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Full text of "Revista de Guimarães"

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THE  J.  PAUL  GETTY  MUSEUM  LIBRARY 


REVISTA 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


r^'oniotora  da  instntcção  popular 
no  ctiiHjelhu  de  Guimaiàes 


VOLUME  Vil 


J\.o    1  —  Janeiro  —  1890 


^ornTO 

TVI-OGRAPHIA    DE    A.    J.    DA    SlI,VA    TeTXEIRA 

Rua  da  Cancella  Velha,  70 

1S9G 


Suiinnarfo  (reste  niTmero« 

t.  Estudos  sobre  o  Turf;  por  José  Martins  de  Queiroz. 

H.  Documentos  inéditos  dos  seculus  xir-xv  ;  por  Olii eira- Guimarães^ 

lU.  Apontamentos:  O  Recolhimento  das  Trinas;  por  *. 

IV.  Balancetes. 


A  R(y\'isla  de  Guimarães  pnblica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  julho  e  outubro,  e-rn  fasciculos 
de  48  paginas. 

Cada  volume,  composto  de  quatro-  fasciculos,, 
custa  por  assign-atura  800  reis;,  cada  n«umei^o  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do  correio  sào  á  custa  da 
empresa.  As  assignaturas  são^  pagas  adiantadas. 


A  Revista  de  Guimarães  é  distribuída  gratui- 
tamente i>elos  sócios  da  Socíedadr  Martins  Sar- 
mento. 


Os  artigos  publicados  n'^es(a  Revista  são,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  dos 
seus  auctores. 


Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcção  da  Sociedade  Martins  Sarmento,  Gui- 
marães* 


ANNUNCIOS  LITTERARIOS 

.; . . ^ — -f(,f^f-^ _ — . 

Os   TWtaiiis,  por  Eça  de  Queiroz.  2  grossos  volumes 2;áOOO 

Pelo  correio 21120 

Livraria  de  Lugan  &  Genelioux,  editores  —  Porto. 

As   Oolouia,!!«  Portu^uezus,  publicação  lisbonense  illus- 

trada.  Anno : 2^^000 

Se(nestre li^200 

A  V  ulso 200 

O  Z«>opliilo,  publicaçtão  mensal  iljustrada  de  Lisboa. 

Lisboa,  anno 600 

Províncias 630 

Numero  avulso iOÕ 

A.  I>o>!ii>neti-ia,  revista  mensal  portuense  de  medicina  dosime- 

irica.  Director-proprif  tario,  José  Bernardo  Birra.  Anno i^SOO 


REVISTA 


DE   GUIMARÃES 


VOLUME  VII— ANNO  DE  1890 


•«* 


IHE  J.   PAUL  GEITY   CENílK 
LIBRARY 


ESTUDOS    SOBEE    O    TTJRF 


(Continuado  do  volume  anterior,  pag.  181) 


TERCEIRA  PARTE 


Training 


III 


Nós  temos  até  aqui  fallado  dos  cavallos  cujo  ensino  offe- 
rece  algumas  diíliculdades,  por  isso  que  para  as  corridas  se 
não  devera  escolher  animaes  de  mau  caracter  ou  d'uma  orga- 
nisapão  defeituosa,  que  são,  como  todos  sabem,  as  duas  cau- 
sas primordiaes  de  todas  as  resistências ;  mas  como  nem  sem- 
pre se  podem  obter  animaes  perfeitos,  ou  que  se  não  che- 
guem a  resabiar  pela  imperícia  dos  cavalleiros,  julgamos 
conveniente,  ao  terminar  este  capitulo,  expur  o  modo  de  re- 
mediar as  principaes  defezas  que  os  cavallos,  ou  por  mal  con- 
figurados, ou  por  falta  de  tacto  e  saber  dos  cavalleiros,  apre- 
sentam, tornando-se  difficeis  e  até  perigosos. 

Entre  estes  mencionaremos  principalmente  os  cavallos  que 
se  encabritam,  que  se  desboccam,  que  cabritam,  que  ati- 
ram, que  se  pegam,  que  se  acuam,  etc.  São  estas  as  de- 
fezas mais  frequentes  e  perigosas,  e  que  a  todo  o  cuslo  é  pre- 


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ciso  fazer  desapparecer,  pois  do  contrario,  além  do  risco  que 
constantemente  correm  os  cavalleiros,  não  se  pode  contar  com 
os  cavallos  em  occasião  alguma. 

Para  se  corrigirem  estes  e  outros  quaesquer  defeitos,  e 
por  conseguinte  os  cavallos  que  os  apresentam,  é  preciso  pro- 
curar conhecer  primeiramente  qual  a  causa  das  resistências ; 
porque  tentar  corrigir  do  mesmo  modo  tanto  o  animal  que  se 
encabrila  por  medo,  fraqueza  ou  maus  aprumos,  como  aquel- 
le  que  se  entrega  a  esta  defeza  por  mera  ignorância  ou  por 
capricho,  seria  não  só  promover  a  ruina  das  orgaoisacões 
ainda  as  mais  bem  formadas,  se  não  dar  uma  prova  cabal  da 
mais  crassa  ignorância. 

E  se  em  verdade  se  não  pôde  ter  a  pretensão  de  annullar 
completamente  as  resistências  que  provém  de  uma  organisa- 
ção  defeituosa,  que  se  saiba,  ao  menos,  que  nenhum  cavallo 
se  defende  seriamente,  senão  quando,  por  desobediência  ás 
ajudas  do  cavalleiro,  consegue  tomar  posições  favoráveis  ás 
defezas. 

Um  cavallo  não  poderá,  por  exemplo,  encabritar-se,  ou 
cahir  no  defeito  opposto  dando  coices,  sem  que  por  meio  de 
uma  brusca  contracção  muscular  chegue  a  concentrar  todas  as 
suas  forças — no  primeiro  caso,  sobre  a  garupa;  no  segundo, 
sobre  as  espadoas.  Ora  se  o  cavalleiro,  por  um  excesso  de 
acção  das  pernas  ou  da  mão,  chega  a  destruir,  ou  a  evitar,  o 
que  é  preferível,  aquellas  duas  posições,  dando  no  primeiro 
caso  uma  boa  sabida  ao  cavallo  com  a  ajuda  das  pernas,  es- 
poras ou  chicote,  e  levantando-lhe  no  segundo  a  cabeça  bem 
para  cima  por  meio  das  rédeas  do  bridão,  claro  está  que  ne- 
nhuma d'aquellas  duas  defezas  poderá  ter  logar. 

A  grande  questão,  e  não  só  com  relação  ás  duas  defezas, 
que  acabamos  de  apresentar,  mas  com  relação  a  todas  as  ou- 
tras de  que  a  imaginação  dos  cavallos  é  muito  fértil,  e  qual- 
quer que  seja  a  causa  que  as  motive,  a  grande  questão,  dize- 
mos, é  collocar  os  animaes  em  posições  contrarias  aquellas 
era  que  elles  se  apoiam  para  melhor  poderem  resistir  e  defen- 
der-se.  Se  o  cavalleiro  dispõe  de  tacto,  de  saber  e  de  pratica 
suíBciente,  e  se  o  animal  se  acha  em  condições  de  poder  obe- 
decer-lhe,  poucas  defezas  poderão  apresentar  tal  gravidade, 
que  não  possam  ser  mais  ou  menos  destruídas. 

Cavallos  ha  eíTectivamente  tão  resabiados  e  tão  destros  em 
defender-se  que,  por  maior  habilidade  dè  que  disponha  um  ca- 
valleiro, não  ha  muitas  vezes  tempo  de  prevenir-se  uma  sur- 
preza.  Com  esta  classe  de  animaes  é  preciso  ter-se  sempre  a 


máxima  cautela  e  não  ignorar  que  aquelles,  que  são  dados  a 
um  determinado  vicio,  o  repetem  seguidamente,  a  curtos  in- 
tervallos,  e  tantas  quantas  vezes  lhe  fôr  necessário  para  se  li- 
vrarem dos  cavalleiros. 

Todo  o  cavalleiro  pode  ser  surprehendido,  mas  o  que  ne- 
nhum deve  é  capitular  nem  deixar  de  se  prevenir  contra  as 
reincidências,  a  que  os  cavallos  resabiados  se  entregam,  logo 
que  os  deixem  fazer  a  sua  vontade  e  presintam  medo  por 
parte  de  quem  os  monta. 

Vejamos  entretanto  os  meios  que  a  pratica  nos  tem  feito 
conhecer  como  dando  magnificos  resultados,  não  só  para  evi- 
tar, mas  para  combater  as  defezas  de  que  vimos  fallando,  e 
a  que  se  entregam  os  cavallos  —  uns  pela  sua  má  organisa- 
ção,  outros  pelo  seu  mau  ensino,  outros,  emfim,  pela  fraca 
escola  ou  brutalidade  dos  cavalleiros.  São  estas  as  princi- 
paes  causas  que  originam  as  resistências,  que  pela  continua- 
ção degeneram  mais  tarde  em  defezas,  ou  era  resaibos  para 
fallarmos  technicamente. 

Comecemos  pelos  aniraaes  que  se  encabritam,  e  que,  quan- 
to a  nós,  são  de  todos  não  só  os  mais  diíliceis  de  corrigir, 
com  especialidade  quando  estão  habituados  a  sahir-se  bera, 
mas  os  mais  perigosos,  por  isso  que  um  pequeno  descuido, 
uma  leve  tensão  de  rédeas,  uma  ligeira  inclinação  para  traz 
ou  para  os  lados,  pôde  levar  o  cavalleiro  a  voltal-os  so- 
bre si. 

Os  cavallos  que  se  encabritam  são,  como  todos  sabem, 
aquelles  que  se  levantam  a  prumo  sobre  as  pernas.  Para  evi- 
tar esta  defeza,  o  que  vale  mais  que  ter  que  a  combater,  de- 
verá o  cavalleiro,  logo  que  presinta  no  seu  cavallo  a  inten- 
ção de  empinar-se,  cerrar-lhe  immediatamente  as  pernas  bera 
atraz,  dando-lhe  ao  mesmo  tempo  a  mão,  bera  corao  um  bom 
par  de  esporadas  ou  duas  chicotadas,  o  que  se  torna  preferí- 
vel, para  o  fazer  avivar  o  andamento  se  vai  em  marcha,  ou 
para  o  mobilisar  se  acaso  está  parado.  Devemos  advertir  que, 
á  excepção  da  defeza  que  leva  os  cavallos  a  desboccarem-se, 
todas  as  outras  se  tornam  menos  graves  á  medida  que  os  ani- 
maes  se  põem  em  movimento. 

Em  marcha  nenhum  cavallo  se  enoabrita,  sem  diminuir  o 
andamento,  sem  se  deter,  emfim  sem  concentrar  as  forças  e  o 
peso  sobre  a  garupa,  e  sem  aproximar  as  pernas  das  mãos. 
Quando  parados  tamfcem  se  não  empinam  sem  que  se  opere 
uma  rápida  e  brusca  concentração  de  todas  as  suas  forças  so- 
bre o  terço  posterior,  e  sem  que  este  receba  o  peso  da  ante- 


8 


mão  em  consequência  de  uma  rápida  aproximação  das  qua- 
tro pernas,  era  que  os  cascos  trazeiros  chegam  quasi  que  a  to- 
car os  cascos  dianteiros.  Ora  sendo  estas  reacções  mais  fáceis 
de  sentir  quando  os  animaes  estão  em  movimento,  e  por  con- 
seguinte de  evitar,  claro  está  que  a  primeira  coisa  que  um 
cavalleiro  tem  a  fazer,  ao  presentir  o  empino,  é  mobilisar  os 
animaes,  ou  avivar-lhes  os  andamentos. 

Quando  um  cavallo,  muito  longe  de  corresponder  ás  aju- 
das por  um  movimento  progressivo,  resiste  á  sua  acção,  se 
detém  e  estaca,  dando  signaes  evidentes  de  querer  ir  para  o 
ar,  deve  o  cavalleiro  servir-se  immediatamente  quer  das  ré- 
deas do  bridão,  para  determinar  por  tracções  successivas,  e 
nunca  por  uma  força  continua,  uma  flexão  lateral  do  pescoço 
de  forma  a  dobral-o  em  dois,  quer  das  piroetas  ao  revez  pro- 
movidas pela  pressão  ou  ataque  das  pernas,  esporas  ou  chi- 
cote do  mesmo  lado. 

As  flexões  lateraes  do  pescoço  neutralisam  o  refluxo  das 
forças  e  do  peso  sobre  a  garupa  e  impedem,  pelo  bico  que 
fazem  dar  aos  cavallos,  que  a  espinha  dorsal  se  encurve  suffi- 
cientemente  para  que  as  pernas  possam  aproximar-se  das 
mãos  e  se  endireitem  com  todo  o  peso  do  corpo.  As  piroetas 
ao  revez^  que  em  tal  caso  se  tornam  em  piroetas  de  punição, 
impedem  por  seu  lado  que  o  animal  se  acue  e  fixe  as  pernas 
para  mais  facilmente  se  empinar. 

Na  maior  parle  dos  casos  bastarão  estes  meios  para  impe- 
dir que  um  cavallo  se  encabrite,  e  a  sua  continuação  poderá 
fazer-lhe  perder  de  todo  tão  terrivel  mania.  Mas  quando  isto 
não  bastar,  e  o  animal  se  obstine  em  levantar-se,  ou  quando 
mesmo  sem  prévia  resistência  fur  tão  rápido  nos  seus  movi- 
mentos que  surprehenda  o  cavalleiro  atirando-se  para  o  ar, 
deverá  então  observar-se  rigorosamente  o  que  vai  seguir-se 
—  sob  pena  de  se  não  evitarem  muitas  d'essas  desgraças, 
que  a  cada  passo  succedem  a  quem  é  pouco  experiente. 

Suppondo,  portanto,  que  o  cavalleiro  não  pude  prevenir 
nem  evitar  o  empino,  e  que  se  encontra  na  pouco  invejável 
situação  em  que  o  colloca  um  cavallo  a  prumo,  a  primeira 
coisa  que  tem  a  fazer,  e  sem  perder  um  só  momento,  é  lan- 
çar a  mão  esquerda,  que  naturalmente  segura  as  rédeas,  ao 
alto  da  crineira,  inclinar-se  bem  para  diante  e  esperar,  com 
os  estribos  pouco  calcados  e  sem  castigar  o  animal,  que  este 
se  decida  a  desempinar-se.  Então,  mas  só  então,  é  que  o  ca- 
valleiro lhe  dará  uma  valentíssima  chicotada  sobre  o  flanco 
<Jireito  8  bem  atraz,  tendo  previamente  o  cuidado  de  largar  as 


crinas  e  de  lhe  dar  a  mão  para  que,  castigado  por  traz  e  des- 
amparado por  assim  dizer  por  diante,  o  animal  possa  arran- 
car francamente  para  a  frente. 

Castigados  por  esta  forma  e  a  tempo,  quer  dizer,  com  toda 
a  energia  e  precisamente  no  momento  em  que  forem  a  apoiar 
as  mãos  era  terra,  raros  serão  os  animaes  que  voltem  de  novo 
a  empinar-se  sem  terem  dado  meia  dúzia  dé  galões,  que  os 
cavalleiros  regularisarão  quanto  poderem,  tornando-os  de  as- 
censionaes  em  progressivos,  e  de  modo  a  declinarem  n'um  ga- 
lope franco  e  regular. 

Quando  o  cavalleiro  não  conseguir  que  o  seu  cavallo  ar- 
ranque francamente  ao  ataque  do  chicote,  signal  evidente  de 
que  as  forças  e  o  peso  não  foram  desalojados  da  garupa  —  e 
evidentíssimo  de  que  vai  de  novo  encabrilar-se,  —  pôde  con- 
tar que  o  animal  se  porá  immediatamente  em  pé  e  tantas 
quantas  vezes  lhe  aprouver.  N'estas  circumstancias,  só  o  en- 
sino dentro  d'um  picadeiro,  e  em  que  as  ajudas  e  o  tacto  do 
cavalleiro  devem  levar  o  animal  a  obedecer  e  a  perder  os  seus 
resaibos,  é  que  poderá  corrigir  não  só  esta  como  todas  as  de- 
fezas  que  provém,  quer  de  uma  configuração  defeituosa,  ca- 
pricho ou  mau  caracter  dos  cavallos,  quer  do  pouco  tino  e 
saber  das  pessoas  que  os  montam. 

Prescrevemos  ao  cavalleiro,  quando  o  seu  cavallo  estiver 
a  prumo,  não  só  agarrar  de  preferencia  um  punhado  áe  cri- 
nas com  a  mão  das  rédeas,  como  abster-se  de  lhe  applicar 
qualquer  espécie  de  castigo.  Primeiro,  porque  a  mão  esquer- 
da, uma  vez  agarrada  ás  crinas,  não  poderá  de  forma  alguma 
puxar  as  rédeas  em  qualquer  sentido  e  não  dará  por  isso  ao 
animal  o  menor  pretexto  de  cahir.  Emquanto  que,  se  o  ca- 
valleiro se  serve  da  mão  direita  para  se  segurar  ás  crinas, 
pôde,  mesmo  sem  o  sentir,  dar  com  a  esquerda  um  pequeno 
puxão  às  rédeas  —  o  bastante  —  para  desequilibrar  o  cavallo  e 
fazel-o  cahir  sobre  si.  Demais,  ficando  a  mão  direita  livre, 
poderá  servir-se  facilmente  do  chicote  quando  o  animal  for 
para  apoiar  as  mãos  em  terra. 

Em  segundo  logar,  porque  o  castigo,  a  que  o  animal  não 
pôde  ser  indiíTerente  em  tão  instável  equilíbrio,  fazendo  os- 
cillar  a  vertical  abaixada  do  centro  de  gravidade,  commum 
ao  cavallo  e  cavalleiro,  para  fora  da  pequena  base  formada 
apenas  pela  linha  que  une  os  pés  trazeiros,  dará  origem  a 
uma  queda,  tanto  mais  perigosa  e  desamparada  para  o  ho- 
mem, quanto  maior  for  o  impulso  que  o  castigo  communicar 
ao  animal.  Por  isso  não  nos  cansaremos  de  repetir  que,  em 


10 


pleno  empino,  não  só  se  não  deve  castigar  um  cavallo,  como 
somente  a  mão  das  rédeas,  que  suppomos  ser  a  esquerda, 
será  aquella  de  que  o  cavalleiro  se  deverá  servir  para  se 
agarrar  ás  crinas. 

Os  galopes  largos,  avivados  ainda  pelas  esporas  e  chicote, 
as  descidas  por  terrenos  inclinados  e,  emQm,  todos  os  exercí- 
cios, que  possam  concorrer  para  sobrecarregar  um  pouco  a 
antemão  do  animal  que  tem  por  habito  encabrUar-se,  são 
convenientíssimos  e  ajudam  a  vencer  completamente  a  peri- 
gosíssima defeza  de  que  acabamos  de  fallar. 

Quanto  aos  cavallos  que  fogem  ou  se  desboccam,  quasi 
sempre  mais  pela  aspereza  da  4não  dos  cavalleiros  do  que 
propriamente  por  maldade  e  capricho,  ou  por  uma  configura- 
ção baixa  da  antemão,  o  que  favorece  um  pouco  esta  defeza, 
também  podem  ser  completamente  corrigidos,  quer  por  meio 
de  exercidos  que  façam  refluir  sobre  a  garupa  uma  parte  do 
peso  das  espadoas,  quer  forçando-os  a  correr  a  todo  o  escape 
e  muito  mais  do  que  na  sua  vontade  lhe  bastaria  para  se  li- 
vrarem dos  cavalleiros. 

Os  exercícios,  como  muito  bem  se  poderá  imaginar,  serão 
dados  dentro  de  um  picadeiro,  e  constarão  de  piroekis  ordi- 
nárias, isto  é,  sobre  as  pernas,  muito  recuar  e  flexões  con- 
trarias á  posição  em  que  estes  animaes  collocam  a  cabeça  e 
pescoçp^  para  fugirem  —  baixas  para  os  animaes  que  fogem 
despapados,  altas  para  aquelles  que  se  desboccam  encapota- 
dos. 

É  claro  que  só  quando  o  cavalleiro  fôr  apanhado  de  sur- 
preza,  e  tiver  adiante  de  si  um  terreno  espaçoso  e  próprio 
para  forçar  um  cavallo  desboccado  a  correr  a  todo  a  velocida- 
de, é  que  o  segundo  correctivo,  que  denominaremos  correcti- 
vo do  mal  pelo  mal,  poderá  ter  logar.  Ainda  assim  não  acon- 
selharemos que  se  faça  uso  doeste  meio  para  corrigir  um  ca- 
vallo que  se  desbocca,  ou  que  foge  como  vulgarmente  se  diz 
com  o  freio  nos  dentes,  porque  o  achamos  tanto  mais  pe- 
rigoso, quanto  é  certo  que  os  animaes,  que  assim  se  de- 
fendem, correm  á  tôa,  sem  governo  e  perfeitamente  desnor- 
teados. 

Mas  quando  não  houver  outro  remédio,  e  se  tiverem  esgo- 
tado os  meios  preventivos  de  forma  a  não  estorvar  o  animal 
de  arrancar  furioso  e  cora  uma  velocidade  e  valentia  impos- 
síveis de  dominar,  e  o  terreno  se  prestar  para  uma  boa  tarea 
a  toda  a  brida,  forçada  ainda  por  bons  ataques  de  espora  e 
chicote,  nenhum  outro  correctivo  se  lhe  pôde  comparar,  pois 


11 


quasi  sempre,  e  de  vez,  tira  aos  animaes  a  vontade  de  volta- 
rem a  fugir  com  os  cavalleiros. 

Quanto  aos  meios  preventivos,  e  de  que  se  deverá  lançar 
immediatamente  mão  para  sobrecarregar  a  garupa  e  distrahir 
os  cavallos  de  tão  mau  intento,  o  que  muitas  vezes  se  conse- 
gue no  principio  da  corrida  e  quando  a  velocidade  ainda  não 
é  grande,  podemos  apresentar  como  mais  efficazes  —  a  volta 
ao  revez,  de  modo  que  o  animal  vire  a  frente  á  rectaguarda, 
o  cerrilhar  e  o  dar  e  tomar  das  rédeas,  etc.  Os  exercidos 
dentro  do  picadeiro  são  era  verdade  mais  académicos,  menos 
fatigantes  e  perigosos  tanto  para  o  homem  como  para  o  ani- 
mal, mas  não  são  tão  simples  nem  em  casos  excepcionaes  dão 
resultados  tão  promptos  como  uma  boa  estafa  á  mão  baixa, 
provocada  contra  a  vontade  do  cavallo  por  um  bom  par  de 
esporadas  e  valentes  chicotadas. 

O  uso  do  peitoral  e  gamarra  também  dá  resultados  regu- 
lares, concorrendo  para  corrigir  os  cavallos  que  fogem  despa- 
pados;  mas  outro  tanlo  não  acontece  com  os  animaes  que 
mettem  o  bico  encapotados.  Para  estes  a  gamarra  é  mais  um 
auxiliar  do  seu  resaibo,  porque  os  faz  ainda  encurvar  mais  o 
pescoço,  podendo  por  isso  resistir  melhor  á  mão  do  caval- 
leiro. 

Ao  acabarmos  de  fallar  na  defeza  de  que  nos  estamos  oc- 
cupando,  não  podemos  deixar  de  estranhar  que  ainda  haja 
cavalleiros,  que  imaginem  poder  parar  um  cavallo  fugido, 
simplesmente  pela  tensão  forte  e  constante  das  rédeas.  Mal 
avisados  andam  aquelles  que  assim  pensam  e  procedem,  pois 
muito  longe  de  reprimirem  favorecem  a  defeza,  visto  que  não 
só  proporcionam  ao  cavallo  um  bom  ponto  de  apoio,  para 
poder  forçar  o  galope  sem  receio  de  cahir,  mas  porque  a 
pressão  constante  do  boccado  sobre  as  barras  as  adormenta  e 
insensibilisa  a  ponto  de  não  sentirem  a  mão  do  cavalleiro. 

Em  reforço  ao  que  acabamos  de  dizer  vem  a  táctica  dos 
jockeys  de  hippodromo,  que  jamais  se  aventuram  a  disputar 
seriamente  uma  corrida  sem  levarem  os  seus  cavallos  bem 
agarrados.  É  que  elles  sabem,  e  muito  bem,  que  os  cavallos 
precisam  de  apoiar-se  fortemente  na  mão  do  cavalleiro,  para 
poderem  desenvolver  toda  a  velocidade  de  que  são  susce- 
ptíveis. 

Demais,  para  que  um  cavallo  possa  ser  dominado  na  car- 
reira, é  preciso  que  o  cavalleiro  lhe  faça  aproximar  as  pernas 
das  mãos,  para  que  estas  se  alliviem  de  um  excesso  de  peso, 
que  as  sobrecarrega  e  que  concorre  para  augmentar  a  veloci- 


42 


dade  do  andamento;  ora  a  tensão  constante  das  rédeas  e  por 
conseguinte  a  pressão  do  boccado,  sobre  o  qual  o  aniraal  se 
encosta  e  estende  quanto  pôde,  além  dos  inconvenientes  já 
citados,  oppõe-se  á  aproximação  das  quatro  pernas,  e,  não 
deixando  por  isso  que  se  produza  o  refluxo  do  peso  sobre  a 
garupa,  tira  ao  cavalleiro  todo  o  dominio  sobre  o  cavallo. 

De  modo  que,  o  que  nos  parece  mais  razoável  para  abran- 
dar a  impetuosidade  de  um  cavallo  desboccado,  ou  para  o  fa- 
zer parar  na  carreira,  é  dar,  tomar  e  cerrilhar  alternada- 
mente as  rédeas,  sempre  de  harmonia  cora  a  pressão  das  per- 
nas e  de  alguns  ligeiros  ataques  de  espora,  dados  bem  atraz 
das  cilhas. 

A  acção  das  rédeas,  assim  alternadas  de  momento  a  mo- 
mento, muito  longe  de  fazer  apoiar  o  boccado  sobre  as  barras 
de  uma  maneira  continua,  o  que  lhes  paralysaria  a  circulação 
do  sangue  tornando-as  insensíveis,  fal-o  apoiar  e  desapoiar  al- 
ternadamente, de  modo  que  a  bocca  do  animal  conserva  a 
frescura  e  sensibilidade  necessárias  para  obedecer  á  mão  do 
cavalleiro.  A  pressão  ou  os  ataques  das  pernas  e  esporas,  por 
seu  lado  e  sempre  em  harmonia  com  a  acção  das  rédeas  e 
sensibilidade  dos  flancos  do  animal,  determinando  a  aproxi- 
mação das  quatro  pernas  e  por  conseguinte  o  recuo  das  for- 
ças sobre  a  garupa,  concorrem  também  para  diminuir  a  vio- 
lência do  galope  ou  para  o  sustar  inteiramente. 

Ha  ainda  um  meio  de  fazer  parar  um  cavallo  na  carreira, 
que  deve  restar  ao  cavalleiro  como  ultimo  recurso,  e  que  nos 
tem  dado  por  vezes  os  melhores  resultados.  Consiste  em  ata- 
car os  cavallos,  sccca  e  rapidamente,  com  um  par  de  espora- 
das —  logo  atraz  das  cilhas  e  sobre  a  parte  correspondente  ao 
diaphragma  —  e  cujo  eíTeito  é  contrahir  este  musculo,  que  fa- 
zendo a  seu  turno  diminuir  a  cavidade  thoracica,  expellir  o 
ar  dos  pulmões  e  afinal  encolher  todo  o  organismo,  força  o 
animal  a  parar  quasi  de  repente. 

Pelo  que  respeita  aos  cavallos  que  se  entregam  á  defeza 
de  cabritarem,  isto  é,  que  saltam  no  mesmo  terreno  ou  para 
os  lados  com  os  lombos  duros  e  de  cabeça  para  baixo,  como 
fazem  os  cabritos,  o  que  pôde  ser  proveniente  da  ociosidade, 
manha  ou  ainda  da  congocha  que  lhe  causam  os  arreios,  o 
mais  prudente  será  montal-os  depois  de  lhes  ter  feito  baixar 
os  rins  por  algumas  voltas  á  guia.  Os  passeios  á  mão  e  o  re- 
cuar podem  de  algum  modo  substituir  estes  exercícios,  e  por 
isso  se  o  cavalleiro  quizer,  ou  não  tiver  possibilidade  de  fazer 
voltear  ao  peão  um  cavallo  dado  a  estas  resistências,  poderá 


43 


como  prevenção  e  antes  de  montar,  mandal-o  passear  á  ré- 
dea ou  leval-o  a  tirar  atraz  durante  alguns  segundos. 

Mas  quando  se  é  surprehendido  sobre  a  sella  por  um 
bom  par  d'estes  corcovos,  e  os  cavallos  cora  esta  manha  não 
se  contentam  em  dar  um  nem  dois,  mas  quantos  lhe  sejam 
necessários  para  sacudirem  de  si  os  cavalleiros,  o  melhor  que 
ha  a  fazer  é  unir-se  uma  pessoa  bem  ao  animal,  procurando 
Dão  só  acorapanhal-o  com  a  flexibilidade  de  rins  em  todos  os 
seus  movimentos,  mas  dar-lhe  duas  boas  chicotadas,  para  o 
fazer  seguir  para  diante,  levantando-lhe  ao  mesmo  tempo  a 
cabeça  bem  para  cima  com  o  cerrilhar  do  bridão. 

Se  o  animal  resiste,  e  se  obstina  em  saltar  de  través,  é 
preciso  então  segural-o  pela  tracção  da  rédea  direita  e  pressão 
da  perna  do  mesmo  lado,  conjuntamente  com  a  rédea  contra- 
ria apoiada  contra  o  pescoço,  se  acaso  os  saltos  têm  logar  so- 
bre a  esquerda,  ou  vice-versa,  se  são  feitos  sobre  a  direita. 
Para  reprimir  o  cavallo  que  não  obedece  á  acção  das  rédeas, 
continuando  a  saltar  de  lado,  é  forçoso  empregar-se  vigorosa- 
mente o  chicote,  quer  sobre  a  espadoa  quer  sobre  as  ventas, 
e  de  modo  a  impedil-o  de  realisar  o  seu  intento. 

Quando  depois  d'estes  galões,  a  que  só  resiste  o  hom  cal- 
ção, toma  o  cavallo  o  expediente  de  se  atirar  em  bruscas  lan- 
ceadas para  a  frente,  a  forma  de  uma  pessoa  se  aguentar  sem 
ir  a  terra  e  com  tal  ou  qual  probabilidade  de  combater  esta 
defeza,  é  aprumar-se  sobre  a  sella,  seguir  e  secundar  os  mo- 
vimentos alternativos  da  antemão  e  postmão,  inclinando-se 
para  diante  quando  o  animal  começa  o  salto,  e  para  traz 
quando  o  termina.  Emfira,  o  sangue  frio,  que  permitte  dar  e 
tomar  as  rédeas  e  empregar  o  chicote  convenientemente,  e  a 
flexão  de  rins,  que  dá  a  principal  firmeza  a  cavallo,  são 
qualidades  indispensáveis  para  que  um  cavalleiro  possa  ven- 
cer estas  defezas.  Aos  cavallos  que  têm  congocha,  ou  que  são 
propensos  ás  cabritadas,  não  é  conveniente  apertar-lhes  de 
mais  as  cilhas. 

Os  cavallos  que  atiram  fazem-no  de  duas  maneiras  —  ou 
com  uma  só  perna,  ou  com  as  duas  ao  mesmo  tempo.  No 
primeiro  caso  diz-se  que  atiram  á  espora  e  no  segundo  que 
jogam  de  garupa. 

A  primeira  d'estas  defezas,  que  se  torna  mais  desagradá- 
vel do  que  perigosa,  e  que  procede  quasi  sempre  dos  cavallos 
terem  sido  espicaçados,  corrige-se  ordinariamente  com  algu- 
mas chicotadas  dadas  no  flanco  do  mesmo  lado  da  pernada,  e 
no  momento  era  que  o  animal  dirige  o  coice  sobre  a  espora 


14 


do  cavalleiro.  Às  flexões"  lateraes  do  pescoço,  feitas  também 
para  o  mesmo  lado  e  na  occasião  em  que  o  cavallo  atira,  con- 
correm assazmente  para  se  pôr  termo  á  defeza. 

Quando  os  cavallos  jogam  de  garupa,  o  que  nunca  pode- 
rão fazer  de  uma  maneira  accentuada,  sem  baixarem  a  cabeça 
6  sem  diminuirem  o  andamento  ou  pararem  inteiramente,  para 
melhor  concentrar  o  peso  sobre  as  espadoas  e  disparar  os  coi- 
ces, o  seu  melhor  correctivo  consiste  no  cerrilliar  do  bridão, 
nos  toques  ascendentes,  progressivos  e  vigorosos  das  rédeas, 
no  estalo  de  lingua  e  por  ultimo  nas  chicotadas.  O  chicote 
empregado  em  volta  das  espadoas  e  do  pescoço  coadjuva  a 
acção  das  rédeas  e  concorre  para  levantar  a  cabeça  do  animal, 
dado  sobre  os  flancos  fal-o  sahir  para  diante.  O  estalo  de  lin- 
gua aviva  e  anima  sem  castigar  physicamente. 

Com  os  cavallos  que  são  propensos  a  escoucinhar,  princi- 
palmente se  o  defeito  lhes  provém  do  hysterismo,  de  um  tem- 
peramento irritável  ou  nervoso,  da  sensibilidade  dos  rins,  etc, 
nunca  um  cavalleiro  deverá  fazer  uso  das  esporas,  pelo  me- 
nos emquanto  que  não  soflrerem  sem  resistência  o  seu  conta- 
cto. Esta  classe  de  cavallos  precisa  ser  tratada  com  a  máxima 
cautela  e  sem  aspereza,  fazendo  por  habitual-os  primeiramente 
á  pressão  das  pernas  e  tacões  desprovidos  de  esporas  até  que 
possam  consentir  estas  ultimas  ajudas  sem  mostrarem  impa- 
ciência. 

Quando  finalmente  um  cavallo,  para  resistir  ao  cavalleiro, 
estaca  e  se  acua,  defezas  que  quasi  sempre  se  apresentam 
juntas,  pois  raro  é  o  animal  que  se  pega  sem  acabar  por  re- 
cuar obstinadamente,  é  preciso  ser  corrigido  —  no  primeiro 
caso  —  pelas  piroetas  ao  revez  e  por  uma  boa  chicotada  sobre 
o  flanco  ao  terminar  o  movimento  rotatório,  para  que  se  re- 
solva a  sahir  para  diante.  O  estalo  de  lingua  e  a  voz  dão  or- 
dinariamente resultados  superiores  aos  que  se  tiram  da  pres- 
são das  pernas  e  ataques  das  esporas,  que  confirmam  os  ani- 
maes  nos  seus  resaibos  quando  á  sua  acção  não  estão  bem 
habituados,  por  isso  ao  cavalleiro  cumpre  empregar  de  prefe- 
rencia uns  ou  outros  meios.  Cavallos  ha  que  se  pegam  ao  sen- 
tirem as  pernas  ou  as  esporas,  e  que  deixam  de  o  fazer  e 
avançam  francamente,  desde  que  o  cavalleiro  lhe  dá  a  mão  e 
lhe  desune  de  todo  as  pernas. 

No  segundo  caso,  isto  é,  quando  os  animaes  depois  de  pe- 
gados se  acuam,  forçando  o  recuar  e  cora  elle  as  pernas  do 
cavalleiro,  ou  que  se  atirara  sobre  ellas  de  través  —  uma  es- 
pécie de  ladear  desordenado  —  ha  dois  meios  de  os  fazer  en- 


15 


trar  na  ordem  e  de  lhes  veocer  os  seus  resaibos.  O  primeiro 
consiste  em  empregar  os  processos  de  que  vimos  de  fallar  e, 
como  complemento,  os  galopes  vivos,  as  descidas  por  terrenos 
inclinados  e  lodos  os  exercícios  tendentes  a  deslocar  da  garu- 
pa um  excesso  de  peso,  que  juntamente  com  o  aborrecimento 
ao  trabalho  leva  os  animaes  a  forçarem  as  pernas  dos  caval- 
leiros. 

O  segundo  —  um  outro  correctivo  do  mal  pelo  mal  —  e 
que,  quando  ha  espaço,  também  costuma  dar  bons  resultados, 
é  coadjuvar  os  animaes  na  sua  própria  defeza,  fazendo-os  re- 
cuar ou  ladear  contra  a  sua  vontade  e  por  mais  tempo  do  que 
desejariam.  Mas  para  que  este  meio  dé  resultado  é  todavia  pre- 
ciso que  o  cavalleiro  continue  a  acção  das  ajudas,  que  forçam 
o  movimento  de  recuo  ou  lateral,  ainda  mesmo  que  presinta 
por  parte  do  animal,  que  se  defende,  vontade  de  submetter-se, 
fazendo  por  marchar  para  a  frente.  Só  depois  de  algumas  ten- 
tativas em  que  o  animal  mostre  claramente  que,  enfastiado  da 
defeza  que  iniciou  e  que  o  cavalleiro  coadjuvou,  quer  marchar 
ao  passo,  trote  e  mesmo  a  galope,  é  que  se  lhe  deverá  dar  a 
mão  fallando-lhe  e  afagando-o  para  que  reconheça  que  as  ca- 
ricias e  os  afagos  são  o  premio  da  sua  obediência. 

A  repetição  d'este  correctivo  acaba  de  ordinário  por  tirar 
aos  cavallos  a  mania  de  se  acuarem,  a  não  ser  que  tanto  esta 
como  a  defeza  precedente  tenham  por  principal  origem  algum 
defeito  de  gravidade,  como  uma  maluqueira  por  exemplo,  por- 
que então  pouco  se  poderá  fazer  sem  que  primeiro  se  debelle 
a  causa  que  as  motivou. 

O  charabrié  manejado  por  quem*  saiba  é  uma  excellente 
ajuda  para  combater,  não  só  estas  duas  ultimas  defezas,  mas 
todas  aquellas  que  levam  os  cavallos  a  resistir  ás  pernas  do 
cavalleiro;  por  isso  pôde  e  deve  mesmo  recorrer-se  a  este 
meio,  quando  todos  os  outros  se  tiverem  esgotado. 

Além  das  defezas  que  temos  apresentado,  e  que  considera- 
mos serem  as  mais  frequentes  e  perigosas,  e  por  isso  aquel- 
las que  se  torna  necessário  saber  debellar  de  preferencia,  ha 
muitas  outras  de  que  os  cavallos  se  servem  para  resistir  aos 
cavalleiros.  Como  porém  todas  ellas  se  podem  corrigir,  e  ven- 
cer mesmo  completamente,  por  uma  boa  educação,  é  a  esta 
que  se  deve  recorrer  para  tornar  os  animaes  bem  obedientes 
às  ajudas. 

As  organisações  defeituosas  também  aproveitam  com  o  en- 
sino, porque,  se  por  exemplo  se  não  pôde  dar  uns  bons  olhos 
a  um  animal  que  tem  fraca  vista,  o  que  o  leva  a  espantar-se 


16 


e  a  fugir  d'um  qualquer  objecto  que  encontre,  pôde  em  certo 
modo  mÍDorar-se  este  defeito,  tornaodo-o  obediente  a  ponto  de 
o  fazer  aproximar  de  tudo  que  lhe  é  estranho,  e  de  que  elle 
fugiria  se  não  tivesse  sido  ensinado.  Se  um  pescopo  de  veado, 
isto  é,  ás  avessas,  e  umas  espadoas  relativamente  baixas  tor- 
nam um  cava! lo  propenso  a  desboccar-se,  não  é  menos  certo 
que,  fazendo-o  metter  de  pernas  e  flexibilisando-lhe  o  pesco- 
ço, se  encontra  em  condipões  muito  diíTerentes  e  que  contra- 
riam a  sua  propensão  natural.  E  como  estes,  todos  os  outros 
defeitos  que  não  sejam  compatíveis  com  os  serviços,  que  os 
cavallos  podem  prestar,  são  susceptíveis  de  desapparecer 
um  pouco  ou  de  todo  logo  que  se  recorra  ao  ensino  ra- 
cional. 

Dissemos  que  para  se  combaterem  as  defezas,  com  tal  ou 
qual  probabilidade  de  bom  êxito,  era  preciso  antes  de  tudo  co- 
nhecer a  origem  das  resistências.  Repetimol-o  ainda,  pois  es- 
tamos convencidos  que,  sem  esta  prevenção,  muitos  cavallos 
que  poderiam  continuar  a  prestar  bons  serviços,  se  tornam 
rebeliões  e  se  arruinam,  quando  forem  corrigidos  em  deshar- 
monia  com  a  causa  que  os  tornou  resistentes. 

Os  cavallos  novos,  os  fracos  e  os  doentes,  por  exemplo, 
não  podem  ser  tratados  por  qualquer  falta  que  commettam 
pela  mesma  forma  que  o  deveriam  ser,  se  a  sua  idade,  forças 
e  saúde  o  permittissem.  No  mesmo  caso  está  o  cavallo  igno- 
rante com  relação  áquelle  que  tem  um  bom  ensino.  O  segundo 
deve  ser  corrigido  de  qualquer  resistência,  quer  dispondo-lhe 
as  forças  e  o  peso  de  modo  a  impedir  as  posições  falsas  que 
dão  logar  ás  resistências;  quer  vencendo  as  defezas,  que  estas 
originara,  por  meio  do  castigo  que  todavia  será  applicado  com 
o  maior  decernimento  e  sempre  em  harmonia  com  as  fal- 
tas e  sensibilidade  do  animal.  Outro  tanto  não  deverá  ter 
logar  com  o  primeiro,  que,  não  sabendo  o  que  se  quer  exi- 
gir d'elle,  nem  saberá  nem  poderá  obedecer  melhor  por  ter 
sido  castigado. 

Quanto  aos  cavallos  novos,  fracos  e  doentes,  que  com- 
metterem  qualquer  falta,  o  melhor  correctivo  será  deixal-os 
adiantar  na  idade,  dar-lhes  forças  por  meio  de  uma  boa  ali- 
mentação, tratal-os  dos  seus  achaques  esperando  que  se  res- 
tabeleçam inteiramente.  Em  seguida  uma  boa  educação  fará  o 
resto. 

Com  relação  a  todos  os  outros  cavallos  e  ás  suas  resistên- 
cias proceder-se-ha  sempre  em  harmonia  com  o  que  acabamos 
de  expor. 


17 


Ao  concluir  diremos :  que  todo  aquelle  que  se  prezar  de  sa- 
ber ser  cavalleiro,  deverá  sempre  levar  os  cavallos  com  a  má- 
xima cautela  e  brandura,  fazendo  antes,  e  n'isto  mostrará  o 
seu  talento,  por  prevenir  e  evitar  as  resistências  do  que  por 
corrigir  e  vencer  os  resaibos  ou  defezas  em  que  ellas  quasi 
sempre  degeneram. 

Guimarães  —  Janeiro  de  18D0 . 


José  Martlns  de  Queiroz. 


7.»  Anno. 


DOCUMENTOS    INÉDITOS 


DOS 


SÉCULOS     XII-XV 
(Continuado   do   vol.    anterior,    pag.   147) 


MOSTEIEO    DE    SOUTO 

xxxyn 

1328 

Sabbam  todos  que  eu  Joham  de  souto  e  eu  margarida  rro- 
driguiz  sa  molher  moradores  da  freyguisia  de  saneia  maria  de 
souto  e  eu  maria  periz  ffillia  que  ffui  de  pêro  martins  de  poom- 

Lal  de  nosas liures  uoontades  e  de  nosso  prazer  íTaze- 

mos escambho que  uos  Joham  de  souto  e  a  dita 

uossa  molher  que  aiades  para  todo  sempre  o  meu  quinhon  que 
eu  maria  periz  ey  nas  duas  cassas  do  negral  e  todo  o  dereito  e 
quinhon  que  eu  ey  no  parede  eyro  do  poombal.  [tem  (?)  eu 
Joham  de  souto  e  eu  sa  molher  margarida  rrodriguiz  damos 
a  uos  maria  periz  em  escambho  para  todo  sempre  por  esto 
que  nos  uos  destes  todo  o  nosso  quinhon  do  parede  eyro  da 

penela  que  se com  a  adega  de  Domingos  ioanes  da  pe- 

nela  e  todo  o  nosso  quinhon  da  leyra  das  nugueyras  da  penela 
que  esta  a  cabo  das  nugueyras  e  mandamos  e  outorgamos  que 
esta  partiçom  que  ualha  para  todo  sempre  e  o  que  contra  ela 
for  que  Ihj  non  ualha  e  demais  que  pecte  aa  parte  estauil  d. 
soldos  e  estas  parliçoens  auerom  cada  huum  assy  como  dito 
he  e  como  diuisado  íTeito  foy  em  na  casa  dos  tabelioens  onze 
dias  de  íTeuereyro  era  de  mil  e  trezentos  e  saseenta  e  seis 
anos.  testemunhas  ffrancisco fernandiz.  Urancisco 


19 


de  conçioyro  tabelioens  e  Stevorn  (?)  periz.  martim  anes  tabe- 

lioens  e  outros que  este  prazo  partido  per  a.  b.  c.  escre- 

uj  meu  sinal  pugj  em  testemonho  destas  cousas  +. 

Eu  ffrancisco  do  paço  testemunha  sobredita  aqui  meu  syg  -f 
nal  pugj. 


xxxATn 

1328 

Sabbam  todos  quantos  esta  carta  de  doaçom  uirem  como 
nos  Domingos  Steuez  dito  Grego  e  eu  Marinha  martins  sa  mo- 
llier  moradores  na  ffreguissia  de  ssam  iVligel  de  gonça  de  nos- 
sas boas  liures  uoontades  e  sem  outro  costrangimento  nenhum 
fazemos  carta  de  doaçom  a  uos  Gonçalo  periz  caonjgo  de 
Gujraaraens  dito  de  ssouto  de  toda  a  parte  e  derejto  e  qui- 
nhom  que  nos  auemos  na  lejra  de  sso  a  vossa'quintaan  dojteiro 
a  qual  lejra  parte  da  huma  parte  cono  casal  de  ssam  Dâmaso,  e 
da  outra  parte  como  (?)  parte  cono  bacelo  de  Paaj  paez.  Outrosj 
llij  fazemos  carta  de  doaçom  de  todo  o  outro  derejto  e  parte  e 
qiiinhom  que  nos  auemos  na  lejra  da  vinha  que  Joham  Joanes 
demandou  a  Paaj  paez  a  qual  parte  com  essa  vinha  de  Paaj  paez. 
E  outrosj  Ihj  fazemos  carta  de  doaçom  de  todo  o  outro  derejto 
e  parte  e  quinhom  que  nos  auemos  que  chamam  riba  de  sselho 

hu  estam  as  carualhas  como  parte a  qual  ias  apar  do 

bacelo  de  Joham  ioanes  e  esto  todo  uos  damos  com  todas  sas 
entradas  e  saidas  e  com  todos  seus  derejtos  e  perteenças  per 
hu  as  uos  melhor  poderdes  auer  e  achar.  E  esto  uos  fazemos 
por  muito  bem  e  por  muita  ajuda  que  de  uos  sempre  recebe- 
mos. E  renunciamos  que  nunca  per  nos  nem  per  outrem  que 
nunca  vaaraos  contra  estas  doaçoens  so  pea  de  quinhentos  sol- 
dos e  esta  carta  valer  para  como  dito  he.  feito  foj  esto  na 

almo a  de  Gujmaraens.  vynte  e  sejs  djas  dojtubro.  era 

de  mil  e  trezentos  e  sasseenta  e  sejs  anos.  testemunhas  Gil 
mateus.  Martim  sabugejro  do  Castelo.  Cibraoom  gonsalves  de 
randuífe.  Pêro  ílilho  de  Sancha  (?)  cachom.  Domingos  stevez 
tabaliom  de  Gujmaraens  e  outros  e  Eu  íTrancisco  giraldez  pu- 
blico tabaliom  da  dita  vila  que  a  rogo  e  per  mandado  dos  so- 
breditos esta  carta  destas  doaçoens  screuj  e  meu  sig  +  iial 
hj  pugj  que  tal  he.  Eu  Domingos  Steuez  testemunha  sobredita 
pugj  aqui  meu  sinal  que  tal  he  +• 


20 


XXXIX 

1328 

Sabbam  quantos  este  strumento  virem  e  leer  ouuirem  que 
em  presença  de  mjm  Gonçale  anes  tabelliom  delrej  na  cidade 
do  Porto  e  das  testemunhas  que  adeante  ssam  scritas  ffernam 
martins  da  Tejxejra  caualejro  Comendador  do  Alandroal,  deu 
por  quite  para  sempre  o  priol  e  conuento  do  raostejro  de 
ssouto  de  riba  daue  per  razom  dos  dez  maravidis  que  dezia 
que  Ihis  demandaua  que  Ihj  dessem  em  cada  huum  ano  da  erda- 
de  da  vila  chaa  que  dizia  que  Ihis  dera  que  Ihj  cantassem  missas 
assy  como  he  conteúdo  em  huum  compromisso  ffeito  per  maom 
de  Domingos  (?)  Tomas  taballiom  que  ffoj  de  Bragaa  e  renunciou 
que  ia  mais  non  podesse  dizer  o  contrayro  nem  os  demandar  em 
juizo  nem  íTora  de  juizo  ascondudamente  nem  craramente  e  sse 
os  demandar  non  ualha.  E  esto  Ihis  ífapo  por  auer  deus  merçe 
aa  ssa  minha  alma  e  a  da  molher  com  quem  stiuera.  E  por  ver 

as  cinquo  libras dizia  que  deles  recebia  de  que  sse 

daua  por  bem  entregue  e  bem  pagado  e  renunçiaua  que  non 
podesse  dizer  ende  o  contrayro.  E  desto  mandaua  dar  huum  stru- 
mento ao  dito  abbade  e  conuento.  ífeito  foj  esto  na  Cidade  do 
Porto  dous  dias  de  nouembro.  Era  de  mil  e  trezentos  e  sas- 
seenta  e  seis  anos.  testemunhas  Gonçalo  gomes.  Vaasco  paez 
flfreyres  da  ordem  dauis.  Ayres  martins.  Pêro  martins  ffreyres 
da  ordem  de  Jehu  Christo.  Domingos  martins.  Joham  duraens 
íTrades  de  Souto  e  outros  mujtos.  Eu  Gonçale  anes  tabelliom 
delrej  na  dita  cidade  per  mandado  do  dito  comendador  este 
strumento  screuj  e  aqui  meu  sinal  pugj  que  tal  he  +. 


XL 

1328 

Sabbam  todos  que  em  presença  de  mjm  Girai  Stevez  ta- 
baliom  de  Guimaraens  e  das  testemunhas  aqui  scriptas  per  an- 
tre  Gonçalo  martins  Juiz  da  dita  vila  Dora  Domingos  dominguiz 


21 


priol  do  mosteiro  do  Souto  fez  leer  huum  scripto  do  qual  o 
teor  lai  e.  Era  mill  trezentos  saseenta  e  seis  anos  doze  dias 
de  Julho  preytegou  o  priol  com  Martim  periz  da  bouça  e  com 
Domingos  dulueyra  e  com  Domingos  martins  que  Ihj  britem 
pedra  para  a  casa  da  adegua  e  para  a  casa  da  enfermaria  a 
tanta  e  quanta  abaste  todo  o  lauor  e  em  como  foy  diuissado  e 
em  como  digua  he  maester  que  conprissem  tal  pedra  qual  o 
maestro  uir  que  conpre  para  o  lauor.  E  eu  priol  deuolhis  de 
dar  aos  sobreditos  por  mjm  britarem  a  dita  pedra li- 
bras em  dinheiros  e  huum  pupal  de  vinho  e  non  mais  assi  em 
como  o  merecerem  e  os  sobreditos  se  obrigarom  todos  ensom- 
bra e  cada  huum  per  si  a  conprir  todo  isto.  E  o  priol  sobrigou 
a  pagarlhis  as  ditas  libras  e  vinho  assi  em  como  susso  dito  e. 
o  qual  escripto  leudo  per  antre  o  dito  Juiz  e  per  antre  as  de 
susso  ditas  partes  julgou  per  sentença  que  os  de  susso  ditos 
homeens  conprissem  e  desse  a  dita  pedra  como  conprisse  ao 
maestre  da  obra  de  guisa  e  de  maneyra  que  lha  dessem  toda  a 
que  mester  ouuesse.  assy  em  como  preytegarom  ata  doze  dias 
de  julho  priraeyro  que  uem  senon  que  Ihj  fossem  eles  tuudos 
aas  perdas  e  damnos  que  o  dito  priol  hj  recebesse,  e  que  o 
dito  Ihis  desse  o  que  Ihis  ouuera  de  dar  como  o  eles  mereces- 
sem, feito  foi  isto  em  Gujmaraens  vynte  e  seis  de  nouembro 
E.*  M.*  Gcc*  sasseenta  e  seis  anos.  testemunhas  Martim  aíToa- 

so.  íTernam  giraldiz.  Girai  uicente.  ffrancisco  da taba- 

liom  e  outros  e  eu  tabaliom  a  esto  fuj  presente  e  este  stru- 
raento  screuj  e  meu  sinal  hy  pugi  +. 


XLI 

1328 

Sabbam  lodos  que  eu  Nuno  gonpalves  cavaleiro  filho  que 
fuy  de  Gonçalo  martins  camelo  vendo  a  vos  Dom  Domingos 
domingues  priol  do  mosteiro  do  Souto  huma  tulha  que  eu  te- 
nho na  íTreguesia  desse  mosteiro  no  logar  que  chamam  a 
corte  que  vos  aiades  a  dita  tulha.  e  aqueles  a  quem  vos  prou- 
ger  e  ffaçades  dela  como  de  vosa  preço  que  de  vos  reçebj 

convém  a  saber  trynta  e  quatro  libras  é de  dinheiro 

portuguez  (?)  e  sa  reuora  caa  tanto  a  mjm  e  a  vos  aprougue 
e  do  preço  nem  da  reuora  nada  non  ficou  por  dar  por  en  aia- 
des a  dita  tulha  como  dito  he  para  sempre  as  quaes  libras  eu 


22 


Nuno  gonçalves  repebj  per  esta  guisa  vynte  e  nove  libras  e 
meia  (?)  per  huum  prazo  que  eu  deuia  ao  dito  priol  ífeito  per 

maom  de   Pêro  salgado,  o  qual  praso  leudo  foj todo 

per  dante  mjm  tabaliom  e  cinquo  libras  de  portugal  (?)  em  di- 
nheiro as  quaes  libras  forom  recebudas e  renuncio  que 

non  possa  dizer  que  a  dita  contia  das  trynta  e  quatro  e  meia  (?) 

non valha  em  juizo  nem  fora  de  juizo  e  quem  contra 

esto  vier  pede  aa  parte  outorgante e  esto  valer  para 

sempre  íTeilo  foj  esto  em  Guimaraens  quatorze  dias  de  dezem- 
bro Era  de  mil  e  tresentos  e  sasseenta  e  seis  anos.  testemu- 
nhas martim  periz  escudeiro  e  ffrancisco  bordom  e  Lourenço 
ffernandes  e  Joham  mesurado  (?)  e  Affonso  homem  do  dito 
priol  e  outros  e  Eu  Domjngos  Stevez  tabaliom  de  Gujmaraens 
que  a  esto  presente  fuj  e  aqui  meu  sinal  pugj  que  tal  he  -{-• 


XLn 

1329 

Sabbam  Iodas  que  eu  Dom  Domingos  domingues  priol  do 
mosteiro  de  Souto  dou  a  nos  Senhorinha  anes  mulher  que  foj 
de  Martim  redondo  de  Greiximil  o  noso  herdamento  que  nos  e 

o  noso  mosteiro  auemos  em  Loordello  e  em per  tal 

preyto  e  condipom  que  uos  que  o  aiades  era  vosa  vida  e  de- 
des  ende  em  cada  huum  anno  ao  dito  mosteiro  de  Souto  dous 
congros  para  reconhecimento  em  dia  de  santandré  e  ata  dia  de 
Natal  em  paz  e  em  saluo  em  no  dito  mosteiro  e  non  nos  dando 
vos  que  dedes  ao  dito  mosteiro  dez  soldos  para  el.  Eu  Senho- 
rinha anes  obrigo  mjm  e  todos  meus  beens  que  non  vaa  contra  o 
dito  mosteiro  em  todo  tempo  da  minha  vida  nem  os  meus  Glhos 

outrosj  non em  minha  vida  em  quanto  non  forem  de  reuo- 

ra  e  sem  (?)  que  (?)  eu  pida casal  que  o  meu  marido  non 

vaa  hj  contra  e  des  que  os  meus  filhos  forem  de  reuora  que  vaam 
ao  seu  dereito  e  deuo  eu  de  começar  dauer  este  herdamento 
des  dia  de  san  Jhoane  adeante  e  aa  morte  de  mjm  Senhorinha 
anes  o  dito  herdamento  fique  liure  e  em  paz  e  com  toda  sa 
bemfeitoria  ao  dito  mosteiro  e  quem  contra  isto  vier  peyte 
quinhentos  soldos  e  esto  valor  como  dito  he.  ffeito  foj  esto  em 
Gujmaraens  vynte  e  nove  dias  de  dezembro  Era  de  mil  e  tre- 
zentos e  sasseenta  e  sete  annos.  testemunhas  Johane  stevez 
e   Gonçalo  anes  (?)   e  Lourenço  íTernandes  e  Pêro  colaço  e 


23 


Aífonso  homem  do  priol  e  outros  e  Eu  Domingos  stevez  taba- 
liom  de  Gujmaraens  que  a  esto  presente  fuj  e  aqui  meu  sinaí 
pugj  que  tal  lie  +• 


XLin 
1331 

Sabbam  todos  quantos  este  strumento  virem  como  eu  affon- 

30  periz  de  ssouto  Qlho  de  Pêro  periz mando  e  outorgo 

que  Joham  Joanes  das  quintaans  e  sa  molher  Domingas  periz 
lenham aquele  cassai que  mercou  o  dito  meu  pa- 
dre o  qual  eu  tenho  per  praso  do  mostejro  de  Souto  per  esta 
gujsa  conuem  a  saber  deste  sam  Johane  Bautista  primejro  que 
vem  a  dez  anos  compridos  per  tal  prejto  e  condicom  que  eles 
que  o  laurem  e  aíTrujtem  e  chantem  e  façam  toda  bemfejtoria 
que  poderem  e  que  paguem  os  seus  derejtos  ao  dito  mostejro 
assj  como  os  eu  auja  de  pagar  e  que  dêem  ende  a  mjm  de 
cada  ano  huma  teiga  de  milho  pela  noua.  E  os  ditos  dez  anos 
acauados  Qcar  a  mym  meu  emprazamento  com  toda  sa  bemfejto- 
ria. E  quem  contra  esto  quiser  vjr  pejte  quinhentos  soldos  e 
esto  valer  como  dito  he.  ffeita  foj  esta  em  Guimaraens  na  Crasta 
de  santa  Maria  primo  dia  de  m^ijo  Era  de  mil  e  trezentos  e 
sasseenta  e  noue  anos.  testemunhas  ITrancisco  bordom  caonjgo. 

Joham   domingues.    Pêro caonjgos  do   dito   mostejro. 

Pêro  anes  clérigo  (?)  de  Guimaraens.  Aífonso  periz  abbade 

Garífi  e  outros  e  Eu  ífrancisco  giraldez  publico  tabeliom  de 
Guimaraens  que  este  screui  e  meu  signal  hj  pugi  que  tal 
he  -I-. 


XLIY 

1332 

Sabbam  todos  que  em  presença  de  mim  stevora  (?)  aíTonso 
tabeliom que  adeante  som  scriptas  Joham  paez  do  Sa- 
bugal por  ssi  e  per  ssa  molher e  meteu  em  posse  o 

priol  e  conuento  do  mosteiro  do  Souto  do lobeyra  que 

iaz  a  par  do  casal  dos  cachos  o  qual  diziam  que  fora  de 


24 


per  chaue  e  per  colmo  e  per  terra  e  por  esto  disse  que  Ibj 

entregue que  Ihjs  assignarom  conuem  a  ssaber  o  ca- 
sal dalvelhe dandre  martins  e  no  casal  do  eido  e  na 

casa  da  Lagara  (?) pelos  ditoscasaes  e  logares  onze 

libras  e  meja  de  cada  anno contendo  nos  strumentos 

ífeitos  antre  o  dito  Joham  darouca e  tragia  o  casal 

da  Lobejra  íTicou  de  maom  do  dito  priol  e dar  toda 

a    rrenda   do   dito    casal    ao    dito   conuento   que   auia    car- 
ta    molher  e  andré  martins  da  corredojra  que  mora  no 

casal  de os  outros  logares  e  quinhoens  do  dito  Joham 

paez  e  ssa  molher dito  priol  e  conuento  por  esta  guisa 

que  aquilo  que  minguar  ao  dito onze  libras  e  meja  que 

se  as  non  ouuerem  pelo  casal  de  Lobejra pelos  ditos 

logares  que  tragia  dos  ditos  Joham  paez  e  ssa e  loga- 
res iazem  na  íTreyguisia  de  san  Cosmade  de  Lobejra 

martins  ecclesiasticos  (?)  do  dito  mosteiro  em  nome  do  dito 

Priol  e  Conuento e  posse  dos  ditos  casaes  e  herdades 

para  auer  pelos onze  libras  e  meya  de  cada  ano.  E  o 

dito  Joham  paez  por  ssj  e para  pagar  encargos  ou  tre- 

butos  alguuns  seos  alguém  ouuer e  herdades  das  quaes 

cousas  os  ditos  ecclesiastigos  (?)  pedirom  a  mjra ffeito 

ffoy  no  dito  casal  de  Lobeyra  doze  dias  de  janeiro  (?) e 

seteenta  anos.  testemunhas  o  dito  andre  martins.  affonso  periz 

homem anes  ífiiho  da  dita  Maria  martins.  Martim  do- 

mingues  creado  de do  dito  Marlim  e  outros  e  Eu  tabe- 

liom  sobredito  que slrumento  ende  screuj  e  meu  sig  -[- 

nal  aqui 


XLV 

1336 

In  nomine  domini  amen.  Sabbam  todos  que  eu  Margarida 
anes  molher  que  ffuj  de  Gonçalo  boyam  mercador  que  ÍToj  em 
Guimaraens  e  eu  Joham  periz  seu  ífiiho  da  dita  Margarida  anes 
ecclesiastigo  (?)  do  mosteiro  da  costa  testamenteiros  do  dito 
Gonpalo  boyam  e  mais  Joham  lopes  e  ssa  molher  Catalina  gon- 
çalves  e  eu  Margarida  gonpalves  jenrro  e  ífilhos  do  dito  Gon- 
çalo boyam  e  da  dita. Margarida  anes  todos confessamos 

que  recebemos  e  ÍTazemos cabeça  com  Petro  affonso 

mercador  por  rrazom  das  seixcentas  libras  de  dinheiro 


25 


do  dito  Gonçalo  boyam  e  confessamos  que  recebemos  dei 

de  todo  o  dito  cabedal e  do  que  el  hj  meteu  como  do 

gaanho  e  melhoria  que  deus  hj  deu.  E  confessamos  que  rece- 
bemos dei  todo  o  dito  cabedal e  toda  a  nossa  parte  a 

quinhom  que  auiamos  auer  e  nos  acontecia  do  gaanho  do  dito 
cabedal.  E  outorgamos  ende  por  bem  pagados  e  por  bem  en- 
tregues. .....  aa  lej  de  in  numinata  pecunia  (?)  que  non  pos- 
samos dizer  em  huum  tempo  que  o  dito  auer  non  rrecebemos 

por  ende  damos  por e  ssa  molher  e  todos  seos  sucçes- 

sores  que  nos  nem  outrem  por  nos por  a  dita  rrazom 

possamos  demandar  em  jujzo  nem  ffora  de  jujzo.  E  quem 
contra  esto  ueer  non  Ihj  ualha  e  peite  a  uos  ou  a  quem  uossa 
uoz  ouuer  quinhentos  soldos  dobrados  e  esta  carta  e  quitaçom 
todauia  uaier  e  seer  ffirme  e  stauel  para  sempre.  ífeita  a  carta 
em  Gujmaraens  em  casas  (?)  da  dita  Margarida  anes  vynte  e 

dous  dias Era  de  mil  e  trezentos  a  seteenta  e  quatro 

anos.  testemunhas  Joham  martins  Gonçalo  iniguez  (?)  e  Gon- 
çalo martins  alffayates.  Domingos de  Petro  affonso.  Gil 

martins  ffilho  de  Martim  saluadorez.  Joham  lourenço  homem  do 
dito  Joham  periz  e  outros  e  Eu  Joham  aíTonso  tabelliom  de 
'Gujmaraens  por  mandado  das  partes  este  strumento  e  carta 
screuj  e  meu  signal  aqui  pugi  que  tal  he  +  em  testemoynho 
de  uerdade. 


XYLI 
1336 

Sabbam  quantos  este  estrumento  de  composiçom  virem  que 
eu  dom  Domingos  dominguez  priol  do  mosteiro  de  Souto  do 
julgado  de  Guimaraens  por  mjm  e  pelo  dito  meu  mosteiro  e 
conuento  de  huma  parte  e  eu  Guyomar  martins  redonda  ÍTilha 
de  iViartim  anes  redondo  (?)  molher  que  íToj  de  Lopo  aíFonso 
dalgaens  da  outra  parte  ífazemos  antre  nos  tal  composiçom  e 
aueença  que  valha  para  sempre  era  esta  guisa.  Eu  priol  por 
mjm   e  pelo  dito  mosteiro  e  conuento  dou  a  uos  Guyomar 

martins  e  a  toda  a  uossa oo  herdamento  que  eu  e  o 

dito  mosteiro  e  conuento  auemos  em  algaens  que  uos  ho  aia- 
des  de  monte  em  íTonte  com  todos  seus  dereitos  e  perteenças 
para  sempre  o  qual  ora  uos  Iragedes  aa  uossa  maaom  e  a 
uossa  posse  que  he  na  íTreguessia  de  sauta  Maria  do  mosteiro 


26 


dadauíTe.  Ea  Guyomar  marlins  por  este  herdamento  dou  a  uos 
priol  e  ao  dito  uosso  mosteiro  e  conuento  vynte  ssoldos  de 
rrenda  em  cada  hum  ano  para  sempre  por  dia  de  ssam  Migel 
de  setembro  pelo  herdamento  que  eu  ej  em  Vilela.  E  douuos 
comprido  poder  que  ao  dito  dia  por  uossa  auturjdade  penhore- 
des  e  co^'trangades  no  dito  herdamento  pelos  ditos  vynte  ssol- 
dos como  em  uosso  próprio  herdamento  o  qual  herdamento  de 
mjm  trage  Johane  sleuez  de  quinteela.  E  logo  eu  Guyomar 
martins  uos  meto  em  posse  da  renda  dos  ditos  vynte  ssoldos 

pela e  terra  e  pedra  e  mando  ao  dito  Johane  stevez 

que  uolos  de.  E  o  dito  priol  assjm  recebeu  a  dita  rrenda  e 
posse  de  maaom  da  dita  Guyomar  martins  e  de  seu  mandado. 
E  o  dito  Johane  stevez  fficou  que  de  ao  dito  priol  e  mosteiro 
os  ditos  vynte  ssoldos  em  quanto  que  ouuer  o  dito  herda- 
mento  seu   poder  aa  dita  Guyomar  martins  que  por  sj 

possa  receber  a  posse  e  propriadade  da  dita  herdade  dalgaens 

que  Ihj  deu contra  este  nosso  ífeito  quizer  vijr  non  Ihj 

seia  outorgado  e  peite  aa  parte  outorgante  quinhentos  ssoldos 

e  o  dito  escambo  valher em  Vilela  vynte  e  quatro  dias 

de  julho  Era  de  mil  e  trezentos  e  setaeenta  e  quatro  anos.  tes- 
temunhas Affonso  perez  abbade  de  garíTj Villela.  Mar-' 

tim  garcia  dalgaens  e  Gonçalo  de  garfj  e  Gonçalo  gil  ffilho  de 
Gil  de  ffreitas  e  outros  e  eu  ffernam  anes  labelliom  delrei  em 
terra  de  Lanhoso  que  aas  ditas  cousas  presente  íToj  e  este  es- 
Irumento  e  outro  tal  simelaute  huum  a  outro  por  mandado  das 
ditas  partes  escrevj  e  em  cada  huum  meu  signal  pugj  que 
tal  -{-  he. 

XLvn 

1338 

Sabbam  todos  quantos  esta  carta  desta  venda  uirem  como 
eu  Gonçalo  de  prado  mercador  de  Guiraaraens  vendo  a  uos 
Domingos  anes  ffilho  de  Joham  periz  das  quintaans  e  de  Maria 
domingues  e  ssobrinho  de  dom  Domingos  dominguez  priol  do 

mostejro  de  Souto  trez  libras  o  meja  de  dinheiro  port 

para  todo  sempre  que  uos  as  aiades  por  toda  a  minha  herdade 
que  eu  ej  em  lobejra  íTreguessia  de  ssam  Gosmade  de  lobejra 
e  sse  as  por  hj  non  auerdes  que  uos  as  aiades  por  toda  a  ou- 
tra minha  herdade  e  todolos  outros  meus  moujs  e  raiz  ganha- 
dos e  por  ganhar.   E  estas  três  libras  e  meia  auerdes  cada 


27 


ano  era  dia  de  páscoa  com  as  outras  sete  libras  que  ia  por 
hj  auedes  Esto  uos  íTapo  por  preço  nomeado  que  de  uos  recebj 

conuem   a  ssaber   sasseenta   libras   de   dinheiro   port 

e  s?a  reuora  ca  a  tanto  a  uos  e  a  mjm  prougue  por  ende  aia- 
des  uos  e  a  quem  a  uos  aprouger  para  sempre  as  ditas  três  li- 
bras e  meia  como  dito  he.  E  mando  outorgo  que  uos  aiades  po- 
der de  penhorar  e  costranger  na  dita  herdade  e  nos  outros  meus 
beens  todos  por  as  ditas  libras  assij  como  era  uossa  herdade 
própria  e  ssem nem  huma  as  quaes  libras  fforom  con- 
tadas por  dante  mjm  tabaliom  e  por  dante  as  testemunhas  aqui 
scritas  e  recebidas  por  o  dito  Gonçalo  de  prado.  E  quem  con- 
tra esto  íFor  pejle  quinhentos  soldos  e  esta  carta  valer  e  tere 
para  sempre  como  dito  he.  ffeita  a  carta  no  mostejro  de  Souto, 
vynte  dias  de  Julho.  Era  de  mil  e  trezentos,  e.  sateeuta  e  seis. 
anos.  testemunhas  Pêro  Irmaoom  do  dito  Gonçalo  de  prado,  dom 
Domingos  domingues  priol  do  mostejro  de  Souto.  Marlim  anes 

ífilho  do  dito  priol.  Domingos  Joanes Domingos  Lourenço 

íTrade  de  Souto  e  outros  e  Eu  ffrancisco  geraldes  publico  ta- 
baliom de  Guimaraens  que  esta  carta  screuj  e  meu  signal  hj 
pugi  que  tal  he  -f . 


XLYIII  ' 

1338 

Sabbam  quantos  este  strumento  virera  que  em  presença  de 
mjm  ffrancisco  geraldes  publico  tabaliom  de  Guimaraens  e  das 
testemunhas  aqui  scritas  Gonçalo  de  prado  outorgou  e  meteu 
em  posse  Domjngos  anes  ífilho  de  Joham  periz  das  quintaans 
e  de  Maria  dominguez  e  ssobrinho  de  dom  Domingos  domin- 
guez  priol  de  Souto  do  cassai  de  Gouas  que  he  na  ffreguessia 
de  ssam  Cosraade  da  lobejra  que  o  dito  Domjngos  anes  aia 
para  sempre  e  quem  a  ele  aprouger  por  o  dito  cassai  e  por 
toda  a  outra  herdade  do  dito  Gonçalo  de  prado  três  libras  e 
meia  com  as  outras  ssete  que  ia  a  por  o  dito  cassai  e  herdade 
assj  como  mais  compridamente  he  contendo  nas  cartas  da  ven- 
da, esta  entrega  e  posse  ihj  ffez  por  chaue  e  por  pedra  e  ter- 


Está  escripto  no  mesmo  pergaminho  do  antecedente. 


28 


ra  e  telha  e  disse  que  por  este  logar  o  metia  em  posse  de 
toda  a  herdade  que  hj  auia  e  nos  outros  logares  para  auer  por 
eles  as  ditas  libras  e  para  penhorar  era  ela  por  elas  assj  como 
nas  carias  das  vendas  he  conteúdo.  E  o  dito  Domjngos  anes 
ííilhou  logo  a  posse  assj  do  dito  cassai  e  herdade  por  as  ditas 
coussas  que  Ihj  era  entregue  E  Martinho  ffilho  de  Mateus  que 
moraua  no  dito  cassai  fficou  logo  para  dar  e  pagar  de  cada 
ano  ao  dito  Domjngos  anes  as  ditas  libras  ffeito  ífoj  esto  em 
no  dito  cassai  vynte  dias  de  Julho  Era  de  mil  e  trezentos  e 
sateenta.  e.  seis.  anos.  testemunhas  Pêro  Irmaoom  do  dito  Gon- 
çalo de  prado.  Johane  anes  cerejro  de  Guimaraens.  dom  Do- 
mingos domingues  priol  de  Souto.  Martim  anes  ffilho  do  dito 
priol.  Martinho  morador  no  dito  cassai  e  outros  e  eu  ífrancisco 
geraldez  publico  tabaliom  de  Guimaraens  que  este  strumento 
screuj  e  meu  signal  hj  pugi  que  tal  he  +• 


XLIX 
1339 

Sabbam  todos  que  por  dante  o  honrrado  varom  dom  Ste- 

uora   (?) da  Eigreia  de  Bragaa  e  vigajro  geeral 

senhor  dom   Gonpalo  pela  mercee  de  deus  e  da  santa  Eigreia 

de  Roma  arcebispo  desse  logar  presente  mjm  aífonso 

tabaliom  de  Bragaa  e  as  testemunhas  adeante  scriptas  íTrancisco 
martins  abade  de  santa  Christinha  de  longos  emprazou  o  casal 
que  chamam  dos  ffaragonços  que  iaz  na  ffreguesia  de  Cor- 
uite  a  Domingos  martins  presente  e  a  sa  molher  Senho- 
rinha anes  non  presente  e  a  huma  pessoa  depôs  eles  qual  o 
postriraeiro  deles  nomear  ao  seu  falecimento  em  esta  guisa  e 
com  esta  condiçom  que  a  dita  eigreia  ponha  mordomo  em  ca- 
da huma  no  ao  pam  e  ao  vinho  e  ao  linho  que  Deus  der  no 
dito  casal  e  darem  o  terço  de  todo  pam  e  do  linho  também 
do  temporaaom  como  do  serodeo  e  trez  teigas  de  milho  ou  de 
centeo  pela  noua  de  Guimaraens  como eyradigo  e  da- 
rem a  meyadade  do  vinho  e  hum  puçal  deyradigo  e  darem 
cinquo  libras  de  dinheiro  por  todas  derejturas  e  por  pedida  e 
por  meytigas  e  por  jeyra  por  dia  de  sam  Martinho  de  nouem- 

bro  e luytosa  enteyra.   E  deuem  as  ditas  pessoas  no 

dito  emprazamento  chantar melhorar  e  fazer  em  el 

quanta  bemfeitoria  fazer  poderem  e  non  o  deuem  uender  obri- 


29 


gar  alhear  nem  apenhorar nem  a  caualeiro  nem  a  ou- 
tro poderoso  que  o  tenha  senon  aa  tal  se  acontecer  que  seia 
de  sa  condiçom  e  de  que  a  dita  Eigreia  possa  auer  bem  para- 
dos os  seus  dereitos  nem  deuem  em  alhaar  a  propriedade 

nem  a  tentaçom  do  dito  emprazamento  deuem  ser  obedientes 

aa  dita  eigreia  e  non  chamar  outro  senhor  que  ela  nem 

deuem  do  dito  emprazamento  fazer  seruifo  a  nenhum  outro 
nem  crear  hj  ffilho  nem  ffilha  dalgo  nem  outro  poderoso  e  se 
aqueecer  contenda  sobre  este  praso  seiam  teudos  a  respon- 
der pola  eigreia  de  Bragaa  e  se  contra  estas  sobreditas  ou 
contra  cada  huma  delas  quiser  vijr  que  perca  o  dito  empraza- 
mento e  o  derejto  que  hj  ouuer  e  depôs  morte  das  ditas  pes- 
soas o  dito  emprazamento  com  toda  sa  bemfeitoria  deue  Gear 
liure  e  em  paz  aa  dita  Eigreia  e  se  cada  huma  das  ditas  pes- 
soas contra  o  dito  emprazamento  quiser  vijr  que  peyte  aa 
outra  parte  d.  soldos  e  o  praso  fique  em  sa  íFirmidom  para 
sempre.  Ao  qual  emprazamento  o  dito  vigayro  porque  íToi  cer- 
to por  juramento  de  Domingos  domingues  priol  do  mostejro  de 
Souto  que  hj  foj  dado  por  veedor  por  letras  da  Eigreia  de  Bra- 
gaa que  o  dito  emprazamento  se  fazia  a  prol  da  dita  Eigreia 
deulbj  sa  autoridade  e  seu  outorgamenlo.  ífeito  o  praso  em 
Bragaa  xi.  dias  de  abril  Anno  domini  m."*  ggg.°  xxx.°  ix."  teste- 
munhas que  presentes  foram  abril  peres  procurador  na  au- 
diência (?)  Steuom  domingues  clérigo  de  Longos  e  Joham  clé- 
rigo homem  do  dito  vigayro  e  outros  e  eu  sobredito  tabelliom 
que  a  esto  presente  fuj  e  este  praso  por  minha  maaom  própria 
screuj  e  em  el  meu  sinal  pugj  em  testemunho  de  verdade  que 
tal  he  e  das  quaes  cousas  ambas  as  partes  pedirem  a  mjra 
dito  tabelliom  senhos  prazos  de  huum  theor  -]-• 

Gonçalus.  Johanes.  Alfonsus.  -[-. 

E  por  mais  ffirmidom  o  dito  vigayro  mandou  seelar  este 
praso  do  seelo  da  corte  de  Bragaa. 


1340 


Sabbam  todos  que  eu  Maria  íTernandes  moradora  em  baf- 
faul  jOfregesia  de  santo  Tisso  de  praziis  de  meu  prazer  e  com 


30 


a   liure  uontade  e  ssem  costrangimento  neDhuum  vendo  e 

conssiderando  raujto  bem que  eu  sserapre  ouuj  e  recebj 

do  mostejro  de  Ssouto  ffaço  doaçom  a  dom  Domingos  domin- 
gues  priol  do  dito  mostejro  e  ao  dito  sseu  mostejro  de  todo  o 

meu  herdamento  que  eu  ej  em  requeixo  e  em  baffaul 

que  ssom  na  íTregesia  de  santo  Tisso  de  praziis  o  qual  a  mjm 
lÊcou  de  Marinha  steues  minha  ííilha  e  íTilha  que  ffoj  de  Ste- 
bom  anes  de  requeixo  que  o  aia  para  ssempre  com  todos 
sseus  dereitos  e  pertenças  e  entradas  e  ssajdas  per  hu  o  me- 
lhor poder  auer  e  achar  e  tolho  de  mjm  todo  dereito  e  pro- 
priedade e  posse  que  ej  no  dito  herdamento  e  ponhoo  no  dito 
priol  e  mostejro  que  o  aia  para  ssempre.  Eu  aqui  por  poder 
d'esta  doaçom  o  meto  logo  em  posse  dei.  E  mando  e  outorgo 
que  o  dito  priol  por  ssj  ou  por  quem  el  bem  teuer  ffilhe  em 
posse  desto  ffeito  ao  dito  mostejro  pola  alma  do  dito  Steuora 
anes  cujo  o  dito  herdamento  ffoj  e  pola  alma  da  dita  minha 

íTilha  e  pola  minha  e  em  rremissom  de  meus  pecados 

no  dito  mosteiro  e  por  muito  bem  e  ajuda  que  ssempre  dei 
rrecebj.  E  sse  alguma  doaçom  ou  praso  ou  outro  contracto  ej 
íTeito  do  dito  herdamento  ata  aqui  ejo  por  nenhum  e  rreuogoo 

e  rrenunçioo  (?)  e  mando  e  outorgo  que non  ualha  e 

sseia  nenhum  ssaluo  este.  E  demais  dou  meu  comprido  poder 
a  Lourenço  ffernandes  de  Ssouto  que  meta  o  dito  priol  e  mos- 
tejro em  posse  do  dito  herdamento  e  ej  ffirme  e  stauel  para 
ssempre  a  posse  que  Ihj  por  el  ffor  dada  e  que  el  por  ssj  ou 
por  outrem  ÍTilhar  sso  obrigaçom  de  todos  meus  beens  e  rre- 
uogo  todas  as  lejs  e  dereitos  por  que  sse  a  dita  doaçom  pode- 
rá  que  mjm  non  ualham  e  que  nem  mjm  possa  delas 

ajudar.  E  quem  contra  esto  ffor  peite  quinhentos  ssoldos  e  es- 
ta doaçom  todauia  ualha  para  ssempre  como  dito  he.  (feita  ffoi 
em  bujro  ffregesia  de  ssam  ílijs  de  gomjaens  dez  e  ssete  dias 
de  junho  Era  de  mil  e  tresenlos  e  sateenta  e  ojto  anos.  teste- 
munhas    affonso  tabelliom.  Pedro  lagarto  caonjgo  de 

Ssouto.   Affonso  gonçalves  homem  do  priol.  Joham  anes  de 

portela.   Domingueanes  de  bujro  e e  outros.  E  eu  Gil 

peres  tabelliom  de  Guimaraens  que  esta  carta  de  doaçom  a 
rrogo  e  por  mandado  da  dita  Maria  ffernandes  screuj  e  meu 
ssignal  hj  ffiz  em  testemunho  de  verdade  +. 


31 


1340 


Sabbam  lodos  que  perante  mjm  Gil  peres  tabelliora  de  Gui- 
maraens  e  as  testemunhas  adeante  scritas  em  rrequeixo  dez 
e  ojto  dias  de  Junho  da  Era  de  mil  e  tresentos  e  saleenta  e 
ojto  anos  Lourenço  íTernandes  de  Ssouto  meteu  em  posse  dom 
Domingos  domingues  priol  de  Ssouto  da  casa  que  está  acima 
da  casa  alta  sobradada  de  rrequeixo  por  chaue  e  por  telha  e 
por  terra  e  por  pedra.  E  por  ahj  disse  que  o  meteu  em  posse 
que  o  metia  em  posse  el  e  dito  sseu  mosteiro  de  todalas  ou- 
tras cousas  que  hj  auja  Maria  ÍTernandes  e  outrossj  o  meteu 
logo  em  posse  de  toda  a  parte  e  quinhom  e  dereito  que  a  dita 
Maria  ÍTernandes  auja  na  vinha  do  dito  logo  e  do  milho  que 
estaua  ssu  ela  por  terra  e  por  vides  e  por  milho.  E  o  dito 
priol  por  ssj  e  polo  dito  sseu  mosteiro  o  rrecebeu  e  o  deu 
logo  de  ssa  maaom  a  Joham  aíTonso  que  hj  auja  mora  e  el  o 
rrecebeu  e  fficou  hj  de  ssa  maaom.  testemunhas  o  dito  Joham  af- 
fonso.  Lourenço  peres  de  Prasij.  Garcia  martins.  Marlim  anes.  Af- 

fonso Lourenço  ÍTernandes  e  outros.  E  item  o  dito  dia  em 

baíTaul  o  dito  Lourenço  ffernandes  meteu  em  posse  o  dito 
priol  da  casa  de  baíTaul  que  ÍToj  de  Maria  ÍTernandes  por  chaue 
e  por  colmo  e  por  terra  e  por  pedra  e  por  ahj  disse  que  o 
metia  em  posse  de  todalas  outras  cousas,  que  a  dita  Maria 
ÍTernandes  auja  ssegundo  he  contheudo  na  carta  porque  lho  a 
dita  Maria  íTernandes  deu  a  el  e  ao  dito  sseu  mosteiro  e  en- 
Iregoulhj  logo  o  pom  e  centeo  e  trjgo  que  tjnha  Domingos  do- 
mjngues  da  coua  pela  dita  Maria  ffernandes  e  da  ssa  herdade 
6  Ihj  disse  que  Ihj  entregaua  e  o  metia  em  posse  de  todalas  ou- 
tras cousas  e  beens  que  a  dita  Maria  ÍTernandes  auja  na  íTre- 
gesia  de  santo  Tisso  de  Prazii  ssegundo  na  dita  carta  de 
doaçom  era  contheudo.  E  o  dito  priol  por  ssj  e  polo  dito 
seu  mostejro  rrecebeu  a  dita  posse  e  deu  logo  todo  de  ssa 


Está  eseripto  no  mesmo  pergaminho  do  antecedente. 


32 


raaaom  ao  dito  Domjngos  domjngues  da  coua  e  el  ííicou  hj  de 
ssa  raaaom  e  íBcoulhj  pelos  sseus  dereitos.  testemunhas  Lou- 
renço peres  de  Prazii.  Gonçalo  Martins.  Martim  anes.  AÍTonso 
gomes.  Lourenço  íTernandes.  Joham  duraens  da  torre.  Domjn- 
gos raartins  duluejra  e  outros.  E  eu  Gil  peres  tabelliom  ssuso 
dito  que  a  esto  ffuj  presente  e  este  stramento  screuj  e  meu 
ssig  -f  nal  hj  íDz  em  testemunho  de  uerdade  que  tal  he. 


LH 


1340 


Era  nome  de  deus  amen.  Sabbam  todos  que  eu  dom  Ste- 
uom  martins  abbade  do  mosteiro  de  Sandj  e  eu  Margarida  pe- 
res dita  de  Vides  ÍTasemos  escambho por  esta  gisa  con- 

uera  a  ssaber  eu  dita  Margarida  de  Vides  dou  a  uos  dito  dom 
abbade  e  ao  dito  vosso  mosteiro  a  meatade  do  Casal  que  cha- 
mam da  torre  que  he  na  íTregesia  de  santa  Maria  de  ssouto  o 

qual  eu  comprej  a  Gomes  nunes  doriz  (?)  e  parte  com 

por  o  mejo.  E  eu  dito  dom  abbade  em  meu  nome  e  do  dito 
mosteiro  dou  a  uos  dita  Margarida  peres  dita  de  Vides  em 

scambho  pelo  dito  mejo  casal  o  mejo  casal mosteiro  ha 

em  ífiiz  em  que  mora  Steuom  martins  de  Ssagade  íTregesia  de 
santa  Euffemia.  E  esto  uos  íTaço  porque  o  dito  uosso  mejo  ca- 
sal he  perto  do  dito  mosteiro  e  porque  he  o  outro  mejo  desse 

casal  do  dito  mosteiro.  E ífeito  ffoj  em  Guimaraens  dez 

e  sseis  dias  de  desembro  Era  de  mil  e  trezentos  e  seteenta  e 
ojto  anos.  testemunhas  dom  Domingos  domingues  priol  de 
Ssouto.  Pêro  Lagiom  caonigo  de  Ssouto.  Pêro  martins.  Mar- 
tim anes  caonigos  de  Guimaraens  e  outros.  E  eu  Gil  peres  ta- 
belliom de  Guimaraens  que  a  esto  ífuj  presente  e  este  stru- 
raents  por  mandado  das  ditas  partes  screuj  e  meu  ssignal  hj 
ffiz  era  testemunho  de  verdade  +• 


33 


Lin  <^) 

1340 


Em  nome  de  deus  amen.  Sabbam  todos  que  presente  rajm 
Gil  peres  labelliom  de  Guiraaraens  e  as  testemunhas  adeante 

scriptas  conuem  a  ssaber  vynte de  dezembro  da  Era  de 

mil  e  tresentos  e  sateenta  e  ojto  anos  no  mosteiro  de  Ssouto 
dom  Steuom  martins  abbade  do  mosteiro  de  Sandj  e  Margarida 
peres  dita  de  Vides  íTezerom  entrega  antre  ssj  dos  Casaaes  que 
antre  ssj  scambliarom  conuem  a  ssaber  a  dita  Margarida  peres 
meteu  em  posse  o  dito  abbade  do  mejo  casal  da  torre  por  Ste- 
uom sseu  homem  que  presente  estaua  e  que  mora  no  dilo  ca- 
sal e  mandou  que  llij  desse  daqui  adeante  e as  derej- 

turas  que  ela  auia  dauer  do  dito  mejo  casal  para  todo  ssem- 
pre  como  contheudo  no  dito  scambho.  E  outrossj  o  dito  abba- 
de meteu  em  posse  a  dita  Margarida  peres  do  mejo  casal  de 
íTíjs  por  Steuom  martins  que  mora  no  dito  Casal,  os  quaes 
mejos  Casaaes  os  ditos  homens  disserem  que  tinham  empra- 
zados  e  que  rendiam  sseis  sseis  marauedis.  E  logo  os  ditos 

Steuom  anes  e  Steuom  martins  íficarom sseus  dereitos 

dos  ditos  Casaaes  conuem  a  ssaber  o  dilo  Steuom  anes  íBcou 
ao  dito  abbade  poios  ditos  sseis  marauedis  como  contheudo 
no  sseu  prazo  e  por  todolos  os  outros  dereitos  do  ditto  mejo 
Casal.  E  outrossj  o  dito  Steuom  martins  íScou  aa  dita  Margari- 
da peres  poios  ditos  sseis  marauedis  e  por  todolos  os  outros 
dereitos  do  dito  mejo  Casal  ssegundo  he  contheudo  no  dito  sseu 

praso.  cada  huum  para  ssempre  daqui  adeante  ssegundo 

contheudo  no  dito  scambho  e  que  cada  huum  possa  trazer  do 
sseu  o  que  quiser  e  por  bem  teuer.  testemunhas  dom  Domjn- 

gos  domjngues  priol  de  Ssouto.    Pêro Lourenço  do- 

rajngues  abbade  caonjgos  de  Ssouto  e  Mansso  e  outros.  E  eu 

tabelliom  ssuso  dito  que  este  strumento  por  mandado 

das  ditas  partes  screuj  e  meu  ssignal  hj  íliz  era  testemunho  de 
verdade  +• 


^    Está  escripto  no  mesmo  pergaminho  do  antecedente. 

7."  Anno.  3 


34 

Liy 

1340 

Sabbam  todos  que  eu  dom  Steuom  martins  abbade  do 
mosteiro  de  Sandj  mando  a  Steuom  martins  de  Ssagade  que 
daqui  em  deante  de  a  Margarida  peres  dita  de  Vides  toda  mea- 
tade  de  todalas  cousas  que  ha  de  dar  do  Casal  de  fíijs  ao  dito 

mosteiro  de  Sandj  o  qual  el trage  emprazado  e  que  a 

outra  meatade  da  rrenda  dei  de  ao  priol  de  Ssouto.  íTeilo  ífoj 
esto  em  Guimaraens  vynte  dias  de  dezembro.  Era  de  mil  e 
trezentos  e  sseteenta  e  ojto  anos.  testemunhas  Martim  anes 
caonjgo  de  Guimaraens.  Pêro  Lageom.  Domingos  Lourenço 
íTrades  de  Ssouto  e  Mansso  e  outros.  Eu  Gil  peres  tabelliom  de 
Guimaraens  a  esto  ÍTuj  presente  e  este  strumento  por  manda- 
do do  dito  abbade  screuj  e  meu  ssignal  hj  íTiz  em  testemunho 
de  uerdade  que  tal  he  -f. 

LV 
1333  a  1341 

Sabbam  todos  que  eu  Lourenço  peres  (?)  caualejro  de  Ma- 
çeejra  e  minha  molher  Tareja  Gil  nos  quitamos  e  abrimos  dos 
Casaaes  que  o  moestejro  de  Souto  ha  no  Couto  de  Maçeejra.  e 
todoo  derejto  que  nos  aujamos  nos  ditos  Casaaes  todo  o  pee- 
mos no  dito  moestejro  e  no  priol  desse  moestejro.  E  quere- 
mos que  por  nos  nem  por  outrem  por  nos  nem  em  nosso  no- 
me nem  ascondudamente  que  non  vaamos  contra  ditos  Casaaes 
nem  derejtos  deles  nem  contra  nenhuma  cousa  das  sas  per- 
teenças  so  peea  de  vynte  libras.  E  mandamos  que  se  nos 

ou nos  ou  em  nosso  nome  íTor  contra  os  ditos  Casaaes 

ou perteenças  deles  que  non  vala  e  que  pejte  a  dita 

pea  ao  dito ou  ao  priol  dei  e  todauja  valer  este  stru- 
mento para  todo  sempre.  Em  testemunho  destas  cousas  roga- 
mos e  mandamos  a  Domingos  Steues  taballiom  dei  Rei  em 
terra  de  faria  que  destas  cousas  ÍTezesse  este  strumento.  tes- 
temunhas Domingos  botom  (?)  e  Martim  domjngues  e  Domin- 
gos iohanes  homens  do  dito  Lourenço  peres  e  outros.  E  eu  so- 
bredito taballiom  por  mandado  dos  sobreditos  este  strumento 
screuj  e  o  meu  sinal  hj  pugj  que  tal  he  +.  ÍTeilo  ífoj  em  Ma- 


35 


çeejra  dez  ojto  dias  dagosto  Era  de  mil  e  tresentos  e  sateenta 
e anos. 

LYI 

1347 

Sabbam  todos  que  nos  dom  Domingos  domingues  priol  do 
mosteiro  de  souto  e  o  conuento  do  dito  mosteiro  damos  a  uos 
Gonçalo  peres  e  a  uossa  molher  Maria  domingues  e  a  huma 
pessoa  depôs  uos  qual  o  postrimeiro  de  uos  nomear  aquele 
Dosso  cassai  que  nos  auemos  na  ffregessia  de  sam  Cosmade  de 
garfe  que  chamam  de  loomar  por  tal  pacto  e  condipom  que  uos 
e  a  dita  pessoa  o  moredes  e  lau redes  e  aíTrojtedes  e  façades  em 
el  toda  bemfeitoria  e  dedes  em  cada  huum  ano  a  nos  e  ao  dito 
mosteiro  por  todalas  entradaas  e  djreitos  e  direituras  sseis  ma- 

rauedis  uelhos  de  dinheiro  port e  huum  capaom  e  duas 

galinhas  por  senço  por  dia  de  Natal  e  paguedes  os  ditos  dinhei- 
ros por  esta  gjsa  dous  marauedis  por  o  dito  dia  de  Natal 
dous  por  dia  de  páscoa  e  dous  primeiro  dia  de  majo  e  dardes 
lujtosa  enteira  quando  acontecer.  E  item  uos  damos  o  nosso 
herdamento  que  iaz  na  dita  ffregessia  a  par  da  vinha  dos  ffi- 
Ihos  de  Martim  simohoens  o  qual  ora  de  nos  tragia  André  da 
crux  por  tal  pacto  e  condiçom  que  dedes  a  nos  e  ao  dito  nos- 
so mosteiro  duas  galinhas  com  vjnte  ouos  por  todolos  os  dj- 
reitos e  djreituras  e  entradaas  que  nos  auemos  dauer  do  dito 
campo  por  dia  de  ssam  Migel  de  setembro.  E  nos  dito  priol  e 
conuento  uos  promettemos  a  ffazer  praso  por  Bragaa  sse  uos 
compris  a  estas  condiçoens  contheudas  em  este  praso  aa  nossa 
custa  como  he  costume.  E  nos  dito  Gonçalo  peres  e  sa  molher 
damos  a  uos  dito  priol  e  conuento  do  dito  mosteiro  para  todo 
o  ssempre  a  nossa  leira  que  nos  auemos  na  dita  ffregissia 
que  chamam  da  facha  que  aladas  por  ela  em  cada  huum  ano 
por  dia  de  ssam  Migel  de  setembro  huma  teeiga  de  milho 

pola  medida  noua  de  Guimaraens  em  paz ssaluo  no 

dito  mosteiro  e  non  auendo  uos  a  dita  teeiga  de  milho  pola 
dita  leira  que  aiades  por  toda  a  outra  nossa  herdade  e  esto 
uos  damos  por  este  emprazamento  que  uos  nos  ffesestes.  E 
quem  contra  esto  ffor  peite  quinhentos  soldos  e  esto  ualha 
como  dito  he  ffeito  no  dito  mosteiro  de  Ssouto  hu  ffazem  o 
cabidoo  dez  e  noue  dias  dabril  Era  de  rali  e  tresentos  e  oj- 
teenta  e  cinquo  anos.  testemunhas  Domingos  iohanes  de  gon- 
domar.  Pêro  duraens  de  oriz  padre  do  dito  Gonçalo  peres.  Pe- 

* 


36 


ro  goDçalves  clérigo  de  Louredo.  Gonçalo  domingues  pintor 
morador  na  vila  do  castelo  de  Guimaraens  e  outros.  E  eu  AíTon- 

so scriuam  jurado  dado  por  nosso  Senhor  elrei  a  Gil 

peres  sseu  tabelliom  em  Guimaraens  a  esto  com  el  e  com  as 
ditas  testemunhas  presente  íFuj  e  este  strumento  e  outro  tal 
para  todos  por  el  screuj.  E  eu  Gil  peres  tabeUiom  ssobrediío 
a  esto  íTuj  presente  e  hj  meu  ssignal  pugj  +• 

1348 

Em  nome  de  deus  amen.  Sabbam  todos  que  eu  orraca  er- 
migiz  filha  que  fuj  de  Ermigo  garcia  caualeiro  e  molher  que 
fuj  de  Aífonso  rrodrigues  da  mota  vendo  a  uos  Maria  bordoraa 
uesinha  de  Gujniaraens  toda  a  minha  parte  dereito  e  quinhora 
da  quiulaan  de  Sapos  na  ffregisia  de  sam  iohane  de  penselo  e 
dos  dous  casaaes  dulueira  que  som  na  ífregisia  de  santo  tisso 
de  prasii  e  de  santa  Maria  de  curuite  nos  quaaes  mora  em  huum 
deles  Giraldo  e  no  outro  morou  Joham  aluelo  com  todos  seus 
derejtos  e  pertenças  de  monte  era  fonte  também  de  casas  com 
de  vinhas  e  soutos  e  deuesas  e  lauras  e  pomares  e  montes 
rotos  e  por  romper  per  hu  esto  melhor  poderdes  auer  e  achar, 
as  quaaes  erdades  a  mjm  Gcarom  dermigo  garcia  meu  padre  e 
de  lieatriz  steues  miuha  madre  asi  como  todo  traie  emprazado 
Pêro  domingues  clérigo  (?)  e  como  todo  esta  partido  e  demar- 
cado e  deuisado  e  de  que  mj  o  dito  Pêro  domingues  daua  ca- 
da ano  por  praso  vynte  e  quatro  libras  de  port por  pre- 
ço nomeado  que  de  uos  recebi  quatrocentas  libras  de  dinheiro 

port e  sa  reuora  ca  a  tanto  a  mjm  e  a  uos  bem  prou- 

ue  e  do  preço  nem  da  reuora  nada  ficou  por  dar.  Por  en 
aiades  uos  e  quem  a  uos  prouuer  as  ditas  erdades  como  dito 
he  firmes  para  sempre  e  por  este  titolo  uos  meto  delas  em 
posse  e  de  mais  dou  comprido  poder  ao  dito  Pêro  domingues 
clérigo  (?)  que  uos  meta  logo  delas  em  posse  por  terra  e  pe- 
dra e  telha  e  chaues  e  perteenças  da  dita  quintaam  e  erda- 
des. E  obrigo  todos  meus  beeos  moujs  e  de  raiz  a  uolas  def- 
fender  e  emparar  em  todo  tempo  de  quem  quer  que  uolas 
embargue  ou  demande  por  qualquer  guisa,  os  quaaes  compra- 
dor e  ucndedor  jurarem  logo  perante  mjm  aos  santos  euange- 
Ihos  que  os  non  queria  para  moesteiro  nem  Igreia  nem  para 
outra  pessoa  ecclesiastica  contra  a  ley  delrei.  ífeita  foj  esta  na 


37 


\'ila  do  castelo  de  Gujmaraens  no  eixido  das  casas  que  foroni 
de  GoDçalo  íTernandes  tabeliom  vynte  e  ojto  dias  dabril  da  Era 
de  mil  8  treseotos  oiteenta  e  sex.  anos.  testemunhas  Pêro  do- 
mingues  clérigo  (?)  sobrinho  de  Martim  anes  bachaler  e  Diego 
affonso  ííilho  dorraca  hermigues  e  Giraldo  homem  de  Maria 
bordoma  e  RodrigaíTonso  e  Gonçalo  dazenha  e  Domingos  dar- 
ranha  carniceiros  do  castelo  e  outros  e  Eu  Martim  anes  tabe- 
liom de  Gujmaraens  a  esto  fuj  presente  e  por  mandado  e  ou- 
torgamento  das  partes  esta  carta  screuj  e  meu  sinal  hj  -j-  ffiz 
que  tal  e. 

LYin  ' 

1348 

Sabbam  todos  que  eu  Orraca  ermigiz  Qlha  que  fuj  dermigo 
garcia  caualeiro  e  molher  que  fuj  daffonso  rrodrigues  da  mota 
conhosco  e  confesso  que  recebi  de  Maria  bordoa  quatrocentas 

libras  de  dinheiro  port as  quaaes  mj  ela  auia  de  dar  do 

preço  por  rrazom  da  minha  parte  e  quinhom  da  quiataan  de 
Ssapos  e  dos  dous  casaaes  duluejra  que  Ihj  eu  uendj  segundo 
he  conteúdo  em  huma  carta  da  dita  uenda  feita  por  maaom  de 
Martim  anes  tabelliom  de  Gujmaraens  e  dou  mjm  por  bem  en- 
tregue e  pagada  das  ditas  quatrocentas  libras  e  dou  a  dita 
Maria  bordoma  por  liure  e  por  quite  delas  que  eu  nem  ou- 
trem por  mjm  nunca  lhas  possa  demandar  em  juizo  nem  ffora 
de  juizo.  íFeito  ÍToj  na  vila  do  Castelo  de  Gujmaraens  no  eixido 
das  casas  que  forom  de  Gonçalo  ÍTernandes  tabeliom  vynte 
ojto  dias  dabril  da  Era  de  mil  tresentos  oiteenta  e  seis  anos. 
testemunhas  Pêro  domingues  clérigo  (?)  sobrinho  de  Martim 
anes.  Diego  affonso  filho  da  dita  Orraca  hermiguiz  e  Giraldo 
homem  da  dita  Maria  bordoma.  Rodrigo  affonso  e  Gonçalo  da- 
zenha e  Domingos  darranha  carniceiros  do  Castelo  e  outros,  e 
Eu  Martim  anes  tabelliom  de  Gujmaraens  a  esto  fuj  presente 
e  por  mandado  e  outorgamento  da  dita  Orraca  hermiguiz  e  aa 
petiçom  da  dita  Maria  bordoma  uezinha  de  Gujmaraens  este 
strumento  screuj  e  meu  sig  +  nal  hj  fiz.  —  pg.  iiii."  soldos. 

Tagilde  - 1890.  (Contimui). 

Oliveira  Guimarães. 


Está  escripto  no  mesmo  pergaminho  do  antecedente. 


APONTAMENTOS 


o  RECOLHIMENTO  DAS  TRINAS 


O  recolhimento  das  Trinas,  ou  das  Merceeiras,  sito  na  rua 
de  D.  Luiz  i,  antiga  rua  do  Gado,  da  cidade  de  Guimarães,  foi 
instituido  em  1653  pelo  dr.  Paulo  de  Mesquita  Sobrinho,  de- 
sembargador da  Relação  Ecclesiastica  de  Braga. 

O  Gm  de  sua  instituição,  as  condições  d'ella,  constam  de 
escriptura  celebrada  entre  o  instituidor  e  a  Mesa  da  Misericór- 
dia. 

Pareceu-nos  que  algum  interesse  tinham  as  noticias  relati- 
vas a  este  modesto  e  útil  estabelecimento. 

Segue  a  escriptura. 

As  modiQcaçÕes,  que  o  decurso  dos  annos  e  as  circums- 
tancias  dos  tempos  introduziram,  il-as-hei  apontando  em  notas. 

Se  a  vontade  me  não  faltar,  nos  subsequentes  números 
da  Revista  publicarei  outras  noticias  relativas  aos  legados 
da  Santa  Casa,  as  quaes  creio  merecerem  a  pena  de  ser  lidas. 

Escriptura 

Em  nome  de  Deus  amen:  Saibam  quantos  este  publico  ins- 
trumento de  contracto  e  obrigação  perpetua,  feito  pela  melhor 
forma  que  em  direito  haja  logar  e  mais  valer  possa  virem  que, 
no  anno  do  nascimento  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo  de  mil 
seiscentos  e  cincoenta  e  três  annos,  aos  vinte  dias  do  raez 
d'abril  do  dito  anno,  n'esta  villa  de  Guimarães,  na  Casa  do  Des- 
pacho da  Santa  Misericórdia  d'ella,  onde  estavam  partes  pre- 
sentes outorgantes  e  aceitantes  a  saber;  d'uma  parte  o  Doutor 
Ambrósio  Vaz  Golias,  Provedor,  e  o  Escrivão  e  Irmãos  da  Meza 
da  dita  Santa  Casa  da  Misericórdia  d'esta  dita  Villa,  de  maior 


39 


e  menor  condirão  que  este  presente  anno  n'ella  servem  ao  dean- 
te  assignados,  e  da  outra  parte  o  Doutor  Paulo  de  Mesquita  So- 
brinho, Desembargador  da  Relação  de  Braga  e  n'ella  morador, 
pessoas  reconhecidas  de  mim  publico  tabellião,  e  logo  em  mi- 
nha presença  e  das  testemunhas  ao  deante  nomeadas  pelo  dito 
Doutor  Paulo  de  Mesquita  Sobrinho  foi  dito  que  não  achava  on- 
tro  remédio  mais  eííicaz  que  procurar  que  houvessem  algumas 
pessoas  que,  d'aqui  em  diante,  por  elle  louvassem  a  Nosso  Se- 
nhor, e  lhe  dessem  as  graças  das  mercês  que  lhe  tinha  feito, 
e  suprissem  as  suas  faltas,  e  vendo  que  já  n'esla  Santa  Ca- 
sa havia  ministros  para  o  louvarem  no  curo  com  as  horas  ca- 
nónicas e  sacrifícios  todos  os  dias  lhe  parecia  conveniente 
que  o  fosse  também  por  algumas  mulheres  devotas  com  suas 
orações  e  rosários,  para  cujo  effeito  estava  contractado  com  o 
dito  Provedor  e  Irmãos  da  dita  Santa  Casa  da  Misericórdia  que, 
para  isso  houvesse  seis  mulheres  ^  que  vivessem  juntas  em 
Recolhimento,  em  habito  honesto,  as  quaes  viessem  juntas  to- 
dos os  dias  ouvir  missa  a  esta  egreja  da  Santa  Misericórdia, 
pedindo-lhe  o  acrescentamento  e  conservação  d'esta  Irmanda- 
de, e  rogando  pelas  pessoas  que  com  tanto  zelo  a  governam, 
para  que  por  este  modo  Gque  o  Senhor  louvado,  assim  no 
curo  pelos  sacerdotes  como  no  corpo  da  egreja  pelo  devoto  gé- 
nero das  mulheres,  dando  com  isso  exemplo  ás  mais  secula- 
res a  frequentarem  esta  egreja,  e  pedirem  a  Deus  os  guie  no 
caminho  de  sua  salvação,  e  use  de  misericórdia  com  elles,  pois 
lh'a  vem  pedir  á  Casa  de  sua  Misericórdia,  e  por  esta  via  ficas- 
se elle  dito  Doutor  Paulo  de  Mesquita  em  parte  suprindo  as 
faltas  e  descuidos  em  que  tinha  cabido,  e  para  esta  sua  pre- 
tensão ter  o  eíTeito  que  desejava  lhe  foi  necessário  valer-se  do 
Provedor  e  Irmãos  d'esta  Santa  Casa,  e  pedir-lhe  que  quizes- 
sem  aceitar  esta  humilde  offerta  e  esmola  de  dous  mil  e  qui- 
nhentos cruzados  para  se  comprarem  cincoenta  mil  reis  de 
juro  do  qual  darão  de  esmola  a  cada  uma  das  ditas  mulheres 
um  vintém,  cada  dia,  ou  meio  alqueire  de  pão,  cada  semana, 
e  setenta  reis  para  presigo,  que  vem  a  montar  a  cada  uma 
d'ellas  por  anno  sete  mil  trezentos  e  vinte  reis,  e  as  esmolas 
de  todas  ellas  quarenta  e  três  mil  novecentos  e  vinte  reis  ^ 


*    Este  numero  ainda  é  o  mesmo. 

2    As  recolhidas  recebera  ainda  hoje  cada  uma  20  reis  por  dia  e 
70  reis  por  semana  para  presigo ;  o  rendimento  do  legado  não  permit- 


40 


e  posto  que  não  fiquem  á  Casa  mais  de  seis  mil  e  oiteDta  reis 
comtudo  ficam  interessados  os  Irmãos,  assim  nas  orações  que 
as  ditas  mulheres  fizerem  como  ao  deante  se  declarará,  como 
em  se  exercitarem  em  obras  pias,  que  pois  tomam  trabalho  por 
servir  a  Deus  de  andarem  pelas  portas  e  eiras  pedindo  para 
dar  aos  pobres  mais  suave  lhes  fica  a  distribuição  do  que  se 
lhes  oíTerece;  e  se  obrigou  e  olTereceu  elle  Doutor  Paulo  de 
Mesquita  Sobrinho,  a  lhes  dar  Casa  de  Recolhimento  com  seu 
quintal  era  que  possam  viver  commodamente  e  cora  esta 
esmola,  e  com  o  que  ganharem  por  suas  mãos  e  officios  de 
fiar,  cozer,  ou  tecer  e  outros  semelhantes,  por  lhe  ficar  para 
isso  tempo  livre  e  desoccupado  poderão  sustentar  suas  pes- 
soas, pois  ha  muitas  que  só  cora  as  suas  mãos  se  sustentam, 
e  pagam  alugueis  de  casas  e  outros  tributos  de  que  ellas  ficam 
escuzas  e  a  eleição  e  nomeação  d'estas  mulheres  será  li- 
vre do  Provedor  e  Irmãos  da  Meza,  e  lhes  encommendava  que 
escolhessem  sempre  pessoas  anciaãs  de  virtude  e  exemplo  que 
não  tenham  obrigação  de  filhos  em  seu  poder,  e  poderão  es- 
colher viuvas  ou  oríaãs  que  ficarem  desamparadas  para  que 
no  dito  Recolhimento  se  conservem  emquanto  não  tomarem 
outro  estado,  por  quanto  não  estão  obrigadas  a  voto  algum 
de  pobreza  nem  castidade,  e  assim  podiam  reter  e  aceitar  os 
bens  que  tiverem,  e  somente  para  se  conservarem  era  paz  obe- 
decerão sempre  a  uma  a  qual  o  Provedor  e  Irmãos  que  forem 
da  Meza  nomearão  de  três  em  três  annos  ^  e  sempre  será  a 


te  mais.  O  recolhimento  existe  em  taes  condições  ha  237  annos;  e  a 
razão  de  tão  longa  vida  está  no  abrigo  que  faculta  ás  mulheres  que 
alli  se  recolhem  sob  a  protecção  da  poderosa  Misericórdia.  É  evidente 
que  com  tão  exigua  quantia  aquellas  pobres  creaturas  não  podiam  vi- 
ver; vale-lhes  o  que  grangeiam  com  o  seu  trabalho. 

1  Tem  o  nome  de  regente  esta  encarregada  da  direcção  do  Re- 
colhimento, a  sua  nomeação  porém  não  se  faz"já  ha  muito,  não  posso 
precisamente  dizer  desde  quando,  pela  forma  aqui  estipulada,  mas  da 
maneira  seguinte : 

No  primeiro  dia  do  mez  de  julho  de  cada  anno,  o  Provedor  e  o 
Escrivão  da  Mesa,  acompanhados  do  padre  Capellão  e  Sacristão-mór, 
vão  ao  Recolhimento  e  depois  de  procederem  á  visita  e  devassa  orde- 
nada na  escriptura  da  instituição  pelo  modo  que  ao  diante  se  dirá, 
presidem  alli  á  eleição  da  regente,  feita  pelas  próprias  Recolhidas,  de 
cada  uma  das  quaes  recebem  o  voto  vocal.  D'isto  se  lavra  termo,  que 
o  Provedor,  Escrivão  e  Capellão  assignam. 

A  actual  regente,  é  a  snr.»  D.  Ignacia  Rosa,  que  já  exerce  este 
cargo  por  eleições  repetidas,  desde  1850. 


41 


mais  capaz  e  das  mais  velhas  e  antigas  na  Casa,  e  farão  o 
que  ella  lhes  ordenar,  e  havendo  entre  ellas  alguma  que  se- 
ja inquieta  ou  descomposta  no  fallar,  ou  der  alguma  occasião 
com  que  fique  infamada,  o  dito  Provedor  e  Irmãos  a  fará  logo 
lançar  fora  e  admitte  outra  em  seu  lugar,  porque  por  este 
modo  vivam  sempre  em  paz,  pois  se  lhe  não  pôde  dar  ou- 
tro castigo  e  disse  elle  Doutor  Paulo  de  Mesquita  que  de- 
clarava e  pedia  ao  Provedor  e  Irmãos  d'esta  Santa  Casa  que, 
era  sua  vida,  lhe  ficasse  licença  e  poder  para  serem  admitti- 
das  algumas  pessoas  de  sua  obrigação,  e  todas  em  sua  vida, 
ã  qual  licença  e  poder  logo  lhe  foi  dada  e  concedida  pelo 
dito  Provedor  e  Irmãos,  e  disse  mais  elle  dito  Doutor  Paulo  de 
Mesquita  Sobrinho  que  o  modo  que  teriam  as  ditas  mulheres 
em  seu.  viver  e  proceder  será  estarem  em  seu  Recolhimento 
perpetuo,  sem  poderem  sair  d'elle  fora  senão  indo  todas  jun- 
tas para  as  egrejas,  pregações  e  procissões  que  se  fizerem  n'es- 
ta  Villa,  e  romarias  que  por  sua  vontade  quizerem  ir  fazer  ás 
egrejas  armadas  que  estiverem  n'esta  villa  e  arrabaldes  d'ella, 
em  alguns  dias  santos,  por  sua  recreação  e  devoção,  e  assim 
poderão  ir  visitar  alguns  enfermos  de  sua  obrigação,  indo  sem- 
pre duas  juntas,  e  não  dormirão  fora  do  dito  Recolhimento,  es- 
tas mulheres  emquanto  estiverem  no  dito  Recolhimento  trarão 
todas  o  mesmo  habito  que  será  branco  com  o  escapulário  de 
Nossa  Senhora  da  Mercê  ou  da  Santíssima  Trindade,  com  sua 
cruz,  e  os  toucados  serão  honestos,  quando  forem  fora  le- 
varão seus  mantos  de  sarja  preta  compridos,  e  serão  obriga- 
das a  irem  todos  os  dias,  não  estando  doentes,  ouvir  missa  á 
egreja  da  Misericórdia  e  n'ella  rezarão  cada  uma  seu  rozario 
inteiro  por  elle  Doutor  Paulo  de  Mesquita,  e  pelas  almas  de 
quem  elle  for  obrigado,  e  por  seus  bemfeitores  e  parentes,  e 
uma  d'ellas  o  rezará  pelos  Irmãos  que  n'aquelle  anno  gover- 
narem e  administrarem  a  Casa  ^,  para  que  por  rogos  da  Vir- 


1  Esta  obrigação  não  se  cumpre  actualmente,  tendo  sido  com- 
mutada  por  sentença  do  fallecido  Arcebispo  Primaz  D.  João  Chrysos- 
tomo  d'Amorim  Pessoa,  de  16  de  junho  de  1884. 

Eis  a  iiistoria  d'esta  comrautação: 

Na  sessão  da  Mesa  e  Definitorio  da  Santa  Casa  de  13  d'agosto  de 
1883  foi  apresentado  um  memorandum  da  Regente  e  Recolhidas,  ex- 
pondo que  não  podiam,  como  lhes  cumpria,  dar  inteira  satisfação  ao 
legado  e  obrigação  que  lhes  impoz  o  fundador,  de  irem,  todos  os  dias 
á  igreja  da  Misericórdia  ouvir  missa  e  rezar  no  seu  rosário,  porque 
eram  quasi  todas  avançadas  em  idade  e  acliacadas  de  moléstias,  e  já 


42 


gem  a  quem  servem  lhe  dê  o  Senhor  forças  e  saúde  para  fazerem 
bem  seus  officios,  e  para  salvação  de  suas  almas,  a  qual  po- 
derá nomear  o  Provedor  e  Irmãos  no  tempo  que  entrarem,  e 
lhe  encarregue  esta  obrigação,  e  outro  sim  ao  cerrar  da  noite 
tanto  que  tangerem  as  Ave-Marias  a  que  em  algumas  parles 
chamam  a  Trindade,  se  recolherão  todas  no  Oratório,  e  n'elle 
rezarão  cada  uma  sua  coroa  de  trinta  e  três  padres  nossos  e 
avemarias  á  honra  da  Santíssima  Trindade  pela  tenção  d'elle 
instituidor,  e  o  mais  que  por  sua  devoção  quizerem  rezar  por 
quem  lhes  parecer,  porque  só  estas  duas  obrigações  lhes  en- 
carregará a  saber:  um  rozario  na  egreja  e  uma  corua  em  casa 
o  que  tudo  podem  fazer  quasi  sem  lhes  impedir  tempo  de 
seu  trabalho,  e  todos  os  dias  ao  entrar  da  egreja  votarão  cada 
uma  agua  benta  na  sepultura  d'elle  instituidor,  e  lhe  reza- 
rão cada  uma  um  padre  nosso  e  uma  avemaria  por  sua  alma, 
6  outro  sim  lhes  encommendava  que  as  que  tivessem  forças 
para  isso  jejuem  ás  sextas  feiras  em  memoria  da  paixão  de 
Christo  Nosso  Redemptor,  e  que  se  confessem  cada  mez,  ou 
em  todas  as  festas  de  Nossa  Senhora  qual  mais  tiverem  por 
devoção,  e  que  não  consintam  que  homem  algum  posto  que 
religioso  seja  entre  no  Recolhimento,  salvo  aquelles  que  forem 
necessários  para  fazerem  alguma  obra  temporal  ou  espiritual 
como  se  usa  nos  Mosteiros  das  Freiras,  e  quando  á  Irmanda- 
de fur  necessário  alguma  costura  assim  para  cousas  da  egreja 


ha  muito  não  appareeia  quem  pretendesse  entrar  para  o  Recolhimen- 
to eom  sujeição  ao  encargo  d'aquelle  legado,  principalmente  por  te- 
rem d'atravessar  a  cidade  com  o  seu  habito  que,  n'estes  tempos  de 
menor  devoção  e  piedade,  podia  provocar  e  não  raro  provocava  risos 
e  motejos :  que  d'esta  forma  o  legado  não  era  integralmente  cumprido 
e  satisfeito,  porque,  sendo  cinco  só  as  Recolhidas,  duas  d'ellas  pela  sua 
idade  e  moléstias,  não  podiam  sahir  do  Recolhimento,  e  das  três  res- 
tantes, uma  também  frequentemente  não  podia  ir  á  igreja  da  Miseri- 
córdia pelo  seu  estado  do  saúde  o  não  permittir :  que  era  pois  indis- 
pensável dar  a  este  estado  de  coisas  o  possivel  remédio,  para  socego 
de  suas  consciências,  e  por  isso  pediam  á  Mesa  que  obtivesse  da  aucto- 
ridade  competente  a  commutação  do  referido  legado,  para  ser  satis- 
feito na  capella  do  Recolhimento,  onde  todas,  sem  diííieuldades,  o  po- 
deriam ir  cumprir.  Tomado  em  consideração  este  memorandum,  resol- 
veu-se  acceder  ao  que  n'elle  se  pedia,  e  solicitou-se  a  referida  com- 
mutação. 

Em  7  de  julho  de  1884,  era  sessão  da  Mesa,  foi  apresentada  a 
sentença  de  commutação,  que  é  do  theor  seguinte  : 

Christi  Nomine  Invocato  —  Vistos  estes  autos,  Rescripto  da  Nun- 
ciatura  Apostólica,  informação  do  muito  Reverendo  Arcipreste,  e  pa- 


43 


ou  vestidos  de  pobres  a  que  queiram  soccorrer,  ou  outra  obra 
de  suas  mãos  as  aceitarão  e  farão  com  toda  a  caridade  e  di- 
ligencia, attentando  que  n'isso  ajudam  a  cumprir  as  obras  de 
misericórdia,  reconhecendo  sempre  aos  ditos  Irmãos  por  seus 
superiores,  e  de  quem  pende  muita  parte  de  sua  sustentação, 
aos  quaes  Irmãos  disse  elle  instituidor  encommendava  e  pedia 
fossem  servidos  de  mandarem  em  cada  aono  pelas  oitavas  do 
Espirito  Santo,  ou  quando  melhor  lhe  parecer,  a  um  Irmão  da 
Meza  com  um  dos  capellães  mais  velhos. visitar  este  Recolhi- 
mento, e  tomar  informações  secretas  com  cada  uma  d'estas 
mulheres  e  alguns  visinhos  sobre  seu  viver,  recolhimento,  obe- 
diência 6  se  cumprem  inteiramente  com  a  obrigação  da  reza^, 
e  olhando  que  alguma  não  vive  com  o  exemplo  que  convém 
ou  é  desinquieta  na  Casa  a  mandarão  lançar  fora,  não  se  emen- 
dando, e  outro  sim  proverá  o  dito  visitador  no  que  for  neces- 
sário reparar-se  nas  casas  em  que  vivem  e  se  pagaram  os  fó- 


reeer  da  Promotoria,  e  usando  da  auctoridade  Apostólica  que  n'esta 
parte  nos  é  commetlida,  tiavemos  por  bem  commutar  nos  termos  da 
petição  inicial,  para  ser  integralmente  cumprido  na  Gapella  do  Reco- 
lhimento de  Nossa  Senhora  das  Mercês,  em  Guimarães,  ainda  mesmo 
quanto  á  assistência  á  Missa,  todos  os  dias  que  na  referida  capelia  se- 
ja celebrada,  o  legado  pio  instituído  pelo  Doutor  Paulo  de  Mesquita 
Sobrinho,  por  escriptura  de  vinte  d'at)ril  de  mil  seiscentos  cincoenta 
6  três,  e  lavrada  nas  notas  do  tabellião  Domingos  da  Cunha,  o  qual, 
segundo  a  instituição,  devia  ser  cumprido  na  igreja  da  Santa  Casa  da 
Misericórdia  pelas  seis  mulheres  recolhidas  no  estabelecimento  pelo 
dito  instituidor  creado  e  que  tem  o  titulo  de  Piecolhimento  de  Nossa 
Senhora  das  Mercês.  Paço  de  Braga,  aos  dezeseis  de  junho  de  mil  oi- 
tocentos oitenta  e  quatro.  António,  Arcebispo  Primaz. 

1  Ainda  hoje  se  cumpre  esta  disposição  pela  forma  seguinte : 
No  dia  1  de  julho  de  cada  anno,  como  atraz  se  refere,  vão  o  Pro- 
vedor, Escrivão,  e  o  padre  Sacristão-mór  em  visita  ao  Recolhimento, 
e  alli,  juntas  as  Recolhidas,  se  procede  á  devassa,  lendo-se  e  inquirin- 
do-se  pelos  diversos  artigos  d'ella,  que  constam  d'um  livro  especial, 
e  são  os  seguintes  : 

Se  as  Recolhidas  são  obedientes  á  Regente  elegida  pelo  Provedor 
ou  Visitador. 

It.  —  Se  alguma  das  Recolhidas  sahiu  fora  sem  companheira. 

3.0 

It.  —  Se  alguma  ou  todas  juntas  foi  fazer  visita  a  alguma  pessoa 
particular  não  estando  enferma. 


44 


ros,  e  não  satisfazendo  ellas  o  que  lhes  mando  o  farão  cum- 
prir á  custa  das  porções  que  Ities  lião  de  pagar  e  lh'o  descon- 
tarão ao  deante  ^,  o  que  tudo  seja  em  louvor  de  Deus  e  da  Vir- 
gem Sua  Mãe,  aos  quaes  pedia  favoreçam  este  seu  pio  intento 
e  permitiam  dar-llie  cumprido  eíTeito,  e  sendo  caso  que  va- 


4.0 

It.  —  Se  alguma  dormiu  fora  do  Recolhimento,  ou  tem  correspon- 
dências com  pessoas  de  suspeita. 

5.0 

It.  —  Se  al2uma  anda  com  toucados  deshonestos. 


'O 


6.0 

It.  —  Se  vão  todas  juntas  em  cada  dia  á  Casa  da  Misericórdia  ou- 
vir missa  e  rezar  um  rosário  pelos  irmãos  que  em  cada  um  anno  as- 
sistir ao  governo. 

7.0 

It.  —  Se  todas  as  Recolhidas  do  numero  se  recolhem  ás  Ave-Ma- 
rias  no  oratório  a  rezar  uma  coroa  de  trinta  e  três  P.  N.  e  trinta  e 
três  A.  M.  á  honra  da  Santíssima  Trindade  pela  tenção  do  institui- 
dor. 

8.0 

It.  —Se  sabe  se  alguém,  posto  que  seja  religioso,  entra  no  Reco- 
lhimento, não  sendo  para  alguma  obra  temporal  ou  espiritual. 

9.0 

It.  —  Se  alguma  não  reconhece  por  seu  superior  ao  Provedor  e 
mais  Irmãos  da  "Mesa,  e  se  contra  elles  tem  proferido  palavras  em  au- 
sência contra  o  governo,  honra  e  reputação  de  cada  um. 

lO.o 

It.  —  Se  alguma  é  inquieta  e  descomposta  da  lingua,  pela  qual 
tenha  proferido  palavras  que  tenham  dado  escândalo  a  alguma  Reco- 
lhida. 

H.o 

It.  —  Se  n'este  Recolhimento  ha  algum  costume  que  não  seja  ap- 
provado  pelo  Provedor  e  mais  Irmãos  da  Santa  Casa,  ou  não  seja  con- 
forme á  instituição. 

12.0 

It.  —  Se  tem  aceito  algum  legado  sem  licença  do  Provedora 
mais  Senhores  da  Mesa. 

1  Esta  disposição  não  se  cumpre,  e  seria  demasiado  duro  cura- 
prir-se,  obrigando  as  pobres  recolhidas,  que  recebem  apenas  um  mi- 


45 


guera  alguns  dos  lugares  por  qualquer  via  que  seja  o  Prove- 
dor e  Irmãos  dentro  d'uni  mez  elegerão  outra  mulher  que  te- 
nha as  mesmas  qualidades  acima  declaradas  e  acontecendo  que 
passado  um  mez  feita  diligencia  sem  se  achar  mulher  para  o 
dito  lugar  das  qualidades  acima  ditas  n'este  caso  a  porção  que 
se  havia  de  dar  a  essa  mulher  ou  a  muitas  se  fará  um  depo- 
sito separado  do  da  Santa  Casa  da  Misericórdia,  e  d'elle  se  se- 
pararão as  casas  da  vivenda  das  ditas  mulheres,  ou  n'aquillo 
de  que  mais  tiverem  necessidade,  e  pelo  dito  Provedor  e  ir- 
mãos da  Meza  d'esta  dita  Santa  Casa  da  Misericórdia  foi  dito 
que  aos  vinte  e  nove  dias  do  mez  de  Dezembro  de  seiscentos 
e  cincoenta  e  dous  annos  se  ajuntaram  em  Meza  de  Despacho 
da  dita  Santa  Casa  aonde  foram  vindos  os  Definidores  do  pre- 
sente anno  aos  quaes  se  propozera  tudo  o  que  atraz  n'esta  es- 
criptura  fica  declarado,  e  entre  as  mais  cousas  que  o  dito  Pro- 
vedor e  Irmãos  e  Definidores  assentaram  sobre  as  merceeiras 
fura  que  saiu  a  todos  os  votos  que  se  aceitasse  a  dita  propos- 
ta na  fúrma  que  n'ella  se  declarava  com  condição  que  se  não 
houvesse  rendimentos  do  dito  dinheiro  de  dous  mil  e  quinhen- 
tos cruzados  por  não  haver  quem  o  tomasse  não  ficaria  a  Ca- 
sa da  Misericórdia  obrigada  a  dar  a  esmola  ás  ditas  merceei- 
ras, e  sempre  ficarão  livres  para  a  dita  Santa  Casa  os  seis  mil 
e  oitenta  reis  que  o  dito  instituidor  apontava,  como  mais  lar- 
gamente se  via  d'um  assento  que  do  sobredito  se  fez  pelo  Es- 
crivão da  Casa,  pelo  dito  Provedor,  Irmãos  e  Definidores  assi- 
gnado  a  folhas  dezeseis  até  dezoito  do  livro  dos  assentos  da 
aceitação  das  heranças  e  legados  deixados  á  Casa,  e  outro  sim 
pelo  Doutor  Paulo  de  Mesquita  Sobrinho  foi  dito  que  elle  com 
o  dito  Provedor  e  Irmãos  de  primeira  e  segunda  condição  ti- 
nham assentado  e  aceitado  de  parte  e  parte  com  assistência 
dos  Definidores  para  isso  chamados,  como  se  vé  do  assento 
feito  no  dito  livro  a  folhas  dezoito  com  o  seguinte  que  em  caso 
que  as  ditas  merceeiras  as  não  haja  ou  se  extingua  por  al- 
gum dia  ou  modo  que  seja  que  em  tal  caso  dos  rendimentos 


seravel  vintém  por  dia,  a  fazerem  á  sua  custa,  como  da  referida  dis- 
posição parece  dcprehender-se,  os  necessários  reparos  no  Recolhimen- 
to. E'  a  S;mta  Casa  quem  tem  corrido  com  essas  despezas,  fazendo 
alli  as  reparações  mais  indispensáveis,  algumas  das  quaes  bastante 
dispendiosas,  pelo  estado  de  velhice  em  que  o  Recolhimento  se  apre- 
senta. Pensa  até  a  Mesa  actual  reformar  o  Recolhimento  edar-lhe  edi- 
fício mais  apropriado. 


46 


do  dinheiro  que  dá  a  esta  Santa  Casa,  o  Provedor  e  Irmãos 
d'ella  porão  dous  capellães  que  ajudem  a  rezar  as  horas  canó- 
nicas com  os  mais  que  todos  tem,  e  oíRciarão  as  missas  so- 
mente da  obrigação  d'esta  Santa  Casa,  os  quaes  capellães  se- 
rão obrigados  a  dizer  entre  ambos  uma  só  missa  quotidiana 
por  sua  tenção,  e  isto  ficando  de  fora  os  demais  capellães  com 
as  suas  obrigações  antigas,  conforme  seu  contracto,  e  não  ha- 
vendo sacerdotes  que  queiram  aceitar  esta  obrigação  por  or- 
denado de  vinte  e  dous  mil  reis  cada  um,  se  porá  um  só  que 
diga  missa  quotidiana  por  sua  tenção  e  ajude  a  oíTiciar  as  mis- 
sas e  rezar  os  officios  divinos  com  os  demais  ao  qual  se  dará 
a  quantia  em  que  esta  Santa  Casa  se  concertar,  ficando  sem- 
pre salvos  para  a  dita  Casa  os  ditos  seis  mil  e  oitenta  reis  que 
lhe  ficam  da  dita  administração,  e  o  mais  que  ficar  dos  reddi- 
tos  do  dinheiro  será  e  ficará  para  a  sacristia  ou  pobres  d'esta 
Santa  Casa  para  a  qual  d'estas  duas  cousas  o  Provedor  e  Ir- 
mãos que  então  forem  o  applicam,  e  outrosim  foi  mais  dito 
pelo  dito  Doutor  Paulo  de  Mesquita  Sobrinho  que  elle  queria 
dar  e  dava  cem  mil  reis  para  um  lampadário  de  prata  para  se 
pôr  na  Capella  d'esta  Santa  Casa  deante  o  altar  do  Santíssimo 
Sacramento,  e  sessenta  mil  reis  para  se  darem  á  razão  de 
juro  ou  se  comprar  com  elles  azeite  para  arder  na  dita  lâm- 
pada que  estará  sempre  accésa  de  dia  e  de  noite,  o  que  outro- 
sim elle  Provedor  e  Irmãos  aceitaram  com  assistência  dos  De- 
finidores como  se  relata  no  dito  assento  folhas  dezoito,  e  de- 
clararam que  a  obrigação  das  ditas  merceeiras  começará  a  cor- 
rer desde  o  tempo  que  elle  Doutor  Paulo  de  Mesquita  Sobri- 
nho lhe  der  a  dita  casa  do  Recolhimento,  e  satisfizer  com  a 
entrega  dos  ditos  dous  mil  e  quinhentos  cruzados,  sendo  pri- 
meiro passados  três  mezes  depois  da  tal  entrega  para  que  o 
Provedor  "e  Irmãos  possam  pagar  ás  ditas  merceeiras  com  os 
redditos  do  dito  dinheiro,  e  dando  elle  Doutor  Paulo  de  Mes- 
quita parte  ou  todo  o  dito  conto  de  reis,  os  redditos  do  tal  di- 
nheiro que  cairem  antes  de  começar  a  obrigação  dos  pagamen- 
tos os  redditos  do  tal  dinheiro  serão  entregues  a  elle  dito  ins- 
tituidor para  os  despender  no  Piccolhimento  e  Oratório  d'elle 
ou  no  que  lhe  parecer,  e  assim  o  disseram  e  outorgaram  e 
aceitaram  de  parte  e  parte,  e  se  obrigou  elle  Doutor  Paulo  de 
Mesquita  Sobrinho  por  sua  pessoa  e  bens  a  cumprir  integral- 
mente todo  o  conteúdo  n'esta  escriptura  no  que  lhe  tocar,  e  o 
dito  Provedor  e  Irmãos  da  Santa  Casa  obrigavam  os  bens  e 
rendimentos  d'ella  a  sempre  em  todo  o  tempo  cumprirem  e 
guardarem  todo  o  conteúdo  n'esta  escriptura  real  e  perempto- 


47 


riamente  assim  e  de  maneira  que  n'ella  se  contem  digo  assim 
e  da  maneira  que  n'ella  se  tem  obrigado,  e  n'esta  nota  man- 
daram ser  feito  o  presente  instrumento  e  d'ella  pediram  e  ou- 
torgaram .08  necessários  instrumentos  que  d'este  teor  cumpri- 
ria que  tudo  eu  tabellião  como  pessoa  publica  estipulante  e 
aceitante  estipulei  e  aceitei  para  quem  mais  aceitação  toque  e 
tocar  possa,  e  foram  testemunhas  presentes  Gaspar  de  Faria, 
solicitador  d'esta  Santa  Casa,  e  morador  n'esta  Villa  e  Jorge 
Antunes,  hospitaleiro  da  Santa  Casa  que  todos  assignavam  com 
elle  Doutor  Paulo  de  Mesquita  Sobrinho  e  Provedor  e  Irmãos 
de  maior  e  menor  condição  depois  d'esta  lhe  ser  lida  Domin- 
gos da  Cunha  tabellião  publico  o  escrevi  o  Provedor  António 
Vaz  Gloias,  Paulo  de  Mesquita,  Manoel  Monteiro  Magalhães,  An- 
tónio da  Costa  Sodré,  António  Nunes,  João  Gomes  Cardoso, 
Ballhazar  Novaes  da  Cunha,  Francisco  Nogueira,  Francisco  Pi- 
nheiro, Francisco  de  Meira  Pinto,  Jerónimo  Fernandes,  Paulo 
Francisco,  Francisco  da  Rocha  Gamardo,  Jerónimo  Vieira  da 
Maia,  Gaspar  de  Faria,  Jorge  Antunes.  O  qual  instrumento  de 
contracto  e  obrigação,  eu  sobredito  Domingos  da  Cunha,  tabel- 
lião publico  de  notas  n'esta  Villa  de  Guimarães  e  seu  termo 
por  Sua  Magestade  trasladei  por  minha  mão  do  meu  livro  de 
notas  bem  e  fielmente  sem  levar  cousa  que  faça  duvida  que 
aqui  não  vá  reservado  e  á  própria  nota  em  todo  e  por  todo 
me  reporto  e  em  fé  e  de  toda  a  verdade  com  ella  me  assigno 
de  meu  signal  publico  acostumado  de  que  uso  que  este  é,  d'esta 
e  nota  e  da  distribuição  oitocentos  reis. 


BALANCETES 


]Movimento  da  caixa  em  outubro  de  1889 


ENTRADA 


Saldo  anterior 173S743 

Receita  d'este  mez 1^700       175M43 


SAHIDA 


Despeza  d'este  mez 39^020 

Saldo 136^23        175^443 


Em  novembro  de  1889 

ENTRADA 

Saldo  anterior 136;^423 

Receita  d'este  mez 19^240       455^663 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 261060 

Saldo 129iâ603        155^663 

Em  dezembro  de  1889 

ENTRADA 

Saldo  anterior 129;^603 

Receita  d'este  mez 93^600       223^203 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 49^820 

Saldo  que  passa  para  janeiro  de  1890 173^383       223^203 


o  tbesoureiro, 

Manoel  Joaquim  da  Cunha. 


Industi-ia   ó    Invencioneis,  revista  semanal  illustrada  de 
Barcelona.  Director,  D.  Geroninio  Bolibar,  ingeniero  industrial. 

Portugal,  anno 25  pesetas. 

Boletíu  de    la  Institucion  lil>i*e   do  Knssenan- 

xtt,  (lublicação  quinzenal  de  Madrid.  Anno 10  pesetas. 

O   Civilisâilor,   revista  de  Ponta  Delgada.   Redactor,  Gabriel 

d'Almeida.  Cada  numero i20 

JBoletim.    da    Sociedade   de  Gí-eog"i*aphia  Com- 
mei*cial  do  JPoi'to.  Assignatura  para  a  3.*  série : 

Soeios  eíTecti  vos  da  Sociedade 500 

Todos  os  outros  assignantes 1^000 

Numero  avulso 200 

Assigna-se  na  Livraria  Portuense  de  Lopes  &  C.*,  successores  de 
Clavel  &  G.a  — Porto. 
R.evÍ!Stâ  de  Educação  e  Ení^iuo,  publicação  mensal 

de  Lisboa.  Director,  Ferreira  Deusdado.  Preço:  Anno 2^000 

Semestre 1^100 

Avulso 200 

Al.  Fte vista  dos*  Campos,  revista  quinzenal  lisbonense, 
agrícola  e  agronómica.  Directores,  J.  Veríssimo  d'Almeida,  A.  Xa- 
vier Pereira  Coutinho  e  António  de  Sarmento.  Anno 2i^000 

Numero  avulso 100 

■Revista  dos  Ti-ibunaes,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários,  Augusto  Maria  de  Castro  e  António  Fer- 
reira Augusto.  Anno,  franco  de  porte 3i^000 

Semestre,  franco  de  porte U800 

Novo  M-ensageiro  do  Coração  de  «Jesus,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do   Coração  de  Jesus  e  da  Communhão  Reparadora. —  Portugal, 

anno imOO 

Os   A.i*^onautas,  subsídios  para  a  antiga  historia  do  Occi- 

dente,  por  F.  Martins  Sarmento.  1  grosso  volume li^OO 

Pelo  correio 1^560 

Em  todas  as  livrarias. 
A    I*ropi*iedade  e  Cultura  do  IMinlio  (estudo   his- 
tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sampaio.  Preço.. .        350 
Em  todas  as  livrarias. 
"Revista  dais  Sciencias  IMilitares,  publicação  men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheria. 

Portugal,  anno. 2^400 

R.e  vista    das  Sciencias   IXaturaes  e   Sociaes ; 
órgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publica-se  quatro 

vezes  por  anno.  em  fascículos  de  48  pag.,  8.»  —  Anno i^'iQO 

Numero  avulso 300 

Jornal  de  Morticultura  Pratica.  Proprietário,  José 

Marques  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 2,^250 

Numero  avulso 300 

Contendo  estampa  colorida 400 

O  Recreio,  revista  semanal,  litteraria  e  charadistica,  de  Lisboa. 

Lisboa,  cada  numero 20 

Províncias,  semestre 580 

Trimestre 300 

O.  Charivari,  revista  humorística  do  Porto. 

Série  de  12  números 240 

Províncias 270 


Boletim   «la.    Liffa   «los  Lavi-a<loi-os  *lo  I>oin-o. 

Riidacção,  rua  do  Calvário,  70—  Porto.  Niiiiiero  avulso 40 

Iiisíti-tuiçiòes  C!lii'i!sít.ã«,  revista  quinzenal  de  Coimhra,  re- 
liiíiosa,  scientifica  e  lilteraria.  Orgào  da  Academia  de  S,  Thoninz 
d'A()uiQo.  Seis  rnezes • 13:200 

JBoletíix-Iievista  de  la  Juventud  Ciitóli<?a,  re- 
vista mensal  de  Valência.  Cada  numero 1  real. 

Avulso 2  reales. 

A.  A.rte  Plxotog-i-aphiea,  revista  mensal  dos  progressos 
da  photograpliia  e  artes  correlativas  ;  propriedade  da  Photographia 

Moderna.  Porto,  anno. 2^400 

Numero  avulso 300 

JRevissta  tl'Ol>i'a!5i  I*iil>licas  o  ]>Xiuap.,  publicação 
mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portiiguezes. 

Lisboa,  anno ■ ..  •     2^400 

Provindas  e  estrangeiro  acresce  o  custo  das  estamiiillias. 

O  JLgi-ieultor*  'Pos-tiig-iiez,  jornal  de  agricultura,  veteri- 
nária, sciencias  e  artes  correlativas.  Anno,  franco  deporte.  3^000 
Assigna-se  na  livraria  Chardron  —  Porto. 

A.  Imprensa,  revista  scientifica.  litteraria  e  artística  de  Lis- 
boa. Publicação  quinzenal.  Director.  Affonso  Vargas.  Lisboa,  cada 
numero  30  reis,  pagos  á  entrega.  Provindas  e  illias,  trimestre  ou  6 
números,  200  reis.  Numero  avulso 40 

Coiml>i-a  jMedlica,  revista  quinzenal  de  medicina  e  ciruçgia. 
Director,  dr.  Augusto  Rocha.  Portugal  e  Hespanha,  anno..     2|;i.t)0 

O  I»i-og-i*e*so  Catliolico,  publicação  quinzenal  illusírada, 

de  Guimarães.  Continente,  anno 600 

Numero  avulso. loO 

O  Instituto,  revista  litlerarla  e  scientifica,  de  Coimbra. 

Anno. 'B500 

Pelo  correio i  3560 

Numero  avulso 160 

Selecta  fi-anceaca,  por  Moreira  de  Sá,  professor  da  Escola 

Normal  do  Porto.  Preço,  encadernada lá^.^iO 

Pelo  correio 1 3300 

Gri-amniíitica  ft-íineesía,,  por  J.  E.  von  Ilafe  e  A.  Eplpha- 
nio  da  Silva  Dias.  6.»  edição,  melhorada.  Preço,  brochada..  800 
Pelo  correio 830 

Eíinca^íão  infantil  —  Leitui-as  elementsii-oss. 
Introduceão  ao  Novo  livro  de  leitura  por  João  Diniz.  1  volume  com 
38  gravuras. 

B>ochado '. 200 

Cartonado. 2(50 

Mag-alhãcs  &  Moniz,  editores  —  Porto,  e  em  todas  as  livrarias. 

Histoi-ia  do  cêi-co  «lo  l?oi*to,  por  S.  J.  da  Luz  Soriano. 
2. a  edição,  illustrada  com  magnificas  gravuras  e  chromolythogra- 
pbias,  revista  e  melhorada  pelo  auctor.  Editor,  Augusto  Leite  da 
Silva  Guimarães  —  Porto,  ("ada  fascículo 200 

Boletim  <le  IPlíat-maeiíi  cio  I*oi'to.  Director,  J.  P.  d'AI- 

meida  Brandão.  Anno i^OOO 

Numero  avulso 200 

A  Agj^i-ieiíltni-a  Poftngyueza,  revista  quinzenal  de  Lis- 
boa. Directores,  F.  Simões  Margiochi  e  Paulo  de  Moraes. 

Anno "; 23000 

Numero  avulso 100 


REVISTA 


DK 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


DA. 


SDCiEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Promotora  da  instntcção  popular 
no  -Concelho  de  Guimarães 


VOLUME  vn 


N.o  2  —  Abí-il  -  1890 


TVfOGRAPHIA    DE    A.    J.DA    SlLVA    TeíXEIRA 

Rua  da  Cancella  Velha,  70 
1890 


Sunimarío  tresíe  nuniein>* 

í.    Processo  d'inventario  (fragmento  d'obia  inédita);  por  Ediíardà' 

Carvalho. 
II.    Docunienlos  inéditos  dos  ?eculu»xii-xv  ;  \)or  OUceira  Guimarães.. 
111.     Subsidio  para  a  historia  das  industrias  vimaranenses,  por  Ave- 
lino da  Silva  Guimarães. 
íV.    Instruceão  popular;  por  Melino  da  Silva  Gaimarães-. 
V.    Boletim';  por  Gaspar  L.  d' A.  C.  PaúL 
VI.    Balancete  :  por  Manoel  Joaquim  da  Cunha. 


A  Revista  de  Cliiiiuíiràes  publica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  juHio  ewitnbro,  ern  fasciciilos 
de  48  paginas. 

Cada  vokime,  composto  de  quatro  fascículos^ 
eústa  por  assignatiu^a  800  reis;  cada  numero  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do  correio  são  á  custa  da 
empresa.  As  assignaturas  são  pagas  adiantadas. 


A  Revista  de  Guimarães  é  distribuída  gratui- 
tamente pelos  sócios  da  Sociedade  Martins  Sar- 
mento. 

Os  artigos  publicados  n'esta  Prevista  são,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  dos 
seus  auctoi^es. 

Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcção  da  Sociedade  Martins  Sarmento^  Gui- 
marães. 


ANNUNCIOS   LITTERARIOS 

-^-L . . -^ — _- . K»>< ■ — — 

Os   M^aiíiss,  por  Eça  de  Queiroz.  2  grossos  volumes 2áOOO 

Pelo  correi'» 2j;i20 

Livraria  de  Lugan  &  Genelioux,  editores —  Porto. 

Aí*   Ooloiii£i!ii  Portiig-uesetts,  publicação  lisbonense  ilius- 

trada.  Anno 2^0(K) 

Semestre l;â200 

Avulso 200 

O  2í^oopliilo,  publicação  mensal  iilustrada  de  Lisboa. 

Lisboa,  anno 600 

Priivineias 630 

V  Numero  avulso 100 

A  I>os!iiiiieti-in,  revista  mensal  portuense  de  medicina  dosime- 

trica.  Director-proprittario,  José  Bernardo  Birra.  Anno UõQO 


PROCESSO  DE  INVENTARIO 

(fragmento  de  obra  inédita) 


TITULO  I 
Preliminares 

CAPITULO  I 
Ideias  geraes 

I3efinição  do  inventario  e  snas  divisões 

No  anterior  direito  successorio  distinguia-se  entre  inventa- 
rio e  partilhas,  e  esta  distincção  podia  justiQcar-se  com  as  pa- 
lavras da  lei. 

O  inventario  comprehendia  a  relação  e  descripção  dos  bens 
que  em  todo  ou  por  algum  respeito  pertencessem  á  massa 
partivel ;  era  um  preparatório  das  partilhas.  A  avaliação,  a 
collação  e  a  licitação,  posto  que  igualmente  preparatórios 
d'estas,  significavam  factos  diversos:  as  partilhas  eram  pro- 
priamente a  divisão  da  massa  hereditária  pelos  successores  do 
auctor  da  herança  ^ 


1  A  Ord.,  liv.  í,  tit.  Lxxxviii,  §§.  5."  e  G.»,  diz :  E  tanto  que  o  in- 
ventario fôr  feito,  fará  as  partilhas.  O  decreto  de  18  de  maio  de  1832 
fazia  a  mesma  distincção.  Vid.  A.  G.  de  Menezes,  Pratica  dos  inventá- 
rios, partilhas  e  contas  — Primeira  parte  dos  Juízos  Divisórios,  cap.  n. 
Pereira  e  Sousa,  cit.  por  Silva  Ferrão  no  Jornal  de  Jur.,  voí.  i,  pag. 
789,  ensinava  que  o  inventario,  a  avaliação  e  a  collação  eram  anteca- 

7."  Anno.  1 


50 


Não  é  esta,  porém,  do  direito  civil  moderno  a  accepção  da 
palavra  inventario  \  a  qual  exprime  d'um  modo  genérico  to- 
dos os  actos,  antecedentes  ou  subsequentes,  da  partiliia.  Assim 
se  deduz  do  Código  civil,  que  epigrapha  o  inventario  n'uma  sec- 
ção e  os  restantes  termos  e  solemnidades,  inclusive  a  forma- 
ção da  partilha,  em  diíTerentes  subsecções  subordinadas.  O 
mesmo  se  observa  no  Código  do  processo  civil  ^. 

O  inventario,  pois,  que  na  sua  mais  lata  accepção  pôde 
signiflcar  —  o  arrolamento  e  arrecadação  dos  bens  d'uma  pes- 
soa fallecida  ou  considerada  em  certas  condições  jurídicas, 
define-se  mais  restrictamente  —  o  processo  especial  que  compre- 
hende  a  relacionação,  descripção  e  avaliação  de  todos  os  bens 
e  valores  do  auctor  da  herança  e  a  divisão  igual  ou  proporcio- 
nal d^esses  bens  e  valores  pelos  seus  successores  legilimarios, 
legítimos  ou  testamentários. 

O  inventario  em  geral,  considerado  quanto  ao  seu  fim,  pôde 
ser  de  duas  espécies  —  inventario  para  os  eífeitos  da  partilha  e 
administração  de  bens,  e  inventario  para  a  administração  dos 
bens  d'um  individuo  em  condições  juridicas  especiaes.  Perten- 
cem á  primeira  espécie  —  o  inventario  para  a  successão  e  di- 
visão d'uma  herança  e  para  os  subsequentes  actos  de  adminis- 
tração dos  bens  de  todos  ou  de  alguns  dos  herdeiros,  o  inven- 
tario para  o  effeito  da  separação  de  pessoas  e  bens  d'uns 
cônjuges,  etc. ;  e  á  segunda  espécie  —  o  inventario  para  os  ef- 
feitos  de  administração  somente,  tal  o  que  se  instaura  nos  ca- 
sos de  interdicção. 

Trataremos  unicamente  do  inventario  para  a  successão  e 
partilha  de  herança. 


dentes  da  partilha,  e  que  havia  preparatório  da  partilha  e  partilha 
propriamente  dita.  Vid.  ainda  Coelho  da  Roch.n,  Instituições  de  direito 
civil  port.,  |.  476.°  Trigo  de  Loureiro,  Instituições  de  dir.  civ.  brazi- 
leiro.  tomo  i,  pag.  66. 

Tamliem  os  francezes  distinguem  entre  inventario,  que  definem  o 
—  acto  que  tem  por  objecto  constatar  detalhadamente  a  natureza  e  o 
numero  dos  effeitos  mobiliários,  títulos,  papeis,  cuja  conservarão  im- 
porta assegurar,  e  partilha,  —  que  consideram  o  acto  pelo  qual  os  co- 
herdeiros  ou  comproprietários  dividem  entre  si  objectos  cuja  posse  era 
commum.  Rogron,  Code  civil  explique,  aos  art.  941. <>  e  966.o 

^  O  inventario  proveio  de  jure  codicis.  Guerreiro,  De  munere  ju- 
dieis orpií.,  tom.  I.  jiv.  I,  cap.  i,  n.»  2  e  3. 

2  Todavia  o  Código  civil,  por  uma  incongruente  obediência  á  an- 
tiga terminologia  jurídica,  ainda  usa  ás  vezes  da  expressão  —  inven- 
tario e  partilha—,  artigos  82.%  90.o,  96.»,  etc. 


51 


Se  n'esta  espécie  de  inventario  qualquer  interessado  fur 
menor,  interdicto,  ausente  ou  desconhecido,  o  inventario  res- 
pectivo, que  ordinariamente  compreiíende  a  administração  dos 
bens  de  taes  interessados,  é  obrigatório  e  denomina-se  officioso 
ou  orphanologico.  iN'outras  condições  é  simplesmente  faculta- 
tivo ou  de  maiores. 


§   9  o 

aí 

Suas  relações  com  o  direito  civil 

A  matéria  das  partilhas  pertence  ao  ramo  do  direito  civil 
que  comprehende  a  doutrina  das  successões,  a  qual,  por  seu 
turno,  provém,  na  jurisprudência  do  código,  do  livro  que  se 
refere  aos  direitos  adquiridos  por  mero  facto  de  outrem  ou 
pela  simples  disposição  da  lei. 

Na  verdade,  sendo  o  inventario  o  meio  judicial  da  divisão 
da  massa  hereditária,  ou  melhor  a  execução  da  partilha  na 
sua  mais  ampla  significação,  quer  essa  partilha  derive  da  von- 
tade alheia  quer  da  lei,  não  podia  elle  deixar  de  constituir 
uma  parte  integrante  do  direito  successorio,  abrangendo-se 
n'esta  expressão  tanto  a  successão  testamentária  como  a  legi- 
tima. 

Por  isso  no  Código  civil  o  inventario  é  uma  matéria  com- 
mum  a  estes  dois  modos  de  successão  ^ 


s    * 

Sua  utiliclade  e  importância 

O  homem,  não  obstante  o  principio  mors  omnia  solvit, 
perpelúa-se,  através  dos  tempos,  nos  seus  herdeiros,  isto  é, 
nos  successores  e  representantes  dos  seus  direitos  e  obriga- 


1  Valasco,  Praxis  parfitionum,  cap.  ii,  vol.  ii,  dizia :  Et  per  hanc 
actionem  familiae  erciscundae  duiditur,  sive  ex  testamento,  sice  ex 
lege  12  tabul. ;  sive  ex  alia  lege  deferatur  haereditas,  vel  ex  senatus- 
consulto,  vel  ex  constitutione,  ut  ait  Ulpianus. 


52 


pões.  Estes  direitos  e  obrigafões,  quando  o  successor  e  repre- 
sentante não  é  único  e  universal,  passa  conjuntamente  para 
um  maior  ou  menor  numero  de  pessoas,  as  quaes,  todavia, 
não  podem  ser  corapellidas  a  permanecer  no  estado  de  indivi- 
são, porque  esta,  além  de  repugnar  ao  principio  da  justiça,  é 
anti-economica  e  attentatoria  da  harmonia  social  ^. 

A  justiça  quer,  em  nome  d'um  vetustissimo  preceito  — 
suum  cuique  tribuere,  —  que  se  dê  a  cada  um  o  gozo  d'aquil- 
lo  que  lhe  pertence.  O  interesse  dos  estados  aconselha  a  circu- 
lação e  a  transmissão  dos  valores  e  da  propriedade  como  um 
movimento  indispensável  à  existência  e  constituição  económica 
6  até  politica  das  sociedades.  A  ordem  publica  exige  a  delimi- 
tação exacta  do  teu  e  do  meu  e  recommenda  a  apropriação  ex- 
clusiva das  cousas  que,  d'essa  forma,  como  que  incorporadas 
na  personalidade  do  homem,  melhor  lhe  satisfazem  as  necessi- 
dades da  sua  natureza  e  destino,  e  se  adaptam  ao  seu  desen- 
volvimento ^ 

Se,  pois,  o  inventario  individualisa  o  direito  de  domínio, 
desembaraça  as  transacções  de  ordem  civil,  impede  as  discór- 
dias e  diíBculta  os  litígios,  a  sua  importância  social  é  um  co- 
rollario  da  mais  reconhecida  indiscutibilidade  '. 


^  L.  ult.  C.  communi  ãividundo :  In  communione  vel  societate 
nemo  compellitur  invitus  detineri. 

2  Pujol,  Traité  des  successions,  tom.  n,  pag.  4 :  Vindivision  est  à 
juste  titre  considere  par  la  loi  comme  une  entrave  au  libre  exercice  du 
droit  de  propriété,  puis  qu'il  faut  le  concours  de  la  volonté  de  plusieurs 
personnes  pour  administrer  cette  propriété  indivise,  que  rarement  elle 
est  exploitée  et  améliorée  comme  elle  le  serait  sans  Vindivision.  Diz 
também  Demolombe,  Traité  des  successions,  xv,  pag.  432 :  D'autre 
part  Vindivision  est  un  obstacle  non  seulement  à  circulation  des  pro- 
priétés,  au  développement  des  transactions,  et  du  crédit  prive  et  jniblic, 
mais  encore  au  bon  entretien,  à  Vamélioration  des  biens  et  au  progrès 
de  Vagriculture  et  de  Vindustrie.  E.  Toullier,  Druit  civ.  franç.,  vol.  iv, 
pag.  405,  escreve  ainda :  Vexpérience  de  tous  les  siécles  a  prouve  que 
Vindivision  des  propriétés  était  ordinairement  un  sujct  de  discorde  entre 
les  coproprietaires. 

^  Discórdias  propinquorum,  quas  matéria  communionis  solet  ex- 
citare,  áizia.  Papiniano  à  L.  lxxvii,  §.  20.°, D.  delegai  et  fideic.  Sine  in- 
ventario totius  haereditatis  partitiones  fieri  difjicile  ac  pene  impossibile, 
Guerreiro,  obr.  cit.,  tit.  i,  liv.  i,  cap.  i,  n.°  3.  O  juizo  dos  orpliãos  é 
um  dos  prineipaos  e  mais  importantes  para  a  republica  por  o  juiz 
d'el]es  ser  o  pai  dos  menores  e  viuvas,  e  ler  cuidado  de  seus  bens,  de 
tal  sorte  que  os  menores  consigam  a  utilidade   d'elles,  Vanguerve 


53 

CAPÍTULO  ir 
"Noçòes  Iiistoi^icas 

§.  4.» 

Juízos  divisórios 

A  jurisprudência  romana  admittia  três  acções  ou  juizns  di- 
visórios, que  se  denominavam  —  familice  erciscundae,  finium 
regundorum  e  communi  dividundo  ^. 

Estas  acções,  de  que  se  occupam  largamente  os  nossos  rei- 
nicolas  ^,  constituiam  meios  judiciaes,  summarios  por  indole, 
firmados  no  principio  social  da  divisão  da  propriedade. 

O  judicium  familiae  erciscundae  ^  que  Valasco  *  define 
aquelle  —  in  quo  de  dividenda  inter  cohaeredes  haereditate  agi- 
tur  et  SIC  de  dividenda  universilate  bonorum  ^,  era  a  acção 
de  partilha  da  herança. 

Differençava-se  este  dos  outros  juízos  divisórios  em  tratar 
da  divisão  de  todos  os  bens  da  herança,  ao  passo  que  a  acção 
fmium  regundorun  tinha  por  objecto  a  delimitação  ou  demar- 
cação de  prédios  e  a  acção  communi  dividundo  a  separação 
de  coisa  commum  por  titulo  singular  ^. 

A  herança  nem  sempre  era  dividida  por  meio  judicial,  po- 
dia também  sel-o  extra-judicialmente  por  convenção  ou  pacto 


Cabral,  Pratica  Judicial,  part.  r,  cap.  xlviu,  n.»  1.  O  inventario  evita 
o  extravio  dos  bens  da  herança,  é  um  meio  de  obstar  a  que  os  her- 
deiros liguem  responsáveis  por  obrigações  que  podem  exceder  as  for- 
ças da  massa  hereditária,  snr.  dr.  Lop*es  Praça,  Lições  de  pratica  do 
Proc,  anno  de  1882  a  1883,  liç.  37. 

*  Valasco,  obr.  cit.,  cap.  i;  Menezes,  obr.  cit.,  part.  i,  cap.  i. 

2  Vid.  Corrêa  Telles,  Doutrina  das  acções,  §§.  146.»,  280,o  e 
273.0  V     ,  as 

3  Palavras  decemviraes,  porque  esta  aeeão  provinha,  segundo 
Caio,  da  lei  de  Doze  Tábuas.  Vid.  Philip.  Vicât,  Vocabulariíim  júris 
utriusque,  vb.  Erciscere. 

*  Obr.  cit.,  cap.  i,  n.°  1.» 

5  Institutae,  de  offic.  judie,  Mv.  iv,  tit.  xvii :  Si  familiae  ercis- 
cundae judicio  actum  sit,  singulas  res  singidis  haeredibus  adjudicare 
debet.  L.  xnr,  C.  fam.  ercisc. 

^  A  estas  acções  correspondem  modornamonte  as  especiaes  de 
tombamento  ou  demarcação  eade  divisão  de  cousa  commum.  Código 
proc.  civ.,  art.  55o. <>  a  558.°,  e  568.o  a  571.o 


54 


entre  os  herdeiros,  e  n'este  caso  as  partilhas  (partitioces) 
obrigavam,  se  nada  contivessem  contra  as  leis,  os  senatus- 
consultos  e  os  bons  costumes  ^;  mas,  quando  se  tornava  mister 
usar  da  acção  familiae  erciscundae,  cuja  natureza  era,  se- 
gundo Justiniano,  mixta,  real  e  pessoal  ^,  somente  podia  ella 
empregar-se  entre  os  herdeiros,  Gdei-commissarios,  possuido- 
res de  bens  ou  outros  successores  honorários  ^. 

Esta  jurisprudência  foi  adoptada  no  nosso  antigo  direito.  A 
acção  de  partilha  de  herança,  ainda  conhecida  pelo  seu  nome 
romano,  era  também  summaria;  não  admittia  questões  de  alta 
indagação  *;  pedia-se  por  meio  d'ella  o  inventario  dos  bens 
da  herança  e  rendimentos;  havia  avaliação,  vista  aos  interes- 
sados, declaração  do  juiz  aos  partidores  acerca  da  forma  da 
partilha  e  a  competente  sentença  *.  Era  diíTerente  da  acção  de 
petição  de  herança,  a  qual,  quando  tinha  logar,  formava  um 
preliminar  d'aquella;  pois  que  o  auctor,  que  não  fosse  com- 
possuidor,  tinha  de  demonstrar  previamente  a  qualidade  de 
herdeiro  contestada  pelo  réo,  e  de  pedir  depois  as  partilhas. 
Mas  ainda  n'esta  hypothese  da  negação  da  qualidade  de  her- 
deiro o  juiz  podia,  informando-se  summariamente  e  achando 
calumnia,  proceder  a  inventario  ^  As  partilhas  realisavam-se 
ou  extra-judicialmente  e  sem  auctoridade  da  justiça  na  phrase 
da  ordenação  ''  ou  judicialmente  por  mandado  da  justiça  e  por 
partidores,  concordadas  e  assignadas  pelo  juiz  e  estes.  As  ul- 
timas, quando  julgadas  por  sentença,  consideravam-se  judiciaes 
e  irrescindiveis  ^. 


1  Valasco,  obr.  cit.,  cap.  i,  n.o  4.o 

2  Guerreiro,  obr.  cit.,  tom.  ii,  liv.  i,  cap.  i,  n.»  14. ^ 

3  Paiva  e  Pona,  Orphanologia  pratica,  cap.  i,  n.°  26.» 

*  Paiva  e  Pona,  obr.  cit.,  cap.  iti,  n.*  .30 ;  Lobão^  Acrôes  summ., 
tom.  I,  §§.  316.0  e  seg.;  Pereira  e  Sousa,  Prim.  Linhas,  nota  1:021. 

5  Ord.  Man.,  tit.  lxxvii;  AíTons.,  tit.  cvii;  Philip.,  liv.  iv.  tit. 
xcvi;  Corrêa  Telles,  obr.  cit.,  §.  146.o  e  seg. 

6  Valasco,  obr.  cit.,  cap.  ii,  n."*  âG."»;  Liz  Teixeira,  Curso  de  ãir. 
civ.  port.,  part.  ii,  pag.  211. 

■^    Liv.  IV,  tit.  xcvi,  §.  18. 

8  Vid.  Alv.  de  21  de  junho  de  1759;  Menezes,  obr.  cit.,  part,  i, 
cap.  II,  §.  2.0  Sobre  se  as  partilhas  amigáveis  podiam  fazer-se  por  es- 
cripto  particular  ou  provar-se  por  testemunhas,  vid.  Paiva  e  Pona, 
obr.  cit.,  cap.  i,  n.»  51. °;  Valasco,  obr.  cit.,  cap.  xxxviii,  n.oô.o;  Mei- 
relles,  Repert.  jurid.,  n.»  2:418.°;  Castro  Neto,  á  Nov.  ref.  jud.,  art. 
463." ;  Liz  Teixeira,  obr.  cit.,  pag.  15;  Coelho  da  Rocha,  obr.  cit.,  §. 
487.0,  nota;Nazareth.,£'/ímení.  de  proc.civ.,%.  438.o;  snr.  Dias  Fer- 


55 


O  decreto  n."  24  de  16  de  maio  de  1832,  que  teve  a  vir- 
tude de  separar  as  funcções  administrativas  das  judiciarias,  até 
então  confundidas  e  exercidas  simultaneamente,  e  o  decreto  de 
18  do  mesmo  raez  e  anno,  modificando  a  antiga  organisação 
Judicial  e  a  doutrina  sobre  partilhas,  fizeram  com  que  esta  se 
achasse  profundamente  alterada  ao  começar  a  vigência  da  Nov. 
ref.  judiciaria  de  21  de  maio  de  1841 ;  mas,  como  nota  Cor- 
rêa Telles  S  aquelles  decretos  deixaram  muito  a  desejar,  sen- 
do necessário  por  muitas  vezes  recorrer  ás  disposições  do  di- 
reito romano  e  ás  da  jurisprudência  dos  reinicolas  para  lhes 
supprir  as  omissões. 

O  art.  299."  da  Nov.  ref.  judiciaria  mandou  seguir  sobre  in- 
ventario e  partilha  a  legislação  então  vigente  e  a  prática  an- 
terior áquelle  decreto  n.**  24,  inlroduzindo-lhe  apenas  algu- 
mas modificações  '. 

As  alterações  importantes  que  posteriormente  soífreu  a  le- 
gislação sobre  partilhas  foram  principalmente  as  introduzidas 
pela  L.  de  15  de  junho  de  1855,  pelo  Código  civil  em  1868  e 
pelo  Código  do  processo  em  1877. 


Eduardo  Carvalho. 


reira,  Cod.  civ.  annot.,  v.  iv,  pag.  378;  Mergulhão,  Apontam.,  §.  154.»; 
Lobão  na  praxe  geral  das  partilhas  em  Notas  a  Mello,  tit.  xn,  pag.  49. 
Pôde  vêr-se  ainda:  Rev.  de  leg.  e  jur.,  vol.  vit,  pag.  233;  viu,  pag. 
329,  vol.  X,  pag.  397,  xii,  pag.  14;  xv,  pag.  230,  e  vol.  xxi,  pag.  72; 
Dir.,  vol.  VII,  pag.  500;  Acc.  do  S.  T.  de  J.  de  17  de  dezembro  de  1875, 
pub.no  Dir.,  vol.  viii,  pag.  341;  Dir.,  vol.  xiv,  pag.  99  e  117;  xx,  pag. 
18 ;  Ace.  da  Relação  do  Porto  de  27  de  janeiro  de  1874,  pub.  na  Rev.  cit.y 
vol.  VIU,  pag.  279;  Sentença  do  juiz  da  Povoa  de  Lanhoso,  pub.  no  Jor- 
nal de  Jar.,  vol.  ii,  pag.  803;  Acc.  do  S.  T.  de  J.  de  30  de  junho  de 
1866,  pub.  na  Collecção  do  Archivo  Jurídico,  voi.  iii,  pag.  286,  e  de  25 
de  julho  de  1879  na  cit.  Collecção,  vol.  vi,  pag.  338;  Silva  Ferrão  no 
Jorn.  de  Jur.,  pag.  783  do  v.  i. 

1  Man.  do  proc.  civ.,  Ord.,  §.  58 1."»,  nota  a. 

2  Art.  387.0  a  460.»  da  Nov.  ref.  jud. 


DOCUMENTOS    INÉDITOS 


DOS 


SÉCULOS    XII-XV 
(Continuado  da  pag.  37) 


MOSTEIRO    DE    SOUTO 

LIX 

1352 


Sabbam  todos  que  presoDte  rnjm  Gonçalo  inartins  tabelliom 
de  Gujmaraens   e  das  testemunhas  adeante  scritas  do  logar 

que 0  Paaço  ffregesia  de  Santa  Maria  de  souto  Joham 

de  Bragaa  morador  na  dita  vila  por  ssj  e  por ssa  mo- 

Iher  cuio  procurador  he  meteu  em  posse  dom  Lourenço  mar- 
tins  prior  do  mosteiro  de  Ssam  T (Torcade  ?)  em  no- 
me de  Domingos  domingues  prior  de  Souto  do  dito  logar  do 

Paaço  para  o  dito  priol  de  Souto por  o  dito  logar  qua- 

Iro  marauedis  uelhos  em  cada  húum  ano  segundo  he  contheu- 
do  em  huum  strumento  de  scambho íTeito  por  mjm  ta- 
belliom. A  qual  posse  Ihi  deu  por  chaue  e  pedra  e  terra  e  te- 
lha como  cuslume  ffeito  íToj  no  dito  logar  do  Paaço  julgado  de 
Gujmaraens  vynte  e  quatro  dias  de  Outubro  Era  de  mil  e  tre- 
zentos e  nouenta  anos.  testemunhas  dom  Pêro  giraldes  prior 
da  Costa.  AíTonso  martins  homem  do  dito  Joham  de  Bragaa. 


57 


Martim  peres  do  dito  logo  e  outros.  E  eu  dito  tabelliom  que 
este  strumento  screuj  e  aqui  meu  sinal  pugj  +. 


LX 

1356 

Treslado.  —  Em  nome  de  deus  araen.  Eu  Pêro  gonçalues 
abade  da  Eigreia  de  sam  Martinho  de  Gondomar  temendo  a 
deus  e  o  dia  e  a  ora  do  meu  passamento  com  todo  meu  ssiso 
e  entendimento  ffaço  minha  manda  e  testamento,  primeira- 
mente mando  a  minha  alma  a  deus  e  rogo  aa  virgem  ssanta 

iMaria   ssa  madre  com  todos angyos  da  corte  do  çeo 

que  roguem  a  deus  pola  minha  alma  que  me  queira  perdoar 
os  pecados  que  ej  íTeito  contra  ssa  uontade  e  me  lleue  a  mi- 
nha alma  aa  ggloria  do  parayso  quando  me  deste  mundo  pas- 
sar e  mando  o  meu  corpo moestejro  de  Souto  aaos 

pees  do  jazigoo  do  prioí  que  ora  he  e  mando  a  esse  priol  hu- 

ma  coçedra  e   hunm dous e  duas  almoçelhas. 

Item  mando  aaos  ífrades  todos  desse  moestejro  çinquo  çinquo 

soldos  e  que   me missas.  Item  mando  a  Margarida  e  a 

Johana  minhas  criadas  íTilhas  de  Maria  lourença  a  minha  quin- 

taan  da minha  herdade  do  lageedo  que  aiam   a  dita 

quintaan  com  ssas  uontades  e  pam  como  xesteem  e  que  aiam 

esta  herdade  e  quintaan cousas  que  em  ella  seem  aiam 

ao  tempo  que  Affonso  domingues  uir  que  Ihjs  compre  e  en- 
tanto naon  deveer  Affonso  domingues  que  aia  a  dita  her- 
dade e  quintaan  e  beens  dela.  com  esta  condiçom  que  a  non 
possam  uender  nem  alhear  e  sse  a  huma  morer  sem  sémen 
que  ífique  aa  outra  e  sse  ambas  morerem  sem  ssemen  que  o 
dito  Affonso  domingues  a  venda,  e  faça  dela  prol  de  minha 
alma.  Item  mando  aas  ditas  Margarida  e  Johana  ffilhas  de  Ma- 
ria lourença  çem  libras  e  lhas  tenha  Affonso  domingues  para 
lhas  dar  ao  tempo  que  vir  que  compre,  e  sse  huma  morer 
ssem  ssemen  que  ffique  aa  outra  e  sse  a  outra  morer  ssem 
ssemen  que  Affonso  domingues  faça  delas  prol  da  minha  alma 
6  sse  Affonso  domingues  morer  ante  caelas  ou  cada  huma  de- 
las lejxar  o  sseu  poder  a  homem  de  ffialdade  que  o  faça  pola 
guissa  que  dito  he  e  em  quanto  aas  moças  non  conprirem  ffa- 
fa  com   elas  ssa  prol  para  ssj  e  para  elas.  Item  mando  çin- 


58 


quoenta  libras  a  Steuaam  que  viue  com  ÂÍTonso  domingues. 
Item  mando  que  paguem  aas  coníTrarjas  os  sseus  dereitos  e 
de   melhoria   xx   xx   soldos.    Item    mando    sseis    marauedis 

para do  dia  da  minha  ssapultura  aos  (frades  e  doridos. 

Item  mando  que  aos  noue  dias  adugam  dez  clérigos  e  aos 
trinta  sseiam  quinze  e  denlhjs  de  comer  e  três  três  soldos  e 
ífaçamme  o  anal.  Item  mando  a  Lourenço  Gonçaluiz  meu  ir- 
maaon  a  minha  ssaya  do  araiz  noua  e  quarenta  soldos.  Item 
mando  a  Gil  perez  dous  quartejros  de  pam  e  a  herdade  de 
cousso  das  quintaans  de  cima  para  ssempre.  Item  a  Steuom  e 
a  Lourenço  dous  dous  quartejros  de  pam  e  a  herdade  de 
cousso  de  íTondo  que  chamam  de  dom  luz  que  aiam  por  mejo 
para  ssempre.  Item  mando  a  Joham  perez  quarenta  soldos  e 
dous  quartejros  de  pam.  Item  mando  aos  íTilhos  de  Martim  sle- 
uez  a  herdade  da  portela  que  ffoi  de  Marinha  perez  para  ssem- 
pre. Item  mando  aos  ffilhos  de  Tareja  perez  a  herdade  que 
coraprej  dos  da  costa  para  ssempre.  item  mando  a  sam  Salua- 
dor  huum  calez  de  prata  duum  marco  e  huum  quartejro  de 
pam.  Item  mando  ao  abbade  de  sam  Pêro  deste  por  o  affam 
que  hj  íBlhar  huum  marco  de  prata.  Item  mando  ao  priol  de 
Ssouto  huma  das  taças  e  non  Ihj  dem  a  branca.  liem  mando 
ao  AtTonso  domingues  vynte  libras.  Item  a  Martim  steuez  dous 
quartejros  de  pam.  Item  mando  que  quanlem  (?)  por  mjni 
dous  capelaaens  por  huum  anno  cada  dia.  Item  mando  a  Maria 
lourença  huum  mojo  de  milho.  Item  mando  a  Gonçalo  martins 
meu  afifilhado  xx  soldos.  Item  mando  a  Maria  amanta  três 
quartejros  de  pam  e  demlhj  do  linho  e  que  aia  em  dia  de 

Ssam pola  herdade  do  outejro  em  cada   huum   anno 

huum  quartejro  de  pam.  Item  mando  a  Gil  huum  quartejro  de 
pam  e  huma  capa  e  huma  saja  de  burel.  Item  mando  a  Mar- 
tim lourenço  dous  quartejros  de  pam.  Item  mando  a  Joham 
lourenço  da  costa  huum  marauedi.  Item  mando  a  Marinha  paez 
deste  íDlha  delujra  gonçaluiz  vynte  soldos.  Item  mando  a  Do- 
mingas martins  ffilha  de  Martim  gonçaluiz  vynte  soldos  e  com 
estes  vynte  vynte  soldos  as  aparto  de  todos  meus  beens.  E 
iraço  meus  herreeos  e  testamentejros  e  compridores  da  minha 
alma  e  testamento  Domingos  despinho  abade  de  sam  Pêro 
deeste  e  Affonso  dominguiz  çapatejro  morador  em  Guimaraens 
hj  doulhjs  comprido  poder  que  possam  vender  a  herdade  e 
quinlaan  das  Cortjnhas  que  iaz  na  ffreigesia  de  sam  Saluador 
e  a  doutejro  da  íFreigesia  de  sam  milhaaom  ssaluo  que  aia 
Maria  amanta  cada  anno  o  dito  quartejro  de  pam.  liem  mando 
aa  Eigreia  de  sam  Saluador  cada  anno  huma  ssoldada  de  pam 


59 


por  primejro  domingo  de  carraesma  e  uma ano  a  oito 

dinheiros  o  quarto  e  ssejs  dinheiros  de  candea.  e  mando  que 
os  ditos  meus  herreeos  e  testamentejros  hacrespentem  ou  min- 
gam em  esta  minha  manda  como  virem  que  he  bem  e  prol 
de  minha  alma  e  ffapam  prol  de  minha  alma  como  as  delhes 
ífio  que  desliuga  deus  que  o  por  elhes  íTapo.  Item  proueam  a 
Domingas  da  portela  como  virem  que  he  bem.  E  outrossj  a 
Gonçalo  perez  e  AíTonso  e  Johaom.  Item  íTaço  pessoejro  do 
emprazamento  das  Gortinhas  que  he  da  Eigreia  de  sam  Salua- 
dor  sleuom  perez  de  donjn  e  reuogo  todalas  outras  mandas 
que  ej  íTeitas  ata  o  dia  doie  e  outorgo  esta  minha  manda  fiei- 
la  por  íTernam  anes  tabeliom  de  Lanhoso  ca  esta  ej  por  minha 
manda  e  por  codepillo  e  por  minha  póstrimejra  vontade.  E 
presente  a  esta  manda  Lourenço  gonçaluiz  irmaaon  do  dito 
Pêro  gonçaluiz  outorgoua  e  outorgou  que  o  dito  Pêro  gonçaluiz 

iTaça  dos  seos  beens  o  que  sse  pagar ca  el  non  os 

quer  herdar  nem  auer  em  elhes  parte.  Item  eu  Pêro  gonçal- 
uiz mando  as  minhas  cassas  de  Guimaraens  em  que  mora 
Affonso  dominguez  e  Costança  peres  ssa  molher  que  as  aiam 
estes  que  em  elas  moram  e  Pedro  sseu  ffilho  era  ssas  vidas  e 
dera  delas  cada  huum  anno  quarenta  soldos  ao  moestejro  de 
Ssoulo  para  onouerssarjo  e  sse  outro  ffilho  ou  ffilha  ouuerem 
aiamnas  em  ssa  uida  e  pagem  os  ditos  quarenta  soldos  cada 
anno  como  dito  he.  Estintos  estes  fficara  as  ditas  cassas  aas 
ditas  Margarida  e  Johana  rainhas  criadas  ffilhas  da  dita  Maria 
lourença  e  aiarahas  para  ssempre  e  dera  cada  anno  ao  dito 
moestejro  os  ditos  quarenta  soldos.  ífeita  a  manda  nas  Gorti- 
nhas postrimejro  dia  dabril  Era  de  mil  e  trezentos  e  nouenta 
e  quatro  annos.  testeraunhas  que  presentes  íToram  Steuom  lou- 
renço  do  Vilar.  Doraingos  perez  gedelha  do  outejro.  Mariim 
perez  e  Gil  perez  criados  de  Pêro  gonçaluiz  e  o  dito  AíTonso 
dorainguez  e  outros.  E  itera  depôs  esto  cinquo  dias  de  majo 
da  ssobredita  Era  nas  Certinhas  Eu  Pêro  gonçaluiz  ssobredito 
acreçentando  na  dita  minha  manda  mando  cantar  por  Dom  Vi- 
cente anes  e  por  Bernal  martins  e  por  Sirahom  perez  huum 
anal  de  missas  e  por  as  coníTrarjas  por  que  ouue  de  cantar 
por  de  ÍTallimento  mandolhjs  cantar  ssete  rajssas.  Itera  mando 
cantar  trinta  rajssas  por  alraa  de  raeu  padre  e  de  rainha  raa- 
dre.  liem  mando  cantar  trinta  rajssas  por  huura  homem,  liem 
mando  cantar  trinta  rajssas  por  aquelles  de  que  ouue  do  sseu 
alguma  coussa  ou  Ihjs  errej.  Item  mando  cantar  cinquo  rajs- 
sas aa  honrra  da  crux.  Item  raando  a  Gonçalo  raeu  criado  três 
libras.  Itera  mando  a  Domingas  minha  criada  dous  quartejros 


60 


de  pam  e  quatro  cabras  e  huma  vaca  e  huma  arca  e  huma 
hucha  sse  cassar.  Item  mando  a  Domingas  dona  cinquo  leigas 
de  milho  lij  mando  que  esto  compra  o  dito  Domingos  despi- 
nho  abade  de  sam  Pêro  deste.  E  outrossj  Ihj  dou  comprido 
poder  que  el  ssem  o  dito  Affonso  domingues  possa  vender  to- 
dalas  herdades  que  mandej  vender  como  he  conteúdo  na  dita 
minha  manda  e  meu  testamento  e  outrossj  venda  os  meus 
beens  para  íTazer  delhes  o  que  eu  com  el  ffallej  que  emtendo 
que  he  ssaude  da  minha  alma  e  que  o  dito  abade  compra  esto 
e  o  ai  todo  como  he  conteúdo  no  meu  testamento  como  eu 
dei  ÍTjo  e  mando  que  el  non  sseia  tehudo  de  dar  conto  nem 
recado  dos  meus  beens  a  Rej  nem  arcebispo  nem  a  outro  ho- 
mem nenhum  e  ihj  dou  comprido  poder  que  de  todos  os  meus 
beens  ffaça  e  os  estribua  assj  como  eu  com  el  ífallej  por  ssaude 
de  minha  alma  ca  esta  he  a  minha  postrimejra  uontade  para 
o  el  assj  ffazer  e  comprir  como  com  el  fallej.  Item  mando  a 
ssam  Martinho  (?)  quarenta  soldos  para  lenpooes  para  o  altar, 
testemunhas  que  presentes  fforom  bertolameu  perez  escudejro 
de  Diego  rodrigues  (?).  Martim  lourenço  daiquiam  e  Gil  perez 
e  Gonçalo  perez  criados  de  Pêro  gonpaluiz  e  Aluaro  martins  e 
Pedro  dominguez  homens  do  dito  abade  e  André  dominguez 
íFrade  de  Souto  e  Gonçalo  martins  de  gondemar  e  íTrancisco 
perez  clérigo  de  Guimaraens  e  outros.  E  item  doze  dias  do 
mes  de  raajo  da  Era  de  mil  e  trezentos  e  nouenta  e  quatro 
annos  nas  Corlinhas  perante  Gonçalo  steuez  juiz  de  lanhoso 
Domingos  despinho  abade  de  sam  Pêro  deste  disse  a  mjra  ffer- 
nam  anes  tabeliom  da  dita  terra  de  lanhozo  que  Ihj  mostrasse 
e  leesse  ha  manda  que  ffigj  de  Pêro  gonçaluiz  abade  que  ffoj 
de  gondemar  em  que  he  ssea  testamentejro  ca  disia  por  que 
ora  íToi  a  ssapultura  do  dito  Pêro  gonçaluiz  que  queria  veer  o 
testamento  sse  conssentirja  em  el  ou  non.  E  eu  tabeliom  sso- 
bre  dito  por  mandado  do  dito  juiz  Ij  a  nota  dessa  manda  e  o 
dito  abade  disse  que  conssentja  na  dita  manda  para  a  com- 
prir com  protestaçom  que  em  quanto  os  beens  do  dito  Pêro 
gonçaluiz  durarem  que  a  compria  e  que  os  sseus  beens  noa 
sserom  a  majs  obrigados,  das  quaes  coussas  pedio  huum  stru- 
mento.  E  Aíronso  dominguez  morador  em  Guimaraens  outrossj 
disse  que  em  quanto  durassem  os  beens  do  dito  Pêro  gonçal- 
uiz que  conssentja  no  sseu  testamento  e  que  os  sseos  beens 
non  seiam  a  majs.  E  pedio  treslado  da  dita  manda  e  a  deda 
dela  e  deste  strumento  testemunhas  que  a  esto  presentes  ffo- 
rom o  dito  juiz  e  Affonso  vaasquez  mercador  em  Bragaa  e  Ai- 
res  paez  e  ffrancisco  martins  de  Bragaa  e  Martim  steuez  de 


61 


cassaelles  e  Joham  perez  e  Gil  perez  criados  do  dito  Pêro  gon- 
çaluiz  e  Martim  tome  (?)  e  Joiíarn  sseu  íTilho.  ffrancisco  anes  de 
louredo  e  outros.  E  eu  ffernam  anes  tabeliom  dei  Rej  em  La- 
nhoso de  ssuso  dito  que  este  treslado  da  dita  manda  e  a  deda 
dela  e  deste  strumento  por  mandado  do  dito  juiz  escreuj  e  dej 
ao  dito  AíTonso  dominguez  e  aqui  meu  ssinal  íÍQgj  que  tal  he  +. 


LXI 

1360 

Sabbam  todos  que  nos  dom  Joham  de  chaneac  (?)  prior  de 
Souto  Vigário  geral  do  honrrado  padre  e  senhor  dom  Guilher- 
me polia  grapa  de  deus  e  da  saneia  Eigreia  de  Roma  Arcebis- 
po de  Bragaa  e  o  conuento  do  dito  moesteiro  em  nosso  nome 
6  do  dito  nosso  moestejro  emprazamos  a  Joham  martinz  íFilho 
de  Martim  da  codessosa  da  íTrjguesia  de  sam  Migel  de  gonça 
presente  e  aa  sua  primejra  molher  Ijdina  que  el  ouuer  e  a 
huma  pessoa  depôs  elles  qual  para  esto  nomear  o  que  delles 
majs  viuer  em  ssa  vida  ou  aa  ssua  morte  o  casal  que  ffoj  de 
Martim  perez  de  Vilarinho  o  qual  he  na  dita  íTrjguesia  em  esta 
guisa  que  as  ditas  pessoas  aiam  tenham  e  possujam  o  dito  ca- 
sal em  todo  tempo  de  ssas  vidas  com  todos  sseus  derejtos  e 
perleenças  e  dem  em  cada  huum  anno  ao  dito  moestejro  em 
paz  e  em  saluo  quatro  marauedis  e  huma  marraam  e  duas  ga- 
linhas e  dez  homeens  de  gejra  para  cauar  na  vinha  ou  para 
ffazer  o  que  Ihis  mandarem  e  lojtosa  enlejra  o  qual  emprasa- 
mento  o  dito  Joham  martinz  por  ssj  e  em  nome  das  ditas  pes- 
soas recebeu  e  obrigoussj  e  todos  sseus  beens  moujs  e  raiz 
por  ssj  e  em  nome  das  ditas  pessoas  a  dar  e  pagar  a  dita 
penssom  pela  guisa  que  dito  he  e  a  manteer  o  dito  empraza- 
mento e  chantar  e  melhorar  e  íTazer  em  el  quanta  bemfejtoria 
ÍTazer  poderem  e  deuem  sseer  obedientes  ao  dito  moe.stejro 
com  lodos  sseus  derejtos  e  non  chamar  outro  ssenhor  contra 
elle  nem  deuem  hi  criar  ffilho  nem  ffilha  dalgo  nem  doutro 
poderoso  nem  deuem  vender  nem  dar  nem  doar  nem  alhear 
nem  apenhorar  o  dito  emprazamento  nem  parte  dei  a  nenhu- 
ma outra  pessoa  saluo  se  acontecer  aa  tal  que  sseia  da  ssua 
condiçom  e  por  quem  o  dito  moestejro  possa  auer  bem  para- 
dos todos  os  sseus  derejtos  e  deve  seer  antes  conuidado  o  dilo 


62 


prior  e  moesteiro  se  o  querem  tanto  por  tanto  e  sse  recreçer 
contenda  ssobre  o  dito  emprazamento  sseiam  tehudos  a  res- 
ponder pola  Eigreia  de  Bragaa.  E  sse  contra  as  ditas  cousas 
ou  contra  cada  huma  delas  íTorem  percam  o  dito  empraza- 
mento e  o  derejto  que  em  el  ouuerem  e  sse  alguma  das  par- 
tes contra  esto  quizer  vijr  para  britar  o  dito  emprazamento 
non  possa  demais  pejte  aa  outra  parte  outorgante  quinhentos 
soldos  em  nome  de  pea  e  o  prazo  fficar  em  sua  Grmedoem 
para  sempre  e  por  morte  das  ditas  pessoas  o  dito  empraza- 
mento com  toda  ssa  bemííejtoria  íTicar  liure  e  quite  ao  dito 
moestejro.  E  nos  dom  Joham  de  chaneac  Vigário  ssobre  dito 
porque  tlomos  certo  que  o  dito  emprazamento  sse  iTaz  a  prol 
do  dito  nosso  moestejro  damos  hi  outorgamento  e  acturidade 
ordinária  da  parte  da  dita  Eigreia  de  Bragaa.  Testemunhas  que 
a  esto  fiforara  presentes  Joham  lourenfo  procurador  e  Joham 
goDçalues  tabeliom  de  Guimaraens.  Affonso  gonçalues  e  Mar- 
tins Johannes  do  Rial  e  Joham  de  ssobrado  e  outros.  E  por 
major  íTirmidoem  mandamos  dar  ao  ssobre  dito  Joham  martins 
esta  carta  de  emprazamento  soescripta  com  nossa  maaom  e 
sseelada  do  nosso  seelo.  Data  em  no  dito  moestejro  quatro 
dias  dojtubro  Era  de  mil  ccc.  nouenta  e  ojto  annos. 


Lxn 

13G4 

Sabbam  todos  que  presente  mjm  Joham  gonçalves  tabal- 
liom  de  Guimaraens  e  das  testemunhas  adeante  scritas  Joham 

raarlins  priol Vaasco  dominguez   Vicente  anes  Joham 

anes  Pêro  lagoa  caonigos  do  dito  mosteiro  de  Souto  mandarem 

e  outorgarem   que  Maria molher  que  iToj  de  Gonçalo 

anes  mercador  ia  pasado  ouuesse  por  o  casal  daldam  que  o 

dito  priol ffrades  que  esta  no  dito  logo  daldam  sateen- 

ta  e   cinquo    libras  de  dinheiro  port conuem   a  sa- 
ber  cada  huum  anuo  e  três  marauedis  por  o  casal  dos 

ditos  ffrades  ataa  que  ffassom  entregua  dos  sobre  ditos  dinhei- 
ros os  quaes  dinheiros  Maria deuja  aa  dita  Maria  gon- 

çalues  e  a  seu  marido.  E  a  dita  Maria  gonçalues do  ca- 
sal do  dito  priol  ora  a  huum  anno  e  depôs  que  a  dita  Maria 


63 


gonçalues  ffosse  entregue  dos  sobreditos  dinheiros  os  ditos  ca- 

saaes ao  dito  raostejro das  quaes  coussas  a  dita 

Maria  gonçaliies  pedio  huum  strumento.  ííeito  íToj  no  mostejro 
de  Souto  primeiro  dia  de  dezembro  Era  de  mil  e  quatrocentos 
6  dous  annos.  testemunlias  AíTonso  domingues  do  Castelo.  Gi- 
rai dominguez.  AíTonso e  outros.  E  eu  taballiom  sobre 

dito  a  esto  presente  ffuj  e  este  strumento  screuj  e  aqui  meu 
signal  íTiz  que  tal  he  -f* 


Lxm 

1366 


Sabbam  todos  que  presente  mjm  Pêro  martins  taballiom 
dei  Rej  em  Bragaa  e  em  seus  termhos  e  as  testemunhas 
adeante  scritas  o  honrrado  barom  dom  Martim  dominguez 
meestre  scola  de  Bragaa  conheceu  e  confessou  que  ouue  e  re- 
cebeu do  religioso  Joham  martins  priol  do  mosteiro  de  Souto 
treze  raarauedis  em  nome  do  cabidoo  de  bragaa  em  que  o  dito 
mosteiro  era  teudo  ao  dito  cabidoo  do  anno  da  Era  de  mil  e 
quatrocentos  e  huum  que  se  acabou  polo  sam  Johanne  bautis- 
ta  da  Era  de  quatrocentos  e  dous.  E  deuse  dos  ditos  dinheiros 
por  bem  pago  e  entregue  em  nome  do  dito  cabidoo  e  o  dito 
priol  por  quite  e  por  liure  delles  para  sempre  el  e  o  dito  seu 
mosteiro  e  successores.  Das  quaes  cousas  Johanne  aíTonso  ho- 
mem do  dito  priol  e  em  seu  nome  pediu  a  mjm  dito  taballiom 
huum  strumento.  íTeito  ífoj  em  Bragaa  nas  casas  da  morada  do 
dito  meestre  scola  noue  dias  do  mes  de  setembro.  Era  de  mil 
e  quatrocentos  e  quatro  annos.  testemunhas  que  presentes  fo- 
rem Rodrigue  anes  abbade  da  aueleeda.  Joham  branco.  Vaasco 
perez  homens  do  dito  Meestre  scola  e  outros.  E  eu  Pêro  mar- 
tins taballiom  susso  dito  que  a  esto  presente  fuj  e  este  stru- 
mento de  mandado  do  dito  Meestre  scola  e  a  rrogo  do  dito 
Johanne  afonso  com  minha  maaom  própria  screuj  e  em  el  meu 
sinal  pugj  que  tal  he  em  testemonho  de  uerdade :  — 

Sancta  Maria -j- intercede  pro  me.  —  pag.  1111°  soldos. 


64 


Lxry 

1375 


Sabbam  todos  que  presente  mjm  Joham  affonso  tabaliom 
de  Gujmaraens  e  as  testemunhas  adeante  scriptas  Joham  mar- 
tios  priol  do  mostejro  de  sam  Saluador  de  Souto  e  Steuoin 
ffernandes  testamenteiro  de  fernam  anes  vasalo  deirrej  procu- 
rador de  Gonçalo  ffernandes  e  Ejnez  ffernandes  fllhos  do  dito 
fernam  anes  e  Vaasco  martins  caonigo  e  procurador  daldonça 
marlins  ssa  madre  molher  que  foj  do  dito  fernam  anes  e  Gon- 
çalo rrumen  chegarom  aas  vjnhas  que  chamam  do  caualeiro 
que  ssoja  de  trager  emprazadas  Martim  gomes  e  Margarida 
steuez  sa  molher  e  ffezerom  delas  parliçom  em  esta  gisa  que 
se  segue  presente  Joham  daraaens  marido  da  dita  Ejnez  ffer- 
nandes derom  ao  dito  mostejro  de  Souto  a  meatade  delas  e 
aconteceulhj  na  sa  meatade  a  meatade  da  vjnha  que  esta  so  a 
vjnha  de  belmonte  pelos  marcos  e  deujsoens  que  logo  hj  po- 
serom  para  contra  a  vjnha  do  logar  de  ujla  uerde  e  a  meata- 
de da  vjnha  que  esta  apardcom  (?)  Martim  cassado  e  aconte- 
ceulhj na  sa  meatade  pelos  marcos  e  deujsoens  que  logo  hj 
poserom  contra  a  vjnha  de  gundaar  com  a  meatade  da  deuessa 
que  esta  arredor  da  dita  ujnha  e  a  outra  das  ditas  vinhas  e 
deuessa.  Aconteceu  aas  ditas  aldonpa  martins  e  filhas  e  testa- 
menteiro do  dito  fernam  anes  e  a  Gonçalo  rrumeu  por  sortes 
que  sobre  esto  lançarom  e  quizerom  e  outorgarem  as  sobre- 
ditas que  cada  huum  ouuesse  a  ssa  parte  das  ditas  vjnhas  e 
deuessa  pela  gisa  que  a  cada  huum  acontecia  e  ffezese  dela 
como  de  sua  cousa  própria,  ffeito  ffoj  nas  ditas  vjnhas  vjnle  e 
sseis  dias  de  março  Era  de  mil  e  quatrocentos  e  treze  anos. 
testemunhas  Affonso  rrodriguez  peixoto.  Lourenço  steuez  de 
picoutos.  Affonso  giraldes  da  porta  da  torre  uelha.  Pêro  perez 

de  rrua  de  coiros.  Martim  casado.  Martim  anes  de  so 

Joham  lourenço  homem  do  dito  priol.  Gonçalo  çapateiro  jenrro 
de  Gonçalo  gulaaens.  Vaasco  gaujaro  homem  do  dito  Gonçalo 
rrumeu  e  outros.  E  eu  dito  tabaliom  que  este  strumento  para 
o  dito  mostejro  screuj  e  aqui  meu  sjnal  fliz  que  tal  he  +• 


65 

LXV 

1375 


Sabbara  todos  que  presente  mjm  Joham  affonso  tabaliom 
de  Gujinaraens  e  as  testemunhas  adeante  scriptas  Joham  mar- 
tins  priol  do  mostejro  de  Souto  e  Vaasco  raartins  caonjgo  como 
procurador  daldonpa  martins  ssa  madre  e  Steuom  ffernandez 
testamenteiro  de  fernam  anes  marido  que  foj  da  dita  aldonça 
martins  e  procurador  de  Gonpalo  ÍTernandes  e  Ejnez  íTernandes 
seus  filhos  e  Gonpalo  rrumeu  parlirom  por  mejo  o  souto  e  deue- 
ssa  que  jaz  na  íFrejgesia  de  Santesleuom  dulgeses  que  chamam 
dos  caualeiros  e  aconteceu  ao  dito  priol  e  sseu  mosteiro  por  sor- 
tes que  sobre  esto  lanparom  em  ssa  raeatade  o  souto  e  salgeiros 

que  estam   contra  o  ssouto  que que  he  daffonso  gil  e 

dessa  irmajdade  para  logo  foj  partido  e  marcado  e  a  deuessa 
que  eslá  junta  com  o  dito  souto  costa  cima  que  parte  por  o 
comaro  da  deuessa  de  carreiros  por  os  marcos  e  deujssoens 
que  em  ela  poserom.  E  aos  ditos  aldonça  martins  e  testamen- 
teiro e  curador  e  Gonçalo  rrumen  aconteceu  em  ssa  meatade 
o  outro  souto  que  esta  costa  cima  e  a  deuessa  que  esta  junta 
com  el  como  sse  vaj  contra  o  monte  que  segue  para  a  vjnha 
de  gundaar  que  trage  Marlira  anes  de  so  as......  e  pelos 

marcos  e  deujssoens  que  hj  poserom  pela  gisa  que  dito  he  e 
quiserom  e  outorgarem  que  cada  huum  fezesse  da  sua  parte 
da  dita  deuessa  e  das  vjnhas  e  soutos  e  herdade  que  chamam 
dos  caualeiros  pela  gisa  que  Ihjs  acontecia  aquilo  que  quisese 
e  por  hem  teuesse  com  protestaçom  que  se  alguum  leuaua  o 
que  seu  non  era  e  asj  depojs  fosse  achado  que  o  desembar- 
gasse a  cuio  fosse  e  obrigaromse  a  rresponder  por  esta  rrasom 
perante  os  juizes  de  Gujmaraens  sse  acontecesse  que  por  elo 
fossem  demandados.  íTeito  nos  ditos  souto  e  deuessa.  dous  dias 
dabril  Era  de  mil  e  quatrocentos  e  treze  anos.  testemunhas 
Joham  rrodrigues  caonigo  do  dito  mosteiro  de  Souto.  Lourenço 
steues.  Steuom  capeiom  moradores  na  ÍFrejgesia  do  dito  mos- 
teiro. Martim  casado,  nicolaao  perez  caonigo  de  Gujmaraens. 
DiegafTonso.  Vaasco  gauiaro  homens  do  dito  Gonçalo  rrumeu  a 


1    Está  escripto  no  mesmo  pergaminho  do  antecedente. 

7."  Anno.  5 


m 


outros.  E  eu  dito  tabaliom  que  este  strumento  para  o  dito  mos- 
teiro screuj  e  aqui  meu  sjnal  fiz  que  tal  he  +• 


LXVI 

1379 

Sabbam  todos  que  presente  mjm  AfTonso  domiDguez  taba- 
liom de  Guimaraens  e  as  testemunhas  adeante  escritas  sendo 
dom  Joham  martins  prior  do  raostejro  de  Souto  Vasco  domin- 

gues perez  Vasco  gODçalues  Joham  martins  (?)  íTrades 

do  dito  mostejro  em  cabjdoo  como  de  custume  para  esto  que 
se  segue  emprazarom  a  Vasco  domingues  abade  de  Sancta  ofe- 
mea  e  a  duas  pessoas  despos  el  qual  o  postrimejro  a  sa  mor- 
te nomear  o  campo  de  mozjnhos  que  fíbj  de  Domjngos  mar- 
tins que  he  na  dita  íTregesia  so  tal  pato  e  condiçom  que  dedes 

ende  em  cada  hum  ano  ojlo  soldos dos  ÍTrades  e  íTaça 

em  el  bemffeitoria  e  melhoramento  e  dardes  aos  ditos  ffrades 
os  ditos  ojto  soldos  e  uos  non  o  poderdes  leixar  nem  o  dito 
prior  e  convento  a  uos  tirarlhe  (?)  e e  as  ditas  pes- 
soas o  dito  campo  com  toda  sa  bemíFeitoria  para  prior  do  dito 
raostejro  Ijure  e  quite  com  toda  sa  bemffeitoria  e  quem  con- 
tra esto  íTor  peite  de  pea  quinhentos  soldos  esto  ualer  esto  nos 
ffizemos  por  duas  peixotas  íTrjias  e  huma  cabaça  de  vinho  que 
de  uos  recebemos íTazemos  uos  praso  por  Bragaa  quan- 
do quizerdes  a  uossa  custa  ffeito.  íTeito  íToj  no  dito  mostejro 
dez  e  noue  dias  de  novembro  Era  de  mil  e  quatro  centos  e 

dez  e  sete  anos.  testemunhas  Gonçalo homem  do  dito 

prior.  íTrancisco Joham  lourenço  homem  do  dito  prior 

e  outros.  Eu  Aííonso  domingues  tabeliom  sobre  dito  que  este 
estrumento  e  outro  a  el  semelante  escreuj  e  aqui  meu  signal 
lllz  que  tal  he  -}-. 


p.  uif  soldos. 


Lxvn 

1394 


Sabbam  todos  que  eu  Domingos  gonçalves  abbade  de  san- 
eio Ovaya  de  Reuelhc  do  arcebispado  de  Bragaa  julgado  de 


67 


monte  longo  conhosco  e  confesso  que  recebj  de  dom  Steuom 

priol  do  mostejro  de  Souto  de  Ribadaue em  boa  paga 

e  entrega  de  todos  os  beens  e  cousas  que  o  dito  dom  Steuom 
ouue  de   dar  de  receber  e  demjnjstrar  e  de  procurar  da  dita 

minha  Eigreja  des  tempo  que delia  foj  abbade  aíaa 

este  sanhoane  baiitista  que  ora  foj  desta  Era conuem  a 

saber  des  ha  era  de  mille  iiii°  centos  trinta  e  huum  anos  ataa 
este  ano  da  Era  de  mill  e  quatrocentos  e  trinta  e  dous  anos 

que  ora  anda  e  das pesuas que  aa  dita  Eigreia 

fossem  obligadas  de  quaes  el  recebesse  e  ouuesse  e  que  o 
dito  priol  page  todos  os  encarregos  que  a  dita  Eigreia  he  tiu- 

da  de  pagar  do  sobre  dito  tempo  e  que  os  page co- 

reenta  dias  e  que  o  dito  abbade  page  coreenta  soldos  para 

deste  ano  a  Bragaa  e  que  qualquer  que  for  tehudo  a  pagar  a 

paga  que dauer  da  dita  Eigreia  do que  a  page 

e  por  ende  o  dou  por  quite  e  por  Ijure  el  aiades-seus 

cousas  e  nunca  o  por  a  dita  razom  demande  nem  posa  de- 
mandar em  juiso  nem  fora  dei  nem  outrem  por  mjm  nem  por 
a  dita  minha  Eigreia  e  posto  que  o  demande  outorgo  que  noa 
valha  e  pedirom  senhos  estromentos.  feito  foj  em  Reuelhe  vjn- 
te  e  seis  dias  do  mes  de  Julho  Era  de  mil  e  quatrocentos  trin- 
ta e  dous  annos.  testemunhas  Steuom  martins.  Joham  gonçal- 
ves  ffernam  uelho  de  Reuelhe  e  outros.  E  eu  Gonçale  anes 
taballiom  delrej  em  monte  longo  que  este  stroraento  screuj  e 
aqui  meu  signal  fiz  que  tal  he  +. 

Lxvin 

1397 

Sabbam  todos  que Steuom  peres  prior  e  o  conuen- 

to  do  mosteiro  de  sam  Salvador  de  souto  do  arcebispado  de 
Braga  do  julgado  de  Guimaraens  autor  de  huma  parte  e  Aífon- 
so  domingues  çapateiro  morador  no  castelo  da  dita  villa  reo 
da  outra  parte  por  rrasom  de  humas  cassas  que  o  dito  prior 
e  conuento  diziam  que  lhes  mandara  por  elas  Pêro  gonçalues 
abbade  de  sam  Martinho  de  Gondemar  coreenta  soldos  da  moe- 
da antjga  quada  huum  ano  por  nouersario  e  que  o  dito  Aflon- 
so  domingues  moraua  e  mora  em  has  ditas  casas  e  que  Ihj 
pagara  os  ditos  coreenta  soldos  quada  huum  ano  ata  a  Era  de 

quatrocentos  e  doze  anos  que  Ihj de  pagar  e  non 

pagar  vjnte  e  cinquo  anos  e  majs  obriga e  pedira  que 


68 


lhos   pagasse  era  duas por  terem  preito  e  demanda 

veeram  a  tal  aveenpa  e  amjgavel  composiçom  por  manda 

e  composerom  e  oulorgarom  que  o  dito  prior  e  seu  conuento 
e  seu  mosteiro  aiam  daqui  em  deante  para  sempre  as  ditas 
cassas  com  seu  eixido  e  perteenpas  e  (Tapam  delas  como 
de   sua   coussa   própria   com    outorgamento   que   se  Johana 

filha Pêro    gonpalves    em    ellas    ha   alguno   dereito 

que Ihj   ílique.  outrosj  que  o  dito  aíTonso  domingues 

seja  quite  das  ditas pasadas  e  prouue  ao  dito  aíTonso 

domingues  que  o  dito  prior  e  conuento  filhem das 

cassas  e  as  aiam dito  seu  mosteiro  como  dito  he  para 

fazerem   por  ellas  o  que  o  dito  Pêro  gonpalues  mandou  em 

seu  testamento coussas  e  non  hjrom  contra  ellas  so 

pena  de   vjnte  lihras  e  esto  valer,  ffeito  na  rua  da da 

dita  vila  vjnte  e  huum  dias  do  mez  de  majo  Era  de  mil  nu 
centos  e  trjnta  e  cinquo  anos  testemunhas  Joham  anes  procu- 
rador do na  dita  vila  Martim  martius  tabaliom.  Paay 

rrodrigues  tecelom.  Gonçalo  domingues E  depois  deslo 

no  dito  dia  o  dito  aíTonso  domingues  entregou  aas  ditas  ca- 
ssas as  quaaes  stom  a  sub  a  porta  da  garida  e  partem  da 
huma  parle  ellas  e  seu  eixido  com  cassas  que  íTorom  de  Gi- 
raldo  martins  mercador  e  da  outra  com  cassas  de  Joham  rro- 
drigues  e  da  outra  por  rrua que  vaj  para  o  cas- 
telo  pollo  caminho  que  vaj  para  o  forno  de  Vai  melho- 
rado. E  o  dito  aíTonso  domingues  deu  a  posse  das  ditas  cassas 
com  seu  eixido  ao  dito  prior  para  aas  auer  com  seu  conuento 
polia  guissa  que  dito  he  a  qual  posse  Ihj  deu  por  pedra  e  ter- 
ra e  telha  e  chaues  e  portas  delias  e e  o  dito  prior  asj 

a  recebeu  e  íficou  em  ela  e  pediu  de  todo  huum  strumento. 

testemunhas  o  dito  Joham  anes de  sam  torcade.  Joham 

anes  procurador  do na  dita  vila.  Martim  martins  taba- 
liom dela  e  outros  e  eu gonpalves  tabaliom  delrej  em 

Guimaraens  que  este  strumento  screuj  e  aqui  meu  signal  ííix 
que  tal  -j-  he. 


LXIX 

1400 

Sabbam  todos  que  presente  mjm  AíTonso  íTernandes  label- 
liom  delrej  na  vila  de  Guiraaraaens  e  as  testemunhas  adeante 


69 


scritas e  demanda  era  perante   Martim   uycente  godi- 

nho  e  Gjl  raarlins  ouuidores  na  corte  (?)  delrej  antre  AíTonso 
mjgees  morador  em  vilar  datam  termho  da  dita  vila  autor  por 
ssj  e  por  Gil  peres  sseu  procurador  da  huma  parte  e  dom  Ste- 
uom  peres  priol  do  moesteiro  de  sam  Saluador  de  ssouto  da 
hordem  de  Santo  agostinho  do  arcebispado  de  Bragaa  e  o  con- 
uento  do  dito  moesteiro  por  ssj  e  por  AíTonso  ueeira  sseu  pro- 
curador da  outra  dizendo  o  dito  Affonso  mjgees  contra  o  dito 
priol  que  el  dito  Affonso  mjgees  e  sseus  ffilhos  morauam  no 
dito  logo  de  vilar  datam  o  qual  logar  era  regeengo  delrej  e 
que  ele  e  os  sseus  ífilhos  e  as  outras  pessoas  que  ante  elles 
raorarom  no  dito  regeengo  esteuerom  e  estauam  ssempre  em 
posse  de  paçer  com  sseus  gaados  e  montar  e  talhar  no  monte 
de  candooso  ssem  embargo  do  dito  priol  e  dos  outros  priores 
que  fforam  do  dito  logo  de  ssouto  ssegundo  ffaria  certo  por 
testemunhas  e  por  escritura  mostrando  logo  em  ajuda  de  sseu 
ffeito  huum  estrumento  escripto  em  purgaminho  que  era  ssi- 
gnaado  por  maom  de  Pêro  lourenço  tabelliom  que  llbj  da  terra 
de  ffreitas  ssegundo  em  el  parecia  do  qual  o  teor  tal  he.  To- 
dos conhoscam  que  em  presença  de  mjm  Pêro  lourenço  publi- 
co tabelliom  de  nosso  Senhor  Elrej  em  terra  de  ffreitas  e  das 
testemunhas  adeante  escritas  os  homens  de  vilar  datam  se 
veeram   querelar  a  Martim  steues  juiz  de  ffreitas  do  priol  de 

ssouto  que   lhes  metja no    monte  hu  ssuyam  a  pa- 

çer  e  husar  e  lho  tolhja  e  deffendia  o  qual  juiz  mandou  jul- 
gando aos  ditos  homeens  que  paçessem  e  husassem  e  talhas- 
sem como  ssempre  paçerom  e  talharom  e  husarom  e  que  sse 
lhes  o  dito  priol  ffesesse  mal  e  fforça  que  lho  veessem  diser  a 
el  ou  a  qualquer  juiz  que  ffosse  que  lhes  alçaria  fforça  comno 
meirinho  e  cena  justiça  da  qual  cousa  os  ditos  hohieens  pe- 
direm em  a  mjm  dito  tabelliom  huum  testemonho  ffoj  ffejto 
em  ffrejtas  vjnte  djas  de  janeiro  Era  de  mil  e  quatrocentos  e 
trjnta  e  três  anos.  testemunhas  presentes  ffrancisco  anes  cre- 
ligo.  Joham Domjngos  peres  e  outros  e  Eu  dito  tabel- 
liom a  esto  presente  ffuj  e  este  estrumento  escreuj  e  meu  si- 
gnal  pus  que  tal  he  +.  o  qual  escrito  assj  amostrado  o  dito 
Affonso  migees  disse  que  non  embargante  que  assj  os  morado- 
res do  dito  logo  de  vilar  datam  avjam  de  paçer  e  talhar  no 
dito  monte  e  ssempre  esteuerom  em  posse  delo  que  ora  noua- 
mente  o  dito  priol  lhes  punha  embargo  que  non  talhasem 
nem  montasem  nem  paçesem  no  dito  monte  e  lho  tolhia  man- 
dando penhorar  os  que  hj  achaua  assj  como  mandara  ora  pe- 
nhorar e  tomara  penhores  a  elle  e  a  sseus  ffilhos  porque 


70 


hjam  assj  ao  tlito  monte  e  lhes  Ijnha  ora  o  dito  priol  tomado 
huma  capa  e  huum  chapeirom  e  huma  cesta  e  pjdia  aos  ditos 
ouuidores  que  visem  o  dito  escrito  pois  por  el  ífazia  certo  que 
estauam  em  posse  do  dito  monte  como  dito  he  que  liies  alça- 
sem  tforça  do  dito  priol  e  lhe  deíTensem  lhes  non  possese  sso- 
brelio  embargo  nenhuum  poendo-lhe  em  elo  pena  sse  o  con- 
trairo  ffezese  e  que  outrossj  o  costrangesem  que  lhe  entrega- 
sem  os  ditos  sseus  penhores  que  lhe  assj  tjnha  tomados  e  os 
ditos  ouuidores  visto  o  dizer  e  pjdir  do  dito  Affonso  mjgees  e 
visto  o  dito  escripto  íTezerom  pergunta  ao  dito  priol  que  djzia 
e  o  dito  priol  pjdiu  que  lhe  mandasem  dar  o  tralado  do  dito 
escrito  e  termho  a  que  veesse  djzer  do  sseu  djreito  e  os  ditos 
ouuidores  lho  mandarem  dar  e  que  para  a  primeira  audjencia 
veesse  rresponder  E  ao  dito  termho  pareceu  o  dito  Affonso  mi- 
gees  da  huma  parte  e  o  dito  priol  da  outra  djzendo  o  dito 
priol  aos  ditos  ouuidores  que  vista  ha  auçom  que  contra  el 
pos  o  dito  Affonso  migees  e  visto  como  el  priol  he  pessoa 
ecresjastjca  ssegundo  he  e  o  dito  autor  diz  em  sseu  djzer  e 
rrazoa  que  uos  nom  ssodes  jujzes  em  este  ffeito  nem  ho  co- 
nhofjmento  non  he  voso  majs  da  Ejgreia  de  bragaa  cuio  ssu- 
gejto  e  creljgo  he  Pede  que  non  conhoscades  do  dito  ffeito  e 
se  o  qisser  demandar  o  dito  Affonso  migees  que  o  demande 

perante  sseu  jujz  que  dei  ffora he  em aiades 

conhoçjmento   o    que    ssegundo   djrejto  nom   creo    (?)    com 

vosa respondo  ao  que  he  dito  da  parte  do  dito  Affonso 

que  o  Ijbello  non  procede  por  mingas  de  ffaljçjmentos  que  el 
ha  segundo  os  ditos  houuidores  veerion  e  o  dito  Affonso  mi- 
gees djzia  non  embargante  o  que  o  dito  priol  djzia  que  se  ha 

de  rresponder  perante  os  ditos jujzes  por  a  dita  razom 

e  que  o  dito  sseu  pjdjdo  tragja  sseu  (?)  djreito  e  por  o  dito 
Gil  martins  ouuidor  ffoj  julgado  que  a  auçom  posta  da  parte 
do  autor  contra  o  dito  reo  que  tragja  djreito  contra  o  dito  priol 
e  ffoj  contestado  o  dito  pjdjmento  parte  por  conílissom  e  parte 
por  negaçom  e  ao  conffessado  poer  ssua  deffessa  em  seu  tempo 
e  ao  negado  dar  artigoos  em  contrairo  e  de  todo  o  outro  seu 

djreito  o ouuidores  que  o  dito  priol  contestaua  quanto 

abondaua  e  mandarem  que  ffosse  este  ffeito  hamostrado  a  Jo- 
ham  esteuom  procurador  delrej  porque  diziam  que  perteençja 
ao  regeengo  delrej  e  fforora  dados  por  o  dito  Joham  esteuom 
artjgoos  em  nome  do  dito  senhor  rej  contra  o  dito  priol  e  ffo- 
rom  julgados  por  perteencentes  e  mandado  ao  dito  priol  sse 
ax-ja  artigoos  contraíres  que  veesse  com  eles  e  fforom  dados 
huuns  artigoos  da  parte  do  dito  priol  de  contrarialdade  e  ffo- 


71 


rom  por  o  dito  Gil  marlins  ouujdor  julgados  os  ditos  artígoos 

por e  que  sse  soubesse  por  eles  ha  verdade  sobre  os 

quaaes  artigos  dados  fforom  IDlliadas  enqiriçoeDS  (?)  pelos  di- 
tos artigoos  também  da  huma  parte  como  da  outra  e  por  o 
dito  Gil  marlins  ffoj  o  dito  ffeito  cometudo  por  seu  aluara  a 
Niculao  steues  almuxariffe  delrej  na  dita  vila  do  qual  aluara  o 
teor  tal  he.  Niculao  steues  almuxariffe  delrej  em  Guimaraaens 
Gil  martins  ouuidor  na  corte  do  dito  Senhor  uos  mando  da 
ssua  parte  que  ffaçades  perante  uos  vjr  as  partes  deste  ffeito 
e  ouuide  e  Ijurade  o  dito  ffeito  antre  elles  como  achardes  que 
he  djreito  dando  agrauos  e  apelaçoens  aas  partes  nas  cousas 
que  o  de  djreito  deuedes  ffazer  e  ai  non  ffapades  ffeito  em  Gui- 
maraaens ojto  djas  de  ffeuereiro  ffernam  lourenço  o  ffez  Era 
de  mil  e  quatrocentos  e  trjnta  e  noue  ^  annos o  qual  al- 
muxariffe ffez  perante  ssj  vijr  as  ditas  partes  e  lhes  assignoou 
terrahos  a  que  cada  huum  ffezese  suas  prouas  as  quaes  enqi- 

ripoens  fforam  tomadas  e  acabadas e  pobricadas  e  rra- 

soado  sobre  a  proua  non  proua  e  concruso  e  visto  o  dito  por 
o  dito  Niculao  steuez  o  dito  Nicolau  steuez  deu  em  el  huma 
sentença  deffenetjua  da  qual  ho  teor  tal  he.  Visto  este  ffeito 
conuem  a  ssaber  pitjçom  e  contestaçom  e  artigoos  e  proua 
que  ffoj  dada  dados  por  a  parte  do  dito  reo  e  a  proua  que 
ssobre  elles  ffoj  ffilhada  julgo  que  o  dito  autor  non  prouou  o 
que  sse  obrigou  a  prouar  em  razom  da  posse  e  longíssima 
prescrisçom  que  djzia  que  avja  e  possuja  na  dita  deuesa  por 
justo  ijtello  e  sentença  que  delo  tjnha.  E  o  dito  reo  prouou 
craramente  o  que  sse  obrigou  prouar  em  ssua  contrarialdade 
6  por  essa  meesma  sentença  dando  logo  a  deffenetjua  abssoluo 
o  dito  reo  e  a  demanda  que  lhe  era  posta  da  parte  do  dito 
autor  em  rrazom  da  dita  deuessa  e  condapno  o  dito  autor  nas 
custas  djreitas  (?)  visto  como  sse  moueu  maljcjosamenle  e  a 
ssabendas  (?)  a  ffazer  a  dita  demanda,  da  qual  sentença  o  dito 
Affonso  migees  apelou  da  dita  sentença  e  o  dito  Niculao  ste- 
uez almuxariffe  lhe  recebeu  a  apelaçom  e  lha  atempou  a  qjnze 
dias  do  mes  dagosto  e  o  dito  priol  pjdiu  o  dia  de  aparecer  e 
protestou  das  custas  ffeito  ffoj  na  dita  vila  vjnte  e  huum  djas 
do  mes  de  junho  Era  de  mil  e  quatrocentos  e  trjnta  e  ojto  ^  an- 
nos testemunhas  Joham  lourenço  chantre  da  Ejgreia  de  Sancta 


1    Lé-se  claramente  noue  e  ojto,  porém  houve  certamente  equivo- 
co ao  escrever  uma  das  palavras. 


72 


Maria  da  dita  vila  e  Gonçalo  marlins  e  Álvaro  martins  ho- 
meens  do  dito  priol  e  outros  E  eu  Affonso  ííernandes  tabelliom 
sobre  dito  que  esto  escreuj  e  aqi  meu  signal  ííjz  que  tal  he  +. 


LXX 

1401 

Sabbam  lodos  que  eu  Gonçaleanes  ferreeiro  morador  na  vil- 
la  do  Castelo  de  Guimaraens  em  todo  meu  siso  e  entendimento 
renuncio  todalas  mandas  testamentos  codepillos  vendas  deui- 
soens  que  ej  feitas  ata  o  dia  doie  todalas  rrenunçio  como  ey 
por  rreuogadas  e  rrenunçiadas  que  quero  non  valham  e  em  esta 
rrenuDçiaçom  non  ua  contra  a  doaçom  que  fiz  a  Senhorinha  mi- 
nha sobrinha  que  mando  que  valha  para  sempre  porque  a 
qrey  e  me  seruiu  e  serue  e  me  mantém  e  por  a  dita  rrazom 
mando  que  valha  a  doaçom  que  Ihj  fiz  de  tudo  aquilo  que  Ihj 
eu  dej  asj  e  pela  guisa  que  he  contehudo  nos  strumentos  que 
ihj  ey  feitos  por  Joham  lourenço  tabelliom  de  Guimaraens  e 
por  soldas  que  me  merece  que  Ihj  non  paguej  e  outorgo  que 
lhos  non  possa  rreuogar  e  mando  e  outorgo  que  valha  para 

sempre  e  rreuogo  todalas  outras  mandas  testamentos 

doaçoens  que  ey  feito  ante  deste  strumento  salua a  dita 

Senhorinha  para  sempre  e  de  que  a  dita  Senhorinha 

tem  a  a  pose  e  desto  o  dito  Gonpaleanes  e  a  dita  Senhorinha 

pedirem  senhos  strumentos feita  foj  em  Guimaraens 

vjnte  cinquo  dias  de  feuereiro  Era  de  mil  e  quatro  centos  e 
Irjnta  e  noue  annos  testemunhas  Joham  anes   seleiro.  Mar- 

tim Lourenço  freitas.  Joham  de  Saa hirmaaom 

dafonso  anes  e  outros  E  eu  Joham  lourenço  tabelliom  delrej 
em  Guimaraens  que  este  strumento  screuj  e  meu  signal  aquj 
fiz  que  ta)  he  +. 

LXXI 

1402 

Sabbam  todos  que  eu  Gonçaleanes  fierreiro  morador  na  vjla 
uelha  do  Castelo  da  vjla  de  Gujmaraens  digo  que  dej 


73 


rremedio  da  minha  alma casas  com  huiim  pequeno  ei- 

xido  que  estam  ua  dita  vjia  em  rua  sseleira  em  que  ora  mora 
Margarida  anes  irmaam  de  Steuom  anes  sseleiro  as  quaaes  ca- 
sas partem  da  huma  parte  com  casas  da  conffraria  de  santa 

Margarida  e  da  outra  com do  moesteiro  da  Costa  que 

ssora  do  moesteiro  que  ssom  do  moesteiro  de  Souto  e  por  era 
mando  e  outorgo  para  o  dito  moesteiro  no  dia  de  sam  Migel  de 

setembro  primeiro  que o  dito  aia  a  dita  casa  para  todo 

sempre  e  (Taça  o  dito  moesteiro  dela  o  que  qiser  e  por  bem  teuer 
como  de  sua  cousa  proprja  e  dou  poder  a  Steuom  perez  priol 
do  dito  moesteiro  que  tome  logo  a  pose  da  dita  casa  e  eixido 

e  o  aia  o  dito  moesteiro  para  todo  sempre he  sua  das 

quaaes  cousas  o  dito  priol huum  estrumento  e  o  dito 

Gonçalo  anes  lho  mandou  dar  ffeito  ffoj  na  djla  vila  nas  pousa- 
das do  dito  Gonçale  anes  sseis  djas  do  mes  de  setembro  Era  de 
mil  e  quatrocentos  e  quareenta  annos  testemunhas  ffrej  Louren- 
ço doutor  do  moesteiro  de  sam  domjngos  da  dita  vjia  e  ffrej 
Ãlartinho  de  limha  do  dito  moesteiro  e  Joham  aífonso  e  Affonso 
domingues  mercadores  da  dita  vjia  e  eu  Affonso  ffernandes  la- 
belliom  publico  delrej  na  dita  vjia  de  Guimaraens  que  este  es- 
trumento por  mandado  e  outorgamento  do  dito  Gonçale  anes 
escreuj  e  aqi  meu  signal  íiz  que  tal  he  -f. 


LXXII  ' 

1402 

Sabbam  todos  que  perante  mjm  Affonso  ffernandes  tabel- 
liom  delrej  na  vjia  de  Guimaraens  e  das  testemunhas  adeante 
escritas  ssejs  dias  do  mes  de  setembro  da  Era  de  mil  e  qua- 
trocentos e  quareenta  annos  dom  Steuom  perez  priol  do  moes- 
teiro de  ssouto  do  arcebispado  de  Bragaa  chegou  a  humas  ca- 
sas que  estom  na  dita  vjia  na  vjia  uelha  do  Castello  em  rua 
sseleira  na  qual  casa  mora  Margarida  anes  irmaam  de  Steuom 
anes  sseleiro  as  quaaes  casas  partem  da  huma  parte  com  casas 
da  conffraria  de  Santa  Margarida  e  da  outra  com  casas  do  moes- 


Está  escripto  no  me3mo  pergaminho  do  antecedente. 


74 


teiro  da  Costa  e  por  poder  deste  estrumento  ssuso  escrito  to- 
mou a  pose  da  dita  casa  com  sseu  eixido o  dito  moes- 

teiro  de  ssouto  des  aqi  em  deante  para  todo  sempre  e  por  ca- 
deado das  quaes  cousas  o  dito  priol  pjdiu  huum  estrumento 
ffeito  ffoj  aa  porta  da  dita  casa  dja  mes  era  ssobre  dita  teste- 
munhas íTrej  Lourenço  doutor  do  moesteiro  de  ssam  domjngos 
e  ffrej  Martinho  de  Ijmha  do  moesteiro  de  ssam  dorajugos  e 
Joham  aíTonso  mercadores  da  dita  vjla  E  eu  AíFonso  ffernandes 
'labelliom  sobre  dito  que  este  estrumento  escrevj  e  aqi  meu 
signal  fiz  que  tal  he  -f. 


Tagilde  — 1890.  (Continua). 


Oliveira.  Guimarães. 


subsídios  para  a  historia 


DAS  INDUSTRIAS  VIMARANENSES 


Excesso  de  reforma  liberal  em  detrimento  agrícola 

e  industrial 


(Continuado  do  vol.  v,  pag.  38) 

A  paginas  1 1  do  citado  estudo  do  snr.  Joaquim  de  Vas- 
CODcellos  {Historia  da  Arte  em  Portugal)  diz-se  : 

«As  corporações  catalãs  e  valeocianas  tinliam  conquistado 
uma  posição  dominante  no  século  xiv,  quando  as  nossas  não 
haviam  nascido.  E  depois  mesmo  não  encontramos  os  primei- 
ros estatutos  antes  do  fim  do  século  xv,  redigidos  d'uma  ma- 
neira deficiente,  a  ponto  de  os  jurisconsultos  da  coroa  terem 
de  intervir  com  a  tabeliã  oíficial,  reformando-os  auctoritariamen- 
te.  Ainda  depois,  nos  séculos  xvii  e  xviii,  gastou-se  um  tem- 
po precioso  a  discutir  questões  devotas,  procissões,  festas, 
missas,  enterros,  ou  em  demandas  sobre  casos  de  precedên- 
cia, que  lisongeavam  a  vaidade  pessoal  dos  confrades.  » 

D'esle  trecho  se  vê  que  a  forma  geral  das  corporações  d'of- 
ficios  portuguezas  era  a  religiosa  ou  mixta,  com  os  seus  fins 
de  devoção,  com  os  seus  fins  profissionaes. 

Era  próprio  da  época:  seria  então  raríssima  a  associação 
puramente  civil.  As  grandes  ordens  militares  eram  também  o 
raixto  d'associação  guerreira,  e  do  convento  religioso.  A  igre- 
ja, com  todas  as  suas  instituições,  dominava,  luctando  e  civi- 
lisando. 

Ainda  hoje  é  esta  a  forma  do  maior  numero  dos  nossos 
asylos  dMnstituição  particular;  e  n'esta  cidade  é  pelas  irman- 
dades, despertadas  pela  activa  propaganda  da  Sociedade  Mar- 
tins-Sarmento,  que  se  tem  dado,  embora  frouxa  e  deficiente- 


76 


mente,  o  primeiro  impulso  á  instituição  d'escólas  praticas,  e 
traballio  manual  dos  alumnos,  filhos  d'irmãos  ou  confrades  i. 

Nos  paizes,  onde  o  despotismo  feudal  dos  seculares  mais 
pesadamente  opprimia  as  classes  trabalhadoras,  a  formula  re- 
ligiosa, a  organisação  de  confrarias  e  irmandades  captou,  des- 
de o  século  XII  principalmente,  a  protecção  da  igreja,  e  com 
esta  se  conseguiu  mais  seguro  e  rápido  desenvolvimento  da 
industria,  e  sua  progressiva  emancipação.  Nas  cidades  com- 
merciaes  d'Italia  e  meio  dia  da  França,  onde  o  comraercio 
dominava,  as  corporações  de  misteres,  segundo  a  aíTirmação 
de  Frignet,  tinham  uma  organisação  mais  livre,  de  caracter 
mais  accentuadamente  civil. 

Na  lucta  contra  as  oppressões  feudaes,  no  movimento  pro- 
gressivo e  ascencional  das  classes  inferiores,  dos  escravos  do 
trabalho,  a  doutrina  pura  e  igualitária  do  christianismo,  cheia 
de  dictames  fraternaes,  de  suggestões  caridosas,  naturalmente 
fortalecia  o  animo  d'esses  primeiros  batalhadores  da  liberda- 
de popular,  impellindo-os  a  invocar  a  protecção  de  Deus,  com 
fé  viva,  com  devoção  ardente. 

A  igreja,  se  também  teve  o  seu  feudalismo,  os  seus  se- 
nhores poderosos,  luctava  comtudo  contra  o  barbarismo,  e  em 
geral  tomava  as  classes  trabalhadoras  sob  a  sua  poderosa 
protecção. 

As  diversas  classes  de  industria  escolhiam  para  patrono  da 
sua  confraria  o  santo,  que  sabiam  ou  conjecturavam  ter  exer- 
cido idêntico  mister.  Cada  confraria  tinha  a  sua  bandeira,  com 
a  imagem  do  santo  pintada.  Nas  festas  da  confraria,  como  nas 
grandes  procissões  e  solemnidades  religiosas,  as  corporações 
aggrupavam-se  sob  as  suas  respectivas  bandeiras. 


1  É  merecedora  de  todo  o  louvor  a  V.  O.  Terceira  de  S.  Fran- 
cisco, d'esia  cidade,  instituindo  oíBeinas  para  aprendizagem  pratica. 

O  asylo  de  Santa  Estephania,  no  regulamento  modernamente  con- 
feccionado, também  prescreveu  a  organisação  d'oíHcinas,  que  não  pô- 
de ainda  realisar-se  por  falta  de  recursos. 

]N'estas  organisações  e  tentativas,  nota-se  a  excessiva  preoccupa- 
ção  industrial,  com  menospreço  pela  aprendizagem  eommerciale  agri- 
cola.  Todavia  é  certo  que  nos  asylos  da  Suissa  as  beneméritas  gerên- 
cias podem  encontrar  óptimos  modelos  d'asylos,  em  que  nenbuma  das 
aprendizagens  de  carreiras  populares  é  desprezada.  A  sociedade  preci- 
sa tanto  de  bons  operários  industriaes,  como  de  bons  cultivadores  agrí- 
colas, como  de  desenvolvidos  empregados  de  commercio.  Um  paiz  não 
prospera  somente  pelos  progressos  d'uma  classe  com  preterição  das 
outras. 


77 


Em  França,  o  patrono  dos  ourives  e  de  lodos  os  trabalha- 
dores de  metaes,  era  santo  Eloy,  que  se  affirmava  ter  sido  ou- 
rives do  rei  Dagoberto. 

O  patrono  dos  trabalhadores  de  cabedaes  era  S.  Crespim. 


Nos  estatutos  das  corporações  vimaranenses,  dos  sapatei- 
ros, tamanqueiros  e  snrradores,  que  publicamos  nos  volumes 
IV  e  V  d'esta  Revista,  e  nos  dos  ourives,  cuja  publicação 
agora  encetamos,  encontram-se  as  classes  aggremiadas  sob  a 
formula  religiosa  de  irmandade  ou  confraria.  Nos  capítulos  v 
e  IX  (pag.  144  e  198  do  vol.  iv  da  Revista)  se  vé  o  cuida- 
do com  que  foi  regulamentada  a  guarda  da  bandeira,  e  a  sa- 
bida da  corporação  sob  a  sua  bandeira. 

As  eleições  dos  juizes  eram  feitas  na  capella  (capitulo  i 
do  titulo  i),  rezadas  previamente  umas  orações ;  nas  de  jui- 
zes dos  ourives  (capitulo  xxii)  antes  da  eleição  devia  rezar-se 
uma  missa. 

Pelo  capitulo  xxiv  do  estatuto  dos  ourives,  era  multado 
era  4:000  reis  o  ourives  de  ouro  ou  prata  que  não  compare- 
cesse na  igreja  no  dia  ou  véspera  da  festividade  annual  de 
Santo  Eloy. 

Emfim,  um  e  outro  estatuto  regulavam  minuciosamente  os 
deveres  dos  confrades,  de  caracter  puramente  religioso, —  acom- 
panhamentos funerários,  procissões,  festividades,  etc. 

As  corporações  vimaranenses  não  discrepavam  pois,  na  for- 
ma mystica  da  sua  organisação,  das  demais  corporações  euro- 
peias, designadamente  francezas. 

(Continua). 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 


Estatutos  dos  Ourives  de  Ouro  e  Prata  da  villa  de  Guimarães  que  fize- 
ram para  o  bò  regimen  do  seu  officio  no  anno  de  1781  e  motivos 
que  tiveram  os  Ourives  de  Ouro  e  Prata  para  estabelecerem  este 
Compromisso. 

A  grande  aífinidade  que  tem  a  arte   de  Escultura  com  a 
dos  Ourives  se  fazem  estimáveis  pela  sua  excellencia;  porque 


78 


imilão  o  Autor  da  natureza,  representando  nos  seus  productos 
a  realidade  das  cousas  que  inculcão,  pois  em  tiuã  e  outra  arte 
se  devisa  o  que  se  toca,  e  na  perspectiva  se  examina  o  seu 
corpo. 

E  para  exercicio  de  qualquer  d'estas  artes  se  necessita  de 
scieucia,  de  geometria,  e  de  indagar  as  medidas  naturaes  pro- 
porcionadas à  geometria  de  todo  o  corpo  da  obra,  para  não  se 
notar  imperfeições  na  mesma,  nem  se  descobrir  defeitos  no  Ar- 
tifece,  que  não  deve  obrar  fora  da  razão,  antes  ofTerecer  á  vis- 
ta, e  á  immaginativa  uma  ficpao  como  realidade,  por  cuja  causa 
ordenamos  nossos  estatutos,  para  desterrarmos  os  erros,  com 
o  araiasso  das  penas  n'elles  impostas,  para  que  com  o  temor 
d'elias  se  abstenham  os  nossos  companheiros,  que  presente- 
mente, e  ao  diante  exercitão  a  arte  de  ourives  de  ouro  e 
prata,  n'esta  villa  de  Guimarães. 

De  tempo  antiquissimo  n'esta  villa  de  Guimarães  e  sua  co- 
marca foram  por  nossos  antecessores  estabelecidos  dois  con- 
trastes ensaiadores  para  o  bom  regimen  de  todos  os  oíBcios 
de  ouro  e  prata,  que  não  só  redondavam  em  utilidade  da  Re- 
publica, sem  respeitar  ao  próprio  interesse  de  cada  um ;  mas 
o  bem  commum  de  todos;  porém  com  a  observância  dos  con- 
tra>tes  antigos  se  não  podiam  praticar  por  varias  razões  e  cos- 
tumes legitimamente  introduzidos,  e  a  variedade  do  tempo  ser 
causa  da  sua  pouca  subsistência,  por  não  occorrer  n'elles  as 
expressões  necessárias  dignas  do  seu  estabelecimento;  e  para 
melhor  se  quadunar  esta  razão  se  ellegerão  de  huã,  e  outra 
parte  ha  muitos  annos  dois  juizes,  e  dois  escrivaens  cada  hum 
de  sua  occupapão;  e  juntos  com  os  contrastes  ensaiadores  pro- 
pozeram  estes  estatutos,  para  o  que  se  chamaram  todos  os  ou- 
rives de  ouro,  e  prata,  que  de  presente  existiam  n'esta  villa, 
e  juntos  se  lhe  fizeram  patentes  estes  estatutos,  e  todos  uni- 
formemente assentaram,  que  eram  dignos  de  toda  a  vaalidade 
e  que  prometterão  observar,  guardar,  e  cumprir  tanto  os  jui- 
zes, como  contrastes,  escrivães,  e  mais  ourives  de  ouro,  e 
prata,  para  o  comum  regimen  do  exercicio  da  sua  arte ;  os 
quacs  estatutos  são  na  forma  dos  Capítulos  seguintes. 

(Continua). 


INSTRUCÇÃO  POPULAR 


Legislação  portugueza 


A  instrucfão  popular  no  nosso  paiz  tem  sido  vergonhosa- 
mente descurada.  Gozando  longos  períodos  de  paz,  não  os 
aproveitamos  senão  para  o  incremento  de  gozos  materiaes,  que 
vieram  produzir  como  maior  beneficio  o  estreitamento  de  rela- 
ções entre  os  membros  da  familia  portugueza,  e  d'esta  com  os 
demais  paizes  cultos;  mas  produziram  por  igual  uma  alteração 
profunda  nos  costumes,  a  perda  dos  hábitos  de  moderação  e 
de  economia,  a  que  não  correspondeu  ainda  o  incremento  in- 
dispensável, hoje  urgentíssimo,  de  fontes  de  producção  e  ri- 
queza. 

Gozamos  e  perdemos. 

Gozamos  as  facilidades  de  viação,  os  progressos  da  tele- 
graphia,  a  elevação  da  instrucção  superior,  as  ostentações  vis- 
tosas do  luxo  moderno  ,•  mas  os  conselhos  de  Mousinho  da  Sil- 
veira esqueceram-se,  as  tentativas  de  fortalecimento  do  com- 
mercio,  da  agricultura,  da  industria,  por  instituições  de  instruc- 
ção, e  emprezas  apropriadas,  supprindo  os  benefícios  das 
extinctas  corporações  de  oílicios  e  misteres,  supprindo  as  ini- 
ciativas do  Estado  do  tempo  do  marquez  de  Pombal,  aparando 
os  golpes  que  os  progressos  marítimos,  que  os  progressos  de 


80 


industria,  que  as  expansões  coloniaes  dos  outros  paizes  têm 
vibrado  successiva  e  progressivamente  no  commerclo  e  indus- 
tria portugueza,  repellindo-os  dos  mercados  da  America,  re- 
pellindo-os  dos  mercados  da  Africa,  e  invadindo  triumphante 
os  mercados  portuguezes,  esqueceram-se,  menospresaram-se, 
e  continuamos  até  hoje  jogando  nas  roletas  prohibidas,  e 
na  grande  roleta  legal  dos  fundos  e  títulos  de  credito,  go- 
zando estradas,  admirando  estações  monumenlaes,  e  preci- 
pitando levemente,  inconscientemente  uma  crise  geral  e  pro- 
funda ! 

Ainda  bem  que  escriptores  e  apóstolos  dedicados  como 
D.  António  da  Costa,  Joaquim  de  Vasconcellos,  Bernardino 
Machado,  ainda  bem  que  associações  beneméritas,  ainda  bem 
que  estadistas  previdentes,  lavravam,  nas  suas  iniciativas, 
nas  suas  instituições,  nas  suas  doutrinas,  o  protesto  repe- 
tido e  vivo  contra  o  desprezo  por  que  se  deixaram  correr,  e 
tem  corrido  os  negócios  respeitantes  á  instrucção  popular. 
Ainda  bem  que  podemos  abrir  as  —  auroras  —  da  instrucção 
popular. 

A  creação  recente  d'um  ministério  de  instrucção  publica 
indica  que  a  acção  do  Estado  tende  a  renovar,  por  um  modo 
mais  efficaz,  a  attenção  e  os  esforços  para  os  assumptos  d'esta 
grande  arma,  d'este  instrumento  eíTicacissimo  de  progresso  po- 
pular :  a  instrucção  geral,  a  sua  diíTusão,  a  coordenação  dos 
elementos  já  creados. 

A  pedra  angular  da  instrucção  geral  é  —  a  instrucção  pri- 
maria, á  qual  se  segue  a  instrucção  especial  do  lavrador,  do 
commerciante,  do  industrial  ou  artista. 

Pareceu  á  direcção  por  isso  conveniente  que  n'esta  revista, 
órgão  d'uma  sociedade  promotora  de  instrucção  popular,  se 
abrisse  uma  secção  especial  e  referente  á  legislação  respectiva, 
e  ás  questões  que  com  ella  prendem,  ou  d'ella  se  derivem. 

Pubhcando  a  legislação  mais  importante,  a  todos  os  sócios 
da  Sociedade  Martins  Sarmento  poderá  esta  revista  prestar 
pelo  menos  a  commodidade  da  leitura  das  disposições  legaes, 
e  assim  com  maior  facilidade  poderão  estar  a  par,  sem  despeza 
alguma,  das  principaes  evoluções  n'este  ramo  de  administração 
publica. 

A  maior  parte,  ou  uma  grande  parte  dos  nossos  consócios 
não  possue  decerto  a  collecção  de  legislação  portugueza  rela- 
tiva á  instrucção  primaria  e  especial,  que  constitue  a  denomi- 
nada instrucção  popular;  a  facilidade  da  sua  leitura  e  estudo 
avivará  o  interesse  de  todos  os  membros  d'esta  corporação, 


81 


proprietários  ou  artistas,  comraerciantes  ou  empregados,  pelas 
instituições  cujo  desenvolvimento  constitue  a  principal  empreza 
da  Sociedade  Martins  Sarmento. 

o  director 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 


Lei  de  2  de  maio  de  1878  ^ 

CAPITULO  I 

Artigo  1."  A  instrucção  primaria  para  o  sexo  masculino 
e  feminino  divide-se  era  dois  graus  —  elementar  e  comple- 
mentar. 

Artigo  2."  O  ensino  primário  elementar  para  o  sexo  mas- 
culino comprehende:  leitura,  escripta,  quatro  operações  sobre 
números  inteiros  e  fraccionarios,  elementos  de  grammatica 
portugueza,  principies  do  systema  metrico-decimal,  princípios 
de  desenho,  moral  e  doutrina  christã. 

O  ensino  elementar  para  o  sexo  feminino  comprehende  as 
matérias  mencionadas  n'este  artigo,  e  os  trabalhos  de  agulha 
necessários  ás  classes  menos  abastadas. 

§.  único.  São  dispensados  dos  exercícios  da  doutrina 
christã  aquelles  alumnos,  que  pertençam  a  diíferente  reli- 
gião. 

Artigo  3."*  O  ensino  primário  complementar  para  o  sexo 
masculino  comprehende: 

1.°    Leitura  e  recitação  de  prosa  e  verso ; 

2.°     Calligraphia  e  exercícios  de  escripta; 

S.**  Arithmetica  e  geometria  elementar  e  suas  applicações 
mais  usuaes; 

4.°    Grammatica  e  exercícios  de  historia  portugueza; 

5.°    Systema  legal  de  pesos  e  medidas; 

6.°    Elementos  de  chronologia  e  historia  portugueza; 


^  Começamos  pela  transcripção  d'esta  lei,  que  abriu  um  novo 
período  de  actividade  na  organisação  e  difTusão  da  instrucção  prima- 
ria, 6  em  que  eoUaborou  o  nosso  soeio  honorário  o  snr.  dr.  Illidio  do 
Valle. 

7.0   AnnO.  6 


82 


•7.°     Desenho  linear  e  suas  applicações  mais  communs; 

8."     Moral  e  historia  sagrada; 

9.°     Nofões  elementares  de  hygiene; 

10.°    Noções  elementares  de  agricultura; 

\\.°    Gymnastica; 

12.°     Canto  coral; 

13.°    Direitos  e  deveres  do  cidadão. 

|.  único.  O  ensino  complementar  para  o  sexo  feminino 
comprehende  as  matérias  designadas  nos  números  1.°  a  9.° 
d'este  artigo,  e  além  d'isso  os  deveres  de  mãi  de  familia,  e  as 
prendas  de  bordar  a  cures,  tomar  medidas,  tirar  moldes  e  fa- 
zer rendas  e  flores. 

Artigo  4.°  Passados  três  annos  depois  do  estabelecimento 
das  escolas  normaes  para  habilitação  dos  professores  e  pro- 
fessoras de  ensino  primário,  e  conforme  as  condições  espe- 
ciaes  das  localidades,  poderá  ser  ampliado: 

I.  O  primeiro  grau  de  instrucção  primaria  para  o  sexo 
masculino  com  as  seguintes  disciplinas: 

Gymnastica; 
Canto  coral; 
Noções  elementares  de  agricultura. 

II.  O  segundo  grau  com : 
Escripturação; 

Prindpios  de  economia  rural,  industrial   ou  commercial, 
conforme  as  condições  especiaes  das  localidades; 
Rudimentos  de  physica,  chimica  e  historia  natural. 

III.  O  primeiro  grau  para  o  sexo  feminino  com: 
Gymnastica; 

IV.  O  segundo  grau  com : 
Economia  domestica; 

Desenho  de  ornato  applicado  ás  obras  próprias  do  sexo; 

Escripturação; 

Rudimentos  de  sciencias  physicas  e  naturaes. 

|.  único.  Ao  governo  compete,  ouvidos  os  inspectores 
das  circiimscripções  escolares,  regular  o  quadro  das  matérias 
de  cada  grau,  segundo  o  disposto  no  presente  artigo. 

CAPITULO  II 

Do  ensino  obrigatório,  matriculas  e  frequência 

Artigo  5."  A  instrucção  primaria  elementar  é  obrigatória 
desde  a  idade  de  seis  até  doze  annos  para  todas  as  creanças 


83 


de  um  e  outro  sexo,  cujos  pais,  tutores  ou  outras  pessoas  en- 
carregadas da  sua  sustentação  e  educação  não  provarem  legal- 
mente qualquer  das  circumstancias  seguintes : 

1.*  Que  dão  ás  creanças  a  seu  cargo,  ensino  na  própria 
casa,  ou  em  escola  particular; 

2.*  Que  residem  a  mais  de  dois  kilometros  de  distancia 
de  alguma  escola  gratuita,  publica  ou  particular,  permanente 
ou  temporária; 

3.*  Que  seus  filhos  ou  pupillos  foram  declarados  incapa- 
zes de  receber  o  ensino  em  três  exames  successivos  perante  os 
júris  de  que  trata  o  |.  1.°  do  artigo  42.°; 

4.*  Os  que  não  poderem  mandal-os  por  motivo  de  extre- 
ma pobreza,  e  que  não  tenham  recebido  o  beneflcio  constante 
das  disposições  do  |.  único  do  artigo  1° 

Artigo  6."  A  obrigação  do  ensino  começa  na  primeira 
época  de  matriculas  posterior  àquella,  em  que  as  creanças 
forem  inscriptas  no  recenseamento  a  que  se  refere  o  artigo  8.", 
e  cessa  logo  que  as  creanças  hajam  sido  approvadas  nos  exa- 
mes estabelecidos  no  artigo  42.° 

|.  único.  A  obrigação  do  ensino  abrange  o  dever  de  as 
compellir  á  frequência  regular  da  escola,  em  que  forem  ma- 
triculadas. 

Artigo  7.**  São  responsáveis  pela  obrigação  do  ensino  os 
pais,  tutores  ou  pessoas  encarregadas  da  educação  das  crean- 
ças, e  bem  assim  os  donos  das  fabricas,  oííicinas  ou  emprezas 
agrícolas  ou  iodustriaes,  em  cujos  serviços  as  creanças  estejam 
empregadas,  que  lhes  não  dispensam  o  tempo  necessário  para 
a  frequência  da  escola. 

|.  único.  Aos  orphãos,  filhos  de  viuvas  pobres  ou  de 
pais  indigentes,  impossibilitados  de  trabalhar,  as  juntas  de  pa- 
rochia  e  coramissões  promotoras  ministrarão  o  vestuário,  li- 
vros e  outros  meios  indispensáveis  para  poderem  frequentar  as 
escolas. 

Artigo  8.°  As  juntas  de  parochia  fazem  annualmente,  na 
época  fixada  pelas  camarás  municipaes,  o  recenseamento  de 
todas  as  creanças  de  seis  a  doze  annos,  declarando  —  os  pais, 
tutores  ou  pessoas  a  cujo  cargo  estejam ;  as  oíficinas  e  lavores 
agrícolas  ou  industriaes  em  que  forem  empregados ;  as  distan- 
cias a  que  residem  do  local  da  escola  publica  ou  particular;  e 
se  recebem  o  ensino  em  familia  ou  em  escola  Uvre. 

§.  1.°  Este  recenseamento  será  affixado  na  porta  da  igreja 
por  oito  dias,  dentro  dos  quaes  os  que,  segundo  o  artigo  an- 
tecedente, são  responsáveis  pela  obrigação  do  ensino,  e  bem 


84 


assim  o  delegado  parochial,  poderão  reclamar,  com  recurso 
para  a  camará  municipal. 

|.  2.°  D'este  recenseamento  serão  tiradas  copias  authen- 
ticas  para  serem  reraettidas  aos  professores  da  freguezia,  á 
camará  municipal  e  á  junta  escolar  do  concelho,  no  praso  de 
quinze  dias  depois  de  concluído  o  recenseamento. 

Artigo  9.°  As  camarás  municipaes  designam  as  épocas  e 
prasos  de  matriculas,  podendo  haver  até  épocas  de  matricu- 
las em  cada  anno. 

|.  único.  A  matricula  é  gratuita,  e  feita  pelo  professor 
em  livro  especial  na  presença  do  delegado  parochial. 

Artigo  10.**  Os  pais,  tutores  ou  responsáveis  pela  educa- 
ção das  creanças,  que  não  as  apresentem  aos  professores  na 
competente  época  da  matricula,  são  admoestados  pelo  dele- 
gado parochial,  o  qual  além  d'isso  os  intimará  para  no  praso 
de  dez  dias  cumprirem  a  obrigação,  declarando-lhes  as  penas 
era  que  incorrem  quando  desobedeçam. 

|.  1.°  A  intimação  deve  ser  feita  dentro  de  dez  dias  a 
contar  d'aquelle  em  que  a  creança  devia  ser  matriculada  na 
escola. 

|.  2."  Os  nomes  dos  pais,  tutores  ou  pessoas  responsáveis 
pela  educação  das  creanças,  que  não  obedecerem  á  intimação 
do  delegado  da  parochia,  serão  affixados  á  porta  da  igreja  pa- 
rochial. 

Artigo  11.°  Os  pais,  tutores,  donos  de  fabricas,  oíTicinas 
ou  emprezas  agrícolas  e  industríaes  que,  depois  das  penas  im- 
postas pelo  artigo  antecedente,  não  satisfizerem  ao  preceito  da 
lei  dentro  de  quinze  dias,  pagam  de  multa  um  dia  de  traba- 
lho ou  o  equivalente  a  dinheiro  nos  termos  do  artigo  18.°  da 
lei  de  6  de  junho  de  1863.  No  caso  de  reincidência  esta  multa 
poderá  elevar-se  progressivamente  até  ao  quádruplo. 

|.  único.  São  isentos  de  pagamento  d'estas  multas 
aquelles  a  cujos  filhos  se  possa  applicar  alguma  das  excepções 
do  artigo  5.**,  ou  que  não  tenham  sido  intimados  nos  termos 
do  artigo  10.° 


(Continua). 


BOLETIM 


Devendo  ser  esta  secção,  como  muito  bem  disse  no  primeiro 
numero  d'esta  Revista  o  nosso  illustradissimo  consócio,  snr. 
dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães,  apenas  a  publicação  fiel  dos 
factos,  que  as  actas  comprovam,  e  devendo  também  ser  suc- 
cinta,  vamos,  no  cumprimento  do  nosso  dever,  apresentar  o 
boletim  do  ultimo  trimestre  o  mais  resumido  possivel. 

Tendo  feito  o  conflicto  luso-britannico  vibrar  todas  as  fibras 
do  coração  portuguez  com  um  extraordinário  enthusiasmo, 
emocionando-o  com  a  mais  justa  e  patriótica  indignação,  a  So- 
ciedade Martlns  Sarmento  não  podia,  nem  devia,  ficar  in- 
differenle,  nem  deixar  de  fazer  o  seu  protesto  enérgico  contra 
um  attentado  tão  miserável  e  brutal  da  refalsaria  Inglaterra 
—  essa  especuladora  e  pérfida  alliada,  que  tanto  nos  tem  es- 
poliado —  contra  essa  affronta  vil  da  Albion  poderosa,  que  é 
tão  forte  e  insolente  com  os  fracos,  como  extremamente  co- 
barde, quando  a  força  se  Ibe  impõe,   abatendo- lhe  o  orgulho. 

A  direcção,  pois,  julgou  do  seu  dever  promover  uma  as- 
sembléa  geral,  em  forma  de  comicio,  em  que  fossem  admitti- 
dos,  além  dos  seus  estimados  consócios,  todos  os  vimaranen- 
ses, que  quizessem  acompanhal-a  no  seu  protesto  e  adhesão  á 
propaganda  patriótica.  Para  isto  fez  a  convocação  para  o  thea- 


86 


tro  de  D.  AíTonso  Henriquef?,  por  não  ter  a  sua  casa  neces- 
sária capacidade  para  comportar  uma  extraordinária  concor- 
rência. 

Elfeciivamente  teve  iogar  esse  comicio,  que  foi  imponen- 
tíssimo, no  dia  19  de  janeiro  d'este  anno. 

Acerca  d'elle,  deu  a  seguinte  noticia  a  Religião  e  Pátria 
de  22  do  mesmo  mez: 

« O  comicio  promovido  pela  Sociedade  Martins  Sarmento  para  se 
protestar  contra  a  brutal  violeacia  de  que  Portugal  foi  victima  por 
parte  da  Inglaterra,  o  qual  teve  Iogar  domingo  de  tarde  no  theatro 
D.  Affonso  Henriques,  foi  imponentíssimo. 

«  Por  proposta  do  snr.  presidente  d'aquella  Sociedade,  foi  nomea- 
do presidente  do  comicio  o  exe.™°  snr.  Domingos  Leite  de  Castro,  o 
qual  indicou  para  secretários  os  snrs.  João  Pinto  de  Queiroz  e  José 
Joaquim  d'Oiiveira. 

o  Depois  do  snr.  Leite  de  Castro  ter  exposto,  em  phrases  nobilís- 
simas, o  fim  da  reunião,  tomou  a  palavra  por  parte  da  Sociedade,  o 
seu  digno  presidente,  o  snr.  dr.  Motta  Prego,  para  apresentar  as  pro- 
postas que  a  direcção  da  mesma  Sociedade  tinha  resolvido  apresentar 
no  comicio,  fundamentando-as  largamente. 

«Em  seguida  discursaram  larga e  eloquentemente  os  snrs.  abbade 
de  Tagilde,  Adolpho  Salazar,  académico  António  de  Freitas  Ribeiro, 
dr.  José  da  Cunha  Sampaio,  dr.  Braulio  Caldas  e  António  Augusto  da 
Silva  Caldas,  sendo  todos  calorosa  e  enthusiasticamente  applaudidos 
com  numerosos  vivas  e  salvas  de  palmas. 

« O  snr.  dr.  Joaquim  José  de  Meira,  que  a  doença  retinha  em  ca- 
sa, mandou  uma  carta  felicitando  a  direcção  da  Sociedade  pela  sua  pa- 
triótica iniciativa,  e  declarando  a  sua  mais  profunda  e  enthusiastica 
adhesão  a  todas  as  resoluções  da  assenibléa  tendentes  a  protestar  con- 
tra o  aggravo  insólito  e  brutal  da  nação  ingleza. 

« O  comicio,  em  que  reinou  sempre  a  melhor  ordem  e  o  mais  ví- 
vido e  patriótico  enthusíasmo,  terminou  ás  6  V2  da  noite,  tendo  prin- 
cipiado ás  4  horas  da  tarde. 

<•  As  propostas  votadas  foram  as  seguintes,  a  ultima  das  quaes  foi 
formulada  pelo  snr.  dr.  A.  de  Freitas  Ribeiro,  a  penúltima  pelo  snr. 
Adolpho  Salazar  e  as  demais  pela  direcção  da  Sociedade  Martins  Sar- 
mento : 

«Dirigir  á  Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa  era  nome  da  Socie- 
dade Martins  Sarmento  e  do  povo  vimaranense,  uma  mensagem  de 
adhesão  á  propaganda  patriótica  que  emprehendeu. 

«  Felicitar  o  major  Serpa  Pinto,  Álvaro  de  Castellões  e  companhei- 
ros pelos  serviços  prestados  á  pátria  e  á  civilisação. 

«Consignar  um  voto  de  subido  louvor  ao  snr.  conselheiro  Barros 
Gomes  pelo  modo  patriótico  como  se  houve  no  conflicto  com  a  In- 
glaterra ;  e  um  voto  de  confiança  ao  actual  ministro  dos  estrangeiros, 
que  saberá  salvaguardar,  nas  negociações  com  o  governo  inglez,  os 
direitos  de  Portugal. 

« Levar  ao  conhecimento  do  governo  o  voto  da  assembiéa,  para 
que  estreite  as  relações  com  os  paizes  que  comnosco  mais  afflnidade 
tiverem  de  raça  e  historia. 

« Transmittir  igualmente  ao  governo  o  voto  da  assembiéa  para  se 


87 


reorganisarem  as  forças  económicas  e  financeiras  da  nação,  promoven- 
do o  desenvolvimento  da  industria  nacional,  do  coramercio,  da  agri- 
jcultura  e  instraeção  respectiva. 

« Consignar  um  voto  de  muito  louvor  à  imprensa  periódica  e  mo- 
cidade académica,  pelo  modo  por  que  têm  procurado  inspirar  ao  paiz 
os  mais  elevados  sentimentos  de  patriotismo. 

« Pedir  á  Associação  Gommercial  d'esta  cidade  o  seu  auxilio  na 
constituição  da  liga  anti-britannica,  que  a  academia  de  Coimbra  trata 
de  organisar  com  a  cooperação  de  todas  as  associações  commereiaes 
■do  paiz. 

«Que  se  offleie  aos  parochos  do  concelho  pedindo-lhes  para  acon- 
selharem os  seus  freguezes  a  não  embarcarem,  quando  emigrem,  nos 
paquetes  inglezes,  por  ser  de  recear  os  maus  tratos  da  parte  do  pes- 
soal d'esses  paquetes  nos  passageiros  de  Z.^  classe,  sobretudo  nos  me- 
nores. » 


Foram  dirigidas  todas  as  mensagens,  a  que  as  propostas 
se  referem,  e  a  Sociedade  recebeu  as  respostas  seguintes  : 


«Ill."»o  e  exc.°»<»  snr.  —  Com  a  maior  satisfação,  recebi  a  commu- 
nicação  de  v.  exe.^  em  nome  d'essa  benemérita,  patriótica  e  muito 
sympathica  Sociedade. 

« O  governo  todo,  a  quem  dei  parte  do  que  v.  exe.»  me  communi- 
cou,  aprecia  e  agradece  os  sentimentos  patrióticos  da  Sociedade,  e  ha 
de  fazer  todos  os  esforços  para  justificar  a  confiança  que  elia  se  digna 
prestar-lhe,  assim  como  a  de  todos  os  portuguezes  que  pensam,  acima 
de  tudo,  nos  interesses  e  na  dignidade  do  paiz.  —  Deus  guarde  a  v. 
exc*  —  111.'"'  e  exc.'"o  snr.  presidente  da  Sociedade  Martins  Sarmen- 
to. —  O  presidente  do  conselho,  A.  de  Serpa  PimenteL  » 


«Ill.rao  e  exe.™o  snr.  — Penhorou-me  sobremodo  o  testemunho, 
para  mim  honrosissimo,  que  v.  exc*  me  communicou  em  seu  oCQcio 
de  24  do  corrente.  A  cidade  de  Guimarães,  monumento  vivo  da  nossa 
tradição,  não  podia  vêr  com  indilTerença  o  empenho  sincero,  com  que 
lidei  porfiadamente  durante  quatro  annos,  de  restaurar  a  melhor  das 
nossas  tradições  históricas  e  assegurar  assim  o  que  ainda  poderia 
constituir  um  futuro  glorioso  para  Portuga!. 

«Não  foram  coroados  de  êxito  os  meus  esforços.  Sinto-o  pelo  meu 
paiz,  sinto-o  pelos  nossos  exploradores  beneméritos,  que  recordam  os 
portuguezes  d'outras  eras,  e  cujos  trabalhos  quando  forem,  como  ain- 
da não  estão,  inteiramente  conhecidos  pelo  paiz,  lhes  assegurarão  um 
titulo  duradouro  para  a  gratidão  nacional. 

« Só  me  resta  agora  fazer  ardentes  votos  para  que  ainda  seja  dado 
ao  nosso  bom  direito  triumphar  dos  obstáculos  que  contra  elle  se  le- 
vantem, e  esta  communidade  no  sentir  com  a  Sociedade  benemérita  a 
que  V.  exc.-"*  preside,  e  com  o  povo  da  histórica  cidade  de  Guimarães, 
é  que  explicam  a  mensagem  honrosa  que  se  me  dirigiu,  o  a  grata 
commoção  com  que  por  mim  foi  recebida.  —  Deus  guarde  a  v.  exc* 
—  Ill.">o  e  exc.™o  snr.  presidente  da  Sociedade  Martins  Sarmento.  — 
Henrique  de  Barros  Gomes.  » 


88 


« Ill.™o  e  excno  snr.  —  Em  nome  da  Sociedade  de  Geographia  de 
Lisboa,  e  por  seus  expressos  desejos,  cumprimos  o  grato  dever  de  de- 
por perante  v.  exc.''  e  os  briosos  cidadãos  que  v.  exc."  dignamente  re- 
presenta, o  nosso  profundo  agradecimento  pela  manifestação  generosa 
de  confiança,  de  applauso  e  de  patriótica  adliesão  com  que  se  digna- 
ram honrar  a  mesma  sociedade. 

« A  par  do  profundo  sentimento  de  repulsão  e  de  magoa,  que  á 
nossa  consciência,  como  á  de  todos  os  cidadãos  portuguezes,  inspira 
o  procedimento  indigno  e  brutal  do  governo  britannico,  é-nos  conso- 
lação e  estimulo  gratissimo  podermos  registrar  nos  modestos  fastos 
tios  nossos  trabalhos  sociaes  a  reivindicação  valorosa  da  grande  alma 
porlugueza,  que  estas  geraes  e  espontâneas  manifestações  de  solida- 
riedade e  de  honra  nacional  calorosamente  traduzem  à  face  do  Mundo 
e  da  Historia. 

«Creia  v.  exc.^,  e  pôde  aíilrmar  aos  seus  dignos  collegas,  que  as 
suas  honrosas  adhesões  ao  nosso  protesto  mais  e  mais  nos  hão  de 
afervorar  no  serviço  e  na  defeza  da  Sciencia,  do  Direito  e  da  Historia. 
Deus  guarde  a  v.  exc^^  —  lU.mo  q  exc.n'°  snr.  presidente  da  Sociedade 
Martins  Sarmento.  —  Lisboa,  Sociedade  de  Geographia,  31  de  janeiro 
de  1890.  —  Francisco  Maria  da  Cunha,  presidente.  Luciano  Cordei- 
ro, secretario  perpetuo.  Palermo  de  Faria,  secretario  annual.» 


A  carta  do  nosso  illustrado  consócio,  snr.  dr.  Joaquim  José 
de  Meira,  que  foi  lida  na  assembléa,  e  a  que  se  refere  a  locai 
transcripta,  é  do  teor  seguinte : 

«  Exc."°  snr. —  Preso  pela  doença,  não  posso  assistir  á  reunião 
da  assembléa  geral  de  hoje.  Sinto- o  do  coração.  No  entanto  permitta- 
me  v.  exc.=^  que  eu  por  esta  forma  felicite  a°digna  direcção  da  Socie- 
dade pela  sua  patriótica  iniciativa,  e  lhe  declare  a  minha  mais  profun- 
da e  enthusiastiea  adhesão  a  todas  as  resoluções  da  assembléa  tenden- 
tes a  protestar  contra  o  aggravo  insólito  e  brutal  da  nação  ingleza. 

« Já  que  não  temos  forças  materiaes  que  possam  justificar  outro 
procedimento,  sejamos  ao  menos  dignos,  enérgicos  e  levantados  na 
manifestação  do  nosso  protesto. 

« A  Inglaterra,  que  desgraçadamente,  durante  a  sua  calamitosa  al- 
llança  de  séculos,  nos  tem  encontrado  quasi  sempre  humildes,  subser- 
vientes e  accommodados  para  todas  as  suas  exigências  e  extorsões,  re- 
ceberá talvez  hoje  uma  surpreza,  e  seguramente  uma  hção  que  nos 
honra  e  aproveita  no  futuro. 

«  Depois  d'isto,  não  sirva  o  patriotismo  só  para  espalhafatos  de  oe- 
easião.  Inspirados  no  verdadeiro  espirito  de  progresso,  procuremos 
melhorar  as  condições  do  trabalho  nacional,  d'onde  deriva  toda  a  ri- 
queza publica. 

«  Só  assim  acabará  de  vez  a  ominosa  tutela  ingleza. 

« Esta  parte  do  problema  actual  é  incomparavelmente  mais  difflcil 
e  de  mais  di-morada  execução.  É  trabalho  para  muitos  annos;  é  traba- 
lho para  ser  meditado  e  dirigido  com  cuidado,  com  paciência,  com 
firmeza,  com  serenidade,  mas  sem  interrupção,  sem  receios  e  sem  des- 
ânimos. 

« iNinguem  se  persuada  de  que  a  nossa  desforra  será  completa 


89 


quando  se  tiver  extineto  o  echo  do  ultimo  viva  ou  do  ultimo  morra 
das  nossas  expansões  patrióticas. 

«  Não.  Mas  não  desanimemos.  Á  reacção  apaixonada  e  calorosa  que 
hoje  ferve  em  todos  os  departamentos  do"  paiz,  succeda  a  aspiração  fir- 
me, persistente  e  serenamente  patriótica  a  promover  e  consolidar  a 
emancipação,  a  honra,  o  prestigio  e  a  riqueza  da  nossa  pátria.  Só  as- 
sim, não  obstante  a  pequenez  do  nosso  território  continental,  seremos 
considerados  e  respeitados  pelas  grandes  nações. 

«É  este  o  verdadeiro  campo"da  lucta,  este  campo  em  que  a  So- 
ciedade Martins  Sarmento  ha  oito  annos  vai  desenvolvendo  as  suas 
forças. 

«Empenhemo-nos  porque  todos  trabalhem  n'elle,  porque  todos  se- 
jam dignos  e  honrados;  pois  que  a  honra  e  a  riqueza  nacional  não  é 
mais  que  a  somma  da  honra  e  do  trabalho  de  cada  um  de  nós. 

«  Viva  Portugal !  Viva  a  nossa  pátria! 

«  Sou  com  a  máxima  estima  e  consideração. 


De  V.  exc* 

amigo  6  consócio  muito  attento  e  venerador 

J.  de  Meira. 

«  Guimarães,  19  de  janeiro  de  1890. » 


Na  sessão  de  31  de  janeiro,  a  direcção  aceitou  as  condi- 
ções, com  que  lhe  foi  facultado  abrir  uma  nova  porta  para  a 
torre  da  igreja  de  S.  Domingos,  supprimindo  o  balcão  que 
dava  accesso  a  ella.  Essas  condições  são: 

1.*  A  Sociedade  Martins  Sarmento  poderá  abrir  á  sua  custa,  na 
parte  poente  da  torre  da  igreja  de  S.  Domingos,  uma  porta  nova  para 
serviço  da  mesma  torre  em  substituição  da  actual,  e  com  as  mesmas 
dimensões  d'esta. 

2.a  A  porta  actual,  depois  de  aberta  a  nova  que  a  vai  substituir, 
será  tapada  solida  e  convenienteínenle,  e  será  também  retirado  o  res- 
pectivo balcão  e  telhado  que  a  cobre,  para  mais  se  não  fazer  uso  nem 
da  velha  porta,  noin  do  balcão. 

3. a  A  Sociedade  responsabilisa-se  por  qualquer  prejuízo  que  da 
abertura  da  nova  porta  advenha  á  torre,  seu  relógio  e  sinos,  e  á  igreja 
e  suas  dependências,  salvos  os  casos  de  força  maior,  gaiantindo  essa 
responsabilidade  com  todos  os  seus  haveres  sociaes.  Esta  responsabi- 
lidade durará  pelo  espaço  d'um  anno  a  contar  do  dia  em  que  se  ter- 
minar a  abertura  da  nova  porta,  devendo  julgar-se  terminada  desde 
que  dentro  d'esse  praso  nenhum  prejuízo  tenha  acontecido. 

4.'*  A  obra  da  abertura  da  porta  será  feita  consoante  as  indica- 
ções e  direcção  do  engenheiro  encarregado  da  obra  pela  Sociedade. 


90 


5.»  A  Sociedade  mandará  compor  á  sua  custa  a  varanda  que  dâ 
passagem  para  a  trazeira  do  altar  do  Senhor  Jesus,  de  modo  que  se 
possa  subir  pelas  escadas  da  torre  e  passar  d'ellas  para  a  mesma  va- 
randa; e  mandará  recompor  o  telhado  que  cobre  essa  varanda  de 
modo  que  fique  na  mesma  posição  em  que  actualmente  se  acha. 

6.^  A  Sociedade  mandará  collocar  á  sua  custa  uma  porta  de  va- 
rões de  ferro  na  entrada  do  corredor  que  dá  entrada  para  as  escadas 
da  torre,  cora  chave  que  será  entregue  á  Venerável  Ordem  Terceira ; 
e  mandará  terraplenar  esse  corredor  desde  o  principio  das  escadas  até 
á  porta  da  rua  com  a  necessária  inclinação  para  as  aguas  pluviaes 
correrem  para  esse  lado  da  rua. 

7.»  A  vedação  da  porta  pela  qual  se  passa  do  claustro  para  a  sa- 
cristia será  feita  com  pedra,  mas  de  modo  que  no  aito  d'essa  porta 
fique  uma  abertura  cora  grade  de  ferro  e  vidros  que  tenha  a  largura 
actual  da  porta  e  cincoenta  eentiraetros  de  alto. 


No  dia  9  do  passado  mez  de  março,  em  que  esta  Sociedade 
realisou  a  sua  oitava  festa  solemne  depois  da  sua  iostallação, 
teve  logar  a  distribuição  de  prémios  aos  alumnos  das  aulas 
d'instrucção  primaria  do  concelho,  que  mais  se  distinguiram 
na  sua  applicação  e  comportamento  durante  o  ultimo  anno  le- 
ctivo. 

Acerca  d'esta  sympathica  festa  escreveu  a  Religião  e  Pá- 
tria de  1 2  de  março  o  seguinte : 


«Com  o  esplendor  e  solemnidade  que  caracterisa  sempre  os  actos 
da  benemérita  Sociedade  Martins  Sarmento,  realisou  ella,  no  passado 
domingo,  a  dupla  festa  annual  do  seu  anniversario  e  do  anniversario 
natalício  do  illustre  vimaranense  de  que  tomou  o  nome,  com  a  distri- 
buição de  prémios  aos  alumnos  mais  distinetos  das  escólsR  primarias 
do  concelho. 

«  Na  casa,  elegantemente  adornada,  mal  cabia  o  numerosissimo 
concurso  de  senhoras  e  cavalheiros  que  alli  accorreram  a  presencear 
aquella  mais  que  tudo  sympathica  festa,  —  a  festa  da  instrucção  e  do 
estudo. 

« Presidiu  o  nobre  conde  de  Margaride,  digníssimo  presidente  da 
camará  municipal. 

«  O  snr.  dr.  António  Coelho  da  Motta  Prego,  presidente  da  Socie- 
dade Martins  Sarmento,  leu  uma  allocução,  eongratulando-se  em  nome 
da  Sociedade  pelo  publico  testemunho*  que  a  presença  alli  do  digno 
presidente  da  camará  para  presidir  a  este  festival  do  estudo,  lhe  dá  de 
que  esta  tributa  a  devida  justiça  aos  esforços  da  mesma  sociedade  em 
favor  da  instrucção  do  município.  Que  não  lhe  competia  a  elle  dizer 
como  é  que  a  Sociedade,  que  se  irapoz  promover  a  instrucção  popular 
do  concelho,  se  tem  desempenhado  d'essa  missão,  mas  que  um  dos 
meios  mais  eE^cazes,  que  ella  para  isso  tem  empregado  era  este  da 


91 


distribuição  de  prémios  aos  alumnos  mais  distinctos  das  escolas  pri- 
marias, porque  o  premio  sendo  recompensa  para  os  estudiosos,  é  tam- 
bém estimulo  para  os  menos  applicados  e  honra  para  os  professores, 
vindo  d'aqui  a  grande  virtude  d'estas  solemnidades  que  impressionan- 
do o  espirito  infantil,  lhes  faz  conceber  uma  grandiosa  idéa  do  estu- 
do, e  lhes  firma  na  alma  a  convicção  de  que  só  a  ura  merecimento 
próprio,  revelado  na  applicação  e  aproveitamento,  é  apreciado.  Que 
agora  mais  do  que  nunca  urge  promover  a  diílusão  da  instrucção, 
essa  poderosíssima  força  do  progresso,  porque  só  da  falta  d'ella 'de- 
riva o  definhamento  da  nossa  agricultura,  o  atrazo  da  nossa  industria 
fabril,  o  absentaisnio,  a  emigração,  a  emprego-mania,  todos  os  males 
emfim  que  aífligem  a  sociedade  portugueza.  Que  se  a  ignorância  é  a 
mãi  da  pobreza  e  da  miséria,  a  instrucção  é  um  património,  e  a  ins- 
trucção primaria,  que  é  a  chave  da  vida,  contem  em  gérmen  todas  as 
riquezas  e  todas  as  grandezas  sociaes.  E  agradecendo  de  novo  ao  snr. 
conde  de  Margaride  a  honra  da  sua  presidência,  terminou  fazendo  vo- 
tos por  que  os  poderes  públicos,  melhor  inspirados,  reformem  a  legis- 
lação que,  em  vez  de  afoutar  as  camarás  a  proseguirem  no  desenvol- 
vimento da  instrucção,  multiplicando  as  escolas,  lhes  traz  sò  obstácu- 
los e  diíDculdades  á' generosa  iniciativa. 

«O  snr.  conde  de  Margaride,  depois  de  agradecer  o  logar  da  presi- 
dência lamentou  que  os  deveres  do  cargo  não  deixassem  assistir  a  esta 
festa  um  hospede  illustre  de  Guimarães,  que  no  pouco  tempo  da  sua 
residência  aqui  se  tinha  imposto  ao  respeito  publico  como  cavalheiro 
e  magistrado,  e  fez  o  elogio  do  actual  snr.  juiz  de  direito. 

«  Respondendo  á  allocução  do  snr.  Moita  Prego,  disse  que  a  um 
vimaranense,  que  nobilitara  a  sua  terra  pelo  estudo,  Guimarães  res- 
pondera com  a  creação  d'um  instituto  simultaneamente  perpetuador 
do  nome  do  nosso  conterrâneo  e  estimulo  ao  seguimento  d'aquelle 
exemplo.  Alludiu  á  vida  litteraria  do  snr.  F.  Sarmento  agora  (no  ou- 
tono da  vida)  e  na  mocidade  a  que  chamou  primavera.  A  este  pro- 
pósito com  bastante  desenvolvimento  comparou  praticamente  as  flo- 
res com  os  fruetos;  e  voltou  a  fallar  na  escola.  Definiu  o  que  era  a 
ignorância  considerada  civil,  criminal,  económica  e  religiosamente,  e 
o  que  era  o  contrario. 

«  Fallou  da  questão  ingleza,  entendendo  que  era  pelo  desenvolvi- 
mento das  nossas  industrias  e  pela  boa  administração  que  podíamos 
combater  a  Inglaterra.  Encareceu  a  necessidade  da  escola  primaria  — 
base  de  todas  as  outras  escolas  — louvor  á  Sociedade  Martins  Sar.men- 
To,  pelo  empenho  que  sempre  tem  mostrado  em  promover,  por  todos 
os  meios  ao  seu  alcance,  a  instrucção,  principalmente  a  instrucção 
popular. 

« Depois  da  distribuição  dos  prémios,  que  consistiam  em  livros  e 
n'um  formoso  diploma,  e  que  foram  entregues  aos  alumnos  pelo  snr. 
conde  de  Margaride,  presidente,  discursaram  largamente  e  com  a  sua 
costumada  eloquência  os  snrs.  dr.  José  da  Cunha  Sampaio  e  dr.  Joa- 
quim José  de  Meira,  bem  como  os  illuslrados  professores  primários, 
Crespo,  da  escola  official  de  Sande,  e  Lage,  da  escola  official  de  S. 
Torquato. 

«  O  snr.  Crespo  referiu-se  á  justiça  e  conveniência  de  se  estimula- 
rem, galardoando-os,  os  professores,  o  que  suggeriu  ao  snr.  conde  de 
Margaride,  concordando,  a  nobre  iniciativa  que  tomou  offerecendo 
36^000  reis  para  serem  dados  em  premio,  na  futura  distribuição  do 
prémios,  ao  professor  mais  zeloso  e  competente. 


92 


«  Os  snrs.  drs.  Sampaio  e  Meira,  nas  considerações  que  eloquente- 
mente fizeram,  alludiram  ao  conflicto  inglez,  e  notaram  acertadamen- 
te que  sendo  o  paiz  fraco  e  pobre,  o  único  campo  para  a  guerra  con- 
siste no  robustecimento  das  nossas  forças  vivas,  da  agricultura,  da 
industria,  do  commercio,  pelo  desenvolvimento  da  instrucção,  pelo 
alargainento  d'emprezas  e  pela  applicação  patriótica  dos  capitães. 

«  Á  porta  tocava  uma  banda  de  musica. 

«  Á  sessão,  que  terminou  depois  da  1  hora  da  tarde,  assistiram 
entre  outros  muitos  cavalheiros  e  senhoras,  as  auetoridades  civis,  ad- 
ministrativas, militares,  representantes  de  corporações  e  da  imprensa 
local,  todos  os  professores  do  concelho  e  alumnos.  » 


Os  alumnos  premiados  foram : 


Maria  de  Jesus  Oliveira,  da  escola  da  V.  Ordem  Terceira  de  S. 
Francisco. 

Amélia  Figueira  de  Sousa,  da  escola  do  Asylo  de  Santa  Estepha- 
nia. 

Rosa  Estephania  Fernandes  Cruz,  da  escola  official  primaria  de 
Guimarães. 

Adelina  Augusta  de  Freitas,  idem  de  S.  João  das  Caldas  de  Vi- 
zella. 

Adélia  Augusta  Teixeira  da  Costa,  da  escola  da  Real  Irmandade 
dos  Santos  Passos. 

Maria  Rita,  da  escola  primaria  official  de  S.  Martinho  de  Sande. 

Hermínia  Fernandes  da  Silva,  idem  de  Nespereira. 

António  José  Gonçalves,  idem  de  S.  Lourenço  de  Sande. 

Manoel  Raymundo,  idem  de  Gondomar. 

Abel  Gorgel  Ferreira,  idem  de  S.  Martinho  de  Sande. 

Júlio  Augusto  Borges,  idem  de  Guimarães. 

Manoel  d'Abreu,  idem  de  S.  Jorge  de  Selho. 

Manoel  de  Miranda  Pedroso,  idem  de  S.  Miguel  das  Caldas  de  Vi- 
zella. 

Manoel  Alves  d' Abreu,  idem  de  Nespereira. 

José  da  Silva  Ferreira,  idem  das  Taypas. 

António  Machado,  idem  de  Brito. 

Firmino  José  Lopes,  idem  da  freguezia  de  S.  Torquato. 

Domingos  Martins  Fernandes,  da  escola  da  V.  Ordem  Terceira  de 
S.  Francisco. 

António  Alves  Ferreira,  da  escola  do  Sagrado  Coração  de  Jesus. 

José  Mai  tins  Pinto,  da  escola  nocturna  primaria  de  Vizella. 

Domingos  Gomes,  da  escola  primaria  de  S.  Salvador  de  Briteiros. 

Francisco  da  Silva  Fernandes  Assis,  da  escola  nocturna  primaria 
de  Guimarães. 

Manoel  Ribeiro  de  Souza  Mascarenhas,  da  escola  do  Asylo  de  San- 
ta Estephania  (classe  complementar). 

António  Maria  do  Amaral  e  Freitas,  idem  (classe  elementar). 

Arão  Pereira  da  Silva,  premio  «Marianno  de  Carvalho  »  — 9^000 
reis.  (Foi-lhe  conferido  por  ser  o  que  maior  classificação  obteve  no 
exame  de  instrucção  primaria  complementar,  que  fez  n'este  concelho, 
no  anno  findo). 


93 


* 


No  mesmo  dia  á  noite,  realisou  o  nosso  distincto  consócio 
e  abalisado  advogado,  snr.  dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães, 
uma  conferencia  publica  na  sala  principal  da  casa  da  Socieda- 
de perante  um  selecto  e  numeroso  auditório,  tendo  por  thema 
a  Existência  da  crise  agrícola  portugueza ,  especialmente  no 
Minho;  causas  geraes  da  crise  e  meios  principaes  de  a  atte- 
nuar. 

Sobre  a  apreciapão  d'esta  notável  e  interessante  conferen- 
cia damos  a  palavra  ao  Commercio  de  Guimarães,  de  cujo 
n."  540  de  10  do  mesmo  mez  transcrevemos  a  seguinte  no- 
ticia : 


« O  snr.  dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães,  distineto  e  considerado 
jurisconsulto  d'esta  cidade,  realisou  hontem,  no  salão  da  bibliotheea  da 
Sociedade  Martins  Sarmento,  a  conferencia  que  havíamos  noticiado, 
tomando  por  thema:  Existência  da  crise  agrícola  portugueza,  especial- 
mente no  Minho;  causas  geraes  da  crise  e  meios  principaes  de  a  atte- 
niiar. 

«  S.  exe.^  houve-se  brilhantemente,  como  era  de  esperar  do  seu  vas- 
to talento,  profundos  conhecimentos  e  fino  critério  com  que  costuma 
tratar  os  assumptos  de  que  se  encarrega,  sendo  por  vezes  interrompido 
por  applausos  do  selecto  auditório  que  o  escutava.  Desculpe-nos  s.  exa.^ 
esta  levíssima  apreciação,  que,  se  pôde  ser  tida  de  suspeita  pelo  muito 
que  lhe  queremos,  representa  todavia  a  nossa  profunda  convicção.,  e 
estamos  certos  de  que  de  todo  o  auditório. 

«Registamos  com  muito  prazer  e  louvor  o  comparecimento  das 
damas  vimaranenses  á  conferencia,  que,  como  cremos,  não  será  a  ul- 
tima; comparecimento  que  traduz  indubitavelmente  a  profunda  e  ra- 
dical transformação  dos  nossos  costumes. 

«  Vamos  aproximadamente  dar  a  summula  do  discurso  do  illustre 
conferente. 

«  Disse  s.  exC" : 

«  Que  a  crise  agrícola  é  um  facto  social,  económico,  geral  nos  paí- 
zes  do  centro  e  occidente  da  Europa ;  que  por  isso  Léon  Say  qualifica 
a  questão  agrícola  —  a  grande  questão  do  dia.  Que  na  conferencia, 
conversa  familiar  entre  consócios,  não  faria  uma  exposição  histórica 
da  propriedade;  que  nos  nossos  historiadores,  em  Coelho  da  Rocha, 
Herculano  e  outros,  nos  trabalhos  de  jurisconsultos,  nos  modernos 
trabalhos  parlamentares,  no  projecto  de  fomento  rural  do  snr.  Oliveira 
Martins,  o  estudioso  encontrará  as  mais  completas  noticias. 

«Que  aceitava  os  factos  como  se  apresentam  actualmente.  Que  a 
crise  agrícola  tem  causas  históricas,  económicas  e  jurídicas  conhecidas; 
que  hoje  se  tornou  objecto  de  preoccupação  geral. 

«  Que  conhecido  o  estado  do  paiz,  e  o  que  se  relata  dos  estranhos, 
reputa  como  principaes  causas  geraes  da  crise  as  seguintes :  augmento 


94 


tributário,  progresso  agrícola  de  novas  terras,  excesso  de  divisão  pre- 
dial de  natureza  individualista,  excesso  de  dividas  de  letras  de  cambio 
6  titules  hypotheearios. 

« Que  o  excesso  tributário  é  geral  na  maior  parte  dos  paizes  con- 
tinentaes;  que  uniformemente  se  indicam  como  causas  —  a  manu- 
tenção de  grandes  exércitos,  o  excessivo  desenvolvimento  de  grandio- 
sas obras  publicas,  a  elevação  consequente  de  dividas  naoionaes  sem 
correspondência  no  incremento  de  receita  geral.  Que,  directa  ou  indi- 
recta, todos  os  paizes  têm  augmentado  a  matéria  tributaria.  Que, 
n'uma  consideração  genérica  ou  absoluta,  é  indifTerente  que  o  au- 
gniento  seja  de  predominio  indirecto,  como  em  Portugal,  ou  do  directo 
como  na  Itália  e  Hungria,  porque,  embora  os  indirectos  perturbem 
immeciiatamente  as  classes  mais  desfavorecidas,  todo  o  augmento 
produz  encarecimento  de  serviços  e  produetos,  e  por  isso  mais  ou 
menos  reflexamente  vem  afl^ectar  todas  as  classes,  e  por  isso  a  agrí- 
cola. 

«  Que  estes  excessos  têm  concorrido  para  o  mal-estar  da  agricultu- 
ra ;  que  n'Allemanha  e  França  as  arrematações  coercivas  por  dividas 
fiscaes  attingiram  números  extraordinários;  quena  Itália,  em  menos  de 
dez  annos,  desde  1871  a  1877,  só  por  dividas  tributarias,  foram  adju- 
dicadas á  fazenda  publica  11:092  propriedades!  Que  isto  recordava 
uma  pagina  da  decadência  do  antigo  império. 

« Que  em  Portugal  se  soíTre  do  mesmo  aggravamento,  e,  como  n'ou- 
tros  paizes,  não  é  só  do  Estado :  o  aggravamento  começa  na  paroebia, 
sobe  ao  município  e  districto,  e  termina  no  Estado. 

«  Que  para  nenhum  governo  é  fácil  deter  a  roda  dos  aggravamen- 
tos,  porque  os  governos  não  podem  directa  e  rudemente  contrariar  a 
vontade  do  povo.  Que  no  paiz  todos  se  queixam  da  elevação  tributa- 
ria, e  contradictoriamente  não  cessamos  de  pedir  melhoramentos ;  que 
estes  só  podem  custear-se  com  os  impostos. 

«  Que  outra  causa  de  crise  é  o  progresso  agrícola  nos  novos  conti- 
nentes; que  na  Africa  se  cultiva  a  vinha  com  cuidado  na  Argélia,  eha 
terrenos  feracissimos,  apropriados  aos  cereaes;  que  estes  se  produ- 
zem em  grande  abundância  em  muitos  paizes  da  America,  na  Austrá- 
lia, na  Índia;  que  de  S.  Francisco  da  Califórnia  informou  já,  em  carta 
particular,  o  intelligente  cônsul  portuguez  que  se  produz  bom  vinho 
de  pasto,  e  têm  os  cultivadores  esperança  de  o  produzir  aproximada- 
mente igual  ao  do  Douro. 

« Que  em  presença  de  tamanha  concorrência  se  pensa  que  não  bas- 
tam direitos  protectores,  mas  é  indispensável  um  complexo  de  refor- 
mas de  diversa  indole,  desenvolvendo  a  riqueza  publica. 

«  Que  nos  paizes  da  Europa,  mais  atrazados,  como  a  Rússia,  se  tem 
feito  grandes  progressos  na  industria,  commercio  e  agricultura,  pelo 
alargamento  d'emprezas,  melhoramento  agrário,  desenvolvimento  da 
iastrucção  popular  e  technica,  onde  ha  instituições  talvez  melhor  or- 
ganisadas  do  que  as  nossas.  Que  se  calcula  que,  em  um  período  de  50 
annos,  cada  paiz  europeu  não  poderá  conseguir  mais,  reconstituindo 
as  suas  fontes  de  producção,  que  garantir  á  industria,  agricultura  e 
commercio,  o  consumo  interno.  Que  d'esta  previsão  advém  maior 
ambição  e  lueta  nas  expansões  coloniaes. 

« Que  entre  nós  se  sente  o  eíTeito  da  concorrência  de  cereaes  e  fa- 
rinhas exóticas,  de  que  não  é  isento  o  Minho,  pela  facilidade  dos  trans- 
portes em  via  férrea  e  estradas  ordinárias.  Que  os  nossos  cereaes  se 
não  exportam,  e  apenas  exportamos  especialmente  para  Inglaterra, 


95 


gados,  vinhos,  minérios,  fructas,  cortiça  e  poucos  géneros;  que  a 
nossa  propriedade  agripola,  se  não  fora' protegida,  estaria  na  ultima 
miséria.  Que  a  protecção  não  pôde  ser  excessiva,  porque  a  isso  se  op- 
põem  as  classes  pobres,  e  cada  vez  mais,  porque  o  empobrecimento  ten- 
de a  augmentar,  e  augmentará  em  grande  progressão  se  se  não  esta- 
belecerem as  reformas  convenientes,  de  modo  que  todas  as  classes  de 
trabalho  e  producção  se  desenvolvam. 

«  Que  ao  desenvolvimento  da  classe  agrícola  se  oppoe  a  excessiva 
fragmentação  de  glebas,  especialmente  nas  partilhas  das  heranças,  por 
não  haver,  como  já  na  Allemanha,  Noruega,  Áustria,  Estados-Unidos, 
legislação  protectora  da  constituição  de  casaes  indivisíveis. 

«  Que  entre  nós  se  dá  a  mesma  coisa,  porque  a  fragmentação  já  é 
excessiva,  proveniente  de  varias  causas,  como  —  exce"sso  tributário, 
igualdade  de  partilhas  em  substancia,  jurisprudência  incerta  na  con- 
ferencia de  doações,  ódios  dos  foreiros  ás  tradicionaes  oppressõesdos 
senhorios  directos,  excesso  de  desamortisação,  superabundância  de 
execuções,  arrematações  por  glebas,  ete. 

«Que  a  extincçâo  dos  direitos  banaes,dos  serviços  pessoaes,  das 
pensões  foraleiras,  pela  revolução  liberal,  foi  óptima;  que  a  extineção 
dos  vínculos,  foi  justa;  que  a  doutrina  liberal  teve  até  então  reali°sa- 
ções  concretas  d'incontestavel  beneficio,  mas  que  desde  1868  come- 
çou o  desvairamento,  facultando-se  as  opções  a  todos  os  cointeressa- 
dos  nos  prasos,  extinguindo-se  os  censos  reservativos,  e  facultando-se 
a  remissão  dos  consignativos. 

«Que  os  exaggerados  da  igualdade  de  partilhas  não  recuam  peran- 
te o  absurdo  da  divisão  predial  até  ao  átomo  de  terra,  quando  na  pra- 
tica da  vida  todos  os  valores  têm  unidades  irreductiveis. 

«Que  o  proprietário  minúsculo  não  só  não  pôde  com  os  encargos, 
mas  não  pôde  alimentar  a  sua  familia  com  os  rendimentos  da  proprie- 
dade, o  que  causa  perturbação,  e  a  amortisação  no  dominio  de  capi- 
talistas. 

c(  Que  as  dividas  de  letras  e  hypothecas  é  outra  das  causas  geraes 
de  crise.  Que  a  facilidade  e  segredo  das  dividas  por  letras  seduz  o 
lavrador  inexperiente,  como  os  menores  estróinas,  ou  precocemente 
emancipados;  e  a  vulgarisação  de  bancos,  os  empréstimos  de  bancos 
hypothecarios,  com  araortisações  a  prasos  fataes  e  juro  alto,  não  au- 
xiliam a  agricultura,  mas  a  arruinam  cada  vez  mais.  Que  a  prova  é  o 
desmoronamento  vertiginoso  das  grandes  casas  de  província. 

ff  Que  apesar  d'isto,  o  novo  código  commercialpermilte  a  liberdade 
das  letras,  contrariando  o  código  civil  que  prohibe  os  empréstimos 
de  mais  de  400^000  reis  por  titulo  particular.  Que  assim  o  código  ci- 
vil, permittindo  amplamente  a  usura,  e  o  commercial  as  letras,  dila- 
tam a  esphera  d'actividade  dos  agiotas  menos  escrupulosos,  e  a  dos 
falsificadores  de  leiras. 

«Que  a  divida  hvpothecaria  é  tamanha  que  já  em  1861  attingia 
em  todo  o  paiz  a  32:732:0001000  reis,  representando  6  V-,  7o  do  valor 
total  da  propriedade;  que  se  a  isto  se  accrescentar  a  divida  de  letras, 
de  títulos  sem  hypolheca,  de  contratos  verbaes,  se  pôde  conjecturar 
sem  receio  que  metade  pelo  menos  das  fortunas  dos  proprietários  la- 
vradores está  absorvida  por  dividas.  Que  isto  é  a  prova  mais  viva, 
mais  eloquente,  da  decadência  e  desordem  da  propriedade  rural. 

«  Que  tratando  de  apreciar  meios  d'attenuação,  ponderava  a  neces- 
sidade de  se  reorganisar  a  propriedade  em  bases  racionaes,  recorren- 
do-se  á  acção  combinada  do  Estado  e  da  iniciativa  particular. 


96 


« Que  no  estado  em  que  se  acha  o  paiz,  não  pôde  pedir-se  a  ne- 
nhuDi  governo  a  suppressão  de  qualquer  typo  d'imposto ;  mas  é 
aceitável  pedir-se  que  se  supprima  a  contribuição  de  registro  por  en- 
cabeçanicntos  e  licitações,  e  se  augmente  a  d'outras  incidências,  como 
nas  trocas,  suceessões  entre  estranhos. 

«Que  deve  seguir-se  o  exemplo  d'Alleraanha,  permittindo  a  orga- 
nisação  de  casaes  indivisíveis:  o  dos  Estados-Unidos,  Áustria,  Bavie- 
ra, Saxe  e  Hungria,  oppondo  limites  á  excessiva  fragmentação. 

«  Que  por  este  meio  poderá  reorganisar-se  o  melhor  typo  de  pro- 
priedade rural  —  a  pequena  e  média,  o  casal  maior  ou  menor,  mas 
que  sustente  uma  família  agrícola. 

«  Que  alguns  economistas  dão  grande  valor  á  organisação  do  cre- 
dito rural;  entre  outros,  o  illustre  soeio  honorário  snr.  conselheiro 
Franco  Castello  Branco  e  o  snr.  Oliveira  Martins;  que  Léon  Say  acre- 
dita que  as  organisações  do  credito  agrícola  salvaram  a  agricultura  da 
Lombardia.  Que  outros  porém  não  dão  tanto  valor  ao  credito  agrícola 
porque  ao  bom  regimen  rural  o  que  mais  convém  é  não  recorrer  a 
empréstimos.  Que  o  credito  rural  também  só  de  per  si  não  resolve  a 
crise;  que  apesar  da  Allemanha,  Itália  e  França  estarem  bem  dotadas 
com  instituições  de  credito  rural,  d'iniciativa  particular,  livres,  al- 
gumas com  administrações  gratuitas,  e  apesar  de  terem  prestado  gran- 
des benefícios,  não  resolveram  a  crise,  e  apenas  a  altenuaram. 

«  Que  sobretudo,  o  seu  espirito  de  liberal  moderado,  de  provincia- 
no, e  a  sua  desconfiança  contra  as  absorpções  da  capital  do  reino,  se 
insurgiam  contra  o  projecto  do  snr.  Oliveira  Martins  na  parte  em 
que  centralisava  em  Lisboa  as  instituições  de  credito,  com  excessivas 
tendências  socialistas  pela  demasiada  intervenção  do  Estado,  e  em  de- 
trimento da  autonomia  das  corporações  de  província. 

« Que  estas  têm  prestado,  desde  a  sua  fundação,  relevantíssimos  ser- 
viços á  agricultura,  serviços  puramente  gratuitos  da  parte  das  mezas 
ou  gerências.  Que  têm  sido  verdadeiros  bancos  populares  hypotheca- 
rios,  sem  vexar  ou  opprimir  os  devedores,  antes  resolvendo  pelo  modo 
mais  favorável  aos  devedores  a  questão  económica  mui  debatida  sobre 
a  conveniência  de  praso  curto  ou  longo  das  amortisações  :  o  devedor 
amortisa  quando  quer. 

«Que  lhe  parecia  mais  conveniente  que  o  Estado,  no  que  respeita 
ao  credito  rural,  faculte,  proteja,  e  até  fomente  a  sua  creação,  aper- 
feiçoando a  lei  de  22  de  junho  de  1867  ;  e  promulgando  uma  lei,  como 
a  allemã  de  24  de  maio  de  1880,  corrigindo  a  usura,  e  obstando,  não 
á  alta  ou  baixa  do  juro  conforme  as  leis  económicas  dos  mercados, 
mas  ao  abuso  de  conjuncturas  angustiosas,  ou  da  inexperiência  dos 
devedores. 

«  Que  na  escolha  de  meios  para  attenuar  a  crise  se  bebesse  a  lição 
quer  na  escola  liberal,  quer  na  socialista;  que  nem  devemos  ser  libe- 
raes  insensatos,  nem  socialistas  déspotas ;  que  uma  e  outra  escola  con- 
tem indicações  justas  e  úteis  e  que  para  o  bom  regimen  agrário  tão 
bons  modelos  nos  oíTerece  a  Allemanha  auctoritaria,  como  a^democra- 
tica,  livre  e  trabalhadora  republica  dos  Estados-Unidos. 

« Quando  o  illustre  conferente  terminou,  recebeu  uma  longa  salva 
de  palmas,  sendo  comprimentado  pelos  cavalheiros  mais  graduados 
que  alli  se  encontravam.  » 


97 


Era  15  do  mesmo  mez,  em  sessão  de  assembléa  geral, 
procedeu-se  em  harmonia  com  as  prescripções  do  nosso  esta- 
tuto, á  eleição  da  nova  direcção,  que  ficou  coostituida  dos  se- 
guintes sócios: 

Directores  effectivos 

Dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães. 

Dr.  António  Coelho  da  Motta  Prego. 

Dr.  José  de  Freitas  Costa. 

Padre  João  Cândido  da  Silva,  abbade  de  Gémeos. 

Pedro  Pereira  Guimarães. 

Simão  da  Costa  Guimarães. 

Gaspar  Loureiro  de  Almeida  Cardoso  Paul. 

Directores  supplentes 

Commendador  João  Dia^  de  Castro. 

Padre  António  Garcia  Guimarães. 

António  José  Fernandes. 

Eduardo  Almeida. 

Francisco  José  de  Carvalho  Oliveira  Júnior. 

Manoel  Joaquim  da  Cunha. 

Álvaro  da  Cunha  Berrance. 

Em  conformidade  com  o  preceituado  no  regulamento  da 
Sociedade  a  nova  direcção  tomou  hoje  posse. 


Durante  o  trimestre  findo  recebeu  a  Sociedade  para  a  sua 
bibliolheca  on"ertas  de  diversos  livros. 

Aos  offerentes,  cuja  relação  se  segue,  os  sinceros  agrade- 
cimentos da  Sociedade. 


Atheneu  Commercial  do  Porto,  1  volume ; 
Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa,  4  volumes; 
Anonyrao,  1  volume; 

7.0  Anno. 


98 


António  Ferreira  dos  Santos,  1  volume; 

José  da  Silva  Ferreira,  o  volumes ; 

Bibliotheca  Publica  do  Porto,  1  volume; 

José  Marques  Loureiro,  1  volume; 

Carlos  AíTonso,  3  volumes; 

Costa  Goodolphim.  1  volume: 

Domingos  Guimarães,  1  volume ; 

Dr.  A.  Luiz  de  Sousa  Henriques  Secco,  3  volumes; 

Gaspar  Loureiro  de  Almeida  Cardoso  Paiil,  2  volumes; 

J.  Leite  de  Vasconcellos,  1  volume; 

Associação  Commercial  do  Porto,  1  volume; 

José  Pedro  de  Lima  Calheiros,  1  volume; 

Direcção  Geral  de  Agricultura,  1  volume; 

Adolpho  de  Sousa  Reis,  1  volume ; 

A.  Xavier  da  Silva  Pereira,  8  volumes; 

Magalhães  &  Moniz,  i  volume; 

Rocha  Peixoto,  1  volume; 

Padre  Patrício,  1  volume; 

Dr.  Bernardo  Lucas,  I  volume ; 

Dr.  Alberto  Sampaio,  1  volume; 

José  Ciereo,  1  mappçi  de  Portugal. 

Dr.  F.  Martins  Sarmento,  1  volume; 

Joaquim  de  Vasconcellos,  1  mappa  da  Africa; 

Direcção  geral  dos  correios,  1  volume; 

Adolpho  Salazar,  1  volume : 

Associação  Commercial  de  Coimbra,  1  volume; 

José  Sarmento  e  Domingos  Guimarães,  1  volume; 

Marianno  Rocha,  3  volumes; 

Rodam  Tavares,  1  volume; 

Escola  Industrial  de  Guimarães,  2  volumes; 

Dr.  José  de  Freitas  Costa,  1  volume; 

Xisto  Ximenes,  1  volume; 

Atheneu  Commercial  de  Braga,  i  volume; 

E.  Carlos  Pereira,  1  volume; 

José  Zacharias  de  Miranda,  1  volume; 

Sociedade  Alexandre  Herculano,  1  volume; 

Bibliotheca  Artística  e  Commercial  do  Porto,  6  volumes. 


Para  enriquecer  a  sua  collecção  de  jornaes  recebeu  também 
e  agradece  a  Sociedade  mais  os  seguintes  periódicos : 


A  Pátria  (Lisboa). 

O  Tempo  (Idem). 

Jornal  do  Norte  (Idem). 

O  Atlântico  (Idem). 

O  Século  (Idem). 

Revista  dos  Campos  (Idem). 

Folha  do  Povo  (Idem). 


99 


A  Agricultura  Portiujueza  (Idem). 

Boletim  da  Direcção  Geral  d' Agricultura  (Idem). 

O  Zoophilo  (Idem). 

-4  Lucta  (Porto). 

O  Rebate  (Idem). 

A  Dosimetria  (Idem). 

Jornal  de  Horticultura  Pratica  (Idem). 

Revista  das  Sciencias  Sociaes  (Idem). 

O  Atheneu  (Cintra). 

A  Penha  (Guimarães). 

O  Minho  (Famalicão). 

Correio  de  Loanda  (Loauda). 


Para  o  museu  receberam-se  oífertas  dos  snrs.  Antooio  Fer- 
reira dos  Santos  e  João  Ferreira  de  Abreu,  a  quem  a  Socie- 
dade muito  agradece. 


Guimarães,  1  de  abril  de  1890. 


0  secretario 

Gaspar  L.  d'A.  G.  Paul. 


BALANCETES 


Movimento  da  caixa  em  janeiro  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  em  31  de  dezeoibro  de  1889 173á383 

Receita  d'e?te  mez 403^900       577Í283 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 715720 

Saldo 505^563        577^3 

Em  fevereiro  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  anterior 5035563 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 64M30 

Saldo 441M33        505^63 

Em  mar<;o  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  anterior 441M33 

Receita  d'este  mez 73^^815        515^248 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 745110 

Saldo 4415138        5151248 


o  thesoureiro, 

Manoel  Joaquim  da  Cunha. 


Inclu!^ti*ia   ó    Inveneioiíess!,  revista  semanal  illustrada  de 
Barceluna.  Director,  D.  Geroniiiio  Bolibar,  ingeniero  industrial. 

P<ii  tiigal,  anno 25  pesetas. 

Boletíii  <.l«    líi  Institiieioii  lil>i*e   cio  Eiisseíian- 

za,  [lublicação  quinzenal  de  Madrid.  Anno 10  pesetas. 

O   CiviliísitKloi',   revista  de   Punta  Delgada.  Redactor,  Gabriel 

d'Aliiieida.  Cada  numero 120 

-Boletim    tia    Socíie<Jacle   <le  G-eog-i-ai^liia  Com- 
me»-cial  *lo  JPoi-to.  Assignatura  para  a  3.*  série : 

Soeios  fíTectivos  da  Sociedade 500 

Todos  os  outros  assignantes i^OOO 

Numero  avulso.   200 

Assigna-se  na  Livraria  Portuense  de  Lopes  &  C.^,  successores  de 
Clavel  &  C.»  — Porto. 
Ii.ovia»ta  de  TEducação  e  !]^usino,  publicação  mensal 

do  Lisboa.  Director,  Ferreira  Deusdado.  Preço:  Anno 2^000 

Semestre \MO0 

Avulso 200 

A.  Rovi^ãita  do»  Canip€>!«!!,  revista  quinzenal  jisbonens^e, 
agrícola  e  agronómica.  Directores,  J.  Verissimo  d'Almeida,  A.  Xa- 
vier Pereira  Coutinho  e  António  de  Sarmento.  Anno 2^000 

Numero  avulso 100 

"Roviísíta  doisí  Tfibimaefeí,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários,  Augusto  Maria  de  Castro  e  António  Fer- 
reira Augusto.  Anno,  franco  de  porte ;i;^000 

Semestre,  franco  de  porte • .     1^800 

nVovo  M-eosageiro  do  Ooi*a<?âo  de  «Jesus,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do   Coração  de  Jesus  e  da  Communhão  Reparadora.  —  Portugal, 

anno UOOO 

Os    A-i-g-onautas,  subsídios  para  a  antiga  historia  do  Orci- 

dente,  por  F.  Martins  Sarmento.  1  grosso  volume ySOO 

Pelo  correio 1^560 

Em  todas  as  livrarias. 
A.    F*i*opfiedade  e  Cultura  do  ]yiiíil»o  (estudo   his- 
tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sampaio.  Preço.. .        350 
Em  todas  as  livrarias. 
He  vista  das  Soieneias  IVIili  tares,  publicação  men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheria. 

Portugal,  anno 25400 

He  vista    das   Scieneias   IVaturaes  e   Sociaes ; 
órgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publica-se  quatro 

vezes  por  anno.  em  fascículos  de  48  pag.,  8.»  —  Anno U200 

Numero  avulso 300 

Jornal  de  Morticultura  Fratica.  Proprietário,  José 

Maríiues  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 2sâ250 

Numero  avulso 300 

Contendo  estampa  colorida 400 

O  VSeereio,  revista  semanal,  litteraria  e  eharadistiea,  de  Lisboa. 

Lisboa,  cada  numero... 20 

Províncias,  semestre 580 

Trimestre 300 

O   Cliarivari,  revista  humorística  do  Porto. 

Série  de  12  números 240 

Províncias 270 


Boletim   <3a    Lijya   dos  Lavi'atloi'«»s  <lo  I3oiii'o. 

Rijflacção,  rua  do  Calvário,  70  —  Porto.  Numero  aviil<o. . . .  40 

Instituições  Clii-iísitãs,  revista  fiuinzenal  de  Coi mitra,  re- 
ligiosa, soientifiea  e  lilteraria.  Orsíào  da  Academia  de  S.  Tliomaz 
d'Aiiuino.  Seis  mezes liS:2uu 

JSoletíix-Iíe vista  de  la  Jiiveiitiitl  Cutóliea,  re- 
vista mensal  de  Valência.  Cada  numero 1  real.' 

.\valso 2  reales. 

A.  A-x-te  r»liotoj*:i'apliiea,  revista  mensal  dos  progressos 
da  photograijhia  e  artes  correlativas:  propriedade  da  Photographia 

Moderna.  Porto,  anno "I^íOO 

Numero  avulso ;iOO 

Kevista  <l'Ol>i-as  Pablieas  c  3Xiníií^,  publica»^*ão 
mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portnguezes. 

Lisboa,  anno 2^100 

Provincias  e  estrangeiro  acresce  o  custo  das  estampilhas. 

O  A-g-ficultoi*  foi-tag-iieaç,  jornal  de  agricultura,  veteri- 
nária, sciencias  e  artes  correlativas.  Anno,  franco  deporte.  3íâ000 
Assigna-se  na  livraria  Chardron  —  Porto. 

A.  Ii»ip»-eixsa,  revista  scientifica.  litteraria  e  artística  de  Lis- 
boa. Publicação  quinzenal.  Director.  AÍTonso  Vargas.  Lisboa,  cada 
numero  30  reis,  p:igos  á  entrega.  Provincias  e  ilhas,  trimestre  ou  6 
números,  200  reis.  Nuniero  avulso iO 

Coiíixbra  M!e<lica,  revista  quinzenal  de  medicina  e  cirurgia. 
Director,  dr.  Augusto  Rocha.  Portug;il  e  Hespanha,  anno..     2áV('0 

O  Pfogi-essso  Catliolico,  publicação  quinzenal  illustiada, 

de  Guimarães.  Continente,  anno... ' 600 

Numero  avulso KiO 

O  Instituto,  revista  litteraria  e  scientifica,  xJe  Coimbra. 

Anno lâSOO 

Pelo  correio 1  êom 

Numero  avulso !  60 

Selecta  f^-ancezia,  por  Moreira  de  Sá,  professor  da  Escola 

Normal  do  Porto.  Preço,  encadernada lá^oO 

Peio  correio. .... I áiOO 

Gri-amuiíitica  t'í-íiueez;a,  por  J.  E.  Vdii  M.-ite  e  A.  Epipha- 
nio  da  Silva  Dias.  ô.»  edição,  inclhurad.i.  Preço,  brochada..  8i'0 
Pelo  correio ......."....... 8;t0 

Edueacão  infantil  —  Leitui-as  «ílementaio.s. 
íntroduceão  ao  Koio  livro  de  leitura  por  João  Diniz.  1  volume  com 
38  gravuras. 

Brochado 200 

Cartonado 2()0 

Magalhães  &  Moniz,  editores  —  Porto,  e  em  todas^s  livrarias. 

Histoi'ia  do  cêi'co  do  I?oa-to,  por  S.  J.  da  Luz  Soriano. 
2. a  edição,  illustrada  com  magnificas  gravuras  e  chronjolyihogra- 
phia<í,  revista  e  melhorada  iieío  auctor.  Editor,  Augusto  Leite  da 
Silva  Guimarães  —  Porto.  Cada  fascículo "■ 200 

Boletim  de  I?liai-inaeia  do  Porto.  Director,  J.  P.  d'AI- 

meida  Brandão.  Anno líSOOO 

Numero  avulso , 200 

-\.  A fçric altura  Poftug^ueza,  revista  quinzenal  de  Lis- 
boa. Directores,  F.  Simões  Margiochi  e  Paulo  de  Moraes. 

Anno "; 2^0(10 

Numero  avulso 100 


REVISTA 


DE 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Piornotora  da  instiucção  popular 
no  conce.lho  de  Guimarães 


VOLUME  Vil 


N.»  3  — Julho— 1890 


TOTiJO 

Typographia  de  a.  J.  ua  Silva  Teixeira 

Rua  da  Cancella  Velha,  70 

1890 


Siininrarío  (Keste  nnnierc/ 

í.  Lusitanos,  Lipures  e  Celtas;  pcir  F.  Martins  Sarmento^ 

II.  Ghiinica  industrial:  Galvanoplastia;  poi'  A.  de  Mattos  Chavos'. 

líl.  Docuinenios  inéditos  dos  seculds  xu-xv  :  por  Oliccira  Guimaiãe»„ 

IV.  Instrucção  popular:  lei  de  1878. 

V.  Boletim";  \\o\-  GfLspai^L,d'A    C.  PaúL 

VI,  Balancete  \  por  Simão  da  Costa  Guimarães. 


A  RevísCa  de  Giiiniarfies  pnbiica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  julho  e  outnbro,  ein  faycieiiio& 
de  48  paginas. 

Cada  volume,  composto  de  qnatio  fascicnlos^ 
custa  por  assignatiira  800  reis;  cada  numero  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do  correio  sào  á  custa  da» 
empresa.  As  assignaturas  sào  pagas  adiantadas. 


A  Revista  de  Guimarães  é  distribuida  gratui- 
tamente pelos  sócios  da  Sociedade  Martins  Sar- 
mento.   

Òs  artigos  publicados  n'esta  Ptcvista  sào,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  dos 
seus  auctoi^es. 

Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcçào  da  Sociedade  Martins  Sarmento,  Gui- 
marães. 

ANNUNCIOS  LITTERARIOS 

^ .: t^*t- ' ■ 

A.  Ci-ise  Agi'icolti  Poi-ttig-iiesca,  por  Avelino   Guima- 
rães. 1  vol 700 

Vende-se  no  Porto  na  livraria  Gutenbeig:  em  Guimarães  na  loja 
de  Francisco  Joaquim  de  Freitas. 

Os   MLaias,  por  Eça  de  Queiroz.  2  grossos  volumes 2^000 

Pelo -correio. 2;íl20 

Livraria  de  Lugan  &  Genelioux,  editores—  Porto. 

As*    Colónias  I?ortug,-iiesc«,!5i,  publicação  lisbonense  illus- 

trada.  Anno 2^000 

Semestre iriOO 

A  vulso 200 

O  Zoophilo,  publicação  mensal  illustrada  de  Lisboa. 

Lisboa,  anno 600 

Províncias 630 

Numero  avulso 100 

A  I>o.»!«iiiieti-ia,  revista  mensal  portuense  de  medicina  dosime- 
trica.  Director-proprietario,  José  Bernardo  Birra.  Anno» —     li^SOO 


LUSITANOS,  LIGUKES  E  CELTAS 


(Aos  meus  amigos  Domingos  Leite  de  Castro 
e  Alberto  da  Cunha  Sampaio) 


Por  causa  dos  Ligures,  com  que  os  meus  amigos  já  iam 
sympathisauflo,  acaba  de  me  dar  uma  formidável  descompos- 
tura o  snr.  li^rancisco  Adolpho  Coelho,  professor  de  glottica  no 
Curso  Superior  de  Lettras. 

Não  sendo  meu  propósito  entrar  na  gloriosa  campanha  das 
retaliações  diífamatorias,  e  estando  a  parte  scientifica  da  farra- 
gem  abaixo  de  toda  a  critica,  salvo  n'um  ou  n'outro  ponto, 
hesitei  por  algum  tempo  se  deveria  ou  não  responder.  Mas 
estas  noites  longas  e  fastientas  têm  tentações  mephistopheli- 
cas,  e  demais  d'isso  se  perdesse  esta  occasião  de  fallar  dos 
meus  Ligures,  diíficilmente  apanharia  outra. 

Decidi-me,  pois,  a  analysar  a  trapalhada.  Vi-me  porém  era 
embaraços  sérios  e  aqui  está  porque:  Manoel  de  Mello,  o  au- 
ctor  da  GloUioa  em  Portugal — um  livro,  que  por  uma  coinci- 
dência apreciável  começou  a  correr  mundo  quasi  ao  mesmo 
tempo  que  a  Revista  Archeologica,  de  Lisboa,  borbotava  con- 
tra mim  a  interminável  verrina  do  snr.  Coelho  — Manoel  de 
Mello,  digo,  desaggravando  a  memoria  de  João  Pedro  Ribeiro, 
Ribeiro  dos  Santos,  Constâncio,  o  Cardeal  Saraiva,  Fr.  Inno- 
cencio,  Alexandre  Herculano,  ele.  etc,  aos  quaes  o  meu  de- 
molidor passara  diploma  de  ignorantes,  de  pedantes,  de  im- 

7.»  AnNO.  8 


102 


becís  —  porque  é  de  saber  que  para  o  snr.  Coelho  todo  o 
mundo  é  ignorante,  pelo  menos  ^  —  applicava-lhe  estes  versos 
de  Regnard : 

Cest  un  horame  étonnant  et  rare  en  son  espéce 
Qui  rêve  fort  à  rien  et  s'égare  sans  cesse; 
II  cherche,  il  tourne,  il  brouille,  il  regarde  sans  voir; 
Quand  on  le  parle  blanc,  soudain  il  répond  noir. 

com  a  differença  que  vai  da  distracção  para  a  intenção,  ac- 
centuava  o  auctor  da  Glollica. 

Só  quem  lida  com  a  hypercritica  lareira  do  snr.  Coelho 
pôde  avaliar  o  que  ha  de  perfeito  n'este  retrato  e  que  somma 
de  paciência  é  necessária,  para  esgrimir  com  dialécticos  d'esta 
espécie. 

Não  sei  se  consegui  vencer  este  trabalho  d'Hercules  bur- 
lesco. Os  meus  aniigos  o  dirão,  lendo  este  escripto,  em  des- 
conto d'aquelles  seus  peccados,  que  também  lhes  valeram  uma 
fusligadella  do  sempre  amável  professor. 


I 


Começa  o  snr.  Coelho  a  sua  catilinaria,  aíTirmando  que 
«  cheguei  muito  tarde  aos  estudos  históricos  e  a  propósito  das 
explorações  da  Citania  que  se  tornaram  (para  mim)  o  que  os 
psychologos  chamam  —  um  órgão  d'apercepção  de  tudo  o  mais  ». 

Á  vontade.  Uns  apontamentos  biographicos,  publicados  no 
primeiro  numero  da  Revista  de  Guimarães  —  único  documento 
que  o  snr.  Coelho  podia  consultar  sobre  o  caso  —  dizem  exacta- 


1  A  lista  dos  eseriptores  contemporâneos,  que  o  snr.  Coelho  tem 
descomposto,  sempre  em  nome  da  scieneia  ultrajada  pela  ignorância 
indigena,  não  é  menor  que  a  dos  beneméritos  da  geração  passada.  Mas 
o  caso  mais  symptomatico  é  este  :  Por  occasião  do  Congresso  Anthro- 
pologico  de  Lisboa,  onde  não  faltavam  anthropologistas  e  historiadores 
notáveis,  o  snr.  Coelho  apresentou  á  illustre  assembléa  uma  memoria,  a 
propósito  d'um  caso  de  microcephalia,  o  que  já  tem  chiste,  e  dando 
como  assente  que  os  historiadores  e  anthropologistas  eram  tão  igno- 
rantes, que  ainda  confundiam  os  Cambrios  com  os  Cimbros,  desatava 
a  fazer  uma  estirada  prelecção  sobre  a  mataria.  É  d'esta  força  o  snr. 
Coelho!  Um  dos  congressistas  ainda  lhe  disse  o  mais  delicadanienle  que 
pôde  n'um  periódico  francez  que  a  matéria  da  prelecção  era  um  pou- 
co velha. 


103 


mente  o  contrario;  mas  não  serei  eu  que  o  ponha  em  talas, 
pedindo-lhe  provas  da  sua  affirmativa:  o  meu  intuito  não  é 
martyrisal-o,  muito  pelo  contrario. 


Segue  a  furiosa  saraivada:  —  que  não  faço  idéa  clara  dos 
melhodos  de  critica  applicaveis  aos  textos  clássicos  —  nem  dos 
princípios  mais  elementares  da  sciencia  da  linguagem  —  nem 
das  bases  das  sciencias  elhnicas. 

Paremos  aqui  e  examinemos  as  coisas  de  traz  para  diante, 
como  o  pede  a  melhor  ordem. 

Que  não  faço  idéa  clara  das  bases  das  sciencias  elhnicas. 
O  snr.  Coelho  não  dá  as  razões  do  seu  dito,  mas  temos  muito 
tempo  para  as  esquadrinhar.  Não  faço  idéa  clara  das  bases  das 
sciencias  ethnicas,  porque  não  li  os  livros  que  cito  nos  meus 
escriptos?  Será  porque  esses  livros  não  explicam  claramente 
os  mysterios  elensinos  das  taes  bases  das  sciencias  ethnicas? 
Será  emfim  porque  as  bases  das  sciencias  ethnicas  são  um 
monopólio  do  snr.  Coelho? 

Por  mais  extraordinário  que  isso  pareça,  é  n'esta  terceira 
hypolhese  que  está  o  gato.  Para  desengano  basta  ler  uma 
dissertação,  que  o  snr.  Coelho  publicou  no  segundo  numero 
da  Revista  das  Sciencias  Naturaes  e  Sociaes,  órgão  dos  traba- 
lhos da  Sociedade  Carlos  Ribeiro,  Âhi  nos  mostra  o  conspícuo 
professor  como  em  coisas  ethnologicas  pouco  mais  se  tem  feito 
do  que  tontear  até  hoje.  Abel  Hovelacque,  Fr.  Mliller,  Littré, 
por  exemplo,  tinham  sobre  a  matéria  idéas  muito  confusas. 
Topinard,  esse  ainda  passe;  tem-te  aqui,  escorrega  acolá,  vai 
fazendo  seus  progressos;  e,  se  tivesse  ouvido  uma  prelecção 
que  o  snr.  Coelho  deu,  ha  annos,  n'uma  associação  lisbonense, 
não  estaria  longe  de  conhecer  este  segredo  da  abelha. 

O  erro  que  até  hoje  tem  entenebrecido  todos  os  espirites 
consiste  em  baralhar  a  ethnica  com  a  anthropologia.  Com  taes 
confusões  na  cabeça,  um  investigador,  que  comece  a  fazer 
ethnogenices  com  o  deus  Taranis,  é  um  exemplo,  será  ca- 
paz de  desatar  a  fazer  anthropologices  inconscientemente,  dis- 
cutindo se  o  deus  teve  um  craneo  brachy  ou  dolichocephalo, 
ou  se  foi  alguma  vez  trepanado. 

Em  summa,  o  snr.  Coelho  mergulhou  até  o  fundo  do  poço, 
onde  dormitava  a  verdade  ethnologi.ca  e  anlhropologica,  e  trou- 


104 


xe  de  lá  uma  descoberta,  que  pelos  raodos  até  o  habilita  a  de- 
vassar os  arcanos  da  antiguidade,  sem  precisão  de  abrir  livros 
velhos.  É  certamente  por  isso  que  elle  escreve  que  em  coisas 
d'ethnologia  antiga  «  as  noticias  ethnographicas  e  ethnologicas 
dos  antigos  não  têm  para  nós  (para  elle)  senão  um  valor  se- 
cundário». O  snr.  Coelho  pôde  atirar  ás  ortigas  com  estas 
insigniflcancias;  flca-lhe  sempre  um  quid  primário,  q  amuleto 
que  trouxe  do  fundo  do  poço  acima  mencionado. 

Talvez  se  pergunte  como  é  que  este  dilettante  em  sciencias 
anthropologicas  e  elhnicas  logrou  desencantar  nas  suas  horas 
d'ocio  esta  maravilha  que  escapou  aos  Brocas  e  aos  MQllers. 
O  snr.  Coelho  previne  qualquer  objecção  n'uma  nota  do  seu 
escripto:  o  caso  é  saber  lér  nas  entrelinhas.  «A  logik  de 
Wundt,  escreve  elle,  como  outros  trabalhos  d'esle  eminente 
philosopho,  mostram  até  que  ponto  uma  intelligencia  superior 
pôde  dominar  os  processos  do  methodo  de  cada  uma  das  di- 
versas sciencias  e  criticar-lhe  os  resultados  ».  Homens  d'estes 
são  rarissimos,  tinha  elle  escripto  no  texto. 

Ora  aqui  está  como  o  snr.  Coelho,  sem  queimar  muito  as 
pestanas  com  os  estudos  anlhropologicos  e  ethnologicos,  pôde 
fazer  descobertas,  por  cima  das  quaes  os  anthropologislas  e 
ethnologos  de  profissão  passaram  e  repassaram  sem  as  vis- 
lumbrar. 

Em  cada  uma  das  diversas  sciencias  o  mesmo. 

Para  concluir.  O  snr.  Coelho  não  quiz  dizer,  acho  eu,  que 
só  vi  pela  lombada  os  livros  que  citei,  nem  que  desconhecesse 
as  bases  das  sciencias  elhnicas,  ensinadas  n'aquellas  cartilhas; 
quer  dizer  que  as  idéas  que  d'alli  podia  colher  são  fosseis  e 
tôm  de  ser  refundidas  nos  moldes  que  elle  inventou. 


* 


Que  não  faço  idéa  clara  dos  princípios  mais  elementares 
da  sciencia  da  linguagem.  Não  sendo  a  sciencia  da  linguagem 
coisa  indispensável  aos  estudos,  a  que  me  tenho  entregado,  e 
principalmente  tendo  eu  declarado  por  mais  d'uma  vez  que 
sou  pouco  ou  nada  competente  n'esla  matéria,  deixaria  passar 
sem  reparo  esta  segunda  denúncia,  se  o  snr.  Coelho  a  não 
apimentasse  com  a  seguinte  pilhéria:  que  declarando-me  «  pou- 
co competente  em  matéria  glottologica,  fazia  etymologias  cél- 
ticas ». 


105 


Varaos  vér  como  elle  prova  este  artigo  do  libello.  Dois 
'são  os  casos  em  que  revelo  o  meu  ridículo  pedantismo.  O 
primeiro  versa  sobre  a  palavra  cot,  com  que  pretendi  etymo- 
logisar  o  nome  de  Citania.  Esta  etymologia  era  minha,  diz  o 
snr.  Coeltio,  «comquanto  corresse  mundo  com  outras  marcas 
de  fabrica».  Quer  dizer,  eu  fiz  uma  etymologia,  mas  o  snr. 
Coelho  não  a  encontra  em  parte  alguma  com  a  marca  da  mi- 
nha fabrica  e  até  leu  n'ella  uma  marca  muito  differente. 

Mais  divertido  que  esta  accusação  só  o  que  vai  lêr-se: 
.. « iMostrou-se,  continua  o  illustre  professor  de  glottica,  que  a  pa- 
lavra era  de  origem  finnica  {sic)  e  tinha  chegado  ao  kymrico 
pelo  anglo-saxão»  ^.  Quem  mostrou  que  a  palavra  era  de  ori- 
gem Gnnica  [sic)  e  tinha  chegado  ao  kymrico  pelo  anglo-saxão, 
foi,  escusa  dizer-se,  o  snr.  Coelho,  e  mostrou-o  na  sua  Revista 
0,' Etimologia  e  de  Glottologia,  a  pag.  40 ;  mas  aqui  está  a 
passagem:  «  Parece  rasoavel  a  opinião  de  Caldwel,  segundo  a 
qual  este  termo  importante  para  a  historia  da  civilisação  seria 
d'origem  primitiva  {sic)  dravidica  [sic),  tendo  passado  das 
línguas  dravídicas  para  o  sanscrito  e  línguas  uralo-altaicas,  d'es- 
tas  para  as  germânicas  e  d'eslas  ultimas  para  as  célticas  ». 

Temos  pois  que  a  palavra  cot  é  de  origem  finnica  e  de 
origem  dravidica  2;  e,  como  se  vé,  a  fabrica  etymologica  do 
snr.  Coelho  faz  lembrar  a  dos  sapateiros:  fornece  obra  aos 
pares. 

Segundo  caso:  nos  cacos  da  Citania  apparecia  muitas  ve- 
zes a  palavra  Arg,  ora  isolada,  ora  associada  ao  nome  de  Ca- 
rnal, podendo  lêr-se  distinctamente  em  algumas  marcas  Airg 
Camali,  no  genitivo.  Parecendo-me  importantes  os  seguintes 
factos,  chamei  para  elles  a  atlenção  dos  competentes,  confes- 
sando-me  inhabílitado  para  os  explicar:  1."  se  Arg  não  seria  o 
«r^  =  principe  irlandez,  um  titulo  honorifico,  e  não  um  nome 
pessoal,  vistas  as  razões  que  apresentava  e  que  é  inútil  re- 
produzir agora;  2."  se  em  Airg  não  haveria  um  caso  de  flexão 
interna. 


1  Adolphe  Pictet,  na  1.»  e  na  2.»  edição  das  suas  Origines 
indo-européennes,  suppõe  precisamente  o  contrario:  « L'ang-sax. 
cota,  scand.  kot,  est  peut-étre  celtique»;  mas  talvez  Pictet  não  ti- 
vesse idéa  clara  dos  principies  mais  elementares  da  sciencia  da  lin- 
guagem. 

2  Quando  o  snr.  Coellio  me  explicar  a  causa  d'esta  extravagân- 
cia, expliear-lhe-hei  eu  a  iiue  me  nota  com  relação  á  passagem  de 
Strabão  (III,  iii,  6  e  7). 


\ 


106 


Os  competentes,  para  que  eu  appellava,  eram  os  da  nossa 
terra,  na  persuasão  de  que  os  estrangeiros  se  não  occupavara 
com  as  nossas  coisas.  Contra  a  minha  espectativa,  emquanto 
que  os  nossos  competentes  dormiam  a  sesta,  a  Revue  Celtique 
acudia  ao  convite,  declarando  que  o  caso  de  flexão  interna 
não  tinha  geito.  Roma  locuta,  causa  finita,  e  não  pensei 
mais  em  tal.  Eis  que  ao  fim  de  10  annos,  apparece  o  sor.  Coe- 
lho a  repetir  com  a  Revue  Cellique  que  o  caso  de  flexão  inter- 
na não  tem  geito,  fazendo  d'aquelle  periódico  instrumento  das 
suas  intrigasilas. 

Os  que  não  crêem  em  bruxas  expliquem,  como  poderem, 
a  coincidência  seguinte:  Quasi  ao  mesmo  tempo  que  o  snr. 
Coelho  se  servia  da  Revue  Celtique  como  instrumento  das  suas 
intrigasilas,  um  dos  redactores  da  notável  revista  escrevia  que 
não  tinha  grande  geito  a  celticidade,  que  o  snr.  Coelho  farejava 
em  alguns  nomes  de  deuses  lusitanos,  e  muito  menos  a  cam- 
bada de  suffixos,  que  elle  arranjou  para  o  deus  Cusuneneoeco  ^ 

É  pois  a  Revue  Celtique  que  me  vinga,  auctorisando-me  a 
afflrmar,  se  eu  estivesse  para  isso,  que  o  snr.  Coelho  nem  co- 
nhece os  nomes  célticos  pela  pinta. 

Em  conclusão :  eu  sou  tão  pedante  que,  declarando-me  in- 
competente em  matéria  glottologica,  me  metto  a  fazer  etymo- 
logias  célticas.  Estas  etymologias  reduzem-se  a  duas:  uma,  pelo 
visto,  foi  feita  por  procuração  e  por  procuração  sem  assigna- 
tura;  outra  consistiu  em  chamar  a  attenção  dos  competentes 
para  uns  problemas,  que  me  pareceram  curiosos  ^. 

Havemos  de  confessar  que  já  é  vontade  de  cuspir  para  o  ar. 

Que  eu  não  faço  idêa  clara  dos  melhodos  da  critica  ap- 
plicaveis  aos  textos  clássicos.  Esta  é  mais  sária ;  porque  de 
aqui  se  conclue  que  o  meu  senso  critico  regula  pelo  de  Fr. 
Bernardo  de  Brito.  Felizmente  n'este  particular  o  snr.  Coelho, 


1  Revue  Celtique,  vol.  x,  pag.  504-5. 

2  O  problema  principal,  se  Arg  era  um  titulo  honorifico,  e  não 
um  nome  pessoal,  fiRou  sem  solução  e  continua  a  figurar-se-me  muito 
importante.  Advertirei  que  a  palavra  Arg  não  é  uma  invenção  d'0'Reil- 
ly,  como  poderá  pensar  quem  levianamente  lêr  a  passagem  da  Revue 
Celtique,  denunciada  pelo  snr.  Coelho.  Eu  já  conheci  a  má  reputação 
d'aquelle  martyr  e  verifiquei  em  Zeuss,  que  citava  no  meu  opúscu- 
lo, a  genuinidade  do  arg=princeps.  Por  isso  digo  que  o  problema  sub- 
siste. 


107 


ao  passo  que  faz  a  autopsia  do  meu  beraardismo,  mostra-nos 
com  o  próprio  exemplo  o  que  vale  a  sagacidade  critica,  afiada 
no  ideal  dos  seus  methodos. 

Vamos  lá  a  vêr  isso. 

São  cinco  os  casos  graúdos,  sobre  os  quaes  recahem  os 
commentarios  fulraineos  do  conspícuo  professor. 

Trata-se  d'um  ligeiro  esboço,  tendente  a  mostrar  a  diífe- 
rença  de  costumes,  usos,  qualidades  moraes,  que  distinguem 
os  Celtas  dos  Lusitanos. 

1."  Escrevi  'eu  e  copla  o  snr.  Coelho:  « O  Celta,  diz  o  snr. 
Sarmento,  tem  a  paixão  infrene  do  militarismo  egoista  que  lhe 
não  aproveita  para  fundar  uma  nacionalidade,  um  império  seu 
próprio. . .  ^  Desde  certa  época,  desde  Diniz  o  Antigo,  pelo 
menos,  é  rara  a  guerra  de  importância  no  mundo  conhecido  dos 
antigos,  em  que  não  entrem  celtas  mercenários. 

«  Em  logar  de  vender  os  seus  serviços  aos  estrangeiros  e 
de  correr  aventuras  por  terras  estranhas,  como  os  Celtas  e  os 
Celtiberos,  os  Lusitanos  faziam  as  suas  incursões  sobre  povos 
mais  ou  menos  visinhos  e  voltavam  aos  seus  lares  para  pla- 
near outras  novas». 

Commenta  agora  o  snr.  Coelho:  «Este  argumento  serve 
tanto  contra  o  celtismo  como  contra  o  ligiirismo  dos  Lusitanos, 
pois  os  ligures  também  figuravam  como  mercenários  em  exér- 
citos estranhos,  por  exemplo  no  de  Amilcar,  etc.  ». 

Ora  o  leitor  bem  vé  das  citações  transcriptas  que  eu  não 
fallo  no  ligurismo  dos  Lusitanos,  e  o  melhor  é  que  em  todo  o 
estudo,  de  que  fazem  parte  aqnelles  textos,  Os  Celtas  na  Lu- 
sitânia, mal  alludo  a  similhante  coisa,  porque  o  meu  fim 
exclusivo  era  demonstrar  que  os  Lusitanos  não  são  da  familia 
céltica.  N'este  intuito,  notei  por  um  lado  o  génio  militaresco 
6  aventureiro  dos  Celtas,  e  pela  sua  costella  céltica  o  dos  cel- 
tiberos, e  a  esta  causa  attribui  a  facilidade  com  que  vendiam 
a  sua  espada  ^;  notei  por  outro  que  tanto  o  primeiro  facto, 


1  Reparem  nas  reticencias  do  snr.  Coelho  e  vejam  a  nota  seguinte. 

2  Isto  estava  expresso  cora  soíTrive!  clareza  n'estas  palavras,  que 
o  snr.  Coelho  substituiu  pelas  reticencias,  a  que  se  refere  a  nota  an- 
tecedente :  — « facto  nunca  bastantemente  repetido,  mas  que  o  obriga- 
va (a  paixão  infrene  do  militarismo)  a  oíTerecer  a  espada  a  todo  aquel- 
le  que  ih'a  paga».  Porque  su|»primiu  o  snr.  Coelho  estas  duas  linhas? 
Para  economisar  tinta?  Não  pôde  ser.  N'esse  caso  não  copiaria  as  qua- 
tro linhas  seguintes,  que  diziam  menos  que  a  phrase  «a  todo  aquelle 
que  lh'a  paga».  Esta  phrase  deixava  perceber  que  a  questão  do  soldo 
era  secundaria.  Entenderam? 


108 


que  era  o  essencial,  como  o  segundo,  que  era  o  accessorio, 
nJDguem  os  descortinava  entre  os  Lusitanos. 

O  illustre  professor,  dando  por  demonstradas  as  minhas 
afílrmativas,  pois  que  as  não  destroe,  vem-nos  dizer  que  ellas 
não  provam  o  ligurismo  dos  Lusitanos,  de  que  se  não  tratava 
nem  devia  tratar. 

É  um  dos  casos: 

Quand  on  le  parle  blane,  sondain  il  répond  noir. 

Com  a  diíTerença  que  vai  da  distracção  para  a  intenção, 
commentava  Manoel  de  Mello. 

2°  Tinha  eu  dito  que  entre  a  armadura  dos  Celtas  e  dos 
Lusitanos  havia  completa  disparidade.  Os  Celtas  usavam  d'ar- 
mas  de  ferro,  os  Lusitanos  d'armas  de  bronze ;  o  escudo  dos 
Lusitanos  era  redondo  e  pequeno,  o  dos  Celtas  alto  e  quadri- 
longo. 

Refutação:  «...  basta,  para  provar  que  esse  argumento  nada 
vale  na  elhnogenia  dos  Lusitanos,  fazer  d'um  lado  a  observa- 
ção de  que  os  Celtas  na  Celtiberia  (como  o  próprio  snr.  Sar- 
mento repete)  abandonaram  também  a  sua  espada  primitiva  e 
que  portanto  poderiam  ter  feito  o  mesmo  na  Lusitânia». 

Importa  saber  que  a  espada  ibérica,  pela  qual  os  Celtas  era 
questão  abandonaram  a  sua,  era  de  ferro,  e  d'uma  afamada 
tempera.  Portanto  de  duas  uma:  ou  o  sábio  professor  sabe 
esta  corriqueirice  e  para  elle  tanto  monta  trocar  por  uma  es- 
pada de  ferro  de  boa  tempera  uma  espada  de  ferro  destempe- 
rada, que  tal  era  a  primitiva  dos  Celtas,  como  passar  das^ar- 
mas  de  ferro  para  as  de  bronze  —  o  que  está  a  pedir  palmató- 
ria; ou  o  ignora,  e  n'este  caso  a  palmatória  raerecia-a  eu,  se 
gastasse  mais  tempo  com  um  censor  tão  exquisito. 

Quanto  ao  escudo,  o  snr.  Coelho  faz  dizer  a  Diodoro  Sicu- 
lo  que  o  escudo  céltico  era  «oval»  ^ ;  mas,  se  o  escudo  dos 
Lusitanos  linha  a  forma  circular,  como  linha,  a  menos  que 
entre  elles  só  fosse  conhecido  o  circulo  bicudo,  que  tantas 


^  Naturalmente  o  snr.  Coelho  deu  n'um  traduclor  latino— scuto 
enim  oblongo,  —  e  d 'oblongo  fez  oval.  Paginas  antes,  Diodoro  tem  es- 
cripto  que  o  tal  escudo  céltico  era  d'altura  d'um  homem.  Pelo  seu 
diâmetro  maior  calculem  que  abantesma  seria  um  escudo  oval  da  al- 
tura d'um  homem,  e  ainda  para  mais  d'ura  Celta. 


109 


Eoites  faz  perder  aos  Euclides  ociosos,  os  dous  escudos  não 
se  assimilhavam   nada. 

Estará  o  snr.  Coelho  a  caçoar  com  os  seus  leitores  ? 

3.°  Tinha  eu  dito  ser  quasi  certo  «que  os  Celtas  não  cons- 
truiam  oppida.  Era  também  a  opinião  de  Contze,  A.  Bertrand 
e  outros,  em  opposição  á  de  Belloguet,  que  eu  discutia  n'uma 
extensa  nota.  Refutação :  « A  opinião  de  que  os  Celtas  não 
construiram  oppida  é  errónea»;  e  manda  vár  Belloguet  na 
passagem  que  eu  discutia. 

A  refutação  é  tão  concludente,  que  nem  me  atrevo  a  repli- 
car, e  só  farei  duas  observações :  Contze,  Bertrand  e  os  outros 
desgraçados,  cuja  opinião  segui,  ficam  incursos  no  anathema,  com 
que  o  snr.  Coelho  me  fulminou  —  não  fazem  ideia  clara  dos  me- 
thodos  applicaveis  aos  textos  históricos;  Belloguet,  o  grande  Bel- 
loguet, esse  sim,  é  um  evangelho  para  o  snr.  Coelho.  Feliz  sábio! 

4.°  Copiemos:  «Os  Celtas,  diz  o  snr.  Sarmento,  aproxi- 
mam-se  dos  Persas  expondo  os  seus  mortos  ás  bestas-feras  e 
ás  aves  de  rapina»,  e  reporta-se  a  Belloguet.  «Temos  aqui  mais 
um  exemplo  do  modo  como  o  auctor  vimaranense  generalisa 
a  favor  das  suas  theses  o  que  nos  escriptores  antigos  se  refe- 
re por  vezes  só  a  um  dado  ramo  de  Celtas». 

Lá  vai  o  grande  e  o  feliz  Belloguet  pela  agua  abaixo  ;  por- 
que é  de  saber  que  todas  as  bernardices,  com  que  o  snr.  Coe- 
lho está  a  fazer  carga  ao  «  auctor  vimaranense  »,  são  susten- 
tadas pelo  auctor  da  Elhnogenie  gauloise,  que  desce  agora  á 
plana  dos  beócios  que  não  fazem  idéa  clara  dos  methodos  ap- 
plicaveis etc. 

E  o  mais  curioso  é  que  o  «  auctor  vimaranense »  não  pôde 
ser  accusado  por  taes  bernardices,  como  aífirma  este  fazedor 
e  desfazedor  de  reputações ;  porque  se  escreveu  as  palavras 
que  o  snr.  Coelho  lhe  attribue,  accrescentou  : 

« São  indubitavelmente  os  usos  dos  Celtas  e  não  dos  Ibe- 
ros que  auctorisam  S.  Itálico  a  affirmar  que  entre  os  Celtibe- 
ros era  um  sacrilégio  a  cremação  dos  cadáveres,  e  corrente 
a  crença  de  que  voavam  para  o  céo  as  almas  d'aquelles,  cujos 
corpos  houvessem  sido  devorados  pelos  abutres.  Por  prudên- 
cia aceitaremos  somente  a  primeira  noticia,  que  concorda 
com  as.  observações  feitas  pelo  snr.  A.  Bertrand  na  zona  gala- 
tica  (lede  céltica),  onde  do  mesmo  modo  a  cremação  dos  ca- 
dáveres não  estava  em  uso,  mas  sim  o  enterramento  »  ^ 


Revista  Scientifica,  pag.  188-9. 


440 


Claro  é  pois  que  «não  generalisei  a  favor  da  minha  tliese 
o  que  nos  escriptores  antigos  se  refere  por  vezes  só  a  um 
dado  ramo  de  Celtas »,  mas  sustentei  apenas  que  um  dado 
ramo  de  Celtas,  os  Celtiberos,  enterravam  os  seus  mortos,  e  os 
Lusitanos  os  queimavam.  E  a  graça  toda  está  em  que  tal  é 
também  a  opinião  do  snr.  Coelho. 

Claro  é  também  que  ha  aqui  uma  empalmação  de  textos, 
feita  com  muito  pouca  limpeza,  empalmapão  que  lerei  de  mo- 
ralisar,  quando  reunir  um  molho  de  bellezas  da  mesma  espé- 
cie. Por  agora  temos  um  assumpto,  que  escurece  todos  os 
outros,  visto  ser  chegada  a  occasião  de  apreciar  as  maravilhas 
dos  methodos  de  critica  applicaveis  aos  textos  clássicos,  de  que 
o  snr.  Coelho  faz  uso. 

Que  os  Celtiberos  não  queimavam  os  seus  mortos  e  os  Lu- 
sitanos sim,  n'isso  não  põe  elle  duvida ;  mas  fundado  princi- 
palmente n'estes  dois  factos  —  que  «a  cremação  era  commum 
a  todos  os  antigos  povos  indo-europeus  (menos  aos  Persas)» — 
que  o  rito  de  cremação  «corresponde  a  um  estado  já  bastante 
adiantado  de  concepções  religiosas»,  o  snr.  Coelho  resolve 
que,  se  alguma  coisa  ha  a  concluir,  é  que  «na  Lusitânia  a  cre- 
mação dos  cadáveres  era  d'origera  céltica  ». 

Ora  os  textos  clássicos  não  deixam  duvida  nenhuma  de  que 
na  Celtiberia  havia  Celtas  para  dar  e  vender;  acerca  de  Cel- 
tas na  Lusitânia  nem  uma  palavra.  Teriamos  pois  que  na  Cel- 
tiberia, onde  os  textos  clássicos  nos  juram  que  havia  Celtas, 
estes  originaes  atiraram  fora  o  seu  rito  nacional  de  cremação, 
para  adoptar,  segundo  cré  o  sagaz  professor,  o  rito  ibérico  dos 
povos  preexistentes;  na  Lusitânia,  onde  elles  não  conhecem 
Celtas,  fariam  estes  uma  tal  propaganda  das  suas  costumeiras 
funerárias,  que  até  os  próprios  indígenas  não  quizeram  outra 
moda. 

Mas  é  precisamente  o  methodo  do  heroe  do  Regnard  : 

Quand  on  le  parle  blanc,  soudain  il  répond  noir. 

Onde  os  textos  clássicos  escrevem  —  branco,  o  snr.  Coelho 
lê  —  preto. 

Temos,  porém,  mais  e  melhor.  Quando  foi  do  Congresso 
Anthropologico  de  Lisboa,  travou-se  acalorada  discussão  entre 
os  sábios  nacionaes  e  estrangeiros  acerca  dos  ossos  humanos, 
encontrados  na  Gruta  da  Furninha.  Cada  qual  puxou  para  seu 
lado,  sem  duvida  por  lhe  faltar  o  acume  intellectual,  que  só 
«os  methodos  da  critica  applicaveis  etc. »  podem  dar. 


111 


Inútil  dizer  que  o  snr.  Coelho,  logo  que  entrou  a  estudar 
a  questão,  poz  tudo  em  pratos  limpos.  Aqui  está,  modéstia  á 
parte,  a  solução  de  todos  aquelles  enigmas:  «Os  antiquíssi- 
mos habitantes  da  Gruta  da  Furninha  —  diz  elle  —  e  do  Cabo 
do  Mondego,  faziam  ao  que  parece,  como  os  Persas;  expu- 
nham os  cadáveres  aos  animaes  antes  de  os  inhumarem  e 
combinavam  talvez  ainda  este  rito  funerário  com  o  d'uma  in- 
cineração incompleta.  Esta  hypothese  combinada,  que  sou  eu, 
creio,  o  primeiro  a  enunciar,  explica  todos  os  factos  que  se 
observam  cora  respeito  aos  vestígios  humanos  nas  referidas  es- 
tações pre-historicas». 

Viram!  Os  vestígios  humanos  d'esta  hypothese  combinada 
inferem-se  principalmente  da  chamuscadella  dos  ossos,  a  qual 
prova,  visto  os  princípios  atraz  estabelecidos,  que  os  habilan-f 
tes  da  Furninha  tinham  aprendido  dos  Celtas  o  rito  da  cre- 
mação, deixando  a  operação  incompleta  pelas  exigências  da 
hypothese  combinada,  que  só  admittia  meia  dose  de  fogueira; 
os  vestígios  não  humanos  inferem-se  das  incisões  e  fracturas 
dos  mesmos  ossos;  são  obra  dos  abutres  e  da  rataria,  duran- 
te a  exposição  dos  cadáveres  ao  ar  livre;  indicam  a  outra  meia 
dose  do  rito  não-celtlco. 

Se  eu  fosse  parente  do  homem  de  Góes,  que  não  Imagina- 
va poder  fallar-se  d'outra  coisa  senão  da  sua  demanda,  di- 
ria que  o  bom  Deus  creou  a  Gruta  da  Furninha  expressamente 
para  castigo  dos  professores,  que,  lendo  um  senso  critico  um 
pouco  parecido  ao  de  Pedro  Malas-Artes,  estranham  que  os  ou- 
tros não  leiam  pela  sua  cartilha. 

O  cómico,  passada  certa  linha,  até  faz  tristeza, 

5.°  Copiemos:  «antes  de  passar  adiante,  não  deixarei  de 
mencionar  o  que  o  lllustre  archeologo  diz  da  religião  dos  que 
elle  entende  por  Celtas  ».  Organlsaçào  religiosa  não  se  lhes  co- 
nhece. O  snr.  Bertrand,  depois  d'affirmar  que  elles  não  fundaram 
nada  de  durável,  accrescenta:  «O  seu  nome  não  ficou  ligado 
a  nenhum  grupo  de  monumentos,  a  nenhuma  costumeira,  a  ne« 
nhuma  divindade  tópica,  ou  de  tribu,  de  que  possamos  com 
certeza  adjudicar-lhes  a  honra ». 

Commenta  o  snr.  Coelho :  « Admittindo  em  opposição  com 
os  factos  e  contrariamente  á  opinião  da  maioria  dos  escripto- 
res  sobre  o  assumpto,  que  os  celtas  da  Gallla  e  ainda  os  cel- 
tas orlentaes,  invasores  da  Grécia  e  da  Asla  menor,  não  tinham 
religião,  ou  não  distavam  muito  d'isso,  como  é  que  o  snr. 
Sarmento  não  vê  voltar-se  também  o  seu  argumento  contra 
a  sua  these  do  germanismo  dos  celtas?  O  Oiympo  dos  ger- 


112 


manos  Dão  era  por  certo  menos  povoado  que  o  dos  Lusitanos; 
como  estes,  aquelles  sacrificavam  animaes  (até  viclimas  huma- 
nas) ás  suas  divindades;  como  os  gallegos  e  lusitanos  eram 
peritos  nos  auspícios  e  agouros  ».  E  manda  vêr  a  Deutsche  My- 
thologie  de  Grimm. 

Ora  é  tão  exacto  que  eu  sustentasse  o  atheismo  dos  Celtas, 
que  n'uma  nota  ao  artigo,  que  o  snr.  professor. está  esmiu- 
çando, escrevi:  «Se  a  noticia  se  limitasse  a  alguns  gallegos 
(a  noticia  de  Strabão  sobre  o  atheismo  dos  gallegos),  lembra- 
ria se  os  Celtas  do  Nerio,  que  no  sentido  geographico  eram 
gallegos,  ganhariam  esta  reputação  entre  os  seus  visinhos,  at- 
tenta  a  estranheza  das  suas  praticas  religiosns-»  ^. 

É  tão  exacto  que  me  ponha  contra  a  minha  Ihese  do  ger- 
*manismo  dos  Celtas  o  que  acerca  da  sua  religião  tenho  dito, 
que  nos  Argonatitas,  pag.  286,  escrevi:  «  Da  sua  religião  (da  re- 
ligião dos  Celtas)  nada  ficou  também;  se  ficasse,  é  muito  de 
presumir  que  essas  relíquias  fornecessem  algum  capitulo  mais 
á  Mythologia  germânica,  colleccionada  por  .1.  Grimm. 

Aqui  temos  pois  uma  nova  empalmação  de  dous  textos, 
graças  á  qual  o  snr.  Coelho  me  faz  dizer  exactamente  o  con- 
trario do  que  eu  aíTirmei. 

Prometti  atraz  moralizar  estes  bonitos  processos  de  critica. 
Reconsidero.  O  leitor,  em  vista  de  tantos  ca>os  de  flagrante  de- 
licio, talvez  os  moralise  com  mais  severidade,  do  que  eu  es- 
lava disposto  a  fazer. 

Por  mim  contentar-me-hei  com  trautear  os  versos  de  Re- 
gnard : 

Cest  un  homme  étonnant  et  rare  en  son  espèee 
Qui  rêve  foit  à  rien  et  s'égare  sans  cesse : 
II  cherche,  il  tourne,  il  brouille,  11  regarde  sans  volr; 
Quand  on  le  parle  blanc,  sondain  il  repond  noir. 

Com  a  differença  que  vai  da  distracção  para  a  Í7itenção,  é 
claro. 

Certo  é  que  os  cinco  casos,  que  o  snr.  Coelho  vinha  tão 
afoutamente  pulverisar,  ficaram  completamente  intactos: 

Os  Celtiberos  pelo  seu  génio  turbulento  e  aventureiro,  he- 
rança de  sangue  céltico  que  lhes  corria  nas  veias,  distinguiam- 


Revista  Scientifica,  pag.  188,  nota  4. 


113 


se  dos  outros  povos  ibéricos,  Domeadaniente  dos  Lusitanos, 
sendo  esta  paixão  militaresca  que  os  levava  a  vender  a  sua 
espada,  outro  facto  estranho  aos  Lusitanos ; 

A  armadura  dos  Lusitanos  diííerenpava-se  inteiramente  da 
dos  Celtas; 

É  «quasi  certo»  que  os  Celtas  não  construíram  oppida  pela 
mesma  razão,  que  os  não  construíam  os  germanos,  emquan- 
to  que  na  Lusitânia  os  oppida  deviam  ser  ás  centenas ; 

Os  Lusitanos  queimavam  os  seus  mortos,  os  Celtas  e  Celti- 
beros não; 

A  organisação  dos  Celtas  é-nos  desconhecida,  a  ponto  de 
não  poder  apontar-se  como  certo  um  nome  só  dos  seus  deu- 
ses; o  Pantheon  dos  Lusitanos  era  extremamente  povoado, 
como  nos  mostram  as  inscripções  da  época  romana. 

Batfendo  estas  aífirmativas  com  umas  nugações  sem  arte  e 
com  a  falsificação  dos  meus  textos,  o  snr.  Coelho  por  fim  de 
contas...   é   o  critico  da  Gruta  da  Furninha :  está  dito   tudo. 


Nas  Ires  miudezas  seguintes  revela-se  sempre  o  mesmo 
dedo  de  gigante. 

«É  curiosíssimo  (notem  a  sobranceria  com  que  falia  o  illus- 
tre  critico  da  Furninh;i)  e  eminentemente  adequado  para  demons- 
trar a  falta  de  methodo  do  snr.  Sarmento  que,  sendo  da  máxi- 
ma importância  para  a  sua  these  ethnogenica  o  estudo  dos  li- 
gures  authenlicos,  isto  é,  dos  ligures  da  Liguria  histórica,  elle 
apenas  faz  a  elles  referencia,  passa  quasi  completamente  por 
alto  as  noticias  dos  antigos  que  lhes  respeitam,  etc. ». 

Ora  a  minha  these  ethnogenica,  como  sabem  os  que  se  lém 
dado  ao  trabalho  de  me  ler,  consiste  em  mostrar  que  os  po- 
vos do  extremo  occidente,  e  entre  elles  os  Lusitanos,  perten- 
cem a  uma  migração  ariana,  fallando  uma  língua  ariana  e  des- 
envolvendo a  celebre  civilisação  de  bronze,  séculos  antes  do 
apparecimento  dos  Celtas  na  scena  histórica.  Combater  o  celtis- 
mo  dos  Lusitanos,  geralmente  admittido,  é  a  minha  delenda 
Carthago,  lenho  eu  dito. 

É  de  ver  que  o  estudo  dos  Ligures  do  Mediterrâneo  nada 
tem  de  commum  com  a  minha  these. 

E  sempre  a  nota  cómica.  A  juizo  do  snr.  Coelho,  eu  deveria 
estudar  a  fundo  os  Ligures  do  Mediterrâneo  pela  uuica  razão 


114 


de  serem  elles  «Ligures  authenticos»,  mas  na  pagina  antece- 
dente tinha  elle  escripto :  «  A  Liguria  foi  sede  de  estabelecimen- 
tos de  povos  muito  diversos,  gregos,  phenicios,  italiotes;  a 
pressão  céltica  sobre  as  populações  liguricas  era  muito  antiga 
e  deu  logar  a  numerosas  iníiltrafões,  que  tornavam  difficil  a 
distincção  de  celtas  e  ligures ». 

Não  está  má  authenticidade!  E  era  d'este  cabos  que  eu  ha- 
via de  tirar  a  melhor  luz  para  a  pre-celtidade  dos  povos  occi- 
denlaes! 

Outra  de  igual  theor:  «Para  prova  que  na  Lusitânia  (sem- 
pre no  sentido  de  Strabão)  houve  ligures,  o  snr.  Sarmento 
arranja  uma  ioterpretação  de  Festo  Avieuo,  Ora  Marilima,  em 
que  aceita  dos  interpretes  anteriores,  principalmente  de  Mul- 
lenhoff,  só  o  que  convém  ao  seu  íito,  etc. ». 

A  todos  os  povos  occidentaes  da  época  de  bronze  dei  eu 
o  nome  de  Ligures,  fundado  na  geographia  de  Hesiodo,  como  de- 
clarei por  mais  d'uma  vez.  iNão  tinha  pois  necessidade  d'ar- 
ranjar  um  ethnico  de  Ligures  na  Lusitânia. 

II  cherche,  11  tourne,  il  brouille. . . 

Ainda  outra:  « Vé-se  pois  (ao  flm  d'umas  razões,  que  não 
ha  deslealdade  em  omittir)  que  é  falha  absolutamente  de  base 
a  opinião  do  snr.  Sarmento,  segundo  a  qual  os  dialectos  neo- 
celticos  seriam  os  reflexos  da  lingua  dos  ligures  »  (do  Mediter- 
râneo). 

A  minha  opinião  não  é  que  as  linguas  neo-celticas  são  os 
reflexos  da  lingua  dos  Ligures  do  Mediterrâneo ;  mas  que  são 
a  lingua  dos  povos  ligures  estabelecidos  nas  Ilhas  Britannicas, 
conservada,  como  as  suas  tradições,  através  dos  tempos. 
Tanta  vez  tenho  repisado  esta  idéa,  que  só  á  inuocencia  do 
snr.  Coelho  é  permittido  desconhecel-a. 

Ha  de  notar-se  que  em  todas  as  referencias  a  Ligures,  o 
snr.  Coelho  môe  e  remóe  uma  questão  de  palavras  com  um 
appetite  invejável.  Porque  eu  dei  aos  velhos  árias  do  extremo 
occidente  a  denominação  de  Ligures,  adoptando,  como  já  disse, 
a  geographia  de  Hesiodo,  e  porque  á  beira  do  Mediterrâneo  ha 
um  povo  com  o  nome  de  Ligures,  entende  o  snr.  Coelho  que 
estou  obrigado  a  ver  n'uns  e  n'outros  dois  irmãos  Siamezes, 
sem  poder  aííirmar  dos  primeiros  a  menor  bagatelia,  que  não 
seja  logo  applicada  aos  segundos.  É  por  isso  que  elle  achou  «  cu- 
riosíssimo »  que  eu  desdenhasse  o  estudo  dos  Ligures  authen- 


115 


ticos,  isto  é,  dos  Ligures  calabreados  com  Gregos,  Phenicios, 
ItaliotPS  e  Celtas,  quando  me  propuz  a  tratar  exclusivamente 
da  origem  não  céltica  dos  Ligures  occidentaes;  que  não  pozes- 
se  por  minha  conta  e  risco  os  Lusitanos  a  soldo,  visto  que  os 
Ligures  do  Mediterrâneo  assim  o  fizeram  algumas  vezes,  etc. 
No  emtanto  tenho-me  explicado  bem  claramente,  cuido  eu. 
Na  minha  opinião,  os  Ligures  do  Mediterrâneo,  como  os  povos 
italiotes,  são  da  mesmissima  família  que  os  Ligures  occidentaes, 
mas  separaram-se  d'elies  em  tempos  muito  antigos  e  nunca 
mais  se  communicaram  até  á  época  da  dominação  romana.  O 
tempo,  as  novas  condições  de  vida,  o  contacto  com  povos  dif- 
ferentes,  fazem  sempre  das  suas,  nos  costumes,  nas  instituições, 
na  lingua,  em  tudo,  e  para  tomar  um  exemplo,  o  da  lingua, 
eu  entendi  e  entendo,  que  á  data  da  conquista  da  Inglaterra 
pelos  Romanos,  as  linguas  liguricas  ahi  falladas  deviam  estar 
tão  distanciadas  da  dos  Ligures  do  Mediterrâneo,  como  de  qual- 
quer lingua  italiota. 

,.  .'ú  regarde  sans  voir. 


Resta  ainda  «  a  minha  these  »  principal,  que  deixei  para  o 
fim,  obedecendo  ás  regras  da  rhetorica  velha. 

Depois  de  dizer  que  puz  os  Celtas  fora  da  Citania  com  a 
mesma  facilidade  com  que  os  admittí  lá,  continua  o  snr. 
Coelho:  «Respondia  então  ás  criticas  dos  celtistas,  dizendo-lhes 
que  elles  chamavam  sem  razão  celtas  a  povos  que  o  não  eram 
e  que  as  chamadas  linguas  célticas  não  provinham  de  modo 
algum  dos  celtas  da  historia  ^  Os  homens  de  maior  saber 
e  de  maior  génio  nos  dominios  da  antiguidade  que  o  tempo 
produziu  teriam  pois  vivido  todos  n'uma  extraordinária  illusão 
que  o  snr.  Sarmento,  depois  de  ter  compartilhado  d'ella,  con- 
seguira  desfazer  n'um  anno  ou  menos  d'estudo   em  Guiraa- 


rães » 


Á  vista  d'esta  satyra  flagellante,  julgarão  os  que  Icem  que, 


1  Leia-se:  dos  Celtas,  que  só  depois  do  sec.  vii,  a.  C,  apparece- 
ram  iia  Europa.  Para  alguns  escriptores  os  «  Celtas  da  historia  »  são 
ainda  o  que  eu  chamo  Ligures. 


146 


se  as  minhas  idéas  viogassem,  Guimarães  poderia  juntar  ás 
suas  três  maravilhas  clássicas  a  de  ter  creado  um  portento 
que,  em  coisas  de  celtismo,  poz  a  um  canto  «os  homens  de 
maior  saber  e  de  maior  génio  nos  dominios  da  antiguidade 
que  o  nosso  tempo  produziu  ».  Pois  estão  redondamente  en- 
ganados ;  o  illustre  professor  accrescenta  logo :  «  Â  verdade  é 
que  o  illustre  archeologo  leve  muito  pouco  trabalho  para  o  al- 
cançar. A  these  que  vinha  defender  era  velha,  velhíssima  até», 
e  continua  dizendo  que  a  minha  these  é  composta  com  as 
opiniões  de  Moke,  Holtzmann,  Belloguet,  Jubainville  e  Mul- 
lenhoff. 

Deixando  do  lado  Moke  e  Holtzmann,  que  para  o  sur.  Coe- 
lho são  sábios  de  meia  tigela,  ou  menos,  ficam  Belloguet,  Ju- 
bainville e  Mijllenhoff,  três  sábios  «de  primeira  ordem»,  cu- 
jos retratos  tém  de  figurar  na  galeria  « dos  homens  de  maior 
saber  e  de  maior  génio  nos  dominios  da  antiguidade»;  e,  se 
eu  lhes  copiei  as  opiniões,  como  copiei,  ahi  ficam  estes  meus 
respeitáveis  fiadores,  e  não  eu,  com  o  ridiculo,  flagellado  pelo 
snr.  Coelho,  m'orador  na  rua  das  Quelhas,  pois  que  evidente- 
mente são  elles  que  tentam  mostrar  como  os  seus  confrades 
viveram  c(n'uma  extraordinária  illusão». 

A  que  propósito  veio  pois  o  homem  de  Guimarães? 

.  .  .  il  s'egare  sans  cesse. 

E  o  melhor  da  passagem  é  que  ahi  temos  o  snr.  Coelho  a 
substiluir-me  na  pataratice  de  mostrar  que  aquelles  homens 
viveram  «  n'uma  extraordinária  iliusão». 

Vejamos  como  elle  está  muito  acima  d'estes  pygmeus. 
Primeiro  Jubainville.  Para  este  escriptor  os  Celtas  da  historia 
só  apparecem  na  scena  europeia  no  sec.  vii,  a.  C,  quando 
muito;  antes  d'elles  o  occidente  foi  colonisado  por  gente  ligu- 
rica,  absolutamente  diíTerente  da  céltica,  e  que  linha  ahi  des- 
envolvido uma  muito  notável  civilisação. 

Era  a  doutrina  de  Belloguet,  com  a  diíTerença  que,  contra 
a  opinião  d'este  auclor,  Jubainville  sustentava  que  os  Ligures 
eram  arianos  e  fallavam  uma  lingua  ariana.  Imagine-se  se  os 
celtistas  da  escola  velha  festejariam  muito  a  invenção.  Se  an- 
tes da  lingua  céltica  existia  no  occidente  da  Europa  uma  lin- 
gua ariana,  fallada  por  numerosas  tribus,  mais  civilisadas  que 
os  Celtas  do  sec.  vii,  a.  C,  lá  se  ia  a  beatifica  trauquillidade 
dos  velhos  tempos,  quando  todo  e  qualquer  nome  de  physio- 
nomia  árica  só  pelo  céltico  podia   ser   explicado,  visto  não 


117 


haver  outro  concorrente.  Era  de  esperar  que,  animados  pela 
franca  declaração  de  Jiibainville,  os  liguristas  não  deixassem 
de  deitar  os  braços  de  fora,  reclamando  para  os  seus  clientes 
a  paternidade  do  velho  onomástico  ariano,  que  fosse  encontra- 
do nas  partes  da  Europa  occidental,  onde  os  Celtas  não  po- 
zeram  o  pé. 

Aqui  está  porque  os  celtistas  patriarchaes  dão  ao  demo  a 
lembrança  de  Jubainville.  O  snr.  Coelho,  que  teve  de  esbarrar-se 
com  o  distincto  sábio,  trata-o  d'esta  maneira:  «  D'aquelles  no- 
mes geographicos  (contidos  n'uma  sentença  sobre  coisas  da 
Liguria. . .  authentica)  apenas  Ires  offerecem  ao  snr.  Ârbois  de 
Jubainville  matéria  para  comparações  indo-europeias  incertas! 
É  sobre  esta  base  e  a  interpretação  hypothetica  dos  nomes  de 
Ligures  e  Ambrones  que  assenta  a  these  do  indo-europeismo 
d'esse  povo  ». 

É,  pouco  mais  ou  menos,  chamar-lhe  imbecil.  Com  eíTeito, 
assentar  a  these  do  indo-europeismo  dos  Ligures  nos  fun- 
damentos denunciados  pelo  snr.  Coelho,  seria  n'uma  questão 
d'esta  ordem  pouco  menos  de  imbecilidade.  Escusado,  porém, 
será  accrescentar  que  o  illustre  professor  calumnía  Jubainvil- 
le com  a  sua  coragem  e  heroísmo  habituaes ;  e,  se  o  leitor  per- 
correr todas  as  paginas  que  na  sua  obra,  Les  prcmiers  ha- 
bitants  de  VEurope,  o  insigne  ethnologo  consagra  aos  povos 
liguricos,  e  fòr  colligindo  todos  os  argumentos  d'ordem  his- 
tórica e  linguistica  ^,  que  elle  accumula  no  seu  livro,  ha  de 
ficar  certamente  espantado  com  o  heroísmo  e  a  coragem  do 
nosso  compatriota. 

Atraz  de  Jubainville  vem  Miillenhoír.  D'este  sábio  copiei  eu 
«a  conclusão  de  que  na  época,  a  que  pertence  o  périplo  phe- 
nicio,  que  se  suppõe  ter  sido  a  base  principal  do  poema  de 
Avieno,  os  celtas  não  estavam  na  península  ibérica  ».  É  exacto ; 
e,  como  o  périplo  já  nos  menciona  nomes  como  o  de  Ana, 
que  os  celtistas  têm  por  célticos,  conclui  que  só  por  milagre 
poderiam  apparecer  nomes  célticos  na  Hispanha,  antes  do  ap- 
parecimento  dos  próprios  Celtas. 

É  evidente  que  esta  conclusão,  tirada  de  principies  postos 


1  Factos  d'ordem  linguistica  eram  ainda  mais  numerosos  na  1.* 
edição  do  seu  livro,  única  que  eu  podia  conhecer,  diga-se  de  passa- 
gem. Nos  n.°s  1  e2,  vol.  xi,  pag.  152  e  seguintes  da  Revue  Celtique,  dá 
Jubainville  uma  longa  lista  de  nomes  com  sullixo,  que  afflrma  ser  ligu- 
rico. 


118 


por  um  sábio  como  Miillenhofr,  também  havia  de  arder  aos  cel- 
tistas,  e,  para  a  destruir,  não  se  vê  outro  remédio  senão  ar- 
remelter  contra  o  illuslre  allemão. 

Também  elle  é  imbecil?  Tanto  não;  mas  a  sua  «conclusão 
é  de  extrema  debilidade,  como  já  foi  visto »  e  sobretudo  por- 
que a  chronologia,  em  que  ella  se  apoia,  «espera  (o  snr.  Coe- 
lho) demonstrar  que  é  insustentável ». 

E  eis  aqui  como  a  «  minha  these  velha,  velhíssima  até  » 
perdeu  as  sua-^  duas  melhores  escoras;  um  sopro  e  lá  foi  Ju- 
bainville;  outro  sopro  e  lá  foi  MullenhofT. 


Segundo  a  declaração  do  snr.  Coelho,  havia  ainda  uns 
«argumentos  novos»,  que  jiintei  á  these  velhíssima  e  que  pa- 
recia deverem  ser  expostos  e  discutidos  n'este  logar.  Alguns 
encontram-se  no  meu  estudo  sobre  a  Ora  Marítima,  de  Avieno. 
A  apreciação  que  o  snr.  Coelho  faz  d'esta  obrinha  reduz-se 
a  isto :  tudo  velho  e  copiado,  mas  copiado  para  peor.  Por 
exemplo,  copio,  sem  a  discutir,  uma  conclusão  mal  fundada  de 
Mijllenhoff,  e  rejeito  outra  do  mesmo  sábio  pela  razão  idiota 
de  «ser  mais  bem  fundada  que  a  primeira». 

E  porque  é  mal  fundada  a  primeira  conclusão  e  bem  fun- 
dada a  segunda?  Mas...  porque  o  snr.  Coelho  põe  o  seu  vis- 
to na  segunda,  e  não  o  põe  na  primeira. 

A  primeira  é  disparatada,  porque  o  snr.  Coelho  «espera 
demonstrar,  etc»;  a  segunda  fica  dogmática,  porque  as- 
senta na  celticidade  dos  nomes  de  Albiones  e  Hierni,  e  o  snr. 
Coelho,  que  tem  n'estas  matérias  a  competência,  que  só  a  Re- 
vue  CeUique  se  atreve  a  contestar,  confirma  solemnemente  aquel- 
la  opinião. 

Mas  decididamente  o  conspícuo  professor  de  glottica  anda 
com  engaranho.  Aqui  temos  um  celtísta,  elogiado  como  um  dos 
primeiros  pela  terrível  Revue  CeUique,  e,  que  sendo  especialis- 
ta, como  é,  deve  ter  voto  mais  pesado  no  assumpto  que  Mul- 
lenhoir,  J,  Hhys,  o  qual  considera  os  nomes  d'Albiones  e  Hierni 
como  pre-celticos  ^ 


J.  Rliys,   Early  Britam,  Celtic  Brítain,  pag.  202-5. 


119 


E  nada  mais  ha  digno  de  revista  nas  15  paginas,  em  que 
o  snr.  Coelho  me  du^jcompõe.  Não  me  cega  a  paixão,  creio  eu, 
affirmando  que  toda  esta  farragem  está  abaixo  da  critica. 

Como  obra  de  diffamação  não  será  má ;  mas  as  revistas 
scientificas  não  foram  feitas  propriamente  para  este  género  de 
escriptòs.  Eu  lamento,  era  attenpão  ao  Curso  Superior  de  Let- 
tras,  não  poder  tratar  com  seriedade  um  dos  seus  membros; 
mas  quem  ha  de  tomar  a  sério  o  OErdippo  da  Furninha,  resol- 
vendo todas  as  questões  com  o  «ipse  dixit»  da  sua  própria 
pessoa,  sem  ao  menos  perceber  o  burlesco  do  seu  papel? 

»  f 

F.  Martins  Sarmento. 


\ 


« 


CHÍMÍCA  INDUSTRIAL 


GALVANOPLASTIA 


DUAS      PALAVRAS      PRÉVIAS 


Não  são  muito  raros  os  livros  que  dedicam  capitulos,  mais 
ou  menos  extensos,  á  galvanoplastia  e,  até  mesmo,  existem  al- 
gumas obras  que  tratam  especialmente  d'esta  matéria.  A  sua 
leitura,  porém,  demandando,  para  ser  utilmente  aproveitada, 
uma  certa  ordem  de  conhecimentos  ainda  pouco  vulgarisados 
entre  nós,  tem  o  grande  defeito  de  ser  apenas  comprehendi- 
da  por  um  limitado  numero  de  leitores. 

E,  em  geral,  não  estão  n'este  numero  aquelles  a  quem 
ella  mais  poderia  e  deveria  aproveitar. 

Gom  eíTeito,  os  auctores  que  até  hoje  se  têm  occupado  da 
galvanoplastia,  envolvem  o  seu  estudo  em  considerações  tão 
extraordinariamente  theoricas  e  scientiíicas,  que  é  diíTicil  e,  por 
vezes,  impossivel  perceber  o  modo  de  executar  praticamente 
os  processos  operatórios  por  elles  indicados. 

É  por  tudo  isto  que  eu,  a  quem  o  dever  de  profissão  obri- 
ga a  tornar  accessivel  aos  artistas  este  e  outros  assumptos  de 
chimica  applicada,  nutro  o  desejo  d'expôr-lhes,  em  phrases 
intelligiveis  e  despidas  de  toda  a  theoria  scientifica,  o  que 
mais  lhes  convém  saber  acerca  d 'este  importante  ramo  das 
artes  electrolyticas. 


121 


Não  é,  portanto,  aos  sábios  que  eu  destino  estas  Unhas  ; 
mas  única  e  simplesmente  áquelles,  que  me  acompanham  nos 
trabalhos  do  laboratório,  ou  áquelles,  a  quem  a  curiosidade 
de  conhecer  esta  arte,  tão  útil  como  attrahente,  leve  a  procu- 
rar, condensado  em  poucas  palavras,  o  muito  que  dizem  os 
grandes  livros,  que  se  têm  escripto  sobre  este  assumpto. 

É  necessário,  antes  de  mais  nada,  que  se  saiba  que  n'este 
estudo,  bem  como  n'aquelles,  que  talvez  se  lhe  seguirão,  te- 
mos que  lidar  com  um  fmtor,  que  nos  é  completamente  des- 
conhecido (por  mais  que  se  diga  e  aíTirme  o  contrario),  que  é 
a  electricidade.  Mas  não  sirva  isto  de  embaraço  a  que,  todos 
áquelles  que  tiverem  boa  vontade  para  entrar  n'estes  as- 
sumptos, experimentem  e  ponham  em  pratica  os  nossos  proces- 
sos ;  pois  que  desde  já  poderemos  assegurar-lhes  o  resultado. 


INTRODUCCÃO 


Das  artes  electrolyticas  nenhuma  se  nos  afigura  mais  bella 
e  verdadeiramente  útil  do  que  aquella  que  nos  fornece  um 
meio  seguro  de  obter  a  reproducção,  em  cobre,  d'um  objecto 
d'arte,  sem  que  n'essa  reproducção  faltem  os  mais  delicados 
e  fmos  traços  do  original. 

^  Essa  arte  é  a  galvanoplastia,  cuja  descoberta  é  devida  ao 
celebre  professor  de  physica  russo  Mr.  Jacobi,  e  que  tem  a 
recente  data  de  1837. 

Esta  imitação  extraordinariamente  fiel  d'um  objecto,  por 
meio  d'um  processo  electro-chimico,  vai  tão  longe  e  é,  por 
vezes,  tão  exacta,  que  o  artista,  auctor  do  original,  chega  a 
confundir  a  sua  própria  obra  com  a  reproducção. 

O  museu  artistico-industrial  de  Vienna  apresenta-nos  exem- 
plares de  reproducções  galvanoplasticas,  que  são  verdadeiras 
maravilhas  d 'esta  moderníssima  arte,  que  deve,  dentro  em 
pouco,  transformar  em  simples  laboratórios  de  chhnica  as 
complicadas  installações  das  oíficinas  de  moldagem  por  meio 
dos  metaes  em  fusão,  e  que  desperta,  em  todos  áquelles  que 
se  dedicam  ás  artes  industriaes,  um  verdadeiro  e  euthusiasti- 
co  desejo  de  lhe  sondar  os  segredos. 


122 


* 
* 


O  fiin  da  galvanoplastia  propriamente  dita  é  obter,  por 
meio  da  electricidade  e  sobre  o  molde  d'um  dado  objecto,  a 
precipitação  d'um  metal  dissolvido  n'um  liquido,  de  modo  a 
formar,  sobre  esse  molde,  uma  camada  metallica,  que  possa 
facilmente  destacar-se  e  que  reproduza  d'um  modo  perfeito 
todos  os  detalhes  do  objecto. 

D'esta  maneira  temos  que  dividir  o  nosso  pequeno  traba- 
lho em  quatro  partes: 

Na  l."*  indicaremos  o  melhor  meio  de  obter  uma  pilha  elé- 
ctrica fácil  de  construir  e  montar  e  que  satisfaça  a  todas  as 
exigências  da  galvanoplastia,  tendo  em  consideração  a  econo- 
mia de  tempo  e  de  dinheiro. 

Na  2."^  exporemos  a  moldagem  pelas  diversas  substancias, 
que  habitualmente  se  empregam  para  esse  fim,  e  as  operações 
ulteriores,  a  que  tem  de  submetter-se  os  moldes,  para  que 
fiquem  em  condições  de  receber  o  deposito  metallico. 

Na  3.*''  indicaremos  a  maneira  de  associar  e  dispor  conve- 
nientemente estes  elementos  de  trabalho  e  os  cuidados  que 
devemos  ter,  para  que  a  operação  siga  em  condições  de  nos 
assegurar  o  resultado. 

Na  4.*,  finalmente,  descreveremos  o  modo  mais  fácil  de 
separar  a  camada  metallica  do  molde  em  que  ella  se  deposi- 
tou, bem  como  as  operações  a  que  a  devemos  sujeitar  ulte- 
riormente, para  que  seja  devidamente  aproveitada. 

PRIMEIRA  PARTE 

Construcção  d'uma  pilha  commoda  e  apropriada 
ás  manipulações  da  galvanoplastia 

Os  apparelhos  destinados  a  produzir  o  fluido  eléctrico 
d'uma  maneira  constante  e  uniforme^  e  a  que  se  dá  o  nome  de 
pilhas  eléctricas,  são  muitos  e  variados.  A  descripção  d'estes 
apparelhos  e  a  sua  historia  nada  nos  interessam  no  actual  mo- 
mento. Todos  elles  são  bonitos  e  apparatosos :  todos  elles  são 
susceptíveis  de  funccionar  perfeitamente  bem;  mas  tém,  por 
vezes,  taes  caprichos  e  são  tão  pouco  económicos,  que  nós,  de- 
pois de  termos  trabalhado,  por  mais  de  dois  annos,  com  al- 
guns d'elles  (os  melhores  talvez),  tivemos  que  abandonal-os  e 


123 


tratar  de  confeccionar  uma  pilha,  que  mellior  satisfizesse  ao 
nosso  fim. 

É  que,  na  verdade,  o  que  mais  nos  convinha  e  o  que  mais 
convém  a  quem  entra,  pela  primeira  vez,  n'este  género  de  es- 
tudos, é  conhecer  uma  pilha  eléctrica  que,  além  de  fornecer 
um  trabalho  regular,  seja  d'uma  construcção  simples,  fácil  e 
económica. 

E  parece-me  que  todas  estas  condições  se  encontram  rea- 
lisadas  no  apparelho  que  vamos  descrever  e  de  que  fazemos 
uso  todos  os  dias  com  o  melhor  resultado  ^ 

Os  materiaes  que  entram  na  formação  d'esta  pilha  são : 

(a)    uma  caixa  de  madeira. 

(6)    um  caixilho  da  mesma  substancia. 

(c)  dois  pedaços  de  pelle  de  tambor  ^. 

(d)  um  tubo  de  borracha. 

(e)  uma  placa  de  zinco. 

(/")  uma  solução  saturada  de  sulfato  de  cobre  (caparosa 
azul). 

((/)  uma  porção  d'agua  salgada,  ou  acidulada  com  acido 
sulfúrico. 

(h)    dois  pequenos  saccos  de  serapilheira  ^. 

(i)    uma  vareta  de  cobre  ou  de  latão. 

Descrevamos  cada  um  d 'estes  objectos : 

(a)  A  caixa  da  nossa  pilha  é  de  castanho,  tem  a  forma 
cubica  e  de  O™, 4  de  aresta. 

As  suas  peças  são  emmalhetadas  sem  prego  algum  metal- 
lico.  Esta  caixa  6  destinada  a  receber  a  solução  de  sulfato  de 
cobre  e,  por  isso,  carece  de  ser  forrada  por  uma  substancia 
que  a  torne  impermeável.  Nós  usamos,  para  esse  fim,  appli- 
car  nas  juntas  farinha  d'e  centeio  amassada  com  agua  e,  de- 


1  Não  falíamos  nas  macliinas  dynamo-electricas,  porque  estes  appa- 
rellios,  sendo  de  subido  preço  e  exigindo  ura  motor,  não  estão  ao  alcance  do 
todos. 

2  Dizemos  pellos  de  tambor,  i^orque  as  pelles,  apenas  com  o  preparo 
sufficiente  para  poderem  servir  no  citado  instrumento  de  musica,  são  justa- 
mente as  que  mais  nos  convêm. 

^  Os  peneireiros  usam  um  tecido  de  crina,  que  pôde  prestar  mellior 
serviço  do  que  a  serapilheira  na  confecção  d'estes  saccos,  e  nas  pliarmacias, 
encontram-se  umas  pequenas  bolsas  de  gutta-percha  que,  apesar  de  não  te- 
rem sido  destinadas  pelo  seu  auctor  a  serviços  d'esta  ordem,  substituem 
cora  vantagem  qualquer  dos  dois  era  que  falíamos,  e  para  isso  basta  perfu- 
ral-os  em  differentes  pontos  com  um  arame  ou  prego  muito  quente. 


124 


pois  que  esta  massa  esteja  sécca,  lançamos  na  superfície  inte- 
rior da  caixa,  especialmente  nos  pontos  d'união  das  diversas 
peças  que  a  constituem,  uma  camada  de  breu  fundido,  (fig.  1). 


Fig.  1 


(b)    O  caixilho  (fig.  2),  também  de  castanho,  é  destinado 


Fig.  2 


a  ser  collocado  em  posição  vertical  e  tem  O™, 04 5  de  espes- 
sura. É  construído  com  os  mesmos  cuidados  que  lembramos 
na  confecção  da  caixa  e  constituído  por  forma  que  a  sua  aber- 
tura represente  um  rectângulo,  tendo  os  lados  maiores  0^,23 
de  extensão  e  os  menores  O™,! 3. 

Os  lados  maiores  tém  na  sua  face  interna  um  sulco  verti- 
cal, que  segue  a  linha  média  d'essa  face. 

O  contorno  do  caixilho  tem  uma  forma  proximamente  cir- 
cular, apresentando  em  toda  a  sua  extensão  e  cavado  na  sua 
espessura,  ura  sulco,  que  terá  pouco  mais  ou  menos  O™, 01 
de  profundidade  e  C^jOlõ  de  largura. 


125 


Este  apparelho  é  limitado  na  sua  parte  superior  por  duas 
travessas  horisontaes  parallelas,  afastadas  uma  da  outra 
O™, 03.  É  por  esta  abertura  que  tem  de  ser  introduzida  a  pla- 
ca de  zinco  e  a  agua  acidulada. 

Nas  extremidades  das  travessas  estão  pregadas  duas  tiras 
de  couro,  destinadas  a  suspender  o  caixilho  sobre  os  bordos 
da  cuba  e,  nos  pontos  em  que  ellas  se  fixam  no  caixilho,  está 
um  prego  destinado  a  segurar  o  tubo  de  borracha,  de  que  fal- 
íamos. 

(c)  As  duas  pelles  de  tambor  devem  ter  dimensões  su- 
periores ao  diâmetro  do  caixilho  (fig.  3)  e,  por  um  dos  seus 


Fig.  3 


bordos,  cada  uma  d'ellas  deve  ser  pregada  com  pregos  de  co- 
bre n'uma  das  travessas  horisontaes  que  o  limitam  na  sua  par- 
te superior.  Pelos  seus  bordos  livres  estas  duas  pelles  podem 
sobrepôr-se  uma  á  outra  no  contorno  do  caixilho  e,  d 'este 
modo,  uma  fica  formando  a  sua  parede  posterior  e  a  outra  a 
sua  parede  anterior  ^ 

{d)  Um  tubo  de  borracha  (mais  curto  do  que  o  contorno 
do  caixilho),  preso  por  uma  das  suas  extremidades  a  um  dos 
pregos,  apanha  os  bordos  sobrepostos  das  duas  pelles  e,  ada- 
ptando-as  com  força  contra  o  sulco  cavado  no  contorno  do  cai- 


^     Para  qvie  as  pelles  possam  ser  devidamente  apanhadas  pelo  tubo  de 
borracha  convém  pôl-as  primeiramente  de  malho  cm  agua. 


126 


xilho,  vai  prender-se  de  novo,  pela  outra  extremidade,  no  ou- 
tro prego  ^  (íig.  4). 


Fig.  i 


Temos  assim  constituído  o  vaso  poroso,  ou  diaphragma  da 
nossa  pilha. 

(e)     A  placa  de  zinco  (fig.  5)  deve  ter  as  dimensões  da 


Fig.  5 

abertura  do  caixilho,  incluindo  as  dos  dois  sulcos  cavados  na 
face  interna  dos  seus  lados  verticaes.  Esta  placa  prepara-se 
d'uma  maneira  muito  simples: 

Toma-se  uma  porção  de  zinco  em  barra  e  parte-se  aos  bo- 
cados. Estes  deitam-se  n'um  cadinho  de  barro  refractário  e  são 
fundidos  ao  fogo  d'uma  forja.  Apenas  o  metal  esteja  comple- 


^  Com  esta  disposição  é  muito  fácil  lavar  o  apparellio  e  encontrar  pel- 
les  que  cubram  o  caixilho,  quaesquer  que  sejam  as  dimensões  d'este  (dentro 
de  certos  limites  já  se  vò). 


127 


lamente  liquido,  apanha-se,  pelos  seus  bordos,  o  cadinho  com 
uma  forte  pinpa  e  vasa-se  o  metal  em  fusão  n'um  taboleiro 
de  ferro  collocado  horisontalniente. 

Este  taboleiro  deve  ter  as  dimensões  que  se  desejam  dar 
á  placa  de  zinco  ^ 

Emquanto  o  zinco  se  encontra  no  estado  liquido,  solda-se- 
Ihe  uma  lamina  de  cobre,  que  tenha  pouco  mais  ou  menos 
um  decimetro  de  comprimento  e  um  e  meio  centímetros  de 
largura,  e  de  modo  que  a  união  dos  dois  metaes  se  dê  na 
parte  média  do  bordo  do  zinco,  que  tem  de  ficar  voltado  para 
a  parte  superior  do  caixilho.  Esta  lamina  de  cobre  é  destina- 
da a  sustentar  a  vareta,  enrolando-se  n'ella  de  modo  a  mul- 
tiplicar os  seus  pontos  de  contacto. 

(/")  A  solução  de  sulfato  de  cobre  (caparosa  azul)  tem  de 
ser  lançada  na  caixa  cubica  e  constituo  o  banho. 

A  sua  preparação  é  simples: 

Toma-se  uma  vasilha  vidrada  qualquer  ^  e  sobre  ella  es- 
tende-se  um  panno  de  tecido  pouco  apertado.  Este  panno  de- 
ve ter  dimensões  taes  que,  depois  de  cobrir  a  vasilha,  vá  pou- 
sar, pelas  suas  quatro  pontas,  na  mesa  de  trabalho.  Sobre 
cada  uma  das  pontas  deve  coUocar-se  um  objecto  pesado,  para 
que  o  centro  do  panno,  sem  deixci/i^  de  formm  uma  certa  con- 
cavidade,  não  seja  facilmente  arrastado  até  ao  fundo  da  vasi- 
lha. 

Dispostas  as  coisas  d'esta  forma,  lançamos  no  centro  do 
panno  uma  porção  de  crystaes  de  sulfato  de  cobre  e,  por  cima, 
agua  a  ferver  (agua  de  chuva  ou  agua  distillada),  em  quanti- 
dade tal  que  os  crystaes  fiquem  mergulhados  n'ella.  Passados 
alguns  minutos  observa-se  o  liquido.  Se  os  crystaes  estiverem 
todos  ou  quasi  todos  dissolvidos,  deitam-se  mais.  Continuando 
a  proceder  d'este  modo  chega-se  a  um  momento,  em  que  os 
crystaes  lançados  no  panno  deixam  de  se  dissolver,  o  que  in- 
dica que  o  liquido  está  saturado  de  sulfato  de  cobre. 

N'estas  condições,  apanhando  o  panno  pelos  bordos,  reti- 
ra-se  da  vasilha  com  os  crystaes  que  elle  ainda  contiver. 

Assim  teremos  preparado  o  banho. 

Ora,  como  esta  solução  é  destinada  a  ser  lançada  na  cuba, 
se  entendermos  que  ella  não  c  tão  abundante  quanto  se  dese- 


1  O  zinco  d;i  nossa  pilha  tem  O™  ,01  de  espessura. 

2  Unia  capsula,  um  alguidar,  etc.  etc. 


128 


java,  trata-se  de  fazer  uma  nova  porção,  que  depois  se  jun- 
tará á  primeira  ^ 

((/)  A  agua  salgada  ou  acidulada  prepara-se:  no  primei- 
ro caso,  lançando  em  agua  de  chuva  ou  distillada  uma  por- 
ção de  sal  commura  tal,  que  não  possa  dissolver-se  completa- 
mente na  agua,  e  no  segundo,  deitando  em  agua  igualmente 
distillada  seis  ou  oito  goítas  d'acido  sulfúrico  para  cada  litro. 

A  quantidade  da  agua  deve  ser  regulada  pela  capacidade 
do  diaphragraa,  que  é  o  vaso  destinado  a  recebel-a. 

{h)  Os  saccos  de  serapilheira  não  carecem  de  ser  descri- 
ptos.  Basta  saber-se  que  elles  são  destinados  a  receber  crystaes 
de  caparosa  azul  e  que  não  podem  nem  devem  ter  grandes 
dimensões;  não  só  porque  não  convém  que  occupem  grande 
espaço  na  cuba,  mas  também  porque  devem  mergulhar  pouco 
no  liquido. 

(i)  Emquanto  á  vareta  de  cobre  ou  de  latão  nenhuma  re- 
commendação  especial  temos  a  fazer,  senão  que  convém  que 
o  seu  comprimento  exceda  a  abertura  da  cuba  e  que  o  seu 
diâmetro  seja  suíTiciente  a  abonar-lhe  a  resistência  necessária ; 
pois  que  é  n'ella  que  devem  suspender-se  os  moldes. 

* 


São  estes  os  diversos  elementos  da  nossa  pilha.  Vejamos 
como  deveremos  combinal-os  para  que  ella  fique  em  condições 
de  fornecer  a  corrente  eléctrica : 

Na  caixa  exterior  ou  cuba  deita-se  a  solução  de  sulfato  de 
cobre  (banho). 

Pela  abertura  que  deixam  entre  si  as  duas  travessas,  que 
limitam  a  parte  superior  do  diaphragma  ou  vaso  poroso,  dei- 
ta-se a  agua  acidulada  e  introduz-se  a  placa  de  zinco  que,  cor- 
rendo ao  longo  dos  sulcos  cavados  na  face  interior  dos  lados 
verticaes  do  caixilho,  vai  occupar  a  parte  central  do  vaso  po- 
roso, ficando  mergulhada  na  agua  acidulada  e  a  igual  distan- 
cia das  pelles  que  formam  as  paredes  anterior  e  posterior  do 
mesmo  vaso. 


^  Convém  saber  que  em  galvanoplastia  é  condição  essencial,  para  se 
obter  um  bom  resultado,  que  o  nivel  do  banho  (solução  de  sulfato  de  co- 
bre) fique  á  mesma  altura  do  nivel  da  agua  acidulada  que  deve  ser  lança- 
da no  vaso  poroso. 


129 


Toma-se  então  o  diaphragma,  assim  preparado  e,  mergu- 
Ihando-o  na  solução  de  sulfato  de  cobre  contida  na  cuba,  sus- 
pende-se  aos  bordos  d'esla  pelas  correias  fixas  na  parte  supe- 
rior do  caixilho  ^ 

Em  dois  ângulos  oppostos  da  cuba  e  mergulhando  muito 
á  superfície  do  liquido  n'ella  contido,  suspendemos  pelos  res- 
pectivos cordéis,  os  dois  saccos  de  serapilheira,  cheios  de 
crystaes  do  sal  de  cobre.  Estes  crystaes  têm  por  fim  sustentar 
a  solução  sempre  saturada  ^. 

A  lamina  de  cobre,  que  se  encontra  no  bordo  superior  da 
placa  de  zinco,  enrola-se  de  modo  a  formar  uma  espécie  de  tu- 
bo, através  do  qual  se  faz  passar  a  vareta,  ficando  esta  numa 
direcção  parallela  aos  bordos  que  suspendem  as  correias  do 
vaso  poroso  (fig.  6). 


Fig.  6 


Para  que  o  apparelho  possa  funccionar,  basta  suspender  da 
vareta,  mergulhando-o  no  banho,  o  molde  que  se  deseja  re- 
produzir. 


^  As  correias  pregam-se  nos  bordos  da  cuba,  podendo  o  diaplmignia 
mergulhar  mais  ou  menos  n'esta  (segundo  a  necessidade)  afrouxando  luaivS 
ou  menos  as  correias;  mas  sempre  de  modo  que  o  vaso  poroso  não  toque 
no  fundo. 

2  Os  saccos  devem  occupar  a  superfície  do  liquido;  porque  só  d'esta 
forma  é  que  este  terá  a  mesma  densidade  em  todas  as  suas  camadas,  ou, 
melhor  ainda,  só  d'esta  forma  a  saturação  será  perfeita,  o  que  é  indispen- 
sável. 


130 

SEGUNDA  PARTE 
Moldagem  e  preparação  dos  molde? 

Quando  se  trata  de  reproduzir  um  objecto,  a  primeira  coi- 
sa que  o  galvanoplasta  tem  a  fazer  é  moldar  o  próprio  obje- 
cto por  meio  d 'uma  matéria  fusível  ou  plástica  qualquer,  e  sub- 
metter  em  seguida  o  clxhê,  e  não  o  modelo,  ás  operações 
subsequentes;  d'outra  maneira  correria  o  risco  de  inutilisar, 
ou  pelo  menos  deteriorar  o  objecto,  que  ás  vezes  é  raro  e  de 
muito  valor. 

Qualquer  que  seja  a  substancia  escolhida  para  a  molda- 
gem, ou  essa  substancia  ha  de  ser  um  bom  condioctor  da  ele- 
ctricidade, otí  muito  suscõptivõl  de  adquirir  essa  propriedade, 
mediante  o  emprego  de  certos  meios,  de  que  faltaremos  em 
breve.  É  necessário,  além  d'isso,  que  essa  substancia  não  pos- 
sa ser  alterada  pela  acção  do  banho. 

As  substancias  usadas  na  confecção  dos  moldes  são  mui- 
tas; mas  pôde  dizer-se  que  cada  uma  d'ellas  é  apropriada  ao 
objecto  que  lhe  convêm.  É  assim  que  o  gesso  o  a  matéria  em- 
pregada quando  se  trata  de  moldar  objectos  de  mármore,  ala- 
bastro, gesso,  madeira  e  metal. 

A  gelatina  convém  mais  para  os  objectos  que  apresentam 
profundas  e  delicadas  reintrancias,  onde  aquella  matéria  plás- 
tica penetra  perfeitamente  e  d'onde,  pela  sua  grande  elastici- 
dade, sae  com  muita  facilidade  depois  de  solidificado,  defor- 
mando-se  apenas  momentaneamente. 

Para  as  medalhas  e  clichés  são  muito  próprias  a  cera  bran- 
ca e  a  stearina. 

A  gulta-percha  é  preferida  na  moldagem  d'objectos  muito 
sólidos  e  que  podem  soífrer  uma  forte  pressão. 

As  ligas  fusíveis,  finalmente,  também  tém  o  seu  emprego. 

Vamos  expor  resumidamente  em  que  consiste  cada  um 
d'estes  géneros  de  moldagem,  detendo-nos  principalmente 
n'aquelles  que,  actualmente  pelo  menos,  melhor  nos  convém 
conhecer. 

A  moldagem  metallica  por  meio  d'uma  liga  facilmente  fu- 
sível, tal  como  a  liga  de  Darcet,  dá  bons  resultados;  mas  tem 
o  defeito  de  exigir  utensílios  especiaes  e  uma  grande  aptidão 
da  parte  do  artista. 

Não  me  deterei  na  moldagem  pela  gelatina,  tão  recom- 
mendada  na  reproducção  de  peças  frágeis  e  que  apresentam 


131 


relevos  e  reintrancias  delicadas;  porque  ella  demanda  mui- 
tos cuidados,  muita  habilidade  e  uma  certa  pratica,  para  que 
se  possa  chegar  a  um  resultado  satisfatório.  Além  d'isto,  esta 
substancia,  apesar  de  possuir  uma  grande  elasticidade,  exige, 
ou  um  deposito  galvanoplasíico  muito  rápido  (do  contrario 
augmenta  de  volume,  deforma-se  e  por  ultimo  dissolve-se  no 
banho),  ou  que  o  molde  seja  previamente  sujeito  a  um  certo 
numero  de  operações  para  o  tornar  impermeável,  operações 
que  não  são  de  feitio  a  garantir  o  resultado,  e  que  até  mes- 
mo alteram  e  compromeltem  a  fidelidade  da  reproducção. 

A  moldagem  pela  cera  —  é  muito  simples: 

Toma-se  cera  branca  ordinária  e,  n'uma  vasilha  vidrada 
qualquer,  faz-se  fundir  a  fogo  brando.  O  objecto  que  se  dese- 
ja moldar  expõe-se  por  alguns  instantes  ao  vapor  d'agua  quen- 
te, ou  lubriíica-se-lhe  a  superfície  com  um  corpo  oleoso  qual- 
quer (azeite,  óleo  de  hnhaça,  etc.)  ^ 

O  objecto  é  em  seguida  coUocado  horisontalmente  sobre 
uma  mesa  e  cercado  por  uma  tira  de  cartão  atada  com  um 
fio  e  de  maneira  que  este  papel  forme,  em  torno  do  corpo 
que  se  quer  moldar,  um  bordo  mais  elevado  do  que  os  seus 
mais  salientes  relevos.  Esta  disposição  representa,  por  assim 
dizer,  uma  caixa,  de  que  o  modelo  é  a  parede  do  fundo  e  o 
papel  as  paredes  lateraes. 

A  cera,  no  estado  liquido,  lança-se  então  sobre  o  objecto 
assim  disposto  e,  depois  de  solidificada  pelo  arrefecimento, 
separa-se  facilmente  do  modelo,  de  que  ella  representa  uma 
pruva  negativa. 

Com  a  stearina  prepara-se  o  molde  exactamente  da  'mesma 
maneira. 

Moldagem  pelo  gesso.  —  O  molde  d'um  grande  numero  de 
corpos  feitos  de  alabastro,  de  madeira,  de  metal  e  mesmo  de 
gesso,  obtem-se  com  muita  facilidade  por  meio  do  gesso. 

Supponhamos,  por  exemplo,  que  se  trata  de  moldar  uma 
medalha : 

Tomanioí  uma  tira  de  cartão  e  cercamos  com  ella  a  me- 
dalha, atando  a  tira  de  cartão  com  um  fio,  exactamente  como 
no  caso  da  cera  e,  com  um  pincel  embebecido  n'um  corpo 
oleoso,  percorremos  a  superficie  interna  da  tira  de  cartão  e 


1  Estas  operações  têm  por  fim  estabelecer  á  superficie  do  objecto  uma 
camada  isoladora,  que,  sem  lhe  aLerar  os  detalhes  mesmo  os  mais  finos, 
obste  a  que  a  cera  fique  pegada  ao  objecto,  o  que  tornaria  o  molde  defeituoso. 


132 


da  medalha,  para  que  o  gesso  não  adhira  a  estes  corpos.  Dis- 
postas as  coisas  d'este  modo  passamos  a  preparar  o  gesso. 

Para  isso  tomamos  uma  porção  de  gesso-estuque  da  melhor 
qualidade  e  deitamol-o  n'uma  vasilha  vidrada;  em  cima  lan- 
çamos uma  pequena  porção  d 'agua  fria  muito  limpa  e,  com 
uma  espátula  ou  colher  de  pau,  tratamos  de  misturar  intima- 
mente estes  dois  corpos,  até  que  o  gesso  chegue  a  embeber- 
se  completamente  de  agua.  A  quantidade  d 'este  liquido  e  a 
do  gesso  devem  ser  reguladas  por  forma  que  obtenhamos 
uma  aguada  pouco  espessa. 

Em  taes  condições  e  cora  ura  pincel  de  cabello  embebi- 
do n'esta  mistura,  percorreremos  toda  a  superfície  do  modelo, 
espepialraente  as  suas  reintrancias. 

É  a  primeira  camada  de  gesso. 

Em  seguida  deitamos  na  vasilha  mais  agua  e  mais  gesso; 
raas,  d'esta  vez,  cora  o  fim  de  obter  uma  massa  mais  densa  e 
pastosa,  a  qual  depois  de  convenientemente  agitada  na  vasi- 
lha ^  é  lançada  sobre  o  modelo,  ou  antes  sobre  a  aguada  com 
que  este  foi  coberto. 

Esta  segunda  camada  de  gesso  deve  ser  applicada  sem  dar 
terapo  a  que  a  primeira  seque,  e  carece  de  ser  suíTiciente  para 
que  o  molde  fique  com  a  espessura  necessária  para  resistir  ás 
operações  por  que  tem  de  passar. 

Em  poucos  minutos  o  gesso  estará  solidificado;  raas  não 
convera  separal-o  do  modelo  antes  de  dez  ou  doze  horas. 

No  fim  d 'este  tempo  a  separação  é  fácil  e,  se  o  gesso  fôr 
de  boa  quahdade  e  a  sua  massa  tiver  sido  agitada  por  fórraa 
a  expulsar  todas  as  bolhas  d'ar,  o  raolde  representará  fielraen- 
te  o  raodêlo. 

Poderá,  todavia,  acontecer  que  o  molde,  embora  perfeito 
no  seu  todo,  apresente,  n'uma  ou  n'outra  parte,  uma  falha, 
um  orifício  ou  uraa  fenda.  Toraando,  então,  uraa  pequena  por- 
ção de  pasta  de  gesso,  preparada  corao  aciraa  ficou  dito  e, 
usando  d'ura  canivete  ou  d 'um  palito  applica-se,  era  cada  ura 
d'esses  pontos,  uraa  porção  da  pasta,  a  qual,  depois  de  séc- 
ca,  ura  artista  raesmo  pouco  hábil  conseguirá  apropriar  de- 
vidamente ao  local  em  que  a  applicou.  E  para  isso  não  care- 
ce d 'outros  instruraentos. 


'     Esta  operação  tem  por  fim  fazer  que  a  massa  perca  todas  as  bolhas 
d'ar  e  que  o  gesso  se  deixe  penetrar  completamente  pela  agua. 


133 


Em  todo  o  contorno  do  molde  e  usando  d'um  canivete  ou 
d'uma  pequena  goiva,  cava-se  um  sulco  destinado  a  alojar  um 
arame  de  cobre,  preparado  de  modo  que  forme  um  annel  na 
parte  superior  do  molde  e  dois  outros  nas  suas  partes  late- 
raes  (íig.  7j. 


iMg.   7 


O  arame  depois  de  alojado  no  sulco  é  coberto,  á  excepção 
dos  anneis,  com  gesso  preparado  de  novo.  Em  poucos  minu- 
tos o  arame,  fazendo  corpo  com  o  gesso,  offerece  nos  seus  an- 
neis a  resistência  necessária,  para  que  o  molde,  por  mais  pe- 
sado que  seja,  possa  ser  suspenso  por  elles  em  todas  as  ope- 
rações ulteriores. 

P/Ioldagem  peia  gutta-percha.  —  A  gutta-perclia  ó  um  sue- 
co vegetal  rigido  e  muito  pouco  elástico ;  é  uma  gomma-resi- 
na  completamente  insolúvel  na  agua  e  nos  ácidos  fracos  e,  so- 
bre a  qual,  nenhuma  acção  tem  o  banho  de  sulfato  de  cobre. 
Pela  acção  do  calor  amollece  a  ponto  de  que,  á  temperatura 
de  80"  pôde  ser  facilmente  amassada  e  moldada,  retomando, 
pelo  resfriamento,  a  sua  dureza  e  propriedades  primitivas. 

Para  obter  com  esta  substancia  o  molde  d'um  dado  obje- 
cto procederemos  da  seguinte  forma: 

O  objecto  é  coUocado  na  platafórina  d'uma  prensa  (pren- 
sa de  copiador  por  exemplo)  e  no  centro  d'um  caixilho  de  fer- 
ro, cujos  bordos  devem  exceder  muito  os  relevos  do  modelo. 
A  parte  da  plataforma  occupada  pelo  objecto,  a  face  interior 
do  caixilho  e  o  próprio  modelo  são  lubrificados  com  um  cor- 
po oleoso. 

D'esta  maneira  temos  tudo  preparado  para  a  moldagem. 
Vejamos  como  esta  se  opera : 

N'uma  capsula  cheia  d'agua  a  ferver  deita-se  uma  porção 
de  gutta-percha,  que  seja  sulílciente  para  cobrir  todo  o  mode- 
lo, conservando  além  disto  uma  certa  espessura  que  ultra- 
passe os  bordos  do  caixilho  de  ferro. 

7.»  Annow  10 


\ 


134 


No  fim  d'alguns  minutos  retira-se  a  gutta-percha  ^  e,  se 
ella  estiver  bastante  raolle,  amassa-se,  distendendo-a  em  di- 
versos sentidos,  dobrando-a  e  distendendo-a  de  novo,  e  isto 
tantas  vezes  quantas  as  necessárias  para  adquirirmos  a  certe- 
za de  ter  expulsado  da  sua  massa  todas  as  bolhas  d 'ar,  as 
quaes  se  sentem  perfeitamente  estalar  sob  a  pressão  dos  de- 
dos. Esta  operação  deve  ser  por  vezes  interrompida  por  uma 
nova  immersão  da  gutta  na  agua  a  ferver,  único  meio  de  sus- 
tentar esta  substancia  em  consistência  pastosa. 

Logo  que  a  gutta-percha  esteja  suíficientemente  molle  e  li- 
vre de  bolhas  d 'ar,  dá-se-lhe  a  forma  espherica,  mas  de  ma- 
neira que  a  sua  superfície  fique  perfeitamente  lisa,  sem  rugo- 
sidades  nem  duplicaturas.  Esta  esphera  pousa-se  sobre  a  parte 
média  da  superfície  do  modelo  e  colloca-se-lhe  em  cima  uma 
placa  de  ferro  bastante  resistente,  cujas  dimensões  lhe  perrait- 
tam  penetrar  no  caixilho  de  ferro  que  cerca  o  objecto.  Faz-se 
descer  o  parafuso  da  prensa  sobre  a  placa  de  ferro,  rapida- 
mente a  principio  e  lentamente  depois.  A  placa  obrigada  pelo 
parafuso  comprime  a  gutta-percha  e  faz  que  esta  substancia 
penetre  em  todas  as  sinuosidades  do  modelo,  emquanto  que  a 
sua  parte  excedente  sae  por  entre  a  placa  e  as  paredes  do 
caixilho. 

Emquanto  a  matéria  plástica  se  conserva  molle,  corta- se  a 
parte  excedente  com  uma  faca. 

Quando,  passados  alguns  minutos,  se  verifícar  que  a  gut- 
ta-percha, conservando-se  ainda  um  pouco  quente,  já  adquiriu 
a  resistência  e  dureza  necessárias,  procede-se  á  separação  do 
molde  ^. 

(Continua). 

A.  DE  Mattos  Ciia^-es. 


1  É  necessário  ter  perto  uma  capsula  (fagua  fria  para  n'esta  mergu- 
lhar as  mãos  a  cada  momento ;  não  só  com  o  fira  de  evitar  uma  queimadu- 
ra, mas  também  para  obstar  a  que  a  gutta-percha  adliira  aos  dedos. 

2  É  necessária  alguma  pratica  para  que  todas  estas  operações  sejam 
feitas  a  tempo  e  com  proveito. 


DOCUMENTOS    INÉDITOS 


DOS 


SÉCULOS     XIl-XV 
(Continuado  da  pag.  74) 


MOSTEIEO    DE    SOUTO 

Lxxni 

•     1402-1411 


Sabbam  todos  que   em  presença   de  mj   Affonso  rrodri- 

gues polo  conde  dom  AíTonso  e  as  testemunhas  adeante 

escritas mes  de  julho  da  Era  de  mjl  e  quatrocentos  e 

coreenta namarante  ante  cuio  (?)  de  mj  tabaljom  peran- 
te Gonçalo vila  pareceo  Gonçalo  anes  escudeiro  mora- 
dor em de  Jeestaço  e  mostrou  perante  o  dito  juiz  huma 

manda da   qual   o    teor   tal   he.   In   nome   de   deus 

amen esta  manda  e  testamento  que  eu  Gonçalo  gonçal- 

ues  (?)  escudeiro  jazendo  jazendo  na  prisom  de  deus  com  todo 

meu querendo  fíazer  prol  e  ssaude  da  minha  alma 

e  meu  testamento  por  esta  gisa.   primeiramente  dou  e 

a  deus  e  aa  Virgem  gloriosa  ssanta  maria  que me  do 

corpo  ssair  e  mando  enterrar  o  meu  corpo com  Inês 

rrodrigues  minha  molher  no  moesteiro  (?) e  mando  de 

manda  ao  priol  do  dito  moesteiro do  dito  moesteiro  ou- 
tras dez  libras  e  mando coçedra  de  pano  (?)  huum  al- 

madraque  de  laan  boo  e lançooes  e  huum  chumaço  de 


136 


pena  e  mando  que e  a  affonso  durainz  muj  bem  o 

tempo  que  me  sseruirom  e  mando Inês  rrodrigez  todo- 

los  meus  beenss  mouys  e  rraiz uida  em  preço  das  ar- 
ras que  a  dauer  e  ííacoa testamenteira  e  que  ela  pen- 

sse  da  minha  alma  e  ífaca  por deus  que  ííaca  por  ela. 

E  aa  ssua  morte  mando  que quintaan  dollo  e  a  minha 

quintaan  da  mota  com  ssuaas ssobrinha  ífilha  de  Diegaf- 

fonso  da  mota  (?) outrossi  minha  sobrinha  íliíha  de  Die- 

go  gomez para  por  ela alogadas  e  a  ssuas 

ffilhos  ou  ffilhas  lydimos  e  a  sseus  netos  e  a  ssua  linha- 
gem (?) elas  ssem  auendo  ffilhos  ou  ffilhas  lydi- 
mos  delas  ou  de  cada  huma  delas  sse  uendom 

do  niQu  diujdo  e  as  de  pola  minha a  que  soo  teudo  e 

morrendosse  alguma  destas  minhas ante  que  aia  ffilhos 

ou  descendentes  como  dito  he  que parte  destas  quin- 

taans  aa  que  delias  fficar  uiua  pola  gisa E  mando  que 

a  dita  minha  molher  venda  quando  ela  quiser a  minha 

quintaan  dardegan  e  a  de  por  minha  alma  e  pola  ssua 

querendo  ela  uender  mando  que  depôs  ssua uender  o 

guardiam  de  ssam  domjngos  de  gimaraens  e   a  de e 

pola  dita   minha   molher  e  daqueles  a  que  soo  teudo 

dita    minha   molher   que    sse  ffezer  casamento   aa  dita   leo- 

nor que  lhe  ffaca  a  uida  como  ela  poder  porque  possa 

sseer mando  a  Diego  gomez  meu  irmaaom  a  minha  co- 
ta e e  huraas  luuas  item  huma  tapa  e  huma  espada  e 

huum e   huma  manta  que  tenho  a  penhor  de  Joham 

■  g'ú ífoj  de  ssam  vicente  por  ssateenta  e  quatro  libras 

mando  que  sse nem  da  minha  molher  e  tome e 

o  mais  deo  por  o Gil  reuogo  todalas  outras  mandas  que 

ffiz   ante  desta por  uaiiosa  para  sempre  ca  esta  he  a 

minha  prostrimeira  uoontade em  oUo  em  casa  do  dito 

Gonçalo  gomez  julgado  de  Jeestaço  sseis mes  doitubro 

Era  de  mil  e  quatrocentos  e  dez  e  ssete  anos.  testemunhas  Af- 
fonso durainz  e  Joham   de  borba  e  Gonçalo  aíTonso  e  Joham 

domiuguez  e e  Luiz  e  Gonçalo  perez  dollo  e  eu  Alfon- 

so  rrudriguez  tabaliom no  julgado  de  Jeestaço  que  esta 

manda  por  mandado  do  dito escreuj  e  meu  sinal  aqui 

ffiz  em  testemonho  de  uerdade  que a  qual  manda  mos- 
trado tTrej  Vaasco  gil  ífrade  (?)  do  moesteiro ssam  íTran- 

cisco  de  gimaraens  e  procurador  do  dito  moesteiro  para 

pedio  ao  dito  juiz  que  lhe  mandasse  delia por  mj  ta- 
baliom em  publica  íforma  sso  meu  ssinal dito  moestei- 
ro para  ele  aiudar  para  demandar  alguuns uisto  como 


137 


lhe  perteençe  mandou  a  mj  tabaliom  que  lho  desse  e 

ssua  auturidade  hordinhaira  testemunhas steuez  Vaasco 

perez e  Martim  anes  demaudador  e  Joham  martins  to- 
dos damaranle  e  Lourenço  de eu  ssobredito  tabaijom 

que  a  esto  presente  ÍTuj  e  este  traslado  da  dita manda- 
do do  dito  juiz  e  meu  ssinal  aqui  ffiz  em  testemonho  de  uer- 
dade +. 


LXXIV 


1404 
/ 

Sabbam  todos  que  pressente  mjm  Pereanes  tabeliom  delrej 
em  Guimaraaens  e  as  testemunhas  adeante  scriptas  AíTonso  mi- 
gees  morador  em  vilar  datam  freigisia  do  moesteiro  de  san 
torcade  disse  que  dom  Steuom  perez  prior  do  moesteiro  de 
s^uto  que  presente  estaua  ho  demandaua  por  a  igreia  de  Bra- 
gaa  por  pedra  que  Ihj  dizia  que  Ihj  tomara  de  huum  (Seu  casal 
e  por  madeiras  que  Ihj  cortara  na  deuesa  de  quandooso  que 
he  do  dito  moesteiro  e  que  desso  aueera  com  o  dito  prior  por 
esto  e  por  as  despesas  que  o  dito  prior  sobre  esto  fizera  por 

strumento  que  tem  do  dito  preito  conuem auja  de  dar 

huum  marco  de  prata  em   pasta  maçadoira moesteiro 

ou  o  ualor  delia  segundo  que que  esta  prata  Ihj  auja 

de  pagar  da  feitura  deste  estrumento  ataa  quatro  anos  ou  ante 
se  ante  podesse  e  que Ihj  prasia  de  lha  pagar  em  tem- 
po a  el  e  ao  dito   moesteiro  e  que  obrigaua  para  ello  seus 

beens  assj  moujis  como  raiz  e  que sse  el  morrese  ante 

que  perffezesse  esta  paga  que  seus  herdeiros  lho  pagasem  an- 
te que  entrasem  aa  partiçom  e  que  el  nem  outro  nenhuum  da 
sua esto  so  pena  de  pagar  ao  dito  prior  e  seu  moes- 
teiro todas  custas  e  perdas  e  danos  que  el  por  esto  repebese 
e  cora  mais  dez  libras  de  pena  em  cada  huum  dia  non  ho  pa- 
gando ataa  os  ditos  quatro  annos  e  assi  o  outorgou  e  o  dito 
prior  por  este  estrumento  deu  e  ouue  o  dito  laurador  por  quite 
da  sobre  dita  demanda  e  das  custas  e  despe>;as  que  el  sobre 
ello  fezera  sobre  a  dita  pedra  e  madeira  e  as  partes  pidirom 
assj  ssenhos  estrumentos  feito  e  outorgado  no  dito  moesteiro 
dez  e  noue  dias  de  maio  Era  de  mjl  e  quatrocentos  e  quarenta 
e  dous  anos  testemunhas  Pay  rrodriguc^  escudeiro  morador 
em  a  ^ita  villa  Martim  alcaide  da  freigisia  de  sam  Lourenço  e 


138 


frej  Joham  de  saaliago  e  Aífonso  aaes  çapateiro  e  outros  Ea 
dito  tabeliom  que  este  estruinento  por  outorgamento  das  ditas 
partes  screuj  e  aqui  meu  sinal  fiz  -j-  ut. 


LXXV 
1433 


Sabbam  os  que  este  estormento  de  doapom  birem  que  eu 

pêro  anes de  guimaraens   e   eu  maria  uaasquez  ssua 

molher  e  moradores  na  dita  billa  ueendo  e  con.^jrando  as  muj- 
tas  buoraas  obras  que  sempre  rrecebemos  e  entendemos  de 
rreceber  de  martira  anes  iaurador  morador  na  íTrege.^ja  de 
ssam  cosmade  de  lobejra  termo  da  dita  billa  que  pressente 
esta  e  quereudolho  galardoar  fazemolhe  pura  doaçora  antre  os 
uiuos  ualledora  para  todo  ssempre  de  toda  a  nossa  erdade  que 
o  dito  martinho  ora  de  nos  traz  a  sua  maaora  e  posse  na  dita 
ffregisja  no  logo  que  chamom  ssam  martinho  os  quaaes  fforom 

dos e  os  quaaes  nos  cobramos  por  compra  e  escriptura 

publica  a  qual  ia  demos  e  entregamos  dias  ha  ao  dito  martim 
anes  porem  mandamos  e  outorgamos  que  o  dito  Martim  anes 
e  maria  perez  ssua  molher  e  toda  ssua  uoz  e  jeraçora  e  quem 
Ihis  prouuer  ajam  a  dita  erdade  bens  e  erdamento  segundo 
que  na  dita  carta  de  compra  he  coutheudo  que  lhe  ja  eu  fliz 
assj  tam  e  mjlhor  ora  mjlhor  poderem  auer  e  prometemos  e 
outorgamos  mais  que  nos  non  possamos  demandar  nem  con- 
tradizer a  dita  doapom  por  nos  nem  por  outrem  em  jujzo  nem 
ffora  delle  e  posto  que  o  ffaçamos  ou  íTazer  quissessemos  que 
nom  ualha  nem  selamos  a  ello  rrecebidos  e  ante  nos  praz  de 

lha  ffazermos  ssempre  de  paz  da  quall pessoa  que  Ihis 

contra  ello  qujsser  hir  aa  nossa  custa  e  por  nossos  beens  e 
assj  o  outorgamos  e  o  dito  martim  anes  por  ssj  e  ssua  molher 
e  uoz  e  jeraçom  rrecebeo  em  s>!j  a  dita  doapom  e  pidio  assj 
huum  e  mais  estormentos  e  os  ditos  pêro  anes  e  maria  uaas- 
quez sua  molher  lhos  mandarem  dar  ífeito  e  outorgado  ffoj  o 
dito  estormento  na  dita  billa  nas  cassas  da  morada  do  dito 
pêro  anes  primeiro  dia  do  mes  dabril  era  do  nacimeuto  de 
Jehu  Christo  nosso  senhor  de  mill  iiii.»  e  trinta  e  três  anos 
testemunhas  que  a  esto  íforom  pressentes  pêro  aluarez  mer- 
cador e  íTernam  dajunes  (?)  escrivom  do  almoxarifado  da  dita 


139 


billa  e  Joham  raartins  alfajate  morador  na  dita  billa  e  outros 
e  eu  Joham  uaasquez  bassallo  delrej  e  sseu  tabaliom  publico 
do  paaço  na  dita  billa  que  este  estormento  escrevj  e  aquj 
meu  ssjnall  íliz  que  tall  he  -|--  —  Po-  com  nota  e  traslado  (?) 
dez — . 


LXXVI 
1435 


Sabbara  os  que  este  strumento  virem  que  presente  mjm 
Johane  aoes  tabaliom  delrej  em  a  villa  de  Guimaraens  e  tes- 
temunhas a  juáo  scriptas  dose  djas  do  mes  de  feuereiro  da  era 
do  nascimento  de  nosso  senhor  Jehu  Christo  de  mjl  e  nii.°  e 
trinta  e  pinquo  anos  em  a  dita  villa  na  rua  da  enfesta  nas 
pausadas  de  dom  afonso  lourenço  prior  do  mosteiro  de  sam 
saluador  de  souto  stando  hj  o  dito  prior  e  oulrosj  slando  hj 
Martim  anes  morador  no  lugar  do  bairro  que  he  do  dito  mos- 
teiro o  qual  he  na  frejgesia  de  sam  Vicente  de  paaços  o  dito 
prior  fez  nota  de  prazo  ao  dito  .Martim  anes  e  se  obligou  a 
lhe  fazer  prazo  polia  Eigreia  de  bragaa  aa  casta  do  dito  Mar- 
tim anes  para  elle  e  para  catalina  perez  sua  molher  non  pre- 
sente em  hnma  pessoa  que  o  postrimeiro  delles  nomeasse  aa 

ora  da  sua  morte  o  dito  lugar  do  bairro que  o  aiam 

com  todas  suas  entradas  e  sajdas  nouas  e  antigas  e  auguas  e 
chaotadorias  e  cora  todas  suas  perteenfas  e  por  onde  o  dito 
casal  melhor  poderem  achar  e  auer  que  o  laurem  e  afrujtem 
e  façam  em  elle  toda  bemfejtorja  e  melhoramento  de  gujsa 
que  melhorem  e  non  peiorem  e  que  dem  e  paguem  de  renda 
e  penssom  em  cada  huum  ano  ao  dito  prior  e  seu  mosteiro 
çinquo  marauedis  de  moeda  antiga  pagados  asj  e  polia  guisa 
que  pagarom  os  prasos  antigos  do  dito  mosteiro  e  fazerem  a 
paga  dos  ditos  dinheiros  por  páscoa  e  pagasse  cada  pessoa  de 
lojtosa  seis  marauedis  da  dita  moeda  antiga  e  que  elle  dito 
prior  nem  seu  mosteiro  non  aiam  poder  de  Ihis  colher  (?)  o 
dito  emprazamento  nas  ditas  vidas  nem  os  ditos  Marliui  anes  e 
sua  molher  e  pessoa  a  elle  leixar  nem  demjtir  e  se  sobre  esto 
acontecesse  contenda  que  respondessem  perante  qualquer  jus- 
tiça por  onde  os  ante  o  dito  prior  quizesse  demandar  e  qual- 
quer das  parles ello  fosse  que  que  pagasse  de  pena 

aa  parte  stauel  quinhentos  soldos  da  dita  moeda  antiga  e  a 


140 


pena  leiíada  ou  non  esto  strnmento  valer  e  seer  firme  coma 
sobre  dito  he  e  asj  o  outorgarom  as  dilas  partes  e  pedirom 
senhos  slrumentos  testemunhas   lopo   gonçalves   sobrinho  do 

dito  prior  e  fernam morador  na  dita  vila  na  rua  da 

enfesta  e  afonso  anes  dos  cachos  morador  na  frejge.^ja  de  sam 
cosmade  de  lobejra sobredito  tahaliom  que  este  strn- 
mento screuj  e  aqui  meu  signal  fiz  que  tal  he  +•  —  Po-  deste 
strumento  xii  soldos. 


LXXVII 
1443 


Sabbam  os  que  esta  carta  de  pura  uenda  ualiosa  antre  bi- 
uos  e  mortos  para  todo  senpre  birem  que  eu  lourenço  peris 
ferreiro  morador  em  rua  de  gatos  arraualde  da  ujlla  de  gui- 
maraens  com  autoridade  de  mjiiha  molher  catalina  afibnso  fa- 
zemos carta  de  pura  uenda  para  todo  senpre  antre  biuos  e 
mortos  a  uos  aíTonso  anes  de  pretroniara  (?)  porteiro  das  ape- 
laçoens  da  correipom  dantre  doiro  e  mjnho  morador  na  rua 
çapateira  da  dita  uila  e  a  uosa  molher  margarida  gonsaluez 
e  a  toda  uosa  jeraçom  e  uoz  para  todo  senpre  de  humas  leiras 
de  herdade  que  a  mjm  Lourenpo  periz  ficarom  por  morte  de 
Senhorinha  lourenço  a  lauada  minha  tja  moradora  que  foj  em 
rua  qualdeiroa  arraualde  da  dita  ujlla  que  jazem  místicas  com 
herdades  de  ferreiros  que  trazia  gonçallo  quachas  e  margarida 
giaens  sua  molher  que  som  todo  setuado  na  ífregesia  de  santa 
maria  dairam  dos  termos  da  dita  uila  de  monte  em  fonte  roto 
e  por  ronper  por  onde  as  uos  melhor  e  mais  compridamente 
poderdes  achar  e  auer  que  asj  as  ajades  uos  e  toda  uosa  jee- 
raçom  e  uoz  para  todo  senpre  liuremente  como  as  cu  ouue  e 
por  dereito  pertenciam  a  dita  mjuha  tja  por  preço  de  quatro 
centos  reaes  brancos  que  de  uos  recebo  presente  este  tabe- 
liara  e  testemunhas  a  juso  escriptas  que  do  preço  e  reuora 
nada  non  ílcou  por  pagar  e  nos  desenuestimos  das  ditas  leiras 
de  herdade  e  de  todo  o  dereito  que  nelas  temos  e  enuestimos 
nelas  e  de  todo  o  dereito  que  nellas  temos  a  uos  dito  affonso 
periz  e  a  uosa  molher  e  a  toda  uosa  jeeraçom  e  uoz  para  todo 
senpre  que  posades  delas  fazer  como  de  nosa  cousa  propea  e 
y  por  esta  carta  posades   delias  filhar  a  pose  por  uos  e  por 


141 


quem  uos  aprouuer  sem  outro  nenhuum  contradezimento  de 
nenhuma  pesoa  que  uos  contra  ello  queiram  hir  em  parte  nem 
em  todo  o  posto  que  o  queiramos  fazer  que  uos  non  ualha  em 
juizo  nem  fora  delle  e  para  esto  reuogamos  todalas  leis  e  hor- 
denaçoens  do  reino  que  por  nos  podemos  alegar  que  nos  non 
ualham  nem  nos  posamos  chamar  a  erro  nem  a  ingano  e  posto 
que  o  queiramos  fazer  que  nos  non  ualha  so  pena  de  pagar 
aaos  compradores  todas  custas  e  despesas  e  inlereses  que  so- 
bre esto  receberdes  e  cora  outro  tanto  quanto  he  o  preço  e  a 
pena  leuada  ou  non  esto  ualler  desto  o  dito  aíTonso  anes  pe- 
dio  huum  e  mujtos  estormentos  para  sua  garda  feito  e  outor- 
gado foj  DO  logar  acerqua  da  casa  da  morada  do  dito  Lourenço 
periz  no  dito  arraualde  de  rua  de  gatos  ujnte  dias  do  mes  de 
julho  da  era  do  nacimento  de  noso  senhor  Jehu  Christo  de 
mill  e  iiii.**  e  quarenta  e  três  anos  testemunhas  luiz  affoDso 
conjgo  na  hjgreia  colegeada  de  santa  maria  da  dita  uila  e 
martim  gonçaluez  morador  na  fregesia  de  mogejes  do  julgado 
de  uermojm  e  Joham braçeiro  morador  no  dito  arra- 
ualde de  rua  de  gatos  e  outros  eu  luiz  da  maia  (?)  tabeliam 
delrej  na  dita  ujlla  que  este  estormento  escreuj  e  aqui  meu  ?j- 
nall  fiz  que  tall  he  +.  —  pg.  com  a  nota — . 


LXXVIIÍ 
1448 


Luiz  afonso  mestre  escolla  na  sse  de  bragaa  e  bigario 
geeral  por  o  mujto  honrrado  padre  e  senhor  dom  íTernando 
por  merçee  de  deus  e  da  santa  Igreia  de  rroma  arcebispo 
dessa  meesma  e  primas.  A  quallquer  clérigo  ou  rreligiosso  do 
dito   arcebispado  a  quem  esta  carta  for  mostrada.  Saúde  em 

deus.  mandouos  em  uirlude  de  obediência  e  sub  pena 

que  da  minha  parte  peremtoriamente  çitedes  todalas  pesoas 
assj  ecresiasticas  como  ssagrraaes  (?)  que  uos  forem  nomea- 
das ou  mostradas  da  parte  do  prior  e  conuento  do  moesteiro 
de  souto  do  termo  de  gujmaraaens  do  dito  arcebispado  que  do 
dia  que  as  citardes  a  çinquo  dias  primeiros  ssegjntes  non  ITe- 
riado   pareçom  perante  mjm  ou  perante  o  outro  bigario  na 

dita  Igreia  de  bragaa  a  fíazerem comprimento  do  de- 

rejto  ao  dito  prior  e  conuento  do  dito  moesteiro  de  souto  por 


142 


rrasom  de  dízimos  e  promipias  e  rrendas  e  fforos  e  derejtos  e 
lujtosas  e  danefficamenlos  e  contas  e  mandas  e  raorturas  e 
por ecresiasticas  que  disem  (?)  que a  que  en- 
tendo a  demandar  e  de  como  os  citardes  e  do  dia  da  çjtaçom 
mi  ffazede  certo  por  uos  ou  por  scriptura  publica  ou  por  uos 
sjnaada  com  os  nomes  das  testemunhas  que  esteuerem  pre- 
sentes a  dita  citaçom.  E  e^ta  carta  ualha  da  dada  delia  ataa 
huum  ano  comprido  e  mais  non  e  mando  e  deíTendo  ao  dito 
prior  e  conuento  e  sseus  mordomos  e  procuradores  do  dito 
moesteiro  do  ssouto  em  uirtude  de  obediência  e  sub  pena 

do que  non  citem  nem   mandem  pitar  por  esta  carta 

nenhuma  pessoa  maliçiossamente de  custas E 

como  testemunho  desto  Ihis  mandej  dar  esta  carta  por  mjm 
sjnaada  e  sseellada  com  o  sseello  da  corte  da  dita  Eigreia  de 
bragaa.  dada  em  essa  meesma  a  quatro  dias  do  mes  de  majo 
balthasar  (?)  martins  a  fez  Era  do  nascimento  de  iiii.  xl,  b  iii 
annos.  —  Luiz  aíTonso.  — 


LXXIX 


1455 


Sabbam  os  que  esta  confisom  uirem  que caualeiro 

da  casa  delrej  nosso  senhor  e  seu  almoxarife  das  taraçenas  de 
Lixboa  conheceu  e  confesou  que  reçebeo  de  gonçallo  afonso 

contador  do  dito   senhor  em   a dantre  doyro  e  rajnho 

mill  uaras  de  pano  de  uilla  de  conde  para afonso  mo- 
rador em   uilla  de  conde  e   majs  repebeo  o  dito  almoxarife 

trjnta  e  seis  uaras  do  dito  pano  que  mais  der  (?) aa 

medida  desta  terra  e  por  que  asj  he  verdade  lhe  deu  esta  con- 
fisom  feita  em   a  dita  çjdade feuereiro  era  do  senhor 

Jehu  Christo  de  mill  mi.  l  b.  testemunhas  pêro  rrodriguez  e 
lopo  diaz  homeens  da  casa  e  outros  e  eu  afonso  rrodriguez 
escriuam  em  as  ditas  taraçenas  que  esta  conQsom  escreuj  e 
asjnei  de  meu  nome.  —Afonso  rrodriguez. — 


143 

LXXX 

1457 

Luiz  afonso  mestre  escolla  na  sse  de  bragaa  e  bigario  gee- 
rall  do  mujto  honrrado  padre  e  senhor  dom  ffernando  por 
merçee  de  deus  e  da  santa  Igreia  de  rroma  arcebispo  desta 
meesma  e  primas,  a  qualquer  clérigo  ou  rreligiosso  do  dito 
arcebispado  a  quem mandouos  em  uirtude  de  obediên- 
cia e  sub  pena  do que  da  minha assj  ecresjasti- 

cas  como  ssagraaes  (?)  que  uos  florem  nomeadas ba- 

challer  em  degredos  conjgoo  na  dita  ssee  de  bragaa 

que  do  dia  que  íforem  citadas  e  do  dia  do  apareçemento  me 

ffazeres  certo  por  uos cinquo  dias  primeiros  ssegintes 

non  fferiado  pareçam  perante  mjm  ou  perante  o  outro  biga- 
rio  comprimento ao  dito   aluaro  martins  (?)  e 

sseu   moesteiro -^por  rrasom  de  dizimos  e  promiçias  e 

rrendas  e  fforos  e e  derejtos  e  lujtossas e  ou- 
tras coussas  ecresiasticas  que  dizem  que  lhes  a  que  entendo 
a  demandar  e  de  como  os  çjtar^es  e  da  dita  çitapora  me  ffa- 
zeres certo  por  uos  ou  por  scriplura  publica  ou  por  uos  ssjna- 
da  com  os  nomes  das  testemunhas  que  esteuerem  presentes  aa 
dita  çitaçom.  E  esta  carta  ualha  da  dada  delia  ataa  huum  anno 

comprido dada  em  bragaa  vjnte  (?)  biii  dias  de  junho 

balthasar  (?)  martins  escriuam  a  fez  E.*  iiii.  l  bii  annos.  —  Luiz 
aífonso. 

(Continua). 
Tagilde  —  1890, 

Oliveira  Guimarães. 


INSTRCJCÇlO  POPULAR 


Lei   de  2   de   maio   de   1878 


(Continuado  da  pag.  84) 


CAPITULO  II 

Artigo  12."  Ficam  sujeitos  ás  mesmas  penas  e  multas  de 
que  tratam  os  artigos  antecedentes,  e  nos  termos  do  artigo  7.°, 
os  pães,  tutores,  donos  de  fabricas,  officinas  ou  em  prezas  agri- 
colas  e  industriaes,  a  cujo  cargo  estejam  as  creanças  que  de- 
rem mais  de  vinte  faltas  á  escola  em  cada  trimestre,  sem  mo- 
tivo justificado. 

§.1.°  A  frequência  dos  alumnos  é  provada  pelas  decla- 
rações dos  professores,  que  todos  os  mezes  até  ao  dia  3  re- 
mettem  à  camará  municipal  a  relação  das  próprias  faltas,  e  das 
dos  alumnos  no  mez  anterior,  por  intermédio  do  delegado  pa- 
rochial,  que  lhe  accrescentará  as  notas  que  julgar  convenien- 
tes. 

§.•  2."  A  falta  de  frequência  aos  exercícios  escolares  só 
pôde  justificar-se  por  doença  comprovada  por  certidão  de  fa- 
cultativo, ou  declaração  escripta  do  parocho,  dispensa  do  dele- 
gado parochial  nos  termos  do  artigo  l?.**,  |.  3.°,  interrupção 
das  communicações,  ou  outro  motivo  que  se  mostre  igualmente 
justificado  e  attendivel. 

|.  3.°  A  repetição  da  falta  de  frequência  em  mais  d'um 
trimestre  do  anno  escolar  reputa-se  reincidência  para  o  eíTeito 
do  pagamento  da  multa. 

|.  4.*'  Compete  ao  delegado  parochial  tomar  conhecimen- 
*  to  das  faltas,  e  julgar  da  validade  da  sua  justificação,  sem 
obstar  este  conhecimento  e  julgamento  ao  posterior  conheci- 
mento e  julgamento  pela  junta  escolar,  quando  se  dér  o  re- 
curso do  artigo  13.°  * 


445 


Artigo  13.**  As  multas  pecuniárias  são  impostas  pelo  de- 
legado parochial,  veriUcado  o  facto,  e  ouvindo  o  infractor. 

Da  resolução  do  delegado  ha  recurso,  com  effeito  suspen- 
sivo, para  a  junta  escolar. 

Artigo  14."  O  delegado  parochial  que  não  intimar  ou  mul- 
tar os  pães,  tutores  e  pessoas  encarregadas  da  educação  das 
creanpas,  nos  prasos  e  pelo  modo  estabelecido  nos  artigos  an- 
^cedenles,  é  responsável,  no  primeiro  caso,  pelo  pagamento 
das  multas  em  que  deviam  incorrer  os  pães,  tutores,  ou  pes- 
soas que  deixaram  de  ser  por  elle  admoestadas  e  intimadas;  e 
no  segundo  caso,  pelo  pagamento  do  dobro  das  multas  que 
devia  impor  pela  falta  de  cumprimento  da  obrigação  do  en- 
sino. 

|.  único.  A  condemnação  nas  multas  de  que  trata  este 
artigo  é  imposta  pela  junta  escolar,  ouvido  o  infractor.  D'esta 
condemnação  ha  recurso,  com  eífeito  suspensivo,  para  a  ca- 
mará municipal. 

Artigo  15."  As  multas  estabelecidas  n'este  capitulo  são 
cobradas  pelas  commissões  promotoras  de  beneficência  e  en- 
sino. 

|.  1."  Estas  multas  serão  cobradas  pela  mesma  forma 
por  que  o  furem  as  contribuições  do  estado  ;  a  certidão  da  coa- 
demuação  definitiva  tem  força  de  sentença. 

|.  2.°  As  multas  cobradas  em  trabalho,  nos  termos  da  lei 
de  6  de  junho  de  1864,  são  pelas  camarás  municipaes  pagas 
a  dinheiro  ás  commissões  promotoras  para  o  mesmo  fim. 

Artigo  16.°  A  obrigação  do  ensino,  as  disposições  penaes, 
e^os  nomes  das  creanças  em  idade  e  circumstancias  de  escola 
são  annunciadas  em  cada  época  de  matricula  pelos  meios  or- 
dinarios,>e  pelos  parochos  á  hora  da  missa  parochial. 

Artigo  17.°  As  camarás  municipaes,  ouvida  a  junta  esco- 
lar, tomarão  as  providencias  convenientes  para  que  a  escolha 
das  horas  dos  exercicios  escolares  seja  compatível  com  o  em- 
prego dos  alumnos  nos  trabalhos  da  profissão  a  que  se  ap- 
plicarem. 

|.  1.°  Para  este  fim  deverá  ser  publicada  em  cada  con- 
celho uma  tabeliã  do  horário  da  escola  accommodado  às  con- 
dições locaes. 

§.  2.°  Os  exercicios  escolares  diários  de  instrucção  pri- 
maria duram  de  4  até  6  horas,  divididos  em  aula  de  manhã  e 
aula  de  tarde,  excepto  para  as  creanças  até  oito  annos,  que 
Dão  serão  obrigadas  a  mais  de  2  até  3  horas  de  aula  por  dia. 

|.  3.°     Podem  ser  excepcionalmente  dispensadas  da  frc- 


146 


quencia  d'uraa  das  aulas  diurnas,  pelo  delegado  parochial,  as 
creanças  de  mais  de  nove  annos  que  estiverem  empregadas 
em  trabalhos  agrícolas  ou  industriaes. 

|.  4.**  O  ensino  complementar  não  pode  durar  menos  de 
duas  horas  por  dia.  Ao  ensino  complementar  são  applicaveis 
as  disposições  que  se  referem  à  frequência  da  aula,  e  justiQ- 
cação  das  faltas,  excepto  na  parte  que  diz  respeito  á  imposi- 
ção de  penas  e  multas. 

(Continua). 


BOLETIM 


^No  cumprimento  do  nosso  dever,  vamos  proseguir  na  no- 
ticia dos  factos  mais  importantes  da  administração  da  nossa 
Sociedade,  occorridos  no  ultimo  trimestre. 

A  nova  direcção,  na  sua  sessão  de  1  d'abril  ultimo,  distri- 
buiu os  differentes  cargos  sociaes  pela  forma  seguinte : 

Dr.  António  Coelho  da  Motla  Prego,  presidente. 
Abbade  João  Cândido  da  Silva,  vice-presidente. 
Gaspar  Loureiro  d'Almeida  Cardoso  l^aúl,  secretario. 
Pedro  Pereira  da  Silva  Guimarães,  vice-secretario- 
Simão  da  Costa  Guimarães,  thesoureiro. 
Dr.  José  de  Freitas  Gosta,  director  dos  museus. 
Dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães,  director  da  bibliotheca  e 
da  Revista. 


Na  mesma  sessão  o  snr.  dr.  Avelino  Guimarães  apresen- 
tou as  seguintes  cinco  propostas,  que  foram  approvadas  por 
unanimidade: 

1.»  proposta— Aprendizagem  profissional 

Na  categoria  das  instituições  dMnstrucção  popular  comprehende- 
se  toda  e  qualquer  aprendizagem  d'arte  ou  offleio. 

A  arte  typographica  é  hoje,  em  todo  o  paiz,  uma  das  mais  disse- 


148 


minadas;  e  Guimarães,  sobre  ter  herdado  tradições  honrosas  desde  a 
publicação  do  celebre  —  Azemel — ,  tem  modernamente  attiogido  sin- 
gular aperfeiçoamento,  graças  á  aptidão  distinetamente  artística  do 
nosso  consócio  o  snr.  António  Augusto  da  Silva  Caldas. 

Além  d'isto,  a  Sociedade  tem  sempre,  mais  ou  menos,  publica- 
ções impressas  a  fazer.  É  possivel  que  haja  de  desenvolvel-as. 

Por  estas  razões,  parece-me  altamente  conveniente  que  a  Socieda- 
de, não  podendo,  na  carência  de  recursos,  estabelecer  uma  officina  ty- 
pographica,  de  propriedade  sua,  que  satisfaça  aos  dois  fins,  delibere 
propor  ao  snr.  António  Caldas  o  seguinte  contrato,  pelo  qual : 

l.» 

A  Sociedade  cederá  sem  aluguer  ao  snr.  António  Caldas  uma  das 
lojas  do  edifício,  á  sua  escolha,  para  o  estabelecimento  da  sua  officina 
typographica. 

2  o 

A  Sociedade  obriga-se  a  dar-lhe  preferencia  para  a  impressão  de 
todas  as  suas  publicações,  excepto  annuneios;  e  desde  já  contrata  ou 
ajusta  a  impressão  da  Revista  por  preço  não  superior  ao  seu  custo 
actual. 

3.0 

O  snr.  Caldas  obriga-se  áquellas  publicações,  e  a  admittir  na  sua 
officina  aprendizes,  cujo  numero  a  officina  e  conveniências  do  seu  pro- 
prietário comportarem,  recommendados  pela  direcção  da  Sociedade,  a 
qual  preferirá  sempre  algum  alumno  da  escola  indLislrial,e  d'entre  es- 
tes o  que  se  provar  mais  pobre. 

4.0 

O  snr.  Caldas  facultará  exames  d'estudo  a  alumnos  da  escola  in- 
dustrial, ou  escolas  da  Sociedade^  sempre  que  não  haja  inconveniente 
de  serviço. 

i 

A  officina  terá  o  titulo  do  seu  proprietário,  com  um  sub-litulo 
referente  á  Sociedade. 

Proponho  que  para  o  estudo  d'esta  proposta  e  sua  exequibilida- 
de se  consulte  uma  commissão,  composta  dos  dignos  consócios  os  snrs. 
Padre  José  Gomes  d'01iveira  Guimarães,  António  A.  da  Silva  Caldas, 
dr.  José  da  Cunha  Sampaio,  dr.  António  Vieira  d'Ahdrade. 

Avelino  Guimarães. 

2.a  proposta  — Ensino  militar 

Pela  lei  de  12  de  setembro  de  1887  foi  declarado  obrigatório  e  pes- 
soal o  serviço  militar. 

Actualmente  está  organisada  uma  commissão  militar  incumbida 
de  propor  as  bases  d'uma  reforma  do  exercito. 


149 


Pelo  que  se  deprehende  de  noticias  e  artigos,  não  cessará  o  ser- 
viço pessoal. 

O  serviço  militar  e  pessoal  repugna  á  maior  parte  das  populações 
portuguezas,  como  em  Hespanha.  Segundo  se  affirma,  n'Allemanha, 
França,  Suissa,  é  menor  a  repugnância  das  populações.  Entre  nós, 
uma  das  razões  de  repugnância  ó  a  carência  absoluta  de  noções  ou  re- 
gras de  exercício  e  gymnastica  militar:  a  temporada  d'inslrucção,  dis- 
ciplina e  obediência,  é  o  que  mais  apavora  os  mancebos  recrutados. 

Convém  evidentemente  que  estes  motivos  de  repugnância  cessem, 
e  por  isso  já  no  nosso  paiz  se  considera  o  ensino  dos  primeiros  rudi- 
mentos d'exercicio  e  gymnastica  militar  como  um  dos  elementos  de 
educação  popular.  Em  Lisboa  e  Porto  estão  organisados  os  batalhões 
escolares. 

Por  estas  razões  proponho  que  a  direcção  consulte  uma  coramis- 
são  de  consócios  sobre  a  conveniência  de  se  crear  n'esta  Sociedade 
uma  escola  apropriada  para  ensino  dos  alumnos  das  escolas  officiaes, 
ás  quintas-feiras,  pedindo-se  á  camará  o  necessário  armamento  esco- 
lar; e  lembro  para  esta  commissão  os  dignos  sócios,  os  snrs.  dr. 
Ignacio  Teixeira  de  Menezes,  José  Martins  Minotes  e  António  Augusto 
da  Silva  Caldas,  rogando-se-lhes  o  seu  esclarecido  parecer. 

Avelino  Guimarães. 


3.a  proposta  —  Ensino  agrícola 

Segundo  a  lei  de  2  de  maio  de  1878,  o  ensino  deinstrucção  prima- 
ria complementar  comprehende  noções  elementares  de  agricultura.  De- 
certo que  nos  programmas  regulamentares  não  poderá  exigir-se  mais 
do  que  os  primeiros  rudimentos,  e  regras  de  industria  agrícola ;  mas 
como  todo  o  ensino  theorico,  que  se  restringe  á  decoração  de  regras, 
sobrecarrega  a  memoria  sem  resultado  ulterior  profícuo,  e  somente  se 
comprehende  bem,  e  fixa  melhor,  juntando  a  observação  á  regra  ou 
ensino  theorico :  muito  deve  convir  que  a  camará  d'este  concelho, 
quando  adquirir  edifício  para  a  escola  de  insirucção  primaria  comple- 
mentar, o  dote  d'um  trato  de  terreno  que  possa  servir  para  comple- 
mento d'aquelle  ensino. 

Deverá  a  Sociedade,  que  se  considera  justamente  corporação  au- 
xiliar da  camará  municipal  no  ramo  restricto  da  instrucção  popular, 
representar  á  illustre  vereação,  invocando  a  sua  esclarecida  attenção 
para  aquella  necessidade? 

Trata-se  da  adquisição  do  edifício  escolar.  Parece  mesmo  que 
alguma  deliberação  se  tomou  a  este  respeito,  discutindo-se  as  bases  e 
applicaçõos  do  empréstimo  municipal,  recentemente  deliberado.  É 
agora  portanto  a  occasiãomais  apropriada  de  estudar  o  assumpto,  con- 
centrar no  seu  estudo  espíritos  illustrados  e  dedicados  ao  alargamento 
conveniente  das  instituições  de  instrucção  popular. 

Deve  represontar-se  no  sentido  indicado? 

Será  conveniente  representar  acerca  de  quaesquer  outras  condi- 
ções a  que  deva  satisfazer  o  edifício  escolar? 

Quaes  ? 

Proponho,  pois,  que  para  o  estudo  d'este  assumpto  a  direcção  ro- 
gue o  parecer  dos  nossos  esclarecidos  consócios  os  ex."*"'*  snrs.  condo 

7.»   .\NNO.  11 


150 


de  Margaride,  Padre  Abílio  Augusto  de  Passos,  dr.  Alberto  da  Cunba 
Sampaio,  Domingos  Leite  Castro,  Francisco  Ribeiro  Martins  da  Costa, 
visconde  de  Sendello. 

Avelino  Guimarães. 


4.*  proposta  — Ensino  de  canto  e  musica 

Ura  dos  elementos  de  educação  e  ensino  popular,  geralmente  ado- 
ptado, é  o  de  canto  coral  e  rudimentos  de  musica.  É  entre  nós  já  in- 
cluído no  programma  de  estudos  de  instrucção  primaria  complemen- 
tar. 

Convém  á  educação  popular  d'e?te  concelho  que  esta  Sociedade 
fomente  ou  promova  a  innovação  d'este  ramo  d'ensino  ? 

Será  possível  estabelecer- se  n'esta  Sociedade,  como  primeira  ten- 
tativa, uma  aula  semanal  de  princípios  de  musica  e  canto  coral? 

Deverá  a  Sociedade,  como  preliminar  d'essa  tentativa,  adquirir  um 
piano  ou  outro  instrumento  apropriado  a  ensino  geral  ? 

Para  auxiliar  a  direcção  na  deliberação  de  qualquer  iniciativa, 
proponho  se  peca  aos  nossos  dignos  consócios  os  snrs.  dr.  Francisco 
Sarmento,  barão  de  Pombeiro,  João  Pinto  de  Queiroz,  se  dignem  era 
coramissão  auxilial-a  com  o  seu  authorisado  parecer. 

Avelino  Guimarães. 


5.*  proposta— Ensino  infantil 

Nos  velhos  paízes  europeus  denuncia- se,  a  par  d'uma  crise  geral 
de  trabalho  industrial  e  agrícola,  a  effervescencía  dos  espíritos,  o  afo- 
go da  lucta  pela  instrucção  popular,  quer  primaria,  quer  especial. 

Trava-se  entre  as  nações  a  lucta  viva,  a  rivalidade  intensa  no  des- 
envolvimento da  instrucção,  como  base  do  incremento  de  riqueza  na- 
cional. 

Na  França,  depois  de  1870,  chegou  a  aflOirmar-se  que  uma  das  ra- 
zões dos  seus  revezes  na  campanha  com  a  AUemanha  foi  o  da  superio- 
ridade d'esta  nas  instituições  de  instrucção. 

Entre  as  instituições,  que  se  vulgarisam,  incluem-se  as  escolas  in- 
fantis, como  inicio  da  escola  elementar,  admittindo-se  apenas  as  crean- 
ças  de  quatro  a  seis  annos.  Começam  na  escola  infantil  a  adquirir, 
pelo  ensino  e  direcção  maternal  d'uma  professora,  as  primeiras  noções 
das  coisas  existentes,  e  os  primeiros  rudimentos  da  escola  primaria, 
onde  a  sua  admissão,  antes  dos  seis  ou  sete  annos,  é  geralmente  repro- 
vada, como  íneíBcaz  para  o  ensino,  como  prejudicial  ao  desenvolvimen- 
to physíco  e  mental  das  creanças. 

Na  escola  infantil,  pelo  ensino  apropriado,  fornecido  como  brin- 
quedo, o  pequeno  alumno,  guiado  suavemente  pela  professora,  adqui- 
rirá sem  esforço,  sem  oppressões,  sem  fadiga,  a  noção  pelo  menos  dos 
primeiros  elementos  do  abecedarío ;  e  educará  pouco  e  pouco  o  seu  es- 
pírito frágil  á  disciplina  mental  e  moral  da  escola.  Ganha  tompo,  e  na 
escola  primaria  entra  já  desembaraçado.  O  (|uc  as  mães  mais  íllustra- 
das,  o  com  a  consciência  clara  do  seu  dever  maternal,  rcalisam  na  casa 
própria,  infiltrando  docemente  no  espírito  dos  filhos  os  primeiros  en- 


151 


sinamentús,  realisa-o  a  escola  infantil  para  com  os  pequenos  alumnos, 
cujas  mães  não  sabem,  ou  não  podem  dar-llies  essa  primeira  lactação 
da  instrucção  elementar. 

As  instituições  de  instrucção  primaria  em  Guimarães  carecem  ain- 
da muito  de  largos  desenvolvimentos ;  ainda  recentemente  um  digno 
consócio  notou,  discursando  no  dia  9  de  março,  que  na  escola  Fran- 
cisco d'Hollanda  surgiam,  entre  outras,  diíBculdades  no  ensino  pela  ca- 
rência de  instrucção  preparatória  de  numerosos  alumnos. 

Urge  reconstituir  pela  instrucção  as  forças  vitaes  d'esta  povoação 
de  trabalhadores :  um  dos  elementos  de  reconstituição,  de  fortaleci- 
mento, é  a  escola  infantil. 

Bem  sei  que  esta  Sociedade  carece  de  terreno  para  jardim  apro- 
priado, carece  de  recursos  para  estabelecer  a  escola,  desde  já,  com  a 
largueza  conveniente ;  mas  tem  pelo  menos  uma  sala  disponível,  tem 
pelo  menos  os  recursos  para  uma  tentativa,  para  a  escola,  não  diária, 
mas  semanal,  como  primeiro  cimento,  como  pedra  angular  d'um  futu- 
ro edifício.  E  assim  que  esta  Sociedade  tem  feito  a  sua  propaganda 
benéfica,  colhendo  para  tropheus  já  hoje  irrecusáveis  o  levantamento 
da  opinião  vimaranense  nos  assumptos  de  instrucção  popular  e  a  es- 
tima das  grandes  cidades  do  reino. 

Quando  não  se  auferissem  outras  vantagens  do  plano  d'esta  pro- 
posta, pelo  menos  obter-^-hla  a  vantagem  de  abrir  novo  ensejo  á  co- 
operação efflcaz  e  benemérita,  nos  nossos  trabalhos  sociaes,  dos  nossos 
respeitáveis  consócios. 

Por  todas  estas  razões,  proponho  : 

1.» 

Que  se  resolva  tentar  a  creação  d'uma  escola  infantil. 

2.0 

Que  esta  escola  seja  semanal,  ás  quintas-feiras,  ou  em  mais  al- 
gum dia,  conforme  os  recursos,  que  poderem  colligir-se  para  gratifica- 
ção de  professora,  instrumentos  escolares  e  despezas  indispensáveis. 

3.0 

■  Que  para  a  admissão  na  escola  se  prefiram,  com  rigorosa  cxacção, 
as  creanças  mais  pobres,  pelo  menos  até  metade  do  numero  que  fôr 
lixado. 

4.0 

Que  a  cada  uma  das  exc.'"»»  consócias  so  garanta  o  direito  de  re- 
clamar a  admissão  d'um  alumno,  ou  alumna,  do  que  se  constitua  ma- 
drinha ou  protectora  escolar,  com  o  encargo  de  fornecer  no  protegido 
o  uniforme  ou  roupa  escolar,  que  se  determinar  em  disposição  regu- 
lamentar. 

Havendo  superabundância  de  pedidos,  que  exceda  o  numero  fixa- 
do, nas  vagas  que  houver  dar-se-ha  preferencia  pela  ordem  de  inscri- 
pção  na  lista  de  sócios. 

5.0 

Que  para  estudo  mais  reflectido  d'este  plano,  e  antes  de  qualquer 
deliberação  da  direcção,  se  rogue  a  uma  eommissão  de  consócios  nos 


152 


auxilie  com  o  seu  eselareeido  parecer,  acerca  da  sua  conveniência, 
exequibilidade,  alterações  de  bases  fundamentaes;  e  lembro  que  esta 
commissão  seja 'constituída  pelo  snr.  dr.  Francisco  Martins  Sarmento, 
os  dignos  professores  da  escola  industrial,  nossos  consócios,  os  snrs. 
dr.  Joaquim  José  de  Meira,  Adolpho  Salazar,  António  Augusto  da  Sil- 
va Cardoso,  drs.  Augusto  de  Mattos  Chaves,  Avelino  Germano  da  Cos- 
ta Freitas. 

Avelino  Guimarães. 


As  commissões,  nomeadas  nas  propostas  transcriptas  sob 
os  n."*  2  e  5,  deram  os  seus  pareceres,  que  são  do  seguinte 
theor : 

Ill.™o  e  exc.™o  snr. —  A  commissão  nomeada  por  v.  exe.''  para 
dar  o  seu  parecer  acerca  da  necessidade  de  predispor  a  mocidade  d'es- 
ta  cidade  e  concelho,  por  meio  de  instrucção  militar  e  gymnastica, 
para  o  serviço  do  exercito,  cuja  repugnância  cada  vez  mais  se  accen- 
tua,  tendo  em  vista  as  judiciosas  considerações  da  proposta  que  v. 
exc.a  se  dignou  enviar-lhe,  é  de  opinião  que  a*SociEDÂDE  Martins  Sar- 
mento lance  desde  já  as  bases  para  a  ereação  d'uma  escola  de  instruc- 
ção militar,  em  que  a  mocidade  vimaranense  possa,  não  só  instruir-se  no 
manejo  das  armas,  mas  perder  a  repugnância  que  mostra  ter  pelo  ser- 
viço da  fileira. 

Como,  porém,  os  exercícios  gymnasticos  sejam  a  principal  base  e 
o  melhor  preparatório  para  a  carreira  militar,  por  isso  que  desenvol- 
vem prodigiosamente  as  forças  physicas  e  moraes,  sem  o  que  ninguém 
se  pôde  dedicar  com  vantagem  e  prazer  ao  manejo  das  armas  brancas 
e  de  fogo,  a  commissão  entende  que  a  illustrada  direcção,  a  que  v. 
exe.''  tão  dignamente  preside,  deveria  fundar  de  preferencia  um  ins- 
tituto de  gymnastica  elementar  e  superior,  deixando  para  mais  tarde, 
e  á  medida  dos  progressos  dos  alumnos,  a  ereação  d'uma  escola  de  ins- 
trucção militar. 

Ura  outro  motivo  não  menos  importante  pela  economia  que  sem 
duvida  trará  para  a  Sociedade  Martins  Sarmento,  e  que  por  isso  mes- 
mo leva  a  commissão  a  mencional-o,  corroborando  assim  o  seu  pare- 
cer, é  o  seguinte : 

Que  para  equipar  e  exercitar  convenientemente  um  batalhão  de 
cem  creanças,  por  exemplo,  tem  a  Sociedade  de  despender,  ainda  mes- 
mo que  as  armas  sejam  fictícias,  uma  quantia  pelo  menos  dez  vezes 
maior  do  que  a  que  seria  necessária  para  montar  um  gymnasio  cora 
todos  os  apparelhos  indispensáveis  para  o  ensino  d'um  igual  numero  de 
pessoas. 

Nos  batalhões  escolares  cada  praça  tem  de  ser  devidamente  ar- 
mada e  uniformisada,  por  isso  (lue  os  exercícios  e  manobras,  quer  se 
considerem  na  ordem  dispersa,  (juer  na  ordem  unida,  são  sempre  fei- 
tos collectivamente;  emquanto  que  nos  gymnasios  um  simples  trapé- 
zio, umas  argolas,  umas  parallelas,  etc,  servem  para  se  ensinar  indis- 
tinetamente  todos  os  alumnos,  porque,  além  dos  exercícios,  que  se  de- 


453 


nominam  livres  em  razão  de  não  serem  precisos  apparelhos  para  se  exe- 
cutarem, todos  os  outros  são  individuaes. 

Além  da  grande  diíTerença  de  economia,  que  se  acaba  de  notar, 
accresce  a  não  menos  importante  no  custo  dos  nove  prineipaes  appa- 
relhos de  que  se  compõe  um  gymnasio,  e  que  uns  por  os  outros  e  por 
melhores  que  sejam,  não  excederão  o  custo  de  4^300  reis;  emquanto 
que  com  igual  quantia  não  é  possível  equipar-se  cada  um  dos  peque- 
nos soldados. 

Os  apparelhos  mais  necessários,  e  que  custam  relativamente  pou- 
co, são  o  pórtico  de  suspensão  dos  apparelhos,  trampolim,  parallelas, 
escadas  de  vários  feitios,  argolas,  cavallo  de  pau,  barra  fixa,  trapézio 
e  cordas ;  ao  todo  nove  apparelhos  que  servem  para  exercitar  conve- 
nientemente um  grande  numero  de  pessoas. 

É  pois  fundada  n'estas  considerações  que  a  coramissão  tem  a  hon- 
ra de  levar  ao  conhecimento  de  v.  exc.''  o  seu  parecer  sobre  a  propos- 
ta que  se  dignou  enviar- lhe,  e  que  sem  excluir  de  forma  alguma  a 
idéa  de  se  crear,  por  iniciativa  da  benemérita  Sociedade  que  v.  exc* 
tão  dignamente  representa,  uma  escola  de  instrucção  militar  para  crean- 
ças,  dá  a  preferencia  á  creação  de  um  instituto  de  gymnastica. 

Deus  guarde  a  v.  exc.*  — 111.™°  e  exc^*^  snr.  dr.  António  Coelho 
da  Motta  Prego. 

Guimarães,  6  de  abril  de  1890. 

A   COMMISSÃO 

Ignncio  Teixeira  de  Meneias. 
José  Martins  de  Sousa  Minotes. 
António  Augusto  da  Silva  Caldas. 

111.™»  e  exc."!"  snr.  —  Os  membros  da  commissão  nomeada  pela  di- 
recção da  SociKDADE  Martins  Sarmento,  para  dar  o  seu  parecer  sobre 
a  proposta  n.°  5  —  Ensino  infantil — não  podem  deixar  de  a  approvar 
plenamente  :  a  instituição  que  se  pretende  introduzir  na  nossa  terra  é 
d'uma  utilidade  tão  encarecida  pelos  competentes,  que  seria  para  la- 
mentar, se  ella  não  podesse  passar  de  projecto. 

Só  o  §.  4.0  da  proposta  suscitou  uma  observação.  Parece  que  o 
ensino  infantil  só  pôde  ser  profícuo,  quando  continuo;  uma  lição,  ou 
poucas  por  semana,  dará  resultados  muito  escassos— o  que  é  um  mal 
—  e,  como  consef|ueneia,  poderá  lançar  o  descrédito  sobre  a  sua  in- 
eíficacia  entro  o  publico  que  vè  apenas  as  coisas  pela  superfície  —  o 
que  seria  um  mal  ainda  maior. 

Conviria  pois,  a  juizo  da  commissão,  que  a  Sociedade,  embora  do- 
brasse os  sacrifícios,  prevenisse  estes  inconvenientes  com  o  remédio 
que  está  naturalmente  indicado. 

Guimarães,  3  de  maio  de  1890. 

Ill.™'5  e  exc.rao  snr.  presidente  da  Sociedade  Martins  Sarmento. 

António  Augusto  da  Silva  Cardoso. 

Joaquim  José  de  Meira. 

Avelino  Germano  da  Costa  Freitas. 

Francisco  Martins  Sarmento. 

Adolpho  Salazar. 

Augusto  Alfredo  de  Mattos  Chaves. 


154 


Na  sessão  de  15  d'abril  o  snr.  dr,  Avelino  Guimarães,  sem- 
pre solicito  e  desvelado  no  engrandecimento  da  Sociedade,  e 
no  derramamento  da  instrucção,  submetteu  á  approvação  de  seus 
collegas  da  direcção  uma  proposta  para  uma  mensagem  con- 
gratulatoria  ao  ministro  de  instrucpão  publica,  a  qual  foi  una- 
nimemente approvada,  e  é  concebida  nos  seguintes  termos: 

A  creação  do  ministério  especial  de  instrueção  publica  é  um  facto 
de  alta  significação  das  intenções  patrióticas  do  governo  em  concentrar 
especiaes  cuidados  na  discussão  e  aperfeiçoamento  dos  elementos  de  ins- 
trueção' geral,  especialmente  da  instrueção  popular,  como  a  ascensão 
d'um  homem  de  vontade  decidida  e  superior  intelligencia,  como  v.  exc.*, 
á  gerência  da  nova  pasta,  é  penhor  seguro  de  que  a  nova  creação  des- 
de breve  será  justificada  com  iniciativas  fecundas. 

A  Sociedade  Martiins  Sarmento,  promotora  da  instrueção  popu- 
lar no  concelho  de  Guimarães,  satisfeita  com  tão  auspiciosa  reforma, 
dirige  a  v.  exc.''  n'esta  mensagem  de  respeitosa  congratulação  a  viva 
expressão  de  confiança  nos  benéficos  effeitos  para  o  fortalecimento  in- 
tellectual  do. povo  porluguez,  que  d'ella  hão  de  resultar. 


* 

Na  sessão  de  1  de  maio  d'este  anno,  o  snr.  presidente  de- 
clarou que  as  commissões  nomeadas  na  sessão  de  1  d'abril 
pelas  propostas  n."''  1,  3  e  4,  se  haviam  reunido,  e  dos  seus 
trabalhos  resultara  o  que  passamos  a  expor. 

A  commissão  de  estudo  da  proposta  para  organisação  de 
officina  typographica,  ouvindo  as  razões  de  difíiculdade  pessoal 
emiltidas  pelo  snr.  António  Augusto  da  Silva  Caldas,  para  se 
incumbir  da  sua  organisação,  pedira  a  esto  seu  digno  collega 
se  encarregasse  de  estudar  o  meio  de  tornar  o  projecto  mais 
exequivel. 

A  commissão  de  ensino  elementar  agrícola  fora-  informada 
pelo  snr.  conde  de  Margaride  de  que  a  camará  não  projecta 
por  ora  adquirir  casa  própria  para  o  estabelecimento  de  instrue- 
ção primaria  complementar,  caso  em  que,  conforme  a  propos- 
ta, deveria  pedir-se  á  camará  a  adquisição  de  terreno  annexo 
para  o  ensino  agrícola  por  observação  e  experiência,  como 
para  outros  Gns  do  progranima  legal  de  ensino. 

A  commissão  de  ensino  de  principies  de  musica  e  canto  co- 
ral entende  que  é  conveniente  desenvolver  este  ramo  de  ensino 
popular;  que  para  este  ensino  restricto  não  é  indispensável 


155 


no  1.°  e  2.''  anno  a  adquisição  de  piano  ou  qualquer  instru- 
mento; que,  apesar  da  utilidade  do  ensino  de  musica,  receia 
que  os  esforços  da  Sociedade  não  sejam  profícuos,  eraquanto 
não  se  executarem  com  exacção  as  leis  de  instrucção  primaria 
na  integridade  de  seus  prograraraas. 

'  Na  mesma  sessão  o  snr.  dr.  Avelino  Guimarães,  apresen- 
tou uma  proposta  de  representação,  para  pedir  a  correcção  de 
diversos  defeitos  na  construcção  dos  edifícios  destinados  a  offi- 
cinas  de  aprendizagem  pratica,  annexa  á  escola  industrial  Fran- 
cisco d'Hollanda,  e  justiQcou  a  proposta,  que  foi  approvada. 
O  theor  da  representação  é  este : 

Senhor. 

«  A  Sociedade  Martins  Sarmento,  promotora  da  instrucção  popu- 
lar no  concelho  de  Guimarães,  ouvindo  a  accusação  de  defeitos  que  se 
encontram  na  construcção  de  edifícios  para  as  offlcinas  de  aprendiza- 
gem pratica  annexa  á  escola  industrial  Francisco  d'Hollanda,  e  verifi- 
cando a  evidencia  d'alguns  dos  defeitos  aceusados,  vem  perante  V.  M. 
pedir  se  digne  ordenar  que  com  urgência  se  remedeiem,  emquanto  a 
construcção  se  não  conclue,  e  é  mais  fácil  a  correcção  e  emenda. 

«  É  o  edifício  destinado  ao  ensino  popular ;  na  conquista  d'aquel- 
la  instituição  empregou  a  Sociedade  Martins  Sarmento  o  maior  qui- 
nhão da  sua  activida^de  pensante,  da  sua  propaganda  legal,  desde  que 
se  fundou,  pedindo,  requerendo,  esclarecendo,  e  provando  a  importân- 
cia industrial  e  commercial  d'este  centro  productor  portuguez;  são  os 
defeitos  aceusados  ineonvenienlissimos  á  proficuidade  do  ensino ;  eis 
o  conjunto  de  razões  porque  a  supplicante  ousa  vir  respeitosamente 
pedir  a  V.  M.  o  ordenamento  de  reformas  indispensáveis  na  construc- 
ção das  officinas. 

«  Observam-se  entre  outros  muitos,  os  seguintes  defeitos :  falta  de 
luz  convenientemente  distribuida,  especialmente  nos  aposentos  desti- 
nados á  tecelagem;  pouca  elevação  dos  telhados,  de  modo  que  o  es- 
coante  das  aguas  pluviaes  se  fará  mal ;  carência  de  meios  para  con- 
servar, nas  officinas,  o  grau  de  calor  constante  e  indispensável  ao  fio 
de  linho. 

«  Invocando  a  mui  esclarecida  attenção  de  V.  M.  para  a  necessi- 
dade, por  utilidade  do  ensino,  de  se  remediarem  aquelles  principaes 
e  outros  defeitos  da  construcção.  a  supplicante  ousa  ainda  pedir  se  or- 
dene maior  actividade  na  conclusão  das  obras,  pelo  menos  na  parte  re- 
lativa á  collocação  da  machina,  teares  e  utensilios  respectivos,  que 
estão,  por  se  conservarem  demoradamente  em  deposito,  e  em  sitio  pou- 
co resguardado,  em  eminente  risco  de  deterioração  completa,  com  gra- 
ve prejuizo  do  Estado  e  do  ensino  publico. 

«  Pretende  pois  a  supplicante..  e 

Pede  a  V.  M.  se  digno  deferir-lhe. 
E.  U.  M.'^ » 


156 


« 


A  representação  foi  apresentada  ao  governo,  e  é-nos  gra- 
to noticiar  aqui  que  vieram  a  esta  cidade  para  inspeccionar 
aquellas  obras,  em  6  de  maio,  os  snrs.  conselheiro  Ernesto 
Madeira  Pinto,  engenheiro  António  Ârroyo,  inspector  Parada 
Leitão,  e  director  d'obras  publicas  d'este  districto,  Henrique 
Freire.  Averiguada  a  existência  d'alguns  erros  de  construcpão, 
foram  ordenadas  as  correcções  possiveis  no  estado  adiantado 
das  obras. 


Na  sessão  de  2  de  junho  o  snr.  presidente  communicou  que 
o  snr.  António  de  Moura  Soares  Velloso,  digno  e  activo  geren- 
te da  Companhia  do  Caminho  de  ferro  de  Guimarães,  offere- 
ceu  á  Sociedade  uma  planta  do  projecto  da  avenida  de  liga- 
ção d'esta  cidade  á  estação  de  Villa  Flor,  e  que  s.  èxc*  re- 
metteu  ao  governo,  acompanhando  essa  planta  com  a  cópia  da 
memoria,  que  acompanhou  a  enviada  ao  governo. 

Acceite  o  snr.  Velloso  os  agradecimentos  reiterados  d'esta 
Sociedade. 

Na  referida  sessão,  o  snr.  dr.  Avelino  Guimarães,  submet- 
teu  á  approvação  da  direcção  as  seguintes  duas  propostas, 
que  mereceram  ser  unanimemente  approvadas: 

Está  regularmente  adiantada  n'esta  cidade  a  arte  typograpbiea ; 
nunca  porém  houve  aqni  a  lithographiea ;  seria  benéfico  introduzir 
esta  nova  industria  em  Guimarães  :  proponho  que  se  rogue  aos  nossos 
dignos  consócios,  os  snrs.  dr.  Francisco  Martins  Sarmento,  dr.  Augus- 
to de  Mattos  Chaves  e  Domingos  Leite  Castro,  se  dignem  em  commis- 
são  estudar  este  assumpto,  e  propor  á  direcção  o  que  julgarem  conve- 
niente e  exequivel  na  parte  relativa  ao  ensino. 

Avelino  Guimarães. 

A  Sociedade  Martíns  Sarmento  possue  actualmente  uma  abun- 
dante collecção  de  publicações  correntes,  assim  de  jornaes,  como  de 
revistas ;  a  maior  parte  não  são  lidos,  porque  de  noite  a  casa  está  fe- 
chada, e  era  de  noite  que  mais  facilmente  os  consócios  procurariam  a 
leitura.  Esta  abundância  de  publicações,  que  a  Sociedade  recebe  em 
troco  da  sua  Rtívista,  deve  produzir  beneficio  além  do  enrique- 
cimento da  bibliotheca,  e  assim  compensar  melhor  os  trabalhas  cuida- 
dosos e  absolutamente  gratuitos  dos  collaboradores  da  Revista;  e 
facilitada  aqnella  leitura  em  sala  reservada,  os  consócios  d'esta  ag- 
gremiação   não  só  continuarão  recebendo  a   Revista   graluitameu- 


457 


te,  mas  poderão  escolher  distracção  instructiva  e  variada  n'aquellas 
collecções,  igualmente  gratuita ;  d'este  modo  alargar-se-hão  os  meios 
de  instrucção,  de  que  esta  Sociedade  pôde  dispor,  e  os  dignos  consócios 
serão  mais  que  sobejamente  compensados  do  ónus  das  suas  mensali- 
dades. 

Convém  igualmente,  visto  que  os  nossos  consócios  não  compare- 
cem ás  nossas  sessões  de  direcção,  usando  do  direito  que  lhes  garan- 
tem os  nossos  democráticos  estatutos  (o  que  traduz  para  a  direcção  li- 
songeira  e  absoluta  confiança),  solicitar  a  cooperação  de  commissões 
para  os  diversos  assumptos  a  tratar,  afim  de  que,  por  um  modo  mais 
eommodo,  todos,  revesando-se,  collaborem  sem  sacrifício  na  consecu- 
ção dos  fins  soeiaes ;  proponho  que  se  peça  a  uma  commissão  de  con- 
sócios que  se  digne  emittir  o  seu  esclarecido  parecer  sobre  a  conve- 
niência ou  inconveniência  do  presente  projecto,  e  lembro  para  esta  com- 
missão os  dignos  consócios  os  snrs.  dr.  António  Manoel  Trigo,  dr. 
Caetano  Mendes  Ribeiro,  António  de  Freitas  Ribeiro,  Domingos  José 
de  Sousa  Júnior,  Bento  José  Leite,  Domingos  José  Ribeiro  Guimarães, 
Francisco  Jacome,  João  Ribeiro  Jorge. 

Avelino  Guimarães. 


Em  4  de  junho,  reuniu-se  a  assembléa  geral  sob  a  presi- 
dência do  snr.  António  da  Costa  Guimarães. 

O  snr.  dr.  Motta  Prego,  presidente  da  direcção,  deu  parte 
de  se  haver  eíTectuado  no  dia  25  d'abril  ultimo  e  na  nota  do 
tabellião  João  Joaquim  d'01iveira  Bastos,  a  escriptura,  pela 
qual  a  direcção  contratou  com  a  Mesa  da  Venerável  Ordem 
Terceira  de  S.  Domingos  a  mudanpa  da  antiga  porta  da  torre 
e  a  suppressão  do  balcão,  que  dava  accesso  para  a  mesma  tor- 
re, afim  de  realisar  a  obra  da  vedação  do  claustro  e  construc- 
ção  n'elle  da  galeria  para  os  museus  da  Sociedade,  não  tendo 
a  urgência,  que  havia  na  effectuação  do  contrato,  permiltido 
que  previamente  fosse  convocada  a  assembléa  geral  para  ap- 
provar  as  suas  bases ;  e  pediu  ao  snr.  presidente  que  mandas- 
se lér  o  tratado,  que  apresentava,  e  o  submettesse  á  approva- 
ção  e  ratificação  da  assembléa. 

Foi  approvado  e  ratificado  o  alludido  contrato. 

O  mesmo  snr.  dr.  Motta  Prego  declarou  que  a  direcção  re- 
solvera a  creação  das  escolas  dé  ensino  infantil,  de  ensino  mili- 
tar, ensino  typographico,  principios  de  musica,  canto  coral  e 
ensino  agrícola ;  e  pensava  em  fundar  a  escola  de  ensino  li- 
Ihographico,  havendo  quanto  a  esses  já  os  pareceres  das  cora- 
misáões  dos  consócios  e  quanto  a  outros  esperava  esses  pare- 
ceres. 

Frisou  que  não  era  intento  fundar  simultaneamente  essas 
escolas,  mas  sim  gradual  e  successivamente,  sem  nunca  exce- 
der os  recursos  da  Sociedade. 

7."  Anno.  12 


158 


A  assembléa  geral  auctorisou  a  direcção  á  fundação  das 
referidas  escolas,  consoante  a  sua  conveniência  e  opportuni- 
dade,  regulamentando-as  convenientemente  e  pedindo  a  pro- 
tecção ou  auxilio  da  camará  ou  do  Estado  e  sempre,  sem  que 
se  excedam  os  recursos  orçamentaes  da  Sociedade. 


Na  sessão  de  16  de  junho,  foi  apresentada  pelo  snr.  dr. 
Avelino  Guimarães,  a  proposta  seguinte,  que  foi  approvada : 

Era  vista  do  parecer  favorável  da  illustre  commissão  de  consócios, 
que  se  dignou  esclarecer  esta  direcção,  e  vista  a  auctorisação  d'as- 
serableia  geral,  proponlio :  que  se  delibere  a  ereação  d'uma  escola  pra- 
tica de  elementos  de  gymnastica  e  exercício  militar,  sob  as  seguintes 
bases : 

A  escola  é  principalmente  destinada  ao  ensino  dos  primeiros  rudi- 
mentos de  gymnastica  e  exercieio  militar  infantil. 

2. a 

Serão  admittidos  com  preferencia  os  alumnos  da  escola  primaria, 
ou  escolas  primarias  municipaes  d'esta  cidade  e  concelho,  a  quem  os 
pães  ou  tutores,  ou  qualquer  corporação  fornecer  o  uniforme  escolar. 

§.  1.0  Qualquer  sócio  pôde  exigir  a  admissão  d'um  d'esses  alum- 
nos, ou  d'outros  se  o  numero  d'aquelles  não  estiver  preenchido,  cons- 
tituindo-se  seu  padrinho  ou  protector,  e  fornecendo-lhe  o  respectivo 
uniforme. 

§.  2."    O  numero  d'aIamnos  não  poderá  exceder  a  cincoenta. 

§.  3.°  O  uniforme  consistirá  em  bonet,  blusa  e  calça  de  cotim 
escuro,  conforme  o  padrão  que  for  determinado,  e  sapatos  d'entrada 
alta. 

Os  exercícios  terão  logar  nos  dois  dias  feriados  de  cada  semana, 
ás  horas  e  com  duração  que  forem  opportunamente  fixadas. 

4  a 

Será  iastructor  um  militar  eíTectivo  ou  reformado,  recebendo  a 
gratificação  que  fôr  combinada. 

E  proponho  também  que  se  peça  á  camará  municipal  um  pequeno 
subsidio  para  a  compra  de  armamento  infantil,  e  apparelhos  de  gym- 
nastica ;  e  se  incumba  o  digno  presidente  d'esta  direcção  de  ajustar 
instructor,  e  organisar  e  regulamentar  a  escola  em  harmonia  com  as 
bases  propostas. 

Avelino  Guimarães. 

É-nos  sobremaneira  agradável  ter  de  consignar  aqui  que 
as  obras  de  reconstrucção  do  claustro  do  extincto  convento  de 


159 


S.  Domingos,  onde  hão  de  ser  collocados  os  museus  de  archeo- 
logia  e  numismática,  estão,  muito  adiantadas. 

■  As  despezas  d'esta  tão  elegante  construcção  são  patriotica- 
mente  adiantadas  pelo  snr.  dr.  Francisco  Martins  Sarmento,  e 
as  obras  são  dirigidas  gratuitamente  pelo  nosso  estimável  con- 
sócio e  mui  illustrado  e  activo  engenheiro,  o  snr.  dr.  ígnacio 
Teixeira  de  Menezes. 

O  snr.  dr.  Francisco  Sarmento,  que  foi  quem  planeou  esta 
obra,  assumiu  o  encargo  de  superior  empreiteiro  da  mesma 
construcção ;  e  com  tanta  e  tão  subida  generosidade,  que  of- 
fereceu  k  Sociedade  a  1.-''  prestação,  para  ser  applicada  ás  es- 
tantes da  galeria  archeologica. 

Se  a  Sociedade  podesse  rodear-se  de  dez  empreiteiros  tão 
distinctos  e  tão  generosos,  e  de  sócios  engenheiros  tão  pres- 
tantes, taes  como  os  snrs.  drs.  Sarmento  e  ígnacio  de  Mene- 
zes, que  voos  não  levantaria ! 


Durante  o  trimestre  que  hoje  termina,  foram  recebidas  di- 
versas offertas  de  livros  para  a  bibliolheca  da  Sociedade. 

Offerentes,  os  snrs. : 

Augusto  Xavier  da  Silva  Pereira,  4  volume?; 

Carlos  AíTonso,  1  volume; 

Magalhães  &  Moniz,  41  volumes  ; 

Sociedade  João  de  Deus,  1  volume ; 

Dr.  Avelino  Germano  da  Gosta  Freitas,  collecção  do  Repórter ; 

José  Marques  Loureiro,  2  volumes; 

Visconde  de  Villarinho  de  S.  Romão,  3  volumes ; 

Conselheiro  Franco  Castello  Branco,  1  volume ; 

Associação  Commercial  do  Porto,  1  volume ; 

Alhenea  Commercial  do  Porto,  1  volume; 

Dr.  António  Emilio  d' Almeida  Azevedo,  í  volume; 

D.  Luiz  de  Castro,  1  volume; 

Theophilo  Braga,  1  volume; 

Ministério  dasObras  Publicas,  Commereio  e  Industria ,  1  volume. 

A  todos   os  dignos  offerentes  renova  a  Sociedade  os  seus 
singelos  agradecimentos. 

Guimarães,  30  de  junho  de  1890. 

o  secretario, 

Gaspar  L.  d'A.  G.  Paul. 


BALANCETES 


Movimento  da  caixa  em  abril  de  1890 


ENTRADA 


Saldo  anterior 441^138 

Receita  d'este  mez 1^500       442^638 


SABIDA 

Despeza  d'este  mez 92i2766 

Saldo 349íg872       442^638 


Em  maio  de  1890 


ENTRADA 


Saldo   anterior 349^872 

Receita  d'este  mez 100^000       449^872 


SAHIDA 


Despeza  d'este  mez 232^440 

Saldo 217M32       449^872 


Em  junho  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  anterior 217:^432 

Receita  d'este  mez iOOi^SOO       318^232 


SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 45i^910 

Saldo 272í3322       318|;232 


o  Ihesoureiro, 

Simão  da  Costa  Guimarães. 


Incluisti-ia   é    In venciouess,  revista  semanal  illiistrada  de 
Barcelona.  Director,  D.  Geroninio  Boiibar,  ingeniero  industrial. 

Portugal,  aiino 25  pesetas. 

Boletíii   a<i    Iti  Iiie!ititu<^úoii   libi^e   do  ICniseuan- 

seti,  imblicaçcão  (fuiiizenal  de  Madrid.  Anno 10  pesetas. 

O   Civiliajctíloi-,   revista  de  Ponta  Delgada.   Redactor,  Gabriel 

d" Almeida.  Cada  nmiiero 120 

J3oletim  «la,  Soeietlacle  <lo  Greog^i-apliia.  Coni- 
iii«3i-<íiíil  tio  l^oi-to.  Assignatura  para  a  3.*  série: 

Sócios  efTectivos  da  Sociedade 500 

Todos  os  outros  assignantes. IsiOOO 

Numero  avulso 200 

Asslgna-se  na  Livraria  Portuense  de  Lopes  &  G.».  sueeessores  de 
Clavel  &  C.a— Porto. 
Iievi»ta  de  Efliioação  e   £}iii«ino,  publicação  mensal 

de  Lisboa,  Director,  Ferreira  Deusdado.  Preço  :  Anno 2^000 

Semestre 1^100 

Avulso 200 

A.  Revissitti  closs  Ctimpos,  revista  quinzenal  lisbonense, 
agrícola  e  agronómica.  Directores,  J.  Veríssimo  d'Almeida,  A.  Xa- 
vier Pereira  Coutinho  e  António  de  Sarmento.  Anno 2|;000 

Numero  avulso 100 

■Revista  dosíi  Ti-ilbimaes,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários,  Augusto  Maria  de  Castro  e  António  Fer- 
reira Augusto.  Anno,  franco  de  porte 311000 

Semestre,  franco  de  porte liáSOO 

]Vovo  IVlensag-eií-o  do  Covação  de  Jesus,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do   Coração  de  Jesus  e  da  Communhão  Reparadora.  —  Portugal, 

aano yOOO 

Os   Ai'g;onaiitas,   subsídios  para  a  antiga  historia  do  Occi- 

denfe,  por  F.  Martins  Sarmento.  1  grosso  volume 11500 

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Em  todas  as  livrarias. 
A    Pi-opx-iedade  e   Cultura  do  M:inlio  (estudo  his- 
tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sampaio.  Preço.. .        350 
Em  todas  as  livrarias. 
■Revista  das  Scieneias  l^Iilitaves,  publicação  men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheria. 

Portugal,  anno 2|i400 

DElevista  das  Seieneias  Naturaes  e  Sociaes ; 
órgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publica-se  quatro 

vezes  por  anno,  em  faseiculos  de  48  pag.,  8.»  —  Anno 1í^200 

Numero  avulso 300 

eJornal  de  Koi-ticultura  Pratica.  Proprietário,  José' 

Marques  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 2^250 

Numero  avulso 300 

Contendo  estampa  colorida 400 

O  Keeroio,  revista  semanal,  litteraria  e  charadistiea,  de  Lisboa. 

Lisboa,  cada  numero 20 

Províncias,  semestre 580 

Trimestre.. 300 

O   Charivari,  revista  humorística  do  Porto. 

Série  de  12  números 240 

Províncias 270 


Boletim   <Ja    Lijya   clos^  Lavi'a,<lofes  cio  I>oiii-o. 

Redacção,  rua  do  Calvário,  70  —  Parto.  Numero  avulso. . . .  40 

Iiiísíti-tuiçõeís  Cln'i!-»tâs,  revista  quinzenal  de  Coimbra,  re- 
ligiosa, scientifiea  e  litteraria.  Orgào  da  Academia  de  S.  Thoniaz 
d'Aquino.  Seis  mezes Ii20p 

Boletín-R-e vista  de  la  Jiiventiid  Católi<?a,  re- 
vista mensal  de  Valência.  Cada  numert) 1  leal. 

.\vulso.    2  reaJes. 

A  Arte  I*h.otog-i-aplii<?a,  revista  mensal  dos  progiessos 
da  photographia  e  artes  correlativas:  propriedade  da  l^hotciiíiaphiM 

Moderna.  Porto,  anno /. 2Í4(iO 

Numero  avulso iiOO 

JReviíSita  cl'Ol)i*as  I?al>litfíií>*  c  IVJiiia^,  publicai^vm 
mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portusçuezes. 

Lisboa,  anno 2^401) 

Províncias  e  estrangeiro  acresce  o  custo  das  estampilhas. 

O  Ag-ricaltoi-  ^ortiigriieas,  jornal  de  agricultura,  veteri- 
nária, sciencias  e  artes  correlativas.  Anno,  franco  deporte.  3^000 
Assigna-se  na  livjaria  Chardron  —  Pukto. 

A  Inipi-eiisa,  revista  scientifica,  litteraria  e  artística  de  Lis- 
boa. Publicação  quinzenal.  Director.  AfTonso  Vargas.  Lisboa,  cada 
numero  30  reis,  pagos  á  entrega.  Provindas  e  ilhas,  trimestre  ou  tí 
números,  200  reis.  Numero  avulso. ; iu 

Coimbra  M!e<iica,  revista  quinzenal  de  medicina  e  cirurgia. 
Director,  dr.  Augusto  Rocha.  Portugal  e  Hespanha,  anno.       2?s\()0 

O  Pfog^resso  Catholico,  publicação  quinzenal  illustrada, 

de  Guimarães.  Continente,  anno 600 

Numero  avulso H'i) 

O  Instituto,  revista  litteraria  e  scientifica,  de  Coimbra. 

Anno 1  ^500 

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Numero  avulso. 1 60 

Seleota  fi-aneeza,   por  Moreira  de  Sá,  professor  da   Escola 

Normal  do  Porto.  Preço,  eiieaiíernada. lá"2-i(> 

Pelo  correio 1  á300 

Grfammatica  fi-aiitíoasa,  por  J.  E.  von  Hítfe  e  A.  Epipha- 
nio  da  Silva  Dias.  6.»  edição,  melhorada.  Preço,  brochada..  8(>0 
Pelo  correio 830 

Ediícação  infantil  —  Leitm-as  elementares. 
Introducção  ao  Novo  livro  de  leitura  por  João  Diniz.  1  volume  com 
38  gravuras. 

Brochado 200 

Cartonado. 260 

Magalhães  &  Moniz,  editores  —  Porto,  e  em  todas  as  livradas. 

Historia  do  cerco  do  l?orto,  por  S.  J.  da  Luz  Soriano. 
2.*  edição,  illustrada  com  magnificas  gravuras  e  chroniolythogra- 
phias,  revista  e  melhorada  pelo  auctor.  Editor,  Augusto  Leite  da 
Silva  Guimarães  —  Porto.  Cada  fascículo. 200 

Boletim  de  Pliarnaacia  do  Porto.  Director,  J.  P.  d'AI- 

meida  Brandão.  Anno li^OOO 

Numero  avulso , 200 

A  Ag-rioultnra  Portugueza,  revista  quinzenal  de  Lis- 
boa. Directores,  F.  Simões  Margioehí  e  Paulo  de  Moraes. 

Anno 2^000 

Numero  avulso 100 


REGISTA 


DE 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Promotora  da  iiistriiccão  popular 
no  concelho  de  Guimarães 


VOLUME  VII 


N.'    i  —  Ouliibi-o  —  18í)0 


t' ■ 


T\'I'OGRAPHIA    DE    A.    J.    U\    SlLxjL   TEIXEIRA 

líu.i  da  Gaiiceila  Velha,  70 


Suniinarío  (Keste  numero 

I.  Lusitanos,  Lisiures  e  Coitas;  por  F.  Martins  Sarmento. 

II.  Gliimira  industrial:  Galv;uio[)laslia ;  por  A.  de  Mattos  Chaves. 

in.  Documentos  inéditos  dos  séculos  xn-xv  :  por  Ofivcira  Guiinarães. 

IV.  A|ioatamentos   foikloricos :  p^ir  Abitio  de  Magalhães  Brandão, 

V.  ínstrucção  popular:  legisl.ieãn  portugueza. 

VI.  Boletim';  por  Gaspar  L.  d' A.  C.  Paút. 

VII.  Lista  de  sócios. 

VIII.  Balancete  ;  por  Simão  da  Costa  Guimarães. 

IX.  índice  do  7.°  volume. 


A  Revista  de  Giiiniarães  pitblica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  julho  e  outubro,  etn  faseiculos 
de  48  paginas. 

Cada  volume,  composto  de  quatro  t;isciciilos,. 
custa  por  assignatura  800  reis;  cada  numero  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do.  correio  sào  á  custa  da 
empresa.  As  assignaturas  sào  pagas  adiantadas. 


A  Revista  de  Guimarães  é  distribuída  gratui- 
tamente pelos  sócios  da  Sociedade  Martlns  Sar- 
mento.   

Os  artigos  publicados  n'esta  Revista  sào,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  doS' 
seus  a  actores. 

Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcção  da  Sociedade  Martins  Sarmento^  Giii- 
inaràes. 

ANNUNCIOS  LITTERARIOS 

A.  Crise  Aiji-ieolti  I?oi-tiig:ueza,  por  Avelino  Guima- 
rães, l  vol ~. 700 

Vende-se  no  Porto  na  livraria  Gutenberg;  em  Guimarães  na  loja 
de  Francisco  Joaquim  de  Freitas. 

Os   M-íiis»!*!,  por  Eca  de  Queiroz.  2  urassos  vokvnes SáOOO 

Pelo  correio ° ! 2^1^20 

Liviaria  de  Lugan  &  Gi-nelioux,  editores—  Porto. 

Aí*    Colónias  Portiiíi-ueaííis.  publica(%ão  lishon -nre   illus- 

trada.  Anno ' '. 2íã0iK> 

Semestre \í^W> 

Avulso 2<iO 

O  Zioopliilo,  puhlicai^ão  mensal  illustrada  de  Lisboa. 

Lisboa,  anno HO  ' 

Províncias 630 

Numero  avulso 100 

A.  13osiiiieti'ia,  revista  mensal  portuense  de  medicina  dosime- 
irica.  Director-proprietario,  José  Bernardo  Birra.  Anno liSSOO 


LUSITANOS,  LIGURES  E  CELTAS 


(Continuado  da  pag.  119) 


II 


O  segundo  trecho  da  descompostura  do  snr.  Coelho  toma 
outras  15  paginas  e  occupa-se  quasi  exclusivamente  do  ger- 
manismo dos  Celtas  no  terreno  da  glottica. 

Eis  o  caso.  N'uma  hora  aberta  tive  a  má  lembrança  de 
escrever  «por  incidente»,  que  decerto  o  meu  mau  sestro  me 
inclinava  para  esta  opinião,  e  apontava  rapidamente  algumas 
razões  que  me  haviam  induzido  áquella  tentação. 

No  terreno  da  glottica,  limilava-me  a  insinuar  que  algu- 
mas palavras  que  nos  deixaram  os  Celtas,  como  gccsum,  tri- 
marídsia,  drynemeton,  os  nomes  de  Leonorio  e  Lutario  cheira- 
vam (íiabolicamente  a  germânico  e  que,  segundo  Holtzmann, 
o  mesmo  succedia  aos  nomes  pessoaes  dos  gaiatas  asiáticos. 

0  snr.  Coelho  cahe  a  fundo  sobre  este  «  absurdo  »,  e  ga- 
ba-se  de  demonstrar  que  a  lingua  dos  taes  gaiatas  «não  era 
de  modo  algum  germânica».  Como  o  conspicao  professor  de 
glottica  se  encontra  no  seu  elemento,  é  de  crer  que  se  ex- 
ceda a  si  mesmo. 

Admiremos  pois. 

1  °  GcBsum.  « A  palavra  gccsum,  gesum,  diz  elle,  podia 
ser  tão  commum  ao  céltico  e  ao  germânico,  como  a  raiz 
drub,  etc. »  Confessemos  que  as  entradas  não  são  das  mais  bri- 

7.»  Anno.  1* 


162 


Ihantes  para  quem  prometlia  demonstrar  que  os  nomes  em 
discussão  não  eram  «de  modo  algum  germânicos».  Aqui  te- 
mos já  um,  que,  conforme  a  declaração  do  próprio  snr.  Coe- 
lho, pôde  ser  germânico,  e  ião  germânico  é,  que  entra  nos 
nomes  germânicos  Gaesorix,  Ariogaisos,  etc.  Como  esta  con- 
fissão lisongeia  o  nosso  «absurdo»,  passemos  adiante  sem 
mais  commentarios. 

2,"  Trimarlásia.  «Porque  escreve  o  snr.  Sarmento  tri- 
markisia  e  trimarrisiaí  y)  pergunta  finoriamente  o  snr.  Coelho. 
E  alarga-se  n'uma  das  suas  habituaes  estopadas  de  eruditice 
inútil,  para  demonstrar  que  a  lição  verdadeira  é  trimarlásia, 
como  se  isso  me  incommodasse  muito.  Feita  a  demonstração, 
continua  triumphantemente:  «As  palavras  tri,  três,  e  marka, 
cavallo,  reproduzem-se  nas  línguas  germânicas  n'outras  for- 
mas, segundo  as  leis  phoneticas  respectivas:  a  primeira  em 
gothico  threis  (thema  thri)  tinha  em  todos  os  dialectos  ger- 
mânicos antes  do  quinto  século  da  nossa  éra  uma  spirante  inicial 
representada  por  th,  que  os  gregos  transcreveram  por  delta 
ou  theta  e  não  por  tau ;  assim  o  nome  germânico  T/iiudareiks 
acha-se  transcripto  áíu^)iptE  em  Strabão  (7,  I,  4.  pag.  292  c). 
Ao  cellino  marka  correspondem  ant.  alto  ali.  marah,  com  h 
regularmente  pelo  k  primitivo,  norsico  mer,  mcri,  eqnus,  an- 
glosax,  masre,  mere^  equus.  Assim,  pois,  marka,  trimarkisia, 
são  conformes  ao  consonantismo  do  que  chamamos  céltico  e 
não  do  germânico;  cf.  ant.  irlandez  marc.  i.  ech,  marcach, 
equestris  era  Corraac  (W.  Stukes,  Three  Irish  Glossaries,  pag. 
28;  Zeuss-Ebel  (pag.  38)  etc;  /n  =  irl.  tri,  kymr.  tri,  etc.  De- 
mais era  germânico  não  lia  formações  em  isia». 

Esta  sapientissima  perlenga  só  tem  parelha  na  deQnição 
do  caranguejo,  festejada  na  anecdota.  Mestre :  Que  é  o  caran- 
guejo? Discípulo:  Caranguejo  é  um  peixe  vermelho  que  anda 
para  traz.  Mestre  :  Muito  bem  ;  cora  a  differença  de  que  o  caran- 
guejo nem  é  peixe,  nem  vermelho,  nem  anda  para  traz. 

Abre-se  a  ultima  edição  da  Deutsche  Grammatik  de  Griram 
e  a  pag.  934  do  2.°  volume  lê-se:  a[drei]  [Tac.  Triboci;  tri- 
markisia bei  Pausanias]  ».  Assim,  para  Grimm,  o  inventor  da 
lautverschiebung,  o  caranguejo  do  snr.  Coelho  nem  é  peixe, 
nem  vermelho,  nem  anda  para  traz;  não  ha  duvida  nem  no 
tri,  nem  no  mark,  nem  no  isia-  e,  como  se  vé,  para  o  grande 
sábio  a  palavra  é  germânica.  Como  se  viu  também,  o  tri 
apparece  ainda  no  povo  germânico  Tri-boci.  Quanto  a  mark, 
Holtzmann  já  tinha  prevenido  o  snr.  Coelho  de  que  não  era 
mau  folhear  os  antigos  documentos.  Encontra-se,  por  exera- 


463 


pio,  duas  vezes  na  Lex  Baiuvarum  ^,  e  outras  duas  na  Lex 
Alamanorum,  ás  quaes  Dagoberto  (século  vii  da  nossa  éra) 
deu  a  ullima  demão.  Em  germânico  não  ha  formações  em 
isia;  a  Amisia,  a  Calisia  de  Ptolomeu,  a  Frisia,  até  a  Frisia, 
seriam  invenções  dos  celtophobos. 

Diga-se  por  superabundante  que  a  complicada  estratégia 
da  trimarkisia  apenas  se  encontra  n'um  outro  povo,  os  Bas- 
tarnas,  que  são  germânicos,  observação  já  feita,  entre  outros, 
por  Kunssberg  ^ 

3."  Drynemeton.  «Este  nome  é  indubitavelmente  com- 
posto de  dru  e  nemeton,  escreve  o  illustre  professor;  o  se- 
gundo elemento  é  bem  conhecido  do  antigo  céltico  e  neo-cel- 
tico,  e  signiQcou  primeiro  logar  consagrado,  depois  templum 
sacellum». 

Falta  accrescentar  que,  pelo  nome  e  pela  coisa,  nem.eton  e 
nimidas  nenhuma  diíTerença  fazem,  e  que  no  Indiculus  Su- 
per stitionum,  que  fecha  uma  das  capitulares  de  Carlos  Magno, 
e  que  vamos  procurar  a  fonte  limpa,  à  Deutsche  Mythologie  ^, 
de  Grimra,  se  lé  com  todas  as, letras:  «vi.  de  sacris  silvarum, 
quse  nimidas  vocant». 

A  palavra  pôde,  pois,  ser  céltica  e  germânica.  Vejamos  se 
o  dru  faz  pezar  a  balança  para  algum  dos  lados.  «  Com  rela- 
ção ao  primeiro  elemento,  dru,  é  que  ha  duvidas»,  diz  o  snr. 
Coelho;  mas  não  acha  « diíTiculdade  em  admittir  que  no  an- 
tigo céltico,  que  devemos  suppur  dividido  em  diversos  typos 
dialectaes,  houvesse  um  thema  dru,  designando  ou  a  arvore 
em  geral  ou  uma  espécie  determinada  d'arvore,  o  pinheiro,  o 
abeto,  talvez  mesmo  o  carvalho».  A  questão,  porém,  não  é 
se  o  snr.  Coelho  acha  ou  não  acha  difficuldade  em  admittir  um 
djTu  céltico;  é  se  elle  existe.  Como  não  existe,  resignemo-nos 
com  esta  desgraça  e  procuremos  por  outra  parte.  O  triu,  que 
o  snr.  Coelho  encontrou  em  Fick,  não  serve  para  nada?  Este 
triu,  que,  segundo  Grimm  {Deutsche  -grammatik,  vol.  2.°,  pag. 
516),  devia  ter  soado  driu,  por  exemplo,  no  gothico  dos  mais 
remotos  tempos,  que  é  intimo  parente  do  %j;  grego  na  opi- 


^  Uma  d'estas  paíssagens  ó  citada  por  Dicfenbach,  Céltica,  i,  67, 
n.o  100,  a,  que  o  snr.  Coelho  dá  a  entender  que  sabe  de  cór :  « Siquis 
aliquem  de  equo  suo  deposuerit,  quem  marc  Galli  vocant»  Leg.  Bajov. 
(Ad.)  ist  in  march  fallí  zu  corrigiren». 

2  Wanderung  in  das  gennanische  alterthum,  pag.  88. 

3  Quarta  edição,  vol.  iii,  pag.  403. 


164 


nião  d'este  sábio  e  d'outros  competentes  (Curtius,  Schleicher, 
Scade,  etc,  para  oão  fallar  no  «mau  glotlologo  »,  Diefenbacti) 
ha  de  ser  posto  fora  da  contenda  para  evitar  desgostos  aos 
celtistas?  Será  bom  advertir  que  a  palavra  drynemeton  só  nos 
foi  transmittida  em  épocas  muito  posteriores  ao  estabelecimento 
dos  Gaiatas  na  Ásia  Menor,  sendo  possivel  e  até  provável  que 
tivesse  soffrido  os  effeitos  da  influencia  grega.  Certo  é  que,  se 
o  céltico  apenas  pôde  explicar  uma  parle  d'este  composto,  o 
germânico  explica-as  ambas. 

Que  mais  é  necessário? 

4.°  Leonorio,  Lutario.  Estes  nomes  não  são  germânicos? 
« A  fonte  d'esta  supposição,  diz  eruditamente  o  snr.  Coelho, 
está  em  Diefenbach,  Céltica,  ii,  1,  253  (publicado  era  1840), 
que  diz  que  Lutarius  e  Leonorius  podem  ser  em  verdade  ger- 
mânicos, mas  também  certamente  célticos  e  que  portanto  não 
permittem  a  hypolhese  da  derivação  germânica  ou  d'uraa  parte 
das  suas  tropas;  o  snr,  Sarmento,  que  possue  Diefenbach,  não 
leu  esta  observação  íinal ».  Pondo  de  lado  os  commentarios  do 
snr.  Coelho,  d'uma  impertinência  quasi  calinesca  \  temos  que 
para  Diefenbach  os  nomes  de  Leonorio  e  Lutario  podiam  «em 
verdade  ser  germânicos».  Mas  para  o  snr.  Coelho  quem  affir- 
ma  o  germanismo  d'estes  nomes  «esquece-se  da  impossibili- 
dade d'essa  origem  »,  e  vai  o  il lustre  glotlologo  da  trimarkisia 
provar  que  Diefenbach  era  tão  tapado,  que  nem  deu  por  tal 
impossibiUdade.  Quanto  a  Leouorio,  a  demonstração  não  pôde 
ser  mais  summaria;  é  que  «em  germânico  não  ha  nomes  em 
orio».  Temos  outra  como  as  formações  em  isia!  O  Iboreo, 
chefe  dos  Longobardos,  o  Galactorio  de  Venâncio  Fortunato,  o 
Lidorio  de  Gregório  de  Tours,  etc,  bastam  para  mostrar  a  «im- 
possibilidade »  dos  nomes  germânicos  em  orio.  De  peor  partido 
parece,  estar  o  santo  de  Galles,  ao  qual  o  snr.  Coelho  poz  duas 


*  Eu  nem  sequer  citei  Diefenbach  a  propósito  dos  nomes  pes- 
soaes  dos  Gaiatas.  De  resto,  o  auctor  da  Céltica,  cinco  paginas  adiante 
da  indicada  pelo  snr.  Coelho,  declara  muito  formalmente  que  não  fal- 
tara razões,  e  muitas,  a  favor  da  mistura  de  Celtas  e  Germanos  n'es- 
tas  excursões  para  nascente;  que  Brenno  podia  bem  ser  o  germânico 
Brinno,  Lutario  Lulher,  etc;  não  está  longe  de  admittir  que  os  Gaiatas 
fossem  Cimbros  (os  Cimbros  são  hoje  geralmente  tidos  por  povos  ger- 
mânicos), encontrando  n  este  ultimo  facto  boas  razões  em  prol  do  cel- 
tismo  d'aqaelles.  Veja-se  se  Diefenbach  me  podia  incommodar  muito, 
e  veja-se  sobretudo  a  seiencia  e  consciência,  com  que  o  snr.  Coelho 
apresenta  as  opiniões  dos  auetores  que  diz  ter  lido. 


165 


velas  accesas;  porque  é  muito  de  presumir  que  o  seu  orio 
fosse  um  presente  dos  latinistas  implacáveis,  que  até  do  cele- 
bre Artur  fizeram  Artorio.  Feller,  que  deve  ser  entendido  n'es- 
tas  coisas,  chama-lhe  simplesmente  Leonor.  O  santo,  nascido 
no  paiz  de  Galles,  veio  pastorear  para  a  Bretanha,  segundo 
conta  aquelle  biographo,  É  decerto  o  mesmo,  a  que  se  refere 
J.  Loth  n'esta  passagem:  «  Runare.  Probablement  Lunare,  dont 
le  nom  se  retrouve  dans  Saint-Lunaire.  Sur  Lunaire  ou  Leonor, 
V.  Boll,  r''  juin,  I,  pag.  1 18-125  »  \  Resulta  d'aqui  e  d'outras 
citações  do  artigo  de  Loth  que  o  orio  brilha  pela  sua  ausência 
e  que  mesmo  a  forma  Leonor  é  duvidosa.  Seja  porém  como 
fòr,  vistos  os  exemplos  acima  citados,  os  manes  de  Diefenbach, 
dilTamados  pelo  snr.  Coelho,  por  causa  dos  nomes  germânicos 
em  orio,  poderiam  rir-se  do  farelorio  da  sciencia  portugueza. 
Pelo  que  respeita  a  Lutario,  a  demonstração  é  mais  com- 
plicada e  mais  sabia.  «O  nome  germânico  Z,m<ia/iam,  diz,  só 
apparéce  com  a  forma  Liuthari  posteriormente  ao  quarto  século 
da  nossa  éra,  isto  é,  no  período  em  que  se  opera  a  segunda 
Lautverschiebung,  em  virtude  da  qual  as  linixuas  germânicas 
se  separam  em  dois  grupos  dialectaes ;  Liiothari  pertence  já 
ao  alto  allemão.  As  formas  Luthar  e  Luther  são  muito  poste- 
riores ainda  ».  Deveria  concluir-se  d'esta  profunda  excavação 
que  a  forma  Liudaharis  apparéce  antes  do  século  iv  da  nossa 
éra.  Pois  não  apparéce  em  parte  nenhuma;  é  simplesmente 
uma  restauração  de  todos  os  elementos  d'este  nome,  proposta 
por  J,  Grimm,  e  que  o  snr.  Coelho  encontrou  em  Forstemann, 
se  me  não  engano.  Havemos  de  tel-a  por  óptima,  vindo  da 
mão  de  quem  vem;  mas  poderíamos  jurar  e  mesmo  apostar 
que  o  illustre  descobridor  da  lautverschiebung  querelaria  con- 
tra quem  lhe  atlribuisse  a  opinião  de  que  o  seu  Liudaharis 
não  podia  apparecer  antes  do  século  iv  da  nossa  éra,  com  a 
forma  Lutario,  Para  o  grande  sábio,  a  forma  completa  no  nome 
de  Tencteri  (povo  germânico)  devia  ser  Tengdahari,  d'um  the- 
ma  tengda  e  do  suffixo  heri,  gothíco  hari  ^,  e  não  obstante 
Grimm  não  tinha  o  mau  gosto  de  se  pôr  a  sermonear,  em  nome 
da  lautverschiebung,  os  escriptores  clássicos,  que  antes  do  sé- 
culo IV  da  nossa  éra,  escreviam  Tencteri.  Ora  é  visto  que  tanta 
«impossibilidade»,  ou  mais,  ha  em  fazer  de  Tengdahari  Ten- 
cteri, como  Liudahari  Lutario.  E  vê-se  mais,  que  o  snr.  Coelho 


*  Revm  Celtique,  xi,  pag.  149. 

*  Geschichte  der  deutschen  sprache,  4.*  edição,  i,  pag.  372. 


166 


ignora  que  os  nomes  ethnicos  e  pessoaes  escapam  as  mais  das 
vezes  á  lautverschiebung,  a  não  ser  que  o  sábio  professor  do 
Curso  Superior  de  Lettras  queira  dar  um  quinau  no  inventor 
d'aquella  lei,  que  o  declara  muito  expressamente  ^  Não  fal- 
tava mais  nada !  ) 

Resta  ainda  uma  objecção  tremenda,  o  diphthongo  iu.  Os 
clássicos,  que  estropiavam  adoravelmente  os  nomes  estrangei- 
ros, como  toda  a  gente  sabe,  quando  se  tratava  dos  diphthon- 
gos  germânicos,  entende  o  sor.  Coelho  que  não  podiam  deixar 
de  ser  d'um  rigor  phonographico.  Tem  argumentos  este  snr. 
professor!  Como  porém  os  alleraães  ainda  hoje  pronunciam  o 
nome  com  diphthongo  e  sem  elle,  Luther  e  Leuther,  é  crivei 
que  os  seus  antepassados  fizessem  o  mesmo  nos  remotos  tem- 
pos, ou  que  os  phonographos  pre-historicos  fossem  muito  im- 
perfeitos, quanto  á  reproducçao  do  diphthongo  iu  ^.  Concluindo : 
Diefenbach  tinha  carradas  de  razão  em  afíirmar  que  os  nomes 
de  Leonorio  e  Lutario  podiam  ser  «  era  verdade  germânicos » ; 
o  ultimo  pelo  menos  é  tão  genuinamente  germânico,  que  custa 
mesmo  a  acreditar  na  intriga,  de  que  o  fazem  victima.  As  li- 
ções dadas  peio  snr.  Coelho  ao  bom  Diefenbach,  essas  são  ge- 
nuinamente —  como  dizer?  —  macarronicas. 


Estamos  ainda  a  meio  da  jornada.  Como  repeti  com  Hol- 
tzmann  que  os  nomes  pessoaes  dos  gaiatas  asiáticos  eram  teu- 
tonicos,  prosegue  o  snr.  Coelho  na  sua  gloriosa  campanha,  es- 
colhendo um  certo  numero  e  desprezando  a  maioria  d'elles, 
para  não  avolumar  os  seus  triumphos,  decerto.  Contentemo- 
nos  com  o  que  vem. 

5.°  Nomes  em  rix.  Na  Galacia  não  faltam  nomes  em  rix, 
mas  o  snr.  Coelho  apenas  tomou  três  à  sua  conta;  elle  lá  sabe 
porque,  e  eu  também.  D'estes  três  temos  de  riscar  ura,  Epo- 


1  Obra  e  vol.  cit.,  pag.  125. 

2  Segundo  Gliiok,  Kettischen  namen,  a  raiz  do  nome  germânico 
Liuthari  ó  luth,  pag.  88,  nota. 


467 


redorix,  visto  não  nos  ser  afiançado  por  nenhum  documento  ^. 
Ficam  doi.s  Adialorix  e  Ateporix.  O  primeiro  nome  é  céltico, 
diz  o  illustre  professor,  « porque  o  primeiro  elemento  adiato 
nada  tem  de  germânico  e  se  reflecte  no  neo-celtico  »;  o  se- 
gundo céltico  é,  porque  « os  elementos  at  (ate)  e  epo  são  pu- 
ramente célticos  e  de  modo  algum  germânicos».  Mas,  porque 
no  kymrico  ha  uma  palavra  addíad ^=  adiat  derivada  de  adi'^, 
é  isso  razão  bastante,  para  resolver  a  contenda?  Muito  mais  ca- 
racterístico que  o  adiato  é  o  suffixo  rix,  e  seria  necessário 
demonstrar  bem  claramente  que  elle  se  encontra  nos  antigos 
nomes  pessoaes  cambricos.  Ora  eu  ainda  não  encontrei  ne- 
nhum, nem  nos  antigos  escriptores,  nem  mesmo  nas  inscri- 
pções  romanas,  achadas  n'aquelle  paiz  ^  como  não  encon- 
trei nenhum  na  Lusitânia.  Da  Irlanda  não  se  sabe  nada.  Ci- 
tam-se  os  nomes  de  Bled-ri,  Rod-ri,  Jud-ri;  porém  esses  no- 
mes são  muito  posteriores  á  invasão  saxonia  na  Cambria.  Na 
Lusitânia  com  a  invasão  germânica  do  século  v,  entram  elles 
ás  dezenas  e  ninguém  nega  que  fossem  importados  pelos  con- 
quistadores. Não  ha  razões  para  suppôr  que  succedesse  o  mes- 
mo na  Cambria?  O  certo  é  que  o  elemento  rix  entra  como 
suííixo  n'uma  quantidade  innumeravel  de  nomes  pessoaes  ger- 
mânicos, e  é  incontestavelmente  germânico,  ao  passo  que  nin- 
guém o  demonstrou  ainda  nos  paizes,  onde  nem  os  celtas  nem 
os  germanos  dominavam.  Estes  factos  valem  decerto  muito 
mais  que  a  coincidência  da  palavra  addiad=:adiat^  com  a  pri- 
meira parte  do  nome  de  Adiatorix. 

As  mesmas  observações  se  applicam  ao  nome  de  Ateporix, 
de  cuja  celticidade  não  sou  eu  só  que  duvido.  J.  Grimm,  que 


1  Trata-se  decerto  do  Poredorax  ou  Toredorix  de  Plutarelio.  A 
lição  Eporedorix  é  uma  mera  conjectura  de  Perrot :  mas  também  Per- 
rot  suppõe  que,  em  vez  de  Articnos,  de  que  adiante  se  failará.  ha  de 
lér-se  Arctiuos,  que  seria  um  nome  grego,  como  o  de  seu  pae  Musano, 
e  o  snr.  Coelho  trata  de  resto  a  conjectura  do  explorador  da  Galacia. 
Pois  melhor  fundamento  parece  ter  a  ultima  que  a  primeira.  Para  ser- 
mos coherentes.  rejeitamol-as  ambas.  Notaremos  ainda  assim  (jue 
Fõrstemann,  inclinando-se  á  opinião  de  que  Eporedorix  é  céltico,  sem- 
pre vai  incluindo  o  nome  na  lista  dos  que  começam  peio  germânico 
Ebar,  como  se  não  fosse  coisa  do  outro  mundo  explical-o  com  o  auxi- 
lio d'e3ta  palavra. 

^  Glilck,  ob.  cit.,  pag.  2  e  seg.  Esta  palavra  também  explicaria 
o  nome  de  Adianto,  etc. 

3  Pelo  contrario,  fora  da  Cambria.  César  já  nos  dá  conta  d'uni, 
mas  n'uma  região,  onde  a  influencia  dos  Belgas  é  conhecida. 


168 


conhecia  bem  o  aí  e  o  epo  célticos  ^,  não  dá  a  menor  importân- 
cia a  esta  etymologia  fragmentada,  pois  que  não  heíila  em 
ver  n'elle  um  nome  da  mesma  família  que  Atepomarus,  iden- 
tificando este  com  Ethespamara  ou  Etherpamara  ^,  quer  dizer, 
Grimm  considera  todos  estes  nomes  como  germânicos.  Notemos 
ainda  que  o  nosso  tetrarcha  era  filho  d'Albiorix,  nome  em  que 
é  impossivel  desconhecer  o  Alberich  germânico.  E,  se  este  o 
é,  os  de  Ateporix  e  de  Adiatorix  têm  n'elle  um  excellente  fia- 
dor. 

6.°  Nomes  em  gnalus.  São  dois :  Eposognatus  e  Cassigna- 
tus.  São  célticos,  porque  os  elementos  do  primeiro,  epo,  so  (su) 
e  gnalus  «são  célticos  e  nada  têm  de  germânicos» ;  os  do  se- 
gundo, Gassignatus,  estão  quasi  na  mesma.  Comecemos  pelo 
ultimo  componente  d'ambos  elles,  gnalus.  Gnalus  não  tem 
nada  de  germânico?  Mas  Gluck,  o  oráculo  do  snr.  Coelho, 
affirma  positivamente  o  contrario,  a  pag.  172  de  seu  escripto, 
atraz  citado:  o  germânico  knuot,  knual  (natura,  substantia, 
genealogia)  coincide,  diz  elle,  com  o  céltico  gnalus,  é  litteral- 
mente  o  gnatus  latino  em  cognatus  ^  e  outros,  salva  a  diflTe- 
renpa  de  significação.  Como  é,  pois,  que  a  palavra  gnatus  não 
tem  nada  de  germânico?  Pela  dilTerença  da  significação,  visto 
que  o  gnatus  céltico  significa  solitus,  consuetus,  e  o  knuat 
germânico  genealogia?  Mas,  se  alguns  celtistas,  como  Jubain- 
ville,  seguem  a  opinião  de  GlLick,  a  maioria  d'elles  (é  o  pró- 
prio Jubainville  que  o  declara)  *  rejeitam-na,  vendo  no  gna- 
tus céltico  uma  palavra  que  significa  filho  ^,  portanto  expri- 


1  A  palavra  epos,  cavallo,  que,  segundo  os  celtistas,  caraeterisa 
vários  nomes  célticos,  como  Eporedorix,  Ateporix,  etc,  ha  de  causara 
muita  gente  estranha  confusão,  em  vista  das  seguintes  aííQrmativas 
dos  mesmos  celtistas.  Os  Celtas,  depois  da  sua  separação  dos  Latinos, 
pelo  menos,  perderam  o  p  indo-europeu  e  só  o  reconquistaram  era 
tempos  relativamente  recentes,  cerca  do  século  u  antes  da  nossa  éra, 
e  com  excepção  da  Irlanda,  onde  só  entrou  com  o  christianismo.  Qual 
a  causa  do  segundo  phenoraeno  linguistico?  Sobre  esse  ponto  não  se 
diz  uma  palavra. 

2  G.  d.,  D.  S.,  I,  pag.  336. 

3  A  raiz  de  gnatus  em  co-gnatus  é  gm.  M.  Breal,  Dictionnaire 
etymologique  latin.  V.  nascor. 

*    fíevue  CeUique,  vui,  pag.  181. 

^  Por  exemplo  Ebel  em  Fick,  Vergleichendes  W.  der  indo-germa- 
nischen  sprachen,  i,  pag.  oo8  da  3.*  edição,  c  Windisch,  segundo  pa- 
rece, n'outra  obra  de  Fick,  Die  griechischen  personennamen,  pag. 
Lxxvii,  cxcviii.  Fick  põe  Ategnata  (que  Pictet  interpretaria  Re-nata) 


169 


miodo  a  mesma  idéa  que  o  knuat  teutonico.  Como  não  está 
provado  que  entre  os  celtistas  é  a  minoria  que  tem  razão, 
iremos  com  a  maioria.  Para  a  maioria  o  nome  de  Eposognatus 
não  se  pôde  dividir  em  Epo  sio  e  gnatus  e  signiQcar  bien  ha- 
bitue au  cheval,  mas  ha  de  dividir-se  em  Eposo  e  gnatus,  como 
Busugnatia,  Bussugnatius  e  outros  e  interprelar-se,  no  ultimo 
elemento,  como  os  nomes  gregos  com  gnetos.  Não  diremos 
que  os  nomes  de  Eposo,  Bussu  se  reflectem  menos  mal  no 
Ebiso,  Ebeso,  Bosso  germânico,  para  não  entrarmos  em  novas 
contendas;  basta-nos  a  certeza  de  que  todo  o  nome  em  dis- 
cussão se  pôde  interpretar  pelo  germânico,  sem  opposição  sé- 
ria da  maioria  dos  ceitistas. 

Dá-se  exactamente  a  mesma  coisa  com  o  composto  Cassi- 
gnatus,  mas  com  circumstancias  aggravantes.  O  snr.  Coelho, 
sempre  heróico  nas  suas  affirmativas,  decide  que  o  primeiro 
elemento  cassi  não  é  germânico,  mas  céltico;  e  no  entanto 
Glick  (pag.  163)  diz-lhe  bem  claramente  que  o  céltico  cas  tem 
seu  correspondente  no  teutonico,  como  também  claramente  diz 
não  saber  o  que  a  palavra  céltica  significa  nos  compostos 
que  cita  e  o  snr.  Coelho  copiou.  Jubainville  pretende  vér  na 
primeira  parte  do  nome  de  Cassignatus  o  deus  Cassi  ou  os 
deuses  Cassis  das  inscrippões  rhenanas.  Mas  para  muito  boa 
gente  será  isso  uma  razão  a  mais  para  vêr  em  Cassignatus  um 
nome  germânico  ^.  E  por  fim  é  bem  possível  que  os  etymolo- 
gistas  estejam   aqui  a  construir   sobre  areia  solta,  visto  ser 


e  Eposognatus,  ete.,  na  mesma  linha  que  o  grego  Theosnetos,  ete.,  es- 
crevendo todavia  Epo-so-gnati\s,  sem  muito  se  perceber  porque.  Di- 
ga-se,  para  prevenir  chicanas,  que  a  forma  cnatus  apparece  ao  lado 
de  gnatus.  Não  é  ocioso  lambem  advertir  que  um  eives  mattiaco,  isto 
é,  germânico,  se  chama  Meddigoatius  (os  dois  dd  barrados),  e  mais 
apparecerão,  sendo  procurados  com  o  vagar,  de  que  não  dispomos 
agora.  Advirta-se  por  fim  que  o  elemento  gnatus  se  encontra  no  grego, 
como  se  viu  acima. 

1  Estes  deuses  são  conhecidos  principalmente  pelas  inscripções 
Rhenanas  de  Brambach,  bem  como  a  deusa  Nehalennia,  cujo  nome., 
diz  Gaidoz  com  a  sua  habitual  franqueza,  tem  sido  reclamado  como 
céltico  "  fante  de  mieux »,  mas  que  um  sábio  allemão,  Kern,  sustenta 
ser  germânico  e  igualmente  os  d'ama  turba  respeitável  de  matronas 
divinas,  mencionadas  nas  ditas  inscripções,  também  reclamadas  pelos 
celtistas  sempre  «  faut  de  mieux ».  Dos  sitios,  onde  apparecem  os  deu- 
ses Gassis  mais  se  pôde  inferir  o  seu  germanismo,  que  o  seuceltismo. 
Na  interpretação  do  nome  pelo  céltico,  já  vimos  o  que  pensa  Gliick : 
nada  se  sat)e  ao  certo. 


470 


muito  incerto  se  o  nosso  gaiata  se  chamava  Cassignato  se 
Carsignato,  como  escreve  Polybio.  Seja  o  que  fôr,  a  categórica 
asserção  de  que  os  nomes  de  Eposognato  e  Gassignato  ou 
Carsignato  só  podem  ser  célticos  e  não  germânicos,  é  um 
rasgo  de  coragem,  e  nada  mais:  o  ultimo  elemento  é  tão  ex- 
clusivamente céltico,  que  se  encontra  por  ex. :  no  grego, 
onde  apparece  mesmo  o  composto  cassignetos. 

7.°  Teuíobodiaci.  É  céltico,  porque  se  compõe  de  teuto 
6  de  bodiaci,  e  este  ultimo  de  buad  (victoria)  e  do  suffixo  wtão 
caracteristicamente  céltico»  iaco. 

Vamos  por  partes.  Os  elementos  teuto  e  bodu,  aquelle  en- 
trando mesmo  no  nome  dos  Teutones,  este  significando  pugna 
(Griram,  Scade,  etc),  não  só  se  explicam  perfeitamente  pelo 
germânico,  mas  apparecem  reunidos  no  nome  d'um  cliefe  ger- 
mânico, Teutobodus.  Esta  aproximação  é  feita  por  J.  Grimm, 
para  ter  todo  o  merecimento  \  e  ao  geral  dos  leitores  o  fa- 
cto ha  de  por  certo  parecer  decisivo.  Mas  o  suílixo  laco'^  O 
snr.  Coelho  sente  tal  respeito  pelo  suíExo  gaiata  iaco,  tanto 
por  causa  da  qualidade,  como  da  quantidade,  que  não  temos 
outro  remédio  senão  esmerilhal-o  muito  cuidadosamente.  Com 
respeito  á  quantidade:  encontra  elle  na  Galacia  quatro  nomes 
tópicos  em  iaco,  dois  no  Itinerário  d'Antonino  e  outros  dois  na 
taboa  de  Peutiuger.  Jubainville,  que  fez  as  mesmas  buscas, 
encontrou  apenas  três,  porque  no  Itinerário  d'Antonino  somen- 
te encontrou  Orsologiacum  ou  Rosologiacum.  O  nosso  illustre 
compatriota,  fadado  para  descobertas  surprehendentes,  pôde 
dobrar  a  conta  d'um  modo  engenhoso.  Foi-se  ao  Itinerário  de 
Jerusalém,  que  costuma  andar  ligado  ao  de  Antonino,  e,  en- 
contrando lá  um  Rosolodiacum,  sommou-o  com  o  Rosolagiacum 
ou  Orsologiacum,  achado  por  Jubainville,  e  está  claro  que  a 
somma  lhe  havia  de  dar  dois.  Mas  succede  que  o  Rosoladiacum 
do  Itinerário  de  Jerusalém  é  uma  terceira  variante  dos  nomes 
estropiados  do  Itinerário  d'Antonino,  e  que  todos  três  designam 
uma  e  a  mesma  localidade,  como  sabem  lodos  os  que  léera 
estes,  documentos  com  alguma  attenção.  Muitos  louvores  deve- 
mos dar  a  Deus  em  o  snr.  Coelho  se  não  lembrar  de  nos  encam- 
par três  nomes,  em  vez  de  dois.  Vé-se,  porém,  que  os  dois  se 
reduzem  a  um,  sendo  duvidoso  se  esse  mesmo  terminava  em 
iaco,  attendendo  a  que  Ptolomeu  escreve  simplesmente  Orosolo- 
gia.  iNa  taboa  de  Peutinger  acha  o  snr.  Coelho  mais  dois  no- 


G.  d.,  D.  S.  pag.  445. 


171 


mes  era  iaco,  Acitoriziacura  e  Laudiciacum  (Laudiciaca,  na  edi- 
ção de  Mannerl).  O  Acitoriziacura  de  Peutioger  é  ainda  uma 
quarta  variante  do  — iacuni  do  Itinerário?  Não  seria  isso  coisa 
impossivel.  Acitoriziacura  fica  a  poente  d'Aspona  e  pouco  mais 
ou  menos  á  distancia,  em  que  deviaraos  encontrar  o  —  iacum 
do  Itinerário  d'Antonino,  mas  nem  este  conhece  o  Acitorizia- 
cura de  Peutinger,  nem  vice-versa.  Que  pensar  de  toda  esta 
trapalhada?  Temos  por  íim  Laudiciacum  ou  Laudiciaca.  Este 
nome  é  céltico  porque?  Quem  procurar  fora  da  Galacia,  na  di- 
recção da  Phenicia,  encontra  umas  poucas  de  Laudicias  e  de 
Laudicios.  O  nome  em  si  nada  tem  pois  de  céltico.  É  pelo 
suffixo  acum,  acaf  Mas,  se  procuramos  em  volta  da  Galacia, 
temos  que  fazer,  querendo  colligir  os  nomes  em  aco  e  aca: 
Larapsaco  junto  ao  Hellesponto,  Astaco  na  Bithynia  (fundado 
pelos  Athenienses  e  Megarios,  diz  Strabon).  Gelaca  na  Paphla- 
gonia,  Andraca  na  Capadócia,  etc.  etc,  e,  se  nos  resolvêsse- 
mos a  chegar  até  à  Media,  só  ahi  eucontravamos,  pelo  menos 
nove  nomes  era  aca,  consultando  apenas  Ptoloraeu.  Nomes  em 
aca,  aco,  iaco  apparecem  quasi  em  toda  a  parte;  Sarbacum, 
Axiacus  (rio)  na  Sarmatia  europeia;  Messeniacus  (sinus)  na 
Achaia,  Pelusiacum  (ostiura)  no  Egypto;  leracura,  (insula),  ilha 
no  Golpho  Pérsico;  leracura  (vicus)  no  interior  da  Arábia,  etc. 
etc.  Só  os  germanos  estariam  condemnados  a  soíTrer  a  forae 
d'este  misero  suífixo?  Qual!  Deixando  de  lado  os  caturras, 
como  Moke,  que  levara  a  audácia  até  o  monopolizar  para  os 
Teutões,  basta  lér  os  livros  de  FiJrstemann,  Personnennamen 
6  Ortsnamen,  para  vêr  que  os  nomes  pessoaes  e  tópicos  era 
ac,  aca,  deviam  ser  innuraeraveis  entre  os  Germanos.  O  que 
porém  melhor  é,  ninguém  duvida  que  os  Marsaci  (Griram),  os 
Mattiaci,  cora  a  sua  cidade  Mattiacum,  etc,  fossem  povos  ger- 
mânicos. Não  é  portanto  o  suííixo  iaco,  a  que  prestamos, 
como  se  vé,  as  devidas  homenagens,  que  pôde  desgermani- 
sar  o  germânico  Teutobodds. 

Contra  os  três  (?)  iacos  galaticos  não  opporemos  os  nomes 
de  Germa  e  de  Gerraanopolis,  que  já  faziara  suar  Diefcnbach ; 
o  nosso  fim,  já  o  dissemos,  não  é  entalar  o  snr.  Coelho,  é  só 
admiral-o. 

8."  Tolistobogil.  O  illuslre  professor  deixa  no  escuro  a  pri- 
meira parle  do  nome,  para  só  vér  a  segunda,  bogli,  « idêntica 
a  boii»;  e,  achando  esta  ultima  nos  noraes  Âdbogius,  Combo- 
gius  e  outros,  que  « são  de  formação  céltica  (não  germâni- 
ca)», conclue  que  todo  o  composto  não  é  germânico,  mas 
céltico.  O  que  significa  porém  bogius,  boius,  em  céltico?  Jubain- 


172 


ville  oíTerece  uma  interprelapão,  com  qual  o  snr.  Coelho  não 
concorda,  sem  declarar  a  sua  opinião. 

De  sorte  que  Adbogius  e  Gombogius  são  de  formação  cél- 
tica, não  germânica,  bera  que  os  ceitistas  não  saibam  porque. 
É  por  palpite.  Ora  o  que  se  sabe  perfeitamente  é  que  o  ele- 
mento bóio  entra  no  nome  do  cimbrico  (germano)  Boiorix  ^, 
no  nome  de  Boihemura,  cujo  suíTixo  «pelo  menos»,  diz 
Grimm,  é  germânico  ^.  Dois  nomes  certos  de  formação  ger- 
mânica e  não  céltica. 

.9.°  Cambaules.  'È  céltico,  «porque  provém  d'um  the- 
ma  cambo,  que  não  é  germânico,  mas  céltico ».  Tão  pobre  se- 
ria a  lingua  germânica,  que  não  tivesse  a  palavra  cam.b  ? 
Grimm  até  a  encontra  no  nome  de  Si-cambri,  e  no  de  Cimbri 
(Cambern).  Temos  porém  coisa  melhor.  Além  do  gaiata  Cam- 
baules,  existe  um  gaiata  Combolomarus,  em  cujo  nome  se  in- 
clue  certamente  o  primeiro.  Combolomarus  é  um  nome  ger- 
mânico '. 

10."  Arlicnos.  É  «puramente  céltico,  sendo  impossível 
achar  no  germânico  os  seus  elementos».  Que  pobreza  francis- 
cana a  d'estes  velhos  germanos!  nem  o  miserável  suífixo  oco, 
nem  a  palavra  camb,  nem  a  palavra  art !  Grimm,  Scade, 
Kluge  acharam  no  germânico  velho  a  que  nos  interessa  ago- 


1  Sobre  Boiorix  e  Teutobodus  manda  o  snr.  Coelho  ver  Mul- 
lenhoff,  D.  Altertumskunde,  u,  pag.  118-121,  e  Grimm,  G.  der  deutschen 
sprache,  3.^  ed.,  pag.  445.  Mnllenhoff  conclue,  ao  fim  d'uma  larga  dis- 
cussão, que  todos  os  nomes  teutonlcos  e  cimbrieos  que  nos  foram 
transmittidos  (pelos  historiadores  da  invasão  cinibrica)  eram  germâ- 
nicos, como  Zeuss  já  reconhecera,  e  é  mesmo  este  facto  uma  das  pro- 
vas, em  que  se  firma  para  demonstrar  o  germanismo  dos  Teutões  e  dos 
Cimbros.  Alguns  d'estes  nomes,  passando  pela  boca  dos  gaulezes,  an- 
tes de  chegar  aos  Romanos,  soíTreriam  d'aquelles  modificações  acciden- 
taes,  consoante  as  exigências  da  sua  língua,  circumstaneia  que  com- 
promette  mais  uma  vez  o  rigor  phonographico,  para  que  o  snr.  Coelho 
tem  appellado.  Grimm  sustenta  (jue  os"  nomes  de  Teutobodus  e  Boiorix, 
supposto  pareçam  «á  primeira  vista  célticos »,  se  explicam  igualmente 
pelo  germânico  e  é  para  esta  opinião  que  elle  se  inclina,  como  vere- 
mos mais  adiante.  Não  é  pois  em  MullenhoíT,  nem  em  Grimm,  que  o 
snr.  Coelho  encontra  auxiliares  na  questão  sujeita,  como  alguém  po- 
deria suppôr.  Muito  pelo  contrario. 

2  Obr.  cit.,  pag.  117,  nota  1. 

•*  Forstemann,  pag.  320.  Os  ceitistas,  em  vez  de  Combolomarus, 
como  se  lé  em  T.  Livio,  querem  lér  Combolomarus,  como  do  Comon- 
torius  de  Polybio  fazem  Commontorius,  para  dividir  este  non)e  em 
Com  -j-  montorios.  Conjecturas  dictadas  por  preconceitos,  sem  a  menor 
duvida. 


173 


ra,  art.  Zeurs  acha  nomes  pessoaes  com  um  art  qualquer  \ 
e  provavelmente  muitos  dos  da  lista,  dada  por  Fijrstemann, 
estão  no  mesmo  caso;  Artignus,  talvez;  mas  o  snr. 
Coelho,  sempre  heróico  e  corajoso,  declara  « impossíveis »  taes 
achados.  É  do  mesmo  modo  « impossível  »  achar  em  germâni- 
co o  elemento  cnos.  Os  germanistas,  entre  elles  Kunssberg, 
acham-no  e  tornam  a  achal-o ;  mas  é  porque  a  estes  pacovios 
não  occorreu  a  objecpão  seguinte,  que  somente  o  conspícuo 
professor  de  glottica  poderia  descobrir:  «O  elemento  cnos  — 
prelecciona  eile  —  devia  significar  gerado  e  foi  ligado  com  toda 
a  razão  ao  ant.  irland.  cenel,  genus,  ant.  kymr.  cenetl  (mes- 
ma significação),  verbo  irland.  cinim,  eu  descendo.  Compa- 
rem-se  ainda  o  osco  konos  em  loufrikonos  e  o  sanskrlto 
kanã,  kanlã,  rapariga.  Se  cnos  tivesse  correspondente  em 
germânico,  devia  esse  começar  por  hr>. 

Vejamos. 

O  irlandez  cenel,  o  kymrlco  cenetl  vem,  segundo  Ebel,  da 
raiz  gen,  não  obstante  o  c  duro  ^  o  mesmo  se  ha  de 
entender  do*  verbo  cinim.  Corssen,  citado  pelo  snr.  Coelho, 
faz  vir  o  céltico  cnos  da  mesma  raiz  ^;  tal  deve  ser  também 
a  opinião  do  nosso  iljustre  professor,  pois  que  para  elie  cnos 
significa  gerado.  Temos  pois  que  o  c  em  cenel,  cenetl,  e  no 
cnos  «céltico  »,  representa  um  g  primitivo.  Ora  é  um  dos  princí- 
pios «  mais  elementares  da  sciencla  da  linguagem  »  que  ao  g 
primitivo  corresponde  em  germânico  um  A;,  o  c  duro  d'Ebel ; 
por  Isso  o  latino  genus  está  na  mesma  linha  que  o  gothlco 
kuni  por  kunis,  diz  Gltick,  para  só  citarmos  o  oráculo  do  snr. 
Coelho.  Por  uns  princípios  novos,  da  iFivenção  do  llluslre  pro- 
fessor, ao  genus  latino  havia  de  corresponder  um  germânico 
huni  por  hunis.  Se  Gliick  fosse  vivo  e  o  apanhasse  a  geito ! 

Já  tínhamos  previsto  que  em  coisas  glottlcas,  o  snr.  Coe- 
lho se  havia  de  exceder  a  si  mesmo;  mas  com  franqueza  não 
esperávamos  tanto.  E  o  chiste  principal  está  em  que,  exhlbin- 
do  impavidamente  estas  curiosidades,  pede  desculpa  aos  seus 
leitores  por  se  mostrar  tão  erudito.  Força-o  a  isso,  diz  elle,  o 
absurdo  que  combate  —  o  absurdo  doc  =  ^  germânico  corres- 
pondendo a  um  ^  primitivo. 


1  Die  Deutschoi,  pag.  75,  nota  2. 

2  Em  Fick,  V.  Worlerbuch  d.  indo-gcrm.  s.,  i,  pag.  557. 

3  Ueber  die  sprache  der  Etrusker,  n,  pag.  332. 


174 


Esgotado  por  estas  victorias,  o  illustre  professor  bravateia 
ainda:  «O  exame  d'outros  vestígios  da  lingua  dos  gaiatas  que 
invadiram  a  Macedónia,  a  Grécia,  e  de  que  uma  parte  se  es- 
tabeleceu na  Ásia  Menor,  no  paiz  que  d'elles  recebeu  o  nome, 
confirmaria  os  resultados  da  precedente  investigação.  Um  ou 
outro  d'esses  nomes  offerece  algumas  difficuldades  á  explica- 
ção, talvez  porque  nos  chegaram  alterados  ^;  taes  são  Cere- 
thrins  e  Acichorius  ou  Cichorius ;  mas  esses  nomes  não  são 
evidentemente  germânicos,  como  o  não  é  Chio-mara,  ele».  Sim, 
elles  «evidentemente  germânicos»  não  são,  mas  parecem-no 
bem,  como  Bepolitanus,  Camma,  Bitherius,  etc.  ^ 


Um  parenthesis  que  nos  não  afastará  muito  do  nosso 
assumpto.  A  propósito  do  germanismo  dos  Celtas  escrevia  o 
snr.  Coelho  a  pag.  131-2  do  seu  libello :  «Um  facto  notável 
é  este  :  em  todas  as  épocas  em  que  a  these  apparece,  defen- 
dem-na  somente  escriptores  d'importancia  secundaria,  e  nunca 
nenhum  dos  grandes  espirites  cujo  nome  pertence  de  direito  á 
historia  da  sciencia». 

O  notável  é  que  o  conspícuo  professor  parece  ter  feito 
juramento  de  não  formular  uma  declaração  solemne,  que 
possa  sustentar  por  dois  minutos. 

Para  se  ver  a  sciencia  e  consciência  com  que  o  snr.  Coe- 


^  A  pag.  170  do  seu  artigo  não  percebia  o  snr.  Coelho  como  de 
Leonard  os  escriptores  romanos  podessem  fazer  Leonorius:  agora  jcá 
lhe  parece  que  os  velhos  nomes  nos  podiam  chegar  alterados.  Sempre 
com  excepção  para  o  diphthongo  iu,  está  visto. 

^  Gomp.  os  nomes  de  Akihari,  Acchihar,  Beppolenus,  Chamo, 
Hammi,  Hemma,  Withar,  Witer,  etc,  em  FiJrstemanu.  Diga-se  de  pas- 
sagem que  os  nomes  germânicos  Epo,  Eppo  são  vulgares. 


175 


lho  oraculisa  ainda  d'esta  vez,  vamos  extractar  com  a  rapidez 
exigida  por  uma  digressão,  as  opiniões  que  sobre  o  caso  su- 
jeito expende,  por  exemplo,  J.  Grimm,  um  dos  grandes,  senão 
um  dos  maiores  espiritos,  «cujo  nome  pertence  de  direito  á 
historia  da  sciencia».  Para  o  auctor  da  celebre  Geschíchte  der 
deutschen  sprache,  a  historia  dos  Celtas  illyrios,  Ihracios,  mace- 
donios,  scythicos  e  asiáticos  estava  envolta  em  trevas  impene- 
tráveis (pag.  117);  não  dissimula  ainda  assim  as  suas  con- 
vicções acerca  do  germanismo  d'estes  povos,  e  dos  Helvécios, 
dos  Boios,  dos  Tectosages,  que  põe  na  mesma  plana  dos  Go- 
thinos  (pag.  503).  Estes  eram  um  bando  de  gente  gothica, 
desgarrado  muito  cedo  para  o  mundo  céltico,  conservando  os 
seus  nomes  tradicionaes  (fiadores  da  sua  primitiva  origem), 
mas  tão  desnacionalisado  com  o  tempo  pela  influencia  estran- 
geira, que  os  Germanos  puros,  quando  mais  tarde  o  conhece- 
ram, sentiam  por  elle  um  verdadeiro  desprezo  (pag.  502-3). 
Coisa  parecida  havia  succedido  aos  Helvécios,  aos  Boios,  aos 
Tectosages. 

Temos  portanto  que  para  o  profundo  investigador,  as 
tribus  germânicas  se  haviam  insinuado,  e  desde  muito  ce- 
do 1,  pelo  mundo  céltico,  pelas  Gallias,  pela  Illyria,  pela 
Thracia,  pela  Macedónia  (para  só  fallarmos  da  Europa  e  da  Eu- 
ropa continental),  e  é  de  vér  que,  embora  esta  sente  acabasse 
por  adoptar  a  lingua  e  civilisação  dos  povos,  onde  teve  mais 
ou  menos  preponderância,  impossível  era  que  não  complicasse 
a  onomástica  céltica,  nos  paizes  célticos,  cora  os  seus  nomes 
«tradicionaes»,  tanto  ethnicos,  como  pessoaes,  como  tópicos. 
Admittida  esta  hypothese,  que  tem  por  si  ponderosos  argumen- 
tos d'ordera  histórica  e  anthropologica,  imagina-se  a  diíliculda- 
de  de  estremar  os  nomes  d'origem  «céltica»  e  d'origem  ger- 
mânica, quando  as  duas  línguas,  como  se  sabe,  tem  muitos 
radicaes,  pommuns,  e  uma  grande  parte  d'elles  nos  chegou 
por  interrnedio  dos  Gauleses,  como  suppõe  muito  boa  gente. 


^  E  as?im  explicava  que  os  antigos  romanos  conhecessem 
palavras  germânicas,  como  por  exemplo,'  amhactiis,  de  que  já  usa  o 
poeta  Ennio.  O  nome  celebre  de  Hercynia  (silva)  seria  para  elle  não 
céltico,  mas  germânico,  o  mesmo  que  ogothico  fairgutri  =  montanha. 
Glúck  combateu  esta  opinião;  mas  eil-a  de  novo  na  brecha,  como  se 
pôde  vêr  na  Revue  Celtique,  xi,  pag.  216  e  seg.  Admittida  esta  dou- 
trina, diz  Jubainville  (que  a  não  aceita)  os  (lermanos  precederam  os 
Gauleses  n'esta  região  e  já  a  tinham  occupado  antes  de  Aristóteles 
(see.  IV,  a.  G.). 


176 


O  snr.  Coelho  avia  tudo  isto  cora  o  diphthongo  iu,  a  lautver- 
schiebung,  o  suífixo  aco  e  quejandas  receitas,  por  virtude  das 
quaes  o  mundo  céltico  Gearia  completamente  varrido  de  Ger- 
manos e  o  problema  linguistico  heroicamente  resolvido,  ao 
mesmo  tempo  que  o  ethnico.  D'este  rigorismo  glottologico  só 
haveria  excepção  a  favor  dos  Cimbros  e  dos  Teutões.  Para 
este  ultimo  nome,  por  exemplo,  que  é  derivado  de  thiuda, 
já  a  spirante  inicial,  a  lautverschiebung,  etc,  não  valem 
nada ;  porque  este  e  outros  nomes  cimbricos  e  teutonicos 
apparecem  «cellisados»,  isto  é,  chegaram  aos  Romanos  um 
pouco  desfigurados,  por  terem  passado  pela  boca  dos  Gaule- 
ses, segundo  a  sã  opinião  de  Zeuss,  de  MullenholT  e  ou- 
tros. Não  é  de  crer  que  o  mesmo  acontecesse  a  uma  infini- 
dade de  nomes,  que  os  cellistas  reclamam  como  célticos  pu- 
ros? Voltando  a  Grimm,  o  illustre  sábio  acreditava  tão  pouco 
no  germanismo  dos  Gaiatas  da  Ásia  Menor,  que  estava  tenta- 
do a  equiparar  o  nome  de  Tectosages  ao  de  Tenderes  (germâ- 
nicos) (pag.  503);  e  a  aproximar  o  de  TolistoboU  do  de  Cos- 
toboci,  que  explicava  pelo  germânico  (pag.  139).  Já  vimos 
que  não  hesitava  em  aproximar  também  o  nome  dos  Teulo- 
bodiaci  do  germano  Teutobodus,  em  ver  no  Ateporix  gaiata 
um  nome  germânico;  e  tanta  importância  dava  á  opinião  dos 
que  da  onomástica  dos  Gaiatas  inferiam  a  celticidade  da  sua 
língua,  que  formalmente  diz  nada  se  saber  a  tal  respeito  (pag. 
117).  O  que  se  sabe  da  lingua  dos  Gaiatas  da  Ásia  cifra-se  na 
noticia  de  S.  Jeronymo,  affirmando  a  sua  analogia  com  a  dos 
Treviros,  ura  povo,  que,  segundo  Tácito,  tinha  a  mania  de 
passar  por  germânico,  sendo  evidente  que  a  desmentiria,  se 
fallasse  uma  lingua  não  germânica. 

O  que  não  havia  a  dizer  sobre  a  matéria  ?  Mas  não  é 
d'isso  que  se  trata  agora;  do  que  se  trata  agora  é  de  mostrar 
que  a  origem  ethnica  dos  Gaiatas  asiáticos,  como  d'outros  po- 
vos tidos  por  célticos,  na  opinião  dos  celtistas,  é  uma  questão 
obscuríssima  para  um  pensador  da  estatura  de  Grimm,  em- 
quanto  que  para  o  nosso  glorioso  compatriota  tudo  isso  se  de- 
cide com  o  diphthongo  iu  e  o  suíTixo  aco,  etc. 

Graças  a  este  expediente  e  ao  dos  intermediários,  de  que 
não  tardamos  a  fallar,  o  snr.  Coelho  não  só  demonstraria  que 
a  lingua  dos  Gaiatas  orientaes  não  era  de  modo  algum  ger- 
mânica ;  que  essa  lingua  era  fundamentalmente  a  mesma  que 
a  dos  Celtas  das  Galhas  e  da  Britannia,  fundamentalmente  a 
mesma  que  a  dos  dialectos  neo-celticos  —  o  que  ninguém, 
contestou  nunca :  todas  as  línguas  arianas  são  « fundamental- 


177 


mente «  as  mesmas,  mas  demonstraria  mais  «que  diversos  ele- 
mentos do  oDomasticon  gaiata  se  encontram  no  onomasticoa 
lusitano  ou  se  ligam  aos  elementos  d'este  ultimo  por  intermé- 
dio do  onomasticon  d'outros  celtas». 

Esta  ultima  conclusão  responde  decerto  á  minha  aíTirma- 
tiya  de  que  entre  os  Gaiatas  asiáticos  e  os  Lusitanos  tal  era  a 
diirerenpa  com  relapão  aos  nomes  pessoaes,  que  não  se  encon- 
trava um,  que  fosse  commum  aos  dois  povos,  ou  mesmo 
apresentasse  um  ligeiro  ar  de  familia.  O  snr.  Coelho  vai 
pulverisar  esta  aííirmativa.  Temos  de  voltar  á  selva  oscura, 
por  onde  ha  pouco  nos  embrenhamos.  Aqui  está  o  que  pode- 
mos respigar:  1.°  «  A  nemeton  (de  drynemcton)  ligam-se  o  no- 
me do  povo  Nemetali  e  da  cidade  Nemelo-briga,  na  Callgecia, 
isto  é  na  Lusitânia».  Como  vimos,  porém,  que  drynemeton  se 
explica  melhor  pelo  germânico  que  pelo  céltico ;  como  sabe- 
mos que  havia  um  povo  germano  chamado  Ncmetes  (Grimm),  o 
que  nos  parece  claro  como  a  agua  é  que  a  palavra  era  commum 
aos  germanos  e  aos  árias  pre-germanos,  como  muitas  outras, 
e  que  portanto  o  argumento  do  snr.  Coelho  é  tão  bom,  que 
até  pôde  provar  o  germanismo  dos  Lusitanos.  2.'*  Na  Lusitâ- 
nia não  ha  nomes  em  rix,  aliás  abundantes  na  Galacia,  n'isto 
concorda  o  snr.  Coelho ;  mas  aqui  está  como  elle  os  arranja. 
Na  Lusitânia  ha  um  Tautamus,  que  pelo  primeiro  elemento, 
taitt,  se  liga  a  Touliorix  ;  ha  um  Tancinus,  que  também  pelo 
primeiro  elemento,  tanc,  se  liga  a  Tancorix  ^  Logo,  se  na 
Lusitânia  não  ha  Toutiorix,  Tancorix  e  outros  nomes  em  rix, 
podia  havel-os.  Não  parece  troça?  Os  exemplos  não  podem 
ser  mais  infelizes,  diga-se  de  passagem.  O  nome  de  Toutiorix 
não  somente  se  explica  perfeitamente  pelo  germânico,  mas  é 
muito  de  crer  que  seja  o  nome  d'um  deus  germânico  ^  Quan- 
to a  Tancorix  e  a  Tancinus,  nos  antigos  documentos  germâni- 
cos encontra-se  ainda  um  Thancherih  (antigo  Tancherich)  e  ura 


1  «  Ura  dos  raros  nomes  célticos  femininos  em  rix »,  commenta 
eruditamente  o  snr.  Coelho.  «Ha  d'elles  muitos  exemplos»,  commenta 
o  general  Creuly  aa  Reviie  Celtique,  \i\,  pag.  160. 

2  A  duvida  é  já  suscitada  pelo  annotador  d'Orellius,  onde  o  snr. 
Coellio  diz  ter  ido  procurar  o  nome :  «  Gallicum  vel  Germanicum 
Apoliinis  cognamentum»,  escreve  elle.  A  inscripção  foi  aciíada  em 
Wiesijadea  (Aqua;  Maltiacoe).  Os  Maltiacos  eram  germanos.  Dietrich, 
antigo  Toutiorix,  representa  um  papel  importante  nas  legendas  my- 
Iholngicas  dos  germanos,  como  se  pôde  vér,  por  exemplo,  na  U.  M. 
de  Grimm,  i,  pag.  309,  440. 

7."  Anno.  H 


178 


Tanchini  ^  Que  concluir  d'aqui?  que  a  radical  de  Toutiorix, 
Tancorix  e  Tancinus  era  commum  aos  germanos  e  aos  árias 
pre-germanos,  sem  poder  affirmar-se  que  a  segunda,  pelo  me- 
nos, tivesse  n'uns  e  n'outros  o  mesmo  significado.  Certo  é 
que  na  Lusitânia  não  ha  um  só  nome  era  rix.  3.°  O  nome  do 
lusitano  Aranicus  liga-se  pelo  elemento  ario  ao  céltico  Ario- 
manus.  Mas  não  se  liga  do  mesmo  modo  ao  germânico  Ario- 
gaisos,  para  não  fallarmos  d'Ariovisto,  «que  nos  é  dado,  diz  ò 
snr.  Coelho,  por  César  como  nome  d'um  chefe  germânico». 
4.°  Entre  o  nome  do  deus  Turiacus  de  Santo  Thyrso  e  o  nome 
do  Teutobodiaci  ha  um  ar  de  família.  . .  por  causa  do  suíTixo 
iaco !  ^  Não  é  verdadeira  caçoada?  5.°  O  Cambaules  gaiata 
liga-se  ao  Cambetum  da  Galliza  pelo  thema  cambo,  que,  se- 
gundo os  celtistas,  significa  curvo,  cambado.  Mas  como  sabe 
o  sor.  Coelho  que  o  Cambaules  gaiata  era  curvo  ou  cam- 
bado; por  outra,  como  sabe  que  a  radical  de  Cambaules  não 
era  germânica,  muito  parecida  por  exemplo  á  que  .1.  Grimm 
procura  para  o  nome  Cimbros,  e  bem  mais  adequada  ao  nome 
d'um  cabo  de  guerra  ?  Se  o  cambo  céltico  fizesse  todas  as  des- 
pezas  dos  nomes,  em  que  litteralmente  apparece,  teríamos  de 
celtisar  o  próprio  persa  Cambyses.  6.<>  Articnos.  Na  Lusitânia 
não  ha  nomes  em  cnos,  nem  nomes  com  art.  Veja-se  porém  a 
mirífica  virtude  dos  intermediários.  Ha  na  Lusitânia  nomes  com 
briga  e  com  dunum,  e  nos  paizes  occupados  pelos  «  Celtas  »  en- 
contra-se  um  Artodunum  e  uma  Artobriga.  Habilitados  com  o 
seu  dunum  e  a  sua  briga,  os  Lusitanos  vão  aos  paizes  célticos 
desacolchetar  d'Artodunum  e  d'Artobriga  o  arí  que  lhes  falta,  e, 
feito  isto,  vão  á  Galada  buscar  o  cnos,  que  também  não  ti- 
nham, e  voltam  para  casa  com  um  Articnos,  um  Artodunum  e 
uma  Artobriga. 

E  n'isto  se  cifra  a  demonstração  do  snr.  Coelho.  O  pro- 
cesso n'ella  adoptado  é  « invulnerável,  diz  elle,  e  um  guia  se- 
guro na  historia  antiga  do  occidente»,  «cuja  luz  não  foi  apro- 
veitada por  completo ».  Tão  invulnerável  é  o  processo,  que  o 
illustre  professor  ainda  ha  pouco  o  applicou  aos  pobres  deu- 
zes  lusitanos,  para  ouvir  de  Rcvue  Celtique  um  —  malvas  — 
muito  distincto.  O  mesmo  invulnerável  processo  foi  emprega- 


1    Não  faça  duvida  a  quesilenta   spirante  inicial;  as  formas 

Tanco,  Tanko,  lá  estão  também  em  Fõrstemann  (Pers.,  pag,  1149). 

*    É  de  notar  que  o  suíBxo  iaco  (sic)  é  rarissimo  na  Lusitânia. 


'J79 


do  por  A.  Pictet,  para  demonstrar  a  celticidade  de  vários  no- 
mes de  rios  africanos,  ao  que  veio  pur  embargos  Jubainville, 
fiado  n'um  processo  que  também  julgava  invulnerável.  Era 
sempre  por  este  processo  invulnerável  que  um  sábio  allemão 
provava,  a  toda  a  luz  da  sciencia  glottologica,  que  um  grava- 
dor francez  seu  contemporâneo,  chamado  Éncina,  era  ura 
deus  céltico,  um  deus  dos  carvalhos.  Finalmente  nào  era  por 
outro  processo  que  os  bascophilos  «demonstravam»  serem 
basco  puro  muitos  nomes,  declarados  célticos  pelos  ceitistas  ^. 
Não  queremos  dizer  com  i^to  que  o  methodo  comparativo 
não  seja  fructuoso  n'esta,  como  era  muitas  outras  investiga- 
ções ;  quereraos  dizer  que,  para  dar  fruclos  sãos,  preci-ía  de 
ser  manejado  por  ura  investigador  de  muito  tino  e  de  rauita 
sciencia,  qualidades  que,  pelo  visto,  seria  torpe  lisonja  reco- 
nhecer no  snr.  Coelho. 

Se  cora  o  molho  das  raizes  e  dos  suífixos  era  fácil  abrir 
todas  as  portas,  como  escrevia  o  escarnento  Gaidoz,  que  porta 
ou  postigo  resistirá  á  gazua  dos  interraediarios,  quando  apro- 
veitada «  por  corapleto»,  como  deseja  o  sábio  professor  e  com 
a  perfeição,  de  que  nos  dá  tantas  amostras !  Quer-se  estabele- 
cer a  identidade  de  duas  linguas  e  concluir  d'ahi  a  identidade 
dos  povos  que  as  faliam  ?  Se  não  ha  nomes  idênticos  inteiros, 
opera-se  sobre  fracções ;  exeraplo,  o  nome  do  galaía  Cambau- 
les,  cuja  metade  é,  letra  por  letra,  a  metade  do  nome  tópico 
Cambetum  da  Lusitânia.  Que  a  palavra  tenha,  ou  não  tenha,  o 
mesmo  significado  em  ambos  os  nomes,  é  uma  impertinência 
que  não  vale  a  pena  esmiuçar.  Succedendo  que  a  comparação 
não  ache  victimas  nera  era  metades,  nem  em  fracções  mais  pe- 
quenas, era  coisa  nenhuma,  a  demanda  ainda  não  está  perdi- 
da ;  viu-se  que  na  Lusitânia  nera  ha  nomes  com  ar(,  nem  no- 
mes em  cnos  para  oppôr  ao  Articnos  gaiata,  mas  viu-se  tam- 
bera  como,  mercê  dos  intermediários,  o  snr.  Coelho  pude 
crear  ex  nihilo  ura  Articnos  lusitano. 

Cora  este  processo,  que  charaa  invulnerável,  gaba-se  o 
illustre  glottologo  de  ter  deraonstrado  que  os  Lusitanos  e  Ga- 
iatas asiáticos  fallavam  a  mesma  lingua ;  eram  um  mesrao 
povo,  6  nera  mais  nem  menos  que  os  Celtas  semi-nomadas 
do  século  VII,  a.  C,  que  vfriara  seraear  em  quasi  toda  a  Eu- 


1  Entre  elles,  os  compostos  com  art,  com  o  suíTixo  aca,  etc, 
segundo  pôde  vêr-se  em  G.  Humboldt,  R.  sur  les  habitants  primítifs 
de  l  Espagne. 

Hf 


180 


ropa  o  seu  idioma,  tão  magico  e  seductor,  que  os  povos  pre- 
existentes o  trocariam  pelos  seus,  supposto  possuíssem  uma 
civilisação  muito  superior  á  d'aquella  gente. 

Mas  se  estes  povos  fallassem  uma  língua  «fundamentalmen- 
te»  a  mesma  que  a  d'aquelles  bárbaros,  como  o  insinuam  mui- 
tas noticias,  que  devemos  aos  Phenicios?  O  snr.  Coelho  não 
desce  a  estas  bagatellas,  e  parece  não  querer  perceber  que, 
emquanto  o  não  Gzer,  não  faltará  quem  ache  a  sua  fabrica 
ethnologica  tão  boa,  como  a  dos  bascophilos,  a  do  germanista 
Holtzmann,  etc,  ou  ainda  peor  ^. 

E  em  absoluto,  não  negando,  nem  podendo  negar  que  a 
linguistica  seja  um  excellente  subsidio  para  a  elucidação  dos 
problemas  ethnicos,  negamos-lhe  absolutamente  o  direito  de 
primazia,  que  pretende  arrogar-se,  atropellando  todas  as  de- 
mais sciencias.  Sem  moderar  os  seus  Ímpetos  e  respeitar  os 
trabalhos  da  ethnología  propriamente  dita,  da  critica  histó- 
rica, da  anthropologia,  da  archeologia,  é  opinião  de  muitos  que 
a  linguistica,  mettida  a  ethnologisar  unicamente  com  a  sua 
ferramenta  própria,  não  passará  d'um  bota-fogo,  condemnado 
a  successivas  retractações  ^. 


E  ainda  não  estamos  livres  da  glottica.  Tendo  eu  arranjado 
uns  Ligures  na  Lusitânia,  como  diz,  zombeteando,  o  snr,  pro- 
fessor Coelho,  perguntava  aos  «competentes»  se  o  nome  de 
Lusitani  não  viria  da  forma  Lígusitani,  pela  queda  do  g  inter- 


1  Holtzmann  queria  varrer  da  Europa  occidental  os  povos  ligii- 
ricos,  parentes  dos  cambrios.  e  vêr  só  n'ella  povos  germânicos  com 
instituições  germânicas.  Pelo  contrario,  eu,  em  muito  boa  companhia 
concedo"  muito  pouco  á  iniciativa  celto-germanica  e  quasi  tudo  á  civi 
lisação  dos  povos  pre-existentes,  com  que  os  Germanos  se  misturaram 
embora  mantivessem  em  alguns  paizes  a  sua  arrogância  de  conquista 
dores.  O  snr.  Coelho,  com  um  d'aqiielles  espantaralhaços  mysteriosos 
a  que  é  achacado,  parece  estranhar  que  eu  não  vá  atraz  de  Holtz 
mannl 

'^  Já  perdeu  os  «Celtas  velhos»  de  Thierry,  os  Bastarnas,  os 
Cimbros;  não  se  pôde  dizer  que  estejam  fora  de  perigo  os  Helvécios, 
os  Boios,  os  Tectosages,  ete. 


181 


vocálico  —  vulgar  no  chamado  «  neo-celtico  »  —  e  pela  contrac- 
ção do  iu  era  u. 

Isto  ba.«tou  para  que  o  «  competente  »  snr.  Coelho  me  mi- 
raoseasse  com  as  suas  costumadas  amabilidades,  aproveitando 
a  occasião  d'oraculisar  as  suas  costumadas  exquisitices.  Eu 
ignoro,  diz  elle,  que  dos  factos  phoneticos  das  linguas  moder- 
nas se  não  pôde  concluir  para  factos  phoneticos  das  linguas 
antigas;  e,  para  mostrar  que  um  sábio  glottologista  como  elle 
era  incapaz  de  perpetrar  similhante  delicto,  procura  no  portu- 
guez  fmsa  uma  prova  da  resistência  do  i-\-u  no  antigo  céltico. 
Parece  parodia  á  scena  do  boticário  d'um  drama  de  Scribe ; 
«  Eu  cá  sou  outra  coisa!  » 

Quanto  á  queda  do  g,  o  illustre  professor,  depois  d'uma 
rajada  das  suas  quasi  sempre  inúteis  eruditices,  concede  por 
grande  generosidade  que  fosse  possível  no  antigo  «  céltico  ». 
N'este  particular  é  symptomatico  o  cuidado  com  que  dissimula 
a  opinião  de  Zeuss  (Gram.  Céltica,  pag.  145),  que  faz  a  mes- 
ma concessão  sem  favor  nenhum. 

Toda  a  diíRculdade  está  no  m.  Outra  vez,  este  travesso  dia- 
brete !  A  fusão  do  m  em  u  é  inadmissível  para  o  sábio  pro- 
fessor por  duas  razões,  qual  d'ellas  mais  imperiosa.  É  a  pri- 
meira que  « não  ha  exemplo  nenhum  antigo  céltico  »  de  si- 
milhante fusão.  A  historia  das  antigas  letras  célticas  era  obs- 
curíssima para  A.  Pictet  e  outros  ;  mas  o  snr.  Coelho,  que 
a  conhece  como  os  seus  próprios  dedos,  sabe  de  sciencia 
certa  que  não  ha  um  só  u  céltico  capaz  de  se  ter  fundido, 
muito  menos  com  um  i.  A  segunda  razão  não  é  menos  impo- 
nente;  a  ligação  i-\-u  resistiu  n'algumas  linguas,  nomeada- 
mente no  céltico,  por  muito  tempo;  para  o  comprovar  no  cél- 
tico, dà-nos  um  exemplo  da  resistência  do  i  +  a,  e  outro  tira- 
do do  portuguez  fiusa.  Nada  mais  convincente,  nem  mais  eru- 
dito. Ouçamos  agora  o  que  dizem  os  ignorantes  acerca  da  re- 
sistência do  iu  céltico.  Zeuss  (obr.  cit.,  pag.  -25)  escreve  que 
o  u  provóm  ás  vezes  d'uma  contracção,  como  em  núe  de  no- 
via,  chi  de  clov,  túus  de  tovus,  dús  de  clufius,  dofms.  N'este 
ultimo  exemplo  ha,  como  se  vé,  a  fusão  de  nada  menos  que 
uiu  em  u.  Windisch,  Kursgefassíe  irisch  grammatik,  pag.  6, 
escreve  que  o  pre-historico  vidt-us  deu  o  composto  cubus, 
consciência,  isto  é,  confins.  Assim  bus  é  o  representante  de 
vidt-us,  com  a  fusão  do  iu  em  lo,  depois  da  queda  das  con- 
soantes intervocalicas.  O  nome  tópico,  Acidunum,  Agidu- 
num,  deu  Ahun  (J.  Guicherat,  De  la  formation  française 
des  anciens  noms  de   lieu,   pag.    48).    Em   portuguez  adro, 


182 


paçOf    algum,    ele,    são   prova   provada   da   resistência   do 
i-Ç-u^. 

Previaraos  que  o  snr.  Coelho  em  coisas  de  glottica  se  ha- 
via de  exceder  a  si  mesmo,  repetimos;  mas  com  a  máxima 
franqueza  não  esperávamos  tanto. 

(Continua). 

F.  Martins  Sarmento. 


Erratas  ao  numero  antecedente 


A  pag.  107,  nota  2,  penúltima  linha,  leia-se :  Toda  a  phrase,  etc.  A  pag.  108, 
leia-se :  Quanto  ao  escudo,  o  snr.  Coelho  faz  dizer  a  Diodoro  Siculo  que  o  escu- 
do céltico  era  c  oval »  ?  etc.  A  pag.  113,  leia-se  :  A  organisapão  religiosa  dos  Cel- 
tas, etc.  A  pag.  119,  leia-se:  CEdippo. 


^  Quanto  a0  «  +  <J,  a  resistência  prova-se  com  o  seguinte  facto  : 
dos  innumeraveis  nomes  da  Gallia  com  o  celebre  suíTixo  iaco,  é  raro 
aquelle  em  que  o  ia  deixasse  de  desapparecer.  Consuite-se  Quicherat, 
obr.  cit. 


CHIMICA  INDUSTRIAL 


GALVANOPLASTIA 

(Continuado  da  pag.  131) 


SEGUNDA  PARTE 
Moldagem  e  preparação  dos  moldes 

Por  maiores  que  tenham  sido  os  escrúpulos  e  cuidados  do 
galvanoplasta  na  escolha  da  matéria  plástica  e  na  confecção  do 
molde,  é  certo  que  este,  depois  de  destacado  do  modelo,  não 
fica  ainda  em  condições  de  receber  o  deposito  metallico. 

É  que,  como  já  dissemos,  para  que  uma  substancia  possa 
ser  empregada  na  moldagem  galvanoplastica  é  necessário  que 
seja,  ou  um  bom  conductor  da  electricidade  ou  susceptível  de 
adquirir  essa  propriedade  pelo  emprego  de  certos  meios.  Ora, 
as  matérias  que  a  industria  ordinariamente  utilisa  para  esse 
fim  são  péssimos  conductores  da  electricidade.  Torna-se,  pois, 
necessário  que  o  molde,  antes  de  entrar  no  banho,  soíFra  uma 
preparação  que  lhe  forneça  a  conductibilidade.  Esta  operação, 
conhecida  pelo  nome  de  melallisaçãn,  consiste  em  applicar 
sobre  o  molde  uma  matéria  que  nao  só  lhe  de  aquella  pro- 
priedade, mas  também  que  forme  á  sua  superficie  uma  camada 
de  tal  modo  delicada,  que  os  mais  finos  traços  do  molde  sejam 
integralmente  respeitados. 

São  muitos  os  processos  até  hoje  propostos  para  tornar 
conductoras  as  substancias  plásticas  que  de  sua  natureza  o  não 
são.  Acontece  porém  que,  das  matérias  metaUisadoras  até  hoje 
usadas,  algumas  ha  que  são  de  preço  tão  subido  que  nem  lo- 
dos poderão  adquiril-as,  emquanto  que  outras  chegam  a  ser 
perigosíssimas  na  sua  applicação.  Em  virtude  d'isto,  e  atten- 


184 


dendo  a  que  desejo  dar  ao  meu  pequeno  trabalho  um  caracter 
essencialmente  pratico,  entendo  que  não  caberá  muito  bem 
aqui  a  discussão  do  valor  d'esses  processos  e  que  só  deveria 
occupar-rae  d'aquelle,  a  que  a  industria  tem  até  hoje  concedida 
a  preferencia  e  que,  na  verdade,  mais  positivos  e  económicos 
resultados  nos  offerece. 

Limitar-nos-hemos  pois  a  fazer  conhecer  bem  a  única  sub- 
stancia de  que,  para  esse  fim,  todos  os  galvanoplastas  lanpam 
mão  e  que,  sendo  sufficientemente  conductora  e  d'uma  appii- 
cação  fácil,  é,  além  d'isso,  muito  barata.  Refiro-me  à  graphite 
ou  piombagina  ^ 

Antes  porém  de  entrarmos  na  descripção  da  metallisapao, 
convém  saber  que  nem  todos  os  moldes,  ou  antes,  nem  todas 
as  substancias  plásticas  se  prestam  com  a  mesma  facilidade  a 
esta  operação. 

É  que  a  piombagina,  sendo  como  é  uma  substancia  un- 
ctuosa,  adhere  perfeitamente  á  cera,  á  estearina,  á  gutta-per- 
cha,  á  gelatina,  etc. ;  mas  não  se  fixa  ao  gesso  *.  Este  corpo 
(gesso)  é  muito  poroso,  e,  por  isso  mesmo,  demanda  uma  pre- 
paração que  o  torna  impermeável  e  que  lhe  proporciona  as 
condições  de  receber  proveitosamente  a  graphite.  Mas,  ainda 
mesmo  que  esta  substancia  adherisse  facilmente  ao  gesso,  a 
preparação,  a  que  este  deve  ser  sujeito  para  o  tornar  aplo  á 
metallisação,  é  lambem  uma  condição  indispensável  para  que 
elie  não  seja  atacado  pelo  banho  de  sulfato  de  cobre,  o  qual 


1  Quando  a  moldagem  fôr  feita  com  uma  liga  fusível  e  claro  que  o 
molde,  já  de  si  metallico  e  portanto  bom  conductor,  não  carece  de  metaUi- 
sação;  mas,  se  ainda  assim,  algumas  vezes  esta  operação  é  usada,  isso  tem 
por  fim  a  fácil  separação  da  reproducção. 

^  A  piombagina  conlieeida  no  commercio  pelo  nome  de  graphite  ou 
mina  de  chumbo,  apesar  de  não  conter  a  menor  partícula  d'este  metal,  é 
uma  substancia  unetuosa,  que  deixa  vestigios  pardacentos  nos  dedos  e  no 
papel.  É  um  carvão.  E,  de  todos  os  carvões,  sem  exceptuar  o  diamante  (que 
o  é  também,  embora  crystallisado),  é  o  menos  combustível.  Encontra-se  no 
commercio  sob  o  aspecto  d'um  pó  fino,  misturado  quasi  sempre  com  terra, 
fen'o  e  sulfato  de  ferro.  A  industria  appliea-a  especialmente  á  confecção  dos 
lápis  e  a  galvanoplastia  utilisa-a  para  a  metallisação  dos  moldes ;  mas  so- 
mente depois  de  purificada. 

Na  nossa  pratica,  quando  desejamos  obtel-a  pura,  procedemos  pouco 
mais  ou  menos  como  nos  ensinam  os  galvanoplastas  mais  auctorisados : 

N'iuiia  vasilha  vidrada  deitamos  a  jjlombagina  e  sobre  ella  agua  distil- 
lada;  agitamos  convenientemente  esta  mistura  durante  alguns  minutos,  de- 
pois do  que  deixamol-a  repousar.  A  piombagina,  como  é  um  corpo  mais  pe- 


185 


penetraria  promptamente  na  sua  massa  e  desaggregal-a-hia 
em  poucos  minutos. 

Para  tornar  o  gesso  impermeável,  costumamos  proceder  do 
seguinte  modo : 

N'uma  panella  de  ferro  estanhada,  cujo  diâmetro  seja  maior 
do  que  o  comprimento  do  molde  e  que  nós  collocamos  sojjre 
um  fogareiro  acceso,  deitamos  cera  amarelia  em  quantidade 
tal  que,  depois  de  fundida,  o  molde  possa  mergulhar  com- 
pletamente n'ella.  Sobre  um  outro  foco  calorifero  collocamos 
uma  folha  de  ferro,  ou  de  Flandres,  e  sobre  esta  pousamos  o 
molde  de  modo  que  elle  seja  aquecido  sem  que  receba  a  acção 
directa  do  foco. 

Logo  que  a  cera  esteja  completamente  liquida  e  o  molde 
tanto  ou  mais  quente  que  ella,  suspendemol-o  por  um  cordel 
passado  nos  seus  anneis  e  mergulhamol-o  na  cera  fundida  con- 
servando-o  n'esta  o  tempo  necessário  para  que  a  effervescen- 
cia,  produzida  pela  immersão  do  molde,  tenha  quasi  comple- 
tamente desapparecido. 

Em  taes  condições  retiramos  o  gesso.  O  molde  d'esta  sub- 
stancia, assim  impregnado  de  cara,  fica  apto  a  receber  a  plom- 
bagina  como  se  fura  confeccionado  com  cera,  slearina,  gela- 
tina ou  gutla-percha,  matérias  que  não  carecem  d'aquelle  pre- 
paro prévio. 


sado  do  que  a  agua,  procura  o  fundo  da  vasillia  e,  dentro  em  pouco,  é  fá- 
cil, inclinando  o  vaso,  separal-a  do  liquido  e  das  impurezas  que  este  tem 
em  suspensão. 

[Esta  maneira  de  separar  mecanicamente  um  liquido  d'um  sylido,  que 
com  elle  se  não  mistura,  tem  em  cJiimica  o  nome  de  decantaçào']. 

Fica  d'este  modo  na  vasilha  uma  massa  pastosa  constituída  pela  plom- 
bagina  e  alguma  agua  que  ella  ainda  retém.  N'estas  condições  lançamos-lhe 
acido  chlorhydrico  diluido  e  em  quantidade  tal,  que  a  massa  fique  mergu- 
lhada n"elle. 

E  assim  a  conservamos  durante  24  horas.  No  fim  d'e8te  tempo  (kcan~ 
tamos  o  liquido  e  lançamos  novamente  na  vasilha  agua  distilhida,  a  (piai 
depois  de  convenientemente  agitada  com  a  massa,  c  por  sua  vez  decantada 
e  substituída  por  outra,  repetindo  esta  operação  quatro  ou  seis  vezes  para 
termos  a  certeza  de  que  a  plombagina  fica  bem  lavada.  Fazcniol-a  depois 
seccar  n'nma  estufa  (n'um  forno  qualquer)  e,  em  seguida,  reduziuiol-a  a  jjó 
n'um  almofariz  e  fazemol-a  passar  por  um  peneiro  fino.  E  assim  que  nós 
procedemos  quando  queremos  purificar  este  carvão. 

Quando  se  trata  de  cobrir  de  plombagina  uma  superficie  moldada  que 
tenha  poucas  saliências  e  pequenas  reintrancias,  a  graphite,  t;il  (piai  a  pre- 
paramos pelo  processo  acima  descripto,  servo  muito  bem  e  dá  os  melhores 


186 


Vejamos  agora  como  se  opera  a  metallisação : 

N'um  prato  ordioario  qualquer  laoça-se  plombagina,  e,  çom 
um  pincel  de  sedas  ^  apanha-se  uma  porção  d'esla  substancia 
e  applica-se  sobre  um  ponto  qualquer  da  superfície  do  molde, 
estendendo-a  em  differentes  sentidos  e  muito  repetidas  vezes 
como  se  fora  uma  tinta. 

Toma-se  em  seguida  uma  nova  porção  de  graphite,  que  se 
applica  sobre  um  outro  ponto  do  molde  e  com  a  qual  se  pro- 
cede como  com  a  primeira. 

E  esta  operação  repele-se  o  numero  de  vezes  necessário 
para  que  toda  a  superfície,  que  tem  de  receber  o  deposito 
metallico,  fique  coberta  de  plombagina,  incluindo  os  pontos  em 
que  se  encontram  os  anneis  de  cobre. 

N'estas  condições,  tomando  uma  escova  macia,  fricciona- 
mos com  ella  ^,  em  differentes  sentidos  e  por  alguns  minutos, 
a  superfície  do  molde,  até  que  esta  fique  tão  brilhante  como 
se  fora  constituída  de  aço  polido.  E,  se  durante  este  trabalho 
percebermos  que  um  ou  outro  ponto  se  apresenta  com  menos 
brilho,  carecemos  de  recorrer  a  nova  applicação  da  plombagi- 
na, do  pincel  e  da  escova. 


resultados ;  mas  quando  a  supei-ficie  do  molde  é  meuos  simples,  torna-se  ne- 
cessário incoq^orar  na  plombagina  uma  substancia  metallica  para  a  tornar 
mais  conductora,  O  ouro  e  a  prata  são  os  metaes  a  que,  para  isso,  se  dá 
preferencia  e  que,  por  engenhosos  processos,  têm  sido  combinados  com  a 
graphite,  tornando-a  incomparavelmente  mais  conductora. 

Não  fallaremos  na  plombagina  dourada,  ou  combinada  com  o  ouro; 
porque  fica  muito  cara :  mas  vamos  tornar  conhecido  o  modo  mais  commodo 
de  obter  a  plombagina  j^rateada. 

O  processo  que  vamos  descrever  não  é  nosso :  encoutramol-o  no  livro  do 
auctorisatlo  galvanoplasta  Alfred  Eoseleur,  embora  as  proporções  dos  elemen- 
tos n'eUe  indicadas  estejam  longe  de  ser  as  que  a  nossa  experiência  nos  tem 
ensinado. 

Para  incorporar  a  prata  na  plombagina  dissolvemos,  n'uma  capsula  de 
porcellana,  vinte  e  cinco  grammas  de  nitrato  de  prata  em  cento  e  vinte  gram- 
mas  d'agua  distillada  e,  n'esta  solução,  lançamos  pouco  a  pouco  e  mexendo 
sempre  plombagina  até  que  a  mistiu'a  adquira  a  consistência  d"uma  massa 
pastosa.  Deixamos  seccar  a  massa  e,  em  seguida,  deitamol-a  n'um  cadinho 
coberto,  onde  pelo  calor  d'uma  forja  a  levamos  á  temperatura  rubra.  Depois 
de  resfriada,  pulverisamol-a  de  novo  e  passamol-a  por  um  peneiro  fino.  Em 
taes  condições  fica  prompta  para  os  usos  a  que  é  destinada. 

^  O  pincel  deve  ser  constituido  de  sedas  que,  já  pela  sua  grossura,  já 
pelo  seu  comprimento,  offereçam  a  resistência  necessária  á  operação  que  se 
tem  em  vista,  sem  que  todavia  sejam  capazes  de  riscar  o  molde,  qualquer 
que  seja  a  substancia  de  que  elle  é  fonnado. 

2  Na  nossa  prati(!a  usamos  uma  escova  exactamente  igual  áquellas  de 
que  se  servem  os  sapateiros  para  lustrar  o  calçado. 


187 


Insistimos  em  recommendar  o  maior  cuidado  na  operapão 
da  metallisafão;  porque  d'ella  depende  o  bora  resultado  da 
reproducção  e  porque  a  maior  parte  dos  insuccessos  d'aquelles 
que  comepam,  é  quasi  sempre  devida  á  pouca  attenção  que  se 
liga  a  esta  preparação  dos  moldes. 

Com  a  metallisação  os  moldes  de  gesso  ficam  perfeita- 
mente em  condições  de  poderem  entrar  no  banho;  mas,  aquel- 
les  que  são  confeccionados  com  gutta-percha,  carecem  ainda 
de  que  se  lhes  fixe  um  arame  de  cobre,  que  não  só  conduza 
a  corrente  eléctrica,  mas  que  até  sirva  para  suspender  o  molde 
da  varela.  t- 


Fig.  8 


Este  arame  poderá  ter  a  mesma  forma  e  disposição  que  in- 
dicamos para  os  moldes  de  gesso;  mas,  em  geral,  costumamos 
confeccional-o  d'um  modo  mais  simples,  sobretudo  quando  o 
molde  não  é  muito  pesado.  Tomamos  um  pedaço  de  arame  de 
cobre,  bastante  resistente  e  aguçado  nas  suas  extremidades ; 
dobramol-o  pela  sua  parle  média  e  arqueamol-o  perto  das 
pontas  (fig.  8) ;  aquecemos  as  suas  extremidades  a  uma  lâm- 
pada de  álcool  ou  outra  qualquer  e,  afastando-as  uma  da  ou- 


188 


tra,   cravamol-as  em   dois  pontos  oppostos  do  contorno   do 
molde,  onde  não  falta  a  plombagina. 

As  pontas,  tendo  sido  suíTicientemente  aquecidas,  penetram 
com  a  maior  facilidade  na  gutta-percha,  e  pelo  arrefecimento 
ficam-lhes  perfeitamente  unidas,  podendo  o  molde  ser  suspenso 
pelo  arame  em  todas  as  operações  ulteriores. 


TERCEIRA  PARTE 

Maneira  de  combinar  os  diversos  elementos  de  que  temos  failado 
para  obtermos  o  fim  que  nos  propomos 

Montada  a  pilha  da  maneira  que  acima  indicamos  e  metal- 
lisada  a  superfície  que  desejamos  reproduzir,  vejamos  o  que 
nos  resta  fazer,  para  que  esta  receba  o  deposito  galvanico : 

Por  meio  d'um  arame  de  cobre,  que  passe  pelos  anneis  do 
molde,  ou  pelo  angulo  do  arame  que  n'elle  está  lixo,  suspen- 
demos o  cliché  á  vareta  de  latão  e  de  maneira  que  elle  mer- 
gulhe completamente  no  banho,  sem  tocar  no  fundo  da  cuba 
e  fique  com  a  sua  superfície  plombaginada  voltada  para  o  dia- 
phragma,  parallela  a  esta  ^  e  pouco  mais  ou  menos  á  distan- 
cia de  dez  centimetros  ^.  Dispostas  as  coisas  por  esta  forma,  a 
pilha  começa  iramediatamente  a  funccionar,  e,  no  íim  de  pou- 
cos instantes,  se  a  plombagina  estiver  tão  perfeitamente  appli- 
cada  que  estabeleça  uma  camada  contínua,  estendendo-se  dos 
anneis  a  todo  o  cliché  que  desejamos  reproduzir,  começam  a 
apparecer  nas  proximidades  dos  anneis  uns  depósitos  de  co- 
bre, cuja  área  vai  successivamente  augmentando  em  dilferen- 
tes  sentidos,  mas  principalmente  na  direcção  do  centro  do 
molde.  E,  se  tivermos  sido  escrupulosos  na  montagem  da  pi- 
lha e  no  arranjo  e  disposição  da  superfície  destinada  á  repro- 
ducção,  em  poucas  horas  aquelles  depósitos  parciaes,  cami- 
nhando uns  para  os  outros,  acabam  por  se  confundir,  ao  mes- 


1  Quando  o  molde  não  fôr  sufficientemente  jicsado  para  sustentar  o 
seu  parallelismo  com  o  diaphragma,  é  necessário  juntar-llie  um  contrapeso  o 
para  isso  serve  qualquer  objecto,  comtanto  que  não  seja  de  natureza  tal,  que 
o  banho  tenha  acção  sobre  elle.  Nós  usamos  para  esse  fim  uma  rolha  de  vi- 
dro que  seja  pesada  bastante,  um  pedaço  de  granito,  etc. 

2  Se  o  molde  fôr  coUocado  a  menor  distancia,  o  deposito  metallico 
será  irregular,  grosseiro  e  muito  frágil. 


189 


mo  tempo  que  se  vão  também  estendendo  por  toda  a  super- 
ficie  plombaginada. 

Passadas  vinte  e  quatro  horas  já  toda  ou  a  maior  parte  do 
molde  se  encontra  coberta  d'uma  ténue  camada  de  cobre  côr 
de  rosa,  muito  brilhante  e,  raro  será  que  no  fim  do  segundo 
dia  essa  camada  o  não  cubra  em  toda  a  sua  extensão. 

Apesar  d'isto,  o  deposito  metallico  não  estará  ainda  em 
condições  de  ser  aproveitado.  É  necessário  dar  tempo  a  que  a 
camada  por  elle  formada  adquira  espessura  sufficiente  para  po- 
der deslacar-se  do  molde  sem  quebrar.  E  isto  só  poderá  con- 
seguir-se  no  Qm  de  sete  a  oito  dias,  durante  os  qiiaes  a  pilha 
não  deixará  de  funccionar. 

É  necessário  porém  notar,  que  os  diversos  materiaes  do 
nosso  apparelho  demandam  cuidados  diários,  que  não  poderão 
ser  postos  de  parte  sem  o  risco  de  comprometermos  o  resul- 
tado. A  pilha  deve  ser  desmontada  todos  os  dias  para  limpar 
e  reformar  o  seu  material.  O  diaphragma,  evacuado  o  liquido 
que  tem  no  seu  interior  e  desprendendo  uma  das  extremidades 
do  tubo  de  borracha,  presta-se  a  ser  convenientemente  lavado 
e  novamente  armado  para  receber  agua  acidulada  ou  salgada, 
que  para  esse  fim  se  prepara  de  novo  e  pelo  processo  acima 
indicado. 

O  zinco  lava-se  com  muita  agua,  empregando  ao  mesmo 
tempo  n'essa  operação  uma  vassoura  de  piassava,  para  fazer 
desapparecer  da  sua  superfície  o  deposito  negro  de  sulfureto 
de  zinco. 

A  varela  de  latão  deve  ser  limpa  com  uma  lixa  que  lhe 
tire  todas  as  manchas,  e  o  mesmo  deve  fazer-se  á  lamina  de 
cobre,  que  se  encontra  soldada  na  placa  de  zinco. 

Os  saccos  de  serapilheira,  depois  de  lavados,  são  nova- 
mente cheios  da  caparrosa  azul. 

O  molde,  finalmente,  depois  de  lavado  com  muita  agua  ^  é 
cuidadosamente  examinado  para  vermos  se  existem  alguns 
ponlos  onde  pareça  que  o  deposito  metallico  recusa  formar-se, 
e,  se  alguns  houver,  deixaremos  seccar  o  molde  e  applicare- 
mos  depois,  com  muito  cuidado,  nova  porção  de  plombagina 
sobre  cada  um  d'esses  pontos,  usando  do  pincel  e  da  escova 
para  a  fixar. 


1  Deve  evitar-se  tanto  quanto  possível  tocar  com  as  mãos  no  doiiosito 
metallico  e,  por  isso  mesmo,  a  lavagem  iFeste  deve  ser  feita  com  agua  dei- 
tada d' alto. 


190 


Feito  isto  trataremos  de  montar  novamente  a  pilha,  dis- 
pondo todas  as  peças  como  acima  Qcoii  dito.  E  esta  série  de 
operações  deve  ser  repetida  todos  os  dias,  até  que  a  camada 
metailica  não  deixe  ponto  algum  descoberto  e  tenha  adquirido 
a  espessura  sufficiente,  não  só  para  poder  destacar-se  do  mol- 
de sem  o  risco  de  se  quebrar,  mas  também  para  poder  resis- 
tir às  operações  por  que  tem  de  passar  mais  tarde. 


QUARTA  PARTE 

Separação  da  reproducção  metailica  e  operações  a  que  devemos  sujeital-a 
para  a  tornar  apta  ao  fim  a  que  a  destinamos 

Logo  que  o  exame  do  deposito  galvanico  nos  deixe  a  con- 
vicção de  que  aquellas  condições  estão  realisadas  (o  que  como 
acima  dissemos  não  é  fácil  antes  dos  oito  dias)  trataremos  de 
proceder  á  separação  das  duas  peças.  Comprehende-se  que  a 
maneira  de  executar  esta  operação  deve  variar  segundo  a  na- 
tureza da  substancia  plástica  empregada;  mas,  como  essa 
substancia  é  quasi  sempre  a  gutta-percha  ou  o  gesso,  vamos 
descrever  a  maneira  de  operar  n^estes  dois  casos : 

Retiramos  então  o  molde  do  banho;  limpamol-o  con- 
venientemente e  deixamol-o  seccar.  Em  seguida  tiramos- 
Ihe  o  arame  de  suspensão,  os  anneis  de  cobre,  os  depó- 
sitos irregulares  e  por  vezes  arvorescentes,  que  o  cobre 
costuma  formar  em  volta  da  reproducção  e,  finalmente,  as 
partes  do  contorno  do  molde  que,  pela  sua  posição,  possam 
embaraçar  a  sabida  da  peça  metailica.  Feito  isto,  se  a  sub- 
stancia empregada  na  moldagem  fôr  a  gutta-percha,  é  conve- 
niente, primeiro  que  tudo,  mergulhar  o  molde  em  agua  muito 
quente  até  que  a  gutta  adquira  algum.a  elasticidade  e,  tomando 
era  seguida  um  canivete,  faca  ou  espátula,  procuramos  intro- 
duzir a  lamina  d'este  instrumento  entre  a  peça  metailica  e  o 
molde,  imprimindo-lhe  movimentos  tendentes  a  favorecer  a 
separação  das  duas  peças.  Esta  operação  repelida,  mas  cora 
cuidado,  em  differentes  pontos  do  contorno  do  molde,  dá  em 
resultado  a  sabida  da  reproducção  ^ 


^    Todas  estas  operações  demandam  um  certo  habito  e  alguma  habili- 
dade manual ;  do  contrario  a  peça  metailica  parte-se. 


191 


Apesar  de  todas  as  precauções,  a  camada  metallica  assim 
destacada  da  substancia  em  que  se  depositou,  nem  sempre  tem 
a  solidez  necessária  ao  fim  a  que  se  destina,  e  este  defeito 
pronunciase  tanto  mais  quanto  maiores  forem  as  suas  dimen- 
sões. Para  remediar  este  inconveniente,  o  galvanoplasta  vê -se 
obrigado  a  recorrer  a  dois  artifícios,  que  são  simples  e  ver- 
dadeiramente píficazes.  Consiste  um  d'elles  em  estender  na 
face  posterior  da  reproducção  metallica  uma  camada  de  solda 
da  espessura  que  se  deseja.  A  execução  d'este  meio  demanda, 
todavia,  algum  cuidado.  Em  primeiro  logar  é  necessário  que 
a  solda  fique  perfeitamente  ligada  ao  cobre  em  todos  os  pon- 
tos ^,  e,  para  isso,  basta  applicar  sobre  toda  a  superficie  que 
tem  de  a  receber  um  pincel  embebido  em  agua  de  espirito  de 
sal  ou  agua  de  solda  ^  Era  seguida  loma-se  um  cadinbo  de 
barro,  onde  d'antemão  fizemos  fundir  uma  porção  de  solda  ^  e 
vasamol-a  na  superficie  de  cobre  assim  preparada  e  de  ma- 
neira que  todos  os  seus  pontos  fiquem  cobertos  pelo  metal  em 
fusão.  O  vasamento  da  solda  deve  ser  feito  muito  rapidamente 
e  em  diíTerentes  pontos  ao  mesmo  tempo  para  obstar  á  defor- 
mação da  reproducção  galvânica.  Dm  outro  modo  de  operar,  e 
que  não  será  menos  uti!  n'um  grande  numero  de  caso>í,  con- 
siste em  depositar  em  diíTerentes  pontos  da  superficie  do  cobre 
pequenos  bocados  de  solda  e  projectar  sobre  elles  o  jacto 
d'uma  lâmpada  de  soldar. 

O  outro  artificio,  mais  usado  ainda  do  que  o  antecedente, 
sobretudo  quando  a  reproducção  galvânica  tem  grandes  di- 
mensões e  por  isso  pouca  probabilidade  de  ser  destacada  do 
molde  sem  quebrar,  consiste  em  encher  a  reproducção  com 
pasta  de  gesso  preparada  na  occasião  e,  depois  d'esta  parte 
estar  completamente  sécca,  mergulhar  o  todo  em  agua  a  fer- 
ver para  dar  á  gutta-percha   uma  tal   ou  qual  elasticidade. 


1  Comprehende-se  a  necessidade  de  satisfazer  a  esta  condição:  jiois 
que  quando  a  reproducção  fôr  destinada  a  soffrer  grandes  pressões  deformar- 
se-hia  se  os  dois  metaes  não  estivessem  perfeitamente  unidos  em  todos  os 
pontos  da  superficie  do  cobre. 

2  Este  liquido  muito  usado  pelos  artistas  que  trabalham  om  objectos 
de  cobre  prepara-se  d'um  modo  muito  simples.  Toma-se  uma  porção  de  aci- 
do cblorhydrico  e  n'este  liquido  deitamos  pouco  a  pouco  pequenos  frafínien- 
tos  de  zinco  laminado.  Produz-se  desde  logo  uma  grande  etfervesconcia ;  o 
zinco  dissolve-se  e  fica  um  liquido  claro  que,  dei)0Í8  de  frio,  pôde  ser  usado 
como  acirna  dissemos. 

3  Partes  iguaes  de  chumbo  e  estanho. 


192 


D'esta  maneira  é  muito  fácil  destacar  o  molde  da  pepa  metal- 
lica  e  esta  fica  com  uma  consistência  sufficiente. 

Gomo  se  vé,  este  segundo  meio  é  empregado  antes  da  se- 
paração das  duas  peças  e  auxilia  muito  essa  separação,  em- 
quanto  que  o  primeiro  nunca  poderia  ser  usado  em  iguaes 
condições;  porque  a  alta  temperatura  da  solda  em  fusão,  fun- 
diria a  gutta-percha,  a  qual  adheriria  ao  deposito  metallico  e 
de  maneira  tal  que  não  haveria,  depois,  meio  algum  de  a 
destruir  d'um  modo  completo. 

Quando  porém  o  molde  fôr  de  gesso,  não  só  é  muito  mais 
fácil  separar  as  duas  peças,  mas  também  dar  á  reproducção  a 
resistência  de  que  carece.  O  molde,  depois  de  perfeita- 
mente sêcco  e  ainda  unido  á  reproducção,  é  coUocado  em  po- 
sição horisontal  com  a  superQcie  metallica  voltada  para 
cima.  Sobre  esta  superfície,  depois  de  lhe  ter  sido  applicada  a 
agua  de  espirito  de  sal,  deila-se  a  solda  em  fusão.  Solidificado 
o  metal,  e  emquauto  o  todo  se  conserva  ainda  quente,  tratare- 
mos de  destacar  a  peça  metallica.  Para  esse  fim  começaremos 
por  quebrar  com  uma  tenaz  ou  pequeno  martello  os  bordos  do 
molde;  depois,  e  procedendo  com  toda  a  cautela,  iremos  des- 
truindo o  gesso  pouco  a  pouco,  caminhando  sempre  da  peri- 
pheria  para  o  centro  do  molde,  e  usando  para  isso  dos  mesmos 
instrumentos. 

Por  ultimo  trataremos  de  fazer  desapparecer  alguns  fra- 
gmentos de  gesso,  que  porventura  tenham  ficado  presos  nas 
reintrancias  da  reproducção,  servindo-nos  para  isso  de  instru- 
mentos ponteagudos  de  qualquer  natureza  (ponteiros  de  ma- 
deira e  de  ferro,  canivete,  etc.  etc),  tendo  o  maior  cuidado 
em  operar  de  modo  que  não  risquemos  a  peça  metallica. 

Eis  em  poucas  palavras  o  nosso  modo  de  proceder  quando 
desejamos  obter  uma  cópia  em  metal  d'um  objecto  d'arte. 
Resta-nos  indicar  as  operações  a  que  a  reproducção  deve  ser 
sujeita  para  adquirir  uma  apparencia  agradável  e  satisfazer  ao 
fim  a  que  a  destinamos. 


(Continua). 

A.  DE  Mattos  Chaves. 


DOCUMENTOS    INÉDITOS 


DOS 


SÉCULOS     XII-XV 

(Continuado  da  pag.  143) 


MOSTEERO    DE    SOUTO 

LXXXI-I  A  ' 
1176 

Carta  de  venda  da  herdade  de  Fadai,  sita  na  freguezia  de  Souto 

nomine.  Ego  Maria  iohanis  una  cum  filia  mea  tota 

fafilaz.  Placuit  nobis  per  bona  pacis  et  uoluntas  ut  faceremus 
a  uobis  prior  domnus  godinus  una  cum  conuentui  uestro  kar- 
tam  uendiUonis  et  scripture  firmitudinis  de  hereditate  nostra 
própria  quam  habemus  in  uilla  souti  in  loco  que  uocitant  fa- 
dai subtus  moas  ceruas  discurrentes  aquas  a  ilumine  aue.  Da- 
mus  uobis  istam  liereditatem  quanta  nos  ibi  habemus  de  mon- 
te in  fonte  per  ubi  illam  melius  potueritis  inuenire.  Habeatis 
uos  illa  firmiter  pro  precio  que  de  uos  accepimus  vr.  mora- 


1  Uma  nova  pesquiza  á  freguezia  do  Mosteiro  de  Souto  forneeeu- 
nos  os  documentos,  que  seguem  e  que  em  grande  parte  vém  completar 
os  dados  históricos,  que,  relativamente  ao  convento  outr.'pra,alli  exis- 
tente, os  antecedentes  nos  patentearam.  ,•,. 

O  primeiro  numero  coUoeado  á  fronte  de  cada  documento  indica  a 
ordem  numérica  dos  mesmos;  o  segundo  indica  a  ordem  chronologica 
e  a  respectiva  collocação,  que  deveriam  occupar  em  ordem  aos  jã  pu- 
blicados, se  antes  no?  fossem  conhecidos. 

A  similhança  do  Portugaliae  Monumenía  Histórica,  entendemos 
conveniente  indicar  no  principio  de  cada  documento  o  assumpto  de 
que  elle  se  occupa,  com  o  que  despertaremos,  talvez,  mais  vivamente 
a  attenção  dos  leitores. 

7.0  Anno.  15 


194 


bitinos  et  sua  reuora  v.  sólidos  lantum  uobis  et  nobis  bene 
conplacuit  et  de  precio  nichil  remansil  in  debitum  pro  dare. 
Et  si  aliquis  iiomo  uenerit  uel  nos  uenerimus  tara  de  nostris 
quam  de  extraneis  qui  hoc  pactum  nostrum  uoluerit  irrum- 
pere.  pariat  istam  hereditatem  duplatam  uel  quantum  fuerit 
meiioratam  et  insuper  ccc.  sólidos.  Facta  karta  mense  aprilis. 
Sub.  E.  M.  CG.  X.  mi.  Ego  Maria  iohanis  una  cura  filia  mea 
tota  fafilax  a  uobis  prior  in  hanc  kartam  manus  nostras  ro- 
bor  +  a  +  m  +  V  -f  s. 

Nunus  teslis.  —  Johanes  lestis.  —  Mnendus  testis. 


LXXXn-YA 
1186 

Carta  de  venda  do  casal  de  Fadai,  sito  na  freguezia  de  Souto 

In  dei  nomine.  Ego  Pelagius  godini  una  cum  fratre  meo 
fernando  godini  nostra  spontanea  uoluntate  facimus  uobis  domno 
Godino  petri  priori  sautensi  et  fratribus  uestris  kartam  uenditio- 
nis  et  perpetue  Qrmitudinis  de  hereditate  nostra  própria  quam 
habemus  ex  parte  patris  nostri.  Damus  uobis  ipsum  casalera  ia 
uilla  de  sauto  in  loco  qui  dicitur  fadai  pro  pretio  iusto  quod  a 
uobis  accepimus  c.  et  x.  morabetinos  tantum  nobis  et  uobis 
bene  conplacuit.  et  apud  uos  nichil  de  pretio  remansit  pro 
dare.  Habet  autem  iacentia  ipsa  hereditas  in  uilla  supranominata 
de  sauto  in  loco  nominatum  de  fadai  subtus  mons  candaoso 
discurrentes  aquas  ad  flumen  aue.  território  brachara.  Damus 
uobis  atque  coocedimus  ipsam  supradictam  hereditatem  scilicet 
ipsum  casalem  de  fadai  cum  omnibus  terminis  et  prestationi- 
bus  suis.  cum  terris  cultis  et  incultis.  cum  aquis  et  defensis. 
et  montibus  et  domibus.  et  nineis  et  aruoribus.  per  ubicumque 
illam  inuenire  potueritis  sicut  illam  pater  noster  habuit.  Siquis 
igitur  uenerit  tam  de  propinquis  nostris  quam  de  extraneis  uel 
nos  uenerimus  qui  hoc  factura  nostrum  infringere  uoluerit.  sit 
excommunicatus  et  anatheraatizatus  et  cum  juda  traditore  infer- 
ni  penas  suslineat.  et  quantum  quesierit  in  duplo  pariat.  et 
insuper  mille  sólidos  persoluat.  Facta  karta  uenditionis.  Sub  e. 
M.  CG.  XX.  iiii.  Nos  supranominati  scilicet  ego  pelagius  go- 
dinj  una  cum  fratre  meo  fernando  godini  uobis  iam  predicto 
domno  godino  priorj  sautensi  et  fratribus  uestris  kartam  quam 


495 


fieri  iussimus  r  -f-  -f-  oboramus  et  confirmamvs.  Qui  uiderunt 
et  audierunt  et  presentes  fuerunt.  Ego  egeas  godini  confirmo. 
Ego  Petrns  maurus  niraaranensis  confirmo.  Ego  Petrus  uilar  con- 
firmo. Martinus  uelasquiz  testis.  Menendus  suerij  testis.  Fer- 
nandus  testis. 
Robertus  notuit. 

Lxxxni-xiA 

1240 

Carta  de  venda  da  herdade  da  Lage,  sita  em  Fiiz  (Santa  Eufemia  de  Prazins) 

Io  dei  nomine.  Hec  est  karta  uendilionis  et  pepetue  firmi- 
tudinis  quam  iu.ssimus  facere  eluira  petri  cura  filiis  et  filiabus 
méis.  Johanes  suarij  et  petrus  suarij.  Maria  suariz.  et  suus 
raaritus  Dominicus  gunsaluj.  et  Durancia  suariz.  et  ejus  mari- 
tus  petrus  martinj.  vobis  Johanj  menendiz  et  uxori  uestre  Ma- 
rie  petri.  De  nostra  hereditate  quam  habemus  in  fiiz  et  in  suo 
termino  in  loco  qui  uocitant  lagea  a  sumitate  montis  castro 
usque  riuolum  aue.  Vendimus  uobis  ipsam  heredilatera  de 
monte  in  fonte  pro  pretio  quod  a  uobis  accepimus  .xxii.  mora- 
betinos  tantura  nobis  et  uobis  placuit  et  de  pretio  apud  uos  ni- 
chil  remansit.  Habealis  igitur  ex  hac  die  seraper  firmiter  et 
qui  uobis  placuerit.  Siquis  uenerit  uel  uenerimus  qui  lioc  nos- 
trum  factum  irrumpere  uoluerit  conponat  uobis  ipsam  heredi- 
tatem  duplatam  et  quanto  fuerit  meliorata  et  cui  uocem  ues- 
tram  dederilis  pectet  illi  d.  sólidos.  Facta  karta  mense  februarij 
E.  M.  2xx.  VIII.  Nos  supranominati  qui  hanc  kartam  facere 
iussimus  coram  bonis  hominibus  nostris  manibus  roboramus. 
Pro  testibus.  Petrus.  Pelagius.  Johanes.  testes.  Martinus  no- 
tuit. 

LXXXIV-XIb 

1274 

Carta  de  venda  d'um  herdamento  sito  na  freguezia  do  Salvador  de  Souto 

In  dei  nomine  amen.  Hec  est  carta  uenditionis  et  perpetue 
firmitudinis  quam  iussi  fieri  ego  Dominica  martinj  quondam  fi- 


496 


lia  Martinj  iohaois  de  Chaim  uobis  Pelagio  iohanis  de  Chaim  de 
totó  herdamento  et  de  omoibus  bonis  que  mihi  euenemnt  ex 
parte  palris  mej  dicti  Martinj  iohaais  preter  ii.  castinaros  quos 
debeo  lenere  in  uita  mea  et  malris  mee  Eluira  menendi  et  per 
raorlem  meam  et  dicte  matris  mee  debent  reraanere  uobis  Pe- 
lagio iohanis  in  saluo  et  in  pace  quod  herdamentum  et  bona 
sunt  in  parronhia  sancti  Saluatoris  de  Sauto.  Vendo  uobis  pre- 
dictum  herdamentum  et  pro  iii.  morabetinos  ueteres  monete 
ueteris  portugalie  quos  de  uobis  recepj  et  nichil  de  predicto 
pretio  apud  nos  remansit  pro  dare.  Habeatis  igitur  supradi- 
ctum  herdamentum  et  bona  de  monte  in  fonte  cum  omnibus 
iuribus  et  pertinentiis  suis  per  ubi  melius  potueritis  inuenire 
et  omnis  posteritas  uestra  post  uos  firmiter  et  in  perpetuum  et 
si  ahquis  uenerit  qui  hoc  factnm  frangere  uel  temptare  uolue- 
rit  non  sit  ei  licitum  set  quantum  quesierit  uel  irapedierit  lan- 

tum  uobis  in  duplo  conponat  et  cui  dederis uocem  pe- 

ctet  illi  d.  sólidos  boné  monete  carta  ista  nichilominus  in  suo 

robore  ualitura  et  ego  Dominica hanc  cartara  iussi  fieri 

eam   coram   bonis   hominibus   méis  manibus  roborauj.  Fada 

carta  xx.  ii.  die  ílebruarij m.  ggg.  x.  ir.  presentibus 

Dominico  petri  canónico  de  Sauto.  Simeone  nunj.  Martino 

iohane  menendi.  Martino  pelagij  lajcis  de  uimaranes  et  Ego 
Laurentius  martinj  publicus  tabelio  uiraaranensis  ad  hoc  adhi- 
bitus  et  rogalus  a  partibus  supradictis  premissis  interfuj  et  ad 

instanciam  dicte  Dominice presentem  cartam  manu  mea 

própria  scripsi  et  in  ea  signum  meum  apposuj  quod  est  ta  4- 
lis  in  testimonium  hujus  rei. 


LXXXV-XIc 

1276 

Carta  de  venda  da  herdade  de  Figueiredo  de  jusão,  sita  na  freguezia  de  Bagunte 

In  christi  nomine  amen.  Hec  est  carta  vendicionis  et  per- 
petue firmitudinis  quam  quam  iussimus  fieri  ego  Martinus  pe- 
tri diclus  sequeira  et  uxor  mea  Maria  pelagij  et  Dominico  suge- 
rij  uobis  domno  Martino  laurencij  de  cuija  de  quanta  hereditate 
nos  habemus  in  parrochia  sancte  Marie  de  Begontj  in  loco  qui 
dicilur  figeireo  de  jusao  in  monte  et  in  fonte.  Vendimus  et 
concedimus    uobis   dictam   hereditatem    com   ingressibus   et 


197 


egressibus  et  omnibus  iuribus  et  pertinenciis  suis  pro  precio 
quod  a  uobis  recepimus  videlicet  xxv.  morabelinos  et  unum 
alqneirem  de  vino  et  unum  alqueirem  de  Iritico  et  pro  robo- 
ra  iiii.  sólidos  et  de  precio  nec  de  robora  apud  uos  nichil  re- 
mansit  iu  debitum  pro  dare.  habeatis  uos  et  omnis  posteritas 
uestra  supradictam  hereditatem  íirmiter  in  perpetuura  pro  ut 
superius  est  expressum.  Set  si  aliquis  homo  uenerit  qui  hoc 
factum  noslrum  frangere  uel  temptare  uoluerit  non  sil  ej  lici- 
tum  set  pro  sola  templacione  quantum  quesierit  tantum  uobis 
in  duplo  conponat  et  cui  uocem  ueslram  dederilis  c.  morabi- 
tinos  pectet  et  domno  terre  aliud  tantum  carta  ista  nichilomi- 
Dus  íq  suo  robore  permanente,  ffacta  carta  kalendas  augustj  e. 
M.  CGG.  xmi.  Qui  presentes  fuerunt  Slephanus  ozeira  (?)  de 
Milazes  et  Petrus  petri  de  figeireo  et  Micahel  martini  de  vera- 
zim.  Diegus  (?)  de  aluelos.  et  Ego  Dominiciis  iohanis  publicus 
tabellio  domini  Regis  portugalis  et  algarbij  ia  terra  de  liaria 
rogatus  hiis  omnibiis  interfui  et  hanc  cartam  própria  manu 
conscripsi  et  presens  sig  -{-  num  meum  eadem  apposui  in  tes- 
timonium  ueritatis. 


Lxxxvi-xm  A 


1283 

Carta   de   venda    das    herdades    de    Pombal,    Bouça    e    Qarda    (?), 
sitas  nas  freguezias  de  Souto,  Santa  Maria  e  Salvador 

In  dei  nomine.  Ego  Petrus  iohanis  procurator  de  Marina 
raartinj  moratore  de  ribejra  de  ocaja  per  procurationem  fadam 
per  manum  Romanj  petri  labellionis  de  Couelliana  el  sigillatam 
sigillo  de  presidente  Concilij  eiusdem  ville  mihi  ad  hoc  missain 
ífacio  cartam  uenditionis  et  perpetue  ffirmitudinis  uobis  Johanj 
martinj  dicto  de  sauto  armigero  de  tota  illa  hereditale  quam 
dicla  Marina  martinj  habet  in  illis  locis  qui  uocant  Paonbar 
Boufa  et  Garda  in  collacionibus  saneie  Marie  de  sauto  et  sancti 
Saluatoris  de  monasterio  de  sauto.  per  ubj  illam  raelius  potue- 
ritis  inuenire  cum  omnibus  iuribus  et  perlinencijs  suis  de 
monte  in  fonte,  pro  precio  quod  de  uobis  recepi.  vii.  morabe- 
tinos  ueteres  et  suam  roboram.  que  tantum  mihi  et  uobis  placuit. 
et  de  precio  apud  uos  nichil  remansit  pro  dare.  Habeatis  uos  igi- 
tur  supradictam  hereditatem  íirmiter  in  perpctuum  et  omnis 


198 


posteritas  uestra  post  uos.  Et  si  forte  aliquis  ueaerit  quihoc 
factura  Qostrum  irrumpere  uoluerit  non  sit  ei  licitura.  sed 
quantum  quesierit  tantum  uobis  in  duplo  conponat  et  cuj  uo- 
cem  uestram  dederitis  pectet  illj  d.  sólidos  boné  monete.  karta 
ista  raichilominus  ualitura.  ffacta  carta  xxii.  die  maij  e.  m.  cgc. 
XXI.  Ego  supradictus  Petrus  iohanis  pro  dieta  Marina  martinj 
cujus  procurator  existo,  hanc  cartam  iussi  fleri  et  eam  coram 
bonis  hominibus  méis  manibus  roboro  et  confirmo,  presentibus 
Alífonso  iohanis.  Stephano  iohanis  et  iMichaele  slephaoj  et  Me- 
nendo  petri  scolaribus  et  Ego  Vincentius  iohanis  publicus  ta- 
bellio  viraaranensis  uidj  legi  et  diligenter  inspexi  supradi- 
ctam  procuracionem  et  a  mandato  dicti  Petri  iohanis  procura- 
toris  hanc  cartara  scripsi  et  hoc  sig.  +  num  meum  apposuj  ia 
testimoniura  preraissorum. 


LXXxvn-xxii'A 

1284 

Testamento  de  Maria  Peres 

Quando  andaua.  e.  m.  cgc.  xx.  ii.  quinze  dias  andados  do 
mes  de  dezembro. 

Em  nome  de  deos  araen.  Eu  Maria  periz  era  meu  siso  e 
em  meu  entendimento  conpridamente  temendome  do  prosto- 
mejro  dia  de  rainha  morte.  Faço  e  ordino  minha  manda  e  meu 
testamento,  primeiramente  dou  a  alma  a  deos  e  mando  soter- 
rar ho  meu  corpo  no  moestejro  de  souto  e  mando  hi  comego. 
I.  quartejro  de  pam  e  i.  almallo  negro  (+).  i.  chumaço,  e.  i. 
almucela.  Itera  mando  ii.  maravidis  em  pam  e  em  pescado 
quando  me  leuarem.  Item  mando  quando  me  soterrarem  em  sa- 
grado. II.  maravidis  em  pam  e  em  pescado.  Item  mando  todo 
meu  erdamento.  P.  martinz  meu  sóbrio  em  ssa  uida.  e  depôs  mor- 
te desse.  P.  martinz  fique  liuremente  ao  moestejro  de  souto  por 
ma  anouersaria.  Item  mando  vi.  soldos  a  meu  abade.  Item 
mando  aas  pontes,  i.  almude  de  pam.  e.  i.  alraude  aus 
gafos.  e.  i.  almude  aas  gafas.  Item  mando  a  meu  irmo. 
D.  periz.  i.  arca  grande.  Item  raando  a  M.  de  bragaa.  a 
rainha  hucha  fechada,  e.  i.  ouella.  e.  i.  cabra.  Item  raan- 
do os  meus  sóbrios  de  foios.  i.  crabra  e  ao  filho  da  gale- 
ga. I.  crabrita.  Itera  mando  a  ma  sóbria.  Maria  ioanes  da 
guarda  o  meu  guardacos  por  soldada  que  lli  deuo.  Item  man- 


199 


do  a  Sancha  martios  a  ma  saya  uedra  de  uerde  e  a  touca  do 
cotio.  Item  mando  a  meu  marido  girai  periz  o  boy  mellor  a 
ma  mejadade  e  toda  ssa  ferramenta  que  Ha  non  parta  meu 
éreo.  Item  a  D.  de  bragaa.  i.  crabra.  Item  mando  a  erdade 
de  fliz  que  foy  de  Maria  periz  que  eu  teniia  a  penor.  que  fi- 
que liuremente  a  aquelles  que  hi  dereyto  am.  Item  mando  que 
deytem.  i.  maravidi  na  arca  da  cruzada.  Item  faço  meu  éreo 
meu  sóbrio.  P.  martins  em  todos  meus  beens  mouis  e  non  mo- 
uis  e  que  persolua  toda  ma  manda  e  rrogolli  pola  minha  been- 
çom  que  uaa  por  mi  a  sanliago. 
+  e  a  cuba  que  see  na  torre. 

(Continua). 
Tagilde  —  1898. 

Oliveira  Guimarães. 


APONTAMENTOS   FOLKLORICOS 

FAMALICENSES 

(Continuado  do  vol.  anterior,  pag.  186) 


COSTUMES   FAMALICENSES 

V 
Botar   fora   o    entrudo 

Em  muitas  freguezias  do  concelho  é  costume,  na  terça-fei- 
ra  de  entrudo,  pela  calada  da  noite,  «despejar  as  espingar- 
das», dar  tiros  ao  ar;  tocar  businas  e  apupar:  —  «elle  ahi 
vai! . . .  elle  ahi  vai! ... ». 

Chama-se  a  esta  caduca  costumeira  —  «botar  fora  o  en- 
trudo». 

VI 
Correi'   a  rosca 

Este  folguedo  popular  de  «correr  a  rosca»  é  semelhante 
ao  costume  que  ha  em  muitas  aldeias  do  Douro,  Traz-os-Mon- 
tes  e  Beira  Alta,  de  «correr  o  gallo»  pelo  entrudo  ^ 


^    Vid.   Tradições  populares  de  Portugal,  pag.  148,   O  Correr  o 
gallo  por  occasião  do  entrudo. 


201 


N'um  campo,  ou  n'um  largo,  espetam-se  dois  paus  distan- 
ciados, quando  não  tia  arvores  a  geito,  aos  quaes  se  ata  uma 
corda  à  altura  de  três  metros  aproximadamente. 

Pendura-se  da  corda  uma  rosca  de  trigo,  ou  pão  de  ló, 
que  tenha  um  oriGcio  bastante  largo.  Ao  longe  coUocam-se 
enfileirados  os  « corredores  »  de  varapau  em  riste.  A  um  si- 
gnal  convencionado  parte  o  primeiro  «corredor»  em  steeple- 
chase,  e,  ao  passar  por  baixo  da  rosca,  ha  de  enfiar  a  vara 
no  orifício. 

Como  não  é  fácil  ganhal-a  na  primeira  corrida,  quasi  sem- 
pre se  repete  este  jogo  —  usado  geralmente  pelo  entrudo  — 
entre  muitos  dos  lidadores  que  n'elle  tomam  parte. 

Ha  outra  variante  de  «correr  a  rosca»: 

Suspende-se  a  altura  que  o  corredor  só  diíFicilmente  lhe 
possa  tocar  com  a  vara  dando  um  grande  pulo,  quando  de 
corrida  passar  pela  rosca. 

As  roscas  são  quasi  sempre  ofTertadas  pelas  moças  (rapari- 
gas solteiras)  e  como  rara  é  a  que  não  tem  o  seu  derriço  —  é 
este  que  mais  das  vezes  a  ganha,  porque  a  « conversada » 
faz-lhe  entrega. 

Consiste  a  entrega  em  inventar  um  pretexto  qualquer:  ou 
porque  a  corda  está  bamba  ou  a  rosca  um  pouco  alta, — con- 
segue a  interessada  atal-a,  outra  vez,  de  modo  que  fique  á 
feição  do  seu  mancebo,  que  é  o  ultimo  da  corrida,  e,  sem  dif- 
ficuldade,  assim  ganha  a  rosca  ao  primeiro  assalto. 


VII 


A.    queima,   do    Judas 

No  sabbado  da  Alleluia  ainda  é  costume  vulgar  queimar  o 
Judas.  Os  rapazes  enforcam  n'uma  arvore,  ou  espicham  n'um 
pau,  um  mono  de  palha  vestido  á  guisa  do  apostolo  Iscario- 
tes,  que,  arrependido,  depois  de  trahir  Jesus,  se  enforcou 
n'uma  figueira:  «arvore  que,  por  este  motivo  —  diz  o  povo 
—  dá  fructo  sem  fiòr  ». 

Cerca  das  nove  e  meia  horas  da  manhã,  quando  os  sinos 
principiam  de  repicar  festivamente  á  Alleluia,  os  rapazes  che- 
gam fogo  ao  Judas,  que  tem,  quasi  sempre,  entre  a  palha  da 
cabeça,  bombas  de  dynamile. 

Apenas  estoira  a  ultima  bomba  segue  a  garotada,  em  alga- 


202 


zarra  pelas  ruas,  atraz  d'ura   folgazão  que  vai  tocando  cam- 
painha e  saudando:  —  AUeluia,  alleluia,  alieluia. . . 


VIII 
A!s   relas 

Chama-se  rela  a  uma  canna  de  dois  palmos,  pouco  mais 
ou  menos,  fendida  até  ao  meio  em  Ires  partes  iguaes. 

Dois  lados  são  atravessados  por  um  eixo  de  pau  a  que 
está  fixa  uma  delgada  roda,  de  madeira,  dentada.  O  outro 
lado  que  fica  solto,  chama-se  lingueta. 

Fazendo  girar  a  canna  sobre  o  eixo,  a  lingueta  bate  nos 
dentes  da  roda  e  produz  um  estridulo  e  monótono  réré-réré.  .  . 

Era  esta  musica  infernal,  que,  ha  poucos  annos  ainda,  ra- 
pazes e  velhos,  iam  tocar  —  quarta-feira  de  Trevas  —  de  noi- 
te, á  porta  de  quem  se  não  tivesse  ainda  desobrigado. 

Esta  costumeira  vai-se  obliterando. 

Ha  cincoenta  annos  aproximadamente  —  assegura-nos  mais 
um  dos  nossos  fieis  informadores  —  muito  poucos  eram  os  ca- 
tholicos  que  se  guardavam  para  satisfazer  ao  preceito  da  des- 
obriga na  quinta-feira  de  Endoenças. 

Costumavam,  n'este  dia,  uns  gracejadores  de  mau  gosto, 
esperar,  á  porta  da  igreja  matriz,  os  que  sabiam  do  confesso, 
para  os  acompanhar  debaixo  d'um  pallio  de  esteira  de  que 
pendiam  campainhas. 

Os  desobrigados  viam-se  na  necessidade  de  dar  ás  de  Villa 
Diogo  para  se  furtarem  a  este  ridículo  acompanhamento. 

(Continua). 

Abílio  de  Magalhães  Brandão. 


INSTKUCÇlO  POPULAR 


Lei    de   2    de    maio    de    1878 

(Continuado  da  pag.  146) 

CAPITULO   III 

13a,    escola 

Artigo  18.°  As  escolas  primarias  para  um  e  outro  sexo 
dividem-se  em  duas  classes :  escola  com  ensino  elementar,  e 
escola  com  ensino  elementar  e  complementar. 

|.  único.  O  ensino  complementar  é  feito  nas  escolas  de 
ensino  elementar,  em  curso  separado. 

Em  todas  as  sedes  do  concelho  será  estabelecido  o  ensino 
complementar  n'uma  das  escolas  de  ensino  primário  elementar 
de  cada  um  dos  sexos. 

Artigo  19.°  Em  cada  parochia  haverá  em  regra  uma  es- 
cola primaria  com  ensino  elementar  para  cada  sexo. 

|.  1.°  Á  escola  primaria  para  cada  um  dos  sexos  com  en- 
sino elementar  poderá  servir  para  duas  ou  mais  parocliias, 
quando  os  alumnos  das  parochias  reunidas  não  excedam  de 
sessenta,  e  possam  frequentar  regularmente  a  escola. 

|.  2."  Se  na  parochia  ou  parochias  adjuntas  não  poder 
estabelecer-se  uma  escola  para  cada  sexo,  haverá  uma  escola 
mixta  em  dias  alternados. 

Artigo  20. "*    Nas  cidades  de  Lisboa  e  Porto  e  também  nas 


204 


outras  capitães  de  districto  administrativo,  ou  onde  por  virtude 
da  densidade  da  população  liaja  mais  de  uma  escola  comple- 
mentar ou  elementar,  as  camarás  municipaes,  com  auctorisa- 
ção  do  governo,  podem  estabelecer  escolas  centraes  com  três 
ou  quatro  professores  ou  professoras. 

Artigo  21.°  As  escolas  primarias  elementares  para  o  sexo 
masculino  são  regidas  por  professores  ou  professoras;  as  com- 
plementares para  o  sexo  masculino  por  professores ;  as  esco- 
las elementares  e  complementares  para  o  sexo  feminino  por 
professoras.  As  escolas  mixtas  devem  ser  regidas  por  profes- 
soras. 

|.  1.°  Não  havendo  professora,  a  escola  mixta  é  dirigida 
por  professor  casado,  ou  que  tenha  na  sua  familia  alguma  se- 
nhora a  quem  se  entregue  a  educação  das  meninas  e  o  ensino 
dos  trabalhos  de  agulha,  sendo  considerada  para  todos  os  efíei- 
tos  como  ajudante  da  escola. 

|.  2.''  Na  escola  primaria  com  ensino  elementar,  como 
na  escola  primaria  com  ensino  complementar  de  qualquer  dos 
sexos,  haverá  um  ajudante  para  cada  grupo  de  sessenta  alum- 
nos  com  frequência  regular,  além  do  primeiro  grupo. 

|.  3.°  Nas  escolas  mixtas,  bem  como  nas  escolas  elemen- 
tares regidas  por  professores,  não  são  admitlidos  alumnos  de 
idade  superior  a  doze  annos. 

Artigo  22."  O  ensino  nas  escolas  primarias  de  que  trata 
esta  lei  é  gratuito  para  os  alumnos. 

Artigo  23.°  As  camarás  municipaes  que  subsidiarem  es- 
colas ou  collegios  livres,  onde  se  ministre  gratuitamente  o  en- 
sino primário  elementar  aos  alumnos  pobres,  são  dispensadas 
das  obrigações  de  estabelecer  a  correspondente  cadeira  na  pa- 
rochia  respectiva. 

O  mesmo  se  observará  com  relação  ao  ensino  primário 
complementar. 

|.  único.  Estas  escolas  ficarão  para  todos  os  effeitos  su- 
jeitas á  inspecção  das  auctoridades  escolares. 

Artigo  24.**  As  camarás  municipaes  devem  promover,  nos 
sitios  que  julgarem  convenientes,  cursos  nocturnos  e  domini- 
caes  para  adultos. 

|.  único.  Estes  cursos  podem  ser:  de  ensino  elementar, 
de  aperfeiçoamento  de  ensino  elementar  ou  de  ensino  comple- 
mentar. Poderão  ser  regidos  pelos  professores  de  ensino  ele- 
mentar ou  complementar,  mediante  a  gratificação  que  for  esti- 
pulada. 

Artigo  25.°    As   camarás  municipaes  devem   estabelecer 


205 


cursos  temporários  de  durapão  nunca  inferior  a  seis  mezes, 
nas  localidades  onde  circumstancias  especiaes  se  oppooham  á 
creaç.ão  immediata  das  escolas,  segundo  as  regras  estabeleci- 
das no  artigo  19.° 

Artigo  26.°  As  escolas  de  que  tratam  os  artigos  24.°  e 
25.°  são  consideradas  publicas  para  os  effeitos  da  presente  lei, 
e  sujeitas  ao  horário  que  era  cada  localidade  fôr  estabelecido 
pela  commissão  de  beneficência  e  ensino. 

Artigo  27.°  É  livre  o  ensino  primário  elementar  e  com- 
plementar nos  termos  da  presente  lei. 

CAPITULO   IV 

Da,s    commissões    promotoras    de    beneficência    e    ensino 

Artigo  28.°  As  camarás  municipaes,  com  o  auxilio  da  au- 
ctoridade  administrativa,  dos  parochus  e  dos  membros  da  junta 
de  parochia,  organisam  commissões  promotoras  de  beneficên- 
cia e  eosino  nas  localidades  onde  houver  escola  primaria,  para 
promoverem  a  frequência  das  creanças  e  adultos;  a  acquisição 
e  distribuição  de  vestuário,  livros  e  outros  objectos  de  ensiuo 
ás  creanças  mais  necessitadas;  a  creação  de  prémios  para  os 
alumnos  dislinctos;  a  prestação  de  soccorros  e  subsidies  para 
amparar  as  famílias  desvalidas  no  cumprimento  da  obrigação 
do  ensino;  e  tudo  o  mais  que  fôr  conducente  á  ditfusão  do 
processo  d-a  instrucção  popular. 

|.  1.°  Estas  commissões  serão  compostas,  pelo  menos, 
de  quatro  cidadãos  e  de  três  senhoras  residentes  na  freguezia. 

|.  2.0  Quando  não  for  possível  organisar  as  commissões 
promotoras  pelo  modo  determinado  no  |.  antecedente,  as  ca- 
marás municipaes,  com  o  auxilio  da  junta  de  parochia,  desi- 
gnam três  chefes  de  família  em  cada  parochia  para  auxiliar  a 
escola  até  que  se  organisem  definitivamente  as  commissões. 

|.  3.°  O  parocho  fará  sempre  parte  das  commissões  de 
que  trata  este  artigo. 

|.  4.°  O  secretario  das  commissões  promotoras  é  escolhi- 
do por  ellas  d'entre  os  seus  membros  ou  outras  pessoas  idó- 
neas, que  residirem  na  parochia  ou  no  município. 

Artigo  29.°  As  commissões  promotoras,  como  administra- 
doras das  receitas  provenientes  das  multas,  de  subscripções, 
donativos  e  subsídios,  prestam  annualmente  contas  à  camará 
municipal  do  concelho. 

(Continua). 


BOLETIM 


A  direcção,  tendo  sido  auctorisada  pela  assembléa  geral  a 
crear  e  regulamentar  cursos  de  ensino  popular,  conforme  o 
plano  e  propostas  que  transcrevemos  no  boletim  transacto,  em 
sessão  de  1  de  agosto,  approvou  o  regulamento  para  a  orga- 
nisação  do  ensino  militar,  elaborado  pelo  digno  presidente  o 
snr.  dr.  António  Coelho  da  Motta  Prego. 

O  regulamento  é  o  seguinte: 


1.» 

E  fundada  pela  Sociedade  Martins  Sarmento  uma  escola  de  ensi- 
no militar  infantil,  comprehendendo  —  instrucção  theoriea,  manejo  de 
armas  e  gymnastica. 

2.0 

Serão  admittidos  com  preferencia  os  alumnos  das  escolas  prima- 
rias ofiQciaes  do  concelho,  até  o  n."  de  50,  podendo  ser  maior  se  o  ins- 
tructor  o  julgar  conveniente. 

Quando  o  numero  não  esteja  completo  com  alumnos  d'aquellas  es- 
colas, pôde  qualquer  sócio  exigir  a  admissão  de  outros,  ficando  a  car- 
go do  soeio  a  uniformisação. 


207 


3.0 

Os  alumnos  serão  matriculados  pelo  instructor  em  presença  de 
ura  despacho  da  direcção,  e  a  matricula  será  por  seis  mezes. 

No  acto  da  matricula  o  alumno  não  pobre  pagará  a  quantia  de 
1)3000  reis,  que  será  entregue  ao  thesoureiro  da  direcção  por  meio  de 
uma  guia  passada  pelo  instructor :  o  thesoureiro  passará  n'ella  recibo, 
sem  o  qual  o  instructor  não  admittirá  o  alumno. 

4.0 

A  Sociedade  fornecerá  os  uniformes  a  15  alumnos  pobres,  conser- 
vando todavia  a  propriedade  d'elles. 

Estes  alumnos  só  podem  usar  do  uniforme  na  oceasião  da  instruc- 
ção  ou  em  serviço  determinado  pelo  instructor. 

Todos  os  mais  alumnos  terão  uniforme  seu  próprio,  fornecido  por 
seus  pães  ou  protectores,  igual  em  tudo  áquelle. 

5.0 

O  uniforme  consistirá  em  bonet,  blusa  e  calça  de  cotim  escuro  e 
sapato  de  entrada  alta,  conforme  o  padrão  que  fôr  escolhido. 

6.0 

Quando  o  alumno  se  não  habilitar  no  período  de  seis  mezes  e  hou- 
ver de  continuar  na  escola,  abrir-se-ha  nova  matricula  por  igual  tem- 
po, pagando»  no  acto  1^000  reis,  observando-se  o  que  fica  estabelecido 
para  a  primeira. 

7.0 

O  armamento  será  fornecido  pela  Sociedade  Martins  Sarmento. 

8.0 

O  ensino  será  ministrado  por  um  militar  eíTectivo  ou  reformado, 

que  receberá  a  gratificação  de por  lição,  e  além  d'isso  metade 

da  propina  da  matricula. 

9.0 

As  lições  terão  logar  nos  dias  feriados  da  semana,  não  excedendo 
a  duas,  e  cada  lição  durará  duas  horas  eITectivas. 

lO.o 
Ao  instructor  incumbe  toda  a  escripturação  relativa  á  escola. 


208 


O  instructor  é  obrigado  a  ensinar  aos  alumnos  tudo  o  que  perten- 
ce ao  ensino  de  recruta  do  exercito,  aceoinmodado  a  creanças. 

12.° 

Os  alumnos  não  terão  menos  de  nove  annos  nem  mais  de  doze, 
salvos  casos  especiaes. 

13.0 

Os  alumnos  devidamente  instruidos  podem,  quando  o  instructor 
assim  o  proponlia  á  direcção,  ter  exercícios,  revistas,  marchas,  exercí- 
cios de  fogo  e  praticar  todos  os  mais  actos  ou  serviços  que  são  pró- 
prios dos  corpos  de  tropa. 

14.0 

Os  alumnos  matriculados,  que  forem  julgados  aptos,  podem  até  os 
16  annos  tomar  parle  nos  exercícios  e  demais  serviços  militares  da 
escola. 

lo.o 

Os  alumnos  estão  sujeitos  á  mais  severa  disciplina. 
O  alumno  que  se  mostrar  incorrigível,  será  despedido  e  não  mais 
será  admítlído. 

16.0 

O  instructor  pôde  dividir  a  escola  era  secções  distribuindo  os 
commandos  d'ellas  aos  alumnos  que  mais  se  distinguirem. 

17.0 

O  instructor  pôde  investir  o  alumno  mais  adiantado  da  sua  es- 
cola do  comraando  d'ella  nos  actos  e  serviços  públicos. 

Este  alumno  usará  de  espada  e  terá  o  distínetivo  do  commando. 

18.0 

O  instructor  proporá  as  alterações  que  forem  necessárias  n'esta3 
bases. 

Na  mesma  sessão  deliberou  a  fundação  do  curso  e  resolveu 
que  se  pedisse  á  illustrada  vereação  um  pequeno  subsidio 
para  armamento  e  appareihos  de  gymnastica,  em  virtude  do 
que  lhe  foi  dirigida  a  seguinte  representação: 


209 


Exe.^o  snr.  —  A  direcção  da  Sociedade  Mart  ns  Sarmento,  devi- 
damente auctorisada  pela  assembléa  geral,  deliberou  crear  uma  escola 
de  ensino  militar  infantil,  comprehendendo  instrucção  iheorica  e  pra- 
tica, e  gymnastica  aecommodada  a  creanças. 

Ao  'illustrado  espirito  de  v.  exe.»  e  de  seus  dignos  collegas  não 
pôde  deixar  de  evideneiar-se  toda  a  utilidade  que  provém  de  uma  es- 
cola d'esta  natureza,  que  tem  por  fim  ministrar  noções  indispensáveis 
a  todos  os  cidadãos  quanto  ao  manejo  e  uso  das  armas,  e  fazer  desap- 
parecer  o  horror  ao  serviço  militar,  que  só  uma  educação  apropriada 
irá  extinguindo. 

Consequência  necessária  d'esta  aprendizagem  infantil  será  a  mais 
regular  marcha  do  serviço  do  recrutamento,  porque  cessará  uma  das 
causas  que  mais  a  entorpece:  a  quasi  invencível  repugnância  dos  po- 
vos, para  os  quaes  o  ensino  de  recruta  é  summamente  custoso. 

Nas  terras  mais  adiantadas  se  tem  prestado  toda  a  attenção  a  es- 
tas escolas;  e  os  poderes  públicos,  conhecedores  do  seu  eíTeito  nas  po- 
pulações, as  tem  protegido. 

O  município,  a  que  v.  exc*  tão  dignamente  preside,  tem,  por 
isso,  muito  a  lucrar  com  a  fundação  de  uma  escola  de  ensino  militar. 

Além  de  ser  uma  instituição  que  dá  honra  e  lustre  a  Guimarães, 
faz  amar  uma  vida  de  perigos*  e  de  trabalhos,  educa  o  cidadão  fazen- 
do-o  confiar  mais  nos  próprios  recursos  no  movimento  de  linha,  avi- 
gora  as  forças  das  creanças,  e  grava  no  seu  espirito  infantil  a  sagrada 
idéa  da  pátria. 

É  por  isso,  qu^  a  Sociedade  Martins  Sarmento,  á  qual,  como  v. 
exe.=>^  sabe,  fallecem  os  recursos  para  realisar  todos  os  seus  emprehen- 
dimentos  a  favor  da  instrucção  popular  do  concelho  de  Guimarães, 
vem  recorrer  á  exc^^^  comraissão  municipal  para  se  dignar  conceder 
um  qualquer  subsidio  para  a  compra  de  armamento  infantil  e  appare- 
Ihos  de  g\"mnastica,  —  ficando  os  objectos  sendo  propriedade  muni- 
cipal. 

Deus  guarde  a  v.  exc»,  etc. 

É  de  esperar  que  a  camará  municipal,  que  decerto  applau- 
de  os  intuitos  da  Sociedade  e  comprehende  a  conveniência  de, 
entre  as  nossas  classes  populares,  se  desenvolver  o  gosto  pe- 
los exercidos  militares  e  manejo  de  armas,  defira  opportuna- 
mente  a  tão  justa  pretensão. 


* 


Um  successo  extraordinário  alvorofou  a  cidade  de  Guima- 
rães e  temos  o  prazer  de  aífirmar  que  a  direcção  da  Sociedade 
foi  a  primeira  corporação  a  manifestar  a  sua  grande  satisfarão 
por  ver  realisado  o  restabelecimento  da  Insigne  e  Heal  Colle- 
giada  de  Nossa  Senhora  d'01iveira. 

Abstrahindo  da  questão  irritante,  perigosa  e  turbulenta  do 
conílicto  com  Braga,  foi  esta  a  maior  na  vida  moderna  d'esta 

7.°  AnNO.  16 


210 


cidade,  porque  se  luctava  contra  leis  vigentes,  que  era  preciso 
revogar,  e,  o  que  era  peor,  contra  o  descrédito  geral  d'uma 
instituição,  que  geralmente,  fora  d'esta  cidade,  e  até  n'esta 
cidade,  tinha  decahido  até  á  s)'nonymia  da  mandriice.  A  cam- 
panha para  a  consecução  da  escola  industrial  Francisco  de  Hol- 
landa  foi  dilatada  e  árdua,  exigiu  esforços  extraordinários,  e 
foi  necessário  que  esta  Sociedade,  para  convencer  os  poderes 
públicos  da  necessidade  urgente  da  nova  instituição,  organi- 
sasse  uma  exposição  de  industrias  do  concelho;  mas  tinha  a  seu 
favor  a  corrente  das  novas  idéas,  a  opinião  geral  dos  povos 
cultos  indicando  os  estudos  práticos  corao  elemento  absoluta- 
mente indispensável  da  instrucção  popular,  o  convencimento 
de  que  a  industria  portugueza  carece  de  elevar-se  pela  ins- 
trucção apropriada,  para  sustentar-se  na  grande  lucta  do  com- 
mercio  europeu. 

Felizmente  encontrou-se  a  formula,  que  tornasse  sympathi- 
ca  a  restauração  da  gloriosa  instituição  vimaranense  e  reforma 
da  sua  constituição,  ligando  ao  culto  puramente  e  directamen- 
te religioso  o  culto  da  instrucção,  abrigando  o  filho  do  povo, 
que  se  instrue  para  adquirir  honestamente  os  meios  de  sua 
subsistência,  sob  a  protecção  da  Virgem  da  oliveira. 

A.  Sociedade  não  occupou  n'esta  campanha,  collectivamente, 
o  logar  proeminente  que  havia  occupado  para  a  conquista  da 
escola  industrial;  mas  collaborou  quanto  pude,  e  temos  ainda 
a  satisfação  de  podermos  affirmar  que  a  esforços  de  consócios 
illustres,  começando  pelo  snr.  conselheiro  João  Franco  Castello 
Branco,  nosso  estimável  sócio  honorário,  se  deve  a  consecução 
d'esta  grande  obra,  a  restituição  ao  povo  de  Guimarães  da  sua 
insigne  e  secular  instituição. 

Por  isso  a  Sociedade  não  podia  ficar  inerte  e  silenciosa, 
isolando-se  da  alegria  geral.  E  não  ficou. 

Na  sessão  de  12  de  agosto,  o  digno  presidente,  o  snr.  dr. 
António  Motta  Prego,  historiando  as  difficuldades  que  houve  a 
vencer  para  ser  votado  o  projecto  pelo  parlamento,  elogiando 
calorosamente  os  inolvidáveis  serviços  prestados  pelos  snrs. 
conselheiros  João  Franco  e  Lopo  Vaz,  notando,  com  eloquentes 
expressões,  a  gratidão  que  animava  o  povo  de  Guimarães, 
propoz  que  se  consignasse  na  acta  um  voto  de  louvor  aos  dois 
illustres  estadistas,  se  dirigisse  ao  snr.  conselheiro  Franco  uma 
mensagem  de  agradecimento  em  nome  da  direcção,  communi- 
cando-se  ao  snr.  conselheiro  Lopo  Vaz  a  expressão  do  reconhe- 
cimento da  direcção,  e  que  fosse  coUocado  n'uma  sala  do 
edificio  da  sociedade  um  retrato  do  sócio  honorário  o  snr. 


211 


conselheiro  João  Franco,  com  uma  dedicatória  memorando  os 
seus  eminentes  serviços. 

Será  supérfluo  accrescentar  que  estas  propostas  foram  logo 
approvadas. 

O  snr.  vice-presidente,  abbade  de  Vil  Ia  Nova  de  Sande, 
ponderando  a  qualidade  e  valor  dos  serviços  prestados  pelo 
eminente  estadista,  o  snr.  conselheiro  Lopo  Vaz,  propòz  que  se 
convocasse  a  assembléa  geral,  afim  de  o  acclamar  sócio  ho- 
norário d'esta  corporação,  o  que  foi  também  enthusiastica- 
mente  approvado. 

O  snr.  dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães  ponderou  as  diíR- 
culdades  que  havia,  em  questões  d'esta  ordem,  quando  toda 
uma  numerosa  população  se  empenha  e  collabora  na  conquista 
d'uma  instituição  de  commura  interesse,  em  distinguir,  d'en- 
tre  patricios,  a  maior  efficacia  de  collaboração ;  mas  que,  ha- 
vendo quem  mais  ostensivamente  os  revele,  ha  quem  se  des- 
taque, e  é  a  estes  a  quem  é  de  justiça  e  de  uso  dirigir  ex- 
pressões de  louvor;  que  n'esta  questão  da  collegiada  foi  o 
snr.  Francisco  Ribeiro  Martins  da  Gosta  quem  tomou  a  mais 
eíficaz  iniciativa,  trabalhando  sempre  no  mesmo  empenho  até 
agora.  Que,  em  harmonia  com  estas  idéas  lembrava  que  se 
propozesse  á  assembléa  geral  que  este  nosso  patrício  e  esti- 
mável consócio  fosse  acclamado  sócio  honorário;  e  se  consi- 
gnasse um  voto  de  louvor  e  reconhecimento  aos  snrs.  conde 
de  Margaride,  visconde  de  Sendello,  commissão  de  vigilância 
organisada  no  coraicio  do  theatro  de  I).  AfTonso  Henriques, 
imprensa  periódica  d'esta  cidade,  direcção  e  representantes  de 
corporações  que  intervieram,  coadjuvando  a  causa  commum. 

Esta  proposta  foi  igualmente  approvada. 


N'esta  mesma  sessão  foi  proposto  para  sócio  o  snr.  Albano 
Ribeiro  Bellino,  d'esta  cidade,  sendo  proponente  o  snr.  dr. 
Avelino  Guimarães.  Foi  votada  a  sua  admissão  por  unanimi- 
dade. 


Na  sessão  extraordinária  de  18  de  agosto  propuz  que,  sen- 
do a  restauração  da  collegiada  motivo  de  rcgosijo  para  todo  o 
concelho,  devia  promover-se  a  assignatura,  não  só  pela  cidade, 
mas  por  todas  as  freguezias  do  concelho,  d'uma  mensagem  de 

* 


212 


agradecimento  aos  mais  altos  protectores  da  concessão,  os 
snrs.  coDselheiros  Franco  e  Lopo  Vaz.  Assim  se  resolveu,  e  foi 
incumbido  da  redacção  da  mensagem  o  snr.  dr.  Avelino  Gui- 
marães. 

Em  28  de  agosto  houve  a  assembléa  geral,  presidindo  o 
mui  digno  abbade  de  S.  Cypriano  de  Taboadello,  secretariado 
pelos  snrs.  António  José  da  Silva  Ferreira  e  Manoel  Fernandes 
da  Silva  Corrêa.  Sendo  apresentadas  aquellas  propostas  da 
direcção,  foram  todas  unanime  e  enthusiasticamente  approva- 
das,  resolvendo-se  por  proposta  do  snr.  Manoel  Fernandes  da 
Silva  Corrêa,  que  na  consignação  do  voto  de  louvor  por  pres- 
tantes serviços  para  a  consecução  do  restabelecimento  da  col- 
legiada  fosse  expressamente  incluído  o  nome  do  snr.  dr.  Ave- 
lino da  Silva  Guimarães. 

Foram  estes  os  factos  principaes  e  d'uma  alta  importância 
para  a  instrucção  popular  d'este  concelho,  com  que  a  Socieda- 
de aíTirmou  a  sua  actividade  no  findo  trimestre. 


Durante  elle  foi  a  Sociedade  obsequiada  com  as  seguintes 
oífertas  para  a  bibliotheca  e  museu : 

Academia  Polylechnica  do  Porto.  1  volume ; 

Dr.  Armindo  de  Freitas  Ribeiro  de  Faria,  1  volume; 

Adelino  Lemos,  l  volume; 

Lopes  &  C.^,  4  volumes ; 

Dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães,  1  volume ; 

Dr.  João  de  Deus,  1  volume; 

Empreza  do  JSovo  Mensageiro  ão  Coração  ãe  Jesus,  1  volume ; 

Associação  Gommercial  de  Lisboa,  1  volume; 

Dr.  F.  M.  Sarmento,  7  volumes; 

Gabriel  d'Almeida,  1  volume  e  uma  assignatura  de  Castilho,  feita 
em  Ponta  Delgada  em  1847 ; 

Empreza litteraria  e  typographica,  do  Porto,  1  volume; 

Misericórdia  de  Felgueiras,  1  volume; 

Dr.  João  de  Deus.  3  volumes : 

Conselheiro  Jeronymo  da  C.  Pimentel,  2  volumes; 

J.  B.  Ferreira  d 'Almeida,  1  volume; 

António  Augusto  Pinto  de  Azevedo,  1  volume: 

Direcção  Geral  do  Gommercio  e  Industria,  l  volume ; 

Fortunato  Casimiro  da  Silveira  Gama,  abbade  de  Quinchães,  83 
volumes. 


213 


Os  museus  receberam  offertas  dos  snrs.: 

Jeronymo  FraneisRO  (i'Abreu,  Luiz  António  Pereira,  tenente-coro- 
nel  Sequeira,  Alexandre  Leitão  e  reitor  de  Nespereira. 

Manoel  Brandão,  de  Lisboa,  2  valiosos  exemplares  munismaticos. 

A  todos  os  dignos  oíTerentes  muitos  agradecimentos  da  So- 
ciedade. 

A  Sociedade  recebe  actualmente  os  seguintes  periódicos: 

Diário  do  Governo  (Lisboa). 

Gazeta  de  Portugal  (Idem). 

A  Pátria  (Idem). 

O  Tempo  (Idem). 

Correio  da  Manhã  (Idem). 

O  Dia  (Idem). 

Folha  do  Povo  (Idem). 

O  Século  (Idem). 

Jornal  da  Noite  (Idem). 

A  Tarde  (Idem). 

O  Atlântico  (Idem). 

A  Sapataria  Portugueza  (Idem). 

Portugal,  Madeira  e  Açores  (Idem). 

Gazeta  das  Obras  Publicas  (Idem). 

O  Correio  (Mem). 

Jornal  das  Colónias  (Idem). 

A  Luz  (Idem). 

Leituras  Populares  (Idem). 

Boletim  da  Direcção  Geral  de  Agricultura  (Idem). 

Revista  de  educação  e  ensino  (Idem). 

O  Recreio  (Idem). 

Revista  das  Sciéncias  Militares  (Idem). 

A  Imprensa  (Idem). 

A  Agricultura  Portugueza  (Idem). 

Revista  das  Obras  Publicas  e  Minas  (Idem). 

As  Colónias  Porttiguezas  (Idem). 

Novo  Mensageiro  do  Coração  de  Jesus  (Idem). 

O  Zoophilo  (Idem). 

Boletim  da  Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa  (Idem). 

A  Provinda  (Porto). 

A  Republica  (Idem). 

A  Republica  Portugueza  (Idem). 

Jornal  da  Manhã  (Idom). 

Jornal  de  Noticias  (Idem). 

A  Vida  Moderna  (Idem). 

A  Luz  do  Mundo  (Idem). 

O  Charivari  (Idem). 

Revista  dos  Tribunaes  (Idem). 

Jornal  de  Horticultura  Pratica  (Idem). 


214 


Boletim  da  Liga  dos  Lavradores  do  Douro  (Idem). 

Boletim  de  Pharmacia  (Idem). 

A  Dosimetria  (Idem). 

Revista  das  Sciencias  Naturaes  e  Sociaes  (Idem). 

Boletim  da  Sociedade  de  Geographia  Commercial  do  Porto  (Idem). 

Diário  do  Alemtejo  (Évora). 

Religião  e  Pátria  (Guimarães). 

Commercio  de  Guimarães  (Idem). 

O  Progresso  Catholico  (Idem). 

O  Conimbricense  (Coimbra), 

O  Imparcial  de  Coimbra  (Idem). 

A  Ofíicina  /Idem). 

A  Voz  do  Artista  (Idem). 

Instituições  Christãs  (Idem). 

O  Instituto  (Idem). 

Coimbra  Medica  (Idem), 

Gazeta  de  Fafe  (Fafe). 

Commercio  de  Penafiel  (Penafiel). 

Jornal  de  Santarém  (Sautarera). 

Folha  de  Villa  Verde  (Villa  Verde). 

O  Nacional  (Braga). 

Correspondência  do  Norte  (Idem). 

O  Regenerador  (Idem). 

O  Commercio  de  Braga  (Idem). 

O  Novo  Tempo  (Mangualde). 

A  Independência  (Povoa  de  Varzim). 

A  Est relia  Povoense  (Idem). 

O  Redondense  (Redondo). 

Jornal  de  Villa  do  Conde  (Villa  do  Conde). 

O  Disfricto  de  Portalegre  (Portalegre). 

O  Paredense  (Paredes). 

A  Voz  do  Tua  (Mirandella). 

A  Gazeta  de  Famalicão  (Famalicão). 

Aurora  do  Cavado  (Bareellos). 

Folha  da  Manhã  (Idem). 

A  Gazeta  do  Povo  (Idem). 

A  Nova  (Abrantes). 

O  Jornal  do  Povo  (Oliveira  de  Azeméis). 

Jornal  de  Santo  Thyrso  (Santo  Thyrso). 

O  Patriota  (Monchique). 

O  Popular  (Angra  do  Heroismo). 

O  Campeão  do  Lethes  (Vianna  do  Gastello). 

O  Correio  de  Pinhel  (Pinhel). 

Jornal  de  Pinhel  (Idem). 

O  Alemquerense  (Alemguer). 

Revista  de  Setúbal  (Setúbal). 

O  Echo  do  Lima  (Ponte  do  Lima). 

Maria  da  Fonte  (Povoa  de  Lanhoso). 

A  Sentinella  da  Fronteira  (Elvas). 

Correio  Elvense  (Idem). 

Correio  de  Loanda  (Loanda). 

O  Eslremocense  (Extremoz). 

A  Illustrarão  (Paris). 

Revue  des  Journaux  et  des  Livres  (Idem). 


215 


O  Civilizador  (Ponta  Delgada). 
O  Atheneu  (Cintra). 
Revista  do  Minho  (Espozende). 
O  Celoricense  (Celorico  de  Basto). 


  mensagem  popular,  promovida  pela  Sociedade,  é  do  theor 
seguinte : 

Exc.^°^  snrs.  conselheiros  João  Franco  Castello  Branco  e  Lopo 
Vaz  de  Sampaio  e  Mello.  —  O  povo,  não  só  da  cidade,  como  de  todo  o 
concelho  de  Guimarães,  envia  a  v.  exc''*  a  expressão  sincera  e  viva 
da  sua  profunda  gratidão  pelo  acto  de  justiça,  recentemente  praticado 
pelo  parlamento,  restituindo  a  este  concelho  a  coUegiada  de  Nossa  Se- 
nhora da  Oliveira,  o  que  foi  devido  á  alta  protecção,  á  eloquente  de- 
feza,  aos  esforços  decididos  de  v.  exc.^« 

Ao  povo  do  concelho  de  Guimarães  não  é  somente  promettedor  de 
vantagens  moraes  e  económicas  o  alargamento  das  suas  instituições 
de  instrueeão  popular  pela  ereação  do  instituto  especial  de  ensino,  com 
que  a  collegiada  vai  ser  dotada ;  a  população  d'este  concelho  bem  com- 
prehende  que  ao  lavrador,  como  ao  artista,  ao  commerciante,  como  ao 
funceionario  publico,  ao  medico,  ao  ecclesiaslico,  ao  advogado,  a  todo 
o  individuo  que  tenha  de  satisfazer  funcções  sociaes,  se  exige,  nas 
condições  da  vida  moderna,  mais  recheado  pecúlio  de  instrucção  ge- 
ral, como  de  especialisacões  profissionaes;  eomprehende  ainda,  que, 
na  lucta  mercantil  que  hoje  tanto  agita  os  povos  cultos,  o  paiz,  e  por- 
tanto este  concelho;  carece  de  maior  fortalecimento,  que  só  a  in_struc- 
ção  bem  dirigida  e  bem  disiribuida  pôde  produzir;  mas  não  são  so- 
mente estas  vantagens  evidentes  o  que  alvoroça  o  povo  de  Guimarães; 
não:  também  o  anima  outra  ordem  de  sentimentos;  tamhem  se  com- 
move,  também  se  alvoroça,  também  se  expande,  porque  ]he  é  restituí- 
da uma  instituição  veneranda,  porque  é  reposta  a  gloriosa  instituição 
ecelesiastica,  que  corresponde,  nas  paginas  brilhantes  da  constituição 
da  nacionalidade  portugueza,  a  um  dos  seus  mais  vivos  e  mais  bri- 
lhantes monumentos,  ou  esse  monumento  seja  de  bronze  como  a  esta- 
tua de  D.  AÍTonso  Henriques,  ou  de  granito  como  o  velho  castello  e 
paço  do  primeiro  rei  portuguez ! 

Respeito  a  tradições  gloriosas,  aíDrmação  de  justiça  restitmndo- 
se  a  um  povo  o  que  é  'indiscutível  propriedade  sua,  concessão  de 
meios  de  realisação  de  legitim;)S  aspirações  do  progresso  —  tudo  isto 
se  traduz  e  desentranha  do  restabelecimento  e  reforma  da  collegiada. 

Deve-sc  esta  concessão  a  v.  exc.^^ :  eis  a  razão  por  que  o  povo 
d'este  concelho  quer  que,  por  esta  mensagem,  v.  exe.""  ouçam  a  voz 
da  sua  gratíssima  expansão  de  jubilo. 

Guimarães,  20  de  agosto  de  1890. 


Guimarães,  30  de  setembro  de  1890, 


o  secretario, 

Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul. 


RELAÇÃO  DOS  SÓCIOS 


DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Sócios  honorários 

António  Augusto  da  Silva  Cardoso. 

António  (D.)  da  Costa. 

Bernardino  (Dr.)  Machado  Guimarães. 

Francisco  (Dr.)  iMartins  Sarmento. 

Francisco  Ribeiro  Martins  da  Costa. 

Guilherme  Aíllalo. 

Illydio  (Dr.)  Ayres  Pereira  do  Valle. 

João  Antunes  Guimarães. 

João  (Dr.)  de  Deus. 

João  (Conselheiro)  Franco  Castello  Branco. 

Joaquim  de  Vasconcellos. 

José  (Padre)  Joaquim  Gomes. 

Lopo  (Conselheiro)  Vaz  de  Sampaio  e  Mello. 

Maria  (D.)  Alexandrina  Vieira  Marques. 

Marianno  (Conselheiro)  Cyrillo  de  Carvalho. 


217 


Sócios  correspondentes 

Fortunato  (Padre)  Casimiro  da  Silveira  Gama. 
João  (Dr.)  de  Vasconcellos  e  Menezes. 
Joaquim  (Padre)  Augusto  Pedrosa. 
José  (Dr.)  de  Barros  da  Silva  Carneiro. 
José  Henriques  Pinheiro. 

Sócios  effectivos 

Abilio  (Padre)  Augusto  de  Passos. 

Abilio  (Dr.)  da  Costa  Torres. 

Adelaide  (D.)  Sophia  Moreira  Rodrigues  Leão. 

Adelaide  (D.)  Sophia  da  Silva  Monteiro. 

Adelaide  (D.)  Teixeira  de  Menezes. 

Adelino  (Dr.)  Adelio  Leão  da  Costa. 

Adolpho  Salazar. 

Alberto  (Dr.)  da  Cunha  Sampaio. 

Albano  Bellino. 

Álvaro  da  Cunha  Berrance. 

Anna  (D.)  de  Barros  Mendonça. 

Anthero  (Dr.)  Campos  da  Silva. 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 

Anton 


o  Augusto  da  Costa  Vaz  Vieira. 

o  (Dr.)  Augusto  de  Freitas. 

o  Augusto  da  Silva  Caldas. 

o  Augusto  da  Silva  Carneiro. 

o  (Dr.)  Coelho  da  Motta  Prego. 

o  da  Costa  Guimarães. 

o  (Dr.)  de  Freitas  Ribeiro. 

o  (Padre)  Garcia  Guimarães. 

o  Guimarães. 

o  Joaquim  da  Costa  Guimarães. 

o  Joaquim  de  Meira. 

o  (Dr.)  José  da  Costa  Santos. 

o  José  Fernandes. 

o  José  Ferreira  Caldas. 

o  José  da  Silva  Bastos. 

o  José  da  Silva  Ferreira. 

o  Leite  Fernandes  Proença. 

o  (Dr.)  Manoel  Trigo. 

o  Maria  Rebello  de  Magalhães. 

o  Martins  de  Queiroz. 


218 


António  Mendes  Guimarães. 

António  Menezes  Areias. 

António  Peixoto  de  Mattos  Chaves. 

António  Pereira  da  Silva. 

António  dos  Santos  Leal. 

António  (Dr.)  Vieira  d'Andrade. 

Arthur  (Dr.)  Alberto  de  Campos  Henriques. 

Augusto  (Dr.)  Alfredo  de  Mattos  Chaves. 

Augusto  Leite  da  Silva  Guimarães. 

Augusto  Mendes  da  Cunha. 

Avelino  (Dr.)  Germano  da  Costa  Freitas. 

Avelino  (Dr.)  da  Silva  Guimarães. 

Avelino  de  Sousa  Guimarães. 

Barão  de  Pombeiro  de  Riba-Vizella. 

Baroneza  de  Pombeiro  de  Riba-Vizelía. 

Bento  José  Leite. 

Bernardino  (Padre)  Fernandes  Ribeiro  de  Faria. 

Caetano  (Dr.)  Mendes  Ribeiro. 

César  Augusto  de  Freitas. 

Christina  (D.)  Amélia  da  Silva  Carneiro. 

Ghristina  (D.)  Martins  de  Queiroz  Montenegro. 

Conde  de  Lindoso. 

Conde  de  Margaride. 

Conde  de  S.  Bento. 

Condessa  de  Margaride. 

Custodio  José  de  Freitas. 

Delphina  (D.)  Emiha  Carneiro  Martins. 

Diniz  da  Costa  Santiago. 

Domingos  António  de  Freitas. 

Domingos  (Dr.)  de  Castro  Meirelles. 

Domingos  José  Ribeiro  Guimarães. 

Domingos  José  de  Sousa  Júnior. 

Domingos  Leite  de  Castro. 

Domingos  Martins  Fernandes. 

Domingos  (Padre)  Ribeiro  Dias. 

Eduardo  Almeida. 

Eduardo  (Dr.)  de  Carvalho. 

Emilia  (D.)  Christina  de  Freitas  Aguiar  Vieira. 

Eugénio  (Padre)  da  Costa  Araújo  Motta. 

Felicidade  (D.)  Rosa  d'Araujo  Figueira  de  Sousa. 

Félix  António  Lopes  Guimarães. 

Florinda  (D.)  Pedrosa  Guimarães. 

Fortunato  José  Marques. 


219 


Fortunato  José  da  Silva  Bastos. 

Francisco  António  de  Sousa  da  Silveira. 

Francisco  Gonçalves  Fernandes  Moreira. 

Francisco  Jacome. 

Francisco  Joaquim  Gomes  Santa-Cruz. 

Francisco  José  de  Carvalho  e  Oliveira  Júnior. 

Francisco  José  Leite  Lage. 

Francisco  da  Silva  Monteiro. 

Gaspar  d' Almeida  Loureiro  Cardoso  Paul. 

Gaspar  Teixeira  de  Sonsa  Mascarenhas. 

Geraldo  (Dr.)  José  Coelho  Guimarães. 

Idalina  (D.)  Dias  de  Castro  Villapa. 

Ignacio  (Dr.)  Teixeira  de  Menezes. 

Jeronymo  (Dr.)  Pereira  Leite  de  Magalhães  e  Couto. 

João  António  Affonso  Barbosa. 

João  António  d'Almeida. 

João  Baptista  Pinto  da  Cunha. 

João  (Padre)  Cândido  da  Silva. 

João  Chrysostomo. 

João  Coelho  da  Motta  Prego. 

João  (Commendador)  Dias  de  Castro. 

João  (Dr.)  Ferreira  da  Silva  Guimarães. 

João  (Padre)  Gomes"'d'01iveira  Guimarães. 

João  Joaquim  d'01iveira  Basto. 

João  Lopes  Cardoso. 

João  Lopes  Guimarães. 

João  Pereira  da  Silva  Guimarães. 

João  Pinto  de  Queiroz. 

João  Ribeiro  Jorge. 

João  (Dr.)  Ribeiro  Martins  da  Costa. 

Joaquim  (Dr.)  Fernandes  da  Silva  Ribeiro. 

Joaquim  (Padre)  Ferreira  de  Freitas. 

Joaquim  Ferreira  dos  Santos. 

Joaquim  Ignacio  d'Abreu  Vieira. 

Joaquim  (Dr.)  José  Gonpalves  Teixeira  de  Queiroz. 

Joaquim  (Dr.)  José  de  Meira. 

Joaquim  Martins  d'01iveira  Costa. 

Jcsé  do  Amaral  Ferreira. 

José  (Dr.)  Coelho  da  Motta  Prego. 

José  (Dr.)  da  Cunha  Sampaio. 

José  Ferreira  d'Abreu. 

José  (Dr.)  de  Freitas  Costa. 

José  Joaquim  da  Costa. 


220 


José  Joaquim  d'OIiveira. 

José  Martins  da  Costa. 

José  Martins  de  Queiroz. 

José  Mendes  da  Cunha. 

José  Miguel  da  Costa  Guimarães. 

José  Ribeiro  Martins  da  Costa. 

José  da  Silva  Basto  Guimarães. 

José  (Dr.)  da  Silva  Monteiro. 

Luiz  (Dr.)  Augusto  Vieira. 

Luiz  Dias  de  Castro. 

Luiz  (Dr.)  Martins  Pereira  de  Menezes. 

Luiz  dos  Santos  Leal. 

Manoel  António  da  Silva  Villaça. 

Manoel  Augusto  de  Freitas  Aguiar. 

Manoel  Baptista  Sampaio. 

Manoel  de  Castro  Sampaio. 

Manoel  Fernandes  da  Silva  Corrêa. 

Manoel  Joaquim  da  Cunha. 

Manoel  (Dr.)  Marinho  de  Castro  Falcão. 

Manoel  Pereira  Guimarães. 

Manoel  Pinheiro  Caldas  Guimarães. 

xManoel  (Padre)  Vieira  Reis. 

Maria  (D.)  do  Carmo  Pinheiro  Osório  Sarmento. 

Maria  (D.)  da  Conceição  Pereira  Forjaz  de  Menezes. 

Maria  (D.)  da  Gloria  de  Sousa  Bandeira. 

Maria  (D.)  Joaquina  de  Jesus  e  Castro. 

Maria  (D.)  Josephina  da  Costa  Freitas. 

Maria  (D.)  da  Madre  de  Deus  Aguiar  Martins  Sarmento. 

Maria  (D.)  da  Natividade  Meirelles  de  Campos  Henriques. 

Maria  (D.)  Rita  de  Castro  Sampaio. 

Pedro  Pereira  da  Silva  Guimarães. 

Quirino  da  Costa  Vaz  Vieira. 

Rodrigo  (Dr.)  de  Freitas  Araújo  Portugal. 

Rodrigo  de  Sousa  Macedo. 

Roque  (Padre)  Teixeira  d'Araujo  Pereira. 

Seraphim  Antunes  Rodrigues  Guimarães. 

Simão  Alves  d'A]meida  Araújo. 

Simão  da  Costa  Guimarães. 

Sophia  (D.)  Virginia  da  Costa  Freitas. 

Thereza  (D.)  Elvira  de  Magalhães  Brandão  Motta  Prego. 

Visconde  de  Paços  de  Nespereira. 

Visconde  de  Sendello. 

Viscondessa  de  Roriz. 


221 


Sócios  fallecidos 


António  (Padre)  AíTonso  de  Carvalho. 
António  Cândido  Augusto  Martins. 
António  (Gommendador)  Fernandes  d'Araujo  Guimarães. 
António  (Padre)  José  Ferreira  Caldas. 
António  José  Pinto  Guimarães. 
António  Manoel  d'Almeida. 
Conde  de  Villa  Pouca  (sócio  lionorario). 
Domingos  José  Ferreira  Júnior. 
Eugénio  da  Gosta  Santos  Vaz  Vieira. 
Francisco  (Gommendador)  José  da  Costa  Guimarães. 
Gualter  Martins  da  Costa. 
João  de  Castro  Sampaio. 
Joaquim  Ribeiro  Gonçalves  Guimarães. 
José  Ribeiro  da  Silva  e  Castro. 

Manoel  (Gommendador)  da  Cunha  Guimarães  Ferreira  (sócio  ho- 
norário). 
Manoel  Ribeiro  de  Fa,ria. 
Rodrigo  (Dr.)  Teixeira  de  Menezes. 


BALANCETES 


Movimento  da  caixa  em  julho  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  anterior 272:^322 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 4611649 

Saldo 2251673        272^322 

Em  agosto  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  anterior 2253673 

Receita  d'este  mez o^íííOO       231|i073 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez oo;S260 

Saldo 1751813       231^073 

Em  setembro  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  anterior 170^813 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 241300 

Saldo 151=5513       173^813 


o  thesoureiro, 

SiJiÃo  DA  Costa  Guimarães. 


índice  do  VII  VOLUME 


l."  numero  —  Janeiro  de  1890 

Pag. 

Estudos  sobre  o  Turf,  por  José  Martins  de  Queiroz o 

Doeumentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães   18 

Apontamentos  —  O  recolhimento  das  Trinas 38 

Balancetes 48 

2.°  numero  —  Abril  de  1890 

Processo  de  inventario,  por  Eduardo  de  Carvalho 49 

Doeumentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães   56 

Subsídios  para  a  historia  das  industrias  vimaranenses,  por 

Avelino  Guimarães 7o 

Instrucção  popular  —  Legislação  portugueza 79 

Boletim,  por  Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul 8o 

Balancetes 100 

3.*  numero  —Julho  de  1890 

Lusitanos,  Ligures  e  Celtas,  por  F.  Martins  Sarmento 101 

Chimica  industrial  —  Galvanoplastia,  por  A.  de  Mattos  Chaves.  120 
Documentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães   135 

Instrucção  popular 144 

Boletim,  por  Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul 147 

Balancetes 160 


224 


4."  numero  —  Outubro  de  1890 

Pag. 

Lusitanos,  Ligares  e  Celtas,  por  F.  Martins  Sarmento 161 

Cliimica  industrial  —  Galvanoplastia,  por  A.  de  Mattos  Chaves.  183 
Documentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães   193 

Apontamentos  folkloricos,  por  Abílio  de  Magalhães  Brandão..  200 

Instrucção  popular  —  Legislação  portugueza 203 

Boletim,  por  Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul 206 

Lista  dos  sócios 216 

Balancetes 222 


Revisiítíi  <lo!-;  Campos,  revista  quinzenal  lisbonense, 
agiicoia  e  agnmmuiea.  Directores,  J.  Veríssimo  dAhneida,  A.  Xa- 
vier Pt'rcir;j  Coutinho  e  António  de  Sarmento.  Anno '    â/ooo 

iNunicro  avulso \nQ 

Iii<li,i!5iti-ií.i  ó  Iiiveiieiones*,  revista  semanal  iilustrada  de 
Barcelona.  Director,  D.  Geronimo  Bolibar,  ingeniero  industriai. 

Portugal,  anno 25  pesetas. 

Iiisa»tit.uiçòess  Clii-iísitãs,  revista  quinzenal  de  Coimbra,  re- 
ligiosa, scieiítilica  e  litteraria.  Orgào  da  Academia  de  S.  Thomaz 

d'A(iuiao.  Sei-^  mezes ^ 1^200 

O   Civiliisacioi-,   revista  de  Ponta  Delgada.  Redactor,  Gabriel 

d'Aliiieida.  Cada  numero 120 

Boletim  <la,  Sooiedtiile  íle  Greog-vapliia,  Conx- 
iwei-iíiííl  tio  r»oi-to,  Assignatura  para  a  3.*  série : 

Sócios  clTcctivos  da  Sociedade 500 

Todos  us  outros  assignantes li^OOO 

Numero  avulso 200 

Assiuna-se  na  Livraria  Portuense  de  Lopes  &  C.^.  successores  de 
Clavelà  C. a  — Porto. 

rí,evis!íta  tlo!»  Ti-ilbiiiiaess»,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários.  Augusto  Maria  dê  Castro  e  António  P^er- 

leira  Augusto.  Anno,  franco  de  porte 3;^000 

Semestre,  franco  de  porte 1^800 

]Nrovt>  31eiií?iíig:eii*o  do  Coração  tle  Jesus,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do    Coração  de  Jesus  e  da  Communhão  Reparadora. —  Portugal. 

anno ". 1^000 

O  1-teei-eio,  revista  semanal,  litteraria  e  eharadistica,  de  Lisboa. 

Lisbo;;,  cada  numero.. ^ 270 

Províncias,  semestre 580 

Tri  mestre.'. 300 

A.   Pi-opi-ietlade  e  Cultura  do  3iLiulio  (estudo   his- 
tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sampaio.  Preço.. .        350 
Em  todas  as  livrarias. 
tio  vista  <las  Soieneias  IVtilitai-es,  publicação  men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheria. 

Portugal,  anno. ^  . . .     2^400 

Irte-vissta  díi!«i  Seiciieias  Naturaes  g  íSociaes ; 
(•rgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publica-se  quatro 

vezes  por  anno,  em  fascículos  de  48  pag.,  8.o  —  Anno i;2200 

Numero  avulso. .... 300 

.Jornal  do  Moi-tioultui-a  Pratica.  Proprietário,  José 

•  Manjues  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 2jâ250 

Numero  avulso . , 300 

GonlíMulo  estampa  colorida 400 

O   Cl»ai'iví»ii,  levista  humorística  flo  Porto. 

Série  de  12  números 240 

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Os   A.i-g-oníiutas,   subsídios  para  a  antiga  historia  do  Occi- 

dente,  por  F.  Martins  Sarmento,  i  grosso  volume 1^500 

Pelo  correio .  * 1  á")t»0 

Em  todas  as  livrarias. 
Rovistít  do  Educação  c  Eusino,  publicação  mensal 
de  Lisboa.  Director,  Ferreira  Deusdado.  I*reço  : 

Anno UWO 

Semestre LálOO 

Avulso 200 


Boletim   da   Lififa   dos  LavvadoiM'»  <lo  Doxii-o. 

Redacção,  rua  do  Calvário,  70  —  Porto.  iNuuiero  avulso 40 

Boletíii-Iievi.sta  de  la  JnvelitíKl  Cafóli<;a,  re 

vista  itiensal  de  Valência.  Cada  numero 1  real. 

Avulso 2  reales. 

La  lievae  dess»  Joiíi-naux  et  dess  Livi-es^,  de  Pa- 
ris. Preços  para  Portuíial:  três  mezes,  4  francos  e  oO;  seis  meze-, 
8  francos;  ura  anno,  14  francos.  Esta  revista  dá  aos  assigoantes 
d'um  anno  um  volume  de  3  francos  e  50;  aos  de  s<;is  mezes  um  vo- 
lume de  2  francos,  e  aos  de  três  mezes  um  volume  de  I  franco,  á 
escolha  em  todas  as  livrarias.  Além  d'isso  dá  a  ludits  ns  mmis  assi- 
gnantes,  como  brinde,  um  esplendido  retrato  a  óleo  e  a  cada  assi- 
gnante  o  seu  retrato  photographado. 

Revista  d'Ol>ras  l?iil>lieíits  e  3£iiia!-í,  publicação 
mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portuguezes. 

Lisboa,  anno T." ...'......."" 2|i400 

Provincja's  e  estrangeiro  acresce  o  custo  das  estampilhas. 

Leitíii-as  JPof»vilai*eís  Illusti*adiàs,  jornal  me  i.^-al  de 
Lisboa.  Anno 400 

A.  I«ipi*ensa,  revista  seientiíiea.  litteraria  e  artística  de  Lis- 
boa. Publicação  quinzenal.  Direct&r,  AiTonso  Vargas.  Lisboa,  cada 
numero  30  reis,  pagos  á  entrega.  Províncias  e  ilhas,  trimestre  ou  6 

"^  números,  200  reis.  Numero  avulso 40 

Coimbra  ]>J[edica,  revista  quinzenal  de  medicina  e  cirurgia. 
Director,  dr.  Augusto  Rocha.  Portugal  e  Hespanha,  anno.      2âio0 

O  I*i'og»*esso  Catholico,  publicação  quinzenal  illuí^trada, 

de  Guimarães.  Continente,  anno 600 

Numero  avulso Kk) 

O  Instituto,  revista  litteraria  e  seientifica,  de  Coimbia. 

Anno I  ^500 

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Numero  avulso. 160 

Seleeta  f*faiaeeza,  por  Moreira  de  Sá,  professor  da^  E«cóla 

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GrraiMiiíiatiea  fi-aiieeaca,  por  J.  E.  von  llafe  e  Â.  Epipha- 
nio  da  Silva  Dias.  6.»  edição,  melhorada.  Preço,  brochada..  800 
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latroducção  ao  Noio  licro  de  leitura  por  João  Diniz.  I  volume  com 
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Brochado 200 

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íí^istoi-ia  do  oèi-eo  do  I?oí-to,  por  S.  J.  da  Luz  Soriano. 
2. a  edição,  illustrada  com 'magnificas  gravuras  e  chrootolythogra- 
;.hi;is,  revista  e  melhorada  pelo  auctor.  Editor, -Augusto  Leite  da 
Silva  (lUimarães  7—  Porto.  Cada  fascículo 200 

Boletim  de  r*ha»-maeia  do  I?orto.  Director.  J.  P.  d'AI- 

njeida  Brandão.  Anno 1^000 

Numero  avulso ... ,...'...■....        200. 

A.  Aéyficiiltufa  Poftiiéçueasa,  revista  quinzenal  de  Lis- 
boa. Direetores,"-F.  Simões  Margiochí  e  Paulo  de  Moraes. 

Anno 2âO*'0 

Numero  avulso 100 

Boletíii  de  la  Iiistitiicioii  lil>ve  do  Kiiseiiaii- 
xa,  publicação  quinzenal  de  Madrid.  Anno iO  pesetas. 


REVISTA 


DE 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Promotora  da  insti'iicção  popular 
nu  ciiiivelhij  de  Gniiiiai'àes 


VOLUME  VIII 


N.o    1  —  Janeiro—  18í)l 


TVPOGRAPHIA    DE    A.    J.    DA    SlLVA    Tl.IXEIKA 

Rua  da  Cancella  Velha,  70 
1891 


Suniniario  d'este  numero 

I.  Lusitanos,  Ligures  e  Celtas;  por  F.  Martins  Sarmento. 

11.  Estudos  sobre  o  Turf;  por  J.  Martins  de  Queiroz. 

III.  Ghimica  industrial:  Galvanoplastia;  por  A.  de  Mattos  Chaves. 

IV.  A  collegiada  de  Guimarães;  pelo  Padre  Abilio  de  Passos. 

V.  Apontamentos  folkloricos ;  por  Abilio  de  Magalhães  Brandão. 

VI.  Documentos  inéditos  dos  séculos  xn-xv ;  por  Oliveira  Guimarães. 

Vil.  Instruceão  popular:  legislação  portugueza. 

VIII.  Boletim";  por  Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul. 

IX.  Balancetes;  por  Simão  da  Costa  Guimarães. 


A  Revista  de  Guimarães  publica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  julho  e  outubro,  em  fasciculos 
de  48  paginas. 

Cada  volume,  composto  de  quatro  fasciculos, 
custa  por  assignatiu^a  800  reis;  cada  numei^o  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do  correio  são  á  custa  da 
empresa.  As  assignaturas  são  pagas  adiantadas. 


A  Revista  de  Guimarães  é  distribuída  gratui- 
tamente pelos  sócios  da  Sociedade  Martins  Sar- 
mento.   

Os  artigos  publicados  n'esta  Revista  são,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  dos 
seus  auctores. 

Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcção  da  Sociedade  Martins  Sarmento,  Gui- 
marães. 

ANNUNCIOS   LITTERARIOS 

A.  Ci-ise  Ag-ricola  I*oi'tug-«eza,,  por  Avelino  Guima- 
rães. 1  vol 700 

Vende-se  no  Porto  na  livraria  Gutenberg;  em  Guimarães  na  loja 
de  Francisco  Joaquim  de  Freitas. 

Os  ]>Xaias,  por  Eça  de  Queiroz.  2  grossos  volumes âsSOOO 

Pelo  correio 2^^120 

-Livraria  de  Lugan  &  Genelioux,  editores  —  Porto. 

As    Colónias  Poi^tugxiezas,  publicação  lisbonense  illus- 

trada.  Anuo 2^000 

Semestre ii^200 

A  vulso 2U0 

O  Zoopliilo,  publicação  mensal  illustrada  de  Lisboa. 

Lisboa,  anno 60i^ 

Províncias 630 

Numero  avulso 100 

A.  I>osiineti*ia,  revista  mensal  portuense  de  medicina  dosiine- 
trica.  Director-proprietario,  José  Bernardo  Birra.  Anno IjSSUO 


REVISTA 


DE    GUIMARÃES 


VOLUME  VIII  —  ANNO  DE  1891 


REVISTA 


DE  GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO   DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


PROMOTORA  DA  INSTRUCÇAO  POPULAR  NO  CONCELHO 
DE   GUIMARÃES 


Volume    VIII— Anno    de    18»! 


PORTO 

TTP.   DE   ANTÓNIO   JOSÉ  DA    SILVA   TEIXEIRA 

Cancella  Velha,  70 

1891 


LUSITAN-QS,  LIGURES  E  CELTAS 


(Continuado  do  volume  anterior,  pag.  182) 


III 


No  terceiro  trecho  da  sua  diatribe  vai  o  snr.  Coelho  «em 
parte  resumir,  em  parte  completar  a  sua  discussão  acerca  da 
ethnologia  da  Lusitânia  antiga»;  e,  começando  por  este  que- 
sito—  houve  ligures  na  Lusitânia?  —  explora  os  textos  —  os 
dados  archeologicos,  ethnographicos  —  os  dados  anlhropologicos 
—  os  dados  glottologicos  —  os  dados  chronologicos  —  tudo  isto 
em  8  paginas  e  5  V2  hnhas  —  para  concluir..,  o  que  vai 
vér-se. 

1."  Os  textos.  «Nenhum  texto  clássico,  diz  o  sábio  profes- 
sor, falia  de  ligures  em  toda  a  faixa  occidental  da  península 
correspondente  á  Lusitânia  romana  e  á  Callíccia...  Baseado 
nos  textos  só  pôde  fallar-se  dubitativamente  de  ligures  n'ou- 
tra  parte  da  península». 

Somma:  textos  fallando  de  Ligures  na  Lusitânia  e  na  Gal- 
liza  —  zero;  textos  fallando  de  Ligures  n'outra  parte  da  Ilíspa- 
nha  —  um  ponto  d'interrogafão. 

Sempre  examinemos  a  somma  por  parcellas.  O  illuslre  pro- 
fessor conhece  três  textos,  de  que  faz  quantidades  negativas, 
mas  resta  saber  se  eífectívamente  o  são.  Encontra-se  o  pri- 
meiro texto  na  Ora  Marítima  d'Avieno  (V.  195-8),  dando-nos 
uma  noticia,  com  certeza  extrahida  d'um  périplo  phcnído  do 


século  VI,  a.  C.  (opinião  de  Miillenhoff).  Ahi  se  nos  diz  que  os 
Cempses  e  Sgefes  habitam  Ophiusce  in  agro  e  propter  hos,  na 
parte  mais  septentrional,  os  Ligures  e  Draganes.  Discutindo 
esta  passagem  n'um  estudo,  que  o  snr.  Coelho  tem  apontado 
e  continuará  a  apontar  à  execração  publica,  sustentei  eu  con- 
tra a  opinião  de  Miillenhoff  e  outros  que  era  impossivel,  sem 
violar  a  lettra  e  o  espirito  do  texto,  coilocar  os  quatro  povos 
da  nossa  noticia  fora  d'Ophiusa;  e,  como  a  Ophiusa  do  périplo 
e  a  parte  da  Hispanha  comprehendida  entre  a  hahia  do  Sado  e 
o  Mar  Cantabrico  eram  uma  e  a  mesma  coisa,  conforme  as  de- 
monstrações do  próprio  MuUenhoff,  e  a  parte  mais  septentrio- 
nal da  Hispanha  é  a  actual  Galliza,  sustentei  egualmente  que 
só  aqui  podiam  ser  localisados  os  Ligures  e  Draganes.  Aos  ar- 
gumentos que  desenvolvi  no  meu  infamado  estudo  oppõe  o 
snr.  Coelho  as  seguintes  razões:  1.*  (e  no  logar  de  honra)  que 
a  minha  interpretação  a  seu  ver  é  inadmissível;  2.%  que  está 
em  desaccordo  com  a  de  Miillenhoff  e  outros.  Irresistível  argu- 
mentação I 

O  segundo  texto  encontra-se  ainda  na  Ora  Marítima  e  pro- 
vavelmente também  é  reproduzido  do  périplo.  Menciona  elle 
um  «Ligustinus  lacus,  de  que  sahia  o  Tarlesso»,  inquestiona- 
velmente o  actual  Gualdaquivir.  Para  o  snr.  Coelho  este  texto 
só  « dubitativamente »  falia  de  Ligures  na  Hispanha.  Sim,  o 
nome  de  Ligustinus  só  dubitativamente  se  refere  a  Ligures. 

O  terceiro  texto  é  de  Stephanus  de  Bysancio;  menciona 
uma  «Ligustina,  cidade  dos  Ligures,  não  longe  de  Tartesso». 
Este  texto  também  só  dubitativamente  falia  de  Ligures,  porque 
«pôde  vir  da  mesma  fonte»  ^  que  o  antecedente.  Sim,  esta 
fonte,  sendo  a  mesma  e  mencionando  Ligures  com  todas  as 


^  Aviso  aos  ingénuos.  O  snr.  Coelho  manda  vêr  duas  passagens 
de  MíilIenhofT  {Deutsche  Altertnmskunde.  i,  81-82,  136-137)  e  uma  de 
Jubainville  {Les  premiers  habitants  de  VEurope,  P,  379-380),  devendo 
acreditar-se  que  todas  ellas  favorecem  a  idéa  de  que  o  texto  de  Ste- 
phanus e  o  d'Avieno  provém  d'uma  mesma  fonte.  Na  segunda  passa- 
gem de  Mallenhoff,  por  mais  que  se  bata  o  texto  e  as  notas  das  duas 
paginas,  nem  uma  allusão  sequer  pôde  caçar-se  referente  ao  nosso 
caso.  É  na  primeira  que  o  auctor  aventura  a  supposição  de  que  as  no- 
ticias de  Steplianus  e  d'Avieno  viessem  da  mesma  fonte.  Jubainville, 
esse  suppõe  precisamente  o  contrario  e,  mostrando  sempre  certa  vene- 
ração por  MuilenhoíT,  d'esta  vez  nem  a  sua  opinião  discute.  E  parece 
que  com  justos  motivos.  As  divergências  entre  as  duas  noticias  são  de 


letíras,  ainda  deixa  duvida  se  o  « lacus  Ligustinus »  se  referia 
a  Ligures ;  sendo  diversa,  não  aclara  do  modo  mais  completo 
a  noticia  do  périplo. 

Estas  extravagâncias  apontam-se,  mas  seria  caloirice  com- 
mental-as.  A  verdade  é  que  os  três  textos  são  d'um  valor 
inestimável  para  quem  estuda  com  mediana  seriedade  a  etimo- 
logia da  península  ibérica,  e  basta  ver  a  sem-ceremonia  com 
que  o  sábio  professor  se  descarta  d'elles,  para  se  ficar  perce- 
bendo que  tornou  a  entrar  em  scena  o  heroe  de  Regnard 

.. .  il  cherche,  11  tourne,  11  brouille. 

Desnecessário  é  accrescentar  depois  d'isto  que,  além  dos  três 
textos  supra,  ha  pelo  menos  mais  dois,  um  de  Thucydides, 
outro  d'Eratosthenes,  ambos  os  quaes  já  citei  em  algures:  fos- 
sem elles  cinco  ou  cincoenta,  claro  está  que,  riscados  três  e  su- 
midos todos  os  outros,  não  ficava  nenhum.  Observarei  somen- 
te que,  mesmo  dado  6  caso  que  nenhum  escriplor  antigo  co- 
nhecesse o  ethnico  de  Ligures  na  Hispanha,  nada  provaria  isso 
contra  a  existência  de  povos  liguricos  n'esta  região,  no  sen- 
tido em  que  os  tomo  (árias  pre-celticos),  uma  vez  que,  por 
exemplo,  o  onomástico,  a  archeologia,  etc,  a  affirmassem.  Vó-se, 
porém,  que  aos  meus  Ligures  não  falta  sequer  aquelle  sacra- 
mento de  baptismo. 


Tendo  aviado  em  oito  linhas  e  uma  nota  de  cinco  o  seu 
assumpto  principal,  gasta  o  snr.  Coelho  quarenta  e  cinco  e 
tanto  a  esmiuçar  as  causas,  por  que  no  meu  ignóbil  estudo  da 
Ora  Marítima  adoptei  a  lipão  arvi  jugum  e  não  a  d'/lri/i  ju- 
gum  preferida  por  MQIlenhoíT. 

Que  pôde  haver  de  commum  entre  a  topographia  da 
Ora  Maritima  e  os  textos  relativos  a  Ligures?  t  obvio  que 
coisa  nenhuma;  mas,  tendo-se  presente  que  o  fim  exclusivo 


tal  feitio,  que  o  próprio  MiilienhoíT  em  vista  tl'ellas  ó  obrigado  a  expli- 
eal-as  pela  liberdade  poética  d'u[n  grammatico  o  d'iiin  compilador, 
como  Stephanus.  Trop  fort!  e,  se  arredamos  a  liberdaiie  poolica,  de 
que  MiilienhoíT  com  mais  razão  pôde  seraccusado,  a  dualidade  das  fon- 
tes impõe-se  como  coisa  certa. 


8 


do  snr.  Coelho  é  de?compur-me,  também  não  deixa  de  ser 
obvio  que  vem  sempre  a  proposilo  toda  e  qualquer  desanda  e 
em  toda  e  qualquer  occasião. 

Sofframos  o  novo  martyrio  com  toda  a  resignação.  Trata-se 
ainda  da  obtusidade  do  meu  senso  critico  e,  já  se  entende,  da 
acuidade  do  do  sábio  professor.  Karl  Miillenhoíf,  começa  elle  di- 
zendo, para  assestar  as  suas  baterias,  admittiu  a  lição  Aryi  ju- 
gum  por  vér  nos  versos  taes  e  la^s  um  nome  próprio,  como 
outros  já  tinham  visto,  e  d'accordo  com  Ukert  identificou  o 
promontório,  que  o  sobredito  nome  designava,  com  o  cabo  Sil- 
leiro  à  sabida  da  bahia  de  Vigo.  « O  snr.  Sarmento,  continua 
o  sábio  professor,  diz  que  a  lição  de  MullenhoíT  é  gratuita; 
pelo  menos  (palavras  minhas)  nenhuma  razão  vemos  no  seu 
livro  que  possa  justiQcal-a». 

É  a  verdade  pura.  Por  não  vér  no  livro  de  MullenhoíT  razão 
nenhuma  que  justificasse  a  lição  Aryi  jugum,  fiquei-me  com  a 
á'arvi  jugum,  que  encontrei  no  texto  que  me  servia  de 
guia  ^ 

Pois  ahi  está  já  uma  das  provas  da  minha  myopia  intelle- 
ctual  e  da  perspicácia  rara  do  sagaz  professor;  porque,  onde 
eu  não  vi  razão  nenhuma,  descobriu  elle  nada  menos  que  duas 
camadas  de  razões,  razões  «em  parte  claras»  e  razões  «em 
parte  latentes». 

Razões  em  parte  claras:  lá  estão  no  verso  tal  e  tal,  que 
mostra  o  promontório  virado  para  o  septentrião  —  «o  que,  se- 
gundo a  observação  triumphante  do  snr.  Coelho,  não  pôde  di- 
zer-se  de  modo  algum  do  tal  Monte  Dor». 

Mas  como  é  que  um  verso  mostrando  o  promontório  virado 
para  o  septentrião  levou  MullenhoíT  a  preferir  a  lição  Aryi  ju- 
gum a  outra  qualquer?  É  que  a  palavra  Aryi  significa  septen- 
trional  ou  coisa  que  o  valha?  Não;  ninguém  sabe  o  que  esta 
palavra  significa,  nem  se  sabe  mesmo  se,  em  vez  d 'Aryi,  se 
ha  de  lér  Arvii  ou  Aryium  *;  e  sendo  ar^sim,  como  é  incon- 
testavelmente a  razão  «em  parte  clara»,  descoberta  pelo  snr. 


1  O  da  edição  de  Panekoueke.  Para  lhe  ficar  fiel,  escrevi  arvi 
com  um  a  pequeno,  bem  que  considerasse  arvi  jugum  como  uma  de- 
nominação geographica  —  o  que  não  fizeram,  por  exemplo,  Despois  e 
Saviot.  Creio  que  a  minha  fidelidade  com  relação  ao  a  pequeno  não 
contribuiu  pouco  para  o  meu  descrédito. 

2  Em  vista  da  edição  critica  d'Holder,  que,  diga-se  de  passagem, 
íoi  pubhcada  sete  annos  depois  do  meu  estudo. 


9 


Coelho,  é  uma  d'essas  razões,  a  que  ura  francez  daria  euphe- 
misticamente  o  nome  de  coq-à-l'dne.  O  melhor,  porém,  é  isto: 
tendo  .Miillenhoff  adoptado  a  lição  Áryi  jugum,  porque  taes 
versos  lhe  mostravam  o  promontório  voltado  para  o  septen- 
trião,  iria,  d'accordo  com  Ukert,  identifical-o  com  o  cabo  Sil- 
leiro  á  sahida  da  bahia  de  Vigo  K  Ora,  como  toda  a  gente 
sabe,  a  exceptuar  os  críticos  sagazes,  o  cabo  Silleiro  á  sahida 
da  bahia  de  Vigo  [sic]  não  volta  para  o  septenirião,  volta 
para  o  occidente,  nem  mais  nem  menos  que  o  « tal  Monte  Dor ». 

Agora  as  razões  «em  parte  latentes»:  é  que  Miiilenhoff 
bem  viu  que  os  versos  já  alludidos  «  não  podiam  deixar  de 
conter  um  nome  próprio».  Assim  MullenhoíT  aceitaria  a  lição 
Aryi  jngum  pela  impossibilidade  de  vér  na  palavra  Arvi  um 
nome  próprio.  Mas  que  impossibilidade  ha  em  ver  em  Arvi 
um  nome  próprio?  Na  sabia  Allemanha  ninguém  a  descobriu; 
ahi  temos  Ghrist  que  preferiu  a  lição  Arvi  jugum  a  outra 
qualquer,  considerando  Arvi  como  um  nome  próprio  ^. 

E  aqui  estão  as  razões  em  parte  claras,  em  parte  latentes, 
que  moveram  MLillenhotT  a  preferir  a  lição  Aryi  jugum,  ra- 
zões que  a  minha  myopia  me  não  deixou  vêr,  mas  que  o  snr. 
Coelho  apanhou  no  ar,  por  ser  um  espirito  muito  sagaz. 

Mais  provas  d'esta  ultima  verdade.  Porque  preferi  eu  a  li-, 
ção  arvi  jugum?  Porque  me  convinha.  «Convinha  ao  inter- 
prete portugnez,  escreve  o  sábio  professor,  que  se  lesse  ai-vi 
jugum,  sendo  arvi  appellativo,  traduzindo  eile  a  expressão  por 
«promontório  da  campina»  ou   «monte  de  campo»  e  collo- 


1  Aviso  aos  ingénuos.  MullenhoíT  não  identificou  o  sen  Aryi  jugum 
com  o  cabo  Silleiro,  eoino  faz  crer  o  snr.  Coelho.  Se  o  iMnstre  profes- 
sor lesse  toda  a  pagina,  d'onde  extrahiu  a  cita(;ão  comprovativa  d'osta 
patranha,  veria  que  o  sábio  allemão  se  afasla'da  npiniào  d'Ukert  e  a 
razcão  por  que.  Sim  :  mas  se  fossemos  a  lér  todas  as  pagin;is  de  todos 
os  livros  que  citamos,  os  ingénuos  não  podiam  pasmar  da  nossa  vasta 
erudição. 

2  Na  sua  obra,  Avien  und  die  ãltesten  Nachrichtcn  iiber  Iberien 
und  die  Westkuste  Europa's.  Este  beócio  é  róo  de  quasi  todas  as  jias- 
palhices  (jue  o  sábio  professor  critica  com  tanta  sciencia  e  graça.  iNão 
só  adopta  a  lição  Arvi  jugum,  é  verdade  que  com  A  grande,  mas  vt^ 
n'este  promontório  e  no  (pio  volta  para  o  siqdentrião  duas  localidades 
diíTerentes,  e  não  duvida  locaiisar  o  sen  Arri  jugum  onde  outros  loca- 
lisam  o  Avartim  de  Ptolomeu,  na  convicção  de  que  ambos  elles  fazem 
um.  O  Avarum  de  Ptolomeu,  iocalisa-o  Freund  no  Monte  Dor,  seja  dito 
como  curiosidade. 


10 


cando  o  referido  jugura  entre  a  foz  do  rio  Lima  e  a  do  rio 
Ancora,  n'um  sitio  que  elle  conhece  muito  bem  dos  seus  pas- 
seios \  e  identificando-o  com  o  Monte  Dor,  « cuja  raiz  o  mar 
lava  pelo  poente,  sendo  por  todos  os  outros  lados  rodeado  de 
férteis  campinas ». 

Isto  é  exacto,  como  algumas  das  tretas  do  honesto  lago. 
Identifiquei  o  arvi  jugum  com  o  Monte  Dor  por  varias  razões  ^ 
que  o  snr.  Coelho  esconde,  elle  lá  sabe  por  que;  e  em  vista 
d'ellas  notando  a  e  coincidência »  (sic)  entre  a  topographia 
d'aquelle  monte  «rodeado  de  férteis  campinas»  e  a  denomina- 
ção geographica,  arvi  jugum,  se  a  interpretássemos  como 
«promontório  da  campina  ou  monte  do  campo»,  perguntava 
se  não  seria  esta  a  verdadeira  interpretação  d'aquelle  nome  (o 
snr.  Coelho  também  esconde  cuidadosamente  as  reservas  com 
que  aventurei  esta  hypolhese).  Como  não  tenho  a  sagacidade  do 
conspícuo  professor,  não  descobri  uma  razão,  aliás  fácil  de 
descobrir,  diz  elle,  e  á  luz  da  qual,  pelos  modos,  a  minha  hy- 
pothese  resalta  em  toda  a  sua  feição  parvoinha;  bastava,  para 
descobrir  a  sobredita  razão,  attender  ao  «uso  do  poema»,  que 
consiste  em  empregar  nomes  próprios  e  não  appellativos  na 
«determinação  de  cada  jugum». 

Cá  está  outra  vez  o  OEdipo  da  Furninha! 

Quem    lê   a  Ora   Marítima  para   a  entender  e  não  para 


1  Yé-se  que  os  meus  passeios  pela  beira-mar,  a  propósito  do  es- 
tudo topographico  da  Ora  Marítima,  são  para  o  snr.  Coelho  d'um  bur- 
lesco sem  egual.  As  minhas  pobres  explorações  archeologicasjá  tinham 
servido  de  derriço  á  sua  fina  zombaria.  Não  sei  se  estas  gracetas  farão 
chorar  os  seus  collegas  do  Curso  Superior  de  Lettras.  O  caso  é  para 
isso. 

2  Eram  ellas,  entre  outras,  as  que  já  tinha  produzido  Christ;  a 
distancia  de  dois  dias  de  navegação,  a  que  pelo  V.  Í72-3,  ficava  o 
nosso  promontório,  contando  do  cabo  da  Roca,  e  que  não  permittia 
pensar  n'um  promontório  sobre  o  Mar  Cantabrico  (voltado  ao  septen- 
trião);  a  distancia  de  cinco  dias,  a  que  pelo  V.  162-4,  ficava  do  Es- 
treito de  Gibraltar,  facto  que  ofTerecia  as  mesmas  ou  maiores  difiBcul- 
dades;  a  grande  probabilidade  de  que  Arvi  jugum  d'Avieno  e  o  Ava- 
rum  de  Ptolomeu  fossem  um  e  o  mesmo,  etc.  Estas  razões  e  todas  as 
outras,  menos  uma  —  a  que  o  snr.  Coelho  está  escalpelisando  —  são 
absolutamente  independentes  do  significado  do  nome,  convindo-me 
tanto  que  se  lesse  Arvi  com  a  pequeno  ou  com  A  grande,  como  Aryium, 
como  o  que  se  quizer.  Mas  o  honesto  lago,  digo  o  honesto  professor, 
acha  bom  fazer  acreditar  ao  seu  jiublico  que,  se  me  não  dá  a  veneta 
de  passeiar  pelo  Monte  Dor,  nunca  alli  localisaria  o  negregado  pro- 
montório. 


11 


descompor  os  que  a  estudam,  sabe  muito  bera  que  o  auclor  do 
poema  designa  as  localidades  que  nos  descreve,  ora  com  nomes 
próprios,  ora  sem  elles.  Exemplos  d'este  ultimo  caso:  ao  golfo 
da  Gasconha  chama  elle  simplesmente  grande  golfo,  magnus 
sinus;  às  ilhas  da  bahia  da  Arosa  insulce  ducc,  e  nada  mais; 
ao  cabo  da  Roca  prominens  OphiuscD  in  oras  (a  sua  Ophiusa 
estende-se  desde  o  angulo  do  golfo  da  Gasconha  até  á  bahia  do 
Sado);  á  bahia  do  Tejo  chama  elle  um  sinus,  sem  nome  pró- 
prio ou  coisa  que  o  valha,  ele.  Para  atinar  com  estas  locali- 
dades, é  preciso  trazer  sempre  o  roteiro  na  mão,  estudar  os 
antecedentes  e  consequentes,  cotejar  as  suas  indicafões  topo- 
graphicas  com  os  dilTcrentes  tratos  da  costa,  a  que  podem 
quadrar,  e  ainda  assim  fica-se  ás  vezes  como  o  doido  no  meio 
da  ponte,  sem  saber  que  decisão  tomar.  Como  explicar  a  ano- 
malia de  serem  umas  localidades  indicadas  com  nomes  pró- 
prios, outras  não?  A  única  explicarão  racional  para  o  segundo 
caso  não  pôde  deixar  de^ser  esta:  a  ignorância.  O  auctor  do 
poema,  quando  conhecia  o  nome  próprio  de  qualquer  localida- 
de, dava-lh'o  sem  regatear;  quando  o  não  conhecia,  está  visto 
que  lh'o  não  podia  dar,  e  lá  se  arranjava  como  podia,  com 
appellativos,  com  circumlocuções,  etc. 

É  isto  o  que  se  impõe  necessariamente  ao  espirito  de  quem 
estuda  o  celebre  poema  com  um  tudonada  de  consciência.  O 
snr.  Coelho  descobriu  coisa  mais  fina:  o  poema  teria  dois 
«usos»  —  um  de  nunca  faltar  com  os  nomes  próprios  aos  bem- 
aventurados  juga;  outro  de  os  sonegar  aos  golfos,  ilhas,  pro- 
montórios, provavelmente  para  fazer  pirraça  aos  interpretes. 
Milita  pelo  menos  em  favor  d'esta  extravagância  a  coincidência 
de  que  todos  os  juga,  mencionados  na  Ora,  sejam  designados 
com  nomes  próprios?  O  sagaz  professor  affirma  que  sim  com  a 
sua  coragem  do  costume ;  mas  o  leitor  pôde  verificar  que  não 
faltam  no  poema  juga  sem  nomes  próprios  ^ 

Ponhamos  ponto  a  todas  estas  ratices.  Se  lhes  demos  um 
bocado  de  guita,  foi  para  que  os  leitores  podessem  avaliar  que 
torturas  solTreria  o  poema  d'Avieno,  explicado  por  um  inter- 
prete d'uma  sagacidade  tão  patusca. 

2."  Os  dados  archeologicos,  etlmographicos.  «Nenhum 
d'esses  dados,  rompe  abruptamente  o  snr.  Coelho,  é  sulficiente 


Como  pôde  vôr-se,  por  exemplo,  a  V.  22o-6;  a  V.  2iO;  a 
V.  307. 


12 


para  provar  que  os  povos  do  norte  do  Tejo  até  á  costa  da 
Callíecia  fossem  ligures».  E  fundamenta  o  seu  aresto  n'uma 
passagem  de  Cartailhac,  cuja  parle  útil  é  esta:  «  Parmi  tous  les 
matériaux  prehistoriques  que  nous  avons  décrits,  je  ne  vois  rien 
à  leur  attribuer  (aos  Ligures).  Les  contrées  qn'ils  ont  occupées 
n'ont  rien  de  plus  ni  de  moins  que  les  autres».  Accentua  o 
sábio  snr.  Coelho  que  entre  os  materiaes  prehistoricos,  a  que 
se  refare  Cartailhac,  se  contam  os  descobertos  na  Citania  (e  era 
Sabroáo,  deveria  accrescentar). 

As  opiniões  de  Cartailhac  provam  exactameme  o  contrario 
do  que  o  snr.  Coelho  está  a  inculcar  aos  seus  leitores. 

Vai  vòr-se. 

No  capitulo  da  sua  obra,  Les  ages  prehistoriques  de  VEs- 
pagne  et  du  Portugal,  intitulado  Elhnologie,  e  do  qual  o  snr. 
Coelho  destacou  a  citação  retro,  justifica-se  Cartailhac  por  mais 
d'uma  vez  de  não  dar  nomes  próprios  ás  populações  prehisto- 
ricas  da  Hispanha,  nem  mesmo  os  geralmente  conhecidos 
d'íberos,  Ligures,  Celtas,  e  isto-  por  motivos  que  occupam 
nada  menos  que  todo  o  capitulo. 

Não  lhes  dá  o  nome  d'Iberos,  porque  este  nome  parece 
ser  mais  uma  denominação  geographica,  que  outra  coisa.  De 
resto,  nota  elle,  na  área  occupada  desde  tempos  remotos  pe- 
los Bascos,  com  os  quaes  alguns  ethnologos  os  tém  querido 
identificar,  não  ha  antiguidade  alguma  especial  «verdadeira- 
mente ibérica». 

Não  lhes  dá  o  nome  de  Ligures  pela  razão  já  apontada 
acima,  mas  que  só  agora  vai  ser  vista  a  uma  luz  sem  morrão 
—  porque  «les  contrées  qu'ils  ont  occupées  n'ont  rien  de  plus 
ni  de  moins  que  les  autres»  —  quer  dizer,  porque,  sendo  a 
archeologia  da  Liguria  exactamente  a  mesma  que  a  de  todos 
os  outros  paizes,  nomeadamente  a  Hispanha,  tantas  razões  ha 
para  altribuir  aos  Ligures  os  materiaes  prehistoricos  da  penín- 
sula, como  para  lh'os  não  attribuir. 

Não  lhes  dá  emfim  o  nome  de  Celtas,  porque,  supposto  se 
saiba  que  os  celtas  occuparam  a  Hispanha  e  se  fundiram  com 
os  povos  pre-exislentes,  ignora  o  auctor  o  que  elles  eram, 
d'onde  vieram  e  quando  vieram,  advertindo  comludo  que  nas 
regiões  da  Hispanha,  onde  se  diz  que  elles  habitaram,  nada  ha 
que  archeologicamente  as  distinga  das  outras. 

Não  obstante  tudo  isto,  certo  é  que  o  distincto  archeologo 
não  acha,  além  dos  Iberos  (Bascos),  Ligures  e  Celtas,  outro 
povo  a  que  possa  attribuir  os  materiaes  prehistoricos  da  pe- 
Dinsula  ibérica,  descriptos  na  sua  obra. 


43 


Se  pozermos  de  lado  os  Bascos,  e  não  têm  elles  muito  di- 
reito para  se  offender  com  isso,  ficam  os  Ligures  e  os  Celtas. 
O  que  Cartailhac  entende  por  Ligures  é  muito  claro  no  seu  li- 
vro; mas  o  que  entende  elle  por  Celtas?  Não  é  certamente  o 
mesmo  que  entendem  Jubainville  e  os  ethnologistas  da  mesma 
escola,  que  só  reconhecem  como  Celtas  certos  povos,  aliás 
muito  bem  caracterisados,  que  apparecem  na  Europa  cerca  do 
século  víi,  a.  C,  quando  muito;  e  a  prova  provada  está  em 
que  Cartailhac  não  hesita  em  remontar  a  conslrucfão  de  Sa- 
broso  ao  século  viii  ou  ix  ^  (sabe-se  que  nas  nossas  cidades  pre- 
romanas  se  reproduz  o  typo  d'esta  povoação).  Não  é,  pois,  aos 
Celtas  de  Jubainville  que  elle  podia  alludir,  e  já  pela  razão  ex- 
posta, já  pelas  suas  referencias  a  Alexandre  Bertraud,  é  fácil 
de  comprehender  que  são  os  Celtas  d'este  escriplor  que  Car- 
tailhac tem  em  vista,  quando  põe  em  duvida  se  Sabroso  e  po- 
voações similhantes  podiam  ser  altribuidas  aos  Celtas.  Ora  os 
Celtas  de  Alexandre  Bertrand  não  são  outros  senão  os  Celtas 
de  Broca,  os  Ligures  de  Bellogoet,  como  os  seus  Gaiatas  não 
são  outros  senão  os  Celtas  de  Jubainville.  De  sorte  que,  apura- 
das as  contas,  os  materiaes  prehistoricos  da  Hispanha,  taes 
como  Sabroso  e  povoações  da  mesma  espécie,  só  podem,  na 
opinião  de  Cartailhac,  ser  attribuidus  ou  aos  Ligures  propria- 
mente ditos,  ou  aos  Ligures  de  Bellognet;  aos  Gaiatas  de  Ber- 
trand  e  aos  Celtas  de  Jubainville  é  que  de  modo  algum. 

Mas  é  precisamente  o  que  eu  tenho  sustentado  sempre;  e,- 
se  o  snr.  Coelho  entende  que  as  opiniões  de  Cartailhac  não 
confirmam  plenamente  as  minhas  idéas,  é  porque  ainda  d'esta 
vez, 

1 . .  il  regarde  sans  voir. 

Temos  ainda  os  dolmens.  Por  mais  d'uma  vez  expendi  as 
razões  que  me  levavam  a  crer  que  estes  monumentos  foram 
obra  do  mesmo  povo  que  construiu  as  povoações  do  typo  de 
Sabroso  e  eram,  como  estas,  documentos  d'uma  mesma  civili- 
sação.  Attribui-os  por  isso  aos  árias  pre-celtas,  a  que  chamei 
Ligures. 

Não  pôde  ser,  objecta  o  snr.  Coelho;  porque  para  Verneau 
a  raça  preponderante  na  península,  na  época  da  pedra  polida  e 
ainda  na  do  bronze,  foi  a  de  Cro-Magnon;  é  esta  gente  que  le- 
ria sido  a  constructora  dos  dolmens  da  Hispanha  e  da  Africa, 


Obr.  cit.,  pag.  293. 


14 


embora  na  Hispanha  tivesse  recuado  em  parte  diante  da  invasão 
dos  Ligures,  annunciados  por  V.  Jacques  no  escripto  tal  e  tal. 

Em  boa  o  metteram  Verneau  e  V.  Jacques!  O  snr.  Coelho, 
tendo  começado  por  acreditar  que  os  dolmens  eram  célticos, 
«leu  depois  alguns  dos  principaes  trabalhos  recentes  (estamos 
em  1870)  acerca  dos  monumentos  megalithicos  »  e  adoptou  a 
opinião  do  Lyell,  recuando-os  á  época  da  pedra  polida,  á  épo- 
ca das  palaflttas.  Agora  os  dolmens  da  Hispanha  são  obra  dos 
Cro-Magnon,  o  povo-rei  dos  tempos  quaternários.  O  illustre 
professor  n'isto  de  dolmens  tem,  como  se  vé,  recuado  sempre, 
mas,  como  se  vê  também,  não  pôde  recuar  mais,  a  não  ir  estre- 
munhar os  anthropopithecos.  Dando  porém  outra  investida  aos  tra- 
balhos dos  mestres  da  prehistoria,  certo  como  as  coisas  certas, 
não  queda  na  terceira  opinião;  não  podendo  recuar  mais,  tem 
de  avançar,  e  ahi  vai  esbarrar- se  com  os  Ligures,  que  os  seus 
últimos  expositores  estendem  em  Dia  cerrada  atraz  dos  Cro- 
Magnon,  sem  deixar-lhe  outro  salvaterio,  senão  a  hypothese  de 
que  esta  gente  aprenderia  dos  Ligures  a  construcção  dos  dol- 
mens, como  provavelmente  aprendeu  muitas  outras  coisas. 
Verdade  é  que,  em  vista  do  seu  ódio  aos  Ligures,  eu  não  me 
admiraria  que  os  sacriflcasse  aos  anthropopithecos. 

Um  outro  erro  meu,  a  propósito  dos  dados  archeologicos, 
ethnographicos.  « A  opinião  de  que  os  povos  aryas  fossem  os 
importadores  do  bronze  para  a  Europa  está  muito  longe  de  ter 
a  base  segura  que  lhe  attribue  o  snr.  Sarmento.  A  conclusão 
de  A.  Pictet  tem  sido  rejeitada.  Está-se  hoje  geralmente  longe 
de  admittir  que  os  aryas  ou  indo-europeus  primitivos  conhe- 
cessem o  bronze  antes  da  sua  separação.  Schrader  (apud  Max 
Miiller,  segundo  declara  em  nota  o  snr.  Coelho)  pretende  que 
elles  só  conheciam  o  cobre.  Max  Miiller  inclina-se  a  que  elles 
conheciam  três  metaes:  o  ouro,  a  prata  e  o  cobre». 

Esta  coarctada  deve  valer  mais  que  os  metaes  nomeados 
para  os  biographos  do  snr.  Coelho,  por  ser  uma  revelação  in- 
génua do  seu  feitio  moral.  O  conapicuo  professor  leu  n'um  li- 
vro de  Max  Miiller  que,  segundo  Schrader,  os  árias  só  usariam 
do  cobre  antes  da  sua  separação;  não  conhece  mesmo  de  vista, 
não  pesou  os  argumentos  produzidos  por  Schrader  contra  as 
opiniões  de  Pictet,  opiniões  que  o  próprio  Schrader  em  1890 
diz  serem  as  dominantes  no  mundo  scientifico  ^  Não  importa; 


1  O.  Schrader,  Sprachvergleichung  und  Urgeschichte,  pag.  275.  Em 
1889  Jubainville  ainda  era  do  numero  dos  ignorantes,  que  liam  peia 
cartilha  de  Pictet,  como  se  vê  na  2.»  edição  da  sua  grande  obra. 


15 


pega  magestosamente  na  penna  e  escreve :  « Está-se  hoje  ge- 
ralmente longe  d'admittir  que  os  aryas  ou  indo-europeus  pri- 
mitivos conhecessem  o  bronze  antes  da  sua  separação».  Não  é 
d'uma  ingenuidade  quasi  virginal? 

Isto  não  tira  que  o  sábio  professor  não  seja  essencialmente 
o  homem  de  Regnard,  porque,  admittindo  a  opinião  de  Schra- 
der  como  um  dogma,  nada  tem  ella  a  vér  com  a  questão  que 
o  snr.  Coelho  queria  combater  —  a  importação  do  bronze  para 
a  Europa  eíFectuada  pelos  povos  arianos.  Ninguém  disse  nunca 
que  os  árias  fizessem  pelo  ar  a  travessia  da  sua  velha  pátria 
para  a  Europa;  é,  pelo  contrario,  opinião  corrente  que  tiveram 
de  atravessar  regiões,  onde  o  bronze  era  conhecido  desde  épo- 
cas immemoriaes.  O  que  o  sábio  professor  tinha  a  provar,  se 
reparasse  para  a  sua  ihese,  é  que  os  árias,  lendo  tido  muita 
occasião  de  conhecer  o  bronze  antes  de  chegar  á  Europa,  fo- 
ram tão  brutinhos,  que  nãq  viram  as  vantagens  que  d'elle  po- 
diam tirar,  para  se  industriaremfn'este  ramo  metallurgico.  A 
prova  devia  ser  curiosa ;  mas  ficou  no  erudito  tinteiro  do  snr. 
Coelho.  Conclusão  das  sabias  elhnologices  e  archeologices  do  snr. 
professor : 

Cest  un  homme  étonnant  et  rare  en  son  espèce, 
Qui  rêve  fort  à  rien  et  s'égare  sans  cesse.. . 

3.**  Dados  anthropologicos.  N'este  ponto,  «a  conclusão  a 
que  se  chegou  é  que  desde  antiquissimos  tempos  se  cruzaram 
ou  justapozeram  aqui  (na  Lusitânia  romana  e  na  Callsecia) 
diversas  rapas;  ninguém  achou  entre  essas,  assim  como  nos 
typos  modernos  da  população,  o  typo  ligur». 

Em  abono  da  sua  sentença  adduz  a  opinião  de  «  duas 
auctoridades  de  primeira  ordem  »,  os  respeitáveis  auctores 
dos  Cranea  Ethnica,  que  dizem  em  summa:  «  Les  preuves 
anthropologiques  de  Texistence  des  Ligures  dans  la  peninsule 
Iberique  sont  absolufnent  negatives».  Que  pretenderá  concluir 
d'aqui  o  conspícuo  professor?  Que  é  pelo  menos  problemá- 
tica a  existência  de  Ligures  na  Ilispanha,  mesmo  d'aquelles, 
em  que  ha  pouco  parecia  acreditar  sob  a  fé  de  V.  Jacques? 
Mas,  se  a  existência  de  Ligures  na  Lusitânia  romana  e  na  Cal- 
laecia  é  problemática,  porque  nenhum  anthropologista  achou 
aqui  o  typo  ligur,  problemática  fica  sendo  também  a  existên- 
cia dos  Celtas  (os  Gaiatas  de  Bertrand  e  dos  Cranea  Ethnica)^ 
porque  lambem  nenhum  anthropologista  achou  ainda  o  typo  ga- 
lala^entre  as  raças  que  se  cruzaram  e  justapozeram  no  nosso 
paiz.  Nem  Ligures,  nem  Celtas.  Uma  verdadeira  razzia. 


16 


Mas  ninguém  achou  na  Hispanha  o  typo  lignr?  Lembrado 
de  que  deve  collocar-se  «no  ponto  de  visia  da  sciencia  pura» 
(mysteriosa  confissão!),  acha  decente  o  snr.  Coelho  observar 
que  V.  Jacques  (o  mesmo  que  nos  mostrou  os  Cro-Magnon  ex- 
pulsos de  parte  da  Hispanha  pelos  Ligures),  examinando  os 
«vestígios  osteos»,  descobertos  por  Siret,  muito  depois  da 
publicarão  dos  Cranea  Ethnica,  falia  «de  relações  entre  ura 
d'esses  typos  e  o  typo  ligur».  E  conclue  o  sábio  professor  ao 
cabo  de  certas  duvidas,  que  «se  houve  ligures  entre  as  anti- 
gas povoações  peninsulares,  esse  elemento  parece  ter  sido 
muito  pouco  importante».  Mais  devagar.  Não  tão  pouco  im- 
portante, que  não  pozesse  os  Cro-Magnon  fora  da  Hispanha  a 
toque  de  caixa,  como  suppõe  o  seu  expositor. 

Mas  o  que  mais  importa  é  tirar  a  limpo  uma  coisa  :  já 
sabemos  que  o  snr.  Coelho  se  colloca  no  ponto  de  vista  da  scien- 
cia pura,  quando  observa  que  alguém  achou  o  typo  ligur  na 
Hispanha;  quando  aíErmou  categoricamente  que  ninguera 
achou  na  Hispanha  o  typo  ligur,  estava  collocado  no  ponto  de 
vista  de  que?  Da  rabulice  decerto.  Se  accrescentarmos  que, 
conforme  a  declaração  do  sábio  professor  «  os  dados  anthropo- 
logicos  são  muito  escassos»  entre  nós,  devendo  dizer  escassis- 
simos,  a  conclusão  mais  favorável  que  se  tira  de  toda  esta 
trapalhada,  é  que  o  snr.  Coelho  quer  fazer  rir  a  gente  á  sua 
custa. 

E  ahi  vem  outra.  «  A  termos  de  dar  fé  aos  anthropologistas, 
que,  ao  que  parece,  são  os  mais  competentes  em  questões  d'an- 
thropologia,  os  homens  da  época  de  bronze  na  Grã-Brelanha 
não  eram  de  modo  algum  ligures,  como  sonha  o  snr.  Sar- 
mento ». 

Para  esta  investida  pede  o  snr.  Coelho  o  auxilio  do  anthro- 
pologista  inglez  Beddoe,  copiando-Ihe  das  suas  The  Races  of 
Britain  duas  passagens,  ás  quaes  alterou  o  numero  d'ordem, 
não  podemos  perceber  para  quê. 

A  primeira  passagem  (não  lendo  o  livro  ás  avessas)  diz: 
« D'onde  veiu  essa  raça?  A  sua  grande  semelhança  com  um 
typo  que  abunda  nos  túmulos  da  idade  da  pedra  da  Dinamar- 
ca foi  notada  por  muitos  observadores...  Considerando  este 
facto  (ha  aqui  uma  pequena  fraude  sem  importância  de  maior) 
á  luz  dos  dados  dos  auctores  clássicos  a  respeito  dos  Cimbri, 
o  seu  estabelecimento  no  ou  cerca  do  Jutland  e  o  seu  movi- 
mento na  direcção  do  sudoeste  para  a  Gallia  Bélgica,  é-se  dis- 
posto a  pensar  que  os  craneos  de  Borrely  (Borreby)  podem  ter 
pertencido  a  uma  raça,  senão  idêntica,  todavia  próxima  pa- 


17 


rente  dos  Cimbri,  que  teriam  sido  em  parte  subjugados,  em 
parte  expellidos  por  uma  raça  dolichocephala  de  conquistado- 
res diaamarquezes  ou  anglos,  e  que  podia  ter  achado  o  seu 
caminho  para  as  ilhas  britannicas,  através  da  região  do  Rheno 
e  da  Grallia  do  Norte,  adquirindo  a  civiUsação  do  bronze  na 
sua  marcha». 

Temos,  pois  que  na  opinião  de  Beddoe,  opinião  alumiada 
pela  luz  dos  dados  dos  auctores  clássicos,  os  homens  do  bron- 
ze da  Inglaterra  (porque  é  d'élles  que  se  trata)  são  os  Cim- 
bros, ou  gente  da  mesma  raça  (os  Cimbros  são  germanos), 
que  expulsos  da  Jutlandia  pelos  dinamarquezes  ou  anglos 
(tudo  isto  passa-se  no  tempo  da  pedra  polida),  atravessaram 
para  a  Inglaterra,  depois  de  se  terem  industriado  na  civilisa- 
ção  do  bronze  pelas  regiões  do  Rheno  ou  pela  Gallia  do  Nor- 
te, onde,  como  se  vé,  habitavam  os  verdadeiros  homens  do 
bronze,  que  nunca  se  lembraram  de  passar  á  Inglaterra... 

Ê  esta  a  ultima  palavra  da  sciencia,  visada  pelo  snr.  Coe- 
lho? «A  hypothese  de  Beddoe,  conclue  elle,  não  parece  segu- 
ra». Phantastico!  O  snr.  Coelho  oppõe  á  minha  hypolhese  a 
hypothese  d'um  sábio  e,  chegando  ao  fim  da  sua  estirada  mas- 
sada,  diz-no3  que  a  hypothese  do  seu  sábio  não  parece  segu- 
ra. Ainda  Qca  a  matutar  se  aquelle  apontoado  de  extravagân- 
cias, que  nenhum  ethnologista  sério  seria  capaz  de  subscre- 
ver, é  ou  não  uma  hypothese  segura.  Os  factos  anthropologi- 
cos,  explica  o  sábio  professor. . .  Os  factos  anthropologicos  es- 
tão na  segunda  passagem  (não  lendo  o  livro  ás  avessas),  que 
diz:  «Viessem  d'onde  viessem,  os  homens  da  idade  do  bron- 
ze na  Britannia  eram  muito  bem  dotados  physicamente.  Eram, 
por  via  de  regra,  altos  e  robustos;  tinham  cérebros  desenvol- 
vidos ;  as  suas  feições,  embora  um  pouco  ásperas  e  grossei- 
ras, devem  ter  sido  viris  e  até  imperiosas.  O  chefe  de  Grislhor- 
pe,  cujos  restos  estão  no  Museu  York,  deve  ter  tido  o  aspecto 
d'um  verdadeiro  rei  dos  homens,  com  a  sua  estatura  aihleti- 
ca,  a  fronte  larga,  os  sobrolhos  salientes,  as  maxillas  fortes  e 
o  perQl  aquilino  ». 

Aqui  está,  pois,  a  prova  provada  de  que  eu  sonhei,  aíTirman- 
do  que  os  importadores  do  bronze  na  Inglaterra  eram  os  Li- 
gures  de  Belloguet,  os  Celtas  de  Broca.  Ouçamos  porém  «duas 
auctoridades  de  primeira  ordem»,  os  respeitáveis  au(Uores  dos 
Cranoa  Elhnica,  ha  pouco  tão  venerados,  e  justamente,  pelo  cons- 
pícuo professor.  Discutindo  uns  typos  brachyccphalos,  dilliceis 
de  classificar,  escrevem  os  distinctos  anlhropologislas :  «Coite 
forme  crâaiénne  a  persiste  au  dela  de  Tâge  de  la  pierre  polie 

8.»  ANNO.  • 


{^ 


cPáns  les  iles  Britanniques.  Par  exemple,  la  crâne  de  Tâge  du 
bronze  de  Stonehenge  represente  ci-contre,  est  fort  voisin  des 
crânes  masculins  de  Grenelle.  Mais  la  juxtaposition  dans  cet 
archipei  d'une  autre  race  brachycephale  assez  voisine,  d'origi- 
De  Cellique,  dès  Tapparilion  des  rounds  harrows,  rend  três  dé- 
licat  le  diagnostic,  etc. »  ^ 

Para  estas  duas  auctoridade?,  ha  pouco  de  primeira  or- 
dem, os  brachycephalos  dos  rounds  barrows,  os  homens  da 
bronze  de  Beddoe,  são,  como  se  vê,  de  raça  céltica  (os  Cel- 
tas dos  Cranea  Ethnica  são  os  Celtas  de  Broca,  os  Ligures  de 
Belloguet,  os  meus  Ligures  emfim);  mas  o  sábio  snr.  Coelho 
decreta  que  ellas  estão  agora  a  sonhar.  A  única  coisa  que 
resta  saber  é  se  o  illustrado  professor,  desprezando  d'esla  vez 
a  opinião  d'aquelles  sábios,  para  se  agarrar  à  de  Beddoe,  se 
coUoca  no  ponto  de  vista  da  sciencia  pura,  ou  se  n'estas  ques- 
tões anthropologicas  jurou  metter  os  pés  pelas  mãos,  e  fazer 
rir  os  leitores  mais  sisudos. 

4.°  Os  dados  gloUoloyícos.  Visto  o  programma  do  snr.  Coe- 
lho, o  que  havia  a  esperar  que  elle  provasse  n'este  paragrapho 
era  que  não  existiam  vestígios  da  lingua  dos  Ligures  nem  na  Lu- 
sitânia, nem  na  Gailsecia.  Se  tal  é  o  seu  fim,  e  não  deve  ser 
outro,  a  demonstração  não  pôde  encapotar-se  em  formulas 
mais  sybillinas.  Encontra-se  ella  n'estasduas  proposições:  «Não 
está  provado  que  a  lingua  dos  Ligures  tivesse  relações  estrei- 
tas com  os  dialectos  neo-celticos,  a  ponto  d'estes  deverem  ser 
considerados  como  representantes  d'essa  lingua».  «  Provou-se 
directamente  no  artigo  anterior  que  as  linguas  neo-celticas  pro- 
vêm em  verdade  da  lingua  ou  linguas  dos  antigos  celtas,  in- 
cluindo os  gaiatas  da  Ásia  menor». 

Isto  traduzido  e  commentado  em  harmonia  com  o  seu  pro- 
gramma, deve  querer  dizer  —  tendo  eu  (o  sábio  professor) 
provado  que  as  linguas  neo-celticas  provinham  da  lingua  dos 
Celtas,  incluindo  os  Gaiatas  da  Ásia,  e  explicando-se  o  ono- 
jnastico  da  Lusitânia  e  Gallaecia  pelo  neo-cellico,  nenhuma  du- 
vida pôde  haver  em  o  attribuir  aos  Celtas,  emquanto  que  os 
Ligures  estão  fora  de  qualquer  concorrência,  visto  não  estar  pro- 
vado que  a  sua  lingua  tenha  estreitas  relações  com  o  neo-celtico. 

Descobre-se  á  primeira  vista  que  esta  argumentação  man- 
queja d'uraa  das  pernas,  e  logo  se  verá  que  manqueja  também 


Cranea  Ethmca^  pag,  144. 


19 


da  outra,  que  parece  firme.  Para  acertar  limpamente  do  alvo, 
não  basta  que  o  sábio  professor  insinue  que  não  está  prova- 
do não  ter  o  ligur  relações  estreitas  com  o  neo-cellico,  etc, 
seria  preciso  insinuar  pelo  menos  que  eslava  provado  não  as  ter. 

Occupemo-nos  com  esla  nevoenta  argúcia  sem  a  precipi- 
tada azáfama  do  snr.  Coelho,  notável  azáfama  em  quem  cos- 
tume desperdiçar  tempo  com  verdadeiras  frioleiras. 

E,  para  procedermos  com  ordem,  fatiemos  primeiro  do  aria- 
nismo da  língua  dos  Ligures.  Para  insinuar  que  não  está  pro- 
vado o  arianismo  da  lingua  dos  Ligures,  soccorre-se  o  snr. 
Coelho  á  auctoridade  do  «  próprio  snr.  d'Arbois  de  Jubainvil- 
ie»,  reproduzindo  uma  passagem,  em  que  o  auctor  de  Les 
Premiers  habilanls  de  l' Europa  escreve  que  —  se  não  pôde 
estabelecer  esta  these  pelos  melhodos  da  linguistica. 

Ha  com  certeza  aqui  um  lapsus  calami,  de  que  se  apro- 
veitou a  hermenêutica-  rabina  do  snr.  Coelho.  Como  explicar 
sem  isso  que  um  mesmo  pensador  dissesse  nos  princípios 
do  seu  livro  que  se  não  podia,  que  não  era  possível,  estabele- 
cer pelos  methodos  da  linguistica  o  arianismo  do  ligur  e  nas 
paginas  seguintes  produzisse  argumentos  glottologicos  em  favor 
d'aquella  doutrina  — argumentos,  que  por  sígnal  o  snr.  Coe- 
lho frechou  com  uns  pontos  d'admíração,  já  claros,  já  la- 
tentes? É  da  primeira  intuição  que  ninguém  tenta  estabelecer 
o  que  positivamente  declarou  que  não  pôde  eslabelecer-se. 

A  penna  atraiçoou  o  pensamento  do  distinctissimo  escri- 
ptor,  é  certo,  e  o  snr.  Coelho  percebeu-o  certissimamente; 
mas  não  resistiu  á  sua  fada,  não  resistiu  ao  prazer  de  mexericar 
com  um  descuido,  para  que  os  estrangeiros  ficassem  sabendo 
por  experiência  própria  que  não  foi  sem  motivo  que  eu  fallei 
da  sua  hypercritica  lareira.  Muito  obrigado. 

De  resto  «  o  próprio  snr.  d'Arbois  de  Jubainviile  »,  que  leu 
os  dois  primeiros  números  do  libello  do  snr.  Coelho  e  por  el- 
les  apreciou  a  matéria  dos  autos  da  minha  demanda  \  vem 
aclarar  este  caso  escuro. 


1  D'onde  resultou  que  M.  d'Arboi3  de  Jubainviile  aOirma  que 
sustento  duas  iheses,  ambas  ellas  inadmispiveis.  Primeira:  « I.a  pre- 
mière  est  que  les  langues  dites  nóo-celtiques  derivent  dii  ligure  (do 
Mediterrâneo),  et  que  par  conséfiuence  les  noms  propres  de  la  penín- 
sula iberique  que  s*expliquent  par  les  langues  m-o-celliques  sonl  ii- 

* 


20 


O  arianismo  dos  Ligures,  diz  elle,  é  uma  «docírine  que  ne 
será  demontrée  laot  qu'on  n'aura  fait  le  triage  des  noms  celti- 
ques  et  des  noms  ligures  de  Tllalie  et  de  la  Gaule  ». 

M.  de  Jubainviile,como  eu  suppunha,  não  auctorisa  ninguém 
a  attribuir-lhe  a  opinião  de  que  não  possa  estabelecer-se  pelos 
methodos  da  linguistica  o  arianismo  do  ligur;  o  que  elle 
pensa,  salvo  o  erro,  é  que,  sem  fazer-se  o  destrinço  dos  no- 
mes célticos  e  liguricos  da  Itália  e  da  Gallia,  não  ha  dados 
bastantes  para  convencer  os  incrédulos  de  que  tal  lingua  é 
ariana,  devendo  acreditar-se  que  não  mudou  de  convicções, 
nem  quanto  á  lingua,  nem  quanto  á  nacionalidade  dos  Ligures, 
que  tem  por  indo-europeus,  com  applauso  d'um  sábio  que 
não  é  dos  melhores  de  contentar  ^ 

O  snr.  Coelho  incommodou  portanto  inutilmente  o  distin- 
cto  sábio  e  obrigou-me  também  a  escrever  muitas  palavras 
inúteis. 

Deveria  limitar-se  aos  argumentos  indirectos.  «  Argumen- 
tos indirectos  —  diz  —  concorrem  para  mostrar  que  o  ligur  de- 
via ser  uma  lingua  muito  differente  (do  neo-celtico) ». 

Vejamos.  Os  argumentos  indirectos  escondem-se  nos  ves- 
tígios da  lingua  dos  Siculos,  que  são  Ligures  «  segundo  geral- 
mente se  admitte  e  o  próprio  snr.  Sarmento  quer».  Os  vestí- 
gios da  lingua  dos  Siculos  consistem  em  algumas  poucas  pala- 
vras, sobre  as  quaes  os  linguistas  tém  exercido  a  sua  sagaci- 
dade, sustentando  uns  que  são  siculas,  outros  que  não,  que 
são  latinas,  importadas  para  a  Sicília  pelos  mercadores  da 
Itália.  Esta  ultima  opinião,  que  é  a  d'Helbig,  recebeu  o  visto 
do  snr.  Coelho  ',  e  das  suas  palavras  deveria  concluir-se  que 


gures  d'origine».  Eu  nunea  disse  similhaate  coisa.  A  minha  segunda 
these  seria  a  «velha  doutrina»  d'Holtzmann,  que  os  Celtas  são  Germa- 
nos. Ha  só  meia  verdade  n'esta  afflrmativa.  M.  Jubainville  não  perce- 
beu decerto  que  o  escripto  do  snr.  Coelho  é  uma  obra  de  diffamação. 
Allude  também  á  minha  apostasia,  servindo  d'echo  ao  snr.  Coelho. 
Não  tinha  feito  caso  d'esta  denuncia  inquisitorial,  tão  fóssil  me  pare- 
cia elia;  mas,  visto  isso,  hei  de  historial-a  um  dia.  Talvez  que  os  cel- 
tistas  não  lucrem  muito  com  a  minha  confissão  publica. 

1  Vid.  Reviie  Celtique,  in,  pag.  458,  onde  M.  Gaidoz,  fallando 
das  «  opiniões  novas  e  que  parecem  solidamente  fundadas  »  (as  que 
M.  de  Jabainville  expuniia  na  primeira  edição  da  sua  obra,  Les  pre- 
miers  habiíants  de  lEurope),  accrescenta  logo :  «  Cest  ainsi  qu'il  a 
rendu  vralsemblable  la  nationalité  indo-européenne  des  Ligures  ». 

2  «  Como  bera  viu  Helbig  »  —  diz  o  snr.  Coelho  com  toda  a  se- 
riedade. 


21 


0.  Miiller  é  do  mesmo  parecer.  Nada  d'isso.  0.  MuIIer  susten- 
ta idéas  diametralmente  oppostas  á  opinião  d'IIelbig,  visada 
pelo  snr.  Coelho,  e,  o  que  mais  importa  accenluar,  não  põe 
duvida  em  admittir  que  a  lingua  dos  Siculos  fosse  ariana  ^. 
J.  Loth,  que  se  inculca  intimamente  familiarisado  com  os  mais 
recentes  trabalhos  sobre  a  philologia  clássica,  escrevia  ainda 
ha  poucos  mezes:  «  Pour  les  Sicules,  le  peu  que  semble  res- 
ter  de  leur  langue  parait  indiquer  une  parente  avec  le  laiin  »  *. 
E  a  verdade  é  que  nas  antigas  tradições,  Siculos,  Ligures,  La- 
tinos andam  de  tal  sorte  confundidos,  que  o  seu  intimo  paren- 
tesco ha  de  parecer  a  muitos  modernos  coisa  tão  corrente, 
como  o  parecia  aos  antigos.  Deve  notar-se  que  o  próprio  Hel- 
big  encontrou  palavras  siculas,  que  só  lém  o  defeito  de  «não 
poderem  ligar-se  ao  céltico  » ;  são  arianas,  é  de  ver. 

A  conclusão  de  tudo  isto  é  que  os  investigadores,  chama- 
dos á  autoria,  vêem  no  siculo  uma  lingua  árica,  com  máximas 
probabilidades  de  perteíicer  ao  grupo  itálico  ^.  Como  os  Siculos 
são  ligures,  «  segundo  geralmente  se  admitte  »,  o  veio  dos  ar- 
gumentos indirectos  descobre-nos  em  primeiro  logar,  que  a 
lingua  dos  Ligures  era  ariana  e  provavelmente  um  dos  compo- 
nentes do  grupo  itálico.  E  acha  o  snr.  Coelho  que  está  bem 
servido,  e  eu  muito  mal,  com  os  seus  argumentos  indirectos? 
Para  pôr  o  celtismo  em  echec  e  mat  basta-me  a  concessão 
de  que  os  Ligures  fallavam  uma  lingua  ariana,  seja  ella  de 
que  ramo  fôr.  De  demonstrar  a  sua  existência  no  norte  do 
Rheno,  na  Inglaterra,  no  occidente  da  Hispanha,  muito  antes 
dos  Celtas,  d'isso  me  encarrego  eu.  E  certo  é  que,  se  não 
está  provado  que  o  ligur  fosse  uma  lingua  ariana  e  provavel- 
mente do  grupo  itálico,  não  somente  o  contrario  não  está  pro- 
vado, mas  quasi  que  não  tem  cotação  na  praça  scientifica.  E 
agora  mostram  os  argumentos  indirectos  que  o  ligur  devia  ser 
« muito  diíTerente  »  do  neo-celtico?  Se  o  ligur  pertence  ao  ramo 
itálico,  como  se  viu  ser  muito  provável,  e  se  os  mestres  nos 
Dão  enganam,  ha  de  succeder  o  contrario  do  que  inculca  o 
snr.  Coelho.  Não  estará  estabelecida,  ensinam  elles,  a  commu- 
nidade  de  duas  linguas  europêas  (arianas),  devida,  já  se  en- 
tende, à  convivência  intima  de  dois  grupos  elhnicos  que  mais 


1  O.  MuIIer,  Die  Etrusker,  i,  de  pajr.  2  a  3G  (2.''  edição). 

2  Revue  Celtique,  xi,  pag.  233,  nota. 

3  A  etymologia  mesma  do  nome  dos  Siculos,  admiltida  ja  por 
Mommsen.  Hist.  Rom.,  i,  pag.  28  (traducção  franeeza),  não  é  para  des- 
prezar. O  deus  dos  Siculos  era  Saturno,  o  Saturno  do  Lacio. 


22 


tarde  se  separassem ;  ha  porém  uma  excepção,  precisamente  a 
favor  da  hypothese  italo-cellica,  que  está  em  graça  no  espiri- 
to dos  linguistas,  com  tendência  para  alta  ^.  Segundo  esta  hy- 
pothese, que  onutato  nomine  é  a  minha,  os  povos  italiotes 
(entre  os  quaes  contaremos  os  Ligures  do  Mediterrâneo)  convi- 
veriam estreitamente  com  os  Celtas  (eu  dizia — árias  a7= Ligu- 
res) no  alto  Danúbio  (Jubainviile),  fallando  uma  mesma  lia- 
gua  e  só  depois  da  sua  separação,  e  por  eíFeito  d'ella,  sobre- 
vieram as  differenças,  aliás  inevitáveis,  que  assignalarana 
mais  tarde  os  dois  ramos  linguisticos.  Como  podem  elles  ser 
«muito  diíTerentes»,  se  muito  maiores  que  as  suas  differenças 
devem  ser  as  suas  analogias?  É  abusar  desmedidamente  da 
significação  das  palavras. 

Não  me  faltavam,  pois,  razões  para  aíiirmar  que  a  argumen- 
tação do  sábio  professor  coxeava  d'uma  das  pernas.  Nem  está 
provado  que  o  ligur  não  seja  uma  lingua  árica,  antes  é  muito 
de  presumir  que  o  seja  e  que  pertença  ao  ramo  italiote,  e 
D'esla  hypothese,  longe  d'estar  provado  que  seja  muito  diffe- 
rente  do  chamado  neo-celtico,  deve  ter  com  elle  tão  estreitas 
relações,  como  os  outros  dialectos  itálicos. 

E  isto  com  relação  aos  Ligures  do  Mediterrâneo,  que  com 
os  Italiotes  desceram  para  o  sul.  Que  diremos  dos  Ligures  do 
Rheno,  da  Inglaterra,  que  se  ficavam  com  os  pseudo-celtas  e 
se  encaminharam  com  elles  para  o  poente,  que  é  a  minha  hy- 
pothese? ^ 

E  chegamos  ao  segundo  argumento,  ao  grande  argumen- 
to, que  o  illustre  professor  nos  dá  por  tão  solido,  como  ura 
castello  roqueiro:  « Provou-se  directamente  no  artigo  anterior 
que  as  línguas  neo-cellicas  provêm  em  verdade  da  lingua  ca 
línguas  dos  antigos  celtas,  incluindo  os  gaiatas  da  Ásia  Me- 
nor». Completemos  o  raciocínio:  Ora  o  onomástico  da  Lusitâ- 
nia e  da  Gallíecia  explica-se  pelas  línguas  neo-celticas;  logo  só 
pôde  ter  sido  obra  dos  Celtas  e  de  mais  ninguém. 

É  um  syllogismo  correcto  e  realmente  roqueiro,  se  a  sua 


*  K.  Brugmann,  Grundriss  der  vergleichenden  grammatik,  r, 
pag.  3. 

'  Na  hypothese  dos  celtistas  os  Celtas  ficaram  alguns  séculos 
meio  emboscados  pelo  Alto  Danúbio,  sem  dar  rumor.de  si,  até  que  no 
sec.  vii,  a.  C,  se  desentranhariam  em  correrias  frenéticas  pela  Eu- 
ropa e  ainda  pela  Ásia  Menor,  tornando  a  sumir-se,  ou  quasi,  ao  fim  de 
dois  séculos.  Durante  este  espaço  de  tempo  é  que  semeariam  a  sua  lin- 
gua, que  em  toda  a  parte  pegou,  menos  na  Ásia  Menor. 


23 


premissa  maior  não  toasse  a  ôcco.  Sim,  se  o  snr.  Coelho  no 
artigo  anterior  tivesse  provado  directamente,  ou  me.^mo  indi- 
rectamente, que  as  línguas  neo-celticas  provinham  em  verdade 
da  língua  ou  línguas  dos  antigos  Celtas,  poderia  talvez  en- 
leiar  alguns  leitores;  mas  muito  lembrados  devem  elles  estar 
que  no  artigo  anterior  o  que  elle  fez  foi  tentar  provar  que  al- 
guns nomes  dos  Gaiatas  da  Ásia  Menor  se  podiam  explicar  pelo 
ehamado  neo-celtico,  tendo  de  esgrimir  a  cada  passo  com  graves 
auctores,  que  os  explicam  pelo  germânico.  Demais,  é  muito 
obvio  que  não  ha  outra  maneira  de  provar  que  o  chamado 
neo-celtico,  isto  é,  a  língua  fallada  hoje  pelos  Irlandezes,  Gam- 
brios,  etc,  é  a  língua  dos  Celtas,  senão  provando  que  os  Ir- 
landezes, Cambrios,  etc,  ou  são  Celtas,  ou  povos  celtisados. 
Ora  o  conspícuo  professor  não  somente  se  nao  deu  nunca  a 
este  trabalho,  mas,  o  que  seria  para  admirar  mesmo  n'uni 
hypercritíco  menos  perfeito,  nem  sequer  se  deu  ao  trabalho 
de  discutir  os  argumentos,  em  que  me  tenho  fundado  para 
sustentar  o  contrario. 

Não  vou  fazer  aqui  segunda  edição  dos  meus  argumentos, 
nem  puxar  pela  manga  a  um  professor  do  Curso  Superior  de 
Lettras,  que  se  faz  surdo  nas  melhores  occasiões. 

Prefiro  antes  admirar  sobre  que  ponta  d'agulha  se  equi- 
libra a  sua  rotineira  doutrina.  Os  Lusitanos  e  Gallegos  são 
Celtas,  porque  o  seu  onomástico  é  céltico.  Mis  porque  é  cél- 
tico o  seu  onomástico,  se  a  celtísação  da  Lusitânia  e  da  Gal- 
liza  é  desmentida  pela  historia,  pela  archeologia,  etc.  ?  ^  Por- 
que o  dito  onomástico  se  explica  pela  língua  dos  Cambrios 
6  dos  Irlandezes,  que  são  Celtas.  Mas  porque  são  Celtas  os 
Irlandezes  e  os  Cambrios,  se  tanto  a  sua  origem  céltica,  como 
a  sua  celtisação,  são  desmentidas  pela  historia,  pela  archeolo- 
gia, pelas  indicapões  anthropologicas,  que  dos  últimos  nos  dei- 
xaram os  antigos?'  Porque  alguns  nomes  dos  Gaiatas  da  Ásia, 
Celtas,  se  podem  explicar  pela  língua  dos  Cambrios  e  dos 
Irlandezes. 

Esmiupa-se  este  único  argumento  e  vè-se  que  os  linguis- 
tas são  os  primeiros  a  confessar  que  alguns  nomes  gaiatas, 
os  seus  radícaes  e  suíTixos,  se  podem  também  explicar  pelo 
-germânico.  E-<tuda-se  a  historia  dos  fiascos  dos  cellislas  e  vé- 
se  que  por  mais  d'uma  vez,  n'este  embroglio  celto-germanico. 


1-2    De  estabelecer  estes  factos  tratavam  os  argumentos,  de  que 
fallei  atraz. 


24 


têm  comido  galo  por  lebre,  não  sendo  para  estranhar  que  nos^ 
dêem  agora  lebre  por  gato,  embora  com  as  melhores  inten- 
ções. Por  exemplo,  algumas  palavras,  contidas  nas  formulas 
de  Marcello  burdigalense,  já  eram  célticas  na  opinião  d'alguns 
linguistas,  e  Zeuss,  e  mais  era  Zeuss,  recusou-se  por  muito 
tempo  a  reconhecel-as  como  taes;  e  todavia  eram-n'o.  Algu- 
mas palavras,  contidas  nas  glosas  de  Malberg,  foram  declara- 
das célticas  pelos  celtistas;  Grimm  provou  que  eram  germâ- 
nicas. 

Os  celtistas,  que  na  decifração  dos  nomes  próprios  gaiatas 
são  uns  verdadeiros  videntes,  andam  ha  uns  poucos  d'annos 
a  traduzir  de  vários  modos  as  chamadas  inscripções  gaulezas,, 
sem  que  até  vfcoje  tenham  adiantado  ura  passo,  como,  haverá 
um  anno,  escrevia  Mowat,  não  faltando  também  quem  as  te- 
nha querido  traduzir  pelo  germânico.  Verdadeiros  videntes  nos 
nomes  próprios;  ora  os  nomes  próprios,  como  já  sustentava 
Knnssberg  e  o  repete  Brugmann,  não  são  o  melhor  fio  d'Ariadne 
n'este  labyrintho  de  linguas  velhas. 

Por  esta  amostra,  claro  está  que  a  sciencia  histórica,  a 
archeologia,  a  anthropologia,  etc,  quando  tem  excellentes  ra- 
zões para  acreditar  que  os  Lusitanos  e  Gallegos,  Irlandezes  e 
Cambrios  nem  são  Celtas,  nem  celtisados,  não  hão  de  ficar 
pasmadas  diante  da  patusca  objecção  de  que  alguns  nomes 
gaiatas  se  podem  decifrar  pelo  chamado  neo-cellico. 
Continuemos. 

O  cnomastico  da  Lusitânia  e  da  Gallsecia  é  céltico,  porque 
o  sábio  professor  provou  directamente  {síc)  no  artigo  anterior, 
etc.  Ligur  de  modo  nenhum.  Não  ha  duvida  que  alguns  phi- 
lologos  têm  achado  «surprehendentes  analogias  entre  o  dia- 
lecto genovez  e  o  gallego  e  o  portuguez»;  outros  têm  achada 
D'elle   «relações  particulares»;  mas  lá  vem  um  ultimo,  que 
desfaz  esta  teia,  até  que  appareçam   outros  que  a  refaçam. 
Também   cão  ha  duvida  que  na  Hispanha  antiga,  ao  sul  do 
Tejo,  havia  um   Vípasco,  « que  parece  ligar-se  ao  ligur »  pelo 
suffixo  asco,  PuíBxo  « que  parece  o  mesmo  que  se  acha  em 
diversos  nomes  próprios  e  appellativos  modernos  hispanhoes  e 
portuguezes ».  Mas  isto  e  nada  é  tudo  um.  Além  de  que  vai 
uma  dilTerença  enorme  do  parecer  ao  ser,  estes  suflixos  ligu- 
ricos  são  d 'uma  tal  raça,  que  só  nos  serviriam  para  desencan- 
tar celtas.  Chega  a  parecer  mentira;  mas  é  a  verdade  pura. 
Apertem,  por  exemplo,  com  Vipasco,  com  penhasco,  com  pi- 
nasco,  e  tirem-lhe  o  suffixo;  ficam  palavras,  cuja  celticidade  os 
linguistas  nos  demonstrarão  por  a-f-b.  É  muito  para  desconfiar 


25 


depois  d'isto  que  o  destrinço  dos  nomes  célticos  e  liguricos  da 
Itália  e  da  Gallia  dê  resultados  mais  que  duvidosos,  emquan- 
to  se  Dão  descobrir  a  verdadeira  razão  por  que  estes  mania- 
cos  Ligures,  Ião  azafamados  em  mudar  os  suffixos  aos  nomes 
que  os  estrangeiros  lhes  metliam  em  casa,  ião  pouco  zelosos 
eram  da  sua  toponymia  própria,  que  se  chega  mesmo  a  du- 
vidar se  a  tiveram  algum  dia.  O  caso  é  que,  a  acreditar  os 
cellistas,  o  Vipasco,  penhasco  e  que  taes,  quando  muito,  só  nos 
levariam  à  descoberta  d'uns  sujeitos  parlando  médio  francez, 
—  gente  muito  suspeita  que  o  snr.  Coelho  fez  muito  bem  em 
enxotar  para  longe  da  nossa  terra. 

E  a  propósito,  ou  a  despropósito,  porque  ha  n'isso  duvidas, 
exclama :  « É  estupendo  como  ainda  hoje  se  repetem  inven- 
ções sem  base  acerca  de  relações  de  línguas.  Assim,  o  snr. 
Sarmento  não  hesitou  em  reproduzir  de  Diefenbach  a  anecdola 
absurda  d'uma  dama  de  Galles  que  teria  encontrado  n'um  ba- 
zar em  Argel  gente  do  interior  da  Africa,  cuja  lingua  ella  com- 
prehendeu  com  o  auxilio  do  cambrico!» 

Na  persuasão  de  que  os  leitores  não  avaliariam  bem  a  ex- 
tensão d'esta  parvoiçada,  explica:  « Aquella  gente  devia  ser 
(no  espirito  do  snr.  Sarmento)  restos  de  ligures  que  por  lá  te- 
riam ficado  de  remotissimos  tempos,  d'esses  tempos,  em  que  o 
snr.  Sarmento  vê  tudo  com  assombrosa  clareza».  Isto  escreve 
o  impávido  professor  a  pag.  160  do  seu  libello.  Volte  o  leitor 
á  pag.  157  do  dito,  e  lá  encontrará  que  no  espirito  do  snr. 
Coelho  entrou  com  a  maior  facilidade  a  idéa  de  que^  os  Cro- 
Magnon,  muito  mais  velhos  que  os  Ligures,  ainda  têm  hoje 
representantes  na  Africa.  A  idéa  de  que  os  possam  ter  os  Li- 
gures, ahi  estabelecidos  desde  menos  «remotissimos  tempos», 
essa  é  que  lhe  não  entra.  0"er  dizer,  no  espirito  do  snr.  Coe- 
lho entra  e  não  entra  a  idéa  da  persistência  das  raças,  e  com 
Ião  estupendo  espirito  ninguém  mais  no  caso  de  chamar  igno- 
rante e  imbecil  ao  mundo  inteiro,  e  nomeadamente  a  dois  sá- 
bios francezes,  nos  quaes  propriamente  acerta  esta  pancada  de 
cego.  Porque,  dando  o  seu  a  seu  dono,  devo  dizer  que  estes 
Ligures  da  Africa  me  foram  apresentados  por  Belloguet,  im- 
pressionado pelas  observações  d'um  anthropologista  notável, 
Bodichon,  o  qual,  intimamente  familiarisado  com  certos  Berbe- 
res e  com  os  Bretões,  encontrou  entre  elles  surprehendontes 
analogias,  tanto  no  physico  como  no  moral.  É  verdade  (jue  en- 
tão ainda  não  estavam  descobertas  as  bases  das  sciencias  cthni- 
cas,  que  são  uma  das  glorias  do  snr.  Coelho. 

Continua  elle  com  a  sua  explicação:  «mas  o  mais  extraor- 


w 


dinario  (ainda  mais  extraordinário  que  a  persistência  das  raças) 
é  que,  apesar  das  profundas  transformações  por  que  passou  o 
cambrico  e  por  que  devia  ter  passado  o  tal  seu  parente  hypo- 
ttietico  d'Africa,  ainda  essa  dama  se  entendeu  com  os  myste- 
riosos  africanos,  como  no  Homme  qui  rit,  de  Victor  Hugo,  uma 
irlandeza  e  uma  biscainha  se  entendem  perfeitamente,  faliaQ- 
do  cada  uma  a  sua  lingua». 

Devemos  acreditar  que  no  privilegiado  espirito  do  snr. 
Coelho  entrou  a  idéa  de  que  um  sábio  como  Diefenbach  sus- 
tentou os  absurdos,  que  ahi  ficam  estendidos  a  martello?  Mas 
este  Diefenbach,  ignorando  o  triviahssimo  e  velhíssimo  princi- 
pio da  transformação  das  linguas,  e  ignorando-o  a  ponto  de 
crer  na  perfeita  identidade  de  duas  linguas,  enormemente  se- 
paradas pelo  espaço  e  pelo  tempo,  é  uma  invenção,  que,  se 
tivesse  de  provar  a  imbecilidade  d'alguem,  provaria  unicamente 
a  do  inventor.  Se  o  sr.  Coelho  falia  sério. . .  mas  seria  estu- 
pendo de  mais.  Da  anecdota  de  Diefenbach,  o  que  se  infere, 
não  recorrendo  à  hermenêutica  da  bisbilhotice,  é  esta  coisa 
simplicíssima:  —  que  uma  dama  de  Galles,  comprehendendo 
com  o  auxílio  do  cambrico  algumas  palavras  pronunciadas  por 
uns  indígenas  da  Africa,  achou  o  caso  tão  digno  de  menção 
que  o  vulgarisou,  e  depois  d'ella  outros  escriptores  fizeram  o 
mesmo. 

Eu  também  o  citei,  sem  affirmar  que  o  acreditava  ou  dei- 
xava de  acreditar,  e  cítava-o  a  par  d'outros  ^,  tão  problemáti- 
cos como  este,  para  concluir  que  todos  elles  eram  factores 
d'um  enigma,  que  tinha  causado  impressão  a  muito  boa 
gente  e  a  mim  também.  Enigma,  escrevia  eu  com  todas  as 
lettras  —  o  que,  traduzido  pelo  sábio  professor,  significa  que 
vejo  estas  coisas  «com  assombrosa  clareza». 

Não  acreditasse  eu  que  o  conspícuo  professor  se  julga 
obrigado  a  sacrificar  tudo  á  sua  sanha  de  libellista,  que  fran- 
camente, todo  este  incidente  de  coisas  estupendas  me  força- 
va a  dar-lhe  o  conselho  de  consultar  um  especialista. 

5.  05  dados  chronologicos.  Copio  textualmente  quasi 
todo  o  paragrapho,  porque  a  traducção,  por  mais  fiel  que 
fosse,  poderia  parecer  uma  calumnia:  «A  passagem  hesiodica 


'  Taes  como  a  notável  similhança  entre  os  monumentos  megali- 
thicos  e  outras  velharias  do  norte  da  Africa  e  os  do  norte  da  Europa ; 
os  nomes  eeiticos^  que  segundo  Piclet  se  encontravam  por  aquella  re- 
gião, etc. 


37 


(Fragm.  132,  ed.  Didot),  em  que  alguns  se  fundam  para  po- 
voarem de  ligures  todo  o  occidente,  tem  tanto  valor  como  a 
denominação  Togai  (Portugal)  por  Europa,  usada  no  Senegal, 
ou  de  Francos  por  europeus  no  Levante...  Aquella  primeira 
passagem  só  prova  a  meu  ver,  que  o  primeiro  nome  ethnico 
que  chegou  aos  ouvidos  dos  poetas  beócios,  partindo  do  Me- 
diterrâneo, foi  o  de  ligures,  que  elles  suppozeram  habitarem 
todo  o  occidente  e  estenderem-se  até  ao  norte  da  Europa,  de 
que  esses  poetas  tinham  apenas  vaguissima  noticia.  É  um  pro- 
cesso que  se  tem  repetido  innumeras  vezes.  Mais  tarde  desco- 
brindo os  gregos  iberos  e  celtas,  onde  só  suppunham  haver  li- 
gures, inventavam  lendas  de  combates  de  que  resultaria  a  ex- 
pulsão dos  últimos  de  taes  e  taes  logares.  Gom  eífeito,  quem 
conservaria  a  memoria  d'esses  combates  e  porque  meio  che- 
gava essa  memoria  ao  conhecimento  dos  gregos?  Os,  gregos  fi- 
zeram a  historia  e  a  chronojlogia  por  processos  muitas  vezes 
ingénuos;  compete-nos  penetrar  no  mecanismo  psychologico 
d'esses  processos  e  descobrir  a  realidade  que  possa  estar  por 
baixo.  Ê  difficii,  porque  a  mania  mythoepica  é  uma  doença 
eterna  do  espirito  humano,  embora  se  transforme.  Quer-se  col- 
locar  alguma  coisa  no  vasio  das  épocas  remotas,  ainda  que 
não  seja  senão  um  phantasma». 

Com  certeza  o  sábio  professor,  além  de  todos  os  mereci- 
mentos que  o  distinguem,  é  um  espirito  gigantescamente  re- 
volucionário. Se  por  um  lado  reduz  a  uma  cáfila  de  ignorantes  e 
de  imbecis  os  sábios  que  estávamos  habituados  a  respeitar,  por 
outro,  elle  ahi  se  sae  com  a  rehabilitação  dos  beócios,  que 
eram  até  hoje  a  imbecilidade  personalisada.  A  influencia  que 
lhes  attribue  sobre  a  ethnologia,  embora  phantastica,  do  extre- 
mo occidente,  é  suíBciente  para  nos  mostrar  n'estes  calumnia- 
dos  beócios  a  única  gente  da  antiguidade  capaz  de  enfiar  um 
camello  pelo  fundo  d'uma  agulha  e  de  embaçar  o  resto  do  mun- 
do. Bastou  que  se  lembrassem  de  suppur  que  os  ligures  ha- 
bitavam todo  o  occidente  e  o  norte  da  Europa,  para  que  até 
os  Phenicios,  que  não  passavam  por  tolos  e  conheciam  de  vi- 
su  aquellas  regiões,  começassem  a  vôr  Ligures  pelo  occiden- 
te e  pelo  norte  da  Europa.  Por  exemplo,  o  périplo  phenicio, 
de  que  temos  fallado  muitas  vezes,  conhece,  como  vimos,  uns 
Ligures  no  sudoeste  da  Hispanha;  outros  Ligures  na  parte  mais 
septentrional  da  península  (na  actual  Galliza) ;  ainda  outros  no 
sudeste  da  Inglaterra,  e  estes,  accrescenta  elle,  tinham  habitado 
primeiro  no  norte  da  Europa  continental,  d'onde  os  Celtas  os 
haviam  expulsado,  depois  de  aturados  combates. 


28 


Tudo  influencia  dos  beócios. 

Na  historia  a  mesma  ou  mais  profunda  influencia,  sempre 
intrujôna,  bem  entendido;  os  combates  e  luctas  dos  povos  oc- 
cidentaes  (por  exemplo,  dos  Celtas  e  Ligures,  de  que  nos  fal- 
lou  o  phenicio),  a  expulsão  d'uns,  a  dominação  d'outros,  sãc 
obras  de  patranheiros,  mas  sempre  influenciados  pelos  beócios, 
E  o  snr.  Coelho  previne  toda  a  objecção  possivel  com  um  ta- 
pa-bucas  irresistivel :  «quem  conservaria  a  memoria  d'essee 
combates  e  porque  meio  chegaria  essa  memoria  ao  conheci- 
mento dos  gregos?»  Ninguém  responde,  está  visto;  e  com  s 
influencia  beócia  e  os  processos  ingénuos  dos  Gregos,  a  res- 
posta é  fácil.  O  que  falta  somente,  é  penetrar  no  mecanismo 
psychologico  d'esses  processos  e  descobrir  a  realidade  do  que 
está  por  baixo,  como  observa  judiciosamente  o  profundo  pen- 
sador. A  coisa  não  é  fácil  como  parecia  acima,  porque  a  ma- 
nia mythoepica  vem  atrapalhar  tudo,  collocando  no  vasio  das 
épocas  remotas  tudo  quanto  lhe  parece,  ainda  que  seja  un: 
phantasma. 

Ficamos  adiantados.  Sempre  é  obra  de  beócios  e  basta. 

As  eruditas  hypotheses  do  sábio  professor  bastam  também, 
creio  eu,  para  convencer  o  leitor,  um  pouco  familiarisado  con 
estes  assumptos,  de  que  o  profundo  pensador  está  tão  habili- 
tado a  entrar  n'elles,  como  qualquer  dos  seus  beócios.  É  hoj( 
corrente  e  moente  que  as  noticias  sobre  o  extremo  occidente 
e  o  Mar  do  Norte,  espalhadas  pela  velha  litteratura  grega, 
chegaram  aos  ouvidos  dos  Gregos  por  intermédio  dos  Pheni 
cios,  que  frequentavam  aquellas  paragens;  Strabão  já  repisc 
n'esta  idéa  e  não  foi  o  primeiro  a  repisal-a.  Supposto  estai 
noticias  fossem  desflguradas  de  vários  modos,  são  ainda  assin: 
uma  mina  riquíssima  de  informações,  desde  que  a  critica  sepa- 
ra o  trigo  do  joio  e  consegue  demonstrar-lhe  a  realidade  his 
torica. 

Estas  opiniões,  repetimos,  passam  por  correntes  e  moentef 
e  seria  mesmo  indecente  gastar  tempo  em  provar-lhes  a  in- 
abalável solidez. 

Se  o  profundo  pensador  prefere  a  companhia  dos  seuí 
beócios,  está  no  seu  direito.  Eu,  para  que  não  haja  beócios 
de  mais,  deixo-o  por  agora  e  prefiro  meditar  n'uma  das  má- 
ximas da  sabedoria  popular. 

F.  Martins  Sarmento. 


ESTUDOS    SOBRE    O    TUBF 


(Continuado  do  volume  anterior,  pag.  17) 


TERCEIRA    PARTE 
Training 

IV 


Sendo  uma  das  principaes  condições  da  preparação  o  bom 
ensino  do  animal,  que  se  destina  a  correr,  e  tendo  nós  já 
dito  sobre  este  assumpto  o  que  se  nos  offereceu,  vamos  tratar 
de  pôr  o  leitor  um  pouco  mais  ao  corrente  dos  meios  por  que 
se  deverá  preparar  um  cavallo  de  corridas,  de  forma  a  des- 
envolver-lhe  o  máximo  das  suas  forças  e  velocidade  sem  lhe 
deteriorar  o  organismo.  Ao  conjunto  de  todos  estes  meios  de 
que  fazem  parte  os  exercícios,  suadouros,  purgantes,  a  hygie- 
ne  e  um  bom  regimen  alimentício,  chamam  os  inglezes,  como 
também  já  tivemos  occasião  de  dizer,  training.  È  portanto  o 
training  a  arte  de  preparar  um  cavallo  para  correr. 

Suppondo  portanto  que  o  animal,  que  vamos  metter  cm 
training,  completou  a  sua  educação  ahi  pelos  mezes  de  se- 
tembro ou  outubro,  para  começar  a  ser  preparado  para  correr 
na  primavera  dos  seus  três  annos,  podemos  observar  o  ""que 
vai  constituir  a  matéria  d'este  capitulo,  e  em  que  apresenta- 
remos o  que  sabemos  e  aprendemos  pela  própria  experiência 
e  por  conselhos  de  pessoas  auctorisadas. 


30 


Como  a  preparação  de  um  poldro  de  trinta  a  trinta  e  dois 
mezes  deve  ser  dirigida  cora  toda  a  cautela  e  vagar,  para 
que  os  ossos,  músculos  e  articulações  se  avigorem  em  vez  de 
se  arruinarem,  e  suppondo-lhe  aquella  idade  nos  referidos 
mezes,  é  preciso  que  de  outubro  a  dezembro  o  animal  não 
faça  outro  exercício  que  não  seja  a  passo.  Os  passeios,  que 
nos  primeiros  dias  serão  de  curta  duração,  augmentarão  sem- 
pre e  progressivamente,  de  forma  que  o  animal  se  encalque, 
6  possa  apromptar-se  para  começar  a  trotar  uma  vez  por  ou- 
tra—  mais  para  quebrar  a  monotonia  do  passo  do  que  mesmo 
porque  aquelle  andamento  lhe  seja  proveitoso. 

É  claro  que  os  exercidos  a  passo,  que  são  os  que  consti- 
tuem a  principal  base  de  uma  preparação  racional,  por  isso 
que  endurecem  as  quatro  pernas  do  animal,  sem  as  forçar,  im- 
pedindo-o  ao  mesmo  tempo  de  engordar  demais,  serão  alter- 
nados com  o  trote  e  mais  tarde  com  o  galope,  mas  de  modo 
a  occupar  quasi  todo  o  tempo  dos  passeios.  E  se  bem  que  o 
trote  não  seja  dos  melhores  andamentos  para  coadjuvar  a  pre- 
paração dos  cavallos  corredores,  como  é  muito  menos  fatigan- 
te que  o  galope,  pôde  ser  inconveniente  de  maior,  e,  emquan- 
to  que  os  poldros  não  estão  sufficientemente  desenvolvidos 
para  começarem  a  galopar,  servir  uma  ou  outra  vez  de  exer- 
cício intermédio  entre  o  passo  e  este  ultimo  andamento. 

O  melhor  systema  de  dar  aos  poldros  um  exercício,  que 
lhes  seja  salutar,  é,  se  o  tempo  o  permitte,  sahir  com  elles 
logo  de  manhã  íjem  emmantados,  não  os  recolhendo  senão 
depois  de  duas  ou  três  horas  de  passeio  a  passo,  até  que  de 
tarde  voltem  a  fazer  novo  exercício,  que  será  igualmente  de- 
morado. Se  os  rigores  da  estação  impedirem  de  se  dar  diaria- 
mente aos  animaes  o  seu  exercício  acostumado,  e  se  houver 
á  mão  um  picadeiro  coberto  e  em  razoáveis  condições,  vale 
mais  dar-lhe  alli  algum  trabalho  do  que  deixal-os  dentro  das 
suas  boxes.  A  falta  de  regularidade  nos  exercícios,  ao  passo 
que  atraza  a  preparação  dos  cavallos  corredores,  concorre  im- 
menso  para  os  tornar  difficeis  e  viciosos,  e  é  por  isso  que  se 
procurará  trabalhal-os  sempre  que  possa  ser. 

Alguns  traineurs,  que  têm  obrigação  de  saber  do  seu  offi- 
cio,  costumam  dividir,  para  maior  regularidade,  a  preparação 
dos  cavallos  ao  seu  cuidado  em  duas  partes,  separando-as  por 
algtins  dias  de  descanço,  de  que  se  aproveitam  para  lhes 
administrarem  os  competentes  purgativos,  que  como  se  sabe 
tém  por  fim  derreter  a  gordura  interior,  que  os  impede  de 
desenvolverem  toda  a  sua  velocidade.  A  primeira   denomina- 


31 


se  preparação  preparatória,  a  segunda  preparação  deDoi- 
tiva. 

Na  primeira  parte,  isto  é,  nos  dois  primeiros  mezes  de 
exercicio,  é  imprudente  e  não  se  deve  exigir  dos  poldros  mais 
do  que  o  trabalho  regular  e  quotidiano  de  que  vimos  fallando 
e  alguns  galopes  pouco  vivos  e  de  curta  duração,  dados  quan- 
do muito  duas  vezes  por  semana.  Como  nos  exercicios  do  pas- 
so, o  galope  será  desenvolvido  pouco  a  pouco,  progressiva- 
mente e  de  forma  que  o  animal,  que  começou  por  galopar  na 
mão  e  em  pequena  distancia,  cliegue  antes  de  entrar  na  pre- 
paração definitiva  a  alargar  um  pouco  o  andamento. 

Os  exercicios  do  passo  e  do  galope,  assim  alternados  du- 
rante as  ultimas  semanas  da  primeira  parte  da  preparação,  e 
dirigidos  com  todo  o  cuidado  para  que  o  organismo  se  não  re- 
sinta,  predispõem  bem  os  poldros  para  supportarem  o  trabalho 
da  segunda  parte,  que  não^póde  deixar  de  ser  mais  aturado  e 
mais  violento. 

Nos  dias  em  que  se  julgar  conveniente  interromper  os 
exercicios  e  fazer  purgar  os  animaes,  o  que  pouco  importa 
seja  mais  semana  menos  semana,  é  preciso  predispôr-lhes  o 
organismo  para  que  o  medicamento  produza  um  bom  effeito. 
Para  isso  deverão  adietar-se  os  poldros,  não  só  fazendo-lhes 
beber  agua  com  farinha  ligeiramente  quebrada  da  friúra,  mas 
dando-lhes  a  comer,  uma  ou  duas  vezes  por  dia  e  depois  de 
arrefecer,  uma  mistura  de  farellos  trigos  e  bom  feno  miuda- 
mente serrotado  conjuntamente  com  aveia  em  grâoe  semente  de 
linho,  amassados  em  agua  quente.  Esta  mistura,  a  que  entre 
nós  se  chama  farellada,  predispõe  bem  o  estômago  para  rece- 
ber o  medicamento.  A  forragem  de  feno  e  a  ração,  composta 
de  aveia,  rodellas  e  rama  de  senoura  e  de  um  punhado  de  fa- 
vas, serão  também  dadas  menos  abundantemente  dois  dias  an- 
tes e  depois  da  administração  do  purgativo. 

Os  passeios,  pois  não  é  conveniente  que  os  poldros  este- 
jam sobrepostos  durante  esses  oito  ou  doze  dias  que  separam 
as  preparações,  e  que  é  costume  conceder- lhes  para  descança- 
rem  um  pouco,  serão  pequenos  e  feitos  somente  a  passo,  para 
não  perturbar  este  descanço  relativo  de  que  o  organismo  ne- 
cessita. Emfim  não  só  na  cavallariça  como  nos  passeios  não 
se  desemmautarão  os  animaes,  tendo-os  aliás  bem  cobertos 
com  a  manta  e  capuz,  nem  deixará  de  se  ter  com  elles  os 
maiores  resguardos  e  cuidados,  para  evitar  os  resfriamentos 
ou  quaesquer  outros  incommodos,  que  os  impossibilitem  de 
começar  bem  dispostos  os  seus  novos  exercicios. 


32 


Logo  que  se  dê  por  terminado  o  tempo  em  que  os  aai- 
maes  descauparam  dos  seus  trabalhos  anteriores,  e  em  que  lhes 
foi  administrado  o  purgativo,  é  conveniente  começar  outra  vez 
pelos  grandes  passeios  a  passo,  durante  os  quaes  os  jockeys 
procurarão  alargar  quanto  possivel  o  andamento.  Só  depois 
de  uma  ou  duas  semanas  d'estes  exercícios  é  que  se  deve  vol- 
tar a  metter  os  poldros  a  galope.  O  trote,  a  não  ser  que  um 
cavallo  não  possa  aguentar  os  galopes  sem  se  resentir  das 
pernas  e  pulmões,  não  deverá  fazer  parte  da  ultima  prepara- 
ção, porque  nem  enrijece,  sem  fatigar,  tanto  como  o  passo, 
nem  desenvolve  a  velocidade  como  o  galope. 

O  galope,  que  é  o  mais  rápido  mas  também  o  mais  fati- 
gante de  todos  os  andamentos,  não  pôde  deixar  de  ser  dado 
com  todo  o  cuidado  e  moderação  nem  sobre  terrenos  que  não 
sejam  macios  e  de  bom  piso,  pois  do  contrario,  em  vez  de  au- 
gmentar,  dimiuue  a  velocidade  e  robustez,  ao  mesmo  tempo 
que  produz,  não  só  ovas,  alifafes  e  sobrecanas,  como  as  disten- 
sões nos  tendões  e  ligamentos,  o  que  faz  pôr  de  parte  os  animaes. 

Não  são  poucos  os  cavallos  que,  por  falta  de  prudência 
por  parle  de  quem  os  monta,  têm  sido  retirados  da  prepara- 
ção logo  nos  primeiros  dias  que  começam  a  galopar.  E  é  por 
isso  que  toda  a  prevenção  é  pouca,  não  só  com  o  próprio  an- 
damento, senão  com  o  terreno  em  que  os  cavallos  têm  de 
ser  exercitados. 

Para  o  passo  e  para  o  trote  serve  qualquer  estrada  plana 
e  que  não  seja  esburacada,  mas  para  os  galopes  é  preciso 
uma  pista  apropriada.  Os  melhores  terrenos,  para  se  desenvol- 
ver este  ultimo  andamento  e  sem  receio  de  estropear  os  ani- 
maes, são  sem  duvida  aquelles,  cujo  solo  plano  ou  ligeira- 
mente inclinado  e  arrelvado,  não  é  nem  molle  nem  duro. 
Quanto  á  sua  extensão  não  precisa  ser  superior  a  trezentos 
metros  de  largo  por  quatrocentos  de  comprido,  o  que  já  dá 
logar  a  preparar-se  um  cavallo  tanto  para  as  corridas  de  fun- 
do como  para  as  de  velocidade. 

Imaginando  portanto  que  dispomos  de  um  terreno  em 
soffriveis  condições,  e  que  o  nosso  poldro  tem  adquirido  força 
e  robustez  necessárias  para  começar  a  galopar,  devemos  fa- 
zel-o  acompanhar  por  um  cavallo  mestre  que  o  ampare  do 
lado  de  fora  da  pista,  e  que  o  guie  na  maneira  de  correr. 
Sem  esta  prevenção  muitos  cavallos  se  habituarão  a  fugir  da 
pista,  o  que  constitue  um  dos  peores  defeitos,  sempre  dillicil 
de  tirar,  e  de  que  podem  resultar  as  mais  graves  consequên- 
cias tanto  para  os  jockeys  como  para  os  animaes. 


33 


Uma  vez  sobre  o  terreno  e  depois  de  ter  dado  um  bom 
passeio,  emmantado,  ligado  e  com  as  competentes  joelheiras, 
deve  o  poldro  dar  a  passo  alada  algumas  voltas  á  pista,  e  isto 
antes  de  comepar  a  galopar.  É  sempre  conveniente  —  antes  de 
se  raetter  um  cavallo  a  galope  —  fazel-o  andar  a  passo  era  roda 
do  terreno,  não  só  para  que  adquira  um  perfeito  conhecimento 
d'elle,  mas  para  que  se  habitue  a  dar  bem  as  voltas,  cingin- 
do-se  o  mais  possivel  á  corda  ou  balisas  que  marcam  a  parte 
interna  da  pista.  O  cavallo  mestre  será  sempre  de  um  grande 
auxilio  n'este3  exercidos,  pois  ajuda  o  poldro  a  entrar  bem 
nas  curvas,  mormente  se  galopar  a  seu  lado  e  cora  um  pes- 
coço de  avance,  e  lhe  dér  ao  mesmo  tempo  a  esquerda,  se  a 
corrida  se  fizer  para  este  lado,  e  vice-versa,  se  tiver  logar  em 
sentido  contrario. 

Logo  que  o  traineur,  que  não  deve  deixar  de  assistir  a  es- 
tes exercícios,  entender  que  o  poldro  tem  dado  à  pista  as  vol- 
tas suíficientes,  dará  ordem  para  começar  um  primeiro  galo- 
pe, que  todavia  será  pouco  vivo  não  indo  além  de  um  terço 
do  terreno.  É  claro  que  o  pokey,  antes  de  metter  a  galope, 
deverá  ter  o  cuidado  de  tirar  as  joelheiras  ao  aniraal,  desem- 
mantando-o  também  para  que  possa  correr  mais  livremente. 
Com  relação  ao  capuz,  como  não  prende  os  moviraentos, 
pôde  tirar-se  ou  conservar-se,  conforme  se  julgar  conve- 
niente. 

Visto  não  se  tratar  agora  do  modo  de  disputar  uma  corri- 
da, mas  unicamente  de  preparar  um  cavallo  para  correr,  en- 
tendemos que  o  melhor  meio  de  fazer  com  que  um  poldro  co- 
mece e  continue  sem  repugnância  um  galope  curto  e  regular, 
é  pol-o  a  trote,  auxiliando-o  em  seguida  pelas  ajuclis  compe- 
tentes a  passar  para  o  galope.  Gomo  já  tivemos  occasião  de  di- 
zer, é  este  o  meio  mais  simples  de  levar  um  poldro  a  galo- 
par. 

N'e3ta  intelligencia  dará  o  traineur  as  ordens  necessárias 
para  que  o  jockey  do  cavallo  mestre,  bem  como  aquelle  que 
montar  o  poldro,  mettam  a  trote  e  em  seguida  a  galope.  Por 
seu  lado  os  jockeys,  cumprindo  as  ordens  que  lhe  dorem,  fa- 
rão por  dirigir  e  regular  o  movimento  de  forma  que  os  seus 
cavallos  passem  do  trote  ao  meio  galope  e  assim  continuem 
^té  ao  ponto  que  lhe  tiver  sido  marcado.  Depois  porão  os  ca- 
vallos a  passo  para  os  fazer  dar  mais  algumas  voltas  á  pista. 
É  claro  que  os  jockeys  deverão  servir-se  da  perna  e  rédea  di- 
reita para  determinarem  o  galope  sobre  a  esqu-irda,  empre- 
gando os  meios  inversos  para  o  galope  á  direita. 

8."  Amno.  1 


34 


O  segundo  galope,  que  terá  logar  em  seguida  e  que  será 
um  quasi  nada  mais  vivo  que  o  primeiro,  especialmente  para 
o  Gm  da  carreira,  deve  ser  dado  segundo  os  mesmos  princi- 
pies, mas  d'esta  vez  sobre  toda  a  extensão  do  terreno.  Se  de- 
pois de  todo  este  exercício  o  poldro  Ocar  bem  disposto  e  o 
traineur  julgar  conveniente  fazel-o  galopar  ainda  mais  uma 
vez,  os  jockeys  metterão  novamente  a  passo  em  volta  da  pis- 
ta, para  concluírem  por  um  meio  galope  pouco  veloz  e  de  pe- 
quena extensão.  Em  seguida  serão  os  cavallos  passeados  á 
mão  durante  alguns  minutos,  voltando  afinal  bem  emmanta- 
dos  para  a  cavallariça,  onde  serão  cuidadosamente  tratados, 
como  se  disse  em  logar  opportuno. 

Guimarães. 

(Continua). 


J.  Martins  de  Queiroz. 


CHIMICA    INDUSTRIAL 


GALVANOPLASTIA 


(Conclusão) 


Se  examinarmos  com  attenção  a  peça  metallica  no  mo- 
mento em  que  a  destacamos  do  molde,  notaremos  na  sua  su- 
perfície numerosas  manchas,  das  quaes  umas  são  devidas  á 
plombagina,  eraquanto  que  outras  são  produzidas  pela  maté- 
ria oleosa  que  empregamos  na  moldagem.  Muito  frequente- 
mente encontraremos  também,  em  pontos  differentes  d'essa 
superfície,  pequenos  fragmentos  da  substancia  plástica,  em  que 
o  deposito  metallico  se  formou. 

Em  taes  condições,  a  primeira  operação  que,  desde  logo, 
lembra  pôr  em  pratica,  é  livrar  a  peça  metallica  d'essas  im- 
purezas. 

De  duas  maneiras  poderemos  conseguir  este  resultado:  ou 
recozendo  a  peça  a  uma  temperatura  sufficieníemente  elevada 
e  mergulhando-a  em  seguida,  por  alguns  instantes,  em  agua 
muito  acidulada  pelo  acido  sulfúrico,  ou  lavando  a  peça  com 
essência  de  terebinthina,  álcool  ou  benzina,  usando  para  isso 
d'uma  escova  de  crina  bastante  áspera. 

Convém,  todavia,  notar  que  o  primeiro  modo  de  proceder, 
expondo  o  cobre,  durante  a  recozedura,  á  acção  oxydante  do 
ar,  tem  o  grande  defeito  de  deformar  a  reproducção,  pelo  me- 
nos nos  seus  traços  mais  delicados,  deixando  esta,  por  esse  fa- 


36 


cto,  de  ter  a  fidelidade  que  se  lhe  exige,  o  que  oa  verdade  é 
um  inconveniente  grave. 

Vê-se,  pois,  que  a  escolha  do  processo  deve  depender  da 
natureza  da  reproducção. 

Se  esta  fôr  grosseira,  se  não  tiver  trapos  muito  finos,  lan- 
çaremos mão  da  recozedura  que,  apesar  dos  inconvenientes 
que  acima  lhe  apontamos,  tem  a  não  pequena  vantagem  de 
tornar  o  cobue  menos  frágil  e  mais  malleavel. 

Se,  pelo  contrario,  a  peça  metallica  apresentar  linhas  muito 
delicadas,  saliências  e  reintrancias  muito  pronunciadas,  es- 
colheremos de  preferencia  o  segundo  processo,  terminando  a 
operação  por  uma  demorada  lavagem  da  reproducção  em 
agua. 

Depois  de  limpo,  o  deposito  metallico  pôde  ser  dourado,  ni- 
kelado,  prateado  ou  bronzeado ;  não  só  com  o  fim  de  lhe  pro- 
porcionarmos um  aspecto  mais  attrahente,  mas  até  mesmo 
para  o  tornar  menos  susceptivei  de  se  alterar  pela  acção  do  ar 
e  da  humidade. 

As  operações  da  douradura,  prateadura  e  nikelagem  são 
do  dominio  d'uma  outra  arte,  que  não  a  galvanoplastia,  em- 
bora muitas  vezes  sejam  o  seu  complemento.  Estudal-as-hemos 
mais  tarde. 

No  actual  momento  contentar-nos-hemos  em  descrever  a 
bronzeadura,  operação  d'uma  execução  muito  simples  e  a 
mais  frequentemente  empregada  no  acabamento  das  peças  gal- 
vanoplasticas : 

Tomamos  a  peça  de  cobre,  sujeitamol-a  a  uma  temperatura 
sufflcientemente  elevada,  e,  tendo  d'antemão  preparada  uma 
mistura  composta  de  sanguíneo  em  pó  ^  e  uma  pequeníssima 
quantidade  de  plombagina,  lança-se  com  um  pincel,  na  super- 
fície do  cobre  assim  aquecido,  uma  porção  d'esta  mistura.  To? 
mando  então  uma  escova  ^  e  passando-a  repetidas  vezes  e  com 
força  sobre  a  reproducção,  conseguiremos  dar  a  esta  o  aspe- 
cto d'um  bonito  bronze,  o  qual  mais  bello  se  tornará  ainda  se, 
applicarmos  aos  seus  relevos  uma  fricção  demorada,  produzida! 
por  um  conjunto  de  pontas  de  fios  metallicos. 


^     Ocre  vermelho. 
'    Usamos  uma  escova  perfeitamente  igual  áquella  que  empregamos  na  j 
applicação  da  plombagina,  quando  tratamos  da  preparação  dos  moldes. 


37 


Esta  operação  é  denominada  gratte-bossage  e  o  instrumento 
com  que  é  feita  chama-se  gratte-bosse.  O  gratte-bosse  consiste 
n'um  feixe  de  Gos  metallicos,  de  latão  quasi  sempre,  de  diâ- 
metro variável  e  podendo  affectar  differentes  formas  segundo  o 
uso  a  que  é  destinado.  O  mais  simples  e  mais  frequentemente 
empregado  é  o  que  tem  a  disposipão  d'um  pincel,  e  o  Go  de 
latão,  de  que  elle  é  constituído,  deve  ser  tanto  mais  Gno 
quanto  mais  delicado  for  o  objecto  sobre  que  elle  tem  de  ser 
applicado. 

A  confecção  d'um  gratte-bosse  é  o  que  ha  de  mais  simples. 
Escolhe-se  ura  Go  de  latão  de  diâmetro  conveniente  e  enrola- 
se  em  forma  de  meada. 


Fig.  1 


Fig.  2 


Toma-se  em  seguida  um  Go  qualquer  bastante  resistente  e 
com  elle  eoleia-se  a  meada  em  dois  terços  da  sua  extensão 

(fig-  1). 

Dobra-se  então  a  meada  em  dois  pontos  diametralmente 
oppostos  e  de  maneira  que  um  d'elles  corresponda  á  parte  mé- 
dia dos  dois  terços,  que  foram  atados  pelo  Go  Gxador,  e  o  ou- 
tro corresponda,  por  conseguinte,  á  parte  média  do  terço  que 
Ceou  livre  (Gg.  2). 

A  meada,  assim  dobrada,  mantem-se  n'esta  posição  por 
meio  d'um  outro  Go,  que  a  envolva  em  toda  a  extensão  já  en- 
leiada  pelo  primeiro  (Gg.  2).  Tomando  então  uma  tesoura  forte, 
cortam-se  todos  os  Gos  que  correspondem  ao  terço  livre,  o  que 


38 


dà  ao  todo  a  forma  d'um  pincel  (Qg.  3).  Para  que  este  instru- 
mento se  preste  melhor  aos  usos  a  que  é  destinado,  é  costume 
fixal-o  contra  uma  haste  de  madeira,  como  se  vê  na  fig.  4  ^. 
Com  este  instrumento  ou  se  opera  a  sécco,  ou  mergulhao- 
do-o  constantemente,  bem  como  a  peça  metallica,  em  agua, 
em  que  se  tem  deitado  um  pouco  de  vinagre.  Este  ultimo 
modo  de  proceder  favorece  notavelmente  o  resultado. 


Pelo  que  deixamos  dito  se  vê  que  não  são  grandes  as  diffi- 
culdades  que  o  artista  tem  a  vencer  para  conseguir  uma  cópia 


Fig.  3 


Fig.  i 


metallica  d'um  dado  objecto,  comtanto  que  este  tenha  uma  só 
face  (o  caso  d'um  cliché  typographico,  por  exemplo),  ou  que 
o  galvanoplasta  se  contente  com  a  reproducfão  d'uma  das  fa- 
ces do  objecto. 


^  Usa-se  também,  para  dar  mais  solidez  ao  instrumento,  mergulhar  a 
extremidade,  em  que  os  fios  se  encontram  presos,  n'uma  porção  de  estanho 
em  fusão,  tendo-a  previamente  molhado  n'uma  solução  de  chloreto  de  zinco 
para  a  solda  pegar  melhor. 


39 


Já  assim  não  acontece  quando  o  modelo  tem  muitas  faces 
e  nós  pretendamos  copial-o  no  seu  conjunto. 

Então  a  operapão  offerece  diííiculdades  sérias,  sobretudo  se 
o  objecto  tiver  grandes  dimensões,  ou  apresentar  saliências  e 
reintrancias  muito  pronunciadas. 

Diversos  modos  de  operar  têm  sido  propostos  para  obter  a 
reproducpão  de  modelos  d'esta  natureza;  mas  só  ha  pouco  é 
que  os  trabalhos  de  Lenoir  vieram  aplanar  bastante  os  emba- 
raços com  que  luctavam  os  antigos  processos. 

Lenoir,  quando  quer  copiar  um  objecto  com  todas  as  suas 
faces,  começa  por  formar  com  gutta-percha  um  molde  consti- 
tuído de  ditferentes  peças,  correspondendo  cada  uma  a  certa 
porção  da  superfície  do  modelo. 


Objecto 


Carcassa 


Fig.  5 


Estas  diversas  peças  são  plombaginadas  em  separado,  e  de- 
pois, por  meio  de  pontos  de  referencia,  são  ajustadas  umas  ás 
outras  de  modo  a  formar  o  molde  completo. 

A  corrente  eléctrica  penetra  na  cavidade  do  molde  por  um 
flo  de  platina  ou  de  chumbo,  enrolado  e  disposto  de  maneira 
que  forma  como  que  uma  reproducção  grosseira  do  objecto  — 
carcassa  (fig.  5). 

Esta  reproducção  deve  ser  um  pouco  mais  pequena  do  que 
o  molde  para  poder  Qcar  suspensa  dentro  d'este,  sem  tocar  era 
ponto  algum  da  sua  superfície  interna. 

Este  processo  dá  resultados  seguros ;  mas  exige,  para  isso^ 
que  a  superfície  do  molde  não  seja  demasiadamente  accidenta- 
da.  E  comprehende-se  que  assim  deva  acontecer,  se  attender- 
mos  a  que,  em  tal  caso,  as  peças  de  que  o  molde  tem  de  ser 
formado  devem  necessariamente  ser  muito  mais  numerosas,  o 
que  traz  o  inconveniente  de,  mais  tarde,  haver  uma  grande 
diíficuldade  em  ajustar  devidamente  todos  estes  moldes  parciaes, 
de  modo  que  a  reproducção  metallica  se  faça  sem  defeitos. 


m 


Na  Dossa  pratica,  quando  o  molde  não  é  de  grandes  dimen- 
sões nem  affecta  grandes  desigualdades  de  superfície,  costuma- 
mos moldar  era  separado  cada  uma  das  metades  do  objecto,  e, 
depois  de  devidamente  preparadas  estas  duas  partes  do  molde, 
tratamos  de  provocar  a  formação  do  deposito  metallico  em 
cada  uma  d'ellas  separadamente,  até  que  percebamos  que  a 
espessura  da  reproducção  é  suíBciente.  N'estas  condições  des- 
tacamos as  duas  peças  metaliicas,  ajustamol-as  uma  á  outra, 
soldamol-as  e,  em  seguida,  para  encobrir  as  soldaduras,  faze- 
mol-as  entrar  n'um  banho  de  nikel,  de  prata  ou  de  ouro,  se- 
gundo o  metal  com  que  desejamos  cobrir  a  superfície  de  cobre 
galvanoplastico. 

Mas,  este  modo  de  operar,  que  tão  bellos  resultados  pôde 
dar  quando  as  dimensões  e  os  relevos  do  modelo  não  são 
grandes,  deixa  de  ter  applicação  no  caso  contrario.  Até  mes- 
mo d'antemão  se  reconhece  a  diíEculdade  e  por  vezes  a  impos- 
sibilidade de  ajustar  e  soldar,  d'um  modo  perfeito,  um  grande 
numero  de  reproducções,  obtidas  nos  pequenos  moldes  par- 
ciaes  em  que  nos  vemos  obrigados  a  dividir  a  operação  da 
moldagem. 

E  as  difliculdades  d'esta  delicadíssima  manipulação  so- 
bem de  ponto  se  nos  lembrarmos  de  que  o  ajustamento  das 
numerosas  peças  e  as  suas  soldaduras  devem  ser  executadas- 
por  forma,  que  se  correspondam  em  todos  os  seus  detalhes, 
ainda  os  mais  finos,  sem  deixar  defeitos  apreciáveis. 

Apesar  d'islo,  é  certo  que  habilissimos  artistas  têm  conse- 
guido executar  reproducções  d'esta  natureza. 

Que  o  digam  os  gigantescos  e  soberbos  grupos,  preparados 
com  cobre  galvanoplastico  no  grande  atelier  de  MM.  Christo- 
fle  e  que  hoje  se  encontram  encimando  os  corpos  lateraes  da 
fachada  principal  do  mais  vasto  thealro  europeu  —  a  Opera  de 
Paris  —  esse  formoso  mosiruario  dos  mais  bellos  granitos  e 
dos  mais  ricos  mármores. 

Que  o  diga  a  estatua  que,  representando  o  imperador  Gui- 
lherme I  de  Allemanha,  se  achava  exposta  em  setembro  de 
1889  n'um  museu  de  Berlim  —  o  Hohenzollern,  se  bem  me 
recordo  ^  -''^  '' 


*  Esta  obra  d'arte,  de  dimensões  menores  que  as  naturaes  e  d'uma 
perfeição  inexcedivel,  toma^■a-se  notável  pela  extraordinária  delicadeza  com 
que  a  electricidade  tinha  respeitado  e  reproduzido  os  mais  finos  e  insignifi- 
cantes traços  e  accidentes  do  modelo. 


44 


Que  o  digam  finalmente  os  nirmerosos,  embora  pequenos, 
exemplares  de  depósitos  galvânicos  que  se  encontram  nos  mu- 
seus industriaes  das  capitães  da  França,  Allemanha  e  Áustria. 

Na  ultima  exposipão  de  Paris  appareceram  curiosíssimos 
depósitos  galvânicos,  reproduzindo,  com  uma  perfeição  inexce- 
divel,  plantas,  fructos,  folhas,  flores  e  insectos,  devidos  a  um 
processo  operatório  descoberto  por  Mr.  Juncker,  processo  que 
elle  denominou  —  galvanoiypia. 

Infelizmente,  porém,  o  modo  operatório  usado  para  esse  fim 
é,  por  eraquanto,  um  segredo  do  seu  auctor. 


Antes  de  terminar  este  pequeno  trabalho,  não  podemos  fur- 
tar-nos  a  expor  os  motivos  por  que  nos  temos  occupado  exclu- 
sivamente da  galvanoplastia  em  cobre,  como  se  essa  arte  não 
podesse  executar-se  senão  com  banhos  d'este  metal  ^ 

Sabemos  perfeitamente  que  a  prata,  o  nikel,  o  ouro,  etc, 
já  têm  sido  ensaiados  n'este  género  de  trabalhos  e  até  mesmo 
Bão  desconhecemos  que  os  resultados  têm  sido,  por  vezes, 
bastante  lisongeiros.  É  todavia  certo  que,  hoje,  a  galvanoplas- 
tia propriamente  dita  é  feita  exclusivamente  com  cobre  e  pelas 
razões  seguintes: 

1.*  O  cobre  é  um  metal  muito  mais  barato  do  que  a 
prata  ou  o  ouro  e,  portanto,  o  preço  d'um  banho  d'aquelle 
metal  é  muito  mais  accessivel  á  bolsa  do  artista. 

2.*  O  cobre  é  um  metal  que  se  separa  facilmente  das 
suas  combinações  e,  por  isso,  um  sal  simples,  como  o  sulfato 
de  cobre  (sal  geralmente  usado),  presta-se  perfeitamente  á  ope- 
ração e  o  deposito  metallico  fórma-se  rapidamente.  Já  não 
acontece  o  mesmo  com  os  banhos  d'ouro  ou  de  prata;  pois 
que  n'estes  é  necessário  empregar  saes  duplos,  como  o  cyaneto 
duplo  de  potássio  e  ouro,  ou  o  cyaneto  duplo  de  potássio  e 
prata,  banhos  que  oííerecem  muito  maior  resistência  do  que 
os  de  cobre,  á  passagem  da  corrente  eléctrica;  banhos  muito 
menos  conductores  e  que  demandam  muitos  cuidados  porque 
são  muito  venenosos. 


Falíamos  da  galvanoplastia  propriamente  dita. 


42 


3.*  O  cobre  é  dotado  de  malleabilidade  suíD  ciente  mente 
grande  e,  por  isso  mesmo,  presta-se  muito  bem  ás  manipula- 
ções galvanoplasticas. 

4.*  A  decapagem  d 'este  metal  por  via  húmida  é  extre- 
mamente fácil ;  pelo  menos  bem  mais  do  que  a  d'outro  qual- 
quer metal,  e  por  isso : 

5.*  Presta-se  perfeitamente,  depois  de  separado  do  molde 
era  que  se  depositou,  a  ser  prateado,  nikelado  ou  dourado, 
operação  complementar  dos  depósitos  galvânicos.  ♦ 

6.*  Na  galvanoplastia  d'ouro  ou  prata  é  necessário  mon- 
tar um  apparelho  em  que  a  pilha  fique  separada  do  banho,  o 
que  é  muito  mais  complicado. 

7.*  Os  objectos  d'arte  feitos  de  ouro  ou  prata  massiços 
têm  hoje  muito  menos  venda.  Era  geral  são  muito  mais  pro- 
curados os  objectos  confeccionados  primeiramente  de  cobre 
galvanoplastico  e,  depois,  dourados  ou  prateados. 


A.  DE  Mattos  Chaves. 


A  COLLEGIADA  DE  GUIMARÃES 


Em  varias  épocas  tem  sabido  do  cartório  do  Cabido  da 
I.  e  R.  Collegiada  de  Nossa  Senhora  da  Oliveira  documentos 
importantes,  para  serem  arcliivados  na  Torre  do  Tombo,  con- 
forme os  séculos  a  que  pertencem. 

Poucas  notas  existem  relativas  a  essas  sabidas.  As  que, 
porém,  existem,  visto  a  sua  importância  para  os  estudiosos  e 
apreciadores  dos  documentos  antigos,  que  mais  ou  menos  in- 
teressam á  Collegiada  e  a  Guimarães,  serão  publicadas  como 
se  segue  e  com  as  notas  addicionaes  que  puder  colligir. 

Guimarães,  4  de  dezembro  de  1890. 

Padre  Abílio  de  Passos. 


índice  das  copias  authenticas  que  por  ordem  de  S.  M.  de 
28  de  agosto  de  1758  se  extrahiram  do  Real  Archivo  da 
Torre  do  Tombo,  pertencentes  à  Insigne  Collegiada  de 
Santa  Maria  da  Oliveira,  da  villa  de  Guimarães,  e  seus 
caseiros  domésticos  e  lavradores. 


N.°  1." 

Carta  de  El-rei  D.  Afíonso  ii  por  que  mandou  se  dessem  á 
igreja  de  Santa  Maria  de  Guimarães  os  maravidiz  que  ello 


tinha  era  povos,  para  n'ella  se  fazer  em  cada  anno  um  anni- 
versario  pela  alma  de  GoDpalo  Gonçalves. 

(Gaveta  10  — Maço  12  — N.»  25). 
N.»  2.» 

Convenção  feita  entre  o  prior  de  Santa  Maria  de  Guima- 
rães, e  seu  cabido,  por  que  prometteram  e  se  obrigaram  a 
não  receber  nenhum  por  cónego  de  Prebenda  que  não  esti- 
vesse vaga,  e  que  nem  o  prior  por  si,  nem  os  cónegos  pode- 
riam pedir  sobre  esta  matéria  coisa  alguma,  mas  que  junta- 
mente ordenariam  o  que  fosse  conveniente. 

(Livro  II  de  El-rei  D.  Diniz,  a  fl.  16). 

•      N.«  3.° 

Carta  de  composição  entre  o  prior  da  igreja  de  Guimarães 
e  seu  cabido,  por  que  prometteu  de  conservar  ao  cabido  no 
direito  que  tinham  de  apresentar  o  chantrado  da  mesma  igreja. 

(Livro  II  de  El-rei  D.  Diniz,  a  fl.  15). 

N."  4.° 

Carta  da  visitação  que  fez  na  igreja  de  Santa  Maria  de 
Guimarães,  João,  bispo  de  Sabinia,  legado  da  Sé  Apostólica, 
em  que  ordenou  a  forma  em  que  se  haviam  de  fazer  na  dita 
igreja  os  officios  divinos  e  as  obrigações  dos  ministros  d'ella, 
inserta  em  uma  carta  de  El-rei  D.  Diniz,  como  padroeiro 
d'ella. 

(Livro  II  de  Além  Douro,  a  fl.  264). 


N."  5." 

Instrumento  em  que  está  inserto  a  Bulia  do  papa  Alexan- 
dre, por  que  concedeu  privilegio  aos  priores  da  Collegiada  de 
Santa  Maria  de  Guimarães  para  que  podessem  excommungar 
os  que  não  pagassem  as  rendas  ou  destruíssem  por  qualquer 
modo  os  bens  da  dita  igreja. 

(Livro  II  de  El-rei  D.  Diniz,  a  fl.  15  v.). 


45 


Carta  de  El-rei  D.  ÂUonso  v  por  t[ue  conQrmou  ao  prior  e 
mais  cónegos  da  Collegiada  de  Santa  Maria  de  Guimarães  ge- 
ralmente todas  as  grapas,  foros,  privilégios  e  mercês  que 
lhe  tinham  sido  outorgadas  pelos  reis  seus  antecessores. 

(Livro  IV  de  Além  Douro,  a  £1.  217). 

N.*»  7." 

Outra  carta  do  mesmo  rei  e  sobre  a  mesma  matéria  em 
differente  anno. 

(Livro  IV  de  Além  Douro,  a  £1.  193  v.). 

Outra  carta  similhante  á  antecedente  mas  em  outro  tempo. 

(Livro  IV  de  Além  Douro,  a  fl.  168  v.). 

Alvará  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  fez  doação  ao  cabido 
da  igreja  de  Santa  Maria  de  Guimarães  d'uma3  casas  em  Villa 
do  Conde,  que  tinham  sido  de  Vasco  Lourenço. 

(Livro  ui  de  Além  Douro,  a  £1.  8). 

N.°  10.» 

Carta  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  privilegiou  os  caseiroe, 
lavradores  e  serventes  da  Collegiada  de  Santa  Maria  de  Gui- 
marães, accrescentando  de  novo  mais  onze  casaes  que  haviam 
de  gozar  dos  mesmos  privilégios  dos  antigos,  declarando  n'ella 
todas  as  propriedades  a  que  ficavam  annexos  os  privilégios  e 
as  mais  pessoas  que  d'elles  haviam  de  gozar. 

(Livro  IV  de  Além  Douro,  a  fl.  150). 

N.°  li.» 

Carta  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  deu  licença  a  Pedro 
Aanes,  capellão  da  igreja  de  Santa  Maria  de  Guimarães,  para 
que  comprasse  os  bens  de  raiz  que  queria  deixar  á  dita 
igreja. 

(Livro  IV  de  Além  Douro,  a  fl.  IAS). 


46 


N.°  12.» 


Carta  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  deu  licença  ao  cabido 
e  cónegos  de  Santa  Maria  de  Guimarães,  que  possuíssem  umas 
casas  em  Villa  do  Conde  que  lhes  deixou  Diogo  Alvares  e  sua 
multier. 


(Livro  IV  de  Além  Douro,  a  11.  149  v.). 


N."  13.» 


Carta  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  declarou  que,  sem  em- 
bargo dos  caseiros,  lavradores  e  domésticos  da  Collegiada  de 
Santa  Maria  de  Guimarães  terem  pago  nos  pedidos  para  tira- 
mento  das  tenças,  não  pagassem  mais  em  outros  alguns,  e  lhes 
fossem  guardados  seus  privilégios. 

(Livro  in  de  Além  Douro,  a  fl.  272  v.). 


(Continua). 


APONTAMENTOS   FOLKLORICOS 

FAMALICENSES 

(Continuado  dõ  vol.  anterior,  pag.  302) 


COSTUMES  FAMALICENSES 

IX 
Serração  âa,  velha 

No  dia  de  « serra-se  a  velha  »  (quarta-feira  do  terceiro  do- 
mingo de  Quaresma)  costumavam  alguns  famalicenses  enver- 
gar saias  brancas  pelos  hombros  e  iam,  de  noite,  serrar  a  va- 
ler um  caixão  ou  cortiço  á  porta  das  mulheres  de  idade  avan- 
çada. 

O  sérr-sérr  do  serrote  era  acompanhado  pelos  serradores 
com  a  arreliadora  e  onomatopaica  phrase:  «sarre-se  a  ve- 
lha... sarre-se  a  velha. . .  » 

Ainda  se  não  extinguiu,  de  todo,  nas  aldeias,  este  anti- 
quíssimo costume. 


RomaK*ia  do  Santo  do  ]\Xonte 

A  dois  kilometros  de  Famalicão,  na  freguezia  do  Louro,  lo- 
gar  do  Monte,  realisa-se,  no  domingo  de  Paschoela,  uma  anti- 
ga romaria  a  Santo  Ovidio,  somente  conhecido  por  Santo  do 
Monte. 

Em  1706  ainda  se  festejava  o  Santo  do  Monte  na  segunda- 


48 


feira  de  Paschoela  e  a  esta  ermida  de  S.  Frey  Pedro  Gonçal- 
ves Telmo  concorriam  muitos  clamores  das  freguezias  limitro- 
pties.  As  promessas  que  mais  abundavam  na  sacristia  eram 
telhas,  que  as  devotas  oífertavara  ao  Santo  do  Monte,  depois 
de  darem  três  voltas  á  capellinha. 

Ainda  hoje,  muitas  devotas  levam  á  cabeça,  ou  em  lenços, 
as  telhas  para  consagrarem  ao  santo. 

O  mais  original  é  que  todas  as  telhas  são  furtadas:  não 
só  porque  sempre  assim  foi  de  costume,  mas  também  por- 
que o  povo  crê  que  a  offerta  não  tem  merecimento  não  sendo 
furtada. 

XI 
Botax*  as  almas 

Em  quasi  todas  as  freguezias  foi  de  costume  « botar  as 
almas».  Já  noite  entrada,  o  «botador  das  almas»  ia  pela  en- 
costa das  montanhas  a  tocar  campainha,  e,  na  direcção  dos 
povoados,  trepava  ao  cume  dos  penedos,  ou  ao  alto  das  arvo- 
res, e,  em  alta  voz,  compassada  e  plangente,  exhortava : 

«Irmãos,  rezai  um  P.  N.  e  uma  A.  M.  pelas  almas  que  es- 
tão nas  penas  do  fogo  do  Purgatório». 

Nas  caliginosas  noites  de  inverno,  em  vez  de  campainha, 
levava  o  «botador  das  almas»  uma  lumieira. 

Era  assim  costume  em  S.  Cosme  —  corrobora-nos  mais  um 
idóneo  informador  d'esta  freguezia,  que  se  recorda  de  ouvir, 
ha  cincoenta  annos,  pouco  mais  ou  menos,  «botar  as  almas >. 


XII 


Roitsadas  * 

No  dia  de  r»is  costumam  os  «conversados»  levar  á  porta 
das  suas  «  moças »  uma  estúrdia  e  cantam-lhe  os  reis  e  versos 
eróticos. 

As  «  moças  >,  que  são  briosas,  dão  uma  prenda  ao  derriço 
em  reconhecimento  de  lhe  levar  as  reisadas. 

As  prendas  dão-se  até  ao  dia  de  S.  João  e  as  mais  vulga- 
res são:  um  cache-nez  oa  lenço  de  bolso. 


49 


Em  S.  Thiago  da  Cruz,  Monquim  e  ainda  outras  freguezias, 
a  prenda  mais  em  moda  é  uma  camisa  bordada  no  peito. 

Também  se  chamam  reisadas  á  representação  do  auto  dos 
reis. 

Estes  espectáculos,  ao  ar  livre  e  em  cima  d'um  estrado  de 
madeira,  principiam  no  dia  de  natal  e  Gndam  no  domingo 
gordo. 

Os  actores  são  todos  camponezes. 

As  reisadas  estão  muito  vulgarisadas  e  poucas  são  as  fre- 
guezias em  que  se  não  tenham  representado. 


Domingo  de  Ramos,  'os  mancebos  offertam  ás  suas  « con- 
versadas »  um  ramo  de  flores,  cuidadosamente  composto,  e 
uma  rosca  de  pão  de  ló. 

Este  presente  é  collocado,  de  surpreza,  á  porta  ou  na  ja- 
nella  da  «conversada»  pelo  seu  derriço,  que  fica  de  vigia  até 
que  ella  appareça  para  o  arrecadar. 


xni 
Oadeirinhais  das  malliadaís 

Nas  malhadas  de  centeio  é  de  velha  usança  entre  os  ma- 
Ihadores,  pela  sesta  ou  na  decrúa  (fim  da  debulha),  atar  as 
pontas  do  lençol  de  «  abanar  o  centeio  »  a  quatro  mangoaes,  á 
guisa  d'um  pallio.  Quando  apparece  o  patrão  da  malhada,  pe- 
dem-lhe,  rogam-lhe,  instam,  obrigam-no  a  sentar-se  n'uma 
cadeira,  a  que  pegam  dois  ou  quatro  malhadores,  e,  coberto 
cora  o  pallio,  passeam-no  em  charola,  ao  redor  da  eira.  No 
fim  da  procissão  é  costume  dar  um  copo  de  vinho,  pelo  me- 
nos, a  cada  um  dos  malhadores. 


xrv 
Oostunios  dias  vostsadas 

No  dia  da  ultima  vessada,  emquanto  os  trabalhadores  es- 
tão a  jantar,  costuma  uma  das  filhas  do  patrão  da  lavra,  ou 
qualquer  moça  que  tome  parte  na  vessada,  pendurar  do  cabo 

8.»  AnnO.  4 


50 


da  sega  *  uma  rosca  de  pão  de  ló  ou  de  trigo  e  um  ramo  de 
flores,  a  que  só  tem  jus  o  lavrador  (o  que  pega  ás  rábicas 
do  arado  para  o  guiar). 

Se  algum  jornaleiro  chegar  primeiro  á  vessada  do  que  o 
lavrador,  furta-lhe  a  rosca,  esconde-lh'a  ou  foge-lhe  com  ella. 
Esta  costumeira  tem  originado,  muitas  vezes,  brigas  assigna- 
iadas  com  saugue. 

Se  o  lavrador  tem  «conversada»  e  esta  anda  a  trabalhar 
na  lavra,  costuma  presenteal-o  com  um  lindo  ramo  de  ro- 
sas, que  ata  á  sega  do  arado ;  e  se  ella  é  briosa,  oíTerta,  tam- 
bém a  cada  um  dos  outros  trabalhadores  um  raminho. 

Aos  trabalhadores  das  vessadas  dão-se  cinco  refeições:  a 
primeira  de  manhã  cedo  —  almoço;  a  segunda  cerca  das  10 
horas  —  pego,  que  consta  de  pão  e  laranjas  ou  azeitonas,  e  nas 
grandes  vessadas  é  muito  de  costume  dar-lhes  filhos.  Ao  meio 
dia — jantar.  Pelas  quatro  horas  —  merenda.  Á  noite  —  ceia. 

A  todas  estas  refeições  dá-se-Ihes  um  copo  de  vinho,  afora 
os  que  lhes  mandam  dar  muitos  patrões,  além  das  horas  de 
comida. 


XV 
Arco  dos  casamentos  * 

Quando  se  celebrava  algum  consorcio  auspicioso  era  de 
costume  em  algumas  freguezias,  principalmente  em  S.  Thiago 
da  Cruz,  fazer  um  arco  de  cannas  lindamente  enfeitado  de 
murta,  ílures,  laços  de  Ota  e  pequenos  espelhos,  para,  no  re- 
gresso da  igreja,  os  noivos  passarem  por  debaixo. 

Do  centro  do  arco  pendia  uma  maça  e  um  limão. 

A  noiva  tirava  a  maçã  e  dava-a  ao  noivo,  querendo  signi- 
ficar que  só  lhe  dará  doçura  e  satisfação  e  jamais  terá  ten- 
tações ... 

O  noivo  colhia  o  limão  e  entregava-o  á  esposa,  para  que 
não  tenha  fastio  e  viva  com  gosto. 


1  Sega  é  uma  faca  de  ferro  que  se  introduz  quasi  verticalmente 
DO  alvado  do  apo  (haste  de  madeira  a  que  se  ligam  as  outras  peças  do 
arado)  para  abrir  caminho  á  relha  (lança  de  ferro  que  corta  a  terra 
horisontalmenle,  faz  o  sulco  e  dá  começo  á  elevação  da  leiva). 

*    Cf.  Trad.  pop.  de  Port.,  pag.  218. 


51 


Aos  lados  do  arco  collocavam-se  duas  raparigas,  cora  os 
seus  melhores  trajes  domingueiros,  que,  durante  esta  ceremo- 
nia,  lançavam  dos  açafatesinhos  punhados  de  flores  desfolha- 
das sobre  os  noivos. 


O  ultimo  arco  de  casamento  que  se  fez  em  S.  Thiago  da 
Cruz,  foi  ha  doze  annos,  para  festejar  o  enlace  do  snr.  Ber-' 
Dardo  Pindella,  ajudante  de  campo  de  S.  M.  El-rei  D.  Carlos, 
quando  s.  exc*  e  exc.™*  esposa  vieram  passar  a  lua  de  mel 
para  o  solar  de  Pindella,  do  nosso  visinho  e  amigo  visconde 
de  Pindella  (Vicente),'  ministro  de  Portugal  na  Haya  (ílol- 
landa). 

Villa  Nova  de  Famalicão,  1890. 


Abílio  de  Magalhães  Brandão. 


DOCUMENTOS   INÉDITOS 


DOS 


SÉCULOS    XII-XV 
(Continuado  do   volume  anterior,  pag.  199) 


MOSTEIRO    DE    SOUTO 

Lxxxvni-xxniA 

1288 

Instrumento  da  divisão  de  diversos  bens  sitos  no  termo  de  Leiria 

Sabham  quantos  este  estromento  uirem  e  leer  ouvirem 
Que  (?)  Que  Eu  Diego  peres  almoxarife  de  Lejrena  per  manda- 
do dei  Rej  per  liuma  sa  carta  aberta  de  seelo  pendente  da 
qual  o  teor  tal  he.  Dom  Denis  pela  graça  de  deus  Rej  de  Por- 
tugal e  do  Algarue  a  uos  almoxarife  de  Lejrena  saúde.  Mando- 
uos  que  uaades  logo  partir  com  Gonçalo  martinz  aquele  her- 
damento  que  el  partio  com  Pedro  coelho  e  stremade  o  seu 
quinhom  do  de  Guiomar  eanes  e  de  fernam  eanes  do  de  Gon- 
çalo martinz  e  fazede  en  guisa  que  se  non  mostre  hy  outra 
cobiça  (?)  e  que  aia  cada  huum  o  sseu  dereyto  e  uos  recada- 
de  o  sseu  quinhom  deles  e  penssade  dei.  Unde  ai  non  faça- 
des.  Dada  em  santo  tisso.  xiiii.  dias  de  julho.  El  Rej  o  man- 
dou per  Lourenço  escola  Joham  dominguez  a  ffez  e.  m.  ggg. 
XXVI.  E  eu  Gonçalo  martinz  en  meu  nome  e  en  nome  de  Ta- 
reija  anes  minha  molher  per  poder  de  huma  procuraçom  ffejta 
per  maom  de  Steuam  perez  tabelliom  de  Rates  e  de  seu  sinal 
asijnada  assij  como  en  essa  procuraçom  era  conteúdo  da  qual 
o  teor  tal  he.  In  dej  nomine  amen.  Conhoçuda  cousa  seia  a 
todos  aqueles  que  esta  presente  procuraçom  uirem  e  leer  ouvi- 
rem Que  eu  Tareyia  anes  faço  e  outorgo  meu  procurador  leedi- 
mo  e  abastoso  Gonçalo  martinz  meu  marido  portador  desta 
procuraçom  sobrelos  beens  todos  que  forom  de  Don  Joham 


53 


soariz  dito  Coelho,  e  de  dona  Maria  fernandiz  assj  sobrelo  mo- 
uil  coma  sobre  todolos  seus  tierdamentos  que  forom  desses 
anbos  ia  ditos,  que  esse  meu  marido  Gonçalo  raarlinz  possa 
por  mjm  e  por  sj  partir  esses  beens  todos  dauaoditos  cum  Pe- 
dro coelho  e  cum  Soeyro  meendiz e  cum  meus  ir- 

maons  e  com  meus  cunhados  cada  hu  quer  que  seiam  ou  iou- 
uerem  esses  herdamentos  ia  de  suso  ditos,  e  por  acanbhar  e 
por  a  sortes  dejtar  e  por  apenhorar  e  por  a  enprazar  e  por  a 
uender  e  doar  esses  herdamentos  ia  ditos  ou  parte  deles  a 
qual  pessoa  ou  pessoas  que  esse  meu  marido  uir  por  bem  e 
por  a  receber  ende  o  preço  desses  herdamentos  dauanditos  en 
meu  logo  e  en  meu  nome  e  en  seu  e  por  a  Ihis  fazer  ende 
carta  ou  cartas  ou  estroraentos  ou  prasos  de  toda  íBrmidoem 
pelos  tabellioens  dessas  terras  e  desses  termhos  hu  quer  que 
iaseam  esses  herdamentos  e  por  a  íTazer  ainda  sobresto  toda- 
las  outras  cousas  e  cada  humas  destas  que  uerdadeiro  e  leedimo 
procurador  pode  e  deve  fazer  e  que  eu  faria  ou  poderia  fazer 
assj  coma  se  fosse  presente  per  minha  pessoa  e  sobresto  doulhj 
ainda  meu  poder  a  esse  meu  marido,  que  el  possa  meter  outro 
ou  outros  procurador  procuradores  en  seu  logo  sobrelas  cousas 
dauanditas  e  por  a  reuogalos  cada  que  quizer  e  quantas  uezes 
uir  ou  Ihj  seera  mester  e  prometo  mjm  firme  e  stauel  auedoj- 
ra  que  quer  que  per  esse  meu  marido  e  meu  procurador  ou 
pelo  metudo  ou  metudos  desse  for  ffejlo  ou  procurado  en  as 
cousas  dauanditas  ou  en  cada  huma  delas  que  seia  ffirme  e  sta- 
uel da  minha  parte  a  todo  tenpo.  e  sobre  todesto  ainda  outor- 
go ia  aquela  partiçom  que  esse  meu  marido  fez  en  Lejrena 
com  os  outros  ia  dauanditos.  en  testemoyno  destas  todas  cou- 
sas dauanditas  Eu  Tareyia  anes  ia  dita  aquesta  procuraçom  per 
maom  de  Steuam  perez  ia  dito  tabelliom  de  Rates,  encomen- 
dej  seer  ífejta.  Os  que  forom  presentes  Martim  perez  do  casal 
cauelo  (?)  e  Garcia  martinz  escudejro.  Simhom  marlinz.  Pêro 
peres  e  Lourenço  perez  creligos  de  Rates,  e  Eu  Stevam 
perez  publico  tabelliom  de  nosso  senhor  el  Rej  de  Portugal  e 
do  Algarue  na  vila  de  Rates  ia  de  suso  dito  a  estas  cousas  to- 
das dauanditas  presente  fuj  e  rogado  desa  Tareyia  anes  dauan- 
dita  aquesta  presente  procuraçom  con  minha  maom  própria  es- 
creuj  e  meu  sinal  en  ela  pusy  en  testemoyno  de  ucrdade. 
aquesto  foj  na  Egreia  de  Sam  Pedro  de  rates.  xxi.  dias  anda- 
dos de  julho.  E.  M.  GGG.  xxvr.  Eu  dauandito  Gonçalo  marlinz 
per  poder  da  dita  procuraçom  parti,  e  auemo  a  mjm  e  aa  dita 
minha  molher  en  partiçom  dos  beens  que  forom  do  dito  dom 
Joham  soariz  e  de  dona  Maria  fernandiz  en  Lejrena  e  en  seus 


54 


termhos  a  partiçom  da  quintaam  dos  pinheiros  com  a  mejada- 
de  das  vinhas  e  com  seus  arnaes  e  com  ssa  matta.  e  com  sas 
cubas  e  tinhas  com  o  lagar,  e  as  casas  da  vila  da  morada 
com  a  casa  que  foj  de  Joham  conlapo.  e  a  almoyna  e  o  oliual. 
e  a  cuba  da  vila.  e  por  esta  partiçom  eu  sobredito  almoxarife 
fiquej  en  partiçom  pêra  os  ditos  Guiomar  eanes  e  ífernara 
eanes  com  o  mojno  do  Recurso  (?)  com  a  obligaçom  dos  frades 
menores  e  com  toda  a  herdade  de  alpentenendj  de  sobre  car- 
reira que  he  dita  do  espelho  e  do  crasto  como  parte  pela  es- 
trada de  porto  de  moós.  e  per  cas  Carapulho  e  a  adega  da 
vila  que  foj  de  Martim  casquejro.  En  testemoyno  da  qual 
cousa.  Eu  Miguel  eanes  publico  tabelliom  de  Lejrena  a  rrogo  e 
per  outorgamento  dos  dito  Gonçalo  marlinz  e  do  dito  almoxa- 
rife dous  estromentos  das  ditas  parliçoens  partidos  per  a.  b.  c. 
escreuj  e  en  cada  huum  deles  meu  sinal  que  tal  -j-  he  pusj 
en  testemoyno  de  verdade  ffeito  en  Lejrena  xxvi.  dias  dagosto. 
E.  M.  GGC.  XXVI.  presentes  Joham  cezar.  Lopo  paez.  Nico- 
lao Lourenço  perez  de  porto  moós. 


LXXXIX  -  XXV  A 
1299 

Reconhecimento,  feito  ao  mosteiro  de  Souto,  do  meio  casal  da  Villa, 
sito  na  freguezia  de  S.  Pedro  de  Fajozes 

En  nome  de  deus  amen.  Conhoscam  todos  que  eu  Johan- 
nesteuez  bacelo  caualejro  de  íTazozes  e  minha  moler  Sancha 
ffernandiz  coníTessamos  e  reconhecemos  que  huum  mejo  casal 
que  iaz  hermo  no  logo  que  e  chamado  uilla  na  íTreegisia  de 
san  Pedro  de  ífazozes  que  e  herdamento  do  moestejro  de  Souto 
6  quitamonos  dele  ao  dito  moestejro  e  renuçamolho  o  dito  mejo 
casal  ao  dito  moestejro  e  que  o  dito  o  aiam  e  o  pusuia  e  os 
ffrujtos  e  as  rendas  e  os  derejtos  e  prouejtos  dele  come  de  seu 
herdamento  e  do  dito  mejo  casal  e  de  todolos  frujtos  e  de  to- 
dalas  rendas  e  derejtos  e  prouejtos  dele  o  dito  moesteiro  ou 
o  priol  ou  os  ífrades  façam  de  todo  que  quer  que  prouger  aa 
ssa  uontade  pêra  todo  senpre  e  aquel  que  o  laurar  que  uos  de 
dele  o  seruiço  como  uos  dam  dos  outros  seus  casaaes.  Des 
aqui  adeante  aiam  eles  e  tenham  e  posuiam  o  dito  mejo  casal 
e  os  frujtos  e  as  rendas  e  os  derejtos  e  os  prouejtos  dele  asij 
come  de  suso  nomeado  e  sse  algem  ueer  assi  da  nossa  parte 


55 


come  doutra  qual  quer  que  a  eles  este  nosso  fejto  tentar  ou 
quebrantar  quiser  pola  soo  teutaçom  quanto  demandar  tanto  a 
eles  en  dobro  conpoua  e  au  senhor  da  terra  ou  a  quem  eles 
derem  ssa  uoz  pejte  quinentos  marauidis  per  nome  de  pea  e  o 
prazo  eu  ssa  reuora  ualedojra.  Item  eu  steueanes  dito  carnej- 
ro  eo  nome  e  en  logo  do  dito  Johannesteuez  e  da  dita  ssa  mo- 
ler  Sancha  fernandiz  entrego  per  pedra  o  dito  mejo  casal  aos 
ífrades  de  souto  e  raetoos  na  posse  dele  e  iraçam  dele  o  que 
prouger  aa  ssa  uoontade  pêra  senpre  e  de  todas  estas  cousas 
os  íTrades  do  moestejro  de  souto  pedirom  a  rajm  Domingos  mi- 
geez  que  Ihis  fezesse  ende  huum  publico  strumento.  IFejto  foj 

este  em  íTazozes.  xvi.  dias  de  juyo  E.  M e  xxxvii.  que 

presentes  foram  Martim  anes  de  Gidoes  (?)  Johanne  filo  de  Ni- 
colao  da  soudia  (?)  Steuom  carnejro  Gonpalo  de  Sandiaaens 
Martim  Johahannes  seu  uisino  Pêro  peres  do  casal  Pêro  darara 
Domingos  lourenço  e  Eu  Domingos  migeez  publico  tabelliom  na 
terra  da  Maja  rogado  dos  ditos  íTrades  e  do  dito  caualejro  e  da 
dita  ssa  moler  este  strumento  com  minha  maaom  própria 
screuj  e  en  testemoijo  de  uerdade  o  meu  sinal  en  ele  pugj 
que  tal  est  +• 

(Continua). 
Tagilde  — 1890. 


Oliveira  Guimarães. 


INSTRUCÇÃO  POPULAR 


Lei    de   2   de   maio   de   1878 

{Continuado  do  volume  anterior,  pag.  205) 

CAPITULO  V 

Artigo  30.°  Os  professores  e  professoras  das  escolas  de 
inslrucção  primaria  são  nomeados  pelas  camarás  municipaes, 
precedendo  concurso  documental,  e  sob  proposta  graduada  da 
junta  escolar,  de  entre  os  indivíduos  com  capacidade  legai 
para  exercer  as  funcções  do  magistério. 

|.  1.**  Constituo  capacidade  legal  para  o  ensino  pri- 
mário elementar: 

I.  Diploma  de  approvapão  no  ensino  normal  do  segun- 
do grau. 

II.  Diploma  de  approvação  no  ensino  normal  do  pri- 
meiro grau. 

III.  Diploma  de  habilitação  para  o  ensino  complementar. 

IV.  Diploma  de  habililapão  para  o  ensino  elementar. 

Em  igualdade  de  circumstancias  os  candidatos  serão  pre- 
feridos pela  categoria  dos  seus  diplomas  mencionados  no  |. 
antecedente,  e  em  cada  categoria  pela  antiguidade  de  serviço 
no  magistério. 

|.  2.°  Quando  não  houver  candidato  habilitado,  as  cama- 
rás municipaes,  ouvida  a  junta  escolar,  podem  nomear  tempo- 
rariamente pessoas  que  julguem  idóneas  mediante  a  gratifica- 
ção que  estipularem.  N'esta  hypothese  as  camarás  ficam  obri- 
gadas a  abrir  todos  os  annos  concurso  para  as  cadeiras  assim 
regidas,  até  apparecer  candidato  habilitado. 

|.  3.**  Constituem  capacidade  legal  para  o  ensino  comple- 
mentar^ as  habilitações  exigidas  pelos  números  i  e  iii  d'este 
artigo. 

|.  4.*  A  primeira  nomeação  de  professores  de  ambos  os 
sexos  é  temporária,  e  só  pôde  tornar-se  definitiva  ao  cabo  de 
três  annos  de  bom  e  effectivo  serviço. 


57 


|,  õ.**  As  disposições  d'este  artigo  só  comepara  a  ter  exe- 
cução á  proporção  que  o  encargo  dos  ordenados  Gxos  dos  pro- 
fessores, DOS  termos  d'esta  lei,  passar  para  as  respectivas  ca- 
marás municipaes. 

Artigo  31.**  Os  vencimentos  dos  professores  de  ambos  os 
sexos  de  instrucção  primaria  elementar  são:  ordenado  íixo, 
gratificação  de  frequência  e  gratificação  de  exames. 

|.  1.**  O  ordenado  fixo  minimo  é  de  100^000  reis  nas 
povoações  ruraes,  120>$l000  reis  nas  povoações  urbanas,  e 
150j$í000  reis  em  Lisboa  e  Porto. 

|.  2.'*  A  gratificação  de  frequência  é,  até  sessenta  alura- 
nos,  de  50  reis  mensaes  por  alumno  que  tiver  assistido 
a  cinco  sextas  partes  da  totalidade  das  lições  de  manhã 
e  de  tarde,  calculadas  em  relação  aos  dias  úteis  de  cada  tri- 
mestre. 

|.  3.**  Considera-se  para  este  efieito  como  havendo  ido 
ás  aulas  os  alumnos  que  d'ellas  tiverem  sido  dispensados,  se- 
gundo o  que  determina  o  |.  3.°  do  artigo  17.° 

|.  4.°  De  sessenta  alumnos  para  cima  metade  da  gratifi- 
cação por  alumno  é  para  o  professor  e  a  outra  metade  é  para 
o  ajudante. 

|.  5.°  A  gratificação  de  exames  é  de  Sj^íOOO  reis  por 
alumno  que  obtenha  approvação  no  exame  final  de  ensino  pri- 
mário elementar. 

Artigo  32."  Os  vencimentos  dos  professores  de  ambos  os 
sexos  de  instrucção  primaria  com  ensino  elementar  e  comple- 
mentar são:  ordenado  fixo,  gratificação  de  frequência  e  grati- 
ficação de  exames. 

§.1."  O  ordenado  minimo  é  de  ISOjííOOO  reis.  Em  Lisboa 
e  Porto  é  de  200^000  reis. 

|.  2.°  A  gratificação  de  frequência  é  de  50  reis  mensaes 
por  alumno  que  tiver  assistido  ás  lições,  segundo  o  que  fica 
estabelecido  no  |.  2."  do  artigo  31.*' 

|.  3."  A  gratificação  de  exames  é  de  2f5lOOO  reis  por  alum- 
no que  alcançar  certidão  de  approvação  nas  disciplinas  que 
constituem  o  ensino  complementar. 

Artigo  33.°  Os  ajudantes  de  ambos  os  sexos  das  escolas 
elementares  e  complementares  são  nomeados  pelas  camarás, 
sob  proposta  das  juntas  escolares,  de  entre  os  indivíduos  que 
tiverem  a  necessária  capacidade  legal  nos  termos  do  disposto 
no  artigo  30.° 

|.  único.  Na  falta  de  indivíduos  habilitados,  as  camarás 
municipaes  podem,  ouvida  a  junta  escolar,  nomear  pessoas 


58 


idóneas  para  os  cargos  de  ajudantes;  ou,  sob  proposta  dos 
professores  e  approvação  da  junta  escolar,  arbitrar  gratificações 
a  alumnos  mais  adiantados,  que  sejam  maiores  de  dezeseis 
annos  de  idade,  para  dirigirem  as  classes  e  coadjuvarem  os 
professores. 

Artigo  34.°  Os  vencimentos  dos  ajudantes  dos  professo- 
res de  ensino  elementar  são:  um  ordenado  fixo,  e  gratificação 
de  frequência. 

§.1."  O  ordenado  fixo  mioimo  é  de  45^000  reis  nas  po- 
voações ruraes,  60j$!000  reis  nas  urbanas,  e  75)$!000  reis  em 
Lisboa  e  Porto. 

§.2.'*  A  gratificação  de  frequência  é  a  que  lhes  corres- 
ponde pelo  |.  4."  do  artigo  31.° 

Artigo  35.°  '  Os  vencimentos  dos  ajudantes  dos  professores 
de  ensino  complementar  são:  ordenado  fixo  e  gratificação  de 
frequência. 

|.  1.°  O  ordenado  fixo  minimo  é  de  70;^000  reis.  Em 
Lisboa  e  Porto  de  90;$Í000  reis. 

|.  2.°  A  gratificação  de  frequência  é  metade  do  que  per- 
tence ao  professor  com  relação  ao  numero  de  alumnos  exce- 
dentes a  sessenta. 

Artigo  36.°  Os  vencimentos  de  que  tratam  os  artigos  34.® 
e  35.°  ficarão  a  cargo  das  camarás  municipaes  desde  que  por 
estas  forem  estabelecidos  os  logares  a  que  se  referem,  e  serão 
para  todos  os  effeitos  legaes  considerados  como  despeza  obri- 
gatória das  mesmas  camarás. 

Artigo  37.°  Os  ordenados  fixos  dos  professores  e  ajudan- 
tes são  pagos  mensalmente.  As  gratificações  são  pagas  nas 
épocas  do  seu  vencimento.  As  folhas  das  gratificações  serão 
conferidas  pelo  administrador  do  concelho. 

Artigo  38.°  As  camarás  municipaes  podem  em  cada  anno 
conceder  aos  professores  e  ajudantes  licenças  com  vencimento, 
que  não  excedam  na  sua  totalidade  a  trinta  dias.  Além  d'este 
limite,  a  licença  faz  perder  o  vencimento. 

|.  1.°  Os  professores  de  um  e  outro  sexo  que,  sem  aucto- 
risação  e  motivo  justificado,  deixarem  de  dar  aula  em  algum 
dos  dias  marcados  no  horário  da  escola,  pagam  uma  multa  im- 
posta pela  camará,  que  não  poderá  exceder  de  400  reis  por 
cada  falta. 

|.  2.°  A  mesma  disposição  se  applica  aos  ajudantes  que 
faltarem  ao  serviço  escolar,  não  devendo  a  multa  exceder  de 
150  reis  por  falta. 

|.  3.°     O  producto  das  multas  impostas  aos  professores 


59 


reverterá  a  favor  da  instrucção  primaria  nas  respectivas  loca- 
lidades. 

Artigo  39. "  O  professor,  ou  professora,  que  por  doença 
faltar  era  cada  anno  mais  de  quarenta  dias  úteis  á  escola,  per- 
de metade  do  vencimento  total  dos  dias  excedentes. 

|.  1.°  Se  o  impedimento  se  prolongar  além  d'este  praso, 
o  professor  será  substituído  por  individuo  com  capacidade  le- 
gal, e  na  falta  d'este  por  pessoa  reconhecidamente  apta,  a  qual 
recebe  metade  do  ordenado  do  professor  impedido,  e  as  gra- 
tíQcações  a  que  tiver  direito  durante  o  tempo  da  reg-^ncia. 

|.  2."  Provando-se  que  o  impedimento  provém  de  doen- 
ça grave  e  havendo  boas  notas  do  desempenho  do  respectivo 
professor  ou  professora,  poderá  ser  alliviado  da  perda  de  me- 
tade do  ordenado  de  que  trata  este  artigo  pelo  mais  tempo 
que  parecer  justo. 

Artigo  40."  As  penas  disciplinares,  a  que  estão  sujeitos 
os  professores  e  professoras  de  instrucção  primaria,  são :  ad- 
moestação, reprehensão,  suspensão  com  perda  parcial  ou  total 
dos  vencimentos,  e  demissão. 

|.  1.°  A  admoestação,  reprehensão  e  suspensão  até  um 
mez  são  impostas  pelas  camarás  municipaes,  ouvida  a  jun- 
ta escolar  e  admittida  a  defeza  do  accusado. 

|.  2."  A  suspensão  por  mais  d'um  mez  e  a  demissão  são 
também  impostas  pelas  camarás  municipaes,  precedendo  au- 
diência do  accusado,  voto  conforme  da  junta  escolar  e  parecer 
afflrmativo  do  inspector  da  circumscripção. 

|.  3."  A  demissão  dos  professores  não  se  tornará  exequí- 
vel sem  prévia  auctorisação  do  governo. 

Artigo  4I.°  Os  professores  vitalícios  de  instrucção  prima- 
ria de  um  e  outro  sexo  são  aposentados  pelas  camarás  muni- 
cipaes com  o  ordenado  por  inteiro  tendo  pelo  menos  trinta  an- 
nos  de  bom  e  eífectivo  serviço,  e  solTrendo  impossibilidade 
physica  ou  moral,  verificada  por  exame  de  peritos,  de  conti- 
nuar a  servir. 

|.  1."  Verificada  a  impossibilidade  mencionada  n'este  arti- 
go, pôde  a  camará  aposentar  com  metade  do  ordenado  os  pro- 
fessores que  tiverem  vinte  ou  mais  annos  de  bom  e  eífectivo 
serviço,  e  com  um  terço  do  ordenado  os  que  tiverem  quinze 
annos  ou  mais  de  serviço. 

|.  2.0  O  tempo  de  serviço  no  professorado  primário  é  le- 
vado em  conta  para  a  aposentação  na  instrucção  secundaria  ou 
superior  na  relação  correspondente. 

(Continua). 


BOLETIM 


o  presente  trimestre  offerece-nos  poucos  elementos  para 
esta  secção.  Apesar  de  constituir  ura  periodo  de  repouso,  ain- 
da assim  não  cessou  a  Sociedade  de  revelar  a  sua  actividade, 
como  se  verá  pela  rápida  narração  dos  factos,  que  são  assum- 
pto d'este  boletim. 


Na  sessão  de  30  d'outubro  o  snr.  presidente  informou 
acerca  da  escola  militar  infantil,  e  o  snr.  dr.  Avelino  Guima- 
rães propoz  para  sócio  o  distincto  engenheiro,  snr.  dr.  Antó- 
nio José  Arroyo,  que  foi  admittido  por  unanimidade. 

Na  mesma  sessão  consignaram-se  offertas  de  livros  para  a 
Dossa  bibliotheca. 


Na  sessão  de  3  de  novembro  o  snr.  presidente  participou 
que  o  snr.  João  Baptista  Barreira,  digno  alferes  de  infanteria 
20,  se  incumbia  gratuitamente  da  direcção  da  escola  militar 
infantil,  e  propoz  que  na  acta  se  exarasse  a  expressão  de  vivo 
reconhecimento  para  com  s.  exc.*,  o  que  foi  unanimemente 
votado. 


61 


O  mesmo  snr.  presidente  propoz  que  se  nomeasse  uma 
commissão  de  consócios  para  a  organisação  de  catálogos  e  re- 
gulamento de  exame  e  estudo  dos  museus  de  archeologia  e 
numismática,  lembrando  os  snrs.  dr.  Francisco  Martins  Sar- 
mento, dr.  José  de  Freitas  Costa,  dr.  Alberto  Sampaio,  António 
Augusto  da  Silva  Cardoso,  Domingos  Leite  de  Castro,  dr.  Igna- 
cio  Teixeira  de  Menezes  e  dr.  Anthero  Campos  da  Silva. 

E  o  sor.  dr.  Avelino  Guimarães  propoz  que  se  nomeasse 
outra  commissão,  incumbida  de  promover  o  desenvolvimento 
dos  museus  archeologico  e  numismático,  composta  dos  snrs. 
dr.  Francisco  Martins  Sarmento,  dr.  José  de  Freitas  Gosta,  Di- 
niz da  Costa  Santhiago,  dr.  Augusto  Alfredo  de  Mattos  Chaves, 
Padre  João  Gomes  d'01iveira  Guimarães,  dr.  Abilio  da  Costa 
Torres,  dr.  Arthur  de  Campos  Henriques,  dr.  José  da  Motta 
Prego,  Padre  João  Cândido  da  Silva  e  Padre  Roque  Teixeira 
d'Araujo  Pereira,  ficando  a  commissão  com  a  faculdade  de 
aggregar  quaesquer  outros  sócios,  e  de  resolver  o  que  enten- 
der com  qualquer  numero  de  sócios. 

Ambas  as  propostas  foram  approvadas. 

O  snr.  dr.  Avelino  Guimarães  propoz  para  sócios  os  snrs. 
Padre  António  Pinto  da  Veiga,  Rodrigo  Augusto  Alves  e  João 
Gualdino  Pereira. 

Foi  votada  por  unanimidade  a  sua  admissão. 


Na  sessão  de  20  de  novembro  participou  o  snr.  presidente 
que  o  gabinete  de  leitura  para  os  sócios  começou  a  abrir-se 
desde  as  3  ás  5  horas  da  tarde. 


Na  sessão  de  21  de  dezembro  o  snr.  presidente  deu  par- 
te de  que  a  primeira  commissão  de  archeologia  já  se  re- 
uniu e  que  ficou  incumbido  de  alguns  trabalhos  preparatórios 
o  snr.  dr.  Anthero  Campos  da  Silva. 

Não  tendo  comparecido  á  sessão  da  commissão  o  snr.  dr. 
José  de  Freitas  Costa,  o  snr.  presidente  da  direcpão  declarou 
que  tal  falta  era  devida  a  incommodo  de  saúde,  mas  que  s. 
exc*  o  auctorisára  a  communicar  que  já  tinha  adiantado  o 
trabalho  da  classificarão  e  catalogação  das  moedas  portugue- 
zas. 


62 


Na  mesma  sessão  o  snr.  Padre  João  Cândido  da  Silva,  vice- 
presidente,  apresentou  a  seguinte  proposta: 

O  desenvolvimento  da  instrucção  popular  n'este  concelho,  devido 
á  tão  larga  iniciativa  da  Sociedade  Martins  Sarmento,  não  attingiu 
infelizmente  ainda  um  tal  grau  de  superioridade,  que  dispense  os  es- 
forços de  decidida  boa  vontade  d'esta  aggremiação.  O  trabalho  e  es- 
forços dispendidos  na  conquista  d'aquelle  desideratum  tem  sido  o.  pre- 
ço por  que  esta  Sociedade  tem  sabido  comprar  as  benemerencias  da 
nossa  terra  e  as  sympathias  do  paiz.  É  na  consubstanciação  com  estes 
intuitos  que  tenho  a  honra  de  propor  que  a  direcção,  procurando  accor- 
dar-se  com  a  direcção  da  Associação  das  Escolas  Moveis  pelo  syste- 
ma  de  João  de  Deus,  e,  agenciando  os  meios  e  facilidades  suggeridas 
pelo  seu  critério,  chame  a  este  concelho  missões  escolares,  assignando- 
ihes  de  preferencia  as  zonas  do  concelho  em  que  maior  fôr  a  carência 
de  instrucção  oííicial  e  as  épocas  do  anno  em  que  a  vacância  dos  tra- 
balhos do  nosso  povo  assegure  máximo  aproveitamento  escolar. 

João  Cândido  da  Silva. 

A  direcf ão,  discutindo  esta  proposta  e  convencendo-se  da 
grande  vantagem  d'aquellas  missões,  que  são  um  dos  meios 
mais  efficazes  para  derramar  a  instrucção  primaria  nas  fregue- 
zias  ruraes,  approvou  a  proposta  e  delilDerou  que  o  propo- 
nente, d'accordo  com  o  snr.  presidente  da  direcção,  promo- 
vesse tudo  quanto  fosse  necessário,  particular  e  ofíicialmente, 
para  a  realisação  da  mesma  proposta. 


Na  mesma  sessão  o  snr.  dr.  Avelino  Guimarães  propoz 
para  sócios  os  snrs.  José  Luiz  Ferreira  e  Jeronymo  Peixoto 
d'Abreu  Vieira,  d'esta  cidade. 

Foram  admittidos  por  unanimidade. 


Durante  o  ultimo  trimestre  a  Sociedade  recebeu  as  seguin- 
tes obras  dos  snrs. : 

Dr.  Anthero  de  Campos,  2  volumes; 

Duarte  Areias,  1  volume; 

Associação  Commercial  de  Lisboa,  4  volumes; 

Dr.  Bernardo  Machado,  1  volume; 

Centro  Commercial  do  Porto,  I  volume; 

Joaquim  Ferreira  Moutinho,  1  volume; 

Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa,  1  volume; 


63 


Dr.  Júlio  Cardoso,  1  volume; 

António  Augusto  da  Silva  Caldas,  2  volumes; 

Direcção  Geral  do  Commercio  e  Industria,  2  volumes; 

Estacio  da  Veiga,  6  volumes ; 

Ministério  de  Instrucção  Publica,  3  volumes; 

Ricardo  de  Freitas  Ribeiro,  2  volumes; 

Luiz  José  Ferreira,  1  volume; 

Casa  editora  Teixeira  de  Freitas,  10  volumes; 

Dr.  José  Leite  de  Vasconcellos,  1  volume; 

Dr.  Alberto  Sampaio,  32  volumes; 

Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa,  2  volumes; 

Eduardo  Sequeira,  1  volume; 

Camará  Municipal  de  Guimarães,  24  volumes; 

Academia  bracarense,  1  volume; 

Direcção  do  collegio  de  S.  Dâmaso,  1  volume; 

Dr.  Francisco  Gomes  Teixeira,  13  volumes; 

Rodam  Tavares,  i  volume; 

Magalhães  &.  Moniz,  1  volume. 


« 


Durante  o  mesmo  período  recebeu  lambem  os  seguintes 
periódicos : 

O  Portuguez  (Lisboa).^ 

A  Noite  (Idem). 

O  Ensino  (Idem). 

O  Economista  (Idem). 

A  Opinião  (Idem). 

O  Meio  Dia  (Idem). 

Boletim  da  Sociedade  Broteriana  (Coimbra). 

O  Primeiro  de  Maio  (Idem). 

Jornal  das  sciencias  mathematicas  e  astronómicas  (Idem). 

O  Commercio  de  Portalegre  (Portalegre). 

A  todos  os  oíTerentes  significamos  os  agradecimentos  da  So- 
ciedade. 

Guimarães,  30  de  dezembro  de  1890. 


0  secretario, 

Gaspar  L.  d'A.  C.  Paiíl. 


BALANCETES 


Movimento  da  caixa  em  outubro  de  1890 


ENTRADA 

Saldo  anterior 151^513 

Receita  (i'es te  mez 7^900       lo9i3413 


SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 77^400 

Saldo 82^013        159^3 


Em  novembro  de  1890 

ENTRADA 

«Saldo  anterior 82^013 

Receita  d'este  mez i03^530       185^543 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 33^850 

Saldo 151^693       i8Si^543 


Em  dezembro  de  1890 

ENTRADA 

Saldo  anterior 1515693 

Receita  d'este  mez 402;3013       553^708 


SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 62iS770 

Saldo  que  passa  a  janeiro  de  1891 490^^938       553:^708 


o  thesoureiro, 

Simão  da  Costa  Guimarães. 


A.  lie  vista  <Jos  Campos,  revista  quinzenal  lisbonense, 
agi-icoia  e  agronómica.  Directores,  J.  Veríssimo  d'Almeida,  A.  Xa- 
vier Pereira  Coutinho  e  António  de  Sarmento.  Anno 25000 

Numero  avulso 100 

Indiíisti-ia  é  Inveiicioiie!s!,  revista  semanal  illuslrada  de 
Barcelona.  Director,  D.  Geronimo  Bolibar,  ingeniero  industrial. 

Portugal,-  anno 25  pesetas. 

Iiistit.iii<?ôes  Clivistas,  revista  quinzenal  de  Coimhra,  re- 
ligiosa, scientifiea  e  litteraria.  Orgào  da  Academia  de  S.  Thoniaz 

d'Aquino.  Seis  mezes lááou 

O    Civilisafloi*,   revista  de  Ponta  Delgada.   Redactor,   Gabriel 

d'Almeida.  Cada  numero 120 

Boletim  tia  Sociedatle  cie  GS-eog-i-apliia  Coiii- 
mei-cial  tio  r*orto.  Assignatura  para  a  3.*  série : 

Sócios  efTeetivos  da  Sociedade 500 

Todos  os  outros  assignantes 1^000 

Numero  avulso 200 

Assigna-se  na  Livraria  Portuense  de  Lopes  &  C.%  successores  de 
Clavef&  C. a  — Porto. 

"Revi.sta  «los  Tribiiiiaes,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários,  Augusto  Maria  de  Castro  e  António  Fer- 
reira Augusto.  Anno,  franco  de  porte 33000 

Semestre,  franco  de  porte 1  ^800 

Novo  M-ensageií-o  do  Coração  cie  Jesus,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do    Coração   de  Jesus  e  da  Gommunhão  Reparadora.  —  Portugal, 

anno. ...' UOOO 

O  Keei-oio,  revista  semanal,  litteraria  e  charadistica,  de  Lisboa. 

Lisboa,  cada  numero 270 

Provincial,  semestre 580 

Tri  mostre 300 

A    I»i-opi'ie<ia<ie  e  Cultiifa  (lo  IMiiiho  (estudo   his- 
tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sampaio.  Preço.. .        350 
Em  todas  as  livrarias. 
"Revista  tias  Scieiíeias  IVIilitares,  publicação   men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheria. 

Portugal,  anno 25100 

Revista  das  Scieneias  IVatm-aes  o  Soelaes ; 
órgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publica-se  quatro 

vezes  por  anno,  em  fascículos  de  48  pag.,  8.o  —  Anno 15200 

Numero  avulso 300 

Jornal  de  Ftoi-ticultiira  Pratica.  Proprietário,  losé 

Marques  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 25250 

Numero  avulso «^00 

Coiilondo  estampa  colorida '^00 

O   Charivari,  revista  humorística  do  Porto. 

Série  de  12  números 2i0 

Províncias •        * 'O 

Os    Arg-onautas,   subsídios  para  a  antiga  historia  do  0(Vi- 

dente,  por  F.  Martins  Sarmento.  1  grosso  volume 15.500 

Pelo  correio *  ^"^'"0 

Em  todas  as  livrarias. 
Revista  de  Kducação   e   Ensino,  publicação  mensal 
de  Lisboa.  Director,  Ferreira  Deusdado.  Preço : 

Anno 250<iO 

Semestre i^'*^ 

Avulso ^^'0 


"Boletim   «3a,    Ligfa   dos  Lavi'a<3ores  cio  X)oiii*o. 

Reflacção,  rua  do  Calvário,  70  —  Porto.  Numero  avulso 40 

Boletín-K,evista  de  la  Jiiveixtiid  Católiea,  re- 
vista iiiensa!  de  Valência.  Cada  numero 1  real. 

Avulso..  ..* 2  reales. 

La  lievuc  dess»  Jotu-iiaiix  et  des  Livi-ess!,  de  Pa- 
ris. Preços  para  Portugal:  ires  mezes,  4  francos  e  50;.  seis  inezes, 
8  francos;  um  anno,  Í4  francos.  Esta  revista  dá  aos  assignantes 
d'am  anno  um  volume  de  3  francos  e  50;  aos  de  seis  mezes  um  vo- 
lume de  2  francos,  .e  aos  de  três  mezes  um  volume  de  l  franco,  á 
escolha  em  todas  as  livrarias.  Além  d'isso  dcá  a  todos  os  seus  assi- 
gnantes, como  brinde,  um  esplendido  retrato  a  óleo  e  a  cada  assi- 
gnanle  o  seu  retrato  photographado. 
I2.evi!9ita  d'01t>i*as  Í?ííl>lieaíS  e  BJCina^-,  publicação 
mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portuguezes. 

Lisboa,  anno 2^400 

Províncias  e  estrangeiro  acresce  o  custo  das  estampilhas. 
Leitui'a!f*  l?opiilai-cs   Illiiíã»ti*adas,  jornal  mensal  de 

Lisboa.  Anno ......:...,        400 

-A.  Impi-ciisa,  revista  scientifica,  litteraria  e  artística  de  Lis- 

,boa.  Publicação  quinzenal.  Director,  AíTonso  Vargas.  Lisboa,  cada 

numero  30  reis,  pagos  á  entrega.  Provinoias  e  ilhas,  trimestre  ou  6 

números,  200  reis.  Numero  avulso 40 

Coiml>ra   jVXediea,  revista  (juinzenal  de  medicina  e  cirurgia. 

Director,  dr.  Augusto  Rocha.  Portugal  e  Hespanha,  anno. .     2á\oO 

O  I?i'og:i-es!s!!»o  Catliolieo,  publicação  quinzenal  illustrada, 

de  Guimarães.  Continente,  anno ! 600 

Numero  avulso 100 

O  In-stitiito,  revista  litteraria  e  scientifica,  de  Coimbra. 

Anno iâSOO 

Pelo  correio 1  ^560 

Numero  avulso 160 

Seleota  fi-atioeza,  por  Moreira  de  Sá,  professor  da  Escola 

Normal  do  Porto.  Preço,  encadernada 1^250 

Pelo  correio 1  ^300 

Oraiiiinatica  fi-an(?ea?;a,  por  J.  E.  von  Hafe  e  A.  Epipha- 
nio  da  Silva  Dias.  G.a  edição,  melhorada.  Preço,  brochada..        800 

Pelo  correio ; *....... 830 

E<liicaQíio  iufaiitil  —  Leitm-as  eleiíieiitai-ess. 
Introducção  ao  Noco  licro  de  leitura  por  João  Diniz.  1  volume  com 
38  gravuras. 

Brochado 200 

Cartonado 260 

Magalhães  e^  Moniz,  editores  —  Porto,  e  em  todas  as  livraiias. 
Histoi-ia  do  cêi*oo  do  I?oi*to,  por  S.  J.  da  Luz  Soriano. 
2.*  edição,  illustrada  com  magnificas  gravuras  e  chroniolythogra- 
phias,  revista  e  melhorada  pelu  auctor.  Editor,  Augusto  Leite  da 

Silva  Guimarães  —  Porto.  Cada  fa-^ciculo 200 

B<»letiin  <le  P*liai'maeia  do  Poi-to.  Director,  J.  P.  d'AI- 

nieida  Brandão.  Anno IíSOOO 

Numero  avulso 200 

A.  Ay^rieiíltm-a  I?oftii|»-iieaça,  revista  quinzenal  de  Lis- 
boa. Directores,  F.  Simões  Margiochi  e  Paulo  de  Moraes. 

Anno 2^000 

Numero  avulso 100 

Boletíu  de  la  Iiiestitueion  lil>i*e  de  Eiiseíiaii- 
j«a,  publicação  quinzenal  de  Madrid.  Anno 10  pesetas. 


REVISTA 


DE 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Promotora  da  instriicção  popular 
no  concelho  de  Guimarães 


VOLUME  VIII 


N.o  2  —  Abril  —  1891 


TOT<JO 

Typographia  de  a.  J.  da  Silva  Teixeira 

Rua  da  Cancella  Velha,  70 

1891 


Suniniario  d'este  numero 

I.    Alterações  e  falsificações  dos  alimentos;  por  Á.  de  Mattos  Cha- 
ves. 
II.    Documentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv ;  por  Oliveira  Guimarães. 

III.  Estudos  sobre  o  Turf;  por  J.  Martins  de  Queiroz. 

IV.  A  collegiada  de  Guimarães. 

V,  Subsídios   para  a  bistoria  das  industrias  vimaranenses;    por 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 

VI.  Instrucção  popular:  lei  de  2  de  maio  de  1878. 
VII.    Boletim ;  por  Gaspar  L.  d' A.  C.  Paul. 

VIII.    Balancetes;  por  Simão  da  Costa  Guimarães. 


A  Revista  cie  Guimarães  publica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  julho  e  outubro,  em  fascicalos 
de  48  paginas. 

Cada  volume,  composto  de  quatro  fascículos, 
custa  por  assignatura  800  reis;  cada  numero  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do  correio  são  á  custa  da 
empresa.  As  assignaturas  são  pagas  adiantadas. 

A  Revista  de  Guimarães  é  distribuída  gratui- 
tamente pelos  sócios  da  Sociedade  Martins  Sar- 
mento.   

Os  artigos  publicados  n'esta  Ptevista  são,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  dos 
seus  auctores. 

Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcção  da  Sociedade  Martins  Sarmento,  Gui- 
marães. 

ANNUNCIOS   LITTERARIOS 

A.  Criso  Ag-1'icola,  r*oi*tug,-«€íza.,  por  Avelino  Guima- 
rães. 1  vol 700 

Vende-se  no  Porto  na  livraria  Gutenberg;  em  Guimarães  na  loja 
de  Francisco  Joaquim  de  Freitas. 
A.S   Oolonias  Poi^tug-uezas,  publicação  lisbonense  illus- 

trada.  Anno 2^000 

Semestre 1^200 

Avulso 200 

O  Zoopliilo,  publicação  mensal  ilJustrada  de  Lisboa. 

Lisboa,  anno 60!) 

Províncias 630 

Numero  avulso 100 


ALTERAÇÕES  E  FALSIFICAÇÕES 


DOS 


ALIMENTOS 


Na  época  que  vamos  atravessando,  de  dia  para  dia  mais  se 
impõe  a  necessidade  de  cada  qual  conhecer,  com  a  possível 
exactidão,  os  numerosos  produclos  naturaes  ou  artlQciaes,  de 
que  tem  de  fazer  uso,  quer  para  satisfazer  as  exigências  da 
sua  industria,  quer  para  prover  à  sua  alimentação,  quer  final- 
mente para  remediar  as  desordens  operadas  pelas  doenças.  E 
esta  necessidade  sobe  de  ponto  desde  que  se  adquire  a  certe- 
za da  grande  difficuldade,  que  hoje  existe,  de  encontrar  no 
commercio  uma  substancia  que  não  esteja  mais  ou  menos 
adulterada.  Os  alimentos,  os  condimentos,  as  matérias  indus- 
triaes  e  até  os  próprios  medicamentos  contem,  na  maior  par- 
te dos  casos,  matérias  estranhas  que,  ou  são  apenas  o  resul- 
tado aa  sua  preparação  defeituosa  (alteração),  ou  lhes  furam 
addicionadas  voluntária  e  intencionalmente  (falsificação). 

Seria  tarefa  árdua  e  certamente  improficua  querer  precisar 
as  verdadeiras  causas,  que  na  actualidade  determinam  a  extra- 
ordinária frequência  de  taes  sophisticações ;  mas  cremos  não  estar 
muito  longe  da  verdade  asseverando  que  essas  causas  são  múlti- 
plas e  estão  estreitamente  relacionadas  com  as  necessidades 
reaes  ou  flcticias,  creadas  e  impostas  pela  civilisação.  Uma 
outra  asseveração,  que  também  poderá  fazer-se  afoutamenle, 
embora  mais  pareça  um  escarneo,  é  que  os  progressos  da  chi- 
mica  e  as  leis  de  repressão  têm  sido  sempre  e  são  ainda  hoje 
dois  valiosíssimos  factores  na  producção  das  falsificações.  I'ara 
confirmação  do  que  deixamos  dito  basta  vêr  que  nos  paizcs 
mais  cultos,  onde  portanto  os  conhecimentos  d'aquclla  sciencia 

8.»  Anno.  6 


66 


estão  mais  vulgarisados,  mas  onde  também  aquellas  leis  têm 
um  rigor  excepcional,  é  que  o  numero  dos  falsificadores  pa- 
rece não  ter  limites  e  a  perfeição  (permitta-se  o  termo)  das 
falsificações  parece  inexcedivel. 

Mas  deixemos  aos  philosophos  o  estudo  d'essas  causas  e 
até  mesmo  o  dos  meios  de  as  combater,  se  é  que  um  mal  tão 
grave  e  tão  generalisado  ainda  é  susceptivel  de  remédio.  A 
nossa  tarefa  é  outra.  Propozemo-nos  apenas  estudar  as  altera- 
ções e  falsificações  das  substancias  alimentares  e  vamos  vér  se 
conseguiremos  fazel-o  por  forma  que  cada  qual  em  sua  casa  e 
com  pequeno  despendio  possa,  na  maior  parte  dos  casos,  co- 
nhecer facilmente  as  condições  em  que  essas  substancias  se 
apresentam  no  commercio,  para  poder  julgar  do  seu  valor  ou 
da  opportunidade  do  seu  uso. 

Mas,  para  que  este  estudo  seja  mais  profícuo,  mencionare- 
mos, a  propósito  de  cada  um  dos  alimentos,  em  primeiro  logar 
as  condições  que  estes  devem  offerecer  para  poderem  ser  con- 
siderados puros,  em  segundo  logar  o  modo  mais  fácil  e  pra- 
tico de  reconhecer  se  estão  alterados  ou  falsificados,  e  por  ul- 
timo os  meios  mais  adequados  á  sua  conservação. 

Infelizmente,  apesar  dos  nossos  desejos,  dos  nossos  esfor- 
ços e  do  muito  que  nos  dizem  os  tratados  de  chimica,  quando 
expozermos  o  modo  de  reconhecer  as  falsificações,  nem  sem- 
pre poderemos  reduzir  os  processos  scientificos  a  meios  vulga- 
res de  apreciação.  No  entretanto  faremos  todo  o  possivel  para 
dispensar  aquelles  e,  quando  isso  não  possa  realisar-se  d'um 
modo  completo,  trataremos  sempre  de  os  expor  por  forma  que 
sejam  facilmente  interpretados. 

E  nem  d'outro  modo  poderíamos  proceder  desde  que  o 
nosso  fim  é  vulgarisar  uma  certa  ordem  de  conhecimentos 
d'uma  incontestável  utilidade.  Só  assim  é  que  o  nosso  humil- 
de trabalho  poderá  ser  devidamente  comprehendido  e  pratica- 
mente aproveitado.  Como  vamos  vêr,  a  maior  parte  dos  en- 
saios, que  teremos  occasião  de  descrever,  poderão  ser  feitos 
por  pessoas,  que  nem  possuam  as  noções  mais  elementares  de 
chimica,  n'um  aposento  qualquer  e  dispondo  apenas  d'alguns 
vasos  de  vidro,  d'um  pequeno  numero  de  reagentes  de  bara- 
tíssimo preço  e  d'um  ou  d'outro  instrumento  de  fácil  acquisi- 
ção.  E  nem  sempre  estes  meios  serão  necessários. 

Começaremos  pelo  leite. 

(Continua). 

A.  DE  Mattos  Chaves. 


DOCUMENTOS   INÉDITOS 


DOS 


SÉCULOS    XII-XV 
(Continuado  da  pag.  55) 


MOSTEIEO    DE    SOUTO 

XC-XXV  B 
1299 

Carta  de  venda  do  herdamento  do  Pombal,  sito  na  freguezia  de  Santa  Maria  de  Souto 

In  dej  nomine  amen.  Gonhoscam  quantos  esta  carta  ujrem 
que  eu  Lourenço  martins  e  minha  molher  Maria  perez  fazemos 
carta  de  vendipom  e  de  flrmjdoem  perdiirauel  a  uos  Joham  de 
souto  e  a  uosa  molher  Margarida  rodrigiz  de  quanto  herda- 
mento nos  auemos  en  o  poombal  en  a  íTreegesia  de  santa  Ma- 
ria de  souto  o  qual  comprou  Maria  iohanez  madre  de  mjm 
Lourenço  Martinz  de  Pedre  anes  conuem  a  saber  o  qual  foj  de 
Joham  lourenço  com  todos  seus  derejtos  e  perteenças  de  mon- 
te en  fonte  por  preço  nomeado  que  de  uos  recebemos  conuem  a 
saber  huum  marauedi  e  terça  de  portugal  ca  a  tanto  a  nos  e  a 
uos  bem  prouge  e  do  preço  non  ficou  nen  mjgalha  por  dar  apres 
de  uos.  Aiades  uos  e  todos  aqueles  que  de  uos  ueerera  o  so- 
bredito herdamento  firme  pêra  todo  scnpre  e  se  algem  contra 
esta  carta  quisser  uijr  que  ela  queira  britar  ou  enbargar  non 
seia  a  el  outorgado  e  quanto  demandar  tanto  dobre  e  a  quem 
uosa  uoz  derdes  pejte  a  el  quinhentos  soldos  da  boa  moeda  e 
a  carta  seia  en  sa  reuora  firme  e  perdurauel  flejta  a  carta  en 
Gimaraens  xvii.  dias  dojtubro  e.  m.  eco.  xxx.  vii.  anos.  tes- 
temunhas  Martim  afonso  tabaliom.  Joham  de  Souto  alfajate. 


68 


Martim  Ganhardo.  Gonçalo  perez  e  outros  e  Eu  Joham  domin- 
guiz  labaliom  de  Gimaraens  esta  carta  screuj  e  meu  si-j-nal 
hj  pugi  que  tal  é. 


XCI-XXV  A 
1300 


Carta  de  troca  do  casal  das  Pedras,  sito  na  freguezia  de  Longos,  por  diversas 
propricídades,  sitas  na  freguezia  do  Mosteiro  de  Souto 


In  nomine  domini  amen.  Nos  Dominicus  petri  canonicus 
regularis  monaslerii  de  Sauto  et  procurator  religiosorum  (?) 
uirorum  domoi  Marlini  iohanis  prioris  et  conuentus  eiusdem 

procuratorio  nomine  pro  eis nomine  eiusdem  monasterii 

et  Martinus  iohanis  redor  ecciesie  sancte  Maria  de  Uilla  noua  no- 
mine eiusdem  ecciesie  facimus  concanbium  et  permutationem 
perpetuam  de  infrascriptis  hereditatibus  et  possessionibus  isto 
videlicet  modo.  quod  Ego  Dominicus  petri  nomine  prioris  et 
conuentus  et  monasterii  predictorum  do  concedo  et  assigno 
vobis  Martino  iohanis  predicto  Rectorj  ecciesie  de  Villa  noua 
nomine  ipsius  ecciesie  casale  dicti  monasterii  quod  habet  ia 
longos  quod  uocant  das  Pedras  cum  directuris  et  omnibus  iuri- 
bus  et  perlinentiis  suis  et  quantum  habet  monasterium  predi- 
ctum  in  longos  per  ubicumque  potuerit  inueniri  in  parrochia 
ecciesie  sancte  chrisline  de  Longos  tam  in  herdamentis  quam 
in  saulis  quam  in  aliis  quibuscumque  iure  hereditário  perpe- 
tuo possidenda  ac  etiam  habenda  in  concanbium  et  permuta- 
tionem perpetuam  pro  quebradis  et  pro  quanto  habet  dieta 
ecciesia  sancte  Marie  de  Villa  noua  in  parrochia  dicti  monaste- 
rii de  Sauto  tam  in  herdamentis  quam  in  plantationibus  et  in 
directuris  quam  in  aliis  quibuscumque  per  ubicumque  potue- 
rint  inueniri.  qudc  ego  Martinus  iohanis  predictus  Rector  sancte 

Marie  de  Villa  noua  nomine  ipsius  ecciesie do  et  assigno 

dicto  monasterio  de  Sauto  in  concanbium  et  perpetuam  per- 
mutationem iure  hereditário  habenda  perpetuo  ac  etiara  possi- 
denda pro  predictis.  Siquis  uero  uenerit  contra  hoc  factum  ad 
irrumpendum  pectet  parti  huic  facto  obtemperanti  d.  sólidos 
facto  isto  nichilominus  in  suo  robore  perdurante,  íTacta  carta 
concanbij  Bracare  per  manum  mei  Johanis  pelagij  tabellionls 
publici  Bracarensis.  Kalendis  Decembris  anno  domini  m.  ggg. 


69 


Cui  concanbio  veoerabilis  vir  domnus  Johanes  martinj  Cantor 
Elborensis  et  doranus  Alfonsus  pelagij  caoonicus  ecclesie  Bra- 
chareosis  Reuerendi  patris  domai  Martini  diuina  prouidenlia 
eiusdem  archiepiscopi  vicarij  auctoritatem  preslilerunt  et  assen- 
sum  que  constitit  eis  per  iuramentum  Gunsalui  petri  Recloris 
ecclesie  de  Gomiaes  qui  ad  hoc  uidendura  et  sciendum  datiis 
fuerat  et  concessus  per  vicários  Bracarenses  quod  cedebat  ma- 
nifeste ad  utilitatem  monasterij  et  ecclesie  predictarum.  Et  Do- 
minicus  petri  canonicus  et  procurator  supradictus  nomine  dicti 
monasterij  de  Sauto  omnia  bona  eiusdem  monasterij  et  Marti- 
nus  iohanis  supradictus  Rector  ecclesie  de  Villa  noua  nomine 

ipsius  ecclesie  omnia  bona  ipsius  ecclesie  sibi  ad  inuicem 

obligarunt  ad  defendendum  et  emparandum  ea  que  dant  et 

concedunt forra  et  exempla  siue  quita  ab  omni  onere 

et habendum  acetiam  aliorum  quorumcumque.  Presentibus 

menendi  Johanne  Ria!  clericis  Thoraasio  bonauentura et 

aliis.  Procuratio  uero  per  quam  dictus  Dominicus  petri  erat  procu- 
rator ad  predicta  erat  confecta  per  manum  Petri  dominici  tabel- 
lionis  vimaranensis  et  eius  signo  signata  continens  hunc  teno- 
rem.  Nouerint  vniuersi  quod  nos  Martinus  iohanis  prior  mo- 
nasterij de  Sauto  et  Conuentus  eiusdem  monasterij  ordinis  san- 
cti  augustini  Bracarensis  dioecesis  constituimus  facimus  ac 
etiam  ordinamus  Dominicum  petri  et  Johanem  martini  con  canó- 
nicos nostros  latores  presentis  procuratores  noslros  generales 
sufficientes  et  legítimos  quemlibet  eorum  in  solidum  ita  quod 
non  sit  melior  conditio  primo  negotium  occupantis  in  omnibus 
causis  nostris  raotis  et  mouendis  tam  pro  nobis  quam  contra 
nos  contra  quascumque  personas  et  a  quibuscumque  personis 
et  super  quibuscumque  rebus  tam  mobilibus  quam  immobili- 
bus  et  super  omnibus  hereditatibus  et  possessionibus  dicti  mo- 
nasterij et  super  omnibus  fructibus  redditibus  et  pertinentibus 
eorumdem  coram  quocumque  judice  seu  coram  quibuscumque 
judicibus  tam  ecclesiasticis  quam  secularibus  ad  agendum  res- 
pondendum  defendendum  respondendum  contradicendum  exci- 
piendum  replicandum  petendum  et  recipiendum  conprometen- 
dum  seu  etiam  conponendum  et  ad  prestandum  in  animas 
nostras  cuiuslibet  sacramentum  appellandum  appellationcm  pro- 

sequendum  et  ad  emplazandum  canbiendum  arrendandum.  . 

seu  etiam  obligandum  hereditates  seu  possessiones  dicti  nrio- 

nasterij  uel  partem  earum  et  ad  faciendum cartam  siue 

cartas  instrumentum  seu  instrumenta  alium  seu  alios  procura- 

torem  seu  procuratores  nomine  nostro  loco seu  substi- 

tuendum  quamcumque  et  quotiescumque  uiderint  seu  uiderit 


70 


expedire  et alia  et  singula  faciendum et  legiti- 
mas potest  et  debet  facere  procurator  et  que  dos  faceremus 

seu  alterum  eorum  constilutura  seu  constitutos  substitutum  seu 

substitutos  ab  eis  uel  altero  eorumdem in  premissis  et 

quolibet  premissorura.  Et  uero  eosdem  procuratores  et  eorum 

alterum  aut  substitutum  seu  substitutos releuemus  ab 

omni  onere  satisdandi  Qdejubemus  sub  ypotheca  rerum  nostra- 

rum  pro  ipsis iudicatum  solui  iudicem  sisti  cum  suis 

clausulis  assuetis.  Actum  apud  monaslerium  de  Sauto  ii.  Ka- 
lendas  januarij  E.  m.  ggg.  xxx.  i.  Presentibus  Petro  eanes  de 
'Sauto  domno  Durando  iohanis  priore  sancti  Torquati  Martino 
iohanis  Et  ego  Petrus  dominici  publicus  tabellio  vimaranensis 
ad  instantiam  dictorum  prioris  et  Conuentus  de  Sauto  hanc 
procurationem  própria  manu  scripsi  et  hoc  siguum  meum  appo- 
sui  in  eadem  in  testimonium  premissorura.  Jacobus.  Johannes. 
Laurentius.  testes  +  • 

Ad  maiorem  autem  rei  euldentiam  nos  supradicti  vicarij 
presens  instrumentum  fecimus  (?)  sigilli  curie  predicti  domni 
arcliiepiscopi  munimine  communirj. 

(Continua). 
Tagilde  — 1891. 

Oliveira.  Guimarães. 


ESTUDOS  SOBRE  O  TURF 


(Continuado  da  pag.  34) 


TERCEIRA  PARTE 
Training 


Repetindo-se  estes  exercidos  de  quatro  em  quatro  dias,  e 
sendo  o  resto  da  semana  destinada  aos  grandes  passeios  em 
que  os  cavallos  marcharão  somente  a  passo  e  não  só  de  ma- 
nhã como  de  tarde,  não  serão  precisos  mais  do  que  dois  me- 
zes  para  que  a  primeira  parte  da  preparação  se  dé  por  con- 
cluida. 

Se  ao  terminar  este  primeiro  periodo  se  julgar  convenien- 
te dar  ao  poldro  um  suadouro,  o  que  facilmente  se  conhece 
por  um  excesso  de  gordura,  que  difficulta  a  respirarão  quan- 
do o  animal  se  estende  um  pouco  a  galope,  e  que  não  fundiu 
pelos  exercícios  ordinários,  nenhuma  duvida  haverá  em  o  fa- 
zer, comtanto  que  não  seja  excessivo.  Mais  vale  fazer  suar 
os  animaes  pouco  a  pouco  do  que  dar-lhes  logo  de  uma  vez 
um  grande  suadouro. 

Quando  um  poldro  precise  effectivamcnte  de  perder  uma 
parte  da  gordura,  é  necessário  então  dar-Ihe  o  suadouro  uns 
dez  ou  doze  dias  antes  da  administração  do  purgativo,  que 
deve  pôr  termo  a  esta  primeira  preparação.  Mas  se,  pelo  e.\- 


72 


cesso  de  gordura,  o  animal  necessitar  «ser  suado»  duas  vezes, 
o  primeiro  suadouro  terá  então  logar  uns  vinte  dias  antes  do 
medicamento,  para  que  o  segundo  possa  ser  dado  cora  a  an- 
tecipação de  uma  semana  pelo  menos.  Em  qualquer  dos  ca- 
sos, e  para  não  fatigar  os  animaes  com  galopes  amiudados, 
que  os  enfastiem  e  lhes  deteriorem  o  organismo,  é  convenien- 
te eliminar  em  cada  semana  um  dos  galopes  ordinários,  sub- 
stituindo por  um  galope-suadouro. 

Já  sabemos  que  para  se  fazer  suar  os  animaes  é  necessá- 
rio fazel-os  correr  bem  emmantados  desde  a  cabeça  até  á  cau- 
da; e  então,  sahindo  da  cavallariça  para  o  local  dos  exerci- 
dos, devemos  começar,  depois  de  um  bom  passeio  a  passo, 
por  lhes  dar  um  meio  galope  de  curta  duração,  para  em  segui- 
da os  fazermos  correr  mais  velozmente  e  n'uma  distancia  do- 
brada ou  triplicada  da  primeira.  Logo  que  o  suor  se  manifeste 
francamente,  é  preciso  fazel-o  cahir  com  o  raspador,  enviando 
em  seguida  os  animaes  para  a  cavallariça,  a  passo  apressado 
ou  mesmo  a  trote,  para  que  alli  cheguem  ainda  quentes  e  em 
estado  de  poderem  continuar  a  transpirar  pelo  tempo  que  se 
julgar  conveniente. 

É  claro  que,  para  augmentar  e  entreter  a  transpiração,  é 
preciso  cobrir  os  animaes  com  mais  duas  ou  três  mantas  e 
igual  numero  de  capuzes,  caso  haja  necessidade  de  os  fazer 
suar  por  todo  o  corpo,  porque  do  contrario,  se  lhes  for  mais 
proveitoso  um  suadouro  parcial,  é  sobre  a  parte,  que  se  de- 
seja fazer  emmagrecer,  que  se  devem  accumular  as  compe- 
tentes coberturas, 

Logo  que  o  preparador,  que  tem  obrigação  de  assistir  a 
esta  operação,  entender  que  um  cavallo  tem  suado  sufficiente- 
mente,  mandal-o-ha  enxugar  e  limpar  o  mais  depressa  possi- 
vel,  para  o  cobrir  de  novo  com  uma  manta  enxuta  e  um  ca- 
puz, deixando-o,  depois  das  competentes  lavagens  e  fricções 
seccas  sobre  as  quatro  pernas,  solto  na  gaiola  para  que  possa 
deitar-se  e  descançar  á  sua  vontade.  Já  em  outro  logar  falía- 
mos da  maneira  de  dar  os  suadouros  e  dos  cuidados  que  é 
preciso  ter  com  os  animaes,  que  são  forçados  a  suar;  por  isso 
alli  encontrará  o  leitor  o  mais  que  em  taes  casos  convirá 
fazer-se. 

A  preparação  definitiva,  que,  a  não  ser  por  um  trabalho 
mais  violento  e  aturado,  pouco  ou  nada  differe  da  preparação 
preparatória,  deverá  começar,  como  dissemos,  por  um  purgan- 
te, que  se  administrará  aos  animaes  n'um  dos  dias  de  descan- 
ço,  e  em  que  precisam  de  refazer-se  dos  seus  exercícios  pas- 


73 


sados.  O  que  sobre  este  assumpto  também  já  dissemos  per- 
mitte-nos  que  passemos  adiante,  accrescentaodo  apenas  que, 
quando  os  cavallos  o  necessitarem,  não  ha  o  menor  inconve- 
niente de  os  purgar,  ainda  que  seja  mesmo  durante  a  prepa- 
ração preparatória.  O  essencial,  e  ou  seja  no  primeiro  ou  no 
segundo  período  da  preparação,  é  distribuir  o  serviço  de  for- 
ma que  haja  o  intervallo  suíTiciente  entre  os  purgantes  e  os 
galopes  ordinários  ou  galopes-suadouros,  porque  do  contrario 
os  animaes  não  aguentarão  um  regimen  tão  rude  e  tão  fati- 
gante. 

Os  grandes  passeios  a  passo  tanto  de  manhã  como  de  tar- 
de, os  galopes  mais  vivos  e  aturados,  dados  duas  ou  três  ve- 
zes por  semana,  alguns  suadouros  provocados  pelas  compe- 
tentes coberturas  e  com  os  inlervallos  necessários  para  não 
affectar  a  saúde  dos  animaes,  constituirão  os  exercícios  d'esses 
cincoenta  ou  sessenta  dias  que  deve  durar  o  segundo  e  ultimo 
período  da  preparação. 

Se  é  possível,  como  por  vezes  se  tem  visto,  apresentar 
sobre  uma  arena  de  corridas  um  cavallo  que  se  bata  vantajo- 
samente contra  os  seus  adversários  —  em  menos  tempo  do  que 
o  que  acabamos  de  marcar  —  isto  é,  era  menos  de  quatro  me- 
zes  —  dois  para  a  preparação  preparatória  e  dois  para  a  pre- 
paração final  —  não  é  menos  certo  que  são  raríssimos  os  ani- 
maes que  chegam  a  alcançar  o  estado  mais  favorável  para 
correr  sem  ficarem  arruinados. 

Este  ultimo  período  da  preparação  torna-se  deveras  diíRcil 
e  não  pôde  deixar  de  trazer  constantemente  preoccupado  o  es- 
pirito do  preparador  zeloso  e  intellígente,  e  tanto  mais  quanto 
mais  próximas  as  corridas  estiverem.  Um  pequeno  excesso  de 
trabalho,  um  purgante  ou  um  suadouro,  dados  mal  e  indevi- 
damente, um  galope  mais  veloz  ou  mais  aturado,  podem  fazer 
ultrapassar  a  condição,  emquanto  que  não  a  deixam  attingir, 
nem  os  pequenos  exercícios,  nem  um  regímen  pouco  severo. 

No  primeiro  caso  entra  o  animal  no  período  de  decadên- 
cia, começando  desde  então  a  perder  o  appelite,  as  forças  e  a 
velocidade,  em  fim  a  definhar-se,  e  de  favorito,  que  poderia  ser, 
diíBcílmente  logrará  não  ser  dos  últimos  a  ficar  distanciado. 
No  segundo  caso,  isto  é,  sem  os  exercícios  sufiicienles,  nora 
os  músculos,  ossos,  tendões  e  ligamentos  podem  adquirir  a 
força  e  flexibilidade  necessárias,  nem  tão  pouco  os  pulmões  se 
habilitarão  para  preencher  as  funcções  da  respiração,  de  for- 
ma que  o  animal  corredor  possa  respirar  livremente  quando 
for  lançado  a  toda  a  velocidade. 


74 


De  modo  que,  n'este  período  da  preparação  e  especialmen- 
te quando  as  corridas  se  avisinham,  é  preciso  que  o  prepara- 
dor desenvolva  todo  o  seu  saber  e  actividade,  tendo  não  só 
todo  o  cuidado  com  os  animaes  dentro  e  fora  da  cavallaripa, 
mas  assislindo-lhes  a  todos  os  exercícios,  que  regulará  por  for- 
ma a  desenvolver-líies  progressivamente  as  forças  e  velocida- 
des em  harmonia  com  a  sua  idade,  organisação  e  tempera- 
mento. 

Depois  de  um  purgante,  d'um  suadouro  ou  d'um  galope, 
forçoso  será  examinar  escrupulosamente  os  animaes,  não  só 
apalpando  e  correndo  com  as  mãos  as  quatro  pernas,  para  vêr 
se  houve  alguma  distensão  nas  articulações,  tendões  e  liga- 
mentos, mas  auscultando-lhes  todo  o  corpo,  para  conhecer  se 
os  differentes  órgãos  funccionam  com  a  devida  regularidade. 
Só  procedendo  d'este  modo  é  que  o  preparador  se  norteará, 
quer  fazendo  progredir  a  preparação  dos  seus  cavallos,  quer 
dando-lhes  menos  exercício,  quer  emQm  desistindo  intei- 
ramente de  continuar  a  preparal-os.  Mais  vale  desistir  a 
tempo  dos  exercícios  com  que  não  pôde  um  animal  de 
compleição  franzina  e  delicada  do  que  insistir  n'um  traba- 
lho, que  o  pôde  ínutílísar  para  este  ou  para  outros  quaesquer 
serviços. 

Os  cavallos  biqueiros,  isto  é,  que  comem  mal,  os  que  são 
sujeitos  a  ingurgitamento  dos  tendões  e  desenvolvimento  de 
tumores  duros  ou  molles,  emQm  aquelles  que  se  resentem 
cora  os  galopes,  são  de  todos  os  mais  difficeis  de  preparar  e 
raras  vezes  se  consegue  fazer  d'elles  alguma  coisa.  São  estes 
os  animaes  que  mais  preoccupam  os  traineurs  e  que  mais 
apoquentações  lhes  causam  em  razão  da  diíliculdade  de  regu- 
lar-lhes  o  trabalho  por  forma  que  nem  cheguem  a  perder  a 
vontade  de  comer,  o  que  é  frequente  e  que  os  impossibilita 
por  algum  tempo  de  voltarem  a  trabalhar,  nem  possam  re- 
sentír-se  das  extremidades,  cujo  tratamento  é  ás  vezes  de- 
morado. 

Em  geral  os  traineurs,  que  sabem  do  seu  officío,  nem 
costumam  dar  a  esta  classe  de  cavallos  mais  do  que  uma  meia 
preparação,  nem  tão  pouco  preparam  os  animaes  robustos  e 
bem  configurados  até  ao  ponto  de  os  levarem  á  perfeição  — 
condição  —  não  só  porque  não  podem  conservar  estes  últi- 
mos, por  muitos  dias,  no  estado  mais  favorável  para  corre- 
rem, mas  porque  facilmente  o  ultrapassam,  começando  desde 
então  a  entrar  na  decadência.  Conservar  os  animaes  corredo- 
res mais  ou  menos,   e  segundo  o  seu  organismo,  áquem  da 


75 


condição,  será,  portanto,   o  systema  mais  seguro  de  os  ter 
sempre  vigorosos  e  bem  dispostos. 

É  n'este  periodo  da  preparação  que  se  torna  necessário 
açaimar  os  animaes  para  que  se  não  deitem  a  comer  a  palha 
das  camas,  como  ordinariamente  acontece  quando  ficam  soltos 
nas  gaiolas. 

A  ração  de  aveia,  e  como  acepipe  algumas  rodellas  de  ce- 
noura e  ainda  um  pequeno  punhado  de  favas  —  caso  o  estô- 
mago as  supporte  sem  se  desarranjar — deve  também  ser  au- 
gmentada  progressivamente  e  de  modo  a  substituir  quanto 
possível  a  ração  de  feno,  que  nas  proximidades  das  corridas 
é  conveniente  reduzir  para  não  affectar  os  órgãos  respirató- 
rios. Na  véspera  e  no  próprio  dia  das  corridas,  torna-se  mes- 
mo indispensável  que  os  cavallos  não  provem  nem  feno,  nem 
palha  de  qualidade  alguma,  porque  do  contrario,  e  segundo  a 
experiência  o  tem  mostrado,  faltar-lhes-ha  o  folgo  necessário 
para  luclarem  convenientemente.  E  é  por  esta  circumstancia, 
e  para  que  se  não  vinguem  em  comer  as  camas,  quando  a 
palha  lhes  falta  nas  manjadouras,  que  se  torna  necessário 
açaimar  os  cavallos  logo  que  tenham  comido  a  sua  ração  de 
aveia. 

Antes  de  terminar  a  preparação,  isto  é,  uns  doze  ou  quin- 
ze dias  antes  das  corridas,  todo  o  cavallo  corredor  deverá  ser 
submettido  a  uma  prova  em  forma,  fazendo-o  correr  contra 
um  animal  já  experimentado  e  de  toda  a  confiança.  Sem  esta 
prova,  que  dá  a  medida  aproximada  das  probabilidades  de 
uma  derrota  ou  de  uma  victoria,  nunca  o  preparador  conscien- 
cioso se  aventurará  a  deixar  correr  o  animal  que  foi  prepara- 
do sob  a  sua  vigilância,  porque  d'outra  sorte  pôde  muito  bem 
enganar-se  e  soffrer  uma  horrível  decepção,  vendo  batido  o 
cavallo,  que  pelos  seus  cálculos  imaginava  ser  o  vencedor. 

Depois  d'esta  experiência,  que  será  mais  ou  menos  rude 
consoante  as  forças  do  animal  e  a  distancia  da  corrida  para 
que  estiver  matriculado,  é  preciso  continuar  com  os  exerci- 
dos do  passo  alternado  com  os  galopes  até  ao  fim  da  penúl- 
tima semana.  O  trabalho  da  ultima  semana  deverá  constar  de 
um  bom  galope-suadouro  e  de  dois  galopes  largos  e  velozes, 
intermeados  com  três  dias  de  passo  tanto  de  manhã  como  de 
tarde.  E  assim,  suppondo  que  o  dia  designado  para  as  corri- 
das cáe  a  um  domingo,  a  segunda-feira  será  destinada  para  o 
galope-suadouro,  a  quarta  e  sexta  para  os  galopes  de  veloci- 
dade, ficando  a  terça,  quinta  e  sabbado  para  os  exercícios  a 
passo.  Na  véspera  das  corridas,  que  vem  a  ser  o  sabbado,  e 


76 


até  no  próprio  domingo  de  manhã,  ainda  alguns  traineurs 
costumam  fazer  sahir  os  seus  cavallos,  quer  para  darem  um 
pequeno  galope,  quer  para  fazerem  um  pouco  de  exercício  a 
passo  —  o  que  não  deixa  de  ser  conveniente  para  entreter  a 
flexibilidade  dos  músculos  locomotores. 

O  galope-suadouro  e  os  dois  galopes  de  velocidade,  desti- 
nados, o  primeiro  a  fazer  desapparecer  ainda  alguns  restos  de 
gordura,  e  os  segundos  a  desenvolverem  quanto  possível  o  fol- 
go ou,  como  dizem  os  hespanhoes,  a  abrir  los  vientos,  de- 
vem ser  dados  n'uma  extensão  dobrada  da  pista  oíGciaí,  de 
modo  que  os  animaes,  começando  por  um  meio  galope,  aca- 
bem por  chegar  ao  termo  da  carreira  a  toda  a  força  das  suas 
pernas  e  pulmões.  O  galope-suadouro  deverá  ser  dado  com 
mais  moderação  do  que  os  galopes  de  velocidade  para  que  os 
animaes  se  não  esforcem  com  o  peso  das  mantas  e  capuzes; 

Quanto  aos  outros  galopes,  que  fazem  parte  d'este  segun- 
do período  de  preparação,  e  que,  como  dissemos,  devem  ter 
logar  duas  ou  quando  muito  três  vezes  por  semana,  serão  al- 
ternadamente dados  sobre  grandes  e  pequenas  extensões  de 
terreno,  quer  dizer,  umas  vezes  serão  de  fundo  e  outras  de 
velocidade. 

Emflm,  e  para  terminar  o  que  se  nos  offerece  dizer  sobre 
a  preparação  dos  cavallos  de  corridas  planas,  assumpto  que 
sem  duvida  mereceria  ser  tratado  e  desenvolvido  por  quem 
fosse  mais  competente  do  que  somos,  cumpre-nos  repetir  ain- 
da que,  pelo  menos,  desde  a  véspera  das  corridas  até  á  par- 
tida para  o  hyppodromo,  não  devem  os  animaes  beber  quanto 
queiram,  nem  comer  outra  coisa  que  não  seja  a  sua  ração 
de  aveia. 

Em  geral,  a  melhor  maneira  de  distribuir  o  alimento  aos 
cavallos,  durante  essas  vinte  e  quatro  horas  que  precedem  a 
lucta  para  que  estão  engajados,  é  dar-lhes  alguma  agua  e  a 
ração,  na  véspera,  de  manhã,  ao  meio-dia,  de  tarde  e  á  noi- 
te; no  próprio  dia,  de  manhã  cedo  e  três  ou  quatro  horas  an- 
tes de  correrem. 

Quando  os  cavallos  comam  bem  a  ração,  assim  distribuída, 
e  em  quantidade  que  os  fortaleça  sem  lhes  causar  perturbações 
de  estômago;  quando  passem  o  resto  do  tempo  d'essas  vinte 
e  quatro  horas,  em  que  não  comem  nem  passeiam,  em  abso- 
luto descanço  na  cavallariça,  mas  açaimados  para  não  come- 
rem a  palha  em  que  se  deitam;  quando  flnalraente  tenham 
lido  uma  preparação  bem  dirigida  e  sejam  de  uma  configura- 
ção e  sangue  de  primeira  qualidade,  nenhuma  razão  haverá 


77 


para  que  se  não  apresentem  fortes  e  bem  dispostos  sobre  uma 
arena  de  corridas. 

Se  ao  traineur  compete  ter  todos  os  cuidados  e  desenvol- 
ver toda  a  sua  actividade  e  saber  para  dar  aos  cavallos  a 
chance  sobre  os  hyppodromos,  aos  jockeys  pertencerá  por  cer- 
to, desde  que  entram  na  pista  e  se  alinham  sob  a  bandeira  do 
staríer,  tirar  não  só  dos  animaes,  como  da  preparapão  que  ti- 
veram, o  máximo  partido  que  poderem. 

Mas  para  que  uns  e  outros,  traineurs  e  jockeys,  cujas  res- 
ponsabilidades são  reciprocas,  se  possam  mutuamente  coadju- 
var para  conseguir  este  duplo  flm,  que  deve  dar  em  resultado 
o  vencimento  dos  cavallos  que  lhes  forem  conOados,  é  indis- 
pensável que  cada  qual  ponha  em  pratica,  e,  à  falta  de  me- 
lhor, o  que  n'este  e  n'outro  capitulo  apresentamos. 


(Continua). 


J.  Martins  de  Queiroz. 


COLLEGIADA   DE   GUIMARÃES 


(Continuado  da  pag.  46) 


índice  das  cópias  authenticas  que  por  ordem  de  S.  M.  de 
28  de  agosto  de  1758  se  extrahiram  do  Real  Archivo  da 
Torre  do  Tombo,  pertencentes  à  Insigne  Collegiada  de 
Santa  Maria  da  Oliveira,  da  Villa  de  Guimarães,  e  seus 
caseiros  domésticos  e  lavradores. 

N."  14.» 

Carta  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  concedeu  á  igreja  de 
Santa  xMaria  de  Guimarães  privilegio  para  o  lavrador  que  esti- 
vesse em  um  casal  que  de  novo  houvessem  terra  de  Prado,  e 
que  gozasse  das  mesmas  liberdades  dos  lavradores  da  dita 
igreja. 

(Livro  IV  de  Além  Douro,  a  fl.  30  v,). 

N."  15.° 

Carta  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  declarou  e  mandou  que 
se  não  tomasse  nunca  nem  ainda  por  modo  de  empréstimo 
ouro,  prata,  nem  dinheiro  da  igreja  de  Santa  iMaria  de  Guima- 
rães, por  maiores  que  fossem  os  apertos  do  reino. 

(Livro  lu  de  Além  Douro,  a  fl.  S5l  v.). 

N."  16.» 

Alvará  de  El-rei  D.  Affonso  v  por  que  deu  quitação  ao  cabi- 
do da  Collegiada  de  Santa  Maria  da  Oliveira,  da  villa  de  Guima- 
rães, de  seiscentos  cruzados  de  ouro,  de  que  lhe  fizeram  offe- 
recimento  por  lhe  deixar  toda  a  prata  da  dita  igreja. 

tLivro  VII  de  El-rei  D.  AíTonso  v,  a  fl.  SI  v.). 


79 


N."  17."^ 

Carta  de  El-rei  D.  João  ir,  por  que  tomou  debaixo  da  sua 
protecção  às  Dignidades,  Cónegos,  Beneficiados  da  igreja  de 
Santa  Maria  de  Guimarães  e  lhes  concedeu  que  gozassem  dos  pri- 
vilégios e  liberdades  dos  seus  capellães  aposentados. 

(Livro  m  de  Além  Douro,  a  fl.  109  v.). 

N.°  18.° 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  carta  de 
El-rei  D.  Pedro  i  por  que  mandou  que  qualquer  tabellião  que 
requerido  fosse  por  parte  do  cabido  de  Santa  Maria  de  Guima- 
rães citasse  e  emprazasse  as  pessoas,  que  fizessem  mal  ou  força 
a  qualquer  da  dita  igreja,  ou  seus  caseiros,  para  que  pagassem 
a  El-rei  os  inçou  tos  de  quinhentos  maravedins. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  fl.  201). 

N.**  19.° 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  carta  de 
El-rei  D.  João  i  n'ella  inserta  e  mais  pessoas,  em  que  concedeu 
privilegio  ao  Prior  da  CoUegiada  de  Santa  Maria  de  Guimarães 
de  que  ninguém  pouzasse  com  elles  nem  lhe  tomassem  pam, 
nem  cousa  alguma  do  seu  contra  suas  vontades. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  íl.  200  v.). 

N.°20.° 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  carta  de 
El-rei  D.  João  i,  em  que  concedeu  privilegio  ao  Prior  e  Cabido 
da  CoUegiada  de  Guimarães  para  os  seus  caseiros  e  lavradores 
não  serem  tutores  ainda  dos  seus  parentes,  havendo  outros  de 
igual  condição  sem  serem  caseiros. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  fl.  201  v.). 

N.°21.<' 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  do  El-rei  D. 
Affonso  V  n'ella  inserta,  em  que  mandava  as  suas  justiças  não 
obrigassem  a  pagar  nos  pedidos  e  serviços  que  lhe  foi  ou- 
torgado pelo  povo  aos  caseiros,  lavradores  e  mais  pessoas  da 
CoUegiada  de  Santa  Maria  de  Guimarães  que  estavam  escriptos 


80 


em  carta  de  privilégios  que  d'eile  tinham,  onde  o  poderiam 
vér. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  íl.  205). 

N."  22.0 

Carta  de  Ei-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  II  n'eila  inserta,  em  que  tomou  por  seus  capellães  apo- 
sentados as  Dignidades,  Cónegos  e  Beneficiados  de  Santa  Maria 
de  Guimarães,  e  a  mesma  igreja  debaixo  da  sua  protecção. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  fl.  802  v.,  col.  2.^). 
N."  23.*» 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
Sancho  i  n'ella  inserta,  em  que  concedeu  privilegio  aos  cóne- 
gos de  Guimarães  para  que  elles  e  seus  servidores  não  pa- 
gassem voz  nem  calumnia. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  fl.  202  v.,  col.  1.*). 

N."»  24.0 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  I  n'ella  inserta,  em  que  mandara  às  justiças  de  Guimarães 
dessem  aos  cónegos  da  Collegiada  da  dita  villa  e  a  seus  ser- 
ventes carne,  peixe  e  os  outros  mantimentos  em  primeiro  le- 
gar. 

(Livro  1  de  Além  Douro,  a  fl.  203  v.). 

N."  25." 

.'Carta  de  El-rei  D.  Manoel  porque  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  I  n'ella  inserta,  em  que  mandara  ás  justiças  guardassem 
os  privilégios,  que  têm  os  coutos,  lavradores,  caseiros  e  mais 
pessoas  da  Collegiada  de  Santa  Maria  de  Guimarães,  sem  em- 
bargo de  quaesquer  mandados  e  defezas  em  contrario. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  fl.  195  v.). 

N.°  26." 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  I  n'ella  inserta,  em  que  concedeu  privilegio  ao  prior  e  ca- 
bido de  Guimarães  para  os  seus  caseiros  e  lavradores  não  ser- 


81 


virem  em  pontes,  calpadas,  caminhos  nem  em  outros  nenhuns 
serviços  nem  obras. 

(Livro  1  de  Além  Douro,  a  fl.  205  v.). 

N.°  27.° 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirma  a  de  El -rei  D. 
João  II  n'ella  incorporada,  para  que  o  porteiro  do  cabido  da 
Collegiada  de  Santa  Maria  de  Guimarães  goze  dos  privilégios 
que  são  concedidos  aos  seus  caseiros  e  lavradores. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  11.  202). 

N.°  28.'» 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  conQrmou  a  de  El-rel  D. 
João  II  n'ella  inserta,  em  que  'manda  aos  juizes  da  cidade  do 
Porto  e  mais  justiças  que  cumpram  e  guardem  os  privilégios 
que  tém  os  caseiros  e  lavradores  da  Collegiada  de  Santa  Maria 
de  Guimarães  para  serem  escusos  de  todos  os  carregos  do  con- 
celho e  de  servirem  nas  obras  da  dita  cidade. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  fl.  206). 

■a 
N.*»  29.*^ 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  carta  de 
El-rei  D.  João  i,  em  que  tomou  debaixo  da  sua  protecção  a 
igreja  de  Santa  Maria  de  Guimarães  e  os  ministros  d'ella,  ca- 
seiros, lavradores  e  serventes,  e  os  isentou  dos  cargos  dos 
concelhos,  fintas,  talhas,  aposentadorias  e  de  não  servirem 
por  mar  nem  terra,  nem  lhe  tomarem  seus  creados  e  crea- 
das. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  11.  204). 


N.»  30.» 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  confirmou  a  de  El-rei  U. 
AíTonso  IV  n'ella  inserta  para  todas  as  justiças  fazerem  execu- 
tar as  excommunhões  postas  pelo  prior  da  Collegiada  de  Santa 
Maria  de  Guimarães,  na  forma  do  privilegio  ponliíicio. 

(Livro  I  doJAlém  Douro,  a  fl.  203). 
8.»  Anno.  * 


82 


N.°3I.° 

Carta  de  El-rei  D.  Manoel  por  que  conQrmou  a  de  El-rei  D. 
João  I,  em  que  mandava  a  todas  as  justiças  guardassem  invio- 
lavelmente  os  privilégios  dos  coutos  e  lionras  dos  caseiros  e 
lavradores  da  Collegiada  de  Santa  Maria  de  Guimarães. 

(Livro  I  de  Além  Douro,  a  fl.  200). 

N.°  32.° 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
Affonso  IV,  por  que  mandava  ás  justiças  executassem  as  senten- 
ças de  excommunhão  postas  pelo  prior  da  Collegiada  de  Santa 
Maria  de  Guimarães. 

(Livro  XII  de  El-rei  D.  João  iii,  a  fl.  92  v.). 

N.''  as.*» 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  de  privilegio  ás  Dignidades,  Có- 
negos e  Cabido  da  igreja  de  Guimarães,  para  andarem  em  bes- 
tas muares,  ainda  que  não  tenham  cavallos,  sem  embargo 
da  ordenação  em  contrario. 

_  (Livro  XL.V  de  El-rei  D.  João  ui,  a  11.  95). 

N."  34." 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  ao  Prior  e  Ca- 
bido da  igreja  de  Guimarães  a  de  El-Rei  D.  João  i,  em  que 
mandou  se  lhe  guardassem  todos  os  privilégios  e  a  seus  cou- 
tos, honras,  caseiros  e  lavradores. 

(Livro. XII  de  El-rei  D.  João  iii,  a  fl.  90  v.). 

N.°35.<» 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  ao  Prior  e  Ca- 
bido de  Guimarães  a  de  El-rei  D.  João  i  sobre  aposentadorias, 
e  para  que  se  lhe  não  tomasse  coisa  alguma  do  seu  contra 
suas  vontades. 

(Livro  xn  de  El-rei  D.  João  iii,  a  11.  74). 

N.'^36.<* 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  ao  Prior  e  Ca- 
bido de  Guimarães  a  de  El-rei  D.  João  i,  em  que  escusava  os 


83 


seus  caseiros  de  serem  tutores  ainda  dos  seus  parentes,  haven- 
do outros  de  igual  condição. 

(Livro  xu  de  El-rei  D.  João  ni,  a  fl.  90). 

N.°  37." 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  II,  em  que  mandava  que  o  porteiro  do  cabido  de  Santa 
Maria  de  Guimarães  fosse  [privilegiado,  assim  como  os  caseiros 
e  lavradores. 

(Livro  xn  de  El-rei  D.  João  iii,  a  íl.  92  v.). 

N.°  38."^ 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
Pedro  I,  em  que  mandava  a  todas  as  justiças  citassem  e  em- 
prazassem  perante  elle  todas  as  pessoas  que  fizessem  mal,  for- 
ça ou  damno  a  qualquer  coisa  pertencente  á  igreja  de  Santa 
Maria  de  Guimarães,  para  haverem  de  pagar  quinhentos  mara- 
vidins  de  encouto  e  repararem  o  damno. 

(Livro  sii  de  El-rei  D.  João  iii,  a  Q.  93  v.). 

N.°  39." 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  i,  em  que  tomou  debaixo  da  sua  protecção  e  guarda  a 
igreja  de  Santa  Maria  de  Guimarães  e  todos  seus  ministros,  ser- 
ventes e  lavradores,  e  lhe  concedeu  muitos  e  vários  privilé- 
gios. 

(Livro  XII  de  El-rei  D.  João  iii,  a  n.  74). 

N.°  40." 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  i  em  que  concedeu  privilegio  ao  Prior,  Cabido,  caseiros 
e  lavradores  da  igreja  de  Guimarães,  de  não  pagarem  om  pei- 
tas, fintas  nem  talhas,  e  os  releva  dos  pedidos  e  de  servi- 
rem na  guerra,  e  manda  lhes  não  tomem  coisa  alguma  de 
seu. 

(Livro  XII  de  El-rei  D.  Juào  iii,  a  11.  93). 


84 


Carta  de  El-rei  D.  João  iir  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
Affonso  V,  era  que  isentou  os  caseiros,  lavradores  e  mais  de- 
pendentes da  igreja  de  Santa  Maria  de  Guimarães  de  pagarem 
nos  pedidos  e  servipos  que  os  povos  Gzessera  a  El-rei,  para  o 
que  raandou  ás  suas  justiças  vissem  a  carta  em  que  estão 
escriptas  todas  as  pessoas  e  propriedades,  que  são  privilegia- 
das. 

(Livro  xu  de  El-rei  D.  João  iii,  a  fl.  96). 

N.''  42.» 

Carta  de  El-rei  D.  João  iir  por  que  confirmou  uma  carta  de 
El-rei  D.  João,  em  que  mandava  aos  juizes  da  cidade  do  Porto 
e  todas  as  mais  justiças  não  obrigassem  os  caseiros  e  lavrado- 
res da  Collegiada  de  Guimarães  a  servirem  na  obra  dos  muros 
da  dita  cidade  nem  em  outro  algum  encargo,  por  serem  geral- 
mente de  tudo  privilegiados. 

(Livro  XII  du  El-rei  D.  João  iii,  a  íl.  92). 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  I,  em  que  mandava  ás  justiças  de  Guimarães  dessem  em 
primeiro  logar  carne,  peixe  e  os  mais  mantimentos  ás  pessoas 
da  Collegiada  da  dita  villa  e  seus  creados. 

(Livro  XII  de  El-rei  D.  João  iii,  a  fl.  91  v.). 

N.°  44.*' 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  I  em  que  privilegiou  os  caseiros  e  lavradores  da  Colle- 
giada de  Guimarães  de  não  servirem  nem  contribuírem  nas 
obras  de  pontes,  calçadas  nem  em  outras  algumas. 

(Livro  XII  de  El-rei  D.  João  m,  a  fl.  90  v.). 

N.°  45.'» 

Carta  de  El-rei  D.  João  iir  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
João  II  era  que  tomou  ás  Dignidades,  Cónegos  e  Beneficiados 
da  igreja  de  Guimarães  por  seus  capellaes  aposentados,  e  man- 
dou lhes  fossem  guardadas  todas  as  honras  e  privilégios. 

(Livro  XII  de  El-rei  D.  João  in,  a  fl.  91). 


85 


N.M6."> 

Carta  de  El-rei  D.  João  iii  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
Sancho  i,  em  que  deu  privilegio  aos  Cónegos  de  Guimarães  e 
seus  servidores  de  não  peitarem  voz  nem  calumnia. 

(Livro  XII  de  El-rei  D.  João  ni,  a  fl.  90). 

N.°  47.° 

Carta  de  El-rei  D.  João  iir  por  que  concedeu  privilégios  aos 
Cónegos  e  Cabido  da  igreja  de  Guimarães  para  terem  na  dita 
villa  um  carniceiro  e  picadeiro  que  lhes  tragam  peixe  e  carne, 
6  para  poderem  andar  em  facas  e  sindeiros. 

(Li\TO  xn  de  El-rei  D.  João  ii,  a  fl.  G5  v.). 

N.°  48.0 

Sentença  a  favor  de  El-rei  contra  o  Prior  e  Cabido  de  San- 
ta Maria  da  Oliveira  de  Guimarães,  por  que  lhe  foi  tirada  a  ju- 
risdicção  do  Couto  de  Moreira  de  Rey. 

(Gaveta  10  —  Maço  9  —  N.»  7). 

N."  49.* 

Sobre-sentença  a  favor  de  El-rei  contra  o  Cabido  de  Gui- 
marães, sobre  a  mesma  matéria. 

(Gaveta  10  —  Maço  8  —  N.»  10). 
N."  50.O 

Alvará  de  El-rei  D.  Filippe  ir  por  que  mandou  a  requeri- 
mento do  Cabido  de  Guimarães  se  comprassem  a  António  Barro- 
so umas  casas  para  o  serviço  da  dita  igreja,  e  quando  elle 
Dão  as  quizesse  vender  lh'as  tomassem  pela  avaliação. 

(Livro  I  de  El-rei  D.  Filippe  ii,  a  fl.  256  v.). 

N.°51.« 

Alvará  de  El-rei  D.  João  iv  por  quo  concedeu  privilegio  ao 
Cabido  da  Collegiada  de  Guimarães  para  cobrarem  suas  rendas 
executivamente  e  como  dividas  reaes. 

(Livro  XXI  de  Doações  de  El-rei  D.  João  iv,  .t  n.  350  v). 


86 


N.o  52." 

Carta  de  El-rei  D.  João  iv  por  que  conQrmou  a  de  El-rei  D. 
João  II,  em  que  tomara"  os  Cónegos  e  Cabido  de  Guimarães  de- 
baixo de  sua  protecção  e  por  seus  capellães  aposentados,  man- 
dando se  lhes  guardassem  todas  as  honras  e  privilégios. 

(Livro  vil  de  Doações  de  El-rei  D.  Joãoiv,  a  fl.  106  v.). 

N.»  53." 

Padrão  de  cincoenta  mil  reis  de  juro  á  Collegiada  de  Gui- 
marães no  Almoxarifado  da  mesma  villa. 

(Livro  VIU  de  El-rei  D.  AfTonso  vi,  a  fl.  231). 

N."  54.» 

Alvará  de  El-rei  D.  Affonso  vi  por  que  fez  mercê  ao  Cabido 
de  Guimarães  de  vinte  mil  reis  de  esmola  cada  anno,  assenta- 
dos no  Almoxarifado  da  dita  villa  para  a  cera  da  procissão  do 
Corpo  de  Deus. 

(Livro  XXV  de  Doações  de  El-rei  D.  AfTonso  vi,  a  fl.  96  v.). 

N.o  55.° 

Alvará  de  E!-rei  D.  Affonso  vi  por  que  mandou  que  o  cor- 
regedor da  comarca  cobrasse  executivamente  as  rendas  e  foros 
atrazados  que  se  devessem  á  Collegiada  de  Guimarães. 

(Livro  xxvm  de  Doações  de  El-rei  D.  Affonso  vi,  a  fl.  397). 

N.''56.« 

Alvará  do  príncipe  D.  Pedro  como  regente  e  governador 
dos  reinos  por  que  fez  mercê  de  vinte  mil  reis  de  esmola  por 
tempo  de  oito  annos  á  Collegiada  de  Guimarães  para  a  cera  da 
procissão  do  Corpo  de  Deus. 

(Livro  XXVI  de  Doações  de  El-rei  D.  Affonso  vi,  a  fl.  466  v.). 

N.°  57." 

Alvará  do  Príncipe  D.  Pedro  como  regente  e  governador 
dos  reinos  por  que  deu  licença  ao  Cabido  de  Guimarães  para 
trocarem  o  campo  chamado  das  Courellas  por  outro  campo,  fi- 


87 


caudo  o  campo  que  recebiam  cora  o  mesmo  privilegio  que  ti- 
nha o  que  largavam,  e  este  sem  nenhum. 

(Livro  xi-n  de  Doações  de  El-rei  D.  AlTonso  vi,  a  fl.  127). 

N.°  58.° 

Alvará  do  principe  D,  Pedro  como  regente  e  governador 
dos  reinos  por  que  fez  mercê  de  vinte  mil  reis  de  esmola  para 
a  cera  da  procissão  do  Corpo  de  Deus  ao  Cabido  de  Guimarães, 
por  tempo  de  mais  oito  annos. 

(Livro  xxxii  de  Doações  de  El-rei  D.  AíTonso  vi,  a  íl.  15G  v.). 

N.°59.° 

Alvará  do  principe  D.  Pedro  como  regente  e  governador 
dos  reinos  por  que  deu  licença  ao  Cabido  de  Guimarães  para 
trocar  o  casal  do  Outeiro  por  outras  propriedades  sitas  no  ca- 
sal da  Cal  ficando  estas  com  os  privilégios  que  tinha  o  casal 
que  largavam  e  elle  devapo. 

(Livro  xLiii  de  Doações  de  El-rei  D.  AíTonso  vi,  a  (1.  379). 

N."  60." 

Alvará  do  principe  D.  Pedro  como  regente  e  governador 
dos  reinos  por  que  deu  licença  à  Collegiada  de  Guimarães  para 
trocar  o  campo  chamado  da  Herdade,  que  tinha  privilegio  das 
taboas  vermelhas,  pelas  herdades  de  Ribatejo,  ficando  estas 
com  o  privilegio  que  tinha  o  campo  que  largavam  e  elle  de- 
vaço. 

(Livro  lav  de  Doações  de  El-rei  D.  Affonso  vr,  a  fl.  00  v.). 

Alvará  de  El-rei  D.  Pedro  ii  por  que  vistos  os  privilégios 
da  Collegiada  de  Guimarães  a  isentou  e  a  seus  servidores  de 
pagarem  os  quatrocentos  e  oitenta  mil  reis  em  que  tinham 
sido  fintados  na  repartição  que  se  fez  dos  cento  e  vinte  mil 
cruzados,  que  os  prelados  do  reino  promelteram  em  curtes,  para 
ajuda  da  despeza  da  armada  que  foi  a  Saboya. 

(Livro  Lxiv  do  El-rei  D.  Pedro  u,  a  fl.  335  v.). 


88 


N.«>  62.'' 

Alvará  de  El-rei  D.  Pedro  ii  por  que  confirmou  geralmente 
todos  os  privilégios  concedidos  á  Collegiada  de  Guimarães  e 
seus  coutos,  honras  e  lavradores.  *■ 

(Livro  liViii  de  Doações  de  El-rei  D.  Pedro  ii,  a  fl.  132). 

N.°  63." 

Carta  de  El-rei  D.  Pedro  ii  por  que  confirmou  três  cartas 
de  privilégios  n'ella  insertas  concedidos  á  Collegiada  de  Gui- 
marães, seus  coutos,  honras  e  lavradores  para  não  pagarem 
fintas,  talhas  pedidos  nem  irem  á  guerra,  nem  lhe  tomarem  coi- 
sa alguma  do  seu  contra  sua  vontade,  e  outras  muitas  isenções 
6  liberdades. 

(Livro  vin  de  Doações  de  El-rei  D.  Pedro  ii,  a  fl.  275  v.). 

N."  64.» 

Alvará  de  El-rei  D.  Pedro  ii  de  privilegio  aos  caseiros  da 
Collegiada  de  Guimarães,  por  que  os  isentou  dos  encargos  das 
coudellarias. 

(Livro  Lx  de  El-rei  D.  Pedro  n,  a  fl.  94  v.). 

Alvará  de  El-rei  D.  Pedro  ii  por  que  confirmou  aos  casei- 
ros e  lavradores  da  Collegiada  de  Guimarães  geralmente  todos 
os  privilégios  que  lhe  foram  concedidos  por  El-rei  D.  AíTonso  v. 

(Livro  XXIV  de  El-rei  D.  Pedro  n,  a  fl.  52  v.). 

N."»  66.** 

Carta  de  El-rei  D.  Pedro  ii  por  que  confirmou  a  de  El-rei 
D.  Affonso  v,  em  que  estão  escriptas  todas  as  propriedades,  ca- 
seiros e  mais  pessoas  que  haviam  de  gozar  dos  privilégios 
concedidos  á  Insigne  Collegiada  de  Santa  Maria  da  Oliveira,  da 
villa  de  Guimarães. 

(Livro  xiu  de  Doações  de  El-rei  D.  Pedro  n,  a  fl.  97  v.). 

N.°  67." 

Carta  de  El-rei  D.  Pedro  ii  por  que  confirmou  três  cartas  de 
privilégios  concedidos  á  Collegiada  de  Guimarães  e  seus  ca- 


89 


seiros,  lavradores  e  serventes  para  não  pagarem  em  peitas, 
fintas,  talhas,  nem  irem  com  presos,  ou  dinheiros,  nem  sirvam 
por  mar  nem  terra,  nem  lhe  possa  ser  tomada  coisa  alguma, 
e  outras  muitas  isenções  e  liberdades. 

(Livro  XV  de  Doações  de  El-rei  D.  Pedro  n,  a  íl.  160  v.). 

Alvará  de  El-rei  D.  João  v  por  que  concedeu  privilegio  aos 
caseiros  da  Collegiada  de  Santa  Maria  da  Oliveira,  da  villa  de 
Guimarães,  por  que  os  isentou  geralmente  de  todos  os  tributos 
costumados  e  desacostumados,  e  de  pagarem  decima  não  só 
das  fazendas  que  forem  da  dita  igreja,  mas  ainda  de  todas  as 
mais  que  por  qualquer  titulo  forem  próprias  dos  ditos  privile- 
giados. 

(Livro  de  offertas  e  mercês  de  El-rei  D.  João  v,  que  teve  principio 
em  dezembro  de  1706  e  findou  em  maio  de  1709,  a  fl.  38). 

N.o  69.» 

Carta  de  El-rei  D.  João  v  por  que  confirmou  a  de  El-rei  D. 
Affonso  V,  em  que  estão  escriptas  todas  as  propriedades  e  pes- 
soas que  hão  de  gozar  dos  privilégios  chamados  das  taboas  ver- 
melhas concedidos  á  Insigne  Collegiada  de  Santa  Maria  de  Gui- 
marães. 

(Livro  IV  de  Doações  de  El-rei  Dt  João  v,  a  fl.  165  v.). 


subsídios  para  a  historia 


DAS  INDUSTRIAS  VIMARANENSES 


Excesso  de  reforma  liberal  em  detrimento  agrícola 

e  industrial 


(Continuado  do  vol.  vii,  pag.  78) 


Havia  nas  diversas  classes  industriaes  a  preoccupação  de 
disUneções  nobiliarchicas. 

A  industria  tinha  também  o  seu  patriciado  e  a  sua  arraia 
miúda,  a  sua  plebe,  não  pelas  afflorescencias  de  caracter  mo- 
ral que  dão  relevo  ao  individuo  ou  á  classe,  ou  pelas  depres- 
sões que  ennodoam  e  repellem,  mas  pelas  tradições  da  classe, 
ou  pelo  objecto  do  trabalho. 

D'esta  monomania,  quando  não  traduz  uma  necessidade 
social,  ou  interesse  valioso,  elevada  ao  auge  nas  sociedades 
ainda  pouco  emancipadas  e  cultas,  aggravada  nas  rapas  era 
que  a  vaidade,  a  fatuidade  pueril  é  um  dos  fortes  elementos  de 
caracter  moral,  não  se  eximiram  as  diversas  divisões  das  clas- 
ses trabalhadoras. 

Isto  proviria  das  distincções  primitivas  das  diversas  clas- 
ses de  servos  dos  povos  medievaes,  mantendo  jerarchias  em 
todas  as  organisações,  e  nas  dos  servos  desde  os  viliores  (tra- 
balhadores ruraes)  até  aos  fiscaes  e  bucellarios  (graus  superio- 
res). 

Não  havia  unicamente  a  distincção  das  industrias  liberaes 
e  mecânicas;  não  havia  somente  a  imitação  de  organisações 
hierarchicas,  e  a  exclusão  deprimente  para  diversas  classes  do 


91 


exercido  de  algumas  funcções  publicas;  havia  as  distincções 
aristocráticas  entre  classes  da  mesma  cathegoria. 

Este  eíFeito  geral  de  falsas  idéas  na  organisação  social  re- 
vela-se  igualmente  nos  estatutos  das  corporações  industriaes 
vimaranenses. 

Os  ourives  reputam-se  nobres,  como  o  aíRrmam,  em  har- 
monia com  as  convicções  da  classe  nos  diversos  povos  euro- 
peus, no  capitulo  x  dos  estatutos;  e  mantém  privilégios  ou 
isenções  d'exames  para  filhos  de  mestres,  affeiçoando  á  classe 
a  desigualdade  absurda  com  que  se  admittia  o  herdamento  de 
funcções  publicas.  Nos  estatutos  dos  sapateiros  e  surradores 
vimos  admittida  na  mesma  corporação  a  classe  dos  taman- 
queiros,  e  excluída  expressamente  a  dos  curtidores. 

Porque?  Não  o  diz  o  estatuto;  mas  informou-nos  um  ve- 
lho surrador  da  rua  da  Galdeirua,  d'esta  cidade,  que  ainda  se 
lembra  de  que  os  curtidores  não  tinham  bandeira,  e  eram  re- 
putados—  classe  desprezível  —  por  trabalharem  no  couro  ver- 
de, grosando-o  e  lirapando-o  do  carnaz,  o  que  lhes  estabe- 
lecia analogia  com  os  cortadores  ou  marchantes. 

Esta  distincção  ofTensiva,  sobre  absurda,  inconveniente  á 
necessária  convivência  entre  individues  de  classes  reciproca- 
mente dependentes,  não  existe  hoje:  a  revolução  liberal,  que 
offereceu  novo  horisonte  para  as  conquistas  democráticas,  pro- 
duziu a  obliteração  completa  d'esta  aristocracia  infantil.  Tão 
nobre  se  reputa  actualmente  o  curtidor,  como  o  surrador,  como 
o  sapateiro :  o  que  os  distingue  são  as  virtudes  e  aptidões, 
como  cidadãos  e  como  agentes  de  producção. 

Começou  o  convencimento  da  necessidade  social  de  todas  as 
classes,  que  sustentara  o  organismo  das  nações;  e  começou  a 
vér-se  claramente  que  o  caracter,  como  a  educação,  distin- 
guem melhor  que  o  nascimento,  ou  o  género  de  occupação 
profissional.  Pois  não  se  vê,  com  vulgaridade,  que  ha  plebeu 
que  parece  o  velho  fidalgo  das  tradições  levantadas,  que  ha 
fidalgo  deprimido  parecendo  educado  e  vindo  do  meio  exclusi- 
vo da  taberna  mais  lobrega? 

Na  ordem  politica,  como  na  social,  tudo  tende  a  amalgamar- 
se,  obliterando  as  distincções  do  antigo  regimen,  ou  deixan- 
do-as  apenas  como  restos  esfarrapados  nos  ornatos  das  fardas, 
na  vaidade  dos  titulos.  Os  espíritos  mais  previdentes  reconhe- 
cem que  na  lucta  ingente  e  temerosa,  hoje  aberta  entre  o 
proletariado  e  a  burguezia,  as  duas  classes  mais  distinctas  e 
mais  irreconciliáveis  do  mundo  moderno,  não  convém  á  or- 
dem publica  que  a  distincção  radical  se  mantenha  ou  aggra- 


92 


ve.  Se  a  lucta  se  mantiver,  se  não  houver  concessões  recipro- 
cas, se  o  doutrinarismo  liberal  não  aceitar  as  modificapões 
que  o  progresso,  a  evolução  das  idéas  estão  impondo,  o  quar- 
to estado,  nascido  nos  Estados-Unidos,  e  alastrando-se  por  todo 
o  mundo  culto,  illustrado,  unido  e  bellicoso,  forte  com  os 
elementos  que  a  —  loiternacional  —  inspirou,  arrojado  pelos 
estímulos  da  miséria  e  do  sentimento  de  igualdade,  de  perso- 
Dalidade  oífendida  na  sua  dignidade  e  no  seu  direito  (segundo 
a  concepção  socialista),  irromperá  subvertendo  toda  a  ordem  es- 
tabelecida, alastrando  de  destroços,  de  ruinas  todo  o  espaço 
por  onde  passar  como  tremenda  tempestade! 

Para  evitar  tamanha  calamidade,  aceita-se  já  na  ordem 
politica  o  sufíragio  universal,  que  rompe  as  distincções  de 
classes;  na  ordem  económica,  recorre-se  ás  mil  organisações 
que  o  principio  associativo  inspira;  na  ordem  administrativa, 
o  Estado  regula  diversas  relações  determinado  pela  necessida- 
de de  aceitar,  sem  oíFensa  maior  de  princípios  liberaes,  as  in- 
dicações socialistas,  que  nem  menoscabam  os  ditames  de  jus-l 
tiça,  nem  perturbam  as  funcções  dos  organismos  estabeleci- 
dos. Esta  iniciativa  tomou-a  recente  e  arrojadamente  o  novo, 
imperante  d'Allemanha,  a  quem  os  paizes,  ainda  os  mais  libe- 
raes, têm  precedido  ou  vão  imitando,  creando  tribunaes  avia- 
dores, regulando  o  trabalho  fabril  de  menores  e  mulheres, 
auctorisando  e  propellíndo  a  organisação  de  caixas  económi- 
cas, das  cooperativas,  das  sociedades  de  soccorros  mútuos,  i 
abrindo  emfim  inquéritos  industriaes  para  melhor  poderem  es- 
tudar as  novas  providencias  que  devam  decretar-se. 

É  que   os  socialistas,  se  revelam  extravagâncias  e  utopias | 
que  não  podem  aceitar-se,  se  alimentam  aspirações  irrealisa- 
veis,  se  propugnam  por  conquistas  incompatíveis  com  a  ordem  j 
publica  e  oífensivas  da  liberdade  politica,  da  liberdade  de  tra-j 
balho  e  da  moral  social,  impõem-se  á  attenção  das  intelligen- 
cias  mais  elevadas  apontando  os  erros  d'um  liberalismo  semi 
limites,   e  commovem  toda  a  alma  bemfazeja  e  digna  expondo 
os  abusos,  as  iniquidades  praticadas  contra  os  miseráveis,  para] 
quem  a  liberdade   é   inútil,   a  vida  social  o  tormento  perpe- 
tuo! 

A  intervenção  do   Estado  deve  porém  ser  moderadíssima,] 
aliás  as  offensas  de  liberdade  individual  serão  inevitáveis.  Se- 
gundo a  concepção  d'um  notável  escriptor,  o  moderno  proble- 
ma social  pede  três  soluções:  a  individual,  ou  solução  christã;\ 
a  social,  ou  solução  socialista;  a  do  Estado,  ou  solução  indi-\ 
vidualista. 


P3 


Obedecendo-se  simultaneamente  a  estes  três  ditames,  con- 
seguindo-se  a  concorrência  liarmonica  d'estes  três  factores,  o 
problema  social  poderá  obter  uma  solução  satisfatória,  pelo 
menos  que  supprima  a  absorpção  cruel  do  proletário  pelo  bur- 
guez  opulento,  e  evite  o  esmagamento  de  classes  mais  felizes 
pela  enorme  mole  dos  esfomeados,  do  povo  magro. 

(Continua). 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 


Estatutos  dos  Ourives  de  Ouro  e  Prata  da  villa  de  Guimarães  que  fize- 
ram para  o  bò  regiaien  do  seu  oílicio  no  anno  de  1781  e  motiYos 
que  tiveram  os  Ourives  de  Ouro  e  Prata  para  estabelecerem  este 
compromisso. 

CAPITULO  I 

Que  nenhum  Ourives   de  prata  ou  ouro   abra  tenda 
ou  Logea  publica  sem  primeiro  ser  examinado 

Bem  ponderados  os  inconvenientes,  que  resultão  do  exer- 
cício da  arte  de  ourives  de  ouro  e  prata  por  officiaus  imperi- 
tos, atrevendo-se  com  petulância  alguns  aprendizes  ao  seu 
exercício,  de  que  resultão  vários  damnos  e  prejuízos  à  Re- 
publica por  falta  do  exame;  sem  considerarem  o  excellente 
primor  da  arte,  nem  o  intrínseco  valor  do  metal  no  artefacto, 
em  que  pretende  laborar  a  sua  ignorância:  queremos  evitar 
estes  inconvenientes  prejudicíaes  á  Republica,  que  também  re- 
dondam  em  desabono  da  arte,  seguindo  o  antigo  costume,  que 
sempre  houve  nesta  villa  e  sua  comarca,  de  que  nenhum  ou- 
rives de  ouro,  ou  prata  tome  a  ouzadia  de  abrir  tenda  publi- 
ca, sem  que  primeiro  seja  examinado,  precedendo  primeiro 
todos  03  requesitos  necessários  que  n'este  Estatuto  se  estabe- 
lecem ;  cujo  exame  se  fará  na  forma  do  capitulo  seguinte. 


94 


CAPITULO  II 


Das  penas  em  que  encerrem  os  que  abrem  Logea 
sem  serem  examinados 


Gomo  a  esperiencia  nos  tem  mostrado  os  muitos  inconve- 
nientes que  resultão  dos  aprendizes  aÍ3rirem  tenda  sem  serem 
examinados,  não  contribuindo  com  a  esmolla  para  a  fabrica  de 
Santo  Eloy,  como  se  diz  no  capitulo  primeiro,  para  se  evita- 
rem estes  inconvenientes,  ordenarão  os  juizes  e  mais  offi- 
ciaes  dos  ourives  de  ouro  e  prata,  que  toda  aquella  pessoa, 
que  abrir  Logea,  ou  puzfer  tenda  sem  ser  examinada  trabalhan- 
do pelo  oíficio  de  ourives  de  ouro  ou  prata,  será  condemnada 
em  dez  mil  reis  applicados  para  a  fabrica  da  capeila  de  Santo 
Eloy,  e  se  lhe  mandará  fechar  a  Logea  em  the  ser  examinada, 
e  de  outra  sorte  se  lhe  não  dará  licença  para  exercitar  a  dita 
arte,  cuja  condemnação  receberá  o  thesoureiro  por  termo  feiío 
pelo  escrivão. 

E  sendo  requerido  qualquer  aprendiz  pelo  juiz  do  oílicio 
para  se  ver  condemnar  na  sobredita  pena,  por  ter  a  tenda 
aberta  como  dito  fica  sem  ser  examinado,  e  perseverar  na 
contumácia  de  ter  a  tenda  aberta,  será  gravada  a  pena  em 
dobro,  e  prezistlndo  na  desobediência  será  condemnado  na 
pena  era  tresdobro,  para  cujo  eifeito  o  juiz  do  oílicio  se  vale- 
rá da  auctoridade  de  justiça,  a  cujo  requerimento  for  nothefica- 
do,  e  não  será  ouvido  sem  primeiro  depositar  dinheiro  corren- 
te n'este  Reino,  ou  era  pessas  de  ouro,  ou  prata  toda  a  con- 
demnapão  n'este  capitulo  declarada;  e  declaramos  que  a  pena 
em  dobro  e  tresdobro  não  terá  lugar,  não  constando  em  juizo 
da  controversão,  por  notliificação  judicial  feita  aos  contumazes, 
e  desobedientes. 

E  outro  sim  declaramos  que  o  rigor  d'este  capitulo  não 
se  contenderá  com  os  officiaes  dos  ourives  de  ouro  e  prata; 
mas  hade  constar  aos  juizes  do  officio  que  então  forem  que 
elle  é  capaz  de  administrar  a  Logea,  e  ter  tenda  por  sua  con- 
ta, posto  que  não  seja  examinado:  Com  tanto,  que  para  ler 
Logea  aberta,  e  exercitar  o  officio  tenha  pago  para  a  fabrica 
de  Santo  Eloy  a  quantia  de  seis  mil  reis  na  forma  que  no  ca- 
pitulo seguinte  se  declara. 


95 


CAPITULO  III 

Forma  que  se  hade  guardar  no  exame 

do  aprendiz  para  abrir  Logea  publica  de  ourives 

de  ouro  ou  prata 

Depois  do  aprendiz  ter  os  annos  completos,  e  os  mais  re- 
quesitos  necessários  que  se  estabelecem  nos  capítulos  destes 
Estatutos,  requererá  ao  juizo  do  ofíicio  que  o  admitia  a  exame 
para  poder  por  sua  tenda  publica,  e  uzar  do  oílicio  do  ourives, 
sendo  de  prata,  ajustado  o  dia  do  exame  e  a  caza  em  que  o 
ha  de  fazer  conforme  for  acordado  entre  elles,  se  achará  o 
aprendiz  examinado,  e  na  presença  do  juiz  fará  hum  GomiI.com 
corpo  batido,  e  bico,  e  sem  nada  ser  nazado,  excepto  o  pé,  e 
aza,  e  o  tamanho  d'elle  ficará  no  arbítrio  do  aprendiz,  comtan- 
to  que  não  leve  menos  de  hum  quartilho,  e  não  lendo  o  exa- 
minado prata  para  fabricar  o  dito  Gomil  em  caza  e  prezença  de 
quem  se  hade  fazer  a  obra,  querendo  dar-lhe  a  prata,  e  ficar 
com  a  obra,  o  poderá  fazer,  sem  que  seja  obrigado  a  pagar- 
Ihe  o  feitio  d'ella,  com  declaração  que  o  examinado  será  obri- 
gado a  levar  todos  os  aprestes  necessários  para  fazer  o  seu 
exame. 

Findo  que  seja  o  Gomil,  o  levará  o  examinado  á  capella 
de  Santo  Eloy  no  dia  e  hora  em  que  se  lhe  deteruiinar,  aon- 
de o  juizo  e  o  contraste,  e  escrivão  se  acharão  para  se  fazer  o 
exame  nella,  e  achando  que  está  com  toda  a  perfeição  que 
pede  a  arte  lhe  mandarão  passar  carta  de  examinação,  e  ap- 
provação  para  poder  abrir  Tenda,  e  uzar  livremente  do  oíli- 
cio de  ourives  da  prata,  e  não  estando  o  Gomil  com  todas  as 
circunstancias  que  pede  arte,  lhe  não  mandarão  passar  carta 
de  approvação  ao  examinado;  mas  lhe  darão  o  tempo  de  hum 
anno  ou  seis  mezes  para  exercitar  o  oíTicio,  e  passado  elle 
poderá  tornar  o  examinado  a  requerer  exame  a  que  será  ad- 
mitlido  na  forma  sobredita;  e  assim  se  lhe  hirá  prorogando  o 
tempo  athe  fazer  um  Gomil  perfeito  para  se  lhe  mandar  pas- 
sar carta  de  approvação. 

E  mandando-se  passar  carta  de  approvação  ao  examinado, 
depois  de  ser  approvada  a  peça  pelo  juiz,  e  coo  Iraste  ensaia- 
dor; o  escrivão  que  então  servir  lha  passará,  e  será  assigna- 
da  pelo  juiz  e  contraste,  obrigando-se  por  termo  á  observân- 
cia dos  mesmos  Estatutos,  que  se  acham  estabelecidos,  e  ao 
diante  novamente   se   Gzerem,   sendo   assignado   pela   maior 


96 


parte  dos  ourives.  E  declaramos,  que  antes  do  escrivão  lhe 
entregar  a  carta  ao  examinado,  este  assignará  os  estatutos 
para  ficar  debaixo  das  penas,  que  n'elle  se  determina;  e  outro- 
sim  pagará  para  a  fabrica  de  Santo  Eloy  seis  mil  reis  —  ao 
thesoureiro;  de  quem  cobrará  recibo  para  o  entregar  ao  es- 
crivão ;  cuja  quantia  carregará  em  hum  livro  que  para  isso 
haverá  destinado,  e  se  lhe  entregará  então  a  sua  carta  de 
approvapão.  E  outrosim  será  examinado  também  dos  dinhei- 
ros e  grãos  de  prata,  no  que  terão  os  examinadores  grande 
cuidado,  o  que  se  encarrega  debaixo  de  suas  consciências. 

E  sendo  ourives  de  ouro  o  que  pretenda  examinar-se,  fará 
um  crucifixo  triangulo,  ou  o  que  o  juiz,  e  contraste  lhe  deter- 
minar na  forma  sobredita ;  e  sendo  gravador,  fará  a  peça  para 
o  seu  exame  qual  o  juiz  e  contraste  lhe  determinar;  e  feita  a 
peça  pelo  novo  Artifice  examinado,  será  vista  pelo  juiz  e  con- 
traste, e  achando  estes,  que  está  conforme  a  Arte,  e  que  o 
novo  examinado  sabe  dos  quilates  de  ouro,  se  lhe  entregará 
a  sua  carta  na  sobredita  forma,  como  a  dos  ourives  de  prata, 
pagando  também  os  seis  mil  reis,  advertindo,  que  é  para  o 
Thesoureiro  do  Santo  Eloy,  que  logo  o  thesoureiro  fará  o  ter- 
mo da  sua  entrada  no  livro  para  que  conste  que  o  examinado 
he  irmão,  e  se  lhe  fazerem  os  sufrágios  na  sua  morte,  e  sen- 
do casado  ficará  também  sua  mulher  sendo  irmã  com  os  mes- 
mos sufrágios,  pela  entrada  que  deu  seu  marido. 

E  não  sendo  então  casado,  quando  o  vier  a  ser,  gozará 
sua  mulher  os  mesmos  sufrágios.  E  depois  de  tudo  isto  o  es- 
crivão lhe  entregará  a  carta,  e  assignará  pelo  juiz  e  contraste, 
e  depois  a  levará  ao  Semnado  da  Gamara  para  lha  approva- 
rem,  e  approvada  a  levará  segunda  vez  ao  escrivão  para  este 
a  copiar  no  livro  na  forma  do  estilo. 

(Continua). 


INSTRUCÇlO  POPULAR 


Lei    de    2    de    maio    de    1878 

(Continuado   da  pag.  59) 

CAPITULO  VI 

Artigo  42.°  Ha  annualmente  nas  cabepas  dos  concelhos 
exames  públicos  de  instrucção  primaria,  abrangendo  as  disci- 
plinas do  ensino  elementar  e  complementar. 

§.  1/  Os  jury.s  d'estes  exames  são  compostos  de  um  ins- 
pector ou  professor  por  este  designado,  de  um  membro  da 
junta  escolar  ou  outro  qualquer  cidadão  nomeado  pela  cama- 
rá municipal,  sob  proposta  da  junta  escolar,  e  do  professor  ou 
professora  das  escolas  complementares  da  sede  do  concelho, 
ou  da  povoação  mais  próxima,  e  sendo  presente  ao  acto  o 
professor  ou  professora  dos  alumnos  examinados,  sem  voto, 
mas  com  a  faculdade  de  os  interrogar,  dirigir,  elucidar  e  for- 
necer as  notas  do  seu  aproveitamento. 

§.  2."  O  methodo  e  programma  d'estps  exames,  tanto 
para  o  ensino  elementar  como  para  o  complementar,  são  de- 
terminados em  regulamentos  approvados  pelo  governo. 

§.  ?>.°  Os  resultados  dos  exames  são  lançados  em  livros 
especiaes,  que  serão  conservados  nos  archivos  das  camarás 
mimicipaes.  D'esses  resultados  mandam  as  camarás  passar 
gratuitamente  as  certidões  que  lhes  forem  requeridas. 

Artigo  43.°  Os  alumnos  das  escolas  e  collegios  particula- 
res, e  os  educados  na  familia  são  adraittidos  aos  exames  de 
que  trata  o  artigo  antecedente. 

Artigo  44.°  Para  a  matricula  nas  escolas  primarias  comple- 
mentares é  obrigatória  a  apresentação  de  certidão  de  approva- 
ção  no  exame  de  ensino  primário  elementar. 

§.  único.  A  approvação  das  disciplinas  do  ensino  comple- 
mentar dá  direito  á  admissão  nos  lyceus  nacionaes  sem  uovo 
exame  perante  estes. 

(Continua). 
8."  Anno.  ' 


BOLETIM 


Continuando  no  desempenho  da  nossa  missão,  apresenla- 
inos  o  boletim  do  ultimo  trimestre,  que  não  foi  tão  escasso  em 
factos  interessantes  como  o  anterior;  porque,  entre  outros, 
teve  logar  a  annual,  festiva  e  solemne  distribuição  de  prémios, 
a  que  logo  nos  referiremos,  visto  termos  de  fazer  a  narração 
dos  factos  pela  sua  ordem  chronologica. 


* 


Na  sessão  de  15  de  janeiro  resolveu  a  direcção,  sob  pro- 
posta do  snr.  presidente,  que  se  dirigisse  ao  exc."""  snr.  minis- 
tro dos  negócios  ecclesiasticos  e  da  justiça,  António  Emilio 
Corrêa  de  Sá  Brandão,  uma  mensagem  de  agradecimento  pela 
organisação  dada  por  s.  exc*  á  Insigne  e  Real  Collegiada  de 
Nossa  Senhora  da  Oliveira,  d'esta  cidade,  prescrevendo  a  sua 
conservação  e  adaptando-a  a  ura  instituto  de  ensino  secundário 
annexo. 

Na  mesma  sessão  o  snr.  dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães 
apresentou  uma  nota  do  movimento  da  bibliotheca  em  leitura 
domiciliaria  durante  o  anno  de  1890,  e  por  ella  se  mostra 
que  o  numero  das  obras  consultadas  attingiu  o  de  1:474. 

Eis  a  nota : 

Mathematicas  puras,  5  obras ; 
Malhematicas  applieadas,  14  obras; 
Historia  natural,  7  obras; 


99 


Seieneias  medicas,  5  obras ; 

Sciencias  falsas,  3  obras ; 

Agricultura,  24  obras ; 

Industria  fabril  e  officios,  10  obras; 

Anthropologia,  4  obras : 

Ethnographia  e  folklore,  6  obras  ; 

Geographia  e  Viagens,  93  obras ; 

Historia,  120  obras : 

Jurisprudência  e  legislação,  92  obras; 

Politica,  economia  politica  e  estatística,  60  obras; 

Bellas-artes  e  critica  litteraria  e  artística,  31  obras; 

Litteratura,  762  obras ; 

Philosophia,  46  obras ; 

Pedagogia  e  instrucção  publica,  18  obras; 

Theologia,  30  obras; 

Polvgraphia,  142  obras. 

Total— 1:474  obras. 


É  bem  eloquente  esta  estatística,  que  evidencia  a  gran- 
de utilidade  das  bibliothecas. 

Na  mesma  sessão  foi  proposto  pelo  snr.  dr.  Avelino  Gui- 
marães para  sócio,  e  admittido  por  unanimidade,  o  snr.  Manoel 
Joaquim  Marques,  de  S.  Cláudio  da  Barca. 

Na  mesma  occasião  o  mesmo  snr.  dr.  Avelino  apresentou 
duas  propostas,  que  foram  devidamente  attendidas  e  approva- 
das. 

Eil-as : 

Considerando  que  segundo  o  art.  5.°  dos  estatutos  tem  direito 
a  ser  proclamado  sócio  honorário  quem  prestar  a  esta  corporação,  ou 
aos  seus  fms  sociaes,  serviços  relevantes ;  e  que,  segundo  o  ãrl.  4." 
do  regulamento,  se  considera  entre  outros,  serviço  relevante  a  publi- 
cação por  cidadão  vimaranense  d'obras  de  reconhecido  mérito  sob 
qualquer  ramo  de  sciencia,  litteratura,  arte  e  pedagogia ; 

Considerando  que  se  acham  n'estas  precisas  condições  os  filhos 
d'esta  cidade,  o  snr.  Bernardo  Moreira  de  Sá,  distincto  professor  da 
escola  normal  do  Porto,  excellente  escriptor  de  livros  d'instrucção  se- 
cundaria e  artística,  e  auxiliar  prestimoso  d'esta  corporação,  tendo 
abrilhantado,  como  violinista  de  mérito  superior,  espectáculos  públi- 
cos em  beneficio  da  Sociedade  Martins  Sarmento:  o  snr.  dr.  Alberto 
da  Cunha  Sampaio,  não  só  pelas  suas  publicações  de  mérito,  especial- 
mente a  Economia  Rurol  do  Minho,  como  e  principalmente  pela  di- 
recção technica  da  exposição  industrial  de  Guimarães;  o  snr.  dr. 
Ignacio  Teixeira  de  Menezes  pelo  inexcedivel  cuidado  e  superior  senso 
artístico  com  que  tem  dirigido  as  obras  da  construcção  do  edificio 
para  os  museus  d'archeologia  e  numismática,  incumbindo-se  d'este 
prolongado  e  assíduo  trabalho  sem  remuneração  alguma  :  proponho  se 
peça  á  assembléa  geral  os  proclame  nossos  sócios  honorários. 

Avelino  Guimarães. 


100 


Tendo  de  proceder-se,  na  festa  de  9  de  março,  á  distribuição  de 
premies  em  livros  aos  alumnos  mais  distinctos  das  escolas  do  conce- 
lho, proponho  que  para  a  escolha  dos  livros  a  adquirir  se  peca  aos  di- 
gnos consócios  os  snrs.  dr.  Joaquim  José  de  Meira,  Adolpho  Salazar 
e  Padre  António  Garcia,  se  dignem  dar  á  direcção  o  seu  esclarecido 
parecer. 

E  como  no  mesmo  dia  tem  de  ser  conferido  ao  professor  mais  dis- 
tincto  o  premio  patriótico  e  generosamente  oíTerecido  pelo  snr.  conde 
de  Margaride,  e  esta  direcção  careça  dos  precisos  elementos  paia  de- 
terminar a  escolha,  proponho  se  peçam  informações  officiaes  ao  snr. 
presidente  da  camará. 

Avelino  Guimarães. 


Em  4  de  fevereiro  teve  logar  uma  sessão  d'assembléa  ge- 
ral, presidida  pelo  snr.  dr.  José  da  Cunha  Sampaio,  secreta- 
riado pelos  snrs.  Francisco  Jacome  e  José  de  Amaral  Ferreira. 

Na  mesma  sessão  foram  examinadas  e  approvadas  as  con- 
tas do  anno  anterior. 

Na  mesma  sessão  foram  proclamados  sócios  honorários  pe- 
los seus  relevantes  serviços  e  em  consequência  da  Iranscripta 
proposta  do  snr.  dr.  Avelino  Guimarães,  os  snrs.  Bernardo  Va- 
lentim Moreira  de  Sá,  dislincto  professor  da  escola  normal  do 
Porto,  dr.  Alberto  da  Cunha  Sampaio  e  dr.  Ignacio  Teixeira  de 
Menezes. 

Na  mesma  sessão  o  snr.  presidente  communicou  que  dos 
cursos  auctorisados  pela  assembléa  geral,  na  sua  sessão  de  4 
de  junho  de  189U,  está  já  funcciunando  o  de  ensino  militar  in- 
fantil, achando-se  encarregado  d'elle  o  snr.  João  Baptista  Bar- 
reira, digno  tenente  d'infanteria  n.°  20,  que  se  promptificou  a 
ser  instruclor  sem  remuneração  alguma. 

O  snr.  presidente  d'assembléa  geral  propoz  um  voto  de 
agradecimento  ao  snr.  Barreira,  o  que  foi  approvado  por  una- 
nin]idade. 


Na  sessão  de  8  de  fevereiro  o  snr.  presidente  da  direcção 
deu  conhecimento  da  recepção  d'uma  carta  de  agradecimento  do 
snr.  conselheiro  Lopo  "Vaz  de  Sampaio  e  Mello,  pelo  recebi- 
mento do  diploma  de  sócio  honorário,  com  que  esta  Sociedade 
o  distinguiu  em  sessão  de  12  d'agoslo  de   1890. 

O  snr.  presidente  declarou  que  os  snrs.  dr.  Joaquim  José 
de  Meira,  Padre  António  Garcia  Guimarães  e  Adolpho  Salazar 
indicaram  para  prémios  aos  alumnos  dois  volumes  da  «  Biblio- 
theca  das  Maravilhas»  —  A  intelligcncia  dos  animaes  e  Ascen- 
sões celebres.  Foi  aceita  a  indicação. 


101 


o  mesmo  snr.  presideole  deu  parte  de  haver  feito  o  se- 
guro do  edifício,  mobília  e  bibliotheca,  na  Companhia  Fideli- 
dade;  e  declarou  não  ter  feito  o  do  museu  numismático  por 
falta  do  catalogo  das  espécies  e  valores,  e  não  convir  á  Socie- 
dade fazer-se  por  um  valor  total,  calculado  sem  especificação 
do  valor  de  cada  moeda  e  medalha. 

Foram  propostos  pelo  snr.  dr.  Avelino  Guimarães  e  admit- 
tidos  para  sócios  os  snrs.  Manoel  da  Gosta  Silva,  das  Taypas, 
Simões  Alves  Neves  e  Joaquim  iMartins  de  Macedo  e  Silva, 
d'esta  cidade. 

Na  mesma  sessão,  por  proposta  minha,  consignou-se  um 
voto  de  sentimento  pelo  obilo  do  nosso  sócio  honorário  e  be- 
nemérito, o  snr.  João  Antunes  Guimarães. 


Na  sessão  de  3  do  corrente  mez  o  snr.  presidente  deu  co- 
nhecimento da  recepção  de  dois  officios,  que  abaixo  vão  tran- 
scriptos,  e  da  de  um  do  snr.  administrador  do  concelho,  Ma- 
noel de  Castro  Sampaio,  dando  parte  do  legado  de  t50j$000  reis, 
deixado  á  Sociedade  pelo  snr.  João  Antunes  Guimarães. 

O  snr.  dr,  Avelino  Guimarães  propoz  para  sócios  os  snrs. 
António  José  da  Costa  Braga  e  Padre  Gaspar  da  Costa  Roriz. 
Admittidos  por  unanimidade. 

« 

Gomo  nos  annos  anteriores,  teve  iogar  no  dia  9  d'este  mez 
a  sessão  solemne  da  Sociedade,  consagrada  á  distribuição  de 
prémios  aos  alumnos  das  aulas  d'instrucção  primaria  do  con- 
celho, que,  durante  o  ultimo  anno  lectivo,  se  distinguiram  pelo 
seu  aproveitamento,  applicação  e  comportamento. 

Para  evitarmos  a  suspeição  de  nossas  palavras  sobre  tão 
solemne  e  sympathica  festa,  limitar-nos-hemos  a  transcrever  da 
Religião  e  Pátria,  de  1 1  de  março,  o  que  se  segue : 

No  dia  9  do  corrente,  a  utilíssima  e  Ijrlihante  corpora(;ão  vimara- 
nense teve  a  sua  festa  annual,  coiiuiieiiKiratíva  da  sua  crearão  e  da 
homenagem  prestada  a  um  homem,  que  é  im^onlestavelmenle  a  maior 
gloria  da  contemporânea  geração  scicntifica  d'este  concellio. 

Festa  sempre  distincta,  cortada  de  doces  commoç.niís,  aureolada 
pelas  expansões  do  patriotismo  sincero  o  ardente  nas  allocurõos  que 
se  i6em,  nos  discursos  que  se  proferem,  n-)s  apijlausos,  nas  manifes- 
tações de  jubilosa  satisfação  dos  assistentes,  f|uer  representando  luii  Io- 
gar oíTicial,  quer  traduzindo  o  seu  individual  interesse  pela  prositerida- 
de  d'uma  aggremiação,  cuja  prolongada  existência  de  si  prova  bastan- 


102 


te,  se  carecesse  d'outras  provas,  que  subsiste,  que  se  consolida,  que 
progride,  porque  o  plano  da  sua  instituição  obedeceu  a  um  principio 
superior  da  necessidade  urgente  para  o  modo  de  ser  e  de  pensar  da 
sociedade  vimaranense. 

N'este  concelho,  se  não  houvera  ainda  esta  associação  levantada,, 
de  benevolência  para  todos,  de  sacrifícios  para  os  associados,  a  con- 
trapor aos  syndicatos,  ao  mercantilismo,  ao  egoismo  individual,  que 
tanto  corroe  as  sociedades  modernas,  se  a  não  houvera,  repetimos, 
era  preciso,  por  honra  e  por  utilidade  d'esta  terra,  creal-a. 

A  esta  instituição  deve  Guimarães  uma  modificação  salutar  no 
seu  antigo  modo  de  pensar;  creou  aspirações  conformes  ao  espirito 
moderno,  rasgou  novos  horisontes  para  a  educação  popular,  estabele- 
ceu unia  atinosphera  d'estudo  e  de  dedicação  patriótica,  que  produ- 
ziu a  escola  Francisco  de  Hollanda,  que  produziu  museus,  que  produ- 
ziu uma  excellente  bibliotheca,  que  produziu  o  esforço  para  a  reforma 
da  GoUegiada,  que,  eniflm,  concentrou  o  espirito  publico  no  estudo  dos 
problemas  graves  da  instrucção,  de  que  depende  a  autonomia  dos  pe- 
quenos paizes,  como  a  prosperidade  económica,  e  a  ascensão  intelle- 
ctualdas  pequenas,  como  das  grandes  cidades. 

Mas,  contemos  da  festa,  attrahente  como  sempre,  concorrida  como 
sempre,  não  obstante  a  inclemência  d'um  dia  dos  mais  tempestuosos. 

Presidiu  á  sessão  o  vice-presidente  da  camará  e  intelligente  me- 
dico d'esta  cidade,  o  snr.  dr.  Joaquim  José  de  Meira.  A  direcção  da 
Sociedade  era  representada  pelo  presidente  o  snr.  dr.  António  da  Mot- 
ta  Prego  e  pelos  dois  membros  o  snr.  dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães 
e  Gaspar  L.  d'Ahneida  C.  Paiil.  Entre  a  assistência  viam-se  diversos 
sócios  honorários  e  efTectivos,  os  professores  da  escola  industrial,  re- 
presentantes da  imprensa  local. 

A  solemnidade  começou  pela  leitura  de  substanciosas  allocuções, 
uma  da  direcção  da  Societlade  lida  pelo  snr.  dr.  Motta  Prego,  outra  da 
camará  municipal  lida,  em  resposta  áquella,  pelo  snr.  dr.  Meira. 

Adiante  as  publicamos  na  integra,  e  da  sua  leitura  melhor  se 
verá  a  importância  das  suas  aííirmações,  o  valor  das  informações  e 
noticias  que  contêm,  e  que  justificam  os  apoiados  e  applausos  com 
que  a  assembléa  algumas  vezes  interrompeu  a  leitura. 

Houve  seguidamente  a  distribuição  de  prémios  a  numerosos 
alumnos,  d'ambos  os  sexos,  das  escolas  de  todo  o  concelho. 

Foram  também  entregues  aos  dignos  professores  d'instrucção  pri- 
maria, os  snrs.  José  António  Crespo  e  Manoel  José  Pereira,  prémios 
pecuniários,  mui  generosa  e  patrioticamente  oíTerecidos  pelo  nobre  ti- 
tular e  par  do  reino,  o  nosso  illustre  conterrâneo  o  snr.  conde  de 
Margaride.  O  premio  estabelecido  por  s.  exc'  era  destinado  a  um  só 
professor,  mas  houve  de  dividir-se,  em  obediência  ás  informações  oíS- 
ciaes  constantes  dos  officios,  que  também  adiante  publicamos. 

O  snr.  Crespo  fez  uma  reclamação  á  mesa,  para  que  do  seu  pre- 
mio se  entregasse  metade  ao  zeloso  professor  da  escola  de  S.  Torqua- 
to,  fazendo  mui  digna  e  louvavelmente  o  elogio  dos  méritos  d'este  seu 
collega.  Á  lealdade  do  snr.  Crespo  correspondeu  com  igual  modéstia  o 
seu  collega,  o  snr.  Lage,  contra-reclamando,  e  tecendo  o  elogio  dos 
dois  professores  contemplados. 

N'este  pleito  de  boa  camaradagem  e  generosa  modéstia  dos  di- 
gnos professores,  teve  de  intervir  a  mesa,  ponderando-lhes  que  sendo 
os  prémios  distribuídos  conforme  informações  officiaes,  não  podiam 
alli  ser  aceites  as  reclamações  do  snr.  Crespo. 


103 


Depois  d.i  distribuição  dos  prémios,  discursou  eloquentemente  o 
snr.  dr.  José  da  Cunha  Sampaio  com  aíiuella  viva  convicção,  que  tan- 
to caracterisa  os  seus  discursos,  com  a  fé  patriótica  (jue  sempre  llie 
accrescenta  alto  relevo.  Foi  s.  exc*  muito  applaudido,  sobretudo 
quando  disse  que,  apesar  de  sócio  velho,  a  sua  qualidade  de  um  dos 
iniciadores  da  Sociedade  o  impellia  sempre  a  vir  áquella  casa,  nos  dias 
da  sua  festa  annual,  para  que  se  não  pensasse  que  os  velhos  podem 
cançar  ao  lado  dos  novos  quando  o  pensamento  que  inspirou  e  que 
sustenta  a  prestante  corporação  vimaranense  é  sempre  novo,  e  sem- 
pre agita  a  alma  dos  que  desejam  que  a  pátria  resurja  do  seu  lasti- 
mável abatimento. 

Ao  snr.  dr.  Sampaio  havia  precedido,  no  uso  da  palavra,  um  só- 
cio novo,  ifrn  novo  presbytero,  o  nosso  estimável  amigo  o  snr.  Padre 
Gaspar  Roriz. 

Foi  pequeno,  na  duração,  o  seu  discurso ;  mas  que  commoção 
nos  períodos,  nitidamente  facetados,  que  proferia  com  a  sua  voz  cheia 
e  quente !  O  digno  eccleslastlco  começou  por  aflarmar  a  sua  gratidão  á 
corporação,  que  o  protegera  nos  primeiros  passos  na  carreira  dainstruc- 
ção,  e  que  o  inspirara  a  proseguil-a;  e,  tecendo  o  elogio  dos  serviços 
da  Sociedade  prestados  ao  progresso  vimaranense,  afflrmou  que  com 
aquella  casa  estava  Deus,  que  inspira  e  protege  a  pratica  do  bem,  os 
actos  de  caridade,  em  todas  as  suas  manifestações,  quer  individuaes, 
quer  sociaes. 

O  novo  orador,  que  foi  ofTerecer  á  Sociedade  Martins  Sarmento, 
enfileirando-se  ao  lado  de  velhos  sócios,  primícias  do  seu  talento  ora- 
tório, foi  justa  e  calorosamente  festejado. 

O  snr.  Crespo  recitou  uma  poesia,  de  sua  composição,  em  que 
encarecendo  os  serviços  da  Sociedade,  engrandeceu  igualmente  o 
mérito  superior  do  snr.  dr.  Francisco  Sarmento.  Foi  muito  applau- 
dido. 

O  snr.  presidente  da  direcção  lembrou  que  o  snr.  dr.  Sarmento, 
convalescendo  da  enfermidade  que  recentemente  soíTrera,  estava  au- 
sente, n'uma  quinta  em  Santo  Thyrso;  que  era  costume,  no  dia  9,  ir 
a  direcção  da  Sociedade,  como  muitos  outros  seus  amigos,  felicitar  o 
illustre  conterrâneo  :  e  que  não  podendo  este  anno  prestar-serlhe  esta 
homenagem,  pedia  ao  snr.  presidente  d'a8semhlca  propozesse  que  em 
nome  da  mesma  se  enviasse  um  telegramma  de  felicitações.  Acqules- 
eendo  e  associando-se  ao  pensamento  enunciado,  o  snr.  dr.  Meira  fez 
a  proposta,  que  foi  calorosamente  approvada. 

No  átrio  do  edifício  tocava  uma  banda  de  musica. 

Assim  terminou,  com  chave  d'ouro,  tão  sympalhica  festa. 

O  batalhão  escolar  apresentou-se  na  maior  parte  com  os  seus  far- 
damentos e  pequenas  armas,  operando,  já  com  firmeza,  algumas  ele- 
mentares evoluções  á  voz  do  instructor  o  snr.  sargento  Mascare- 
nhas. 

Eis  as  allocuções,  e  os  oíficios  a  que  nos  referimos  : 

Snr.  presidente  da  camará. —Reallsamos  hoje  a  festa  annual  da 
Sociedade  Martins  Sarmento,  d'esta  coritoraçãn,  (piasi  munici|)al  pela 
protecção  (jue  tem  merecido  das  illustres  vereações  vimaranenses  e 
pelos  serviços  que  tem  prestado  e  tende  a  prestar  a  todo  o  concelho 
de  Guimarães,  e  a  que  v.  exc.^  dlgnando-se  presidir  a  esta  sessão  so- 
lemne,  e  a  que  as  auctoridades,  representantes  de  corporações,  profes- 
sores, cavalheiros  d'esta  cidade,  dignando-se  abrilhantal-a  com  a  sua 


104 


presença,  concederam  já  por  isto  o  seu  mui  valioso  e  incondicional  ap- 
plauso. 

Bem  merece  das  representações  mais  elevadas  d'esta  cidade  e 
conceliio  coadjuvação  e  encarecimento  esta  corporação  patriótica,  que 
logrou  conseguir  os  applausos  da  imprensa  do  pa°lz,  os  louvores  do 
governo,  os  encarecimentos  de  deputados  e  pares  do  reino  em  |)lenas 
sessões  do  parlamento  portuguez;  bem  merece  os  encarecimentos 
esta  associação,  fjue,  no  preenchimento  dos  fins  do  seu  estatuto,  cons- 
titue,  na  avidez  revolta  dos  interesses  materiaes,  na  lucta  ingente  de  as- 
pirações politicas,  que  agitam  intensamente  a  sociedade  moderna,  uma 
estancia  de  paz  e  repouso,  em  que  a  alma  se  retempera  e  illumina 
pela  instrucção  útil,  e  pelo  sentimento  elevado  da  caridade  social. 

O  que  pede  esta  Sociedade?  por  que  lucta?  qual  c  o  laço  moral 
que  estieita  as  relações  dos  associados?  Não  tem  asjiirações  politicas: 
assiste  serena  e  indifferente  ás  luctas  dos  partidos :  uín  único  fim  á 
preoccupa,  um  único  sentimento  a  impelle :  desenvolver  a  instrucção 
do  povo,  acudir  á  penúria  intellectual  do  pobre,  pedir  aos  poderes 
públicos,  pedir  aos  corpos  administrativos,  pedir  ás  corporações  par- 
ticujares,  pedir  aos  professores,  que  preparem  as  novas  gerações  de  ci- 
dadãos, de  modo  que  entrem  na  lucta  da  vida  e  possam  mantel-a  pros- 
pera e  honradamente,  sem  contingentes  para  o  crime,  com  vantagem 
económica  para  este  concelho  e  para  este  paiz,  formados  para  todas 
as  carreiras  e  para  todas  as  profissões,  para  a  oíHcina,  como  para  o 
€ommercio,  para  trabalho  remunerador  dentro  da  metrópole,  ou  para 
as  explorações  da  riciueza  nas  possessões  portuguezas. 

É  este  o  grande  fim  beneficente  e  patriótico  d'esta  corporação. 
Producto  das  idéas  modernas,  e  vindo  preencher  uma  lacuna  nas  or- 
ganisações  sociaes  vimaranenses,  a  Sociedade  Martin?  Sarmento  é  co- 
mo que  uma  sociedade  da  Cruz  Vermelha,  com  a  differença  que  esta 
aggremia  corações  bemfazejos  e  colhe  esmolas  e  ofTertas  com  que  se 
acuda  aos  effeitos  sangrentos  das  batalhas,  aquella  enlaça  os  associa- 
dos pedindo  paz  para  o  desenvolvimento  do  espirito  e  esmolas  e  soc- 
corros  para  os  feridos  da  ignorância,  que  enerva  ou  prostra  os  cida- 
dãos nas  vehemencias  da  lucta  económica  das  nações. 

É  este  o  fim  único,  a  preoccupação  exclusiva  d'esta  corporação; 
é  este  o  lemma  patriótico  da  sua  bandeira;  é  por  isso  que  são  heroes, 
para  as  nossas  consagrações  sociaes,  todos  os  que  prestam  soccorros 
valiosos,  ou  realisam  conquistas  seguras  para  o  desenvolvimento  da 
instrucção  do  povo. 

Eminentemente  patriótica,  eminentemente  beneficente,  esta  cor- 
poração, se  já  conta  feitos  brilhantes  na  sua  lucta  perseverante,  abre 
novos  horisontes  para  a  acção  das  almas  caritativas,  illumina  novas 
aspirações  dos  patriotas  sinceros,  e  diz  a  todos  que  n'esta  casa  se  — 
está  bem  — ,  porque  aqui,  dentro  d'esta  Sociedade,  goza-se  a  serena 
paz  dos  que  se  illustram,  sente-se  o  prazer  doce  da  protecção  aos  hu- 
mildes, foge-se  das  luctas  ásperas  do  egoísmo  dos  negócios. 

N'esta  lucta  incruenta,  mas  ponderosa,  da  elevação  popular  pela 
instrucção,  em  todos  os  seus  graus,  desde  a  escola  infantil  até  á  escola 
média,  a  Sociedade,  ainda  no  anno  findo,  poz  todo  o  seu  esforço  e  em- 
penho no  desenvolvimento  da  instrucção  do  concelho.  Se  não  pôde 
conseguir  tudo  quanto  era  do  seu  plano,  pela  carência  de  recursos  e 
d'opportunidade,  pôde  concorrer  para  a  reorganisação  do  instituto  es- 
colar de  Nossa  Senhora  da  Oliveira,  e  pôde  fundar  a  expensas  próprias 
um  curso  de  gymnastica  e  exercício  militar  infantil,  importando  uma 


105 


parle  do  óptimo  ?ystema  da  instrucção  popular  da  Suissa,  paiz  que 
pela  sua  pequena  extensão,  e  relativa  pobreza  deve  provocar  o  estudo 
reflectido  do  nosso  paiz,  especialmente  em  tudo  o  que  respeita  à  or- 
ganisação  da  sua  instrucção  popular  e  económica. 

Entre  os  meios  de  propaganda,  incumbe  a  esta  corporação,  so- 
lemnisando  o  seu  anniversario,  despertar  a  attenção  dos  alumnos  e 
dos  professores  para  as  necessidades,  cada  vez  mais  instantes,  do  des- 
envolvimento da  instrucção,  e  estimulal-os  a  continuarem  na  assidui- 
dade e  estudo  pela  distribuição  publica  de  prémios.  Além  dos  prémios, 
que  estão  estalielecidos,  e  têm  sido  distribuídos  nos  annos  anteriores, 
vamos  inaugurar  na  presente  sessão  a  distribuição  de  prémios  a  pro- 
fessores distinctos.  Estes  prémios,  que  se  devem  á  generosa  oíTerta  do 
nobre  titular  e  nosso  mui  illustre  patrício,  o  snr.  conde  de  Margaride, 
são  conferidos  a  dois  mui  dignos  professores,  conforme  as  informações 
officiaes  do  snr.  sub-inspector  d'este  circulo  escolar.  É  esta,  para  os 
zelosos  piofessores,  uma  duplicação  de  premio,  pois  que  nenhum  dos 
snrs.  professores,  que  se  dignou  acceder  ao  nosso  convite,  acompa- 
nhando os  seus  alumnos  mais  distinctos,  deixa  de  ser  premiado  :  os 
prémios  conferidos  aos  seus  alumnos  é  o  galardão  publico  da  compe- 
tência e  zelo  do  mestre,  como  da  assiduidade  e  aproveitamento  do  dis- 
cípulo. 

E  para  que  esta  recompensa  publica,  que  ao  mesmo  tempo  signi- 
fica o  convite  a  maiores  esforços  e  a  mais  dilatado  estudo,  adquira 
maior  relevo  e  brilho,  a  Sociedade  Martins  Sarmento  pede  a  v.  exc.'', 
snr.  presidente  da  camará,  se  digne  distribuir  os  prémios. 

Snr.  presidente  da  Sociedade  Martins  Sarmento.  —  Em  nome  da 
camará,  que  tenho  a  honra  de  representar  n'esta  sessão  solemne,  agra- 
deço a  V.  exc^^  o  á  benemérita  corporação  a  que  tão  distinctamente 
preside,  o  honroso  testemunho  de  consideração,  que  se  traduz  no  con- 
vite de  V.  exc.'',  testemunho  que  ao  mesmo  tempo  é  o  reconhecimento 
de  que  o  município  tem  comprehendido  e  apreciado  nos  devidos  ter- 
mos os  serviços  relevantes  d'esta  instituição,  que  modernamente  é  uma 
das  maiores,  senão  a  maior  gloria  vimaranense. 

Não  obstante  os  encargos  numerosos  e  diariamente  crescentes 
que  as  justas  necessidades  publicas  determinam,  nãojjhsianto  a  ex- 
tensão c  variedade  de  serviços  que  prendem  a  attenção  municipal,  é 
certo  que  à  corporação  que  mais  geral  e  directamente  representa  os 
interesses  d'esta  cidade  e  concelho,  não  podiam  escapar  as  extraordiná- 
rias e  repetidas  demonstrações  de  benemerência  patriótica  com  que  esta 
Sociedade  inaugurou  e  seguiu  o  cumprimento  da  sua  missão  social. 

E  não  escaparam. 

Merecia  talvez  mais  pela  importância  dos  seus  esforços,  pela  fer- 
tilidade da  sua  iniciativa,  pela  sympathica  e  desusada  cojagem  com 
que  desde  principio  atacou  os  diversos  problemas  da  educação  poi)ular. 

Merecia  talvez  mais  pelo  desinteresse,  abnegação  e  perseverança 
dos  seus  membros. 

Merecia  talvez  mais  pela  salutar  revolução  que  operou  nas  tendên- 
cias e  aspirações  da  nossa  terra  imprimindo  ao  espirito  publico  uma 
orientação  que  elle  não  tinha,  conforme  com  intuitos  c  aspirações  da 
vida  moderna. 

No  emtanto,  é  certo  que  as  melhores  disposições  d'animo  com  que 
tem  sido  acolhida  por  parte  do  município  não  podem  furlar-se  á  preoc- 


406 


cupação  das  cireumstancias  orçamentaes,  que,  como  se  sabe,  raras 
vezes  ou  talvez  nunca  são  bastante  prosperas  para  permittir  uma  re- 
solução livre  e  inteiramente  desafogada. 

Aceitando  o  convite  de  v.  exc",  e  agradecendo  a  prova  de  attea- 
ção  que  deriva  da  preferencia  com  que  v.  exc*  acaba  de  distinguir  a 
corporação  que  represento,  tenho  a  maior  satisfação  em  consignar 
n'este  momento,  ao  lado  do  acto  de  justiça  que.  a  benemérita  Sociedade 
acaba  de  praticar  alludindo  ao  apoio  e  bons  desejos  da  camará  muni- 
cipal, a  certeza  de  que  esta,  tendo  plenamente  reconhecido  a  alia  im- 
portância da  sua  obra,  o  alcance,  eíiieaz  influencia  dos  seus  trabalhos, 
considera  como  um  dos  seus  mais  honrosos  actos  d'administraçâo  o  po- 
der cooperar  para  o  fim  social  d'uma  corporação  que  não  é  somente  a 
honra  d'este  concelho,  mas  constituo  uma  das  instituições  mais  pres- 
tantes e  mais  consideradas  de  todo  o  paiz. 

É  de  facto  nobilíssimo  e  impõe-se  superiormente  ao  respeito  e 
consideração  gerai  o  fim  d'esta  Sociedade;  e  é  sabido  que  até  hoje 
nunca  ella  teve  hesitações  ou  desalentos  que  a  desviassem  do  seu  re- 
cto caminho  ou  enfraquecessem  na  sua  necessária  energia. 

Todos  os  departamentos  do  ensino,  todas  as  formas  da  educação 
popular,  desde  a  educação  physica,  condição  commum  e  fundamen- 
tal para  o  exercício  conveniente  de  todas  as  formas  da  actividade  hu- 
mana, até  ao  desenvolvimento  e  progresso  intellectual  e  moral  dos 
seus  concidadãos,  desde  o  ensino  primário  nos  seus  primeiros  rudi- 
mentos até  ao  ensino  secundário  e  profissional,  de  tudo  tem  cuidado,, 
em  tudo  se  tem  feito  sentir  a  acção  benéfica  d'esta  Sociedade.  Oxalá 
esta  sua  politica  tivesse  prosperado  e  formasse  grosso  partido  no  nos- 
so paiz,  que  eu  estou  certo  que  não  chegaríamos  a  soíírer  as  vergo- 
nhas e  vexames  por  que  temos  passado,  nem  tão  pouco  nos  encontra- 
ríamos, não  obstante  as  nossas  favoráveis  condições  naturaes,  defron- 
tando com  um  abysmo  financeiro  que  ninguém  sabe  aonde  poderá  le- 
var-nos. 

Tem-lhe  merecido  particular  attenção  o  ensino  das  creanças,  o 
ensino  primário;  e  a  festa,  a  que  estamos  assistindo,  é  d'isso  uma  de- 
monstração, uma  prova  do  quanto  ella  reconhece  que  eíTectivamente 
é  por  alli  que  devem  começar  todos  os  trabalhos  efflcazes  de  progres- 
so e  remodelamento  da  nossa  instrucção  publica. 

Não  ha  duvida  que  segue  na  sua  acção  a  verdadeira  linha. 

E  bom  é  que  assim  seja. 

Bom  é  que  as  municipalidades,  a  quem  principalmente  cabe  cui- 
dar d'aquelle  primeiro  grau  do  ensino,  encontrem  auxilio  assim  valio- 
so, pois  é  certo  que  quem  oíBcialmente  tinha  obrigação  de  lh'o  pres- 
tar, as  tem  deixado  completamente  ao  abandono. 

Correu  e  ainia  hoje  corre  por  muitas  partes,  com  foros  de  verda- 
de, a  existência  d'um  certo  espirito  de  hostilidade  por  p;irle  dos  mu- 
nicípios contra  os  professores  primários,  cujos  vencimentos  não  eram 
geralmente  pagos  com  a  pontualidade  que  demandavam  a  sua  própria 
exiguidade  ea  situação  especial  d'aquelles  prestimosos  funccionarios. 

E  esta  idéa  correu  e  accentuou-se  por  tal  forma,  que  obrigou  o 
governo  a  adoptar  medidas  especiaes  de  tutela  sobre  os  fundos  muni- 
cipaes  destinados  ao  ensino  primário,  simulando  assim  uma  protecção 
que  só  poderão  agradecer-lhe  aquelles  que  não  souberem  como  elle 
descarregou  sobre  os  municípios  os  avultados  encargos  d'este  ensino, 
e  como  èlle  se  desempenhou  da  insignificantíssima  parte  que  lhe  ficou 
reservada  pelas  leis  reorganisadoras  de  1878  e  1880. 


107 


Para  honra  da  corporação  que  represento  e  das  outras  verea- 
ções do  paiz,  a  cuja  boa  vontade  raras  vezes  se  tem  feito  justiça,  não 
posso  perder  a  opportunidade  de  levantar  essa  inexactidão. 

Basta  ponderar  como  foi  que  o  estado,  que  antes  das  leis  referi- 
das tinha  a  seu  cargo  a  maior  parte  das  despezas  com  a  instrucção 
primaria,  transferiu  de  ura  dia  para  o  outro,  de  chofre,  sem  compen- 
sações, antes  com  aggravos,  sobre  os  municípios  a  so"mnia  d'encargos, 
que  elle  (diz  uma  auctoridade  msusi)eita  e  respeitável,  o  sócio  honorá- 
rio o  snr.  dr.  Bernardino  Machado),  que  elle  gastou  mais  de  um  sé- 
culo a  assumir. 

Ora  d'aqui  resultou  que  a  generalidade  das  corporações  munici- 
paes  ficou  perfeitamente  esmagada  com  peso  tão  extraordinário,  e  de- 
mais faltando-lhe  de  um  lado  o  auxilio  das  parochias  que  não  tinham 
vontade  nem  recursos,  e  do  outro  o  amparo  do  poder  central  (jue 
nunca  chegou  a  despender  na  sua  legitima  e  determinada  applica- 
ção  a  pequeníssima  verba  votada  no  orçamento  geral  para  este  elTeito. 

A'ão  attingiu,  e  está  muito  longe  d'attingir,  a  instrucção  primaria 
as  condições  de  prosperidade  que  as  necessidades  e  interesses  públi- 
cos reclamam. 

É  certo.  Mas  não  se  diga  que  são  as  camarás  municipaes  aquel- 
las  a  quem  maior  responsabilidade  cabe  n'esse  resultado.  Ao  contrario, 
d'entre  as  corporações  sobre  quem  pesa  a  manutenção  e  desenvolvi- 
mento do  ensino  primário,  são  ellas  as  que  melhor  se  tôm  desempe- 
nhado das  suas  respectivas  obrigações,  apesar  de  serem  ellas,  cir- 
cumstancia  digna  de  ponderação,  aijuellas  a  quem  foram  distribuídos 
mais  largos  e  importantes  sacrifícios. 

Pelo  que  toca  á  camará  d'esta  cidade,  despendia  ella  em  1878-79, 
ultimo  anno  do  antigo  regimen  primário,  para  subsidiar  as  treze  es- 
colas então  existentes,  apenas  a  quantia  de  480^000  reis.  Desde  essa 
época  para  cá,  no  decurso  de  dez  annos,  o  numero  de  escolas  oflieiaes 
quasi  duplicou  e  os  encargos  annuaes  montaram,  como  se  poderá  vêr, 
à  cifra  de  3;874;383o  reis,  calculando  pelo  minimo. 

A  camará  não  se  limitou  a  receber  e  conservar  a  situação  que  lhe 
foi  legada.  Ampliou  o  numero  das  escolas;  satisfez  os  vencimentos 
dos  professores,  que  o  poder  central  só  melhorou,  desde  que  os  alijou 
de  si;  tem  auxiliado  com  subsídios  as  iniciativas  particulares  e  de 
corporações,  e  finalmente,  foi  até  ao  ponto  de  auxiliar  o  i)rupri()  ensi- 
no profissional,  pois  é  sabido  de  todos  que  nada  menos  de  7:000^000 
reis  foram  votados  e  dados  para  ajuda  da  construcção  do  edifício 
da  escola  industrial,  que  desgraçadamente  corre  como  toda  a  gente 
sabe. 

Entre  as  escolas  ereadas  podem  citar-se  no  corrente  anno  econó- 
mico as  das  Taypas,  sexo  feminino,  e  G:indoso.  Principiando  a  func- 
cionar  ha  pouco  a  de  Santa  Maria  de  Souto,  e  a  escola  municipal,  (|ue 
supprea  d'ensino  complementar.  Não  pôde  desde  Joiío  dar-se  a  esta  ul- 
tima a  organisação  própria,  não  por  falta  das  boas  disposições  da  ca- 
mará, mas  pela  necessidade  de  preencher  formalidades,  supcriormento 
exigidas,  impecilho  que  no  nosso  paiz  tolhe  frequentemente  a  rcalisa- 
ção  de  muitas  coisas  úteis,  e  no  caso  presente  adiaria,  Deus  sabe 
para  quando,  a  satisfação  d'esta  necessidade  publica. 

Fazendo  o  inventario  das  obras  que  esta  Sociedade  reahson  den- 
tro do  anno  social  que  hoje  finda,  !ombram-se  a  escola  militar  uif.m- 
til  e  a  cooperação  no  restabelecimento  da  Collegiada  com  o  seu  insti- 
tuto d'ensiuo. 


108 


A  escola  militar  infantil,  com  a  qual  se  iniciam  no  espirito  pro- 
fundamente impressionavel  das  creanças  o  gosto  e  liabito  dos  exercí- 
cios physico?,  proveitosos  para  todas  as  condições  soi^iaes  como  meio 
de  conservação  e  robustecimento  da  saúde,  e  seguramente  uma  das 
suas  melhores  e  mais  sympathicas  ereações. 

A  influencia  que  por  sua  parte  desenvolveu  para  a  creação  do 
instituto  da  Cuilegiada,  revela  o  seu  ininterrompido  cuidado. 

E  foi  decerto  maior  do  (jue  parece  e  do  que  geralmente  se  sup- 
põe  a  influencia  com  que  ella  collaborou  n'aquelle  melhoramento. 

O  restabelecimento  da  Collegiada,  como  instituição  d'ensino,  não 
podia  recahir  sob  a  protecção  e  interesse  das  altas  influencias  politicas 
d'esta  cidade,  se  primeiro  não  constituísse  uma  forte  e  geral  aspira- 
ção vimaranense. 

De  modo  que,  sem  desmerecer  nem  por  qualquer  forma  diminuir 
a  importância  dos  serviços  d'af]uelies  que  conseguiram  a  realisação 
definitiva  d'esta  grande  obra,  é  justo  laiubeai  ífue  se  não  esíiueçàm 
Iodas  as  pequenas  influencias,  todos  os  pequenos  esforços,  humildes  e 
modestos,  mas  persistentes  e  desinteressados,  com  que  desde  annos  se 
vem  preparando  lentamente  o  terreno,  e  que  fizeram  brotar  aquella 
forte  e  decidida  corrente  d'opinião,  sem  a  qual  certamente  se  não  ar- 
riscariam tentativas,  se  não  redobrariam  as  instancias,  se  não  encon- 
traria talvez  coragem  para  os  esforços  e  influencia  superiores  que  foi 
preciso  empregar. 

E  sob  este  ponto  de  vista,  não  pôde  deixar  de  figurar  no  primei- 
ro piano  a  propaganda  enei-gica  e  persistente  da  Sociedade  Martins 
Sarmento. 

V.  exc.^,  snr.  presidente  da  Sociedadk  Martins  Sarmento,  mencio- 
nou por  fim,  e  bem  é  que  fique  assignalada  com  os  merecidos  louvores 
a  acção  generosa  e  benemérita  do  nosso  iliustre  patrício,  o  digno  par 
do  reino  snr.  conde  de  Margaride,  ao  qual  devemos  o  exemplo  dos  pré- 
mios aos  professores.  Certamente  que  o  applauso  e  consagração  publi- 
ca do  aproveitamento  e  mérito  dos  alumnos  é  a  recompensa  mais  in- 
vejável dos  seus  esforços  e  cuidados.  Accrescentar,  porém,  este  novo 
estimulo,  é  prestar  uma  influencia  a  mais  para  o  desenvolvimento  do 
ensino  primário  d'este  concelho. 

Permitta-me  v.  exc»,  snr.  presidente  da  Sociedade  Martins  Sar- 
mento, que  terminando,  depois  de  tudo  quanto  disse,  manifeste  aqui 
n'esta  sessão  solenme  os  protestos  de  consideração  e  sympathia  pes- 
soal, que  sempre  tive  por  esta  benemérita  Sociedade,  e  accrescente 
que,  fazendo  votos  pela  sua  prosperidade  e  porque  ella  siga  sempre 
rasgadamente  no  caminho  que  se  traçou,  não  faço  mais  do  que  repe- 
tir a  opinião  de  todos  os  vimaranenses,  de  todos  os  habitantes  d'este 
concelho,  de  todos  os  homens  verdadeiramente  patriotas,  que  estimam 
o  engrandecimento  e  progresso  da  sua  terra. 

Guimarães,  9  de  março  de  1891. 


Os  dois  officios,  a  que  acima  nos  referimos,  são  do  seguin- 
te teor: 

Ill.™o  exc,»»  snr. —  Em  resposta  ao  oíBcio  de  v.  exc.»  de  21  de 
janeiro  ultimo,  remetto  por  copia  o  do  sub-iuspector,  que  me  parece 


109 


o  mais  competente  para  informar  sobre  o  assumpto.  Se  v.  exc*  e  os 
seus  dignos  coiiegas  entenderem  por  melhor  dividir  o  premio,  nada 
terei  que  oppôr,  supposto  nada  aconselhe. 

Deus  guarde  a  v.  exo.^  —  Guimarães,   27   de  fevereiro  de  1891. 

—  111.™"  exe,™°  snr.  presidente  da  direoyão  da  Sociedape  Maktins 
Sarmento.  —  O  presidente  da  commissão  municipal,  Co7ide  de  Mar- 
garide. 

Ill.'"o  exc^o  snr.  —  Satisfazendo  ao  conteúdo  do  oíTicio  de  v. 
exc*  de  16  do  corrente,   sub  o  n."  16,  tenho  a  honra  de  responder 

—  que  dos  professores  primários  em  exercido  n'este  concelho,  consi- 
rados  no  «conjunto»  dos  diffiircntes  pontos  de  vista  a  que  deve  satis- 
fazer um  bom  pedagogo,  como  sejam  o  caracter  e  dedic.M(;ão  pela  es- 
cola, disciplina  dos  alumnos  dentro  e  fora  d'ella,  methodos  e  (iroees- 
sos  d'ensino,  hygiene  e  escri|)turaçõ.o  escóiar,  cmlim  o  conjunto  de 
tndos  os  elementos  que  constituem  uma  boa  organisação  pedagógi- 
ca, d'onde  deriva  o  progresso  e  o  desenvolvimento  physico,  moial  e 
intellei-tual  da  mocidade,  apontarei  só  dois  —  Manoiíl  José  Pereira, 
professor  nas  Taypas,  e  José  António  Crespo  Guimarães,  em  S.  Lou- 
renço de  Sande. 

Não  quer  isto  dizer  que  sejam  estes  os  «únicos^)  bons  professo- 
res do  concelho,  seria  uma  injustiça  affii-mal-o,  mas  como  não  haja 
premio  para  todos  os  «  bons  «,  temos  (na  bondade)  de  estabelecer  uma 
certa  escala  gradual  e,  no  cimo  d'essa  escala,  estão,  decerto,  colloca- 
dos  os  dois  professores  a  que  acima  me  refiro. 

Deus  guarde  a  v.  exe.^—  Guimarães,  27  de  fevereiro  do  1891.  — 
III. "10  exc."io  snr.  presidente  da  camaia  municipal  de  Guimarães.  —  O 
sub-iQspector,  António  Joaquim  Vidal. 


Os  alumiios  premiados  foram  : 

José  Avelino  Machado,  da  escola  de  Brito. 

Virgílio  de  Mascarenhas,  idem  de  Guimarães, 

Eduardo  da  Silva,  idem  de  S.  Martinho  de  Sande. 

Joaquina  Duarte  Luzia,  idem,  idem. 

Francisca  Marinho,  idem  de  Guimarães. 

António  Joaquim  de  Sousa,  idem  de  S.  Torquato. 

Augusto  Montes  Guimarães,  idem  de  S.  Lourenço  de  Sande. 

João  de  Macedo,  idem  de  Gondomar. 

Joaquim  António  da  Silva,  idein  de  Santa  Maria  do  Souto. 

António  Francisco  Portas,  idem  de  Nespereira. 

Maria  Ribeiro  de  Faria,  idem  de  S.  Torquato. 

Aristides  Marques,  idem  de  S.  Migue!  das  Caldas. 

Angelina  Coelho  Lopes,  idem  de  Nespereira. 

Agostinho  da  Gosta,  idem  de  S.  João  das  Caldas. 

Haphael  do  Amaral,  da  escola  nocturna  de  Vizella. 

Angelina  de  Vasconcellos  Cardoso,  do  Asylo  do  banta  Estepiían  a. 

Joaquim  de  Castro,  idem. 

Elisa  da  Silva,  da  escola  de  Vizella. 

Albina  Gomes  de  Castro,  do  collegio  dos  Santos  Passos. 

Joaquim  Montes  Guimarães,  da  escola  de  Briteiros. 


410 


Maria  d'01iveira  e  Freitas,  da  escola  da  V.  0.  de  S.  Francisco. 

Abel  Pereira  da  Silva,  idem. 

João  Ignacio  da  Cunha  Eosta,  da  escola  de  S,  Jorge  de  Selho. 

Francisco  Pereira  Silvério,  idem  das  Taypas. 

Joaquim  Francisco  Leiras,  idem  de  S.  Martinho  do  Conde. 

José  Henriques,  da  escola  nocturna  primaria  de  Guimarães. 

Manoel  Bernardino  Ferreira,  da  escola  do  SS.  Coração  de  Jesus. 


No  dia  16,  era  sessão  d'assembléa  geral,  presidida  pelo  sor. 
dr.  José  da  Cunha  Sampaio,  sendo  secretários  os  snrs.  João  Joa- 
quim d'01iveira  Bastos  e  António  José  da  Silva  Ferreira,  teve 
logar  a  eleição  da  nova  direcção,  e  ficaram  eleitos  os  seguin- 
tes sócios : 

EFFEGTIVOS 

Dr.  António  Augusto  de  Freitas. 

Dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães. 

Dr.  Caetano  Mendes  Ribeiro. 

Padre  Gaspar  da  Costa  Roriz. 

Dr.  José  de  Freitas  Costa. 

Simão  Eduardo  Alves  Neves. 

Gaspar  Loureiro  d'Almeida  Cardoso  Paul. 

SUPPLENTES 

Dr.  António  Coelho  da  Motta  Prego. 
António  Mendes  Guimarães. 
Domingos  José  de  Sousa  Júnior. 
João  Gualdino  Pereira. 
Manoel  Joaquim  Marques. 
Pedro  Pereira  da  Silva  Guimarães. 
Dr.  Rodrigo  d'Araujo  Portugal. 

.•» 

O  snr.  presidente  da  direcção  fez  o  relatório  da  gerência 
finda;  deu  parte  de  que  o  snr.  dr.  Francisco  Martins  Sarmen- 
to agradecia  as  felicitações  que  liie  foram  dirigidas  por  occa- 
sião  do  seu  anniversario  natalício;  e  que  o  sócio  honorário 
snr.  António  Augusto  da  Silva  Cardoso  não  aceitava  remune- 
ração pelo  seu  trabalho  do  retrato  do  snr.  conselheiro  João 
Franco  Castello  Branco.  E,  annunciando  á  assembléa  o  fal- 
lecimento  do  sócio  honorário,  o  snr.  João  Antunes  Guimarães, 
propoz  que  se  lhe  exarasse  na  acta  um  voto  de  sentimento. 

A  assembléa  approvou  a  proposta  e  resolveu  que  se  agra- 
decesse ao  snr.  Cardoso  o  seu  valioso  offerecimento. 


111 


* 

Durante  o  trimestre  findo  recebeu  a  Sociedade  para  a  sua 
bibliotheca  offertas  de  livros  dos  seguintes  oíTerentes: 

Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa,  2  volumes; 

Eduardo  Sequeira,  1  volume; 

Camará  Municipal  de  Guimarães,  24  volumes; 

Academia  bracarense,  1  volume; 

Direcção  do  collegio  de  S.  Dâmaso,  1  volume; 

Dr.  Francisco  Gomes  Teixeira,  lo  volumes; 

Rodam  Tavares,  i  volume; 

Magalhães  &  Moniz,  1  volume ; 

Empreza  da  Folha  de  Villa  Verde,  1  volume; 

Conselheiro  Jeronymo  Pimentel,  2  volumes; 

Dr.  F.  Gomes  Teixeira,  5  volumes; 

Lugan  &  Genelioux,  1  volume; 

Dr." Eduardo  Carvalho,  1  volume; 

Dr.  João  Bentes  Gastei  Branco,  4  volumes; 

A.  Salazar,  1  volume; 

José  D.  Peres,  2  volumes; 

Associação  Auxiliar  da  Missão  Ultramarina,  1  volume, 

Atheneu  Commercial  do  Porto,  1  volume; 

Dr.  F.  Martins  Sarmento,  O  Occidente,  publicação  corrente. 


Para  a  sua  collecçâo  de  jornaes  recebeu  a  Sociedade  mais 
ífiffiiintp.'?  nerindinos: 


os  seguintes  periódicos: 


O  Economista  (Lisboa). 

A  Opinião  (Idem). 

O  Meio  Dia  (Idem). 

Jornal  das  Sciencias  Mathematicas  e  Astronómicas  (Coimbra). 


O  museu  numismático  da  Sociedade  foi  enriquecido  com 
uma  collecçâo  de  moedas  romanas,  oíTerecidas  pelo  snr.  Lage, 
de  S.  João  da  Pesqueira,  e  uma  curiosa  medida  de  bronze, 
do  tempo  de  D.  Sebastião,  oíTerecida  pelo  snr.  António  1'errei- 
ra  dos  Santos. 

A  todos  os  oíTerentes,  os  nossos  cordiaes  agradecimentos 
em  nome  da  Sociedade  Martins  Sarmento. 

Guimarães,  31  de  março  de  1891. 

O  secretario 

Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul. 


BALANCETES 


Movimento  da  caixa  em  janeiro  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior 4905938 

Receita  d'este  mez §o;§190       3765128 

SABIDA 

Despeza  d'este  mez 7111315 

Saldo 50W813        5765128 

Em  fevereiro  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior 5045813 

SABIDA 

Despeza  d'este  mez 285020 

Saldo 4765793       5045813 

Em  março  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior 4765793 

Receita  d'este  mez 15800       4785593 

SABIDA 

Despeza  d'este  mez 3205584 

Saldo 1585009       4785593 

o  thesoureiro, 

Simão  da  Costa  Guimarães. 


o  Ensino,  revista  pedagógica,  quinzenal,  de  Lisboa.  Director 
Tlieophilo  Ferreira.  ' 

Anno 1^200 

Semestre 600 

A.  Viiilia.  F»oi-tug-ueza,  revista  meusal  de  Lisljoa,  Director, 
F.  d'Almeida  e  Brito. 

Anão 2:3000 

Instituições  Chi-istíls,  revista  quinzenal  de  Cuimlira,  re- 
ligiosa, scientifica  e  litteraria.  Órgão  da  Academia  de  S.  Tliumaz 

d' Aquino.  Seis  mezes 1.-5200 

A.  Joi-nada,  revista  mensal  de  Barcellos. 

Anno 600 

Semestre 3a0 

O  Telegi-aplio,  revista  quinzenal  do  Porto. 

Seis  mezes 600 

Anno 1^200 

Ifte vista,  judicial  e  aclministi-ativa,  revista  por- 
tuense, dirigida  por  Augusto  d'01iveira. 

Anno 23000 

■Revista,  dos  Ti-il>unaes,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários,  Augusto  Maria  de  Castro  e  António  Fer- 
reira Augusto.  Anno,  franco  de  porte ;Víi000 

Semestre,  franco  de  porte 1 38u0 

]N"ovo  IVlensageií-o  «lo  Coi-ação  de  Jesus,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do    Coração  de  Jesus  e  da  Communhão  Reparadora. —  Portugal, 

anno láOOO 

O  Keei-eio,  revista  semanal,  litteraria  e  charadistica,  de  Lisboa. 

Lisboa,  cada  numero 270 

Províncias,  semestre 580 

Trimestre 300 

A    Pi-oj^x^^iedade  e   Cultuva  do  3Xinlio  (estudo   his- 
tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sampaio.  Preço.. .        350 
Em  todas  as  livrarias. 
"Revista   das  Scieneias  J>Xilitai'es,  puíjlicação   men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheiii. 

Portugal,  anno 23100 

Revista  das  Seiencias  IVaturaes  e  Ssooisitís; 
órgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publica-se  quatro 

vezes  por  anno,  em  fascículos  de  48  pag.,  8.°  —  Anno lji'200 

Numero  avulso 300 

Jovnal  de  líovtieultui-a  Fratiea.  Proprietário,  José 

Marques  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 2^^250 

Numero  aviil.^ío 300 

Contuniltj  tí>lampa  colorida 40U 

O   Cliai-ivari,  revista  humorística  do  Porto. 

Série  de  i2  números 2i0 

Províncias 270 

Os   Ai-g-onautas,   subsídios  para  a  antiga  historia  do  Occi- 

dente,  por  F.  Martins  Sarmento.  1  grosso  volume lioOU 

Pelo  correio 1  <S3(50 

Em  todas  as  livrarias. 
lievista  de  Coiml>i-a,   publicação   quinzenal  de  scicncias 
sociaes  e  jurisprudência. 

Anno 2^000 

Semestre l^oiH) 


Joimal     cias    Sciencias    inatliem atiças    e    as- 
ti-oiioniicas.    Director,   dr.   F.   Gomes   Teixeira.    Cada   \o- 

'ume 2á400 

líevista  de  Educação  e   Ensino,  publicação  raensal 
de  Lisboa.  Director,  Ferreira  Deusdado.  Preço : 

Anno 2^000 

Semestre 1^100 

Avulso 200 

Boletim   da    Ligra   dos  Lavradores  do  r>OTix*o. 

Redacção,  rua  do  Calvário,  70  —  Porto.  Numero  avulso 40 

La  I^evue  des  eToiíriíavix  et  des  Livres,  de  Pa- 
ris. Preços  para  Portugal:  três  mezes,  4  francos  e  50;  seis  mezes, 
8  francos;  um  anno,  14  francos.  Esta  revista  dcá  aos  assignantes 
d'um  anno  um  volume  de  3  francos  e  50;  aos  de  seis  mezes  um  vo- 
lume de  'i  francos,  e  aos  de  três  mezes  um  volume  de  1  franco,  á 
escolha  em  todas  as  livrarias.  Além  d'isso  dá  a  todos  os  seus  assi- 
gnantes, como  brinde,  um  esplendido  retrato  a  óleo  e  a  cada  assl- 
gnante  o  seu  retrato  photographado. 
Revista  d'01>ras  r»iil>licas  e  IVítinas,  publicação 
mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portuguezes. 

Lisboa,  anno , , , 2^400 

Provindas  e  estrangeiro  acresce  o  custo  das  estampilhas. 
I^eitni-as  I?opiiIares   Illiístradas,  jornal  mensal  de 

Lisboa.  Anno 400 

A.  Imprensa,  revista  seientifica.  litteraria  e  artística  de  Lis- 
boa. Publicação  quinzenal.  Director.  AÍTonso  Vargas.  Lisboa,  cada 
numero  30  reis,  pagos  á  entrega.  Provindas  e  ilhas,  trimestre  ou  6 

números,  200  reis.  Numero  avulso .- 40 

Coiml>ra   Medica,  içevista  quinzenal  de  medicina  e  cirurgia. 

Director,  dr.  Augusto  Ro(^a.  Portugal  e  Hespanha,  anno. .     211400 

O  Prog-resso  Catliolico,  publicação  quinzenal  illustrada, 

de  Guimarães.  Continente,  anno 600 

Numero  avulso *        {qq 

O  Instituto,  revista  litteraria  e  scientifica,  de  Coimbra*. 

Anno. 1.^500 

Pelo  correio 1^560 

Numero  avulso j6Ò 

Selecta  fraiiceza,  por  Moreira  de  Sá,  professor  da  Escola 

Normal  do  Porto.  Preço,  encadernada 1^250 

Pelo  correio IsSSOO 

Orammatica  franceza,  por  J.  E.  von  Hafe  e'Â.  Epipba- 
nio  da  Silva  Dias.  6.-'  edição,  melhorada.  Preço,  brochada..        800 

Pelo  correio ^        g3Q 

Historia  do  cerco  do  Portoj  por  "s."j!  dá  Liiz  Soriano. 
J.a  edição,  illustrada  com  magnificas  gravuras  e  chromolythogra- 
phias,  revista  e  melhorada  pelo  auctor.  Editor,  Augusto  Leite  da 

Silva  Guimarães  —  Porto.  Cada  fascículo 200 

Boletim  de  Pliarmacia  do  Porto.  Director,  J.  P.  d'AI- 

meida  Brandão.  Anno ; IsSOOO 

Numero  avulso 200 

A.  Aifricnltnra  Portngyiieza,  revista  quinzenal  de  Lis- 
boa. Directores,  F.  Simões  Margiochi  e  Paulo  de  Moraes. 

Anno 2^000 

Numero  avulso jOO 

A  Dosimetria,  revista  mensal  portuense  de  medicina  dosime- 
trica.  Director-proprietario,  José  Bernardo  Birra.  Anno 1^500 


REVISTA 


DE 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Pi"omotora  da  inslrucção  popular 
no  concelho  de  Guimarães 


VOLUME  VIII 


X.o  8  —  Julho  —  1891 


TOTiTO 

TyPOGRAPHlA    DE    A.    J.    I5A    SlLVA    TliIXEIRA 

Rna  da  Cancella  Vellui,  70 
1891 


Sunmiario  d'esle  iiiiniero 

I.    Catalogo  das  moedas  e  medalhas  portuguezas  existentes  na 

collecção  da  Sociedade  Martins  Sarmento ;  por  J.  F.  Costa. 
II.    Alterações  e  falsificações  dos  alimentos;  por  A.  de  Mattos  ChU' 
ves. 

III.  Privilégios  das  Taboas  Vermelhas;  pelo  Padre  Abilio  de  Passos. 

IV.  Documentos  inedi  tos  dos  séculos  xii-xv ;  por  Oliveira  Guimarães. 
V.    Foik-lore;  por  Abilio  de  Magalhães  Brandão. 

VI.    Subsídios   para  a  historia  das  industrias  vimaranenses;   por 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 
Vil.     Instrucção  popular:  lei  de  2  de  maio  de  1878. 
VIII.    Boletim ;  por  Gaspar  L.  d' A.  C.  Paul. 
IX.    Balancetes ;  por  Simão  Alves  Neves. 


A  Revista  cie  Guimarães  publica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  julho  e  outubro,  em  fascículos 
de  48  paginas. 

Cada  volnme,  composto  de  quatro  fascículos, 
custa  por  assígnatura  800  reis;  cada  numero  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do  correio  são  á  custa  da 
empresa.  As  assignaturas  são  pagas  adiantadas. 


A  Revista  de  Guimarães  é  distribuída  gratui- 
tamente pelos  sócios  da  Sociedade  Martins  Sar- 
mento. ______ 

Os  artigos  publicados  n'esta  Revista  são,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  dos 
seus  auctores. 

Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcção  da  Sociedade  Martins  Sarmento,  Gui- 
marães. 

ANNUNCIOS   LITTERARIOS 

k:«í>» 

A.  Crise  Ag-i-icola  Portiig-ueasa,  por  Avelino  Guima- 
rães, l  vol 700 

Vende-se  no  Porto  na  livraria   Gutenberg;  em    Guimarães  na 
loja  de  Francisco  Joaquim  de  Freitas. 

A.S    Coloniais»  P*oi*t.ufçiiezas,  publicação  lisbonense  illus- 

trada.  Anno 2W0 

Semestre lf^200 

A  vulso 200 

O  Zoopliilo,  publicação  mensal  illustrada  de  Lisboa. 

Lisboa,  anno 600 

Províncias 630 

Numero  avulso 100 


CATALOGO 


DAS 


Moedas  e  medalhas  portugiiezas  existentes  na  collecção 
da  Sociedade  Martins  Sarmento 


PRIMEIRA  PARTE 
Moedas 


PRIMEIRA   SÉRIE 
3i:oe<lais    pai-a,    o   continente 

D.  Sancho  I 

1.  +  SANCIVS  REX  PORTVGALIS  +.  Figura  do  rei  a  cavallo, 

á  direita,  coroado,  com  a  espada  alçada;  no  campo 
uma  cruz  equilateral. 
R."  +1N  NE  PTRIS  I  FILII  SPS  SCIA.  Cinco  escudos 
em  cruz,  cada  um  com  quatro  arruellas,  e  canto- 
nados  por  quatro  estrellas.  31orabitíno,  áureo  ou 
soldo  de  ouro.  AV. 

D.  Sancho  II 

2.  SANCIVS  REX.  Quatro  escudos  em  cruz. 

R.°    PORTVGAL.  Cruz  cortando  a  legenda.  B. 

3.  Outro  exemplar  com  alguma  diíTerenpa. 

8.0  Anno.  a 


114 


D.  Affonso  III 

4.  ALFONSVS  REX.  Cruz  cantonada  por  duas  estrellas  e  dois 

crescentes. 
R.*»    PORTVGAL.  Quinas  cortando  a  legenda,  e  cinco  pon- 
tos em  cada  escudete.  Dinheiro.  B. 

D.  Diniz 

5.  +  D.  REX  PORTVGAL.  Cruz,  cantonada  por  duas  estrellas 

e  dois  crescentes. 
R.**    AL-GA-RB-IÍ.  Quinas,  cortando  a  legenda,  conten- 
do cada  uma  cinco  pontos.  Dinheiro.  B. 

6.  Outro  exemplar  com  differença  nos  cunhos.  B. 

D.  Affonso  IV 

7.  +  ALFONSVS  REX.  Cruz,  cantonada  por  duas  estrellas 

e  por  duas  meias  luas. 
R."    PORTVGAL.  Cinco  escudos,  cortando  a  legenda,  e 
com  cinco  pontos  cada  um.  Dinheiro.  B. 

D.  Pedro  I 

8.  P.  REX  PORTVGA.  Cruz,  cantonada  por  dois  crescentes 

e  por  dois  pontos. 
R."    ALGARBIL  Cinco  escudos  em  cruz,  cortando  a  legen- 
da, com  cinco  arruellas  em  cada  um.  Dinheiro.  B. 

D.  Fernando 

9.  +  FERNANDVS  :   REX :  PORTVGALl :  A    Escudo  com  as 

quinas  assentes  no  centro  da  cruz  de  Christo,  can- 
tonada por  quatro  castellos. 
R.»     +SI:  DNS:   MICHI :  AJVTOR  :   NON :   TIME.   Busto 
do  rei,  com  o  capacete  coroado  e  a  viseira  calada; 
no  campo  a  letra  monetária  L  (Lisboa).  Barbuda.  B. 


dl5 


10.  +  FERNANDVS  :  REX  :  PORTVGA  :  Escudo  das  quinas  no 

meio  de  quatro  castellos ;  por  cima  um  ponto 
R.o  +  SI :  DNS  :  MICHI :  AJVTOR  :  NON  +.  A  inicial  F. 
(Fernando)  no  centro  d'um  escudo  coroado ;  aos 
lados  duas  pequenas  cruzes,  e  uma  lança  cortando 
obliquamente  da  esquerda  para  a  direita,  por  baixo 
do  escudo,  a  letra  monetária  L,  e  no  campo  um 
signal  occulto.  Grave.  B. 

11.  Outro  exemplar  com  alguma  diíTerença. 

12.  +  FERNANDVS:    REX:    PORTV+.Cruz    da   ordem    de 

Christo   com   uma  grande  coroa  por  cima,  e  no 
campo  a  letra  monetária  L  (Lisboa). 
R.''     SI :  D-NS  :  M-ICH-I :  AD.  Quinas  cortando  a  legen- 
da, e  um  signal  occulto.  Pilarte.  B. 


13.  +  FERNANDVS  :  REX  :  PORTVGALI :  ÇAMO.  Escudo  com 
as  quinas,  por  cima  uma  roseta,  á  esquerda  Ç,  e 
á  direita  A  (Çamora). 
R.°  SI :  DOMINVS  :  MICHI :  AJVTOR  :  NON  :  TI-.MEBO  : 
QVIT:  FACIAT;  MICHI:  em  dois  círculos,  tendo  no 
centro  uma  cruz  ;  em  baixo,  á  direita,  um  ponto. 
Tornez.  B. 


14.  +  FERNANDVS:    REX:   PORTVGALI:   E  ALGABI +.  Qui- 

nas no  centro  de  seis  arcos,  tendo  três  pontos  em 
cada  juncção  d'estes,  e  um  sobre  a  quina  supe- 
rior. 

R."    SI  DOMINVS  •:-MlHI   X  AJVTOR  ••••NON  TIME  — 

^  BV  •••••  QIFACIA  :•:  MIHI  •••••  OMO  ;•;  E.  Esta 

legenda  é  em  dois  círculos ;  no  centro  F  (Fernando) 
coroado ;  dois  pontos,  e  por  baixo  a  letra  mone- 
tária L  (Lisboa).  Real  de  prata.  AR, 

15.  +F:  REX:    PORTVGALI.   Cruz   cantonada  por  duas   es- 

trellas  e  dois  crescentes. 
R."     -f  AL-GA-RB-II.   Quinas,  cortando  a  legenda.   Di- 
nheiro. B. 


416 


D.  João  I 

16.  +IHNS:   DEI:  GRA  :  REX :  PO:  ET:  ALGARBII.  As  qui- 

nas dentro  de  dois  círculos  em  ogiva,  cantonadas 
em  cima  por  duas  rosetas,  e  em  baixo  L-B  (Lis- 
boa). 
R.o  _|_  ADJVTORIVM  *  NOSTRVM  *  QVI  *  FECIT  *  CELVN* 
ET*TERAN*.  Legenda  em  dois  circulos,  orlada  de 
pontos ;  no  campo  IHNS ;  por  cima  a  coroa  real, 
tendo  á  esquerda,  como  signal  occullo,  '.  *,  e  por 
baixo,  entre  duas  rosetas,  a  letra  monetária  L  (Lis- 
boa). Real.  B. 

17.  Outro  exemplar  com  alguma  diíTerença. 

18.  +  IHNS  I  DEI  I  GRA  *  RES  |  PO  *  E.   Quinas  dentro 

de  doi>!  círculos  em  ogiva. 
R.o     +  ADJVTORIVM  ^  NOSTRVN  ^  Q  —  VI  ^  FECIT 
—  GELLV  qi  em  dois  circulo*.  No  campo  Y,  coroa- 
do ;  á  esquerda  L  (Lisboa).  Real.  B. 

19.  Outro  exemplar  com  alguma  diíTerença. 

20.  +IHNS:  DEI:  GRA:  REX:  PO:  ET:  A.  No  centro,  den- 

tro de  um  círculo  formado  por  oito  arcos,  IHNS; 
por  cima  a  coroa  real,  e  por  baixo  L  (Lisboa). 
R."     ADJVTORIVM  :  NOSTRVM.  No  campo  as  quinas  can- 
tonadas  por    quatro   castellòs.   Real  de  3  ^/^  li- 
bras. B. 

21.  Outro  exemplar  com  um  M  ao  lado  da  coroa. 

22.  Outro  exemplar  diíTerente. 

23.  lOHNS  gB  DEI  gg  GRACIA  gg  REX  ©.  No  centro  IHNS  den- 

tro de  um  circulo   formado  por  oito   arcos ;  por 
cima  a  coiôa  real,  e  por  baixo  L. 
R."     ADJVTORIVM :   NOSTRVM :   QV.    Quinas    cantonadas 
por  quatro  castellòs.  Real  de  3  Vj  libras.  B. 

24.  +  IHNS  *  DEI  *  GRA  %  PEX  *  POR  *  ETA.  No  centro, 

dentro   de    ura  círculo    formado   por   oito  arcos, 


117 


IHNS,  com  a  coroa  real  em  cima,  e  em  baixo  P 
(Porto). 
R.°  +ADJVT0RIV.\1:  NOSTRVN :  QV.  Quinas,  cantona- 
das  por  quatro  castellos.  Dois  exemplares ;  um 
com  P,  como  o  que  vem  mencionado  pelo  snr.  Ara- 
gão Da  sua  obra,  outro  sem  elle.  Reaes  de  3  V2  li- 
bras. B. 

25.  IHNS  *  DEI  *  GRA  *  REX  *  PO  *  ET  *  ALG.   Quinas 

dentro  de  um  circulo  ogival,  canlonadas  por  duas 
rosetas  na  parle  superior,  e  em  baixo  L-I]  (Lis- 
boa), cada  letra  entre  dois  pontos. 
R."  ADJVTORIVM  ^B  NOSTRVN  1^  QV  .  ' .  FECIT  ©  CELVN 
ggETERA.  Legenda  em  dois  círculos,  lendo  no 
centro  IHNS;  por  cima  a  coroa  real,  e  em  baixo, 
entre  dois  pontos,  L,  e  outros  dois  pontos  aos  la- 
dos da  coroa.  Real  de  dez  soldos.  B. 

26.  -f  PORTVGÂLIE  :   ET  ALGAR  REX.   No  centro  IHNS ;  por 

cima  a  coroa,  e  em  baixo  L  (Lisboa) ;  no  campo, 
â  direita,  uma  estrella,  e  á  esquerda  um  ponto. 
R.*»     REPARACIO  :   REX  PVBLICE.  Escudo  com  as  quinas 
sobre  a  cruz  de  Aviz.  Meio  real  cruzado.  B. 

27.  +REX:  PORTVGÂLIE:  ET:  ALGAR -f. No  centro  IHNS, 

tendo  em  cima  uma  coroa  e  por  baixo  L  (Lisboa). 

R.°     +  REPARACIO  :  REX  :  PVBLICE.  Escudo  com  as  qui- 

Das  sobre  a  cruz  de  Aviz.  Meio  real  cruzado.  B. 

28.  Outro  exemplar  differente. 

29.  4-  IHNS  :  DEI:  GRA  :  R.  Por  baixo  da  coroa  real  o  Y,  ten- 

do á  esquerda  P,  e  á  direita  O  (Porto). 
R,o     _|_  ADJVTORIVN  :  NOS  :  Quinas.  Real  de  dez  soldos.  B. 

30.  +IHN-S.    D*-G*R-EX.     Quinas    cortando    a   le- 

genda. 
R.*»    POR-TVG-ALl  *  -E  %  AL.  Cruz,  cortando  a  legen- 
da, tendo  três   pontos  no  primeiro  e  quarto  es- 
paço, e  duas  arruellas   pontuadas  no  segundo  e 
terceiro.  Real  de  dez  soldos.  B. 


118 


31.  -f  IHNS  :  P  :  G :  REX  :  P  -f-.  Escudo  com  as  quinas  e  aos 

lados  as  letras  monetárias  E-V  (Évora). 
R."     +  ADJVTORIVM  +  Cruz,  cortando  a  legenda,  e  ten- 
do nos   ângulos  quatro  estrellas.  Real  de  dez  sol- 
dos. B. 

32.  +  IHNS  :  DEI :  GRÂ  :  REX  :  PO  +.  Quinas,  tendo  nos  ân- 

gulos quatro  castellos. 
R.°     -1-  ADJVTORIVM :  NOST  -(-.  No  centro  de  oito  arcos 
IHNS  coroado,  tendo  por  baixo  a  letra  L  (Lisboa). 

Ceitil.  M. 

(Continua), 

J.  F.  Costa. 


ALTERAÇÕES  E  FALSIFICAÇÕES 


DOS 

ALIMENTOS 

(Continuado  da  pag.  66) 


O    leite 


O  leite  é  um  liquido  branco,  opaco,  de  sabor  assucarado  e 
cheiro  particular  e  caracteristico.  É  elaborado  em  glândulas 
especiaes  das  fêmeas  dos  aniraaes  conhecidos  pelo  nome  de 
mammiferos. 

A  composição  d'esle  alimento  é  muito  complexa,  pois  que 
n'elle  se  encontram  nada  menos  de  trinta  e  duas  substancias 
distinctas,  umas  de  natureza  orgânica  e  outras  de  natureza 
mineral.  Mas,  embora  este  numero  de  elementos  constituintes 
do  leite  possa  reputar-se  constante  qualquer  que  seja  a  pro- 
veniência d'esta  substancia  alimenticia,  é  todavia  certo  que  as 
suas  proporções  variam  segundo  a  espécie  do  animal  produ- 
ctor  e,  até  no  mesmo  animal,  segundo  o  seu  estado  de  saúde, 
a  sua  idade,  o  clima  em  que  habita  e  os  alimentos  de  que  faz 
uso.  Além  d'estas  causas  outras  existem  ainda,  que  não  têm 
menos  influencia  nas  proporções  em  que  se  encontram  aquel- 
les  elementos.  Assim,  sabe-se  que  o  leite  é  mais  aquoso,  mais 
seroso  nos  dias  que  se  succedem  immediatamente  ao  parto, 
do  que  mais  tarde.  N'uma  mesma  mungidura,  o  leite  que  sae 
primeiro  é  muito  menos  rico  em  princípios  alimentícios  do 
que  aquelle  que  sae  em  ultimo  logar.  Finalmente  o  leite 
mungido  de  manhã  é  muito  superior  em  qualidade  ao  leite 
raungido  de  tarde;  porque  está  provado  que  o  aperfeiçoamen- 
to de  todos  os  humores  do  organismo  demanda  uma  certa 
tranquillidade  e  socego,  que  só  o  somno  pôde  proporcionar  ao 
animal. 

Ora,  se  todas  estas  influencias  podem  alterar  as  proporções 


420 


dos  elementos  constituintes  do  leite,  é  claro  que  este  alimen- 
to, em  virtude  das  mesmas  causas,  deve  também  variar  nas 
suas  qualidades. 

E,  com  effeito,  assim  é.  O  estado  de  saúde  ou  de  doença 
da  fêmea,  as  condições  climatéricas  do  meio  em  que  vive,  as 
pastagens  de  que  se  nutre,  o  tempo  decorrido  depois  do  parto 
e,  finalmente,  tudo  quanto  possa  influir  no  seu  estado  physi- 
co  ou  moral,  fazem  variar  as  qualidades  do  leite  por  ella  se- 
gregado. 

Apesar  d'isto,  é  certo  que  o  leite,  qualquer  que  seja  o  ani- 
mal productor  e  qualquer  que  sejam  as  influencias  que  sobre 
este  actuem,  não  varia  nos  seus  caracteres  específicos. 

Toda  a  gente  sabe  distinguir  o  leite  pelo  aspecto  particular 
que  elle  olferece  e,  se  á  côr,  sabor  e  cheiro  que  lhe  são  pe- 
culiares e  que  todos  estamos  habituados  a  reconhecer-lhe,  vier 
juntar-se  a  sua  opacidade,  isto  é,  se  elle  barrar  o  copo  em 
que  fôr  lançado,  sem  formar  grumos,  poderemos  inclinar-nos 
a  crer  que  elle  é  de  boa  qualidade. 

Entre  nós  os  leites  mais  usados  são  os  de  cabra  e  de 
vacca,  principalmente  este  ultimo,  e  é  também  este  o  que  lera 
sido  objecto  de  estudos  mais  completos. 

Alterações  do  leite.  —  O  leite  abandonado  a  si  mesmo 
n'um  logar  fresco  e  era  contacto  com  o  ar  cobre-se,  dentro 
era  pouco,  d'uma  capa  amarellada  e  unctuosa,  conhecida  vul- 
garmente pelo  nome  de  nata.  Tirada  esta,  o  leite  fica  reduzido 
a  um  liquido  d'um  branco  levemente  azulado,  mais  denso  e 
menos  grosso :  é  o  leite  desnatado. 

Este  liquido  abandonado  ao  repouso  durante  um  certo  tem- 
po, começa  a  depositar  uns  farrapos  brancos  de  queijo,  opacos 
e  sólidos,  cuja  quantidade  vai  successivaraente  augmentando  e 
o  liquido  restante  torna-se  transparente  e  um  pouco  amarella- 
do:  é  o  leite  talhado.  A  parte  solida,  branca  e  opaca  é  o  coa- 
lho, ou  caseo,  e  a  outra  liquida,  transparente  e  amarellada,  é 
o  saro  ^.  Esta  alteração  dá-se  com  muita  frequência  na  occasião 
de  trovoadas,  até  mesmo  n'um  leite  m ungido  de  fresco. 

Falsificações.  —  Apesar  de  toda  a  gente  fallar  nas  falsifi- 


1  Como  se  vé,  três  corpos  bem  distinctos — nata,  caseo  e  soro  — 
se  destacam  do  leite  por  meios  puramente  naturaes.  E  d'estes  três 
corpos,  a  nata  e  o  caseo  formam  a  base  de  duas  importantissimas 
industrias :  a  das  manteigas  e  a  dos  queijos,  que  nos  paizes  da  Euro- 
pa central  constituem  uma  das  explorações  agrícolas  maia  lucrati-- 
"vas. 


121 


cações  do  leite  é  certo  que,  em  f?eral,  se  ignora  que  este  ali- 
mento está  longe  de  se  prestar  facilmente  a  ser  adulterado,  e 
pôde  dizer-se  que,  nos  centros  pouco  populosos,  a  sua  falsiQ- 
cação  quando  se  dá  (o  que  é  raro),  se  limita  unicamente  á 
addição  d'uma  maior  ou  menor  porção  d'agua,  e  isto  apenas 
com  o  fira  de  augmentar  a  sua  quantidade. 

O  facto  do  leite  se  não  apresentar  sempre  no  coramercio 
com  os  mesmos  caracteres  physicos,  circnmslancia  que  não 
passa  desapercebida  ás  pessoas  que  d'elle  fazem  uso  habitual, 
é  quasi  sempre  o  promotor  da  suspeita  da  sua  adultera- 
ção. 

E  todavia,  pelo  que  acima  dissemos,  nem  sempre  essa 
desconfiança  poderá  juslificar-se  ^. 

A  falsificação  d'um  leite  pôde  dar-se  de  duas  maneiras :  ou 
porque  se  queira  simplesmente  augmentar  a  sua  quantidade 
sem  lhe  roubar  nenhum  dos  elementos  que  o  constituem,  e  en- 
tão é  costume  juntar-lhe  unicamente  agua;  ou  porque,  tendo- 
se-lhe  subtrahido  a  nata,  se  trate  de  lhe  restituir  a  cor  e  a 
densidade  que  esta  subtracção  lhe  havia  roubado  e,  em  tal  caso, 
além  da  agua,  lança-se  no  leite  uma  ou  mais  matérias  estra- 
nhas, para  lhe  restituir  as  propriedades  que  a  fraude  fez  des- 
apparecer, 

O  primeiro  género  de  falsificações,  consistindo  apenas  era 
deitar  agua  no  leite,  é  felizmente  muito  mais  vulgar  do  que 
o  segundo. 

É  que  na  verdade  este  ultimo,  demandando  a  addição 
d'uma  ou  mais  substancias  estranhas,  é  muito  mais  diíficil  de 
operar-se  do  que  á  primeira  vista  parece ;  não  só  porque  são 
muito  poucas  as  substancias  que  reúnem  as  propriedades  ne- 
cessárias para  dar  ao  leite  adulterado  o  aspecto  do  leite  nor- 
mal, mas  até  mesmo  porque  a  maior  parte  das  que  estão 
n'esse  caso  ficam  tanto  ou  mais  caras  do  que  o  bom  leite,  que 
com  ellas  se  pretende  imitar.  Com  elTeito,  para  que  uma  sub- 


1 


Para  raelhor  demonstrar  o  que  acabamos  de  dizer,  bastará  men- 
cionar o  facto,  de  todos  conhecido,  de  que  muitas  vezos  o  leitti  coni- 
mercial  apresenta  uma  côr  manifestamente  azulada,  côr  (jue  motiva  sus- 
peitas e  que  nào  poucas  vezes  provém  das  pastagens  da  vacca.  O  san- 
feno,  por  exemplo,  dcá  este  resultado.  Mas  ainda  mais:  se  a  varca  no 
meio  dos  seus  alimentos  ingerir  uma  grande  porção  da  planta  chama- 
da ruiva  dos  tintureiros,  o  leite  chega  a  ter  uma  côr  de  rosa  pronun- 
ciada, sem  que,  todavia,  o  leite  possa  deixar  de  ser  considerado  como 
bom. 


122 


li  ! 


22. 
23 


26 
27 


30 
3i 


3  4 
35 


36 


stancia  possa  ser  empregada  como  agente 
de  falsificação  é  necessário  que  possua  con- 
dições verdadeiramente  excepcionaes.  Assim, 
essa  substancia  deve  ser  tal,  que  não  commu- 
nique  cheiro  ou  sabor  algum  ao  leite ;  deve 
ter  uma  densidade  grande  para  augmenlar  a 
do  leite  ;  deve  ser  muito  barata  para  que  do 
seu  emprego  não  resulte  ficar  o  leite  por  ella 
falsificado,  de  mais  subido  preço  do  que  o  leite 
normal ;  finalmente  a  substancia,  qualquer 
que  ella  seja,  não  deve  talhar  o  leite. 

Pelo  que  fica  dito  percebe-se  que  devem 
ser  muito  pouco  numerosas  as  substancias 
que  satisfazem  a  todas  estas  condições  e, 
portanto,  que  as  adulterações  do  leite  (sobre- 
tudo n'um  centro  tão  pouco  populoso  como 
o  nosso),  poderão  reduzir-se  a  uma  só — a 
addição  d'agua  —  quer  o  leite  tenha  sido  ou 
não  desnatado. 

E  o  reconhecimento  d'uma  tal  sophisti- 
cação  é  o  que  ha  de  mais  fácil.  Para  isso  lan- 
çaremos mão  d'um  instrumento,  que  é  nem 
mais  nem  menos  do  que  um  pesa-leite,  co- 
nhecido pelo  nome  de  lacto-densimetro  de 
Quévenne,  e  cujas  indicações  nos  deixam  ave- 
riguar immediatamente  se  o  leite  suspeito 
foi  accrescentado  com  agua  e,  o  que  é  mais 
ainda,  as  proporções  em  que  esta  lhe  foi  lan- 
çada ^ 

O  lacto-densimetro  tem  a  forma  indicada 
na  flg.  1,  e  sobre  a  sua  haste  encontra-se 
uma  escala  graduada  que,  contando  de  cima 
para  baixo,  comprehende  todos  os  números 
desde  14  até  42. 

De  cada  lado  da  escala  encontra-se  uma  sé- 
rie de  fracções  que,  a  partir  debaixo  para  ci- 
ma, vão  desde  Vio  até  Vio-  Uma  d'estas  séries 
é  destinada  á  pesagem  do  leite  desnatado  e  a 
outra  á  do  leite  não  desnatado.  A  primeira 
está  escripta  sobre  papel  azulado  e  tem  na 


Este  instrumento  custa  500  reis. 


Í23 


parte  inferior  a  palavra  ecremé  (desnatado);  a  segunda  desti- 
nada á  pesagem  do  leito  puro  assenta  em  papel  amarellado  e 
tem  as  palavras  non  ecremé  (não  desnatado).  Para  proceder- 
mos ao  ensaio  do  leite  cora  este  instrumento,  operaremos  do 
seguinte  modo  : 

N'um  copo  de  vidro,  alto  e  estreito  \  lançamos  o  leite  sus- 
peito. O  copo  é,  em  seguida,  mergulhado  n'uma  vasilha  que 
contenha  agua  um  pouco  quente.  Esperamos  alguns  minutos 
para  que  o  leite  tome  uma  parte  do  calor  da  agua  e  fique 
tépido  ^.  Mergulhase  então  o  lacto-densimetro  no  leite,  deixa- 
se  boiar  e  lê-se  o  numero  que  fica  ao  nivel  do  liquido.  Se 
esse  numero  é  29,  30,  31,  32  ou  ainda  33,  o  leite  poderá 
considerar-se  puro.  Se  é  um  numero  menor  do  que  29,  ha 
bem  fundadas  suspeitas  de  que  foi  falsificado  com  agua,  e  a 
fracção  que  lhe  corresponder  diz-nos  o  numero  de  décimos 
d'agua  accrescenlada.  Se  o  numero  que  se  encontra  á  superfí- 
cie do  liquido  é  maior  do  que  23,  ha  motivos  para  crer  que 
o  leite  foi  desnatado.  Rm  resumo,  sempre  que  o  numero  seja 
menor  do  que  29  ou  maior  que  33  ha  sempre  motivo  para 
suspeitar  a  fraude,  no  primeiro  caso  por  addição  d'agua  e  no 
segundo  por  subtracção  da  nala. 

Ha,  porém,  alguns  casos  em  que  as  indicações  do  lacto-den- 
simetro parecem  não  ter  a  maior  exactidão  e,  para  remediar 
este  inconveniente,  recommenda-se  fazer  também  o  ensaio  do 
leite  no  cremomelro,  apparelho  d'uma  grande  simplicidade, 
que  cada  qual  poderá  confeccionar  em  sua  casa  e  que  nos 
diz  cora  toda  a  precisão  se  o  leite  foi  ou  não  desnatado. 

Para  construir  um  cremomelro,  não  temos  mais  do  que  to- 
mar um  copo  de  vidro  liso  de  V2  li^''^  de  capacidade,  pouco 
mais  ou  menos  (fig.  2),  e  collar-lhe,  pelo  lado  de  fora,  em 
sentido  vertical,  uma  tira  de  papel,  em  que  d'antemão  se  tra- 
çou uma  escala  dividida  em  100  partes  iguaes  e  de  modo  que 
o  zero  da  escala  corresponda  á  parte  mais  elevada  d'esla. 
Enche-se  o  copo  de  leite  exactamente  até  ao  nivel  do  zero 
e  colloca-se  n'um  aposento  que  não  seja  frio. 


1  Dizemos  estreito  para  não  termos  que  empregar  no  ensaio 
grande  porção  de  leite. 

2  O  instrumento  fui  graduado  á  temperatura  de  15°,  e  como,  para 
que  as  suas  indicações  sejam  exactas,  se  torna  necessário  reduzir  to- 
das as  observaçõvis  áqnciia  temperatura,  nós,  amoniando  o  leite, 
aproximamo-nos  o  mais  possivel  das  condições  da  experiência,  em 
que  as  indicações  do  pesa-leite  devem  ser  exactas. 


424 


Passadas  vinte  e  quatro  horas  exaraina-se  o  copo  e  nota-se 
que  o  leite  está  dividido  em  duas  camadas  dislioctas,  uma  su- 
perior, amarellada  e  sem  transparência,  e  outra  inferior  muito 
maior,  mais  transparente  e  d'uma  côr  ligeiramente  azulada. 


Fig.    s 


Se  a  camada  superior  (que  é  a  nata)  occupar  mais  de  dez  di- 
visões, o  leite  não  foi  desnatado ;  se  occupar  menos  de  dez 
divisões,  houve  subtracção  da  nata  e  portanto  fraude. 

Combinando  as  indicações  d'esle  apparelho  com  as  do  la- 


125 


cto-den>imetro,  chegaremos  sempre  a  conclusões  rigorosas  e  os 
casos  duvidosos  desapparecerão  ^. 

Ficamos  d'esle  modo  habilitados  a  reconhecer  as  duas  fal- 
sificações mais  vulgares  que  se  encontram  no  coramercio  do 
leite;  mas,  ainda  que  não  seja  senão  a  titulo  de  curiosidade, 
mencionaremos  ainda  algumas  das  adulterações  que  por  ve- 
zes se  encontram  (diz-se)  nos  leites  postos  á  venda  nas  gran- 
des cidades. 

A  addição  de  substancia  cerebral,  de  emulsão  de  amêndoas 
ou  de  sementes  de  linho,  com  o  Dm  de  dar  ao  leite  maior  densi- 
dade, parece-me  apenas  uma  phanlasia  dos  auctores  que  men- 
cionam laes  falsificações  e,  por  isso,  nem  d'ellas  me  occupa- 
rei. 

Os  falsificadores  juntam  algumas  vezes  ao  leite  desnatado, 
gemmas  d'ovos,  com  o  fim  de  lhe  restituir  a  cur  branco-amarel- 
lada,  que  a  subtracção  da  nata  lhe  tinha  feito  perder,  e  por 
vezes  também  claras  d'ovo3,  com  o  fim  de  dar  áquelle  ali- 
mento falsificado  com  agua  a  propriedade  de  se  tornar  espu- 
moso pela  agitação,  exactamente  como  acontece  com  o  leite 
puro. 

Se  estas  substancias  forem  empregadas  em  quantidade  no- 
tável, é  fácil  descobril-as  fervendo  o  leite;  pois  que  D'este 
caso  o  liquido  apparece  cheio  de  pequenos  farrapos.  Convém, 
todavia,  notar  que  a  addição  da  gemma  ou  clara  do  ovo,  além 
de  ser  perfeitamente  innocente,  dá-se  sempre  em  pequeníssima 
quantidade.  E  demais,  a  falsificação  está  na  subtracção  da 
nata  e  não  na  addição  dos  elementos  do  ovo. 

Também  algumas  vezes  a  adulteração  é  feita  cora  pós  de 
gomma  ou  farinha,  mas  estas  substancias,  além  de  não  serem 
nocivas,  nunca  são  empregadas  senão  em  porções  pequeníssi- 
mas, pela  razão  de  que  o  leite  que  as  contém  engrossa  muito 
pela  fervura,  servindo  portanto  esta  para  as  denunciar.  Mas 
existe  ura  outro  meio  muito  mais  simples  para  reconhecer  a 
presença  da  farinha  ou  do  amido,  e  consiste  elle  em  deitar  o 
leite  suspeito  n'um  copo  de  vidro  bem  limpo,  deixal-o  em  re- 
pouso por  alguns  minutos  e  extravasal-o  depois  para  outra  va- 
silha, muito  devagar. 

O  copo  apresenta  no  flm  d'esta  operação  as  suas  paredes 


1  O  crcmomelro.  apesar  (l'exacto  nos  resultados  qno  accnsa,  tem 
dois  defeitos:  não  |)óde  applicar-se  ao  leite  fervido  e  não  foraoco  in- 
dicações precisas  sen.ão  passadas  vinte  o  quatro  horas. 


126 


cheias  de  pequenos  grumos,  que  são  formados  pela  farinha  ou 
pelo  amido. 

Conservação  do  leite.  —  É  diíficil  sustentar  o  leite  sem 
alterapão  durante  muito  tempo,  e  não  é  menos  diiFicil  trans- 
portal-o  a  grandes  distancias,  sem  que  elle  soífra  modificações 
que  o  tornam  impróprio  aos  usos  a  que  é  destinado.  E  toda- 
via a  importância  que  se  liga  a  este  alimento,  tão  perfeito, 
tão  completo  e  tão  apropriado  á  nossa  organisação,  tem  im- 
posto aos  chimicos  a  necessidade  de  procurarem  os  meios  de 
assegurar  a  sua  conservação  limitada  ou  definitiva.  É  por  isso 
que,  desde  os  princípios  d'este  século,  têm  sido  propostos, 
n'este  sentido,  processos  geralmente  eíQrazes ;  mas,  muitos 
d'elles,  pouco  práticos  e  alguns  até  perigosos.  Occupar-nos- 
hemos  apenas  d'aquelles  que  mais  nos  podem  aproveitar. 

O  mais  simples  de  todos,  e  por  isso  mesmo  o  mais  geral- 
mente conhecido  e  usado,  é  aquelle  que  consiste  em  ferver  o 
leite  logo  depois  de  mungido.  Este  meio  todavia  é  d'uma  effi- 
cacia  muito  limitada,  a  não  ser  que  seja  repetido  todos  os  dias, 
o  que,  além  de  incommodo,  não  é  de  todo  innocente  para  as 
propriedades  nutritivas  do  leite. 

Os  vendedores  d'este  alimento  costumam,  logo  depois  da 
mungidura,  conserval-o  em  vasilhas  de  lata,  que  elles  têm  o 
cuidado  de  mergulhar  em  agua  corrente  ou  na  agua  das  cis- 
ternas. 

Como  se  vé,  este  processo  é  inteiramente  opposto  ao  pri- 
meiro, pois  que  consiste  era  conservar  o  leite  baixando  a  sua 
temperatura ;  mas  a  sua  eíficacia  também  não  é  duradoura. 

Um  outro  meio,  que  não  deixa  de  ter  uma  certa  vantagem, 
consiste  no  emprego  do  bicarbonato  de  soda,  na  dose  de  um 
gramma  de  bicarbonato  para  dois  litros  de  leite.  Este  sal,  na 
quantidade  que  deixo  indicado,  conserva  o  leite  em  boas  con- 
dições por  espaço  de  quatro  a  cinco  dias.  Não  falta  todavia 
quem  se  insurja  contra  este  processo  de  conservação,  ai  legan- 
do que  elle  modifica  sensivelmente  o  sabor  d'aquelle  alimento 
e  que  tem  uma  acção  nociva  sobre  o  apparelho  digestivo.  A 
primeira  supposição  tem  seu  fundo  de  verdade;  mas  a  segun- 
da é  puramente  gratuita.  É  que  provavelmente  confundem  o 
bicarbonato  de  soda  com  o  bicarbonato  de  potassa,  cuja  acção 
é  menos  innocente. 

Finalmente  um  outro  processo  de  conservação  existe,  cuja 
eíficacia  pôde  considerar-se  illimitada  e  que  actualmente  está 
sendo  explorado  em  larga  escala.  Este  processo  consiste  em 
evaporar  o  leite  á  temperatura  de   100°,  até  que  fique  redu- 


127 


zido  a  um  quinto  do  seu  volume  primitivo,  tendo  o  cuidado 
de  juntar  80  gramraas  de  assucar  para  cada  litro.  N'estas  con- 
dições lança-se  em  caixas  de  lata,  em  que  se  deixa  apenas 
uma  pequena  abertura.  Estas  caixas,  depois  de  cheias  de  leite 
assim  reduzido  de  volume,  são  mergulhadas  em  agua,  que  se 
faz  ferver  durante  vinte  minutos  ou  meia  hora,  no  fim  do  que 
a  pequena  abertura  é  fechada  e  soldada. 

O  leite  assim  preparado,  conhecido  no  commercio  pelo  no- 
me de  leite  condensado,  conserva-se  indefinidamente  sem  al- 
teração. 

Quando  se  quer  usar  d'elle,  basta  juntar-lhe  três  vezes  o  seu 
peso  d'agua.  Obtem-se  assim  um  liquido  perfeitamente  com- 
parável em  tudo  ao  bom  leite. 


A.  DE  Mattos  Chaves. 


PRIVILÉGIOS    DAS    TABOAS    VERMELHAS 


São  de  lanta  importância  para  a  historia  da  Collegiada  de 
Guimarães  os  ceieberrimos  privilégios  das  taboas  vermeliias, 
que  não  me  posso  furtar  a  transcrevel-os  para  esta  Revista,  at- 
tento  o  seu  interesse  para  os  que  prezara  e  ambicionam  a 
reorganisação  da  mesma  collegiada,  contida  na  carta  regia,  di- 
rigida ao  exc.™"  e  rev.™"  snr.  Arcebispo  primaz  de  Braga,  era 
8  de  janeiro  de  1891. 

Guimarães,  15  de  maio  de  1891. 

Padre  ASUio  de  Passos. 


Privilégios  de  que  gozaõ  os  caseiros  e  mais  privilegiados  das  Taboas 
Vermelhas  da  Insigne  e  Real  Collegiada  de  Nossa  Senhora  da  Oli- 
veira da  Hilla  de  Guimarães. 


Alvará  de  El-Rei  o  Senhor  D.  João  I 

Nós  EL-REI.  Fazemos  saber  a  vós  Juizes,  e  Caudel  da  nos- 
sa Villa  de  Guimaraens,  e  a  outros  quaesquer  que  esto  houve- 
rem de  ver:  Que  Nós  Havemos  dado  Nosso  Privilegio  aa  Nos- 


129 


sa  Igreja  de  Santa  Maria  dessa  Villa,  por  que  os  Caseiros,  e 
Lavradores  delia  sejaõ  escusados  de  ir  servir  na  Guerra,  nem 
a  outras  nenliuraas  partes,  nem  lhes  tomassem  seo  paõ'  nem 
vinho,  nem  outra  nenhuma  cousa  do  seo  contra  suas  vonta- 
des: E  a  Nós  he  dito,  que  nom  embargando  esto  os  constran- 
gerom  para  virem  a  e  o  servir,  e  lhes  tomarom  seo  pão,  e 
vinho,  e  os  constrangem  que  o  tragaõ  a  e  o,  do  que  a  Nós 
nom  plaz;  por  quanto  Nossa  Mercê  he  que  por  honra  de 
Santa  Maria  lhes  ser  guardado  o  dito  Privilegio.  E  porém 
vos  Mandamos  que  vejades  o  dito  Privilegio,  e  lho  cumprades, 
e  guardedes,  e  fapades  cumprir,  e  guardar,  e  os  nom  cons- 
tranjades  que  vaõ  servir  na  Guerra,  nem  a  outras  nenhumas 
partes,  nem  que  tragão  a  e  o  paõ,  nem  vinho  :  e  se  lhes  to- 
mado, ou  embargado  he,  que  lho  desembarguedes  logo.  E  esto 
fazede  nom  embargando  quaesquer  mandados,  nem  defezas 
que  em  contrairo  desto  hajades,  e  a  se  nom  sede  bem  certos 
que  a  vós  Nos  tornaremos  por  ello  :  e  ai  non  façades.  Feito 
no  Real  da  paz  da  Nossa  Cidade  de  Tuy  1.°  dia  d'Agoíto.  EL- 
REI  o  Mandou.  Álvaro  Gonçalves  o  fez.  Era  de  1436  annos. 
EL-REÍ. 

{Tomo  I,  no  Cartório  do  Rd.»  Cab.»,  Livro  dos  Privilégios,  fl.  17). 


Provisão  do  Mesmo  Senhor  Rei 

Dom  Joaõ  pela  Graça  de  Deos,  Rei  de  Portugal,  e  do  Algar- 
ve. A  vós  Gonçalli  Annes  de  Carvalho,  Corregedor  por  Nós  na 
Comarca  d'antre  Douro  e  Minho,  e  aos  Juizes  de  Guimaraens, 
e  a  quaesquer  Caudeis,  e  Apuradores,  e  outros  Olficiaes,  e 
pessoas,  que  esto  houverem  de  ver,  a  que  esta  Carta  for  mos- 
trada: Saúde.  Sabede,  que  o  Priol  da  Nossa  Igreja  de  Santa 
Maria  dessa  Villa  de  Guimaraens  Nos  disse  que  Nós  demos 
Nossos  Privilégios  a  elle,  e  ao  Chantre,  e  Cabido  da  dita  Igre- 
ja, em  que  Mandamos  que  os  seus  Caseiros,  e  Lavradores,  e 
moradores  nas  suas  terras,  e  Coutos  fossem  Privilegiados :  Que 
nom  paguem  era  peitas,  fintas,  nem  talhas,  nem  em  outros 
nenhuns  encargos  que  por  Nós,  nem  por  os  Concelhos  onde  el- 
les  morarem  sejaõ  lançados,  nem  vaam  servir  por  Mar,  nem 
por  terra  a  nenhumas  partes,  nem  lhes  tomem  seos  Filhos,  nem 
Filhas  para  servirem  nenhumas  pessoas,  nem  lhes  tomem  seus 
Bois,  nem  Bestas,  nem  paõ,  nem  vinho,  nem  outra  cousa  ne- 
nhuma contra  suas  vontades.  Segundo  esto,  e  outras  couzas 
muitas  nos  ditos  Privilégios  que  lhe  forom  dados  mais  cum- 

8."  Anho.  9 


130 


pridamente  he  conteúdo;  e  que  ora  vós  lhes  hides  contra  os 
ditos  Privilégios  que  lhes  assi  Demos;  e  que  os  constraogedes 
que  paguem  em  estes  pedidos,  que  Nos  ora  pagaõ  para  a  Guerra 
os  do  Nosso  Senliorio,  e  nos  encargos  dos  Concelhos  :  E  que 
outro  si  os  apurados  para  irem  servir  na  Guerra,  e  lhes  jul- 
gades  os  Filhos  seos,  que  os  ajudaõ  a  manter  suas  Casas,  e 
Labouras,  que  vaõ  servir  com  os  Nossos  Vassallos  na  Guerra ; 
6  que  outro  si  lhes  tomades  seos  Bois,  e  Bestas,  e  paõ  para 
os  encargos  da  Guerra ;  e  lhes  hides  contra  os  ditos  Privilé- 
gios, que  a  si  tem  de  Nós,  e  lhos  nom  queredes  guardar,  por 
que  dizedes  que  lhos  nom  devedes  guardar  em  os  feitos,  e 
tempo  de  Guerra.  E  pedio-Nos  o  dito  Priol  por  mercê,  que  a 
esto  lhes  Houvéssemos  remédio,  e  lhes  Mandássemos  guardar 
os  ditos  Privilégios  assi  e  pela  guiza  que  lhes  por  Nós  eraã 
outorgados.  E  Nós  vendo  o  que  Nos  pedia,  e  querendo-lhe  fa- 
zer Graça  e  Mercê,  e  por  honra  e  Reverencia  de  Santa  Maria, 
cujo  as  ditas  herdades,  e  Coutos,  e  Lavradores  som :  Temos 
por  bem,  e  Mandam os-vos  que  vejades  os  ditos  Privilégios 
que  de  Nós  tem,  e  lhos  cumprades,  e  guardedes,  e  façades 
cumprir,  e  aguardar  em  todo  pela  guiza  que  em  elles  he  con- 
teúdo, e  lhes  nom  vades  contra  elles,  nem  parte  delles  por  ra- 
zom  da  Guerra  que  havemos,  nem  por  outra  qualquer  razom, 
nem  caoom,  nos  embargando  quaesquer  Ordenaçoens,  nem  Car- 
tas, nem  Alvarás  que  vejades  em  contrario  por  qualquer  ma- 
neira. Cá  Nossa  Mercê,  e  Vontade  he  de  lhe  os  ditos  Privilé- 
gios serem  bem  aguardados  e  cumpridos,  e  que  se  nom  in- 
tendaõ  em  esto  as  ditas  Ordenaçoens.  Cartas,  e  Mandados,  nem 
defezas;  e  em  tal  maneira  o  fazede,  que  o  dito  Priol  nom  haja 
razom  de  se  a  Nós  por  eilo  mais  aggravar.  E  qualquer,  ou 
quaesquer  que  contra  os  ditos  Privilégios  forem,  ou  contra  parte 
delles  nom  lhos  guardando  em  todo  e  por  todo  pela  guiza  que 
era  elles  he  conteúdo:  Mandamos  a  quaesquer,  ou  qualquer, 
Tabeliaens,  ou  Tabelião  dos  Nossos  Reinos,  que  os  empra?em, 
que  do  dia  que  o  emprazar  a  trinta  dias  pareça  perante  Nós 
por  pessoa  a  dizer  qual  he  a  razom  por  que  lhos  nom  quer 
guardar;  e  de  como  os  emprazar,  e  do  dia  do  parecer  que 
Nos  faça  certo  por  suas  escrituras  publicas  para  lhe  Nós  dar- 
mos sobre  ello  escarmento  qual  mereço  áquelles  que  nom 
cumprem  Mandado  do  seu  Rei,  e  Senhor,  ou  outro  qual  Nossa 
Mercê  foi.  Unde  os  huns,  e  os  outros  ai  nom  façades.  Dat.  em 
Leiria  5  dias  Abril.  EL-RRI  o  Mandou.  ^l/t;a;-o  Gonçalves  a  fez. 
Era  de  1439  annos.'  EL-REI. 

(Tomo  I,  no  Cartório  do  Rd.°  Cab.",  Livro  dos  Privilégios,  fli  21). 


131 


Provisão  de  El-Rei  o  Senhor  D.  Joaõ  III 

D.  Joaõ  per  Grapa  de  Deos  Rei  de  Portugal,  e  dos  Algar- 
ves,  d'aquem  e  d'além  Mar  em  Africa,  Senhor  de  Guiné,  e  da 
Conquista,  Navegação,  Gommercio  da  Klhiopia,  Arábia,  e  Pér- 
sia, e  da  índia.  A  quantos  esta  Minha  Carta  virem,  Faço  saher: 
Que  por  partt?  do  Priol,  Dignidades,  Cónegos,  e  Cabido  da 
Igreja  de  Santa  Maria  d'01iveira.  Me  foi  apresentada  huma 
Carta  d'EI-Hei  Meo  Senhor,  e  Padre^  que  Santa  Gloria  haja, 
de  que  o  theor  tal  he  «  Dom  Manoel  per  Graça  de  Deos  Rei  de 
Portugal,  e  dos  Algarves  d'aquem,  e  d'além  Mar,  em  Africa 
Senhor  de  Guiné.  A  quantos  esta  Nossa  Carta  virem  fazemos 
saber :  Que,  por  parte  do  Priol,  Dignidades,  Cónegos,  e  Cabi- 
do da  Nossa  Igreja  de  Santa  Maria  de  Guimaraens,  Nos  foi 
apresentada  huma  Carta  d'EI-Rei  Dom  Joaõ  que  Deos  haja,  da 
qual  o  theor  tal  he  =  Dom  Joaõ  por  Graça  de  Deos  Rei  de 
Portugal,  e  do  Algarve.  A  quantos  esta  Carla  virem,  Fazemos 
saber:  Que  Nós  querendo  fazer  Graça,  e  Mercê  ao  Priol,  Ca- 
bido da  Igreja  de  Santa  Maria  de  Guimaraens,  Temos  por  bem, 
e  Tomamos  a  dita  Igreja,  e  Priol,  e  Cabido  sob  Nossa  guarda 
e  defensão,  e  encommenda,  e  Damos-lhe  Privilegio  para  sem- 
pre, que  Nós,  e  os  Reis  que  depôs  Nós  vierem  o  nom  possa- 
mos contradizer  nem  revogar.  Primeiramente  Mandamos  Que 
a  dita  Igreja,  e  Priol,  e  Cabido,  e  seos  Familiares,  e  domésti- 
cos, nem  Lavradores,  nem  mancebos,  nem  mancebas,  nem  ne- 
nhuns seos  Sargentes  nom  paguem  em  Fintas,  nem  em  Talhas, 
nem  vam  com  Prezos,  nem  com  dinheiros,  nem  sirvaõ  em 
nenhum  Concelho,  nem  com  nenhuns  outros  encargos,  nem 
lhe  tomem  mancebos,  nem  mancebas,  nem  os  Filhos  dos  seos 
Lavradores,  nem  sejaõ  constrangidos  que  morem  com  Amo 
contra  suas  vontades,  nem  velem,  nem  roldem.  Outro  si  ne- 
nhuma pessoa  de  Nossos  Regnos  por  poderosa  que  seja  naõ 
pouze  com  elles,  nem  com  seos  Lavradores,  nem  lhe  tomem 
palhas,  nem  cevadas,  nem  roupas,  nem  gallinhas,  nem  bes- 
tas, nem  outras  nenhumas  suas  couzas  contra  suas  vontades, 
nem  paguem  em  nenhum  Nosso  Serviço  que  per  Nós,  nem  per 
os  Nossos  Concelhos  sejaõ  lançados.  Otro  si  nçm  Nos  sirvaõ 
por  Mar,  nem  por  terra.  Cá  Nossa  Mercê  he  de  os  delles  Ha- 
vermos por  Privilegiados  e  francos,  e  quites  de  todelos  ditos 
encargos  e  serviços.  E  porém  Mandamos  que  nenhuma  pessoa 
lhe  nom  vá  contra  estes  Privilégios,  nem  contra  nenhuma 
couza  nelles  contenda.  Cá  Nossa  Mercê  he  de  serem  guarda- 


132 


dos  e  cumpridos  como  em  elles  he  conteúdo;  e  qualquer,  ou 
quaesquer  pessoas  que  contra  elle  forem  em  parte,  ou  em 
todo,  seja  certo  que  Nos  pagará  os  Nossos  eocoutos,  de  seis 
mil  soldos.  E  Mandamos  a  qualquer  dos  Nossos  Almoxarifes, 
e  Escrivaens  que  os  penhorem  logo  por  elles,  e  ao  Escrivão, 
que  os  ponha  logo  sobre  o  Almoxarife,  E  se  lhe  essas  pessoas 
tolherem  os  pinhores,  e  lhos  nom  quizerem  leixar,  Mandamos 
a  todelas  Justiças  dos  Nossos  Regnos,  que  lhos  ajudem  a  pi- 
nhorar,  e  constranger  por  elles.  Cá  Nossa  Meocê  he  de  lhe  se- 
rem guardados  e  cumpridos  como  suzo  dito  he.  Al  nom  fapa- 
des.  E  em  testemunho  desto  lhe  Mandamos  dar  esta  Carla  em 
a  Cidade  de  Guimaraens  7  dias  de  Noveml)ro.  EL-REI  o  Man- 
dou. Diogo  Gonçalves  a  fez.  Era  de  1423  annos.  =  Pedindo- 
Nos  o  dito  Priol,  Dignidades,  Cónegos,  e  Cabido,  Que  lhe  Con- 
firmássemos a  dita  Carta :  E  visto  por  Nós  seo  requerimento, 
e  Querendo-lhe  fazer  Graça  e  Mercê :  Temos  por  bem,  e  lha 
Confirmamos  assi,  e  pela  guiza,  e  maneira  que  se  em  ella 
contém,  e  assi  Mandamos  que  se  cumpra  inteiramente.  Dada 
em  Estremoz  a  11  de  Janeiro.  Vicente  Pires  a  fez.  Anno  de  N. 
S.  Jesu  Christo  de  1497  annos.  »  Pedindo-Me  o  dito  Priol,  Di- 
gnidades, Cónegos,  e  Cabido  por  Mercê  que  lhe  Confirmas>e  a 
dita  Carla.  E  visto  por  Mim  seo  requerimento,  e  Querendo-lhe 
fazer  Graça,  e  Mercê,  Tenho  por  bem,  e  lha  Confirmo,  e  Hei 
por  Confirmada,  e  Mando  que  se  cumpra,  e  guarde  assi,  e  da 
maneira  que  se  nella  contém.  Dada  em  Almeirim  a  14  dias  de 
Fevereiro.  Aires  Fernandes  a  fez.  Anno  de  N.  S.  Jesus  Chris- 
to de  1526.  EL-REI. 

(Tomo  I,  no  Cartório  do  Rd.»  Cab.",  Livro  dos  Privilégios,  fl.  79). 


Outra  Carta  do  Mesmo  Senhor  D.  Joaõ  III 

Dom  Joaõ  por  Graça  de  Deos  Rei  de  Portugal,  e  dos  Algar- 
ves,  d'aquem  e  d'álem  Mar,  em  Africa  Senhor  de  Guiné,  e  da 
Conquista,  Navegação,  Commercio  d'Ethiopia,  Arábia,  Pérsia, 
e  da  índia.  A  quantos  esla  Minha  Carta  virem  Faço  saber,  que 
por  parte  do  Priol,  Dignidades,  Cónegos,  e  Cabido  da  Igreja 
de  Santa  Maria  d'Oliveira  de  Guimaraens  Me  foi  apresentada 
huma  Carta  d'El-Rei  Meo  Senhor  e  Padre,  que  Santa  Gloria 
haja,  de  que  o  theor  tal  he.  =  «  Dom  Manoel  por  Graça  de 
Deos  Rei  de  Portugal,  e  dos  Alharves,  d'aquem,  e  d'além  Mar, 
em  Africa  Senhor  de  Guiné.  A  quantos  esta  Nossa  Carta  virem 
Fazemos  saber,  que  por  parte  do  Priol,  Dignidades,  Cónegos, 


133 


e  Cabido  da  Nossa  Igreja  de  Santa  Maria  de  Guimaraens  Nos 
foi  apresentada  huma  Carta  d'EI-Rei  Dom  Joaõ,  que  lai  he.  = 
Dom  Joaõ  per  Graça  de  Deos  Rei  de  Portugal,  e  do  Algarve. 
A  vós  Gonçaili  Annes  Carvalho,  Corregedor  por  Nós  na  Comar- 
ca d'anlre  Doiro  e  Minho,  e  a  Marlim  Gomes,  Juiz  por  Nós  em 
Guimaraens,  e  aos  Coudees,  e  Apuradores  da  dita  Comarca,  e 
a  todelas  outras  Nossas  Justiças,  a  que  esta  Carta  for  mostra- 
da :  Saúde.  Sabede  que  o  Priol  da  Nossa  Igreja  de  Santa  Maria 
da  dita  Villa  de  Guimaraens  Nos  disse  que  Nós  demos  Nosso 
Privilegio  ao  dito  Priol,  Chantre,  e  Cabido  da  dita  Igreja,  em 
que  Mandamos  que  os  seos  Caseiros,  e  Lavradores,  e  morado- 
res nas  suas  terras,  e  Coutos  fossem  Privilegiados,  que  naõ  pa- 
guem em  Peitas,  Fintas,  nem  Talhas,  nem  em  nenhuns  Encargos 
que  por  Nós,  nem  por  os  Concelhos  onde  elles  morarem  se- 
jaõ  lançados,  nem  vaam  servir  por  Mar,  nem  por  terra  a  ne- 
nhumas partes,  nem  lhes  tomem  seos  Filhos,  nem  filhas  pêra 
servidom  de  nenhumas  pessoas,  nem  lhes  tomem  seos  Bois, 
nem  Bestas,  nem  Pão,  nem  Vinho,  nem  outra  couza  nenhua 
contra  suas  vontades:  Segundo  esto,  e  outras  muitas  couzas 
no  dito  Privilegio  que  lhe  assi  Demos  sam  conteudas;  e  que 
ora  vós  lhes  hides  contra  os  ditos  Privilégios  que  lhes  assi  de- 
mos; e  que  os  constrangedes  que  paguem  em  estes  pedidos, 
que  Nos  ora  pagara  para  a  Guerra  do  Nosso  Senhorio;  e  nos 
encarregos  dos  Concelhos;  e  que  outro  si  os  apurades  para  ir  a 
dita  Guerra;  e  lhes  julgades  os  Filhos  seos  que  os  ajudaõ  a 
manter  suas  cazas,  e  lavoiras  que  vaam  servir  com  os  Nossos 
Vassallos  na  Guerra;  e  que  outro  si  lhes  tomades  seos  Bois,  e 
Bestas,  e  pam  para  encarrego  da  Guerra,  e  lhes  hides  con- 
tra o  dito  Privilegio  que  assi  tem  de  Nós,  e  lhos  nom  que- 
redes  guardar,  porque  dizedes  que  lhos  num  devedes  guardar 
nos  feitos,  e  tempo  da  dita  Guerra:  E  pedio-Nos  o  diio  Priol 
por  Mercê  que  a  esto  lhes  houvéssemos  remédio,  e  lhes  Man- 
dássemos guardar  os  ditos  Privilégios  assi,  e  pela  guiza  que 
lhes  per  Nós  era  outorgado.  E  Nós  vendoo  que  Nos  pedia,  e 
Querendo-lhes  fazer  Graça,  e  mercê  á  honra,  e  reverencia  de 
Santa  Maria,  cujas  as  ditas,  Coutos,  e  Lavradores  são:  Temos 
por  bem,  e  Mandamos-vos  que  vejades  os  ditos  Privilégios,  que 
de  Nós  tem,  e  cumpride-lhos  e  guardade-lhos  em  lodo  pela  gui, 
za  que  em  elles  he  contheudo,  e  lhes  nom  vades  contra  elles- 
nem  parte  delles  por  razam  da  Guerra  que  havemos  com  Nos. 
SOS  inimigos,  nem  per  qualquer  outra  razam,  nem  ocazam- 
Cá  Nossa  Mercê  e  Vontade  hede  lhes  os  ditos  Privilégios  se- 
rem mui  bem  aguardados,  e  cumpirdos  nom  embargando  quaes- 


434 


quer  Mandados,  e  defezas  que  de  nós  haja  des  em  contarario 
d'esto,  os  quaes  Mandados,  e  defezas  Mandamos  que  se  nom 
intenda  no  dito  Priol,  e  Cabido,  nem  em  nos  seos  Coutos, 
herdades,  e  bens,  e  moradores,  e  Lavradores  delles :  E  de  tal 
guiza  o  fazede  que  o  dito  Priol,  e  Cabido  se  não  enviem  a  Nós 
mais  querellas  por  o  nom  quererdes  vós  assi  fazer,  se  naõ  a 
vós  Nos  tornaremos  por  ello,  e  vol-o  estranharemos  grave- 
mente, e  os  huns,  e  outros  ai  nom  façades.  Dante  em  Santa- 
rém em  28  dias  de  Março.  RL-REI  o  Mandou.  Gonçallo  Caldei- 
ra a  fez.  Era  de  1438  annos.  =  Pedindo-Nos  o  dito  Priol,  Di- 
gnidades, Cónegos,  e  Cabido  da  dita  Igreja  que  lhe  Confirmás- 
semos a  dita  Carta:  E  visto  por  Nós  seo  requerimento,  e  que- 
rendo-lhe  fazer  Graça,  e  mercê,  Temos  por  bem,  e  lha  Con- 
firmamos assi,  e  pela  guiza,  e  maneira  que  se  em  ella  con- 
tém, e  assi  Mandamos  que  se  cumpra  inteiramente  sem  outra 
duvida,  nem  embargo  algum.  E  Dada  em  Estremoz  a  4  dias  do 
mez  de  Janeiro.  Vicente  Pires  a  fez.  Anno  do  Nascimento  de 
N.  S.  Jesu  Ghristo  de  1497.»  Pedindo-Me  os  sobreditos  por 
mercê  que  lhe  Confirmasse  a  dita  Carta.  E  visto  por  Mim  seo 
requerimento,  0"6''endo-lhe  fazer  Graça  e  mercê,  Tenho  por 
bem,  e  lha  Confirmo,  e  Hei  por  Confirmada,  e  Mando  que  se 
cumpra,  e  guarde  assi,  e  da  maneira  que  se  nella  contém.  E 
Dada  em  Almeirim  a  14  dias  de  Fevereiro.  Aires  Fernandes  a 
fez.  Anno  de  N.  S.  Jesus  Christo  de  1526.  EL-REL 

(Tomo  I,  no  Cartório  do  Rd.°  Cab.",  Livro  dos  Privilégios,  fl.  82  v."). 


Alvará  d'EI-Rei  o  Senhor  D.  Sebastiõa 

Eu  El-Rei  Faço  saber  aos  que  este  Alvará  virem,  que  Eu 
Hei  por  bem,  e  Me  praz,  vistos  os  Privilégios  que  a  Igreja  de 
Nossa  Senhora  d'01iveira  de  Guimaraens  tem  dos  Reis  passa- 
dos, e  por  outras  justas  causas  que  Me  a  isto  movem  :  Que  os 
Caseiros  da  dita  Igreja  que  estão  assentados  para  ir  nesta  Ar- 
mada, de  que  he  Capitão  Geral  Dom  Duarte  Meo  Muito  Amado 
e  Prezado  Tio,  naÕ  sejaõ  obrigados,  nem  constrangidos  a  ir  na 
dita  Armada;  e  Mando  aos  Officiaes,  e  pessoas  a  que  o  conhe- 
cimento disto  pertencer,  que  assi  o  cumpraò,  e  façaõ  cumprir, 
posto  que  este  Alvará  naÕ  seja  passado  pela  Chancellaria  sem 
embargo  da  Ordenação  em  contrario.  =  Gaspar  de  Seixas  o 
fez  em  L  a  sboai26  de  Junho  de  \hl2.  =  Jorge  da  Costa  o  íiz 
escrever.  =  REL  =  Miguel  da  Cama. 

(Tomo  I,  no  Cartório  do  Rd."  Cab.",  Livro  dos  Privilégios,  fl.  100). 


d35 


Alvará  d'EI-Rei  o  Senhor  D.  Affonso  VI 

Eu  El-Rei  Faço  saber:  Que  por  Me  representar  Dom  Diogo 
Lobo  da  Silveira,  Prior  da  Insigne  e  Real  Collegiada  de  Giii- 
maraens,  e  o  Cabido  delia,  que  naõ  queriaõ  guardar  os  Privi- 
légios que  se  havião  concedido  á  Igreja  de  Nossa  Senhora  da 
Oliveira,  ordenando-se  por  elles  que  os  seus  Caseiros  naõ  ser- 
vissem na  Guerra,  nem  lhe  tomassem  seus  Filhos,  e  outro  si 
Bois,  Cavalgaduras,  palha,  mantimentos,  nem  levallos  aos 
Exércitos;  e  que  a  tudo  isto  os  obrigaõ;  como  também  em 
suas  Casas  se  lhe  lanç,aõ  alojamentos  d'Infanteria,  e  Cavallaria 
de  modo,  que  iargaõ  os  Gasaes,  e  os  deixaõ  devolutos:  Pedindo- 
Me  se  lhes  dé  cumprimento  aos  ditos  Privilégios,  pelos  terera 
desde  o  Senhor  Dom  Affonso  Henriques,  que  Deos  haja,  alé  o  pre- 
sente, por  que  sem  isso  era  grande  o  prejuizo  a  arrecadação  da 
Renda  da  dita  Igreja  pelos  obrigarem  a  estas  assistenciais,  e  ave- 
xações:  O  que  visto,  e  o  mais  que  por  sua  petição  Me  repre- 
sentarão: Hei  por  bem,  e  Mando  se  guarde  aos  Supplicanles  os 
Privilégios  taõ  inteiramente  como  se  lhe  tem  Concedido,  e  o  Te- 
nho já  resoluto  em  outras  Ordens,  que  Tenho  Mandado  passar  a 
seo  favor.  Pelo  que  Ordeno  ao  Governador  das  Armas  da  Pro- 
víncia, e  Exercito  do  Minho  naõ  consinta,  que  com  os  ditos 
Caseiros  se  intenda,  e  lhe  faça  guardar  este  Alvará  taõ  inteira- 
mente como  nelle  se  contém,  sem  lhe  pôr  duvida  alguma.  E 
Mando  aos  Officiaes  de  Guerra,  Justiças,  Fazenda,  e  aos  das 
Camarás  façaõ  o  mesmo  dando-lhe  cumprimento  ao  que  por 
elle  Ordeno  por  assi  o  Haver  por  bem;  o  qual  valerá  como 
Carta,  posto  que  seo  effeito  haja  de  durar  mais  d'hum  anno, 
sem  embargo  da  Ordenaçaaõ  em  contrario  Livro  2.°  Tit.°  40. 
Joaõ  Ribeiro  a  fez  em  Lisboa  aos  2  dias  do  mez  de  Março  de 
1663  annos.  = /^rancwco  Pereira  da  Cunha  a  fez  escrever. 
=  REI.  > 

O  Conde  da  Ericeira. 

Joanne  Mendes  de  Vasconcellos. 

Alvará  por  que  Vossa  Magestade  Ha  por  bem  de  que  se 
guarde  os  Privilégios  que  tem  os  Caseiros  de  Nossa  Senhora 
d'Oliveira,  como  acima  se  declara. 

Para  Vossa  Magestade  ver. 

Por  Despacho  do  Conselho  de  Guerra  de  26  de  Fevereiro  de 
1663.  =  Registada  no  Livro  2.°  da  Secretaria  da  Guerra  a  (1.  1 46. 

(Tomo  1,  do  Cartório  do  Rd.»  Cab.",  Livro  dos  Privilégios,  fl.  140  v.»). 


DOCUMENTOS   INÉDITOS 

D03 

SÉCULOS    XII-XV 
(Continuado  da  pag.  70) 


MOSTEIEO    DE    SOUTO 

xcn-xxvr  a    • 

1303 

Sentença  acerca  da  porção  de  vinho,  que  diariamente  devia  ser  dado 
aos  frades  de  Souto 

Nouerint  uoiuersi  quod  cum  Reuerendus  pater  domnus 
Martinus  dei  prouidentia  sancte  Bracarecsis  ecclesie  archiepis- 
copus  accederet  ad  monasteriura  de  Sauto  eiusdem  diocesis 
ad  uisitandum  ipsum  et  canonici  ipsius  monasterij  dicerent  se 
grauatos  super  portionem  uídj  sibi  ministranda.  venerabilis  uir 
domnus  Guns-aluus  iohannis  thesaurarius  Bracarensis  ac  pre- 
dicti  domni  archiepiscopi  vicarius.  me  Geraldo  stephanj  tabel- 
lione  Bracarense  adhibito  et  presente  ac  lestibus  infrascriptis. 
uisa  mensura  portionis  uinj  que  die  qualibet  ministrabatur  cui- 
libet  canonicorum  monasterij  supradicti.  taxata  conpetenti  por- 
tione  uinj  cuilibet  ipsorum  canonicorum  pro  ut  expediens  uisum 
fuit  de  mandato  prefati  domni  archiepiscopi  sibi  super  hoc  spe- 
cialiter  tradito  et  concesso  mandauit  per  sententiam  Dominico 
petri  priorj  monasterij  supradicti  qui  presens  erat  quod  trans- 
acto tempore  rende  istius  annj  ipsius  monasterij  pro  ad 

ciuitatis  Bracarensis  ut  cum  ipse  inciperet  recipere  fructus  et 
rendas  ipsius  monasterij  quod  ministret  qualibet  die  cuilibet 


137 


canonicorum  dicti  monasterij  singulos  quartos  uinj  per  men- 
suram vimaraneosem  ad  prandium  et  singulos  ad  cenam,  et 
quod  rainistret  eis  tiuiusmodj  uinum  ut  dictum  est  sine  aqua 
usque  ad  festum  pasche  conpulaodo  a  festo  beati  Michaelis 
iisque  ad  dictum  festum.  et  quod  ab  ipso  festo  pasche  usque 
ad  uinum  nouum  det  siue  ministret  cuilibet  eorumdem  predi- 
ctos  quartos  uinj  cum  quarta  parle  aque  pro  ut  superius  est 
iam  dictum.  inhibuit  eliam  dicto  priorj  quod  non  ponat  seu 
poDJ  faciat  aquam  in  cupis  unde  portionem  suam  percipere 
debent  canonici  supradicti  nisi  pro  ut  superius  est  diuisum. 
Presentibus  domno  Alfonso  pelagij  archidacono  et  virario  Bra- 
carensi.  Petrus  fernandis?  canónico  vimaranensi.  Geraldo  mar- 
tinj  monacho  monasterij  de  Adauffe  et  mullis  aliis.  Ego  uero 
tabellio  supradictus  habens  potestatem  a  domino  Rege  perhi- 
bendi  testimonium  in  hijs  que  spectant  ad  iurisdicionem  domi- 
dí  archiepiscopi  per  totum  Regnum  Portiigalie  rogatus  premis- 
sis  interfuj  et  inde  confeci  hoc  publicum  instrumentum  signo 
meo  signatum  in  testimonium  uerilatis,  Actum  apud  dictum 
monasterium.  xvi  -f  Kalendas  Januarij,  anno  domini  millesi- 
mo.  Gcc.  iiii. 

Jacobus.  Laurentis.  iMartinus.  lestes. 


xcin-xxxn  a 


1310 


Carta  de  venda  de  propriedades,  sitas  nas  freguezias  de  Santo  Thyrso 
de  Prazins  e  Mosteiro  de  Souto 


Conhoscam  quantos  esta  carta  virem  que  eu  Joham  domin- 
guês  e  minha  molher  Maria  fagundis  e  eu  Martim  martins  e 
minha  molher  Domingas  fagundis  vendemos  a  Domingos  do- 
mingues  filho  de  Sancha  godins  todo  o  herdamenlo  que  nos 
auemos  nas  freejguisias  de  santo  Tisso  de  plasij  e  na  do  san 
Saluador  de  Souto  o  qual  auemos  de  parte  de  nosso  padre  e 
de  nosa  madre  com  seus  derejlos  e  pertcenças  de  monle  em 
fonte  por  preço  que  de  uos  recebemos  dez  marauedis  e  sa  re- 
uora  ca  tanto  a  nos  e  a  uos  aproube  e  do  preço  nem  migalha 
ficou  por  dar.  Por  ende  aiades  uos  esse  herdamenlo  com  seus  de- 


138 


rejtos  como  de  suso  dito  e  pêra  todo  senpre.  Se  alguém  con- 
tra esta  carta  quiser  uijr  non  liij  seia  outorgado  majs  quanto 
quiser  demandar  ou  enbargar  tanto  a  uos  eu  dobro  componha 
e  a  quem  uosa  voz  derdes  pejtelhj  d,  soldos  e  a  carta  ualher 
ííeila  a  carta  em  Guimaraens  v.  dias  de  julho  e.  m.  ccg.  lx. 
e  ojto  anos.  testemunhas  Marlim  afonsso.  Pedro  iohanes  dou- 
tejro.  Domingos  meendis  coonigo  de  souto.  Steuom  pães  ta- 
balion.  Gonçalo  Steueez  de  souto.  Domingos  sousela  e  outros 
e  eu  Giraldo  steuees  tabaliom  de  Guimaraens  a  esto  foj  pre- 
sente e  esta  carta  screuj  e  meu  sig  -j-  nal  hj  pugj  que 
tal  é. 

(Continua). 
Tagilde— 1891. 

Oliveira  Guimarães. 


FOLK-LORE 


SUPERSTIÇÕES 

(Continuação  da  pag.  51  vol.  viu) 


«  Superstições  são  o  phenorae- 
no  capital  da  sobrevivência  dos 
costumes. 

«O  caracter  da  persistência 
ethnica  da  superstição  dá  a  este 
phenomeno  uma  alta  importância 
para  descobrir  os  estados  primi- 
tivos do  espirito  humano,  e  ao 
mesmo  tempo  para  deduzir  da 
complicada  accumulação  de  ele- 
mentos estranhos  nos  mythos  a 
sua  simplicidade  primordial». 

(Do  jornal  Á  Volta  do  Mundo, 
vol.  n,  pag.  41 :  Superstições  po- 
pulares em  Portugal,  por  Theo- 
pbilo  Braga). 

53.» 

O  povo  não  come  a  cabepa  nem  a  cauda  à  enguia, 
eiróz,  ou  safio  anguioso  {murena  anguilià),  porque  tem  o  in- 
veterado prejuízo  de  que  são  venenosas. 

54.* 

O  caçador,  quando  vai  afuroar,  não  consente  ao  pé  de  si 
mulher  alguma,    porque  se    o    furão  (mamífero  da   família 


140 


dos  digitigrados  e  uma  das  espécies  do  género  marta)  a  avis- 
tar « entoôa  »,  isto  é,  fica  dentro  da  lura  do  coelho. 

55.* 

É  costume  espetar  alfinetes  no  habito  dos  anjinhos,  por- 
que o  povo  crê  que  elles  se  não  esquecem  de  orar  a  Deus 
pela  alma  de  quem  ]h'os  pregou. 

56.'' 
Quem  tiver  os  dentes  raros  dá  mostras  de  ser  mentiroso. 

57.* 
Õ  que  faz  crescer  os  pepinos  {cucumis  sativus)  é  o  luar. 

58.* 

Fermento  amassado  com  vinagre  e  posto  na  « cova  dos 
ladrões»  [ethmoide]  é  um  supersticioso  remédio  popular  para 
mitigar  as  dores  de  dentes. 

59.* 

As  meias  calçadas  do  avesso  livram  das  mordeduras  de 
cães  raivosos  (hydrophobos). 

60.* 

Não  se  deve  matar  lagartixas  (reptil  da  ordem  dos  sau- 
rm)  em  dia  de  sol,  porque  no  seguinte  vem  chuva. 

61.* 

As  creanpas  ougadas  desaguam -se  dando-lhes  a  comer  um 
bolo  de  fermento  frito  em  azeite,  e  o  resto  atira-se  ao  primei- 
ro cão  que  apparecer,  que  a  creanpa  fica  logo  desougada. 

62.* 

Não  se  deve  lastimar  nem  ter  dor  dos  animaes,  quando 


141 


se  estão  a  matar,   porque   mais  lhes  custa  a  morrer  e  mais 
penam. 

63.* 

Para  que  as  creanças  percam  o  medo,  dá-se-lhes  um  «  pa- 
tusco »  (pequeno  bolo  de  farinha  amassado  e  cozido  no  forno) 
'a  comer  atraz  da  porta. 

64.^ 

Quando  passa  algum  defunto  em  frente  da  casa,  em  que 
esteja  alguém  deitado  a  dormir,  é  costume  fechar  as  janellas, 
«que  não  é  bom  que  a  sombra  do  cadáver  entre  em  casa». 

65.* 

Não  é  bom  pôr  «lagrimas»,  «brincos  de  princeza»  [fu- 
chsias)  ao  peito  ou  bontonnière,  porque  é  sempre  mau 
agouro. 

66.^ 

Não  se  deve  queimar  cannas,  que  faz  dures  de  dentes. 

67.» 

Bater  com  cannas  nas  creanças  fal-as  seccar. 

(Continua).  * 

Abílio  de  Magalhães  Brandão. 


subsídios  para  a  historia 

DAS  INDUSTRIAS  VIMARANENSES 


.f 


Excesso  de  reforma  liberal  em  detrimento  agrícola 

e  Industrial 


(Continuado  da  pag.  96) 

As  tres  formulas  de  solução  da  questão  social,  d'essa 
guerra,  que  ameaça  subverter  toda  a  ordem  estabelecida,  são 
mui  claramente  aconselhadas  ou  indicadas  na  ultima  encyclica 
do  sábio  e  talentoso  Leão  xiii.  O  illustrado  pontífice  não  com- 
metle  o  erro  de  pregar  uma  contra-corrente,  avivando  o  ódio 
entre  os  elementos  de  lucta:  esforça-se,  bem  sciente  da  na- 
tureza da  lucta  e  da  força  dos  combatentes,  fortalecido  por  sãos 
princípios  de  philosophia  social,  e  com  os  dictames  do  Evan- 
gelho, por  firmar,  pelo  menos  para  a  solução  christã  ou  in- 
dividualista, as  condições  ou  elementos  de  conciliação  e  har- 
monia entre  proletários  e  burguezes,  entre  ricos  e  pobres,  en- 
tre emprezarios  e  operários,  condemnando  como  contraria 
aos  mais  elementares  princípios  de  ordem,  justiça  e  bom  sen- 
so a  doutrina  socialista  da  escola  collectivista.  A  igualdade 
absoluta  é  um  ideal,  que  pôde  constituir  um  estimulo  de  tra- 
balho e  de  esforços,  mas  que  não  é  possível  impôr-se  quando 
a  natureza  creou  desigualdades  irreductiveis. 

O  sábio  hespanhol  Azcárate,  na  sua  excellente  Historia  de 
Direito,  remata  cora  um  estudo  profundo,  minucioso  e  sensa- 
tíssimo da  questão  social  *. 


*  O  nosso  estadista  e  diplomata,  o  snr.  conde  de  Casal  Ribeiro, 
em  um  notável  discurso  proferido  na  ultima  sessão  parlamentar,  sus- 
tentou a  necessidade  da  evoluç<ão  socialista,  por  idêntica  preocupação 
dos  perigos  que  ameaçam  a  ordem,  e  inspirado  na  doutrina  dosocia- 
lismo  moderado  que  guiou  Azcárate  no  seu  estudo,  e  o  sábio  pontífice 


143 


Criticando  a  exaggeração  individualista,  ou  melhor  dire- 
mos—  egoísta,  da  sociedade  moderna,  —  producto  da  exagge- 
ração liberal  e  da  escola  philosophica  vulgarisada  pelo  sábio 
allemão  Ahrens,  oppondo  as  espheras  jitridicas  ás  invasões  nos 
dominios  da  consciência,  e  formulando  assim  um  limite,  uma 
divisão  completa,  uma  separação  irreductivel  entre  a  moral  e 
o  direito,  o  jurisconsulto  e  historiador  peninsular  observa  os 
prejuizos  e  desordem  no  regimen  da  propriedade  imraovel, 
principalmente  rural  e  os  aggravamentos  da  lucta  entre  a  in- 
dustria e  o  capital:  Diz  elle: 

«  Cudles  son,  en  concludion,  das  cuestioses  que,  òajo  el 
aspecto  económico,  entraha  el  problema  social?  Dos :  una, 
la  de  la  armonia  de  la  propriedad  individual  con  la  social; 
atra  la  de  la  equivalência  de  los  servidos  que  se  cambian, 
la  qual  encierra  d  su  vez  otras  dos  principales :  primeva,  la 
referente  d  las  relaciones  entre  capitalistas  e  obrêros;  segun- 
da, la  referente  d  las  relaciones  entre  los  proprietários  de  la 
tierra  y  los  cultivadores  de  la  misma.  Ahora  bien:  si,  se- 
gun  hemos  visto,  por  virtud  do  las  tendências  hasta  el  pre- 
sente dominantes  en  la  sociedad,  esta  ha  venido  d  jjarar  d 
un  alomismo,  en  cierlo  modo  inorgdnico,  que  se  refleja  en 
el  predomínio  dei  individualismo  en  la  constilucion  de  la 
propriedad;  si  en  las  condiciones  económicas  que  reciproca- 
mente se  prestan  los  hombres,  en  el  cambio  de  servidos  que 
se  verifica  en  médio  de  una  amplia  y  libre  concurrencia, 
impera  el  inferes  personal,  en  vez  de  estar  sometido  d  la  ra- 
zon,  como  debe  estarlo  asi  en  esta  como  en  las  demas  esfe- 
ras de  la  vida;  si  en  las  relaciones  entre  capitalistas  ij  obrê- 
ros predomina  la  forma  dei  salário,  y  solo  por  e.vcepdon 
existen  la  partidpacion  en  los  benefícios  y  la  cooperacion  que 
son  preferibles  d  aquella;  asi  como,  analogamente,  la  renta 
es  la  forma  general  de  las  relaciones  entre  proprietários  ter- 
ritoriales  y  trabajadores  agricolas,  y  excepcionales  la  apnr- 
ceria  y  la  cooperacion  y  si,  por  ultimo,  loque  hai  en  el  fon- 
do  dei  problema  social  es  una  protesta  contra  el  individua- 


na  sua  notável  encyclica.  O  digno  par  quer  a  intervenção  simultânea 
do  Estado,  da  Egreja  e  dos  cidadãos,  e  não  a  acção  al)sorvonte  e  ex- 
clusiva d"algum  d'estes  factores;  é  o  pensamento  de  Azcáiato,  como 
único  meio  da  sustentação  d'equiiibrio  politico,  e  conciliação  das  já 
numerosas  escolas,  de  modo  que  a  liberdode  individual  seja  razoa- 
velmente garanti-la,  e  satisfeitas  até  quanto  humanamente  o  podem 
ser  aspirações  de  igualdade. 


144 


lismo  dominante,  es  la  aspiracion  d  hallar  la  armotiia  en- 
tre la  totalidad  y  la  individualidad,  á  alcanzar  el  reinado 
de  la  igualdad  posible,  d  aproximar-se  quanto  sea  dado  á 
la  ecuacion  entre  las  aspiraciones  y  los  médios  de  reali- 
zarias, d  extender  y  acrecentar  la  participacion  en  estos  dei 
proletariado,  claro  es  que  las  imperfecciones  que  en  el  orga- 
nismo económico  actual  he  mos  encontrado  son,  más  ó  me- 
nos, causa  de  que  esos  biennes  no  se  realicen  y  de  que  los 
males  opuestos  se  produzan.  Tienen  estos  remédio  en  todo  ó 
en  parte  í  Eso  es  lo  que  vamos  d  vêr  examinando  la  segun- 
da parte  dei  tema ;  esto  es,  la  medida  en  que  toca  la  solucion 
dei  problema  social  ai  individuo,  d  la  sociedad,  y  ai  Es- 
tado ». 

Veremos  n'outro  artigo,  ou  artigos,  como  Azcárate  propõe 
a  resolução  do  problema,  com  as  três  formulas  indicadas  — 
christã,  socialista  e  individualista,  repellindo  as  exaggerações 
liberaes,  regeitando  as  phantasias  e  desvairameutos  socialistas, 
harmouisaudo  emQm  o  direito  dos  pobres  e  o  direito  dos 
ricos. 

Convém  a  todos  a  convicção  das  próprias  fraquezas,  dos 
perigos  que  os  ameaçam  persistindo  na  sua  intransigência, 
uns  pela  absorpção,  outros  pela  igualdade  chimerica. 

(Continua). 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 


Estatutos  dos  Ourives  de  Ouro  e  Prata  da  villa  de  Guimarães  que  fize- 
ram para  o  bò  regimen  do  seu  oíficio  no  anno  de  1781  e  motivos 
que  tiveram  os  Ourives  de  Ouro  e  Prata  para  estabelecerem  este 
compromisso. 

CAPITULO  IV 

Que   os    Ourives  de   Ouro,  ou  Prata, 

sendo  solteiros,  ainda  que  tenham  feito  seu   exame, 

não  possão  abrir  Tenda  sem  primeiro  darem  fiança. 

Estando  o  aprendiz  examinado  e  approvado  pelo  juiz  e 
contraste  do  oíGcio  respectivo,  e  com  a  carta  passada,  não  po- 


145 


dera  abrir  tenda  publica  nesta  villa,  e  seu  termo,  e  cornai 
ca,  nem  o  juiz  e  Contraste  lhe  poderão  dar  licença,  sem  que 
primeiro  dê  fiador  cham,  e  abonado  da  quantia  de  200^000 
reis,  e  se  fará  um  termo  no  livro,  em  que  o  fiador  e  exami- 
nado assignarão,  para  que  se  evitem  os  muitos  encomodos 
e  descaminhos  que  podem  prejudicar  a  Republica,  que  se  po- 
dem seguir  dos  solteiros  auzentaudose  com  peças,  que  se 
lhe  entregão  para  conservarem,  ou  sinal  que  se  lhe  dá  para 
de  novo  se  lhe  fazerem,  e  com  a  dita  fiança  fica  cessando 
todo  o  receio  que  poderá  haver. 

Porém  da  dita  fiança  será  izempto  o  que  for  casado,  por 
nelle  se  considerar  mais  capacidade  que  no  solteiro,  e  ter 
mais  cabedais,  e  por  razão  da  sua  família  não  ficar  ao  desam- 
paro, nunca  se  atreverão  a  fazer  desturvios  com  tanta  facili- 
dade como  o  solteiro  que  vive  desembaraçado  e  livre  para 
qualquer  desacerto.  E  os  juizes  que  derem  licença  aos  exami- 
nados para  exercerem  o  ofllcio  sem  a  dita  fiança  pagarão  de 
pena  1 0^^000  reis  para  a  fabrica  da  capella  do  mesmo  Santo 
Eloy,  e  logo  fará  dar  a  terceira  fiança  ao  solteiro  e  não  a  fa- 
zendo dar  ficará  obrigado  á  dita  quantia  de  200;$í000  reis  pel- 
los  encomodos  que  succederam  por  falta  delia. 

E  outro  sim,  declaramos,  o  havemos  por  bem,  que  ainda 
que  os  ourives  de  ouro  e  prata  não  queirão  por  logea  pu- 
blica de  trabalho  ou  salla,  ou  em  casa  particular  sem  ser  pu- 
blica, uzando  de  trabalhar  em  ouro,  ou  prata,  ou  en  outra 
qualquer  casta  de  metal,  e  por  tal  ganharem  salários  de  par- 
tes, que  lhes  pagem,  estes  se  examinarão  na  forma  dos  mais, 
e  desobedecendo  ao  mandato  do  juiz,  ou  contraste  de  não  uza- 
rem  da  arte  em  quanto  não  forem  examinados,  incorrerão  na 
pena  do  capitulo  ii,  que  farão  cumprir  irrevogavelmente  fi- 
cando sempre  suspenso  em  quanto  se  não  examinar. 

(Continua). 


8."  ÂHKO.  10 


INSTRUCÇlO  POPULAR 


Lei    de   2    de   maio    de    1878 

(Continuado  da  pag.  97) 

CAPITULO  VII 

Artigo  45."  São  creadas  nas  cidades  de  Lisboa  e  Porto 
duas  escolas  normaes  de  primeira  classe,  uma  para  habilita- 
ção de  professores,  outra  para  habilitarão  de  professoras,  de 
ensino  primário  elementar  e  complementar. 

§.  1.°  Nas  escolas  de  primeira  classe  para  o  sexo  mascu- 
lino haverá  até  quatro  professores  com  o  ordenado  de 
400:000  reis  cada  um,  e  quarenta  alumnos  com  a  pensão  de 
7)^000  reis  por  mez  durante  a  frequência. 

|.  2."  Nas  escolas  de  primeira  classe  para  o  sexo  femini- 
no haverá  até  três  professoras  com  o  ordenado  de  300?$(000 
reis  cada  uma,  e  quarenta  alumnas  com  a  pensão  mensal  de 
7j5iOOO  reis  durante  a  frequência. 

Artigo  46,°  A  despeza  com  o  pessoal  das  escolas  normaes 
de  primeira  classe  será  paga  pelo  estado.  As  pensões  aos  alum- 
nos, bem  como  a  acquisipão  e  conservação  dos  edificios  onde 
devem  ser  estabelecidas  as  escolas,  a  mobilia  e  bibliolheca, 
o  expediente  das  aulas,  e  os  prémios  aos  alumnos  distinctos, 
ficam  a  cargo  da  junta  geral  do  districto  respectivo,  como  des- 
pezas  obrigatórias. 

Artigo  47."  Nos  outros  districtos  administrativos,  afora  os 
de  Lisboa  e  Porto,  estabelecer-se-hão  escolas  normaes  de  se- 
gunda classe,  cujo  numero  não  será  inferior  a  dez,  para  habi- 
litação de  professores  e  professoras  de  ensino  elementar. 


147 


|.  !.*•  Estas  escolas  serão  sustentadas  pelas  juntas  geraes 
de  um  ou  mais  disirictos,  e  pelo  estado,  nos  mesmos  termos 
do  artigo  precedente. 

|.  2."  O  pessoal  docente  das  escolas  de  segunda  classe 
para  o  sexo  feminino  será  de  duas  professoras  e  uma  ajudan- 
te;  aqnellas  com  o  ordenado  annual  de  240)$í000  reis,  e  esta 
com  180)!)ÍOOO  reis. 

|.  4,**  Os  professores  de  instrucção  secundaria,  especial 
ou  primaria,  que  regerem  os  cursos  de  que  trata  o  |.  2."  d'es- 
te  artigo,  percebem  annualmente  uma  gratificarão  correspon- 
te  a  dois  terços  dos  ordenados  estabelecidos  no  mesmo  |. 

|.  ^.°  O  numero  de  pensionistas,  tanto  nas  escolas  de  se- 
gunda classe  do  sexo  masculino,  como  do  sexo  feminino  será 
até  vinte.  A  pensão  mensal  é  de  6^000  reis. 

Artigo  48."  Os  aUimnos  e  alumnas  pensionistas  são  obriga- 
dos a  servir  o  magistério  publico  durante  seis  annos,  e  a  res- 
tituir a  importância  das  pensões  recebidas  se  faltarem  àquella 
obrigação,  ou  se  forem  expulsos  das  escolas  normaes  pelo  seu 
mau  procedimento  e  falta  de  applicação. 

|.  1."  Os  pães,  tutores  ou  outras  pessoas  a  cujo  cargo  es- 
tavam a  sustentação  e  a  educação  dos  alumnos  e  alumnas  pen- 
sionistas, pelo  simples  facto  de  auctorisarem  a  admissão  dos 
filhos  ou  tutelados  nas  escolas  normaes,  ficam  solidariamente 
responsáveis  com  elles  para  a  restituição  de  que  trata  o  |.  an- 
tecedente. 

|.  2.**  Os  alumnos  e  alumnas  pensionistas,  que  depois  de 
providos  abandonarem  as  cadeiras,  ou  forem  demittidos  por 
mau  serviço,  ou  mau  comportamento,  são  obrigados  a  resti- 
tuir as  pensões,  descontando-se-lhes,  porém,  um  decimo  da 
importância   total   por   anno  do  serviço  anterior  á  demissão. 

§.  3.°  O  fallecimento  do  alumno  ou  alurana,  acontecido 
emquanto  frequenta  a  escola  normal,  ou  está  cumprindo  a 
obrigação  do  ensino,  acaba  toda  a  responsabilidade  dos  fiado- 
res. 

|.  4.°  O  ministério  publico  é  competente  para  seguir  cm 
juizo  os  termos  do  processo,  necessários  para  a  indemnisação 
a  que  se  referem  os  ||.  antecedentes,  quando  os  meios  adminis- 
trativos não  hajam  produzido  resultado. 

Artigo  49.°  O  governo  determina  em  regulamentos  espe- 
ciaes  as  disciplinas  que  hão  de  constituir  o  ensino  normal  nas 
escolas  de  primeira  e  segunda  classe,  a  organisação  e  duração 
dos  cursos,  e  todas  as  mais  condições  de  matricula,  retribui- 
ção que  poderá  ser  exigida,  frequência  e  exames. 


148 


|.  único.  No  provimento  dos  logares  de  professores  e  pro- 
fessoras das  escolas  normaes  devem  ser  observadas  as  regras 
seguintes : 

I.  Para  as  escolas  normaes  de  primeira  classe  são  prefe- 
ridos os  professores  vitalicios  das  escolas  normaes  de  segun- 
da classe,  que  tiverem  o  diploma  do  curso  completo  de  ensino 
normal,  ou  servifo  dislincto  por  mais  de  cinco  annos  n'uraa 
escola  complementar. 

II.  Para  as  escolas  normaes  de  segunda  classe  serão  pre- 
feridos os  professores  vitalicios  de  ensino  complementar,  que 
se  hajam  tornado  distinctos  pelo  seu  comportamento  e  serviço 
de  magistério. 

Artigo  50."  Annexa  a  cada  escola  normal  haverá  uma  es- 
cola com  ensino  elementar  e  complementar  para  os  exercícios 
práticos  de  pedagogia. 

(Continua). 


BOLETIM 


Na  sessão  de  6  d'abril  tomou  posse  da  gerência  da  Socie- 
dade a  nova  direcção,  que  distribuiu  entre  si  os  diversos  pel- 
louros  na  forma  seguinte  : 

Presidente  e  director  da  Revista  de  Guimarães  —  Dr.  Ave- 
lino da  Silva  Guimarães. 

Vice-presidente  —  Dr.  António  Augusto  de  Freitas. 

Secretario  —  Gaspar  Loureiro  d'AIraeida  Cardoso  Paul. 

Vice-secretario  e  director  do  serviço  escolar  —  Reverendo 
Padre  Gaspar  da  Costa  Roriz. 

Director  dos  museus  —  Dr.  José  de  Freitas  Costa. 

Director  da  bibliotheca  —  Dr.  Caetano  Mendes  Ribeiro. 

Thesoureiro  —  Simão  Eduardo  Alves  Neves. 


N'esta  sessão  foi  apresentada  a  seguinte  proposta: 

I 

Segundo  o  artigo  19.°  da  lei  de  2  de  maio  de  1878  (transcripta  no 
7.0  vol.  da  Revista  de  Guimarães),  tem  de  estabelecer-se,  em  regra, 
uma  escola  de  ensino  de  instrucção  primaria  elementar  para  cada  sexo, 
em  cada  freguezia. 

Segundo  o  artigo  25. o,  as  camarás  municipaes  devem  estabelecer 
cursos  temporários  de  duração  nunca  inferior  a  seis  mezes,  nas  loca- 
lidades onde  circumstancias  especiaes  se  opponham  ;'i  creação  imme- 
diata  das  escolas,  segundo  as  regras  estabelecidas  no  artigo  19." 

Não  ha  n'este  concelho  d'estes  cursos  temporários ;  não  ha  uma 
escola  em  cada  freguezia,  nem  pôde  havel-a,  aliás  as  contribuições  mu- 
nicipaes attingiriam  enorme  somma. 


150 


Com  as  vinte  e  uma  escolas,  já  estabelecidas  era  diversos  pontos 
do  concelho,  a  camará  municipal  inclue  no  orçamento  a  verba  de 
3:575^000  reis. 

Se  houvera  de  euoiprir-se  a  lei  cora  a  máxima  exacção,  dotando 
com  escolas  do  sexo  masculino  e  feminino  cada  uma  das  oitenta  fre- 
guezias  do  concelho,  não  chegaria  talvez  a  verba  de  20:0005000 
reis  annuaes. 

É  impossível,  no  estado  geral  de  depauperamento,  no  estado  de  diffi- 
culdades  económicas,  já  tão  sentidas  n'este  concelho  e  reveladas  nas 
difflcLildades  e  atrazos  da  cobrança  tributaria,  nos  números  estatís- 
ticos da  emigração,  na  abundância  de  execuções  judieiaes,  no  crescen- 
do de  dividas  hypotheearias,  pedir-se  ás  vereações  vimaranenses  alar- 
gamentos excessivos  de  despezas,  a  que  teria  de  corresponder  o  incre- 
mento excessivo  de  tributação  directa  ou  indirecta. 

Por  outro  lado,  a  necessidade  do  derramamento  da  instrucção  pri- 
maria, base  da  mais  indispensável  educação  popular,  impõe-se  cada 
vez  mais  urgentemente  de  facto  aos  desenvolvimentos  da  instrucção 
nos  diversospovos  cultos,  imposição  que  se  revela  nos  esforços  que 
diversos  municípios  do  paiz  empregam  para  resolver  este  importante 
problema  social,  nos  legados  instituídos  nos  seus  testamentos  por  be- 
neméritos patriotas  (e  é  a  esta  proveniência,  nunca  demais  louvada, 
que  se  devem  as  escolas  de  Gondomar,  Sande,  S.  Martinho  do  Conde, 
Briteiros,  Vizella),  nos  cuidados  que  aos  diversos  governos  tem  mere- 
cido este  capitulo  de  administração  publica,  nos  esforços,  emflm,  da 
imprensa  periódica,  e  d'algun8  publicistas  e  escriptores  mais  dedica- 
dos ao  progresso  nacional  pela  instrucção  popular. 

As  recentes  questões  coloniaes,  o  crescendo  temeroso  da  emigra- 
ção, vieram  avivar  ainda  mais  a  preoccupação  publica  pela  compre- 
hensão  geral  não  só  da  nossa  pequenez  e  abatimento  politico,  como  do 
atrazo  das  classes  populares  que  não  só  as  mantém,  dentro  do  paiz, 
em  lucta  com  a  penúria,  mas  relativamente  inhabeis  para  a  lucta  do 
trabalho,  quer  nas  possessões,  quer  nos  paizes  estrangeiros,  em  con- 
corrência com  os  emigrantes  d'outros  paizes,  como  da  Inglaterra,  como 
da  Itália,  da  Allemanha,  da  França,  mesmo  da  Hespanha. 

Se  pois  o  desenvolvimento  da  instrucção  geral,  especialmente  da 
instrucção  popular,  e  da  primaria  como  pedra  angular  d'aquellas,  é  a 
maior  necessidade  da  presente  época  :  urge  estudar  o  meio  de  desen- 
volvel-a  dentro  das  forças  económicas  de  cada  concelho,  urge  preterir 
quaesquer  outras  despezas  mais  adiáveis,  urge  emfim  attender  cora 
preferencia  a  melhoramentos  materiaes,  cujo  excesso  tem  arruinado  o 
paiz,  ao  melhoramento  das  instituições  de  instrucção. 

Em  1872,  já  Laveley  (Vínstruction  du  Peuple)  aílirmára,  que  não 
era  só  na  Europa  mas  que  em  todo  mundo  existia  a  preoccupação 
dos  problemas  da  instrucção  do  povo ;  que  na  Hollanda,  que  na  Bélgi- 
ca, era  a  instrucção  do  povo  o  grande  campo  de  combate  dos  parti- 
dos ;  que  na  Austrália,  no  Canadá,  no  Chilí,  no  Brazil,  nos  paizes  de 
origem  latina,  como  nos  de  origem  anglo-saxonica,  o  desenvolvimen- 
to da  instrucção  do  povo  occupava  uma  grande  parte  da  actividade 
pensante. 

É  vulgar  a  affirmação  de  que  a  prosperidade  dos  Estados-Unidos 
se  deve  tanto  á  energia  do  povo  americano,  como  á  comprehensão  ge- 
ral da  utilidade,  da  imprescindibilidade  da  instrucção  popular. 

Não  será  o  desenvolvimento  da  instrucção  popular  o  segredo  da 
prosperidade  dos  pequenos  paizes,  como  a  Suissa  ? 


151 


A  elegante  e  eloquente  demonstração  de  Laveley  radica,  a  jorros 
de  luz,  o  conhecimento  d'esse  segredo : 

«A  Suissa,  pelo  ensino  obrigatório  e  pelos  sacrifícios  que  far 
com  o  ensino,  é,  como  a  America  do  Norte,  um  dos  paizes  onde  a  ins- 
trucção  produz  os  resultados  moraes,  políticos  e  commerciaes  os  mais 
decisivos.  Graças  á  diíTusão  geral  de  luz,  este  paiz  pôde  supportar  o 
regimen  mais  democrático  e  conciliar  a  pratica  de  todas  as  liberdades 
com  o  exercício  do  sufTragio  universal,  conciliação  que  n'outros  paizes 
se  reputa  impossível.  A  Suissa  carece  de  mariViha,  como  de  portos ; 
todos  os  productos  exóticos,  de  que  carece,  devem  supportar  enormes 
despezas  de  transporte;  falta-lhe  ferro  e  hulha,  estes  elementos  indis- 
pensáveis da  industria  moderna,  e  todavia  a  cifra  do  seu  commercio 
externo  relativamente  à  sua  população  é  mais  elevada  que  a  de  qual- 
quer outro  paiz,  mesmo  que  a  da  Inglaterra.  Como  se  mantém  superior 
na  lucta  económica,  apesar  de  tantas  desvantagens?  Pela  habilidade 
dos  seus  operários,  pela  inlelligencia  dos  seus  industriaes  e  commer- 
ciantes,  isto  ó,  pela  superioridade  da  sua  insirucção  ». 

Não  é  possível,  entre  nós,  elevar  desde  já  a  organisação  dos  pri- 
meiro? graus  d'instrucção  popular  nem  ao  estado  de  grandeza  e  diíTu- 
são dos  E.-«lados-Unidos,  nem  mesmo  ao  aperfeiçoamento  e  abundância 
da  Suissa. 

O  governo  do  nosso  paiz  tem-se  feito  mal;  attendemos  mais  aos 
actos  espectaculosos.  e  aos  gozos  materiaes ;  estudamos  com  mais 
afouteza  e  envaidecimento  as  tradições,  os  feitos  de  gloria  histórica, 
do  que  as  necessidades  reaes  do  presente  para  producção  de  futura 
prosperidade;  somos,  como  diz  um  brilhante  escriptor,  um  povo  de  he- 
roes  e  de  amanuenses ;  agitamos  mais  intensamente  as  questões  parti- 
dárias, que  lisongeiam  a  vaidade  ou  favorecem  aspirações  d'ambição 
pessoal,  do  que  accumulamos  os  materiaes  para  o  seguro  edifício  do 
futuro. 

A  ostentação  de  grandeza,  embora  ephemera  e  fictícia,  é  um  dos 
elementos  do  nosso  caracter :  d'aqui  vem  a  tendência  aristrocratica 
desde  as  mais  ínfimas  camadas,  com  todas  as  cambiantes  burlescas; 
d'aqui  vem  o  desapego  ás  occupações  productivas ;  d'aqui  deriva  a 
preferencia  que  se  tem  dado  ao  desenvolvimento  febril  da  viação  pu- 
blica, da  burocracia  em  todas  as  ordens  — civil,  militar  e  eclesiásti- 
ca; d'aqui  deriva  a  preferencia  perniciosa  do  emprego  de  capitães 
no  jogo  de  títulos,  nas  aventuras  da  agiotagem  mais  ou  menos  legiti- 
ma e  legal. 

N'este  assumpto  restricto  da  instrucção  popular  respigaremos 
uma  prova  d'aquellas  affirmações:  a  lei  de  1878  permitte  a  creação 
de  cursos  dominicaes  e  nocturnos,  a  creação  de  cursos  temporários. 
Será  porém  raro  (nem  o  conhecemos)  o  município  que  haja  creado 
d'estes  cursos  temporários. 

Não  se  podendo  estabelecer  escolas  permanentes  em  todas  as  pa- 
rochias,  preferimos  privar  a  instrucção  popular  d'um  dos  seus  elemen- 
tos menos  dispendiosos. 

Todavia  ó  indispensável  que  se  oblitere  esta  tendência  ás  grande- 
zas, quando  não  temos  recursos  para  sustental-as.  Na  instrucção,  co- 
mo em  qualquer  ramo  de  actividade  social,  é  preferível  possuir  pou- 
■CQ  a  não  possuir  coisa  alguma. 


152 


II 


Um  dos  meios  menos  dispendiosos  de  desenvolvimento  da  insiruc- 
ção  primaria  é  o  estabelecimento  de  missões  escolares,  de  duração  li- 
mitada, mais  limitada  do  que  a  dos  cursos  temporários  facultados  pela 
lei  de  1878. 

As  missões  escolares  não  são  somente  apropriadas  a  um  certo  grau 
de  possível  desenvolvimento  da  instrucção  mais  económica;  são  igual- 
mente o  meio  de  infiltrar  os  primeiros  elementos  do  ensino  nos  afas- 
tados logares  d'um  concelho,  nas  freguezias  de  população  mais  dis- 
persa. 

Além  d'isto,  porque  já  ponderosamente  se  recommendam,  offere- 
cem  a  grande  vantagem  da  sua  mobilidade;  é  uma  espécie  de  ambu- 
lância do  espirito  :  acode  onde  ha  urgência  de  luz,  e  só  quando  o  es- 
pirito popular,  sem  desprezar  as  occupações  de  que  extrae  o  magro 
alimento,  pode  recebel-a  com  vantagem. 

As  missões  escolares  já  não  são  uma  novidade  no  nosso  paiz :  em 
Lisboa  prospera  ha  annos  uma  benemérita  associação  de  propaganda 
intitulada  —  Associação  das  Escolas  Moveis  —  e  que,  nas  missões  que 
tem  enviado  a  diversos  concelhos  do  paiz,  tem  obtido  sempre  óptimos 
e  rápidos  resultados. 

Um  digno  membro  da  Sociedade  Martins  Sarmento,  director  na 
gerência  transacta,  propoz-se  a  conseguir  para  este  concelho  uma  d'es- 
tas  missões.  A  direcção  authorisou  o  prestante  eoUega,  o  snr.  abbade 
de  Villa  Nova  de  Sande,  a  diligenciar  o  conseguimento  dessa  missão. 
Não  podendo  s.  exc*  continuar  na  gerência,  as  suas  patrióticas  dili- 
gencias não  chegaram  a  ser  coroadas  d'exito.  Mas  não  deve  menos 
prezar-se  a  semente  lançada,  o  primeiro  esforço  empregado;  e  pelo 
contrario,  a  esta  Sociedade  de  propaganda  (promotora  d'instrucção po- 
pular) incumbe  o  dever  de  continuar  aquella  primeira  tentativa'. 

Tenho  a  viva  convicção  de  que  na  organisação  regular  de  missões 
escolares  encontrará  o  nosso,  como  os  outros  municípios,  a  solução 
mais  faeil  do  problema  actual :  desenvolver  gradualmente  a  instruc- 
ção primaria  sem  grave  incremento  de  despeza;  aíTeiçoar  as  institui- 
ções de  que  carecemos  com  urgência  às  condições  deprimidas  da  ri- 
queza publica,  para  que  esta  possa  vir  a  desenvolver-se,  e  com  este 
desenvolvimento  possa  obter-se  o  aperfeiçoamento  gradual  e  intenso 
d'aquellas  instituições.  Na  conferencia  publica  que  fiz  n'esta  casa  em 
9  de  março  de  1890,  aífirmei  esta  convicção  (Crise  Agricola  Portugue- 
za,  pag.  145);  já  então  se  annunciavam  precárias  ou  deprimidas  as 
condições  de  riqueza  geral,  e  tendo-se  hoje  aggravado,  tendo-se  evi- 
denciado esta  depressão,  mais  se  me  aviva  a  convicção  da  conveniên- 
cia das  missões  escolares. 

Estas  missões,  assim  como  já  não  são  uma  novidade  em  terras 
portuguezas,  também  o  não  são  no  estrangeiro.  Ha  uma  diíTerença: 
aqui  encontramol-as  iniciadas  pela  devoção  civica  d'uma  associação; 
em  paizes  estranhos  encontramol-as  organisadas  por  entidades  públi- 
cas. Attrae-nos  sobretudo  o  vêrmol-as  em  paizes,  que,  se  são  mais 
prósperos  que  o  nosso,  não  são  todavia  d'aquelles  que  usamos,  na 
nossa  tendência  ás  grandezas,  tomar  como  únicos  modelos  para  a  re- 
forma d'instituições  nacionaes. 

Na  Scandinavia,  assim  na  Suécia,  como  na  Noruega,  existem  es- 
tas escolas.  N'esie  ultimo  paiz  encontrara-se  mais  vulgarmente.no  Ju- 


453 


tiand,  onde  a  população  é  menos  densa.  O  professor  ambulante  per- 
corre os  diversos  distrietos  ou  círculos  que  lhe  são  destinados,  tendo 
a  sua  residência  permamente  na  mais  importante  das  escolas. 

Foi  principalmente  para  as  povoações  ruraes,  onde  não  pôde  ha- 
ver assiduidade  de  frequência,  que  se  estabeleceram  as  escolas  ambu- 
lantes ou  moveis.  Nas  cidades  as  escolas  são  permanentes. 

Apreciando  este  systema  d'instrucção,  um  escriptor  mui  compe 
tente  diz  que,  posto  não  seja  o  mais  completo,  produz  todavia  o  effei- 
to  desejado,  porque  todos  os  rapazes  recebem  pelo  menos  um  primei- 
ro gráii  d'instrucção  elementar.  E  accrescenta  : 

«  Na  Siiecia,  como  na  Noruega  e  Dinamarca,  a  instrucção  prima- 
ria é  ha  muito  tempo  obrigatória  e  gratuita.  Não  só  o  numero  deanal- 
phabetos  é  insignificante,  não  só  todos  geralmente  sabem  lér,  mas  o 
que  vale  mais,  todos  gostam  de  lêr,  e  o  gosto  pela  leitura  é  tão  geral 
e  tão  vivo  nos  campos,  como  nas  cidades,  nos  paizes  septentrionaes 
como  nos  do  meio  dia  e  do  centro. 

«  O  viajante  que,  depois  de  ter  vi.^itado  Copenhague,  Stockolmo 
ou  Cristiania  se  entranha  no  Nordland  ou  no  Finmark,  subindo  até 
70°  grau  de  latitude,  espera  encontrar  populações  enervadas  pelo  frio 
e  privadas  de  todo  o  meio  d'instrucção,  surprehende-se  reconhecendo 
que  se  linha  enganado  ». 

Os  exemplos  d'estes  povos,  com  as  suas  missões  escolares,  cojn  os 
seus  professores  ambulantes,  não  só  para  a  instrucção  primaria,  como 
para  outros  ramos  d'ensino  populai';  os  resultados  obtidos  pela  Asso- 
ciação das  Escolas  Moveis,  de  Lisboa;  a  impossibilidade  de  dotar  lodos 
os  povos  do  concelho  com  escolas  permanentes;  a  dificuldade  de  agru- 
pamento de  freguezias  montanhosas,  e  de  população  dispersa :  tudo 
aconselha  pelo  menos  a  tentar-se  uma  experiência. 

É  sabido  que  esta  Sociedade  não  tem  abundância  de  receita,  que 
possa  distrfihir  das  applicações  já  creadas,  embora  a  despeza  d'um 
subsidio  para  uma  primeira  tentativa  não  seja  avultada.  N'esta  carên- 
cia de  recursos,  á  Sociedade  só  incumbe,  com  o  seu  caracter  promo- 
tor, pedir  á  camará  municipal,  que  tem  empregado^  nas  ultimas  e  suc- 
cessivas  vereações,  mui  louváveis  esforços  assumindo  encargos  impor- 
tantes para  o  desenvolvimento  da  instrucção  concelhia,  empregue 
mais  este  esforço  de  tentativa  e  experiência,  relativamente  barato,  e 
cuja  despeza  é  sem  duvida  preferível  a  outra  de  diversa  natureza.  Se 
ã  tentativa  der  o  resultado  que  tem  dado  n'outras  terras,  como,  por 
exemplo,  n'uma  freguezia  do  concelho  de  Villa  do  Conde,  tornar-se-ha 
então  fácil  ás  vereações  futuras,  ou  talvez  a  esta  ainda,  dotar  todo  o 
concelho  da  mais  elementar  instrucção  :  saber  lêr  não  será  depois  um 
privilegio  urbano,  mas  a  dotação  geral  da  cidade,  dos  povos  das  fre- 
guezias mais  populosas  e  mais  felizes,  como  dos  que  vivem,  averga- 
dos  ao  trabalho  duro,  ás  vezes  cruel,  nas  mais  elevadas  montanhas, 
nos  mais  afastados  logarejos,  como  em  Rendufe,  como  em  (lonça,  co- 
mo nas  das  alturas  e  vertentes  da  Penha,  ou  dos  montes  d'Ayrão. 
Todos  têm  direito  á  vida,  e  a  instrucção  elementar  é  hoje  uma  con- 
dição essencial  de  vida 

III 

Deverá  o  pedido  da  Sociedade  limitar-se  á  realisação  d'uma  tenta- 
tiva de  missão  escolar,  para  de  futuro,  conforme  os  resultados  obti- 
dos, tomar  deliberações  ulteriores ;  ou  deverá  desde  já  pedir  á  cama- 


154 


ra  que  represente  ao  governo  pedindo  que,  em  reforma  da  lei,  se  fa- 
culte e  ordene  a  creação  permanente  de  missões,  com  um  pessoal  de 
professores  ? 

O  pedido  de  tentativa  é  já  uma  parte  deliberada  na  gerência  ante- 
rior, e  agora  nada  mais  terá  a  Sociedade  que  fazer  do  que  renovar  di- 
ligencias ou  executar  a  deliberação  ;  mas  deverá  ir  mais  longe,  fazen- 
do aquella  representação,  e  representando  também  aos  poderes  públi- 
cos? 

Parecendo-me  conveniente  que  para  as  deliberações  mais  impor- 
tantes da  direcção  sempre  se  rogue  a  coadjuvação  e  o  conselho  de  con- 
sócios esclarecidos,  —  sobre  ser  este  o  meio  talvez  mais  directo  e  effi- 
caz  de  reconhecer  e  acatar  o  direito  de  todos  a  intervir  nos  assumptos 
que  os  aggremia,  e  avivar  o  interesse  de  toda  a  corporação  na  conse- 
cução dos  seus  fins  sociaes :  proponho  se  nomeie  uma  commissão,  com- 
posta dos  nossos  dignos  consócios  os  snrs.  Albano  Bellino,  dr.  António 
Coelho  da  Motta  Prego,  dr.  António  Vieira  d'Andrade,  Domingos  Leite 
de  Castro,  dr.  Eduardo  José  da  Silva  Carvalho,  Joaquim  Ignaciod'Abreu 
Vieira,  dr.  Joaquim  José  de  Meira,  Padre  João  Cândido  da  Silva,  Pa- 
dre João  Gomes  d'01iveira  Guimarães,  dr.  José  da  Cunha  Sampaio,  e 
Manoel  Baptista  Sampaio,  para  que  se  digne  auxiliara  direcção  com  o 
seu  valioso  parecer. 

Avelino  Guimarães. 

Esta  proposta  foi  approvada. 


N'esta  sessão  foi  adraittido  como  sócio  o  snr.  Gaspar  Ri- 
beiro da  Silva  e  Castro,  tabellião  d'esta  cidade,  sob  proposta 
do  snr.  dr.  Avelino  Guimarães. 


Na  sessão  do  1.**  de  maio  foram  admittidos  sócios  os  se- 
guintes snrs : 

Dr.  João  Ribeiro  da  Costa  Sampaio  Cardoso,  por  proposta 
do  snr.  presidente,  e  Cândido  Ferreira,  Padre  António  da  Silva 
Ribeiro,  Padre  António  Augusto  da  Silva  Monteiro  e  José  Fer- 
nandes da  Gosta,  por  proposta  do  reverendo  padre  Gaspar 
Roriz. 


Em  sessão  extraordinária  de  25  de  maio  o  snr.  presidente 
deu  parte  de  que  no  dia  15  d'este  mez  se  reunira  a  commis- 
são de  consócios,  a  que  se  refere  a  proposta  acima  transcripta  ; 
que  ficou  presidente  d'essa  commissão  o  snr.  dr.  José  da  Cu- 
nha Sampaio,  e  secretario  o  snr.  dr.  António  Coelho  da  Motta 
Prego :  que  prestou  por  parte  da  direcção  todos  os  esclareci- 
mentos solicitados,  explicou  o  sentido  da  proposta,  e  que  a 


155 


commissão  comepou  a  estudar  o  assumpto  ;  que  esta  reconheceu 
geralmente  a. conveniência  do  estabelecimento  de  missões,  sen- 
tindo que  a  Sociedade  carecesse  de  recursos  próprios  para  por 
sua  conta  estabelecer  alguma  ;  que  para  resolver  sobre  a  oppor- 
tunidade  da  representação  convinha  conhecer  com  maior  exac- 
ção  o  systemavdas  Escolas  Moveis  de  Lisboa,  incumbindo-se  o 
snr.  abbade  de  Villa  Nova  de  Sande  de  obter  informações  mais 
minuciosas  do  que  as  de  que  deu  conhecimento;  e  que  final- 
mente, a  commissão  resolveu  reunir-se  de  novo,  logo  que 
obtidas  fossem  as  informações  indispensáveis  para  tomar  uma 
resolução  definitiva  para  a  elaboração  do  parecer  que  pela  di- 
recção lhe  é  pedido. 


N'esta  sessão  apresentou  o  snr.  presidente  o  projecto  da 
reclamação  á  camará  municipal  para  tentar  uma  missão  esco- 
lar. Foi  aprovado,  e  o  seu  theor  é  o  seguinte : 

Ill.^o»  e  exe.™o*  snrs.  —  Diz  a  direcção  da  Sociedade  Martins 
Sakmento,  promotora  da  instrucção  populur  no  concelho  de  (íuinia- 
rães,  que.  vendo  o  relativo  atrazo  da  instrucção  popular  n'este  conce- 
lho, não  obstante  os  mui  louváveis  esforços  das  vereações ;  e  conhe- 
cendo que,  sem  o  máximo  sacrifício,  e  até  perigo  para  a  ordem  publi- 
ca, é  impossível  dar-se  absoluto  cumprimento  á  lei  do  2  de  maio  de 
1878,  porque  demandaria  um  enorme  augmento  de  contribuições  :  vem 
perante  esta  ill."^  camará  pedir  se  digne  tentar  o  estabelecimento 
d'uma  missão  escolar,  pelo  systema  das  Escolas  Moveis  de  Lisboa, 
n'uma  das  freguezias  mais  afastadas  e  montannosas  do  concelho,  onde 
melhor  possa  eslabelecer-se,  e  onde  melhor  possa  evidenciar-se  aeffi- 
cacia  litteraria  e  económica  do  systema. 

Bem  conhece  a  Sociedade  Martins  Sarmento  que  não  é  auspicio- 
sa a  conjunctura  para  pedirse  qualquer  augmento  de  despeza;  mas  en- 
tendeu que  não  devia  hesitar  no  pedido  h'uma  tentativa,  que  repre- 
senta uma  despeza  minima,  e  de  que  pode  resultar  a  substituição  do 
systema  da  lei,  com  evidente,  permanente  e  avultada  economia  para 
os  povos. 

Para  os  paizes  pobres,  como  o  nosso,  todo  o  esforço  da  adminis- 
tração publica,  nas  suas  diversas  engrenagens,  deve  concentrar-se  em 
acompanhar  o  movimento  progressivo  dos  outros  povos  cultos  com  a 
máxima  economia  de  despeza.  Assim,  no  que  respeita  á  instrucção  pri- 
maria elementar,  primeiro  elemento  da  mais  elementar  cultura  do  es- 
pirito, não  é  possível,  sem  dar  credito,  e  sem  [irejuizo  geral,  deixar  de 
empregar-se  esforço  e  sacrifício  para  quo  este  paiz  não  constitua  uma 
excepção  demasiadamente  depiimente  entre  as  nações  cultas,  especial- 
mente entre  as  nações  tão  pequenas  e  (|uasi  tão  pobres  como  a  nossa  ; 
e  o  que  se  considera  em  relação  ao  paiz,  deve  por  igual  considerar-se 
em  relação  a  cada  concelho,  sem  exceptuar  o  de  Guimarães,  (|ue  não 
occupa,  infelizmente,  um  dos  primeiros  logares  nas  estatistli-as  olli- 
ciaes  das  instituições,  da  frequência  e  do  aproveitamento  da  instruc- 
ção prim.aria. 


156 


Procurar  pois  o  meio  de  conciliar  a  economia  com  o  alargamento 
da  instrucção  primaria,  ésem  duvida  um  dos  maiore?  serviços  a  pres- 
tar; encontrar  esse  meio,  e  aproveital-o,  será  resolver  d'um  modo  effl- 
caz  e  satisfatório  um  grande  problema  de  administração.  Parece  á  sup- 
plicante  que  esse  meio  se  encontra  no  estabelecimento  regular  de  mis- 
sões escolares,  enviadas  ás  freguezias  ruraes  onde  não  haja  escolas 
permanentes,  não  annualmente,  mas  quando  haja  um  numero  d'alum- 
nos  que  possa  aproveitar  o  estudo  em  mais  rápida  aprendizagem,  e 
nas  épocas  mais  vagas  do  trabalho  rural. 

Este  systema  tem  dado  bom  resultado  n'outros  paizes,  estabeleci- 
das as  missões  sem  ostentação,  mui  patriarchalmente,  com  mui  pe- 
quena bagagem  escolar,  só  com  o  bastante  para  que  os  futuros  jorna- 
leiros, os  futuros  lavradores,  fiquem  pelo  menos  sabendo  escrever  e 
ler  tanto  quanto  baste  para  que  possam  lêr  um  novo  processo  de  cul- 
tura, o  annuncio  d'uma  nova  pratica,  ou  d'um  novo  instrumento,  ou 
assignar  os  seus  arrendamentos,  os  seus  contratos,  os  seus  titulos  de 
divida.  É  pouco  ?  Decerto ;  mas  será  muito  para  quem  nada  possua, 
e  os  nossos  lavradores  operários  são  em  geral  tão  analphabetos  e  tão 
ignorantes,  como  os  selvagens  d'Africa,  salvo  nos  sítios  onde  missões 
estrangeiras,  e,  mui  raro,  algumas  portuguezas,  tem  elevado  os  selva- 
gens d' Africa  a  melhor  situação  litteraria  que  a  de  muitos  dos  nossos 
quasi  bárbaros  povos  das  nossas  mais  afastadas  freguezias  ruraes ! 

As  missões  enviadas  pela  prestante  Associação  das  Escolas  Moveis 
de  Lisboa  a  diversas  povoações  ruraes,  para  onde  tem  sido  reclama- 
das, têm  produzido  óptimos  fnictos.  Ha  annos,  um  ecclesiastico  pres- 
tantissimo,  tão  virtuoso  como  illustrado,  parochiando  a  freguezia  de 
S.  Martinho  do  Campo,  no  concelho  da  Povoa  de  Lanhoso,  estabeleceu 
uma  escola,  em  horas  mais  vagas  de  serviço,  e  quando  o  tempo  o  per- 
raittia,  ao  ar  livre,  no  adro  da  egreja,  offereeendo  aos  alumnos,  por 
bancadas,  o  muro  de  vedação.  Sem  as  vantagens  da  escola  permanen- 
te, sem  os  confortos  d'uma  installação  perfeita,  poderá  dizer-se  que 
os  discípulos  nada  aproveitaram,  ou  que  essa  escola  intermittente 
não  infiltrava  pelo  menos  a  primeira  base  d'uma  instrucção  ge- 
ral ? 

Se  somente  as  escolas  permanentes  fossem  convenientes  ao  ensi- 
no, para  que  estabelecer  cursos  dominicaes,  para  que  estabelecer 
cursos  d'instrucção  especial,  frequentados  em  regra  geral,  e  por  efTei- 
to  das  occupações  profissionaes  dos  alumnos,  com  pouca  assidui- 
dade? 

Tem  pois  a  direcção  da  Sociedadk  Martins  Sarmento  a  viva  fé  na 
efficacia  das  missões  escolares:  e  acredita  que  uma  tentativa,  que  esta 
ill.™*  camará  organise,  dará  o  óptimo  resultado  de  evidenciar  o  meio 
de  diffundir  a  instrucção  mais  elementar  pelos  mais  afastados  recesso? 
do  concelho.  Evidenciada  a  eíQcacia  do  systema,  um  pequeno  corpo 
de  professores  auxiliares,  empregando-se  era  parte  no  desenvolvimen- 
to das  instituições  da  cidade,  em  parte  nas  missões  temporárias,  seria 
bastante  para  elevar  a  cultura  intellectual  em  todo  o  concelho,  e  cons- 
tituiria a  reparação  d'uma  injustiça:  a  cidade  tem  regular  numero 
d'instituições,  devidas  ás  corporações,  e  apenas  carece  de  aperfeiçoa- 
mentos, ao  passo  que  nas  freguezias  ruraes  as  escolas  surgem  de  lon- 
ge em  longe  como  oásis  viçosos  na  aridez  d 'um  grande  deserto  ! 

E  nem  sequer,  para  a  pedida  tentativa,  pôde  crear  embaraço  a 
idéa  ou  o  receio  da  despeza :  será  esta,  para  o  orçamento  camarário, 
exigua,  já  pela  cifra,  já  porque  não  representa  encargo  permanente; 


157 


e  tendo  a  produzir  uma  graude  ecoaoinia  no  futuro  desenvolvimen- 
to da  instrucção  publica. 


A  direcção  da  Sociedade  pretende  e 


Pede  a  v.  exc.»»  se  dignem 
deferir. 


O  mesmo  snr.  presidente  fez  a  seguinte  proposta: 
Proponho  se  felicitem  os  illustres   sócios  honorários,  os  snrs. 
conselheiros  Marianno  Gyrillo  de  Carvalho,  João  Ferreira  Franco  Pinto 
Gastello  Branco  e  Lopo  Vaz  de  Sampaio  e  Mello,  pela  sua  ascensão 
ao  governo. 

Avelino  Guimarães. 
Foi  approvada.  * 

O  mesmo  snr.  presidente  apresentou  mais  esta  pro- 
posta : 

A  Sociedade  já  possue  um  retrato  do  snr.  dr.  Francisco  Mar- 
tins Sarmento,  a  crayou,  oíTerta  do  nosso  illustrado  e  dedicado  consó- 
cio o  snr.  António  Augusto  da  Silva  Cardoso. 

Os  retratos  a  crayon  não  têm  porém  a  duração,  nem  a  expressão 
viva  dos  retratos  a  óleo. 

Por  outro  lado,  se  a  acquisição  d'um  retrato  mais  perfeito  pôde 
considerar-se  como  nova  homenagem,  é  ainda  pequena  para  quem 
não  só  deu  alma  a  esta  corporação,  authorisando-a  com  o  seu  nome 
illustre,  mas  a  quem  nunca  cessa  de  protegel-a  eflicazmente,  e  por  to- 
dos os  meios,  para  o  seu  natural  desenvolvimento  :  proponho  pois  se 
delibere  a  acquisição  d'un)  retrato  a  óleo,  para  ser  eollocado  no  sa- 
lão principal,  collocando-se  depois  o  que  já  se  possue  no  museu  de 
numismática  e  archeologia  logo  que  coneiuido,  e  provisoiiatnente  na 
saia  de  sessões  da  direcção. 

Avelino  Guimarães. 

Foi  approvada. 

* 

O  snr.  tiiesoureiro  Simão  Neves  participou  que  o  nosso  di- 
gno consócio  o  exc.^^^snr.  dr.  Francisco  Martins  Sarmento  olFcre- 
ceu  a  segunda  prestação  do  prefo  da  sua  empreitada  para  as 
estantes  dos  museus.  Resolveu-se  que  a  direcção  fosse  a{5'ra- 
decer  pessoalmente  a  s.  exc*  esta  vaiio.^a  oirerla ;  e  foi  por 
proposta  do  snr.  dr.  António  Augusto  de  Freitas. 

« 

Em  sessão  de  2  do  corrente  foram  admitlidos  como  sócios 
os  snrs : 


i58 


Dr.  Domingos  de  Sousa  Júnior. 

Dr.  Ciiristovão  Augusto  da  Silva  Mendes  Leite. 

António  José  Pinheiro. 

Matiiias  de  Castro  Leite. 

* 

O  snr.  presidente  communicou  que  o  snr.  António  Augusto 
da  Silva  Cardoso  se  incumbira  de  tirar  o  retrato  a  óleo  do 
illustre  sábio  e  nosso  benemérito  sócio  honorário,  o  exc."""  snr. 
dr.  Francisco  Martins  Sarmento. 


Em  sessão  de  1 5  do  corrente  o  snr.  presidente  apresentou 
e  foi  approvada  a  seguinte  proposta : 

Pelas  valiosas  diligencias  do  nosso  illustre  sócio  honorário  o 
snr.  dr.  Francisco  Sarmento,  obteve-se  a  votação  d'unia  lei  autho- 
risando  as  sociedades  d'instrucção  a  adquirir,  sem  auihori sacão  do 
governo,  quaesquer  propriedades  indispensáveis  aos  fins  d'essas  cor- 
porações, ou  em  que  existam  monumentos,  que  convenha  conservar. 
Teve°o  nosso  sábio  archeologo  por  principal  fim  u'aquelle  empenho  fa- 
cultar a  esta  Sociedade  a  acquisição  de  monumentos  archeologicos  ain- 
da existentes,  mas  na  imminencia  de  ruina  e  completa  destruição. 

Por  seu  incessante  cuidado,  tem  s.  exc.*em  bom  caminho  a  acqui- 
sição de  dois  pequenos  tratos  de  terreno,  um  n'esta  província,  outro 
na  de  Traz-os-Montes,  assentos  de  valiosos  monumentos  archeologicos, 
e  propõe-se  a  fazel-a  para  esta  corporação.  Proponho  por  estas  ra- 
zões que  a  direcção  resolva  rogar  ao  snr.  dr.  Sarmento  se  digne  in- 
cumbir-se  das  acquisições  indicadas,  como  de  quaesquer  outras  idên- 
ticas, como  s.  exc*  julgar  opportuno  e  conveniente;  e  se  agradeçam 
igualmente  os  trabalhos  e  despezas  já  feitas,  e  de  que  s.  exc*  não 
quer  dar  a  menor  conta. 

Pelas  diligencias  do  snr.  dr.  Sarmento,  e  por  intervenção 
da  junta  de  Pedome,  obteve  esta  Sociedade  um  novo  espécimen  para 
o  museu  archeologico.  Proponho  pois  se  agradeça  tanto  ao  snr.  Sar- 
mentOj  como  áquella  junta,  esta  nova  acquisição. 

Avelino  Guimarães. 

•1! 

N'este  trimestre  foram  feitas  á  Sociedade  para  a  sua  biblio- 
theca  oífertas  de  livros  pelos  seguintes  oíTerentes : 

Abbade  de  Quinchães,  5  volumes; 

Sociedade  dê  Geographia  de  Lisboa,  o  folhetos ; 

Dr.  Bernardo  de  Moraes  Leite  Velho,  2  folhetos; 

Lugan  et  Genelioux,  1  folheto  ; 

Direcção  geral  dos  correios,  2  volumes ; 

Augusto  Leite  da  Silva  Guimarães,  2  volumes ; 


159 


Dr.  Avelino  Germano  da  Gosta  Freitas,  coUecção  do  Repórter 
do  anno  de  1890; 

A.  Veiga  de  Lacerda,  1  folheto ; 

Padre  F.  J.  Patrício,  1  folheto  ; 

A.  de  Freitas  Guimarães,  3  volumes ; 

Empreza  da  Revista  de  Coimbra,  a  mesma  revista; 

Dr.  Avelino  da  Silva  Guimarães,  9  volumes  e  3  folhetos; 

Centro  Commercial  do  Porto,  1  volume  ; 

Grémio  Serpa  Pinto,  1  volume ; 

Caixa  dos  Soccorros  de  D.  Pedro  v,  do  Rio  de  Janeiro,  1  folheto; 

Livraria  escolar  do  Porto,  2  volumes  ; 

Associação  Commercial  do  Porto,  1  volume; 

Eduardo  Sequeira,  1  folheto  ; 

J.  de  Vasconcellos,  1  folheto; 

Um  anonymo,  2  folhetos. 

Para  a  collecção  dos  jornaes  da  Sociedade  receberam-se  os 
seguintes: 

Union  Ibero -Americana  (Madrid). 
Revista  Judicial  e  Administrativa  (Porto). 
Universal  (Lisboa). 
Lisbonense  (Idem). 
Revolução  de  Janeiro  (Idem). 
A  Randeira  Portugtieza  (Idem). 
Revista  de  Coimbra  (Coimbra). 
O  Alai-me  (Idem). 


Para  o  museu  numismático  foram  ofTerecidos  pelos  snrs. 
José  d'Assumpeão  Toro  uma  medalha  comemorativa,  José  Pi- 
nlieiro  outra;  António  Ferreira  dos  Santos  vinte  e  nove  moedas 
e  dois  machados,  e  Adelino  Lemos  oito  moedas  de  prata. 

Em  nome  da  Sociedade  Martins  Sarmento  aqui  consigna- 
mos a  todos  os  oflerentes  os  nossos  profundos  agradecimen- 
tos. 

Guimarães,  30  de  junho  de  1891. 

O   secretario, 

Gaspar  L.  d'A.  C.  Pai5l. 


BALANCETES 


Movimento  tia  caixa  em  abril  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior. 158^009 

Receita  d'este  mez 113^800       271^09 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 160^775 

Saldo 111^034       271^809 

Em  maio  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior 111^034 

Receita  d'este  mez 193^500       304^534 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 150^725 

Saldo 153^809       30W534 

Em  junho  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior 153^809 

Receita  d'este  mez 11^800       163^609 

SAmOA 

Despeza  d'este  mez 26^995 

Saldo 138^614       165^609 

o  thesoureiro, 

Simão  Alves  Neves. 


liovistíi  tio  Coiiiil>i-u,  publicação  quinzenal  de  scicncias 
sociaes  e  jurisprudência. 

Anno 2^000 

Semestre l^OOO 

Boletiiit   tlii    Lia:ti   dos  Ltivi-ntloi-es  tio  l>oiifo. 

Redacção,  rua  do  Calvário,  70  —  Porto.  Numero  avulso 40 

Xio,  lieviio  tltíssí  Jom'ii4VMx:  ot  tlfw  Livi-oss,  de  Pa- 
V  ris.  Preços  para  Portugal:  três  mezes,  4  francos  e  oO;  seis  mezes, 
8  trancos;  um  anno,  14  francos.  Ksta  revista  da  aos  assignantes 
d'um  anno  um  volume  de  3  francos  e  50;  aos  de  seis  mezes  um  vo- 
lume de  2  francos,  e  aos  de  três  mezes  um  volume  de  1  franco,  a 
escolha  em  todas  as  livrarias.  Além  d'isso  dá  a  ti)dos  os  seus  assi- 
gnantes,  como  brinde,  um  esplendido  retrato  a  uleo  e  a  cada  assi- 
gnanle  o  seu  retrato  pliotograpliado. 
Rtívistti  troi>i-í».!!i  r»ul>lieí»ís  t»  3Xiii:i!^,  publicação 
mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portiiguezes. 

Lisboa,  anno 24400 

Províncias  e  estrangeiro  acresce  o  custo  das  estampilhas. 
.A.  Iiiipi-eiissa,  revista  seientifica.  litteraria  e  artística  de  Lis- 
boa. Publicação  (luinzenal.  Director.  AlTonso  Vargas.  IJsboti,  cada 
numero  30  reis,  pagos  á  entrega.  Prociuciax  c  ilhas,  trimestre  ou  (> 

números,  í200  reis.  Numero  avulso 40 

Ooia»il>ríi   ]\Xetlit?ii,  revista  quinzenal  de  medicina  o  ciiiiigia. 

Director,  dr.  Augusto  Hocba.  Portugal  e  Hespanba,  anno. .     iíáUK» 

O  r»i*og,-i-t?í!íso  Oíitliolioo,  publicação  quinzenal  illustrada, 

de  Guimarães.  Continente,  anno 000 

Numero  avulso IdO 

O  Iiissititiito,  revista  litteraria  e  scientiTica,  de  Coimbra. 

Anno láoOO 

Pelo  correio 1  àoOO 

Numero  avulso IGl> 

H[istoi>ia  tio  et»rtío  tio  l^oi-to,  por  S.  J.  da  Luz  Soriano. 
'i.^  edição,  illustrada  com  magnillcas  gravuras  e  cbromoKiluigra- 
phias,  revista  e  melhorada  pek)  auctor.  Editor,  Augusto  Leite  da 

Silva  (Uiimarãcs  —  Porto.  Cada  fascículo 200 

ISolftiiii  tlti  I^lisii-iiiufia  <lo  I?oi-lo,. Director,  J.  P.  d  Al- 
meida Brandão.  Anno liâOOO 

Numero  .rvidso 200 

.-^H.  Ajijri^itMilt.iii-íi  l?oi'liif>-ii«'y.ii,  revista  quinzen;il  de  Lis- 
boa. Directores,  1''.  Simões  Mariíiochi  e  l'auK>  de  Muraes. 

Anno ". 2á(Ki(t 

Numero  avulso 100 

A.  I>o!-íiiiioti-in,  revista  mensal  ixirtiiense  de  medicina  dosinie- 

trica.  Director-i)r()prietario,  .losé  Dernaido  Uirra.  Aimo láodO 

Qiiitoi-iatlt?,  ou  l>olumbino  inleiamnense.  Poema.  Custa  A  Silva, 
Porto,  editores. 

Pr(íço uOO 

Heviíiita  tios  Lyoeas.  Director,  M.  Porges  (Irainha. 

Anno  ou  12  numeVos -JáOOO 

C'Stinõtis,     o.s     I^ii!«íisi(Ijt!«i    t'     SI     lS<'i»as<*t'n«/a     «'iii 

l*oi't.a{>-al,  por  Oliveira  Martins.  1  vol (J<'U 

Lugan  iV  Genelioux,  editt)i'es. 
IFlíií>-ellos  tia  vitleií-s»,  pelo  Visconde  de   Villarinho   de   S. 

Uomão.  1  grosso  volume,  illnstrado l52tK» 

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Série  de  (i  mimeros ...         ,*ii(i(» 

Numero  avulso loo 


o  Ensino,  revista  pedagógica,  quinzenal,  de  Lisboa.  Director, 
TlieopliiiG  Ferreira. 

Anno 1^200 

Semestre 600 

A-  Vinlia  Portng-neza,  revista  mensal  de  Lisboa.  Director, 
F.  d'Almeida  e  Brito. 

Anno 2^000 

Instituições  dii'i,stã,ss,  revista  quinzenal  de  Coimbra,  re- 
ligiosa, scientifiea  e  litteraria.  Orgào  da  Academia  de  S.  Thomaz 

d' Aquino.  Seis  mezes ' 1,1200 

A  Joi-nada,  revista  mensal  de  Barcellos. 

Anno 600 

Semestre 350 

I5,e vista  judicial  o  aclministi-ativa,  revista  por- 
tuense, dirigida  por  Augusto  d'OIiveira. 

Anno 2^000 

"Revista  cios  Ti-il>nnaes,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários,  Augusto  Maria  de  Castro  e  António  Fer- 
reira Augusto.  Anno,  franco  de  porte 3í^000 

Semestre,  franco  de  porte 1^800 

3Vovo  M-ensag-eií-o  cio  Covação  cie  .Jesus,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do   Coração  de  Jesus  e  da  Còmmunhão  Reparadora.  —  Portugal, 

anno l^OOO 

O  Keei*eio,  revista  semanal,  litteraria  e  charadistica,  de  Lisboa. 

Lisboa,  cada  numero 270 

Províncias.-  semestre 580 

Trimestre.'. 300 

A    Pi^oprnedaíie  e  Oultui-a  <lo  3Iinlio  (estudo   his- 
tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sanq)aio.  Preço.. .        350 
Em  todas  as  livrarias. 
■Revista  das  Scieneias  l\i;ilitai'e.s,  publicação   men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheriv. 

Portugal,  anno 2â400 

R-e vista  das  Scieneias  IVatui-aes  e  Socia«'s; 
órgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publiea-se  quatro 

vezes  por  anno,  em  fascículos  tie  48  pag.,  8."  —  Anno.. li^íOO 

JNumero  avulso , 300 

Jovnal  de  Hoi-tieultura  Pt-atica.  Proprietário,  José 

Marques  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 2^250 

Numero  avulso 300 

Contendo  estampa  colorida 400 

O    Cliai-ivari,  revista  humorística  do  Porto. 

Série  de  12  números 2i0 

Províncias 270 

O.s    A.i'g-onautas,   subsídios  para  a  antiga  historia  do  Occi- 

dente,  por  F.  Martins  Sarmento.  1  grosso  volume 1^500 

Pelo  correio ". U560 

Em  todas  as  livrarias. 
.Joruíil     das     Seiencias     matliematieas    e    as- 
ti-onomieas.    Director,    dr.    F.    Gomes   Teixeira.    Cada    vo- 
lume      25400 

Revista  de  Educação  e  Ensino,  publicação  mensal 
de  Lisboa.  Director,  Ferreira  Deusdado.  Preço  : 

Anno 2^000 

Semestre • 1^100 

Avulso 200 


REVISTA 


DE 


GUIMARÃES 


PUBLICAÇÃO 


DA 


SOCIEDADE  MARTINS  SARMENTO 


Promotora  da  instrucção  popular 
no  concelho  de  Guimarães 


VOLUME  VIM 


N.»  4  —  Outubro  —  1891 


Typographia  de  a.  J.  da  Silva  Teixeira 

Rua  da  Cancella  Velha,  70 

1891 


Suniniario  d'este  miniero 

I.    Capella  de  Santo  Estevão :  pelo  Padre  Abílio  A.  de  Passos. 
II.    Sá  da  Bandeira  e  as  missões  religiosas;  por  Abel  Andrade. 

III.  Catalogo   das   moedas  e  medalhas  portuguczas  existentes  na 

collecção  da  Sociedade  Martins  Sarmento ;  por  J.  F.  Costa. 

IV.  Questões  praticas  —  Arrendamentos :  o  processo  de  despedidas; 

por  Avelino  da  Silva  Guimarães. 
V.    Subsídios  para  a  historia  das  industrias  vimaranenses;  por 
Avelino  da  Silva  Giiiinarães. 
VI.    Documentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv :  por  Oliveira  Guimarães. 
YIl.    Instrucção  popular:  lei  de  2  de  maio  de  1878. 
VIII.    Boletim";  pelo  Padre  Gaspar  da  Gosta  Roriz. 
IX.    Balancetes ;  por  Simão  Eduardo  A.  Neves. 
X.    Relação  dos  sócios. 


A  Revista  de  Guimarães  publica-se  nos  me- 
zes  de  janeiro,  abril,  jullio  e  outubro,  em  fasciculos 
de  48  paginas. 

Cada  volume,  composto  de  quatro  fasciculos, 
custa  por  assignatura  800  reis ;  cada  numero  avul- 
so 300  reis.  Os  portes  do  correio  são  á  custa  da 
empresa.  As  assignaturas  são  pagas  adiantadas. 


A  Revista  de  Guimarães  é  distribuída  gratui- 
tamente pelos  sócios  da  Sociedade  Martins  Sar- 


mento. 


Os  artigos  publicados  n'esta  Revista  são,  a  to- 
dos os  respeitos,  da  exclusiva  responsabilidade  dos 
seus  auctores. 

Toda  a  correspondência  deve  ser  dirigida  á 
Direcção  da  Sociedade  Martins  Sarimento,  Gui- 
marães. 

ANNUNCIOS   LITTERARIOS 

A.  Crise  Agi-icola,  Pox-tug-ueza,  por  Avelino  Guima- 
rães. 1  vol 700 

Vende-se  no  Porto  na  livraria  Gutenberg;  em    Guimarães  na 
loja  de  Francisco  Joaquim  de  Freitas. 
As    Colónias  Portugçueseas,  publicação  lisbonense  illus- 

irada.  Anno 2^000 

Semestre 1^200 

Avulso 200 

O  Zoopliilo,  publicação  mensal  illustrada  de  Lisboa.  _ 

Lisboa,  anno 600 

Províncias 630 

Numero  avulso 100 


CAPELLA  DE  SANTO  ESTEVÃO 


Por  testamento  com  que  falleceu  Estevão  Va^qiies,  de  Gui- 
marães, feito  em  9  de  outubro  de  1371,  foi  irisliluida  junto 
à  egreja  da  Insigne  e  Keal  GoUegiada  de  Nossa  Senhora  da 
Oliveira  a  capella  de  Santo  Estevão,  que  tinha  um  altar  que 
o  testador  mandara  que  «depois  da  sua  morte  fosse  posto  junto 
á  sepultura  que  o  cabido  lhe  tinha  dado».  Esta  foi  dotada  com 
uma  missa  diária  e  outras  obrigações,  ficando  usufructuaria  dos 
bens  que  lhe  eram  destinados  a  mulher  d'aquelle,  Florença 
Annes.  * 

Diogo  Borges,  cavalleiro  da  casa  d'el-rei,  juiz  e  contador 
dos  resíduos,  capellas  e  hospitaes  na  comarca  d'entre  Douro  e 
Minho,  diz  «que  o  corpo  da  capella  é  situado  na  crasla  pe- 
quena da  egreja  de  Santa  Maria  da  Villa  de  Guimarães,  a  qual 
he  casa  de  todo  sobre  si,  parede,  grades  e  porta  fixada  por 
chave  e  he  de  comprido  quatro  varas  e  meia  e  de  ancho  três 
varas  e  duas  terças ». 

Existia,  pois,  junto  da  Collegiada,  da  parte  de  fora  da  porta 
travessa  que  d'ella  sae  para  o  norte  e  rua  de  Santa  Maria,  em 
terreno  que  hoje  occupa  a  casa  destinada  pelo  cabido  ao  sa- 
cristão-mór. 

Por  fallecimento  de  Florença  Annes,  e  em  testamento  feito 
em  2  de  novembro  de  1383,  instituiu  administrador  das  herda- 
des pertencentes  a  esta  capella  a  seu  sobrinho  Marliui  Gonçal- 
ves, abbade  de  S.  Clemente  de  Sande,  para,  do  seu  rcndÍM)enlo, 
satisfazer  por  sua  ahna  e  de  seu  marido  «  uma  missa  quotidiana 
por  capellão  que  rezasse  oíficio  dos  finados,  e  dez  hbras  para 
casamento  de  moça  parenta,  cada  anno». 

Passou  para  o  domínio  da  coroa  no  reinado  de  I).  Manoel, 
em  dezembro  de  1498,  achando-sc  lançada  no  livro  das  capel- 

8."  Anno.  1' 


462 


las  da  corua  real  a  fl.  171,  e  concedida  a  sua  administração  aa 
beneficiado  Luiz  António  da  Costa,  oíficial  da  secretaria. 

No  mesmo  livro  se  declaram  alguns  administradores  que  ti- 
veram mercê  da  corúa,  e  são: 

Fernão  de  Mesquita,  Ruy  Mendes  de  Mesquita  em  1534,  Es- 
tevão Dias  em  1547,  Diogo  Lopes  de  Mesquita  em  1576  e  o 
padre  Domingos  de  Moraes. 

D'este  destacam-se  as  seguintes  notas: 

«  Estevão  Vaz,  marido  da  dita  Florença  Annes,  edificou  pri- 
meiro e  dotou  a  dita  capella  de  Santo  Estevão,  e  por  morte  da 
mulher  lhe  deixou  muitas  herdades  e  por  capellania  outra  do 
cabido  e  ao  Mosteiro  da  Gosta,  e  hum  hospital  que  estivesse 
sempre  provido». 

Não  se  encontra  documento  algum  que  se  refira  á  capella  do 
Mosteiro  da  Costa  nem  tão  pouco  ao  hospital,  — parece-me  te- 
rem ficado  só  em  verba  de  testamento. 

Anna  Gomes  houve  mercê  em  1698  por  carta  registrada 
DO  livro  d'ellas  a  fl.  40,  e  Luiz  António  da  Gosta  Pego  em  15 
de  janeiro  de  1750. 

O  seu  rendimento  annual  era  lotado  nos  assentos  da  coroa 
em  80^000  reis,  consistindo  em  vários  foros  e  rendas  de  pro- 
priedades de  casas  e  terras,  foreiras  á  mesma  capella,  de  que 
tem  o  domínio  directo,  e  o  administrador  percebe  o  rendimento 
e  laudemios  das  vendas  e  luctuosas  estabelecidas  nos  prasos, 
estando  em  1800  as  obrigações  limitadas  á  fabrica  da  capella, 
que  era  muito  pequena,  e  á  satisfação  de  300  missas  rezadas  e 
celebradas  n'ella  em  cada  anno. 

O  D,  Prior  da  CoUegiada,  D.  Luiz  de  Saldanha  e  Oliveira, 
58.**  em  numero,  obteve  em  1800  de  D.  João,  príncipe  re- 
gente, a  mercê  dos  rendimentos  da  mesma  capella  para  se  appli- 
carem  ao  augmento  dos  ordenados  de  nove  capellães  antigos, 
excluindo  um  que  então  mais  se  estabeleceu,  ficando  o  mesmo 
D.  Prior  e  seus  successores  obrigados  a  fazerem  cumprir  pelos 
capellães  o  encargo  de  300  missas  em  que  era  gravada. 

E  n'estas  condições  se  encontra  hoje  sob  a  administração 
da  curaria  da  CoUegiada,  estando  remidos  a  maior  parte  dos 
foros. 

Da  capella  nada  existe,  a  não  ser  a  imagem  de  Santo  Es- 
tevão, muito  desfeita  e  de  má  esculptura. 

Guimarães,  18—9  —  91. 

Padre  Abílio  A.  de  Passos. 


SA   DA   BANDEIRA 


AS  m:issoes  religiosas 


o  marquez  de  Sá  da  Bandeira  pnblicou  em  1873  um  tra- 
balho ÍDtilulado —  O  Trabalho  rural  africano  e  a  Administra- 
ção colonial — .  Sem  entrarmos  em  demoradas  apreciações, 
simplesmente  discutiremos  algumas  das  suas  opiniões  sobre  as 
missões. 

A  pag.  128  lê-se:  «Em  alguns  relatórios  de  missionários 
europeus,  ignorantes  da  lingua  do  paiz  em  que  deviam  func- 
cionar. . .  »  ^. 

A  pag.  129  :  «  N*a  Africa,  onde  os  jesuítas  e  os  dominicanos 
possuíram  boas  propriedades  e  tiveram  missões  e  onde  func- 
cionaram  muitos  frades,  a  população  está  com  pouca  diirerença 
no  mesmo  estado  de  paganismo  em  que  fora  achada.  E  não 
consta  que  uma  só  escola  fosse  estabelecida  alli  por  aquelles 
padres  para  o  ensino  dos  habitantes». 

A  pag.  129 :  «  Já  no  tempo  do  governador  Ayres  de  Salda- 
nha (1676-1680)  os  jesuítas  haviam  abandonado  as  missões 
que  tinham  no  interior  da  colónia,  retirando-se  para  o  seu  col- 


1  Esta  mesma  doutrina  ó  perfilha-ia  por  Chanvet  na  nevista 
Encyclopedica,  do  mez  de  fevereiro  de  1828,  artigo  intitulado:  «  .Noti- 
cia sobre  a  civilisação  d'Africa  ...  N'esse  artigo  encontramos  estas 
phrases  :  « Os  missionários  que  os  portuguezes  mandaram  ao  Longo, 
eram  quasi  tão  ignorantes,  como  os  povos  a  quem  iam  cateclusar  ». 


/ 


164 


legio  de  Loanda.  Elles  possuíam  muitas  propriedades  ruraes  e 
faziam  um  grande  commercio,  e  preparando  uma  vez  um  navio 
para  ir  com  carga  de  negros  para  o  Brazil,  elle  não  deu  licen- 
ça para  isso;  mas  foi-lhes  concedida  pelo  successor  do  mesmo 
governador». 

Por  ultimo  diz  ainda:  «Os  mesmos  missionários  julgam 
ter  o  direito  de  exportar  annualmenle  700  escravos  (C.  R., 
18  de  marfo  de  1693)  e  os  jesuítas  recebiam  annualmente 
800?^000  reis  da  mesma  proveniência»  ^. 

Oa  leitura  d'estas  passagens,  as  mais  referentes  ao  assum- 
pto da  nossa  dissertação,  deduz-se  que  Sá  da  Bandeira  sustenta 
a  desnecessidade  e  inutilidade  das  missões  religiosas,  alimen- 
tadas pelas  ordens  respectivas,  fundamentado  nas  seguintes 
considerações : 

1)  Os  missionários  fornecidos  pelas  ordens  religiosas  eram 
ignorantes ; 

2)  Jesuítas  e  dominicos  não  fundaram  uma  única  escala  na 
Africa,  para  ensino  dos  indígenas; 

3)  Em  1676-1680  e  annos  seguintes  os  jesuítas,  convenci- 
dos da  inutilidade  dos  seus  esforços,  tinham-se  encantoado  em 
S.  Paulo  de  Loanda,  abandonando  o  interior. 

4)  Os  jesuítas  promoviam  a  escravatura. 

Vamos  iniciar  a  refutação  d'estas  quatro  asserções;  a  ellas 
nos  temos  referido  por  vezes  no  corpo  da  nossa  dissertação. 

Tanto  Sá  da  Bandeira,  como  Cliauvet,  não  encontram  fun- 
damentos razoáveis  do  seu  raciocínio;  levante  muito  embora 
Cliauvet  a  pátria  onde  nasceu,  mas  não  é  honrado  nem  gene- 


^  Do  mesmo  modo  pensa  Oliveira  Martins,  no  seu  trabalho  — 
O  Brazil  e  as  Colónias  —  pag.  24  :  «  Por  isso,  diz  elle,  as  niissões  je- 
suítas cahiram  em  Angola  e  a  Companhia  deitou-se  ao  negocio  dus  es- 
cravos, obtendo  o  privilegio  da  exportação  de  umas  centenas,  em  três 
navios  ao  anno,  isentos  de  direitos. 

Rebello  da  Silva,  na  Hist.  de  Port.  dos  sec.  XVlIeXVIIl,  pag.  169, 
partillia  a  mesma  doutrina :  «  A  soei-ídade  ferida  no  poder  e  amur  pró- 
prio (com  a  transferencia  para  a  capital  da  província  da  sé  de  Santa 
Cruz  do  Gongo,  promovida  pelo  bispo  D.  Fr.  Simão  Mascarenhas),  de- 
sistiu desde  então  de  missionar  e  dedieou-se  a  trabalhar  para  si,  en- 
viando todos  os  annos  um  navio  e  dois  patachos  ao  resgate  dos  escra- 
vos e  das  mercadorias,  e  desfructando  sem  fadiga  o  privilegio,  que  a 
eximia  em  toda  a  parte  do  pagamento  de  direitos  aD  fisco». 


165 


roso  desconhecer  o  estado  mental  d'um  povo  que  tanto  se  no- 
tabilizou no  século  xv  e  leril-o  nos  seus  bem  gloriosos  perga- 
minhos, que  ainda  hoje  produzem  a  admirarão  do  mundo  sá- 
bio; seja  radicai  o  marquez  de  Sá  da  Baucieira,  mas  lenha 
sempre  presente  os  documentos  insuspeilo-*,  e  não  só  os  olíicios 
de  alguns  governadores,  acintosos  perseguidores  dos  missio- 
nários. 

Se  Chauvet  julgou  menoscabar  o  desenvolvimento  inlelle- 
ctual  de  Portugal  nos  séculos  xv-xvii,  é  bom  saber-se  que  não 
havia  em  Portugal  homens  illustres  que  ignorassem  em  1406 
factos  históricos  rudimentares,  como  houve  em  Paris  no  cele- 
bre ajuntamento  de  sábios  theologos  e  canonislas  para  delibe- 
rarem sobre  dar  ou  negar  obediência  ao  anlipapa  Pedro  de 
Luna.  O  Portugal  scientifico  de  1501  não  deliberaria  tão  arre- 
batadamente diante  da  sciencia  do  castelhano  Fernando  de  Cór- 
dova; no  principio  do  século  xvr  não  havia  em  Portugal  um 
monge  que  dissesse  d'um  púlpito  « ter-se  inventado  uma  lin- 
gua  nova,  a  grega,  causa  de  muitas  heresias».  Superior  a  to- 
dos estes  exemplos  é  decerto  o  decreto  expedido  pelo  parla- 
mento de  Paris,  a  pedido  e  instancias  da  Sorbona,  condemnan- 
do  os  Ghimicos. 

N'esse  tempo  existia  em  Portugal  a  escola  de  Sagres  (es- 
tudos mathematicos,  cosmographicos  e  náuticos),  fundada  por 
D.  Henrique,  sábio  mathematico  digno  dos  elogios  de  Wal- 
ckenaer;  n'esse  tempo  tínhamos  já  uma  marinha  muito  desen- 
volvida, merecidamente  elogiada  por  Malle-Brun;  possuíamos 
um  código  de  leis  nacionaes,  as  Chronicas  dos  nossos  Keis,  a 
Bibliotheca  Real  de  D.  AíTonso  v  e  nolabilidades,  como  Garcia 
de  Menezes,  Ayres  Barbosa,  os  cosmographos  mestres  José  e 
Rodrigo,  o  geometra  Pedro  Nunes,  os  navegadores  Vasco  da 
Gama  e  Albuquerque,  etc.  etc.  ^ 

São,  pois,  baldados  os  esforços  de  Chauvet,  se  com  essa 
mentira  histórica  tenta  amesquinhar  Portugal ;  a  decadência 
d'uma  nação  não  pulverisa  os  monumentos  do  passado,  e  as  ar- 
mas francezas,  embora  roubassem  muitos  dos  nossos  grandiosos 
documentos  históricos,  não  os  levaram  todos.  Muitos  são  ainda 
os  titulos  de  gloria  que  possuímos ! 

Não  se  diga  também  que  os  nossos  missionários  desconhe- 
ciam completamente  as  linguas  dos  indígenas  a  quem  prcten- 


1    Estes  factos,  alguns  interessantes,  são  referidos  pelo  cardeal 
Saraiva.  {Obras,  tom.  v,  pag.  V3-2T1). 


166 


diam  calechisar.   Vamos  citar  exemplos  que  demonstram  ca- 
balmente o  contrario. 

Em  1619  ensinaram  os  padres  jesuítas  aos  conguenses,  em 
latim,  a  oração  dominical,  a  saudação  angélica,  o  symbolo  dos 
Apóstolos,  os  mandamentos  da  lei  de  Deus  e  muitas  outras  ora- 
ções religiosas.  N'este  mesmo  anno  o  padre  Matheus  Cardoso, 
missionário  de  S.  Salvador  do  Gongo,  compoz  um  catechismoem 
língua  do  Gongo,  durante  o  tempo  que  demorou  n'es?a  região. 
Em  1641  o  padre  Pacomio  escreveu  uma  breve  catechese 
em  língua  bunda  (de  Angola),  que  outros  referem  ao  anno  de 
1640.  Subordinado  ao  systema  de  perguntas  e  respostas,  era 
destinado  este  precioso  livrinho  a  ser  lido  e  comprehendído 
pelos  neophytos.  Mais  tarde  tornou-se  muito  conhecido,  pois 
foi  traduzido  successívamenle  em  latim  e  portuguez. 

Gomo  estes  muitos  outros  factos  poderíamos  citar  para  de- 
monstrar, que  os  nossos  missionários  não  eram  tão  ignorantes 
como  julgam  críticos  superficíaes  ou  injustos,  Ghauvet  e  Sá  da 
Bandeira.  Quem  conhecer  o  valor  scientífico  de  Balthazar  Bar- 
reira, altamente  considerado  em  Portugal,  e  ao  mesmo  tempo 
tiver  lido  as  cartas  de  Garcia  Simões,  de  Fructuoso  Ribeiro,  de 
Balthazar  AíTonso,  Balthazar  Barreira  e  tantos  outros,  jániais  po- 
derá dizer  ignorantes  os  missionários  das  nossas  conquistas. 

Por  ultimo  diremos  não  comprehender  bem  a  coherencia  de 
Ghauvet  ao  aílirmar  gratuitamente,  que,  apesar  dos  ecclesiasti- 
cos  empregados  nas  missões  serem  quasi  tão  ignorantes  como 
os  indígenas,  assim  mesmo  fizeram  muito  proselytismo  entre 
os  chefes. 

Como  conceber  este  diíTicil  proselytismo,  cercado  de  tantos 
obstáculos,  conseguido  por  ecclesiasticos  ignorantes?  Franca- 
mente não  podemos  perceber. 

Concluamos,  pois:  os  missionários  não  eram  sábios;  pos- 
suíam, porém,  os  conhecimentos  bastantes  para  civilisar  o  indí- 
gena. Apenas  chegavam  a  uma  região,  sob  a  direcção  do  seu 
superior,  começavam  de  se  iniciar  no  conhecimento  da  Hngua 
fallada.  D'este  modo  conseguiram  os  prodigiosos  effeitos  admi- 
rados por  Ghauvet. 

Sá  da  Bandeira  lamenta  muito  o  estado  de  degradação  ía- 
tellectual  dos  indígenas  africanos ;  attríbue  esse  facto  ao  pouco 
ou  nenhum  cuidado  que  a  ínstrucção  merecia  aos  missionários. 
-     Não  contestamos  o  facto,  que  profundamente  lamentamos; 


167 


mas  é  diversa  a  causa  que  lhe  encontramos.  Sem  estarmos  a 
desenvolver  muile  estas  considerações,  porque  a  ellas  nos  re- 
ferimos era  outra  parte  da  nossa  disserlafão,  sempre  diremos 
que  tal  decadência  procede  das  medidas  adoptadas  pelos  nos- 
sos homens  públicos  em  1750,  quando  roubaram  aos  nogros  os 
seus  missionários  para  os  sepultar  nos  troncos  de  Li.sbua.  l'rodu- 
ziram  essa  decadência  inlellectual  e  moral  do  iiidigena  os  nossos 
governos  sempre  descuidados  da  vida  colonial  e  quasi  indilFe- 
rentes  diante  das  necessidades  das  colónias.  Também  não  con- 
correram pouco  para  este  eíFeito  os  grandes  obstáculos,  que 
difficullavam  a  communicação  com  o  interior  (clima,  monta- 
nhas, ódio  de  raça  filho  da  prepotência  do  branco,  etc). 

Os  missionários  eram  zelosos  pela  instrucção,  mas  a  sua 
auctoridade  perdia  muito  de  valor  quando  elles  ensinavam  dou- 
trina solemnemente  conlradictada  pelos  bárbaros  traficantes  de 
carne  humana. 

Ainda  assim  não  somos  tão  desconhecedores  da  historia  da 
nossa  colonisação  como  Ghauvet ;  em  todas  as  nossas  missões 
permanentes  havia  escolas,  que  funccionavam  diariamente. 
Fructos  d'esta  instrucção  e  vestígios  d'ella  foram  encontrados 
pelo  insuspeitíssimo  Levingslone,  que  nunca  desdenhou,  como 
Sá  da  Bandeira,  os  resultados  das  nossas  missões  africanas. 

Si  os  esforços  dos  nossos  missionários  não  foram  coroados 
de  melhores  resultados,  como  seria  de  desejar,  é  porque  os  mis- 
sionários não  comprehenderam  bem  a  necessidade  de  civilisar 
a  mulher.  Mas  n'oulra  parte  diremos  d'este  assumpto  mais  de 
espaço. 

* 

É  uma  falsidade  aífirmar-se  que  os  jesuitas  desde  1676  não 
sahiram  de  S.  Paulo  de  Loanda  para  o  interior,  convencidos 
da  inutilidade  dos  seus  esforços  na  christianisação  do  indíge- 
na. Tal  asserção  só  a  pôde  fazer  quem  ignorar  a  historia 
íl'aquelle  tempo. 

As  estações  permanentes  no  interior  terminaram  certamente, 
depois  dos  jesuitas  terem  sido  centenares  do  vezes  trucidados 
pelo  indígena  e  victimados  pelo  clima.  As  expedições  e  mis- 
sões ao  interior  continuaram. 

No  período  de  1676-1680  os  missionários  acompanharam  ás 
regiões  interiores  o  governador  Ayres  de  Saldanha.  Mis>iona- 
ram  innumeros  indígenas.  Em  168:J  o  padre  C:irlos  Silveira  co- 
meçou  a  percorrer  as  terras   visiuhas  de  Angola;  u'essa  di- 


168 


gressão  empregou  três  aonos  e  seis  mezes,  convertendo  o  in- 
dígena. 

Em  1693  o  jesuíta  Mendes,  com  o  irmão  António  Gonçal- 
ves, baptisou  muitos  régulos,  embora  com  a  opposição  dos  seus 
macotas  (conselheiros). 


Sá  da  Bandeira,  na  obra  citada,  affirma  que  os  missionários 
julgavam  possuir  o  direito  de  exportar  annualmente  de  Angola 
700  escravos;  segundo  o  mesmo  auctor  os  jesuítas  percebiam, 
ao  anno,  800;íí000  reis,  provenientes  do  trafico.  Chega  mesmo 
a  expressar-se  do  modo  seguinte:  os  jesuítas  possuíam  pro- 
priedades ruraes  consideráveis  e  faziam  um  commercio  impor- 
tante: em  certa  occasião,  preparando  elles  uma  carga  de  ne- 
gros para  o  Brazil,  o  governador  não  lhes  deu  a  auctorísação 
Decessaria;  por  ultimo  o  seu  successor  permíltiu-lhes  a  pratica 
de  tal  negocio. 

Assim  pensa  Sá  da  Bandeira  no  Trabalho  rural  africano  e 
a  Administração  colonial,  baseado  na  Carta  Regia  de  18  de 
março  de  1693. 

Procedamos  methodicamente ;  as  censuras  de  Sá  da  Bandeira 
reduzem-se  ao  seguinte : 

1)  Os  jesuitas  percebiam  annualmente,  provenientes  do 
trafico  dos  escravos,  BOOjíiOOO  reis  (C.  R.  cit.). 

2)  Os  jesuitas  enviavam  negros,  escravos,  em  numero  de 
700,  annualmente,  a  troco  de  interesses  variados. 

3)  D'este  modo  os  jesuítas  eram  uns  grandes  commercian- 
tes ;  possuíam  muitos  terrenos  que  cultivavam  e  de  que  aufe-- 
riam  muitos  resultados. 

Critiquemos,  separadamente,  cada  uma  d'estas  asserções. 

O  marquez  de  Sá  da  Bandeira,  na  obra  citada,  funda-se  na 
G.  R.  de  18  de  março  de  1693;  fácil  era  pois  reduzir  ao  seu 
justo  valor  as  asserções  do  marquez,  se  podessemos  consultar 
esse  documento;  mas,  debalde  rastreamos  as  paginas  das  di- 
versas collecções  de  legislação;  não  conseguimos  encontrar 
esse  precioso  documento.  Ainda  assim  a  diíliculdade  não  deixa 
de  ser  perfeitamente  solúvel. 

Admiltamos  que  os  jesuitas  recebiam  annualmente  800;$!000 
reis,  provenientes  da  exportação  de  negros;  d'ahi  unicamente 
podemos  concluir  que  o  governo  portuguez  descontava  aos 


169 


missionários  de  Loanda  essa  veriía  com  que  faziam  frente  áíí 
suas  despezas;  n'esse  tempo  é  certo  que  a  grande  receita  do 
governo  em  Loanda  provinha  do  trafico. 

E  com  esta  solução  muito  razoável,  já  podemos  bem  com- 
prehender,  que  a  faculdade  de  exportar  700  escravos,  concedida 
aos  jesuitas,  significa  que  o  governo  portuguez  dava  aos  mis- 
sionários uma  somma  correspondente  aos  direitos  de  exporta- 
ção de  700  escravos. 

Poderemos  incriminar  os  missionários  por  receberem  di- 
nheiro de  ta!  origem  ?  Conheceriam  elles  mesmo  a  sua  prove- 
niência? 


Emquanto  ás  propriedades  ruraes,  pertenças  dos  jesuitas, 
Dão  nos  devemos  admirar  de  que  os  jesuitas  possuissem  al- 
guns terrenos,  bastante  extensos  mesmo;  a  não  ser  que  igno- 
remos que  os  jesuitas  possuiam  a  casa  de  Loanda,  as  missões 
no  interior  e  frequentemente  dispendiam  caridosamente  som- 
mas  consideráveis ;  haja  vista  o  que  se  dava  no  ho-^pital  de 
Massanganõ;  o  marquez  de  Sá  não  podia  estranhar  porque  co- 
nhecia, como  poucos,  os  assumptos  d'Africa. 

Notamos  mui  de  passagem  que  a  nação  portugueza  não 
era  usurpada  com  as  receitas  dos  jesuitas;  em  troca  educava- 
se  a  mocidade  angolense,  civilisava-se  o  indígena  e  fomenla- 
va-se  o  dominio  portuguez,  É  para  admirar,  que  as  primeiras 
creações  dos  jesuitas  em  Loanda  fossem  uma  escola  e  um  hos- 
pital 1 


Mas  Sá  da  Bandeira  allude  insistentemente  ao  trafico  da  es- 
cravatura exercido  pelos  jesuitas.  Analysemos  a  sua  opinião. 

Os  jesuitas  conheciam  que  esse  commercio  infame  da  carne 
humana  era  prohibido  pelas  leis  divinas,  humana«,  ecclcsiasti- 
cas  e  regulamentos  monásticos.  Gomo  poderemos  conceber  que 
os  missionários  se  revoltassem  contra  estas  leis,  voluntaria- 
mente, com  conhecimento  perfeito  da  obrigação  contraria,  el- 
les que  também  voluntariamente  tinham  entrado  para  a  clau- 
sura? A  hypothese  contraria  reúne  no  mesmo  individuo  a  maior 
heroicidade  ao  máximo  tartufismo  1  E  os  aleijões  hominaes  são 
felizmente  raros. 

No  maior  numero  de  vezes,  distinrtos  pelo  nascimento  ou 


170 


pelos  talentos,  sacriQcaram  um  fuluro  esperançoso  á  pobreza 
religiosa;  para  melhor  assegurarem  o  thesouro  celeste  da  hu- 
miltlaJe  christã,  entraram  n'uma  ordem  fechada  ás  honras  ec- 
clesiasticas ;  levaram  a  abnegação  aos  últimos  limites  sepultan- 
do-se  espontaneamente  nas  ingratas  e  obscuras  missões  dos  ne- 
gros. Em  sumraa  esses  homens  eram  heroes  e  santo-^;  tal  era 
a  vida  que  viviam  !  Poderemos  consideral-os  como  traQcantes 
pombeiros?! 

Não  ignoramos  que  os  theologos  da  meia-idade  admittiam 
sob  certas  reservas  um  legitimo  trafico  de  escravos  nos  paizes 
infiéis;  mas  a  começar  do  século  xvi  o  trafico  dos  negros  é 
energicamente  condemnado  pelos  theologos  mais  illustres  e  pe- 
los moralistas  mais  auctorisados  das  ordens  a  que  pertenciam 
os  missionários  de  Africa.  Como  conceber,  pois,  este  procedi- 
mento dos  missionários  africanos? 

Molina  ^  começa  por  fallar  da  proveniência  dos  escravos, 
que  entravam  no  trafico,  e  do  modo  como  os  compradores  os 
adquiriam  ;  particularmente  assignala  os  maus  tratos  que  eram 
infligidos  a  esses  desgraçados.  Molina  declara  categorica- 
mente, que  obedece  aos  ensinamentos  dos  jesuítas  e  sobretudo 
aos  que  são  missionários.  Próximo  a  decidir  a  questão,  obser- 
va que  muitos  doutores  estranhos  á  sua  ordem  condemnaram 
este  commercio  como  um  percado  mortal.  «Emquauto  a  mim, 
diz  Molina,  julgo  que  o  trafico  dos  escravos,  comprados  aos  in- 
fiéis d'Africa  e  transportados  para  diversas  terras,  é  injusto  e 
iniquo,  e  que  todos  os  que  o  exercem  peccam  mortalmente  e 
estão  n'um  estado  de  condemnação  eterna,  a  não  ser  que  haja 
a  ignorância  invencível. . .  »  «Consequentemente,  contínua  Mo- 
lina, o  rei  de  Portugal  e  seus  ministros,  os  bispos  e  os  confes- 
sores dos  negociantes  de  carne  humana  estão  obrigados  a  exa- 
minar esses  indivíduos  e  a  reprehender  efficazmente  as  suas 
injustiças». 

Eis  a  doutrina  de  Molina  e  como  elle  pensaram  Fernam  Re- 
bello  ^  (sec.  xvii),  jesuita,  professor  de  theologia  em  Portugal, 
Thomaz  Sanches  ^,  Ledesma,  Soto,  Navarro,  Mercado,  Fr.  Gar- 
cia, etc. 

E  não  se  julgue  que  então  as  decisões  dos  theologos  ti- 
nham a  valia  que  hoje  possuem  ;  iníluiara  primariamente  na 


1  De  justiticB  et  jure,  trat.  ii,  disp.  34  e  3o. 

2  Opus  de  obligationibus  jusíitice,  liv.  i,  qu.  10. 

3  Concilia  Moralia,  liv.  i,  cap.  i,  dub.  4. 


171 


opinião  publica  e  determinavam  quasi  sempre  um  certo  proce- 
dimento dos  ministros  e  soberanos.  Em  Portugal  os  tlieologos 
tinham  assento  nos  reaes  conselhos  para  collaborar  nas  inslruc- 
ções,  que  se  davam  aos  governadores  e  aos  chefes  militares 
das  colónias  ^ 

Julgamos,  pois,  completamente  infundadas  as  asserções  do 
snr.  marquez  de  Sá  da  Bandeira. 


Abel  Andrade. 


1    Controverse,  loc.  cit. 


CATALOGO 


DAS 


Moedas  e  medalhas  portiigiiezas  existentes  na  collecção 
da  Sociedade  Martins  Sarmento 


(Continuado  da  pag.  118) 


PRIMEIRA  PARTE 
Moedas 


PRIMEIRA   SÉRIE 
!M!ocdlas    para    o    continente 

D.  Duarte 

33.  +EDVARDVS  +  REX+ PORT.  No  centro  de  oito  arcos 

as  letras  ED  coroadas,  e  por  baixo  a  letra  mone- 
tária L  (Lisboa). 
R.**     +  A  mesma  legenda ;  no  centro  as  quinas,  canto- 
nadas  por  quatro  castellos.  Ceitil.  M. 

34.  Outro  exemplar  com  alguma  differença. 

35.  +EDVARD...  REX...  No  centro  E  coroado;  á  direita 

L  (Lisboa). 
R.»     ...  EDVAD. . .  PORT.  Quinas  cantonadas  por  quatro 
castellos.  Real  preto.  E. 


173 


D.  Affonso  V 

36.  +  ADVTORIVM  :  NOSTRVM  :  IN+.  Quinas. 

R.°  A  mesma  legenda,  tendo  no  campo  A,  entre  dois  an- 
neis,  com  uma  grande  coroa  por  cima,  e  por  baixo 
a  letra  monetária  L  (Lisboa).  Meio  real  grosso  ou 
chinfran.  AR. 

37.  +ALFONSVS:  DEI:  GRACIÂ :  REX:  PO:  Uma  mão  segu- 

rando uma  espada  pela  folha,  junto  aos  copos, 
voltada  para  baixo,  dentro  de  quatro  arcos  canto- 
nados  por  anneis,  e  cortando  a  legenda ;  no  cam- 
po A  (inicial  do  rei). 
R.»  +ADIVTORIVM:  NOSTRVM:  IN:  N0STR4-.  Escudo 
com  as  quinas,  caslellos  e  cruz  d'Aviz,  no  meio 
de  quatro  arcos  cantonados  por  quatro  anneis. 
Espadim.  B. 

38.  Outro  exemplar  com  alguma  diíferença. 

39.  +  DOMINVS  :   ALFONS  +.  Sobre  a  cruz  d'Aviz  o  escudo 

com   as  quinas  cantonadas  por  quatro  caslellos. 
R.**     A  mesma  legenda.  +  Três  torres  sobre  uma  mura- 
lha junto  do  mar,  e  á  direita  a  letra  monetária  P 

(Porto).  Ceitil.  M. 

40.  ALFONSVS:  DEI:  G:  REX. . .  Escudo  com  as  quinas  can- 

tonadas por  quatro  caslellos,  sobre  a  cruz  d'Âviz. 
R.°    ALFO:  CEl^TE:  DOMIN...  As  Ires  torres  sobre   as 
muralhas  banhadas  pelo  mar.  Ceitil.  .E. 

41.  Outro  exemplar  dilTerente. 

D.  João  II 

42.  +IOHANES:  II :  R  :  P :  ET:  A:  D:  GVIN:  Armas  do  rei- 

no dentro  de  seis  arcos,  sem  a  cruz  d'Aviz  e  as 
quinas  pendentes. 
R."     A   mesma   legenda  do  anverso.  Cruz  de  S.  Jorge 
n'um  circulo  ogival.  Cruzado.  AV. 


174 


43.  +IOÂNES:  I  •  I:  R:  P:  ET:  A:  D :   GVINE.  Armas  do 

reino  entre  dois  anneis. 
R.o     ^  lOANES  :  I  •  I :  R :   P  :  ET  :  A :  D :  G :  O  :  Um  Y 
coroado;  á  esquerda  P  (Porto);  á  direita  ura  an- 
nel.  Real.  AR. 

44.  Outro  exemplar  com  as  legendas  abreviadas. 

45.  +IOANES:  I:   I:  R:  P:  ET:  ALGARBI.  Escudo  com   as 

quinas  cantonadas  por  quatro  castellos,  tendo  em 
cima,  de  cada  lado,  um  ponto. 
R.»     +CITRA:   ETVL:  DOMINVS  GVINE.  Três  torres  as- 
sentando em  muralhas  banhadas  pelo  mar.  Cei- 
til. E. 

D.  Manuel 

46.  +EMANVEL:  R:  P:  ET:  A:  D:  GVINEE.  Armas  do  rei- 

no entre  quatro  arcos. 
R.°    A  mesma  legenda.  Cruz  de  S.  Jorge  n'um  circulo 
ogival,  e  por  cima  três  pontos.  Cruzado.  AV. 

47.  +:  EMANVEL:  R:  P:  ET:  A:  D:  GVINEE.  Armas  do  rei- 

no, tendo  á  esquerda  V  e  á  direita  L. 
R.°  IN  *  HOG  *  SINO  *  VINCES  *.  Cruz  de  Christo,  can- 
tonada  por  quatro  estrellas,  lendo  em  cima  três 
pontos.  (DiíTere  do  exemplar  que  o  snr.  Aragão 
menciona  sob  o  n.°  7,  em  ter  a  cruz  cantonada 
pelas  estrellas).  Tostão.  AR. 

48.  +EMANVEL:    P:   R:   P:   ET:   A:  D:  GVINE.  Armas  do 

reino,  tendo  á  direita  O  e  á  esquerda  V. 
R.°     INI:  *  HOG  *  SIGNO  *  VINCES  *.  Cruz  de  Christo, 
cantonada  por  quatro  estrellas,  e  tendo  no  centro 
um  ponto.  Tostão.  AR. 

49.  +1:  EMANVEL:  R:  P:  ET:  A:  D:  GINE.  Quinas. 

R.*»  +  •  I  •  EMANVEL  .R.P.ET.A-D:G-  Cruz 
de  S.  Jorge,  cantonada  por  quatro  anneis.  Meio 
tostão.  AR. 


175 


+  í:  EMANVEL:  R:  P:  ET:  A:  D:  GVINE +.  No  campo 
M  coroado  entre  dois  anneis,  e  á  esquerda  L. 

R."  A  mesma  legenda.  No  campo,  entre  dois  anneis,  o 
escudo  das  armas.  Real  de  prata  ou  vintém.  AR. 

O  mesmo  exemplar,  tendo  a  letra  L  á  direita. 

+  IEMANVEL  -R-P-ET-A-D-G.  Armas  do  reino 

entre  dois  pontos. 
R.o     +:  I:  EMANVEL:  R  :  P  :  ET :  A  :  D  :  G  :  No  campo 

um  M  coroado;   á   esquerda  L  e  á  direita  um  an- 

nel.  Real  de  prata  ou  vintém.  AR. 

+  EMANVEL  -P-R.P-ET-A-D-  GVINEE.    Armas 

do  reino  entre  dois  anneis. 
R.°     -I-  EMANVEL  •  R  •  P  •  ET  •  A  •  D  •  GVIN  •  E.   No 

campo   M   coroado,  entre  dois  anneis;  por  baixo, 

entre  dois  pontos,  P  (Porto).  Real  de  prata  ou  vin- 

tom.  AR. 

Outro  exemplar  com  pequena  difíerenfa  na  legenda,  ten- 
do no  reverso,  entre  dois  pontos,  um  N  gothico, 
e  por  baixo,  entre  dois  anneis,  a  leira  monetária 
P  (Porto).  AR. 

+  EMANVEL  :  P  :  R  :  P  :  ET  :  A.  Quinas. 

R.**  A  mesma  legenda  do  anverso,  accrescentada  das  le- 
tras D  :  G  : ,  e  no  campo  a  cruz  d'Aviz  com  uni 
ponto  no  centro.  Meio  real  de  pirata  ou  meio  vin- 
tém. AR. 


+  I :  M  :  R  :  P  :  ET  :  A  :  D  :  G  +.  Quinas. 

R.°     +  I :   EMANVEL  :  R  :   P  :  +•    No  campo  M  coroado, 

tendo  de  cada   lailo  um  annel,  e  por  baixo  L. 

Cinquinho.  AR. 

+  EMANVEL...  ET  •  A  •  DN...  Quinas. 

R.°  +1...  ANVEL:  R:  P:  ET:  A...:  GVINEE.  No 
campo  R  (Real)  coroado;  á  direita  uma  estrella,  e 
á  esquerda,  entre  dois  pontos,  P  (Porto);  por  bai- 
xo três  pontos.  Real.  M. 


176 


58.     +1-  EMÂNVEL:   R:   P:    ET:   A:   Escudo  com  as  quinas 
cantonadas  por  qualro  caslellos,  e  entre  três  an- 
neis. 
R.°     A  mesma  legenda.  No  campo  três  torres  n'uma  ele- 
vação banhada  pelo  mar.  Ceitil.  M. 


D.  João  III 

59.  +IOANES:  III:  R:  POaT+.  Armas  do  reino,  tendo  aos 

lados  as  letras  L-R,  a  primeira  com  um  pguto  por 
cima  e  a  segunda  com  três. 
R."     +  IN  :  HOG  :  SIGNO :  VIN  +.  Cruz  de  S.  Jorge  com 
três  pontos  em  uma  das  extremidades.  Cruzado.. 
AV. 

60.  +IOA:  III:  POR:  ET:  AL:  R:  D:  G:+.  Escudo  das  ar- 

mas do  reino. 
R.°     +IN:   HOG:    SIGNO:   VINGES +.   Cruz   sobre  um 
calvário.  Calvário,  cruzado.  AV. 

61.  lOANES:  III  REX :  PORTV :  ETAL.  Armas  do  reino. 

R."  VSQVE  AD  MORTEM-ZELATOR  FIDEÍ.  No  centro  de 
duas  estrellas,  S.  Vicente  voltado  á  direita,  tendo 
na  mão  direita  uma  palma,  e  na  esquerda  um  na- 
vio. S.  Vicente.  AV. 

62.  -I-IOâNES:  III:   REX:  POR.  Armas  do   reino,  tendo  de 

cada  lado  cinco  pontos. 
R.°      h  lOANES  V  in  A  R  A  PO.   No   centro  Y  (Joa- 
nes) coroado,  entre  dois  anneis.  Real  de  prata  ou 
vintém.  AR. 

63.  Outro  exemplar  com  pequena  diíFerença. 

64.  gg  lOANES  3  R  PORTVGÂLIE.  Armas  do  reino  entre  dois 

anneis. 
R.°     gg  IOâNES  3  R  PORTVGALIA.   No   centro    Y    (Joa- 
nes) coroado ;  á  esquerda  R  (inicial  do  nome  do 
ensaiador),  e  á  direita  L  (Lisboa).  Real  de  prata 
ou  vintém.  AR. 


177 


65.  No  campo  IO  III;  por  cima  a  corua  real;  por  baixo  LXXX, 

e  na  orla  -|-  REX  v  PORTVGALIE  v  AL  v  D  V  G- 
R.o     4-  IN:  HOC:  SIGNO:  VINC +.   Cruz   de   S.  Jorge 
com  pontos  nos  ângulos.  Real  portuguez  dobrado 
ou  oitenta  reis.  AR. 

66.  lOANES  •  III  •  REX  •  PORT.  As  armas  do  reino. 

R."    No  campo,  dentro  d'uma  coroa  de  louro,  XX.  Vi}v- 
tem.  AR. 

67.  +IOANES:    III:   D:    G:   POR:    ET:    ALGARBIORVM -}-. 

Armas  do  reino,  tendo  de  cada  lado  cinco  pontos 
em  cruz. 
R."»  +REX:  ÔVINTVS:  DECIMVS+.  No  centro  um  gran- 
de X  entre  dois  florões  e  cinco  poúlos  dispostos 
em  cruz,  e  o  campo  limitado  por  uma  série  de 
semi-circulos.  Dez  reaes.  .E. 

68.  +PORTVGAL:  ET:  ALGARB:  REX:  AFRIC +.  No  campo 

lO-IIÍ,  coroado. 
R."    Escudo  do  reino  sem  coroa.  Três  reis.  M. 

69.  -f-IO-III-R:  P:  A-f.  Em  duas  linhas,  dentro  d'ura  pa- 

rallelogramo. 
R.**     +  R  coroado,    cora   uma   estrella  de  cada   lado. 
Real.  M. 

(Continua). 


J.  F.  Gosta. 


8.»  A-NNO.  « 


QUESTÕES  PRATICAS 


Arrendamentos:  o  processo  de  despedidas 


Os  arrendamentos  são  actos  frequentíssimos  da  vida  civil, 
e  a  origem  consequente  de  repetidos  conflictos  entre  proprie- 
tários e  inquilinos  de  prédios  urbanos,  entre  proprietários  e 
caseiros  ou  colonos  de  prédios  rústicos. 

Abstrahindo  das  gravíssimas  questões  piíilosophicas  sobre 
a  legitimidade  das  rendas,  a  sua  elasticidade  mercantil,  que 
preoccupam  economistas  e  socialistas,  e  considerando  o  as- 
sumpto no  seu  aspecto  menos  transcendente,  e  mais  pratico  e 
vulgar,  não  são  também  isentas  de  interesse  nem  de  gravida- 
de as  questões  que  se  derivam  do  texto  das  leis,  ou  dos  cos- 
tumes locaes. 

Recentemente,  o  actual  ministro  da  justiça  apresentou 
ao  parlamento  um  projecto  de  lei  reformadora  das  disposições 
do  código  civil  S  que  tende  a  coarctar  a  pratica  de  abusos 
dos  senhorios  de  prédios  urbanos. 


1  Artigo  1.0  Os  artigos  1:612."  e  l:624.o  a  1:626.0  do  código  ci- 
vil serão  substituídos  pelos"  seguintes : 

Art.  1:612.0  Se  o  arrendatário  fôr  estorvado  on  privado  do 
uso  do  prédio  por  caso  fortuito  ou  por  força  maior,  relativa  ao  mesmo 
prédio,  e  não  cá  própria  pessoa  do  arrendatário,  poderá  exigir  que  llie 
seja  restituído  da  renda  já  paga,  ou  abatido  na  renda  a  pagar,  o  valor 
proporcional  á  privação  que  padecer,  so  outra  coisa  não  tiver  sido  es- 
tipulada. 


179 


Este  projecto,  como  se  vô  do  seu  texto,  restringe-se  aos 
prédios  urbanos,  e  vé-se  d'elle  que  o  illustre  ministro  somente 
se  preoccupou  com  as  reclamações  e  queixas  dos  haljiiantes 
dos  grandes  centros  de  commercio  e  industria.  O  projecto  é 
aceitável,  os  intuitos  do  seu  auclor  são  dignos  de  incondicio- 
nal applauso,  mas,  a  nosso  juizo,  tem  o  principal  defeito  de 
não  conter  disposições  de  indispensável  reforma  da  lei  sobre 
arrendamentos  de  prédios  rústicos. 

E  todavia  as  difíiculdades  praticas,  as  violências,  os  pre- 
juízos, tanto  se  dão  nas  relações  urbanas,  como  nas  relações 
rústicas,  consequentes  dos  respectivos  arrendamentos. 

Para  que  um  prédio  seja  considerado  rústico,  e  não  urba- 
no, basta  que  à  casa  habitável  seja  annexo  um  terreno  arável, 
maior  ou  menor,  e  cuja  renda  seja  paga  aos  Santos  (l.°  de 
novembro).    Muitas  das   pequenas  propriedades, — que  tanto 


§.  único.  Se  o  arrendatário  fòr  estorvado,  ou  piivado  do  uso  do 
prédio,  em  consequência  de  expropriação  por  utilidade  publica,  cnja 
urgência  não  permitia  avisal-o  para  despejo  com  a  autecedcucia  desi- 
gnada n'este  código,  terá  direito  a  ser  indemnisado  pelo  exproi)riante, 
do  prejuízo  que  por  esse  facto  soíTrer. 

Art.  1:6:24. °  Sc  a  época  do  pagamento  da  renda  não  fôr  designa- 
da em  contrato  feito  por  documento  authentico  ou  authentica<!o,  ob- 
servar-se-ha  o  disposto  nos  paragrapbos  seguintes : 

§.  l.°  Nos  arrendamentos  feitos  aos  semestres  ou  por  mais  de 
seis  niezes,  e  sendo  a  renda  annual  superior  a  6O0OOO  reis  em  Lisboa 
e  Porto,  e  a  24^000  reis  nas  outras  terras,  entender-se-ha  que  a  renda 
deve  ser  paga  aos  trimestres,  no  dia  2o  dos  mezes  de  novembro,  feve- 
reiro, maio  e  agosto,  com  relação  aos  trimestres  que  respectivamente 
começarem  no  dia  1  dos  seguintes  niezes  de  janeiro,  abril,  julbo  e  ou- 
tubro. 

§.  2.0  Nos  arrendamentos  feitos  por  praso  inferior  a  seis  mezes, 
e  ainda  n'aquelles  que,  feitos  por  maior  praso,  a  renda  annual  não  fòr 
superior  a  60;SOno  reis  em  Lisi)oa  e  I'orto,  e  24.^000  reis  nas  outras 
terras,  entender-se-ha  que  a  renda  deve  ser  paga  aos  mezes,  no  dia  io 
do  mez  immediatamente  anterior  ao  mez  a  que  a  renda  respeita. 

§.  3.0  Nos  arrendamentos  feitos  ás  semanas,  entender-se-l)a  que 
a  renda  deve  ser  paga  no  sabbado  iuimediafamento  anterior  á  semana 
a  que  a  renda  respeitar. 

§.  4.0  Nas  hypotheses  designadas  nos  paragrapbos  anteriores, 
se  fôr  costume  da  terra  não  pagar  a  renda  adiaiitmia  ou  pagal-a  com 
menor  antecipação,  observa r-se- lia  esse  costume. 

Art.  1:625.0  Presume-se  renovado  o  contraio,  verb;il  nu  oscri- 
pto,  salvo  o  disposto  no  §.  1."  d'(!sto  artigo,  se  o  arrenditario  se  não 
tiver  despedido  ou  o  senhorio  o  não  despedir,  no  tempo  o  pela  fornia 
designada  nos  paragrapbos  seguintes : 


ISO 


abundam  n'esía  província  — ,  são  consideradas  prédios  rústi- 
cos, e  como  taes  arrendadas.  A  taes  propriedades,  como  ás  de 
casas  de  moinhos  ou  azenhas  nas  margens  dos  rios,  — que  se 
regulam  por  costumes  diíTerentes,  mas  mais  semelhantes  aos 
da  occupação  de  prédios  urbanos — ,  muito  convém  ampliar 
parte  das  disposições  do  projecto,  especialmente  as  que  ten- 
dem a  facilitar  e  baratear  as  despedidas. 

No  nosso  estudo  acerca  das  causas  geraes  da  crise  agrícola 
{A  Crise  Agrícola  Porlugueza,  pag.  170)  ponderamos  a  ne- 
cessidade de  a  attenuar,  por  ura  complexo  de  reformas,  e,  entre 
ellas,  pela  simplificação  e  barateamento  das  relações  judiciaes. 

Lembramos  ahi :  «Pela  moderna  legislação  portugueza  fo- 
ram creados  os  juizos  arbitraes,  a  exemplo  do  que  ha  muito 
vigora  nos  paizes  civilisados,  para  a  conciliação  summaria  e 
barata  de  couQictos  entre  operários  e  patrões,  ou  para  decisão 


§.  1.°  Quaesquer  que  sejam  as  disposições  do  contrato,  com 
respeito  à  época  do  pagamento  da  renda,  não  se  presumem  renovadas 
sem  novo  contrato  feito  em  documento  authentico  ou  authentieado, 
mas  considerar-se-hão  substituídas  pelo  disposto  no  artigo  1:024." 

§.  2.0  Nos  arrendamentos  dos  prédios  destinados  a  habitação  ou 
commodo  pessoal,  deve  o  arrendatário  prevenir  o  senhorio  ou  este  o 
arrendatário,  da  cessação  do  arrendamento,  antes  d'este  findar,  com 
a  antecipação  pelo  menos :  1."  de  quarenta  dias,  se  o  arrendamento 
fôr  feito  ao°s  semestres  ou  por  maior  praso ;  2.°  de  vinte  dias,  se  o  ar- 
rendamento fôr  feito  por  mais  de  um  mez  é  menos  de  seis ;  3.°  de  cin- 
co dias,  se  o  arrendamento  fôr  feito  aos  mezes  ou  por  menos  de  um 
mez. 

§.  3.0  Nas  terras,  onde  se  usarem  escriptos,  o  arrendatário  de 
prédio,  destinado  a  habitação  ou  commodo  pessoal,  haver-se-ha  por 
despedido,  se  os  pozer  até  á  véspera  do  dia  em  que  é  obrigado  a  pa- 
gar a  renda,  independentemente  de  aviso  directo  ao  senhorio. 

|.  4.0  Nos  arrendamentos  de  lojas,  edifícios  ou  terrenos,  onde  o 
arrendatário  tiver  montado,  com  annueneia  expressa  ou  tacita  do  se- 
nhorio, algum  estabelecimento  commereial  ou  industrial,  a  prevenção 
da  cessação  do  arrendamento  deve  ser  feita  pelo  senhorio,  ou  pelo  ar- 
rendatário: 1.°  se  o  arrendamento  não  durar  mais  de  seis  mezes,  com 
a  antecipação  de  cincoenta  dias:  2.°  se  o  arrendamento  durar  mais  de 
seis  mezes  e  até  um  anno,  com  a  antecipação  de  noventa  dias ;  3.°  se 
o  arrendamento  durar  mais  de  um  anno,  com  a  antecipação  de  no- 
venta dias  e  mais  vinte  por  cada  anno  ou  fracção  de  anno  que  o  ar- 
rendamento durar,  até  ao  máximo  de  antecipação  de  trezentos  e  ses- 
senta dias.  Para  este  effeito  contar-se-ha  sempre  o  praso  de  duração 
do  arrendamento  desde  que  o  arrendatário  começou  o  inquilinato  e  in- 
cessantemente o  continuou  até  findar  o  arrendamento  corrente,  tenha, 
ou  não,  havido  durante  esse  praso  mais  de  um  contrato,  escripto  ou 
verbal,  expresso  ou  tácito. 


181 


contenciosa  d'esses  conílictos  de  interesses  ou  de  direitos.  A 
frequência  de  desordens  e  greves,  se  em  grande  parte  eram 
promovidas  pelas  intrigas  e  propaganda  revolucionaria  da 
Internacional,  eram-no  igualmente  por  legitimas  aspirações 
menosprezadas,  pela  offensa  de  direitos,  pela  oppressão  dos 
capitalistas  e  patrões,  lieconheceu-se  que  era  tão  indispensá- 
vel á  ordem  publica,  como  á  satisfação  dos  sentimentos  de 
justiça,  evitar,  por  um  organismo  judicial,  a  expansão  desor- 
denada, turbulenta  e  criminosa  dos  operários  desvairados  pela 
sede  de  justiça. 

«Esta  sede  de  justiça  soffrem-na  os  trabalhadores  ruraes; 
nas  relações  entre  creados  e  amos,  entre  jornaleiros  e  caseiros, 
entre  caseiros  e  senhorios,  são  frequentes  os  conílictos,  e  não 
são  raros  os  calotes  e  abusos  do  mais  forte  contra  o  mais  fra- 
co. A  justiça  organisada  mais  barata,  entre  nós,  é  a  dos  jui- 


§.  5.°  O  aviso  para  augraento  de  renda  deve  ser  feito  com  a 
mesma  antecipação  mareada  nos  §§.  2."  e  4.0 

§.  6.0  O  arrendatário  de  qualquer  prédio,  que  se  despedir  ou  fôr 
despedido,  é  obrigado  a  pôr  escriptos  na  véspera  do  dia  em  que  teria 
de  pagar  a  renda,  e  a  mostrar  o  interior  da  casa  a  quem  pretender 
vôl-a,  sob  pena  de  se  suppôr  renovado  o  contrato,  ou  res[)onder  por 
perdas  e  daninos  se  ao  senhorio  não  convier  a  renovação. 

§.  7.0  Nos  arrendamentos,  em  que  a  renda  fòr  p;;ga  aos  triuies- 
tres  ou  em  p rasos  mais  curtos,  a  prevenção  da  cessação  do  arrenda- 
mento pôde  ser  feita,  ou  judicialmente  nos  termos  do  código  do  |)ro- 
cesso,  ou  por  billietes  postaes  ofificiaes,  que  serão  creados  jjela  admi- 
nistração gera!  dos  correios,  conforme  fôi'  fixado  nos  i'egul;imeiitos. 

§.  8.0  Não  se  pôde  renunciar  aos  prasos  estabelecidos  n'este  ar- 
tigo, sendo  nullas  quaesquer  convenções  em  contrario. 

Art.  1:626.0  U  arri;ndatario  de  estabelecimento  industrial  ou 
commercial  que  fôr  despedido  pelo  senhorio,  ou  se  desjiedir  em  con- 
sequência de  augmento  de  renda,  terá  direito  a  uma  indemni^^ação 
pela  exploração  da  sua  freguezia^  se  no  prédio  se  installar  outro  esia- 
l3elecimento  do  mesmo  género  antes  de  decorrido  um  anno  a  contar 
do  despejo. 

§.  1.0  A  indemnisação  será  paga  pelo  senhorio,  ou  pelo  novo  ar- 
rendatário, ou  por  ambos,  conforme  fôr  um,  ou  outro,  ou  ambos,  que 
aproveitem  do  maior  valor  resultante  da  freijuezia  creada  [wAo  arren- 
datário anterior. 

§.  2.0  Não  terá  direito  á  indemnisação  o  arrendatário  que  der 
causa  ao  despejo  nos  termos  do  artigo  l:6o7.o 

Artigo  2.0  É  o  governo  auctorisado  a  regulamentar  o  que  fica 
disposto  no  §.  único  do  artigo  l:612.o  e  §.7."  do  artigo  l:02o.o  do  có- 
digo civil,  e  fica  revogada  a  legislação  em  contrario. 

Secretaria  dos  negócios  ecctesiasticos  e  de  justiça.  —Alhcrlo  An- 
tónio de  Moraes  Carvalho. 


182 


zos  de  paz,  mas  esla  mesma,  para  causas  até  lOjíiOOO  reis,  é 
relativamente  cara,  pela  forma  ordinária  do  processo,  com  to- 
dos os  accidentes,  fórmulas  e  recursos. 

«  Era  toda  a  parte,  as  relações  entre  cultivadores  e  senho- 
rios, entre  a  industria  e  o  capital,  merecem  do  legislador  as 
mais  reflectidas  e  minuciosas  providencias.  Na  Irlanda  crea- 
ram-se  trihunaes  especiaes,  para  conhecer  dos  conflictos  e  re- 
gular mais  equitativamente  as  relações  dos  caseiros  com  os 
senhorios;  e  nos  diversos  paizes  do  continente  se  tem  prote- 
gido, nas  ultimas  reformas,  o  trabalhador  rural  contra  extor- 
sões ou  fraudes  dos  proprietários. 

«ITm  dos  objectos  da  acção  velhaca,  hoje  frequente  e  vul- 
gar, dos  caseiros,  é  a  despedida  dos  prédios. 

« Os  arrendamentos,  quer  de  prédios  urbanos,  quer  de 
prédios  rústicos,  são  geralmente  a  praso  curto. 

«  A  lei  portugueza  não  restringe  ou  limita  a  duração  con- 
tratual dos  arrendamentos,  e  apenas,  como  diversas  leis  dos 
povos  cultos,  dá  ao  arrendamento  o  caracter  de  direito  predial 
ou  real  pela  admissão  do  seu  registro,  havendo  adiantamento 
de  renda,  ou  renda  estipulada  por  mais  de  quatro  annos; 
apenas  a  lei  fiscal  agora  exige  contribuição  de  registro  dos  ar- 
rendamentos superiores  a  vinte  annos.  Estes  são  porém  pouco 
vulgares,  e  ordinariamente  representam  contratos  simulados 
para  fraudação  de  direitos  dominicaes  nos  prédios  emphyteu- 
ticos.  O  costume  do  arrendamento  a  praso  curto  mantem-se 
geralmente. 

«  Pelas  leis  de  processo  e  da  tabeliã,  as  despedidas  judi- 
ciaes  são  caras;  quando  as  rendas  provém  de  prédios  peque- 
nos, muitas  vezes  a  renda  não  chega  para  a  despeza  da  des- 
pedida; e  como  hoje  é  geral  o  conliecimento  de  que  o  senho- 
rio carece  de  força  coerciva  para  expulsar  o  caseiro,  sem  que 
esteja  armado  d'um  processo  comminatorio,  o  caseiro  não  des- 
peja o  prédio  arrendado,  e  não  paga  a  renda,  quando  não  le- 
nha sido  citado  opportunamente :  o  senhorio  vê-se  corapellido 
a  desembolsar  a  despeza,  ou  a  tolerar  o  caseiro  no  prédio 
com  prejuízos  irremediáveis ! 

«  Esta  diíBculdade  pratica  e  vulgar  seria  resolvida,  crean- 
do-se  o  juizo  arbitral,  ou  simpliflcando-se  o  processo  de  des- 
pedida ». 

Como  porém  se  vê  do  projecto,  o  seu  illustre  auctor  so- 
mente se  restringiu  a  simplificar  as  despedidas,  e  a  regular, 


183 


com  mais  justiça,  as  relações  de  senhorios  e  inquilinos  de 
prédios  urbanos. 

O  projecto  é  geralmente  bom,  mas  é,  como  ponderamos, 
excessivamente  restricto.  Deve-se  ir  muito  mais  longe,  apro- 
veitando-se  o  ensejo  de  acudir  a  um  dos  maiores  embaraços, 
e  um  dos  maiores  focos  de  violências  e  injustiças  nas  relações 
ruraes. 

Se  se  não  quizer  a  organisação  de  juizos  arbilraes,  pelo 
menos  deverá  simplificar-se  o  processo  de  despedidas  entre 
caseiros  e  senhorios  ruraes. 

Para  a  validade  de  despedida  não  bastará  a  notificação? 
Para  que  distribuição  e  accusação  de  citação,  fixação  de  au- 
diência para  embargos,  julgamento  de  comminatorio? 

Deve  o  notificado  ser  ouvido?  É  elementar  que  o  deve  ser, 
mas  quando  quizer :  e  para  isto  bastará  facultar  —  que  o  noti- 
ficado, querendo  embargar,  faça  citar  o  requerente,  para  na 
primeira  audiência  vêr  offerecer  so  embargos,  etc.  O  processo, 
como  está  estabelecido,  suppõe  ou  presume  que  geralmente 
ha  embargos,  quando  a  presurapção  é  era  verdade  a  con- 
traria. 

Na  conjunctura  presente,  com  a  crise  rural  bem  manifesta 
e  infelizmente  progressiva,  a  economia  nas  despezas  d'estes  e 
d'outros  processos  constituirá  uma  valiosa  attenuação. 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 


subsídios  paka  a  historia 


DAS  INDUSTRIAS  VIMARANENSES 


Excesso  de  reforma  liberal  em  detrimento  agrícola 

e  industrial 

(Continuado  da  pag.  Ii5) 

Como  vimos,  Azcárate  ^  propõe  três  fórmulas  para  resolver 
o  problema  social.  Estudando  profundamente  as  causas  d'esta 
moderna  e  gravíssima  crise  social,  não  só  puramente  econó- 
micas, como  moraes ;  depois  de  estudar  o  systema  e  aspira- 
ções das  diversas  escolas :  desenvolvidamente  expõe  e  sustenta 
as  doutrinas  que  resume  nas  três  fórmulas  indicadas. 


1  Estudando  os  meios  com  que  o  individuo  deve  concorrer  para 
a  solução  do  problema  social,  diz  o  citado  Azcárate : 

«  Lo  priniero  e  más  urgente  en  este  punto  es  que  se  rectefique  el 
sentido  errado  dominante  respecto  de  las  relaciones  entre  la  moralidad 
y  la  vida  económica.  De  tal  modo  se  admite  como  cosa  indudable  que 
es  esta  la  esfera  própria  dei  interés  individual,  que  resulta  entre  los 
que  trabajan  en  ella  y  los  que  se  dedican  á  otras  profesiones  una  dife- 
rencia singular  y  chocante.  El  sacerdote,  el  politico,  el  militar,  el  cien- 
tifico, el  artista,  todos  se  creen  obligados  á  pensar,  antes  que  nada, 
en  Ia  religion,  en  la  pátria,  en  la  ciência  ó  en  el  arte,  y  solo  despues 
de  servir  á  estos  fmes  objetivos^  solo  subordinadamente  á  ellos,  les  es 
licito  pensar  en  si  mismos;  de  tal  suerte,  que  la  sociedad  condena  á 
los  que,  haciendo  lo  contrario,  comercian  con  la  religion,  convierten 
en  industria  la  politica  ó  cultivan  la  ciência  ó  el  arte  pane  lucrando. 
Sucede  lo  mismo  con  los  que  se  consagran  á  la  produccion  de  la  ri- 
queza, con  los  agricultores,  induslriales  y  comerciantes  ?  No,  en  ver- 


185 


Ha  jiistifa  nas  reclamações  das  classes  trabalhadoras?  Evi- 
dentemente. Só  quem  obcecadamente  qiiizer  fechar  os  olhos  à 
luz,  ou  siibmergir-se  ua  onda  tumultuosa  da  corrente  que  já 
mal  se  contém  nos  diques,  que  os  governos  conservadores 
intransigentes  possam  ainda,  como  ultimo  esforço,  sustentar 
ousará  negal-o.  ' 

Brevíssimas  considerações  demonstram  a  justiça  das  recla- 
mações dos  operários,  dos  moderados,  como  são  as  das  velhas 
corporações  operarias  da  Inglaterra. 

A  industria  transformou-se,  e  com  a  sua  transformação  o 
operário  perdeu  a  independência,  as  garantias  pessoaes,  a 
dignidade  profissional,  maiores  ou  menores,  que  sustentava 


dad;  para  ellos  no  hay  fia  objelivo :  el  único  que  persiguen  es  el  ha- 
cerse  ricos;  aqui  desaparece  la  disfinccion  entre  el  bien  social  y  el  par- 
ticular; aqui  no  debe  pensarse  primero  en  aquél  y  despues  en  este, 
sino  ai  contrario ;  y  la  sociedad,  que  condena  ai  sacerdote  ó  ai  sábio 
que  snerifican  la  religion  ó  la  ciência  á  su  provecho,  euando  se  trata 
de  los  productores  de  riqueza,  no  le  ocurre  que  deban  pensar  más  quo 
en  aquél.  Ahora  bien:  como  es  posible  quo  la  unidad  dei  deber  se 
rompa,  constitayendose  dos  castas  de  hoinbres,  la  de  los  que  tienen 
que  tomar  en  euenta  el  fin  racional,  universal  y  humano,  y  la  de  los 
que  solo  deben  atender  ai  suyo  particular?  Es  extraiio  que  se  miren 
con  cierto  desden  las  profesiones  económicas,  y  se  las  considere  menos 
dignas  de  estima  que  las  otras,  si  se  da  por  snpuesto  que  en  ellas  ocu- 
pa el  egoísmo  el  logar  que  en  las  demás  ocupa  el  desinterés?  Es  ex- 
trano  que  se  olvide  que  la  propriedad  impone  deberes  cá  la  par  que  da 
dereehos?  No  hay  motivo  para  semejanle  separacion;  en  la  vida  eco- 
nómica hay  ideal,  hay  íin  comun,  humano  y  ohjetivo,  como  en  todas 
las  demas  esferas  de  la  actividad,  el  cual  no  es  otro  que  la  produccion 
de  la  riqueza  misma  como  médio  para  la  salisfaccion  de  las  necessida- 
des de  todos;  no  es  otro  que  el  procurar  el  bienestar  social.  Por  esto 
sostengo  resúeltamente,  que  asi  como  falta  á  sua  deber  el  génio  quo 
emplea  en  escribir  una  zarzuela  bufa  el  liempo  que  dcdiiera  dedicar  a 
hacer  un  hermoso  drama,  todo  porque  le  es  mas  piovechoso,  de  igual 
modo  falta  ai  suyo  el  agricultor,  industrial  ó  comerciante  que  entro 
dos  caminos,  uno  de  los  cuales  conduce  á  un  aumento  de  la  riqueza  y 
bienestar  social,  y  el  otro  á  la  suya  particular,  escoge  el  segundo  y 
abandona  el  primero.  Es  posible  que  los  unos  estén  obligados  á  sacrili- 
car  sua  bienestar,  e  hasta  la  vida  misma,  á  la  verdad,  ú  la  humaiii- 
dad,  á  la  pátria,  á  Dios,  y  que  tá  los  oiros  no  alcance  este  deher? 

«  Las  consucuencias  que  de  arpii  nacen,  y  que  podemos  observar 
en  la  prática,  no  pueden  ser  mas  lamentables.  En  primer  lugar,  el  iii- 
terés  es  el  único  inspirador  de  la  cnnducta  en  las  relaciones  económi- 
cas ;  el  productor  piensa  solo  en  vender  caro,  y  el  consumidor  en  com- 
prar barato  ;  el  proprietário  territorial  en  (pi(!  cresça  la  renta,  y  el  co- 
lono en  que  diminuya;  el  capitalista  en  que  bajcn  los  salários,  auníjue 


186 


pelos  privilégios  das  corporapões  de  officios  e,  abolidos  estes, 
pela  liberdade  do  trabalho  domestico. 

O  trabalhador  —  rural,  industrial  ou  artístico  —  foi  escra- 
vo. Luctou,  durante  longas  gerações;  luctas  seculares,  com- 
bales sangrentos,  produziram  afinal  a  primeira  emancipação, 
e  com  elía  a  regularisação  do  trabalho,  com  a  organisação 
das  corporações  de  oflicios,  mais  ou  menos  livres,  mais  ou  me- 
nos regulamentadas  pelos  governos. 

A  este  periodo  de  regulamentação  governamental  e  privi- 
legiada pertencem  as  corporações  vimaranenses,  cujos  estatu- 
tos vamos  transcrevendo. 

Houve  porém  a  anciosa  aspiração  da  liberdade  contra  as 


los  obreros  se  mueran  de  hambre ;  el  obrero  en  que  suban,  aunque  los 
capitalistas  se  arniinen;  unos  e  outros  ceden  quando  Ias  convieue,  no 
cuando  deben.  En  segundo,  la  auzeneia  de  toda  moralidad  en  este  gé- 
nero de  relaciones  es  á  veces  pasmosa,  porque,  por  ejeniplo,  en  punto 
á  tratos,  el  engano  y  el  fraude  pasan  como  la  cosa  mas  natural  dei 
inundo,  en  términos  de  que  un  mercado  se  divide  en  dos  grupos  de 
personas,  las  que  iratan  de  engaíiar  y  las  enganadas.  Si  eu  una  os 
acercaseis  á  uno  que  tuviera  un  caballo  á  la  venta,  y  le  dijerais  que 
estava  obligado,  en  conciencia,  á  deeir  ai  comprador  Ia  edad  verda- 
dera  de  aquel  y  todos  sus  defectos,  se  os  reiria  en  las  barbas,  ya  fuese 
UQ  Cristiano  campesino  ó  un  caballero  de  la  ciudad,  y  continuaria  pro- 
curando bacer  creer  á  las  gentes  que  era  jóven,  sano  y  completo  el 
animal  reviejo  y  lleno  de  alifafes  y  resabios.  Por  que  ha  de  ser  licita 
la  mentira  en  este  género  de  relaciones,  cuando,  si  de  otias  se  trata- 
va, lo  mismo  que  en  aquéilas  la  emplean  serian  incapaces  de  valer-se 
de  ella  ? 

« Pêro  la  consuencia  acaso  más  funesta  es  la  idea  equivocada  que 
se  fornia  dei  írabajo.  Si  el  único  fin  de  este  es  hacer-se  rico,  es  claro 
que  el  que  ya  ho  es,  está  dispensado  de  prestarlo;  y  de  ahi,  natural- 
mente, la  existência  de  una  clase  rica  y  ociosa,  de  aqueilos  ricos  hol- 
gazanes  cuya  conducta  anatematizaban  con  igual  severidad  el  snr. 
Sanchez  y  el  snr.  Borrei,  y  que,  como  dice  el  economista  Cairnes,  de- 
ben tomar  el  pueslo  que  les  corresponde,  el  de  zanganos  de  colmena» 
ai  asistir  á  un  festin  ai  cual  con  nada  han  conlribuido.  Hace  alguns 
anos,  el  snr.  Rynals^  perdido  desgraciadamente  para  la  ciência  y  para 
sua  pátria,  deeia  en  un  notable  folleto  sobre  la  propriedad  individual 
y  collectiva :  «  Hoy  hay  rentistas,  muchos  rentistas,  y  el  pequeíío  in- 
dustrial, proprietário  ó  comerciante,  y  quiza  tambien  el  grande,  han 
realizado  su  propriedad,  su  industria  e  su  casa  de  comercio  para  to- 
mar tan  descansado  oficio. . . ;  hoy  hay  sociedades  anonymas  y  accio- 
nistas, y  de  alguns  aííos  acá,  tenedores  de  obligaciones,  accionistas 
wás  descansados  todavia,  accionistas  que  no  han  de  ocupar-se  en  el 
negocio  de  que  son  conparticipes,  y  que  solo  han  de  cobrar  cuando  se 
les  llama ».  Es  deeir,  que  el  trabajo  no  se  mira  como  un  deber  que  ai- 


187 


prepolencias  dos  governos  despóticos ;  a  aspirarão  r(!alisuu-se 
successivamenle  nos  diversos  paizes,  de.>de  a  revolui-ão  fran- 
ceza  de  1789. 

Houve  porém  também  um  erro  capital,  ou  a  consequência 
fatal  do  enlhusiasmo  imprevidente  com  que  se  exliuguiram  as 
corporações  de  officios :  o  excesso  liberal,  a  inteira  liberdade 
não  preveniu  as  cautelas,  as  garantias  para  os  trabalhadores 
contra  os  eíTeitos  da  transformação  da  industria  de  domestica 
e  manual  em  fabril  e  mecânica,  e  consequente  absorpção  do 
operário  pelo  capitalista  ou  empreza.  Passado  um  certo  perío- 
do de  gozo  de  liberdade  económica  e  profisíiorial,  a  burgue- 
zia  industrial  aproveitando  as  descobertas  scientificas,  os  pro- 


canza  á  lodo  liombre,  sino  como  una  carga  de  la  que  se  libra  el  que 
puede,  de  donde  resultan  dos  graves  niaTes :  el  uno  que  la  sociedad 
se  ve  privada  de  los  frutos  que  tiene  dereeho  a  esperar  de  los  que  per- 
maneceu en  la  inaceion ;  el  otro,  que  es  punto  menos  que  imposible 
evitar  que  las  elases  trabajadoras  foriiien  uu  torcido  conceplo  de  su 
condicion  y  de  sus  deberes. 

«  Por  iodas  estas  razones  precisamente,  el  problema  social  parece 
una  lucila  entre  dos  pasiones,  entre  el  egoísmo  de  las  clases  conser- 
vadoras ó  ricas,  para  hablar  com  más  exactitud,  y  la  concupiscência 
dei  proletariado,  y  justo  es  reconecer  que  en  las  censuras  que  recipro- 
camente se  dirigen  hay  mucho  de  exacto.  M.  Le  Play,  que  no  puede 
ser  sospechoso,  llega  á  decir  que  la  «  era  de  regeneracion  que  se  (uiiso 
inaugurar  en  1789,  no  se  abrirá  definitivamente  mienlras  no  se  redau- 
re  el  espirito  ciei  deber  en  las  clases  directoras  y  que  las  naciones  (jue 
tienen  lo  que  el  llama  vicio  yergonzoso  de  la  actual  conslitucion,  esto 
63  la  existência  de  una  claseinmensa  privada  de  toda  i)roiiriedad  y 
viviendo  en  cierto  modo  en  un  estado  de  desnudez  hereditária  lo  re- 
mediarán  «no  que  el  médio  impotente  de  la  explotacion,  sino  por  la 
reforma  moral  de  todas  las  clases.  En  efecto,  es  preciso  que  los  ricos 
no  olvidon  sus  deberes  sociales,  y  que  sigan,  cada  cual  en  su  esfera, 
el  exemplo  dei  ilustre  Peabody,  que  hace  aiíos  entregaba  millones  de 
duros  para  los  pobres  de  Inglaterra  y  de  los  Estados-Unidos.  como  la 
signe  en  estos  momentos  M.  Porter,  donando  á  la  Universidad  d(!  Yale 
15  miiiones  de  reales;  el  doctor  Guinard,  [iremiando  cou  40:000  cada 
cinco  afios  ai  que  hace  un  descubrimieutu  que  coiidnzca  á  la  mejora 
material  ó  moral  de  la  clase  obrera,  y  la  duíiueza  de  Galliera  danando 
á  la  ciudad  de  Génova  una  vasta  propriedad,  en  la  que  va  á  además  á 
sus  expensas  un  hospital  cuyo  custe  le  calcula  en  odienta  millones  do 
reales.  Es  preciso  desarrollàr  esa  grande  inslitiiicion  que  se  llama  el 
patronato,  es  decir,  la  proteei;ion  (íel  débil  por  el  fuerto,  reconociendo 
la  profundidad  y  la  exactitud  con  que  lord  Pabiierston  anunciaba  la 
regeneraciou  moral  de  la  sociedad,  solo  con  (jue  cada  uno  de  sus 
miembros  no  pobre  se  encargase  do  proteger  á  otro  (pie  le  fuese.  Es 
preciso  ijue  los  proprietários  territoriales  y  los  capitalistas  producto- 


188 


gressos  enormes  das  sciencias  naturaes,  que  caracterisam  o 
século  presente,  lenta,  mas  successiva  e  constantemente  ani- 
quilou as  pequenas  industria.^,  e  enfeudou  o  operário  á  ma- 
china,  o  trabalhador  ao  capital,  exercendo  o  mais  completo  ab- 
soluti>mo  nas  relações  proflssionaes  e  económicas. 

D'este  absolutismo,  d'este  feudalismo  capitalista,  resultou 
que  as  classes  trabalhadoras,  tendo  ganho  liberdade  politica, 
perderam  na  igualdade  jurídica,  e  ficaram  reduzidas  novamen- 
te, como  nas  idades  primitivas,  como  no  tempo  dos  romanos, 
ás  condições  de  bestas  ou  de  coisas,  Machinas  animadas,  fica- 
ram sujeitas  ou  a  morrer  de  fome  ou  a  soffrer  silenciosas, 
submissas,  bestialisadas,  as  violências,  os  vexames,  as  injurias 


res  no  atiendan  en  sus  relacione?  con  los  trabajadores  y  cultivadores 
á  su  próprio  interés,  sino  conjuntamente  ai  de  estos,  sin  esperar  á  que 
una  huelga  les  imponga  lo  que  voluntariamente  debieron  hacer  por  ins- 
tlgacion  de  su  conciencia.  Es  preciso  que  todos  se  convenzan  de  que 
son  obreros  que  concurren  a  una  obra  social  que  es  de  iuterés  comun 
y  general,  y  portanto,  que  el  cumplimiento  dei  fln  mismo  es  lo  prime- 
ro,  esto  es,  que  antes  deben  pensar  en  la  riqueza  que  en  su  riqueza ; 
y  portanto,  que  legos  de  resistir  las  reformas  y  transformacioues  que 
el  progreso  de  los  tiempos  vaya  exigiendo  en  el  organismo  económico, 
es  deber  de  cllos  meditar  en  ellas  y  adoptarias. 

«  Al  próprio  tiempo,  los  obreros  pueden  y  deben  hacer  no  poeo  en 
este  respecto;  primero,  redimiendose  dei  vicio,  uno  de  los  aspectos 
dei  problema  social,  mediante  la  regeneracion  moral  y  la  prática  de  la 
virtud,  que  no  és  privilegio  de  ninguna  clase  determinada:  segundo, 
tomando  como  educacion  y  distraecion,  despues  dei  trabajo  manual, 
el  espiritual,  que  produce  como  frutos  Ia  educacion  y  la  instruceion; 
y  tercero,  utilizando,  mediante  el  ahoro  y  la  economia,  las  ventajas 
que  el  desanollo  creciente  de  las  instituciones  de  credito  y  de  previ- 
sion  les  proporciona  para  mejorar  su  situacion. 

« Mas  no  son  los  indivíduos  consagrados  á  la  pmduccion  los  úni- 
cos que  pueden  y  deben  procurar  el  reinado  dei  desinterés,  de  la  mas 
pura  moralidad  en  esta  esfera  ;  es  necessário  que  ellos  y  todos  nos 
valgamos  para  eonseguirlo  dei  ejemplo  mas  que  dei  precepto  :  poique, 
si  me  perdonais  lo  vulgar  dei  adagio,  á  todos,  liberales  y  conservado- 
res, individualistas  y  socialistas,  católicos  y  no  católicos,  se  nos  puede 
aplicar  mas  ó  menos  aquello  de :  «  una  cosa  es  predicar  y  otra  dar  tri- 
go». Asi,  pues,  propaguemos,  como  ha  dicho  un  escritor,  el  senti- 
miento  dei  honor  praticando  el  deber,  el  espiritu  de  independência, 
praticando  la  templanza  y  el  trabajo,  la  armonia  social,  praticando  el 
amor  dei  prójimo  y  la  tolerância ;  esta  es  la  proi)aganda  mas  eficaz  y 
mas  segura  en  susefectos». 

Em  relação  ao  segundo  factor  da  solução  proposta,  considera  o 
sábio  hespanhol : 


189 


puDgentes,  attentados  ao  pudor,  trabalhos  extenuantes,  que 
correspondiam  ao  capricho,  à  ambit^ão,  á  perversidade  e  à  im- 
moralidade  dos  emprezarios,  dos  directores,  dos  mestres  ou 
contramestres  d'esses  modernos  monstros  industriaes  —  as 
grandes  fabricas  ! 

Pela  fatalidade  das  coisas  humanas,  raro  deixa  de  vôr-se 
o  abuso  quando  se  manifesta  e  mantém  um  desequilibrio, 
uma  grande  desigualdaíle  de  forças, 

A  historia  industrial  d'esle  século,  se  enthusiasma  pela 
grandeza  das  applicações  scienlificas,  pelo  arrojo  das  empre- 
zas,  pelo  imprevisto  das  descobertas,  pela  abundância,  varie- 
dade,   gosto,  aperfeiçoamento  das    producções,   aííirmando  o 


« Pêro  lo  individuo  no  vive  aislado,  sino  que  es  miombro  de  la 
socieãad,  y  dentro  de  ella  lo  es.  ya  de  unidades  en  cierto  mudo  inorgâ- 
nicas, corno  Ias  llatnadas  clases^  ya  de  asoeiaciones,  constituídas  para 
Ia  realizacion  de  uno  de  los  fines  de  la  vida,  que  entrelazáudusc  cons- 
tilayen  los  organismos  particulares  de  que  se  compone  el  total  orga- 
nismo social.  De  aqui  que,  ai  examinar  la  medida  en  que  toca  á  la  so- 
ciedad  la  resoluciun  dei  problema  que  nos  ocupa,  consideraremos : 
primero,  el  inflajo  que  puede  y  debe  ejercer  aquéila  tomada  en  su  ge- 
neralidad;  segundo,  lo  que  puedeu  y  deben  hacer  á  este  íin  las  clases 
sociales;  tercero,  lo  que  toca  llevar  á  cabo  á  los  distintos  organismos, 
y  euarto,  lo  que  incumbe  particularmente  ai  orden  económica. 

«  Hallamos  luégo  que  los  hon)bres  forman  esas  colectividades  á 
que  denominamos  cíases  sociales.  Es  verdad  que  su  existência  ha  sido 
negada  ó  puesta  en  duda  por  alguno  de  los  oraJores  que  han  tomado 
parte  en  este  debate,  los  quales  proguntaban :  «  donde  está  el  cuuito 
estado  ?  Pêro  ellos  se  conteslaban  á  si  niismos,  puesto  que  ã  seguida 
nos  bablaban  de  la  clase  média,  denominacion  que  acusa  la  existência 
de  otra  por  bajo  de  csa  que  es  sucesora  de  la  que  en  pasados  tiem[ios 
se  liamó  tercer  estado.  Claro  es  que,  por  foituna,  ya  no  existen  entre 
ellas  aquellos  limites  seualados  {|ue  eran  consecuencia  de  la  distinta 
eondicion  juridica  de  cada  una,  pêro  subsisten  los  que  detiirmina  la 
diferente  eondicion  social,  consistiendo  el  problema  (pie  esludiamos 
precisamente  en  discernir  lo  que  cn  ella  es  debido  á  la  naturaleza  niis- 
ma  dei  hombre  y  lo  que  á  deíectos  ó  imperfecciones  cn  el  organismo 
de  la  sociedad  ;  y  como  un  de  los  caracteres  máb  alarmantes  de  a(iuel 
és,  segun  hemos  visto,  la  seilalada  separacion  entre  las  clases,  de  aqui 
que  importa  hacer  notar  como  estas  pueden  contribuir  á  que  desapare- 
ça. Que  hay  entre  ellas  prevenciones,  antipatias,  desconíianzas;  alcja- 
miento,  es  cosa  que  nadie  puede  negar,  asi  como  todos  lian  de  recone- 
cer  que  solo  aeereaudose,  conociendo-se  y  ayudanduse  pueden  susti- 
tuir  á  aquellos  .seutimientos  oiros  más  eficaces  para  producir  la  har- 
monia social. 


190 


progresso,  exaltando  o  engenho  humano...  a<;sombra,  como 
terrível  reverso,  quando  se  investiga  e  verifica  o  quadro  de 
miséria,  de  tabidas  chagas  moraes,  de  violências  repellentes 
•que  corroem  a  immensa  mole  operaria  nas  suas  dependências 
para  com  as  emprezas ! 

Aqui  vé-se  o  doshumano  avarento,  esgotando,  pelo  excesso 
de  trabalho  imposto,  as  forças  do  operário,  principabnente  as 
de  menores  e  mulheres ;  .alli,  vé-se  o  satyro  industrial,  exi- 
gindo o  tributo  de  pudor  das  virgens,  que  a  fatalidade  collo- 
cou  sob  o  seu  domínio,  como  o  lendário  senhor  feudal  exigin- 
do o  tributo  dos  noivados ! 

Encontra-se  n'uma  a- promiscuidade  impudica  de  operários 


«  Una  de  las  causns  de  que  se  desconozea  la  trascendencia  c|ne  tie- 
nen  el  trato  y  eornanieacion  entre  las  clases,  procede  dei  error  de  no 
ver  en  el  problema  social  mas  que  su  aspecto  económico,  porque  de 
ahi  se  concluye,  que  como  no  sea  para  darie  un  pedazo  de  pau,  ape- 
nas si  para  otra  cosa  hay  que  acercarse  ai  proletário.  Que  equivoca- 
cion!  No  son,  ni  vaien  nada.  el  eonsejo,  la  iiistruccion,  ei  consuelo,  el 
interés.  !a  simpatia,  el  amor?  ('uantas  veces  el  mendigo  mismo  agra- 
dece más  que  se  le  niegue  una  limosna  eon  cortezia  qne  no  que  se  le 
dé  volviendole  la  espalda !  Los  abismos  que  separan  á  ias  ciases  soeia- 
les  nunca  los  cegará  la  riqueza  por  si  sola;  solo  será  capaz  de  hacer 
esfo  el  sentiiniento  de  humanidad  cuando  Ilegue  á  desenvolverse  en 
todo  su  rico  eontenido  y  á  penetrar  profundaaiente  en  la  realidad  y 
en  la  vida. 

('  Y  lie  aqui  porque  este  es  el  momento  de  deciros  algo  sobre  el 
modo  como  los  distintos  organismos  contenidos  en  la  sociedad  pueden 
y  dehen  contribuir  á  la  solacion  dei  problema  social.  Os  dije,  ai  co- 
menzar,  que  era  aquel  tan  complejo  como  la  vida,  y  que  por  esto  tô- 
nia  un  aspecto  religioso,  otro  moral,  otro  cientifico,  otro  artístico, 
adernas  dei  económico  y  dei  jurídico,  por  nadie  puestos  en  duda,  y  en 
los  que  luogo  me  oeupáré. 

«  Que  algo  toca  hacer  á  la  reUgion,  Io  muestran  vuestros  discursos, 
hasta  los  de  aquellos  que  negaban  la  competência  de  esta  para  el  caso, 
y  lo  muestran  sobre  todo  los  hechos,  pues  es  harto  manifiesto  que  si 
en  las  ciases  acomodadas  eunde  la  indiferencia,  dei  proletariado  son 
duenos  el  fanatismo,  dominante  en  los  campos,  y  el  ateísmo,  que  va 
invadiendo  las  ciudades.  Y  como  la  religion  es,  antes  que  otra  cosa,  la 
inspiracion  en  lo  absoluto,  el  reconccimiento  de  fines  universales,  á 
que  deben  subordinarse  todos  los  particulares,  y  funda  por  consiguien- 
te  la  abnegacion  como  rnóvil  de  nuestra  conducta,  y  pone  el  bien  en  si, 
y  no  nuesTro  bien,  como  ideal  á  cuya  realizacion  debemos  aspirar,  es 
evidente  qne  puede  ejercer  un  influjo  inmenso  en  la  remocion  de  Ias 
causas  á  (pie  hemos  referido  en  gran  parte  el  problema  social.  Guando 
me  ocupo  de  la  escuda  conservadora,  de  la  religiosa  y  de  la  socialista 
radical,  veremos  si  la  religion  es  algo  mas  que  un  frono  necessário 


191 


e  operarias  no  afogo  e  confusão  do  Iraljalho,  e  na  ílistracfão 
do  vicio  mais  descarado  e  baixo;  n'oiUra,  a  mulher  gravida, 
sacrificando  pelas  privapões  e  pelo  trahallio,  a  saúde  própria 
e  a  vida  do  nascituro,  ou  o  menor  de  dez  annos,  pallido,  es- 
fomeado, magro,  timido,  estiolando  n'aquella  atmosphera  tene- 
brosa, esgotando  a  força  infantil,  prejudicando  ou  suspendendo 
o  seu  desenvolvimento  orgânico,  derrancando  precocemonte  a 
alma  perante  o  espectáculo  quotidiano  de  violências  e  de  tor- 
pezas ! 

Não  exige  porventura  um  tal  desequilíbrio  moral,  uma  tão 
flagrante  dfí,vgualdad(?  jurídica,  a  intervenção,  além  do  ele- 
mento chnslão  ou  individual,  e  do  socialisla  ou  collocLivo,  o 


hoy  para  sujetar  el  proletariado,  si  la  Iglezia  es  ó  no  capaz  de  resolver 
por  Pi  sola  el  problema  todo,  y  si  es  verdad  qao  lo  que  importa  os  re- 
nunciar á  toda  creencia  religiosa. 

«  Que  Ia  soeiedad  en  general  y  las  instituciones  particulares  refe- 
rentes ai  orden  moral  tinea  que  hacer  no  poço  en  este  respccto,  lo  de- 
muestran  las  acusaciones  que  reciprocamente  se  dirigen  las  distintas 
clases  sociales,  tildadas  unas  de  egoismo.  otras  de  concupiscência;  lo 
deniuestran  los  vícios  y  pasiones  que  mantienen  separadas  á  aquelJas, 
y  sobre  todo  la  necessidad  de  que  penetre  en  la  vida  económica  una 
moralidad  más  elevada  y  pura  que  la  que  aeonseja  ai  comercianie  que 
sea  honrado,  porque  solo  asi  podrá  tener  credito.  Si,  segnn  hemos 
visto,  los  obreros  consumen  millones  y  millones  en  bebidas  inútiles  ó 
perjudiciales,  no  podran  contribuir  á  remediar  mal  las  sociedades  de 
templanza  estabelecidas  en  algunos  paisos  ?  Si  el  salário  es  con  fre- 
quência insuficiente  jiara  las  necesidades  de  la  vida,  de  tal  suertc  que 
el  obrero  no  puede  afrontar  la  primera  contrariedad  que  la  suerte  lo 
depara,  como  una  enfermedad,  la  falta  de  trabajo,  etc,  no  deberá  la 
soeiedad  crear  y  mantener  todas  esas  instituciones  benéficas  que  cui- 
dan  de  los  huerfauos,  de  los  ancianos  y  de  los  enfermos?  Si,  per  ejem- 
plo,  és  por  muchas  razones  de  grandisima  conveniência  que  los  traba- 
jadores  tcngan  hogar,  puede  dcsconocer-se  el  servicio  que  prestan  las 
sociedades  que  constriiyen  casas  para  cederias  á  aqnellos  en  condicio- 
nes tales  que  es  facilisima  su  adcpiisicion  como  la  de  Mnlliouso,  do 
que  nos  habló  el  snr.  Fliender,  Ias  varias  que  existen  en  Inglaterra,  y 
la  que  con  el  nonibrc  de  Constructora  benéfico  se  ha  constituído  ro- 
cientemente  en  Madrid? 

"  Por  lo  que  lince  ai  aspecto  cientifico,  de  lo  que  se  trata  es  do 
atacar  el  en  esta  relacion,  es  decir,  la  ignorância,  y  es  harto  manilics- 
ta  y  no  menos  evidente  la  ncccsidad  de  remediarlo:  cnestion  qnc  pue- 
de mirarse  principalmente  bajo  dos  puntos  de  vista :  la  insiruccion 
primaria  y  la  profesional. 

«Que  el  estado  actual  es  insosteniblo,  lo  pruoban  las  hiiclyas; 


192 


da  força  coerciva  do  Estado,  para  restabelecer,  como  supremo 
regulador  das  relações  sociaes,  o  estado  de  direito,  as  relações 
normaes  de  justiça,  a  igualdade  jurídica,  sem  a  qual  a  liber- 
dade é  uma  palavra  vã,  ou  apenas  um  privilegio  de  gente 
rica  e  feliz  ? 

Não  são  frequentes,  não  são  eloquentes,  não  são  horroro- 
sos os  quadros  de  violência  e  miséria  das  fabricas  ? 

Os  actos  de  violenta  crueldade,  praticados,  não  tanto  em 
Portugal,  onde  pôde  dizer-se  que  só  agora  começa  a  transfor- 
mação das  organisações  fabris,  mas  nos  outros  paizes,  nos 
grandes  paizes  productores,  como  a  Inglaterra,  Allemanha, 
França,  Bélgica,  são  tão  repellentes,  que  nos  paizes  monarchi- 


que  el  camino  para  salir  de  el  es  el  indicado,  lo  prueba  el  movimiento 
cooperativo. 

« Las  coaliciones  de  obreros  y  capitalistas,  asi  como  las  huelgas 
de  afjuéllos  y  la  absteneion  de  estos,  son  inevitabies  luientras  las  rela- 
ciones entre  unos  y  oiros  sean  una  mera  lucha  de  intereses. 

«  En  cambio,  el  movimiento  cooperativo  que,  segun  se  lia  dicho, 
tiene  por  padre  ai  soci.ilismo  y  [tor  madre  á  Ia  Economia  politica,  es 
una  de  las  suãales  dei  liempo;  y  por  mi  parte,  léjos  de  hacer  de  él  el 
poço  aprecio  que  merecia  à  los  snrs.  Romero  Gison  y  Borel,  le  doy 
toda  Ia  importância  que  lo  atribula  mi  amigo  el  snr.  Padregal.  Hasta 
aliora,  las  sociedades  cooperativas  de  consumo  y  las  de  credito  han  al- 
canzado  un  desarrollo-de  que  estan  muy  distantes  las  de  produccion. 
De  las  primeras  habia  1:378  en  1874  en  ía  Gran-Bretíala,  donde  las  ini- 
ciaron  los  célebres  pionners  de  Rochdale,  y  solo  1:026  de  ellas  contabau 
411:252  niiembros  y  lenian  un  capital  de  390  millones  de  reales.  De 
las  segundas,  que  comenzaran  en  Alemania  en  1851  bajo  la  iniciativa 
dei  ilustre  Schulze  Delitzsch,  habia  ya  951  en  18(35;  solo  498  compren- 
dian  170:000  miembres  y  prestabanal  ano  mil  millones  de  reales;  hoy 
son  3:000  las  sociedades  cooperativas  de  credito  en  aquel  pais,  con 
cerca  de  un  millon  de  obreros,  y  haciendo  negócios  por  valor  de  2:500 
millones  de  pesetas.  En  quanto  á  las  de  produccion,  aparte  de  algunos 
ensayos  felices  hechos  en  Inglaterra,  Franeia  nos  suministra  dos  ejem- 
plos  muy  dignos  de  ser  notados,  porque  se  trata  de  dos  sociedades  de 
este  género  á  que  se  nego  en  1848  el  auxilio  ó  subvencion  que  el  Es- 
tado facilito  a  otras,  que,  sin  embargo,  fracasaron.  Me  refiero  á  Ia  de 
Maniles,  fundada  en  aquel  ano,  reorganisada  eu  1852,  y  cuyo  capital, 
que  era  ai  terminarse  el  misino  tan  solo  de  1:450  reales,  ascendia  en 
1854  a  68:000,  y  en  18G0  a  1.450:000  con  107  miembros  ;  y  el  de  los  14 
pianistas,  de  Pariz  tambien,  que  comenzaron  con  4:500  reales,  ven- 
dieron  el  primer  piano  en  1:900  reales  à  un  panadero  á  cambio  de 
pan,  y  que  hoy  hacen  negócios  por  valor  de  800:000. 

o  Todos  estos  son  frutos  de  la  asociacion  libre,  de  este  principio 


193 


cos,  como  a  Allemanha  e  a  Inglaterra,  nos  republicanos,  como  a 
França  e  a  Suissa  {Pareceres  sobre  a  proposta  de  lei  de  1881, 
pag.  72),  se  tem  afoutamenle  adoptado  providencias  socialis- 
tas ;  e  diversos  escriptores,  querendo  sustentar  as  suas  cou- 
vicpões  liberaes  harmonisando-as  com  a  necessidade  imprete- 
rível de  attender  as  reclamações  das  numerosas  victimas  dos 
capitalistas  desalmados,  recorrem  á  negação  da  liberdade  como 
fim,  reslringindo-a  á  noção  de  meio  para  a  realisação  do  di- 
reito. 

Não  nos  parece  que  seja  preciso  recorrer  a  esta  gymnasti- 
ca  intelleclual  (digamos  assim) :  afigura-se-nos  que  basta  re- 
flectir que  nenhum  dos  direitos  absolutos  do  homem  pode  ler, 


fecundo  que  ha  de  servir  de  base  en  el  porvenir  á  ia  reorganizacion 
social  sin  uiengua  de  la  iibertad,  porque  es  incompalible  coa  éi  la  in- 
trosion  dei  Estado,  característica  dei  antiguo  regimen. 

«  Quédame  por  examinar  el  aspecto  juridico  dei  problema,  ó  lo 
que  es  lo  mismo,  la  medida  en  que  toca  su  solucion  aí  Estado. 

«  Para  estudiar  con  algun  órden  lo  que  á  este  corresponde  hacer 
en  la  resoluciou  dei  problema  social,  debemos  tener  en  cuenta  que  el 
es:  primero,  la  institucion  de  derecho  llamada  á  declaralo  y  hacerlo 
efectivo:  segundo,  una  persona  social  que,  como  todas,  tiene  un  regi- 
men económico:  y  tercero  un  organismo  que  por  razones  históricas 
ejerce  hoy  una  tutela  respeeto  de  aquellos  otros  que  alienden  á  los 
distintos  fines  de  la  actividad  y  constituyen  con  el  juridico  el  total  or- 
ganismo social. 

«  Bajo  el  punto  de  vista  dei  problema  que  nos  ocupa,  el  derecho 
de  la  pcrsonalidad  envuelve  euatro  que  importa  consi.lerar:  el  mismo 
de  la  personalidad,  tomado  en  sentido  eslricto,  el  de  acticidad,  el  de 
Iibertad  y  el  de  igualdad.  La  exaltacion  de  todos  eslos  dereclios  es  uno 
de  los  caracteres  de  la  época  moderna  y  su  consagracion  el  empeno 
que  con  mas  resolucion  ha  procurado  llevar  á  cabo  el  siglo  actuai. 
Pêro  en  el  modo  de  concebirlos,  se  ha  incurrido  en  el  error  (jue  acusa 
la  equivocada  denomiuacion  de  derechos  individaales  con  que  son  co- 
necidos,  porque,  por  referirlos  ai  individuo  y  no  á  la  piTsuua.  se  ha 
desconecido  el  valor  y  la  autonomia  de  hèpersunas  sociales,  y  de  aíiui 
que,  mientras  respeeto  de  aquel  se  proclatnau  absolutos,  superiores  y 
anteriores  á  toda  ley,  cuando  de  estas  se  trata,  de  la  ley  dcitcnilo  toda 
su  vida,  desde  el  nacimiento,  (luo  se  atribuye  á  la  autori/.acioii  admi- 
nistrativa hasta  su  muerte,  determinada  á  veces  por  la  dis.iluriím  (pie 
acuerda  el  poder.  La  revolucion  se  propuso,  y  con  acierlo,  libertar  aí 
hombro  de  las  numarosas  trabas  que  el  Kstado  y  olras  instituciones 
sociales,  por  este  amparadas,  iioniam  á  su  libre  desenvolvimienlo; 
pêro  no  vió  que,  ai  cerrar  la  puerta  á  la  creacion  de  oiros  uuevos  or- 

8.»  An.no.  13 


194 


nas  relações  sociaes,  uma  realisação  absoluta.  As  diíTiculdades 
que  se  oppõem  á  effectividade  absoluta  da  liberdade,  obser- 
vam-se  para  a  realisação  dos  outros  direitos  absolutos  —  a 
igualdade,  a  associação,  ele. 

Nas  organisações  sociaes  a  realisação  d'esses  direitos  ha  de 
ter  sempre  as  reslricções,  próprias  da  natureza  humana;  serão 
sempre  um  ideal,  por  cuja  aproximação  a  humanidade  se  es- 
força na  sua  eterna   lucta,  e  nas  suas  evoluções  successivas. 

Desde  que  nos  convençamos  que  os  três  grandes  princí- 
pios—  liberdade,  igualdade,  fraternidade — formulados  pela 
revolução  franceza  de  1789,  constituem  o  ideal,  para  que  a 
humanidade,  nos  seus  esforços  constantes  e  progressivos,  tende 


ganismos,  dejaba,  como  se  ha  dicho,  un  gigante,  el  Estado^  en  frente 
de  millones  de  enanos,  los  indivíduos.  De  aqui  ei  poço  favor  en  que 
tuvo  la  asociacion,  cuyo  desarrollo  reclama  en  la  legislaeion  civil  refor- 
mas que  hace  ya  cuaronta  aãos  aehaba  de  menos  el  ilustre  Rossi,  y  de 
ahi  ese  individualismo  que  predomina  en  los  códigos  civiles  de  los 
pueblos  neo-latinos,  y  de  que  os  hablaba  antes  a!  rècordaros  que  dei 
de  Napoleon  se  ha  dicho  que  parecia  escrito  para  un  hombre,  exposito 
ai  nacer,  y  celibatário  ai  morir. 

"  Despues  de  lo  que  ha  expuesto  acerca  de  la  necesidad  de  que  Ia 
sociedad  se  reorganice  sobre  la  base  de  la  asociacion  libre  y  de  los 
frutos  que  ha  dado  ya  este  fecundo  principio,  no  és  menester  afirmar 
que  para  esto  la  eondieion  primera  es  que  el  Estado  reconozca  la  per- 
sonatidad  de  las  instituciones  que  en  su  virtud  se  constituyan,  con  to- 
das las  consecueneias  que  de  ella  se  derivan,  y  con  el  mismo  sagrado 
respeto  de  que  se  tributa  á  esos  derechos  cuando  dei  individuo  se 
trata. 

«  Es  uno  de  estos  el  que  garantiza  el  ejereicio  de  la  actividad,  li- 
bre hoy  de  las  trabas  de  otros  tiempos,  salvo  las  que  todavia  ponen 
las  industrias  estancadas,  los  títulos  profesionales,  ele.  Pêro  aqui  im- 
porta recordar  que  el  derecho  és  eondieion  y  no  causa,  para  proclamar 
que  son  cosas  muy  distintas  el  derecho  de  trabajar  y  el  derecho  aí  tra- 
hajo,  y  que  por  lo  mismo  el  Estado,  que  está  obligado  á  amparar  lo 
primero,  no  puede  reeonecer  el  ultimo,  porque  se  lo  hiciera,  vendria 
á  constituir-se  en  causante  de  la  vida^  cuando  solo  debe  condicionaria. 

«  Respecto  de  la  libertad,  será  preciso  renegar  de  esta  conquista 
de  la  civilizacion  moderna  y  retroceder  desandando  lo  andado?  Cierto 
que  á  su  sombra  han  surgido,  en  vez  de  la  igualdad  soiíada,  muchas 
de  las  desegualdades  chocantes  que  dan  vida  ai  problema  social ;  pêro 
no  ha  de  ser,  en  verdad,  por  virtude  dei  restabelecimienlo  de  los  ab- 
surdos privilégios  y  monopólios  de  otros  tiempos,  ó  de  la  reglamenta- 
cion  legal,  ni  por  la  continuacion  de  sistemas  adueneros  prohibitivos 
y  proteccionistas  y  de  Bancos  exclusivos,  como  se  ha  de  evitar  ese  mal ; 


495 


a  aproximar-se,  são  o  seu  guia,  a  sua  aspiração,  a  cansa 
constante  das  suas  luclas  intermináveis,  concluiremos  pela  im- 
possibilidade da  sua  realisação  absoluta.  Para  conceber  o  con- 
trario, seria  preciso  admittir  uma  nova  creafão  das  condições 
intellectuaes  e  moraes  do  homem. 

A  liberdade  pôde  pois  conceber-se,  adiniltir-se,  como  fim, 
e  não  como  simples  ineio,  mas  sujeita  cás  limitações  que  exi- 
gem as  fraquezas  da  humanidade,  e  á  necessidade  da  realisa- 
ção  e  coexistência  dos  outros  grandes  fins  sociaes  —  a  igual- 
dade, a  fraternidade. 

Chegados  a  este  ponto,  ser-no?-ha  fácil  verificar  a  inconve- 
niência, o  perigo  dos  partidos  exaltados,  quer  do  liberal,  que 


antes,  por  el  contrario,  se  agravaria  y  tendriamos  —  en  parte  la  tene- 
mos  —  sobre  la  desigualdade  prodacto  de  la  concurrencia,  la  que  es 
fruto  dei  privilegio. 

«  Por  ultimo,  si  el  problema  social  es,  como  acjui  se  ha  dicho,  el 
problema  de  la  igiialdad,  que  toca  hacer  aí  derecho  para  que  esta  exis- 
ta ea  la  sociedad?  Es  esta  una  de  aquellas  caestiones  siempre  en  pié 
y  que  ai  parecer  no  dan  un  paso,  efecto,  á  mi  juiclo,  de  los  términos 
en  que  se  plantea.  Si  se  comenzara  por  distinguir  la  igualdad  eseneial 
ó  de  naturaleza,  la  naturaleza  humana,  y  podesto  todos  tienen  ciierpo 
y  espiritu,  inteligência,  sentimiento  y  voluntad,  és  decir,  las  mismas 
propriedades.  Fero  eso,  que  es  lo  mismo  en  todos,  se  da  de  distinto 
modo  en  cada  uno,  por  virtiid  de  una  peculiar  coiubinacion  de  aquel- 
los  elementos,  y  asi  cada  cual,  teniendo  idênticas  facultades,  liene  una 
existência  espiritual  peculiar,  asi  como  teniendo  las  mismas  facciones 
que  los  demás,  tiene  una  (isonomia  própria;  en  una  palavra,  todos  son 
iguales  en  cuanto  hombres,  y  todos  distintos  en  cuanto  indivíduos, 

"  Ahora  bien,  esta  ultima  qualidad  tiene  que  determinar  siempre 
la  diferente  posicion  social  de  cada  uno  en  el  mundo,  poniue  ella  es 
causa  de  la  vocacion  que  nos  lleva  por  diferentes  caminos  y  de  los  vá- 
rios resultados  que  en  uno  mismo  alcanzan  los  que  le  siguen;  asi, 
mientras  unos  se  consagran  ai  arte  ó  á  la  ciência,  otros  se  dedican  á 
la  industria  ó  ai  comercio;  y  mientras  unos  avanzan  por  estas  sondas, 
otros  se  quedan  rezagados;  y  portanto,  la  igualdad  social  es  iinposi- 
ble,  como  todo  el  mundo  reconoce,  pues  nadie  ha  tenido  la  prolensioa 
de  hacer  que  desaparescan  de  la  vida  las  diferencias  entre  robustos  y 
debiles,  torpes  y  dispuestos,  sahios  y  ignorantes,  buenos  y  maios,  etc. 
Pêro,  para  que  cada  cual  pueda  cumplir  su  destino,  comun  á  todos 
en  cuanto  humano,  próprio  de  cada  uno  en  cuanto  individual,  sonne- 
cesarias  determinadas  condiciones,  aquellas  cuyo  conjunto  nm^tilnytj 
el  derecho,  esto  es,  el  respeto  á  la  vida,  ;i  Ia  activiílad,  á  la  lihcrtad, 
á  la  propriedad,  etc. ;  igualmente  precisas  á  todos,  cualquiera  (|ue  sea 
el  fin  que  prosigan  y  cualquiera  que  sea  el  êxito  (|ue  las  acompaila; 
y  de  aqui  que  "la  igualdad  jurídica  és,  no  solo  posihie,  sino  obligada, 


496 


deixa,  era  respeito  á  sua  doutrina,  commetter  as  maiores  atro- 
cidades, as  mais  flagrantes  absorpções,  as  mais  repellentes 
desigualdades,  quer  do  socialista,  que  pretenda  reduzir  a  so- 
ciedade ás  condições  da  igualdade  chimerica,  nas  faculdades 
politicas  ou  económicas,  como  se  fora  possivel  reduzir  os  ho- 
mens á  mesma  altura,  ás  mesmas  dimensões,  ao  mesmo  vigor 
intellectual,  à  mesma  sentimentalidade! 

Se  taes  aspirapões  constituem  um  verdadeiro  grau  de  lou- 
cura ;  se,  nas  organisações  sociaes,  é  indispensável  tomar  o 
homem,  como  elle  é,  e  não  como  desejáramos  que  fosse,  ou 
imaginamos  que  seja;  se  a  liberdade  individual,  quer  politica, 
quer  económica,  ha  de  conciliar-se  com  a  igualdade  jurídica 
de  todos :  é  perfeitamente  legitima  a  regulamentarão  das  con- 
dições de  trabalho  nas  relações  reciprocas  do  operário  e  capi- 
talista. 

A  lei  civil  regula  minuciosamente  as  condições  de  existên- 
cia nas  familias  :  a  doutrina  liberal  dos  exaltados  e  sonhado- 
res pôde  chegar  á  negação  da  legitimidade  d'essa  lei  funda- 
mental de  todos  os  povos ! 

É  pois  tão  legitima  a  intervenção  do  Estado  na  regula- 
mentação das  condições  do  trabalho,  como  o  é  nas  condições 
do  exercício  de  direitos  civis  ou  de  direitos  políticos.  E  será 
sempre  governo  liberal  o  que  se  esforçar,  nos  seus  actos  de 
regulamentação,  por  manter  a  igualdade  jurídica  quanto  seja 
possivel,  e  evitar  que  a  liberdade  do  mais  fraco,  do  mais  hu- 
milde, do  mais  ignorante,  do  mais  doente,  do  mais  pobre, 
seja  supprímida  e  absorvida  pelo  mais  forte,  mais  afouto  ou 
mais  feliz  ^. 


porque  esas  condiciones  se  deben  ai  horabre  como  tal  y  no  como  indi- 
viduo. Mas  la  declaracion  y  mantinimieoto  dei  dorecho  eonstituyeu  el 
fm  dei  Estado,  esto  es,  de  Ia  sociedad  convertida  a  este  fin,"de  la 
cual  formamos  todos  parte  y  todos  con  los  mismos  derechos  y  deberes^ 
y  por  eso  todos  influyen  en  la  marcha  de  aquél  y  todos  contribuyen  à 
su  sostenimiento,  y  de  aqui  la  icjualclad  politica,  la  cual  no  implica  a 
que  todos  estén  facultados  para  ejercer  las  que  son,  propriamente  ha- 
blando,  funciones,  y  no  derechos,  porque  es  claro  que  eso  lo  pueden 
hacer  solo  los  que  tengan  capacidad  para  el  caso  ». 

^  Para  restabelecer  o  estado  de  direito,  o  equilíbrio  ou  igualdade 
jurídica  nas  condições  de  aprendizagem,  veremos  em  oecasião  oppor- 
tuna  como  os  diversos  governos  das  nações  cultas,  sem  se  preoecupa- 
rem  com  a  dislincção  metaphysica  da  —  liberdade  meio  e  da  liber- 


197 


Pela  exaltação  dos  doutrinários  liberaes  chegaríamos  a  ne- 
gar ao  Estado  o  direito,  deixaria  de  se  Itie  impor  o  dever  de 
velar  pela  manutenção  da  moralidade  publica,  como  pelo  pro- 
gresso da  instrucção  do  povo,  e  deixaríamos  esta  unicamente 
entregue  ás  perigosas  absorpções  jesuíticas. 

A  falta  absoluta  de  regulamentação,  assim  nas  condições 
económicas,  como  nas  da  instrucção  popular ;  a  liberdade  ab- 
soluta em  que  se  deixou  a  industria  portugueza,  pela  suppres- 
são  das  organisações  de  oílicios,  sem  desde  logo  se  facultarem 
e  fomentarem  organisações  e  instituições  que  as  substiluíjsem : 
produziu,  ou  pelo  menos  concorreu  para  o  estado  triste  e  de- 
sesperado da  economia  nacional,  com  que  luctamos. 

O  que  succedeu,  por  exemplo,  quanto  á  instrucção  e  pro- 
gressos dos  outros  paizes,  e  o  alrazo  do  nosso,  vôl-o-hemos 
n'outro  artigo  no  próximo  numero.  E  ahi  veremos  igualmente 
03  grandíssimos  progressos  da  instrucção  primaria,  de  diver- 
sos graus,  a  expensas  municipaes,  nos  paizes  mais  cuidadosos; 
derivando-se  d'este  exame  a  necessidade  que  têm  as  vereações 
de  Guimarães  de  irem  cuidando  da  acquisição  de  edifício,  onde 
uma  escola  concelhia  central  seja  uma  concentração,  uma 
instituição  modelo  e  superior  de  todas  as  do  concelho,  com  o 
seu  pessoal  para  missões,  com  os  terrenos  e  aposentos  indis- 
pensáveis á  alpendrada  de  exercícios  gymnaslicos  e  militares, 
ao  estudo  elementar  e  experimental  de  agricultura  e  de  noções 
scíentíflcas,  aos  seus  museus  escolares,  á  sua  oíficina  de  tra- 
balhos manuaes,  etc.  ele. 

Não  se  apavorem  porém  os  pessimistas  da  instrucção  po- 
pular, que  ninguém  decerto  irá  desde  já  pedir  tanta  coisa; 
aquietem  o  espirito  os  egoístas  e  os  irrefleclidos  partidários 
dus  progressos  em  pedra  britada  e  em  syndicatos  rendosos; 
mas  os  que  podem,  procurem  evitar  diíTiculdades  e  maiores 
despezas  a  futuros  progressos. 

Podem  estes  retardar-se,  mas  afinal  hão  de  vir,  que  ne- 


dade  fim  — ,  têm  tratado  de  regulamentar  o  trabalho  de  mulheres  e 
menores  nas  fabricas  e  emprezas  industriaes. 

Por  agora  diremos  apenas  que  o  nosso  paizjá  possue  os  preceitos 
fundamentaes  d'esla  regulamentação,  conclusão  dos  tinbalhos  inicia- 
dos ha  mais  de  dez  annbs  pelo  fallecirlo  estadista  Saraiva  de  Carvailio  : 
8  que,  com  esta  regulamentação  salutar,  justa  e  moral,  nem  se  oíTou- 
deu  a  liberdade,  nem  perigou  a  industria  nacional. 


198 


nhum  povo  pôde  dilatadamente  reagir  á  impetuosidade  de  no- 
vas idéas,  quando  sobretudo  ellas  se  abonam  pela  evidencia 
da  utilidade  geral.  Suppozemos  também  difficeis  de  conseguir 
para  Guimarães  os  últimos  progressos,  que  conquistamos  ;  e 
todavia  a  conquista  fez-se,  e  ahi  temos  escola  industrial,  bi- 
bliotheca,  museu,  instituto  de  ensino  secundário,  escola  com- 
plementar, etc. 

Apesar  d'estas  conquistas  valiosissimas  d'estes  últimos  dez 
annos,  não  desprezemos  a  base  de  todo  o  progresso  moderno : 
a  instrucção  primaria,  nas  suas  Ires  grandes  divisões  —  infan- 
til, elementar  e  superior. 

A  par  d'esta,  sempre  em  progresso  parallelo  e  intenso,  a 
instrucção  technica  ou  económica  e  profissional,  organisada 
como  desenvolvimento  e  aperfeiçoamento  das  escolas  primarias, 
onde  cuidadosa  e  eíTicazmente  devem  insinuar-se  as  primeiras 
noções  litterarias  e  scienlificas,  os  primeiros  elementos  de 
aptidão  physica,  nas  graduações  admiravelmente  combinadas 
da  instrucção  popular  suissa,  allema,  e  recentemente  franceza, 
graças  aos  esforços  constantes,  activos  e  superiormente  intelli- 
gentes  do  grande  pedagogo  Salicis  ^ 

É  pois  indispensável,  se  nos  quizermos  erguer  do  atoleiro, 
do  abysmo  de  fidalga  ignorância  em  que  largos  annos  de  obras 
publicas  e  de  luxo  tolo  em  beneficio  das  industrias  estrangei- 
ras nos  tem  precipitado,  que  a  instrucção  primaria,  e  que  a 
instrucção  económica,  com  preferencia  à  instrucção  clássica  e 
superior,  attinja  o  grau  de  aperfeiçoamento  a  que  chegou  nos 
paizes  productores. 

Isto  vale  mais  que  dotar  cada  eleitor  influente  d'uma  estra- 


^  O  livrosinho  Enseígnement  Primaire  e  Apprentissage,  de  Sali- 
cis, é  um  verdadeiro  nionunieoto  de  gloria  d'este  grande  liomeni  do 
progresso  industrial  francez,  d'este  promotor  valioso"  da  riqueza  nacio- 
nal da  Franga  republicana. 

Este  tratado  precioso  enconlra-se  traduzido  em  portuguez,  na  Re- 
vista de  Instrucção  do  Porto,  pelo  nosso  respeitável  sócio  lionorario, 
tão  sábio  como  dedicado  ao  progresso  das  industrias  nacionaes,  e 
muito  ao  progresso  das  vimaranenses,  o  snr.  Joaquim  de  Vascon- 
ccllos. 

Fallecido  ha  pouco,  Salicis  deixa  não  só  em  França,  mas  na  Eu- 
ropa, um  nome  abençoado  por  toda  a  gente  que  mais  ou  menos  se  in- 
teressa pela  legitima  e  ordenada  ascensão  das  classes  populares,  pelo 
incremento  de  igualdade  jurídica,  e  pelo  fortalecimento  da  chrematis- 
tica  dos  povos  do  velho  mundo. 


199 


da,  caia  cidade  ou  villa  d'uni  lyoeu,  cada  districto  d'ij!na  es- 
trada férrea,  porque  é  principalmente  da  instrucfão  popular 
que  pôde  depender  a  futura  prosperidade,  e  com  cila  a  inde- 
pendência da  nação.  Com  os  uniformes  mililares  á  allemã,  á 
prussiana,  etc,  em  successivas  alterapões  sangrando  as  bol>a3 
dos  militares  portuguezes;  com  estradas  desertas  de  transito; 
com  portos  de  abrigo  sem  marinha  portugueza ;  com  bancos 
cultivando  usuras;  com  bacharéis,  doutores  e  ecclesia-ticos, 
ostentando  os  seus  diplomas,  ou  esgrimindo  nas  luctas  eleito- 
raes  para  a  conquista  da  empregos  e  benefícios ;  com  a  febre 
do  jogo  nas  roletas  particulares  das  praias  e  estações  de  ba- 
nhos, c  nas  grandes  roletas  legaes  dos  lilulos  de  credito;  com 
a  creação  de  escolas  sem  plano,  e  em  que  a  parte  litleraria, 
por  uma  espécie  de  atavismo  clássico  (relevc-se  a  expressão), 
sobreleva  á  parte  technica  e  pratica...  com  a  ostentação  e 
mandriice  aristocrática  em  todos  os  serviços  públicos  —  não  se 
fomenta  a  riqueza,  não  se  supprimem  os  números  da  emigra- 
ção, não  se  aproveitam  as  colónias,  não  se  melhora  o  regi- 
men agricola,  não  se  eleva  emfim  o  paiz  ao  estado  de  pelo 
menos  se  supprir  a  si  mesmo  oas  relações  agrícolas,  fabris  e 
commerciaes  ^. 


1  Ao  tirarmos  as  provas  d'este  artigo,  ?urprehendeu-nos  a  pu- 
blicação do  deereto  de  8  d'outubro  de  1891,  reformando  as  instituições 
<3e  ensino  económico. 

Não  é  agora  logar  próprio  para  apreciarmos  tudo  quanto  se  nos 
afigura  profícuo,  ou  quaes  as  lacunas  ou  imperfeições  que  possa  con- 
ter esta  recente  reforma,  iniciada  pelo  snr.  ministro  de  obras  imbli- 
cas,  conseliíeiro  João  Franco  Castello  Branco,  coadjuvado,  segundo  se 
aíflrma,  por  outros  dois  respeitáveis  sócios  honorários  d'esta  Socieda- 
de, os  snrs.  dr.  Bernardino  Machado  Guimarães  e  Joaquim  de  Vas- 
coneellos. 

A  reforma  é  radical  e  extensa:  necessita  de  estudo  demorado 
para  que  bem  se  aprecie  de  todas  as  suas  vantagens.  Pode  porém  des- 
de já  affirmar-se  que  obedece  a  ires  óptimos  principies :  moralidade, 
economia  possível  e  proficuidade  de  ensino. 

Por  eila  cortam-se  as  veredas  do  assalío  às  escolas  induslriaes  do 
paiz  por  quaesquer  aventureiros  eleitoraes  mais  ou  menos  tiUil;idos  : 
exise-se  concurso  para  novos  provimentos.  E  se  o  Esiado  se  priva  da 
escolha  de  alguma  competência  excepcional,  garante-se  na  generalida- 
de das  assaltadas  desordenadas,  com  que  certas  instiluições  se  iam 
transformando  em  asylos.  ou  coisa  i)eor  ainda,  e  se  im-tcriam  algumas 
vezes  homens  de  maior  mérito  a  nuliidades  apenas  lormadas  em  as- 
semblóas  eleitoraes,  ou  bambochatas  de  boteípiim! 

Pelo  art/Jt/ii.o  são  estabelecidos  ordenados  de  categoria  o  gratiíl- 


200 


É  gravíssima  a  conjunctura  presente,  ou  antes,  ha  muito 
que  assim  se  prepara :  o  conflicto  britannico,  e  a  crise  finan- 
ceira e  monetária  vieram  apenas  desvendar  todos  os  erros  da 
Dossa  administração,  o  estado  de  temerosa  ruina  da  nossa  eco- 
nomia ! 

(Continua), 

Avelino  da  Silva  Guimarães. 


Estatutos  dos  Ourives  de  Ouro  e  Prata  da  villa  de  Guimarães  que  fize- 
ram para  o  bô  regimen  do  seu  oíficio  no  anno  de  1781  e  motivos 
que  tiveram  os  Ourives  de  Ouro  e  Prata  para  estal)elecerem  este 
compromisso. 

CAPITULO  V 

Corr.o  se  procederá  contra  os  ourives, 

que  aprendendo  nesta  villa,  nella  querem  abrir  tenda, 

fazendo  exame  em  outra  parte 

Fica  livre  o  arbítrio  de  cada  um  exercer  a  sua  arte  em 
Ioda  a  parte  que  não  for  prohíbido  o  uzo  delia,  porem  apren- 
dendo nesta  villa  qualquer  pessoa  o  oíTicio  de  ourives  de  Ouro, 
ou  Prata,  e  não  fizer  nella  o  seu  exame  perante  o  Juiz  do  offi- 


caç(5es  de  exercício,  e  no  art.  loO.»  são  ordenarlos  cursos  diurnos, 
além  dos  iioeliirnos,  e  demonstrações  praticas,  obstando-se  a  que  estas 
instituições  modernas  se  mantenham  em  collegiadas  do  passado  regi- 
men ;  e.  emfim.  no  relatório  affirma-se  a  conveniência  de  não  duplicar 
na  mesma  terra  instituições  com  prejuízo  dos  desenvolvimentos  e  ne- 
cessidades geraes  do  ensino. 

Por  todos  estes  princípios,  evidentemente  salutares,  pugnamos 
nós,  calorosamente,  embora  com  a  humildade  de  meros  amadores,  nas 
questões  a  que  fomos  chamados,  apreciando-se  os  projectos  da  orga- 
nisação  da  collegiada  d 'esta  cidade.  Quem  se  riu  das  nossas  extrava- 
gâncias, sincera  ou  insidiosamente,  pôde  agora  vêl-as  consignadas  em 
djplomas  officiaes,  em  produeções  pensadas  de  gente  eminente,  e  já 
tão  prestante  ao  ensino  económico  portuguez.  E  pôde  ver  quo  não  so- 
mos só  nós,  educados  a  trabalhar,  que  desadoramos  a  indígena  dispo- 
sição para  o  dulce  far  niente  dos  morgados  iradicionaesl 

Oxalá  que,  assim  na  reorganisação  das  escolas  industriaes  pelos 
regulamentos  e  programmaSj  e  acção  vigorosa  da  inspegção,  como  na 


201 


cio,  e  Contraste,  mas  o  for  fazer  fora  do  reino  ou  em  outra 
qualquer  cidade  com  o  sinistro  intento  de  não  pagar  para  a 
fabrica  da  cappella  de  Santo  Eloy  a  esmolla  taxada  no  cappi- 
tulo  II,  ou  por  que  temeu  o  ser  reprovado,  ou  poL  outra 
causa,  não  poderá  exercitar  o  seu  oíTicio  nesta  villa  nem  sua 
comarca,  sem  ficarem  izemptos  desta  jurisdicfão,  e  penas  os 
que  assistem  terras  de  senhor,  posto  que  apresentem  carta  de 
approvação;  mas  serão  condemnados  na  pena  de  10^000  reis, 
e  se  sugeitará  a  todas  as  penas,  e  deposiçoens  deste  compro- 
misso, por  termo,  que  assignará ;  e  fazendo  o  contrario  será 
obrigado  a  fechar  a  tenda,  e  a  pagar  20^000  reis  para  a  dita 
fabrica  da  cappella  do  nosso  Santo. 


CAPITULO  VI 

Como   se   procederá  contra  os  ourives, 

que  vem   de  fora  a  esta  villa  e  comarca   abrir  tenda, 

e  uzar  do  officio  sem  terem  aprendido 

nem  serem  examinados  nella.  E  que  se  não  consintão 

ourives  a  trabalhar  nos  arrabaldes  desta  villa 

Grandes   malles  se  tem  originado  nos  ourives  de  Ouro  e 
Prata  que  fora  para  esta  villa  abrir  logea  publica  para  exerci- 


organisação  do  ensino  do  instituto  da  Oliveira,  estes  principies  se  não 
afrouxem.  Se  a  mandriice  foi  sempre  inconveniente,  hoje  é  vicio,  ó 
uma  corrosão  social. 

Ás  nossas  illustres  consócias,  especialmente  ás  exc.™''^  damas  vi- 
maranenses que  constituíram  a  commissão  para  a  orgnnisação  da  es- 
cola de  renda  (vej.  D.  António  da  Gosta  —  Auroras  da  Itistrucrão, 
pag.  449  a  450  da  2.»  ed.),  transmittimos  a  agradável  noticia  de  (|uo 
por  esta  reforma  é  largamente  estabelecido  o  ensino  pratico,  incluin- 
do-se,  para  o  sexo  feminino,  o  de  rendas  e  bordados. 

A  parte  profissional  da  escola  Francisco  de  Hollanda  conterá  : 

Serralharia; 

Cutelaria; 

Fiação  e  tecelagem ; 

Cortumes  e  ultimação  de  pelles,  e  lavores  em  couro  ; 

Lavores  femininos  (costura,  bordados  e  rondas). 

São  pois  contempladas  as  piiiicipaes  industrias  vimaranenses. 

Decerto  que  a  reforma  não  é  uma  obra  perfeita;  so  contém  algu- 
ma impropriedade,  como,  por  exemplo,  o  exercício  manual  educativo, 
que  deve  organisar-se  na  escola  primaria  (a  reforma  prova  iiurém  com 


202 


tarem  o  seu  officio,  sem  preceder  exame,  e  mais  circumstan- 
cias  deste  compromisso,  pelo  que  conformando-nos  com  o  bom 
costume,  determinamos,  que  todo  o  ourives  de  Ouro  ou  Prata 
que  vier  de  fora  desta  villa  e  sua  comarca  que  não  tiver  nella 
aprendido,  não  poderá  abrir  tenda  sem  que  moslre  ao  Juiz  e 
Contraste  do  officio  o  seu  exame  que  tenha  feito  legitimamente 
e  sendo  havido  por  bom,  poderá  por  tenda,  dando  primeiro 
fiança  na  forma  do  capitulo  IV,  posto  que  seja  casado,  e  dará 
para  a  fabrica  da  cappella  de  Santo  Eloy  b&QÒO  reis,  posto  que 
examinado  seja  em  outra  qualquer  parte  do  reino,  ou  fora 
delle ;  e  fará  termo  de  observar  o  conlheudo  neste  compro- 
misso, e  não  se  achando  este  exame  bom,  será  novamente 
examinado  pelo  Juiz  e  Contraste  desta  villa,  e  repugnando  ser 
examinado  incorrerá  nas  penas  impostas  no  capitulo  ÍI  contra 
os  que  abrem  tenda  sem  serem  examinados. 

Como  a  experiência  nos  tem  mostrado  os  muitos  prejuízos 
que  se  seguem  dos  ourives  de  Ouro  ou  Prata  trabalharem  fora 
desta  villa  por  se  lhe  não  poderem  dar  as  correiçoens  neces- 
sárias no  tempo  precizo  e  conveniente ;  foi  concordado  por 
todos  os  ourives  de  Ouro  e  Prata  uniformententes,  que  daqui 
em  diante  o  Juiz  e  Contraste,  não  dem  licença,  nem  consinlão, 
que  ourives  algum  desta  villa  ou  fora  delia,  tenha  tenda  aber- 
ta, ou  exercite  o  officio  nos  arrebaldas  desta  villa,  isto  he,  até 
onde  chegar  o  termo  e  comarca,  e  achando-se  a  trabalhar  com 


esta  deslocação  que  ainda  continuamos  um  período  de  transição,  e  se 
procura  supprir  o  desmazelo  ou  insciencia  das  camarás  munícipaes) ; 
se  deverá  correlacionar-se  melhor  o  ensino  teclinico  com  o  primário ; 
se  contém  algumas  lacunas  ou  defeitos:  é  incontestável  que  traduz 
um  largo  progresso  em  relação  ás  organisações  decretadas  pelo  snr. 
conselheiro  Emygdio  Navarro". 

O  snr.  conselheiro  João  Franco  vincula  o  seu  nome  a  mais  um 
acto  benemérito. 

Em  relação  a  esta  cidade,  apenas  deploramos  que  se  supprima  a 
aula  de  francez  na  escola  Francisco  de  Hollanda,  pela  qual  esta  Socie- 
dade justamente  pugnou  até  que  foi  attendida,  salvo  se  na  instituição 
escolar  da  Oliveira  forem  também  organisados  os  cursos  nocturnos,  in- 
dispensáveis |)ara  numerosas  classes  de  industria. 

Condensando  emíim,  n'esta  superficial  apreciação  da  reforma 
(que  só  pôde  estudar-se  bem  depois  de  promulgados  os  regulamentos 
respectivos),  o  elogio  d'este  trabalho  n'uma  fórmula  syntheUca,  basta- 
rá dizer  :  o  snr.  conselheiro  João  Franco  aperfeiçoou  o  existente,  avan- 
çou mais  um  largo  passo,  com  a  única  preoecupação  do  bem  publico, 
cora  absoluta  isenção  partidária. 


203 


tenda,  depois  de  ser  avizado,  será  condemnado  em  20f5000 
reis  sem  que  uze  da  arte,  fechando  as  portas  da  tenda,  e  não 
obedecendo  na  forma  deste  capitulo  será  condemnado  em  do- 
bro, e  determinamos  que  o  disposto  neste  capitulo  tenha  vi- 
gor, tanto  nos  que  vierem  de  fora  examinados,  como  os  que 
nesta  villa  forem  examinados  e  approvados. 


CAPITULO  VII 

• 

Como  se  procederá  com  os  ourives  de  Ouro  ou  Prata, 

que    tiverem    duas    logeas, 

assistindo    em  hua,  e  tendo   official 

por  examinar  em  outra 

Havendo  respeito  aos  damnos  que  se  seguem  de  hua  pe«N 
soa  ter  duas  tendas  sem  assistir  nellas,  o  official  examinado, 
determinamos  que  tudo  o  ourives  de  Ouro  ou  Prata,  que  tiver 
duas  logeas,  assistindo  em  huma,  e  mandando  assistir  em  ou- 
tra algum  official  sem  primeiro  ser  examinado  pagará  8^000 
reis,  e  o  official  outro  tanto,  que  tudo  será  applicado  para  a 
fabrica  da  cappella  do  nosso  Santo,  e  presistiudo  na  contumácia 
ambos,  serão  condemnados  em  dobro,  e  a  lenda  do  official 
será  fechada.  Porem  as  penas  deste  capitulo  não  comprehen- 
derão  contra  o  ourives,  ou  seu  official,  que  lenha  duas  tendas 
abertas,  se  o  official  tiver  já  feito  o  seu  exame,  e  licença  para 
exercitar  o  seu  officio  de  ouro  e  prata. 

(Continua). 


DOCUMENTOS   INÉDITOS 


DOS 


SÉCULOS    XII-XV 
(Continuado  da  pag.  138) 


MOSTEIEO    DE    SOUTO 

xciY-xxxn  B 

1311 

Carta  de  venda  do  quarto  do  Casal  das  Pedras, 
sito  na  freguezia  de  Trandeiras 

In  nomine  dominj  amen.  Nouerint  uniuersi  quod  in  presen- 
tia  mej  Laurencij  iohanis  tabelionis  publicj  Bracarensis  et  tes- 
timu  subscriptorum  Martinus  fernandj  armiger  de  terra  de  Santa 
Maria  ostendit  et  per  me  legi  fecit  quandam  procurationem  con- 
fectam  per  manum  Johanis  martioj  tabelionis  dominj  Regis  in 
loco  qui  dicitur  a  ffejra  de  terra  de  Santa  Maria  et  suo  signo  si- 
gnatam  ut  apparebat  prima  facie  cujus  teuor  talis  est.  Sabham 
todos  a  ordinapom  da  presente  procuraçom  como  eu  Margarida 
marlinz  filha  de  Martim  martinz  de  fornos,  e  de  Maria  AíFonso  sa 
molher  filha  que  foj  de  Giraldo  affonso  de  Rocas  e  de  Major  gon- 
çaluiz  faço  e  ordino  e  stabelesco  por  meu  certo  procurador  liidi- 
mo  e  abastoso  o  melhor  e  o  mas  conprido  que  pode  seer  e 
mas  valer.  Martim  fernandiz  scudejro  de  pereira  do  julgado  da 
ífeira  de  terra  de  Santa  Maria  meu  marido  portador  desta  pre- 
sente procuraçom  sobre  todas  as  demandas  que  por  mjm  ou 
contra  mjm  som  ou  seeiam  de  seer  ou  sobre  mouil  como  so- 
hre  raiz.  Contra  qualquer  pessoa  ou  pessoas  ecclesiasticas  ou 


205 


segraes  per  todo  o  rejno  de  Portugal,  ou  doutro  qualquer  ou 
per  dante  nosso  Senhor  ou  per  ante  ssa  corte  ou  per  ante  seu 
sobre  juic  ou  sobre  juices.  ou  per  ante  outras  quaesquer  justi- 
ças segraes  ou  ecclesiaslicas.  e  se  acaeçer  a  elas  prejlo  entrar 
pêra  demandar  e  defender  e  responder  contradizer  auijr  conpoer 
excepçoens  poer  vogado  pedir  procuradores  façer  e  reuogalos 
e  filhar  o  ffejto  en  si  per  quantas  veçes  quiser  e  pêra  jurar  en 
minha  alma  juramento  qualquiser  que  for  de  derejto  e  dalo  aa 
parte  auersa  se  quiser,  e  sentenças  também  deílinitiuas  como 
enterlocutorias  receber  e  apelar  e  apelações  seguir  e  renunciar 
se  quiser  e  pêra  dar  por  quites  aqueles  de  que  alguma  cousa 
receber  por  mjm  en  meu  nome  e  pêra  vender  e  dar  e  doar  e 
escanbar  e  sortes  dejlar  e  a  penhorar  e  demarcar  e  marchos 
meter  e  aueenças  façer  e  vendas  façer  quaes  el  quiser  e  por 
bem  teuer  e  mando  a  todolos  tabellioens  do  Rejno  de  Portugal 
ou  dos  outros  logares  quaes  quer  que  façam  carta  ou  cartas  de 
venda  ou  doutras  firmidoens  quaes  o  dito  meu  procurador  nian- 
dar  e  por  bem  teuer  ainda  Ihi  dou  ao  dito  meu  procurador 
conprido  poder  pêra  soestabeleçer  outro  ou  outros  procurador 
ou  procuradores  quaes  el  quiser  en  seu  logo  e  en  meu  nome 
assi  como  se  eu  presente  fosse  e  pêra  conpareçer  per  ante  ou- 
tras justiças  quaes  quer  ou  per  ante  nosso  Penhor  EIRej  e  pêra 
todas  as  outras  cousas  que  eu  faria  se  presente  fosse  e  eu  ej 
flrme  e  slauel  todalas  cousas  e  cada  huma  delas  so  obligaçom 
de  meus  beens  que  quer  que  pelo  dito  meu  procurador  ou  pe- 
los seus  soestabelueçudos  forem  fejtas  e  procuradas  nas  cousas 
de  suso  ditas  e  en  cada  huma  delas  assi  e  também  como  se  eu 
presente  fosse.  ífeita  a  procuraçom  no  logar  que  chamam  o 
mato  a  par  de  fornos,  viii.  dias  andados  de  setembro,  li.  m. 
ccc.  e  XL.  e  ix.  annos.  testemunhas  que  presentes  forom.  Vi- 
cente soariz  homem  de  Joham  martins  tabclliom  e  Martim  anes 
de  íTornos.  Joham  martins  de  san  Giz.  Joham  gonçaluiz  de  llbr- 
nos.  Lourenço  gumecendj  e  outros  e  Eu  Joham  martins  tabel- 
liom  delRey  en  a  ffejra  da  terra  de  Santa  Maria  a  rogo  da  dita 
Margarida  martinz  esta  procuraçom  com  minha  maom  própria 
screuj  de  mandado  do  dito  Martim  fernandiz  e  meu  signal  y 
pugi  que  tal  e.  Qua  procuratione  ostensa  dictus  Martinus  fer- 
nandiz nomine  procuratorio  pro  dieta  Margarita  martiiij  vendidit 
puré  libere  et  simpliciter  Johanj  martinj  dicto  de  aronca  totauí 
illam  quartam  parlem  quam  dieta  Margarita  hahct  iu  illo  Casalj 
quod  uocant  das  Pedras  quod  est  in  parrochia  sancti  Saluatoris 
de  Trandejras  per  ubicumque  ipsam  quartam  potnerit  inuenire 
cum  omnibus  juribus  et  pertinenciis  suis  et  potestatcm  dcdit  eJ 


206 


quod  faceret  in  ea  et  de  ea  quocquod  sibj  placuerit  omne  per  pro 
euum  pro  triginta  quinque  morabetinis  veteribus  quos  confessus 
fuit  a  supradicto  JohaDe  marlinj  recepisse  integre  et  conplete. 
et  quicumque  contra  huiusmodj  venditionem  uenerit  ad  irrum- 
pendum  debet  pectare  dicto  Johanj  martinj.  d.  sólidos  et  insu- 
per  obligauit  diclus  venditor  dicto  Jolianj  martinj  orania  bona 
sua  tam  habita  quam  habenda  ad  liberandum  dicto  Johanj  de 
arouca  dictam  quartam  partem  a  quocnmque  impedimento  ven- 
ditione  ista  nichilominus  in  sua  fortitudine  perdurante.  Qui 
presentes  fuerunt  Martinus  menendj.  Sarraciom  (?).  Gonsaluus 
mich8eh's.  Egidius  de  íTrejtas  armiger  et  Dominicus  menendj 
canonicus  monasterij  de.  Souto  et  alij.  Ego  uero  Laurencius 
iohanis  tabelio  supradiclus  premissis  omnibus  rogatus  interfuj 
et  ad  utriusque  partis  instanliam  confeci  de  premissis  hoc  pu- 
blicum  instrumentum  signo  meo  signatum  in  testimonium  pre- 
missorura.  Actum  bracare  ii.  Kalendas  nouerabris  anno  dominj 

M.GCC.XI. 

Petrus.  Martinus.  Johanes.  testes  +• 


XCV-XXXIIc 
1314 

Sentença  acerca  do  vestido  e  sustento  d'um  clérigo  do  mosteiro  de  Souto 

In  nomine  dominj  amen.  Nouerint  vniuersi  quod  cum  sub 
anno  dominj  miliesimo  cccxiiii.  uidelicet  xv  kalendas  junij  co- 
ram venerabili  viro  domno  magistro  Stephano  canónico 

Reuerendj  patris  domnj  Johaois  miseratione  dei  electj  confirma- 
tj  archiepiscopi  sancte  ecclesie  Bracarensis  sedentj  pro  tribunalj 
ia  claustro  ecclesie  bracarensis  ubj  audientiam  fierj  consuerat 
jnter  Laurentium  michaelis  clericum  ex  parte  vna  et  Religio- 
sum  virum  domnum  Martinum  dominicj  prioris  monasterij  de 
Sauto  ordinis  sancti  augustinj  diocesis  Bracarensis  super  pro- 
uisione  eidem  clerico  in  dicto  monasterio  facienda  de  victu  et 
vestitu  ex  altera  qum  moveretur  (?)  me  Johane  laurentio  ta- 
bellione  publico  Bracarense  adhibito  et  presente  ac  testibus  in- 
frascriptis.  ad  vltimura  dictus  auditor  post  multas  raliones  ha- 
bitas hinc  et  inde  mandauit  per  sententiam  dicto  priorj  quod 
daret  in  qualibet  die  eidem  clerico  vnum  panem  álbum  de 


207 


duobus  deiiarijs  et  de  borona  ad  suffilienliam  et  de  vino  et  de 
carnibus  et  de  piscamine  coupetenti  pro  ut  ipse  prior  habuerit 
íq  dicto  monasterio  et  quod  det  íd  quolibet  anno  eidem  cleri- 
00  pro  vestibus  vnam  sagam  et  voam  clamidem  sen  çerome  et 

vnum  epitogium  seu  pelotem  de  arraiz  seu  de et  quod 

ipse  clericus  insuper  habeat  preslimonium  quod  sibi  fuit  assi- 
gnatum  per  dictum  priorem  pro  ad  calciandum  se  et  pro  ad  ca- 
misas et  panos   minores  et  ipse  clericus  debet  scruire  dicto 

priorj  et  dicto et  honestis  et  ambulare  coram  bominibus 

qui  fodient  in  vineis  dictj  monasterij  et  ire  ad  domnm  Uegis 

et priore    qun    necesse   fuerit   qun  necesse  fucril   et 

celebrare  missam  in  qualibel  die  et  recitare  horas me- 

morato.  de  qua  senlentia  dicle  partes  pelierunt  a  me  dicto  la- 

bellione  sibi  fierj  singula  publica  ac  similia  instrumenta 

distinctj  viri  Johanes  marlinj.  Johanes  stephaDJ  aduocatj.  Geral- 

dus  stephanj.  Dominicus  petri  tabellionbracarenses  et  alij 

dictus  tabellio  premissis  omnibus  rogatus  inleríruj  et  ad  inslan- 
tiam  dictarum  partium  confíecj  inde  duo  consimilia  instrumen- 
ta  ipsis  apposuj  signum  meum  in  teslimonium  premis- 

sorum.  Actum  Bracare  anno  et  quoto  superius  anolatis.  El  non 

Docent ubi  dicitur  et  vnum  epitogium  seu  pelotem  qur 

ego  dictus  la])ellio  manu  própria  jnterlineauj. 
Martinus.  Garsias.  Affonsus.  +• 


xcYi-xxxn  D 

1317 


Carta  de  venda  d'uni  herdamento,  sito  na  freguezia 
de  Santa  Maria  de  Souto 


En  no  nome  de  deus  amen.  Eu  G.  iohanes  e  minha  molher 
Marinha  meendiz  en  Domingas  peres  íTazemos  carta  de  uendi- 
çom  e  de  perdurauel  ffinnidom  a  uos  Johani  de  ssouto  de  todo 
o  herdamento  que  nos  auemos  da  parte  de  Gomes  o  qual 
auemos  de  partir  com  íTilhas  de  Joham  uelho  do  l'oobal  o 
qual  e  na  íTreegisia  de  Santa  Maria  de  Souto  por  prefo  que 
de  uos  recebemos  xi  (?)  marauidis  de  porlugal  e  ssa  reuora 
caa  tanto  a  nos  e  a  uos  aprouge  e  do  prefo  a  nos  nem  miga- 
lha non  íBcou  por  dar  aiades  uos  o  dito  herdamento  ssobre 


208 


dito  ffirme  pêra  todo  senpre  e  aqueles  que  depôs  uos  ueerem 
de  monte  em  fonte  per  u  ele  melhor  poderdes  achar  e  sse  pe- 
la uentura  algem  da  nossa  parte  ou  da  outra contra 

esto  quiser  uijr  peite  quinhentos  soldos  de  boa  moeda  ffeita  a 
carta  em  Guimaraens  vijnte  dias  dabril  era  mil  trezentos  e 
cincoenta  e  cinquo.  testemunhas  Joham  ssam  Milhaom  Pêro 
ssam  Milhaom  e  affonsso  duraens  e  outros  Eu  Martim  aífonsso 
tabaljom  de  Guimaraens  esta  carta  escreuj  e  meu  sig -1- nal  hj 
pugj  que  tal  e. 

(Continua). 
Tagilde  — 1891. 

Oliveira  Guimarães. 


INSTRdCÇlO  POPULAR 


Lei    de   2   de   maio    de   1878 

(Continuado  da  pag.  U8) 

CAPITULO  YIII 
Da  inspecção  e  das  juntas  escolares 

Artigo  51."  O  reino  e  illias,  para  os  effeltos  da  inspecção, 
é  dividido  em  doze  circumscripções  escolares,  dez  para  o  con- 
tinente do  reino  e  dnas  para  as  ilhas  da  Madeira  e  Apores,  po- 
dendo comprehender  cada  circumscrippão  dois  ou  mais  dis- 
trictos  administrativos. 

Artigo  52.°  Em  cada  circumscripeão  escolar  ha  um  ins- 
pector nomeado  e  retribuído  pelo  governo. 

|.  único.  O  exercício  das  funcções  de  inspector  é  incom- 
palivel  com  o  de  qualquer  outro  emprego  publico. 

Artigo  53.°  A  primeira  nomeação  para  o  logar  de  inspe- 
ctor é  feita  por  três  annos. 

|.  único.  Os  inspectores  podem  ser  transferidos  d'nmas 
para  outras  circumscripções,  como  melhor  convenha  ao  ser- 
viço publico,  não  devendo  nenhum  d'elles  residir  mais  de  três 
annos  na  mesma  circumscripção. 

Artigo  54.°  Os  vencimentos  dos  inspectores  são :  ordena- 
do fixo  e  gratificação. 

§.1."  O  ordenado  fixo  é  de  500/^000  reis  em  Lisboa, 
Porto  6  Açores,  e  400/5ÍOOO  reis  nos  outros  districtos. 

§.  2."  A  gratificação  é  variável,  mas  não  pôde  exceder 
dois  quintos  do  ordenado  fixo. 

8.»  A.NNO.  1* 


210 


Artigo  55.°  A  nomeação  para  os  logares  de  inspector  só 
pôde  recahir  em  individues  com  capacidade  legal  para  estes 
cargos. 

|.  1."  Constitue  capacidade  legal  para  o  cargo  de  inspe- 
ctor: 

I,  Diploma  de  approvaçâo  do  ensino  normal  completo  e 
attestado  de  haver  servido  cinco  annos  n'uma  escola  publica; 

II.  Diploma  de  exame  de  habililapão  para  o  ensino  com- 
plementar e  attestado  de  haver  servido  com  distincção  cinco 
annos  n'uma  escola  publica. 

|.  2.**  Os  attestados  de  que  tratam  os  números  I  e  II 
são  passados  pelas  camarás  municipaes  e  pelos  inspectores 
das  circumscripções  onde  tenham  servido. 

Artigo  56.°  Em  cada  cabeça  de  concelho  as  camarás  mu- 
nicipaes nomearão  uma  junta  escolar  composta  de  três  vo- 
gaes,  escolhidos  d'entre  os  vereadores  ou  outros  quaesquer  ci- 
dadãos. Estas  juntas  serão  nomeadas  por  dois  annos,  e  têm 
por  fim  auxiliar  as  camarás  municipaes  e  os  inspectores  nas 
attribuições  a  seu  cargo,  segundo  os  termos  d'esta  lei  e  seus 
regulamentos. 

Artigo  57.°  Ha  em  cada  parochia  ou  parochias  reunidas, 
onde  exista  escola,  um  delegado  parochial  da  junta  escolar  e 
por  ella  nomeado. 

|.  único.  O  individuo  que  desempenhar  este  cargo  é 
isento  do  pagamento  das  contribuições  directas  parochiaes  e 
municipaes,  e  do  aboletamento  em  tempo  de  paz,  durante  o 
tempo  do  seu  serviço. 

Artigo  58.°  O  governo  determinará  nos  regulamentos  as 
funcções  e  attribuições  dos  inspectores  e  dos  mais  emprega- 
dos e  commissões,  e  flxará  as  despezas  correspondentes  ao 
serviço  da  inspecção. 

|.  1.°    Na  inspecção  examinar-se-ha  sempre: 

I.  Os  melhodos  seguidos  pelos  professores  no  ensino; 

II.  O  aproveitamento  obtido  pelos  alumnos ; 

III.  Se  no  ensino  se  cumprem  os  programmas  estabeleci- 
dos e  mandados  seguir. 

|.  2.°  Se  constar  que  em  alguma  escola  o  professor  en- 
sina doutrinas  contrarias  á  religião  do  Estado,  á  moral  e  bons 
costumes,  e  ás  leis  do  reino,  será  logo  suspenso,  seguindo-se  o 
procedimento  que  dever  ter  logar  nos  termos  do  artigo  40.° 


211 

CAPITULO  IX 
Das  conferencias 

Artigo  59.°  Haverá  em  cada  concelho,  annualmente,  con- 
ferencias de  professores,  presididas  pelo  professor  mais  gra- 
duado em  habilitações,  e  quando  todos  tiverem  igualdade  de 
habilitações,  pelo  mais  antigo. 

§.  1.**  As  professoras  de  instrucção  primaria  podem  tomar 
parte  ii'estas  conferencias,  e,  não  comparecendo,  devem  man- 
dar o  relatório  e  programma  da  sua  escola,  com  relação  aos 
pontos  sobre  os  quaes  é  ouvida  a  conferencia,  nos  termos 
d'este  artigo. 

|.  2.°  Os  professores  que  comparecerem  ás  conferencias 
recebem,  nos  dias  da  sessão  a  que  assistem,  uma  graliflcação 
fixada  pela  camará  municipal. 

|.  3.°  As  conferencias  dos  professores  não  devem  durar 
mais  de  oito  dias. 

§.  4.°  O  objecto  das  conferencias  será  o  aperfeiçoamento 
dos  methodos  de  ensino,  os  meios  de  os  levar  a  eíTeito,  e  to- 
dos os  assumptos  que  especialmente  disserem  respeito  à  ins- 
trucção primaria. 

|.  5."  A  conferencia  consigna  nas  suas  actas,  dia  a  dia, 
todos  os  assumptos  discutidos  e  todas  as  opiniões  por  ella  for- 
muladas. O  conjuncto  d'essas  actas  constitue  o  relatório  da 
conferencia. 

Artigo  60.°  O  inspector  em  vista  de  tudo  fará  um  relató- 
rio que  enviará  ao  governo. 

(Continua). 


BOLETIM 


Na  ausência  do  meu  respeitável  amigo  e  illustrado  secre- 
tario da  direcção,  snr.  Gaspar  Paul,  perlence-rae  apresentar  o 
boletim  do  ultimo  trimestre. 

Por  elle  se  verá,  que  todos  os  membros  da  direcção,  ex- 
ceptuando-me  a  mim,  tem  procurado,  tanto  quanto  podem,  o 
progresso  d'esta  benemérita  Sociedade.  Seja-me,  porém,  licito, 
que,  sem  querer  oífender  a  sua  modéstia,  especialise  o  dignís- 
simo e  illustradissimo  presidente,  exc."""  snr.  dr.  Avelino  da 
Silva  Guimarães. 

Ao  seu  muito  zelo,  á  sua  muita  dedicação,  deve  esta  So- 
ciedade e  portanto  este  concelho,  de  cuja  instrucção  ella  é 
promotora,  relevantes  serviços. 

A  prova  d'esta  minha  asserção  acha-se  bem  patente  no  bo- 
letim, que  segue,  d'onde  se  deprehende  o  grande  interesse 
que  s.  exc*  liga  á  causa  da  instrucção. 

Na  sessão  de  1  de  julho  o  snr.  presidente,  dr.  Avelino  da 
Silva  Guimarães,  apresentou  a  seguinte  proposta : 

Os  estudos  archeologieos  estão  merecendo  a  attenção  em  todos  os 
paizes  cultos. 

Enviam-se  missões  de  estudo,  a  que  presidem. sábios  eminentes, 
sustentadas  pelos  diversos  governos,  para  exploração  de  todos  os  mo- 


213 


numentos,  com  que  possa  reconstituir-se  a  historia  das  mais  remotas 
populações  e  procurar-se  os  laços  de  maior  ou  menor  aíTiiiidade  e  as- 
cendência com  as  gerações  actuaes,  com  as  populações  e  raças  que 
actualmente  dominam  o  globo.  ' 

Não  é  somente  o  desejo  de  enriquecer  e  ornar  museus;  nem  mes- 
mo é  somente  a  revelação  d'uma  aspiração  de  alargamento  das  esphe- 
ras  de  actividade  do  pensamento  humano :  desde  que  a  sociologia  ad- 
quiriu logar  como  corpo  de  sciencia,  desde  que  o  transformismo  ap- 
plicado  ás  evoluções  sociaes  deixou  de  considerar-se  uma  pura  phan- 
tasia,  desde  que  a  anthropologia  com  a  escola  italiana  de  Lombroso 
tem  applicações  criminologicas  de  superior  valor,  produzindo  uma 
enorme  revolução  na  sciencia  penal  e  nos  novos  códigos  das  nações 
cultas,  03  estudos  archeologicos,  que  desentranham  dos  escombros  e 
ruinas  de  antigas  cidades  os  elementos  de  vario  estudo  de  antiquíssimas 
populações,— o  seu  organismo  physico,  a  conjectura  das  suas  raças, 
a  sua  ethnographia,  emfim  todo  o  seu  modo  de  sêr  nos  seus  múltiplos 
aspectos  e  relações—,  adquiriram  o  máximo  valor  pratico,  como  sub- 
sidio, para  a  solução  dos  graves  problemas  da  sciencia  moderna. 

No  nosso  paiz  começa  também  a  comprehender-se  o  valor  dos  es- 
tudos archeologicos,  e  para  a  archeologia  do  sul  os  governos  têm  dis- 
pensado a  sua  protecção  official.  Não  succede  o. mesmo  para  o  norte; 
não  tem  succedido  assim  com  a  importantíssima  estação  archeologica 
da  Cilania  nem  do  Sabroso,  das  quaes  nem  sequer  existe  ainda  uma 
minuciosa  planta  descriptiva,  e  tudo  quanto  existe  —  desenhos  e  estu- 
dos—  se  deve  a  trabalhos  infatigáveis  e  sabias  investigações  do  snr. 
dr.  Francisco  Sarmento,,  o  laureado  archeologo  vimaranense. 

Proponho,  pois,  se  represente  ao  governo,  pedindo  que  ordene  a 
engenheiro  competente  o  levantamento  de  planta  ou  plantas  descripti- 
vas  da  Citania  e  do  Sabroso. 

Avelino  Guimarães. 


Sendo  discutida  e  approvada  esta  proposta,  o  mesmo  snr. 
presidente  apresentou  um  projecto  de  representação,  que  foi 
unanimemente  approvado. 


Na  sessão  de  1  d'agosto  leu-se  um  oíTicio  do  snr.  ministro 
das  obras  publicas,  coramunicando  que  fora  deferida  a  prelen- 
fão  da  Sociedade,  e  ordenado  o  levantamento  das  plantas  da 
Citania  e  do  Sabroso;  e  outro  do  snr.  vice-presidente  da  ca- 
mará municipal  d'este  concelho,  commimicando  que  a  camará 
deferira  a  representação  para  se  organisar  uma  missão  esco- 
lar;  que  para  esse  fim  ficava  votada  a  verba  de  U)0f5000  reis, 
que  deve  entrar  no  futuro  orçamento  ;  que  a  missão  lerá  logar 


214 


nas  freguezias  de  Castellões  e  Aroza,  durante  os  mezes  de  in- 
verno, ficando  incumbida  a  Sociedade  da  sua  organisação. 

A  direcção  congratulou-se  com  o  resultado  d'estas  duas  re- 
presentações, e  resolveu  agradecer  ao  nobre  ministro  das* obras 
publicas  e  á  exc."'^  camará  municipal  d'este  concelho. 


Pelo  snr.  presidente  foi  communicado  que  o  engenheiro 
já  incumbido  das  plantas  da  Citania  e  do  Sabroso  é  o  illustre 
africanista  snr.  Álvaro  de  Castellões ;  e  que  o  snr.  dr.  Sarmen- 
to puzera  á  sua  disposição  a  sua  casa  da  Ponte,  junto  á  Cita- 
nia. S.  exc*  deu  também  a  satisfatória  noticia  da  terminação 
do  estado  da  assustadora  e  dolorosa  enfermidade  do  snr.  dr. 
Sarmento,  que  se  acha,  felizmente,  já  em  convalescença. 


Pelo  mesmo  snr.  presidente  foi  proposto  sócio  o  snr.  dr. 
Alberto  Osório  de  Castro,  de  Mangualde,  que  foi  admittido  por 
unanimidade. 

* 

Pelo  snr.  presidente  foi  ponderado,  que  tendo  a  camará 
deferido  á  organisação  d'uma  missão  escolar  e  escolhido  acer- 
tadamente para  esta  primeira  tentativa  as  freguezias  de  Aroza 
e  Castellões,  as  mais  afastadas  e  montanhosas  do  concelho,  e 
sendo  a  direcção  incumbida  da  sua  organisação,  entendia  in- 
dispensável pedir  a  coadjuvação  não  só  do  proponente  das 
missões,  o  snr.  abbade  de  Villa  Nova  de  Sande,  mas  ainda  de 
outras  pessoas  com  relações  de  influencia  n'aquelle  local: 
propunha,  pois,  se  solicitasse  a  coadjuvação  da  seguinte  com- 
missão  de  consócios :  snrs.  Francisco  Ribeiro  Martins  da  Costa, 
Domingos  José  de  Sousa  Júnior  e  abbade  João  Cândido  da 
Silva. 

Foi  approvado. 

* 


Pelas  informações  por  mim  prestadas,  quanto  á  escola  mi- 
litar infantil,  foi  resolvido  que  se  abrisse  um  período  de  fe- 
rias, durante  o  mez  corrente  e  o  de  setembro. 


215 


Na  sessão  de  Í2  d'agosto  foram  propostos  para  sócios, 
sendo  admittidos  por  unanimidade  os  seguintes  snrs. :  António 
Baptista  Leite  de  Faria,  de  S.  Pedro  de  Azurem,  por  proposta 
do  snr.  dr.  António  Augusto  de  Freitas ;  José  Justino  d'Almeida 
Teixeira,  da  cidade  de  Lisboa,  por  proposta  do  snr.  Gaspar 
Paúi;  Manoel  Fernandes  Guimarães,  por  proposta  do  snr.  pre- 
sidente. 


# 


Na  sessão  de  1  de  setembro  foi  apresentada  a  relação  de 
Diferias  de  livros  para  a  bibliolheca. 

« 

Em  sessão  de  15  de  setembro  foi  incumbido  o  snr.  dr. 
Caetano  Mendes  Ribeiro  de  dar  um  parecer  acerca  do  supple- 
mento  ao  catalogo  da  bibliotheca. 

O  snr.  Simão  Eduardo  Alves  Neves  propôz  para  sócio  o 
snr.  Francisco  Dias  de  Castro,  negociante  n*esta  cidade ;  e  o 
snr.  Gaspar  Paul  propôz  também  para  sócio  o  snr.  dr.  Ilde- 
fonso Marques  Mano,  professor  no  lyceu  de  Aveiro. 

Foram  admittidos  por  unanimidade. 


Em  sessão  extraordinária  de  19  de  setembro  foi  noticiado 
pelo  snr.  Simão  Neves  que  se  andava  já  procedendo  ao  inven- 
tario do  mobiliário  do  extincto  convento  de  Santa  Clara  d'esla 
cidade,  e  lembrava  a  conveniência  de  se  representar,  pedindo 
os  objectos  d'arte  archeologica  alli  existentes,  para  o  museu 
da  Sociedade.  Resolveu-se  representar  e  o  snr.  presidente 
apresentou  o  seguinte  projecto  de  representação,  que  foi  ap- 
provado : 

Senhor.  — Diz  a  Sociedade  Martins  Sarmento,  da  chiado  do  Gui- 
marães, que  supprimindo-se,  pelo  falleclnieiito  da  ultima  freira,  o  ron- 
vento  de  Santa  Clara,  d'esta  mesma  cidade,  estão  sendo  iiiveiiiaii.idos 
para  a  Fazenda  Nacional  todos  os  objectos  moveis  n't'II()  existentes. 
Entre  elles  coraprehendem-se  objectos  de  archeoionia  arlistica.  K  cdinu 
a  supplieante  possue  os  museus  de  arclieologiae  numismática,  annexos 
á  sua  bibliotheca,  e  procede  á  construccão  dispendiosa  do  novas  galo- 


216 


rias  para  sua  melhor  installação,  pretende  que  Vossa  Magestade  se  di- 
gne conceder  à  supplicantea  quelles  objectos  d'arte  e  archeologia,  li- 
vros e  manuscriptos,  para  incremento  do  referido  museu  e  bibliothe- 
ca,  e  com  a  obrigação  de  restituição  ao  Estado  quando  o  mesmo  mu- 
seu e  bibliotheca  por  acaso  hajam  de  extinguir-se. 

Senhor  :  N'outros  paizes  criam-se  museus  provinciaes,  para  que 
pelo  menos  era  cada  região  se  guardem,  para  instrucção  do  povo,  os 
objectos  d'arte  antiga  ou  moderna  que  se  achem  dispersos  na  respe- 
ctiva província.  Se  não  ha  entre  nós  museus  regionaes,  ha  n'esta  ci- 
dade aquelle  museu,  devido  á  iniciativa  particular,  que  nenhuma  des- 
peza  tem  causado  ao  Estado,  e  está  prestando  a  este  concelho  e  aos 
habitantes  de  numerosos  concelhos  que  o  visitam,  relevante  serviço 
para  a  sua  instrucção  popular  i  é  pois  de  evidente  justiça  que  os  obje- 
ctos, existentes  em  instituições  d'esta  cidade,  de  valor  archeologico  e 
artístico,  se  não  distraiam  d'esta  povoação,  que  possue  o  seu  museu, 
e  onde  ha  uma  escola  industrial,  e  vai  haver  um  instituto  de  ensino  se- 
cundário, cujos  elementos  de  estudo  se  enriquecerão  com  o  incremento 
d'aquelle  museu. 

Por  isso  a  supplicante 


P.  a  Vossa  Magestade 
deferir. 

E.  R.  M.cê 


se  digne  deferir 


« 


N'este  trimestre  foram  feitas  oíTerlas  de  livros  para  a  bi- 
bliolheca  da  Sociedade  pelos  seguintes  snrs. : 

Lugan  &  Genelioux,  1  volume; 

Um  anonymo,  1  folheto; 

Companhia  do  Caminho  de  Ferro  de  Guimarães,  1  folheto; 

Empreza  da  Revista  dos  Lyceus,  a  mesma  revista; 

F.  A.  Martins  de  Carvalho,,  3  volumes; 

J.  B.  Ferreira  d'A]meida,  1  folheto; 

Visconde  de  Villarinho  de  S.  Romão,  1  volume; 

Associação  dos  Architectos  e  Archeologos  Portuguezes^  1  volume; 

Atheneu  Commereial  do  Porto,  1  folheto; 

João  António  d'AImeida,  i  folheto; 

Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa,  1  volume; 

Academia  Polytochnica  do  Porto,  2  volumes; 

P.  Laurel,  1  folheto; 

Caetano  Pinto,  1  volume  ; 

A.  M.  Seabra  d'Albuquerque,  2  volumes; 

Adolpho  Salazar,  5  volumes; 

Anonymo,  4  volume; 

Dr.  Agostinho  Souto,  131  volumes; 

Padre  António  Garcia,  2  volumes; 

Francisco  José  da  Silva  Guimarães,  5  volumes; 

Padre  Manoel  Vieira  Reis,  7  volumes; 

Bernardo  V.  Moreira  de  Sá,  1  volume. 


217 


« 


Receberam-se  também  offertas  dos  snrs.  José  António  Soa- 
res e  António  Ferreira  dos  Santos  para  os  museus  de  numis- 
mática e  archeologia. 

Em  nome  da  Sociedade  Martins  Sarmento  apresentamos 
a  todos  os  exc.^°^  offerentes  o  nosso  profundo  reconhecimento. 

Guimarães,  30  de  setembro  de  1891.. 


0  vice-secretario, 

Padre  Gaspar  da  Costa  Roriz. 


BALANCETES 


Movimento  da  caixa  em  julho  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior. 138^614 

Receita  d'este  mez 32^000       190^614 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 94^990 

Saldo 95^624       190^614 

Em  agosto  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior 95^624 

SAHIDA 

Despeza  d'este  mez 31^430 

Saldo 64^174         95^624 

Em  setembro  de  1891 

ENTRADA 

Saldo  anterior 64f|íl74 

Receita  d'este  mez 438^500       502^674 

SAmoA 

Despeza  d'este  mez 72^850 

Saldo 429^824        502^674 

O  thesoureiro, 

Simão  Eduardo  A.  Neves. 


RELAÇÃO  DOS  SÓCIOS 


DA 


SOCIEDADE   MARTINS  SARMENTO 


E      SUAS      RESIDÊNCIAS 


Sócios  honorários 

Alberto  (Dr.)  da  Cunha  Sampaio. 
António  Augusto  da  Silva  Cardoso. 
António  (D.)  da  Costa  —  Lisboa. 
Bernardino  (Dr.)  Machado  Guimarães  —  Lisboa. 
Bernardo  Moreira  de  Sá  —  Porlo. 
Francisco  (Dr.)  Martins  Sarmento. 
Francisco  Ribeiro  Martins  da  Costa. 
Guilherme  Aíílalo  —  Foz  do  Douro. 
Ignacio  (Dr.)  Teixeira  de  Menezes. 
lUydio  (Dr.)  Ayres  Pereira  do  Valie  —  Porto. 
João  (Dr.)  de  Deus  —  Lisboa. 

João  (Conselheiro)  Ferreira  Franco  Pinto  Castello  Branco  — Lis- 
boa. 
Joaquim  de  Vasconcellos  —  Porto. 
José  (Padre)  Joaquim  Gomes  —  Vizella. 
Lopo  (Conselheiro)  Vaz  de  Sampaio  e  Mello  — Lisboa. 


220 


Maria   (D.)    Alexandrina   Vieira    Marques  —  S.    Clemente    de 

Sande. 
Marlanno  (Conselheiro)  Cyrillo  de  Carvalho  —  Lisboa. 


Sócios  correspondentes 

Fortunato  (Padre)  Casimiro  da  Silveira  Gama  —  Fafe. 

João  (Dr.)  de  Vasconcellos  e  Menezes  —  Marco  de  Canavezes. 

Joaquim  (Padre)  Augusto  Pedrosa  — Santo  Thyrso. 

José  (Dr.)  de  Barros  da  Silva  Carneiro  —  Marco  de  Canavezes. 

José  Henrique  Pinheiro  —  Bragança. 


Sócios  effectivos 

Abilio  (Padre)  Augusto  de  Passos. 

Abilio  (Dr.)  da  Costa  Torres  —  Vizella. 

Adelaide  (D.)  Sophia  Moreira  Rodrigues  Leão  —  Porto. 

Adelaide  (D.)  Sophia  da  Silva  Monteiro. 

Adelaide  (D.)  Teixeira  de  Menezes. 

Adelino  (Dr.)  Adelio  Leão  da  Costa  —  Porto. 

Adolpho  Salazar. 

Albano  Bellino  —  Braga. 

Alberto  (Dr.)  Osório  de  Castro  —  Mangualde. 

Álvaro  da  Cunha  Berrance. 

Anna  (D.)  de  Barros  Mendonça  —  Celorico  de  Basto. 

Anthero  (Dr.)  Campos  da  Silva. 


Anton 
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Anton 
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Anton 
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Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 


o  (Dr.)  Arroyo  —  Lisboa. 

o  Augusto  da  Costa  Vaz  Vieira. 

o  (Dr.)  Augusto  de  Freitas. 

o  Augusto  da  Silva  Caldas. 

o  (Padre)  Augusto  da  Silva  Monteiro. 

o  Baptista  Leite  de  Faria  —  Coimbra. 

o  (Dr.)  Coelho  da  Motta  Prego. 

o  da  Costa  Guimarães. 

o  (Dr.)  de  Freitas  Ribeiro. 

o  (Padre)  Garcia  Guimarães. 

o  Guimarães. 

o  Joaquim  da  Costa  Guimarães. 

o  Joaquim  de  Meira. 

o  (Dr.)  José  da  Costa  Santos  —  Porto. 

o  José  da  Costa  Braga. 


221 


Anton 
AotOD 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 
Anton 


o  José  Fernandes. 

o  José  Ferreira  Caldas. 

o  José  Pinheiro. 

o  José  da  Silva  Basto. 

o  José  da  Silva  Ferreira. 

o  Leite  Fernandes  Proença  —  Felgueiras. 

o  (Dr.)  Manoel  Trigo. 

o  Maria  Rebello  de  Magalhães  —  Fafe. 

o  Martins  de  Queiroz. 

o  Mendes  Guimarães. 

o  Menezes  Areias. 

o  Peixoto  de  Mattos  Chaves. 

o  Pereira  da  Silva. 

o  dos  Santos  Leal. 

o  (Padre)  da  Silva  Ribeiro. 

o  (Padre)  Veiga. 

o  (Dr.)  Vieira  d'Andrade. 
Arthur  (Dr.)  Alberto  de  Campos  Henriques  —  Porto. 
Augusto  (Dr.)  Alfredo  de  Mattos  Chaves. 
Augusto  Leite  da  Silva  Guimarães  —  Porto. 
Augusto  Mendes  da  Cunha. 
Avelino  (Dr.)  Germano  da  Costa  Freitas. 
Avelino  (Dr.)  da  Silva  Guimarães. 
Avelino  de  Sousa  Guimarães  —  Porto. 
Barão  de  Pombeiro  de  Riba  Vizella. 
Baroneza  de  Pombeiro  de  Riba  Vizella. 
Bento  José  Leite. 

Bernardino  (Padre)  Fernandes  Ribeiro  de  Faria. 
Cândido  Ferreira. 
Caetano  (Dr.)  Mendes  Ribeiro. 
César  Augusto  de  Freitas — Taypas. 
Chrislina  (D.)  Martins  de  Queiroz  Montenegro. 
Conde  de  Lindoso. 
Conde  de  Marga  ri  de. 
Conde  de  S.  Bento  —  Santo  Thyrso. 
Condessa  de  Margaride. 
Christovão  (Dr.)  Augusto  Mendes  Leite. 
Delflna  (D.)  Emilia  Carneiro  Martins. 
Diniz  da  Costa  Santiago  —  Porto. 
Domingos  António  de  Freitas. 
Domingos  (Dr.)  de  Castro  Meirelles. 
Domingos  José  Ribeiro  Guimarães. 
Domingos  José  de  Sousa  Júnior. 


222 


Domingos  Leite  de  Castro. 

Domingos  Martins  Fernandes. 

Domingos  (Padre)  Ribeiro  Dias. 

Domingos  (Dr.)  de  Sousa  Júnior. 

Eduardo  Almeida. 

Eduardo  (Dr.)  de  Carvalho  —  Açores. 

Emilia  (D.)  Cliristina  de  Freitas  Aguiar  Vieira. 

Eugénio  (Padre)  da  Costa  Araújo  Motta. 

Ernesto  Francisco  d'Abreu. 

Felicidade  (D.)  Rosa  d'Araujo  Figueira  de  Sousa. 

Félix  António  Lopes  Guimarães. 

Fortunato  José  Marques  —  Santa  Leocadia  de  Briteiros. 

Francisco  Dias  de  Castro. 

Francisco  Gonçalves  Fernandes  Moreira. 

Francisco  Jacome. 

Francisco  Joaquim  Gomes  Santa  Cruz. 

Francisco  José  de  Carvalho  e  Oliveira  Júnior. 

Francisco  José  Leite  Lage  —  Fafe. 

Francisco  da  Silva  Monteiro. 

Gaspar  d'Almeida  Loureiro  Cardoso  Paul. 

Gaspar  (Padre)  da  Costa  Roriz. 

Gaspar  Ribeiro  da  Silva  Castro. 

Geraldo  (Dr.)  José  Coelho  Guimarães. 

Idalina  (D.)  Dias  de  Castro  Villaça. 

Ildefonso  (Dr.)  Marques  Mano  —  Aveiro. 

Jeronymo  (Dr.)  Pereira  Leite  de  Magalhães  e  Couto. 

Jeronymo  Peixoto  d'Abreu  Vieira. 

João  António  AíTonso  Barbosa. 

João  António  d'Almeida. 

João  (Abbade)  António  Vaz  da  Costa  Alves  —  S.  Romão  de  Me- 

sãofrio. 
João  Baptista  Pinto  da  Cunha. 
João  (Padre)  Cândido  da  Silva  —  Villa  Nova  de  Sande. 
João  Chrysostomo  —  Fafe. 
João  Coelho  da  Motta  Prego  —  Lisboa. 
João  (Commendador)  Dias  de  Castro. 
João  (Dr.)  Ferreira  da  Silva  Guimarães  —  Loulé. 
João  (Padre)  Gomes  d'01iveira  Guimarães  —  Tagilde. 
João  Joaquim  d'01iveira  Basto. 
João  Lopes  Cardoso  —  Ronfe. 
João  Lopes  Guimarães. 
João  Pinto  de  Queiroz. 
João  Ribeiro  Jorge. 


223 


João  (Dr.)  Ribeiro  da  Costa  Sampaio  Cardoso  — Braga 

João  (Dr.)  Ribeiro  Martins  da  Costa. 

Joaquim  (Dr.)  Fernandes  da  Silva  Ribeiro. 

Joaquim  (Padre)  Ferreira  de  Freitas. 

Joaquim  Ferreira  dos  Santos. 

Joaquim  Ignacio  d'Abreu  Vieira. 

Joaquim  (Dr.)  José  Gonçalves  Teixeira  de  Queiroz. 

Joaquim  (Dr.)  José  de  Meira. 

Joaquim  Martins  de  Macedo  e  Silva. 

Joaquim  Martins  d'01iveira  Gosta  —  Porto. 

José  do  Amaral  Ferreira. 

José  (Dr.)  Coelho  da  Motta  Prego  —  Lisboa. 

José  (Dr.)  da  Cunha  Sampaio. 

José  Ferreira  d'Abreu. 

José  Fernandes  da  Costa. 

José  (Dr.)  de  Freitas  Costa. 

José  Joaquim  da  Costa. 

José  Joaquim  d'01iveira. 

José  Justino  Almeida  Teixeira  —  Lisboa. 

José  Luiz  Ferreira. 

José  Maria  Martins  Ferreira. 

José  Martins  da  Costa. 

José  Martins  de  Queiroz. 

José  Mendes  da  Cunha. 

José  Miguel  da  Costa  Guimarães. 

José  Ribeiro  Martins  da  Costa. 

José  da  Silva  Basto  Guimarães. 

José  (Dr.)  da  Silva  Monteiro  —  Taboaço. 

Luiz  (Dr.)  Augusto  Vieira. 

Luiz  Dias  de  Castro. 

Luiz  (Commendador)  Martins  Pereira  de  Menezes  —  Marselha. 

Luiz  dos  Santos  Leal. 

Manoel  António  da  Silva  Villapa. 

Manoel  Augusto  de  Freitas  Aguiar. 

Manoel  Baptista  Sampaio. 

Manoel  de  Castro  Sampaio. 

Manoel  da  Costa  e  Silva  —  Taypas. 

Manoel  Fernandes  Guimarães  —  Gondomar. 

Manoel  Fernandes  da  Silva  Corrêa. 

Manoel  Joaquim  da  Cunha. 

Manoel  Joaquim  Marques  —  S.  Cláudio  do  Barco. 

Manoel  (Dr.)  Marinho  de  Castro  Falcão  —  Porto. 

Manoel  Pinheiro  Caldas  Guimarães. 


224 


Manoel  Victorino  da  Silva  Guimarães. 

Manoel  (Padre)  Vieira  Reis. 

Maria  (D.)  do  Carmo  Pinheiro  Osório  Sarmento  —  Lamego. 

Maria  (D.)  da  Conceição  Pereira  Forjaz  de  Menezes. 

Maria  (D.)  da  Gloria  de  Sousa  Bandeira. 

Maria  (D.)  Joaquina  de  Jesus  e  Castro. 

Maria  (D.)  Josephina  da  Costa  Freitas. 

Maria  (D.)  da  Madre  de  Deus  Aguiar  Martins  Sarmento. 

Maria  (D.)  da  Natividade   Meirelles  de   Campos   Henriques  — 

Porto. 
Maria  (D.)  Rita  de  Castro  Sampaio. 
Mathias  de  Castro  Leite. 
Pedro  Pereira  da  Silva  Guimarães. 
Quirino  da  Costa  Vaz  Vieira  —  S.  Paio  de  Yizella. 
Rodrigo  Augusto  Alves. 
Rodrigo  (Dr.)  de  Freitas  Araújo  Portugal. 
Rodrigo  de  Sousa  Macedo. 
Roque  (Padre)  Teixeira  d'Araujo  Pereira  —  S.  Cypriano  de  Ta- 

boadello. 
Serafim  Antunes  Rodrigues  Guimarães  —  Braga. 
Simão  Alves  d'Almeida  Araújo. 
Simão  Augusto  Alves  Neves. 
Simão  da  Costa  Guimarães. 
Sophia  (D.)  Virgínia  da  Costa  Freitas. 
Thereza  (D.)  Elvira  de  Magalhães  Brandão  Motta  Prego. 
Visconde  de  Paços  de  Nespereira. 
Visconde  de  Sendello. 
Viscondessa  de  Roriz  —  Porto. 


Sócios  fallecidos 

António  (Padre)  Affonso  de  Carvalho. 

António  Cândido  Augusto  Martins. 

António  (Commendador)  Fernandes  d'Araujo  Guimarães. 

António  (Padre)  José  Ferreira  Caldas. 

António  José  Pinto  Guimarães. 

António  Manoel  d'Almeida. 

Conde  de  Villa  Pouca  (sócio  honorário). 

Custodio  José  de  Freitas. 

Domingos  José  Ferreira  Júnior. 

Eugénio  da  Costa  Santos  Vaz  Vieira. 

Francisco  António  de  Sousa  da  Silveira. 


225 


Prancisco  (Comraendador)  José  da  Costa  Guimarães. 

Gualter  Martins  da  Gosta. 

João  de  Castro  Sampaio. 

João  Antunes  Guimarães  (sócio  honorário). 

João  Pereira  da  Silva  Guimarães. 

Joaquim  Ribeiro  Gonçalves  Guimarães. 

Manoel  (Commendador)  da  Cunha   Guimarães  Ferreira   (sócio 

honorário). 
Manoel  Pereira  Guimarães. 
Manoel  Ribeiro  de  Faria. 
Rodrigo  (Dr.)  Teixeira  de  Menezes. 


8."  ÃXKo.  U 


índice  do  VIII  VOLUME 


1.»  numero  —Janeiro  de  1891 

Pag. 

Lusitanos,  Ligures  e  Celtas,  por  Francisco  Martins  Sarmento.  5 

Estudos  sobre  o  Turf,  por  J.  Martins  de  Queiroz 29 

Ctiimica  industrial  —  Galvanoplastia,  por  A.  de  Mattos  Chaves.  35 

A  collegiada  de  Guimarães,  pelo  Padre  Abilio  de  Passos 43 

Apontamentos  folkloricos,  por  Abilio  de  Magalhães  Brandão..  47 
Documentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães   52 

Instrueção  popular  —  Lei  de  1878 56 

Boletim,  por  Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul 60 

Balancetes,  por  Simão  da  Costa  Guimarães 64 


2."  numero  —  Abril  de  1891 

Alterações  e  falsificações  dos  alimentos,  por  A.  de  Mattos  Cha- 
ves    95 

Documentos  inéditos  dos  séculos  xn-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães   07 

Estudos  sobre  o  Turf,  por  J.  Martins  de  Queiroz 71 

Collegiada  de  Guimarães,  pelo  Padre  Abilio  do  Passos 78 

Subsídios  para  a  historia  das  industrias  vimaranenses,  por 

Avelino  da  Silva  Guimarães 90 

Instrueção  popular  —  Lei  de  1878 97 

Boletim,  por  Gaspar  L.  d'A.  C.  Paiíl 98 

Balancetes^  por  Simão  da  Costa  Guimarães 112 


228 


3."  numero  —  Julho  de  1891 


Catalogo  das  moedas  e  medalhas  portuguezas,  por  J.  de  Frei- 
tas Costa 

Alterações  e  falsificações  dos  alimentos,  por  A.  de  Mattos  Cha- 
ves  

Privilégios  das  Taboas  Vermelhas,  pelo  Padre  Abilio  de  Passos 

Documentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães   

Folklore,  por  Abilio  de  Magalhães  Brandão 

Subsídios  para  a  historia  das  industrias  vimaranenses,  por 
Avelino  da  Silva  Guimarães 

Instrucção  popular  —  Lei  de  i878 

Boletim,  por  Gaspar  L.  d'A.  C.  Paul 

Balancetes,  por  Simão  Alves  Neves 


4.0  numero  —  Outubro  de  1891 


Capella  de  Santo  Estevão,  pelo  Padre  Abilio  de  Passos 

Sá  da  Bandeira  e  as  missões  religiosas,  por  Abel  Andrade... 

Catalogo  das  moedas  e  medalhas  portuguezas,  por  J.  de  Frei- 
tas Costa 

Questões  praticas  — Arrendamentos,  por  Avelino  da  Silva  Gui- 
marães   

Subsídios  para  a  historia  das  industrias  vimaranenses,  por 
Avelino  da  Silva  Guimarães 

Documentos  inéditos  dos  séculos  xii-xv,  por  Oliveira  Guima- 
rães  

Instrucção  popular  —  Lei  de  1878 

Boletim,  pelo  Padre  Gaspar  da  Costa  Roriz 

Balancetes,  por  Simão  Alves  JNeves 

Relação  dos  sócios 


Reyista  tle  Coimbi-a,  publicação  quinzenal  de  sciencias 
sociaese  jurisprudência. 

Anno ^.ç.ç^ 

Semestre [^;]JJ] 

^i^\*^*V"    *^'^   ^*,*^*^   «lo^LaviVitloVes  tio  »oiiio. 

Redacção,  rua  do  Caivano,  70  —  Porto.  Numero  avulso. . .  40 

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ris. Preços  para  Portugal :  três  mezes,  4  francos  e  50 ;  «eis  rneze'*? 
8  trancos;  um  anno,  14  francos.  Esta  revista  dá  aos  a^i^^nantès 
d  um  anno  um  volume  de  3  francos  e  50;  aos  de  seis  mezes  um  vo- 
lume de  2  francos,  e  aos  de  ires  mezes  um  volume  de  1  franco  á 
escolha  em  todas  as  livrarias.  Além  d'isso  dá  a  todos  os  h-us  a^'<i- 
gnantes,  como  brinde,  um  esplendido  retrato  a  óleo  e  a  c-ida  as^i- 
gnante  o  seu  retrato  pliotographado. 
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mensal  da  Associação  dos  engenheiros  civis  portuguezes. 

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A   Imprensa,  revista  scientifica.  litteraria  e  artística  de  Lis- 
boa. Publicação  quinzenal.  Director.  AlTonso  Vargas.  IJsbua,  cada 
numero  30  reis,  pagos  á  entrega.  Provindas  e  ilhas,  trimestre  ou  6 

números,  200  reis.  Xumero  avulso.. iO 

Coimbra,   ]>j:eclica,  revista  quinzenal  de  medi<»ina  e  cirursria. 

Director,  dr.  Augusto  Rocha.  Portugal  e  Hespanha,  anno.       2^'U)0 

O  Ir»i-og-í-esii!-!o  Catliolico,  publicação  quinzenal  illustrada, 

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2.*  edição,  illustrada  com  magnificas  gravuras  e  chromulythogra- 
phias,  revista  e  melhorada  pelo  auctor.  Editor,  Augusto  Leite  da 

Silva  Guimarães  —  Porto.  Cada  fascículo 200  ' 

Boletim  de  Pliarmaeia  do  Foi-to.  Director,  J.  P.  d'Al- 

meida  Brandão.  Anno láOOO 

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boa. Directores,  F.  Simões  Margiochi  e  Paulo  de  Moraes, 

Anno , 25(X)0 

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trica.  Director-proprietario,  José  Bernardo  Birra.  Anno láoOO 

Quitei-iade,  ou  Columbino  interamnense.  Poema.  Gostai  Silva, 
Porto,  editores. 

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Reviwta  dos  Lyceus.  Director,  M.  Borges  Grainha. 

Anno  ou  12  números. 25000 

Camòeis»,'    os    X^u.<siadas    e    a    K,eii:is<*eiiva    em. 

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Flag-ollos  da  videií-a,  pelo  Visconde  de  Villarinlio  de  S. 

Uomão.  1  grosso  volume,  illiistrado h3200 

Boletim    do   Atlieiioa    Commereial    do    l*oi-to. 

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o  Ensino,  revista  pedagógica,  quinzenal,  de  Lisboa.  Director, 
Tiíeophilo  Ferreira. 

Anno 1^200 

Semestre 600 

A.  "Vinha  Portugneza,  revista  mensal  de  Lisboa.  Director, 
F.  d'Almeida  e  Brito. 

Anno 25000 

Instituições  Christãs,  revista  quinzenal  de  Coimbra,  re- 
ligiosa, scientifica  e  litterària.  Orgào  da  Academia  de  S.  Thomaz 

d'Aquino.  Seis  mezes dj|1200 

A.  «Jornada,  revista  mensal  de  Barcellos. 

Anno 600 

Semestre 350 

Xtevista  jntiicial  e  administrativa,  revista  por- 
tuense, dirigida  por  Augusto  d'OIiveira. 

Anno 23000 

"Etevista  <los  Tril>vinaes,  publicação  quinzenal  do  Porto. 
Redactores  e  proprietários,  Augusto  Maria  de  Castro  e  António  Fer- 
reira Augusto.  Anno,  franco  de  porte 3^000 

Semestre,  franco  de  porte IjSSOO 

IVovo  ]>JLensageiro  cio  Coração  cie  «Tesas,  pu- 
blicação mensal  lisbonense,  órgão  do  Apostolado  da  Oração,  Liga 
do  Coração  de  Jesus  e  da  Communhão  Reparadora.  —  Portugal, 

anno láOOO 

O  ISecreio,  revista  semanal,  litterària  e  charadistica,  de  Lisboa. 

Lisboa,  cada  numero 270 

Províncias,  semestre 580 

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tórico e  de  economia  rural),  por  Alberto  Sampaio.  Preço.. .        350 
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'  !Revista  das  Sciencias  M!ilitares,  publicação  men- 
sal lisbonense.  Director,  J.  Renato  Baptista,  capitão  de  engenheria. 

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órgão  dos  trabalhos  da  Sociedade  Carlos  Ribeiro.  Publica-se  quatro 

vezes  por  anno,  em  fascículos  de  48  pag.,  8."  —  Anno Iiíi200 

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Marques  Loureiro.  Redactor,  Eduardo  Sequeira.  Anno 2iâ250 

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O   Charivari,  revista  humorística  do  Porto. 

Série  de  12  números 240 

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Os   A.rgronautas,   subsídios  para  a  antiga  historia  do  Occi- 

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Revista  de  Educação  e  Ensino,  publicação  mensal 
de  Lisboa.  Director,  Ferreira  Deusdadó.  Preço : 

Anno 25000 

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