  nas  palauras, 
(^  ja  referimos  tcuca  gloriola 
Santa  Liberara  pella  callidade. 
Cepois  a  mandou  o  pay  cruci- 
ficar, 3c  na  truz  a  teiie  viua  ate 
lhe  corcirem  a  cabeça,  como 
cícrcueluliano,  &diz  cxpreí- 
ínmcnte  o  Brcuiario  de  Si— 
çucnca. 

*)  Foi  feii  martyrio  pellos 
annos  de  Chrillo  13S  ,como 
cxpreílamente  o  tellífica  FJa- 
uio  Dextro  dizêdo,  Anno  Do- 
mini  centefmo  tri^efimo  oclauo 
V^tiilgefor risquei  Liberata  Ca- 
tilij  Lufítanorum  regtdi  Jilia 
pafa  eH  Amphilochij.  Toma- 
rão grande  deuação  comeíla 
Santa  todos  os  pouos  de  Ale- 
manha, chamáolhe  ordinaria- 
mente Sita  OenfomeKy  que  vai 
omeímoque  alegre,  &íeni 
triíle7a.  Porventura  Ihcda- 
riáo  efte  nome  pella  extraor- 
dinária alegria  coque  fofrco 
a  morte,  ou  porque  a  tem  por 
Santa  auogada  contra  o  mal 
de  malenconia.  As  relíquias 
àcí\ia  erande  Virgem ,  ôz  Mar- 


lyr  fcpultaraõ  os  ChrilUos 
na  mcíma  cidade  dt  Cale  Naú 
íabcmos  fc  tresladaílem  daly 
pêra  outra  parte^porq  as  de  Si- 
guença(como  jadillemos)íaõ 
as  de  Santa  Liberara  de  Itá- 
lia. 


CAPITVLO  xxvn. 

SANTA    QjlTERlA 
Virgem,  b'  Martyr. 


Aõha  duui- 
da  fcr  cila  glo 
rioíaSátahúa 
das  iioue  fi- 
lhas de  Lúcio 
C.  Atílio ,aíli  o  diz  có  palauras_ 
claríílimasíuliano.yir-^íí?  mea 
cehbratur  mazna  rcli^ione  Sn- 
ãa  Quitéria  Jj  oãoforores  eius 
per  Hijpanias  filias  Lucij  Cati- 
l/J  •■virí  Confitlaris^  tf  Pr^fidis 
Galecu^  ijf  Lufitanu  ,  pátria 
Bracharenjis  ,   tf  eius  terr^ 
reguli.  Q^er  dizer,  nefles  tem- 
pos íefeltejacõ  grande  deua- 
ção por  toda  Hcípanha  Santa 
Qoiteria,  &c  fuás  oito  irmans 
filhas  de  Lúcio  Catiliovaraõ 
CõfuIarPreíídéte  de  Gahza,«Se 
de  Lulítania  natural  de  Braga^  , 
Sc  fenhor  da  mefma  terra.        I 


/« ííãntr 


L3 


Con 


126 


Capitulo  XXVII. 


!  Fahnt. 


2-  Contão  delta  Santa  os 
autores  que  eícreucraõ  íua  vi- 
Brimrio  da ,  que  mandando  feu  pay 
quando  foubc  da  aufencia,  & 
ftigida  das  filhas  gente  que 
lhas  bufcaílc  ,  &  trouxcílc 
outra  vez  a  caía  5  deu  a  pou- 
cas jornadas  com  Quitéria, & 
com  todos  os  qucconíigole- 
uaua.  Perfuadirãoíe  feriaó  lo- 
go todos  mortos  à  força  de 
tormentos,  afsy  pellaFèquc 
profeíl'auão,&  perfcguia  tan- 
to Cayo  Atilio,  como  por  íe- 
rem  complices  no  delito  da 
filha  acompanhandoa  em  fua 
fugida .  Mas  Deos  difpôs ,  & 
ordenou  as  couías  de  maneira, 
que  Quitéria  foi  bem  recebi- 
da do  pay,3«:  com  os  mais  paf- 
fou  com  diflimulaçaÕ. 
3  Tinha  Qm teria  grande 
trato ,  &  familiaridade  com  o 
feu  Anjo  da  Guarda.  Appa- 
rccialhc  de  ordinário  cm  for- 
ma viííucl,  (& com  confelhos 
a  cncaminhaua  ao  que  via  fer 
mais  fcruiço  Diuino.  Elle  lhe 
aconfelhou  que  rctirandofca 
tempos  de  fuás  criadas,  & 
mais  trafego  da  cafa  do  pay, 
fubiífc  ahiá  monte  que  den- 
tro da  cerca  dos  paços  ficaua, 
&  a  hiftoria  chama  Oria  j  & 
aly  paílàflc  algíías  horas  tra- 
tando com  feu  efpofo,&  com 


os  cidadãos  da  gloria,  que  de 
boa  vontade  lhe  aísiílirião. 
Vieraõ  a  notar  os  da  caía  de 
Cayo  Atilio  cilas  taofrequé- 
tcs  faidas  da  Santa  ao  feu  mo- 
te, Sc  como  os  entendimen- 
tos dos  homcs  íaõ  prontos 
cm  julgar  todo  o  mal ,  entra- 
rão cm  fofpeitas  que  fazia  a 
Santa  aquelles  caminhos  le- 
uada  de  intentos  dcshoncftos, 
afrontofos  pêra  fua  pcíloa,  & 
muito  mais  pêra  a  cafa  de  feu 

4  •  Chegarão  eílas  fofpei- 
tas a  Atiliojporem  aSanta  Vij;- 
gem  as  'desfez  com  tão  cííca- 
zcs  argumentos  de  fitainno- 
ccncia,  que  o  pay  nãofò  íc 
deu  por  fatisfcito,  &  dcfenga- 
nadodo  que  malicio  lamente 
lhe  quifcraõ  perfuadir  ,  mas 
ainda  liberalmente  lhe  conce- 
deo  fizcíle  da  ly  por  diante, 
ainda  com  mais  frequência  a- 

Suellas  fuás  retiradas  do  mo- 
o  que  melhor  lhe  pareceflc. 
Em  oração  eflaua  a  Santa  húa 
vez  neftc  monte  quando  ap- 
parecendolhc  o  feu  Anjo  cm 
forma  muito  mais  fermofa,& 
rcfplandeccnte  que  a  ordiná- 
ria, lhe  reuclou  como  Deos 
era  fcruido  Icualla  em  breuc  pc 
ra  fy ,  pclla  gloriofa  morte  do 
martyrio. 

5  Quan- 


Síínta  Qmteriã—f. 


127 


l 


5  Quando  a  Santa  deceo 
cio  monte  achou  pqr  hof- 
pcdes  de  ícu  pay  dous  dos 
principacs  ícnhorcs  daqucllas 
Prouincias,cjueavinhão  pedir 
por  niolhcr^  chamaa  hiíloria 
a  hum  dcUcsGermanOjdo  ou- 
tro calla  o  nome.  Inclinauafc 
A  cílio  a  dar  a  hlha  a  Germano 
pcllo  bem  que  lhe  eílaua  elle 
cafamcnto-,  mas  cila  confidc- 
rando  o  perigo  em  que  aqucl- 
las  bodas  a  meciaó  de  perder 
fua  pureza,  recorrendo  à  ora- 
ção pedia  a  Deos  lhe  dcfco- 
brifie  caminho  por  onde  pu- 
delicperícuerar  virgem  ,  co- 
mo a  íua  Diuina  Magefta- 
de  tiiíha  por  voto  prometi- 
do. Aqui  lhe  tornou  a  appa- 
recer  o  feu  mefmo  Anjo,  que 
a  certificou  da  protecção  Di- 
uina prometendolheda  parte 
domeímoSenhorj  queperíe- 
ueraria-toda  a  fua  vida  virgé; 

6  no  cabo  delia  feria  premia- 
da com  glorioía  palma  de 
martyrio .  Ordenoulhe  mais 
feíaille  da  cafa  do  pay  pêra 
aquellas  terras  onde  cUc  a  iria 
guiando ,  Icuando  coníigo  de 
íuas  criadas,  &  conhccidos,& 
de  outros  chriftaõs ,  osquea 
quizefiem  acompanhar. 
6  Logo  que  fe  foubeda 
partida ,  ou  fugida  de  Qnjte- 


ria ,  quiíera  Germano  ir  cm 
feu  alcance,  mas  Atdio(por  a 
couía  íe  fazer  com  menos 
eílrondo ,  &  mais  fuauidade) 
ordenou  fo fie  gente  de  fua  ca- 
fa, aqual  perfuadiíle  à  filha  dci- 
xaíTe  os  intentos  que  leuaua^ 
(ík  fc  cornafle  à  fua  obedien- 
cia,&:accitaífe  as  bodas  de  Ger- 
mano ,  pois  aquillo  era  o  que 
lhe  conuinha  pêra  viuer  quie- 
ta ,  &  autorizada.  Adiante  co- 
taremos o  que  a  eftes  meíla- 
gciros  aconteceo  com  Santa 
Quitéria.  Entre  tanto  com 
a  boa  guia  do  feu  Anjo  foi  a 
Santa  dar  cmhíã  valle,  aqucm 
cercaua  hum  monte  chamado 
Columbino,ou  Columbario, 
não  muito  aípero  de  íubir,  o 
qual  no  mais  alto  tinha  húa 
ermida  dedicada  ao  Principe 
dos  Apoftolos  Saõ  Pedro.  Aly 
diíle  o  Anjo  à  Santa  que  fe- 
ria íua  morada,  &  dos  ícus  ate 
que  Deos  foífe  feruido  corti- 
prir  as  promeílas  que  Ihcauia 
feito  .  Afsyfoi,  porque  na- 
qucllc  monte,  &  ermida  ga- 
llauáo  todos  muitas  horas  em 
oração ,  Sí  paíTauáo  as  noi- 
tes cm  vigias  -,  viuiaõ  cm  per- 
petuo jeium,&pcnitcncia:cm 
fim  fazião  vida  mais  de  Anjos 
quede  homens. 
7        Pertencia  o  monte,  & 


L4 


ermida 


i~á 


Capitulo  XX  VIL 


crmiJa  is  terras  de  hum  Tc- 
nlior,a  quem  huns  chamão 
Lenciano_,OLitros  Lucíiuan,ho 
mem  apoílata  de  noíla  fanta 
Fè,  &:  íobrcmanciraauareiito, 
porque  alem  Ác  outras  tira- 
nias que  centra  íeus  vaflallos 
tinha  executado  de  nouo  mã- 
dará  deípojar  todas  as  Igrejas 
dcrcudominio  da  prata,  que 
nellasauia  ,  &  traraua  de  ane- 
xar os  ChiiíHos,  a  quem  as 
pcrfeguiçoés  dos  Gentios  dei- 
xarão com  vida,  ainda  com 
mayores  tributos  dos  que  Ibc 
eráo  portos  pêra  poderem  vi~ 
ucr.  De  tudo  teuc  reuelaçao 
Santa  Quitéria ,  pello  que  de- 
terminando de  tirar  daquelle 
miferaucl  eílado  aeílc  deíauê- 
turado  peccador  íe  foi  com  fua 
companhia  (eráo  por  todos 
trinca  molheres,&  íeis  homés) 
jà  cidade  onde  moraua ,  &  aly 
com  húa  mais  que  humana 
;fcrtaleza  o  reprendeo  a  elle 
de  fuás  maldades ,  &  a  outros 
dous  Bifpos  também  apoda- 
ras da  Fè,prometendolhc  a  to- 
dos da  parte  de  Deos  peidaõ^ 
; quando  quifeficm  emendar 
ifuas  vidas ,  &  lançar  maõ  da 
penitencia  fugindo  da  juíliça 
Diuina^que  cllaua  pêra  defcar- 
tegar  (obre  elles,  canfada  ja  de 
eíperar  fua  emenda  ,  5r  de 


íofrer    íeus  grandes  deíafo- 
ros. 

8  bailio  de  fy  Lenciano, 
Ôc  querendo  arremeter  à  San- 
ta jpera  por  fua  própria  ma 5 
lhe  tirara  vida/endo  impedi- 
do dos  íeusj  fe  contentou  por 
então  com  mandar  meterem 
hum  cárcere  a  ella,6<:atodos 
osqueaacompanhauão.  Aly 
cíHueraõ  có  eftreitillima  guar- 
da,  fcm  lhe  darem  fuítenta- 
çáo  algúa  corporal.  Mas  Deos 
teue  particular  cuidado  de  to- 
dos mandandolhe  o  ícu  Anjo 
que  osanimaíTe,  ^<.  confolaílc 
apparecendo  no  próprio  cár- 
cere vcftido  de  luz ,  &  fermo- 
fura,de  tal  maneira  que  fò  pcl- 
la  que  fe  via  fora ,  &  pello  ce- 
leftial  cheiro,  que  de  todo  a- 
qucile  cárcere  íe  ícntia  íair ,  as 
guardas  fcconuerteraõ,&  pe- 
dirão o  fagrado  Bautiímo  à 
Santa,  que  deboa  vontade  lhe 
foi  dado,  inftruidos  primeiro 
nos  myftcrios  de  noífa  Santa 
Vè^d<.:í  outros  muitos^quepor 
fua  induílria  vinhâo  ao  cárce- 
re ouuir  a  palaura  Díuina.Cõ- 
correraõ  cambem  a  tomar  a 
benção  da  Santa  Virgem  vá- 
rios enfermos ;  a  todos  alcan- 
çou de  íeu  Diuino  efpofo  a 
faude  afsy  corporal  como  ef- 
piritual,  faindo  de  fua  prcfen- 

ça 


Sdnta  QmteriíL-.. 


129 


ça  muitos  cegoSj  &  aleijados 
com  virta ,  pes  ,&:  mãos, ad- 
mirados todos,  &  louuando 
a  Diuina  mifericordia^quc  taÕ 
liberal  íe  molhaua  com  feus 
Santos. 

9     Perdia  Lcnciano  a  paciên- 
cia com  as  nouas  deftcs  pro- 
dígios •,  atribuyaos  todos  a  ar- 
te magica,  Òc  a  poder  diabóli- 
co .  E  determinando  de  não 
deixar  com  vida  nem  a  Santa 
QLiiteria ,  nem  aos  que  leua- 
dos  de  fuás  palauras  feguião 
fua  doutrina,  com  animo  de 
dar  a  execução  eftes  danados 
intentos  fe  Tahio  de  feus  pa- 
ços acompanhado  de   muita 
gente  de  armas .  Ia  eílauais 
portas  do  cárcere  quando  íu- 
bitamente  lhe  faltou  todo  o  a- 
lcnto,&:  mouimento  pêra  en- 
trar nelle,  ficando  immouel, 
cego,  òí  fem  ouuir/eito  hum 
tronco^ou  húa  cílatua  de  pe- 
dra, ordenando©  afsy  Deos 
pêra  proueito  feu ,  &  daquel- 
les  que  o  acompanhauaõ.    Bê 
entenderão  logo  os  criados 
donde  lhe  vinha  o  mal,  &  dó- 
de  poderia  cfpcrar ,  ^  auer  o 
remédio  daquellc  feu  fubito 
acidente.    Tomarão  no  nos 
braços ,  òc  aprefcntaraó  no  a 
Santa  Quitéria,  &  cm  feu  no- 
me prometerão  de  cumprir 


lhe  foílc 


idado. 


quanto  me  toílc   man( 
íe  cila  o  tornaua  a  fua  antigua 
íaudc,  ^  ao  cílado  cm  que 
pouco  auia  fe  tinha  viílo.Pe- 
dioaSanta  não  mais  que  fe- 
gurança  pcra  os  guardas  do 
cárcere,  &  pêra  todos  aquel- 
les  que  por  lua  pregação  ie  ti- 
nhão  conuertido  à  noílalan- 
taFc,  qucnemfcrião  prcfos, 
nem  vexados  nas  peflbas  _^hõ- 
ra ,    ou  fazenda .  Com  ilto  fe 
pos  em  oração*,  &  a. pouco 
efpaço  Léciano  cobrou  o  ou- 
uir,  &c  com.clle  o  conheci- 
mento do  miíeraucl  cftado  a 
q  o  tinhaõ  chegado  feus  pec- 
cados;  chorou,  lamcntoufc, 
pedio  perdão  à  Santa  ,  &  a 
íeus  companheiros  ,  olíere- 
cendoíc  a  toda  a  latisfação, 
quando  Deos   foífc  ícruido 
de  lhe  reílituir  também  a  vi- 
fta.  Fcslhe  Santa  Quitéria  o 
final  da  Cruz  nos  olhos ,  ba- 
fe j  and  olhe  nellcs,  &  como  fe 
aquelle  fpirito  leuara  coníigo 
a vifta,  afsy  lha  reílituyo  pcr- 
fcitilsima  com  grande  con- 
tentamento do  mefmo  Lcn- 
cianOjC  de  todos  os  prcfentcs, 
que  grandemente  íecompa- 
dcciaó  de  ver  ao  fcuPrinci- 
pe  cego  ,   mormente  depois 
queellc  moftraua  arrependi- 
mento de  ter  perfeguido  a- 

íía 


que 


— 


130 


Cdpttulo  XXVIL 


j  aqucllabemauencurada  com- 
j  panhia.  Quis  leuar  coníigo  a 
j  íèiis  paços  a  Santa  Q^reria, 
•  mas  a.  Virgem  íc  eícazou  de 
entrar  nellcs ,  dizendo  que  o 
iiao  faria  em  quanto  fc  não 
.'dérpejaílem  de  tudo  quanto 
tinhaõ  alhco  ,  mormente  da 
fazenda  das  Igrejas^  ornamen- 
tos fagrados  ,   &í  bens   dos 
;  OhrirtaõSjque  na  períeguiçáo 
paíkda  lhe  foraõ  com  tanta 
;  mjuftiçaroub^dos. 
\  lOJO  .Sempre  foi  difficultofo 
dcreftituiro  malleuado.Nem 
ainda  em  tempo    que  emfy 
exprimentaua  Lenciano  tan- 
tas marauilhas  pode  acabar  cõ- 
íígo  comprircfte  confelho  da 
Santa,  antes pello  náoouuir 
outra  ve;í  de  fua  boca   íe  a- 
partou delia  trifte,  &:  malen- 
conizado.    Tornoufe  Santa 
Quitéria  com  todos  os  fcus 
ao  íeu  montCjd:  aly  viuia  imi- 
tando na  terra  o-quc  í"azé  no 
Ceo  os  eípiritos,  bemauentu- 
radps.  Rogauapòr  Lenciano, 
por  feus  vaflàllos,  pellos  dous 
Biípofi  de  què  ja  Éilamos;  & 
obraua  tanto  a  graça  no  cora- 
çâo  de  todos  quaiito  fe  vio 
na  grande  mudança  de  Len- 
ciano., porque  cm  brcues  dias 
arrependido  de  fuás  culpas  fez 
reftituição  inteira  às  Igrejas 


do  q  lhe  tinha  leuado,aOs  chri" 
ílaòs  de  fuás  fizêdas,  <.\:  pellos 
pobres  rcpartio  com  grr.nde 
liberalidade  muitos  theíou— 
ros.. .  uio:}  BUíiíiom  3í  l 
II      Perafe  afíesurar  fe  eítas 
obras  erao aceitas  a  Dcos  liia- 
dou  Lenciano  pedir  a  Santa 
QjA^ceria  quizeiie  veríe  com 
elle  na  lua  cidade,  Òc  paço^ 
aceitou  o  a  Santa    -Virgem, 
porque  ja  não  auia  os  mcon- 
uenientcs  paííados  ,   ôí  logo 
que  entrou   pellas  portas  uc 
Lenciano  podo  os  olhos  nclle 
leuada  de  hum  elpirito  mais 
que  humano ,  bemauemtura- 
dojdiíle,  fois  íenhor  poisem 
vidaíoubeíles  fazer  peniten- 
cia de  vollos  peccados .   Sem 
duuida  algúa  fois   hum  dos 
queaDiuiua  bondade  eíegeo 
pêra  lhe  comunicar  os  grandes 
bens  que  no  Ceo  tem  apare- 
lhados a  íeus  efcolhidos.-  As 
meínias  nouas  vos  dou  a  vos 
íantos  Prelados  •,  he  verdade 
que  como  fracos  cailles ,  mas 
também  hc  verdade  que  co- 
mo generoíos  vós  Icuantailcs. 
Pcrícuerai  que  não  eftà  niuy 
longe  .voiía  redenção.-paíla.rçis 
embora  dcrta  vida  pêra  a  eter- 
na_,teiliiicandocó  voílb  fin- 
guc  o  grande  preço  que  fazeis 
devoíIàFc,  Também  minha 


1" 


-?eri- 


Sdnta  OiHteriO-^. 


121 


pcrigrinação    clU  ja  no  fim,  | 
porque  dacjui  a    onze    dias  I 
me  tara  Deos  ,  &   aos  que  ; 
comigo  viucm  am.erce  tantas  I 
vezes  por  clie  amim   indigna  1 
de  tanto  bem  prometida  ,  Ic- 
uandonos  a  gozar  de  lua  glo- 
ria pclla  illullre  palma  do  mar- 
tyrio. 

\z      Foi  grande  o  aluoroço 
com  queLenciano,<3v:  os  dous 
Biípos  receberão   as   alegres 
nouas  de  íeu  perdaÕ.   Naõ  fe 
lhe  deícobria  porem  com^o  em 
tão  breue  eípaço  piídelícacó- 
tccer  perderem  a  vida  Santa 
Quitéria,  &  íeus  companhei- 
ros lendo  martyres ,  parecen- 
dolhe  que  ninguém  íeatrcuc- 
ria  na  cidade  aonde  elle  era  íe- 
nhor,  &  taõ  poderoío  ,  a  co- 
meter tal  crueldade,    E  peraq 
cm  íua  aulencia  naó  aconte- 
ce0c  algum  delallre  íeíoicÕ 
a  Santa ,  &  todos  os  mais  que 
a  acompanhauão,  &  grande 
numero  de  íoldados  pêra  aly 
a  guardarem ,  &:  defenderem 
aquelles  onze  dias  cm  que  a 
Santa  virgem  dizia  fe  acabaria 
por  martyrio   feu  dcfterro. 
Mas  quem  pòdc  impedir  as 
traças  da  Proiiidencia  Diur- 
na ?  Chegado  ao  monte  Lcn- 
cianocom  a  fua  gente  de  ar- 
l  mas, em  lugar  dolílcncio,  òl 


quietação  que  aly  buícauao 
Santa  Quitéria ,  icus  compa- 
nheiros yòí  os  dous  Biípos, 
que  também  Ic  lhe  queriaó 
dar  por  dílcipulos ,  não  íe  ou- 
uiapor  todoaqucllc  deílrito 
mais  que  ellrondo  ,  5c  ruído 
de  armas,  <Sí  outros  impedi- 
mçntos,&:  iuquicraçocs  que  a 
gente  militar  coíluma  trazer 
confino.  Pedio  então  Santa 
Quitéria  a  Lenciano  os  dclpc- 
diHe  a  todos,  porque  quando 
Deos  quizelle  defenclellos,  ou- 
tros prefidios  mais  aponto  ti- 
nha com  que  o  pudeílc  fazer, 
Icm  çntre  tanto  lhe  íerê  eltcr- 
uo,  antes  grande  ajuda  pcra 
continuar  nos  exercicios  pêra 
que  le  recolherão  âqueíle  mo- 
te. 

1 3  Em  quãco  Lenciano  da- 
ua  ordem  a  que  a  íua  gente 
militar  dcixaíVe  o  m.onre  de 
Pombeiro,  &:  fc  recollicflc  á 
cidade  C  Atiho,&  Germano, 
pay  ,  &  efpoío  que  pertendia 
íer  de  Sanna  Qiiiteria ,  eípera- 
uaõ  ambos  com  ízrandx  cui- 
dado  aos  que  tinhão  cnuiado 
bufcar  a  Sanca  Qmccria.  En- 
contrarão na  ertcs  depois  de 
jacllarà  fombra  ào  cm  paro, 
&  protecção  de  Lenciano,  & 
por  cila  cauía  fcnãoatrcucfão 
a  cõ  violência  a  fazcré  voltar 

a  caía 


152 


Capitulo  XXVII. 


a  caía  do  pay ,  íe  bem  lhe  per- 
liuidirão  com  grandes  rczocs 
o  qmzefie  fazer  de  íua  vonta- 
de .  A  reporta  foi  que  como 
ella  tinha  Je  muito  tempo  ef- 
coihidoj  &:  tomado  por  eípo- 
fo  a  Chrirto  lES V ,  a  quem  fò 
de  ícus  primeiros  annos  fe  cõ- 
íagrara,  idlhe  iiao  ficaua  ki- 
Par  de  aceitar  a  Germano  ,  né 
a  outro  qualquer  queaprete- 
cíeíle ,  ou  feu  pay  lhe  bufcaí]c_, 
&  muito  menos  de  viucr  on- 
de pudeílèm  correr   perigo 
eíles  íeus  bons  intentos  ^  & 
íàntos   propoíítos.    Referida 
crta  reporta  a  Cayo  Atiiio, 
dandoíe  comeJla  grandemen- 
te por  afrontado  Germano  _, 
armado  com  o  poder  ,  »&  li- 
cença do  que  pretédia  por  fo- 
gro ,  &  muito  mais  de  fua  ira, 
&  furor  ,  ajuntando  grande 
numero  de  íoldados,  ÒJ  guia- 
do  por  alguns  dos  que  íàbiaõ 
onde  Sáta  Quitéria  Hcaua,  deu 
como  de  repente  fobre  aquel- 
la  bemauéturada  companhia; 
òi  íem  ficar  nenhum  dos  que 
aly  fe  acharão  com  vida ,  os 
paílou  todos  ao  fio  daefpa- 
da.  Foi  a  primeira  Santa  Qm- 
teria  morrendo  às  maÕs  de  [m 
aportara,  a  quem  a  hirtoria  , 
chama  Dumano .    Aconte- 
cerão cm  feu  martyrio  dous 


calos  bem  notaueis.Foí  o  pri- 
meiro que  em  lhe  cortando  a 
cabeça  a  Santa  Virgem  a  to- 
mou com  fuás  mãos^  &ícfoi 
andando  com  eila  ate  a  ermi- 
da de  Saõ  Pedro  ,  que  ja  diílc- 
mos  eítaua  naquelle  monte. 
O  ícgundo ,  que  por  todo  a- 
qucUceípaço  a  forão  acom- 
panhando innumeraueis  An- 
jos, entoando  cânticos  de  ale- 
gria. 

14  Qs  mais  que  aly  pa- 

decerão forão  trinta  donzel- 
las    companheiras   de   Santa 
Qj.iiteria  ;  a  húa  íò  nomea  a 
hirtoria  de  ícu  martvrio,  & 
diz  íe  chamaua  Columba^on- 
\  tros  ha  que  lhe  daÕ  o  titulo 
j  de  Infanta,  mas  nada  dizem 
de  íeu  pay ,  nem  de  que  cida- 
de ,  ou  P^eino  era .   Padecerão 
também  naquelle  dia,os  dous 
fantos  Biípos,  (S:Lenciano  o 
íènhor  daquella  terra,cuja  pe- 
nitencia foi  ta  õ  grata  a  Deos, 
como  por  fua  boca  a  Santa 
Virçrem  o  certificara .  A  fora 
ertes  fe  nomeaó  Simplicio,Re 
migio,&  Columbano:demo- 
do  que  por  todos  vieraõ  a  fa- 
zer numero  de  quarenta  peí- 
foas ,  as  mais  delias  ou  quaíi 
todas  Portugucfas ,  fe  o  mar- 
tyrio  de  Santa   Quitéria  foi 
dentro  nerte  Reino,  porque 


no 


Santa  o^d^rrinho-s. 


133 


luUar,. 
hl  chrov. 
\pig.  25. 

«■19- 


no  particular  de  aueiiguar  a 
cic^adc  onde  aconrccco  íia  gra- 
de diiierhdade  de  opiniões  co- 
das nacidas  da  muica  incerte- 
za que  temos  das  coufas  de 
Hcípanha ,  pella  grande  bar- 
baria, &deícuido  de  todas  as 
boas  letras,  que  nella  intro- 
duzirão os  Mouros,  queiman- 
do todos  os  cartórios,  fk.  me- 
morias antiguas  donde  íe  po- 
dia tirar  a  certeza  dcftas,  &  ou- 
tras muitas  antiguidades .  Sò 
luliano    eícreue    que  Santo 
Honorato  íuceíloj  de  Santo 
Eugénio  o  primeiro  do  nome 
entre  os  Arcebifpos  de  Tole- 
do íepultou  com  grande  po- 
pa, &apparatoa  Santa  Qui- 
téria no  lugar  perto  de  ícu 
mar ty rio ,  que  elle  diz  fe  cha- 
maua  Adura^   èc  depois  mu- 
dou o  nome  em  Margueli:^a 
pcllos  anncs  deChriílo  130. 
obrando  Deos  fempre  naqucl- 
le  lugar  infinitos  milagres 
peDa  intcrceílao  dcrta 
gloriofa  Portu- 
gucfa. 

t 


CAPITVLO  XXVIIl 

S2'Ê['-TA  2^J'Rl'NHA 
Virgem  l^  mm-tyr  hiM  das 
Santas  noue  irmãs. 


INDAQVE 
110  particular 
do  marcyrio 
dcfla  SátaVir- 
iiê  não  tenlia- 
mos  a  relaçáo ,  &  certeza  que 
defejauamos,  com  tudo  nos 
coníta  pella  autoridade  de  Fla- 
uio  Dextro,  ôc  luliano  foi  húa 
das  noue  hlhasdeCayo  Atiiio, 
&  Calha,&  que  pella  décniaò 
daFè,  &  pureza  padeceo  glo- 
rioíamente  em  Galiza  júto  da  f^g-  ai« 
cidade  de  Amphilochia  perto 
deOrenfe,  fuííraç^anea  entáo 
deftc  Arcebirpado,húa  das  q  o 
tépo  confumio  cõ  íer  tao  cele- 
bre na  antiguidade.  Aspalau- 
ras  de  Flauio  Dextro  faõ  as  fe- 
çmmtcs.JmphitochiJinGallecia 
Sanãa  Marina  ^elMargarita 
Virgo  tf  martyrprofde  Chri- 
fliarht^lffpudicitiapaJJa  efi.  Em 
Galiza  na  cidade  de  Amphilo- 
chia padeceo  martyrio  pellaFê, 
&c  pella  pureza  S.Marinha,  ou 
MargaridaVirgé  e  marty  r .  Quã 
íí  o  mefmo  dizé  as  de  luliano. 


Dextro 

IuIíaíio, 
itt  chroii, 


u 


M 


Marina 


I  «»■  I 


134 


Cdfttulo  XXVI 11. 


Baron, 
itmot  iS, 
Mij. 


Marina  prope  Amphilochiii  ur- 
bempaj^aejfedicimr,  O  Mar- 
tyrologio  Romanocmi8.de 
lulho  íó  diz.  Galleci^  in HijpcU 
nm.  Sanób.^  Marina  Virginis  l:f 
Martyris,  Em  Galiza  da,  de 
Santa  Marinha  Virgê  Ã:  Mar- 
tyr  onde  Baronio  nas  fuás  an- 
notaçoes  nos  r^cte  ao  Flòf- 
fantorum  deHefpanlia,  &ao 
thcfouro  das  pregações  ,  que 
cícreueo  frey  Thcmas  dcTru- 
gilho  da  crdé  do^  Pregadores. 
Porem  tudo  o  que  òt{\.cs  au- 
tores podemos   collcgir  vem 
íòa  dizer  que  Santa  Marinha 
padecco  duas  Icgoas  da  cidade 
de  OreníejOnde  agora  chamao 
Agoas  fanraSjpeJias  trcs  fontes 
que  aly  arrebecaraÕ  de  três  íal- 
tosque  na  terra  deu  a  cabeça 
da  gíoriofa  Virgem,  &  martyr 
quando  lha  cortarão  como  da 
de Saõ  Paulo  reefcrcuc.  Forao 
ícmpre,  &  faó  ainda  hoje  tão 
milagrofas  eftasfontes^quanto 
bê  mortraõ  os  innumeraueis 
enfermos  q  bebendo  dcllas,ou 
lauandoíecõfuaagoa  recupe- 
rão  a  íaude  perdida  donde  ícm 
duuida  tomarão  o  nome. 
2.     Moftrafe  tábêncftcmef- 
mo  lugar  debaixo  da  terra,  hií 
forno  em  q  pello  tirano  a  Sãta 
foi  lançada, naõ  lhe  fazêdo  mal 
I  ofogo^c  tcdclheomeímoref- 


peito  q  em  Babylonia  tcuc  aos 
trcs  Ifraelitas  cõpanhciros  de 
Daniel  quando  por  mandado 
dcRey  bárbaro  foraò  lançados 
naquella  grade  fornalha.  Aqui 
neítc  meímo  forno  fe  confer- 
ua  hú  pequeno  buraco  pello 
qualhc  tradiçãoq  íahio  delle  a 
Santaquãdoa  quizcrão  abra- 
zar  j  ój  foi  o  milagre  notauel, 
porc]  por  nenhiia  via  hc  capaz 
dcdar  paflagéa  hú  corpo  huina 
Ho,pormai>  dchcadoquefeja. 
Mas  feuDiuino  efpofoa  quem 
a  Santa  tanto  amaua,&  eííiiTivi- 
ua,  parece  lhe  comunicou  ain- 
da neíla  vida  os  dotes  dos  be- 
mauenturados/otilizandolhe, 
&  efpiritualizandolhe  íeus  mé- 
bros  como  ícnao  occuparao 
lugar  j  o  que  por  ventura  tam- 
bém íe  deue  a  pureza  da  glorio 
fa  Virge  pella  qual  aísy  como 
nefta  vida  viuia  jacomoAnjo, 
afsy  tinha  as  prerogatiuas  de 
Angélica ,  entrando  &  íaindo 
fem  lhe  fazerem  pejo ,  nem  re- 
fiftencia  outros  corpos  com 
íua  quantidade. 
3  Lcuantoufe  em  honra 

da  Santa  fno  mefmo  lugar 
que  fe  cré  foi  o  de  (eu  mar- 
tyrio,  &r  hcoqucdiíiemosfe 
chamaAgoas  fantas)húa  Igreja 
em  feu  louuor  onde  íe  guar- 
dáo,  L^  veneraõfuas  prccioías 


úm 


relíquias 


\' 


SantA  Eufemia^. 


155. 


/;i'. 


IO.  c.\ 
in 


chran. 


tàftt.  4 


^.coitar. 
C.3. 


relíquias ,  6c  pello  tempo  em 
diante  íe  lhe  edificarão  outras 
muitas,  &  muito  fumptuoías  i 
por  toda  Hcfpanha ,  em  efpe- 
cial  nas  cidades  de  Toledo  _,  ôc 
Scuilha.  Em  Galiza  fc  viraõ  cm 
tempos  antiguos  vários  mo- 
ftciros  com  o  nome  delia  San- 
ta .  Morales  nos  certifica  que 
o  de  Saõ  Saluador  de  Leres  jú- 
toaPonteaedra  entre  outros 
muitos  Santos  íe  dedicou  tã- 
bem  a  Sanca  Marinha,  ôc  acre- 
ccntaquefua  íiindação  he  de 
mais  de  feifcentos  annos .  O 
Padre fr.  António  lepes  faz  ta- 
bcm  méçaõ  de  dous  antiquif- 
íímos  mofteiros  defta  SantajO 
primeiro  chamarão  Santa  Ma- 
rinha de  Tofto  edificado  en- 
tre ferras  afperiííimas  em  terra 
que  chamáo  Soneyra  perto  de 
Mugia,  &  Mal  pica. 
4     O  fecundo  mofteiro  cha- 
marão  Santa  Marinha  de  Val- 
uerde  edificado   na  lerraCo- 
rulhon  fobre  Villafranca,  mea 
IcCToa  do  infi^ne  moíleiro  de 
Carrazedo  noReino  de  Galiza, 
ao-ora  da  Ordem  deCiftcr,  em 
feas  principios  de  fradesBétos. 
Foi  feu  fundador  ElRey  Dom 
Bermudo  o  II. do  nome  na  era 
de  loiy.q  faõ  annos  dcChrifto 
989.  o  que  tudo  moílra  a  gra- 
de deuação  q  de  tempos  anti- 


guos fe  tem  có  eíla  gioriofa  Sa- 
ca nos  Reinos  de  Hcfpanha.  A 
mayorcÕ  tudo  foi  no  Reino 
de  Portugal.  Ha  em  feu  nome 
leuantadas  grande  numero  de 
Igrejas,  ôc  ermidas  por  todos 
os  Biipados  do  Reino,&  no  de 
Coimbra  húa  villa  não  das  dc- 
menos  importãciada  Serrada 
Eilrella  chamada  S.  Marinha. 
5      He  porcgrandea  cõtulaõ 
que  ha  afsy  na  reza  defta  San- 
ta como  nas  pinturas  q  em  fuás 
Igrejas  íe  vem,  porque  tendo 
pouca  noticia  delia  os  que  or- 
denarão os  Breuiarios  de  varias 
Ses  de  Hcfpanha  ,  &c  os  pin- 
tores lhe  foraó  applicando  as 
CO  ufas  de  outras  duas  Santas 
Marinhas ,  de  q  ha  grande  me- 
moria nas  hiílorias  antiguas , 
húa  Alexandrina  Virgc,  outra 
Antiochena  Virgê  &c  martyr, 
querendo  fó  dar  a  conhecer  a 
noífa  Portuguefa,cu  jas  fcm  du 
uida  faõ  as  Igrejas  q  em  nome 
de S. Marinha  vemos  leuanta- 
das nefte  Reino  :  (k  có  tudo  de 
ordinário  as  pinturas  afsy  de 
íeus  retabolos,como  de  íuas  pa 
redes  faõ Jiora  o  q  pertcce  a  S. 
Marsarida.ou  Marinha  de  An- 
tiochia,horaoqàoutradeAle 
xandria,q  c5  o  nome  de  Mari- 
nho ,  &  habito  de  Religiofo 
viueo  longos  tempos  em  hum 


Mi 


moílei- 


Ii6' 


CafttuloXXVIIL 


TlofpiytB, 
^g.dc  Ih- 
11*0, 


\truhb.i' 
de  Sadd. 
Marina. 


morteiro  de  Religiofos  fa- 
zendo oíílcio  de  Donato  ferti 
ler  conhecida  atê  fua  morte; 
&aísyà  primeira  Santa  Mari- 
nha pertéce  a  pintura  do  dra- 
gão que  das  entranhas  lança  a 
Santa  Virgem  fá  &  íaUia/ 
porque  em  lua  vida  fe  conta  á 
tentou  o  Demónio  em  figura 
de  dragão  fingindo,  pêra  mais 
a  efpãtar^q  a  engoha,  e  tornaua 
logo  a  vomitar.  A  fegunda  fc 
pode  pintar  vertida  deReligio- 
íb  criado  à  portaria  do  mortei- 
ro húmininOjOu  trazédo  pcra 
a  mcíma  comunidade  varias  ca 

ualgaduras  carregadas  de  man- 
to Í5 

timcnto  j  oííicio  em  que  aly  fc 
ocupaua^  ?k  fcruia  pello  falfo 
tertimunho  q  lhe  leuãtou  híía 
molher  de  mao  viuer  dizendo 
que  a  forçara ,  &  ouuera  delia 
hum  filho ;  pello  que  foi  Çtn- 
tcnceada  do  feu  Abbadc  a  criar 
o  minino  a  porta  do  morteiro 
furtentandofcdas  efmolas  que 
os  Religiofos  lhe  dauão  ate  q 
chegando  o  dia  de  fua  morte 
qucrendoa  amortalhar  conhe- 
cerão fer  dõzclla,  &c  innocente 
do  crime  que  fe  lhe  tkiha  falfa- 
mente  arguído,5<:  ella  com  tan 
ta  paciência  fofrera 
6  A  verdadeira  pintura  da 
noíTa  Marinha  Portugucfa  fe- 
ria pintar  a  Santa  ja  metida 


em  hum  forno   de  grandes 
labaredas  ,   &  ella    andando 
fobre  as  brazas ,  &    entre  as 
chamas,    como   entre  roías, 
&   branda  viração ;    ia  cor- 
tandoiheoal<7oz  acabeça,que 
pulando  dos  hombros  da  três 
milagrofos  íaltos ,  arrebentan- 
do de  cada  hum  aly  aonde  ca- 
bia lua  fonte  de  agoa  faudauel 
pêra  todo  o  género  de  enfer- 
midades ,  como  acima  deixa- 
mos cfcrito ,  tomado  da  tra- 
dição tão  calificada  cõ  o  dif- 
curfo  de  tantos  annos.  Foi  íeu 
martyrio   ou  no  mcfmo  an- 
nodci3o.  ou  não  muitode- 
pois  do  em  que  padecerão  fuás 
íantiflunas  irmãs. 
7     Efcreuem  de  Santa  Mari- 
nha,alem  dos  que  ja  temos  re- 
feridos ,  Ambroíio  de  Mora- 
les,  Marieta,  Affonío  Ville- 
gas ,  frcy  Thomas  de  Trugi- 
Iho,  frey  Bernardo  de  Brito, 
frey  Luis  dos  Anjos,  Antó- 
nio de  Vaíconcellos,  o  padre 
Hiriberto  Rofuueido  no  pri- 
meiro liuro  das  vidas  dos  pa- 
dres, nas  annotaçoés  que  fis 
à  vida  de  Santa  Marinha  de 
Alexandria,  frcy  Fran- 
cifco  de  Biuarj& 
outros. 


(.?.) 


lo.c.iS. 

Marieta 

/».4.í-.i4 

Fille^ms 
FlsJJant. 
Brit  2f . 
men,  //,j 
r«  Io» 
Fr  .Luis 
J.osAnjoi 
líirâim 

l^afconc. 
in  diferi f 
Por.píj 

44Í- 

Bitt.tn  ca 
meta.  ad 
Dexi.  an 
138, «.J. 


CAPI- 


I 


S^ma  Eufe?nia^. 


IS7 


y 


Sex  an. 

133, 


CAPITVLO   XXIX. 

SANTA     EVFEMIA 

Virgtm^lff  martyr. 


ANTA 
Eufemia  foi  a 
quarta  filha 
cieC.  Acilio, 
&  o'c  Calíia 
fua  molhcr ,  fegundo  a  ordem 
cjuc  leuamos  em  as  contar. 
Padecco  glorioíamcnte  por 
Chriílo  nollo  S^uador,  de- 
fendendo ,  &  acreditando  fua 
Fè  com  aquella  meíma  con- 
ftancia  com  que  o  fizerão  fuás 
noue  irmãs.  Três  coufas  nos 
eicondeo  ncífa  bemauentura- 
da  Virgem  &:  martyr  o  tem- 
po; o  género  de  íeu  martyrio, 
p  lugar  dclle,  &  o  tirano  que  a 
mandou  atormétar.  Do  mar- 
tyrio  naõ  dis  nada  a  fua  lenda, 
porque  toda  fe  ocupou  em 
tratar  de  íua  trcsladaçao  pêra 
a  Igreja  de  Santa  Marinha  íua 
irmãj  Sc  vltimamcnre  pêra  a 
Sè  de  Orcnfe  onde  hoje  fc  ve- 
nera feu  fagrado  corpo,  como 
logo  diremos. Do  lugar  apõta 
fò  Dextro  a  prouincia  de  Ga- 
liza dizendo.  In  eádem  Galle- 
cia  S.Euphemia  Virgo^  mar- 


ryr.  E  luliano.  Ampbilochium^ 
^biejl  corpus  Sanã^  Euphe- 
mia  ,  nunc  Anipben  dicitur  in 
Galecia .  A  cidade  de  Amphi- 
lochia^aonde  cfta  o  corpo  de 
Santa  Eufemia.fe  chama  aflora 
em  Galiza  Amphen.  Amphi- 
lochos  chamarão  os  antiguos 
aqucllespouos,a  q  hoje  perté- 
ce  a  cidade  de  Oreníedchum 
Amphilocho   Grego    vindo 
das  guerras  de  Troya^q  aly  po- 
uoou,  &  Amphilochia  a  fua 
principal  cidadela  que  depois 
os  Sueuosderaõnome  Vuar- 
mfee,&  os  dagora  Oreníc, co- 
mo ja  diflemos .  Eíla  cidade  cõ 
ferua  hoje_,&  té  em  grade  eíli- 
ma  ocorpo  deS. Eufemia, poré 
qfoíle  o  próprio  lugar  de  feu 
mar cy rio  nem  Dextro,  nê  lu- 
lianojnem  nenhil  outro  autor 
q  mereça  crcditOjO  eícreue. 
1    O  q  parece  mais  prouaucl 
hcqaly  naquelle  próprio  lu- 
gar onde  ícu  corpo  foi  acha- 
do,&  dõdc  foi  dado  pcra  algre 
jadeS.  Marinha^  cSí  derta  pcra 
Oréfc  padeceoaS.  Virge.-íica 
na  Comarca  de  entre  Douro, 
Ã:  Minho  nas  rayas  de  Gali- 
za, &  Portugaljonde  chamão 
Riocaldo,  pellas  muitas  veas 
de  agoa  quente,  q  aly  arreben- 
tào  ,  entre  hum  valle  que  fa- 
zé  os  cabeços  da  ferra  deGere^^. 

M  3  Forma 


lílllAH, 


Ll/l.li.^J 


fupra  Cl 


13^ 


Capitulo  XXIX. 


Forma  no  mais  alço  de  hum 
delles  a  natureza  húa  alegre, 
&  apraziuel  veiga,  a  que  os 
vizinhos  por  não  fer  muico 
comprida  ,  &c  ellendida  daõ 
nome  de  Campilho,  lugar 
próprio  pêra  as  feitas,  òc  jo- 
gos dos  paítores ,  em  quanto 
pello  vallepace,  ou  leftea  o 
gado ,  de  que  a  terra  he  alias  a- 
bundante .  Aqui  (  como  em 
outras  ocaííoés  coítumaua)  íe 
achou  certo  dia  fò ,  &  fcm  cõ- 
panhia  algúa ,  hija  paftorinha 
por  annos ,  &  vida  de  grande 
innocencia  j  vio  entre  as  talif- 
cas  de  certos  penedos  ,  que 
cerrauão  a  veiga,rair  húa  maõ, 
&  ncUa  hum  anel  de  ouro, 
após  que  fe  Iheforao  os  olhos, 
fem  outra  conííderaçao  mais 
que  enriquecerfe  com  elle,  ^ 
leuallo  a  íeu  pay,  que  embaixo 
no  valle  moraua  .  Tudo  foi 
o  meímo ,  tirar  o  anel  do  de- 
do onde  o  achara  ,  &:  ficar 
muda;  de  modo  que  fem  falia 
fe  recolheo  à  fua  aldca ,  &  fem 
faber  nem  poder  dizer  mais, 
quemoftrar  o  anel ,  &  fazer 
final  pêra  onde  o  achara.  Paf- 
mou  o  pay ,  &  pafmaráo  to- 
dos os  de  cafa  da  marauilha, 
&  fò  efperauão  que  amanhe- 
ceíle  pcra  irem  com  a  minina 
onde  encendiaõlhefucederao 


cafo  porque  perdera  a  falia, 
&  donde  trouxera  o  anel.  Fa- 
raó, eftaua  ainda  a  maõ  entre 
aquellas  meímas  taliícas  em 
que  a  minina  a  vira ,  &  tor- 
nandolhea  rcftituir  o  anel, a 
muda  íe  achou  logo  com  falia 
taõ  perfeita  como  le  dantes 
nenhúa  couía  lhe  tiuera  íu- 
cedido. 

3  Entre  as  alegrias  do  pay, 
&  fobrefalto  dos  prcfentes , 
fe  ouuio  húa  voz  íaida  den- 
tre os  mefmos  penedos  que 
dizia ,  aqui  eíla  o  corpo  de  San- 
ta Eufemia  s,  mudayo  pêra  a 
Igreja  de  Satã  Marinha.  Pou- 
ca dilação  ouueda  voz  a  exe- 
cução .  Deceo  logo  o  pay  da 
paltorinha  do  monte,  veo 
dar  recado  na  pouoação,  le- 
uou  coníigo  o  Parocho,&  os 
moradores  tomarão  o  fanto 
corpo ,  que  o  Cco  logo  Ih^ 
manifeítou ,  &  comprocif- 
faõ  a  mais  íolenne  que  lhe 
foi  poíliuel,no  ícpulchroquc 
fofria  fua  pobreza  o  collo- 
caráo  na  Igreja  de  Santa  Ma- 
rinha ,  aquella  mefma  onde 
elles  ouuiãomifla,  &  era  a  fua 
parochial. 

4  Seguiraõfe  após  efta  trcs- 
ladação  infinitos  milagres, 
ninguém  aly  bufcaua  faude  q 
que  a  não  achafle,acreditando 


Deos 


Santa  Eufemia-^. 


139 


Deos  fua  gloriofa  martyr  cõ 
a  hzer  auogada  de  todas  as  en- 
fermidades .  Era  por  cfte  reí- 
peico  frequentadillimo  o  lu- 
vinhão  a  ellecm  roma- 
&Gali- 


par- 


g3r> 

na  de  todo  Portugal , 

za^edificauãofe  em  outras 
tcs  varias  Igrejas  donomcda 
meíma  Santa  ,  &  não  fe  con- 
tentando a  sente  de  dar  íeu 
nome  a  lugares  fagrados^o  da- 
uão  também  a  pouoaçoés  de 
que  ainda  hoje  íenomeaõ  al- 
gúas  pellosRcinos  deCaftcllai 
&:no  de  Portugal  em  pouca 
diftancia  da  villa  dos  Algodres 
no  Bifpado  de  Viíeu  ha  a  de 
Santa  Eufemia ,  onde  em  16. 
de  Setembro  fe  faz  hiía  gran- 
de feira  a  que  acodem  merca- 
dores de  todo  o  Reino. 
$      Aquypois  neite  lugar  de 
Campilho  'junto  a  Rio  cal- 
do cremos  foi  o  martyrio  da 
Santa  Virgem,  porque  ha  aly 
fitio  acomodado  pêra  hija  boa 
pouoação,  &  de  crer  he  efti- 
uefle  aly  edificada  ,  fe  bem 
nenhíís   veftigios  fe  defco— 
brcm  hoje  deita  antiguida- 
de. 

C  Na  Igreja  de  Santa  Ma- 
rinha fua  irmã  cfteuc  o  glo- 
Iriofo  thcfouro  por  muitos 
annos  .  Delia  pretenderão 
furrallo  por    muitas  vezes 


os  Galegos  ^  &  íairaõ  por  al- 
giias  com  feu  intento ,  fe  não 
que  a  Santa  milagrolamente 
íe  tornaua  logo  àquelle  lugar, 
renouandofe  com  clle  mila- 
gre de  cada  vez  mais  íua  de- 
uoção ,  &  indo  fempre  cm 
crecimento  o  concurfo  da 
gente  mouida  danouidade  q 
via, &: das  nouas  graças  que 
aly  íeachauão. 

7  AlTi  foi  andando  o  tempo 
ate  vir  a  dar  nos  annos  de  mil 
cento  &  líncoenta  &:  tres,cm 
que  em  Portugal  reinaua  o 
gloriofiílimo  Rcy  Dom  Af- 
fonfo  Henriques,  &  na  Igreja 
de  Oreníc  prcfidia  hum  íanto 
Bifpo  por  nome  Pedro  Segui- 
no  varaõ  de  cfclarecida  virtu- 
de ,  &  muy  particular  deuoto 
da  gloriofa  Virgem  &  martyr 
fanta  Eufemia.  Doyafc  de  ver 
eftar  fcu  corpo  em  híja  taõ  pe- 
quenalgreja  &:  em  h\x  lítio  cn 
talado  entre  dous  montes ,  & 
incapaz  doutro  edifício  ma- 
yor .  Defejaua  coUocallo  on- 
de eftiuelTe  com  mayor  de- 
cência ,  &  veneração,  E  inté- 
tara  fem  duuida  mudallo  a  íua 
Igreja  Cathedral, fe  os  mila- 
gtes  palífados,&:  o  defejo  que 
a  Santa  moftrauadealy  fe  per- 
petuar, o  não  eftoruaraõ. 

8  Mouidocomtudodcou-  \ 


M4 


tro 


140 


CãfiUiloXXlX. 


\ 


\ 


tro  mayor  elpiritOjaparcihan- 
doíe  primeiro  com  jeiuiiSjpe- 
niceiíLia? ,  óí  outras  afíliçoês 
do  corpo  j  mandando  enco- 
mendar eftesíeus  incétos  por 
todooíeuBiíjpado,  inílando 
comoraçoês,&:  íacriíicios  aííi 
próprios  como  aihcos  \  inuo- 
cando  íobre  tudo  o  fauorda 
mefma  Santa,  a  quem  deíeja- 
ua  em  todaaquella  Tua  preten- 
çáo  agradar,  buícando  pêra 
iíío  o  dia  que  lhe    parecco 
mais  acomodado  ,  &  em  que 
feria  menos  fentido,  fingindo 
h\:iQí  nouena  à  Santa  fe  deixou 
aly  cliar ,  &  fez  perder  as  fof- 
peitas  aos  de  Riocaldo  ^  que 
com  trazerem  grandes  vigias 
íobre  o  fanto  corpo  por  en- 
tão íc  defcuidaraõ,  nem  íen- 
tirão  o  furto  fc  naõ  ja  quan- 
do lhe  não  pudcrão  dar  rcme- 
dio.Lcuouo  BifpoDom  Pe- 
dro as  fagradãs  rehquias  pêra 
Oreníe  _,  coUocou  as  na  íua  Sè 
em  capella  própria,   húadas 
collateraes  a  mayor ,  &í  pcra- 
queficaíTeni  mais  veneradas, 
&  feguras  ,  fechou  as  cm  húa 


fermòfa 


arca  de  bronze 


bem 


dobradoj  chapeandoa  por  fo- 
ra com  laminas  de  prata ,  que 
jáaiy  falcão j  &deuia  de  rou- 
f  bar  a  impiedade,  òí  auareza  de 
'algiji^s   foldados  em  tempos 


de  guerras.  Sobre  tudo  abrio  I 
na  parede  da  mefma  capella  hú 
arco  bem  capaz  da  arca  cerca- 
do com  íuas  grades  de  krro 
douradas  ,  «Sc  nella  pos,  ã:  fe 
vè  hoje  a  Santa  Virgem,  & 
martyr,  obrando  Deos  por 
fua  iiitcrceílaõ  infinitos  mila- 
gres.Sucedeo  tudo  iílo  em  17. 
de  Agoílo ,  cm  que  cila  trcs- 
ladaçáofe celebra,  &:nosde- 
zaíeis  fua  inucnção  ,  quando 
a  Santa  fc  dcícobrio  ápaft ori- 
nha  na  forma  que  acima  dei- 
xamos referido ,   luliano  diz 
que  a  fcíla  delia  Santa  cae  no 
primeiro  de  Dezembro.Mar- 
tyrologios  antiguos  ha  quea 
põem  em  13.  de  Abril  .  Em 
Portugal  a  feílejão  cm  16,  de 
Sete mbro,porque  como  nof- 
íos  antepaífados  lhe  não  fa- 
biáo  o  dia  proprio^eícolhcrão 
o  cm  que  íe  celebra  outra  San- 
ta Eufemia  também  Virgiem^ 
&  martyr ,  &  natural  da  cida- 
de de  Pilidia  na  Grccia,aquella 
que  approuou  os  decretos  do 
Concilio    Caiccdonenfc    no 
quetocauaàs  duas  naturezas 
deChriífoem  hum  fuppoílo 
contra  o  hercc?e  Eutiches,por 
que  fazendo  o  Pacriarcha  de 
Conftantinopla  Anatolio  cf- 
creuer  em  hum  papel  o  que 


chron. 


tocaua  a  eftc  artigo  de  nofla 

Santa 


LegsSfS 
cLiií.   in 
Br:.  Ba- 
ronif 

«.2-f. 


II  |i-i«.«  m*i«i   ^ 


J 


Santa  Eufemia^. 


141 


Baron.ia 

ar.not.zo 

■■MítYtij. 


lahca  Fe  íe^ando  o  conícfla- 
mos  os  Carholicos,<S;  noutro 
o  dcluaiio  dos  hereges, pondo 
os  a  ambos  de  comum  con- 
fcntimentodehuns  &  outros 
fobre  o  corpo  da  Sáta-'  fechan- 
do depois,  ic  íellando  a  íepal- 
turajquando  foi  abrilla  acha- 
rão o  papel  dos  hereges  aos  pès 
de  Sanca  Eufemia,  &  o  dos  Ca- 
thoiicos  apertado  em  fua  mão, 
ecncoílado  ao  coração  como 
quem  o  ellimaua,&  veneraua. 
De  outras  iantas  do   meímo 
nome  fe  faz  menção  no  Mar- 
tyrologio  Romano  a  2.0.   de 
Março  ,  &  a  3.  de  Setembro 
como  aly  fe  pode  ver,aj untan- 
do o  que  íobre  eíles  lugares 
elcreue  o  Cardeal  Baronio. 
5)       Guardaíeno  thefouroda 
Sede  Orenfe  como  principal 
peça  dellc  o  anel  que  a  pafto- 
rinha  achou  no  dedo  da  Santa; 
hc  de  ouro  baixo  com  hiãa  pe- 
dra que  parece  topázio ,  leuafe 
dentro  em   húa  caixinha   de 
prata  com  fua  rede  dourope- 
ra  milhor  fer  vifto  ,  ôc  tocado 
dos  enfermos:  &  por  fer  pren- 
da de  híía  tal  efpofa  de  Chrifto 
noílo  Saluador  ã  fua  vifta ,  ôc 
toque  fe  obrãomuitos,&  gra- 
des milagres  em  todo  o  géne- 
ro de  enfermos. 
10       Eícreuem  de  Santa  Eu- 


femia o  Breuiario  de  Orenfe 
em  17.  deAgoílo.(Fes  aquella 
reza  o  Bifpo  Dom  Afíonfo 
immediato  fuccflor  de  Dom 
Pedro  Seguino ,  que  nos  fur^ 
tou  a  Santa  Eufemia  ,  &  diz 
que  tudo  o  que  aly  põem  o 
ouuioa  pcíloas  íidc  dignas ,  q 
a  tudo  íe  acharão  prcfcntes) 
Morales ,  frcy  loaõ  dcMaric- 
ta,  frey  Bernardo  de  Brito, 
frcy  Francifco  de  Biuar_i  ^^y 
Luís  dos  Anjos,  &c  outros. 


Me  mies 
Itb.  4.Í'. 

13- 

Brit  tom 

•23 

Biu/ir  ad 

Dex.  an. 
13  .«.5. 
Fr,  Luís 
no  ÍArd. 


CAPITVLO  XXX.       í"'^-4 

SANTA  GENEBRA 
Santa  Germana, Santa  Ba~ 
filiffa ,  Santa  Vitoriais  anta 
Marciana.    ^^ 


GLORIOSA 

Sãta  Genebra, 
aquella,  aquê 
as  mais  irmãs 
reípcitauão,& 
obcdccião  comoamay,  pade- 
ceo  martyrio  na  cidade  dcTui, 
fegundo  luliano  em  o  primei- 
ro deNouembro.  Chamãfedo 
nome  defta  Santa  muitas  mo- 
Ihercs  em  Portugal  pella  par- 
1   ticular  dcuação   que  lhe  tem. 


I. 


luliana, 
in  chron. 


Que 


em 


142 


C^.pimlo  XXX. 


lulian, 
chyo  f^g. 

21. 

mon,  lib. 
5.C.18. 
Fr,  Ltiis 
dos-^njos 
KO  lard. 

huLtr  nà 
Dex.an. 
138. 

;  Víifcori. 

ií«  àcfcr. 


\i.fag.zi 


C^.  em  foi  o  tirano  por  cujo 
mandado  padeceo^que  género 
o  de  feu  martyrio,  em  q  iugar 
elleja  rcii  corpo  íc  náo  labe  ate 
hoje ,  nem  noílos  hiíloriado- 
res  o  eícreuem.Eíla  breue  me- 
moria achamos  em  luhano, 
em  frey  Bernardo  deBnta^nos 
Padres  frey  Luis  dos  Anjos, 
frey  Franciíco  de  Biuar,<Sí  An- 
tonio  de  V"aíconcellos_,  que  to- 
dos concordão  íer  húadas  fi- 
lhas de  Cayo  Atiho ,  &  de  íua 
molher  Calíia. 

2.  Santa  Germana  padeceo 
cmCarthago  cm  ip.delaneiro, 
com  Paulo,  Geroncio ,  laoua- 
rio  5  Saturnino,  Succeílb ,  lu- 
lio  Cato,  òi  Pia,  dos  quaes  não 
duuidamos  fcriaõ  també  Por- 
tugueres,&  companheiros  íêus 
quando  por  fugir  da  perfegui- 
çaõde  íeupay  aieuou  o  Spi- 
ritoSãto  a  terras  tão  eílranhas. 
Faz  de  todos  menção  o  Mar- 
tyrologioRomano  no  mefmo 
dia,  &  os  autores  que  atras 
deixamos  allegados. 
5  De  Santa  BardiíTa  diz  lu- 
lianoj  que  parando  na  Syria, 
quando  fe  apartou  de  íuas  ir- 
mãs, foi  ahi  m.artyrizada  cm 
defenfaõ  defua  pureza,  &  nof- 
fa  Santa  Fè ,  ao  primeiro  de 

INouembro .    Seguindo  a  lu- 
liano ,  diííe  elegantemente ,  o 


padre  leronymo  Romã  dela 
Higuera,quc  todas  as  trcs  par- 
tes do  mundo  ennobreccrão 
com  feu  langue  cilas  glorio- 
ías  nouc  martyres.  Santa  Ger- 
mana là  Africa  morrendo  cm 
Carthago,  Sãta  Baíiliíla  à  Aíía 
morrendo  cm  Syria ,  as  outras 
fcte  a  Europa  morrendo  em 
varias  cidades  delia ^afsy  o  afiir- 
ma  em  hum  hymno  ,  que  co- 
pos cm  louuor  das  iiouc  vir- 
gens, que  trás  o  Bifpo  de  Tui, 
&dizarsy. 

Te  Syria  o  BafiUa. 
Colit^  Germana  Africa^ 
Et  Gemueram  próxima  j 
Tudenfis  '~orbs  Oceano. 

Eumdiam^  Abogriga 
Colit  caput  GalUci^ 
Culni  frequentam  annuo 
Cantu  refultans  debito. 

O  "VOS  inf ratice  Martyres 
Et  Virgines  caílifsim^ 
SIgnÚ  'veUris  ^irginibus 
Tui /íeis  ad  mar  ty  ri  um. 

Per  Afric4,percjj  Afie 
Europa  per  confima. 
Difperf*  nutu  cíclico 
Orlem  facrajiis  fanguine. 

Com  tudo  parece  que  em 
Hcfpanha  foi  o  martyrio  de 
Santa  Bafiliíla  em  híía  cidade, 
que  antiguamente  fc  chamaua, 

me 


Igltf.  àe 
luifol, 

43- 


Santa  Genebra,Çf  mais  irmãs. 


143 


em  lacim  Syrmium.  Florião  de 
Ocãpo  quer  que  íeja  Motril, 
outros  a  f-ucm  Vciles mala- 
ia;  aiitros  Frií^iliaiia  naPro- 
•  uinciadaAndalu2Ía,<S>:  naqucl- 
la parte,  que  pello  Reino  de 
Granada  toca  no  marMediter- 
raneo. Donde  entendemos , a- 
ucrfe  de  ler  cm  luliano/alando 
delta  Santa  Virgem.  InSvrmio 
Síinã.e  BaJiHJfcc  fororis  SanSlce 
QjfjterÍ£ ,  Òc  naõ  in  Syria.    A 
mefma  aduertencia  fc  deue  fa- 
zer no  Marcyrolo£;io  Roma- 
no em  2.9.  de  Agolío  em  quã- 
to  apõem  em  Smirna ,  dizcn- 
ào/ípud  Smirnam  natalis  San- 
ã<e  BajilU ,  fendo  a  verdadeira 
lição,  apud  Syrmium  natalis 
SanSlíC  Bajilijfíe, 
4  Santa  Vióloria  foi  mar- 

tyrizada  em  Cordoua ,  j  unta- 
mente  com  hum  companhei- 
ro feu  por  nome  Acilclo.  O 
Prefidentede  Andalufia  Dion 
os  mandou  a  ambos  açoutar 
cruelmente,  &  meter  em  hum 
cárcere  cfcuro  onde  quatro 
Anjos  os  acompanliaraó  por 
muitos  dias.  Tirados  daquellc 
lugar  com  grandes  pedras  ao 
pelcofo  foráo  lançados  no  rio 
Guadalquibir:mas  nao  fe  indo 
ao  fundo,a  Sãta  Viótoria  cor- 
tarão os  peitos  y  faindo  delles 
I  leite  em  lugar  de  fangue,  &a 


icccandoaace  de  todo  dar  feu 
{pinto  a  Deos.  A  Santo  Acil- 
clo cortarão  a  cabeça  cm  17.  de 
Noucmbro,em  cujo  dia  iuce- 
dcocm  Cordoua  hum  nota- 
uel  milagre,  que  conta  Ado- 
cem as  palâuras  íegumtes.  yl>i 
ob  condemuationem  mortis  eorâ 
eodem  die  ipforum  Mártir ij  1 7. 
Nouembris  ,  rof^c  ort<c  fingulis 
annis  diuinitus  colligâtur.  lílo 
he  que  em  17.  de  Nouembro 
em  que  Santa  Viòto  ria  ,  &í  Sã- 
to   Acilclo  padecerão  nacem 
milagroíamcnte  roías  na  cida- 
de de  Cordoua  lendo  no  cora- 
ção do  inuerno  .   O  Martyro- 
logio  Romano  chama  a  Santo 
Acilclo  irmão  de  Santa  Vid:o- 
ria ,  mas  parece   que  não  foi 
mais  que  companheiro  feu, 
íaluofe  irmão  aly  quer  dizer 
naFè,5<:  deícjo  de  derramar 
fangue  pella  defender.  Falia  de 
SantaVidoria  Prudencio,San- 
to  lúdoro  no  h  ymno  do  Brc- 
uiario  Godo,  &c  outros. 
$       Santa  Marciana  padcceo 
mais  adiãte  alguns  annos  ,  que 
fuás  irmãs  no  de  155-.  na  cida- 
de de  Toledo.  Tcue  (eu  mar- 
tyriocoufas  dignas  de  grande 
memoria  porque  vendo  a  San- 
ta fobre  certa  fonte  hum  idolo 
que  pcUos  pès  lançaua  agoa, 
entrando  o  Efpirito  de  Deos 

nella 


die  17, 
Nmebr. 


Prud, 
fíynt.  4. 
dí'  Mar- 


l<4 


Qa^itulo  XXX. 


rnclla  o  fcs  cm  pedaços ,  pello 
qua!  foi  prcfa ,  açoutada,  poita 
cm  íugar  onde  podeíTe  perder 
fua  pureza^defendendoa  Deos 
com  hum  groílb  muro  que 
entre  cila ,  tk.  o  primeiro  que  a 
quis  afrontar  ícsde  nono  ap- 
pareccr.  Foi  lançada  a  bcítas 
feras ,  mas  hum  leaõchegan- 
dofe  brandamente   a  ella  lhe 
beijou  os  pèsjium  touroaíc- 
rio  nos  peitos  ,  ^    vitima- 
mente  com  hua feridade  hum 
leopardo  fe  foi  agozardefcu 
cfpoío.  Certo  ludeu  que  pri- 
meiro que  todos  bradara  íela- 
çaíle  a  Santa  a  bcftas  feras ,  foi 
queimado  com  toda  fua  fami- 
lía,  pegandofelhe  o  fogo  às  ca- 
fas,  as  quais  tentando  depois 
edificar  outros  ludeus  fubira- 
mentc  morriao.    Todas  cftas 
coufas  refere  o  hymnodcfua 
fefta,  que  anda  no  Breuiario 
Godoj&dizafsy. 

Sacr<e  trmmphim  martyris 
Celebret  njox  Ecclefi^: 
Cammajit  cimãis  ijna 
Marciana  in  íaudtVirgmis. 

Qu^pafsioms  prsmium 
Dum  tendit^  adipifcitur 
Vltro  adpaUíiramglorhe 
Judet  prompta  concurrere. 

B^cc  nam^  adiiantc  D^monis 
Cernens  allufiteffigiemy 


\       Subciiius  larga perpttint 
Fluebut  ijnda  gnjuhus^ 

Qmmpr^dopudicitix 
Dum  inter  ymhrasfequitur. 
Oblata  ex.  templo  c^litus.   , 
Seduditurmaceria,^  iíTil"  ■ 

Emifin  nam§^  beftijs^  :\ .  -: 
leopercttrrtt  percitm 
Adoraturus  "veniens 
Non-comeflurus  Firginem. 

Atferapernix  corpore^ 
Et  maculofo  tegmine 
Lethali  dente  ad  njltimum 
MembrapuelU  laniat. 

Moxfiagris  c^efa  trahitur 
Ceifa  ad  Pretor  is  atria, 
At^  ludis  illicitis, 
Proíkrnit  msbra  Virginis. 

Vinãa  deindt  Uipite 
profana  '-você  includitur^ 
Sedp^nasfert  biasphemi^^ 
Ruinas  iff  incendia. 

Taurus  de  hincprojiliens 
Forma,  tfmugitu  horribili 
Sulcabat  eius  teneras 
Papillas  iãu  -vulnerans^ 

Pofl  hos  triumpkos  anima 
Finclis  elapfacorporis: 
Plaudenspetit  ad  libera 
S ummi  poli  f afligia. 
DeoPatriJit  gloria^i^c. 

6  Quaíi  com  o  mefmo gé- 
nero de  martyrio  padeceo  ou- 
tra Marciana  na  Prouincia  de 
Africajq  chamão  Mauritânia 


Cefarieníe 


Santa  Genebra ^Çf  mais  irmãs. 


145 


-1 


Ittliano 
in  chroii» 


Dextro. 
an.Chrif. 

iS5' 


Ccíarieníe.Faz  delia  menção  o 
iVíartyrologio  Romano  em  9. 
de  laneiro .  Teuca  pclla  mef- 
ma  que  a  noíla  o  Cardeal 
Baronio,  mas  contra  o  rexco 
do  meímoMarcyrolo2Ío,que 
:  poê  a  Africana  (como  vimos) 
a  noucdc  íaneiro ,  &  9  Porcu- 
í^uezaa  doze  de  lullio ,  dizen- 
do: Toleti  Sanã^  Marcians 
Virginis  l^  raartyris ,  qu.^pro 
Jide  Christibejlíjs  obie£la^arij^, 
a  tauro  difcerpta  Martyrio  co- 
ronatur.  Alem  de  o  eícreuer 
aísy  expreílamente  Iiiliano . 
Marciana paj^a  efi  Toleti  anno 
15  j.  álíquantopofl  jororeSj  12. 
lulij',  mentiofit  alterius  fafsy 
fe  ha  de  ler,  &  não  huius  co- 
mo tem  a  impreflao  de  lulia- 
no  de  que  víamos)  inMarty- 
rclogijSfl!f  licet  obierit  a  tauro 
dilacerata  ,  tamen  h^ec  altera 
longe  ytusiior  eH .  De  Santa 
Marciana  efcreucumbem  Fla- 
uio  Dextro  as  palauras  fe- 
guintes .  Toleti  patitur  San- 
ãa  Marcianafilia  Catelij  Re- 
giili  Lujitani^fororcf^  oão  alia- 
rtm  Virgimim^^lio^  i^  Late- 
rano  Confulibns. 


l 


CAPíTVLO  XXXI, 

s  A  H   pohrcivnpo 

quarto  Arcebifpo  de  Braga.  \ 

^^^^^  VcedcoS.Po- 

^       '^0S  ^^^^rpo  n  San- 

^*^P|    CO   Ouidio. 


CO 

r^^^  Côílanospor 
^^^  autoridade  de 


luliano.  Brachar^poft  Sanãú 
Ouidium  Sanãus  PoUcarpus 
EpiJ^opus  Bracharenfs  ad  an- 
num  i}o.  Em  Braga  depois  de 
SantoOuidio  íucedeo  Saó  Po- 
licarpo Bifpo  de  Braga  pclios 
annos  de  Chrifto  130.  NaÕ  íà- 
bemos  fc  então  foi  cleito^ou  fc 
atê  efte  tempo  feellcndeo  feu 
Pontificado ,  entrando  tam- 
bém nelle  os  annos  que  go- 
uernou  Santo  Ouidio:nem  te- 
mos taó  efiicazes  conjeituras 
que  padeceria  martyrio^como 
as  que  tiuemos  de  Santo  Oui- 
diorporem  como  viueo  em  tc- 
po  de  tantas  perfeguiçoés  de 
crer  he  lhe  fariaDeos  a  meíma 
mercê  _,  &c  nelle  particular  o 
igualaria  a  feus  antccclíores.Se 
ria  erro  manifefto  querer  con- 
fundir o  no  ífo  Sãio  Policarpo 
cõ  outro  do  mefmo  nomcBif 
po  de  Efmirna ,  &  dicipulo 
de  S.  loaõ  Euangcliíla ,  cuja 


m  chron, 
K.41. 


N 


fclla 


146 


Capitulo  XXXII. 


\inehron. 
«.80. 


fcftaíc  celebra  a  16.  de  laneiro. 
Foraõ  entre  íímuy  diffcrentes 
quanto  àspeflbas,  ^  lugares 
de  fuás  Prelazias  j  nos  mereci- 
mentos ambos  valerão  muito 
diante  de  Deos ,  &  ambos  cõ- 
priraÕ  com  a  obrigação  de  íeu 
nome/e  Policarpo  vai  o  mef- 
mo  que  o  que  toma,  Â:  arre- 
bata o  Ceo.  Quando  Saó  Po- 
licarpo entrou  no  goucrno  de- 
fta  Sè  era  5ummo  Pontifice 
de  Roma  o  Papa  Alexandre 
primeiro  do  nome,  &Euipe- 
radcírda  Monarchia  Romana 
Adriano. 


CAPITVLO  XXXII. 

SERERIJNO  QVIN  rO 
Arcebifpo  de  Braga. 

A  Z  luliano 
Aciprcfte  de 
Toledofuceí- 
íor  dcSaòPo 
licarpo  a  Sc- 
reriano  com  húas  palauras  que 
pouco  mais  vem  a  dizer  em  la- 
tim do  que  temos  dito  em 
Portuguez.  Floret  memoria 
Sanai  Fabiani  Epifcopi  Bra- 
charenjis  fucce(?oris  Sereriani, 
qui  fuccefsit  Policarpo.Todo  "o 


,\*íSN\\\\\i\V\\\\\\TO\\\\\\*\ 


mais  q  de  íuas  obras  fe  poderá 
eícreuer  cfcõdeo  o  tepo ,  co- 
mo fez  aoutrasmuitas  de  q  pel 
lo  diícurío  defla  hiftoria  nos 
queixaremos  aindaq  debalde, 
pois  fò  ficão  em  magoas  eftas 
queixas ,  &c  feitos  taò  dignos 
de  eternidade  como  os  queo- 
brarão  tantos ,  &  tão  illuílres 
Prelados  defta  Igreja  fepulta- 
dos  em  eterno  cíquccimcnto. 

CAPITVLO  XXXIII. 

S  AM    F  A  B  I  A  M  VI. 

Arcebifpo  de  Braga. 

S  mefmas  pa- 
lauras cõ  que 
luliano  nos 
deu  a  Sercria- 
no  por  fucef- 
for  de  S.  Policarpo  nos  dão  a 
S.  Fabião  por  im  mediato  a  Se- 
reriano,  como  delias  fe  \e. Flo- 
ret memoria  Sãfti  Fabiani  Epif 
copiBrackarenfisfuccejJoris  Se- 
reriani^qui  fuccefsit  Policarpo. 
Acrccéta  logo.  Obijt  í  o.Kale- 
dasSeptcbrisanno  z^o.Succefsit 
ílli  Narcijfus.  Morreo  S.  Fa- 
bião aos  13*  de  Agofto  do  an- 
no  de  230^  fucedéolheNarcif- 
fo.O  tépo  de  fua  eleição,os  an 
nos  q  goucrnou  ^  qual  foi  ÍUd 


CrhtH* 


morte 


SãoFahiao. 


147 


morte,  quaes  as  principaes 
obrns  ,  que  fez  cm  bem  de 
luas  oiicíhas  íabc  fò  Deos, 
que  as  remunerou  ,  &:a  an- 
tiguidade que  as  conhecco, 
ôc  eftimou,  pois  por  elias  o 
ajútou  ao  catalogo  dos  bem- 
aucnturados.Gouernaráo  por 
cftesannos  a  igreja  de  Deos 
depois  do  Papa  Alexandre  pri- 
meiro Saõ  Sixco  í.  S.Tclesfo- 
ro  ,  Saõ  Hisjino  ,  Saõ  Pio  I. 
Santo  Aniceto,  Saõ  Soter, 
Santo  Elcutherio,  Saõ  Viclor 
I.  Saõ  Zeferino,  Saõ  Calix- 
to ,  Saõ  Vrbano  I.&  Saõ  Pon- 
ciano,  Tiueraõ  o  Império  Ro- 
mano depois  de  Adriano  os 
Empcividores  Antonino  Pio, 
Marco  Aurélio  Antonino 
feu  fuceílor,  &  genro,  com 
Lúcio  Vero,  Cómodo,  Flel- 
uio  Pertinaz  j  Didio  luliano, 
Septimio  Seuero ,  Antonino 
Geta,Antonino  Caracala  feu 
irmão  ,  Macrino  ,  ôc  feu  fi- 
lho Diadunieno  .  Helioea- 
balo,  Alexandre  Seuero 
exccllente  prin- 


P 


cif 


3e. 


CAPITVLO  XXXÍIII. 

S  A  M    FÉLIX    VIL 
Arcehifpo  de  Braga. 


A  autorida- 
de referida  no 
capitulo  atras 
diz  luliano 
que  a  Saõ  Fa- 
Diáo  iucedco  S.  Narciílo.  O  q 
pudera  fer  fc  eilc  depois  no  an- 
uo,Z70.  nos  nomeara  cwitro 
fanto  do  meím.o  nome  .com 
que  cuidáramos  foráodousiO 
primeiro  eíle  de  que  agora 
fallaro  outro  o  fegundo,  a  que 
os  Alemães  chamão  o  (eu 
Apoftoío  particularmente  os 
da  cidade  de  Aufburg  ,  cm  la- 
tim Augufta.  Mas  como  naÕ 
falle  fenão  de  hú,  aquelle  racf- 
mo  que  pregou  por  Alema- 
nha ,  &  padeceo  em  Girona, 
Keceíla  ria  mente  auemos  por 
horadefair  da  ordem  ,  com 
queellevai  leuando  os  Arce- 
bifpos  delia  Igreja,  &  dar  por 
fuccííor  de  Saõ  FabiaÕ ,  não  a 
faõ  Narciílo  como  clle  faz,fe- 
náoa  faõ  Félix  pellos  funda- 
mentos q  na  vida  de  faõNar- 
ciíroapõraremos,&  agora  não 
he  neceílario  anticipar. 


Ni 


Afsy 


J48 


CapmlõXXXJllL  ' 


í  in  chron. 
h^g'  34 

1»>  122. 


i~ *Aísy  que  Sap  Fclix  foi 

íuccflor  de  Saõ  Fabião  naCa- 
tkira  de  Braga^  &a  goucniou 
pcUos  aiinos  de  141.  &  cr^j  ce- 
lebre fua  memoria  nodez88, 
como  aponta  íulianonas  pa- 
lauras  fcguintcs.  Aíemoriace- 
leb¥Ís:eratperhQí;  tempus.  fPa- 
k  do  anno  dè  i88.*em  cjuc 
leuaua  íualiiíiori^)  I;?    Galle- 
aa  Sa3ã'.FeÍ!ci^  Ep/fcopi  Bra- 
char^n.jfís,,  qui  fègebat  Ecck- 
fuimAnno  2-4f,  Quantas  cou- 
ías  çoTOP  em  riquilllmo  the- 
Touro;  vão  cícondidas   neílas 
palauras   rauy   dignas   de   íe 
íaberem,  que  o  tempo  efcu- 
receo  íem  delias  nos    dei-- 
xar  mais  que  huns  ]eues  in- 
dícios ,  porque  pudeílemos 
conjciturar  as  obras  ^  &  ma- 
rauilhas   que    acenao  .    Naõ 
ganhou   o  Santo    memoria 
tão  ccrebre  por  toda  Galli- 
za  em  tempo  de  tantas  pe  r- 
feguiçoês,  cm  que  mais  que 
nunqua  reinaua  a  idolatria  fcm 
obras    na  opinião   dos   ho- 
mens fòra  do  curfo  ordiná- 
rio ,  &  verdadeiramente  Di- 
uinas .   Bem  cremos  he  efta 
cidade  de  Braga  ,  de  quem 
pudéramos  dizer  o  que  feaf- 
fírma  de  Roma,  que  feus  edi- 
fícios cftão  fundados   fobre 
oífos  de  martyres,  &  fobre 


corpos  j   cujas  ahiias  à  força 
de  merecimentos  ganharão  o 
Ceo.  Por  rnartyr  temos  tam- 
bcni  ao  noílo  Saõ  Fthx  ^  fe  vai 
algúa  coulaaconjeicura,  que 
com  bons  autores  acima  fi- 
zemos de  Santo  Ouidio,  cu- 
ja fella ,  &L  memoria  por  ií- 
lo  dizíamos  cclebrauaa  Ijirc- 
ja ,  porque  dera  íua  vida  em 
defeníaõ  da  Fc^  viílo  como 
por  aquellcs  annos  íò  os  mar- 
tyres  eraõ  feílejados ,  o  que 
ainda  agora  por  eílcs  em  q  tan 
to  fíorecia  a  memoria  do  nof- 
ío  Saõ  Félix  íe  í^uardaua  inuio 
lauelmente.  Tiueráo  o  Sumo 
Pontificado   por  elle  tempo 
depois  de  Ponciano,  Antero, 
òi  Saõ  Fabião ,  &  forão  Em- 
peradores  de  Roma  depois  de 
Alexandre  Seuero^Cayo  lulio 
Maximino  ,  de  quem  ha  gran- 
des memorias  em  Brat^a, 
&  o  Empcrador  Gor- 
diano. 

t      • 


12- 


CAPI- 


Grato, 


149 


CAPITVLO  XXXV, 

GRATO  OITAVO 

Arcebifpo  de  Braga. 


'  lultanoitt 
ehron. 

».28l. 


Amos  a  Gra- 
to o   oitauo 

lusarentreos 
o 

Arcebilposde 
Braga  por  en- 
tendermos cjue  em   nenhum 
outro  lhe  cabe  melhor  ,  íe- 
gundo  o  que  íe  colhe  delulia- 
no ,  em  quê  íò  o  achamos  no- 
meado por  Arcebiípo   defta 
Igreja.  Falando  pois   luliano 
de  Grato  diz  afsy.  Magnamha 
buit  amicniam  Melantkius  cum 
Grato  Bracharenfi   Pontífice^ 
ad  quem  GrattimSixtus  Papa 
Ut terás  mifit^ls'  adPalmatium 
Toluanum ,  cateros^  Toleta- 
nos  antiUites.  Quer  dizer  Me- 
lancio  Arcebiípo  de  Toledo 
teue    erande    amizade    com 
Grato  Arcebiípo  de  Bragada  o 
qualGrato  SixtoPapa  cícreuco 
cartas,  &  a  Palmacio  ^  &  mais 
Biípos  deToledo.Bê  cremos 
começou  eíla  amizade  entre 
Grato, «5c  Mehncio  do  tempo, 
queambos  íeruiãoaSè  déTo 
ledo  ;  Gral  o  íendo  nella  Arce- 


diago, òc  Mclancio  tendo  ou- 
tras  dignidades    pella?    qur.cs 
foi  íobindo  àvluma  de  Arce- 
biípo .   CõtinuaraõncíLibca 
correípondencia  todo  o  dií- 
curfo  de  íuas  prclszias  j  ajuda- 
do fehú  a  outro,  jegundo  o  re- 
queria a  necelsidade  dos  têpos. 
1       Porucntura  foi  o  noílb 
ArcebifpcGrato  de  naçáoGre 
gOjCcmo  c  foi  leu  amigo  Me- 
lácio,naturaes  ambos  deAthe- 
nas,&:  grandes  conhecidos  de 
Saõ  Sixto  aísy  m.eímoAtl.e 
nieníe.  DeMelancio  labemcs 
o  trouxe  a  Hefpanha  da  cida- 
de de    Roma   quando  \eo  a 
ellaomcímo  Saó  Sixto  antes 
de  íer  eleito    Summo   Pon- 
tiíicecíe  trouxe  tábem  a  Grato 
íique  debaixo  da  meíma  con- 
ieòlura,  O  certo  he  que  Mela- 
cio   fe    ficou  em  Toledo,  Sc 
aly  perí^uerou  atê  íer  eleito 
Arcebiípo  :  &  que  Grato  da- 
quella  Sé ,  &  da  dignidade  de 
Arcediago,  foi  tomado  pêra 
cíl:a,dandoo  a  conhecer  ao  cle- 
ro de  Brasa  Teus  raros  mereci- 
mentos  »^  virtudes. 
3      O  Papa  SaõSix  to  antes  de 
ferPontifice  reíldio  cm  Heí- 
';  panha,&  nella  preíidio  como 
i  delegado  da  SèApaftolica  em 
;  humConciho  de  Toledo,cO' 
mo    bem  o    proua    Padilha 


9  (^  II' 


K^ 


con- 


"—m 


150 


Capitulo  XX  XV. 


Uom. 


f  ,        .  concra  Morales    allec^^ndoa- 
H.n.ix^\  qucllas  paiauras  de   luliano. 
I  Ãíelantbius  Atbenis  ijenit  To- 
ktumquemfecum  attukrat  cu 
OJw  San6ius  Sixtus,  quiposiea 
fuit  Romanuí  Pontifex.  Dcíle 
tempo  ficou  taõakiçoado  aos 
Biípos  Heípanhoes  j  q  depois 
de  creado   Sumrno  Poiííifi- 
celhecícreueo  carcas  em  eípe- 
ciai  aoArcebiípo  Grato iiiftru- 
indoo  em  alguas  matérias  im- 
portantes às  Igrejas  de  Heípa- 
om.  1. 1  nha  .  Andahúa  deftas  no  pri- 
]CoHc.f^>g\  mciro  tomo  dos  Concilios,  &í 
'conieçaaísy.    Epijlola  SanCti 
Sixti  Pap^  prima  ad  Gratum 
quendíim  Epifcopum.  Epifcopus 
Sixtiis  Grato  Cocpifcopojalun. 
Nãoteue  o  autor  que  ajuntou 
efta'í  cartas  noticia  de  que  ci- 
dade fora  Bifpo  Grato,  deue- 
mola  a  luliano  como  outras 
muitas  memorias   doi  Arce- 
bifpos  deftaSè. 
4         Contem  o  principio  da 
carta  o  grande  contentamen- 
to com  que  o  Santo  Pontifi- 
cerecebeo  outra  de  Grato  por 
nclla  moílrar  o  amor  que  ti- 
nha a  noflafan  ta  Fèj&  o  ódio 
cò  que  aborrecia  os  erros  dos 
que  mal  viuiáo .  Saõ  as  pró- 
prias palauras.    Deleãari  y  l^ 
^aiidere.  me  plurimum  in  Chri- 
sio  lESF  Domino  no/iro  dile- 


ãwnis  tUic (cripta fecenit^  qni- 
bus  ewdenter  oflenditur^quart' 
tum  catbohcam  diligis  fidem^ 
quantum  praiiorum  bominum 
dttejlaris  error  em.  Continua 
depois  a  carta  com  dous  pon- 
tos eílcnciacs,  o  primeiro  tra- 
ta da  geração  do  Verbo  Éter- 
no^que  proua  com  toda  a  eru- 
dição daSagrada  Eícritura.No 
ícgundomoílracomo  os  Bií- 
pcs  condenados  podem  ^  & 
deu  em  appellarperaa  Sé  Apo- 
Aolica,&  Romana  à  qual  pro- 
priamente pertence  decidir  cm 
Hnal  íuas  caulas.  A  data  da  car- 
ta he  ao  primeiro  de  Sctébro, 
íendo  Conful  Valeriano  ,  ôí 
DeciOjifto  he  no  anno  deChri 
11:o  conforme  a  Baronio  z6o. 
em  que  Grato  ellaua  gouer- 
nandoerta  Igreja. 

5  Outra  carta  efcreueo  Saõ 
Sixto  aos  mais  Bifpos  de  Heí- 
panha,a  qualfele  nomeímo 
primeiro  tomo  dosConcilios, 

6  começa.  Dikã.fsimis  fra- 
tribiis  perHijpaniarum  Prouin- 
cias  conjlitutis.  luliano  nas  pa- 
lauras que  acima  deixamos  re- 
feridas ,  diz  que  faó  Sixto  eí- 
creueo  a  Palmacio  Toletano, 
Cccteros^  Toletanos  Epifcopos. 
Onde  com  euidencia  errarão 
osimpreílorcs  porque  ouue- 
raó  de  dizer,  c^teroscj.^  Hífpa- 

ni^ 


Qrato. 


151 


riís  EpiJ copos;  pois  bem  fcciei-  '  ^ 
xavcr,  que  cios  Arccbi.ípos  cie 
Tcledo  os  menos  cõcorrerão 
comSaõ  Sixto  Papa,  &  aísy. 
mal  lhe  eícreucria  a  todos.quã- 
uo  muito  o  fez  a  Palmacio, 
mas  não  foi  a  carca  cujo  titulo 
acabanios  de  reíerir,  porque 
eíl"a  fó  íe  clirigio  a  todos  os 
Biípos  de  He{panha,e  a  nenhu 
em  particular  •,  &  íe  a  algum 
ouucra  devir  dirigida, auia  de 
ícr  ao  Primaz  de  Braga  Gratc^ 
6.'  naõ  aPalmacioacuja  Igreja 
ncShúa  fosicição  dcuiaõ  as  de 
Hcfoanha.  Eíta  feg-unda  carta 
de  São  Sixto  tem  a  dataade- 
2cAàí  de  lulho  no  Ccnfulado 
de  Vnleriano,&  Decio^  que 
he  o  mefmo  anno  deiéo.  ^ 
aísy  foi  efcrita  pouco  tempo 
primeiro  que  a  de  Grato. 
6  Viueonoíeu  Arcebif- 

padoGrato  por  alguns  aímos. 
Sc  entrou  logo  nelle  depojs 
do  de  145-.  em  que  era  Arce- 
bispo Saõ  Feliy  ja  tinha  de  Ar- 
ccbiípo  de  Braga  quinze  ân- 
uos, porque  tantos  íe  contao 
ate  o  de  z6o  em  que  lhe  efcre- 
uco  Saõ  Sixto.  Os  mais  que 
paílou  naõ  o  fabemos:  certeza 
nos  {-!ca,q  em  todos  feria  gra- 
to a  Dcos,&  a  os  nomes  fegu- 
do  a  obrigação  de  íeu  nome. 
Tiucrao  poreífcs  annos  a  Ca- 1 


dciraPõtifical  deRom-adejiois  1 
de  Saõ  Fabiaó^Cornèlrò^Lu- 
ciOj&Eftefanoí.a  quéluccdco 
S. Sixto  II. do  nome  martyr  de 
Chrillo  pella  confiííao  da  Fè. 
Imperarão  depois  de  Gordia- 
no  os  dous  Philipes  pay;,  & 
filho  primeiros  Imperadores 
Chriftaõs^os  dousDecios  pay, 
&  filho ,  Virio  GalloA'  Volu- 
fio  íeu  filho  jValeriano,  &  Ga- 
lieno  pay,&:  filho  grandes 
perfeguidores  da  Igreja  Ca- 
tholica. 


CAPITVLO  XXXVI. 

SAM  SECVNDO^  OV 
Secimdino  IX.  Arcebifpo  de 
Braga. 


O  Martyrx)- 
loí^io  Roma- 

o 

de 


no  aos  25) 
Abril   fa 
Igreja 


a 

men- 


ção dos  íantos  martyres  Aga- 
pio,  &Secundino  com  cífas 
palauras  tornadas  cm  Portu- 
guês .  Em  Cirtc  de  Berbéria 
os  fantos  martyres  Agapio, 
&  Secuudino  Biípos,os  quaes 
depois  de  hum  largo  deílerro. 


N4 


lue 


152 


CafituloXXXVL 


laliAn.  in 


que  padecerão  nefta  cidade , 
paflaraõ  de  fcu  illuftrc  Sacer- 
dócio aglorioía  coroa  do  mar- 
tyrio  na  perfegLiição  do  Em- 
pcrador  Valeriano,  na  qual  a 
furiofa  raiuados  Gécios  fe  em- 
brauecia  pêra  proua  da  Fe  dos 
juftos.  Depois  acrecentaou- 
trosgloriofos  martyres,  que 
com  eiles  dous  padecerão , 
Emeliano  foldado ,  Tertúlia , 
&  Antónia  Virgens ,  &  outra 
molhcr  com  dous  filhos  feus 
ambos  nacidos  de  Kum  parto. 
Naõ  fe  foubc  determinar  oCar 
AtÁ  Baronio  nas  annotaçoés 
a  cfte  lugar  em  que  cidades 
os  dous  Santos  Secundino,  &: 
Agapioforaó  Prelados;  nem  o 
Biipo  Equilino  ,  Vfuardo, 
Adon  ,  &  Surio  diíTcraõ  mais 
dcUes  que  nomearemnos  ílm- 
pleíméte  por  Biípos  paíTando 
pellos  lugares  de  feus  Bifpa- 
dos. 

1  Juliano  Acciprefte   de 

Toledo  falando  dclles  deu  a 
Sccundino  a  Prelazia  de  Bra- 
ga ,  a  Agapio  a  de  Carthagena 
com  as  palauras  feguintcs.  Cor- 
pora  SanSljrum  martyrú  Aga- 
pij  Carthaginmfis  Hijpanu,  isf 
Secundiniyel  Secundi  Bracha- 
renfis  inHifpania  m^jforumCir- 
tem  urbem  Numidu  in  exiliú, 
Tibipajsifuntfub  Vahriano ,  à 


quo pafsi  funt  exdium.  No  que 
concorda  admirauelmentc  cõ 
o  MartyrologioRomano.Cõ- 
lla  logo  .que  o  Sáto  Secundo, 
ou  Secunduio  foi  Arcebifpo 
deBra^a  dellerrado  da  íuaígre- 
ja  pellaFe  peraNumidia  jun- 
tamente com  Agapio  Bifpo 
de  Carthagena.  Conllatambê 
que  em  Cirtc  onde  elteuc  de- 
gradado (Agora  Coni]:ancina 
corte  anciguamente  DelRey 
Maísiniíla )  foi  martyrizado 
gloriofamentc  cõ  SaõAgapio, 
SaÕ  Emcliaõ,  Santa  Tercitlla, 
Antónia,  &aditoíamaycom 
os  dous  filhos  innoccntes. 

3  Parece  q  não  durou  çSáto 
Prelado  Secundinopor  mui- 
to tempo  nefta  Cadeira ,  nem 
emfeu  defterro,  porq  em  lu- 
Ihodo  anno  de  2.60.  viuia  ícu 
anteceílbr Grato,  como íe vè 
da  carta  que  naquelle  annoSaõ 
Sixto  lhe  eícreueo  :  &  fe  padc- 
cco  o  defterro  Saó  Secunduio 
por  mandado  de  Valcriano 
(cuja  prizão  por  ElRey  dePer- 
íia  Sapor  fucedeo  dous ,  ou 
trcs  annos  a  diante  no  anno  de 
163 . )  ficalhe  fò  efte  Icue  eípa- 
ço  de  pouco  mais  de  dous  an- 
nos, pêra  o  defterro  ,&  Pre- 
lazia. 

4  Pcrfeuerarão  os  corpos 
dos  glorioíos    martyres   cm 

Ahica 


na. 


Miraut 

inno  Epf 
I  p.verb. 
•onjlãti- 


Secundo. 


153 


'  Mián  cL 


Sur.  die 


Africa  por  miiicos  annos  na 
meínia  cidade  em   que  pade- 
cerão ,  ôc  daly  forão  tieslada- 
dos  a  Hefpanha  ,  Reinaado 
Dom  Aftonfo  o  íexto,ac]uc 
chamarão  Emperador-,  man- 
dou os  o  Rey  Mouro  de  pre- 
íenre  ao  Conde  Dom  Raimú- 
do  senro  do  melmo  Dom 
Ailonío  .  Deu  nos  noticia  de- 
lia tresladação  luliano  acre- 
cenrando  as  palauras  acima  re- 
feridas   as  feguintes.    Horum 
corpora  delata funt  ad  H;jpa- 
mas{^ã\ã  fò  dos  dou3  Santos 
Bifpos ,  &  não  dos  mais ,  que 
no  martyrio  os  acompanha- 
rão )  mijfa  dono  Comití  Rai- 
mundo género  Imperatoris  Al- 
dtfonfifexti.  Não  aponta  lu- 
liano o  diaj&  anno  deíf  a  tres- 
ladação ,  nem  o  lugar  em  que 
as  Santas  Reiiquias  forão  col- 
locadas^  mas  por  coula  cele- 
bre o  deuia  callar,&  com  tudo 
ate  elle  bem  nos  encobrio  a 
antiguidade.  Do  martyrio  de 
Saõ  Secundino  ^  &  mais  com- 
panheiros íeus  fe  pode  ler  Su- 
rio  nas  vidas  de  Saõ  Mariano, 
&  São  laCobo.  Bcda  põem  fua 
fefta   não  como  o  Martyro 


: 


logio  Romano  aos  Z9.  de 
Abril,  mas  aos  30.  de  Março. 
Dos  Emperadores  que  nefte 
tempo  gouernauão  o  Impé- 


rio Romano  ja  diflemos.íe-  i 
rj?m   Valenano  ,  òc  Guiieno 
ícu.  filho,  o  Sammo  Pojntiíi- 
cado  tinha  Saõ  Dioniiio  lacei- 
lorde  Saõ  Sixto  II. 


cAPiTVLo  xxxvri. 

^^  A  M    THEOPÍilLO 

Saturnino  ^Is^  Reuocatd  mar 
tyres  de  Viana. 


Ertcncêa  eíla 
liiíloriaos.Sá- 
tos,  que  com 
dtulo  de  mar- 
cyres_,  ou  cõ- 
felíores  nacerão,  ou  morre- 
rão nefteArcebiípado^porraes 
contamos  a  Saõ  Theophilo 
Saturnino,  6c  Reuocata  glo- 
rioíos  caualleiros  de  Chrifto 
naturaes  da  Villa  de  Viana  húa 
das  principaes  poucaçoés  de 
antreDoLiro,  &: Minho, qaa- 
tiguamente  entrana  na  demar^ 
cação deGaliza  fundada  junto 
ao  mar  na  foz  do  rio  Lima. 
Foi  primeiro  cidade  Epiícopal 
muitos  annos  atê  que  no  de 
óio.fe  vnio  ao  Biípado  deTui, 
Depois  fe  encorporou  neífe 
Arcebifpado .    Da  crrandeza, 

anti- 


.«.■\t<V;'d   I 


A  Í.Max 
m  chron. 


154 


Capitulo  XX  XFIL 


lih.  I.  f. 

da  âoArc 
Santo, 


an.Chrif 


Vafe»  in 


anti2uiclade,&  nobrezadcfta 
Villa  eícreuefrey  Luis  de  Sou- 
fa.  He  na  comodidade  do  íl- 
cio,  fcrmofura  dos  edifícios, 
&nobreza  dos  moradores  hú'a 
das  principaes  do  Reino. 
z         Efta  ciueraõ  por  pátria 
os  glorioíos  martyres,  Sc  iiella 
própria  pêra  mayoriurtrcícu 
triumpharaõ  da  idolatria  dan- 
do íuas  vidas  pella  Jefenfaó  da 
Fè.Foi  oTirano  por  cujo  mã- 
dado  padecerão  lulio  Miner- 
uio  Gouernador  dcílas  partes 
de  Hefpanha  pello  Empcrador 
Valeriano.  De  tudo  nos  certi- 
fica Fíauio  Dextro  dizendo. 
Viande  in  Gaíluia  prope  Tudo 
ciuitatempafsifiint  Sanai  mar 
tyres  Theophilus ,  ÍP*  Sattirni- 
nus,  Isf  Reiwcata  '-virgo  Çub 
lulio  Mineniio,  in  perfccutione 
Impsratoris  Vahriani^  qiufep- 
timaefi,  eademij^fub  Decio.  O 
Padre  António  de  Vafconcd- 
ios  allegando  a  Dextro  acre- 
centa  oannoera  quccftes  glo- 
riofos  martyres  padecerão  ^  & 
foi  o  de  t6o.  do  Nacimcnto 
de  Chrifto,  em  que  começaua 
a  fer  Arcebifpo  de  Braga  Saõ 
Secundino  ,  ou  acabaua  de  fer 
Grato  feu  antcccíTor. 
3         Põem  a  fcíla  deites  glo- 
riofos  Santos  o  Martyrologio 
Romano  em  6.  de  Fcuerciro^ 


mas  ícm  apontar  o  lugar  de 
ícu  martyrio.  Com  o  mefmo 
filencio  pafla  Vfuardo  nasad- 
dicoês  a  Moiano  j  Galazino 
osbz  martyres  ctnlloiTia^mas 
como  cofturTxa  leuar  aly  to- 
dos os  martyres  de  que  não 
teue  noticia  onde  padecerão, 
não  fez  couía  noua  em  leuar 
la  também  aos  noílos  Santos. 
Alem  dos  autores  ja  nomea- 
dos cfcrcueo  delles  frcy  Pru- 
dcncio  de  San^doual  nas  anci- 
puidadcs  de  Tui,  pondoos  na 
qaelle  Biípado  por  Viana  ai- 
gúa  hora  lhe  pertencer  depois 
que  deixou  de  íer  Biípado  par- 
ticular, como  foi  muitos  an- 
nos,não  no  íitio  onde  hoje 
eíH,  mas  no  monte  que  lhe  fi- 
ca ao  Norte,  &  fe  chamaao 
preíente  de  fanéla  Luzia.  Ef- 
creueo  também  Je  fanta  Rc- 
uocata  o  Padre  frey  Luis  dos 
Anjos  no  feu  Lirdim  de  Por- 
tugal, onde  a  conta  por 
martyr,  &:  natural 
de  Viana. 

i 


i 


?'>gAS' 


P^tSl- 


CAPI- 


Caledonio. 


m 


CAPITVLO  XXXVIIÍ. 

CALEDONIO    X, 

Arcebifpo  de  Braga. 


Aledonio  ce- 
lebre pella  a- 
mizade  q  te- 
uecõSaõCy- 
priano  Bifpo 
de  Cartlia^o  foi  (fecundo  opi- 
niao  de  Pamelio)  natural  de 
Africa  ^  &  nella  Bifpo  3  como 
parece  fe  colhe  de  varias  car- 
tas de  SaõCypriaiio;  &  fegun- 
do  outrosEípanliol  defta  Pro- 
uincia  de  antrc  Douro, &  Mi- 
nho. Teue  em  quanto  viueo 
continua  guerra  com  os  herc- 
gesNouacianos  perfeguindoos 
logo  que  em  Africa  Nouato 
natural  de  Carthago  fe  come- 
çou a  declarar  por  inimigo  da 
Igreja ,  pregando  ,  &  cfcre- 
ucndo  que  não  auia  nella  po-^ 
der  pêra  perdoar  peccados 
aos  jabautizados  j  nemfede- 
uião  chrifmar  os  que  tiucílem 
recebido  o  fagrado  Bâutifmo^ 
ou  caiar  os  q  híja  vez  viuuaí^ 
fem  .  E  também  quando  feu 
dicipulo  Notiaciano  fe  oppos 


cm  Roma  a  Saõ  Corlielio  pre- 
tendendo tiralrihe  o  Sunnno 
Pontificado  i  &í  íicaffe  com 
ellcjCom  o  que  inquietou  gra- 
uiílimamente  a  Igreja  dando 
principio  as  Idfmas ,  Co  q  por 
varias  vezes  fe  vio  taõ  afíligi- 
dá. 

z  Em  híía ,  &:  outra  CoU" 
fa  fe  moftrou  Caledonio  filho 
da  Igreja,  &  obedientiíTimoa 
Cadeira  de  Sao  Pedro.  Sahio  a 
campo.com  a  hngoa  ,,  &:  com 
a  pena,  porque  em  ambas  era 
eminentiflimò;&:  tal  eftrago 
fez  nefta  cafta  de  heregéSjq  ate 
defuâ  fombraâuiáo  medo»  De 
pois  que  em  Africa  os  cohuen- 
ceopaílcua  Roma  em  com* 
panhia  do  Bifpo  Portunaro  3 
como  efcreue  SaõCypriano,&: 
aly  defpregandõ  mais  âs  velas 
de  fua  eloquência  de  todo  õ 
ponto  tonfundiõ  ao  herege, 
&  feifmatieo  Nouaciaiio^  <Sí 
fez  patête  a  iuftiçá  de  Saõ  Cor- 
nelio  verdadeiro  iucèílbí  do 
Apoftolo  Saõ  Pedro. 
3  Daqui  de  Roma  vol- 
tando outra  vez  a  Afticà  paf- 
fóu  âHefpanha.  A  ocaííaó  não 
podemos  faber,  feria  pefâájU" 
dar  efta  Ptouincia,  onde  en- 
tão andaua  aòezà  â  petfegui- 
çáõ  dosGetios,&  feinauâ  mUÍ 
I  to  a  heresia  pella  vizinhança 


nó 


Capitulo  XXXVIIL 


de  Africa. Deufeloíjo  acoiihe- 

cer  pcUas  obras ,  dezcjauãiio 

em  íy  as  cidades  onde  chega- 

ua ,  ou  prégauaj  6i  fe  ajgúa  íe 

viafem  Prelado  eílà  a  toda  a 

força  o  pretendia.  Mcreceoo 

porcmíò  a  cidade  de  Braga  na 

vacância  de  Saõ  Secundo,  de 

cujoilluftre  martyriopor  íu- 

ceder  na  mefma  Africa  onde 

fe  criara,  d>c  fora  Bifpo  Cale- 

donio  dcuia  ter  grande  noti- 

cia. 

4  Entrou  na  fua  Igreja,  &: 
como  entrauatao  dcfejado,  òc 

Ícom  tanta  opinião  de  letras_,& 
íàntidade  facilmente  acabou 
com  fuás  ouelhas  tudo  o  que 
delias  pretendia.  Os^  que  por 
medo  das  perfeguiçoés  palia- 
das tinhaõ  deixada  aFècom.- 
pungidos  com  a  pregação,  &c 
amoeftaçocs  do  Santo  Prela- 
do abjurarão ,  &  anathema- 
tizarão  feus  erros ,  &c  nao  dei- 
xauão  animo  naqiselle  cora- 
ção,&  entranhas  taõ  compaf- 
ííuas  ,  &  verdadeiramente  de 
pay  pêra  lhe  negar  a  peniten- 
cia, 6í  reconciliação  que  pe- 
dião ,  Todauia  como  por  a- 
quellcs  tempos  femclnantes 
reconciliações  fe  fazião  mui- 
to de  vagar,^  depois  de  com- 
pridas moftras  de  dor,»&  arre- 
pendimento ouue  (  fegundo 


parece)  alguns  que  o  quizerão 
notar  de  fácil,  òc  metcrlheef- 
crupLilo  naquclla  matéria  lem- 
brandolhc  que  da  facilidade 
no  perdão  íc  tomaua  ouzadia 
pêra  os  crimes ,  &í  que  quem 
íentia  fempre   aberta  aporta 
pêra   entrar  na  cafa   quando 
quizcfle,  também  não  eftima- 
ua  fairíe  delia  quando  a  von- 
tade lho  pedilíe. 
j      A  eftcs  auifos  acrecenta- 
rão cartas^ &:  (fegundo  íe  mo- 
ílra  da  que  logo  referiremos 
de  Caledonio)  parece  cfcreue- 
ráoa  Saõ  Cypriano,cujas  le- 
tras erão  .então  celebres   na 
Chriftandade  ,  peraque  o  San- 
to Doutor  o  aduirtiílè,  como 
taõ  amigo  feu  ^  daquella  facili- 
dade em  admitir  à  Igreja  osq 
delia  íe  apartarão  por  apoífa- 
zia .  Da  melma  carta  íe  colhe 
que  não  diísimulou  SaÕ  Cy- 
priano  o  que  de  *  Caledonio 
lhe  eícreuião  antes  logo  lho 
fez  a  faber  lembrandolhe  a  cau- 
tela com  que  naquelle  parti- 
cular era  bem  íe  ouueílè,  por- 
que aquella  íua  facilidade  não 
folie  em  prejuízo  dos  que 
ainda  cílauão  leuantados,  & 
em  dano  dos  ja  caidos,  fazen' 
doihes  cílimar  em  menos  a  mi 
fericotdia  quando  fe  lhe  daua 
taõ  barata. 


Qãkãonlo, 


157 


/??  ccne. 
aiT>  X'. 
ar..  268 


e  L^alcdonio 
iz  aísy  tornada 


!. 


i-^t-V 


I  G  Chegou  a  carra  cie  S.Cypria 
I  noas  niãosdeCaledoniOjVio, 
&  leo  tudo  o  de  q  era  norado,e 
porq  iiiuitas  das  coufas/j  nel- 
ía  íecontinhão,  naõ  relarauão 
o  calo  como  palíaua^pera  intci 
rar  ao  Santo  Prelado  Ihcefcre- 
lico  outra  carra  dãdoihc  ficlmê 
te  cota  docjacêly  tinha  feito, 
pcraq  íe  em  algúa  coufa  fe  def- 
uiara  ào  caminho  da  verdade, 
cllc  como  amigo  leu  particular 
&  mcflre  de  todos  o  encami- 
nhaílc.  A  carta  d--^' 
trasBiuar,  &d 
em  Portuí^uez 

Caledonioa  Cypriano^if?'  aos 
mais  Sacerdotes  ^refide  em  Car 
thago  faude.  Afiecejsidade  dos 
tipos  nos  obriga  a  q  nao  có ceda- 
mos temer  ari  ame  nte  reconcilia- 
ção aos  q  a  pede. Por  &  he  necejfa 
rio  adiíirtiruos ,  q  aquelles  q  a 
primeiral^e^carraófacrijicâdj 
aos  ídolos  fe  tentados  a  Jegim- 
da  fe  deixarão  deflerrar  por 
nt-cfacrificar ,  Í!f  perderão fiia 
fa'::{enda ,  íp"  bens ,  nos  parece 
que  purgarão  com  ifio  o  primei- 
ro deliSlo  ^pois  largando  o  que 
tinkao  ,  l^f fazendo  penitencia 
[eguema  ChriUo  Por  tanto  Fé- 
lix minilíro  de  Decimo  meu  'vi- 
•^nhc  ,  a  quem  eu  conheço  mui- 
to berA^tf  Viãoria  Jua  molher, 
llf  Lúcio  todos  fieis  defierrados. 


tf  q  !argarhfuasfa^end.is^i:f  \, 
eUciO  em  poder  dofifco^  tf  Bona 
t^.bcm  desterrada ^a  que  feu  ma- 
rido como  arrajlos  trouxe  aofa 
crificio^tf  em  qn^nto  elle^tf  ou- 
tros facrificau^.o  lhe  tinhtioas 
mãos  gritando  ella  entretanto 
que  nao  confentia  em  talfacrifi- 
cio,queelles  erao  os  que  facriji- 
caujo^  todos  pede  mifericordia 
di-^endo qco  esles aãos  recupe- 
rarão a  Fé ^qtinhao  perdida .,tf 
arrepcdendofe  cófejj'arf:.oa  Chn 
flo.  E  pofloque  mspareceo  que 
fe  lhe  deuia  conceder  mifericor- 
dia.,c'ótudoos  enuiamos  aVoJ^a 
prefença  peraq  nh  cometamos 
aJgúa  coufa  q  pareça  nouidade. 
Aquillo  q  entre  -uosfe  determi- 
nar nos  efcreufj. Saudai  aos  nof- 
fos  njos  q  te  dos  fo  is  noffos.  Deos 
yos  guarde  cê  felices  annos  de 
'■vida^isf  jaude. 

7  Be  fe  deixa  ver  deíla  carta 
o  q  Caiedonio  có  elia  pretédia. 
Pêra  purgara  calúnia  õ  cíeile  os 
de  Bragaj  ou  aigús  Bifpos  feus 
vizinhosefcreueráo  aS.Cypria 
no  determinou  o  íapiéciílimo 
Prelado  moftrar  ao  lagrado 
Doutor,  &  a  fcu  Cabido  mais 
pof  cxéplos  qcõ  rezoés  quaes 
eráo  os  que  eile  admitia  a  pe- 
nitencia. Pêra  iíf  o  lhe  cnuiou  a 
Félix  minift ro  do  Bifpo  De- 
cimo fua  molhcr   Vivfloria , 


O 


& 


158 


Capitulo  XXXVJII. 


Sc  outro  Chriftão  por  nome 
Lúcio,  &  Bona  afsi  mefmo 
cafada^a  quem  depois  defacri- 
fícarê  a  primeira  vez  aos  ído- 
los, quiferão  os  Gentios  obri- 
gar a  que  repeti  ílem  o  mefmo 
aéto  pareccndolhc  que  o  pri- 
meiro fora  mais  por  coníer- 
uar  as  vidas  ,  &  fazenda,  que 
porafsyo  fentirem  no  cora- 
ção :  mas  clles  pcríeuerando 
confiantes  profeíTarão  liberal- 
mente a  Fè  dcChrifto,  per- 
dendo honra,  fazenda,  &  a 
própria  pátria ,  &  com  cftc  a- 
parelho  ,  &  moftras  de  verda- 
deira contrição  fetinhaò  vin- 
do aCaledonio  pedindo  recõci 
liaçáo  cõ  a  fanta  madre  Igreja. 

8  Eftcs  pois  Ihecnuiaua 
Caledonio,pera  que  viífe  fe  fe- 
ria a  cerrado,  negarlhe,  ou  não, 
o  quepedião :  &  por  aly  fizcf- 
fc  conjeitura  qual  feria  a  pe- 
nitencia dos  outros  reconci- 
liados, quando  aquclles  en- 
uiaua  3  Carthago ,  &c  fazia  du- 
uida  em  os  admitir  ,  por  não 
cometer  nouidadcs;. 

9  Rcccbeo  Saõ  Cypria- 
no  cfta  carta  de  Caledonio 
como  de  amigo  fcu  particu- 
lar, alegrandoíc ,  &  fcftcjan- 
do  grandemente  o  modo  com 
queícauianaquellas  matérias 
tão  conforme  á  boa  opinião. 


!  quede  fuás  letras,  &  íàntida- 
de  tinha,  Rcfpondeolhe  com 
húa  carta,  cujo  principio  em 
Portugucz  vem  a  dizer.  Cy- 
priano  a  Caledonio  feu  irmão 
faude.  Recebemos  ipofias  cartas, 
irmão  charifsimo  aj?aí<i  pru- 
dentes, iff  cheas  de  inteire':!:^, 
i^  Fé;  nem  nos  ejpantamos  de 
tudo  fazeres  com  madure^a^^ 
confelhopois  fois  taÓ  exercita- 
do nas  efcrituras  fagradas . 
Acertado  he  o  'ijojfo parecer  a- 
cerca  de  darmos  a  reconcilia- 
ção a  nojjos  irmãos  ,  da  qual  el- 
lespor  'Verdadeira  penitencia, 
Is^  gloria  da  confij^ao  de  Chri- 
ftofefica^eraÓ  merecedores  jufii- 
fcadofe  cÓ  as  mejmaspalauras, 
com  que  dantes  fe  tinhao  conde- 
nados.Vxl  Saõ  Cypriano  men- 
ção delta  íua  repoíla  ao  Clero 
Romano  ,  inuiandolhe  a  mcf- 
ma  carta  de  Caledonio,a  quem 
ellcs  muito  bem  conhecião 
do  tempo  que  naquella  ci- 
dade reíidira.  Arcpoílaquede 
SaõCypriano  ouuc  Caledonio 
a  mandou  a  todos  os  Metro- 
politanos de  Hefpanha,  aísy 
pêra  juftificação  fua,como  pe- 
raq  clles  tabc  foubeflcm  co- 
mo cm  femclhantes  matérias, 
fcauiãodcauer.  Aísy  o  acha- 
mos cm  Marco  Máximo, di- 
zendo .    Succefsit  Narcijfus 

Cale 


Epifl.23 


M.Max 
tn  chratit 


!edo7 


orno. 


i>Ç» 


<fw.  43(7. 
B  XO. 


Caledónia  adquemjcrílnt  San- 
ãiis  Cyprianus  ^  cuius  epiflo- 
las  tranfmittit  ad  omnes  Me- 
tropolitanos Hifpanicc .  Ou- 
tras cartas  andão  do  meímo 
Santo,  em  que  faz  particu- 
lar menção  do  noílo  Prela- 
do. 

IO  Ha  cr^^nJc  memo- 

ria  cm  Flauio  Dextro  de  Ca- 
iedonio  :   entre  outras  cou- 
ías  eícreue,  queícu  nome  era 
celebre   por  toda  Hefpanha, 
&  que  com  outros  Biípos  aí 
llílira  em  hum  Concilio  de 
Carthago  ,   &   nelle  ^andau^. 
aílinado  .  Per  Hi^ani^  cele- 
bris  erat  memoria,    Pompo-- 
nij   Paulati,  Caledonij   Bra- 
charcnjts  ,   Lueiani  Cccfaraii- 
gujlani  Epifcopi  ,  qiii  pr^te}-- 
quamquod  fuerunt  fcriptores 
egregtj ,  Concilio  cuidam  Car- 
thaginenji ,  cum  alijs  Africa- 
nis  interfueriint  ,  if  fubfcri- 
pferunt.l' orem  efte  Concilio 
em  que  fpefcreueo  Caledo- 
nio  não  chegou  a  noíla  no- 
ticia  ,  como  também  nenhúa 
de  fuás  obras ,  fendo  efcritor 
famofo,como  lhe  chama  Dex- 
tro .  Sabemos  comtudo  por 
relação  do  Bifpo  do  Porto 
Dom  Hugo  cm  hua  carta, 
que  cfcreuco  ao  Arcebifpo  de 
Braga   Dom  Mauricio,  que 


Caledonio  coaipos  elegante- 
mente a  vida  de  Saõ  Pedro  de 
Rates. Lançamos  a  carta  no  ca- 
pitulo ij.deíla  hiíloria. 
1 1  O  tempo  de  feu  go- 

uerno  nem  por  conjeituras 
íe  pode  aueriguar  ,faiuo  que 
viueo,  Sc  foi  contemporâ- 
neo deSáó  Qypriano,  &  che- 
2oa  ao  anno  de  duzentos  «Sc 
feílenta  &  cito ,  cm  que  te- 
ue  por  fuceílor  a  Saõ  Nar- 
ciííb ,  como  efcreue  Dextro. 
Era  então  Su mmo  Pontifi— 
cc  depois  de  Sixto  II,  feu  fu- 
ceílor DicnyíiOjEmperador 
de  Roma  Gallieno .  De  Ca- 
ledonio efcreucm  os  ja  rcí^e- 
ridos  Dextro ,  Marco  Máxi- 
mo ,  luliano  ,  &  dos  moder- 
nos Biuar,  que  hora  lhe  cha- 
ma Santo ,  hora  Beato  ,  no- 
mes que  lhe  nãodaõ  ou- 
tros autores  mais 
antiguos. 

(t) 


an.Chrif 
>Ó8. 


Bieiar  i..\ 
eag. 


O2 


CAPI- 


í6o- 


(Capitulo  XXX IX. 


■ 


J>ext.  an 

Chrip 
z68. 


in  cUron, 


CAPITVLO  XXXIX. 

SAM    N  A  R  C  I  S  S  O 
XI.  Arcebifpo  de  Braga. 


Vardamos  pc- 
raelle  lugar  as 
rezoss  porq 
nosdeíuiamos 
acima  na  vida 
de  Saõ  Félix  da  ordem  de  Ju- 
liano em  contar  os  Arcebif- 
pos  de  Braga  no  particular  de 
ler  o  mefmo  SaõFelix  fucelíor 
de  Saõ  Fabião, &  não  SaÕ  Nar- 
ciílb  como  cUe  aly  o  fazia.  Se- 
ja a  primeira  a  autoridade  de 
Flauio  Dcxtro,c[uc  a  Saõ  Nar- 
ciíío  põem  logo  depois  de  Ca- 
ledonio/&  não  de  Fabião,  co- 
mo fe  ve  de  fuás  palauras .  Ca- 
ledonio  Bracharenfi  ^ad  quem 
fcrihit  Sanóius  Cyprianusyfuc- 
cefsit  Narcijjus-^  fegue  a  Dex- 
tro MarcoMaximo  continua- 
dor de  fua  hiftoria,5«:  Arcebif- 
po de  Caragoça  affi miando  o 
mefmo.  Succefsit  Narcifius  Ca 
ledonio^ad  quemfcribit  Sanãus 
Cyprianus^cuius epiflolas  traf- 
mittit  ad  omnes  Hifpanu  Me- 
tropolitanos. 


'  i  Seja  a  fegúda  rezao,  o  cjue 
os  mcímos tempos  pedem. lu- 
liano  diíle  que  S.  Fabião  pade- 
cera a  13  .de  Agoílio  anno  2.30. 
como  referimos  em  lua  vida> 
mal  podia  logo  iucederlhe  São 
Narcilío,  porque  eite  foi  mar- 
tyrizado  no  anno  de  zyy.  co- 
mo logo  veremos.  E  era  quaíí 
impoísiuel  tiueííe4j.annos  de 
Arcebifpo  em  tépo  que  osBií- 
pos  durauão  muy  pouco  _,  ou 
por  logo  darem  luas  vidas  por 
ChriftOjOu  por  ferem  ja  quã- 
do  erão  eleitos  de  muita  ida- 
de, 

3  Com  igual  facilidade  fe 
conuence  não  íer  eíleglorio- 
fo  martyr  Bifpo  de  Girona^ 
como  alguns  o  quiferaõ  fazer, 
entreos  quaes  heo  Padre  Pe- 
dro de  Ribadeneira  nos  Sãtos 
extrauagãtes.  Moueofeporaly 
padecer  Saò  NarciíTo,  &  fe  in- 
titular Bifpo^mas  ate  os  mora- 
dores daquella  cidade  virão 
quaó  mal  encammhada  hia 
eíla  opinião,  porque  o  Padre 
lofeph  Ramon  da  Compa- 
nhiadelESVS  morador  no 
Collcgio  de  Girona  Sc  na- 
tural de  Catalunha  a  cujoPrin- 
cipado  aquclla  cidade  perten- 
ce ,  efcreliendo  ao  Padre  A  n-^ 
tonio  de  Caftellobranco  fo- 
bre  efta   matéria  húa  carta  , 

que 


Flofanto. 
18.  ãc 
nia.rç6u 


Sao  JsÇ^rcifo. 


if)í 


que  temes  em  noílb  podsr, 
abertamente  diz  que  nem 
íer  SaòNarciíío natural,  nem 
BifpocieGirona  tinha  funda- 
mento algum  na  antiguidade, 
o  que  proua  com  o  próprio 
letreiro  da  ícpultura  do  San- 
to, que  per  nenhum  caio  o 
chama  Bilpo  de  Girona  ,  não 
deuendo  callallo,poisnifto  hia 
taõ  intereííada  aquella  cidade. 
O  letreiro  diz  aísy.  AnnoDo- 
mini  z-j. quarto  Knlendas  No^ 
uembris  beatiis  Narcifus  Epip 
copm  díi  mi[fam  cehbrat  paf- 
fus  fuit  Gerimdcc  in  loco  "vbi 
mmc  lacetEcclefut  Cathedralis^ 
ciim  Diácono  Felice.  como  íe 
diílera.No  anno  do  Senhor  de 
dozentos  ôc  fetenta  Ôc  fete  a 
vinte  ôc  noue  de  Outubro  o 
bemauenturado  Biípo  Nar— 
ciíío  dizendo  miíla  padeceo 
martyrio  em  Girona,  com  Fé- 
lix Diácono  no  lugar  em  que 
agora  jaz  a  Igreja  Cathcdral. 
Que coufa mais  fácil,  &  me- 
nos pêra  callar  que  aquella  pa- 
hurajEpifcopuSjaaccentaúhe^ 
kuitis  '-vrbisy  ou  Gerund^  quan- 
do elleoouuera  íido,  mas  os 
antiguos  reípeitarão  naquelle 
Epitáfio  igualmente  a  verda- 
de em  que  não  quizeraó  fal- 
tar. 
4     Não  vão  por  aqui  os  fun- 


damentos porque  efte  Reino, 
òc  a  villa  de  Santarém  preten- 
dem por  feu  natural  a  SaoNar- 
ciíib,  Ôc  os  cidadãos  de  Braga 
por  íeupaltor,  mais  calefica- 
dosfaó,^  na  antiguidade  fe 
cftabclecem  com  a  autorida- 
dcdeFiauio  Dextro  ,  de  Mar- 
co Máximo,  &  deluliano,  a 
quem  os  modernos  quafi  to^ 
dos  vaó/cguindo.  Repitamos 
as  palauras  de  Máximo,  &  Ju- 
liano, as  de  Dextro  ja  acima 
as  puzemos ,  porque  cambem 
nellas  temos  ocafiaó  pcra  dií~ 
correr  pello  mais  de  fuami- 
lagrofa  vida  ^  diz  Máximo» 
Per  hsc  têmpora  ceUbr is  erat 
memoria  Sanãi  Narcifsi  Epif- 
copi  Bracharenfo  in  Hifpama 
Rh^UOrtim  ApoUoh  ^  inijrbe 
GerimdapajTiis  ejifiib  Aurélio. 
Fuit  hic  ciuis  Scalabitanus  in 
Lujttania  ,  qui  diuinitus  ad-- 
monitus ,  reliãis  Bracharen- 
fibus^V^ndeliam  petit.  Quer 
dizer.  Por  eífe  tempo  ( hia  no 
annodeChriílo  feircentos& 
doze)  era  celebre  a  memo- 
ria de  Saõ  Narciífo  Bifpo  de 
Braga  em  Heípanha  Apo- 
flolo  àos  Rheciosj  padeceo 
na  cidade  de  Girona  no  tem- 
po de  Aureliano ,  foi  natural 
de  Santarém  na  Lulífania, 
Sc  por  infpiração  do  Ceo  ^ 


v>ff. 


O  3 


deixan- 


■"*• 


162 


Capmlo  XXXIX. 


Chron 


j  i»  chron. 


deixando  os  de  Braga  fe  foi  a 
Vindelia.  Iiilianodiz.  A''^m'f- 
fiis  Bracharífis  Epifcopus^Apo- 
flolus  AuguJ}^  Rhíetiorum  re- 
uerfus  in  Hijpaniam  cum  Archi- 
diaconofiio  Felicejj' focio  mar- 
tyrium  Gerundce  hoc  tempopt 
fub  Aureliano  Pr,etore,tf  Pr^~ 
Jide  proChriflopatitur  Mc  qua- 
lí  o  mefmo  que  o  que  diz  Má- 
ximo .  A  cidade  de  Augulla 
àos  Rhccios  íe  chama  hoje. 
Augfburg,  tem  íeuBifpofuf- 
fraganeo  a  Mocrúcia,  ou  Mcnz 
na  lingoa  própria  dos  Ale- 
mães, 

$        AíTentada  afsy  a  verdade 
dç   que  Saó  Narciílo  foi  por 
nacimcnto  Portuguez,  &í  por 
eleição  Arcebifpo  de  Braga,  & 
fuceíTor  de  Caledonio.  Palfan- 
do  a  contar  por  ordem  fua  vi- 
da, elle  naceo  na  vilia  de  San- 
tarém de  pays  ricos,    &  de 
srande  nobreza  ,  como  nos 
certifica  M. Máximo  , porque 
foi  parente  muy  chegado  de 
Pomponio  Paulato  Biípo  de 
Toledo  varão  da  primeira ,  & 
melhor  nobreza  deHcfpanha, 
&  dos  mais  bem  aparentados 
de  toda  ella.  Eftudou  cm  mo- 
ço as  letras  humanas ,  &  em 
mãccbo  asDiuinas,nellasfahio 
eminentiílimo ,  mas  foi  o  íem 
comparação  muito  mais  no 


exemplo  de  íua  vida,  &  nas 
grandes  virtudes ,  em  que  fe 
exercitaua.As  letras,  &  exem- 
plo o  puzcraõ  na  Cadeira  de- 
lia cidade,  onde  com  o  tervi- 
uiáo  os  naturaes  della,&  todos 
os  do  Arcebilpado  húa  vida 
bemauenturada  j  mas  quando 
mais  o  dezejauáo ,  &í  ellima- 
uão,  entaõ  lho  tirou  o  Ceo 
por  particular  infpiração  Di- 
urna, ordeiiandolhe  deixafle 
Braga ,  &  fe  paílaíle  a  pregar  o 
Euangelho  a  Alemanha,  onde 
era  neceílaria  fuaprefença,  & 
o  efperaua  grande  fruto  no 
proucito  das  almas. 
6     Obedeceo  o  Santo,  pos  fe 
a  caminho  ,  acompanhado  de 
hum  Arcediago  de  Braga  cha- 
mado  Félix  ;  chegando  a  Ale- 
manha  foi  demandar  aquella 
Prouincia  em  que  cae a  cidade 
de  A  ugfb  urg,  chamada  pellos 
latinos  Augufta  Vindelicorumy 
ou  RhéCtwrum.  Nella  íem  faber 
onde  ellaua  fe  agazalhou  cm 
caía  de   Hilária  Rainha  que 
auia  íído  de  Chipre  ,  a  qual  de- 
pois de  perdida  a  Ilha  íc  reco- 
lhera a  Alemanha,  &  na  cidade 
de   Augsburg  viuia  com  húa 
fua  filha  por  nome  Afra  mo- 
Iher  pouco  honefi:a,como  de 
ordinário  o  erao  as  de  Chipre. 
Cuidou    Afra  quando  fe  vio 

com 


SaõJ^^Qtrcifo 


163 


cem  Narciílo  em  caía  leria  co- 
mo qualquer  dos  oucros,que 
a  coflumauão  frequentar , 
mas  a  poucas  palauras  enren- 
cíeoler  Bilpo  de  grande  fanti- 
dade,  mormente  depois  que 
o  vio  paflar  toda  a  noite  em 
oração  cercado  de  húa  luz  ce- 
lellial,  &  oouuio  afearlhe  o 
cftado  em  que  viuia,  o  perigo 
que  corria  fua  faluaçao  íe  neile 
perícueraua,  oeícandalo  que 
daua  ácidadetão  pouco  efpe- 
rado  de  húa  pefloa  tão  illuílre 
cm  que  todos  tinhão  poftos 
os  olhos ,  pêra  por  ella  regula- 
rem íuas  vidas. 
7  Elias  rezoés,  &  muito 
mais  o  exemplo  do  Sãto  Bil- 
po mudarão  aquella  peccado- 
ra.  De  improuilo  deu  de  mão 
às  galas ,  éc  veftjda  de  peniten- 
cia pedio  o  íagrado  Bautifmo, 
que  recebeo  em  companhia  de 
lua  may  Hilaria,emquemtã- 
bem  obrou  muito  a  Diuina 
graça,  &  de  outras  fuás  cria- 
das Digna,  Eunomia ,  Entro- 
pia,que  aísy  como  a  acompa- 
1  nharaõnas  culpas,aísy  lhe  qui 
zcrão  também  fer  companhei- 
ras na  conuerfaõ  delias. 
8  Conuerteo  poraquellas 
terras  outros  infinitos  Ale- 
mães à  nolla  fanta  FèSaõ  Nar- 
ciílo ,^  obrou  tantas ,  &  taõ 


eftupendas  marauilhas ,  q  por 
ellas  lhe  chamarão  Apoltolo 
de  Auguíla.    Depois  que  teue 
jafeitoChriítam  grande  par- 
te da  Prouincia  ,   ordenados 
Biípos  ,  &  Sacerdotes  q  a  go- 
uernalíem  (entre  os  quacs  foi 
Dionyfio  irmão  de  Aha^a  que 
encomédou  a  cidade  de  Au'2- 
burg)  paliou  outra  vez  a  Hel- 
panha  depois  de  noue  mefes 
de  aulencia  com  animo  de  íc 
reílituyr  aos  feus  deBraga  on- 
de era  grandemente  deíejado. 
9  Trouxe  o  caminho  de 

Alemanha  por  Catalunha ,  &: 
dilcorrendo  em  forma  Apo- 
ftolica  pellos  principaes  pouos 
daquelle  Principado  veoà  ci- 
dade de  Girona  onde  por  aísy 
o  pedira  neceílidade  pregou 
cõ  may or  zelo  o  íagrado  Euã- 
gelho.  Deu  logo  tanta  luz  nos 
olhos  aos  Gentios ,  que  não  a 
podendo  íofrer  ,  acuíaraõ  o 
Santo  diante  do  Prclídente  L, 
Cefonio  Macro^o  qual  o  man- 
dou prender ,  &  trazer  diante 
de  íy;  mas  vendoo  cem  muita 
eonílancia,  &quec5nenhús 
tormentos  deixaua  de  confef- 
(ar  a  Chrilto,  finalmenae  de- 
pois de  o  atormentar  cruelmé- 
te  o  mandou  maur  a  ferro  to 
muitas  feridas ,  &  golpes .  O 
letreiro  de  lua  fepultura,como 


I 


04 


acima 


r64 


Capitiío  XXXIX. 


dii 


acima  vimos ,  ciiz  o  tomou  a 
morte eílando  dizendo  miflà, 
peraque  acjuelle  que  toda  a  vi- 
da viucra  lacnlicado  a  DcoSj 
acabaíTe  vltimamente  em  ia- 
criíicio. 

IO  Foi  martirizado  com  o 
Santo  o  íèu  Diácono  Feiixfc- 
Jiciííimo  por  tal  morte ,  &:  tal 
compnhia.-Santa  Afra,  quede 
Alemanha  com  fua  may  ^  & 
fuás  três  criadas  viera  acom- 
ps  nhando  a  Saõ  Narciílb,  tam- 
bém aquclle  dia  foi  queimada 
viua  pello  mefmoTiranOj  pur- 
gando como  fogo  íâgrado  do 
martyrio  o  profano ,  em  que 
algúahora  viaera.  Seis  dias  de- 
pois padecerão  com  o  mefmo 
Santo  tormentos  de  fogo  Sã- 
ta  Hilária  may  de  Afra ,  Santa 
Digna  ,  Santa  Eunomea,  &c 
Santa  Eutropia  fuás  criadas^ 
como  fe  refere  no  Breuiario  da 
Igrçja  de  Augsburg  ,  que  per 
ordê  dò  Cardeal  Ottho  Tru- 
chíís  Bifpo  delia  feimprimio 
em  Roma  no  anno  de  i  jyo. 
!i  Ficarão  as  ía^radas  reli- 
quiaS  de  Saõ  Narciílb  na  cida- 
de de  Girona,  ondepadeceo. 
Aly  íaõ  veneradas ,  èc  eftima- 
das  de  todos  os  Reinos  de 
Hefpatiha,  conforme  os  mui- 
tos milagres,  que  Deos  nollo 
Senhor  por  ellas  obra.  He  efte 


Santo  Patrão  daquclla  cidade^ 
&  da  de  Augíburg.Dcfta  por- 
que nella  pregou  a  Fè_,  &  foi  o 
ícu primeiro  Apoíloloj  da- 
quella  ,  porque  polluc o  pre- 
cíofo  theiouro  de  fuás  relí- 
quias. 

li  He  celebre  por  toda 

Hefpanha  o  que  em  Girona 
acontcceo  a  Carlos  Rey  de  Si- 
cília, òc  a  Felipe  Rey  de  Fran- 
ça na  ocafião  em  que  íaziaõ 
guerra  a  Dom  Pedro  Rey  de 
Aragão.  Tinhão  ja  os  Fran- 
ceíes  ,&  Sicilianos  entrado  a- 
quella  cidade  á  força  darmas: 
andauão  na  mayor  fúria  do  fa- 
ço os  foldados  ^  &  como  pêra 
eftes  nenhum  lugar  hafagra- 
do  entrarão  na  Igreja^  onde  o 
Santo cí^a  fepultado,  preten- 
derão com  violência  roubar 
todo  o  preciofo  queíeruia  em 
íeu  fepulchro  ^  mas  indo  pêra 
lançar  maó  da  primeira  peça 
fubitamente  fahio  daqucllc  íâ- 
grado tumulo  hum  exercito 
de  mofcas  de  híía  noua  feição, 
o  qual  efpalhandofe  por  fol- 
dados, &  cauallos,  afsyosal- 
uoroçou,& atormentou,  que 
íem  tino  nem  acordo  algum 
defempararão  a  cidade,&  a  dei- 
xarão liure ,  ficando  muitos 
dellcs  mortos  no  capo.  ElRey 
(Jc  França  fc  recclheo  a  Perpi- 


nhã 


ao 


T  eterno  I. 


165 


Baron, 
Aí-triyr. 
1'í^.ALir 
tij. 

Barrar. 
tit.Giro- 


Rthadeíi, 

J-lolJcitlt. 

2.  p.  18 
eleA<farço 
Bíuay  /« 
time.  ad 
Vext  an 

i77«-2; 
Cfirus  ai 

27-.  lit- 

bar;, 
choroor. 

o 

ttt.:sC)fO- 

11  a. 

AÍjgAlh 
tn  Al.  f. 


tn 


nhão,  onde  dentro  de  poucos 
dias  morreo.  Sucedeo  eíle  mi- 
lagre em  8.  de  Setembro  de 
128Ó.  &  foi  tão  celebre  por  to- 
da França,  &í  Heípanha^q  paf- 
íarão  em  prouerbio  as  moícas 
dcSaõ  Narciílb. 

13  Pocm  o  Martyrologio 
RomanoaSaõNarciílba  i8.de 
Março.  A  cidade  de  Aiiglbiirg 
o  fellejaeniit?.deOutubrOj& 
então  diz  o  letreiro  de  fua  íe- 
pultiira  cjuc  elle  faleceo,  Delle 
efcreue  Marco  Velcero  nos 
íeusannaes,  &  Biípos  de  Aug- 
fbiirí?,  o  ^longe  Segifmun- 
dono  Chronicon  Ecçlellaíli- 
coda  nieíina  cidadc_,Henrique 
EaifachioAbbadedeSãta  Afra 
nos  Biípos  de  Augufta,  Riba- 
deneira ,  Biuar ,  Caro ,  Barrei- 
ros _,&  Magalhães,  não  falado 
nos  ja  nomeados  Dextro_,Ma- 
ximo,Iuliano.  Imperaua  pel- 
lo«  annosde  177.  ou  175. (co- 
mo temos  por  mais  prouauel 
que  o  Santo  padcceo)  Aurelia- 
no  fuceílor  deClaudio;eouer- 
naua  a  Igreja  de  Deos  o  Sum- 
mo  Pontífice  Félix. 

14  He  ncceflario  aduertir- 
mos  no  fim  da  vida  de  SaóNar 
ciílo  cjue  alguns  autores  o 
quizeraõ  confundir  com  ou- 
troNarcillb  Bifpode  lerufalé, 
íendo   ambos  difitTcntes  afsy 


pellas  igrejas  quegouernarão, 
como  pcUos  annos  em  que  vi- 
ueraó.Foj  também  Saò  Fílix 
Diácono  de  Saõ  Narciflb,  &: 
Arcediago  da  Sé  de  Braga,  & 
padcceo  martyrio  juntamen- 
te  com  o  Santo,  &  foi  outro 
bem  diferente  de  Saõ  Fclix  ir- 
mão de  Saõ  Cucufate  cie  Bar- 
celona, que  tâfnbem  em  Giro- 
na  padeceo  glorioíamête  pella 
Fè,como  com  juizo  o  nota 
Biuar. 


CAPITVLO   XXXX. 

PATERNO  PRIMEIRO 
donome^tfXII.  Arcebijpo 
de  Br  acra. 


HEGADA 
a  nouadomar 
tyrio  de  Saõ 
Narciílb  a  ci- 
dade de  Bra- 
ga,depoisdea  feílejarem  co- 
mo merecia  húaral  conílan- 
cia,entre  as  alegrias  de  o  terem 
no  Ceo  por  martyr ,  &  as  tri- 
ftezas  de  o  perderem  na  rerra 
por  Prelado  tratarão  de  lhe 
dar  fuceílor.  Foi  eíle  lium  San- 
to varão  afamado  em  letras,  &c 
fantídade ,  que  então  viuia,  & 

parece 


an  2  77. 


166 


Capitulo  XXXX, 


-■-i^ 


{in  ch^on. 
\fag.  53 

■ 


parece  íeruia  elta  Sè,  chamado 
Paternojiome  que  ellaua  vcr- 
oadeiraraentepronorticádo  as 
entranhas  de  pay    que  pcllo 
diícuríodefcu  goucrno  nelle 
acharão  íuas  ouelhas,Muy  ne- 
ccflaria  foi  apefloadeParerno 
pêra  encher  o  lugar  que  eutao 
largaua  hum  tão  Santo  Arcc- 
bifpOj&taS  valerofo  martyr 
como  Narciílb^mas  cíle  fe  ou- 
ue  tam.bem,  que  nem  nadili- 
j  gencia  com  que  acodia  pello 
bcrri  dos  feus ,  nem  no  zelo  cõ 
que  defendia  a  Fè ,  &  pcríeguia 
os  hereges,  ocharáo  nunqua 
menos  os  de  Braga.  Falando 
luliano  dagrande  opinião   cie 
fantidade,  quede íi deixara  Pa- 
terno depois  de  morto  a  enca- 
rece com  as  palauras  feguintes. 
Celebris  erat  memoria  Paterni 
Bracharenfs  ad  quem  FelixPa- 
pafcripjiti  item  idem  Pontifex 
fcripjít;  ad  Benignum  Epifcopum 
TarracoKenfem.    Era  celebre  a 
memoria  de  Paterno  Bifpo  de 
Braga ,  a  queni  efcreueo  o  Pa- 
pa Fehx,  como  também  a  Be- 
nigno Biípo  de  Tarragona. 
2.     Acartado  Summo  Pon- 
tifica hefem  duuidaa  primei- 
ra entre  as  decretacs,  quean- 
daÕemfeu  nome,  no  primei- 
ro tomo  dos  Concílios.  Diz  o 
íbbrefcrito .    Charifsimo  atí 


'"■dl 


I  dileã/fsimo  P^iternoCoepfccpo^ 
Felix  Epifcopiis  in  Domino fa~ 
lutem.  Segue  o  teor  da  carta. 
Gaiidere  mepíurímum^l^  extd- 
tare  in  Dcnuno  dileSíionis  tu^ 
fcriptafeceruut ,  (rui  hm  em  de- 
ter ojlendis  qiiantimi  catholicâ 
diligisfidem^  i^  quamurd  hcçre- 
ticum  detefiaris errarem.  Vem 
a  dizer  o  muito  que  fe  alegrou 
com  a  íua  carta  ^.  pello  amor  q 
nella  moftrauaa  Fè  Cacnolicaj 
«Sc  aborrecimento  aos  hereges: 
no  fim  o  amceíla.  Vtpro  íiatu 
-ck(ice  ,   «y  Sacerdotumeiíís 


pro  -vinhus  elaborme  Uitdcas^ 
Í!f  ordmem  Sanã^c  Roman.^^  tf 
Jpoftolicíe  Ecclef,^  per  omnia 
teneasj  yt  frucimfos  manipulos 
Domino  repr^f entes .  Que  po- 
nha todo  o  Teu  cuidado  em  de- 
fender a  Igreja  Catholica  ,  & 
citado  Sacerdotal,  &  que  em 
tildo  j  &  por  tudo  guarde  ,  & 
íe  acomode  às  ordens  da  Is:re- 
ja  Romana,  &  Apoíl:olica,pe- 
raque  íuas  oífertas  íejao  agra- 
daueis  a  Deos  noflo  Senhor. 
No  mais  da  carta  fediz  muiro 
do  modo  com  que  fe  ha  de 
preceder  na  acufaçáo  dos  Bií- 
pos,&;  Sacerdotes,  òc  quaes 
peílbas  deites  podem  denun- 
ciar-como  fuás  caufas  dcuem 
ir  por  appellaçuo  a  Sè  Apoílo- 
lica  dando  por  nullo ,  &  de 

nenhum 


Sao  Saiamao. 


167 


ílores  3. 
f-j«  cap, 

2qS. 


nenhum  vigor  tudo  o  que  cm 
contrario fe  ordenar.  Sua  da- 
ta parece  foi  pellos  annos  de 
27/. o  mefmo  em  que  Paterno 
foi  eleito  pêra  Arcebifpo  de 
Braga ,  &  Sa5  Félix  pêra  Sum- 
mo  Pontifice  Aproueitoufe 
muito  delia  Graciano  pêra  os 
capitules  do  Decreto  que  na 
margem  allcgamos. 
3  A  outra  carta  de  que  lulia- 
no  faz  menção  eícreueo  Saó 
Félix  a  Benigno  Bifpo  de  Tar- 
ragona  (he  a  terceira  no  pri- 
meiro tomo  dosConcilios  das 
que  pertencem^a  efte  Papa) 
chea  toda  de  grande  epudiçao, 
6í  que  com  euidencia  conuen- 
ce  vários  erros  de  muitos  he- 
reges daquelle  tempo.  Nem 
húa  nem  outra  apontão  as  ci- 
dades em  que  Paterno ,  &  Be- 
nigno foraó  Bifposi  maior  di- 
uidi  he  a  em  que  por  illo  fica- 
mos aluliano  poiselle  no  lo 
declarou.  SaÕ  Félix  foi  marty- 
rizadoemjo.  demayodoan- 
no  de  zyj- .ainda  que  alguns  lhe 
eftendem  a  vida  mais  adiante 
atêo  de  185.  Paterno  parece 
que  não  venceo  o  de  290.  por 
quanto  jaftelle  era  Arcebifpo 
de  Braga  feu  luceíTor  Salamão, 
comologo  diremos.  Viueo  po 
rem  eíles  q  teue  de  vida  cheo 
de  virtudes,  &  merecimentos. 


que  na  cílimação  dos  homés 
o  fizeraõ  celcbre,&  na  deDeos 
gloriofo.Gouernauão  porefte 
tempo  o  império  Romano  de- 
pois de  Aureliano  ,  Tac-ito  òc 
Floriano ,  Probo ,  Caro  com 
Carino  &c  Numcriano  feus 
fílhosDiocleciano,e  Maximia- 
no grandes  perfeguidores  da 
Igreja.  Os  Papas  foraõ Félix, 
Eutychiano,  Caio^  &  Mar- 
cellino. 


CAPITVLO  XXXXI. 

S  A  M    S  A  L  A  M  A  M 
XIII.  Arcebifpo  de  Braga. 


A  vida  do  Ar- 
cebiipò  Grato 
falando  de  Me 
lancio  Arce- 
bifpo de  To- 
ledo por  ocafião  da  amizade, 
que  entre  íí  tiuerão  ,  diílemos 
como  Melancio  fora  Grego 
de  nação ,  &  natural  de  Athe- 
nas  trazido  por  Saó  Sixto  fe- 
gundodonorne  a  Heípanha, 
&dcixadonella,&  no  íerui- 
ço  da  Sè  de  Toledo  quando 
voltou  pêra  Roma.  Agora  a- 
crecctamos  que  deite  Melãcio 

foi 


fufru  Cãf 
}5' 


capitulo  XX  XXL 


fug.  3J. 


ãiã.  fag. 


íoiirmáoSaUmão  ,  cuja  vi'ia  ! 
eomcçamos  a  contar,  &  am- 
bos tios  c1eMella,ou  Melancio 
Bilpo  de  Synocufura  no  Egy- 
pco  :  taes  os  faz  na  opinião  de 
muitos  luiiano  dizendo.  Bea- 
tus  Salamon  ecdem  annõ  (  vay 
leuando  ahiíroria  no  de  290.) 
fratcr  Melanthij  Tvktani ,  ^-vt 
quidani  dicunt  pr^eU  jedi  Bra- 
',chareitfi.f'utertjj  patruus  MelU, 
à:el  '^ídanthij  Epifcopi  SyKo- 
cujlfr^  iii  jBgypto  De  lua  cria- 
ção ,  Qi  eftudo,  das  dignidades 
que  teue  antes  de  íer  eleito  Ar- 
cebifpp  delta  Sé  não  diz  na- 
da IuÍiano,&  aisy  dcforça  alie- 
mos de  paílâr  cõ  elle  ao  anno 
de  fua  eleição,  que  Foi  no  de 
190,  A  opinião  grande  quede 
fuás  letras ,  6c  fantidade  auia o 
promoueo  íem  duuidaaeíla 
mitra.  luliano  lhe  chama.  Vir 
fanãus ,  llf  egregié  doBus  ,  llf 
peritus.  Varão  íanto  íobrema- 
neira  doutora  íabio. 
2.  Na  ocafíão  em  que  o 

elegerão  andaua  por  Hefpa- 
nha  com  grandes  forças  a  he- 
resia dos  Samofatenos :  nesa- 
uão  eftes  hereges  a  Diuindadc 
dcChrifto,  diziaõ  que  nelle 
não  auia  mais  quea  peíloa  hu- 
mana, &:fó  como  homem,  ÔJ 
não  como  Deos  auia  de  fer  a- 
dorado.-fentia  muito  o  Sajito 


Prelado  ver  ateada  blasfémia 
tão  diabólica  j  prccuraua  por 
fy  como  PrimaZj&  pcUos  Bif- 
pos  de  mais  au  toridade  de  Hcf- 
panha  atalhallaíogo  em  íeus 
principioSjCÓuécêdoa  jacom 
autoridades  clariííiinas  da  ía- 
grada  Efcrituraj  ja  com  decla- 
rar ao  pouo  a  má  vida ,  òc  Del- 
íímos  coftumes  de  íeu  autor. 
Foieíle  hum  homem  foberbo 
chamado  Paulo  Samoíateno 
Bifpo  dç  Anticchia,o  qual  lo- 
igoqtiefe  vio  porto  naquella 
xiii^iidade  viando  mal  daau- 
«orid^de,  «Sj-JNgndas  Ecclelialli- 
cas  fc  d<eu  a  f  odo  o  género  de 
vicios,  &veoa  íer  de  grande 
efcandalo  a  toda  a  Igreja  Ca- 
tholica ,  a  qual  não  foítcndo 
íeus  abominaueis  coftumes, 
vendo  que  ja  não  podia  darlhe 
remédio  procurou  caliigallo 
com  o  priuar  da  dignidade  em 
que  ofauor  ,&  ambição  o  ci- 
nhão  pofto.  I'*^  '  rfJv-r 
3  Pêra  proceder  nifto  mais 
juftificada  o  naó  quisiazer  íe- 
não  em  publico  ConciÍio,cjue 
na  mefma  cidade  de  A  ntiochia 
feconuocou  autorizado  com 
a  prefcnça ,  &  prudência  de  S, 
Gregório  Bifpo  de  Neoccfa- 
rea,a  quem  a  multidão, &  grã- 
deza  dos  milagres  que  fez  de- 
rãoonome  de  Taumaturgo. 

Nclle 


\ 


Soo 


SaL 


ãrr<í^Q. 


'^^■^cijiiiiiiaitBafcrij . 


/ 


^ag.  28. 


2% 


Ncllc  foi  condenado  por  Iie- 
itícico,  «5c  íacrilego  cerro  de^ 
Paulo,»?c  eile  depoílo  da  cadei- 
ra Epilcopal ,  que  indignamê- 
re  poíluya_,ôiem  ícu  lugar  elei- 
to Domno  filho  de  Demetria- 
noBilpo  queauia  fido  daquel- 
la  Igreja. 

4  Illo  publicaua ,  &  prè- 

gaiiaaopouoo  noílo  zelofo 
Prelado  Salaniaõ,&  muito  fa- 
zia_,(Sj  obraua  por  atalhar  àhe- 
rcgià. Porem  naõ  parando  ain- 
da aqui  feu  zelo,  com  outros 
deus  meos  eíícaciílmios  pre- 
tendeo  a  fogar  de  todo  efta 
ícmcnte  diabólica.  Foi  o  pri- 
meiro auiíar  por  carta  fua  ao 
Summo  PontificeSaõMarccl- 
Imo  do  que  em  Heípanha 
paílaua  acerca  da  heregia  de 
Paulo,  peraque  Tua  Santidade 
lhe  defiè  o  remédio  que  mais 
conueniente  lhe  pareccíPe. 
Enuioulhe  a  carta  por  hum 
Diácono  feu  peflbade  impor- 
tância, o  qual  de  palaura  o  auia 
de  enformar  bem  de  codas  as 
particularidades  tocantes  ao 
meímo  negocio.  Tudofeco- 
Ihe  da  repolfa  do  Summo 
PontificeSaõ  MarceUino,  que 
anda  no'prim.eiro  tomo  dos 
Concilios.  E  começa  alsy  tor- 
nada em  Portusiiez. 

MarceUino  Bifpoda  Santa 


Igreja  Catholica  tU  cidade  d^  ' 
Roma  ao.Bifpo  Saiam  ao fau.í^ 
em  o  Senhor  .  Bem  mojtrdo  as 
cartas  de  V.  Fraternidade  que 
nos  deu  o  ■'vojfo  Diácono  com 
quanto  lonuor  ijos  deixais  le- 
uar  da  "Verdade  da  Fé  Catholi- 
ca ,  ^  com  quanto  cindido  an- 
deis às  obrigações  de  ^^Ijo  of" 
ficlo  Paíioral ,  dandonos  con- 
ta dos  erros  q  agorafe  lettanta- 
raÓ  nej?as  yofasProuicias/jfc. 
lunto  ao  fim  da  carta  torna  a 
dizer.  Com  tudoprouasles  muy 
amado  irmão  a  affelto  com  que 
refpeltais  a  Fe  Chnsíam  pois 
defejals  gtuzrdar  pontualmen-  ■ 
te  tudo  o  que  pertence  á  regra 
dos  Padres  ,  è/  mandados  Ca-^ 
tholicos  y  defpre':^ando  erradas^ 
if  prejndlciaes  doutrinas  ^tf 
enjinando  os  preceitos  Apojio- 
llcos  ,  isf  regras  da  Verdadei- 
ra Fè  ,  ilfc.  A  carta  foi  cfcrita 
a  íeis  de  Setembro  fendo  Con- 
j  fulesDiocleciano,&  Conílan- 
tino. 

f  A  fíaz  encarecido  fica  o  grã- 
de  zelo  deft e  íâto  Prelado  cõ 
as  palauras  tãograues  ,  &:  taó 
multiplicadas  do  Papa  S,  Mar- 


eei! 


1110 


qp 


arecc  naoacaoaua 


h 


de  achar  rezoés,  q  ao  juPro  lhe 
explicaíTem  o  muito  q  fentia 
dos  íàntos  trabalhos, ô»f;  cuida- 
do Paftoral  de  Salamão, 


P 


Mas 


170 


Capitulo  XXXXL 


■--  t 


6  Mas  como  a  carta  cíc 

Marcellino  naõ  nomea  a  cida- 
de cm  queSalamaõ  eraBifpo^ 
&c  pode  aucr  alguém  a  quem 
pareça  tomamos  pêra  nos   o 
que  naõ  he  noflb ,  luliano  lo- 
go depois  das  palauras  que  ja 
referimos  acrecentaas  feguin- 
tes.  JdSalomonem  Br  achar  en- 
femfcripjit  Marcellinns  Ponti- 
fex .  A  Salamaó  Bifpo  de  Bra- 
ga cfcreueo  faõ  Marcellino  Pa- 
pa. E  como  efta  carta  de  Mar- 
cellino hepera  o  Bifpo  Sala- 
maõ    fcguefc    com    euiden- 
ciafoi  onoíTo,  bem  merece- 
dor   fem  duuida  -do  muito 
qucaly  o  louua  o  íanto  Pon- 
tifice. 

7  Com  efta  carta  de  íàõ 
Marcellino  fc  opôs  de  no- 
uo  o  fanco  Prelado  ao  furor 
dos  hereges,  &  fe  de  todo  não 
cxtinguio  aquelles  incêndios, 
pello  menos  quebroulhe  as 
forças.  Mas  pêra  que  efte  bem 
não  ficaíTc  fò  dentro  dos  ter- 
mos do  Arcebifpado  de  Braga, 
&fe  cõmunicaílcaos  mais  Pre- 
lados de  Hefpanha,  paliou  Sa- 
lamaõ  ao  fegundo  meo,que  a- 
cirna  começauamos  a  dizer  to 
mado  por  remédio  da  noua 
heregia. 

8  Foi  ellc  ajuntar  em  Bra- 
ga Concilio  ,  como  efcreue 


luliano  .  &  porque  afsy  o  pe- 
.dia  o  tempo  ,  &  ocafiaõ  cre- 
mos ícria  Nacional.  Nelle  fc- 
guindo  os  padres  aly  congre- 
gados os  decretos  do  Conci- 
lio de  Antiocliia,em  que  di  lie- 
mos prefidiraS.GregorioTau- 
maturgo,  tornarão  de  nouo  a 
condenar  a  Paulo  Samofateno 
com  a  íua  noua  blasfémia  abo- 
minando fua  memoria,&  apar 
tandoo  do  numero  dos  fieis, 
fulminando  cenfuras  grauifsi- 
mas  contra  quem  ouíaíle  fe- 
guillo ,  ou  defendello.  NaÕ  fc 
achou  nefte  Concilio  Melan- 
cio  Arccbifpo  de  Toledo  ,  a 
caufa  naõ  efcreue  luliano;  ef- 
creue porem  que  antes  delle  ti- 
nha mandado  a  feu  irmão  Sa- 
lamaõ  os  acíios  do  de  Antio- 
chia  com  húacarta  fua  peraque 
melhor  lhe  conftafle  de  tudo 
o  que  aly  paflara,&;  dos  funda- 
mentos porq  aquelles  padres 
cõdenaraó  ao  maldito  herege, 
de  q  fe  podia  ajudar  o  Cõcilio 
de  Braga  quãdo  fe  cõgregaíTc. 
9     Fechado  o  Concilio  man- 
dou delle  hua  copia  Salamaõ 
aMelanciorcfpondendoIhe  à 
carta  que  fobre  o  de  Antio- 
chia  thcauiaefcrito,&pcdin- 
dolhc  fizcfle  executar  feus  de- 
cretos como  taõ  proucitofos 
ao  bem  de  todas  as  Igrejas  de 

Hefpanha 


dfag.6i 


d.pjg6s 


cleiíidcs  a  íciis  grandes  mereci- 
mécos.Deixaua quando  mor- 
reo  na  Cadeira  de  Saõ  Pedro 
a  Saõ  Marcellino  :  no  impé- 
rio Romano  aos  Emperado- 
rcs Diocleciano, &  Maximia- 
no. 


CAPITVLO  XXXXII. 

SINAGIO.OV  SINA- 
grio  XIIII.  Arcebifpo  de 
Braga. 


<^£m^^  Irado  da  ter- 
W^Êi  raperao  Ceo 
1/^A  o  Bemauen-- 


P^  turado  Sala- 
^^  mão^eícolheo 


B  J 

I  O  Clero  de  Braga  pêra  Prelado 


Sinagr 

Hcípanha  O  meímo  encarre- 
gou, &L  encomendou  aos  ou- 
tros Bifpos:  nem  íeria  íem  fru- 
to 5  porque  o  zelo  como  nc- 
ílas  marerias  procedia  o  faziáo 
vigiar  fobre  todos,  &  naõ  per- 
der ponto  no  que  pêra  bem^& 
acrcccntamcnto  da  Fe  lhe  pa- 
recia neceílario. 
IO  GoLiernou  o  Santo  Bif- 
po  Salam.áo  (pello  que  de  lu- 
lianoconfl[a)noue  annos  eíla 
Igreja  de  Braga,  foiíe  no  de 
2^99.  a  gozar  dos  prémios  tão 


•íú, 


171 


leuaSmai^io  varau  emqi-cin 
melhor  viaoiieouxadas  as  vir- 
tudes de  fcu  anteceííor  ifoia 
eleição  pellos  annos  de  >0o. 
como  achamos  em  Iuliiiao;&  y^' 


!     1 


não  íaz  pêra  cuidarmos  foifua  Ud/mii» 
eleição  mais  cedo  dizer  Flauio  '^^'''f' 

r>.  n  r>-  i>3  rt.ror. 

Dextro  que  Horecera  Sina-  amuz^e, 
grio  no  aiino  de  190.  porque 
não  he  boa  illação  ,  ílorecia 
Sinagrio,  logo  era  Arcebií- 
pode  Braga,  porque  como  a 
vida  de  Sinagrio  foi  compri- 
da antes  de  íer  Arcebiípo,  aísy 
teue  também  tempo  pêra  fe 
fazer  celebre ,  &  fmiofo  cm 
forma  que  com  eíla  fama,  ôc 
celebridade  entraíle  noArce- 
bifpado  onde  depois  a  foi  con- 
tinuando ,  &  acrecenrando  cõ 
obras  mais  illuítres ,  ôc  'gran- 
dioías. 

í  Foi  eftc  anno  de  300. 
(Baronio  o  põem  no  de  30J. ) 
o  em  que  por  opiniaõ  de  Dex-^ 
tro,&  Juliano  íe  celebrou  em 
Heípanha  o  Concilio  Elibcri- 
tano  na  cidade  de Eliberi  jun- 
to a  Granadaj&  naõ  em  Coiy- 
bre  doCondado  dcRuiicihon 
cm  Catalunha  ,  como  bem 
prouanafiiaChoroí^raDhia  o 
doutiísimo  Gal par  Barreiros. 
Nelle  dizem  os  mcfmos  Dex- 
tro ,  &  Juliano  fe  achou  táoc 
o  noíío  Sinagrio,&:  qfoi  entr^ 

P2:  OS 


luUa.  d. 


faU  I.^^. 


172 


£aptulo  XX  XX II. 


[an.^o^ 


Paâtlha 
'37 


os  Prelados  o  que  aííinou  em 
primeiro  lugar  j  em  íegun- 
do  Oíío  Biípo  de  Cordo- 
uajem  terceiro  Saberio  de  Se- 
iiilha^  em  quarto  Melancio  de 
Toledo,  preíidindo  Felix  Bií- 
po deGuadix. 

3  Deuocafiáoa  fe ajun- 
tar cfteConcilio  quererem  ver 
&  tratar  nelle  os  Prelados  de 
Hcípanha  o  remédio  com  que 
não  desfaleccílem  os  fieis  nas 
prcíentcs  períeguiçoés  dos 
Chriftaòs,que  erão  grauilli- 
mas :  &  com  que  meos  íe  po- 
deria aplacar  a  Deos  peraque 
ellemoueíle  os  corações  dos 
Principes  inficis  aqnão  per- 
íeguiííem  com  tanta  fúria  Tua 
Igreja. 

4  'Temos  hoje  defte  Con- 
cilio oitenta  _,  &  hum  decretos 
em  muitos  dos  quaes,  ou  por 
rigurofos ,  ou  por  parecerem 
fcifmaticos  quizerão  duuidar 
alguns    autores,  em  efpecial 

^'  Baroniojmas  depois  confide- 
randoos  melhor  os  veo  a  jul- 
gar por  Catholicos .  Sairão  em 
fua  defenfaõ  Fernão  deMen- 
doça,&  Padilha  ambos  com 
notauel  erudição  ,  como  fc 
pode  ver  em  fcuscfcritos. 

5  Saídos  defte  Concilio 
os  dezanoucBiípos  que  nelle 
fe  acharão  lhe  foi  intimado. 


&  aos  mais  Prelados  deHeí- 
panha  hum  decreto  dos  Em- 
peradores  Romanos  (erão  en- 
tão Diocleciano,  &  Maximia- 
no, ou  Conftancio  ,  &Gale- 
rio)  em  que  lhe  mandaua  en- 
tregalsêaíeus  miniftros  quaes 
querhuros  fagrados  que  ou 
eíliueflem  em  íeu  poder,  ou 
delles  tiueflem  noticia ,  pren- 
dendo aos  que  logo  naõ  obe- 
decião.  Mas  como  todos  per- 
íeueraflé cortantes  não  infifti- 
rãomais,&  os  deixarão  liures. 
Fomos  atê  aqui  com  a  narra- 
ção de  Dextro,&  luliano. 
6  Defcontentanos  porem 
nella  diferem  que  fe  achou 
nefte  Concilio  o  noílo  Sina- 
grio.  Saõdous  os  principaes 
fundamentos  porque  nosmo- 
uemos .  O  primeiro  porque 
como  até  então  não  eftaua 
decretado  que  os  Biípos  nos 
Concílios  ouardaflem  a  or- 
dem  no  aííentar  ,  &  foeícre- 
uer  que  tiuerão  na  fagração, 
corria  ainda  preíídir  fempre 
o  Primaz  como  Dignidade 
mayor  ,  &  cabeça  dos  mais 
Bifpos  na  forma  que  no  pri- 
meiro Cócilio  de  Toledo  pre- 
íídio  Paterno  Arcebifpo  de- 
rta  Iprcja  por  fer  a  Primacial 
de  toda  Heípanha  .-logo não 
fe  achou  aly  Sinagrio  Bracha- 

renfe, 


IiítianAn: 
32. 


Sao  Vitom'ó\^  feíis  cotnpí^^nheiros  7nãrtyr,  i-^<^i 


FaddLt 
VaÇíu  in 


cap.  29. 


reníc ,  vifto  como  Felix  Biípo 
de  Guadixíoioq  preiídio  ao 
'Concilio.  -oiobi 

7  ;  O  legando  porq  a  Igreja 
(]  aly  íe  da  a  Sinagrio  naqiicl- 
le  Concilio^ cõformeícve  nas 
íoiciipçocs  que  rras  Loaiza,  lie 
aEpagicníe^  ou  Bigcrreníe  dií- 
fcrcnciílima  da  Bracharcníe, 
por<^  Bigerra ,  ou  hç  Vilhena, 
comoaíaz  Padilha,  ou  Bcjar 
como  cõ  Pedro  Anconio  Bcu- 

■  ter  o  lente  Valeu  ambas  em  te- 
posantigu os, cidades  Epiíco- 
paes.Se  ja  Sinagrio  não  era  Bií- 
po Francês,  &  deTarba  de  Bi- 
"orre,  húa  das  íuílratianeas  ao 
Arcebifpo  de  Aueh,que  em  la- 
tim íe  chama  Bigerra,  &  ícus 
naturaes  Bi^crrones,  c]  por  al- 
gum refpeito  particular  aly  íe 
acharia  preícnte.Ellas,  Si  ou- 
trt's  cauías  pêra  não  termos 
pello  Sinagrio  Brachareníè  o 
q  anda  aíllnado  no  Concilio 
Ehberitano  apontamos  ja  na 
noíla  Primazia  de  Braga,&aísy 
não  ha  peraq  tornallas  aqui  a 
repetir. 

8  Durou  o  gouernode  Si- 
nagrio dez  ate  doze  annos,por 
quepellosde  314.  davindade 
Chrifto  era  Arcebifpo  de  Bra- 
gaLeonciOjComo  adiante  dire- 
mos. Noíeutépo  padecerão 
em  BragaSaÕ  Vitouro^  Santa 


Su?;ana,Sí5>ía>çu{-ar6jS?iòTGr-i 
çado,  Sab  r^iiuíílre  mart^i'©». 

:Ç<DncOÍTQC>:!$ÍKK^ant>C^^S,SiíT, 

nios  PÓ!:ihçe>;MarceIÍ!g:ft-|vía6 
ccllo,EuíibÍ0-,^&  Mciíjadcs,  E 
:  dosEmperador-cs  alcáçouDiq-:, 
|clceiano,&;.Maximia,no,  Con-" 
ílancio^ÂTrCaíerio  ,^^  vitima- 
mente  o  grande  ÇoníV^mino,. 


C  A  P I T3Í  &0  XX5ÍXPÍÍÍ." 

S  A  M    ri  TO  FR  O, 

Santa  Susana  ,  'SaÓ   Cil- 

cufãte ,'  ^M  i  Tòrcaío  ,  í?" 

•  Sao  SíiHéfire  màftyrés  de 

Braga.- ■  • 


i 


i'íU.j.\. 


J-\it^u  yi. 


."!'     I 


E  ejfie  o  pró- 
prio lugar  é  q 
b^f  dcuem.os    fa- 
^   zerméçãode- 
íl:cs  glorioíos 


l-'ajen  m 
chrcu.fa, 

10. 

AíoraU. 
lo.c.  1-1 

Paddh' 


marcyres,  aindaq  o  Padre  frey 
Bernardo  de  Brito  lhe  quiz  an 
ticipar  o  tcpo  dcíeu  mar cyrio, 
&lãçallos  noímperio  dcNero, 
quando  oglorioío  Apoílolo 
cias  Gentes  Saõ  Paulo  ycyo  a,  /'"^■'i'^ 
Heípanha:  Temos  em.nòílo  bvarw;./» 
fauor  a  Flauio  Dextro  ,  que  os    ""'•  "'^ 
poenoannode  300.  Valeu  no    tzJprf. 
dejoó.cõ  quêíc.vãoMorales, 
Padilba,Baronio,&  outros. 


P3 


174 


Capitulo  XXXX  IH. 


i  He  pois  cjefaber  que 

'goucrnandoalgrcjade  Braga 
Sinagrio,  cuja  vida  acabamos 
de  contar  no  capitulo  paflado, 
ouuenella  humnianccbo  ca- 
thecumeno  por  nomcVidlor, 
varaó  de  bom  nome ,  ôc  que 
antes  do  bautifmo  javiuia  co- 
mo Chriftaó  abominando  os 
ídolos,  &  zombando  de  fua 
falfadiuindade^natural  de  hija 
aldeã  perto  de  Braga  chama- 
da Paços  .Sabia  Viílor  ao  cam- 
po húa  manhã  de  Abril  em 
ocaílaó  que  os  Gentios  fahiaõ 
também  a  correr  os  campos, 
leuando  com  grande  fefta  as 
imagês  de  Ceres,  &  Syluano 
com  as  quais  lhe  dauaõ  muitas 
voltas,  íacrificandolhc  a  certas 
paragens  vários  animaes  ,con- 
fundindo  cm  híja  duas  íolen- 
nidades,  â  que  chamauaÓ  ^w- 
barualia^c^nc  quer  dizer  cerco 
dos  campQSjpclIas  voltas  com 
queeni  prçcilíaõ  os  cingiaõ,& 
Suilia  pellos  porcos  que  então 
lacrifícauaõ  aCcrcs,por  lhe  dar 
annoprofpero,  &  fértil,  En- 
controufe  Vidiorcom  a  pro- 
ciílàõ  ,  &  como  era  manccbq 
conhecido  de  todos  quizcraó 
os  q  hiáo  nclla  ajuntallo  afy, 
pêra  que  juntamente  os  aju- 
dafle  a  íellejar.  Efcufoufc  Vi- 
d:ot  com  o  nouiciado  Chri- 


llão  em  queandaua,  cujas  pri- 
meiras experiências  eraõ  fugir 
dos  ídolos,  &  de  tudo  o  que 
leuaíTe  pêra  fua  veneração.  In- 
llara5  os  Gentios,  &pcllo  me- 
nos quizeraòrc  coroaíle  tam- 
bém com  húa  capella  de  flores, 
quaes  clles  todos  traziaõ  na  ca- 
beça pêra  fcftejar  afalfa  Deofa. 
Nem  erta  quis  aceitar  o  vale- 
rofo  foldado  ,  protcftando 
que  naõ  poria  cm  fua  cabeça 
flores  profanadas  nos  altares 
dos  falíos  Deofes,  a  quem  pri- 
meiro fe  offcreceraõ. 
3  Amotinoufcopouocõ 
eftaregofta,  &:leuantando  a 
voz  cm  furiofos  gritos ,  bra- 
dauaõ  a  Ceres,&  Syluano  por 
vingança  ,  &  ao  Gouernador 
da  cidade  Sérgio  ( que  entaó  a- 
certou  de  chegar)  por  jultiça. 
MandouScrgio  aparecer  dian- 
te de  íy  a  Viáor ,  perguntou- 
Ihe  porque  cauía  deíprezaua 
os  Dcofcs ,  a  quem  os  Empc- 
radorcs  Romanos  por  fuás 
leys  mandauão  adorar  .  Aco- 
dio  o  Santo  mancebo  cõ  mui- 
ta conftancia,  confeílândo  a 
Icy  deChrifto,queprofeflãua, 
dando  cm  fauor  delia  rezoés 
tão  viuas  5  que  não  tendo  que 
rcfponder  os  Ge  tios,  nem  que 
allcgar  cm  contrario  o  Prefí- 
dente  valendoíe  da  força,  & 

vio- 


SaÕ  VitouroyÇf  feus  companheiros  mart.  1 7  5 


violência  (  armas  da  ignorân- 
cia) o  mandou  acara  húa  aruo- 
re,&  açoutar  cruelmente,  per- 
ícucrando  o  Santo  naquelle 
tormento  comrofto,  &c  cora- 
ção alegre.  Cheo  entretanto 
de  paixão  o  Tirano  mandou 
vir  de  nouo  laminas  de  fogo, 
pentes  de  ferro ,  «V  outros  in- 
flrumêcos  de  crueldade, Ã:  lhe 
fez  com  elles  queimar  ,  ôc  dcl- 
pedaçar  todo  o  corpo  ate  lhe 
apparecerem  as  entranhas.  Fi- 
nalmente vendo  que  naõ  de- 
fiftia  de  confeílar  a  Chrifto,  ôc 
quedos  circundantes  alguns 
Ic  inclinauãoa  nolfa  fanta  Fe, 
ordenou  a  hum  de  feus  mini- 
ílros  lhe  cortaífe  a  cabeça  ,  ôc 
defta  maneira  o  mandou  tri- 
umphantc  pêra  o  Ceo  onde, 
fendo  bau rizado  verdadeira- 
mente em  feu  próprio  fangue, 
foi  gozar  da  palma  do  marty- 
rio.  Executoufe  efta  fentença 
fobre  a  ponte  de  pedra  porque 
fe  paíla  hum  pequeno  regato, 
que  daly  a  pouca  diftancia  fe 
mete  no  rio  Defte,  chamafe  o 
lugar  detêpos  antiquifsimos 
as  Golladas,  &  he  tradição  có- 
ftantelheveo  o  nome  poro 
Sani»  aly  fer  degoUado. 
4  Ficou  o  corpo  deSaõ 

Vidlor  no  campo,pera  fer  co- 
mido dasfcras,porem  cilas  lhe 


tiueraõo  reípcito ,  que  o  Ti- 
rano,c  feus  miniftros  naõfou- 
beráo  guardar,  Entretáto  buf- 
caudo  os  Chriftaõs  ocaííaõ  de 
o  recolher  ,  cfperarão  o  ma- 
yor  íílcncio  da  noite  quando 
os  Gentios  cançados  da  fefta 
do  dia  precedente  fe  entrega- 
rão todos  ao  fono.  Foi  o  prin- 
cipal ncllc  piadofo  officio  Saó 
Silueílre,a  quem  alguns  auto- 
tores  fazem  Bifpo  com  pou- 
co fundamento ,  como  atras 
deixamos  prouado .  Sepulta- 
rãno  perco  do  lugar  de  feu 
martyrio ,  onde  depois  felhe 
leuantou  Igreja  em  feu  nome 
a  qual  com  ciculo  de  Abbadia 
vnidaà  Gamara  Arcebifpal  de 
Braga  pcrícucra  hoje,  Sc  foi  ja 
em  cempos  paliados  mais  ce- 
lebre por  fer  morteiro  deSaõ 
Bento,  como  na  vida  de Saõ 
Marcinho  diremos. 
í  Acharão  ao  outro  dia 
menos  os  Gentios  o  Santo 
corpo,  &  folpeitando  logo  o 
queera  vieraõadar  queSilue- 
ftre  o  leuara,&  lhe  dera  fepul- 
tura,  lançarão  maò  delle,  con- 
feíTou  o  piadofo  furto,  &  não 
fendo  pofsiuel  fazerenlhe  def- 
cobrir  onde  o  puzera  o  mef- 
mo  Sérgio  o  condenou  à  mor- 
te mandandoo  degollarcomo 
^pagandolhe  Deosa 


citp4  a#. 


lofTo  o  foi 


P4 


honra 


176 


CaptPílõ  XXXXJIL\\\3  hãx 


honra  que  deu  ao  martyrSa5 
Vitouro  com  o  fazer  partici- 
pá:e  da  mcí  ma  coroa  do  rnar- 
ry  rio^&  cõ  dar  animo  àcjuciles 
ncmos  Chriítaõs  pcraque  re- 
colherem íeu  corpOj&  o  ccl- 
locaílcm  coni  o  do  Santo  ca- 
checLimeno  Vi'ftor. 
fí.i     NaSrardou  muito  que 
tambénãofoíiem  preíos  por 
:  Chníláos  Santa   Suíana  irmã 
'■  ueSaò  Vi(5tor,Saõ  Cucufacc, 
&Sa5  Torcaco  outros  dous 
u'maõs  naCLiraesde  Braga,  & 
todos  degollados  por  ícntcn- 
ça  de  Sérgio ,  de  cujos  corpos 
íefezo  mcímo  por  induílria 
dos  Chriftaõs ,  que  fora  feito 
dos  de  Saò  Viítor ,  &  Saõ  Sil- 
ueftre_,ajuntandofe  emhúíe- 
pulchro  os  corpos  todos,afsy 
como  ellauão  juntas  no  Ceo 
fuás  almas  gozando  do  pre- 
mio de  íeu  gloriofo  marty- 
rio. 

7  Na  Igreja  de  Saõ  Vi6í:or 
(chamaíe  vuigarméteSaõ  Vi- 
touro )  eftiuerão  as  preciofas 
relíquias  deftes  inuenciueis  ca- 
ualleiros  ate  o  annode  iizo. 
em  que  pêra  Compoílellaas 
tresladou  o  Bifpo  daquella  ci- 
dade Dom  Diogo  Gclmires, 
deixando  fò  em  fua  fepultura 
alguns  pequenos  oílos  de  San- 
ta Suzana  ,  ordenandoo  afsy  o 


j  Ceo,  peraquc  eíia  cidade  não 
j  ficaíle  ícni  algúa  reliquia  de 
I  hum  tão  preciofo  the.ouro. 
Soubeic  delles  mandando  o 
illuílriííimo  íènhor  Dó  Ap-o- 
itinho  de  Callro  Arcebiípo 
Primaz  abrir  a  íepultura  no 
mes  de  Outubro  do  anno  de 
ijpo.  Deixou  parte  das  rch- 
quias  aly  onde  eiUuão  ,  parte 
collocou  no  Santuário  do  feu 
m.ofteiro  do  Populo ,  da  ordé 
dcSanto  Acoílinho  dos  Erc- 
mitas ,  que  naquelle  tempo 
ediíicaua  em  Bra^a.  Faz  mcn- 
çã  o  da  tresladação  deftes  San- 
tos pêra  Compoftella  o  Lecé- 
ceado  Mohna  na  deícripçao 
do  Reino  de  GaHza  dizendo. 

Aly  em  CÓpoJlella  alem  do  glo- 
riofo 
Ejiao  outros  corpos  de  yida  a- 

prouada: 
De  muitos  milagres  bemfolen- 

nic^ados, 
QuefaÓ  Cucufate^SiliieJlre,Íff 

Frutofo^ 
E  Santa  Sufana  hum  corpo 

preciofo^ 
EUà  logo  junto  aquella  ci- 
dade, 
Eíies  focorrem  por  necefsi- 

dade 
Seottpoalarga  de  fer  mui 
chmwfo. 

8    Defta 


Sao  VitouroíÇf  fct^ís  companheiros  mart.  1 7  7 


8  Deílatrcsladaçáo,   & 

furto  das  fagradas  relíquias  da- 
remos relação  mais  larga  na 
vida  do  Arcebifpo  Saõ  Giral- 
do  em  cujo  tempo  fucedeo. 
Cuidarão  alguns  que  poro 
LecenceadoMolina  não  fazer 
menção  neftes  feus  verfos  de 
São  Torcato/eria  por  fer  tref- 
ladado  porSao  Rozendo  da  fe- 
pulcura  onde  diíTemos  eil:aua 
em  Saò  Vicouro  pêra  o  mo- 
ííeiro  de  Cellanoua  em  Gali- 
za ,  &  não  pêra  Compoftella. 
Mas  foi  confundirem  a  Saõ 
Tcrcato  Bifpo  deGuadix  ,& 
dicipiilo  de  Santiago  com  o 
noílo  martyr  de  Braga  ,  cujas 
rdiquias  nãoforão  nunquaao 
morteiro  deCellanoua:  lebem 
o  foraõ  as  de  outro  SaÕ  Torca- 
to  Bifpo  de  Guadix.Differente 
tambcm  he  eíle  Saõ  Torcato 
doutroArcebifpo  delia  mefma 
Igreja  Félix  Torcato  a  q  vul- 
garmente chamaõ  Saõ  Torca- 
de,como  em  íua  vida  dire- 
mos. 

9  Ouue  também  grande 
confufaõ  entre  Santa  Suzana 
virgem  martyrizada  em  Iria 
Flauia,  &  a  nollà  natural  de 
Paços  irmã  de  Saõ  Vitouro', 
porque fazédo muitos  deam- 
bas  húa,  diziaõ  que  não  Braga, 
mas  o  Padrão  fora  o  lugar  de 

■ ^ o 


feu  martyriorfaõ  porem  diffe- 
rentiíhmas  ,6c  ainda  que  am- 
bas parece  cõcorrerão  no  mef- 
mo  tempo, todaiiia  comodi- 
uerfas  as  põem  Flaaio  Dextro  Un.  >oo. 
falando  primeiro  da  de  Gali- 
za ,  &  depois  da  Bracharen- 
fe. 

Naõ  he  menor  cnleo  o 


'«  chroH» 


IO 


em  que  fe  virão  outros  com 
oglorioíoSaõCucufate,  por- 
que vendo  eílaua  feu  íàgrado 
corpo  em   Paris    no  infigne 
mofteiro  de  Saõ  Dionis  em 
capella  parricular,&  por  outra 
parte  vendo  que  a  SèdeCom- 
poílella  fe  prcíaua  de  o  ter  ain- 
daqueleuado  a  furto  da  Igreja 
de  Saõ  Vitouro  de  Braga,  pêra 
fe  não  mal  quiftarem  cora  al- 
gúa  dertas  duas  cidades  con- 
jeiturarão  que  na  tresladação 
do  elorioío  Martvr  deuia  de 
auer  algúa  amigauel  compofi- 
ção  entre  Galegos ,  &  France- 
íes  repartindo  as  íantas  relí- 
quias em  forma  que  aísy  Pa- 
ris  como    Compoífella  pu- 
deflem  dizer  crão  depoííto  de 
tão  rico  thefouro.   Por  aqui 
foi  o  autor  do  Martyrologio 
Portuguez  concluindo  a  tref- 
ladação  de  faõ  Vitouro ,  Sil- 
uál:re ,  Suzana,  Torcato  ,  &: 
Cucufate  com,  as  palauras  fe- 
guintes.  O  que  dia^emos  annais  | 


Com' 


178 


CapttuloXXXXIII. 


Sm, to  A- 
3J./«/. 
Eqiid  Mb 
6.c.i^6. 

Moral, 
libíe.t.z 
Martst. 
j.p.lth  z 
t.-jS. 

P.tddh. 
leent.^.e. 
19. 

Carrd.m 
I  anna. án, 

3*4- 


CqnipostelUnos  quefeii  corpo  [h- 
ia  cie  Sanca  Suzana )  foi  tresla- 
dado  pira  confpoUella  je  pode 
entCfidcr  da  'mefma  maneira  q 
do  corpo  de  Sao  Cucufatefi  qual 
nâo  era  todo  fenao  parte  delU:, 
porque  a  outra  parte  efiâ  no 
tnojteiro  Real  de  S.  Dioms  jun- 
to a  París'em  capella  própria. 
II        Porem  iiáo  aconteceo 
aísy,  neni entre  Galegos,  & 
Franceíes  ouucalgúa  hora  tal 
compoílçao,  ou  repartiçáo, 
porque  o  SaiHo  Cucufàtc  que 
foi  a  França  ,  &c  de  quem  go- 
za Paris  íoi  natural  de  Barce- 
lonaj  &  ahi  martyrizacío  ,  & 
£cpultado,&  depois  tresladado 
a  Saõ  Dionis:falão  dclIeSurio, 
Padilha ,   Carrilho ,  o  Bifpo 
Equilino ,  Morales,Marietaj& 
oatros,(5<:  todos  o  diilinc^uem 
do  noílo,  quenaceo,  &  pade- 
ceo  em  Braga, Ôj  foi  tresladado 
à  Igreja  de  Santiago  de  Com- 
poílella  na  forma  que  acaba- 
mos de  referir. 

li  Tornado  a  faÕ  Vitou- 
ro  ( a  quem  podemos  chamar 
o  capitão  defta  companhia  de 
martyres)  &r  ao  lugar  de  fcii 
martyrio^nelle  edificou  o  Ar- 
cebifpo  Dom  Agortinho  de 
Caílro  hiía  pequena  ermida,a 

I  fim  de  nella  meter  hua  pedra, 
fobre  a  qual  he  tradição  foi  o 


Santo  dcíroiiado,  &  cítaua  no 
meo  do  caminho  com  me- 
nos decência  da  que  fc  deuia  ao 
langue  que  fobre  cila  íe  derra- 
mou.   Quando  forão  os  pe- 
dreiros a  leuantalla  pêra  a  mo- 
uerem  de  feu  lugar  metendo 
as  maõs  por  baixo  da  facecõ 
queficaua  aííentada  na   terra 
he  fama  conílante  as   tirarão 
tintas  cm  fangue  tao  frefco  co 
moíc  naquella  hora  íairadas 
veasdo  lanto  martyr.   Aco- 
diraõ  logo  muitos  dos  prefen- 
tes,&  com  os  lenços  recolhe- 
rão o  preciofo  liquor ,  que  de- 
pois applicado  a  diucrfas  enfer- 
midades  tinha  eífeitos  niila- 
grolos.  A  pedra  fc  meteo  den- 
tro na  capella  íechada  cõ  gra- 
des, mas  demaneira  que  pode 
fer  viíla  de  fora  •   Dillinguéíe 
claramête  nclía  algúas  nódoas 
de  fangue ,  &  por  efte  refpeito 
a  tem  os  moradores  defta  ci- 
dade em  2i'ande  veneração. 
13         Conclue  o  Doutor  fr. 
Bernardo  de  Brito  a  vicia  de  S. 
Vitouro    com  querer  dar  a 
origem  a  hua  findda  montaria 
que  em  Braga  fefaz  na  vefpe- 
ra ,  &í  madrugada  do  dia  de  S. 
loaõ  Bautifta,  a  que  vulgar- 
mente chamaõ  do  porco  pre- 
to,&  porque  elle  a  defcreuc  cõ 
elegância,    queremos  vacom 

íuas 


fuasmcfiTias  palauras  queíaõ 
as  feguintes. 

Quero  aduertir  de  cami- 
nho hum  anciguo  coftume, 
que  dura  na  cidade  de  Braga 
conferuado  ao  que  íe  pode 
crer  deíde  eftes  antiguos ,  ou 
em  memoria  do  que  fuce- 
deo  no  martyrio  dos  Santos, 
ou  por  guardar  aquelle  modo 
de  refta  ainda  que  gentihca, 
todauia  conuertida  em  melhor 
vfo  ,&  heque  em  vcfperade 
Saõ  loaõ  Bautifta  (c  põem  a 
cauallo  a  gente  principal  da  ci- 
dade ,  &  paliando  o  rio  Defte, 
junto  ao  qual  foráo  (comoja 
contamos)martyrizados  os  Sã 
tos ,  Sc  fe  faziaó  os  jogos  ^  & 
feftas  de  Ceres  ,  &  Syluano, 
findem  que  emprazao  hum 
porco ,  &  gaftada  a  tarde  cm 
feftas ,  vaó  ao  dia  do  Santo  pe- 
la manhã  fazer  hija  montaria 
com  hum  porco  negro ,  que 
lhe  là  tem  aparelhado ,  &  fol- 
tandoo  lhe  feguem  o  alcance 
ao  fom  de  cornetas  ,  &  vozes 
q  rcpreíéntão  verdadeira  mõ- 
taria,&vem  fcguindo  contra  a 
cidade  todo  o  tropel  da  gente, 
ik  fe  ao  paflar  do  rio  fe  lança 
ao  vao^&paíTa  pella  agua  o  dão 
aos  moleiros  das  azenhas  que 
ha  na  mefma  ribcira,&  toíiian 
do  a  ponte  fica  da  gente  da  ci- 


SaÕ  Vitouro>(f  [eus  companheiros  mãrt.  1 79 

Idade.E  ella  montaria  que  hoje 
chamão  do  porco  preto^cuido 
eu  que  alude  à  memoria  referi- 
daj  quando  diz.  Suilibus  'Verõ 
Jinitis furtim  d  Chrifiianisjepe- 
liunmr  .  Ate  qui  íaó  palauras 
de  freyBernardo  de  B  rit  o. 

Melhor  nos  parece  q  por  fe- 
ftcjar  ao  Sáto  Prccurfor  orde- 
narão os  antiguos  de  Braga  q 
na  fua  vcfpera  ,  &  dia  ouueíle 
verdadeira  montaria  de  muitos 
porcos  monteies  ,  &c   outras 
feras  _,  de  que  j  unto  ã  cidade  a- 
uia  grade  quantidade  por  eftar 
toda  cercada  de  efpeflbs  bof- 
qucs,  onde  fe  criauão,&  mul- 
tiplicauão  com  dano  dos  cam- 
pos, »5dfeáras  vizinhas.  Efteexc- 
rcicio,portoque  faltarão  as  fer- 
as,  &  íe  pouoáraõ  os  bofques, 
ficou  fempreem  vfo/azendo- 
fe  em  modo  de  mõtaria  a  lou* 
uor,  &  hora  do  Santo. 
14      As  feitas  q  diílemos  cha- 
mauaòos  Gentios  Ambarua- 
lia^  &  Suilia  eraõ  doutro  mes, 
&:dia,&:  quando  a  q  referimos 
fe  inftituira  por  fazer  allufaÕ  a 
cftas,&conferuar  conuertido 
em  melho  r  vfo  o  que  no  mar- 
tyrio do  Santo  aconteceta,fi- 
zcrâna  Os  Bracharenfes  a  ii. 
de  Abril  dia  próprio  de  Saõ 
Vitouro,  &  não  em  23.  &:  14. 
de  lunho  quando  fefellejao 


Bautiilâ, 


380 


Capitulo  XXXXIIII. 


{■Martyr, 

tjiex.  aih 
Ihoo.n.  8. 

1! 
j 

'  monarc. 


Bautifta,  feguindonifloo  co- 
ílume  vniuerfal  Ja  Igreja  Ca- 
tlioiicaja  qual  pêra  comma- 
yor  facilidade  ir  tirando  os  ri- 
res gentilicos ,  que  pelio  dif- 
curfo  do  anno  tinha  intro- 
duzido a  Idolatria  os  foi  mu- 
dando 5  &  conuertendo  ( mas 
nos  mefmos  dias  )  emcerc- 
monias  fagradas  ,  muitas  das 
quais  ainda  hoje  perfcucráo,& 
íeexcrcitãocom  grade  folen- 
nidade,&  magtííadc. 
1$  Tiroufe  por  alguns  an- 
nqs  no  tempo  do  iilurtrifsi- 
mo  fcnhor  Dom  AfFonfoFur- 
tado  de  Mendoça  noíTo  ante- 
ceílbr  ella  fingida  montaria, 
parecendo  aos  do  gouernoda 
QÚaáe  que  não  cóuinha  achar- 
fe  íua  nobreza  naquelle  taÕ 
Icuc  excrcicioj  mas  depois  ad- 
uirtindo  noutros  coftumes^  q 
:pelIoquctem  de  antiguidade 
uao  lo  ie  toier ao,mas  venerao 
n^efte  Reino,ordenou  que  afe- 
ita fe reftituiílc  outra  vez ,  co- 
mo cm  eíFeito  fe  rellituyo. 
íó  DeSáo  Vitouroefcre- 
ue  o  martyrologio  Romano, 
Dextro,  os  autores  Hefpa— 
nhocs  /rey  Bcrnarcío  de  Brito, 
<Sc  outros:  dos  mais  feus  com- 
panheiros cícreuerão  os  que 
pello  diícurfo  defte  capitulo 
deixamos  referidos. 


!!• 


CAPITVLO  XXXXIIII. 

SA'NTA  ENGRACIA 
Virgem ^Isf  martyr  natural 
de  Braga ,  Ò"  defoito  compa- 
nheiros fem  martyres. 


Odefe  quei- 
xar Braga  de 
humpreciofo 
roubo  ,  que 
lhe  tinha  fei- 
to a  antigua  Lufitaniafquc  ho- 
je fe  chama  Portugal )  o  qual 
dcfcobrio  Flauio  Dextro  pêra 
mayor  hora  deíla  cidadè,refti- 
tuindolhe  o  q  fempre  foiíeu,e 
lhe  tirou  o  dcícuido  dos  paíla- 
dos.  Eílethcfouro  hca  Vir- 
gem &  martyr  Santa  Engra- 
cia,  a  qual  fendo  dantes  tida 
por  natural  de  Lufitania ,  fem 
lhe  darem  lugar  certo  onde 
naceíle,  nos  tirou  toda  aduui- 
da  Flauio  Dextro  dizendo  que 
nacera  na  cidade  Augufta  de 
Braga.Saõaspalaurasas  quefe 
ícp-uem.  Ibidem  (  fala  de  Cara- 
goça)  San€íii  Engratia  njirgi' 
nis  i!f  martyris  ex  Vrbe  Bra- 
chara  Augufla.Do  mefmo  pa- 
recer he  o  Padre  frey  Luís  dos 


Anjos 


Santa  Eno;rãcia^. 


isr 


lib.  10.  c, 

5' 


Anjos,  o  qual  pocin  clia  San- 
ta cncrc  as  nacuracs  cieBr2g[a. 
Tábem  o  rckre  afsy  cõ  a  mcí- 
ma  autoridade  de  Dextro  o 
doutor  Martim  Carrilho  na 
vida  de  Saõ  Valero ,  poíloque 
cUe  hc  doutro  parecer ,  fcguin 
do  a  António  de  Nebrixa^  Ik 
a  Dom  Mauro  Ferreiros  quaes 
dizem  que  cila  Santa  ioi  natu- 
ral de  C.arac^oçaíundados  cm 
huns  veríos  dePrudencio  mal 
intcrpretados^que  trazem  pel- 
b  íua  opiniao^qucrendo  q  va- 
lha mais  húa  conjcitura^  que  a 
autoridade  exprefía  de  Flauio 
Dextro.  Deixando  pois  a  no- 
ua  opinião  de  Nebrixa,  que 
com  duuida  fcguc  o  Doutor 
Carrilho,  damos  lugar  a  San- 
ta Engracia  com  o  illuftrc  te- 
ci 

ftimunho  de  Dextro  entre  os 
Santos  naturacs  de  Braga,  a 
qual  fe  pòdc  gloriar  de  pro- 
duzir em  fy  cao  cxcellente 
planta. 

2-  Foi  efta  Santa  filha  de  hu 
Rcy,  ou  Regulo  ( titulo  que 
no  tempo  dos  Romanos  ti- 
nhão  os  Principes,  &  homens 
ricos  que  gouernauáo  alguas 
terras. )Efte  (c  chama  Ontco- 
mero ,  ôc  tinha  o  ícnhoriode 
grande  parte  dcLuíitania,em  q 
encrauão  tabcm  alguas  terras 
de  Galiza.Era  a  Virgem  Engra 

o  o 


ciaChriftá ,  &  auia  fóto  voto 
de  cailidade.Tratou  feu  pay  de 
a  caiar  com  hií  capitão, que  al- 
guns autores  chamáo  Duque 
de  Pv.uiíclhon  nas  faldras  dos 
montes  Pyrcneos  nas  frontei- 
ras de  França. Feito  o  caíamen- 
to  quiz  Ontcomero  mandar 
íua  filha  como  conuinha  a 
grandeza  de  leu  ellado  :fora5 
com  ella  dezoito  peíToas  prin- 
cipacs  de  fua  caía ,  &  corte,  &c 
alguns  delles  parentes  fcus,  cu- 
jos nomes  eraõLupercio  tio  da 
gloriofa  Sãta,Optaco,Suceílo, 
Marcial,Vrbano,  Quintiliano, 
PubhOjFronto,  Fclix ,  Cecilia- 
no,Euáto,  Primiitiuo_j&Apo- 
domio  :  outros  quatro  diz 
o  Poeta  Prudencio  que  fe  cha- 
mauão  Saturninos,  &  fua  len- 
da acrecenta ,  q  alem  defte  no- 
me comum  tinháo  algús  par- 
ticulares, que  erão  Matutino, 
Carsiano,Ianusrio,  &  Faufto. 
ApreíTou  a  illuftveVirgem  fua 
jornada  porque  tcue  reuc- 
laçaõ  do  Ceo  que  nclla  auia 
ds  padecer  martyrio ,  &:  ir  ce- 
lebrar outras  bodas  mais  ale- 
gres com  feu  Efpofo  Chrifto, 
a  quem  tinha  prometida  fua 
pureza. 

3  Pofta  a  caminho  cõ  fcus  c5- 
panheiros  chegou  à  cidade  de 
C.ara2oca,ondceftauaPublio  i 


Q^ 


Daciano 


I82 


CapmloXXXXlIII. 


DacianoConiiílario  emHef- 
■  panha  dos  Emperadores  Dio- 
clecianOj&MaximianOjO  qual 
vco  a  ella  pêra  mádar  almas  ao 
Ceo ,  &  regar  a  terra  com  o 
langue  innocentede  iníinicos 
marcyrcs  a  que  tirou  a  vida. 
Foi  tcrribel ,  &c  cruel  pcrllgui- 
çâo  erta  em  Hcípanha.  Flore- 
cia  nella  por  cite  tépo  a  Chri- 
ftandade,  ^  na  cidade  de  C,a- 
ragoça  mais  que  em  todas  as 
outras  ,  porque  corri  a  pre- 
lença  ,   &  aílento  que  nella 
tinha  a  Virgem  gloriofiHima 
do  Pilar  elkua  fantiíícadâ  ,  & 
aífinada  por  cafa  fua  .  He  cer- 
to que  padecerão  nella  mais 
martyrcs ,  que  em  algíía  outra 
dcHeípanha.  Prudencio  a  cha- 
ma caía  de  martyrcs, &  â  igua- 
la com  Roma  affirmando  que 
em  todas  fuás  portas  fe  acha 
Tangue  derramado  porChrifto 
íaõ  os  verfos, 
Vix  parens  orbis  ^  populofa 

Pícni 
Ipfd  ijíx  Roma  j  infoUo  lo- 

cata. 
Te  decuÉ  noíiruní  fuperarè 
in  ísio 

Munere  digna  eíi 
Omnibus  portis  facer  immo-- 
latus 
Sanguis  exclujit  genus  inui- 
dor  um. 


Dccmonum^iS'  nigras  pepiãit 
tenehras 

Vrbepiata. 
4     Entrando  â  Santa  uefta  ci- 
dadej&  achandoa  toda  inquie- 
ta cõ  as  mortes,  &  pregoes  da 
j  uftiça,q  cada  dia  íc  ouuiáo  pel 
las  ruas  ;  enformada  da  deshu- 
manidadc  cõ  q  íe  procedia  cÕ- 
tra  os  Chriftáos,incitadadehií 
fcruorofqeípiritO)&  amorDi- 
uino,  q  em  leu  peito  ardia,foi 
cõ  muita  preíla  acompanhada 
dos  dezoito  fidalgos  parentes 
Si  criados  de  fua  cala  ao  lugai: 
ohdceftauaDaciano,&  cõ  ani- 
mo varonil,  &c  forte  o  repren- 
deo  dos  tormentos ,  &  m  orte 
q  daua  aos  innocentes  Chri- 
lláos  por  adoraré  hú  fó  Deos 
verdadeiro  ^  &  deíprezarc   os 
falíos  Dcofcs  da  Gétilidade. Fi- 
cou Daciano  palmado  de  ver  a 
fcrmolura,&:  graça  da  Virgem 
Èngracia ,  o  acõpanhamento 
que  trazia,&  Uberdade  cõ  q  ^i- 
laua;&  perguntando  pcUa  cõ- 
dição  dclua  peíloa,pclla  pátria, 
que  deixaua ,  &:  pella  téçáo  cõ 
que  procuraua  pellos  Chri- 
ftãos  ,  gente  aborrecida ,  &  o- 
diofã  aos  Emperadores,  &  cõ- 
denadà  por  fuaslcisj  conftan- 
dolhe  de  tudojfem  refpcitar  ao 
q  fe  deuia  à  nobreza  do  langue 
detãoilluftredõzella,amácíõu 

meter 


-  -  -      ■-     I 


I.-S.3! 


Carrilha 
à.  Ice  o. 


meter  no  cárcere  com  ícus  c5- 
panheiros  ^  &"  vendo  que  to- 
dos eítauaõfirrqcí  cm  ícu  pro- 
poíico  os  mdndoLi  açoutar co 
grande  rigor .  Reprendia  en- 
tre canto  a  fantaVirsé  a  cnicl- 
dcide  de  Daciano ,  &  na  may  of 
forçado  tormento  fazia  dei le 
táo  pouca  conta ,  que  bem 
moíhaua  na  alegriíí  do  roíto 
qiic  o  naó  ellmiaua  ,  nem  ao 
Tirano  que  amandaua  acor- 
im:nrar.  ;  ^qB  'k-iil  «nij^t; 
$  '■  ■  EmCjaragoçanoCon- 
ocnco  de  lanra  Engracia,  que 
pollueo  thefouro  daíepulcur; 
ra  da  Santa  ha  húacolumna 
de  mármore  ,  onde  a  tradição 
ancigua,&  piedade  dos  cida- 
dãos rem  por  certo  que  foi 
açoutada  a  Santa  Virgem  ,  & 
porque  a  deuação  do  pouo  era 
tanta^que  a  leuauão  a  pedaços 
como  reliquias  pêra  remédio 
de  infirmidades^por  fenão  aca- 
bar de  todo  fechouíe  cõhíjas 
grades  de  ferro  com  que  fe 
coníerua  hoje,  &  he  tocada, 
&í  venerada  de  todos  os  que 
com  deuaçaõ  concorre  àqiicl- 
le  Diuino  Santuário. 
6  Depois  do  tormento 

dos  açoutes ,  em  que  a  Santa 
íe  moítrou  inuenciuel/oi  mã- 
dada  arraftar  pella  cidade  ata- 
da ao    cabo  de  hum  cauallo 


como  blasfema  toncra  a  Ma- 
?eftadé do  Império.  Hiaa  Sa- 
tã iiiuy  alegre  ueíte  cormerí-^ 
TO<  i  &  goltaua  de  ò  paílccer 
par  ChrUto  efpoío  fcu^cW 
gou.  quebramaila  icm  fbrças) 
&  fem  alento  /  ^  o  l^íraDiQ  a 
mandou  meter  no  cárcere.^ pê- 
ra com  mayorcs  tormentos 
pròuar  'fua  tirmeza  t  No^  dia 
íesuince  foi  a  Virp;cm  Icuada 
qual'  os  torménos  a  deixarão 
diante; do  Tirano;  o  qual  co- 
nhecendo fua  décerm.inaçáo, 
&aconll:aneia  com  quecfta- 
ua"  a  mandou  pendurar  em  al- 
to] òc  rafgarlhé  o  ■  'corpo-com 
vnhas  de  i:erra  ^^as  quaes  o  r 5- 
perão  taó  interiormente  :que 
lhe  deícobriráo  "as-  entranhas, 
&  de  volta  coliialgua  carne 
lhe  tirarão  hum  pedaço  do  fí- 
gado ,  que  depois  com  gran- 
de veneração  fe  guardou  mui- 
tos annos ,  &  o  vio  o  Poeta 
Prudenciocomo  teftimunhaj 
quando  diz.  jori£T 

■iiii^f  o     ftôín  •'!!'>  'jArr!^:? 

Vidimtis  -partem  iecoris  r.e- 
uulfam       hi^m '^àltijp 

Vngulis  longe  iacuijfe  pref- 

Mors  habet  pallens  aíiquid 
tiiorum 

Te  quo^  'viiia. 


»i- 


Q-i 


Não 


184 


Çafitulõ  XXXXIUL 


Naó  contente  o  Tirano  com 
eftc  tormento,  o  qualfòba- 
ftaua  pcra  lhe  tirar  a  vida ,  afsy 
como  cílaua  pendurada  lhe 
mandou  cortar  o  peito  eí- 
qucrdo  ate  lhe  dcícobrir  o 
coração .  Corrido  o  Tirano 
da  muita  conílancia  á^  San  ta 
a  mandou  tirar  do  tormento, 
&  veítirhúavcftiduraque  fe- 
ria ,  ou  por  cobrir  as  chagas, 
porque  o  não  moueflem  a  pie 
dade,ou(como  temospor  mais 
certo  )  pcra  lhe  dar  mais  pro- 
longado tormento.  Afsy  foi 
tornada  a  Santa  ao  cárcere, dei- 
xando efmaltado  o  caminho 
com  grande  copia  de  fanguc, 
que  corria  das  chagas,&  a  rou- 
pa que  lhe  vcftiraõ  fetingio, 
&  enfopou  toda  nclle ,  de  mo- 
do que  mayor  pena  foi  pêra 
a  Santa  dilatarlhe  o  Tirano  a 
morte, que darlha, como  no- 
tou bem  Prudencio. 
8  Finalmente  vedo  o  Ti- 
rano o  animo,  &:  valor  da  Vir- 
gcm,&  que  naõ.aproucitauão 
nada  os  tormentos ,  mandou 
que  lhe  mcteflem  hum  crauo 
de  ferro  na  cabeça ,  com  que 
acabou  de  receber  a  palma  do 
raartyrio  ^  Sc  deu  a  alma  a  feu 
Criador .  Não  lhe  atrauefla- 
raõ  a  cabeça  com  o  crauo,nem 
lho  meterão  pella  tefta  como 


dizem  os  que  cfcreuem  fua  vi- 
dará moftrão  algíáas  pinturas 
antiguas,mas  por  cima  da  ca- 
beça no  mais  alto  delia  lho 
pregarão  .  Illo  fc  vcTia  pre- 
cioia  reliquia  da  cabeça  da  San- 
ta ,  que  fc  coníerua  hoje  na  ci- 
dade deC,aragoça,&  cftà  aber- 
ta por  cima  com  hum  buraco 
da  groíTurâ  de  hum  dedo .  O 
crauo  tema  mefma  groííura, 
&  efta  tinto  em  fanguc  com  cvn.iM 
ajguns  finais  dosmeolos  da  *»yí^<. 
Santa,  como  dão  teftimunho 
os  que  o  virão,  &  tiuerãocm 
fuás  maÕs. 

9  Morta  a  gloriofa  Vir- 

gem mandou  logo  Daciano 
làir  do  cárcere  Icus  compa- 
nheiros, &  pronunciou  con- 
tra elUs  ícntcnça  de  morte,  a 
qualfe  executou  fora  da  cida- 
de ,  onde  forão  degoUados  no 
mefmo  dia,  que  a  Santa  pade- 
cco .  Foi  fepultado  ícu  cor- 
po honradamente,  porque  em 
fua  fepultura  afsillirão  Anjos^ 
&  Efpiritos  bemaucnturados, 
que  decerão  do  Ceo  a  honrar 
otriumpho  da  Santa  Virgé. 
Saó  Prudencio  Bifpo  de  Tar- 
ragonafoi  o  que  lhe  fez  o  offi- 
cio  da  fepultura,  não  com  ref- 
onfos  triftes  mas  com  jubi- 
os ,  &  cânticos  alegres.  Viuia 
eftcfanto  Prelado,  no  tempo 


Fc 


c3 


\%S 


oiiepadeteo  a  Virgem  Engra^ 
cm,  &ajudaua  j  &  conforca- 
ua  os  Chriílaõs  a  padecer  rnar- 
tyrio  na  cidade  de  C,aragoça, 
onde  reiídia.  Sepultada  eíla 
Santa  por  niiniíkric  dos  An- 
jos como  Santa  Catherina  no 
monte  Sinay,  foi  íuaíepuku-^ 
ra  muy  írec]uentadaj&  ticía  em 
grande  veneração  em  tempo 
dos  Godos ,  &  a  vilicauaõ  os 
eílrançeiros  como  hum  dos 
notaueís  Santiiarios  do  mun- 
do, Nelle  íe  recolherão  as  cin- 
zas dos  lantos  martyrcs  de 
C^aragoça ,  &  fe  chaniaua  a 
Igreja  das  íancas  Maflas* 
IO  SaõBraulio  Bifpo  da 

mcfma  cidade  Iheredííicou  o 
templo  pellosanncs  de  Chri- 
íto  669.  fazendo  outra  Igreja 
encima  da  foterranea,   onde 
eftauaaantigua-,  foiillocoftu- 
medaquelles  primeiros  tem- 
pos,nos  quaes  íe  ediíicauáo  as 
Igrejas  debaixo  da  terra  pello 
perigo  que  corriao  fendo  vi- 
ílas  pellos  Tiranos.  Depois  cõ 
a  entrada  dos  Mouros  emHeí- 
panha  procurarão  os  Cacho- 
licosefcondcras  reliquiasdos 
martyres ,  ou  leuallas  coníigo 
pellas  não  profanarem  as  mãos 
íacrilegas   dos  Árabes.    Naõ 
puderão  tirar  as  delia  Igreja 
por  fer  o  thefourò  delias  muy 


grande ,  efcondcrácnas  debai- 
xo da  terra  no  melmo  i  igar 
ondeeílauão3  &  íc  vem  hoje. 
Foi  eíla  Igreja  derrubada  pel- 
los Mouros  j  polloque  a  ío- 
terranea  ficou  cm  feu  íer  pc r»- 
manecendo  íemprc  Chriítaós 
nella  &na  de  noíia  Senhora  do 
Pilar! 

II        Recuperada  C,aragoça 
por  EiRey  Dom  Aííonío  lor- 
nou  eíle  Santuário  a  íe  vene- 
rar, &  honrar  como  dances. 
Noannodci58í>.  ande  Ma- 
yo    fe  acharão   os  corpos  de 
Santa  Engracia.^  &  feus  com- 
panheiros, fazendoie  hi:a  obra 
na  Igreja  das  íantas  Maílas,em 
a  qual  cauando  os   oííciaesa 
terra  na  altura  que  erancccíla 
ria  pcra  fcgurar  osaliceíieS  íe 
!  defcobrio  hum  íepi- Ichro  grá- 
\  de  de  mármore,  &  cauando  a 
I  baixo  acharão  outro,  mais  pe- 
i  queno  betumado  ao  redor,  a-^ 
brirãno  ,  &  viraÕ  décrò  doiis 
■  vazosde  pedra,  hum  déllescó 
el-bas  letras  en  talhadas.  £w^r<?.f;rt? 
V h-ginis  ji\o  olicro  auiaeílas. 
Lupercíj  martyris .    No  fepul- 
chro  grande  eííauão  os  oílbs 
dos  dezaíete  companheiros  de 
■\  Sauta Engracia  com  titulo íe- 
I  parado,  á:as  fantas  Maílas  dos 
I  innumeraueis  martyres  quei- 
^  mados    em  C,aragoça, cujas 


„.-. Q^ 


cinzas 


ISÓ 


CaptuloXXXXIIII. 


cinzas  por  ordem  cJo  Ceo  íe 
tornarão  naquelksMaíIasprc- 
cioías  ,qucos  Chriítáos  reco- 
lherão 3  &  meterão  no  íepul- 
chro ,  &  da  hi  em  diante  íe  ve- 
I  neraráo  femprc  com  ertc  no- 
me. Depois  de  íe  acharem  as 
fantas  relíquias  fe  chama  efta 
Igreja  de  Santa  Engracia  per- 
dendoíe  o  nome  comum  que 
dantes  tinha  das  íantas  Maflas. 
Celebra  a  Igreja  de  C,aragoça 
eftaícílaa  13.  de  Março  com 
húa  prociíTaõ  foIcniíTima  ,  & 
com  out/as  três  fcfteja  as  relí- 
quias òt^cs  fantosihúa  em  dia 
de  SantaEngracia  a  i  <í.dc  Abril; 
outra  dia   de  Saõ  Lambcrto 
martyr  a  15).  de  lunho  ;  outra 
dia  dos  innumeraueis  marty- 
res  a  3.  de  Nouembro. 
li         Noanno  de  i4js>.  El- 
Rcy  de    Aragão    &  Nauarra 
Dom  loaÕ  o  II.  pay  do  Ca- 
tholico  Rey  Dom  Fernando 
padecendo  híía  grande  enfer- 
midade nos  olhos,&:  têdo  qua 
(i  perdida  a  vifta  ,  não  lhe  va- 
lendo os  remédios  da  terra  a- 
codioaos  do  Ceo  tomando 
por  valedora  a  Santa  Engracia, 
pedio  que  lhe   trouxcflèm  o 
cranocom  que  lhe  pregarão  a 
cabeça  pcra  o  por  nos  olhos, 
prometendo  àSanta  que  fe  lhe 
iítcauçaua  faude    lhe  auia  de 


edificar  hum  Conuento  deRe- 
ligíofos  de  Saõ  leronymona 
íua  Igreja.  Acodio  a  Santa  com 
mezinha  do  Ceo ,  òc  cobrou 
ElRey  inteira  íaude,5í  recu- 
perou a  vifta  perdida.  Tratou 
logo  de  comprir  o  voto,  &  de 
fundar  o  edifício, &  não  o  po- 
dendo effeituar  por  ocafião  de 
guerras,que  teue  ,  &  da  morte 
q  depois  lhe  fobreueo,  ElRey 
Catholico  Dom  Fernando  feu 
filho  opôs  em  execuçãb,&no 
annodei493.  fe  deu  principio 
à  obra ,  &:  fabrica  do  mofteiro 
com  magnificência^ &  grande- 
za Real.  Continuou  a  depois 
da  morte  de  ElRcy  Catholico 
o  Emperador  Carlos  Qujnto 
íeu  neto ,  íucefior  da  Monar- 
chiade  Hefpanha,  honrando, 
&  engrandecendo  eftc  Con- 
uento com  largas  mercês  que 
Ihefez. Recopilou  omartyrio, 
&  as  exccUencias  defta Santa, 
&  feus  companheiros  Prudê- 
cio  cm  hum  elegante  hymno, 
&  Marco  Máximo  Bifpo  de 
C,aragoça  cifrou  no  Epriga- 
ma  feguuitc  grande  parte  de 
fcuslouuorcs. 

Encratis  oh  niueos  mores, nl- 

mum^pudorem, 
Et  mage  martyrij   nomim 

charapolo  efi. 

Chrini 


Max. 

addit.fol. 

128. 


J 


Si':  o  Leôncio i 


1^7 


C(t.  áf.c, 

5- 

Bmar.An 

Chrijlt 

Cárri,n4 

\vtd.tdeS, 
I  Valer.  c. 

% 

SMoyaU 
fc.io.  fjó 
}  Man  AH. 

cap.  12. 
\Brit.2.p. 

Mcnarc. 
\(l.^.C.2t 
I  'Kibade. 
\Thf.z.p. 
\-i6.Afril 


Chrifii  Sponja  placeí  Jupe- 

runtíjj  hommiij^  parenti; 
Ctefiire^eijj  -vrbis  certapatro 

na  manct. 
Sanguine.  nohilitat  quam  fu- 
jo,íf  corporejeão, 
Peãinihus^  bujlofola  reliãa 

fiio 
Tepta  dicata  Jílú  ■■videi  htcc 
in  corpo re  degens. 
,     Diç^nau/^ore  amm^  lawea. 
diznus  honor. 
Mciij ,  meitm^j  gregem  fart- 

ólifsima  refpice  'UÍ?'go, 
Qujtihipro  templis  ^peãora 
nojlra  damus. 
Hm c patrona  tuis  mala  qiU'^ 
ám^cnibus  arce. 
Nos  quefahite  bea ,  hoUibus 
obdefores. 

Efcreucm  a  vida  dcfla  Santa 
depois  de  muitos  autores  que 
cita  Padilha  ,  Ôc  Biuar ,  o  dou- 
torCarrilhojMorales^Mariana, 
frcy  Bernardo  de  Brito ,  lliba- 
deneira,  &:  outros. 


CAPITVLO  XXXXV, 

^^iVÍ     LEÔNCIO 

XV.  Arcebijpo  de  Braga. 


Vccdcm  da- 
qui por  dian- 
te mais  alegres 
tépos  ua  Igre- 
ja   Catilolieia 
com  o  Iiijperio  do  grande  Cõ- 
ítanrino,  em  q  a  Fe  começou 
a  refucitar,  &:  tomar  alento  a 
religião Chriílá.  lagouernaua 
Conrtantino^  &  jaabjuradaa 
idolatria  ícguiaas  bandeiras  ce 
Chrillo  quando  Saõ  Leôncio 
natural  de  Conftantinopla^  6í. 
Filoíofo  íapientirsimo  eraAr- 
cebifpo  deBraga,naõ  quefoíle 
eleito  depois  do  bautiímo  de 
Conftanuno ,  porque  alguns 
annos  antes  iuccdeo  íua  elei- 
ção ,  mas  porque  entrou  cm 
Braga    gouernando  ja  efle  ex- 
cellente  Empcrador ,  viílo  co- 
mo no  de  3 14.  lhe  eícrcueo  S. 
Melciades  Papa  ,  &  aos  mais 
Bifpos  de  Hefpanha,  nomean- 
do íô  três  no  principio  da  car- 
ta 5  Marino  ,  Bencdiílo ,   &  ;l 

Q4  Leoncioí 


1S8 


Capitulo  XX  XXV, 


Chron-. 


b<<^.3ia. 


in  chn». 


Leôncio  ^  o  primeiro  na  opi- 
niáode  lulianoBifpo  de  To- 
ledo i  o  fcgundo  de  Tarrago- 
naj  o  terceiro  de  Braga_,quehe 
o  noílo  Leôncio.  A  matéria, &: 
faíUnciada  carta  he  moftrar 
como  as  caufas  dos  Biípos ,  ík 
as  que  faõ  de  grande  peio  ^  ie~ 
não  deuem  determinar  em  fi- 
nal íèm  autoridade  da  Sc  Apo- 
llolica  _,  onde  por  appellação 
haÓ  de  ler  remetidas:  ôc  junta- 
mete  decidir  qual  dos  dous  Sa- 
cramentos Bautifmo,  &  Con- 
firmação hc  mayor,  &  mais 
fuíbncial  pêra  a  íaluaçao.  Vl- 
timamente  reproua  o  jejum 
do  Domingo ,  &  quinta  feira-, 
porque  naquelle  tempo  fe  fa- 
zia mais  como  rito  gentilico. 
que  como  penitencia,  Sc  cere- 
monia  Chrillam .  Anda  efta 
carta  no  primeiro  cómodos 
Concilios.  • 

i  Pêra  ajudarem  a  feftejar  o 
bautifmo  do  grandeConftan- 
tino  diz  luliano  que  manda- 
rão a  Roma  as  Igrejas  de  Hef- 
panha  noannode324.aham 
Concilio,que  naquella  cidade 
fc  cclcbraua  ê  acção  de  graças 
por  mercê  ra5  grande ,  alguns 
de feusBifpos, entre  osquaes 
forão  os  de  mayor  importân- 
cia o  noílo  LcÕcioJeBraga:& 
Marino  de  Toledo.   Preíidio 


SaòSilueftrePapa^aíliíliraõ  o 
grande  Conrtantino  cõS.  He- 
lena fua  may ,  &:  z84.  Biípos. 
De  canjinho  íe  ordenarão  va- 
rias coufas  em  fauor  da  Chii- 
ílãdade,&  bó  gouerno  de  luas 
Igrejas ,  ôc  fecõdenaráo  as  he- 
regias  de  Hipólito,  Calixto,  &c 
Viâ:orino,como  íe  ve  do  mcí- 
mo  Concilio,  que  anda  lança- 
do no  primeiro  tomo  onde  os» 
mais  fc  ajuntarão,  &  do  que 


Bare)i , 

íobre  elle  eícreucBaronio.       3-  -«""• 


5  Noannofeguintedesij. 
fe  celebrou  em  Nicea  cidade 
deBithyniao  primeiro  Con- 
cilio Geral  de  toda  a  Chriílan- 
dade.  Chamou  a  elle  o  Papa 
Saõ  Silueftre  os  Bifpos  aísy 
Orientaes,como  Occidentaesj 
acudirão  com  preíla  ,  &  aluo- 
roço  todos  os  quefe  puderâõ 
achar  prefentes,  que  foraõ  em 
numero  318.  Mandou  Coii-^ 
llantino  (  que  também  quiz 
com  a  magellade  de  íua  peíloa 
honrar  aquelle  aâ:o  j  prouer 
com  magnificência  de  todo  o 
neceílario  aeíle  grande  ajun- 
tamento de  Prelados ,  òc  a  í  uas 
familias  ,  &  criados  ,  fazendo 
elle,como  fe  acha  em  bons  au- 
tores ,  osgaftos  da  ida^  &c  vin- 
da ,  fem  confentir  queacodif- 
fe,  &aífiíliírealyalgum,fcnão' 
àculla  de  fua  fazenda.  Entre  o  s 

que 


32Í- 


SaÕ  Leôncio* 


lífp 


in-i* 


Bt$éMt  i» 

314-.  ' 


que  fc  acharão  no  Concilio 
conta  luliano  a  Saõ  Leôncio 
Arccbifpo  de  Braga ;  a  Cofto 
de  C^aragoçaj  aNacalio  Arce- 
diago de  Toledo.   Dextro  a- 
crccenta  os  Bifpos  de  Scuilha, 
&  Barcelona  fem  os  nomear^ 
&  Natal  Toledano  ,  &c  outros 
muitos  das  Prouincias  Betica, 
^Tarraconenfe/cm  fezcr  mé- 
çáodo  nolTo  Saõ  Leôncio. 
4      Naóícachaõ  as  foícrip- 
çocsdeftcs  Padres  entre  as  que 
temos  do  Concilio,  ôc  fòdc 
Hcfpanha  anda  nclle  aífinado 
Ollo  Bifpo  de  Cordoua,   que 
pello  aísy  ordenar  o  Concilio, 
&  o  pedir  Conftantinopreíi- 
dio  nclle,deixando  oSanto  P5- 
tificc  Silueítre(q  por  íua  mui- 
ta idade,  &   ii^dirpofiçocs   fe 
não  pode  achar  prefcnteja  prc- 
lidencia  daquelle  grande  ajun- 
tamento a  quem  elle  a  quiíefle 
encomendar  j  mandando  (ò 
dous  Sacerdotes  de  Roma,Vi- 
dor ,  &c  Vincencio ,  não  pêra 
prefidirem,  como  bem  proua 
Biuar,  mas  pcra  em  feu  nome 
confirmarem  os  decretos  que 
aly  fe  eftabclcceflem. 
^         Porem  nem  por  faltara 
firma  do  noflb  Saõ  Leôncio 
ncftc  Concilio,  &  dos  mais 
Bifpos  nomeados  porDcxtro, 
&  luliano  feda  lugar  a  fofpei- 


tar  vicio  no  que  cllcscfcreue- 
raó,  porque  cm  Eufebio  q  en- 
tão viuia ,  achamos  as  palauras 
fe^uintes  .  £x  ipfis  Hífpanijs 
ijnus  nomine ,  ist  fam4  celebri- 
tate  injignis  cutn  alijs  mulús  af- 
fuit.  Como  dizendo ,  que  có 
Oíio  varão  cclcbcrrimo  íc  a- 
charáo  das  Prouincias  de  Hcf- 
panha outros  muitos.  Tam- 
bém aly  acha  menos  o  Cardeal 
Baronio  aos  íàntos  Bifpos  Spi- 
ridiaõ,&  Herpocracio,  &  Cy- 
non  Prelados  de  mâyor  fama, 
&cõíideração  que  muitos  dos 
que  no  Concilio  aíílíliraõ. 
C      He  pois  de  faber  que  por 
a  multidão  dos  Prelados   fer 
grande,  òc  por  fecuitarem  ou- 
tros inconuenientes  de  prece- 
dências  que  nas  fofcripçocs 
Í)odia  aucr,  fç  tomou  por  mc- 
hor  expediente  por   fô  na- 
quelles  adds  o  feu  nome  por 
toda  a  fua  "P^rouinciaoBifpo 
qu€  o u  ncUa  fo flc  cabeça   dos 
mais,ou  quando  elVc  não  cfti- 
ucífe  prcfente,  o  que  prece- 
delle  na  fagração.  Por  efte  ref- 
peito  afllnou  Ofio  Bifpo  de 
Cordoua  por  todos  os  dcHef- 
panha  dizendo.    OJim  Epifco- 
pus  Cordubenfis  ProuincU  Híf- 
pan't4^dixityita  credo  fcut fu- 
periusfcripmm  tfl .   PcHos  de 
Egypto  Santo  Alcxãdre  Bifpo  • 


lib.ycj 


Bãren.i. 
4inChrif., 

266, 


,A9C 


:-T. 


1  ttdDext. 

f 

i 
li 


- 


L-' 


■'^■•- •''  ^^-^^^^^^^z»^^^-^^^^^^^^"-^'^'  X  ^  ^  ?  <^^r 


;jde '  Alexaiidtia... ,  •  &  alsy  os 
mâi».  Cabia  ao.'Hoílo  S..>Leon- 
ciacomoPrimâz  de  Heípaiiha 
ler  o  quGálíinafle  por  coda  a 
■  fuaP-rouinciá,«i3s  deuíe  áqucl- 
•  la  honra  a  Oiiopor  rerTídõo 
r,i)£eli4cnte  do  Goncilio^  '&íò 
ípfiu:  dèe  Fet|>cito  firmou  ioob 
tdè^ois  de  VKÍtoiv&  Vmcécio, 
por-  ellcs  o  taierem  em  iioinc 
do  P.apa  Saõ  ■Siíueílre,  primei- 
ro que  Eodo&ios  mais  Ptelá- 

-  dos.^e  jà  niftofcomo  foípeita 
Biuar)  íenão  teue  também  reí- 
peito.a  repreícntar  Oiío  aPrò- 
uincia  que  entre  as  mais  do 
mimdoj  não  falando  nade  Pâ- 
'leíliiaa ,  foi  a  primeira  qne  r«- 

-  cebeo  a  luz  do  Eiaangelho  ía- 
•gradç. '.         ■;■*■.'■  :;j».;>.  Oi  <:  « 
ij  •  ■■■ ' !  /Dar  conta^  das  cauíás 
-porque  elle  Concilio  feajun- 
-tou :  dos  Decretos  que  neile  k 
eftabeÍcGcrão3  &  dê  outras  par- 
ticularidades, q  o  fizeraÕ  cele- 
bre he  dos  autores  que  eícre- 
uem  hiftdria  Pontificalj<&  an- 
naesEcclefiafticosrbafte  dizer 
aqui  em  íóma  que  ,delle  fairaõ 
Arrio,Phocino,&  Hebio  con- 
denados, approuada  a  igualda- 
de do  Verbo  Eterno  íegunda 
pcíloadaSantifsima  Trindade 
cõ  o  Padre  Eterlio,  &  ordena- 
do o  íymbolo  que  começa. 
Credo  inDeú^l^c.  donde  pou- 


l^-í 


CO  depois  eõpos  Santo)Atha- ■ 
naíio  o  que  anda  cni  fèuríó-; 
me.  Si  di  ?:  .Qj^cumqu  è  '%fuhfil- '-,  j 

mis ej?e . ' Em  fim  aly fedeu fa- * 
ma  j  &c  rcíplancíor  a  nofla  lan- 
ça íè  j  que  ate  aqu  elle  tempo 
viuera  clcondida  pellas  couas 
da  terra,  ôc  perlcguida  péllos- 
Emperadores  Romanos  com , 
a  fúria  das  períiguiçoés  paíla-      //) 
das.  1  ÕLà  oíioii  oh  oò 

8;  ••  Voltou  de  Nicèa  a  Eíerpa- 
nha  fechado  ja  o  Concilio  Saõ 
£eolicio,ôc  com  trazer  gran-  \^^]) 
des  dcfejos  de  chegar  à  fua  Igreí 
ja,&  ie  empregar  todo  em  leu  - 
ícruiço,  como  naquclla  jorna- 
da o  fizera  no  da  ígrejaCatho- 
lica  j  ordenou  a  Diuina  Proui- 
dencia  que  três  legoas  de  Bra- 
ga na  Villade  G^iimaraês  o  to- 
mallea  morte :  aly  deu  leu  el- 
pirito  a  Deos ,  Ôc  íe  foi  a  gozar 
do  premio  de  feus  trabalhos, 
&í  peregrinações. Faleceo  a  19. 
de  Março  de  31-6,  Efereue  de 
íua  morte   luliano  com  eftas 
breues  palauras.  Sanãus  Leon- 
tius  Bracharenfis  Pontifex  re- 
diem  ex  Concilio  moritur  Gtii- 
maranij  in  Gallecia^  qtu  time 
dkebatttr  Appollonia  1 9.  Mar- 
tij  ,  anno  3 16.  Faz  menção  Ac 
Saõ  Leôncio  aos  mefmos  de-, 
zanouc  deMarço  de  52^.0  Mar 
tyrologtoRomano.Chamalhc  | 


d.^ag.  j^o\ 


)0 


Bifpo  mas  náo  lhe  nomea  o 
Bilpado_,  nem  o  lugar  de  fiia 
morte.  Saõ  as  palauras.  Eodem 
diefdnèloriim  Apollonij^i^Leo- 
tij  Epifcoporum.  Na  Villa  de 
Guimarães  nenhúa  noticia  ha 
deíuaíepultura.  A  tyrania,í5<: 
barbaria  dos  Mouros  nos  lon- 
gos annos  que  reinarão  cm 
Hefpanha  confumiráo  as  mais 
deftas  memorias .  Era  Summò 
Pontifíce  ncíle  anno  de  3z6; 
Sàò  Siluertre  íuceílbr  do  Papa 
Mclciades ;  &  Empcrador  o 
grande  Conftahtínô . 


CAPITVLO  XXXXVI. 

A  P  OLL  O  N  I  O  XVI 

Jrcehifpo  de  Braga, 


Intirão  eran- 
deméte  o  cle- 
ro, &pouo  de 
Braga  mor- 
rcrlhc  tanto  á 


'porta  o  grande  Prelado   Saò 

•         ^  1 

Leôncio-,  eíperauano   comal- 

uoroço_,&  poriílo  feriao  mais 

ds  lagrimas  cõ  que  o  chorarão. 

Déraõlhe  por  fuccílbra  Apol- 

,  loiiio;  por  tal  o  nomea  lulia- 

1  no.    Leontio  inSede  Bracha- 


Apollcnw.  1 9  i 

renjfuccedií  Apollonius .  Naõ 
deuia  tardar  muito  a  eleição, 
porque  jâ  a  Igrej a  de  Dcos  go- 
zaua  de  paz,ò<:  liurcmente  po- 
dia exercitar  as  acções  tocan- 
tes a  íua  obrigação  .  Naõ  dei- 
xamos de  íolpcÍtar,q  foi  Apol- 
lonio  aquelle  melmo  quecõ 
Saõ  Leôncio  anda  no  Marty- 
rologio  Romano  a  is>.de  Mar- 
ço quando  àiz. Eodem  die  San- 
ãorum  Apollomjy  tf  Leontij 
Epifcoporum,  ^oto^uc  ajuntai- 
los  ambos  o  Martyroloeio . 
íem  a  henhu  nomear  Bilpado, 
&  ieiído  (como  ternos  proua- 
docomiuliano)eíl:e  Leôncio 
noílb^  &c  íuceflor  íeu  Apollo- 
nio  ,  indicio  lie  pêra  afsy  o  cÕ- 
leiturarmos. 

2,  No  tempo  dcftefanto 

Prelado  ,  íendo  Arcebiípo  de 
Toledo  Natal  ^  aquelle  que  no 
Concilio  Romano  fe  achou, 
como  no  capitulo  paliado  ef- 
creucmos  ,  fe  celebrou  na 
meíma  cidade  de  Toledo  ou- 
tro Concilio  ,  em  que  por  or- 
dem de  Conftantino  ,  &:deli- 
cençadcS.  Silucftre(como  o 
nota  Juliano)  fe  puzerao  em. 
melhor  ordem  os  Biípados  de 
Hefpanha^ou  pêra  o  difermos 
com  as  palauras  de  Dextro  . 
Epifcoporum  antiqua fedes^qu^e 
fuos  fines  a  mfe  rant^receperiít .  | 

òe 


Chron, 


Dex,att. 

Chrijíf 

3a8. 


_l 


Ig2 


Çapra  r.S 


MoraM. 


PadilbA 
[cent.i.c. 


íc  cornarão  a  rdlituir  aos  Bif- 
pos  de  Hefpauha  as  terras  an- 
tiguas  qucandauão  alienadas. 
Pcra  iílo  íe  aílentarao  as  mef- 
mas  finco  Mcnropoles,qucdá - 
tes  auia,Tarragona  na  Prouin- 
cia  Tarragoncníe ,  que  cntáo 
comprcndia  osReinos  de  Ara- 
gão^, Valença ,  Ôc  Catalunha: 
Mcndana  Prouincia  deLuíi- 
tania,  que  depois  íe  paliou  a 
Compollella:  Carthagena  na 
ProuinciaCarthaginenre/lon- 
ãc  fe  mudou  pcra  Toledo:  Se- 
uilha  na  Prouincia  Bccica  ago- 
ra Andaluzia.  &  Braga  na  Pro- 
uincia de  Galiza.  A  Tarragona 
fc  aílinaráo  dez   Bifpados  5  a 
Carthagena  19.-,  a  Mcrida  8. 
a  Seuilha  9.3  Braga  os  dez  íe- 
guintes  ,  Aftorga,Tui,Lugo, 
Coimbra ^ o  Padráo_,  cujo  Bif- 
pado  fe  paflbu  a  Compoftella; 
Briconia,  quecfleue  onde  ago 
ra  he  Ivlondonhedo,ou  (como 
outros  querem)  hc  Britiandos 
híjalcgoa  de  PontedeLyma; 
Vifeu ,  Lamego ,  Idanha  a  vc- 
lha,donde  fe  paílou  a  Cathc- 
dral  pcra  a  Guarda,  &  Oren- 

5  Por  cfcufado  temos  tratar 
aqui  fe  ouue  antes  deftc  Con- 
cilio j&  ordem  de  Conrtanti- 
no  dinifaõ  de  Biípados  cm 
Hefpanha ,  ou  fe  eíla  foi  a  pri- 


Capmlo  XXXXVL 


meira  vez  queícdelHnguiraõ, 
òí  Telhes  determinarão  certos 
Innitcs, quando  aspalaurasde 
Dextro  que  ja  referimos ,  & 
outras  de  luliano  que  logo  ci- 
taremosacíiáo  moílrando  tão 
claramétc.Iuliano  falado  deíU 
diuiíaõdizafsy.  Non  quodtúc 
c^iperint  In  Hijpama  Aletropo- 
Us ^qiufemper  fuerunt  nb  Apo- 
fiolis .  O  raefmo  diíTemos  fa- 
lando do  glorioío  SaÕ  Pedro 
de  Rates,o  qual  co  mo  Primaz 
de  todos  eíles  Reinos  jCrigio^ 
&z  deíbnguioCathedraeSjdeu- 
Ihe  Bifpos,  naõ  com  jurdição 
confufa ,  mas  bem  ordenada^ 
qual  pede  a  Icrarchia  Eccleíía- 
ííica,  ôc  coníla  das  Epiftolas 
DccretacSj  que  deixamos  refe- 
ridas ^  efcritas  aos  Biípos  de 
Hefpanha  cm  comum ,  <&:  em 
particular  aos  de  Braga,  &  de 
outras  Igrejas,  das  quaes  fe  ve 
que  antes  defte  tempo  auia  cm 
Hefpanha  Bifpos  diltintos,  ôc 
difterêças  de  Bifpados,  chama- 
dofe  alguns  Biípos  da  primei- 
ra Sè,que  hc  o  mefmo  que  Me 
tropolitanosicomo  cm  íeulu- 
gar  jàmoítramos. 
4  Tornando  aoBifpoApol- 
lonio  ,  elle  no  feruiço  defta 
Igreja  acabou  em  paz,deixan- 
doa  cm  melhorordem  pclla  di- 

uiíaÕ  do  Concilio  Toledano, 

_ 


Ttiii.  ta^l 
i9' 


^faprac.S 


Domiciano. 


19  i 


r    ■    'lÉll  


6j  muito  mais  por  lua  íui- 
gulannduítria,  &íaiKos  tra- 
balhos, dos  qiiaes  hoje  goza  o 
premio  merecido  na  conipa- 
iihia  dos  íantos  Prelados  de- 
fta  Igreja  anteceflores  feus . 
Era  amda  no  anno  de  fua  mor- 
te Sum.mo  Pontífice  Saó  Sil- 
ueíhe^  &  Emperador  Con- 
ílantino  Magno. 


CAPÍTVLO  XXXXVIL 


D    O  M  I  C  IA  N  O, 

que  alguns  intitulao  Arce- 
bijpo  de  Braga, 


A  Chtono-^ 
logia  dos  Ar- 
cebiípos  de 
Braga,  que  cí- 
ereueo  Padi- 
lha,nofim  do  re2;undotomo 
da  hiítoria  Eccleííaflica  dnda 
nomeado  logo  depois  de  Saó 
Pedro  de  Rates  entre  os  Ar- 
ccbifpos  dcrta  Igreja  Domi- 
ciano,  oqualpellos  annosde 
trezentos  &  quarenta  &fcte 
diz  Padilha  íe achou,  Ãraíli- 
nou  no  Concilio  a  qutí  vul- 


garmente cham.amos  Sardi- 
ceníepor  fe  celebrar  cm  Saí^ 
dica  agora  Triadith-,  cidade 
de  Thraciá  ,  &  ainda  que  não 
pos  mais  qnçDomitianusEpif- 
€opus  chiitatis  AtigufiíCjté  pe- 
ral! Padilha  q  o  nome  de  Au- 
gurta  era  próprio  de  Braga,  \Si 
por  aqui  le  refolue  fer  Domi- 
ciano  íèu  Arcebirpò.  Ptimeí- 
ío  que  clle  foi  dcíle  parecer 
Vafcu  ieuadó  da  meíma  con^ 
jcitLira,  que  potier  de  hum  hi- 
lloriador  caó  grâue  ,  d:  taõ ' 
benemérito  de  He  í  panha,  liáò 
era  pouco  de  eftimarj  le  neíla 
Prouiiicià  nãbõúuera' outras 
cidades  ,que  a  íeu  pf bprio  no- 
me ajuntarão  os  íobic  nonies 
de  Augullas.Eíla  repollànos 
faz  duuidoío  fc  tomado  á  Do^ 
miciano  pêra  aSè  dcBràga  fica- 
remos cm  reílítuiçáo  aoutras^ 
que  cõ  iguais  motiuòs  o  pod6 
prctéderpera  íy.Chamòuíe,& 
íc  chama  ainda  hojeBràga,Br^ 
chara  Augujlã:  mas  tâinbem  a 
cidade  de  C,aiagoça  cm  Ara- 
gão fechamóu^  &  chama  C4- 
faraugufla  ,  Merida  na  Luíi- 
túnu, Emérita  AtiguíLt^Adov- 
ga  ^  Afiurica  Auguíla ,  Xatiua 
no  Reino  de  Valença ,  Sètdhis 
Aiigusid^Bt]ã^òn^SLÒ.z]ò^  .Pdx 
Aiiguíia.  Coú\  que  rezão  lo- 
go poderemos  pretender  mais 

R  juíliça 


in  chtàm 

foi.   ^Jl 
vtrf. 


194 


CapttuloXXXXVII. 


juftiça  no  Bifpo  Domiciaiio 
que  qualquer  das  cidades  no- 
meadas. 

i  làTe  quizermos  fair  de 

Herpanha^quantas  cidades  en- 
conaaremos  com  o  titulo  de 
Au  guitas  ?  em  França  as  três, 
Augujia  Vocontwrum^  Augujla 
Aufcorú,  ou  ^utiorú ,  Augufla 
Pf^tona^é  vulgar  Dich,Aux, 
e  Olta  cidades  cachedraes  nobi 
lifsimas.No  Viãmõte,Auguiia 
Taurinorum  ,  Turin  ,  corte 
hoje  dos  Duques  de  Saboya. 
Na  Alemanha  ,  Augujia  Tibe- 
rij ,  hoje  Regeníhurg,  ou  Ra- 
tifbona,  Augusta  Treuirorum, 
na  hngoa  da  terraTrier,&  pê- 
ra nos  Treueris ,  Augufla  Vin- 
dèlicorum  ^  Auíburg,de  quem 
falamos  na  vida  de  Saõ  Nar- 
ci  ílo.  Augusta  Veromanduorum^ 
cujo  nome  ao  prcfentc  he 
Vérmand  Abbai^  porque de- 
itruindofe  a  cidade-  antigua- 
mente  Epilcopal,  &  fuíFraga- 
nea  ao  Arcebiípo  de  Reaes ,  fe 
fundou  aly  hnm  notaueí  mo- 
fteiro  de  São  Bento^pcllo  qual 
fediz  Vermand  Abbadia,  Que 
diremos  logo  a  tantas^  &  tão 
illuftres  cidades ,  fe  nos  quize- 
rcm  pedir  por  Bifpo  a  Domi- 
ciano?  Tomarlho  pcUo  nome 
de  Augufta  que  Braga  tem  de- 
pois do  próprio,  he  manifefta  I 


lèm  rezão ,  porque  por  ellas  o 
terem  cm  primeiro  lugar,  & 
antes  do  titulo  que  acrecen- 
tão  como  por  moftradordas 
prouincias  onde  eftaõ  edifi- 
cadas ,  pêra  afsy  ferem  melhor 
conhecidas ,  náo  perdem  an- 
tes ganhão  por  mão  às  outras 
efta  contenda. 

3  Por  mais  acertado  te- 

mos largar  todo  o  direi- 
to de  Domiciano  à  cidade  de 
Beja,  cujo  Bifpo  o  faz  A  m- 
brofio  de  Morales  dizendo, 
que  aílinou  nefte  Concilio. 
Domitianus  PacisAuguft^Epif- 
copus  .Ou  à  de  Aftorga  a  quem 
o  dà  Biuar ,  ou  com  mais  cer- 
teza á  de  Badajòs  ,  onde  foi 
primeiro  Bifpo  como  affir— 
mãooChroniílaGil  GonçaU 
ucz  de  Auila ,  &  Morenc^e 
Vargas ,  trazendo  em  confir- 
mação diílo  huns  efçritosde 
maóda  Uuraria  do  Efcurial, 
que  leo  o  Doutor  Rodrigo 
de  Ofma,  onde  eftaaflinado 
Domiciano  com  efta  firma. 
Domitianus  Epifcopus  Pacis 
Augufla  ,  a  qual  elles  pro- 
uão  foi  a  cidadtí  de  Badajòs; 
cõ  q  fe  tira  toda  a  duuida,vifto 
como  os  no flbs  Arcebiípos 
de  Braga  femprcfocfcreuerão 
primeiro  o  nome  da  fua  cida- 
de ,  &  depois  fe  queriaõ  acrc- 


lib.  19.  c. 


Binar  a  { 
De  M.An.  . 

Itatrt 
EccleftA,  I 
d*!gr€J4 
de  ti  Ada' 
jos% 

f^argA's ; 
hiffor.  ie 
Mcrtdíi 
li  Z.C. li 


centauao 


Idacio  />  oíí  Epitacio 


Í95 


centauaõ  o  lobreiíome  de  Au- 
guíU  dizendo  ;  Domttianus 
BrachaVíe  Augufl^e  Epijcopus. 
Sobre  tudo  no  anno  de  crezé- 
tos  &  quarenta  de  íete^em  cjue 
o  Concilio  Sardicenle  íe  cele- 
brou^ era  ídacio  Biípo  defta 
Cathredal,  como  diremos  no 
capitulo  ícguinte:  o  que  to- 
talmente o  exclue  de  Braga, 
aindaque  como  no  principio 
diziamcs  no  lo  quizeraõ  dar 
Vaícu ,  Padilha ,  &oBiípodc 
Portalegre  Dom  Amador  Ar- 
raes  quando  diile  quenoCõ- 
cilio  Sardicenfe  fora  Braga  cha- 
mada cidade  Auguíla,  o  que  fe  i 
não  acha  em  outro  lugar  fe-  • 
não  na  firma  do  Biípo  Do— 
miciano ;  no  que  falou  com 
algum  defcuido  do  que  tinha 
acima  cfcrito ,  quando  cha- 
mou a  Domiciano  Bif- 
po  não  de  Braga, 
mas  de  Be- 
ja- 


^1 


.H- 


CAPITVLO  XXXXVIÍI. 

I  D  A  C  I  o,  o  V  E'PI- 

tacio  XVll.  Árcebifpo  de 
Braga. 

Orto  o  gran- 
de Conllan- 
tinopellosan 
nos  de  337. & 
deixando  por 
herdeiros  íeustres  filhos  Cõ- 
ftantino,Conll;ancio,&  Con- 
fiante por  quê  repartio  o  Im- 
pério, cabendo  a  Conílantino 
aquclla  parte  a  que  depois  cha- 
marão Império  Oriétal,  fè  dei- 
xou logo  no  principio  de  íeu 
goiíerno  corromper  da  herc- 
gia  Arriana,  pcrieguindo  gra- 
uilfimamente  em  quanto  a  vi- 
da lhe  durou  aos  Cacholicos, 
jà  com  lhe  coníiícar  fuás  fa- 
zendas, jà  com  os  priuardas 
honras  da  Republica ,  jà  final- 
mente com  à  força  de  exquifi- 
tos  tormentos  lhe  tirar  a  vida. 
ForãoosBifposq  então  viuiaõ 
os  a  q  coube  o  mais  áspero  de- 
ita pcrfeguição,e  aquelles  prin 
cipalmentc  q  mais  íe  dauão  a 
conhecer,ou  pella  fama  de  fua 
íanticíadc,  ou  pell^  dignidade 
de  fuás  Cadeiras.-:'' 


Ri 


Mui- 


192 


Capitulo  XXXXVIIL 


m  ehron. 


z  Muitos  auia  naquclla 

confúhção  em   Hefpanha  a 
quem  por  fuás  letras  ,  &c  eí- 
critos  acometiaó  graiiciemen- 
tc  òs  Arriauos.  trão  três  os 
principaes:Oílo  Biípo  de  Cor- 
doua,  aquclle  que  prefidio  110 
Concilio  de  Nicea  :  Olympio 
ArccbifpodeToledo,  quede 
Thracia  tinha  vindo  delíerra- 
dorldaciOjOuEpitacio  Arccbif- 
po  deBraga^de  quê  diz  luliano 
que  fucedeo  a  ApoUonio.L^o- 
tio  in  fede  Bracharenfi  fuccedit 
ApoUonms yhuic  i^Idatius.  E 
porque  do  anno  de  fua  eleição 
naõ  fabcmos  o  certo,pera  me- 
lhor declararmos  o  mais  que 
delle  efcreueo  luliano  ,    íera 
neccílario  tratarmos  hix  pou- 
co de  Orio,&  Olympio. 
j  .         A  Ofio  períeguiraõ  a 
toda  a  fúria  os  Arrianos ,  aca- 
bando com  o  Emperador  Cõ- 
ftantino  o  tirafle  duas  vezes, 
de  Cordoua ,  onde  viuia   jà 
cancado  dos  trabalhos ,  &  na- 
quella  idade  o  trouxeílea  Cõ- 
ftantinopla,onde  quando  pel- 
lo  mefmo  Emperador  lho  pe- 
dir,não  quizcíle  condenará 
Santo  Athanafio,a  poder  de 
tormentos   perdelfe  a  vida. 
Aísy  foi  que  perfeuerando  fir- 
me Olío  contra  o  que  lhe  pe- 
dirão na  prcícnça  do  Empera- 


dor ,  fem  o  herege  refpcitar  a 
hum  varaõ  taõ  eminente,  a 
quem  feu  pay  eft imara  tanto, 
íoi  açoutado ,  &c  com  vários 
tormentos  dcípédaçado,  co- 
mo o  conta  Sozomeno  dizen- 
do .  Verberibus ,  njt  fama  eíi 
ibi  fenexHofus  c<efus.  Emais 
claramente  Sócrates  .    Simul 
atqiié  fenex  ille  eorum  fidei 
afsentiri  abnuebat ,  plag^  illi 
erant  infiiã^  ,  membraquè  ma- 
chinis  diHorta  .    Naó  talando 
doutras  perííguiçoés,&:  afron- 
tas de  que  dà  larga  conta  San- 
to Athanafio ,  &  íe  podem 
ver  na  carta  que  efcreueo  aos 
do  Ermo  ,   porque  toda  he 
hum  memorial  do  muito  que 
Ofio  padeceo  por  nolla  fanta 
Fè. 

4  A  OlympioBifpo  fátifsimo 
de  Toledo,  òc  varão  doutiísi- 
mo  perfiguiráo  também  pel- 
la  Fè  os  mefmos  hereges  Ar- 
rianos.Defterrarãono  deThra 
cia  (  onde  era  Bifpo )  pêra  Hef- 
panha .  Viuendo  em  Toledo, 
lhe  dcraõ  por  feus  grandes 
merecimentos  aquella  mitra: 
,ao  queajudou  não  pouco  fer 
elle  Português  de  nação  natu- 
ral de  Lisboa-, mas  ainda  afsy  o 
não  deixarão  os  hereges  viuer 
quieto  có  calunias  a  fim  de  o 
odiaré  CÓS.  Athanaíio  peraquc, 

ou 


Sofon.lib 
4.r.5. 


Socratet 
lib,  z,c.\ 
24. 


5  .Àthan 
Efifl.  ai 
folítarii 
vitam  4- 
gentes. 


Mian  in 
hro.pag. 
42. 


Idâdoí,  OH  Epirdcio 


\97 


& 


n:t  CIO. 


OU  dc  grado,  ou  de  força/olíc 
em  lua  condenação:  mas  tudo 
foidcbaldc^porque  todas  eílas 
.pcrí;guiçoês  nuncjua  pudc- 
rcióeicureGer  a  firmeza.  &  pu- 
reza-de  íua conílancia,  cjiial a 
lih  1.  CO-!  viãoatè cm  ícu  nome  prono- 
íticada  os  hereges.  Ha  grande 
í>cr7»''*,  mençáoem Santo  AgolUnho 
2;iC:::«|deOlympio:chamalhc.  Vir 
Pcbgta-  -magnsinEcclefiaJj'  in  Chrijlo 
glçrU.  Varão  glorioío  pêra  có 
Dtccs,  Òí  pêra  com  os  homés, 
&  nas  letras  o  põem  entre  os 
írinèos ,  Cyprianos ,  Hilários, 
Ambrolíos,  Grcgorios ,  Inno- 
cencios  ,  Bafiliosjlcronymos. 
Celebra  a  Igreja  a  fcfta  de  Sãto 
Olympio,&  a  põem  o  Marty- 
rologioRomanoaos  ii.de  lu- 
Iho  cõertas  palauras.  J>?  Thra- 
cia  Sanai  Olympij  Epifcopi^ 
quiab  Anianis  fede  depulfus 
<onfè(^oroccubuit. 
5  Tudo  ifto  diíTemos  afim 
de  paliarmos  ao  que  luliano 
acrecenta  do  noíTo  Santo  Ar- 
ccbifpo  Idacio,  ou  Epitacio. 
Vai  luliano  fazendo  memoria 
do  muito  que  naquclle  tempo 
padeciaõ  os  Bifpos  catholicos 
pericguidos  pellos  Arrianos ; 
diz  cie  Oíio,  de  Natalio,&: 
de  outros  grauilUmos  ,  &í 
SantiíTimos  Varões ,  &  então 
conciue.I»  quibus  mirecUruit 


MímK.iH 
41. 


'Rpiratms  Epifiopus  Brachãrt- 
jfii.F-orãoeítcs  Prelados  -nico' 
íLinciâde  fua  Fe  entre  tantáá 
pcrííguiçoé';,  e  dcllcrro$,çftrèl 
ias  rerplanclefcntes  ;màs  oSol 
de  todos  foi  £j)ÍLacio  Arcebií^ 
po  de  Braga:tantofea'vâlor,& 
esforço  auantejou  atodos  ò"s 
mães.  -■  -••"•' ' ''-  "^  -  -■  ■ 
6  Cõgregoiífe  pellos  annos 
de  Chnllõ  3/9.  em  Riminc  ci- 
dade de  Itália ,  ÔC  luffraganeaa 
Rauena  o  CohalioAriàíinen- 
ferconcorrerãoa  elle  510.  Bif- 
posCatholicoSjC  80.  Arrianos. 
Naõ  faltou  em'  ajuntamento 
tã  faerado  Epitacio,  morméte 
achandoflc  aly  Gíio,&0  lym- 
pio  fcus  cópânhciros  nas  per- 
feguiçoés  dos  Arfiaiios,^^  len- 
do a  caiifa  q  âly  fe  tratauâ  a  de 
S.  AthanafiOjeiTi  que  tanto  hia 
aos  Bifpos  Catholicos  porei- 
Ic  defender  a  Fe  do  Concilio 
Niceno ,  &  fcr  a  principal  oc- 
cafiáo  dos  trabalhos  que  en- 
tão todos  padeciaõ  em  Rimi- 
ne .  Afsy  como  entre  os  mães 
perfeguidos  pellâ  Fé  adniira- 
uelmentc  reíplandccera  Idacio^ 
afsy  aqui  entre  os  congrega^ 
dospella  defender  por  excellc 
cia  fe  auantejaua.Tomou  a  pe- 
na, Sc  do  melmô  Concilio j 
dizIuliano,eícreueoaConítã-  < 

cio,  quam  deliberados  eílauão   '^j",\y^.,f*i 


ÍMlian. 


R  3 


tod 


CS 


19$ 


CafUuloXXXXVni. 


todos  aqucllcs  Bifpos  Catho- 
licos  a  morrerem  pella  Fe  cn- 
íinada ,  &c  decretada  no  Con- 
cilio NicenOjpor  iíTo  fenaó  cã- 
çaflc  em  os  perfcguir,  porque 
clles  naõ  caiifariáo  nunqua 
cm  padecer. 

7  AchoufctambecmCor- 
doua  em  outro  Concilio  a  que 
Oílopello  muito  que  valia,  òc 
podia  com  os  Bifpos  de  Hel- 
panha ,  chamou  a  muitos  del- 
íes .  Qujs  cftc  íanto  Prelado 
{ fanto  lhe  chama  muitas  ve- 
zes San  to  Athanaíio,&  os  Sy- 
ros  çclcbrão  fua  fcfta  35.  de 
Noucmbro  j  no  cabo  de  fua 
vida(paflauajà  cntaõ  de  cem 
annos)  purgar  diante  daquelle 
grauiífimo  ajuntamento  de 
Padres  (erão  elles  mais  de  céto) 
a  culpa  em  que  cairá  quando 
por  pcrfuafaó  de  Conílancio 
Emperador  ,  &  muito  mais 
por  fua  muita  velhice  comuni- 
cou com  os  dous  hereges  Vr- 
íacio,  &  Valente  conocnados 
por  Arrianos ,  &  grandes  fau- 
tores de  ícu  meftrc  Arrio.  Ef- 
candalizoueftaacçaõ  aos  Ca- 
tholicos  que  delia  fouberão,& 
foubcrãona  todos ,  porque  os 
hereges  pello  muito  que  fazia 
em  ícu  credito ,  òc  do  mefmo 
Emperador  a  publicarão  por 
todo  o  mundo .   Cahio  O  fio 


no  mal  q  tinha  feito,  òc  como 
daly  parece  fc  fcguia  qucrc- 
gcitaua  também  os  Decretos 
do  Concilio  Niccno,  &  daua 
por  bem  condenado  a  Santo 
Athanalio  :  em  prefença  da- 
quclles  íantos  Prelados  decla- 
rou primeiramente  que  cUc 
femprc  no  animo ,  &  na  von- 
tade fora  Catholico,&  quenú- 
qua  lhe  paílãra  pcllo  pcníamé- 
to  crer  outra  couía  que  o  que 
cria,  &  cníínaua  o  Concilio 
NicenOjde  quem  nunqua  íe  a- 
partàra,  fò  que  por  fua  grande 
mifcria ,  de  que  eftaua  grauif- 
íimamente  arrependido  admi- 
tira a  fua  comunicação  Vrfa- 
cio,&:  Valente  por  fenãoa- 
trcuer  jàafofrer  as  importu- 
nações de  Conftancio ,  as  ca- 
lumnias  dos  hcreges,6«:  muito 
mais  por  entaõ  entender  que 
ellcs  tratauãodc  viuerCatho- 
licamentc ,  &:  deixar  de  perfe- 
guir  os  fieis. 

8  Chorou  Ofío  eíla  fra- 
queza toda  a  vida ,  &  não  fe 
dando  ainda  por  contente  c5 
o  que  naquellc  Concilio  auia 
feito,  quando  chegou  à  hora 
da  morte  declarou  em  feu  te- 
ftamento  morria  na  Fc  do  Cõ- 
cilio  Niccno ,  «5<:  anethemati- 
zaua  Arrio  ,&  fuás  blasfémias 
com  quem  nunqua  quizera 

paz 


iHÍián.m 

chroH. 


Idacio  L  ou  SpíMcíô. 


199 


SaHtelJf- 
doro  de 
vtr.tllHf. 
*.  14. 
Moral. 
lib.it.e. 

37. 

Brit  2.p. 
mtn.li.y 

lan.Chrif. 

(6j. 
Dtxu  An 
ChriJ}. 
l6ti 


JulÍ4M.  in 

chrà.pa£. 


paz  ncnhúapor  cllea  naó  que- 
rer com  Deos  ^  &  fua  Igreja. 
Dcfta  maneira  deu  fua  alma  a 
Deos  acabando  cm  paz  na  ci- 
dade de  Cordoua,  onde  por 
muitos  annos  fora  Bifpo.Dou 
tra  maneira  conráo  fua  morte 
Santo  Iíídoro,Moralcs,&  frey 
Bernardo  de  Brito  ^  dizendo 
fora  defeftrada ,  &  repentina: 
mas  o  que  deixamos  referido 
hefem  duuida  o  certo ,  como 
fe  pode  ver  mais  largamente 
no  Cardeal  Baronio,&:  em  Fla- 
uio  Dextro. 

9  Logo  a  pos  a  acção  da 

pcnitcciaj  &  coníiílaõ  de  Ofio 
íe  tratou  o  negocio  de  S.  Atha- 
naíIo,&  correndo  os  votos, 
naò  ouuc  nenhú  dos  prcfen- 
tes  y  que  o  naÕ  declaraíle  por 
innocéte,&fòra  de  todas  as  ca- 
iu mnias  com  que  os  hereges 
oinfamauão.Naõ  conta  Dex- 
tro entre  os  Bifpos  prefentcs 
a  efte  Concilio  o  noífo  Idacio, 
ou  Epitacio  ,  contao  porem 
luliano ,  &  acreccnta  que  em 
Braga  fez  também  ajuntar  ou- 
tros, em  que  fe  condenarão  os 
mcfmosArrianos,  &  feefta- 
belcceoa  Fè  do  Cõcilio  Nice- 
no,&  de  feu  autor  Santo  Atha- 
naílo,&  por  ventura  que  com 
os  olhos  neftes  Conciliosdc 
Cordoua,&  de  Braga  efcreueo 


Santo  Athanafio.  Diuerjis  con- 
filias  per  Galiiam ,  Bijpaniam,  \^/Éplne 
i^  Romam  celebratis  ,  omne^  tum. 
quiineo  conuentu  fuère  luci- 
fugas ,  quífe  et  iam  nunc  occul- 
tant^i^t  qUitArrijfuntyfapiunt:^ 
Auxentium  dico  Mediolancfetn 
Vrfatium^i^  Valmtem  com- 
muni  calculo  ijnius  Jpiritus  in 
citati  anathemate  percujferút. 
Querédo  dizer  que  cm  vários 
Concílios,  que  fe  tiucráo  por 
França  ,  Heípanha ,  &  Roma 
todos  aqucUes  Padres  leuados 
do  mefmo  efpirito  cÕdenaraõ 
aos  hereges  Auxencio  de  Mi- 
lão, Vríacio ,  ôc  Valente  ,  que 
como  aues  no(5turnas  anda- 
uãopor  antaõ  efcondidos. 
10  Neftc  Concilio  ce- 

lebrado em  Roma  no  anno  de 
364.  referido  por  Santo  Atha- 
naílo  fe  achou  também  Epi- 
tacio, como  eícreue  luhano, 
em  companhia  de  Gregório 
Arcebifpo  de  Toledo  ,  &  Hi- 
merio  de  Tarragona.  EUe  aca- 
bado naó  acabando  em  feus 
peitos  o  zelo  da  Fè,  &  ódio  da 
hcrcgia  deráo  todos  daly  con- 
íigo  em  Tianha  cidade  de  Ca- 
padócia nas  raizes  do  monte 
Tauro,onde  fouberaó  eíbuaó 
juntosem outro  Concilio  os 
Bifpos  da  Igreja  Oriental ,  & 
Ihcleuaraó  osDecrctos,que  no 


IH  chron, 
P^i'  44- 

uerf.fsg 
106, 


R4 


Romano 


200 


Capitulo  XXXXVIII. 


Romano  ícacabauio  defa2er, 
tV-ordem  do  Papa Feliríegun- 
do  do  nome  ficfanellcprcíídi- 
rem'  CO  mo  legados  Apoítoli- 
côs.' Chegarão  ao  Concilio 
onde  com  íiia  preiençn  alegra- 
rão grandemente  aquelk  •  -ve- 
rierauel  ajtintamento.    '■ 
íi      A  prejídencia  do  Conci- 
lio de  Tianha"  com  que  o  Pa- 
pa Pélix'  honrou  a  EpitaciOj  & 
a  grande  amifade  que  com  S. 
Baliho  Magno  teue  nos  fazem 
forpeicar  poderia  fer  Grego  de 
nação  ,  &  hum  daquelles  Bif- 
pos  dcfterrados  deThracia  por 
Cõftsncio  como  o  foi  d  finco, 
&  douro  PreladoOlympio  ícu 
concêporaneo  ■  &í  depois  elei- 
ta Bifpo  de  Toledo  emHefpa- 
nha  onde  impcraua  Cóftácino 
grande  Catholico,  òc  verda- 
deiro  imitador  das  virtudes  de 
íeu  pay:ou  pello  menos  fendo 
moço  Epicacio  íeria  mãdado  a 
Coilrtantinoplacomo  o  eráo 
muitos  dos  Hefpanhoes  pella 
comunicação  ,  que  entaõ  auia 
entre eftasProuincias.  Daqui 
entendemos  fe  conhecerão  S. 
Bafiho  Magno ,  <^  Epitacio , 
efcreuendoíè  ,   &  tratandofe 
com  amizade,  poftoquedas 
caitas  de  hum,  &  outro  íicalle 
pouca  noticia :  com  tudo  em 
SaÕ  Baíilio  anda  a  que  comc- 


•  ça.   Quoniam  nifíjperantibus^ 
íjfc.  onde  o  íanto  Doutor 
louua  com  palauras  de  muito 
encarecimento  íua  grande  Fe, 
ík  fantidadc.   Chegão  as  me- 
morias de  Epitacio  aoanno  de 
366.  do  Nacimcnto  de  Chri- 
fto  ,  Naõ  coníla  íè  foi  o  viti- 
mo de  íua  vida^ou  fe  viueo  al- 
guns mais  adiante.   Gouerna- 
rão  a  Cadeira  de  Saõ  Pedro 
por  eíles  annos  depois  do  Pa- 
pa Saõ  Siluellrc,  Marcos,  lu- 
lio,Liberio,  Sc  Saõ  Félix  II.  do 
do  nome:  o  Império   depois 
do  grande  Conftantinc    tiue- 
rão  Conllantc,  Cóftancio ,  & 
Conftantino  feus  filhos ,  de- 
pois luliano  Apoftata,  louia- 
noj  ôc  no  Oriente  Valente ,  ôc 
noOccidentc  Valentinianofeu 
irmão . 


CAPÍTVLO  XXXXIX. 

LJMPADIO     XFIII. 

Arcehifpo  de  Braga. 


R  A  N  D  E 

cõcendaíenos 
oílcrece    no 
prefenrc  capi- 
tulo étre  d  oUç 


graues    autores   Heípanhoc< 


.^.íi.4A 


& 


antiguos 


hamfãdio. 


201 


I  .inciguosambos_,&:  a  quem  co- 
mo lume  dahiltoiia  Eccleíía- 
ftica  de  Heípanha  leuamos 
kmpre  diante  pêra  não  errar, 
entre  tantas,&  táo  efpeflas  cre- 
uas  quantas  a  confundcm_,&: 
efcurecem.  Pêra  melhor  deci- 
dirmos a  cõtenda,  pois  de  for- 
ça nos  faz  elte  noíTo  aíTunto 
arbitro  nella.  He  dcíaberque 
Icuantandofe  pellos  annos  em 
que  imos  com  eíla  hilloria  em 
Galiza  Priícilliano  herege  mal- 
dito_,inquietou  j&  perturbou 
grandemente  por  fy ,  &  pellos 
Biípos  que  o  feguiao  todas  as 
Igrejas  de  Hcípftiha ,  &  mui- 
tas das  de  França  pella  viíínhá- 
ça,  &  trato ,  que  entre  húas, 
&  outras  fempre  ouue .  Pêra 
it  dar  remédio  a  efta  peçonha 
fcacodioà  mais  apurada  tria- 
ga dos  CatholicoSj  qual  foi 
ajuntar  Concilio  ao  qualfoA 
íem  chamados  os  Bifpos  das 
terras  inficionadas  ,  que  como 
diflemos  eraõ  Hefpanha ,  & 
Frâiiça .  Efcolheofe  pcra  efte 
ajuntamento    a    cidade    de 


C  ara^oca  alsy  em  reueren- 
cia  do  iníignc  Sanétuario ,  & 
Igreja  da  Virgem  do  Pilar  taõ 
celebrada,&:  venerada  no  mu- 
do, como  por  ficar  quaíí  no 
coração  das  Prouinciâs  onde 
rinhaabranHdoa  hcrcgia,  & 


muito  accõmodada  pcra  aiy 
poderem  vir  os  Bilpos  Fran- 
ceíes. 

i  Difcrepão  os  autores  no 
anno  em  que  elle  Concilio  fe 
publicou,  &  celebrou.  Alguns 
o  põem  no  de  580.  outros  lo- 
go no  que  {t  íeguio  de  381. 
Dextro  no  de  384.  Ói:  não  pa- 
receo  a  diuerlidade  de  três ,  ou 
quatro  annos  de  tão  pouca 
importância  ao  Arcebiípo  Dó 
Garcia  de  Loayfa,  que  por  el- 
la  não  julgallè  eílc  Concilio 
por  outro  diíFeréte  do  que  an- 
da na  íua  coUcição  com  titulo 
deC^aragoça;  &  na  verdade 
bem  pezadas  ãs  rezocs  que 
pêra  iflb  ha  tem  muito  de  pro- 
uaiiel  efte  juizo.  Mas  não  he 
agora  tempo  de  nos  diucrtir- 
mos  com  elle  ^  abaixo  terá  feu 
lugar. 

3  Acodiraõj  como  jaco- 
meçauamos  a  dizer,a  elle  Cõ- 
cilio  muytos  Prelados ;  conta 
Dextro  entre  elles  a  idacioMe- 
tropolitanõ  de  Bragâj&  lulia- 
no  ( efte  he  todo  o  ponto  da 
contenda  entre  Dextro,  <?c  lu- 
iiano  )  chema  ao  Bracharenic 
que  aqui  fe  achou  Lampadio. 
As  adas  do  Cocilio  de  C,ara- 
goça ,  que  trás  Loayfa  també 
nomcaõaldacio.mas  fem  I?re- 
ja .   Os  que   nomea   Dextro 


384.  «.7 


"Dext,  d. 

an,  384. 
lidian.  sfi 
'líiucrf. 


lucremos 


202 


CaptdoXXXXVIUL 


ÍUí 


queremos  vao  com  luas  pa- 
lauras  como  andáo  na  impref- 
íàõdefr.FrãciícocíeBiuar.  C^- 
faraugufU  alterum  Cóciliiicó- 
trahitur ^  pr.^fuit   Phsdagius 
Epífcopus^interfuerunt^  Epif- 
copusBurdeg(tlcfs,Epifcop9  To 
Icfanus  , HeUnenJís(qui  uenits 
cx  Ltijitaniaobijt  GanaCíC  Ve- 
rocoíji  oppido  occafum  ijerfus^ 
Tokto  difias  xxiiij.  Aí.  paj?. ) 
interfucre  etiam  Idatius  Me- 
tropolitãnus  Bracharenjís,  Au- 
denttus  Metropolitanas    Tale- 
tamis  ,  Etherius  Epifcopm  Of- 
fonenfís,  Cartherius  "vxamenfs , 
Líipus  Epifcopus  Telenjis  ,  Fa- 
hrius  Epifcopus  Ctefaraugitíta- . 
nus^if  alif  inquibus  EmiUBar- 
cinontnfis^  ex  Galha  Sanãus 
Martinus  Turonenjis.  Saõ  em 
Português. Ajuncatc  Concilio 
em  C,aragoça,prehdionelleo 
Bií po  Phecíagio  (falta  a  cidade 
donde  era  Bifpo  )  foraõ  pre- 
rentcsoBifpo  de  Bordeos ,  o 
de  Tolofa  ,  o  de  Helna  (  que 
vindo  dePorcugal  morreoem 
Ganaça  lugar  diílante  de  To- 
ledo i4.milhas)Idacio  Metro- 
politano de  Braga,  Audcncio 
de  Toledo,  Etheriodc  OlTo- 
noba,  Cartherio  de  Ofma, Lo- 
po de  Tela  (efteuejuntoaPa- 
lencia,  &  tcue  muitos  annos 
Biíno,  que  agora  he  o  mcfmo 


de  Palencia)  Valério  de  C^ai  a- 
goça5<S<:  outrGS,cntre  os  quaes 
Ic  achou  também  Emiia  de 
Barcelcna^d:  Saõ  Martinho  de 
Turon.Os  q  andao  em  Loayla 
íaóiO  primeiro  phedagio  pre- 
íidcntCji.  Delfino, 3. Eutichia- 
no,4.  Apcllio, 5.Idacio,<í.Au- 
gencio,  7*  Carterio,  S.Valerio, 
5>. Lucio/ema  nenhum  porá 
cidade  onde  era  Bilpo.  IiJia- 
no  põem  quatro  Metropoli- 
tanos de  Hefpanha ,  Lampa- 
dio  de  Braga,  Idacio  dcMcri- 
da,Leonas  de  Cartha2;cna  .  If- 
mario  de  Tarragona,^  outros 
de  França,  como  Phitadio  de 
Narbona,  Delfino  deBordeos, 
Saõ  Martinho  deTuron. 
4  Aísy  que  Dextro  cha- 

ma ao  noflo  Arccbilpo  q  aqui 
aílillio  Idacio,  &  luliano  cha- 
malhe  Lãpadio.He  de  ver  qual 
dos  dous  tem  por  fy  a  rezão, 
òc  qual  menos  inconucnien- 
cia  pêra  o  feguirmos.  Eftao 
por  Dextro  primeiramente  os 
tempos  mais  vizinhos  aos  dc- 
fte Concilio,  &  afsy  poderia 
fabcr  mais  delle  que  luliano. 
Naceo  Dextro  no  anno  de 
368.  &  quando  o  Concilio  fc 
celebrou  tinha  jade  idade  16. 
que  pêra  quem  logo  ác  moço 
foi  inclinado  à  hiftoria  ,  &  de- 
terminou eícreuera  Eccleíía- 

flica 


m  adi-ter, 
d.  fag. 

lio.    tíi 

471- 


Lampadio. 


203 


ítica  deHefpanha^erão  baftan- 
ces  pêra  não  poder  ignorar  as 
coutas  q  então  fucedíaó,  mor- 
mente húa  tão  notória  como 
os  Bifpos  que  naqucllc  Con- 
cilio tão  celebre  íe  acharão, 

5  Acrccentafc  em  fcgun- 
do  lugar  em  fauor  de  Dextro, 

6  cm  rczáõ  dos  mcfmos  tem- 
pos ícr  por  eftesannos  Arce- 
biípo  de  Braga  Idacio,  cuja  vi- 
da acabamos  de  efcreuer ,  & 
cuja  memoria  diíTemos  chc- 
gaua  ao  de  366.  náo  porque 
então  logo  mocreíle^mas  por- 
que dahy  em  diante  naó  en- 
contramos com  elle.  Pois  fc 
agora  lhe  dà  Flauio  Dextro 
mais  iS.annos  de  vida,&  o  faz 
ainda  viuonode  384.  náo  ha 
rezáo  pêra  os  não  aceitar- 
mos. 

6  E  fc  Idacio  do  Conci- 
lio deC^aragoça  não  he  o  nof- 
ío  de  Braga  porque  a  viuer  ate 
oannode384.  teria  cntaõ  de 
Prelazia  jó.annos  ,  vifto  co- 
mo fcu  anceceflbr  Apollonio 
faleceo  pellos  annos  de  318.  de 
q  memoria  conílaqlogo  en- 
tãoldacio  foi  eleito  Arcebifpo? 
&  não  poderia  aucr  algús  an- 
nos de  vacância,  mayormcn- 
tc  em  tempos  que  os  Hereges 
Arriaiios  podiaÕ  canto  ,  &  cõ 
fuás  prctenfoés  >  &  valias  cm- 


baraçauaõ  as  Prelazias, preten- 
dendo fubir  a  ellas  ?  Mas  dado 
que  logo  no  mcímo  anno,  & 
amda  no  meímomes,foí]e  ciei 
to  Idacio,  que  m uitos  crão  pê- 
ra aquella  idade,  onde  os  ho- 
mens viuiaõ  tanto,56.  annos 
de  Bifpadoi  quando  no  mef- 
mo  tempo  de  Idacio  teue  Ofio 
Bifpo  de  Cordoua  mais  de  60. 
annos  de  Prelado  pois  era  Bif- 
po no  anno  de  300.  emquefe 
celebrou  o  Concilio  Eliberita- 
no,  &  moirreo  no  de  360? 

7  Nenhúa  das-rezoés  aci- 
ma allegadas  nos  pode  conué- 
cera  não  aceitar  delulianoo 
Arcebiípo  Lampadio  que  nos 
da  ;  não  porque  anteponha- 
mos fua  au  toridadc  ã  de  Dex- 
tro, que  bem  dillinguimos  o 
que  a  cada  hú  fe  deue,mas  por- 
que fofpeitamos  vicio  no  tex- 
to de  Dextro :  &  temos  cui- 
dentcs  argumentos  pêra  cui- 
darmos que  aqucllas  duas  pa- 
lauras,íí/^íi«í  Metropolttanus 
Br  achar  enJis^z\i\3LÕáç.  áizzr  no 
próprio  originaI,iVíg/-rí7/>o//><í- 
nus  Emeritenjís. 

8  Seja  o  primeiro  funda- 
mento ( &  aqui  começaõ  os  ã 
da  parte  de  luliano  fe  nos  of- 
ferecem)  que  na  verdade  nos 
nomes  dos  Bifpos  dcfte  Con- 
cilio ha  grande  corrupção  nos 


cxcmpla- 


Biuitr  IH 
Dex.  4«. 
ioo.cem. 


204 


Capitulo  X  XXXVI II  í. 


IBjiren 
annal  to. 
4,  ann, 

^  b)  . 

3oi» 


exemplares  de  Fbuio  DexcrOj 
porque  o  de  Rodrigo  Caro 
ccjnaísy,  C-efaraupiJU  alterú 
Concilium  contrabkur  pr^fuit 
Phsga  dias  Ep  ifcopusBurdega- 
k-nfis.  Oiidc  jà  ddífcfcdo  tex- 
to de  Biuar  que  naÕ  nomeao 
Eiípadode  Phegadio ,  5c  o  faz 
outro  di'fterc4itc  do  Biípo  de 
Bordeos,  E  íe  quizefmos  cõ- 
fcrir  os  mcfiTtos  nomes  com 
CS  de  Garcia  de  Loayla^aly  cm 
lugar  de  Lúpus ^  ãnàa^Lucius, 
ôí  emSeuero  Sulpicio  autor 
daquelle  tempo  íe  pocm  ncfta 
própria   ocaíiaÓ   Ithacio  por 
Biípo  de  Oííonoba  ,  &  nao 
Etherio  como  efcreue  o  tex- 
to de  Dextro  .  Chamafe  tam- 
bém aly  Cartherio  Biípo;  de 
Ofma^aaeiKlo   de  chamarfc 
de  Tui,  como  diz  íuiiano.  Fi- 
ca logo  que  nos  tranfuntosdo 
Concilio  ha  grandiíllma  cor- 
rupção nacida  dos  que  três la- 
daráodelles,oa  daquelleseícc- 
piares .    O   Cardeal  Baronio 
íe  queixa  que  derte  Concilio 
não  ternos  mais  que  huns  pe- 
quenos fragmento? ,  &í  eíles 
fobrcmancira  viciados  nas  fir- 
mas dos  Bifpo5  qucalliftiraõ. 
Culpa  he  logo  da  efcíiturâ  ^  Sc 
não  da  pouca  diligencia,  ou  ad- 
j  uertcncia  de  Dextro  andar  no 
•  Concilio  Idatnis^-)Ot  Lampit- 


dius  ,  Brachítrtnjis  por  Em&ri^ 
tenjis. 

9  CJ  fegun<3o  fuiidameu- 

taièja  que  neiíhúdos  autores, 
que falaó  iicíl<2  Concilio ,fazé  a 
ídacio  ArceBifpo  <lc  Braga^íal- 
uo  Dextro  nelte  dugar  ,  que 
[o fpeitamos  v ic iad o  ^a ntcs  to- 
dos diz^m  fer  aqueile  mcímo 
ídacio  de. quem  pouco  aii^s, 
&í  no  meímo  anno  tinha  et- 
crito  Dextro ,  que  cm  Meti- 
da auia  celebrado  hum  Conci- 
lio cotia  Prifcilliano.  E  como 
elle  fcr^  o  primeiro  .i que  ítrde- 
nuncioii  da  hercgia  deílc  He- 
rcíiarcha  por  Higiiiio  Biípo  de 
Cordoua^&o  principal  pcrfe- 
'  suidor  àc  kus  -erros-  •  kndo 
entaõ,&  muitos  atíiios  adiãii- 
j  t-eviuo,  deforça  auia  de  fèf 
alyprefente  pello  menos  por 
leilão  murmurar  filtauão  os 
Bilpos  de  perto,  onde  íèiaclia- 
uáo  os  de  taõ  ionjK^^âfc^  Í^\s  Itjhr. 


ídacio  a  quem  e%  ciafencià  íe" 
auia  de  cílranhaf ,  f)òrqt.íe  que 
dei le  efcreue. '<7er/-è  Idaclú  ni- 
hilperhi ,  nihiifdnãí  hahui[je 
d-efinio^fiiit  audax,  íoquax^  im- 
prudens  ^  pKefíímpnwfus ;  que 
não  tinha  nada  de  fantidadc, 
muito  de  ouíadia,  de  locacida- 
de,  &  de  defpejo ,  tamben  cí- 
cteueria  ^  deixaua  por  fobcrbo 
de  fe  achar  no  principal  ajun- 


Seucr. 
Siilpi  libi 
2*  /dcr. 


fupra. 


tamenro 


hamVddiQ. 


205 


ajuntamento  que  em  reu  cem-  5 
po  ouueia  em  Herpanha,onde 
acodiraõ  os  Dclíiiics  dcBor- 
dcos,  os  Martinhos  de  Turon, 
tacfamofos  naíantidade.Foi  io 
£o  ao  Concilio  .corno  aftirma 
luiJano,  5c  o  diílera  Dextro  íe 
feus  efcritos  chefiarão  a  noílos 
tempos  com  a  pureza  com  <^ 
fairaó  de  fuás  máos. 

10  Por  aqui  temos  rcfpon- 
dido  ao  que  fazia  pclia  parte 
de  Dextro,  a  cuja  memoria, 
»!k  diligencia  ,  não  fc  pode  por 
defeito.  Teueo  quem  o  co~ 
piou,ou  a  letra  gothica  em  que 
o  acharão  taó  cega,&  gaílada 
òio  répo  q  a  palaura  Emerittjis 
faria  parecer  Bracharenjis. 

1 1  De  Idacio  Arcebifpo  de 
Braga  poder  na  occaíiaõ  deíle 
Concilio  fer  viuo ,  &  acharíc 
ncllejcoufa  he  que  poderia  íer, 
mas  como  então  íe  tomauão 
pcra  as  Prelazias  homés  jâ  de 
mayor  idade,&:  a  quem  por  re- 
zão  de  íua  ancianidade  rclpeitaí 
ícm  os  íubditos5parecê  muitos 
annos  deBifpo  fincoêta  &  íeis, 
porq  de  Ofio  íe  conta  por  gra- 
de marauilha  checar  a  tantos. 

o 

ElHmàramos  muito  a  mefma 
multidão  de  annos  no  ncíTo 
Idacio,  &Ihe  ell:enderamos a 
vida  atè  os  tcpos  do  Concilio 
de  C_,aragoça  íe  Lapadio  Arce- 


I  biípó  dcíla  igreja  aly  não  alli- 
ílira,  &as  conuenicncias  que 
apõtamos  não  pedirão  acharfe 
também  nclle  Idacio  Metrcpó 
litano  de  Mcrida.  No  q  toca  a 
não  íabcrmos  mais  dcLãpadio 
qucaíliibr  neíteCccilio-^prou- 
ucraa  Deos  parara  íò  nclle  :  cõ 
muitos  outros  auemos  de  en- 
contrar em  q  nos  íuceda  o  meí- 
mo  ,  &  muitos  deixaremos  de 
contar  entre  os  Arcebiípos  de- 
ita Igreja,que  na  verdade  o  fo- 
rão ,  por  não  chegarem  a  noí- 
fa  noticia  memorias  delles. 


CAPITVLO  L. 

ÂVERIGVA  SE  SER 
efle  Concilio  o  mefmo  que  an- 
da em  Loavfa:  dajse  húa  hre- 
ue  reíiíÇíto  cie  quem- foi  o  here- 
ge Prijcill/ano, 


^^  EM  qui {éra- 
mos paflàrpel 
la  matéria  de- 
íle  capitulo 
por  não  per- 
tecer  direitamcte  à  hiiloria  de  s 
Arcebifpos  de  Braga,  mas  o  fcr 
Prifcilliano  natural  do  Reino 
deGaliza,cde  Bilpado  antigua- 
méte  íulíraganeoa  cí  le  deB  raga, 

S  ôcTc 


206 


Capitulo  L. 


d,  locis 


&  fe  condeiivir  no  Concilio 
fua  heregia  nos  obriga  a  fazer 
menção  dcllc. 

1  O  Arcebiípo  Garcia  de 

Loayfa  filiando  do  Concilio  de 
C.ara:^oça efcreue as  fec^uintes 
palauras.  Fiiit  aliud  C^Jarau- 
giijianum  ConciliumpoU  hoc,  in 
qiio  primo  damnata  e/i  h^rejts 
Prijcilliani,  cm  etiam  Aquita- 
nU  Epifcopi  ínterfuerunt\Itha- 
ciusjjf  Idíicius  ^  quiin  hoc  fub- 
fcribunt flrenue  fe  gefferimt  m 
extirpanda  Prifcilliani   impie- 
tate^  Seiíerus  Sulpicius  lib.  z. 
Querem  dizer^depois  daquelle 
Concilio  (quccllealy  poé)ou- 
uc  outro  em  q  primeiro  fccõ- 
denou  a  heregia  de  Prifcilliano, 
onde  tambê  íc  acharam  os  Bif- 
pos  de  Aquitania;  &osdous 
Ithacio,&  Idacio  que  aly  foef- 
creuem  fe  ouuerao  generofa- 
mentc  na  extirpação  da  heregia 
de  Priícilliano,como  contaSe- 
ucro  Sulpicio  nor.liuro. 
3         As  rezoês  que  pudcrão 
mouer  a  Loayfa  a  ter  cftes  Có- 
cilios  por  differentes  parece  fo 
rão,porq  no  Concilio  de  C,a- 
ragoçadeq  falamos  no  capitu 
lo  paílãdoaflirtio  S.  Martinho 
comoapõta  Flauio  Dextro,  & 
luliano  i  alíiílirão  Lampadio^ 
Leonas^  Ôi  Ifmario  Mctropoli- 
l  tanos  de  Braga,Carthagena ,  &  I 


Tarragona  j  entre  as  fufcrip- 
çoês  nenhijafelèdeS.  Marti- 
nho, nécó  íeu  próprio  nome, 
né  cõ  a  de  Bilpo  de  Turon,né a 
de  algú  dos  três  Metropolita- 
nos.O  Côcilio  deC^aragoça  ce 
lebroufe  no  anuo  deChriilo  de 
384.  em  q  o  poéDextrojelle  de 
Loayía  no  de  380.  como  defeu 
principio  cõlla,  ou  como  quer 
Baronio  no  de  3  8 1  .No  deC,ara   ^^^-^i- 1" 
goçacondénoufe  Prifcilliano, 
&:íeus  fecazes  Inftancio,&:  Sal 
uiano  Bifpos  em  Galiza,  ôc  Hi- 
giniodeCordouarno  de  Loay- 
fa nê  húa  palaura  ha  q  acene  cm 
condenação  de  Prilcillianirtas^ 
todos  feus  Cânones  falãoem 
matérias  de  reformação,  nada 
em  heregias.ErteSj&outros  íe- 
rião  os  motiuos  deLoayfa  por- 
que julgou  eílcsConciliospor 
diíFcrentes. 

4  Poftoqueeftas  rezoês  te- 
nhâo  aparência  de  verdadeiras, 
cótudo  porque  nas  hiítorias 
deftes  tempos  fe  não  acha  me- 
moria de  outro  Concilio  de 
C,aragoça  ,  &  porq  aísy  píire- 
ceotãbéa  Seuerino  Binio  va- 
rão doutifsimo  em  toda  a  anti- 
guidade ,  os  naó  julgamos  por 
differentes.Eafsyallentando,q 
o  noíToCõciho,  &  o  de  Loay- 
fa todo  he  o  mefmo  ;  refpõdc- 
mos,qfaltarénefte  as  firmas  de 

S.Mar- 


Líimpadio. 


207 


Conc.Cz- 


5  .Marcinho,&  dose]uacroMe- 
cropolicanos  nio  he  por  elles 
sly  íe  náo  achnrcm,íciiáo  por- 
que né  as  de  todos  andaõ  ncl- 
Ie_>  como  nem  cm  Flauio  Dex- 
tro, o  qual  depois  de  contar  ' 
a  muitos  acrecenta,  if  ali/ ,  & 
outros  ,  querendo  dizer  que 
os  nao  pii  nha  aly  a  todos. 

j  A  variedade  do  anno  de 
380  381.  ou  384.  náo  he  ba- 
íiante  pêra  fe  terem  por  diíFe- 
rcntes ;  ode38o.  que  põem  o 
de  Loayía  pode  andar  viciado, 

6  quando  náo,  o  andará  o  de 
384.  de  Fiauio  Dextro  j  mas 
mais  íoípeitamos  o  primeiro. 
Faltar  a  condenação  de  Priícil- 
liano,  Inftancio ,  Saluiano  ,  &c 
Higinio,ou  foi  porque  fe  náo 
quiíeraó  cançar  coma  tresla- 
dar,  pois  o  auiaõ  de  fazer  no  pri 
meiro  Concilio  Toledano,on- 
de  anda  por  exteiifo^  ou  por- 
que os  hereges  Prifcillianiflas 
a tirarinõ  da  ly.Nem  hc  verda- 
de q  fe  não  acena  palaura  no 
ConciHo  que  toque  a  Prifcil- 
liano, porque  no  Cânone  7.  fe 
ordena.  Vt  nemo  fibi  doãoris 
nomm  imponat.  que  ninguém 
íe  chame  doutor,o  que  fe  difle 
por  rczáo  de  Prifcilliano,  o 
qual  fendo  home  leigo  fe  cha- 
maua  mcfl:re,Ã:  doutor. 

f>         Na 5  tratarão  os  Prela- 


dos deíleConcjlio  de  prccede- 
cias  de  lugarcs,ne  íe  íàbe  ao  cer 
to  qual  áos  Mctropclitanos 
rcíeridos  preíidio.  Dextro  diz 
que  Phitadio ,  ou  Phedagio  de 
Narbona  ,  &c  nos  Cócilics  de 
Loayía  cíHaííinado  elle  Prela- 
do no  primeiro  lugar  Porécó' 
ífa  do  principio  do  mefmoCó 
cílio  q  náo  ouue  prefidencia. 
Deuia  Phitadio  Metropolita- 
no de  Narbona  afllilir  como 
legado  da  Sé  Ápollolica,&por 
eíía  rezaõ  lhe  deu  Lampadio 
Metropolitano  &  Primaz  de 
Braga  o  primeiro  lugar  fias  fir- 
mas :  ^  o  mefmo  íizeraõ  os 
mais  Metropolitanos  de  Heí- 
panhareconhecédoaSc  Apo- 
ftoiicaRomana,&a  peííoa  q  rc 
preíétaua  oSiimoPrelado  delia. 
7  PrilcillianOjCuja  vida  pro- 
metemos neílecapitulojfoi  na 
tural  deGaIiza,hoir»c  nobre, &: 
ricOj  de  íutil,  mas  peruerío 
engenho,  dcfcjoíode  nouida- 
des:ouuioaos  dicipulosdehú 
Marcosde  nação  Egypcio,  que 
vco  a  Hcfpanha,todos  feiticei- 
ros A'  nicrromáres,  dados  a  vi- 
cios,efobremaneiratorpc5.Di 
ziaÒ  q  nas  peílbas  da  Sãtiííima 
Trindade  náo  auia  diílinçao, 
nc  nos  caíãmêtos  vinculo  du- 
rauel,antcs  fe  pocíiafazer  diuor 
ciocomo,e  quádoacaíd  híí  lhe 

S  i  pare 


208 


Capitulo  L. 


parecelle.  As  almas  tinhao  por 
dcíuíbncia  Diuiiia,os  corpos 
por  íogeifos  aos  fignos  cele- 
llcs  predominantes  em  cada 
mébro  detal  maneira  q  vinhaõ 
a  negar  a  liberdade.  Rcconhe- 
cião  ao  Demónio  por  autor, 
&  criador  de  todo  o  viíiuel,em 
fim  enfmauáo  outros  deíua- 
ríos  íèmelhantes  cm  tudo  ávi- 
da que  viuiáo. 

8  Có  taes  meílres.  fahio  em 
breue  Pnlcilliano  hú  monítro 
do  Infernojmas  porqde  ordi- 
nário as  monílruoíídades  pel- 
lanouidade  queté  acháo  quê 
as  receba  com  aplaufo^  achou 
Priícilliano  cópanheiros ,  hús 
do  pouo,  outros  da  nobreza, 
alguns  tábédo  Sacerdocio,em 
queentrauãoBiípos  taÕ  cegos, 
éc  ignorantes  q  lhe  dcraõ  ou- 
uidoSj&  íeroraocoíeus  erros 
pello  que  tinhaÕ  de  profanos , 
(Vlaciuos  ,  eípalhandoos  por 
todaHeípanha. 

9  Naõ  fe  pode  efconder  ta- 
tá impureza  entre  os  cõplices 
dellartracouíede  remédio,  foi 
o  primeiro  q  fahio  a  capo  Hi- 
ginio  Bifpo  de  Cordoua,  & 
porque  elle  fò  fe  não  atreueo  a 
extinguir  o  peftilencial  fogo 
que  viatãoateado,cõmunicou 
o  negocio  cõ  Idacio  Metropo- 
litano de  Merida,o  qual  cõ  de- 


mafiado  zelo  entedeo  logo  cõ 
oBilpo  Inílancio  principal bu 
tor  dcPriícilliano,&  de  palaura 
nos  pulpitoSj&poreícritonas 
cartas  o  deu  a  conhecer  por  he- 
rege publicando,  &  cõdenãdo 
feus  erros  .Foi  iílo  deitar  azei- 
te no  fogo  aos  hereges  racende- 
raõfe  inais,caheregia  publica- 
da,&  dada  a  conhecer  por  hú 
home  como  Idacio,&moll:ra- 
da  cõ  effeito  na  peílba  de  hu  m 
Bifpo  como  câncer  furioío  to- 
mou nouas  forças,5j  do  remé- 
dio fez  peçonha  pêra  empeo- 
rar.Não  podia  foffrer  Idacio  q 
híj  homem  fècular  perdido,  & 
cheo  de  vicios  qual  era  Priícil- 
liano foíle  mertre  deBiípos^ap 
pellidandofe  por  cfte  refpeito 
meftre,&doutor:íentia  muito 
q  Higinio  Bifpo  de  Cordoua 
(aquelleq  primeiro  denunciou 
dePrifcilliano)fe  declara  fie  por 
feu  dicipulo,  Ajútou  em  Meti- 
da hil  Concilio,outro  em  ou- 
tra cidade  de  Luíítania,  q  Dex- 
tro não  nomea :  vltimamcnte 
vedo  qné  ainda  aísy  aproueita 
uanada,fezcÕfeu  zelo  ajútar 
CõcilioNacional  em  Cjarago- 
ça  dos  Bifpos  de  Hefpanha,  & 
França,ondcja  tabê  entrara  a 
cótagiaõ  do  nouo  herege.  Vie~ 
raõ  ao  Concilio  Prelados  gra- 
uiílimos  Phitadio  ,  ou  Phe- 


dae 


IO 


Lnmpadio, 


2C9 


gadio  Metropolitano  de  Nar- 
boiía^quejà  prcfidira  em  cu- 
rro Concilio  no  Delfinadoj 
Dclííno  ArccbifpodeBordeos 
aquéa  Igreja  hoje  celebra  por 
Santo  aos  z4.deDezébroiLco- 
nas  Metropolitano  de  Cartha- 
gena,&  Lampadio  de  Braga:  &; 
lobre  todos  o  grande  S.Marti- 
nho dcTuron,  &  outros  que 
noiucão  Dextro, &  Juliano. 
I  o  Todos  fem  diícrcpan- 
cia  ncuhúa  condenarão  ao  im- 
piíilimo  herege, cfcus  lecazes^ 
podo  grauiílimas  penas  a  que 
daly  cm  diante  os  cõmunicaí- 
íe. Publicou  a  fenteça,  ^  ficou 
como  Vigairo  do  Concilio  na 
queile  particular  Ithacio  Biípo 
de  Oflbnoba  no  Algarue,pera- 
q  Te  ainda  perfiftiílem  em  íua 
cÕtumacia  aggrauaíTe  as  cêfu- 
r3s,&  chegaííe  a  mayores  cafti- 
goSjinuocando  abraço  fecu- 
lar^&r  quando  foíle  ncceílario 
relaxandolhe  os  q  fe  achaílem 
mais  culpados.  Nomeaua  par- 
ticularmente a  fcntcnçadoCó 
cilio  trcsBiípoSjInílancio^Sal- 
uiano^  &í  Higinio.  Os  dous 
primeiros  vendofe  afretados, 
&  condenados  pelloConcilio, 
por  ver  íe  afsy  podião  melho- 
rar fua  caufa  dcrao  em  outro 
atreuimento  peor  ainda  q  os 
1  paliados. Saçraraõ  aPrifcilliano 


em  Biípo  de  AuiLi^mais  por  íe 
authorizar  aLsy,q  a  fcu  niellrc_, 
porque  imaginaaão  clles  que 
ficariáo  có  dcículpa,ô*:  coran- 
do íua  cauía, quando  íedilIeíTc 
q  íeguião ,  nâoahiJ  home  lei- 
go,&  profano,mas  a  hú  a  quê 
íe  mereci métos  por  Rebgioío 
fubirão  a  dignidade  de  Biípo. 
1 1  Os  dous  Idacios  deMeri- 
da,&  OíFonobaj  confiderando 
q  não  podiáo  atalhar  mal  táo 
grande  fem  algúa  viclcnciaja- 
cudiráo  ao  braço  íccular,&.'  ai- 
cançaráodoErnperador  Gra- 
ciano  foílem  deilerrados  fora 
de  Hefpanha. Afsy  íe  cumprio 
logo  por  prouizão  lua,na  qual 
mandaua  q  das  igrejas ,  villas, 
&  cidades  onde  foílem  acha- 
dos ,  fem  rccuríb  outro  al- 
gu  ,  faiflem  em  termo  limita- 
do  pêra  as  Prouincias  que  íeus 
minilliros  lhe  alIinarido.Tiue- 
raõ  noticia  os  hereges  dellc  de- 
creto,&  antes  q  juridicamen- 
te fe  lhe  intimaíie  íetorao  fain 
do  pêra  diuerfos  Reinos  como 
melhor  lhe  cílaua.  OstresBií- 
pos  Prifcilliano,rníHcio,&Sal  | 
uiano  tomarão  a  via  dcRoma, 
leuauãomuitasqueiíras  cõtraos 
Biípos  do  Cócilio  de  C.arago- 
ça,ê  efpecial  cótra  os  dous  ída- 
ciosj  intêtaráo  oífcreccllas  a  S. 
Damafo  então  Sijmo  Pótifice; 


S  í 


mas 


2IQ 


Capitulo  L. 


mas  como  elle  jà  por  outras 
vias  tiidia  informações  verda- 
deiras do  que  paílaua,  nem 
vcr,nemouuir  os  quis,  &a 
fe  náo  fairem  efcondidos  da 
quella  cúria  fem  duuida  fo- 
rão  prcfos  ,  &  ca  (ligados  co- 
mo mereciaõ.  Saluiano  antes 
de  partir  de  húa  doença  que 
lhe  deu  j  acabou  em  Roma  em 
fua  apoftazia,&:  pertinácia. Os 
dous  que  ficauao  tomarão  o 
caminho  de  Milaó,  &  foraõ 
ter  com  Santo  Ambrofio  _,  o 
qual  tendo  noticia  de  fua  vin- 
da logo  os  lançou  de  fy ,  & 
não  confentio  que  fe  detiuef- 
íem  na  quella  cidade.  Tão  vni- 
dosviuiaõ  cftesdous  fantiíli- 
mos  Doutores  Ambrofio,  & 
Damafo  contra  a  hercgia^  tan- 
to a  aborrecião ,  &  perfeguiaÕ 
òs  autores,  &  fautores  delia. 
12,  Quando  pello  Ecclefia- 
ftico  fe  viraõ  fem  remédio, 
ou  rccurfo  algum ,  fofpeitan- 
do  que  dadiuas ,  &  oíFereci- 
mentos  lho  abririao ,  &  faci- 
litariaõ  pellofecular,meteráofe 
com  os  validos  doEmperador, 
&  tanto  lhe  offereccraõ  que 
vierão  a  impetrar  outra  contra 
prouifaõ,  peraquea  dodefter- 
ro  fe  não  executafle,ncmos 
Bifpos  pudeílcm  entender  cõ 
clles ,  ou  com    quem  tiueíle 


fua  voz.  Contentes  com  o  deí- 
pacho   voltarão  a  Hefpanha 
publicando  vinhão  vitoriofos 
defeus  contrários. 
15  Era  poreftes  tempos 

Voluencio  Proconful  de  Hef- 
panha, homem  parcial,  ami- 
go de  nouidades  ,  &  muito 
mais  de  dadiuas.  ConheceraÕ- 
Ihe  a  condição,  &  com  força 
de  dinheiro  o  eftimularaó  cõ- 
tra  Ithacio ,  &  como  fe  fora 
de  fua  jurifdição  o  Icuaraó  a 
dar  fentença  de  morte  contra 
elle^  &  fem  duuida  íe  executa- 
ra fe  o  fanto  Prelado  fenaõ  fo- 
ra eícondido  a  França,  onde 
foi  bem  ou u ido  do  Prefeito 
Pretório,  o  qual  mandou  lo- 
go a  Voluencio  lhe  enuiaílca 
Prifcilliano,  &  Inftancio,  & 
todos  os  mais,  queíe  dauaõ 
por  cabeças  daquella  conjura- 
ção .  Como  Gregório  ( que 
aílí  chamauão  o  Prefeito )  os 
ouue  em  íeu  poder,remeteoos 
a  Roma  ao  Emperador ,  mas 
elles  comprando  aly  os  fauo- 
res  afeus  validos  fizeraõ  inhi- 
bir  ao  Prefeito  pêra  não  pro- 
ceder contra  elles ,  nem  con- 
tra os  mais ,  &  que  a  caufa  fe 
cometcífeaoVigairo  deHefpa 
nha  de  cuja  venal  j  urtiça  cÕce- 
biaõ  ainda  melhoresefperãças, 
q  da  do  Procõful  Voluencio. 


14     Su- 


LamPadio. 


211 


14  Sucedeo  tudo  lílona 
ocaíiaõda  morcede  Graciano 
quando  Clemente  Máximo 
íe  leuantou  com  o  Império 
pello  motim  do  exercito ,  & 
lem  contradição  de  importân- 
cia foi  obedecido  das  Hefpa- 
11  has, França,  Inglaterra,  ôc 
Alemanha.  Nefta  mudança  de 
goucrnoacoftaraó  os  Bifpos 
ídacios  (  que  ate  ly  andarão 
taõ  perrcguidos)com  Clemen- 
te Máximo,  o  qual  como  Ca- 
tholico  os  recebeo  com  hora, 
&c  emparou  íempre  com  jufti- 
ça  :  relataraõlhe  tudo  o  que 
tinha  fucedido  ,  &  depois  de 
bem  informado  pêra  tudo  ir 
mais  fem  íofpeita  de  ódios ,  ôc 
parcialidades  lhe  pedirão  obri- 
gallea  Prifcilliano ,  &  Inftan- 
ciOj  &  aos  feus  principais  allia- 
dos  deíTem  rezão  de  Çy  no  Có- 
cilio  que  então  feajuntaua  cm 
Bordeos,  &  eftiueíTem  pello 
quealy  fe  determinaíTc .  Aísy 
o  decretou  Máximo,  &:com 
cfFeitoosdous  Bifpos  Prifcil- 
liano ,  &  Inftancio  foraó  pre- 
fos,  &  aprefcntados  no  Con- 
cilio onde  também  fe  acharão 
os  dous  Prelados  ídacios .  A 
conclufaõfoi  que  a  Inftancio 
como  publico ,  fk  manifefto 
herege  priuou  o  Concilio  do 
Bifpado ,  &  o  mandou  fair  de 


toda  Hefpanha.-a  Priícilliano 
remeterão  ao  braço  fecular  de 
Clemente  Máximo,  &  o  íize- 
raõ  leuar  prefo  à  cidade  dcTre- 
uiris  onde  elle  puzera  íua  cor- 
te. Scguirãono  os  dous  ída- 
cios, accufarãono  como  Ca- 
tholicos,&  naõ  podendo  Prif- 
cilliano  darrezaõ  concluden- 
te,dcpois  de  grades  altercações, 
ôc  muita  variedade,  veo  final- 
mente a  fer  condenado  à  mor- 
te, como  herege  apoftatadc 
noíla  íanta  Fé .  Cortarãolhe  em 
Treuiris  a  cabeça  com  alegria 
geral  dos  Catholicos,  ôc  gran- 
diífima  raiua  dos  hereges.  Mas 
não  acabou  aly  com  ellc  fua 
preuerfa  feita  ,  antes  como 
Idra  infernal  cortada  aquella 
principal  cabeça  rebentou  c5 
muitas  outras, com  grauiífi- 
mo  danno  da  Igreja  Catholi- 
ca,  ate  que  a  muita  vigilância 
dos  Prelados  Hefpanhoes,  ôc  a 
mefma  natureza  da  mentira,q 
per  fy  vem  a  cair ,  ôc  desfale- 
ce r,dc  todo  afepultaraõ,  no 
que  valerão  muito  os  Prela- 
dos que  foraó  fuccdendo  ne- 
fta Igreja ,  dando  principio  a 
fcu  prandc  zelo  o  Arcebifpo 
Lampadio,quc  como  alam  pa- 
da ,  ôc  tocha  de  grande  ref- 
plandor  os  alumiou. 
ij  Defte  illuftrc  Arcc- 


S4 


bifpc 


'•—.-ZXtf^-i'^'- 


212 


Capítulo  LI. 


biípo  não  temos  outra  me- 
moria ,  nem  noticia  cio  anno 
em   que  morreo.  Tinha  por 
clle  tempo  que  aíliftio  no  Có- 
cilio  deC.aragoca  oSummo 
Pontificado  5aõ  Damafo  fu- 
cc0or  de  Saó  Fclix  II.  &  de  Li- 
berio,  &  o  Império  Occiden- 
tal depois  de  Valédniano,Gra- 
ciano,  &  Valentiniano  o  mais 
nouo  ;  &  o  Império  Orientai 
Theodofio,  Por  cites  annos 
faz  menção  Dextro  de  dons 
Bifpos  chamados  Lampadios, 
humdcOreto,  outrode  Bar- 
celona fuceííor  de  Paciano  pai 
do  mefmo  FlauioDextro. 


CAPITVLO  LI. 


AM    DAMA 

Pontifce  Romano. 


r<?Q&,^.r 


s  o 


EMtãogran- 
de  prerogati- 
ua  a  virtude 
dos  Santos,  q 
não  fò  os  ho- 
ra a  ellcs ,  mas  ainda  as  cidades, 
&  lugares  onde  naceraÕ.  A 
rczão  eftàclara,porqueascou* 
ias  mais  raras    íaó  as  que  tem 
mais  preço-&  né  todas  as  ter- 
ras daÕ  Santos,  como  não  dão 
I  todas  ouro,  nem  pedras  prc- 


cioíàs.  E  afsy  aquellas  que  os 
cnáo,^ostemno  Ceo  por 
padroeiros  não  ha  duuiJa  que 
íaõmais  illuftrcs  ,  que  as  ou- 
tras, que  os  nao  tem.  Porque 
a  nobreza  das  cidades  não  c5- 
íífteíòna  clemência  dosares, 
fertilidade  dos  cãpos,&magni- 
ficécia  dos  edifícios,  mas  mui- 
to mais  na  virtude,  &  valor 
dos  varões  ilíuftres,  qucdefy 
produzem  .   Daqui  procede- 
rão as  competências,  qucfete 
cidades  de  Grécia  tiuerão  fo- 
bre  qual  delias  auia  de  ícr  pá- 
tria do  gr  ande  Homero  ,aué- 
do  cada  hua  que  não  podia  al- 
cançar mayor  honra,que  ter  a 
eftc  iniígne  Poeta  por  íilho,  Sc 
natural íèu.  A  meínia  deman- 
da moue  Caftella  ao  Reino  de 
Portugalj  querendolhe  tomar 
pêra  (y  ao  Papa  Saõ  Damaío 
pcra  íe honrar,  &  enriquecer 
comelle,  ainda  que  feja  rou- 
bando ao  Arcebifpadode  Bra- 
ga ,&àvillade  Guimarães  o 
que  por  tantos  titulos  he  fcu. 
L       A  viila  de  Madrid   hc  a 
que  mais  iníilic  em  eftc  íanto 
ferícu  natural.  Trás  por íy  a 
autoridade  de  Flauio  Dextro, 
o  qual  diz  afsy.LH^eriofiiccedit 
Ditmafus  ex  Mantua  Carpeta- 
norú^alíjfacium  ex  Egeditar^n 
Liijitanum,alij  Tarraconenfem 

.  I.  ■,    I         ^Km^a^  ■■■ ^.  ■■■■■■■    ■■■— 1^»^  ,        ua 

Quzt 


fhro».4H\ 
Chrifí,.    ' 


SaÕ  Damafo. 


213 


SiculJt.  I 

Orgf.lhtf 

Img  Cajf 

|^'£■r^.6'«' 

\  mar  ah. 

!  Madeira 

in  difcHT. 

montis 

Sãn.cap. 

147. 

CtlGõfal 
de  '•ttitLt 
Grernd. 
de  Mad 
íap.J. 


Beuter.p, 

,x.cap,2;) 


Onuf,  d: 
Romaum 
FontM  i 


c]ucr  dizer,  a  Liberio  íucede 
Dainaíocle  Madrid  5  outros  o 
fazem  Portngucz  natural  da 
Idanha;  outros  de  Tarragona. 
O  meímo  dizem  Marineo  Si- 
culo,  Dom  Scbaílião  de  Oroí- 
co ,  Gregório  Lopez  Madeira, 
&  omeltre  Gil  Gonçalucz  de 
Auila  nas  grádezas  de  Madrid, 
onde  affirma  q  eíla  villa  con- 
lerua  de  muitos  annos  eíta  tra- 
dição confiante,  &  mollraa 
Parochiade  S.  Saluador  onde 
foi  bautizado,&  em  memoria 
de  que  illo  afsy  paílou  tê  nel- 
la  pintada  a  Imagem  do  Santo. 
Tarraeona  cidade  antigua  ,  Sc 
nobre  de  Catalunha  pretende 
também  elle  Santo,  &allcga 
cui  feufauor  a  mefma  autori- 
dade de  Flauio  Dextro,  &  ao 
Doutor  Bcurcr,que  afsy  o  diz 
na  fua  Chronica  geral  de  hízí- 
panha.  A  Idanha  lugar  antiguo 
do  Reino  de  Portugal, onde 
elteue  o  Biípado  que  depois  fe 
paílou  pêra  a  Guarda,pretende 
tambcni  eíla  honra,  pella  qual 
f tz  o  luear  referido  de  Flauio 
DextrOj&  Onufrio  Veronen- 
Ic  autor  araue  na  hiftoria  dos 
Pontinces  Romanos  impref- 
ía  em  Veneza  no  anno  de  1  j  f  7. 
3  Em  quarto  &c  vitimo  la- 
gar, fendo  a  primeira  no  direi- 
to^ &  jiiftiça  da  cauía,  eíHa 


villa  de  Guimarães  delle  Arcc- 
bifpado  de  Braga  dirtante  delia 
três  legoas ,  a  qual  tê  cite  San- 
to por  íilho,  &  natural  fcu  cÕ 
mayores  fundamentos ,  &  cer- 
teza,que  os  outros  lugares  que 
referimos.  Prouaíe  claramen- 
te com  a  autoridade  de  dous 
Brcuiarios  antiquiíTimos  defta 
Se  de  Braga ,  &  de  Euora ,  os 
quacs  conftantemcnte  aííir- 
mão  na  lenda  defte  Santo  q 
foi  natural  de  Guimarães  .  O 
mefmo  tem  o  mellre  loaõVa- 
feu  ,  Ambroíio  de  Morales, 
Garibay,Pincda,  Dom  Mauro 
Caftella  Ferrer ,  hum  Marty- 
rolopio  antiquiílimo  da  Igre- 
ja de  Palcncia  ondeandáo  cilas 
palanras.  Natale  Sanai  Da- 
mafi  Hifpani  Vimarenenfis  \  o 
meímo  affirmão  o  Cardeal  ; 
Ccfar  Baronio  ,  &c  Padilha  na 
hill:oriaEcclehaílicade  Hcípa- 
nha,  íò  pella  autoridade  deífa 
Igreja  de  Braga ,  que  como  a 
Santo  natural  de  fcu  diílrito 
Ihefefteja  o  dia,  &c  canta  offi- 
cio  próprio  ,  &c  o  tem  por  ícu 
como  couía  certa,  &  aucrigua 

1  da.  Alem  deíl:es  teílimunhos 
cão  autorizados  dos  eftrangci- 
iros  temos  outros  dos  natu- 
raes,  que  naõ  faõ  demcnos  cÕ- 

i  ta:o  do  meíl:rc  André  de  Re- 
zende na  carta  que  eícrcueoa 

Bar- 


f^afen  iri; 
ehre.  an. 
87.  & 
369. 
Aíerales 
It.io.c.^. 
Garib.in 
cõpe.htfi. 
l-p.lf.j, 
c.)2. 
Pineda 
mcnarch 
Ecclí.  p, 

DÕ  Maié' 

rõFerrer 

tnhiJI.D. 

lac,   lih. 

2  c,  23. 

BartH, 

tom.  4. 

Padilha 

cent.^,e. 

fé. 


214 


Capitulo  LI. 


tn  chrog, 
titjvla- 
ãrid. 
Brito  2. 

Fr.  Luss 
tias    An 
\jei  tig  LíT 
dimpaq, 
98. 

SarhfíC 
iaremif. 
4Í  ord  li, 
ytit.^9 


Bercholaineu  de  Cabedo  Có- 
nego de  Toledo ,  onde  fc  lhe 
queixados  autores  qiiequcrc 
fazer  efte  Santo  natural  dcMa- 
drid,  ou  de  Tarragona ,  o  de 
Gaípar  Barreiros  Cónego  de 
Bayyftr.  £uora  ^  o  dc  frei  Bernardo  de 
Brito  ^dc frei  Luís  dos  Anjos, 
deManoel  Barbo ía,&:  doutros 
que  ícria  infinito  nomear ,  os 
quaes  coní^antcmente  aíTcn- 
tão  ícr  Saõ  Damafo  natural 
de  Guimarães ,  onde  k  guarda 
feu  dia,  &c  fcílejacomo  padro- 
eiro, &:  a  Igreja  Collegiada  da 
mefma  villa  lhe  faz  ofticio  fo- 
lenne  pello  ter  por  natural^  Sc 
muitos  pello  mefmo  refpeito 
fe  chamaõ  do  feu  nome. 
4  Deixando  pois  as  opi- 

niões contrarias,a  que  refpon- 
demos  autores  Portuguezes, 
que  temos  allegado  -,  aílenta- 
mos  por  certo  que  Saõ  Dama- 
fo foi  natural  de  Guimarães 
deíle  Arcebifpado  de  Braga,  & 
que  por  Santo  nacido  nelle,  & 
por  honrarmos  efta  noíTa  hi- 
íloria  com  hú  tãoillullrePon- 
riíice  ,fclhedeuianella  o  pri- 
meiro lugari  mas  por  não  fa- 
irmos  da  ordem  dos  tempos, 
Ôr  continuação  de  annosque 
leuamos  ,  ©guardamos  pcra 
efte.  Stu  pay  fc  chamou  An- 
tónio: teueo  coníípo  em  Ro- 

o 


ma  lendo  Pontífice  _,  &  a  íua 
niay  ,  &  húa  irmã  chamada 
Irena,  ou  Evria ,  como  coníla 
do  epitáfio  da  íepuitura  de  q 
adiante  trataremos .  Foy  eile 
Santo  o  primeiro  Heípanhol, 
que  ícallcntou  «a  Cadeira  de 
Saõ  Pedro  por  morte  do  Papa 
Liberio  no  anno  dc  367.  de- 
pois de  grades  altercações  en- 
tre léus  amigos,  &  os  de  Vrci- 
fino ,  ou  Vrfino  Diácono ,  o 
qual,  depois  de  eleito  Saõ  Dar 
mafo  ,  pretendco  víurpar  o 
Summo  Pontificado. Mas  ve- 
do logo  nos  primeiros  dias  co 
m.o  não  podia  prcualecer  con- 
tra Saõ  Damaío,  fobornou  cõ 
os  de  fua  facção  a  dous  Diáco- 
nos homens  deprauados  por 
nome  Concordio,  &  Calixto, 
os  quaes  acuíaraõ  o  Santo  Pó- 
tifice  arguindolhe  que  come- 
tera hum  adultério .  Sentio  o 
Santo  muito  efte  golpe ,  por- 
que como  era  naturalmente 
honefto ,  Sc  guardara  íempre 
pureza  de  Virgem,como  afiir- 
ma  Saõ  leronymo^  laflima- 
uafe  de  fe  lhe  arguir  hum  cri- 
me tão  alheo  de  fua  honefii- 
dade,&de  fanta  infâmia  da  pcí- 
foa  que  repreíenraua .  Foilhe 
neceflãrio  defcnderíe  publica- 
mente,&  moftrar  ao  mundo^ 
q  eftaua  innocente.  Fez  ajútar 

hum 


Sao  DarndÇo. 


215 


hum  Concilio  em  Roma  de 
quarenta  Biípos  ,os  cjuacs  co- 
nhecendo dacaulaoderaó  por 
hure  da  culpa  de  que  íora  calu- 
niado ,  &  condenarão  aos  fal- 
fos  acuíadorcs,caftigandoos  cõ 
graues  penas,  lançandoos  do 
grémio  da  Igreja^  ficando  com 
eíla  approuação  mais  apurada 
a  virtude  do  Sanco.  No  meí- 
mo  ConciUo  fc  ordenou  que 
a  pena  q  íe  auia  de  dar  ao  acula- 
do  fedeíle  ao  acufador  con- 
fiando de  fua  calúnia,  &  fal- 
íídade. 

)■  Eftaua  a  Igreja  nefle  tê- 

po  com  algúas  inquietações, 
porque  na  Oriental  eraõ  taõ 
fauorecidas  as  heregias  de  Ar- 
riOjquedifficultolamente  Ica- 
chaua  quê  publicamente  ou- 
zaíle  profeflkr  a  Fe  doConci- 
hoNiceno.  Padecião  porella 
martyrio  muitos  Catholicos 
em  Alexandria ,  Conftantino- 
pla  ^  &  Antiochia ,  &  muitos 
varões  Santiílimos,  Ârdoutif- 
fmios  a  defendiaõ  com  fcu 
exemplo ,  ÒL  doutrina  :  entre 
os  quaes  tinhaó  o  primeiro  lu- 
gar o  grande  Bafilio,  S.  Gregó- 
rio Nazianzeno ,  &  Pedro  Bif- 
po  de  Alexandria.  No  Occi- 
dente  eftaua  a  Chriftandade 
em  paz  ,  &  quietação  pofto  q 
não  faltauão  em  muitas  partes 


alguns ,  que  prccurauao  de- 
fender os  deíatmos  de  Arrio: 
contra  os  quacs  le  oppos  va- 
ronilmente o  Santo  Pontífice 
aproueitandofe  das  letras  do 
diumo,  &  eloquente  lerony- 
mo  ,  óc  da  fabidoria  de  Santo 
Ambrofio  Arcebiípo  de  Mi- 
lão contra  A polhnar,  &  ou- 
tros hereges ,  que  inquietauaõ 
a  Igreja  cõblasfemiaSj  ^' erros 
abominaueis,pretcndédo  afiir- 
m.ar  que  o  Verbo  Eterno  to- 
mara carne  humana  íem  alma 
racional ,  &  que  as  peílcas  Di- 
uinas  erão  entre  ly  deiíguaes. 
Fez  ajuntar  Concilio  em  Ro- 
ma,no  qual  fe  condenou  a  he- 
regiado  Ímpio  ApoUinar,  &as 
de  todos  os  hereges  da  quelles 
tempos ,  como  confta  de  húa 
carta  do  Santo  Pontificcefcri- 
ta  a  Pauhno  Biípo  de  Antio- 
chia. 

6  LcLiantandòfe  ncfte  tépo 
outras  heregias ,  &  falias  dou- 
trinas nas  Prouincias  do  Orié- 
te,pera  as  cortar  pella  raiz  per- 
fuadio  Saõ  Damalo  ao  grande 
Emperador  Theodoílo  (  que 
também  era  Hefpanhol)ajun- 
tafle Concilio  geral  em  Con- 
ftantinopla,  como  erneíícito 
fez.  Acharaófe  nclle  150.  Bif- 
pos,  os  quaes  conformes  to- 
dos confeííaraõ  a  Fe  doCocilio 

Niccno, 


2l6 


Capitulo  LI. 


Niceno ,  ôc  condenarão  a  Ma- 
cedónio, &  a  outros  hereijcs. 
Confirmou  Saó  Damafo  tudo 
o  decretado  nellc  Cócilio,  que 
foi  em  ordem  o  kgundo,  ôc 
primeiro  Coníhntinopolita- 
no^&:  hum  dos  quatro  gcracs, 
que  Saó  Grcgono  rcípcitaua 
como  os  quatro  Euangelhos. 
Fez  ley  o  EmperadorTKeodo- 
lio  em  que  mandou  que  todos 
os  iubditos  do  Império  feguií- 
íem  a  Religião  que  enílnouS. 
Pedro  em  Roma  ,  &  que  pro- 
fcííauaíeu  ruceíTorS.Damaío, 
cõdênando  todas  as  mais  dou- 
trinas que  foliem  contrarias  a 
cila.  Também  fe  celebrou  em 
tempo  deíle  Santo  Pontifice 
outro  Concilio  na  cidgide  dc^ 
AquiléiajOnde  íe  achou  Santo 
Ambrofio  grande  perícguidor 
dos  hereges, 

7         Ouue  na  primitiua  Igre- 
ja certos  Sacerdotes  q  ííruiaó 
nas  aldeãs  como  companhei- 
ros ,  ou  vigairos  dos  Biipos,&: 
poriíío  fechamauão  Chorepif- 
copos  da  palaura  Grega ,  Chore^ 
que  quer  dizer  aldeã.  Eraõ  en- 
tão neccíTarics,  porque  como 
os  Bifpos  tinhão  reíeruado  pê- 
ra fuás  peíloas  prouer  aos  po- 
bres,&  partir  com  elles  os  bcs 
da  Igreja  j  conuinha  que  ou- 
ueíTe  quem  por  outra  via  os  a- 


judafie ,  ^  defcarrcgaíie_,pGr.í 
não  podiãocom  todo  o  traba- 
lho. Depois  eítes  Chorepiíco- 
pos ,  poílo  que  de  íua  iiiítitui  - 
ção  naõ  tinhaõ  niayor  digni- 
dade que  os  Sacerdotes  j  com 
tudo  vieraõ  por  íoberba,  & 
ambição  a  víurpar  tanto  do  of- 
íicio  Hpifcopal ,  que  fe  mctiaõ 
em  alguas  acções ,  &:  cercmo- 
nias  próprias  dos  Eifpos ,  & 
alhcas  do  Sacerdócio.  Pareceo 
ao  Santo  Pontifice  que  conui- 
nha atalhar  a  eíla  dcfordem,  òí 
por  decreto  publico  mandou 
que  naó  oui^cííe    mais    eíles 
Chorepifcopos  fundado  em  q 
Chrillo Senhor  Noflo  não  ti- 
iiera  mais  que  Apcflolos  que 
íaóos  Biípos,  &  dicipulos  a 
quem  repreíentaõ  os  Sacerdo- 
tes.Dellies  Chorepifcopos  tra- 
tamos nas  annotaçoés  ao  Dc- 
cretOjOndccitanjos  muitos  au- 
tores que  dellcs  falaõ. 
8       Ordenou  o  Papa  Sao  Da- 
mafo muitas   coufas  ncceíla- 
rias  ao  bem  vniucrfal  da  Igreja^ 
como  foi  mandar   que  todos 
os  fieis  dizim.alícm  os  fruitos  q 
rccolheflem,  que  não  fizcílem 
tratos  vfurarios, nem  vfaílem 
de feiticcrias j  &  íuperíliçocs: 
mandou  que  a  ^íil]"a  dos  dias 
folénes  fc  cantaífc  â  hora  de  ter- 
ça: ordenou  q  no  fim  dccada 


tn  cap. 

ti.?..  Ai/lt 
68. 


F 


jlaimo 


Sdo  Damafõ. 


217 


to.^.an, 
384. 


píalmo  (e  difleíle  e  toda  a  Is^rc- 
jn  Cacholica,,  G/ír/rt  PãtriJjFi 
Iio^if  Spiritui  Sãfro^cm  q  íc  da 
igual, ^perpetuo  louuor  astrcs 
Pclloas  da  Sátilsima  Trindade. 
Ordenou  mais  que    íe  ca,ncaílc 
Ailckiia  nas  miílas  c|  íe  celebrao 
pcllo  diícuiío  do  anno^íédo  co 
ítumecãtarfe  íó  pclla  Pafchoa. 
Mádou  cj  o  Sacerdote  antes  de 
começar  a  miíla  dillcíle  a  cóíir- 
laõ  szèralcomo  a^jora  íe  faz. Au 
toriiou  a  veríaõ  q  S.  leronymo 
fez  ca  lagrada  efcritura,  &í  nia- 
dou  q  ic  lelíe  nalí^rejajporq  ate 
o  leu  têpo  a  mais  vulgar,&  re- 
cebida era  dos  fetéta  Interpre- 
tes.Encarregou  aosBifpos  a  re- 
fidccia  em  leusBifpados ,  mo- 
rtrádoiiiecomo  era  de  direito 
Diuino.Edificou  ê  Roma  dous 
templos  íuntuofiíTimos,  híi 
dentro  da  cidade  em  honra  de 
S.Lourenço  Martyr ,  o  qual  fe 
chama  cõmunmcnte  S.   Lou- 
réço  inDamafo,outro  em  lou- 
uor dos  A  poftolos  Saõ  Pedro 
&  Saò  Paulo  no  próprio  lugar 
em  que  feus  íàgrados  corpos 
forão  primeiro  íepultados,po- 
rtoque  Baronio  duuida  deíbs 
fundações.'  Acabou  as  Igrejas 
das  San  tas  Virgés,  &  Martyres 
Ruíina,&  Secundaj  &  fazendo 
buícar  léus  corpos  os  acllou,& 
mádou  por  é  ricos  fepulchros 


ornados  dcveríoséíeulouucr. 

9  Fez  na  Igreja  Vaticana  húa 
tonte  bautifmal  de  fabrica  ^  &: 
grandeza  marauilhofajem  q  no 
Sábado  de  Paíchoa  íc  íazia  a  bê- 
çaõ  das  fontes,&  íe  bautiíauão 
todos  os  cathccumenos,&:  mi- 
ninos  q  auia  nacidade.Ncílafó 
teacõtecco  \'\í\  notauel  milaí^rc 
celebrado  o  Santo  a  íolénidade 
da  béçãoj&  foi  q  chegando  hú 
home  cõ  hú  filho  íeu  nos  bra- 
ços pêra  oílereccr  ao  bautirmo, 

,  como  a  gente  q  concorria  era 
fnilita,&r/5  a'pci'fo  grande  faze- 
do  força  hús  aos  outros  por  íe 
adiantaí^,,^  ícre  os|»primeij:os 
cahib  ao  pay  a  criança  na  fonte^ 
de  fe  foi  ao  íi3do  íení  apparecer 
por  grade  efpaço  cò  Iall:imaj& 
cópaixão  de  todos  os  q  a  virão. 
Acodio  o  Sato  Põtiíice  às  iagri 
mas  do  pay  q  choraua  a  perda 
do  filho,  &  cõ  grande  cõfianca 
noCeo  alcançou  da  Diuina  Mi 
fericordiaqo  minino  tornafie 
viuo,&  faõaciraadarJí^oa.Bau- 

1         ■  r  ■ 

tizouo  logo  o  Santo  ,  &  reiío 
Chriftaõ  o  tornou  a  feu  pay 
com  dobrada  vida,  a  da  alma 
por  virtude  do  lagrado  bau- 
tiímo ,  &  a  do  corpo  por  íuas 
orações ,  &  merecimentos. 

10  Foi  elegante  Poeta,  &ef- 
creueo  em  vcrfo  heróico  mui- 
tas obraSjparricularméte  epita- 

T  fios 


218 


Capitulo  LI. 


fios  que  mandaua  dculpir 
nas  rcpiil  curas  dos  martyres, 
Efcrcueo  breue,  &  clegaiite- 
menteas  vidas  de  codos  os  Põ- 
tifices  Romanos  fcus  predecef- 
foreSj  aindaque  Baronio  cécfta 
obra  por  alhea  ,  &  indigna  de 
tão  excelente  iuizo  como  o  de 
Saõ  Daniaío.  Iníticuyo  a  fefta 
da  AfsLipçáo  deNoíla  Senhora, 
como  diz  Genebrardo  ,  &  po- 
Itoque  o  Emperador  Mauri- 
cio  a  mandou  muitos  annos  a- 
diante  celebrar  ba  íe  de  entêder-, 
\]ue  eftaua  ja  ífiilituiid^''cofticí 
declara  Baronio. ,  Fez  em  vida 
miHCosmJÍjigres-^cntie  ©s.cmae^; 
deu  virta  a  hum  ccí^o  pondo- 
Ihe  a  mao  íobre  os  olhos_,&  di- 
zendolhe  aquellaspalauras.  Fi- 
des  tua  tefahmmfaciat.  ForaÕ 
os  tempos  em  que  Saõ  Dama- 
ío  teueo  Summo  Pontificado 
fecundiíHmos  de  varões  emi- 
nentes em  letras  ,  &  íantidade 
.como  eraõ  Saõ  leronymo,  cõ 
q  nem  Saõ  Damalo  teue  eftrei- 
ta  amiíade,  &í  lhe  pedia  feu  pa- 
recer j  Ôc  eoníelho  em  todas  as 
matérias  de  importância,  re- 
mctendolhefempre  as  de  mais 
peio  ,  &  confideraçáo ;  Santo 
Ambroíío  Arcebiípo  de  Mi- 
lão, Santo  Agoftinho  Bifpo  de 
Bona  em  Africa,  Santo  Hila- 
I  rio  em  Frãça,S.  Balílio  Ma^iio, 


San  Gregório  Naziãzeno  ,  Ci- 
rilo  Biípo  de  Icrulalem,  Santo 
Euíebio  Biipode  Vcrícli ,  Saõ 
Martinho  de  Turõ,  Santo  Efré 
Syro,  Santo  Epiphanio,o  Ab- 
bade  Arccnio  ^  &  outros  mui- 
tos que  íe  podem  ver  emTri- 
thcmio,(^Ballarmino. 
1 1  Chegando  o  Santo  Pon- 
tificc  a  idade  de  quaii  oitenta 
annos ,  auendo  dezanoue  três 
meies ,  &:  alguns  dias  ,quego- 
uernaua  a  Igreja  de  Deos ,  pal- 
iou da  vida  prefente  no  anno 
deChrillo  385.  foi  fepultado 
"na  Igreja  que  elle  fundou  nas 
Catecumbas  onde  jà  eftauão 
Teu  pay ,  may ,  &  irmã,  ôc  dahy 
andando  o  tempo  forão  fuás 
reliquias  trcsladadas  à  Igreja  de 
Saõ  Lourenço  onde  rcíplande- 
cerão  com  milagres. Seu  nome 
anda  no  Catalogo  dos  Santos, 
ôc  fazem  delle  menção  o  Mar- 
tyrologio  Romano,  &:  o  de 
Vfuardo  aos  onze  de  Dezébro, 
que  foi  o  diaJe  fua  morte.  O 
Cardeal  CeíarBaronio  traz  hús 
verfos,  que  Saõ  Damafo  man- 
dou por  na  fepultura  de  fua 
irmã  Irena,  a  qual  frcy  Luis 
dos  Anjos  diz,  que  foi  com 
feu  irmão  a  Roma  de  tenra 
idade  aonde  viueo  ate  quaíl  zo. 
annos  dedicada  a  Deos  em  clau 
íura  de  rcligiofa  não   dentro 

o  


7rirh.de 

fnpt.Ec 
clcf. 
Pell.tr, m 
chron,  an 
'o   370. 


t/ím,  4. 
a)h  384. 
>hlU 


No  lafd 


em 


SiíoTaternoII. 


í9 


em  al^um  morteiro  mas  em 
iua  caia  com  habito  relieioío, 
apartada  coda  das  couías  do 
mundo,&  entregue  a  contem- 
plação das  do  Cco.  O  epitáfio 
diz  ais  y. 

tíoc  mmulo  fncrat^  Deo  nunc 

mtmbra  quiefcunt, 
Etfo  ror  efi  Damaji^  nonuji  qui- 
ris, Herena. 
Vouerdt  lucfefe  Chrãio  cu  o»/- 

ta  mane  r et 
Virgims  a)t  merititm  fanãus 

pudor  ipfeproharet. 
Bis  denas  hyemes  nec  dum  com- 

pleuerat  ^tas: 
Propojttum  mentis pietas  njtne- 

randapuelU 
Magníficos  fruãus  dederat  me- 

lioribusannis: 
H,€C  germanaforornojlrrnunc 

teftis  amor  is. 
Cum  fugeret  mundum  dederat 

mihipignus  honeflum^ 
Quamjibt  cum  raperet  melior 

time  regia  c<eíi, 
Non  timuit  mor  tem ,  cclos  cum 

libera  adiret: 
Sed  dohii,fateor,  confortiaper- 

dere  'ijit<€. 
Nunc-ijeniente  Deo  noHri  re- 

minlfcere  Virzo 
Vt  tuaperDominumpríC^et  mi- 

hifacula  lúmen. 


CAPITVLOLÍI. 

AM  PATERNO 
11.  do  nome  ^  ou  P arruino 
XIX. Arcebijpo  de  Braga. 


J  OI   S.  Pater- 
no de   nobre 
geração, &:  da 
principal  gen^ 
te  de   Galiza^ 
dotado  de  muitas  partes,  infig- 
nes  letras ,  &í  grande  virtude. 
Antes  de  íer  Prelado  teue ami- 
zade muy  direita  cõSanto  Am 
brolío  Arcebiípo  de  Milão  ,<!:>: 
com  Simacho  varão  muv  illu- 
ftre,  &  principal  peííoa  do  Se- 
nado Romano,os  quaes  Iheeí- 
creuião^tSi  o  trarauão  cõ  fami- 
liandade^não  fó  quaudo  eraAr-' 
çebiipo  dell:a  Igreja ,  mas  ain- 
da em  íecularjConhecendo  bem 
otalentOj&  partes  de  q  era  do- 
tado. A  modcftia_,  &  exemplo 
CO  qiieviuiaofazião  andar  nos 
olhos  de  todoSj^'Jauaõ  preço 
aluas  brandes  letras,  &  dou- 
trina. Eilando  vaga  a  Cadeira 
Metropolitana  ,  òc  Primacial 
de  Braga ,  foi  eleito  pêra  ella 
porcómimi  conientimento  do 
Clcro,<S>:  pouo  da  cidade  pcllos 


T: 


annos 


220 


(Capitulo  LII. 


luUan.tn 

\  ehro.pag. 


annos  de  39Z.  011393.  Sagrou- 
fe  logo  com  dous  BifpoSjhum 
chamadoSymphofio  de  Oren- 
íc,  outro  Diótinio  de  Aftorga, 
Eraõ  effces  Prelados  hereges 
inficionados  comos  erros  de 
Prifeilliano,  &  como  taes  efta- 
uão  apartados  da  Igreja  ,  & 
condenados  pcllos  BifposCa- 
tholicos  de  Hcípanha.  Tanto 
queelles  fouberáoque  Patcr- 
nofora  ordenado  pellos  Bifpos 
hereges ,  &  fagrado  Arcebiípo 
deBraga^fizeraõ  congregarCõ- 
cilio  na  cidade  de  Toledo, onde 
juntos  todos  depois  de  deícu- 
tida  a  caufa ,  &  bem  examina- 
da deráo  íentença  de  priuação 
contra  Paterno  depondoo  do 
Arccbifpado ;  &  tratando  de 
lhe  dar  íuceíTorproueraõ  a  Igre- 
ja Primacial  de  Braga  emSaõ 
Profuturo,  que  de  Africa  auia 
chegado  a  Hefpanha,  como 
adiante  cm  fua  vida  contare- 
mos. 

2,  Grande  foi  o  horror  que 
efta  fentença  do  Concilio  cau- 
fou  no  coração  dePaterno_,náo 
por  fe  ver  priuado  da  dignida- 
de Primacial^  que  não  era  na- 
da ambiciofo  ,  mas  porque  c6 
ella  lhe  abrio  Deos  os  olhos 
pêra  conhecer  quã  mal  aducr- 
tido  fora  é  fc  deixar  fagrar  por 
Bifpos  apartados  da  Igreja,  & 


cõdenados  por  ella.  Qi-ieixoufe 
aos  meíraos  Symphofio,&  Di- 
<5linio  ,  porque  fendo  elles  he- 
reges ,  &  condenados  por  taes 
fe  atreueraÕ  afazer  aquelle  adio 
da  fagração.  Afeoulhes  a  cul- 
pa _,&  tanto  obrou  com  efta 
amoeftação  a  graça  Diuina  nel- 
les  que  cílando  naquelle  mef- 
mo  tempo(eraoannode40o.) 
publicado  outro  Concilio  em 
Toledo  feforaõ  ai y  todos  três 
com  outros  Bifpos, que  tabem 
osdous  auião  ordenado  afim 
de  pedirê  mifericordia  de  fuás 
culpas  com  deteilação  publica 
de  feus  erros.Chegados  ao  Cõ- 
cilio  ,  &  admitidos  nellcjSym- 
phoíio  abjurou  em  prefença 
de  todos  aquellesPadrcs  a  here- 
gia  de  Priícilliano,&  temerida- 
de q  cometera  em  fagrar  algús 
Bifpos  de  Galiza ,  &:  a  meíma 
confiílaõ  fez  Didinio  declara- 
do tãbé  por  nereticos  os  huros 
q  em  fauor  de  Prifciiliano  auia 
efcrito,  de  que  fe  faz  menção 
no  Concilio  Bracharcnfe  tido 
por  primeiro  .  O  noílo  Arce- 
bifpo  Paterno  também  cõíci- 
fou  q  fora  ordenado  pellosBif- 
pos  hereges,&  q  íabia  a  íeita  de 
Prifciiliano,  mas  tato  que  fora 
Bifpo  fe  apartara  de  todo  delia 
com  ahçáo  dos  liuros  de  San- 
to Ambroíío, 

3      Era 


SaoTaterno  II. 


Bar  tojç^, 
'Chrijii 

238. 


3  Era  nefte  tempo  ja  mor- 
to Saõ  Profuturo  ,  a  quem  cm 
outro  Concilio  celebrado  em 
Toledo  fora  dado  o  Arcebiípa-' 
do  de  Braga  com  o  acima  dilTe- 
mos.  Feitas  as  confilloés  pro- 
cederão os  Padres  do  Concilio 
a  íeiítençadefinitiiiacontra  os 
culpados  ja  penitentes,  &  re- 
conciliados. Aonoílb  Pater- 
no, a  Symphoíío,  &:  a  Dióti- 
nio  rcftituiraó  as  Igrejas  que 
dantes  tinháo.  Porem  orde- 
narão que  não  foílem  admiti- 
dos à  comunicação  dos  Bifpos 
ate  ferem  difpeníados  pellaSc 
Apoftolica,ou  por  Saõ  Simpli- 
ciano  Arccbiípo  de  Milão,  que 
pêra  iílb  tinha  autoridade  do 
SummoPontifíce. 

4  Com  eftas  ,  &  outras 
fentençasque  fe  deraó  contra 
os  Priícillianiftas  íe  fechou  o 
Concilio ,  &  forão  taõ  verda- 
deiras ,  &c  de  coração  as  ab- 
jurações que  de  feus  erros  fi- 
zera ó  eíles  Prelados  que  vie- 
raÓ  depois  a  fer  Santos ,  con- 
Icruando  ate  morte  a  pureza  da 
Fe  que  neítc  Concilio  profeí- 
faraõ.viuendo  com  grande  exê 
pio,  de  excrcitandoíe  em  to- 
do o  (zenero  de  virtudes .  Ce- 
Icbra  a  Igreja  de  Aílorga  afe- 
íiade  Saó  Diólinio  a  dous  do 
mes  de  lunho .  Tem  officio 


próprio,  &nas  lições  que  íe 
rezão  às  matinas  fe  refere  aucr 
fido  Grego  de  naçaõ ,  &:  fe  c5- 
tão  muitos  adtoi  de  virtude  em 
que  íe  exercitou ;  obra  Dccs 
muitos  milagres  com  a  terra 
que  íe  tira  de  lua  íepultura.  Sua 
vida eícreuê,  depois  de  outros 
PadilhajBiuar,  &  GilGòçaluez 
de  Auila.  A  Symphoílo  chama 
o  me  imo  Concilio  velho  re- 
ligiofo ,  &a Paterno  louuadã- 
dolhe  o  titulo  de  defeníor  da 
verdade  Catholica  ^  &  defcu- 
bridor  dos  erros  dos  hereges, 
&Í  Dextro  lhe  chama  Santo,& 
varão  muy  pio  como  adiante 
diremos, 

S  Breuemente  foi  admi- 

tido o  noílo  Santo  Arcebif- 
po  pella  Sè  Apoílolica  à  co- 
municação dos  mai;  Prelados 
de  Heípanha  ,  como  confia 
da  carta,  que  o  Papa  Anafta- 
fio  eícreueo  aos  Padres  do 
Concilio  de  Toledo,  em  que 
lhe  mandaua  recebeíllm  a  lua 
communicação  o  Santo  Pre- 
lado Patrumo  ,  cu  Paterno. 
O  mcfmo  lhe  eícreueo  Saõ 
Simpliciano  Arcebiípo  de  Mi- 
lão ,  como  alírma  luliano. 
Reconciliado  jà  o  Santo  Ar- 
cebifpo  com  grande  alegria 
dos  Padres  do  Concilio  co- 
meçou logo  a  entender    no  , 


Cent.  y, 

Chr>(l, 
38S«.3. 

Gtl.Gon. 
no  theat, 
I  EccUJtít» 
Jlico   de 
■^ftergi 
cap.6. 


fhlian. 

in  aittcr. 
p<íÇ.88. 


T3 


gouer- 


222 


Capttuio  LU. 


Ifília»  in 
in  thron 

AÍArqttes 
no  defef. 
e,  10,^.2 


gouerno  de  fua  Igreja  ,  & 
tratar  com  codas  as  forças  de 
apagar  ofogodaheregia,  que 
por  fcu  Arcebifpado  andaua 
ateado.Fez  ajuntar  Cõcilio  em 
hum  lugar  de  Galiza  chamado 
Aquas  Cclenas, agora  o  Padrão 


conforme  algur 


ns,  ou  como 


».  1 .  cum 


an.Chrif. 
386. 


querem  outros  o  lugar  deFaõ 
defte  Arcebifpado,  pêra  o  meí- 
mo  cffeico,  de  que  fazem  men- 
ção luliano ,  &c  o  Padre  frey 
loaò  Marques. 

6     chegado  o  anno  de  Chri- 
fto  de  405. conforme  a  melhor 
conta,  íè  ajuntou  em  Toledo 
hum  celebre  Conciho  Nacio- 
nal de  19.  Bifpos ,  que  errada- 
mente fetem  por  primeiro,ío- 
brea  mefma  matéria  da  here- 
gia  de  Prifcilliano ,  a  qual  ain- 
da cftaua  eftendida  por  toda 
Hefpanha.  Neftc  Concilio  co- 
mo Primaz  delia  preíldio ,  ôc 
teue  o  primeiro  lugar  Paterno 
como  delle  fe  ve,&  o  atfirmão 
Dextro  Juliano,  Marco  Máxi- 
mo ,&  outros  autores  que  ci- 
tamos no  tratado  da  Primazia 
defta  Igreja, onde  prouamos 
clariífimamente  efta  verdade,  a 
qualconfeíTa  Biuar  nos  còmé- 
tarios  a  Flauio  Dcxtro,&  a  tem 
por  certiífima.Nefte  Cõcilio  fe 
íizeraõ  vinte  decretos  muy  im- 
•  portantes  à  reformação  ,  dos 


1 


,  6|. 


Chro.fag 
49- 


in  chron. 
an  ^07. 


quaes  fe  colhe  as  qualidades,  & 
partes  que  requeria  o  Conci- 
Ho  tiuellem  aquelles  que  auiaó 
deíerminiífros  dalgreja.Trata 
delle  Concilio  largamente  Pa-  jcf„f.  ^ 
dilha  na  hiftoria  Eccleííaftica, 
onde  põem  todos  os  decretos 
delle.  Affirma  luliano  que  veo 
acfte  Concilio  de  Toledo,em 
que  prefidio  o  nollo  Primaz 
Paterno  ,  Exuperancio  Bifpo 
Metropolitano  de  Rauêna  va- 
rão fanto,  cuja  Igreja  preten- 
dia contra  a  de  Milão,  íer  Pri- 
maz de  Itália.    O  mefmo  diz 
Flauio  Dextro.  Era  Exuperan- 
cio pretendente  da  Primafia  de 
Italia,&  com  tudo  não  preíí- 
dio  no  Concilio ,  antes   prefi- 
dio  Paterno  Metropolitano  de 
Braga,&  Primaz  de  Hefpanha: 
donde  fe  tira  grande  argumen- 
to em  fauor  delia  Igreja,  a  que 
reconheceo,    &c  refpcitouade 
Rauêna  como  a  Primaz. 
7         O  Padre  frey  loão  Mar- 
ques quis  conjeiturar  .contra 
ella  prefidencia  taó  euidente  de 
Paterno ,  dizendo  que  no  Cõ- 
cilio Toledano  auido  comíí- 
mente  por  primeiro  nas  col- 
lecçoes  de  Garcia  de  LoayíajOn 
de  elle  aífir  ma  que  foi  Saõ  Pro- 
futuro  eleito  Arcebifpo  dcBra- 
ga  ,não  prefidio  Paterno  aísy 
mefmo  Arcebifpo  defta  Se ,  fe 

não 


d.  cap.  10 

í'2. 


S^o  Paterno  II. 


22S 


não  outro  de  difterente  lirrcía, 
íe  bem  do  melmo  nome  dado 
por  ■  rezão  q  Paterno  Bracha- 
rcníe  elhuia  então  depoílo  do 
Arcebilpadoj  que  adiante  no 
Concilio  de  Aquas  Celenasfe 
lhe  cornou  a  reíiicuir.  De  am- 
bas eílas  couías  coníla  o  con- 
trario, &  com  cuidencia  como 
ja  moRramos ,  porque  Pater- 
no Bracharenle  prcfidio  nefte 
Concilio  como  Primaz  ^  ja. 
depois  de  rcíbtuido  a  Tua  digni- 
dade.  As    conjeituras  do  Pa- 
dre frev  loaõ  Marques  naõ  po- 
dem valer  mais    que  a  autori- 
dade de  três  hilloriadores  tão 
oraues  como  Flauio  Dextro, 
Marco  MaximOj«5>i  luliano,  &c 
os  próprios  aélos,  ôí  modo  de 
proceder  do  Concilio ,  onde 
Paterno  Arcebiipo  de  Bragaíc 
chama  prcíidente,  ôc  propõem 
em  primeiro  lugar  o  queiede- 
ue  tratar. Tambem.preíidio  no 
de  Aaucfs  CeienaSj&  nelle  con- 
denou a  heresia  dos  Prilciliia- 
niílas  reconciliado  ja  a  Igreja, 
>5j  rcllicuido  a  íua  dignidade; 
&  aísy  mal  podia  aly  ler  reo,& 
prehdente    juntamente.     Se 
aduertira  o  Padre  fr.  loaõ  Mar- 
ques q  erte  Concilio  de  Aquas 
Celenas  antecedera  no  tempo 
ao  que  anda  com    nome  de 
primeiro  de  Toledo,  fuppofto 


que  nelle  faz  reconciliado  a  Pa- 
terno,naõ  ouucrade  euardara 
eleiçáodeProfuturo  peraquã- 
do  ella  naõ  era  nccclíaria,  pois 
Paterno  ellaua  hábil  peia  íer- 
uirluaPrelaíia^òc  com  eífeito 
reílituidoaella. 
8  Fechado  o  Concilio  de 

Toledo  em  que  prefidio  Saó 
Paterno,  elle  le   veo   pêra  a 
lua  Igreja  de  Braga,  onde  con- 
tinuou com  a  obra  que  tinha 
começado  ,  qual  era  a  pagar  de 
todo  a  heregia  do  Reino  de 
Galiza,  <Sj  plantar  nelle  a  ver- 
dadeira Fe,  (V  dou  crina  Catho- 
lica  .  Ocupado  nelia  obra^  Ôc 
outras  de  grande  coníideraçaOj 
&  importância  o  achou  a  mor- 
te no  anno  de  407.  em  que  foi 
gozar  da  bemaueniurança,  de- 
pois de  auer  trabalhado,  &  pa- 
decido muito  em  feu  officio,   an.cbyf 
ôc  obrigação  Palloral.   Santo  4*7''*-7' 
lhe  chamaDextro,e  varão  mui- 
to douto,  Sc  pio.  Saó  as  palau- 
ras.  Sanãus  Paternus  Epifco- 
pus  Bracharenjis ,  ^ui  Concilio 
Toletano  19.  Epifcoporum  pr^- 
fiiit  multis  labor íbus ,    íít*  tegri- 
tudinibus  anxius  moritur  ,  njir 
egregiè  doãus ,  i^fpius.  Juliano 
nos  lugares  citados  lhe  chama 
também  Santo ,  &  varaÓ  dou- 
to ,  òc  prudente,  &  nos  o  no- 
meamos afsy  fundados  na  au- 


T4 


toridade 


21  4 


Capítulo  LI L 


cap.  j. 


toridade  de  dous  aurores,  tão 
graucs ,  &  antiguos.  Foy  Pre- 
lado deíla  Igreja  muis  de  it. 
annos-,  era  Summo  Pontífice 
da  Igreja  Promana  por  ell:e  ce- 
po depois  dcSiricio,&Anafta- 
lio,o  Papa  Innocecio  I.&  Em- 
peradorcs  do  Oriente,  &í  Occi- 
dente  Arcádio,  &  Honório  fi- 
lhos do  s^randc  Thcodoíío. 

o 

9     Por  eíles  annos, como dif- 
femos  no  principio  delia  hi- 
íloria,  entrarão  em  Hefpanha 
as  nações  Barbaras  dos  Godos, 
AlànoSj  Vândalos ,  &  Sueuos, 
os  quacs  a  íenhorearão ,  Sc  re- 
partirão entre  íy  ficando  qua- 
lí  cadahua  de  luas  Prouincias 
íogcitas  a  feu  Rey  particular. 
Aly  diflemos  como  os  Sueuos 
ficarão  nas  terras  que  hoje  faó 
da  Coroa  de  Portugal,  &  parte 
do  Reino  deLcaõ.Por  tanto  da 
qui  cm  diante  iremos  aponri- 
do  os  Reys  que  íenhoreauão 
Hefpanha  deixando  a  fuceífaõ 
dos  Empcradores  que  ti- 
nhaõ  perdido  o  me- 
lhor delia. 


CAPITVLO  LIII. 

A M  PROFVrvRO 
I.  do  nane  XX.  Ârcebifpo 
de  Braz^. 


AQVELLE 
CóciliodeTo 
icdo,onde  por 
Ic  deixar  íagrar 
dos  dous  i3ií- 


pos  então  Priíciliianillas  Sym- 
phofiOj&Didinio  diííeiíios  to 
ra  priuado  de  lua  Cadeira  S. Pa- 
terno, acrecencamos  logo  fe 
lhe  dera  pcllos  Padres  do  Con- 
cilio por  íuceílbr  a  Saõ  Profu- 
turo.  íuliano  o  faz  vindo  a  ^"i'^»''» 
Hefpanha  de  Africa  dizendo.  A  ' 
Profiiturus  presbyter  AfriCíC  ' 
ijenit  in  Hijpanidm^ip'  oh  egré- 
gias ^uirtutes^  Iff  mentis  fanãi- 
MÊemfuccedit  Paterno  in  Sede 
Bracharenji.  Foi  efta  fuccflãõ 
naó  pella  morte  de  Paterno, 
porque  então  Ihefucedco  Pan- 
craciano,  como  em  lua  vida  di 
rcmosjmas  por  fua  priuação, 
&  depoííção  do  Arcebiípado 
pello  crime,  que  na  fagraçao 
cometeo,admitindo  a  cila  Bií- 
pos  hereges  tendo  obrigação 


de 


Dtftnfor 


Sao  Profuturol. 


2  2$ 


Femicto 

6o.  í.  j. 
biijor  nc- 
ner. 


de  os  euitar  como  Cacholico, 
(Sede os calligar como  Metro- 
politano íeu  c]ue  era ,  &  como 
Primaz  de  todas  as  Igrejas  de 
Hefpanha. 

3  Não  he  taõ  fácil  de  al- 

cançar a  caufa  que  tirou  aSaÕ 
Protuturo  de  Africa  pêra  o  tra- 
zer a  Heípanha.  Conjeicurao 
Padre  frei  loaõ  Marques  íeria 
mandado  por  Sãto  Agollinlio 
(cujo  dicipulo  diz  foi,<5'  ermi- 
tão leu  no  niolíeirodoHorto) 
ao  primeiro  Concilio  de  Tole- 
do, pcra  que  aílilliíle  nelle ,  Sc 
dahy  paflaíTe  a  Belém  com  as 
cartas  que  do  mefmo  Santo  le- 
uaua  a  Saõ  ler  ony mo  j  &  que 
aqui  no  Concilio  vendo  aqucl- 
les  Padres  íua  grande  íabidoria, 
&  rara  modeiíia  o  elegerão  por 
Arcebifpo  derta  Sc  na  vacância 
de  Paterno,  Pcra  prouar  ella 
conjeituraaííenta  como  prin- 
cipio verdadeiro  que  efte  noílo 
Profuturo  heaquellede  quem 
fe  faz  menção  nas  cartas  lo.  & 
149.  de  Santo  Agoílinho ,  húa 
peraSaõIeronymo  ,  &  outra 
pêra  o  meímo  Profuturo. 
5  Naó  falta  quem  duuide 

defte  juizo,  &  cõjeituras  do 
Padre  frey  loaõ  Marques  no 
particular  do  noílo  Profuturo 
fer  o  portador  das  cartas  de 
Santo  Agoítinho  pêra  Saõ  Ic- 


ronymo  ,  &c  aquelle  a  quem  o 
mefmo  íanto  efcrcue.  Os  mo- 
tiuos  faó  que  ao  tempo  que 
íanto Agoílinho  eícreuia  ao  fa- 
grado  Doutor  era  ainda  Sa- 
cerdote, &c  naó  Biípo  como 
elle  o  diz  em  outra  carta_,  fizé- 
do  menção  deíla  primeira  que 
Iheenuiaua  por  Profuturo  c5 
eílas  palãims. Quasad  te  adhuc 
presbyter  literas  pr^paranera 
mittereper  quendam  Profutu- 
rum  fratrem  noflrum  tfc.  E 
como  Santo  Agortinho  foi 
eleito  Bifpo  no  anno  de3,9j". 
parece  muy  cedo  pêra  mandar 
ao  primeiro  Concilio  de  To- 
ledo celebrado  no  anno  de  400 
a  Profuturo,  fmco  annos an- 
tes de  elle  fe  ajuntar,  &  alguns 
mais  ie  fe  celebrou  no  anno  de 
405.  como  tem  Dextro, &:  ou- 
tros autores. 

4  Coníirmafe  eíle  funda- 
mento côas  palauras  do  meí- 
mo íanto  bc  ponderadas.  Diz 
elle  a  São  leronymo  que  jà  lhe 
tinha  eícrito  pella  via  de  Pro- 
futuro j  mas  que  eleito  Bifpo 
naquella conjunção  naó  pode 
fazera  jornada,  aísy  pello  im- 
pedir a  noua  dignidade ,  como 
porem  breue  morrer.  Saõ  as 
palauras.  Dum  proficifci  difpo- 
nit  collega  nobisfaólus/s"  Epif- 
copatus  farcina  detentus  hreiíi 

defunãus 


22Ó 


Capitulo  LI  11. 


deftmólus  eít.  Onde  clariííima- 
mente  o  íaerado  Doutor  da  a 
entender   que   Profucuro  na 
Africa  j  òí  antes  de  íair  delia, 
foi  tomado  pêra  oBiípado  que 
breuemente  largou  ,  por  Deos 
o  ieuar  pêra  o  Ceo  j  donde  íe 
ve  quedefta  íua  jornada  pêra 
Belém  a  fmco  annos,  os  Pa- 
dres do  primeiro  Concilio  de 
Toledo  lhe  não  podiao  dar  a 
Cadeira  de  que  priuaraõ  a  Pa- 
terno, nem  osllnco  annos  íe 
podião  declarar   por  aquellcs 
termos.    Breiíi  defimãus    efi, 
que  denotão  tempo  mais  cur- 
to ,  &c  abreuiado. 
5  As  rezocs  referidas  com 

quefe  impugnão  as  conjeitu- 
ras  do  Padre  Marques  temais 
de  aparência  que  de  força.  A 
nos  vainos  tanto  em  Saó  Pro- 
futurofero  dequcfala,&aquê 
cfcreuc  o  SantoDoutor,que  (ò 
quando  com  rezoês  euidentes, 
íe  nos  prouaííe  era  outro  ,  dei- 
xaríamos de  o  ter  por  tal  .  Di- 
gamos primeiro  o  modo,  &c 
òcaííão  porque  veo  a  Hefpa- 
nha,&:  a  que  fim,  &  depois  di- 
remos como  íe  não  encontra 
com  o  que  delle  achamos  em 
Santo  Agoftinho  relponden- 
dois  rezoes^quetroxemosem 
(-ontrario. 
/:         Entrou  Profuturo  em 


oeníamento ,  ôc  aílcntou  con- 
ligo  de  pcrigrinar  aos  iantos 
lugares  de  lerufalem  3  deu  con- 
ta de  leu  intento  a  leu  mellre 
Sáto  Agoílinho,oíanco  Dou- 
tor lhe  aprouou  aquella  fua 
ida;  pcdiolhe  depois  que  em 
Belém  íe  viíle  com  Saõ  le- 
ronymo ,  que  então  aly  viuia, 
Ôjoviiitaík  de  íua  parte,  & 
ihedeíleas  cartas  que  porclle 
lhe  eícreuia.Sobre  tudo  lhe  en- 
comendou quiíeííe  faber  do 
mcfmo  Saõ  leronymo  que 
íentia  a  cerca  da  origem  das  al- 
mas ponto  que  íeduuidauai& 
ignoraua  tanto  por  aquelles 
tempos  .  Vltimamente  lhe  a- 
coníelhou  quifeíle  de  caminho 
paílar  por  Hefpanha,  &  achar- 
íe  em  algum  dos  muitos  Con- 
cilios  que  nella  íe  celebrauão 
contra  os  hereges  Priicilliani- 
rtas  5  &:  aduertir  cõ  grande  c5- 
ííderação  o  que  aquelles  Pa- 
dres dilfiniao  acerca  da  doutri- 
na de  Priícilliano,  queaffirma- 
ua  ferem  as  almas  da  fufran- 
cia  de  Dcos ,  &  relatar  tudo  a 
Saõ  leronymo ,  peraque  elle 
viftos ,  &  examinados  os  De- 
cretos das  Igrejas  do  Occidcn- 
te^pudeíle  melhor  reíponder- 
Iheao  que  porelielhe  manda- 
ua  perguntar. 
7     A parelhoufeS.  Profuturo 


SaÕ  Profuturo  I. 


227 


pcra  a  jornada, tSc  primeiro  tra- 
tou da  de  Heípanha  peta  onde 
partio.  Chegado  a  cila,  faben- 
do  que  em  Toledo  íe  tinha  pu- 
blicado Concilio, fe  quis  achar 
nclle  ,  de  como  difle  que  era 
dicipulo  do  grande  Agoitinho, 
&:  hia  enuiado  por  elle  aSaõ 
leronymo  ,  não  obftante  fer 
ainda  Prés bytero3  lhe  derao  lu- 
gar entre  os  mães  Bi{poSj&  foi 
hum  dos  que  affiíliraõ  no  Có- 
cilio.    Tratouíe  aly  acauíàdc 
Symphoíío,DidtiniOj  &í  Pater- 
no na  forma  que  no  capitulo 
paííado  contamos.  Votou  nel- 
la  Saõ  Profuturo,  falou  tanto 
ao  certo  ,  &  tanto  como  dici- 
pulo de  quem  era,que  logo  to- 
do aquelle  ajuntamento  pos  os 
olhos  nelle  pêra  grandes  cou- 
fas.  Sucedeo  pello  difcurfodo 
Conciho   que  os  dous  Biipos 
Symphofio,  &  Diótinio  forão 
auidos,  cv'  condenados  por  he- 
regeSj&  Paterno  quecomelles 
fe  lagrara  por  indigno  do  Ar- 
cebilpado  que  poíluhia,  pello 
queopriuarão  logo  aly  dellc, 
&  puzcraó  como  vimos  acima 
ê  feu  lugar  aS.Profuturo.Não 
valeriío  ao  nouo  eleito  efcuzas 
alo-uas,    ouue   de  abaixar  os 
hombros  à  carga,  &  deixar  os 
intentos  de  fua  perigrinaçao. 
-Vco  c!e  Toledo  pêra  Braga ,  vi- 


nco poucos  annos  no  Arcebis- 
pado ,  (Sc  cm  breue  tempo  fe 
foi  gozar ,  naõ  da  ler u  falem  da 
terra ,  pêra  onde  hia ,  mas  da 
Ccleftialj premio  de  feus  gran- 
des merecimentos. 


CAPITVLO.  LIIII. 

AIVSTASE  O  D  I  S- 
curfo  pajfado  com  o  que  de  S. 
Profumro  efcreue  Scito  Ago- 
flinhoirefpondefe as  obieiçoes^ 
Í5J'  declarafe  quantos  Conci- 
ctlios  eUãO  infertos  uo  pri- 
meiro de  Toledo . 


Aõ  encontra 
o  prcfentc  dif- 
curíooqdcS. 
Profuturo  ef- 
creueo  o  San- 
to Doutor, fendo  ainda  Presby- 
tero^a  Saõ  leronymo ,  que  por 
hú  irmão  feu  chamado  Profu- 
turo lhe  tinha  primeiro  man- 
dado cartas.   Perquendamfra- 
trem  nojlrum  Profuturum.  Bê 
fe  íabe  que  osBifpos  cliamão 
a  outros  Bifpos  irmãos ,'  &  do 
mefmo  modo  os  Sacerdotes  a 
outros  Sacerdotesj  chamar  Sá_ 
to  Agoftinho  Sacerdote  a  Pro_  ^ 


fi 


uturo 


228 


Capitulo  LU II. 


futuro  irmão  foi  chamaríhe 
Sacerdote,  Tal  chama  ao  noílo 
Profaturo  liúiãiio. Profuturus 
Presbyter  .4/>/Víí,ApareIhoufe 
pcraa  jornada  da  terra  rantaj& 
com  eíícito  fe  partio  a  Hefpa- 
nha  Profuturo  ,  liio  diz  fanto 
Agollinho.  Dumproficifci  dif- 
poivt ^  não  de  Africa  pêra  Heí- 
panha,  mas  de  Hefpanha  pêra 
Palcíiina  fegúdo  melhor  íc  co- 
lhe  úcS.  ícronymOjO  c|ual  auê- 
do  às  mãos  as  cartas  de  fanto 
Agortinho  refpondendo  às  q 
leuaua  Profaturo  diz.  Et  item 
Profuturum  rctraSliim  de  itine- 
re^tf  EpiJcopumfaãnm  ^udoci 
morte  conjumptus  e(i ,  onde  a- 
qucilas  palauras  ^  retraãum  de 
itinere  ,  faò  a  declaração  do 
proficifcidifponit.  Ebemfe  vc 
que  quem  he  tirado  do  cami- 
nhoja  eífaua  ncile^como  çm 
Hefpanha  cllauaS.  Profututo 
onde  foi  feito  Bifpo  como  o 
era  fantoAíToftinho.iflo  he  no- 
bis  coUega  jaãns  ^  não  qucja 
então  fanto  Agoíiinho  quan- 
do fizcraõ  Bifpo  a  Profuturo  o 
foílèjporque  a  eleição  defte  pê- 
ra Braga  fuccdeo  primeiro  que 
a  do  fanto  Doutor^íc  não  que 
comocfcreuea  faõ  leronyrao 
ja  Bifpo  diz  que  Profuturo  o 
foi  como  ellc  o  era.  As  palauras 
de  íanto  Agoílinho  ,  breui  de-  I 


fimãus  efi^  &Í  as  de  íaõ  lerony- 
mo_,  <ueIoci  morte  fub tatus  eíi^ 
reíponJcm  ao  pouco  tempo 
j  que  Profuturo  gozou  a  íua 
Prelazia ,  leuandoo  Deos  pcra 
íy  em  menos  de  dous  an- 
nos, 

t  Ficará  eftedifcurfo  mais 
claro  íc  íe  diílinguirem  bem  os 
Cócilios  que  naquelle  chama- 
do primeiro  de  Toledo  andão 
infertos.Sinco  diílintos,  &di- 
uerfos  defcobrirà  aly  quem  fi- 
zer diligencia,  porque  taqtos 
eílão  claramente  no  meíhio 
texto, &  todos  íínco  ajuntou 
em  hum  Garcia  de  Loay faj  por 
ventura  com  bom  fundamen- 
to, porque  todos  pertenciaõà 
mel  ma  matéria ,  Sc  íe  congre- 


garão 
to. 

3 


fobr 


e  o  me  imo  argume- 


Digamos  a  ordem  ,&  an- 
nos  em  que  foraõ  celebrados. 
Ajuntaraõfc  alguns  Prelados 
deHçfpanhaem  Cóciliocõtra 
os  Priícillianiftas ,  íizerãonos 
reconhecer  fcus  erros,&£cmcr 
íuasccnfuras.  Forao  cõuenci- 
dos  por  hereges  Symphoíío 
Bifpo  de  Orenfc,  &  Diítinio 
Sacerdote,  elfcs  tomarão  o  ca- 
minho de  Milão,  3c  foraõ  va- 
ler íe  da  autoridade  de  fanto  A  m 
broho.Ouuioosbéofanto,  6c 
pclla  emmenda  que  lhe  pro-  j 

meterão. 


S^oProftituro  I. 


229 


meterão  ( comando  a  palaura  a 
Sympholio  (^  náo  ordenaria 
Biípo  a  Did:inio)os  enuiou  ao 
Concilio,  qdenouo  fcpubli- 
cauaem  Toledo,  cícreucndo 
aos  Padres  delie  íirandes  coiiías 
c  luaabonaçáojd:  dado  miúda 
conta  de  ícus  propofitos .  Em 
íaindo  ceMiláo  mudarão  de  pa 
rccer.poiq  Symphoíio  íagrou 
Biipode  Ailorgaa  Dicl;inio,& 
ambos  íagrarãoa  Paterno  Ar- 
cebilpo  delta  Igreja.  O  nouo 
Concilio  a  c]  íanto  Ambrofio 
eícreuia  le  celebrou  fem  os  três 
apparccerem,,  pelloqforão  em 
auíencia  condenados  cm  priua- 
ção  de  fuás  dignidades,^:  na  de 
Paterno  foi  pofto  Profuturo, 
como  temos  dito,  tudo  pellos 
annos  de  391.  ou  393.  em  que 
fanto  Agoftinho  ja  viuiaem 
Bona  depois  do  bautifmojpar- 
ce  fecular^parte  Sacerdote. 
4  Apertados  os  três  Bifpos, 
Paterno,Symphofio,  &  Diól:i- 
nio  com  a  noua  condenação, 
começarão  a  entrar  em  fy  ,  &  a 
reconhecer  íeus  erros, &  peraq 
fua  penitencia foílea  todos  no- 
tória acodirão  a  outro  Cocilio 
no  anno  de  4oo,ou  de  405'. que 
tambe  cm  Toledo  fe  ajuntaua, 
&:  aly  com  grandes  lagrimas 
conreflarão  fuás  culpas,  &ab- 
j  urarão  a  hcregia  ,  dctellarao  a 


I 


PrifcilIiano,&  íuadoucrinaríi-  | 
nalmencealy  íe  mollrarao  vei-  ' 
dadeiros,&  Heis  CatlioUcos:  &c 
foraõ  outra  vez  admitidos  ao 
grémio  da  Igreja j  &  viando  a- 
cjuclles  Padres  de  íuabcgnini- 
dade  rellicuirão  osnouos  pe- 
nitentes a  íuas  Igrejas.  Sym- 
phofioieíicoucom  ade  Orê- 
fe,  Diólinio  com  a  de  Aílorga, 
Paterno  com  a  de  Braga  vaga 
jàpor  morte  dcS.  Protuturo, 
que  nclla  tora  cm  leu  lugar 
prouido. 

5  Muito  foi  o  exemplo  dos 
três  Rifpos  reconciliados  pêra 
bê  de  nolla  tanta  Fe,  mas  eraõ 
por  outra  parte  em  graõ  nume- 
ro os  hereges ,  tomauao  cada 
dia  nouas  torças  ^  dauão  calor 
com  a  potencia,  &furoraíua 
feita,  em  fim  naõ  perdiaõ  pon- 
to em  a  publicar, &  dilatar,íem 
embargo  do  que  nos''Conci- 
lios  paliados  fe  tinha  decreta- 
do.  Tornouíe  a  ajuntar  ou- 
tro Concilio  em  Toledo  no 
Pontificado  de  ínnocécio  pri- 
meiro, não  muito  adiante  do 
anno  de  40f.Prcíidio  nelleo 
nofioS.  Pater  no  jàrecõciliado, 

6  rcftituido  a  íua  Igreja,  a  que 
como  a  Primaz  de  toda  Helpa- 
nha  cabia,  &  pertencia  de  direi- 
to aquclla  prclidencia. 

6       Tornarão  dahy  a  mais  de 

V  quarenta 


230 


Capmlo  LIIIL 


quarenta  annos  depois  defte 
Concilio  a  leuantar  cabeça  os 
PriíciUianiítas.  Gouernaua  en- 
tão a  Igreja  de  Dcos  o  grande 
S.  Leaõ  Papa.  E  como  o  zelo 
deíua  Fe  o  fazia  acudir  mais  de 
prcíTa  onde  o  perigo  eramayor, 
efcreuGO  a  S.  Tonbio  Notário 
da  Se  Apoftolica  Bifpo  de 
Allorga,  &íuccílbr  de  S.  Dióti- 
nioq  cllccom  as  vezes  Apo- 
ftolicâscjuclhe  daua  fizeíle  a- 
j  untar  hú  Concilio^emq  de  to- 
do puzeíle  fim  à  maldita  feita 
de  Prifcilliano.  Afsy  fe  fez ,  & 
nerte  Concilio  fe  ordenou  a  re- 
gra da  Fèq  depois  fe  mandou 
ao  Arcebiípo  de  Braga  Balco- 
nio  pêra  lhe  dar  fua  autoridade 
como  Primaz,  òc  a  confirmar, 
pois  fenão  achara  prefentc  no 
Concilio  r  fucedeotudopellos 
annos  de  448. 

7  Temos  diftintos  finco 
Concilies. O  primeiro  em  que 
Symphofíoj  &  Di(5tinio  fairao 
a  primeira  vez  cõdenados  qua- 
do  fe  forão  valer  de  S.  Ambro- 
fio.Segúdo  oaqfantoAmbro- 
fio  efcreueo  em  fauor  de  Sym- 
phofio,e  Di(5tinio_,&  elles  pro- 
meterão, mas  naõ  quiferaÕ  ap- 
pareccr ,  &  forão  condenados 
em  aufcncia.Terceiro  oemq  jà 
penitêtcs  juntamente có  Pater 
no, a  quem  tinhaõ  fagrado ,  fe 


foraòapprefentar,&:  ouueraõ 
abfoluição  reftituidos  a  feus 
Bifpados,  Quarto  o  emq  prefi- 
dioS. Paterno  comoPrimàzdas 
Hefpanhas  em  têpo  do  Papa 
Innocenciol. Quinto  o  em  q 
eftabeleceoarcgradaFè,^  pre 
fidioS.  Toribio  fendo  Síímo 
Pontífices.  Leaõ  Magno.  To- 
dos eftes  fincoConcilios  andão 
infertos  naquelle  primeiro  de 
Toledo ,  q  íe  diz  celebrado  an- 
no  de 400. ou  como  te  Dextro 
anno  de  405. &  todos  hc  necef- 
fariodiftinguir  pêra  fenão  cõ- 
meteréna  hiftoria  os  erros  em 
que  cairaõ  por  falta  defta  aduer 
tencia  grauiílimos  autores. 
8  Moftremos  agora  como 
de  todos  eftes  finco  Concilies 
fefaz  méção  nas  aílas  do  q  an- 
da nomeado  por  primeiro  To- 
ledano.  Faz  fe  méçaõ  daquelle 
primeiro  por  rezão  de  cuja  ícn 
têça,&  penas  contra  os  hereges 
diflemos  fe  foraó  Symphofio, 
&  Didinio  valer  de  fantoAm- 
brofio,&  do  fegíjdo,  cm  q  naõ 
quiferaÕ  apparecer,&  foraõ  pri 
uados  de  fuás  dignidades  naql- 
las  palaurasq  começão.Aí<í^»ií 
«Oílonde  os  Padres  dizem  que 
bem  fe  deixa  ver  a  paciência  q 
vfaraõ  cõ  elles  aindaq  naõ  qui- 
feraÕ appareccr  noConcilio  de 
Toledo  pêra  onde  os  citarão,^ 

eh  a- 


Sao  Prof^Uíro  L 


âsí 


^Ot^^t^^^JÊà^ámi 


chamauáo  pêra  ícrem  oiuiidos  I 
ponque  naõcompriraõas  con- 
dições cjiie  elles  meímos  aly 
puícraõ  na  preíença  de  íanto 
Ambroíio. Prometerão  ao  ían- 
to atemorizados  do  primeiro 
Concilio  que  íe  achariaõ  no  q 
de  nouo  íecõgregaua,  &  Sym- 
phoíío  naó  lagrariaBifpo  a  Di- 
clinio.Nem  lu!a,ne  outra  cou- 
(a  compriraõ, porque  naó  qui- 
íeraõ  apparecer  no  Concilio, 
nem  fizeraõ  caio  diílb,&  mui- 
to menos  da  íagraçáo  de  Diéti- 
nio^que  fora  proiíibida  a  Sym- 
pholio. 

5>  Do  terceiro  cm  que  os 

tresBiíposfe  reconciliarão,  & 
outros  mais  confta  daquellas 
palauras  dosPadres,quc  come- 
ção.Excepufunt-,  em  q  depois 
de  promulgados  os  Cânones, 
qaly  tinháo  ordenados  man-^ 
daraÕ  que  fe  leílem  as  confif- 
íoésdos  Biípos  reconciliados, 
ô:  todas  vinhão  aífinadas  por 
clles  entre  as  quaes  eftà  a  do 
noílb  Arcebiipo  S.  Paterno. 
IO      Ao  quarto Cocilio  em q 
elle  prefidio  pertence  a  carta  de 
Imiocenciol.  que  no  melmo 
Concilio  anda,  c^  entrou  no 
Pontificado  noannode4oo.ou 
40i.Do  quinto  he  a  regra  da  fè 
que  Te  mandou  a  Balconio  lu- 
ceílor  de  S, Paterno  em  tépo  de 


S.  Lcaõ  e]  no  anno  de  440.  foi 
eleito  Sumo  Põtificc.A  elle  vi- 
timo cõ  todos  os  quatro  iníèt- 
tos  nelle,&  celebrados  é  annos 
taÕ  diueríos  chama  a  coUecçaõ 
de  Loayía  Concilio  Toledano 
primeiro. 

C  APITVLO.  LV. 

SEGVESE  O  MAIS  OVE 
pertcce  d  yida  de.  S.  Pro futuro. 

Ornado  agora 
ao  noíloS.Pro 
futuro<,&  aoan 
no  de  ília  parti- 
da de  Africa  pê- 
ra Heípanha/Ha  podia  muy  bé 
fuceder   no  primeiro  em  q  o 
fanto  viueo  é  Bona  Sacerdote, 
irtohe  no  de  3 92.. ou  3 9 3. &  lo- 
go no  niefmo  ano  fer  eleito  no 
Concilio  de  Toledo  por  Arce- 
biipo de  Braga  (aindaq  íuliano 
poé  alguns  annos  adiante  ella 
eleição)e  morrer  poucO  depois, 
íicádo  efta  Igreja  vaga  ate  o  íc- 
guinte  Cócilio  de  Toledo  ceie* 
brado  no  anno  400. ou  405. cm 
qaella  foi  outra  vez  rertituido 
S.Paterno-nêauemos  deimagi 
nar  q  a  morte  apreíiada  de  S. 
Profuturo  o  não  deixou  gozar 
dcíeu  Arcebifpado alguns  an- 
nos, porque  a  lerem  íb  dous, 
&c  ainda  três ,  bem   (c   podia  \ 

dizer 


cljyoHi 


Vi 


232 


CaptuloLV. 


dizer  dellc  que  pouco  o  logra- 
i'a,on  que  brcuemente  o  logra- 
ra^ iié  nos  víamos  inconuenié- 
tepcralhc  não  ellendcrmos  a 
vida  ate  perto  dos  tempos  do 
Concilio  em  que  S. Paterno  foi 
relUtuido,  iíto  he  ate  oanno 
de  400. íe  os  termos  porque  fa- 
laõ  nabreuidadede  lua  morte 
fanto  Agoftinho ,  &  íaõ  lero- 
nymo  o  não  impedirão.  Fica- 
íe  aísy  dando  melhor  rezaoa 
duas  coufas  que  deforça  íe  haó 
de  perçútar.  A  primeira  como 
íaindo  de  Africa  S,  Profuturo 
Sacerdote  lhe  eícreue  fanto 
Agoftmho  como  Bifpo,&  cõ- 
fulta  fobre  a  eleição  do  Primaz 
de  NumidiajOuCarchagoj&q 
pertencia  lílo  a  hu  Sacerdote 
qual  foi  S. Profuturo  ê  Africa? 
Refpondcfe  q  bc  podia  ferlhe  a 
carta  efcrita  a  Braga,e  querer  fa 
ber  o  SátoDoutor  o  q  lhe  pare 
cia  daqlla  eleição.E  q  muito  he 
cõfultaííe  a  húBifpo  irmão  feu, 
a  que  clle  chamaua^^/í^r  ergo. 
z  A  dillancia  dos  lugares  não 
tira  a  comunicação  antes  iílb 
faõ  c^MUs^amicorÚ  colloquia  ab- 
j^/?f íi.ComoProfuturo  era  ho- 
me de  erande  iuizo  tinha  mui- 
:  ta  noticiadas  pefloas,q  naquei- 
la  dignidade  podião  íer  eleitas, 
quer  íaber  delle  fanto  Agolli- 
nho,  qual  julga  por  de  mayo- 


res  merecimentos .  Não  foi  a 
morte  de  Profuturo  taõ  apreí- 
íada  que  não  deíle  lugar  a  eíía 
comunicação. 

3  A  fegunda  coufa  que  fe  pò 
de  perguntar  hecomoíendoa 
morte  de  S.  Profuturo  noBiípa  j 
do  taõ  apreílada  ,  que  parece 
nem  pêra  íe  fagrar  lhe  dão  tem- 
po Santo  Agoftinho,  &  S.  le- 
ronymo  cõ  aquelles  feus  tão  a- 
pertados  termos.  Breui  defun- 
ãws ,  "veloci  mortefublattís ,  S. 
ProfuturoBracharenfe  teue  va- 
gar pêra  cõfultar  a  Se  Apoílo- 
lica  em  coufas  tão  graues ,  &c 
auer  delia  repofta  ^  polia  em 
execução  como  no  Concilio 
Bracharenfe  auido  commú- 
mente  por  primeiro  fe  refere. 
Dizem  aly  osBifpos  congrega- 
dos falando  cõ  Lucrécio.  Pr^- 
cipue  cum  iff  de  cateris  quibuf- 
dacaujis  insíruâiione  apud  nos 
Sedis  Apoflolica  habemus ,  qu<e 
adin[lruãionê  quÓdâ  ijenerad^ 
memorize  pr^edeceJ^orislpeUriPro 
futuri  ab  ipfaBeatifsimi  Petri 
Cathedra  direãa  ^í/.Principal- 
mête  tendo  nos  inftrucção  da 
SèApoftolica  lobrc  certas  cou- 
fas,a  qual  veo  dirigida  daCadei 
ra  do  BemauéturadoS,  Pedro  e 
repofta  de  híía  pergílta  q  lhe  fez 
antií^uaméte  voílo  predeceílbr 
Profuturo  de  boa  memoria. 

Depois 


SaoProfuturo  L 


i3i 


Depois  ordena  o  Concilio  que 
as  Miíías  íe  digão  com  as  cere- 
monias,  Òc  pellaordé  queaSè 
Apoíloiica  deu  por  eícrito  a 
Profuturo  \  que  ninguém  no 
modo  de  bautizarfe  aparte  do 
que  íempre  vfou  a  Metropoli- 
tana de  Braga ,  o  qual  modo 
ouue  por  eícrito  da  Se  Apo- 
íloiica Profuturo .  Pêra  todas 
crtas  coníultas  por  mais  eftrei- 
tos  que  pareção  os  termos  dos 
dous  fagrados  Doutores  q  jà 
referimos ^derão  lugar  a  Profu- 
turo os  aniios  q  neílalgreja  vi- 
ueo,porq  quando  menos,pella 
conta  de  luliano  foraõ  dous,& 
podiaõ  fer  três ,  òí  mais  fem  fe 
fizer  violência  algtJa  às  palauras 
referidas. 

4  Por  não  tornarmosdepois 
à  duuida  que  aqui  logo  fe  pode 
refoluer,  dizemos  q  dos  dous 
Profuturos  Arcebifpos  defta 
Primacial,o  de  q  imos  eícreuê- 
do  foi  o  de  que  falou  o  Cõcilio 
de  Braga  nas  palauras  referidas, 
òí  não  o  fegundo  do  nome  cu- 
ja vida  adiante  terá  feu  lugarj 
porq  clfe  fegildo  como  aly  ve- 
remos viuco  pellos  annos  de 
Chriífo  $t$.  ôc  o  Concilio 
como  diremos  na  vida  deLucre 
cio fc  celebrou  no  de  563  .ôcnão 
parece  eí paço  o  de  3 8. annos,  q 
diftoudoCõciliOjpcra  fe  dizer 


nellea  Lucrécio  de  Profuturo  1 
W.Quondam  i:enerandte  memo- 
riíêprsdecejsoris  nu  Profiituri. 
Melhor  caê  as  palauras  fobre  o 
Profuturo  I.  do  nome  cuja  vi- 
da imos  referindojpois  naqucU 
le  tépo  era  falecido  auia  mais  de 
163.  annos,  né  o  II.  Profuturo 
em  efpaço  de  hú  anno  j  ou  ain^ 
da  menos  q  durou  nefta  Igreja, 
podia  emprender  as  couías  que 
aly  os  Padres  do  Concilio  atri- 
bué  aoProfuturo  de  que  falão. 
5      Reífadiícutirhúa  cãjeitu- 
ra  do  Padre  Marques  em  quáto 
faz  a  S.  Profuturo  dicipulo  de 
Santo  AgoíHnho,  &  ermitão 
da  fua  ordem  no  morteiro  do 
Horto.Temefte  juizo  grande 
contradição  nos  Cónegos  Re- 
gulares de  fanto  Agoitinho ,  q 
querendo  pcra  fy  ao  fanto  Ar-* 
cebifpo  Profuturo  não  íofrem 
que  outrélho  tome ,  Pennoto 
religiofo  do  meímo  habito ,  & 
cónego  de  faó  loaõ  de  Lateraó 
quer  prouar  que  lhe  pertence 
trazendo  pêra  iíío  algunsfun- 
damctos  dos  que  jà  referimos, 
í?íaque  temos  dado  foJução. 
Porem  a  religião  dos  Ermitães 
de  íànto  Agoftinho  tem  por  fy 
mais  fundadas  rezoés  pêra  dc- 
fcder  que  he  efte  fanto  feu^  tra* 
las  o  Padre  Marques  onde  fe 
podem  ver. 


V3 


6      Alem 


234 


(Capitulo  LIIII. 


Caro  ~ad 
Dext.an.^ 
^19  foi. 
144. 


6  Alem  das  que  elle  apon- 
ta ha  outra  mais  eÔicaz^  eíla  he 
o  titulo  dchúa  carta  ^  que  Pau- 
lo Orofio  eícreueo  de  Africa  a 
efte  Santo  Prelado ,  o  qual  diz 
afsy .  Saneio^  i^  ijenerabili  Di- 
ro  eiufdemfub  Auguflino  ercmi 
condifcipião  Profuturo  Epifcopo 
Bracbarenfi  Orofius  preshyter, 
quehe  o  meímo  que  chamar 
Paulo  Oroííoafaó  Profuturo 
íeucondicipulo  no  meímo  er- 
mo debaixo  de  Agoftinho,  & 
confeílar  que  ambos  erao  er- 
mitães do  mefmo  Santo.  Que 
Paulo  Orofioo  foíTeconífa  de 
Flauio  Dextro  como  diremos 
em  fua  vida.  Efte  titulo  dei- 
xou notado  o  padre  frei  Luis. 
dos  Anjos  em  huiiiliuro  em 
que  copiou  varias  coufas  que 
tirou  de  liurarias  que  leo  em 
Remos  eftranhos  quando  tra- 
zia entre  maõs  as  Chronicas 
defta  Ordem.  Não  diz  on- 
de achou  as  palauras  referidas^ 
porem  Trithemio  faz  menção 
de  hum  liuro  de  Epirtolas  de 
Paulo  Oroíío,  o  qual  podia 
eftar  em  algúa  daquellas  liura- 
rias que  vio  ,  &  reuolueo  o 
padre  frei  Luis  cios  Anjos^  po- 
lloque  dclle  nao  tenhamos  no- 
ticia. Do  mefmo  parecer  he 
também  Rodrigo  Caro  ,  &  fe 
acoilaà  opinião  que  affirmaq 


foi  faõ  Profuturo  monjCj  ou 
ermitão  de  fanto  Agoftinho, 

6  traz  pêra  ifto  a  autoridade 
de  luliano,  que  acima  referi- 
mos. 

7  Fundou  faõ  Profuturo 
alguns  mofteiros,  ou  eremito- 
rios  neíte  Reino-  Conjeituras 
ha  que  foi  fundação  fua,  &  re- 
colhimento de  ermitães  deíla 
Ordem  o  mofteiro  de  SaõMar- 
tinho  de  Sandediftante  húa  le- 
goa  &  mea  da  cidade  de  Bra- 
ga  junto  ao  rio  Aue,  o  qual 
foi  depois  de  Religiofosaa  Or- 
dem de  Saõ  Bento  edificado  de 

nouo  por  SnÕ  Frutuo(jp  Ar- 
cdbifjTo  defta  Igfeja ,  agora  co- 
menda ife  ordem  de  Chrifto. 
Pellos  annos  de  ^95.  em  que 
veode  Africa  a  Fíefpanha  íàõ 
Profuturo  diz  Flauio  Dextro 
que  entrarão  em  Portugal  os 
monjes  negros. Monachi  nigri. 
E  ainda  que  não  íie  fácil  de  re- 
foluer  que  ermitães ,  ou  mon- 
jes negros  forao  eftes  que  en- 
trarão em  Heípanha  nefta  oca- 
f  aõ^comtudojdeixando  outras 
opiniões^  não  faltão  autores 
graues  que  dizem  foraÕ  ermi- 
tães de  íànto  Agoftinho  ,  que 
paííaraõ  de  Africa  a  Hefpanha 
pêra  nella  ftidarem  mofteiros, 
ôc  fazerem  vida  folitaria^  &  re- 
ligioía. 


Dext.  /» 
chron.an^ 
419. 


Care  \J. 
an.  41^ 


8      Don- 


São  Profuturo  í. 


áJ5 


8  Donde  feconcluc  que  foi 
íao  Profuturo  ermitão  j  &  di- 
cipulo  de  íanto  Agofbinho,  o 
primeiro  que  neíte  Reino  pla- 
tou  a  Religião  dos  Eremitas, 
donde  hão  laido  tantos  íojei- 
"tos  abalizados  em  letras ,  tan- 
tos Prelados  ,  &  varões  illu- 
ílres  de  que  couberaõ  a  eíla  Sè 
depois  de  íaõ  Profuturo  dous 
lUulbiífimos  Arcebifpos,  que 
a  honrar£o3&  illuílrarao  :eítcs 
foraõ  o  fenhor  Dom  frei  Ago- 
AinhodeCallro^  &:o  fenhor 
Dom  frei  Aleixo  de  Menefes, 
cujas  vidas  daremos  a  luz  qua- 
doahiftoria  chegar  aos  felices 
annos  «m  que  go  ucrnarão  ella 
Igreja. 

O         Concluamos  a  vida  de 
5.   Profuturo  com  as  palauras 
de  fanto  Agoftinho  na  carta 
149.  chamalhe  aly  o  fagrado 
Doutor ,  alter  egop\Mio  Ago- 
ftinho, encómio  que  fò  pene- 
trará bê  quem  bem  penetrar 
que  coufa  feja  Agoftinho,  Da 
amizade  dille  faó  íeronymo, 
ampares  facit  \  ant  inumlt.  ou 
faz  em  tudo  íemelhantes  àos 
que  íè  amão ,  ou  ja  os  acha  fei- 
tos. A  femelhança  entre  Pro- 
futuro, ^  Agoftinho  he  tanto 
a  própria, que  por  confilTaõ  do 
mefmo  fanto  Profuturo  era 
outro    clle  fem   difcrepancia 


nenhúa.  Ventura  foi  da  cidade 
deBra^a  merecer  outro  A 20- 
ftinho,antes  o  meímo  Aeofti- 
nho  por  Prelado  na  pelíoa  de 
Profuturo.  luliano ,  &  outros 
autores  graues  lhe  chamáo  fan- 
to ,  &:  como  tal  o  venèraõ ,  &: 
té  por  milagrofo  os  Religioíos 
de  íanto  Acjoftinho  dos  Ere- 
mitas  cm  toda  Hefpanha.  Aísy 
o  nomea  o  Senhor  Aíccbifpo 
Dom  frei  Aleixo  de  Meneies 
em  vários  lueares  do  defenfo- 
rio  defta  Ordem  que  deixou  ef- 
crito  de  mão  ,  &  nos  comuni- 
cou hum  rcliriofo  sraue  delia. 
Afsy  lhe  chama  também  o  pa- 
dre frei  Luis  dos  Anjos, em  hús 
notados  feus  de  maõ.  Coníir- 
maõefta  tradição  ,  &  poíle  va- 
rias eftampas  deftc  illaftre  Pre- 
lado, onde  fe  vc  eículpido  ,  & 
pintado  com  refplandor ,  &  ti- 
tulo de   íanto .   Foife  a  gozar 
dabemauenturanÇa  depois  de 
tèrgouernado  fua  Igreja  quaíí 
dous  annos  ;  tantos  lhe  da  o 
padrefrei  Luis  dos  Anjos  em 
hunseícritos  de  maõ  que  dei- 
xou ,  que  vem  a  fer  pellos  an- 
nos de  395. Gouernauapòrefte 
tempo  a  Igreja  de  Deos  o  Papa 
Siricio,  &  o  Império  Arcadioj 
&  Honório. 


Itílian.  iu 
chron.  I 
p^^.49.  I 
A/arcj.in 
dcfenf.d.  i 

Í.2.  I 

Fr,  Luis 

dosAnjos 
in  vita  I 
D.  ^go,- 


V 


CAP- 


236 


Capitule  LV. 


Chro>i_ 


CAPITVLO.  LV. 

P  A  N  C  R  J  C*I  0,0V 
Pancraciano  XXI.  Arcibif 
po  de  Braga. 


N  T  R  O  V 

nclk  Arcebil- 
padoProfutu- 
ro  pella  ícncé- 
ça  dada  contra 
íaõ  Paterno  no  Concilio  Tolc- 
dano  pellos  annos  de  3í?z.  ou 
393.  conforme  a  melhor  conta 
Icuou  oD eos  pêra  íy  antes  que 
iaó  Paterno  foíle  reftituido  a 
Braga  no  Concilio  de  Toledo, 
c]  íe  celebrou  no  anno  de  Cnri- 
ito400.de  íorte  cjucdousfu- 
ceíTores  ceue  faõ  Paterno,hum 
deíua  priuação,  outro  de  íua 
rnorte.O  primeiro  jà  diílemos 
foraProfuturOjO  legundo  íe 
chamou  Pancracio,ou  Pancra- 
ciano. Por  íucefibr  lho  da  Ju- 
liano com  grandes  abonos ,  de 
recomendações  de  fua  fé,  zelo, 
relidâo  ,  &  letras .    Entrou  na 
Prelazia  em  tempos  alíaz  cala- 
mitòlos ,  &  na  may or  (u  ria  da 
conquiíla  dos  Godos,Alànos, 
Sucnos ,  &  Vândalos ,  quando 


efpalhados  por  Hcfpanha,  naõ 
perdoauão  a  profano ,  nem  fa- 
grado.  Erão  clles  Bárbaros 
húa  miftura  de  toda  a  maldade^ 
parte  Chriliáos  inficionados 
comaheregiadeArrio  ,  parte 
Gentios  ,  ik  grandes  Idolatras, 
mas  todos  muy  conformes  em 
perfeguir  os  Catholicos,&  em 
roubaré ,  tk  porem  por  terra  as 
Igrejas  ,profanarem,&  queima 


remas  lagradas  reli 


quias 


de- 


tterrarem  os  Bifpos ,  &  mais 
pefloas  dedicadas  ao  culto  Di- 
uino,&  cometerem  outras  im- 
piedades ,  &  abominações  fa- 
crilegas. 

2,  Temeofe  Pancracio  do 
que  poderia  fucederà  fua  Igre- 
ja, &  a  todas  as  mais  de  Hefpa- 
nha,quis  prouer  com  rcmcdio: 
publicou  Concilio  pêra  Braga 
no  anno  de  410,  feguindo  ou- 
tra melhor  conta  da  que  lena- 
mos no  Catalogo  dos  Bifpos 
do  Porto  onde  lançamos  efte 
Concilio  no  anno  de  4x1 .  Ajú- 
taraõíe  os  Bifpos  q  a  fúria  dos 
Bárbaros  deixou  vir  (porque 
os  mais  andauão  defterrados) 
o  Metropolitano  de  Merida 
Pontamio,  ElipandoBifpode 
Coimbra,  Arifbef to  Bifpo  ão 
Porco ,  Pamerio  Bifpo  daída- 
nha,  Deodato  Bifpo  de  Lugo, 
Gelallo  Bifpo  de  Águeda, Ti- 

burcio 


l-p.e,  3. 


FancrdCíõ. 


217 


burcio  Biípo  de  LamegOj  Aí^a- 
cio  Bilpo  de  Iria ,  Pedro  Biípo 
de  Nuiiiancia. 

3         He  muito  pêra  ver  a  fa- 
la com  (]ue  Pancracio  deu  prin 
cipio  ao  Concilio  .   Propõem 
primciramencc  aos  Padres  aly 
congregados   o  pêra  que  os 
cliamaua,  que  era  pêra  lhe  en- 
carregar a  obrigação  que  ti- 
nhaõ  de  naquelle  tempo    taó 
pcrigofo  não  deíempararé  luas 
ouelhas,delliesaíIiftirem  com 
exemplo ,  com  doutrina ,  com 
conítancia^  padecendo  por  el- 
las  ate  darem  a  vida  :  mandaos 
ellar  a  todos  vigilantes ,  cora 
grandilTuTio  cuidado  ,    villo 
como  os  Bárbaros  não  podiaõ 
tardar  muito,  pois  jà  poíluiaõ 
muita  parte  de  Hefpanha  ;  & 
pello  eftrago  que  fizeraó  em 
outros  lugares  aíTolando  Igre- 
jas ,  matando  à  eípada  os  íer- 
uosdc  Deos,  profanando  as 
memorias ,  as  reliquias ,  as  fe- 
pulturaSj  os    cemitérios   dos 
Santos,   podiaõ  bem  conjei- 
turar  o  que  feria  em  fuás  cida- 
des quando  la  chegaílem.  De- 
pois, porque  os  Bárbaros  de 
■  quemfetemia5  ,&  por  quem 
cíperauão,erão  parteArrianos, 
parte  Gentios,os  animou  a  cõ- 
denarem  fcus  erros  com  híía 
proíiílaõ  da  Fe  que  fizerão.Vl- 


timamcnte  tratarão  entre  íy  o 
modo  com  que  as  fa^radas  re- 
liquias naquclla  perlcguição, 
em  elpecial  as  de  Saõ  Pedro  de 
Rates  (  a  quem  chamão  Pay, 
&:  Apoltolo  de  Helpanha , 
mandado  por  Santiago ,  pêra 
lhes  faluar  luas  almas)  não  fof- 
fem  afrontadas  ,  &  dciacatadas, 
Pozfe  obrigação  aos  Biípos 
que  nas  fuás  dioceíes  as  mãdaí- 
íem  eíconder  em  lugares  fo- 
terraneos,&:  fizeílem  dilf  o  híía 
relação  autentica  ,  que  man- 
darião  a  Pancracio ,  peraque  fe 
não  perdeíle  a  memoria ,  nem 
das  reliquias_,nem  do  lugar  on- 
de íc  collocauão. 
4  Entre  os  mais  Padres  do 
Concilio  alliílio  também  co- 
mo ja  diflemos  Pontamio  Bií- 
po de  Merida  ^  cuja  Igreja  ti- 
nhão  os  Bárbaros  ja  dellruida. 
Quando  foi  ao  dei  pedir  dosPre 
lados  pcra  íeus  Bilpados,difle  o 
prcfidente  Pancracio,  que  íc 
foliem  em  paz  3  refponderaõ 
os  mais  fique  fò  noílb  irmão 
Pontamio  por  cifar  deftruida 
jà  fua  Igreja  pellos  Bárbaros. 
Ao  que  o  zeloío  Prelado  re- 
plicou dizendo,que  lhe  não  fo- 
fria  o  animo  deixarfe  ficar  au- 
fente  de  fuás  ouelhaSj&  priuar- 
íe  dos  trabalhos ,  &:  calamida- 
des, que  com  ellas  podia  pa- 


ÁíerciX* 
da  na,  hi» 
Jlor.  de 
MeriâA 
III"»  2.*. 


decer, 


23  8 


Qapmlo  LVL 


Eptji, 


,i8<? 


deccr^doanimo  que  ihe  podia 
dar ,  porque  náo  aceitara  a  dig- 
nidade Pontifical  pêra  deícan- 
ço  fe  não  pêra  trabalho .  Dig- 
niísima  íentéça  de  andar  elcri- 
ra  na  memoria,  <k  coração  dos 
Prelados.  Quando foaraõ  eftas 
palauras  nas  orelhas  de  Pancra- 
cio^d:  dacjuelleíagradoajunta- 
mento.naõíepuderão  cerque 
logo  aly  lhe  não  deílemos  pa- 
rabéns com  palauras  de  grande 
encareciméto.  Pancracio  diíle. 
Optimum  ■■ver hum  ^  inJiiim  con- 
jilium^profeãmn  approbOjferiiet 
te  Deus.  Querendo  dizer  ò  que 
palauras?  ò  que  cõlelho,  como 
me  contenta  eíla  ida.  Deos  feja 
em  vofla  guarda,  &fauor,  os 
mais  diflcraôDeos  vos  coníer- 
uenefla  boa  determinação,  q 
a  todos  parece  bem. 
$  Naõ  podia  fanco  Ago- 

ítinho  deixar  de  ter  diante  dos 
olhos  a  Pontamio  Bilpo  de 
Merida  ,  &c  aos  mais  Bifpos 
deíle  Concilio  quando  efcre- 
u  êdo  a  Honorato  íobre  a  obri- 
gação dos  Prelados  na  perfe- 
guição  de  fuás  Igrejas,fe  as  po- 
diaõ,  ou  não  podiaõ  defempa- 
rar  por  íaluarem  as  vidas,  ain- 
da quefoílecom  perigo  efpiri- 
tual  deíuas  ouelhas,reipondeo 
delia  maneira  ,  tornando  cm 
Português  fuás  palauras.  Dejle 


modo  fe  ouuerao  muitos  fantos 
Bifpos  deHefpanha^  então  fugi- 
rão quMojà  mo  tinhao  ouelhas^ 
(i  que  ajiijiir,  por  ferem  acolhi- 
das parte  delias  aparte  mortas^ 
parte  côfumidas  nos  cercos^par- 
te  leuadas  catiuas :  mas  ainda 
ajsi  os  mais  delles  fe  deixarão 
eftar  com  as  que  ficarão  no  meo 
daquella  multidíw  de  perigos.  E 
fe  alguns  as  defempararao  ^  isto 
he  o  que  nos  dic^rnos  que  fe  naÓ 
deuefa^r ,  porque  os  taes  cai- 
rão, ou  por  erro,  ou  por  temor. 
Atê  qui  íaõ  palauras  de  fanto 
Agoftinho  .  Lançamos  cíle 
Concilio  de  Braga  por  inteiro 
no  capitulo  nono  deíla  hifto- 
ria,  aly  fe  podem  ver ,  Ôc  notar 
fuás  particularidades. 
6  Pouco  depois  deftcCõ- 
cilio  entrarão  também  os  Bár- 
baros pellaProuincia  de  antrc 
Douro  ^  &;  Minho,  &  executa- 
rão nella  as  mefmas  cruelda- 
des )  que  pcllas  mais  terras  de 
Hefpanha  tinhão  cxxcutado. 
Defterrarão  de  íuas  Igrejas  aos 
Bifpos  mais  zelofos,&  os  obri- 
garão catiuosaandar  nas  obras 
publicas :  tal  aconteceo  a  Arif- 
berto  Bifpo  do  Porto ,  como 
em  fua  vida  diílèmos;  tal  ao 
Bifpo  £lipanJo,à  Eííeno  Sa- 
cerdote, ôc  a  outros  muitos. 
Mas  a  principal  fúria  da  perfe- 

guição 


Catai. 

dosB:fpos 
do  Porto 
I  p.r.3. 


Fancracio. 


1  3 


239 


guiçaõ  cahio  fobre  Pancracio 
como  cabeça  dos  mais  Prela- 
dos, &  em  cjuem  os  hereges 
prctendaõ  dcrnballos  a  todos. 
Efcreuendo  delta  períeguição 
o  meímo  Bifpo  Arilberto,a 
Samerio  Arcediago  deftaSéde 
Eragajdizafsy.  Doleofuper  te 
frater  mi ,  doleofuper  Epifcopu, 
tf  cdpHt  ncfirum  Pancratium^ 
doleofuper  exulatwnem  "Vejlra 
ijidear  Deus  miferiam  noUram 
oculis  mfericordu  fiu.  Onde 
claramente  dà  a  entender  o  de- 
fterro  de  Fancracio  cm  com- 
panhia do  meímo  Samerio  c6- 
padecendoíe  de  ambos  ,  mas 
muito  mais  de  Pancracio^a  que 
chama  cabeça  lua,  ou  porque 
aísy  eftimaua  fua  virtude  que 
o  trazia  fobre  a  cabeça,ou  por- 
que como  era  Primaz  de  toda 
Heípanha,  a  clle  cabia  bem, 

6  naõa  outrem  o  nome,  6c  ti- 
tulo de  cabeça  de  todos. 

7  Pello  difcurfo  da  carta 
lhe  diz  muito  da  braueza ,  & 
fúria  com  que  fehia  acendendo 
a  perfeguiçáo ,  porque  Coim- 
bra era  tomada ,  Elipando  Bif- 
po ( deuia  fer  da  meíma  cidade) 
hiacatiuoj  muitos  feruos  de 
Deos  eraõ  mortos  à  efpada,Lif- 
boa  cÕprara  àforça  de  dinheiro 
lua  liberdade ,  a  Idanha  eftaua 
cercada,  &  apõta  outras  varias 


calamidades,  que  padeciaõ)(S(r 
fc  podem  ler  na  mefma  carta, 
que  lançamos    no  Catalogo 
dosBifpos  do  Porto. 
8  Outra  carta  lauçamos 

tambêaly  do  meímo  Arifber- 
to,pera  o  Arcediago  Samerio: 
onde  lhe  diz  que  paíTando  por 
Coimbra  a  noua(chamauáo  a 
velha  onde  antiguamcnte  era 
Condcixa)que  Ataces  Rcy  dos 
Alanos  cdiíicaua ,  vira  aly  an- 
dar trabalhado  na  obrados  mu- 
ros ao  Bifpo  Elipando,  &  ao 
Sacerdote  Eílèno  cõ  que  gran- 
demente íe  conlolarajajudan- 
doosaleuar  aquella  calamida- 
de comúa,da  qual  auia  boas  ef- 
peranças  íairiaõ  cedo, por  quá- 
to  Cindafunda  mclher  do  mef- 
mo  Ataces 5 &  filha  de  Herme- 
nerico  Rey  dos  Sueuos  era  Ca- 
thoiica,  &  terçaua  pellos  Fieis. 
$  Muito  prouauel  he  que 
acabaria  Pancracio  a  vida  no 
deilerro,  porq  naõ  temos  me- 
moria tornaíle  a  efta  Igreja^ 
mas  nem  ainda  nelle  durou 
muito,  porque  eftado  em  Bra- 
ga no  anno  de  410.  em  que  ce- 
lebrou o  Concilio,  ja  no  de 
411. tinha  porfucelíoraBalco- 
nio,  tantos  forãoos  trabalhos 
que  nelle  padeceo:fe  jaaefpa- 
da  dos  Bárbaros  lhe  não  tirou 
a  vida,&  o  fezgloriofo  martyr 

d^ 


i.p.í.j. 


540 


Capitulo  LVIL 


deChrirto^  foi  Sumo  Pontí- 
fice em  cjuanto  gouernou  o 
íanro  Arcebifpo  Pancracio  In- 
nocencio  primeiro  .  Rey  dos 
Sueuos  HcrmeniricOjdos  Ala- 
nos; AtaceSj  dos  Vândalos  Gú- 
derico. 


CAPITVLO  LVII. 

BALCONIO    XXII 

Arcehifpo  de  Braga. 


ORTO,ou 

pellos    traba- 
lhos do  derter 
rOjOLi  pella  cf 
pada  dos  Bár- 


baros o  íanto  Arcebiípo  Pan 
craciodeulheo  clero  de  Braga 
por  ícLi  íuceílbr  a  Balconio  va- 
rão de  f^rande  nobreza ,  &  ri  - 
quezas,  &  na  virtude,  òc  gene- 
rofidade  qual  o  pediaÕ  aquclles 
tempos  tão  calamitoíbs :  viníe 
nellc  grande  efficacia  em  con- 
fundir os  liereges,&  muito  ze- 
lo em  os  conuertcr .  Teue  no 
GilGeçai  i^icímo  zelo  por  companhei- 
à!  AhiI.i  ro  a  feu  erande  amigo  faò  To- 
ribio  Biípo  de  Aftorga^  &  por 
feu  confelho  emcaminhaua  as 
CO  ufas  mais  importantes  de  fua 


■no  theat. 
ie  Aflor 


Igreja.  Era  faõ  Toribio  varaõ 
de  muita  experiência ,  &  íanti- 
dadc,  &:  febre  tudo  era  Notá- 
rio nos  Reinos  de  Hefpanha 
doPontiíiceíaõLcáo  Magno. 
Com  as  calamidades  prelentcs, 
em  que  os  Bárbaros  tinhão 
metidos  todos  eíles  Reynos, 
por  o  fauor  que  lhe  dauáo  re- 
lucitou  de  nouo  a  maldita  feita 
de  Priícilliano  íepultada  em 
tantos  Concilies,  que  contra 
cila  fe  congregarão, 
i  Naó  defcaníâuaS.  To- 
ribio por  extinguir  eíle  incên- 
dio, agora  fc  ajuntauacom  o^ 
Prelados ,  agora  os  auifaua  por 
cartas  fuás  citando  auícntes,co- 
mo  fez  a  Idacio  Bifpo  então  de 
Lamego  ,  ík  depois  delta  Pri- 
mazia, &  aCeponio  aquém 
nãofabcmos  a  Igreja  ^proua- 
uel  he  que  foíle  a  de  Braga  co- 
mo quer  Gil  Gonçaluez  deAui 
la,  &  que  o  nome  de  Ccponio 
efteja  viciado  deuendo  dizer 
Balconio  (  que  então  era  Me- 
tropolitano deftaígreja)&  não 
Ceponio  de  quem  não  ha  no- 
ticia. Efcreueo  lambem  S.  To- 
ribio ao  Síimo  Pontífice  São 
Leão  dandolhc  conta  de  todos 
os  erros  ,  ^  hcregias  em  que 
via  cair  aos  Hcfpanhoes.  An- 
da em  repoil:a  da  carta  de  Saõ 
Toribio   outra  de  Saõ    Leão 

admi' 


^alcomo> 


241 


adiDÍiauel,  &;  por  vencLira  a 
mais  elegante ,  ôc  erudicaquc 
íc  acha  entre  todas  as  íius  De 
crecacs.Rcfcréna cm  vulgar  os 
Hiítoriadores  Hefpanhoes^nel 
Icsícpode  ver. 

3  No  fim  dcfta  carta  em- 

comendaua  SaõLcaõ  a  Saõ  To- 
ribio  acodiíle  ao  verdadeiro  re- 
médio deíies  males  ^  fazendo 
ajuntar  os  Bifpos  cm  Conci- 
lio em  que  clle ,  (5c  os  Prela- 
dos Idacio ,   &c  Ccponio ,  ou 
Balconio   preíídiriio     como 
íeus  legados. O  primeiro  a  quê 
Saó  Toribio  fez  3  faber  cila 
ordem  do  Síímo  Pontiíicc,  foi 
o  Arccbifpo  Balconio,  pedin- 
dolhcquepor  fua  grande  re- 
ligião ,  &  zelo  da  fè  ,  foílc  o 
primeiro^que  quizeíTc  dar  exc- 
plo  aos  demais  naquella  obra 
de  tanto  feruiço  Diuino ,  afsy 
como  precedia  a  todos  na  dig- 
nidade Pontifical.  Menos  pa- 
lauras  baftauão  pcra  o  Arce- 
bifpo  Balconio, publicou  lo- 
go Concilio   Prouincial  aos 
ícus  fuffragancos  no  lugar  de 
Aquas  Celenas  j  que  como  ja 
outras  vezes  diíTemos ,  era  Faõ 
nelic  Arcebiípado. 
4  Achoufe  prefente  Saõ 

Toribio  nefte  Concilio  fem 
duuida,  por  afsy  lho  ordenar 
o  PapaS.Leaõ^&  ncUe  preíidio 


có  os  doas  Prelados  Idicio ,  ik 
BalconioLegadosApoitolicos 
pcraeíie  elíeito,  Condenoure 
aqui  com  grande  efficacia  de 
rezocs  o  maldito  Priíciiliano, 
anachematizoufefua  me4T!oria^ 
fulminarãoíc  grauilhmas  cen- 
íuras  contra  leu$  defclores^pro 
ueofe  có  decretos  aos  muitos 
abuíosj  &  ritos  gentílicos,  que 
tornauáo  a  creccr  na  Igreja  cõ 
a  entrada  dos  Barbaros.Faladc- 
fte  Concilio  luliano,  quando 
àxz.Synodus  habetur prope  Bra 
charam  Aiigufiamin  Galkcia. 
Onde  faó  bem  de  norar  aquel- 
las  palauras,^rci^e  Br  acharam^ 
porq  prouáo  muito  a  opinião 
dos  q  dizem  q  Aquas  Celenas 
era  o  lugar  q  agora  chamamos 
Faõ,&  fica  finco  legoas  diftáte 
deBraga  na  cofiado  mar^&nío 
o  lugar  de  S-  lorgcdcCodcííe- 
da,  nem  o  Padraó  mais  de  de- 
zoito léguas  diílantes  defta  ci- 
dade, fobrc  q  não  các  bc  a  pro- 
^o(\(^20 prope ^6  át  fy  pede  me- 
nos legoa5,  &  diftancia  de  me- 
nor confidcração. 
f      Grande  menção  faz  tam- 
bém o  Concilio  Bracharenícjt 
auido  cõmijmentc  por    pri- 
meiro, deftc  em  que  imos  fa- 
lando,logo  no  principio  ,  & 
propofta  doArcebifpo  Lucré- 
cio aos  mais  Bifpos  diz  af^y. 


Chron, 


X 


Credo 


242 


Capitulo  LVII. 


I 


Credo  atitem  '-uefir^  Beatitudi- 
nis  fraternitatem  noJ?e^  quia  eo 
tempore ,  qito  In  his  B^egionibus 
nefandifs  im^e  Prisa/Iian^feã<e 
njenenafírpebant ,  Beatifsimus 
Papa  VrhisRomte  Leo^qui  qua- 
dra gefimus  fere  extitit  Apo- 
Uoli  Petri  Juccejior  per  Tori- 
bium  Notarntm  Sedis  fu<ç  ad 
Synodum  Gallecu  contra  im- 
piam  Prifcillianifeãam  fcripta 
fua  direxit .  O  porruguez  diz 
cín  brciies  palauras  o  que  aci- 
ma fica  dito  em  muitas. 
6  Fechado  o  Concilio  de 

Aquas  Celenas  animando  Saô 
Toribio  cora  o  exemplo  de 
Balconio  Arccbifpo  Primaz 
aos  mais  Metropolitanos  de 
Hcfpanha ,  intimandolhe  tam- 
bém a  ordem  que  tinha  de  Sa5 
Leaõ  Papa  os  fez  congregar  na 
cidade  de  Toledo, &  aly  j  untos 
em  Concilio  tratar^^  decretar 
as  mcímas  matérias  que  no  de 
Aquas  Celenas  íe  tinháo  pro- 
pelias, U  decretadas .  Preíldio 
nelle  o  melmo  S.  Toribio  pel- 
la  comiílaõ  do  Síámo  Pontifi- 
ce,  &  legacia  de  que  vfaua.  No 
anno  deite  Concilio  variaÕ  os 
autores;  mais  prouauel  lie  foi 
celebrado  no  de  447. ou  448.no 
no  do  Pontificado  de  S.  Leaõ. 
O  ajuntamcntofoigrauiísjrao 
porque  naõ  faltou  ncnhíí  dos 


Metropolitanos  Heípanhoes: 
aly  íe  achou  ode  Merida,  ode 
Tarragona ,  o  de  Carthagena, 
«Sc  Seuilha:  naõ  efteue  preientc 
o  Arcebilpo  Balconio  por  ter 
ja  celebrado  outro  Concilio  fo 
bre  a  mefma  matéria  cm  A- 
quas  Celenas  como  fica  di- 
to. 

7  Marco  Máximo  Arcc- 

biípo  de  Caragoça-,o  conta  en- 
tre os  que  afí-illiraõ  nelle ,  ten- 
do contra  fy  com  euidcncia  o 
texto  do  meímoCÕcilio, quan- 
do diz  .  Incipit  regula  jidei  Ca- 
tholiCíC  contra  omnes  herefes,  isf 
quam  maximè  contra  Prifcillia- 
nifias  ,  quam  Epifcopi  Tarra- 
conenfes,  Carthaginenjes ,  Luji- 
tani^  (s^  Estiei  fecerunt, tf  cum 
pr^cepto  Pap<€  Fr  bis  Rom^Leo- 
nis  ad  Balcomum  Epifcopum 
Galleci^  tranfmiferút.Em  por- 
tuguez.  Começa  a  regra  daFè 
Catholica, contra  todas  as  he- 
regias ,  Sc  principalmenteas  de 
Prifcilliano  ,  a  qual  fizeraõ  os 
Bifpos  de  Tarragona ,  Cartha- 
gena,Mcrida,&  Seuilha,&mã- 
daraõ  por  ordem  do  Papa  de 
Roma  Leaõ  ao  Biípo  de  Gali- 
za Balconio.  Bem  fe  colhe  de- 
ftas  palauras  a  aufencia  deBal- 
coniosporq  fe  eftiuera  prefente 
ouuera  de  dcípachar,cõfirmar, 
e  allinar  a  regra  da  Fè,&:não  era 

nccella- 


iSf  ' 


%'ílcomo» 


24i 


1. 


Dccellâria  cnuiaríclhe  a  Bra- 

8  Por  defender  a  Máximo 
ài{fc  íêu  comentador  Rodri- 
go Caro  ,  que  aly  mefmo  no 
Concilio  ihe  dcraó  os  Padres  a 
Balconio  a  regra  da  Fe ,  por  af- 
(y  o  ter  mandado  S,  Lcaõ  pcra 
elle-a  fazer  executar  na  fua  Pro- 
uincia  de  Galiza ,  onde  era  ma- 
yor  a  ncceílidade :  &:  que  nem 
apalaura  tranfmiferunt ,  quer 
ílgniScar  outra  coufa»  pois  pc- 
ra íc  verificar  baftaua  que  a  re- 
ffra  da  Fè  vicfie  de  húa  mão  em 
outra ,  atô  dar  nas  de  Balconio. 
Naò  refponde  eíla  íaidaà  eru- 
dição ,  òc  engenho  de  Jcu  au- 
tor ;,  porque  não  pode  fofrcr 
o  verbo  tranfmitto  a  interpre- 
tarão que  clle  lhe  da ,  &  ainda 
que  3dmitamos,quc  não  quei- 
ra dizer  (  como  na  verdade 
quer)  que  de  Toledo  vco  a  re- 
gra da  Fè  a  Braga  pêra  fe  en- 
tregar a  Balconio ;  íe  elle  tam- 
bém foi  prcrcnte,&  nella  deu 
fcu  voto,  &  a  ajudou  a  fazer^ 
òi  ordenar ,  porque  diz  o  Có- 
cilio  que  a  fizeraõ  os  Bifpos 
de  Tarragona,  de  Merida,de 
Carthagcna  _,  &  Scuilha,  &^ 
cala  o  de  Braga  ?  Não  fora*ifto 
aggrauar  em  prefcnça  hú  Pre- 
lado tão  illuftre,  &  de  tantos 
merecimentos,  &  que  na  exe- 


cução dos  preceitos  Ápoílo- 
licos  fora  o  primeiro  ,  m.anda- 
doajuntar  Concilio  cm  Aquas 
Celenas  ?  Dcmancira  que  te- 
I  iic  lembrança  faõ  Leaò  citan- 
do aufcntc  de  por  preceito  à 
quelles  Prelados  que  clles  át(- 
ícm  a  regra  da  Fè  a  Balconio, 
&í  não  a  tiueraõ  osprcfentcs 
de  o  fazer  participante  na  glo- 
ria de  a  compor ,  alsy  como  o 
fora  no  trabalho  de  aííirtir? 
9  Da  aufencia  de  Balco- 

nio fc  não  pôde  duuidar.  Da 
lembrança  do  Sumo  Pontifi- 
ce  ( logo  quefoi  certificado  de 
como  íc  não   achara  prcíen- 
te)  em  nuiíar,  antes  obrigar  a 
I  íaõ  Toribio ,  &  aos  mais  Pa- 
j  drcs  do   Concilio    lhe  enuiaí 
1  fcm  a   regra  da  Fe  ,   fe  deduz 
!  cfficacillimo  argumento  da  au- 
j  toridadc ,  &  dignidade  Prima- 
I  ciai ,  que  afsy  o  Vigairo    de 
{  Chrifto ,  como  todos  os  Mc- 
j  tropolitanos  de  Hefpanhaaly 
{  naquelle  "Concilio   congrega- 
dos rccotihecerao  em   Balco- 
nio j  òc  fenão  ^rgníit»mos 
que  outro  fim  podia  aqui  aucc 
fcnaõ  foi  dat4hc  fu»  autori- 
dade ,  &:  confirmalla  Balconio 
como  Primaz  de  todaHcfjia- 
nha  ,  pcra  com  eíla  confir- 
mação ficar  mais  autorizada, 
&  liure  de  toda  a  calumnia. 


■f 


X  1 


Nías 


■^Mni— III  i0m» 


H4 


Cdfmlo  I^yiL 


€a\ 


./.17. 


tom.íjm 
"•447 


Mas  por^que  ja  tratamos  cftç 
ponto  no  liuro  da  Primazia 
de tta  Igreja,  o  não  fcguimos 
maisagord.  E lembramos  que 
naõ  acode  bem  pellaMetropo- 
iicana  de  Toledo  quem  diíler 
.fe  mandou  a  regra  da  Fe  a  Bal- 
conio^náo  pcra  clle  a  confir- 
mar como.  Primaz,  mas  pêra 
afazer  executar  na  fua  Prouin- 
cia  ( onde  eraõ  imayorcs  as  ne- 
cefíldades )  como  delegado  do 
Concilio  j  porque  nem  pcra 
lhe  darem  os  Padres  aquelle 
cargo  era  neccíTario  preceito 
do  Sumo  Pontificc,ncm  a  Pro- 
uinciadeBalconio  neceííitaua 
mais  que  as  outras  da  regra  da 
Fé  j  ant^s  por  ventura  menos, 
porque  -ncnhúa  outra,  coufa 
continlia  efta  mais,  que  aquillo 
mefmo  que  no  Concilio  de 
Aquas  Gelenas  auia  pouco  fe 
decretara  contra  os  Prifcillia- 
niílasa&  mais  hereges ,  có  que 
fe  .tinha  prouido  cScazmentc 
nas  coufas  de  Galiza, 
íô  AntesfoiíingularacÕ-, 
jeituracom  que  deu  faidaBa- 
ronio  a  não  fe  achar  prefcnte 
neile  Concilio  o  noílb  Arce- 
bifpo-,  porque  como  auia  pou- 
co fe  ajuntara  com  os  Bifpos 
dafug  Prouincia  fobreasmcf- 
mas  matérias  que  aly  feauião 
detratar,  &  decretar  cm  Aquas 


Çclenas ,  ôc  cUcs  o  tinhâo-fei- 
to  com  tanta  prudência,  &.ía- 
tisfação,  não  auia  peráque  d* 
nouofe  ajuncaííem  outra  vez 
em  Toledo  j  baílaua  mandii; 
rem  la  as  adias  do  íea  ConcF- 
lio,como  cremos  mandarão, 
ôc  fer  o  prefidente  o  mcfmò 
faõ  Toribio,  que  tambê  o  fora 
em  Aquas Cclenas,pcra  aquel- 
Ics  Padres  fe  darem  porfatif- 
feitos ,  &  os  aucrem  por  cícu- 
fos  .  Sabendo  contudo  fàó 
Lcaõ  o  que  paífaua  ,  ôc  que 
Balconio  faltara  no  Concilio 
combreuidade  mandou  a  To- 
ledo ,  ôc  pos  preceito  aosMc- 
tropolitanos  aly  congregados 
que  elles  manda  íTem  a  regrada 
Fèa  Balconio^ &fuftancíadí> 
que  no  Concilio  fe  decretará 
pêra  ellc  a  confirmar  como 
Primaz ,  ôc  naõ  ficar  exporta, 
como  diziamos^a  algúa  calum- 
nia*  A  regra  da  Fe,  que  os  Pa- 
dres daquelle  Concilio  manda- 
rão aBalconio  pêra  a  autorizar 
traduzida  das  aólas  do  primei- 
ro Concilio  Toledano  na  co- 
lecção de  Garcia  de  Loyafa  hs  a 
feguinte. 


Regra 


%tlcomo> 


245 


REGRA  DA  FE  C  O  N- 
tra  todíts  as  heregiits  princi- 
palmente cotra  os  Prifcillia- 
nisiiis^  a  qualf-^eraÓ  os  Bif- 
pos  Tarraconenfes,  Car  tha^ 
ginenfes,  Lufitanos  ,  Í5f  An- 
(íalw^espor  mandado  do  Pa- 
pa Leão  ,  ò^  a  mandarão  a 
Balconio  Bijpo  de  Gali^- 


C  Reinos  em  hum  Deos 
verdadeiro  ^  Padre  Om- 
nipotente ,  &:  Filho ,  &  Efpiri- 
to  Santo,  Criador  das  co ufas 
vifiueis  ,  &  inuiliueis,   pello 
qual  todas  as  coufas  faó  feitas 
no  Ceo ,  ôc  na  terra,  hú  Deos, 
que  he  húa  Trindade daDiuina 
fuftancia.  Que  o  Padre  não  he 
o  mefmo  Filho ,  mas  que  tem 
Filho  que  não  he  o  Payj  que  o 
Filho  não  he  Padre,  mas  que  o 
Filho  de  Deos  he  da  natureza 
do  Padre.  Que  hc  também  Ef- 
pirito  Santo  Confolador, que 
nem  he  Padre,  nem  Filho,  mas 
procede  do  Padre, &:  Filho  •,  al- 
ú  que  o  Padre  naÕ  he  gerado,  o 
Filho  he  gerado ,  &c  o  Efpirito 

I'  Santo  naõ  hc  gerado,  mas  pro- 
cede do  Pay,Ô^  do  Filho.O  Pa- 
dre heaquclle  a  quem  íe  oiiuio 


ella  voz  do  Ceo.Efte  he  o  meu 
Filho  amado ,  de  quem  eu  me 
latis  fiz,  a  eíle  ouui.  O  Filho  he 
o  que  diz.  Eu  íahi  do  Padre, 
ôc  de  Deos  vim  a  elíe  mun- 
do. O  Coniolador  heo  Efpi- 
rito ,  de  que  o  Filho  difle  :  íe  eu 
não  for  ao  Padre,  naõ  vira  o 
Confolador.  Que efta  Trinda- 
de he  diílinta  em  Peílbas,  vni- 
da  em  fuflancia,  indiuifiuel ,  & 
indiíTerente  em  virtude, poder, 
ík  maseftade.  Fora  delta ,  não 
cremos  auer  outra  naturezaDi- 
uina,  ou  de  Anjo,ou  de  Eípiri- 
to ,  ou  de  algúa  virtude ,  que  íe 
polia  ter  por  Deos.  Cremos 
pois  que  eííe  Filho  de  Deos, 
gerado  de  Deos  Padre ,  antes 
totalmente  de  todo  principio, 
fantificou  o  ventre  da  Virgem 
M  A  R  1  A,  &  recebeo  delia  ver- 
dadeira humanidade,  fem  obra 
de  varão ,  cóuem  a  íaber,  duas 
naturezas ,  Diuina,  &  Huma- 
na juntas  totalmente  em  híía 
fò  Peíroa,qualheNoílb  Senhor 
I  E  s  V  Chrifto.  Que  não  ou- 
uenclle corpo  imaginário,  ou 
de  algum  modo  fantailico, 
mas   folido  ,  &   verdadeiro  : 
que  ouue  fome ,  &  fede,  &  fc 
compadeceo,  chorou,  ôí  ío- 
freo  tantas  calamidades  corpo- 
raes. ,  Sc  finalmente ,  toi  cru- 
cificado pellos  ludeus ,  mor- 


V3 


to. 


246 


Qaptulo  LVIIL 


1  to  3  &  íèpukadoj  &  refuci- 
tou  ao  terceiro  dia ,  òc  conuer- 
íou.  depois  com  ícus  dicipu- 
losj&aos  quarenta  dias  depois 
de  ília  ReÍLirreiçáo  fubio  aos 
Ceos .  £  a  elle  Filho  da  Virgé 
chamamos  também  Filho  de 
Deos,&  ao  Filho  de  Deos  tam- 
bém Filho  da  Virgem; Cremos 
a  futura  reíurreiçáo  da  carne 
humana:  que  a  alma  do  ho- 
mem náo  he  de  fuílancia  Di- 
uina  j  ou  de  Deos  Padre  ,  mas 
chamamoslhe  criatura  feita  pel 
la  vontade  de  Deos .  Sealgué 
oudiíier,  oucrer  qelte  mun- 
do ,  &  todas  íuas  coufas  naÕ 
íoraõ  feitas  pello  Omnipoten- 
te Deos  ,  feja  excomungado. 
Se  alguém  diíler,  &  crer  queo 
melmo  Deos  Padre  hc  Filho, 
ouEípirito  SantOjíejaexcõmú- 
gado. Se  alguém  diíler,  ou  crer 
que  o  mefmo  Filho  he  Padre, 
ouEfpirito  SantOjfeja cxcómú- 
gado.Se  alguém  diíler  ,  ou  crer 
que  o  Filho  de  Deos  tomou 
fomente  carne  humana  fem 
alma,  íeja  excomungado.  Se  al- 
guém diííerjOu  crer  que  oElpi- 
rito  Santo  he  Padre,  ou  Filho, 
feja  excomungado.  Se  alguém 
diíler  ,  ou  crer  que  Clirifto 
não  naceo  ,  íeja  excomunga- 
do. Scalguem  difler,  ou  crer 
que  naceo  aDiuindade,íeja  ef- 


cõmungado.  Se  alguém  crer  c] 
a  Diuindade  deChriíl:o  f  oi  con- 
uertiuel,ou  pafsiuel,íeja  exco- 
mungado. Se  alguém  diíler,ou 
crer  que  o  Deos  daley  antigua 
foi  outro  diílcrente  do  da  ley 
Euangclica,íeja  excomungado. 
Se  alguém  difleíjOu  crer  queo 
mundo  foi  criado  por  outro 
Deos    diííerenre   daquelle  de 
quem  Jhe  efcrito  No  principio 
fe^Deos  o  Ceo  ,  Í5f  a  terra  ,  fe- 
ja excomungado.   Se  alguém 
diíler,  ou  crer  que  os  corpos 
humanos  não  hão  de  refurgir 
depois  de  mortos,  íeja  exco- 
mungado. Se  alguém  difler,ou 
crerqueaalma  humana  hc  par- 
te, ou  fui^anciade  Deos,  fe- 
ja excomungado ,  Se  alguém 
diíler,  ou  crer  que  fe  hão  de 
ter  por  authêticas,  &  dignas  de 
veneração  outras  eícrituras  fo- 
ra daquellas,  que  a  Igreja  Ca- 
tholica  recebe,  feja  excomunga 
do.  Se  alguém  diífer ,  ou  crer 
fere  aD  luindade ,  &  Humani- 
dade húa  fò  natureza  em  Chri- 
fl:o,feja  excomungado.  Se  al- 
guém diíler ,  ou  creer  que  ha 
algíja  coufaDiuina  que  íe  poíla 
entender    fora  da  Santiílima 
Trindade,  feja  excomungado. 
Se  alguém  tem  pêra  ly  que  ha 
de  dar  credito  a  Mathcmatica, 
ou  Altrologia ,  íeja  excomun- 


gado. 


"Bah 


como. 


H7 


Bar»n.to 
6.  '"'». 

47- 


eado.Se  alguém  diíler,  ou  crer 
que  os  calamentos  das  pelloas, 
quefegundo  aley  Diuina  íaõ 
lícitos,  le  hão  de  euitar  como 
abominaucis,íeja  excomunga- 
do. Se  alguém  diller  ,  ou  crer 
que  as  carnes  das  aues ,  ou  ani- 
maes ,  que  forao  concedidas 
pêra  mantimento,  não  íò  le 
haõ  de  deixar  por  via  de  penité- 
cia  corporal^mas  ic  hão  de  abo- 
mmar^feja  excomungado.  Se 
alguém  no  erro  dePriíciUiano 
leque, ou  profefla  lua ícita,  pê- 
ra fazer  no  Bautilmo  da  lalua- 
cão  outra  coula  difterente  do 
que  faz  a  Cadeira  de  Sa5  Pe- 
dro,íeja  excomungado. 
A  tequi  he  a  regra  da  fè. 
II  Efte  Concilio  de  To- 

ledo foi  o  primeirOjComo  no- 
tou Baronio,  em  que  tratan- 
dofe  da  Peílba  Diuina  do  Eípi- 
rito  Santo  na  regra  da  Fe,  que 
ja  referimos  fe  acrecentou  a- 
quella  palaura  j  à  Patre  FiliOíj^ 
procedit  j  que  o  Efpirito  Santo 
procede  do  Pay,&  do  Filho  •,  o 
que  fe  acrecentou  naõ  por  au- 
toridade fò  dos  Bifpos,  que  no 
Concilio  fe  acharão, mas  tiran- 
doodacarradeSaõLeaõ  Papa, 
efcrita  a  faõ  Toribio ,  na  qual 
condenando  CS  erros  de  Prií- 
cilliano  diz  claramente  que  a 
Diuina  ^efloa  doEfpirito  San- 


to procede  do  Pay,&  doFilho. 
Aíhfoi  continuando  ella  ver- 
dade Catholica  em  muitos 
Concilios,  que  depois  ie cele- 
brarão emHeípanha,nos  Sym- 
bolos  da  Fê  ,  que  nelles  íc  Hze- 
raõ. 

11  Contamos  ate  gora  o  c] 
pellos  vlrimos  annos  de  íua  vi- 
da fucedeo  ao  Arcebiipo  Bal- 
conio,  por  enfiarmos  as  cou- 
tas pertencentes  aos  Concilios 
de  Aquas  Celenas ,  &  de  Tole- 
do, onde  a  hercgia  de  Prilcil- 
liano  foi  denouo  condenada. 
Agora  fera  necellàrio  tornar 
hum  pouco  atras  ,  &  dizer  da 
carta  que  por  Paulo  Orofio 
lhe  cícreueo  Auito  Presbytero 
natural  de  Braga  ,  varão  fa- 
mofo  em  letras ,  &  fantidade, 
que  por  aquclles  tempos  alli- 
Ifiaem  lerufalem  •  Pêra  o  que 
he  de  íaber ,  como  querendo  a 
Diuina  mifcricordia  manifeftar 
à  fua  Igreja  as  relíquias  de  íeu 
primeiro  martyr  fanto  Efte- 
uão,  &  de  Gamaliel ,  Nicode- 
mus,&  Abibon, cujas  ícpul- 
turasauia  mais  de  quatrocen- 
tos annos  que  eílanão  eícon- 
didaSjfem  ícfabero  lugar  del- 
ias ,  às  foi  reuelar  a  hum  fanto 
Sacerdote  Grego  de  nação ,  & 
morador  em  lerufalem  por 
nome  Luciano,  o  qual  as  dei- 


X4 


CO  brio 


248 


Capitulo  LVII. 


\  Baron>  in 
aot.  ad 
■  Aíartyr. 
1 3.   die 


cobrio  na  forma  que  a  Igreja 
Cacholicanos  eníina,  fazendo 
defta  manifeilaçáo ,  ou  inuen- 
ção  particular  fefta  aos  trcs  de 
Agoí]:Oj&  pondo  todas  as  par- 
ticularidades delia  nas  liçocs  da 
qucUe  dia, 

14         Aconteceo  eíla  mani- 

feíi:açao  quaíi  naquelle  meírno 

tempo,  em  que  Paulo  Oroiío 

chegauaa  leruíalcm  pellosan- 

nosde4r5.  Quando là o vio o 

Sacerdote  Auito^  como  ambos 

crão  da  mcíma  terra,  &  ambos 

do  feruico  da  meíma  Sè.vendo 

que  logo  fe  queria  partir^  por 

eníiquecer  lua  pátria  com  raõ 

grande  theíouro  ,  &  obri";aro 

lanto  martyr  a  lhe  ler  rauora- 

uel  diante  dcDeoSjdetcrminou 

mandarlhe  algúa  parte  daquel- 

las  fagradas  reíiquias,  auendoas 

deLucianOjComqucm  corria 

familiarmente .   Teue  Oroíio 

por  fingular  felicidade  voltar 

de  Paleííina  a  Braga  carregado 

com  o  preciofo  theíouro.  £n- 

trcgoulho  Auito,  &  comelle 

lhe  deu  também  a  carta  feguin- 

te,  cujo  fobreeícrito  dizia. 

Ao  Be^tifsimOjlsf  mui  amado 

scpreemo  Senhor  oPapaBal- 

conio^  a  todo  o  clero,  is^pouo 

daJgreja  de  Braga ^AiiitoPres- 

bvtero  faude  eterna  deseja  em 

o  Senhor. 


Dentro  cõtinha.  Desejo,  i^ 
rogo  q  tenhais  fempre  le  branca 
de  mim^afsi  como  eu  a  mio  perco 
de  Ipos  em  quanto  me  he  pqfsiuel, 
còpadecendome  cÓ  grade  dor  mi- 
nha de  ijoj^as  tribulações ,  i!f 
derramando  la^rima^  contimuu 
neftes  Cantos  lugares  pella  de~ 
jhuifio  de  no  [[a  pátria, per  aque 
o  Senhor ,  ou  nos  reUitua  a  li- 
berdade, pois  nos  quis  amoeflar 
com  o  ca(ligo,  ou  dè  mais  huma- 
nidade àquelles  q  permitia  pre- 
ualecerem.  Eufem  diiuida  Bea- 
tifsimos  irmãos  (  como  tomo  por 
tefiimunha  ao  mefmo  Senhor 
lESF  Chriflo  )pormuitU'S'Z>e- 
^es  me  quis  ir  pêra  ej?a  terra, 
pêra  junto  conuofco  padecer  yof- 
Jos  males,  ougojlar  de  ijojlos 
bens  :  mas  impediofe  meu  defejo 
"Vendo  os  inimigos  ejpalhados 
por  toda  Hejpanha,ijf  receei  que 
deixando  os  lugares  fantos  ,  Isf 
porijentura  naô  chegando  a  ej?a 
terra, pagajfe  íU penas  da  ousa- 
dia inconjiderada  atalhada  de 
todas  as  partes  :  masfoiferiiido 
o  mifericordiofo  Deos  de  offere- 
cer  a  meu  defejo,  Isf  '^ojfo  mere- 
cimento a  graça  defua  liberali- 
dade, permitindo  que  meu  ama- 
t.fsimo  filho,  Isf  companheiro  no 
Sacerdócio  Orojio,fofie  manda- 
do a  eflas  partes  pellos  Bi(pos 
Africanos ,  cuja  char idade,  ^ 


conjola- 


^alconio. 


349 


confclacão  me fe\parecer  ^quan- 
do o  Dl ,  que  njos  tinha  a  todos 
prefentes .   Depois  diílo  em  fer 
ferindo  o  bemauenturado  ,   tf 
ruerdadeiramentefanto^  i!f  pri- 
meiro mart.yr janto  Ejieuão,  co- 
roa de  nojja  gloria  em  Chrijio. 
lESVydefe  reuelar ,  is^  mani- 
fejlar  emdentemente  com  mila- 
gres^ i^  ■'Virtudes  naquelles  pró- 
prios, dias  ,  em  que  o  mefmo  Oro- 
Jiopreparaua  cora  incriuel  defejp 
fim  partida^  cujas  relíquias  aui- 
das  por 'Vontade. de  Deos^rnepa-, 
receo  mandar  a  ijojfa  Charida-, 
de  ,  peraqut  prefente  como  auo- 
gado ,  l!f  defenfor  ,  tenha  por, 
bem  acodir  a  i;oJ[fds  petições,, 
pois  quando  padecia  martyrio.. 
chegou  a  rogar  por  feus  próprios 
inimigos.  Afsy  que  irmãos  Bea- 
tifsimos ,  tra-^endoo  eu  de  contii 
nuo  na  memoria ,  Ist  auendo  oc- 
cafiãoàcomodada,  i^ ordenada 
por  Deos ,  não  perdi  ponto  em 
atcancãf  "àlgua  parte  "dõTâTpU' 
nouamente  achado  ^doSacer  dote, 
a  quem  elle  fe  reuelou  ,  a  qnal 
grángeada  com  breuidade.^i^  ai'-. 
can,cadacom[egredo^nãome  de- 
tiuéem  i^ola  mandar.  MâdoWoJ 
finalmentepello  fanto  filho  ^  & 
companheiro  meu  no  Sacerdo^. 
mo  Orofio  as  relíquias  do  corpo 
defanto  ÉUeiúo primeiro  mar- 
tyr ,  afaberpó  de  fuá  carne^ij/ 


i 


n?ruos  ,  ^  o  qiiefepode  cre^ 
mais  firmemente  ^  isf  certamen- 
te os  oJ?os  duros ,  mais  chèirofos 
que  todas  as  confeições  ^  Isf  per- 
fumes exquifitos  em  manifesto 
final  de  fuafant idade;  t^ pòrqtit 
nâopudej^e  auer  algúã  diiuida^ 
<-Dos  mando  juntamente  a  méfma 
caria  ^ÍSf  relação  do  Santo  Sa- 
cerdo  te ,  a  quem  foi  feita  are- 
mUch^a  qual  elle  à  minha  peti- 
ção ,  i^  emfè  defia  njerdadè  ef- 
creueo  primeiro  em  Grego ,  i?" 
depois  a:traduc^io  em  Latim;  a 
qual  'eu.  defejo^  fantos\  hf  hema- 
tienturados  irmãos  \^  que  'Vdsà 
r-ecebais  tao  finceramente^quãto 
ella  hi-vtrdadeLra;  porque  èfíou 
certo,  queafsícomoofanto  mar- 
p)irfe- quis  reuelar  y  tfmanife- 
fiar  pêra  bem  do  mnndo]  que  em 
tanto  perigo  anda^  afsy  feijòs 
amardes  tão  grande  penhor,  co- 
mo elle  merece,  com  aprefença 
de  taI  defenfor,  'vruireis  daqui 
pQr:.d'm7ítefeguros ,  y  quietos. 
A  graça  de-NoJfo  Senhor!  ES  F 
ChriflD^isi'  do  Efp  ir  ito. Santo fc- 
jaconuofco  irmãos  amantifsimos 
em  o  Senhor.  Amen:  Do  fuccíTo 
qjjexiueraô cilas  íagrudãs  reli- 
quiaSjdiremos  na  vida  de  Pau- 
lo OtqíÍo,^  quciii  Auico  as  en- 
tregou. 

14  Era  Auico  fcm  duuida 

'vnacíirai  defta  cidade  Presby ce- 


ro 


250 


Marq ;« 
dejenfe 

limo  ,..p 

é  e.%  , 

is  ttar,  in 
lent.  átJ 


Qafitulo  LVIL 


lodeíbSè,  como  lhe  ehama 
Idaciojfalando  da  inuençâo  do 
corpo  de  fanto  Efteuáo ,  na- 
quelías  palauras.  Extantexhis 
geUii  EpiJioUfupra  diãi  Pres- 
byteri  Luciani^  ifjanãi  Auiti 
Presbyteri  Brackarenjis  y  qui 
tunc  Hierofolimis  degehant.  Se- 
guem a  luliano  os  Padres  frei 
loaõ  Marques,  frei  Bernardo 
de  Brito ,  frei  Francifco  de  Bi- 
uar,  &c  António  deVazcon- 
ccIIos,&:  outros  muitos. Efta 
verdade  fcmoftra  bem  doaf- 
V'xt  an  fef^Q  com  que  Auitoefcrcue 


in  Jjfi  r 
Part,  fag 


qu< 


aos  de  Braga ,  como  lhe  chama 
pátria  fua  ,  como  dcfcja  ver- 

*Patlt  ^c  <^o"^  fl^«A  comofobrc  tu- 
do a  enriquece  com  othcíou- 
ro  das  rcliquias  de  fanto  Eftc- 
uão ,  peraqucinuocandoo  na- 
quella  fua  pcríeguição,quc  dos 
Bárbaros  nouamcnte  entrados 
padcciáo ,  tiueíTcm  quem  de 
Deoslhcalcançaflea  conltan- 
cia,&i  paciência  q  o  Santo  mo- 
ftrou  no  feu  martyrio. 
ly  A  Auito  chama  Ida- 
cio  Santo,  como  temos  referi- 
do, titulo  com  que  cambem  o 
nomeão  outros  autores.  A  vi- 
da que  fazia  em  leruíaJcm,  os 
Tantos  exercicios,  cm  qucan- 
daua,a.";  peílbas  a  quemtrataua 
com  mayor  familiaridade ,  co- 
mo eraoS.Presbytero  7-ueia- 


Csnad  dl 
Virtiiluf, 


\ 


no,  moílraó  bem  quanto  ac 
jufto  lhe  afienta  o  titulo  de 
Santo,com  que  graues  autores 
o  nomeaõ.  Deuia  acabar  feus 
dias  naqucUcs  mcímos  luga- 
res fagrados ,  onde  a  deuaçáp, 
&  piedade  o  leuarão. 
16  Omaisqtocaaonoflo 
Arcebifpo  Balconio,  &  delle 
pudemos  defcobrir,he  qi?c  em 
íanta  vclhice,mas  fobrc  manei- 
ra moleltâda  pclla  fúria  ,  & 
crueldade  dos  Bárbaros,  aca- 
bou fua  vida,aflillindo  fempre 
a  fuás  ouclhas  com  doutrina, 
&  exemplo  como  bom  ,  & 
fielpaftor,  indofe  a  gozar  da 
bcmauêturança  não  longe  dos 
annos  de  448.  tendo  de  A rcebif 
po  quaíí  36.Gouernaua a  Igre- 
ja de  Deos  depois  de  Zozimo, 
Bonifacio,Ccleí\inOj  &  Sixto, 
oPapaS.LeaóMagno.Era  Rec- 
ciario  fuceílbr  de  Rcchila  Rey 
dosSueuos. 

CAPITVLO  LVIII. 

P  A  V  L  O     O  R  O  S  IO 

injigne  efcritor  Ecdefaflico 

AVLO  Oroíío 
Efcritor  grauiíli- 
mOj&cloquétif- 
íimo,  foi  natural 
de  Bra^.i ,  ou  da  Comarca  de 


Portugal  I 


Pá  til  o  Oro  fio. 


2Sl 


Dextr.a 

ehren.dii 

307- 


;4»7- 


Porcugal, que  chamamos  entre 
Douro  ^<S«:  Minho  do  dillri- 
0>oi.i«íle  Arcebiípado.  Pouca 
rezão  tem  quem  nolo  quer  co- 
rnar pêra  Tarragona ,  ou  Cor- 
doua ,  porque  na  verdade  exa- 
minado bem  íeu  direito  pou- 
co^ ou  nada  lhes  pertence.  Am- 
bas o  pretenderão ;  Cordoua 
icm  fundamento;  Tarragona 
com  algum,  por  dizer  Flauio 
Dextro. Suh  Paciano  Barcino- 
nenfi  Epifcopo  nafcimr  Paulus 
Orofim  iunior ,  Tarraconenfis 
ciiiis^  diÇcipulus  Sanai  Augusli- 
«•/.  Sendo  Paciano  (era  o  pay 
de  FiauioDextro)  Biípo  deBar- 
celona  naceo  Panlo  Orofioo 
mais  moço  cidadão  de  Tarra- 
gona .  Ehe  de  notar,  que  fez 
menção  Dextro  nelte  kis^ar  de 
Paciano  Biípo  deBarcclona  leu 
pay,  naõ  por  pertencer  àquella 
cidade  o  iiacimenco  de  Paulo 
Orofío  ya  quem  ellc  chama  ci- 
dadão de  TarraíTona:  mas  afim 
o 

dèflizer  celebre  o  Pontificado 
de  Paciano,  pois  nellcnacera 
hum  Varaõtaõ  eminente,  &co- 
nhecido  no  mundo  por  feus 
cícritos,&  rantidadc:ou(  o  que 
parece  m.ais  cerco  )  pello  pa- 
rentesco, que  Paciano  tinha  cõ 
Paulo  Oroíío ,  como  confeíla 
I  o  mefmo  Dextro  dizêdo.-P/í«- 
'  ius  Orofuis  Flauij  Oro/j  filíus., 


confangutntuf.jj  Paciani  patris 
mêi,  cmifij^  Tanaconenfis.hky 
que  amcnção,queno  tel-timu- 
nho  de  Dextro  íc  faz  de  Pacia- 
no Bilpo  de  Barcelona,  ou  na- 
ceo de  affeição ,  ou  de  paren- 
tcfco^  &  não  por  querer  llgni- 
ficar  q  aly  naccra  Paulo  Oro- 
íio,aquem  clle  faz  cidadão  de 
Tarragona. 

z  Alem  defteTeílimunho 
deFlauio  Dextro  ,  tem  Tarra- 
gona outro  do  mefmo  Paulo 
Oroíio,quc  de  fy  confeíla  on- 
de naceo  ,  chamando  fua  a  ci- 
dade de  Tarragona  ,  que  vai  o 
mefmo  que  pacria ,  &í  terra  de 
feu  nacimenco.  Diz  ellc  afsy, 
fazendo  húa  breue  relação  das 
cidades  quejàno  Império  fo- 
raõ  nobiliíllmas,  &  agora  eraÕ 
húas  pequenas  aldeãs ,  ou  ca- 
faes  depois  de  as  aílolar  a  fúria 
dos  Bãrbâvos. Extam  adhuc  per 
diuerfâs  ProuinaiM  in  magnarâ 
Vrbiumrumis^paru4^i^  paupe- 
res  tedesfigna  m  i feriar  um, Is^  m 
mi  num  indicia  feruantesjn  qui- 
bus  nos  quo.jj  in  Hífpama  Tar- 
raconem  nojlram,  confoíatione 
miferi^  recentis ,  oflendimus . 
Por  Tarraf^ona  eftaS  outros 


Uífl 


fa 


grauiUimos  aurores,  como  lao 
Volaterrano,  Pedro  António 
Beuccrjfr.Francifco  dcBiuar,& 
osmais  qiieallega  oPadpe  frei 

loaò 


difetif  d. 


25: 


Capitulo  LVIII. 


loaó  Marques. 

3  Puzcmos  os  fLindamentos 
de  Tarragona :  reíla  mollrar- 
mos  os  de  Braga ,  a  que  íe  náo 
pode  dar  ca5  ficil  loluçáo.  Co- 
mecemos pellos  que  achamos 
na  carta  de  Auico.  em  que  fala- 
mos no  capitulo  paílado.  Aly 
eícreue  aos  de  Braga  aqucUe 
íeil  natural ,  que  quando  vio  a 
Oroíío  íe  lhe  reprefentou  os 
tinha  a  todos  prcícntes  •  o  que 
náo  foi  íòporHefpanholjque 
deílcs  muitos  tinha  em  lerufa- 
Itm^diC  nunqua  de  nação táo 
pia  faltarão  pcrigrinos  naquclla 
cidade:  foi  por  Oroíío  os  co- 
n  hcccr  a  todos ,  &r  lhe  dar  no- 
uas  detodoSjdo  Arccbifpo  Bal- 
conio ,  do  clero ,  &  de  todo  o 
mais  pouo  ,  a  quem  náo  era 
poíliucl  conhecer  Oroíío  fc 
por  aly  fò  pafiàra  de  caminho, 
&  aly  fcn40  criara.  Chama  tã- 
bemna  mcfma  carta  A nito  fi- 
lho feu  a  Oroíío  ,  não  húa,mas 
muitas  vezes.  Bem  fabcmos  o 
coftume  daquelle  tempo,  cm 
que  os  Sacerdotes ,  ou  Biípos 
de  mayor  idade,  chamauão  aos 
demenosannos  filhos,  mas  o 
contentamento  com  que  Aui- 
to  recebcoaOrofiOjC  as  pergú- 
tas  que  lhe  fez  ,  nos  dão  pro- 
babiliilimas  conjeituras  que 
Oroíío  foi  em  Braga  dicipulo 


deAuito  ,&por  eííarezáolhe 
chama  também  tantas  vezes 
filho.  Sobre  tudo  íe  Oroíío 
náo  tinha  mais  com  os  de  Bra- 
ga que  ler  de  nação  Heípa- 
nhol ,  porque  de  tão  boa  von- 
tade aceitou  trazer  as  rcliquias 
do  fanto  protomartyr  Eíleuáo 
à  mcí-ma  cidade ,  ficando  cila 
taõfora  do  caminho  de  Tarra- 
gona? 

4  Mayor  proua  ne  ainda 
queapaíladaaquc  nos  dà  ían- 
to  A^ollinho.  Éícreucndoelle 
aS.  leronymo  por  Oroíío  lhe 
diz  ertas  palauras  tornadas  cm 
Portuguez .  Veo  ter  comigo  o 
Religioffsimo  mancebo  Orofo , 
irmco  meu  napa^  Catholica^fi- 
lho  na  )dade  ,  companheiro  na 
honra  do  Sacerdócio,  fotil no  en- 
genho ,  eloquente  na  pratica  ,  à 
fertiorado  no  defejo ,  com  animo 
defer  ijafo  proueitofo  na  cafa 
de  Deos  Nojjò  Senhor, pêra  con- 
trariar asfaljas^í^  danofas  dou 
trindí^que  matauaÔ  as  almas  dos 
Hefpanhoes  mais  miferauelmi^ 
te  do  que  ofe\  aos  corpos  a  efpa- 
da  dos  Bárbaros .  DeBa  terra 
pois(que  hejúto  do  marOceano) 
^veo  ter  comigo ,  atraido  da  fa- 
ma de  poder  ouuir  demimalgúa 
coufa  daquellM^que  defejauafa- 
/'er,^í:.Muy  longe  fica  do  mar 
Oceano  a  cidade  de  Tarracjona, 

& 


2.  EfiL 
aS. 


Fáulo  Orofto. 


253 


&  muito  junco  ao  Mcditerra- 
ncOjpois  he  cerco  que  em  íeus 
muros  bace  o  meímo  mar ,  & 
pegado  a  clle  eítà  íicuada.  Co- 
mo era  logo  aquçUe  Orolío  de 
quem  fala  íanco  Agoftinho  de 
junto  ao  Oceano,  íe  Tarrago- 
na  eíH  taõ  defuiada  dellc? 
5     Vejamos  agora  íc  diz  bem 
com  a  cidade  de  Braga  íítuala 
íanco  Agoílinho  júto  ao  mar 
Oceano^pois  o  porto  querem 
mais  vizinho  dilla  delia  íinco 
Icgoas.  Os  quca  rodeão  entre 
Douro,  &Minho^ía5  na  cofta 
cio  Oceano  a  cidade  do  Porto, 
MacozinhoSj  Villa  de  Conde, 
Efpozede,Viana,Caminha;  al- 
guns finco  legoaSj  outros  ain- 
da mais  diílantcs  da  cidade  de 
Braga.  Com  tudo  por  terra  vi- 
zinha ao  maracõrauão  os  an- 
tigos,&  cõtemporaneos  de  S. 
Agoftinho ,  como  Aufonio 
quãdo  delia  efcreueo. 

Qu^lÍj  Jinu  pelagi  iaSlat  fe 

Br  achar  a  dines. 

E  como  efta  foílea opinião  dos 

autores  daqlla  idade,  e  ainda  de 

outros  mais  antiguos,  a  Braga 

quis  dar  por  pátria  deOroíio  S. 

Agoílinho,e  naó  a  Tarragona. 

C      També  cila  em  fiuor  de 

Braçra  a  carta  deS.Braulio  Ar- 

cebifpo  de  C,aragoça  pcra  S. 

j  Frutuofo  ,entaõ  Prcsbytero, 


&:  depois  A  rccbifpodeílalgrc- 
ja.Tralla  tr.Ioaõ  deMarieta  na 
vida  deS.Toribio  o  q  delia  nos 
lerue  he  o  feguince.  EJ^a  Pro- 
uincia  em  qyiueis  stprefoiabu 
date  de  hoas  letras, ip'  a£ude^a^ 
Isf  pêra  ijos  tra^r  á  memoria 
algus  dospajlados  ,  ^os  Ubrai 
dos  elegatijiimos  ^i^  dom  ifs  imos 
'varoês  Orojio  Presbytero^  tf 
ToribioBiJpo.Bc  wcmos  q  pcl- 
la  força  das  palauras,  aísy  per- 
tence aBraga  Orofio  como  lhe 
pertéce  S.Toribio,por  fere  va- 
roês nacuraes  da  fuaProuincia, 
de  dcBifpados  fuíFraganeos co- 
mo era  Aíl:orga,onde  S.Tod- 
bio  foi  Biípo  j&  afsy  como  nin 
gué  vedo  o  ceífimunho  de  tal 
Prelado,  ouzaria  citar  fora  de 
Galiza  a  S  .Toribio,e  fazello  na 
tural de- Catalunha  ,a'fsy  pella 
mcfma  autoridade  de  ncnhúa 
maneira  lhe  hc  licito  tirar  da 
mefma  Prouinciade  Gahzaa 
PauloOrorio,&:  Icuallo  a  Tar- 
ragona. 

7  Alê  dos  fundamctos  refe- 
ridos temos  autores  muy  gra- 
nes, qfazc  natural  de  Braga  a 
Paulo  Orolio;  íàõ  clles  Frácií- 
codePadilha/r.íoaõMarques, 
&í  fr.Bernardo  de  BritOjallcgã- 
doemfeu  fauora  Maneei  Se- 
uerim  de  Faria  Chãtrc^d:  Có- 
nego deEnora^cuja  autoridade 


Aíarq. 

t)l)!  fitp.C. 

10. í.^. 
Brito  z.p. 
rricHC.rch 
lib.  6  cap 

^7» 


254 


Capitulo  LIX. 


fòfquando  faltallem  outros) 
podia  fazer  prouauel  a  juftiça 
delia  cidade. 

8     Os  fundamentos  em  con- 
trario por  íy  fe  desfazem j  não 
negamos  a  Tarragona  foi  ci- 
dadão feu  Paulo  Orofio ,  me- 
receo  a  feus   moradores  da- 
rcnlheaquellepriuiJegio ,  não 
no  dia  de  íeu  nacimento,  por- 
que não  naceo  là ,  mas  depois 
jade  fer  capaz  delle,  oupor 
feruíços  que  fezà  própria  ci- 
dade_,ou  por  ella  fe  querer  hõ- 
rar  cõ  aquella  noua  adopção. 
Dextro  quando  efcreueo.  Pau 
lus  Orojius  nafcitur  cmis  Tar- 
raconenjis.  Quis  dizer.  Naceo 
Paulo  Orofio,  ó  que  agora  he 
cidadão  de  Tarragona.  Aquel- 
les  termos  deqvza  omeímo 
Orofio  quando  chama  a  Tar- 
ragona lua  Tarraconê  noUra: 
ao  muito  moftraõ  q  foi  Hcf- 
panhol ;  o  mefmo  pudera  di- 
zer de  Sagunto^  &  de  Cartha- 
gena:  quátas  vezes  nefta  hiílo- 
ria  chamamos  a  Braga  noíla, 
fem  por  illb  fermos  delia  na- 
tural: faõ  modos  de  falar ,  que 
ou  a  affeição,  ou  o  domicilio, 
ou  ambas  as  coufas  juntas  tra- 
zê  à  pena  fem  por  iílb  perigar 
a  verdade  ,  ou  fc 


le,  ou lenegare as  pá- 


trias cm  que  nafcerao  os  que 
dcUcs  vzão. 


CAPITVLO  LIX. 

CONT  ASE  O  MAE  S 
que  pertence  a  Vida  de  Pau- 
lo Orqfo. 


Aulo  Orofio 
nacido  é  Bra- 
sa no  anno 
de  370.  teue 
por  pay  a  Fia- 
uio  Orofio  varaõ  de  conheci- 
da nobreza,  &  muito  parente 
de  faõ  Paciano  Bifpo  de  Barce- 
lona,aquelle  cujo  filho  foi  Fla- 
uio  Dextro  famofo  efcritor 
Hcfpanhol.  Começou  logo 
cm  íeus  primeiros  annos  a  a- 
prcnder  todas  as  boas  letras,& 
quando  chegou  a  ij.  de  íua 
idade  era  jà  confumado  nas 
humanas ,  &  com  tanta  emi- 
nência que  fanto  Agoftinho 
lhe  pode  encomêdar  cfcreuef- 
fe  a  fua  Ormefla  múdi ^como  lo 
go  diremos.  Teue  por  meftre 
(ao  que  fe  colhe  por  boas  con- 
jeituras)âqui  mefmo emBra- 
gaahijfanto  Prcsbytero  por 
nome  Auito,o  qual  mudando 
a  pátria,  &  paflandofe  a  leru- 
falem,acabou  naquelles  íàntos 
lugares  a  vida  felicillimaméte. 

Orde- 


Fmdo  Orojio. 


255 


Oidenouíe  Oroíío  de  todas 
as  ordens, &:  feapplicou  com 
grandiísimo  cuidado  ao  ferui- 
ço  deita  Sè.  Eltando  nelle^por 
valerem  então  muito  ,  &  terc 
deitado  erandes  raízes  os  hc- 

fin- 


í? 


iDext.aih 
'400. 

f 

Í4H- 


reges  Prilciliianiílas,  que 
gião  ler  nofla  alma  da  mefma 
iurtanciadeDeos  ,porfabcro 
que  acerca  deite  ponto,  então 
muy  altercado  ,  fc  auia  de 
crer^  paííou  a  Africa  com  ani- 
mo de  fe  dar  por  dicipulo  de 
íanto  Agoftinho  ^  cuja  fama 
então  era  celebre  por  todo  o 
mudo. O  íãto  Doutor  o  rcce- 
bco  com  notauel  alegria_,&  ai- 
uoroço,  porque  logo  vio  nel- 
leprande  lutileza  de  engenho, 
grande  curioíídade  de  íaber,& 
íobre  tudo  grande  defejo  de 
aproueitar  mais  ainda  noef- 
piritoque  nas  letras. 
2,  Aprefentou  juntam e- 

te  Oroíío  a  fanto  Agortinho 
certas  cartas,  que  fobre  a  mef- 
ma matéria  da  origem  da  al- 
ma, &  outras  queftoés  to- 
cantes aos  Prifcillianiíhis  por 
cUe  lhe  enuiaraõ  três  Biípos 
defterrados  de  França,  &  que 
depois  o  vieraõ  também  afcr 
cm  Catalunha  :  Horetes  (ou- 
tros lhe  chamão  Hcrodes) La- 
zaro, òí  Prudencio  :  febem  o 
Cardeal  Baronio  quer  fe  cha- 


maflem  Eutropio,  ^  Paulo. 
Como  quer  que  fcfie,  OroHo 
pello  que  em  fua  alma  fcntia 
dcaproucitamcnto,&  melho- 
ria cípiritual  entendeo  fora 
Diuina  prouidencia,&  miferi- 
cordia,&  naõ  coníelho,  ou 
perfuafão  humana,  oquealy 
o  trouxera.  Aísy  o  diz  a  íanto 
Agoftinho  com  as  palauras  le- 
guintes, tornadas  em  portu- 
2UCZ.  Deoí  me  mandou  ter  com 
-vofco,  delle  efpero  o  que  de  njos 
pretendo. Quado  conjidero  o  co- 
mo fe  tracGuijir  aqui^entao  co- 
nheço o  porq  "vim .  Sahi  de  mi- 
nha pátria  fem  Dotade  ,[em  ne- 
cefsidade ,  fem  confenthnento^ 
obrigado  de  híia  ocultauioíen- 
cia^atc  quepu\ospcs  nefia  ter- 
ra^ onde  finalmente  'Vim  a  co-- 
nhecer,  qera  madado  Dir  terço 
ijofco.'Nnõ  quis  logo  que  che- 
gou Oroíío  confuítar  a  íanto 
Agoílinho  fobrc  as  principaes 
queíloésaqhia,bufcou  tcpo 
acõmodado,v5c  efpcrou  q  o  ia- 
errado  Doutor  fedeíocupaílè 
de  muitas  coufas,q  trazia  entre 
maõs .  Elle  mefmo  o  conta  c6 
as  palauras  íeguintes.  Ia  eutt^ 
nhafinificado  a  V.  Satidade  o  q 
particularmste  defejauafahs  r, 
mas  ainda  "Vos  naÓ  tinha  dado 
dijfo  memorial ,  porq  efperaua 
-Deruos  dcfocupado  de  outras  ô- 


Y 


braf 


256 


Capitulo  LIX. 


:  BinãT  hl 
'  Dext,an, 

j  Chrifti 
414. 


i  brííí  ^ hiescÓpondo^ÍP' ditando,  í 

3  Pouco  leíabé  os  annoSjCÍ 
na  efchola  de  Agoftinho  leu 
meftrcgallouOroíIo :  hús  os 
eftêdemai4.  outros  nem  hú 
pcrfeko  lhe  concede.  Os  ter- 
mos de  talar  de  S.  AcToilinho 
nerta  ida  de  Orolio  naõ  ío- 
frem  grandes  dilações,  porem 
o  aueriguallas  he  pouco  neccí- 
fario  ao  intento  que  leuamos. 

4  Quis  fanto  Agoftinho 
que  viflc  íaõ  leronymo,  &  ti- 
uefle  noticia  de  hú  tal  foseito, 
como  Orolio-,  pêra  ellefim 
tomou  por  expediéte  naõ  lhe 
relponder  à  duuida  principal 
íobrequeoconlultarada  ori- 
gem das  almas^eícuzandofe  cõ 
Tua  infufficiencia,  &  dizendo- 
Ihc  que  ninguênaquelles  pon- 
tos lhe  daria  melhor  fatisfação 
doquehúíanto  velho  íobre- 
maneira  erudito/Sc  de  quem  jà 
ouuira  grades  coufasjque  por 
fe  retirar  dos  embaraços  do 
mundo  eílaua  recolhido  em 
Belém ,  chamado  leronymo, 
que  íe  lhe  parecelle  irconílil- 
tallojheefcreueria  porelle,  &: 
lhe  pediria  o  ouuiire,&  fatisfí- 
zeííe  fegundo  aquella  grande 
ciência  que  Deos  lhe  dera. 

5  Aceitou  Oroíío  a  jornada^ 
Icuou  cartas  de  grande  recomé 
dação  de  S.  Agoftinho  ;  delias 


íaõ  as  palauras  que  acima  ja  re- 
petimos^em  q  o  chama  irmão 
leu  na  paZjhlho  na  idade,com- 
panhciro  no  Sacerdócio  ^  luril 
noengenhoj  eloquêienapra- 
tica^aleruorado  no  deíejo.Po- 
ílo  a  caminho  fem  fazer  dila- 
ções por  outros  lugares,  bre- 
uemente  chegou  a  terra  íanta. 
E  pcrqueodeíejo  ja  lhe  não 
íofria  outra  coula ,  le  foi  logo 
ver  cõ  S.  leronymo^o  qual  li- 
das as  cartas  de  íanto  Agofti- 
nho^pondo  os  olhos  no  porta 
dor,delcobrio  ainda  nelle  mais 
do  que  as  cartas  relatauaó.  No 
põto  da  duuida  principal  o  in- 
ll:ruyo  tudo  o  que  na  matéria 
alcançaua,  &  o  íatisfez  de  ma- 
neira, q  fedeu  por  quieto,  & 
cõtente.  Efcuzoufe  porê  de  ef- 
creuer  íobre  aqlle  particular, 
por  não  parecer  enlinaua  a  hú 
tal  doutor  comoS.Agollinho, 
tomado  por  capa  delta  lua  hu- 
mildade o  odio  cõ  que  entaõ 
recebiaõ  muitosBiípos  íeuseí- 
critos,  porque  tédo  elle  cõpo- 
íl:o  contra  PeWio,&  moftra- 
do  com  euidenciaíer  herege, 

Tl  . 

contudo  em  hum  Concilio, 
que  nouamente  íe  congregara 
em  Dyosfpoh(chamãolheago 
ra  S.  lorgede  Lide)  cidade  fuf- 
fraganea  à  Metropoli  de  lerufa 
Icm,fora  dado  por  Catholico, 


com 


Tmdo  OrcCio. 


257 


como  cj  todos  oscply  fc  acha- 
rão cftauáo  deíabridos  com  S. 
lerony  mo  ^  por  ccr  rcntido,& 
eícrico  outra  coufa.  Tudo  diz 

0  faiito/.indaq  embuçado ,  na 
repoíla  à  carta  de  S.  Agofli- 
nho  com  aspalauras  ícguintcs. 
Recebi  cÓ  amor  ao  honrado  '-va- 
rão Orojío  Preshytero  irmão 
njeii,tfJilho  •'vofio^afsy  por  fuás 
partes^cofhoporfer  enuiadopor 
Ipos-.porc  chegou  em  tempo  muy 
trabalhofo^em  o  qualme  eUi  me- 
lhor ca  liar  ^q  falar  ^  e  cÓueqcef 
fé  nofos  eíludos,  tf  q(como  dic^ 

Apio)Çt  '1)7^  dafacúdia  canina. 
6       Apartouíc  com  grandes 
íaudadcs  OrofiodeS,  lerony- 
nio-,  tais  as  merecia  o  amor,& 
afabilidade  com  q  o  tratou. Fez 
Teu  caminho  por  leruíalé^por 
não  fair  de  Palcflina  Icm  ver 
aqucllafantaCidade,&  lugares 
confagrados  coma  prclença, 
&  fangue  de  Chriílo.  Achou , 
aly  afcu  mcfi:reAuito,como 
jâ  referimos  jdc  quem  foi  mui- 
feftejado ,  afsy  por  ferem  am- 
bos naturaes,  como  pcilas  no- 
uasquclhc  deu  de  lua  pátria 
dos  conhecidos ,  &  cm  eípe- 
cialdo  ArccbifpoBalconio ,  a 
que  jà  parece  deixara  naquclla 
Cadeira  j  quando  íc  aufentou 
de  Braga. 

1  7     A  uia  Oroíí  o  de  fazer  pou- 


ca detença  cm  Ierufalc,ôs:  por- 
que Icnão  partiílc  íem  Auito 
moftrar  àíua  pátria  a  muita 
lembrança,  que  delia  tinha^alé 
da  carta  que  cícrcueo  a  todos 
emgèral,&  jà  referimos  na  vi- 
da de  Batconio  ,  ouuc  de  Lu- 
ciano (aquelleSacerdotc,a  quê 
lanto  Eílcuáo'  reuelou  por  a-- 
quelles  mcfmos  dias  o  lugar 
onde  eílaua  ícpultado )  algus 
oíl"òs^&  carne  do  gloriofo  fan 
to  martyr ,  &  cõ  a  hiiloria  da 
mefma  inucnção  os  entregou 
a  OrofiOjpcraq  de  fua  parte  os 
dcííccm  Braça  cm  arguméto 
de  feu  amor ,  6c  como  penho- 
res CÓ  q  o  fanto  Leuita  íe  daria 
por  obrigado  a  daly  por  dian- 
te a  tomar  debaixo  de  fua  pro- 
tecção, pois  jà  lhe  ficauaper- 
tecendo  como  depoíítaria  de 
fuás  ReUquias. 

8  Aceitou  a  piadofa  carga 
profio,&:  contente  fobrema- 
neira  com  ella^ic  veo  a  Hefpa- 
nhatédoíempre  os  vetos  prof 
peros  ate  Bcna^ondc  defêbar- 
cou.Aquircpartiocõ  o  glorio 
fo  S.  Agoftinho  das  fagradas 
reliquias,q  trazia  obrãdoDcos 
por  ellas  infinitos  milagres,& 
ediíícádoíe  muitas  Igrejas  em 
hora  do  olorioío  fanto  proto- 
martyr^como  fe  ve  em  S.  Ago 
'^'  '  dousliurosq  cie- 


liinho,  enos 


Y3 


lia 


258 


Qãptulo  LIX. 


lEayon.in 

i   ■ 


fta  mnteriaefcreueoEuodioBjí 
po  Vzalenfe.  De  Africa  palía- 
ua  a  Hcípanha_,mas  chegando 
a  Ilha  de  Menorca ,  íoube  co- 
mo os  Bárbaros  tinhão  toma- 
dos todos  os  caminhos  por 
onde  auia  de  paílar  a  Portugal, 
&  a  Braga.  Auendo  outro  cõ- 
felhojôc  apertando  também 
êom  elle  as  faudades  de  íanto 
Agoftinho  determinou  voltar 
outra*^ve«  a  Affica  ^  pêra  nella 
cíp'erar ,  o  em  que  parauaó  os 
infortúnios  de  Heípanha. 
%^  Antes  cie  partir,  pêra 

agradecer  aos  da  cidade  de  Ma- 
gona  a  hofpedaVem  que  lhe, 
Hzeraõ  repartio  com  •clles  das 
iquias  do  Sato  marty  r  Efte- 
o  que  trazia,  as  quaes  o  Bif- 
po  SçUero  pos  na  Cafl^redal. 
Naõ  fe  podem^facilmente  re- 
latar  os  muitos  milagres  qué 
Deos  naqucUa  cidade  obrou 
pella  interceflaój&  merecime-» 
tos  do  feu  n>Q|%)^»  Conuer- 
teoíe  hííagrande  Synagoga ,  q 
ai^4*iâ^ílj^ei-iÃ,vendofe  ne- 
ftacouerfaõ  muitas  das  mara- 
uiihas,  qi^d  pello  defcrto  lhe 
fucéderao,  as  quaes  refere  ^à- 
uero  Bifpo  da  mefma  Ilha  na 
carta  ,  que  mandou  a  Hefpa- 
nha^ondeaponta  notaueis  mi- 
lajrres. 

o 

I  o         Dcíla  volta  trabalhou 


*e 


grandemente  Orofio  porde- 
íaiitorizar  era  Africa  a  Pelagio, 
a  quem  (como  dfílèiTaoà)  ti- 
nhão os  Biípos  do  Concilio 
deDiospoli  dado -por  Catho- 
lico.Fez  celebrar  contra  elle 
outros dous  Concílios,  o  de 
Mela,  ou  Mileuitano  II.  &  o 
de  Carthago:  era  ambos  lahio 
condenado  porhe^e,  &  íua 
doutrinadada  por  peruerfa,& 
diaoolica .  Depois  de  aiguns 
^nnos  ouue  finalmente  Oro- 
íío  de  acabar  íeu  caminho  ,  & 
chegar  a  Braga  ,  viuendo  ain- 
da  Balconio,a  quem  eritregou 
a  mayor  parte  das  relíquias,  cÓ 
queíahiode  lerufalem .  Per-,^ 
deofe  nefta  Sè  a  memoria  de 
theíburo  taó  preciofo  ,  &  naó 
fe  íabe  ao  certo  onde  foi  col- 
locadq.  Ha  nella  húa  arca  an- 
tíquiííima  cuberta  de  laminas 
de  prata  ,onde  fe  lançarão  as 

vHaJiq^ias  de   muitos  Santos, 
mas  íem  nomes.  Nella^enten- 

*d'em*o*s  fe  recottiefaõ  também 
eftas  de  S.  Efteuáo,  &  obraria 
Deos  {lor  ellas.os  Tnil^res ,  q 
em  Menorca,(S«r  Africa  foi  fer- 
uido  obrar,fenão  que  aly  tiue- 
rao  a  curioíídade ,  &  agradeci- 
mento dos  Bifpos  Seuero ,  & 
Eup4jÍPo  qf  e  os  celebrarão  cõ  ^ 
o  cxcplo  de  fanto  Agoftinho, 
&  qua  odefcuido  de  fe  deixar 


pafiar 


e.  (mUA 


naílar  tudo  cmrilencio. 
II  Elcreueo  Oroíio,  co- 
mo autor  famoío"  obras  de 
muitaconfideração.A  piimei- 
ra foi  os  fete  Jiuros  "dn  Horme- 
íia{  outros  lem )  Or chefia  mil- 
flf/,à  petição  de  fancoAgoíli- 
nho  ,a  qucnf  tánibem  os  de- 
dicou, nos  quaes  fazendo  mê- 
ção  de  todas  as  calaniidades, 
que  fucederão  no  mundo , 
moftra  que  aos  ChriíHos  íe 
deuia  durar  ainda  o  Império 
RomanOj  contra  o  que  pe- 
dião  feus  pecados ,  &  que  pel- 
lo  culto  do  verdadeiro  DeoSj 
auia  ncUe  paz ,  &  quietação. 
Calumniauaõ  nelle  tempo  os 
Gentios  a  religião  ChriíH  ,  & 
publicauãoler  cila  a  cauía  da 
queda_,(5i:  deftruição  do  Impé- 
rio, a  quem  oculto  dos  ído- 
los tiuera  íempre  florente,  & 
em  proíperidade.  Aprouando 
efta  mefma  obra  de  Oroíio 
diíle  Gelafio  Papa .  Louuamos 
também  a  Orofio  'varaóerudi- 
tifsimopella  hiítoria  tao  necef- 
faria ,  que  com  admirauel  bre- 
uidade  efcreueo  contra  lU  calii- 
niM  dos  Gentios.  Tinha  traba- 
lhado primeiro  no  mefmõ  ar- 
gumento o  Poeta  Prudencio 
contra  Symacho  Prefeito  de 
»b>ma,  éc  trabalhou  depois 
S.  AcToftinho  nos  ii.  liuros 


Fdíilo  Oroíio. 
^— 


259 


da  Gi^de  de  Dcos  que  com- 
pôs. 

li  Efcreueo  mais  Oroíio 
humliuro  Apologético  con- 
tra os  Pelagianos, outro  da  rc- 
zão  da  alma  ,  dous  de  cartas 
pêra  íanto  Agoftinho ,  òí  ou- 
tras peíloas,  elcreueo  também 
fobre  osCantaresdeSalamão: 
Santo  Agoftinho  lhe  mandou 
o  feu  tratado  contra  os  Prif- 
cillianirtas,  &Origiuiftas,ref- 
pondendo  as  perguntas,  que 
o  mefmo  Oroíio  íobre  a  ma- 
téria Ihefez.Louuaraõno  mui- 
to,como  vimos,o  meímo  Tan- 
to Agoftinho,  &:  faõlerony- 
mo ,  íanto  AjJoftinho  cha- 
mandolhe  religioílfiimo  mã- 
cebo-,  íotii  no  engenho, elo- 
quente  na  pratica,  aferuorado 
no  delejo  ,  íaõ  leronymono- 
meandoo  Vir  um  bonorabils , 
varaõ  digno  de  toda  a  honra,  ^cio 
Mas  quem  quifer  ler  íeus  Elo-  ^^'"^^'■'■ 
giosmaiscopioiamentc,  veja 
aíanto  Antonino, a  Vinccn- 
cio  Beluacenle,a  Trithemio, 
a  Couarruuias ,  ôc  frei  Bernar- 
do de  Brito,  Sc  outros  que 
nellesfe  acidarão  citados. 
13.  No  particular  de  fua 

morte ,  ou  lugar  delia,  não  te- 
mos coufa  certa  Marco  Má- 
ximo diz  morreo  em  Cartha- 
CTcna  no  anno  de  47 r  .tendo  jà 


2p't!t.ià 


Trithcnt, 
deferia^ 
Eccl.lllk ' 
Coujíb  À 
var.  eap, 
i6,n,tii 
Brit.2.p.- 
manar  c. 
lib-  6,  c, 
27. 


Y  4 


M.Max 
rhroH.ãfi 
471. 


mais 


2  6o 


Capimlo  LIX. 


\  i'á. antro- 
'foi. 

{Padil.ch 


Chnjíi 

'3  4- 
\J\íarq  .« 

[cio  p.^ 


mais  de  ccnco  de  idade.  Saó  as 
íuaspalauras.   Paulus  Orofius 
Târraconenfs  ciuis    centená- 
rio maior  lijeniens  ex  Africa 
CarthagineSpartaria  moritur. 
Volaccrrano  ^  Tarafa ,  &  Pa- 
dilha  o  fazem  morto  em  Afri- 
ca, de  ftáo  em  Carchagena, 
porem  naó  daorczão  ncnhua. 
O  certo  hc  que  cm  Africa  vi- 
ueo  alguns  annos  debaixo  de 
íànco  AízoíHnho  ,  ícndo  dici- 
puio_,  òí  ermitão  leu  como 
claramente  affirma  Flauio  Dex 
tro  ,  &  o  dà  por  certo  o  Pa- 
dre frei  loão  Marques.  Vin- 
do pêra  Hcípanha  podia  mor- 
rer em  CaiMiagcnaj  donde  fo- 
raõfcus  ofibstresladadosaRo 
ma,  &  ícpultados  na  Igreja  de 
Santo  Eufebio ,  onde  jâ  ellaua 
feu  pay  J&:  tinhão  próprio  ja- 
figo  os  da  familia  Oroáia.  De- 
dicou Ifidoro  Bifpo  de  Cordoa, 
ua  o  mais  nouo  a  Paulo  Oro- 
íío  o  feu  liuro  das  Allcgorias, 
Dex.au.    como qucr  Dextro  o  qual  lhe 
chama  o  mais  nouo  pêra  o  di- 
ilinguir  doutro  IfidoroBiípo 
de  Cordoua  mais  velho  na  ida- 
de qefce  fcgundo.  Marco  Má- 
ximo  falando    dclfa  mcfma 
obra  dedicada  a  Paulo  Qxo- 
íio»  traz  húas  palauras,  que 
embaração  ,  &  fazem  cuidar 
que  naõ  íalou  Dextro  do  nol- 


4'3 


in  chroit. 


(o  Paulo  Oroíío  ,  fenáo  dou" 
tro  diílerentci  diz  aísy  Máxi- 
mo. Sanãus  JJidoriisJenior  de- 
dicai librum  Allegoriartim  Oro 
fio  Epifcpo  Legionis  Septim^ 
Gemina  in  Hijpania^ondc  mu- 
dou o  termo  iunior  de  Dextro 
em  fenior  j  &  acrecenta  o  Bif- 
pado  de  Leaó  a  Paulo  Oroílo, 
lendo  afsy  que  em  nenhum 
outro  autor  íeacha  folie  Bif- 
po. No  particular  do  termo 
fenior ^i^j'  iunior ,  íenaõ  encon- 
trão Máximo  ,  ôc  Dextro. 
Porque  eíle  comparou  o  líl- 
doro  de  quem  falaua  com  ou- 
tro(foraõelles  dous  emCcrdo 
ua)  da  meí ma  cidade, que  jà  ti- 
nha paliado,  òí  Máximo  faz 
dcllc  allufaõ  ao  grande  Illdoro 
de  Seu  ilha  taõ  conhecido  em 
Helpanha ,  que  foi  muito  de- 
pois. No  outro  ponto  do  Bif- 
pado  de  Lcaõ ,  mais  cremos  q 
o  PauloOroíIo  de  quem  hú,& 
outro  falou, hc  difterencc  do 
noílb,  ainda  queíemelhatc  no 
nome  ,  na  pátria ,  &  no  tem- 
po j  afsy  concilia  a  Dextro, 
ôc  Máximo  frei  Francifco  de 
Biuar,reípondcdoa  Pcnnoto. 
O  meftre  Cano  conta  a  Paulo 
Orofio  entre  os  Santos  cano- 
nizados/antas  foraõ  fuás  vir- 
tudes,&  merecimentos. 

CÃP. 


pro  Dex, 


são  Q^í^^^xiíniluino^^^c. 


261 


Dex.  4« 
424. 


CAPITVLO    LX. 

SAM     MAXIMILIA- 

no  ,  ^  Vakntino  Bifpos  ^  Isf 
martyres. 


EcundiíTimos 
de  Santos  fo- 
raõ  os  tcpos 
emqueBalco 
niogoiierna- 
ua  cita  Igreja.  Alem  dcAuito, 
&:  Paulo  Orofio  nosderaõ  tá- 
bé  a  Maximiliano,&  Valétino 
celebres  ambos  na  inllgnc  vil- 
la  de  Viana  íecjundo  Dextro. 
Prope  Tilde  in  Gallecia  m  oppi 
doViancJtSaSli  PòtificesMaxi- 
milianus,  if  Vakntinus  clartt.  , 
Ia  Viana  nos  tinha  dado  os 
fantos  Theophilo, Saturnino, 
&í  Reuocata  martyrcSjporque 
naó  foíle  menos  fecunda  de 
fogeitos  raros  na  fantidadc,  do 
que  íempre  o  foi  dos  mefmos 
cm  todos  os  exercicios  pró- 
prios da  paz  ,  ou  da  guerra, 
Nefta  villa  nos  achamos  ao  té- 
poquefe  imprimem  as  vidas 
deftos  Santos^  aílirtindo  ade- 
fenfaõde  feus  portos  por  or- 
dem de  fua  Mageílade/jnde  jà 


clliucmos  duas  vezes  com  a 
melmaordcm,  &  cargo.  Pcl- 
la  grandeza  com  que  nos  rece- 
berão, &  fcílejaraõ  feus  mora- 
dores quando  nclla  entramos, 
ou  pella  obrigação  do  officio 
de  Prelado  na  paz,  ou  pella  de 
Fronteiro  mor  na  milicia ,  lhe 
reconhecemos  íiranJes  obri- 
caçoes.  Traz  o  Martyrologio 
Romano  eíles  dous  Sátos  em 
2.9.  de  Outubro,  onde  diz: 
e  odem  diejanãoriim  Epijcopo- 
riim  Maximiliani  martyris,  iff 
Vakntini  confefioris .  Onde  a 
palaura  confejjor,  qnc  fe  ajun- 
ta a  íaõ  Valencino,  &  cm  Dex- 
tro a  ambos  eftes  Santos  Pre- 
lados lhe  não  nega  a  palma  de 
martyrio  ,  vifto  como  a  to- 
dos os  martyres  q  diante  dos 
Tyranos  profeílauão,&  con- 
feíTauãoaFè  deChriílo,  cha- 
mauaõ  cófeííores,  quaesforaÕ 
os  noííos  dous  íannfsimos 
Bifpos  quando  mais  atormé- 
tados  eraõ  pellos  Vândalos  na 
íua  períeguição. 
z 

de  feus  Bifpados :  podeíe  con- 
jeiturar  foraõPrelados  da  meí- 
ma  villa  de  Viana  em  quanto 
foi  Bifpado  particular ,  como 
jàdilíemos.  Molano  os  quis 
leuar  a  Viena  do  Delfínado, 
masfem  ncnhu  fundamento. 

Tc 


Não  fabemos  o  lugar 


rfr..trd. 
dte    29. 


.ti 


Qaptulo  LXI. 


CtfsÍAn. 
in  colLit 
Gcikid.õíe 

íVir.iUiiJl. 


\ 


ra7j. 


I  Se  alçada  do  Martyrclogio  f 
dcíícdia  i9.de  Outubro  anda- 
ra como  íeacha  cm  mu  ices  ef- 
cricos  de  mão,  auiaíc  de  Icraf- 
fy.  Eodem  diefanãoriim  Epif- 
coporum  Maximil/ani  marty- 
risjip"  Falitimconfejjòris  Fie- 
í?'^ ,  mas  entre  a  palaura  Vícn^ 
meterão  depois  a  íantaEnfe- 
bia^  aS.Narciílb,S.  íoaõ ,  &c  S. 
Doiiato,q  nosde  maõ  ialta5,& 
deixarão  a  palaura  Vienn^ ,  pê- 
ra aajuntaré  a  laõTheodoro, 
dizendo.  Vitnn^e  depojitiofan- 
ãi  Theodori  -.  fem   embargo 
que   nada   pertencia  a  Viena, 
poríer  dicipuio,&  fuceííor  de 
iaõPacomio  no  [jouerno  do 
feu  mcftciro  onde  morreo,  &■ 
foi  ícpultadoj  como  fe  pode 
ver  em  Caísiano  Genadio  ,  & 
Equilino,  Nêhe  poíliueldei- 
xaíFem  de  falar  neiie,  quando 
fora  outro  Theodoro   Fran- 
cês Saõ  Gregório  Turoncníe, 
&  Vincencio  Beluacenfe,  que 
com  tantas  particularidades, 
&  miudefas    efcrcueraõ   dos 
confcífores  de  França. 


^?^ 


CAPITVLO  LXI. 

F  A  L  E  R  I  O  I.  DO 
nomeXXIII.  Arcebifpode 
Braga. 


O  RR  EO 

o  Arcebiípo 
Valério  pel- 
los  annos  de 
416.  em  que 


lhe  fucedco  Idacio  II.  do  no 
me,&  tile  parece  foi  ofucef- 
fordeEalconioj  ifto  he  con- 
jeitura  noíla,  porque  lhe  não 
achamos  outro  fuccílor,  &c  os 
annos,que  correrão  do  de  448. 
cm  que  ainda  viuia  Balconio 
ate  o  cmq  eílamcs^naõ  laõ  ca- 
pazes de  muitos  outros.  Te- 
mos as  palauras  fcgaintes  de 
luliano,  que  nos  dao  noticia 
dcftc  Prelado. íí/í^rm  ex  íama- 
cen(i  Epifcõpus  Bracharenjís 
fiiccejfe.rat anno  4^6.  Falerio. 
Continuaua  ainda  faõ  Leaó  có 
o  Pontificado  Romano.  Era 
Reciario  Rey  dos  Sucuos, 
Theodorico  dos  Godos. 


ííílían,in 

fhrt 

55' 


GAP. 


Ida  cio  II. 


26i 


CAPITVLO  LXII. 

IDACIO  II,  DO  N  0- 
me  XXIIII.  Arcebífpo  de 
Braga. 


E  mais  conhe- 
cido nas  hirto 
rias  o  Arce- 
bifpo  Idacio 
(cõ  cuja  vida 
entramos)  pclla  cidade  deLamc 
go,  onde  primeiro  foi  Prela- 
do, que  peíia  de  Braga,  onde 
vltimamente  o  puzcraõ  feus 
mcrecimêtos:  mas  não  he  eíte 
o  enleo  fò ,  que  em  fua  vida  íc 
acha.  Confundea  grandemen- 
te não  fe  diltino^uircm  outros 
três  Idacios,quc  ouue  emHcf- 
panha,todos  Bifpos,  &c  todos 
varões  de  grande  nome.  Do 
primeiro  q  foi  Arcebifpo  de- 
ita Primacial,  diíTemos  em  fua 
vida.Com  elle  cõcorrerao  ou- 
tros dous  Idacios  humMetro- 
policano  de  Metida ,  a  quem 
chamão  porfobrenome  oCla- 
ro ,  outro  Bifpo  de  Oflonoba 
no  Algarue,  ambos  grandifsi- 
mos  perfeguidores  de  Prifcil- 
iianOjC  feusfequazes,dos  quacs 


também  jàfalamos  em  outros 
lugares.Foi  o  Idacio  dcMerida, 
aquelle  de  quem  efcreueo  Tan- 
to Ifidoro.  Idatius  Hífpania- 
rum  Epfcopus  cognomento ,  {p* 
eloquio  Clarus.  E  Bellarmino 
quafí  pellas  mefmas  palauras, 
Idatius Jiue  Ithatius  Clarus  E- 
pifcopus  Hifpanus  de  quo  multa 
Sulpitius  in  hiiioria  facra  .  O 
quarto  na  idade,  &  nome  hc  o 
noílb  Idacio.  Outro  ouue  do 
meímonome  também  etcri- 
tor  de  húa  breue  Chronica ,  q 
floreceo  mais  de  cem  annos 
adiante  defte  tempo  cm  que 
leuamos  a  hiíloria.  O  q  fe  po- 
de alcançar  da  vida ,  &  fucef- 
fos  de  noílb  Idacio  he  o  fc- 
guinte. 

1  Foi  Idacio  de  nação 

Sueuo,  como  querem  algús, 
&  de  profiflaõ  Gentio.  Con- 
uertcofe  à  noíTa  íanta  Fè  pel- 
los  annos  de  Chrifto  de  410. 
na  flor  de  íua  idade,  quado 
o  tempo  lhe  pedia  as  folturas 
de  mancebo,  &as  liberdades 
de  Idolatra  .  Tomou  Deos 
porinílrumento  de  fua  con- 
uerfaõ  a  íanta  vida ,  &  prega- 
ção dos  Bifpos  Sueuos,  pella 
qual  muitos  do  pouo,  logo 
os  nobres,  vltimamente  os 
Reis  foraõ  deixando  as  treuas 
da  gentilidade ,  &  abraçando  a 


Ifidor.  dt 
vir  illhjí. 


Paddh. 

CCHt.^.C, 
14. 


1 


uz 


204 


Capiíído  LXII. 


\ 


luz  do  íàgradoEusngelho. Po- 
rem então  mais  obrou  nos  co- 
rações de  todos  a  palauraDiui- 
na ,  quando  cóucr tido  ja  Ida- 
cio  lhes  prègaua  mais  com  o 
exemplo    de  fua   conuerfaó, 
que  com  rezoesdefuaeioquê- 
cia  ;  &  na  verdade  era  grande 
eftimulo  pêra  todos  feus  na- 
ruraes  verem  hum  homem  de 
juízo  cão  claro,  de  fabcr  tão 
perfeito,  de  prudência  tão  co- 
nhecida,,  deixada  a  vaidade  do5 
ritos  gentílicos^  fazerfe  na  ef- 
chola  de  Chrifto  por  fojeição 
aíeus  Diuinos  preceitos  húa 
criança  ^  &  por  humildade  o 
minimode  codos,nomeando- 
fc  fô  pello  appcllido  de  pecca- 
dor  na  forma  que  faõ  Mat- 
thcuscm  fua  fagrada  hiftoria 
tomou  pcra  fy  o  de  publi- 
cano. 

3  Com  efta  coníideração 
auendofc  de  dar  a  conhecer 
por  quem  fora  antes  de  Chri- 
ílaÕ  ,  pondo  de  parte  a  nobre- 
za de  íeusauòs,  a  antiguidade 
de  fua  familja ,  fô  efcreuco  de 
fy.  Idatij  ad  Deum  comierfio 

peccatons.  Conuerfaòa  Deos 
de  Idacio  peccador. 

4  Feito  Chrillâo,  &  ap- 
plicado  pelia  grande  eminên- 
cia de  feu  engenho  aos  myf- 
terios  fagrados ,  depois  de  ai-  j 


guns  annos  de  íeruiço  da  Igre- 
ja, veoa  fer  eleito  Bifpo  de 
Lamcgo.Eitando  no  goucrno 
deíla  Igreja  pella  grande  f^tis- 
fação  que  deile  tinha  o  Sumo 
Pontiíice  fao  Leaó  o  Magno, 
Iheeícrcueo  fobre  arcducçaõ 
dos  hereges  Prifcillianiftas  de 
Hcfpanha,^:  o  fez  i^lla  ieu  le- 
gado cm  companhia  doutro 
Bifpo  por  nome  Cáponio  (  q 
nós  julgamos  com  duuida  fe- 
ria Balconio  Arcebifpo  de 
Braga  como  em  fua  vida  difíc- 
mos)  &  deíaõ  Toribio  Bifpo 
de  Aftorga,&  por  virtude  de- 
fta  comiliaõ  prcíidio  no  Con- 
cilio de  Toledo ,  que  errada- 
mente anda  com  titulo  de  pri- 
meiro em  companhia  de  faõ 
Toribio. 

j  Doqueimosacontar  nos 
dà  por  teftiniunha  o  Padre  fr. 
Bernardo  de  Brito  a  fantolli- 
dorOj&r  a  Laymundo  em  que 
cUe  diz  anda  o  cafo  mais  por 
extenfo.  No  tempo  q  Theo- 
doricólley  dos  Godos  íogei- 
tou  por  armas  o  Reino  dos 
Sueuos ,  &  grande  parte  das 
mais  Prouincias  de  Hcfpanha, 
rccolheoíc  a  França ,  onde  de 
ordinário  tinha  fua  corte.  Dei- 
xou no  Reino  vencido  algus 
capitães,  que  em  ícu  lugar  o 
p-oueruaílem.  Eraõ  cfl.es  pella 


mayor 


Idãcio  IL 


26  \ 


niayor  parte  eílrangeiros^tra- 
tduão  íò  de  íe  enriquecer  a  íy^ 
íem  atentarem  à  vtilickde  dos 
pouos  j  tiranizandoos  com 
tributos,  &  leuando  mais  do 
qucaÍLiftanciade  íuas  fazen- 
das podia  abranger .  Eraõ  as 
queixas  Icm  conto  ,  nenhum 
o  remédio  delias  pclla  auíen- 
ciado  Rey,  &  informações  de 
íeus  miniítros ,  os  quaes  por 
executarem  fua  cubica  dcf- 
faziaõ  a  rezaÕdos  qucixoíbs 
com  lançarem  tudo  â  rebe- 
lião y  ^  deícontentamento  do 
eftadoprcfente  affirmando  q 
pêra  ter  os  vencidos  em  fogei- 
çaó  mayores  opprefsoés  ain- 
da eraõ  neceilarias. 
7  Defeíperados  os  Sue- 

uos  do  remédio  acodiraó  aos 
Bifpos ,  &  mais  peílbas  Ec- 
clefiafticas  peraque  ellas  tra- 
taílem  entre  fy  em  que  ma- 
neira poderiaõ  íair  cie  tan- 
tas miíerias.  Tomoufe  de- 
pois de  varias  coníuitas  por 
expediente  partirem  alguns 
Biípos  a  França,  &  aly  in- 
formarem a  Tlieodorico  das 
tiranias  de  fcus  Gouernado- 
res  cubcrtas  com  o  zelo  de 
feu  Real  feruiço ,  ma;  na  ver- 
dade nacidas  de  peitos  inimi- 
gos ,  &  cobiçofosj  porque  os 
Sueuos  naõ  tratauao  mais  que 


de  íe  conferuar  debaixo  de  fua 
protecção  íem  lhes  lembra^ 
rem  tempos  paílados,  de  que 
Ihefariaõdc  nouo  preito  mc-^ 
nagem ,  quando  Theodoríco 
aísy  o  ordenalTe.  Sô  queriáo 
que  elle  per  íy  vielfc  gouer- 
nalos ,  ou  quando  naõ  lhe 
dc&  húa  peflba  natural,  & 
confidente, em  qucfe  achaf- 
fe  a  lealdade  de  bom'  vaíTal- 
lo ,  &  o  amor  de  bom  patri- 
cio. 

8  Logo  todos  puzeraõ  os 
olhos  em  Idacio,  porque  eraõ 
muy  conhecidas  íuas  grandes 
partes  5  aceitou  a  jornada  pcl- 
io  interelle  do  bem  publico^ 
&c  em  companhia  de  outros 
Prelados  íe  pos  a  caminho  ,  3c 
a  poucos  dias  cfteue  na  corte 
de  Theodoríco .  Admitidos  a 
audiência  elle  em  nome  de  to- 
dos reprcfentou  ,  ôc  períua- 
dio  ao  Rey  quanto  lhe  era 
encomendado  ,  o  qual  pago 
da  eííicacia,  &  bom  termo  de 
fuás  rezoês,  õc  mouido  tam- 
bém da  preíença  de  tantos 
Prelados  logo  fenl  mais  di- 
lação fez  recolher  a  França 
os  Gouernadorcs,  ôz  aos  Siie^ 
uos  deu  licença  pêra  de  íua  na 
ção  efcollierem  por  Rey  hu  q 
cõformefuasleis,(3í  coftumes 
os  gouernaííe  rcconheccndoo 


a  elle 


2(i(i 


Captulo  LXII. 


in  chrcn 


\inchren. 


aclle,&:  aos  mais  Rcys  Go- 
dos feus  decendentes  com  hú 
pequeno  tributo. 
í>        Ia  fc  vc  quam  bem  rece- 
bido feria  Idacio  cm  Portu- 
gal com  taõ  alegres  nouas: 
jà  por  lhe  gratificarem   cftc 
grande  feruiço  feito  a  fua  pá- 
tria, eftando  entaõ  vaga  a  Pri- 
macial de  Braga  por  morte 
de  Valério  o  puzeraó  nella  ti- 
randoo  muito  contra  fua  v5- 
tadeda  cidade  de  Lamego  on- 
de   cftiucra^  muitos  annos . 
E  porque  ( como  diziamos ) 
efte  grande  Prelado    fe  fez 
mais  conhecido  no  mundo 
por  Bifpo  de  Lamego,  que  dc- 
fta  Igreja,  por   não  dizerem 
os  daquela  cidade  que  o  tra- 
zcmos  à  de  Braga  fcm  fun- 
damento ,    poremos  aqui  os 
autores,  que  depois  de  ícu  o 
fizcraó  noíTo ,  peraque  vejão 
quam  bem  fundada  leuamos 
noílã  j uftiça.  Em  trcs  lugares 
o  nomèa  Arcebifpo  de  Braga 
luliano .  O  primeiro  no  an- 
no  de  quatrocétos  òc  ííncoéta 
&  féis  .  Idatius  tx  Lamacenfi 
Epifcopus  Bracharenjis  ^  fuc- 
cejferatanno  4^6'Valerio.  Ida- 
cio Bifpo  de  Lamego  paíTado 
a  Braga  fuccdcra  a  Valério  no 
anno  de  quatrocentos  &  fm- 
cocnta  &  fcis.O  fcgundo.  Per 


hc€C  tcpora  Turibius  S.  Leonis  I 
prius  notar ius, pátria  Brigatiú 
in  Galecia ,  faãus  monachus 
pofi  longas  peregrinationes  fe- 
cum  multdí  adduxit  reliquias, 
ad  Galtciam  reuerfus  .feri  bit  ad 
Idatium^  tf  Cepomum^  Ida- 
tiuminquam  Epifcopum  Bra- 
charenjem ,  ^t  illi  confulant 
miferrimo  Galecu  Tiatui  re- 
pulluJafcente  tunc  Prifcilliano  ■ 
rumh<ereji.  Ia  dcfte  lugar  de- 
mos relação,  porque  por  vir- 
tude defta  carta  de  Saò  Tori- 
bio  Bifpo  de  Aftorga,  Lega- 
do de  Saõ  Leaõ  cm  Hefpanha, 
Sc  por  outra  do  mefmo  Papa 
prefidío  Idacio  no  Concilio 
de  Toledo,  que  anda  com  ti- 
tulo de  primeiro ,  fendo  ainda 
Bifpo  de  Lamego,  a  qual  pre- 
íidencia  fe  lhe  cometeo  pello 
grande  zelo  com  que  defen- 
dia a  Fè  Catholica,  &  perfe- 
guia  aos  hereges.  O  terceiro: 
Florebàt  per  h,ec  têmpora  Ca~ 
flinus  Epifcopus  Bracharen- 
fis ,  qui  fuccejíit  Idatio  anno 
494.  Florccia  por  efte  tempo 
Caftino  Bifpo  de  Braga  o  qual 
fuccdeo  a  Idacio  no  an.de  45>4. 
A  luliano  feguiraõ  Segiíberto, 
loão  Vafeu,Francifco  de  Padi- 
Iha,  &c  frei  Bernardo  de  Brito. 
Sobre  todos  os  ja  nomeados 
cftà  a  autoridade  de   Santo 


Segther, 
Ati.Chrif. 

420. 
Paidl.eet 

5.f.i4. 

Biit.  vbi 
fufra. 


Ifld 


oro 


Id^cio  IL 


267 


ílidoro  nos  íeus  varões  iliu-  ' 
ílies  •,  &  o  original  do  moílci- 
rode  Alcobaça  no  titulo  de 
íuas  obras  o  chama  Bifpo  de 
Galiza,  ^  na  fraze  dos  efcrito- 
rcs  ,&  Concilies  daquclle  tê- 
po  vai  o  mefmo  q  Metropoli- 
tano de  Galiza,  qual  entaõ  era 
oArcebifpodc  Braga. 
10  GoucrnoLiídacio  cfta 
Igreja  por  eípaço  de  trinta  & 
oito  annos  com  aqucUc  mef- 
mo zelo  j  &  prudência  que  na 
de  Lamego  moftrara ,  experi- 
mentada em  tantas  ocafioés, 
&  cm.  fanta  velhice  fe  foi  a  go- 
zar do  premio  de  fcus  largos, 
6»:continuos  trabalhos  pade- 
cidos na  reducçáo  dos  here- 
ges Prifcillianirtas  que  o  pcrfe- 
guiraõ  femprecomo  inimigo 
mortal.  Paliou  defta  vida  pel- 
los  annos  de  494.  depois  de 
fua  conuerfaõ  74.  Eícreueo 
híia  C  hronica  do  que  íucedeo 
no  mundo  em  cento  &  dez 
annoSjComeçando  no  primei- 
ro Confulado  deTheodoíio,o 
qual  pella  conta  do  Cardeal 
Baronio  cahio  no  anno  de  trc- 
zctos  ôc  oitenta  ,  acabando  no 
oitauo  do  Império  de  Leaó, 
que  foi  no  de  quatrocentos  & 
nouenta.  Nclla continuando 
com  Euíebio  Cezarienfe,  ou 
pêra  melhor  dizer  com  Saõ 


lercnymo^  conta muy  parti- 
cularmente as  crueldades  coni 
que  os  Bárbaros  acormenra- 
uão  os  Hcfpanhoes ,  fk  dc- 
If  ruyaõ  fuás  Igrejas,  pcllo  que 
feouuera  de  intitular  Idatkis 
Archiepifcopus  Bracharenfis , 
&  não  Epifcopus  Lamacenfs. 
pois  quando  a  compôs,  ôc 
quando  fahio  com  ella  a  luz 
auia  muitos  annos  era  Arcc- 
bifpode  Braga.  Gouernaraõ 
a  Igreja  de  Deos  por  eftes  an- 
nos depois  de  Saõ  Leaõ ,  Hilá- 
rio, Simiplicio,  Fclix ,  &  Gela- 
fio:&  o  Reino  dos  Godos  Ala- 
rico ,  ôc  Gefalarico,  dos  P^eis 
Sucuos  ha  pouca  noticia. 


CAPITVLO  LXIII. 

SANTO    A  P  O  L  L  I' 

nar  Bifpo ,  i^  Martyr. 


O  2  A  eíle 

Arcebifpado 
as  precioíàs 
reliquias  do 
aloriofo  fan- 
to  ApoUinar,  ou  Apollina- 
rio,á:  he  nclle  taõ venerado 
feu  fagrado  corpo  que  fora 
injuftiçapaflarcm  íílencio  íua 
vida  fem  dar  algúa  nociciído 


qi 


ue 


268 


Capitulo  LXIII. 


queatradiçáoclos  paílados  a- 
pregoa  cie  íiias  obras ,  &  telH- 
raunhaó  os  preíentes  de  íuas 
marauilhas.  Guaidamos  pêra 
eftc  lugar  a  vida  defte  fanco  le- 

r  T  1  ■ 

uados  do  parecer  de  luliano 
Aciprerte  de  Toledo ,  de  que 
logo  trataremos. 
2,  Perto  da  villa  da  Torre  de 
Moncoruo  na  Comarca  de 
Tralos  montes  eftàolugar  de 
Vrros  pouoaçáoantigua,  cm 
cuja  Igreja(q  em  tempos  atra- 
zados  foi  matriz  )  jaz  o  corpo 
dogloriofo  fanto  Apollinar^ 
vilítado  _,  &  frequentado  dos 
moradores  de  toda  a  Comar- 
ca, &  de  outros  de  terras  muy 
remotas  pellos  grandes  mila- 
gres q  Deos  N.  S.  por  fuain- 
terceííaõ  obra  naquelle  lugar. 
3  O  Lecenceado  Gafpar  Al- 
uarezLouzada  teuepera  fy  q 
fora  efte  fanto  Bifpo  Francês, 
&í  entre  outras  memorias  que 
deixou  na  torre  do  Tombo  fc 
achou  a  feguinte.  Santo  Apol- 
linario  BifpoFrances,ttfeu  cor 
po,ou  a  mayor  parte  delle  enter- 
rado em  hú  lugar  q  chamao  Vr- 
ros ajunto  do  Douro  termo  da 
Villa  de  MÓcoruo  Reyno  de  Por 
tiigal  Arcebifpado  deBraga . 
Achou  efta  memoria  na  tor- 
re do  Tombo  loaõde  Mel- 
lo Feo  Abbade  de  Vrros,  en- 


tre outros  papeis  que  buí- 
caua  pêra  hua  Igreja  do  pa- 
droado Real  fobre  que  an- 
daua  em  requerimentos.  Indo 
ao  lugar  de  Vrros  hú  Francês , 
peílba  ao  parecer  de  confidcra 
ção^viíitar  o  fepulchro^&reli- 
quias  de  S.  ApoUinario  pella 
informação  que  teue  de  feus 
milagres,  diíle  que  o  fanto  era 
Bifpo  Francês  ,  &  que  mere- 
cia fcr  muy  venerado^porq  era 
conhecido  por  todo  o  mundo 
pellas  marauilhas  que  obraua. 
4  luliano   Acipreftc  de  inaâmr, 

Toledo  teue  pêra  fy  que  fora  ^'*-2'43- 
cfte  Santo  aquelle  infigne  ef- 
critor  Sidónio  ApoUinar Bif- 
po Aruernéíe  em  França,cuj3 
vida  depois  de  Gregório  T u- 
ronére,Génadio,BeIIarmino,c 
outros   efcreue  Baronio  no  6. 
tomo  dos  annaes^  onde  dà  rela  -fiig.iozx 
ção  de  feu  illuífre  nacimento,  j^  """• 
dos  oííicios,&:  magiftrados  q  ^^6^^' 
ocupou,das  obras  q  compôs, 
dacharidadeqcom  os  pobres 
vfou,&  finalmente  da  fantida- 
decom  que  acabou  a  vida:flo- 
receo  pellos  annosde48o.  em 
que  leuamos  efta  hiftoria. 
5      Vindo  luliano  a  Braga  có 
o  Arcebifpo  de  Toledo  D.Ber 
nardo  no  tempo  q  viíitou  efta 
Prouincia  como  legado  que 
era  da  Sè    Apoftolica,  vol- 

tando 


Santo  Apcllinar. 


26q 


raiido  pêra  Callclla  teuc  no- 
ticia e]  ellaua  no  lugar  deVrros 
cicíle  Arcebiípado  o  corpo  de 
S.  Apollmar,  &:  enformadoíc 
deíla  verdade  achou  q  era  Si- 
dónio ApoUinar,  cuja  fefta  ce- 
lebra a  Igreja  a  i^  .deAgofl:o;& 
q  aly  tora  trazida  grande  par- 
te de  íuas  fagradas  rcliquiasiaf- 
fy  o  teftimunhacoas  palauras 
ícguintes.jEr  rediens  ad  Casiel- 
lÁ  in  itmere  audiui  corpus  ejfe 
S.  Jpollinaris^t^  doãumfuijfe 
percepiSidomúÀpoUinarcEpj- 
copii  Aruernenfem^cuius  ftíium 
agitur  13 ,  AuguTit ,  cuius  hona 
pars  corporis  illuc  adlata  eíi, 
Cõ  efta  opinião  pafia  luliano 
Icuado  das  informações  q  teue, 
de  c]  rcfulta  grande  hora  a  eftc 
Arcebiípado  em  ter  décro  é  fy 
as  relíquias  de  hú  Prelado  taõ 
ranto,&  efcritor  taó  iníígne. 
6     A  tradição  antiguadoLu- 
gar,  òí  de  toda  a  Comarca  té  q 
foi  efle  fanto  Frãces  de  nação, 
Bifpo,  &  juntamente  marcyr^ 
&í  conta  que  veo  de  húa  po- 
uoação  quceftàda  outra  par- 
te do  Douro,&  fe  chamou  an- 
tiguamentc  Calábria  ,&  hoje 
Calaure_,no  limite  da  villa  de 
Almédra^fituada  no  mais  alto 
de  hú  mote  cercada  ao  redor  de 
muralha  aruinadsj  onde  fcvc 
letreiros  antiguos  ,  &  outras 


memorias  q  dão  finacsde gra- 
de antií^uidade  Das  raízes  do 
monre  pcra  a  parte  do  meo  din 
nace  húa  ribeira  muy  frefca  q 
quaíl  o  rodea  todo,  onde  fc  ve 
húa  ermida  da  inuocação  de 
Nofla  Senhora  do  Capo  com 
muitas  pedras  antiguas^  &  le- 
treiros gaftados  do  tcpo,&  cõ 
lumidos  dos  annos.  Nclle  mó 
te,  òc  pouoaçocs  vizinhas  he 
fama  cõftantc  q  prègaua  o  fan 
to  aos  moradores:  dclle  veo  fa 
gindo  pcra  o  lugar  de  Vrros, 
perfeguido  dos  inficis  quelhc 
querião  tirar  a  vida  porq  prè- 
gaua  aChriito,  &:  publícaua 
íualcy. Trazia  o  íanto  hú  bor- 
dão nas  maósj&pera  proua  de 
íuaFê,  e  cófuíaõ  dosq  nella  naó 
querião  crcr,bateocõ  clle  na 
terra,  &  logo  como  íe  fora  hua 
plãta  verde  pcgcu,e  laçou  rai- 
zes,floreceo,eTcfez  aruore.  Ao 
pè  delia  arrebetou  húa fóte  cia- 
ra^cujas  agoas  imirauão  em  tu 
doas  do  rio  Doviro,como  qfc 
nellc  tiueraõ  íeu  nacimétorpor 
q  indo  clle  enuoico  tinhaõ  tábc 
as  agoas  da  fóte  a  meíma  cor,  e 
logo  íe  coauão  tanto  q  as  do 
Dourotornauãoaíeu  natural. 
7  Os  torm.cntos  q  o  fanto 
padeceo  fe  vem  pintados  no 
rctabolo  da  capella  a  onde  eíla. 
No  painel   da  parte  direira, 


23 


fc 


no 


Qaptulo  LXIII. 


femollraofanto  lançado  no 
chão  atado  pellos  pês  adous 
touros  brauos  pêra  o  arraíta- 
remàvifta  do  Tyrano,  cjue 
o  mandaua  atormentar  j  &  el- 
les  perdida  a  braueza  natural 
femoftraò  taõ  manfos,  que 
nem  forças  tem  pêra  arra- 
llarem  o  íanto  .  Da  parte  ef- 
querdaeftà  ofanto  aílentado 
à  porta  de  húa  Igreja  veftido 
de  Pontifical ,  &  dous  touros 
agioihados  beiiandolhe  a  mão. 
Vele  em  outro  painel  pregar 
o  fanto  aos  Gentios,  arrimado 
aos  muros  de  hum  templo^ou 
caía  antigua,  &  dentro ,  &  fo- 
ra delia  muita  gente  vellida  de 
roupas  largas  ao  parecer  magi- 
ftrados ,  S>í  peíToas  de  autori- 
dade. No  vitimo  painel  eftà  o 
fanto  pofto  em  oraçaõ  cò  mi- 
tra na  cabeça  junto  à  aruore 
em  que  fe  c  õuerteo  o  feu  bor- 
dão ,  &  detrás  delle  o  algoz 
com  hum  alfange  na  maocõ 
que  lhe  tirou  a  vida,&  lhe  deu 
a  palma  degloriofo  martyrio. 
8  Ao  lado  efquerdo  do 

altar  na  parte  da  Epiftola  eftà 
o  fepulchro  do  fanto  leuanta- 
do  fobrc  quatro  leões  de  pe- 
dra com  o  feu  retrato  aberto 
nalageaj  que  cobre  o  tumu- 
lo com  capa ,  báculo ,  &  bre- 
uiario .  Fica  debaixo  delle  a  fe- 


pultura  antigua  do  mefmo  fan 
to  toíca,  5^  íem  nenhum  arti- 
ficiOj  donde  fe  tiraua  terra  que 
leuauão  os  enfermos  pcra  cura 
de  varias  enfermidades. 
p  Saõ  infinitos  os  mila- 

gres que  obra  Deos  pellos  me- 
recimentos defte  Santo.  Sen- 
do Abbade  daquclla  Igreja  \ú 
loaõPíz  foi  a  ella  certo  Viííta- 
dor  do  Arcebifpado,  o  qual 
defcófiando  de  eftarem  aly  as 
relíquias  do  Santo  quiz  fazer 
experiência  do  que  auia  nafe- 
pultura:  procurou  abrila  ,  & 
o  mefmo  foi  intentar  a  obra 
que  perder  cm  continente  a 
vifta  dos  olhos.  Abriraõfelhc 
porem  os  da  alma,  &vio,& 
conheceo  o  erro  em  que  cairá 
nacido  de  fua  incredulidade. 
Recorreoao  fanto,  &fazen- 
dolhe  híía  nouena  no  mefmo 
lugar,  recuperou  a  vifta  per- 
dida. 

IO  Hum  moço  por  no- 

me Francifco  da  villa  de  Ra- 
nhados aleijado  de  hiãa  perna 
que  trazia  fobre  húa  muleta, 
indo  em  romaria  à  Igreja  do 
fanto,  &  cncornendandofea 
ellc  alcançou  faude  ,  &  fcm 
aleijão  nenhua  partio  pêra  fua 
cafa  deixando  a  muleta  pendu- 
rada nas  paredes  do  templo 
em  teftimunho  de  fua  cura,  & 

dT 


S(^nto  Apollinar. 


271 


do  milagre  do  Santo. 
II  He  grande  o  numero 

de  homens,  &  moços  quebra- 
dos^a  quem  eíle  íanto  deu  in- 
teira faudc.  He  particular  auo- 
gado  derte  mal ,  porque  cha- 
mandoo,&  pedindolhc  rcmc- 
mediOjOu  com  orações, ou 
comllieofferecercmhua  mif- 
ía  lhe  alcança  logo  remédio, 
como  íc  vio  em  muitos  que 
neíle  anno  de  634.  &  nos 
paliados  publicarão  efte  mi- 
lagre com  grande  gloria  do  fan 
to  martyr. 

12,  Hú  homem  de  Riba 
deCoalcuaua  hum minino  fi- 
lho feu  doente  em  romaria  ao 
fanto ,  pêra  lhe  pedir  faude  na 
enfermidade  que  padecia.  Mor 
reo  a  criança  no  caminho,  po- 
ré  náo  deixou  o  pay  de  ir  por 
diante :  chegou  à  fepultura  do 
fanto,  proftoufe  diante  cíella, 
offereceolhe  com  lagrimas  o 
minino  morto,pediolhe  vida, 
o  fanco  lha  alcaiíçou  liberal- 
mente ,  &  refucitou  o  defun- 
to com  admiração  de  todos. 
15  Leuando  hum  jorna- 
IcirohiTia  pedra  em  hum  carro 
pcra  a  fepultura  cíofanto,quã- 
do  de  nouo  fe  fazia  ,  queren- 
doa  meter  dentro  da  Igreja  os 
boys  fe  detiueraõ  na  entrada, 
&  agiolhãdo  primeiro  ambos 


feleuantaraõ,  &í  foraõ  cami- 
nhando com  a  pedra  reconhe- 
cendo ,  (k  venerando  a  fanti- 
dadc  do  lugar ,  onde  jazião  as 
reliquias  de  tao  grande  mar- 
tyr. 

14  Outros  muitos  mila- 

gres fe  contão  dcfte  fanto ,  os 
quais  andáo  na  boca ,  òc  na 
memoria  dos  moradores  da 
quellc  lugar,&  dos  outros  vi- 
zinhos, de  que  tiuemos  çn- 
formações  verdadeiras  de  pef- 
foasdaComarca  que  hoje  faõ 
viuas,  &  fentiraõ  emfy,  & 
experimentarão  os  meímos 
milagres. O  fcnhor  Arccbifpo 
de  Braga  Dom  Frei  Berthola- 
meu  dos  Martyres  quando 
vilítaua  a  Parochia  de  Vrros, 
hia  fempre  em  romaria  a  Igre- 
ja ,  &  capella  de  fanto  Apol- 
linariojÃ:  aly  com  o  peito  por 
terra  veneraua  fuás  reliquias, 
&  dizia,  que  ainda  que  não 
foílem  de  algum  dos  fantos 
Apollinares  de  que  fe  tinha  no 
ticia,podia5fer  doutro  do  mef 
mo  nome,  &  de  igual  fanti- 
dade,  como  bem  moftrauão 
os  milagres  que  Deos  Noífo 
Senhor  por  eíle  obraua. 
I  y  Náo  fabcmos  ao  certo 
o  tempo  em  q  efte  fanto  flo- 
receo,&  alcançou  a  coroa  de 
martyrio.LãçamoIo  nefte  lu- 


Z4 


^ar 


272 


í 


Capitulo  LXIII. 


gar  correndo  os  aniios  de  4í^o 
por  cair  nelles  o  Pontificado 
de  Sydonio  ApoUinar  como 
acima  diíTcmos.  Em  cjuanto 
na5  vier  quem  lhe  ache  lugar 
mais  certo,  tcrà  ella  memoria 
taõdciiicíaa  íeus  merecimen- 
tos na  hiíloria  que  imos  te- 
cendo dos  Arcebiípos,  6c  ían- 
tos  de  Braga. 


CAPITVLO  LXiriI. 

C  A   S   r  I  N  O    XXV. 
Arcebifpo  de  B  raga. 


O  R  morte 
do  Arccbilpo 
Idacio  fu ce- 
de o  na  cadei- 
ra   Primacial 


59- 


\ 


iião  loco] 


de  Braga  Caftino  varaõ  muy 
catholico ,  &  religiofo  de  j^rã- 
de  nome,  como  telrimunha 
luliano  dizendo.  Flor ebat per 
h^c  têmpora  CaflinusEpiÇcopus 
Bracharenjis,qiiifuccefsit  Ida- 
tio  anno  494.  fuit  aiir  apprime 
çâtholicus.  Tãbé  nos  dà  noti- 
cia luliano  de  húa  legaciaApo- 
ftolica^q  o  PapaHormifda  lhe 
cometeo  cõítituindoo  Vigai- 
'  rofeunaProuinciaBracharcfe, 


faõ  as  palauras  de  luliano  as  q 

Tc  íeguem.  Cum  Orientis  Ep/f- 

copi  curarirecufarent,  Hormif- 

da    Pontifex  pofuit  Vicários ^ 

loanmm  Epifcopum  Tarraco- 

nenfem  Proiúncufiu  Vicariú^ 

Salv.fiium  B^tic^^tfpartis  Lu- 

Jitanice,  Celfum  Carthãginenjís 

Prouincia  _,  Caftinum  Bracha- 

rejisiiulfetcjj  idem  Pontifex,  iJt 

qui  in  allqua  regione  reperi- 

rentur^  irentcj^  omnes  cum  con~ 

fefsionejidei  Catholico  detesta- 

tioneijj   illorum  errorum,   qui 

tunc  grajfabaníur,  i;j'  omnes 

Catholiciy  qui pergerent  ad  re- 

giones  infeãas  b^rejipro  uiati- 

cofdei  fu^fecum  ferrent  tejii- 

moniafideifiu,  ea^  tabidis  pu- 

bliciefidei  conjignata.  Querem 

dizer:  naõ  querendo  os  Bif- 

p  os  do  Oriente  aceitar  curado 

Papa  Hormifda  pòs  por  Vi- 

gairos  íeus  na  Prouincia  de 

Tarragona  aoBifpo  delia  loaó, 

&  na  de  Andaluzia,&  parte  da 

Lufitania  a  Saluílio :  na  Car- 

thagineníc  a  Ceifo ,  òc  na  de 

BragaaCaftino  :  ordenou  o 

meímo  Pontifice  que  rodos 

os  que  fe  achaíTcm  em  algiáa 

terra  foíTem  cõ  a  confiflaõda 

Fè  Catholica^  &  deteftação 

dos  erros  que  entaõ  auia^  Sc 

que  todos  osCatholicos  ,que 

fofiem  a  terras  inficionadas  de 


hercgias. 


C^Hhw. 


271 


I 


hcregias  Icuallem  por  moftras 
cieíua  Fè  hum  inltrumenco 
delia  firmado  com  autoridade 
publica. 

1  Pêra  entendimento  de- 
itas palauras  de  Iuliano,&  no- 
ticia do  que  por  ellies  tempos 
paíl'aua,&  do  oííicio  de  Vigai- 
ro,  que  o  Papa  Hormifda  deu 
ao  noíío  Arcebilpo  Caílino^ 
^  aos  mais  Metropolitanos 
acima  referidos:  he  de  íaber, 
quctãtoquco  Papa  Hormií- 
da  foi  eleito  Summo  Ponti- 
fice^  vendo  que  eftaua  a  Igreja 
Catholica  muy  affligida,  & 
que  as  heregias  Arriana,(S,:  Eu- 
tychiana  eraó  muy  fauorcci- 
dasdo  Emperador  Anaftaíio, 
&  deTheodorico  em  Itália,  & 
deTracimundo  cm  Africa^tc- 
ue  ordem  com  Thcodorico, 
pcraque  deíTc  calor  a  que  em 
Roma  fc  celcbraíle  hum  Con- 
cilio, em  o  qual  fe  difputaíle 
muy  de  propoíítoa  verdade 
da  Religião  Catholica.  Ajun- 
touíc  o  Concilio,  &  nellc  íe 
condenou  de  nouo  o  erro  de 
Eutyches,&  fe  approuou  ,  & 
confirmou  o  Conciho  Calce- 
donenfe :  &:  porque  hum  dos 
principaes  defeníores  da  herc- 
giaEutychiana  eraloaõPatriar- 
cha  de  Conítantinopla^  man- 
doiio  o  Papa  Hormiida  amo  - 


cllar  que  Ic  aparcaíle  da- 
quellaíeita,  5c  confellaííecm 
Chrilto  Senhor'  Noíío  duas 
naturezas. O  ímpio  Patriarcha 
com  o  fauor  do  Empcrador 
Analtaíío  não  fò  não  obede- 
ceo  à  amoeftação  do  Sumo 
Pontifice  ,  mas  ainda  tratou 
mal  depalaura  aos  Legados  da 
Sê  Apoll;olica,dosquaei  era  o 
principal  Ennodio  Biípo  de 
Pauia  ,miandandolhe  que  lo- 
go fe  íaiílbm  de  Conllancino- 
pla:&  fazcndoos  embarcar  em 
hum  nauio  velho  ,  <í\:  roto,  os 
ameaçou  que  lhe  mandaria 
tirar  a  vida  íetomallcm  por- 
to em  alí?um  lugar  de  Grécia. 
Porem  Deos  que  naocoílu- 
ma  deixar  ícm  caítigo  íeme- 
Ihantes  deíobediencias ,  deu  a 
efte  Ímpio  Patriarcha  o  que 
juftamente  merecia,  porque 
antes  que  Ennodio  chegafle  a 
Itália  ,  deíjpcdio  oCeo  hum 
rayo  fobre  elle,  que  o  abrafou, 
&  lhe  tirou  a  vida  ,  deixando 
com  a  morte  vaga  a  Cadeira 

o 

deConll:antinopla,que  inju- 
ftamentepofluya.  O  mcímo 
cartigo  teue  o  Empcrador  A- 
naftalio,  o  qual  com  igual  fo- 
berba,^  arrogância  reípon- 
deo  ao  Papa  Horm.ifda,  ^  lo- 
go vio  fobre  fy  a  pena,  &  vin- 
gança delia, que  o  Ceo  tomou 


lança  n- 


;74 


Qafitulo  LXIÍII. 


\ 


Baranjo. 
é.  cmi. 

ÍChrifft 
j       i  * 

llhcfc,  U. 

3  •<••;. 


lançado  outro  ray O  com  que 
o  priuou  da  vída,  &c  do  im- 
pério. 
I  3  Neíie  tempo  o  Papa 

Hormiída  como  Paítor  vigi- 
laiitiísim.o  que  era  tratou  de 
acodir  às  igrejas  de  Hefpanha 
preuenindo  osPrelados  delias^ 
peraque  com  cuidado  aren- 
dcííem  a  que  fc  não  íntrodu- 
ziíFe  aigum  erro  em  feus  Bif- 
pados  dos  que  cftauao  con- 
denados pcllo  Concilio_,  que 
mandara  celebrar^  íobre  o  que 
cícreuco  tambcm  varias  car- 
tas a  todos  os  Prelados  dcHef- 
panha  em.  comum,  &  cm  par- 
ticular húaaoBiípo  loaõ  de 
Tarragona,  &  outra  a  Saluftio 
Biípo  de  Seuilha,  nas  quaes  os 
faz  Visairos  ,  ôc  Legados  fcus 
comctêdolhe  luas  vezes  Apo- 
rtolicas  pcra  congregarê  Con- 
cilio^ &  ordenarem  tudo  o  q 
tocaíTe  à  matéria  da  Fé.  Deflas 
cartas  faz  menção  Baronio_,& 
Padilha^  entre  as  quaes  anda 
húa  pcra  todos  os  Bifpos  de 
Hefpanha  com  a  copia  da  c5- 
denaçãodos  hereges  Gregos, 
ôc  formada  Fèpera  com  cila 
fe  guardarem  os  fieis  decair 
em  feus  erros ,  ôc  não  admi- 
tirem a  fua  comunicação  pcf- 
foa  algúa  tocada  delles  fcm  pri 
meiro  os  abjurar,  ôc  fazer  pu- 


blica prohííaõ  da  Fe,  pelio 
teor  da  que  na  carta  lhe  en- 
uiaua.  A  ocaíiaõque  o  Papa 
tcuepcra  mandar  eílc  auizo, 
ôc  caiTtcla  a  Heípanha/oi  por 
virem  a  Africa  muitas  pcííoas 
do  Império  Oriental  inficio- 
nadas pella  mayor  parte  dehe- 
regia,  &  com  animo  deafe- 
mear  pellos  lugares  por  onde 
paílauão  .  Sendo  pois  certifi- 
cado o  Papa  Hcrmifda  por 
íoaõ  Metropolitano  de  Tar- 
ragona ,  que  alguns  Gregos 
vinhãoaHefpanha,&  que  fua 
comunicação,  juntamente  cõ 
a  vizinhança  de  Africa,  podia 
fernociuaaos  HcípanhoesCa- 
tholicos,  ôc  pega  r  lhe  o  mal  de 
que  andauáo  contaminados, 
mouido  com  zelo  de  verda- 
deiro Paílor  o  fanto  Pontífi- 
ce lhe  da  na  carta  que  dilTc- 
mos  faudaueisauifos,&  docu- 
mentos do  que  feria  bemfa- 
zcrfcneíta  matéria. 
4  A  proteitação  ,  ôc  con- 
fiílaõ  da  Fè,que  o  Papa  diz  ne- 
fta  carta  auião  de  allinar  as 
pcííoas  Oricntaes  que  quizcí- 
íem  fer  admitidas  à  comuni- 
cação dos  Hcípanhoes ,  traz 
Baronio,  cujo  treslado  em 
Portuguezdizaíli.  O  que  em 
primeiro  lugar  conuem  fii^er 
pêra  falua cao  da  alma  he  guar- 
dar 


67^. 


CaHino. 


27$ 


d.an./^i'] 


■MÀM 


te, 


dar  a  reç^ra  da  njerdadeira  Fe. 
Í!f  níío  defuiar  dcu  coufas  que 
eflao  decretadcvs  pellos  anti- 
guos ,  nao  deuendo  efquecer  o  q 
Chrijio  Nojfo  Senhor  dijfe  a  S. 
Pedro  tu  es  Pedro ,  i^ffobre 
efta  pedra  edificarei  minha 
Igreja,l:fc.  Proícgue  anathe- 
matizaiido  todas  as  hercgiaSj 
&  conclue  dizendo. £y^  eu  em 
algúa  coufa  tentar  de  me  apar- 
tar deHaprofiJ?ao  eu  mefmo  me 
condeno  lisf  ejiaprofijfao  afsi- 
neipor  minha  maÓ  ^  Í5^  a  enca- 
minhei  ao  Santo  ^  isf  <^enera- 
uel  Hormtjda  Papa  da  cidade 
de  Roma . 

$  Efta  proíàíTaõ  da  Fe  a- 

uiaó  de  fazer  todos  os  eftran- 
geiros,  que  das  partes  Oricn- 
taes  vieííem  3  Hefpanha ,  pcra 
com  cila  como  pedra  de  to- 
que fe  darem  a  conhecer  aos 
Catholicos,&  poderem  fer 
delles  recebidos  afuacõmuni 
cação ',  alem  de  fcr  neíle  tem- 
po ( como  o  notou  Baronio, 
&  aponta  luliano)  coufa  muy 
vfada  cm  Hefpanha ,  quando 
algum  catholico  fahia  delia, 
&  hia  pêra  as  partes  do  Orien- 
te leuar  coníígo  eftà  profiílaó 
da  Fè,  como  triaga  contra  a 
peçonha  das  heregias  que  por 
aqucllas  Prouincias  andauão 
mais  acefas .  Tal  era  a  Fe  dos 


Hefpanhoes ,  taõ  pura ,  &  tão 
viua  naqucUes  tempos ,  que 
verdadeiramente  cnuergonha 
a  frialdade  da  que  le  enxerga 
neftcsnoílos. 

6  Das  cartas  do  Papa  Hor- 
mifda ,  &  do  q  dizé  Baronio, 
&c  Padilha  não  confta  mais 
quede  dous  Vigairos,  ou  Le- 
gados que  o  Papa  fez  em  Heí- 
panha ;  a  faber  loaõ  Biípo  de 
Tarragona  na  meíma  Prouin- 
cia,  &  Saluftio  Biípo  Á^St- 
uilha  nas  Prouincias  de  An- 
daluzia, &c  Luíitania.  A  eftes 
ajunta  luliano  outros  dous 
Legados ,  a  faber.  Ceifo  Biípo 
de  Toledo  na  Prouincia  Car- 
thaginenfe^&  CaftinoBifpo 
de  Braga  na  Prouincia  Bracha- 
renfe-,  &  acrecenta  que  por 
cartas  do  Sumo  Pontiííce  íí- 
zcraóSynodos  em  fuás  Igre- 
jas os  Bifpos  loaõ  de  Scuilha^ 
Afcaniode  Tarragona,  Cafti- 
no  de  Braga,  Ceifo  de  Toledo, 
todos  varões  em  virtudes ,  &í 
letras  eminentiíTimos.  íoan- 
nes  Bifpalenfis  ( diz  luliano) 
Afcanius  Tarraconenjis-,  Caíii- 
ms  Bracharenjís  ^  Celfus  Tole- 
tanm  literis^ljf  fanãitatepr^- 
flantes  Epifcopi frequentes  Sy- 
nodos  habent  infuis  fedibus  li- 
teris  Bormifd^  Pap4. 

7  Dura  a  memoria  defte 

l__l_l_     11-  'III  I  -i  !■     -  -  llfTt» 

cxcellente> 


tH  chroHé 

p4g»6t. 


\76 


Capitulo  LXV. 


cj;irellence,&  fanto  Prelado ,  a 
te  os  -annos  de  524.  em  cjuc 
deuiâfuceder  íún  bcniauentu- 
rada  morte,  porque  no  nieí- 
mo  anuo  achamos  afcu  fuc- 
ccíToT  Valério  como  logo  di- 
remos .  Foi  Arcebifpo  defta 
Igreja  30.  annos^  porque  fcn- 
doeleiro  no  anno  de  494.  mor- 
rcopellos  ânuos  de5Z4.  pofto 
Que  luliano  diga  quefoipcl- 
los  annos  de  jjo,  em  q  ha  ma- 
nifeílo  erro  daimpreílaó,  por- 
que doutra  maneira  fe  en- 
contraria configo  mefmo  lu- 
liano pondo  a  Profuturo  In- 
ce ffor  d€  Valério  no  anno  cm 
que  morreoem  Itália  ElRey 
Theodoríco^  que  foi  o  de  j-ió. 
Era  SummoPontificc  por  efte 
tempo  depois  de  GcIafio^Ana- 
ílaíio,  &  Symacho,  o  Papa 
Hormifda ,  òí  loaôíeufuccí- 
ror,&  soucrnaua  oReino  dos 
Godos  Amalerico.  Dos  Reys 
Sueuos  por  cftes  annos  naõ  ha 
noticia  ;  naõ  mereciaÕ  nome 
porque  o  tinháo  de  hereges, & 
eftaua  todo  ícu  Reino  conta- 
minado com  a  pcruerfa  feita 
de  Arrio. 


CAPITVLOLXV. 

VALÉRIO  II.  D  O 
nome  XXVI.  Arcebifpo  de 
Bm?a. 


E  Valério  II. 
do  nome  não 


remos  mais  q 


as  palaurasdc 
luliano.  Flo- 
rebatumc  Valerius  Epifcopus 
Bracharenfs,  qui  CaBinofuc- 
ctjkrntab  anno  ^^o.  mfanãa 
Sede  Bracharenji.  Florccia  en- 
tão Valério  Bifpo  Bracharcn- 
fe,  o  qual  tinha  íiicedido  a 
Cartíno  no  anno  de  550.  Ia 
diílcmos  andaua  viciado  efte 
algarifmo  porque  dizendo  a  - 
diante  luliano  que  Profutu- 
ro fucedera  a  Valério  no  anno 
da  morte  de  Theodonco  Go- 
do Rey  de  Itália,  comoefta 
foíTc  no  anno  de  ^z6.  bem  íe 
deixa  ver  cahio  a  fuccílaõ  de 
Valério  muitos  annos  antes 
do  de  5  jo.  &  ainda  alguns  pri- 
meiro que  o  de  5x6.  pois  de 
ncccfsidade  lhe  aucmosdedar 
algum  tempo  de  gouerno  an- 
tes 


chrorf 
^ag.6o. 


CbrijU. 

Padtlhn 
cet.b.c. 


Tj-cfíítHro  11. 


277 


m  chyon, 
fug.61. 


tes  (Jc  Profutiiro  feu  fuccf- 
lor.  Dizemos  loro  que  pa- 
rece poderia  Vaicrio  íer  elci- 
ro  peilos  annos  de  quinhca- 
tos  Ôz  vinte  quatro ,  ôc  du- 
rar ate  o  principio  de  quinhé- 
tos  Ã:  vinte  ímco,  em  que 
foi  3  gozar  da  bemauenturan- 
ça  no  Pontificado  do  Papa 
Félix  JI II.  do  nome  íuceííor 
do  Papa  loaõ,  Reinando  em 
Hefpanha  Amalaríco. 


CA  PITVLO  LXVI. 

PROFFTFRO    II. 

do  nome  XXVII.  Arcebif- 
po  de  Braga. 


A  M  B  E  M 

elle  íanto  Prc 

lado  íc  logrou 

pouco  no  Ar 

cebiípado:foi 

rcebiípo  de  Tar- 

raeona  íucedeo  a  Vaicrio  no 

o 

anno  de  quinhentos  &  vinte 
finco ,  &  pouco  depois  mor- 
reojdellcefcrcueoluliano.  jPro- 

futurus  Archiepifcopus  Tar- 
raconenfisfuccedit  Valeria.  A- 


prmieiro 


I  ciniadcixaniosaucriguado  não 
j  fer  erte  (como  algús  cuidara  õ) 
o  ProfutLiro  de  quem  fala  o 
primeiro  Concilio  de  Braga 
entre  os  impreílos .  Gouer- 
naua  por  elle  tempo  a  Igre- 
ja de  Deos  o  Papa  Fclix  IIII, 
&  rcinauaem  Helpanha  Ama 
laríco. 


CAPITVLO  LXVII. 

SANTO  AVSBER- 
to  XXVIII.  Arcebifpo  de 
Braga. 


Oraõ  taõ  a- 
preíladas  as 
mortes  dos 
dous  Prela- 
dos Valério, 
&  Profuturo  ,  de  que  tra- 
tamos nos  capitules  palia- 
dos ,  que  ambos  naõ  che- 
garão a  ter  hum  anno  de  Pre- 
lazia nefta  Cadeira  de  Bra- 
ga ,  &  afsy  não  ouue  tem- 
po pêra  delles  nos  ficar  al- 
gija  memoria.  Sucedeolheo 
illuftre,  &  fanto  varaõ  Auf- 
ucrto  ,  ou  Aufberto  Fra-- 
mengo  de  nação  ^  ao  qual 


•5í«-4 


Aa 


lendo 


171 


Qãpitulo  LXVIL 


Maityr. 
13.     de 

VfMrd. 
tod.die. 
Baron.iH 

KOt 


íendo  cílrangciro  deraõ  íuas 
pcrcízrinas  virtudes  ella  Ca- 
dcira  Primacial  de  Braga,  &í 
depois  foi  pregar  a  Fiandes, 
onde  niorreo  deixando  de  íy 
illu  lhe  nome,  &  com  riculo 
de   Apollolo  daquella   Pro- 
uincia .  lie  venerado  em  coda 
ella. Fazem  memoria  deite  ían- 
to   Prelado  o    Martyrologio 
Romano  ,  &  o  de  Vfuardo, 
Baronio,  Molano ,  ò>:  outros 
muitos  que  refere,  os  quacs  o 
nomeaõ  porBiípode  Cam- 
Moia.  m  bray  :Iuliano  ,  Marco  Maxi- 
miaitfm  j^q     Pcdro   Cabilon,  o  Bif- 
cemh.       po  Equilino ,  rrei  Prudencio 
Eqmhno.  Jg  Sandoual,  leronymoRo- 
' '^■^'^^'j  man  delaHiguera,  o  Padre 
I  Coime  de  Magalhães  nos  lu- 
MagaU  gares  que  adiante  referiremos, 
*r/r'^r''  &  o  Cataloeo   anci^uo  dos 
\no  íimo  \  Arcebiípos  deita  Igreja  o  no- 
\àosAnjas  nicaó  pot    PrcIado  delia,  &: 
não  ha   duuida  que  o  foi,  & 
queiucedeo  nella  por  morte 
deProfuturo,  como  diz  ex- 
preflamente  luliano  com  as 
palauras  íeguintcs.  Eodeman- 
no  Pro futuro  Bracharenji  fiic- 
cedit  Aufuertus-uir  egregiepe- 
rltus  ,  if/fanãus  in  Sede  Me- 
tropolitana Bracharenfi.  Chá- 
malhe  luliano  nelle  lugar  muy 
douto,  &  muy  iantocomo 
realmente  o  era. 


Chren. 


\rí 


61. 


2,  Tanto  que  foi  eleito 

Arcebifpo  de  Braga ,  logo  no 
meímoannoteue  h.m  reuela- 
çáo  do  Archanjo  Saõ  Miguel 
peraque  lhe  cdiíicaíle,  &  con- 
lagrailchum  templo  no  Rei- 
no de  Galiza  na  Ilha  Tum- 
ba, hoje  Tambo  defronte  do 
Padraõ,  a  cuja  coníagração  af- 
liítiraò  osBilpos  íeus  fuítraga- 
neos.  DodeTuy  no  lo  certi- 
fica Sandoual  nas  Antiguida- 
des daquella  igreja  .  iVíarco 
Máximo  põem  eita  dedicação 
cõ  as  palauras  ieguintes.  Auf- 
bertus  Bracharenjis  Epifcopus 
à  Diuo  Michaele  Archangelo 
diuinitus  admonitus  in  injula 
Tumba  prope  maré  Gallaicum, 
nec proculà  Britânico  templum 
cumfuffraganeisMichaeli  dedi- 
cat.O  mcímo  afíirma  qualí  cõ 
as  mcímas  palauras  Franciico 
Maurolico. 

3  De  hija  embaixada  ce- 

lebre nos  da  noticia  Marco 
Máximo  que  fez  a  França, 
pouco  depois  de  eleito  Arce- 
bifpo por  mandado  daRainha 
Crotildes  molher  de  Amala- 
ríco  Rey  dos  Godos ,  a  dar 
conta  aos  Reys  de  França  icus 
irmãos  dos  aggrauos  que  re- 
cebia de  feu  marido  Amalari- 
co  por  conicruara  Religião 
Catholica  em  que  fora  criada. 


Sand. 


Chr»n. 

foi.  1.82. 
verj. 


17  Cíí/f, 
Noutm. 


Santo  Aíisherto. 


279 


Mt-àÍAX 

in  chron, 
vi.  lá^ 


T  IH 

1/. 


B.tron.tc, 

FMlíl.Ut 


As  rczocs  que  ouue  pêra  fa-  | 
ztr  o  nofib  íanto  eila  cm-  j 
baixada  ,  ôc  ler   eleifo  pêra  I 
cila  aponraremos  adiante.  O  ! 
lugar  donde  nos  conlhi  que  | 
elle  a  fez  he  de  Marco  Máxi- 
mo, que  diz  afsy.  Ausbertus 
Bracharenfs   Epifcopus    ijir 
ecreo-ius  literis,  prudentia ,  tf 
rdi-y'wne  ,  à  Regina   Crotdde 
Amãlaríci  Regis   Vuijegotho' 
rum  htereticiconiuie  Catholica 
Ic^ãtus  ad  fratres  eius  Gallo- 
ríín^  Rezes  fecretò  mittitur  eo- 
d(m  nmpore.   Querem  dizer 
no  nicímo  tempo  Aufberto 
Bilpo  de  Braga,  varão  abali- 
zado cm  letras  j  prudência^  & 
Religião  foi  embaixador  a  Fra- 
ca mandado  em  fegredo  pella 
Rainha  Crotildes  Catholica^ 
molherde  Amalaríco  herege 
Rey  dos  Vuifegodos  com  re- 
cado a  fcus  irmãos  Reis  de 
França. 

4  A  caufadefta  embaixa- 
da, &  o  íim  pcraque  fe  fez, 
òc  lucefloque  teuehe  neceíía- 
rio  referir  peraque  íe  entenda 
melhor  .  Prccopio,  &  Gre- 
gório Turonéíe  referidos  por 
Baronio  ,  &  Padiiha  contaõ 
que  Amalaríco  Rey  de  Hef- 
panh3,«S<:  de  Gália  Narbonen- 
íe  por  poíluir  pacificamente 
as  terras  que  tinha  em  França 


cafou  com  Crotildes  filha  de! 
R.cy  Clodoueo,  que  fui  o  pri- 
meiro Chriítaõ ,  que  ou  ue  na- 
quclla  Prouincia  •,  o  qual  an- 
tes de  morrer  partio  o  Reino 
entre  quatro  filhos  qiie  ti- 
nha Childcberto,  Clotareo^ 
Theodcríco,  6z  Clodomi- 
ro.  £ra  Amalaríco  Arriano, 
&  Crotildes  Catholica  5  da 
difPerença  da  religião  nacco 
a  diícordia  ,  &  ódio,  &  era 
tão  grande  o  que  A^malaríco 
tinha  a  íua  molher  que  a  tra- 
tauacom  palauras  muyafron- 
tofas  ,  &  íaindo  a  Rainha  pê- 
ra ouuir  m-ilía  ,  <5>:aí]iftiraos 
oíficios  Diuinos  nas  Igrejas 
dos  Catholicos  lhe  manda- 
ua  o  herege  Rey  lançar  cou- 
fas  im mudas  pcra  a  affligir ,  & 
injuriar  ;  Sc  chegou  a  taleftrc- 
mo  o  ódio  ejue  lhe  tinha,  & 
crueldade  com  que  a  trataua 
que  hum  dia  a  ferio  deirja- 
neira  que  a  Rainha  laftima- 
da  eniopou  hum  lenço  em 
fangueque  corria  das  feridas, 
&  o  mandou  a  feu  irmão 
Childeberto  com  queixas  das 
injurias  ,  6í  defprezos  com 
que  leu  marido  a  trataua. 
Ell:a  embaixada  leuou  o  ían- 
to Prelado  Aulterto,  como 
afiirraa  Marco  Máximo,  ain-  ufoUZ^ 
daque  Procopio  ,  Gregório  1 


Aai 


T 


uro- 


2HO 


Capitulo  LXVII. 


Turonenfc  ^  Baronio ,  &  os 
mais  aucores,quecontaõefte 
caíonáo  nomeao  o  embaixa- 
dor delia. 

$  Chegado  o  fanto  Pre- 

lado  a  França  deu  conta  do 
negocio  a  que  hia ,  òc  enfor- 
mou a  ElRey  das  afrontas  que 
padecia  a  RainhaCrotildes  lua 
irmã,  dandolhe  claras  moftras 
delias  no  lenço  tinto  cm  fan- 
gue  ,  que  lhe  aprefentou ,  o 
qualeftaua  pedindo  vingança 
das  injurias  que  a  Rainha  pa- 
decia por  fer  catholica,  &:  ver- 
dadeira chriftã.    Tanto  que 
ElRey  Childeberto  vio  o  len- 
ço banhado  em  fanguCjtS:  ou- 
uio  as  eflicazes    rezoês   com 
queSãto  Aufberto  o  perfuadia 
a  logo  acodir  ao  perigo  emque 
eftauaa  Rainha  fua  irmã  por 
conferuar  a  pureza  catholica, 
cheo  de  paixão,  &  defejo  de 
vingança  ajuntou  hum  gran- 
de exercito  ^  òc  com  elle  veo 
a  Hcípanha.    Gregório  Tu- 
ronenfc ,  a  quem  fegue  Baro- 
nio, diz  que  Childeberto  paf- 
íou  de  França  aHefpanha  com 
fua  gente ,  òí  chegou  a  hua  ci- 
dade mí^ritima,  onde  eftaua 
Amalaríco,  o  qual   vendofe 
fem  as  forças  necelíarias  pêra 
refiftir  ao  poder  com  que  vi- 
nha contra  elle  o  Francês  fcu 


cunhado  ,  determinou  fuçir 
por   mar ,  &  apreílandoo  o 
medo,  ò  deteue  a  auareza,por- 
que  cílando  ja  pêra  íe  embar- 
car  lhe  lembrarão  certas  jo- 
yas  de  muito  preço,  que  lhe 
ficauaõ  no  thezouro  que  dci- 
xaua ,  &   tornando  à  cidade 
pêra  as  tomar  ,  &  leuarconlí- 
go  achou  que  Childeberto  a 
tinha  ja  entrado  ,  &  cftaua 
íenhor  delia  j  &  não  podendo 
entrar  na  cidade ,  nem  tornar ' 
íecom  íegurançaaomar,  en- 
tre aperto ,   &  defeiperação 
fc  acolheo  o  miferauel  here- 
ge ao  fagrado  de  hiía  Igreja 
dos  Catholicos,  parecendo- 
Ihe   que  aly  poderia  elcapar 
comvida.  Porem  não  per mi- 
tio  Deos  que  a  Igreja  valef- 
fe  a  quem  tantas  vezes  a  ti- 
nha profanado ,  &  perfcgui- 
do ,  &  antes  que  Amalaríco 
entraíTe  nella    lhe  deu  hum 
foldado  húa  lançada,  com  que 
acabou  mifcrauelmentc  a  vi- 
da .  Eflc  fim  teue  o  maldito 
herege  perfeguidor   da  Re- 
ligião Catholica ,  &  da  inno- 
cente  Rainha  Crotildes,  po- 
ftoque  Procopio,  ík  fanto  líl- 
doro  referem  o  fuceílb  doutra 
maneira. 

6         Profeguindoo  Francês 
a  vitoria, que  felifmente  ouue 


contra 


.»**■ 


Santo  Aust;€rto. 


ifttn^'ita,Sá'fi^MrJ^ 


âáí 


contra  o  herege  icu  cunhado 
c  defpojou  de  iuâs  riquezas_> 
6:  mczouros ,  &c  com  elles,  de 
íi:a  irn^ã  íc  tornou  vkorio- 
ío  pêra  França,  No  caminho 
mcrreo  a  cathoiica,  &c  rcU- 
gioía  Rainha  Crotildes,&  toi 
enterrada  em  Paris  junto  a  feu 
|.^y  Clodoueo .  Entre  outras 
peças  ricas ,  &c  de  muito  pre- 
ço, que  auia  no  thezourode 
Amalarico  achou  Ghildcbcr- 
toíeflèntacahces,  &  quinze 
patenas  todas  de  ouro,  &  pe- 
dras precioias,&  outros  vazos 
do  culto  Diuino  riquiilmios; 
os  quaes  mandou  repartir  pcl- 
ias  Irrcjas  de  França. 
7  Cite  rol  o  íucefloda 

embaixada,  que  fez  o  nolío 
fanto  Prelado:  pêra  a  qual  de- 
uia  íer  cfcolhido  pella  Rainha, 
ais y  pella  autoridade  da  peííoa, 
6í  dignidade  ,  como  pcUas 
muitas  letras ,  d>í  grande  zelo 
que  tinha  de  acodir  pella  Reli- 
gião ,  &:  Fè  Catholica:  ao  que 
íeajuntaua  íer  Framengo  de 
nação,  vizinho  do  Rcyno  de 
França  ,  &:  quaíí  natural  dclle^ 
&  por  ventura  que  vicíle  a 
ríclpanha  com  a  Rainha  ^  & 
aísy  Goncorriaó  muitas  rezoes 
pêra  ícír  preferido  neíla  embai- 
xada a  todos  os  mais  Prelados 
defeus  Reynos. 


8  Goncluido  com  tào  proí- 
pçrofucèílb  eíU  negofeio  Te  re- 
colheo  Aufbercoà  lua  ígic- 
ja,  onde  fua  muita  chatidÃdej 
Ã:  zelo  da  íahiação  das  alnias 
o  meteo  noutro  mayor,  Rci- 
nauãocntaõ  ipor  todoòRti- 
no  de  Galiza  os  dcfuaríos^  & 
heregias  Arrianas,  porque  co- 
mo osReis  Sueuos  eílauao  in- 
ficionados delias  ieguíaõ  os 
membros  a  cabeça  j  &  os  vaí- 
íalos  ao  fenhor ,  &  afsy  erà  o 
remédio  difiicultoío.  Prègauà 
o  fanto  Prelado  contra  a  maU 
dica  feita,  moftrando  a  ceguei- 
ra em  que  andauáo  os  que à  fe- 
guiaõ  3  òc  perfuadindo  com 
rezoes  viuas  que  àbrclçaífeni 
a  verdadeira  Reli^ziaõ  Githoli- 
ca ,  fora  da  q liai  íe  não  podiaò 
faluar  i  Tanto  pocíeõ  exem- 
plo da  vida  3  &  torça  do  efpi- 
ritocom  que  prcgaua  qaba- 
lou  o  coração  S.o  Rey  3  & 
mais  peíloas  da  cafl  Real  ^  os 
quaes  conucr tidos  a  Deos  em 
humConcilioj  que  logo  por 
or Jem  do  meímo  Rey  fez  a- 
juntarofanto  Prelado  abju- 
rara 5,  &i  Jcteílaràõ  íolcniie- 
mente  í1  hercgià  Arrianà  èm 

o 

que  ate  encaõ  Viucrao:  &  fi- 
zeráó  húa  publica  fcoiífííTaó 
daFèi  primeiro  ò  Réy  í  & 
Rainha,  depois  feu  filho  Âria- 


Aa3 


inirol 


282 


Capitulo  LXVIL 


in  chro». 


mirOjlogo  os  Bifpos  hereges, 
ôc  após  elles  os  nobres,  ôc 
cortezaõs  do  paço^aqueip.  fe- 
guiraóo  vulgo,  ôc  gente  po- 
pular .  Aponta  Marco  Máxi- 
mo que  foi  efta  conuerfaõ  no 
annoclej3i.  &  ajunta  queà 
imitação  delia  fez  depois  ou- 
tra abjuração  femclhante  em 
Toledo  ElRey  Rccaredo  com 
as  mefmas  cercmonias  dcte- 
ftandoafeita  Arriana.  Saõ  as 
palaurasde  Marco  Máximo  as 
quefefeguem.  TuncSueuorú 
jitfohnnis  renunciatio^l^f  abiu- 
ratio  hterejts  Ariana ,  iif  Jídei 
confefsio,  njt  pofl  faãa  eftjub 
Reccaredo  Rege  Gothorum  Ca- 
tholico  Toleti  cum  eifdem  c^e- 
remonijs.  ^bmrauerunt  primú 
Rex ,  llf  Regina^isf  Ariamirus 
eorum  Jilius  ,  deinde  h^retici 
Epifcopi  ,poH  Palatini ,  ljí'po- 
pularesin  Concilio,  quodcolle- 
git  Regis  império  Ausbertus 
Epifcopus  Bracharenjis  ante- 
quamproficifceretur  in  Belgiú 
cum  alijs  Epifcopis.  Querem 
dizer  o  que  ja  temos  referi- 
do. 

9  Deftc  Concilio,  que 

por  ordem  delRcy  fez  ajun- 
tar o  Arccbifpo  Auíbcrto, 
naõ  temos  Cânones,  ou  De- 
cretos alguns ,  nem  por  ven- 


'tura 


os  aucria. 


porq 


uc 


fófc 


cõgrcgou  pêra  a  prcfiííaõ  da 
Fè,q  de  nouo  faziaõosReis,& 
Reino  dos  Sueuos.  Naõ  nos 
conrta  quacs  foílem  eftes  Reis 
nem  como  fe  chamauáo,  & 
a  rezão  he  porque  do  tempo 
dei  Rcy  Rimiímundo  ate  a 
entrada  de  Theo^míro  no 
Reino  dos  Sueuos,  que  foraÕ 
quaíí  cem  annos  ^  paflaõ  os 
Autores  com  tanto  filencio  as 
coufas  daquelle  Reino,  quené 
da  fuceílaò  dos  Reis,  néain- 
da  dos  nomes  delles  fe  lem- 
brarão 5  como  fe  ve  de  Jor- 
nadas, Santo  líidoro,  ôc  da 
Chronicados  Oftrogodos re- 
feridos por  frei  Bernardo  de 
Brito  i  &  Laimundo  que  mais 
fc  cftende  nefta  matéria  naõ 
faz  mais  que  referir  os  nomes 
de  alguns  ,os  quaes  fe  naõa- 
chaõ  em  outro  autor  :  faó  fuás 
palauras  as  que  fc  fcguem  ,  as 
quacs  trás  frey  Bernardo  de 
Brito.  Multis  deinde  Suetiorum 
Regibus  in  Arrianam  h^erejirn 
permanentihus,  pojl  Theodulu, 
Varamundum^  Mironem,  Pha- 
ramirum ,  ^  alios ,  tandem 
RegnipGtefiatem  Theodimírus 
ftifcepit.  Querem  dizer  depois 
difto  permanecendo  muitos 
Reis  dos  Sueuos  na  heregia 
Arriana  depois  de  Thcodulo, 
Varamíido,  Miro,Pharamiro, 

'  & 


,p  mon. 


d. ca 


tp.io. 


Santo  Aii-herto. 


2%l 


&  oucros,finalmentca  Theo- 
dimíro  veo  o  fenhorio  do 
Reino.  Parece  que  foi  iítoju- 
íto  caíti^o  de  Dcos  dado  em 
ratisfaçáode  íua  perfídia  herc- 
tica^em  a  qual  depois  defta  ab- 
juração tornarão  a  cair  ate  o 
tcpo  dei  Rey  Theodimíro,  o 
qual  com  a  pregação ,  &  dou- 
trina de  Saõ  Martinho  de  Du- 
me  abjurou  a  hercgia  Arria- 
na  ,  &  abraçou  com  todos  os 
Suenos  a  pureza catholica  co- 
mo diremos  cm  íeu  lugar. 
IO  Naó  labemos  fe  logo 

depois  deíle  Concilio ,  ou  al- 
^11  ns  tempos  adiante  deixou 
Santo  Aufberto  íua  Igreja, 
por  ir  pregar  a  Flandes  donde 
era  natural.  O  certo  hc  que 
elle  emprendeo  efta  jornada, 
&  ao  que  parece  feria  por  Di- 
uina  reuelaçaó^,  como  acon- 
teceoaíaó  Narciíío  com  a  de 
Alemanha.  Temos  nefte  par- 
ticular o  teftimunho  de  Mar- 
co Máximo  que  diz  aísy.   Idi 

irt  chron. '  ^'^^'t^KÍ^^^  ^  legatiOM ,  acl  Belgiú 
foi  183.  parriam  reuertitur ,  i^pradi- 
cans  ibidem  ,  eius  gentis  ba- 
be tur  Apojlolus  adannum^i  i . 
Q^r  dizer ;  tornado  Aufber- 
to da  embaixada  foi  a  Flandes 
fua  pátria ,  ôc  pregando  nella 
hetido  por  Apoftolodaquel- 
lagentepellos  annos  de  531. 


A  vida  dcfte  fanto  breuemen- 
te refere Molano  3*3.  de  De- 
zembro, &:  diz  que  em  Cam- 
bray  fe  celebra  o  tranfito  de 
Auíberto  Bifpo  da  mefma  ci- 
dade raro  em  virtude  ,  &  fan- 
tidade,  em  cujo  tempo  a  Igre- 
ja que  lhe  foi  entregue  gran- 
demente florcceo  :  diz  mais 
que  refplandeceo  em  tempo 
de  Dagoberto  infigne  Rey  de 
França,  fendo  Sacerdote  de 
vida  muy  approuada,  &  q  em 
feus  dias ,  ík  com  fua  prega- 
ção começou  marauilhoíà- 
mcnte  a  floreccr  a  Religião 
Chriftã  na  Prouincia  deHe- 
nao,  &  que  teue  nella  por  di- 
cipulos  a  Laudeiino ,  6c  a  ou- 
tros varoés  Apoftolicos  com 
cuja  pregação  começou  a  Pê 
Catholica  a  refplandecer  por 
codaaquellaProuincia,  Laíli- 
mafe  deauer  poucanoticiada 
vida  defte  Santo ,  &  naó  fica- 
rem delle  outras  memorias : 
diz  finalmente  que  foi  fepul- 
tado  na  Igreja  de  fa5  Pedro, 
que  hoje  elH  dentro  dos  mu- 
ros da  cidade  de  Cambray  ein 
Flandes,  &  fe  intitula  A  bba- 
dia  de  fanto  Auíb  erto.  Cele- 
braíe  feudiaa  13.  de  Dezem- 
bro,em  o  qual  o  põem  oMar- 
tyrologio  Romano  :  obra 
Dcos  Noílb  Senhor  por  cllc 


Aa  4 


muy  tos 


2  84 


£aj}ití/Jo  LXVII: 


4tt  c.ãt 


■foi    Í9Z. 


muytos  milagres  •.  Contiíc  j 
cnrre  os  Biípos  de  Cambray^ 
&  aísy  o  noir.ea  Mcbiio ,  ói- 
*n  p-efa»:  ^ti^ào  <n\re  coíiuertco  a  Pro- 
fituLiii»-,  uiHCia  ríc  Haiinoiíia  (íjue  ago- 
ra íc  chama  Henao )  à  Fe  de 
CimíloS.  Nofib. 
11'^'  O  Padre  íeronymo 
R^ornan  dela  Higuera  cm  húa 
cavra,(pe  eícreueo  a  Ga! par 
Aludires  LouZada  rcpolla  de 
ouri-a^  cm  que  foiconlulcado 
ícbre  antiguidades deíla  íanra 
*I-greja  ,  a  qual  eílà  lançada  r-o 
pl'imciro  tomo  dos  liuros  aii- 
thenticos  do  cartório  delia  ^  te 
piera  fy  queefte  fantoAuft  er- 
ro Biípo  de  Cambray ,  3c  pre- 
gador Apoílolico  da  Prouin- 
ciadcHcnao  hconolío  Au- 
íhctto  Arcebiípo  de  Braga. 
Prouaõcom  as  rezoés  que  re- 
feriremos tiradas  da  mcAiia 
carta  nó  heípaiihol  em  que 
eflaó.  Depois  de  apontar  a  no- 
ticia q  ha  da  vida  deílcíantOj 
trazendo  às  palauras  de  Marco 
MaximOj&  deMolano  nos  lu- 
gares referidos  diz  nisy.Deaqui 
colijomtichdi  cojlts^  loprimero^q 
mfefahe  bien  lauida  dejlefdn- 
tú  ,  como  parece  fue  Prelado  de 
Braga  ^y  paru  uluioenFIã- 
des :  lò  fegundo  que  predico  m 
Flandes  ,y  en  ejpecial  en  Cam- 
bray, y  hi-z^  grandíproutcho  en 


tampo  de  Dcgoherto  hijú  de 
Cíofario,j  nieto  de!  gr íi de  Clo- 
dmíeo ,  )'  qiíeja^e  en  Camhraj\ 
y  es  Janto,  aqui  tenenros  que  cl 
Bracharenfe  pajTo  a  Flandes: 
tenemos  que  predico  en  Cam- 
bray ,  que  fue  en  los  tiempos  de 
los  hijos  de  Clodoueo  ,  quatro 
hermanos  ^y  hennanos  de  Cro- 
tilde  hija  de  Clodoueo^  qtie  esltí- 
uo  anos  en  Flandes  :  la  concur- 
rencia  de  los  tiempos  es  la  mif- 
ma ,  'i)no  el  nombre ,  fin  que  por 
esios  tiempos  fe  baile  otro  Auf- 
berto  en  ningun  autor  fino  ti 
Bracharenfe.  E  depois  dcrcf- 
ponder  adiias  difficuldades,  q 
mouc^qual  foi  a  rczão  porque 
deixou  luas  ouelhas,  òc  aqué 
as  encarregou  continua  di- 
zcndo»  T  nofe  marauilleij.m. 
qifenofe  baile  fino  en  Primo 
ObifpoCabilonenfe.,y  en  Ma.xi~ 
mo  q  Ausberto  fuejje  Ar^obifpo 
de  Braga ,  y  fe  baile  tn  otros 
que  fue  en  Cambray^  que  afsia- 
contece  a  autores  -,  que  llaman 
aS.Dionyfio  Obfpo  de  Athema^ 
ctros  de  Paris.  Direa  i^.m. 
mifentimientOj  que  yo  tengo  ai 
de  Cambray  ,  y  ai  de  Braga 
por  njno  ,jv  afsi  lo  ejcriuo  por 
las  ra^nes  dicbas,  que  a  mi  po- 
bre jui^iofon  de  harta  fuerca., 
Ciber  dei  que  predico  en  Cam- 
bray,que  esluuo  enFl  andes  ^que 

con- 


Santo  Ausherto, 


285 


concurrio  con  Dagoberto ,  que 
dexo  Obifpo  enfu  lugar  en  Bra- 
ga ,  quefe  ha  de  pedir  Jino  de' 
monjlracwnes  de  Euclides ,  que 
en  ejhts  matérias  nofe  admiten^ 
ni  entre  cuerdosfepiden  ,fegun 
lo  qual  tengo  a  eíiepor  elSanto^ 
que  pone  el  Martyrologio  Ro- 
mano a  i^. de  Dec^cbre, ^m2.\s 
abaixo  conclue  dizendo.  T  es 
bienprobable  que  por  la  deuo- 
cion  que  tenia  a  S.   Pedro  de 
Ratesprimero  Arfobifpo  Bra- 
charenfe  pu^ejfe  nobre  àquel- 
Ia  Iglefia  de  S.Pedro,  que  llamá 
Molano  Sanãi  Pètri^quejifue- 
ra  delprimero  Pontífice  Roma- 
no aríadiera^Principis  Apojlolo- 
rum.Qom  eltas  conjeicuras,&: 
outras  tem  por  certo  efte  gra- 
ue  autor  íer   o  noíTo   fanto 
Ausberto  o  mcfmo  que  pre- 
gou em  Cambray,&:  foi  Biípo 
daquella  cidade. 
IX       G  raiide  autoridade  tem 
os  elcritos  do  Padre  lerony- 
mo  Roman ,  &  muito  credi- 
to fe  deuea  fuás  opiniões  j  po- 
rem nefta  o  não  podemos  fe- 
í^uir,  porque  feconuence  de 
feus    mefmos  fundamentos 
nãofer  o  Auíbcrto  Bifpodc 
Cambray  de  que  fala  Mola- 
no em  leu  Martyrologio  a  13. 
dê  Dezembro ,  o  mefmo  que 
o  noílb  de  Braga  ^  porque  ú 


noflo,conformea  Marco  iMa- 
ximo,  luliano,  &:  Sandoualj 
floreceo  pcllos  annosde  jji. 
nos  quaes  paílbu  a  França  cõ 
a  embaixada  que  aucmos  refe- 
rido, 6c  tornand-o  a  Flandes 
fua  pátria  pregou  ^  &:  conuer- 
teo  nella  os  moradores  de  Hã- 
nonia  :  o  outro  Santo  Auf- 
berto  floreceo  cem  annos  de- 
pois no  têpo  dei  Rey  de  Fran- 
ça  Dagoberto  filho  de  Clo- 
tarioll.  o  qual  reynou  deza-^ 
féis  annos, &:  morreo  noanno 
de  646.  como  affirma  Molano 
dizendo.  Dagobertus  Clotarij 
filius  regnat  annis  fexdecim  mo- 
rituranno  (í4(;/No  anno  fe- 
guintc  de  647.  põem  fua  mor- 
te Baronio  feguindo  a  Aimo-^ 
ino  :  donde  confta  cuidentc^ 
mente  que  não  podiaó  eíleá 
dous  Auíbertos    ferhum  fò, 
pois  entre  o  tempo  de  hum, 
òc  outro  correrão  largos  cem 
annos.  Engainouíe  leronymo 
Roman  com  o  Clotario  de 
quem  era  filho  Dagoberto, 
porque  auendolhe  de  dar  por 
pay  ãClotario  II.  do  nome,nc 
to  deChilpcrico,&  bifneto  de 
Clotario  primeiro ,  lhe  foi  dar 
a  eftc  feu  bifauô ;  &  queni  ad- 
uirtir  bem  neftes  dous  Clo- 
tarios, facilmente  julgara  com 
noíco. 

Com 


I»  recapt 
tuUt.cj. 


tomZ.*n 
naU  anu. 


1    l-í  >— 


2S6 


Ccipitulo 


LXVIIL 


}  13  Com  eíle  argumento 

da  ordem  dos  tempos,  cjue  hc 
muy  forçoío,  fe  desfazem  to- 
das as  conjeituias  contrarias, 
<Sj  fica  ccirendo  com  euiden- 
cia  que  o  nolío  íanto  Arce- 
biípo  fíorcçeo  em  tempo  do 
primeiro  Clotario   íiiho  do 
grande  Clodoueo,  6í  irmão 
de  Crotildes,  cuja  embaixada 
eileleuGu  a  França,  &  naó  no 
de  Clotario  ÍI.  do  nome  pay 
deDaejoberto    quando  viuia 
Tanto  AufbertoBiípode  Ca- 
bray,  comofe  prouadeMo- 
lano,  «5^i  o  temos  molbado.  O 
certo  he  que  pregou  em  Flan- 
òits  comoaííirm3MaximOj& 
fez  srãde  fruto  fua  precação. 
Nao  nos  çoníta   íc  tornou  a 
Braga,  mais  cuidamos  mor- 
rco  era  Cambray ,  èc  ellà  en- 
terrado na  Igreja  de  faõ  Pedro, 
&  faz  os  milagres ,  que  apon- 
ta Molano.  Por  ventura  íaõ  as 
obras  deíle  iníigne  Prelado  as 
que  fe  atribuem  ao  outroAuf- 
bçrto  Bilpo  de  Cambray,que 
foi  c&m  annos  adiante,  por  fe 
ter  delle  mais  noticia ,  &:  muy 
pouca  do  noíTo  fendo  o  Apo- 
íuoíode  Flandes,  &  a  quem 
todas  squellas  Prouincias  de- 
uem  a  luzido  (agrado  Euangc- 
Iho.;  Duri  fua  memoria  te  o 
annode  ^ji.  Tinha  porcílc 


tempo  o  Sumo  Pontificado  o 
Papa  Bonifácio  II.  fuceííorde 
Félix  íni.&  era  ReydeHef- 
panha  Amalaríco. 


CAPITVLOLXVIÍI. 

IV  LI  A  N  O  I.  DO 
nome ,  l^  XXIX.  Arcebif- 
po  de  Braga. 


í$tm^^ã  O  K   morte 
I  ^?Í  te)|%  de  fanto  Auf- 
*^a  WM^S^    berto,ou  pcl- 
pju  la  auzcnciaq 
!^^  fezdeíualgre 


ja  pcra  França  (  como  quer  o 
padre leronymo  Romã  na  car- 
ta referida  no  capitulo  atraz) 
lhe  fucedo  naPrimazia  de  Bra- 
ga luliano  Arcebifpo  de  Tole- 
do,o  qual  pellos  annos  de  53 4. 
tinha  íocedido  naquella  Igre- 
ja ao  fanto  Prelado  Montano. 
Dà  teftimunho  deita  íucefsaÕ 
o  Aciprefte  de  Toledo  luliano 
àizcaáo.Sanão  Pontijici  Auf- 
bertofiiccedit  infede  luUanus 
Toíetantis.,regncibat  túc  Thctt- 
dis,quifuccejierat  in  folio  Go- 
thonim  Amalaríco  .Qncx.ái'Ltr. 
fuccdeo  ao  íanto  PrcladoAuf- 
bcrtoíuliano  Bifpo  deToledo, 


laliati, 
Chrc.fag 
61. 

DÕ  lho- 
m.ii  7  A' 
ma)  o  \tr 
dad,  de 
Dcxt.fd, 

PadilhA 
fio  CmaI. 
dcsAree- 
bifpcs  de 


revnaua 


luliano  L 


287 


trafl. 
prtm 

h.c. 

Z.9. 


rey  naua  enta.õThaidis,ò  qual 
lucederano  Rcyno  dos  Go» 
dos  a  A  malaricOj&  logo  abai- 
xo diz  que  ÍLiliano  o  qual 
auia  íuccdido  na  Igreja  de  To- 
ledo a  Montano  toi  creslada- 
do  a  Braga.  lulianusfuccejjèrat 
in  Sede  Toletana  Montano^  ne- 
cefsitatls  canja,  maximlj<euic~ 
tibus  PrifciUianiftis ,  transla- 
tus  efl  Bracharam.  Icronymo 
Roman  na  carta  referida  no 
cnpirulo  atraz  tem  pêra  ly  que 
eíte  Juliano  foi  primeiro  Ar- 
cediago de  Braga  •,  Ôc  que  nel- 
la  ficou  eleito  por  Arcebiípo 
pellu  auíencia  de  íantoAuf- 
berto,  &  que  depois  foi  tres- 
ladado  pêra  Toledo.  Naõ  traz 
por  cila  lua  opinião  autor  ne- 
nhum queaproue ;  &  contra 
ella  elU  o  lellimunho  claro 
de  Juliano,  oqualaífirma  que 
de  Toledo  veo  o  noílb  Arce- 
biípo Juliano  pêra  Braga  :  de- 
uia íernecellana  íua  preíença 
pêra  acodir  com  remédio  à 
heregia  dosPnícillianirtaSjque 
naquelle  tempo  andauamuy 
ateada  por  Galliza, 
2.  Delta  translação  ^  Si 

mudança  de  Juliano  pêra  a  Ga* 
deira  de  Braga  fe  pode  mal 
formar  argumento  em  fauor 
^'■"1  da  Primazia  delia  contra  Tole- 
^^'  do,  porque  no  tratado    que 


aei 


fizemos  íobrc  cila   matcna 
molhamos  ja  fua  pouca  for- 
ça ,  &  eíficacia,  vilto  como  os 
Prelados  aíli  nos  tempos  paf- 
fados,  como  preíentes  palia- 
rão lempre  de  liiáas  a  outras 
Igrejas ,  atentando  ou  a  ma- 
yor  comodidade,  &  proueito 
delfas,  ou  daquellas  ouclbas, 
ouaoutrosreipcitos  particu- 
lares approuados  pellaSèApo- 
ilolica ,    &  na5  íempre  à  dig- 
nidade da  Igreja  pêra  ondeie 
mudauáo  ^  como  prouamos 
com  alguns  exemplos .  Naõ 
ficou  memorij  de  obra  algúa, 
que  fizeíle  efte  Prelado  fendo 
Arcebifpo  delia  Igreja  í  com 
o  meírno  filécio  paílaõos  au- 
tores quetrataõ  dos  Arcebif- 
pos  de  Toledo  ,  porq  Padilha 
naó  apõta  delle  couía  algúa,  & 
o  Chroniila  Dó  Thomas  Ta- 
mayo  diz  fomente  q  fucedeo 
aMontano  110  anno  de  j'34- 
Bem  entendemos  leria  acaufa 
o  pouco  tempo  que  viueo  em 
j  húa,  &  outra  Igreja  .  Foifua 
morte  pellos  annos  de  538» 
porque nelle achamos  jaaíeii 
fuceflor  Eleutherio    comoa- 
diante  veremos .  Tinha  por 
cftes  annos  a  Cadeira  de  S.Pe* 
dro depois  de  loaõ  Il.e  Agapi" 
to  oPapaSiluerio.  E  era  Rey 
de  Hefpanha  Theudis. 


i   : 


GAP. 


S'8 


Capitulo  LXIX, 


'  ^eAPITVLO  LXIX. 

EL  E   V   T  H  E  R  I  O 
XXX.   Arcebijpo  de  Bra- 


ga. 


Or-l;;!-! 


r/j 


!  chro. 
16, 


O  N   T  I^ 

nuando  com 
aordé  delii- 
iiano  Aciprc- 
íledcToledo, 
a  quem  imos  ícguindo  na  íii- 
ceíjàõ  dos  Prelados  defta  Igrc- 
/«/;:«.  in   ja,encrou  nclla  Eleiítherio  por 
P^.   morte  de  luliano .  Succefiit, 
ãiz  cWcy  poflmodim  Inliano  in 
Sede  Bracharenfi  Eleutherius: 
Foiefte  Prelado  grande  zela- 
dor da  pureza  Catholica  ,  va- 
rão verdadeiramente  Apoílo- 
lico,  fantifliraOj&  de  eminen- 
tes virtudes ,  com  cujo  exem- 
plo ^  &í  com  a  pregação  de  S. 
Martinho  de  Dume  íe  come- 
çou adar  principio  à  conuer- 
íaô  dos  Sucuos  ,  que  depois 
fcliímentc  íc  vco  a  concluir  no 
tempo  dei  Rey  Theodimíro, 
como  diremos  na  vidadeSaõ 
Martinho. 

2,  Confultou  Eleuthcrio 

ao  Papa  Siluerio  por  carta  pe- 


dindolhe  dcclarafle  leíepo- 
dia5-toieraraÍgunsabuíos,que 
íc  comcciaõ  nos  Sacramentos, 
&  outras  propofiçoés,  que  pa 
reciáo  heréticas  por  íerem 
contrarias  às  que  a  Igreja  ti- 
nha ,  &  cn/maua.  Vigilio,  que 
cntaõ  gouernaua  a  igreja  de 
Deos  pcilo  Papa  Silueno  de- 
ílcrrado  na  Ilha  Poncia ,  reí- 
pondco  acarta  cõ  outra chea 
de  erudição,  &  doutrina,  que 
anda  no  íctrúdo  tomo  dosCõ- 
cilios  entre  os  decretos  do 
Papa  Vigilio ,  Sc  a  trazem  Ba- 
ronio ,  ^  Padilha .  E  ainda  q 
o  titulo  naó  diz  mais  que 
Dihãifsimo  fratri  Eutherio 
Vigilius ,  ôc  à  amargem  eftà 
Ekutherio ,  Vigilio  ao  muy  a- 
mado  irmão  Eleuthcrio  j  íem 
lhe  chamar  Biípo,  nem  por  a 
cidade  donde  o  era  :com  tudo 
da  palaura  irmaõ  ,  de  que  vza 
fe  entende  bem  íerBifpo  a  peí- 
íoa  a  quem  eícreue,  éc  das  pa- 
lauras  da  carta  ,  que  logo  refe- 
riremos íe  colhe  que  oBif- 
poa  quem  hia  dirigida  mo- 
raua /w  extremis  mundi  parti- 
btts^  nas  vitimas  partes  do  mu- 
do, que  na  fraze  dos  autores 
Romanos  faõ  os  Reinos  de 
Portugal,&  Galliza. 
5  No  particular  do  Biípa- 
do  naõ  fe  ertendeo  Baronio 


Bar  os.  an 

279. 
faâii  h, 

cenuú.c» 


amais 


_l 


Eletuh 


t  \nm  ■li;  n*»!'  ijpianii.úijarl^ 


etubeno. 


2Hg 


M.Max 
(hro.x-íl,r, 
iSò. 
iíilian.in 
cLra  t.ia 
6. a 


a  mais  que  dizer  as  palauaas  fe* 


guiares  Qjijjndmautem  fuerit 
Eleuthtrius  adqutmjcnbit^i^ 
ciiiiis  ciuitatis  Epifcopus  licet 
nulla  mentiofít^  tatncn  ipfum 
fíiijje  Epifcopn  in  extremis  Hif- 
t>ãni<e  oris  Occeano  coniunciís^ 
'í>elin  Lujitama^ant  mGallecia 
fatispojjumus  ex  epiíioU  ar- 
gumento collígere.  líto  he,q  lhe 
parecia  íer  algú  Biípo  na  Lulí- 
tania,oucmGalliza.Deilaclu- 
Ilida  lios  tiraó  M.  Maximo,& 
Itiliano^os  quaes  claramente 
dizé  c|  aEleucherio  Arccbiípo 
de  Braga  íe  eícreueo  eíta  carta, 
como  a  varaó  celebre  naqaelle 
tépo,&  peííoa  de  grandes  le- 
tras, Tesúdo  o  nomea  Juliano. 
Ponhamos  as  palauras  de  hu, 
&  outro-.as  ds  M. Máximo  di- 
zem. Ekutherio  Epifcopc  Era- 
charenji  Figilius  Papafc ribit. 
As  de  luliano  íaõ.  Ekutherius 
Epifcopus  Bracharenfis  ceie  br  is 
habetm\íid  quem  nntea  fcripjit 
Vigiliiis  Papa .  A  carta  de  Vigi- 
lio  tornada  em  porcugucz,  he 
afeguinte. 

FIGILIO   AO    MF  T 

amado  irmão  Eleutherw. 
3      Com  muita  alegria  recebe- 
mos  ds  cartas  de  ipojfaCharida- 
de  cheas  de  perguntas  catholi- 
Cds ,  tf  damos  muitas  gracM  a 


Dcosporjerfcruido  deprouer  a 
[lias  ouclhas  nas  ultimas  partes 
do  mundo  de  taespaUorts  s  qUè 
pojiaó  darlhepafto  falidaucí  tm 
abundada^  i^  defendei  las, pêra 
qnao  jejao  dejpedaçadds  pello 
inimigo  ant/guo  demaneird,què 
nco  cayaó  nos  lacos  de  fuás  trei'- 
coes 'por  onde  fem  duuida  alca^ 
çareis  a  graça  da  bemauentura-^ 
^a  prometida  pello  cuidado  que 
tcdes  de  inquirir^  if  perguntar 
o  que  conuem ,  por  ttr  noticia 
perfeita  da  doutrina  do  Ceo; 
porque  (  conforme  eflá  efcri- 
to  )  bemauenturados  os  que  ef- 
codrinhaófeus  tefiimunhos ,  tf 
CS  bufcf.o  de  todo  o  Coracao. 
Tratando  irmão  charifsimo,tf 
cójiderâdo  em  nojfo  peito  as  cou 
fasfobreqnos  aueis  cófiãtado^ 
acho  q  defejais  ter  a  regra  daFè 
Catholica  ,  caminhando  pelUs 
mefmAS  pi^^das^pellas  quaes fa 
beisfifúdòu  cÓ  aFè  dos  Apoflo 
los '.tf  aindaá(como  dijfe  oReal 
Propheta)o  fom  delles  (e  derra- 
mou por  todo  o  mundo  tècsfns 
da  terra  fe  algúas  coufas  ha  nef 
fa  Igreja^qeíià  a  ojofa  cóta^  q 
nãOesiejão  claras  com  perfeita 
lu^^  quifeftes  recorrer  à  mejma 
fóte^dóde  manou  a  agoa  jãuda^ 
uelfi  qual  intento  abraçamos  CÔ 
a  char idade  deuida  ^  pella  con- 
fiança que  tiuejíes  de  querer  fer 


bb 


inteiraij 


290 


Capitulo  LXIX. 


inteirado  de  ^>oJfcí^  duuidas  có 
mjjas.repofl^ts.  Por  tatojãudâ- 
do  em  o  Senhor  a  -u.  Char ida- 
de ,  refponderemos  a  cada  hka 
de  ijofiai perguntas  o  qite  acer- 
ca delias  tema  autoridade  da 
Se  Jposiol/ca,  conforme  a  dici- 
plina  Catholica  dandouos  nos 
capítulos  feguintes  regras fan- 
tas  pêra  "vojfa  mflruccao. 

Primeiramente  os  que  diluis 
qiiefe  contaminarão  comahe- 
regia  de  PrijciUiano:fanta^l!f 
religiofamente  julgais  aiierem 
dejer  caíiigados  coma  detefla- 
cãó  conueniente  à  Reliiiao  Ca- 
tholica ,  porque  de  tal  maneira 
fe  querem  abster  de  comer  carne 
comprotefio  de  fingir  abíiinen- 
cia  ,  que  mais  parece  o  fa\em 
por  abominar  (  conforme  afeu 
erro)  a  comida  da  carne  ,  que 
naopella  deuacao  que  fingem: 
no  que  Ceguem  o  abominauel  er- 
ro de  Manicbeu,  cuja  fuperfi:i- 
cíto  efláprohibida^  i^  anathe- 
mati^ada,porq  crc  efi:esferim- 
míido  o  mantimento  da  carne ^q 
a  misericórdia  deDeos  deupera 
afuflentaçao  humana^  em  o  q  os 
catholicos  jufgao  nao  auer  ne- 
nhúa  coufa  immúda^porqoApo- 
folo  S.Paulo  Doutor  das  Getes 
efcreue  afeu  dicipulo  Tito  dic^e 
do/od.ts  as  coujíufaó  limpas  aos 
limpos ^i^ pêra  os  qo  naofaó, co- 


mo os  infiéis  nenhiia  coifa  ha  lim 
pa,porqfua  alma ,  ij7^Juas  con- 
ciencias  carecem  de  toda  a  lim- 
pe':^. Confejjaó  com  a  boca  que 
conhecem  a  D eo suporem  com  as 
obras  o  negao.,  jendo  ahomina- 
ueis^Í5f  mcredulos^if  nao  apro- 
uadospera  toda  a  boa  obra.  E  o 
me fmo  S.Paulo  efcreuedo  a  Ti- 
motheojohre  osmefmos  erros,  dic!;^ 
qnos  tépos  vindouros  alguns  Je 
apartarão  da  Fe  ,  dado  ouuidos 
a  efpiritos  de  erro,i^  doutrinas 
do  Demonio^q  có  hypocrefiafa- 
lâo  mentiras,  iff  tendo  cauteri- 
zadas as  concienciasprohibira  Ó 
o  cafamento,  i^Je  abjierao  dos 
manjares ^q  Deos  criou,peraqos 
fieis^i^  os  q  conhecer 6  a  njerda- 
de  os  recebefem  c6  fa^imento 
de  graças  ,  porq  tudo  o  q  Deos 
criou  he  bó  ,  ijf  nenhúa  coufa  fe 
ha  de  defpret^ar,  antes  fe  ha  de 
receber, dado  por  ella  aDco^gra 
^as .  Por  tanto  feguindo  os  Te- 
neraueis  Padres  eíia  doutrina 
julgarão  qdeuiaófer  condena- 
dos  efpecialmente  aquelles  q  fe 
absfmejfem  de  comer  carne,i:f  q 
crefê  qfe  auiao  de  euitar  as  cou 
fas  qfojfem  mifluradits  cÓ  carne, 
porque  tâbe  Nojfo  Senhor  lefu 
Chrifi;o  preuenw  isio  amoejian- 
donos  quado  dife.  O  que  entra 
pella  boca  nao  contamina  ao  ho- 
me ^antês  as  coufas  q  fie  por  ella 


o  con- 


EleutK 


'oerio. 


\9l 


o  contaminaótpello  que  nem  re- 
prouamos  a  abstinência  que  a- 
orada  a  Deos  ^  nem  recebemos 
em  no[J'a  companhia  os  que  abo- 
tninao  as  criaturas  dò  Senhor. 

E  no  que  toca  a  comofe  deue 
celebrar  o  Bautifmo ,  tambt  di- 
remos a  nj.  Char idade  o  q  eíia- 
beleceo,lf  guarda  a  autoridade 
Apostólica ,  tf  pois  no  fim  dos 
pfalmos  coflumao  os  Catholicos 
d/^er ,  Gloria  Patri^  Isf  Filio^ 
íjf  Spiritui  Sanão^nouo  erro  hc 
dizer  o  q  nos  diT^is  q  tirando 
húa  das  dicocs  conjuntiuas  al- 
guns quero  diminuir  o  Docabulo 
perfeito  da  T rindade^diçii^ndo. 
Gloria  Patriy  if  Filio  Spiritui 
Sanão.  E  a  me.fma  rec^o  eui- 
dentemente  moflra  que  tirando 
húa  ccnjunçao  quere  dar  a  ente- 
der  q  apejfoa  do  Filho  ,  (f  do 
Efpirito  Sato  he  húa  mefma.  E 
pêra  conuencer  o  erro  dos  qiflo 
di^c,baiia  o  cj  Chrifio  N.S.  en- 
fmou  q  aos  q  crejfé,fe  lhe  dej?e  o 
Bautifmo  com  a  inuocaçao  da 
Trindade, dizendo. I  de, Í5f  enfi- 
nai  a  todas  as  gctes  bauti^an- 
doas  em  nome  do  Padre  ,  i^  do 
Filho,  tf  do  Efpirito  Santo ^  tf 
nao  diffe  em  nome  do  Padre^  f 
do  Filho  Efpirito  Satofenaoco 
ignaes  distinções  miidou  qfe  no 
meaft  oPay^tf  o  Filho^tf  o  Ef 
pinto  Sato^tf  afsy  he  coifa  cla- 


ra q  os. que  quer  c  ir  contra  efla 
cofifâo  to  tal  me  t  efe  apartao  da 
doutrina  do  Senhor^if.perfeue- 
randonefie  erro,  nao  podem  fer 
da  nojfa  companhia. 

Também aquelles que  auen- 
do  recebido  a  graça  do  Bautf- 
mofaudautl  tornao  a  fer  bauti- 
c^dos  pellos  Arrianos  ,  aberta 
tem  a  porta  do  Inferno.  Com 
eíia  'VOS  mandamos  certos  ca- 
pítulos tirados  de  nojfo  ar  chi- 
uo,em  que  ^vaopoflos  emfua  or- 
dem os  Decretos  ejlabelecidos 
por  noffos  antecefores  em  os  tê' 
pos  pajfados^nos  quaes  conuem 
muyto  aduertir  com  efpecial 
charidade,porqpor  nojfos  pec- 
cados ,  eíta  maldade  fe  leuan- 
tou  entre  muita  zente.  Remete- 
mos  a  'vojjòjui^^o  ,  tf  dos  ou- 
tros Bifpos  qfe  a  qualidade  Jjf 
deuação  do  penitente  parecer 
que  merece  perdão  fe  lhe  conce- 
da-.porem  a  reconciliação  deUes 
não  ha  de  fer  por  impofiçao  de 
maÓSyque  obra  pella  inuocaçao 
do  Efpirito  Santo  ,fenão  cope-' 
nitêciaproueitofa  reflitumdoos 
àfanta  comunhão. 

Quanto  ao  queperguntais  a- 
cerca  de  como, tf  quando  fe  aja 
de  tornar  a  cofagrar  aígúilgre 
ja.A  q  efliuer  caída  reflaurar- 
fea  da  fabrica  da  mefma  Igre- 
ja^  tf  ^uendofe  leuantado  dos 


Bb 


alicef- 


2gZ 


Capitulo  LXÍX. 


aliceJfeSyjtm  duuida  nenhúaje 
conja^rarà  com'  nt) [fa'  foléne, 
fã^^etidofe  todooifficio  da  cófa- 
gracúO, porem  nao  je  auendo  de 
por  ara,  bailará  hen^da  !an~ 
çandolhè  agoa  benta  tornando- 
Iheapor  o  Santuarto^quttinha^ 
no  lugar  donde  foi  tirado. 
■    No <iue  toca  afeitada- Paf- 
i  choa^nosa  celebramos  efie  anno, 
: querendo Deos^aos  ii.de  Abril;, 
:  ísf  quanto'  à  orderndxi  preces 
no facrificio da  mij?a,efid^  em 
nenhú  tempo  ,  nem  emfeiia  al- 
gúaas  mudamos  Je  nao  quefem- 
pre  confagramos  ,  ^  offerece- 
mos  os  doens  aDeos  de  hum  mef- 
'  mo  modo  .  Porem  nas  feflas  da 
Pafchoa^daAfcenfao  djSenhur, 
isfnafelia  do  EJpirito  Santo, 
:if'da  Eplphania ,  occorrendo 
■feBas  de  Santos,  fa^mos  come- 
moração ddtalfefta  em  dias  c6- 
uententès .    No  mais  guarda- 

■  mós  a  ordem  cojiumada ,  pello 
quetambem'Vos  enuiamos  com 
eflao  texto  da^  preces  Canóni- 
cas que  Cita  recebido  por  tradi- 
ção Apoftolicã  .  Epera  quenj. 
C  bar  idade  faiba  em  que  lugares 
fehade' acrecentar  o  que  eflà 
ordenado  pêra  as  feUas ,  tam- 

:  bem  acrecentaremos  as  preces  de 
.  dia  de  Pafchoa. 

Com  iíto  temos  refpondido  às 

■  pergunta/i  de  ■'V  C  bar  ida  de ,  Isf 


rogamos  a  Deos  Nojjo  Senhor 
quanto  podemos  multiplique  os 
■doesdefua  graça  em  todas ^ts 
Igrejas  da  Religião  Catholica, 
ilf-  em  todos  aquelles  qf enfieis, 
^  queje]a  (eruido  gu.irdar  a 
todo  ojeu  pouo  das  treicots  dos 
inimigos  efpirituaes,  15''  corpo - 
faés .  Também  •'vos  manda- 
mos relíquias  dos  Bemauentu- 
rados  Apojhlos ,  ò^  Martyres, 
esperando  de  njojfo  bom  defejo^ 
que  CO  jeus  merecimentos  feja 
yoJjaFé  ajudada,e  acrecetada. 

Se  algum  Bijpo ,  ou  Presby- 
tero  nao  baUti^ar  conforme  ao 
preceito  Diuino ,  em  nome  do 
Padre  ,  Í5f  do  Filho,  i:f  do  Ef- 
pirito  Santo  ^  fenaó  em  húapef- 
foa  ,  ou  em  duas  da  Trindade, 
ou  em  três  Padres  ,  ou  em  três 
Filhos,ou  em  tresEfpiritos  San 
.tos,eíte  talfej  a  lançado  daí  gr  e- 
ja  de  Deos. 

Nenhúapejfoa  douta  ^  ou  ig- 
norate  duuidafer  a  Igreja  Ro- 
mana fundamento, tf  forma  de 
todas  as  outras  Igrejas, do  qual 
fundamento  nenhu  dos  que  bem 
crê-  ignora  auert  tomado  prin- 
cipio todas  as  Igrejas, por q  ain- 
daque  a  eleição  de  todos  os  Apo- 
(iolosfoi  igual  có  tudo  aoBema- 
ueturado  S.Pedro  foi  cócedido 
q  precedefk  aos  mais ,  ijfpera 
iffo  foi  chamado  Cephas ^porque 


he 


Eleutherio. 


293 


bc  cabeça ,  i:f  o  primeiro  de  to- 
dos os  ÃpoHolos  .  E  o  que  pre- 
cedeo  na  cabeia  he  necefiario 
que  fe figa  emfeus  membros-.pel- 
locjafanta  Igreja  Romanapor 
Jeu merecimento  confagrada  cÓ 
a  y>o^do  Senhor^^  fortalecida 
CÓ  a  autoridade  dosfantos  Pa- 
dres, tema  Primaria  de  todd^ 
as  Igrejas  ,  í?*  a  ella  haÔ  de  fer 
trazidos  afsi  os  negócios  gra- 
nes ,  j«/;^05  ,  ^  querelas  dos 
Bifpos ,  como  todas  as  quesíots, 
Í!f  canfas  mayores  de  todas  as 
Igrejas  como  afua  cabeça-.tfaj- 
Jiquemfabe  que  precede  a  outro  ^ 
nao  Ihefeja  graue,  nem  mole  fio, 
que  outrem  lhe  preceda  a  elle, 
porque  a  mefma  Igreja,  que  hea 
primeira,  de  tal  modo  quer  con- 
cederfuas  ye^s  às  outras  Igre- 
jas que  entendao  q  faÓ  chama- 
das peraparte  do  trabalho,^ 
naopera  todo  o  poder.  Pelloque 
he  coufa  clara  ferem  referuadas 
à  mefma  fanta  Si  Apoíiolica 
todas  as  caufas  dos  Bifpos  que 
apellãopera  ella ,  if  todos  os  ^ 
negócios  de   coufas    mayores, 
principalmente  que  em  todius 
ejias  coufas  fempre  ha  de  fer  c6- 
fultada^i^fe  haÔ  de  efperarfuas 
repoHas,Efe  algum  Bijpo  aten- 
tar apartarfe  defte  caminho , 
faiba  que  ha  de  dar  conta  de 
fy  a  mefmafanta  Sè  ApofloUca^ 


nao  f em  perigo  de  fua  honra. 
Dada  ao  primeiro  de  Mar^o, 
fendo  Confules  os  efclarecidos 
ojarozs  Folujtano ,  l^  loao. 
4  Ifto contém  a  carra  De- 
cretai do  Papa  Vigilio  íuccf- 
for  de  Syluerio  em  repofta 
das  duuidas  Tobrc  que  foi 
confultado  pello  noílo  Pri- 
maz Eleutherio.Náo  temos 
noticia  do  oue  continháo  os 
Decretos  que  dÍ7,  fe  tirarão  do 
archiuo  Romano, nem  as  pre- 
ces, que  íc  hão  de  acrccentar 
na  mifla  nos  dias  mais  folcn- 
neSjporque  fenaõ  imprimirão 
cõ  elta  carta  Decretai,  a  qual 
anda  lançada  nos  liuros  que 
eftão  no  archiuo  defta  Igreja, 
Os  CófuIcSj  &  data  delia  mo- 
ftraõ  fer  feita  pcllos  annos  de 
538.  qfoi  ofcgundodo  Ponti 
ficado  do  Papa  Syluerio  co- 
mo affirma  Baronio. 
j  No  tépo  defte  iníignePre- 
lado  veo  S.Martinho  aGalli- 
za,&  cõ  íua  pregação,  &  dou- 
trina teue  principio  a  cóuer- 
faõdosSueuos^como  ja  tc0i- 
mos,&  veremos maiilargamê 
tecmlua  vidâ.-alsy  o  dilzíulia- 
no.  Huius  Epifcopi  tepore  Mar 
tinus  GtíCcus  natione  \  quifuit 
prius  Epifcopus  Dumicjis  prope 
Bracharam  conmrtit  Sueuos. 
6     Dura  a  memoria  defte  fan 


I  to.f.^^ 


CÍUtoloc9 


tn  chron. 


Bb  3 


to 


294 


Capitulo  LXX, 


to  Prelado,  atè o anno  Ác^^o. ' 
era  q  M,  Máximo  diz  q  foi  pê- 
ra o  Ceo.Iuliano  lhe  chama  va 
rão  fanco ,  &  lhe  dà  por  dici- 
puloalaó  Fulgencio  :  grande 
honra  pêra  ElcLitherio  íair  de 
íuaeíchola  hum  taó abaliza- 
do íanto ,  t^  inílgne  Doutor. 
Foi  a  gozar  da  bemaucnturan- 
ça  depois  de  ter  treze  annos, 
ou  mais  daPrimaziadeftalgre- 
ja.  No  tempo  de  feuglorio- 
ío  tranllto  gouernaua  a  Igre- 
ja de  Deos  o  Papa  Vigilio.  Era 
Rey  dos  Godos  AguiJa,depois 
deTheLidis,&  Theudifclo. 

CA  PI  TV  LO  LXX. 

LV  C  RE   CIO  XXXI. 

Arcehifpo  de  Braga. 

M  M.  Máxi- 
mo, &  lulia- 
no  achamos 
a  Lucrécio  Ar 
cebifpo  Pri- 
maz dcfta  Igreja  de  Braga,  os 
qj^saffirmáo  quç  foi  fucef- 
M,Max  for  de  Eleutherio.  Marco  Ma- 
i&-7,verf  ximo  diz  ã(sy. Elçutherio  Bra- 
charenfi  defunão  fuccedit  Lu- 
cretius :  quehe  omcrmoque 
Miati.  ellà  dito.  luliaho  diz.  £/g»í/;í;- 

62!^^^'   ^^^^  "^'^  Sanãus  hoc  anno  mo- 
ritfir ,  fuccedit  illi  Lucretius  m 


Sede.  Br  achar  enji.  Ncíte  anno 
morreo  Eleutherio  varaõ lan- 
ço, a  quem  íuccdeo  Lucrécio 
na  Sede  Braga.  Donde  íe  ve 
o  erro  em  que  cairaõ  o  doutií- 
ílmo  Cardeal  Ccfar  Baronio, 
S>í  Mariana  na  hiltoria  de  Hei- 
panha ,  em  quanto  aftirmáo 
que  Lucrécio  íucedeo  ao  Ar- 
cebifpo  Profucuro  enganados 
com  húas  palauras ,  q  íc  achao 
no  Concilio  Brachareníeaui- 
do  por  primeiro,  nas  quacs  íe 
chama  Profuturo  predeccflbr 
de  Lucrécio,  falando  os  Padres 
do  Concilio  com  o  mefmo 
Arcebiípo  Lucrécio,^:  pcdin- 
dolhe  que  todos  fe  vniílem,& 
conformaílem  cm  fuás  Igre- 
jas guardando  os  mefmos  ri- 
tos5&  ceremoniasfagradaSjCO 
mo  as  ouuera  jade  Roma  íeu 
predecefior  P rofu tu ro.  As  pa- 
lauras dizem,  i^r-^c/^w^  cum  if 
de  cateris  quibiijdam  caujis  in- 
JlruSUonem  apudnos  SedisApo- 
Uolica  habemus  ,  qu4  adinter- 
^  rogationem  quondam  "veneran- 
díC  memorize  pr^edecefforis  tui 
Profuturi  ah  ipfa  Beatifsimi 
Petri  Cathedra  direãa  eU . 
Querem  dizer  j  principalmen- 
te tendo  nos  inftrucção  da 
Sé  Apoftclica  fobrc  certas 
couías  ,  a  qual  vCo  dirigi-- 
da  da  Cadeira  de  Saõ  Pedro 

c  m 


to.j.an. 

Chnjh 

468. 
Ãíarian. 


Lucrécio. 


295 


f  ;  adilua 
VLcut  6. 


cm  reporta  de  húa  pergunta 
quclhetezantiguamentevoí- 
lo  precicceílor  Profiicuro  de 
boa  memoria. E  poftoquc  feja 
certo  auer  dous  Profuturos 
Prelados  deíla  Igreja  prede- 
ceílores  de  Lucrecio_,como  em 
llias  vidas  temos  moltrado, 
nenhum  delles  foi  immcdiato 
antccellor  íeti,  porque  ambos 
florcceráo  muitos  annos  an- 
rcs.iS:  fe meterão  muitos  Pre- 
lados cm  meyo  entre  elles ,  & 
Lucrécio ,  de  quem  foi  immc- 
diato anteceílor  Eleutherio, 
como  claramente  dizem  Má- 
ximo, &í  lulianõ ,  &c  o  eflà  bé 
moítrando  a  palaura,  qiionda, 
que  na  força  da  iatinidade  lan- 
ça mais  longe  do  quefaó  os 
.  annos,  que  corre  entre  o  Pre- 
lado paliado,  &  o  que  imme- 
diatamente  lhe  fucede. 
z  Começou  cfte  illuftre 

Prelado  a  gouernar  íua  Igreja 
com  grande  zelo  da  pureza 
daFè,&  dalaluação  das  almas, 
&  ardentes  defejos  da  refor- 
mação dos  coftumes.  Corre- 
do  o  anno  de  563 ,  no  primeiro 
dia  de  Mavo.  conforme  a  me- 
Ihor  opinião  de  Baíonio,Mo- 
rales  ,&  Mariana',  a  quem  fe- 
guimos  no  Catalogo  dos  Bif- 
posdo  Porto  (poífoquePa- 
1  dilha  na  hilloria  EcclcúalHca 


tenha  perafy  q  foi  no  anno  de 
561  .outros  no  de  564  )reinan- 
do  Theodimíro  no   terceiro 
anno  de  íeu  reinado  o  noíTo 
Arcebilpo  Lucrécio  fez  ajun- 
tar Concilio   Prouincial  em 
Braga  dos  Bifpos  de  Galliza,&: 
Portugal  _,  de  que  era  Metro- 
politano, pêra  confirmar  aos 
Sueuos  naFè  que  tinhão  re- 
cebido pclla  pregação ,  &  mi- 
lagres defaõ  Martinho  de  Du- 
me,  a  q ajudara  muito  a  dou- 
trina do  meímo  Lucrécio. Ne- 
íle  Concilio  depois  de  íe  tra- 
tarem couías  tocantes  a  Fe,  «.V 
deteftação  ,    &    abominação 
das  hercgias  dos  Prifcilliani- 
llas ,  fe  ordenarão  Decretos 
muy  importãtes  peraaadmi- 
niftraçãodos  Sacramentos,& 
reformação   da  diciplina  Ec- 
clefialbca.   Não  fazemos  aqui 
efpecial  menção  delles,porquc 
no  capitulo  ío.deíla  hiftorialã 
çamos  eíleConcilio,  oqual  hc 
tido  cõmíjmence  pello  primei 
roBrachárenfe,&  o  trazé  Gar- 
cia deLoayfa,Padilha,&  fr.  Ber 
nardo  de  Brito.   Teue  pêra  fy 
■  M.  Máximo  q  foi  nacional  eftc 
Concilio:  porem  dos  auto- 
res referidos  fe  moftra  o  con- 
crario,porque  não  confta  que 
fe  achafle  nelle  Metropolita- 
no algum,  nem  Bifpo  de  Hef- 

panha. 


In  eolUn  I 
Côc.Hifu  1 
Paitlh. 
cent.  6, 
caf  33. 
Brito  2-f 
monare.  1 
Ub.  6.caf 

13- 


Bb 


296 


£ap'ttulo  LXX. 


d.cent,6. 


panha^niais  cjue  os  de  Galiiza, 
&c  alguns  cíc  Portugal ,  donde 
fc  ve  que  não  foi  nacional,co- 
mo  imamnou  Marco  Maxi- 
mo. 

5  Muitas  coufas  ha  ncíle 
Concilio  dignas  dependera- 
çáojcomo  bem  notou  depois 
deBaronio  Padilha^  as  cjuaes 
nos  dão  noticia  dos  collu- 
mes,cjuc  auia  nas  Igrejas  de 
Hcípanha  poraquelletempo, 

6  dos  abuios  quccorriaó  ncl- 
la.  Começando  pcila  relação, 
que  oArcebifpo  Lucrécio  fez, 
propondo  aos  Prelados  do 
Concilioa  condenação  da  fei- 
ta de  Prifcilliano ,  q  auia  mui- 
tos annos  eftaua  decretada 
pcllos  Bifpos  de  Hefpanha ,  & 
a  regra  da  Fè,qucfe  mandou 
a  BalconioArcebifpo  de  Bra- 
ga ,  íe  colhe  claramente  que 
auia  ainda  neite  tempo  here- 
ges Priícillianiftas  em  Hefpa- 
nha ,  pois  pareceo  neceíTario 
aos  Bifpos  que  fe  acharão  pre- 
fentes,  propor  nellc  ly.Cano- 

ncs,  pêra  de  todo  defterrarcm 
efta  heregia  mais  prejudicial 
ainda  que  a  de  Arrio. 
4  Também  pudéramos 

formar  queixas  do  fecretario, 
ou  notário  deíleConcilio,por 
não  lançarem  asaâ:asdclle  a 
carta,que  diz  cfcreuco  o  Papa 


a  Proluturo  Prelado  dcrta  Igrc 
ja_,a  qual  por  brcuidade  naó 
pocm ,  &  pois  íe  leo  no  Con- 
cilio ( como  cUe diz )  também 
fc  ouuera  de  tresladar  j  &  lan- 
çar nelle.  Tiucramos  com  ifto 
mais  Epillolas  Decretaes  das 
que  andão  impreflas,  efcritas 
pcllos  Síámos  Pontifices  aos 
Prelados  de  Hefpanha.Naõ fa- 
bemos  defta  que  Papa  a  ef- 
creueOj  nem  a  qual  dos  dous 
Profuturos:  ainda  que  temos 
por  mais  prouaucl  foi  cfcrita 
ao  primeiro  do  nome ,  como 
cm  fua  vida  tocamos.  He  gra- 
de dor  faltamos  erta  carta,que 
deu  ia  fcr  doutifsima ,  &  de 
muita  erudição  \  a  breuidade 
com  que  eícreucraõ,  os  anti- 
guos  nos  fez  eltc  dãno,&  del- 
le  nacco  ficarem  muitas  cou- 
fas  enterradas  em  efquecimé- 
to:  milagre  he  podellas  rcfuci- 
tar,&  darlhe  luz. 
5  Também  nos  confta 

pcUo  terceiro  Decreto  defte 
Concilio  quam  antigua  he  a 
differença  da  faudação  _,  que 
guardaÕ  os  Bifpos  na  milía  em 
faudar  ao  pouo  dizendo  os 
Bifpos.  PaxiJobíSj  da  que  os 
Sacerdotes  quando  dizé.  J^o- 
minus  Fohifcum,  ôc  poftoquc 
o  Concilio  ordene  que  não 
aja  mais  c.ftá  differença,  com 


tudo 


Lucrécio^ 


297 


cent.6  c. 
34- 


tudo  a  determinação  (le  le  in- 
rrct{Lizio)naó  perlcuerou,por 
■cjuc  hoje  íe  guarda  o  modo  an 
tiizuodeíaudarxomo  le  vc  do 
Ccremonial  Romano. 
6  Vlcimamente  he  de  pÕ- 
derar  o  <|ue  íe  decretou  no  ca- 
pitulo li.dcrteCõciLo.  Man- 
dalealy  -que  na  Igreja  íenaõ 
cantem  veríos,ou  hymnos, 
nem  outras  poelías, fendo  que 
japorcíle  tempo,  &:  muitos 
annos  antes  vlaua  a  Igreja  de 
hymnos  que  nella  íe  cantauáo, 
cõpollos  pcra  clle  ctleito  por 
íanto  Aunbroíío  ,  Pradencio, 
Scduhoj&  outros:  v^  oq  mais 
he  depois  dcfte  Conciho  eícre 
ueo  muitos  o  Papa  íaõ  Gre- 
gorio^que  nella  íe  cantaõ.  Naó 
íabcmos  que  caufas  aueria  pe- 
raafsy  o  determinar  o  Conci- 
lio :  de  crer  he  feriáo  muy 
vrgentes  porem  hoje  naõíe 
guarda  efte  Decreto,  d>L  íe  can- 
tão os  hymnos  ^  &:  veríos  cõ- 
formea  ordein  doMiíIal,  & 
Brcuiario  Romano,  &:  do  que 
ha  tantosannos  via  cita  Igreja 
de  Braga.  Outras  annotaçoes 
a  e lie  Conciho  íe  podem  ver 
em  Padilha^as  quaes  não  refe- 
rimos por  naó  alongar  mais 
ahilloria. 

Porem  porque  nos  ha 


ocaíiocs  repecilo, 


he  muito  í 
de  aduertir  queporeuitarem 
os  Padres  aqui  congregados 
asduuidas  de  precedências  de 
lugares,  a  que  jaós  Prelados 
deHcípanha  íehiáoafl^eiçoaa» 
do^  ordenarão  que  nos  Con- 
cilios,  quanto  aos  lugares ,  & 
íofcripçoés  íe  tiueíle  relpei- 
toà  fagraçãodecada  hum,^ 
não  à  dignidade ,  precedendo, 
porem  os  Metropolitanos  aos 
Bilpos ,  aindaque  folícm  me- 


nos antií^uos. 


de  fer  neccííario  em  muitas  |  '  deóoy.  ao  primeiro  dia  dcía^ 


8  No  fegundo  annodo 

Reinado  de  Leuuigildo  Rcy 
dos  Godos  cm  Hclpanha,  & 
vndccimo  de  Theodimíro 
Rey  dosSueuos  em  Galliza  íe 
celebrou  outro  Concilio  na 
cidade  de  Lugo  no  primeiro 
dia  de  laneiro  do  anno  de  569. 
como  confta  de  húa  eícritura, 
que  traz  Morales ,  &  a  reíere 
Padilha,  polloque  luliano  diz 
que  toi  no  anno  quinto  de 
Theodimíro.  A  efcritura  co- 
meça afsy.  Tempore  Sueuorum 
fttb  era  607-  die  Calend.Ianua- 
ru  Theodmfrus  princeps  Stie- 
uorumConcíliúin  ciuitate  Luco 
fieri  p}'<€Cepit  ad  confirmanda 
fidc  Carholicam.tf  pro  dimrjis 
EccUJi<e  caufis,  Qner  dizer:  no 
cepo  dosSueuos  corrédo  a  era 


Aforai, 
ih  llr. 

Páll'i. 
an  6  c, 

37 
62. 


nciro 


298 


Cãútulo  LXX . 


Brita 
li.é.r.j^ 

M  Max 
chron  foi 


cafí  18, 
de  Prtm, 


neirò  Theodomíro  priacipe 
dos  Siicuos  mandou  ajuntai" 
Concilio  na  cidade  de  Luí^o, 
pêra  fe  eonnrmar  a  Fe  Cacíio- 
lica ,  Si  fe  trataré  diuerías  cau- 
ías  da  Igreja. 

5)  Nefte  Concilio  preíl- 

dío  o  noílo  Arcebiípo  Lucré- 
cio como  conlla  do  Conci- 
lio ,  que  traz  frei  Bernardo  de 
Brito,  poítoquc  Marco  Máxi- 
mo atHrma  que  prelidíoncl- 
le  íàõ  Martinho  de  Dume,  q 
elledizcra  jà  por  efte  tempo 
Arcebifpo  de  Braga  .  Porem 
deueíe  mais  credito  ao  Conci- 
lio referido,  ondeie  nomeaõ 
naõ  íò  LucreciOj  que  nelle  pre- 
íidío,  mas  também  os  outros 
Prelados ,  que  nelle  fe  acha- 
rão^ entre  os  quaes  eíleue  pre- 
zente  ,  òc  allinou  S.  Marti- 
nho Birpoqentaó  era  de  Du- 
me:>S:  ais y  femoftra  ciaram e- 
te  que  ainda  não  eraArcebirpo 
de  Braga,  &  que  Lucrécio  que 
o  era  prelldío  no  Concilio  cõ- 
uocando ,  &  chamando  a  elle 
os  Bifpos  de  Portugal,  &í  Ga- 
liza ,  que  refere  Brito,  &  nos 
apontamos  no  tratado  da  Pri- 
mazia. 

10  Facilmente  fe  pudera5 
conciliar  eítas  duasopinioês, 
fe  difleramos  que  Lucrécio 
preíidío  nefteConcilio  deLu- 


go,  que  íoi  o  primeiro,  &  Saõ  1 
Martinho  prelIdio  no  íegúdo, 
que  íe  celebrou  no  anno  de 
quinhentos  &  fetenta&dous 
cm  que  ja  era  Arcebiípo  de 
Braga,  pois  no  meímo  anno 
preíidío  no  Concilio,que  cõ- 
mt^mentefe  tem  por  íegundo 
de  Bra^a  .Porem  naõ  fofre  efte 
modo  de  concórdia  húa  eícri- 
tura  antigua,  que  eílà  na  Igtc- 
jadeLugo  ,&  trata  do  íegun- 
do Concilio  Luceníc,  porque 
delia  conítanão  íe  achar  nel- 
le íaõ  Martinho  ,  como  bem 
aduirtiraõMorales  ,&  Ferrer, 
fundados  na  mcíma  efcritura, 
que  referem.  Alem  de  a  efte 
Concilio^  &Í  ao  Prcíidente  dcl- 
le  Nitigio  Metropolitano  de 
Lugo  mandar  íaõ  Martinho  o 
cõpendio  dos  Concilies  Orié- 
taes,  que  de  Grego  traduzio 
em  Latim ,  como  affirma  Va- 
feu  dizcuào.Idem  fanãiís  Mar 
tinus  in  compendium  contraxit 
Concilia  Orientalia ,  isf  Niti- 
gio Litcenji Epifcopo  Metropo- 
litano ,  ac  tcti  Concilio  Lucen- 
ci  tranjmijit.  O  meímo  tem 
Baronio  3  o  que  he  manifefto 
argumento  de  nelle  fenãoa-  J7.^ 
char ,  pois  em  tal  cafo  oftere- 
cera  de  maõ  em  maõ  o  com.- 
pédio,&  não  o  mandara  com 
aquclla  carta  fua,  que  no  prin- 


Moral. 
/'b.il.  c. 
62. 

Fcrr.líb. 
i.c.zz. 


in  chron, 
an.  ^6^, 


.Chrtfi 


cipio 


Lucrécio» 


299 


J-'erJíb.2 


i,f,  cap. 
4- 


cipio  delle  vemos. Do  que  tu- 
do conita  como  nem  no  pri- 
meiro, nem  no  íesundo  Con- 
cilio  de  Lugo  prelidío  S.  Mar- 
tinho de  Dumc ,  antes  no  pri- 
meiro  prefidio  Lucrécio  Pri- 
maz de  Braga,  &:  no  fegundo 
NitigioBilpo  Metropolitano 
íiaqucUa  Igi'eja. 
1 1  Pois  falamos  nefte  C5- 
cilio  de  Lugo,  não  hc  rezão 
paliar  cm  lilencio  hiJa  tradi- 
ção notauel  que  ou  nellc,  co- 
mo aflirma  Ferrer,  ou  ja  no 
primeiro  da  mefma  cidade  de 
Lugo-como  com  Morales ,  & 
Brito  o  eícrcuemos  no  Cata- 
logo dos  Bifpos  do  Porto,  te- 
uc  origem  .  He  pois  a  tradi- 
ção que  na  Igreja  Cathcdral 
de  Lugo  fe  põem  ,  &  colloca 
fcmprc  o  Diuiniílimo  Sacra- 
mento do  altar  dentro  do  Sa- 
crário em  forma^  que  a  fagra- 
da  Hoftia  pofla  fer  vifta ,  de 
adorada  dos  q  cnrraò  na  mef- 
ma Igreja.  Sem  duuidâ  por- 
que na  meímia  cidade  em  algú 
deftesdous  Concílios  fe  de- 
cretou,&  eftabeleceo  a  verda- 
deira prezêça  de  Chrifto  Nof- 
fo  Deos  nefte  Diuiniílimo, 
&  altiílimo  Sacramento  ,  a 
quem  os  hereges  daquelle  té- 
po  tanto  contradiziaõ  .  Pêra 
memoria  deite  Beneficio  quis 


íempreaquella  Sètcrà  fuá  vi- 
fta a  íeu  Criador  Sacrarnétjta' 
do,  tomando  o  Reyno  de 
Gjlliza  a  meíma  Hoftia,  & 
Cálix  por  armas ,  ôc  brazão 
defua  nobre2a,o  que  não  fez 
nenhum  outro  Reyno  de  Ca- 
ftelkjíe  bem  algúas  Igrejas 
de  Aragaõ,  &  Nauarra  qui- 
zeraõ  imitar  a  de  Lugo  em  te^ 
rcm  a  Sagrada  Hoftia  deícu- 
berta^  quaes  cilas  fejão  naõ 
aponta  Morales  no  lugaf  que 
dcixatrios  referido. 
11  •  Tornando  ao  primei- 
ro Concilio  de  Lugo/  em  que 
prcfidío  o  noíTo  Lucrécio  Pri- 
maz de  Braga,  como  temos 
moftrâdo ,  depois  de  os  Pa- 
dres delle  tratarem  o  que  coil- 
uinhãâo  íím  peraque  fe  ajun- 
tarão, a  rogo,&  petição  dei 
Rey  Theodimíro ,  por  rezoês 
de  conueniencia,quc  fe  apon- 
tarão, fizeraõ  Metropolitana  a 
Igreja  de  Lugo ,  &  a  leuanca- 
raõ  à  dignidade  Arcebiípal;  fi- 
cando porem  fogeita  â  Igreja 
dcBraga,  a  quem  auia  de  re- 
conhecer como  a  Igreja  fupe- 
riof ,  &  Primaz. 
13  No  tratado  dâ   Pri- 

mazia defta  Igreja  dç  Braga 
moitramos  bem  aos  autores 
que  defendem  a  de  Toledo,  &c 
pretendem  impugnar  a  noílã, 


CAf^    iS, 


iuam 


300 


(Capitulo  LXX. 


quaõ  malíedeíembaraçãodo 
argumento  ,  que  deite  fcko 
contra  elles  refulta  ,  porque 
nenhúa  foluçuo  he  baílante 
ao  desfazer,  vifto  como  ter 
Metropolitanos  íogeitos  hc 
íó  de  Cadeira  Primacial^  o  que 
entre  as  de  Heípanhaíó  íc  vio 
em  Braga,  nunqua  em  Tole- 
do ;  òí  íc  não  aponténo  com 
a  autoridade  de  hum  Cõcilio 
inteiro  ,  como  nos  morra- 
mos ,  &:  apontamos  a  Sè  de 
Lugo  ainda  depois  de  Metro- 
politana. Não  he  poíliuel  q 
aqucllcs  Padres  aly  congrega- 
dos Tofreílem^  ou  inouaflem 
híía  couía  taõ  contra  os  Saera- 
dos  Canones^jfe  na  Cadeira  de 
Braga  fentiíTem  ,  ou  vcneraí- 
femlò  o  direito  Metropolita- 
no íobreas  deGalliza,(S^nãoo 
Primacial  íobre  todas  as  de 
Hcípanha,que  nellaauia. 
14  Ncrte Concilio  fe  c5- 

cluyoadiuifaÓ  dos  Biípados, 
que  íc  principiou  no  Bracha- 
reníc,  &  feallinaraó  à  Igreja 
de  Lugo  Icuantada  ja  em  Mc- 
tropohtana,  &  ao  feu  Prela- 
do Nitirio  os  lufares  da  Co- 
marca,  que  pofluyao  onze 
Condes,  &  outros  chamados 
Cairega,  Lemos,  ijf  Cauarcos. 
Aílinaráoihe  por  fufFraganeas 
íínco  Igrejas  em  Galliza,Oré- 


fe,  Aítorga,  Iria  Fiauia, que  he 

0  Padraò  ,  Tuy ,  &  Britonia, 
queheOuiedo,  ou  Bntiandos 
neíteArcebiípado  entre  as  vil- 
las  de  Viana  _,  ôc  Ponte  de  Li- 
ma :  das  pertencentes  a  elta 
Cathedral  de  Braga  fizemos 
particular  mêção  ncll;ahifl;o- 
ria,  per  iílb  as  não  repetimos 
aqui. 

1  j  Nefte  Concilio  fe  acha- 
rão com  o  Primaz  Lucrécio 
noueBifpos,  que  íenomeaõ 
no  fim  do  mcfmo  Côncilio,q 
traz  Brito  com  as  palauras  Ic- 
guintcs.  Ej}^  he  a  diu/faó  que 
Jí^rao   Lucrécio  ,     Ederico  , 

Adulfo^Lucencio  ,  André  ,  Ti- 
motheo  ,  Martinho ,  Melio^, 
Polemio  ,  isf  Anila  no  Syno- 
do  de  Lugo  de  todas  as  Igrejas, 
que  ha  no  Reyno  dos  Sueuos  ,  a 
qual  ''vio  5  ^  louuou  opijfsimo 
Principe  Theodimiro ,  a  quem 
Deos  dè  uida ,  i:f  'vitoria^  Í!f 
todos  dij^erao  Amen.  Garcia  de 
Loayfa  naColIecção  deite 
Concilio ,  Morales,Padilha,& 
Mariana  naõ  fazem  niençaõ 
dos  Bifpos ,  q  nelle  aííiiftiraõ, 
pellos  não  acharem  nos  ori- 
ginaes  donde  o  tresladaraõ: 
pello  que  le  deue  à  diligencia 
de  frei  Bernardo  de  Brito,  !k  a 
frei  António  de  lepes  a  noti- 
cia que  temos  delles,  &  també 


í 


r/>.8. 


ã.i:.  14. 


í'c 


to.i.ret, 
!•  Anno 

Chri/J: 
563. 


Li 


icrccío. 


\Faf.chro 

\Lõlcr.2. 
ip.r.lS. 

Piidsl.cet 
7.C.37. 


Moral 

Br!tid,!i4 
Catai,  I. 


íclhedcue  aquenojrdáodos 
luearcs  onde  alguns  eraõ  Bif- 
pcs  j  porque  como  dellcs 
íc  vc  Lucrécio  era  Arcebií- 
pode  Braga  j  Martinho  era 
Biípo  de  Duir.e ,  Lucencio  de 
Coimbra,  André  delriaFla- 
uia,  Adulfo.diz  Vafeu  feguin- 
do  a  Dom  Lucas  de  Tuy^q  foi 
BiípodeLeaõ;  ôc  Lobcrano 
liuro  das  grandezas  da  cidade, 
6c  Igreja  de  Leão ,  a  quem  íe- 
gue  Padilha,diz  o  meímo_,  Ti- 
motheoeraBiípo  do  Porto, 
Meliozo  de  Britonia  agora 
Ouiedo,ouBritiandoSjHelde- 
rico  de  Lugo ,  Coto  de  Tuy. 
16       Nelle Concilio  íeaííi- 
naõ  os  termos, &: demarcações 
doBifpado  de  Dume  cÕhúa 
Jingoagem  ,  ôc  modo  de  falar 
taõ  eícuro  que  embaraçou  a 
graues  autores,  porque  íendo 
íòas  palauras  eftas  tornadas  e 
Portuguez.  A  Sè  de  Dumicfe 
deu  por  jur  dição  a  família  ,  i:f 
criados  da  cafa  Real ,  fobre  ci- 
las fe  íízeraõ  muitos  difcurfos 
como  fe  pode  ver  em  Mora- 
Ics ,  &  fr,  Bernardo  de  Brito . 
No  Catalogo  dos  Bifpos  do 
Porto  tratamosefta  duuida,^: 
refolucmos  q  a  jurdição ,  q  fe 
deu  ao  Bifpo  de  Dume  foi  fo- 
bre a  familia,c\:  criados  da  cafa, 
&:  adVual  feruiço  delRey,dòde 


depois  teuc  erige  a  dignidade 
de Capcilaõ  mòr^qhojc dura, 
&  que  delies  fe  hao  cie  cateij- 
deras  palauras  referidas. 
17     Poéíc  em  quelHo  íobrc 
eilê\  &  outros  Concilios  de 
Hefpanha ,  como  podiao  os 
Reis  mandar  ajuntalIos,&  or- 
denar q  nelles  fe  creafséde  no- 
uo  Arcebiípados,  ôc  Bifpados, 
fcni  pêra  illb  confultarc,  ôc  a- 
ueré  licença  do  SíTimo  Ponti- 
ficc,  ao  qual  como  cabeça  nas 
coufas  Ecclcílaílicas,  ôc  Vigai- 
rodcChrifto  pertence  difpor, 
ôc  ordenar  o  q  conué  ao  bem 
das  Igrejas.  O  Doutor  fr.  Ber- 
nardo deBrico  moueo  depois 
<Je  outros  a  duuida,&  pcra  fair 
delia  apõta  varias  íoiuçocs.  A 
verdadeira  be  a  q  vltimamcte 
refere,  ôc  tiueraõgrauiílimos 
autores ;  afaber,  q  os  Reis  de 
Hefpanha,5i  o  Primaz,  &  Me 
tropolitanos  delia  tinhão  efpe 
ciai  autoridade  do  Papa  pêra  a- 
jutar  Cc)CÍlios,aIeuãtarnouas 
Metrópoles, &  ordenar  todas 
as  mais  couías  tocantes  ao  elfa 
do  Eccleíiaftico,  fem  pêra  ifib 
auere  de  recorrer  a  Se,  Apoílo 
lica  é  cada  cafo  particular.  Pel- 
lo  q  nada  faziaõ,  ou  intetauão 
neílamateria,féautoridadcdos 
Sumos  Pontiíices,  como  íe  ve 
das  palauras  de  húaefcritura,q 


|- 


Brit.d.c, 
14. 


Cc 


depois 


Capitulo  LXX. 


tomrj.an 
572. 


depois  de  Morales  traz   Ba- 
ronio  j  &  faõ  as  que  fe  Cegue. 
Ezo  Theodimirus  Rex  co£— 
nomento  etiam  Mirus  GalU- 
cU  totins  ProuincU  Rex^Deo, 
eiufjuè  gmetrki  gloriofe  Ma- 
rine ,  ac  ceteris  Sanais  cupiens 
famulus  ejje ,  i^ferims  coadu- 
nato,  num Dti^Concilio  in  Lu- 
cenji  iam  pr^fau  Protimcu 
njri^e  ,  omnmm  catholicorum 
Epifcoporum  ,feu  religioforiim 
'-virorum ,  nohis  ab  ipjis  inti- 
matum  esi,  i;no  animo  ^cordetj^ 
perfeClo   :  authoritatt    etiam 
Sedis  Apoflolic^  Sanai  Petri, 
cuius    legationem  l^cti  excepi- 
mus.  Eu  Theodimíro  por  ío- 
breiTome  Miro,   Rey  deno- 
daaProuincia  de  Galliza^dc- 
íejando  fer  feruo,  &c  criado 
deDeos,  &  da  glorioia Vir- 
gem Maria  fua  may ,   &c  de 
todos  os  Santos,  ajuntando 
na  cidade  de  Lugo  da  meíma 
Prouincia  por  vótade  deDeos 
hum  Concilio  de  todos   os 
Biipos  catholicos ,  ôc  varões 
relisiiofos^nosfoipor  elles  in- 
timado citando  vnanimes ,  ôc 
cõ  perfeito  coração,  &  c6  au- 
toridade daSèApoilolica  de  S. 
Pedro  ^  cuja  embaixada  rece- 
bemos com  aleí;!ria,&c.Don- 
de  íe  moítra  claramente  ,  que 
com  autoridade  dos  Sumos* 


Pontific-es  íe  cclebrauaó  os 
Concílios  de  Heípanha  ,  po- 
rtoque  nelles  fe  náo  declare. 
Conrta  mais  que  ElRcy  Ario- 
niiro  tanto  que  entrou  na  íu- 
ccílaõdo  Reino,  por  morte 
de  feu  pay  Theodimíro,  te- 
ue  logo  embaixada  do  Papa 
loaõ,  ôc  com  ella  recebeo  os 
poderes  necellarios  pcra  no 
Ecclefiailico  ordenar  com  os 
Prelados  de  íeuReyno,  o  que 
foíle  importante  ao  bem  das 
Ig  rejas  delle. 

18  Concluída  finalmen- 

te a  noua  erecção  da  Metro- 
poli  de  Lugo  ,  &  feitas  as  di- 
uifoés  dosBifpadosj&as  mais 
coufas  importantes  ao  eftado 
das  Igrejas,  &  Chriftandade 
dos  Sueuos,íe  fechou  o  Con- 
cilio,&  o  Arcebifpo  Lucreci  o 
fe    veo    pêra  Braga    conti- 
nuar  com    fua  obrigação , 
pregando  com  a  doutrina ,  & 
enlínandocom  a  vida.  Deuia 
paílalacom  as  enfermidades  q 
a  velhice  traz  config-o.ou  com 
aquellas  q  acompanhão  a  ab- 
ílinécia  dos  jullos,&  o  rigor 
comqfetratão  aly.  Com  cie - 
fejos  deconualecencia,diz  lu- 
liano ,  que  fe  fahio  de  Braga, 
Sc  fe  recolheo  no  ermo  Liba- 
nieníe ,  cõ  dous  cõpanheiros, 
1    hú  Arcediago  de  Braga,  outro 

Bilpo" 


Baron.ct' 
tato  loco. 


rhron. 


S .(^Martinho  de  Dumty^ 


"••  Táfia 


30| 


on 


Biípo  ToIctinOjCliaiiiado  Tii- 
nbio.  Lucrecius^  diz  luliaiio, 
timore  grattc  Tmktudinis  de- 
jcrit  Sedtm  Bracharcnfem , 
è?'  rctipitfe  ad  erémum  Li- 
banienfem  cum  focijs  ^fcilicet 
Archidiacono  Bracharenji ,  ^ 
Turibio  Toletino  Epifcopo . 
Efte  ermo  Libanieníe  he  ho- 
je oquechamão  ciefertosde 
Santilhanaem  Afturias ,  dos 
quacs  daremos  mais  iarga  re- 
lação na  vida  de  faõ  Tolo- 
bcu  Arcebirpo  defta  Igreja , 
que  aly  fe  rccolheo.  Nelles 
acabou  a  vida  faíitamente  Lu- 
crécio :  dura  fua  memoria 
atè  os  annos  de  quinhentos 
iSc  leííenta  U  nouCj  cm  o  qual 
ou  no  aniio  feguinte  de  qui- 
nhentos !k  fetentalhefucedeo 
faõ  Martinho  dê  Dume.  Era 
por  eílc  tempo  Summo  Poil'- 
tifice  depois  de  VigiHo,  òc  Pe- 
lado loaõ  III.  do  nome:  & 
o 

Rey  dos  Godos  Leiíuigildo, 

&dos  Sucuos  Theodimíro^ 

o  qual  morreo  no  anno  de 

quinhentos  &  fctcnta^Si 

Ihcfuccdeo  Ariamí^ 

rofeu  filho* 

(.?.) 


CAPITVLO  LXXl. 

:  A  M  MàRTInHO 
de  Dume  XXXII.  Arce- 
hifpo  de  Braga^ 


Vem  fao  Martinho  ã  Braga, 

conuerte  os  Sueuos ,  funda 

o  mofteiro  de  Dume^ljf 

he  eleito  Bifpo 

delle. 

A  V  i  D  A 

dò  Santo  Ar- 
ccbifpo  Elcií- 
thcrio  deixa- 
mos cícrito 
como  no  tempo  de  feu  Ponti- 
ficado começoii  a  cònuerfaó 
dos  Sufeuos,&  teue  principio 
em  Gálhza,&  Portugal  a  Reli- 
gião Catholica,  q  auía  muitos 
anos  trocarão  osRcysSueuos, 
pellos  erros, &  heregias  de  Ar- 
rÍQ,como  temos  dito  nella 
hiftoria^  Sucedeo  pois  q  dcfí:- 
jando  muito  ElRey  Theodi- 
míro  alcâçar  faude  pcra  feu  fi- 
lho o  PrincipeMiro^q  de  ttiui- 
tosdias  viuia  enfermo,  &c{c 
cuidaua  não  feria  de  muita  du 
ra,  fez  por  íèus  embaixadores 


f*p.c.'ê^i 


r«, 


ífp 


Cc  z 


grandes 
o _^  ^_ 


304 


£at)itulo  LXXI. 


grandes  ofiertas  ao  ícpulchro 
do  glorioío  confeíTor  deChri- 
llo  faó  Martinho  Biípo  de 
Turs ,  ou  Turon  cm  Fran- 
ça a  fim  de  alcançar  íaudc.Naõ 
teue  cííeico  eíta  primeira  em- 
baixada,nem  alcançou  o  en- 
fermo remédio  pcra  fcu  mal, 
por  o  pay  ,  &  clle  fcguircm  a 
maldita  íeica de  Arrio.  Porem 
prometendo  ambos  de  abra- 
çar a  verdade  Cathclica,  que 
enílnaua  a  Igreja  Romana,  &í 
cm  vida  profcílara  faó  Marti- 
nho, ícgundando  com  ou- 
tra embaixada  veo  por  me- 
recimentos do  gloriofo  Con- 
feíTor de  Chriltoa  alcançar  o 
pay  a  faude ,  que  pcra  o  filho 
pretendia  ,  &  ambos  a  da  al- 
ma abjurandãa  abominaitel 
hcregia  de  Arrio ,  &  abraçan- 
do a  Fè  decretada  no  lagrado 
ConcihoNiceno. - 
i  Eftando  as  coèíàs  dos 

Sueuos  neftes  termos,  &o 
Rey ,  3<,  Príncipe  apoftados 
í  a  ferem  verdadeiros  catholi- 
cos :  ordenou  a  Diuina  Pro- 
uidcncia  que  naquelle  mef- 
mo  tempo  que  de  Turon  fe 
partirão  os  embaixadores  de 
Theodimíro  pcra  Portugal, 
trazendo  coníígo  parte  da  ca- 
pa de  faõ  Martinho ,  por  cu- 
ja intcrceflaõ  o  Principe  logo 


que  veneralíe  a  íagrada  reli- 
quia  auia  de  alcançar  faude, 
partiílc  também  de  ler ufalem 
pcra  Heípanha  (mouido  pel- 
ío  EípiritoSáto)hú  varaõ  lau- 
to qucentaõ  aly  viuia  ,  &c  íe 
chamaua  Martinho ,  pêra  que 
pregando  a  meíma  Fè  Catho- 
íica  ao  Rey  Theodimíro ,  & 
fua  corte,  lhe  íizefle  aborrecer 
a  heregia  deArrio,a  quem  pcl- 
lo  mihigreda  laude  do  filho 
ja  abominaua  ,  &  deíejaua 
abominaílem  todos  feus  vaf- 
fallos. 

3  Era  Martinho  natural 

de  Vngria ,  como  nos  certi- 
fícaó  vários  autores,  &  entre  cl 
Jes  Aimoino ,  Marco  Máxi- 
mo ,  Venâncio  Fortunato, 
&  faò  Gregório  Turoneníè, 
&  o  mcfmo  Santo  o  confefla 
defy  nos  verfos,  que  del- 
le  refere  o  Bifpo  de  Segouia 
Dom  loão  Perez  nos  Eícho- 
lios  que  faz  aos  claros  va- 
rões de  Sãto  Ilídoro  dizendo. 

Pannonifs  genitusytranfcêdens 

tcquora  ijaUa^ 
Galleci<e  ingremium  diuinis 

ntitibus  aâlus. 
Onde  ac^ucllas  primeiras  pa- 
huns  jPãnoni/s lenitus  vale  o 
mcfmo  q  nacido  emVngría ,  a 
qual  os  geògraphosnalingoa 


M.Max ' 
■hren.fol 
i86,ver/ 
rctutnt,  j 
de  laud,  \ 
S.  Marti 
ttt.  I 

Greg.ln 
runj/b.^ 
htfl.Frãc^ 


lati- 


S  .Q^íartinho  de  Dumç^. 


■*-'  •■'  ■•«i^*»>»^--«*sw*5í5njwiís-««^ 


áQí 


tn 


chro-.i 


latina  charaaó  Pãaonia  como 
jfie  vula:ai*.<S^  íe  acha  a  cada  pai- 
ío  nos  hiftoriadorcs.aindaque 
lulianohede  parecer  concra- 
riOj  porque  faz  a  eíte  Santo  cie 
nação  Grego,  &  deuia  fer  por 
O  Santo  íet  muy  veríado  nc- 
lla  língua. 

4  TiraraÕno  de  fua  pátria 
(da  quicomeção  os  quedelle 
cícreuema  relação  de  íua  vi- 
da, íem nos  dizerem  nadados 
pays  ,  &  primeiros  annosde 
Tua  mocidade )  &  o  Icuarãoa 
Paleílina  alsy  os  deíejos  de 
viíltaraquelles  íantos  lugares, 
como  a  ocaíiaõ ,  que  na  cida- 
de de  lerufalem ,  onde  então 
viuiaÕ  tantos  homens  famo- 
fos  cm  letras  poderia  ter  de 
eítudara  philoíophia,  &  Sa- 
grada Efcritura, depois  das  le- 
tras humanas  pêra  que  tinha 
raro  engenho.  E  aísy  foi  por- 
que em  lerufalem  aprendeo  a 
lingoa  Grecra ,  &  Latina  em  q 
foiemincntiirimo,&  íobrc  tu- 
do a  philoíophia  moral,  &i  le- 
tras Diuinas  em  taó  fobido 
grão,  que  na õ  ouue  cm  íeu  té- 
po  quem  lhe  fizcíFe  veiita- 


gcm 


f  -.'.  Acodiaõ  a  leruíàlem 
muitos  peregrinos  de  todas  as 
partes  da  Chriftandadc,  em 
cfpecial  de  Hefpanha  :  dellcs 


í  (ordenandooafsy  Deos)íein- 
formaua Maicinho  do  eJla  lo 
cm  que  cílaua  a  Fe  naqucUes 
Reynos.  Soube  como  Hore- 
ccndo  primeiro  aly  muito  a 
Religião  Catholica,  íegui- 
dados  Reys  Sucuos,vicra  de 
França  demandar  as  partes 
de  Galliza  hum  herege  por 
nome  Ayax  ,  natural  da  meí- 
ma  Prouincia ,  mas  criado  cm 
França  na  corte  delRey  Thco- 
dorico,  &c  muito  íeu  validoj 
o  qual  peruertendo  primeiro 
a  FLcmiimundoRey  dosSue- 
uoSj  pella  Híduílria  da  Rainha 
fua  molher  filha  de  Theodo- 
ríco,  cujo  mcftre,  &como 
ayoelle  era ,  perucrrera  apos  o 
Rcy  todos  ícus  vailalos ,  cm 
forma  que  o  Reyno  inficio- 
nado com  a  maldita  íeita,  fc  a- 
uia  de  todo  perdido;  mas  que 
o  Rey  que  agora  tinhao ,  por 
fer  de  boa  inclinação,  6c  gran- 
de entendimento,  «3^"  ver  que 
pellas"  orâçoés  de  Icui-Bilpos 
hereees  não  pudera  alcançar 
a  íaudc  que  dcíejauaao  Prínci- 
pe herdeiro  de  íeus  elladc«-,cn- 
trara  cm  pcnlamentos  de  ab- 
jurar a  hcrcgia ,  j&  í"a^el'{e  da 
mefníaFè^  6j  crença  que  lao 
Martinho  Bifpo  dcTuroii  íe- 
guira  psra  ver  íc  por  íuaiiiter- 
ccíliõalcacauaofiíhQa  íaude 


Ce  3 


que 


306 


Capitulo  LXXL 


que  lhe  fakaua,  &  queaeíle 
fim  tinha  mandado  embaixa- 
dores a  Turon  pedir  ao  fanco 
Bifpo,q  aly jazia,  faude  pcra 
Miro  acompanhados  de  gra- 
des dadiuas  .  Acrecencauaõ 
porem  que  era  muito  de  te- 
mer que  ainda  em  cafo  que 
o  Rey  recebeíTca  verdadeira 
Fèjdcpois  os  miniílros  da  mal- 
dita feita ,  pella  grande  valia, 
que  com  elle  tinhaõ  lha  fizef- 
íé  deixar,  ou  pcllo  menos  im- 
pediíTcm  ao  mais  Rey  no  acci- 
talla,porque  faltauaoSacerdo- 
tes  zelofos  por  cuja  índuílria, 
fe  fizeíTem  calar  aquelles  mi- 
niftros  do  Inferno, &  fc  fo- 
mentaíTem ,  &  leuaílem  por 
diante  os  bonsdefejos,quc  no 
pouo  fe  viaó,  de  deixarem  a 
Arrio ,  pella  repugnância  que 
achauão  em  fua  doutrina, 
&  pellos  coftumcs  tão  deuaf- 
íos  em  que  viuiao  os  de  fua 
feita. 

6  Compadeciafc  faõ  Mar- 
tinho da  gente  Hefpanhola, 
ouuindo  eftas  coufas;  dcfcja- 
ua  ác  ter  ocallaõ  de  elle  fer  o 
que  lhe  prêgaíle  a  verdadeira 
Fe  3  porem  eftaua  tão  fatisfei- 
tode  viuer,&aucr  de  morrer 
naquelles  mcfmos  lugares, 
onde  o  Saluador  do  munda 
yiuera,  &  morrera,que  fe  não 


podia  perfuadir  a  deixalios  .En 
tre  eftas  perplexidades  citan- 
do híja  noite  porto  cm  oração 
Ihereuelou  Deos  era  vontade 
fua  fe  partiíle  de  Paleftma  a 
Hcfpanha,  &  fc  embarcaííe 
em  certa  nao  de  Hefpanhoes, 
que  no  porto  de  loppc  acha- 
ria aparelhada.  O  Santo  o  fez 
aísy,&:combom  vento  che- 
gou a  Hcfpanha,  defembar- 
cando ,  como  temos  por  cer- 
to, cm  algum  dos  portos  de 
entre  Douro,  &  Minho,não 
vindo  direito  à  França,  &  a  ci- 
dade de  Turon,  como  contra 
o  que  expreflamente  cfcrcue 
faó  Gregório  Turonenfe  qui- 
zeraõ  conjeitnrar  alguns  au- 
tores. 

7  Defembarcou  faõ  Mar- 
tinho  cm  Portugal  na  mefma 
ocaíião  5  em  que  de  França  ti- 
nhaõ chegado  a  fegunda  vez 
os  embaixadores  de  Thcodí- 
míro  ricos  com  a  rcliquia  da 
capa  de  íàõ  Martinho,^  mui- 
to mais  coma  faude  que  com 
cila  trouxeraõ  ao  Príncipe. 
Eftauá  o  Rey  contentíííimo, 
&  fobremaneira  defejofo  de 
jà  largar  a  maldita  feita  Arria- 
na,  quando  lhe  vemnouas 
que  a  Braga  {  refedia  cntaõ 
nerta  cidade  a  Corte  dos  Sue- 
uos)  era  chegado  hum  ho- 


mem 


S.iQy^ídrtmho  de  T>umc^'i. 


hof 


1 


ca^.  6^i 


mcm  de  nouo  habito,  de 
prczença  venerauel ,  de  peni- 
tencia rara ,  de  cortumcs  fan- 
tillimos ,  &  íobre  tudo  do 
meírno  nome  que  o  Santo 
àt  quem  recebera  a  faude  pcra 
oHlho.  Feio  logo  vir  diante 
fy  Theodimíro ,  &c  por  Deos 
afsy  o  permitir  íe  lhe  aíTci- 
çoou  tanto  nas  primeiras  vi- 
ftas ,  que  de  todo  íe  lhe  cntre- 
gou_j&  o  fez  fenhor  de  feu  co- 
ração ,  &  vontade .  A  mef- 
ma  afteiçaõ  lhe  cobrou  oPrin- 
cipe  Miro  ,  òi  com  elle  toda  ã 
fidalguia  SueUa,a  quem  fc- 
guio  o  mais  Reino,  pcllo  qual 
em  breuc  fé  efpalhoua  fama 
de  fua  vinda ,  &  muito  mais 
a  de  feu  exemplo^  &  raras  vir^ 
tudes. 

8     Achou  em  Braga  por  Ar- 
cebifpo  faõ   Martinho    hum 
varaõ  degfandcfantidadc  por 
nome  Elcuthcrio ,  de  quem 
acima  falamos.  Logo  o  efpi- 
ritodc  hum^  &  outro  (  por- 
que eraõ  muy    fcmelhantes 
nosintentos)federà5as  maõs 
pêra  de  todo  deftcrrareni  den^ 
treos  vafallos  de  Theodimí- 
ro a  hercgia  de  Arrio.  Come- 
çarão pello  Rey ,  que  neftè 
particular  nenhíja  difficulda- 
depos,como  ncrri  ó  Prínci- 
pe feu  filho  pclla  promeflai 


'  que  a  Deos  tinha  feito^  &:  â  feu 
íeruo  faõ  Martmho  Biípo 
de  Turón  Ic  lhe  daua  á  iau- 
de,  que  comelieito  deu  .  Erâ 
pêra  ver  o  feruor  com  que  os 
mães  íenhores  do  Reyno  iè^ 
guiraõ  o  cxéplo  de  léus  Priív 
cipes ,  &a  outra  gente  o  de 
feus  fenhores.  Aliiltiâ  â  to- 
dos j  &c  ã  todos  inílruyâ  fãò 
Martinho^  primeiro  em  Bra- 
ga, ôndé  foraó  as  principáes 
recóciliaçoés  dos  hereges ;  de- 
pois pcUas  cidades  do  Reynój 
pellas  villas,  pellos  lugares, 
pellas  aldeas,queanéíihúapor 
pequena  que  fofle  dcixaua  dé 
acodir  com  a  prczença,quan- 
do  entendia  era  afsy  neceílaiio 
pêra  Icubeni.  )  .  :\ 

9  Reconèialiadosjàaò  pre- 
mio da  igreja  Cathòlicâ  os 
Sueuós ,  recolheofe  faõ  Mar- 
tinho a  Braga  :  &  porque  tra^ 
zia  nos  olhos  não  fó  plantará 
Fè  Catholica  nos  Reynós  de 
Gallizà  ,  mas  ainda  a  Religião 
do  Patriarchá  (aó  Bento  ,  em 
cuja  regra  ,&  vida  monachal 
he  muy  vefdíimel  foílè  iil- 
Itruido  por  fãõ  Mauro  ^  oíi 
por  algum  outro  de  íeus  diçi- 
pulos ,  pedio  á  ThéodirnífOj 
(fé  jà  ellè  não  foi  d  que  lha  õf^- 
fcrcccõjã  Igreja  de  Duí1ie,que 
de  pouco  auia  edificado  em 


Ce  4 


honra 


S08 


Cãptulo  LXXL 


rhron.fol 


honra  de  faõ  Martinho  em  ac- 
ção de  graças^  peila  faudc  que 
ao  filho  cicra  ,  pêra  junco 
delia  edificar  hum  molleiro 
da  íua  Ordem.  Mais  fez  ainda 
Theodimíro,  porque  ajudan- 
,do  à  fabrica  do  mortciro^an- 
tes  fcndociico  que  aromem 
toda  a  íua  conra,  fazcndoo  de 
obra  magnifica  ,  como  apon- 
ta Marco  Máximo,  logo  que 
iSé.vcrf  o  vio  pouoado  deMonges,dc 
licença  de  Lucrécio  Arcebifpo 
que  jà  era  de  Braga  por  mor- 
re de  Eíeucherio,  oleuancou 
cm  Sè  Cachedral  fuíFraganca 
a  Braga, fàzcndoJhcaílinar  de- 
pois no  Concilio  de  Lugo 
por  fubditos  a  familia ,  ôc  cafa 
keal  na  forma  qucjà  eícre- 
iiemos  no  Catálogo  dos  Bif- 
pos  do  Porto,  &  diíTemosem 
íèu  lugar.  NefteBifpado,  de 
nouo  creadofoieIeito,&  no- 
meado por  Bifpo  o  fanto  va- 
rão Martinho  com  alegria  dei 
Rey  Theodimíro ,  &  de  toda 
a  corte ,  &  logo  foi  fagrado 
pello  Arcebifpo  Lucrécio,  pê- 
ra exercitar  o  poder  da  ordem 
PontificaL 

IO  Com  a  noua  digni- 

dade Epifcopal  creceo  em  laÕ 
Martinho  o  zelo,  &  feruor  do 
bem  das  almasyachauaem  Lu- 
crécio feuMetropolitano  que 


í 


'  lhe  reípondia  a  ícus  intentos* 
porque  cm  nada  que  queria, 
&  intentaua  no  íerui^o  Diui- 
no  Ihefalcaua  o  lanto  Prela- 
do. Por  indurtria  de  íaõ  Mar- . 
tinho  ,  &  pêra  melhor  fe  ío- 
eftabelecercm  as  couías  da  Fé, 
publicou  Lucrécio  Concilio 
emBraga,&foi  o  ícgundo  dos 
que  íc  celebrarão  ncíla cidade, 
íe  bem,poi'fcro  primeiro  dos 
impreílòs ,  teue  ate  noíTos  ce- 
pos o  nome  de  primeiro,  co- 
mo jà  deixamos  dito  na  vida 
do  mefmo  Lucrécio,  onde 
também  demos  algua  noticia 
de  feus  Dccrctos,taõ  faudaucis 
naquella  ocaííaõ  pêra  o  bom 
gouernodas  Igrejas  de  hlú- 
panha.  Dcucle  tudo  ao  gran- 
de zelo  de  faõ  Martinho ,  co- 
mo também  o  Concilio ,  que 
fc  celebrou  cm  Lugo ,  cm  que 
foi  preíldcnte  o  meímo 
Lucrécio  ^  como  em 
fuc  lugar  dif- 
femos. 


fupue.jo 


d,  CfOm 


CAP. 


S.^i^dartifiLo  de  'Dumc_;. 


309 


CAPILVLO  LXXII. 

HE  ELEITO   SAM 

Martinho  Arcebifpo  deBra- 
ga ,  refplandece  em  "Virtu- 
des ,  l5f  chama  a  Concilio  os 
Bifposfuffraganeos. 


O  R  T  O 

Lucrécio  co- 
mo a  ninguê 
trazia  Theo- 
dimíro  mais. 
nos  olhos  que  a  faó  Marti- 
nho,logo  foi  nomeado,  & 
cieito  por  Arcebifpo  de  Bra- 
ga, não  obftantes  as  muitas  eí- 
cuzas,  com  que  procuraua 
lançar  de  feus  hõbros  efta  no- 
ua  dignidade ,  nacidas  todas, 
&  inucntadas  por  fua  humil- 
dade.Venocraõ  os  rogos  do 
Rey,  doClero,  &do  pouo, 
&  aceitou  íaõ  Martinho  a  mi^ 
tra  de  Braga,  ficando  também 
com  o  gouerno  de  feu  mo- 
fteiro,  &  Bifpado  de  Durae. 
Então  fe  viraó  refplandccer 
mais  aos  olhos  de  todos  as 
grandes  virtudes ,  de  que  ate 
ly  fò  íabiaò  os  P^eligiofos  de 
Dume ,  porque  poíto  na  digr 


nidade  Primacial  as  cõmuni- 
cauaa  íeus  íubdiros:  apren- 
diaõ  todos  dclle  a  prudência 
na  decilaó  das  caulas^a  julliça 
cmdaracadahú  oícu.orieor 
cm  cartigar  os  vicios  onde 
era  necciiario ,  o  caftigo  pu- 
blico,  a  miíericordia  onde  a 
emenda,  &  conhecimento  da 
própria  culpa  a  pediaõ,  a  pie- 
dade ,  a  efmola,onde  íe  íentia, 
&  ainda  íofpcitaua  a  ncccfsi- 
dadc ,  a  religião  pêra  cÕ  Deos 
na  aíliftencia  ,  &  frequência 
dos  officios  Diuinos ,  d  mao 
tratamento  de  íy  próprio  nos 
jejuns  ,nos  cilícios, nas  dici- 
plinas  ,&  muito  em  particu- 
lar na  cama  i  fobre  as  vigias 
ferem  tão  frequentes, que jà 
mais  faltou  no  choro  nas  ho- 
ras, que  fc  dizião  de  noite, 
deixandofe  ficar  nellc  em  ora- 
ção por  largo  efpaço,&  com 
tantas  coníolaçoês  do  Ceo, 
que  por  lhas  não  impedirem 
o  deixauão  continuar  nella 
feus  capellaésjíe  bem  por  ou- 
tra parte  viao  que  leuando 
aquellemodode  vidão  per- 
deriâo  mais  de  prefla. 
X  Ia  o  Saiito  tinha  alguns 
annosde  Arcebifpo  quando 
poraísy  odczejar  ElRey  A- 
riamíro  filho ,  &  fuceílbr  de 
I  Theodimíro,&  também  pcra 


íe 


3!0 


Capitulo  LXXIL 


fe  acabarem  de  aílencar  alguás 
couías  importantes  às IgrejaSj 
qiiccomo  a  Primaz  lhe  dc- 
luaõ  íogeição,  conuocou  fcgú 
do  Cõcilio  em  Braga  no  (tgxx- 
do  arino  de  AriamirojdeChri 
lio  qiiinhécos  &  feteca  &:dous 
cm  quinze  de  Dezêbro.Foraõ 
de  muita  importância  os  De- 
cretos derte  Concilio   pellos 
abulos,  que  com  ellc  fe  reme- 
diaraõ,em  efpccial  os  que  per- 
tenciaõ  aos  &irpos ,  &  Sacer- 
dotes; porque  a  elics  fe  man- 
dou íobgraues  penas  cclebraf- 
fcm  fempre  cm  jejum,  &  naó 
depois  de  terem  comido,  co- 
mo coftumauão  a  fazer  nas 
miílasdos  defuntos :  aosBif- 
pos  que  fc  moftraiTem  mais 
íolicitos  na  viíita  de  fuás  Igre* 
ps ,  &  ncllas  náo  grauaíTem 
nem  ao  pouo,  nem  aos  Paro- 
chos ,  pedindolhe  pêra  fua  fu- 
ílentaçáo  o  que  clles  naó  po- 
diaõ  dar ,  nem  ellcs  leuar  por 
fer  manifefíamente  contra  o 
que  os  Cânones  fagrados  ti- 
nhao  dcterniinadotmas  dillo, 
&  dos  íantos  Prelados  ,  quê 
aíllfliraõ  no  Concilio  temos 
,  dito  no  cap.  1 1.  defta  hiílo- 
'  ria,  onde  lançamos  o  mefmo 
Concilio, &  Decretos j  qnellc 
íeíízcraõ. 
3         Era  a  ocupação  do  íàn- 


to  Prelado  depois  do  apro- 
ueitamento  de  fua  alma,  aten- 
der ao  de  íuas  ouclhas.  Viílta- 
ua,  enlínaua,  &  remediaua  cò 
tanto  cuidado  a  cada  húa  co- 
mo íe  ciuera  aquclla  {ò,òc  a  tO" 
das  como  fc  náoforaó  mais 
que  húa.  Nunqua  efta  cidade, 
éi  Arccbifpado  fc  vi  o  mais  flo 
rente  em  todos  os  bonsco* 
ftumes  ,  que  fe  profeílauáo 
entre  Chriltãos ,  que  no  tem- 
po dcftc  fanto  Prelado ,  cujas 
obras  heróicas  recopila  cm 
poucas  palauras  a  íua  Icnda^ 
que  anda  no  Breuiario  Bra- 
charenfc  na  terceira  lição  de 
fua  fefta  dizendo.  Infatigahi" 
li  fpiritu  fana  doãrinampr^" 
dicatiit^  Cathoticam  fidemjlabi- 
liuitjfanãa  Religionis  normant 
conflituit ,  E  cckjicis  formauit, 
monajleria  códidit.  He  o  meí- 
mo  que  dizer.  Pregou  com 
humefpirito  incanfaucl  dou- 
trina faáj  eftabeleceo  a  Fè  Ca^ 
tholicã,  fez  regras  da  fanta 
Religião,  ifto  he,  determinou 
as  ccremonias,  de  que  no  cul- 
to Diuíno  feauiade  vzar,re- 
formou  as  Igrejas  ,  fundou 
moíleiros .  Pello  incanfauel 
cfpirito,  &  zelo  fcruorofo, 
com  que  pregou  aos  Sueuos, 
&  Godos  a  pureza  da  doutri- 
na A  poftolica,  lhe  chamauaó 


os 


S.Q^Íartinho  de  'Dumc^. 


311 


os  eícritores  deícii  tempo, «í^ 
CS  que  depois  dcllc  íe  ícguiraÕ 
Apoíloio  de  Hcípanha  ,  co- 
luna da  Relitiiaó  Cíiriílá^  re- 
gra,  &  exemplar  do  ciílco  Di- 
uino ,  cV  finalmente  reforma- 
dor do  ettado  Eccleriaftico,&: 
hindador  dos  monges  Heí- 
panhoes ,  títulos  com  q  hon- 
rou Galliza ,  6í  todas  as  Pro- 
uinciasde  Hefpanha. 


CAPITVLO  LXXIIL 

DOS     MOSTEIRO  S 

que  fundou  faó  Martinho 
neíia  Prouincia  de  entre 
Doure  ^l^  Minho. 


N  T  R  E 

todas  as  ex- 
cellencias  de- 
íleíanto^ne- 
nhúa  lhe  có- 
uem  mais,q  a  de  fundador  de 
morteiros, &  pay  de  monges. 
Naõ  queremos  agora  trazer  a 
diíputa ,  lefoielle  o  primeiro 
q  a  Hefpanha  trouxe  os  reli- 
oiofos  da  Ordem  de  faó  Bcn- 
to  por  não  parecer  tiramos 
lua  antiçTuidade  ao  rcliíriofiííi- 
mo  morteiro  de  íaõ  Pedro  de 


Cardenha  na  dioccíí  de  Bur- 
gos^ò,:  a  de  íaò  Cláudio  j  unto 
aos  muros  de  Leaõ,  ao  de  (aÕ 
Turibio  deLienana,&:  cm  Por 
tugal  no  Bilpado  de  Coimbra 
aLoruaõ^Sc  ao  daVacariçatres 
iegoas  da  mcfma  cidade  pcra 
a  banda  do  norte  na  eílrada 
Real^q  leua  ao  Porto,  onde 
chamão  a  Serra  de  Buílaco 
agora  Igreja  parochial     vnida 
ao  Collccio  de  Coimbra  dos 
PadresErmitaés  de  íanto  Ago- 
rtinho  j  os  quaes  fe  diz  foraS 
edificados  viuendo   ainda  o 
gloriofo  faó  Bcnto,por  mon- 
ges, que  elle  pêra  iilo  de  Itália 
mandou.   Não  falando  logo 
neftes  morteiros,   &  conce- 
dendolhe  liberalmente  a  pre- 
ro^atiua  de  primeiros ;  com 
tudo  nas  terras  da  coroa  dos 
Reys  Sueuos  nenhúa  duuida 
temos  foi  o  primeiro  faõ  Mar 
tinho  que  edificou  morteiros 
da  Ordem  do  gloriofo  Patri- 
archa  faõ  Bento  .   Começou 
pello  de  Dume  nos  arrabal- 
des de  Braga ,  dedicado  ao  glo- 
riofo íaõ  Martinho  Bifpo  de 
Turon ,  afsy  por  a  Igreja ,  a  q 
.  acortaua  fer  da  inuocaçáo  do 
mefmo  fanto  ,  leuantada(co- 
mo  jà  acima  tocamos  )  por 
Theodimíro  ,  em   acção  de 
graças, pella  íaude  que  aò  filho 

dera 


512 

T 


Qapitulo  LXXIII. 


F/.Ant. 
íep  to.} 
eem  3 ,4» 
Chrijii, 
éSz. 


dera  ,  como  pella  particular 
deuaçãOjCjue  o  noílo  Ía5  Mar- 
tinho lhe  tinha ,  por  fer  natu- 
ral feu  (era  também  íaó  Mar- 
tinho de  Turon  Vngaro  de 
nacimento)  &  de  íeu  próprio 
nome. 

z         Foi  logo  em  fua  pri- 
meira fundação  o  molleiro  de 
Dumc  leuantado  cm  Igreja 
Cathedral,  &  o  feu  AbbadeS. 
Martinho  confagrado  em  Bif- 
po,   &:  ncíla  prerogatiua  foi 
o  primeiro,  que  na  ordem  de 
faó  Bento  fe  vio  de  Abbadia 
Bifpado  , de  que  depois  ouue 
muitos ,  &  peraque  aponte- 
mos alguns  em  Hefpanha  he 
certo,  que  fò  ElRey  Vuam- 
ba  crigio  nella  forma  dous ,  a 
faber  o  moíleiro  de  faõ  Pedro, 
&  faõ  Paulo  nos  arrabalde;  de 
Toledo,  a  que  chamauao  Pre- 
torienfe ,  &  o  da  pequena  vii- 
la   de  A  quis  no  Bifpado  de 
Merida  em  rcucrencia  do  gra- 
de confeíTor  de  Chriílo   íaó 
Pimcnio  Bifpo  que  fora  de 
Dume  ,  aqucllc  que  firmou 
no  fexto  Concilio  Tolcdano, 
òi  aly  cítaua  enterrado.  He 
bem  verdade  que  não  dura- 
rão eílcs  dous  Bifpados  ,mais 
queatêoConciloii.  de  To- 
ledo, porque  aly  à  petição  de 
Eniigio  fuceííordc  Vuamba, 


foraò  extintos  j  Sc  tornados 
Abbadias,como  íe  ve  do  meí- 
mo  Concilio.  Taes  dizem  fo- 
rão  também  os  de  faõ  Salua-  i2.'c.I 
dordcLeirc,  Santa  Maria  de 
Nagcra,  faó  Martinho  de  Ab- 
belda,  ôz  outros  erigidos  to- 
dos em  Cathedraes ,  â  imita- 
ção do  noílo  de  Dume,o  qual 
abrio  caminho  na  Ordem  de 
íaó  Bento  a  cfla  noua  digni- 
dade, &  deu  exemplo  pcra 
também  íe  fundarem  muitas 
Cathedraes ,  logo  de  feu  prin- 
cipio, ô*:  fc  admitirem  em  ou- 
tras os  Rcligioíbs  de  fan  Ben- 
to ,  de  maneira  que  todo  o 
Cabido  ficaua  de  Religiofos 
feus  ,no  que  ouue  mais  fre- 
quência pcllos  Reinos  de  In- 
glaterra ,  Eícocia  ,  Alema- 
nha, ôc  outras  Prouincias  do 
Norte.  Durou  o  moíleiro  de 
Dume  por  largos  annos  em 
Biípado,  floreccrão  nellc  gra- 
des fantos ,  &  vco  a  íer  pro- 
uerbio  comum.  Brachara 
n^num  tantum  hahet  Mani- 
num  Dumienfem  ^  monaflerium 
^tro  de  Dume  plures  hahet 
Martinos  Bracbarenfes ,  Bra- 
ga não  tcue  mais  que  hu  Mar- 
tinho de  Dume^porem  o  mo- 
rteiro de  Dume  tem  muitos 
Martinhos  de  Braga. 
3  Antes  que paflcmosà 

fundação 


S .(^^artinho  de  Dumç_j, 


313 


Fundação  de  outros  mollci- 1 
los ,  nos  parcceo  referir  aqui 
hum  nocauel milagre _,  que  na 
íiircia  de  faõ  Maitinho  dcDu- 
me  aconteceo,  nao  obítante 
quereremno  leuaros  autores 
Ca{lclhaaos,comoAmbroíío 
deMoraleSjoPadVefr.  Anco' 
niode  lepes,  òí  outros  à  ígre- 
jade  Oreníc,  mouidos  com 
argumentos  de  taõ  pouca  im- 
portãcJa,quãta  Ihemoílra  fr. 
Bernardo  deBrito,a  quê  reme 
temos  oleicor.  Andaamaraui 
lha  em  S  .Gregório  Turonêíe, 
o  qual  diz  lha  cocou  Florécia- 
no  embaixador  extraordinário 
por  ElRey  de  Fráça  na  Corte 
de  Ariamiro^de  cuja  boca  Fio 
récivino  a  ouuio muitas  vezes. 
4  Foi  pois  o  cafo,  que  co^ 
mo  a  Igreja  de  S.Martinho  de 
Dumeíefundaílénocápo  fo- 
ra dos  muros  da  cidade  cm  lu- 
gar a  que  Thcodimíro  fahia 
arecrearíc  muitas  vezes ,  pêra 
a  entrada, &  cercuito  fer  mais 
frcíco,  &  apraziucl ,  mandou 
poraly  plantar  muitas  parrei- 
ras,&  no  caminho  que  leuaua 
direito  aporta  principal  armar 
húa  fermofa  latada, a  que  cha- 
maua  a  latada  de  faó  Marti- 
nho .  Era  tempo  em  que  as 
vuas  começáo  a  tomar  cor, 
quando  Ariamíro  fez  húa  de- 


lias íaidas ,  como  leu  pay  co- 
ílumaua.  Acompanhauáono 
muitos  criados  feus  ,era  pe- 
rigo que  cada  hum  ie  quize- 
íe  fazer   nouo  em  tocar ,  ôc 
goftar das  vuas, que  por  fer- 
moíaSi&  ja  meãs  pintadas ,  fe 
vinhão  aos  olhos ,  &  eípcrra- 
uão  o  apetite.  OReyporem 
tendo  refpcito  a  faõ  Marti- 
nho ,  cuja  era  a  parrcira,gaar- 
daiuos  ^diíTe ,  que  não  toqueis 
as  vuas,  pêra  que  não  acerte- 
mos de  oííender  a  leu  dono, 
&  fenhor.  Achauafe  aly  hum 
moço ,  a  quem  0  Turoncnfc, 
chama    chacorreiro  dclRcy, 
eíle  tomando  o  dico  por  gra- 
ça ,  &  querendo  delle  mefmo 
fazer  fcíla,le  as  vuas,difle,fão, 
ou  não  faõ  de  Saõ  Martinho, 
iílb  náomeconlla  amim,  o 
cm  que  não  d uu ido  he  na  v5-^ 
tade  que  tenho  de  ascomerj 
tudo  foi  hum  dizer  cftas  pa- 
lauras,   &  afremáííarfeà  par- 
reira, pendurandofe  de  húa  la- 
ta com  a  mão  direita,  &  pega- 
do com  a  efquerda  nõ  cacho, 
que  melhor  lhe  parecco:  ain- 
da o  nãò  tinha  cortado  quan- 
do fcntio  fecarfelhe  o  braço  cf 
querdo ,  &:  pe^arfclhea  mão 
com  dores  cão  agudas  àlata^ 
de  que  fe  pendurara  ^  que  não 
as    podendo    (ofrer    gricatia 

Dd  irrc- 


314 


Capitulo  Lixm. 


■LttflMtfi  ^iMl_i|iii,i.'~W 


ú 


irremíeliaueimcnte ,  chariían  - 
do  pálios  prczentcs  íhc  aco- 
diíkrn,  &i  porS.  M^rcidnoa 
í^Liéoftcníiera ,  Iheperdoáfle, 
tíbua  ElRey  fazenda  oràcío 
dentro  Ra  Igreja  ^íahio  às  vo- 
zes do  miíerauel,&  lâbendo  o 
<]ueera,  quiscom  fua  própria 
ejpada  deeepar  a  maõ  do  atre- 
uido^  porem  adutrtido  dos 
íeus  que  nãoera  aquclle  oté- 
po  de  acrecentar  caUigos-a  ca- 
ll:igos,&  poríê  da  parte  da  j  u- 
i^iça  Diuina  ,q  tão  rigurcfa- 
inêtecatligaua  ao  delinquen- 
te,anres  ocafião  dcf  acodir  por 
perdão  a  fua  niiíericordiai  en- 
trarão todos  na  Igreja,  &  po- 
ítos  por  cerra  pedirão  a  Deos 
íleuantaííe  a  mão  de  fua  ira,co- 
mo   leuantou  rcltit-iiiiido  o 
braço  ao  cuipadoj  &  alegrado 
-o  Rf  y  por  fe  ver  tamisem  òc{- 
pachadoem  fua  petição.  Não 
•diz  o  Turonenle    fc  achafle 
prefent<;a  eftcmilagrco  nof^ 
lo  S.Marrinho,que  ja  auia  an- 
tios  era  Arcebifpo  de  Bragaj 
fe  não  cftcuc  aly,  he certo, 
ofeftejariajprimeiro  com  ac- 
ção de  graças ,  6í  logo  com  o 
diuulgar  por  toda  a  part€,eníl- 
nandoaos  fieis^quc  dalyaprê- 
deífem  a  eftimar ,  &  rcfpeitar 
as  coufasconíã^radas  aos  San*- 
tos,  pois  o  Cco  portão  leuc 


ocaiiãò, como  era  hú  cacho'; 
duua*  âi  parreira  de  fcu  íeruo  ' 
Martinho,  afsy  fe  moílraua 
oífendido. 

■5  'Palkmos  aos  outrosiiio^ 
'  Íicir0s,de  que  també  íabemos 
forão  edificados  por  íaô  Mar- 
tinho ^  &  Icja  o  prirrveiro  de- 
pois dodeDumeoaquc-cha- 
maráo  Máximo  na  dioccfi  de 
Britonia,  agora  Britiandos , 
junto  as  ribeiiasdo  Lima^  na 
-margem  direita  do  Pvio,  co- 
ineçando  de  fua  fonte.  F-icaua 
cite  morteiro  -nas  raizes  do 
monte  Arga:  deulhconome 
<íe  Máximo  afsy  a  funtuofi- 
dadedefeus  edifícios,  como 
o  grande  numero  de  feus  Rc- 
ligioíos  ,q  âiy  ícruiãoaDeos 
Noílo  Senhor .j  de  queman- 
•da  hum  nocauel  elogio,  parte 
de  hi3a  pratica  ,  que  o  Abbade 
Pollemio  Çc%  aos  feus  Rcii- 
giofos  de  P-edrofo:  reícrefè  no 
procmio  das  cõfticuiçoés  «o- 
uas  de  faõ  Bento,  qucfeiido 
Gerai  da  Congregação  deftcs 
Reinos  o  Doutor  frd  Leão, 
fcimprimioem  Coimbra  no 
anno  de  1^19.  diz  afsy  con- 
ucrtido  de  Latim  cm  Portu- 
guez.  Lembramos  irmãos  de  q 
maneira  aqlles  Anjos  habitado- 
res do  moJleiroMaximo^yeJlidos 
de  cilicio  no  efpiriío^i:f')}irmde 

do 


S  .Q^^Iartinho  de  Dumt^. 


315 


no(^o  Padre faÓ  Bento  ^fuflen- 
tatiíw  emjeus  hombroso  Ceo^tf 
tcrr-a^lf  com  fuás  orações  líber 
tauU  eíie  Reino  do  cathieiro  da 
perjidia  Arriana^nao  menos fa- 
biamente  necios,que  ignorante^ 
mente fabios.   EJhsfaÓ  os  (lut 
guardauão  a  regra ^q  nojfofari' 
tifsimo  Padre  efcreueo  forfua 
própria  mao^  tra^ndoa  na  bo- 
ca por  eilima ,  {7'  no  coração 
por  obferuancia,  Ejiesfao  os  q 
merecerãofeu  amor ,  fua  adop- 
cj.o^ttfua  benção ,  feruos  abe- 
coados  de  Deos^  isf  eílimados 
dos  hcmtns.  Eíiesos  q  derwite^ 
tf  de  diafem  cej^ar  fe  ertcómí- 
dau^.o  íify^  MS  outros  a  Chri 
fio  nojjo  Saluador.Eíies  os^yi-^ 
ucndo  ijmdos  em  hú  coração}^ 
hfia  ■vÓtade^  em  biiamor  ^  a(y 
mefmos  erto  efpantofos ,  i!f  dos 
feculares  julgados  por  Anjos  Ifé 
fiidos  em  corpos  humanos:  ^  q 
coufa  mais  efpantofa,que  njiue- 
doem  hum  moUeiro  tao  rico^ 
táo  eslimado  do  Rey^llf  do  Rey^ 
no  ferem  emfuoípejfoas  tao  po- 
bres ,  tao  humildes  i  nacidos 
mais  pêra  o  remédio  dapobre^ 
que  pêra  o  de  fuás  propritts  ne- 
cefs idades  ,  negando  á  fy  afu- 
fientaçao  peila pouparem  pêra 
os  outros.  Corrião  par^lhtsa 
dèuação  dos  monges ^llf  os  nouos 
fogeitos^que  o  Ceo  cada  dia  lhe 


dauapor  companheiros,  Erire- 
quiciâo'õ  MoUtifo  áporfi  a  tútn 
fuiU  doações  Os  féis  ,  if  nós 
Religiofos  delle  erecia  ú  def 
pre^o  da^rique^ycrecia  a  Im^ 
mildade,  Dejpejauafe  a  terra 
depeccadores^  enchiafe  o  Ceo  de 
fantos.  Ate  qui  oAbbadePoi- 
lemio, 

6  Aqui  menos  cie  hua  iegoà 
deíla  cidade  pêra  aparte  do  Oc 
cidcnte  temos  o  terceiro  mo- 
íteiro  edificado  por  S.Marti- 
nho^náó  mui  longe  dos  ann os 
de  ^Cí.  He  bê  verdade,q  o  Cõ* 
de  Dõ  Pedro  faz  feu  fundador 
a  DóPáyo  Gutcerrês  da  Syíua, 
gouernadorde  Portugal  por 
ElRey  de  Gaílella,&  Lcaó  D6 
Arfoiífo  Vl.do  nome.  Porem 
conííderàdas  as  couras,&  pefa 
das  de  vagar  as  mcmorias^que 
defte  moílciro  fe  acháo  aísy 
neílé ,  como  por  outros  defta 
fagradaOrdé.diíFerentes  foraó 
íeus  prmGipioSi&:  muito  mais 
aiicigafuafúdação.Heefte  o  de 
S.  Martinho  de  Tibáés  cabeça 
de  coda  efta  Religiãoi  &  porq 
náo pareça,  que  tiramos  fua 
fundação  a  Dó  Payo  ^  &:  a  da^ 
mos  a  S. Martinho  fem  funda- 
mento na  autiguidadc.aquina 
fua  clauílra  velha  de  q  foi  leua 
ào  pot  minifteriódos  Anjos 
o  fepulchro  em  q  fe  guarda  o 


I 


Dd 


corpo 


3i6 


Capitulo  LXXIIL 


corpo  do  gloriofóS.  Giraldo, 
como  diremos  em  Tua  vida, 
eftaua  húa  pedra  com  a  era  de 
Ceíar  600.  em  que  parece  foi 
aly  polla^q  vem  a  fazer  os  an- 
nos  de  Chrifto  $61.  têpo  em 
q  ogloriofo  S.  Martinho  era 
Biípo  de  Dumc.  Alem  difto 
entre  os  liuros  do  cartório  do 
moílciro  dePedroíocm  hum 
decouías  antiquiíTimas  fc  ve 
cambe  copiada  húa  carta  de  fr. 
Drumario  pêra  fr.  Fontano 
ambos  Rcligiofosdc  S.  Ben- 
to,cuja  dataheem7.de  Ou- 
tubro anno  yyi.  as  palauras 
quizemos  porem  latim  por- 
que ncllas  temos  hum  aranzcl 
de  morteiros  edificados  por 
faõ  Martinho  ,  dizem  afsy . 
De  fruãu  ^entris  tui  ( fala  de 
S.  Martinho,  &c  pella  frazcdo 
pfalmoisi.)  pofuerunt Deus, 
tf  fanãiis  Pater  noíier  Bene- 
diãusfuper  fedes  fuás  monafle- 
riumfcilicet  Dumienfem^Anto- 
ninú^Fiãorium,  Tibianenfem^ 
Villare,Fargenfe ,  Magnatefe, 
Turris,  Claudinum^  Cabanenfe^ 
A  ^r  enfeude  quibusjtcut  de  Pe- 
tri  retíbus,fas  ejldicere,i!f  rti- 
pebatur  rete  pr^  multitudine 
pifcium.Aconí\.ruiçá.o  das  pa- 
lauras he  clara .  No  que  toca 
ao  morteiro  de  faõ  Marti- 
nho deTibaes,qconracncrc 


os  edificados  pello  noílo  ían-  1 
to  Biípo,  taleftauaja  pellos 
annos  de  ^71.  em  que  a  carta 
íeeícrcuia:  logo  diremos  de  ca 
da  hum  dos  outros,  apontan- 
do onde  fe  edificarão ,  &  em  q 
forma  hoje  pcrfeuèraõ. 
7  Ale  defte  teftimunho 

tão  claro,  tirado  da  pedra  que 
rcfcrimos,&  da  carta  em  que 


acabamos 


de  fal 


ar 


lue  am- 


bos fazem  ao  morteiro  deTi- 
baés  fundado  cm  vida  4c  faõ 
Martinho  ,  temos  contra  o 
Conde  Dó  Pedro  as  palauras 
da  vida  de  faõ  Giraldo,  clcri- 
ta  por  Dom  Bernardo  Bifpo 
de  Coimbra  ^  fcu  companhei- 
ro, &  grande  amigo,o  qual  fa- 
lando como  de  Tibaés  fora  Ic- 
uado  o  fepulchro  em  que  col 
locarão  o  fanto  diz.  Quod  in 
Ttbianenfi  mona^erio  à  longis 
retro  temporibus  in  magna  re- 
uerentia  feruabatur .  Ifto  he, 
o  qual  fe  guardaua  aly  de  tem- 
pos antiguos,o  que  í'c  nao  pu- 
dera dizer ,  quando  o  mortei- 
ro fora  edificado  por  Payo 
Guttcrrcs  daSyIua,em  tempo 
que  goucrnaua  o  Reino  por 
Dom  AfFonfo  o  VI.  porq  do 
principio  de  feu  gouerno,que 
foinoannodcioSo.  ate  o  da 
morte  de  S.  Giraldoemy.de 
I  Dezembro  de  II  o9.vaÕfõ  i5>. 


annos. 


S. Quartinho  de  Dumç_y. 


317 


annos^efpaço  que  per  nenliúa 
maneira  íofre  poderfc  expli- 
car com  o  á  longis  retro  í  em- 
porikts  ^  como  íc  diíleramoSj 
cíc  tempos  miiy  anciguosdo 
Bifpo  Dom  Bernardo. 
8  Acreccntafc  contra  o 

mcfmo  Conde  Dom  Pedro  a 
doação  q  a  Infanta  Dona  Vr- 
raca  fillia  de  £lRey  Dom  Fer- 
nádo  o  Masno  fez  a  lorgc  Bif- 
podeTuy  de  alguns  mortei- 
ros de  Portugal. &  entre  elles, 
medietatem  monafterij  Tibia- 
nenfs^quodefiinlitore  de  Ca- 
vado Território  Bracharenfi^ 
^uodmonaflerium  donauit  mihi 
Domina  Fallafqmda.  He  fua 
dacanoanno  de  1071.  noue 
annos  antes  do  goucrno  de 
Payo  Gutterres  da  Sylua.  To- 
marão mal  CS  ReligiofQs  de 
Tibaés  a  renuncia  que  fez  na 
Infanta  Dona  Vrraca  do  pa- 
droado do  feu  mofteiro  Do- 
na Vallafquida ,  derãolhe  fuás 
qucías  por  carta  efcrita  aRedu 
fo,q  dcuia  fer  peíToa  de  obriga- 
ção de  Vallafquidaj  refpon- 
deolhe.  Viaaiojfacarta  ^  Ò»* 
mojireya  a  Dona  Vallafqui- 
da ,  mandoume  que  'VOs  certe- 
jicajje  da  eflima  em  que  'Vos  ti^ 
nha  ,  t^  que  ^os  efcreuejfe  que 
aos  filhos  de  S,  Bento  nacido  de 
\  fungue  Real^do  moUeiro  de  Ti- 


bats^da  njiila  de  Varí^eaytf  de 
Manhedo  ejiaua  bt  ter  empa- 
droeirosReaeSyperaque  melhor 
os  defcndejfem ,  ip'  enriqutcef- 
fem^  como  faria  Dona  Vrraca 
\  filha  de  ElR.ey  Dom  Fernando. 
Eftas  rezoés  pella  parte  con- 
traria traz  fr.  Bernardo  de  Bra- 
ga, religiofo  da  mefma  Ordc. 
Outros  argumétos^&  conjei- 
turas  fc  pode  ver  no  Padre  fr. 
António  lepes,  pello  q  vem  a 
cõcluir  fer  o  próprio  fundador 
de  Tibaés  S.  Martinho,  Óc  feu 
rcdificador  Payo  Gutterres  da 
Sylua.  Forão  grandes  os  tran- 
zes  que  correo  cfte  mofteiro, 
hoje  he  de  notauel  reforma- 
ção A' cabeça  dos  de  faó  Ben- 
to de  Portugal. 
p  Tornando  ao  roteiro  do 
monge  Drumario  na  fua  carta 
pêra  Fontano,  depois  do  mo- 
fteiro de  D  ume  nomea  logo 
Antoninúfi  de  fancoAntonio, 
q  bem  fe  deixa  ver,  he  o  q  nós 
chamamos  vulgarmente  Sato 
^«íÍí<7.Eftaua  edificado  no  mó 
te  Brito  perto  da  freiguezia  de 
Barbudo  ao  norte defta  noílâ 
cidade  de  Braga:  teuc  feu  prin- 
cipio pellos  annos  jój.  Fa- 
lando deliePollemio,aquem 
acima allcgamos ,  &  cujo  dif- 
femoí  era  o  Hlogio  dos  Rc- 
ligiofos  do  mofteiroMaximo, 


ík  m.  s. 


to.  l.Cct, 


Dd 


fazendo 


"■pliWMBy**-  -  — "" 


.1  .Vv 


^  I  §  C-a^ituk 

tazèiiíioalkizãõab  nome  de 

Mòkir-c,  dizY  Qwd.dicam  de 

i  Jnrcnmis noJMj,  nan  MàUris'^ 

\fed"aMeís'i,  qtés  WErenufépa- 

■  PK^-s"Ant6nijlfamaEremi  l)'tft 

('■  ciílt&fés  pVièdiCiH  fub  nnm  j-ó^. 
?  Q\T?:'vos  direi  dos  nõíl os  An- 
.  rcil^iiiés,  náode  Moure  ,  mas 
de  oÚFOjaos  <]uác^,-como  ver- 
•dadt»õ6£fmicâésde  noílo  pay 
laftCô  Antão   os  apregoa  a  fa- 
líia^ptJr  dignos  habitadores  do 
deíéíDo  deído  áiio  de  ^6^.  &c.' 
;Fiõfêceoneftemoftciro  mui- 
to o  ciílco  Diuino,  auia  ncllc 
toda  a  noite  Laus  per  cms^ch^x- 
niauãore  õs  feiJs  monges  vul- 
garmente  pella  muita  fanti- 
dadc^  que  profeílauão  imita- 
dores dos  de  Dume.  Foidè- 
lliruido  pclios  MouroSjdcpois 
rédificado  no  anno  de  1031. 
poi:  hum  Sacerdote  chamado 
Nuno  For jas,&:  depois  no  an- 
no de  1096.   emz4.de    Abril 
I  doado  ao  bemauenrurado  faó 
Giraldo  pêra  fua  Sc  por  Nuno 
Soares  padroeiro  delle ,  a  qual 
doação  confirmou,  &  ouue 
por  boa  o  Conde  Dom  Hen- 
rique,&  íeu  filho  ElReyDom 
Affonío  o  fez  couto  alguns 
anroi  mais  adiante. 
10  Sç2.uç{q  Fiãoriníim, 

He  efte  fem  dunidá  odelaõ 
Vítouro  Igreja  taõ  conhecida 


LXXIII. 

■ —    ■  '■  -™        ■-     -     .^i.ii-i  ■■   ■  ^ 

héíla  cidade  :  deufe  pêra  nella 
víucrc  frades,  &  fer  Priorado 
do  moíleiro  de  íanto  AnracS 
deM<5ureao  íeus  Reii^ioíos 
porhiim  Vaíco Mendc/^ cuja 
doação  (e  guarda  no  moíteiro 
de  Tibaés  feita  em  dez  de  No- 
uembro  no  anno  5(55.  Conte 
eftás  palauras  .  Vobis  <z>iris 
Dei  de  monasierio  de  Moure 
damus.Fillam  ncsiram  cum 
omnibm  ndfepertinentibtis^  cu 
Ecclefa  S^.ãi  Fi£lorisp-o  am- 
mnbtís  noflris^V'  amoreDei^lPt 
ihi  faciatis  templum  fanãum 
Domini  -ijobis  habitaculum  1  o. 
Notiemb.  ann.  j-ój.  Pella  doa- 
ção que  fe  fez  a  íaõ  Giraldo  do 
moíleiro  de  fanto  AntaÕde 
Moure,  cujo  Priorado  era 
íaõ  Vitouro  de  Braga ,  ficarão 
os  Arcebifpos  íendo  Abbades 

d efta  Igreja  ,  como  hoje  o 
Ííj5^  oh  cr.     -;   -.:..a  v: 

1 9''-y^  ^'';  Tibianenfe^ht  o  mef- 
mo  que  o  de  Tibaés ,  jà  diíTe- 
mos  o  que  nos  pareceo  baila- 
ria pêra  darmos  noticia  delle, 
Fillare ,  chamafe  hoje  faó  Sal- 
uador  de  Villar  de  Frades ,  foi 
edificado  íem  duuida  por  faõ 
Martinho,  &  na  Ordem  de 
íaõBéto  pcrfeuerou  por  mui- 
tas centenas  de  annoá  .  Eftà 
quaíl  na  mcfmadiftancia  de 
Braga ,  &  Barcellos,  pofto  na 


marízcm 


S.çí^íartinho  de  ^umc^: 


319 


maro^m  ào  Rio  Caua.iocm 
lagaríobrernaiíeira  frelco ,  d: 
apraziuel,  He  cradiçáo  aiiti- 
qiiiíimu  que  hum  dos  Ab- 
badcs  defaó  Bento, que  nclle 
floreceráo,  mctendoíe  pello 
boíque  do  inoíleiro  leuado 
da  contemplação  dos  bés  da 
gloria,  de  que  Deos  Ibe  quiz 
dar  algum  íentimento  ,  &:co- 
nhccuiiento  períeucrou  im- 
mouel  nomefmo  lugar  mais 
de  letcfita  aiinos ,  ícm  iielles 
nunqua  comer,  nem  dormir, 
nem  dar  fè ,  ou  fer  villo  de 
peííoa  algúa .  Recolhido  a  ca- 
ía depois  daqucUc  largo  cfpa- 
ço ,  pareccndolhe  que  vi- 
nha de  dar  hum  breue  pa íleo 
pella  horta,  achou  tudo  taó 
mudado,  &  trocado  que  nem 
conhecia,  nem  era  conhecido 
dos  frades  que  aly  morauão. 
Paímados  de  taó  grande  ma- 
rauilha  ,  &í  fabido  por  conjci- 
turas  euidcntes ,  que  cUe  era  o 
Abbade,  q  aly  fora  em  outro 
tcmpo,&  delaparecera  fem  fe 
íabcr  que  caminho  leuara, 
perguntando  donde  eftiuera, 
&  cm  que  forma  de  vida  gafta- 
ra  aquelles  annos:  contou  co- 
mo ínindo  húa  madrugada  a 
palíear  pella  cerca  do  molíei- 
ro  cm  ocaíiaõ,  que  os  paíTari- 
nhoç  todos  íe  desfàz-iaõ  em 


louuores  de  feu Criador  paí- 
íando  cem  a  conílderaçao  das 
mu  ficas  áà  terra  às-doCeo, 
fe  lhe  puzera  em  hum  ramo 
húa  aue  pequena  n.'j  corpo, 
varia,  &  fermofa  nas  cores^& 
de  voz  ,  òc  armonia  táo  íua- 
iic  que  em  íèus  dias  nunqua 
ouuira  tal  :  eífa  dliuera  oa- 
uindo  todo  aquelle  tempo, ' 
íemclarfè  deíy,  nem  dos  an- 
nos que  paífaraò  parecendolhc 
todos  hum  breue  moriíeuto. 
Viueo  ainda  alguns  dias  de- 
pois eíte  íanto  Religiofo.  Na 
fepultura  em  que  o  enterra- 
rão, íelauroude  obraderele- 
uo  cífc  milagroío  fuceílo, 
que  ainda  duraua  no  tempo 
q  osConegos  Regulares  de  S. 
loão  Euágehíta  tomarão  pof- 
fe  delfe  morteiro  por  doa- 
ção que  dcUe  fez  ao  meílre 
loaó  íeu  fundador  neftes  Rei- 
nos, &  depois  Bifpo  de  La- 
mego, &  Vifeu  o  Arccbifpo 
delia  Igreja  de  Braga  Dom 
Fernando  da  Guerra ,  pêra  cu- 
ja vida  guardamos  o  mais  que 
delle  íe  poderia  dizer. 
II  Vargenfe^I^lagnaten- 

fe,  forão  a  principio  moftei- 
;  ros,  &  ambos  fundados  por 
S*MartinhojO  primeiro  íc  cha 
mouS.Bêtoda  Varfea,mea  Ic- 
goa  de  Barcellos:hc  hoje  Igre- 


Dd 


ja 


32G 


Capitulo  LXXIIL 


ja  parochial  vnida  ao  moliei- 
lo  de  Villar  de  frades,  por  re- 
nuncia, quedcllc  fez  o  Ab- 
bade  Vafco  Roíz  Chantre  de- 
ita Se  varão  de  muita  virtu- 
de, ôc  fantos  exemplos  ,  foi 
dos  primeiros  Cónegos  Re- 
gulares, que  ncfie  Reino  ílo- 
rcceraô  ,  viuco  no  reinado  de 
Dom  Aifonfo  o  Qinnto  ,  ôc 
era  Villar  de  frades  ellá  fepul- 
tado,  5aõ  Martinho  de  Ma- 
nhcdo  fe  vnío  tábcm  no  mcf- 
mo  tempo,  pcUo  mefmo  Ar- 
ccbifpo  Dom  Fernando  da 
Guerra  a  Villar  de  frades  ;  era 
então  abbadia  fccular  ,  ôc  nc- 
íla  forma  pcrfeucra  Koje,com 
fea  Vígairo,  que  adminiílra 
os  Sacramentos  aos  freigue- 
zcs :  dilla  pouco  cfpaço  do 
mcfmo  moíteiro. 
13  Tiirris  ,0  moftciro 

de  faõ  Saluador  da  Torre  ,a 
quem  antiguamente  chama- 
uão  S.Saluador  de  Dume,por 
fcr  colónia  fua,&:  grande  imi- 
tador de  íua  obfcruancia :  he 
hoje  de  faõ  Domingos,  vnido 
ao  moílciro  de  Viana  pcllo 
Illurtrifsimo  fenhorDom  frei 
Bartholamcu  dos  Martyres 
Arccbifpo  Primaz:  era  ao  tê- 
poda  vniaó  abbadia  íccular, 
&  jàdt  muitos  annos  falta- 
uão  aly  Rcligiofos.  Claudinum 


he  o  mofteiro  de  faõ  Cláudio,, 
he  hoje  Igreja  parochial,  teue 
por  fundador  a  íaõ  Mar tinho. 
Sòillo  nos  confta  delle  ,  & 
não  mais. 

14,  Cahanenfe^  heíâÕIoaõ 
de  Cabanas,  foftentou  em  fua 
proíperidadc  fctcnta  &  finco 
monges,  que  naquclla moíi- 
tanha  como  águias  gencro- 
fas  poíêraõ  fua  morada,  hoje 
he  reíidécia  de  dousRcligiofos 
A^enje  chamouíe  íaõ  Cofmc 
de  Azere  ,cíH  cm  Valdeucz, 
hehojc  Igreja  parochial. 
ij  Temos   dadobreue- 

mente  conta  dos  mofteiros, 
que  achamos  na  carta  de  frei 
Drumario  pêra  Fontano,  to- 
dos íemduuida  fundaçãode 
faS  Martinho.  Outros  acha- 
mos ainda  neftc  noíTo  Arcebif 
pado  de  q  temos  prouaucis  có 
jeituras  íoraÕ  também  porcl- 
le  edificados,mas  como  a  cer- 
teza não  he  tanta ,  &  o  outro 
fundador  que  felheaílina  feja 
íaõ  Frutuofo ,  pêra  fua  vida 
guardamos  o  que  delles  pudé- 
ramos cfcreucr. 
16  Foi  efta  obra  de  fundar 
morteiros  hua  das  principaes 
emquefe  ocupou  íaõ  Marti- 
nho, porque  com  o  exemplo 
dos  monges  fe  reformauão 
os  mães   Ecclcliaflicos ,  &  a 


çcnte 

o 


S. Quartinho  cie  1)umcj. 


321 


gente  Portugueza  íe  aíFei— 
çoaua  à  religião ,  dando  de 
niáo  aos  goltosj  &  paflacem- 
pos  do  mundo  por  fcguira 
Chrifto  crucificado  ,  como 
fcguiraõ  muitos  ^  enchcndoíc 
demaneiraos  morteiros ,  que 
pôde  dizer  Drumario  de  tan- 
tos ,  quantos  nomeou  na  lua 
carta.  Riimpebamr  rete  pr4 
miiltitudine  pifcium.  Alem  di- 
fto  tinha  ndles  a  gente  pobre 
(de  que  íemprc  ouue  grande 
numero  entre  Douro,  &  Mi- 
nho) o  remédio  de  fuás  necef- 
íidades,porqueas  mais  defuas 
rendas,  que  eraõ  copiofas ,  fe 
gaftauáo  com  os  mifcraucis, 
tomando  pêra  fy  os  Religio* 
fos  fò  o  que  precifamente  ba- 
ftaua  pcra  fuftentaçáo  da  vi- 
da :  alem  doutro  fruito  muy 
principal  ^  que  daqui  íiacia, 
a  raber,a  continua  oração,quc 
pello  Rcy,pello  Rcyno,&  to- 
dos os  eftados  delle  fazião  õs 
Religioíos  a  Deos  NoíTo  Se- 
nhor» as  quaes  ,como  de  gen- 
te tão  fanra,  não  podcrião  dei 
xar  de  fcr  muito  agrada- 
ucis  3  fua  Diuina 
Mageftadc. 


CAPITVLO  LXXim. 

X>  O  $     L  1  F  R  O  S, 

ip*  obras  que  compôs  o  glo- 
rtojofaó  Martinho. 


Cupoufc  tã- 
bem  S.Marti- 
nho nacõpo- 
íição  de  mui- 
tos, ôc  vários 
tratados,  de  que  fe  pudeílèti* 
rar  proueito  efpiritual ,  pcra 
não  fef  fò  pfoueitofo  a  fuás 
ouclhas  com  a  lingoa  no  puí- 


obra 


pico ,  com  as  obras  na  con- 
uerfação  ,  mas  muito  mais  cõ 
a  pena  nos  liuros;  gaftounos  a 
mayor,  ôc  melhor  parte  delles 
o  tempo,  enuejândo  como  a- 
uarento  efte  riquiílimo  the- 
fouro  à  Igreja  de  Braga ,  6c 
ao  mundo  todo  a  luz,  &  dou- 
trina, que  daqui  poderiãô  to- 
mar os  íieis,*ainda  os  que  nos 
ficarão  correrão  muitos  an- 
nos  por  de  Séneca,  o  que  não 
he  piqueno  louuor  de  faõMar 
tinho ,  pêra  quem  conhece  o 
cílylo  daquelle  graõphilofo- 
pho:mas  ja  neftas  vitimas  im 
pr^efloês  deFrãça,&Alemanha 


vem 


322 


tij  kU,-j. 
5>^'b.  de 
jt  rip  Ec- 
íl  c.t^. 
Ifiili. 
•verbo 
Martin^ 


Ifil   áe 


20,  Afar 
leíl. 


ãffcript. 

EccUf 

á.c,  1^. 


vem  com  titulo  de  íeu  pró- 
prio autor.  Acharfeaó  no  ;. 
tomo  da  Bibliorheca  dos  Pa- 
dres impreíla  em  Leaõ  de  Fra- 
ca no  anno  i  j-85>.  Q  primeiro 
íc  intitula  Forma  homíU  a»/- 
r-f,  faz  menção  dclleíànto  Ifi- 
doro:  o  Breuiario  delia  Sè^Si- 
gibcrto ,  &:  Trithemio^dizem 
o  dedicou  a  ElRey  Miro  ,  que 
foiTheodimíro,  ou  Ariamí- 
ro  leu  fuceílor.  O  outro  tra- 
tado tem  por  titulo  ^^  mor/- 
hiís.  Totalmente  perecerão  as 
fuás  cartas ,  em  q  íanto  Illdo- 
ro  diz.   Hortabatur  nd  emen- 
datwnem^vitíe  ^  conuerfaticní 
f  dei. orar ionis  infiantiam,  ele- 
tmojynarum  dijlribmionem^  ijf 
fuperomnia  (  cultum  omnium 
<T'irtutum)pietatem.  Ex horta- 
ua  à  emendada  vida^vida con- 
forme à  Fè,  inftancia  na  ora- 
çáo„  largueza  nas  efmòlas ,  & 
íobre  tudo  à  piedade,  afieõ,  & 
gala  de  todas  as   virtudes  . 
Também  fe  pcrdeo  o  outro 
tratado,  a  que  o  Breuiario  de 
Braga  nomea.  Opufctilú de cor- 
reóiione  ruflicorú^  qui  cújideUs 
tj^ent  idólis  honor e  exhibebant. 
Da  emenda  dos  rufticos ,  que 
fendo  fieis,  faziaõ  honra  aos 
Ídolos,  Sigiberto  affirma  que 
S.  M.i-rtinho  por  maõ  de  Paf- 
chaíio  tresladou  de  Grego  cm 


Capítulo  LX  XIIIL 


latim  muitas  íentenças  de  Er- 
mitães doEgyptOj  andãoal- 
oúasna5  vidas  dos  Padres  im- 
prcílãs  em  Leáo  de  França  no 
anno  de  lóiy.illuílradas  pello 
Padre  Hiriberto  Rofuueydi 
da  Cópanhia  de  IESV,onde  fc 
poderão  ler. 

X  A  principal  obra  lite- 

rária de  faó  Martinho,  de  que 
hoje  gozamos,  he  a  colleiçâo, 
&  recopilaçáo  ,  q  fez  de  mui- 
tos Cânones,  tirados  dos  CÕ- 
ciliosOricntaes,  efcritos  em 
Grego,  de  que  no  Occidcnte, 
&  particularmente  por  Hcf- 
panha,ncnhúa  noticia  fc  ti- 
nha ,  pclla  ignorância  da  lín- 
gua Grega.  A  eftes  conuerteo 
o  Santo  na  Latina,  &:  faõ  muy 
allegados  no  Decreto  de  Gra- 
ciano,  fe  bem  com  nome  de 
Martinho  Fapa,auendo  de  fcr 
com  o  de  faõ  Martinho  Bifpo 
de  Dume  5  ou  Arcebifpode 
Braga  jO  que  nãoaducrtimos 
nos  Comentos  ao  Decreto, 
quando  ao  capitulo ,  /  quis 
presbyter ,  explicamos  quem 
fora  S.Martinho  Papa,  áuédo 
de  explicar  que  fora  S.Marti- 
nho de  Dume^ou  oBracharê- 
fc,de  quem  ja  tínhamos  dado 
noticia,&  nomeado  porhym 
dos  rccopiladoresdoDccrcto 
no  prologo  do  mefmo  liuro. 


foi.  768. 


BaroH.to, 
7.   atin. 


Chrip. 
583, 


Dcd 


ICOU 


S.Q^Íértinho  de  T>mnt 


c_>. 


S3i 


Dedicou  ell:a  íua  Colieição 
dos  Cânones  Orientaes  laõ 
Martinho  a  NitigioArccbiípo 
dcLijgOj&aoCõcilioqaly  íe 
*ajuntou:o  titulo  diz  aísy.  Do- 
mino meò  hecttifsimo^  aC  Apoíio 
lic£  [edis  honon  fufpiciendo  in 
Chriíio  fratri  Nntgio  Epif- 
copo ,  njel  ijniuerjo  Concilio 
Liicenfs  Ecclefi^  ,  Martinus 
Epifiopus^^c.  Eftc  heaquellc 
n'crmoNifigio  que  fe achou 
no  Conciho  de  Braga,  ôc  Lu- 
go  como  temos  dito. 
5  Por  todas  cftas  obras 

ircrcceoíaõ  Martinho  efcrc- 
tier  delle  feu  contemporâneo 
faõ  Gregório  Turoneníe  In 
tantum  fe  literis  imbuit  ^  iJt 
nulli  fecundas  fuis  temporíbtis 
haheretur.  Eftudou,  &  foube 
tanto,  que  a  nenhum  de  íeu 
tempo  foi  inferior,  fendo q 
concorrerão  com  elle  neíle  fe- 
culo  dos  quinhentos ,  pêra  os 
feifccntosannoSjde  Africa  os 
Fulgencios ,  os  Ferrandos ,  os 
EugippioSjOS  Vi(5lores,os  lu- 
nilios  ,os  Primaíios,  os  Li- 
teratos :  de  Aíía  os  Andres 
CcfariêfeSjOS  AnaftailosSinai- 
tasrdc  Europa  os  Ennodios, 
os  Mafcclhnos,  os  Auitos^os 
BoecioSjOS  CaíTiodoros,  os 
Lconcios,os  luífos  Orgilli- 
tanosjdc  Milão,  os  Dacios, 


os  Vciianciosj  os  Euoo;rios,  òc 
outros  de  que  tcuc  boa  noti- 
cia o  Turoneníe,  quando  aísy 
elcreuiadeS.  Martinho.  Lou* 
ua  depois  diílo  ao  Santo  de 
grande  poeta,  òc  traz  em  pro- 
ua  certos  verfos  ,  que  na  por^' 
ta  principal  de  fcu  morteiro 
de  Dume  ( que  ficaua  pcra  a 
cidade)  mandara  efeulpir,  os 
quaes  por  elegantes  andauáo 
na  boca  de  todos:mas  como  a 
fúria  dos  Mouros  delfruyo 
aquclla  Igreja  -^  ôc  moíleiró^ 
perdeofe  a  pcdra,&  perderão - 
fe  os  vcríos,  &  a  hos  íò  nos  fi* 
cou  a  magoa  de  nao  podef^ 
mos  gozar  de  fua  elegância. 


CAPITVLO  LXXV. 

DA     oiti  R  I  O  S  A 

morte  do  bemauentiirado  S, 
Martinho  de  Dume, 


EMOS  da- 
do a  noticia? 
que  nos  foi 
poííiueldavi 
da,&  efcritos 
deS.  Martinho.  Reífa  agora 
íua  morte  bemauêf urada,dc  q 
íempreviueo  faudofo  ^  pello 


multo 

jui    I     I     MiiMlIlii^ 


3  24 


Capitulo  LXXV. 


muico  que  dcfejaua  veríe  com 
Dcos.  Cahio  eníermo  ja  cheo 
de  annos ,  armoufe  com  os 
Sacramécos  daígrcja  próprios 
daquclla  hora  ,  &   Ibbrc  hua 
pobre  caina  cu  berço  dcíacco, 
&c  ciiiza^  cfpcrou  o  efpofo  de 
íua  alma   Chriílo  lESV,  o 
qual  Ihenaõfakoii  em  ocaíião. 
taõ  apertada,  &lheapareceo 
nnqucUa  taõ  alegre  ,  &  doce 
prelença,  com  que  coíluma 
chamar  as  ahnas  dcs  U\às  mais 
amados,  pêra  as  bodas  eternas. 
Trazia  em   Ita  companhia  a 
Rainha  dos  Anjos ,  o  ^lorio- 
fo  faÓ  Martinho  Bifpo  de  Tu- 
ron,dequcm  íempre  como 
natural  í eu,  ^  do  feu  nome 
fora  deuotiílmio:  entre  tacs 
auogados ,  &  defenforcs  fe  toi 
cótentiílimo  deíla  vida  pêra  a 
eterna  cm  vinte  de  Março  do 
anno  de  ^^}.    chorando   os 
feus  pello  perderem, alegran- 
doíe  osbemauenturados  pel- 
lo ganharem .  Antes  de  mor- 
rer ordenou  ícu  teftamento^ 
em  que  difpos  o  queconui- 
,  nha  pêra  fua  alma ,  deixando 
j  alguns  legados ;  nomeou  por 
executores ,  òz   teftamentci- 
ros  aos  Reis  deftc  Reino ,  co- 
mo conrto  do  IO.  Concilio 
Tolcdano  celebrado  em  tem- 
po dclRey  Receíuindo,  on- 


deie leuou  o  meímo  tefta- 
mcnco  per  hum  fidalgo  cha- 
mado Vuamba  ,  òi  ElRey  oc  - 
denou  aos  Bifpos  tratalícmda 
execução  delle,  poiscllauaà 
conta  dos  Reys  a  obrigação 
deocomprir.  Quaes  foliem 
os  legados  do  teítamento,  6.: 
particularidades  delle  nosem- 
cobrio  o  tempo,  &  iò  nos  íl- 
cou  cila  curta  memoria,  que 
os  Padres  daquclle  Concilio 
nos  deixarão  da  efcricura ,  cu- 
jas letras  mereciaõ  eterna  lem- 
brança.Enterrarão  o  íantono 
ícu  moíleiro  de  Dume ,  onde 
elleue  muitos  annos  vene- 
rado dos  fieis  ,  que  em  feu 
fepulcbroachauãoo  remédio 
de  fuás  necefsidades.  Diziafe 
cõmíímente  pellos  milagres 
que  hum  obraua  em  França, 
outro  em  Portugal,  ter  Deos 
metida  na  maõ  ,  &  entregue 
fija  omnipotência  aos  dous 
Martinhos :  ena  verdade ,  quê 
bem  conílderar  as  maraui- 
Ihas  feitas  por  hum,  &  outro 
facilmente  aísy  o  julgara, 
i  Com  a  entrada  dos  Mou- 
ros em  Hefpanba ,  &  com  a 
dertruiçaõdefta  cidade/ &  mo 
fteiro  de  Dumc,efconderaõ 
os  fieis  as  lanças  relíquias, pêra 
que  os  Bárbaros  as  não  ò.cÇq- 
iiimaílemi  mas  foi  demaneira 


S 


ue 


S .Q^Iarfmho  de  Dumc^, 


325 


que  (cmpre  íe  cõferuou  a  me-  I 
moria, donde  cftauao  recolhi- 
das ^icêq  tornado  melhores  tê 
pos  ,ac]ucllcs  meímos  q  rcdi- 
íicarão  o  moíleiro  as  colloca- 
ráo  outra  vez  no  leu  próprio 
Icpiílchro  leu  atado  febre  duas 
colunnas  na  Capella  mor  da 
meíma  Igreja  pêra  aparte  da 
cpiíioIa.Dacjui  as  tirou  o  illu- 
ítriilimo  íenhorArcebiípo  de 
Braga  Dó  Manoel  de  Sou  fa_,& 
asfcchou  no  mefmo  fcpui- 
chro  dentro  do  altar  môr_,pera 
a  (eu  tempo  as  tresladar  a  efta 
Sc,  <5j  por  entretanto  dcííma- 
ginaraosde  Dumc  que  não 
pretendia  tirallos/enão  Tegu- 
rallos  na  poííe  de  tão  rico  the- 
zouro  ,  lendo  a  traça  verdadei- 
ra trazellas  a  Bracra  fem  fer  fcn 
tido  primeiro  que  as  mortraf- 
íe  coUccadas  no  lugar  onde 
dcíejaua^  pois  mal  podiao  ad- 
uertir  os  que  as  defendiaõ,  fc 
foltauão  ou  não  de  dentro  do 
altar,  que  fó  por  efte  rerpeito 
eícolhcra  pêra  ofantodepo- 
fito. 

3  Faícceo  o  Arcebifpo  Dõ 
Manoelde  Soufa  primeiro  q 
pudeíle  por  em  execução  efte 
reuderenhoi&  comoelleíó, 
&  poucos  outros  fabião  do  lu 
gar  das  fagradaá  reliquías,com 
lua  morte  feperdeo  a  memo- 


^ 


ria,&  certeza  ácQc  eílauãoj  fe 
bé  còftaua  ícr  na  igreja  deDu- 
.  mc.Entrou  no  Arccbirpado  o 
illuilriíiimOj&Reuendiíiimo 
fenhor  DõFr.  Agoíl:inhode 
Caftf  o,&  como  tão  zeloío  da 
honra, &  gloria  dos  fatos  Pre- 
lados ícus  anteceííorcs ,  man- 
dou por  todas  asfgrejas,&mo 
ftciros  de  fcu  Arcebiípado  fa- 
zer,e  fez  por  lua  pelica  muitas 
penitécias,jejus^diciplina^,ora 
çoés,cím.clas,  &í  outras  obras 
pias,pcraqaDiuina  bondade, 
&i  mílcricordia  íc  dignafle  def- 
cobriro  corpodoícgíidoApo 
ílolo  dePortu.^al  S.Martinho, 
aquém  como  a  depoíito  de 
hú  taó  bcmaucnturado  efpiri- 
to  defejaua  dará  veneração, 
qpellosreusPortuguczes,cujo 
mcftrc  tinha  fido  naFè,&:pel- 
los  mães  lieis,  a  quê  com  ícus 
fantiflimos,&  doutiííimos  cf- 
critos  aknriiara,lhe  era  tão  de- 
uida. 

4  Entre  cflcs  pêíamctosmo 
uido ,  como  clle  dizia  ,  de  húa 
efficacia,  a  que  não  podia  rcíí- 
ílir^  mandou  desfazer  o  airar 
mor  da  Igreja  de  Dume,ondc 
fe  achou  hú  fepulchro  de  pe- 
dra como  de  cíhcmòs ,  &  pê- 
ra a  pouca  arte  e]  então  auia  na 
efcultura,de  obra  mais  q  ordi- 
naria,porq  tinha  na  frotalcira 

Ec  CS 


326 


Capitulo  LX  XV. 


os  doze  Apoltolosabcrcosao 
cizel;  noalcov  &  meo  da  mef- 
ma  frõtaleiraa  SãtillimaTrin- 
dade^em  cada  canto  hú  dos  ge- 
rogliíicos,q  fe  coítumáo  pin- 
tar c5  os  Euangcliftas  ^  Anjo, 
Aguia,Leaõ,eTouro.Foi  gra- 
de o  aluoroço  dos  prefcntes, 
&  muito  mayor  o  doArccbif- 
porchaniarãofe  os  homés  ve- 
Ihosda  freigiiezia,&  outros  da 
cidade,rcconhecerão  o  fepul- 
chrojtertificaraõ  fer  o  q  eltiue 
ra  primeiro  fobre  as  colunas 
na    Capclla   mor    refpeitado 
de  todo  o  pouo  como  de  laò 
Martinho,&  cõ  particular  de- 
uaçáo ,  fk    piedade  venerado 
dos  fcreniílimos   P^eis  Dom 
loáoo  lí,  &  Dom  Manoel, 
&  yitimamentedo  Infate  Dõ 
Luís,  quádo  paíTaraõ  em  ro- 
maria a  Santiago  de   Gailiza, 
íegundo  clles  viraõ  porfcus 
próprios  olhos  nos  vltimos 
dous  fenhores,&:  do  primeiro 
lho  relatauão  íeus  pays^í^  tam- 
bém fc  acharão  prefentcs. 
$      Reconhecido  o  fagradofe 
pulchro,aindaq  cõ  grádiílima 
cõtradição  da  freiguezia,o  fez  o 
ArcebifpoPrimàz  tresladarcõ 
a  mayor  dececia,Ã:folénidade, 
q  Ihefoipoííiuel ao  Morteiro 
deS  Frutuoío,&:  entregar aly 
àquelles  Tantos  Religiolos,pe- 


raqfofsê  íeus  depoíítarios  cm 
qianto  fe preparaua  lugar  na 
íua  Sè.x^briole  ao  tépo  da  en- 
trega ofagrado  íepulchro,& 
foi  tão  celertial,  &diuinoo 
cheiro  q  todos  os  preféces  fen- 
tirão,&:  por  muitos  dias  íe  íen 
tio  naquella  cafa,  q  realmente 
lhe  parecia  viuiaõ  na  gloria.  E- 
ra  a  íua  fonte  as  fágradas  reli- 
qiiias  cõprindofencllas  tanto 
àletra  oàcS.Vãvlo.Chrifliho- 
nus  odorjumus.  Notouíeícrê 
tcdos  CS  oílbs  do  íanto  em  cf- 
pecial  os  das  canas  /  pernas  fo 
bre  maneira  grandes^quaes  or- 
dinariamente íàõ  os  homés  de 
Vngria,dõdeS.  Martinho  era 
natural.  De  todos  os  do  corpo 
fò  a  cana  de  hú  dos  braços 
fe  achou  menos  rbemfofpei- 
tamos  a  leuariao  coníígo  íe  us 
Religiofos  quando  obriga- 
dos da  fúria  dos  Mouros  fe 
paílàráo  às  ferras  de  Aílurias^ 
&í  poucas  legoas  antes  do  por 
to  de  Ribadeu,&  nãológedõ 
de  agora  eítà  Mondonhedo 
edificarão  outro  mofteiro  cõ 
o  mefmo  nome  de  Durne ,  & 
inuocação  dcS.  Martinho,por 
q  em  húa  doação  q  fez  àquel- 
lesReligiofos,&aoBifpoTheo 
dimíro  certa  fenhora  por  no- 
meApala^é  louuor  de  S. Marti 
nhoacrecéta.  Cum  reliquu  nof 

cuntur 


S  .Q^d^rtinho  de  Du?nç_j> 


Í27 


cimtur  cfie  in  Mendunio^i^Du 
nncfis  Sedís  Prouinci<e  Gal!^- 
cu:  CUJ2S  relíquias  eíião  em 
Mondonhcdo  (chamaíe  tãbé 
eíte  feíiúdo  moftciro  Dume 
de  Mondonhcdo)  &  em  Du- 
me da  Prouiacia  deGallizaj  q 
he  o  noíío  dcfta  cidaderafsy  q 
temos  por  muy  prouauel,q 
cRa  cana  do  biaço,q  nos  falra, 
foi  a  c]  cnriqucceo  a  Dume  de 
Mondonhcdo,  &  lhe  trouxe 
todos  os  bés  aísy  erpírituaes, 
comotêporacs  ,em  que  por 
muitos  annos  fevio  florcccr. 
6  De  S.Frutuoío  fe  trcs- 
ladou  o  fngrado  corpo  c5  pro 
ciiiàõmuy  foléne  peraeftaSé 
noãnode  KJoó.Armouíe  pe- 
ia iíl:  o,  &  pozíedefeflatodaa 
cidadereftauão  as  ruas  alcati- 
fadas de  boninas  ^  as  janelas 
de  tapeçaria,as  portas  de  alta- 
res^ í^perfumes. Nos  morado 
resde  Braga  fe  via  riqueza, 
cocerto,louçanía,&  febre  tu- 
do deuação,  cada  hú  tinha  a- 
quelle  dia  por  proprio,&  cui- 
daua  q  íe  não  vencia  aos  de-- 
mais,naocÕpria  cõ  fua  obri- 
gação. Ouue  vários  jogos,  & 
fedas  de  c3uallo,dãças,  íolías, 
em  fim  moftraua  efta  cidade 
q  íahia  a  agradecer  ao  feu  Apo 
ftolo  morto  os bés.q  delle  re- 
cebera viuo.Forao  collocadas 


as  (agradas  rcliquias  no  altar 
da  Capclla  de  SátaMartha,jú- 
to  aS. Pedro  dcRates  àparcc  di 
reita  do  alrar  mor  da  Se  dcíla 
Igreja  de  Braga,em  hú  tumu- 
lo de  pedra  dourado  de  obra 
curioia,  fechado  c5  húas  gra- 
des ,  &  ao  pè  dclle  abertas  as 
letras  que  fe  fcguem. 

Aqui  efiào  corpo  de  S.  Marti' 
nhoArcebifpo  qfoi  deita  Satã 
Igreja  de  Braga ^pellos  annos 
de  574.0  qualfi  ArcebifpoDo 
fr.  Agoftinho  de  Itfit  de  ha 
mtmoria  noSynodoq  celebrou 
no  mes  de  Outubro  do  anno  de 
1606.  tresladou  da  Igreja  de 
Dume ,  na  qual  primeiro  foi 
Bifpo^i^f  nella  efiauafepuha- 
do^tfo  collocou  neste  tumulo. 

O  Collcgio  da  Copanhia  de 
lESV  deita  cidade  celebrou  a 
tresladação  dasreliquias  dcrte 
fanto  c5  muitos  verlos  elcíjã- 
tes,&epigramas  rcltosem  leu 
louuor,di{correndo  por  fua 
vida,&  milagres ,  applicando 
a  cada  híj  particulares  encó- 
mios. Adiãte  os  laçaremos  pc 
raq  os  curiofos  os  poílaõ  ver. 
7  Vinco  S.MartinhojCÕfor 
meoTuronéíe^&rAimonio, 
afsy  na  dignidade  deBifpo  de 
Dumc,como  deArcebií  po  de 


Itiron.U 

Irarti  c. 

37- 

3  f.39-  1 


Ec  1 


Braí^a 


328 


faptplo  LXXV- 


20  Mur- 
éj  leã. 


•  Baron  to. 


lep.te^j, 
íct.i.ítn. 


IfJoy  d: 
\vir  ilhifl. 
liiron. 
'^Lt/rpra 
fená.  li, 
j  .carmi. 


Binga    qualí  trinta    aiinos. 
Morreo  conforme  ao  Breuia- 
rio  tiefta  Sè  no  de  quinhen- 
tos &c  oitenta  ôc  noue ,  &  por 
eíl;a  conta  entrou  em  Portu- 
gal no  clec|uinhétos  &  feflen- 
ra  ,  &í  nefte  tempo  põem  íua 
entrada  o  Cardeal  Baronio,  Fr. 
Bernardo  de  Brito  tem  pcra 
íy  que  morreo  alguns  annos 
antes  pellas  rczoes  que  apon- 
ta,  ôc  conclue  que   foi  íua 
morte  no  meímo  anno,  em 
que  fuccdeo  a  de   Ariamíro 
Rcy  dos  Sueuos,  de  quinhen- 
tos ôc  oitenta  &  três .  O  mcf- 
mo  afíirmafrci  António  de 
lepes ,  &c  he  mais   conforme 
ao  q  tem  luliano  acercada  fu- 
ceflaõ  do  Arcebiípo  Benigno 
fuceflbr  immcdiato  de  S.Mar- 
tinho,como  adiante  em,  fua  vi 
da  diremos  .  Elcreucm  dcfte 
illulhe  Prelado  fanto  Ilídoro, 
o  meímo  Turonenfe ,  &  Ve- 
nâncio Fortunato_,a  quem  faõ 
poucas  todas  as  palauras  peia 
os  louuores  de  íaõ  Martinho^ 
porque  ora    lhe   chama  lu- 
me clariílimo,   que  efpalhou 
pcUo  mundo aluz  do  myfte- 
rio  da  SantiíTima  Trindade, 
ora  o  compara  com  Elias, 
com  faõ  Pedro,com  faõ  Pau- 
lo, com  Santiago,  com  faõ 
loáo,  lembrando  ao  Reino  de 


Portugal  quanto  lhe  deuc, 
pcis  IcinicltredeíuaFê,  re- 
gra de  íeus  coftumes,  laura- 
dordefcus  corações  como 
arado  da  Cruz  ,  &:  da  palaura 
Diuina,  enfim  paíior  que  ha 
de  emparar ,  &  goucrnar  íuas 
cuelhas,  ate  que  na  oloriajjf^f 
~i>num  ouile^is^  ^mis  pastor. Voi 
notauela  deuaçao,  que  Ve- 
nâncio teueao  noílo  íaõ  Mar- 
tinho ,  a  piedade  com  quele 
lhe  encomenda,peraque  la  no 
Ceo  rogue  por  elle,  pella  Rai- 
nha fanta  Radigunda,  que  en- 
tão indaviuia  nomoíicirode 
Putiers  ,  àí  pella  Abbadeíía 
Inês ,  cm  que  tantas  vezes  fa- 
la cm  íeus  elcritcs .  Aos  Au- 
tores que  ja  nomeamos  fc  po 
dem  ajuntar  Siçibcrto  ,Tri- 
themio,  Morales,  Bellarmi- 
no  ,  Mariana,  &  outros  mui- 
tos. Quando  morreo  o  glo- 
riofolaõ  Martinho  era  Pon- 
tífice da  Igreja  Romana  de- 
pois de  loáo  5  &  Bencdido, 
Pelagio  II.&  Reyde  Hefpa- 
nha  o  catholicoPrincipeRe 
caredo;  o  Reino  dos  Suecos 
fe  acabou  com  a  entrada  que 
nellefezLeuuigildo,  &  fica- 
rão os  Reys  Godos  fenhores 
de  toda  Fícípanha. 


ftr/ft   c.\ 

19.  é- 

Thti.vbi 

adUrm. 

Je  fcrtp,'. 

Er:icjUjl\ 

Mãrianà' 

hifl.de 

Ihfptunh 

/.j.  c,  ^, 


CAP. 


S .Quartinho  de  DH?nc^u 


III      >lliiMW 


3^9 


CAPITVLO  LXXVI. 

POESIAS   VARIAS 
feitiíí  em  lomor  de  S.  Mar- 
tinho,na  tresladaçao  defuas 
reliquhis  peni  ejta  Santa 
Sè  de  Braga, 


MARXÍNVS     A  B 

Oriente  Deo  duce  nniii^ 

gatmHifpaiiiam. 

Ç\   Fid  trepidas   Martinet 

^-*       aliofubfole  calentes 

(liucre''vrbes  ,patriam  defere 

Chrifius  aitj 
Nec  dejiderio  nimium  tangare 

parentuni 
J,  confcende  ratem,  te  mare%l:^ 

aiira  ■■Vocanti 
Litttis  in  Hefperium  <vemes^ 

'vbitorua  luporim 
Ora  premes,  ouihuspabula  Uta 

dabis. 
Errant  mi  He  méis  fineíegem 

mútUibusa^nte^ 
Tu  dux  erraatis  ^tu pater  esio 

gyêgis. 
IN    H  I  S  P  A  N  I  AM 

^enitns  pr^eficitur  Du- 

mienJiEccleJí^e. 

Félici  Hífpanos  ratis  ãppulit 

alitefines^ 
Nec  mora  c.eleíiera  Br  achara 

jentit  cpcm. 


En  Mar t mus  adest^  ardentis 

abcrefaUilU 

Milk  '-vòlant, borrem  tártara^ 

Chrijliis  ouat; 
H<erefis  in  flamas ^pieta4  ifigau 

diafurgit. 
Exornat  meritum  Dumia  mi'- 
tra  caput. 
Brachara  ne  inuideas^  tilUs  ejl 

Pater  illefuturus 
Exigua  efl  tanto  Dimiamitra 
^iro' 
THEODIMIRfMREGEM 

ah  Ariana  h^ref  remcdt, 
Filium  ^Eterno  Patre  Re^ími-^ 

norem 
Híerefi  infeãus  Theodimifus 

inquit 
Credidi  j  tabes  eadem  Sueuús 

Inficit  omnest 
Você  Martini  mdiorafanUÉ 
Audio;  infeãus  populiis  loqUctc 
Aiidiat  ^  dicètmifer  heu  jtpuU 
Noãe  iacebam^      .  {tus 
APFD  SVEVOS  HAiRESt 

Ariana  infeãospr^edicdt 

Spiritus  iiíefácer  Mar  tini  b^c 

intonat  cre^ 
Peãoris  arcanos  pande  SueUt 

finus. 
AtquaíemfobokmDininam  âg- 

hcfce  Piírentii 
Accedet  remoilovia  mama  tiiõ 
Hícrefisjlfe  -velUtfol  celei\dif 

cutit  'xmbras^ 


E 


c  3 


Ft 

■ii<»i«.jj',ii  iJtn  líWinii 


3áO 


Capitulo  LXXIV' 


Vt  Incem  excipitis  ^pandeSueue 

Jinus^ 
C<ecigen4  magnum  eflhomini 

darepojfejalutem, 
Císcorum  regnis  hanc   dare 

quantus  honorl  ■  v, 

,  .-■■■■  ■« 

PRISCILLIÃNA 

harefi  damnata  in  i.   Concilio 

Brachartji^cui  Epifcopus  in- 

terfuit,  Dumienfe  ca- 

nobium  adi- 

■  "•  Jicaí. 


Diu  inajpiram  <voxfapien- 

tiam 
Martini^  iniquarH  reprobat 
hícrefim. 

Prifcillianus  dux  cohortis 
Viãus^ait^focij  recedo. 
NÓ  'vjitato  robore  fpiritus 
Depr^elianti  quisfapientia. 
Sanus  refiJlttlnoUra  lúgit 
Castra fuis  populator  au- 
dax. 
lungit  phalanges  pr^f  diá- 
rias^ 
'■  En  Dumiéjis  iugera  pVccdij 
Metitur^  in  nos  tecia  iji- 

ãor 
Turrigero  ^edeficat para- 
tu. 
Audispamntite  duce  Bel- 
luam 

Ma  rtine  ?  ferrumfentiatj 
^  pyram. 


\ 


Prifcillianus fic  Olympn  \ 
Hydra  ijiam  expediet 
cruenta. 

DIVVS    MARTINVS 

poU  morrem  Lucretij  Jrchie- 
pifcopus  renunciatus  Concilium 

\i.Epifcoporum  indixit, 
quod  eji  fecundum 
Bracharenfe. 
Viderat  infano  rugitu  errare 

leonês^ 
Martinus ,  rábido  <^iderat  ore 

lupos. 
Palores  prcperatejnqiiit^  pro- 

perate tyrannus 
Tartareus'  tendit  retia  mille 

gregi, 
Protinus  occurrunt  álacres;  er- 

rantihus  aiunt 
Jduenijfe  ouibus  Jentiat  Orcus 

opem. 
Injcelus  esl  ar  manda  phalanx^ 
I       Martine  tremifcant 
Tartara^-uirtutisjydera  tan- 

gat apex. 
Qua patet  auxilium  Primatem 

Hifpaniapofcit 
Te  Martine  igregis  tumemor 

eUo  tui- 
Ille  njibrentur  ,  ait  ^facraful- 

mina,fulminet  ather. 
Hcerejis  auãoresfulminanoftra 

prtmant. 
Quid  nos ;  <Dt  fpeculuin  ^it4 

melioris  amemur. 


Paftorum 


S.í^íartmho  de  ^umc^. 


33  í 


Paílorú  pktas  duólat  in  aflra 

greges. 
Brachara  Concilium  hoc  've- 

nerare,  hocfujpicit  orbis. 
Dijce  htnc  Primam  gloria  qua^ 

tatuiifi: 

E  X    S   r   N   O  D  I  S 
Patrum  Orientalium  mul- 
ta ex  Gr^co  Latine 
níertit. 

Focepotens  calamo^fuú  Mar- 

tinusouile         'liiija- 
Seruat :  Auernaksflix  ligat  ima 


cartes. 


£.-^  .    íii  ^    O . 


Gr^ca  Patrum  moHUmektá  le- 

gens^plebs  accipe  dixit 
Dogmata^  qu^efuerant  Graca^ 

Latina  damus. 
Inflar  apis ,   <^ifo  benc  olentes 

floribus  hortos  j 
Percipitisjideijithyma^  mella 

date. 

VOLVMEN     S  C  R  I~ 

pfit  quatuor  iJirtutú  ad  Miro- 

nem  GalUcu  Regem  cuí 

titulus, Formula  ho- 

neUcet>it<e, 

Infiruit  in  ^vitium   Martinus 

mille  cohortes, 
Nonpatitur  fcelerum  tõllere 

moníira  caputy 
Nuncface^nunc  ferro  ^  nunc  ejl 
I      fcelus  arte  piandum. 


ReXi  aitj)dic  totó  dogmata  códe 

Jinu. 
Difcutit  trrorum  C4cam  pru- 

dentia  noãem. 
luflitioc  humanum  lanx  regit 

(Cquagefius. 
yiãricem  oUentat  mentis  con- 

ftantiapalmam. 
Laudatum  nbus  ponere  difce 

mo  dum. 
Formula  a>iuendi  regno  pr4- 

fcribitur:  illa 
Vtere^erunt  regni  temporafau^ 

fia  tui, 

SCRIPSIT  OPFS^ 
culum  de  correãione  ruíHcúrú^ 

quiSamaritanorum  more 

Deumjimuljs^  Ido-^ 

la  colebant. 

ímpia  dumfequeris  radiantis 

Jgna  metallii 
O  plebs^mUra  Er  ebi  prodígio* 

fa  ^ides, 
Quid  demens  tua  prouuluisgt-' 

nua  ante  Baalem? 
Protinus  error  is  contrahe  ^e- 

latuiy 
Te  Patet  ^mplexu    excipiet 

Martinus^Olympi 
Ojlendit  'Veram{tufequéPè)iUe 

^uiam. 
En  líber  in  mánibtís  ^  titulam 

lege.diuidècultum    "-^  ^'«  "^ 
Dijsofferfaljis  njerbéra^thura^ 

Deo. 


Ee  4 


LL 


332 


Capitulo  LXXVII. 


I  JhUí 
i67- 


•f^tf 


LIBRFM     EPISTOLA- 

rumfcripfir.,1^  alia  --vo- 

Miffa  frequens  cafios  defcribit 

.  epifiola  mores. 
^uo  yox  ire  neqiut^  littera  mif- 

Japoteft. 
Non  'vni  tantum  mittuntur 

-.  opujcuíagenti. 
Ega6  adeimt   O^cidtkjfj^  pla- 

E^  Martine  tihíterritrum^n- 

aiiUior  orbis 
Instruão  orbe  libris ,  a^ocibtis 

mlrap&tis. 


CAPITVLO   LXXVII. 

BENIGNO     XXXIII. 
Arcebifpo  de  Braga. 


VLIANO 
põem  a  Be- 
nigno pòr  íu 
ceílor  de  SaÕ 
Martinho  de 
Durnc  com  as  palauras  que  fe 
fcguem.  Saneio  Pontijici  Mar 
tino  fuccôdit  inSede  Braóha- 
renfi  Bmignus  'virfanãíts,qui 
ciiraíilijs  inter fiiit  3.  Concilio 


ToJetano.  Na  ordem  da  fuceí- 
íaõ    concorda  Juliano  com 
Marco  JVlaximo,  &:  com  am- 
bos íeronymo  Roman  de  la 
Higuera   nos  lugares  que  a- 
diancc citaremos.  Porem  que 
feachaíle  no  terceiro  Conci- 
lio Tokdano  não  coníla ,  a  n- 
tes  parece  íe  proua  o  contra- 
rio do  mefmo  CQncilio  im- 
preílo,  queanda  .nacollccçáo 
de  Garcia  deLoayía,  porque 
nelle  aíiinou  Pantardo  Arce- 
biípo  d  cila  íanta  Igrejas^:  im 
mediato  fuceíTor  deBcnigno> 
como  em  íua  vida  diremos. 
Pode  bem  íer,  q  aíTiftiria  cm 
outro  Concilio  dcToIcdo,de 
que,  não  temos  nem  memo- 
ria, nem  ãõiãs ,  &  que  efle  na 
conta,  &  ordem   de  luliano 
foífe  o  terceiro ,  poiloque  o 
não  íçja  nade  Loayía,  quecó* 
íufamente ajuntou  muitos, & 
os  mcteo  todos  debaixo  de 
hum  titulo  íòjcomo  jaem  ou 
tro  l'jgar  deixamos  prouado. 
Foi  Benigno  varão  illuftre,  Sc 
de  rara  virtude ,  como  coníla 
de  lula  carta  que  lhe  cícreueo 
o  PapaPclagio  II.  a  qual  anda 
no  z.tomo  dos  Concílios  en- 
tre as  epiftolas  Dccretacs  dc- 
il:c  Sumo  Pontífice.    Keem 
repoíla  doutra  ,•  que  o  lanto 
Primaz  lhe  efcreuco  conful- 

tando 


54- 


"Benkno. 

Cu 


333 


tando  aSè  Apoftolica  ma)* 
&  meílra  de  todas  as  Igrejas^ 
íc  CS  Bifpos  podiáo  mudaríe 
de  húas  cidades  pêra  outras, 
lem  inccruir  licença  ,&  con- 
íentimento  do  Sumo   Pon- 
tificc  Romano,    A  carta  hc 
toda  chea  de  erudição, &  dou 
trina,  autorizada  com  mui- 
tos lugares  da  Efcricura   Sa- 
grada  acerca   da  mudança , 
lobre  que  fora  coníultado: 
poremos  fomente  o  princi- 
pio delia,  porque  fcm  mais 
leitura  acharemos  logo  qual 
íofle  a  virtude  do  noílo  Pre- 
lado Benigno  approuada  ,  & 
canonizada  pclla  boca  do  Pa- 
pa Pclagio,  diz  afsy. 

EPISTOLA  PELA- 
gij  Pcíp.ç  II.  ad  Benignum 
Arcbiepifcopum. 

AN, ET  QjTATENVS 
liceat  Epifcopis   de  yna  ci- 
uitate    in  aliam 
tranjtre, 

Dileãifsimo  fratri  Be- 
nigno ^  Pelagius  Epifcopus. 
Leais  fraternitatis  nu  literis 
'~oigoremfidei  m^,  quem  dudú 
nou-efiimtís ,  agnouimus  ,  con- 
gratulares dileãioni  tiu,  qíiod 
ad  cuflodienduM  ChriUigre- 


gem  paJloraUm  curam  •-jigi- 
lanter  impendis ,  tf  pro  tuis 
fiibditis  jolicims  exijlis;  ad 
noílram  enim  Utitiam ,  í?"  be- 
nefaãa  perueniunt ,  i^Jiali- 
qua  fecus  quam  oportet  pro- 
uenerint ,  non  módico  nos  w.é- 
rore  comurbant .Mazna  enim 
gratulationem  diurna  concedit 
gratia  ,  quando  tribuit  inter 
nos,  i^  falutaris  difciplin^ 
normas  literis  conferre  ,  Í7* 
peruenire  ad  pacificorum  ilu- 
dia favit  peroptata .  Exigit 
ergodileãio  tua  confuka  Se^ 
dis  Apofiolice ,  Jilicitum  for  et 
Epijcopum  tranjire,aut  muta- 
ri  de  ciuitate  ad  ciuitati^i^c. 
Em  Portuguez  quer  dizer. 

CARTA  D  O  PAPA 
Pelagio  II.  ao  Arcebijpo 
Benigno. 

Pelagio  Bifpo  ao  amado  irmão 
Benigno  Arcebifpo,  Tanto  q 
lemos  d  i;oJ?a  carta  logo  en- 
xergamos nella  a  "viue^a  de 
ijoj^a  Fé.,  que  de  muy  longe  tí- 
nhamos conhecida ,  i^  Dos  da- 
mos as  graças  do  cuidado  ^  i^f 
'Vigilância  pafloral ,  com  que 
guardais  o  rebanho  de  Chrifío^ 
tf  defendeis  njojfos  fub ditos. 
Todas  as  obras  boas  nos  cau- 
faó grande  alegria  ^  tf  as  que 


onao 


334 


Cã  viiuld  LXX  VIL 


\íH  Chron, 
!  an  Chrs  • 
'/?'  53 1. 

[vcrf. 


fel.  103. 

\VC7f, 

i/upra  caf 


o  mo  jaó  ^  l^fucedem  ccmonh 
■dfwm.  nes  dao  arandiUima 
trfjh^a .  AUrceheparticuhn' 
quenosfa^a  Diuina  -bonda- 
de^ quando  nos  dá  lugar  perã 
entre  nós  conferirmos  ^  Is'' tra- 
tarmos por  cartas  o  que con- 
uempcrafefa'^rem  regrai  de 
doutrina  faudauel ^  iff  nos  dei- 
xa chegar  ao  fim  d  efe]  a  do  da 
pac^,  Id'  concórdia  , pella  qud 
deiiemos  a  Deos  facrificios  pa- 
cíficos. A  questão  fobre  que 
confultais  a  Sê  Jpoílolica  he, 
fepode  hum  Bifpo  mudarfe  de 
hm  cidadepera  outra^  i^c. 
z  Delta  carta  faz  men- 
ção Marco  Máximo  com  as 
palanras  ícguinccs.  Benignus 
Epifcopus  Br  achar  enfis  flor  et  ^ 
ad  quem  Pelagius  Papa  11. 
huius  nordinisfcribit^íumijj  de 
conUantia  Fidei,  de  que  alijs 
pr.tclaris  njirtutibus  laudat. 
Benigno  Bifpo  de  Braga  flo- 
recCj  ao  qual  Pelagio  Papa  II. 
dcftc  nomceícrcnc,  &o  loií- 
ua  de  cõftanre  na  Pè ,  &  dou- 
tras exccllentes  virtudes,  Ic- 
ronymo  Roman  de  laFIigue- 
ra  em  hua  carta  que  anda  no 
primeiro  tomo  dos  liuros  do 
Cartório  defta  Igreja,  de  a  re- 
ferimos na  vida  de  íanto  Auf- 
berto  affirma  o  mefmo,  fa- 
j  7cndo  tambcm  menção  de-  1 


Hta  Decretai  do  Pana  Pclapio 
de  cujo  íobreícrito  íc  náo 
pudera  alcançar  que  o  Be- 
nigno, a  quem  o  Papaeícre- 
iieo  era  Arcebiípode  Braga, 
fe  Marco  Máximo  no  lo  não 
declarara. 

3  He  muito  de  notar 
chamar  nella  o  Papa  a  Benig- 
no Arccbiípo,  òí  náo  Me- 
tropolitano, com.o  naquclle 
tempo  íe  vfaua,  em  o  qual 
aos  Prelados,  que  agora  cha- 
mamos Arcebiípos ,  chama- 
Liáo  então  Bifpos  da  primeira 
Se,  ou  Metropolitanos,  íem 
fe  vfar  o  titulo  de  Arccbiíp  o, 
que  aqui  lhe  da  o  Sumo  Pon- 
tifice.  Donde  vieraõ  a  dizer 
Autores grauiíli mos,  q  cfta 
palaura  Arcebiípo  fe  intro- 
duzira em  Heípanha  depois 
daexpuKaõ  dos  Mouros,  co- 
mo aíírmaõ  os  queimpu- 
gnão  a  efcritura  dos  votos 
de  Santiago  ,  em  a  quril  fir- 
mou o  Arcebiípo  de  Cantá- 
bria ,  dizendo  ,  que  não  con- 
flaua  de  hiftorias,  ou  efcritu- 
ras  deHefpanha,quecm  tem- 
po dclPvey  Dom  Ramiro  pri 
meiro  ouueíle  nella  cfte  ti- 
tulo de  Arcebifpo. 

4  Contra  elles  rcfpon- 
dendo  a  cOa  objeiçao  ,  mo- 
flra  doariflimamente  Dom 

Mauro 


395 


'  ■C.16J0I. 
20  Z 


Mauro  Ferrcr    quaõ  mal  en- 
caminhados foraõ  os  que  íe  - 
guiraõ  íemelhance  opinião^ 
porque,  como  elie  bc  proua, 
o  nome  de    Arcebiípo  hede 
muitos    annos  introduzido 
na  Igreja,  &  fe  víbu  íèmpre 
cm  todas  as  idades  nas  de  Hei* 
panha  antes  ainda  de  nella  en- 
trarem Mouros,como  coníla 
dos  Concílios  que  aponta ,  & 
fe  ve  claramente  dellia  carta 
do  Papa  Pebgio  em  que  no- 
mea,&  da  titulo  de  Arcebií- 
po ao  noílo  Benigno  ,  como 
vfado  ja,&  praticado  cm  Hef-^ 
panha.  E  fe  nos  Cõcilios;  ciei- 
la  fe  não  intitulauão  afsy  os 
Arcebiípos,  era  porque  o  no- 
me de  Mctropcliranos,de  que 
vfauão,  tinha  mais  de  affabili- 
dade,  quede mageftade,  6c  os 
Prelados  daquelle  tépo  âma- 
uãoatêno  efcrcucr  o  que  os 
mollraua  pays  j-  ôc  fugiaõde 
qualquer  lombra  de  íenhor. 
Com  outros  fundamentos  re- 
futa Ferrcr  a  opinião  contra- 
ria que  nellc  fe  podem  ver. 
5     Tornando  ao  noflb  Pre- 
lado ^fabemos  que  íe  achou 
prefente  à  cõfagraçao  da  Igre- 
ja Cathedraí  deToledo,que  fe 
fez  pellos  annos  de  Chriílo 
jSy.fendo  Rey  Recaredo.Cõ- 
uerteofe  eíle  Principe  àFèCa- 


thohca,  deixando  a  hcrc.na 
deArriõem  que  fora  criado,  a 
qualabiurou,  >íic  detcílou  pu- 
blicamente ,  &  com  clle  h ic- 
raõomeímo  todos  (eus  vaí- 
íallos. Parece  que  oíangue  do 
gloriofo  martyrfantoHermi- 
nigildo  feu  irmão  lhe  fcruiâ 
no  peito,&  dahipediaa  Deos 
pella  conueríà5  de  todos   os 
Godos  ,  ôí  Sueuos  feus  natu- 
raes  com  mais  efficacia  do  q 
ode  Abel  pella  vingança  de 
íeu  irmão  Caim*  Foi  grande 
ajuda  pêra  fe  confeguir  elfe 
bem  de  coda   Heípanha  cer 
ElRey  Rccaredo  por  coníe- 
Iheiros  osdows  irmãos  íaõ  Le- 
andro i  ôc  íaõ  Fuígencio  tios 
íeus,os  quaescõ  grande  cui- 
dado trabalharão  nefte  nego- 
cio, êc  tanta  diligencia  [ujze- 
raõ  nellé,  queo  tinhão  con- 
cluido  aos  dous  mefes  primei- 
ros cio  Reinado  de  Recare- 
do,reduzindo  efte   excellente 
Principe  à  pureza  da  Fe  Ca- 
tholica-  Entre  outras  virtu- 
des que  dellc  celebra  fánto  líi- 
doro,  engrandece  a  liberalida- 
de, cõ  que  fauoreceo.  rellau- 
rou,&enriqueceoas  Igrejas, 
reftituindolhe  todos  os  bens, 
tituloSj&  preminencias,q  íeu 
pay  Leouigildo  Iheauia  rou- 
bado. A  principal  entre  outras 

obras 


33Ó 


(^apimio  LXXVIL 


íuUan,  in 
■.9-' 


obias  de  Kcligiio  que  fez  ^  foi 
reilaiirar  a  Igreja  mayor  cie 
Toledo  tantas  vezes  profa- 
nada pellos  Biípos  Arrianos 
nos  tempos  atraz  .  Sagrouíe 
algreja,&:  peiaaíagraçáo  del- 
ia le  a;  u  ncaraó  comÊuphemio 
Prelado  de  Toledo  o  iioílb 
'Benieno,  &  outros  Mecro- 
policaiios ,  Fezfe  a  íagraçáo  a 
treze  de  Abril  do  anno  de 
Chriíio  de  quinhentos  ik  oi- 
tenta &í  lete  em  preíença  dei 
RcyRccaredo,  &  da  Rainha 
Bada ,  òc  de  muitos  Bifpos, 
Abbades,  &  fenhorcs  do  Rei- 
no. 

6  Não  fe  contentou  o 

fanto  Prelado  Benigno  com 
as  obras  que  tinha  feito  cm 
fua  Igreja  ,  pregando ,  &  en- 
finando  _,  mas  ainda  íe  quii  fa- 
zer peregrino  ,  &í  romeiro 
leuado  do  feruor  da  deuação 
que  tinha  às  reliquias  dos  ían- 
tos.  No  anno  de  quinhentos 
&  oitenta  Sc  oito  foi  a  Franca 
viíitar  o  fepulchro  ácS.  Mar- 
tinho Bifpo dcTurSjCuja  fa- 
ma era  então  muy  celebre ,  òc 
obraua  Dcos  por  elle  muitos 
milagres.Nefta  fanta  peregri- 
nação lhe  fobreueo  húa  doen- 
ça mortal^quelhe  tirou  a  vida 
na  mefma  cidade  de  Turs,  on- 
de cila  enterrado  fcfjundo.o 


f^g.i\3, 


quepclla  autoridade  ílc  Gre   , .     . 
"orio  i  uroneníc  attirma  1 
liano  dizendo.  Petrus  cogno- 
mento  Benignas ,  ijt  creditur, 
Epijcopus  Bracharenf.s ,   dum 
anm  ^^2>.  "vifitat   Turonefe- 
pulchrumjanãl  Martmi  Pon- 
tifcis  Turonenjis ,  moritur,  tf 
ibidem^jepelittw^  ijt  consiatex 
Gregorij  Turon  enjis  libro ,  in  - 
quam  deniiraculis  confejforum 
cap.  15.  O  anno  àcss^.  cm  q 
luliano  poemefta  jornada  de 
Benigno  elH  viciado  por  erro 
da  impreííaõjporq  ouuera  de 
por  o  de  588.  cm  qu-e  n^i  ver- 
dade aconteceOjp^orque  no  fe- 
guintede  589. entrou  Pantar- 
do  íeu  immediato  fuceílor  na 
dienidade  de  Bra^a  ,  como  lo- 
go  diremos.  Sinco  annos  go- 
uernou  eil:a  igreja  o  lanto 
Prelado    Benigno  ,    iempre 
com  grande  fima  de   laari- 
dade,  110  fimdellcslefoigO' 
zar  da  gloria  eterna .  Prefidia 
nertc  tépo  na  Igreja  de  Deos 
o  Papa  Pclagio  II.  &  era  Rey 
dos  Godos  ^  &:  Sueuos  Rcca- 
redo. 


GAP. 


Tontardo. 


337 


CAPITVLO  LXXVIír. 

PJNTJRDO    XXXniL 

Arcebifpo  de  Br  a  cr  a. 


O  anno  fe- 
guinc^  depois 
da  morte  do 
ArcebiípoBe 
nignOjqcayo 
no  de  589. Foi  eleito  pêra  a  dig- 
nidade Primacial  delia  Igreja 
Pantardo,oqual  achamos  no 
mefníoannocm  hum  Con- 
ciho  de  Toledo  terceiro  na  or 
dem  dos  q  andaõ  imprellbs^ 
em  o  qual  allmou  có  os  mais 
Prelados  que  nelle  íe  acharão. 
Era  fenhor  neíie  tempo  dos 
ReinosdeHefpanhaElReyFla 
uio  Recaredo  filho  de  Leoui- 
gildo  que  fora  grande  herege 
Arriano  .  Defuioufe  o  filho 
da  mà  doutrina  do  pay,&  to- 
cado da  graça  Diuina  íe  con- 
uertco,  tendo  noCeo  a  Teu 
irmão  o  illuílre  martyr  Tan- 
to Ermenigildo  que  por  clle 
intercedia  ^  &  na  terra  a  faõ 
Lcandro,&  íaõFulgencio  tios 
icuSj  que  o  inftniyão ,  &í  en- 
íínauáo,moílrandolheo  ver- 


dadeiro caminho  da  fuluação^ 
&  acegueira  dos  erroi  da  he- 
regia  Arriana  ,  como  jàdiíle- 
mos.Cõuertido  o  Rey  deter- 
minou ajuntar  hú  Conciho^ 
cm  o  qual  clle,&  íua  molher  a 
Rainha  Bada  publicaméte  pro 
feílaíséaFè,  òí  Religião  Ca- 
tholica^q  tinhão  abraçado^  & 
abjuraísé  a  hcregia  de  Arrio 
em  que  dantes  viueraó.  Con- 
gregoufe  o  Concilio  na  cida- 
dade  de  Toledo  no  quarto  an 
no  de  Teu  Reinado ,  na  era  de 
62.J.  quehe  o  anno  de  Chri- 
fto  de  j85?.Foi  nacional  de  to- 
dos os  Biípos  dcHclpanha^iS^ 
França    Gorbica^  6c  no  nu- 
mero dos  Prelados  na  grande- 
za j  íuftancia,  Sc  peio  das  ma- 
térias,q  ncile  íe  trataraõ/oi  hú 
dos  m.ais  celebres, &demayor 
importância  q  por  eftes  tem- 
pos emHcfpanha  ou  ue.  Acha- 
rãofe  nelle  íinco  Arcebi(pos_, 
a  laber  Maííona  deMerida,Eu 
fi^mio  de  Toledo  ^  Leandro  de 
Scuilha^Migecio  de  Narbona_, 
Pátardo  de  Braga.  Aílétarãofe 
pella  ordé  dafagração^e  por  fer 
maisantiguo  q  todos  ^  teue  o 
primeiro  lugar  depois  delRey 
Rccaredo^MaíTona  illuítrePre 
lado  de  Merida,  dotado  de  ra- 
ras virtudes^comorcferePauIõ 
Diácono  ê  íua  vida^Sc  Loayfa 


More», 
âc  r.tyg: 
h'fiof.  de 
Aferi  J. 


Ff 


nas 


338 


Capitulo  LXXX. 


\cAf.  4. 


caf. 


28. 


nas  íoícriploes  do  mefmo 
Concilio.  Era  o  noflb  Arce- 
biípo  Pancardo  o  mais  mo- 
derno na  lagraçáo  de  todos  os 
Metropolitanos  que  fe  acha- 
rão no  Concilio^  porque  no 
meímoannodejS?.  em  que 
fe  celebrou,  fci  eleito  pêra  a 
dignidade  Primacial  de  Braga, 
depois  da  morte  doArcebiípo 
Binigno,  como  acima  diíle- 
n\os,òc  por  efta  rezáo aílinou 
no  vitimo  lugar  por  guardara 
ordem  que  le  tinha  dado  no 
Conciho  Bracharêíe  tido  por 
primeiro: cm  que  fe  decretou, 
q  os  Prelados  fe  aflentaflem 
nos  Concílios  conforme  o 
tempo  de  fua  fagraçáo  fem 
rclpeito  a  mayor  Prelazia,co- 
mo  molhamos  no  tratado  da 
Primazia  de  Bra^a. 
i  Os  Prelados  de  Por- 

tugal ,  &  Galliza,  que  fe  acha- 
rão nerte  Concilio  com  feus 
Metropolitanos  de  Merida,& 
Braga,  foráo  Palmado  Bifpo 
de  Badajoz,  ou  Beja,Pedro  de 
Oílbnoba  no  Algarue  junto 
a  FarOjPaulo  de  Lisboa,  Elcu- 
therio  de  Salamanca  ,  Poíli- 
donio  Bifpo  de  Eminio  junto 
a  Águeda,  Neuíila,&  Gardin- 
go  de  Tuy  ,  loaõ  de  Dume, 
Conftancio,  &:  Argiouito  do 
Porro,  SuniladeVifcu.Phi- 


lippe  de  Lamego  ,   Domini- 
codeIria,ouo  Padrão,  Be- 
cilla  deLugo,Falacio  deAftor- 
ga^  Lupacio  de  Orenfe. 
3  A  rezão  porque  aííi- 

nãodousBiípos  dehúa  mef- 
ma  Igreja  neítc  Concilio,  co- 
mo Conltancio,&  Argiouito 
do  Porto,  Neuíila,  &c  Gar- 
dingode  Tuy,  temos  dado 
largamente  no  Catalogo  dos 
Bilpos  do  Porto,  onde  diíTe- 
mos,que  ElRey  Leouigildo 
ordenara  que  todos  osBifpos 
que  publicamente  náo  pro- 
feílaflem  a  heregiaArrianafof- 
fem  derterrados  de  fuás  Igre- 
jas ,  &í  em  eíFcito  o  executou 
afsy ,  priuando  delias  aos  Bif- 
posCatholicos ,  &  mandan- 
doos  defterrados  pcra  varias 
partes,  pondo  em  leu  lugar 
Bifpos  here^es,quegouernaí- 
fem  as  Igrcj  as  que  ficauáo  íem 
paftor.  Concorrerão  a  efte 
Concilio  afsy  os  Prelados  Ca- 
tholicos  ,comoos  Arrianos, 
ertes  abjurarão  as  heregias  cm 
que  viuiaó  ,  &  poífo  que  lar- 
garão as  Igrejas  aos  verdadei- 
ros Bifpos ,  q  delias  foraõ  de- 
fl:errados,não  perderão  por  if- 
fo  o  titulo,q  dantes  tinhão,& 
fe  aílinaraõ  como  Prclados,in 
titulandoíe  Bifpos  daquella; 
mefmas  cidades  onde  viuiâo 

-,,-  -  Mini-     -T    rgi» '■ 3— fci:.-^ — t — I— ^-^^^— 

intruíos 


Fon  tardo. 


Tiafci* 


339 


Gavc.  dè 
I  osíyf.  m 

h:it!i;  Cie 
Aí  oral  U 

ii.c.  n. 


\dicl.loea. 


incrufos  como  norarao  gra- 
uillimos  autores. 
4  He  muy  digno  cíc  pon- 

deração o  modo  com  que  le 
ailina  o  nollo  Arccbiípo  Pan- 
tardo  dizendo.  Pantardm  in 
Chrijli  nomine  Ecclefi^  Catho- 
líca  Bracharenjis  Metropoli- 
tanus  Epifcopiis  GalUcUPro- 
iúnciíe ,   his  Confiitittionihus, 
quihus  in  urbe  Toletana  inter - 
fiiiannitens ,  tampro  me^quam 
profratre  meo  N  itigioEpifco- 
pQ  de  ciuitan  Luci  fiibfcripfi. 
Pantardo  cm  nome  de  Chri- 
fto  Bilpo  Metropolitano  da 
Igreja Catholica  de  Bragada 
ProuinciadeGalliza  coníenti, 
&:  aííiaeineRes  decretos  ,emq 
me  achei  na  cidade  de  Toledo 
afsy  por  mim  como  por  meu 
irmão  Nitigio  Biípo  da  cida- 
de de  Lugo. 

<•  A  muita  idade  de  Nitigio 
Metropolitano  de  Lugo  atri- 
buc  Loayía  não  fe  achar  nclle 
Conciho  ,  &:  acrcccnta  que  a 
femelhantes  Prelados  impe- 
didos jàpellos  annosfecuílu- 
mauaalíinarcoadjutorcs,que 
por  elles  gouernaflem  ,  &  af- 
líftiflem  nos  Concilios.  Por 
ventura  q  por  vizinharê  tan- 
to as  Igrejas  de  Braga,ô,i:  Lugo 
aceitaria  eftc  cuidado  Pantar- 
do, &í  cj  dahi  lhe  viria  aííinar 


per  Nitigio  no  Concilio.-fe  ju 
o  mefmo  Nitigio  impedido 
por  outros  rcrpeitoso  não  c5- 
ílituio  (eu  prccnrndcr.  Achaõ 
íe  neíle  Concilio  dous  Biípcs 
q  ambos  fe  afllnão  de  Lugo, 
Nitigio  por  quê  aíTinou  Pan- 
tardo,&BccilIa,qaflinou  por 
fy.  Loayía  os  tê  por  diíTerêtes 
Bifpados,  íc  bê  ambos  do  mef- 
mo nome,húcmGallizajOU- 
trocm  Aílurias ,  Nitigio  diz 
fcr  Metropolitano  de  Lugo  ^/ff^*. 
cniGalliza,  Becilla  Biípo  de 
Lugo  nas  Afturias. 

Não  fatisfaz  porem  cfta 
faida  a  Padiiha  na  hilloria  Ec- 
cleííaftica ,  mas  quando  pre- 
tende dar  outra  ,  paíla  fò  com 
dizcr,que  tcdas  eftas  dificul- 
dades, &  incõuenientes  reful- 

tão  de  auer  erros  nos  origi- 

o 


eet.6.c 


naes 


luc 


íe 


os  naoouucra. 


ccflàraõ  as  qucftoês  referidas. 
Confeíiamosos  erros  de  que 
Padilha^&Moralesfe  qucixão, 
mas  não  temos  por  tão  mal 
fundada  a  repofta  de  Loavíâ, 
que  por  elics  a  ajamos  de  cn- 
gcitar.Mclhor  fe  pudera  ainda 
rcfponderquedos  dous  Me- 
tropolitanos deLugo, Nitigio 
era  o  verdadeiro,  BccilIã  o  in- 
trufo  porLeouigildo,&:  q  não 
podêdoacharfe  prcfêtcNitigio 
(foíleeita^ou  outra  a  rezão 


Ff 


de 


i^.o 


Qafitulo  LXXVIIL 


I  2.  f.  mo 
Harth  hb 


v^-x 


I  de  fua  auícncia)  aíliillio  com 
tudooinçruío,  &  herege  por 
náo  tèt  impedirncnto -pêra  il- 

7  irei  Bernardo  de  Briro 
;  tem  pêra  íy  que  ncfte. Conci' 
lio  íe  acharão  dous  Arcebií- 
pos  de  Braga,  o  noílb  Pantar- 
;  do,  &  ovitro  por  nome  luha- 
no,  q  cambe  alhnou  no  mcf- 
mo  Concilio:  corri  elle  fe  vay 
o  LecenceadoGarpar  Aluarez 
Louzada  em  húa  memoria  q 
fez  de  algúsArcebifposde  Bra 
ga ,  &  tratando  defte  Conci- 
lio dizqueaííinoanelle  lulia- 
no  com  as  paíauras  feguintes. 
lulianus  BracharenJisEcchJiá 
Epifcopus  fubfcripfit^  3c  acre- 
centa  que  efte  era  Arriano  in- 
trufo  porLeoiii^ildo,&  Pan- 
tardo  que  aíimou  em  quinto 
lugar  depois  clelRey  Recare- 
do  Bifpo  Catholico .  Porem 
como  o  nome  de  luhano  fe 
não  ache  no  Concilio  que  re- 
fere Loayfa ,  nem  Morales^ 
Padilha,ou  Vafeu  o  nomeem 
entre  os  que  aíliíliraõ  nelleji- 
ccnça  nos  fica  pêra  nos  con* 
tentarmos  fò  com  o  noíTo 
Pantardo  fanto,  ôc  catho- 
lico fem  admitirmos  a  Julia- 
no intrufo,&  herege. 
8  Depois  que  fe  fechou  j 

o  Concilio  ^  veo  o  Arcebif-  | 


po  Pantardo  pêra  ÍLa  Igre- 
ja j  onde  continuou  em  en- 
íinar,  ôí  pregar  a  luas  oue- 
Ihas  fazendo  inteiramente of- 
ficio  de  bom  pallor.  Era  fua 
preknça  mais  neceflaria  que 
nunqua  pêra  acudir  à  noua 
conueríaó  de  íeus  íubditos, 
os  quacs  fe  tinháo  apartado 
da  hcrefria  Arriana ,  òccõme- 
çauáoa  viuer  como  Catho- 
hcos;  a  todos  aíTittiajinílruia, 
&  doutrinaua  comapeíToa, 
com  o  coníelho  ,  ôc  muito 
mais  com  o  exemplo.    Ne- 
llas  obras  acabou  fantamen- 
te  ávida  polTio  que  dellenos 
não  ficou  outra  memoria. 
Tinha  porcftes  annos  O  Su- 
mo Pontificado  o  Papa  Pe- 
lagio  II.  &  o  cetro  <le 
Hefpanha  Reca- 
redo. 


CAP. 


Santo  Eílâuao> 


34  I 


/ufa   C. 

iS.M.r.}, 


CAPITVLO  LXXIX. 

S  A  "N  r  O     E   S  T  E- 

uao  Abb^dt  do  moUeiro  de. 
Rates. 


A  vida  de  fa 5 
Pedro  de  Ra- 
tes primeiro 
Arcebilpode 
Braga  deixa- 
mos reterido^como  o  ermitão 
Feiix^&  íeuiobrinho,  os  que 
acharão  o  corpo  do  íanco  lhe 
deraõ  iepukura^cíperando  no 
Ceo ,  q  breaemente  naqueile 
lugar  íe  leuaiiraria  Igreja  ,  & 
moileiro  onde  íoas  íagradas 
relíquias  fofrem  viílcadas ,  & 
veneradas  dos  Chriílãos.  Não 
diíTemos  aly  em  que  cepo  fe 
deu  principio  ao   Molleiro, 
porq  a  Igreja  confta  que  fe  fez 
logo.  Pódeleconjeiturar  que 
foi  íua  fundação  primeiro  q 
a  Heípanha  viefsé  mandados 
pdlo  fanno  Patriarcha  os  Reli- 
giofosdeS.BentOjporq  naõ  fe 
pode  duuidar  auer  em  Hefpa- 
nha  muito  primeiro  q  o  fan- 
to  naceíle  monges,  &  moftei- 
ros  fundados  como  jadiíle- 
mos  em  outro  lugar. 
2,  PcUos  annos  de  3  o?» 


ihmiiiã.i 


faz  menção    Flauio  Dextro 
do  moílciro  de  Ticulcia  na 
Carpetania  aonde  fe  ajunta 
o  rio  Henarcs  c6  o  Tajunha_, 
edificado  pellos  glorioíos  mó 
gcs ,  ^  marcyres  de  Chnfto 
íaó  Philiberto,  &i  Fabriciano. 
Eíleue  Ticulcia  fcgundô  Mo- 
rales  onde  agora  he  Bayona 
pegado  cõ  Aranjues  taõ  cele- 
bre por  todo  o  mundo.  O 
meímo  Dextro  nos  certifica 
da  vinda  â  Hefpanha  de  cer- 
tos Religioíos  a  que  cllc  cha- 
ma Monges  negros  pellos  an- 
nos de  393,  CanaU{'R,oáÚ2,o 
CaroleCanacc,  húadas  cida- 
des que  Tolemeu  poeninos  \I)t:.\t*tu 
Turdctanosda  lem  do  Gua-   *^^  ^"'^ 
diana)/»  Lufaania  Monachini- 
gri  ah  anno  393 .   nome  que 
muito  depois  derão  os  fagra- 
dos  Cânones  aos  filhos  de  faó 
Bento,  que  agora  propíiarnê- 
te  fe  chamaõ  taes.  No  Conci- 
lio Eliberitnno  pellos  annos 
de 300.no deG,aragoça  pellos 
de  380.  ou  384.  no  de  Toledo  ftj^,\ 
auido  por  primeiro  pellos  de  ;  6. 
40Ó.  ou  pouco  ítiais  adiante  j'^*^'^-'^"* 
ha  grande  menção  depeíloas 
dedicadas  a  Dcos  cõ  eRe  no- 
me de  monges  afsy  homens, 
como  molhercs  -,   &  como 
cm  todas  ãs  coufas   de  pie- 
dade efte  Reino  de  Porfjgal, 


Ff3 


&i 


342 


Capitulo  LXXIX. 


ôídelle  erta  Prouincia  de  en- 
tre DourOj&  Minho  fe  auen- 


cajoii 


femi 


•re   aos  mais 


chro.jag 

W9- 


Helpanha,de  cxer he  come- 
çarão por  acjLii  a  fundar  íeus 
moll;eiros,&  que  o  de  faõ  Pe- 
dro de  Rates  íeria  o  primeiro 
que  nclla  fe  fundaílc. 
3         Fizemos  efta  aduerten- 
cia  pêra  virmos  à  narração  de 
hum  fanto  Abbadc  do  moitei 
rode  Rates  por  nome  Eíle- 
uáo,de  quem  diz  Marco  Má- 
ximo íe  achou  entre  outros 
muitos  q  aíliftiraõ  no  tercei- 
ro Concilio  de  Toledo,  òc  tã- 
bem  por  nos  parecer  efte  mo- 
rteiro hum  dos  maisantiguos 
defte  Arcebifpado.  E  bem  era 
fo  íle  o  primeiro,  o  que  foi  de- 
dicado ao  primeiro  Martyr  de 
Heípanha  o  gloriofo  íaò  Pe- 
dro de    Rates   primeiro  Ar- 
cebiípo,  &c  Primaz  de  toda 
cila  .  He  bem  verda  de,   que 
nas  íirmas^que  defte  Concilio 
trazem  Loayfa  ,  &  Morales, 
fenão  acha  a  do  Abbade  Efte- 
uão:  mas  como  aly  faltão  ou- 
tras,naõ  he  muito  faltaíTe  tam- 
bém efta.  Marco  Máximo  o 
conta  entre  os  mais ,  &  o  faz 
da  Ordem  de  faõ  Bento  dizê- 
do .  Sanãus  Stephanus  Abbcvs 
Ratenjis  Ordinis  Sanai  Bene- 
diãi;  parece  qofeu  moftei- 


ro  de  Rates  tinha  nefte  tem- 
po aceitada  ]à  a  re[^ra  do  lan- 
to  Patriarcha.  Naõ  podeauer 
duuida  ler  efte  mofteiro  á:\ 
Ordem  de  faõ  Bento ,  afsy 
pella  memoria,  &   tradi-çáo 
quediílo  ouue  fempre entre 
os  naturaes  da  terra  ,  como 
porhum  Breuedo  PapaLcaó 
X.  que  trata  da  crcaçáo  das 
comendas  nouas,&:  íe  guarda 
nefte  cartório,  no  qual  lhe 
chama  o  Summo  Pontífice 
mofteiro  de  S.  Bento  naõ  húa 
mas  muitas  vezes. 
4  No  particular  da  vida 

de  S.Efteuáo  AbbadCjnenhiJa 
noticia   podemos  deícubrir, 
aquelle  Pay  dos  lumes.2«/ "J?/- 
det  in  ahfconditoiã  faberia  bem 
galardoar.  O  mefmo  Marco 
Máximo  parece  poe  fua  mor- 
te no  anno  de  quinhentos  & 
nouenta  &  oito,  noue  mais 
adiante  do  Concilio  em  que  fe 
achou,  &aíIinou.  Diz  afsy: 
SanCliis  Stephanus  Rate  pro- 
pe  Bracharam  Augufiam:  cm 
Rates  junto  a  Braga  fanto 
Efteuáo  .   Algúa  foi  peita  te- 
mos  que  efte  lanto  Abbade 
Efteuáo  he  aquelle  de  quem 
faz  menção  o  Martyroloí^io 
Romano  a  13.  de  Feuereiro, 
em  cujo  tranfito  appareceo 
grande  multidão   de  Anjos 

que 


Santo  Tolobeu. 


343 


Eiirot).  in 
br. 


c.  1^.  ty 

[Hom.  '.n 


queíe  deixarão  ver  dos  pre- 
íences ,  como  refere  faõ  Gre- 
gorioj  &q  em  lugar  de  Rea- 
te íe  ha  de  ler  aly  Rate^Ac  mo- 
do que  não  fique  Reate  cida- 
de de  Itália,  íenáo  Rate  mo- 
rteiro de  Portugal  i  porque 
cfte  lauto  foi  contemporâneo 
de  íàõ  Gregório ,  &í  deuiade 
ter  grande  noticia  de  luas  vir- 
tudes. 


CAPITVLO    LXXX. 

SANTO  TOLOBEF, 
ou  Tobeu  XXXX.  Jrce- 
bifpo  de  Braga. 


E  L  LO  S 

teftimunhos 
de  MarcoMa 
ximo,&:  lu- 
liano  nos  lu- 
gares que  adiante  referiremos, 
temos  por  certo  que  foi  faõ 
Tolobeu  Arccbifpo  deftalgre 
ja,&:  que  delia  íe  fahio  ao  ae- 
ferto  da  Pvcligião^pera  ahi  aca- 
bar a  vida  tratando  cÕ  Deos, 
&  conílgo  fò.  Pouco  fora  dar 
erta  Prouincia  de  entre  Dou- 
ro, &  Minho  tanto  quanto 


deu  á  fagrada  Religião  de  faó 
Bento,  íe  Ihenaõ  dera  cam- 
bem efclarecidos  íogeitos,que 
a  ajudaílem  a  fundar ,  &  hon- 
rar por  todos  os  Reynos  de 
Hefpanha,quando  nclla a  pri- 
meira vez  entrou.  Naõ  íe  cõ- 
tenta  Deos  íò  de  edifícios  de 
pedra, nem  dà  muito  quem 
lhe  não  da  mais  que  a  fazéda: 
os  que  fe  entregaò  por  verda- 
deira fogeição  a  íeu  feruiço 
clles  faõ  os  que  oíFerecem  a 
Deos  mayor ,  ôc  mais  eftima- 
do  facrificio.  Tal  foi  o  glorio- 
fo  fanco  TolobeUjOu  Tobeu, 
de  quem  imos  falando, 
i  Começauaeftandoel- 

le  gouernando  íeuArcebif- 
pado  de  Braga  afundar  o  mo- 
íleirodeiaó  Martinho  de  Li- 
euananas  montanhas  de  San- 
tilhana  cm  Afturias  hum  fan- 
to  monge  natural  de  Palencia, 
&  de  nobilifsima  geração,  por 
nomeToribio.  Eraõ  grandes 
os  milagres,que  Deos  por  elle 
obraua,  &  grande  afama  com 
que  por  todas  as  partes  íe  pu- 
blicauão:  chegou  a  Braga,  ou- 
u ioos,  &  ponderou  os  o  Arcc- 
bifpo Tolobeu,quãdo  a  pou- 
cas horas  de  conlideração  clle 
fe  íentio  mouer  de  húaDiuina 
infpiração  pêra  ir  fcr  feu  con- 
panheiro  naquella   fanra  em- 


Ff 


prez; 


344 


Cafitulo  LXX 


preza^  íò  rcpaiaua  no  modo 
com  c]ue  poderia  deixar  o  Ar- 
cebifpado :  nias  Deos,cujaera 
aqueila  inlpiração ,  óc  íancos 
mouimentoSjlheabrio  o  ca- 
minho cjual  então  lhe  pa- 
recco,  &  nos  hoje  não  pode- 
mos referir  por  não  acharmos 
diílb  memoria.  O  cerco  he 
que  o  fanto  Arcebiípofoi  ,& 
íe  ajuntou  a  ToribiOj  &  com 
ícu  exemplo  leu  ou  depois  a 
muitos  outros,entre  os  quaes 
íe  contão  Synobi  Diácono, 
Euíebio,  Euíoílomo^  &  lofa- 
fo.  Todos  receberão  o  habito 
de  íaõ  Bento  da  mão.  de  faõ 
Toribio  ,  &  todos  perfeuerã- 
do  nelleatèa  morte  acabarão 
fantamente,&:  faõ  auidos  ho- 
]Cyôc  venerados  pcrfantos. 
5  O  principal  trabalho 

de  faõ  Tolobeu  foi  ocuparfe 
todo  na  cultura,  &  edifício 
deluaalmaj  fazendofc  rem- 
plo  agradauel  da  Diuina  Ma- 
geílade^  em  fegundo  lugar  cõ 
aqucUes  íeus  fantos  compa- 
nheiros ,  trazia  pedra  pêra  o 
edificio  que  hiao  fundando, 
ordenandoo  Deos  afsy  ^  pera- 
que  aquelle    molfeiro  foííe 
pcilo  tempo  adiante  requiíli- 
mothciourode  fantidade,& 
tamben)  peraq  naquellagran- 
1  de  perfeguição  dos  Mouros, 


que  eftaua  pêra  vir  íobreHcf- 
panha,  tiueílem  no  meímo 
molleiro,  pclla  afpereza,  &: 
íolidáo  de  ieu  ílcio^onde  íe  ef- 
condcr,  &  íàluar  as  fagradas 
reiiquias,  que  por  não  íerem 
profanadas  dos  inííeis^tirauáo 
de  feus  lurares  antiguos.  De 
todas  cilas  coufas  daoccnta 
os  Chronillas  de  íaõ  Bento, 
Sandoualjôc  kpesj  por  todas 
paliamos,  com  ter  tão  gran- 
de parte  nellas  faõ  Tolobeu: 
mas  por  não  íerem  fò  íua^  nos 
contentamos  com  moftrar 
os  autores  em  que  fe  podem  i 
ler. 

4  Omoflciropcrfeucra  a- 
inda  hoje  debaixo  dadicipli- 
na ,  ôc  regra  de  íaõ  Bento  :  no 
principio  foi  fua  inuocaçaõ 
de  faõ  Martinho  o  de  Turon; 
mas  depois  trazendofe  pêra 
aly  o  corpo  de  íaõ  Tonbio 
Biípo  de  Aif  orga,  de  quem  jà 
l  tantas  vezes  falamos ,  perdco 
o  nome  da  primeira  inuoca- 
ção  ,  &  ainda  o  do  próprio 
fundador  S. Toribio  inõge,  & 
tomou  o  de  S. Toribio  Bifpo. 
Alguas  ermidas  poré  fícaraó 
no  mais  aípero,  &  interior  da 
montanha,&  entre  cilas  a  q  íe 
chamados  Anjos  por  aly  vi- 
rem de  ordinário  conueríar 
có  o  fanto  monge  os  cfpiritos 


S.mâ.fm 
djçãa  do 
'inoftcíro  j 
de  S .  lo 
fibio. 
lef.  cciít. 
1.    /tnn. 


Ctl.  Gõct 

de  /!'.úUt 
theat.dí 


)emaucntU' 


Sjinto  Toloheií. 


3'4-5 


bcmaucncurados  com  tanta 
familiaridade,  como  íe  jà  o 
tiuelkm  por  bemaucncura- 
do.  O  mcfmo  he  de  crer  fa- 
riaõcomfcus  cIicipiilos>  em 
eípecialcom  o  Arcebilpo  S. 
Tolobeu ,  o  qual  no  meímo 
mofteiro  acabou  a  vida  >  &í 
nelle  jaz  lepukado ,  ainda  que 
do  lugar  de  fua  fepulcura  fe 
nãolabe. 

j"       Marco  Máximo ,  &  Ju- 
liano fcm  nos  dizerem  mais 
que  o  cempo,&  lugar  em  que 
fíorecia  a  memoria  de  íaó  To* 
lobeu_,(Sc  que  fora  primeiro 
Arccbifpo  de  Braga  ,  paflaó 
pella  relação  de  fuás  virtudes: 
jà  nos  contentáramos  íenos 
diíTeraõ  a  que  Arcebifpofu- 
ccdera ,  ou  quem  a  elle  lhe 
fucedeo,quando  fe  retirou  ao 
mofteiro  de  Lieuana  :  mas  nê 
ifto  fizeraõj  &  por  iflb  o  dei- 
xamos ficar  nefte  lugar, ate 
lhe  acharmos  o  fcu  próprio. 
Aspalauras  de  Máximo  faõ. 
^chrmfoi    PcY  h<ic  tempora  inmónte  Li- 
21-j.verj  banienfi  Aiiurtm  cehbris  ha- 
betur  memcria  SanSli  Tolõbei 
Epifcopi  Bracharenjis  in  Bi- 
fpania.  fala  do  anno  de  611. 
Mim.  m  luliano  tem  as  palauras  feguin 
its.FloretSanãus  Tolobetisin 
eremo  Libanicnfitertia  die  lu- 
lif ,  quipriusfuerat  Epifcopus 


Max,  iti 


ehron.. 


Bracbdrenjis :  an:bos  fe  refe- 
rem não  ao  tempo  defua vi- 
da ,  ou  morte,  mas  ao  de  íc  js 
milagres,  &c  frequência  de  íua 
romagem  no  lugar  de  íua  íe- 
pulturaem3.  de  lulho  quan- 
do fe  celebra  íua  fcfla.  O  pa- 
dre frei  António  lepes  pcem  vbifA^rÁ 
a  fundação  do  mofteiro  de 
faõToribio,que  faõ  Tolobeu 
ajudou  a  fuiidar^pcllos  annos 
de;37.mas  como  também  fa- 
la nella  acercado  tempo  com 
algum  efcrupulo,eíre  melmo 
nos  fica  pcra  lho  não  aífinar- 
mos certo, «5i  determinado. 


CAPITVLO  LXXXI. 

S  AM  P  E  D  RO  IV- 
lidtto  XXXFl  Arcebifpo 
de  Braga. 


Hamamos  a 
efteíanto  Ar- 
ccbifpo Pe- 
dro luliano, 
ou  luliano 
Pedro  por  concordarmos  o 
nome  que  Ihedào  Aciprefte 
de  fanta  íufta  com  o  que 
achamos  aílinado  no  terceiro 

Conciijo, 


>4^ 


Capítulo  LXX  XI. 


Inlian  iii 


oc.  lei 

fkona  !iíf 
^f.  21. 


5 


Concilio^  quarto,  &  (extode  i 
Toledo  pcllosannos  deChri- 
-íto  633.  & ^3 íí.  porque  Iiilia- 
no  o  chama  Pedro^  &  cile  hr- 
liia  nos  Concílios  Iiiliano. 
B..,,  He  bem  verdade  que  no 
'quarto  Concilio   de  Tole- 
Loajf.,ii\  Jq  põem  Loayla,com  quem 

Cor.  vt/l  (e^^^y  O  doutor  frei  Bernardo 
dcBíico,  dous  Arcebifpos  de 
Braga^hum  por  nome  Pedro, 
outro  luliano^&dizquc  am- 
bos aly  andáo  firmados.  Mas 
não  Foi  afsy,  &  o  crio  nacco 
todo  dos  que  copiarão  cfte 
Concilio  dos  fcus  primeiros 
originaes,  porque  achando  ao 
noílb  Arcebiípo  Petrus  In- 
lianiiSfiw  luliamis  Petrus  Me-' 
tropolitanus  Br  achar  enfis^  não 
aducrtindo  que  o  nome  com- 
porto de  dous  era  húíò,  o  de- 
uidiraõ  ,  &  derão  também  a 
dous  ArcebiípoSjhum  Pedro^ 
outro  luliano ,  fazendo  tro- 
peçar a  Loayfa,&  frei  Bernar- 
do de  Brito.  Outra  conjei- 
tura  Çqs  Padilha  melhor  enca- 
minhada porque  ao  Pedro  q 
achou,  Epifcopus  Bracharm- 
Js  faz  Epifcopus  Biterienfii^  a  - 
goraBifiers,  ou  Linguadoc. 
em  França ,  ôc  fe  deixou  ficar 
com  o  Arcebifpo  luliano,  que 
elle  teuepello  próprio  deBra- 

g3- 


ivias  porque  nao  pare- 


ça  nos  mouemos  por  quael 
quer  hmdamcntosduppondo 
(como  na  verdade  he)  que  o 
Arcebiípo  de  Braga  luhano. 


íeachou  nos  Concílios 


qiuar- 


to  &  íexto  de  Toledo ,  &  que 
nos  meimos  afiiilío  tambenà 
como  conlU  de  íua  firma  o 
Metropohtano  de  Narbona 
Sclua,  faremos  aproua  defta 
noflk  opinião  ciara  tomandoa 
das  palauras  de  luliano  qu-e  di 
zem  aísy.  Tempore  Sefinandi 
(goucrnou  doanno63i.  pêra 
o  de  63  j-)  jioret  Epifcopus  Bra- 
charenjis  S.  Petrus, poHea  Nar 
honcjis  adannumc^C.mortuus. 
Florcceo  no  tempo  de  Seíl- 
nando  faõ  Pedro  Bifpo  dc; 
Braga ,  que  depois  o  foi  de 
Narbona ,  morrco  no  anno 
dc  6/^C. 

4  S. Pedro  não  podia  íer  mu 
dado  de  Braga  pcra  Narbona 
derdoannode63i.em  qucco 
mcçou  a  reinar  Seílnando  ate 
o  de  fua  morte  646.  fe  não  em 
ocaííaõ  cm  q  algreja  deNarbo 
na,ou  eftiueíTe  vaga  por  mor- 
ce,ou  o  feuMctropolitano  im 
pedido  por  muita  idade  ,  &c 
indifpoíiçoés  j  de  modo  que 
nãopudcflegoucrnar,&:  foíle 
neceflario  darfelhe  coadjutor, 
o  que  por  nenhúa  via  acon- 


d^j^cgxzo 


tcceo 


Sn^edro  lult^no. 


i47 


- 


cecco  por  todo  cíle  tempo; 
porque  Narbona  efteue  tam- 
bém prouida  com  oíeu  Ar- 
cebiípo  Scliiaj  que  náo  con- 
tente elle  com  acodir ,  &  aíli- 
ftir  ao  que  era  próprio  de  íua 
igreja ,  òc  como  das  portas 
adentro  rfahia  de  França,  de 
não  fazendo  caio  de  jornada 
taõ  comprida  ,  &  de  tantas 
legcas,  le  vinha  a  Toledo  por 
naõ  faltar  naquelles  ajunta- 
mentos j  onde  íe  tratauao  nc- 
eocios  de  tanto  bê,&:  vtilida- 
de  da  Igreja  Catliolica.  Tal 
o  achamos  firmado  no  Con- 
cilio quarto  de  Toledo,  anno 
633.  tal  no  ícxtOjanno63<S.aly 
mefmoondeaífillío,  &  aíTi- 
nou  o  noílo  Arcebifpo  lulia- 
no.  Naõ  foi  logo  a  mudança 
do  noílo  faõ  Pedro  a  Narbo- 
na nos  finco  annos  que  cor- 
rerão de  hum  a  outro  Con- 
ciho. 

y  Menos  podia fer  antes, 

&i  logo  no  principio  do  Rei- 
nado de  SefinandOjCm  q  lulia 
no  diz  floreceoj  ifto  hedo  an- 
no  de 631. ate  O  de  63 3. em  qíc 
ajiãtou  o  quarto  Cõcilio  To- 
lcdano,porque  então  neceíTa- 
riamente  auiamos  de  dizer  fo- 
ra faõ  Pedro  pêra  Arcebifpo 
de  Narbona  antes  de  Seluâ ^  a- 
quelleqfc acha  nos  Cócilios, 


6í  qScIuaforafeu  fuceííbrjOii 
immediato,òu  depois  do  im- 
mediato  porqa  brcuidãdc  do 
tempo ,  &  eftreiteza  de  dous 
annos,naõ  daua  cfpaço  perã 
mayor  numero  de  Arcebif- 
pos  .  Mas  refpoiíder  por  eílá 
maneira  tern  manifella  con^ 
tradição  na  morte  de  S. Pedro 
Iuhão,a  qual  foi  oito  ahnos  de 
pois  deSelua  fe  achar  no  fexto 
Concilio  Toledano  :  &  afsy 
mal  lhe  podia  fuceder  antes 
do  quarto,  quando  faõ  Pedro 
ainda  era  viuo ,  &  por  ventu- 
ra fe  não  tratauà  de  fua  mu- 
dança. 

6  Pcllo  que  aceitando  à 

Garcia  de  Loayfa,  &:âopádré 
frei  Bernardo  de  Brito  j  o  Pe- 
dro que  nos  dão  iio  quarto 
Concilio  Toledano ,  &í  dei- 
xando nos  ficar  com  o  luliã- 
no  que  aly  achamos  firmado^ 
ambos  parece  que  fazem  hum 
fò  nome,  &  húa  fópeíToájiftó 
he  faõ  Pedro  Iuliano,cuja  prè 
fença  honrou  os  tempos  dei 
Rey  SefinandOjCuja  autori- 
dade deu  íèr,  &  alma  ao  quar- 
to y  &  fextõ  Concílios  Tole-^ 
danos, em  que  fe  achou  ,  cujd 
velhice  j  &  bemauenturada 
fcpultura  enriqueceo  a  cidadtí 
de  Narbona  ,  pcra  onde  en- 
tendemos foi  mudado  depois 

dà 


348 


Qapitido  LXXXL 


íi.p.  C.8. 


da  morte  do  Arcebilpo  Selud, 
gOLiciiiando  aquclia  cadeira 
de  íeis  pêra  oitoannos^.  5c  ou- 
tros tantos  pouco  niais  ou 
menos  cfta  de  Braga. 
7  Aíllftiraõcom  clle  no 

quarto  Concilio  de  Toledo 
líldoro  Arcebiípo  de  5euilha, 
Scluade  Narbona,Elieuáo  de 
Merida,  luíto  deToledo,Au- 
daxde  Tarragona  :  de  Portu- 
gal aíiiíliraõ  também  Germa- 
no deDume,  Profucuro  de 
Lamego,Monteris  da  Ida n ha, 
Siciíclo  de  Euora  ,  Scruo  de 
Deos  de  Lagos  no  Algarue, 
Vearico  de  Lisboa  ,  Anfiulfo 
do  Porto  j  Mctropio  dcBri- 
tonia,  ou  Britiandos ,  Moda- 
rio  de  Beja,  Laufo  de  Vireu,&: 
por  ErraultioBifpo  de  Coim- 
bra PvCtano  fcu  Arcipreíle. 
No  fexto  Concilio  aíliíliráo 
Sclua  Metropolitano  de  Nar- 
bona,  íulianodc  Braga, Eu- 
génio de  Toledo ,  Honorato 
deSeuilha  :  de' Portugal  Si- 
ciíclo de  Euora,  Profucuro  de 
Lamego ,  Pimenio  de  Dume, 
Méccho  da  IdanhaVíibefodo 
Porto(ourrospoé  tábêAniiul 
fo,mas  erradamete  ,  como  te- 
mos efcrito  no  noíío  Catalo- 
go dos  Biípos  áo  Porto)Viari 
codeLiCboa,  Renato  de  Co- 
imbra.larico  dcVifeu.  Derão- 


le  os  afientos  de  hú  ,  òc  outro 
Cõcilio  pella  antiguidade  da  ia 
gração.  Nelles  deixamos  ap- 
pontadooque  baíic  quando 
tratanjos  dos  Biípos  do  Por- 
to, aly  íc  podem  ver. 
8  Concluindo  com  o  q 

toca  a  S.  Pedro  luhano,  elle 
veo  a  morrer  em  Narbona  no 
anno  de  646.  Sua  morre  feíle- 
jou  faó  Frutuoío,queodeuia 
de  conhecer,  com  hum  epi- 
grama de  que  faz  mcncáo  tií- 
bem  luiiano^pcrquc  logo  a- 
crccenra.  Mcrtmis  dd  annum 
6^6.  njtfaãiim  cehbrat  San- 
ãus  Fruãuofus  Archiepifcopus 
Bracharífis .  Nos  o  rcpetira- 
mos  aqui  íc  o  acháramos  em 
hiliano,  ou  tiueramos  noti- 
cia dclle:  porem,  cu  pormiui- 
to  íabido  j  ou  por  andar  entre 
as  obras  do  íanto  q  íepcrde- 
ráo,dcixou  luhano  de  o  refe- 
rir, mas  ainda  afsy  lhe  agrade- 
cemos erta  noticia  ,&  o  farão 
como  mais  intcrcíladcs  os 
que  tem  goílo  das  letras  hu- 
manas ,  cuja  parte  tão  prin- 
cipal he  a  poella,  pois  a  vem 
acreditada  em  dous  tao  no- 
raueis  Prelados,  faõ  Frutuo- 
fo,  &  faõ  Martinho  de  Du-  fy-t^c-lA* 
me,conio  em  fua  vida  dilTe- 
mcs ;  goucrnaua  a  Igreja  de 
Dcos  ao  tempo  que  íaõ  Pe- 


dro 


T morado. 


3i.c> 


'  f«  ckren. 


dro  íuliano  faleceo,  depois  de  - 
Pcbgio  lí.S.GregorioMagoOj 
Sabaniano,Bonibcio  1ÍÍ.  Bo- 
nifácio IIÍÍ.  Dcusdedic,  Bo- 
nifácio V.Moiiorio/veuerino, 
íoaõ  ÍII  í.  o  Papa  Thcodoro. 
Era  Rey  dos  Godos  Cir^daf- 
uinrho. 

CAPÍTVLO  LXXZIL 

MANVCINO  XXXni 
ArcehJÇpo  dí  Braga, 

•^    —  -  -    I     !■■  l-TT *     *■     '— -  "  IWI-*-» 

V^^^?-*^*^  4     P  n-  -  p  rei  -^  'o 

I  âJ  pl#Al&-   ^^  íeu  lucef-  j 
•láli^l^  íor  -Pavíora- 
ciof-'b  ívilia- 


no  com  tan- 
ta breuidade^  &:  iocerrcza  do 
tempo  era  qucfcrao  Árcebií- 
pos  defta,  Igr.eja  j  ^  quafi  no:; 
não  deu  niíiÍ5  q-  Icus  $j ornes. 
Di'!  :iUyrManuc:nifanS!J'iim  ,\  '■  ■ 
"T//n  celehis  efi  ínemcria  Tc- 


na  íaau Sede  Brsc;a  Panora- 
cáò.  Com  cila  brcuidadc  paf- 
íaluliario  (cm  apontara  eau- 

í  ia,  porque  foi  dcllerrado ,  Ôí 
lançado  de  íaa  igreja  ,  nem 
as  dicuníiancias  com  que 
eftas  coufas  pàflàrao ,  êc  con- 
tentaíe  com  tazcr  meiiçáo  q 
florecia  íua  memoria  peilos 

I  annos  de  66o.  que  íàõ  zriais  de 
vinte^alcm  donde  vay  sfta  hi- 
íloria.  Por  não  acharmos 
outro  lugar  onde  pudeíTc 
entrar  mais  cómodarnenie 
lhe  damos  cfíe,  Enúoorb- 
iliíuircmos  ao  ícn  próprio 
(qi!ando  defcobrirmos  outra 
noticia  mais  ciara  d 3  feu  f 'o- 
«erno. 


CAPÍTVLO    LXXXIlí- 

.PANORAcio  xxxrxii. 

Ârcshifpode  Braga. 


at,l^''  mdeexu-\  \  i  (^4^^^^  suíoridaácdc 


.cutlaccejsítmjede  Jan-'  \\  J^^J^hM^;^  íuiiaiL^o  f<;re-^ 
Br  achar  snlí  Panoratiusx  i  .MÁVjtí^tfJC  rid4n6câpi- 
lebre  a  mcnicria  ao  muy  ■        jÈ^i^^àà»^  tuío  atraz  lu- 


laiilt . CU!  fiíccefsitmfede  fan 
ãa 

hc  ceie 

lâíiro  varaó  Manucind  na  ci 
dadw'  de  Toledo  ,,  Oínde  eíle^ 
uc  deílerrado ,  &:  cin  Braea 
onde  foi  Arcebifpo ,  &  da  hv 
degradado, a  quen"^  fucedco 


.  eedso  Pànorscio  a  Manuílno, 
tia  dignidade  Primacial  dcBra 
ga.peraaaud  Foi eleico^ou  por 
cáuía  da  morte,  ou  do  dcíler- 
ro  dcManucino. 


Gg 


CAP. 


«Ill 


350 


Capitulo  LXXXIIII. 


CAPITVLO  LXXXIIII. 

P  O  T  A  MJ  O    O  PE- 

nitente  XXXIX.  Arccbif- 
po  de  Braga. 


Orventuraq 
fccom  open 
famento  qui 
fermos  cor- 
^  rer  as  hifto- 
rias  Ecclefiaílicas^  &  fazer  húa 
breuc  rcpitiçao  de  todos  os  ca 
fos  de  penitencia  que  por  ef- 
pantoíos  fecontão  nellas,não 
achemos  outro  que  iguale  ao 
que  temos  entre  máos^aindaq 
com  cUe  venhão  a  compara- 
ção todos  os  penitentes,  cuja 
conuerfaÔ  efpantou  o  míído. 
Heefte  o  ráto,&  humiliíTimo 
varaõ  Ponmio  Arccbifpo  de 
Braga,em  quem  por  famofo 
pcnicétc  tiueraõ  as  idades  paf- 
íadas  muito  que  enuejar,& 
teraÕ  as  vindouras  muito  que 
aprender. 

z  No  oitauo  Concilio 

dcToledo  achamos  cfte  fanto 
&  illuílrePrclado,autorizan- 
do  cõ  fua  prefença  aquelle  gra 
uc ajuntamento  q  íe celebrou 


noannode  Chriílo  (Sji.  no 
j-.  do  reinado  delRey  Receí- 
uintho  Principe  rcligiofiíli- 
mo.  Teue  o  primeiro  lugai 
Oroncio  Metropolitano  de 
iMerida^o  fcgúdo  António  de 
Seuilha,o  terceiro  Eugénio  de 
Toledo, o  quarto  o  nollo  Po- 
tamio  Metropolitano  de  Bra- 
sa.fesuindo  todos  nosaísêtos, 
&í  firmas  a  ordê  da  íagraçao^q 
naquelle  tépo  íe  vfaua. Segui- 
rão depois  os  mais  Bifpos  de 
Hefpanha,  &  os  que  aíTinão 
de  Portugal,  &  Galliza  faõ 
Candidato  de  Aftorga,  Abié- 
cio  de  Euora ,  Filimiro  deLa- 
mcgo ,  Vnadila  de  Vifeu  ,  A- 
deodatodeBeja,  Hermenfre- 
do  de  Lugo,  Sona  de  Orenfe, 
Sifebertode  Coimbra.  Com 
ertes  Prelados  fe  acharão  ou- 
tros varões  illuftres  deHefpa- 
nha.  Trataráoíe  neíle Con- 
cilio muitas  coufas  importan- 
tes à  Religião  Catholica ,  cul- 
to Diuino,&  reformação  dos 
coítumcs,  pêra  o  que  íe  orde- 
narão 13.  decretos  quePora- 
mio  cõ  os  mais  Prelados  con- 
firmou, ^autorizou. 
3  Fechado  o  Concilio  re- 
colheofePotamio  a  fua  Igreja: 
eflando  no  gouerno  delia  exer 
citando  todas  as  obras  por- 
cj  fe  fazia  amado  de  Dcos,& 

eltimado 


y 


Fotamio. 


351 


cíHmadodos  homens ,  o  ini- 
n:iigo  do  género  humano,  q 
não  cella  de  tentar  t)S  que  ve 
mais  adiantados  na  virtude, 
mais  amigos  da  penitencia,& 
cuidadolos  da  laluaçao  ,  ar- 
mandolhc,comoaDauid,cõ 
aviíia  de  húa  molher,  depois 
de  muitos  dias  de  côbatc  ofez 
vltimamente  cair,  &í  ofen- 
dera Dcos,  mas  com  tanto 
recato  que  ninguém  mais  que 
os  dous  íoubc,ou  teue  íofpei- 
ta  daquclla  fraqueza.  Paílou 
a  força  da  tétaçáo,  tornou  em 
fy  Potamio,  vio  o  miferauel 
citado  em  que  tinha  caido, 
<S>:  como  por  fua  miferia  íe 
via  fora  da  graça  de  Deos^re- 
bentaua  de  dor,  &  fentimcn- 
to,as  lagrimas,  os  fufpiros, 
que  de  dia  ,  &  denoite  Jhc  la- 
hiaõ  dos  olhos,&do  peito  ti- 
nháo  pafmados  aos  de  fua  fa-* 
miha,  não  labendo  a  ocaíião 
de  tão  repétina  nouidadcPri- 
uoufeda  mefa,  da  conuerfa-' 
cão,  naõ  dormia  ,  não  faláua, 
em  íim  fua  vida  era  abrir  o 
Ceo  com  fufpiros,  &  desfazer 
o  corpo  com  penitencias* 
4  Naõ  contente  ainda 

diftOjCntrcgando  o  gouerno 
do  Arcebifpado  a  que  lhe  pa- 
receo  o  faria  cõ  fatisfação,dei- 
xando  a  cidade  íe  foi  a  hú  higar 


dcícrto,  (Sj  aly  retirado  entre 
poucas  paredes  cm  continuo 
jejum,  tk  pranto  durou  por 
quafi  nouc  mefesj  no  fim  dos 
quaes  labendo  que  em  Tole- 
do eílaua  junto   Concilio, 
que  foi  o  decimo   na  ordé,  & 
coilccção  de  Garcia  de  Loay- 
fa,de  lua  própria  letra  cícrc- 
ueo  àquelíegraucajuntanien- 
to  leu  pcccado,pcdindolhe  pe 
nitencia,  &  relatandclhe  par- 
te da  qucjacinha  feito  pclla 
mcfma  culpa.  Grandes  ferião 
as  circunflancias  com  que  a*:^- 
grauaria  fua  caida  ^  &  preten- 
deria moílrarfe  indigno  áo  lu 
gnr  em  que  fora  pofto, onde  o 
precederão   tantos    Prelados 
íãntiiíimos,  efptlhos  dcpu- 
reza_,a  quem  elle  afrontaua  em 
auerfido  feu  fuccífor.   Cha- 
mauãoaquelles  Padres  à  car^ 
ta  de  V otamio ^ohlíterandíj pa- 
gina ,  ^  abolenda  literarum 
ekmenta  digna  de  íerrifcada, 
&  apagada  rporc  mais  digna 
he  ella  de  fer  eícrita  cõletras  de 
ouro3porqfabidahea  íenteça 
de  SiGregorio.  j^d pretiú  £ter 
n^  Yit^peccatorú  turpitudines 
atterútur  ^flendo  déaurantW. 
Carta  efcrita  có  lagrimas  ,hc 
carta  de  ouro  j  digna  de  viucr 
pêra  fépre&,de  íe  não  perder, 
neaindaa  menor  virgula  delia, 

G22,                     So 
o 


r.%. 


C.6. 


3  52 


Capitulo  LXXXJIIL 


Sò  nos  ficou  derta  a  pequena 
noticia  que  fe  acha  no  decreto 
do  Concilio  de  que  logo  po- 
remos a  copia. 

j"  Lida  a  carta  de  Potamio, 
pellos  Padres  do  Concilio  ad- 
mirados de  fuceílo  taõ  pouco 
erperado^pcrfu  adidos  que  ou 
por  temor,  ou  por  humilda- 
de fe  imporia  ícmelhante  cri- 
me^porqnem  dapeíloa,  nem 
da  vida, nem  da  dpinião,&  fa- 
ma de  Potamio  tal  fe  podia, 
preíumirrjuntos  todos  osBií- 
pos  Èrà  confelho  particular 
determinarão  apparcceíle  em 
ília  prefença  Potamio,  &  que 
depois  de  perguntado,  &  in- 
quirido fe  determinaria  delle 
o  que  pareceííe .  Deípedirao 
^comaquelle  íeu  decreto,  & 
còm  o  meímo  mcnfaoeiro  de 
Potamio  outro,  o  qual  che- 
gado àcafa  onde  o  fanto  pe- 
nitente eftaua  lhe  notificou  a 
ordem  dos  Bilpos^  &  o  citou 

Ipera  em  prefença  apparecer 
cm  Toledo ,  onde  o  ficauão 
todos  efperando. 
6  Sahiodaquclle  cárcere 

Potamio  veftido  de  Taco  c5 
rofto ,  &  habito  de  penitente, 
&  nefte  modo  íem  mais  ou- 
tro aparelho,  fe  pos  ao  cami- 
nho :  chegou  a  Toledo  ,  &  fe 
apprefentou  naquelle  grauca- 


j  unta  me  to.  Caufou  nos  pre- 
íentes  cõpaixao  tão  miferaucl 
eípcâ:aculo.Difle  primciramé 
te  quem  era ,  a  dignidade  que 
tinha,o  peccadoem  que  ca- 
irá, &  dilleo  com  tal  íentimé- 
to,quc  todos  desfeitos  em  la- 
grimas perfiííiaõ  cm  hú  pro- 
fundo iilencio.  Então  hú  da- 
quelles  fantos  Prelados ,  to- 
mando a  mão  não  obrante  o 
queacabauadeouuir ,  &  ti- 
nha diante  dos  olhos,  de  no- 
uo  pèrgútcu  da  parte  dcDeos 
todo  podcrofo  a  Potamio ,  q 
lhe  diflcfle  na  verdade  fe  era 
o  Potamio  (  tão  desfigurado 
o  tinha  a  penitencia)  Arce- 
bifpo  de  Braga,  &le  na  ver- 
dade efcreuera  tal  carta  à  quel- 
le  Concilio ,  &  cometera  o 
crime  quenella,  &  aly  na  prc- 
íença  de  todos  confeflàua :  ou 
fe  por  violência algúa  ,  ou  dc- 
fejodeviuer  abatido  entre  as 
gentes  fe  impunha  aquellete- 
llimunho,  porque  fe  aísy  fof- 
fe,  Deos  o  caftigaria  como  in- 
famador  da  dignidade  Eccle- 

T  >  r 

íiaflica ,  &  de  peíloas  cuja  ra- 
ma he  mais  de  fuás  ouelhas  do 
que  própria. 

7  Eftaua  entre  tanto  Pota- 
mio com  a  cabeça  baixa  ,  os 
olhos  desfeitos  cm  lagrimas, 
tendo  a  todos  os  circunftãtes 

em 


Fotamio. 


353 


cm  continuo  pranto  ,  &  aífii- 
çáo  :  mas  peraque  daquelle 
calo  cm  que  também  mereci- 
cía  era  a  miícricordia,(Sí  abíoi- 
uiçáo  (e  não  deííe  fauor  à  hy- 
pocrclia,  &  fingimento,  or- 
denarão de  calligar  comas 
Icys  de  piedade  o  Reo  pre- 
fentc,  &  com  todasas  de  ju- 
ftiça  tapar  as  portas  a  quem 
fópor  humildâJcquifcíle  ef- 
perdiçar  íua  fama  ellando  c6- 
llicuido  em  dignidade  Eccle- 
ílallica. 

8  AíènrençacõtraPotamio, 
foi  priuaréno  pêra  fempre  do 
gouerno  do  Arcebiípado_,íer- 
uir  toda  fua  vida  das  portas 
adentro  de  hum  moíleiro  em 
oflicios  humildes,peraquecíc- 
fta  maneira  o  pay  de  toda  a 
bondade,  &  piedade  foíle  fer- 
uido  de  lhe  conceder  o  per- 
dão ,  que  com  tantas  lagry- 
mas,&  abatimento  próprio 
bufcara.No  que  tocaua  a  dig- 
nidade quiferaõ  os  Padres  lhe 
íicaíle  o  nome  de  Arcebifpo 
viílo  como  elle  de  fua  pró- 
pria vontade  fem  ninguém  a 
iíTo  o  conftranger,  manifefta- 
ra  no  Concilio  fua  culpa ,  & 
fe  offerccera  a  toda  a  pena  que 
mereceflc.Nomearaõ  por  Ar- 
cebifpo de  Bragaa  faòFrutuo- 
foBiípo  deDume,a  quem  os 


Padres  do  Concilio  encarre- 
garão o  gouerno  dcfte  Aice- 
bifpado ,  d:  de  toda  a  Prouin- 
ciadeGalhza.  Foraõ  os  que 
fulminarão  a  fentença  os  vin- 
te Prelados  aífiítcntes  com  os 
Metropolitanos  Eugénio  de 
Toledo,  Fugitiuode  Seuilha, 
Saó  Frutuofo  deBraga  •,  eraó 
de  Portugal,  &  GallizaÇe- 
farioBifpode  Liíboa,  Sozi- 
mo  de  Euora,  Ermenfredo  de 
Lugo,  Ilpidio  de  Allorga, 
Flauio  do  Porto. 
9  Mas  porque  fempre 

os  Padres  íicaraÕ  duuidofos 
que  tal  crime  como  aquelle, 
não  cabia  cm  peflba  da  vida, 
exemplo  ,  &  autoridade  de 
Potamio,  &  porque  também 
entre  os  prefentes  foi  muy 
louuada  ,  antes  admirada  a- 
quellaconfiflaõ,  &  peniten- 
cia, &  Potamio,fe  bem  con- 
denando, era  acclamado  por 
fanto  ,  peraque  não  ouuefle 
quem  Icuado  da  opinião  de 
valer  por  fingimentos  fe  im- 
pufcílc  femelhantes  crimes, 
decretarão  que  qualquer  Bif- 
po ,  Sacerdote ,  ou  Diácono^ 
quede  íy  confcílaíle  publica- 
mente algum  peccado  mor- 
tal, ou  com  verdade,  ou  com 
mentira  foífe  priuado  de  fua 
ordc,  de  dignidade.  Ne^^  enim 


Ge  3 


abfol- 


354 


Capitulo  LXXXIllI. 


\ 


ahjolui{áã  aly  por  rezao  oCó- 
cilio  )  poteft  is  qui  in  Je  ipjum 
dixerip ,  quod  diãum  in  alio 
punir etur  ,  quoniam  omnis  qui 
Jibi  fucrit  mortis  caufa  maior 
homicida  ft.  Porque  fc  não 
pòdc  abfolucraquellc  que  co- 
rra fy  confcíTar  coufa  que  dita 
doutro  fe  caftigàra  ,  nem  po- 
de aucr  maior  homicida  que  o 
que  fcmata  afy  próprio. 
I  o  Aceitou  Potamio  a 

fcntcnça  com  amefma  humil- 
dade com   que  a  bufcara,  & 
[  orque  com  palau  ras  não  po- 
dia, pois  lhas  impedia  a  for- 
cado ícntimcnto  com  íolu- 
ços  arrancados  do  inrimodo 
peito  agradeceo  àquella  graue 
congregação  a  mifericordia 
que  com  cllc  vfauão  .  Aqui 
era  ncccíTaria  a  pena  do  elo- 
quentilTimo  Doutor  faõ  Ic- 
ronymo  com  mais  rczão  que 
a  nolTa^pera  efcreuer  cm  abo- 
nação  dchiía  penitencia,  & 
humildade  tão  extraordiná- 
ria :  porque  fc  fc  admirou  o 
doutiífimo  Santo, &  defcjou 
pcra  dignamente  engrandecer 
a  Fabiola  mayor  facúndia  que 
a  fua,  quando  vio  aquella  ma- 
trona da  principal  nobreza  de 
Roma  depois  deviuuaraíc- 
gunda  vez  cuberta  de  faço,  & 
de  cinza  ir  mcterfc  nos  alpen- 


dres da  Igreja  de  faõ  loáode 
Lateráo  entre  os    penitentes 
publicos,a  hm  de  alcançar  ab- 
loluição  do  peccado,que  co- 
metera por  ic  caiai   legunda 
vez  íendo   viuo  o  primeiro 
marido  ^    fe  vira  cfte  grande 
DoutoraonoíTo  penitétePo- 
tamio  com  a  meíma  libre  de 
Fabiola,que  eftremos  de  en- 
carecimento faria  em  louuor 
de  taõ  raro  exemplo  de  peni- 
tencia, &  humildade.  Grande 
não  íe  pode  negar  foi  a  q  mo- 
ftrou  Fabiola ,  grande  fua  pe-*' 
nitencia ,  mas  fe  fe  compara 
com  a  de  Potamio, tanto  à- 
quem  fica  húa  da  outra,  quã* 
tahea  diífercnça  que  vay  de 
híja  a  outra  peflba; porque  Fa- 
biola era  (fe  bê  nobre)  molher 
particular,  Potamio  Arcebif- 
po   de  Braga  Primaz  das  Hef- 
panhas  ,coroa(como  o  pro- 
prioConcilio  lhe  chamou)da- 
quelle  nobiliíHmo  aj untam é- 
to, varão  de grandiílima íàn- 
tidade,   &  que  andaua  nos 
olhosde  todos. Digamos  logo 
com  mayor  rczão  pcUo  nof- 
fo  penitente  o  que  faõ  lero- 
nymo  difíe  pella  iriatrona  Fa- 
biola. Qiupercata  fietus  iíie 
non  purget  ?  Qms  inmteratas 
macuhu  hdc  lamtta  no  ahíuttl 
Que  pcccados  não  purificara  | 


tal 


T^otamio. 


355 


MartiAl 
lib,    í . 
Efigr.z  I 


I. 


■p.f .  9. 


tal  choro? Q^ue  nódoas  não  la-  » 
uarão  tais  lagrimas?  Com  hua 
leiíe  mudança  parece  que  cõ- 
pcteaPotamio  o  louuor  dou- 
tro Romano,  de  quem  diíle  o 
Poeta  Marcial. 

Maior  decept£  fama  ejl,t^  glo- 
ria dextra. 

Si  non  erraj^etjfecerat  illa  mi- 
nus. 


}^c  verdade  que  errou,  mas 
quem  também  depois  do  erro 
acertou,  jà  elle  erro  lhe  pode 
ícruir  de  gloria ,  &  fama-,  me- 
nos fizera,  fe  não  errara,  pois 
coma  penitencia  do  erro  fez 
eterna  íua  memoria.  Tudo  o 
que  de  Potamio  temos  con- 
tado relata  melhor  o  teor  de 
fua  fentença ,  q  anda  no  mef- 
mo  Concilio,  &  nos  jà  puze- 
mos  no  Catalogo  dos  Bifpos 
do  Porto ,  mas  por  fazer  tan- 
to ao  cafo  a  tornaremos  agora 
a  repetir:  diz  afsy. 

DE CRETO ACERCA 
de  Potamio  Bifpo, 

I  r  Pudéramos  tocar  de  ejpa- 
ço  afonorofafrauta  da  frater- 
nal alegria,  por  quanto  a  diui- 
na piedade  nos  ajuntou  a  todos 
concordes ,  isf  unidos,  is^  con- 


iiinha  euitar  a  triUe^a^pois  me 
diante  a  dicipUna parece  tínha- 
mos renouadas  as  regras  que 
pêra  ella  deraÔ  nofos  predecef- 
fores.  Mas  em  lugar  do  inííru- 
mento  alegre  lançamos  mao  dos 
trifles ,  i^  pecados  feUros^  Ijf 
em  lugar  de  '^erfos  cantamos 
lamentações-^  gemendo  acompa- 
nhamos as  lagrimas  de  Jere- 
mias ,  if  dioi^mos.  Acaboufe  o 
goíto  de  nofio  coração ,  l^  nojfa 
muficafe  conuerteo  empranto^ 
ja  diante  de  nosfe  não  <i)í  mais 
que  ays.pois  em  nojfos  olhos  ije- 
mosderribada  a  coroa  de  nojfa 
cabeça  jjuando  coufa  tão  no- 
hre  ,  Í!f  que  tão  fublime  grão 
alcançara  cayo  em  lugar  tão 
'baixo ,  ti'  humilde.  He  pois  de 
faber  ,  que  eílandonos  emfan- 
tapaT^,  tratando  das  leys  Ec- 
clefiafticas  ,  fe  trouxe  a  noJ?o 
ajuntamento  hum  memorial  de 
confiffao  confufa,  isf  de  letra 
digna  antes  defer  rifcada ,  que 
Potamio  Bifpo  de  Braga  com- 
pufera  de  feus  próprios  defei- 
tos jditara  de  fua  nota  ,lsf  ef- 
creuera  de  fua  mãop  qual  aber- 
to feleo  pello  chorofo  ajunta- 
mento ,  mais  com  lagrimas  que 
compalauras ,  aquillo  que  con- 
tinha o  papel  digno  defer  rifca- 
do,  i!f  as  letras  indignas  defe- 
rem riflas.  Ajuntados  então  1 


<^g4 


em 


S6 


Capitulo  LXXXIIÍL 


■ntmmmmieé  t 


emfegredo^e  particularméte  os 
Bifpos  fizemos  apparecer  dian- 
te nos  ao  próprio  Bifpo,  a  qíicíft 
filiando  mai ::  com  lagrimas  q 
com  re^cs  lhe  moííramos  aber- 
ta a  efcntura  de  feus  defeitos^ 
ijf  nojfa  confiífaó ,  a  qual  to- 
mando elle,  tf  tornandoa  a  ler 
fendo  perguntado  por  nòsfe  era 
aquella  intimação  obra  fita  ,  Í!f 
defua,  nata ,  af firmou  que  tudo 
o  que  tinha  lido  eraÓ  palaura-s 
fuás,  if  ofnalfeu.  Outra  ^e\ 
o  amoejlamos  ,   l^   efconjura- 
mospello  nome  Diurno  que  df- 
fejfe  com  verdade  fepor  njen- 
turafe  leuantaiia  afy  aqtíeUè 
falfo  teHimunho^ou  alguém  com 
algíia  -violência  q  confrangia 
a  ijfo.  Ao  que  elle  cofn  '^o^  che- 
rofa ,  Isf  os  clhos  arra^des  em 
lagrimcíó, partindo  íUpalauras 
com  foluços  jurando pello  nome 
de  Deos  bradou  que  ijerdadti- 
ramentc  confejjauafeus  defei- 
tos, f  em 'violência  algua  o  con- 
franger à  confijfao  delles  j  ^ 
queja  por  efpaço  de  quafi  noue 
mtfesfe  tinha  priuado  dogouer 
no  defua  igreja  ,  Isf  metido  em 
hum  lugar  esireitopera  alyfa- 
T^er penitencia.  Sabido  então ^ 
(sf  declarado  por  fua  fiel  con- 
fiffaó,  que  elle  cairá  em  pecca- 
do  de  dcshoneflidadt^  aindaque 
os  cânones  [agrados  determi- 


nem que  os  tais  lhe  fejao  tira- 
díínfuds  dignidades ,  nos  toda- 
via guardando  as  leis  de  mife- 
ricordia  lhe  n^.o  tiramos  o  no- 
me de  honra ,  que  ellefe  tirara 
afy  próprio  pella  confijfao  de 
feupêccadOj  mas  determinamos 
com  firme  autoridade  que  elle 
ftruife  emoffitios  de  perpetua 
penitencia  ,if  mi  ferias, achan- 
do fer  melhor  que  elh  caminhe 
pellos  afperos  ,  ijf  trabalhofos 
caminhos  dapenithia  peraque 
algiia  hora  chegue  à  morada 
do  defcanfo ,  que  deixandoo  à 
largue'^1  defua  ^ontadefepre 
cipitajje  na  eterna  condenação. 
Determinamos  entf.o  por  elei- 
ção comum  de  todos  que  o  '-vene- 
rauel  Bifpo  de  D  ume  Frutuo- 
fo  goueãnafje  a  Ignja  deBra- 
ga  dtmantira  que    tornandoa 
fcH  cargo  o  gouerno  de  toda  a 
Metropoli  daProuincia  de  Gal 
lic^a^de  todos  osBifposJjfpouos 
defua  jurdçao  ^  ilf  o  cuidado 
de  todoó  iU  almas  daquella  ígre 
ja,  de  tal  modo  os  componha,  tf 
conferue  que  glorifique  a  Nofo 
Senhor  coma  inteire^  defeii 
trabalho , à/  anos  dé  conten- 
tamento com  apa'^defua  Igre- 
ja. E  porque  importa preuenir 
ao  futuro  pêra  que  no  efiado  da 
pa^^fe  nao  leuante  algúa  inquie 
tacão  de  demandx  procurou  > 

noffa 


S.  Frutmfo 


357 


'Iran.de 

Vnm.i. 

Brach.c. 


nofa  ijiffilancia  ajuntar  a  ef}e 
decreto  a  fentenca  dos  Padres 
que  juiiamente  condenarão  ao 
dito  Bijpo  Potamio. 
12  Defte decreto  fe  tira 

bom  argumento  em  fauor  da 
Primazia  da  Igreja  de  Braga, 
como  ja  mortramos  em  ou- 
tro lugar,  onde  diíTemos  que 
as  palauras  de  que  vfaõ  os  Pa- 
dres do  Concilio,  chamando 
a  Potamio  coroa  de  íua  cabe- 
ça le  não  podem  referir  a  ou- 
tra luperioridade  mais  qucà 
de  Primaz,  que  Potamio  Ar- 
cebiípo  de  Braga  tinha  íobre 
todos  os  Prelados  do  Conci- 
ho,dequeelIeeraacoroa,  & 
cabeça,  &  como  tal  fentiraõ 
íua  queda,manifefl:ando  a  dor, 
que  caufou  em  todos  com 
palaucas  de  grauiílimo  fcnti- 
mento. 

1 3  Fechado  o  Concilio 

veo  pêra  Braga  Potamio  em 
companhia  de  íaõ  Frutuofo 
ícuíuceílor  no  Arcebifpado; 
&  recolhendofe  no  molleiro 
de Dume  comos  Religiofos 
que  ahy  viuiaõ,  continuou 
em  riguroíiííima  penitencia 
acè  que  Deos  o  leuou  pêra  o 
deícanfo  eterno  a  gozar  da 
companhia  daquelles  efpiri- 
tos  bemauenturados,  a  quem 
com  fua  admirauel  conuer- 


íaó  alegrou.  Náo  íàbemos  o 
dia  em  que  íuccdeo  feu  glo- 
rioío  tranllto,  íe  bem  foi  qua- 
íl  dous  annos  depois  de  íua 
priuação  no  de  Chrill:o  6j8. 
Pello  inííçne  exemplo  de  pe- 
nitencia que  deixou  o  venera 
eífa  Igreja  de  Braga  ,  como  a 
varão  íanto,í^  retrato  viuode 
humildade,& penitencia.  Por 
efte  tepo  em  que  fe  fechou  o 
Cõcilio,&  lhe  fucedeo  na  dig 
nidade  Primaciais.  Frutuofo 
gouernaua  a  Igreja  de  Deos 
depois  de  Theodoro  Marti- 
nho,&  Eugénio  o  PapaVitalia 
no  i  &  reinaua  em  Heípanha 
Recefuinthofuceílor  deCin- 
dafuintho. 

■  -  --  — - 

CAPITVLO  LXXXV. 

S  A  M  FRvrVOSO 
XXXX.  Arcehifpo  de  Bra- 
ga. 


NACIMENTO^ 

^  criação  do  gloriofo 
S.  Frutuofo^ 

OVTRINA 
he  cõmú  dos 
Sãtos  Padres 
dar  Deos  mui 
tas  vezes  os 
nomes  àquelles,  a  quem  pêra 


>y 


358 


íy  cícolheo  conforme  ao  que 
depois  haõ  de  vir  a  fer,  &  vir- 
tudes que  hão  de  exercirarj 
a  Abraham  deu  efte   nome, 
porque  o  tinha  predcílinado 
pcra  pay  de  todos  os  fieis  ja  faõ 
Pedro  o  de  pedra ,  porque  íb- 
bre  elle  determinaua  fundar 
fua  Igreja^  afsy  o  fez  também 
a  outros,  de  quem  feria  lar- 
go tratar.  Entre  cftes  fe  pode 
contar,  &  cera  grande  fun- 
damento o  gloriofo  confeíTor 
de  Chriftofaõ  Frutuofo  ver- 
dadeiramente,  como  de  Ía5 
Bento   diííe   íanto  Thorras 
Re  if  nomine  Fruãmfus,  Fru- 
tuofo nas  obras,  &  nomernas 
obras    pcllas  marauilhas  que 
obrou  cm  íeruiço  da  Rehgiáo 
Chriftaã  cm  quaíi  todos  os 
Reynos  de  Hcípanha  :  no  no- 
me pellos  incomparaueis  be- 
nefícios, que  o  Cco  fez  àquel- 
les  queemfeus  perigos, &  nc- 
ceíTidades  chamauáo  porfeu 
fauor ,  como  em  muitos  exé- 
plos  moílrarcmos  pciJo  dif- 
cur  iode  fua  vida. 
i         Naceo  o  gioriofo  con- 
feíTor, &  fantiínmo  Primaz 
das  Heípanhas  naquella  Pro- 
uincia  de  Galhza,  que  vizinha 
com  o  Reino  de  Leáo  ,&  fe 
chama  hoje  terra  de  Vierço, 
chamada  dos  antiguos  Vergi- 


Capitulo  LXXX  J/^. 

dum ,  de  que  feu  pay  era  fe- 


nhor, como  doutras  muitas 
villas,6<:  lugares  q  Ihevierao, 
aísy  por  herança  de  íeus  an- 
cepalfados,  como  auidas  em 
caíairxnto  cõ  fua  molher  ma- 
trona de  igual  nobre2a,&  apa- 
rentada j  untamente  com  a  ca- 
fa  Real ,  como  o  era  íeu  mari- 
do ,  &:  lho  chama  a  ambos 
ElRey  Chindafuindo  em  húa 
doação  de  que  abaixo  dire- 
mos.  Encobrionos  o  tempo 
os  nomes  de  hum ,  &c  outro, 
&  os  officios,  que  peíloa  taó 
illuílrc  exercitaria  por  mcrcc 
de  feus  Reys,&  premio  de  me 
recimentos  jafsy  na  paz ,  co- 
mo na  guerra.  Sò  diz  o  Bre- 
uiario  defta  nofla  Sè  na  lenda  Ué. 
do  Santo,  que  foi  capitão  do  '1^^' 
exercito  do  Rey  fem  declarar 
fe  o  era  geral ,  ou  de  aigúa  c6- 
panhia;  mas  de  crerhe,  que 
peíloa  de  tantas   prendas  ti- 
ueílc  o  primeiro  lugar  naguer 
ra  ,  èí  como  dcífe  deuefabr 
o  Breuiario  .-doutra  maneira 
cia  qualquer    oííicio  militar 
de  pouca   importância  pêra 
delle  fe  fazer  memoria  em  par 
ticular. 

3  Tiuerão  ,alem  de  íàõ 

Frutuofo, feus  pays  húa  filha, 
que  caiarão  com  hum  caua- 
leiro  cm  tudo  igual  fcu,fc  não 

na 


I 
I 


Afrtl 


S.Frutiwfo 


3  59 


na  condição,  porque  era  de- 
mafiadaniente  cubiçolb,  co- 
mo íe  vio  no  que  logo  con- 
taremos, &  foi  ocaííão  de  lhe 
Deos  encuruar  os  dias  da  vida, 
&  íe  ver  a  pobre  ícnhora  qua- 
Ti  no  meímo  tempo  viuua, 
que  caiada. 

4  Sahia  muitas  vezes  à 

caça  opay  dofanco^exercicio 
a  que  era  muy  inclinado ,  ã: 
de  caminho  viíítaua  íeus  pa- 
ílores ,  &  codas  as  cafas  do 
campo,  de  que  tinha  muitas; 
porque íuaauíencia  náofizeí- 
le  deícuidados  aos  quinteiros : 
leuaua  coligo  ao  mininoFru- 
tuofojCujo  vnico  trabalho  era 
andar  notando  por  entre  a- 
quelles  montes,  &  valles,  em 
qucdece,  &  fobe  a  terra  de 
Vierço,as  lapas jasconcauida- 
des,  6c  o  mais  retirado  das  íer- 
ranías,  cobiçandoas,  pêra  nel- 
las  fe  dar  todo  a  Deos  em  vida 
comtemplatiua  fora  do  tra- 
fego humano. Com  eftcs  pen 
íamentos  lar^aua  al^íias  ve- 
zcs  palauras ,  de  que  o  pay  vi- 
nha a  entender  que  o  filho  fe 
criaua  ,  &  crecia  mais  pêra 
Deos ,  que  pêra  o  mundo.  E 
fe  bem  lhe  não  deu  nunca  azo 
afedefcontétar  do  mundo  no 
modo  em  que  o  criaua,&  tra- 
taua  trazendoo  fenipre  muy  I 


luzido.&com  grande  aconi- 
panhamento    de  criados,  fa- 
zendoo  exercitar  cm  todas  as 
boas  manhas  de  filho  de  quê 
era,(Sy:  verdadeiro  dclcendente 
de  íeus  progenitores,  toda  via 
Frutuoíb  nos  exercícios ,  c]o 
habilitauão  pêra  o  miado  era- 
pregauao  menos  tempo  que 
podia,  deixãdofe  logo  ver  hia 
aclles  mais  por  obedecer  ao 
pay,  que  pella  inclinação,quc 
a  iílo  o  leuaíle  Nos  de  pieda- 
de era  todo,&  em  todo  o  tem 
po,  retirandofe  dentro  em  fua 
caía, jaarezar, jà  a  meditar, 
jãalerhuros  cfpiricuacs,  al- 
cançando poredavia  tal  co- 
nhecimento  do  pouco  que 
vai    quanto   os    mundanos 
cll:imão  ^  que  fó  efperaua  pel- 
la morte  do  pay, pêra  de  todo 
lhe  dar  demao ;  o  que  muito 
primeiro  fizera,  fe  não  fora 
pello  defgoftar,  ôc  molelliar, 
porque  notauelmen  te  íeaíHi- 
gia  em  ver  fe  não  continuaria 
a  nobreza  de  fuacafa  naquelle 
filho. 

5  Tratou  muitas  vezes  de 
o  cafar,mas  o  fanto  moço  c5 
hum  prudente  defuio  lhe  hia 
pcrfuadindo  deílc  primeiro 
vida  a  fua  irmaã,  que  como 
mais  velha ,  &:  molhcr  pedia 
nãofedilacar  tanto,  porque  ) 


en- 


i 


j 

«  1 


cucáo  lhe  ficaua  a  ciie  mais  a- 
conco  o  co.tarfe  quâiicío  ja  o 
viíieni  (em  nc^uella  prsciia  o» 
brigacão  •  por  outra  via cvm 
os  nisÍGios  iatftíitos  ds  íe^usr 


ti — r^^^-jtt 


CAPnVLG  IXXXVL 


a  vida  icligioía  fe  bzia  a  irmã 
deíaõFiutucfo  deíçonccíVía- 
ãiid.  5  &  punha  Vvirips  .^cba-  ;  | 
quês  a  qualquer  çafamcn'íO^,|  | 
que  íèlhs  DtícrctÍ2_j  ase quç  íi-  | 
nalinentc  Dao  pode  cngeitai; 
o  de  ha m  m.iMcebo  cm  tudo 

z.is.C£]fbr«rãQic:/i  bodas  co-    í 

frandcs  feitas,  íç.bsravdc  0CíU-< 

cos  diasypcrqMc  ppay  cá  noi- 

Liá,&  ctó  laõFzutU.ofo-vcoá 

enfermar,  ti  riioirercni  bse- 

ue  icmpo  deixando  por   ; 

herdeiro  a  íaóFra- 

tuofa  de  íeus 


R  E  C  R  B  E  S  A  M 
Fruiííofi)  o  habito  defad  Bê" 
ta  ^fiindii  o  'i}}Qsieiro  ãtfio 
hãio ,  if  Pcsíor^l^'  outros 
muWús  de  'Rd(<'-'icíh.Â^  Re- 


Ce     J 


í>:£i.- 


:)!  -iz ;  Ú 


bo  de  per  cm  'cxccujao  os 
propoktos  ar:,  q  íc:  cíiara ,  q 

.que  d.cÍ3:?;do.'AÍ5^da'd£0.0;Cii-  í 

-•;;;  i  [rdiado coia iC^ clho .Ko  .jliirc*  j; 

I  f'  t7,ue  o..io.o-!iiiíar,dc  :biis  voií- 

Ié  ir 


—  ir--      r   ■\        r  ■         11      •■      « 

.!  ii  !  !?:aGC,  ícliao.loía.oYíiTí.tjJocío 


1     Trni  111    r»  MU 


p^|iínõçra'Biíp®rn$a  >  Tonando 

I  h' íídadí,:(icfrqnb  da  íííiáó  de  tào 

'|:|;ilkiítrfePrí2bdo  qucítaPruíno- 

.' •  pi;  ío  rornarroivabicc  dó  Patiiar- 

:  >| ÍI i cb  S .BãcgciDajii^Q-  Tc?iãcio 

cora 


S'Fntíí4ofo. 


36r 


com  grande  alegria  de  íua 
alma  ,  adiuinhandolhe  o  co- 
ração os  muitos,  &  gran- 
des frutos j  que  dacjuella  ten- 
ra planta  ao  diante  auiaõ  de 
nacer.  Deteueo  algum  tem- 
po em  fua  caía,  &c  compa- 
nhia, inílruindoo  em  todas 
as  boas  artes  do  efpirito  de  q 
depois  veo  a  íer  taõ  grande 
mertre. 

i  Daqui  fe  fahio  Frutuo- 
fo  com  boa  licença  de  feu 
melire,  leuado  do  amor  da 
vida  íolitaria,  &  lembrado  da- 
quellcs  montes,  que  na  íua 
terra  íendo  minino  vira  ,  & 
defejara  peranelles  uiuerdef- 
conhecido  do  mundo ,  Sc  da- 
do todo  a  Deos,  como  nos 
de  Subbcocm  Itália  o  fizera 
feu  Padre  Saõ  Bento  .  Cor- 
reoosa  todos  hum  por  hum, 
contentoufe  mais  daquellc 
em  que  logo  edificou  omo- 
Iteiro  de  faó  lulto,  &  Pa- 
íior  martyres  gloriofos  de 
Chrifto,  &naturaes  da  villa 
de  Alcala  de  Henares,  a  quem 
os  Latinos  chamao  Complu- 
tum  ,  &r  cllepor  iíío  Ihede- 
uia  chamar  o  mofteiro  de 
Complutica  ,  afsy  como  os 
que  foraõ  feguindo  varian- 
do pouco  o  vocábulo  lhe 
chamarão  Compludo  como 


ainda  agcra  fe  chama.  Naò  J 
íabemos  dizer  íe  cílaua  jà 
então  aly  edificada  a  vilja, 
que  agora  fe  diz  Molina  Se- 
ca, ou  fe  depois  fe  veo  ae- 
dificar  como  parece  mais 
proLiauel^,  pois  o  Santo  buf- 
caua  lugares  fclitarios ,  Òc  a- 
partados  do  trafego  das  gen- 
tes .  O  certo  he  que  ella  te- 
ue  o  nome  do  pequeno  ri- 
beiro chamado  Molina  que 
vay  leuando  feu  caminho 
pellas  fraldas  do  monte,  an- 
tiguamcnte  chamado  Ira-- 
go ,  agora  Porto  do  Rauanal 
no  Biípado  de  Aílorga. 

5  O  mefmo  foi  ter  cafa 
Saõ  Frutuofo,  que  veríc  cer- 
cado de  prande  numero  de 
dicipulos  ,  huns  que  de  no- 
uo  tomauão  o  habito  de 
monges,  outros  que  leua— 
dos  de  íua  fanra  conuería— 
ção,  &  notauel  fama,  que 
de  íuas  virtudes  auia,deixa- 
uão  os  mofteiros  anti^uos, 

6  fe  vinhaó  a  morar  com 
clle  ;  nenhuns  fearrependiaõ 
da  cfchola ,  porque  o  mo- 
fteiro florccia  em  todo  o 
género  de  fantidade,  &  no 
temporal  era  hum  dos  bem 
dotados  de  toda  Hefpanha, 
afsy  porque  o  Santo  lhe 
appltcou  grande    parte   de 

Hh  feu 


Gil  GoNÇt 
de  Anti, 

ihfAtr.dt 


36; 


Capitulo  LXXXVI. 


de  feu    património  ,   como 
porq  ElRcy  Cindaíuintho  o 
tomou  debaixo  de    fua  pro- 
teiçáo  ,  &  cnnqiiccco  com 
srandcs  dadiuas.  He  bem  vcr- 
dade    que    no   principio    o 
encontrou  ,  leuado  das   fal- 
fas  informações   do  cunha- 
do de  São  Frutuoío  ,  o  cjual 
naó  podia  leuar  em   paciên- 
cia, verle  defraudado  dos  bés, 
de  que  jàíedauapor  íenhor, 
quando  o  vio  veítido  no  ha- 
bito da  Religião  em  caía  de 
íaõTonancio  •,  chegou  a  tan- 
to a  valia  deílc   fidalgo   com 
ElRev      mòrinente  quando 
íc  lhe  veo  olierecer  com  a  pel- 
íoa  ,  &  fazenda  pêra  hiía  jor- 
nada de   confideração  ,    cm 
que  hia   muito  da    reputa— 
■  çáò,   òí  credito  de   Heípa- 
nha,  &  neceflariamente  lea- 
uiaõ  de  fazer  grandes  gafl:os,q 
totalméte  mandou  íe  metelíe 
depofle  dos  bens  de  S  .Frutuo 
lojou  jàertiueflcm  appiicados 
ao  íeu  morteiro,  ou  ao  diàte  íc 
lhe  pudefié  applicar.Teue  no- 
uas  derte  taõ  injufto  decre- 
to dei  Rey    Saõ  Frutuoío  , 
acodio  a   Deos  com  todos 
teus  Rcligioíos,  pêra  que  lhes 
valeíle ,  ^  acodille .  Não  lhe 
fliltóu  por   muitos    dias  feu 
jfauor  ,  porque  o   cunhado 


recolhendoíe  da  Corte  ,  & 
tratando  de  exercitar  o  que 
alcançara  ,  cayo  em  cama ,  &c 
delia  íe  não  leuantou  ie  não 
pêra  a  íepultura  ,  ceílaudo 
com  íua  morte  eftatrojnen- 
ta. 

4  Bem  entenderão  logo 
todos,  òí  ate  aomeímo  Rey 
Cindafuintho  naõ  paílou 
por  alto^  donde  viera  aquel- 
íe  cailigo  ao  defunto,  ^  pu- 
blicamente fe  contaua  pellas 
praças,  que  quem  quizcíle 
comer  o  leu  em  paz,  &  por 
muitos  annos,  fe  não  atre- 
uefle  a  inquietar  o  Abbadc 
de  Compludo,nemaos  léus 
monges  ,  porque  tuihão  a 
Deos  por  dcfenior  tanto  a 
olhos  viftos,corao  mortra- 
ua  o  cafo  que  acabamos  de 
contar. 

5  E  pêra  que  ninguém, 
folie  ouíado  a  molellalos  da 
ly  em  diante,  ácodio  ao  meí- 
mo  Cindaíuintho  Saõ  Fru- 
tuoío pêra  que  lhe  confir— 
rr.aíle  todas  as  doações ,  que 
ertauão  feitas  aos  Santos  lu- 
ílo  ,  &  Partor ,  &  lhe  def- 
fe  plenária  licença  peraq  cm 
outras  partes  de  íeu  Reino 
íe  ediíicaflem  nouos  moftei- 
ros,vií-l:ocomonaquclle  não 
cabiaõ   jà  os   muitos    dici— 

pulos 


S'FrutHcfo. 


63 


pulos  cjiie  Deos  lhe  trazia. 
Aísy  o  tez  ElRey  como  nos 
conliadchúa  eícncura  dada 
cm  dezoito  de  Outubro  era 
de  Ccíar  íeiícentos  óc  oiten- 
ta 2c  quatro,  que  vem  a  íer  no 
aiino  de  Chriíto  íeiícentos  & 
quarenta  &  íeis ,  em  que  fir- 
máo  o  meimo  Key  Cindaf- 
uintho, a  Rainha  Receberga 
lua  molhcr,  Eugénio  Arcebií- 
po  de  Toledo  ,  Candidato 
Biipo  de  Aíliorga^  cm  cujo 
Biípadocahia  o  molleiro,  & 
outros  Abbades  entre  os  quaes 
he  hum  Ilefonlo,  eíle  hc  o 
grande  fanto  Ilcfonío  Arce- 
bifpoaísy  mefmo  pcllos  tem- 
pos adiante  de  Toledo.  Aqui 
nclla  doação  demarca  o  Rey 
o  couto  de  Compludoj  &  faz 
menção  de  varias  peças ,  que 
lhe  oíicrecco,  como  íaõ  hú  ca- 
liz  de  prata  com  híja  patena 
fobrc  dourada,  húa cruz  aísy 
meímo  íobredou rada,  todo 
o  ornato  de  hum  altar,  hum 
fmo  a  quem  gaba  de  grande 
voz ,  &  muito  fonôra ,  vá- 
rios liuros  ,  como  o  Pfaltei- 
ro ,  os  Diálogos  (  deuiao  íer 
os  de  SaõGreíTorio)humPar- 
íionnrio ,  &  outros.  Aqui  nc- 
fta  doação  chama  pior  varias 
vezes  o  Rey  a  SaõFrutuofo 
bemauentura(ío,íani5liírimo, 


&  nacido  de  iancrue  Rcai  - 
Guardaícna  Igreja  de  Allor- 
ga,  a  quem  Ic  vco  a  annexar 
pcllos  tempos  adiante  a  Ab- 
badia  de  Conipludo,  como 
ainda  hoje  perleucra^  ôc  fe- 
gundo  fua  data  ,  he  húa  das 
mais  antiguas  eícrituras ,  que 
em  Heípanha  Te  podem  a— 
char. 

6  Poftas  as  coufas  do  mo-' 
fteiro  de  Compludo  na  al- 
tura em  que  as  vemos  pel- 
los  merecimentos  de  São  Fru- 
tuoío  ,  ôc  pclla  autoridade 
Real  ,  viuendo  os  monges 
delle  como  Anjos  na  terra^ 
Sc  efcufando  jà  a  preíença  de 
íeu  paftor  ,  por  também  fe 
liurar  de  muitos  que  alyo 
bufcauáo,  &  fe  dar  com  mais 
quietação  a  Deos  hum  dia, 
quando  menos  o  cíperauao, 
lhe  defaparecco  da  villa,  &  íe 
meteo  mais  pella  montanha 
dentro  ,  onde  fazendo  húa 
pequena  cella ,  le  empare- 
dou dentro,  fazendo  vida  de 
reduzo  ,  fem  da  ly  íayr, 
comendo  fò  o  que  lhe  leua- 
ua  hum  dicipulo  que  ou  por 
Diuina  reuelação  ,  ou  por  o 
Santo  fe  lhe  deícubrir,  veo  a 
faber  delle. 

7  Nada  fabemos  do 
tempo  que  nefla  coua  viueo 

o  íanto 


Hl 


11 


364 


(Capitulo  LXXXVL 


o  íanco^mas  eonftanos  que 
afsy  fantificoucõíuapefloa, 
&  prefençaaquellelugar,que 
veo  a  fer  hum  dos  principaes 
morteiros  que  em  Hefpanha 
teue  a  ordem  de  faõ  Bento, 
chamado  íãò  Pedro  de  Mon- 
tes ,  principiado  por  faõ  Fru- 
tuoío  ,  rellaurado  por  laõ 
Genadio  ,  &  doze  compa- 
nheiros Teus,  na  era  de  no- 
uccentos  &  trinta  &  três  ^ 
que  faõ  annos  de  Chriflo  oi- 
tocentos &  nouenta  &  fin- 
co _,  &  pouco  depois  fendo  ja 
Bifpo  de  Aftorga  dilatado  em 
mayor  magnificência .  Fica 
efte  morteiro  (  eíchola  verda- 
deira de  innumeraueis  fantos, 
&  Prelados )  três  legoas  afa- 
rtado  da  villade  Ponferrada, 
òc  féis  do  de  Ccmpludo  na 
mefma  Prouincia  de  Vierço 
Bifpadode  Artorga.  Dura  a- 
indahoje  debaixo  da  dicipli- 
na  de  faõ  Bento  ^  mas  não 
Abbadia  por  ly ,  nem  com  a 
profperidade  antigua  ^  mas 
Priorado  de  Valhadohd  ca- 
beça da  congregação  de  toda 
Hefpanha. 

8  Outros  morteiros  e- 

dificou  na  terra  de  Vierço 
de  que  temos  pouca  ,  ou  ne- 
nhúa  noticia.  Sofpeitas  ha  q 
foi  hum  delles  oquechama- 


uáo  Viíuneníe  junto  a  Vil- 
lafranca.Tambem  a  Igreja  col 
legiadaderta  Viliafoiem  Icus 
prmcipios   morteiro  da  or- 
dem de  íaõ  Bento,  6í  hum 
dos  principaes  que  em  Heí- 
panha  íe  íoi^eitaraõ  ao  dcCki- 
niem  França.  Não  duuida- 
mos  poderia  ter  porfeu  fun- 
dador a  Saõ  Frutuofo,  &  não 
íeria  pequena  gloria  íua.  De 
Vierço  paliou  a  Galliza  Saõ 
Frutuofo  ,  &í  de  bom  prin- 
cipio fundou  logo   nclla    o 
morteiro  Feoneníe,mas  qual 
elle  foíle  ,  &  em  que  para- 
gem fituado   nos    efcondeo 
o  tempo  :  huns  o  fazem  a- 
quelle  mefmo,  que  fe  cha- 
mou  Saõ  Pedro  de  Calo— 
go  junto  a  Villanoua  deA- 
roca  ,  outros    Saõ  loão  do 
Poyo  ,  não  muito  dirtante  de 
Ponteuedra.  Aly  vizinho  pa- 
rece ertaua  o  de  Caífroleon, 
de  quem  diz  íaõ  Valério  (a- 
quelle   que  cfcreueo  a  vida 
de  Saõ  Frutuofo)  fer    edifi- 
cado por  hum  dicipulo  do 
mefmo  Santo  ,  fe  Caftro- 
leon   he  o  mefmo   (  como 
fe  cuida  )  que   Caftroueon, 
hum  monte  fronteiro  a  faõ 
loaõ  do  Poyojíítio  accom- 
modadiílimo   pcra  a   vida, 
que   naquellcs   tempos    fà—  1 

ziaõ 


/ 

S-FrutH:Ç\ 


j    ) 


ziaõ  CS  monges  de  faõ  Ben- 
to. 

5?  Enuejauão  grande-- 

mcPite  as  outras  Prouiijcias 
de  Htípanha  o  bem  c|uc 
poíiuyaõ  os  Reinos  de  Gal- 
liza,  d<.  Leão  com  terem  em 
íyaSaó  Frutuoío,  &  a  tan- 
tos moíieiros  edificados  por 
fua  induílria  ,  &  cheos  de 
infinitos  dicipulos  feus  to- 
dos varões  Apoílolicos  ,  & 
verdadeiros  imiradores  deíeu 
mcílrc  Peraifto  faziaõc|uã- 
co  podião  pêra  gozarem  de 
fua  preíença.  Entre  todas  íe 
aL  cnrajoLi  mais  a  de  Anda- 
luzia porque  eíla  lhe  oíTere- 
cco  luio  muy  apropofico  pê- 
ra edificar  hum  nobihllmio 
moíleiro  nouelegcasdillan- ' 
te  do  mar,  &c  da  Ilha  deCa- 
diz  (  que  por  eíle  relpeito  o 
fanto  lhe  chamou  Nono )  lo- 
go taõ  florente  em  íeus  pri- 
meiros annos  ,  que  o  vio 
P.ccipuum  mir^  magnitiidinis, 
i5' egreghm.,  como  lhe  cha- 
ma o  Autor  de  fua  vida. 
io  Não  foraõió  os  ho- 

mens os  que  por  Andalu- 
zia ícguiraõ  o  exemplo  de  tao 
srande  fanto.  Onue  muitas 
donzcllas  de  nobiliíiima  ge- 
ração ,  a  quem  fez  tanta  for- 
ça o  defejo  de  o  imitarem 


'  que  dando  de  n.á©  a  todos  o. 
regalos  do  mu n do  íc  v i s. hãc 
a  cile  pedirlhe  regra  de  Lem 
viucr  j  &:  íogeitaPidofc  cm  tu- 
do a  íua  obediência .  Foi  co- 
mo cabeça ,  &c  guia  das  mais 
húa  por  nome  Benta  dcta- 
dade  todas  as  partes  qiicfaô 
de  eílima  em  hCa  molher  ; 
era  calada  de  pouco,  febem 
ainda  náo  fazia  vida  com 
íeu  marido.  Eíía  ajuntando 
coníígo  outras  oitenta  deíc- 
melhantes  prendas  ,  indofe 
ter  com  o  íanto  ao  fcu  mo- 
lieiro  Nono^taes  rezoes  lhe 
foube  dar,  &í  taõ  claramen- 
te vco  a  conhecer  era  trazi- 
da por  Deos,  que  logo  lhe 
mandou  alyjuntoafy  edifi- 
car hum  pobre  edifício  pê- 
ra nelle  feruirem  ao  Eípofo 

1. 

das  virgens  decujo  amorvi- 
nhão  tão  preíasj  quam  loi- 
ras de  tudo  o  que  do  mun- 
do lhe  podia  roubar  a  aíFci- 
çáo. 

1 1  Naõ  fe  pode  crer  a 

poeira  ,  q  por  todas  as  partes 
de  fíeípanha  leuantou  cite 
íuccflo  :  imaginauaófe  ja  os 
pays  fem  filhas ,  os  maridos 
íem  molheres,  os  irmãos  fem 
irmãs  fc  em  breue  náofoflem 
à  mão  a  faõ  Frutuofo,  &  com 
a  força  do  braço  real  o  não 

Hh  5  obrigaííem 


3  66 


Capitulo  LXX  XVI. 


brigaílem  a  não  recebera  leu 
modo  de  vida  molheralgua. 
Vaõfe  a  ElRcy,  eftranhaõlhc 
com  palauras  peíadas    fofrer 
queas  molhcres  deixem  fcus 
maridos, as  filhas  feus  pays, 
mouidas  de  húa  noua  leuiaii- 
dade  introduzida  porhú  Er- 
mitão ,  que  com  capa  de  fan- 
tidadc  cobria  (  quanto  pode  a 
malícia  humana  )  mil  torpe- 
zas, q  a  efle  fim  (  diziaõ)  hiao 
encaminhadas  eftas  falias  con- 
uerfocs  de  tantas  donzellas,& 
de  taõ  pouca  idade.  O  q  mais 
íe  queixou  foi  o  efpofo  deBe- 
ta ,  a  quem  a  hiíloria  chama 
Ardingo(refpondÍ3  aDczem- 
bargadordopaço  delRey )  & 
como  valia  tanto  com  Cin- 
dafuintho  vco  a  lhe  perfuadir, 
que  fe  fizeflcm  perguntas  à 
molhcr ,  &  pello  que  ella  ref- 
pondefe  íe  j ulgaflé  as  demais. 
Cometeofc  o  negocio  ao  Go- 
uernadordaquella  Prouincia: 
foiíe  ao  mofteiro  a  onde  viuia 
Benta,chamaa  a  perguntas,  & 
do  que  delia  ouuio  ficou  taõ 
affeiçoado  à  vidados  monges 
daquelle  mofteiro  nouo,  taõ 
dcuoto   de   Saõ  Frutuofo, 
tão  edificado  das  grandes  vir- 
tudes que  daquellas  Religio- 
I  fasfoube.quctiuera  por  gran- 
de façanha  (afsy  o  conreíTou 


diante  delRey )  não  fe  deixar  | 
aly  ficar  P^eligiofo  com  o  fan- 
to,  &íua  bemauenturadacÕ- 
panhia  .    Liure  ja  Benta  da- 
quella  afflição  creceo   tanto 
em  virtudes,  quanto  nem  Saõ 
Frutuofo  fabia  explicar, por- 
que fempre  que  falaua  delia 
o  fazia  com  admiração,^:  to- 
do o  tempo   que  viueo  pro- 
curou fer  encomendado   cm 
fuás  orações,  pedi ndclhe  feu 
parecer   nos   negoceos  mais 
árduos,  Ãrdifficultofos  que 
fe  lhe  oífcreciaÕ  ,  tendo  íuas 
repoftas  por  oráculos  ,&  fuás 
cartas  pcllos  mais  fieis  con- 
felheiros  que  podia 
bufcar,  nem 
defejar. 


I"; 


CAP. 


S.Frutuofo. 


167 


CAPíTVLO  LXXXVir. 

MILAGRE  S^Q^E 

Deos  NoJ?o  Senhor  obrou 
pormeo  defao  Frutuvfo ^an- 
tes de  entrar  em  Portugal, 


NT  ES  que 
nos  recolha- 
mos CO  mSaõ 
Frutuofo   a 
Portugal,  di- 
gamos alguns  dos  milagres,  q 
fora  delle  lhe  fucederaó.Foi  hú 
muito  principal  que  palian- 
do em  Galliza  a  húa  ilha  com 
alguns  monges  feus  a  fim  de 
buícarem  nella  íltio,  pêra  hú 
mofteiro    defcuidandofe    os 
marinheiros  de  amarrar  o  bar- 
co em  quanto  fe  alõgauão  da 
praya,as  ondas  o  leuaraó  pel- 
lo  mar,  de  forte  que  quan- 
do voltarão  ja  o  viraõ  taõdi- 
ftante  de  fy ,  que  mal  o  alcan- 
çauão  com  a  vifta:  deraõfc  to- 
dos por  perdidos,  pello  lugar 
fer  deferto,&  elles  não  terem 
aly  que  comer ,  nem  efperan- 
ça  de  chegar  àquella  paragem 
outra  embarcação  ,  em  que 
pudeííem  voltar  a  pouoaao. 


Puzeraõíe todos  cm  oração,] 
pedirão  a  Deos  mifcricordia, 
íe  não  quando  olhando  huns 
pêra  os  outros  vem  faltar  de 
entre  fy  Saó  Frutuofoj  então 
íe  lhe  dobrarão  as  triítczas, 
porem  bufcandoo  com  os 
olhos  ,  eis  que  o  vem  vir  ao 
leme  do  barco  taõ alegre, &( 
contente,  taõ  direito  a  elles 
como  fe  em  toda  a  vida  apren- 
dera a  arte  de  marinhagem. 
Perguntaraõlhe  quem  o  le- 
uaradalyatèo  barco,  efpaço 
tão  difl:ante,fe  o  puzcrãolà 
os  Anjos ,  ou  fora  febre  as  a- 
goas,mas  nunquapuderaõ  ti- 
rar do  fanto    outra  repofla 
mais,  que  mandalos  confiar 
em  Deos  no  meo  de  todos  os 
perigos ,  porque  elle  teria  cui- 
dado de  tirar  de  todos  a  feus 
feruos,como  tirara  aos  filhos 
delfraeldeEgypto,  abrindo- 
Ihe  o  mar  vermclho,&  os  paf- 
íara  da  banda  da  lem  do  lor- 
dão  quando  vinhão  a  entrar 
na  terra  prometida- 
z         Outra  vez  andando  na 
vilítados  mofteiros, que  fun- 
dara em   habito  vil ,   àc  def- 
calço,  foi  achado  de  hú  laura- 
dor  de  mà  condição,  &  pco* 
res  obras.Efletendoo  por  ef- 
crauo  fugitiuo  procurou  re- 
telo  à  força  de  pancadas,   & 


Hh 


ou- 


3  68 


Capitulo  LX  XXVII. 


outras  varias  injurias  ,pren- 
dendoo,  &  cncaniinhandoo  à 
aldeã  onde   moraua  pêra  da 
ly  Ihebuícar  olenhor  de  quê 
cuidaua  hia  acolhido.  Ncnhúa 
outra  palaura  íc  ouuia  aoSan- 
to  entre  citas  afrontas  íe  não 
aqucilajUaôíou  efciauo,não 
íou  catiuo  mais  que  do  P^cy 
da  gloria  de  cujo  catiuciro 
nem  qucrOjiiem  pretendo  fer 
liurc.  Pagou  logo  o  miieraucl 
laurador  o  mal  que  fizera^ por 
que  entrado  o  Demónio  nel- 
Ic  o  tratou  com  tanta  deshu- 
manidadc,  que  elle  a  íy  pró- 
prio ie  desfazia  às  vnhas,& 
aos  dentes  dando pcllos  tron- 
cos das  aruores,  &í  ^ellas  pe- 
dras com  a  cabeça  como  fe 
ncnhúa  outra  couía  preten- 
dera mais  que  acabar  ávida. 
Porem  Saõ  Frutuoío  rogan- 
do a  Deos  por  elle  o  largou^ 
&  deíapreílou  o  mao  eípirito 
reconhecendo  primeiro  feu 
peccaJo,  &c  pedindo  perdão 
delle  proftrado  com  grande 
humildade,  &  íogeição  aos  pès 
do  Santo. 

3  Coftumauaalgijas  v€" 

zes  Saõ  Frutuoío  leuar  neílas 
vifitas  hum  jumeiííinhoaísy 
com  alguns  liuros  por  onde 
eftudauaj  como  com  alguns 
regalos  pêra  osfeusReligiofos 


enfermes  j  qi,e  de  tudo  o  fa- 
zia ícr  piòuido  o  giáde  amor 
com  qr.e  o^  trataua.  Sucedeo 
pois  que  partirão  híia  vez  cm 
ocaíiaõ  defraudes  chuuciros 
em  que  os  ribeiros  hiáo  crcci- 
dos  lhe  cayo  em  hum  dcllcs  o 
feu  jumenro.  Sencio  o  Santo 
a  perda  dcs  liuros ,  &  a  falta 
que  íarião  aos  doentes  os  mi- 
mos que  entre  cUes  iheleua- 
ua.  Fez  Icuantar  o  jumento, 
&í  querendo  íaber  ate  onde 
chegara  a  agoa,  achou  toda  a 
carga  enxuta,  como  ie  a  que- 
da tora  no  meode  húacílra- 
da  j  &  não  em  parte  ,  onde  o 
animal  com  quanto   leuaua 
lobre  íy   ficou  debaixo   do 
rio. 

4  ConcertoufeeiTiScui- 
Iha  com  certos  marinheiros 
peraquc  o  leuaflèm  altalica^ 
que  hoje  chamão  Seuilha  a 
velha,  pêra  nly  viíitar  o  cor- 
po de  iaó  Geroncio  :  era  o 
tempo  quando  ou'.;eraõ  de 
tornar  chuuofo  pello  q  dif- 
íimulaudo  o  arraiz  com  a 
partida  auíèntandoíc  do  bar- 
co fe  deixou  ficar  com  íeus 
companheiros  por  onde  quis. 
Impovtaua  aoSanto  fazer  na- 
quellcmermo  dia  volta  a  Se- 
uilha,&  como  não  aparcceísé 


os  que  oauiao 


de  Icuar 


fol- 


tando 


S.TrutmÇo 


369 


caiido  o  bnrco  le  meteo  nellc 
lem  velaj&  íem  rcmos^o  qual 
cõ  a  preciofa  carga  hia  taõ  di- 
reito j  d<.  bem  marcado  como 
íeforaí^ouernado  pello  mais 
deílro  piloto  daquella  ribeira. 
Outra  marauilha   aconceceo 
aqui  cambem  muito  notauel, 
&  foi  que  desfazendofeo  Ceo 
com  agoa^íSj  durando  a  tcm- 
peítade  todo  o  tempo  que  o 
barco  durou  na  paflagemj  né 
Ê^ota  lhe  cayo  dentro,nem  em 
Saõ  Frutuoío  le  via  molhado 
hum  fò  fio  do  feu  manto,  co- 
mo o  vio,  k.  notou  oArcebif- 
po  que  entáo  era  de  Seuilha^  a 
fôra  outra  inumerauel  gente, 
que  logo  ao   íair  do    barco 
lhe  veo  tomar  a  benção. 
5  No  tempo  que  ainda 

viuia,  ouemCompludo,  ou 
cm  íaó  Pedro  dosMontes,em 
ocafião  que  por  aquellas  bre- 
nhas andauáo  certos  montei- 
ros  à  caça  de  veados ,  fe  aco- 
Iheo  ao  lanto  húa  corça  aco- 
çada  dos  caês ,  &  caçadores: 
defendeoa  elle  de  huns,  &  ou- 
tros_,&  foiella  taó  agradecida, 
quedocampooíeguioatc  o 
morteiro, taõ  domeftica  co- 
mo fede  pequinina  fe  criara 
comgentcxomia  dafuamão^ 
jazia  deitada  aos  feus  pèsjacõ- 
panhauao  pêra  onde  quer  que 


I  hia  com  mais  caricias,  que  íe 
fòra  hum  cachorrinho; le  a  ta- 
zuo  ficar  em  caía ,  auendo  S. 
Frutuoío  de  auícntarie  delia, 
afsy  fe  entrifticia,  c^  magoaua 
ate  outra  vez  o  tornar  a  ver^ 
como  íe  tiuera  vlode  rezaõ. 
Por  eftas,&  outras  boas  par- 
tes ^tinha,lhe  era  oSãto  aíici- 
çoado,ajudandoíe  da  gratidão 
daquelle    animal  a  ler  mais 
grato  a  feu  criador  de  quem 
tinha  recebido  outros  mayo- 
res  benefícios.  Acõteceo  pois 
que  hum  moço  traueflb,por 
dar  pena  a  Saõ  Frutuoío,  em 
tempo  que  a  achou  em  lugar 
pêra  iílb,lhe  matou  a  lua  cor- 
ça ,  mas  pagou  o  logo  com 
húas  rijas  febres  q  lii£  derão, 
&  o  puzeraõ  em  grande  riíco 
da  vida ,  a  qual  íe  não  perdeo 
de  todo,  foi  porque  à  petição 
de  alguns ,  o  Santo,quc  nada* 
fabiado  matador,nem  do  que 
lhe  tinha  fucedido ,  logo  que 
do  fucelfo  teue  noticia  o  viíi- 
toLiem  fuacaíàjpos  íuas  la- 
cradas mãos  fobre  elle  ,  dan- 
dolhe  de  improuifo  a    faude 
qne  Deos  (  por  dará  feu  fex- 
uo  aquella  pequena  aífli- 
ção)    lhe  tinha 
tirado. 


CAP. 


370 


Capitulo  LXXXVJIL 


CAPITVLO  LXXXVIII. 

TRATA  S..A  M 
Friituofo  de  ir  a  lerufalem, 
impedelhe  ElRey  o  pajfo  có 
ofa^er  Bifpo  de  Dumejonde 
efcreueo  a  regra  que  chamao 
de  SaÓFrutuofojdafe  noticia 
dos  Bífpos  de  Dume. 


Azião  todas 
eftas  mabui- 
Ihas ,  Ôc  ou- 
tras ^q  feria  Í5 
go  contar/a- 
moíi  Jíimo  por  codaHerpanha 
a  Saõ  Frucuofojbufcauáono 
todos  em  fuás  eiifitmidades, 
&  ncceílidadcs,  &  nenhú  fa- 
hia  de  íua  prefença  fem  o 
defpacho  que  bufcaua  .  Com 
o  fruto  de  fuás  pregações  fe 
defpouoauãoas  cidades ,  &  fe 
enchiáo  os  ermos  de  nobilif- 
fimos  fogeitos ,  fendo  de  cada 
vez  mais',  &c  mais  osquefe 
conuertiáo  a  Deos.Por  jafal- 
tar  ao  Santo  lugar  ondereco- 
Iher  tantos  dicipuloSj  ôc  mui- 
to mais  por  fugir  da  aura  po- 
pular_,  determinou  paílar  a  le- 


ruialem,  peraaly  no  ícruiço. 
daquelles  íantos  lugares ,  on- 
de foi  .obrada  nolla  redenção, 
acabar  o  que  lhe  rellaua  de  vi- 
da. Não  pode  íerranto emíe- 
grcdoapartida,  quealgús  não 
íoubellem  delia.  Auilaraõ  lo- 
go a  ElRey  Receíuintho,  que 
jàtinhaíucedidoaCindaluin- 
tho  ,  peraque  a  nao  foftreíle 
por  não  perderé  feus  R.einos 
hum  homé^que  eralcm  duui- 
da  a  cclúnade  todaHcfpanha- 
Acodío  o  P^ey  a  tcdaa  prclla, 
&c  a  toda  a  vigíajpondo  guar- 
das nos  caminhos,  peraque  S, 
Frutuofo  não  pudeílc  pa.Oar 
fem  lhe  cayr  nas  maõs  •,&  afs  y 
foi,  porque  o  tomarão ,  ôc  o 
trouxeraõaElRey,oqual  pcl- 
lo  reter,  &  tirar  de  todo  a  ef- 
perança  de  poder  fazer  aqucl- 
la  jornada  ;  cflando  na  mef- 
ma  ocaííaõ  vago  o  Biipado  de 
DumCjO  fez  eleger  por  Bif- 
po,&:  o  mandou  refidir  na  íua 
dioceíe,  encomendando  aos 
monges  daquelle  mofteiro,& 
muito  mais  ao  Arcebifpo  de 
Braga  o  naodeixaflem  fazer 
compridas  jornadas  fòradellc, 
&  ainda  nas  da  porta  o  trou- 
xcflera  de  olho  porque  fe  não 
anfenfaíTe,  &  tornafie  a  in- 
tentar a  romaria  de  lerufa- 
lem. 

z     Sã- 


S.TrutHoÇo. 


371 


2,  Sagrado  jaSaõ  Fr  ucuo- 
íocmBiípodeDume,  &  re- 
colhido por  cita  occafiaõ  a 
Portugal,  &  a  cila  noíla  cida- 
de de  Braga ,  nao  fe  pode  crer 
o  fruto  que  daqui  fez,  afsy  no 
bom  goflcHiOvdos  morteiros 
que  deixaua  fundados  em  va- 
rias partes  de  Hcípanha,  co- 
mo no  íeu  de  Dume,onde  foi 
recebido ,  Òc  feftejado  corno 
hum  Anjo  do  Ceo.  Aqui  ten- 
do ja  autoridade  de  Biípo  ef- 
creueoaregra  dos  monges, a 
quechamão  de  Saõ  Frutuofo, 
&  nos  podemos  chamar  o 
contraponto  do  canto  chaò 
da  de  Saõ  Bento,  Por  ella  alem 
da  própria  ícqouernarão  mui 
tosannosos  monges  de  Saõ 
Bento  de  tocía  Hcípanha,  co- 
mo aquelles  que  pella  mayor 
parte  morauâo  em  mortei- 
ros edificados  ou  por  S.  Fru- 
tuoío  ,  ou  por  feus  dicipulos, 
ou  eraÕgouernados  por  mõ- 
ges, que  delles  lairaõ,como 
reformadores  dos  demais.  Ani 
mo  tiuemos  de  por  aqui  toda 
erta  regra  aísy  noLatimem  q 
o  Santo  a  efcreueo,como  na 
noíla  linCToacem  Portugueza, 
mas  pareceonos  pertencia  irto, 
mais  aos  Chroniftas  de  faõ 
Bento  que  coni  rezáo  íe  deue 


IP 


d 


rezar  tanto  de  hurn  logeito 


foí 


tãoefclarecido,  como  emHeí- 
panha  deu  fua  fagrada  Reli- 
gião, naõ  deixando  perder  na- 
da do  que  lhe  pertence ,  & 
muito  menos  a  regra  porque 
íe  fizeraõ  íantiííimos  tantos 
efquadroés  de  monges  coiiio 
hoje  gozáo  da  bemauentu- 
rança. 

3  Com  tu  Jo  pêra  que  de- 
ftj  regra  demos  qualquer  no- 
ticia. Ella  fe  diuide  em  1 3  .ca- 
pítulos Nos  dous  primeiros 
põem  o  íanto  húa  breue  dif- 
ferença  entre  os  morteiros , 
que  propriamente  fe  podem 
chamar  taes ,  &  entre  outros 
que  íõ  no  nome  o  eraõ.  Cha- 
ma aos  verdadeiros ,  &  pró- 
prios, ps  que  íe  fundão  de  li- 
cença dos  Prelados,  em  cuja 
dioceíe  caem ,  guardao  algúa 
regra  das  approuadas,  òc  laõ 
eícholade  perfeição.  Molfei- 
ros  falíos,  &  fingidos  chama 
aquelles  a-  quem  faltáo  eítas 
"três  particularidados,  ediíican-, 
doíe  fem  licença  dos  Bifpos;. 
viuendo  fem  regra ,  .<&  náo  fe 
tratando  nelles  da  virtude, 
pello  menos  da  verdadeira,  q 
da  fingida-,  &  íimulada  não 
faltaraõ.aly  aparências» 

4  Com  dous  intentos  fe 
ediíicaua  erta  fcgunda  forte  de 
morteirosro  primeiro  peracõ 

eita 


372 


Capitulo  LXXXVIII. 


cila  capa  os  que  nelles  viuiaõ, 
OLifoílem  leigos,  ou   Eccle- 
liafticos  feliurarem  ,  &  izen- 
taremdc  pagar  dízimos  àíua 
parochia,&  outros  tributos 
a  (cus  Príncipes  ,   porque  co- 
mo os  verdadeiros  mofteiros 
nada  difto  pagauao ,  preten- 
diaõ  os  falfos  cô  nome  fingi- 
do lançar  tabe  de  íy  eílas  obri' 
ga^oés,  no  que  auiagrandijí- 
llraosinconucnienteSj  &  vi- 
n hão  muitas  vezes  a  perder  os 
verdadeiros  rcligiofos  pellos 
fairos,&  mentiro  fos. 

5  O  fegundo  intento  era, 
que  não  podendo  muitas  ve- 
zes os  pays  dar  vida  a  feus  fi- 
lhos ,  &  filhas,  íè  ajuntauão 
cõ  outros  parcntesj&  de  co- 
mum coníèntimento  edifica- 
uão  hum  dertes  recolhimen- 
tos,em  que  viuiao  em  comu- 
nidade ,  mudando  íó  o  habito 
fecularjôiT  tomando  algum 
mais  honefto,  &  humilde, pê- 
ra afsy  com  capa  de  religião, 

6  feruiço  Diuíno  meterem 
em  cabeça  ao  mundo  q  não 
por  falta  de  poílibílidade,mas 
de  vontade  deixauão  de  vi- 
ucr  como  pedia  fua  nobreza, 
òí  eftado .  E  como  de  ordi- 
nário os  filhos  aceitauão  a- 
quclla  vida  fò  por  refpeito  dos 
pays,dur3uão  nella  em  quan- 


to elles  viuiaó,depoÍ3  de  mor- 
tos desfaziãofe  os  mofteiros, 
&í  cada  hú  leuaua  a  parte  q  nas 
partilhas  lhe  cabia ;  donde  vê 
acharmos  muitas  vezes  nas 
efcrituras  antiguas  feitas  a  ou- 
tras Igrejas  ,  ou  mofteiros 
doados  eíles  que  fe  desfazião, 
&  herdauão  por  naõ  fere  pro- 
priamente mofteiros ,  fe  não 
fó  no  norfie ,  ou  os  vrcmos 
paíTados  a  homens  fcculares, 
&:  continuados  em  fuás  fa- 
mílias, O  queaduertimos  pc- 
raque  quem  vir  nefte  noflb 
Reino  de  Portugal,  &  achar 
nas  doações  antiguas  feita  taõ 
\  frequente  menção  de  tantos 
j.m  oilciros^não  cuide  logoe- 
i  raõ  dos  verdadeiros ,  tV  co- 
mo perpétuos ,  fe  não  deftes 
tcmporaes ,  &  como  edifica- 
dos a  vidas,&  ainda  menos  íe- 
gundodurauaa  vontade  dos 
que aly  íè  recolhião,fe  bem  ao 
tal  lugar  lhe  ficaua  fempreo 
nome  dos  mofteiros  ,  &  por 
clle  era  ordinariamente  cha- 
mado ,  &  nomeado.  Diz  lo- 
go Saõ  Frutuoío  que  fò  le  ad- 
mitão  a  viuer  debaixo  de  fua 
regra  mofteiros  quefore  pró- 
prios,* os  fingidos  por  nenhil 
cafo,  porq  os  té,  &  julga  por 
deftruiçaõda  verdadeira  fantí- 
dade,  &  diciplina  regular. 

6  No 


S'Frutíiofo. 


373 


6  No  terceiro  capitulo 

dirpoem  a  forma  em  que  haõ 
de  ler  eleitos  osAbbades,man- 
dandoqucpor  iienhií  modo 
íc  tomem  peraelle  ofíicio  os 
cjucde  pouco  tempo  tiucrem 
vindo  àRcligiáoi  mas  os  que 
por  longa  experiência  foraõ 
prouados  por  todo  o  género 
de  mortificação.  Aquienco- 
menda  também  ábsmeímos 
Abbades  fujão  quanto  lhe  for 
poíliuel  do  trato  dos  fecula- 
res^  ordenando  a  elle  fim  as 
demandas  dos  feus  morteiros 
não  por  fuás  próprias  pcíToas, 
fe  não  pellas  de  ícus  procura- 
dores ,  pêra  com  ifto  teré  me- 
nos conuerlaçaó  com  elles. 
7  No  quarto  capitulo 

trata  dos  que  hão  de  fer  rece- 
bidos ao  habito ,  no  qual  pcf- 
foa  nenhúa  exceptua,  mini- 
nos_,  velhos,  moços,  varões, 
liures,  elcrauoSjCom  tal  con- 
dição que  cftes  tragão  carta 
dalforria  de  feus  fenhores. Po- 
rem ordena  que  em  todos  fc 
facão  primeiro  grandes  expe- 
riências pêra  fc  ver  o  efpirito 
que  os  trazà  Religião  j  húa 
delias hecftejão  rrcs  dias,  ^ 
três  noites  à  porta  do  moftei- 
ro,&:  aly  comão,  &  dur— 
mão,foffrendoas  reportadas, 
q  oporteiro,&  mais  Religio- 


íos 


s  lhe  cíerc 


le  cierem.  A  outra  qi;e 
fejáo  primeiro  muy  bem  cxa 
minados  íe  deixão  no  mun- 
do alçíía  fazenda,  porque  em 
calo  que  a  tenhao  ja  reparti- 
da toda  aos  pobrcs,então  mã- 
da  os  recebão ,  &  não  doutra 
maneira,ficando  féprc  o  mais 
moderno  no  vitimo  lugar  da 
comunidade. 

8  O  quinto  capitulo  to- 
do he  da  obediência^  que  deué 
os  monges  a  ícus  Abbades, & 
Prelados,  como  lhes  hão  de 
declarar  todos  íèus  penfamé- 
tos,  defcobrindolhc  não  fò 
as  tentações  ,mas  também  as 
virtudes^  pêra  melhor  ferem 
delles  guiados ,  &  encami- 
nhados .  Aqui  trata  também 
do  Celleireiro,  &  do  cuidado 
que  deueter  da  gente  mais 
pequena  do  i-norteiro,emcf- 
pecial  dos  mininos,  que  aly 
fecrião,  pêra  que  não  achem 
menos  os  mimos  de  fuasmays. 
9  No  fexto  fe  encomen- 

da a  cura,  &  regalo  dos  enfer- 
mos,a  que  não  quer  falte  na- 
daj  poré  a  os  enfermos  cncomé 
da  a  paciência, &  foffrimento, 
pois  béfe  deixa  ver  quãto  def- 
diz  com  híj  Religiofo  fer  def- 
contentadiço,&:  mal  foffrido: 
&:  como  por  mais  cuidado  q 
fe  tenh3,núqua  pode  aucr  nos 


li 


moftci 


374 


Capitulo  LXXXVIII. 


mofteiros  os  regalos  das  ci- 
dades, 

10  No  fetimo  trata  o  íaiito 
como  hão  de  fer  tentados 
os  que  em  mayor  idade  vieré 
à  Religião^porque  corre  mui- 
to perigo  venhaÕ  buícar  no 
fim  dos  annos  o  deícanío,  q 
por  ventura  no  mundo  não 
puderáo  alcançar  ^  a  eííes  or- 
dena os  ocupem  de  cõtinuo, 
&  não  deixem  ellar  ocioíos, 
&  a  elies  encarrega  gallem  o 
tempo  em  chorar  os  pccca- 
dos  da  vida  paííada,&  naquel- 
la  hora  vitima  de  fua  vida  pro- 
curem cmmendar  o  que  nas 
outras  paíladas  efpcrdiçaraõ. 

11  No  8.   fe  contem  as 
partes ,  que  dcue  ter  o  paftor 
do  moiVeiro  ,  ou  foíle  queel- 
le  per  ly  guardaua  o  gado ,  ou 
que  tinha  cuidado  dos    mais 
paíiores ,  chama  a  efte  mayo- 
ral ,  lembrandolhe  que  de  fua 
boainduftria  dependia  o  re- 
galo dos  enfermos ,  a  criação 
dos  mininos,&o  gazalhado 
dos  hofpcdes^porq  eíle  fògc- 
nero  de  gêtc  comia  carne  nos 
mofteiroj;.  Alem  dirto  da  Iam 
fe  veílião  os  monges ,  &c  do 
gado  que  fe  vendia,  fereme- 
diauão.  outras  faltas  da  com- 
m unidade  _,  &  fe  refgatauaõ 
muitos  çatiuos:    &  peraque 


folgue  de  exercitar  cfte  officio, 
lhe  traz  a  memoria  lerem  to- 
dos os  Patriarchas  antiguos 
paftorcs  ,  lem  eíla  ocupa- 
ção os  impedir,  antes  aju- 
dar muito  a  alcançar  fantida- 
de. 

II  No  capitulo  5). apon- 

ta as  boas  partes^  que  dcue  ter 
o  Abbade,  &  em  particular 
quatro  coufas  cm  que  as  ha  de 
moílrar.  Primeira  cm  pro- 
curar que  íe  digaõ  as  horas 
Canónicas  com  toda  a  pon- 
tualidade. Segunda  cm  fe  ajun- 
tar com  todos  os  mais  Abba- 
des  da  monranha(fala  particu- 
larmente com  os  da  terra  de 
Vierço)  no  principio  de  cada 
mes,  peraaly  rezarem  húas  la- 
dainhas com  muita  deuação 
por  todos  feus  fubditos  ,  pe- 
raque Deos  lhe  de  çraça  pê- 
ra os  goucrnar  bem ,  &  elles 
fe  aproueitarem  defcu  gouer- 
no.  Terceira  que  feja  dili- 
gente na  lição  das  fagradas  ef- 
crituras,  &  vidas  dos  íantos 
Padres ,d6de  ha  de  tirar  luz,& 
cfpirito  pêra  poder  gouernar. 
Quarta  que  fempre  receba  à 
fua  mefa  os  mondes  hofpe- 
deSjque  Vierem  de  tora,&  os 
peregrinos  queacodirem  aos 
morteiros,  porque  eírcs  faõ 
os  de  quem  diz  o  Senhor  ,  fui 

h^f- 


<S 


S'FriUHcfo. 


375 


hoípedcj&iecolhertefníCj&c. 
13  No  10.  fala  cio  Prior 

domoftejfOjO  qual  quer  que 
ícja  íolicitp,  &  cuidadoío  cíos 
bens  cemporaes  cia  caía ,  pcra- 
qae  o  Abbadc  dercanfando 
ncllc  poíla  atender  às  couías 


eípincuaes 


ohncra  o  cambem 


a  dar  conca  codos  os  meles  ao 
Abbade  da  meíma  fazenda, 
pcraquc  dcíla  maneira  a  trace, 
&L  nienee  com  cuidado  ^  & 
não  como  íenlior  proprio,pe- 
raque  tenhão  delia  íuj'parce 
ospreros,oscaciuos,&:oucros 
neceliicados,  a  que  os  moftci- 
ros  cuílumáoacodir. 
14  No  II.  cmcomenda 

com  grandes  palaurasa  obe- 
diência, que  os  monges  de- 
uem  guardar,  não  fòaos  Ab- 
bades,  &  Priores,  le  não  ram- 
bem  aos  Decanos  (chama  De- 
canos a  cercos  Relio-ioíos^que 
tinhaõ  cuidado  dos  mais  re- 
partidos de  10.  em  10,  ou  de 
io.emzo.  conforme  parecia 
ao  Abbade. )Ertes  quer  íejão 
amados  como  pays ,  &  cerni- 
dos como  íenhores  daquelles 
q  os  ciuerem  a  fcu  cargo:  po- 
rem aduirceos  que  naõ  acu- 
dão  aos  Abbades  cm  coufas,& 
penitencias  de  pouca  impor- 
cancia,mas  por  íy  asrcpartão, 
Sc  facão  executar  fem  repli- 


ca, ou  eicuzaaiiTua. 
I)  No  II.  da  regras  aos 

Decanos  ,  ôj  lhe  aponta  o  em 
que  parcicularmence  hão  de 
aduercir,  &  zelar  pcraquena 
communidade  não  aja  im- 
perí-eiçoés.Em  parrcicular  or- 
dena que  quando  os  Mondes 
le  ajuntarem  aos  Domingos, 
o  Abbade  inquira  diligcncc- 
mencc  delles  fe  cem  odio  h 'is 
aos  oucros ,  &  os  Decanos  di- 
gão  ncírc  parcicular  o  que  cê 
notado  ,  porque  de  codos  fe 
deftcrre  pefte  caõ  pcrniciofa 
como  he  a  da  diícordia  entre 
os  que  profcflaõ  Rclií^iaõ. 
iG         O  13.  contemos  ter- 
mos que  fe  deuem  guardar 
com  os  que  na   Relieião  de 
Saõ  Benco  fe  chama 5  exco- 
mungados.   Pêra  o  que  íe  ha 
dclaberqueem  varias  parces 
da  regra  defteglorioíoPacriar- 
cha  íc  põem  hú  gcncro  de  pe- 
nicccia  a  que  chamaõ  excomu- 
nhão, em  q  fe  mãda  ao  delin- 
quéce  por  culpas  graues  viucr 
aparcado  da  comunidade  ícm 
o  craco  ,  &  comunicação  áos 
oucros,em  pa5,5: agoa,&:  on- 
eras penitécias  q  pareccr,atè  o 
culpado  de  todo  ter  lacisfei- 
co  fua  culpa.  Falando  pois  de- 
iicsexcõmúgados  S  Frucuofo 
diz    eílas   formaes    palauras. 


li  2, 


Qiian- 


376 


Capitulo  LXXXVIIL 


Q^Liando  algum  for  por  fua 
culpa  excomungado  leja  re- 
colhido em  húa  cellalò^  &i 
íolitario ,  onde  lhe  não  daraõ 
decomer mais  que paõ,  &a- 
goa ,  &c  ifto  a  tarde  quan- 
do cearem  os  monges .  Sua 
reção  fera  não  mais  que  meo 
paò  com  pouca  agoa  fema 
béção  do  Abbade.Elleja  o  ex- 
cõmungado  na  cella  priua-- 
do  da  conuerfação  de  léus  ir- 
mãos íem  fer  vificado  mais  q 
de  algum  que  lhe  ordenar  o 
Abbade .  Efteja  meo  deípi- 
do^  ou  veílido  de  cilicio  def- 
calço ,  &  occupado  nos  fcr- 
uTços  baixos  do  moftciro.  Po- 
rem fc  a  penitencia  ouuer  de 
durar  dous,  ou  trcs  dias  nellcs 
fe  lhe  não  darã  nada  de  comer. 
Vltimamente  põem  o  San- 
to algúas  palauras  com  que 
fe  ha  de  falar  ao  excomungado 
todas  injurioías,tS:  afrontoías 
peraquc  del1:a  maneira  conhe- 
ça fua  culpa  vendofe  tratado 
com  rigor,  &  emcndandofc 
tema  cair  ao  diante  cm  ou- 
tra femelhantc. 

17  Acodião  aqui  ao  moftci- 
ro de  Dume  onde  S.Frutuofo 
era  Bifpo  todos  os  Abbades 
dos  mais ,  que  por  Hcfpa- 
nha  cftauão  efpalhados ,  com 
fuasduuidas  ,  &:  leuauão  co- 


mo oráculos  as  repoftas  que 
o  fanto  lhe  daua.  Era  pêra  ver 
a  alegria, a  charidade,&:  a  facili- 
dade com  que  aquelics  Reli- 
molos  íubditos  do  íantoPiela 

o 

do  íc  ocupauãoemagazalhar 
os  hoípedes,  o  cuidado  q  ti- 
nhãode  os  mandar  aos  íeus 
mofteiros  contentes,  &  ricos 
dos  exéplos  que  aly  notauaõ 
em  cípecial  em  S.  Frutuofo, 
que  a  todos  era  hum  viuo  re- 
trato de  perfeição. 

18  Não  herezãoq  paííemos 
adianteíem  primeiro  darmos 
húa  breue  relação  dos  illuftres 
Prelados  q  teue  a  Igreja  deDu 
me,donde  fairão  três  tão  iníig 
nescomoforaÕS.MarcinhoS. 
Frutuofo,&  S  Rofcndohõra, 
òí  lulfre  de  toda  Hefpanha.  là 
diífemos  na  vida  de  S.  Marti-  Ap.i-.7j. 
nho  de  Dume  como  em  íeus 
dias  fe  leuantou  em  Cathedral 
o  mofteiro  deS.  Martinho  q 
elle  edificara  por  ordédelRey 
Theodimíro,  &  q  o  mefmo 
fanto  fora  o  primeiro  q  teue 
aqucllaPrelazia,  dódc  foi  tref- 
ladado  por  morte  do  Arcebif- 
po  Lucrécio  pcra  eftalgreja  de 
Braga,  &  as  gouernou  ambas 
cm  quanto  viueo, 

19  Com  cfte  principio  taõ 
fclicc  que  Saõ  Martinho  deu 
com  fua  prcfènça,&  gouerno 

à  Igrc- 


S'Friíiiiõfo. 


177 


a  Igreja,  S<.  Sè  de  Dumc  foi  ci- 
la creccnJo  não  lòem  quanto 
durou  o  fcnhorio  dos  Reys 
Sueuos  em  Galliza;  mas  ainda 
no  tempo  dos  Godos,  &  de- 
pois da  ruina  de  Hefpanha 
quando  nas  Ses  náo  auia  mais 
que  Biípos  titulares^  &  depois 
de  rellaurados  alguns  lugares 
de  Galliza,  ã:  Portugal  tam- 
bem  íe  acha  noticia  delles. 
20  A  S. Martinho  de  Du- 
me  fucedco  o  Bifpo  loao  A- 
chouíe  no  3 .  Concilio  de  To- 
ledoannode  ChriftojS?. 

Benjamim  confirmou  em 
Toledo  o  decreto  delRey  Gú- 
demaro  no  anno  de  610. 

Germano:aííinou  no  quar- 
to Còcilo  dcToledo,áno  63  3 . 
Pimenio  :aíliftio  no  fexto 
Concilio  de  Toledo  anno  638 
RecimiroíucePxor  de   Pi- 
menio :  firmou  no  Tetimo 
Cõcilio  de  Toledo  anno  64a. 
Auianchimaro  ,  era  Prela- 
do de  D  ume  notépoq  fe  ce- 
lebrou o  8.  Concilio  de  To- 
ledo no  anno  de  6  j'3.  Porclle 
aíTinou  hum  A bbade chama- 
do Ofdulfo. 

S.  Frutuofo  fucedeoa  A- 
uianchimaro,  foi  tresladado 
peraa  Igreja  Primaz  deBraga, 
ficando cõ  o gouerno  deDu- 
me,como  adiante  veremos. 


Vnicencio;  aíliiiio  no  ij. 
Conciho  dcToIedoanno  í8S. 
Quádo  começou  a  primei- 
ra rcltauração  de  Heípauha 
pclío  Reino  de  Galliza  ha  no- 
ticia de  alguns  Prelados  Je  Du 
jme.  Suarioanno83o, 

Martinho  íe  achou  na  fa- 
graçaò  da  Igreja  dcOuiedo  no 
Concilio  que  aly  fe  celebrou 
no  anno  de  831. 

Suaringo  annosuj. 
Saó  Roíendo  anno  5)73. 
Nuno  anno  ioiy 
Não  achamos  memoria  dou- 
tro Bíípo  de  Dume. 
ii  Por  cfies  annos  fe  re- 

lUurou  algreja/Sí  Sè  de  Braga 
como;dircmos  na  vida  doBif- 
po  D.  Pedro: então  fe  vnio,& 
encorporou  a  Sede  Dumccó 
adcBraga,&  fe  lhe  vniraó  fuás 
rendas.  Hojehc  Igreja  paro- 
chial^que  fegoucrna  porliu 
Prior  íobre  quem  carrega  a 
cura  das  almas . 
ii  Não  íe  perdco  no  re- 

gifto  de  Roma  a  memoria  de- 
ite Bifpado  de  Dume,  porque 
uo  anno  de  1451.  íe  intitulou. 
Bifpo  delle  por  letras  A  po  ílo- 
licas  fr.  André  de  Torquema- 
da-Biipodeaneldo  illuíirifsi- 
moíaihor  Arccbiípo  D.  fr. 
Baltafar  Limpo  como  acha- 
mos emfr.Ieronymo  Romã. 


'mM*> 


Ii 


CAP. 


37S 


Capitulo  LXXXIX. 


CAPITVLO   LXXXIX. 

VAI    S  A  M    F  R  V' 

tuofo  ao  Concilio  X.  de  To- 
ledo onde  he  eleito  Arcebif- 
po  de  Braga :  ijemperafua 
Igreja ,  ^  trata  da  refor- 
mação do  Clero ,  ^  pouo 
delia. 


L  G  V  N  S 

annos,  ainda 
que  não  mui 
roSjViuco  o 
Santo  ocupa- 
do no  gouerno  do  Bifpado, 
&  moftcirodeDumej&  com 
cllc  titulo  foi  chamado  ao  de- 
cimo Concilio  de  Toledo ,  q 
fe  cóuocaua  pêra  o  Dezêbro 
do  anno  de  íeifcentos  6c  íin- 
coenta  &  féis,  onde  todos  os 
Padres  que  aly  fc  acharão  o  re- 
ceberão, &  feftejarão  como 
aquellcde  quem  tantas  cou- 
fas  tinhão  ouuido ,  &  o  defe- 
jauãofobre  maneira  ver^  & 
conhecer.  Acharão  nelle  mais 
ainda  do  que  a  fama  apregoa- 

Iua^  porque  efta  benção  leue 
íempre  a  virtude  que  conhe- 


cida,&  tratada  íe  faz  mais  cfti- 
mar ,  &  venerar, 
i  Em  nenhú  outro  Pre- 
lado dos  que  aly  fe  acharão 
puzeraõos  do  Concilio  tan- 
to os  olhos  como  em  Saõ 
Frutuofo^  porque  acontecen- 
do em  quanto  durou  aquel- 
le  graue  ajuntamento  a  con- 
fiílaõdo  Arcebifpo  Potamio, 
dequeemfua  vida  tratamos, 
&  fendo  priuado  por  elle  da 
adminiftração  do  Arcebifpa- 
doauendoíelhe  de  dar  fucef- 
for , em  que  eftiueíle  bem,& 
aíTentaílea  Primazia  de  toda 
Hefpanha,&  juntamente  re- 
fizeífe,  &  rcftaurafle  o  que 
efta  Igreja  tinh^  perdido  com 
o  crime  de  Potamio,  fò  lan- 
çarão maõ  os  Padres  do  Con- 
cilio da  pellba  deS.  Frutuofo, 
fendo  afsyq  deuiaaífiftir  no 
mcfmoConcilio  fanto  Ilefon- 
fo  comoAbbade  q  era  do  mo- 
fteiro  Agalienfe,  &  que  da  hi 
a  poucos  tempos  foi  tomado 
pêra  Arcebifpo  de  Toledo,  & 
outros  vinte  Bifpos  ,  todos 
de  diocefes  mayorcs  ,  mas 
nenhííde  iguaes  mcrecimcn- 
ros. 

3  Não  cabia  Braga  de  pra- 
zer quando  foube  fe  lhe  tinha 
dado  por  Prelado ,  &  fuccf- 
for  de  Potamio  a  Saõ  Frutuo- 

fo. 


/»p.f.  84 


S.Frutuofo. 


379 


lo,  deullie  por  cartas  o  íeu 
Cabido,  &:  coda  a  cidade  os 
parabéns  da  noua  dignidade, 
pediolhe  le  recolheíe  o  mais 
cedo  que  lhe  foíTc  poííiuel  à 


fua  Igreja  j  porque  defcjauáo 
ja  vello,&:gozallo  como  pró- 
prio, não  obftante  tercmno 
ate  ly  taó  vizinho  cm  Dumc. 
Softreoeftemofteiro,  &  Bif- 
pado  melhor  a  promoção  de 
leu  Paftor,  quando  Ihecon^ 
ftou  ficaua  também  debaixo 
de feugouerno, porque  não 
quifcraõ  os  Padres  do  Conci- 
ho  dar  outro  Bifpo  a  Dumc, 
em  quanto   cUe  viueflc,  fe- 
guindo  o  exemplo  daquelles, 
que  em  femelhantc  eleição  de 
Saõ  Martinho  pêra  Braga   0 
deixarão  ficarjuntamenteBif- 
po  de  Dumc ,  donde  fora  to- 
mado pêra  a  mefma  Prima- 
zia. 

4  Aqui  fc  defcarrcgou 

tambcm  nefle  Concilio  El- 
Rcy  Rccefuintho  da  obriga- 
ção de  tertamentciro^  em  que 
como  fuceíTordos  Reys  Sue- 
uos  entrara ,  &  de  executor 
doteftamento  de  Saõ  Marti- 
nho, pedindo  aos  Padres  con- 
gregados quizeílem  transferir 
na  pcíToa  de  Saõ  Frutuofo  a- 
qucUe  encargo ,  &  encomen- 
darlhe  fizeíle  cumprir  o  tefta-  I 


mento  do  Santo  nas  couíàs  6 
ate  aquelle  tempo  não  efta- 
uão dadas  a  execução.  Afsy 
o  fizeraõ  os  Pndres,  &  afsy  o 
aceitou  Saõ  Frutuofo  :  enco- 
mendarãolhe  mais  vííle,  & 
confideraíTe  também  o  modo 
&  bom  termo,  que  fc  po- 
deria tomar  nos  legados  ,  que 
a  pobres  deixara  íeu  antecef- 
for  Rccemiro  Bifpo  de  Dume^ 
porque  por  excelfiuos  carre- 
gauão  muito  aquella  Igreja, 
&í  por  ferem  em  prol  de  ne- 
cel]itados,&  vitima  vonta- 
de de  hum  Prelado  taó  graue, 
não  era  bem  ficaílcm  de  todo 
por  cumprir. 

S  Outras  coufas  fe  trata- 

raõ,ô(:  diffiniraõ  naquelle  Cõ- 
cilio,  de  que  nos  não  perten- 
ce agora  dar  particular  rela- 
ção i  mormente  tendoo  feito 
na  noífa  hiíloria  dos  Bifpos 
do  Porto   efcreuendo  a  vida 
de  Flâuio  nono  Bifpo  daquel- 
la  Igreja  ,  que  também  aly  fe 
achou  prefente  com  Cefario 
Bifpo  de  Lisboa,  &  Zozimo 
deEuora.  Firma  neíle  Con- 
cilio Saõ  Frutuofo   ja  como 
Arcebifpo  dê  Braga,  6«rnáo 
como  Bifpo  de  Dume,fe  bem 
reteueemvida  híja,  &  outra 
Prelazia ,  como  ja  acima  to- 
camos. 


if.c*  9. 


íi 


6    Ccr- 


3S0 


Capitulo  LXXXIX. 


6  Cerrado  O  CouciliOjd: 
derpedidos  de  Tclcdo  aíuas 
Igiejasos  Bilpos,  que  nclle 
alliítiraõ  vco  a  tomar  poíle 
òà  fua  SaõFruCLioío.  Entrou 
neíb  cidade  em  Mayo  do  an- 
no  de  íciícciítcs  &  líncoeiíta 
&L  íete  5  íoi  recebido  com  co- 
das as  dcmonílraçoéi  com 
que  os  cidadãos  delia  podiaó 
íjgniíicat  o  contétameiíto  de 
o  terem  coníígo:  a  feíla  poré 
mayor  de  codas,&  pêra  o  fan- 
todcmayor  ^ollo  íoi  a  com 
que  o  íairao  a  receber  os  po- 
bres, &  crianças  da  terra  i  le- 
uaua  cada  hum  ícu  ramo  nas 
máos, todos  cantauao  bendi- 
to o  que  vem  ^  cm  nome  do 
1  Senhor. 

I  7  A  primeira  coufa  que 

procurou  laõ  Frutuoío  nelta 
lua  noua  diíinidade  foi  refoc-. 
mar  léus  lubditos  mais  ainda 
com  o  exemplo  de  fua  pcflba, 
que  com  nouas  íeys ,  ou  pre- 
ceitos,porque  quando  aquel- 
Icíalta  ficaõ  eíles  verdadeira- 
mente mortos,  &  de  nenhú 
viçTor.  Trouxe  pêra  íeus  pa- 
ços do  moíleiro  de  Dume 
muitos  Rcligioíos  de  fanta  vi- 
da, &  com  elles  viuia  das  por- 
tas adentro  em  ranta  peniten- 
cia, quanta  mal  podia  íoffrer 
h'1'.n corpo  humano,  6.:arsy 


íe  viaõ  nellc  as  forças  corpo- 
raes  taó  gaíladas ,  a  preícnça 
exterior  taó  debilitada,  q  cau- 
iaua  notauel  compaixão  a  to- 
dos ,  &  tanto  mayor,  quanto  -. 
maislhedeíejauãoa  yida,  & 
íaudc,ccmo  a  pay,í^  bem  fei- 
tor comum.  ísiunca  dcípio  o 
cilicio,  nunca dormio  cm  ca- 
ma, em  que  íe  viíicm  outros 
regalos  pêra  o  corpo  mais  que 
huas  poucas  de  vides  porcol- 
cháo,húa  manta  de  Iam  de  ca- 
bras por  cobertor :    jejuaua 
o  mais  do  tempo  ,  &  entáo 
com  m^ayor  eftreiteza,  quan- 
do pretendia  alcançar  de  Deos 
algúa  tnerce  pêra  fuás  ouelhas, 
no  que  íhe  íucederaõ  cafos 
milaçroíoSi 

8  Viíítou  por  fua  pcfloa 

todo  ícu  Arcebiípado ,  &  re- 
m«dcou  nas  terras  onde;  en- 
traua  muitos  abufos ,  &c  era  o_ 
ícu  caminho  de  or-dinario  a. 
pè  jfem  multidão_de_cnados,  \ 
nem  gente  que  deíTc  opreíraõ 
aos  pouos.No  caíligar  das  eul 
pas  íempre  o  fazia  amando  os 
culpados ,  &  aborrecendo Gs 
vicios-,  não  íoíFria  ounelíe  nas 
peíloas  Eccleíiallicas  efcanda- 
los,  ^  muito  menos  nos  Re- 
ligioíosrprocurauafoficm  fcr- 
uidas  as.  igrejas  com  niage- 
ílade,& limpeza,  obrigando 


aos 


S.Frutuofo. 


381 


os  Parochos,  &aquelles  cu- 
jos craõ  os  fruitos  que  as  pro- 
uelíê  de  todos  os  parametos^ 
qucosmyftedos  fagrados  de 
íy  ertaò  pedindo.  Eltranhaua 
fobremaneira  em  fuás  ouelhas 
o  vicio  da  deshoneltidade^pcl- 
lo  que  com  feueriílimos  ca- 
ftigos  o  emendaua  quando 
era  publico,  ôc  quando  fecre- 
to  com  penitencias  no  mef- 
mo  foro,&  penas  que  atcmo- 
j  rizaílcm  aos  culpados  ,  &  os 
acautclaílem    pêra  o  futuro. 

9  Braga  como  Metro— 
poli,&  cabeçada  Primazia, 
foi  a  que  a  mayor  parte  teue, 
&  o  mayor  fruito  recebeo  do 
ztlodefte  lauto  Prelado,  não 
auendo  entre  osEcclcliaíHcos, 
vendo  a  fuauidade  de  leu  go- 
uerno ,  o  exemplo  de  fua  vi- 
da, quem  naõ  procuraíTe  re- 
tratallo  cm  fy,ou  fofle  das  por 
tas  adentro  pêra  com  fua  pef- 
foa,&  as  de  feus  familiares,ou 
delias  a  fora  pêra  os  eftra— 
nhos. 

10  Os  feculares  também 
caminhauaó  pella  mefmaeftra 
da, porq  quando  íè  vc refor- 
mado o  Ecclefiaftico  de  força 
fe  ha  de  ver  tal  o  mais  corpo 
da  republica:  diz  tanto  difto 
faõ  Valério  efcritor  da  vida  de 
S.  Frutuofo  quea  náoferel- 


le  o  que  efcreue ,  &  o  Icc^cico 
dcfuaercrituraSaó  Frutuoío, 
podia  fazer  duuida  vcrfe  cm 
táo  pouco  tempo  mudança 
tão  notaucl  em  hú  Arcebil- 
pado  tão  eílédido  como  eíte, 
&  habitado  de  gentes  tão  dif- 
ferentes  nos  coítumes,&  mo- 
do de  viuer.  Os  que  porem 
mais  fe  auantejauão  craõ  os 
Religioíos;  reprefentauão  os 
molteiros  no  trato,&:  conuer 
façaó  huns  parayíos  na  terra, 
&  como  taes  eraõ  bufcados 
dos  quede  nouo  fccõuertião 
tantos  em  numero  ,qiie  jà  o 
íantonaõ  prègaua  deixaflem 
o  mundo ,  &  leguiflem  o.  ca- 
minho da  Cruz  cm  comuni- 
dades Religiofas,  mas  em  fuás 
cafas  próprias,  porque  cm  to- 
da aparte  fe  daua  Deos  por  bé 
fcruido  ^  taó  bom  de  conten- 
tai era.  Muitas  vezes  lhe  alie- 
gaua  que  por  eftarem  muito 
cheos  os  mofteiros,  &  não 
muito  ricos^naõ  podião  rece- 
ber fogeitos  de  nouo ,  toman- 
do às  vezes  o  Demónio  efta 
ocâílaõ  pêra  lhe  quebrar  os  fer 
uores, quando  viíTem  os  não 
podiâó  executar  por  obra,que 
o  ponto  eftauaem  lançarem 
em  toda  a  parte  mão  da  peni- 
tencia ,  pois  cfta  não  fe  ataua  a 
lugar ,  nem  o  habito ,  ou  mo- 


1 


ílei 


ro. 


S2 


Capitulo  LXXXX. 


íleiro   era  o  q^ue  fazia  o  Rc- 

licioío. 


CAPITVLO    LXXXX. 

r>  O  S     MOSTEIROS 

que  Sao  Frumofo  fnndon 
ém  -vários  Inçares  de  feu 
Arcebifpado  ^  i^  fora  delle. 


Omcçou  o 
Santo  a  edifi- 
car algúsmo- 
llciros  cie  no- 
uoi  cious  no- 
meá  S.  ValeriOjhuni  temos  a- 
quià  portajv^  he  o  mefmo  q 
hoje  chamamos  de  SaóFru- 
tuoío  ,  de  que  logo  diremos: 
outro  íe  chamou Turonio  de 
que  atcí^ora  ncnhúa  noticia 
pudemos  alcançar  He  bê  ver- 
dade qi;e  por  algum  tempo 
andamos  em  foi  peita  poderia 
ícr  o  de  Caftro  deAuelans  na 
Comarca  de  Tralos  montes 
pouca  dillancia   da  cidade  de 
Bragáça  pêra  aparte  do  Occi- 
dente,' porque  em  papeis  an- 
tiguos  achamos  feraly  grãde- 
mentc   venerado  Saò  Marti- 
nho Bifpo  dcTuronem  Fran- 


ça por  rezão  de  húa  grande  re- 
líquia íua,  que  no  mollciro 
ícconícruaua,donde  fe  pode- 
ria chamar  o  moíteiro  dcTu- 
ron.Mas  tazendo  depois  m.a- 
yor  diligencia  íobre  íua  funda- 
ção achamos  cairnoannode 
667.  alguns  annos  adiante  do 
em  c]uc  bleceo  Saõ  Frutuofo: 
donde  íe  ve  não  ler  cíle  mo- 
íleiro  fundado  por  crdê  fua, 
ou  por  renda  particular  que 
em  íeu  teíiamento  lhe  appli- 
caílcjcomo  diziaõ ,  Sc  con- 
tauão   íeus    Rcligioíos,    em 
quanto  aly  períeueraraó  (que 
foi  ate  o  tcpo  de  noílos  auòs) 
muitos  cm  numero  ,  &  ricos 
cm  poíleíloês,  porque  daqui 
íairaõ  boa  parte  dos  reditos.^ 
queà  petição  do  fcreniilimo 
ReyDomíoaòo  III,  levni- 
ráoaonouo  Biípado  de  Mi- 
randa ,  que  ellcerigio,  ficando 
o  moíleirocm  parochia^^í:  íò 
com  hum  vigairo,  qucnellc 
adminillra  os  Sacramentos, 
z     Outros  molkiroSjíe  diz, 
forão  da  fundação  de  Saõ  Fru- 
tuofo. Por  talíe  tçm  oq  ou- 
ue  na  villa  de  Tomar^  moílei- 
ro  dos  a  que  chamauão  do- 
brados por  lerem  de  Religio- 
fos,   &c  Religiofas  diuididos 
entre  fy  com  íeus  clauífroSjtSc 
paredes  em  forma  que  não  , 

pude  lie 


S.Fmtuofo, 


3S3 


2.;.^.  45 


pu  deíle  perigar  a  honell  idade. 
Aqui  foi  Religiolaabcmaué- 
curada  íanca  Ircna,  ou  Eiria, 
aquellaquedeu  o  nomeàvil- 
la  de  Santarém  ,  padeceo  mar- 
tyrio  noannode^yj.  feisaii- 
tes  da  morte  de  Saõ  Frutuo- 
(o^Sí  li.  da  fundação  do  mo- 
ftciro,  que  conforme  a  ifto  íu 
cedeo  no  anno  de  Chriílo  de 
641. 

3  Mais  direito  tem  ainda  em 
Saõ  Frutuofo,&  com  mayor 
rezáo  o  pode  chamar  por  fú- 
dadorfeu  o  molleiro  delan- 
toTirío  de  riba  de  Aue,  no 
Bifpado  do  Porto,  íe  bem  na 
hiftoria ,  que  efcreuemos  dos 
Bifpos  daquella  Igreja ,  difle- 
mos,  cõformandonosconi  o 
Conde  Dom  Pedro,  o  funda- 
ra o  Infante  Alboazar  Rami- 
res filho  delRey  Dom  Rami- 
rodeLeaõ  legundodonome, 
6c  da  Rainha  Dona  Aríigaa 
que  chamauãoaZahara  (ilto 
he  a  frol  dafermofura)  irmã 
de  Alboazar  Iben  Albocadão 
fenhor  de  Gaya  ,  &c  de  muitas 
outras  terras  na  Lufitania.  Cò 
tudo  pêra  eíle  Infante  naõ 
fer  auido  por  mais  que  re- 
ftauradordomofteiro  pcUos 
annos  de  965.  temos  cento  & 
Hncoenta  &  fete  antes  no  de 
808.  liúaefcritura ,  em  que  fe 


lhe  doa  cerra  fazenda,  &  em 
queairinãoo  Abbadefr.  Vit 
cente  Affonío,  o  Prior  frey 
Valco  Ramires ,  outros  qua 
tro  Rcligiofos :  guardaíè  no 
Cartório  do  meimo  moftei- 
roj  ôc  fempre  aly  foi  tradição 
quedeuia  feus  primeiros  fun- 
damentos ao  sloriofoSaõ  Fru 
tuoío,  Q^ntoantiguamente 
fe  eftimaík  erta  caía  moftraó 
os  jazigos,  que  ncUa  hà  de  pef- 
foas  de  grande  confideração, 
como  íaõ  o  do  Conde  de  Bar- 
celos DomMartimGil ,  &  de 
fua  molher  a  Condefa  Dona 
Violante  Sanchez,aquelles  cu 
jos  foraõ  os  caíaes  ,  que  hoje 
tem  em  Chã  de  Couce.  Tam- 
bém entre  os  feus  teflamcn- 
teiros  nomeou  EiRey  Dom 
AfFõfoo  II.aoAbbadedeíàn- 
to  Tirfo ,  &  ao  mofteiro  dei- 
xou   quinhentos  marauedis, 
queícerão  de  ouro ,como  pa- 
rece, faziao  fomma  de  615. cru 
zados,  a  quinhentos  reis  por 
marauedi.  n  o  -r.,-. 

4  Podemos  tambeiíi  co- 
tar entre  os  moftciros  fun- 
dados, ou  por  íaõ  Frutuofo, 
ou  de  fua  licença  o  de  faõ  Mi- 
guel de  Rcfoyos  no  territó- 
rio deBafto,  porque  achamos 
aly  fepulturas  de  pe0bas,que 
morrerão  em  tempo  do  fanto, 

como 


384 


Capitulo  LX  XXX, 


como  a  de  Dõ  Gomez  Soeiro 
era 708.  que  raõannos  deChri 
ílo  670.  &L  no  de  701.  a  do 
Prior  fr.  Payo  Soeiro.   Mo- 
ílrafc  alem  diílo  Tua  antigui- 
dade pellaíènccnça,  que  feu 
Abbade  fr.  Gomez  Aftonío 
deu  contra  fr.  Hugo  Ortíz 
Abbade  do  molleiro  de  So- 
brado, anno  8  55.  como    juiz 
Aportolico  Delegado    pello 
SnmmoPoncifice  Leaó  IIII. 
Guardafe  ainda  hoje  no  meí- 
mo  mofteiro,  &  com  ella  ou- 
tra carta  de   pergaminho  jà 
tão  comida  nas  letns ,  que  íò 
íc  podem  ver  as  palaaras  fe- 
euinrcs,  Poíi  ohimm  mum  re^ 
linques  eos  ad  fanai  Michaelis 
Refu^ienjts ^Ôclog^o  mais  abú- 
xo.Frarresnojlri  Refugienfes 
orentpro  nohh  ficut  de  antiqua 
alij  fratres  fecerút^faãa  c  har- 
ta era  í/e8í>3. que  íaõannos  de 
Chrirto  8ij.  onde  he  muito 
de  ponderar  aqnelle  termo, 
ab  antiqtio  ^  porque  fe  nioftra 
ter  o  morteiro  ja  muitos  an- 
nos  de  fundação ,  &  como  o 
não  achemos  entre  os  que  fe 
contaõ  fundados  no  tempo 
de  S.  Martinho  neceflariamé- 
tcaucmos  de  dizer  o  foi  no  de 
S.Frucuofo. 

j"  Entre  os  Abbadcs  que 

dcfte  mofteiroforaõ  tomados 


pcra  grandes  Prelazias, dous 
viera  pcraelia  noílade  Bra- 
ga,Dom  Martinho  eleito  Ab- 
bade no  anoo  deu  7S.  &  Dõ 
Fernando,comocm  leu  lugar 
diremos.  Biípo  foi  também 
fr.  Bento  Mendcz,  o  qual  pê- 
ra eíle  efíeito  renu,ncioii  aAb- 
badia  noannode  105)7»  porem 
não  ncs  confta  de  queBifpado 
fofle. 

6  Benção  foi  também  de 
S.  Ffutuoío  o  grande  aluoro- 
ço  com  que  eítc  Religiofo 
moítciro  recebcoa  reforma- 
ção cm  que  viue  hoje  por  in- 
duftria  de  feu  cõmendatario 
o  Padre  frei  Diogo  deMurça 
da  lagrada  Ordem  do  efclare- 
eido  Doutor  da  Igreja  S.Iero- 
nymo ,  &c  a  liberalidade  com 
que  repartindo  fuás  rendas  em 
trcs  partcSjdasduas  fundou  os 
dous  Collcgios  de  S.  lerony- 
mo,  &faõ Bento, ambos  vi- 
zinhos,&:  ambos  na  cidade, &: 
Vniueríídadc  de  Coimbra;  da 
terceira  fuftenta  feus  Religio- 
fos  verdadeiros  imitadores  de 
feu  Padre  faõ  Bento  _,  &  de  feu 
fundador  o  grande  Arccbifpo 
S.Frutuoío. 

7  Aqui  junto  defta  cida- 
de de  Braga  tiucmos  outros 
dous  moftciros  ambos  funda- 
dos por  Saõ  Frutuofo :  o  pri- 


meiro 


SFnitwfoo 


385 


I  nieiro  dcS.  Martinho  de  Side 
t  naeílradaqleuadcBragaaGui 
niaracj  pouco  dillante  do  rio 
deAue.Emhú  liurodc  viiíca- 
çocsanciquiííiirjO  achamos  a 
(ef^iiinte  doação  feita  por  S. 
Frumcfoera  dcCeíar  667  que 
laõannos  áGChni\o  62.9  .f^obií 
fratribus  'msins  de  momUerlo 
S  Martini  deSadí/ócedimiis  re 
dimsdeLujifinointksmcfynci-s^et 
jnUentationêhGfphú^Í!fp£regri 
nQrumlsi'c-i)n'td,tio  aly  os  Re- 
li-^ioíosatè  o  annc  de  1444.6111 
que  era  ArcebiípoDõ  Fernan- 
do da  Guerra.  Hojehe  cõmé- 
da  de  Chrifto.  Alguns  fazem 
Q\{c  moílcif  o  mais  antiguo  di- 
zédo  fora  de  ermitães  de  fan- 
co  A^crtinho  .muitos  annos 
antes  de  aucr  em  Portugal  Re- 
ligiofos  de  S. Bento  ,&  depois 
de  o  deixarem  os  ermitães  en- 
trara nclleS.Frutiiofo^&o  po- 
uoaradeReligiofos  deS.Béco 
de  que  ellc  foi  Abbade  muitos 
annos  depois  de  fua  primeira 
fundação.  O  fegundo  mortei- 
ro fechamauaS.  Saluador  de 
A  rnofo  húa  lefzoa  defta  cidade, 
naeOradado  Porto. Vnioo  o 
Arccbirpo  Dó  lorge  da  Cofta 
ao  de  Ponibeiro  no  anno  de 
i49j.peraaliuiodos  gaílos  ,q 
aly  íc  fazião  com  os  pobres, &: 
peregrinos:hoje  porem  beAb 


o 


badiaíccuiar. 

í  unto  a  Pote  de  Lima  dii 
rou  por  muiros  tepos  ,  &:  em  i 
grandiiTimaRciigiáo  o  mollci 
ro  de  fanta  Mana  de  Miwnda; 
chamo ulhe  em  íeu  tcíUméto 
cõaiiuíaó  s  íeu  nom?,&  mui- 
to mais  à  eípantoía  íantidade 
defcus  Religiofos  FjRey  Dó 
AíBcnfooil.  Santa  Maria  de 
Admirãnda^H^QxxzW^  huro  do 
moíiciro  dcPedrofo  cò  q  jà  al- 
legamos  na  vida  de  S.  Marti- 
nho na  decima  collação  diz  aí- 
íi  o  Abbade  a  ícus  Religiofos. 
Vrina  omass  Cafsinenfes  fwffe- 
mmjcut  ip'frarres  noíiri  Mi- 
radulenfes^qni  anno  Díii  6  ^9.  ar 
duo  in  mote  fuper  Limiam  Caf- 
fníifecerút  coiúãi,  ip'  fepara- 
tijedalios  fie ,  alios  fc  o  per  ar  i 
oporttf.  Vê  a  dizer  q  dcfe  jau  a 
aos  feus  Monges  de  Pedrofo 
quacs  erão  os  do  molleiro  de 
Mirada,  o  qual  edificarão aql- 
les  Pvcligioíos  emhú  mõteal- 
to  no  anno  de  659  (  he  o  meí- 
mo  em  qmorreoS.Frutuoío) 
outroCaífino  na  perfeição,vi- 
uédo  aly  húsem  comunidade, 
outros  como  ermitaês,cõfor- 
meDeoslhedauaa  íentir.Ain 
da  hoje  goza  efla  Igreja  de  grã 
des  priuilegios^que  lhe  conce- 
derão ElRey  Dom  AíFonfo 
líl.  &c  feus  fuceíTores. 

Kk  9  Ainda 


386 


Capitulo  LXXXXL 


9         Ainda  aos  paflados  pu- 
déramos ajuntar  o  mofteiro 
deSaõSaluadordeGanfei  jú- 
to  do  Minho, &  fronteiro  à  ci- 
dade de  Tuy  3  porque  poílo  q 
alguns  o  tenhão  por  fundação 
de  S.  Martinho  de  Dume,ou- 
tros  por  de  DõGaufrido  hú  fi- 
dalgo honrado  _,  q  viueo  pel- 
los  annos  deChrilto  980.  com 
tudo  não  hc  taõ  antigo  como 
S.Martinho,  nem  tão  moder- 
no como  Gaufrido^  o  qual  foi 
fò  íeu  rellaurador,&  não  fun- 
dador como  íe  vé  dis  letras  q 
cíHoem  húa  pedra  do  edifí- 
cio velho,&  dizem.Do»  Gau- 
fridtis  re^difcaror  huius  mo- 
naíterij  Sanãi  Saluatoris  era 
1018.  he  o  anno  de  Chrifto 
980. Digamos  fegundo  as  me- 
lhores conjeituras ,  &  o  que 
em  fuás  obras(  que  defejamos 
íayão  a  luz  )  deixou  efcrito  o 
Padrefrei  Bernardo  de  Braga 
Reliaiofo  da  Ordem  de  S.  Bê- 
to  varaõ  mu y  douto  em  todo 
o  género  de  antiguidade ,  q  o 
morteiro  de  Ganfei  he  obra  de 
S.Frutuofo,&  como  tal  erti- 
mado  dos  Reis  defte  Reino, 
emeípecial  dcDõ  AíFoníoo 
II.  que  em  feu  tertamento  o 
deixou  por  herdeirode  toda  a 
fua  prata laurada  peraque  feus 
Rcligiofos  o  encõmendaíTcm 


a  Deos  Noílb  Senhor. 
I  o  Dada  efta  breue  noticia 
dos  morteiros  qcõjeituramos 
ferião  fundados  por  S.  Frucuo 
fo,  o  fio  da  hirtoria  pede  nos 
tornemos  à  narração  de  lua 
vida,  donde  acima  nos  diuer- 
timos. 


CAPITVLO    LXXXXI. 

F   V  N   D    A      S    A    M 

Fruruofc  o  mofleiro  de  S.Sal 
nadarei:/  os  motiuos  que  te- 
mpera o  faT^r. 


OgoqucSaõ 
Frutuofo  foi 
elcitoArcebif 
po  de  Braga, 
começou  ale 
porem  cõtéda  entre  erta  Sç^^ 
leu  primeiro  Bifpado,  &  mo- 
rteiro de  Dume,  qualauiadc 
fer  o  que  por  fua  morte  go- 
zaíle  do  preciofo  thefouro  de 
fuás  reliquias .  Allegauão  os 
de  Dume  pertencerlheaelles 
mais  q  aBraga,afsy  pello  titulo 
de  primeiro  napoííe,  como 
por  fer  Religioío  de S .Beto,& 
auerfe  de  enterrar  no  leu  habi 
to,&  entre  íeus  irmãos,como 
ofizeraauia  nãomuitos  anos 


S'Frutuofo. 


3S7 


I  S.  Martinho  não  obliaiite  fer 
tnmbeni  Arcebifpo  de  Braga. 
Eílauáoja  de  muito  tempo 
os  delta  cidade  arrependidos 
de  confentir  faifie  deíeus  mu- 
ros, &  de  íuaSè  hum  taõ  gra- 
de, «Sl'  taõ  íanto  Prelado  co- 
mo Saõ  Martinho,  &:  fazia- 
íelhe   mao   de    íofrcr    ou- 
uirem  falar  em  íemelhantcs 
preteníoés   aos  de  Dume. 
Froteftauáo  que  nem  man- 
dandoo  em  fcu  teftamcnto 
Saó    Frutuofo    o    largariaõ 
morto  a  Dume  ,  poiso  Ceo 
lho  dera  viuo  ,    òí  que  os 
Prelados    nem   viuos   eraó 
íeus^  mas  de  fua  Igreja,quan- 
ro   mais  mortos :  que  Du- 
me o  perdera  quando  Bra- 
ga o  ganhara  ,  &  que  dcfta 
era  próprio  Prelado  ,  de  Du- 
me ró  como  adminiftrador, 
como  bê  fe  moftraua  firman- 
do nos  Concilios  Arcebifpo 
de  Braga ,  &  não  deDume. 
z  Ardeo  tanto  efta  con- 

tenda entre  Braga  ,  &  Dume, 
que  quifcrao  a  diffiniíTe  em  vi- 
da o  mcfmo  fanto  por  eícu- 
zarem  reuoltas  depois  de  fua 
morte:  refpondeolhe  de  prin- 
cipio que  o  melhor  feria  en- 
terrarem feu  corpo  em  hum 
monturo  ^  pois  por  feus  pcc- 
cados  não  merecia  outra  fepul 


Cura ,  ou  quando  não  lança- 
remno  em  algum  pego  do  rio 
Cauado  có  hua  pedra  ao  pef- 
coçojperaque  nunqua  mais 
apparcccíle.  Dizialhe  cm  fe- 
gundo  lugar  que  da  fcpultu- 
ra,  &Í  honras  do  corpo  íe  de- 
uia  tratar  pouco,  ou  nada, 
pois  finalmente  auião  de  vira 
acabar,o  põtoeílaua  nos  Mau 
folèosda  alma  que  íaó  as  virtu 
ács^  pellas  quaes  neíh  vida  os 
homens  fcíazcmimmortacs, 
&c  na  outra  bemauenturados. 
3       Trabalhaua  debalde  Saõ 
Frutuofo  cm  querer  perfua- 
dir  aos  de  Braga,ou  aos  dcDu- 
mc  denjiiíícm  daquclla  preté 
ião,  &  não  procurafsc  ter  en- 
trefy  morroaquelle, a  quem 
tanto  eUimauão  viuo ;  6í  por 
lhe  naõ   deixar    ocafião  de 
ódios  depois  de  fua  morte,tra 
çou  demancirao  lugar  de  fua 
íepultura,  q  ne  Braga  o  tiueílc 
propriamente  por  feu,néDu- 
mc  ficaííe  íem  elle.Mãdou  me 
diroefpaço,q  vay  da  cidade 
ate  Dume,&  bc  no  meo  ^on- 
de felcuantahu  outeiro  de  fu- 
bida  fácil  &  vifla  gracioía  por 
nome  Montelhos  fenhor  das 
alegres  voltas,  q  vay  dando  o 
rio  de  Prado  por  entre  cam- 
pos de  eftremada  fréfcura ,  &c 
f-crtilidadc ,  atè  porem  termo 


Kkz 


aos 


388 


Capitulo  LXXXXI. 


aos  olhos  os  montes,  com 
quefelheefconde  o  mar,  & 
muitas  villas  de  importância, 
como  Ponte  de  Lyma,  Barca, 
os  Arcos  de  Valdeues,&  ou- 
tras, mandou  laurarhum  mo 
íí:eiro   do   nome  do   Salua- 
dor,  com  intentos  de  nelle  íe 
íèpultar  quando  folie  Deos 
ícruidoleuallo  pêra  fy.  Con- 
tentou o  meo  de  fatisfazer,  & 
aquietar  a  húa,&:  a  outra  Igre- 
ja,de  que  o  fanto  vfara,  afsy 
aos  de  Dume,  como  aos  de 
Bra^a.  Acodiaó  todos  ate  os 
mais  nobres   a  trabalhar  no 
cdificio  como  íe  fora  próprio 
de  cada  hum  :  não  regeitaua  a 
nenhum  Saõ  Frutuofo ,  por- 
que logo  no  principio  da  obra 
teuc   reuelação  o  queria  Deos 
leuar  pêra  fy  ella  acabada  ;  & 
como  os  defejos  deíevcrna 
bcmauenturança  foraó  nelle 
fempre  taõ  acczos,fazia  traba- 
lhar  de  noite,  &  de  dia  os 
officiaes  aífiftindolhe  com  fua 
prefença,  &  mandando  do- 
brar o  jornal  aos  pobres,  fc 
1  bem  com  cfte  titulo  nenhum 
o  queria  receber,   &  poriffc 
Ihomandaua,  com  capa,  ôc 
nomcdecfmola. 
4        Acabada  a  fabrica  trou- 
xe Saõ  Frutuofo  nouos  habi- 
tadores pêra  cllaj  vieraõ  de 


vanos  morteiros    por  fatis- 
fazer aos  deíejos,  com  que 
todos  ,    òí  cada    hum  pre- 
tendia não  ficar  cxcluido  da 
honra,  &  bem  de  vizinhar 
com  elle,  &  participar  de  fua 
fanta  conucrlaçaõ.  Paílouo 
numero   de  quarenta,  gen- 
te efcolhida ,  &c  digniílimos 
filhos  de  íeu  Padre   o  gran- 
de   Patriarcha  Saõ  Bento  . 
Dculhc    por  Abbade  a  hum 
Religiofo,  a  quem  de  mini- 
no  criara  em  lua  cafa,  &  fem- 
pre o  acompanhara  por  no- 
me  Diccncio  ,  homem  cm 
quem  cabia   bem   fcr  Prela- 
do de  talccmmunidadc,  & 
efcolhido  por  hum  taõ  ma- 
duro juizo,&  prudência 
como  a  de  Saõ  Fru- 
tuofo. 


CAP. 


S'Frutiiofo. 


3S9 


CAPITVLO    LXXXXU. 

PASSA  DESTA 
'Vidapera  a  hemauentur  an- 
ca oglorwfo  S.Frutuofo. 

A  quádoeíla 
beniaucncu— 
rada  Colónia 
fe  rccolheo 
noicii  moílci 
ro  doSaluadorjazia  enfermo  o 
I  íanto^^  íe  bem  a  enfermidade 
aos  médicos  parecia  leuc,  elle 
com  riidoa  teue  pella  vitima, 
<^  aísy  fe  mandou  leuar  de  íeu 
paço  a  S.  Saluador.  Aly  en- 
fermo como  ellaua  celebrou 
de  Pontifical  na  noua  íiireja 
a  primeira  miíla,  pregou  a  in- 
finidade da  gentCsquealy  íea- 
chou ,  &  exhorcou  a  todos  à 
guarda  daley  Diuina,&  em  ef 
pecial  ofcz^depois  de  defpedi- 
dos  Cs  feculares,  aos  Religio- 
fos  vindos  de  nouo,animan- 
dcos  com  cfficaciílimas  pa- 
lauras  à  perfeição/5<:  declaran- 
dolhejcomo  ellaua  no  fim  da 
vida  ,  &:  Deos  o  queria  leuar 
dentro  eni  breuesdias  pêra  fy, 
pello  qlhccncarregaua  muiro, 
o  ajudaflem  cõ  fuás  orações^ 
&  lacrificios ,  &  nillo  lhe  pvi- 
gaííem  o  amor  q  lhe  tinha,  ôc 
moílraria  muito  mais  la  do 
CeOjCncomendandoos  à  Di- 


i  uinaProuid6xia,pcraq  os  gi'ar 
daílCj^  cniparalie  cm  quánfo 
andaíiem  nelVa  vida^peiaq  ír;c 
rccellem  os  bens  dacutra^cu- 
jodeiejo  os  trouxera  à  Reli- 
giaó^Ó^cõícruaua  nclla  entre 
o  exercício  de  tantas  virtudes, 
quantas  íabia/^  via  enreque- 
ciáo  íuas almas. 
t  Entre eíias  palauras ,  &•  as 
lagrimas  daquellcs  bcmaué- 
turadosReligioíosJe  fez  leuar 
à  erifern}ariaj&  aly  em  húa  po 
bre  cama  cuberto  de  ciliciOj& 
cinza  perfeuerou  alguns  dias, 
em  q  ofoi  cõíumindo  húa  fe- 
bre Icnta^villtado  fépre  de  íeus 
cidadãos  de  Braga,  «5^  de  húa  in 
finidadedc  pouo  ,  &  Rcligio- 
fos,q  acodiáo  a  tcmar  íua  íàn- 
ta  béçáo,  6:  elle  a  daua  a  todos, 
pedindclhe  íe  nao  entrilliccf- 
íem  cõ  iua  mcrte,pois  hiaago 
zar  dos  bens  eternos,  onde  ef- 
peraua  lhe  foííem  muito  cedo 
companheiros  pêra  ícr  de  to- 
do perfeita  fua  gloria. 
3  Chegauãofc  jàos  i6.  de 
Abrildoannode  659.  termo, 
de  íua  vida  ,  ou  ccmo  quer  o 
BreuiarioBracharéfe,  (S:  lulia- 
no  o  ãno.66)-,mãdouíenaveí-  ^^  ^p^n 
porá  leuar  à  ígreja,e  aly  de  no-  |  k^?  ^ 
uo  recebeoo^Sãtillimo  Sacra-  ri""/!! 
metodatuciíariltiaporviatico  [^^  120, 
&  logo  após  elle  o  da  extrema 

Kk  3  vnçáo. 


390 


Capítulo  LXX  X  XII. 


vnçáo,  depois  perfeucrouem 
amoroíos ,  &  faudoíos  coUo- 
quios  com  Deos ,  &  com  a 
Virgem  Senhora  NolTa,  de 
quêlempre  foi  deuotiílimo, 
com  o  Anjo  de  Tua  guarda,  & 
com  outros  efpiricos  bem- 
aucnturados  todo  aquelle  dia, 
ôc  noite  feguinte  ate  que  no 
romper  da  alua  pêra  os  \6.  de 
Abril, dia  próprio  em  que  fe 
celebra  fua  ferta  deu  íeu  ben- 
ditiíTimo  cípirito  nas  mãos 
de  feu  CriadorjCom  as  íuas  le- 
uantadas ,  &  os  olhos  pollios 
no  Ceo  onde  ficarão  depois 
de  morto  taõ  crauados,&:  ele- 
uados,  que  a  todos  os  que  o 
vião  cauíauão  nouas  íauda- 
òts  da  bemauenturançaque 
eílauaõ  gozando. 
4  Seu  enterramento  fe  ce- 
lebrou mais  com  lagrimas , 
que  com  pompa  funeral^por- 
que  os  Religiofos  receando, 
perder  aquelle  precioío  the- 
fouro,não  obllante  o  que  o 
fanto  difpunha  em  íeu  tefta- 
mento,  &  fe  tinha  }à  decidido 
cm  fua  vida,fem  dobrar  fmos, 
nem  darem  outros  argumen- 
tos de  fua  morte ,  antes  de  a- 
brirem  as  portas  da  Igreja  o  fe 
pultaraõemPontifical  na  meí 
ma  fepultura,q  o  fanto  laura- 
ra  pcra  fy  ,  òc  fora  não  mais  q 


hum  pobre  nicho  na  parede 
da  partcdoEuangelho  bé  no 
meo  do  corpo  da  Igreja.  Aqui 
o  venerou  por  muitas  cente- 
nas de  annos  a  fua  cidade  de 
Braga,  &  todas  as  Prouincias 
de  Heípanha  não  obftantes  as 
calamidades ,  que  com  a  en- 
trada dos  Mouros  lhe  fobre- 
uieraõ  :  &í  aindaa  furia,&  im- 
piedade dejlcs  bárbaros  per- 
doou alugar  tão  (agrado,  rel- 
pcitando  o  fanto,  que  o  guar- 
daua  ,  &  defendia  com  fuás 
prcciolas  reliquias.-porque  aí- 
lolando  todas  as  Igrejas ,  òc 
moíleiros  vizinhos  a  Braga, 
&  pondo  por  terra  qualquer 
cafa  de  oração  com  quecn- 
contrauaõ,fòao  mofteirodo 
Saluadorguardaraõintaótocm 
forma  que  aquclla  Igreja,  que 
hoje  nelle  vemos,  hea  mefma 
que  mandou  edificar  São  Fru 
tuofo. 

5  Porem  o  mal  que  fe 

não  atreueo  a  nos  fazer  a  per- 
fidia  Mahometana,tirando  de 
junto  aos  muros  delia  cida- 
dadehumprelidio  tal,  como 
o  corpo  de  feu  fantiíTimo  Pre 
lado,porquem  fe  via  autori- 
zada ,  &  defendida  ,  cfte  nos 
fez  a  piedade  ^  &  fanta  ambi- 
ção do  Arccbifpo  de  Com- 
poftellaDó  Diogo  Gclmircs, 


o  qua 


J 


S.Frtítuofo. 


391 


o  qual   vindo  viiitar  algúas 
Igrejas ,  que  como  pertencé- 
tcsa  íua   jurdiçáo  ,  &  meia 
Arccbiípal,  tinha  nefta  dio- 
cclCjCntre  as  qucs  eraõ  as  duas 
deSaó  Saluador,&:  Saó  Vitou 
ro  j  aproueirandoíe  da  auíen- 
ciado  Arccbiípo  Saó  Giraldo 
quecnrãcalíiltia  em  Roma, 
écc\o  dcícuido  dos  morado- 
res derta  cidade,  leuou  os  cor- 
pos dos  gloriolos  martyres, 
SaòSyluellre,  S.  Cucuface,6«r 
Tanta  Suzana  íua  irmã,  na  for 
fupraCMp  maque  jàdiííemos  em  luavi- 
^^"'''    da.  &  diremos  mais  lar^amé- 
tcna(egunda  parte  delia  hi- 
íioria  navidade  (aõ  Giraldo. 
Também  leuou  o  de  Saõ  Fru- 
tuoío,  deixando  íò na  fepul- 
tura  hum   pequeno  oíTo  do 
íanto,  &  hum  pedaço  da  ca- 
pa   Arcebiípal  com  que  foi 
enterrado ,  abrindo  a  fepultu- 
racom  tanto  fegredo,  que  pri 
meito  teue  as  preciosas  reU- 
quiasem  CompotlelIa,do  q 
em  Braga  fe  delle  fè ,  q  no  las 
roubara.   Alyas  collocou  no 
altar  morda   Igreja  do  fanto 
Apoílolo  Patrão  dasHefpa- 
nha<:  ,&  nella  perfeueraraoos 
quatro annos   feguintes,  em 
quanto  no  cruzeiro  da  mef- 
ma  Igreja  pcraa  parte  da  Epi- 
llola,  le  lhe  lauraua  húa  fer- 


rnoíacapella,  em  quedcnno 
deqrolias ,  òc  bem  douradas 
grades  em  húa  arca  de  prata  de 
feitio  raro  as  collocarão.  He 
cila  capella  frciguezia  do  ti- 
tulo de  S.vj  Ffucuoío  tem 
delia  cuidado  hum  Cardeal. 
Cclebralc  cõ  tanta  rragclla- 
peem  Compoltellaa  feita  de- 
ite fantillimo  Prelado ,  q  nel- 
la íe  diz  a  miíla  principal,  não 
no  altar  mòf  do  Apoftolo, 
mas  no  de  Saõ  Frutuoío  na 
fua capella,  aílillindo  o  Ar- 
ccbiípo e^CardcaeSjConegos, 
&  mais  prebendados  ,  como 
nas  mayorcsfolcmnidades  do 
anno. 

6  Por  aquella  pequena 

relíquia  ,  quediílemos  ceixa- 
rana  íepulturado  íanto  ,  ou 
por  vontade,  ou  por  dcícui- 
do o  Arcebifpo  Dom  Diogo 
Gelmires, obrou  femprc,  &í 
obra  cada  dia  Deos  infinitos 
milagres ,  Tarando  todo  o  gé- 
nero de  enfermos,  q  acodem  a 
lhe  pedir  remédio:  nem  pêra 
eílc  fim  achamos  menos  o  re- 
ftantedeíeu  corpo,  que  em 
todo  o  tempo  elia no íla  Igre- 
ja enuejarà  àde  Compoílel- 
la .  Defcuido  foi  de  noílos 
Rcys ,  chegando  com  fuás  ar- 
mas tanto  adentro  do  Rcyno 
deGalliza  que  fe  fizeraõ  íe- 


Kk4 


nhores, 


39' 


Caphdo  LXXXXII. 


xiliorcs  3  &  poíluiráo  cm  vá- 
rios tempos  2  mayor  parte 
dclle  não  procurarc,  ou  por- 
for-ça,ou  por  concerto ,  relli-. 
tuir  outra  vez  a  ku  lugar, 
eíle  fagrado  dcpoílto:  mas  pa- 
rece os  inípcdio  o  refpeito, 
que  fempre  tiucraõ  ^òc  guar- 
darão à  caiado  íanto  Apo-fto- 
lo  j  que  a  ella  piedade ,  <!'  não 
aflilcadc  vontade  he  bé  atri- 
buamos ella  diílmuilaçáo  a  q 
jã  não  cjuizcramos  ter  dado 
nome  de  deícuido. 
7  Orno rtciro  de  Saõ  Sal- 

uador  fundação,  &i  íepulta- 
ra  de  Saõ    Frutuofo    pcríe— 
ueroulonsos  annos  debaixo 
da  regra ,  &  diciplina  de  Saõ 
Bento  ^  criarãoíe  nellc  com  a 
prcíença  das  Tantas  reliquias, 
&  muito  mais  com  a  memo- 
r  ia  das  virtudes  de  ícu  funda 
dor  ,  grandes  fantos:  prou- 
ueraa  Deos  que  nos  niocí- 
cond^ra  otcmpo,juntatncn" 
te  com  íeus  corpos ,  feus  cxc  - 
pios  ,  porque  déramos  acjui 
de  muito  bca  vontade   rc.la- 
ç  ao  dellcs .  A  entrada  dos  M  ou 
ros  deuia  fer  a  caufa  de  alv 
não  perfeuerarem,&  aaufcn- 
cia  das  preciofas  relíquias  de 
S.  Frutuofo  denão  procura- 
rc(na  paz  de  noílos  Rcys)tor- 
I  nar  ãqucUc  fanruario.  Entre- 


gouo  o  Arccbiípo  Dom  Dio- 
go de  Souza  aos  RcJigioíos 
de  Saõ  Franciíco  da  Prouincia 
da  Piedade  a  ocaluió  diremos 
em  íua  vida  j  ncllc  perícueraó 
ate  o  prcícntccom  toda  a  edi- 
ficação, &  com  grandiílimo 
proucito  deíla cidade,  como 
cada  dia  expermientaó  feus 
moradores.  A  inuocaçaõ  naõ 
he  ]ã  hoje  de  Saõ  Saiuador, 
mas  deSaõ  Frutuoío  ,  6í  por 
elle  nome  fe  chama  vulgar- 
mente, cçdcndo  o  Senhor  ao 
ícruo^  pêra  mais  o  honrar, 
^  autorizar  entre  os  ho- 
mens. 

8  Foi  Saõ  Frutuofo  taõ 

hmo  ío  cm  íantidade ,  que  do 
mcfmomodo  que  a  lanto  Ifi- 
doro  daõ  as  Igrejas  de  Ficipa- 
nha  o  primeiro  lugar  «as  le- 
tras, &  doutrinai  aísy  a  Saõ 
Frutuoío  fazem  Principe  da 
vida  monallica.Eaísy  como  o 
outro  iiluíírou  a  Igreja  com 
ícus  cícritos ,  aísy  dle  a  hó- 
rou  com  íeus  exemplos  ,  po- 
lioandoos  ermos  de  Relieio- 
los  a  imitação  aos  antiguos 
Padres  habitadores  dos  dcfcr- 
tos  d  aThcbaida.Sairaõ  de  íua 
cíchoia  famofos  dicipulos,  os 
quaes  ennobreccraó  muitas 
Cadeiras  Epiícopaes  de  Fíef- 
panha  onde  foraõ  Prelados. 

Entre 


S.Frutmfo. 


393 


Breu.Bra 
ch.16. 

y^pril  lei 
6, 


PaMl.et 
6  c  jo. 
Brtt.U  é. 
<-.i7. 

cetz.An. 

599-^.2. 


Entre  os  mais  eminentes  Ic 
contáodous  ,hum  chamado 
Theodiíclo  varaõ  muito  dou- 
to, que  depois  fundou  hum 
morteiro  no  ermo,  que  en- 
tão íechamaua  Capo  deLeáo, 
onde  acabou  a  vida  chco  de 
virtudes ,  òc  obras  íantas. 
9  O  outro  he  o  grande 

loaõ  deValclaracujasinlignes 
letras  ^  òí  eloquência  nas  lin- 
goas  Latina ,  òc  Grega  foraõ 
em  Heípanha  muy  celebres. 
Foi  varaõ  digniííimo  de  fer  na 
quelles  tempos  comparado, 
com  os  mais  excellentes  Pre- 
lados ,  afsy  na  elegância  da 
lingoa  Grega,  &  Latina  como 
na  erudição  das  fagradas  le- 
tras ,  rantidade,&  inteireza  de 
vida  .  Foi  Portuguez  natural 
davillade  Santarém  padeceo 
perfeguiçoés,  &c  deíterro  pel- 
la  detenfaõ  da  RcligiaõCatho- 
lica,  que  defendia  acerrima- 
mente  contra  ElRey  Leoui- 
gildo  ,  &  osBifpos  Arrianos. 
Derãolhe  feus  merecimen- 
tos o  Bifpado  de  Girona  no 
Reino  deCatalunha.Edificou 
o  mofteiro  de  Valclara:  ef- 
crcuem  fua  vida  depois  de  Tri- 
themio,  &  fanto  iridoro,Pa- 
dilha  na  hiftoria  Eccleííaftica, 
lepes,  &  fr  .Bernardo  de  Brito 
nafuaMonarchia. 


10  Arezãodos  tempos 
em  que  floreceo  parece  que 
repugnaao  que  aftirma  o  Bre- 
uiarioBracIíareníe  em  quanto 
o  faz  dicipulodeSaõFrutuo- 
ío,  porque  viuia  quaíi  cem 
annos  antes  deite  tempo  no 
em  que  reinaua  Leuuigildo, 
em  que  o  põem  quafi  todos 
os  autores  que  delle  efcreuem. 
Porem  pella  outra  parte  eíH 
a  autoridade  das  lições  doBre- 
uiario  antigo  Bracharen(e,que 
afsy  o  dão  por  certo. 

1 1  Não  foi  Arcebifpo  de 
Bragaeftc  illuíke  varão  como 
imaginou  o  Padre  Vafconcel- 
los  na  defcripçâo  de  Portugal,  P^i-Í^'* 
nem  com  eíte  titulo  fe  acha 
allinado  em  Concilio  algum. 
Teue  fomente  a  Prelazia  de 
Girona  onde  foi  Bifpo.  Al- 
guns autores  affirmao  que 
tomou  o  habito  da  Religião 
de  São  Bento  no  morteiro  de 
Dume  junto  aerta  cidadede 
Braga, fundados  em  que  co- 
mo Portuguez  receberia  em 
Portugal ,  não  em  Caftella  o 
habito,mormentc  florecendo 
tanto  naquelle  tempo  o  mo- 
fteiro de  Dume  em  íantidade, 
8c  Religião, 

1 2  Efcreuem  de  Saõ  Fru-   Baren.  m 
tuofojO  fcu  Chronirta  Saõ  "tí'"^ 
Valério,  Moralcs,  Baronio,  'iQ^jLii 


fi 


ley 


Mãrtit. 

*t0ifi.  de 
S.  Pedro 
*le  Motes 

Itf.ta.2 
cèt.  2  an, 

Bnt.z.p. 

menar.li, 

Fr,Dieff. 
itiFlofié 

Ribad. 
Fhfi6. 


394 


CapmiloLXXXXIII. 


77- 


fg 


frciloaõMarieta^fr.  PriiJeií- 
cio  de  SádoLial/r,  António  de 
Icpes  ,frei  Bernardo  de  Brito, 
oBreuiario  Bracharenfe,  frei 
Diogo  do  Roíario,  o  Padre 
Pedro  Ribadenciraj&:  outros 


CAPITVLO  LXXXXIII. 

S  A  M  Q^F  I  R  I  C  O^ 
ou  Qiúrmo  XXXXJ.Arce- 
bifpo  de  Braga, 


A  GRAN- 
de  memoria 
dcílcSãcoPrc 
lado  em  íuliá 
no  naqucilas 
palauras.iVo»  multo  poJlÇjwri- 
cm  ,  qui  Epifcoptts  Bracharen- 
fis  Concilio  Toletano  interfuit^ 
i^  tcdijicanít  templum  Saneia 
EulalU  Barchmonenfis  fucce- 
dit  Síinão  Ildefofifo ,  Ò^  regit 
Tòlètnnam  Ecclefam,  ad  quem 
^cut  adEruigià  Regem fcripfit 
Sanãus  Leô  Papa.  Querem 
dizer  não  muito  depois  Qui- 
rico  ,  que  foi  Bifpo  deBraga^ 
&  cftcuc  no  Concilio  de  To- 
ledo 3  ôc  edificou  o  templo  de 
de  Santa  Eulália  de  Barcelo- 
na íucedco  a  fanto  Ilefonro.& 


rece  a  Igreja  de  Toledo ,  ao 
qual  Gomo  também  aElRey 
Eruigio  eícrcueo  íaõ  Leáo  Pa- 
pa.  O  mcimo  aftirma  nos 
aducríarios  cóeftas  palauras. 
QnjricusJdeJ}^  Qiurimis  exE- 
pijcopo  Bracharenji  Toleta- 
nus. 

z  Cabe  o  feu  lugar  na 

ordem  dos  tempos  a  elíe  ían- 
to  Arccbiípo  logo  depois  de 
Saõ  Frutuofo  cujo  íuceílor 
parece  foi.  Seu  pay  fe  chamou 
ClarioEmetrio  Quirino,  íeu 
auò  Odoarico  Qinrino  am- 
bos camareiros  dos  Reys  Go- 
dos ,&decendentescomoeí- 
creuem  alguns  do  Preíidente 
dcSiria  Cnino  de  quem  faz 
mcnçaó  oEuangeliítaS.  Lu- 
cas. O  tempo  que  Qniri- 
co  aíTiíHo  em  Brjga  depois 
de  feito  Arcebifpo  naõcon- 
Oa  por  hiftoria  algúa.     Ju- 
liano nas  palauras  que  referi- 
mos dà  a  entender  que  antes 
deíua  mudança  aTolcdo^fe 
achou  em  hum  Concilio  na 
mefma  cidade,  &  fundou  o 
templo  de  Santa  Eulália  de 
Barcelona  obra  ainda  pêra  as 
modernas  de  grande  primor, 
&architeíl:ura. 
3  Como  quer  quefoílci 

perdendo  os  de  Toledo  neftc 
tempo,  que  Braga  gozaua  de 


Saõ 


S.Çljijrico. 


395 


f 

in  rhron 


Í0.7,<~C»t 


I  mtpran 
chro»  An 
66 
29 


'f^l 


Saõ  QujricOj  ao  feu  grande 
Prelado  lantollefonfo  em  ty 
de  laneiro  de  667.  conforme  a 
Juliano  j  náo  vendo  por  to- 
das as  Cathedraes  de  Hefpa- 
nha   cjuem   melhor  pudeíTe 
fiiílituir,  &  íuprir  ílias  vezes 
(fiados  na  pocécia  delRey  Vua 
ba^  que  o  obrigaria  a  aceitar, 
cjuandorccufalle )  o  elegerão 
por  leu  Prelado,  Aceitou  Qui- 
lico  naõ  por  fe  melhorar  mas 
por  gratificar  aos  Toledanos 
a  lembrança  que  delle  tiuerao, 
&  os  dcfejos  j  que  moftraraõ 
de  o  ter  configo  na  fija  cidade. 
O  Padre fr.  António  de  lepes 
falado  do  rucclTor  de  Sátolle- 
fon(o ,  diz  que  foi   Qjajrico 
Religiofo  de  S.  BentOj  6c  Ab- 
bade  do  molleiro  Agaliéíe  jú- 
to  a  Toledo  cuja  benção,  & 
herança  particular  era  dar  fo- 
gcitosperaaquella  mitra.  Po- 
rem como  naó  nega  fer  pri- 
meiro Arccbifpo  de  Braga, nê 
nos  lhe  podemos  negar  efte 
fanto  ao  íeu  moíleiro  Aga- 
licnfc ,  nem  a  fua  Religião. 
4  Menos  faz  contra  nos 

affirmar  Luitprando  que  foi 
Saõ  Quirico  Bifpo  de  Barce- 
lona,&  que  daly  o  tirarão  feus 
merecimentos  pêra  o  gouer- 
no  da  Igreja  de  Toledo  por 
morte  de  fanto  Ilefonforpor- 


que  podia  acontecer  que  foílb 
Prelado  de  ambas  as  Igrejas 
primeiro  de  Barcelona,  &  de- 
pois de  Braga  ,  ou  de  ambas 
juntamente,  como  vimos  a 
Saõ  Martinho,  &  aSaóFru- 
tuoío  com  a  Igreja  de  Braga, 
gouernarcm  também  a  Sè  de 
Dume,dondeeraõBirpos,  & 
juntamente  deíla  Igreja  de 
Braga  :&  em  tempos  mais 
modernos  íabemos  que  o 
Cardeal  Dom  lorge  da  Cofta 
Arccbiípo  de  Braga  reíídente 
na  Corte  Romana  poíluyo 
juntamente  com  efte  Arce- 
bifpado  muitas  outras  Prela- 
zias,afsy  em  Porrug^l  como 
em  Itália ,  de  que  em  íua  vida 
daremos  particular  noticia. 

5  Comeftadiftinção  fe 
conciliáo  bem  os  dous  textos 
de  luliano  ,  &  Luitprando,di- 
zendo  com  efte  que  foi  Saõ 
Qujrico  Bifpo  de  Barcelona, 

6  com  o  outro  que  foi  Arcc- 
bifpo de  Braga,  ou  emdiucr- 
fos  tempos,  ou  em  hum  mef- 
mo, tendo  juntamente  am- 
bas as  Prelazias  corno  muitas 
vezes  fucedia  por  aquelles  té- 
pos,  &í  o  vimos  também  nos 
que  depois  fcguiráo. 

6  E  dizer  Luitprando  q 

de  Barcelona  foi  SaÕ  Qmrico 
mudado  pêra  Toledo,ha  fe  de 


entender 


396 


Capitulo  LXXXXIIL 


entêcler  cjue  íucedcria  fua  tres- 
ladaçáo  cm  tepo  que  o  achaíle 
cm  i3arcclona  o<:upacio,  ou  no 
cdificio  temporal  cio  templo 
cie  Santa  Eulália  queJe  nouo 
fundou  jouem  outra  fabrica 
eípiritual  do  be  dasalmasda- 
qucile  Biípado  que  pediria 
mais  refidir  o  lanto  em  Barce- 
lona que  cm  Braga.  Aísyque 
náo  rcpt ouando  a  opinião  de 
Luitprando,  que  nouamente 
deu  a  luz  cõadcíeu  elegante, 
&  futil engenho  o  doutiisimo 

6  nobilijlimo  efcritor  Dom 
Thomas  Tamayo  de  Vargas 
Chronirta  de  íua  Mageftade, 
temos  coíTi  luliano  nos  dous 
lugares  referidos  que  foi  Saõ 
Qujrico  alguns  annos  Arcc- 
biípo  de  Braga,  &  q  illullrou, 
&:  honrou  com  fua  prefença 
eRalgreja  por  algum  tempo. 

7  Chegado  o  quarto  an- 
uo delRey  Vuamb.i^Ã:  6,  do 
Sumo  Põtince  Adeodato^óyy. 
do  nacimenro  de  Chrifto  fe 
ajuntou  em  Toledo  Concilio 
em  que  airifttraÕ  i7.Birpos,&: 
prefidio  Qujrico  como  Me- 
tropolitano que  craaícusfuf- 
fraganeos.  Os  Cânones  que 
aly  íe  decretarão  foraõ  deza- 
leis  todos  degrade  importan- 
ciSj  (V  em  que  o  fanto  Prelado 
moílrou  bem  lua  prudência 


no2oucrnodosneo;ccios  Ec- 
clcliafticos. 

8  Sempre  nos  mais  Icuan- 
rados  montes  fa(3  mayores  as 
tempeíbdes,  &  as  torres  mais 
altas  laõas  primeiras  em  fcntir 
osrayos.  Montes  íaõ  por  íua 
grandeza  osReys  da  terra,  tor- 
res íaõ  por  íua  eminência, mas 
montes  em  que  a  cnueja^  o 
ódio ,  o  íuror ,  &  outras  mais 
tormentas  deícarregao  íua  fú- 
ria. Gozando  eftaua,cm  toda 
a  proíperidade_,de  leu  Ileyno, 
onde  por  virtude  íobira  ,  &: 
per  esforço  o  coníerusra  o 
gloriofo  Rey  Vuamba  ,  quan- 
do leuado  Eruigio  de  híía  ce- 
ga ambição  ^  &  cobiçofo  cf- 
pirito  de  mandar  lhe  deu  fe- 
cretamente  peçonha  ,  &  tão 
violenta  que  iogo  o  tirou  de 
feu  juizo,  &  o  chegou  às  por- 
tas da  morte. 

6  Acodiraó  os  que  fe  acha- 
rão prefentes  em  caio  taõ  fu- 
bitorafeu  paílor  Qmrico:  veo 
logo,&  vendo  aoRey  no  viti- 
mo da  vida,  ordenou  primei- 
ramente lhe  deílem  os  Sacra- 
mentos próprios  daquclla  ho- 
ra,&o  veftiíiem  cm  habito  de 
rcligiofojVifto  como  fempre 
em  vida  o  defejara  pcra  nclle 
acabar.  Alguns  efcrcucm  fer 
efta  vitima  ceremonia  traça  de 

Eruigio 


■-S,On^ 


rico. 


397 


Y 


epes  ret. 
.ítn.(>o\ 


ttil  3./. 
cnMfait 
dosRtys 
Coda 


Ernigio ,  pofqncf.como  tinha 
iTíírchinaáo  leaanraríe  com  o 
PvCiíiav  veiído  qo^eo  accidcu- 
ce  da-peçonha  hia  paliando, 
c|r.çtiiv^n,<:|uclla  maiíeira  iiiha 
bilicai  o  iíicy  pcrà  ccntiiiLiar 
QOVíx  ogouerno  j  como  peíloa 
jàRclii^DÍa,  &  como  tal  in- 
habil,  íegundo  o  que  então  jà 
íe  piacka.ua,  <S.:  depois  no  de- 
cimo íexto  Concilio  Toleda- 
no  íevcoia  decretar.  Tornou 
yuaiiiba  em  (y,  &  vendoíe 
iiaquelle  habito  ,  por  não  ád- 
pir  o  que  híía  vezvellira^de 
bôá  vontade  renunciou  oíley 
na,<?,:  fefoi  viua^Reliaiofo  ao 
moileiroque  Ilidoro  Pacenfc 
chamaiantaMaria  de  Vuam-^ 
ba,&  oPadre fr. António dcle- 
p*cs  de  Pampliega  entre  Bur- 
gos j  &:  Valladolid  ^  ôc  depois 
a  S.  Pedro  de  Arlança  onde  cò- 
tinuou  íete  annos  em  toda  a 
íantidadc ,  no  cabo  dos  quaes 
foi  a  tomar  polle  deoucra  me- 
lhor coroa.  '";^7viií' 
O  Conde  Dom  Pedro  no 


7 

feuNobilario  diz  q  ElRey  Vuá 

baeíH  enterrado  neíla  cidade 
de  Braga,liúa  legoa  diftáte  del- 
ia pêra  o  nacente.  Náo  íe  apar 
ta  muito  defta  opinião  oDou- 
tor  loaó  de  Barros  na  defcrip- 
ção  decntreDouro.&Minho^ 
porq  affirma  q  nas  ruínas  da 


■mtiguacidddcdcCirania  c]  eílc 
m  fundada  em  liG  montt-diíK 
te  dcflu  cidade- 'hóa  itgoh-  &í 
mea  peí-aónacctc,ert-í  hiTmói- 
TnentoaRt!t[uiílimc  qeíH  me 
tido  em  liúa  captlla  íbtclTa- 
iiea  jaz  o  corpo  delRcy  Vuã-^ 
ba  conforme  a  fama  v  ú!gdr,ôi 
diz  q  heauido  porfáí:oK^'al 
íeja  olugar  certo  da  iepulrura 
dclleReÍrgibio,ík  iní;gnePrin 
cipe  mal  o  podemos  alnfmar. 
Pêra  o  tirarmos  a  Bragj,&  aos 


douslupares'5  apontamos  em 

q  a  rama  publica  q  eíla  íq-julta 

dojtte  tllà  o  coníente,ne o  per 

mitea-  autoridade  do  Conde 

Dom  Pedtoi  U  ò  crédito  q  fe 

dàaos  eícriros  doDGuforloáo 

de  Barros  ,q  afsy  o  tcftemu- 

'líbáo  ^Bé  vemos  q  pello  tere 

e'ntfe  íy  faze^grandes  arreíoâ- 

dos  os  da  cidade  de  Toledo,co 

mb  fe  podè'ver  €n-.Morales,& 

Mi2TÍana,&  liiuito  mayores  os 

.R.cligiofo5  do  niGÍreiro  de  Saõ  jz/.íS.c.ii 

Pedro  de  Arlança^comoaqíjcl 

les  q  cm  vida  gozarão  de  ícus 

efclarecidos  cxéplos,d:nâmor 

te  fentê  ferem  priuadôs  deíua 

fepuítnra  íulianOj&Luitprán- 

do  no  mofteiro  de  Pampliega 

o  fazé  morto,  ^  nada  falaõ  de  V:'*''T' 

iuatrcsíadnçao.Se  darmos  jen    ^.^g  3^^ 

tença  nelladuuidá^a  deixamos 

ao  juízo  de  quem  íem  paixão 


Moríil't,\ 
'AíariânÀ 


Mhi!t  íh\ 
(hro  pag, 

1) 


LI 


aqui- 


398 


Capitulo  LXXXXIJL 


[cap.S, 


a  quizer  determinar.  Foi  Vuá- 
ba  cxcellentiílimo  Príncipe, 
ôí  honra  da  nação  Porcugue- 
za :  em  ícu  tempo  íe  fez ,  ou 
pos  em  melhor  ordem  a  di- 
Liiíaõ  das  Metrópoles  de  Heí- 
panha,  &  íe  lhe  aílinaraó  os 
Biípados  íuíFraganeos ,  como 
jà  deixamos  dito  no  principio 
delia  hiíloria. 

8  Carrcgauãp  ncftetcm 

poos  annos,  as  enfermida-^ 
;  des,&  os  cuidados  íobreQin- 
rico,  achauafe  menos  fuíh- 
cie:nrc  ,  &  pronto  pêra  o 
gouerno  de  íua  Igreja:  pêra 
illo  com  as  licenças ,  &  con- 
diçoêsrcc|uilitas  fez  nomear, 
&  fagrar  por  feu  fuccflbra 
luliano  Arccdiapode  Toledo 
pcíioa  em  cjueconcorriao  to- 
das as  boas  partes  pêra  o  nouo 
cargo  i  ôc  logo  retirandofe  ao 
deíerto  daReligiãoferccolheo 
no  moiteiro  dePampliega  on 
de  eftaua  ElRey  Vuamba  com 
habito  Pvcl  igiofo  pêra  aly  j  un- 
tamentecomelle  entender  ío 
configo  gaitando  cm  íantos 
exercicios  o  que  lhe  fobcjaua 
devida.  Acabou  em  paz  aos 
vinte  de  Nouembro.  Enterra- 
rãono  cm  íãnta  Lcocadia,  & 
luliano  feu  íuccíTor  lhe  fez  hú 
elegante  epitaphio  que  man- 
dou abrir  na  pedra  da  fepul- 


tura.  Do  anuo  particular  de 
íua  morte  fe  não  (abe  o  cer- 
to j alguns apontáo  ode  6Bo. 
ou  6 81.  mas  efte  mais  parece  o 
cm  que  renunciou  ,  porque 
feguiido  luliano  S.  Quitico, 
&:  ElRey  Eruido  fucelior  de 
Vuamba  tiuerao  cartas  de  S. 
Leaõ  Papa  II.  do  nome ,  q  en- 
trou no  annode  685.  Gouer- 
naua  por  eftctepo  a  Igreja  de 
Deos  (depois  deVitaliano,Ade 
odato,Dono,Agatho,  &  Leaõ 
II. )  Benedito  II.  Era  Rey  de 
Heípanha  Eruigio. 

CAPITVLO  LXXXXIIII 

R  E   C  E  S  r  I  N  T  B  O 

Jbbade  natural  de  Braga. 

N  T  R  E 
os  varões  cf- 
clarccidos  da 
ordem  de  São 
Bento  ,  que 
por  eftes  tempos  floreceraõ, 
merece  grande  lugar  o  Abba- 
dc  Recefuintho  natural  de  Bra 
ga  ,  varão  illuftre  em  ían- 
tidade:foiiníignepoeta,&  O- 
rador  famofo  como  o  tcftifi- 
cão  os  verfos^qucdccontino 
cnuiaua  a  Santo  Ilefonfo,&  as 
cartas  tão  cheas  dcpiedade^ 
&  erudição  que  lhe  efcrcuia. 

"  Ocu- 


chro.fag» 

Luitpr, 
an  66 j, 
D.7hom 
in  tiàt.pa! 
60» 


V. 


Santa  Vcatrlde.Ç^c. 


Í99 


Ocupou  particularmente  íeu  ] 
ciitienho  em  eícrcuer  a  vida, 
'.ik  martyrio  deíanta  Veatricíc; 
natural  dcílacidadcj  &  outros 
dezoito  ríiartvres  feus  com- 
panheiros ,  que  priracifo  elli- 
;  ueraõíepultados  cm  C^arágo- 
ça  na  Igreja  de  Nofla  Senhora 
do  Pilar,  He  tudo  o  que  aci- 
ma referimos  de  Juliano  Ar- 
ciprcfte  de  Toledo  rFaz  tam-' 
bemmençaõ  dellc  Luitpran- 
do  ,  &  Jeu  commcntador 
Dom  Thomas  Tamayo  de 
Vargas. Parece  que  lie  cite  gra- 
uevaraõo  que  em  nome  do 
Arccbiípo  Liuba  aílinou  no 
decimo  quarto  Cõciiio  deTo- 
Iedo,como  adiante  veremos. 


CAPITVLO    LXXXXY. 

SANTA     VEATRI- 

de  ^  tf  dezoito  companhei- 
ros Martyres. 

ESTA 

illuftre  mar- 
tyr  natural 
de  Braga  não 
achamos  ou- 
tra mcmoria,mais  que  a  q  lu- 
liano  nos  dà  no  lugar  referi- 
do  no  capitulo  paliado. Ncl- 
lediz  que  o  Abbade  Receí- 


uintho  filho  da  mefma  cida- 
de "de  Braga  cantou  crií^ver- 
(os  elegantes  os  louuores  'de* 
llafanta,  &  de  dezoito  mar- 
tyres^ que  dcuiaõ  ler  com- 
panheiros /&  haturaes  íeus. 
Eltiueraó  as  fantí;  reliquias 
ícjiultadas  na  ígrejii  deNpí- 
fa  Senhora  do  Pilar  deC,a- 
ragoça  .  Em  que  tempo  pa- 
decerão eftís»  gloriofos  Ca- 
ualleiros  dcChrirto  nos  nlo 
còlifta  ,  «em  do  lugar  on- 
de derramífáõ,  íeu  Tangiie 
peWa  Fè.  Com  a  entrada  áos 
Mouros/^' Calamidade  ge- 
rai de  de  Hélpaiiha  íc  per- 
dco  a  noticia  de  taõ  precio- 
fo  chezourõ.'  Damoslhe  e- 
•rte  lugar  cm  quanto  não 
achamos  outro  -que 
mais  lhe  eon- 
uenha. 


.bjint: 


.  '.T^nonn: 


-"*'•■■•« 


^újt.  iJíJâiiyii'  i!i'jjc3 


LI; 


CAP. 


400 


«^wwH^^r? 


Capitulo  LXXXXFL 


;m  cb  joiUíI  oííjiiiu 


CAPITVLO  LXXXXVI. 

iS-J  M  LEODECISJO: 
. ;.  Juliano  XX JfeXIi; :  Àree-: 
\úhifpQdeBraga,tíi     .i    ,iJ.L.t 


í  •> 


.r.T 


,rkT 


Rçsladado  ,a 
Toledo    Saõ 
Qyifiço  par 
ipprtc  de  ían- 
to   Ilcfoníb,  1 
clcgco  o  clero  de  Braga  por  i 
feu  fuccíTor  a  LcodcçiHo  luliá-  ■ 
no,  o  qual  vulgarmente  fecha 
mauaVrbano.  ísíáo  fabemos 
íc  he  nome  próprio  ,  ou  fe  era 
appellatiuo  que  lhe  dcflc,   d>c 
ga  nhaíTc  fua  muita  vrbanida- 
dc,  &  cortezia,  pois  efta  não 
encontra,   antes  acompanha 
muito  com  a  fantidade.  En- 
trou faó  Leodcciíío   luliano 
Vrbano  ao  que  parece  ago- 
iiernar  efta  Igreja  pellos  an- 
nos  de  C6j,  o  meímo  da  mor- 
te de  Sáto  Ilefóíojnos  oito  fe- 
guintcsatèo  de  67;.  nenhúa 
coufa  notaucl  achamos  fua, 
dcucdo  clle  obrar  muitas  muy 
dignas  de  memoria.  Nefte  vi- 
timo que  foi  o  4.dclRcy  Vua- 
ba  fe  publicou  Concilio  na- 


,  cional  nefta  cidade  deBraga,& 
foi  o  quarto  na  orde  dos  que 
jáhojeandáo  imprefíos ,  mas 
o  que  cõmunmcnte  fcallega 
com  nome  de  terceiro. 
2.  Acodiraõ  os  Bifpos  fuf- 
fraganeoi  de  Braga ,  òc  com 
■clles  luliano  Arccbifpo  de  Se- 
uilha.cuja  prefença  fes  cfte 
Concilio  nacional  como  jà 
prouamos  na  nofla  Primazia. 
Foraó  de  fumma  importância 
os  noue  Decretos  ,  que  nellc 
fe  cftabtleccraÕ ,  rclatamolos 
em  feu  lugar ,  feria  fuperfluo 
repetillos.  Prefidío  o  noíTo 
Primaz  pella  autoridade  de  feu 
oflicio,  &  como  tal  aílinou 
em  primeiro  lugar  dizendo 
Leodecifio  Bifpo  em  nome  de 
Chrifto  por  fobrc  nome  lu- 
liano reui,&foefcreuieftasCõ 
ftituiçoês  fegundo  nos  pare- 
ceo  fazelas  por  infpiração  Di- 
uina  amim  ,  &  aos  fantos  Bif- 
pos meus  companheiros .  Cõ 
erte  Concilio  fe  nos  acaba  tu- 
do o  que  podíamos  dizer  do 
noíTo  Leodcciíío  luliano. 
3  Depois  que  fe  publica- 

rão as  obras  do  Arciprefte  de 
Toledo,ouuc  maisluz  naslgre 
jas  deHcfpanha  cm  muitascou 
fas  q  o  tépo  tinha  fcpultadas 
como  jà  cm  vários  lugares  dc- 
fta  hiftoria  diíTemos.D^s  mais 


obrigadas 


S.Leodecifo. 


40 1 


in  chton. 
H'7S 


obrigadas  heícln  duuida  cila 
igreja  Primacial:  Sc  pcraq  não 
vamos  mais  longe  deíle  mcf- 
mo  Saõ  LeodeciTio  eFcreuc  ò 
próprio  luíiano  c|lie  de  Bra^á 
foi  crcsladado  a  Toledo/endo 
afsy  que  defta  cresládação  to- 
talmente ícnãò  achaua  memo 
ria  nos  efcriróres  defuavida. 
Repicamos  aqui  as  palauras,& 
depois  dando  juiso  íobre  ci- 
las diremos  o  que  lios  pare- 
cer mais  aJLiilado  cóni  a  ver- 
dade. Cekbratur  SanBm  Leo- 
.decifus  cognomento    hãianus 
diãtió  etiamEpifcopus  Êracha- 
tYftfs  Vrhamis,qui  ijf  lulianús 
diãiís^poslEpifcopusToletamis. 
GekbrareS.Leodeciho  por  ío 
bre  nome  luliano  chamado 
também.  Bifpó  dê  Braga  Vr- 
bano,  èí  lulianOjdepois  Bifpo 
de  Toledo.  Põem  luliano  eíla 
memoria  no  anno  de  667.  cm 
que  paíTou  de  Braga  a  Toledo 
Sa5  Q^irico  por  morte  dcfân 
to  Ileíonro,&  deuia  Ter  toma- 
do pêra  Arcebifpo  defta ScS>. 
Leodeciíioi  onde  pcríeuerou 
aiè  renunciar  nelleS.  Quirico 
fcii  prcdecclíor  pellos  annos 
de  680.  ou  681.  quâildo  por 
velhice  j  &  indifpoíiçoés  dif- 
íemos  renunciara  em  luliano 
Arcediago  da  meíma  Igreja  de 
i.Tolcdo,o  qual  íe  náo  foi  o 


melmo  que  ò  nòflb  Leodeci- 
Í!ô  luliano, por nenhú  modo 
lhe  cabe  entrar  naquclie  Arce- 
biípado  íegúndo  a  ordena  de 
íuccdérjque  át  Sáo  QinriGO 
por  diante  foraÕ  kuando  os 
Arcebifpòs  de  Toledo. 
4  Que  não  fejaaquellè 

lulíaho  tm  quem  Saõ  Qyiri- 
co  renunciou  o  níóíroLeúde- 
ciíío  luliano  de  Brágà  parece 
Goufa  euídente,ajnda  pcllâ  au- 
toridade doArcipreíte  lulia- 
iio^  a  que  nos  chamamos  jpòir 
autor  dcftà  mudança,  j^orqué 
luliano  falando  dá  renuiicia 
de  S.  Quirico  diz  afsVi  SanBus 
Quiriciis  mox  posimorten^ gte^ 
riúfRegis  Vuamb*e  udio  ,  l^ 
morboconfeãusy,fecerat  conjfe- 
crari  inEpifiúpum  ToktamM^ 
y'  coadiutorem  funm  Âfchi- 
diaconim  Toletanse  EccUfite  lU 
liam.  S,  Qmtico  védofechièd 
de  anhos  3  &  de  enferrhidâdtís 
fez  fagrar  pot  feu  fuceíTotâíu* 
liano  Arcediago  de  Toledo* 
Que  coufa  mais  fácil  a  luliano 
Arciprefte  que  dizer  erà  Arcd-i 
ccbifpo  de  Braga  o  nouo  elcí- 
tó,afsy  cõrriodiílc  eraArcedià 
go  deToledo.Em  mayor  rèpU 
tacão  ficaua  íaberfc  q  fetoíKá- 
uapcra  áquellaSèhú  Priríiàá 
das  Hefpanhãs^  q  hCi  Arcedia- 
go fÈuPMáis  hõrádò  ficátiaQp] 


hk 


tmó 


It 


402 


CafituloLXXXXVL 


rico  cõ  hú  Arcebifpo  de  Bra- 
ga por  fuccfíbr  do  que  cõ  hú 
Arcediago  por  mais  acredita- 
do que  folie.  Não  he  polTiuel 
que  quem  fazia  menção  da 
cfignidade  deArcediagoem  lu 
liano  a  náo  fizeílc  da  de  Arce- 
bifpo quando  dcpreícnteati- 
ucra. 

j-  Quanto  mais  que  fe  o 
Juliano  de  Toledo^  em  quem 
renunciou Saõ  Quiríco/ora  o 
Lcodecifio  Juliano  de  Braga 
ouucraodedizcrem  fua  vida 
faõ  Félix  afsy  mefmo  Arcebií- 
po  de  Toledo  pois  lha  efcre- 
ueo  em  tempo  que  fua  memo 
riaeftaua  tão  frefca,(Si  entre 
cUe  ,&:  Juliano  fe  não  metco 
mais  que  Segiberto.  Porê  na 
vida  deífe  fanto  Prelado  efcri- 
ta  por  íaõFchx  fe  não  acha  me 
moria  de  fua  cilada  em  Braga, 
pello  que  parece  foi  outro  o 
Juliano  fuceífor  de  faõ  Qoiri 
coem  Toledo  j  outro  o  Lco- 
decifio Juliano  Arcebifpo  de 
Braga. 

6  Com  todas  eftas  duui- 

das ,  ainda  fe  poderá  ( fe  bem 
não  com  tanta  probabilidade) 
fuftcntar  o  que  atègora  fomos 
impugnando,afsy  porque  ne- 
nhúa  repugnância  ficaria  ten- 
do Juliano  Arciprefte  confí- 
go,como  pelloque  logo  di- 


remos da  oníiflaõ  de  íaõFelix. 
Juliano  fe  na  eleição  de  Leo- 
decifio  peraTok:do  lhe  cha- 
mou lò  Arcedirgo  daquclb 
Se  _,foi  o  mefmo  que  íe  quife- 
ra  dizer  que  falaua  daqucllc 
Juliano  que  primeiro  fora  Ar- 
cediago, &  não  do  outro  a 
que  chamarão  Pomerio.  Alê 
difto  com.o  Juliano  auia  taõ 
poucas  paginas  tinha  efcrito 
fera  Lcodecifio  Juliano  Arce- 
bifpo de  Braga,  &  depois  de 
Toledo_,náoauia  peraque  rc- 
petillo  outra  vcZj nem  dalloa 
conhecer  pclla  tal  dignidade,, 
baftaua  qualquer  outra ,  ainda 
quefoíle  tão  inferior. 
7  Saõ  Fclix  diligentiíli- 

mofoiem  cfcreuer  a  vidadc 
faõ  Juliano feu  antcceíIor,bcm 
deuia  de  o  conhecer  ^  &  tratar 
pois  foraó  contemporâneos, 
Ãr  moradores  na  mefma  cida- 
de :  porem  jà  fe  fabe  que  o  ar- 
gumento de  omiílaõ  nos  au- 
tores não  faz  proua  conclu- 
dente. Sc^ç.  não  acha  em  Saõ 
Félix  que  Lcodecifio  Juliano  o 
de  Toledo  foi  Arcebifpo  de 
Braga,  achafe  em  Juliano  Ar- 
ciprefte. Não  o  nega  Félix,  af- 
firmao  Juliano.  Outros  auto- 
res que  em  no0bs  tempos  cf- 
creueraõ  a  vida  do  mefmo  fan 
to,  como  o  Chronifta  mor 

Dom 


S.LeodeciJio. 


403 


Dom  Thomas  Tamayo  fo- 
ra 5  íeguindoafaõ  FcIix,iS«:  ca- 
belhea  meíma  rcpofta. 

8  Pode  bem  íer  conten- 
tem eftas  rezoês  aos  que  as  Ic- 
rem,óí  que  noseftranhem  pa- 
rar aqui  com  a  vida  de  faõ  Ju- 
liano o  de  Toledo  íem  relatar- 
mos o  mais  que  dcUe  íe  conta: 
pcUoqueoacrecentarcmos  a- 
qui  em  poucas  palauras^  por- 
que íc  o  fanto  he  também  de 
Braga,  diuida  he  que  lhe  pa- 
gamos ,  &  fe  he  fò  de  Toledo 
íèruiço  he  que  nos  poderá  bé 
remunerar,&  agradecer. 

9  PreíídioSaS  Leodeci- 
íío  luliano  fendo  Arcebilpo 
deTolcdo,como  mais  antigo 
na fagraçáo^em  quatroConci- 
lios  congregados  na  meíma 
cidade,  o  II.  13. 14.  ly.  onde 
fempre  deu  molhas  de  fua 
grande  virtude.  Foi  nas  letras 
infignecomodicipuloquecra 
de  fanto  Eugénio  III.  do  no- 
me: foi  emparo  dos  mifcra- 
ueis  ,verdugo(afsylFie  chama 
faõ  Fclix  )  dos  íobcrbos,  eraõ 
fuás  rendas  afuftentaçaodos 
pobres ,  o  doce  das  orfans , 
orcfgatedos  catiuos,  a  faudc 
dos  enfermos .  Quanto  de 
Deos  pretendia  alcançaua  cõ 
fumma  facilidade;  cfcrcuco 

,  vários  iiuros ,  em  que  difpu- 


tou  matérias  degrauillima  im 
portancia,"  compôs  hymnos, 
íSi:  cânticos  de  coulas  fagradas, 
cpitaphios,epigrámas  emlou- 
uordos  fantos  martyrcs,  & 
de  muitos  Arccbifpos  feus 
predeccílbrcs .  Teuc  muitas 
homilias  cheas  de  toda  a  boa 
erudição  ao  pouo.  Carteoufe 
com  muitos  íantos  da  lua  ida- 
de, fempre  com  efpanco  dos 
que  liáo  íuas  cartas.  Refor- 
mou o  Brcuiario,  fk  Miflal  de 
ianto  Ilidoro,acrecétou  mui- 
tas oraçoés,&:  mandou  fc  can- 
taííemnaíua  Igreja  'todos  os 
officios  Diuihos.  Ncllas  fan- 
tas  ocupações  o  tomou  aínor- 
te  dez  annos  hum  mes,  &  fe- 
te  dias  depois  de  Arccbifpo  de 
Toledo^  em  8.  de  Março  anno 
de  noíTa  redenção  típo.Foi  en- 
terrado em  fanta  Leocadia ,  & 
daly  cresladado  pêra  Ouiedo. 
A  Igreja  deToledo  lhe  celebra 
fua  fertao  meímo  dia  de  íeu 
bemaucnturado  tranílto.  Foi 
Arcebifpodç  Braga  treze  an- 
nos, que  juntos  aos  dez  de 
Toledo  vem  afazer  13 .  de  Pre- 
lazia. Efcreuem  delle  depois 
de  Saó  Félix  Vfuardo ,  Trithe- 
mio,  Vafeu^  Baronio,Padilha, 
Dom  Thomas  Tamayo  ,  & 
outros ,  o  Arcebifpo  de  Tole- 
do Dom  Rodrigo  Ximencz, 

Li  4  àr 


VfuarL 
\mM»rt, 
\SMaitff 
[  lnth.de 
Jcriot.Ec 

Mart.t, 
Aíartíj. 
RtderM. 
i-e.iz. 
Padílh* 
eh.  7.  e. 
66. 

na  vida 
S.  IftliÃ' 
na. 


404 


!  >5^  «í ' 


Capitulo  LXXXX  VIL 


\  •&  depois  dclle  o  Ai)bade  Tri- 
rhciíiio  o  contundem  cõ  du- 
crõ  lulianoPomerio  aísy  Tnef- 
mo  ArcebiCpo  deToledo-.mas 
foiiiiaduertccia,  porquecor- 
rcrâo  ítíuicos  annos  entre  hú, 
&  -outro .  Era  na  morte  deftt 
íanciíiímo  Prelado  Sumo  Põ- 
tifice( depois  de  BenedicVo  II. 
íoáo  V.  &  Conon)  Sérgio., 
&  Rcy  de  Heípaiiha  Egica. 


'l! 


hXXXXWÍh 


Ivi 


xx^ 


y\ 


CAPITVLO 

L  I  F.  È    Ã 

Arcebifpo  de  Braga. 


Ellos  annoS' 
cíeChriftõ  de 
^<Ç8o.  entrou 
'^  Liubanogo- 
ucrno  deíla 
Igreja  deBraga  fucedendo  ncl- 
la  ao  fanto  PreladõLeodeciliô 
luliano.  Noannõ  íeguintêde 
68i,  o  achamos  afíinado  no 
12,.  Concilio  ToledanOjO  qual 
mandou  ajuntar  ElRey  Erui- 


mado  no  Reyno  pcllo  eííia- 
do  Eccleíiallico,  como  aqiiel^ ! 
ieque  tinha  cão  grande  parte 
na  eleição  dos  Rcys.  Ajunta- 
rãoíc  110  Concilio  35.  Bi  ípos, 
4.  Abbadcà,  5.  pocuradores, 
ou  Vigairos  de  Biípos  auícn- 
tes ;,  &  15.  varões  illuftres  of- 
ficiacsdacaíâj&CorcedclRcy. 
Abriofe  o  Concilio  aos  9.  de 
laneiro  do  anno  de  681.  na 
Igreja  Pretorienfeda  iiiuoca- 
çáo  dos  Apoftolos  Saõ  Pedro^ 
&  Saõ  Pauloj  achou íe  preíen- 
tc  ElRey  Eruígio ,  &  fez  húa 
larga  pratica  ao  Concilio  tra- 
tando nclla  da  ueccílidade  que 
aviia  pêra  fe  ajuntar  j  &  dos 
proueitosque  íc  fcguemdcfe- 
meihantes  congregações  .Tra- 
touíe  lego  j  depois  de  íe  fazer 
a  proííílãõ  da  fè,  de  íe  coníir- 
m.ara  eleição  delRcy, vindo 
pêra  iíTo  três  cfcricuras  q  elle 
apíeícntou,com  que  juítiíica- 
ua'fua  caufa,  &í  moílraua co- 
mo fora  fua  eleição  legitima. 
íDepois  diílo  ordenarãofc  trc- 
zedecretos  importantes  áo  go 
ucrno  das  Igrejas ,  &:  refor- 
mação dos  cultumes.Fcchou- 
íc  o  Concilio  aiy.de  lanciro, 
&  no  meímo  dia  ElRcy  Er- 
uigio  promulgou  húa  Icy  em 
coníirmação  dosDccrctosdcl 


gio  aíim  de  que  osPrelados  de 
todo  o  Reyno  approuaílê  fua 
eleição,  &clle  ficaíTcconíir-il     lc;mandando  queinuiolaucl- 


mente 


Liuba. 


405 


€*f.  34, 


CmaI.  i.| 
f  c  10. 
LoAjf.  m 
colite  fag 

584-     , 

M  oral. 

Ith  12,  c. 

5i' 
PadiUh 

7.f.57. 

Martan 

ii.ó.e  17 

Brit.itf. 

mttiAT. 

it.6.e.2Í 


mente  fc guardaílcm  com  pe- 
na de  confiícação  da  decima 
parte  dos  bens .  AíTiftiraó  no 
Concilio  quatro  Metropoli- 
tanos os  quaes  fc  aflentarão, 
&  aírinaraÕ  pella  ordé  da  la- 
graçáo.  luliano  Metropolita- 
no de  Seuilha  teuc  o  primeiro 
lugar,  luliano  de  Toledo  o  fe 
gundOjLiuba  de  Braga  o  ter- 
ceiro, Efteuão  de  Merida  o 
quarto-.dc  Portugal,&:  Galliza 
aíTinaraõ  os  Bifpos  Tradlcmú- 
do  deEuora,GenccÍG  de  Tuy, 
Froarico  do  Porto,  Félix  do 
Padrão  ,  Reparato  de  Vifeu, 
loaõ  de  Beja,  Gundjlfo  de 
Lamego,  Eufraíío  de  Lu-- 
go. 

í  Dcíle  Concilio  cfcrcue- 
mos  largamente  no  tratado  da 
Primazia  defta  Igreja  refutan- 
do hum  argumento  que  con- 
tra ella  do  leu  Texto  Decreto 
tomaó  os  dcfenfores  de  Tole- 
do pello  poder  que  aly  fe  deu 
aos  Metropolitanos  daquella 
Igreja  pêra  em  auíéciadclRey 
prouerem  os  Biípados  vagos 
de  Hefpanlia.  Porem  no  tra- 
tado referido  moftramos  fua 
pouca  cflicacia.  Vejafe  defl:c 
Concilio  o  Catalogo  dos  Bif- 
pos do  Porto ,  Loayfa,Mpra- 
les , Padilha ,  Mariana,  &  frei 
Bernardo  de  Brito. 


3  Afiiflio  outroílonof- 

ío  Prelado Liuba no  13. Con- 
cilio de  Toledo  cujos  Decre- 
tos aíTinou.  Congregoufe  no 
anno  de  Chriilo  de  683.  34. 
de  Nouembro  _,  quaíi  três  an- 
nos  depois  do  Concilio  duo- 
décimo. Foi  nacional  porque 
ncUe  fe  ajuntarão  quatro  Me- 
tropolitanos ,  quarenta  &  oi- 
to Bifpos,  vinte  fetc  Vigairos, 
dos  Bifpos  auícntes ,  &  vinte 
féis  varões  illuftres  dos  oífi- 
ciacs  d  ô  Paço.  Celebroufe  na 
Igreja  de  Sãõ  Pedro ,  fk  Saõ 
Paulo ,  achoufc  nellc  ElRcy 
Eruigio,&  deu  aos  Padres  do 
Concilio  hum  memorial  de 
coufas  que  queria  fe  reforma- 
fem  nellejo  qual  vifto  por  to- 
dos começado  pclla  profiíTaõ, 
&  confiílaõ  da  Fc  (lendofc 
primeiro  o  Symbolo  do  Con- 
cilio Niceno)  fobrc  taõ  fanto 
fundamento  foraõ  profeguin- 
do  no  demais ,  &  ordenarão 
treze  Decretos  de  grande  va- 
lidade ao  gouerno  das  Igrejas 
de  Hefpanha ,  &c  ao  bem  cfpi- 
ritual  dos  fubditos.  Allinaráo 
nelle  quatro  Metropolitanos, 
pella  ordem  ,  &  antiguidade 
da  fagração,  fendo  o  primeiro 
como  mais  anciaõ  luliano  Mc 
tropolitanodc  Toledo,  ofc- 
gundo  Liuba  de  Braga,  orcr- 


cciro 


^ 


4o6 


Capitulo  LXXXXVIL 


Loítyf.  in 

coller.BM 

Moral. 
lih  1 1,  c. 

li.6  c  17 


Brit.d.e» 
28. 


cciro  Eftcuão  de  Merida,  o 
quarco  Florefindo  de  Seuilha. 
Oí  Bifpos  dePorcugal,&Gal- 
lÍ2a,qáenell:e  Concilio  (ca- 
charão foráo  Froarico  Biípo 
do  Porto ,  Miro  de  Coimbra, 
Reparato  de  Vifcu  ,  Hilário 
Biípo  de  Oreiiícj  Gundulfo 
de  Lamego ,  Félix  do  Padrão, 
EufrazíodcLugOjIoaõ  de  Be- 
ja ^Traâ:emimdo  de  Euora, 
AradeLiíboa.  Dellc  Conci- 
lio trarão  depois  de  VafeiT, 
Garcia  de  Loay  ía^Moralcí  ,Pa- 
dilha ,  Mariana,  frei  Bernardo 
deBrito,  &:  outfos. 
4;    '.*'  :Tambem  achnmós  mc- 

PaJticit  iTioria  do  noíTo  Prelado  Liu- 
ba  cm  o  i4,Concilio  de  Tole- 
do, o  qual  por  não  poder  aíG- 
ftir  peíToalmcnte ,  mandou 
por  léus  procuradores ,  &  Vi- 
2iiros  adous  Abbades  varões 
infignes  em  virtude ,  ôc  letras, 
chamados  Bamba,  &c  Reci- 
fundo,  os  quaes cm feu  nome 
alímaraõ  na  maneira  feguinte. 
Bamba  Abbade  Vifrairo  de 
Liuba  Metropolitano  de  Bra- 
Ca.  Recifundo  Abbade  Vi^ai- 
ro  de  Liuba  Mctropolirano  de 
Braga.  Defta  afliftencia  dos 
deus  Abbades  cm  nome  do 

ÂiãJof.  1  Arcebiípo  Liuba,alem  dos  Cõ 
cilios,que  trazem  Loayra,Mo- 
rales, &  Padilha  ,  faz  menção 

-í  y  y 


luliano  chamando  lanto  aefte 
AbbadcBamba  como  adiante 
veremos,    n  .«inci?.ob3j 

5  '  Ajuntouíe  elleConci- 
lio  nacidadcdc  Toledo  pou- 
co mais  de  hum  anno  depois 
do  Concilio  13.  no  anno  de 
684.  petaeftcitode  feaccitarc 
os  Decretei  do  ícxto  Conci- 
lio aèral  celebrado  em  Con- 
llantinopla  contra  a  heregia 
de  Apoiiinar  que  negauaduas 
vontades  emChrilto.Ecomo 
íenáo  achalTé  naquelleCõcilio 
Prelados  de  Hefpanhâ,  orde- 
nou ó  PapaLeaõILdo  nome 
por  hum  Decreto  particular, 
que  juntos  todos  fizeflcmou 
tro  Concilio  ,  di  nelle  viílem, 

6  aílmaflem  os  Decretos  do 
deConrtantinopIa,como  cm 
clrcito  fefez  no  anno  referido, 
que  foi  o  quinto  delRey  Erui- 
gio  .  Não  aílirtiraõ  poré  mais 
que  os  Bifpos  da  Prouincia 
Carthamnéie  fuffraoancos  do 
Metropolitano  de  Toledo,  os 
mais  enuiaraõ  (eus  Vieairos, 
dz  procuradores,'5c  os  do  noí- 
fo  Prelado  Liuba  forao  os 
dous  Abbades  Bamba,  &  Re- 
cifundo, de  q  acimafalamos, 
os  quaes  fem  duuida  craõ  Re- 
licriofos  daOrdemdeS,  Bento 
Abbades  em  morteiros  defta 
Religião  da  qual  auia  muitos, 


)or 


Bamha^. 


407 


por  todo  o  Rcy  11  o,  &emcí- 
•pccial  na  Prouincia  de  entre 
Douro,  &:  Minho,  a  qual  re- 
.ccbeo  as  Religiões  de  íanto 
íAgoftinho,S.  Bento,  &  de- 
pois a  de  S.Bernardo  comais 
piedade,  &  veneraçáo,&com 
Tiiayores  rendas  que  todas  as 
outras  Prouincias  dePortugal. 
Tratonle  noConcilio  do  erro 
de  Apollinar,  &  íc  condenou 
em  confirmação  da  ícntença 
dos  mais  Padres  juntos  em 
Conrtantinopla,  &  o  treslado 
de  tudo  íe  mandou  aRcma  no 
anno  feguinte,  tendo  jà  o  Su- 
mo Pontificado  o  PapaBenc- 
di6to  íegundo,  como  íe  colhe 
do  meímoConciliOj&dos  au- 
tores que  o  referem. 
6  Eflas  íaõ  as  memorias 

que  tem.os  do  noílb  Prelado 
Liuba,  o  qual  pouco  tempo 
depois  do  anno  de  684.  cmq 
fe  celebrou  cílç  Concilio  pa- 
rece fe  foi  aoCeo,  porque  já 
achamos  a  feu  fuccílbr  Faufti- 
no  no  decimo  quarto  Conci- 
lio de  Toledo  pellos  annos  de 
688.  quatro  mais  adiante  do 
em  que  eftamos.  Tinha  por 
erte  tempo  o  gouerno  da  Igrc 
jadeDeos  o  Papa  Benediííto 
11.  Era  Rey  dos  Godos  Erui- 


gio. 


CAPITVLO  LXXXXVIII. 

B  A  MB  A  ABBADE 
'varaófamo  deste  Ar cebif- 
pado. 


01  eftcfan- 
to  varaó  Re- 
ligiofo  daOr- 
dem  de  S.  Be- 
to ,  &  Abba- 
de,ao  que  fe  pòdecrer,do  mo- 
fteiro  dcSaõ  Martinho  de  Sa- 
de  diftante  da  cidade  de  Braga 
pouco  mais  de  húa  Icgoa  pcra 
oNacéte  j  unto  ao  rio  de  Aue. 
Celebrandofe  o  decimo  quar- 
to Concilio  de  Toledo,  cm 
que  auia  de  aííittir  Liuba ,  que 
então  era  Arcebifpo  de  Braga, 
não  o  podendo  fazer, ou  por 
ocupações, ou  por  enfermi- 
dade, tendo  boa  noticiadas 
muitas  partes  que  concorriaó 
no  íanto  Abbadc  Bamba  o 
mandou  em  feu  nome  a  Tole- 
do pêra  votaria  aífinar  por  el 
le  naquclle  graue  ajuramento. 
Achamos  a  firma  deftc  fanto 
varaõcomaspalauras  feguin- 
tes .  Bamba  afens  <-viceDomim 

mei 


40S-- 


Ca  pHtdo  L^iXXXVlll. 


niú LiV.hãny Ep;f:opi  Bracha- 
fenfisfmditer.  Também  aifi- 
ílio  pello  Txicíir.o  Lii:ba  oAb- 
baae  ReciruiiáJ  qye-'  c(c«ia^í^-F' 
-o  Receluiiuhoj  de  que  cm  ícu 
, f.Q^.' liigár  fizeinos-irieÀçáo.'*'^  '"^ 
a  ,  íéchado'0  GoncilioRâba 
íc  recolíieo  ao  íeii  niolldvo 
onde  viucocom  grande excni 
pio  j  c>:ercitandoíc  cm  todo 
o  género  de  virtudes,  peilas 
quaes  mcreccõ  que  o  vçiícÍ'í4- 
íem  cdiTio  fáfo  depois  de  mor- ' 
10  ,  &  vihcaflemíuas  íapraâas 
relíquias:  jaz  íepulcado  húa  Ic- 
g oa  deft a  cidade  de  'Braga  peia 
o  naccntc  em  "hua!  -ígiéja  j^- 
róchial  a  que  chamão  íaiK*' 
Locayadc  Britéii:6'sy'que  em 
tempos  mais  aritiguOs  h'c  fama' 
foi  mofteiro  da  Ordem  do  Pa 
irinrcha  Saò  Beíico,  &  ainda 
iiojeíe  vem  nella^iruinas  que 
moftráo  ília  anri2;uida  dc.ElH 
a-ícpultiira  do  íanco  junto  à 
porta  trauefla  da  parte  de  fora 
raza-cõ  ochaõ íem  obra,  ncríi ' 
artificio  algum.  Alv  he  viíka- 
da  de  todos  os  VizinlioSj&r  có^^ 
marcaõs  porque  nella  achão 
remcdio  pêra  muitas  enfermi- 
dades leuando  terra  da  mefma 
fepultura  que  tem  pof  mila- 
grofa  pêra  íàrar doenças  incu- 
raueis .  A  fama ,  &  tradição 
dos  velhos  tem  por  cerco  eftar 


„■ 


í  \\ ot<iifoúohtiiQ  A yómè -ne- ;j 
írcbugáf  j  &  Júliínd  tcíl^íiiu- 
nba  de  viíU  'q^tid^^Vi^c-^li  vin 
ck>a'Brágà  cem  õ -'Arèebií^^io 
de-Tcledó'Dê^Bcpí?irjá'3UÃ)/í;í^ 
fuiin  tr-ããu  -ISi-aSaP€M^{  diz' 
c\h)clií4'(k)í^-pJíPfn€0  Ârchiejyif- 
copo  Tólerãno-  Ber^rdã  ■mpfi'! 
coi-jnisfmãí  JhhiiTM  'Babiç^qui 
inter  fim  Concilio  decimo  quar- 
to ToIetáM  -vicem  '^gem  dcnii- 
m  Ltíbmj  -Efifcopi  Brachars- 
jfí,  dicitnnj^  ./vulgo  liUjlínãiis 
Akb^s  Bnmba.  Ç^UGV  dizcf,  cm 
quanto  efíine  no  t-err icorio  de 
Braga  cem  'meu.  ícniior  Ber- 
nardo Arccbiípo  dcToledo  vi : 
íltei  o  corpo  dõ  íáhto  Abbade 
Bamba ,  o  qual  eílcueno  deci- 
mo quarto  Concilio  de  Tole^ 
do,  &í  nclie  alTínôil  porLu- 
banio  Bifpo  de  Bríiga-.   Chíi-- 
maíc  o  íanto  tíomúmence  o 
Abbade  Bamba.  ■•.«'•;        ; 
3     Eftando  eíVe  fantô  cão  per 
todcnòs,<S>:  fendo  Rcligioío, 
&  Abbkle  da  Ordem  do  Pa- 
triarchaS.Bento/^  fazendo 
milagr-es  a  terra  onde  ellaÕ  de- 
poíitádos  ícus  oílosj  delcuido 
foi  grande  dos  paliados  naofa 
zerem  dclle  ftlgúa  memoria  pc 
ra  crecer  á  teneraçáo  q.opouo 
Ihetetaõ  deuidaa  leu  lagra- 
do  depofico^  por  que  Deos  o- 
bra  tão  exccllentes  marauilhas 

CAP. 


\ 


Fauííin&* 


409 


CAPITVLO  LXXXXIX. 

FAVSriNO 
XXXXIIII.  Arcebifpo  de 
Braga. 


Omeçamosa 
vidadoAice- 
biípo  Faufti- 
nopellacon- 
jcicura<^clelle 
w»  chrifl  ^32  ^  Padre  fr  António  de  le- 
6^},  foi.  pes  Chroniíla  da  íagrada  Or- 
374^^*2  ^efj-j  cie  535  Benco_,  que  o  quer 
dar  por  Religioío  íeu  ,  &  af- 
ias intereíladas  váo  as  Cathe- 
draes  onde  encraõ  Prelados  de 
taõ  fanta  Faniilia ,  ôc  muito 
mais  nos  tempos  em  que  ago- 
ra lenamos  efta  hiftoria,  que 
laõ  parte daquelles  primeiros 
trezentos  annos,em  que  to- 
dos os  Religiofos  que  mor- 
rerão nefte  habito  alcançarão 
a  faluaçáo,  íegundo  a  reuela- 
çaõ  certa  que  diíTo  ouue. 
2  He  pois  a  conjeitura  a- 
char  firmado  no  decimo  ter- 
cio  Concilio  de  Toledo  Fau- 
ftmo  Abbadcj  Abfalio,  Ge- 
roncio  GailoriOj  Gabriel,  Si- 


í;berío,  Felix,  Viiandô,  & 
Vincencio^aísy  meímos  Ab- 
bades  de  Saõ  Bento,  que  ti- 
nháo  entaõ  ingar,&  voto  cm 
todos  os  Concílios^  &  depois 
faltar  logo  no  decimoquinto 
Concilio  da    mefma   cidade 
a  firma  de   Fauftino  Abba-- 
dcnão  faltando    âs  dos  ou-- 
tros,&  firmar  de  nouo  hum 
Arcebifpo  de  Braga  com  no- 
medeFauftino.    Ebcmfcvè 
(diz  elk autor)  &  fe  moftra  fé 
muito  diícurío  que.  eíle  Fau- 
ílino  Arcebiípo    he   aqucilc 
mefmo,quc  antes  aífinaua  co- 
mo Abbade ,  mormente  fuce- 
dendo  iiio  cm  tempos  emq 
pêra  as  Prelazias  fe  bufcauao 
Religiofos ,  &  pêra  as  mitras 
capcllos .    Bem  vemos  pode- 
ria acontecer  fer  outro  o  Fau- 
fdno  de  Saó  Bento,  outro  o 
noílb  Arcebifpo  ,  que  a  fe- 
melhançadonome  naõarguc 
identidade  da  peílba.  Mas  iílb 
não  tira  a  probabilidade  que 
tem  a  conjeitura  do  Padre  le- 
pes,  a  cu  ja  Religião  damos  de 
boa  vontade  o  ArcebifpoFau- 
flino,  &  comecemos  a  efcre- 
ucroq  de  fua  vida  pudemos 
achar. 

3  No  primeiro  anno  dclPvCy 
Egica  luceílbr  de  Eruigio  aos 
quinze  de  Mayo   do   anno 


Mm 


l 

de 


4IO 


CapiíuloLX  XXX IX . 


de  Chrillo  feiícentos  &  oité- 
ta  &c  oiço,  &  primeiro  do  Pó- 
tificadodo  Papa  Sérgio,  fe ce- 
lebrou Concilio  nacional  na 
Igreja  de  S.  Pedro  chamada 
Pretorienfe  nos  arrabaldes  de 
Toledo,  quinze  na  ordem  dos 
impreílos    daquella    cidade. 
Achoufe  nelle  o  noíloArce- 
biípo  Fauftino  com    outros 
quatro  Metropoikanos^&fin- 
coéta  &  íeis  Bifpos,  onze  Ab- 
badesjO  ArciprcftedeToledo, 
íinco  procuradores,  ou  Vigai- 
ros  de  Bifpos  aufentes,  &  de- 
íafete  varoés  liluftres  ofticiacs 
da  cafa ,  &  Corte  Real . 
4  Ajuntouíe  o  Concilio 

por  ordé  delRcy  Egica:  as  cau- 
las  que  a  iíTo  o  moucraõ,  alem 
de  íe colherem  do  mefmo  Có- 


Moftd  li 

1  c.  jé. 
Padil  ret 
7.  c.  6;. 


cilio,as  referem  largaméteMo 
rales ,  &  Padilha  onde  fe  pode 
ver.Prefidío  pclla  ordem  da  fa 
í^raçáo  luliano  Arcebifpo  de 
Toledo,  aquellc  cuja  vida  fi- 
\fifr.^6.  ca  acraz  referida  ,  &  como 
mais  antigo  aíTmou  também 
no  primeiro  lugar:  logo  Suni- 
fredo  deNarbona  ,  Florcfin- 
do  deSeuilha,  depois  como 
mais  moderno  dos  trcsFaufti- 
no  de  Braga ,  no  quinto  lugar 
Máximo  de  Merida.Os  Bifpos 
de  Portugal,  ^  Galliza,  q  nel- 
le fcacharaójforaõFroarico  do 


Porto ,  Félix  do  Padraõ,Eufra 
lio  de  Logo,  VilkfoníodcVi- 
íeu,  Adelfio  de Tuy ,  Trudtc- 
mundp de  Euora ,  Lauderico 
de  Liíboa  ,  Miro  deCoimbra, 
Fioncio  de  Lamego,  loaòde 
Beja,Vinccncio  de  Dume,Mo 
nefonfodaldanha. 

5  Outra  memoria  acha- 
mos deíle  lUuílre  Prelado  no 
decimoícxto  Concilio  de  To- 
ledo^ pclla  qual  nos  confta  fer 
mudado  dcíla  Cadeira  Prima- 
cial de  Braga  à  deSeuilha  .  A 
caula  paflou  da  maneira  fe- 
guTíitêTDepois  dãmõrtc  5e  S. 
luliano  Arcíbifpo  de  Toledo 
foi  promouído  àquella  Igre- 
ja Sifibcrto  pornomeaçáo,& 
apprcfcntaçáo  dclRcyEgica.  A 
poucos  annos  da  noua  digni- 
dade, faindo  por  foberba  fora 
de  fy,  òí  pareccndolhe  que  né 
o  Cco  ,  nem  os  homens  lho 
eftranhariaó  intentou  em  híí 
dia  de  fefta  dizer  miíTacom 
aquella  mefma  Cafula,em  que 
a  may  de  Deos  vertira  a  fanto 
Ilefonfo ,  &  o  fizera  fe  hum 
notauel  horror  lhe  não  ocu- 
para os  mêbros  logoqmãdou 
abrir  o  caixão  onde  como  prc 
ciofa  rehquia  fe  conferuaua. 

6  Deftc  defatino  paflou 
a  outros ,  q  fem  duuidaforaõ 
como  caftigos  do  primeiro^ 

fezíe 


Fmíãma» 


tezíc  cabeça  cie  íediciofos^con 
jurou  contra  íeu  Rey,  ^  em 
certa  ocaíiaõ  tinha  determina- 
do tirarlhea  vida  íe  hum  dos 
comphccs  não  defcobrira  o 
crime  ao  mefmo  Rcy,  que  fez 
lançar  mao  de  Sifiberto  ,  ôc 
ter  a  bom  recado ,  ate  o  entre- 
gar a  hum  ConciUo  que  pêra 
elle  effeito  fez  ajuntar  em  To- 
ledo, peraque  aly  foílccalH- 
gadocomorco  de  lefaMage- 
ítade humana,  &  como  per- 
turbador da  paz  publica.  Veo 
a  parar  aacuíaçaoem  íenten- 
ça  diftinitiuado  Concilio,  em 
que  fe  ordenou  que  Sifiber- 
to  folie  depoftoda  dignidade 
Pontifical,  ôc  declarado  por 
publico  excomungado,  ôc  lua 
tazcnda ,  &  bens  confifcados, 

6  elle  pêra  fempre  dcftcrracío 
de  toda  Hefpanha.  Puzeraó 
os  Padres  cm  íeu  lugar ,  por 
afsy  o  pedir  ElRey,a  Félix  Me- 
tropolitano de  Seuilha  :  em 
Seuilhaa  Fauílino  Metropo- 
litano de  Braga:  em  Bragaa 
Félix  Bifpo  do  Porco,  no- 
meandoos  pêra  as  Cadeiras  a 
onde  os  palíauao  pella  or- 
dem que  vaó  nefta  efcricu- 
ra. 

7  Congrcgoufe  o  Concilio 
referido  na  Igtcja  Precorien- 
fe  de  Saõ  Pedro  ,  &  Saõ  Pau- 


■li 


411 


lo  em  dous  deMayodoannc 
feifcentosiSs:  nouenta  &tres  de 
nolfa  redenção,  o  íexto  do 
Papa  Sérgio ,  &  delRey  Egica. 
AlTiífirao  nelle  ííncoenta  & 
oito  Bifpos ,  finco  Abbades, 
três  Vigairos  de  Bifpos  aufen- 
ces  ,  dczafeis  varões  illuílres 
officiacs  da  cafa,  ôc  corte  Real. 
Preíídio  Fclix  Metropolitano 
de  Toledo  depois  de  ler  pa fia- 
do de  Seuilha  àquella  Cadeira, 
&  aílinou  também  no  primei- 
ro lugar  j  nofegundo  Faufti- 
no,jà  como  Metropolitano 
de  Seuilha  i  no  terceiro  Máxi- 
mo Metropolitano  dcMerida^ 
no  quarto  Vera  Metropolita- 
no de  Tarragonaj  no  quinto 
Fclix  Metropolitano  de  Braí^a, 
&  Bifpo  do  Porco.  Os  Prela- 
dos de  PorcugaI,&  Galliza  que 
nefte  Concilio  íe  acharão  fo- 
raõjFrutuoío  Bifpo  deOrcníê, 
Adelfio  de  Tuy,  Potencio  de 
Lugo,Aurelio  de  Afl:orga,Ar- 
concio  de  Euora ,  Emilla  de 
Coimbra,Fioncio  de  Lamego, 
Lauderico  de  Liíboa,  loaó  de 
Beja,Teudofredo  de  Vifcu, 
8  Deraõ  ocaíiaõ  as  mu- 

danças feitas  neíle  Concilio 
de  Félix  a  Toledo ,  Fauítino 
a  Seuilha,  &:  Félix  do  Porto 
a  Braga  pêra  dous  fundamen- 
tos aos   defenforcs    da  Pri— 


Mm  2, 


mazia 


T 


412 


CafituloLXXXXlX. 


traã.  de 
Prima, 


Primazia  de  Toledo  contra  a 
delia  Igreja ;  ôc  ainda  que  jà 
os  temos  proppftos ,  ôc  lol- 
tos  cm  feu  lugar  próprio ,  to- 
dauiaaqui  lhe  cabe  outra  vez 
mollrarmosa  quãtochegao, 
&  os  poremos  mais  em  fauor 
dos  de  Toledo ,  do  que  elles 
ainda  o  fazem. 

9  Pêra  melhor  fe  enten- 

der o  primeiro,  importa  dizer 
como  os  três  Metropolitanos 
de  Toledo  ^  Seuilha,  «Sd  Braga 
no  meímo  dia,  ôc  acção  do 
Concilio  forão  poll:os  nas 
íuas  Cadeiras  íem  precedência 
algúa  de  tempo ,  porque  tu- 
do foi  hú  vagar  Toledo  por 
depoííçáo,  &priuação  deSi- 
fiberto  ,  que  fcr  logo  prouí- 
do  em  Fclix  de  Seu  ilha ,  ôc  Se- 
uilha  em  Fauflino  de  Braga, vi- 
timamente  Braga  em  Felix  do 
Porto,o  que  tudo  feito  come- 
çarão a  entraras  matérias  pró- 
prias doConciho,fendo  preíi- 
denteonouo  eleito  de  Tole- 
do>  fem,nem  o  de  Seuilha ,  ôc 
muito  menos  o  de  Braga  a  iílo 
refiílirem.  Aquientraagorao 
primeiro  argumento  dos  de 
Tolcdo.Náo  íe  pode  crer, di- 
zem ellcs,que  efta  prelídencia 
naceíTe  de  antiguidade  da  pro 
moçaõ,oufagraçáo  àqucllas 
Cadeiras  ,  pois  todas  foraõ 


no  meímo  dia ,  ôc  hora  j  na- 
ceo  logo  da  mayor  dignidade, 
ôc  autoridade  do  Arcebifpo 
de  Toledo  :  vioa  o  eleito  de 
Braga,  ôc  Seuilha,  &  naó  ten- 
do com  que  a  contradizer,  & 
refutar  fofreraõ  fer  precedi- 
dos por  não  lerem  auidos  por 
ambicioíos  dodereito,  ôc  pre- 
minencias  alheas. 
10  O  legundo  argumen- 
to  formão  na  maneira  leguin- 
te.  Se  o  Arcebiípo  de  Braga 
Faullino  tiuera  qualquer  pre- 
íunçaõjOu  ambição  à  Prima- 
zia dasHeípanhas, fundada  no 
dereito  de  lua  Igreja ,  como  le 
auia  de  periuadir  a  deixar  Bra- 
ga por  Seuilha,  ou  com  q  pre- 
texto fe  atreuerião  os  Padres 
do  Concilio  ofFerecerlhe  tal 
mudança,  fe  na  troca  fe  tor- 
naua  tanto  a  traz  na  dignida- 
de ?  elles  com  tudo  que  o  ele- 
gerão, &  Fauflino  q  aceitou  a 
eleição ,  entenderão  íem  du- 
uida  fe  melhoraua  na  dignida- 
de,&:  autoridade  da  Igreja,tan 
to, quanto  hiadeSeuilha, ci- 
dade principal  de  Andaluzia 
à  Braga,  hua  das  de  menor  im 
portancia  na  Prouincia  de  Gal 
liza .  Não  pretendão  logo  os 
nouos  Arcebiípos  de  Braga  a 
PrimazíajCm  q  os  aniiguos  ce 
deraõ,naõ  íò  aos  de  Toledo, 

mas 


Fauíií 


mo. 


413 


mas  aiiuiaaos  de  Seuilha. 
II  Ccmeçancíoa  repo- 

rta por  eftc  feguiido  argumé- 
coj  dizemos  queas  circunftan- 
ciasdo  tempo  traziáo  confi- 
go  ocafioêsj  com  que  os  mu- 
dados líaõ  podia5,nem  dcuiaõ 
rcfirtir  às  mudanças  fem  ref- 
peitara  mayor,ou  menor  dig- 
nidade. O  mayor  bem  deita, 
oudaquella  Igreja,  o  feruiço 
doRey,o  bem  publico,&  mui 
tas  vezes  a  faude,&  quietação 
do  que  aceita  a  mudança  mo- 
ucriáoao  Síimo  Pontífice,  & 
aos  Concílios  de  fuaautorida- 
de,a  c5cedela,&aosReys  a  pro 
cu  rala.  Quem  daqui  quer  fazer 
argumcto  de  mayor  dignida- 
de,nê  fe  lébrados  fuceílbs  paf- 
fadoSjnem  dos  prefcntesquer 
fazer  juizo  pêra  elles.  Quantas 
mudanças  deílas  conta  Eufc- 
bio  Ceíaricnfe,quantas  CaíTio 
doro  na  vida  de  S.  Proclo.  No 
mefmotépo  q  deftcArcebifpa 
do  de  Braga  paílou  pêra  o  de 
Lifboa  oíenhorDõ  AíFonfo 
Furtado  deMedoça  noíío  ante 
celíor,fcdo  neceflaria  fuaaílif- 
tcncia  naquella  cidade  pcra  go 
uernar  oReino,antes  de  lhe  vi- 
re as  letras  entrou  em  Liíboa 
côa  cruz  Primacial  leuantada, 
&  a  leuaua  femprc  diate de  fy, 
cto  q  mandou  fazer  papeis  au- 


tênticos; táo  fora  eftaua  de  na 
mudança  fcntir  menos  da  dig- 
nidade que  deixara. 
1 2.  A  prefidencia  de  Fclix 

ncfte  Concilio/m  que  foi  to- 
mado de  Seuilha  pêra  Arcebif- 
po  de  Toledo  naceolhe  da  ma 
yorantiguidadc  na  nomeação, 
&  por  ventura  na  fagraçáo. 
Da  nomeação  confl:a,porque 
vaga  a  Cadeira  de  Toledo  pel- 
lapriuaçãode  Sifibcrto  pro- 
ucraõna  logo  os  Padres  cm  Fé- 
lix de  Seuilha :  depois  de  pro- 
uida  ,  cftando  ja  fem  Prelado 
Seuilha,  &  vaga  pella  mu- 
dança do  feu  Arccbifpo  no- 
mearão por  fuceílbraFaurti- 
no  de  Braga:  vagou  também 
por  efta  nomeação,  &  pro- 
moção Braga:  nefta  vacância 
puzeraó  por  feu  Arccbifpo  a 
Félix  Bifpo  do  Porto. He  ver- 
dade que  a  antecedência  não 
foi  de  muitos  dias ,  mas  nc- 
ceífariameHtc  pedia  tempo, 
&  auia  de  fer  de  algúas  ho- 
ras ,  &  cif  as  balfauão  pêra 
entrar  o  Decreto  do  fegun- 
do  Concilio  Bracharenfe,  & 
quarto  Tolcdano  ,que  ^os 
Metropolitanos  prefidiffe  fem 
prc  o  mais  antiguo. 
13  Nem  parece  ha  du- 

uida  que  ate  na  fagração  de 
Bifpo    era  Félix  de    Toledo 


Mm  3 


mais 


414 


(Capitulo  C. 


mais  antiguo  que  Fauftino  de 
Seuilha,ou  Fclix  deBraga,por- 
qiic  ainda  que  Félix  emScui- 
Iha  era  mais  moderno  que  Fau 
ftino  em  Braga^pois  com  Fau 
ftinojàBracharenfcaííina  no 
decimoquinto  Cõcilio  deTo- 
Icdo  Floreíindo  de  Seuillia,  a 
quem  parece  fuccdeo  Felix, 
iílo  náo  tira  vir  clle  de  Bifpo 
doutra  Igreja  pêra  Arcebiípo 
daquellajComo  de  ordinário  fe 
coílumaua,  &  fer  primeiro  na 
fagraçáo  j  o  que  também  mi- 
lita em  Felix  o  noílb  do  Por- 
to ,  o  qual  afsy  mefmo  não 
era  ainda  Bifpo  no  mefmo  Có 
cilio  decimoquinto,  pois  affi- 
nou nelle  feu anteceílorFroa- 
rico.  Concluimos  logo  ^  que 
por  dous  principies  ficou  Fé- 
lix paílado  a  Toledo  preíidin- 
do  no  Concilio^primeiro  pel- 
la  antecedência  da  promoção, 
Ôc confirmação  de  Metrop.' 
litano  dcToledo- fegundo  pel- 
la  antiguidade  na  fagraçãojco- 
mo  difpunhão  os  Decretos 
dos  Concilios  qucallegamos. 
Rezão  de  Primazia  nem  a  ou- 
ue  âqui,nem  a  podia  auer,por- 
quc  nunca  imaginarão  os  Ar- 
cebifposantiguos  de  Toledo 
>  pertencerlhcj  eífes  cuidados 
começarão  no  Arcebifpo  Do 
Bcrnardo,como  em  feu  lugar 


diremos. 

14  Tornando  ao  Arce. 

bifpo  FauftinOjdepois  de  tref- 
ladado  à  Igreja  dcòcuilha,  não 
temos dellc  outra  noticia  mais 
que  aííiílir  no  dccimoíetimo 
Concilio  Toledano  pcUos  an- 
nosde  feifccntos  &  noucnta 
&  quatro,  em  o  qual  aílinou 
em  íegundo  lugar  depois  de 
Felix  Arcebifpo  de  Toledo. 
Padilha  no  Catalogo  dos  Ar- 
cebifpos  de  Seuilha  não  diz 
mais  que  o  que  temos  relata- 
do de  fua  translação:  dcuiaa- 
cabara  vida  por  aquclle  mef- 
mo tempo.  Gouernaua  então 
a  Igreja  de  Deos  Sérgio.  Era 
Rey  dos  Godos  Egica. 


CAPITVLO  C. 

S  A  M  FELIX 
TorcatoMartyrXXXXV 
Arcebifpo  de  Braga. 


O  V  C   O 

mais  temos 
que  dizer  ne- 
lle capitulo 
da  vida  de  S. 
TorcatoFclixgloriofo  martyr 
dcnoíla  íanta  Fè ,  do  que  jà 

diT- 


S.  Félix  Torcato 


415 


i./>, 


c.ll 


diílemos  delle  no  Catalogo 
Áos  Bilpos  do  Porco  j  onde 
por  fcr  Biípo  daqlla  cidade  ef- 
creuèmosíua  vida  por  cxtcfo. 
2,  Naceo  Saõ  Torcato  Fe 

iix  na  cidade  de  Toledo  de  fa- 
niilia  nobre ,  &  que  trazia  lua 
deccndenciados  Torcatos  Ro 
manos :  crioufe  de  pequeno  à 
lombra  da  Virgem  Senhora 
No/ía  na  Sè  da  lua  meíma  pá- 
tria, a  cujo  leruiço  logo  nos 
primeiros  annos  íe  dedicou. 
Foi  fobindo  pcllos  grãos  de 
Subdiacono, Diácono ,  &  vi- 
timamente Sacerdote^  masjà 
de  tão  conhecida  virtude ,  de 
de  letras  táo  perfeitas  ^  que  lo- 
go o  fizeraó  Arciprcfte,  dig- 
nidade donde  fe  tomarão  mui 
tos  pêra  Arccbifpos  da  mefma 
Igreja i  &  não  duuidamos  o 
fora  Saõ  Torcato  Fclix  _,  íe  os 
deIriaFlauia  (agora  o  Padraõ) 
íe  naó  anticiparaõ  âo  efcolher^ 
&  eleger  por  feu  Prelado;  on- 
de íucedcoà  outro  fanto  Bif- 
po ,  por  nome  Hildulfo  Fé- 
lix ,  que  anda  aíTinado  no  ter- 
ceiro Concilio  Bracharenfe 
dos  que  andauão  ímpreílbs. 
Daqui, vagando  â  Cadeira  áó 
Porto  por  morte  do  Bifpo 
Froarico ,  os  daquella  cidade, 
pello  que  conheciaõ  de  fcus 
grandes  merecimentos,  o  ele- 


gerão pêra  ella,  tirandoo  do 
Padraõ,  onde  deixaua  todos 
com  grandes  faudades  de  lua 
ia n ta  vida,  òí  conueríaçáo. 
3  Ertando  na  Igreja  do 

Porco ,  foraó  chamados  a  no- 
uo  Concilio  os  Bifpos  deHcr- 
panha  por  ElRey  Égica ,  com 
acauíadâ  treiçáo  de  Siliber- 
co  Arcebiípo ,  de  que  no  capi- 
tulo paliado  íe  deu  relação. 
Aly  auendo  as  mudanças  refe- 
ridas dos  Arccbifpos  Félix  de 
Seuilha  pcra  Toledo^  &  Faufti 
no  de  Braga  pêra  Seuilha  elc- 
geoaquelh  grande  ajuntamen 
to  de  Prelados,^  pos  a  S. Tor- 
cato Fehx  na  Primacial  de  to- 
da Fieípanha ,  não  lhe  tirando 
poriíToo  gouerno  da  Igreja 
do  Porto,  antes  dcixandoo  fi- 
car com  ambas ,como  nioílra 
a  íua  firma  no  mefmo  Conci- 
ho^  que  diz.  Ego  Félix  in  Dei 
nomine  Brãcharenjis  ,  l^  Por- 
tucalenjis  fedmm  Epifcopus  b^c 
decreta  Synodalia  à  nobis  edita 
fiibfcripji.  Cclebtouíe  eífeCo 
ciliopellos  annos  deChriftò 
693 .  no  6.  de  ElRey  Egica  ,  Ôc 
foi  o  decimoícxto  naoídem 
dos  que  andão  em  Garcia  de 
Loayfa  .  No  decimo  ferira  o 
eonuocado  mais  hum  annoa- 
diante  node6í;4.  não  acha- 
mos airiiliflc  S. Torcato  Félix:, 


Mm  4 


>or- 


Fadil  cet 


416 

porque  não  anda  aííinado  no 
Concilio  cjue  traz  Garcia  de 
Loayfa,  Ic  bem  Padilha  o  co- 
ta entre  os  Metropolitanos, 
que  aiUítiraõ ,  &  dizforaõ  Fé- 
lix de  Toledo  j  Fauftino  de 
Seuilha  _,  Máximo  de  Merida, 
Vera  de  Tarragona ,  &  Fclix 
de  Braga. 

4  Eftaua  gouernando  a 

Igreja  de  Braga  cftc  íanto  Pre- 
lado quando  íucedeo  pcUos 
grandes  peccados  de  Heípanha 
a  entrada  dos  Mouros  de  quê 
foiconquiftada,  começando  a 
conquiíla  Vlic  Monarcha  de 
Babylonia ,  &  graó  Califa  dos 
Árabes,  fendo  feus  capitães 
Muça ,  &  Tarif  no  anno  de 
Chrifto7i3.  Eftes  foraõ  en- 
trando por  Portugal,  &  Gal- 
liza  dellruindo,  &  íogcitan- 
do  tudo  não  perdoando  àfa- 
grado ,  nem  profano  .Chegou 
Muça  ao  território  de  Brapa, 
&  faindo  a  lhe  fazer  rofto  o 
noílo  fanto  Prelado  coma- 
quellas  armas ,  com  qnc  faõ 
Paulo  manda  armar  ao  folda- 
do  Chriftao,  rcprendendoo 
primeiramente  das  cruelda- 
des,que  vfaua  com  os  homês, 
&  dos  facrilegios  que  cometia 
contra  Deos ,  o  fez  fair  tanto 
de  fy  com  ira ,  que  lançando 
mão  delle,&  de  outros  zy.cõ- 


Capitulo  C. 


panheiros  íeus  todos  cidadãos 
cie  Brnga,à  força  de  puros  tor- 
mentos lhe  tirou  a  vida,  náo 
lhe  podendo  tirar  nunca  a  fè 
do  coração ,  &  menos  da  bo- 
ca confelíandoa  íemprccon- 
fbntcs,  &  valer ofos,ate  final- 
métc feirem  a  gozar  de  Deos, 
pella  illuftre  palma  do  marty- 
rio  cm  16.  deFeucreirodo  an- 
no 71  p.doNacimcnto  deChri- 
fto,  como  afíirma  luliano. 
j  O  lugar  de  fua  morte 

cremos  foi  naó  muito  longe 
donde  agora  íe  venera  o  cor- 
po de  Saó  To  reato ,  húa  Icgoa 
das  ruinas  da  antigua  cidade  de 
Citania ,  &  mea  da  villa  de 
Guimarães  j  &  por  ventura 
feria  o  mcfmo  cm  que  os  en- 
terrarão os  Chrifl:aõs,&  fe  edi 
ficou  hija  pequena erraida,que 
ainda  hoje  dura,  Sc  fe  chama 
Saó  Torcade  o  velho.  Aly  por 
meodc  húa  luzdoCeofoi  a- 
chado  o  preciofo  thezouro,& 
trazido  com  grande  folcmni- 
dade  pêra  o  mofteiro  dcfeu 
nome,  obra  antiquiirmia,& 
de  cuja  primeira  fundação  ne- 
nhua  noticia  íc  tem.  lazem  as 
fagradas  rcliquias  em  capella 
particular,  metidas  emhufe- 
pulchro  de  pedra  tofca,  a  quê 
lullentaõ  quatro  columnas 
com  grades  de  ferro  ao  redor 

onde 


ím  adhct» 


S. Félix  Torcdto 


417 


ondelaó  veneradas  de  todos 
os  moradores  daquclla  terra, 
acrcditandoDeos  a  intcrcelíaó 
de  íeu  ícruo  com  muitos  mi- 
lagres, que  com  a  terra  de  fua 
ícpultura,(Sj  azeite  de  fua  ala- 
pada cada  dia  heíeruido  obrar. 
6  Ha  ncrta  Capella  hum 

thezouro  grande  de  relíquias, 
Guc  Jeícobre  hum  letreiro  q 
cllà  na  parede  junto  ao  altar 
eícnto  de  letra  gothica  qdiz 
aísv.  Nomina  iitjiorum quorum 
hic  requiejctint  mcbra  fanãoru 
Vlncltíj^Martini^Romani^Fe- 
licis^Stephani ,  Leucadice  ,  Cí?- 
lumb^,Sabin^^Chrisiet<£^Í!f  lu 
finu  ,  Quer  dizer  os  nomes 
dosjuílos,  6c  Tantos  cujos 
corpos  aquideícáção  laõ  Vice 
te,Martinho^Romano  ,  Fclix-^ 
EíUuaó ,  Leocadia,Columba, 
Sabina, Chrifl;eta,&  Iiiftina. 
Saõ  fem  duuida  os  nomes  de 
parte  dos  2,7.  cidadãos  de  Bra- 
ga caualeiros  de  Chrifto,  que 
juntamente  com  S  Torcato 
padecerão  martyrio  pella  con- 
íiííaõ  di  Fè  ,  Sc  honrarão  com 
elle  a  cidade  de  Braga  onde  na- 
ceraõ.  Vefe  outro  letreiro  na 
mefru a  capella  onde  fe  vene- 
raõ  rs  íantas  relíquias  ,  pcllo 
qualconfta  o  anno  em  que  pa 
dcccD  martyrio  eftc  íanto  Pre 
lado,dizaísy  Foi  martyrizado 


ogloriofoS.  Torcato  no  an- 
no de  íetecentos  Sc  dez.  Ju- 
liano leua  outra  conta  dos  an- 
nosj  como  acima  aponta- 
mos, «S>:heamais  verdadeira. 

7  DeíejouElReyDõ Manoel, 
como íe  vede húa carta  ,  que 
íobre  illb  eícreueo  ao  Cabido 
de  Guimarães,  q  o  íanto  cor- 
po lepaílaflè  dódeeílà  àquel- 
la  infigne  Collegiada  Igreja, 
pêra  eltar  com  mayor  dccécia, 
&  veneração^  mas  ao  gloriofo 
martyr  parece  lhe  contentou 
mais  o  lugar  em  que  derra- 
mou fcu  langue,  por  dcfenlaõ 
de  íuaíè^&  por  animar  na  per- 
íeuerança  delia  a  Tuas  ouclhas-, 
ôíafsy  nunca  atègoratiueraó 
eíleito  osbonsdeícjos  daquel- 
le  piadoío  Rey. 

8  Fez  doação  defte  mo- 
rteiro ElRey  Dom  Aííonfo 
Henriquez  aos  Conigos  Re- 
granres  de  Santo  Agoítinho; 
&:  ordenou  aos  mcímos  fra- 
des por  hua  carta  íua  que  fe 
guarda  no  cartório  da  Igre- 
ja de  íánta  Maria  de  Oliuci- 
ra,  fe  chamaíle  o  morteiro 
primeiro  de  fanta  Maria, & 
depois  de  Saõ  Torcado,  mas 
nem  com  iílb  perdeo  o  titulo, 
&  fobrenome  antiguo  de  Saõ 
Torcado  ,  que  hoje  conícr-» 
ua, 

9  Ellan 


418 


Capitulo  C. 


9  Eílanck»  cm  poder  de 
Conexos  Regrantes  pclla  doa- 
ção   dclRcy  Dom  Affonío 
Hcnriíjuczefte  moílciro,  ôc 
juntamenceodaCoftada  vil- 
la  de  Guimarães ,  que  hoje  hc 
<ie  Rcligioíos  de  São  lerony- 
mo  _,  recufaraó  feus  Priores  o- 
bcdecerao  Arccbilpo  de  Bra- 
ga ,  allegando  prefcripçao  cò- 
tra  cile ,  mas  o  Summo  Pon- 
tífice Innoccncio  III.  lhes  or- 
<}enou  o  rcconheceílcm  cm 
tudo  por  feu  íuperior  ^  ôc  lhe 
dcíTem  3  deuida  obedicncia,co 
mo  os  mais  fubditos  dadio- 
cefc  ,  ôc  defte  Decreto  fe  fez  o 
capitulo.   Cim  non  liceat  de 
prccfcriptiontbtis  j  onde  fe  deuc 
emendar   o  titulo  do  texto, 
que  diz.  Idem  da  Cosia ,  ^  de 

fanão  Donato  Prioribus  ^  por- 
que (c  ha  de  ler. Idem  de  Coíta^ 
íy  difanãoTorcatoPrioribiis . 
como  conlla  da  integrado 
mefmo texto,  que  anda  lan- 
çada no  liuro  quechamãoi^/- 
dei  do  Cabido  dcfl: a  Igreja. 

10  Veopor  diícurfo  de 
annos  a  ferprouído  eílemo- 
iteiro  cm  Priores  fccularcsi&r 
neftc  cflado  cfiaua  ,  quando 
o  vitimo  poíluidor  dellc  loaó 
dcBarrosConego  deita  Sè,por 
Breuc  Apoílolicodo  Papa  Six 
to  ÍIIÍ.  o  annexou  à  Igreja 


Collegiada  de  Guimarães  jun- 
tamente com  os  de  Saõ  Gens 
deMonteIongo,&  Tolloés, 
os  quaes  logo  largou  em  íua 
vidaj  reíeruando  pcra  íy  íò- 
mente  quaréta  mil  reis  de  pen 
laõcada  anno. 

Tudo  o  que  temos  c5- 


II 


tado  de  SaõTorcato  deuemos 
à  boa  diligencia  do  Arcipretle 
de  Toledo  íuiiano  ,  comofe 
vera  de  fuás  próprias  pala  uras, 
que  quizemos  repetir  aqui . 
Nonprocid  Vimaro  intraãii 
Bracharenji  'vidi  fepulchriim 
Jariãifsimi  Torcati,  cognomen- 
toFdicis^  Epifcopi  Bracharen- 
fs  5  íít'  martyns ,  qui  interfuit 
de-cimofextõ  Concilio  Toletano-, 
fuit  pátria  Toletamis^ljftius 
<urbis  Archipresbyter  •,  inde 
Epifcopus  Irienfis^  inde  Por- 
tuenjis ,  ^  Bracharenjis  j  oc~- 
Cifiis  tíi  fidei  caufa  à  perfi- 
dis  Sarracenis  fub  Alu^a  anno 
D.CCIXX.  VI.  KalendMar- 
tiãSy  ijt  legi  in  Martyrologijs: 
occifus  eji  ciim  alijs  njicintifep- 
tem  ciuibus  Brachannfibus ; 
Eius  gratia  'vocatum  ifi  oppi- 
dumprope  Cóplutú,  ideU  Giia- 
dalajaram,  njicus  Janãl  Tor- 
carifisf  injine  Toletani  Epifco- 
patíisfanãiFelicis,  tf  nunc  Sa- 
hélices  ,  Isf  prcpe-...  coUniam 
S.  Félix  Gallecorum ,  cdebrus 


lHlUnÀ\ 


S.Felix  Tcrcato 


41V 


est  tanti  "viri  memoria.  Vem  a 
dizer:  que  acompanhando  el- 
leàDcm  Bernardo  Arcebií- 
do  de  Toledo,  viíítou  junco 
a  Guimarães  o  lepulchro  de 
Saõ  Torcato  Fclix  Bifpo  de 
Braga ,  &  marryr ,  o  cjue  fe  a- 
chou  no  dccimoíexto  Conci- 
lio Toledano,  &  que  cíle  ían- 
tofora  natural  de  Toledo  Ar- 
ciprcrte  na  mcíma  Sè,  depois 
Bilpo  do  Padraõjdo  Porco,  & 
vlcimamcnce  de  Braga^que fo- 
ra morco  p  or  cauía  da  Fe,  pel- 
los  Sarracenos,  fendo  íeu  ca- 
picaõMuçano  anno  de  719. 
cm  i9.  dePeuereiro  como  ti- 
nha lido  nos  Marcyrologios 
comvinte&  fete  outros  léus 
cópanheiros  cidadãos  de  Bra- 
ga: que  por  íeu  refpeico  junco 
de  Compludo,  hií  lugar  que 
de  outros  fe  chamauaGuadala 
jara,  fe  chamaua  agora  a  aldeã 
deSaó  Torcato,  &  nas  arrayas 
do  Arcebifpado  de  Toledo  S. 
Felizes ,agoraSahelices:  &  que 
junto  da  Colonia(outros  exê- 
plares  fuprem  afalta  defte  nof- 
ío  comporem  Ciuitatenfem) 
de  ciudad  Rodrigo  cm  S.  Feli- 
zes dos  Gallegos  era  celebre 
fua  memoria. 

I  i  Pella  relação  taõ  raeuda 
de  luliano  fica  o  noíTo  fan- 
to  Torcato  Félix  conhecido 


D.Man. 
Ferr.lib. 

Z.C.llt 


por  outro  muy  diference  de 
aous  íanuos  do  mcírno  no- 
me celebres  nas  Igrejas  de 
Hefpanha  ,  cem  quemmui- 
cos  autores  o  quizeraõ  con- 
fundir, He  o  primeiro  S.Tor- 
cato  dicipulo  de  Santiago,  & 
hú  dos  que  cllcconligo  trou- 
xe de  ludea  a  Hcípanhaj"ou 
nclla  conuerteo,  Bilpo  que  foi 
de  Guadixno  Reino  de  Gra- 
nada, &  raartyr  gloriofo  de 
noflafantaFè.  Elte  heaqucl- 
le  famolillimo  Torcato,  no 
dia  de  cujo  martyrio  húaoli- 
ueira ,  que  nas  còftas  da  fua 
Igreja  emGuadix  eífaua/e  co- 
bria toda  de  flor,  &  outra 
de  azeitonas  fermoííílimas,  & 
fazoadas  pêra  logo  delias  fe  fa- 
zer azeite,  com  que  íè  alumia- 
uáoas  alampadas,  que  diante 
de  fcu  fepulchro  ardiaõ .  Du- 
rou efte  milagre  ate  os  annos 
de  714.  em  que  já  os  Mouros 
crão  entrados  em  Heípanha, 
&  o  corpo  do  fanto  íe  trcsla- 
dou  de  Guadix  ao  morteiro  de 
fantaCorrrba  de  Rande  Prio- 
rado do  morteiro  de  Cellano- 
ua  da  ordem  de  Saõ  Bento,  fú- 
dação  deSaóP.ozendo^como  \^g'rjfjl 
em  fua  vida  diílemos.Aly  per  Pm<?  r. 
feuerouatè  o  anno  de  1196.  ?•*■•  '^ 
em  que  certos  Portuguczes  o 
quiferaó furtar;  mas  andando 


[^ 


toda 


420 


(Capítulo  C. 


I  toda  a  noite ,  pclla  manha  íe 
acharão  cora  o  fagrado  furto 
às  portas  do  mollciro  de  Cel- 
lanoua  ,repicandoíe  por  íy  os 
íinoSj&:  fazendo  acodir  os  re- 
hgioíosà  marauiiha,quecon- 
feílàda  pcUos  PortuguezeSjCn 
tregaráo  o  lagrado  corpo  ^  Sc 
ellc  foi  tornado  a  leu  lugarjatè 
pouco  depois  ícr  tresiadado 
pcUo  Cardeal  íacintho(aqucl- 
le  que  depois ,  íendo  Papa ,  le 
chamou  Cclellmo  III.)  Lega- 
do neftcs  Reinos  do  Summo 
Pontifice  Alexandre  III.  com 
a  mayor  folénidade  que  íoi 
polliuei  ao  molleiro  deCel- 

lanoua. 

13  Outra  tresladaçâo  fe 

fez  do  mefmo  fanto  pêra  o  al- 
tar mor,  em  que  ocoilocarao, 
ôc  meterão  cm  húa  arca  de  pra 
ta  de  grande  obra ,  onde  fe  vé 
de  figuras  riquilíimas  todos 
ospaílosmais  notaueisdeícu 
martyrio .  Foiiftopellos  an- 
nos  de  1601  .achandoíe  na  ío- 
lénidade  o  Bifpo  de  Oreníè 
Dom  Miguel,  &  grande  mul- 
tidão de  pouo  de  toda  a  Co- 
marca.Achoufe  o  coração  do 
gloriofo  raartyr  faõ,&  inteiro 
íem  .corrupção  algúa,  como 
também  fe  ve  hú  de  feus  bra- 
ços _,  cubcrto  Je  carne  frefca, 
no  morteiro  de  íanta  Maria  de 


ia  Vega  da  Ordé  de  Ciífer  no 
Bilpado  de  Palécia.  Afeita  de- 
lie  iantoíe  celebra  em  Cclla- 
noua  no  primeiro  de  Mayo, 
cm  que  o  pocm  o  Martyrolo- 
giodelànto  Ihdoro:fazmcn- 
ç:ãodelle  oRomano  aos  15. do 
meímo  mes ,  outros  o  põem 
aos  fmco.  Padeceo  no  Icgun- 
do,  ou  terceiro  do  Império  de 
Nero.  Eícreuem  lua  vida  Mo- 
raleSjPadilhaj  Brito,  DÕMau- 
roFcrrer,fr.  António  de  lepes, 
fr.  Franciíco  dcBiuar,  Si  ou- 
tros .Nenhúa  das  coufas  refe- 
ridas deSaó  Tcrcato  Biípo  de 
Guadix  percéceao  noíloTor- 
caco  Fclix,nem  leu  corpo  cif  à 
em  S.Torcade  de  Guimarães, 
pois  o  goza ,  &  pollue  o  mo- 
íleiro  dcCelIanoua  com  argu- 
mentos tão  cuidentes.  Muito 
menos  Ic  pode  dizer  heacida- 
de  de  Acci(onde  foi  Bifpo ,  Ôc 
acontecia  o  milagre  da  oliuei- 
ra  )  a  de  Citania  ,  que  efteue 
perto  de  Guimarães  •,  porque 
Acci  como  jà  diííemos  ,hea 
de  Guadix  taõ  diftante,  ík  di- 
ferente de  Citania. 
14  O  outro  S.  Torcato  foi 
natural  de  Braga  ,  &c  com  Saó 
Cucufate,  Sc  ianta  Suzana  pa- 
deceo martyrio  na  mefma  oca 
líão,&  perfeguição,em  que  o 
padecerão  SaÕ  Vi6lor,  vulgar- 
mente 


Moral  li 
9-c.ii.  I 

\Padil.cêt 

i.c.iy. 

\Jr'crr'lib. 

Z.C.lí. 

Icp.c êí, J 

l}r/t.2.p.\ 

ji-^í-     i 
\úiuar.  in 

[Dext.an} 

66,cÕ.i,\ 

»>4. 


S.  Félix  l^orcato. 


421 


mente  S.  VicouroCacechume- 
meno,«5v:  S,  Silucftre_,  de  cujas 
Ilidas  demos  ja  relação  em  íeu 
'fup.c,^2'  próprio  liigat  Erraria  quê qui- 
zelle  confundir  elle  Saõ  Tor- 
cato  com  o  dcGuimaraésipor- 
que  íeu  corpo  clH  na  Igreja  de 
Santiago  deGalIiza,leuado  aly 
dadeS.Vitouro  deita  cidade, 
pello  Arcebiípo  Dom  Diogo 
Gelmircs  jComoja  diflcmos, 
de  heconílante  tradição^  &  o 
teftificão  hillorias  de  fè  incor- 
rupta, ôc  que  não  padece  con- 
tradição. 

15  Sò  reíla  agora  exami- 
narduas  couías  nas  palauras, 
que  de  luliano  referimos, por- 
que íe  embaraçarão  com  ellas 
algús  cfcritores ,  Sc  por  lhe 
não  atinarem  com  a  íaida,não 
duuidaraõ  arguillas  de  falias. 
Hea primeira:  como  chamá- 
doíeo  noflofanto  martyrdo 
nome  da  pia  Torcato,  ôc  de 
fobrenome  Félix, no  decimo 
fexco  Concilio  Toledano  fc 
firmou  Felix,fé  fe  nomearTor 
cato, pondo  o  fobre  nome,c5- 
tra  o  vzo  daquelles  téposjon- 
de  íempre  os  Bifpos  firmauao 
o  nome  proprio,núca  o  patro 
nimico,&  da  farailia .  He  a  fe- 
gunda,  cm  que  Martyroiogio 
achou  luliano  o  que  nos  con- 
ta defte  fantOi  porque  nos  de 


que  vlàa  Igreja  Romana  por 
nenhúa  via  íe  le  o  q  cUe  refere 
16  Reípondcndo  logo  a 
eíl:a  fegunda  duuida,  certo  he 
que  em  diíFerentes  Igrejas  ou- 
ue  antiguamentc(&  ainda  ho- 
je em  algúgs )  diíFerentes  Mar- 
tyrologiosj  de  que  fe  foi  per- 
dendo o  vzo  depois  q  fe  intro 
duzio  oRomano,  ode  Vfuar- 
do,Â:  outrosi&era  coufa  muy 
ordinária  terçada  Cathedral 
íeu  MariyrologiOjCm  q  hia  põ 
do  os  varões  mais  illuftresq 
nella  florcceraõ,&:  por  ventu- 
ra erão  parte  dertes  as  taboas  q 
chamauáo  Diptycas  j  onde  íe 
clcreuiaõ  os  nomes  dos  Prela- 
dos ,  ôc  outros  íàntos  nota- 
ueis ,  paraq  dclles  ouucííe  me- 
moria; as  quacs  afsy  como  fe 
chamauão  Jgiographos ,  il\o 
he  efcritura  de  íantos  ,  afsy  as 
podia  também  chamar  Iulia> 
no  Marf^rohgios^  irto  he  me- 
moria dos  m.artyres.  Pergutar 
agora  a  luliano  em  q  Martyro 
logio  leo  o  q  nos  diílc  de  Saõ 
Torcato ,  he  querer  pergutar 
pellos  Martyrologios  ,  pellas 
Diptycas  antiquiíTmias  das 
Igrejas  do  Padra5,doPcrto,de 
Braga,  onde  S.  Torcato  foiBif- 
po,e  pellas  dcToledo  onde  foi 
Arcipreftejq  deforça  cada  hua 
deftas  cidades  o  auiaõ  de  ter 


Nn 


entre 


422 


(Capitulo  CL 


entre  os  feiís  mais  ill nitres  va- 
rões ,  como  gloriofo   mar- 
tyrck  nofia  Fè.  Todos  elles 
veria, &  leria  luliano,  por^  pe 
ra  os  defcobrir^iSj  ler,  teue  cu- 
rioridaciej&  ocaíloés. 
17     Indícios  ha  ferem  aquel- 
las  palauras  do  Martyrologio 
Romano  em  i6.dc  Feuereiro 
quãdo  íe  celebra  a  fefta  do  noí 
lo  íanco  Bilpo ,  &  feus  vinte 
&   fere  companheiros.  Item 
Sanãortím  mar  ty  rum  For  tu- 
nati  ,  l:f  Fdícís ,  If  aliorum 
ij.  Isfc.  em  íeus  verdadeiros 
originaes  ,  &  primeira  fonte. 
Itt  Sanãoriim  TorcafiFelicis, 
tf  ãliorú,  z-j.  &  q  o  defcuido 
dos  que  os  copiarão  daquelles 
manuícriptoSjdondediz  Baro 
nioforaõ  tomados  _,  mudarão 
Torcati  em  Forttinath  &í  por 
lhes  parecerê  dous  ,  meterão 
entre  Forttmati^di  Fdicis  a  cõ 
junção_,{7',  não  auendo  de  fer 
afsy,pois  todo  o  nome  perté- 
cia  a  hú  fò  fogeito.Em  hú  Mar 
•tyroiogio    antiquiflimo    de 
mão  q  foi  dos  conigos  Regra- 
tes  do  mofteiro  de  Roriz  de- 
fte  Arccbifpado,  que  eftà  no 
Collegio  da  Companhia  de 
lESVSdefta  cidade  falta  a  cõ- 
junçaõ^.  Afsyqbé  poderia 
acontecer,  q  ate  no  Martyro- 
logio Romano  leria  luliano  j 


parte  do  q  nos  deixou  efcrito 
deS.Torcato,&  nãohaperaq 
duuidar  de  fua  verdade. 
18  No  q  toca  à  primeira  du 
uida  das  palauras  de  lulianOjhe 
coufa  certa  q  osBifpos  q  aíli- 
íHaõ  nos  Concílios  íirmauaõ 
cò  o  nome  próprio,  ou  cõ  o 
íobrenome,  ficando  iílo  em 
feu  arbítrio  :  &  cada  hú  guar- 
daua  a  form^a  que  melhor  lhe 
parecia.  O  Arcebifpo  de  Bra- 
ga &  Toledo  Leodeciíío  lu- 
liano,no  13,  14,  òc  1$.  Conci- 
lios  Toledanos  fempre  aíll- 
nou  com  o  fobre  nome  de  lu- 
liano. Nos  Cardeaes  da  Igreja 
Romana  fe  vc  efte  coftume 
mais  frequente, ainda  que  ta- 
bem  muitas  vezes  deixáo  o  no 
m.e  da  familia,  &  fe  firmãocõ 
o  nome  da  peílba.  Náo  ouue 
nefte  particular  regra  táo  cer- 
ta^que  pofla  fazer  argumen- 
to prouauel  por  hu^^  ou  ou- 
tra parte.  Em  Saõ  Torcato 
parece  corria  mais  aigúa  re- 
zaõ  de  fantidade  pêra  deixar 
o  Torcato ,  òí  tomar  o  nome 
de  Félix :  por  que  como  aquel- 
le  era  argumento  de  familia  il- 
luftrede  que  procedia ,  fazia 
merecimento  em  o  deixar, 
pois  lhe  nacía  a  omiííàõ  de 
animo  humilde,  di  defejofo 
de    encobrir    fua  nobreza . 


Com 


S.  Viãor. 


423 


traH,  de 
Prim,  c. 


Cem  tudo  Deos  ordenou  q  | 
pcllode  Torcaro.q  efcondia, ! 
irais  cj  pcllo  deFelix  có  que  íir 
maiia/oíle  conhecido  cm  Por 
tugal ;  aindac}ne  tambc  pcllo 
deFelix^  teueaílazdc  felicida- 
de lua  memoria  em  Caftella: 
comolcvè  dos  dous  lugares 
deS.Felices  noArcebifpadode 
Toledo, (Sc  S.Felices  dosGalle- 
í^os  nodcCidadRodrigo.Qnã 
do  padeceo  martyrio  o  glorio 
íoíáco^ depois  de  Sérgio  loaõ 
VI.  loaÕ  VIÍ.  Sifinnio  ,  & 
Cóílantino  tinha  a  Cadeira  de 
S.Pedro  o  Papa  GrcgorioII.  & 
auia  perdido  a  Monarchia  de 
Heípanha  ElRey  D. Rodrigo. 
19  Foiogloriofo  S.Torcato 
Félix  o  vitimo  Prelado, q  teuc 
eflalgreja  em  quanto  durou  o 
Reino  dos  Godos.  Ia  diíTemos 
como  em  íeu  tempo  entrarão 
os  Mouros  em  Heípanha,on- 
de  fizeraõ  cruel  eflraeo.  Che- 
garãoaBraga,  &:  executarão 
nella  o  furor  bárbaro ,  derru- 
bando edificios,aílolando ,  òi 
podo  tudo  por  terra.  Em  quã- 
to  durou  eíla  calamidade  ha 
pouca  memoria  dos  Prelados 
defta  Igreja^  porem  confta  que 
confcruaraó  fempre  o  titulo, 
&  honra  de  Primazes  de  Heí- 
panha ,  como  ja  em  outro lu- 
^ar  moftramos. 


CAPITVLO  Cl. 


S  A  M     VICTOR 

martyr  XXXXVI.  Ârce- 
bifpo  de  Braga, 


Oraõ  os  tem- 
posdequeeí- 
creucmosjfe 
bem  calami- 
tofos    pêra  o 
cftado  temporal  de  Hefpanha, 
felicillimos  c5  tudo  pêra  aRe- 
ligiaõ,&  Fè  Catholica,porquc 
quafi  por  todas  fuás  pouoa- 
çoés,íe  virão  pelejar  valerofa- 
mente ,  não  íó  os   Prelados  de 
mayor  calidade,&:cõfideração, 
mas  toda  a  forte  de  fieis  ,  cuja 
cóftanciatraziaeípantados  os 
Mouros,abominando  entretã 
to  muitos  delles  fua  maldita 
feita ,  &  paflandofc  a  militar  de 
baixo  das  bandeiras  deChrilio 
verdadeiro  capitão. 
2,     Tiueraõíemduuida  gran- 
de lugar  entre  os  mais  os  Ar- 
cebifpos  de  Braga  como  pri- 
meiros na  dignidade ;  fcauiaõ- 
nos  fuás  ouelhas  alentadas ,  & 
como  forçadas  de  feu  exêplo. 
Tal  fe  moftrou  no  capitulo 
paílàdo  SaÕ  Torcato  Fclix , 


Nni 


òí 


424 


'Capitulo  CL 


.  Si  ícjs  2.7.  companheiros  :  tal 
veremos  noprelente  aS.  Vi- 
dtor  com  outros  dous ,  Ale- 
xandre, 5:  MucianOjOLi  Maria- 
no, íeizundo  a  variedade  com 

... 
que  (c  ierão  as  primeiras  letras 

deíciínome  quando  foraõa- 
chadns  parte  de  íuas  relíquias 
noalrar  mor  deftaSè,  como 
I020  contaremos. 
3         He  pois  o  calo ,  que  va- 
gado a  Primacial  de  Braga  pel- 
lo  slorioío  triunfo  deS. Torça 
to  Fciixjà  depois  de  deílrnidaa 
cidade  por  MuçacapicáoMou 
ro,  o  Clero  delia  tomou  por 
feu  Prelado  a  S.  Viólor, cujas 
letras ,  ôí  virtude  entre  todos 
fe  auétajaua.Era  jà  entaõaPre 
lazía  de  Braga  náo  fò  cargo  de 
honra,  mas  carga  peíadiísima 
de  trabalhos  pellarezáo  dostê 
pos,&  eftado  em  qfe  via  a  ci- 
dadc,&  mais  terras  de  Heípa- 
nha:porem  afsy  mais  acomo- 
dada pêra  híi  tal  efpirito^ôí:  ge- 
ncroiídade  como  adeS.  Vi- 
élor. Aceitou  a  eieição.-não  ía- 
beremos  dizer  quantosannos 
depois  de  morto  S.  Torcato: 
poucos  dcuiáo  íer ,  pois  entre 
os  sloriofos  martvres  nenhú 
outro  Arcebilpo  achamos. Ar 
dia  entre  tanto  aperíeguiçáo 
dos  Mouros,  &  naquelles  cõ 
mayor  fúria  que  mais  encon- 


trauão  íuas  abominações. Vi- 
uiãoeícondidos,  <k  retirados 
de  íuas  Igrejas  íeus  Paílores, 
huns  por  couas,  outros  por 
deíertos.  Al^l!i^s  porem  ,  cm 
que  o  zelo  da  Fè  era  mais  fer- 
uentc^acodiaõ  aos  lugares  de 
maycr  perigo  pêra  darem  ani- 
mo aos  cjue  ja  ellauão  Prcla- 
dos,&  comcçauáo  a  entrar  na 
batalha  da  reliizião, 
4  Baeçacidade  do  Reyno 
dcCartclla  era  naquella  cca- 
ííaõ  o  amphiteatrOjCm  que  os 
bárbaros  exercitauáo  mayores 
crueldades  nos  íieis .  Pêra  aly 
com  todo  o  Ímpeto  do  eípiri- 
to  foi  leuado  o  Arcebii  po  Vi- 
d;or  cõos  dous  cõpanheiros, 
que  ja  acima  nomeamos,&  co 
mo  ate  no  nome  leuauaale- 
gurançada  vitoria,  por  fuás 
exhortaçoês  a  alcançarão  pri- 
meiro muitos  martyrcs  glorio 
los  ,a  quem  elle  dentro  de 
poucos  meies  feguío,  íendo 
prelo  com  os  íeus  dous  com- 
panheiros,&  mar ty  rizados  to 
dos  com  exquiíiios  géneros 
detormentos/ofrendoos  tao 
alegres  como  quem  nellcs  ti- 
nha a  fegnrança  da  gloria  ,  q 
os  efperaua.  Sucedeo  íeu  mar- 
tyrio  j  conforme  a  luliano, 
em  16.  de  Setembro  do  an- 
no    de   noílà  redenção  734. 


ou 


S.  Víãcn 


425 


ou  em  17.  de  Outubro^lcnão 
íaò  outros  os  Santos  Vicftor 
Biípo ,  Alex-ancire ,  &  Maria- 
no^que  neííc  dia  poeni  niarty- 
rizados  cm  Hcípanha  o  Mar- 
cyroiogio  Promano.  As  pa- 
lauras  deluliano  dizem.  Ali- 
quanto prius ,  Jcilicet  iC.  Ka- 
lendasOãob. Baecia.qu^  Bacia 
dícitur,  niinc  Daeca  S.  Viãor 
Epijcopus  Bracharenfis^Alexa- 
der  ^hf  Mucianusmartyres ^i^ 
concilies. 

j  Algíías  relíquias  deíles  três 
marcyres  foraõ  trazidas  a  eíla 
cidade^  &  collocadas  no  altar 
mor  da  Sè  quando  reformou 
feu  edifício  o  Cõde  DõHenri- 
quc  ha  mais  de  quinhécos  an- 
nos.Alyforaõ  achadas  no  té- 
po  do  Arccbifpo  DóDiogo  de 
Soufa ,  q  faleceo  em  1 9.  de  lu- 
nho  de  ij'3z.quandore  desfez 
a  capella  velha,pera  íe  fazer  a  q 
hojedura^ertando  metidas  em 
húa  boceta  de  chúboj&  enucl 
rasem  pano  delenço^cõ  feu  ro 
culo  dentro, cujas  letras  ,erão 
asfcguintcs.  OSSA.BB.MM. 
VICTOR. EPISCOP.  BRA- 
CHAR.ETSOCIOR  ALEX. 
i!f  MVXaáoÇc  facilmente,  6c 
fó  na  vitima  do  nome  do  fegi^- 
do  c(5panhciro  deS.  Vidor  ou 
ue  algúa  variedade^  porq  híís  a 
tiL'craõ  por  V  outros  porA,&: 


na  verdade  híía,  &  outra  letra  . 
repreíenraua:  o  q  deu  occaíia j 
a  julgareao  iamo^  ja  por  Mu- 
cio^Muciano,  Munio ,  Muni- 
íio,  jà  por  Martinho^  Marco^ 
Mário,  ívdaíin.o,  em  í;m  de  ta- 
ras outras  maneirasquãcas  ad- 
mitia a  Icrra  mal  coiihecida_,& 
pcor  formada. 

6  De  todo  eíle  fucc/lo  deu  re 
laçáo  cm  hú  papel  de  fua  letra, 
q  eltá  em  noílb  poder,  ao  fe- 
nhor  Arcebifpo  Dõ  fr.  AgoíH 
nhodeCaílrojO  padre fr.  Ber- 
nardo de  Bmga  rcligiofo  de  S. 
Bento  muy  veríado  em  to- 
do o  género  de  antiguidade  de 
cujos  eícricos  faz  tanto  caio  o 
hiftoriadcr  da  inefma  religião 
fr.  A  ntonio  deíepes ,  como  ncl 
le  encõtrarão  os  curiofos  a  ca- 
da paíTo.Diz  pois,q  ellç  achou 
ella  memoria  no  feu  cartório 
de  Tibacs,  efcrita  por  hum 
Religioío,  que  cntaÕ  aly  vi^ 
uia  chamado  fr.Thecdoro:  &: 
acrecenta  que  lhe  parece  cflc 
Saó  Victor  hum  PvclÍ2Íoío  feu 
celebre  então  na  fua  Ordem, 
&  Abbade  dos  Moíleircs  de 
Tibacs ,  &í  Miranda  ,  &  q  del- 
ia foi  tirado  pcra  Arccbifpo 
de  Bra^a ,  &  leuou  conlmo 
aos  outros  dous  (  também 
monges)  Alexandre,  &c  Mu- 
ciano^quãdo  fe  partío  aBacça. 


Nn3 


"7   Con- 


420 


Capitulo  CL 


7      Coníultou  íobre  os  nieí-  f 
mos  três  íantos  martvrcs  ao 
Padre  Icronymo  Rúmaii  dela 
Higucra  da  Companhia  de  le- 
í  us    o  padre  Pedro  FranciícOj 
dameíma  Companhia ,  cuja 
diligenciacmdeícobriros  ían- 
tos de  Porcuíralfoi  be  conhe- 
cida  entre  os  íeusReligiolos: 
mandoLilhe  o  Padre  Higuera 
por  repoíla  as  palauras  de  lu- 
liano  na  forma  que  aciraaas 
relatamos.  A  carta  origmaí  deu 
o  padre  ao  íenhor  Arcebiípo 
Dom  fr.  Aízoílinho  de  Ca- 
íbo3 porem  cila  não  anda  en- 
tre as  <jue  o   mefmo  íenhor 
mandou  lançar  em  liuro,&  íc 
guardaõ  neí1:e  cartório:  a  co- 
pia que  o  padre  Pedro  Fran- 
ciíco  guardou  pêra  fy  nos  fci 
dada  entre  outros  papeis  ícus 
onde  achamos   o  que  imos  ú- 
creuendo. 

8  O  Padre  Cofme  de  Ma- 
galhães o  poé  entre  os  Prela- 
dos deita  Igreja,  o  meímo  faz 
Gaípar  Aluarez  Loufada.  Mas 
nem  iílb ,  nem  o  mais^  que 
temos  rcíerido  foi  baftante  pe 
ra  o  contarem  por  tal  os  que 
ordenaraõo  Catalogo  da  Sa- 
criftia.Tão  defcuidados  íomos 
cm  couías  próprias.  Igual  def- 
cuido  foi  o  do  padre freiTheo 
doro/cas  precioíàs   relíquias 


achadas  no  altar  velho  lecol- 
locarão  outra  V€z  no  nouo: . 
de  crer  he  que  fy  j  &  pois  em 
Heípanha náo  achamos  leuã- 
tada  outra  íepultura  ao  reíHce 
das  relíquias  deíles íantos  mnr- 
tyres/irualhe  por  taleíte  noí- 
fo  altar,  &  íique  lendo  aos 
moradores  delta  cidade  hum 
nouo,  ôcfortiilmio  aimazem, 
como  de  ordinário  chama  às 
íepulturas    dos  maryrcs  Saò 
Chryíoílomo.  Era  no  tempo 
que  padecerão  martyrío  Saó 
Vid:or,  &  feus companheiros 
Somo    Pontífice    Zacharias, 
Rey  dasArturias^óc  Galiza  Dó 
Aííonlo  o  Catholico, 
9       Atèqui  tinha  chegado  a 
vida  deile  íanto  quando  por 
carta f\ia dez;,  de  Abril  dcfte 
anno  de  1634.  o  Choro niíta 
mor  de  fua  Mageikdc  Dom 
Thomas  Tamayo  de  Vargas, 
(varão  de  fnigular  prudécía,& 
incrediuel  erudição  em  todo 
o  género  de  boas  letras,  como 
íem  cila  noíla  recomendação, 
o  telliíicaõ  as  obras  com  que 
atègora    enriqueceo    Heípa- 
nha) nos  aduirtio  dapreten- 
ção  que  no  gloriofo  S.  Vidlor 
como  Biípo  íeu,  &  em  feus 
dous  companheiros  como  na 
eidos  dentro  de  ícus  muros, 
tinha  a  cidade  de  Baeça,íem  ad 


mitir 


«íw 


S.Viãor. 


4V 


micir  entralk  Braga,  nem  ain- 
da em  requirimenco  de  os  ancr 
como  proprioij.H  porque  lhe 
pareceo  fiindana  coda  noílà 
julliça  nas  palauras  que  aci- 
ma referimos  de  luliano  da 
maneira  que  na  imprefiaò  íai- 
raóa  luz  ^  afiirma  auer  nellas 
tantos  erros  comoíylÍabas,& 
que  pcUos  manulcriptos  le 
deuem  emendar  na  forma fe- 
f^uinte  Ali<iuanto  prius  ^fcili- 
cet  iG.KúkndM  Oãobris  Bae- 
ti^^qu^  Biatianúc  Baeca  S.Fi 
ãor  Epifcopus  Biattenjis  AU- 
xander^  ly  Marianus  martyres^ 
iff  cor^c/iieí .  Ficando  por  for- 
ça deíla  mudança  de  Bra- 
charenfis ,  em  Biatienfi:;^^ng3. 
íemSaó  Viâ:or,<S(:  Baeça  le- 
nhora  dacaufa,  em  que  nunca 
teue  melhor  fundada auçáo  da 
qihequifcraõdareítesmanuf- 
criptos,  &  ella  podia  tomar 
por  auer  íído  o  lugar  em  que 
os  noííos  fantos  valeroíamcn- 
tc  padecerão,  &  glorioíbs  triú 
p  liara  6. 

IO  Acodindo  pois  pello 

que  nos  toca  agradecemos  em 
primeiro  lugar,  &  eítimamos 
aaduerrencia  que  íe  nos  da, 
porque  conhecemos  o  animo 
de  íeu  autor ,  &í  veneramos  a 
erudição  de  íeus  efcritosrporé 
feriamos  notados  de  muito  li- 


bcraes ,  íe  por  tão  leues  fun- 
damentos largaílcmos  caõef- 
clarecidos  martyres.  Sabemos 
muito  bem ,  que  a  Bacça  cha- 
mou Pcolemeu  Bi^cia^  os  La 
unos  Biatia ^  os  Godos  Bea- 
tia,  os  Mouros,como  hoje  os 
Heípanhoes,-ôí5;^p:  ôí  que  em 
tempos  anciguos  foi  cidade 
Epilcopal  como  fe  ve,  pellos 
Concilios  de  Toledo  n,  13. 
14.  ij.  doutros.  Não  nega- 
mos que  poderá  andar  conta- 
do por  BiCpo  fea  Saõ  Vidor, 
foi  porem  fácil  fer  auido  por 
tal  por  auer  aly  padccido.Não 
he  iò  a  cidade  dcBaeça  a  que  fe 
enriquece  com  íemelhanccs 
furtos.  Que  não  íeja  íèu  S.Vi- 
ctor, nem  léus  dous  compa- 
nheiros,aquellas  rehquias  íuas 
que  ha  mais  de  quinhentos  an 
nosforao  collocadas  no  altar 
mor  da  Sè  de  Braga,^  achadas 
ha  mais  de  cera  annos  nelle  o 
prouão  fem  fallencia,  faluo  fe 
também  aqui  nos  quiíl-rem 
mudar  o  BracharenJIi\cm  Bia 
tienfs  ,  como  agora  o  fazem 
em  luliano.  Os  que  naquelle 
altar  collocaraõ  as  íantas  reli- 
quias  viueraõ  mais  vizinhos 
ao  tempo  que  o  fánto  Arce- 
bifpo  padeceo ,  &  puderaó  fa- 
ber  com  certeza  a  que  cidade 
pertencia,&em  qual  padecera. 


Nn4 


Eiles 


42  8 


(^apiHtlõ  Cl. 


EUcs  que  lhe  chamarão.  Bra- 
charífis  por  deBraga  o  tiueraõ, 
&c  não  por  de  Baeça. 
1 1  Qiianto  mais  que  faz 

entrarem  duuidaanouahçao 
de  í  uhano,  que  ou  poderia  na- 
cerda  períuafáo  de  algum  a- 
feiçoado  a  Bacça  ,  ou  da  pou- 
ca noticia  do  que  fc  rinha  por 
taoaueriguado  cm  Braga. Mui 
ro  he  ( copiandofe  todos  cíles 
nianuícriptos  deíuhano ,  co- 
mo tábem  nos  auiza  o  qo  pu- 
bhcou  imprcíToDó  Lourenço 

Ramircz  dei  Prado  do  oriai- 

,  .      .  .     ^ 

nalj  queprnneiro  veo  a  mao 

do  padre  leronymo  Roman 
delaHiguera)Icr  elle  Bracha- 
renfis^&í  não  Biatienjis^  como 
achamos  na  fua  carta^  cuja  co- 
pia guardou  o  padre  Pedro 
Frãcií'co;c  agora  apparecer  de- 
pois de  íua  morte  como  lição 
legitima  a  Biatienjis,  &  riíca- 
ca  por  baftarda  ,  &  fuppoííti- 
cia,  a  Bracharenfs  ?  Naô  te- 
mos a  Braga  por  tão  pobre  de 
íantos  Prelados  quenecefsire 
pêra  os  auer ,  de  erros  de  húa 
impreflaõ.  Iflb  he  pêra  outras 
Igrejas,  onde  pêra  auer  íâncida 
de  hc  neccílario  andala  mendi- 
gando p-.liuros,qucdenouo 
Te  publicão.  Mas  rambem  não 
fotremoSjque  nos  autores, cu- 
jas obra>  apparccem  de  nouo, 


quando  lua  narração  diz  com 
os  tempos,  ík  outras  memo- 
rias de  particulares  Igrejas  íe 
ponha  vicio  ,  pclío     perigo 
que  dahi  reíulta  de  nada   íe 
dar  por  certo.  Temos  por  tão 
juftihcado^  &  amigo  da  ver- 
dade ao  Chronifta  mor  Dom 
Thomas  Tamavo  autor  de- 
fta  aduerrencia  ^  que  nem  por 
lha  não  recebermos  deixara  de 
nos  dar  outras,  nem  terá  por 
ra5  mal  fundada  nofla  juftiça 
fobreSaó  Vicftcr,  que  a  não 
anteponha  ã  da  cidade  de  Bae- 
ça. A  lua  carta,  &  rezoés  íatis- 
fizcmos  com  o  que  antes  delia 
tínhamos  cfcrito  de  Saõ  Vi- 
ítor. 


CAPITVLO  Cl. 

HERON  IO  XXXXFIL 
Hermini^ildo  XXXXP'III 
Jacobo  IL.  Arcebijpos  de 
Braga, 


CHAMOS 
em  Juliano  q 
cíles  rres  Pre- 
lados de  Bif- 
pcs  de  C,ara- 
goça  foraó  tresladados  pêra  a 


òè 


Ferdjfch 


'de 


/:^ 


lí' 


\  iédeBropa.  Porem  não  apó- 

aJne.paA  ^'-^  ^^'^^  ^^^  ^^^'^  ^^^"^  ^^^^  ^^^^^ 

lãdaçãOy  nem  íe  acháo  no  Ca- 
talogo dos  Eiípos  daquella 
Igreja,  que  tez  Padilha,  &  alsy 
difi^.CLikcíanicnte  Ic  lhe  pode 
oliinar  lugar  certo  O  que  nos 
parece  he,  queforaõ  não  mais 
que  ticLf lares  no  tempo,  que 
cíleue  encomendada  ella  Igre- 
ja à  de  LugOjComo  adiante  ve 
remos.  E  quando  aísy  não  íe- 
ja,  lhe  damos  efte  lugar  cm 
quanto  íe  lhe  não  pode  aílinar 
outro  mais  próprio. 


c  APiTVLo  cm. 

F  E  R  D  I  S  E    N   DO 
L.  Arcebifpo  de  Braga, 


E  os  bons  àt- 


ípfe^^  íejos  dográ- 
f;Ê^!^^S)  ^^  í^ey  Dom 
n\(^j^J^W  AH-oío  o  Ca- 
iÉf>^^^'fwiM^MCT)  tholico  che- 
carão a  crteito  ,  mais  de  preíTa 
onueramosde  ver  e(la  cidade 
de  Braga  ,  &  íua  Igreja  tirada 
das  miíeraueis  ruinas,em  que 
a  deixarão  a  fúria  mdlitar,*ík:  cn- 
cranhauel  odio  às  coufas  de 
noíla  fanra  FédosMourosAra 


bcs,  queporeilaeiurarâo.  Vi^ 
o  pijísuiio  lley  quanta  dor^^^,' 
íencimento  cauíaua  nos  cora- 
ções de  todos  os  fieis  verem  a 
Igreja  Primacial  de  toda  Heí- 
pauha^a  cidade  antiguamente 
Chanccilaria  do  império,  ôè 
Corte  dos  Reys  Sueuos  polia 
por  terra  ^  fem  apparecer  de 
lua  antigua  mageltade  mais 
que  os  campos  ondecítiuera. 
Não  podia  coníidcrar  íem 
grande  ientimento  que  húa 
Sè  fundada  pcllas  maõs  do 
Apoftolo  Santiago,  a  íegunda 
Igreja  de  toda  a  Chriítanda- 
dc,em  quea  may  de  Deos  fen- 
do ainda  viuajaera  venerada; 
a  íepultura,  &  lacrario  de  tan- 
tos ,  ôc  taõ  fantos  Prelados 
eftiueíícm  por  terra  ícm  elle 
procurar  leuantalla,pera  qual 
outra  Phenix  generoia  de  íuas 
próprias  cinzas  renacer  mais 
fcrnnofa. 

t  Pêra  fair  com  eftes  in- 
tentos, &  obra  verdadeiramé- 
te  de  Rey  Catholico ,  qual  elle 
era  no  nome,  &  nas  acções, 
praticou  primeiro  o  negocio 
com  os  de  fuaCorte^-Sj  depois 
por  confelho  de  todos,  entre- 
gou a  empreza  a  Ferdi fendo 
Arcebifpo  titular  da  mefma 
Igreja  (  cík  he  a  primeira  me- 
moria,qdefte  Prelado  temos) 


pe 


ra- 


430 


Capitulo  CJII. 


perac|ue  elle,  como  mais  intc- 
rcçadojlhe  delíe  todo  o  calor. 
Neíles  bons  princípios  cftaua 
areftaiiraçáo  de  Braga,  quan- 
do íobreciindo  no  íecimo  an- 
no  de  íeu  reinado,  di  de  noíTa 
redenção  745.  nouas  guerras 
com  CS  Mouros  o  diuerciraõ 
deíla  taõ  íànta  ocupação  ,  òí 
lhe  quebrarão  demancíra  as 
forças,  que  não  pode  tornara 
clla^ainda  que  muito  o  dcíeja- 
ua.  De  tudo  o  que  temos  re- 
ferido nosdà  relação  húa  carta 
dclRey  Dom  AífonrooCa- 
ftojque  fe  guarda  no  cartório 
deita  Igreja,  pelía  qual  o  Rey 
como  em  encomenda,  &  cm 
adminirtração  da  também  o  q 
então  auia  defta  Igreja  à  de  Lu- 
go,  &  diz  o  faz  por  lhe  fatis- 
fazero  que  lhe  tomara  para 
enriquecera  de  Ouiedo,  cujo 
como  fundador,  &  particular 
protcâ:or  íe  tinha  feito,  t 
3  Coftumauão  os  Reys 
Catholicos  fuceílbres  de  Dom 
Pelayo  porBifpos  cm  todas  as 
cidades  Cathedraes,  tanto  que 
as  conquifèauaÓ  ,  &  tirauão 
do  poder  dos  Mouros.  E  ain- 
da que  os  Bifpos  naõ  podiaõ 
refidir  em  fuás  Igrejas ,  nem 
fazer  feu  officio  por  naÕ  tere 
rendas  perafuafuftcntação,^ 
dosminiftros  Eccieiíafticos, 


por  as  cidades,  ^<.  téplos  elía- 
rem  dellruidos,com  tudocó- 
feruauão  íuapoílè,  (Sc  o  titu- 
lo dos  Bifpados,  &  morrendo 
hum  fucedia  outro  na  meíma 
dignidade,  6<: Prelazia  titular. 
Por  eftarezão  recorrerão  pri- 
meiro muitos  a  Galiza,  depois 
a  Afturias  bufcãdo  a  Corte  dos 
Reis  j&as  cidades  Epifcopaes 
quecítauaóem  pèizentas  do 
jugo, &  fogeiçaódos Mouros 
peranellas  terem  íufèétação, 
&  algija  renda  pêra  paliarem  a 
vida,  como  tiueraõ  na  Igreja 
de  Iria ,  òc  na  de  Ouiedo ,  on- 
de a  vinte  Bifpos  titulares  fe 
alíinaraõ  Igrejas,  de  quefc  fu- 
ílentaíTem  honcftamente,  c6- 
forme  o  aperto ,  &í  neceífida- 
de  daquclles  tempos,  como 
conftado  Concilio  de  Ouie- 
do, que  fe  celebrou  cm  tem- 
po delRey  Dom  Aífonío  o 
Magno^deque  adiante  faremos 
menção,^:  de  híía  efcritura  de 
doação  feita  por  ElRey  Dom 
Ordonho  Il.à  Igreja  de  San- 
tiago, que  traz  Lobera  nas 
grandezas  de  Leão  que  tradu- 
zida diz  afsy. 

5  Coiifanotauelhcque 

quando  os  Mouros  entrarão 
em  Hefpanha ,  &  a  deftruir ao 
entre  aquelles,  que  fugindo  de 
fua  crueldade,  fe  retirarão  às 

mon- 


Ferdifcndo. 


431 


moncanhas  ds  Aítu  i' ias  ,&  Ga- 
liza fjraó  alguns  Biipos,  que 
clcixãdoíuas  Igrejas  em  mãos 
dos  Mouros  acodiraõ  ao  Bií- 
pado  de  Iria ,  o  qual  por  eftar 
no  vlciaio  deHeípanha  qualí 
n'i0  recebeo  dano  :  de  o  Bifpo 
que  cncáo  prefidia  naquella 
Cadeira  por  honra  do  Apofto 
lo  Santiago  os  recolheo  ,  &c 
acomodou,  aílinandollie  cer- 
tas rendas  de  que  pudeílem  vi- 
uer ,  &luftentar(ejatèqDeos 
lhe  reílituiíie  a  herança  de  feus 
antepaííados  .  E  porque  os 
Reys  que  me  precederão  fauo- 
recendoos  o  Ceo  tornarão  a 
cobrar  muitas  cidades  ,  Sc  ter- 
ras, ôi  lhe  reftituiraõas  Cadei- 
ras Epifcopaesreuafsy  mefmo 
por  auer  vencido  muitas  vezes 
meus  inimigos ,  ôc  tirado  de 
feu  poder  outras  muitas  ter- 
ras quero  (com  confclho  dos 
Bifpos ,  Sc  caualleiros )  que  as 
que  pertencem  a  alguns  Bif- 
pos que  como  dito  he  fehão 
íuftentado  na  Igreja  de  Iria 
(aíabcr  ode  Tuy,  &c  Lame- 
go) Ihefejáo  reftituidaSjafsy 
como  lhe  foraõ  dadas,  &c  alíi- 
nadas  pellos  Padres  antiguos: 
&  afsy  mefmo  fe  rellitua  a 
Igreja  de  Santiago  aquillo  que 
antiguamente  poíluyo. 
j       Deftaefcriturafe  moftra 


que  ouue  Biipos  titulares  em 
todas  as  Igrejas  ocupadas  pel- 
los Mouros ,  óc  que  fazião  rc- 
zidencia  fora  delias  nos  luga- 
res onde  felhe  applicauaõ  ren- 
das pêra  fe  fuftentarem.  Tal  fu 
cedeo  aos  Arcebiípos  da  Ca- 
deira de  Braga,os  quaes  depois 
de  ella  dellruida  por  mais  de 
trezentos  annos,que  eíleue  ar 
ruinada,conferuaraõ  fempre 
o  titulo  de  Arcebifpos,  como 
veremos  adiante  :  &:  aindaque 
algúas  vezes  foíle  cobrada ,  &c 
rertaurada  pellos  Reis  deLeao, 
com  tudo  não  na  fuílenta- 
uão^nem  tinhao  bafbntegê- 
te  pêra  lhe  por  prefidios,que  a 
defendeflem.  Afsy  erteue  com 
Arcebifpos  titulares  até  fua  re- 
ftauraçáo ,  que  fefez  no  tem- 
po do  Bifpo  Dom  Pedro ,  co- 
mo diremos  em  fua  vida. 
6  Tornando  ao  noílb  Arce- 
bifpo  Ferdifendo ,  fábemos  q 
por  fua  induílria  fe  tirarão  de- 
lia cidade  muitas  relíquias  de 
martyres,&:  outros  fantos  Pre 
lados jque  com  íuasfepulturas 
a  honrauão,&  defendiaõ.  Te- 
mendo que  naÕ  íícaílem  aly 
feguras  ,  íefoi  à  cidade  de  Iria 
Flauia ,  agora  o  PadraÕ ,  Sc  as 
leuoliconfigo,  Ôc  juntamen- 
te muitas  efcrituras  de  grande 
conforme   o 


importância 


achamos 


4  32 


Capitulo  C.IIIL  , 


achamos  em  memorias  anti- 
guas  defte  archiuo,  &  em  hú 
priuilcgio  dclRey  Ordonho, 
cjuedetudofaz  menção. Cha- 
mamos a  Fcrdifendo  Arcebif- 
po  titular  de  Braga,porqueatè 
oArcebiípo  Dom  Pedro  em 
cjuc  efta  Igreja  começou  a  cor 
nar  ao  que  dances  era ,  todos 
os  que  íc  chamarão  Arcebif- 
pos  de  Braga  pararão  fò  em 
ciculo,&  nome,  porqueaad- 
miniftração  de  fuás  terras  ( fc 
algúas  lhe  ficarão )  &  das  Igre- 
jas de  Dume  S.  Frucuofo_,  òí 
S.  Pedro  de  Maximinos ,  & 
S.  Vicoiwro  tudo  pertencia  ás  I 
Igrejas  de  Lugo  ,  &  Compo- 
llela/\r  não  tinhao  os  Arcebif-  i 
pos  em  Braga,  nemreíídencia  i 
onde  morar,  nem  renda  de  q  | 
fc  pudeílem  íuftentar,  como  , 
acima  dilícmos .  Pellos  annos 
em  que  nos  confta  foi  Arce- 
bifno  Fcrdifendo ,  era  Vi^aico 
deChrifto  na  terra  depois  de 
Gregório  II. &  Gregório  III. 
ZachariaSjRey  de  Afturias,^& 
Gailiza  Dom  AíFonfo  o  Ça- 
tholico. 


CAPITVLO  c.iiir. 

ARCARICOLI.  Arce- 
bifpo  de  Braga. 


O  I  o  Arce- 
bifpo  Arcari- 
co  varaõ  da- 
do por  parti- 
cular mercê 
do  Cco  aos  Remos  de  Hefpa- 
nha  no  tempo,  que  tanto  del- 
le  neceííitauão  afsy  a  gente 
vulí^ar,  como  os  feus  mais  fa- 
moíbs ,  5^  illuftres  Prelados. 
Foi  contemporâneo  de  Heli- 
pando  Arcebiípo  de  Toledo, 
aquelle  que  perleuerandoalgú 
tempo  na  boa,  &  fiel  doutrina 
da  Igreja  Catholica  deu  gran- 
de exemplo  de  fy  a  fua  Igreja, 
ate  que  perfuadido  de  feu  me- 
ílrc  Félix  Bifpo  de  Vrgel  veo  a 
cair  noerro,qcllemefmo  cn- 
finaua  dizendo  que  Chrifto 
Senhor  N.era  fò  filho  adopti- 
uo  de  Deos,  &  por  nenhú  ca- 
fo  natural.  De  dicipulo  de  Fé- 
lix fe  fez  Helipando  mefl:rc,& 
pregador  daquella  mà,  &  dia- 
bólica feita,  perfuadindoa  por 
fua  muita  autoridade    pri- 

meiro 


Jl_ 

ír.ciroa  íeiís  íubditos  depois 
a  outrosamigos  de  nouidadcs. 
Foi  la  u  rand  o  o  fogo,  $í  quan- 
do os  mais  Prelados  de  Heípa- 
nha  le  precatarão ,  &  vieraõ  a 
aduernr^acharaõ  qucFelix  por 
Catalunha,  Elipando  porCa- 
ílella  a  maneira  de  duas  fa- 
chas do  Inferno  tinhão  abra- 
zado  infinita  gente  ,diflicul- 
tando  a  cahdade  do  mal ,  Si 
os  autores  delle  a  prcíleza , 
&  eficácia  do  rcmcdio,  que 
fe  não  podia  por  com  facili- 
dade,pcr  íerem  Bifpos,  &:de 
tanta  autoridade, 
z  O  que  mais  fentío ,  & 

procurou  apagar  o  incêndio 
foi  ArcaricoArcebifpodeBra- 
f^ajafsy  pella  obrigação  de  fua 
Primazía,como  pellofcruoro 
lo  zelo  de  fua  Fé  .Efcreueo  lo- 
go a  Elipando,pedindolhe  vif- 
íe  o  mao  caminho,q  leuaua,os 
nouoserrosque  hia metendo 
em  Hcfpanha,  tão  contrários 
às  Diuinas  Efcrituras ,   onde 
com  tanta  euidcncia  fe  mo- 
ftraua  a  verdadeira,  de  natu- 
ral filiação  de  Chrifto  NoíTo 
Saluador .  E  porq  de  todo  fi- 
caífe  conucncido ,  largando  a 
pena  por  huj&  outro  teftamé 
to.lhe  fez  hiía larga  ,  &  cõpri- 
da  releição  de  lugares  da  Efcri- 
tura  Sagrada j  pondcrandoos 


cdriCG. 


/(■»■> 

T^  O 


com  grande  erudição  dos  Pa- 
dres antigaos ,  &  ac opanlian- 
docs  de  viuas ,  &  efficazcs  re- 
zoés  trazidas  cõ  a  íutileza  ^  &: 
agudeza  de  leu  engenho  tanto 
aponto_,que  Elipando  Icndoas 
logo  começou  a  afloxar  na 
pregação  de  feu  erro ,  &  a  ío- 
frcr  q  outros  eícreueílem  ,  & 
diíputaílem  contra clle_,como 
quem  queria  ,  6i  dcfcjaua  ja 
tornar  outra  vez  ao  que  ncíía 
matéria  mandaua  crer  a  Igreja 
Catholica,&  éfinauaó  em  íèus 
efcritos  os  fa^radosOoutores. 
3  Naõ  contente  com  clxa 
grande  dilipencia  Arcaricoxõ 
uocou  lego  Concilio:  o  lugar 
não  aponta  luliano ,  de  quem 
imos  tirando  toda  cfta  narra- 
ção 3  deuiaíer  algíía  das  cida- 
des de  Galliza  em  que  reinaua 
Vermudo:  os  Bifpos  os  da  fua 
Prouincia,  &  outros  mais  q  fe 
pudcílem  ajuntar.  Aly  íc  con- 
denou a  noua  heregia  por  vo- 
to j&  decreto  de  todos  aquel- 
les  Padres,&  parece  fe  mãdou 
de  tudo  o  decretado  relação  a 
Elipãdoro  qual  como  jaanda- 
ua  abalado_,&  defcõtéte  da  fua 
opiniaõ^pella  falfidadedclla,& 
pellas  cartas ,  q  na  mefma  oc- 
cafião  auia  recebido  do  Sumo 
Põtifice  Adriano  primeiro  do 
nome,  &  de  Carlos  ívíagno 


Oo 


pouco 


434 


(Capitulo  Cl  III. 


chro  pa(>, 
99' 


pouco  depoisEmperador,ou- 
ue  tctalmente  de  vomitar  a 
peçonha,  &  alimpar  o  cora- 
ção j  &  entendimento  de  ve- 
neno tão  prejudicial.  Pêra  o 
fazer  com  mais  credito  de 
noíla  íantaFé ,  ôc  porque  afsy 
lho  pediáo ,  &  aconlelhaiiáo 
também  o  íobredito  Empera- 
dor,&  o  noílo  Arcebiípo  Ar- 
carico,  chamando  a  Concilio 
aToledo^ertando  prefen  tesos 
Biípos  Matano  de  Alcala,  Pe- 
dro de  Oreto,Marcello  de  Va- 
lença, &  outros ,  proteftou  q 
elle  em  tudo,&  por  tudo  que- 
ria eftar  na  matéria  da  adop- 
ção de  Chriftó  pellas  determi- 
nações da  Igreja  Catholica^do 
que  tudo  fedeu  conta  a  Ro- 
ma por  embaixadores  particU'- 
lares, fendo  jà  Siímo  Pontifi- 
ceLeãô  III.  do  nome.  Nefte 
Concilio  fe  tratarão  mais  ou- 
tras matérias  de  importância, 
de  q  não  fazemos  aqui  relação, 
por  não  pertécerê  a  elfa  hillo^ 
ria,&  fe  pode  ver  cm  luhano. 
4  Por  outra  parte  Félix  Bif- 
podeVrgel  tabem  cahioem 
fy,&  paitindofea  Roma  de- 
pois que  eíkue  naquella  cida- 
de, efperando  hum  dia  ao  Su- 
mo Pontifice  na  Capellade 
Saõ  Pedro ,  fe  lhe  lançou  aos 
pes,  &  pedio  perdão  de  feu 


erro  com  grandes  lagrimas: 
leuouo  nos  braços  Adriano, 
ôi  íem  tratar  de  outras  íatisfi- 
çoés,  ou  penitencias ,  o  man- 
dou outra  vez  pêra  íua  Igreja, 
donde  parece  o  tinhão  priua- 
do  os  Concílios  paliados ,  en- 
comendando, &  mandando 
aos  Bifposô  admiti ílem  ,  & 
trataíTem  como  a  bom,  &  íiel 
Prelado  Catholico. 
S  Pcríeuerou  ate  a  morte 
Elipando  em  fua  penitencia, 
Si  arrependimento.-feftejarão- 
na,  Sc  deraõlhe  delia  os  para- 
béns por  cartas  os  Bifpos  de 
Itália, França,  Sc  Alemanha-, 
porem  as  mais  frequétes  eraõ 
as  que  recebia  do  nollo  Arce- 
bifpo  Arcarico ,  a  quê  por  to- 
da a  vida  reconheceo  humilde 
por  elle  fer  inftrumento  prin- 
cipal de  fua  reducçaõ.  Do  erro 
de  Elipando  trata  larga  ,  Sc 
eruditamente  o  padre  Gabriel 
Vafquez,o  qual  pellas  muitas 
rezoês ,  que  allega  contra  fua 
final  penitencia,&  conuerfaó, 
a  deixa  muito  em  duuida^  co- 
mo diííemos  no  tratado  da 
Primazia.  O  mais  que  per- 
tence à  vida  de  Elipando 
profeguem  Morales,  Dom 
Thomas  Tamayo ,  Sc  outros. 
Ao  Arcebifpo  Arcarico  cha- 
ma luliano  doutiílimo,   Sc 

lantif- 


Arzimundo. 


43  5 


íantillimo  :  Goiíernou  cila 
Igreja  entre  os  annos  deChri 
llo78o.&797.emq  tiueráo  a 
Cadeira  de  Saõ  Pedro  ( depois 
de  2acharias,Efi:euáo  II.  Efte- 
uãoIII,  Paulo,  &  Efteuão 
lIII.)osSúmosPótiÍTÍcesAdria 
no  I.  &  Leão  III  EraõReis  das 
Aílurias  Sylo,  &  Mauregato, 
Vermudo  primeiro  defte  no- 
me,&  vkimamcntc  DõAíFon 
fo  o  Cafto. 


CAPITVLO  C.V. 

AR  G  I  M  FNDO  LU. 
Arcebifpo  de  Braga. 

Articular  af- 
fciçáo  teueíé- 
preElRcyDõ 
Affõfo  o  Ca- 
fto à   cidade 
deOuiedo.    Intituloufe  Rey 
delia,  mudou  pêra  aly  fua  cor- 
tc,cdificoulhea  Igreja  niayor, 
no  mcímo  íitio  (  mas  de  obra 
maisexcellente)emq  feu  pay  a 
auia  edificado.  Sobre  tudo  pre 
tendeo  amplialla,&  leuantalla 
a  Metropolitana^  tirando  a- 
quclle  titulo,  &  dignidade à 
de  Lugo ,  que  então  puíluya 
pcUo  direito  antiguo  que  em 
algum  tempo  tiuera  de  Me- 


a  I  I  tropoiícana  no  tempo    dos 
ReisSueuos,que  depois  fe lhe 
tirou  quando  aqucllc  Reino 
íc ajuntou  com  o  dos  Godos, 
&  íe  deu  Lugo  por  fulFraga- 
neaà  Igreja  de  Braga  na  diui- 
laõ  dos  Birpados,q ue  fe  fez  no 
Concilio  de  Toledo,  de  que 
tratamos  cm  feu   lugar.  De- 
pois da  entrada  dos  Aíouros 
cmHelpanha,&:deftruição  da 
cidade  de  Braga  começarão  os 
Bilpos  de  Lugo  a  intitularfc 
Metropolitanos  dos  Prelados 
titulares  ,  &  das  Igrejas   de 
PortugalA'  Galliza,  que  cfta- 
uáo  deftruidas  pellos  Mou- 
ros, fcm  terem  outro  funda- 
mento mais  qefte  pcra  a  dig- 
nidade Metropolitica  de  que 
vfauáo. 

i     Pêra  melhor  expedição  de 
feus  defcnhos ,  pcrfuadio  El- 
RcyDom  Aííbnfoaos  Biípos 
das  cidades  defuaCoroajfc  ajij 
ta/Iem  cm  Cõcilio  na  deOuie- 
do, &  aly  decõmíj  coníènti- 
mento,&:  por  votos  de  todos, 
íccócluiílea  dezejada  ereiçao 
da  noua  Metropoli,  obrigado 
aos  Prelados  fuffraganeosaLu 
go  darem  obediência  aos  de 
Ouicdo,rcconhecendo  aquel- 
la  Igreja  cm  tudo  como  fupc- 
rior,domodo  que  reconhe- 
cião,&  obedeciáo  à  de  Lu^o.  | 


I 


fÍíp.CAf,S 


Ooi 


Foi 


436 


CaptuloCVI. 


Foi  a  vontade  do  Rey  a  regra 
dados  Prelados:  ajútaraÕíeno 
amio  de  Chrifto  8ii.  exciíi- 
guiraó  o  direito  Metropoliti- 
co,  cjaeem  Lugo  pretendiaõ 
os  Prelados    daquella  Igreja- 
paíTaráoiioa  Ouiedo,como 
conlla  do  mefino  Concilio ,  a 
que  comúmente  chamamos  o 
primeiro  de  Oiiiedo .  Acha- 
£ãofe/&  aíTinarào  nelle  Ar- 
gimundoBifpo  de  Braga,  An- 
dulfo  de  Ouiedo,  Theodí- 
miro  de  Coimbra  ,  Diogo  de 
Tuy,  Ouimaredo  de  Lugo, 
Gomelo  de  Aftotsa ,  Vincen- 
cio  de  Leão,    Abundancio  de 
Palcncia,  loa 5  de  Occa. 
s3-^íb  r  Naõobftantearefolu- 
ção  tomada   neíle  prnneiro 
Concilio  de  Ouiedõ  acerca  da 
V     ,.,    ereiçáodanoua  Mctropoli  ,a 
Igreja  de  Lugo  perieuerou  nó 
titulo  que  ate  aly  poíTuyaj  ate 
oanno  de  900.  fem  nunqua 
fcus  Prelados  deixarem  de  íe 
firmar  nas  juntas,  &priuile- 
gios    Arcebiípos ;    ou  foffe 
porque  reclamarão  os  Decre- 
tos do  Concilio  j  ou  porque 
acharão   lhe  faltara  a  autori- 
dade do  Sumo  Pontifice ,'  ne- 
ceííariaperaaquclla  mudança^ 
onde  osprejuizos,  &  danos 
daMetropoh  extindla  lhe  pare 
I  ciaõ  notórios. Mas  como  nos 


3  ''•i9* 


Reis  íe  folie  continuando  fem 
pre ,  &  perpetuando  a  vonta- 
de de  acrecentarem  Ouicdo, 
não  ceílàraÕ  ate  totalmen- 
te a  cíFeituarem.  Mas  diíto 
diremos  na  vida  do  Arce- 
bifpo  Argimiro,  por  aly  di- 
reitamente pertencer.  Tinha 
por  eftes  annos  a  Cadeira  de 
Saó  PedrOjdepoisdeLeaõ  IIL 
&  íeu  fuccíTor  Eíleuao  V.  o 
PapaPaíchoal  L  &  o  Reino  de 
Ouiedo,&  GallizaElRcy  Dó 
AfFonfo  o  Cafto. 


CAPITVLO  C.VL 

NO  ST  R  J  NO  LIII. 

Arcebifpo  de  Braga. 

M  TEMPO 
delRey  Dom 
Alfófo  o  Ca- 
fto no  anno 
dçChnftode 
83 z  coníta  de  inftru mentos 
q  eftão  noarchiuo  defta  Igre- 
ja celebraríe  hum  Concilio 
em  Ouiedo  ,  em  q  fe  achou  o 
noílo  Arcebifpo  Noftrano,& 
nelle  teue  o  primeiro  lugar  de- 
pois de  Ildcberto  Legado  da 
Se  Apoftolica,  q  prcíidíp  no 
Concilio.Depois  deNoftrano 

afliná 


DuL 


I: 


cidw. 


437 


allina  ^ylarcinho  Bifpo  de  Dii-  f 
me  .  Não  ha  outra  memoria 
delle  Prelado.  Gouernaua  a 
Jgrcja  de  Deos  por  cfte  tépo, 
depois  dePaíchoal ,  Eugénio^ 
d:  V^alentino  o  Papa  Gregório 
IIÍÍ.EraReycle  Allurias  ,  & 
GailizaDom  Aftonío  oCafto. 


lib  3.r.3 


CAPITVLO  c.vir. 

DF  L  C  I  D  l  o   LIIII. 

Arcebifpo  de  Braga. 


Lguas  peílbas 
d  outasjôi:  en- 
tre cilas  fr,  le- 
ronymoRo- 
man  tempe- 
ra fy  ,  que  Dulcidio  ,  ou  Dul- 
cio  Arcebifpo  de  Braga  foi  o 
Prelado ,  que  íe  ackou  prefen- 
te  na  batalha  de  Oauijo,  & 
aífinou  na  eícritura  da  doação 
dos  votos ,  que  íe  oferecerão 
a  SantiagOjOs  quaes  ainda  ho- 
ie  duraõ  em  Hefpanha .  Traz 
cfta  eícritura  Dó  Mauro  Fer- 
rer  na  hiítoria  de  Santiago  ,  & 
he  fua  data  no  primeiro  de 
lunhodaeradeSyi.  queheo 
auno  de  Chriílo  834.  Aílina- 
raõ  em  primeiro  lugar  ElRey 


Ramiro,  &  íua  molher  a  Rai- 
nha Vrraca/Sc  leu  Hiho  ElRey 
Ordonho,&  ícu  irmão  ElRcy 
Garcia.  Logo  depois  dos  Reis, 
aílína,&  confirma  o  nolío  Ar 
ccbifpo  de  Brag3,dizendo  Eu 
Dulcio  Arcebifpo  Cantabrié- 
le,  quemeachei  prcíentc  c6- 
firmo :  aílinaraõ  mais  os  Bif- 
pos  Suario  de  Ouiedo,  Oueco 
de  Aítorga,Salamaõ  das  Aílu- 
riasj Rodrigo  de  Lugo  ,  Pedro 
deIria,com  outros  fildaigos, 
&  títulos  da  caía  PvCal. 
i  Todaa  duuida  confifte 

em  o  noílo  Arcebiípo  aílinar 
com  titulo  de  Arcebiípo  Can- 
tabrienfe,  &  não  Bracharenfe, 
como  aílmarão  todos  os  Ar- 
cebiípos  de  Braga  nos  Concí- 
lios ,  &  ados  em  que  fe  acha- 
uão.  Mas  toda  ella  ceíla  com 
dizer  que  anda  errada  a  fo- 
fcripfió,  &  onde  ouuera  de 
dizer  Bracharenfis ,  fc  tresla- 
dou  por  ignorância  Canta— 
britjis.  Arezão  he  porque  em 
Hefpanha,  onde  a  vitoria  íu- 
cedeo,  èc  a  efcrituraíefeznãõ 
auia  Arcebifpo  algum  que  íe 
chamaííe  Cantabrieníe  ,  &  fò 
auia  o  Bracharenfe,  que  con- 
forma muito  com  o  nome 
Cantabricnfe ,  em  que  ouue  a 
equiuocação  .  Prouaíc  mais 
porque  todos  os  Bipfos  que 


O03 


acom- 


43  8 


Capitulo  C. VIL 


acompanharão  a  ElRey  Rami- 
ro na  jornada,  &  aHinaraõ  na 
elcritiira  eraõ  prelados  de  Gal- 
liza  :  &  naquelle  tempo  co- 
ftumauaõ  todos  osBiípos  do 
Reino  acompanhar  íeus  Reis 
nas  jornadas  quefazião.  Eaf- 
fy  naõ  auia  de  faltar  entre  elles 
o  Arcebifpo  de  Braga, mayor- 
mente  íendo  a  jornada  taõ  pia, 
&  de  tanto  feruiço  de  Deos. 
Ecõfirmafe  illo»  porque  não 
auia  ncnhú  Arcebifpo  de  Can- 
tábria etn  Hcfpanha  ,  que  pu- 
de íTeacópanhar  a  ElRey,  &  fe 
o  auia  em  França,  &  tomou 
titulo  de  toda  a  Prouincia,  co- 
mo quer  Dom  Mauro  Fcrrer, 
deixando  as  difKculdades  que 
tem  eíla  report:a,não  tinha  pe- 
raquc  vir  de  França  ajudar  a 
El  Rey  Dom  Ramiro,  nem 
nòsparaqueo  admitir  entre 
os  mais  Bilpos  deGalliza,pois 
as  hiftorias  daquelle  tempo 
nenhúa  menção  fazem  dcfta 
vinda. 

3  E  coníla  claramente  q 

a  efcritura  que  traz  Dom  Mau 
ro  Ferrer  elH  viciada  na  cra_,  & 
nas  firmas  dos  Prelados:  na 
era  porque  fua  data  foi  dez  an- 
nos  adiáte  daquelle  em  que  fe 
lança,afabcrnaerade88i.  & 
não  na  de  871,  cm  q  apoê  Dó 
Mauro  Ferrer:  nas  firmas  por- 


que o  BiípoOuecoque  leal- 
íina  Jsíuricenfe  le  cuucra  de 
aííinar  Aurienfe  pois  foi  Bifpo 
de  Orcnfe_,  &:náode  Altor- 
ga,  como  íeconuence clara- 
mente da  mcfma  cícritura  on- 
de allinou  Salomon  Bifpo  de 
Aflcrga,&.'  não  podião  alfinar 
dous  Bilpos  da  mcfma  Igreja 
no  mcímo  tempo.  A  cíle  Bil- 
po    Oi:eco   pcem  no  Cata- 
logo dos  Prelados  da  Igreja 
de  Orcníe  emendando  o  er- 
ro da  cícritura  que  lhe  chama 
Jjftiricenje ,  o  Doutor  Frãcif- 
co  dcCarrcira  doCapo  conigo, 
maeifiralda  Sé  de  Orcníe  em 
hum  Catalogo  M.  S.  dos  Bif- 
pos  daquella  Igreja,  que  nos 
cõmunicoUjfendo  viuo  ^ondc 
proua  q  na  era  de  88z.  que  he 
anno  de  Chriito  844 .  fucedeo 
a  batalha  deClauijo^&quepor 
aquelle  tempo  era  Oucco  Bif- 
po daquella  Igreja  ,  porque 
na  era  de  886.   que  he  an- 
no de  Chrifto  848,  confir- 
mou hum   priuilegio  que  o 
mefmo  Rey  Dom  Ramiro  o 
I.  deuâ  Igreja  deCaflro,que 
elle  vio,  &  Ico,  Sc  affirma  que 
he  o  mais  notauel,  &  curiofo 
de  Hcfpanha:  &  em  húa  pedra 
da  Igreja  de  Caftroeftàeícri- 
to  em  letras  claras  o  tempo  em 
que  foi  fagrada,  &  o  Prelado 


lue 


Suicídio 


439 


vo 


thea/r. 


Bifpo!  ^e 

■^ftorg.x. 

cap.  1 1 . 


que  fez  a  fagraçao,  &  confta  q 
foio  BifpoOuecooque  a  la- 
grou  no  aiino  de848.  Diz  afsy. 
tpifcopHs  Obeccus  conf.  no  q 
naõ  aduretío  o  ClironiftaGil 
Gonçaluezde  Anila  pondoa 
Oueco  encre  os  Biípos  de  A- 
ftorga ,  enganado  com  a  efcri- 
cura  referida,  íendo  na  verdade 
BifpodeOrenfe. 
4  Donde  te  eira  claro  argu- 
niéco,queaísyc3nn  n-:i\ã  fir- 
ma do  Bifpo  de  0:éle  Ousco, 
ôc  na  datãyôc  era  eilà  viciada  a 
eícritura,aísy  oetUtaiibern 
na  firmado  Arcebiípo  DjIcí- 
dio,aquem  chama  Canta- 
hrienfís  ^  deuendo  cíiamarlhe 
Bracharenjis.  E  de  crer  lie  que 
auendo  Arcebifpo  em  Braga, 
comoaaia,elleíolleo  qaeaeó- 
panliou  aElRcy ,  &  confir- 
mou a  eícritura,  &  nio  o  de 
Cantábria  eftrangeiro  porfan 
giie,  defconhecido  no  titulo, 
&  pella  incerteza  do  lugar  on- 
de era  Arcebifpo,  Prelado  de 
nenliuadiocefe.  Pella  que  te- 
mos por  miy  prouauel  que 
o  Arcebifpo  deBraga  foi  o  que 
(cachou  naquella  batalha,  &c 
que  a  firma  Cantabrienfe  eftà 
viciada ,  por  culpa  de  que  não 
foube  ler,ou  copiar  o  priuile- 
^io  em  fua  origem,  afíío;uran- 
dofelheapalaura  Bracharenfe, 


CMtabrienfe. 

/  Deu  motiuoefte  erro, 

à  íè  por  duuida  na  eícritura  re- 
ferida, arguindoa  alguns  auto- 
res de  falíà ,  por  allinar  nella 
Dulcidio  Arcebifpo  de  Cantá- 
bria Metropoli  nunca  nomea- 
de  entre  as  de  Helpanha ,  em 
todas  quãtas  diuifoés  de  Igre- 
jas le  fizeraõ  nella,  em  tempo 
dos  Romaiios,Sueuos,  &  Go- 
dosj&:  aindaque  Dom  Mauro 
Fcrrer  íàtisfaz  com  boas  re- 
zoes  aos  fundamentos  cm  có* 
trario.  Com  tudo  não  foltaâ 
duuida.A  melhor  foluçãõ  dei  • 
lahe,  que  Dulcidio  foi  A  rce- 
bifpo^BracIíarenfe,  &  não  Cá- 
tabrienfeji^  que  no  copiar,  òi 
lerda  efcritura  elleue  o  erro, 
como  parece  coufa  certa. 
6  Outra  duuida  fe  moue 
também  contra  ell:a  efcritura, 
em  quáto  fe  nomea  nella  Dul- 
cidio com  titulo  de  Arcebif- 
po ,  não  fe  vfando  naquelle 
tempo,  fenão  o  de  Metropo- 
litano. Mas  pêra  nolfo  inten- 
to importa  pouco  ,  viflo  co- 
mo fò  pretendemos  prouarâ 
aíHílencia  do  Arcebifpo  de 
Brasa,  &c  não  de  Cantábria, 
com  ElRey  Dom  Ramiro  no 
tempo  da  batalha.  Com  tudo 
o  Homede  Arcebifpo ,  c5  q  fe 
firmauãoos  Metropolitanos^ 

O04  he 


19. 


440 


QapttuloC.VlII. 


/r^'77 


d. 


fap.j^ 


he  muito  mais  antiguo  em 
Itália,  Ôí:  HefpanhajCjue  ap- 
prdente  cícricura,  comodif- 
íemos  na  vida  do  Arccbirpo 
Benigno  ^  di  fe  proua  de  efcri- 
turas  antiguas  do  mefmo  ce- 
po, fobre  que  difcurfa  larga, 
&  doutamente  Dom  Mauro 
Ferrer.  Quando  Dulcidio  re- 
gia efta  Igreja  de  Braga,gouer- 
naua  aCatholica  Romana  o 
Papa  Gregório  IIII&  era  Rcy 
deAfturias,  &c  Galliza  Dom 
Ramiro  o  primeiro. 


CAPITVLO  C.VIII. 

G   L   A  D   I  L   A      LV. 

Arcebifpo  de  Braga. 


M  H  V  M 
Concilio  q  fe 
celebrou  em 
têpo  delRey 
Dom  Rami- 
ro I.  foi  eleito  Arcebifpo  de- 
fta  Igreja  de  BragaGladila  Ab- 
bade  de  hum  molreiro  do  Pa- 
triarcha  íaõ  Bento  chamado 
faõ  Paulo  de  Trubias ,  junto 
de  Muros  em  Afturias.  To- 
mou efte  Religioío  varão  o 


habito  de  mõgc  naquclle  mo-  1 
fteiro ,  a  quem  fez  doação  de 
toda íua fazenda,  &i  nellevi- 
veo  em  companhia  dos  Reli- 
giofos,fazcndo  vidamuy  fan- 
ta.  Foi  eleito  Abbade,  &  da  hy 
o  tirarão  pêra  a  dignidade  Ar- 
cebiípal  de  Braga,  os  Padres  de 
hum  Concilio  ,que  parece  fe 
ajuntou  em  tempo  dclRey 
Dom  Ramiro.  Sendo  ja  Arce- 
bifpo no  anno  dcChriftode 
86^.  confirma  todas  as  doa- 
ções que  de  fua  fazenda  tinha 
feito  ao  feu  moftciro  de  Tru- 
bias,  aílinaõ  na  cferitura  os 
Bifpos  Gomelo,  Rodiíindo, 
Scruato,  Fronimino,Feliniro, 
Paterno  Abbade.  He  a  data  na 
era  deCcfar  901.  que  he  anno 
de  Chrifto  863 .  guardafe  no  ar 
chiuo  da  Sc  de  Ouiedo ,  a  que 
efte  mofteiro  de  Trubias  com 
outros  muitos  eftà  vnido.Cõ- 
fíao  que  temos  dito  do  te- 
ftimunho  do  mefmo  Arcebif- 
po Gladila,  o  qual  falando  cõ 
os  feus  Relidofos  Ihedilíeno 
latim  bárbaro  daquelles  tem- 
pos aspalauras  feguintes.-Pr^c- 
teritis  temporibusfub  príncipe 
Alfonfo  eleãione  Fratrum,pa- 
ãum  reziiU  accefsi  roboratu- 
rus  fvna  cum  Ccçteris  presby- 
ter  is  ^  Iffratribus ,  qui  me  ibi- 
dem fibi  ehgerunt  abbatem  in- 


com- 


S..  Comba  ^^  S.Leonardo 


441. 


to.l  cet. 
)     " 
■4.  Atm. 

\Lhnfit 

86j. 


commutahiliter  ibidem  cúom- 
nia  mea ,  ^  fuhfequente  domi- 
nijsimoprincipe,  me  indignam 
ad  hoc ,  loco  "v estro  abflramm^ 
perjanãum  Concilium  ad  Pon- 
tijicalemperiienire  gradum^de- 
gensfuper  Bracharenfem  fe- 
dem.QucTcm  dizer  o  que  jatc 
mos  referido.  Trás  o  padre 
frei  António  de  Icpes  eftas  pa- 
lauras  naChronica  da  Ordem 
de  Saõ  Benco,fcm  nos  dar  ou- 
relaçáo  dos  annos ,  ou 


tra 


lugar  cm  que  fe  celebrou  a- 
quelle  Concilio, donde  íahio 
Gladila  Arcebiípo  de  Braga, 
nem  do  tempo  que  viueo . 
Gouernaua  por  cites  annos  a 
Igreja  de  Dcos,depois  de  Gre- 
gório IIII.  Sérgio  1 1.  Leão 
II II.  &  Benedito  III.  o  Papa 
Niculao  primeiro:  era  Rey  de 
Leão  &  Afturias  Dom 
AfFonfo  o  Mag- 


no. 


^!n-?;- 


CAPITVLO    CJX. 

A  N  TA      C  O  MBA 

Virgem ,  Is^  SaÔ  Leonardo 
feu  irmao. 


EV  aComar- 
ca  de  Tralof- 
montes  dous 
irmãos  fan- 
tos  ,qahon- 
raraõ  no  tempo  que  os  Mou- 
ros tinhão  ocupada  toda  a- 
quella  Comarca  nadeíVriijçáo 
geral  dcHeípanha.  Foraó  eíles 
aVirgemS,  Comba,  d:feu  ir- 
mão S.  Leonardo.  Naceo  efta 
fanta  minina  em  hum  lugar  q 
chamão  Lamas  de  Orelhão  na 
Comarca  de  Tralofmontes 
deftc  Arcebifpado  de  Bragaj 
era  filha  de  hum  laurador  po- 
brCjguardaua  o  gado  de  íeu 
pay,&  muito  mais  fua  pure- 
za, &  virgindade,  que  tinha 
ofFerecido  a  Chriífo  efpofo 
feu.  Dotoua  a  natureza  de  fer- 
mofura  rara,cõ  q  íc  fazia  amar, 
&  cobiçar  de  todos,  porque 
leuaua aposfy  os  olhos,& co- 
rações dos  que  a  vião..  .Tinha 
naquelle  tempo 


o  gouerno 


.  V  OA;'j  <-* 


4|2 


r  -iSíil^C         Capitulo  C.IX, 


de  toda  a  Comarca  húMouro 
poderofo  que  com  titulo  de 
Rcy  a  fenhoreaua ;  chegoulhe 
informação  da  fermoíura  da 
Virgem  Sanca  Comba,  &  de 
modo  íclhe  aíTeiçoou^que  tra- 
tou logo  de  a  conquiftar ,  ou 
por  brandura,ou  por  força,& 
violência.  Vfou  de  promeflas, 
ôc  rogos,  mas  foi  em  vão  por- 
que a  Tanta  o  defenganou  que 
tinha  oíferecido  fua  pureza  a 
outro  efpofo,  &  Rey  mayor, 
qual  era  o  do  Ceo,com  quem 
naó   tiiihão  comparação   os 
mayores  Monarchas  da  ter- 
ra. *''^  c 
z      Indignou  fe  o  Mouro  co 
arepoíh,  &  por  muitas  dili- 
gencias, que  fez  pêra  a  ver,  ôc, 
íe  encontrar  com  ella  -,  a  fanta 
fcefcondia  femprc  de  manei- 
ra, que  nunca  pode  alcançala 
de  vifta.  Ardia  em  raiua  o 
Mouro,  &  não  via  remédio  a 
fua  paixão.  Sucedeo  hum  dia 
que  faindo  à  caça  a  hum  mon- 
te andaua  a  innocente  paíto- 
rinha  defcuidada  guardando  o 

Igado  com  fcu  irmão  Leonar- 
do no  mais  alto  da  ferra.  Vioa 
o  MurG,V^  corrêdo  com  mui- 
ta pr^íTa  pêra  tomar  vingan- 
ça do  deíprezo  cõqueotra- 
taua,  valendofeaíànta  mini- 
nadoCeo,  que  com  grande 


feruordeelpirito  chamou  em 
ícu  fauor  ,  milagrofamente  íe 
fez  inuiííuel  metcndofe  por 
dentro  de  hiía  penedia,  qucfe 
abrio ,  &  a  recolheo  em  íy. 
3        Ficou  fruftrado  o  Ivlou- 
ro  fem  mais  ver  aquella  a  que 
cuidaua  tinha  debaixo  da  lan- 
ça pcra  lhe  tirar  com  cila  a  vi- 
da j<Sc  milagrofamente  ficou 
o  golpe  imprcíTo  na  meíma 
pedra  ondea  íãnta  fe  recolheo. 
Porem  não  podendo  vingar- 
fc  da  Virgem  fanta  Cõba  exe- 
cutou a  ira  no  innocéte  pafto 
rinhoLco nardo  irmão  da  fan- 
ta,a  quem  à  força  de  feridas  c5 
a  lança,  que  nas  mãos  leuaua 
tirou  a  vida.  Ficou  efte  mila- 
greimpreíío  naquella  penedia, 
ôi.  muito  mais  na  memoria 
dos  moradores  dolugar.Ncllc 
cftà  híía  ermida  da  inuocação 
de  íanta  Comba,  &  no  mon- 
te onde  fucedco  o  milagre  na- 
ceo  logo  hija  fonte  em  teíti- 
munho,  &:  prouadcUe,  cujas 
agoasfaõ  taõ  faudaueis ,  que 
fe  chama  comijmente  a  fonte 
fanta.Concorrealy  muita  gê- 
te  em  romaria  de  toda  a  Co- 
marca pedindo  fauor  à  fanta 
em  fuás  neceílidades.  Antó- 
nio Ferreira  cantou  eftc  mila- 
gre eleganteméte  em  oitauari- 
ma,&cóclue  ofuceílb  dizédo.  | 


Senhores 


S.  Comba  ,  Ç^'  S.Leonardo 


443 


Senhor ef  conto  o  que  meus  olhos  ^irao 
Vi  osfinaes  da  pedra  milagroja. 
Bebi  afama  agoajjf  outros, que  ofentirao 
Agoafanta  lhe  chamnojs' preciofa^ 
ifio  os  '-U1U0S  aospaysyilf  aucs  ouuirãO 
Hi floria  diuina  he^naofabulofa^ 
Os  templos,  i^  os  altares  duO  boaprouay 
E  com  milagres  mil  o  Ceo  o  aproua. 

Aly  '-vem  mil  cruzes, aly  ijem  mil -votos 
Cbuua  ora  leuao,ora  o  Ceofereno, 
Nao  efpanta  a  alta  ferra  aosfeus  deuotos, 
Nemcanfa  ao  ■velho^nem  ao  mo^o pequeno: 
Dos  ije^inhos  lugares,  ip"  remotos 
Vem  os  pafiores pedir  agoa^  tf  feno 
Aly  offerecer  "Vem  brancas  pombas 
Os  mocos  Lionardos,  mocas  Ccmbas, 


Efcreuem  deftes  Tantos  o  Pa- 
dre Vafconcellos  na  defcripção 
de  Portugal  ,  &  o  Padre  frei 
Luís  dos  Anjos.  O  tempo,  & 
dcícuido  dos    paílados    nos 
'p^.iji.   emcobriraõ  o  anno  em  que 
íucedeo  eíl:a  marauilha   Da- 
moslhe  o  prefente  lugar  em 
quáto  lhe  não  achamos 
outro  mais  pró- 
prio. 


I 


CAPITVLO  C.X. 

A  R  G  I  MIRO    LVI. 

Arcebifpo  de  Braga. 


Choufe  efte 
Prelado  em 
Compofteía 
na  fagração 
da  Igreja  do 
Apoftolo  Santiago^  a  qual  ti- 
nha mãdado  edificar  de  obra 


íuntuola 


444- 


Capitulo  C.X» 


I  />  f.  12 


funtuoía  ElRey  Dom  Affonfo 
o  Magno.  Fezfe  ci\c  aClo  a  íín 
còdias  do  mesdeMayo  do  an- 
node  8o9.  (poftoqiie  alguns 
variaõ  cfta  conta)  com  a  ma- 
yor  pompa,&  folenidade  que 
acè  aqucllc  dia  fe  fizera  outro 
em  Hcfpanhaj  porque  pêra  el- 
le  veo  a  Compoftela  ElRey 
Dom  Affoníocom  a  Rainha 
dona  Ximena ,  com  os  Infan- 
tes feus  filhos,  17.  Prelados, 
&  quaíl  todos  os  fenhores 
Hefpanhoes.  Confta  iftodc 
híía  efcritura  pubhca^  quelan- 
çamos  no  Catalogo  dos  Bif- 
pos  do  Porto  aílas  cfcura ,  de 
cuja  declaração  ahy  tratamos. 
OsBifpos  que  fe  acharão  ála- 
gração  foraó  loão  de  Auca, 
Vicente  de  Leaõ,  Gomelo  de 
Aftorga_,Hcrmigildo  deOuie- 
do,  Dulcio  de  Salamanca , 
Naufto  de  Coimbra,Argimi- 
ro  de  Lamego,  Theodomíro 
de  VifcUjGumeado  do  Porto, 
lacobo  de  Coria  .  Argimiro 

T  1 

de  Braga,  Diogo  deTuy,Egi- 
lade  Orcnfe ,  Sifnando  de  Iria 
Recaredo  de  Lugo ,  Theode- 
ílndo  de  Britonia,  Elcca  de 
C,aragoça.Naõha  ordem  al- 
gua  nas  firmas,  nem  refpeiro  a 
dignidade  mayor,  ou  Metro- 
politana ,  cada  hum  dos  Pre- 
lados aíTinou  como  Ihepare- 


ceo.O  pouco  5  ou  nada  que 
polTuyaõ  defterrados  de  íuas 
Igrejas  ficandclhcíòos  títu- 
los delias  era  caula  de  não  li- 
tigarem muito  íobre  lugares, 
&c  le  contentarem  com  os  que 
lhe  ofierecia  a  forte,  íem  re- 
correr a  outros  refpeitosde 
mayor  conlidcração. 
1  Sagrada  a  Igreja  de  Cõ- 
poftela,  os  mcím  os  Prelados, 
queaífilliraõaoaiílo  dalagra- 
ção  ajuntarão  Concilio  on- 
ze meies  depois  na  cidade  de 
Ouiedoperaleuantar  aquella 
Igreja  a  Sè  Metropolina  con- 
forme a  ordem ,  que  auia  do 
Sumo  Pontífice,  &c  fe  fupri- 
mir  a  dignidade  Metropolita- 
na de  Lugo  crcada  auia  m  u  itos 
annos  quando  florecia  o  Rei- 
no dos  Sueuos ,  extinóla  de- 
pois no  tempo  que  os  Godos 
íenhorearaõ  toda  Hefpanha, 
&  refu citada  na  entrada  dos 
I  Mouros,  com  aruinadeBra- 
ga ,  &  fuás  fuíFraganeas ,  co- 
mo em  íeu  lugar  deixamos  re- 
ferido .  A  carta  que  o  Papa 
loão  IX.efcreuco  a  ElRey  Do 
AfFonfo  fobre  a  mcfma  ma- 
téria da  translação  da  dignida- 
de Metropolitana  da  Igreja 
de  Lugo  pêra  a  de  Ouiedo 
trás  Mariana  traduzida  cm 
Portuguez,  &  he  a  q  íe  feguc. 

loão 


Argemiro. 


445 


IluíÓ  Bifpo  feruo  dos  feiuos  de 
Deos  à  Ajfhri[oR.ey  Chrisiianif- 
jimo  5  íp'  aos  a^eneraueis  Bif- 
pos ,    iff  Jbhades  ,   tf  mais 
ChrisiaÓs.  Pois  que  no  cuida- 
do de  toda  a    Chrijlandade  a 
prouidencia  Ditiina  nos  fea;^ 
jucej^or  de  Sh  Pedro  Príncipe 
dos  JpoJIolos  j  pella  admoefia- 
áo  deNoJsoScnhor  lESF  Chri 
jh  fomos  apertados ^c6  a  qual  cÔ 
certa  --vo^  de  priuilegio  amoe- 
JIgu  a  S.Pedro  dizendo 'Z>osfots 
Pedro,tffohre  efia  pedra  edi- 
ficarei minhaJgrejaJJ'  -vos  da- 
rei M  cbaues  do  Reino  do  Ceo^ 
ijfc.  Ao  mefino  outra  ye^  dijfe, 
chegando  a  hora  defua  gloriofa 
paixdc,  eu  roguei  por  ti,porque 
mio  falte  tuafè^ÍP^tu  conuer  ti- 
do algúa  "veT^^  confirma  a  teus 
irmlios.  Porem  pois  afiama  de 
■-uofiafantidade  por  <uia  defres 
irmãos  Jjlpier ao  Vifitar  a  Igre- 
ja dos  Apofiolos^Seuero^tf  P>e- 
^iderio  Sacerdotes ,  nos  he  ma- 
nifejta  com  marauilhofo  cheiro 
de  bondade:  com  amoeflaçaofira 
ternal njos exhorto  que  coma 
graça  de  Deos  por  guia  perfe- 
uereis  em  hoM  obras  ^peraque  a 
abundante  b  ene  ao  de  Sao  Pe- 
dro  nojjo  protethr ,  tf  a  no/ia 
yos  empare:  tf  tod^  as  <ue\es 
filhos  charifs imos  que  algum  de 
yos  qui^^er  y>ir ,  ou  mandar  ter 


có  nofco,co  toda  a  alegria  de  co- 
ração, if  gcUo  efl)iritual,das-vl 
timtts  partes  deGallici;a^da  qual 
Deosyosfe2^gouernadorcs/omo 
legítimos  filhos  nofos  yos  recebe 
remos  E  d  Igreja  de  Ouiedo,  q 
conjofio  cójentimítOy  tf  a  "vof- 
fa  infianciafi-xiemos  Metropoli- 
tana ^mandamos  ^tf  cocedemos, 
q  deis  todos  a  fogeicao  deuida. 
Afsimefmo  madamos  q  tude  o  q 
osReisyOU  outros  qiiaef  quer  fieis 
jufilamzte  haÓ  offerecido,oii  offe- 
recert  daqui  em  diante  à  dita 
Igrejafeja  yàlido^tffirmepera 
todosepre.  Exhorto  outro  fv  a 
todos  q  ajaes  por  encomendados 
aos  portadores  deflcts  noj^as  le- 
tras. Deos  ^jos  guarde. 
3  DosBirpos^afliiliraõàfa 
gração  da  Igreja  de  Cõpoftel- 
la^iSsi  feajúnrão  nefteCõcilio, 
parte  craõ  das  cidades  queeíla- 
uáoem  poder  dclRey,  parte 
das  q  ocupauão  osMouros,(S«: 
fò  tinhão  o  titulo,  &  nome  de 
BirpoSjtal  era  o  coftume  daql- 
le  tépo^em  o  qual  de  húas  cida- 
des,&:  outras  auia  Biípos  cuja 
fuceííaõ  nãofalcaua^pofto  qas 
cidades  eftiueíle  dcfl:ruidas,ou 
ocupadaspellosMouroscomo 
acraz  tocamos.  Eftes  Prelados 
fe  ajuntarão  na  cidade  de  O- 
uiedo  por  ordem  delRey, 
I  onde  cm   comprimento   da 


pp 


con 


446 


Capitulo  C.X» 


up.e,iz 


j  conceflàô  Apoíloixa  aílenta- 
laõ  que  o  Bilpo  de  Ouieúo 
foflbArcebiípo ,  ôd  nomearão 
pêra  aquella  dignidade  por  vo 
CO  de  todos  a  £f  nunigildo  Bií- 
po  damelnia  igreja.  Feita  elU 
crec^aõ,  &  nomeação,  pare- 
ceo  que  conuinha,  que  os  Bií- 
pos,  que  não  tinháo  Biípados 
ajudallem  ao  deOuiedo,  & 
fe  repartiíle  o  trabalho  entre 
todos ,  ôc  cUe  de  fua  renda  os 
fuftcntaíle ,  &  que  afsy  a  ertes 
como  aos  mais  Biípos  aiíi  naí- 
íe  Igrejas  na  cidade  ,  ôc  Biípa- 
do  de  Ouiedo  _,  com  cuja  ren- 
da fe  fuiUntaficm  ^  quando  íè 
celebraílem  Concilios  ,  &  ti- 
ueílem  onde  íe  recolher  nas 
entradas,  que  de  ordinário  fa- 
ziaÕ  os  Mouros  nas  cidades  de 
que  eraõ  Bifpos .  Em  compri- 
méto  dcfteDecretoaíIinaraõ  a 
dczafcii  Bifpos  q  fe  acharão  no 
Cócilio  doze  Igrejas.  Coube 
neíla  repartição  ao  noíTo  Ar- 
ccbií  pode  Braga  Argemiro,& 
aos  Bilpos  deDume^á^  de  Tuy 
a  Igreja  deSãca  Maria  dcLugo, 
fundada  mca  legoa  de  Ouiedo, 
por  ter  rendas  capazcspera  fu- 
iknrar  tresPrelados.Aos  mais 
fcaííinaraõ  outras  Igrejas,  co- 
mo diííemos  noCaraiogo  dos 
Bifpos  do  Porto.  Também  fe 
aílinaraõ  ca^a-  pcra  moraréos 


I 


Prelados ,  quando  le  aj uncaliê  j 
cm  Ouiedo  peia  celebrar  Cõ- 
cilios.  Deita  repartição  proce- 
deochamaríeOuiedo  naquel- 
le  tempo  cidade  dos  Bilpos 
porque  a ellaacodião  os  Pre- 
lados a  quem  os  Mouros  lan- 
çauáode  íuas  Igrejas,  &  em 
Ouiedoachauão  iocorro,  ôc 
íuítétação.Acrecentou  ElRey 
Dom  Afionío  cila  noua  Me- 
tropolijis:  a  engrandeceo  com 
rendas,òi:  pnuiiegios. 
4  Entre  eites  Prelados  q 

airiftiraõ  nafagração  da  jgrcja 
de  Santiago  nao  põem  Mora- 
Icsaonolio  Argemíro  Arcebif 
po  de  Braga,n orneando  todos 
os  q  aíliltiraõ  nella,  nê  tambê 
na  iua  opinião  afliitío  nefte 
Concilio  deOuiedo  cclcbrad  o 
onzemefesdepoii  dafagração, 
porque  os  meímos  Prelados 
que  le  acharão  nella,foraó  os  q 
íe  ajuntarão  em  Ouiedo  pêra 
celebraréo  Concilio  referido 
no  anno  de  901.  como  diz  o 
mefmo  Morales.  Cõcudo  a  ver 
dade  he,q  em  hú,&  outro a6to 
fe  achou  prcfente,comoafíir- 
mãoIuliano,Mariana,&fr.Ber 
nardo  de  Brito,&:  cõfta  do  in- 
Itrumento  da  lagração,q  laça- 
mos no  Caralogo,&  de  hú  pti 
uilegio  delRey  Dom  Aílonlo 
concedido  no  mefmo  tempo. 

f     Aca- 


^5- 


Mtan.  in 

chro.fag. 

^^urian . 
It.J.e  18 
monarch 

CAf,l6. 

Cttt/tl  d. 
eap,  1  i. 


^Tloeodoniiro 


4^7 


j-  Acabou íe  o  Concilio 

noannode  nouccencos  &  hú, 
&  com  elle  íe  acabarão  tam- 
bém as  memoi-ias,  que  hacjc 
ArgemírOj  o  qual  não  tinha 
mais  que  o  titulo  de  Aiccbií- 
po  Primaz  de  Braga  ,  por 
porque  a  cidade  eílaua  deftrui- 
da  ,  íem  templo  ,  de  Icm  edi- 
fícios^tudo  os  Mouros  deíba- 
ratarão  _,  S:  puzerão  por  ter- 
ra com  fuás  entradas .  A  íu- 
ceílaõdos  Summos  Pontífi- 
ces depois  de  Nicolao  I.  foi 
continuando  em  Adriano  II. 
loão  VIII.  Marino  ,  Adria- 
no III.  Elteuáo  VI.  Formo- 
[oy  Bonifácio  VI.  Elleuaõ  VII 
&  loão  IX.  queporeiles  an- 
nos  era  Paftor  vniuerfal  de 
toda  Igreja  conforme  a  con- 
ta de  Bellarmino.  EraRey 
de  Lcaó  ,  ôc  Galliza 
Dom  Affonío  o 
Magno. 


CAPITVLO    CXI. 

T  H  E  O  D  O  M  I  R  O 
LFII.  Arctbifpo  de  Braga. 


ESTE  Pre- 
lado faz  mê- 
ção  luliano, 
dizendo  que 
aiíiífioemhú 
Concilio  quaíi  nacional,  que 
fe  celebrou  em  Toledo  no  an- 
no  iioueccntos  &  dez  do  Na 
cimento  de  Chrifto  fendo  Pre 
lado  daquella  Igreja  Blafio, 
ou  Bafileo.  Acharáofe  nelíe 
os  Bilpos  Egas  de  Valença, 
André  de  Merida,  Tlicodo- 
miro  de  Braga  ,  Adclfío  de 
Euora,&  outros  trinta  em  nu- 
meroifizeraõ  cânones  em  que 
tratarão  da  reformação  do  cle- 
ro, &:  da  mudança  da  reza. 
Naõ  achamos  de  Blallo  Ar- 
cebifpo  de  Toledo^  nem  do 
Concilio  referido  outra  noti- 
cia mais  qa  de  luliano  ,  o  qual 
chamalántoa  cfte Prelado, «í^ 
diz  q  morreo  no  annodc  9z6 
<k  que  lhe  fucedeo  Viíírano 
Arcediago  da   mefma  Igreja 

Ppz  de 


in  chroH. 


448 


Capitulo  C.XIL 


chro.fag. 
li  12. 


deToledo.  Náo  o  achamos  po 
rem  no  Catalogo  dos  Arce- 
bilpos  dclIajUem  ha  outra  me- 
moria íua.Gouernauaa  Igreja 
dcDeos  por  eftesannos  (de- 
pois de  loaõ  IX,  Benedi(5to 
IIII.  LeaóV  Chrill:oLiaõ,Ser- 
gioIIIJAnartalio  III.  do  no- 
me ^  conforme  a  Bellarmino: 
EraRey  deLeaõDom  Garcia 
filho  dei  Rey  Dom  Affonío  o 
Magno. 


CAPITVLO  C.XII. 

S  I  L  V  AN  ATO  LFIII 

Arcebifpo  de  Braga. 


A  MB  EM 
nos  dà  me- 
moria deíle 
fantoPrclado 
luliano  dizé- 
do  que  pellos  annos  deChri- 
fto  930.  florecião  com  fama 
dcdoutiíTimos,  &  fantiffimos 
Prelados  Siluanato  Bifpo  de 
Bra^a,&  Florefmdo  de  Orcn- 
fe ,  aos  quais  Bafílco  Bifpo  de 
Toledo  fendo  viu  o  cfcreueo. 
Não  diz  mais  Juliano  /  Suce- 
derão na  Cadeira  de  Saõ  Pe- 


dro a  Anaítafio  III.  Laudo, 
loão  X,  Leão  VI.  Efteuáo 
VIII.  &  loaóXI.queporefte 
tempo  tinha  o  Sumo  Ponti- 
ficado, conforme  a  Bellarmi- 
no :  era  Rey  de  Lcaõ ,  &  Gal- 
liza  Dom  Sancho  I.  do  no- 
me filho  delRey  Dom  Ra- 
miro. II. 


CAPITVLO  C.XIIL 

H    E     R    O    S       LIX. 

Arcebifpo  de  Braga. 


Chafe  me- 
moria deftc 
Prelado  cm 
hija  doação, 
q  fez  íaõ  Ro- 
fendo  ao  leu  moiíeiro  de  Cel- 
lanoua  em  Galliza  a  i6.dc  Se- 
tembro do  anno  de  Chrifto 
5)41.  era  de  CeíarpSo.  no  de- 
cimo anno  doReinado  de  Dó 
Ramiro  em  Ouiedo.  Entre  os 
Prelados  quenellaaflinaraõ  fe 
acha  Heros,  o  qual  firmou. 
Ego  Herus  Bracharenfis  Epif- 
copiis  Metropolitanus.  Eu  Hc- 
ro  Bifpo  Metropolitano  ác 
Braga :  os  mais  Bifpos ,  que  fe 

acharão 


lie 


eros. 


'449 


foi.  153. 


fol.óo.cii 


acharão  prcícnres,como  os  te  | 
fere  léronymo  Roman  de  la 
Higuera  cm  húa  carta  que 
cícreueo  ao  Lecenciado  Gaí- 
par  Aluarcz  Louzada^qiic  an- 
da no  primeiro  tomo  das  cou- 
fas  memoraueis  deíh  Igreja, 
íàó  OuccoBifpode  Ouiedo, 
Dulcidio  de  Salamanca ,  Her- 
minigildo  Bifpo  Legado  da  Sé 
Apoftolica,  Òueco  Bifpo  de 
Leáo  ^  Ssiamaõ  de  Aftorga, 
Diogo  de  Oreníe  ,  Vimara  de 
Tiiy  ,  Gonçalo  de  Coimbra. 
Sandoiialnas  íuas  antiguida- 
des de  Tuy  refere  eftcs  Pre- 
lados por  outra  ordem,  de  al- 
gús  com  diuerfos  nomes ,  di- 
zendo que  em  primeiro  lugar 
aflinou  Hermcigio  Bifpo  de 
Tuy,  chamandofe  Bifpo  ,  & 
confeflorpcUos  trabalhos  que 
padeceo  eftando  catiuo  em 
Cordoua  \  &  que  Vimara  ta- 
bem  Bifpo  de  Tuy,  que  naef- 
critura  aílínou  fora  fuceííor 
de  Hcrmoigio  por  renuncia- 
ção,  quefez  nelle.  Tudo  po- 
dia paílar  aíTi,  &  achar  Sando- 
ual  outra  efcritura  mais  corrc- 
Oi3. ,  donde  tirafle  aquella  me- 
moria do  Biípo  Hermoigio, 
de  que  não  confta  conforme 
as  firmas,  que  referimos  de 
Icronymo  Roman  de  la  Hi- 
guera: o  qual  aflirma  que  ou- 


ue  cíU  cfcricura  da  mão  do 
Bifpo  de  Plazcr.cia  De  ni  Pe- 
dro G;l  de  Azeuedo  com  ou- 
tras mais,  que  mandara  co- 
piar do  moíteiro  de  Ceilano- 
ua,  fendo  Bifpo  de  Orenfe. 
Também  fazmccãodonoíío 
Heros  Arccbifpo  de  Braga 
Dom  Mauro  Fcrrer  dizendo 
que  alíinou  na  doação ,  q  fez 
Saõ  Rofendo  ao  moíleiro  de 
Cellanoua. 

z  Tem.os  outra  memoria  dc- 
ItcSátoPrcIado  cmLuirprãdo, 
o  qual  Ihcchama  varão  fantif- 
íímo.Concorreocom  clleno 
mefmo  tépo ,  òc  foraõ  ambos 
amigos  particulares. Viíirouo 
vindo  a  Braga  em  romaria  a 
Santiago  deGalliza,&  lhe  mã- 
dou  parte  da  fuaChronicaof- 
fereccndolha  com  a  carta  fe- 
guinte.  A  ocaíiáo  que  ouue  pa 
ralha  mandar  íe  colhe  da  mcf- 
ma  carta ,  &dizaísy, 

Sanãifsimo  Patri,àfEm!m- 
tifs  imo  Pap^  Heronio  meritif- 
mo  Bracharenji  Archiepijcopo 
Ltútprandus  Tcletumis  Sub- 
diaconus  di latim  officium  tlli 
debhtim^lsffalutem ,  tf/elici- 
tatem  'eterna  precatar.  Effia- 
ghafli  à  meferuulo  tuofreqmtí 
pene  coniiicio  fanai fsimeP  ater ^ 
^  Eminentifsime  Papa ,  qiiod 
pro  tua  in  rnepr^esiantia  iuflius 


•3.M?i 


Pp3 


imperare 


450 


(Capitulo  CXI  II. 


imperare potuijjes ,  "Vtpro  tua 

in  me  meritifsima  obferuantia 

adnutum  egoparere  debui(?em. 

Cum  inuifi  Sanai  lacohi  Zebe- 

dxiJilif^Doãoris,ifJpoíloli  no 

firifacra  ex  "voto  limina ,  -r^í 

plera^    LuJitanU   GallecUcj^ 

celebriora  loca ,  ^  in  primis 

fanãifsimi  Doáioris^Martyris, 

tf  Apojloli  Petri  primi  eiuf- 

dzm  Jpojloli  difcipuli^  primií^ 

Hifpaniarum  Álartyris    icdem 

facram  ,  ac  admirabiles  re~ 

liquias  ;  à  te  tuif^    minúiris 

BracharccAuguflíe  teão  perhu- 

maniter  exceptus  fum  :  tunc  cu 

fermonem /acerem  opufculorum 

meorum^lsf  inte  r  illa  Continua- 

tionis  Chronici  mei  duãi  adan- 

num  ^60. ad  Chronicon  M.Ma- 

ximi  Benediãini  monachifa- 

pientifsimi  poet^^  ijf  Epifcopi 

C  sfarauguflam^l^f  FlauijDex- 

tri  j  tunc  inieóla  eU  tibi  cupido 

ijidendi  lituras  meãs,  quiaui- 

derasDextrum,isf  M.  Maxi- 

mum,  tf  íiudifs  fanSiaru  fcri- 

pturarú ,  tf  legendarú  nostra- 

rum  rerum  hifiorijs  folabaris 

labores prolix<e, tf  infuauis  ca- 

ptiuitatis  inter  Mauros, promiji 

fiatim  mijjurumpartum  meum 

n^el  potius  abortiuum  fetum, 

malui^  qualemcum^  tibi  casH- 

gandum,  quam  nuUum  mittere, 

Jatius  ducensparere  comiter  im 


peranti ,  quam  relii£lari  comi- 
j  ter  efflagitanti-  anplaciturum 
\  Jít  hoc  meum  obfequioluprorfus 
ignoro.  Sifuerit  ingratum^tu 
•■videris,  qui  iufsifti;finplaceat 
c  et  eros  annos,  quos  addideram 
tibimittam.  Vale  fanciifsime 
Pater  Jjfjanãum  tuú  licetpau 
perculumfenatiim  Fidelium^tf 
minifiros  in  primis,  Clerumf^fa 
luta, qui  •'verfantur  inter  lupos 
"vtoues  manfuet^,  ac  bárbaro - 
rum  carnificiníe  injingulas  ho- 
ras fubiacent,  ferentes  cotinuas 
iniurias  ,  malediãa^  a  Sarra- 
cenis  quorum  gladius  eorú  im- 
pendet  ceruibus .  S.  fenex  loan- 
nes  feruus  Dei  Toletanus  an- 
tifles  mui t um  te  falutareiíibet.^ 
ac  iniunxit  mihi  de  te  feire  an 
eius  EpiTiola  Cyclica  in  tuas  ma 
nus  ^enerit.  Iterum  ,  tf  tertio 
'vale  Taleti  4.  Idus  Oftobris. 
Ara  981. 
Em  Porcuguez  quer  dizer. 

Jo  [antifsimo  Padre,  tf 
eminentifsimo  Papa  Heronio 
meritifsimo  Arcebifpo  de  Bra- 
ga^ Luitprando  fubdiacono  de 
Toledo  rogafaude  ,  tf  felici- 
dade eterna ,  tf  difculpa  fal- 
tar emfua  obrigação.  Pediftef- 
meSdntifsimo  Pay ,  tf  eminen- 
tifsimo Papa,  a  myferuo  "Pofo, 
quafi  enuergonhãdome  c6  rogos 
cótinuos,aquillo  que  maisjufia- 

mente 


"lie 


eroes. 


451 


mente  me  pudéreis  mandar  pel- ' 
la  fiiperior idade  que  tendes  em 
mim;  tf  eu pellafogeiçao^q  -vos 
deuo ^obrigação  tinha  de  obede- 
cer a  qualquer  aceno  iJoJ^o.Qua 
do  fui  em  romaria  àfagrada 
Igreja  de  Santiago  filho  do  Ze- 
bedeu , Doutor  ^Í5f  Apoflolo  nofo, 
tf  aos  lufares  mais  celebres  de 
Portugal  ^ÍP'  Gali^ ,  tf  prin- 
cipalmente ao f agrado  tcplo,  tf 
admiraueis  relíquias  do  fantif- 
JimoDoutor  martyr^  tf  Apoflo- 
lo  Pedro  primeiro  dicipulo  do 
mefmo  Apoflolo  ,  tf  primeiro 
martyr  de  Hefpanha ,  em  Bra- 
ga Augufla  foi  hofpedado   em 
yojja  cafa  com  muita  humanida 
depor  n:;os,  tf  por  DoJSos  mini- 
jlros.   Então  y> indo  a  falar  em 
meus  efcritos  ,  tf  entre  elles  na 
CÓtinuacão  daminhaChronica. 
que  faço  ate  o  anno  de  9^0. pro- 
feguiado  a  de  Marco  Máximo 
monge  defaÓ  Bento  poeta  muy 
fabio ,  tf  Bifpo  de  C^aragoça^ 
tf  afsy  a  de  Flauio  Dextro^logo 
entr afies  em  defejos  de  yer  meus 
borrões  por  quanto  auies  njiHo 
a  Dextro ,  tf  Marco  Máximo^ 
tf  aliuiaues  com  a  lição  dasfa- 
gradíU  efcritunts ,  tf  hifiorias 
os  trabalhos  do  largo ,  tf  peno - 
fo  catiueiro  ,  que  entre  os  Mou- 

Iros padeceis,    Prometiuos  logo 
mandar  eíie  meuparto ,  ou  per  a 


melhor  di^er  ahortiuo  ,  tf  an- 
tes quis  mhdallo  ajsy  como  Ipay 
pêra  o  emendares ,  que  deixallo 
ficar-,  aí/endoque  era  mai^s  acer- 
tado OL>edécer  a  "pojlo  preceito, 
que  refifiir  a  rcgos  tão  comedi- 
dos. Nãofei  de  herdade  fie  ijos 
contentara  eflepequenoferuico. 
Senão  conte  tara  culpa  he  "pofia, 
que  me  obrigafies  Je parecer  bt 
mandarucsei  os  mais  annos  q 
^ou  acrecentando.  Guardeuos 
Deos  fiãtifisimo  Pay^  tf  M  yofi- 
fojantoí ainda  que  pobre)  fiena- 
do  dos  fieis.  Saudai primeramt- 
teaos  ministros jtf ao  clero  qan 
daÓ  entre  os  lobos  comoouelhas 
manfias^tf  tcdas  as  horas  efiao 
fiogeitas  a  crueldade  dos  bárba- 
ros,fiofirendo  continUíís  iniurias^ 
tf  mcvs  pai  atirai  dos  Mouros, 
cuja  efipada  efilá  fobre  feus  pef- 
cocos.  Ofanto  iJtlho  loãofieruo 
de  Deos  Bifipo  de  Toledo  ijos 
manda  muito  fiaudar,    tf  ^^ 
ordenou  qfoubefie  de  Iposfie  Ipos 
fora  dada  húa  carta  fiuafiobre 
0  Cyclo,  Húa^  tf  muitM  njez^s 
tenhaes  faude  ,  Toledo  ii.  de 
Outubro  5  era  9S1. 

Defta  carta  fe  colhe  a  fan- 
cidade  do  Bifpo  Hcros,  os  tra- 
balhos ,  &c  afrontas  que  pade- 
cia no  catiueiro  dos  Mouros, 
a  amizade  particular  com  que 
corria  com  Luitprádo,  o  qual 


Pp4 


lhe 


452 


CapiudoCXUL 


|P'12«9 


I 

f 


lhe  ol-íercceo,&:  iraiidou  par  ■ 
te  da  íaa  Chronica ,  que  con- 
tinuou a  Marco  Máximo,  & 
a  outra  parte  dedicou  a  Tra- 
ólcmundoBifpo  Elibcritano, 
como  coníia  de  íuas  obras ,  q 
agora  deu  aliiz  o  doutiííimo 
[wíFí'^??»!  Dom  Thomas   Tamayo  de 
"     Vargas.  Com  eíla  memoria  íe 
acabáo  as  q  temos  dcíl:e  Prela- 
do, cujas  obras,  &  annos  de 
vida  nos  efcondeo  aopreflàõ 
em  quccllcj  òi.  os  mais  Chri- 
íHos  viuião  debaixo  do  jugo 
dos  Mouros.  Tinha  por  eíles 
annos  o  gouerno  da  Igreja  de 
Deos  depois  de  loão  XI.  Leaõ 
VII.5íEikuão  IX.o  PapaMar 
rino  lí.cõforme  a  conta  de  Bel 
larmino.E  era  Rey  de  Ouiedo, 
&  Afturias  Dom  Ramiro  III. 


CAPITVLO  CXIIII. 

G  O   N  C^  A  L  O    IX. 

Arccbifpo  d&  Braga. 


1  fe 


Aõtinhamos 
noticiado  Ar 
cebiípo  Gon- 
çalo^ &  agora 
nos  deu  delle 
lu?.  Luitprando  dizendo  que 
depois  de  viíitar  ao  fato  velho 


Heros  Arccbilpo  de  Braga  vi- 
ra também  emEminio  (hej Ci- 
to a  Águeda  no  Biípado  de 
Coimbra  )ao  ícinto  varaõGon- 
çalo,oqual  ouuira  que  íu- 
cedera  a  Heros  dahy  a  alguns 
annos  na  dignidade  Primacial 
de  Braga.  Saõaspalauras.  Có- 
ueni  Eminij  Sanãum  '^irum 
Gundifaluà ,  quem  audhã  pofi 
aíiquot  annos  Juccefsijfe  Hero- 
nio.  He  Luitprando  teftima- 
nha  de  ouuida  ,  &  não  ha  ou- 
tra que  o  affirme .  Nefta  du- 
uida  pomos  aqui  a  Gonça- 
lo entre  os  Arcebifpos  dcíla 
Santa  Igreja  por  lhe  não  tirar- 
mos o  lugar  que  Luitprando 
lhe  dà. 


CAPITVLO    CXV. 

HERMIGILDO 

LXI.Arcebifpode  Braga. 


K 


A  memoria 
deftc  fato  em 
liLi  Concilio 
Prouincial,  q 
naeradeiooj 
annode  Chrifto  9Ó9.1e  cele- 
brou no  lugar  deNauego  a  17. 


Santa  Senhorinha  deBasíc. 


4>3 


fag.^8, 


CondeD, 
Fedro  tit 


domes  de  lunho.  Ncllcaíli- 
i:oii  onoílo  Prelado  Hcrme- 
çildode  Braga,Thecmiro  de 
Mondonhcdo^Rodeííndo  de 
Dunie,&  Cellanoua  ^  Gonça- 
lo de  Leão ,  Siínando  de  Iria, 
ViliultodeTui.  Faz  menção 
dcfte  Concilio  o  Biipo  Sando- 
líal  nas  antiguidades  deTuy,o 
cjual  nos  deu  noticia  deftePre- 
lado:  Era  Sumo  Pontífice  por 
cíles  annoSjdepois  de  Marino 
II. Agapito  II.  loaõ  XII.  Leaó 
VIII.Bencdiífto  V.oPapaloaõ 
XIII.Rey  deLeaõ,&  Galliza 
DomBermudoII.  porlobre 
noip.e  o^otoío. 


CAPITVLO   C.XVI. 

SANTA     SE  N  HO. 

rinha  de  Bajlo. 


Ahio  doillu- 
rtre  troncOj 
&antigua  ca- 
ía dosSoufas 
de  Portugal  a 
Senhorinha ,  pêra 
mor  honra,  &  gloriados  decé 
dentes  defta  nobilifsimafami- 
lia.  Foi  filha  de  Hufo  Hufes 
Bclfajsl ,  ou  Belfager  Conde, 
&  íenhor  das  terras  de  Vieira, 


Vireê  íanra^ennorinna , 
.o 


&í  Bailo,  ^'  outfas  muitas  dé- 
tre  Douro,&:Minho  neile  Ar- 
cebiípado,&  neta  de  Dom  So- 
eiro Belfajal,cm  quem  o  Con- 
de Dom  Pedro  começa  a  con- 
tar ageração  dos  Souíàs.  Sua 
may  íe  chamou  Dona  Tare- 
ja  íenhora  nobiliísima,  &  foi 
irmão  feu  o  Conde  Dom  Gõ- 
çalo Soares,  peílba  mAiy  aíli- 
nalada,&:  de  grande  valor  nas 
armas  có  que  íeruio  aos  Reis 
de  Leaó  em  fijas  conquiftas. 
Era  de  muy  pouca  idade  fanta 
Senhorinha  quando  morreo 
Dona  Tareja  fua  may.  Foi 
grande  o  fentimento  do  Con- 
de Hufo  com  erta  perda  :  cre- 
ciamaisador  quando  via  a  fal- 
ta, que  fazia  a  doutrina,  & 
criação  da  may  aos  tenros  an- 
nos  de  fua  filha  Senhorinha. 
Tratou  de  a  offerecer  ,  &  de- 
dicar a  Deos,  &  pêra  iflo  a  deu 
a  criar  a  hija  dona  grauifsima, 
não  menos  nobre  na  geração^ 
queiníigne  na  virtude,  ^'  fan- 
tidade  da  vida ,  chamada  Do- 
na Godina  Abbadefladomo- 
ftciro  de  São  loao  de  Vieira 
da  Ordem  do  Patriarcha  Saõ 
Bento  ,  &  tia ,  como  querem 
alguns, da  fanta  minina,  ir- 
mã  de  íuamay  Dona  Tareja. 
1  Não  fe  enganou  o  pay 
na  eleição  que  fez  de  meílra 

peia 


45- 


(^apitulo  C.XV. 


peraíua  íiiha^,  porque  Godi-  i     íuccílOj&pedindolhecomin- 


na  a  pos  no  caminho  dctocías 
2s  virtudes  ^  que  podiaõ  caber 
cm  ráo  tenra  idade ,  agora  en- 
íínandca  com  a  paiaura^agora 
como  exemplo  da  vida,  in- 
íiruindoa  de  tal  modo  noa- 
mor ,  &í  temor  de  DCOS3&  no 
rigor  da  vida  religiofa.que  veo 
achegar  ao  mais  alto ,  &  íubi- 
do  grão  de  perfeição ,  q  íe  po- 
dia cípcrar  de  táo  curtos  an- 
nos.  Jeiúaua  amayor  parte  da 
í  o  mana  ,  trazia  hum  cilicio 
junto  da  carne  ,  tomaua  cada 
dia  húa  riguroía  diciplina ,  to- 
das Tuas  obras  eraõ  penitencia, 
fuás  palauras  falar  no  Ceo ,  & 
no  eípoío  de  fua  alma  Chri- 
llo  lESV. 

3  Qnis  hum  fidalgo  no- 

biliífimo  de  fanguc,  6c  cafa 
Real  aparentar fe  com  ella  por 
via  de  ca(améto,tendo  noticia 
de  fuás  muitas  prendas :  buf— 
cou  meos  pêra  lho  dar  a  en- 
tender/oubeo  a  penitente  mi- 
nina,&  com  hum  defprezo 
fanto  ,  lhe  mandou  íignificar 
quedeíiítilfedaquella  preten- 
fáo,  porque  os  intentos,  que 
tinha,  erão  guiados  a  outras 
bodas  ditíerentes  das  que  elle 
procuraua.  Vendofeo  man- 
cebo defptezado  da  íanta,  acc- 
dioao  pay,dandolhe  conta  do 


ílanciaíua  filha  pêra  cafarcõ 
ella.  Pr.receoaoCondequclhc 
vinha  bem  ocalamento,pcllas 
muitas  qualidades  da  peíioa  q 
o  pedia.  Falou  com  íua  filiia, 
reprcíentandolhe  quãto  con- 
uinhaclíeituarfe  o  matrimo- 
nio pcllas  circunílancias  que 
nelle  concorrião.  Ouuio  Se- 
nhorinha ao  pay,  &  com  húa 
refolução  ,  6c  conftancia  ma- 
yor  que  a  idade  lhe  reípondeo 
quecítaua  cafada  com  Chri- 
íio  cfpofo  de  íua  alma,&  que 
por  nenhum  modo  tomaria 
outro  aindaque  foíle  o  mayor 
monarcha  da  terra,  pois  ren- 
do oferecida  a  P.ey ,  &  fenhor 
mayor  fua  pureza,  a  quem  a 
auia  dedicado,  não  podia  fem 
grande  facrilegio  apartarfe  de 
láoreaes  bodas. 
4  Moucraõ  tanto  ao  pay 
efias  palauras  da  filha  pronun- 
ciadascomoferuor  do  efpiri- 
to,que  lhe  prometeo  de  a  não 
mquietar  mais ,  nem  falar  em 
outro  cafamcnto.  Agradcceo 
o  Ceo  ao  Conde  cfte  feruiço, 
porque  teue  reuelaçao  de  hum 
Anjo,que  o  aceitara  a  Diuina 
Mageftade,ô<:  o  animauaa  que 
defieohabitode  Religiofa  de 
Saõ  Bento  a  fua  filha.  Obcdc- 
ceoo  Conde  à  inlpiraçaodo 


Ceo 


Santa  Senhorinha  de  Bailo. 


45  S 


CeOjfoi  ao  morteiro  de  Vicir.i, 
declarou  a  Abbadelía  Godina, 
&:  a  Senhorinha  a  tenção  que 
leuaiia/oi  flicil  de  perí uadir  ao 
quetanto  delejaua,  tomou  o 
habito  de  Monja  com  grande 
alegria  de  fua  tia  Godina;«St:  en 
tendendo  que  com  o  nouo 
habito  Ihecortiaó  nouas  obri- 
gações de  mayor  penitencia, 
&  mais  fantidade,  acrecentou 
asabftinencia? j  &c  jejuns, as 
mortificaçoés,&dicipIinas  de 
forte ,  que  íeruia  não  fò  de 
excmploj  mas  de  admiração  a 
todas  as  freiras  daquclle  con- 
uento. 

5"  Eramuy  dadaàhção  de 
htiros  efpirituaes ,  porque  co- 
nhecendo Godina  íua  mefcra, 
o  grande  fruito  que  de  íua  li- 
ção fe  tira ,  &  como  por  meo 
delia  fala  a  alma  com  Deos ,  a 
inílruyo  nertcexercicio,&:  la- 
ta ocupação  :  nella  gaftaua 
muitas  horas  do  dia,&  da  noi- 
te ,  paliando  as  vidas  dos  mar- 
tyres,deque  particularmente 
eradeuotarconliderauaos  tor- 
mentos ,  que  padecerão,  as 
pelejas  quetiucraõ  com  os  ti- 
rnnos^a  conflancia  com  que 
fcfrcraõ  os  golpes  que  lhe  ti- 
rarão a  vidarderramaua  muitas 
lagrimas  ,  acompanhadas  de 
I  huasenuejas  fantas,  &  defejos 


■grandiilimos  de  tambtm  fcr 
martyr  de  Chriílo ,  ík  de  buí- 
car  Cf  alíáo  _,  em  que  defle  a  vi- 
da por  clle.  E  vendo  que  lho 
não  prometia  o  eílado  que  ti- 
nha j  nem  auia  modo  peia  c5- 
fcguireíle  intéto,  deu  em  hCia 
melanconiaprofundiflima,  q 
qualí  a  tiraua  tora  de  íy_,&  cau- 
faua  grande  defconíolação  nas 
Religioías,  em  particular  na 
AbbadeíIaGodinaj  a  qual  co- 
nhecendo a  caufa  da  trifteza 
da  fanta ,  a  animou,<Sj  confo- 
lou,  dizendolhe  que  a  vida  re- 
ligiofa  tomada  no  íeu  rigor, 
era  também  martyrio,  &c  tan- 
to mayor  que  o  que  os  marty- 
rcs  padecião  ,  quanto  era  de- 
mais duração  ,  porque  efte  he 
húa  penitencia  continua  de 
muitos 'àfinos,  o  outro  hum 
tormento  de  breues  dias ,  ou 
horas,que  logo  acaba. 
6  Animada  aVirgem  Se- 

nhorinha com  os  fantos  con- 
íelhosdeíua  meftra  Godina, 
começou  a  tentar  nouas  pe- 
nitencias ,  &:  abufcar  dentro 
cm  caía  o  martyrio  que  deie- 
jaua  padecer  fora  delia  .  Tra- 
tauale  com  muita  aípereza, 
erão  as  diciphnas  niayores,  cõ 
queíebanhauaem  fangue,je- 
juaua rodos  os  diasdalomana, 
&  não  comia  nelles  mais  que 

húa 


456 


Capitulo  C.XFI. 


húa  vez ,  &:  os  manjares  eraó 
paõ  com  (ãl^ôc  cinza  _,  de  mo- 
do que  íua  vida  era  hum  per- 
petuo, ôc  continuo  martyrio, 
cm  cjuc  a  tê  a  morte  perícuc- 
rou. 

7  Ncítc  tempo  chamou 

Deos  pêra  fy  a  lanta  Abbadcí- 
fa  Godina.Foi  por  vontade  de 
codas  eleita  pêra  lhe  fuccdcr 
no  oíHciOj&  prelazia  a  Virgé 
Senhorinha,na  qual  dignidade 
fe  tratou  com  canto  rigor,que 
de  noLf  o  parecia  começar  a  cõ- 
quiílar  o  Ceo.  Deulhe  o  Se- 
nhor particular  graça  pêra  fa- 
zer milagres .  Trazendo  hum 
dia  trabalhadores  nas  herdades 
do  moleiro  faltou  vinho  pê- 
ra lhe  dar,mandou  vir  hú  vazo 
de  agoa,  ôc  fazendo  íobreelle 
oíinal  da  Cruz  o  cf>nucrteo 
em  vinho  marauilholo,'  &:  lhe 
aconteceo  depois  por  muitas 
vezes  o  mcfmo  milagre^  q  fez 
o  filho  de  Deos  quando  fc  ma 
nifertou  ao  mundo.  Outra 
vez  crtãdoo  paõ  na  eira  ja  de- 
bulhado efperando  tempo  pê- 
ra fe  alimpar,  &  recolher ,  fo- 
breueo  húa  tempcftade  tão 
grofla  que  muitas  eiras  fe  per- 
derão. Vendo  a  fanta  o  íirande 
riícoem  queeítaua  o  remédio 
do  Conuento,  &  o  dos  po- 
bres que  fuftentauajacodio  ao 


Ceo  J&  poítos  os  olhos  nellc* 
feito  o  final  da  Cruz  contra  a 
tempeífade^  que  vinha  deÇ- 
carrcgando  iobre  a  terra  a  di- 
uidio,  &c  apartou  em  torma, 
que  chouendo  por  todas  as 
partes/ò  naquclle  filio  le  vio 
o  ar  íéreno  ,  Ôc  a  terra  tão  fe- 
cacomo  íe  nunca  ouuera final 
de  tempellade. 
8  Vifitouahum  diao  glo- 
riofo  Saõ  Rolendo  primo  feu 
honra,  &  luífredafamiliados 
Souías,  &  ou  foíle  a  lhe  dar  os 
parabéns  da  noua  prelazia,  ou 
a  fazer  vifitaçao  no  mofteiro^ 
&  Religiofas  delle ,  gaftou  cõ 
a  fanta  grande  parte  do  dia  em 
1  praticas  elpirituaes,  &  colic»- 
i  quiosDiuinos  .  Pareceomal 
cila  conueríaçãoa  dous  offi- 
!  ciaes ,  que  concertauão  entáo 
j  os  telhados  da  cafa ,  foltaraÕ 
i  contra  ella  palauras  de  mur- 
muração ,  atribuindo  a  fins 
deshoneftos  aquella  pratica: 
não  lhe  tardou  o  caítigo  mui- 
tas horas  porque  logo  entrou 
nelles  o  Demónio  com  can- 
to Ímpeto ,  que  deu  com  am- 
bos do  telhado  abaixo,  6c  fu- 
bitamete  os  matou.  As  freiras 
aÍTligidas  com  taõ  repentino 
cafo  acodiraó  a  fanta  Senhori- 
nha, a  qu-il  compadecida  del- 
lescõ  a  virtude  de  luas  orações 

os 


Santa  Senhorinha. 


457 


1 


os  rellicuyoà  vida  que  tinhaõ 
perdida.  Alguns  Autores  a- 
tribuem  eíle  milaure  a  Saõ  Ro 
fendo  jOs  quaes  íeguimos  em 
fua  vida ,  quando  dellc  clcrc- 
uemos.  O  cerco  he,que  como 
os  fancos  ambos  eraó  os  of- 
fendidos  da  murmuração, 
ambos  concorrerão  no  per- 
dão da  culpa  ,  &  cm  pedir 
a  Deos  vida  pêra  aquelles  mi- 
leraueis. 

S>         Achou  a  lança  que  não 
conuinha  pêra  Religiolas  por 
rezão  do  lítio  o  mofteiro  de 
Vieira ,  onde  era  Abbadeflaj 
quis  paílaríe  pcra  outro  ,  que 
em  Barto  léus  parentes  lhe  fú- 
daraõ,  &í  a  quem  o  Conde  feu 
pay  fizera  iargasdoaçoés.Nãó 
auia  pêra  o  caminho  paõ,  nem 
mantimento  algum.  Olhou  a 
íanca  pêra  o  Ceo  pcdiolhe  re- 
médio pofta cm  oração,  não 
cardou  muito,  porque  ao  ou- 
tro dia  fe  acharão  à  porta  do 
mofteiro  íacos  de  farinha  cõ 
que  as  P^eligiofas  tiueraõ  paó 
;  baftante  para  o  caminho.  Nel- 
le  fuccdco  húa  marauilha  bem 
notauel,  que  ainda  hoje  dà  te- 
ftimunho.da  virtude,  6c  graça 
Diuina  deita  Santa.  Chegando 
ellacõ  luas  freiras  ao  lugar  de 
Carrczedo,  &  querendo  rezar 
aly  o  officio  Diuino  ,  por  fer 


hora  pêra  illb,foi,raò  grande  o 
eílrondo^que  cõ  fuás  mal  for- 
madas vozes  leuãtaraõ  as  rans 
de  húas  lagoas ,  qcftauaõ  per- 
to,quenão  podendo  as  freiras 
continuar  com  a  rezajhc  mã- 
douaSantaq  fecallallem  ,  & 
não  impcdillèm  os  louuorcs 
que  as  Religiofas  dauaõ  a  feu 
Criador.  Obedecerão  cilas  taõ 
pontualmente,  que  alem  de 
lecallarem., nunca  maisappa- 
receraõ  naquclle  lugar. 
IO        Eftando  no  Choro huai 
noite  em  oração  com  fuasRe- 
ligiofas  vio  per  reuelação  Di- 
uina, que  a  alma  de  leii   pa- 
rente laó  Rozendo  hia  glo- 
riofa  a  gozar  da  bcmauentu- 
rança  éterna,leuada  por  mãos 
de  Anjos,  que  com  muficas 
feílejauaõ  lua  gloria.  Logo  o 
declarou  às  Religiolas,as  quais 
notando  o  dia ,  &  hora  fou- 
bcraó  como  no  melmo  tem- 
po morrera  ofanco  no  íeu  mo 
fteiro  deCellanouaem  Galiza. 
1 1  Com  eftes  fauores  do 

Ceo  cheeôil  a  íanca  ao  fim  de 
fua  vida.  Prcparouíe  pêra  a 
morte, deque  ja  tinha  reuelí'- 
ção  por  mèt>  de  hCia  voz  do 
Ceo,  què  a  chamara. Rece-- 
beo  os  Sacramentos  da  Igre- 
ja com  grandiílimadeuação, 
defpedioíè  de  fuás  RcH^ioías , 


1 


íoii 


QaptuloC.XVI. 


&  íefoiaqueilaalniabemauê- 
turada  a  gozar  dos   prémios 
eternos  aos  iz.de  Abril  do  an- 
iiQ  de  Chriilo  5?8i.  íèndo  de  58 
annos  de  idade .  Sepulcarãna 
no  mcínio  moil:ciro(que  hoje 
íc  chama  do  nome  da  Saora^ 
&  he  Igreja parrochial )  junto 
aíuameítra,  &  ciaíàntaGor 
diiia,  &  a  íaó  Geruaz,  que  al- 
guns dizem  era  irmão  da  lan- 
ça, aindaque  o  Conde  Dom 
Pedro  o  não  nomea  por  tal-, 
porem  quando  o  não  íeja_,não 
ha  duuida  que  foi  da    gera- 
ção dos  Souzas ,   &  parente 
da  íanca  em  grão  chegado . 
He  venerada  fua  fepuícura,tS«r 
frequentada  de  ronieiros,que 
cie  mui  longe  vem  a  ella,  pel- 
los  muitos  milagres  que  Deos 
ahi   obra   por  meo  das  relí- 
quias  da  Santa,  6c  da  terra 
de  fua    fepultura,    que  tem 
por  milagroíà  pêra  curar  ma- 
leitas,  éi  outras  enfermida- 
des. 

jz  Fora  mui  largo  contar 
as  marau ilhas  queDeos  obrou 
porefta  Santa  depois  de  fua 
morte.  Chegou  a  fama  delias 
ao  Arcebifpo  dcfta  Igreja  de 
Braga  Dom  Payo,  &  foi  certi- 
ficado q  eftaua  o  fagrado  cor- 
po no  fepulchro  inteiro,  &  fc 
corru pção.  Qujs  ver  com  os 


olhos  clle  milagre,  (S:  tirarleda 
duuida,em  queeltauacó  o  pai 
par  com  íuas  própria?  mãos. 
Eis  que  neíte  tempo  chega  hú 
cego  de  nacimento  á  fepultu- 
ra da  Santa,  pedindolhc  luz 
pcra  íua  cegueira.  Defpachouo 
cila  logo  cm  preíençado  Ar- 
ccbilpo,  dandolhea  vifta  nos 
olhos  do  corpo  que  lhe  pedia, 
&  abrindo  os  da  almaãqqel- 
le Prelado  dcinaneira  quede- 
íiíHo  de  tocar  na  fepultura , 
dando  com  o  cego,Ã:  com  to- 
do o  pouo  que  vio  o  milagre 
infinitos  louuoresa  Deos,  a- 
chando  que  não  eraõ  neccfla- 
rias  mais  prouas^ncmexperié- 
cias  dainCorrupçáo  do  corpo 
da  Santa  áviftade  taõ  grande 
marauilíia. 

13  Efi;e,&  outros  iiiilagres 
fcmelhantGS  cia  Santa  fizerão 
taó  famoío  ícu  nome, que  ti- 
rarão de  íuas  caías  a  grandes 
Príncipes  pêra  irem  ver,  & 
viíítaraíàgrada  fepultura,  ã: 
lhe  pedir  íocorro  cm  íuasne- 
ccfsidades.  Dõ  Sancho  Rcy  de 
Portugal  primeiro  do  nome 
viíitou  cmpelíoa  as  relíquias 
da  Santa  ,  &  fez  hiía  noue- 
naem  fua  Igreja  pedíndolhe 
faude  pêra  o  Príncipe  D5  Af- 
fonfo  feu  filho, q  eílaua  enfer- 
mo, &cm  perigo  de  morte.  1 


moiuircb 


Defpach 


ou 


ú 


S.  Senhorinha-^ 


4S9 


Ddpachou  a  íanra  fua  pe— 
ciçáo  ,  alcançando  de  Deos 
íaude  peraodcence. 
14         Agradecido  o  Rey  de- 
lia merce,  íez  couto  alua  Igre 
ja  andando  a  pè  correndo  o  cir 
cuiiopor  onde  íeauia  de  de- 
marcar, &  fes  q  por  ordem  de 
GonçaloMédes  íenhor  da  cer- 
ra_,  fe  leuanraílem  os  marcos. 
Todo  efte  íuceílo  nos  relata 
húaeícritura,q  anda  lançada 
nos  liuros  do  cartório  deita 
Igreja  de  Braga,&  diz  aísy. 
•    In  nominejanãs ,  i^  indi- 
uidiite  Trinitatis  Patris,  Iff  Fi 
^ijyi^  Spiritus  Sanai.  Ego  Rex 
D.  Sancius  memor  humance  cÓ- 
ditionis  ,  iff  mortalium  cafus 
perairatisquibusdampartibus 
Regni  mei  caufa  orationis  '~uz- 
ni  ad  locum  'ubi  corpus  Beatif- 
fnici  Virginis  Stnorincc  requief- 
cit,  inquo  preces  nosífas pront 
decet  Domino  Deoftmdens  ipsa 
Virginem  gemitibus ,  i!fftí]pí- 
rijs  pulfaui  ,  quatenus  ipfa  a 
Domino  Deo  Jiio  precibusfuis 
fiiper  faíutem  filio  meo  Domino 
Alfonfo  Regi  impetrarei.  Qua 
diãapromtji  me  ereãurum  mu- 
ni tionis  lapides  qnos  cautum  j>o 
cant  in  circmtu  locifanâiifsi- 
m^c  Virginis  ,  fi  petita  falus 
orat  tonem  fecuta  for  et  ^  immi- 
nebat  enim  pericuhm  mortis-; 


fed  oratiombiis  gL  r  efe  Virginis 
expitlfimesl  Igitur  conjide- 
rato  termino  hei  per  girum 
pedibus  méis  ipfa  loca  peram- 
bulam.,  i^  'Dt  competeret  Di- 
di  perras  erigere ,  í^^fi^^  per 
manus  D.  Gondfalui  Aíenen- 
di  j  qui  tum  temporis  Princcps 
erat.  Primus  lápis  ereóiiis  eft 
•X'bi  intrat  m  Bafio  riuulus  ille 
de  McT^^s^ 

Sua  lígnificação  he  o  que 
em  Toma  atraz  reterimos. 

Naóícefqueceo  o  Infante 
Dom  Áiíonib  de  reconhe- 
cera faude  recebida  pellos  me- 
recimentos da  Santa,  porque 
cm  gratificação  de  tão  grau^ 
de  mercê  tanto  que  tomou 
o  cetro  mandou  palíar  híia 
prouifaõ  Real  ^  peílaqualrc- 
cebeo  debaixo  de  íua  pro- 
tecção a  Igreja  da  Santa, íeu 
couto,  &  propriedades,  lar- 
gando todo  o  direito  quenel- 
las  podia  ter.  He  íua  data  em 
Guimarães  era  mil  &  duzen- 
tos èc  íincoenta  ôí  oito,  que 
vem  a  cairnoannode  Chri- 
ílo  mil  &  duzentos  &  vin- 
te .  Anda  cila  prouifaõ  ,  en- 
tre outras,  lançada  nos  liuros 
do  arcliiuo  deíla  fanta  igre- 

ij-  Cotinuaraõ  osmaisReis  de 
Portugal  nadeuação  deftaSãta. 


^ 


ElRey 


46o 


Capítulo  C,X  VI. 


ElRcy  Dom  Aiíoníb  terceiro 
filho  do  meímo  Dom  Aííon- 
roíegundo  paílou  duas  cartas 
em  fauor  da  meíma  Igreja^  & 
terras  de  íanca   Senhorinha. 
ElRey  Dom  Pedro  Cru  an- 
nexou  à   própria   Igreja  os 
frutos  da  Parrochiade  Tan- 
ta Maria  de  Salto  cm  Barro- 
(o   com  certas  obrigaçoés,& 
declara    que   Dona   Inês  de 
Caftro   mandara  fazer  a  ca— 
pella  em  que  cílà  fcpulrado 
Saõ  Geruaz  .  Saõ  as  palauras 
da  efcritura  como  as  traz   o 
Ghronifta  frei  António  Bran- 
dão tiradas  da  torre  do  Tom- 
bo as  que  fe  fcguem. 

Em  nome  deDeos  amen.Sai- 
bao  quantos  efla  carta  ^irem, 
como  eu  Dom  Pedro  pella  gra- 
ça de  Deos  Rey  de  Portugal^ 
Ij"  do  Algarue ,  n  honra ,  l^ 
feruico  de  Deos  ,  l^  de  Santa 
Mana  fua  Madre- ,  ^  afsina- 
damente  à  honra ,  isf  louuor  da 
hemauenturadafanta  Senhori- 
nha de  Bafio ,  ò^  do  bemauen- 
turado  SaÓ  Gerua^ ,  tf  em 
remimento  de  meus peccados fa- 
ço doação  à  dita  Igreja  de 
Santa  Senhorinha  pêra  fempre  ^ 
em  guifa  que  nunca  poJ?afer 
reuogada^  de  todo  o  direito  que 
ei  do  padroado  da  Igreja  de  [an- 
ta Maria  de  Salto  do    Arcebif- 


pado  de  Braga,  isJ'c.   E  mais  a- 
baixo  vindo  aos  encargos  cõ 
que  a  da  diz  afsy.  Com  tal  con- 
dição que  qualquer  que  delia  for 
Abbade  tenha  hum  capei lãO pê- 
ra todofempre^  que  cante  em  ca- 
da hum  dia  M/Jfafobre  o  altar, 
Iff  diga  Ai  horas  Canónicas  em 
húa  cdpella  que  na  dita  Igreja 
fes  Dona  Inês  de  Cajiro  aonde 
eííá  c  corpo  de  Saó  Gerua':^  E 
outro fy  tenha  hum  mofinho  que 
ftrua  o  dito  capellco  na  dita 
Igreja  de  tudo  o  que  lhe  cum- 
prir ,  if  tenha  pêra  todofem- 
pre  três  alampadas  com  a^^eite^ 
que  também  de  dia,  como  de  noi- 
te efiemfempre  acec^ts  ^   i^  húa 
efié  diante  o  Crucifixo,  outra  an 
te  huja^feu  corpo  defanta  Se- 
nhorinha ,  if  a  outra  na  capei- 
la  ante  o  lugar  huja^o  corpo  de 
faó  Gerua^.  Dada  em  Valen- 
ça de  Riba  Minho ^  quinze  duu 
de  Setembro,  ElRey  o  mandou, 
Gonçalo  Paes  a  fe^  era  de  mil 
tf  tre(^ntos,tf  nouéta  tf  oito. 
\6  Rèzão  deftaíantaos 

Religiofos  do  Patriarcha  Saõ 
Bento  onde  tem  lições  pro- 
priaSjÃ:  no  Brcuiario  de  íanta 
Cruz  dcCoimbra.Eícreuê  fua 
vida,  fr.  António  de  lepeSjfr. 
Bernar.deBrito/r.LuisdosAn 
joSjoPadre  António  dcVaícõ- 
cellos, Duarte  Nuncz  dcLeaõ, 

oMarty- 


«'■977'' 


Brtt 


2.p. 


wonarch 
'''•7.C.15 
Fr,  Luts 

lard  pag 

I^afco,  in 

53". 
Dm  Nii 
nesna  de 
fcr.p.p^g. 


Il4,llã 


'ano. 


461 


líb.iz.c. 

i-7' 


chro.f.ig. 
119. 


0  Marcyrologio  Português 
dcs  padres  da  Companhia  de 
lES  VS,em  ii,  de  Abril  fr.  An- 
tónio Brandão  na  quarta  par- 
te da  Monarchia. 

CAPITVLO  C.XVII. 

1  V  L  1   A  N  O    LXII. 

Arcehijpo  de  Braga. 


ESTE  Pre- 
lado nos  dà 
noticia  lulia- 
no  drzcndoq 
foiArcebiípo 
de  Braga,  ^  depois  mudado 
ao  Arcebiípado  de  Toledo^on 
de  morreo  no  anno  deChrifto 
1038.  &  com  muito  fcntimé- 
to ,  &  lagrimas  foi  fepultado 
na  Igreja  de  fanta  Eulália.  Cha 
malhe  doutorj&  eícritor  de  fa 
grados  Concílios^  òi.  diz  q  fu- 
cedeoem  Toledo  ac  Arcebif- 
po  Zenapolio .    O  Catalogo 
dos  Arcebiípos  daqlla  Igreja, 
nãopoêeÍLesdousPrclados  cn 
treos  mais,  né  outros  muitos^ 
que  traz  luliano.  Os  Papas  q 
fucederaõa  loao  XIII,  toraõ 
Dono,Benedi<íto  VI.  Benedi- 
to VII. loaÕXIIII.Ioaò  XV. 
loaõ  XVI.  GreíTorio  V.  Silue- 
,  ueftre  11.   loaó  XVII.    loaõ 


XVIIÍ.Sergio,BenediaoVIIÍ 
Icaó  XIX.^^Sc  BcnedidoIX  q 
ncfte  tépo  gouernaua.  EraRey 
de  LeáoDó  Fernãdo  oMa;^no, 

CAPITVLO  C.XVIII. 

SIGI  F  RI  D  O  LXIIJ. 

Arcehifpo  de  Braga. 


r?5» 


/^^l 


(Ml   O  anno  de 
P|^  1060.  diz  lu- 
)^^^P)  lianoqueveo 
m^i  a    Heípanha 
á5;.^g^^^^  Sieiirido  Ab- 
bade  do  moíleiro  de  Fulda  em 
Alemanha  cm  rcmcria  a  San- 
tiago de  Galliza ,  pêra  vihtar  o 
corpo  do  íagrado  Apoítolo, 
&cífoi  creado  Arcebiípo  de 
Braga^q  efteue  eniTolcdo  len- 
do Arcebiípo  Paícoal ,  &  tor- 
nando depois  pêra  íua  pátria, 
foi  eleito  pcllo  clero  ,  &í  pouo 
Biípo  deMaguncia;    ate  qui 
faõ  palauras  de  luliano    tra- 
duzidas do   latim .  O   padre 
freiAntonio  delepes  naChro- 
nica  geral  de   Saõ   Bento   taz 
mençáo  de  Sigifrido  Abbade 
do  morteiro  de  Fulda  ínHgnc 
naquellc  tempo  na  Prouincia 
de  Alemanha ,  pondoo  no  Ca 
talogo  delles  cõ  titulo  deRcli- 
giofiílimo,  &  de  varaõ  de  ra- 
ras partcsj   diz  que  foi  eleito 

Qq  3  Arce 


(hro.^agA 

IZI. 


ro,3. ff /3| 
'<?«,  744.1 

l/f/.  112. 
i 


4Ó: 


QapitdoC.XVIll. 


Aicebifpo  de  Maguncia,   &: 
que  veo  cm  romaria  a  Santia- 
go dcGallizacõ  osArcebitpos 
de  Colónia  ,  &  Treuiris.  Mas 
parece   não  teuc  noticia  da 
eleição  de   Sifrido  em  Arce- 
bifpo  de  Braga,  porque  nem 
Icucmentefalanella,  culpa  de 
ertarem  ainda  em  íeu  tempo 
efcõdidas  as  obras  de  luliano. 
Podia  bê  reter  Sifrido  ambos 
os  Arcebifpados,  porque  o  de 
Braga  era  titular  fomente  Tem 
rêda,&  fem  Igreja,  &  afsy  não 
impedia  o  de  Maguncia.Aspa- 
laurasdelepes  facasfeguintes. 
Sifrido  ijaron  de  EpeHein 
monge  ReUgioJifsimo^y  de  rara 
prudência ,  y  con  tales  partes^ 
quefu  nombre  erafamofo  en  las 
ProuincUs  circunue^/ncu.   En 
elfegundo  ano  dei  Abbadio  mu- 
rio  Leopoldo  ArcebifpodeMa- 
guncia  ,  en  cujo  lugar  fuefub- 
Hittiido  Sifrido  conguUo  de  He 
rico  IIII.  Emperador,  cuyas 
partes  fauorecia.  Por  eUa  cau~ 
fafue  d  epue  fio,  porei  Papa  Gre 
goriofetimo.  Perofueluegore- 
fiittiido  porVrbanoPontifice  fe- 
gimdo  defle  nombre. D  ejpues  de- 
stosfucej^os  Sifrido  Arçobifpo 
de  Maguncia,  de  quien  ajamos 
tratando,  Engelberto  Arçobif- 
po de  Treuins,  Annon  ArçobiJ- 
po  de  Colónia  empredieron  a^na 


pertgrinacion  harto  notablcy 
denota^  porque  fueron  ejhs  tns 
Prelados  a  íerufakm^y  a  San- 
tiago de  Galileia.  Boluiendo  Si- 
frido dejla  jornada  muno  el 
ano  de  1084. 

z  Oannoda  morte  de  Si- 
frido, queaponta  Icpes  não 
parece  certo, porque  íe  cUe  foi 
reílituidoâ  Igreja  de  Magun- 
cia  pello  Papa  Vrbano  II.  co- 
mo lua  elciçaó  ao  Summo  Pó 
tificadocailleno  fimdoanno 
de  1087.  ou  principio  de  1088. 
(como  querBcllarmino)dcfor 
ça  le  ha  de  lançara  morte  de 
Sifrido  alguns  annos  adiante 
do  de  1 084,  ou  atribuir  fua  re- 
iHtuição  ao  meímo  Gregório 
VII.  que  o  priuou  do  Arce- 
bilpado  i  o  que  tem  grande 
contrariedade  com  a  hiítoria 
do  íanto  Pontiíice.  Gouerna- 
ráo  a  Cadeira  de  S.  Pedro ,  de- 
pois de  Benedi(5lo  IX. Grego-» 
rio  VI.  Clemente  II.  Damafo 
lí.LeáoIX.ViétorlI.Ellepha 
noX.Niculao  II  Alexádrell. 
óc  Grogorio  VII.  Era  Reyde 
Lcaó  Dom  AfFonfo  o  VI. 
3  O  Catalogo  dos  Arce- 
bifpos  de  Braga ,  q  eftà  na  Sá- 
crillia  deftaíantaSc  ,  nomea 
mais  alguns  Prelados,  que  flo- 
recerao  no  tempo  que  Braga 
eíteue  ocupada  de  Mouros, 


si  li  fr  ido. 


46S 


<k  encomendada  à  Igreja  de 
LugOj  tk  Compolklla .  Poré 
contallos  por  nolíoshe tomar 
a  Liigo  o  q  he  íeii^  pois  jamais 
oforaõdc  Braga.  Nê  baltaa- 
charemíe  allinados  emalgúas 
efcricuras  ,&  preuilegios  com 
titulo  de  Metropolitanos,  por 
q je  efta  dignidade  tiucraõ  os 
deLugoem  quanto  durou  o 
Reino  dos  Sueuos  ,E  aindaque 
no  tempo,  que  íenhoreauáo 
os  Godos  toda  Heípanha^fe 
extiníiuio.&acabourcom  tu- 
do  côa  entrada  dos  Mouros, 
&:  ruina  de  Braga ,  6c  das  mais 
Metropoles,&  cidades  Epílco- 
paes  de  Heípanha,  fauorecida 
Lugo  dos  Reis  de  Aíturias ,  ôc 
GallÍ7a,tornou  a  tomar  o  ti- 
tulo de  Metropolitana,  aíTinã- 
dofe  cõ  elle  os  Bifpos  daquella 
Igreja,  ainda  depois  de  fcpaílar 
dnhy  peraOuicdo  a  dignidade 
Arcebifpal.E  confta  claramen- 
te q  no  tempo  queBraga  efte- 
ue  encomendada  aLugo  tinha 
paaticulares  Arcebifpos  q  fir- 
mauão  com  erte  titulo, como 
fc  vedos  que  acima  deixamos 
referidos.  Epoftoque  não  ti- 
ne íTem  rendas  em  Braga  ,  ti- 
nhão  com  tudo  o  titulo  deMe 
tropolitanoSj&lhefoiaílmada 
renda  na  cidade  deOuiedo  co- 
mo aosmaisPreladoSjpera  del- 


ia poderem  viuer.  ■  '.>{-.■  - 
4  Prouaíc  o  q  himos  dízen- 
zendocomeuidencia  porque 
elles  Prclados,q  a  taboa  da  íá^ 
criltia  chama  de  Bra^za  ,  não  fc 
intitulão  taeSjíe  nãoMetropo- 
litanos  de  Lugo  como  adiante 
veremos,  Pelloque  íe  não. po- 
de dizer  que  eraó  Metropclir 
tanos  de  Braga,  por  que  fe  ofo- 
raõ  aísy  íc  aHinarão,o  que  não 
fazem  como  diícuría  bem  Dó 
MauroFerrcr  trazédo  em  pro- 
uaduas  efcrituras,cm  que  mo 
ftra  que  conferuaráo  fempre 
os  Prelados  de  Braga,  &  Lu- 
go o  titulo  dcMetropoIitanos. 
A  primeira  efcritara  he  húa 
doação  q  elRey  DõOrdonho 
II.  fez  ao  Moíieiro  de  S.  Pe- 
dro de  Montes  no  anno  de 
Chrirto  898.  onde  aíTuia  o  Bif- 
po  de  Lugo  RecaredojCom  ti- 
tulo deMetropolitano.  A  íegú 
da  cfcritura  he  húa  doação  q 
S.Rozendo  fez  ao  feu  moíiei- 
ro de  Cellanoua  no  anno  de 
Chrifto  942..ondeaírmao  Ar- 
cebifpo  de  Braga  Hcros  cõ  ti- 
tulo de  Metropolino,  como 
emfua  vidadiílemos.  E  pou- 
co neceíTiiauamos  de  todas  as 
piouas  referidas,quádo  temos 
à  mão  húa  tão  euidentecomo 
he  aííinarem  na  mefma  cfcritu 
raaííi  o  Arcebifpo  de  Braga, 


f  .19  ^ag. 
74' 


0^4 


como 


464 


Qapítulo  C.XIX. 


^fufra 

ÍXlo. 


como  o  Metropolitano  de  Lu 
go.  Elta  he  a  da  confagração 
da  Igreja  de  Sandago  que  re- 
ferimos na  vidado  Arccbifpo 
Argemiro  ,  onde  afluía  Arge- 
miro  Bifpo  de  Braga ,  òí  logo 
mais  abaixo  depois  de  outros 
Prelados  Recarcdo  Bilpo  de 
Lugo.  O  mcfmo  íe  ve  no  fe- 
cundo Concilio  da  cidade  de 
Lugo,&  no  primeiro  deOuic- 
do,  onde  íe  acharaóArgimun- 
do  Arccbiípo  deBraga,&  Vui- 
maredo  Bifpo  de  Lugo  anno 
de  Chrifto  8ii  .    Donde  íe 
moftra  a  diftinçao,  &  diuer- 
fidade  deftes  dous  Prelados, 
pois  humíe  intitulaMetropo- 
litanodcBraga,  o  outro  Me- 
tropolitano de  Lugo. 

Pouco    papel  gaitaremos 
cm  repetir  aqui  os  Prelados 
deita  taboaem  que  himos  fa- 
lando. E  que  fora  muito  ainda 
lliedcuiamos  mais,  pello  cui- 
dado com  que  defenderão  as 
CO  ufas  de rta  Igreja  em  quan- 
to a  tiucraõ  debaixo  de  fua  ad- 
miniflração.Saõos  fcguintcs. 
Meti'opolitanos  de  Lugo  que 
a  taboa  deflaSe  confunde 
com  os  de  Braga. 
Odoario.  Defte  Prelado  cõfta, 
que  foi  varão  fanto ,  &  q  pro- 
curou reítaurar  Brasa ,  &fc2 
grandes  diligencias  porq  lhe 


I 


I  foíícmrerticuidos  íeus  bens. 
Adulfo.  Gladiano.  Froilano. 
Recaredo     Gonçalo,   Payo. 
Diogo.    Pedro.    Maurelio. 
Crefconio  .   Fe/trio.  Defle  di- 
remos no  capitulo  íeguinte. 


CAPITVLO    C.XIX 

DOM  PEDRO  LXVII. 

Arcebijpo  de  Braga. 


\ 


E   M  O  S 

poílo  fim  à 
primeira  par 
te  da  hiítoria 
delia    Santa 
Igreja  ,   quafi   com    aquclla 
melma  boa  fortuna,  com  que 
a  começamos  ,  vindo  a  ciar 
em  íua    reítauraçáo   noutro 
Arcebiípo  taó  fcmelbanteao 
que  primeiro  a  fundou  Saõ  Pe 
dro  de  Rates  ,  quanto  fera  fá- 
cil collegir  a  quem  ler  a  vi- 
da de  hum,  &  outro.  Am- 
bos no  nome  foraõ  Pedros , 
&   nas   obras     pedras  viuas 
defte  edifício;  ambos  pcríê- 
guidos  pclla  fúria  do  inimigo 
infernal :  ja  armada  com  a  po- 
tencia dos  Príncipes  Gentios, 
como  miniftros  particulares 

Icus: 


Dom  Tedfo. 


465 


íeus:  jacom  a  dos  Clirilláos, 
ou  rcal  informados ,  ou  mal 
intencionados,  tudo  a  Hm  de 
a  não  deixarem  íahir  a  luz 
quando  nacia  ,  nem  cjuando 
outra  vez  íercftauraua  .  Mas 
todos  crtes  ardis  ^  &  traças 
diabólicas  desfez  a  protecção 
daqucUe  mefmo  Deos,  que  a- 
indafòra  deltas  ocaííoés  adc- 
fendeo,  &c  conferuou  ,  dan- 
dolhe  Prelados,  que  cm  todas 
fuás  mayorcs  tribulações  a 
gauernaífem,  &  emparaflem 
naFè,que  primeiro  lhe  foi  pre- 
gada pello  leu  Apollolo  San- 
tiago. Foraóeftesos  Bafilios, 
os  Ouidios ,  os  Martinlios, 
&  outros  muitos  ,  que  feria 
longo  contar,  mayormentc 
tendp  nos  dada  de  íua  vida,  &c 
acções  taõ  particular  nociciaj 
o  q  da  do  BiípoDò  Pedro  pu- 
demosdefcobrir  heolesuinte. 
z  Defejando  o  grande 

Rey  Dom  Fernando  primei- 
ro do  nome  entre  os  de  Cafte- 
Iha  ,  &  Lcaõ  deixar  depois  de 
fuamortea  feus  líllips  quie- 
tos nos  reynos,que  parte  her- 
dara, parte  conquiftara,  &  in- 
cluyaó  muitas  Prouincias  de 
Hcípanha ,  os  rcpartio  ainda 
em  vida  pcllos  tres,q  tiucra  na 
Rainha  Dona  Sancha,deixan- 
I  do  nella  repartiçáo(o  queelle 


nao  imaiZinaua 


donde 


Fiiícas, 
depois  naceraò  os  incêndios, 
com  que  íe  vicraõ  à  abra- 
far  j  a  Dom  Sancho  como 
a  mais  velho  deu  Callella  a 
velhaca  Dom  Aftonfo,  que 
logo  no  nacimento  o  íeguia, 
Lcaõ,&  Afturiasj  a  Dom  Gar- 
cia o  de  menos  idade ,  Galliza 
com  tudo  o  que  eílaua  ganha- 
do da  outra  parte  do  Douro, 
atè  oMódego ,  onde  entrauaõ 
Coimbra,  Lamego ,  Vifeu  ,  & 
outras  terrasa  que  propriamé- 
te  chamauão  Portugal.  To- 
marão cada  hum  dos  nouos 
Reis  poíTe  do  que  lhe  perten- 
cia, &  em  quanto  viucraõà 
fombrade  feu  pay  quietos,  a- 
creccntauão  o  aquirido  com 
nouas  conquiftas  de  cida- 
des, &  villas ,  que  de  ncuo 
rcdificauáo ,  &mandauãopo 
uoar  aly  nos  mefmos  lugares 
onde  jà  eftiueraõ  outros  anti- 
guos  arruinados,  ^  deíli;ui- 
dos  pcUa  fúria  dos  Mouros,  q 
como  caftigodcDeos  tinháo 
oprimidas  todas  efla;  Prouin- 
cias. O  q  mais  fe  moflraua  zelo 
fo  defta  rertauraçào  em  feus 
Reinos  era  ElRey  Dó  Garcia: 
parece  q  não  trataua  em  mais 
que  cm  os  tornar  outra  vez 
áquellaantigua  profperidade, 
quando  fe  viraó  mais  floretes. 


Qlí 


Pe- 


466 


Capitulo  C.XÍX. 


3  Pêra  irto  quis  começar 

por  Braga  como  principal  ci- 
dade de  codas,&  como  aqueila 
porquem  começara  a  vida  efpi 
ritual  de  todaHeípanha,  pella 
pregação  do  Apoltolo  Santia- 
go. Achou  o  grande  Rey  que 
defle  azas  a  elles  léus  inten- 
tos,porque  ouuindolhos  pra- 
ticar algúas  vezes  o  Biípo  de 
Lugo  VeltriOjOu  Veílriano,& 
o  de  IriaCreíconio,lobre  lhos 
louarcm  lhos  facilitarão ,  ôc  fe 
oíFereceraõ  a  ferem  os  pri- 
meiros pouoadores.  Partidos 
daCorteosdous  Prelados  le- 
uãdoasprouifoês  pêra  a  obra 
neceíTariaSj  chamarão  cõ  pri- 
uilegios ,  ôc  izcnçoês  muitos 
a  quê  a  comodidade  do  lítio, 
a  bondade  dos  are;,  afrefcura 
dos  campos  de  fy  mcfmo  eíla- 
uãoconuidando.  Lançarãofc 
os  nouosfundamentos  da  an- 
tigua  cidade  no  íitio  aonde 
agora  fevè,  &  a  Igreja  Cathe- 
dral,q  maisleuauáo  nosolhos, 
com  o  nome  da  Virge  Senho- 
ra Noíla  fe  começou  a  leuan- 
taripoiem  nãoconfta  do  lu- 
gar onde  fe  fundou,  nem  delle 
fazem  menção  as  memorias 
antiguasdoarchiuo  defta  Se. 
Ao  tempo  que  começou  cfta 
noua  reftauração  da  cidade 
não  auia  nella  mais  que  hum 


[  caftcUo chamado  de  Maximi- 
nos ,  onde  hoje  íe  vem  ruinas 
delle ,  &  dos  muros  antiguos, 
&  alguns  dos  prefentes,  que 
moraó  vizinhos,  íe    lembraõ 
irem  por  aly  paredes  altas  ,  ôc 
Icuarle  muita  pedra  delias  pê- 
ra outros  edifícios  da  cidade. 
4     Toda  a  dificuldade  efteuc 
em  fe  rellituiré  á  noua  Cathc- 
dral  íeus  primeiros  bens.  Poí- 
fuyaõnos  entaó  peífoas   po- 
derofas  do  Reino ,  Ã:  vinhão 
mal  em  lhe  ferem  tiradosrmas 
o  Rey  como  Catholico,  que 
era,  chamado  a  cortes, fez  íà- 
ber  a  todos  como  a  fabrica  da- 
qlla  obra  era  em  grade  íeruiço, 
&  honra  da  Diuina  Magcfta- 
de,&  darfclhe  calor  perten- 
cia a  fua  nobreza  •,  pello  que 
lhe  pedia  muito  lhe  quifeíTem 
largar  todas  as  propriedades, 
que  tiueíTem  daquella  Igreja, 
pois  elle  daly  lhe  daua  ,   ôc 
doaua  as  rendas,que  poíluyão 
no  feu  morteiro  doCordoa- 
rio  peraque  nellas  fe  pagafie  a 
cada  hum  pro  rata  o  que  fea- 
chaíTe  largaua. 

j  Não  pode  a  fidalguia 

dos  preícntes  reííftir  a  taõju- 
fta  petição  delRey  ^  fizeraõ 
ceíTao  cm  fuás  mãos  dos  bens 
que  poíluyão,  &  elle  os  en- 
corporou  outra  vez  nefta  Sé. 


Dell 


es 


^onTedro. 


467 


Dclles  íe  inll:ituiraõ  capellaés 
que  logo  começarão  n  rezar 
em  comunidade  o  ofíicio  Di- 
uino:  applicaráoíeosremane- 
ccntes  pêra  as  obras  Tem  ate 
encáo  íe  tratar  de  nomear  Bií- 
po,  a  quem  íe  delíe  algúa  ren- 
da ,  continuando  a  Igreja 
de  Lngo  com  a  adminiftração 
detudo  pellaantigua  encomé- 
da  que  da  dita  Igreja  lhe  fora 
feita. 

6  Neíles  termos  hiaEl- 

Rey  Dom  Garcia  cò  a  rcíUu- 
ração  de  Braga,  &  fua  Igreja, 
quando  fendo  Deos  feruido 
icuar  pcra  íy  a  ElRey  Dõ  Fer- 
nando fubitamcnte  parou,  oLi 
pêra  melhor  dizer,  deiandou 
tudo  com  as  nouas  guerras,  q 
logofcfcguiraó.  Porque  del- 
contcnte  Dõ  Sancho  o  filho 
mais  velho  doRev  defunto  da 
repartição, que  o  pay  fizera  de 
feus  Reinos,  pretendendo  que 
aelleíòlhe  pretencião  como 
mais  velho  ,  &  que  fora  fei- 
ta contra  direito  ,  &  em  graue 
prejuizo  feu,&  de  feus  decen- 
dentes  ,  leuantando  grandes 
exércitos  primeiro  contra  fcu 
irmão  Dom  Garcia,  depois 
de  vários  fuceífoso  veo  a  prê- 
der ,  &  fe  fez  fenhor  de  ícus 
eíl:ados,  retendoo  fempre  na 
priíaõ  ate  finalmête  vir  a  mor- 


rer iiclla. 

7         Osfenhores  Gallegcs, 
cujos  foraõ os  bcs  reílituidos 
deíia  Igreja,  tornarão  apuxar 
por  elles ,  d<.  depois  de  os  aue- 
rcm  comiaõ  também   os  que 
íe  lhe  aílmaraõ  no  moíleiro 
deCordoario  ,  fem  Dom  Sa- 
cho fe  atreuer  a  lhe  ir  à  mão, 
porque  como  era  entrado  de 
nouo  no  Reino  fem  outro  di- 
reito mais  que  o  das  armas ,  có 
que  vencera,  &  puzeraem  pri- 
zão  ao  Rei,&  fenhor  proprie- 
tário ,  &  natural  dellc  ^  não 
queria  com  efta  nouaopreílaõ 
eícandalizallos  mais ,  nem  dar 
ocaííãoa  algum  aleuantamé- 
to.Cótinuou  com  tudo  com 
a  reflauracão  de  Braga, mas  có 
menos  calor  do  que  o  fazia 
ElRey  Dom  García,&  por  lhe 
parecer  afsv  necefiario  lhe  no- 
meou  nouo  Arcebiípo.  O  ar- 
chiuo ,  &  memorias  defta  Sé 
naõ  dizem  fe  era  clerigo/e  reli 
giofo,íòlhe  chamaõ  Dom  Pe- 
dro ,  de  lhe  daó  titulo  de  va- 
rão  prudente  ,  magnânimo, 
zeloío  de  íua  Igreja,  &  reftau- 
rador  de  feus  bens .  Muitos  o 
fazem  monge  de  Sao  Bento,& 
filho  do  moífeirodeCellano- 
uacm  GaUiza,fundação  de  S. 
Rofendo  ,  ou  do  de  Tybaés 
vizinho  a  eífa  cidade  ,   mas 


'íBMvíR'^ 


4^8 


Capitulo  C.Xll 


X. 


oiilo  não  conlta  ao  cerco. 
8  Vicenào  ainda  omcl- 

moRey  Dom  Sancho    (  lo- 
go diremos  cJe  íua  morte )  le 
deu  cao  boa  diligencia  o  Arce- 
biipo  Dom  Pedro,  &  fe  fez 
ranço  amar  de  codos  os  de  fua 
Prouincia ,  que  por  não  que- 
brarem com  clle  tinhaõ  por 
melhor  relHcuirem  lhe  os  bes 
quecõílauaforão  de  íua  igre- 
ja. Aqui  temos  húa  eícritura 
nellearchiuOj  em  que  íe  con- 
ta hum   grande  numero   de- 
lias propriedades ,  no  íím  da 
qual  conclue.  Estas faô cts  coii- 
foí  que  aquirio  o  Bifpo  de  Bra- 
ga Dom  Pedro  ,  este  he  o  tefia- 
mento  das  heranças  que  o  Bifpo 
de  Bra^a  Dom  Pedro  de  boa 
memoria  aquirio  por  fua  Ttir- 
tude  ;  porque  como  a  Igreja  de 
Braga  esiiuej^e  defirui  da, i^  ar- 
ruinada^ isf  nao  tiuej?e  Pajlor  q 
procurajfe por  ellap  -venerauel 
Pedro  recebeo  o  officio  de  feu 
Prelado  ,  is^  das  muitas  herda- 
de?,que  amiguamente  forao  de- 
Jla  Metropoli,  recuperou  fegun- 
do  fuás  forcas  todas  as  q  atra^ 
foraÓ  nomeadas  ,  tf  naofatif- 
feito  com  ifo  trabalhou  em  qua 
to  -uiueo  que  fua  Igreja  alcan- 
çajfe  a  honra^i^  dignidade^que 
Je  lhe  deuia. 
9  Afsy  hia  profeguindo 


o  Arcebiípo  Dom  Pedro  na  í 
reílau ração  de  íua  igreja  de- 
ícjoíodea  por  outra  vez  cm 
lua  ancigua  grandezarcudo  lhe 
promeciaíuaboamduílriajtu- 
do  o  fanco  zelo  com  que  en- 
caminhaua  fu.as  acções ,  tudo 
a  facilidade  com  que  le  fazia 
fenhor  dos  corações  dos  íidal- 
gos  Gallegos  ,  &  ainda  dos 
Caíl:elhanos,a  quem  era  muy 
aceito  ,  mormente  a  ElRey 
Dom  Sancho  ,  pello  que  co- 
nhecia de  íua  virtude,  &  va- 
lor. 

10  Não  durou  muitos  an- 
nos  o  fauor,&  valia ,  que  teue 
Dom  Pedro  com  ElReyDom 
Sancho, porque  forão  poucos 
os  de  íua  vida  ,  que  lhe  tirou 
a  infame  treição  de  Bellido 
de  Oltos_,  o  qual  ellãdo  ElRey 
fobrc  C,amora  com  preccn- 
fão  de  a  tirar  a  íua  irmã  Dona 
Vrraca,fahio  da  cidade  com  ca 
pa  de  concertos  j  &  andando 
tracandoos  com  ellcíòno  ca- 
po ,  o  atraueífou  às  punhala- 
das fcm  os  íeus  lhe  poderem 
valer. 

1 1  Com  cfte  fucccílb  Dó 
Affonfo,a  quem  Dom  San- 
cho leu  irmaõ  tinha  tãbe  deí- 
pojado  do  Reyno  deAfturias, 
&  Leaó ,  &  obrigado  à  íe  fazer 

.  Religiofono  mofteiro  deSa- 


L 


ízahum 

o 


'«'I 


^om  Fedro. 


4Ó9 


hagum,  donde  íc  faira ,  &  fora 
fugido  peia  Toledo, pêra  aly 
viucr  àlombra  do  Rey Mouro 
dacjuella  cidade.  Por  não  fica- 
rem à  Dom  Sancho  filhos  foi 
jurado  por  Rey,  &  o  que  auia 
pouco  viuia  à  mercê  do  Rey 
Mouro  de  Toledo ,  quaíl  em 
hum  inftantefe  vio  fenhor  do 
melhor  de  todaHeípanlia.Náo 
fe  lhe  deu  cótudo  a  poíle  dos 
Reinos  de  feu  irmãoDom  Sa- 
cho fem  primeiro  tomarju- 
ramento  nas  maós  do  grande 
Caualleiro  Cid  Ruy  Diaz  que 
elle  não  fora  íabedor,  nem  cõ- 
fentidor  na  morte  de  Dom 
Sancho.  Porem  aggrauou  taco 
crte  ado  aonouo  Rey,pella 
defcófiança  q  cótra  elle  íe  mo 
ftraua,que  comando  facisfação 
na  peílba  do  Cid,  o  deílerrou 
de  feus  Reinos ,  vfando  com 
cllc  de  termos  pouco  deuidos 
a  fua  fidalguia,  &  valor, 
li  Deuia  entrar  também 

neíle  juramento  que  fe  pe- 
dioaElRey  Dom  Àífonfo  o 
noflb  Arcebifpo  de  Braga,  & 
ler  elle  hum  dos  que  publica- 
uáo  fuccderaamortedeDom 
Sancho  por  ordem  ,  &  indu- 
ftria  fua,  porque  ElRey  o  en- 
controu íemprc,  impedindo- 
Iheda  Sè  Apoílolica  opallio 
Arcebiípal:  &  nao  ceifou  a 


até 


ma  vontade  que  lhe  tinha 
de  todo  c.  piiuar  da  digni- 
dadeem  qucíeu  irmão  o  pu- 
zera.  O  direito,  ou  poderes  cõ 
que  fe  atreueo  a  tal  exorbi- 
tância, nos  o  não  fabcmos^ 
aquelles  tempos  em  que  os 
Reis  fe  criauão,  &  viuiáo  fem- 
pre  em  guerra ,  lhe  faziáo  fácil 
tudo  quanto  intentauão.  Ne- 
fte  Dom  Aífonío  (  ainda  que 
por  outra  ocaíiaõ )  teue  prin- 
cipio oprouerbio,  làajaoleys 
onde  querem  Reys.  O  certo  he 
que  o  noílo  Dom  Pedro  nao 
podefazer  outra coufa,  mais  q 
ceder  à  potencia Real,&  reco- 
lhcríè,comooRey  Iheman- 
daua,ahum  moífeiro  pêra 
nelle  acabar  o  que  lhe  reífaua 
de  vida :  qual  eíte  foílè  nao  ha 
memoria  :bem  de  crerhe  não 
feria  ,  nem  nos  Reinos  perté- 
centes  a  Dom  Garcia ,  né  nos 
de  Callella ,  que  na  repartição 
dopay  couberaóa  Dom  San- 
cho,pella  muita  mão  que  nd- 
les  teria  o  Arcebifpo  Dom  Pe- 
dro: deuia  deputarlhe  algum 
das  Aílurias,ouReinodeLeaõ, 
onde  lhe  parecia  o  teria  mais 
fcguro .  Aly  em  fanta  velhi- 
ce todo  ocupado  na  contem- 
plação da  bemauencurança,  íé 
lembranças  nenhúas  da  digni- 
dade de  que  fe  via    priuado. 


acaDou 


470 


Capimlo  C.XIX 


acabou  a  vida ,  deíejado  fem- 
pre  de  íuas  ouclhaSj&  nomea- 
do per    íeu  Paftor  ainda  de- 
pois da  eleição  de  laõCiraieío, 
que  íoi  oc]  Vac  íucedeo. Acha- 
mos neíle  archiuo  alguas  doa- 
ções feitas  ao  Arcebiípo  Dom 
Pedro  em  tempo  cjuejàgo- 
uernaiia  íeu  íucelíor  ;  &  a  re- 
záo  he  porque  viuia  ainda  no 
moíleiro  cm  que  ElRey  Dom 
Affonfo  o  fez  recoliíer.    En- 
trou o  Arcebiípo  Dom  Pedro 
neiia  Igreja  pellos  annos  de 
lo-jz.  pouco  mais,  ou  menosj 
durou  nella  ate  o  de  1090.  em 
que  foi  eleito  faõ  Giraldo.  Foi 
como  ja  acima  começauamos 
a  dizer ,  excellente  Prelado,  & 
ifora  hum  dos  mais  notaueis 
dcfta  Igreja/elhe  naõ faltara  o 
fauordelRey  Dom  Affonfo  o 
fexto.  As  mais  das  couías  que 
delle  deixamos  efcritas  íelem 
cmhúaefcritura  que  anda  no 
liuro,  a  que  chamão  Fidei  do 
archiuo  deita  Sé^  a  qual  tradu- 
zida do  latim  em  Portuguez. 
diz  afsy. 

1 3  Depois  que  pellos  pecca- 
dos  de  feus  moradores  foiHef- 
'panha  deUruida ;  os  Chrijlaos 
pella  m/fericordia  de  Deos  re- 
cobrando nonas  for  1^ as,  começa- 
rão a  ganhar  o  perdido ,  ainda 
que  em  largo  num&ro  de  annos; 


porê  das  terras  aquiridcts  <-vfa- 
uaoàfeugoUo  ^  trocando  huns 
em  pofejioês  feculares  as  Igre- 
jas dedicadas  ao  cultoDiuinoJs' 
fogeitando  outros  os  templos ^  if 
mofieiros  celebr  es  -antiguamen- 
te  à  outros  de  menos  confidera- 
Ção^os  quaes  de  nouo  fundauao. 
Entre  estes  foi  humP^ey  chama- 
do Ordonho  que fogeitou  a  Igre- 
ja de  Braga  (  a  qual  deuefer 
Metropoli ,  l^  may  de  todas  ^ 
de  Hejpanha)  a  Santiago  quan- 
do a  cidade  de  Braga  eflaiia 
dejhuida ,  tf  feita  hum  monte 
depedras  .  Pajfados  nesla  for- 
ma muitos  annos  ^por  morte  do 
Christiamfsimo  Rey  Dom  Fer- 
nando ^  a  qual  fucedeo  ha  pau- 
CO  em  nofos  tempos,  diuidio  feu 
\  reino  emires  filhos  ^  DomSan- 
;  cho.  Dom  Affonfo,  tf  DÓ  Gar- 
{  cia ;  ao  qual  coube  aparte  Oc- 
cidental, em  que  cae  Braga.  A 
elle  '-vierao  Vejlrio  Bifpo  deLu- 
go,  Crefconio  delria^  com  ou- 
tras pefoas  Religiofas ,  tf  ca- 
ualleiros  da  terra,  tf  lhe  ro- 
garão  mandaffe  reflaurar  a 
Igreja  de  Braga ,  tf  por  nella 
Bifpo .  ElRey  pareceolhe  bem 
esta  petição,  mandou  chamar  os 
principaes   de  Santiago-,  aos 
quaes  deu  o  mofleiro  Cordario 
de  feu  padroado  pellos  terras 
que  elles poffuyâo  em  Braga,tf 

lhes 


^M 


^om  PedrG> 


^»*anaM0«!^ 


47  i 


lhes  dera  hlRey  Dom  Ordonho, 
Isf  quis  qUefoJ?mi  rejlituidas  à 
Se  da  dita  cidade:  i!f  os  Prela- 
dos nomeados  começarão  a  edi- 
ficara igreja  de  Braga  da  7«- 
ííocaçao  da  glonoja    Virgem 
Maria .  Pajjado  algum  tempo, 
femfer  ainda  eleito  Bifpo,  fe  k- 
uantou  Elliey  Dom  San-cho  cÓ- 
trafeiiirmaó  Dom  Garcia^tf 
o  excluyo  do  Reino.  E  neíta  oc- 
cajiaÓ  de  reuoltas  fe  tornarão 
os  moradores  dè  Santiago  (fem 
elle  entrar  niJ?o)à  meter  depof- 
fc  do  que  tinhaê  deixado  à  Bra- 
ga por  ordem  dei Rey  Dó  Gar- 
cia, retendo  juntamente  ô  mo- 
Ueiro  Cordario  ^queo  próprio 
Rey  lhe  dera  ;  Dom  Sane  bofes 
depois  eleger  em  Bifpo  de  Bra- 
ga à  Dom  Pedro.  Porem  nem 
lhe  deu  rendas ,  nem  tratou  de 
recuperar  o  quefeu  irmão  Dom 
Garcia  auia  dado,  (^  finalmt- 
te  naófes  eíie  Rey  coufa  de  cott- 
fideraçâo  por  ter  pouco  tempo 
de  "vida.  Dom  Affonfo  njeo  a 
pojfuir  todo  o  fenborio  de  feu 
pay  jí^  teue  muitas  guerras  có 
Aíouros^j  fes  celebrar  fy  no  do 
alcançando  dos  legados  Apoflo- 
licosfe  guardaj^em  emfeusRey- 
nos  csfagrados  Cânones .  Po- 
rem o  Bifpo  de  Braga  Dom  Pe- 


dro ntio  alcançou  a  zraca  deU 
Rey  y  tf  afsy  nem  delle  outie 
doações  pêra  fua  Igreja  ^  nem 
fauores  dos  Legados  Apoflo^ 
licos ,  antes  foi  exclui  do  do  Bif 
pado  no  fim  defua  '-vida ,  i^  o 
confirangeraó  dfe  recolher  em 
hum  mosteiro  ^onde acabou feus 
diíí6 .  E  afsy  a  Igreja  de  Bra- 
ga pello  pouco  que  pode  ficou  po- 
bre ,  isf  por  cauja  das  difiert- 
çocs  que  fe  mouerao  entre  os 
Príncipes  fe  nao  acabou  de 
edificar  ^  tf  ficou  expofia  ã 
muitos  ãggrauos^  de  que  foraÔ 
teHimimhas  ^  tfc.  Elta  crocâ 
ou  eícambo  íc  fez  na  era  de 
mil  &  cencô  Sc  noue.  Com 
efta  memoria  fe  acaba 5  as 
que  achamos  do  Arcebiípo 
Dom  Pcdio.  Tinha  por  cíles 
annos  a  Cadeira  Ponciíical 
de  Roma  ^  depois  de  Gregó- 
rio VII.  Viaor  III.  &  Vr- 
banoIL  o  Papa  Pafcoal  II. 
Era  Rey  de  Calklía,  &  Leaó 
Dom  AíFonfo  oVL 


iM>i'^>ilÉnf!Wiii 


i       I 


i 


4 


!ii^'ii"íu.  ^íi  tcPíiSi  O ; . 


■iw  V  >-ii«.'i  íÊkm^tm*j-ái 


h 


índice 


DOS     CAPITVLOS 


DESTE    LIVRO. 


APITFLO 

primeiro.  Fun- 
da c^^o  da  cida- 
de de  Braga, 
íjf  qitaesforaÓ 
Jeus  fundadores,  -pag.i. 
Cap.  1.  Das  guerras  que  teue 
Braga  no  tempo  dos  Roma- 
nos, pag.  9. 
Captnilo  3 .  Do f  tio ,  que  tinha 
Braga  no  tempo  dos  Roma- 
nos ^  i^  dealgúas  antigui- 
dades ,    que  Je  achaó  nella 
do  mefmo  tempo,  pagina. 
II. 
Cap.  4.  Da  diuifaó  de  Hejpa- 
nka  ,   conuentos  iuridicos, 
que  nella  ouue,tf  como  Bra- 
ga foi  hil  dos  mais  conhecidos 


II, 


delia,  pag 

Capitulo  j-.  Da  grandec^a^que 
conjeruou  Braga  na  entra- 
da dos  Vândalos^  Sueuos, 
Alanos ,  em  Portugal ,  i^ 
Galli^.pag.z}. 

Capitulo  6.  da  entrada  dos  Mou- 
ros em  Hefpanha  ,  tf  como 
Braga  foi  deflruida^  Cf  de- 
pois reflaurada ,  tf  dada 
j  pellos  Reys  de  Leão  a  esta 
I      fantaSe.pag.  2.^. 

Capitulo  7.  Como  a  cidade  de 
Braga  foi  a  primeira  de 
Hefpanha  ^  que  receheoa  Fe 
de  Chrisio  Senhor  ncjlu.pag. 

Cap  ,8 .  Das  diuifoes^qfef^^erao 
dos  Bifpados  de  Hefpanha^ 


Rr 


tf 


índice 


Cf  dos  queje  afsinaraó  a 
':         Metropoli  de  Braga.pag. 

30- 
Capitulo.  9.  Dos  Concílios  Pro~ 
uinciaes ,  que  fe  ctUbrarao 

em  Braga.pag.  54- 
Capitulo  IO.  fegundo  Concilio 

de  Braga  pag  3  9. 
Capitulo  1 1 .  Terceiro  Concilio 

de  Braga. pag.^9- 

Capitulo  iz.  Qjiarto  Concilio 
Br  achar  enfe.pag.  57. 

Cdp.  i^.  Celebràje  o  quinto 
Concilio  de  Braga,  pagina 
66. 

Capitulo  14.  Vem  Santiago  a 
Hefpanha  ,prèga  nella  a  ley 
Eiégelica,  tf  funda  a  Igrja 
de  Braga.  pag.  6j. 

Capitulo  1^.  Poemfeoteftimu- 
nho  defanto  Athanajio  Bij~ 
po  de  C,aragoça,  i^  a  carta 
do  Bifpo  do  Porto  Dom  Hu- 
go ,  em  que  fe  confirma  o  que 
temos  dito  pag. yo. 

Cap.  \6.  Defendenfe  os  frag- 
mentos defanto  Athanafo; 
refutãofe  as  re^^es  dos  que  os 
impugnão.pag.  75. 

Capitulo  ly.  Continua  a  maté- 
ria do  capitulo  pajfado  em 
defenfaÓ  dos  fragmentos 
defanto  Athanafo. pagina. 
U. 

Cap.  1 8.  Em  quefe  profegue  a 
'vida  de  Saó  Pedro  de  Ra- 


tfs  primeiro  Arcebifpo  de 
Braga. pag. SS. 
Capitulo  19.  Saó  Baf lio  fegun- 
do Arcebifpo  de  Braga.pag. 

V- 
Cap.  zo.  Saó  Siluefíre  Mar- 

tyr  de  Braga  pag.  loi. 
Capitulo  II.  Hermolao pagina. 

lOZ. 

Capitulo  12..  Santo  Ouidio  ter- 
ceiro Arcebifpo  de  Braga. 
pag.  103. 
Capitulo  23.  Sao  Marcos  loao 
Bifpo.,   ij/  martyr.  pag. 
107. 
Cap.  2.4.  Asfantas  uoue  irmãs 
gémeas.  Virgens^  i:f  marty- 
r  es.  pag.  108. 
Capitulo  x^.Defendefeo  naci- 
mento  das  f antas  noue  ir- 
mãs ^  Í!f  prouafe  com  ou- 
tros femelhantes    pagina. 
113. 
Cap.  z6.  Santa  Liberata  Vir- 
gem^  martyr ,  húa  das  no- 
ue irmãs. pag.  IIZ. 
Capitulo  irj.   Santa  Quitéria 
Virgem ^tf  martyr. pag. 
10;. 
Cap.  28.  Santa  Marinha  Vir- 
gem _,  U  martyr  húa  das 
fantas  noue  irmãs.  pag. 

133- 
Capitulo  Z9-    Santa  Eufemia 

Virgem ,  if  martyr  pag. 

137- ___^ 

Cap. 


Dos  Ci^pi  fulos. 


Cápit.  30.  Santa  Gcnehra^Sâ- 

ta  Germana  y  SantaBajUif^ 

fa^SantãVitoria^SataMar- 

ciana.pag.i^i. 
Capitulo  31.    Sao    Policarpo 

quarto  Arcebifpo  de  Braga. 

pag.  i4j. 
Capitulo  32,.  Sereriano  quinto 

Arcebijpo  de  Braga.  pag. 

146. 
Cap.  3  3 .  Sao  Fabião  fexto  Ar- 
cebijpo de  Braga,  pagina. 

Capitulo  34.  Sao  Félix feptimo 
Arcebijpo  de  Braga. pagina. 
14.7. 

Capitulo  3  5.  Grato  oitauo 
Arcebifpo  de  Braga.pagina. 

J49- 
Capitulo   36.  Sao  Secundo ^ou 

Secundino   nono  Arcebijpo 

de  Braga  pag.  lyi. 

Cap.  37.  Sao  Theophilo  Sa- 
turnino ,  i!f  Reuocata  Mar- 
tyres  de  Viana  pag  .153. 

Cap.  38.  Caledónia  decimo  Ar- 
cebijpo de  Braga,  pagina. 

Capitulo  39.  Sao  Narcijfo  1 1 . 

Arcebifpo  de  Braga.  pag. 

i6o. 
Capitulo  40.  Paterno  primeiro 

do  nome  ,  Í!f  iz.  Arcebifpo 

de  Braga pag.16^. 
Capitulo  41.  Sao  Salamh  13. 

Arcebifpo  de  Braga,  pagina 


ló 


/  • 


Cap.  4i,  Sinagia^iou.Sinagrio 
1 4.  Arcebjpo  de  Braga  pag. 
171.  ^  ■       , 

Capitulo  43 .  Sãó  Vitouro^  Çan  ^ 

ta   S ufana  y  faó  Xucufatej 

faÓ  Torcato^Í!ffa6  Siluejlre 

martyres  de.  Flraga.Lpagina 

173.         ■,■•-, :ít  '   "  ?•.,  ;,;.\'-  ■• 

Capitulo  44.  Santa  Engracia 
Virgem^  iff  martyr  natural 
de  Braga  ^y  d f oito  com- 
panheiros feus  martyr  es. 
pag.  i2o. 

Capitulo  4f.  Sao  Leôncio  i)-. 
Arcebijpo  de  Braga.pagina. 
187. 

Cap .  4^ .  ApoJlonio  1 6 .  Arcebif- 
po de  Braga  .pag .  1 5)  1 . 

Cap.  47.  Domiciarw.,  que  aigús 
intitulaÓ  Arcebijpo  de  Bra- 
ga pag.  193- 

Cap  .48.  Idacio^  ou  Epitacio  1 7 . 
Arcebifpo  de  Braga. pag.  1 9S- 

Cap,^9.Lampadio  18.  Arcebif- 
po de  Braga. pag.  100. 

Cap.^o    Aueriguafejerejle  CÓ- 
cilio  o  mefmo  que  anda  em 
Loavfa  •,  daj^e  húa  breue  re- 
lação de  que  foi  o  herege  Prif 
cilliano.pag.zo^. 

Cap.yi.  S.  Damajh  Pontífice 
Romano. pag.  II  z. 

Cap.$z.  S.  Pater  no fegundo  do 
nome^ouPatruino  19.  Arce- 
bifpo de  Braga.pag.z19. 

iul  "cãp. 


Indi 


ice 


*S 


Capitulo.  ^■^.  SaÓ  Profuturo 
primeã'0  do  nome  zo.  Ar- 
eebijpo  de  Braga,  pagina 

Capitulíf  j4.  Ajuítafe  o  dif— 
curjo  píij^ado  como  quede 
de  SaÓ  Profuturo  efcreue 
fanto  Agoflinbo  j  rejpon- 
dej^e  ás  ohieiçoes,  i^  decla- 
ra fe  quantos  Concílios  eíiao 
.  injertos  no  primeiro  de  To- 
hdopag.  12.7 

Cap.  j-j-.  Seguefe  ornais,  que 
pertence  à  ^'ida  de  SaÓ  Pro- 
futuro.pag.  231. 

Capitulo  ^6.  Pancracio  ^  ou 
Pancraciano  zi .  Arcebifpo 
de  Braga.  pag.  z^6. 

Cap.  57.  Balconio  zz.  Arcebif- 
po de  Braga.  pag.  240. 

Cap.  ^8.  Paulo  Orofo  infgne 
efcritor  Ecclefafico.  pag. 
Í50. 

Cap.  59.  Contafe  ornais ^ que 
pertence  à  a^ida  de  Paulo 
Orofo. pag  15-4. 

Cap.  60.  SaÓ  Maximiliano.,tf 
Valentino  Bifpos  ,  tf  Mar- 
tyres.pag.i6i, 

Cap.  61.  Valério  primeiro  do 
nome  2.3,  Arcebifpo  de  Bra- 
ga.pag.  z6%. 

Cap.  6t.  Idacio  fegundo  do  no- 
me. 14.  Arcebifpo  de  Braga, 
pag.  2.6^. 

Cap.  63.  Santo  Apollinar  Bif 


po ,  tf  Martyrpag.  2.6 j. 

Capitulo  64.  CaUino  25.  Ar- 
cebifpo de  Braga  pagina 
2.71. 

Capitulo  <Sy.  Valério  fegundo  do 
nome  z6.  Arcebifpo  de  Bra- 
ga, pag.  2.76. 

Capitulo  66 .  Profuturo  fegundo 
do  nome  2.7.  Arcebifpo  de 
Braga  .pag.  zy-j. 

Cap.  67.  Santo  Ausberto  28. 
Arcebifpo  de  Braga  pagina 

Capitulo  68.  Juliano  primeiro 
do  nome,  tf  29.  Arcebifpo 
de  Braga  pag.  z86. 

Capitulo  <r«9.  Eleuterio  3  o. 
Arcebifpo  de  Braga,  pagina 
z88. 

Capitulo  70.  Lucrécio  3  r .  Ar- 
cebifpo de  Braga. pag. z!).^ 

Capitulo  yi.SaÓ  Martinho  de 
Dume^z.  Arcebifpo  de  Bra- 
ga, pag.  ^03. 

Cap.-jz.  he  eleito  SaÓ  Marti- 
nho Arcebifpo  de  Braga^ref- 
plandece  em  ^virtudes ,  tf 
chama  a  Concilio  os  Bifpos 
fuffraganeos.pag.  3  09- 

Cap.  73 .  Dos  Moíieiros  ^  que 
fundou  SaÓ  Martinho  neíla 
Prouincia  de  entre  Douro^ 
tf  Minho  pag. -^11. 

Cap.  74.  Dos  liuros,tf  obrai 
que  compôs  o  gloriofo  S,  Mar 

tinho.pag.  321. 

— ' -^— — . 

Cap. 


Dos  Capítulos. 


\ 


C^.p.  y^..Da  glorio fa     morte 

do  bemauenturado  SaÓ  Alar 

tinho  de  Dume.pag.  3  2.3 . 
Capitulo  76.   Poejias    ^ (irias 

feitas  em  louuor  de  SaÓ  Mar 

tinho  na  tresladaçaade  fuás 

relíquias  pêra  a  Santa  Sé  de 

Braga  pag.  319. 
Capit.  77.  Benigno i^.Arcebif- 

po  de  Braga  pag .   331. 
Cap.  78,  Pantardo  34.  Arce- 

bifpo  de  Braga. pag, ^^j. 
Cap.-jo-  Santo  Esteuao  Abba- 

de  do  mojleiro  de  Rates. pag. 

341. 
Capit.  ^o.  Santo  Tolobeu^ou 

Tobeu  3  5 .  Arcebifpo  de  Bra- 

ga.pag.^^y 
Cap.  %i.  SaÓ  Pedro  Juliano  36 

Arcebifpo  de  Braga.pag.^4^ 
Capitulo   8i.    Manucino    37. 

Arcebifpo  de  Braga.  pag. 

349- 
Capitulo  83.  Panoracio    38. 
Arcebifpo  de  Braga.  pag. 

349- 
Cap.  84.  Potamio o  penitente. 

3  9.  Arcebifpo  de  Braga.pag. 

350. 
Capitulo.  85.  SaÓ  Frutuofo  40. 

Arcebifpo  de  Braga.  pag. 

3Í7- 
Capitulo  86.  Recebe  SaÓ  Fru- 
tuofo o  habito  de  SaÓ  Ben- 
to ,  funda  o  mojleiro  de  S. 
lufto  ,  ^  Paftor^  Iff  ou^ 


tros  muitos  de  Rel'giofos,(f 
Religiofís.pag.  360. 

Cap.  87.  Milagres  que  Deos 
Nof  o  Senhor  obrou  por  meo 
de  SaÓ  Frutuofo  antes  de  en- 
trarem Portugal,  pagina. 
367. 

Cap.  S8  Trata  SaÓ  Frutuo- 
fo de  ir  a  lerufalem  ,  impe- 
delhe  ElRey  o  paJ?o  com  o 
fa^er  Bifpo  de  Dume,  on- 
de efcreueo  a  regra  ,  que 
chamao  de  S.  Frutuofo;dafe 
noticia  dos  Bifpos  de  D  ume. 
pag.  ^70. 

Cap.  89.  Vai  SaÓ  Frutuofo 
a0  Concilio  decimo  de  Tole- 
do 3  onde  he  eleito  Arcebif- 
po de  Braga:  i^em pêra  fua 
Igreja ,  i^  trata  da  refor- 
mação do  Clero, if  pouo  del- 
ia, pag.  ^-8. 

Cap.  í?o.  Dos  mosteiros  que  SaÓ 
Frutuofo  fundou  em  vários 
lugares  de  feu  Arcebifpado, 
Í!/ fora  delle. pag.  3  8i. 

Cap.  91.  Funda  SaÓ  Frutuofo 
o  mojleiro  de  SaÓ  Saluador, 
^  os  motiuos  ,  que  teue pê- 
ra ofa^ifr-pag.  386. 

Cãp.  92..  Pajfa  deita ''oida  pe- 
va a  bemauenturanca  o  glo- 
riofo  S. Frutuofo. pag.  389. 

Cap.  93.  SaÓ  Qjtirico ,  cu  Quj- 
rino  41 .  Arcebifpo  de  Braga 
pag- 39^ 


Rr3 


Cap. 


índ 


ice 


Cãp.  94.  Recefuintho  Abhade 
natural  de  Braga.  pag.  398. 

Cap.  9;.  Santa  Veatnde  ^-Iff 
defoito  cópanheiros  marty- 

res.pag.^99. 

Cap.  96.  SaÓ  Leod-ecijio  Julia- 
no 41,  Arcebijpo  de  Braga, 
pag.  400 , 

Cap.  9-7.  Linha  45.  Arcebifpo 
de  Braga. pag.  ^^.04. 

Cap.  98.  Bamba  Abbade  ija- 
raó Janto  defie  Arcebifpado. 
pag.  407. 

Cap.  99.  Fàuflíno  44.  Arcebif- 
po de  Braga. pag.  405». 

Cap.  100.  SaÔ  Felix  Torçato 
tnartyr  45.  Arcebifpo  de 
Braga.pag.414. 

Cap.  loi  SaoViãor martyr 
46. Arcebifpo  de  Braga. pag. 

42-3. 
Cap.  loi.  Heronio  47.  Hermi- 

nigildo,  48,  lacobo  49  Ar- 
cebifpo s  de  Braga. pag.  418. 

Cap.  1 03 .  Ferdifendo  jo-  Arce- 
bifpo de  B1aga.pag.419. 

Cap.  104.  Arcarico  yi.  Arce- 
bifpo de  Braga.pag.  431. 

Cap.  loy.  Argimundo  ^t.  Arce- 
bifpo de  Braga.pag.  4^^. 

Cap.  \o6.  Nosiram  ^i-  Arce- 
bifpo de  Braga.pag.  436. 

Cap.  107.  Dulcidio  $4.  Arce- 
bifpo de  Braga,  pag.4^-'. 


Cap.  108.  Gladila  jj.  Arcebif- 
po de  Braga.  pag.  440. 

Cap.  109.  Santa  Comba  Firgc., 
Í!7'  SaÓ  Leonardo fu  irmaó. 
441. 

Cap.  lio.  Argimiro  56.  Arce- 
bijpo de  Braga  pag.  44^. 

Cap.  III.  Theodomiro  57. Ar- 
cebifpo de  Braga. pag. 44-/. 

Cap.iiz.  Silitanato  57.  Arce- 
bifpo de  Braga.pag. 44S. 

Cap.  113.  Heros  jp.  Arcebifpo 
de  Braga.pag.  448* 

Cap.  114.  Gonçalo.  60.  Arce- 
bifpo de  Bragapag. 4^1. 

Cap.  ii^.hlermigildo  61.  Ar- 
cebifpo de  Braga  pag.  4^2. 

Cap.  116.  Santa  Senhorinha  de 
Bafio. pag,  4^^. 

Cap.  iij.  luliano  6z.  Arcebif- 
po de  Braga.  pag.  461 . 

Cap.  118.  Sigifrido  63.  u4rce- 
bifpo  de  Braga  pag.  461 . 

Cap.  119.  Dom  Pedro  64.  Ar- 
cebifpo de  Braga. 464. 


, -1    •.!.-. 


Fim  do  índice  dos  Ca- 
pítulos. 


índice 


índice 


DAS    COVSAS   MAIS 

NOTÁVEIS     Q_VE-SE    CONTEM 
iieíte  liuro. 


O  primeiro  numero  (ignifica  o  Capitulo^a 
Jtgimdo  apagina. 


A 

Abbade. 

Bbadcs  de  SaÕ 
Beto  tinhaò  lu- 
gar.&  voto  em 
todos  os  Con- 
cilies, cap.  99. 
pag.  405), 
Abbadias  de  Saõ  Bento  erigi- 
das em  Bifpados.  cap.  73. 
pag.  311. 


Acifclo. 

Artyrio  de  Santo  Acif- 
clo.cap.  30.pag.143. 
Nacem  milagroíamente  roías 


M 


d 


no  dia,  em  cjue  íoi  marty- 


fc 


rizado.  Ibidem. 

Efteue  no  cárcere  com  fanta 
Vitoria,  Ibidem 

QuatroAnjos  os  acompanha- 
rão no  cárcere  por  muitos 
dias.  Ibidem. 

Afra. 

SAnta  Afra  foi  filha  de  Hi- 
lária de  Chipre,  cap.  39. 

pag.  i6t. 
Como  Saõ  NarciíTo  Arcebif- 

po  de  Braga  a  conucrteo. 

pag.  163. 
Criadas  que  fcconucrteraõcó 

feu  exemplo.  Ibidem^ 
Padeceo  martvrio  em  Girona 

com  o  mefmo  S.  Narciílb. 

pag.  164. 


Rr  4 


Agapio. 


índice. 


.^, 


Agapio. 


SAgapio  Bifpo  de  Carclia- 
.  gena,ondepacíeceomar- 
tyrio.cap,36.pag.  1J2. 

Agofiinho, 

Eliquías  que  O  Arcebif- 

po   Dom  Agoílijnho, 

de  Caftro  tresladou  da  Igrc 

ja  de  Dume  pêra  a  Sé  de 

Braga.  cap.  yj.pag.  3ij. 


Águeda. 

Villa  dcAgueda  foi  Emi 
nio  cidade  antiguamen- 
te  Epifcopal.  cap.  ij.  pag. 

Ambracia. 


A 


A 


Mbracia  fazem  alguns 
Plafencia.  cap.  ijpag. 


72" 


Ampkilochia. 


\    MphilochiacidadeEpif- 
jf~jL  copal  noReino  de  Gal- 

liza  íe  chama  hoje  Orenfe. 

cap.ii.pag.7z. 
Foi  edificada  por  híí  capitão 

G  rego  cha  mado  A  mphilo- 

co.  Ibidem. 


Anel. 


c 


Om  hum  anel  milaíiro- 

o 

íamcte  defcubrio  o  Cco 
o  corpo  de  íanra  Eufemia, 
cap.  2p.  pag.  138. 
Como  fe  guarda  eíle  anel  na 
SèdeOreníe.pag.141. 

Anjo. 

QVatro  Anjos  acompa- 
nharão aSaõ  Acifclo, 
òc  Sãta  Vitoria  no  cár- 
cere, cap.  30.  pag,  143. 
O  Archanjo  S.Miguel  man- 
dou a  Saõ  Auíberto  Arce- 
bifpo  de  Braga  lhe  edificaf- 
fe  hum  téplo.  cap.  67.  pag. 
27S. 
Reuelação  feita  por  hum  An- 
jo ao  pay  de  íanra  Senhori- 
nha, cap.i  1j.pag.4j4. 


Antiguidades. 

Ntigu idades  que  fe  a- 
charaõ  em  Braga  do 

tempo  dos  Romanos,  cap. 

3.  pag.  ii.&feqq, 


A 


s 


Apodomio. 

Aó  Apodomio  Martyr 
hiídos  18.  companheiros 


T)^^S  CO!;fiS. 


de  lança  Engracia.  cap.  44. 
pag.  181.ÒC  184. 

Apollinar. 

SAnto  Apollinar  Bifpo,  & 
marcyr.cap.  63 .  pag.  zóy. 
èc  íeqq. 

Foi  Francês  de  nação ,  pag. 
lóS.&feq. 

Batendo  com  o  bordão  na  cer- 
ra j  em  proua  da  Fè  ,  flore- 
ceo,&:  lefcz  húa  aruore  fer- 
moía,  &  do  pé  arrcbcncou 
húa  fonce. pag.  2.69. 

Eftà  leu  corpo  íepultado  na 
Igreja  do  lugar  de  Vrros. 
pag,  i68. 

Tormencos  que  padcceo  pag. 
169. 

Os  quebrados,  que  a  elle  fe 
encomcndaõ  cobraõ  fau- 
de.pag.171. 

Milagres  que  Dcos  obra  por 
os  merecimencos  deftc  lan- 
to,pag.i70.&  2.71. 

Deuaçáo  com  que  o  Arccbif- 
po  Dom  frei  Bercholameu 
dosMartyres  vificaua  fuás 
Relíquias,  pag.  171 . 

O  que  li ntia  acerca  delias. Ibi- 
dem. 

Jpollonio, 


Ia 


Pollonio  16.  Arccbif- 
po  de  Braga.  cap.  46. 


pag.  191.  &íeqq. 
Arcarko. 

ARcaricoji.  Arcebif^o 
de  Braga  p.ig.  104. pag. 
432..  &  leq. 
Efcreuea  ElipandOj&  ajunta 
Concilio.pag,433. 

Arc&bifpo 

ARcebifpos  dcBraga  por 
mais  de  30o.annos,quc 
elleue  arruinada  conferua- 
raõ  oticulodc  Arcebifpos 
cap.  103.pag.451. 
Na  taboada  Sancrartia  daSè, 
íe  nomeaõ  alguns  Prelados 
por  Arcebiípos  de  Braga, 
que  o  náoforaõ,lenáo  de 
Lugo  cap.  118.pag.463, 

Argimiro, 

ARgimiro  y6.   Arcebif- 
po  de  Braga  cap.  110. 
pag.443.&reqq. 
Achoule  cmCompoftela  na 
fa^ração  da  Igreja  do  Apo 
ftolo  Santiago  pag.  443 . 

Argmundo. 

\   Rgimundo  ji.  Arcebif- 
po  de  Braga  .cap.  1 05.  pag. 

43;. 


<A.-^ 


Jndice. 


■     43;.&íeq. 

Athanafo. 

FRagmécos  ck  fanto  Atlia- 
nnlío  ,  que  rratáo  deSaó 
Pedro  de  P.aces.  cap.    ij". 

pag- 7 1-5^:72- 
Dcfcndenfe  es  Fragmétos  de 
íanco  AthanaííOj  &  refu- 
tãoleas  rezoés  dos  que  os 
impugnáo.cap.  16.  pagjj. 
&:  ícqq. 


Augusta. 


A 


Que  cida Jes  fc  dà  o  ti- 
tulo deAugullas,    ôc 
porque  rezáo  cap.  i-pag. 
i.pag.i93.&  1ÍP4. 


Juito. 

CArtadc  AuitopcraBal- 
conio  Arceblípo  dcBra 
ga.cap.  ;7.  pag.i48.&feq, 

Ausbeno. 

SAnto  Auíberto  íS.  Arce- 
bifpode  Braga.  cap.  6-j, 
pag.i77.&feqq. 
Foi  Framcngo  da  naçaõ.  pag. 

2-77-  ^ 
Rcuelação  que  reue  doArcha- 
jo  faõ  Miguel,  pêra  liie  edi- 


ficar hú  templo. pag.2.78. 
Embaixada  que  fez  a  França 

por  mandado   da  Rainha 

Crotild£s,p3g.2.78A'  leqq. 
Faz  abjurar  a heregia  Arriana 

pag.  28i.&ícq. 
Setoi  Biípo  de  Cambraypag. 

zS^.  &í  icqq. 


B. 


Baeca. 

Aeça  foi  cidade  Epiíco- 
pal.  cap. 101. pag. 4^7. 
Alguns  querem  que  os  três 
martyrcs  Vidlor ,  Alexan- 
dre, &  Mu  ciano  não  per- 
tençáo  a  Braga  ,  mas  fò  a 
Baeça  _,  mas  com  pouco  fú- 
damento.p2g.4i6  ôc  4IJ, 

Balconio. 

BAlconio  i2.    Arcebifpo 
de  Braga.  cap.  57.  pag. 
240. «S*:  feqq. 
Foi  grande  amiijo  de  SaÕ  To- 
ribio  Bifpo  de  Aftorga. 

pag.  MO. 
Concilio  que  congregou  pag. 

Regra  da  Fè ,  que  fizcraõ  os 
Bifpos ,  &  mandarão  a  Bal- 
conio. 245', ô»:íeq. 

Carta  que  Auito  eícreueo   a 


Balconio 


'Das  coufis. 


Balconio  por  Paulo  Oro- 
i10.pag.z4S.  (SíTleq. 

Baltasar. 

DOmfr.  Baltafar  Limpo 
rrclladou  o  corpo    de 
Saõ  Pedro  de  Rates  pêra 
a  Sc  de  Braga.   cap.   18, 
pag.96. 
Ordenou   ouuefle  íinco   ca- 
pcllaés  na  capella  em  qucas 
lanças  relíquias  íe  colloca- 
raõ.  Ibidem. 

Bamba. 

BAmba  Abbade  varaõ  fan 
to  do  Arcebifpado  de 
Braga.  cap.  98.  pag.  407. 
&  leq. 
Onde  ertà  Icpulcado.pag.  408. 

Bafilio. 

SAÕ  Bafilio  fegundo  Ar- 
cebiípo  de  Braga.  cap. 19. 
pag.97- 
Foi  dicipulo  de  Santiago.  Ibi- 
dem. 
Foi  Biípo  da  cidade  do  Porto. 

Ibidem. 
Achoufe  na  collocaçãodas  re- 
liquias  do  Apoílolo  San- 
tiago em  Iria  Fiauia.   Ibi- 
dem. 


Foi  eleito  das  Igrejas  de  Hef- 
panha  peraco  ían:o  Atlia- 
nafio  vilitar  o  Apojtolo.^. 
Paulo  preío  cm  Roma  ^  tk 
leuarlheefmola.pag  98^ 

Padcceo  njartyrio  cm  Plaíen- 
ciacomíanco  Epitacio.pag 

Outros  querem  que  em  Mc- 

rida,  ou  Braga. 9P.  &  100, 
Ouuedous  íantos  Baldios  di- 

cipulos  de  Santiago  cap.i  5)- 

pag.  loo.&íeq. 
Em  que  anno  íoi  martyriza- 

do.  pag.  loi. 


s 


Bafdijfa. 

Anta  Baíílifla  híja  das  lau- 
tas noue  irmás,  onde  pa- 
dcceo Martyrio.  cap. 30. 
pag.  i4i&leq. 


C 


B 


Bemaumturado. 

Orno  pode  tornar  ao 
mundo,  &c  reíucitar  hú 
bemauenturado,  cuja  al- 
ma via  a  Deos.cap.  17, 
pag.  86.&  feq. 

Benigno. 

Enigno33.Arcebirpo  de 
Braga.  cap.77.pag,3 31.  & 
feqq- 

Carta 


Índice . 


Gaitas  que  lhe  cícrcueo  o  Pa- 
pa Pebgio.  pag.335  A'  ^cq. 

Achou ftprefente  àconfagra- 

■  çãoda  Igi*cja  Cachcdralde 
Tolçdo.  pag.  33X- 

Foi  a  França  viíicar  ofepul- 
chro  de  Saõ  Martinho  Bif- 
podeTurs-  pag.336. 


V 


Bento. 

Indados  Religiofos  de 
Saõ  Bento  a  Porcugal. 
cap.  79.  pag.34i.&  íeq. 
Reu elação  de  que  nenhú  dos 
q  em  trezentos  annos  mor 
reraõ  no  habito  de  Saõ  Be- 
to íe  pcrdeo.  cap,  99-  pag. 

409. 
Muitas  Abbadiasde  Saõ  Ben- 
to erigidas   em  Bifpados. 

cap.  73 -pag.  32- 
Nas  terras  da  Coroa  dos  Reis 
Sueuos  ,  foi  o  primeiro  S. 
Martinho,  q  edificou  mo- 
ftcirosda  Ordem  de  S. Ben- 
ro.cap.73.pag.311. 

Bifpado. 

íuifoés  que  fe  fízeraõ 
dos  Bifpados  de  Hd- 
panha,  &  dos  que  feafsi- 
naraõ  à  Metropoh  de  Bra- 
ga cap.  8.  pagina.  30.  & 
íeqq. 


Btfpo. 

Ifposde  Portug:iI,que  fe 
aiíinaraõ  no  quarto  Có- 
cilio  dcTolcdo.cap.  8 1  .pag. 

348. 

A  muitos  Bifpos  titulares  fc 
aíhnaraÒ  Igrejas  em  Iiia,& 
Ouiedo  pcra  íua  fuílenta- 
ção.  cap.  103.  pag.  450. 

Culiunie  dos  Reis  CathoU- 
cos  de  por  Biípos  em  todas  • 
as  Igrejas  Cathcdraes  tanto 
que  as  conquiílauáo  cap. 
103.pag.430. 

Dàfe  noticia  dos  Bifpos  de 
Dume.  cap.  88.  pag.  376. 
Òí  íeqq. 

Bordão. 

Ordaõ  de  Tanto  ApoUi- 
nar  ílorcceo ,  ôc  fe  kz  ar- 
uore  em  confirmação  da 
Fe ,  &  ao  pe  delie  arreben- 
tou húa  íontc.cap.  63  .pag 

Braga. 


Q 


Vai  feja  a  cidade  de  Bra- 
ga cap.  i.  pag.i.' 
Porque  tinha  o  titulo 
de  Aueurta-lbidem, 
Porque  rczão  lhe  chama  Au- 
zonioricajbidcm. 

Da 


Dã;  CoíiÇcís. 


D:\  origem  de  Braí^a  ha  cinco 

Opinioés.pag.3. 

Onerem  alijuns  foíie  funda- 
da  por  Egypcios ,  &:  quais 
íejão  íeus    fuadamencos. 
.  roidem. 

Outros  querem  foíTe  fundada 
por  Gregos.pag.5.6<:  4. 

QLiaistoílcm  eiies  Grcgos^que 
edificarão  Braga.íbidem. 

Opinião  de  outros  que  querê 
folkBraga  fundada  porCar 
thaginelesj&  íeusfundamê 
tos.  cap.i.pag.f . 

Qi^iarta  opmiaõ  hc.cjfoiBraga 
fundada  por  Gallos  Celtas. 

A  vitima  opinião  ne,  qne  foi 
Braga  fundada  por  Roma- 
nos.pag. 8. 

Que  opinião  fe  ha  de  feguir  a- 
cerca  da  fundação  de  Braga, 
cap.  i.pag.8  &  9. 

GueriaSj&VidoriaSjque  teue 
Braga  no  tempo  dos  Ro- 
manos. cap.2..pag.9.  &feqq 

Do  íitio  que  teue  Braga  no 
tempo  dos  Romanoíi.cap. 
3.  pag.  11.^ 

Antiguidades  qfe acharão  em 

Braga  do  tépo  dos  Romanos 
cap .  3 .  pag.  iJ.&c  feqq- 

Foi  Braga  híi  dos  mais  conhe- 
eidos  Conuétos  juridicos, 
q  ouue  em  Hefpanha.  cap. 
1       4- pag.  2.1.  &c  feqq. 


Dã  grandeza  q  conferu  ou  Bra- 
ga na  entrada  dos  Vândalos 
SueuoSj  Alanos  cm  Portu- 
gal,&  Galli2a.cap.;.pag.i5 
&reqq. 

Seruio  de  Corte  aos  Reis  Sue- 
uoà.pag  i3. 

Como  Braga  na  entrada  dos 
Mouros  cm  Heípanha,  foi 
deííruida,  ôc  depois  rcítau- 
rada,  &  dada  pello^  Reis  de 
Leaõ  a  efta  lanta  Sè.  cap.  6. 
pag.  Í5.&  feqq. 

Paílaò  os  moradores  de  Braga 
de  dous  mil  &  oitocentos, 
pag.iy. 

Que  parochias ,  ôc  mofteiros 
tem  a  cidade  de  Braga.  pag. 

Como  a  cidade  de  Braga  foiá 

primeira  de  Hcípanha,que 

rccebeo  a  Fé  de  Chriílo. 

cap.  7'pag.  27. &  feqq. 
O  Apoílolo  Santiago  pregou 

primeiro  cm  Braga  'cap. 7. 

pag.  19. 
Dos  Biípados  que  fe  aiUnarao 

a  Mctropoli  de  Braga.  cap. 

8.pag.3o. 
Concílios  Prouinciaes,  quefe 

celebrarão  em  Braga. cap.p. 

pag.34.&fcqq. 
Pertendc  ElRcy  Dom  Garcia 

a  reílauraçáo  de  Braga. cap. 

ii5>.pag.4íí6.&  feq. 


Ss 


Cachorro 


Índice. 


F 


C. 

Cachorro. 

Amilia  dos  cachorros  on- 
de teuc  feu  cronco.  cap. 
t$.  pag.  lio. 

Caledónia. 


CAledonio  decimo  Arce- 
biípo  de  Braga.  cap.  38. 
pag.  i;;.&:feqq. 
Teiie grande  amiíade  com  S. 

Cypriaiio.  pag.  1/5. 
Teue  continua  guerra  com  os 
hereges  Nouacianos.  pag. 

Carta  de  Calcdonio  peraSaõ 
Cypriano.  pag.  1J7. 

RepoftadcS.  Cypriaao.  pag. 
ij8. 

Calfurnio. 

Ç^  Alfurnio  Pizão  dcfbara- 
tado  por  os  Bracharen- 
fes.  cap.  z.  pag.  10. 


o 


Cantar. 

Nde  fe  prohibio  o  can- 
tar na  Igreja  verfos^ou 
hymnos.cap.  70.  pag. 
^97' 


Q 


Capellao, 

Em  ordenou  ouueíTe 
cinco  capellaés  na  ca- 
pella  onde  crtaó  as  relí- 
quias de  S.Pedro  de  Ra- 
tes.cap.  18.  pag.  96. 

C^arago^a 


Ç^  jAragoça  quam  fértil  de 
niartyresj  &  porque  re- 
zaõ.  cap.  44.  pag.iSi^ 

Carta. 

Ç^  Artade  Auito  pêra  Bal- 
coniOjArcebifpo  de  Bra- 
ga, cap.  J7-  pag.  248. &  íeq. 


Q 


Carthaginefes. 

Verem  alguns,  que  os 
Carthaginefes  fundaf- 
fcm  Braga.  cap.  I.  pag./. 

Cafsiano, 


C  Aõ  Cafsiano  martyr  hum 
dos  18.  companheiros  de 
Santa  Engracia  .cap.  44,  pag. 
181. &  184. 

Cajlino. 

CAftino  ij.Arcebifpo  de 
Braga  cap.  64.  pag.i7i.  | 


'Das  CGiífas. 


&:  íeqq. 
Con^ctclhe  o  Papa  Horniifda 
a  legada  Apoíiolica.  pag. 


Ceclliano. 


SAõCeciliano  martyr  hú 
dos  dcloico  companhei- 
íos  dcíantaEngracia.  cap. 
44.  pag.  iSi.  ów  184. 

Chorepfcopo. 

CHorcpifcopos  eraõ  Sa- 
ceidotes,que  íeruiaõ  nas 
aldeãs  como  cõpanheiros, 
OLiVigairos  dosBiípos^cap. 

;i.pag.2.i6.  ^ 

Chainaraõíe  aíli  de^  Chore,  pa- 
laura  Grega^que  quer  dizer 
aldeã.  Ibidem. 

Tirou  os  o  Papa  SaÕ  Damafo- 
Ibidem. 

Cidade. 

E  honra  de  hua  cidade 
ter  hú  fanto  feu  natu- 
ral cap. 51.  pag. 112. 

Sete  cidades  contenderaõ^qual 
auia  de  fer  pátria  de  Ho- 
mero. Ibidem. 

A  que  cidades  fe  dà  o  titulo  de 
Auguílas ,  ôc  porque  re- 
zão.  cap.  i.píig-  1.  &pag. 
193-  194. 


Colunas. 


Olunas  varias  com  fcus 
iecreircs ,  que  íe  achaõ 
cm  Braga  aleuantadas  a  di- 
ucrfos  Empcradores  Roma 
nos  cap. 3.  pag.  iz.&c  pag. 
16.  &leqq. 

Comba. 
C  Anta  Comba  Virgem,  & 
Saó  Leonardo  feu  irmão. 

cap.  109. pag.  441.  (Sc  íeqq. 
Foi  natural  deLamas  dcOrlhao 

Ibidem. 
Milagres  com  que  Deosaíez 

inuihuclen  defenfaõde  íua 

Virgindade,  pag.  441. 
Fonte  que  naceo  onde  foce- 

deo  o  milagre.  Ibidem. 

Concilio. 

f~^  OnciíiosProuinciaeSjquc 
íe  celebrarão  cm  Braga, 
cap.  5,  pag.  3 4.  &ícq. 

Primeiro  Concilio  deBra^a. 
cap  í).  pag,  35.  &ícqq. 

Segundo  Concilio  de  Braga, 
cap.  10. pag.  3í>.&:  íeqq. 

Algijas  cGufas  que  nellefe  or- 
denarão. Ibidem 

Capítulos  que  nellefe  propu- 
lerao  contra  a  heregia  Piif- 
cilliana.pag.4i.&  feqq. 


Ss  z 


Terce  iro 


índice. 


Terceiro  Concilio  de  Braíra. 
cap.  ii.pag.  49.  &leqq. 

Algi^ias  coLifas  que  nelle  Con- 
•cilio  íe  ordenarão. pag.  jj. 
&  leqq. 

Qnarco  Concilio  Bracharen- 
k.cap.iz.pag.57,  &  feqq. 

Coufas  que  nelie  íe  ordena- 
rão. Ibidem. 

Quinto  Concilio  Bracharenfe 
cap.13.  pag.6<$. 

Quantos  Concílios  cfl:a5  in- 
lertos  no  Primeiro  de  To- 
ledo,   cap.  J4.  pag.  ziS.  &c 

Constituirão. 

COnftituiçoes  Apoftoli- 
cas  quando  começarão, 
cap, 16.  pag.  80. 
Como  as  deu  o  Apoftolo  San- 
tiago a  faõ  Pedro  de  Rates . 
pag. 81. 


c 


Contiento. 

OnuentosiuridicoSj  que 
ouueemHefpanha,  & 
comoBraoafoi  liú  dos  mais 

o 

conhecidos.  cap.4.pag.  21. 
&  feqq. 

Crotildes. 


A 


Rainha  Crotildes  man- 
da S.  Auíbertopor  em 
baixador  a  França  ^  &cau- 


íasda  embaixada,  cap.  67. 
pag.  278. &  feqq. 


S 


Cumfate. 

Aõ  Cucufate  marcyr  de 
Braga.cap.43.  pag.  176, 
6^177. 

D. 


Damafo. 

Q  Aõ  Damafo  Pontífice  Ro- 
mano, cap,  51,  pag.  212, 
&  feqq. 

Que  lugares  contendáo  ter  a 
eíle  íanto  por  natural,  pag. 
21 2. &  íeq. 

Foi  natural  da  villa  de  Guima- 
rães, pag.  213, &  feqq. 

Algúas  coulas  que  ordenou, 
pag.  214.  &íeqq. 


D 


Decio. 

Ecio  Bruto  vécido  por 
os   Bracharcnfes.  cap. 


z.  pag.  10. 


s 


•  Digna. 

Anta  Digna  quemfoi^& 
onde   íoi   martyrizada. 
cap.  39- pag- 163.164. 


Domi- 


Das  £o::p'S, 


Dcmlciano. 


Omiciano   que  alguns 
iniiculaõ  Arcebiípo  de 
Braga.  cap.  47.  pag.  15)5,  & 
íeq. 
Donde  foi  Bifpo.  pag.  i5'4- 

Dulcidio. 

Vlcidio  j'4.    Arcebifpo 
de  Braga. cap.  107.  pag. 
437.tl5»:leqq. 
Achoufe  prefente  na  batalha 

dcClauijo.  pag.437. 
Aílinou  na  efcricura  da  doa- 
ção dos  vocos/íbidem. 

Dume. 

Elação  dos  illuílresPre- 
lados ,  queteue  a  Igre- 
ja de  Dume.  eap.  S8.  pag. 
376.  Sc  feqq. 

Durou  o  moítciro  de  Dume 
largos  annos  em  Biípado. 
cap.75.pag-3i2-. 

Que m  f u nd o u  o  ni o fteir o  de 
D  ume. pag.  311. 

Fioreceraõ  nelle  grandes  fan- 
tos.das-  312.. 

Prouerbio  que  corna  , Braga 
naõ  tcuc  mais  que  hú  Mar- 
tinho de  Dume  ^  porem,  o 
mofteirode  Dume  té  mui- 


tos Marrinhos  de  Brara. 
Ibidem. 
Milagres  com  que  Decs  caíli- 
gou  a  híi  por  tomar  hú  ca- 
cho de  vuas  no  mioíleiro 
de  Dume.cap.73 .  pag.  313. 

E. 


Egica. 
LReyEgica  fez  ajuntar 
Concilio.  Cvip.  99.  pag. 
410,  ôc  ícq. 

Egypcios. 


Verem  algús  q  os  Egyp- 
cios  fundaficra  Braga, 
&  que  fundamentos  te- 

4. 

nhão.cap.i.p3g.3. 
Eleiitherio. 


Leutherio  Trigcíimo  Ar 

cebiípodeBraga.cap.651. 

pag.  z88.  ■ .  ••1/ 

Carta  do  Papa  Vigilio  pcra  E- 

leutherio. pag. 189. &  feqq. 

luliano  lhe  chama  varaõ  ían- 

to.  pag. 194. 
Tcue  por  dicipuloaíaõFulgé- 
cio.  Ibidem. 

EUpandú. 
Roteíiiçáo  daFè,&  pe^ii 
tecia  de  Elipando.  cap. 
104.  pag.  434  

Ss  3 


—^^t^^mf^'^ 


Ind, 


ice. 


434- 
Autores  que  trataõde  Elipan- 
do.  Ibidem^ 

Eminio. 

EMinio  he  a  villa  deAguc- 
dacap-ij-pag.  72. 
Foi  antiguamence  cià^^ác  Epií- 

co  pai.  Ibidem. 
Em  Eminio  ouuc  Bifpo  na  pri 
mkiua  Igreja  poííc  por  S. 
Pedro  de  Rates.   cap.    16. 
pag.  .81. 

Engracia. 

Q  Anta    Engracia  Virgem, 
&  marryr  natural  de  Bra 

ga,  &  18.   companheiros 

íeus  martyres.  cap.44.pag. 

180,  &  fecjq. 
Que  tormentos  padeceo.pag. 

r83  - 
Foi  íepultada  por  minillerio 

de  Anjos. pag.  iSj. 

Ej)itacio. 

Ç  Aã  Epitacio  Bifpo  de  Tui 
martyrizado  em  Plaíen- 
cia  com  laõ  Bafilio  cap.  15). 
pag.  99. 

Alguns  queré  foííe  Bifpo  Me- 
tropolitano de  Mer  ida.  Ibi- 
dem. 


Onde  padcceo  martyrio-  Ibi- 
dem, 

Epitacio,  ou  Idacioiy.  Ar- 
ceblípode  Braga  cap.  48. 
pag.  i9j.&íèqq. 

Efieiíao. 

REliquias  de  Santo  Eíle- 
uáocomoforaõ  acha- 
das _,  &  quem  trouxe  parte 
delias  a  Braga.  cap.  57.  pag. 
249.  &cz^-j. 

SaõEíteuaõ  Abbade  do  mo- 
lleiro  de  Rates,  cap.79. pag. 
341.  &  feq, 

Achoufe  no  terceiro  Conci- 
lio de  Toledo,  pag.  342. 

Foi  contemporâneo  de  S.Gre- 
gorio.  pag.  3  43. 


s 


Euanto. 

Ao  Euanto  martyr  hum 
dos  iS.  companheiros  de 
Santa  Engracia  cap.  44. 
pag.  181. &:  184. 

Eufemia. 


SAnta  Eufemia    Virgem, 
&  martyr  húa  das  noue 
irmãs.  cap.  29.  pag.   137  & 
feqq. 
Onde  erta  o  corpo  deflaglo- 
rioíaíanta.  pag.  137. 

Em 


T>a<  CCí:p^S. 


Em  que  lugar  padcceo  mar- 
tyrio.Ibidein. 

Mílcigre  notauel  com  que  foi 
delcuberco  íeii  ía<!rado  cor- 
po ,  ôc  cresladado  à  Igreja 
de  íanta  Marinha  lua  irmá. 
pag. 138. 

Como  a  íaiira  eirada  da  Igreja 
de  íanta  Marinha ,  tornaua 
aelln.png.  139. 

Como  foi  depois  tresladado 
ícu  corpo  aSè  de  Orenle. 
Ibidem. 

Ouue  outra  fanta  Eufemia, q 
aprouou  com  milagres  os 
decretos  do  Concilio  Cal- 
cedonenfe.pag.  140. &  leq. 

Autores  queeícreuemde  fan- 
ta Eufemia,  pag. 141. 


s 


Eunomea. 

Anta  Eunomea  quem  foi, 
&  onde  padeceo  marty- 
rio.cap,3  5>.  .pag  .163.&  feq. 


s 


Entropia, 

AntaEutropia  quem  foi^ 
&  onde  padeceo  Marty- 
163.  &í 


no.  cap.  39-  f-^, 
feq. 

Excomunhão. 


p 


Enitencias  que  em  varias 
partes  das  regras  de  Saõ 


Bento  fecliamão  exciíàiu- 
nhoes.cap.88. pag,  37;.- 


FabiãO. 

C  Aõ  Fabiaõ  fexto  Arcebif- 
po  de  Braga.  cap.  3  3 .  pag. 
146. 

Faujlino. 

FAuftino  44    Arcebifpo 
ds  Braga  cap,   ^^.  pag. 

409.  &  feqq. 
Foi  Rcligioío  de  Saõ  Bento. 

pag.  409. 
Aííiftionodecimotercio  Cõ- 

cilio  de  Toledo,  pag.  409. 
AlIiíHo  no  decimo  íexto  C6- 

cilio  de  Toledo  pa[^.  410. 
Foi  Metaopolitano  de  Seuilha 

pag.  41 1  .&  íeqq. 

Fauíio. 

C  Aõ  Faufto  martyr  hilcíos 
18.  companheiros  de  ían- 
ta Enggracia.  cap.  44.  pag. 
181. &  184. 


R 


Egrada  Fè  ,  que  fizerão 
muitos  Bifpos ,  &  má- 
daraÕ  a  Balconio  Arcebil- 


Ss  4 


po 


Ind 


ice 


po  de  Braga,  cap,  jy.  pa^. 

Proíillaõ  daFc,q  o  Papa  Hor- 
miída  orcieíiou  le  fizelie. 
cap.  <Í4.  pag.  2.74.  t\:íeq. 

Em  confirmação  da  Fé  o  bor- 
dão de  SaóApolIinar  flo- 

reccOj<5ííe  cornou  aiuorc.cap. 
63  pag.  171. 

Milagroíanicnteaproiiou  Tan- 
ta Eufemia  os  Decretos  do 
Cócilio  Calcedoneníc.cap. 
iS^-pag-HC^  feq. 


Feli:> 


X. 


S 


Ao  FelixfeptimoArcebií- 
po  de  Braga.  cap.  34-P^S 


..    i47.&req. 

Se  foi  martyr.  pag.  148. 

Saó  Félix  Torcaco  martyr  45. 
Arcebifpo  de  Braga.  cap. 
1 00. pag. 41 4. Ã:  feqq. 

Naceo  na  cidade  de  Toledo 
pag.415.  ,     .      ,. 

Foi  Biípo  de  Iria  Flauia.  Ibi- 
dem. 

Foidahypcra  Bifpo  do  Por- 
to. Ibidem. 

Foi  marcy rizado  com  outros 
i7.companhciros  na  entra- 
da dos  Mouros  em  Hei- 
panha.pag  4KÍ. 

QnaUoio  lugar  de  fua  morte. 
Ibidem. 

Nomes  dcalgiís  dos  martyres 


íeus   companheiros,  pag- 

417. 

Diferença  entre  o  noílo  fan- 
tOj&  outros  dous  do  mef- 
mo  nome.pclg.419,  Ôc  leq. 

SaõFehx  martyr  hum.  dos  18. 
companheiros  de  (anta  En- 
gracia.  cã\^.  44.  pag.  i8i. 
&184. 

Ferdifendo. 

FErdifendo  ;o.  Arcebifpo 
de  Braga.  cap.  103.  pag. 
42.9.&  feqq- 
Leuou  de  Bra^a  muitas  reli- 
qujasj&cícrituras  impor- 
tantes pêra  a  cidade  de  Iria, 
por  cauía  dos  Mouros. pag. 

431.. 

Filko. 

Arco  prodigiofo  deno- 
ue  filhas  gcmeas^Virgésj 
&fanta3.  cap. 2,4. pag.  108. 
&  feqq. 
Partos  prodigioÍGs  de  muitos 
filhos  gémeos. pag.  113.  & 
feqq. 

Flaiiio. 

ELRey  Flauio  Recaredo 
irmão  de  SaõErminigil- 
ào ,  &  íobrinho  de  5ao 
Leandro, «.S»:  Saõ  Fulgcncio. 

cap  78.pag.337. 
Concilio  queajuntou.  Ibidé. 

Fronto. 


Das  Coupis. 


Fronto. 


Ç  Aõ  Fronto  martyr  hu  dos 
18.  companheiros  de  íanta 
Engracia.cap.  44.  pag.iSi 
&184. 

Frutuofo. 

C  Aõ  Frutuofo  4o.Arccbirpo 
de  Braga,  cap.8;.  pag.  3;7. 
&  íeqq. 

Seu  nacimento  ,  &  criação. 
pag.3j8.«Sc  íeq. 

Recebe  o  iiabito  de  faó  Ben- 
to, pag.  360. 

Funda  o  mofteiro  de  Saõ  lu- 
fto  ,  &  Paftor,  &  outros 
muitos  de  Religiofos ,  de 
Religioras,p3g.3  (ío.  &rec[q. 

Milagres  queDeos  obrou  por 
meo  de  faõ  Frutuofo  antes 
de  entrar  em  Portugal,  cap. 
gy.pag.  3(í7.&feqq. 

Trata  de  ir  a  lerufalem,  impe- 
deoElRey  comofazerBif- 
po  deDume^  ondeefcre- 
ueo  a  regra^quechamáode 
faõ  Frutuofo.  cap.  ^^.  pag. 
370.&  feqq. 

Vai  ao  Concilio  decimo  de 
Toledo,  cap.  89.  pag.  378. 
&í  Teqq. 

Nellehe  eleito  Arcebifpo  de 
Braea.  Ibidem. 

o 

I  Vem  pêra  fua  Igreja  ,  trata  da 


reformação   do  clero,  òc 

pouo  delia.  íoidcm. 
Moíleirosque  S.  Frutuofofú- 

dou  em  vários  lugares  de 

feu  Arcebifpado ,    &  fora 

delle.  cap.  90.  pag.  38z.& 

íeqq. 
Funda  S.  Fruofo  o  mofteiro 

de  S.Saluador ,  &  motiuos 

que  teue  pêra  iílb.  cap.   91. 

pag.  386. &  feqq. 
Suagloriofa  morte.  cap.  pz. 

pag. 3 89.  &  feqq. 

G. 


Q 


Gallos. 

Verem  alguns  que  os 
GaIlos,Ccltasfollèm  os 
primeiros  fúdadores  de 
Braga. cap.  I. pag.  7., 

Garcia, 


E 


LRey  Dom  Garcia  pre- 
tende a  reftauração  de 

Braga.cap.  119.  pag.466.& 

feqq. 

Genebra. 


SAntaGencbra  hua  das  no- 
ue  irmãs .  cap.  30.  pag- 

141. 
Padcceo  martyrio  na  cidade 
Tui. Ibidem. 


Germana 


->■*■ 


.  Germana. 

Ç  Anta  Germana  hua  das  no- 
ne  irmãs.  cap.  30.   pag 

Padoceo  martyrio  em  Cartha 
20  com  outros  rantos.Ibi- 


£3 

dem. 


Gema^. 


C  Ao  Gernaz  querem  algus 
foííe  irmáo  de  íanta  Senho 
rinha.   cap.  116.  pag.  4; 8. 


G 


Gladila. 

Ladila  5  j.  Arccbifpo  de 
Braga.  cap.  loS.  pag. 
440. 
Foi  Abbade  de  Saõ  Bento.  Ibi- 
dem. 

Gonçalo, 

GOnçalo  60.    Arcebifpo 
de  Braga.  cap.  114.  pag. 
4J1. 

Gralhas, 

Arto  prodigiofo  nafami- 
hai&  geração  dos  Gra- 

Ihos.  cap.  zj.  pag.  117. & 

fec|. 

Grato, 

GRatooitauo  Arcebifpo 
de  Braga.  cap.  35- pag. 


índice 

149.&  íeqq. 
Foi  Arccbiípo  deToIedo.pag, 

14?. 
Carta  que  lhe  eícreuco  o  Papa 

S.  Sixto.  pag.  I/o. 
Gregos. 

OS  Gregos  fundarão  a 
Braga.  cap.  i.  pag.  4. 
&8. 
Que  Gregos  foílem  eftes.  Ibi- 
dem. 

Guerra. 

GVerras  que  teue  Braga 
com  os  Romanos. cap. 
z.pag.5>.  &  feqq. 


P 


Guimarães, 

Riorcsííe  Guimarães  fo- 
geitos  ao  Arcebiípo  de 
Braga.  cap.  ioo.pag4i8. 

Gulodice. 

Ilagrccomque  Deos 
caítigou  a  gulodice 
de  hú  cm  tomar  hú  ca- 
cho de  vuas .   cap.  73. 
pag,3i3. 


He  regia. 


Das  (^OMpiSy 


H. 

ocjiia 

Beregia. 


CApicuIosqucfc  propu- 
feraõ  no  Tegundo  Con- 
cilio Bracharenfe  contra  a 
Hercgia  Priícilliana.cap.io 
pag.4i.  &  íeqq. 

Herminigildo. 

HErminigiIdo48.  Arce- 
bi(podeBraga.cap  loi 
pag.  4i8. 
Herminigildo  6i.  Arccbifpo 
de  Braga,  cap.11/.pag.4jz. 

Hermolao. 

HErmoIao  prega  emBra- 
ga.  cap.  zi.pag.ioz.& 
feq. 
Na5  foi  Arcebifpo  de  Braga. 

Ibidem. 
Qiiem  o  faz  Arcebiípo  de  To 
ledo.  pag.  103. 


H 

4i8. 


Heronio. 


Eronio47.  Arcebifpo 
de  Braga-cap.  loi.pag. 


Heroes. 

HEroes.j5>.  Arcebiípo  de 
Braga. J  tap.  113.  pag. 

448.  .il     íL. 

Aífinou  em  híja  doação  que 
fez  S.Rofcndo  ao  moftei- 
rode  Cellanoua.  pag.  448. 

Luitprando  lhe  chama  varaó 
fantiílimo.pag.449. 

Mandalhe  parce  deluaChroni- 
ca.  Ibidem. 

Hefpanha, 

Dluerfas  diuifoés  que  os 
Romanos   fizeraõ  de 
Hefpanha  cap.  4,pag.ii.&: 
frqq. 
Que conuencos jurídicos  ou- 
ucnella.  Ibidem. 

miaria. 

SAntaHilaria  foiRainha  de 
Chipre.cap.39.pag.  i6z. 
SegueaSaõNarciíIo  Arcebif- 
po de  Braga,  que  a  conucr- 
teo.  Ibidem. 
Padece  martyrio  em  Girona. 
pag.  164. 

Homero. 


s 


Ete  cidades  contenderão 
qualauia  de  ler  pátria  de 

Homero 


Ind 


ice 


Homero,cap.  51.  pag.tii. 
HormIJda 
Ormirda  Papa  acbdea 


arrancar  as  heregias. 
j  j  f3f-  <> 4.p3g  •  2Í74.  &  íeq.    ' 


o  í J  j  .  ; 


.  lacobo. 


Acobo  49.  Arcebifpo   de 
Braga.  cap.  loi..  pag.4i8. 

Innuario. 

Ao  laiuiariomarcyr  hum 
dos  18.  companheiros  de 

SantaEngracia.cap.  44,  pag. 

181. &  184. 

Idacio. 

IDacio,  ouEpicacio  17,  Ar- 
cebiípo  de  Braga,  cap,  48. 
■  .•::pag.  i9í.&íeqv].  '  -'  v  • 
Foiperícguido  dos  Arriaiios. 

jpag.i5)7- 
ConciIi,o  em  que  preíidio  por 

ordem  do  Papa  Félix,  pag, 

2.00.  , 

Foi  grande  amigo  de  Saõ  Baíí- 

ho  Magno.  Ibidem. 
Idacio  ícgundodo  nome  24. 

Arcebifpo   de  Braga.  cap. 


62,  pag.  263. &  ícqcj. 
Foi  de  nação  Sueuo  pag.  263.  ; 
Foi  Bilpo  de  Lamego. pag.  264  ^ 
Chronicaq  cícreúeo,pag.267. 


imperadores. 


U;.  U' 


-ÍJiJ:      •  _^ 


IMpcradores  RorÃaiios  em 
entrando  no  Império  co- 
mauão  pêra  {y  todos  os  ti- 
tulos  dos  mais  honrados 
magiftrados_,que  tiueraõ  os 
Romanos, &porque  rezáo 
cap  3.  pag  li- 
Chamauãoíe  Auguftos  pag.iz 
Chamauáofe  Augures. pag. 13 
Intitulauãofc  Pontiíices  máxi- 
mos pag.  13. 
chamauáofe  pays  da  Pátria. 

pag.i;. 
Outros  ticulos  cõ  que  fe  cha- 

mauáo.  Ibidem. 
Colunas  com  ícus  letreiros  q 
le  acharão  em  Braga  alcuã- 
tadas  a  vários  Imperadores 
cap.3.pag.i2.pag.i(í.&íeq. 


A 


E 


Inferno. 

Lima  de Trajano  tirada 
das  penas  do  Inferno 
pêra  oCeo.cap.  17.pag.86. 
&  feq, 

Iria. 
M  Iria  fe  aílinaraõ  Igre- 
jasamuitosBilpos  titu- 


larei 


D/rs  £cnpiSy 


titulares  peraíua  íullcnta- 
cao.cap.103.pag.  430. 


A 


Irma. 

S  fancas  nouc  irmãs  gé- 
meas, Virgens,  &  mar- 
tyres.cap.i4.pag.io8.&:  íeq. 
Vejafe  apalaura.Parco. 

TEmplo  fundado  a  Deo- 
la  liis  na  cidade  de  Bra- 
ga, cap.i.pag.  3.  &pag-74- 
èi  íeq. 

luliano. 


IVliano  primeiro  do  nome 
ap.Arcebifpo  de  Braga  cap. 
68.  pag.i8<j.&  íeqq. 
Foi  primeiro  A  rcebiípo  de  To 

ledo.pag.  2.87. 
luliano  6%.  Arcebifpo  de  Bra- 

ga.cap.  ii7.pag.46i.^ 
Foi  mudado  a  Arccbiipo  de 
Toledo.  Ibidem. 

L. 


L 


Lampadio, 

Ampadioig.  Arcebifpo 
de  B  raga .  cap.4$>.  pag.zoo 
&feqq. 


Sc  aíliílio  noConcilio  de  C^a- 
ragoça.  Ibidem. 

Ley. 

ONde  teue  principio  o  j 
prouerbio,  làvaõleys 
onde  querem  Reys   cap. 
iií>.  pag.  46Í). 

Lenciano. 

LEncianoconuertido  mi- 
lagrofamence  por  fanca 
Quitéria  cap.17.pag.  1 19.& 
feq. 
Seu  marcyrio  cõ  outros  mui- 
tos, pag.  131, 

Leodeclfo. 

QAv  Lcodccifio  luliano  41. 
Arcebiípo  deBraga.cap.i5>6 
pag.400.&'.  feqq. 
Vulgarmente  fe  chama  Vrba- 
I       no.pag.  400. 
•  Congregou  o  quarto  Conci- 
lio Bracharenfe.  Ibidem. 
Foi  depois  Arcebifpo  de  Tolc- 
dojconforme  a  alguns. pag. 
401.  &  feq. 
Foi  em  letras  iníigne  pag.  403. 
Reformou  oBreuiario,&  mií- 
fal  de  fantolfidoro. Ibidem. 


Tt 


Leonardo. 


Indi 


I  Leonardo. 

SA6 Leonardo, &  faiitaCõ 
ba  fua    irmã.   cap.    105?. 
pag.  441.  &fec]q. 
Naceo  em  Lamas  de  Orelhão, 

Ibidem. 
Foi  morto  pellos  Mouros,  & 
com  que  ocaliaõ.  pag.  441, 

Leôncio. 

SAõ  Leôncio  1$.  Arcebif- 
po  de  Braga.cap.  4;.  pag. 
187.  &reqq. 
Foi  natural  dcGonftantinopla 

pag. 187. 
Faleceo  navilladcGuimaraés. 
pag. i^o. 


L 


Letreiro. 

Etreiros  de  varias  cold- 
nas ,  que  íe  acharão  em 
Braga  .aíeuanradas  a  diucr- 
fosEmperadores  Romanos 
cap.  3.  pag.  li.  &  pag.i(í. 
&  feq. 

'  Liberata. 

C  Anta  Liberata  Virgem  >  òc 
martyr  húa  das  nouc  irmãs 
cap.  zó.  pag.  111.  &  íeqq. 

Chamoulc  Vuilgeforte,  ou 
Ontcomcra,   ou  Liberata 


ice. 

Ibidem. 

Diftmgucfc  de  outra  fanta  Li- 
berata. Ibidem. 

Foi  natural  de  Braga. Ibidem. 

Onde  padeccQMartyrio.pag. 
124.  &:  íeq. 


R 


Lyma, 

Io  Lyma  chamado   rio 
do  cfquccimento.  cap. 
I ,  pag.  1. 
Leua  ouro  em  fuás  áreas. Ibidé. 

Liuba. 

Lluba  43.   Arcebifpo  de 
Braga.cap.  P7- pag- 404. 
&  íeqq. 
Achou  íe  no  12.  &:  13.  Con- 
cilio Tolcdano.  pag.  404. 
òi  feq. 


Liuro. 

Vitos  liuros  fe  acha- 
rão depois  de  largos 
annos-  cap.  16.  pag.87. 


M 


Lúcio. 


L 


Veio  Catilio  pay  das  no- 
^  uc  irmãs  gemeasjVirgcs, 
&  martyres.  cap.  24.  pag. 
lop.&ícqq. 

Lucrécio, 


Das  ÇouÇís, 


-         I 


Lucrécio. 


LVcrecio  31.   Arccbifpo 
de  Braga.  cap.  70,  pag. 
Z5>4.&  fcqq. 
Faz  ajuntar  Concilio  em  Bra- 
ga ,  pêra  coníirmar  os  Sue- 
uosnaFé.pag.  zs>j. 

Lupercw. 

Q  Ao Lupercio  martyr  tio  de 
íanra  Engracia.  cap.  44. 
pag.i8i.&  184. 

M. 

Maclottio. 

C  A5  Maclouio  refucitahum 
Gigante,  cap.  16  pag.Sj. 

Manucmo. 

Anucino  37,  Arcebif- 
po  de  Braga.  cap.  82. 

pag.  349. 

Marcial. 

Oefias  em  que  Marcial  Fal 
lacIeSátoOuidio.cap  zt. 

pag.104. 
S.  Marcial  martyr  hú  dos  18. 

companheiros  de  Tanta  En- 

gracia..cap,44.pag.i8i  .ôc 

1 84. 


Marciaua. 


Anta  Marciana  hua  das 
Tantas  noue  irmás.   cap. 

3o.p3g.    i43.&Tcq. 
Foi  martyrizada  na  cidade  de 

Toledo  Ibidem. 
Maraiiilhas  que  emfeu  marty- 

rio  acontecerão,  pag.  143. 

ôc  feq. 
Ouue  outra  Tanta  Marciana- 

pag.i44.&  Teq. 

Marcos. 

Q  Aõ  Marcos  loaõ  BiTpo ,  & 
martyr.cap.  z3.pag.107.  &c 
Teq.  I 

Foi  primo,  &  companheiro 
doApoílolo  Taó  Bernabe. 
pag.107. 

Teue  por  meftres  aos  fagrados 
Apol1:olosíaõPedro,&  laó 
Paulo. Ibidem. 

Veo  com  íaó  Paulo  a  HeTpa- 
nha.  Ibidem. 

Onde  pregou.   Ibidem. 

Onde  Toi  raartvrizado.  íbi- 
dera. 

Foi  Teu  corpo  Tresladado  pe^ 
raBraga,  &nelia  eílài  Ibi* 
dem.  •  .  ^r  ; 

O  Aciprcfte  Juliano  viíltanclo 
Teu  Tepulchro  aíHrma  ver 
Tuas  rcliquias. pag.  laS,--      \ 


Tz2, 


Marinha  . 


Marinha. 

SAnta  Marinha  Virgem, & 
marcyr  húa  das  Tantas  no- 
ue  irmãs. cap.  z8.  pag.  133. 
&  feqq. 

Ondepadcceomartyrio.  pag. 
133.  &feq. 

Três  íalcos  deufua  cabcça,quá 
do  lha  cortarão ,  &  arrebs- 
taraõ  trcs  fontes,  pag.  134. 

Saraõ  muitos  enfermos  com  a 
agoa  milagroíà  deitas  fon- 
tes. Ibidem. 

Vários  mofteiros ,  Sc  Igrejas 
edificadas  com  o  nome  de- 
lia Tanta. pag.i  35. 

Confundem  muitos  efta  fan- 
ta  com  outras  'duas  fantas 
Marinhas,  pag.  i^s-  &feq. 

Qual  fcja  o  verdadeiro  modo 
com  que  fc  ha  de  pintar  ca- 
da húa  deftas  fantas  Mari- 
nhas, pag.  136. 

Autores  que  efcreucm  de  íàn- 
ta  Marinha.  Ibidem. 

Maninho. 

SAõ  Martinho  de  Dume. 
32,.  Arcebifpo  de  Braga. 
cap.71.pag.303. 
Vem  Saó  Martinho  a  BragB, 
conuertc  os  Sueuos  ^  fun- 
da o  morteiro  de  Dume,& 


índice. 

he  eleito  Bifpo  delle.  pag. 

303.  &reqq. 
He  eleito  Arcebifpo  de  Bra- 

ga,&  chama  a  Concho. pag 

3  o5).&  feqq. 
Morteiros  que  fundou  nefta 

Prouincia  de  entre,  Dou- 

ro,&  Minho.. pag.  311.  & 

feqq. 
Liuros,  &  obras  que  compôs. 

pag.3ii.&feqq. 
A  gloriofa  morte  do  bcmauc- 

turadoS.  Martinho  de  Du 

me.pag.3i3.&  feqq. 
Pocíias  varias  feitas  em  louuor 

de  Saó  Martinho  na  tres- 

ladaçãodeíuas  relíquias  pe 

ra  Braga.  pag.  3zp.&  feqq. 

Pfouerbio  tom  que  fe  celc- 

braua  a  fantidade  de  Saó 

Martinho,  cap.  73.  pag. 

3  li. 

Martyr. 

N  Ornes  dos  18.  mnrtyrcs 
companheiros  de  fanta 
Engracia.  cap.44.  pag.  181. 
&  184. 
Quam  grade  foíle  a  multidão 
dos  martyres,  emC^arago- 
ça.pag.iSz. 

Martyrologio. 

CAda  Cathedral  tinha  feu 
Martyrologio  cap. 

pag.  4^-1. 


100. 


Matutino. 


—       ■—■—li.  I        I  -  ,    Am 

Das  Coufjs. 


Matutino. 


s 


Aõ  Mncucino  marcvr  hú 
dosiS.  companheiros  de 

lanta  Engracia.  cap.44.pag. 

181.  &184. 

Mãurilio. 


CAõMauiilio  porque  caufa 

foge  de  leu  Biípadocap.iíí. 

pag.  82,.  &  íeq. 
Como  foi  achado,  &  tornou 

aclle.  pag.  83. 
Refucita  hú  moço  depois  de 

muitos  aiinos  enterrado. 

Ibidem. 

Maximiliano. 

C  A5  Maximiliano  Bifpo ,  & 
martyr  de  Viana.  cap.  60. 
pag.  xói.ôt  feqq. 


D 


Metropolitano. 

Ireico   Metropoliaano 
da  Igreja  de  Liigo  paf- 

fado  à de Ouiedo.  cap.  loj. 

pag.43(í. 


R 


Miguel. 
Euelaçáo  do  Archanjo 
íàõ  MicTuel  a  Aulberto 
Arcebiípo  deBraga.cap.67. 


pag.  178. 

MiLiare, 

Milagre  com  que  foi  def- 
cuberco,  &  mandado 

cresladar  o  corpo  de  íanta 

Eutemia.cap.  2.9. pag,  138. 
Milagres  que  Deos  obrou  por 

meodeS.   Frutuolo  sntcs 
dccntrar  em  Portugal. cap.87. 

pag.  367. &  feqq. 
Milagres  com  que  Deos  cafti- 

gou  a  hu  por  tomar  hCi  ca- 

chode  vuas.cap.73.pag.313 
Milagres  que  fez  íanta  Senho- 

rmha  deBafto.  cap.i  1 6, pag. 

4)- 6.  &  feq. 
Milagres  que  Deos  obra  por 
•  os  merecimentos  de  íunto 

Apollinar.cap.(j3.pag.i7o- 

&  íeq. 
Dando  com  o  bordão  na  terra 

fioreceo  ^  &  fe  fez  húa  for- 

moGaruore.pag.i(í5>- 
VejaíTe  a  palaurajRefurreição, 

Mojca. 

Ofcas  milagrofamen- 
te  produzidas,  pêra 
caíliigarem  os  que  que- 
riaõ  roubar  o  fcpulchro 
deS. Narciílb  cap.39.pag 
164. 

Alosleiro. 
Ofteiro  deRatcs  qu  ãdo 
fefúdon.c.7í?.pag.34Í 


M 


Tt3 


Mofteiro 


Indce . 


Moíleirode  Titulcia  edifica- 
do por  íaõ  Philiberto_,  & 
faõ  Fabriciano. Ibidem. 

Molteiro  de  íaõ  Martinho  dí 
Lieuana^  quem  o  fundou^ 
&  como  depois  mudou  o 
nome.  cap.  8o.  pag.  343. 
&  feq. 

Mofteiros  cjue  faõ  Frutuofo 
fundou  cm  feu  Arcebiípa- 
Áo,^  fora  delle.  cap.  90. 
pag.  381.   &  feqq. 

Morteiro  de  S.  Saluador  fun- 
dado por  faó  Frutuofo  _,  & 
porq  caufas,  cap.  pi.  pag. 
^U.  &feqq. 

São  Frutuofo  funda  o  moftei- 
rode  Saó  lufto  ,  &  Paftor, 
&  outros  muitos  de  Rc- 
Iíctíoíos  ,&  Religiofas.  cap. 
86pag.36o.    &:íeqq. 

Mofteiros  da  Ordem  de  São 
Bento,  que  foraõ  edifica- 
dos em  Portugal  viuendo 
ainda  o  meímo  fanto  cap. 
73  •  pag-  311.  &  feqq. 


E 


Mouro. 

Ntradados  Mouros  em 
Herpanha,&  como  Bra- 
ga foi  deftruida.cap.  <5.pag. 
zj.&leqq. 

Murmurador. 
^  Aftigo  que  Deos  deu.a 
.  dous   murmuradores. 


cap.  116.  pag.  41 6. 
N. 


N 


Nabuchodonofor. 

Abuchodonofor  veo  a 
Heipanha.cap.i6.pag. 

19- 

NarciJ?o. 


SAõ   Narciílo  vndecimo 
Arcebiípo  de  Braga.  cap. 
39. pag.  160. Sc  feqq. 
Foi  natural  de  Santarém,  pag. 

i6i.&feq. 
Pregou  em  Alemanha,   pag. 

Padeceo  martyrio  cmGirona, 
com  outros  que  tinha  con 
uertido,  pag.  163.  &  feq. 

Milagre  com  que  forãocafti- 
gados  os  que  queriaõ  rou- 
bar íeu  fepulchro.pag.  164. 

Autores  que  delíis  efcrçuem. 
pag.  165, 


N 


Nome, 

Ornes  que  pêra  íy  to- 
mauáoos  Imperadores 
Romanos,  cap. 3.  pag.  12. 


N 


Noflrato. 
Oftratoj'3.  Arcebifpo 
de  Braga. cap.  106. pag. 

436. 


Das  Çoi^Çis, 


436. 


Noue. 


N 


Oue  irmãs  oemeas  todas 
íantaSjVirgens  &Marty- 
res.cap.z4.pag. 108. &  ícqq 

O. 

Ophir. 

COmofe  chamcBraga-ou 
íeus  arredoreSjOphirjOU 
região  Ophirina-  cap.  18. 
pag.^i.ôi  feqq» 

Optatõ. 

SAõOptatomartyr  com- 
panheiro de  fanta  Engra- 
cia.cap.  44,pag.i8i.&:  184. 


D 


Ordonho. 

Oação  feita  por  ElRey 
Dom  Ordonho  II.  à 

Igreja  de  Santiago,  cap, 

105  pag.430  . 


Orenfe. 

ORen  fe  cidade  Epifcopal 
chamoufe   Amphilo- 
chia.  cap.i^.pag.yz. 
Foi  edificada  por  Amphiloco 
capitão  Grego. Ibidem. 


Ofa. 


I 


SAÕOfio  ajunta  Concilio, 
&  piitga  nelle  íua  culpa, 
cap.  48.  pag.198.. 

Ouidio. 

C  Anto  Ouidio  terceiro  Ar- 
cebiípode  Braga.  cap.  zz. 
pag.  105. &  íeqq. 

Foi  Romano  nobihflimo,ami 
godé  Séneca  Philoíopho, 
èí  MaximoCeíonio.lbidé. 

Como  fe  conuerteo  ,  ÔJ  veo  a 
Braga.  íbidem. 

Poeíias  qne  em  feu  louuor  fez 
Marcial,  pag.  104. &  leq. 

A  elle  fe  deue  a  criação  das  no- 
ue irmãns  Virgens, &  mar- 
tyres.  pag.  105. 

Onde  eílàíepultado. pag.  106. 

Autores  que  efcreue  delle ,  & 
lhe  chamaò  martyr.  pag- 
io6. 

Ouiedo. 


EM  Ouiedo  fe  aíTinaraô 
Igrejas  a  muitos  Bifpos 
titulares,  perafuftentaçáo. 
cap. 103.  pag. 430. 
Affeiçáo  que  teue  ElP.eyDom 
AíFonío  o  Catholico  ãci- 
cidade  de  Ouiedo  qap.  Toj. 
pag.  43  J.  >'^ííf,' 


Tt4 


Porque 


Jnd 


ice 


Porque  rezáo  fe  chamaua  O-  í 
uiedo  cidade  dos  Bilpos 
cap.  110.pag.446. 


Ouro. 

BRaga  fcrtili/íima  de  ouro 
cap.i.pag.i. 

De  Afturias  _,  Galliza,  &  Luíl- 
taniale  tirauao  cada  anno 
vintcinii  liuras  de  ouro.  Ibi- 
dem- 

Rios  de  entre  Douro  ,  &  Mi- 
nho leuauão  ouro  em  íuas 
arcas.pag,  i. 

Rios  celebrados  dos  Poetas 
por  riocs,  &  abundantes 
de  ouro.  pag.i.  . 

P. 

Padrão. 

O  Lugar  do  Padraõanti- 
guamente  Iria,  Bifpa- 
do  mui  antiguo,  paííado  a 
Compoíicla  depois  õ  che- 
garão as  Rehquias  do  Apo- 
Itolo  San  tiago.i  cap.  i  í  .pag. 

Pancracio. 

Ancracio ,  ou  Pancracia- 
no  zi . Arccbiípo  de Bra- 
ga.cap.  f  j.  pag.23Ó.&  feqq. 
Ajuntou  Conciho  em  Braga. 


pag.236. 
Foi  deílcrrado  na  perfcguiçaõ 
dos  Bárbaros  .pag.  235;. 


Panoracio. 


p 


Anoracio38.  Arccbiípo 
de  Braga. cap.  83  .pag  .345) 

Pantardo. 


p 


An  tardo  34.  Arcebifpo 
de  Braga,  cap  78. pag. 337 
&  feqq. 

Parto. 


PArto  prodigiofo  de  nouc 
irmãs  gemeasj  todas  Vir- 
gens ,  &  martyres.cap.24,pag 

io8.&leqq. 
Refcreníe  outros  muitos  par- 
tos marauiihoíoSj&prodi- 
gioíos  de  muitos  filhos  jú- 
tos.cap.zf.pag.n3.&ieqq. 

Paterno. 

"P Aterno  primeiro  do  nomc^ 
&i  12.  Arcebifpo  de  Braga 
cap.  40.pag.16j.  &feq. 

Carta  peraelle  doPapaFclix. 
pag.  1 U. 

VejaíTcj  Patruino. 


Pttruin  o. 


'Das  coiffas. 


Patruino. 


C  Aó  Paterno  fegundo  do  no 
me,  ou  Patruino  i9.Arce- 
biípo  deBraga.cap.52-.pag. 
zií?.S«:íeqq. 

Teue  grande  amiladc  com  Tan- 
to Ambrofio.pag.iis». 

Foidcpofto  porle  íagrarcom 
dous  Biípos  hereges .   pag. 

Faz  abjurar  os  Bifpos  hereges 
fuás  heregias. Ibidem. 

He  leftituido  a  feu  Bifpado, 
morto  S.Profuturo.Ibidé. 

Preíide  cm  hum  Conciho  na- 
cional emToledo.pag.22r, 
Òi  feq. 

Paulo, 

Bifpos  que  foraõ  eleitos 
das  Igrejas  de  Hefpanha 
pêra  vifitar  a  S.Paulo  Apo- 
fíolo  prezo  em  Roma,  & 
leuarlíic  cfmolas .  cap.  ip. 
pag.  98. 
Agardcce  Saõ  Paulo  por  carta 
às  Igrejas  de  Hefpanha  a- 
quUa  obra. pag.  98. &  feq. 

Paulo  Orojio. 

"P  AuloOrofíoiníígne  efcri- 
tor  Eccleííaftico.  cap.  jS. 
pag.  250.  &  íeqq.' 


V 


Foi  natural  de  Brasa.  pae,2f2. 

&feq. 
Foi  dicipulo  de  fanto  Agofti- 

nho.pag.  t$6. 
Tratou  com  S.  leronymo. 

pag.  25Ó.  &  feq. 
Trouxe  a  Braga  relíquias  de 

fanto  Efteuáo.  pag.  2J7.&: 

24P. 
Obras  que  cfcreueo ,  &  onde 

morreo.pag.  2jí>.&  2,60. 

Pedro. 

DOm  Pedro  Í4.  Arcebif- 
po  de  Braga.  cap.  iip. 
pag.  464.  &c  feqq. 
Muitos  o  fazem  monge  de 
Saõ  Bento.  cap.  115?.  pag^ 

467. 
Como  o  encontrou   ElRey 

Dom  AfFonfo,&  o  priuou 

da  dignidade  Archiepifco- 

pal.pag.  469. 
Nelle  teue  principio  o  prouer- 

bio,là  vão  leis  onde  queré 

Reys.pag.  469. 
Como  íe  recolheo  em  hum 

mofteiro.pag.469. 

I  Sao  Pedro  luliano. 

SAõ  Pedro  Iiiliano  36.  Ar- 
cebifpo  de  Braga. cap. 81. 
pag. 345. &  feqq. 
Aífiftio  no  4.  &c  6.  Concilio 

d^ 


IrJ 


ice 


de  Toledo   pag,347. 
Foi  mudado  pêra    Narbona. 
Ibidem. 

S.  Pedro  ãe  Rates, 
Ida  de  S.  Pedro  de  Ra- 
tes primeiro  ArcebiípQ 
de  Braga,  cap  14.pag.67.  ôc 
fcqq. 

Depois  de  encerrado  reifcécos 
annos  o  refucicou  em  Bra- 
ga o  Apoftolo  Santiago, 
png.  68.  -       ^ 

Foi  Profeta  ludeii  de  nação^& 
como  Tc  chamou  primeiro 
Ibidem. 

Depois  de  refucitado  o  Bapti- 
zou o  Apoílolo  Santiago^ 
&  lhe  deu  o  nome  de  Pe- 
dro. Ibidem. 

Confagrouo  Bifpo  deBraga^ 
o  primeiro^  &  principal  de 
toda  Hefpanha.pag.  65?. 

Fragmentos  de  ianto  Athana- 
lio,  que  tratão  deSaÕ  Pe- 
dro de  RateSj  &  explicação 
delles.  cap.i  j'.pag,7i.&  72.. 

Carta  de  Hugo,  que  hlade 
S.  Pedro  de  Rates.  cap.  ij. 

P3g-73. 

Onde  eíiaua  a  alma  de  faõ  Pe- 
dro de  RateSj  quando  o  re- 
íucitou  Santiago,  cap.  17.-, 
p-ig.86. 

CoiTio  podia  vir  doCeo,«&  re 
fucitar  fendo  Ecmauentu- 


■ 


rado.  Ibidem. 

Sobre  a  pátria  defaÕ  Pedro  de 
Rates  ha  algiias  opiniões, 
pag.  88, 

Chamauaíe  Malachias,  que 
vai  o  meímo  que  Anjo  do 
Senhor,  cap.  18. pag. 89. 

Pos  Biípos  em  diuerías  Igre- 
jas, &  quais  fejão.cap.  90. 

Pregação  ,  &í  martyrio  de  Sao 
Pedro  de  Rates .  pag.  91 .  ôc 
feq. 

Como  le  diga  que  faõ  Pedro 
de  Rates  foi  martyrizado 
na  região  Ophirina.  pag.pi 
&  feqq. 

Gomo  foi  achado  por  diuina 
reuelação  feu  corpo.  cap.  iS 
pag.95. 

Milagres  que  o  fanto  fez.  Ibi- 
dem. 

Scpulchro  do  fanto  &  letreiro 
quenelleeítapag.96. 

Trcsladou  o  corpo  defteglo- 
rioío  íanco  pcra  a  Se  deBra 
ga  o  Arcebifpo  Dom  frei 
Baltaíar  Limpo.  pag.  96. 

Capella,&:altar  priuiligiado  do 
finto.  Ibidem. 

Chamalhe  o  ConcilioBracha- 
reníe  Pay ,  &  Apoílolo  de 
Heípanha.  cap- 18. pag.  9j. 

PoeJ:a. 
Ocíias  cm  que  Marcial 
louua  a  fanto  Ouidio 

Mi^^*— — MM  I  «I  I   w     H-»'i    ■  —  ■III   mi»  »     llil— ^— P 

Arccbiípo. 


Das  Coufiis, 


Arccbifpo  dcBraga.cap-ii. 
pag.  104. 
Podias  feitas  em  louuor  de  S. 
Martinho  na  cresladaçao 
de  fuás  relíquias,  cap.  76. 
pag.  3i9.&.'leqq. 


s 


Policarpo. 

Ao  Policarpo  4   Arccbif- 
po de  Braga. cap.  31.  pag. 
14;. 

Porco. 


c 


Vílume  de  correr  o  por- 
co preto  em  Braga  onde 
teue  principio. cap.43. pag. 

179- 

Potamío. 


POtamio  o  penitente  39. 
Arcebifpo  de  Braga.  cap. 
84-  pag.3;o.  &  feqq, 
Achoufc  no  8.  Concilio  To' 

ledano.pag.350. 
Penitencia  que  fez  por  cair  em 
hum  peccadoda  carne. pag. 

3P- 

Pedio  penitencia  dcftc  pecca- 
do  no  decimo  CõcilioTo- 
Icdano.  pag.  3^1. 

Foiporclle  priuadodo  Arcc- 
biípado^ái  feruio  toda  a  vi- 
da cm  híja  religião  pag. 3 53. 

Decreto  acerca  de  Potaraio. 
I      pag.3y;.&feq. 


Prmitiuo. 


C  Ao  Primitiuo  Martyr  hú 
dos  i^.  companheiros  de 
fanta  Engracia.cap.44.pag. 
181.  &  184. 

Prior. 

T>  Riorcs  de  Guimarães  fogci 
tos  ao  Arcebifpo  de  Braga 
cap.  100.pag.418. 

Prifcilliano. 

CApitulosqueno  fegun- 
do  Concilio  Bracharcn- 
fe  fc  propuferaó  contra  a 
heregia  Prifcilliana.cap.io. 
pag.  42..  &  feqq. 
Quem  foi  o  herege  Prifcillia- 
no.cap.  jo.pag.207.&  fcqq 

Proftituro. 


SAõ  Profuturo    primeiro 
do  nome,  io.  Arcebifpo 

de  Braga. cap.;3  .pag.ii4.& 

ícqq. 
Entrou  no  Arcebifpado   por 

dcpofiçáo,  &  priuação  de 

Paterno.  Ibidem. 
Foi  dicipulo  de  fanto  Agofti- 

nho,&  leuou  cartas  delle  a 

S  leronymo.pag.iij.&feq 

Foi 


Indi 


ice 


Foi  Ermitão  o  primeiro  qu^e 
nelle  Reino  fundou  a  reli- 
gião cios  Eremitas  de  Tanto 

Agoil:inho.pag.2.3j"- 
Profuturo  fegundo  do  nome 
zy.  Arcebiípo  deBraga.cap. 
66  pag.177. 

Proníerb.io. 

PHouerbio  com  quefeex- 
plicaua  a  íantidade gran- 
de de  S,  Martinho ,  èc  dos 
Relipiofos  do  mofteiro  de 
Dume.  cap.  73-pàg.  311. 
Onde  teue  principio  o  prouer 
biOjlâ  vão  Icys  onde-  que- 
relieys.cap.119.pag.46i?.  ^ 

Publio. 

Saõ  Publio  martyr  hú  dos  18. 
companheiros  defanta  En- 
gracia.  cap.  44.  pag.  181 .  & 
184. 

uehrado. 


OVehrados  acudindo   a 
Tanto  Apolhnar  cobraõ 
laude.  cap.  63.pag.171. 


'mntiiiano. 
Aõ  Qojntiiiano    martyr 
hum  dos  18.  companhei- 


ros de  Tanta  Eugracia.  cap. 
44.pag.181 .  &  184. 

Quirico. 

C  Aõ  Qujrico,ou  Quirino  41 
Arcebiípo  de  Braga.  cap. 
93. pag,35>4..&Teqq. 

Edificou  o  Templo  de  Tanta 
Eulaha  de  Barcelona,  pag. 

394- 

ETcreiíeolhcSãto  Leaò  Papa. 
Ibidem. 

Foi  ArccbiToo  de  Toledo,  & 

Tuccíior  deSico  lleToiíío 

pag.39y.     ^  ;-*v^<' 

Com  que  ocaííaõ  veTlioo  ha- 
bito a  Elíley  Vuamba.pag. 

396. 
Renuncia  o  Arcebiípado ,  & 
faz  Te  RehgioTo-  pag.  398. 

Ouiterra. 

5 A n  ta  Qmteria  Virgem ,  & 

martyr  híiadas  noue  irmãs. 

cap.  2,7. pag.  1 2,5.  &  Teqq. 
Trataua  TamiUarmcnte  com  o 

Anjo  da  Tua  Guarda-   pag. 

116. 
Como  foi  preTa  em  o  cárcere 

&0S  que  nelle  conuerteo. 

pag. 12.8.  &Teq. 
Seu  martyrio,  ôc  de  outros 

muitos  pag.  131. 

Rayo. 


*D^5  coujas. 


( 


i?^^'0. 


R 


Ayos  que  matarão  hú 
ao  Pacriarcha  de  Con- 
llátinopl3,&  outro  aoEm- 
perador.  cap-  94- pag.  273  • 

Recifuintho. 

REecifuintho  Abbade  na- 
tural de  Braga.  cap.  94- 

Couías  queefcreuo.  Ibidem. 
&pag.39P. 

Refra. 

REgra  da  Fé  contra  todas 
as  hereíías,principalmê- 
te  contra  os  Priícillianiftas. 
cap.j7.pag.  245.&rec|q. 
Regra  que  chamáo  de  faõ  Fru- 
tuofo.  cap.  88.  pag.37i.& 

Relíquias. 

T)  Eliquias  de  Sao  Vidor, 

fanto  Alexandre,  &:  faõ 

Muciano  queforaõ  achadas 

no  altar  mor  da  Sè  de  Braea 

o 
cap.  loi.pag.  415-. 

Relíquias  que  na  Igreja  deDu- 
meelcondeo  o  Arccbifpo 
Dom  Manoel  deSoufa, pê- 
ra as  trefladar  pêra  a  Sede 
Braga.cap  7;.  pag.  32;. 


Como  as  achou  ,  Si  trefladou 
o  Arcebilpo  Dom  Agofti- 
nho  deCaftro.  Ibidem . 

Refurreicao. 

FOi  Saõ  Pedro  de  Rates 
refucitado  depois  de  íeií- 

centos  annos.cap.  14.  pag. 

68. 
Não  foi  leue  a  caufa  de  Tua  re- 

fureica5.cap.i6.pag.8i. 
SaõMaurilio  refucitou  hií  mo 

ço  depois  de  muitos  annos 

enterrado,  pag. 83. 
Santo  Eflaniílao  reíucica  hum 

defunto  de  três  annos  .pag. 

84. 
Saõ  Maclouio  re fu cita  húgi- 

gãte  de  muitos  annos  mor 

to.  cap- 16.  pag.Sj-. 
Como  tornou  à   vida  fanta 

Chriftina.pag.8j. 

ReuelacâO. 

REuelaçãoquc  emtrezê- 
tos  annos  nenhú  fe  per- 
deo  dos  que  morrerão  no 
habito  de  faõ  Bento, cap. 95> 
pag.  409. 

Reuocata. 

SAntaRcuocata  martyrde 
Viana.  cap.  37.  pag.  153. 
&feq. 

Rio. 
T)  los  que  Icuáo  ouro  em 
fuás  áreas. cap. I. pag. 1. 


Vv 


Ro' 


Irid, 


ice. 


Romanos. 

Vercmalgus  cjuc  osRo- 
manos  funda iTem  Bra- 
ga cap.i.pag. 8. 
Guerra?  c[ue  ceue  Braga  com 
os  Romanos. cap.z.  pag.5?. 
&C  Teqq. 

Rofa. 


N 


Acem  rofas  cada  nnno 
no  dia  ^  em  que  foraõ 
martyrizados  fato  Aciíclo^ 
Òí  fanta  Vitoria,    cãp.  ^o. 
pag.143. 

Rofendo. 

SA5  P.ofendo  luftre  dafa- 
milia  dosSoufas.cap.iió. 

pag.4J3. 
Vioa  alma  de  unra  Senhori- 
nha acompanhada  de  An- 
jos fabiraoCeo.  pag.  4;7. 

S. 

Sagrííctio. 
Olemnidade  com  quefe 
fez  a  fagraçáo  da  Igreja 
do  Apoftolo  Santiago  em 
Comportela.cap.  no. pag. 

444- 

Salamao. 

Q  Aõ Salamão  15.  Arcebifpo 

de  Braga. cap. 41.  pag.  167. 


de  íeqq. 
Foi  Grego  de  nação  irmão  de 

Melancio.pag.  168. 
EfcrcLiellic  faõ   Marccilino. 

pag.i^í?. 

Saturnino. 

SAòSaturninoMartyr  na- 
tural de  Viana-cap.37. pag 
lôj.ôc  feqq. 

Secundino, 
CA5Secundo_,ou  Secundino 

9.  Arcebifpo  de  Braga  cap. 

3^.  pag.  líi.&fcq. 
Foi  marty  rizado  em  Cirtecõ 

outros  fantos.pag.  ijz. 
Trefladação  de  ícu  corpo  de 

Africa  pêra  Hcfpanha. pag. 

Senhorinha. 

C  Anta  Senhorinha  de  Bailo. 

cap.  ii6.pag.4;3. 
Foi  de  nobihfsmia  familia  dos 

Soufas  pag.  45-3 . 
Nomes,titulos,&  nobreza  de 

feus  pays.Ibidem. 
Criação  que  teueno  moílei- 

ro  de   São  Icaó  de  Vieira. 

Ibidcm.&pag.4j4. 
Reuelaçãoq  opay  teuc^quca 

fizcíleReligiofade  faõ  Ben- 
to, pag.  4;4-    ^ 
Era  mui  dada  a  lição  de  liuros 

efpirituaes.  pag.4;5" 
Tcue  particular  graça  do  Cco 


per  a 


Dds  Coufas. 


pêra  fazer  milagres  .pag.  4)-6 

Foi  Abbadcílk  no  molleiro. 
Ibidem. 

Foi  viíitada  de  São  Rofendo 

primo  íeu  ,  &c  como  neíla 

ocafiaõDcos  caftigou  a  dous 

murmuradores.pag.4j-6.  & 

fcq. 

Mudou  as  freiras  pêra  outro 
moíkiro.  pag.  47;. 

Milagres  que  fez. Ibidem. 

Vio  a  alma  de  S.  Rofendo  ir 
pêra  o  Ceo  acompanhada 
de  Anjos.  pag.  4;7. 

Sua  morte gloriofa,&:  fepul- 
tura.pag.4c8. 

Seu  corpo  mteirOj5>:  fem  cor- 
rupção. Ibidem. 

Milagres  que  fez  depois  de 
morta. Ibidem 

Asardecido  ã  fanta  Dom  San- 
cho  Rey  de  Portugal  fez 
Couto  fua  Igreja.pag.  4;8^ 
&.feq. 

Deuaçáo  de  outros  Reys  de 
Portugal  a  fanta  Senhori- 
nha, pag.  459.  &  fcq. 

Autores  quetratão  dcfta fanta 
pag.  460. 

Sepultura. 

C  Epultura  do  Cõde  D5  Hé- 
riqucj  &  da  Rainha  Dona 
Tarcja  fua  molher  na  Sc  de 
I      Braga, .cap.  6.  pag.  17. 


Sereriano. 

CEreriano  quinto  Arccbifpo 

de  Braga.cap.31.  pag.  146. 

Sigifrido, 

^Igifrido  63.  Arcebifpo  de 

Braga.c.riS.pag  46i.&reqq 

Foi  Abbadc  do  morteiro  de 

Fulda.  pag.4^1. 
Foi  Arccbifpo  de  Maguncia. 
pag.  461. 

Siluanato 

Slluanato  58. Arccbifpo  de 
Braga.cap.1ii.pag.448, 

SilueTlre. 
Ç  AõSilueftremartyrdeBra 
ga.cap.  zo.  pag.ioi.&cap. 

43. pag- 17;.    . 
Reprouafe  a  opinião  dos  que 

o  fazem  x^rcebiípo  de  Bra- 
,  ga.&  fuceílòrdcS.Bafilio. 

Ibidem. 
Em  que  anno  foi  martyriza- 

do.  Ibidem. 

Sinagio. 
Çlnagiojou  Sinagrio  14.  Ar- 
ccbifpo de  Braga.  cap.  41. 

pag.  i7i.&feq. 
Achoufe  no  Concilio  Eliberi- 

tano.  Ibidem. 

Soufa. 

T  Ronco  da  nobilifsima 
familiadosSoufas.  cap. 
iiíí.pag.  ^^C. 


Vv  z 


Sucefio. 


índice. 


Suceffb. 
AõSuceíío  martyr  hu  dos 
i8.  companheiros  de fan- 
taEngracia.cap.44.pag.181 
&í  184. 

Sufana, 


s 


Anta  Sufana  martyr  de 
Braga.cap.43.  pag.ijíí. 


T 


Theodomiro, 
Hcodomiro  57.  Arcebií 
po  deBraga  cap.n  i  .pag 


447. 


TheophiU. 


'  5  A  Tlieophiío  Martyr  na 
Curai  de  Viana.  cap.  37. 
pag.ij3.&feq. 


S  anti  azo. 


Antigo  veo  a  Hefpanha. 
cap. 7.  pag.  18.  &  pag-^7« 
&  feqq. 

Pregou  primeiro  cm  Braga. 
pag.2.5^. 

Rcfucicou  a  faõ  Pedro  de  Ra- 
tes. Ibidem.  &  pag.  68. 

Entregou  a  faõ  Pedro  de  Ra- 
tes a  Igreja  de  Braga.  cap. 
14.pag.o9. 

Em  ■  C^aragoça  edificou  por 


mandado  daVirgê  Senhora 
NoíTa  a  fua  primeiralgreja, 
que  hoje  chamão  do  Pilar, 
pag.  68. 

Quanto  Cepoefteue  oApoílo 
lo  Santiago  cm  Hefpanha. 
cap.  14. pag.  69. 

Solenidade  cõ  q  líe  fagrou  em 
Cõpoftda  a  Igreja  do  Apo 
ílolo  Santiago.cap.uo.pag 
444. 

Tihaes. 


M 


Ofleirode  Tihaes  fun- 
dado por  S.  Martinho 
cap.73.pag3ij. 


Torcato 
CAõTorcato  martyr  dcBra 
ga.cap.  43.pag.176, 

Idobeu. 

C Anto  Tolobeu ,  o  u  Tobcu 
3j.Arccbifpo  de  Braga  cap. 
So.pag.343.&:feq. 

Foi  depois  frade  de  faõ  Bento 
pag- 344- 


Torihio, 


Z 


£lo ,  &  virtude  de  ião  To 
ribioBifpo  de  Aftorga. 
€3^/7  pag.z40.  &íeq. 


Trajam. 


^as  couÇds. 


'  Trajano. 

ALma  de  Trajano  tirada 
das  penas  do  Inferno  pe 
raoCeo.cap.17.pag.  S6.ÔÍ 
<    fcq. 
■'^  Treslada^ao, 

T'  Rcsladação  de  relíquias 
quefez  o  ArcebifpoDo 
Asoftinho  de  Caftro  da 
Igreja  de  Dume,  pêra  a  Se 
deBraga.cap  7y.pag.3iy. 
Trcsladaçáo  do  corpo  defaõ 
Pedro  de  Rates  3  pêra  aSè 
dcBraga.cap.i8.pag.5>6. 

V. 

VaUntinô. 

C  Aõ  Valcntino  Bifpo,  & 
martyr  de  Viana.  cap.  60. 
pag.  iói.  &fcq. 

Valério, 

VAlerio  primeiro  do  no- 
me 23.  Arcebiípo  de 
Braga,  cap.ói.pag.iói. 
Valério  fcgundo  do  nome  i6. 
Arccbifpo  deBraga.cap.^j. 
pag.176 

Featride. 
ÇAnra  Vcatride  natural  de 
BragajÃ:  18. companheiros 


martyres.  cap  9^-  p3g.399- 
P^iana. 


Viana  foi  primeiro  cida- 
de Epifcopal  muitos  an 
nos.  cap. 37. pag.  155. 
SaõTheophilo,  SaturninOi& 
Reuocata  martyres  natu- 
rais deViana.  pag.  153.  &feq. 
Viana  nobre  comos  inílgnes 
dousBifpos^&  martyres  S. 
Maximiliano,&:  Valentino 
cap.6o.pag.i6i. 
Fronteiro  mòr  em  Viana- pag. 
z6i. 

Viãor. 

C  Aõ  Vi(5lor  Martyr  46.  Ar- 
ccbifpo de  Braga. cap.  lõr. 
pag.  42,3.&fcqq. 

Sa5  Viólorcom  Alexandrç,& 
Muciano,faõ  leuados  aBae- 

ça.  pag.4i4- 

Todos  trcs  padecem  ahy  mar- 
tyrio. Ibidem. 

Algúas  relíquias  deftes  três 
martyres  foraõ  trazidas  a 
Braga,  &í  collocadas  no  al- 
tarmor.  daSe.pag.41y. 

Vitoria, 

Vlârorias  que  alcançarão 
os  B  rachar  efes  dos  Ro- 
manos -cap-  z.pag^p^&ícqq-l 


Vv3 


Vitoria. 


%.■ 


/. 


Ind. 


ice 


Vitoria. 


C  Anta  Vitoria Iiua  das  Tantas 
nouc  irmãs. cap. 30.  ag.143 
Ondepadcceo  marcyrio.Ibidé 
Nacem  milagrofamence  rofas 
no  dia,  cm  que  foi  marti- 
rizado. Ibidem. 


Vitouro^ 

Ç  A5  Vitouro  Marcyr  deBra- 
ga.c3p.43.  pag.i73.&  feqq 

Sangue  que  íayo  da  pedra  cm 
que  foi  degollado.pag.178. 


E 


Voto, 

Scriturados  votos,  que 
feíizeraõ  a  Santiago. cap 
j07.pag.437. 

Vrbano. 


s 


A5  Vrbano  marf-T  hu  dos ! 
18.  companheiros    .2  fanta 
Engr3cia.cap.44..pag  181. 
&  184. 

Vuamba. 


AElRey  Vuamba  quem 
deu  peçonha.cap.  ^3. 
pag.396. 
Cõ  que  ocaííaõ  tomou  o  Rey 
o  habito, &  fe  fez  Rclimo- 

_^ o 


foIbidem,&pag.  397. 
Onde eítà enterrado.  Ibidem. 


Vuas. 

Ilagre  com  qucDcos 
caítigou  ahu  por  to- 
mar hú  cacho  de  vuas.  cap. 
73-pag.3i3- 


M 


Vuilgeforte. 
ÇAntaVuilgeforteheo  mef- 
mo  que  fanta  Libcrata,   &c 
fanta  Ontconicra.  cap.  z6. 


pag. itz. 


X 


A 


Ximena. 
Rairha  Dona  Ximena 
veo  a  Compoftela  l  fa- 
gração  da  Igreja  do  Apo- 
lloloSãtiago.  cap. II o. pag. 
444. 

Z. 

Zelo. 
y^  Elo  de  Balconio  Arcebif- 
po  dcBraeacm  conuertcr 
o.  hcr"; 'wS  cap,  y7.pag.2,4o. 
Te.cnomeíííiozelo  por  cõ- 
panheiro  a  ícu  grande  ami- 
go Saó  Toribio  Bifpo   de 
Altorga.Ibidem. 

Finis  Laus  Deo. 


E%RJTjr. 


p  hgnihca  pagina,  c.  coluna  da  pagina,  n.  numero  do  capitulo, 
r.  regra,  começando  a  contar  do  principio  do  numero. 

P2o.c.i.t}.2^.r.'j,Reinoem  Principado.  P.zo-c.l^n.^.r.^é  ^pajíole,  em  ApoJIcl». 
'P.  ^ó.c.i.n.^.  r.2.  Gelaf')  de  ÁÍeriiaPotamsodc  "■  d.-t  tmGelaJío  d:  Aguedi* 
Potamtod;Merid.i.  P,6 ^.c,i.Ltodigio,em  Leod!cifta.P.'y  t:.x.-a,ii.r»'i'^.(3'h! em  (^ 
h-ií.  P.  8i.  c.  2.  w.  13.  r,  10.  PortecMe,em  VortHcak,  P,  ^  .  c,  2.».  iç.  r.  1  j,  Argies, 
cm  Aagrs.P,  i^j.  c.  z.n  1  r.  4^1  d^da,  em  UuaÍo.  F.  139.  e.  2.  «.  6>  *".I2.  deuo^ão, 
em  d(HA<,ão.  P.  I  ijo.  c,  I.  n.  8.  r,  J.  encomtndar  efles.em  encemmd^tr  u  Deas  efln-  Ikide 
r.  32.  dobrado,  em  laiirado.  P.  145.  c.  1.  n,  lA.anttfiHem.vtuJficr.em  vetuí^ior,  f.  148 
r.  í.  ».  2.  >■.  2j.  cerebre,  em  celebre,  P.  170.  «■•  i.h.  7.  r.  j.  anno  de  iizo.em  aun» 
1102.  P.  lií.  c.  i.n.2,Y.  6.ch.ima,etn  chamaH*.  P»í^i.  c,  z.n  i,  r,  ^.  que  no  CÍ' 
ctiio  RomMio,em  ^ no  Cocilto  K  ena.  P.  1^4.  ;•  I.  n.  i.  r.  24.  Reaes,em  Rens.  ^'.199 
c.  I.  «  ^,  r.  18.  cr  defetiaitti  Wj  (^íe  deupor  liurt,  P.2«í,c.  z  ».  3.r.  Z  chema, 
emchamat  P.zz^,c.  I.».8.r'.3.  máes  de  zz.  annos,  emnf  'ie  iz.Minos,  P.zza. 
c,  z.  n.  j.  r.  i.foi,  entfes.  P.  242.  c.  z.n  7,  r.  26.  4p  e  a  paUura ,  defpachar. 
P.  z6o,  c.  I.  ».  3.r,  lè.  debatx»  de  S.Agof}inh»,em  dtb*uo  d/tdi/ciplina  de  S  Agofitnha 
P.  264,  c.  z-n.  ^r.  15.  Capomo,  em  Ceponto.  P,  282  c.z.n,  9.  r.  1  y,  lornadas ,  em 
lornandes,  P.  308. c.  2,  »•  10.  r.  lufe  fos^»belecerem,em  je  efiabeltcerem.  P,  ^iij.c.z, 
n.^.r,  T,-^.  ckicorretr»  emchocarretro,  Pt  ^té.c.i.n  6  r".  J3.  Dumtenfem,  entDu- 
mienfe,  er  r.  ^4.  libtanenfem  em  ItbiAnen/e  P,  346.  c.  it  m.  2»»'í  26.  Biterienjis ,  íw 
Bitcrrenjís,  Ibtdem,  ou,  em  no.  P,  372.  e.  2.».  y.  r.  32.  vremos  ,  em  vermos,  P.^^^.c. 
i.w.  y.  r.14.  Afcig£t,em  Arttga,  P.  ^o'j.  e,  i.».  (5,n  8,  ne  dectmo  qaârto  Conctlw,  em 
no  decimo  quinto  Concilio.  P.  j^i%.  c.  z,H,  li.  r.  19.  VI.  Calendas  ,  em  IV.  Calendas 
P,  419,  c.  I.  n.  1 1.  K,  46.  39.  íie  Fenereêro.em  26.  de  Feuereiro  P.424.  f.2,  K.j.infine 
Prelados,em  prcfos.  P.  43  3. e.  2. «.  2.  r.  3 z  mjfa,  em  rtejla,  i'.4j'^.  (.  I.  ».  14,  r. 6. 
de  Gonçal  Aííndet,em,  de  Dom  Gonçalo  Mwhfé, 


rç 


A ' 


ÂK^ 


'> ^V  /\** 


ÍT^^.-.-t^X^^ 


(! 


^4 


I 


1  ,  r 


K  1 1 


I         ,      iH  '       '     ' 


i 


'I'"      1,      I     I 


li 


I 


|!,      i      111 


I  i     i  |l 


j  !     f:,;  uni: 


1,1' ,  i.Pii,'i 


i1"ii 


'lliUi 


iii  111, 


! 


Pli'l'Pii','i!!!niilif' ;tiMni'i!i,l 


ii| 


l,l,;Ili 


P:  I    I  i:    .' 


Tillil, 


illi,Ti|i|ll' 


'^:.r  ' 


IrfA- 


m^ 


^i^ 


IWi 


-•;',    i!*.