This is a digital copy of a book that was preserved for generations on library shelves before it was carefully scanned by Google as part of a project
to make the world's books discoverable online.
It has survived long enough for the copyright to expire and the book to enter the public domain. A public domain book is one that was never subject
to copyright or whose legal copyright term has expired. Whether a book is in the public domain may vary country to country. Public domain books
are our gateways to the past, representing a wealth of history, culture and knowledge that's often difficult to discover.
Marks, notations and other marginalia present in the original volume will appear in this file - a reminder of this book's long journey from the
publisher to a library and finally to you.
Usage guidelines
Google is proud to partner with libraries to digitize public domain materiais and make them widely accessible. Public domain books belong to the
public and we are merely their custodians. Nevertheless, this work is expensive, so in order to keep providing this resource, we have taken steps to
prevent abuse by commercial parties, including placing technical restrictions on automated querying.
We also ask that you:
+ Make non-commercial use of the files We designed Google Book Search for use by individuais, and we request that you use these files for
personal, non-commercial purposes.
+ Refrainfrom automated querying Do not send automated queries of any sort to Google's system: If you are conducting research on machine
translation, optical character recognition or other áreas where access to a large amount of text is helpful, please contact us. We encourage the
use of public domain materiais for these purposes and may be able to help.
+ Maintain attribution The Google "watermark" you see on each file is essential for informing people about this project and helping them find
additional materiais through Google Book Search. Please do not remove it.
+ Keep it legal Whatever your use, remember that you are responsible for ensuring that what you are doing is legal. Do not assume that just
because we believe a book is in the public domain for users in the United States, that the work is also in the public domain for users in other
countries. Whether a book is still in copyright varies from country to country, and we can't offer guidance on whether any specific use of
any specific book is allowed. Please do not assume that a book's appearance in Google Book Search means it can be used in any manner
any where in the world. Copyright infringement liability can be quite severe.
About Google Book Search
Google's mission is to organize the world's Information and to make it universally accessible and useful. Google Book Search helps readers
discover the world's books while helping authors and publishers reach new audiences. You can search through the full text of this book on the web
at|http : //books . google . com/
Esta é uma cópia digital de um livro que foi preservado por gerações em prateleiras de bibliotecas até ser cuidadosamente digitalizado
pelo Google, como parte de um projeto que visa disponibilizar livros do mundo todo na Internet.
O livro sobreviveu tempo suficiente para que os direitos autorais expirassem e ele se tornasse então parte do domínio público. Um livro
de domínio público é aquele que nunca esteve sujeito a direitos autorais ou cujos direitos autorais expiraram. A condição de domínio
público de um livro pode variar de país para país. Os livros de domínio público são as nossas portas de acesso ao passado e representam
uma grande riqueza histórica, cultural e de conhecimentos, normalmente difíceis de serem descobertos.
As marcas, observações e outras notas nas margens do volume original aparecerão neste arquivo um reflexo da longa jornada pela qual
o livro passou: do editor à biblioteca, e finalmente até você.
Diretrizes de uso
O Google se orgulha de realizar parcerias com bibliotecas para digitalizar materiais de domínio público e torná-los amplamente acessíveis.
Os livros de domínio público pertencem ao público, e nós meramente os preservamos. No entanto, esse trabalho é dispendioso; sendo
assim, para continuar a oferecer este recurso, formulamos algumas etapas visando evitar o abuso por partes comerciais, incluindo o
estabelecimento de restrições técnicas nas consultas automatizadas.
Pedimos que você:
• Faça somente uso não comercial dos arquivos.
A Pesquisa de Livros do Google foi projetada para o uso individual, e nós solicitamos que você use estes arquivos para fins
pessoais e não comerciais.
• Evite consultas automatizadas.
Não envie consultas automatizadas de qualquer espécie ao sistema do Google. Se você estiver realizando pesquisas sobre tradução
automática, reconhecimento ótico de caracteres ou outras áreas para as quais o acesso a uma grande quantidade de texto for útil,
entre em contato conosco. Incentivamos o uso de materiais de domínio público para esses fins e talvez possamos ajudar.
• Mantenha a atribuição.
A "marca dágua" que você vê em cada um dos arquivos é essencial para informar as pessoas sobre este projeto e ajudá-las a
encontrar outros materiais através da Pesquisa de Livros do Google. Não a remova.
• Mantenha os padrões legais.
Independentemente do que você usar, tenha em mente que é responsável por garantir que o que está fazendo esteja dentro da lei.
Não presuma que, só porque acreditamos que um livro é de domínio público para os usuários dos Estados Unidos, a obra será de
domínio público para usuários de outros países. A condição dos direitos autorais de um livro varia de país para país, e nós não
podemos oferecer orientação sobre a permissão ou não de determinado uso de um livro em específico. Lembramos que o fato de
o livro aparecer na Pesquisa de Livros do Google não significa que ele pode ser usado de qualquer maneira em qualquer lugar do
mundo. As consequências pela violação de direitos autorais podem ser graves.
Sobre a Pesquisa de Livros do Google
A missão do Google é organizar as informações de todo o mundo e torná-las úteis e acessíveis. A Pesquisa de Livros do Google ajuda
os leitores a descobrir livros do mundo todo ao mesmo tempo em que ajuda os autores e editores a alcançar novos públicos. Você pode
pesquisar o texto integral deste livro na web, em http://books.google.coin/
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO
TERCEIRA SERIE.
TOMO XTIII.
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPUIGO DO BRAZIL
FCNOADO NO RIO DE JANEIRO
DBBAIXO DA IHMEDIATA PROTECÇÃO DE S. H. i.
O SKNHOR D. PEDRO II.
IIoc facit ut loufn* durcnt Itenc g«tl> per aunoi
líl potsiiit ipri posteriute frui.
TOMO XVIII
4 TOMO V DA TBRCXIBA «EBIE.)
BIO DB JAITBIUO
ITPOGBAPHIA UNIVERSAL DE LAEMMERT
Rua dos Inválidos, 61 B.
1855
3228 1 I
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHIGO DO MAZIÍ.
3/ SERIE. — N.« 17. — 1." TIUMESTRE DE 1855. *•>;/.
AHiZOHAS.
A nossa historia não resolveu ainda , nem mesmo tem tratado com
seriedade de saber si em algum tempo existiram amazonas no Brazil.
Este ponto pode ser ventilado pela critica; para o tentar, foi-mo
preeiso eomparar os historiadores, confrontar as relações dos viajan-
tes anúgos e iDodemos, quer citando-os» quer extractando-os. D'eIIcs,
portanto, é o presente trabalho , que a minha tarefa so foi de com-
bina-los.
N8o pretendo, pois, senão apresentar um esboço, imperfeito, sem
duvida, do que a tal respeito se tem escriplo; e si a este resumo
honter de aecrescentar algumas observações , ou de aventar alguma
opinião, que me seja própria, tanto folgarei de que aquellas possam
parecer judiciosas, como que esta não seja inteiramente inverosimil.
; AMAZONAS
:'*•%*' 14 de Dezembro de 1853.
• • -
\^ $í existiram amazonas no Brazil? — Si existiram,.
./qi^es os testemunhos de sua existência ; quaes seus
*'*tçôstumes , usanças e crenças? — Si se assemelhavam
... V*ou indicavam originarem-se das amazonas da Scythia
.**\ e Lybia» — e quaes os motivos do seu rápido desappa-
recimento? Si não existiram, que motivos tiveram
Orellana e Christovão da Cunha, seu fiador, para nos
asseverarem a sua existência? »
A simples leitura do programma, que deixo transcripto, em cujo
desenvolvimento me cabe agora a honra de occupar a attenção d'este
instituto; indica, no meu entender, que se dá como certo, ou pelo
menos como presumivel , a existência de amazonas na Scythia e na
Lybia ; e ainda mais, parece que se admitte não so a probabilidade
da sua existência, como a possibilidade de virem de paizes tão remo-
tos implantar na America seus usos, costumes e forma de governo,
estabelecendo, em vez de colónias, gynecôos politicos.
Ora, admitlido que em algum paiz ou tempo se tivesse dado a
existência de uma republica, exclusivamente composta de mulheres,
que tivessem achado meios de se conservar e -progredir sem que as
fatigasse o exercício das armas, nem o estado violento em que se
achariam collocadas, ja meio resolvido estaria o programma ; porque,
supposto haja um grande intervallo a percorrer-se entre a possibili-
dade e a effeclividade ou realidade de um facto, neste caso comtudo
ficariam previamente regeitados muitos e os mais fortes dos argu-
mentos em que a opinião contraria se baseia.
£!sta consideri{lio me loduz ã dar uma nova collocaçao ââ proposí^
çõas do programma sobre que me cabo dissertar. Tralarel pois em
primeiro lugar d^s «^imazoms áo velho inundo, e do quQ a seu res-
peito pensaram ou acreditaram os antigos; e occypar-m6-bdi depois
pom as que alguns descobridores suppoieram ler tmcon trado na
America. Nem dei^iarei em silencio as rabões e autoridades com
que uns o outros argumentam; poque, ^upposto nao cheguem a
(^[abelecer irrecusavelmente o facto , servirá isso coro tudo para justi -
fiear o programma.
Assim i]ue, não oecullo o meu pensamento* Creio que alguns
haverá iotima epor assim dizer insUncUvamonte eonvencidos de quo
o desenvdvimenlo do presente programma n5o poderá trazer em
resuhado mais do que uma dissertação, que seria, ainda tratadn por
outros, quando muito, curiosa. Para estes pois não eatandu que
seja desnecessária a citação do autores» que são reputados lidedi<|no^^
de viajantes que {>assam por verídicos, e a apresentação de provas,
quo« H não sào concludentes, bastam, em Uklo ocaso, para demons*
Irar a necessidade de um exame $obre eite ponto^ mais serio do que
á primeira vista se poderia pensar,
O rãâumo doestas provas apresí^^iHji-a* como um todo^ que n3o é
indigno do attençào.
Colombo levo noticia nas Antilhas da existência das amazonas,
liálegh a espalhou na fiiglaterra, Orellana na Hespanba : diz-se qual
era a nação com qu6m ellas tratavam, e de que tribu descendiam.
Ilernando Ribera ouviít-ono Para^uay, Ln Condamine nu Amazonas,
emquanto Bi beiro que linpugnava a veracidade ã<^ facto verillcou a
ejiistancia da tradiçio com o testemunfio dos próprios indig^nas*
Ilumboldl mesmo» á vista do tantas provas, não se recusa a admittir a
sua eiiitonciaf ainda que so temporariamente ede cerlo modo*
Estas pmvas adunam-se o precipitam-se, como que se queira com
a agglomeraçãó de todas ellas disfarçar a fraqueza de cada uma de
per si; mas ainda assim uma consideração de aígum modo as corro-
bora. Do dons únicos autores sei que especialmente seoccuparam
d^ÊSte assumpto ; é um d'etles Pedro Petlt na sua obra DUstriatto de
8
ÀmazmibuSf e o segundo o abbade Guyon na sua BisMre des
Amazones anciennes et modtrnes, — e ambos conciliem que existiram
aBfiazonas. Todavia , seria esta consideração de mais peso, si nSo
soubéssemos a inclinação que mostram os eruditos para sustentarem
paradoxos, aproveitando-se para isso das obscoridadee e discrepâncias
que de necessidade se notam nas obras de homens, que escreveram
em tempos o lugares diversos, sob a influencia de idéasoppostas, e
sobre assumptos difTerentes. Si bem lhes parecer, virão graven^ente
apresentar-nos testemunhos o provas do maior momento, susten-
tando, no seu desenvolvimento, que Napoleát é um miibo da anti-
guidade e a republica das Amazonas um facto dos tempos modernos.
' Porém ainda mesmo depois da autoridade d'estes eruditos , será
curioso de nolar-se que assim como bastou entre os romanos para
transmittir o nome das anaozonas até ao tempo de Âugusto^ a segure
de um só fio, opposla á bipenne, que tinha dous, e que se chamava
Ámazanica {Âmaxonia securi, diz Horácio) (1); tenha a mesma
tradição, quando nSo existisse o rio de igual nomo, de ser perpe-
tuada entre os modernos pela pedra de acha Beilstein^ que por algum
tempo se confundiu com a que é conhecida pela denominação, mais
significativa para o caso, de Àmaxonenstein ou de pedra das
' amazonas.
Originou-se esta opiniSo da poesia, introduziu-se no vulgo pelo
amor do maravilhoso, — os historiadores^ si a nSo improvisaram,
aeeitaram-na sem critério; e foi, como muitas outras, recebida nos
tempos modernos como um deposito venerando pela sua antiguidade,
e talvez só dignotde fé pelos idiomas em que nos foi transmittida.
Quasi três séculos antes da nossa éra, Apollonio cantava a expe-
dição dos argonautas. Este feito, que os gregos reputaram heróico e
de um esforço quasi divino, era apezar d'isso mal escolhido assumpto
para a acção de um poema épico por ser para ella , como todas as
navegações, dó uma extrema e extreme simplicidade. Das costas da
Tbessalia ao Ponto Euxino não era muito dilatada a viagem: seriam
(1) Horau Uf. à. Od. h.
tarOs os incidentes, e não tao grandes e tantos os perigos, que com
«lies se pudesse , ou encher o quadro do poema, ou justificar a gbria
e veneração de que entre os antigos fruiam os argonautas. Apollonio
teve de recorrer ao maravilhoso e do sobrecarregar o seu poema de
episódios: para isso povoou a terra de gigantes ferozes, e de peri-
gosas feiticeiras, — encheu o mar de escolhos temerosíssimos, c
valeu -se 'da tradição das amazonas, que na ilha de Lenmos appare-
cem tfio fora do caracter que se lhes attribuo, e táo tractaveis aos
navegantes do Argos coroo as habitantes das ilhas dos Amores aos
companheiros do Gan»a.
Eis o que se ló no primeiro dos quatro cnnlos da expedição dos
argonautas on a conquista do Tosáo de Ouro do Apollonio: (1)
cc Sobre a manhãa descobrimos o monte Athos. Bem que
aíTastado da ilha de Lemnos o caminho que podo fazer um navio
ligeiro desde o romper do sol ató ao meio dia , todavia a sombra do
seu píncaro cobre uma parte da ilha , e se projecta até a cidade de
Meryna. O vento que linha soprado lodo o dia o a noite seí,'iíinie ,
escasseou ao romper do sol. Chegaram á força de remos á ilha de
Lemnos, habitação dos antigos Sintios.
« Ali tinham perecido miseravelmente todos os homens no anno
precedente, victimas do furor das mulheres. Muito tempo havia que
ellas não apresentavam ofTerenda alguma a Vénus. A deosa irritada as
lornou aborrecidas a seus maridos, que, abandonando-as, procura-
ram novos prazeres nos braços das escravas que captivavam , disso-
lando a Thracia. Mas« que attentados nos não conduz o ciúme? As
mulheres de Lemnos assassinaram na mesma noite a seus maridos e
rivaeSy e exterminaram até o ultimo dos varões para que nenhum
sobrevivesse que algum dia lhes podesso impor o castigo merecido
pelo seudelicto. Hypsípyla só, a filha do rei Thoas, poupou o sangue
de seu pai, ja maduro em annos. Fechou-o em um cofre, e abando-
nou-o assim á merco das ondas, na esperança de que algum feliz
acaso lhe salvasse a vida. E assim aconteceu de feito. Viram-no
(1) Apolloiiio. C 1. Trad. de Caassin.
xfni 3
10
alguns pescadores e o recolheram na ilha OEnoi^ chamada depoai
5icnittf , do nome de um filho qiio Tboas leve da nyiaptMb OEnoS*
uma das nayades.
(( As mulheres do Leronos , quando se Tiram as unicae babitantei
da ilha » abandonaram as obras de Minerva , de qoe até então ao
linham exclusivamente oocupado, e sem difficoldade seaeosiomaram
a manejar as armas, a guardar rebanhos, e a lavrar a terra. Gomtudo
voltavam sempre para o mar os olhos inquietos» temendo de continua
que os ihracios as acoromettessem. •
Seguiram-se a Apollonio outros poetas que, aproveitaodo^se da
mesma tradiçSo, tiveram comtudo de a reduzir ás proporções da
verosimilhança. Ninguém ha versado nas litteraturas latina e italiana^
que não conheça os nomes de Gamilla e de Clorínda ; mas , nem
mesmo no cantar dos poetas, Camilla ou Clorinda eram verdadeiras
amazonas. Tornadas taes por circumslancias extraordinárias, queaa
deverão ter aíTaslado das occupações pacificas e dos hábitos sedenta-
rios e naturalmente compassivos do seu sexo, e apezar de terem no
caracter alguma cousa de fero e sanguinário que o encanto da poesia
de tão grandes mestres n«io disforça inteiramente, nem uma, nem
outra, comtudo poderiam sympathisar com a selvagem ferocidade das
mulheres amazonas da Thracia, que começando peta própria mutila-
çSò, rematavam pelo homicidio constante e systhemalico da metade
da espécie humana. Camilla, rainha dos volscos, commandava uma
ala do exercito latino, cercada de mulheres, que eram seu braço na
acção, e sua alma nos conselhos. VirginU ala Camilwy diz-nos
Virgifio. E Clorinda , única e solitária no exercito dos serracenos
demonstrava que nSo era naquelle lugar senão uma figura excepcio-
nal pela singularidade, como era entre as do seu sexo pelo theor da
vida. Os creadoresde tão poéticas imagens tiveram de nos explicar
longamente o motivo porque taes seres se achavam como collocados
fora das leis da natureza, e dos hábitos dos povos com os (}uaes con-
viviam. Camilla educada na dura escola da adversidade e da imperiosa
necessidade,^ Clorinda amamentada por feras, tonge do commercb
humano.
11
Assim qiiô «â [>roporçõeâ da bbtifa «o iâm reduxinda m (Misâtique
minguava a crodulídfide humana. No poela grego as amazonas com-
ptinham timã cidndet no latino uma ab do eiercito, no iiatiano nâa
pianváníi da unídado,
i lodjivia notável que ao passo em quo os pootas por amor da lei
dft virosjmitbançã m viam constrangidos a cercear a lala dos seus
quadros, o§ seguiseem bem de perto o^ liialoriadores» que* sem res-
peiío á etílica , sem amor á verdade os ampliassem e exagerassem»
adinillíndo nas lições sôv^ras da historia i»s ficções caprichosaa da
imaginação. Termas Theopompo para Âpollonbp Justino para Vírgi*
lio« Silvio ^neas para Tasso.
A seu lômpo t>os oceu premes d*eâte!t autores ; por agora cabe^nos
t%p6f o quo áeerca da$ amazonas pensaram oi untigos.
Começo por dar a devida preferencia ás letras sagradas, A historia
antiga nos offereee um eiiemplo notâvol da extincçáo do ramo mas-
eutino em todo um povo. Lemos no Excedo (1)^ que Pharaó irritado
com B retirada de Moysás a dos israelitas ^« tomara eomsigo todo o
teu povo para os perseguir, e que na passagem do Mar Vermelho,
lis aguas ^ divididos pela víira de Ifoysés, tornaram se a ajuntar sobro
o exercito de Wiaraó, e, diz o historiador sagrado — $ém que (fdks
ucapnstc mm §§ qutr ttm*
Alguns escriplores menos reflectidos, oti querendo conciliar a
lota! destruição do exarcit^^ de IHtaraó corn a persistência da raça
egypela, tomaram doeste facto occasifo para improvisarem um reinado
de mnlberes que, st nlo eram verdadeiras amazonas » nem por isso
seriam menos dignas da attençâo dos InsloriadoreB; porque ^ si ó
pouco verosímil que um grande numero de mulheres se tenham
completamento segregado da convivçDCfa com os homens^ é ainda
menos verosimif, ou antes, maispasmoso que a energia viril se tenha
podido sugeitar ao império das mulheres- (t Quando estíis reinam,
diz um ^eriptor moderno^ os homens governam. » Seria pois hom
notável que todos os liomens se eurvassem , sem reluctanfía , como
(i) Cap« ii« r, a a SI.
sem resl^iMicii», «i servi-las, quamlt) cilas se lembrassem de irsurf^ar
o mnndo.
Diz-iios ()oi^ u paiirAj Atlianasio Kircher no seu Tratado (io$:
Reis do Egypto, ter extrahído de um escriptor árabe (Ben Lehiaja)
que de|)ois da submerí^ão de Pharaó e de todo o seu exercito no Mar
Vermelho y onde pereceram tudo quanto no Egypio havia de homens
illustres, príncipes e gràos senhores, não restando senão escravos e
libertos, reuniram-se as viuvas dos magnatas e escolheram para suo
rainha a uma litha de Zabu , de nome Dalíska, afamada por sua
|)rudencia e habilidade nos negócios, illustre por seu nascimento e
família , macrobria respeitável que já contava 160 annos de idade!
Algumas circumstancías , quanto a mim, escaparam a este autor:
em primeiro lugar que oseseisavos dos Egypcios eram os Israelitas, &
estes ha viâo acompanhado a Moysés; depois que um exercito se não
pode compor nem das crianças nem dos velhos, nem dos infermos,
de forma que,. ainda exiinctos lodos os guerreiros, sobrariam anciãos
para o governo, e haveria jovens para esperança do futuro.
Mais explícitos e noticiosos são os antigos escriptores gregos e lati-,
nos. Começamos por Justino , não porque lhe seja de\ida a prefe-
rencia em razão de antiguidade , nem porque o reputo autoridade
mais segura ; n)as porque sendo certo , como se tem escripto, e elle.
próprio o con fossa, quQ a sua obra não é senão um resumo dadeXro-
guo Pompeo, parece lambem fora de duvida pelas pacientes investi-
gações Ha critica que Troguo Pompeo, no trecho que vou citar de Jus-
tino, baseou se na autoridade de Theopompo : completando os dados
d'este historiador com os que lhe forneciam Heródoto, Ctesias e os
miiographos , veremos como Justino, ou quem quer que seja a quem.
cile reproduz, dá. largas á imaginação com a facilidade de quem se
iiáo sente tolhido pelas peias da versificação, nem da rythma, deixando,
muito alrás de si aos poetas no campo do improviso.
V Dous principes Scyihas Ylínos e Scolopito (*), expulsos da
pátria pela facção dos nobres, arrastaram comsigo graodQ^.
Ci) JusL HisU L.. 2 E. L
ifttim^fo ãú njurictílú» (An. Mim, 181)8} e i^e ('St^jLdecerâm nos
roíiluk^ ilij C:i[^{iiidocii» pertu do v\i^ Thúr mo Joule, sujoitaiido ê
ot:cii[Ki(ido m vin\\]mií T(iumi^i}'nos. Ali vivi^nnn por rnuttos atiuós
iiii cuâtutnd du di^prudamin os s6us viictnbos , nté que por fim morre-
ram iKis eiubfL^^adus qtie Iba^ arm^ir;in> os povos conspirados cootrii
iú\cs Sm^ mtiliitTo^ T vtuvus alem de exiladas , lorouin us armas ,
iJ(;kud@udo ao principio as suas fronteifAS t e logo depois alucando as
du eonlrarios; renunciam ao casamento rjue chamam úutes servidão
ijue niatrimoriio; — o ousando ura feiío sem exemplo tim íeculo
algum, consotidao sem homens a mn repultico, e delles se deíendem
ao passo que os desprezam. E para que umas tião parecessem mais
felÍ2i3sdo que ouiras, matam os poucos homem quo reslavam entre
olIaSi 8 logram vingar a morle dos cônjuges com a dos seus con tina a-
(es* Depois, quando com as armas já tinham conseguido pa^^ facilitam
»o$ viicirdioã os seus lei los.
« M alavam aos filhos varões (^ccrescerUít Justino] o as Olhas edu-
cavam a sou modo^ não no ócio o em oecupações mulheris; mas no
trafego das armas, dâ equitação e áii cara, — queimaado-lhes na
infância o peito direito para que tivessem mais facilidade na úm da
iâta, d onde lhes veio o nome de Amazoujis.
• Uouve entre elbs duas rainhas Marpczia e Lampedo« ãsquaes^
dividiriiio entre si a noçáo* que jii tinha crescido em forças» faziam
íilternadamente a guerra ; e basiava cada uma de per si para conier
úA adversários. l>Íziam-so descendoutes de Marte para realçar o merilo
ãtà suas vícioriâs com a autoridade da reíigiâo.
A Depois de subjugada a u)aíof parte da Europa, apoderaram-^
iBinbem de algumas cidades dMsía* Ali ediffcam E[dieso, e muitas
outras cidades o licenciam uma parto do seu exercito, quo volto para
a palria carregado de desp<qcs. A outra parle « que tinha ficado na
Ásia para defesa do suas conquistai, íoi anniquilada com a morte da
raiuta Marpezia por uma erupção de barbãroi<
« \ Marpezia succedeu no reino sua Olha Orithya » que com
stnijubres conhecimentos da guerra foi a admir3(;áodosea |ym[iíí [K>r
uma consiaute virgindade. Com o seu valor tanto se augmenlou ix
u
glorb e ê ímití das AmAZOfias , f)U6 o rei a quem llerctiles devia úúm
inbnlGSt Itie ardanou pr julga- b imfiowível , que lhe trouiesse ai
armas da raínli^ das Amazona» (A. M« 27^0)* Partiu Hercules oom
£1 Oor da mocidaile grega em nova navios» o lieu iii^peradamente
sobre aí Amit{onas« As duas irmãs Ântíope e OríUiya âs governavam
eotâõ ; mas Orilhya açii^va-se ausenta em uma étperlição, e Antiófm
á cdegada de Uarculeã linha poucas iropas , nem previa acommelti-
msnlo alguni, O inesperado do ataque, a excitação do iumulio eom
que correm áâ armas iproporeionaoi ao inimigo uma vielcria mal dis-
pulada. Morreram muilas, outras ficaram prisioneiras» o enlra esus
conlaram-seduas inníis de Anliope : Menalippe de Uercuies, e Hip-
polyiade Ttie^eo. lUmm tomou por mullier a sua capcira.a delia
tevo a llippolyto ; Uerculâs porem entregou á trmàa a que lhe tocara^
rec-ebendo-lbõ as armas por pre^ do resgate» e volluu cumprida a
sua missão*
M Apenas Orithya pabe da guorra feita a suas irmíís por um prín-
cipe Ãilieniense^ exKaria as suas companbeiras* lambrando-lhes
que debalde teriam subjugado o Pontú e Ásia, si o seu proprm
pai£ ainda m via exposto aos ataques e depredações dos Gregos.
Depois pede auxilio a Sagillo, rei da Scylhia* « Eram as Amazonas
descendeu les dos âeytlias (dt^ia ella) que a morte dosmnjuges e a
própria defesa haviam forçado a recorrerás armas com o valor acosiu*
mado das mulheres da Scythla. O rei movido pela gloria nacional
mandon-llie em auxilio Panaxagoras á írenie dê numerosa e^vallaria ;
mas anlesdã batalha, introduzlndo-se a discórdia nos doua exércitos,
as Amazonas soltram uma derrota pelo abandono dos seus ai liados ;
acham porem guarida em seus quíirleis^ e sob a sua piotec^So voltam
ã Sc^ihía^ sem receber damno das outras naçoes.
•i A Orilbja auccedâu Pentesílea (an. M. âSOO] que partindo
eiitrô vaknteB soldador em tuxilio de Tróia contra os gre§o«^^ deu ali
elariíísimos testemunhos do seu valor. Iloría cmfim Pentesílea e des-
troçado o sou Gf$êTCí\Q^ as (loueas amazonas que tinham ficado na
Scythia^ cheiram até ao (empo de Alexandre Magno, defendendo-se
com diOiculd^do úm viíiaiios. Minitbya ou Tallestris, sua rainha^
1&
fAttdve compartilhar por tre2e noiles o lm\ú d'tôld keróe orinl de ter
d*ellii tim Olho *, mm voltando ao seu rétiOf morreu poucd Icmpc de-
pois, ^ com elk se acjiloii o nome das amazonas* a
Citamos por extenso esta passagem da Joslleo; porque é nefla
que se funda e é essa que eiílracta om aiilor moderno, prociirondo
oom provar a eíxisleneta d'eslas cale bradas haroinflâ, Canserog âuior
beâpanhol, no s«d Diccionario dm mulheres itluitres pubUeadõ
em Madrid, ainda nâo ha úqz ânnos (em IK4I] cita e como que apoia
o autor do diecionario hislorico^ publicado em Barcelona em ÍMO^
qtie dá como multo provard t>0]e em dia a eiTâtencia das anin^tanas.
No entrelantOj do modo por qm se exprime aqtrelle autor, quando S6
ofcup» de tal afisumpío, sena antes de suppor, o para osta opinião
mo inclino, nâo queetie escreva serra mente; mas que por gracejo e
simulando uma seriedade de que está bem Ionize, dá mm o provado
aqtiilto em que nem ellecré^ nem com facilidode se pôde ãcreJitar,
procurando por esta Turma tornar verosímil a sua ihese^ com a nega-
ção de circumstancias curacieristreas , e invocando, como que lhe
fossem favoraveiSp autlior^ que intes o dosabonariam.
Tratarei de o demonstrar, eonfroniauda â opinião de Canaeco cãm
a de JuBtiniK
Independentt de consíderâçdaâ geraea com que a mú tempo pro-
curarei mostrar a inferosimilhança d'esta fabula, que muitos nao juf-
pm digtia do uma discussão serid, o autor latino retesta o facto dê
laes cireumstancioSt qtje o tomam por demais âusf)eito.
Em primeiro logar começa elie por dí^er-nos pouco antes do tre*
tho que citamos, que por espaço de 1$0() annos a Ásia pagara aos
scythas um trtbutOt qoe cessou no tompo de Nino» isto e, segundo o
seu computo, no anno 1300 da creaçííD do mundo. Ora, como tam-
bém DOS di£ este autor^ foi por nieaíio {tnedi4> Umpor^) do período
em que a Ásia se achava tributaria dos scythas, que se deti a sçisão
d*éité povo a o subseciuente apparecimento daa amazofias.
O império doestas mulberea deveria poftanio ter começado no anito
1100, pouco mais ou menos, para concluir-se, aupponbamos em
Peutesil^, que foi ai liada de Priamo na guerra de Tróia, isto é no
16
(snno (Io mundo 2,800. Assim deveram ter subsislído por espaço de
1700 annos, duração pouco provável em uma época de guerras, rapi-
nas e conquistas ; e menos provável ainda em um império de mulhe-
res, que, a ter existido, não podia deixar de ser tão precário quanto
era excepcional.
 segunda circumstancia pouco provável, ou antes tào inverosimil
como a primeira, ó a vastidão das suas conquistas. Justino trata
somente das amazonas asiáticas, e essas no seu dizer conquistaram
toda a Europa, e alguns estados da Ásia. Os que tratam das Amazo-*
nas da Lybia, não querendo que as suas heroinas parecessem menos
esforçadas, quando comparadas ás primeiras, fazem-nas vencedoras
dos atlantes, numidas e ethiopes, e senhoras das costas septentrío-
naes da Africa. Sendo cilas porém contemporâneas umas das outras
segue-se que subjugaram.quasi todo mundo entào conhecido, todas as
zonas que reputavam habitáveis e habitadas, e por assim dizer todos
os povos.
Vem aqui a pello uma reflexão de Strabão :
cc Quem acreditará, dízelle (1) que tenha jamais existido exercito,
cidade ou nação, composta so de mulheres, que de mais a mais inva-
diam paizes estranhos, conseguindo nSo so bater os seus vizinhos,
como também passar a Jonia, chegando a enviar exércitos alem do
Ponto Euxíno até no paiz da Atiça? £' a mesma cousa que si alguém
dissesse que os homens eram mulheres, e as mulheres homens I o
Alem d'estcs, ha em Justino outros factos de menos alcance, mas
igualmente dignos de reparo : são aquellas duas rainhas que subdi-
videm e repartem entre si a nação, e a governam independentes , si
bem que ao mesmo tempo, conjunctamente e na melhor harmonia ,
cousa que não aconteceu nunca, nem mesmo aos dous irmãos funda-
dores de Roma : são os contos de Hercules e Thesco que se prendem
a esto novo conto : ó Pentesilea que soccorre Tróia, e Thalestris que
supplica ao vencedor da índia a honra de ser por treze noites conse-
cutivas admittida a compartilhar o seu leito.
(1) Slrb. Geogr. L. ii.
17
Si eonfrúntâmas Juaúnê com A|iollõnÍi>i o htAEorkdor mm o \m%
vemos que nenhum fundfimGnto Xem Qitiâeco pjira ávant^ar que os
poetai t d ÊSpecialmentiios ilâ untigiiiJade, ao pimo que so i m mono li-
^iram cont a$ Siuas bêilais in§pi rações, causaram f^rantfo rhmoo i%
sciencías hístóricai pr cnlralecâf^m fic^dof; rom v«}fdad6$.
Pelo cDfiifarití, é Jusbmetuo aos bisiorbdor^ gregas c làtímB, n
fjue pOíkni ser í»p[iticaveís as suas palavras, de que nemsô éla^ miuú
todas as {Kissimi do mediano crUerio » íiâo pod^mi logo â primeira
Ttstai deixar de reputar exagerado a maior iioria do qne acerca das
araiiZDnas Sd conta, — eomo sejíi — matarem os filhos varâi!^» quei-
maram um poíloelc-, o que Ciimiudo s^lu co.^itumcs caraeleríslií^oii d*os*
ias muthores, o se acha eonsiguado om Justino, e ainda oin uutrGS
que pegaitam o factn. Cansoco reputa impoíííítvtíl a pruneiri clrcumB-
Isncla por se opptk ás leis da natureza, e as^^vera q^ie Imure c^^uivoco
na segunda; pois que a^íimazonds não (|ueimavam, ma^ atropliiavain
por moio da pressão o peílo direi lo, reduzindo o $eu tamaíihú iiâlural
para com mais facilidnJo alinirtTm o arr^i,
Ccmitudo tom \n)t verdadeira a ^ua existência ; iihls redu^idii a
questGo a setis ju»tlo$ Hmilas, e separando da sua íustoria o que nella
introduiiram de fabuloso, como em quasi todas ns outros^ os poetas do
antiguidade. Dá como certo ter ido Pentesilca em auxilio dos Troia-
nos, pois não julga quo se possa crer na destruiç/lo de Troia^ ^ tiào
nu Amazonas quci aifiítíarama Priamo, quando iiâo siippSd mais
fãmú para uma do que para outra cousa. No emtanlo flomero que
goxa dos foros de historiador « e tao minucioso em numerar as tropas
blinda mesmo em Jescretâr as armas de cada combatente, imo falta
em laes amíionas^ devendo o sen sitencio ser tomado como um argit*
mento em contrario de mutta considernçao.
Nada importa a asserção de Pausanias de ter visto no tempto de
Jtipíl^ Oiympico uma pintura represeribindo Pantesilía aos pés de
Achilles, PicíõrUfUS aíque púttis quwtihd nudmda imnper fuií
mquapaieêíQi^ Hem ara preciso que Horácio o mmíti escrípto para
sabermos qut procurando os pintores assumpto para m iitai composi*
ifitt d
18
çOes, onde o encontram, que nSo somente nas cbronicas timbradas
pela critica, o cfTeito do bello os dispensa da provada verdade.
Canseco reputa também fidedigno o que se conta de Tbalestris, ne-
gando porem que fosse verdadeira amazonas, — nSo obstante a auto-»
ridade de Justino, que a cbama não só Amazonas como a rainba d'ellas.
ft Porque se ha de acreditar (diz elle) em tudo quanto nos refere a
historia antiga acerca de Alexandre Magno, e negar que a descendente
das amazonas, Tallestris, se apresentou na Ásia ao heroé macedónio,
quando o relata o severo Quinto Cursio, e outros? » Não sei a que
outros aliude o autor hespanhol; mas é pouco de presumir que
seriamente se attribua a Quinto Cursio o caracter de historiador
severo. « Não admiro, nem creio por ser escripto em latim neste
conto insipido (leio nas investigações philosophicas sobre os america-
nos) (1) que nos narra Quinto Cursio de ler vindo Thalestris dos
confins da Hyrcania impetrar de Alexandre o grande a honra de
dormir três noites (treze diz Justino) em seu leito, o (2).
Para nfio ter de voltar alguma vez mais a occupar-me com este
autor, notarei algumas inexactidões que são para nolar-se neste seu
artigo. Em primeiro logar, entre as armas que lhes deu a antigui-
dade não se contava a bipcnne que linha dous gumes, mas uma
segure chamada do seu nome, que tinha um só fiõ. Unâ tantúm
parte secanSf commontam os annotadores de Horácio. Nota-se tam-
bém que nem em Platão se pode achar argumento em favor da exis-
tência das antigas amazonas, nem a respeito das modernas se expri-
me Humboldt da maneira cathegorica e terminante que o autor hes-
panhol parece indicar. No dizer de Canseco , Platão assevera que
pouco antes da sua época (sendo elle quasi contemporâneo de Ale-
(l)Recherches Philosophiqucs sur les Áméricains. Berlim 1770. d2.pag.i06.
(2) Os próprios autores que nos asscTeram a existência das Amazonas, regei-
tam esta fabula de procurar palestris o heróe macedónio ; argumentando que
ellas já não existiam no tempo de Alexandre, porque Xenofonte, mais antigo dó
que elle, não trata d*ella8, ainda que descreva os paizes que se dix terem ellas
habitado. Acham que ha raxão para duvidar da fidelidade de Arriano, que é
quem nos refere este facto ; porque Ptolomeo e Aristobulo que todavia i
panharam Alexandre o não relatam.
10
idndrõ, floresciam as amnonmf e IltiiiiboKJi apoia i»asla parto a reU-
ç^ô do padre d'Evreu\-
P lata o nao ira ta propriamente de aiiiMúrias, mâS do Sauromali*
dê^, qiiâ quer dizer olhoâ còr dâ pelltí de lâgarlo^ — ou como leem
outros — Sauro[intidê&-come- lagartos, ou aííiJÍa Snuromálâs como
€)screve llippocrules. Com 43sUi5 expresso es eram enlrío designadas as
pescas de uru e outro s^xo que babita^am a Scythla Sauromatya.
Platfio rccomraeriJa ás mulhereâ da sua nação os exercícios ^mnas-
ticos, do quB eobranãin taiUa boura como os homerií^ ; porqua (diz
elle) (1) assim o aprendi das velbas fabutas, Ealas velbus bistorías oti
faliiibs, segundo aniendo, coiiiariâtucisosdemulberes que se bouves^
sem tornado celebres ern laes e\ercic:iof ganbâodo coroas nos jogos
publicoâ da <jrecia; e tanto mais que as mulberas com que nesla
prte do seu dialogo se occupa riatào não podem ser propriamente
consideradas como Amazonas* n Eu uào ignoro (diz elle) que uinda
110 meu tempo Kavía nas circumviztnbanças do ponto £u%ino um
numero innumeravel de mulheres chaniDdas Sn uromatidos, as quaes
incumbia , assim como aos liomens af^retider n^o $á a montar a
camlio, mas a atirar o arco^ e a se servtr de outras armas. »
Vé-se, pois, que se não pôde rnvoear a autoridade de l^JatãOf
como que venha muila a pello para ú caso ou que soja decbtva» Ve-
jamos porém si ha outros i em cujo testemunho se podesse Canseco
tasear.
Jeronymo Mercuriali (-l), assevera que llippocrates provou clara-
mente que 3 naçto dm umazoniis que alguns lem repntado fabufo^ ^
existiu realmente, posto que não com o eoHtunie de deslocar as juntas
aúi rapazes , atlm de por este modo os toj nar coxos o mais fraeos«
Nâo sei a que obra do tlippocrat^ se refere t)Sto autor; o que o certo
équoso arn outra parte (3) lemos o eostunio de deslocarem as ama-
tonas as juntas aos íillios^^ circumstancia que parece invouiada
(1] 7 dbL dat leis.
(S) Jcrdine Mercunatl l a« cip. 7« Dlterse» Le^i>n».
(a) In ArgODialicn — apud DÍAíiofum.
20
para resulvcr a elerna difiliculdadu de combinar a piedadtí materna
ront a dcscaroavcl crucldado das amazonas.
No entanto, si Jt^romo Mercuriali se refere á obra que se intilala
— dos aros, aguas e lugares (1) — na qual o medico grego nos des-
creve os costunu^s dos sauromatas, a sua asserção vem a carecer abso-
Intoroonle de fundamento. Da maneira por que a respeito das sau-
romatas se exprimo Hippocrates na obra cilada, vé-se que elle
comprehende nesse termo todas as pessoas de um e de outro sexo.
Diz que os sauromatas se casavam, mas accrescenta acerca de suas
mull>eres, que estas andavam a cavallo, atiravam settas, arremeçavam
dardos, e se batiam com os inimigos emquanto virgens; e que
depois de se terem dado as armas, era-)hes então permittidocasarem-se,
licando desde logo dispensadas de montarem a eavallo , ou de irem á
guerra, emquanto uma expedição commum as não obrigasse a isso.
E logo em seguida ajunta que careciam do peito direito, porque sobre
ellesas mSis applieavam às filhas desde a sua primeira infância, um
instrun»enk> de cobre feito de propósito para esse uso, de modo que,
remata elle, davam por esta forma mais vigor ao braço com o
accrescimo da substancia que deveria alimentar aquelle orgSo no
seu estado iKMrmal.
81 das palavras de Hippocrates, que deixei extractadas, se não pode
concluirá existência das amazonas, ha todavia uma phrase de um
dos sanctos padres, em que se poderia e talvez mesmo se tenha que-
rido i>nsúar eesa opinião. Tartuliano (2) d\t das mulheres scytas que
ellas queriaru aoles usar das armas do que easarem-se. No emtanto
para se lhe dar esta intelligencia , é preciso tomar em outro sentido
do que deve ler naquelle lugar o vocábulo latino -^ prim» . . quam,
ou priustuam^ que lanto pôde indicar preíereneia como prioridade.
Teriuliano descrevo-nos a extrema barbárie dos scythas, mostrando-
nos como as suas mulheres loffia\'am parte em seus banquetes, mais
hediondos do que os dos nossos anlropopbagos! As mulheres mesmo
(1) Cap. 17. Hippocrates.
(2) L. i.** contra Marcion.
21
(eferevt; ullc) iiâo m amenim^m mm coid o súxo, nem cum o pudor. . ,
trabalham com aehm... íí ãccra^rentando no mesmo péHúcfo a pbrnsd
quti de iríamos âporilado* mo pòAe isllii ulTum^r auiro sentido senâú
r|Utii!ssas mulheres usavam ilus *irmas íinies de so Cíisnrem. Doesta
íútnm $ô híirmonísa a õpMiiãu da T^^rtulíaho com o que outros autores
110$ refere tn d jis mulheres da SAuromatliía, t|na nãa podiam casar
tiem deíiar dg »er virgens anleâ de ler captívâdo â trás íoiuitgos.
Um autgr qua GOtn[)arado 0 eâtes iJoJemmos ctiamar tnodémo «
pfaltíndd explicar « seu modo 3 origem d'aBia fabula, Paít^pbatys na
tui obra Oiítoiru incroyahhê (1], aventa a opitiilo de que i9
amatona^ nao eram âen3o homens bárbaro*, chamados mulheres por
s&us inimigos por uí^arem veâtídos compridos como as mulheres da
Thracia, triíêrem o âahdio em eoifas e raparem a bârbâ. Ainda
qud esta opinião s^ja sujieeptivet da melhor desenvolvtniento , a que
uetn iodm os factos cooi quo P^iloptiatus a sustenla sejam absoluta*
mente e:iactoSi tiâo ma |/arâce i^mludo improvável, nem que careça
de rundamentõ.
Em primeiro lugar nào é tntiíto exacto que todos os scythas, em
lihlã^ as circumstanciás usassem dc^vt^stidu^ tafarès ou compridos;
pelo contrario, Hippocrata:» na obra cilada, fatia do uma espc^cie da
catç^ttô ou seroulas proprits dos pa\uj da Scythiir, que sempre anda^
vam acavalti), o a que os gregos davam o mintí de anaxyridií$.
Ora si as mulbenos iam á guerra e andavam a cavallo era de $tippor
que livessem o mesmo vestuário Jos homens» E lambam isio o que
se collige de Hurodolo quando noi di£ que foi depois de um com-
bate que os scythns reconheceram as amazonas por mulheres, o quo
Mo deitaria út^ ter sconlâcído antes , si ellas tivessem um traje parti-
cular 6 distineto.
Os scythás usavam na guerra vestidos curtos o estreitos » mas
UippOiçrates {2) accrescanta , como com pouca dilTôrenc^ se dii de
(J) !ll[>p«!lutee^ nl<i falia firopri^inenlf» 4p í?u micho» ti.i obra que jâ dU'
mm-^ílm iircs, iiguas *í lnj^ore^* C:íp* 22* O i\mv eUr nos flii f- (\uc achii*
faiii-S« éiitre i>s fc^Uias muito? boju^ns ifnjK»lefífe9 qtie fc cn^ilemiitivao) t
occu|KicÕ€» mulheris» riUandu e viveml» como («to, c «Hie cit«» tics ifint
22
alguns dos americanos, que grande numero d'elies se faziam eunuclios^
davam-se a occupações mulheris, tomando vestidos compridos,
faltando como as mulheres, adoptando as suas maneiras, e o seu
modo de vida. D'onde se vô que na paz as mulheras e grande nu-
mero descythas usavam os vestidos compridos.
Agora, si considerarmos a estranheza que naquelles tempos e
entre povos orientaes e bárbaros, entre os quaes o cabello solto e livre
era reputado, como foi em outros tempos e por outros povos , ornato
viril e decente compostura , a estranheza, digo, que devia causar
esses cabellos.mettidos em coifas, e as caras rapadas, — e ainda mais
a confusão que resultaria de se verem mulheres scythas na guerra,
vestidas e obrando como homens, e homens na paz obrando e ves-
tindo como si fossem mulheres; si a isto se addiciona a imaginação
dos povos na sua infância, e a credulidade que os propende para o
maravilhoso e extraordinário, fácil será de conceber como se originou
6 propagou a tradição de mulheres guerreiras, e de guerreiros mu-
lheres, dando em resultado o conto das amazonas.
Passo agora a completar a narração de Justino com os dados de
outros escriplores acerca das antigas amazonas; porque, bem que
duvide da sua existência, não me julgo por isso dispensado de
expor, ainda que summariamente, o que a seu respeito se tem
escrípto.
Dizem os antigos escriptores que as houve na Ásia e na Africa , e
posto que mais particularmente se estendam acerca das primeiras,
alguma cousa comtudo chegou á nossa noticia a respeito das segun-
das (1). « Das lybicas escreve Aunio no liv. 5." de Beroso, que de
uma filha de Japeto Atlante, chamada Palias, tiveram principio as
amazonas. A dita Palias, pela inclinação que teve ás armas, escolheu
odorados pelos indígenas scythas, que temiam que lhes sobreviesse tal afflicção,
é a attribuiam 6 cólera da divindade offcndida. Hippocrates attríbuc esta
circumstancia ao clima, ao costume de andarem os homens constantemente
acavailo, ede, no começo da enfermidade, sangrarem-se atraz de ambas as
soelhas, onde, segundo a sua opinião, ha veias que cortadas, privam aos que
soffreram tal operação da faculdade reproductira.
(1) Blute&u— Toc palavra Amazonas,
2S
varias mull*erés moças e valorosos, mm qm fez ura ôxercita^ 0 co-
meçou a Bcnliorear*se de algumas pequenus leitas juiUo «la lago»
Tritonidâ, o ereseeucb assim era numero como em reputaçJo du
gu errei rai« se apoderaram ih granpJe pnrte dWfrica com Lm ta ordem
e bom governo c|iie foram mui tamídns de todos os reis d*aquella
lampo. Veniiô pois que sem ajuntamouto do v^roos m extinguiria a
sua memoria, ordenaram, segundo quer Dtoui^io (i), autor grego,
que andassem solteiras as mrjç.ãs, e gunrdnssem virgiudndo âUí um
certo tempo, oxereitando-se nas artms e seguindo a bíindeira de sua
rainbap o o tal li^mpo a ca lia do, tomassora marido* e o tivessem em
casa so a eITeito de haver Qlhos e do as servir como crêsido; e lia-
vendo filho macho o aleijavam, e o faziam in hábil para a guerra,
guardando as filh^á caum succeãsoras da sua gloria ; as miâQn íaziam
crear aos maridos i^m leite de c^bra^t ou de outros animaes* D'estas
amazonas da Lybia foT rainha íkliryna,que com um exercito de trinta
mi) iníant^se dous mil ca^^alios acommelteu o venceu a Uíarb:is, rei
da Lybia que primeiro lhe havia negado a vassalagem. Outr»s notá-
veis emprer^s fa adita Miryna eom aú suas amazonas no Egyplo. >•
Ou asiáticas, porém^ nos dií Heródoto (2), que os scythas as deno-
minavam úÊúrparioã , que vale o mesmo que androntonoi ou
homicidag^ designarão que Petit» autor que ja citamos^ quer quo
venha, náo do facto de terem assassinado os maridos, mas do costuma
de sacrificarem os filhos. Conjeelura o historiador grego, que estas
mulheres habitavam a Cappadoda perto do Termodonie* Di£-nas
que junto a e^to rio foram derrotadas por Hercules; — que, prisio-
neiras e cdpúvas , foram condurJdas em três navios quantas se apa-
nharam vivas; — que^ levantando-so depois no meio da viagem
mataram a seas roubadores, eque vendo-se depois sós o sem entende-
rem de navegação, sem saberem ao menos dirigir o leme, abando-
naram^se á murcé dos ventos e das vagas* sendo impellidas para as
bordas escarpadas da Palus-MmtideM : que os povos livres da
(t) tn ArgOQãiiUca apud Diodurum.
(2) Lk. I.*
m
2A
Scyihia que então senhoreavam estes lugares, sabiram-lbes ao
encontro, e reconhecendo-es no combate por mulberes, resultou d*âhi
casarem-se, juntarem as tropas, e passarem porflm além doTanais,
indo-se todos estabelecer na Sarmatbya.
Outros autores quizeram ver na Europa uma semelhança de repu-
blica do amazonas, em tempos remotos, bem que náo sejam de tão
alta antiguidade. O Papa Pio II que sob o pseudonymo de Mnea$
Silviu$ escreveu a historia da Bohemia (1), conta-nos que outr*ora
se vira neste paiz uma forma de republica tal qual era a das amazo-
nas, sob a direcção da moça Valasca , e uma das damas de Libyssa ,
filha de Crocus, rei do Bohemia.
Esta Libyssa (é ainda o mesmo autor que o refere] depois da
morte do rei , seu pai , governou o reino por muitos annos , apoiada
no favor e na affeição do seu povo. Tiveram as mulheres muito
poder durante o seu reinado, de sorte que este costume prevaleceu
de que suas filhas se applicassem aos mesmos exercícios que os ho-
mens; e como tivessem o corpo affeito á lida e trabalho, havia
sempre entre ellas um bom numero de mulheres robustas e corajosas.
Morta Libyssa, Valasca, rapariga de grande alma e coragem , apro-
veitou-se da occasiào para reunir as suas companheiras, ex.hortando-as
a se apoderarem do reino. Estas seguiram o seu conselho, tomaram
as armas, e foram tão favorecidas da fortuna, que Valasca tornan-
do-se senhora absoluta do paiz, governou, segundo dizem , por 7
annos o reino da Bohemia , conjunctamente com as suas mulheres,
quasi com as mesmas leis que as amazonas tinliam outr'ora esta-
belecido.
« Depois d* isto (ajunta Jlneas Silvius) diz-se que já senhoras de
todo a paiz, estas escolheram maridos, e tiveram de seus casamentos
descendência para sustentar a sua republica : deram também uma
lei pela qual foi ordenado que se guardassem cuidadosamente as
filhas^ e aos filhos se arrancasse o olho direito, cortando-se-lhes ao
mesmo tempo o polegar para que, quando homens, nem podessem
(4) Cap. 7.
eiiteisir õ orço» nem servifcm*se de oiilrfls Drmsa. Isto foi pmtieido
por algíjm tpmpa, A Bulieinin (reitiíita JEncm SíIvíuí:) foi dúmnle 7
annos a.^sobJa por e^lâ pesla, e vlu^^je qiisM toda lribut;inad'c^ta}
irirgpns. k
Bem (|tii; AUjerlfi Krariti na íun CAron/ra rfoi ret> rfa norH (1)
cílâ uma lic^íiti corajosa do \aí.isea, e pir nms Itdedigno fjiie õ
r^puiemos mo $q poderá concluir d'alii, Simão i^iioé verdndulra a
^xislencia ú'm^ íiHroiuâ; iinsninda m>m noo será prsciso grando
d^forço deiíildligenein (Kira â« ver que taúis bolioititíis nSo eram, nem
foram verdiitTeir?»?! amazonni^, i^ p<m|tie iiosnssevera iEneas Silvius
que a su» rept>|jfica era tul qual a d'oqitellas.
Si quanlo !;?il)6mo5 án% anií<,'ai .nmaz«>na5 Mo bnstn pani p6r fora
de duvida a stia existeiich, as provas quo n5s apresentam os antigos
emodornos vinpntes áeorea de nmn republica âimilhante qtiú m dii
lare^iMido iio ríodõ s&n nomo talvez r^^o 5<^jam mais conc1udéiUes«
Aisim como as ^nliiías rfcdnjrani as difft^retittss denominações do
ima£»>naSf taiiromalidtô, e !;aiirapfiiiil(?s, tjimlíeni as modernas f tiram
chainndnâ na lingnú Limanaquo alkeambmnno (^2], e na dos tupis
cunha teseeutj ma (3J, e laniápuyara (4) --multieresque vivem sós,
mulheres saiií marMos, tr grandes senlioraSi
Como portvm eslej^ ínliniumenle ligada eom a liistoria d'estas ceIo<-
brea heroínas^ a de uma peilra a que os mineralogistas deram o seu
nome, pedra de maravilliosas viriudes^ o ciijn origem se procura
icbar tio fíú do seu nomog não mo parero fora de propósito entrar
nesta queslàci preliminar « da qual se tOJU deduzido argirmentos em
fa vor díi et inten eí a das m o< le rr ias á mai.on a s ^ — ^ a rg u m e n tos q u e pa ■*
reeem dd tanto maior peso, quanto invocam em seu apoio nomes
itiustres ou conhecidos, e como quo m basuam na autoridade respet*
tavel da scíenciã.
(tj y V, í , caiw s.
(2) Padre C:iU,
(3) Lt Ctínd
(H) fu Ga^jiar de Canaj^a^eiíido por Herreia* Doc- e» liv. 9, tip, !*•
B^ Geaeisl de las tadlai. àuton I73S»
tfllf ^
Uma peara é âCtUâlmente túnhmâti m^ pMúèm <le hísiorU
nattirol, cam a tlenominaçâo de p+?dra das am.'izot^a< [Amãzí^nm
Êkin), Duffoíi dá"lhe o nome de jade^ pêdríi nenhriiica» — Orna-
IÍU3(lj â ctas^ifica nn familiu ãúH' iúmúiis^ ei.»fikO t o^peeio ele um stib-
pneiiO|áqUe conserva o nomo de Feldspãlíi. HumbolJt {*l), prém> diz
que o qoe nos gubineies se cbama amíizoneii-stein * náo é jade* nem
feldfpâth compacTo, quo é o claque trnta Otn.ilnis. mns sómentâ
fddspoth commum. Comludo, esie mesmo niituralisía úit ter visio
tJUla d'essas pedras ^ que ora orna saussuriLo^ verdailelro jade» que
d(7Ctogn opticamente se approxima do fdd^pátb comparlneque forma
uma das panes consiituintcsdo verãe di Corska ou doGnlbro*
Ora, discordando tanto os autores na clâs^^ifia^fo d'esla ^edra*
qbB« ^niú em extremo rdra e dura, é apezar disso conftmdida com
a pedra de acha {BeiUtein de Werner) muito menos lena^, — nSo
é muito que a descrúv^ cada um a seu modo. & llie aitríbuam nalu-
TBZB e caracteres d iffy rentes.
E assim é, Emqftaiua Omalius a classifica como uma sílictde,
Buffon a considera como uma matéria mi^la servindo de transição
^Ire as pedras quarizosas, e as uneacL^as ou lalquosa^. Ba^eaudo-sõ
ms experiéneías do chímico d^Arcet, de qt^e o jade m enrijece ainda
mais ao fogo, persuade -se BufTan (5) que a pedra das amazonas não é
pfdduiida immediala mente pela natureza ; mas que depois do traba-
lhada devera ter sido 6mpre<;ndo o fogo para Itie dar a extrema dureza
que a earaclerísa; pois que estas pedras resistem ás melliores limas,
eso cedem ao diamante.
Funda-so também esie autor na autoridade de Seyfried (l).seííundô
o qual existe junto ao rio Amazonas uma terra esverdeada qnedebatio
d'água é inteiramente molle; mas que adrjuire a coUí^islLnicia e rigi-
dez do diamante exposta á acção do ar BufFi^u argumenta que, st
isto assim era^ e si par outro lado le considerava que os indígenas
(1) Omalius* latfodaciloa à ta Géologrje* Bruidtes 1B5S* T. 1.*
(í) VDjage aui R^OttS Equinojuales par 4. HumboldL Parii 1816. T, S,'
(B) BuííoQ, HMoíre naturelle. Mínérauí^ Dit Jaik,
W Um> dA Aeed. de B^t^xa ilk7*
27
da Americii, que mm m menos tinham ínstrumeníos de (èrroi Ioda*
vrâ A$ irjib»lliavAm, fiôm pra eondtjiN^, a elle o conclue^ que ellai
devoram lar siJo uma matéria mollu, que os americanos á mm lhe
der^im 9 forma dú adias, ou da eyllmlros brocados ou de Jamínas
rom iiiMrri(içye<^, u que dtifNjis de diseixâdaB pebári m torÃâram peta
âcç«^o tiií Uipt pednn^ lio dura^ como o^t conhecemos.
É ísio utna pre^^um^ição como tíile pretende; mas insidie que lem
em geu upLWu além de muitas razoes e enlre outros factos — ter eEle
vmo um ^clia d« jade a^ettonodo, trazida das terras vizinhai do
Amazuiins, a qiinl sú pdta cortar com uma faca, — esiado em qued^
certo não podia servir para o uso a r]uo a sua forma demonstrava que
era dminada, sendo para sup|>ír que so lhe (aliava ser aquecida
pêlo fogo.
£ notável qno e5ia opinioõ do grande natumlista do século d$
Luii XI V, se encontro com a dos rudes selvagens do novo mundo (t ),
Estcí^ tamhom, liJo conrebendo o inato nem a possibilidade da sa
cortar e laUiar pedríis duras— laes como a esmeralda, o jaspe, o feld-
spíh com|Micia^ o crystnl de roeba ô ouUas^ imaginaram que a
pildra vt^rdt; romo elles lho chamam i é molle ao sahif da terra e se
enrijece ílepoM de irabalhj(dii á mão*
Bumboldt [ú) negando que sim ilhantes pedras sejam naiuraes do
Amiiiona5, dt«r*revo-aâ rorno recebendo nm brilhante polido, to«
mando a cor verde e^^maralda, transi andas nas bordas, eitremamento
tdnase$ esunorai, e tanto qiio tolhadas em tampos antigos petos indi-
genas em laminas muito delgadas, perfuradas no centro a suspensas
a um lio, dáo um som metallic^) qitando percutidas por outro corpo
duro, — motivo por que foram por Brogniari c-omparadas ás pedras
sonoras que os chineze^s empregam nos seus instrumentos de musica^
a que chrimam King,
« Dá>se-lhes(di£ Bumboldtjtdá-s&^lhesas maisdas vezes a forma de
(II CW une opiniot) detiui^ detotit ranrteiDent,, qugjque ti<ã^4«|iafict|||i ft
VA»fío$tum qw* ttft"c [Ávirt (Sii*iS*urUt') pstli èc» úàm un état de i
niÊiit paiÊuti du p^Ul lac ÂmucMt tírnn^Mi Qb, eiu T. 8» pag^ 307.
(3) OU e log' cit4do^
S8
fylináros persepoíilariost perfuríidos If>n;çitinlínfilniôi>le c sôbffieaire-
gadoK de inseri pç^i*â o de fiiiiir»^. M''is ma ^h*^ os mim í]e ho]^, Bssm
iii{}í^'ena£ do Aaia^oria^ e Qrenon>« qtm vomns nrv ultimo gnin do em*
bruíti^irDdntOt os ^jul* brof araíii subsiâfiria^ íSo duras, d^fiil^i-tligs as
fur^AS de aíiima^ e do friiet^^. * — D'.^r]tji quer o autor âllen^ào
ÊOncluír adxíiteneiii úú unvá civi1i£;içáa niilenor«
EaiBs pedras» que por tmiiir) t'i\\\m sie ene^^nlraram nas mãôs dos
indifítínas do Amáz^mas. Ainda com rnai^i rncilidade se acIravAm ni>
rio Tapnjoí , não obt^mte S4.Tem ninsmmHft <^m lodâ a parlo. Ora foi
justamente junlo ao ríD Tapajós quo íinh^U coltúeou as suas ^ mamonas
— ricas (dÍ2 etia) ih hnnA\n ife úitm, que iil4|iiirli»in,em triíra dâS
fitmo^as pedras vcrde$ ou \yití*\r7k$ liijníbw (dal Ligada); e foi ainda
no mesmo rio que I4S nmrni depois, Li Conclamina a."; acliou em
maii abundância (1). 0^ indígena!;, seguindo uma anti^n lradi{âa|
pretendem que êsla^ pedrus *inliíim do pi^ dím mnlluíre? s^m mnridOí
ou das muUierââ que vhinm sòs« d.^ndo mnio giscment leilo prrmi-
livo d*esi0 mineral as Cjibtscdras do Oy:if!Otk* Orimcico, ou Rio
Bnmco. Humbotdi d incendo qtie viu algumas dV^ltas nas mSos dos
índios do rio Negro (2)« ecoiktínnandu a nntina de que o^ índios úú
Tap[02 possuíam ontr'ora i^rande quaniidade d'cÍ1as, não salie si
atlas as retebaram do sul ou do [mh qm se entende dan montanhas
de Cayenna para asiuscen^as do Essequibo» Caronyt OrenocOf e m
das Trombetas.
E«tas pedras que ja sjo riras lomam-sa mais raras de dia em diSt
ja prque os índios que as estimam em muito âs guardam como
preciosidades, ja pela Gxpriâçãoque d'el1as m tez e fq faz para a
Europa (3)^ Eram de mais d' isso mu rio proru radas e estimadas pastos
colonos tanto portugueses» como k^^^pandoes pela virtude que se tbes
(1) Oi tapajot mofiram i^rtas fHdras vt'r#lr«, qtie ú\mm m lierdado de
fCUi piti** e que i-sle» a* nbtiviiiiain áus Coiíg-uiJntahi^seeouima ^ t|ue quer
diKT ud Mift linirua miiltifrcii $^ni uiJirKln* cm cuja pak abuudam aqiiellii
|i«diiiv LaCõnii,^ (lag, IQâ, edic. çtc ilà5^
(3) Voy, aui Rcf» \Lq. » T, 8**, pof. 10.
(3) miUtoi. dea Vo;.>Tt lú»p<s.4letô.
29
ittribuia de euTurem pedra, cólica nêptireticâ» a epilepsia* âs
molesiin^ do f}|;ndn, e otilraa,
Ma^ tintas mesmaí; |irelunil (tias virtudes tohez não n^jam senSo uma
rí^Dhlixno da rrença (vopuiar tia aniiguidafi© ácerua de ou iras qua
tn6<t fk'àfm sm\^. O* inlígos* gregns o romanos, compraiiam*sa
rom o verde brílItaiUe Híi esmernlJa, mais bella hú ãmrãti Plínio (1)
ãií que o verde díi primavera , — pedra sempre brillmnle (escreve
elltí), sempre afaririmloro dosotlioSt quer visiimaõsfil, quer á sombra,
quer du noite rq reflii^o ilss lurm. A elbs lauibem , além da belleza
aitrlbuiam-l1ii?s innu meras virtudes.
Si porém os antigos, Plinía e Tlieopbrastô (i)» davam o nome
genérico de o*^m<^ralda a lod is as pedras verdes *^ — a mais tsstimada,
a maii belfa de lodáK:, 3 verdadeira efm>TâMa er» a pedra do paiídas
êmmom^ — a e^^meralda dd Scyihía. Quero crer, porianio, iiao so
que a inttm.i cerreljirâo da bistoria das pdras verda com a das ama*
lona!^ é uma recordação dn anttguiitade . como que é doesse facto que
se originou a fé nua seus pretendidos mibgrca.
Sei que em mth amuleto ou patuá se encofi irará sempre um frag-
mento de mineral, get qm ú sees^crevesse a hisieria dos feiffços entre
lOiíoá m púvo^, grande parte d*ella si?ria oceupada com a crença no
pretendido poder de certas pedras. Assim» eom o que levo dito, longe
Cftou de negar a importancra que na sua iuíancia m (lovos lem dado
áspedrait que seafTastam do coitimum* eomo a lodos os objectos que
|ior algum j singubndade se desiaeam d*entre as produção t^ da
natureza. Me$mo na America do Nurta parece que a pedra verde
fui veDârada debaiio de uma signtlicaçâo religiosa.
•• Vmio qua (di^ Humboldt) (3) quinhentas tegtiaf de distancia
ftparem as margens do Amazonas e Orenoeo do pbiò mexicano;
posto que a bisloria nio façâ menção de nenhum íacto que ligue os
pavoã sdlvagens da Guyana aos |>ovo9 civilísados de Anabuac^ o
(1) fuq. im, xxKVOt n.< le.
d) Upi4 et Gemm. q«<' 4â-
W ¥o|, aox R^ Eq,, T. 6,'
m
M
mengi Bemirdo dâ Sah/ipn uhm era Cho!uTa , 110 começo da
torií{iJÍsu, cnn^rvíidfts i'oiuo roliijiiUs pêdra$ verdes f|iie liahsm
portenridod Qmtzakahuali, o biiíiljadas meiticiinoít, qnuriii itimpo
4ús toIlCKiu^ furnlara â^ primeiras congref^riçot^^ reli^ioitâSi
Cf»n%ém lodí»via ponderar qmú o estado em que enconlroinos m
indígenas T>âo hasln píira «xplicaf comoé cjiio lattii pednis foram lapi-
dadas« âUribuí-láâ m aninion^is st^ria tornar menoâ aceltavul a tíxpli*
cação, exrfifUo si quítt^írnofi «tipjíôr <|iie nt^SL^i rtópubliea , ãú sua
natureza o^liL^merâ^ wi [m um momento admiUimo^ » iua e^i^ttencia.
se pile aptíZitr d' isso lor cliepdo a um gráo d& civitiãáçáo u cjue os
homens não leriam iiinda ntiíngida*
E ainda tpiando cõneedessenias esio novo ponta» faluiris inve^li-
ghf d'onde teriam >indo mmilhãntes pedras; pnrqim não parece,
segundo a opinião da Humboldt, que eItM $«;|am Driginariâs do
Amazonas.
Vejamos prám o qtte a respeito das amazonas da Ameriea noi
referem m historiadores*
■ Si não exibiram (inquire o nosso programma] qtie moiivns tive-
ram Orotlitia eChristovío dâ Cunha» seu íhdot^ p)ra nu^ áèSúvera-
rem a sua existâucia, ip
DeiTíando para ao depois tratar dos niotivos que tiveram on poda^
riam ter estes viajanles, e outros antes d'elles para reproduzirem nas
suas narrKçQos a fabul» quâ nos leganim ú?^ ciscript()r0s da antiguid:td«,
cabo-nos ver o que a tal respeito escreveram os modernos. Acredifo
que á*miu ex|kOsiçfo facilmonte m poderá concluir kí estais mulhitres
sõasã43mâlhavam ou Indicavam oríginarem^se d jis da Seythiaou Lybia.
Anie^ de tudo, poderb i^arecer que o nosso programni^ ^a uceupa,
nfo da OrelUna» coirpgn beiro de G. Ptiarro; mns de Pizarro y
Orelbna» antor da obra Varones iluãtret dct Numo afundo (1),
o qual na vida de Gonciílú PÍEarro trata de amazona», — « nao ns que
descendiam de Oryihiã ou Penteailea^ diz elle* mas deoulrasque por
serem mulheres que petejavam roram chamadas assim. 1» Purâm o
(i) Madrid 1^9, pag. 3ãl.
SI
ft^rtimmn , indicAndo ^r a notiei» d'essd Orellana eonRrm»d« por
CbrÍJit(>^iio tb Cm\m t h^í ver «]iie sa reíera ao próprio dfisccibridm'.
Gernltiienle íe acredita, e é e^ta 5 nprniao do Paw , qyu o DVentii-
refrí^ hesponliul foi o inverUor dWe conto, bem ^m p anlesd'ellâ
Cnloinbo jijlg.TS^i> m emonirndo nmtitma^ nas» AtitiJbrm. Se^^iindo
llakliiyls diít.^ram na imvegorit^ íli>reminti (!) (jiiea p»N)iiena úlm dô
Madiínino (â) (Monsorraie) era habitada por iriulbercsfíuorreirft!*, que
vivium a maior fmrlo do anno atíosladas do comrnoriMâ dos bomons*
P. Martyr dí£ também ter-so afUrmndo a Ckjlõmbufiu^ mulberessem
bomons ímbitavam n ilha de Malilyma, defcndendn^ae com srinaSj
âftíío recebdíidi eommando sitmaõ de si mestoãs, ae4!rescontaodo que
Vi por ma íK^osi^o, quo Cobmibo ;is ebamára arnia7.úoas.
Orulbris Atlamou eila bisiona com outras partieubridades , nào
tanto para a fazer tnaiã di^na dn credii.>t como para a tomar niBis
^ogiibr. Gotizaivas Ovjedo na sua relação ao cardeal Bembo, que ó
daladit Aki 20 de laneiro do f 543, narrando a liagem da Oral lana.
escreviB quo ouvira a Gonçalo Pizarro ttT aqudio combatido com
mttlbere^ armadas, comtnandadn^ por uma rainba; quaeitas mulbe-
res rif iam ^,^qné nâo matavam os filhos; mas os entregavam aos
pak, — que oram emfiiti cbmadas as amatonas, posto que tivessem
ambos os poitns.
Quando Oviedo escrevia i stin carta ao cardeal BemlfO» nâo tinha
por certo notícia da rotação que Hernando Hibera (3) jurava na
Asgrimp(;ãoaos 3 de Março de l$iS, do qtiB nos ofcuparomos ainda.
Quíisi um íkículo depois publicava o padre Christováo d*AciJÔa (4)
qutíseiabia por iníomiações que a real audiência do Quito mandara
tomar £t*rem as m:irgens do Amntmtis babítados por mulheres
guerreiras i mas a priucipl rjtzao pr que este autor nos as^ella o facío
da suaa^ístenciíiy é porque ba ma rio com eâse QOme. E ilo tnt^in»
(1) Gun. umá, mt^ pig. mL
(a) Impressa na CúIU de Temaui. T. 6^ fiâg. ^^0.
[j) l^ueto daciit»riiaiaiita tld Gri IVío dt In ^m* Mídrii^ la&t» tkiíl ée
• I
82
sístentd este argumento que o mesmo é exp4*1o que destrui-lo. Vòra
cousa:a(kniravel^9 ami^tijGcaieille noestylo-dò tempo, que o rio sem
múi^raves^fundamentos houvesse usurpaçlo o nome dns amazonas»
— podehtlo qualquer Jaqfar lhe emHrosto, que com elle se prelendia
tornar famoso, semimais razão do que^a.de vestír-se com o alheio.
Além d*este argumento, Chrislovâo da Cunha desce também á
consideração de factos. « O que ouvi com os meus ouvidos (diz elle)
e com grande cuidado averiguei desde qtie puzemos os pés neste rio,
é que nào ha geralmente cousa mais commum (ao menos ninguqm
p ignoja) que«é dizer-se que^habitam nelle eslas mulheres, dando
signaes táo particulares, que convindo todos n'elles, nàoé.crivel que.
podesse 'haver umai mentira introduzida em tantas linguas, eem
tantas nações com tantas cores de verdade, i i
' 4.0' parire Cunha se esquece somente , que a fé nos feitiços e agouros
«busam do apparecimento de phantasmas, da .existência de gigantes
e pygmeos, sAo factos que em todo o mundo se tem repelido, sem que
da universalidade da opinião se possa deduzir cousa alguma em favor
da credibilidade de taes factos.
Re^re-nos o mesmo autor como em certa quadra doanno, vinham
ter uns indios com as amazonas. Elias ao vé-los se alvoroçavam ,
sabiam fora de suas trincheiras, armadas em guerra, edepois de uma
breve simulação de combate, corriam, todas as canoas dos hospedes
bem* vindos, e cada qual desprendia uma das redes que estes indios
traziam-armadas nas canoas, e voltavam triunfantes para arma-las
em suas habitações , onde vínhamos donos procura-las. £m festas e
contentamento^.se passavam os dias (1) até que no tempo marcado se
retiravam os hospedes. Quanto á sorte dos iilhos, diz-nos o mesmo
autor quoi o que parece- mais certo é que as mais os. matavam em os
. recpnlteelndo como taes^^E' taqjbem isto o que nos afGrma Nuno de
Guzman na sua relação a Carlos Y (2). Feijó pelo contrario no seu
theatro critico (5),M'issertando sobre as amazonas, e escrevendo com
(1) Cunha. Cap. 72.
.'(2) LaCond. Mem.da Ac,R^astSc«^e?aiif'l7Ã5.
(3) .T. i» Diss. ia, *ii.«* àòeA^
r^t preffpiííiçío queõWe^^ nn^qué ^ nolidnva ietlíteneTèt tiin
que as |)rf)pnf»A i^im.irnt^j^s trnvrirn sitia ifi^ubertiií , tAú mpi que t
Cí^li», ffrití *.^Ue mtíshlcrfl venbdrio liblarijí, k tetjlp ajuntado fiiuilás
íiivermiminiahçns; 0 neílo ninnero conlfi a absoluta «f^p-if^nçáa Joi
sexm^ bm\ Ciuno o i]i/.er-fttí que ns maus tnnUiv-arn os tllhoS. Nâa
cbsUtiiLe n aiiinriihiJe do p.itire Cuntm , OvieJo quâ o escreve por
ié \é ôtfvhío m prnpfÍQ riranro , de acr/irjo rom Ftíijá, dU queof
fiHios, Iiiti^e de sufem mnrtí)!!, eram enlnv^ues ar>s pak
Cunha feva â sua miounfiiiiibrla i ponto da noi designar qttal eu
n Irihu, qiic e^tav.1 no privitL«^iti Ju fonir^cor ns ama;Eonas esit<s mari-
dos £angno<s. C1idii)fi-a fíjiararã ou Giiaenri^ Anvjlle fe£ notar a La
Cunti^intno {|iie os dns antíi^L^i amazõtia^ eram dk'ímados Gargori»
na diicer deSirabâo (I); miuíIÍkimç^ qiio preceu bastantd euriou a
Carfi (â), o autor iW Curtam Americanas,
Uni ponia dtí ímiiilian<ja« qua não (lOílemos paitsar em silencio «
mtlre «Síimaíonas da Scyiliia 0 as Ja Ainerla, é este;
As fcvt^iA!» qne. diz-n^is Jii^iino, ^ liaviam com Isnla facitidada
divort^i^MJu dos (iiinienfi^ a Dm^idi^ravam a virginihdôcomo víHmk da
lât»gntndij prríço » quts Oryiliia era p>r este mdtlvagerulrnonte adnii'-
rarla entre ellis; ainda n^^ijin maturam os ví^cinhos para sovin^^rem
éã morte de sens m;iriifrM. e acabnrom dí^p^ii^ curn os que ainda
éttitiam entre eltas ne feliciarei alim alãt mderenturi para quo
umas niío fossem reptilalai maíi fetízes il 1 que oníras^ Forarn tam-
bém Q^ia^ mesmas niulliere^ que uao podendo snpportar por oitil
ãnnes ^ ausência dos l»omcns ã* sua tin^JIo , se cnsaram com m pro-^
prtos escravos, que linbam lleado para guarda dos rebanhos. Isto
poMo, fiâo lia ra^o [tara díxar-se que ta^ mulheril tiveáSóm aversão
ios liomers.
O mesmo emaisdevi»ria acontecer na Amerira, poque si secon«
itdefa qoe ú\U^ liabitavnm dobiiiio do equadf»r, talvez se íiche
razão no desembargador ãampaio , que i»ào descobre, nem poda
iitH <
Èh
imiglnir que mfks bo^loitlo pcuíeraeis!* liveram as ^mazonns pftra
vencer a qiiasi irrâ$Í!^tiv@í fórç^ da çliiiiâ. O CL-rto é (alisi^vn Mtm-
lesquieu) (i), quão alvoroço com qm Ah^ recebiam n^ liM5[)4Hle^t t
que Cuaha tios reblãi moâtra quo lhos uSoera ititlilTorârtle aiiuijlb
ti n tão.
Voltámos porém no ncs.^ assumpto.
Para aqoelles que consíderom a iradirâo dns fimazonis 4a Ame-
rica eomo uma reprodueç.âo da crenç.i de outras Ic^inpos u de otiiros
poTõs, Qeníiuma maravilha será que so nfL«em4*1fiejn oí eosiumes
que a umas e oulras su aUribuem, llymbnldt observa jiidicMisninentn
que da leilura das ol»ras de Colomijo, do GemlJini , de Ovu^do» de
Pedro Mariyr de Angbíerri se conlujce a lendaiifí;» dm escripLores
do século XVI piira adiar entre o§ povos descobertos no novo roniU
nente tudo quanto os gregos nos rontnm doã co^^tunies dn prirneíra
Idade do mundo, *í dos costumt^ bárbaros dm sryihnse dosaOicauos.
D*aquÍeonclueetle quo tanto a amor do maravilf^oso, como o desejo
da ornar as descri p^6es do novo cont imante com nf^^nns iraços da
antiguidade clássica contribuinam para a grande im^K^rtancia que
se de ti ás primeiras narraçôus dú Ordbnap
E' certo que estes estudos deveram tor ron corri do pnrn que com
mais facilidade se dessa credito a uma iiotiria de que havin tí\Qu>pfos
Hâs ãrttigas historias; no emtanto, convém observar que intaudo,
quer estes, quer os modernos escrlptorest de povos mergulbadtis no
estado do barbárie e selvatiqueza, não é murto parn adnnr.ir qtie
sara se copiar se encontrem. O autor das— lnvesíig.i(;ôtíS pl»ilotnphi*
eis sobre os americanos — (2), fiTtplica-nos romo íiqtidlos que tem
estudado os seus costumeB, e sobri^tudu oscosiumos du« ameriranos
ieptentrtonaes, admirando-po do que elles, fjor assíui diz.'r, fussi^m
os mesmos que os dos antigos scytlias, foram bvadns a ilfdt.jíir dV-sla
apparente similitude línbas de lílía^^áa e de extrm-çào de um f»ara
outro doestes povos» sem ponderaram que, nau offj retendo os co^tu*
(1) Esprit dea Lois. L. 1&, C ^
18
mes sryíhas mfãú úb csrartóTUS diítinclivos da Tida teNagem , en
nr^tur,»! r|uo lul âimillmnçi sio [lereebaíSô antra lodos os sdlvagens da
Vejínnns p *h qiis moiiv^í puridr^m ler esses viajantes ou escriplo-
rêS pnni iiiipravi'^nrLHn sítnilfi;iiitH re[Miblíca> ou para a?c a gerarem a
lai poitio ú rjdu LJj iniilhdres cmiibatorem; (acto« que enire povos
bafÍjíiros« frt5f{tii<nieminUo se repete.
Dkiifi^iiiffn-^^e «^nlreosijna até aqui lemos citado Orellanai Ha*
Irgh, e Onedn* Cito a Ovji>(Ja com preFerericin ao padre Cunha ,
pí>rigMea snu opinião foi divulgada um secub antes da publicaçiõ
do — Nijfivo DcscuhriíMiento,
Orei h na ^nk^^lo eni d^^]os de se tornar celebre por uma deseo-
bert:i pf('pri;i, íorirmu o atrevi dii projecto de navegar 0 Amazonas,
R^giiindo fi rm Uido o seu cursn até encontrar-se com o oceano ;^ — %
ainda quti ntkriarmente seiílisie tfuanio havia de obscurecer o seu
nanie a cmtsideruçnu ifas cii^u melancias em que cila tomava sobre si
tal euiprex^t confiava m stia boa furtuns, e esperava que o resultado
atienitarEá n§ ju^tíis eenguras de que se tornava merecedor,
.s Eíia v!a;:í'm (eífrevô W. Irving na víJa de Chrístováo Colombo (*)
bt aeou»paf distila de muitos ptingos o í^^digAS. Orellnna obrigado
a de^'mbi«rcítr nns innrgens do rio, foi muitas vezes atacado por
iiiirniiíut numcrtíRos e níjuerridos^ ronira os quses tinha de empregar
for^-a pra t^bter provií^Dgs. Em alguns Uigfires as próprias mulheres
eirn*gnrãm contra os tu^patdióes: e e^^ta cirounistanciâ deu logar ás
fabiitu^^f narrações, quesoGKeram, acerca da pretendida ilha dai
auiaxona^, »
Tiidavii oudeacíiamos a glorio de Orellanap nio énem nosperH
goff nem nastradl^iiíque paí^ou; stnio em ter feito umanavegaçlo
e%ten«a . em nm barco mal preparado , por entre naçCíes dasconho-
ciiiaji e ba!«ti^, sentia o primeiro a revelar o immeiíso tracto de ler-
rtmo qtjt» maileia entre os Âudes para o lado da nascente até cbagar
ao Atbulico*
(*) Tra4 de Deí^QOoopmç, % l« pag. È7U
^^Mflk
«9
Efsa gjoru porém ito pmp-jo Orelb^a no fim ih $m mg^ jn
ii5^ pnrgceu umD ínsiinoçriri b^anie* nmã g:iriniia soguro íln inn
pitniflfl<le ou motivo efíicãi ih rt>riHnpi'iH'> i ({tiniiilo .1 cii^ji^ravn
hlintiti 10 $âu (Jtivef ilí'j^iUtiileceiit]o :iq smi &jiuinauil^iiilta, — dt» tsr
abandonada os seus irompattlitíjmi de artmâein um dt^^rlo,^' (k at
ler [vrivâdo da iinica pnib.tbiliibiJy de FdKiiçâo que tiuh.im na nnvio
quf llics levava»^- du haver -fo subtuvadj cmOni, fais^^oila-sa êlogor
capiUit) dâiua mage^tadu wm dependeiitia dií Piearrn (I).
A rt^peilo de Orrlíauia esitrevo Robarl^Mn na ?ua tti^^torin cfa Am$*
ricn (2): «c A vjiidiule iiitund aos vbpitla^ qm perci^rreii) lârraa
dasconlmdaâ ao r@sto i|o«: liamorii;, o o tiriíficlo da uni av^nlurâirOp
com p;*gncidadfí de en^nindecdr o %m próprio /nertíínmtínta, coneor-
reram para dbpè-I^ a etntiriárt em e\lni^>rdiitaniis proporções, o
nifiravilhosoá tiarralíva da sua vj:i<;ein* EWíí pfii^ndou tor d^isco^
bufto naçOas táo rka^^ que o paviíiioiilo dflrfiius u.^mp|i»5 era alaf^trado
de pli^sdenuFo; o di^MTuveu uuiart*ptibhcn ãà mult^ares láo guer-
mras e biíllfc^>sa$ quo tiidmui av^i^snll^iijo eoitâidcMVtiJ Irnda das
ferieis plcinkíes por olle visitad;»*. pi«r \j[hh extra v;)gniues que fú^^kni
esleí conlos, bnslaràe pi^rn dar ori^í^iii á opluíno de que uma iotrn^
dbumlantâ deouro, Unum p^lo uotne de El l^^inida, 0 uma repu«
blíca de Amatonai pfuliam ser vi^ii^^ nesia pana do n^vu mundo; o
lai é a propensão dugmiem humnmi porá dnr credito ao maravilliuso
que só lentameolo e com muita dilBruIilmle é que n ra/io e a ob^^^*
va^*âo tem feito d<i.^prê£ar simtllianie fabula. Está viagem camtiídoy
mesmo d^sbaf^tada du emEtolteKamtsiiinsromauticos, meraae €0^ lemr
brpda, n^o so menta tomo uma Jn^ mnÍ!i msmoraveis oreufrounias
dVjufílla éj^ncâ avoniuruira, m^^^ lambem como a primairo ^ucctíifQ
qno (^ eoncâber algumas no^*des mano$ ímiierfeitaâ da^ tereis eileaT
til, queseproEongfim para o Oriento d^^de os ^nde^ alá ^o mar (Z],ft
({) Gtreilaiâ de Ta V«fra, Hlit GeneTp dei Verú. MadHd 172t. L, 3, Ptrt
S,'Cnp, 4, pBg, 1á5 — 9.
;S] Hob* cita Zarate L, 4. C. d, Gõm. WH, Cap, 80. Voj, t^ 9* CaD^ 4*
17
Cúnr.uhtUm ^ tiiitr» tfiiUiva ttm a elTiuio qiiH fi^jre dl es prodoziríi
a iifirrjifâfi (lia suuf^ íivi*ii|urji!; simni «finsii^raiiiiâ» que« romo fios canta
Op<lfi MnriAul Ui>(|ri;;uti^ (ft) fi)Í ^ (erra diift afniju>njis oqtto dia
p (Jíii mi ínijMjriíifór C nlfis V; ^ y is») o f|iitt Itie mereceu ú despacho
qne reiptõTÍa* pi^r^j^e t^bkve « carta ptenltí d» govornador genefatis-
«imo da rio das iiiinioiias pafA o recompensar de ts ler subjugado
em nomo de suã ma^fi^^^tade cnil^jln-a ^âj .
Apezar de Mf sito Orellana geailmanie acreduado, Gomara, seu
conlemporaneo, expritne-^ú por lai rõrina na bii^loria ^eral das Iit^
dí^t [3). qtiú parem ro^entiito, ianio do gros^itítro ainbuslo deOrdlt^
m$ cu mo du geral cráNlu lidada. Os outros osort piares quo a eaia m
se^foir^^m, Ve|^'a, Ikrrera eo mmxíQ Zarale, escriplores de mtts
fiillo, e oi de mais concQÍtâ no que re&peiía bb índias e doscobri*
nieitlosdaihâífariljótía, tão prestars^ii» féalguaia á lai sonhíiiia repu-
llrca ainda qtm rebkm a tradi^)âo* P^la etjntrarío o quodellessô
pCHtora conriuif , e ú qm pareça certo é que oppoiiiíi>*s@ ao desem»
barqtio da Ordl^na « íiígitmas mutheres, ou medrosas ou valentes,
potquQ dt^fendíain a ra^a e os íílitui, lumaii está úiHKisíão para eia-^
girar as ma^ avenliirni, E' íi4o o ^uo se lè ern Gomara ^ Vega,
H rrara e Manoiit R^^dngues. Nio ob&Ui qtio Ordlaiia dl^^seise en usa
difri^reni^; [lorqiie alnirga relação da sua viagem por ellâ apresentada
aoconsoifio dag Imliits. (|u<» então fii rico lona va em Valladolid, [toucd^t
e bani poiíoos annm dopoíi, no V2m\iii em qnu Goma ri (I) ^crevia
a sua liistoria ja paiisava por paftco dij^na de eâneatl»*
St roíifróntamoâ os Inssiorindores m parta ém qm referem esla
viagem, e oWrvanio^ o modo [jor que all«$ moral isam os factos quo
esorev^m, verenioa que aindii qii»iiitu fosse fora de lodn a duvida
(I) M^ranon j Amaionaff Usiúni ÍÚ^à* l^# 9l L« I* C Jb Q^ncilaso^-Hibpa
dtada^ V, nota,
(3) IlpchÉn^ Pyiot. T< I. psf. lia.
{%) Hísl. Gener, dehslmlh*. CU- Gip,iô. {Hf* ttl v.«^ Entre lo$dltpi<
rBt« que dijo (ié-«« 3 p^f^^ 112) fuc alxriaar que avia CO «sta rid Aieaio&ii
88
eii^tírem amazonas no MaranhSo, nem por is$:o se poderá concluir
que Orollnnn a<; (enhn enrontrarlo e rnmliatido.
No aiino <le ISiOsaliíi Gonzalo Pizarro «lo Peru ao dcscolirimpnto
e conquista que enliio se cli.imnii — (\:. c^inflla (I). Aljorncido de nAo
encontrar o que (irocnniva , e cansndode o perf^iiiilnr «'lOS índios que
elle Fe persuadia lli'o orrultavarn pnr ninlicia, nâo poucas vete^
tentou arrancar-llies fK)r meio do tractos um so;j;rodo qiio os pohres
selva^^ens ifçnoravam. Assim morreram alguns alormeni.idos, e moio
vivos consumidos pelas chaminns, em«]uanlo'oiilros ernin dil.icerados
e devorados pelos cães, que tinham sido industriados nesta caçada
humana (2). Foi então que destacou de si a Orellana para uma ex()e«
dição, recommeiíd.-indo-lhe, que bem ou mal succedidovolassecomo
bergantim, que levava o do qual careciam para a volta, o o esperasse
na confluência do Napo com o Amazonas.
As vistas de Orellana eram outras: deixou se vir pelo rio abaixo,
6 quando a volta se tornara qiiasi impossível, pela demora i|ue teriam
vencendo a corrente, continuou a seguir o curso do rio, tendo-se
feito eleger capitão em nome do r^^i catliolico. Tinlia apmia> passado
0 rio Negro, quando começou a eneiuitrar notiria das amazonas.
Era a ellas, segundo suppòz ter ouvido a um indio, que aquellas
terras pertenciam. Fr. Gaspar de Carvajal (3) aílirma ter sabido da
existência d*estas mulheres pelos indigenas, e que esta noticia lho
fora confírinada por um chefe indio, o qual perguntando-lhe si iam
ver as amazonas, que em sua lingua dizem — Cunliápuyara, que é
omestnoque grandes senhoras, accroscentâra que vissem bem que
eram poucos e ellas muitas. — Chegaram efrectivamente a um lugar
onde os Índios se oppozeram aos bespanhoes com muita resolução, e
corajosamente se defenderam. Então allirmou fr. Gaspar que si estes
Índios se defenderam com tanto encarniçamento era por serem tribu-
tários das amazonas , e tanto que elle próprio e setis companheiros
viram dez ou doze d'ellas, que andavam pelejando adiante dos Índios^
(1) Gom. cit. Rerr. Dec 6. L. 7. Cap. 6, pag. 365.
(2) Herr. liv. ciU
(3) Her. D. & L» 9. G. &» pag. 377 dU
30
j) areK E-^^liis luulltms picnTrniii-ltiLS ii^ui>o nlias, enrpiilenlas e
liraitrAá» ttm ú rnWlo lia?l<i, jríinç.,ila e enrobilrt mi crilit*ra, em
|*ÔII-s tfm^ Cíiiri iiiri ligeiro Hmãal ;— íoin í»reos e fretlins mê mhti$,
$e\i} mi iHtii fiVILiK (tirniu morla?« pelo^ osleltiatia^, e p)ri«stu moiiva^
dccresfâiiia o rufuriJa \iajaiil0^ fugiraak os iiiJíos que as acom-
panbvam.
Oní cíimo ^Li>i m 111 heras cnmharmm conjun^^tnmenta mm os ho-
mens» iiiiu é a «Uns pir rcrio niie se ref<irtiu m íiulurtj^ qiinnflo nos
aHirmnrii (\m exi^ilirnni ain'»zurin!i. Os próprios lif^punlioes il^osta
e%finl(i;âo, :iCj rutMio^ iiuiiUxdVlli^H, corno mi^í diz ÍL:!rrera (I] julg^-
rAin que a ra|>iiâu Oa-llaim [lâodtivia (tiirsimilltanfo nmm a muilie-
fÊS qtrâ pli'|avam f nem com ijli} írticos fiindnmeTilo^ alTlrmarqiio
Iiaiia nmaiíon:*»; porque não é rouía fiovo nas Intliaíi [jeli-prem" as
miiHiorrs, Ccihnireikt rrecíias, ct>mQ so ^m em a(;^'um;is iifin^ do Bar-
bvcf)io« Oitn^i-na o Compres ^ onde se moslrnraiki Lào animosas
como tíSprií[irios hoiMcns,
IsíD, arcm^HJtínfn lÍLíffera, ou o refino romo o adio nos momorías
dVta jtirimd§, n^seromlo 0 rre<lilc no alvedrio d^ c<ida um ; pois nâo
aH)o pnra ^^retn estis iihilfitíren amazonas, mais do que 0 nome que
esii*$ (M^liithano^ IftpqNÍjítiraiti d^tr.
Or^bna, rjUH par(H*e ler pftívisto eí^la ol»jâC{ào^ vnleil^se mais
lima %tz úú te^lelllilntJO tao falti^el do^ indioiíf di/*endo^ i^giiiido
Zirati^ (-2), iHrouuLlu a nmdVlloHque ali luivin tim piz niircamonta
hiitniado por mulheres, que sabiniii combater e íaaT guerra, esô
d^fcjiidiam moilo Içm dos seus viíEinliiiS.
E' p/rém para nntar«5o quo ZtiralQ não nos dá inícgrntmente a
mitiría ♦(til! 1105 foi iraiií^rerida ptir Orcllaim» e que este defiCdlridor
tmMIe^ou com qnnnias maravillias ília suggeriu a [ihanííiMa. Sd-
gomlo Ordlana, víviaia lams mulheres da meáma maneira que ãf
(I) D. d. i, o, Cap» àf pa|. 37â«
(f) Hbt* de la decoutcíté €t de la ooupeie dii Fi?rú« Vêm 174S« i. A. C*
antigás ftmAzonus i «nm nqnimimns^ po$iimiini muito ouro p pmm,
tmliam ciiieó rni^as cto stil coiti pnvimeníoi da miro* ct^fii littliNfiçi^-s
lie pedra e ciila4â^ murorfasi e l»nb5 ouiraií i^^^ilunií^irijíiiji^s rofii^ita
11 errara (I)» que nAo mo alre vo a cré* las t oeiíi a nílirain-laí fcfa
dílBculdjidis eiti i]tie me ^mj^ o mhet quo nautas raiisns m relações tbf
mdiõs sáo sempre incerías; e íiíivenda ocipiláo On^llana Ci>nfesëJo
pouco antes que não entendia a estes irtdtu^ mo pmce que em Ua
poucos d tas (Hidia ser o seu vocabubrio tâu ropioâu o ceno^ qtio
liinias pariiciibri Jades se poí lessem cnlender a estes Índios. Así^^iui
creia ada um o que lhe pn^cer* Vé^^e pnh b^rn claranianió qu6
nen) so lierrern duvida do verscldad^ dus índios» cotnu da bo3 Té
dos avenluréros bespanlioei,
ResiiUa dequ^tuio temos dito que um so Taeio sa apresenta — o dd
ter Orelkina combatido cotu muilieres que^ dh olle^ batiam com
páas tiós que fugiam. A âsaerrâo lUMh ser verdadetrat aiuda que o
facto podessd Ilt sido mal ubstírvado Cu n Li -nos Lery (2), ti nquefla
que nos pruneiros leinpos da descoberta vtiijar.im petii Brasil , q^e
as mulheres ítidigeuas ac4>mpanti.ivam os maridiis á fCUHrra, e lli^
apnlmvam e miuistravam durante a ac^fTo íts íhíUhs dr5;parad;^5 pelua
contrários. Ora durante a arçào os inditis a q<ie faltavam a^ 5e1taS
vjrrham tuma-las da? mãos dsist mulheres p-in» volrtrao combote^ é uo
acto de lbesiluni^trareu) arm^s, aeompauhadt» das paTtlrjtnimas qu0
empregavam para ameiH^'^ir os ínimigus, viriam os liçjtpanbdes a
at^áú d«3 os rspncarem, de os matar mesmo, si com a viva cidadã
da ca f feira faltasse o pé u algum dos índios apanha o do as sçtias
caiu das.
Algumas vezes mesmo combatiam as mulheres por nece^idade, o
prineípaimetue nas iribus menos ucibref, nas quaes, como em Ofitra
memoiin Cícraos observar, ja ndo era láo forte o sentimento da di^çiíL
dade própria do guerreiro, que eito se pt^ja^se de combater ao lado
das mulheres. EiUraos caraibas lionva exemplos d isiso. Os maruja
de Colombo deram ca^a a uma canoa tripolada por oilo guerretros a
(1) D, 6. L. 9. C. 2.
(fi Modu ÚhU de ('Am. BruicUc» íWi pãg* Ô&#
Al
mi Iras f^nus mullmrcii : 1)4 áel^agerts cnrailm se tltírêmlúrâm até á
iillfmn oJílreíijkbJo; as riiuMii'r«s armmins úa orcús mo<ilf;Kíini a
mç^in.i cúriígcMí , o dt*pí»Ís ãú viiV)r!,i a canoa, Mlvnríitn-íííí :i tiadô
|)!)ra um (lus rochedos vizíitlifjs, iJ\iiu1d rum Lvs.<anirki úe votnhulnT*
Shs Uiinfiem iIN*ste ínvia nuAti ^t*fnji!(i cínicluir ara fnvnr datinif^tencía
das íiiiiní^iirKJS, ^^b [itíiia du nnr 1:4 conclu^fiú rln^siliraJa á»mo um
dii^pnrole, corno n cli].<^ilkuu Gonrara a rú^pcnli) dns Amazonas de
Orisibfia. ci Que .is rnulher^Ês nndem :t\\ ooin nrnias e plqiirn Mo é
mullti, (jiiis t\Hú (5111 Pariu (t^úlfu na ilha da Triadaih^ ondtí aportou
Gdoiiibo) ff lie fuiu o rnultii brrgô, 0 tírn muitas outr«is prles ÚM
Indlast o Itírn [lOr cosiaau*; nem ju1;^a íjuíi nenhuma cúrU} oti f|UDÍrnâ
t) pciKt drmiLo para poífer ntirar H)it?is, [Xiis «fuo com elle as atiram
Jiiui tiuai; ucm cieío (\ue matera i>u tangei Cem 0^ próprios íillwsf
irurn rjuu vivam soai iaaridoí«, pis $>aa luxrii^iosissiaras. OiUros, índe-
pendanlá de Orelhna, tem letâaUdo simílhrmte balela deamrj^oaas,
d<^potique Toram doscobcTla^^ âs índios, o nunca tal se viu, áúrnso
ha úú ver tso pouco noáte rio (1). 1 Para confirmar esta a^serçOado
bísioriador liespaaltoÍ« f]iio por muiH arriscada» no tompõ em que
eflo a publicava (em t^$i) so Ifje podia sor arrancada por forra da
eonvic^Ao,-— a»ais do urn secuto depob (rstoé, cm 1684) dizia ú
padrõ Manoel Rodrigues (t] quo taos mullveres nào eiisiiam
n'^i|uull@ rio*
' St pois^ como jn\'*cí lar demonstrado, a ralarão dâ Orollana é dâ
pura imaginário , ainda quando sô nÍo podiisso atinar com o motivo
da sua invenção, riuai \inr tj^^o fica ria provada a sua veracidade. Mas
e5Se> motivos ja os di:i\et referidos — era a vai dadu do nai'eganlo
que pretendia ineulcar o mereci monto da sua víagorn, <* da sua paíi*
soa, qu€ iinhã vi^to cousas láo extr^iordinarías, s corrido riscos tão
?mprevisios,-^a ardil do criminoso que procura dar vulto o maiores
pro[>ortjúes ás razões com que se justiticavar^a mau lia emPim do
pfelendtíniti , que requeria uma ^raci do seu mouarcha.
Aquelles porém que assoalharam hb suas pbantasias, deveram ler.
(I) Gomara ob* eif.
(í) L, i* C» 5, ob, cll- • Y nt \n% \x»f p«rH M*f*iíim amh,i.
tfnt
Irívn) pr rerlQ fiiriiivrs ilrflerrnifS. Oiifílc», por exemplo, tiar-
raiiila :i [>iiíni^ira iiavGí;a(;iri fio Ani;iiífiníis, r iltrigiiulo as suas fíirlô^
m eartíí^al Bf^mtJO» julgou devor fi*ii»gfiflr o griMo de um homtíin tio
ínfuiUar ruiu o esíiifío *h nuúgniútuh thmvu . como nm revela tk ^
pureza dn sii5 l^tLiniílrylf.
W. Ilalií^íl» mn r\mi mnúo ilef perlar a t;iiriosiJ^e e eslimiilar a
fr>l>rçii ihs sesis i^ofilemporafKidB, Itelcrii etie que um IrmSo de Atn-
tiâlipa. t^ çvaJira diA|^>bdo ílit5lFi!ição do imporio rlôS Incaíi, — tci-
maiub com^igo iSo cotísiilora^el e:iereilu úq màm Oiyom$ qua
hnvit con5og Ilido {>Diii]uÍMí)r Irnlo o interior t\n G(iyatia. Mtis nota-íia
qiití, devendo ter pae^ç^ido a liisturií» cfue elle nos le^ou» no tempo fk
I1ií?^f> deOrtiíis, viidia ella a Inrfiar-sa impoíisÍveÍ, ainda $ò cbruno-
logicameníe falhmdo; porqntí Pkítffo conquisiavíio PíTÒ, no mesmt>
aiíuaem que O rd as subia o OruníJCO*
Kaíogh queria teimbem chonior a nuençáa dn rainha Isabel paru *
t> grande império da Guyana, cujo acquisiçfío propunha ao seu go-
verno, e não ^ esqueceu do dupliendo fim n que visava. Para o vutgo
D iijaravílbosn» -* para n governo o inieresse — e para a ríiinha a
lisonja.
Descreveu piít crealura^ cxtraordi nanas, seres mousiruosament*
pbania5ticos, lan.^ como os í^waipanoniaií , nação de ai^epfialos qud
liBham os olhos nus espáduas o a luct-y no.^ jc*Íu^s^;— e relatou ccuio
mn um dos lemplos do sol no Peru se Imvia achado a iradição de qno
o imporio dos ImMy destruído |>e1os fieí^panhées Feria restabelecido
pelos inglestcs. Tara contem a menio da cohr(;a de^^meveu o levan(ar-so
do rei Et Dorado, ao qual m seus fama rislas armados de comprida
sarabalíinas sopravam iodas as manhas euro em \yò no rorpo humc-
ílecido por óleos e e^seneiaí: aromnlicas ;~ e pnra satisfarão da lisonja
aflirmava o corlexão valido que a^ mmtúms ouviriam o nome da
rainha virgem. E' cerio, como observa Humboldi, que nada deveria
erir tãnlo a iinagina^^ào th Isabel , como a bel 1Í cosa republica da^ j
mulheres sem marido, como ora ella , o que da mais a mais se en-
contravam com elU na resistência que oppunham com fel is succcsso
aos beróes crtslelhano^. O fim qtio Rafegh leve cm visla míinifeita*^^
pnlfnvrlmemtí do mOíio [Myr (|iíc olki onti-lno : t< Finr nu Dots (dírretí»
eite) (I) que é a mi ãué m^ tí o seiílior Ju«^ ãentiuia^, <]tio ulttí {Hírn
El rhirnda
fi^gli «fOíi nã;ir esislirei li Uiubçíiti dt* dnr ;4i|ui iiiii It^^eira oslior ^ lUt
^11 tmioso dtíscobritnantií.
rt Quando Dlego de OdaK tinfireltoiídia fl CímqiiiTíln do Orituoru ,
€ tontio jj^ subido rin Eirtrnn ceicâ dtt iri'"^ (tiíl itMlh;m n^è ao k»j^> f
chumodo <iMí)riquiêo<tf acdou cansuinida tmb a sou |iro visão da
polforti- Irritado pr toE né^gligerino , foiídemrioti á tnorta o sau
fjuarlel meâiref ou como entào o chamava ni m Hespanbmt^^ o sau
mestre dos f?rnocifiienVos, cti]o noriift era Jôiiu Mariíue?;* SuppUfanm*
lha os S6US companheiros í|iie [Knjpasso a vidri nn f|imncUfn(jsirt% o
o maí?4 que puderrtiii cariie^íuir dn iiii^ítíHcímlía do Orda.í, ím iíer
aliandonetdo Mdflioez ent tirna caiia^i ^cia uliniuiiln atgiirn. A mrrmUi
n arrasloii pelo rio abaixo alõ qiio Mjbrtj a tanlt; dou com uma trnin
d^:" íioyanos, que não itíinJo vtslo nu rira limiiorn branco» cumu ;ipa-
nlíí>^*om a este t pusçerani-íljfí uma venda, *i o coudu/jratn ierrasa
dentro, fazendo uma jiiniada de iftialnr/A' i>i] quiozo dias, pura ser
rna<trado de cidadã cm cid^ide « até que cliejí.irniii a Muriòa , a ^randk^
fíjpital do Iríc;». Tiraram^ílio a venda á tíiilraila da cidadi* , Ofideelím
rhegaramja de lUille, l'iiininlírirani ao Irave^í ila^ rttas twda es^i iwil"^
« a dia sapfuíma até o sol posto « prim^^íru i^uo chcgas^im at» pabcía,
NV^ía cidade foi Martiituy. tldidu siltí i»R"/»ís; roas *k*ni que Ihu Íoslsíj
líeik> sablr fora das muratlias. No furi d'e.<*stj lem|iJ) lhe foi conreilidi)
voltar; e um troço de Govatios oarregadas mm quanto ouro podíáo«
€€»m que fora pre^nt^adOf teve ordem de o reconduzir ao Orenuco.
Chagndos que foram a este rio, os^dlvtigan:^ o accommellem, despojam*
00 do tCKÍos 0$ seus ihesouros» excíi^pio da duas cabaças cheias de
eontas de ourfi , quo llie deitaram pr 5up|K)rem-nos cheias de alt-
foento. Chegou Martuiezà Trindade* c d*alí se dirigiu d S. Joáo áê
(1) tlaklu^là -. ob* afc 3^ 6 r m.
Porlo Rico, omie niorre», o por occasiâo da sua morlc cedeu lae^
eoiilasá ij^reja para os suílragiosda sua nhna , e deixou esta narrativa
Jo sou descobrimento. O vestuário da enrio, como ello dizia , era de
ouro om pó grudodo no corpo , segundo a sabida fabula do £1
Dorado» (1).
O século em que Hnlegh escrevia taes portentos do rei que se vestia
de ouro em pó como os .láos se pintavaín de amareiio, de mulheres
sem homens, e de homens sem cabeça , era singnlarmento propenso a
prestar uma fé implicita a tudo quanto era extraordinário, e isto ex-
plica a voga que tiveram no seu tempo, empregando-se dentro em
pouco em toda a Europa os nomes de Potosi e £1 Qprado (nome do
rei que depois erradamente se applicou ao paiz) para significar na
linguagem do vulgo e na dos sábios a accummulação de grandes
thesouros, e assim também a de riquezas fabulosas.
Esta razão porém nno basta para explicar a propagação da noticia
das Amazoutos entre os indivíduos da America; porque nSosãosó os
habitantes d*esle rio, mas Índios de muitas linguas e de logares bem
remotos os que attestam a sua existência.
Hernando Ribera (2) declarou debaixo de juramento (anno de
Í5i5), que nas suas explorações do interior do Paraguay , estes
Índios unanimemente e sem discrepar nas suas respostas , lho atlir-
maram que a dez dias do logar em que estavam e na direcção do
nordeste existiam mulheres, que possuíam grandes cidades, e tinham
considerável copia de metal amarello e branco ; mas que os seus
utensílios eram lodos do metal amarollo. Accrescentava que era o seu
chefe uma mulher da mesma naç5o, que eram todas guerreiras e
temidas dos naturaes, que antes de chegar ao seu paiz existia uma
nação de índios muito pequenos , aos quaes ellas faziam guerra, — e
do outro lado nações considerabilíssimas de negros; — que emtim os
seus antepassados as tinham visto, e elies o ouviram a nações vizinhas
d'ellas.
(1) Soul. Ilist. of Bra. Notas. T. 1, pag. 652.
(2) Ternaux. Voyages, Relations. clc. T. 6, pag, /i90.
A5
Nâo são c.^t8$ iinicatnenlo os lesieiuuiibos, embora injperfóito^ « 4«
e^isieiicia tlVsEas miillieres; ponjueni como difse, limilbaiUâ irãdiQuo
so fispiíUiou niíiis Í10 brgi) tio íju^j o poderanios suppõr.
Vlrkh Schmiáí (1) iratâ também ãã% AmaisoRM, mqm^f se-
gíuiila iiDs ílí;! ler ííuvida, hDbíla%:itM u'iima llíia, — ^tinham um $ò
poilo, recebiam harncris tfés ou ijinilru vexes por anno; q sr davam
fildos á [u£, oa tíritre^avam um [ms; 6 m íiilias, guartkvotn-nãS i e
fjuejmavíim-ltit^s o $4^10 direito [Kira f)ue pudessem encurvar a arco
euDi m:tiâ índl idade.
Como em tod^is as rebcôes de v^iagens ii'j3quella l&mpo na áú
S eh mi dl nbifnJam «s inverosimilbançns, Nflu é crive!, par exemplo,
ú que ellenos routií dos Xarruas oí| Sherues, segundo a sua orlogra-
phiíí.ciija rei m bsmquoloava ao som de instrumentos, — que os fora re-
feber em um eammbo timpo, aplanado e eoberio de fiòres^ fazenda ao
mesmo tempo batera malte, de fornia que seaebou e caça presa no
cauvínbo entre oseuropeos que diagavam õ o^ índios que víiibom a
rectíbeí-tís, — e assim se mataram (diai-no^ elle) trinta veados , vinte
omas e nào sei quanios outros animaes [i). Este rei ma^nilico deu-
Ibesde preij^ente uma coroa de ouro, que linha adquirido em uma
guerra contra as Amumnm.
fia ainda uma outra autoridade re«i|>oitave1 pelo caracter saeerdotal
e apostólico de que se revoslira. O padre Cypriano Baraze, como se
]é na sua biographia que o bi^po da pa;ç mandou imprimir (3)« diiia
que osTapeurcs (ramo da Iribu do^ Moxosj, dando-lbe noticia do
paÍ£ das Amazonas, altirmavam sem discordância, nem excopção,
liÉiver para o lado do Oriente uma nafíto de mulberesbetUcosas, que
em certo tempo do anno recebiam bomens em suas moradas, e (jue
eslas mullieres, matando os filhos^ Unham grande cuidado com a
educação das filhas > que desde eriançâs se exercitavam nos trabalhos
dã guerra.
(1) C0P* 37 (Tcmiu^). Tora, n,*
(2) fi. Mi,
;a) Ultr* ¥m F.iris ITSl l. 10 pag. IM.
&0
A lTuá\i^ÃH [uriju! cleviTíi Mtrsido propapclci pir ilmi f f»naes difT»*-
rei>kK — [itsltís nopqimLitlíirí!S e pelos m&?mõs iiulios.
Os míKíiíiíJlíithri.ífí, cn'ii>tn íirnicfnorítn m pfisíií bí lidai to , r iiítuIi
fiíCííinD na enií^eíiriíi (1*^ laf rcpublicíi, vinm- como Oriílkiiiji ,
Ama^oiifis niis mtílherosíjiiií imliam (>or costume spííuir osmíirífliis
à gmtfA^ — 0u iiaB <|Ui)dr.'fi^riJiaiii seus rilfio^ o r3lva(ta.< na nnscnríji
dos maridos (íj , — uii já como Colombo, ijàrH|uí/,tjraní únr a i^j^^a
|^il»vra outra signiruuiç^o, ífiie não fossesimpleNn<?nte a ú*s mullii*n*s
íjtiú sabiam fomhnier, o íjtieera e.\cepcioníil no^coi^luniesda Kurnp,
— ou por Gm, o í]ug era sobrciudo indesculpavelt davaju essà nrj-
me a congregaçiies religiosas, a convénios de virgens mexicaiias quo
vivíani na maior austeridade & reclusão, lotige de receberem ho-
mens cm qualquer quadra que Ume do anno.
Quanlo nos irMling, e^tes lambam , piilo que im^i^nno, náo coiuri-
biitrain pouco para af^soaltiar tal opiniilo. Crédulos, e m mesmo temp
mentirosos, aiuigai» de contos e do maravilhas, è procb> náo lhes
ifioHrar muíLa ruriosi^fadc, nem muito inleresso m quo so Íbc5
poryunta. Como crianças resspondem muitos ve7,es no sonlido ent qu«
suppoem que desejamos n resposla , e prestam facilmente o seu tésle-
munhoa cousas que nunca viram. Era maÍ5 peral enlrtí elles a crença
nos gigantes, nos pygnu^iis, nos homens do pes virailns; encm por
isso m prelendti a r{çu montar que taes entes e\ií tiram , só porque era
gorat entre os indigenasa tradição dà sua existência.
Nota em primeiro logar que, apegar de tudo , nêiilium iadio asse-
vera ler visto as Amazonas , sendo que o testemunho isolado de um
só bem pouco faria para o caso.
N^ilo mats — que essa tradiçfo predomina nos lugares por onda
andaram HespanhóeSi— e quer tne parecer que elles desejando veri^
fír^r a narra(;ãa da Orei lana i eram os que aos índios davam idéa do
stmilhante facto, ao passo em que ingenuamente se persuadiam
deverom-sodar por convimridos com o apoio que nelles encontravam.
Enlre os cscriptõreçi poriuguczes ha a eslcs respeito menos credu-
(I) Fiav. FiMlro SíintMi. N< «»tnp»5§*
A7
liílailt». Bríio Treirú {1) * ira lati Jo tias eon*iilenivcis n^t^ões {\m
Inbii^vaia ú AinnMHns* k-íti pnr faliulosas íis Am MntujiJS, f|iit?
iiasrtni* ê amloriJ ciiín uh pesas avf^àíks^ — dos pyfí(not>* Gonj^ítU,^
lios ;^ipnu*s Ciirriii]uuii]5,— t; das Amazoiíns t|ue llie tleram o iiame;
i* p iiuvidor HampnÍQ, uún o^tinte ayvil-o ao^ índios, não ftôdt^
nu rira arnbsir coíiisÍ|ío rrm rmr nu rjuit dltis lhe diziam , lalve^í por
rnnhí*cel-*í;s d ti iiem pertcu
NfíiD pí»r fim qytí níia Uíivondo eiUfe as inlus iiiíli<ícrias nenliiim
rammúfnií oi} mmfnunícJ^çflo, conhecendtMití -ipímris nr|!itílbs com
(ftjt* ronflitavam , ti mm as qyae^^ iicliavam nm i*»tndn do iiusLilidadf^
imrmanerite . l* fufni — ou que roiisideroniO!!i ;i Uibnht díi?t Ainaronas
ciimo tim d'n(|uelles erfiif^ e preJLiir^os romm^ins à in fanei ã do lodo^
1)8 povos, — ml i]iie ef^sa tradição lht*s lerá sido trananTitlida por iimn
raça que esteve om ronla^uo eom lodus ciles — com os Europcos. Ha
Uimbcrn uma ouira explicação ; mas essa é apenas verosímil , § eu a
reservo para outro logar.
LaCondarnirin. aulor cuja opinião nos rescrvamiisa expÕr ainda
mais por extenso, como quií argumenta que se áávú crer na e?iiiíltinci;í
das Amazonas ponjuo os iiidios o relulam , sem que, dâ curlu, tenham
nenhum eondecímenio de luslino ou Diodoro, Todavia pouco anleâ
dt^sli preposição nos diz o mesmo escríptor íjue al^íuus dos cosi umes
que a osías mulheres se aUribue tal como o de ampularem o peíio
direito ás filhas, sSo circumsianclas accessorias, adulteradas ou
aecrescenladas pelos europeos, e que o amor do maravilhoso ãsiería
foito adoptar pelos rndios.
Nao pondera esto autor que o mesmo canaf por onde se p li deram
vulgnrisar entre os indigenas oi ornatos rom qim Justino e Diodoro
julgaram ler arormcjieado csti fabulai basta para explir^r o conbe-
eimento que da própria fabula tiniiara os índ genrííi; poisquo aqaella
fircunistancia da dt;ikiencía do peíto é Ião i^erahnenlo noticiada, qu^
m eonslituiu como caracter essencial das Amazonas, como distinctíro
doi seus costumes , — ou pelo menos como parle inli^grnnte da ira-
(1) Niiiri Lu^itattia* IJulioa, líi75. — pau, fl, tmta.
i8
dição. Não pondera 9obreludo que si o amor ao maravilhoso è a
que foz nos indios adoptar similhanle circuinstancia, era. nas sua<)
idéas inais admirável a formaçclode uma republica de mulheres, do
quo seria — para elles, acostumados a supporlar soffrimenlos para se
endurecerem nas fadigas da j;uerra, — a caulerisaç3o ou ampulaçáo
do seio , operação cujos perigos mal poderiam elles suspeitar , e que o
próprio Cunha refere de um modo tão singelo e simples como se
tratasse de aparar as unhas ou de cortar o cabello. Pouco versado
também nos costumes dos indígenas, o europeo nSo enxergava quo
essa circumslancia que torna incrível o facto para os habaantes da
Europa , era exactamente o que o torna verosimil para o selvagem
(Ia America meridional , que não poderia conceber, sem uma dolorosa
iniciação guerreira , uma republica forte e armada , como seria de
necessidade a das amazonas, a terem algum tempo existido.
Si além d'isto se considera que o Amazonas foi explorado logo
nos primeiros tempos da descoberta do Brazil, — que foi navegado
em todo o seu curso — em primeiro logar por Orellana^ depois e
em sentido contrario por Pedro Teixeira , em cuja companhia foi
Christovão da Cunha, — que os demarcadorcs portuguezes e hespa-
nhóes por ali andaram differenles vezes, em épocas diversas, por
legares distantes, e em exames que ás vezes levaram annos; — que
essas tribus, como em outro escripto procuramos demonstrar, haviam
sido recalcadas do litlornl para as margens e valle do Amazonas; si,
porOm , a isto se accrescenta a curiosidade que teriam os europeos
de verificarem as relações de Orellana, Oviedo, Ralegh e Cunha, —
com facilidade se poderá suppôrque d'csla multiplicidade de infor-
mações pedidas deverá resultar a vulgnridade da noticia encontrada,
— noticia que apezar de tudo não era lá muito vulgar.
Depois d'estas considerações tem logar o seguinte trecho do La
Condamine (1).
(( Poder-se-ha acreditar (diz elle], que selvagens de paizes tão
remotos se tenham combinado para imaginar , sem fundamento, o
(i) La C. Relalion d*un vojage fail dans rinléricur de rAmérique mcri-
dionale par Mr. de la C, Paris 17Ã5.
6i>
mesmo faciõ? — e fjue *»sid pretendida fabula lenha sido adaptnil^
fom tónla yrHformidade e ião uni versa hnenle em Minas^ Pará ,
€íiyeiin3 e Venezuela^ — enire lanUs naçOes que se nào eomprelvett-
dent, e (]uê nenhuma commynicaçào tem entre si? •
Creio que estâs objecc^õtis ja ficam respondidas, — e prinnpal-
menle si atUttdormos que todos aquelles logares eram frequótilãdos
por cnmybnSr ou ramos bem projclm*QS da mesma trlbu,^ — o que
todos etlea ^e deviam mais ou menos ter reséntido do retrocBg&o da
poputaç/iO indigena , qtie se amalgamava e confundia na sua reeml-
graeilo do sul para o norte.
81 queremos saber tm que parte do AmaEonas m eslábelecera esta
fí^publica feminil , alé n^isto eneonira remos náo pequena diversidade
da opiniões.
Raliígh as hz habitantes do sul do Amnzona^i junto ao rio Tapa*
\úz : idi n'esse mesímo rtoqtie La Condamine, Rpf u!o e meio depois (*),
í3n€onlrou as afamadas f>tHlras vardes, de que Halegh a^isoverava quo
eram ficas. N'as!?a margem lhe foi communicada a tradição dos indi-
gena s acerca d'ei^sas ífuerreiras qna elle suppõe ter atravessado o
ÂmnEOrtas entre o Tefó eoPiirús. Foi ainda n*é3m mesmo rio que o
púfiugtiez Hibeiro , penx>fréndo 03 seus aiHu entes do norte, acboi!
a mesmo tradição, qtm fora revelada a La Condamine.
Ha porlanio duos opiniiles a respeito do logar onde se suppíJequê
Sê estabeleceram asAmazona'^! cotlocando-as uns ao norte, outros
ao £ul d'esle rÍo. Halegh o Condamine as colbcam ao sul^ o assim
lambem Ore! la na, que cbegâfido ao Amazonas, segundo se cré pelo
Coca e o Napo parece ter combalido-a5, que nfio eram, mas quo ella
denominou amazonas entre a fo£ do rio Negro e a do Xingu,
Outros porém as eol locam ao norte, e^ eonforme as informardes
transmíuidas pelos indios de Cayenna e do Fará — em dríTerentes
togares — umas vezes a oeste das grandes quedas do Oyapock» além
dos índios amicuanes — lambem cbaraadosf>re//a£/oi, orelhas com-
pridas, e que são os mesmt^ Ory*íueí, de quo falia Halegft ; — 011 Ims
xtttt
50
vcE&sa oeste de rio Anjo ou Injò, que desagua no Amazonas iim
Houco ao sul (lo Araguary;— outras por fira — junio as cabeceitíis
úo CudúvarOi
Quanto a este ultimo rio deverei observar que o pdro Gilif míssto-
nmo ff ae acredita na existência ãâs amo^Oiii»s, ptenteia a opinião dti
qm nào wm taleiramenCe accídenbl a grando dmítlian^ qua m\à
anire o$ nomes do Ciietiivar^, aííliiente do Amazona!!, jutiio ao qual
dèvtrão elbs ter passado csle rio, e Cucbivero, ^LJlluente do Orenoco*
Pretecida o missionário que os aíkeâulenano, descendentes das ama^
zonas do Marmihào, dáram á sua nova ^ o tionM da aRteríor ou pri-
mitiva lialitacSo. O sábio Uomboldt duvida com razoo, de si mi Hian to
[acto e de sirniHianto genealogia.
No era tanto, como modernamente se tem querido argumenuircoin
a opinião a esta respeito apresentada por La Candamlne, [;eral menta
secrá, ou pelo menos 9e di£ que as amaz^onas origiiianâs do (ago
t d'ali se passaram as monti^iibas do interior da GuyaikAi
onda por certo não ierâoi nem julga o autor fraficez que tenbam de
&er descobertas nunca,
âendo porém temp de passarmos a expor a opinião de La Condi-
mine, a cuja vragem m deve neãle^ últimos temps o reappííreci mento
na fcena litterarta das ja quasi deslembradas amazonas, eíâ o qua
para o caso nos parece digno de ser extractado da relação da sua via-
gem ao interior da Atnorlca Meridional (*).
«No decurso da nossa viagem (escreve elle) questionamos por
toda a parte aos Índios das diversas naç^s, e d^elles nos informámos
com grande cuidado si tinham algum conhecimento d^aquellas mu-
lheres belltcosas, que Oreltana pretendia ter ent^ontnidoc combatido ;
e si era verdade que ellus vive^ím fora do commercio dos homens^
Jtáo 09 recebendo entre si ienao uma so vez poranno. . . .
«Todos nos disseram lê-lo assim ouvido a sens pi3| ajuntando
mii pariicutaridades, muitas longas de se repetirem^ todas tendentes
1 coafirmar que houve neste continente uma republica de mulheres
(*) Ob, tit., paj, 101,
que flsiãm 30S| fôm homÊns, e qu^* sa retiraram para o interior das
terras dõ fado do norte, pio rio fi*.*;LTo ou por um dos que p^lú mos^
tno lado corrafn para o rio Marafikiu.
* Um inclio de 5, Joaquim de Oma^uai nos disse que par vcn-
tiifã oncontrarbinoâ âíadâ em Cuarí , um velbo, cujo pai vira as
tmaKtnas. Sitiemos em Coari que o Índio ^ que nos Unha iido in*
dicado hâvb fallccido ; mas fallomos a seu íilbú, homem dâ 70 ânuos,
e coaira.ind.iTite ii& oulros da rnesma Ifitm. £sLa uos assegurou que ^u
p9Í ^s linha mio passar na entrada do Gucbiuara, vindas do Cayamé,
que desafina no Amazonas do lado do sul entre Tefé e Coari : — que
tinha falíado a quatro d'entre eltas, quo uma Iras^ta um filho ao
peito, , , , — que, deixando o Cuchiuara, atravessaram o Grande
Riõf o tomaram o caminho do rio Negro. Omilto certos deJalhes
(dÍ2 La Condamiiio) pouco verosimeis; nms quo nada importam m
easenciat do assumpto.
« Abaixo do Coari nos disseram os Índios a mesma cousa, variando
so em algumas circunistancias ; puram quanto ao ponto principal
estavam lodos Je accordo*
« Um índio de Mortigura, mis^o vidinha do Pará (continua o
in^mo autor] oíTereceu-se para n i ostra r- me um rio, pelo qual,
segundo entendia, se podia subir ale a pi*quena distancia do paii
em que n'ai]ue]la actualidade sa encontrariam amassonas. Era este rio
olrijd; o di^ia o mosmo iudio, que quanJú tal rio deixava de ser
Jiave|avel por cau.«a das cachoeiras, era preciso, para se penetrar no
paí£ das amazonas, caminhar muitos dias petos mattos para a banda
de oesto, Q atravessar um paijs montânhusOn.
1 Um veterano da guarnição de Cayena, assegurou que, sendo
enviado em um d^astacatuento para rçronhecer o paizem 1726, havia
peneirado entra us amíaianei , nação de orelhas compridas, que
Imkila além das cabeceiras do Oyapoek, c junto as de um outro riu,
que desagua no Amaxonas, — e que ali vira ao pesoM^o das mulheres
»s taeâ pedras verdes:^ e que, perguntxmdo aos Índias donde as
tiravam , rc!ipondoram ei^tes que lhes vinham do paií das mulhere.'^
que não ttnham marido, paiz que lic^iva a ?ele ou oiio léguas ^U
distancia p^ira o bdo do occidenti^. n
52
La Condamine obsenra que a naçáo dos amicuanes habita longe
do mar, em um paiz elevado, onde os rios não são ainda na?ega*
veii; e que assim, não era verosímil que elles tivessem recebido esta
tradição dos índios do Amazonas, com os quaes não tinham relaçAo
de commercio.
(c O que merece attençào (é ainda o mesmo autor quem falia) (^)
ê que emquanto as diversas relaçOes designam o legar da residência
das Amazonas — umas para o oriente , — outras para o norte, e outras
emfim para o occidente, — todas estas direcções difíerentes concorrem
em collocar o centro commum nas montanhas do interior da Guyana,
e em um recanto onde ainda mo penetraram nem os Portuguezes do
Pará, nem os Francezes de Cayena.
« Apezar de tudo, confesso que me seria bem difficíl acreditar que
as nossas Amazonas ali estejam actualmente estabelecidas, sem noti-
cias mais positivas... »
Para desvanecer a duvida que poderá suscitar esta ingénua conGssào
da parte do seu mais acalorado defensor , La Condamine pondera
que a naçáo ambulante das Amazonas poderá muito bem ter mudado
«E o que mais que tudo, me parece verosímil (diz elle) ó que
eltas tinham com o tempo perdido os seus antigos costumes, quer
fossem subjugadas por outra nação, quer, aborrecidas da sua
soledade, as filhas esquecessem a aversão das mães para os homens.
— Assim (eonclue eNe), quando hoje não deparássemos com vesligios
d'essa Republica feminil , não seria isso bastante para aíTlrmar que
ellas não tinham existido nunca. »
O que d*esle extracto se concfue é que La Condamine, em prin-
cípios doeste século, achou no Amazonas a tradição d^essas mulheres
que ninguém vira , e sómenlelhe asseverava um indio de 70 annos
que isso acontecera a seu pai. Note-se agora, que, segundo a própria
relação de La Condamine, quem devera ter visto as Amazonas era o
avô d*este indio , como seu pai aflirmava ; mas morto este ultimo , já
o neto dizia que não era o avò, mas o próprio pai, que as vira.
(•) Pag, 107.
O €scriptor portu^nez Ribeiro» diogou na sua risgem ao
Âniâzonns á povoação já enlào desílrtiiJu de Citchubára [que ftcava
lia bacca cfo Purys}* onde perfítinuintjo pelo inJio, que transmitlira
Iflí/s ififorniações a Líi Condam ine^ verificou ter sido o iarj^Biito-môr
da orJcnnnçji José da Costa Pu n ilha , já então fidíecirlã. ^ Porém
(íictíraíC4?nta elle) outro Índio do dito logar, chamado Josu Manoi;!,
alferes de ordenança ^ liomem já de 70 annos para cima ^ e de Lom
propósito « nQUjral da dítu anúga povoarão deCuchuiuára, me asse-
gurou ter ouvido direr muitas vt;zeíi ao nonieodi} sar^eiiio-mór , a
que este disse qq Sr* de La Condarttine, segurjindc^me além Uma
qutí era ri 'este rio conálanlc eiilre os ítiJÍos a Iríidiçno da tí^blcucia
das mullieres Amazoaas, do c|ijai m ralírurduu onlriíidiaudo-se uas
terras do norUi d^elle^ da bocea do rio Kegro para haho. »
£' certo que esla Iradteão correu entre os mdf|íensis do Amazonaíí ,
ê correrá talvez ainda lníje; mas qu atuo a mitn riào ÍUa ex|jl içado —
si foram os Europeus oâ que a receltL^nim dos iiidioã, — ou ú peb
contraria I como eruío, foram alies os que lh'a traiismiuiram. Cotn
firmomc n*tíStaopU!Íãoqoando!Jíi particularidades fjue La Condafnine
auli^ |iouco verosímeis nflt» eram scníto o acccssorio da liibula do
velliô mundo. A mesma eouclusâo pudia Hi beiro tirar do dilo th
iuffio pni a esíslenem das Amazofías , e comtudo decídiu-so pela
negativa laivez porque metbQr coubecedor do caracter dos indi^^cnns ,
.sabia quáo pfjuco verdadeiros coâtumam ^er , sendo liomenâ crédulos
jto que ouvem, 0 exagerados no que narram.
DVsLt píirle da sua vi Liarem ttii. Li Cumiamino uoia memoria » que
foi lida na Academia Real das Sciencia^ du Puris; nias entre os iuu:s
contemporâneos (como 6 liem de soppòr, e Ilumboídt no-la assevera)*
não se julgou que elle lívesso tomado a defesa das Amazonas senão
para capiivara atten(;io do seu auditório com um taclo^ que era peto
menos admirável
Não nega comtudo o viajante franccz quese possa ai legar contra i\
verosimilliatiça du tal Republica (^0 palavras su^) a impa^iid-
lidaie de ê€ €$tahUc€r $ iubmtir; mm prefôiiíia que si em âlgumii
parto pâdaráâ iâr âxlstkla AmAignas, oio foi mn§o m Amcrioi ; —
e que a vida errantâ díis mal bares, seguindo os niarÍLÍo!} mssuat
âxpadíç^ , e põr oulro bJo a sua inrdicidade domestica lltâs dis>
parta riam a idéa» assim como lhes praporoí cariam oecasiáo dd st i
esquivarem deum jugo tâo í ne oro porta vd.
La Condam ínâ Ma previa por certo quantas objec^ées sofTro simi-
Ihânte hypottieso* Como todas ou o maior niimaro das mutheres d^
uma tribii so poderio colligar e fugir» q ciando quasií diiiría menta
acompanhavam seus mn ridas? Como em tríbuis resumidas se reuniram
em numero bastante pra formar uma Republica ou um corpo que
íosso respeiíado das na^^ por cujo território passasse , e em cuja
vizinhança se estabelecessem ? Como abandonar os lilíjos? Como
subsistir por Dm P De matsd^isso não era tHo deseí^peroda a condição
das mulberes entra as tribus inJigenas da America MefidioDal , que
alguns autores modernos, que attenta mento estudaram os seus eos<
lumes , não a reputem preferi ?el à d^ã mui Vieres da classe inferior
nos paizes mais civilizados e nas capitães mai^ populosas da Europa,
£stõ dito de d'Orbtgny e eon firmado e gent^ralisado por um naLti^
ralísta, a quem se não nega perspicácia , e eujas observações slo d»
ordinário agudas, e não dastiiuidas de profundeza* tHo extremo
da barbaridade (diz Virey] (*) nao é o sêto feminino lâo oppriínido»
como 50 poderá soppòr; porquo so torna necessarioeomo o centro da
família e esperança da nação, — emquanU] os homens se occupam por
fóm da caça e da pesca, n
Ainda no tempo om que o inundo soientilico e lilterario so cccti-
pava com a dísscrtaçSo de Lt Conda mino , perguntou -se a Humboldl
si elle seguia a mesma opinião do viajante f rance;, numboldt que por
si nada tinba podido verificar^ porque não eompreliendia a linguagem
dos indígenas f julgou quo se nSo devia rejeitar uma tradição táo
geral, bem que perfeitamente aventasse quacs os motivos que puderam
(*) Histi uaL duGen tltunaiorc. Vàm» 109i. f . 3, pag, ^o.
6fi
tir levado á exageraçlo os eserípiores qua deram maisTc^a ás Ama-*
xonas.
Apresenta cômtudD um leslemunlio que olle reputa dâ algum pesa»
o dá mm i'Xp]tcai;âo qm mppm satUfoctoria. O teatemunho ó do
padre Giii* e a e?(plieaç3o ti com pouca e bem pouca diíferençaa
mesma ée La Conda mine.
aPerguntándo (escreve o padre Giíí) (*) a um índio ptãquá^
f[ue uarôas Imbiliivam o rio Cuchivero, elte fsomeou-ino, *. eus
aikmmbenano. Sabendo bem a língua tamanaque, comprehendi
sem difílcutdode o sentido d*esta palavra que ó composta » e signifícs
— miííAer«f vimndo aái. O tndie conrirmou a minltã observação »
ecofiLtiu-meqnoos Aikcambensno era uma reunião de mu Iheresi que
fabncim bogas sara baianas e outros in^^tru mentos de guerra.,* e que
matam de pequena idade os filfKJs varões.
Quer IlLimboldt que esta historia se resinla das tradições dos
Índios do ilâranhão e dos Caraybas; mas o mesmo autor ac^rescenta
que o índio de que falia o padre Gili ignorava o castelhonot nlo
linha «faiado em con lacto com os brancos , e não sabia do certo que
ao sul do Orenoco eiislía um rio que se chama dos Afkeambenano»
ou dái muilieres que vivem ms,
Humboldtconclue enláo: as mulheres fatigadas doestado de escra-
viduot em que eram ildas pelos homens ^ se reuniram , como negros
fugidos, em algum pahnquty onde o desejo de con^rvar a sua inde-
pendência as lornaria mais guerreiras» — a receberiam depois visitas
de algumas tribus vizinhas e amigas , taKm menos methodicamenle
do que o refere a trâdjçílo. Basta que esta sociedade lenha algum
vuUo em qualquer parie da Guaysna para que acontetti mentos muito
aimplices, que se poderfio ter repelido em diíTerentes legares tenham
sido pinladoãde uma maneira uniforoie e exagerada.
La Condam ine trouxera também para exempla da possibilidade
de uma Republica de mulheres os mocambos dos prelos; nâo julgando»
QO que parece ^ que íos^ um doestes factos mais admirável do que o
(*) tlumboldt, c»b. du
56
oQlro. Fogem os pretos ó certo , e cousa bem commum ; mss «s
pretas já nSo fogem na mesma proporção , nem em parte alguma
formam quilombos só compostos de mulheres , pois isso lhes obsta a
fraqueza, a irresoluçSo da maior parte, o amor materno, e a natural
dependência do sexo.
Si além d'isto se attende a que La Condamine parece suppôr que
as suas heroinas subsistem desde Orellana até o seu tempo, isto é, —
por espaço de dous séculos e meio, ver-se-ha que nenhuma paridade
se pôde realmente descobrir entre uma republica de mulheres guer-
reiras, e um mucambo de pretos fugidos.
Inclinar-me-hei também para a opinião de Humboldt de que não
devemos rejeitar inteiramente uma tradição tào vulgarísada : é mesmo
possivel que ella tenha algum fundamento na historia da anniquilação
dos nossos indigenas, mas por outro lado ser-me-ha permittido estabe-
lecer ao mesmo tempo com o autor das Investigações Philosophicas {*)
não ser possivel que em tempo algum tenha havido nem no novo mundo,
nem em qualquer outra parte , uma verdadeira Republica de mu-
lheres confederadas e unidas por um pacto social, por leis e consti-
tuições particulares , que tenham propagado a sua descendência e o
seu império durante muitas idades , não admiltindo homens em sua
companhia senão uma só vez por anno.
£ pois que so com as da America nos occupamos, vejamos si
poderão ter existido verdadeiras amazonas.
As verdadeiras amazonas deveram ter vivido cm uma completa
separação do outro sexo. Comtudo Orellana affirma tel-as visto em
companhia de homens, a quem ellas dirigiam no combate, impondo-
Ihes mesmo no campo da batalha a pena dos cobardes. Segundo em
antigos historiadores se lô , exemplos ha de povos entre os quaes
predominava o sexo feminino. A este propósito Virey (**) appella para
o testemunho de Diodoroo Siculo, e da obra que se intitula «Em-
baixada aoThibet. » Ainda em tempos posteriores, como nos affirma
(*) Rcch. Philosoph. pag. 110.
(••) Ob. cit.
0/
um viíijaiUe inoílcrno (Rionzi) (*), as miilliores das Marianas exer-
ciam em nulo o por tudo o commandu, oxctípld na guerra e na ma-
nol)ra ile uma canoa. Mas sendo verosímil, como prelendíí Caril (**),
«|uo Diodora Siculo se lenha deixado illudir, quando refere que as
amazonas linham império sobre os homens do seu paiz, prece
lambem cerlo i|ue enlre os Maríannezes deu-se o mesmo f.icto que nós
lemf>os feudaes e cavalleirosos da Europa , em que os homens mos
Iravam extrema deferência para com as mulheres , sem que d*ahi se
possa deduzir que ellas lenham exercido imi)erio em tempo algum.
Por Oíilro lailo nâo ó possível crer , que os homens de uma nacíío,
se deixassem avasfallar e subjugar completamente pelas mulheres,
porque seria preciso pra isso que fossem lodos elles muilo poltrões ;
e iodas ellas muilo resolutas , e que de um momento para outro se
^chasscm iodas com a consciência de uma su prioridade que bem Fe
lhes pôde contestar, — emquanloos homens se sentissem aniquilados
pela rcvelaç.io fulminante da sua inferioridade — cousa que os próprios
bárbaros seriam os primeiros a não admittir.
Nada imprla (como diz Virey) (***) que enlre pvos bellicosos e
nas extremidades da guerra as mulheres tomem armas. Ha factos
d'estes na historia de lodos os povos , e na nossa mesmo (pie é ainda
bem recente mais do que um exemplo glorioso se aponta.
Mas que as mulheres façam no manejo das armas a norma da vida,
pretende Pass que c esse um acto contra a natureza , o um facto
inadmissível. Sustenta este autor (e a sua proposição nos parece um
axioma) que podem os homens submelter-se ao império de uma
mulher; mas nâo á aristocracia olygarchia do sexo feminino. De
facto, si conveniências de alia politica reclamam ás vezes a derogaçíio
da leísalica da humanidade, nunca as mulheres ou por força ou por
astúcia poderiam chegar a idênticos resultados.
Pois , para que essas mulheres se não deixassem subjugar pelos
(•) Oc— T. 1, p. 395. b. L*Uiiivers.
(••) Lilt. Am. T. 2. liU. 25.
(•••) Ob. e log. cit.
WIII ^
58
homens , deveriam \ivcr sos. Mas, admittida a liypolliese, comose
consliluiu essa republica? — Si vieram da Scylhia como o indicam
os costumes que se lhes attrihuc , como poderam concluir similhante
viagem? Si se organisaram no seio das Iríbus indígenas, como se
combinaram , se evadiram e se encontraram todas nas mesmas dispo-
sições desearoaveis de abandonarem . ou, o que ainda menos admis-
sível seria, de sacrificarem seus filhos e maridos? — Depois de
estabelecidas , como se puderam sustentar no meio de tribus beliicosas
e aguerridas, e acostumadas a procurar nas tribus vidinhas escravas
e mulheres, para se dispensarem do presente que deviam á familia
da noiva que tomavam ?
Dada a existência de similhante republica , seria preciso admitlir-
Se a reunião, conveniência e boa harmonia de alguns milhares ou
eenténares de mulheres ao mesmo tempo insensatas , homicidas ,
infanticidas e guerreiras ; e o caracter do sexo, como pondera o autor
das Investigações Philosophicas (*), nào poderia desmentir-se a ponto
de commetter regularmente, de commum accôrdo e animo tranquillo*
crimes que so raramente se perpetram , e por indivíduos agitados pela
raiva, pelo temor ou desespero.
Admiltamos porém que essas mulheres so tinham podido combinar
para a fuga^ estabelecerem-se , c subsistirem na vizinhança e cm
combates repelidos com as tribns aguerridas dos vizinhos.
Quaes eram os seus costumes? — Dizem-nos que corta\'am um
peito para poderem despedir as seitas; mas esta asserção ó dolorosís-
sima, e mais perigosa ainda do que dolorosa, e sobretudo seria inútil ;
por isto, os autores regeitam esta circumstancia como inverosímil ,
c Gomara escrevo das mulheres indígenas que ellas atiravam settas
perfeitamente bem com ambos os peitos. — Enlào vieram outros que
disseram: o5o, nào cortavam o peito, — caulerisavam-no so, quei-
mavam-no na infância. — Mas nem a infância talvez podesse tesistir
a essa dôr, nem as mães leriam a coragem de impol-a ás filhas por
(•) Tom. J.« pag. 206.
5ÍÍ
flmútíle nmííyírtcmíj, e so por lim, ikio fira por essa fótma cxplicSa
Ouiru.s ãupim íiiin^iiiJaniin <\\ã& não eorlavaiii« iiâin caulensav^iii ,
maá sóriíeiile aimpíiííivairi «qiítílle or^ào por meio in pffissão- E coia
*|iní litri?— ^Paro íitirarcjii oi seit*!^ prujértUl* ituiSM as podíom Dlirar
mm íílle? ilyppocraies rnclhur [itírH;idãr íipres^ntava outra razáo:
íis Amazonas o teriajii feilu para (lareiíi maii forca e vií;or ao hrBc/L
Mas observa Vi rL7i jindâ í[ue uinn mJucín;ãf) luaisvírilj e acompii-
ikliâda ãe iiinis e «lií rnaion^^ è^i^rdtnos possam ésmulberus aiigmentãr-
lhe» asfòn;as. ó no efulaíilo inaoniââiavtil i[uê nesio particular nào
poderá d nunc^a ^èv equiparados aos bomens*
Admitíamos tajnbuni que ãs Amazonas encontrassem homens , qu6
10 prostassem a fecunda-laâ, %ênão inimigas «fricarniç^das, e fíom a
«certeza de que seriani dentro fum pouro enxotados eonio os jsarigãoii
pelas abtíthas^. Quantas vezos receberiam ln^nitjns? — Uma * disEem
al|;im5 ; mas outros, altetidendo n inflii«ttcia do cltma , á sua pro{>rtn
natureia, a*j arodamenlo e fttílíi rom qiio rcctíbtam os nltnejadíís
hoíipedi^s, asíitíveram q^m eram quatro as ve^e:^. As mulbores indígenas
a quum ^ conOaia a guarda do:^pri.<miitítms, Fugiam rroquentujiicntL*
rom diaí; « eram iuím^o^ aqoulias mja quem assim fugiam,—
n Siio sacriflciíi era occasíào de o ma fesla riarional » — e a sua fegsi
considdrada como uma ignominia para ^uã iam ília o para a própria
Iribii. Ora , si| stpe^cardo Iodas e^ids circumstaneias^ eç^as mulboros
fugia ui, cunio ml> fugiriam tambr^m as Amazonas com ac|uotlo4 que
ho>pL»<lriva(n em ve^ dia ami;íos, — ou como \mUi menos no i\m dtj
lempos e dtí rebçôes eonliuuadas se nS^» amalgamavam íis tribus?
Isto porém será maisconclud-^nle, O qoe íaRiam estas niollíi^fea
òm filhos? — Uns e a maior parle dí^em que os matavam. Ma^ onde
ibi fica o forarlo materno? O infanlíddio ò um ocio que repugna
i natureza, e a quB poueas mk^ sàú levadas por força da necessidade,
do medo ou do mais intonsfi deses^pero.Nâo basta diitor-se que as
Amtizoriasniosi^rtam láomáeseomo ai^ootras.— Nsoe a^sim; porqu^^
DMi fé O ^nlimeattí dõ amor ninierno é tU todas a^^ mfie5 < como nê
Americaius ol amavam lào e^tromf)í$.^m<?nl^ rumn f^m lodos os pai;sos,
GO
onde reín.i a polyguiniao nos quacs a a(T6Íção materna, única o cxclu-
sivamenle se oonccnlra cm uma so vida. As amazonas eram lambem
americanas.
Mas rcs()ondcm outros: Não os matavam, entregavam-nos aos |>aes.
Sejn; mas quando os entrcp;avam? No anno próximo, diz o pdrc
Cunha ; mas no anno proxim9 o filho teria três mezes apenas. Seria
o paemais amoravcl que o viesse buscar; porque era possivel ter
entre ellas um filho ignorado? E si o fosse, convêm ponderar lambem
que o poriodo da alimentação entre os selvagens era de Ires. Já so vé
que nada podia fazer de uma criança de três mezes, de um anno , de
dous ou de mais, um selvagem (|ue vive dos recursos da caça, e sem
ler onde fosse buscar amas.
Si a máe os alimentava e educava durante a infância , mais inve-
rosímil se torna que nâo sentisse em favor d'e11es o estremecimento
de amor e de piedade , que sente a mercenária a quem se confia um
d*estes entes desgraçados orphâos de mãe e de amor.
Mas deixando ainda de parle estas circumslancias, l>a outras do
maior ponderação.
Entro os indígenas eram escassos os meios de subsistência ; por
esto motivo nSo havia grandes focos de população , — e apenas pe-
quenas aldéas de algumas mil almas, — e todavia nâo se distrabiam
homens para a lavoura, que era occupação quasi privativa das mu-
lheres. A republica das amazonas devia ser igualmente muito
limitada, e mais escassos os seus meios de subsistência, por nâo
haver classe alguma incumbida especialmente da agricultura. Ora ,
da mais populosa aidóa Tupinambá, deduzidas as velhas e as muito
jovens, apenas se poderiam cxlrahir mil mulheres com animo o
disposição bastantes para tentarem similhante aventura. Suppondo
que estas logo depois de estabelecidas encontrassem Gargaris com os
quaes se alliassem , haveria comtudo causas para que fosso espantoso
o decréscimo da sua população.
Em primeiro logar^ nem todas seriam fecundas, nem todas conce-
beriam logo : por outro lado demonstra a cstatistíca que nascem mais
homens do que mulheres; — além d'isso , a experiência confirma a
M
ob$efvoçíTo do vulgo da que tios primeiros annos rfo malrimoiiiti
iiasc^m rjuasi cultishâineiUe homens : as ama^onds variando an-
fiiiaimente dú maridos, teriâtn mais Otlio»* do r|tie íiltms^ que inúm-
meii te aprove] ta vam. Depois, côneabciido imlas ao inesmo tempo,
cstavatn \Hfum aptas para resistirem a ag^ressao dôs Inimigos, qno
II ao fiei cariam de sti apníveitar de ião favorável ensejo. Devendo
poiâ n'e$les tempos criíjcos velir nas armas com mais assiduidade , o
oc€ 11 parem -se da própria subsistancta , o^ses e«@rcicÍos violentos
deveriam occ<isionar maior quantidade de abortos.
Si emfitn consideramos que a raçu omerií-ãna era e O a menos pro-
lifica de todas, — que as màts gastavam três annos roni um tllbo, anti3s
de sâ poderem oceupar com o segutido, concluiremos por ventura
que é ímpossivol que em ta as cireumstancias subsista uma republica
d@ mulher^.
Ainda mais claramente: de í,WO muUieres rieariam gravidas
800; ea proporção Ibes é excessivamente favorável: d'eslas 80&,
abortaria a quarta parte, e seria maravllba que nau abortarem todas;
lemos prém GOOj— os lilbos da maior parte doestas serão homens*
porque nascem mats bomcns do que iiiutbcriB* — íamos 350 bomens;
nascem porém nos primeiros tem|»õs lio matrimonia quasi exclusiva-
inenio varões, — temos em resultado de mil mulberes quando muito
150 íilbas, Occnpajido-se amai com uma so íitba por três annos,
[Hinjua sendo gémeas, uma d^ellas, como dos filhos, lenba de ^r
5:iCTÍ ficada «^ — vemos quo a reproducçào oâo podia deixar de ser
iriennaL Deduzidas as que morressem ale a idade de 15 annos, as
amazonas que succumbíssem de enfermidades, por aocidentes ou nos
fombatoSp* lemos que antes que as primeiras tllha^ chegassem ú
idade de poder encurvar um arco, ja deixaria de ler existido simi-
Ibante republica.
Nem nos podem dmt que sejam (Kir este calculo desfavorecidas as
amazonas, si exceptuarmos; o postulado de que cada uma d'ellas
gastaria tre^ annos com a alimentacõo de um lilbot e e^te não nos
fiodeser ncí^ado, porque i^ a ímfíeriosí» necessidade da vida selvagem,
f>igo f|«e n5o é d calculi» exagerada mnlra as amazonai^^ porque é
prccÍKt que as cireum^íancias septn antes mais do que menos favo-
C2
rav6is para que uma população se possa duplicar no espaço de trinta
annos, attendidas as naturaos quantidades do sexo e da idade. Ora
seria isto o que acontecera quando em qualquer povo de 1,000 mu-
lheres núbeis nascessem 150 filhas que passassem dos 15 annos.
Tornemos mais claro o exemplo. Em uma população regularmente
constituída , de 5.000,000 de almas, — mais de metade , isto c ,
mais de 2.500^000 são mulheres; porque supposlo nasçam mais
filhos do que Glhas, como estes na primeira idade morrem em maior
numero do que aquellas, chegam á idade púbere mais mulheres do
que homens. D*estas 2.500,000 mulheres, (calculamos pelo minimo)
tirando-se as demasiadamente jovens e as que teriam passado a idade
da concepção, podemos calcular que ficariam 1.000,000 de mulheres
de idade de 12 a 40 annos. Ora, si 1,000 mulheres produzem 150
filhos 9 1.000,000 produzirá 150,000 ou 4.500,000 (perto de
5.000,000 no espaço de 30 annos).
Dever-se^ia aind^ duplicar este numero, pois si attendermos a
que as amazonas teriam ongeitajo os filhos varões, dobrariam por
esta forma a sua população em 15 annos.
Si attendermos por fim a que consideramos que quasi toda a
população das amazonas era prolífica, sem velhos, nem crianças, nem
mulheres que nào estivessem em idade de ter filhos, concluiriainos
que se pode dar o caso de se dobrar uma população em cerca de três
annos: o que por certo seria mais estupendo que a própria existência
das amazonas. Foi isto o que dissemos: que 1,000 amazonas pode-
riam ter 500 filhos por anno, ou 1,500 em 3 annos!
Ainda assim dissemos : não poderiam subsistir por muito tempo;
porque as guerras, as moléstias, as fadigas demasiadamente ásperas
para o sexo, os abortos provenientes de taes excessos, — o incentivo
que teriam os vizinhos para tomarem d*entre ellas escravas e mulhe-
res, todas essas causas concorreriam para diminuir rapidamente
similhanle população, — e enfraquecendo-a aggravariam mais a sua
condição com tornar mais precária a sua sorte. Com a total anniqui-
lação do taes insensatas , se vingaria a lei eterna da Providencia que
creou os homens para viverem em família.
Si nos repugna admittir a existência de verdadeiras amazonas em
63
qtialqaer parte Jo mundo ^ si úapàe em alto griío contra a sua existen-
cb o Tãcto íricí)riic\*ilnv(íl á& não Icrínn sído vistas nuna, nem por
ciirfipt^os, nem (lor indigfno j^lgum; [njrqiio de nenhum d*olles leb
quâ fossíQ lastemunhn uctilar, embora poum digna de fé, nindn que
no-lo jurassem; 5i Imh blnamm úi jmdcrcmos mais por deferência
l^-íra rnjn o niiloridíido de Hafuhold . dn que por consciência ndmillir
a sufllciencjíi dn ruim qne #sie aiilor aliegn , dis que nOa devemos
rcííeilftr inteiro mente nina iradiõo líio vulgíirisiidn,
E' {M>ssivel lonilem, aiitdii que niia s^p muito provavei, como
jft dif!^, qtre símillianlo liypulheso lenha algum fundamento na
historia da America. Algumas indiicrues liístoricus podariam prea-
tar-sB â hypolhesi! de muitas mulKeres, que se vissem quasi simul-
laneíimeula privíidus dus maridos, a ainda em grande fiarte dos Ulhos,
DV'Sia forma se guardaria a lriMÍ'rçíto «xplicondo-o , e se respoiíaria a
autoridadf} de escri piores que, como o padre Gili, pareeenfi possuidos
de l)oa lé.
Disse um indb a esie mií^slonario qua o fio Cuchivero era habi-
tado pe!oâ indin^^ dn naçio Aikeatiibeiumo. palavra que na Itngua dos
lamauaques, quer dizer— mulheres que vivem sós. Estas mulíjeres
eram CGufiecidaí! como fraaíuidoras das famosas pedras verdes, que
õllas por certo nào poderiam lor lavrado. Ora o padre Ivesdu Evreux (')
qne Ferdiuand Diui^ cita como lomlo recebiJo communtcações
fnuito posiílvas &ohíc estas mulheres, as reputa desceiídenles dos
lupinambás, e é certo que esies indígenas possuíam grande numero
d'estâs pedras, c as Itnham apezar disso em grande estima^So.
Assim corno os Bt/loeudos usavam irazer no beiço inferior placas
cylindrictas de barrigudo ^ Haximílbno Newied (**) dir-nosque m
Tupinambás traziam esse ornato » riâo de madeira, mas de pedras
nepbriticss verdes. De H-icfôrdo com esia asserçíio, FcrdinAnd
iDiniz (**•), arcrescenta que alguns lupinambás, como referem os
p) L^Uttiwff* nrfeii » |ji(ç. aa(j,
(•••) Paif, 13. ob. iíi.
64
primeiros exploradores e viajantes que visitaram o BraziU Ira/iiim
n(é quatorze de similhantes pedras em diíTerentes parles do rost) , e
Azara o escreve lambem dos habitantes do Paraguay, qnc oraiu um
ramo da língua geral.
Lemos na noticia da viagem do capitão Pedro Alvares (*) quo
alguns dos lupinambás usavam trazer no beiço uma |»edra azul ou
verde; e em Lery (**) — que os guerreiros, emquanto mancebos
usavam um osso branco, e quando homens uma pedra verde; e que
outros d'entre elles não se contentando de os trazer nos lábios, furavam
as faces e ali as punham igualmente. Lery as qualíGca de falsas esme-
raldas.
Estas pedras oram tão estimadas que um francez , querendo nego-
ciar uma d'ellas com um selvagem, este recusou-se a isso, afUrmando
que a não daria nem pelo seu navio com todo o carregamento.
As achas eram de um mineral tam similhante que BuíTon e outros
mineralogístas as confundiram.
Vó-se pois que os lupinambás ou eram os possuidores originários
de similhantes pedras, ou pelo menos eram entre elles de um uso
quasi geral.
Sabemos que os lupinambás, ou melhora raça tupi se espalhava
e occupava todo o littoral do Brazil, — e que com a chegada dos
europeos , e depois de vencidos por elles, procuraram recolhor-se nas
margens do amazonas e nas terras do norte, e foi n*esse mesmo
período que os caraibas das ilhas começaram a devastar o continente.
Não 8ão ignorados os costumes dos caraibas : implacáveis com os
prisioneiros, abstinham-se de dar morte ás mulheres as quaes eram
reservadas para escravas. Era isso o que já haviam praticado quando
invadiram as Antilhas. Contavam os selvagens de S. Domingos quo
aquellas ilhas eram habitadas por uma naçào de aruages, que os
caraibas destruíram completamente , com a excepção das mulheres.
Cahiram os lupinambás víclimas d'e1les, e em seu poder as pedras
verdes. Não usando os caraibas d'esle ornato , e náo o reputando
(*) C 2.°— (Nol. para a Hisl. c Geogr. das N. ultr.— T. 3.-»)
(•*) Pag. 98.
iloIâJoíi ám ivrapriíHlatlts iiinríivtflKiã^iâ, qui^iii^fniU jlits ^Uritiuiram <^
eurui^eos , ltjii)ar,iiii-rins cqíuo rtiocda pr3 Hírv i n*in *le rnein ci i cu lauta
nas suus trat>saeçr»e$ reciprocas ou com m txihnm. Dalnrà iles^la
enlúo , e não dosile muUos saenlos como |>retijntfe llnmfialijt , si^roni
êlKns objeclo do eonfiinerdo L^ntre os indíos ao norte o .-lo sul <lu
Orenoco, Di^-nos o mesmo nulor i]ne íomm os carnilia^ os rjue
fijtetliiii luos ptídns conliecidas n^s irosítas Já tiuyauíi,— e asítívurA-iias
que corriam eomo dinheiro , e £â vendiam por ditos prtí(\)$, mtísmo
ânlro os colonos ttespnboas.
Venciíloâ e aunii|ii(bdt>:^ os tupínamhás^ o qiifi $CTh ih% suas
mulEieres? Conduzidas fAu rc.«to dos «^uerroiros da Irilui « a mnior
pnrte dosqnaes si^ríam provavolmmio \éhm e críançis rmrt«íLídtírÍani
na iíua emigraçíici ; o couto os vdlios e criauç-ts Fu^ruiuhiriam uiní^
bei 1 mento aos íncom modos o fídigagda jornadi^ clu^gstrmm d d volta
ao Áma^onaSi quaf^l sem liomcns., d'un<lL% na lingurtgmn figiir:idados
Índios, ll»e pderã ler vindo 3 desi^^naçao ^ do AÍkL»iiihbeuano, ou
de mulheres quô vivtnui ^^m liorneus.
Oscaraibas porém Dfim inimigos lerriveis, quo pela ninior parte
das 1'ezes uiTo iJeiv.uirkm ost;ap:ir as muliiures dus vcncid^^^* NVtu
casOt o que fjí riam el las? Si íi Inumas do gua pro[iri;i narã" pro feriram
fugir á trio d«.í$hiimrtnos timhorc^ pnra m Tctinirmu aos qiidumholus
da ilha do S, Vi cento; não ^rà fam da proímhi lidado snppormos
que ouiraFí , r^cntidos th nrKjrlu do« maiídos , rdl*os e jtnrenloR, p*!
conloiassem om maior nutnâro» procurando &s trihus aliiadas a amigas
ao Irafé^ das t^uaes leriam piSfiadu fia su& Êtnígraj^in para o norle>
Achar-sc-fdam posso idorns do taes pedras por Urarem^nas do rosto
aos quo morreísom no combale , a que era coslume seu sssisiiírem »
— ou úm velhos que Po esmeravam em tracei -ís em grande numero ,
ç*']mi succtiinbíííiini duranlo a jfírnada. Nem é mniiode crer quú se
de-^uidasseu! íVisso, sendt» i'tes ohjecios do lanla estimação.
Poroiílro lati o , ou roubando na snn fuga íirmas rom qne se defen-
dessem^ ou hurdando*as — anuas que tlics seriam ilo pouco préstimo
tviit
0(5
apenas se alliassem a outras tribus,-^ podo d'aqui originar*se a tra-
dição— das mulheres fabricantes de exrellenies armas , e de pos-
suidoras das famosas pedras verdes.
Repito que não passa isto de uma hypothese que eu já me contento
que seja a explicação plausível de uma tradição existente. Mas si se
trata de verdadeiras amazonas 9 concluo que nem na Europa, nem
na America existiram; e que ainda dada como provável ou somente
como possivel a sua existência, nâo encontro nem nos antigos escríp-
tores y nem nos modernos viajantes razoável fundamento para me
decidir pela affirmativa.
NOTAS.
Lê-se na obra «El Maranon y Amazonas» — do padre Manoel
Rodriguez. — 1648. Madrid. L. 1 cap. 3.''— «.... bailando ya
algunos moradores en las rij)eras dei rio con quines tuvo algunas
refriegas, y se mostraron muy feroces; y en algunas partes salian las
mesmas mugeres a polear con ellos. Por lo qual y por engrandecer
Orellana su jornada, dixeo que aquella era tierra do Amazonas, y en
la conquista que pedio a S. M. la llama assi : »
Garcilazo diz quasí pelas mesmas palavras : a F. Orellana tuvo
por el rio abajo algunas refriegas , con los indios , moradores de
aquella ribera, que se mostraron mui fieros, donde en algunas
partes salieron las mugeres á polear , juntamente con sus maridos.
Por lo qual, por engradecer Orellana su jornada, dijo que era tierra
de Amaçonas: y assi pedio a S. M. la conquista de ellas.» Historia
General dei Peru. Madrid, 1722. Liv. S."» Part. 2.' cap ^.^
07
E.\S:V10 SOBRE OS JESIITAS.
U ík*?stiÍtbfTU), iiljtuibiie umnnat ri:ila
cal H'tiipo, e dc^tiimm a p4.rir cpt
li!iii|Ki í)b*iú \nú |iti-stQ di attrj
ildio »((?sfi<j ^cn(*rc » j>erdi*> fio ri la
biT VI' spcizin, Q itwo a n dure dediírò,
Hcaildc^ |uci-j|>iLú, si $[>cns^f ri sor ^-^
mfi AtMiiíi inigliorari?! uníj «foii noU*
liitn ^K^^iniujiiefilOi c coa segnl de
{H Gesuit fi .\hitlerfto per V. GiOd£«T1| cap. 1.*)
De^flâ â idade da vírtle annos, em que começámos nossas lides
joritâlísticas, o objecto que mnls nos int^re^sou foi ú sotuçao do grande
prohlemn— ^iosjesuilas Unham fido tileis, ou prejudlcíaes ao mundo
cm ^i'Tii\ tí em piíriii^ular ao Brazil — .Nos arcliivosdes nossas glorto-
sns tradições onconlrovamosconsíAnlemenló o nomed^oases rcgniares,
seus ir;ib.illi03 apo^tolieof^, 5ua lucla com osprimeinis colonos acerca
d;i líberdiíde dos tndígpnas, viãmoâ seu zulo pola diíTusJo dns luzes
miiUtplícândo ^m eollegíoít, desperta mia o gosio pt^la luicnitura
jíagrada o profnna; e clieio dVnlhusin^rno p<>r esses benemerilos
larutií inscrevemos nossa obscuro nom^ no nilalogo dos apologistas
da companliia de Jesus, Quiztsmos depois profundar nossas ínvesli^a-
i^ò&^f qttizeuios esUidar soa marrlia atravéâ ilos paramos da hii^ioria^
eompuJsamos sous annaes, e vimos com adniira^iio que os discí^iulos
do Loyola tintiam por mk a parlo deixado um sulcu luminoso : e
rada vujé nos apaixonávamos mais [Kjressa r43lebre instituição^ qud no
di^er do visconde de Boaald, é $ mais perf^^ita que lenha sabido de
míttis !mmanas« Tomamos então soa dcfoi^a, ;irn>siamos a imf^pyln-
ridado que d'abi nos provi i\ fia, íufga vamos alo certo pnn to que nos
averbassem de — Jeãuittí — -, [ifjrque para nos essa palavra era o
com[>endto do padre virtuoso o dedicodaá eausa da Igreja. P ro lesta -
mos pela imiircnsa cenlra tudo o que nos parttia a^-lÍNí.^ coniraiiíj;
(^8
repii Li vamos uma clamorosa injtistira, uni ildicto d^ingraliJào indo
o (|ue cm seu dtssfavor se podessc dizer. Nossos epinicios foram aco-
lliiiloscom frieza pelo publico, e aló pelos homens sensatos c d*uma
oribu loxia superior a menor suspeila : alguns aconselliavam-nos que
esludassemos lambem os livros dos adversários, que conlem piássemos
a medalha pelo sen reverso, e que pondo de parte o espirito de sys-
temn, interrogássemos com imparcialidade o passado. Gnnsarain-nos
laes plavras a devida impressão, a nós, que, posto qtie joven, \)5o
eerramos os ouvidos ás lições da experiência, e que por habito c
educação, respeitamos os cotiselhos dos anciões, llaviamos encetado
o i)eno;io trabalho da decomposiçtâo das nossas ideias, f|unni{o iim
íeiíz ensejo se nos apresentou de melhor conhecermos o terreno^ so-
bre o qual devêramos assentar a base das nossas operações: realiza-
Tani-se nossos mais doirados sonhos; parliamos para a Europa.
Pequena foi nossa demora na capital do orbe ealholico, porém marca
olla a roais bella épocha da nossa vida, colhemos da boca dos sábios
oráculos (|ue estes jamais confiam aos livros, avaliamos por nós
mesmo o quanto dista a praclica da theoria : tudo desejamos ver, tudo
perguntáramos, e talvez qne d'essa nossa disposição d'espirilo resul-
tassem algumas vantagens para o esclarecimento da importante quês-
lâo, qu'ora nos occiípa. Não se collija porém d'eslas nossas palavras ,
que renegamos inteiramente nosso» antigos principies, que passamos
para o rampo inimigo com armas e bagagens; apenas modificamos
as nossas ideias, e desde já pedimos Tenía para expor com rude fran-
queza 09 motivos, que a isso nos levaram, implorando indulgência
pela audácia com que entramos em tão árdua tarefa, o correcção pelos
infinitos crrns, de que deve abundar este nosso trabalho. Para mór
facilidade dívidi-lo-hemos em duas partes; na primeira trataremos
dos jesuítas em geral, e na segunda dos do Brazil, rogando ainda
lima vez que seja esta nossa tosca producçSo considerada como um
ligeiro ensaio, como estreia escripta unicamente com o filo de sup-
plicar uma cadeira no recinto dos nossos sábios para de mais perl^j
ouvir suas doutas prelecções.
m
wAin aciílía iliMniM-^uliirir-ííc iroornso da Irisiloiia : fome-
ç;iía m Uimjki^ infiiliTntíS nírneadus pjf gig;iíilea»03 c f^rovidcnniaea
írcontedriM^tiiíis. rrulloinbor^' írudítiji os carncteros inoveis tín ini-
prensa: Vasi"o Ja* (iíiuia dolírn o Gibo da Boa Esporynra iiUrinJo
IIUV4J iMmiiihn finn') as liidías^ Mn^iilbk*» Uao gyru do ummJo, c
ClirisluVJiti Colam ba des^ubre ímiiionsíis rugífiL^^ , íb rjuaes ou Iro
rlcvcta dar SGii iionic. O Bíiixô tniprro sncciímljtj ?oÍi o alfan^o áú
Mnlífimet II c os sntíííj^ í;re>í:oii esrap;mdo ds minas do seu belln \inh
vem Liiiscar na luilíri, irmati da Grécia [híIo dima, costumes, e até
jKitai suas rev^ohiçrjtiSi um a^vlot em que poisam respirar a num
saj^riida da íiberdadií, Abrem-lhes o» Medíris a^ porias dtí Fluronra ,
lííTufecaido-lhes laíigidlita búS|iitaIidadi* ; e cuii|naiilo \ms reiíios da
nuUu dâ Europa os lltmíadeâdt!tem o$ |»ro;;na^soâ do Moíiomulisiim,
as cavalleiros dk^ Rliodo^ ^ taiHtnanflaifrpis puín si^u |;rari ineslrc
d'AidMJ^«^n, stí úeúmm p«^la cliristatid^dc* O ourruio <^nlra cm nova
pita!^ : a licgjra d:i cívilr^aeírQ.
De lempoíj ein lomjKJS alguns ínnovã^iores físç^jprnjfjíj.se das solidões
d«> cUusLru, ou díts !^mibras do ^«iiíctuarto do1lav;im o fjratfa da rebel-
lian rotilra a autlinriilitde Ja li^rt^ja, safiira a Saneia Si' Betnf»ro vicio-
tio5a ilVíiirâ ronibates; o campo da baLitba fiorém nnidura eom o
decimo siixíQ st^rulu : o cbrpfjtiodas ideias e das ínielligeiíiias lançava
nino desu^^adu i^plcndiír pur Ioda a Europa. A Igreja analbemaíi'
íondo a IVjcteíT o a JuíVi llnss, tmlB-m perecorpela mão do olgO!?^
mas o gérmen das birems fora confiatlado a iimlerreno feíiundo pelos
grandos abu^CK^ (|ue então ^i (iraiicavain cm nonie da Religião, c
ronlra o» qiiacs clíiu*av"im o^ luajs i Ilustrei snnrtos* u, A reforma do
it 16." seeulo* áh ú $mUor Cúrlon de Rcmmat no seu entrei tenio
*^ arlíjíô HÀiVi} a líeforma e o Protestantismo ínserlo na Utviêta
tf dos iJonn Ulttmhs de 15 de Junbo do correnle armo ^ éum itcott-
* lecimenlo miropeu; inanífcsiou-w; como que ao inesiuo leni|m um
u principaeí pmr^ da Eiira)»a< Eui rnenoç dtí ileis imnm linlia inva-
7íí
V rfiiln á Allem;iiili:ií n Subsi, a Fmnra o !i tn<;latei'ra. Sua appDri*
*i rSo quasi (]tie ^ímuUanoa a seu prornplo dcsten volvi mento ^bro
w pontos tSodivfimis provam que provi nim d' uma catita geral ^ c por
« tod;j a partL* mosirou-se com cam teres commum^ quo atte«;lotD a
<• e%Ísl6íicia Jt9 eeria unidade, n
A e5;pad;t cadera o lugar á penna : não necessitava da gitdrrâiroso
Catliolicísmo o sim de doutores. Tinlinm desappareeido as ordens
iutlit;ires, ásiniilhnnça da obreiro que 5C reúra quando toniíiria o
^ou ira bailio. Âs ofilens monásticas e jnendiraiites, vivendo pela
uaiurez:\ dus seus institutos entre o altar e o cliiuslro, ignoravam os
negocias do mundo, do qual se haviam segregado porsolemne prolis-
fíi\ú , n ão esta va m por ta ti to em os ta do d *en t ra r n *a rena pa ra com ba tur
com allilf^tas, que recusavam suas armas c^pirilUDeSy e ehamavãrn
os rarrqH'uc3 da Igreja para o campo das sei e netas e da litteratur*i
profaiia, Appareceram ^istís novos lidadores no momeDlo preciso * a
erudíçno niostioti-í« emdefeza da dopma, eo mundo teve ainda uma
prov,! t!(; qtie á Es^iiosa de Jo^us Cliríslo nuncí* faltara o celeste auxilio.
A obra liumana, o maiis ^olíilainentc edificada , qua imaginar so
jmsíi f feria ^ido derribada pelo violonlo vendaval . que açoitou o
bahcl do Pedro no t6*° século: mas a obra divina Síibiu ptiichra 6
radia II lo d'esia nova provaçi3o. Eram necessários homens dedícadoís
Qos interessei catholifos, euja única occupaçâo foíse o estudar o<í
erros do século, e proiliga-los com a sua mesma linguagem; n'uin
tempo d' independência e dâ livro exaiue bavia-^ mister dUiomens
quo lizes^eui «'vbntjgaeao da vontade, consagrando o praticando t>
di(TicÍl principio da obediência absoluta : e a companhia de J<ssus foi
fundadíi por S, Ignacin de Loyola.
niiruu diria , que estava reservaila ao valente cavalIeiro+ que de-
IH)is d Li ter obrado prodigios de valor, era gravemenie ferido no cereo
tio Pamplona » a gloria d 'inscrever feu nome ao lado dos Domingos
u iius Franciscos? Quando D, Ignacin ilc Lovida transportado ao
rastello paterno podia para distrabir-se um livro, esporava certa-
nientequelbe trou?EOSsetn uêAmadiu tiú$ Gnlíim^ou qualquer outra
ii tutoria rotuuticbca d'e^.^a iqiocha tão bem euracterisaidâ pulo iminor-
71
lai Cervantes; mas [ior tima liisposiçiía parliculrtr da providencia núo
foi posisivel encontrar ^imilíiantes livros mi toJo um raslella feudal,
IfázenJo-se-Ilío ctiJ seu lugar a Vida de Jc&m Chrisio, e o Fios
Sanciorum* Tal I^Uiira produzi o profunda impre^sSo iio múmo
bd li coso do nobre bvícniiiho , que em vex dt: «jucrer combater mou-
ros, dedicou -66 eictusi vãmente ú grande obra d^ conversão dos
til O o is.
Todos sabem como o illtistro cavalleiro de Jesus e de Maria fez a
vigiiia das armas no mosteiro de Monserrate , c como no dia seguinio
suspetidendo a sua espada ii'um dos pilares do templo partiu para a
gruía íle Manresa , onde devera ser visitado pr exiasis e visões divi-
nas , ê onde devera escrever esses exercidos tipirituans , que tem
sido ISO diversamente interpretados.
Abrasado pelo desejo de mudar a faço do mundo conheceu Igoa-
cio que havia mister da sciencia profana , e eÍ-lo na idade de trinta
e três annos sentado n'um banco escolar entro meninos aprendendo
os primeiros rudimentos da lingua latina. Admirável exemplo d'hu-
mi Idade dado por um hidalgo ediicado nos princípios e preconceitos
da idaJe media ! As universidades de Salamanca o a de Paris o viram
siíccessi vãmente no numero dos seus alumnos; mas era nests ultima
onde devera estabelecer a sua propaganda, chamando para sous
cooperadores algnns dos seus mai£ díslinclos condiscípulo.^.
^0 dia 13 d' Agosto do anno da graça 1534, n'uma copella sub-
terrânea da famosa igreja de Montmartre , e no mesmo sitio , onde
uma pia trndir^o assevera que fora decapitado S. Dionysio , seis man-
cebos capitaneados por Ignaeto prestavam nas mãos de Lefevre, o
único sacerdote d'entre elles, o juraoiento de viverem sempre unidos,
proferiram os votos solcmncs de pobreza » castidade e obediência ^ e
lançavam d*esl*art0 a primeira p^dra doesse ediliciot que devera cm
breve causar a admiração do mundo.
Não acompanharemos a Loyola 6 aos seus companheiros em -^ua
Yida peregrina; pregando de dia nas igrejas e passando as noites nos
hospital junto á cabeceiro dos enfermos^ omittlremos a sua estada em
Veneta » onde a sua presença tso grande alarmo causou aos protostan*
lús, pfira vc*los eliojítr n Rofiiíi ; Inrsrarcni^ííii aos pcs Jo Paulo IH
itnjiloraniJo ilu Stumiic» Puithfice, a approvíirSo Ja siu refjra.
O livra doa ComtitmiSff» u Dedaraçôa úti companhia do h*ms
oscripto IíhIô por S. Ignacio em Im^un hfFpniihola è um codi{;o per-
fi/ílo, ranccbiJo earn {^fflndtí er>goiihu 6 etcí-Jíl-xio com pnsmtif^T
ííiiimloria , o que conquisianim pura o se w iiutlor a tilulo «b Ltjrurgt}-
di ris tão * Seja *ti m porém 1 í ci lo d t zer q u e n pessa r do ser obra i) * n rti
FnncUt não é isenfâ d'ímp['rWçrí0s; deviílM umns an caracter do lef;is*
l.idor» que traníiprtavíi o espirito guerreiro dos seus verdes anno5
nmÚQ para os misteres; mais paciQcos, de quô lemos «i provo até na
donoinífiarào da sua Ordem , e outras oriíjinadas pelo ardento anhelo
do locar a per fecltbil idade ^ lào opposln ã fraqueza da e^seneía ti uma na,
Eevela o livro das CanUituiçães profundo conliecimenlo do corti-
í^.to Immnno , e notável arie do governar ; mas considerado em seu
UkIú é UEUa 6âpecie dí? nípiíblicsi doPíalíío, ^ly^tcma impossível de
praijcar-5e. Seria preciso mudar iníeiramenle a natureza do homem,
diispoja-lo das suas paÍKde.^ para qtm onlão pudesse atlingír ao seu
km suspirado íim, qual o Je jícnernliííar por ioda uma numerosa
eon^ro^aí^ào virtudes lieroica^* que 0eos concede a algumas almas
escol lud as.
Assignalaremos ai^ínas douíí p^^nlos sobre os quaes versa ioda a
economia da soneílade , n nuloridade do geral , e as provai, n que
5£io submeltidõs D^e^ndidalos*
O pmlor absoluto conferido ao fçeral preso ppíie nelle grandi; vir-
li ido, e náo vulgar sííbedoria. E' a cabeça que pensa cm ioda a
eompanliia ^ cujos membros são machinas postas ò sua disposição,
O unieo correctivo a ião desmarcada aulorid^de é a instituirão de
quiitro ttsststentfs^ que em casos raríssimos, como no de públicos e
escandalosos paccadm . no da dissipação dos lons da ordem « lem
o direito de suspondé-lo eonvocando im medi a ta mente a congrega-
çio geral, que deve tomar conhecimento d^accmaçao o punir o
<nilpado. « Si a com pa rd i i a , d i i G io ^erh , fosso mm p ro ca pi la n (?a d a
« por tim honK>m dotado d*allÍ53Ímo engenho, a autoridade de gerai
« opiimo inslrumcnlo para opefarem-se muravilhosas cousas, pois
^iie a sua líiíínle pjilcrijt ctuíctíbí^r grathhs ompr"
• execula-las , farnectíiiJíi-lha o sm infiiiiUí potler o§ n*cni&fjs ntj-
• cess9rii^5 para bvQ-las n elTtíito, u Si so jutila^é a q^so oiigenlin
«Enínentt^nJQ rnertos stiii^iilar viritiile (como em Ignâclo) iienluimÍD-
eonvenknio liavb em depositar nas mãos truiii homem os fijLiinm'
destinos da corporação. Mas ú por vtsuiura o eKu|e da ordi.^m abri-
gasse em seu peito âlgynsd^esses vicíos t^o frequentes nas regiões
do poder, como a ambição^ a vaidade, o tunt^to orgulho rte
querer sempre fazer Iriumpbar o seu alvcJrio, ou quando virtuo-
síssimo poi^suisse um espirito apoucado , inc^pa^ de corietiher e
executar grandes cousas, que uso poderá fa/^r da autoridade d ts-
frkionaría que Ibe (."onterem as roflíÍ4ítiífJíf*.^ Si o geral for dotado
de [mbihdade e vigor €omo um Layne?, um Àquaviva » um Gru-
ber supprirá pela tnlellígencia o que llie fullar em santidade, e
i arisUieraeia da ordem debalde m opporá á sua vontíide, posto-
que tu lima mente eõnveneída, que ella se oppõe aa e.<ptritodo seu
Instituto^ e á-s piei!osai vi.stas do seu fundador; mas si for débil
eomo um Vitellesebi, ou um Iticci, seu poder se reduzira a zero,
eem vez de ser a ordem uma momtrcfiia se eonvcrterj abprcbi^.
Cremos que lambem uaofói l^^m consultada a natureza bumana
na inslitui^^au do noviciado jesuítico: abrange ellc Ires ânuos, posto
que rigoros-imenie falIjindonSo seja manos de du^oilo annoso temp^i
d e pro V a pa ra ser ãatí mú va men te a d d i c lo á com pa n h i a , sçg u n d o o
testemunho dos historiadores da ordem oomoBariuIi. Citemos sua.
mesmas palavras : *> Primerameute ella (la compaguia ) ha Ire anui
Q de stfeiLessimo noviziaio , duo ai pritieipio quando 3'entra » cd
« uno ruiiti gli slredj* 2,* Olírea ciíi, ha intorno adimoto anni di
• prova, nei quali si vive sotto conlinue osservazioui e censure de
• varj superiori, e fanuosi di moiti esami sopra il vivere d'og-
■ nuno : e iulanio dove a Uri non viriesca dt lauta spirilo e virlú«
• quanto ê di dôvere che ahlua de*es.^re unito coii la religinue, si
' per rimelterlo allrí ímiú iton vngliano, ella se ne libera e
« lo rimauda ol secolo, Perriò a tanto si dííTereâce riucorporant
« neirOrdine cou la proftssiuno, o il n^panc iti altro grad** píú
1
TA
a basso» lec^nJo lalârili u 1 merilâ dô dascuno. 3.* E queslã an*
• com è unà delia ossen^ansâ proprie nostrei lo stare tn viu. In
« prova ^ ove airiin demLmto \\ rechioggía . o íntanto disposio a
ft rieever dipoi quel grado alioobaâso^ ãove socomld le cosliiu-
o fíonij pare ai proposila gene rale ã\ ripo me, perche immuUíbil-
K mente vi slla tullo il rimanôn ta delia vila** (Fita deSanfl^mtw
Durante e$^ Ifo longo período o lio m em transformasse intai-
r:}meí>ta i parda a indala qiio úú Doos r^cbéra para matamorplio-
safir<sa em]e@uíla« Cumpre examinar si ganha ou piirda o noviço
com uma tao completa muJança da natureza. Aâ puras e ^amaa
inteiiçôQS do iltustre fumlador eram certamente eorriglr os defeitos
iidierentcs á natureza humana , levando s^qs discípulos ú perfeição
da vida esplrilual ; mas os maios, que para tal fmi empregou nào
5â0, no nosso humilde entender, os mais próprios, ou por outra, nlfa
isemptos de graves ineonvenientes ^ que talvez neutralisami
enao nuílíficam os bens quo d'elles poderiam provir. Vejamos si
podemos demonstrar a nossn proposição*
As duas bases sobre as quaos se assenta o noviciado je^tiiti*
00 são , a obediência pas.Mva' aos superiores , e o mysticismo
ebsolutOf que eMclua todo o estado e occupar^o lílterârra , con-
centrando as faculdades d alma nas eominuns moditagões e pra-
ticas devotas. Ora , por pouco exageradas que sejam estas duas
tendências violentam ellas a natureza humana ; porque a obediên-
cia i Ilimitada destroe necessariamente a vaifío e o livre arbítrio ,
& transforma as pessoas em cousas ; e o desmarcado mysticismo
extinguindo nos jovens corações as mais nobres e doces aíTeições,
que o eéo Ibes infunde, como sejam o amor dos pais^ dos amigos
e da pátria ^ anniquila as faculdades activas ^ ú pôe a vida ter-
restre em contra dicção violenta e nece^^saria com a que se dedica.
Essa vioIai;ão da uaturoza é ainda contraria ao Evangelho, que
Imdea aperfeiçoar e santificar as legitimas o puras aíTeições, levan-
tando o edifício da companhia sobre um terreno estéril isado pela
absoluta ausência de i^o nobres sentimentos. Assim, o noviciado
/a
rius Jesuilas, A[H)Í£L-sa na cega obriégação da própria %aiiLaJe
reunida a ura iámi mysúdsxnú. annulbiidú â porsotiatidâdu Itu-
ínana, rornã o homem m»iâ aplo ao prcJominio da phantasia ^ q
f^gri^gafidO'0 do munda sensive! úh\\õe se\i múmú a uma in-
teira e niílaliea F^rvidm)*
Resumindo o rjiie aobanios do dher úa^€on$tituiçôe$ de Loyoln
IMidtífeinos aíifiignpr como causa imniediata da decadência e dej^e-
mrn^àú úo iriMÍluto a duas mitõâs pnncipáes : o exf^e^ãivD {Kidtir
confiado ao geruU o n iifjsoliíia obediência e m)^flicísino dos n^
plryio®* ambas orÍLíjnadns po!o erro d*iiiu liamem extraordinário,
e d'um grande soado ; mas cfue nSõ sabe ealoubr ato que ponio
|Mjd er i .1 m c h ega r as da li u ma ni d ad e.
Oin sagrando seu lertipo precioso á diíTkil larefa d*orgonisar orna
ordem» que dereri exceder a Iodas as outra^^, Ignacío, quesâUía,
quô a lida do homem é uma ^rie nSo in ler rompida de eoinbate»^
ifescia da seu Sinai ^ para occupar-se com as cousas m mais po-
iji^eiias rrappareneia , resolvendo as d ifíicu Idades, pondo freio a
todas as fiai Iões, Compreliendau esse grande génio que era neces*
sano enviar ^eus padres pra o campo da bablho , que eiUào se
|)efójQva em quasi todos os reinos da Europa, O espírito da época»
as idèis novas chamavam a igroja a lerreirOf e esia nao devera
ruspiinder unicamente com excommuníiòes ao cariei que lho lan-
çava a heresia* Roma íaEia um appctio a lodos os iheologos ca-
iholicos confiandô-ilies a defcza do dogma: e os Jesuitas seaprc-
j^ieniaram nc^a honrosa arena, que acabava de abrir-^.
Poucos, oh ! bem poucos eram elles : nias d 'esses poucos de-
veram sahir os mais vaktttes campeõ<]S da igreja romana. « Ã
<t Itália, como mutto bom se exprime o senhor Critineau Joiy ,
« palpitava eniifo debaixo do cuit^lío do afgoz : contava seus mar-
« lyres por milliarcs ; a mina seniava-se à píjría das soas cabanas:
i« aqui se proscrevia^ ali conQscava-se, por toda a pne d^^gol-
V lava-se. • Eram precisos mií^sionarios dL*ajcados * homens d'ab-
ncsgsçio e de fé » que fossem consabr os Jilhos da verde Erirot
que lhes lixcsscm ver quij u igreja , sua extremosa mai nào os
7íí
•IxiuJítfi iv:i tia* r.ríiios(3<Iiííu:tfÍ!i nm|i!(U'.tiirus * vtn «jtie mí .'irlu*
tarri , e I*;iiilrt III cmín lhes rnsrjuier e Salmeroii , iíí.>i'i|mlú* dô
E<!k* rari|o nuir*í*r'» líío cmI>íf:iíJo era enXho eviía^ío: fugia 50
ílVIIfl , como do qua.^i inevitável mariyríò : íim ioda o p,irlo la*
TffiA^íi o fopto eh guerríi religiosa: ouvia se em lodos os liig^reí
*]ofiiÍn.*#lí>s pó!ii prat<ístaí>lísmoogriio iumisXodemarte ao» Píjdrci,
Trnhini 4u píissar pcUs fmnloiras dn Fniirs» ^ onde so r^.^onva o
tinido fb^ armas; deveram visiiar a Eéicossiia , ando J;iCí|ues V
reinava , dt^Kiito úm [mpmrms th $m lio Henrique VI 11 o ini-
pbeavél inimigo do nome calliolicí> , da qual jíi fora defensor ;
ma<i prote^iíiiios por Aqutíito , a quem voiavom a sua eti^efiría,
rhi^garam ftdizmenlfi á Irlanda , onde conlribuirom pnder&sn monta
príi arraigar no corarão d'eâKT povo essa fé ardento , qiie aiinl^ j
Ijnjo hl n admirado do universo.
O* pdrus da compnliia se dispersavam por todas as cldjíiles ,
mmo Síínhnellaíi avanraibs do rallitdicísmn; ims como Lt^fevre o
I^^ y n *\ 7. pa rir rn ^in ra V eii esta » m\ ç va s l o em | kj r if 1 do eo rn nier r iodo
Levanto , ou d o toilas as sdla^ cntroliobani emissários e prnruinvam
Íazpt prosídytofl : 011 tr(}» rorno Rorlrigtiçs e Xavier tomani o amiinbo
do |*r*rhig:d jnra onde o?; Hiainn o zah prL*díiso do prande roi D.
J^mo 1!l, i^mqiiafUo Biibadilln, Lojay o Cniniãio^ comttaiosn o erro
nas dieitis de Worms, Spira e Ratisboima , e deiom Mayonra, e
Ijolinía prí.Híiofí a *b>ípt?fdierem-?e no ab>snio da líçríísia.
O; a routiei mentos so preci pilavam e ia ict lují^ir o maior («cio
da Iiislona cceMasiica moderna; o concilio geral iSo desejado para
;i reforma dõS abusos, qno se linham iutroiIu7-iijQ na disrijdma da
if^reja, e pan o qual baviarn appellado os disripulos de Lulhoro das
decisõi^ dn sidKTano fKjínífice, obriu-!ío »olpmnomeule no dia 13
de l)e7A*ndiro de IS ia na cailiíídral ile TanUo. Era e^la a grandij
lira , em q>ii^ os mais extreinaJoi paladinos driveram brandir suas
lanras, uni eui favor da verdaJo revelada e do ensino doutrinanci
da igreja , o outros em prol dos foros da razíSo, aceitando a bíblia
CO evau^rlfut mhi} founuenltrio^. Grandio^ era o e^porlacnlti ;
nniirn lioincra i)rit;i íi^Ht^mhléa lio n^sp^iiinvol « nem tub^hio n tU
Wwtíu» vnWfin-^^núíi iJejh*is da pa/* gerol iUuh [lor Con^laruirio (aí Io
R^ij Cíílebroudifiíj iii*JiJiláo. Os protesbnítíâ depuravam seus gramioâ
liomem, aí|i]olloa i\m nccusandõ o calholicbino de ler aduliõfâdo
íi Joulnria do líi^iuu \h^im devemiu tleiíiúní^trar a sua proposiçáti
líutiJtí d'esi'arie a causal do sou scliísmn* Corria aos otljolíca^ o
dever iln dtiítHidyr a &ua crençn , e provar quii n t^reja depo^iUirm
da ró não linha sâ afâsUido jumrns cli^ espirtto do evaiipllio. 0$
eiBbaíx:)dor6S dos prIncÍ|>Li^ (s povus cltrislnos nssislíain a e&^u tor-
imo tliijolíi^íco* A* cumpíiidiíu do Josys aitida cnvolia nM fiixas
iiiíanlis 0a^f>e ii»ia graúdo gloria» fdlíj^ agouro da sua próxima
futura grandtij£a. f^ayn^z q Salmorori foram oâ ilieulogos da S. Sé
nesse faínoso concilio ecumeídco.
« Quiconque^ diz l*Âhíé D& Pradt , djuis une liauie carriAre ,
« parvienl á ínscrtro âun noiu sur W mondo, à Je reudri} in^é-
•1 prãMo da iten eido ia mémQÍrodt.>s]Éumnies, e$l grand. ear il
ft parlidpe à ta grandeur niéme du mojido, aveo lequul il reato
• ídcnlífio^ Qtií (Kturrait,, sons ces rappoi is , dt^nior a Saint Igna-»
«I ce» L't a ^li iuslitu(iun btitrodo grand ? Qoclle eompnratsony
\ a-l-il entre lui cl im aulrâs íond^itourâ âtiè JnstiluliuO!} iiionas-
K líqoa ? CdUTL-d no foreni que dos homniLis do réli^iun, el loiírs
• inMilniiuus n'atíl eu que co caríiclère* l^nace fui un grand
M Lunquúfaui, d cot lo gfsnie ács conquótes, il y fii á^rvir tuut cc
# ijuo coastiluo Ití pouvoir, il eu fitrespríi portaancni el indòltíUile de
« soo uHlítutioiit ellcí n'a pasdovié de eollo ligne, lint cei!e-ct
* ctait t]abílt:!tuoni et furioiuenl Iraeáe: les aulros fondatour^ furenl
« des moines p ei teurs m^tituiions deâ machinos puremeni mona*
* eaíctâ. Igna£^ fot un grand polilíque, fatiam servir la réiigioii
t a la pohti [ao,oi san institutiQn Tui, si loii peyt paHor ainsí ,
« uu liomintí d oLai rt^^igí^ux, * (Du JemUitim anckn et moder-
m, cap. XíV.)
Crem^js que o illustre oscriplor, cujas palavras acabamos de lex-
luãtmonio rílarr rándondu i dovida lioinenagmn á alta capacidad^^
direnioâ menino au gonio tronscundcnte do Iguacto do Loyola , nlo
M^
^aoG
78
Tui bnstanM jmlú [Ktn com a sua memoria quatulo o tjualirico ile
lioitiom |Hjtítico, legando um ^us sm^es^vm n rfiave do eiiigmti ,
(['oriíla Jíjpeiideria ;i íiiltuencia sacreia do íiislituto. O priji^círa
geiât dos jasuius ti3Q rmiríâ em seu \m\iõ esf^as yjsíis aniÍMuiosas,
essa stídtó «Jo mando d'i]íega] preponííeraneia , f\m des^l listraram ii
compiiliia cm ópnas posteriores. A sua politica (si a tinija] pra
a me^sma que professaram os apóstolos, piitica civilisadora ^ que
a niMh iiicrioi leridta do que purificar a terra polhila [xtr tantos
vieiíís o crimes* Enviando seus discipolos, como vimos, ao thcairo
dos m»iar0s aeon Icei meu Los , ao centro em (fuo se debatia m catlio-
licos e protestantes, queria impedir quo mSoa ousadas o temerárias
nfto lacerassem a (oga ioconsutil de Cliristo, e do itenlium modo
iuHuíf nos gabinetes dos príncipes.
Os jeíuitas estavam nessa época á frente da grande reaci^âo ca-
tliolica : eram os mais valentes soldados da igreja. Vemo-los luc-
lando braço a bram com o proie&taiUismo : mas ainda n90 se achava
rompleia a sua ambíçio dti gloria ode martyrio ; necessitavam de
inaÍ!^ vasta arena. Grande parle da Europa se destacara da com-
miinfião romana : a Aliemanlia, a religiosa Aílemanha , se decla-
lira em completa reboHi^o seguindo as doutrinas d'um monge após-
tata ; a In^Hatorra , a ilha dos Santos , arvorava o pendão d' um
novo culto i de que ora fundador um rei notável pidos seus satânicos
caprieims; todo o norte seguia o exemplo da reforma e a própria
Franç»t ^ ttib^ primogénita da igreja, estava ameaçada d^essa ter-
rível i^uerra cUW , entre os r^tholtcos e buguonotes , que devera
terminar p^tn exaltaçílo ao solto de S* Luiz do illustre hearnez^
ej; mimnista. Nesse século, em que lao grandes perdas e?fpe-
rimeniava o nosso culto, permittiu Deos que immensas regiões
ÍDS^m abertas á propagação do catholicismo exactamente pelas duas
naçOes as mais oiahodoxas do mundo, Vasco da Gama e Colombo
oflerociam nas Índias o na America um campo diguo d'ensaiaram
as suas forças os novos apustolos do catbolicísmo.
D, João III, rei do Portugal, pedia á Roma missionários ile-
dicadoâ para evangelísar esses reinos^ que a fortuna tinha submclildo
79
piLHÍoso desejo Jo luonarcfií» lusitono enviando-lhe alguns (J*)S 9<im
disciputos. A companhia acha va-so então no berço, apenas exhtuim
m professos; mast d*es(es partem doas (Azevedo 6 Xavier) para
Lisboa, onde devera ficar o primeiro, eslanJa resen^ado no se-
gundo o glorioso titã lo de Âpoêtúlo dai tndias,
Ess<?s bel los paistes bani iodos pelo Ganges e pelo Indo , cuja
Insforia nos parece elernamonto oeetjlla por urn denso vi}o d 'alie*
goria^, t/bjectô con^tanle d a cobiça de todos m conf|uts(adoreâ do
inundo desde Baecho o Sesoslris ate Napoleão , subjugados polo
grande AíTanso d'Albiií|ucrque, viam ent^o tremular sobro os mtiros
dás suas cidades o pavilhão das lusas quinas,
Aleondre das missões, Franeiseo Xavier conquista pelo tinico
ascendente do sua palavra ardente mais coraçOes para a nossa té
do que reino$ e províncias stibmetliam ao rei ridelissimoos liordei-
Tos do Gama. As bombaolas podbm abater as muralhas inexpug*
Haveis, onde se asjiavam os filhos BraUma, mas o odío contra
os invasores, contra aquellest que de lenges climas vomitara o mar
sobre as margens ào rio sagrado, esse fieára gravado em lodos 09
peitos espreitando a occasiâoopporiuna para farer a sua terrivel explo-
são. A hiimanidadoobedeee aos seus verdugos mas so ama aos seus bem-
feilores. Em BJorambique , que pela insalubridade do seu clima «
fora chamarJo o tumulo dos portuguezes, improvisou-se Xavier em
medico do corpo assim como era das almas, o aos seus desvelos m
deveram a consorciarão de preciosas vidas. Cathechisa em Gáa ,
capital do estado da índia , anto$ aos catholicDs portuguezps, que
andavam transviados pelo etcessivo amor do ouro o dos praz.cres,
do que aos idolatras, cuja docilidade em ouvir as sanctas praticas
enchia de jubilo ao piedoso varão. O cabo Ca morim o a costa ún
Pescaria soffrem successi vãmente o influxo da sua palavra ; ganha
almas para o cêo, e estende as fronteiras da civirisacào. Evan-
gelisa a ilha d^Amboise, as Molucas, Meliapor e vai a Malaca ,
onde cora o favor d*um clima delicioso , rlcbaixo d*um céo do
saphirasi a voluptuositlade se infiltra pelos poros dos $ous habi-
y^
30
tantos , e]ue entregues no sensual ísmo pn recém pcvuco «lísposios n
ftnvir ns liçOes «Ia severa mofal» que Hios vem pregnr o jf^suitó. Sut
vôí harmoniosa, mu eí^ptritó jucundo, njudam-no poiterus^môíilo
a Êonverler esso povo, que linha deificado n prazer* Poude íílfira
ebma-Ins ao cuTiiprimfjilo iloi devert»? dn cKristnns mostro ntlo-IlRts
a esiiitua tia virliide onf^rinnldaílív dê Uòres inyfíiícaR rujo ortnr ura
rorlamcnie mnis njjtadaviíl «lo que o dos h rios o madres-f^ylvns ,
que cresciam em seus poeiicos JAr^irns.
O Japõo , efíse mundo íl'ilíias o montanluis , nos confins d^A^ia c
defronte díi Clnn?i, desafia o desejo do excelso missiona rio, t)inj aâ*
pira à honra de chnmar os seus tiabítnnles á verdadeira crença ar-
raneando'Os da idolatria ou do atheismo. Nao ha [>erig(is^ nem
prívaçQes, a que de bom ^rado não ^ oxponbâ para reali^r o seu
santo propósito* Os bonzos debalde revolta m-!^e contra a sua dou-
trina^ í]ue mais prejudicada os seus mais vimes ínieresses, Xavier
triumfdia du sua tenaz e sy^lematica opj^síçào operando numero-
sas conversões na prnpria cidade de Meaco, residência habitua}
do Dayru Sua^ vistas sa voltaram entSo para Cbvna , vastissimo
império deqtie se conlavam lantns maravilhas, e que se gloriava
d' uma C]vslí$a<;ao de muitos séculos anterior á nossa* Queria ou-
vir os mandarins ^íroí/^^ defenderam o dogma e a moral do Con<
fuccio , e convencer a esses presumidos doolores que a uni ca dou-
trina verdíídeir:! é a de Chrislo ; mas o céo linha pressa de possuir
TIO numero dos seus habitadores o g rand o òonzú da Europa^ como
lho chamavam os -Taponeiíes, Semelbanle a Mo^^sés, a quem n§ô
foi pcrmíuído entrar na terra da promissilo^ e que Gndou a sua
gloriosa carreira avistando as aguas do lordao, que como uma ser-
pente de prata sulca a Palestina , assim tnmbem o grande apostolo
entregou a sua alma a Deos em Sancian, agreste e íneijlta terra
na extremidade da península de Macáo* e em f^ce do celeste impe«
perio* A xaz da gratidão dos povos aliestou suas virtudes, seus ba-
roicos serviços, e alguns protestantes como Bildeus {I) e Ricardo
(i) HUl d<!stnde5*
m
Ií^kIvH {!) [MjijJii Jtí |*íirití os [treconceíttís * tjUtí tiulreiíi i?€iUra 0
ijDsso CU lio* insereverâiii seus valiosos tesiemunhos em prol da ver-
daile e da juâlíçor e r^ndoram homiinageni á memoria de Francbca
Xiivier^ a quem a igreja conta no numero dos seus santos.
O ^pifito do grande a^>oslo1o dirigia ainda seus emufos e dís-
oipulos: 0 o que não lhe fora dado con^^'iiíã Mt^kbior Nuntís
penetrando nessa Oiina quad fabulosa. Â Africa rivalisava com
a Aiia : a Eiliiopio , a Abyaamiat a Egyptn , Angola e Congo eram
succêssi vãmente eliristianis^dos pelos heróicos filhos do Loyola : seu
sangue regava a frondosa arvora da fé, e sua palavra como b lava
do Vesúvio , calcinava os erros da idolatria. A terra parecendo
faltar para as conquistas pacificas dosjesuilas; o mundo do Co-
lombo oHeruceu ampla seara aos openirios do evangelho ; 6 até O
noííso Brazii j que o acaso ou anitis a Providencia revelara a Ca-
bral recebia os compnlieíros de Nubrega iíovó aíjnos a punas de-
líeis da solem ne fundação da companhia-
Maravilhado d^uma iao pasniosa conversão do mundo, que recor-
dava os trabalhos dos primeiros propagadores do nosso culto , vendo
a ubra d'esses padiest rjuc aniniadoí do sacro enlhusiasmo, e como
que cogarncnle obiideceiHJo a uma impulsão divina, osabíu arcebispo
de Cambraia, o grande FèiU'lon, no seu ct^lebre sennáo da Eprpha-
nía, pmnum^iaJona igreja das ^fi^^se.^^trangeiraF^, rendia aos Jesuí-
tas esta tão imporUmlequão imparcial bo menagem.
« Alexandre, cs.^ rápido conquistador, que ptnUi Dantel como
m nao lócandii a terra com 0$ seus pés» elle, que tão cioso mostrou-
m £6 de subjugar o mundo*^ parou muito áquem de vós^ porque a
« caridade vai mais longe do que o orgullto. Mem as aroias abrasa-
>> dnras, nem os desertos, nem as montanhas^ nem a distancia dos
m Itigarc^s, nem as syrtes do oceano^ nem a intempérie das estaQõeít,
« nêin as frotas inimigas, nem as costai barbaras poderam deter os
« enviados de Deus, Quem sào os que voam como as nuvens ? Povos,
« levai-os sobre as vossas àinè, O Oriente, o Meio dia, as ignoia!»
(1) U^eueU d«? \o>£t|!rs.
tIfU
II
« úhu ve]am em aileiício os que ile longe vem. Quanto sao bcltos
■ os pés d'esses liomôns, que vera do alto das roontonliis traxêr a
t pa?., atmunniar t>s ben« elcniof^. pa%ir a salvação eí!i£Cr:Oli!
n Sion ! teu Dous reinava sobro it ! Ei-los» estos no%"os roriquislflílo-
■ res, que vem sem arninâ extí<*(ílo a cm 7, do Salvador Vem, n5o
« para desipjar os vencidos darramarKif) ondcis do $.ir)guQ, mas para
• oUerôcer o seu próprio, o eúRimunipar o§ celostus thesouros- ■ (1)
A organisaçào áâ companhia cfâ do tSo notavél mncbinismo» qm
ludo dependia do chefe t do eenlro psniam todos os mm para a
perípTieria. Quando o geral ds ordem era animado de santas e lou-
váveis íotmções, quando nao aspirava senão augmentaro numero dos
moldados da cru2, empregando para isso os meios suasórios e uãõ
violentos ; n'uma palavra » quando os geraes se chamavam Ignacros*
Layné/*, Franciscos de Borgia, marchava o inslilulo maravilhosa memo
bem ; era guiado fmr pios varões, a quem politica era íníeirammitô
estranha : e o eeho das snas palavras, reboava nos confins do gtobo,
e o perfume das suas virtiides oínbnlsamava a aimosphera do cfauslro,
A idade d'oiro dosJDsuilns foi linitladUsima; não e^^cdeu a qua-
renta e um annos incompletos desde o dia 27 de Setembro de IS 10,
dala da bulia líeffimim tntiUfiniis Ecclma, que apprnvou a obn
do solitário de Manresa, até o de i9 do Fevereiro de 15Slj em qua
Cláudio Aquavíva foi eleito GeraL
Alguns eseríptores, como dd Prat e Gíoberti, razem-se remontar a
degeneração do insUlulo do Generalato de Laynez, nós porém pedi-
mos vonía para aparlarmo-nos da sua opinião pelas razões que passa-
mos a esípúr.
Jarôme Laynez, rompa n liei ro e collaborador de Loyola linhi
tomado muita parte na obra d*esi6 para qtierur destrui-lo quando á
Irentií dos negócios. lia via uma certa srdídariedado onlre elles: Lay-
nez posí^uía qualidades, que fa liavam a Loyola, eram dous entes^ que
mutuamente secojnpíeiavam* Ignacio tinha lodo aqueile ardor carne-
lerislico dos fundadores; im pacientava -se com os óbices e deloiígas,
(1] Fènélon. OEuVi tojn« VIL
83
t|i]6 thô oppynham os húTTiens pntã quem a Companhia era um myslt-
rio; anib por Ye-fa dâfirtiuvíiínenió eâtaLulecid», porque consitloro-
Tô-n como o irnico nitíío iJe cotiibaier a heresia iríumphanle: via no
í^w ImúlutxiQ rjirisiiairismo em nrçào. La^nez, o faòioCunctatorf
[í.icienlú sabia áspera r, ocoiistilhava a seu amigo d *em pregar o tempo
como sen prtneipl aiiiadt>. Apôs o erilhu^ia^mo viuhu u reOexíli» o
Loyuln lârnHiiavci sôiupre |ior conenrdar ánji L:iyuez, Igiucio app!i-
vhnãv eiti Lud» a su» blittuJe ii íiiiivitiui ^vattgulica 4|U43 ordeua jtilgai' o
proximu cuthu ihiHejaratuos Súr pil^aiJoscriíi que luilos os homem pos-
sutdinassuas rarisâim^ssvirtuJã^, povoava o iimndo do sauetos o eio
sua serjphica iín9gtmji;ão reduzia ludosoâ crimes a veniaes peccados,
que o borrií^r do h}ssope fazia desappartítur, Lavíiez era mais posilívot
cuiilitíeía mais diMjiie seu comjKilfiola m vícios da lerra e iiáo poucas
vezes mosiroti o fujo cavado pela iraicáo ilcbaíio dos pésdo b^^âcaÍJihOt
que eom os oiho& fuos no céo desdenhava olhar para o chàa. As poucas
medidas pralicoii e ideias admini^lraUvâs , que se lôni nas prinmivas
con&ruuivOtíS da comjmnhia sati jnui siegurameulo iiispiradas por
J^VueJ!* Ainda occorreMios uma consiJt^raçai}, quií prova que o se-
gundo geral iiao alterou em nada a ubra do primeiro : t^uacío não
quÍJE dar as cojiâULuiyúeâ [Mir terminados e íuimutavuís por essa modes^
ih tão cotnmum aos saiUos; mas Laynez conliecendo que ellas teu*
tliam a formar uma classe J*liomeus, que deslaeaado-se dos laços
$oeiaes, que dVdínãriõ prendem os homens em suas aííeiçi^es terre-
nas, para se conátigrareni ao serviço Ja reUgiiioT e serem na expres*
híio d'um rei philusopho es Jam$aro$ da Sane ta Sé^ julgou que
semi í dantes homens sem pra exiitinani,ô que d*el[es era lodos os
tenqias haveria mister a igreja, a movido por es^s razúcs deu o carac-
ier d^ímmuUibiUibde á$ regras do fundador ,. exceplo na sua partd
mtrauieiUe discí|)1inâr, que c por soa mesma natureza mutaveL
Efitaretnos om erro; mas julgamos quia quem assim procedo nâo pódá
ier tsiado d*innovattor ; nem tào pouco de ser o primeiro cio d^essii
cadeia de i^craot poti ticos e ariificioios, que adulteraram o iustituto
pra cuja fundação elle Layne?. lanto contribuirá*
O duque de Gandra, o aungo do Carbi V c de Philippe It^ rctnm-
tofTMnilo o nioile^to nome de Pudre Fn3^ci^t:u iJl* Bor^ia ; a éste
tmmom humilJe» a este nobi^ sem vaídido» o protestante MâeauUy
(I) (lií ser o soncio do calendiíria romano que maiores dignidíides
leidiu tilidirDcio privando- 36 de maísdomeii^iicjs venturafí^ e cujíi vida
iJ tnais Hoqnente do ^m todas as homellas da S. João Chrysf>stoii)Qr
a L^o coTispiciio e pio vnrâô pareceu Lf>ytieE eít pirando designo r para
.seu sucíítíssop. Giraetep conccutrádu, o^pirilo, {]íiú necossílava dt! leçe-
Ler alheia iinfiroásão^ mas qtieuinà ves^ rocúblda não r^ctiav-a [N^ranle
dÍ(!icidd.tdo ufgtiino, erâ o liomem mais proprtíi para desânvoíviír os
pboo5 dlgnocio dií Loyola cdo L;iynez, *» Não linda, dlí; u í(<?nliOf
• Crtftitiesiu July, uein a irnuiensidadtí d.i^ eoticoproosdo fuiidiídor,
n mm a arJocHe inící;iltvn, e o raro conjuncto de laleitios rjua acaba
li de desenvolver o ?^gi»ndo geral da ordeíu: lintrelanio nn cooiarUi
• dVssfsdous homens, (jtie laií grande infíaencia exerceram subre
« «die, Borgia aqueceu com o fo^o do seu ví^or a natural frriqnej^a.
«L D 'um lejnperamento meJaneolíco Icrifl á existência íigifoda di> nú;;-
« siíinario prefiirido as doçurns da vída contcmplaltva. Arranrnu-o
K Ignacio ao ropoiíso da solKlao, queDmlit-ionora^ o Ltynesc tant;ou-a
« nos Irabnlíios do apo^siíjlado preprando-o pr dilliceis provas pnra
• Iwjíar-liie a sua liemnça. »>
Sob o regimen do lerceiro genil o inslittílo continuou a prosperar!
iem afastar-se ainda das sabias vistas de Loyola : Borgia tinha vivido
na i§m intimidade; ouvira-IIie muilas vezes a eiposíráo do seu pie-
doso plano, Q deíiiuis nao era difílcultoso a um canelo inlerpmUir as
intenções d'oulro saocto, Donmte o seu generala to leve de luctar
coiii um vJrtuosis,*^imo ponliliee S* Pio V% que som duvida levado
pelas ideias da perfeição espiritual, quiz impor aos jesuitas o ónus do
o1!lno foraU de quo tinham sido di.spensados pia bulia da sua insti-
Inirãu* A's ponderosas razões ilo^^eral cedeu allim o soberano Punlí-
fice* louvando a modoraçilo t^om que este procedera ; o nau tardou n
roídjeccr praéiíeamcnta quanto o antigo duque de Gandia era addicti»
ii Sannta âé^ e quanto a fua influencia de Tamil ia lhe era salutar*
(t] IWv iin^dhnlmrKti.
S3
Os Til TL" ( y%^ I n V pe ríH M 1 ii Scl i m II, filho e m iccessor do soH inaf» ,
iilirasaiit^H p&b i^t^itú liu ijng;)r)i;a p€la inuúlidafle da sua lenlalTv;t
ronira MaliiF, ame^iravam invadir os esindos da igreja e o lerritoria
veneziano. O Papa lt*inbrí>ti-so de pregar mnlra ellcâ uma novi cru-
mt l ti ; mi)^ os pr i n 1 1 pes cíi r i ^l aos esta v a i ii n i tn la m e n le ooci i pa d os co rn
AS suas diasencCes para pfest;irem á voz de S, Pio V o alteuçào ou!r'nr!i
prestada a d'Urbano It* A Itâspanhii era porém nessa èpocha a prí-
fiieira potencia ratlioíica, e a Summo PontiOce enviando a Philip^H}
11 seu sobrinlio ocardeol Alexandnni na qualidade de legado a lakre
kúfi-o ãcompantiar por Francisco de Borgía ; a seus esforços deveu-se
tnlve^ não cm peqaen^ estrala esse magníReo triumpho de D» Joâr>
irAtiFtna em Lepnto, d^oudo se póile daiara decadeneía do poder
othomano.
Si peneirásseis eulão \w$ poUh^^íos da dou la Gormania, \h e^piri-
liioíia França, da orthodoia ffespanha, da piedosa Itália, edo fidclis-
si mo Porliígal, ve-loí^-liicis povoados por uma mullidaa de síiIjíob de
roupeta, que insiruiam a luecidadc?, prrj^íivam, ronfessíivãrn, admi-
ti listravam os Sanfamenlos com 0'1Í tirante soltnitude. SÍ d'aíii vossas
1 iMis sVslf*fiflLíííStím ds míísões lougiiKjuas, st perlnstrassei^as rcduc-
^ões d^Amerira, da Cocbínchina, es dâ Flltiopiaf $1 das margens
ifllruguaj %os remo nbsí eis ás df> Nilo, verieis os infatigáveis sor-
pcssores de Xavier eliamando ao grémio da Ign^ja e án civilísaeío
esses Otlios pitKligosdo Evangelhoi e ao contemplar tanta alnega^Ot
iiíjia li6roidda4e. facilmente vos convencerieis de que a conjpanliii*
estava nos seus áureos dias^ e que um Sancto presidia aos seus
destinos.
A* era dos sanclosla se^^iiír-sea dos politícoí? ; a cuja frente deve-
mos colloear o faraoíso Cíaodio Aquaviva* Pnnripe romano enirafíi
pam a companhiit com v Ísl:is ani l>icÍosas: aspirava o pr inteiro lugar
116S5Í corporaçiio, qtii) acabavarti d'ilhistrar Ires grandes personagens,
e quB devia á virtude dor seus cliefes, á dedicação dos seus membros
o ter levado o vexillo do Goigotha mais lotige do que as águias da
rainha do Tibre. Aquariva substituid á rud*! franqueza dos Hespa-
ulióesá rtiiura italiana : a simplicidade da pomba a aslueía áa sor-
|iente. Commeniamio ptdi> seu f^ireclQrio as €on$tiíuicÕ€9 íabcava
■■
inuirnmenle 8 obn ile Loyola : díivn Uie uni carncler lotlo Ji verso ;
u fornecia aos inimigas da insliiuln armas para esligmaltsíir Ioda u
iitslitiiição n^o aitendetidu ás épocbas noin aos liutntins, íjue diri-
giam o Umâo da onfórn.
A ihooria das reliam cias e das restrifções menlaes iniciada pelo
gorai foi estudada e levada á ultima períi^iç^o puli^s tlii*u(iigos da coro-
pnhtí), aúsf]uuesem lempo ^dgiim m poinh ntif^ar ^'rande lalenlOi o
que agora applii'i»vDm «i$ subtllozas e argncias os tazcres otKrWíi em-
preitados em dttfejta do dogfiis. Os lemfim esUivam mudados: o scô-
mirio tira o mesmo, mas outros os actores, A$ comtituiçêe^, qm^
romo dissemos davam ampla oiargem ao arbilrio, suppuiiham no
gorai ^rnprc um homem eomo Borgia, que fugia os pompas o os
vaidades do mundo, 6 nào corno Aqua viva , qtio as procurava, O
orro tvtpiial do B. Ignaeio foi do crar que seu^ Olhos csrallteriani
sempro pra succeder-lhe os homens mais noiavcis d'enire eJlos, e
sobretudo 0^ quo monos ambicionassem as honras da governa nca , &
PFtava mnilo knr^^ ifospcrar que o espirito du cabala podosso cegados
a portiíj do col Inçarem ã sua ire n to uai joven fogoiso, o unicamotilo
riolav^d peta sua nobro linhagem , o pebs occuitas e loneb rosas machi-
naçoesdo clao^lro.
IVio prafufKÍfiR golpes j quaes os de5Carregadof por Aqtiaviva na
primitiva regra da eompanUlit que alteravam profundãmento o iun
da sua insliUíiçãOt nSo poiliam ^er vistas nim indiUtírença pelo Papa*
cujo nome consta nlemen lo invocavam os ps€udo*refarmaílores da
ordem* Presidia enláoa Igreja Univarsal o grandô Si^cto V, a qtíom
Roma o a cbri^^UmiaJe tanto devem. E^te liomein, cuja vontada fazia
lei ponpiâ alia ora qtiasi sempre a mais exacta e?£ pressão da justiça o
da verdade, concebera vastos projectos para a grandeza da cidado
eterna e do caihidit^ismo. Com sua pa^mosa actividade tudo via,
tildo examinava: e chegando-lhe aos ouvidos as queixas que alguns
Jcsuiiis do antii^o regímen faziam contra a adulteração da magoâlosa
obra do seu mestre, chamou as Cofishtuuõcs a exame, e annolou
com a suo própria letra as passagens, que mais precisavam ser altera-
das como abrindo a poria aos maiore§ abusos nas màm d'l!omens,
que tiáo seguissem as iradií^ões deixadas pelos primeiros Geracs«
8Í
Contrastando mn\ o prúcader Jclíciído ô vcrtJâiluírarneme chrisliro
tie S. Francisco cíc Borgia , que levou aos pés do S, Pio V as suns
IjumilJes represeiifaeões cm [nòi úà immulabi lidado do Imitiu Lo, o
Gemi jVquaviva aiiimou-set coittíado no irnmenso poderio a que já
eni3o chegava a Ordem, ã resi?^tir a vontado do Papa ; d apesar d 'esse
Pap3 ser Sixio V, para quem as dillleuldades eram um poderoso
incenlívo d'ãcrão, não poude irtumphar dos embaraços de todo o
gtíuero , qutí íhe oppoz o Geral já da parle dos priucifies chrísiàos
como o imperador Kodolpho, o rei Sigismutido, o o duque da Bavie^
ra, já da dos membros do Sacro Collegio, a ponlo d'exclaniar o
magnânimo Antislile : f( Todos os Cardeae.% ainda os que m$ crea-
mos, nos sào contrários e favoráveis aos jesuítas t » Para cumulo do
dissimulaçlo, ecomo exemplo vivo da regra , que dera aos provin-
cjaes no seu Directório Cláudio Aquaviva assigna e remetto ao
QuÍTinal o raquerimentú pedindo as rerormas;, que meditava o Sobe-
rano pontlííce, e contra as quaea tantas inirigas movera , quaudo foi
informado pôr seus agentes que âixto V estava perigosamenlo en-
fermo, õjá fora do e^imlo de deliberar. Era uma farça, que represen-
tava, e destinada para mostrar úb almas simples e crédulas que a
companbia de Jesus era esiencialmente obediente â S. Só. Illaquo-
ando a boa íé do novo Papa Gregório XIV obteve logo a rovogaçio
d^aquillo mesmo que acabava de pnátr,
Tinba Loyola exprL'Ssa mente probibldo aoa que seguissem a sua
Ordem o oceilar bonras e empregos fora d'ella : querendo d'est'arie
qne o jestiita lhe consagrasse toda a sua existeuctUj e podea^ com
mais liberdade faliar aos príncipes e aos povoa a linguagem , quo
convínlia» que e^iés ouvissem. Com o favor de tão uul modid;! nin-
guém receou tomar um padre da companhia ♦ em que se nío pdiam
suppor vistas interesseiras, nem ambii^^ào pessoal, por director da tua
consciência. Assim foram eHes admiltidos nas cortes dos imperantes,
o os primeiros, que ahi ^pparecerjui nf!o desmentiram a ideia, quo
d'clles se forma vj, Degenerando o instituto tomo acima menciona-
mos resenliu-5e disso todo o pessoal da ordem, NíSo queremos diaer
quando avançamos iâl proposição que todos os jesuilas se tinham cor-
ruíiifiiJo; ma^ sim quíj 5(?hdu 4.i§ta inslítun^âu ttm wsloma compWlo,
n q\w ítírigk o principia d'uHÍiia[]o^ nâu pilíom íjl|;uns itoinons bons
e bem inlennonados impedir o mal, que prlía do Ceíó, e slnfil*
trava por lodos <ííi poros. Como confessores âm ré% tiveram assen!o
um i-cniselliosda cdfoa , o e^queceiído-se das Hr^ôes dos *t?us mejtlr<s,
ingeriram -se na polilicâ; quiseram luinbiiin emittir a sm opítniio ik»»
negueros d'cslado, a faliam o mais repngnnnie e monsinio&o cunsor-
cio áa Reli^^ifio com a í?cíííii€Ía de MiiíTliiavelli* Dusinlcrpssados»
índividuoíinenle íalbndo, tinham uma desordmiadã âm lição eoltee*
liva : tudo sacrificando ao que chamavam bem-estaf da companhia
mostrava in- se pouco esernpiilo>os sobre os muios pelos í\uil^'A obta-
riam o Ião suspirado predomínio. Pela su^ liabitldade*, pelo talenlo
com que levavam as negocin^Gus, pelo taeto Hno, que mostravam no
eommerriu da vida, mnijldando-se a todos us usos e cosiuraoâ, to-
mando na Quna as v^steâ de Mandar un , siijeilando-se á vida
ãspi^ra e nom*ida do selvagem Iroquez ou do Esquimáo^ e voltando
dttpoiíí dtí longas e perigosas peregrinações f>elos inhospitos desertos
d 'Ara Lia, ou da Lybia, leccionarem a^us roilegios com doce e seduc-
tora linguagem , Foram chamados os diploma la» da Igreja, Cum-
pre porém notar quo para gomarem de s@miíhaniD denominação , qoo
por mais d 'um titulo cabe lhes maravilhosamente « na if<!gunda phas^
da 5ua existência^ deveram primeiro rentinciar o do raÍÊSÍonarióF » o
apóstolos do catholicismo ; porque este despreza os meios ubliquos o
vai desassombrada mente aos seus tins.
Na logbiierra se decidetti em favor de Maria Stuart contra Isa-
bel; envenenam com as stJâs predicas, com os seus escnpto5,o
enm suas meias conridenelns os ânimos jii t^o irritados dos ca-
t ti o 1 i cos e p ro tes ta n te s , a 1 te niâ ti va men te v eiieedo res e v ene id o s em
breve espço de tempo. Provocam a bulia de pio V. contra Isabel #
e o consequente edicto d'e«ta princesa que responde com medidas
violentas e extemnníidoras ás duras e severas palavra?, de que con-
ira ella se servira Kotna, A intolerância d^esses regulares^ que
recebiam do f:eu geral as mais estreitas ordens para esccitar umu
ireacção ealholica contra a filha de Henrique VIIÍ cobre a firàa-
se
BrftonhA do cadafalsos t faa f^rrer oíidas dô £^ngue iimotente, t
i»0a5ta-af sabe Deos por quanto tempo , do grémio da verdadeira
O novo programma da companltb g,ifiliavo cséda dia tíovo íidfen-
volviniento e as mai^iifias d'Ai]uaviva eram sé^uida^ far seus vassaU
loí& com a maior poo tu alidade. A França do 16,* 54'cuto, dividida,
corno a Inglaterra « entre as duos rotnniunhõQsdissidí^nl&s , coíide-
tidas ti'aqueUt) reino pela deíyominaçnodt! Cntkolicm e fíuguenúte§
oíTurccía ?ofi jesuiUs a vidos du so moslrarem no seu novo elemento,
um vaf^io llie;ilrõ para as suas operações. Promoveram por intorma-
dio do p^dre Eirvoíid Auger, seu nm\s eloquente e !mbil correligto-
nariOi a íonna^io da Liga^ que li n lia por fim o^lensivo a de^fe,«a
da retigiào rallioltca^e dominando o espirito dn fraco ruonarcl^a
Henrique 111 e^ punha m-no a anima vadvcrgào da seu povo em pro-
vi^ito da causa das Guises. O astsa^tnalo do rei por Jarqup^ Cle-
meiíl no dia I.* dâ Agosto da ISêO, íalsameitte attribuitin ao»
|éSuUaS| advertiu ao geral da uêce^^sidode de oeçiiliar a sua ínQrien^
cia nos neffvcios piililkos de FrnnçR ; e d*aíii ioda e^a «cena
de dissimubçào de que Aqiirtviva foi o prologonista , e que ^ri
ser bem aprei^íada deire Itir-se a sua celebre caria de 2â de Fevereiro
de !$86escripla ao padre MatheiíSf em quâ proJiibindo lhe e aos
seus cí^nfrftdiís de França lud?i a iinervençlo nos negncios da Ligúf
servi u-the todavia de letras credmcimê para ir pôr-sena Lirmint
á frente do partido levantado contra o rei de Navarra. Túo ainptji^
bologica e enigmática era ella l
Durante o guvertio dos quatros prime troii gerae^t a compantiia de
hi$U3 estava rnieiran^enta ÍdiinlÍ ficada com os seys chefes : o carac-
ter de cada um dVltes fieon imprenso nos st^iis annaes, e revi^lou-é^
m ipdute do instituto ? porque eram toflos poderosas índividualir
iaãcs : homens notáveis por esle ou aquclle tiiuto ; e o próprio
Âquaviva , de qu^m acabamos de falbrf manírestou á te^ta ám
negocioa tsin iit^uiei qualidudeá políticas, que se nào esper^ivamp e
que apezir de contrarias á naiureia e (ins da iiisiituiçio provft-
vim ao mmos não ser elle um boNiuio vulpr A partir pomu «^
Mueio Vitellesehi elevado ao generalato a 11 de Dezembro de 1563,
os chefes da ordem de Jesus, como que desnpparccem, eclipsados por
uma dominadora oligarchía, composta dos assistentes, provinciaes
e mais professos. Parecem os geraes governar com o mesmo pres-
tigio de autoridade que tinham os seus predecessores ; mas encon-
tram por toda a parte obediências activas, intelligcncins incapazes
de submetterem-se sem murmurur. A fraqueza dos cbeff^ era a
causa principal d'es^e predomínio de alguns membros, que lhes im-
punham um jufl[0 muitas vezes insupportavel, rôduzindo-os ao mes-
quinho papel d'um manequim. Com mui pequeno intervallo senta-
ram-se na cadeira presidencial do Gesií , cinco geraes , e tso pouco
importantes eram elles, que poucose importava o mundo em saber st
86 chamavam Vitelleschís, Casaiías, Piccolominis, Goiíifredísou (ios-
Viim, Serviam de dóceis e passivos instrumentos nas m^os de nl.^uns
poucos homens, que possuiam o segredo , depositários da monilà
secreta^ e que afectando exteriormente a maior sujeição ás onions
do geral serviam-se d'autoridade illimitada, que lhes conferiam
as constituições, para satisfazer aos seus caprichos, e saciaruia
quiçá as suas vinganças.
A funesta influencia da politica jesuítica fazia-se sentir cm toda
a Europa: por toda a parto agitavam os ânimos; provocavam ran-
corosas discussões. Protegidos em França por Richeliou , auxi-
liam as vistas ambiciosas d'esse ministro omnipotente , que nfio
duvidava prestar-lhcs lodo o seu apoio contra a universi^lnde, para
a qual os Glhos de Loyola com suas pretcnçOes de mono[K>Ii(^:irem
a inslrucçSo publica, eram perigosos rivaes. Dorninnm na Hespa-
nha nos conselhos do rei Filippe 111 , que os consulta até acerca da
Conveniência de lançar sobre o seu povo novos impostos, e depois da
sua morte apro-isavam-se em apoderar-se do animo de seu Ullio o
successor Filippe IV, a quem prodigalisavam as maiores provas de
adhesâo, ao passo que auxiliavam em Portugal a heróica revolução
de 1640 , que devera collocar no throno aíTonsino o senhor D. Jodo
IV', entSó aiiidá duque de Bragança. Explicando a sua conducta
ambigua com a famosa iheoria das restriccõos mcntaes tinham a
91
•rle do obterem os príncipaes lugares na nova oôrte, sem comtuda
86 indisporem como gabinete do Escurial. Com razão ou sem^lla,
Uniiam sido accusados pela voz publica deterem por meio das suas
su^^estões inipellido o senhor rei D. Sebastião a essa tristíssima
^uorn d' Africa que terminou de modo tão funesto para a naçào, a
que;ii arremessou no jugo estrangeiro , agora pois reparavam o seu
erro, ou melhor serviam a sua ambição. Os Hosannas sao nao
poucas vezes interrompidos pelo crucifige^ á serie de triumpbos da
companhia vinham de quando em quandojuntarem-se alguns revezes.
Por motivos que ainda hoje jazem sepultados na noite do mysterioi
foram elles n'essa época expulsos da ilha de Malla no orgão-mes-
trado de Paulo Lascari, seu grande amigo, e dedicado protector
da sua politica, O povo e os cavalleiros grandemente irritados con-
tra elles obrigaram-nos a embarcarem-se em uma frágil barca que
o vento arrojou ás costas da Sicília. Os espirites turbulentos conhe-
cendo que mãos vigorosas não sustinham mais as rédeas do governa
da ordem davam largas ao seu génio, e atirando a mascara, qua
por tinto tempo tinham sido constrangidos a usar, caminhavam agora
a passos largos para o dominio universal.
A substituição das puras e sanctas máximas das Constituições
baseadas sobre o evangelho pela casuística interpretação ão Direc-
tório^ seguida dos corollarios dos continuadores da politica d'Aqua-
viva , não podia deixar de prejudicar a sorte das missOes: assim os
missionários d'essa épocha se parecem tanto com Xavier como o seu
geral com Loyola. Ainda haviam nesse tempo apostólicos varões, a
martyres da fé ; mas o que podiam as virtudes e o sangue d'esses ho-
mens contra a torrente devastadora, que se despenhava das catarac-
tnsdo Gesú? Uma ethíca singular, consequência do prubabilismo
dos seus doutores, arruinou as missões, contribuindo assaz para o
d&scredito do catholicbmo, que era representado como uma lei fallaz,
mentirosa; permittindo os enganos, os perjuros, as revoltas, n'uma
palavra todos os vicios e crimes: assemelhando a fé romana á púnica.
Quando homens honestos , e bastante vigorosos para realisarem as
siias ideias, estavam n'administrarSo da Ordem, viam-se nas mÚBões
91
I fiaÍBlrMiiumptoi, noo aspínináo mrío o prefeito «piritoal dit
povos a quem km tirar das garras do erro, ou da impiedade; mêá
guando a politica formou o programmo dos chefes da companhia ^
quando estes quiseram dominar por todos os meios, embora licitos
»ào fossem os fins, então os novos apóstolos não se contentam com
M^m saco por bagngem, e um pedaço de pão negro por provisão de via-
gem, e desejam as commodidades da vida, porque não já como missiê-
nariossaem dos seus collegios, mas sim como diplomatas d'um sobe-
rano, que impera sobre muitos milbsesde vassallos.
Na tão famosa questik) dos ritos chinozes deram provas manifestas
da sua degeneração, e dos progressos, que tinham feito n^nrtedesophie*
mar as ordens, que contrariassem as suas vistas embora emanadas da
suprema cadeira da verdade. O seu espirito de fraternidade e mansi-
dão 08tenta-se a descoberto nas continuas dissensões eoíitra as outras
ordens religiosas , principalmente contra as que com elles emulavam
Ros trabalhos da catbecliese. Nso queriam admiuír compnheiros
ii'abundantó ine.<se da conversão dos gentios: pretendiam neste ma*
tario, bem coroo em muitas outras, o privilegio exclusivo para o seu
instituto. Não havia embaraços, que nSo suscitassem ; não recuando
até ante a ideia de se declararem em completa opposiçâo aos bispos,
allegtiudo os privilégios recebidos da Santa Sé, e fingindo para com
esta uma reverencia som limites. Ora, Roma não lhes podia ceder taes
iserapções sem se pôr em cqntradic^^io oom os seus principies ; que
consistem em rodear de totio o prestigio os pastores da Igreja , por-
que são estes, que com o supremo chi^fe, formam o corpo doutrinaute,
único depositário dn Religião de Chrislo.
A faisioria das missões na segunda metade do seinijo XVU o no
seguinte oííerece uma constante luta, ora manifesta, ora latente,
entre os jesuítas, e os delegados de Roma, aos quaes queriam impedir
todo accesso nesses paizes, e todo o inquérito sobre as suas acções.
Alexandre Vil e a propaganda querendo pôr um dique á audácia
d'esses regulares, ordenaram que os missionários dd China e da Indo-
Cbina fossem submettidos á auctoridade dos vigários apostólicos e á
4e «eus cooperadores ; e como menosprezassem esses decretos partiu
|ltí m qmViâtiiú dô legado a tatere o bispo d'Eliopoli Pruii-
Je Píilu, liomcm a fjuem loriiavíim illnslre irinta anno(sde fadi-
gus spnstolicos* Seu poder ^ vírludcs o longa pralfca dos negócios nS»
poder:íiii sujttíraf a lenaz resistência dos degenerados fiíhos de Loyobj
qrie cheg.^ríini a dizer fjtiç o Papa não tinha auctúridade paraefi'
mar no Oriente fttspos, iH^artoí, ou íjuaes'iu€r úuirm rfe%a<fo#,
em quanio não fossem expressamente revogados os privilegiõB dã
cúmpanhia c os do padroado^ que os reis de Portugal exercinm
Êobre essas igrejas* A dc^beditíiiLiii ftirjnal uos dccraitfs e decisões
d» Snriti Sé nos paizes lon^ínqiirjs emin pn ilididos em Rumo com os
imh krww^iS proteiiLos dt^ rt^ptfiki @ submissão » que os gemn
Oliva e Novelb fiizinm, dando a lodos esses ^clo^ um arlificioso fob-
ndo; dtí modo qu»í os rebdde?, d'est*íirle j usti ficados ^ airidii pare-
ciam n vis servi dores) da boa o saneia causa da prnpognçfio da íé.
OfTtireetTani os jeáuili»!^ por algum tempo no Paraguay o locante
c^pcciactílo d* ti ma ^ociedíida de selvagens regida por pn*ireSj e lavada
áruUura e ao prog^u^so peia rolli^iíSo- A obro porem d't^ses piedosos
iiíJssfi>nnrÍos corrom[^u-50 bem de pres-sa nas mãos dosa^us siaTe.sí«)-
res, que sei|ui(íSos de mando e riquezas qnizeram sor os ^ibores
absoEiílos dVjuetle&p qua baviam calbceliísadop Assim as míss&es do
Píjraguay, qsie a principio eram um objecto dViiíieaçáo, tran^í forma-
ram-se cm Tonto d 'escarnia lo para tovia a Europa t e fizeram sem
duvida com que o bom Muraiori se arrependesse do ler escripto a sua
celebre obra do Chrislíanestmo Fel ice, Cbaluaubriand , arompa-
nbando nú illustrado escrÍpU>rÍialiauo nos encumios, quo prodif^altsii
as missões jesiiílicasd'Americ0» era bvado por e^se e.^piritod*entlm-
staismo religioso, de reafçào cailiolica, que lanlo caraclcrisa as brl-
Ibantes paj,'rnas do Génio da Ckristinnismo ; e refore-s© mui scgij-
rameriie é primeira phaseda e^tisiencia das reforiJas missOes ; jiorque
H lires&e proseguido em suas inve»ligaç6fò£ recuaria espaiorído pelos
«xcèfôus fommettido? pelos njembros da suriedndo de Jes^us, que nfío
duvidaram de recorrer as armas contra seus legiúuios soberauos logo
que paroceti-lhe^ que a política dVslas coulrariava a sua. O leitor *
ijoe pretender avaliar por ú tn< smo o que acabamos de dizer^ leii t
iriaçio pnblicadn cm defesa do 1ii«pr> do Paragaay, Bernardino d«
Cardenas, a quem esses regulares moveram crua guerra, e a quem
tjBceram iim:^ d.is mais completas e perfeitas inlrigas, dando assim
provas dograndQ progresso, que ne«sn sciencia, enlào para elles nova,
faziam qoolidlannmenle. De til modo Iiaviam segregado as suas
colónias irnnsailuntíens do resto do mundo, que ellas eram ignoradas
por lodo?, eTi repto pelos seus superiores em Roma , aos qu«ies eram
obrigados a cnvinr todos os annns umn conta minuciosa sobce o seu
estado, especificnndo o ramo, em que mais prosperavam. Obstina-
vam-se em recusor o accesso em suas missões a quem quer que fosse,
ou enviado pj!o poiier civil, ou pelo ecclesinsiieo, sendo o principal
motivo das suas dissenrões com Cardenas o pretender esto prelado
visitares territórios do Paraguay e do Uruguay, nào só por fazerem
parte integmnte da sua diocese, cumo até porque tal lhe fora orde-*,
nado pelo governo de Madrid.
Náu ha queu) nno tenha ouvido foliar n'essa famosa q^ieslao sus-
citada em Frnncn , por occasiào da bancarota do padre Lavaliele ,
superior ger.;l dos jesuitns na ilha da Martiòica, c que fui a cnusa
ocçasion^l da sua suppressào nos estados de S. M. Christiaiiissima.
Dissemos que os ji^suitas desmentindo o seu glorioso passado tiiilnm->
se deixado de t:il sorte dominor pel.) sede das riquezas, que consi-
deravam as missões como ffilorias, e pnra ellas mand.nam homens
ipais azados p;ira opcraeõns men'antis do que para os trabalhos do
npastohido. N'esie caso estava o padre Lavalette, descendente do
heróico grno-nifslre de Malta, ern ambicioso, emprehrndedor o
de grande acii vidado : o qunl vendo que o espado financeiro da com-
panhia nas .Ai.lilhas nno era igurd ao do algumas outras suns pos-
sessões resolveu clnn-lo a um ponto capaz de fjzer inveja aos seus
confrades das margens do Parímá. Enlrogou-se com ardor ao com-
mercio« o em pouco tompo accumulou grossos cabcdaesf que em-
pregou n*;ir(|uisiç;"ío de terras c do escravos paia rotea-las : elevando
o seu numero ao prodigioso algarismo de dou^ mil. T5o granda
emprego de capitães, simultaneamente occupados no commercio e
na agricultura , devera trazer após si um deficit^ que foi obrigado.
Í>5
â supprir por meio do credito, tomando uiu iniihúo Je libras tòr-
nezas em Marselha 9 e em outras pruoas, com <]uaes estava em
relações, e que não duvidaram fazer esse empréstimo a tão boDs
fornecedores como erani os padres da companliia , que abasteciam
os mercados europeoi com os productos dos paizes ultramarinos.
Seus empenhos seriam em breve tempo satisfeitos , como já linha
acontecido com outros idênticos, si nâo f')sscní aprisionados os
navios que transportavam òs géneros das suas feitorias pelos corsá-
rios inglezes, que desde o anno do 1735 infestai vam os mares. Pro-
testadas as letras , elevados os jesiiiias pornfito os tribuhaes foram
condemnados a pngnr in-solidum a diviíia conlrahida pòr Lava-
iette. Causou esse processo grande escândalo ; e a companhia sur-
prehendida em flagrante violação dos cânones da igreja desapprovou
publicamente o procedimi^ntu do seu agente, que assignou a decla-
iraçào de 25 de abril de 1762, peia qual assumia a responsabilidade
d'esse acto , isentando os cliefeS da ordem de toda a solidariedade
n'elle. De sorte que si as transacções fossem coroadas de bom suc-
cesso todo o proveito redundaria eiii próI da ordem , como purém
foram desgraçados era ella inleiramonle estranha ao que em seu
nome, e mui seguramente com o seu beneplácito, fazia o seu de-
legado n'America I Semilhnnte mjslifírarao nào enganou a ninguém;
6 o ódio contra a cor()oraçflo , crescu prodigiosamente. Os mais
decididos ápologista< do instituto, como o seidior Cn>tin(!au-Joly,
coiidemnam o pr(íce«ler do seu sup«rior geral nas Antilhas, e con-
jftfssam que este negociara em grando escala ; mas a sua parci-didado
os priva de recoidiecer cpie esta tendência para as cousas profanas
não era uiu facto isidado o sim a consoqnencia l';;itima e neces>aria
de principies adoptados em Koma , o faziani-st.* sefiiir por toda a
parte, onde tremulava o pavilhão da companhia de Jesus.
A liei'esia de Jansenio ('oi , na phr.-ise do (lioberli, urna mina
d*oiro para os jesuítas : sua prolongada polemica com a escola do
lPorto*UeaI absorvia a atlençào úo u)un<lo religioso e I literato des-
TÍando-0 do estudo da marcha tortuosa, que levava a obra do
santo prisioneiro de Painplona. Si porventura al;3'uom ah-^va a vox
90
port denunciar os delictos da ordem tinha esla um fácil meio da
reduzi-lo ao silencio averbando-o de iierege jansenista ; e ínver-
ieivâo babilmenle os papeis d'accus«'ida Iransmutava-se em accusa-
dòra ; largava o banco dos réos p.ira sentar-se nas cndeiras dos
juízos. Com esla poliiica arlificiosa, que consistia em iilentificarem
a sua causa com a da rtíligido, de que então, com honrosas exn^pçõeSy
eram indignos ministros, hnvíain-se tornado qiiasi invulneráveis,
ecobertos com o escudo d*Achillcs desafíavam a cólera dos modernos
Heitores.
• A deslruiçlíodo Porlo-Real, diz o senhor Dutilleul (*), an-
nunria e prep.ira a destruição dos jesuitas : sâo dua^ perseguições
parallehis. Luiz XIV temia os jansenistas, corporação austera, ar-
mada de talentos estimados e admirados, professímilo perigosas dou-
trinas, pois que importavam a crença no fatiilismo, e compondo
no seio de seu governo um grupo compacto e quasí esparrinta.
Occultava-se no grémio do jansenismo um elemento de critica ,
secreto fervor dopposiçâo, de resistência, ecomo que um meio
calvinismo drgmatico, tanto mais lemivel por isso que as fornias
respeitosas pata com o soberano pontifico eram conservadas, e não
rompiam o laço dn união catholica. Com a sua poderosa autoridade
esnvigou Luiz XI V essa corporação d'almas enérgicas, cuja secreta
cadeia todavia conservou-se. »
« Foram estas que mais tarde precipitaram os golpes do dnquo
de Choiseul e dos philosophos, e que cruelmente vingaram o Porto-
Real em minas. Tinham por alliadas todas as congregações ini-
migas dos jesuitas; Dominicanos, Agustinianos , Benedictinos ,
as mesmas ordens medicantes e sobretudo a universidade e o par-
lamento. »
« Representantes do passado e da idade média , diz o citado au-
tor no cap. 5." da sua importante obra, por mais d'um tiiulo
recommendavel , os jesuitas se tinham despojado d*austeridade
ohrislâa para combater o mundo, que renascia, e da mesma ma-
(*) Hist. dcs Corporal. Rclig. en FYauce, livr. 3, cbap. t.
g7
neira que os cavelleiros do Templo S6 linliam despedido do caracter
pacifico do evangelho para combater debaixo da coiraça os inimigos
da cruz. Uma vez terminada a obra tornavam-so inúteis aquelles a
quem não podiam mais defender , odiosof aos que tínhan; vencido :
foram tratados inexoravelmente. »
D'esias mui judiciosas observações do illustrc advogado de la
cour royaU de Paris^ seja-nos licito discrepar no ponio em que
diz serem os jesuilas anachronicos por sua instituição , quando
nós pensamos que só o eram pelo aburo , que d'ella faziam , pelo
constante 6 progressivo desvio das constituições primitivas. Nunca
é fora de tempo defender a religião , e propaga-la pelos meios
indicados no evangelho.
Chegamos á parte mais diíTicil do nosso trabalho, queremos fallar
da suppressSo dos jesuitas. São tão contradictorias as versões, que
e tem feito d'este facto aliás da maior simplicidade, que causam
graves embaraços , a quem deseja estuda-lo. Temos á vista quatro
escriptores, que se tem occupado com este importantíssimo assump-
to : cada qual parece ter a justiça do seu lado , e o leitor termi-
nando a sua leitura está quasi disposto a militar debaixo das suas
bandeiras. Ao condo Alexis de S. Priest, que primeiro escreveu a
Historia da queda dos jesuitas no 18 seculoy vier.im juntar-so
n'estes últimos tempos os nomes respeitáveis dos Srs. Cretineau-
Joiy , Tbeiner o Ravignan. O Sr. Crelineau-Joly no tomo V da
sua Historia religiosa , politica e litleraria da companhia de
Jesus, tratando d'esse celebre litigio absolve complelamenio os filhos
de Loyola das accusações que n'e.<sa época pesaram sobro elles, e
parece attribuir a bulia Dominus ac Redemptor noster á fra-
queza, e quiçá á nimia condescendência do pontífice então reinanio
na igreja de Deos. Posteriormente publicou um livro, a que deu
o titulo de Clemente XIV e os Jesuitas^ em quê firmanJo-se em do-
cumentos authenticos e inediclos, pinta-nos ao vivo as varias scenas
a que esto grande acontecimento deu lugar em quasi toda a Europa.
Através do seu respeito para com a Santa Sé póde-se ver n'esse
livro alguma acrimonia para cora o immortal Gangancili , que é
1VI1I 1.'}
alií representado como instrumento passito dos poderosos e implacáveis
inimigos da companhia. Para arredar do grando pontifico a nota de
precipitado, e justiiicar aquelles de seus actos, que mais desfigurados
foram pelo apologista dos jesuítas, pubru^ou em 1852 o reverendo
Agostinho Thelner, padre d'oratorio, e perfeito- coadjutor dos ar-
chivos secretos do vaticano a sua excellente obra denominada Histo-
ria do fnmtificado de Clemente JT/Fenriquecidade preciosas peças
jttsliricalívas extrahidas das mais puras fontes. Veio lai publicação
lançar um raio de luz no meio das trevas com que expressamente
se tem querido envolver essa questão : o seu juizo é sempre calmo
e reflectido : orienta o leitor curioso no meio d'esse cahos de des-
encontradas opiniões e hypotheses arriscadas, que por toda a parte
se formam , e levanta a ponta do véo , que encobre a verdade, vin-
gando a memoria de Clemente XIV. fEssa bellissima producçSo
devida á penna do douto oratoríano aflligiu profundamente aos je-
suítas, e o seu ultimo geral o padre Roothan, queixou-se ao reverendo
padre Ravignan do terrível eiíeito que ia ella produzir no mundo {*),
O illustrado jesuita francez comprehendeu as intenções do seu chefe ,
e apressou-se em satisfazô-las dando á luz em Maio do corrente anno
a sua obra , em cujo frontespicio lé-se Clemente XIII e Clemente
XIV, a qual acabamos de receber no momento, em que estas linhas
escrevemos. Apenas tivemos tempo para fazer uma rápida leitura
dos seus principaes capitules , e d'ella deprehendemos que «eu autor
tomou a peito o defender a ordem a que pertence, o que seja dito
com verdade, fé-lo com muito talento e dignidade. Todavia , como
era de esperar , o reverendo padre Ravi«çnan deixou-se dominar
pslo excessivo amor, que consagra ao seu inslittito; c portanto nSo
se descobre no seu trabalho aquella imparcialidade, e elevação de
pensamentos , que tanto distinguem o livro do reverendo padre Thei-
ner. É o parecer d^te ultimo escriptor de grande valia , até por
não pertencer á escola philosophica como S. Pricst, nem á da
n Vide CUmint IIIl etCíem$nt XIV par Ravignan— Prefaee.
00
Giuvine Itália como o illustrado autor dos ProUgomeni ai Primalo
Morale e Civile degVItalianu
Interrogando essas diversas testemunhas do grande processo jesuí-
tico, o acareando osseui oppostos depoimentos dizemos com rude
franqueza o que a tal respeito pensamos : e oxalá que o mesquinho
íructo dos nossos estudos tenham a insigne ventura d'eneon(rflr as
sympalhías d'aquelie$ para quem escrevemos.
Entre ns causas, que originaram a suppressão d'esta celebre ordem
um douto historiador moderno , o senhor Canlú , aponta as se-
guintes : ,
« Os jesuitas tinham contra si os dominicanos, pela sua opjK)-
« siçao á doutrina de S. Thomnz : os franciscanos pela sua grande
« autoridade nas missões ; os nremiffos da universidade pela con-
« currencia 9 que fnziam ás suas escolas, ainda que sem privjle-
« gios; os negociantes, que n'elles temiam activos conrurrentcs,
« os quacs por não lerem impostos a pagar podiam vender mais
« barato; os mestres 9 ou os que aspiravam sé-lo, vendoa juven-
o ludtí correr em muUidáo ás escolas d'esses rivaes, cujo ensino
« era gratuito e desvellado; os bispos, que, a exemplo do governo,
« tendiam a alargar a autoridade local, emquanto que os jesuiliis
« eram ardentes fautores da universalidade pontifícia. Tinham sobre*
« tudo contra si os jansenislns, que lhes exprobravam de usar d*al-
« tenções pra com o século, constituindo-se defensores da liberdade
tt a poder da vonuide humana, e autorisando devoções que pnre-<
tt ciam pouco convenientes. Chegavam mesmo ao ponto d'exhumar
Cl DOS livros dos seus casuistas, obras escriptas em latim e para a
« inslrucção dos direclon*s dns consci<.'ncias , pas<a^ens indecentes ,
tt avim como poder-so-hia fazer o mesmo nos tratados de me<li-
« cina (*). »
Densas nuvens se acciímulavam no horisonte, e os ntnis inexpertos
iinutas presagiavam h^rrivel procella : a náo da compnnhia amoi-
naiva as velas o punlia-se á capa. Ninguém porém poderia supp^r
(*) lii$t\ Univ. ဠ(;. V,m\{n, tom. 0. liv. wii, iiliap. \.
9h
lélaçio ptiblicdiin cm rlefesa do 1ii<:po do Paragaay, Bernardino (k
Cardenas. n quem esses rotulares movernm crua pftierra, e a quem
l^eeeram uma d.is mais completas e perfeitas inlrigns, dando assim
provas do grande progresso. (|(io ne«sa sciencia, entno para elles nova,
faziam qi)OtitlianHmen(e. De til modo haviam Sí^gregado as suas
colónias iransntlantiras {\o resto do mundo, que ellas eram ignoradas
por todo9, exreplo pelos seus superiores om Roma , aos quaes eram
obrigados a cnvinr totios os nnfios umn conta minuciosa sobce o seu
estado, especificando o roíno, en» que mais prosperavam. Obsiina-
vam-se em recusnr o accesso em suas missões a quem quer que íi)sse,
ou enviado p^!o poder civil, ou pelo eccIesin<!tico, seudo o principal
motivo das suas dissenrões com Cardenas o pretender este prelado
yisilar os territórios do Paraguay e do Uruguay, nâo só por fazerem
parte integrante da sua diocese, como até porque tal ilie fora orde*,
nado pelo governo de Madrid,
Não ha queu) nHo leulia ouvido foliar n*essa famosa questão sus-,
ritada em Frnnça , por occasiào da hancarota do padre Lavallele ,
superior gcr.;l dos jcsuitns na ilha da Mnrlifiica, c que fui a causa
occasiooal da sua suppressào nos estados de S. M. Ciiristiauissima.
Dissemos qiio os jesui las desmentindo o sou glorioso passado tiulnm-
se deixado de t.d sorte dominar pela F-êde das riquezas, qjie consi-
deravam ns missões como feitorias, e para ellas mandavauí homens
roais azados para operações men-antis do (|uo para os trabalhos do
apostolado. N*esie caso estava o padre Lavaluite, desccndoule do
heróico grào- mestre de Malla , era ambicioso, emprehrndedor o
de grande acii\ idado : o qual vendo que o espado financeiro da com-
panhia nas Ai.lillins nâo era igual ao de algumas outras suas pos-
sessores resolveu cI.!va-lo a um ponto copaz de fjzer inveja aos seus
confrades das marg«»ns íIo Paraná. Entregou -se com ardor ao com-
mercio, e em pouco tompo accumulou grossos ca bcdaes que em-
pregou n*acqiiisi(;à() do terrase de escravos para rotea-las : elevando
o seu numero ao prodigioso algarismo de dous mil. T5o grande
emprego do capitães, simultaneamente occuiKtdos no rommcrcio e
na agricultura , devera trazer após si um rfc/ícíí , que foi obrigado,
»5
a supprir por meio do credito, lomaiido um inilhúo de libras tòr-
nezas em Marselha, e em outras praças, com (|uaes estava em
relações, e que não duvidaram fazer esse empréstimo a tfio bons
rornecedúres como eraih os padres da compaiiiiia , que iibasteciam
os mercados europcos com os produclos dos puízcs ultramarinos.
Seus empenhos seriam em breve tempo satisfeitos , como já tinha
acontecido com outros idênticos, si nâo ÍMSsem aprisionados os
navios que transportavam os géneros das suas feitorias [)eIos corsá-
rios inglezes, que desde o anno do 17õ5 infesUivam os mares. Pro-
testadas as letras , elevados os jesuilas perante os trihuhaes foram
condemnados a pagar in-solidum a divíila coiilrahída por Liva-
iette. Causou esse processo grande escand.-ilo ; e a companhia sur-
prehendida em fl.igrante violaçi)o dos cânones d.i igrojn desapprovou
publicamente o procedimento do seu agente, que assignou a decla-
rarão do 25 de abril de 176*2, pela qual assumia a respotisabilidado
d'esse acto, isenUindo os chefes da ordem de toda a solidariedade
n'elle. De sorte que si as transacções fossem coroadas de bom suo
cesso todo o proveito redundaria em prol da ordem , como puréni
foram desgraçados era ella inleirameiílo estranha ao qiio em seu
nome, o mui seguramente com o seu beneplácito, fa/ja o seu de-
legado n'America 1 Semilhante mjslifírarào nào engímou a ninguém;
e o ódio contra 0 corjioraçíío , crescni prodigiosíimenle. Os mais
deriditios apologista^ do instituto, c<uuo o senhor Cn^tineau-Joly^
condemnam o proceder do seu superior geral nas Antilhas, e C(ui-
fessam que este negociara em grande esrala ; mas a sun p:i rei alidade
os priva de i^econhecei* (|ne esta tendência [tara as cousas profanas
nSo era uin facto ísidadu esim a conse<)uencia li>p;itiina e necessária
de principies adoptados em Konia , e fazi«ini-S(j seniir por toda a
purte, oiide tremulava o pavilhão da companhia de J«;sus.
A heresia de Jansenio foi, na phr.ise de (jiol>erli, uma mina
d*oiro para os jesuítas : sua prolongada polemica cuin a escola do
t^urto-lleal absorvia a attençào do mundo religioso o litlerato des-
TÍando-o do estudo da marcha tortuosa, que levava a obra do
sanio prisioneiro de Pamplona. Si porventura al^^uom ali.^Qva a voi
.• •..• 102
fuarquez de PoiíiM-If^ os jesuítas fautores da conspiração regicidíi.
O tribunal 4Í^ffconfidencii9 presidido pelo poderoso minisiro
declaroti-os/T^VMraMa traiçno , expulsando-os dos sous coUegios,
condeinn(iiliB« mais notáveis d^enire eiles aos rigores do cárcere com
excepçaij>lô$'P. P Malagrida, Mattos, e .loao Alexandre destinados
a ad(4'^*o .«^upplícío da Tamil ia Távora.
••Expúlsosde Portugal e suas possessões foram os jesuítas lançados
cobrdas costas d'Ilatia, e o primeiro comboi d'esses desgraçados
.* Jpciltres, que assim eram privados do qu») de mais caro existe na terra,
.'/.•• cíiegoii a Chita- Vecchia a 24 d'Oulubro de 1739 em numero de
>^-/ cento e trinta e três no estado o mais lastimável. É sempre iniqiio o
procedimento d'aquo!le, que abusando do seu poder eondemna sem
deixar ao accusado os meios de defender-se, e que in volve nos rigo-
res d*uma mesma sentença innocenlese culpados. Semilhunte excesso
de poder fui recebido com indignação por toda a Europa, e os mais
acérrimos inimigos da companhia desapprovaram-no. O soberano
ponlifíce Clemente XIII, que substituirá ao doutíssimo Lambertint
na cadeira do S. Pedro, encarregou ao seu representante em Lisboa,
monsignore Accínjoli arcebispo deNaupacta, de fazer chegar aos
ouvidos do rei fidelissimo as vozes magoadas dos exilados, a que o
pai cummum dos christàos náo podia ser índífTerente. Pombal porém
havia de tal modo predisposto o animo d'e!-rei D. José, que este
príncipe naturalmente propenso à piedade, foi surdo ás admoestações
do pipa, che^^ando seu minisiro a commetler o excesso d*expellir
ignominiosamente do reino o núncio de S. Santidade, e retirando
de Romi o embaixador Mendonça, precipitar o orlhodoxo Portugal
no abysrao d*um prolongado schisma de ques^ó sahiu pela prudência
e doçura do grande Ganganelli.
Nesta celebre questão dos jestiitas tinha-se invertido a ordem das
cousas ; e assim Portugal, que desde o século XVII perdera a sua
influencia, e deixara a outros povos tomarem a dianteira na civílisa-
çào abria agora nova estrada , depois trilhada peia França, que no
reinado anterior dictara leis á Europa. Dissemos que o processo de
Lavalette havia causado grande sensaçilo , e fui ella de natureza tal
103
*\út Ifúútê a loUil exputi^ija tios je^^uitâs «rarjuoUc roino, tiojâ império*
Os parlamentos qulzeam tomur 'raitbecí mento das Cúnstituições
da componhin p;>ra e^aminnr, dkiam el'cs , s^c^Uivam e^ta^ ronítiniiE!
díi leis í|ij(í ofíl^o rpgiam Ioda o tnonardiia : e foi ú*e^í^ BX&mo imo
pir ltOíTien>^ rujn mã vniitarlo ^n conlRTiiia » qtic re^ulloii IoíIo o
Jíimno para o if>siiMio, «r E p.tfa temor f[y"3 cstiís mrí^nstrí?ilí)is {diTh
o firincipe Pamphlli Colí^nn.n, arcebiRpo do Co^osses , e núncio aposto-
liro em Purís, em seu despacho d<: 1 1 de Miiio di> ITfil dirigido íio
cardwal Trirrp^íaiií, secreltirio d*íífl^ do) cojíi tota idiíde é por nalurexa
e jkír príncijíios hostil noi? j>íiiíIíi.% nào «0 í!oi\em fasciriíir a ponío d»
tomnr medidas vjolentM* qt^nto á con*ítiiuiç5o e dir*?i mesmo á exis-
tência da soríedado ; o i]imí nliíi<í nao me causaria npnftuma siirpr&ía»
41 cm cujn caso nâo sa di^ve cotilar com o mjriimo ap^io ih cotia. ^
Hatâv» du longe n guerra entre iisparb mentos 6 os jeseitaí, e é |>or
íiifíú ijiie o ntint^io do papa temm todo a s^orte de violenda^ do partíi
iCjiquelteJi. Haviam i4!es resistido ao rti, e á nobreza » proteí!loros
docidido3 da fompanhia, è note-so que físst; rei ctijas iras arro*%tâvam
era o imperío.^o Lui^ XIV", a crtjo aceno todo.^ ^e curvavam, O seu
f)dÍo fontni o instituto ã^ Lovola era portanto prortmdam(:?nto rn*
rnÍLailo ; formava nelítíS como uma nova natureza , as^im ctiifsa-^ncys
pasmo do ver que os jr^soita^ dando-se por \ir.timas de Sladamt* Pom-
padoiir, ti?,t*í!Sem d'esses corpfís respeitáveis dóceis instrumentos dos
capfirhní; d*uma mulier. « Os jesuitns, dÍ7*Theiuef, tiveram real-
mente pouca pérspicdcia, nesta e^^^eeio do vaídado ridiciila em í]iie-
rurem paíssísr p<ir marijTeí d^es^a real eôDCuhina* e com a qual , para
melhor exritar a compaixão em seu favor, attribuiram-tlio a sua qu^da^
bem como ao seu suppostoaf liado, o duque dô Choiseut. Nâo nega-
mos que Madame âa Pompdanr se unifse aos immiííos da rí>mps-
nbia» e que junlosse seus esíttrços nos- d*el'c, mas o qtre contestamos
é que fiofJesse elia mudnr a tal respeito a opinião publica : n^o estava
isio no pcMler de pt^s^oa alj^uma^ uãm (50 pouco o du conjurar a tem-
pestade, que por tudíi a Europ, ameaçava e\ termina-los. (*) •
(•] Vide Tbcincr íUst, du roíitifirai de Clíment XIV. cliajw f.
Luiz XV estimava os jesuítas, mas nào tinlia n coragem de tomar
abertamente a sua defesa; contentava-se com meios paltiativos, que
d'ordinario não satisfazem a ninguém. Esperando neutralisar a acçSo
da commissào nomeada pelo parlamento de Paris para rever as eofis-
tituiçôes do instituto, composto d'ardentes jansenístas, addicionou-lhe
seis membros, que depois de muitas conferencias e prolongados deba-
tes terminaram seus trabalhos concordando com o parecer da mino-
ria da commissào, e colhendo-se ainda d'esse ensaio a triste convic-
ção dé que a companhia não podia continuar a permanecer na terra
de França.
Bestava-lhe o apoio do episcopado e para grangear oseu favor náo
duvidaram os jesuitas subscrever a famosa declaração do clero, dn
1682, que constituiani as liberdades da Igreja Gallicana^ que
sempre haviam combatido com energia, e cujo ensino sempre repel-
liram dos seus collegios. Este acto de fraqueza da parte dos zelosos
defensores dos direitos e prerogatívas da S. Sé foi ainda estéril para o
bem da sua causa ; e comquanto nlo se compromettessem para com
Roma, graças á sua celeberrima theoría da restricção mental , náo -
encontravam todavia na grande maioria dos bispos francezes defenso-
res decididos e calorosos apologisias como Christovam Beaumont,
arcebispo de Paris, que queria levar seus cullegas a uma manifesta-
ção publica e solemne das sympathias, que nutria para com os filhos
de Loyola.
O plano adoptado pelo parlamento era um dos mais babeis e digno
certamente de ser empregado contra uma sociedade de padres, qtio
haviam posto a sagicidade diplomática em lugar da candura evangé-
lica. Consistia elle em chamar todos os collegios da companhia á sua
barra, examinar os titules da sua existência , e supprimi-los depois
isoladamente, a titulo de nào terem auctorisação legal: d'est*arte
feriam-na nos seus mais caros interesses, e ao passo que declaravam
respeitar os direitos de cada padre, tomado individualmente, torna-
vam impossivel o suhsistirem em França como corporação.
Por amor da verdade cumpre confessar que de todos os paizes ,
que nessa epocha se declararam contra a sociedade de Jesus, foi a
103
Fron(*.i o rpiii prai'ei1cu tviru mais ímdtír^ào; e eujás joyisdii,s pun»-
rum ter mais o ctinlm iia s^itiudorla* Pur 5Un onif^imat;^ riu f7 J«i
Junha ilo 1T<»3 sa»]u£Mrava-lhes LuÍ£ XV a^ suas popriíuMes em
t^^ndjrfo tlu estado, doirando comludci aoa meuibros da oulmu di^sul-
víiJ,i Q livro ciereícíõ do mu rninistt^río snccrdottil, f^unrilóni]^^ quanto
tlia fofôe ptjssival, úS mgras do seu iit^tituto, q si mní^^ lardo, em
iS*ovemLri-i dô Í7Gi, supprtniia UUíitoienU) em itíua et^tadusa Otn*
panhíã deJesuB^ iiâo nidn chova esse aeto cam aa scanas do liáíbara
lífílt^ncin, qiit! o sssigimluu em Uospanha 0 Nap0l6&i como @m brere
D. Círios Hl reinava erilào em llespanha 1 e mostra vn no tljrono
d't!í»se pÍ2(i tíiesma bondado, ijiie un\a o ílr^ra gmar dos Napolilanos.
Espírito olâvadop deâujriva ardentemente melhorar a «oiiedasiia
pátria, oxiirpnr v^I\iq$ abusos, que Jc^gradavam-na aoa olliitô d n cu ha
Eumpa : o uma sàz trilhando a vereda da progresso o daií rt^forman
força era<)ue laiigasbdmão dos Itumens, que reprã^antavam o ífí^pirito
da epocba, a euja hmi^ doveuios cnllciear o conde d'Aranda, illu»^irc
diseipulo da escola eno^dopedisia. E sonipredifficil a tareia de reíor-
niador. príncíp.'dmc[iLo n'uai paiz tiSo aferrado ás uadiçòc^s como cor-
tamsnte é a ptri^do Ciii Murmurava o povo contra algumas modi^
daa lomadas contra os seos hábitos pelos Iwmcm da ãituaçãi}: Unlng
aainnovaçòes lha pareciam ofTénsivas a díi^^nidade onrioríal. 'l';d nosi
pareço a causa da sedição madrilana do dia 26 do Uarm ih 176^1
quo tomou por prtiloxlo a conservíi^âQ do Ixaje castelhano lai eapm
e hãsomirerQM contra a irivasão das modas írancezas* Viu-so et rtii
constrangido a retirar se parn AranjucUt o por pou cai hora d úãsôdi-
ciosos contaram com o triuropho das suas prekinçdosi ]So meia do
tumulto, 0^ jcEuilai, que nelle appareceram para aplaca-lo, foram
fíctoríado!^, e a seu pedido retiraraui-^e os insurgoníes aoK &em lares
com a f romessa de que seus desejos seriam sati&faitos^ uqua o manto
da real clomencia seria esti^ndído sobre o pasmado* Ou porque o/(o
osúves^em autorisados para ía^gf laes concessões; ou pelas iwvm
quedas vi.^i tas dom ici fiarias pareceram colber-sc contra ell^^, quando
OMisuas eaitas familiares censuravam os actos gi>vi^rnativos, que nau
witt ih
106
eram conformes aos seus sentimenlos, o cerlo ê que D. Carlos iTt
concebeu acerca d'elles suspeitas de conspiradores ; suspeitas, que
julgamos hoje infundadas, mas que então nào deixavam d'impressio-
nar vivamente os espíritos, mormente depois da opposíçào que o tra-
tado de limites de 1750 encontrara n^America da parte d'esses indi-
genas, cuja direcção espiritual e temporal estava exclusivamente
entregue aos membros da sociedade de Jesus.
No estudo imparcial , que fazemos das causas da suppressâo dos
jesuítas acreditamos serem os motivos acima allegados muito mais
prováveis do que a anecdota referida pelos senhores Cretineau-Joly «
e Ravignan relativa á supposta carta do geral Ricci» em que
punha-se em duvida a legitimidade do nascimento de D. Carlos III.
O ultimo d'es8es escriptores, apezar da sua sisudez e gravidade, pre-
feriu dar ao conto uma forma dramática : po-la na bocca d'um grande
d'Hespanha viajando pela Itália, e tendo por ouvinte o padre Casséda,
ex-reitor da primeira casa dos jesuítas em Madrid {*). Si S. M.
Catholíca, em sua ordenança de 2 d'Abril de 1767, publicada em
forma de pragmatica-sancçâo^ disse que bania os jesuítas do^
domínios da sua coroa par motivos que ficavam oceuUos no seu real
coração^ não foi. como pensa o senhor Cretineau-Joly, por querer
esconder ás vistas profanas a verdadeira razão do seu resenlimento
contra a companhia ; mas sim por um resto de compaixão pelas des-
graçadas victimas, que outr'ora tanto amara e venerara , por não
querer envenenar as feridas do seu doloroso exílio repetindo n'um
documento oíBcíal, destinado a fazer o gyro da Europa, o que então
contra elles se allegava.
Com todo o sangue frio hespanhol ordenou el rei a execução do
seu edicto , e inabalável mostrou-se em sua resolução. Estava de tal
modo prevenido contra os jesuítas, que incorria em seu desagrado
todo o que tomasse a sua defesa.
O zelo excessivo dos subalternos não poucas vezes desnaturalisa as
intenções dos superiores : o rei catholico achava-se, conio dissemos ,
n Vide Ravignan aément XIII et Clément XIV, chap. V pag. ÍH.
107
fiimmnmGnte imlado, mas não linha do moda nlgum autorfsatlo os
e\cessoE^, que cm seu nomâ seccimni^tlenim. Â expukio dos jestiltná
da liespanba foi cruel ; e levou as lampos á ordenada pelo niarí|ueg
de PombdL Ouçamos a ta) respeito o testemunho d 'um siictor pur
forma alguma su^peilo* país que todos o reconhecem como nlumna
da pjtilosojdna domioanlã na fittropa no soculo passado. O comlo
AltixísdeS. Pfiesi assim se exprime t
« A douB dMt>ril dé 1767 no mesmo dia, á mesma hora, ao norte
> c âo meío-dia d^Arrica, ti' Ada e n* America, em todas as ilbas da
a mon»rchia, os governadores gernes das promcins, os alcaides das
« Cl d ades a br iram 03 pre^^oí mim idos de iriplieesello* linilorme era
ti o seu tlieor: sob as mais iieveras penas, inclusive a da niarle« lhes
ti era ordenado de dirtgirem-$e com mSo armada ás casas dos jesuilíi!^,
u JnvesLi-lãs^ expulsa-los dos seus conventos e transporta-los como
• prisioneiros em TÍnla e quatro horíis a um porto d*ante-mfio deáí-
■ gnad o, O s c a pii v m áti v era m e mb a rca r-se i m med i a ta m en Le , d ei-
« xando sous [tapeis selUdos e nSo levando comsigo seffito o bre-
t viário e o seu fato.*... Devemos convir que a prisào dosjesyitns
tt o o seu embarque sõ iet com uma preeipitaçâo talvez necesfcar ia,
• porém barbara. Perto do seis mil padres de todas as idades, ho-
« mtím de nascimento t Ilustre, dou las pcrsfmagens , velltos oppnmi-
• dos d onfermiJadeà , privados dos mais indisfx^nsaveis objoctos ,
^ aUrndos no íutido do porão , e cnlre^cues ás ofidas sem destino lixo,
li ne m d I rccçSo prec í sa , ( * ) #
Clemente XII i aruava os jesuitas e fez para salvr^-los tudo qunnio
listava ao seu a toaiice; jíi publicando a bulia Apostalirum pasc^ndí
de 7 de Janeiro de 1765» em que proclamava ú face da cbrislaridadtí a
sua sanciidadee innocencia, bulia que seu suecessordiâse ter sido antes
cxu>rquída do que pedida, ejríoría poííf« quam impeírata r já escre-
vendo ao rei d^Hespanlia em favor dos jesuitos do seu reino a sentidís-
sima epistola onde se lem estas toCJintes patavns: tu quoqtte, filimihi.
fião podia porém permiuir o soberano ponliÍJce que fossem scu5 dirc-K
íHMI
é^
los
los de tal inodo menosprezados, que sem con^iilia-lo^emanifeslantente
conlra seus desejos» arrojassem ás costas dos estados da igreja os des*
terrados das outras nações , embora pertencessem estes desterrados
á classe eiticsiastica. Vodou-liies porlant<i o accesso no seu território,
ordenou aos governadores de Ci?tla-Verchia, Porto d'AnziOy Aneona
e outros lugares banbados pelo Mediterraneot ou pelo Adriático, q«e
prohíbissem formalmente o desembarque dos jesuítas hespanhoea, eo
cardeal Torreginni « secretario d*eslado communicando esta resolu-
ção ao núncio da Santa Sé em Madrid usava d'estas formaes palavras :
« O papa é em seus estados um soberano lào independente com-
qualquer outro monarcha,ennoó seguramente permitiido a nenhum
principe o deportar os exilados do seu poiz parn outro, sem o prévio
assenso do res{)ectivo governo* »Repellídos assim os jesuítas por erro
dos governantes da sua nação, erraram por muito tempo á merco das
vagas, expostos a todo o género de privnçõesi soíTrendo todas as misé-
rias imagináveis, até que a republica de Génova offerecou-llies uma
hospitalidade provisória na ilha de Córsega, d'onde saliiram em tem-
pos mais calmos para partilharem no património de S. Pedro do asylo,
quo lhes tinham preparado seus irmãos do infortúnio.
Semquererjuslifícar os jesuítas de todas as accusaçõcs, que sobro
elles pesavam, sem entrar mesmo naanalyse minuciosa dos moiivos
allegadosparaa sua suppressao naHespanha^e sem pretender negar
nos governos a faculdade de supprimir pelos meios reconhecidos em
direito as congregações religiosas, cuja permanência possa ser dam-
nosa ao paiz, não podemos todavia deixar d^estigmatisar a maneira
violenta, diremos quasi brutal, com que foi executado o edito d'e1-roi
catholico por esses mesmos homons que pouco antes rojavam aos pés
dos padres de companhia, que mendigavam seu patrocínio, e a quem
em grande parte lhes deviam a posi^^ão eminente, que ora occupnvam
e da qual se serviam para pagar a sua divida com a mais negra ingrati-
dão. Innocentes ou culpados os jesuilas deveram ser tratados d'um
modo diverso porque o foram: o conde d*Aranda comprehendin mal
as intrucções de Choisoul.
A exemplo da Hespanhn, Nápoles, Malta, Parma rejeitaram do seu
10»
mo (odos os religiosos da companliM de Jesus* Maha dependia do
rei de Ntipoles, este devia submissão e restpeílo a seu pai dom Carlos
III, e o duquei perteneenie á m>bre familia dos Bourbons, devera
Kguir a poliviea adoptada nos gabinetes da Fmnço d da Hespanha.
Passaremos em niencio as arbitrariedades commeilidas no reino
das Duas Sicilias pelo marquez de Tanucci, em nome do seu joven
soberano^ cbegando a ponto de lançar os jesuítas Tindosdedifferenles
collegios sobre as raias d'AscoIi , Uieli eXerracina, acompanhados
fjelas tropas reaes, e com defesa de porem os pés no território napoli-
lanoi sob pena de morte : as medidas repressivas tomadas contra a
companhia pela republica de Venotn, e pr outros estados da Itália
para occupnrmo-nos das garantias maleriães que contra a S. Sê
lon^aram mâo os governos de Françn, Hespanha e Nápoles.
O papa Ue27.onico (Clemente Xlll) mostrara-sc desde o começo
do debate decidido protector da companhia, e a cada nova aggressSo,
que esta recebia fazia corra«ponder palavras de justa e sancta indig-
nação. Em tempos ordinários as palavras do pai commum dos fieis
seriam ouvidas com o devido acatamento, nessa épocha porém intei-
ramente anormal» quando o philosophismojnmra immolar aos filhos
de Loyola ante as azas fumegantes do Porio-Real, não serviam e\U\s
senão para irritf^r cada vez mais os espíritos: e a historia imparcial
nâo deixará de culpar a esses regulares por não terem por uma
prompla submissão desarmado os seus contrários dtíixando de expor
ás tribulações, e ás angustias os amargurados dias d*um Augusto
Sabem os nossos imtores que o ducado de Parma e Placencia era
nm antigo feudo do S. Sé destacado d'esta por oiTasião dn elevação
do príncipe Alexandre Farnose ao sólio pontíficio com o nome de
Patilo 111, impondo a seus succassores a obrigação de pagarem um
tributo annuo de 9000 escudos para as despezas da camará após-
lolica. Sabem ainda que pela exlincçào da familia reinante nn
pessoa de Francisco Farnese, o imperador d'Altemanha o o rei
d't!espdnha disputaram a sua posse, nlc que veio esta a caber no
infante dom Carlos, filho dodom Fillippo V, rei de Hespanha. O
110
íliiquc dom Fornando, successor (1'este príncipe, linlin promulgado em
seu estado alguns decretos offensivos ás imrounidades ecciesiaslicas,
6 o S. Padre atiendendo ás reclamações dos bispos, julgou dever
intervir nesses negócios revogando pelo seu breve de 30 de Janeiro
de 1768 tudo o que lhe parecia contrario ás suas prerogativas , e
ameaçando no caso de resistência ás suas ordens com as censuras
ecciesinslícas. Aproveitando-se do ensejo reivindicava (talvez com
pouca opportunidade) seus direitos de suzerania ao ducado de
Parma e Placencia, como antiga possessão da S. Sé, e cujos direitos
esta jamais renunciara. Tanto bastou para que as cortes cujos prín-
cipes pertenciam à família de Bourbon, se julgassem profundamente
offendidas, e que em virtude do pacto de família^ sem contradicçâo
lima das mais felizes creações diplomáticas do século passado, orde-
nassem uma leva de broqueis contra Roma. Castro e Ronciglione,
foram occupados pelo duque de Parma, a pretexto de serem antigas
dependências dos seus estados ; o rei de Nápoles invadiu os princi-
pados de Ponte Corvo e Benevento encravados nos domínios da sua
coroa; e o mesmo praticou a França a respeito do Avinhso e do
condado Venaissin. O monitorio de Parma era apenas um pretexto :
o fim real de todas estas represálias, semilhante a que acaba de
practicar a Rússia nos principados do Danúbio com a reprovação de
toda a Europa, era o de constranger o papa a supprímir a ordem de
Jesus, como se encarregaram de evidenciar os acontecimentos pos-
teriores.
Depois de ter inutilmente protestado contra tal violação do direito
internacional, nâo lendo podido fazer chegara linguagem da razãfo e
da justiça aos ouvidos dos monarchas calholicos, que julgavam
servira religião contrariando as intenções do seu chefe. Clemente
XIII expirou no dia 2 para 3 de Fevereiro de 1769, pondo assim
termo a um laborioso pontificado de dez annos, seis mezcs e vinte e
seis dias.
(c Collocado sem cessar peia oraçiio em presença de seu Deos , e
« do seu cargo supremo, diz o R. P. Ravignan, quando todos os
« interesses terrestres, todas as instancias as mais vivas pareciam
111
ti Jictar-llio o silencio a as frocMS eoniliiscômleneias^ ouvia no tmuh
tt do íeu peito reso.ir a granJo voz da Igreja^ *]Ué jamais pdJe aban-
4f donar ilireilos, ijno do cvO recebí?^ra, e nem as ameanjis, ns «I-
«c trajes « a^ usurpardes o of^ socrílegos aiicinLaJos const^gniram
u abrandar a sua enérgica resisiencia : nunca deixou esfiapar um só
« acro de fraqueza (*]» i»
Acompanhando ao douto jssuiLã fio juízo quo forma écerca de
elemento Xinseja-nos todavia lidío ponsarcoraoo R. P* TheiMrt
que lanlo o papa como o í^eu secretano d^esladoj o cardeal Torregiafii
linhsHi vistas estreitas o oslavnm em completa ignorância daa neces-
sidades do seu tempo* O certo é que em seu governo se deu o facto
inaudito de serem as letras apo^toíicas do vif^ario de Christo laceradas
publicamente nas praças publicas^ e queimadas pela mao do algoz.
Não faremos a historia do conclave de 176d d*onde sahíu eleito
papa Lourenço Ganganelli com o nome do Clemente Xl¥ t é ^lo
um drama, que apresenta muitas peripecias« e que tem sido díversa-
menle narrado* Para uns como o sr. Cretineau Joiy, foioihealro
das intrigas as mais baixaa e abjeetâs dos embaixadores dos príncipes
cntbolíeos e o da mais vergonbosa corrupção d^alguns bomem con*
decorados com a purpura romana* {•*) Para outros como oH, Tbeiner
na sua excel lente Historia do pontificada de Clemente XI V^ foi
esta uma assembléa venerando convocada n'um dusmais solemnes mo-
mentos por que tem p.issado a tgrqa , e que apczar da press^lo, que
d*enconlro ás paredes do Quiri nal exerciam os delegados dos diversos
gabinetes catholicos para Ibe extorqtjirem um voto, que fo^e íavo-
ravel aos seus intentos, procedeu com a maior liberdade» e o escru-
linio que deu a Igreja um chefe na pessoa de Gang.inelU nau podo
ser suspeito di menor violencíi», ou corrupção. No entender d*este
grave autor a historieta da obrigação assiguada pelo fuiuro ponúOee
d'eittnguir a companhia de Jesus uao passa d'uma fabula inventada
pela fértil imaginação dos seus eonlraríos. Outros flnalmentei como
(') Climeiíl XIU et Cltmcnt XIV p^ir Ituvipjnan diDp. VI png. íí6,
(•*) ViJe Oémpitl XIV Hls^ Jpsuitw i^r CrdíacauJolj, cliap, 111 pog
2CB.
112
p R. Ravignân so ve^m nos roais sérios embaraços tendo de fazer a
narrativa doesta celebre eleiçSo, devendo por um lado o maior res-
peito para com a memoria d'um homem , que sentou-se na codeira
de S. Pedro, e juIgando*se por outro lado na necessidade d*attenuar
a impressão causada pela suppressào, que esse pontiGce fulminou
contra o seu instituto. Procura livrar-se da sua critica situação lan-
çando todo o odioso sobre os cardeaes das coroas^ assim chamados
os que advogavam seus interesses , ou em razâô dq nascimento, ou
pela residência que tinham fixado nos seus domínios : c chegando á
pessoa do papa saúda-o com respeito, mas não se demora em fazer
o seu panegyricO) como praticava com seu succcssor (*). Si fosse
permitlido á nossa inópia emittir um juizo n'uma questão tão deha-
tida, e a que tâo hábeis pennas se tem consagrado, diriamos que a
eleição d'um pontitice como Clemente XIV, notável pela prudência,
pela brandura do seu caracter, n*uma épocha tão calamitosa, ó uma
prova de mab do cuidado com que Peos vela pela sua igreja. Nenhum
outro nome no sacro collegio poderia reunir tantas sympalhias;
ninguém mais do que elle era dotado d'um espirito conciliador; a
mãos mais hábeis não poderia ser confiada a barca de Pedro.
O grande acto de Clemente XIV, e que só per si resdme todo o
seu glorioso pontificado ó o da extincçSo da sociedade de Jesus.
Como era de esperar foi elle diversamente interpretado : para os
jesuítas e os seus encomiastas foi um acto execrando: o papa estava
louco quando assignou o breve, que feriu-os de morte: para os
homens imparciaes, para aquelles que lôm a historia sem amor, nem
ódio, foi um acto de grande sabedoria, reclamado pelas circums-
tancias; pois que de modo algum devera a igreja identificar-se do
lai sorte com a obra de S. Ignacio, que confundisse a sua existência
eterna, baseada nas divinas promessas com a vida transitória d'uma
instituição, creada para o seu serviço, e que podia ceder o posto a
outras, logo que d'ella se nSo precisasse; e maxime quando se tor-
nava prejudicior pelos abusos que no primitivo instituto se tinham
introduzido.
(•) Vide Ravignan— Cljmcnt XIII a Clémeiít XIV chap, VII.
113
Remcuemos o lêilor curioso pari as obras apaciacs, qiieã tal
respeilo se tem escripto nestas últimos lompos^ e talvez que com mu is
vfig^r nas occupemos doeste importante episodio da historia modern:i.
For ora e para formular o juízo qtiô ^oLre a companhia dúvcrnos
pronunciar neste losco o imperfeito Ensuío sódiremus que o grande
poniifice livameole instado pelos governos catholicoí!, que laolo
applaiiíliram a »\i(\ eíeiçào, pediu-lhftS que lhe roncedossem o lempo
iieçtíàSíirio p^-^ra o conliecimenlo pratico dos objectos, sobre os quaes
cljamnvam n í^m ai tenção e zelo pastoral, Grav^ por sem duvida
eram as iiceus:K;õe?, que pesavam sobre a sociedade de Jesus : cum-
priii ron^agrnr algum [empo ao seu estudo, no exame dos documenlo^,
que de (nJo a rfiri^taudDdã se tlie eTuiaram* Quatro ânuos foram
n*i>5G empregados, durante os quacs ou viram se ns mais doutas per-
sonagens nacionaos c estrangeiras, e s<3 depois de madura reflexão,
quatido se convenceu que era gera] a a nimad versão contra o$ niem-
htm do instituto de Loyola, e que conn pi*quenas excepçOes todfls as
almas piedosas^ todos es verdadeiros e slneeros amigos da igreja,
(ormavâm votos péla «ua suppressflo» ó que decidiu-se ea: informata
eonscienda a promulgar o breve de 21 de Julho de 1773 em qua
Sé lho retiravam lodos os privilégios concedidos palas bulias de
I^jinlo III e dos seus surcê5;sõres , declarando ex ti ar ta a companhia
de Jcsus, e ^us membros desligados dos votos, que ncltn tinliam
sole m n e m en lo p rií f er ido *
Wessecek^bre rescripto, que começa poreslasplavras: * Dúminus
ac RcdemptQr noêkr » o soberano pcntifiee» depois de ter comme-
morado os exemplos das outros ordens religiosas, qut* pelos seus nn-
tecem^res haviam sido supprimidas , como a dos lemplarius [>or
Clemente V, a dos humilhados por S. IHo V etc*, cbegaudo as
causas, que o moviam a exiinguir a dos jesuitas díz que a teso o
levava o amor da paz, e em benefido da sociedade cb ris ta a, que
«ssesregulare- linbam agitado pela sua dauirína e srelo ardente com
qua defendiam-na com notável detrimenla tios intorej^scs da igrejt.
Pddimas qtie nos leja concedido o citar lentualmente o trecho do'
MUI Í:^
114
breve, em que se dá a causal d'es^-a decisão pontificia» até para que
se veja com que moderação proCfCdía a S. Sé.
« Tot ílaque, ao cam necessária adhibi||s mediis, Divitit Spirilus,
CL ut confidimus, adjuii praesentia et aíflatu, nec non muneris nostri
« compulsi necessitate, quo ad CliristianaBReipublicas quietem et
a tranquilliUHcm conciliandam, fovendam, roborandam, et ad illa
« omnia penitus de médio tolienda, quas eidem detrimento vel mi-
« nimo essepossunt, quantum vires sinunt, arctissime adigimur;
c( cumque praeterea anímadverteremus prsBdiciam societatem Jesu
a ubérrimos illos, amplissimosque fructus, et ulililales afferre
« amplíus non posse, ad quos instituía fuít, a tot prãBdecessoribus
a nostris approbata, ac plurimisornala priviiegíis, imo íleri, aut vix»
a aut nullo modo posse, ut ea incolumi manente vera pax ac diuturna
« ecclesia& reslituatur; bis propterea gravíssímis adducti causis
« aliisque pressi rationibus, quas a prudenti» leges et opiimuni
« uníversalís ecciesi» regímen nobis suppedilant, alta(|ue mente
« repositasservamus, vestigiis inhaerentes eorundem praedecessorum
a nostrurum, et prsesertim memorati Gregorii Praedeces, nostri in
<( generali concilio lugdunensi, cum etnuncdesocietateagatur, tum
a institui! sui, tum privilegiorum etiam suorum ralíone, mendi-
a caniiutn ordinum numero ascripla, maturo consilio, ex certa
í scienlia, et plenitudine potestalis aposlelicse saepediclam socielalem
« exiinguimus et supprimimus; tollimus et abrogamus omnía et
a singula ejusoíTicia, minisieríaeladminislraliones, domus, scholas,
<( collegia, hospitia, gymnasia et loca qiiaecuinquo quavis in pro-
<c vincia^ regno et dilione existência et modo quolibet ad eam p;r-
a tinentia; ejus slatuta, mores, consueludines, decreta, consiitu-
m lionês, etiam juramento, conGrmaiíone aposlulica, aut alias
<í roboratas; omnia item et singula privilegia, et indulta generalia^
n vel specialia, quorum tenores praesentibus , ac si de verbo ad
n verbum essent inserta, ac eliamsi quibusvis formulis, clausulis
«c irritantibus , et qulbuscumque vinculis et decretis sini concepta,
c( pro plena et sufficiente exprossis baberi volumns. »
115
Todti o liomem o quem nlo cegar o ê^pirtto da ganido verá ms
palavras cuja ik\ trAnsrrípe&a acabamos de citara bem com*^ nas ds
todo o hreve em qtie^tâo â calma qm pre^^idiu a um acto de tania
iti^gniliidequal aqueifti d*3quofia trnuiva. Minguem por terlo aere*
diliirá 00 romance conladô f^elo sr« Crctíncau Joiy, @ repelido paio
sr Ravignim mmh que revesiidodacireumsiancíusmais attenijante.%
nor]rj.ilo sancto ftadreassigua o breve fleqíie Iraciansosctíiíi o lapi$
durante a notle, e ttumn dasjandloê do Quirial cahindo depois
em (lofiquiõ de que m ^Wm no db seguinte!*.*. São por demais
ridirulaii narraçòéj^ de ^euiíltinute nalitrt^a para que p^rcimos nosso
leinpo em refuta b«^ e enviamos m que desejaram ve*las pulveri*
fiadas para ajãcitacfa obra do H. P. Tbeíner, Aos argumentos do
Babío oratoriaiio reÂ[tondâu o sr. Cfelineáii^Joly com duas carias cm
qu6 âbuudúm ns ífbisOes pessotii>s, e que mais se parecem com um
pamphltt do que com o eíícnptod'um bomem aliás dd muito merilOp
e da quem se devera esperar alguma cousa de mais serio.
Para se vif*;^arem da m.'S*^ que os ptinia, os e^-josniias nao ro-
eunram púraiile nerdium do4 meios, a que bomens honestos e sobre-
tudo ecçtesLisiicos jamais deitem recorrer: já promovendo Bn hbu
prophecíaç, (\m encerravam uma ameaça contra o papa ^ como a$
deTbere^ Poli, já ptiblícindo uma multidão de libei los ramosos,
elieie« de negras cjilumntas contra a 5. Sé» a cujas impuras fontes
Yan h()je busc^ir os seus apologistas esse im manso material de docu-^
mentias, qui^ se di/.em tfeviíbs a testem tm ha s fidedignas e conte mpO'
raneas; já rinabnente declarando se em completa rebelUào contra
AS ordens do chefe tia igreja, como na Silesia, Polónia e Rossia
Branca, com o favor de soberanos hereges, ou schísmaticos. Para
conjuram sua próxima qmla tinbam implorado a protecção de Fre*
derico 11, que respondeu-lbesqua assim como Mo linha intercedido
em prol do regimento de Fitz lames, ^upprimido por Luiz XV»
também não queria se ingerir nas reformas que a provesse ao papa
fazer; agora lisongeavam na Polónia o amor próprio de Calbarina,
parit tttieonirartmi um asylo, onde se abri gessem contra o ódio dos
povos e dos rei^, o d onde podeisem a seu salvo desobedecer ao papa.
116
Desde o dia i7 de Agosto de 1773 em que fora publicado o breve
• Dominus ac Redemplor noster » até o de 7 de Agosto de 1814^
em que foi solcmnemente restabelecida a sociedade de Jesus pelp
papa Pio Vil em virtude da bulia sollicitudo omnium Ecclesiarum
tinliam-se passado trinta e um annos, em cujo lapso graudes e ma-
ravilhosos acontecimentos tiveram lugar. Como um grande rio a
revolução franceza dividia as duas margens oppostas, e ^p ella podia
fornecer plausivel explicação ao que parece á primeira vista incon-
ciliável. O catacjysma popular havia derribado todas as crenças.; Q
principio d'autoridade estava profundamente abalado, nec6S$itav9-ÇQ
de quem sustivesse a sociedade moderna i)as bordas do abismo, en^
que ia de^penhar-se. Este paradeiro só podia ser a religião catholica,
mas os jesuítas foram bastante hábeis para fc^er crer. aos povos quQ
a sua ruina procedera do seu grande zelo religioso, da defesa que
haviam emprehendido do dogma contra os ataques da impiedade.
Aguardando melhores diqs empregavam-se na Prusçin, qa Áustria
e na Rússia na educarão da juventu lo^ e os governos d'es$es paizes,
que 6Ó viam nelles mestres dedicados o esclarecidos continuaram ^
preslar-lhes o mesmo, senão maior f^ivor, que outrVa lhes con-
cediam. Foi oa Ruisia, que a pedido de Paulo I, foi permittida a
conservação da antiga regra vivendo sob o seu regimen os padreç
que n*aquelle império haviam oulr'ora pertencido á sociedade dissol-
vida, com a condição de s*empregarom unicamente nos trabalhos
do magistério e cntechese. Oito annos mais Uirde em 1809 foi a
mesma graça concedida ao rei de Nápoles, que por ella instava; até
que o restabelecimento geral da companhia foi pronunciado por
Pio Vil voltando do exílio, o julgando pelos symjitomas da reacção
que de todas as partes se manifestava , que a saneia alliança conse«
guira com seu famoso congresso de Víehna pôr um cravo no eixo do
carro revolucionário, e que o mundo ia retrogradar, desenganado
pelo triste resultado das modernas utopias.
Os factos da historia contemporânea se encarregam melhor do
que poderíamos faze-lo de demonstrar que os jesuítas nada apren^
deram , nem esqueceram em sua adversidade , o que depois d'esta
li
I
U7
Agaâ dura provnç,!*) volUirDin nulrimlo as niti^imas iJeiíis Jo «Jo-
tniriio e Je iltcgílima influencia, que acarretaram a m^ e^tínn;jio.
Longe de empri^niram o tempo da seu exílio em se corrigi rrri» ilos
seus p.issmbs erros, pmctirMulo imíiar m sublimes liçues do tm
sanflo ínslituídor dir-se-liia que causagraram-no pariicuLirmeula ao
estudo do directano d*A«juavlva» Todcw sabem quo foPiim dleá»
que deram origem á formação d*u$e partido padre ^ qtio (anio con-
tribuo paríi lornnr em Ffanç,i impopular a restaurarão. Wmle mesmo
paií travaram unia grami^i lula com a universidaíle relativa á liber-
dade do ensino, de quo agon ko faziam campeOo^, ilepóiâ de torem-no
out/ora mouopolifado* Na Uíssprinh.i chaumiio^ por Ferunudti Vtl
afim traiixilifl-lo em suas rneilidas reaccionárias, feiram d*ena
novamente expulsos em 1S20 com o momenlaneo iriumplio d*» par-
tido liberal; e no reino vizinho deveram também a dom Miguel o
serom reJDsriillada!^ no seu antigo eollegio de Coimbra ; xmÚQ do
abandonar o reino quando o seu proieetor eesf^ti de reiíinr* Prn-
Yoc^iram na Sul^ísa a guerra eivil, e a tljes *e poderá com vírrdado
altribulr tmlasas ruinatt, to^io o s.'>ngiia inuocente derram^ido n*e5sa
paíz. Pregam a intolerância na Bdgira, ena Allcm^nba;e mesmo
em Uoma altrahem lanio contra si o roj^niimento [lopular que o
pr í ni e i ro gri to do po vo li [je ria do d os se u 3 gri I b ôes pelo m^i gna n i mo
Pio IX é ped inflo a mn cxpul,«no, N*cfse^ Ak\n vçrih^mmm^ em
que dominou na cidade do4 Ct-âarc« e dos Papas a republica dé
Ma^'£Íui o convento de Gesu escapam tie ^r devorado p^biH cliammas
ao pas^o que to^Joá os outros foram res[>eitadoã. lia bUe^ em ttulo
isto uma lerrivei fatniidode: póilo ser que iojâ a focietlade de leius
inuocente de tmjâs as reerimtnarOas que contra elb se diri;];t*m, á
que amtií^irmb por uma dolorosa ciperiencia tenha íi^teira mente ro^
nuuciado o campo da politica; mas no m^m fraco entender é ella
um ooaebroui^mo láo grande em nossos dias c^mo $o-lo*hía o re»-
tabelecimeuto dos templários. Ponhamos aqui tormo á primeira
parte dV^te rápido esboço, e vejimos qtiaei foram &.« ptiase* da sui
enistenda no Brasil
^
118
II
Nove annos apenas haviam decorrido depois da formal approvaçla
do instituto de Loyola quando aportaram ao Brazíl os primeiros jesui*
las» acompanhando o primeiro governador geral. Todos sabem que o
DOBO bello paiz que o acaso, ou antes a providencia mostrara a Ga-
hrdlf foi nos verdes annos da sua existência entregue a especuladores,
qoe d'ell6 queriam tirar lucros fabulosos, e que se viram pela maior
parta illudidos em seus ambiciosos designíos. Os primitivos donatários
depois dlnuteis esforços renunciaram, ou venderam á coroa os seus
direitos, quando uma politica mais esclarecida do que a que presidira
MS destinos da joven colónia, pensou em substituir por um governo
geral, dependente da metrópole, esses governos independentes uns dos
outros,eque com o andar dos tempos poderia conduzir-nos ao feuda-
lismo, si porventura esse golhico legado dos séculos bárbaros podesse
88 aclimatar no livre só'o de Colombo. Nfio era possível que a socie-
dade de Jesus, que havia tomado por divisa a conversão do mundo
80 verdadeiro culto, deixasse por mais tempo permanecer nas trevas
da idolatria esta láo importante porção do novo continente; assim
pois a instancias do senhor rei dom João III apressou-se o P. Simão
Rodrigues, superior dos jesuitas em Portugal, a enviar trcs padres,
6 dous irmãos eoadjuctores , sob a direcção do padre Manoel da
Nóbrega.
A exemplo de Xavier, cujas maravilho^s arções já enchiam de
pasmo o mundo, e arrancavam a admiração dos próprios contempo-
râneos, tiveram os primeiros membros da companhia de regar com o
puor dos seus trabalhos e tribulações o ef^teril terreno da cathechese,
chamando ao grémio da Igreja a esses fíllios das palmeiras, que esque-
cidos da tradição primitiva tinham qiiasí que de todo perdido as mais
simples noções da religião revelada, apenas conservando, como uma
lâmpada suspensa n'ababoda da sua alma, a ideia d'um Deus rcmu>
119
nerador da virtudej e a eujss peneira nles vistas não se pode subi rali ir
À primeira igreja bvantada na Bahia (a de N. S* d'Ajudu) e por
consequência eni todo o Brazt) foÍ devíJn a esses intrépidos ifiís&iona-*
rios» que não sa ti afeitos de se consagra reni á penosa tarefa do aposto*
bdo [t'vanlavam com as suas próprias mãos os templos onde deveram
Sd ci^jubrar iis pompas augustas do chrisLÍaíusmo. Carregaram sâ
[lednis; Iam á ronte buscar agua, largavam o breviário para tomara
Iroiiiâ e a esijuadria^ e desciam dos andaimes para subirão olbrondo
celebrjjvam o ireniendo mistério eucharistico. Jubilosos concorriam
m indi^^cnas pan laes trabalhos e cada ym> na proporção demitias for-
ças* i\mTu t^imbinn ter o seii quinhão na g^lorioia eíuprds^ada civiliza*
(âo do pâi£ por via do Evímí^oUio. Coitduida n edincnção d*essa
Igfffja. Ctíderam-nj ao Ui-^po dom PadrõFern^mdes Sardinha e em-
pretii^ndi^ram a erecção d 'uma casa, que Ihi^s servisse de cullcgio, e
o deS. Tbia'r(o Foi fundailo com o tiuxilio dos moradorcf e príneipal-
mente do^ indígenas. O P, liuy Fiírt5Íra escrevendo aoii seus co n Tra-
dos dePorttigal assim exprimia o concurso qtie m naturt»es da torra
prestavam as obras por eílesexnpreiíendidas:
a Quando o& primeiros p.idrcs foriim fundnraeasi (adeS. Thiago
• na fialiia) Mm d*ali*gria, que moM^rarim com a sua vinda trouxe*
« ra milites gallinhas e outn^^s m^intímefitos pura comerem , e foi
m tanla a dilí^^ncia, qiio puzerani eiit h?Aif ã ígrejn» qtxeem quatro
i dias arabaram, desoccupando-se de Uido o mai^, até as mulbered
• limpnvnm os terreiros, e no m^^io if estes arvoravam uma cruK, a
■ muiorquõero tniidja vid» vi: íi^to acabado ajuntav^im os meninos
« e meninas em casa dos padres para o^ asseniarem em ro), ^em lhes
• ser feita biri^a alguma, niâs de suas próprias vontades, o ii>an dando
• os seus piincipites, ajuntaram-se logo pra a escola c^nto e cin-
■ foeiíta moi;os ihríslâos^ e íniioccnU£Cii«to e quarenta pouco mais,
ft ou iiienOi<^» x
Graniles por ^tn duvida deveram &or os olstacutoâ que de lodis is
partes surgiam e capazes de desacoroçoar a outros r|ue nâo rognem 06
noisos heróicos misâionarios. Entre e^sm obsta<*u1os de lodo o genera
120
talvez que nao fosse o menor a completa ignorância da língua do paiz;
mas foi olle cm breve superado pelo zelo infalígavel do padre Joàa
d'AspilctíeUi I^avarro, que habilítou*se logo para compor nella as
orações e diálogos necessários para doutrina-los na nossa fé. Parece
que alé Deus lhes concedia o dom daslinguas I
A musica, esse poderoso meio d'acçào, era empregado pelos jesuí-
tas com maravilhoso resultado. Sabiam que os povos selvagens são
insensiveis a tudo o que nào impressiona vivamente a sua imngiáa-
çào^ que é por meio do organismo que póde-se fazer chegar ao seo
espirito as grandes verdades, precisnndo de certo modo materialisa-
]8S para po-lasao alcance do seu rude entendimento. Antes d'ensinar
8 ler e a escrever aos meninos davam-lhes lições de canto; e eram
elles poderosos auxiliares, qire encontravam os padres nó seu louvável
intento ; e assim lemos na Chronica dá Companhia pelo P. Vascon-
cellos, « que os mais provectos sahiam em procissão pelas ruas
entoando em cantd de solfa as orações e mysterios dd fé (*)^ »
Celebravam as festas, que eram em grande numero, com todo o
esplendor compatível com a falta de recursos que experiníientavam ;
aGm de que os indígenas respeitassem pela mageslade externa as
ceremòniás cuja razào escapava á sua intelligencía. Nào duvidavam
recorrer ao drama , pondo em aòção os mysterios do cátholicísmo; já
no adro das igrejas em um theatro improvisado, em que representa-
vam indrgcnas e portuguezes em ambos os idiomas e com todos os
caracteres da prisca comedia, como s'exprime o senhor Magalhães ;
já no interior dos templos, como por occasiàa da semana saneia , em
que a scena sanguinolenta do Calvário era apresentada com cores tão
vivas e naturaes que o espectador dir-se-hia transportado á Palestina,
e retrogradando quasi dous mil annos assistir ao grande, inqualificá-
vel attentado do povo deicida.
O zelo dos missionários era superior a lodo o elogio : infatigáveis
na propagação da fé nâo recuavam ante a ideia do martyrio, e os pró-
prios protestantes, como Soullícy na sua estimadíssima Historia do
(•) Vide Chronica da Companhia de Jesus 'iv. 7 n." 93, paj, &5.
121
Brar.il, fav^^m-lhes a devida justiça. Ouçamos suas palavras : « Tliese
inissionartes were cvery way qualified for iheir ofBcc. They were
Kealous for lhe salvotion of souls, ihey had desingaged ihemselves
from ali tbe ties whicli atlach us (o life, and were thererore not
merely fearless of martyrJom bui ambilious of iu » Gomprehende^se
de quáo grande valia seja este testemunho devido i penna d'um
adversário tâo conspictio. Por fmia degradação da natureza humana*
dirQcild^expiicar-.<:e, aanthropophagio era uma paixão dominante em
muitas tribus dos nossos selvagens, e para extirpa-la não houveram
perigos a que se não expuzessem os jesuítas, ora cahindo de surpresa
em uma taba, {*) e arrancavam das mãos das velhas o cadáver ainda
palpitante da desgraçada victima, que destinavam para os seus.
satânicos festins; ora fazendo com ospríncipcíes uma concordata pela
qual lhes era permitlido baptisarem-nas antes do sacrifício , o que era
quasi equivalente a salvarem-lhes as vidas, porque uma crença
espalhou-se entre os indígenas de que as aguas regeneradoras preju-
dicavam ao sabor da carne dos prisioneiros. Não era porém impu-
nemente que assim combatiam um uso arraigado pelos séculos, e um
dia escapou o primeiro eollegio dos padres de ser destruído pelos
ferozes Tupinambás a não ser a energia do governador geral Thomé
de Souza.
Homens habituados aos commodosda vida civilisada achavam-so
no meio das nossas virgens florestas obrigados a viverem como si
nellas tivessem visto a luz do dia. Assim era preciso; cumpria que
se amoldassem aos hábitos do paiz para que mais proveitosa fosse a
sua missão, não rcceiando os naturaes da sua presença. Sahindo de
manhSa do seu eollegio entranhavam -se pelos seriDes em busca das
tribus nómadas a quem annunciassem a Boa Nova (**] , levando
unicamente comsigo o crucifixo c o breviário, porque até do sustento
se descuidavam, sustento que aliás lhes oíTereciam as arvores carre-
gadas de saborosos e succuientos fructos, e quando a noite colhia-os
(*) AUdas de selTOf^s.
(••) O Evangelho,
12á
»Ie improviso ile|u)is de lereni galf^^ado ingrtMiuís monlaniias, alraves-
sado a váo e muitas vezes a iía»lo as lorrenlos dos dossos caudalosos
rios, com a culis loslada pelo ardente sol dos lropiii)S, ou o rosto
zurzido pelos espinhos, baliam com confiança â frágil |K)rla d'agresle
cabana, perlenciMnes a alguma taba escondida em profundo valle,
e deilados nas inis (*] dormiam tranquillos. Outras vezes mudava-se
a scena e apresentava-lhes no\o o desoommunal espectáculo. Chega-
vam no meio dus festins; o assistiam ás suas dansiis, ou antes aos
seus tripúdios, e aquelles ouvidos afeitos ao som do orgào reboando
pelas abobadas dos seus templos, eram feridos |>elo desagradável
chocalho dos maracàs (**). Trocavam o pão pela la/nova : andavam
descalços e vestiam-se d'algodào : impossivel seria resislir as palavras
d'csses homens, que tào bem sabiam alliar atheoria com a pratica :
pregavam a píjbresa o eram pobres, o desprezo do mundo e abne-
gavam-sc.
Tinham porém os jesuítas mais obstáculos a encontrar da i)art6
dos colonos do que da dos naturaos do paiz. A povoação do Brazil
fora entregue ao acaso; e n*essa ópocha , e ainda por muito tempo
depois, considerado como um presidio do degradados, asylo d^homens
perdidos, a quem a metrópole nSo podia supportar por seus vicios.
Ora, si taes homens eram temiveis no reino, ondo a policia podia
vigiar os seus passos, e reprimirem de prompto as autoridades os seus
crimes, como não seriam em uma terra nova, ondo viviam com a
mais solta independência, e onde a acçào das leis era quasi que per-
feitamente nulla. Péssimo era o systema de colonisar adoptado por
Portugal, consistindo em mandar para as suas possessões d'alóm mar
os criminosos, os réos de policia, para servirem de núcleo á nova
povoação. Uma natureza virgem exigia lambem costumes simples o
puros, almas virtuosas, e não era certamente próprio o enviar-lhe a
escoria, as fezes da população do reino, mas o reino não tinha
outros homens para exportar^ porque os cavalleiros, os mancebos
(•) Reies d*al^o<lão,
(**) Iiytruroento de musica.
123
perlencenles às boas ísmilias parliam para o OriciUe a colher louros,
ou morrer heroicamenle; oulrts iam negociar, e sem duvida que
mais lucravam cmbarcando-so paro n Índia e trazendo d*ali os ricos
pToduclos ih seu solo, as pérolas, os brocados, o marfim já convertido
em preciosos arleractas, do que virem permutar com selvagens os
géneros dn Europ, que nâo apreciavam, pelas suas palhetas d'oiro,
e por outros objectos também incultos, e aos quaes então não se dava
grande valor. Os lavradores, os artesões não tinham igualmente
que fazer na nossa terra, não queriam aquelles expor-se aos rigores
do nosso clima, e receavam estes não achar occupaçno, e morrerem
á mingoa com suas familias. Restavam portanto colonos, que nos
não convinham ; mas qtie se reputavam por felizes trocando o seu
desterro pelos cárceres da pátria, ou talvez que pela corda do algoz.
Exercea felizmente o clima (xxlerosn influencia sobre o caracter
d'es$es primeiros povoadores do Brazil ; modificaram, graças á sua
aci^o, a sua Índole, e muitos so metamorphosearam em homens
honestos e oxcellenles cidadãos.
Todavia para que taes phcnomcnos tivessem lugar era necessarip
que alguns annos decorressem ; c ainda assim não podiam elles con-
verter-se em regra geral. Haviam muitos corações endurecidos,
temperas d*aço, que eram inseusiveis aos primores da natureza ame-
ricana, equc ainda aqui reproduziam os máos hábitos a que estavam
avezados. D'esses homens ó quo se queixavam os jesuítas cm suas
carias, lamentando que christãos, que poriuguezes fossem mais difli-
ceis de se converterem du que os selvagens, que viviam entregues
ás paixões, sem a mmima noção da lei de Deos. E o que era ainda
peor, alguns clérigos, inteiramente esquecidos do seu sancto minis-
tério, pregavam com o seu exemplo e com as suas palavras uin.i
doutrina opposla á moral de Christo, da qual os jesuitas eram pro-
mulgadores. * Os clérigos d*esla terra (dizia o padre Nóbrega em
uma carta mandada d.i capitania de Pernambuco em 1551) ten\
mais o oílicio du demónios (|uo do clérigos; porque além do seu máo
exemplo e costumes querem contrariar a doutrina de Chrisio, o
dizem publicamente ao< homens que lhos ó lícito eslar em peccado
Í2à
com suas negras , pob que são suas escrav«is, eque pédeni ter os
salteados, pois que são eàes; e outras cousas similhantesi por
escusar seus peccados e abomioaçôes. De iiKmeini que nenhum
demónio temos agora que nos persiga , senão estes. Querem-no3
mal porque lhes somos contrários aos seus máos costumes » e nSio
podem soOrer que digamos as missas de gmça em detrimento dos
seus interesses. » Era necessário toda a energia, todo o zelo d*un>
jesuita da primeira época, pom soperar taes óbices.
A grandeza e a futura importância do Braíil não escapou ao
espirito eselarecifio do primeiro geral dos jesuítas, eloT&ndo-o em
1553 á eath^oría de província independente da de Portugol e no-
meando para provincial o padre Nóbrega, tendo por seu coodjucior o
padre Lui2 da Gram» que fora reitor do oolleglode Coimbra. Esto
distincto jesuíta embareou-se na frota, em que veio o novo governador
geral D. Duarte da Costa, trazendo comsigo seis companheiros e
entre elles o padre José d'Anchieta, então ainda coadjucior temporal^
mas que em breve devera grangear tso grande nomeada pelas suas
acç(^ e heróicas virtudes.
O primeiro uso que fez o novo provincial da sua autoridade foi o
ordenar a ereeçSo 4]e roais um eolJegio nos campos de Piratininga,
que foi o terceiro que contou a ordem no Brazil, sendo o primeiro o
da Bahia e o segundo o de S. Vicente, fundado pelo padre Leonardo
Nunes e pelo irmão Diogo Jacome no mesmo anno da sua chegada,
isto é em 1549. Foi o collegio de Piratininga depois chamado de S.
Paulo, em razão de ter-se n'elie celebrado a primeira missa no anni*-
versario da conversão do Doutor da$ GenieSy o grande theairo em
que começou a ostentar-se o zelo verdadeiramente apostólico do
padre Anchieta. Encarregado do ensino dos neophylos desempe-
nhou de modo admirável a sua sublime missão, na falta de livros'
escrevia as lições cm cadernos que distribuía por cada alumno,
» trabalho insano, que nào poderia ser emprebendido senão por quem,
como elle , saeriíicava-se pelo próximo, o cujo único interesse era o
de ganhar almas para o céo. Apprcndiam ali os jovens cathecbumenos,
6 06 (í1Ik)S dos colonos os rudimentos das línguas porlugueza, Ites*
12S
panliolâi latina q br^silk^if chaiDQcVa a tingu» gorai, indbpí^nsaiel
para o (ralo com os indígenas, íJioma cíieía do doçura o de Lctlenaã
e que é pena se deisíasse em comptelo abandoDo diipoisda siippressão
dosjesuitai*
O jri citado R» SowtííDy fallindo dos iraballios do padre Anduíta no
callegio de Piraiininga ser%c-se d^eíítas fialíivTâs: «> Anchiata lauglil
V £atin and learnt froio ihem the Tupinamban, of whlcli lie compos^d
> a granimar and vocabubryv Ibe Drsi wbicf» wcro made. Day and
« nigbt did ibís iíidefaijgabl<í man , whusií iifa, T^útlioul lhe machúntjry
« oímtracles, íssufllcíenil^y bonou rabie lo himself and to bisorder,
« fabour índíácharging Uii^dutlesof bboflieo. n (*) Parece incrívef
quo depois de loo árduas funcções qtiaes ás que s'cniregava iífca^ari-
temente restassa-lbe ainda lempo para compor na lingua do paiz
remanoes, ou anies bailadas próprias a inspírar*Ibeâ horror ao vicio
e eslima para com a virtude t tendo lodos por base a sublime moral
christSâ, e pondo em musica aâ etorniis verdades do nosso cullo,
IkessQ-nas depois cantar pelos meninos índios d'ambcs os sexos, a
quem d'e3t'ârie inspirava amor [>e!a religião, desenvolvendo n'eiles o
natural pendor para a musica. Conhecendo por etperiencia o quanlo
inOub sobre o homem este importante ramo das bel Ias artes» c que
di£ía o grande e virtuoso padre Manoel da Nóbrega : * com a musicí*
0 harmonia airovo^me a atirabira mim lodosos índios d'Âmerica. »
O Àposiolõ do NavQ Mundo escrevendo ao geral da companhia
assim descreve a distribuiçilo do lempo, e a vida activa que passavam
osjesuifas: • Quasl nenhuma arte das necessárias para ocommercio
a da vida deixam de fazer os irmãos; fazemos validos, sapatos
« principimente alpercatas d'um fio, como cânhamo, que nós outros
•« liramos d'uns cardos lançados n'agua , e curtidos, enjas alpercatas
« pela aspereza das selvas e das grandes enchentes d'agua, ú necessário
• pasmar muitas vezes por grande enfiara at<* a cinta, c algumas veies
« até o peitOj barbear^ curar feridoSj sangrar» faiei cosas o coisas do
(*) Vyc tti Sautliej míMiry oí BrvU» dka^. IX.
426
« barro, e oulras siniiihnnlcs coisas nno se bu^am fora , de sorte (jiie
« a ociosidade, nào lem Ingnr nesta casa. (*) »»
Por mais d'uma vez esteve em perigo o coUegio de Piralininga
ihealro de l5o bel las acções, já pelos mamcZuro^, já pelos indígenas
inimigos dos Poriiiguezes, devendo sempre a sua saKaçào ao zelo e
intrepidez do seu reitor, auxiliado pelos calliecbumenose pelo valente
Tibereçá , cujo nome nos deve ser i.lo caro.
Não menos admiráveis sâi» os heróicos missionários aplacando os
ódios entre os naturaes o o» Porlugtiezes, e ó com verdadeira vene-
ração que pronunciamos seus nomes lembrando-nos dos relevantes
serviços, que prestaram à recente colónia. Quando em i 562 os ferozes
Pitagoares assolaram a capitania do Espirito Santo, depois de terem
devastado as dos llheos e Porto Seguro, quando uma guerra de exter-
mínio, cujos resultados não se podiam prever, se tinha travado entro
os colonos e os selvagens, foram doiis jesuítas (Nohregn e Anchieta)
que poderam conseguir que a paz se celebrasse ficando clles como
reféns nas màos dos harharos, esporando a c^ida instante que soasse a
hora do supplicio; altenta a fó púnica dos primeiros habitadores d*esla
^erra.
Graças a uma solicitude superior a tudo a que em seu abono se
poderia dizer, linha-so propagado o clirislianismo com eléctrica velo-
cidade : a Bahia, S. Vicente, Espirito Santo , Porto Seguro e Per-
nambuco possuíam já collegios, e reducções servidos pelos padres da
compnhia de Jesus.
Exerciam sobre o animo dos indígenas quasi que illimitado ascen-
déhle, porque consideravam os jesuítas como amigos de Deos e seus
naturaes protectores. Vimos a maneira porque desarmaram aos cruéis
Pitagoares fazendo d*elles alliadosdos Portuguczes, e sempre que no
meio dos combates, ou ainda no fervor das suas rixas apparccia um
(ilho de S. Ignacio serenava este a atmosphera impregnada da cólera
e do desejo de vingança, tal como o iris depois de proc^llosa tempes-
tade c núncio do bonança. A palavra d*um jesuíta era o mais solido
(•) Vide S. de Vascoiicell. Vida d^Ancliicta.
Í27
penhor que se puJia dar ; c assim tambcm era o uiuco que aceitassem
os (illios das brenhas, amestrados por uma triste experiência a descon^
fiarem dos protestos d*esses homens fementidos, que os iam buscar
em seus longínquos asylos para iraze-los ao povoado oíTerccendo-lhes
em troca da sua cre<luIidadeo captiveiro, ou a morte.
Ninguém, que tenha se occupado com as coisas da nossa terra,
ignora que foram os jesuítas que poderosamente contribuíram, já por
seus conselhos, já pela sua amizade com os indígenas, para o iriumpho
da expedição de Eslacio de Sá : lendo anteriormente coadjuvado ao
govern ador geral, seu tio, no nobre empenho de resistir com as poucas
forças, que tinha á sua disposição, ao ataque que os Francezes, com-
mandados por Nicoláo Durand de Villegaignon, e contando com a
alliança dos Tamojos dirigiram contra o Rio de Janeiro. A fundação
d*esta cidade, destinada a ser a capital d*um grande império, a rainha
d*America meridional , foi a consequência ifnmetliala da expulsão
dos invasores. Sem os jesuilds, sem os seus patrióticos esforços, talvez
que os Francezes tivessem permanecido na nossa cidade. O tempo
urgia; D. João III linha cessado de existir; eo reinado seguinte
devera ser o ultimo que contasse Portugal anles do fatal eclipse da
dominação hespanhola, e ó fácil ajuizar si durante ella poderia o Brazil
liberlar-se da dupla invasão dos Hollandezes ao norte o dos Francezes
ao sul.
As palmas do martyrio vieram lambera juntar-se aos serviços de
lodo o género que os padres da companhia prestavam á religião : era
talvez preciso que como no Japão sellassem com o seu sangue a pureza
da sua fó. Esla honra eslava reservada ao padre Ignacio d^Azevedo,
visitador nomeado para a província do Brazil, o que para ellc vinha
com sessenta o nove companheiros. Jacques Soria, corsário calvinista,
conderonando á morte com satânica frieza a esses soldados de Christo
julgava ler rarefeito as fileiras do exercito da cruz quando pelo con-
trario só augmenlava o seu numero ; porque o sangue dos mariyres,
como disso Teriulliano, ó semente de chrisUíos.
Durante a primeira época da existência dos jesuítas no Brazil^ que
corresponde ao seu século áureo, praticavam elles tantas virtudes,
128
houveram -se com lanla abnegação, que longe iríamos, si quizessemos
fazer o inventario de todas essas celestes riquezas: além do que não é
o nosso propósito escrever a historia {\o seu estabelecimento, e pro-
gressos na nossa terra , o que talvez ainda um dia o façamos si tempo
c disposição tivermos para isso. Como porém parece ser destino da
humanidade o encontrar sempre ao lado da verdade o erro, e da
virtude o crime, uma pagina negra e borrifada de sangue vem fechar
a primeira parte dos brilhantes annaes do instituto na terra de Santa
Cruz. A perspicácia do leitor ter-nos-ha certamente prevenido adi-
vinhando que queremos fallar do supplído do calvinista Joio Boles,
que fugindo ás perseguições do Caim d' America viera com muitos
coreligionarios seus, buscar asylo nas povoações portuguezas. A into-
lerância e o fanatismo religioso linha aocendído em Portugal as
fogueiras da inquisiçSo : queimavam-se entffo ali nas praças publicas
08 christãos novos, accusados de ser occultamente Géis á religião de
seus pais, da qual pela força, ou pelo temor do exílio, haviam sido
constrangidos a apostatar. Os jesuitas eram bastante esclarecidos,
gozavam da mais bem merecida influencia, para impedirem que na
nossa pátria, onde nem sequer podiam se dar as razdes com que se
procuravam attenuar taes excessos no velho mundo, se reproduzissem
elles com horror da natureza. Era porém grande o poder dos pre-
conceitos; fatal o dominio das falsas idéas, que obtigava a homens
illustres como o padre Luiz da Gram , a denunciarem como horege
obstinado, perigoso ao bem-estar da colónia, digno n*umd palavra do
derradeiro supplicio, a um homem cujo tinico erro foi, no nosso
entender, o não saber respeitar a crença, a que não tinha fortuna de
pertencer, provocando perigosas discussões sobro o dogma. Causa-nos
ainda mais estranhesa que o venerando Anchieta, o symbolo, a per-
soniGeação da virtude, acompanhasse o réo ás escadas da forca, e
temendo que se não arrependesse este da sua conversão apressasse o
algoz ensinando-lhe até a desempenhar o seu oificio 1 1
« O' caridade admirável e engenhosa (exclama o padre 8. de
« YasQoncellos). Bem sabia Joseph que segundo as leis ecciesiasticas,
« iucorm na suspensão das ordens todo o sacerdote, que accelera a
129
« €tecttçií*i th morte em qit/*k}iíeF oreastJo , mr\M qtie morido it
• en\í9^ pi?i; fiorém mní^ fwxlííi com elle a canJadtí o o nmof, f|ua
4â ile\io no próximo, que outro qriâlquor r^pmto e eomid^rârlo. *
O Jornal de Tim&n^ oíeriplô por «ma dâs noe!!ii9 melhores pennas
eofiltímptjfafieas , citnnJo o irecho, lytío lamliom ncabamos de írans-
era ver, assim m«poilde à íogica sopíiUlit^a do biogrnpho ji^suilí»: ** E
• nasdi^oiuos: ibominavel fíH%íitism<i« ijiic t^$im perverto o trans-
« forma \%m m]momrmmh\me em miâêravaf n]\uh tio atgozT trisfe*
m i elonva contraflrcçno iÍo espirito humana! ^h^ padr^, (luò
m vditiAiii O pmpríf> íisngiit* pela cnnversffo tie selvagens cotiiboe?»
• Agora o derramam d' um irmão innocente e quando muito tmns*
« viado, violando m sua pensos as lets ^agrtidns da Itospilâtidadc;^ o
« àtan^eando-o na sus hora derradeira com torturas moraes» mah
m crueh d tmmppt^rtaveis por ventura que bs da corda e do emello* *
Sejamos porém ^nêrosos* ífò% que vtfcmoi ri*ijm secuto em que a
raziío impera , em qu6 a foeha da píiilosophia csclarsce os ministros
da igtvp nccnpàdo!^ na mâdílaçJio âo Evangelho, e ta ninando o vçodd
í\mÊQ reconliícimenio sobre os erros dos primetros dvilísaibres da
nossa fKiiria, rurvemo-nos re*peiiíiFOS ante Sôoi liimulos, neííeâ depo-
íéiáAiIó cori3»sdi^ perpetuans t; fia tida des.
Cora a nwrte d** Nobreíía e d*AnchÍ€ta lerminarAm m tempos
lieroieos d*j« ji^siiilAS no Bra/íl , íindou a primeira e brilhante pbsso
éa swa Ivtstoria : a era (íoeticii dtnera seguir -se á prosaica- Reconhe-
cemos qtie duranto o se^uffdo período houveram entro nds liomens
notareis péa êm piediide, « vercfade ira mento apostólicos: mas 0
espirito que dirigia as acçftes dos padres empalhados pelo no^o Tastís*
símo território nio era o mesmo, e devem necessária mente resentir-se
«la impuljío, qao lho era fommunieado do bnge- O provincial do
firtzM d^ver» ie^uír 3 Nnha de conducta, qrit^ lhe era traçada pelo
S&nlf « si • leitor lii^r a bondade de \oltar BÍgymas pa*;fnas d'e6íft
nome gfflsseiro Emai& verá que a indote das constiturçoes íc achava
|d 0*6998 época [irofundamente modifrcada , pelos addíta mentos que
nielor^m fetíos. Verdsde é que nao Ifies apresentava a terra de Cabra^
ífgno tKcatro pani a stia ambiçào : não haviam aqui reis, de quem
«III 17
130
se fizessem confessores, nâo tínhamos politica de que fossem 09
oráculos; mas no pequeno o humilde scenario escolheram o ppel de
protogonislaSy e na defesa da liberdade dos indígenas a alavanca da
sua próxima opulência.
Cremos piamente que os primeiros jesuítas que pregaram contra o
deshumano trafico dos índios, estavam animados das mais puras e
santas intenções, e até porque recebiam as inslrucções dos três pri-
meiros chefes da ordem, de quem formamos o mais subido conceito,
6 tinham por executores homens zelosos da propagação do christia-
nismo, para cujo beneficio tudo sacnficavam , como deixamos es-
boçado. E como poderiam ser indiflerentes ao escândalo commettido
pelos colonos de reduzirem á escravidão os selvagens, a pretexto de
necessitarem dos seus serviços para fazerem florescera lavoura, a que
não se queriam, ou n3o podiam se entregar? Nffo eram as bandeiras^
os resgates e as entradas ao sertão um poderoso obstáculo á catho-
cheset Poderiam os indígenas acreditar na fé d'homens que tàa
perfidamente os atraiçoavam ? Não, mil vezes não ; era necessário pôr
um dique a taes excessos, refrear a desordenada cobiça dos colonos ;
6 é o que emprehenderam os jesuítas; si porém o seu zelo era intei-
ramente desinteressado é o quo passamos a examinar, tendo debaixo
dos olhos os mais contradiclorios juízos , para que d'elles possamos
extrahir o nosso, que oxalá possa ser exacto. Julgamo-nos imparciaes
n*esta tào celebre e debatida questão ; porque ainda uma vez decla-
ramos, que o amor, nem o ódio nos liga ao Instituto de Loyola :
elogiamos as boas acções dos seus ministros com a mesma indepen-
dência com que censuramos aquellas , que nos parecem pouco con-
dignas com a sua santa instituição.
Não penetraremos no intricado labyrínthoda legislação portugueza
relativa á liberdade dos indígenas do Brazil, ainda que para tal fim
possuíssemos o fio d*Ariadne. Os S. S. P. P. Paulo III, Urbano
yill 6 Benedicto XIV* puzeram o cunho da sua poderosa autoridade
na série de leis, alvarás e cartas regias emanadas na corte de Lisboa ;
roas esse mesmo luxo legislativo provava a sua pouca, ou nenhuma
eiiicacia. As leis, como dizem todos os publicistas, devem ser poucas
I
181
«claras, mas vígorosamãfitâ executadas. A oallecção de todas asorJe-
nanças sobro esta lào impomntft qul^ simples matéria ^ forma sem
duvida um volume igual^^ smão maior do que o do eodigo cliamado
ún ^'apo^eôo*
*' As Ids, dir. o supracitado Jornal de TintQn^ que inculcando
« uma larga proiecçJo aos indígenas, admittiam comtudoo principio
« funesto da eicra vidão, eslaMeciam em certos e determinados casos
« diversas formulas e garantias paí*íi evitaras injustiças, istoé, os
u CãpU veiros chamados i]lícilo#* Entretanto a cobira aclmva mil meios
« de ilíudir assas preestiçOes, em verdade quíisi sempre ^ã»s» porque
•• admiti ido um principio vicioso e falso como baso fundamental da
« legislarão as couâeqoenciâs liavíam nt^ceásariainenle de participar
« da sua origem. [') ^
Apegar da ti hl a execução das ordens da metropolô votavam et las
todavia aoscdofios de certo modo ferindo seus interesses, que li n liam
feito consistir na pusse dos escravos» A dislincçoo de guerra injusta
da justa, em que era permittido reduair ao ca p tive iro os que fossem
achados com as armas nas mílos, era cnsuistica^ o abria largo campo
30$ abusos por íafta de qui^m fassti bastante desinteressado para kzt^r
essa apreciarão» Os padres da eoiiipanbí-i, que bnviam solicitado lae»
providencias da parte do governo portuguei, eram ainda incumbidos
em grande parte da sua execu(\nO| e comquanto «ligam os seus brsto-
hsdoreSt que as leis eram [jor eties ^cruputos^unente cumpridas,
parece que nem lodos seríSo d'csle parecer lendo a sua pr^vpría narração
das entradas e rtsgattin não poucas vmes ordenadas por arbítrio
4os capitães mores, em que se eomnieitiam pasmosos ittenisdos:
contra os qua^s nao recl amavam elles se grande numero de ÍndÍoM
fofraê e de administradm entrava para as suas parocbias.
Ilãvla portam f dir-nos-ba alguém, grande vantagem para os indi-
geiíss o serem mandados para as missues da compnbia porque ao
menos ali conservavam a sua liberdade^ ao [msm que eram reduzidos
«i triste sorte de escravos quando cabiam em partilha aos particularos.
n Vide Jormit d» Timvn , lirr, S. * secc. 4** p«8. *«1.
1S2
Cremos que pouco, ou nada mudava -«e a sua rondíçSo si ajunCm
da reiimpçãodos captiva^ eoneedra-Utes a liberdade reconbecendo
terem sido apresados em guerra injnsla, e romettia-os para as aidèas
dos jesuítas, afim de se empregarem no serviço dos mesmos com o onua
de ensinar-Ities a doulrína , e cuidar da salvação das suas almas.
Poderemos por inducçflo avaliar do <{ue então se passava preseneiando
a conducta d'uma grande e poderosa naçàa moderna, quo tem
assumido a si o privilegio exclusivo da piíilaniropía na nâo menos
^ celebre quesléo do trafico dos Africanos. As commissões miadas ao
principio, e depois do bitl Aberdeem os tribunaes esperiaes, mandam
para as cotonias inglesas os negros aprisionados nos navios julgados
boas presas, e oi libertos vão terminar sua existência longe da pátria,
soffrendo todo o género de privações, mas tendo Umbem a bonra de
trabalbarem para o engrandecimento da genereãa Albion. Os bomens
sempre foram e bao de ser os mesmos: o que n*ei»saera praticávamos
jesuitas eom os indios forros fazem boje os inglezes com os Africanos
\ libertos.
Ninguém bojo se illudecom palavras , moeda falsa da civilisaç^o,
lodos querem entrar no âmago das coisas, e si é possire! perscrutar
o segredo das consciências. £' um principio juridico que o autor do
crime ó quasi sempre o que mais utilidade d'olle tira, e si o appli-
carmos ao caso vertente poderemos concluir que si os jesuitas enri-
queciam na razão directa da pbreza e da quasi miséria dos moradores,
que confiados nos braços da escravatura abandonavam-se ao desespero
quando estes llies faltavam não era unicamente por amor da buma-
nidade, e sim movidos por outros motivos, quiçá menos nobres, que
provocavam os edictos régios» instavam com os governadores pra
que ospozessem em execução, augmentando d'est'arte o numero dos
administrados f com não pequena vantagem das suas residências.
Ouçamos a este respeito uma testemunba imparcial, que se acbava
muito em estado de apreciar do metlKHlo seguido pelos padres da
oompanbia pelo profundo estudo que fizera d'este assumpto corro-
borado pela long!) residência n'uma provincid. que talvez mais que
nenhuma outra conserva ainda os vestígios do dominio d*esscb
1S3
regulares. O tenente general Aroucbe na saa Memeria êobre oi
Indioi da pravmeia de S. Pauh no anno de 1798 , assim so
exprime : « Os Índios das Cssendas jesiiitícas tinham uma liberdade
« imaginaria, porque eltes eram tratados com a mesma sujeição , o
« mesmo aperto, e a mesma obediência que o resto dos escravos,
a Accrescia além d*isto o systema de os ter sempre separados do
« commum dos homens para nunca poderem ser desabusados, d^
« os casarem com pretos e pretas escrayas, baplisando os filhos como
9 servos. » (*) Interroguemos ainda outra testemunha qualificada,
e prestemos summa attenção ao sen depoimento. Paliando acerca das
admiuisíraçõei que qualifica d'uma modificação no nome carac-
ieri$tÍ€o de capíiveiro um illustre brazileiro, assaz conhecido por seus
esoriptos, serve*se doestas palavras: « Accumulavam elles (os padres
« de todos as ordens, e principalmente os jesuítas) os dous poderes,
« e então a sorte dos índios era mais deplorável, sua sujeição mais
« restricta, seus trabalhos mais vexatórios e duplicados; por isso
« que o mando nSo era partilhado, e de taes animosidades não
« haviam testemunhas que ousassem revela-las. (**) »
Ainda mesmo admittindo que haja exageração no juizo eroittido
por tffo oonspicuas authorídades supporoos que os jesuítas não
poderSo ser inteiramente absolvidos de terem por sua ambfção
excitado os moradores aos lamentáveis excessos, a que se entregaram
contra elles nas capitanias de S. Vicente, Rio de Janeiro, Pará e
Maranhão. Profundo devera ser o ódio de que eram objecto os pad res
para que fizesse esta tão grande explosão em pontos tão distantes entre
si, 6 sem que para isso houvesse a menor combinação.
Diz- nos o sargento mór Pedro Taqnes de Paes Leme na sua
Noticia Bistorica da expulsão dos jesuítas do collegio de S.
Paulo y que os moradores d'e8sa capitania depois de terem-nos
hneado fora das suas casas na manhãa do dia 13 de Julho de 1640
dirigiram a el-rei D. João IV uma representação contra os jesuítas em
(•) Vide Rev. Trim. do Inst. Hisl, e Geog. Br. tom. 4. *»
(**) Vide Not. Racion. sobre as Aid. d*Ind, da Prov. de S. Paulo pelo Brig-
Machado d'01i?r. inserta no tom. 8.** da Rev. do Inst. Uist* e Gepgr. Br.
13i
que se qíuixavam qtie estes regulares monapolisavam o serviço
dos Índios com grave damno dos moradores, que se viam pri-^
vãdos d'elles para o serviço da sua lavoura e mineração . no que
íambem prejudicavam a fazenda real com a perda dos quintos,
Poderam neulralisar pola sua immensa inOuencia em Lisboa o
effeito que ali necessariamente produziria táo grave accusaçfio e pelo
alvará de 3 de Outubro de 1643 ordenava el-rei que lhes fossem
resliluidos os seus coUegios, continuando as aldeias a serem por elles
administradas ; pois que mais ganhava o Estado (dizia o referido
alvará} que as aldeias fossem administradas por esses padres^
que o faziam de graça do que por sacerdotes seculares , que
vindos de fôra^ por força haviam de tirar o seu sustento do
trabalho dos Índios. As ordens regias encontravam porém grande
opposição da parte dos moradores, e só com a promessa de ampla
amnistia a todos os comprehendidos na sedição de 1640, que lhes
assegurava o alvará de 7 de Outubro de 1647» é que entraram os
jesuítas na posse mansa e pacifica das sua casas e aldeias d'onde
estiveram ausentes por espaço de treze annos (*).
No Rio de Janeiro, paiz clássico da paz , que lhe assegura a Índole
pacifica dos seus naturaes, rebentou também um motim popular
n'esse mesmo anno de 1640 em que tivera lugar o de S. Paulo por
occasiSo de querer o padre Francisco DiasTanho, procurador dos
índios do Paraguay , publicar a bulia de 6 de Março de 1638, em
que se fulminava a pena de excommunhio contra os promotores e
fautores da escravidão dos indígenas. Sem a intervenção do gover-
nador Salvador Correia de Sá e Benavídes , ajudado por seu primo
D. Jofio de Avaios e Benavídes, capitão da infantaria da praça, o
povo irritado teria arrombado as portas do coliegio dos padres da
companhia , e talvez attentado contra as suas pessoas. Atemorisados
assignaram a escriptura de 22 de Junho de 1640 pela qual desistiam
da promulgação da bulia, e obrigavam-se a respeitar o statu ftio,
sem duvida protestando em segredo contra sinrilhante acto, que lhes
(*) Vide Rev. Trim. do lost. Hisl. e Geog. Br. tom. 12.o
135
I
I
ODCAilii pela violência, e .iguarJando dias mo is serenos para
eiigireiíi inipep tosa m€í lie u sua revogação (*J.
Em parttí alguma lomou fôla lula propíjrçôes mais colossaes do
qtiâ no M^tranHfío & P^rá, onde um grande homem sâ pÔ£ á íâsta
d*âUa. IriconlefitavúlmÊiite o padr^ António Vieira era a alma dos
jdsuiias do seu tempo tanto no Brazil, eomo ainda âm PorUigal ; o
eentro pnra o qual coíivergiam todos os raios; a cabeça cnc^rrogi^di
dú pensar por todos. Como lodos os homans cônscios da sua supe*
rio ri d ade era die ambicioso ^ queria S4^mpre representar g prímoiro
pap^t, ou em, Lisboa sentado nos conselíjos da coroa, ou na Hollandn
como fino e dextro diplomata» ou no Maranhão como fautor da
liberdade dos indigenas. Com a mesma facilidade com que pregava
dia n la do chefe vísivel da igreja faiia ouvir a sua eloquente wi nm
margens do autocraia dos rios, convertendo os selvagens Nhein-
gshibas* Possuía uma d'essas maravilhosas organisaçoes, quo nunca
podem estar ociosas: para elle o movimento era a vida; amava a
discussão e chegava a desejar as contrariedades. Era u'uma paia vra
um varão e)itraordinario , talvez mesmo que demasiado grande para
o mesquinho plco« que lho ofTereciam estas longinquas e quast qud
esquecidas terras do Brazil
Por motivos, que não ciaminaremoi n'€sto lugar^ deÍ!cou o padre
António Vieira o posto elevado^ qoa oceupava na çòrto para vir
exorcor o do superior da sua ordem do estado do Maranhão. Seu zelo
levou-o á cidade de Belém, cujo collegto acabava do sar Tutidado sob
a invocação de S, Abxaudre, o ahí clamando com a sua costumada
franqueza contra os vicios dos moradores, principalmente contra a
sua desmarcada cobiça, accumutando ímmensas riquezas á custa das
lagrimas dos mi^ro® itidios, mostrou^e disposto a tornar effeclivas
as ordens regias relativas á liberdade d'€9ses d^sgra^dos, o que lhe
íóra mui particularmente rccommendado por el-rci D, Joio iV,
espocialmcnto na sua carta de âl de Outubro de 1652. Por esse
celebre documento conforta o piedoso monarcha lusitano ao primeiro
f*) \iã0 Annao 4o Aio de Jánetm fior UslUK fU Silrii Lbboa, tom* S,«
iSô
je^iu (Ia seu reino poderes qnasi quo discriciooaríos, esperanJo
que este empregasse com íructo na nunca assaz louvayel obra da
propagâçâb da fé. N'ell6 so léia estas notáveis palarras.... « vos
« encommendo a continuação da propgaçia do Evangelho, qse vos
« leva équeUas partes eque para isso levanteis as igrejas » que vos
« parecer nos lugares, que para isso escolherdes , e façais as missões
« do aeniOy que Tiverdes por mais convenientes , ou por mar, ou por
M terra» ou levando índios comvoseo, descendo-os do sertão, ou
« deixando os em suas aldeias, como julgardes por mais necessário
• á sua conaervaçSo, que de tudo terei grande contentamento pelo
« muito que desejo quo aquellas terras se cultivem com a nossa
■• santa religião, e para melhor o conseguirdes ordeno aos gover-
• nadores» capUSes nóres, mÍBistros de justiça e guerra, capitães de
« fortalesaa^ camarás e povos vos dém toda a ajuda e favor, que
« pedirdes, assim de indios, canoas, pessoas praticas na terra e
« linguas, cómodo mais que vos fòr necessário para o que lhes raos-
• trareia esta, ou copia d^ella^ que guardarão inviolavelmente como
% fi*eUa se contém ; e fazendo o contrario me dareis logo. conta para
« mandar proceder contra os que assim o não 'fizerem como me
« parecer de justiça. »
Longe de obedecer ao que lhe era tão formalmente ordenado pelo
soberano requereu á camará de Belém pdo órgão do seu procurador
para que se lançassem fora os religiosas da companhia, pretextando a
sua oppoeição ao oonunercio dos indigenas, e muito maior foi a
indignação d^aquelles povos quando havendo obtido da metrópole a
provisão regia de 17 de Outubro de Í6â3> que permiítia pode-
rmn-ie^ fazer eícrauis oa indigenas , que houvessem u alliado
com. oê múm^os, gue exercitassenv laírocinias por mar, ou p&r
terra, qu% reeu$as9em pa^ar os tributas » não obedecessem ao
chamado para o serviço ou para pelejar com os inimigos : ou-
irosim os fita comessem canu humana, sendo dt vassalios reaes,
viram os seus. esforços baldados pela vigorosa resislenda cpie oppu^
zeram os jesuítas á promulgação de semilhante ordenança, que,
diziam elles^ ia abrir largas portas para toda a daase de aèusos; e
137
tendo por esse- motivo emprehendido o padre António Vieira uma
viagem a Lisboa alcançou a completa revogação d'ella.
Havia da parte dos jesuítas trop dt zêU^ qui e$t toujourt nm-
sible na pbrasedo famoso Talieyrand; e da dos colonos excessivo
amor do ganho e das /iquezas, pouco se importando com os meios que
para esse fira empregavam. Ambas as parcialidades talvez que
quizessem a mesma cousa, isto é, maior numero de índios, ou a
titulo de administrados t ou do de escravos, para fazer medrar as
suas lavouras nSo concordando porém no modo pratico de realísarem
suas pretenções. D'esta divergência originou-se a luta, que ora
assignalamos , terminada no Pará pela expulsSo do padre Vieira e
dos seus companheiros do collegio de Belém , sem que Ibes podessa
valer o governador D. Pedro de Mello, remettendo-os presos para o
Maranhão, onde não menos cruelmente foram tratados, sendo man-
dados para Portugal em um patacho que d*alí seguia para esse reino.
Semilhante procedimento foi altamente censurado em Lisboa e a
carta regia de 18 de Outubro de 1663 ordenava que lhes fossem
restituídos os oollcgios e mais casas, que possuíam nas referidas
capitanias; mas ají, bem como em S. Paulo, só um completo perdfo
e esquecimento, igual ao que lhes assegurava a pro\isâo de 13 de
Setembro do mesmo anno, podia serenar os ânimos, ainda exces-
sivamente irritados, e permittir que podessem voltar ao lugar donde
haviam sido expulsos (*).
Não estavam porém de tal modo reconciliados com os moradores
que nSo tivessem de temer o seu reseniimento , e o movimento
popular capitaneado por Manoel Beckmann, mostrou-lbes o que deviam
esperar da parte de homens a quem constantemente feriam nas suas
mais caras affeic^es, que todas se cifravam nos seus interesses e bem-
eHar pecuniário. Foi ainda preciso que viesse em seu socoorro o
braço secular, e que o governador do estado do Maranhão Gomes
Freire de Andrade, punindo severamente os cabeças da ^içãe,
pocesse termo a tso lastimáveis discórdias (**).
n Vide Berredo Ano. do Maraahio livros XV t XVI.
(^) Vide Bamde Abb. do Marimbio livro XVUI.
áS
as
o padre António Meira tinha comprehtfndido maravilhosamente
o princípio jesuítico do sacrifício d*om em favor de muitos; assim
pois desejava o augmento ih ofdem, a sua preponderância, que não
podia resultar-Ihe no Brazil senio dos grandes cabedaes, que tivesse
ajuntado ; porque nos paizes hovos, e principalmente nas colónias a
plut^/oracia exerce a maior ihfluehfcia na falta de toda outra dis-
tincção. Era ainda preciso que as frotas annuaes levassem aos grandes
armazéns, que à companhia possuia em Lisboa, os géneros do nosso
paiz, para qué o tôU voto nãò deixasse dé fazer pender para seu lado
á balança politica do estado. Permittidos aos moradores os descimentos
é entradas M sBftáo estariam estes habilitados a fazer concúrreficia
áos jesuitas nli exportação do§ pfoduetois éoloniaes, que produziam as
àtJãs mfèÈÔes è pátúchiai, servidas por ihdios forrós submetiidos a
uma admirável dlséiplina.
Julganrios poder âssim explicar a conducta, a primeira vista con-
tradictoria, do padre António Vieira. Individualmente tomado era
elle do maior desinteresse, dirômos fnedmo da mais completa
abnegação : o seu historiador André de Barros pinta-nos este homem
illustre encerrado na cella estreita e nua do seu collegio , despo-
jando-so da roupa e moveis os roais indispensáveis para acudir á
pobreza e por vezes reduzido a dormir n*uma esteira de tabúa em
V62 de cama, vestindo uma roupeta esfarrapada de panno grosseiro
tinto na lama, e calçando sapatos de pelle de poróo inontez. A mesma
parcimonia usava na comida e bebida e não raramente privava-se da
côa para manda-la de presente a alguma familia necessitada {*), A
sua ambição era unicamente em prol dó seu instituto; para si só
queria a gloria: anhelava que se fallasse no seu nome, e a miudó
ekicárregava-sô 6llé mesmo, á exemplo de CicerO, de fazer a longa
enumeração dos serviços.
Longo e porfiado fora o litigio, e ambos os contendores extrema-
ínente cansados suspiravam pelo repouso ; mas este impossivel era
para o jesuíta antes do triumpho. Conseguiram-no completo^ ao
(•) Vide André de Barrw tohi. !.• cap, XXV.
130
manos por algum tempo; e os colonos perddndo a esperança de terem
escravos indios voltaram as suas vistas para a costa d^Africa, como já
lhes tinha lembrado o virtuoso dominicano I^s Casas e fizera-o depois
o padre António Vieira, offerecendo ao governo um plano para
mandar vir escravos por conta do estado distribuindo-os depois pelos
moradores gratuitamente, como o único meio de remediar a falta de
braços, que já então se fazia sentir. Deplorável cegueira d*um espirito
aliás tão íltuslrado, que não duvidava aconselhar que se fizesse n'Africa
um trafico, a que com tanto afinco se oppunha n'America !
Ficou-lhee portanto livre a administração dos indios forros ; e
para ass^urar a sua posse privativa obtiveram da curte prohibição
expressa de penetrar quem quer que fosse, sem vénia sua, nas aldeias,
que lhe eram confiadas , a titulo de não irem os colonos corromper
a moral simples dos indígenas afastando-os dos seus costumes
patriarcbaes. Quem se tiver dado ao trabalho de compulsar os nossos
annaes recordar-se-ba das contestações suscitadas por estes regulares
eom os religiosos das outras ordens, mercenários, capuchos e
carmelitas, que como elles se occupavam do trabalho da cathechese.
As aldeias, que estes últimos haviam fundado nas mfirgens do Kio
Negro por ordem do governador Luiz do Vasconcellos Lobo, foram
de curta duração e tiveram seus administradores de retirar-se por
não poderem mais resistir á guerra, que lhes faziam os seus rivaes, os
jesuiias.
O metbodo por elles adoptado no regimen das missões do Paraguay
era, com algumpis modificações, seguido entre nós. Tinham « como
ali 9 a suprema inspecção das aldeias, que eram governadas por
maioraeê^ e a. cada chefe de familia assignava-se o terreno que devera
cultivar, para com o prpducto do seu irpbalho sustentar-se a si, e aos
seus. Kâo ibes era porém permittido alienar uma parte dos seus
reditos, que eram applicados ás deiçpezasçommuns arrecadadas pelos
pdres, que lambem inspeccionavam a permuta dos géneros da terra
com as mercadorias estrangeiras, quç abi iam fazer os mascates, depois
de competentemente aulhorisados. O registo dos indios rorro> era
remettido todos os dous aunos ao governador, firmado com o juramento
êas missionários, • deíf arte podiam elles saber do numero de bomei»
com que deviam conlar para oserviço regio, a que lodos eram obri-
gados por espaço de seis mezes, ficando o resto do tempo disponível
para se empregarem na lavoura, ou n'oulros quaesqucr serviços, que
resultassem em proveito seu, ou ainda maior do dos sous tutores (*).
Ao escambio dos géneros coloniaes pelos vindos da metrópole
chamavam os jesuítas permuta ; porque sendo o coinmercio defeso
pelos cânones aos ecciesiasticos, proscreviam a palavra, que poderia
escandalisar aos ouvidos pios, e conservavam a cousa em toda a sua
pureza, e sem mudança alguma na essência. A esta origem podemos
atlríbuir as colossaes riquezas da companhia entro nós , maxime si
reflectirmos que nâo tinha ella concurrenles para o commercio, que
em larga escala fazia ; sem que seja necessário dar credito ás lendas
populares , que nos pintam os padres sentados á cabeceira dos ricos
moribundos, aterrando a sua timorata consciência, e apontando-lhes
como o único meio do se reconciliarem com Deus o de legarem todos
os seus bens em beneficio dos collegios e mais casas do instituto. Si
semilhantes abusos foram praticados uma, outra vez, por este, ou
aquelle jesuita, não podia ser uma regra adoptada por toda uma classe
de homens illustrados, que deviam assaz respeitar a sua dignidade
para lançar mão de meios tão vergonhosos, e que quando conhecidos
redundariam em prejuizo seu. Cétait pis qu'un crimes c'itait unt
fautCj como dizia o já citado Talleyrand.
E' ordem da natureza, que a borrasca preceda a calma; assim
gozaram os jesuitas alguns annos da mais profunda paz antes que
contra elles se forjassem as armas , que deveram derriba-los do
pedestal em que se criam seguros. Esses dias serenos, que o céo lhes
concedia foram empregados na edificação e embellezamento das suas
igrejas e collegios; onde nao empregaram artistas estranhos, nSo
mandaram vir, o que lhes seria tfld fácil, pintores, estatuários,
archilectos, etc. ; mas desenvolvendo o gosto e o natural talento dos
indígenas faziam-nos aprender com os seus consócios, que se avan-
(*) Vide Stttthey History of Brazil tom III, chap. XXXIIL
141
tajavam nas artes liberacs, aquellasque mais necessárias julgavam
dever ser transplantadas para a America. E' d'est*arte que se ergueram
os magniGcos templos das missões do Uruguay hoje em ruinas,
graças á nossa indolência , ao desprezo a que votamos as nossas
cousas para ir com insensato enthusiasmo dar duetos a peregrinas e
quiçá mesquinhas obras. Sobre o culto, que reqdiam os jesuitas às
bellas artes, sobre o modo por que n'ellas iniciavam os naturaes do
paiz, ouçamos o juizo d*um var9o tão notável pelas suas luzes, como
pela sua alta posição. « Si pois os jesuitas exerciam , cultivavam e
« professavam as artes liberaes ou mechanicas, mui natural óque
« encontrando n' America um tào grande numero de sujeitos aptis-
« simos, e direi sem receio, dotados mui particularmente pelo autor
• da natureza i com talento especial para as artes , procurassem
« instrui-los n'es8as mesmas artes , tanto mais quanto era esse um
« meio efficacíssimo de domesticar e cívilisar , de fazer christàos os
t bárbaros indígenas do continente americano. [") »
Entregavam-se também com zelo admirável á educação da mo-
cidade; e foram elles os mestres dos beneméritos brazileiros cujos
escríptos formam a nossa litteratura nos séculos XVlI e XVIIL Se-
riamos ingratos si nffo reconhecêssemos os importantes serviços que
estes regulares prestaram á noesa terra, no numero dos quaes occupa
distincto logar o ensino disvellado , que davam á nossa juventude.
As aulas dos jesuitas eram as únicas , que então existiam no aban-
dono completo em que deixava-nos vegetar a metrópole ; e os moços
talentosos encontravam n'elles mestres eruditos, que sem pedantismo
abriam-lhes as portas do templo das sciencias. Aqui no Rio do
Janeiro ensinavam gratuitamente grammatica latina, pbilosophia,
iheologia dogmática e moral além das mathemalicas elementares , de
que eram summamente apaixonados, e conferiam aos seus alumnos ,
quando terminado o curso, o diploma de mestre em artes, que era
entfio mais estimado do que é hoje do doutor em qualquer faculdade.
Na Bahia possuíam as mesmas aulas, com additamento da de rhetorica,
(*) Vide Rev. Trím. do In&t. II, e G. B. tom. 4,< Prog. dcsenv. pelo scnr.
Desemb. SUva Pontes.
1A2
6 nas outras partos do Brazil, onde existiam coliegios, ou aioda
simples hospícios, era o ensino das primeiras letras e o da grammaiica
latina franqueado sem o menor ónus para os pais de família. Accu-
sa-se aos jesuítas (sem duvida para diminuir o tributo da gratidão
que por tal titulo lhes devemos pagar) de attrabirem ao grémio da
sua sociedade aquelles dos seus alumnos quo mais talentosos e
applicados se mostravam ; mas essa propaganda, si por ventura exisúu ,
a julgamos nós innocente; todos desejam fazer entrar para a &uíi|
corporação homens capazes de ennobrece-la ; e os jesuítas no Brazil
deveram recrutar nas fileiras dos seus discípulos os que tinham da
succeder-lhes: e é fácil de comprehonder que não convidaríamos
roais rudes, porém os mais hábeis : pensamos todavia que não em-
pregavaiQ elles meios reprovados para alliciarem inexpertos e incautos
mancebos.
Havia o século XVIII chegado ú metade da sua carreira quando
sobreveio um acontecimento na apparencia insignificante, mas que
veio profundamente exacerbar o ódio, que contra os jesuítas nunca
fora de todo extincto no Brazil, odío, a que, como dissemos, linha
dado causa às suas longas contestações áeerca da liberdade dos indiosi
e que era sempre alimentado pelo ciúme do monopólio, que exerciam
sobre os gcncros eoloniaes nos mercados de Lisboa e Porto ; assim
como pela inveja que inspiravam as suas extraordinárias riquezasw
Referimo-nos ao tratado de limites celebrado entre os gabinetes de
Lisboa e o de Madrid aos treze de Janeiro de 1750, n^ociado com
o Cto de pòr termo ás usurpações de território, que as colónias trans-
atlânticas mutuamente se faziam , chegando-se a um accordo sobre
a linha divisória entre as possessões das duas coroas. Desistindo ambas
as altas partes contractantes das suas pretenções fundadas na celebre
bulia de Alexandre VI declaravam que as cessões, que n'elle se
faziam não eram por tia de equivalentes, mas com o fim dê perpetuar
a união e harmonia entre as duas nações. Pelo ortigo 13 do mesmo
tratado cedia 6. M. F., a colónia do Sacramento, e todo o território
adjacente a ella na margem septentrional do Rio da Prata ; e pelo
16."* fazia expressa cessão S. M. C. dos povos, ou aldeias situadas na
margem oriental do UrugiiAy, peritaiuindo porém que os missionariod
sAhissem com os seus bens moveis e semoventes levando comsigo os
índios para aldea*lps em outras terras de Hespanha (*).
Esta ultima clausula feria vivamente os interesses dos jesuítas,
que 80 iinhfthi estabelecido naquellas fegiões; e por isso resolveram
oppôr-se a ella depois d6 terem debalde tentado embaraçar a sua
eiecuçâo» o que certamente conseguiriam a não ser a energia do
negociador portuguez» o visconde da Villa Nova da Cerveira. Vejamos
{wrque defendiam esses regulares com tanto aCnco, e até resistindo
formalmetite às ordens do sen governo, umas aldeias plantadas nas
ribas do Uruguay e habitadas por semi* bárbaros Guaranys,
Gorria o anno de 1610, quando dous jesuítas Marcello de Loren-
zana e Friíncisco de S. Martin» conseguiram que os ferozes Charruas
que vagueavam por esses ermos se curvassem ás suas doces palavras,
fundando algumas tobtiSf que serviram de núcleo ás futuras reduc-
çSes.Gfaças aos esforços dos primeiros missionários e doe seus imme-
diatos sucoessores, rápido foi o incremento : de modo que já vinte e
lun ànnos depois (em 1631) contavam-se vinte povoações , regidas
pelo gevenio Ibeoeraticè, o melhor, como setprime Rayoal, si
fofise possível oohse^vh-lo na sua pureza. Leamos o quadro, que da
sua vida nos traça uti escriplor» de quem não fazemos o elogio ,
porque d^ieso no-lo vedam os estreitos laços de parentesco , que a
die nos ligam.
« Fatiavam todos a oiesma lingua, o guarany (diz o visconde de
« S. Leopoldo) ; sem leis civis ; pois que entre elles era quaâ imper-
« ceptivel o direito da propriedade, nem mesmo das producções da
« sorte de terras, que se adjudicava a cada pei de família , era licito
« dispor a seu arbítrio sem a direcção do cura ; os artíGces e lavra-
« dores levavam á risca aos depósitos públicos o fructo do seu suor,
tf e das suas fadigas, vivendo em commum ; os religiosos directores
« com os ms^btrados do povo (do modo, que ao diante diremos)
« proviam, e velavam sobre as precisões de cada um; sem leis
(•) Vide Atmaes aa IVov. de S. Pedro ^elo viêCíotide de S, Leopoldo, cap. 3.*
ia
« penaes, pois que todas eram preceitos de religião, as transgressões
« se puniam com jejuns , oracOes , cárceres , e algumas vezes flagel-
« lações e extermínio ; o culpado se accusava elle mesmo aos pés
« do magistrado, e recebia o castigo com acções do graças: no
« fundo dos sertões d'America parecia emfim realísada essa r^-
« blica ideiada por Platão e por Thomaz Horus {*]. »
Estes vassallos fieis da compnhia de Jesus, que ao tempo da
suppressão orçavam-se em trinta mil unicamente nos sete povos que
couberam em partilha à coroa portuguesa , fertilisavam um solo já
ubérrimo , com o seu trabalho , e davam aos bemdiioi padres lucros
incalculáveis. Cultivavam o algodão , o tabaco t a canna d'assucar ,
e toda a qualidade de grãos» mas o producto que maior interesse
lhes dava era da erva matte, também chamada chá do Paraguay ,
que reniettiam em grande quantidade para os mercados de S. Fé e
Corrientes.
Além da lavoura empregavam-se também os indios na criação do
gado vaccum e cavallar nas vastíssimas estancias, que possuiam os
paraguayos nos lugares os mais asados para tal fim. Segundo os
cálculos mais moderados a renda annual d'essas missões elevava-se
à somma de cem mil pesos fortes, dos quaes deduzida uma pequena
parcella para os soccorros , que deviam ser fornecidos aos necessita-
dos, e o adorno e reparação dos templos, e mais despezas com o
culto, era o restante remettido para Roma, centro da unidade
jesuítica, afim de fazer face aos gastos communs e urgências da
companhia.
Aqui, como em todas as partes, tinham vedado a entrada das
missões a todos os individues, embora da mesma nação, que não
tivessem a honra de pertencer ao instituto de Loyola, sempre debaixo
do especioso motivo de receiarem a corrupção dos costumes dos seus
administrados; levando esse seu desmarcado zelo a ponto de terem ,
como já deixamos dito , obstado à visita pastoral do bispo do Para-
guay D. Bernardino de Cardinas.
(V Vide Annaes da Província de S, Pedro, cap. XIII, pag. 256.
1A5
Para r)iic nada faltasse ao completo domínio dos jesuítas n'essas
tongínqti^s paragens até tiveram um exercito ás suas ordens devida-
mente disciplinado ; havendo para isso obtido o assenso do governo
da metrópole. Pela reai cédula de 20 de setembro de 1649 foi con-
cedida a licença, que tinham impetrado, d'ndestrarem os índios
christãos velhos no manejo das armas de fogo ; e que para instruí-los
Ibes fosse permiltido levar das províncias do Chili alguns irmãos
roadjuctores, que houvessem sido soldados; pretextando para isso
a necessidade, em que se viam dolorosam^inte collocados, de repellir
os aggressores dos Portuguezes (*).
Comprehende-se facilmente o quanto desgostaria aos jesuítas a
noticia dn próxima chegada ás suas missões dos commissarios por-
tuguez e hespanbot, que iam em nome dos seus respectivos sobe-
ranos tornar effeciivas as clausulas estipuladas no novo tratado de
limites. Nâo havia tempo a perder; era preciso lançar mão da diplo-
macia, e em ultimo caso recorrer ás armas, para o que.» como vimos,
estavam preparados. Allegando que precisavam d*algum tempo para
effeituarem a sua mudança, colherem os frutos pendentes, e muda-
rem o gado das estancias, obtiveram que por muito tempo se sustcn.
tassem ns operações da demarcação, a que iam proceder o marqnez
do Vai de Lirios e o general Gomes Freire d'Anílrade. Esperavam
que os governos d'ambos os paizes interessados na reaiisaçâo d'esse
pacto, que tanto os contrariava, mudassem de re.soluçno desengnnadog
pelas diíTiculdadeis, qunsi insuperáveis com que tinhim de lutar;
quando porém viram que nada seria rapaz de dernovò-los do propó-
sito, que haviam formado, fizeram appello á ultima ratio regum,
O padre Lourenço Balda, cura do povo de S. Miguel, foi a alma
da rebeliiilo, foi eile que concitou os pobres e pacíficos índios a se
sublevarem contra as decisões dos soberanos, de quem nào tinham
(*) Naturalmente dos paulistas, que algumas vpzes peneiravam em suas
aldeias para fazer escravos os índios, que viviam sujeitos á administração
espiritual e temporal dos padres da companhia: do que amargamente se
queiíava o conde de Casieílar, \ire-rel do Peru cm uma nota datada do 1.*
<Í0 janeiro de HM9,
XVIII 1 y
iA6
a menor noticia, innta era n ignorância, que a tal respeito, bem come
a muitos outros, deixavam-nos permanecer os seus sanctos padres /.. .
Por documentos autlienticos^ que tivemos occasiào de compulsar,
está hoje mais que provada a complicidade dos jesuitas n'essa fatal
trama cujos resultados nào podiam deixar de ser funestissimos para
os indígenas, de quem se declaravam protectores.
Os commissionaríos régios communícando ás suas respectivas
cortes a resistência que as suas ordens tinham encontrado da parte
dos naturaes nao dissimularam ser ella devida ás instigações dos
filhos de Loyoia, e o gabinete de S. Ildefonso estranhando alta*
mento o proceder d*elles, escrevia a seu delegado o roaquez de Vai
de Liríos, estas notáveis palavras:
« En Ia carta de officio , que escribo a V. Exc. vera que Su
* Mageslad ha descubierto, y assegurando-so de que los jesuítas
« de esta província son la causa total de la rebeldia de los índios.
« Y mas de las providencias, que digo en ella haber tomado, dts-
« pidíendo a su confessor; y mandando que seembien mil hombres,
« me ha escriplo una carta (própria de un soberano) para que yo
• exhorte ai provincial hechando-le en cara el delicto de infedelí-
Cl dade, y diciendo-le, que si luego luego no entrega los pueblos
« pacificamente sin que se derrame una gola de sangre, tendra Su
« Magestad esta prueba mas relevante; procederá contra el y los
« de mas padres por todas las leys de los derechos canónico y civil,
« los tratará como reos de lesa magestad, y los hará responsa-
« bles a Dios de todas las vidas innocentes, que se sacrificas-
« sem, ele. (*). »
Pela corte de Lisboa foram Iransmittidas a Gomes Freire d'An-
drada as mais terminantes recommendaçõcs d'auxiliar ao general
hespanhol , pondo termo o mais cedo possível a tâo escandalosa
rebeldia.
(*) Vide Relação Abrev, da Jiep», que os Rclig, Jetuiias estabeleceram nos
domínios ultr. de Port, e Uesp, e da guerra f que Welles moveram contra os
exércitos diambas as potencias, inserta na Rcv. Trim. do InsU Hist. e Geog.
Brás. tom. à^*"
Íà7
Duas vezes moiirram-se os índios eom o exercito combinado; uma
a 10 do fevereiro de 1756. capitaneados |ielo valente Sepé, perdendo
nesse conflicto mil eduzenios homens, diRereates peçis d'artilberia
e outros despojos beHícos; e outra a iO de maio do mesmo anno,
em que foi complotameme desbaratado o seu exercite composto de
mais de três mil combatentes. Alem doestas duas batalhas campots
houveram muitas refregas entre as partidas volarftes , portoguezas
o hespanliolas , que batiam a campanha, e troc^ de indigenas , que
surgiam como que do centro da (erra, para tolher^lhes o passo.
Concluindo a participação oflicíal da segunda grande acçSo» que
teve lugar n'esse anno nas campinas do stil , assim se exprimia »
general Gomes Freire d'Andrada referindo-su ás fortificações levan-
tadas para obstar a passagem do rio Churieby : « A plaiita bem dú
« a vér a defensa como eslava própria. E si eib é feita pelos índios
« devemos persuadir-nos que em lugar de doutrina se Mies tem
i< ensinado architectura miliuir. •
Perdidas as ultimas esperanças da defenderem o |)aiz / a cujo
domínio se haviam arrogado, empregaram o ultimo recurso, que em
scmílhantes casos aconselha a coragem da desesperação. O fogo
devora reduzira cinzas aquílloque lhes fora impossível defender, e as
labaredas, que já prendiam o magnifico templo do povo de S. Mi-
p:ue1 , quando n'elle entraram os ailiados no dia 1G do maio, adver-
tiam-lhes que se apressassem si acaso queriam encontrar ainda
illesos os magnificos monumentos , que attcstassom á posteridade a
esplendida habitação dos padres. Um dos nossos melhores poetas
i. Basílio da Gama descreveu com as delicadas tintas do seu pri-
moroso pincel a scena lastimável de que acabamos de fallar , e para
ali remeltemos o leitor curioso.
Assim terminou a guerra civil, suscitada pelos jesuítas na extre-
midade meridional do Brazil, emquanto que ao norte oppunham
tenaz, posto que m<-nos ruidosa opposiçâo. No Pará e Maranhão,
foi incumbido o respectivo governador e capitão general Francisco
Xavier Furtado de Mendonça, por despachos do 30 d'Abril de 1753
de presidir por parte de â. M. F. ás conferencias, que com o com-
íás
míssario castelhano se deveram abrir afiin de regiilar-se os IrmiCes
das possesj^ões do que os dous reinos da península ibérica eram
senhores n'esla.<f partes d'Americn. Ainda que a perda dos jcsuitas
nas margens do Rio Negro nào fosse equlvatonlo ú que experi-
mentavam nas do Uruguay e Paraná , todavia preparavam-se porá
a demarcarão dos limites.
Os meros de que se serviram no Pará um pouco diiteriam do
methodo por elles empregado ao sul do estado. Sublevaram con>o
operação previa os índios das visinhanças d'aqueile lugar que fora
destinado para as conferencias ; depois amotinaram os da capital
•do Pará afim de que não encontrasse o governador gente dis()onivel
para tripular as canoas, e mais objectos de serviço, e fínalmento
Qtó fomentaram deserções entre os soldados , por nâo poderem
faze-lo entre os ofliciaes. Por mais graves que pareç^mi taes accusa-
ções nós as mencionamos firmados no juijso do autores, que temo$^
por Gdedignos, entre outros citaremos o nome do sargento-mór
António Ladisláo Monteiro Baena, no seu « Compendio das Eras
da Província do Pará,* a quem julgamos bem informado, e muito
em estado de discernir a verdade. Citemos suas piopnas palavra*:
« Em junho (de 1757) assoma no Pará a iioiicia de lerem
« desertado d'aldèia do Mariuá p.'ira as uus>ões' da capitania do
« Omaguas dos domínios d'el-rei catholíco cenlo e vinte soldados
« de menos obrigações e de reprovado procedimen:o, em virtude
« dos manejos clandestinos dos ja^uitas, os quaes ndo podendo obrar
« na honra e fidelidade dos odiclaes obravam comludo n*aquelle
« numero de combatentes, que ainda ampliaram o crinte roubando
« os armazéns reaes de muniròes de guerra e crouiro.s muilos gene-
< ros, que n*tílles havia, o tiraram da povoação conlribuiçòci ras-
« pando-a de modo, que para comer foi preciso aos moradores
« mandar vir os viveres de longo (*). »
Fruslraneos foram seus planos de revolta e passaram pelo desgosto
do verem-nos por toda a parte repellidos com gramle descrédito dos
(•) Baena — Compendio das Eras da Prov. do Pará, pag. 248.
149
seus autores, e o mais é que de toda a sociedade de Jesus, que artó
certo ponlo se tornava solidaria com elles. Si as mais severas ordena
tivessem partido de Roma, ou ainda dos seus superiores locaes,
cremos que as cousas nfio chegariam a taes excessos, nem a animad-
versão cootra o instituto seria tào geral. Houve porém imprudência e
grandissima irreflexâo no seu proceder, e cusla-nos a crer como
homens cuja finura e tacto dos negócios lemos por mais d*uma vez
assignulado, nâo tivessem notado que d'est'arto apressavam a sua
queda fornecendo uma poderosa arma aos seus contrários. Eram mui
iilustrados para conliecerem (|uo o espirito dos séculos lhes era
contrario, e que unicamente restava-llkes appellar para melhores
dias e et^perarem pela reacç/io, que cedo, ou tarde, se manifestaria
contra as idéas dominantes. Toda a abstenção da politica, a nenhuma
ingerência nos negócios públicos erum reclamadas pelas circums-
tancias: o a exemplo dos peritos nadadores deveram curvar a cabeçal
para deixarem passar a onda, sem procurar lutar contra eila. Deplo-
rável obstina^jio no emprego de meius reprovados, para nâo expli-
carmos pela força do destino, precipitava o baixel da companhia
contra os parcéis: e os seus palinuros cerravam os ouvidos para nâo
ouvir a linguagem da verdade, que escoa va-se dos lábios de doutos e
prudentes varões, condemnados á sorte de Cassandra.
O marquez de Pombal , cuja causa da indisposição e nntipalhia
que consagrava aos jesiiilas já assigiinhimos na primeira parle iresle
nosso tosco trabalho, espreitava com iina malicia os erros pr elltis
commettidos; e, qual lobo faminto, aguçava as garras aguardando
a sua victíma. A impolilica, para não qualifiearnios de insensata
resistência, quo fizeram ao tratado de limites de 1750, serviu melhor
as intenções do primeiro ministro d'el-rei D. José do que toda essa
propaganda philosophica, que naluralisava em Purlugal , e em cujas
brochuras e libellos era horrivelmente guerreada, e não poucas vezes
caluroniada a grande obra do santo byscainho. Accusava-se a com-
panhia de sequestrar em proveito sou o suor dos míseros indígenas,
de conserva-los em uma tutela forçada; e ei-la que so encarrega por
si mesma do demonstrar a veracidade de laes argui'jõuá, ievandu-oa
150.
DO campo da batalha em defesa dos seus interesses gravemente
lesados.
Antes de descarregar o derradeiro golpe quiz Pombal verse inti-
midava aos jesuíta^, fazendo-os recuar ; e para tal fim impretrou d#
S. P. Benedicto XIV o breve de l."" de Abril de i758 pelo qual era
o cardeal Saldanha investido das funcçGes de visitador apostólico e
reformador dos claigos regulares da companhia de Jesus. Seu
primeiro acto foi o da publicação d'um mandamento ordenando a
suspensão do escandaloso commerciOt que os sobreditos regulares
«stavam publicamente fazendo em Portugal o seus dominios. Esta
medida era summamente justa e reclamada por todos os que nutriam
sinceros desejos de podar a arvore em vez de derriba-la; mas o
patriarcba de Lisboa, cardeal Manoel» ntfo se contentou com admoes-
tações e moios brandos e affixou um edital datado de 7 de Junho do
referido anno, em que suspendia os mesmos regulares dos exercicios
de confessarem e pregarem no seu patríarchado (*). Depois d'um
acto tão violento quáo desnecessário; mas que foi infelizmente
imitado por todos os prelados do reino era impossivel a conciliação, e
a guerra estava declarada, a perseguição systematisada em contra-
dicção ás ordens do soberano ponlifice.
Nào juigando-se ainda suíTicientes os capitulos de accusaçK^o
formulados contra os jesuitns, muitos dos quaes, como por vezes
temos dito, eram d'uma triste realidade, veio o attentado contra os
dias d el-rei D. José fornecer mais uma verba para ser lanceada na
conta corrente da companhia. Era preciso esgotar a taça da odiosidado
para justificar o decreto de 3 de Setembro de 1759, em que eram os
filhos lie Loyola firoscriplos, dcsnatur alisados , e lançados fora do
reino e seus dominios. Repetimos aqui o que já em outro logar
dissemos: nâo negamos ao governo portuguez, nem a nenhum outro,
o direito de tirar a existência civil nos seus estados a esla, ou áquella
corporação religiosa, quando assim o exijam seus interesses políticos.
(•) Vide l)educ(;5o C/iironol. e Analj. dos crimes dos Jesuítas pelo Descmbg,
Jo:)é de Scabia du SU\ii.
151
o que unicamente estranhamos sào os abusos de poder , innto Ja
parte do régio edicto» como ainda mais da dos seus executores.
Os bispos do Brazil tinham sido nomeados visitadores e reforma-
dores dos jesuítas era suas respectivas dioceses por delegação do
cardeal Saldanha ; e n'este emprego houveram-se uns com excessivo
rigor, como D. Miguel de BuIhOes no Pará, e outros com louvável
moderação, como D. frei Antonio de S. José no Maranhão, e D.
José Botelho de Mattos na Bahia.
A mesma difierença no proceder noteu-se quando foram in-
cumbidos de tornar effectivas as disposições do decreto de 3 do
Setembro de 1759 contentando-se alguns com serem meros executores
adoçando ainda quanto estava ao seu alcance a aspereza do legislador,
6 querendo outros mostrar trop de lèU. Paliando a respeito doestes
serve-se o illustre liisloriador inglez R. Southey d*esias enérgicas
palavras: « There are aiways wicked Instruments enough to carry
« into fuU efTect the worst intentions of injust and tyrannica!
f power. »
Não contente D. Miguel de Bulhões de ter suspendido do uso do
ordens aos padres da companhia de Jesus no seu bispado, como lhe
era expressamente ordenado de Lisboa, e te-los rometlidos em numero
de cento e cíncoenta accumulados no porão d'um péssimo navio para
acidado de S. Luiz do Maranhão; foi ainda ali exercer as suas pouco
caridosas funcções, por ter o bispo d'essa diocese, recusado-se a ser
instrumento de medidas, que inteiramente desapprovava partindo
para a visite episcopal de longínquas parochias; recebendo Bulhões
em recompensa do seu zelo o ser trasladado para a sé de Leiria. Os
jesuítas da Parahyba e Ceará foram mandados para o Recife, onde o
governador Luiz Diogo Lobo da Silva, e o bispo D. Francisco Xavier
Aranha , os receberam com summa begnidade : sendo d'ali trans-
portedos para Lisboa em um navio, que outr'ora pertencia á sua socie-
dade, e no qual fazia o provincial a visita ás diversas casas da ordem,
espalhadas pelas capitanias do Brazil (*).
(*) Wác R. SouthcT, History of Braiil chap, XL.
152
No melropoití do Brazil rclií];ioso, onde já enlíiof^overnnva o arce*
l)ispo D. Joaquim Borges Figiieirôa , por ler re^^íignado o pallio o
mencionado D. José Botelho de Mallos, foram os jesiiilas privados do
exercício das suas fiincçôes sacerdotoes, assim como preredenlemenle
haviam sido da adminislraç?ío das missOes e aldeias de indios,
confiadas a parochos seculares, e no dia 18 do Abril do 1760 con-
duzidos debaixo de grande escolln, c com lodo o apparalo de força,
para bordo das náos N. S. do Carmo e N S. d* Ajuda, que levaram-
nos a Li?boa; onde acharam inprala liospedafçem na torre de S.
Juliào até serem desterrados para Itália os que não quizeram sujeilar-se
ás condições estipuladas pela lei de 28 de Agosto da 1767 {*).
D. frei António do Desterro, bispo do Rio de Janeiro, não foi
menos severo para com os proscriptos do que seu collega do Pará;
talvez porque, como diz Soutbey, « í.eing a Friar he appears on ilàs
« occasion lo hare indulged the enry and hatred tvith wldcli ihat
« description of Religioners commonljr rcgarded ihe Jesuits, » (**)
Esta aversão que consagrava á companhia revelou -a elle mais do que
nenhum outro prelado em seus actos olBciaes. Depois de ter privado
aos jesuítas por carta pastoral de 8 de Novembro de 1759, do mi-
nistério do púlpito e confissionario; assim como o de celebrarem,
e ainda ofliciarem em quaesquer igreja*?, capellas e oratórios, recom-
mendando aos fieis que fugissem do contagio das suas pestíferas
opiniões; pelos edítaes de 17 e 29 do referido mez e anno accusava a
esses regulares de terem sonegado reUqaias, rasos sagrados e para •
mentos das igrejas, ordenando a todos que soubessem onde elles
os tinham occulto que fossem revela-lo ao ordinário, sob pena
de excommunhso.
Pedia a decência que se nào lançassem tHo feias nódoas sobre a
roupeta da companhia ; porque ella pouco diíTería da batina do padre,
e do burel do monge.
Vinham erabarcar-se n*esta capital os padres cujos collegios
n Vide Accioli, Mem. Hist. e Polit. da Prov. da Bahia, tom. i.* png. 222.
(•*) Hislory of Brazil cliap. XL.
153
eslavam situadas ao sul do Brazil ; em cujo numero comprehendiam-se
os de S. Paulo, que apezar das antigas queixas, que os moradores
nutriam contra etlos furam todavia tratados na hora da adversidade
com heróica generosidade; o seu bispo D. frei António da Madre
de Deus, seguindo, apezar de ser também frade, uma politica
opposta á do nosso diocesano , cncheu-os de obséquios não receando
de arrostar por semilhante conducta as iras do imperioso ministro,
6 a dos seus satellites, mil vezes mais temível. Embarcados em um só
navio lodos os jesuitas das capitanias mcridionaes, e em numero de
cento e quarenta e cinco, foram entregues ao capricho das ondas»
sem os meios necessários para fazer tão longa qu9o penosa travessia ,
recusando-lhes até um cirurgião !
Assim deixaram os jesuitas as nossas plagas depois de terem vivido
entre nós por espaço de duzentos o vinte e um annos; depois de
terem regado com o seu sangue a arvore da cruz ; depois de terem
roteado nossas virgens florestas^ depois de terem erguido, para servi r-
roo-nos das palavras do sábio Dr. Martins, os únicos monumentos
grandiosos ainda existentes, e deixado instituições, que aió o
presente não desappareceram de todo, nem perderam a sua influencia.
No nosso humilde entender pensamos que si esses regulares
mereceram pelos abusos que praticaram do seu primitivo e santíssimo
instituto no velho mundo, e ainda mesmo n'America, o breve de
suppressão, que contra elles fulminou o beatissimo padre Clemente
XIV, tinham adquirido jus pelos relevantes serviços prestados em
outras eras em prol da religião e das letras a serem tratados com mais
doçura : pois que tal oxigiam-no a gratidão dos povos e a honra dos
governos.
Pelo que nos diz respeito cremos que grande foi a nossa perda com
a sua completa oxtincção : devêramos ter imitado o procedimento da
Rússia , onde se conservaram encarregados do ensino da mocidade,
para o que sempre se mostraram summamente aptos ; pois que já em
seu tempo dizia Bacon: iratando^se de educação o melhor é con-
sultar as escolas dos jesuitas. Si depois da sua secularisaçao continuas-
sem entre bós incumbidos da educação da juventude e igualmente da
X?iii 20
15i
calhechese dos indígenas^ uma vez que nâo lhes fosse esla exclusi-
vamente entregue, concorrendo com as demais ordens religiosas^ e
partilhando a administração das aldeias com os magistrados régios
para tal firo nomeados , é de esperar que muito tivesse lucrado a nossa
terra com semilhante methodo, e que el-rei de Portugal podesse talvez
melhor exprimir a seu respeito o que acerca d'elle8 dizia em 1783
Catharína II em sua carta ao papa : a Os motivos que me fizeram
« concedera minha protecção aos jesuitassão fundados tanto na razSo
it e na justiça como na esperança de serem úteis aos meus estados,
t Essa pacifica e innocente reuniSo de homens ficará no meu
« império; porque de todas as sociedades catholicas são os mais
« capazes de instruir os meus vassallos, de inspirar-lhes sentimentos
« de humanidade com os verdeiros principies da religifio christãa.
c Estou resolvida a sustentar esses padres contra todos os padres, e
• (aço fiisto o meu dever, porque os contemplo como vassallos úteis
« e innoceqtes. »
S. M. F. não podia seguir o exemplo da Czarína sustentando iotis
úribus no seu império uma associaçfio dissolvida por quem poder
tinha para isso ; e si citamos o trecho acima foi para mostrar que
possuiam os jesuítas qualidades, reconhecidas até pelos príncipes
hereges e schismaticos, que nos seriam grandemente proficuas
tomando-se a precaução de priva-los dos meios dos quaes uma dolorosa
experiência mostrava terem tanto abusado. Em um paiz novo em que
nfio superabundayam as intelligencias , para que privar-nos do
auxilio de homens, a cuja illustraçSo seus próprios contrários rendiam
preito e homenagem? Não seria mais conveniente conservar esses
padres despidos do seu antigo caracter t sujeitos em tudo á jurisdicção
episcopal ?
Foi um erro, dir-nos-ha alguém, o total extermínio de homens que
estavam afeitos ao nosso modo de viver, que comprehendiam as nossas
necessidades; mas procuremos remediar tal erro, e agora que se acha
restabelecida a companhia de Jesus convidemo*la para que venha
de novo estabelecer-se entre nós. « Havendo entre nds pelo menos
« cento e cincoenta mil índios bravos (diz J. Silvestre Rebello) e
166
• sendo o primeiro dos deveres do governo o tratar da salvaçio
« e civilisaçSo d'aquelles pobres infelizes , é claro que d'isso se deva
« seriamente occupar. Os jesuítas , segundo as suas instituições,
« foram em outro tempo os mais próprios para isso ; ora , como a^
« instituições sSo ainda as mesmas, é evidente, que d'elles se deve o
« governo servir com preferencia. »
« Deve o governo pois propor ao corpo legislativo a abolição da
« lei que os exterminou do Brazil, e convidar os mesmos a vir de
« novo fundar missões no nosso império. O interior da provincia
• de S. Paulo ; os matos virgens , que separam as provincias da
« Capitania, de Minas e Babia ; as províncias de Gojazes e Matio
« Grosso ; e mais do que todas as outras a do Pará, fornecem tocali-
1 dades abundantes para a fundaçSo das missGes que sequizerem(*j. >
Cremos que a maior dificuldade não consiste na revogação da
ordenança de 3 de Setembro de 1759, apezar de ter o gabinete do
Rio de Janeiro protestado em 1.* de Abril de 1815 contra os primeiros
assomos da resurreíçio dos jesuitas ; mas sim no espirito publico, que
continua a ser-lhes contrario : e ainda ultimamente tivemos uma
prova da veracidade d'esta nossa proposiçSo.
Alguns padres da companhia de Jesus, obrigados a deixar a pro-
vincia de Buenos-Ayres , para onde os chamara o dictador Rosas;
por contrariarem-no talvez em sua politica, procuraram um asylo nas
provincias brazileiras do Rio Grande do Sul , e de Santa Catharina,
e com o favor da tolerância religiosa, que felizmente existe entre nós,
não só exerceram as suas ordens com vénia do nosso virtuoso prelado,
como queligaram-se em associação eseguiram quanto lhes permiitiam
as circumstancias anormaes, em que se achavam , as regras do seu
instituto. Occuparam-se na primeira das referidas provincias com
a catbechese dos indígenas e na segunda com a educação da moci-
dade em uma casa» que para esse fim estabeleceram. O ministro da
justiça, qne entso era o Sr. Manoel António Galvão, dando conta á
{*) Vide Mem. doenvolvendo o pruf rioima: « Qual era a fómia por que os
jeiuitaf administraTam at povoações dos indios, que estavam a leu cargo? •
MiBUicríplo do Inst. H. e Geogr. BtaiUeiro.
156
tfsscrublea geral no começo da sessão de 1845 doeste aconlecimehto
depois de ter mencionado os louváveis esforços dos missionários om
favor da propagação da fé, e em beneficio publico termina esta parte
do seu relatório com estas palavras, que demonstram o quanto era
melindroso o exigir-se uma medida legislativa que aulhorisasse a
existência legal dos jesuitas no Brazil.
o Cumpro porém dcclarar-vos , que taes missionários pertencem
« á exlincta companhia de Jesus. Esta observação justificará a cir-
«( cumspecçSo com que o governo pretende resolver este assumpto,
« que á sua deliberação sujeitou no citado ofllcio o presidente da
« provincia de S. Catharina. »
£m seu relatório apresentado á assembléa provincial cm 1851 o
presidente da já mencionada provincia (o Sr. Dr. João José Coiti*
nhoj lamentando o atraso da instrucção primaria comprazia-sc cm
commemorar o amsidcrarcl progresso da secundaria,' devida ao zelo
dos padres jesuitas, para cuja casa pedia aos cofres provinciaes o
ténue subsidio de seiscentos mil réis. Apezar das reconhecidas vanta-
gens, que resultavam á juventude do seu ensino a prestação, que
lhes dava a provincia foi-ibes depois retirada, e contra clles mo-
veu-sc a mais implacável guerra tanto ahi , coroo no Rio Grande
do Sul, com cujo jornalismo tivemos ocasião do travar polemica a
seu respeito. Si somos bem informado, esses regulares já abandona-
ram S. Catharina ; o mui curta será a sua persistência na extremi-
dade meridional do império, a menos que não se mudem as ideias,
que contra elles dominam.
Pelo que temos dito já sabe o leitor qual é o nosso modo de
pensar acerca dos jesuítas , e as razões pelas quaes modificamos o
nosso juizo sobre ellcs. Formulemos agora este juizo com a maior
franqueza e liberdade, destacado de qualquer outra consideração,
6 terminando o grosseiro quadro que submettemos á correcção dos
doutos.
O instituto de Loyola no Brazil, bem como em toda a parte,
passou por diíTerentes phases: corrompeu-se depois com o andar dos
tempos; mas em sua degeneração foi menos fatal á nossa terra do
157
que ao velho continente, porque o nosso theatro era mesquinho o
por isso menos destros os actores, que n'elle representaram. Como
brazlleiro nâo deixaremos jamais de tributar o testemunho da nossa
gratidão pelos serviços que ao paiz prestaram : nós tudo lhe deve-
mos; formam a antiguidade da nossa historia, e foram os architectos
da presente prosperidade, e da nossa futura grandeza. Hoje porém
não desejamos a sua velta : ser-nos-hia ella damnosa, uma vez que
se não despissem pisando as nossas fronteiras do manto de polilicos,
o que seria talvez exigir d'elles o impossivel. Cônscios da sua supe-
rioridade intellectual querem dominar por ella ; esquecem muitas
vezes o lugar de modestos operários do Evangelho para se emara-
nharem no intrincado labyrintho da politica, e enláo tomam-so
prejudiciaeS; deixam de ser uma congregação religiosa para se con-
verterem em seita politica, em carbonários da Igreja. Tal é a nossa
opinião.
Rio de Janeiro, 12 de Outubro de 1854.
O Cónego Dr. J. C. Fernandes Pinheiro.
gJOOOCF
r*io d« Jueiro, Typographia VoítcimI de LAEHMEAT, ru» dm lofilidoii 61 B
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO EfilEOGMPlIICO DO BRÂZIL.
3.' SERIE. — N,- 18. — 2.- TKIMESTRE l)E 1865.
DA
€APITAMA M BAHIA
E
CIDADE DE S. SALVADOR.
Évora, 26 de Agosto de 1534.
(Ms. ufTerecido ao Instituto por S. M« o Imperador.)
1 . Dom João por graça de Deos rei de Portugal e dos Algarves
d'aquem e d'além mar, em Africa senhor de Guiné, e da conquista,
navegação e commercio de Ethiopia, Arábia, Pérsia e da índia etc.
A quantos esta minha carta virem faço saber, que eu fiz ora doação
e mercê a Francisco Pereira Coutinho, fidalgo de minha casa, para
file e todos seus filhos, netos, herdeiros c successores de juro e her-
dade para sempre da capitania e governança de cincoenta léguas do
terra maninha, costa do Brazil, as quaes começarão na ponta do rio
de S. Francisco, e correm para o Sul até á ponta da Bahia de todos
os Santos, segundo mais inteiramente é conlbeúdo e declarado na
carta de doação, que da dita terra lhe tenho passado, e por ser muito
XVIII 21
ICO
necessário haver alii foral dos direitos, foros, tributos e cousas, que
se na dita terra hão de pagar, assi do que a mim e a coroa de meus
reinos pertence, como do que pertence ao dito capitão e bem da dita
doação; Eu havendo respeito á qualidade da dita terra, e a se ora
novamente ir pvoar, morar e aproveitar, e para que isto melhor e
mais cedo faça, sentíndo-o assi por serviço de Deose meu, e bem
do dito capitão, e moradores da dita terra, e por folgar de lhes fazer
mercê, Ivouve por bem de mandar fazer, e ordenar o dito foral na
forma o maneira seguinte:
( Primeiramente o capitão da dita capitania e seus successores darão
6 repartirão todâs as terras d*ellas de sesmaria a quaesquçr pessoas
de qualquer qualidade e condição que ^fita , comtanto que sejam
christãos, livremente, sem foro nem direito algum, sómente_o
dizimo, que serão obrij;ados a pa^^r à ordem do mestrado de nosso
SenhorJ[esus Çhristo, de todo que nas ditas terras houver, as quaes
sesmarias darão da forma e maneira , que se contém em minhas
ordenações, e não poderão tomar terra alguma para si de sesmarias
nem para sua mulher, nem para filhos herdeiros da dita capitania,
e porém podé-la-hão dar aos outros filhos si os tiverem , que não
forem herdeiros da dita capitania, e assi aos seus parentes como se
contóm em sua doação, esi algum dos filhos que não forem herdeiros
da dita capitania, ou qualquer outra pessoa tiver alguma sesmaria
por qualquer maneira que a tenha, e vier a herdar a dita capitania ,
será obrigado do dia que nella succeder a um anno de largar e
trespassar a tal sesmaria em outra pessoa , e não a trespassando no
* dito tempo, perderá para mim a dita sesmaria com mais outro tanto
preço quanto ella valer, e por esta mando ao meu feitor ou almoxa*
rife que por mim na dita capitania estiver, que em tal caso lance
logo mão pela dita terra para mim, a faça assentar no livro dos meus
próprios , e faça execução pela valia d*el]a , e não o fazendo assi hei
por bem que perca seu oiBcio e me pague de sua fazenda outro tanto
quanto montar na valia da dita terra.
2. Havendo nas terras da dita capitania costas, mares, riose
babias d'dlla qual^^uer sorte de pedreira^ pérolas, aljôfar, ouro^
161
pratn, cornl, cobre, estanho e chumbo, ou qualquer outra sorlo <lc
nietaU p^ar-se-ha a mim o q^ijínto, do cjual ciuinto haverá o capitão
sua dizima como so contém era sua doação, e ser-Ihe-ha entregue a
parte que na ditn dizima montar ao tempo que se o dilo quinto por
roeusoflílciaes arrecadar para mim.
3. p páo do Bray.il da dita capitania 9 assi qualquer especiaria,
^M drogaria de qualquer quali^lade que seja que nelta houver per-
tencerá a mim, e jserá sempre tudo meu e de meus suceessores sem
o dito capitão nem outra alguma pessoa poder tratar das ditas cousas
nem em algumas d'ellas lá na terra, nem as poderão vender, nem
tirar para meus reinos e senhorios nem para fora d'elles, sob pena
de quem o contrario fizer perder por isso toda a sua fazenda para
a coroa do reino e ser degradado para a Ilha de S. Thomé para
sempre, e por emquanto ao Brasil hei por bem que o dilo capitão e
assi os moradores da dita capitania se possam aproveitar d'elle no
que lhes ahi na terra fôr necessário não sendo em o queimar porquo
queimando-o incorreram nas ditas penas.
4. De todo o pescado jgue se na dita capitania pescar náo sendo
á cantí^ cagará a dizima que é de dez peixes um á ordem, e além
da dita dizima hei por bem que se pague mais meia dizima, que é
de \inte peixes um, a qual meia dizima o capitão da dita capitania
haverá a arrecadação para si porquanto lhe tenho d*ella feito mercê
como se contém era sua doação.
5. Querendo o dito capitão, moradores e povoadores da dita capi-
tania trazer ou mandar trazer por si , ou por outrem a meus reinos
e senhorios quaesquer sortes de mercadorias que na dita terra e
partes d*ella houver, tirado escravos, e as outras cousas que acima
são defezas, pode-lo-h9o fazer, e serão recolhidos e agazalhados em
quaesquer portos e cidades, villas ou lugares dos ditos meus reinos
e senhorios, em que vierem aportar, e não serSo obrigados a des-
carregar suas mercadorias, nem as vender em alguns dos ditos portos,
cidades ou villas contra suas vontades, si para outras partes quizerem
antes ir fazer seu proveito, e querendo as vender nos ditos lugares de
meus reinos e senhorios não pagarSod*ellas direitos alguns, somente
162
a siza do que vendôrem, posto qtie pelos foraes, regimentos ou cos^
tiimes dos laes lugares forem obrigados a pagnr outros direitos ou tri-
butos; e poderão os sobreditos vender suas mercadorias a quem qui'-
zorem , e leva-las para fora do reino se Ilics bem vier sem embargo
dos ditos foraes, ragimeiítos e costumes, que se o contrario Iiaja.
6. Todos osjianos de meus remos c senhorios que á dita terra
forem com mercadorias , de (lue já cá tenham pgo _dire'rtps em
minhas alfandegas, e mostrarem d'Í3S0 certidão dos meus oOiciaes
d*ellas, nâojgagarâo jva^iUta ifiiX^ o si lá
carregarem mercadorias da terra para (óra do reino pogarâo da
sabida dizima a mim, da qual dizima o capitão haverá sua dizima
como se contém em sua doa^o; e porém trazendo as taes mercadorias
para meus jeinos ou senhorios nao pagarão da sabida cousa alguma,
ti estes que trouxerem as ditas mercadorias para meus reinos ou
senhorios serào obrigados de dentro de um anno levar ou enviar á
dita capitania certidão dos oíTiciaes do minhas alfandegas do lugar
d*onde descarregarem, de como assi descarregaram em meus reino»
o a qunlidiíde das mercadorias que descarregaram, e quantas eram ;
o nào mostrando a dita certidão dentro no dito tempo, pagarão a
dizima das ditas mercadorias, ou d'aquella parte, que nos ditos meus
reinos o senhorios não descarregarem, assi e da maneira que hão
de pagar a dita dizima na dita capitania se carregarem para fora
do reino, o si for pessoa que não haja de tornar á dita capitania
dará lá Gança ao que montar na dita dizima para dentro do dito
tempo de uni anno mandar certidão de como veio descarregar em
meus reinos ou senhorios, o não mostrando a dita certidão no dito
tempo se arrecadará o haverá a dita dizima pela dita llança.
7. Quaesquer pessoas estrangeiras que não forem naturaes do
meus reinos e senhorios, que á dita terra levarem, ou mandar levar
quaesquer mercadorias, posto que as leve de meus reinos ou senhorios
o que cá tinham pago dizima, pop^rão lá da entrada dizima a nnm
das mercadorias que assi levarem, e carregando na dita capitania
algumas mercadorias da torra para fora, pagar-me-hão assim mesmo
dizima da sabida dus taes mercadorias, das quaes dizimas o capitão
163
haverá sua redi/jma segundo se contém em sua doação, eser-Uio-
ha a dita redízima entregue por meus oHiciaes ao tempo que se as
ditas dizimas para mim arrecadarem.
8. De mantimentos, armas e artilharia , pólvora, salitre, enxofre,
chumbo e quaesquer outras cousas de munição de guerra, que á dita
capitania levarem ou mandarem levar, o capitão o moradores d'ella,
ou quaesquer outras pessoas assi naturaes como estrangeiras, hei
por bem que se não paguem direitos alguns, e que os sobreditos
|)ussam livremente vender todas as ditas cousas, e cada uma d'ellas
na dita capitania ao capitão, moradores o provedores d ella que forem
christâos e meus súbditos.
9. Todas as pessoas assi kIo meus reinos e senhorios como do
fora d'elles, que á dita capitania forem não poderão tratar nem
comprar, nem vender cousa alguma com os gentios da torra, e
tratarão somente com o capitão e provedores d'ella, tratando, ven-
dendo e resgatando com elles tudo o que puderem haver, e quem
o contrario fizer hei por bem que perca em dobro toda a mercadoria
c cousas que com os ditos gentios contraclarem, de que será a terça
parte para a minha camará , e a outra terça parto para quem o
accusar, o a ouU*a terça parte para o hospital que na dita terra
houver, e não o havendo ahi será para a fabrica da igreja d ella.
10. Quaesquer pessoas que na dita capitania carregarem seus
navios serão obrigados antes que comecem a carregar , e antes que
saião fora da dita capitania de o fazer a saber ao capitão d'ella para
prover e ver que se não tirem mercadorias defezas , nem partirão
isso mesmo da dita capitania sem licença do dito capitão, o não o
fazendo assi, ou partindo sem a dita licença, perder-se-hão em
dobro para mim todas as mercadorias que carregarem posto que não
sejam defezas, o isto porém se entenderá emquanto na ditd capitania
não houver ollicial meu deputado para isso, porque havendo-o ahi
a elle se fará a saber o que dito é, o a ello pertencerá fazer a dita
diligencia, e dar as ditas licenças.
li. O capitão da dita capitania, e os moradores e povoadores
d'cílas poderão livre tratar, comprar e vender^suas mercadorias com
10a
os capitães das outras capitanias, que tenho provido na dita costa do
Brazil o com os moradores e povoadores d'ella a saber de umas Capita-
nias para outras, dasquaes mercadorias, ecomprase vendas d'ellaa
nào pagaram uns nem outros direitos alguns.
I 12. Todo o vizinho e morador que viver na dita capitania, e fôr
; feitor ou tiver companhia com alguma pessoa que viver fora dos meus
reinos ou senhorios, nSo poderá tratar com os Brazis da terra posto
que sejam chrislSos, e tratando com elles hei por bem que perca toda
a fazenda com que tratar, da qual será um terço para quem o accusar,
' 6 os dous terços para as obras dos muros da dita capitania.
13. Os alcaides mores da dita capitania e das villas e povoações
haverão e arrecadarão para si lodos os foros e tributos que em meus
reinos e senhorios por bem de minhas ordenações pertencem e são
concedidos aos alcaides mores.
14. Nos rios das ditas capitanias em que houver necessidade pôr
barcas para passagem d'elles o capitão as porá e levará d*ella3 direito
ou tributo que là em camará (ôr taxado que leve, sendo confirmado
por mim.
15. Os moradores, povoadores e povo da dita capitania serão
lobrigados em tempo de guerra de servir n*ella com o capitão se lhe
necessário fôr.
16. £ cada um dos tabelliães do publico e judicial que nas ditas
povoações da dita capitania houver serão obrigados a pagar ao dito
capitão quinhentos réis de pensão em cada um anno.
17. Nolítlco-o assim ao capitão da dita capitania que ora é, e ao
diante fôr, eao meu feitor, almoxarife» e officiaes d'ella , e aos
juízes, justiças das ditas capitanias, e a todas as outras justiças, o
officiaes de meus reinos e senhorios assi de justiça como de fazenda
mando a todos em geral o a cada um em especial que cumpram
aguardem, o façam inteiramente cumprir e guardar esta minha
carta de foral, assi e da maneira que se n'ella contém; sem lhe
n'Í8S0 ser posto duvida , embargo nem contradícção alguma, porque
assi é minha vontade digo mercê, e por firmeza d*elle lhe mandei
dar esta carta por mim assignada e sellada de meu sello pendente,
Í6i
a qual mando que se registe no livro dos registos de minha alfan-
dega de Lisboa , e assi nos Kvros de minha feitoria da dita eapi-
tania , e pela mesma maneira se registará nos livros das camarás
das villas e povoações da dita capitania para que a todos seja notório
o conteúdo n'este foral^ ese cumprir inteiramente.
Manoel da Costa a fez em Évora a vinte e seis dias do mez de
Agosto» anno do nascimento de nosso senhor Jesus Christo de mil
quinhentos e trinta o quatro.
(Bibliotheca publica d'Evora. Códice ^^f. 229 v.)
166
REGIMENTO
DADO A ANTÓNIO CARDOSO DE BARROS,
Cavallciro fidalgo da casa dVI-rei
Como provcdor-mór da fazenda que primeiro foi aoBrazil.
Almeirim , 17 de Dezembro de 1548.
(Ms. offèrocido ao IniUtuto por Sua Magestade o Imperador.)
1.* Eu el-rei faço saber a vós António Cardoso de Barros, cavai-
leiro fidalgo de minlia casa , que vendo cu quanto serviço de Deos o
meu é serem as terras do Brazíl povoadas do christSos pelo muito
fructo que d'isso segue , mando ora fazer uma fortaleza na Bahia de
Todos os Santos, e por vôr as outras capitanias para d*aqui em diante
possam ser melhor povoadas , o a isto ordenei que fosse Thomó de
Souza , fidalgo de minha casa , que envio por capitão da dita Bahia o
governador de todas as terras do Brazil. E porque as minhas rendas
e direitos das ditas terras até aqui não foram arrecadadas como cum-
priam por não haver que comprovesse n'ellas , e d'aqui em diante es-
pero que com ajuda de nosso senhor irào em muito crescimento, o
para que a arrecadação d'ellas se ponha na ordem que a meu serviço
cumpre, ordenei mandar ora ás ditas terras uma pessoa do confiança
que sirva de provedor-mór de minha fazenda n'ellas, o por confiar
de vós que n'isso me sabereis bem servir , e com aquelle cuidado e
diligencia que de vós espero , hei por bem de vos encarregar o dito
cargo no qual tereis a maneira seguinte :
2.* Ireis d'aq(ii em companhia do dito Thomó de Souza direita-
mente a dita Bahia de Todos os Santos, e porque ello leva por meu
167
regimento a maneira que ha do ler em assentar a terra » e fazer a for-
taleza e povoação da dita Bahia , e prover em outras cousas quo
cumprem a meu serviço , vos mandoqueem tudo o que elle comvosco
praticar acerca das ditas cousas lhe deis vosso parecer e o ajudeis em
tudo o que puderdes e lhe do vós fôr necessário.
3.* Tanto que chegardes á dita Bahia \os informareis que oíliciaes
de minha fazenda ha em cada capitania para proverem e arrecadarem
minhas rendas, e aos que achardes por informação que ha nas ditas
capitanias escrevereis em como eu vos encommendo por provedor de
minha fazenda nas ditas terras , e que portanto vos escreverão logo
que rendas e direitos ha na capitania d'onde forem ofGciaes que ma
pertençam , e de qm cousas se pagam « e da maneira que so tem na
arrecadação d'elles , e sobre (fuo pessoas está carregado , e o que até
agora renderam , e si ha ahi casa ordenada para a dita arrecadação ,
e que assim vos escrevam que artilharia , armas, e munires minhas
ha na tal capitania, e si está tudo carregado em n^ceita sobre meus
officiaes , o sendo-vos informado que em algumas capitanias nffo ha
ofticiaes de minha fazenda , escrevereis o sobredito aos capitães ou
pessoas que estejam em seu lugar.
4.* Tanto que na dita Bahia a terra estiver assentada dareis ordem
que se façam umas casas para alfandega perlo do mnr , em lugar con-
veniente para bom despacho das partes , c arrecadação do meus direi-
tos , e vereis que ofticiaes ao presente são necessários para a dita al-
fandega , o dareis conta d'isso ao diioThoméde Souza para etic com-
vosco parecer prover dos officiaes quo logo se não poderem escusar
aquellas pessoas que vir quo n'isso me poderão bem servir , até eu
prover d'elles a pessoa que houver por meu serviço , e porém estando
lá que ó provido de ofScio de provedor de minha fazenda da capitania
da dita Bahia , elle servirá de juiz da dita alfandega segundo a forma
do regimento dos provedores , e as pessoas que forem encarregadas
dos ditos officios haverão juramento quo servirão bem o verdadei-
ramente.
5.* Ordenareis que na dita alfandega haja livros, a saber : um de
receita o despeza dos reudimentos d'ella , e outro cm que so registe o
xynx 22
W8
^ral o regimento Jos ofGciâús o qiv^tisriuçrauUas provisúiís rpie ai^
clMiule se passprem sobre v^ aurecadação dos diruilos da dita ai|fajiJeg:i ,
oscjoaes Iryros serão contados, e a3sii^«iailu5 ein caib fuJiia pelo. dito
||ro,Y9doi'. Ordenareis ea3a en> que se f'ã(p o ue*fi^h d<^ uiinlm fazendút
e contos, e pra adilo negoci<^ se far^ livros , sr saber : um em qm.
ae a^s^rtaráO todas as roíiiase. direitos. que eu leuho nas Jitas capito-
i^iaa , a saber : as renda» de cada uma por lrli>k> por si, declui^atido de
ijue cousas, o porque in&oefras. se pa^ao osc dilos dípelios , eordensv-
(Iq^ , Q n»9i4imetU09 queor9,aao diantti. livorem os offieraes di5 míih»
l^zeiida.e. quaesijuer. outras pessoas , e assim lcnçn& quose lá inaB-
d«fi;em paga«, e haverá oulro livro en^que se assentem os con^trractos-
e arren.dumenkis que se íizerem , e outro em quese assentetif os fo-
r,ai9S e regimentos e quaesq^uer outras provisões que se pssarem sobre-
c^u^s que toquem a minha bzeuda , e assim se fará para matr rcultf
eia que se assente a geiUe de so!do que ora vai nesta arriKtdB , e ao
diante fòr, e cada pessoa terá titulo apartado em que se decla^re a
nome da pessoa e alcunha si a tiver, e cujo fílbg é , e tugar onde ó-
morador» e o soldo, que ha de haver e o tempo que servir , e os paga-
mentos que IIk3 forem feitos , e assrm se fará outro livro em que sei
a^Mleni todos os ofOciaes que tiverem cargo de i;eceber mis dita»
terras dp, Briuii minhas rendas c direitos , declarando o tempo en>
^ue começaram a servir para t^nto qut; fàf tpmpo de darem suas
eoq.tas scren) para isso chamados , e assia> se farão, quaesquer outro»,
livros e emenius que para os negócios da dita fazenda forem necossan.
rios, e encarregareis uma pessoa apta que sirva de porteira das ditas
rasas da fazenda , contos e alfandega,,, e l(snba curdadadegiiardar o»
livros das ditas casas, os quaes livros lhe serSo carregados em receitai,
€jm um livro que pra isso haverá que terá as fplhas assignadps o nu-
liberadas por vós , e estarão em, poder do escrivão da fazenda.
(f,*. Tanto que assim ordenardes a dita casa para o negocio de
iQinha faz^ndp , vós com o esQriydo de yosso, cargo ireis a ellatodo»
os dias que vos parecer que ó necessário para despacho das causas e
liegpcios qtie haveis de provôr de quacsquer outros que succodani.
7.* Conhecereis de todas as appellp^õjs e aggravos , que sahirei»
169
^"atíte eis provedores e offíciacs de minha raxònda, assim d'essa cápiu.
fiia como dó todas as dulfaá do Brazíl , de feitos qiie se tratarem pe.
rante ellies iRobrè qtíaiitiâ que passálr <ie dez mil réis , ou sobre cousa
4}ué ós valiui.
8.' E poréiVi no lugar onde Ws eí^tiverdiss , conhecereis das appèl-
iaçõeis b nggravosqíue sehírèilíl d^anléos òfficiaés do tal lugar, ainda
<]\íè seji^tn dé menos qnnliliia dos ditos déz mil réis , sendo porém de
<fous ítlM réis para cima.
9/ Conhecereis por àcçãò nova no lugar d'onde estiverdes e a
cinco léguas ao redor de qdáesquer casos que tocarem á minha fazen-
da ^ ehtre (ludéSquiH* pfessbas , jpòsto que o meu procurador n'isso nflo
Sf^jh parle « e assihí podereis aVocáír a vos quaesquér feitos , e cousas
<júe tocaréln á rhtniià fazenda qúé se tratarem perante o provedor oú
élihò^arifo do lugar onde vóã estiverdes, e nos ditos feitos de que
^nhecerdés pòr ãCçâò , e aVocàrdes a \'ós , procedereis até final sén-
4en<^ f iíiclosiTé fâsndo a causa da quantia de dez mil réis e (i*ahi para
bèi^LO i èu sobi^e tòMs^ que OS valha , é sendo de mor quantia levareis
o feito á Bahia para lá o despachardes peta maneira que haveis de
destpechar òs outros, è náo havendo vós dé ir tão cedo o reinettereis
|à para o dito Thonlé de Souza dar a élles jiitzes em vossa àusehcia
qtié 0^ dèspnchem ttiúiH fdr jUslíifá , e indo vosáo tal iugafde terdeà
«lado séfitença ftiial ilos ditos feitos os deixáreis ao provedor da capi-
tôtiin dé que fdr o tal lugát , ò qu»t os ncadarâ de processar e deter-
minai* k dando appellaçtlo é aggritvo fios em que couber.
10. £ erhquãtilò éstlveirdes tia povonçào da dita Rahio dèspactiareis
CS dito^ feitos (jiié vos hâo dé vir pòr appelbçâò ou ãggravocóm dous
letrados , os qikáe^ perfi^ís do diiò Yhòmé de Souza , o clle vc^los dará
qútítídôtéútaptW^ e Mool liãvendò sdfó éom diiàs pessoas, quaes ibe
é\è befn párfecér , 6 t^òrtl às ditas peksoas determinareis os dito^ feitos
de quàésqiief qvtèhtía^ qiié ferefn sòhí appéllaçào nem aggravo , pela
mesma fttáiieiírit deteffmfnarÉífs bé ditos feitos que levardes das outras
<<if|)!lMiías, e assim équellés q(ié na dítá capitânia da Éahía se trata-
tm perante tos por à^^Sa tiòva , ou avocardes do pí-óvedor e almo-
ilrife d*ella.
170
11. Hei por bem que oulrosím conheçais por acçfio nova, assim
na capitania da Bahia , como em qualquer outra , d'onde fordes #
estiverdes do todas as duvidas e foilos que se moverem sobre as ses-
marias e datas do terras o aguas entre o capitão em cuja capitania
estiverem as ditas terras e aguas , o outras pessoas ou entre quaesquer
outras parles , e assim podereis avocar a vós quaesquer feitos e causas
que sobre as ditas dadas de terras « aguas se tratarem entre os prove-
dores , e assim das appellações e aggravos que d'ante eites sahirem ,
e de tudo conhecereis na maneira e com a mesma alçada que haveis
de ter nos outros feitos acima conteúdos.
12. Pelo regimento que leva Tbomé de Souza lhe mando que
depois que chegar á Bahia tanto que o tempo lhe der lugar e os ne-
gócios d'aquella capitania estiverem para os elle poder deixar , vá
visitar as outras capitanias , quando assim fòr vós ireis com elle para
o ajudardes nas cousas de meu serviço que nas ditas capitanias ha de
fazer ^ e para também vos proverdes em cada uma d'ellas nas cousas
que tocarem a vosso cargo , o que vós por este regimento mando que
façais.
13. Em cada uma das ditas capitanias tanto quen*ella fordes fareis
vir perante vós o provedor , e almoxarife eoíBcíaes de minha fazenda
que n'ella hou\er, e sendo presente o escrivSo de vosso cargo, vos
informareis dos ditos officiaes que rendas e direitos tenlio e me per-
tencem na tal capitania, como se arrecadaram ató entào , e si foram
arrendadas , ou se arrecadaram para mim , e si foi tudo carregado
na receita , e por que pessoas , e sobre que officiaes , e em que se
despendeu o dito rendimento ; e para isso tomareis conta às ditas pes-
soas; o que achardes que despenderam lhe levareis em conta , e o
que ficarem devendo fareis arrecadar d'elles , aos tempos e pela ma-
neira que mais meu serviço vos parecer , e o treslado das arrecada-
ções das contas que se tomarem enviareis aos meus contos do reino.
14. N50 havendo na tal capitania officiaes de minha fazenda pro-
vidos por mim , ou faltando alguns dos que forem necessários , dareis
conta d'isso a Thomé de Souza , para elle comvosco parecer prover
dos officios que forem necessários em pessoas que para isso forem
aptas , 6 escrcver-me-hois os ofUcios que nssini proverem , e a que
pessoas para eu mandar acerca d*isso o que houver por meu .serviça
15. Em cada uma das ditas capitanias ordenareis que haja casas
para alfandegas e contos, e livros para o negocio das ditas casas da
maneira que o haveis de ordenar na Bahia , e como se tem feito no
regimento dos provedores.
16. E assim ordenareis de fazerem ramos apartados , a rendas e
direitos que eu tiver e me pertencer em cada uma das capitanias ,
annexando a cada ramo aqueila parte das ditas rendas e direitos que
vos parecer melhor, digo que vos parecer que melhor se poderSo
n'elles arrecadar , de que se íurà assento no livro dos regimentos da
provedoria da dita capitania das ditas rendas mandareis metter em
pregão por ramos ou juntamente como vos mais meu serviço vos pa-
recer 9 6 as arrematareis a quem por ellas mais der , guardando n'isso
a forma do regimento de minha fazenda , e as quantias dos arrenda-
mentos fareis carregar em receita sobre o dito almoxarife para ter cui-
dado de tomar as fianças , e arrecadar a dita quantia segundo se
contém no regimento de minha fazenda com a qual vos conformareis
em tudo o que não fôr contrario a este.
17. Em cada um anno escrevereis a cada um dos provedores de
rainha fazenda que vos mandem por certidSo o que renderam minhas
rendas e direitos de sua provedoria o anno atraz , e que d'ellas des-
pendeu-se, e em que cousas, e que todo o mais enviem a entregar
ao meu thesoureiro que ha de estar na dita Bahia para receber todas
as ditas rendas , e eu lhes mando em seu regimento que assim o
façam.
18. Tereis cuidado que tanto que cada almoxarife tiver recebido
cada cinco annos lhe mandar notificar que vá dar sua conta a Bahia
na casa dos contos que ahí ha de estar , e que leve para isso todos
os seus livros, e papeis; e ao provedor da tal provedoria escrevereis
que resumisse ao dito almoxarife sua conta primeiro que vá à dita
Bahia, e arrecadar d'elle o que achar que fica devendo e o envie logo
ao meu thesoureiro , e que assim vos escreva que pessoas ha na dita
provedoria que sejam aptas para receber as rendas^ emquanto o ai-
172
n^oxarifo der sun conta , c vós encarregnfcis do dito i'eccliimcnto yma
das dilBs pessoas 9 à quem ò ftmvedor vos notnieia^
19. Tanio quôo dito almoTtáftfe Tór ha Bahia p^fn dar áiià cóhU ,
lhe fareis tomar, e como for ac&badn !%rS vista por vós, è tícando o
almoxarife devendo nlgunfia eou^ lb'á fareis pagar, e dòpois de ter
dado conta com entrega lhe passem provisão para tofnar ã servir seu
cargo, declarando n*etla como tem dedo a dita conta com entregar ao
provedor que estiver servindo d dito òargd; acabará dé Servir aqitellé
anno que tiver começado , posto qtiê o dito almoxarife dentro dó diio
anno leve a dita provisão para podòr tornar a receber, e pela dita
maneira venliam os recebedores dar áua eoitta a cabo o lenipo de seus
recebimentos.
20. As duvidas que liduvor nãs ditAs eonlaá determinareis cnm
nm letrado quo pedireis ao dito Tbomé deSouata ou òom qualquer
outra pesfoá que ello para isso ordenar , e hio séndó ambos confor-
mes em algumas das dilis duvidas o dito Thótii^á de Sduzà dará outra
pessoa paro terteiro ^ e o que par dous for dotermifiâdo se (Cumprirá.
31 « Quamio pelo tempo em diahlo depois d*em primeiro véz fordes
a cada uma das ditas capitanias v«)s informnreis éorrtò os ditos prove-
dores, è almoxarifes o recebedores é òiitros ófficlaè^ dé mihha faíérída
servem seus cargos, e achando pela dita informação ({ue fazóm n*ellcs
o que nao devem tirareis sobre isso iníjiiiriçõeS e deV^lssà ô próòèdé-
reis contra os culpados como for justiça delefmihnndo sóifs fellós ha
Babia como haveis de fazer nos otitros féitòs^ e Si sii^pénrlôrdeá al-
guns dos ditos ofilcines de seus cargos o fareis sifber h Tliomè dé
Souza para elle prover possons que sirvam , e nào sendo o dito Thòmé
<le Souza presente na capitania ém que o^ a^isim suspehderdés , vóS os
provereis daodo-lhc juramento.
22. Hei por bem que d*aqui em diahté pessoa alguitla nâd taéti
nas ditas terras do Brazil navio mtn caravélla nlgUma scrtt tíóen^á
do dito Thomé do Souza , a qual Ihedará nos lugares ohde tat pre-
sente, e n'aquelles cm que o ni^aférf dareis vós á dita lióença ú òhl
estiverdes, e nào estando a dará em vos^ áitseitôia o provedor dá
capitania t ^^nte o tal navio sò houver de íatet, as qnaes licehçns
Í7Z
(farão os [Mssoas ab9st^«l^'ts e $C]$uri8 e qtto dêem fiança por quo se
obrigiie^ „ qii^quaoiiq houivcrein de ir tratar eom o tal navio o h^Bim
a sakr 9a provedor da oa^iitanMi d*oiié0> partir , equo cumpram mtei-
rafiQBttf o que soit>re Q dito ó coiUbemlo noft regimentos dos dites pro*
Yedoi:c9.
23<i Tr9Ji)9Uiareis com as pessoas qoo: vos pedirem licença par»
fazeceu) os ditos naiv^os» qiH> oe faqnm de remo em sendo deqtitn2i>
bancos ou d^abi para cima , e ^u.e tepiM de banco a banco tx^es palmos*
de guoa , bei por bem que nâo paguem direitos nas minhas albade*
lasdOi içeinQ dt. tQ<ibs ^s muniçOois e apparelhos , que para os taes
i^sm forem oecess^^ÍAS 9 ^ (az^ndo-Oft det deitoiío bancos e d'abí paan
ciraa.ba.v(;i;âe mais aUm dos ditos direitos ()Marenta cruiadois de mercê'
á QU3191 de minjia fazenda 1^ das. rendas cjiie so: arrecadarem nae ditflie
te/ras. dv B^/JJ^ e. isso para aj,uda de os fazeremicomo todo é con**
tjieudo 00 rc{ÍAu<^to dos.dito^ pi^edopeis , 06 quaes quarenta ecuzado»
]fíO vós pQa^dnrejs. pagar nq^ dilae ceodas com oertidqo do> provedor
da capitania onde se houverem de fazerem , dft como lhe ten dado«
tiaoça no (ívffir dei^l,ro. de gn^. aPUQ >. O: lereis cuid^o dDi sabor si
nquellcsqjiie se Q^riganv^ fa^cer os dinos navios os fizeram e ctunpri^
raíp se.a^. pbrigfiçõei ^ porque acb^Qydo) que as nSo cumpcínam se>aiK.
recadp d'elle$.e, de seus tiador^e^ os ditos quarenta onuzados;, segundoi.
é conJl)^.^do. no r.egimeoto.dois diitos. provedores.
2V Si, ao. djipi Thpmó de $ouza parecer meu serviçoi fazer* eati
slljl^a^ i^s i\\s» capitanias a)gi|n)k na^io ó custa; de minha fazieittfai.
paca, d^ensSOtda. co$Ui vós dareis ordem: e maneara como se faça con»*-
fonoe qo qjue ello; nisso ordenar» e o? tal oavio será. carregado. em:
receia soji^re. o almoxarife d^aqueila eapitaniaem que se flzer , e aasit
a ar.tiJ>pria.e miipições que ap diio Xliomé de Souza parecer neeea-
sariqs. para.s^ armpr quando cumprir.
2$. E. por qim será ooeu. secviço- q proveito dei meus. reinos: pela.
aba^t^nça d.a3 madeiras que. ba nos ditas terras do Brazil , facerein^e.>
lá qáus, bei per bom que as pessoas que naidita lecra do* Bra^l. as
fizereniLdoeento e triota;toneis, Ottdehi para cima hajam uma meroè
e gozem de Ubercfedc , dp que gos^m por bom do regimento de mi^
174
nha fazenJa , oâ que fazem naus da díla grandura nestes reinos , a
qual mercê haverão nas minhas rondas das ditas terras do Braztl.
26. Informar-Yos-beis do que se fez da artilharia , armas e muni-
ções minhas que estavam na fortaleza velha de Pernambuco , e fa-la>
heis arrecadar e carregar em receita sobre o almoxarife , e pela mesma
maneira vos informareis em cada capitania onde fordes si nella ha
alguma artilharia y armas e munições que me pertençam , e achando-a
a fareis arrecadar pela dita maneira , e carregar em receita ao almo-
xarife.
27. Tendo alguns capitães ou pessoas outras das dilas capitanias
necessidade de alguma artilharia para seu uso na terra e defensão
d'ella 9 a pedirão a Tliomé de Souza » e eite lh'a mandará dar nos
meus armazéns si lhe bem parecer, e será pelo preço que achardes
que me custa posta lá , e por isso levareis d'aqiii por certidão do pro-
vedor de meus armazéns o que cada uma das ditas cousas custa posta
lá , e o preço por que se assim der as ditas pessoas se carregará em
receita sobro o almoxarife que as der.
28. Eu tenho ordenado que os capitSes das capitanias da dita terra
e senhorios dos engenhos e moradores d ella sejam obrigados a ter as
armas, e artilharia seguinte , a saber: cada capitão om sua capitania
ao menos dous falcões , e seus berços , e seis meios berços , e vinte
arcabuzes ou espingardas e sua pólvora necessária , e vinte bestas , e
vinte lanças e chuços , quarenta espadas , quarenta corpos d'armas
de algodão dos que na terra do Brazil costumam , e os senhorios dos
engenhos e fazendas que hão de ter terras ou casas fortes , tenham ao
menos quatro berços , dez espingardas , e dez bestas , e vinte espadas
e dez lanças ou chuços, e vinte corpos d'arroas de algodão , e todo
o morador das ditas terras que n'ellas tiver casas, ou aguas , ou navio
tenha ao menos besta ou espingarda , espada , lança ou chuço e que
os que não tiverem as ditas armas se provejam d'ellas da notiGcação
Q um anno achando-se que as não tem paguem em dobro a valia das
armas, que lhe fallecerem, das que são obrigados a ter, a metade
para quem os accusar , e a outra ametade para captivos , e portanto
vós tereis cuidado quando correrdes as ditas capitanias de saber si as
175
ditts pessoas tem as ditais armas , e de executar as penas sobreditas
nas que irellas iflcorrerem , e porque no regimento dos provedores
tenho mandado q«ie quando vós nao lordes ás ditas capitanias cada um
d'ene8 em sua provedoria faça a dita diligencia e autos do qqe n'isso
achar « e vo-los envio : quando vo-los assim enviarem procedereis por
elles segundo tórma d*este capitulo, e também sabereis que 9a pessoas
que por este capitulo hSo de ter artilharia tem a que sio obrigados , e
a dita diligencia fareis vós ou os ditos provedores na artilharia e armas
que os capilàes sio obrigados a ter , porque com os ditos capiuses
somente fareis vós ou os ditos provedores a dita diligencia , e n^o
6 nem outras pessoas.
29. E quando algumas pessoas das ditas se queiram prover das
ditas G0U8as'ou de algumas d*eilas, hei por hiem que vós lh*as façais
dar dos meus arniazens havendo-as n'elle pelos ofGcios que se achar
que me custam li postas.
30. Para que o assucar que nas ditas torras do Brazil se houver
de fazer seja da bondade e perfeição que deve ser , ordenareis que
em cada capitania haja alealdador elegido por vós quando fordes pre-
sente* e sendo ausente pelo provedor da tal capitania como capitão
d'ella , e officiaes da camará , e a pessoa que assi for elegida ser-
virá o dito cargo emquanto o bem Gzer , e lhe será dado o juramento
em camará para que sirva o dito cargo bem e verdadeiramente « e
de todo o assucar que lealdar e se carregar para íóra haverá de seu
premio um real por arroba á custa das {)essoas cujo o dito assucar for,
e as pessoas que fliq^em o dito assucar o não tirarão da casa de purgar
sem primeiro ser visto e lealdade sob pena de o perder , e o aie^il-
dador será avisado que não alealde assucar algum senão sendo da
bondade e perfeição que deve na sorte de que cada um for.
31. De todas as cousas que por este regimento vos mando que
façais dareis sempre conta ao dito Tbomé de Souza sendo vivo no
lugar onde estiver , e si em algumas cousas fordes differente de seu
parecer se cumprirá o que se ordenar e mandar.
32. Encororoendo- vos e mando-vos que este regimento cumprais e
guardeis inteiramente como de vós conGo que o fareis.
Ifin 23
176
Domingos de Figuoiredo o fez em Almeirim a dezesete de dezembro
de mil e quinhentos e quarenta e eito. E eu Manoel de Moura o fiz
escrever , o qual regimento vinha assignado por sua alteza e com visla
posto n'elle pelo conde da Castanheira.
cxv
(Bibliotheca publica de Évora. Códice-;;;^ f. 182.)
177
DESGRIPÇÂO
Da Tiagem feita detde a eidade da Baita do Rio Negro
pelo rio do mefmo nome.
HILÁRIO MAXIMIANO ANTUNES GURIÃO,
Major de artilharia, bacharel em mathemaUcas.
(Maauscrípto offereddo ao instituto pelo cx."" sr« ministro do império,
Laii Pedreira do Goatto Ferrai.)
Descripção da viagem , ^ fiz desde a cidade da Barra do Rio
Negro, pelo rio do mesmo nomsy até a serra do Cttcui, indo
em eommissãOj como engenheiro, por ordem doex.*^ sr. con-
selheiro Herculano Ferreira Pennay presidente da provinda,
no anno de 1854.
Ebivendo sido nomeado pelo ex."* sr. conselheiro Herculano Fer-
reira Penna, presidente d'esta proviucia» no dia 1.* de Outubro do
anno próximo passado para como engenheiro dirigir as diversas obras
militares, que por ordem do governo imperial tem de ser feitas na
província ; e sendo necessário construir um quartel nas fronteiras de
Marabitanas perto da serra do Cucui , tive de ir escolher o lugar ^
levantar a planta, e principiar o dito quartel: digoando-se também
o mesmo ex."' senhor encarregar-me de examinar o estado das ma-
trizes das freguezias do Rio Negro ; parti para os fins indicados no
dia 21 do dito mez ás 4 horas da tarde em uml igaritó da adminis-
tração das obras publicas com 2 soldados, e 8 indios; navegando
regularmente até Santa Isabel 16 horas por dia, com excepção de
47«
afguns era que furtes teniporacs , cpue se formaram ao anoiteeer me
obrigaram a parar mais4»do; e rómeiHo tO horas de Santa Isabel
p;ira cvma por causa das murtas pedras que se encontram em todo ^
leito do ria, aporter ás povoações de Tana-pessossà ne dia 24, de
AyrSo a 26, da freguezia de Moura a 2^ de Garroeire a 29 tudo de
Outubro; á vilta de Barcellos no dia 2 de Noveii>bro, á íregoezie
de Moreira a 4, á de Tboinaz a 6, á de Santa isabef a 9, á povoação
de SHnto António do Castanheiro a if , á de Ma^araby a 12, ã de
S. José a 13^ á de S. Pedro a T4, á ffegueria de S. Gabriel a f7, á
povoação de Sant^Anna, e á deS. Fofippe a 20, á da Guia a 21 ,
á deS. Mareei Hno a 22, e finalmente á freguezia de S. ksé de Ma-
r»bitanas ás 6 horas da manhâa do dia 24, do mez ja indicado.
Poderia aqur faser a deacripçào da estrucluia do terreno, da quali*
dade dos vegetaes, ete. , que observei durante mrirha viagem; mas
•ó dírer que, desde o porto da capital vém-se as margens doeste ria,
tributário do gigante dos rios , ornadas de arvores colossaes sempre
verdejantes e floridas, e qtia prova qtie a destruidora das obras d»
miiÊr&m-^9 màodo btNmem<— pouoo lem feito a bem d^aquillo, que
se ctmmo civifisaçâo. A' sombra doestas bellas arvores, pela maior
pi^rtd madeiras de lei, descançhm inimensos vegetaes, muitos dos
quaes ainda nèo tiguram na eseala botânica. A grande quantidade
de argiila branca e colorida peto oxido de ferro em diversos estados,
apresentando-se oíDais das vezes em camadas distrnctas, o barra de
Inteire, a ptçarn», e os seixos rolados que se encontram até Santa
Knbel, segmndcKse depois as pedras dispersas per lodo o leito áe
rio, e em umúLis parl^fs como formando muros nas margens, e quaei
iHticamoate a argilta pura, provam as diversas épocas em que estes
terrewí)s forain forinjidos»
Poderra tamt»etu enumerar a infinidade dt aves e inisectos de varie-
gAda($<*ères, que encantam a vií^a do viajante, porém nào é este e
meu fim, e deixo a descrípçâo dus v^etaes ao botânico, a dos terre-
nos ao geólogo, e a 4as aves e insectos ao curioso naturalista, reser-
«ando-me unir^imtMite a mostrar o estado em que encontrei as povoa-
ções d'eiíte rio , para que chegando ao conhecimento do governo da
179
província » possa elle curar dos rodos de fazer prosperar esfa parfe
d ella , que oom os íroineinee prodoetos, fue eiwerra, ainda um dia
inuilo concorrerá para abastecer seus cofres.
Vou agora tratar das povoações que acima mencionei , e nomear
os rios 6 riachos que ficam entre ellas.
A povoação de Tana-pessasú ó situada na margem austral em um
lugar elevado e aprazível ; porém nSo encontrei ai» pessoa alguma;
composta de uma igreja, cujo orago èSsnio Angelo; com 8& palmos
de comprimento sobre 37 de laigura , con duas sachrrstias ; eéeíS
casas cobertas de palha bem conservada. O corpo da igneja eslá co-
berto de telha , e acha-se em bom estado ; as sacbrístKis sSo coberUis
de palha , e suas paredes que sf o de madeira e barro precisam de
•mboço e reboque para qse otempe nSocontmue a estraga-las. Enire
•^ povoação e a cidade da Barra encontram^e algumas casas, em
imbas as margens do rio, a que chamam sítios; porém mal cons-
truídas , e pela maior parte sem pbntação alguma , á exeepcSo de
p^uenas roças de manivas; além doestes shios» outros existem pela
mesma fórma nas margens dos rios e riachos que fazem barra ifesse
e^ço pela maneira segvinie: na margem austral o riacho Xiburena,
e oa do norte o Ayurím , e o rio Anarelhana.
Povoação de Ayrão situada na margem austral 10 léguas acima
d j Tana-peesasú , formada de ama igreja dedicada a Santo Elias ,
oberta de pallia com 61 palmos de comprimento, e 39 de largo ^
fHitando-lhe as portas e janellas, en>beear, rebocar e caiar as paredes'
qu8 sSo de madeiras embarreadas, e de 16 casas cobertas de palha,
nào lendo algumas d'elia8 predes iateraes.
Nas margens que ficam entre estas duas poToaçOes avístam-se
alguns sítios em nada diiferentes dos que deixo descriptos; e fazem
barra na do norte os riachos Gamimaú, Mapauaú , e Dcuríuaá , que
fica quasi fronteiro à povoaçllo.
Navegando-se mais 12 lagoas cbega-se á freguezia de Moura, que
está situada na marcam austral em uma enseada com muitas pedras,
pelo que 'vulgarmenla lhe chamam — Pedreira— e composta de 21
casas cobertas de paltia (sendo uma de sobrado) e de uma igreja de
180
Santa Rita de Cássia coberta de telha com 80 palmos de comprí-
inenlò o 32 de largura precisando rebocar e caiar as paredes e ladri-
lhar a sua área.
Tem esta freguezia uma escola de ensino primário com 13 discí-
pulos.
Raros são os sítios que se encontram neste intervallo, porém alguns
existem nas margens dos rios e riachos que desaguam no Negro , que
são: pela inafgem do sul o Jaú pouco acima do Ayrâo, e que na carta
geral da província vem apontado abaixo ; do Unini que se communica
com o Cadajáz pelo lago Atíniem : e pela margem do norte o rio
Jaguaperiy que é de agua branca.
Oito léguas distante de Moura , e na mesma margem está fundada
a freguezia do Carvoeiro em uma iingua de terra úrme , que mal
admitte as casas que existem, de forma que, si para o futuro tiverem
de se construir mais, será necessário muito trabalho em aterrar o
terreno que forma o fundo da povoação, que é inundado nas en-
-chenles do rio.
Compõe-se a freguezia de 20 casas cobertas de palha e com paredes
de madeira e barro, sem serem emboçadas nem rebocadas: e de uma
capella em conslrucçào com 34 palmos de comprimento e 30 de
largura, e um alpendre rodeado de parapeito com 47 palmos. A
cobertura é de palha , suas paredes de madeira e barro, faltando-lhes
ainda emboçar, rebocar, caiar, e ladrilhar a sua área, toda ellaé mal
constAiida ; porém antes esta do que nenhuma, c^mo acontecia até ahi
chegar o reverendo vigário frei Manoel de Sant'Anna Salgado, que
convidou os habitantes para edificar a que hoje existe, que é dedicada
a Santo Alberto, ao que elles sempre religiosos se prestaram de boa
vontade.
O decresci mento que se nota em quasi todas as povoações d'esle
rio é devido não tanto á falta do habitantes como á ausência , que
infelizmente soffrcm as freguezias de vigários, que com suas presen-
ças obrigariam o povo a comparecer aos domingos, e dias santificados
nas povoações, não deixando assim suas casas abandonadas muitas
vezes por mais de um anno, do forma que, sendo ellas mal construi-
181
daSy é este o tempo suffícieutepara deraolirem-se, não havendo quem
d'ellas trate : além d'isto, sendo os habitantes d'este rioquasi todos
indígenas, será mister que os mesmos vigários lhes mostrem a conve-
niência que ha em terem suas terras plantadas, fazendo-lhes ver as
vantagens que d'ahi lhos vem, prometendo por essa forma o amor ao
trabalho, e a ambição de que tanto carecem, resultando d'aqui que,
adoptados uma vez estes principies, já não abandonarão os lugares»
em que residem, com a mesma facilidade, com que hoje fazem , por
nada terem.
E' esta povoação, que me dizem ser mais atacada das febres inter-
mittentes, devidas talvez aos muitos vegetaes que com a vasante ficam
em putrefacção, e ao cemitério, que todos os annos é inundado, duas
léguas abaixo da freguezia, na margem do norte vem confundir o rio
Branco suas aguas com as do Negro, por quatro boccas, formadas três
pela separação de duas ilhas, e a quarta pouco inferior ao rio Uarana-
cuá, que também desagua nesta margem e fronteiro a Carvoeiro.
Poucos sítios se avistam entre estas duas freguezias por serem suas
margens momotas , como são quasi todas d'esle rio.
Segue-se a villa de Barcellos assentada na margem do sul 24 léguas
acima de Carvoeiro em um lindo lugar, tendo um pequeno igarapé
que passa pelo meio da villa, sobre o qual existia uma ponte de
madeira, que foi ultimamente mandada demolir pela camará muni-
cipal, pois o seu estado era tal que a cada momento ameaçara desabar,
por estarem os vigamentos inteiramente podres : além d'este tem outro
igarapé de nome Cololipú, que entra pelo lado esquerdo da villa, e é
de excellente agua branca.
Pelas ruinas de muitas casas, que ainda avistam-se na villa, co-
nhece-se que ella era muito grande; mas hoje está reduzida a 18
casas, sendo 7 cobertas de telhas e 11 de palha, e uma igreja de
Nossa Senhora da Conceição coberta de telha com 112 palmos de
comprimento sobre 42 de largo , com 2 sacbristias , e tribunas na
eapella-mór, precisando concertar suas paredes, emboçar, rebocar
e caiar.
Os paramentos estão em péssimo estado.
182
Consta-me que iiUimAmente foram vendidas duas das 7 casas co-
bertas de telha , para tirarem as telhas e transportarem pm'a esia
capital.
Ha aqui uma escola de ensino primário tendo 16 discípulos in-
cluídos no mappa , porém apenas frequentam 9.
Julgo que os empregados da camará municipal pouco se interessam
pelo asseio da villa, porque encontrei o mato junto das casas.
No espaço, que medeia entre Carvoeiro e Barcellos, véem*so alguns
sitios em a margem do sul, bem como nas do rio Cabui, e riachos
Uatanaré, que ficam nesta margem , e nos riachos Uanopexi , Uana-
nibá, Cuarú, Uirauau, ZamuruuaúdBuibui, que ficam na margem
opposta.
Depois que cliegou á villa o rev."<» frei Salgado, começaram a
reformar algumas casas, e os gentios do rio Uaraca vieram logo vé-lo
com o seu tuxaua ; porém nio fallando elles a língua geral , nem
tendo o padre pessoa que os entendesse > Umitou-se a agrada-los, a
fazor-lhes ver por signaes que era necessário voltarem com seus Glbos,
para serem baplísados.
Esia influencia dos habitantes d'este districto, 6 dos gentios, prova
o que deixei dito quando tratei de Carvoeiro.
E quem duvidará do quanto concorre a religião para o bem do
povo? Sim, quem ha que ignore que a religião preside o nasci-
mento do homem, segue-o em sua educação, guia-^o nos negócios
mais importantes de sua vida, está presente, quando elle moribundo,
o conduz ao tumulo, e que depois a crença dos vivos faz com que
elle ainda siga os passos d'aquclle que já não existe!
E' fiado nestes princípios, e nas sabias medidas do illusirado
governo da província, que tanto se interessa pelo bem-e$tar d'ella,
e que portanto não deixará de continuar a sollicitar do ex."*sr. bispo
diocesano, parochos, senão para todas as freguezias, ao menos para
algumas d'ellas, de modo que estes possam visitar as que lhe ficam
vizinhas; digo que fiado n'isto nutro esperanças de ainda ver as
povoações d'este rio tão florescentes , como já foram , e hoje com pro-
porções para ainda roais com a navegação a vapor.
Em disuneÍA de 16 léguas do Barcellos está fundada a rreguâzta
de Mofetra m m^rgBtn do sul ^m uma barreira âtta d pauco caosis-^
lente, do modo que iodm 03 ^innos eáe parto d'eUa ; snndo por isso
prudento que is casas sà difiquein a nlguma distancia da margem^
para que com o correr do atino nio venham a damoltrem-se como
tem icnniêcido em a eldâda do Oimeta. Nao se pôde ir á povoa^Ào
seDÍo por péssimas e^c^idas enrosbidas á barreira.
 freguBzia eompoa-sa dê f I easas cobertas do palhz» , a algumas
d*ell«ssem paredes loieracs, e de uma igreja dedicada a Nossa Se-
nhora do Carmo eobcrLi ão lelki mm S5 palmos de comprimenlOt
o 3B dô larg;ur.i» Os rrísclçirn mentos dos altos esláo novos, porém os
«^t€Íos principaes, e a matar purté dos páos f\m fi:»rmam as paredes
acbãin-SQ infoimmente arruinados, e convém substituir os esteios
pfin Cl pães, para ruio dosa bar o edílkio*
0% paraincn(m i^tôo no estado dos das ouUas tr^gmzm. fi$ú ha
^qtu n/tm serjuer um pcsqueno sino pfira chamar m Beis ao templo.
líçMh .-1 vi lia do Oarctílloa até u freguezia de íjue irato, hiem barra
petfi margem do sul os rios Bururi, e Quirjuni» e os riachos Aratau
e Qoimruniri ; s puLi do noríe o riacho Paraiafjut o o rio Uaracá*
Es^ifs rio téfT) exccl lentos terras fírmes, a abunda em piassava.
Nairegando-^ mais 17 léguas chega-so á ffí^guezia deThomart
siiunda na margem nterídionat em uma barreira semelb.inte á do
More ira, poròm menos alta; aqut bmbem sobe-se por péssimas esca^
das à povoação, que tem 1 1 casas cobertas de palha, o tima igreja do
Nossa Senitora do Eosario com tlt palmos do comprimento, 56 do
largura 110 corpo da igreja, e 20 na capeiia-mór, a qual tem o ponto
da cumieira miiíto alto, pelo i|ue correm as telhas, deixando desço-*
berta esta parte do edifício , «juo est<'k ba Planto arruinada.
0c$p<'jíi suas aguas oa margem do sul enire a fregueiia de que
lratO| e a imniediaLi mente inferior o fio Uauâ, o na do norte os rios
llareré, e PailunH » que é do agua branca , e tem por tributários m
rm Utirnri a Prelo. Oí* habitantes d'*í!!tas duas freguêzias tem pela
maior parto sons sUtos dos rios que ílcsm entre ellas ; e se empregam
na eitracçiio do alguma i-dísaparril ha. piaiísava egomma elástica.
um a4
Aik
184
A freguezia do Santa Isabel, que consta de 9 casas coro oobertora
^ paredes de palba ; o de uma igreja com 81 palmos de comprimento
e 46 de largura com paredes de madeira embarreadas, precisando
cobrir de novo, emboçar, rebocar, e caiar; está fundada na margem
do norle 20 léguas distante de Tbomar, em um bonito lugar, tendo o
porto orlado de grandes pedras, qtie servem como de muro. N'este
lugar nâo encontrei pessoa alguma, c informam-me que quasi sempre
esta abandonado.
Fazem barra entre Santa Isabel e Tbomar na margem do norte, os
riachos Cajuary, e Anhori em o canal chamado Uatauai ; e o riacho
Hyaá; na austral os riachos Cbibaní, Mabá e Màtaquiá; d'estes o
primeiro cntrando-se por elle, enconlra-se um lago ^ muitos casta-
nheiros , e campinas que vão até a antiga povoação de Lama-longa ;
e o segundo 9 é abundante em puxeri.
Antes d'esta freguezia marca o mappa geral dd província a povoação
de Lama-longa que já não existe, e ficava na margem septenirionaK
Continuando-se a viagem oncontram-se pela margem do norte o
rio Mararuá, o riacho Jurudi , e os rios Inabú e Abuará, todos d'agua
bronca 9 excepto o ultimo, e pela margem opposta os rios Yurubati,
Uaijuana, Ueneiioxi c Chruará, para então chegar-se á povoaçSo de
Santo António de Castanheiro, que dista 12 léguas dn do Santa Isabel,
c na mesma margem, contendo 11 casas cobertas de palha, estando
4 bem arranjadas com paredes embarreadas, e estão rebocadas, o
caiadas, e as outras são como as do Santa Isabel ; tem lambem uma
igreja com 68 palmos de com[)rimenlo e 27 de largura . coberta de
palha : suas paredes são de madeira embarreadas, e eslSo rebocadas,
c caiadas ; é a igreja a mais bem conservada que até aqui encontrei,
pois só lhe faltam as janellns dos lados, e ladrilhar a sua área.
Navegando-se pelo rio Yurubaxi se encontram muitos lagos, pelos
quaes este rio se communica com o Japurá, fazendo um pequeno
transito por terra.
A povoação de Maçaraby que dista da do Castanheiro 14 léguas,
acha-se situada na margem do norte , e apenas tem C paliioças de
alguns habitantes da antiga povoarão do musa)o nome, que ficava
185
aa margem opposla , e que por causa das muitas aggressões dos indios
Hacús a abandonaram, fundando uns o que hoje existe, e retirando-se
outros para as vizinhas!
Aqui cncontram-se as primeiras cachoeiras, e uma impetuosa cor-
renteza, o que também acontece logo acima de Santa Isabel.
Entre Maçaraby e Santa Isabel fazem barra na margem meridio-
nal o rio Mauxi , e na septentrional os riachos Jahuruá e Dibá.
Na margem do norte, distante do Maçaraby 8 léguas, avisla-se
uma igreja com 47 palmos de comprimento e 19 de largura, coberta
de palha, em máu estado, tendo suas paredes unicamente embarrea-
das; e mais 6 casas, construídas como a igreja: é isto a povoação
de S. José.
Neste intervallo existe uma pequena fazenda pertencente a Manoel
Jacinto, e ó o melhor estabelecimento do rio Negro ; e o sitio de Fran-
cisco das Chagas, que tem alguma plantação de puxcri, café, e salsa-
parrilha, larangeiras, ele.
. Logo acima de Maçaraby o na mesma margem faz barra o rio Cau-
bury, d'onde extrahem alguma salsaparrilha, e do qual se passa pelo
rio Umarinaui, que sabe na sua margem occidenlal, para o rioCaci-
quiari que faz barra acima da povoação de S. Carlos em Venezuela.
Do mesmo rio também se pôde passar, fazendo um pequeno transito
por terra, para o rio Demiti que desagua um pouco abaixo de Ma-
rabitanas.
Vencidas mais 6 léguas chega-se á povoação de S. Pedro situada
na margem meridional e composta de 6 casas cobertas de palha com
paredes de madeira embarreadas.
£' preciso estar no porto para saber-se que ahi existem casas, por
estar o mato na frente da povoação em tal altura, que as encobre.
N'este intervallo não desagua rio ou riacho alg|um digno de men-
cionar-se.
O mappa gerai da província apresenta em seguida a povoação de
S. Bernardo, que acha-se extincta e era fundada na margem do norte
7 léguas acima de S. Pedro, tendo cm seu porto a perigosa cach(jei!\>
deCamanáos: seria de grande utilidade oreapparecimentodVsla fo-
186
voação por ser d'ella que os viajantes se forneciam de homens ptra à
passagem d'esla e das outras cachoeiras que se seguem; porque d'ahl
em diante está o rio cheio de pedras, formando muitas oaladopas pe-
rigosas e diSiceis de vencer » algumas das quaes não ó possivel sem
grande risco de perder a carga , e muitas vezes a própria embarcação,
(o que ja tem acontecido) passarem-se sem primeiro descarregadas;
o que será prudente fazer sempre na que acabo de mencionar, d«s
de Cujubi e Turmas. £* por entre estas catadupas, que se chega a
S. Gabriel, que fica na margem septentrional 12 léguas pouco mats
ou menos, distante de S. Pedro, sendo fundada sobre a cachoeira da
Crocubi, que abrange toda a largura do rio, e ó composta de 21 casaiF
cobertas de palha com paredes de madeira embarreadas, quasi todas
pertencentes ás famílias dos soldados que fazem a guarnição do forte \
ede uma igreja coberta de palha com 140 palmos de comprimento
e 35 de largura : a capella-mór ó separada do corpo da igreja por
grades bem arranjadas, assoalhada e forrada de taboas, e tem um
altar muito decente, ornado com castiçaes de madeira torneados,,
emfim só falta ladrilhar das grados para baixo.
Não posso deixar de mencionar o nome do cidadão a quem se dera
em grande parle o asseio d'esle templo, que é o ex-commandanteFraa-
cisco Gonçalves Pinheiro.
Ha aqui uma escola de ensino primário com 27 alumnos: o pro-
fessor mostra intcressar-se pelo adiantamento dos díscipulos.
Em o lugar mais alto da freguezia está udiíicado o forte, que lhe
dá o nome, conslruido de pedra e cal, com canhoneiras para montar
16 canhões, existindo 5 de calibre 6, e 3 de 4 em bom estado, pre-
cisando unicamente , para poderem íunccionar , serem montadas em
reparos a Onofre. Não se poderia escolher melhor posiçio para se
cdiGcar um forte, do que esta, não só porque suas baterias tem acção
sobre grande parte do rio , como porque descendo não offerece um só
porto de desembarque , som que as embarcações corrão o risco das
cachoeiras, e subindo apenas tem um que é batido completamente
por uma bateria de 3 peças.
Entre esta freguezia e a povoação de S. Fedro fazem barra na mor-
187
ttiiitTi)
gim ttiiitTi) os rjofl Msríá e Curicuríâri, d'«ite sa paisa, por um
Cinal chamado Inebú, psra ario Waupis; e na margem do noUt ot
tmdhm Uacuború, Murâciâni » Cacabú e o rio Meul
tfmpouooicima da S. Gabriel estão outras cachoeiras , chamadas
Caldeirões r as quaes também são bastante parig^ssas de m pássareju
quando o rio «siá eheio^
€onúnumà(hsa a viagem mm difGculdade até a barra do rio
Waupi^ por causa das eon ti n toadas oorren teias, e cachoeiras que a lã
ahi se encontram ; chcgn>se á povoação de San t 'An na IB íi^guas dis-
tante de S. Gabriel^ situada na marg«m do norte com uma pequena
igff ja muito arruinada » e 3 easas cobertas do polb.
O niiippa da provi neta aponta antes d*6sía povoarão as de S. Miguel
0 Santa Barbara que já não eiistem.
No espaço que separa S. Gabriet do Sant^Ànna fazem barra na
rnargern do norte o riacho Hfiját e na do sul o rio Waupís que»
subifído-se por elle , encontram-se em suas margens as aldéassofçuiji-
tes: de Santo António com 9 casas e uma igre|n dê S* Francisco das
Chegas com ê casas; da Concetçào de Nússa Senhora com 1$ casas;
de 5. Domingos com S casas; deSant'Anna com t2 casas; seguia-is
a de S. Paulo que foi queimada uttimameniâ: de S. Schastiao ium
10 casas: de 5. João Baptista com âS ca^ií: de Sagrado Coração
com to casas: Santa Gruí com S casas: Pu punha com 5 casas:
Nossa Senhora das Dores com 4 c^n% de S. José com Ocasos: de
S. Gregório com 6 casas, de S. Miguel com 4 casas: e fínnlinenteda
S« Fidehs com 2Ô casas. Poderiam estas povoafõês estarem mais
ongmeritadas, si o cttrector se interessasse por elfas; pis que é doi
trihmarios do Negro o rio que conta maior numero do indios.
Para que se possa navegar deide Santa habet em embarcaçdes de
alto bordo será mister náo eó destruir as cachocinis que ficnni uhaito
deS. Gabriel, como d'afii para cima, até a distancia de tO lugua^í.
abrir um canal por entre essa serie de roehas quo «e prolonfam quasi
atéâ barra do rio Waupis, o que sena muíio di!<pêndioso; porém
não impossível , %'isto que na tempo ãm vasantes do rio estas roeljAs
aebam-se pela maior parte a poucos pi mos de profundidade; eomtudi»
1S8
quando o rio estiver cheio poderá qualquer embarcação chegar até a
antiga povoaç&o de S. Bernardo.
A povoação de S. Filippe fica na margem do sul em distancia de
4 léguas , com 1 1 casas cobertas de palha , tendo suas paredes rebo-
cadas e caiadas, e uma igreja que está em copcerto.
Em distancia de mais de 4 léguas fica a povoação da Guia na mes-
toia margem, e se compõe de 15 casas cobertas de palha com suas
paredes rebocadas e caiadas ; e de uma igreja que se está edificando
com 74 palmos de comprimento e 42 de largura.
Neste intervallo na margem meridional desagua o rio Içana onde
so contam as seguintes aldôas: S. Matheus com 6 casas; Nossa Se-
Tihora do Carmo com 10 casas e uma igreja em construcção; Naza-
reth com 13 casas e uma igreja em construcção; Santo António com
13 casas; Sanl'Anna com 8 casas ; S. Lourenço com 12 casas ; S. Pe-
dro com 10 casas; S. João Baptista com 11 cnsas; S. Bento com 9
cas^s; S. Roque com 1$ casas; e finalmente S. Jo.<:é com 12 casas.
Todas estas casas são cobertas de palha com paredes de madeira em-
barreadas.
A povoação de Sanl'Anna é situada na foz do rio Coiary ; pois que
o Içana divide-se ahi em dous ramos um para o sul, que continua
com o mesmo nome, e outro pra o norte que é denominado Coiary.
Os Índios dos rios AíVaupis e Içana são dados ao trabalho, e empre-
gam-se na factura de ralos, balaios, redes de maqueira, farinha, e
uma grande parte na extracção da salsaparrilha.
Na foz do rio Ixió está fundada a povoação de S. Marcellino, dis-
tante da Guia 16 léguas, e na margem do sul com uma igreja nova
de 23 palmos de fronte, e 49 de fundo ; e 17 casas cobertas do palha
rebocadas e caiadas. Tem esla povoação um destacamento militar
para privar a entrada de pessoas suspeitas no Yxiê, que desde a ca-
choeira do Coma té oiferece caminhos por onde com facilidade se pôde
passara diversas povoações de Venezuela. Fazem barra entre a Guia,
e S. Marcellino na margem do sul os riachos Mubuaby e Bucury.
Ante^de S. Marcellino indica o roappa geral a povoação deS. João
Baptista, que já náo existe. Vencendo -?e mais 9 léguas chega-se a
froguezta ile S. José de MarãbitciiiaSi que é fuaiiaila na margenà
xíusml, e composlâ de uma ígn^ja com 51 patmo^ dô comprimento
e 27 dtí largura, clousodi tidos perteocenles a lu^çãô, um que sarve
de quartel t e outro de residência do eommandanltí, cobertor de palha,
Imm etíííic^dos o conservados, c íiâ casas lambem eoííertâs de palha,
com sijíís paríidcs rebocadas e ca ilidas*
Da amigo forte que ^qul tia via só restam os vestígios de dous
baluartes, e 6 canltnes desmontadof.
Todas as povõ^çoi^s do dhíricio da lUarabitanas, lem suas casâs
rebocadas e caiadas com argilla pura, á que si asouiras imilâasem
iiio apre^^entariam um irisio aspecto^ o mesmo emle dfslricia o que
,ipre5enla alguma aoi mação* devido aos esforços do 2** lenente com-
mandanto Felisberto AnloDio Corrêa de Araújo , que lambem serve
d i redor do rio Iça na.
iuba opinião que se forme em x^íarabitanas uma colónia oiililar
praças queabi exisieai» quesdo muíLoanlígas, e eslao sobre-
carregadas de íamillaf mandando-^ novos soldados para o quartel
do Cucui. poisdocôuirarioesfa povoação, que esta floroscenle^ ficara
redu/jda ao estado das outras,
Enlro esia povoação e a uliimameitie fallada fa^em barra na mar-
gem do norie o rio Demiti, e ns riachos Muíibi , e Ilibarei que Oca
qua^i fronteiro à frcguezia; o d^ella até a serra do Cucui, os riachos
Emei e Ineni , das vertentes dos quaes se \mh passar para o €act-
quiari , fazendo um transito por Xúrm Lrabulboso e de muitos dias.
Eis o fruclo de algumas horas quts me reataram do cumprimento
do minhas obrigações, esi n'eíle uão se enmotram cs^as bellas fliires
de rfietorica» que soem tkvar a imaginação do leitor, o as quaes
o árido estudo das maíbcmalicas não me lem doisado cultivar com
esmero, encontra-se todavi**! a narrarão ex:icta do ijue observei ou
relaí;íram-me pessoas fidedignas.
Cidade da Barra do Hio Negro, Í2 de Fevereiro de 1855.
if iLaRia MAi^iBirAnía A^rruBtEs GvbjÃo,
Major de arii Ibéria.
190
COPIA FIEL
Oo titnio d« Taques Pompeu, t^am fra P«dro Taqoet d'Aliii«t4a
Paes Ii«ine pelo anno de 1763, e qae le aoha cm poder de JoAe
Pereira Ramof d' Azeredo Coutinho.
(OCTereddo ao Instituto pelo Sr. Antooio da Coita Pinto.)
Francisco Taques Pompeu, natural de Brabante dos estados i%
Flandres, da nobilíssima família de seu appeilído, passou a Portugal
por causa do commercio, e fez assento na villa de Setúbal» onde casou
eom D. Ignez Rodrigues, natural da mesma villa, e foram mora-
dores no casal da freguezia de S« Julião. Assim se vé nos autos de
genere da camará patríarchal de Lisboa , processados no anno de
1696 por parte de Pedro Taques d'Almeida9 sendo juiz da justíGcaçio
de genere o Dr. Manoel da Costa d'0Iíveira9 prior da igreja de 6.
Christovão , desembargador da relação ecciesiastica , ouvidor da
capella real em tempo de D. Luiz de Souza, cardeal e arcebispo de
Lbboa, ese passou commíssão ao reverendo vigário geral de Setúbal,
o Dr. Ventura dé Frias da Frola, em cujo cumprimento, precedendo
informação do parocho. o Dr. João de Brito e Mello, prior da fre-
gtjezia de S. Juliáo, se inquiriram as testemunhas seguintes : Do-'
mingos Alvares de Paiva, moço da camará de Sua Mageslade, o
capitão António Borges Ferreira , Francisco da Cruz Vieira , e
António Nogueira Homem, que todas depuzeram singularmente sobfe
a pureza e nobreza de sangue dos Taques Pompeu. D'estes autos se
passou instrumento em 30 de Dezembro de 1697 pelo Dr. Manoel da
Costa d*Oliveira, sendo escrivão Bonto Ferreira Feijó, que se re-
melteu á camará episcopal do Rio de Janeiro, por onde se tinha
expedido a requisitória para as diligencias de genere a favor de Pedro
Taques d*AImeida, natural da villa de S. Paulo. Do matrimonio de
Francisco Taques Pompeu e D. Tgnez Rodrigues nasceram somente
dons íilhos, D. Francisca Taques, c Pedro Taques. D. Francisca
"TÍqtiefi em xuh àe «cus pak, foi casada em Stilabal cam Actnolá
Joio» fidalgo ti'Atl*ímaTiliii , fjue tiHt; a lionia dts ser pagem do real
tslandarle d*el-r^i I>. Sebastina. Aclmndo-s<; om Selubali teve õsle
nHómao umas dilTorgnçss eom Fernão Velbo, fidalgo da casa mal, q
tf!mDi!ntlo-SB morte do dito alíomaa, o mesmo monirreha Ihasêguroii 3
vida pordârrclo : porém Femão Velho, que era cavalheiro portuguei^
fireocciípado mais dos esMmutos de bria, quo attento ao respeito da
reaí decreto, lírou a vida ao frd^ilgoaltemJío, hmnúo-o expirar com
doai bafas, que Jho metteu p^ío postigo da camará, em (|ue seacbava
muito descansado, em ma essa* Esta culpa fm eommettida publi-
camenle. de dia, em Seiuba!. Iiiíormatlo SuaMagestade pelos grUt»
(Ja viuva. B. Fraocma Tafiiios (fpje logo se pot em Lisboa para na
piedade do monarclia achar a rccia justiça contra ô aggressor) o
maotlmt prender; porém refugiou -se o reo no convento dis freira^
Je.le^ii^ (la villa de Si^iubsU Procedeu a justiça com as costumadas
providmriaíí^ que em taes c«sos aJmilte a immunidade > porém sem
flTeiííi, poríjue asreligitísas tinham occultadoa Fernão Velho (expli*
(amos (jkIu mesmo lormo, qui^ se v^ no instrumento d'esfe facto,
procMçáflo tím Setúbal a favor de Pedro Taques antes de vir para o
Brasil) nri iiífemú datifona ; deu -se conta a el-rei^ que mandando
flsordenftrom a potestade de príncipe soberano, nio tiveram ãs freiras
outro remédio, que Itnçar para fora o deiinqueniej o qual sendo
preto e processado, foi finalmente na praça publica de Lisboa degol-
hda no cadafaliío, i^ depois es(|uartejaííoo cadáver. Em cumprimento
da sentença lhe furam entu Ilíadas as suas casas de sal em Setúbal pari
memoria do caso. Com esta infelicidade nâo proereou D« Fraticisca
Taqtic*» como Itido conota do mesmo Instrumento*
Pedro Taques» irmão unioi de D. Francisca Taqoe*i, passou ao
Brasil feito secretario d 'este esLido cm cf^mpanhia de B, Francisco
dtí Souza, 7.' governador geral do mesmo estado em 159L Depois
de residir na cidade da Bahia aié 1598, levei). Francisco de Soura
ordem d>Urti Felip[>e do Gastei lã para passar a S. Paulo a faior
iniublar as novas minas de ouro, quo já os Paulistas Affonso Sar-
dinha e Pedro Sardinha« seu alho, haviam descoberto em 1597 na
vem 2^
192
serra de Jaguamínbaba (hoje se conhece pela nomenclatura de Man-
tequira), e na de Jaraguá.e Vuturana; e com effeito se achou D.
Francisco de Souza em S. Paulo em Novembro de 1599, e com elle
o secretario Pedro Taques. Em Julho de 1602 se recolheu de S.
Paulo B. Francisco para o reino, d*onde voltou em 1609 feito gover-
Dador e administrador geral das minas de ouro e prata, descobertas o
por descobrir das três capitanias do Espirito Santo, Rio de Janeiro e
S. Paulo, as quaes ficaram separadas da jurisdícção do governo geral
da Bahia, por provisão do rei Filippe passada em aos 15 de
Junho de 1608. E trouxe a mercê de marquez das minas com trinta
mil cruzados de juro e herdade, que depois se verificou em seu neto,
D. Francisco de Souza, terceiro conde do Prado e primeiro marquez
das Minas por carta de 7 de Janeiro de 1670. Trouxe mais D.
Francisco de Souza o poder do dar o foro de fidalgo da casa real, e o
dom para as mulheres, a quatro pessoas por alvará passado em
Madrid e 2 de Janeiro de 1608; outro alvará para poder dar o fôro
de cavalleiro fidalgo a cem pessoas da mesma data, e outro também
da mesma data, para conferir dezoito hábitos da ordem Xp"o, doze
com tença de 20ijj)000 rs. e seis com tença de 50^000 rs. Outro
alvará para dar a serventia dos oíficios vitalicios, os quaes todos se
acham registrados na camará de S. Paulo, livro T. 1607 desde
folhas 30 alé 37. E dos mesmos e da maior parle d*elles faz menção
D. António Caetano de Souza, clérigo regular da Divina Providencia
no seu livro dos grandes de Portugal, trataçdo do marquez das
Minas.
Em S. Paulo casou Pedro Taques com D. Anna de Proença,
natural do S. Paulo , filha de António de Proença, moço da camará
do infante D. Luiz. O dito António de Proença occupou os em-
pregos de que fazemos menção em o titulo de Proenças , onde mos-
tramos, que fora casado na villa de Santos com D. Maria Castanho,
cuja qualidade veja-se em dito titulo do Proenças.
Pedro Taques falleceu em S. Paulo com muito avanç^ida idade ,
lendo occupado todo o tempo no real serviço, porque acabando dt»
ser secretario do estado do Brazil em 1602, em que se recolheu para
193
o reino D. Frarrcisco de Souza, serviu os cargos honrosos da repu^
blica. Voilando D. Francisco do Souza ^ 1609 com os poderes, de
que já fizemos menção, deu a Pedro Taques o officio de juiz de
orphãos da villa de S. 'Paulo vitalicio por provisão datada de 6 de
Junho de 1609, que se acha registrada na camará de S. Paulo livro
T. registros de 1607 a folhas 22. Este, como fica dito, falleceu em
S. Paulo com testamento a 26 de Outubro de 1644, como SjS vô nos
autos de inventario de seus bens no cartório 1.** do tabellião de
notas, masso de inventários antigos, letra P o de Pedro Taques com
testamento. N'elle declarou a sua naturalidade, seus empregos, e os
nomes de seus pais, e que fora casado com Anna de Proença, de cujo
matrimonio tivera seis tilhos de um e outro sexo, e declarou também
as pessoas com quem tinha casado suas duas filhas , e de lodos
iremos fazendo menção, 6 foram elles :
Pedro Taques Cap. 1.»
Guilherme Pompeu d*Almeida Cap. 2."
Lourenço Castanho Taques Cap. 3.*
D. Sebastiana Taques Cap. 4."
D. Marianna Pompeu Cap. 5/
António Pompeu d'Almeida Cap. 6.^
CAP. 1."
1 — 1 Pedro Taques estando casado coin D. Potencia (irmâa do
governador Fernão Diâs Paes, que depois foi mulher de Manoel de
Carvalho d' Aguiar) teve umas diíFerenças em 1640 com Fernando
de Camargo, o primeiro d'este nome na família de seu appellído,
chamado o ligre por alcunha, e desembainhando ambos as espadas e
adagas no palio da matriz da villa de S. Paulo , se travou tâo rija
contenda, que acudindo numeroso concurso a favor de um e outro
partido, passou esse desafio a combate vivo. Baralhada a machina
d'este tumulto, se ofifendiam uns aos outros, sem atinarem na iraa-
quillidade, que em taes casos costuma ser todo aquelle empenho dos
que se põem na rua a atalhar qualquer pendência. Esta teve prin-
cipio na porta do templo, mas levados uns e outros do arior d?
peleji^ conliDuou este troado, correada âs rusi até fâcbir-iâ
vicioso circulo no mesnjo logar, onde tivera origem o primeiro"
furor da paii«o dos dous contendores. Grande foi a providencia
ocealla de Deos n'«sta lance, parque sendo mmim o& mortoi
ii*4qiietlô desordenado rompimento, não perigaram osdoa$ priacipMi
combalantea, Pôdro Taques, e Fernando de Camargo; serenoa isslt
primeira tempeâtftde, em que se dispararam também tiros d^escapeoá,
que oausaram as mortes, que tiouveram n este ronflicto.
Passado tempo ^ o jú convalescido das feridtis oi dous oúcitrartofi,
éiislift um temor de novo combate, para o qual se oóuvídavam intre*
pidos Oâ parenies, alliados e amigos de um e outro partid^f jâ ne&H
ternpo deelirados inimigos sem maU causa para tanto de»ocrt0t que
a vingança o ú ódio o índaRuípav^t eãtimuiu de uma cega paiiflo.
Em o anuo de íHÍ e&tanda Pedro laques em Oúava«0o com
um amigo, tendo as eoi^ins para a porta iraverái d& mãtri£ ú^ S.
Paulo y veio á fal^i Íú letnando de Caiuaigo > e cúrrtu a adaga
pelas costas de Pedru Taquoã, que logo purdeu a vida ao figor
do golpe. Deixou du -úú matrimonio u nuuem no chamado P^ro*
que em tenros annui voou para o ceo.
cAp. :;•■
1 — 2 Guilherme Pompeu d'Â(meÍda viveu abastado no termo dt
S, Paulo, ^ndo um áo% primeiros cavalheiroâ, que na própria
pátria deâfructava o maior respeito^ retirou-se, mudando de do^
micilto, para o termo da \iila da Parnahjba. Esta mesma pru-
dente rosoluçlo seguiram oulros p rentes* Fui muito zelóSO do
bem €ommum e das utilidades do sorvido do monarcha, e taiUo«
qriò as magestades cl-rei D. JoSo l\\ D. Affonso VI e D* V&ítq
U, sendo principo regente ^ o honraram com carias lirmadas do
real punho, não s^ quando vieram a S* Paulo os administradorea
das Minas D. Rodrigo Casiel Branco, e Jorge Soares da Uacedo
em t6B0, mas quando veiu o governadur D, Manoel Lobo em 1677;
a é digna de memoria a que recebeu o dilu Guilb^rnu^ Pompeu •
datada de 2 de Mato de 1&B2 , rccommendando-lhe dése ajuda t
195
favor de V. Pedro da Souza, que vinha examinar a pedra de
prata de Byracojaba, no termo da villa de Sorocaba. Foi Guilherme
Pompeu capitão roór da villa da Parnahjba por el-rei D. Pedro ,
sendo regente. Viveu abundante de cabedaes com grande tratamento
e opulência em sua casa. \ cópia de prata, que possuiu excedeu a
quarenta arrobas, porque os antigos Paulistas costumavam penetrar os
vastíssimos sertões do rio Paraguay atravessando suas terras, con-
quistando bárbaros índios, seus habitadores, e chegavam ao Peru o
Potosy, o se aproveitavam da riqueia de suas minas de prata, de que
ennobreceram suascasas. Com cópia de muitas arrobas, de cuja gran-
deza ao presente tempo nada existe pela ambição de ministros e gover-
Badores, que nodecurso de sessenta e novo annos altrahiram a si esta
grandoza, porque nenhum se recolheu para o reino, que nfio levasf^
boas arrobas. Fundou no termo da villa da Parnahyba, a capclla de
Nossa Senhora da Conceição, em Vuturuna, e a dotou com liberal
mào, constiluindo-lhe um copioso património em dinheiro amoedado»
escravos officiaes de vários ofBcios, e todos com rendas para o
exercício de suas occupações. Adornou a capclla com retabolo de
talho, toda dourada, o lhe deu ornamentos ricos para as festi-
vidades, e outros de menos custo para semanários com castiraes
de prata.
Do tudo se lavrou escriptura pelo tabelliâo du villa da Parnahyba
em 13 de Fevereiro de 1687, e que na sua desce.ndciicia so con-
servasse a administração da dita capeila , sendo 1/ administrador o
reverendo Dr. Guilherme, e por morte doeste António de Godoy
Moreira, seu genro, a que succedia a sua descendência, e instituiu
por sua alma duas missas cada mez, pelo património dn dita capeila,
de que dariam contas os administradores d*e1td. Casou Guilherme
Pompeu d'Almeida em a matriz de S. Paulo a 20 de Agosto de 1G39
com D. Itfaria de Lima Pedroso, filha de João Pedroso de Moraes
e de sua mulher Maria de Lima. Em T. de Moraes cap. 3.* Jaz
sepultado na capeila mór da matriz da Parnahyba em sepultura, que
n'ella tinha, como declarou no seu testamento, com que fulleoeu.
Deixou três filhos :
196
2 — 1 Guilherme Pompeu d' Almeida § l.**
2 — 2 D. Maria de Limai e Moraes § 2.*
2 — 3 D. Anna de Lima e Moraes § 3.*
S 1.''
Guilherme Pompeu d' Almeida foi o mimo de seus país, 3 — i
como único varão, e com os desejos de o verem bem inslruido, o
mandaram para a cidade da Bahia aprender a lingua lalina no col-
legio dosjesuitas, onde se consummou excellente grammalico. Foi
dotado de grande viveza de engenho e docilidade, sohre que sahiu
muito um natural respeito, que soube sempre conciliar dos estranhos,
amigos e parentes. Abandonando Gear herdeiro de seu pai do grande
cabedal, que intentaram n'este Clho perpetuar a sua casa, teve vocação
de ser religioso franciscano na província da Bahia, onde se achava,
o que sendo communicado a seus pais, atalharam com rogativas este
religioso intento, e cedeu o filho ás supplicas paternaes, assentando
ser presbytero secular. Estudou a philosophia e iheologia, da quai
teve o grào de doutor por bulia pontifícia. Foi tão amante das letras,
queda grande profusão do seu liberal animo tinham segura protecção
os sujeitos bem instruídos na historia sacra. Teve excellente livraria,
que, por í;ua morte, encheram os seus livros as estantes do collegio
de S. Paulo, a quem constituiu herdeiro da maior parte de seus
grandes cabedaes. Nasceu elle na villa da Parnahyba, em cuja matriz
foi baplisado n 24 de Abril de 1656. Fez assento no sitio de Arassa-
riguama, onde fundou a capolla de Nossa Senhora da Conceição , a
cujo myslerio teve cordial devoção, toda adornada de excellente talha
dourada com muita magnificência. Celebrava-se annualmenie a festa
a 8 de Dezembro com um oilavario de festas de missas cantadas,
sacramento exposto, e sermão a vários santos de sua especial devoção,
ese concluía o oitnvario com um anniversario pelas almas do purga-
tório com oífício de nove lições, missa cantada e sermão para excitar
a devoção dos fieis ouvintes. De S. Paulo concorria a maior parte
da nobreza com os religiosos da maior autoridade das quatro com-
munidades, companhia de Jesus , Carmo, S. Bento e S. Francisco,
p
I
197
fí os clérigos de maiar graduação- Era a casa tio Dr. Pompou
A*aqt]elle& dias uma populosa villa ou côrlÊ pela assistência e concurso
fios hospedes. Psra a grande?..! do tralamenlo da casa d'6Slâ heróe
Paiilístãt basta saber se, que havia parameniM para cem camas,
cadf unia cum cortinado pmprm, Eeiii^noa 6iíos da bretnfiba, guarne-
cidos dê reodns e corn uma bi^in de praia debaixo de rada uma das
dílas cem eamas. som pedir-fe nada empreitado. Tínba na entrada
de sua fd^cenda, em Arassariguama, um pórtico, do qual até a$ casas
mediava um plano de 50í) pasmos, todo mirnídoí cujo leneno servia
de palio á igreja ou capelta da Conceição. !Pi\*ste porião ficavam todos
os criado?^ dos ltospi?d*3s, qíiordí so apeavam, largnndo ei^poras e outros
trastes, com quô viuliam a c:ivall0t e tudo ficava entref^uea criados
DscravD^, qtiepara esto politico ministério os linlia hmn disciplinados*
Enlpva o liespede, ou sfi um, ou mui los era nu mero* o nunca mais
nus dias, que so demorava , aíndj quo fus^e de uma ^emtína ou do
um mes, n3o tíntia nenhum dos hospedes noticia algumíi dos seus
escravos, cava lios è trastes. Quando porém quf)lquer dos hospedes se
despedia, ou fosse um ou muitos ao mesmo tempo diegando ao portão^
cada II rn achava sua cava lio com os mesmos armíoi^, eni que tinha
vindo montado, as mesmas esporas, e os trastt^ lodos, sam que a
multidão de gente produzisse a menor confuííía na advertência
d*a^uelles criados . que para isio estavam destinados; os cavallos
rocoltiíam as cavallanças, onde tinham todo o necessário e milho..
que é o que Sê úi diariamente no Bra7.ii aos cavai los, principalmeutô
ug capitania do S. Paulo; o lem feito ver a experiência a utilidade^
qu0 recebom d*asie alimento, que as ki mais briosos, aíenlndos o
capares da aturar, coroo aturam, jornncins de duzentas leguns, sem
haver um só d ta do descanso. Esta advertência era uma das acções
do q»)e os hospodes se aturdiam, por verem que nunca jamais entre
muUidao de varias po^oa^, que diariamente concorriam a visitar e
ohsí?qfiiar dias o dias a Pompeu, e^perimen tossem a menor fulia,
nem ainda uma sê troca de trastes. Foi profusa a mesa de Pompeu,
pois que nVlla as iguarias de varias viandas se praticava com tal
Iveriífncia. que se depnis de aeabflda olla e passadas algumas horas»
198
chegassem hospeJes, nSío liavia a menor falta para banquelaa-los.
Por esia razão estava a uckaria sempre prompla. A abundância de
rrigo n'esta casa foi tanta, que todos os dias se fazia pSo, de sorlo
que parn o seguinte já não servia o que tinha sobrado do antecedente :
o vinho ora primoroso, e de uma grande vinha, que com aceno se
cultivava, e supposto o consumo era sem miséria , sempre o vinlio
sobrava de anno a anno Engrossou o seu copioso cabedal com a
fertilidade das minas geraes, para as quaes mandando numerosa escra-
Tatura debaixo da administração de zelosos feitores recebia lodos os
annos avultadas remessas de ouro. Soube distribuir este grande
cabedal , mandando á corte de Lisboa reformar a prata , que em
muitas arrobas herdou de seus pais, e posta em obra mais polida,
teve a copa mais primorosa, que nenhum seu nacional. Distribuía
considerável somma de dinheiro em esmolas e sustentava com liberal
grandeza aos sou> correspondenleSi Na cúria romana teve excedente
aceitação no honroso obsequio de alguns cardeaes, pelos quaea
conseguiu as letras de bispo missionário, que chegaram a tempo que
já estava enfermo, do quo acabou a vida, servindo-lhe só para o
tratamento de III.**, que na oração fúnebre, que se recitou no cotiegio
de Jesus de S. Paulo, deu o orador ao cadáver exposto no mausoléo,
que com funeral pompa lhe erigio o mesmo collegio, agradecido á
henetlcenria, com que lhe deixou muita parle dos bens. A escravatura
toda e terras de cultura encnpeilou à sua capella de Nossa Senhora da
Conceição de Arassariguama, e deixou ao collegio de S. Paulo para
lhe aproveitar seus rendimentos, cumprindo-se annoalmente comia
festa de Nossa Senhora da Conceição em 8 de Dezembro. Teve o reve-
rendo Dr. Pompeu a gloria de hospedar por muitos mezes a um
bispo grego, que dos indios da Hespanha veiu ter a S. Paulo para na
frota do Rio de Janeiro se passar a Lisboa. Depois hospedou ao padre
Manoel de Sá. palriarcha da Ethíopia, que, vindo da índia á Bahia,
passou a S. Paulo em 1707, attrahido do nome de Pompeu, a cuja
conta corrou por noticias, que teve antecedentes da vinda do pa-
triarcln. toda a despeza, logo que da Bahia chegou ao Rio de Janeiro,
onde o rorr»;«?pandenle o fez tratar com toda devida grandeza, com a
199
^nai embarcot] pnra Santa<«, donde pnssou a S. Paulo, já tòfiduzído
pelo comboio de cem índios, quo lodos carregados tinha mandad<i
Pompeu para transitar dous dias do jornada até S. Paulo ao dito
palriarcha; tudo foi feito â custa de Pompeu. Esle se confundiu de
encontrar nos mattos da villa de S. Paulo um varão Ião bem instruído,
quo lhe não fazia falta a criarão das cortes, que Pompeu nSo tinha
conseguido. Emfim, úo reverendo Dr. Pompeu toda a noticia será
sempre diminuta e duvidosa, expressão , que se fez verdadeira pela
ocular experiência dos que alcançaram tanta magnlGcencia ; só em
um legado ao collegio de S. Paulo para moveis de sua igreja, e do
cinco altares, de prata quatorze arrobas em castiçaes, uns lisos para
os dias semanários, e outra ordem de lavrados para os dias festivos, a
cinco grandes alampadas , todas de prata lavrada além de pratos
grandes de dar agua para as mãos com jarras para o mesmo 6m.
Falleceu Da villa da Parnahyba a 7 de Janeiro de 1713, e com
marchado sete léguas foi conduzido o cadáver em um caiião coberto
de velludo, que «arrogaram os seus parentes com acompanhamento
de todo o povo d*aquella villa, onde elle tinha sido o verdadeiro pai
da pobreza, o amparo dos necessitados, e objecto da maior veneração;
por esta comprida estrada vieram tochas accesas acompanhando o
cadáver, que veio para o deposito do elevado mausoléo, que já no
collegio se tinha formado. E>tas exéquias se celebraram com pompa
funeral pelo agradecimento da grande herança , que recebeu depois
da morte do Dr. Pompeu, não contente com a liberal grandeza, com
que em vida lhe fizera largos donativos. Náo consumirá o tempo o
grande Rome, que soube conciliar, a docilidade sem alteração, a
grandeza de animo «em "nota de diminuição, a procedência, afTabi-
lidade, o amor e caridade, que praticou até o fim da vida, o heróe
dos Paulistas, o famoso, o saudoso e appetecido Guilherme Pompeu
d'Almeida, porque a memoria de seu nome durará sempre na noticia,
que se transmittirá nos vindouros de uns para outros. Não quiz que
a campa do seu sepulchro tivesse mais armas, que o breve epitaphio,
que lhe declarasse o nome. Jaz sepultado ao pé do altar de S. Fran-
cisco Xavier, que elle fundou, porém os padres do collegio de S.
xvni 26
200
Paulo lhe mandaram abrir no mesmo mármore, que lhe serre d»
campa, o seguinte epilnphio :
Hoc jacet in íumulo Guilhermus Presbyíer auro et genere et
magno nomine Pompeius.
§2.-
â — 2 D. Maria de Lima Moraes easou três vezes, e de nenhama
teve frueto. A primeira com António Bicudo de Brito, na matriz da
Parnahyba a 31 de Janeiro de 1667, capitão da dita vijja, filho de
Joio êicudo de Brito e de D. Anna Ribeiro de Alvarenga ; em T/
de Alvarengas, cap. 3.* § 1 .• n/ 2 — 1. Falleceu sem geraçSo o dito
António Bicudo com testamento a 1 1 de Janeiro de 1687. Segunda vez
easou com o capitão Pedro Dias Paes, filho do governador Fernão
Dias Paes o de sua mulher D. Maria Garcia, e falleceu o dito ca-
pitão mór Pedro Dias Paes, sem geração em 1700. Casou terceira
vez com Thomó Monteiro de Faria, natural da Bahia » familiar do
Santo Offlcto, capitão mór e governador da capitania de S. Vicente
aS. Pauk). Falleceu sem geração a dita Maria de Lima em S. Paulo
com testamento ao l.*" de Fevereiro de 1711. Cartório do 2.'' tabellilo
de S. Paulo, nota n.*" 16 T.* 1710 até 1713, testamento de D.
Maria de Lima.
S 3.-
D. Anna de Lima, qne no mesmo dia 31 de Janeiro 2 — 3 do
1667, em que se casou sua irmãa D. Maria de Lima, se casou também
com António de Godoi Moreira, cidadão de S. Paulo, filho de João
de Godoi Moreira e de sua mulher D. Eufemia da Costa Motta.
Falleceu António de Godoi Moreira com testamento a 15 de Julho
de 1721, 6 já muitos annos antes tinha fatlecidosua mulher D. Anna
da Lima. Teve de seu matrimonio , como consta do testamento
referido, cinoo filhos, que são os que abaixo seguem. António do
Godoi Moreira soube assignalar-se nas obrigações de seu nobre
saague. Vindo a S. Paulo em 1697 o £x."<» Artbur de Sá e Menezes,
govamader a capitão general da capitania do Rio de Janeiro para
201
adiantar os novos descobrimentos das minas de ouro descobertas
pelos Paulistas Carlos Pedroso da Silveira, e Bartholomeu Bueno de
Siqueira pelo anno do 1695, no sertfio de Sabarabuçu, que hoje sa
conhece por Minas Geraes; ordenando-llie Sua Magestade esta pas-
sagem com 600^000 rs. mais em cada um anno por ajuda de custo
por carta de 27 de Janeiro de 1697 (secretaria do conselho ultrama*
ríno, livro de registros das cartas do Rio de Janeiro T.* 1673, folhas
163) o encarregou o dito Arlhur de Sá de varias diligencias do real
serviço» o por desempenhar n'ellas as obrigações de honrado e leal
vassallo, António de Godoí Moreira mereceu que el-rei D. Pedro II
lhe mandasse agradecer por carta de 20 de Outubro de 1698, firmada
do seu real punho do theor seguinte: (secr. do cons. ultram. liv. de
reg. dos cari, T.* 1673.) António de Godoi Moreira. Euel-réi vos
envio muito saudar. Por haver sido informado pelo governador e
capitão general do Rio de Janeiro Arthur de Sá e Menezes do zelo»
com que vos houvestes na expedição das ordens» que tocavam ao
meu serviço, que o dito governador para esse effeito expediu , e a
grande vontade» com que vos acháveis em tudo» que vos recommendou»
mostrando n'istoa boa lealdade de honrado vassallo. Me pareceu por
esta agradecer- vos» e scgurar-vos, que tudo que n'este particular
obrastes me fica em lembrança para folgar de vos fazer toda roercé.
quando trateis de vossos requerimentos. Escripta em Lisboa aos 20
de Outubro de 1698. Com a rubrica de Sua Magestade.
Teve cinco filhos :
3 — 1 José de Godoi, falloceu solteiro.
3 — 2 D. Escholastica de Godoi.
3 — 3 JoSo de Godoi d'Almeida.
3 — 4 Guilherme de Godoi d'AImcida.
3 — 5 Francisco de Godoi Moreira.
D. Escholastica de Godoi casou duas vezes ; a primeira com Bento
do Amaral da Silva» a segunda, com José Pinto Coelho de Mes-
quita ; de ambos fazemos distincta e clara menção.
1.* Casamento.
Foi Bento do Amaral da Silva, natural da cidade do Rio de
202
Janeiro, da nobre ibmilia dos Amaral Gurgcl d'aqne)Ia cafrilaniV^
onda a sua dislincrio e nobreza ó assaz conhecida , o continua a sua
descendência em avultadas casas c senhores de engenhos da dita
cidade. Foi Bento do Amaral irmão de Fr. António de Santa Clara,
religioso franciscano, que na sua província do Rio de Janeiro nào
esquecera o seu nom3 pelos empregos, que occupou no seio da
religião, e de Franci^^co do Amaral Gurgei, que fai capitão mór da
capitania de S. Vicente o S. Pauio, em cujo governo suecedeu ao
capitão mór governador José de Godoi e Moraes, e lendo feito pleito
e homenagem da dita capitania nas mãos do governador e capitão
general do Rio de Janeiro , tomou posse na camará capital de S.
Vicente: irmão também do D. Isidora do Amaral, D. Martha do
Amaral, D. Maria Josefa do Amaral que todas três foram
freiras professas no convento de Sanla Clara de Lisboa : irmão
também de I). Domingas do Amaral, que casando no Rio de
Janeiro foi mâi de Fr. Luiz do Santa Rosa , que occupou o
logar de provincial dos franciscanos , em cujo emprego deixou bem
estabelecido o seu nome na su^ província, c foi também mãi de D.
Antónia Maria do Amaral, mulher do tenenlc-coroncl Salvador
Vianna, e de Helena de Jesus, mulher do sargento mór Felippe
Soaras Lousada, senhor de engenho do Rio de Janeiro; de D. Maria
Antónia, mulher do capitão André de Souza, de cujo matrimonio 6
filho o capitão Félix de Souza Castro, professo na ordem de Chrislo, e
fenhor deengenlio, onde possuía conto c noventa escravos. Foi Banto
do Amaral da Silva filho do coronel José Nunes do Amaral, morador
que foi da oidnde do Rio de Janeiro; e de sua mulher D. Mecia de
Araon Gurgei. Foi dito Bento do Amaral sargento mór no Rio do
Janeiro, foi ouvidor e corregedor da capitania de S. Paulo por
ausência do proprietário, o descmbargndor João Saraiva de Carvalho.
Teve grande tratamento, igual ao fundo do seu cabedal. A sua casa
foi servida com numerosa escravatura , criados mulatos, todos cal-
çados, bons cavallos de estribaria, ricos jaezes, excellcnlcs moveis
de prata e ouro, sendo bastante avultadas as bnixcllas de prata, cuja
copa foi de muitas arrobas. Tinha passado a Minas Geraes no prin-
203
cipio da grandeza e ferlilidade dd seu descobrimento , e se recolheu
n S. Paulo com grosso cabedal, que soube empregar em fazen-
das de cultura para o tratamento que leve de pessoa lao distincla.
A sua fazenda foi no sitio de Emboacaba, margem entre os rios
Tieié e Pinheiros. Todo o grande cabedal d*esta casa veiu a con-
5umir-se com o tempo depois da morte de Bento do Amaral, nao só
por meio da divisão entre muitos herdeiros, que deixou, mas também
pelo segundo casamento da viuva , que acertando nas qualidades do
nobfe sangue do segundo marido , nâo lhe pude atalhar os descon-:
certos do animo, de que faremos menção.
2." Casamento.
Casou pois segunda vez com José Pinto, de distincla qualidade,
como ramo da illustro C3sa do Bom Jardim, o qual fallepcu em S.
Paulo em bem contraria fortuna á opulência , que desfruclou cm-
qu.anlo casado, porque fallando-lhe a nea^ssaria economia, consumiu
o cabedal. Teve um único filho que morreu.
Teve D. Escholastica de Godoi de seu primeiro matrimonio com o
sargento mór Benlo do Amaral da Silva (que falleccu a 21 de Junho
de 1719, cari. de orphnos de S. Paulo, masso 2/ de inventários,
letra B) nascidos em S. Paulo 11 filhos:
4 — 1 José du Amaral.
4 — 2 Anlonio Nunes do Amaral.
4 — 3 Francisco do Amaral.
4 — 4 Guilherme do Amaral da Silva.
4 — 5 Bento do Amaral Gurgel.
4 — G João do Amaral, falleceu solteiro.
4 — 7 Anna Maria do Amaral.
4 — 8 Mccia Gurgel.
4 — 9 Escholnslira do Amaral.
4 — 10 Isidora do Amaral.
4 — 11 Ignacia do.
4 — 1 José do Amaral Gurgel, morador na villa de Iiú, ond«
existiu cm 1764 c tem servido os honrosos cargos da republica, da
2M
qual, extinguindo-se o caracter do jaiz áe fora na pessoa à& Dr^
Theotonio da Silva Gusmão^ foi José do Amaral o primeiro juir
ordinário. Está casado com D. Escholastica de Arruda. Em IV de
Arrudas cap. !.• § 4.» tíJ* 2 — ia.
4 — 2 António Nunes do Amaral falleeeu em Jundiahy sem-geraçàok
4 — 3 Francisca do Amaral fallecea solteiro na sua fazend»
de Emboacaba.
4 — 4 Gulllierme do Amaral da Silva, que existia em sua fa-
zenda do rio Tiotó, sitio de Piracicaba, e foi casado com Escbolastica
da Silva Maciel, estando viuva do primeiro marido, Álvaro Netto
Bicudo. Em T.*» de Pachecos Jorges § 1." n.° 2 — 10.
Bento do Amaral Gurgolr que existiu solteiro em 1764 4 — 5.
João do Amaral, que falleeeu solteiro 4 — 6.
D, Anna Maria Gurgel do Ainaral, (^ue existiu no estado de
viuva de Ignacio Dias da Silva,, de quem tratamos n'este T.° cap.
3." § i." n.- 4 — 2 cora descendência 4 — 7.
D. Mecia Gurgel do Amaral, que existiu casada com Manoel Be-
zerra Cavalcanti, natural da cidade de Olinda, filho de Miguel Bezerra
de Vasconccilos o de Brigida de Figueiró» e tem dous filhos 4 — 8.
— Josó Bezerra do Amaral Gurgel Cavalcanti,, natural de S.
Paulo 5— 1.
D. Maria Josefa Bezerra do Amaral, que foi casada com José de
Godoi Rodrigues 5 — 2.
I). Escbolastica do Amaral, que falleeeu nas minas do Maranhão na
capitania de Goyaz, para onde tinha passada com seu marido Paula
Cailos de França 4 — 9.
D. Isidora do Amaral, que foi casada com José Gonçalves Ribeiro,
irniào do Sebastião do Prado Cortes, que (!ra 1722, por testemunhas
de maior exreprSo, justificou a sua nobreza no cart. do vig. da vara
de S. Paulo, cujo logar occupava o reverendo João de Pontes § 5.*
4—10.
D. Ignaci.1, que falleeeu sem geraçSo, lendo sido casada com
Aleixo Leme da Silva, que foi mestre de campo dos auxiliares do
regimento de 4 — 11.
2t)5
3 — 3 loào de Godei d* Almeida (§ 3.' n." 3—3) falleceu
tia Parnahyba a 26 de Julho de 1727. €art. de orph, da Pamahyba,
letra I^ n.* 555. Foi «asado «om Anna da Silva , natural da dita
villa, viuva de Francisco Carvalho, capitão de infantaria paga. Em
T.- de Godoís. Gap. 3.* § 7.« n.* 3 — 3. Teve uma filha única.
— Rita de Godei d*Almeida e Silva, que casou em Parnahyba
coro João de Mattos Raposo, natural da ilha de S. Miguel, protector
e administrador da capella da Conceição de Vuturuna , filho de
Domingos de Mattos Fernandes e sua mulher Maria Vieira, e teve
em Parnahyba 10 filhos :
Anna da Silva.
Maria Paes.
Francisco de Salles. casada com Pedro Frasáo de Brito, filho da
Guilherme Pompeu de Brito.
Mariana Paes.
Sebastiana Paes.
D. Maria, ainda menor em 1773.
Manoel Raposo.
José da Silva Paes.
Francisco de Godoi.
Eufemia, que falleceu de tenros annos.
3 — 4 Guilherme de Godoi d' Almeida (§ 3.*) que um raio matou
no morro de Vuturuna, e acabou solteiro.
3 — 5 Francisco de Godoi Moreira. Foi capitSo mór nas Minas
Geraes, e foi morgado da casa Branca , e tomou posse da adminis-*
traçSo dos bens da capella de Nossa Senhora da Conceição de Vuiu-^
runa, da qual foi fundador e padroeiro o capitão mór Guilherme
Pompeu d' Almeida, em 22 de Novembro de 1727, e lhe passou esta
adminfstraçSo por morte de seu irmão João de Godoi d'Almeída.
(Gart. da ouv. de S. Paulo, massos dos T.*' do residuo, letra F,
Francisco de Godoi.) Recolhido das Minas Geraes fez estabeleci-
mento naTilIa de Mogi das Cruzes, onde casou com D. Maria Jorge^
e teve um filho (na copia n9o se percebe bem si é um ou quatro por
estar mal escripto). António Jorge de Godoi, filho de Francisco de
206
Godoi Moreira, morador na villa dd Jundiahy, onde occupa o posto
do sargento mór das ordenanças, a cujo cargo existem as tropas
militares, depois da morte do capitão mór Martinho da Silva Prado.
CAP. III.
Lourenço Castanho Taques casou €om D. Maria de Lara, 1 — 2
filha de D. Diogo Lara, e de sua mulher D. Magdalena Fernandes
de Moraes Feijó (em T.» <le Laras § 4.**) na matriz de S. Paulo, a
24 de Novembro de 1631. Este Paulista conservou-se sempre na
pátria, sem que o infeliz successo de seu irmão Pedro Taques, morto
á falsa fé por Fernando de Camargo fcap. 1.") o obrigasse a seguir a
mudança, que fizeram os outros irmãos, porque o seu grande respeito
e força d'armas o promptificava para pôr em cerco os inimigos do
partido contrario. Teve assento na mesma fazenda da Ribeira de
Iporanga, que tinha sido de seu pai Pedro Taques. Não lhe foi
adversa a fortuna nos cabedades, com que se fez opulento para
«conservar respeito e tratamento de pessoa aposentada. Nas occasiões
do real serviço sempre deu acreditadas mostras de honrado vassallo
com liberal despeza de sua própria fazenda. Assim o praticou, quando
Salvador Corrêa de Sá e Benavides passou a S. Paulo feito adminis-
trador geral das minas de ouro e prata, no anno de 1659 com o
governo das três capitanias Espirito Santo , Rio de Janeiro e S.
Vicente e S. Paulo (camará de S. Paulo n.* 4 T." 1658 a folhas
62 e 64) por ordem d'6l-rei D. João IV, datada em Lisboa a 7 do
Junho de 1644 (archv. da cam. de S. Paulo liv. de reg. capa de
couro de veado n.*" 2 T.** 1642 folhas 50 em diante) o se dilatou
pela capitania do Espirito Santo, para onde passou primeiro a tratar
do descobrimento das esmeraldas, tendo Lourenço Castanho a incom-
parável honra de receber uma carta do monarcha, firmada pelo seu
real punho, em que lhe recommendava desse ajuda á favor do admi-
nistrador e governador Salvador Corrêa de Sá para ter eCTeilo a
diligencia, a que era enviado. Assim o fez; e conservando-se em S.
Paulo até 1661 o dito governador Salvador Corrêa de Sá dando
execução ás diligencias, de que fora encarregado, obraram os officiaes
S07
jhr camará do Rio de Jaoeirch» povo d*aquella cidade em l-CGO um
altentado. conlra as pessoas de Thomé Corrêa d'Alvarenga , gover-
nador da praça , do sargento roór Martim Corrêa Vasques, do
provedor da fazenda real Pedro de Souza Pereira, prendendo a todos
em uma fortaleza, e os dopuzerara do governo, negando lambem
inteira obediência ao governador geral Salvador Corrêa. Este se
achava em S. Paulo, quando chegaram as noticias do insulto , e
muito mais quando os mesmos officiaes da camará dirigiram aos da
de S. Paulo uma carta, de que abaixo daremos uma liei copia para
instrucçâo d'este attentado. Logo se dispôz o governador a p^-se a
caminho» e ir para o Rio sooegar o tumulto e dar o merecido castigo
aos cabeças e autores da sedição; mas reconhecendo-se o gravo
perigo de vida, a que ia expôr-se, ou ao menos de Gear desautorisado,
experimentando a violência, que costuma produzir o desafogo da
paixáo» intentou Lourenço Taques com o sen grande respeito, a que
se uniram gostosos os Paulistas da primeira nobreza, alalliar este
damno, supplicando com instancias de leal vassallo náo quizesse pôr
em tào evidente risco a sua vida e autoridade. £ porque o valor e
constância de Salvador Corrêa não admiliiu a pratica por julgar, que
nâo ficava bem, deixando-se persuadir d'estas rogativas, e residir
em S. Paulo até a real resolução sobre matéria delanto peso, assentou
Lourenço Castanho acompanha-lo com forças de armas até o Rio de
Janeiro, mas nem com este auxilio admilliu elle, e com este total
desengano fomentou Lourenço Castanho, que a nobreza seajuntasse
em corpo de uniào con o senado da camará, para por carta da parta
de Sua Magestade se lhe ponderar a matéria com esperanças de
aceitar as ponderações, que se lhe fizessem. Emfíra aquelle cavalheiro
reconheceu a lealdade di^s Paulistas, o seu animo e o interesse, que
tinham da quietação publica em serviço do sen monarcha. E como
já tinha mandado lançar bando ao som das caixas, no Rio de Janeiro,
promettendo perdão em nome de Sua Magestade aos delinquentes »
assentou ir para Ilha Grande com o fundamento de ter ali em que
occupar-se, e^cr aquolla villa uma das da capitania de S. Vicente e
S. Paulo, e conhecido este intento sempre lhe quizeram atalhar a
XTiii 27
208
resolução pnra evitar algum novo altentado contra elle. Isto assim
ponderado, so tonnou em camará um assento, de que abaixo faremos
mençSo Sào tantos os apertos, ou, para melhor dizer, as tyrannias»
com que o máu gcverno de Salvador Corrêa de Sá e seus parentes
tem opprimido toda esta capitania, que não podendo já supera-los
(por mais que o intentem), resolveu a nobreza, dero e povo, unanimes
e conformes a deitar de si a carga, com que já nao podiam. Gados n»
justificação ante as reaes pessoas de Suas Magesta cies das catisas, que>
tiveram, e os moveram, e em que se fundaram para depor ao dito
Salvador Conôa, e a Thomê Corroa d^Alvarenga do governo em que
|)or sua ausência o deixou ; tirando também do seu posto ao sargento
mór Marli m Corrêa Vasques, o o prov-edor da fazenda Pedro de Souza
Pereira (todos ficam presos na fortaleza doesta cidade), pois a todos
estes senhores reconhecia esta miserável capitania , com outros
parentes seus, por governadores d'e1la, tratando só de seus accres-
eentamentos, e por muitas vias de nossa destruição, dO qne os mo-
radores doesta capitania, que a esta vem com as suas drogas, são>
bastantes testemunhas, pois experimentando o rigor, com queso
Ibes tomavam, eo máu pagamento que eUes sustínham, acudindo-nos^
como tão bons vizinhos com o ordinário sustento , qtio aqui neces-
sitamos, devendo ser differentemente correspondidos ao beneficio^
que nos fazem , como será d'aqui em diante, sendo Deus servido.
Supposto isto, queremos com toda a verdade representar á Soa Ma-
gestade, entre outras cousas, o procedimento com que o adminis-
trador geral Pedro de Souza Pereira se tem iiavido n'eI1as em razão
Aos estanques , que ba mandado fazer de aguas ardentes e vinho e-
outras fazendas para com ellas comprar ouro o mandar a Sua Ma-
gestade a titulo, de que é rendimento de quintos, afim de ir
sustentando o muito, que tem promettido a Sua Magestade pretender
tirar das sobreditas minas. E também o que n^essa capitania se tem
alcançado sobre o mineiro Jaime Connnere, do qual corre por c&
fluna, que fora violentamente morto em respeito de haverem man-
dado a Sua Magestade, em nome do dito mineiro, alguns avisos
phantasticos^ para se ir continuando com o engano sobredito. Pe-
209
diinos a Vm/**, nos queiram mandar informação certa de todo
sobredito, pois também vem Vm/** a fazer n'isto serviço a Sua
Magestade, que tanto deseja ^aber com certeza o desengano doestas
minas, e de todo o procedimento d*ellas, fazendo timbem (e á nós
SC lhes parecer] aviso ao dito senhor, enviando- nos as cartas para por
nossa via se lhe remetterem. Também pedimos, nos queiram mandar
inforniaçâo certa, e, si puder ser, jurídica dos preços, por que de
vinte annos a esta parle se vende o sal n'essa capitania, e por cuja
conta carregado ou já lodo ou parte d'elle; n'isto farSo Vni.*** um
grande serviço a este povo, e a nós mercê, e com ella reconhece-
remos, para nSo faltarmos nunca com a mesma correspondência,
que com razão a devemos fazer, visto a chegada vizinhança em que
estamos, nSo faltando a ella uns e outros. Guarde Deus a Vm/**
Rio de Janeiro, em camará, aos IG de Novembro de 1660. Eu Jorge
de Souza, escrivão da camará, a fiz escrever e sobre*screvi.— C/c-
meníe Nogueira.'-Fernando Falleyro llomem.Simào Botelho
d' Almeida. — Diogo Lobo Pereira.
Retpotta dos oamaríttaf de 8. Paulo.
De 16 de Novembro é a carta, que aqui recebemos de Vm/^, cujo
cuidado presente sentimos grandemente, e muito mais as causas d'elle.
Deus, nosso Senhor, que nos maiores trabalhos costuma dar por
mais suaves alegres fins, se servirá concedô-los a sim a Yro/*', para
que lhes possamos dar os parabéns, como agora os pezames de seus
enfados. A' informação, que Vm.'** nos pedem dos estanques, que o
administrador das minas Pedro de Souza Pereira mandou fazer de
vinhos e aguas ardentes, nSo podemos satisfazer; porque n*esta villa
nunca os p&z, o si nas outras o fez, é por razão de que ficavam-lhe
ellas em via para a jornada das minas. As camarás d*ellas devem
informara Vm.*** n'eí:te caso, que nós ignoramos. Emquantoá morte
do mineiro Jaime Commere, supposto que a principio a fama, como
em outras cousas^ publicou, fora violentada, todavia em contrario se
praticou depois; entrenós serve n'esta camará quem com curiosidade
perguntou pelo successo a pessoas, que foram presentes, asquaeslhe
21 (í
disseram, que fora a morie casuahi)ente desastrosa , porque indo a^
mudar com passo mais largo o dilo mineiro do uma para outra pedr»
por baver antes escorregado, e cabHo se despenhara na cata ou alta
cova, que fàzia; também podem ter mais plena noticia dos que são
vizinhos do lugar, ondesuccedeu o caso. AVcrca do saf não temosr
noticia, por cuja conta tem vfndo da vrlla de Santos, e os preços tenr
sido vários; os moradores de tal villa avisarão a Vm.**' d*esta matéria
com certeza. Em razão do governador Salvador Corrêa de Sá, expe-
rimentamos tanto pelo conrtrario as mal fundadas queixas d'esse povo,
que com todos os d'esta capitania juntos, lhe nSo devesse parte do
muito que a essa estranham a novidade do surcesso, a que Vm.*'*
devem acudir com o remédio, para que Sua Magestade fique melhor
servido, c nós não faltaremos á obrigação que temos, de seus leae»
vassallos. Guanle Deus a Vm/** S. Paulo em camará, aos iS
de Dezembro de Í66Q. — António de Madureira Moraes. —
Manoel Alves Preto.^Antonio Paes Leme.— João Vieira da
Silva,
Resposta do general Salvador Corroa á carta, que lhe escreveu a
nobrezn de S. Paulo com os prelados o reverendo D. Abbade de S.
Bento Fr. Jeronymo do Rosário, o prior do Carmo, Fr. Gaspar de
S. innocencio, guardião de S. Francisco, o vigário da igreja Do-
mingos Gomes (fAIbernas, o prior do Carmo Fr. André de Santa
Maria. Os camaristas Estevão BaySo Parente, Constantino de
Lavedra, Francisco Dias Leme, Manoel Cardoso e Paulo Gonçalves;
•e os da primeira nobreza foram Lourenço Castanho Taques, e seu
filho Lourenço Castanho Taques, o capitão mór António Ribeiro de
Moraes, D. Francisco Lemos, João de Godoi Moreira, João Ortíz
de Camargo, Jeronymo de Camargo, António Pires, D. Simão de
Toledo Piza, Paulo da Fonseca Bueno, António Lopes de Medeiros,
Manoel Dias da Silva, António do Canto de Mesquita, António de
Godoi Moreira, Estevão Fernandes Porto, Gabriel Barbosa de Lima,
Estevão Gomes Cabral, Gaspar Maciel Aranha, Manoel Alves de
Souzs, o outros muitos Paulistas de veneração e respeito, que constam
do mesmo accorJam á fl. 112 do liv. de reg. n." 4 T.' 1658 do
211
arch. da cnmara de S. Paulo, onde se contam cincoenta e oito pessoas
assígnadas.
« Conheço o zolo, com que Vra. *•* o mais ministros, camará,
cidadãos e povo tratam do serviço de Sua Magestade, como tão fieis
vassallos; eu llie representarei em todas as occasiões, que se ofTere-
cerem, do augmento d'estas capitanias e moradores d'ellas; e de
minha parte fico com o devido agradecimento da mercê, que me
fazem em abonar as minhas occasiões que, supposto hão sido com o
desejo de acertar, ás vezes nSo são agradecidas. A Vm/** lhes é
presente o que tenho obrado, e que me não fica que fazer por estar a
abandonar o sul, o não é justo, que estando no derradeiro quartel da
Tida, me fique n'esta villa tratando de conveniências próprias ,
quando posso occupar o tempo nas de serviço de Sua Magestade,
indo-me chegando á cidade do Rio de Janeiro a dar calor ás obras
dos galeões , que ali estão começadas ; porque considero que os
moradores, á vista do bando, que já mandei lançar, e lhes dava modo
de bom governo, acommoilando-me ás suas desconfianças, espero,
obrem como leaes vassallos, conhecendo que a minha tenção nâo é
mais que conservar a jurisdicção real, que supposto com ajuda de
\m.*" e d*esla capitania, e zolo dos moradores d*ella no real serviço
podia eu tratar do castigo, me Címformo antes cm obrar em matérias
de povo com toda a prudência até resolução de Sua Magestade, para
com ella obrar o que me mandar: espero que n'essa occasião e em
todas as mais, que se ofTurecerem ao serviço de Sua Magestade, por
me fazerem merco, os ache com a mesma vontade, que em esta
occasião experimento. S. Paulo, 2 de Março de 1661. — Salvador
Corrêa deSáe Benavides. »
Não se aquietou o ardor do zelo de Lourenço Castanho desejando
sempre acreditar-se no real serviço. Por esto motivo achando-se com
a disciplina militar na guerra contra os bárbaros Índios, e pratico no
conhecimento dos sertões que havia penetrado na conquista de varias
nações dos mesmos índios, tendo recebido uma carta do príncipe
regente o infante D. Pedro, datada do 23 de Fevereiro de 167i
sobre o descobrimento de minas de ouro e prata, para cuja diligencia
212
tinha praticado Fernando Dias Paes com patente de governador da
gente de sua leva ou tropa, de que no T/ de Dias Paes fazennos
menção, tomou Lourenço Castanho a si pelos setis cabedaes e força
de corpo d'armas peneirar o sertSo dos bárbaros indios Cataguazes, e
entrou para esta conquista com patente de governador com juris-
dic^ao o poder correspondente ao caracter de sua patente, largando a
serventia do olHcio de juiz de orphãos, que occupava por procuração
de mercd vitalicia, como tinha sido seu pai Pedro Taques. E con-
seguiu o primeiro conhecimento, que depois veiu a produzir a ferti-
lidade das minas de ouro, chamadas no principio de seu decobrimenlo
— Cutagiiozes, e depois cstendendo-se em ftiuitas léguas de distancia»
mas no mesmo sertão^ os novos descobrimentos vieram estas minas a
ficar conliccidas com a nomenclatura de geraes, em que se conservam.
Lourenço Castanho Taques.
Francisco d' Almeida.
Pedro Taques d'Almeida.
Tiiomé Lara d'AImcida.
Diogo de Lara Moraes.
António d*Almeida Lara.
Jusó Pompeu d'Almcida.
D. Anna de Proença.
D. Branca dWlmeiJa.
D. Muria de Lara.
§1.-
Lourenço Castanho Taques, que foi chamado o moço por diíTe'
rença de seu pai, do mesmo nome e appellido, igualmente com o ser
da natureza lhe herdou os espirites de ardor e zelo pela utilidade
puhlicii da pniria e do real serviço; serviu os honrosos cargos da
republica de S. Paulo, onde fui juiz ordinário o de orphàos, cujo
pesado emprego occupou muitos annos com utilidade dos pupillos,
porque aos (|uc eram do inferior condição recolhia, quando desam-
parados, á sua paternal providencia, mandando-os ensinar a lôr,
escrever e olBcios mecânicos para ficarem com elles estabelecidos.
218
Foi muito respeitado e fstimado geralmente de todos os moradores
do S. Paulo, porque o seu grande respeito se adornava das virtudes
da beneficência, docilidade e compaixflo; não bavia differença,
ainda entre os roais poderosos que Castanho não vencesse em har-
monia o amizade. A sua casa era de numerosa escravatura, com logar
destinado para o trabalho das oflicinas, em que trabalhavam os
mestres, oiBcíaes de varÍ9s oiBcios, seus escravos, de que percebia os
lucros dos salários que ganhavam. Além das virtudes moraes pratícaVa
aquellas, que adornam a um bom catholico temente a Deos. Na
educação dos filhos que foram muitos excedeu muito pelos dictames
e máximas calholícait, em que os instruía, nio se esquecendo do
tratamento do cavalheiros, com que cada filho varão se portava,
tendo cavallos de estribaria, distinctos uns dos outros para cada filho,
cos criados e escravos mulatos (vulgo pagens no Brazil) que o serviam
reconhecendo estes o dominio do senhorio para obediência a cada
um de seus senhores. Quando se achou em S. Paulo Arlhur de Sá e
Menezes, governador e capitão general do Rio de Janeiro , de quem
fizemos menç9o no cap. 2.* d*este T.*, o hospedou Lourenço Castanho
Taques, em cujo animo e zelo achou este general uma efficaz prova
de amor, honra e lealdade de bom vassallo; algumas ordens lhe
incumbiu, e na execução d'ellas se fez elle merecedor de qne Arthur
de Sá informasse a Sua Magestade el-rei D. Pedro que por carta de
20 de Outubro de 1698, firmada do sen real pulso, lhe escreveu o
seguinte Lourenço Castanho Taques. Eu el-rei vos envio muito
saudar. Por ser informado pelo governador e capitão general do Rio
de Janeiro Arthur de Sá e Menezes do zelo, com que vos houvestes
Na expedição das ordens, que tocavam o meu serviço, qne o dito
governador para este eflfeilo expedia, e a grande vontade, com que
vos acháveis em tudo qee vos recommendoo, mostrando nisto a boa
lealdade de vassallo: me pareceu por esta mandar- vos agradecer o
assegorar-Tos, que tudo o que n'este particular obrastes me fica em
lembrança para folgar de vos fazer toda mercê, quando trateis de
vossos requerimentos. Escripta em Lisboa, aos 20 de Outnbro de
1698. Com a rubrica de Sua Magestade. » Esta mesma cópia fica
214
lançada no cap. 2.'' § 3.<* d'este T.<>, quando traiamos de António
dtí Godoí Moreira. O mesmo monarcha escreveu lambem esta mesma
caria a outros Paulistas, como veremos, quaes elles foram, quando
tratamos de cada um d'elles cx)n(orme.oT.'' a que pertencem, e se
acham todas lançadas no reg. dasecr. docons. ultram. liv. das cartas
do Rio dti Janeiro T." 1763 d*esde fl. 199, sendo a primeira a que
se escreveu a Lourenço Castanho Taques. Depois de ter casado os
fiUios e todas as lilhas, vendo-se já sem as pensões do as manter,
como d'afítes, quando juntos os conservava debaixo do pátrio poder,
de tal sorte praticou a virtude da caridade com a pobreza dos fieis,
que durando-lhe a vida em avultada idade de annos, admiraram a
sua decadência os mesmos, que reconheceram- lhe os cabedades.
Onde apurou o resto de sua grandeza foi na fundação e construcçao
do recolhimento de Santa Thereza, que emprehendeu por dictames do
Ex. "" e Rv."'» D. Josó de Barros de Alarcão, !•• bispo do Rio de
Janeiro, passando de visita a S. Paulo, onde fez assento muitos
annos, e travou amizade com Lourenço Castanho, que lhe deveu
honrosissimas denK)nstrações. O destino d'esla obra foi deixar para a
posteridade um excellente commodo para as suas nelas e mais des*
cendentes, que quizessem abraçar o instituto da matriarcha Santa
Theresa, cuja vocação se deu ao recolhimento com a bem nascida
esperança de que a real grandeza o passasse a convento professo; e
com este bem projectado intento se construiu ja a obra com tal for-
malidade, que nào necessitasse de forma para a apertada clausura.
Mancommunou-se elle com seu irmão o capitão mór e alcaide mór
Pedro Taques d'Almeida, o qual concorrendo com dinheiros ficaram
sobre elles as despezas da erecção e formatura de lodo o recolhimento,
principiando-se a fundamentar os alicerces para as paredes. Para
estas, madeiras e ferragens concorreu só Lourenço Castanho, e
muito apenas o sino, que serviu, occupado de duas moradas de casas
pertencentes a Manoel Vieira Barros não custou dinheiro, porque
este com liberal mão entregou tudo para se fundar o dito recolhi*
mento. Acabou-se este com os dormitórios, igreja e coro, e tudo mais
em sua ultima perfeição com muito custo, correndo a direcçdo do
215
risco pela iJca do Ex."* bispo, a qticm so deu a gloria de fundador
«e prolecior no anno de tôSO» em que entraram com solemne festivi-
dade de missa cantada, sermão e sacramento exposto para recolbidas
•do mesmo ^Mmvcnlo três filhas de Manoel Vieira Barros, tomando <à
habito de Santa Tiíerosa. Este recolhHnento ainda existe sem pro-
fissão solemne (porque mertes os lundadores faltou o respeito» que
lhe so)ÍGÍt{i6se a graça de passar a convento), consorvando-se porém
•n'elle algumas recolliidas, que para chorar peccados e seguraram a
salvação de clausuraçào, alimentadas do pequeno património, qua
tom a casa, supprindo a de seus pais e parentes cora muita parte do
necessário sustento, para o qual resplandeceu sempre a caridade dos
fieis. M'este estado o achou o primeiro bispo de S. Paulo em 7 de
Dezembro de 1746, cm que fez a sua publica entrada o Ex."*" e
'Rv.^ D. Bernardo Rodrigues Nogueira, cuja alta esphera, zelo e
economia, actividade, rectidão e governo o farão sempre suspirada
«objecto da saudade, que nos deixou de sua exemplar vida, que acabou
nodin 7 de Novembro de 1748 com irreparável perda do augmento,
que se perpetuava nas direcções de seu pastoral governo. Este santo
prelado dictou uma inslrucção para servir como de regra ás suas
amadas ovelhas, esposas de Jesus no recolhimento de Santa Theresa,
•que ainda hoje so conserva tao inalterável, como si fora dada pelo
summo pastor. Dando conta o Ex.*" bispo do Rio de Janeiro á camará
'de S. Paulo para se extinguir o recolhimento, visto n(ío ser professo^
>e não ter recolhidas em 1718 mandou Sua Magestade, por ordem de
26 de Dezembro do mesmo anno, expedida ao mesmo bispo, fizesse
conservar o dito recolhimento de Santa Theresa, de S. Paulo, e por
•ordem de 3 de Setembro de 1745 tomou .Sua Magestade debaixo de
sua real protecçSo o dito recolhimento (secr. uhram. h. 1.* das
cartas de S. Paulo). Nip passamos a mais por nos termos já afastado
muito da genealogia que seguimos. Voltando o discurso a Lourenço
Castanho Taques, foi este casado com D. Maria d*Araujo, natural
•deS* Paulo, que na pia de sua matriz a recebeu Deus a 20 de Agosto
de 1645; filho de Luiz Pedroso de Barros, capitão que foi de infan-
4aria paga na restauração de Pernambuco, e de sua mulher D.
xvm IH
216
Leonor de Siqueira Góes Araújo da cidade da Bahia» irmSa de Joffo
de Góes e Araújo, que foi desembargador da relação de sua pátria e
n*e]la juiz do cível pelo anno de 1666 : em T.* de Pedrosos Barros
cap. 3/ Falleceu Lourenço Cislanho Taques com evidentes signaes
de predestinado e geral sentimento de todo um povo, em S. Paulo»
sua pátria, em Dezembro de 1708. (Cart. 1 " de notas de S. Paulo»
maço de inventários antigos, letra L. o de Castanho Taques.) E teve
de seu matrimonio onze filhos, todos naturaesda mesma cidade» que
foram :
Lourenço Castanho Taques.
Maximiano de Góes e Araújo.
Luiz Pedroso de Barros.
JoséPompéo Castanho.
D. Leonor de Siqueira.
D. Angela de Siqueira.
D. Maria d*Araujo.
D. Ignacia de Góes.
D. Theresa de Góes.
António Pompeo Taques.
D. Maria de Lara.
Lourenço Castanho Taques, que foi verdadeiro herdeiro das vir-
tudes de seu pai, do mesmo nome, casou com D. Anna d^Arruda»
filha de Francisco d' Arruda Sá, da Ribeira Grande da Ilha de S. Mi-
guel, e de sua mulher D. Maria de Quadros. Em T. de Arrudas
com sua descendência.
Maximiano de Góes o Araújo, casou com D. Maria d'Arruda,
na villada Parnahyba, a 13 de Janeiro de 1695, filha de Sebastião
d* Arruda Botelho e de sua mulher D. Isabel de Quadros. Em T. de
Arrudas cap. 2.* § d.'' com sua descendência.
Luiz Pedroso de Barros, que falleceu a 30 de Abril de 1731, sar-
gento-mór do regimento dos auxiliares da villa da Parnahyba, teve
mercê d'el-rei D.João V. de um habito deChristo com tensa eíTectiva
de 50^ rs. pagos no almoxarifado da fazenda real da praça de San -
tos, o que se verificou por renuncias em seu sobrinho o mestre de
217
campo Manuel Dias da Silva, de quem faremos menção n*este cep.
3.** n. 2 e 3 de Pedro Taques d'Almeida. Foi casado com D. Ages-
linha Rodrigues e sem geraçflo. Em T. de Jorges Velhos.
José Pompeo Caslanho, que foi casado com D. Isabel de Sampaio,
íilbade André de Sampaio a Arruda e de sua mulher D. Annade
Quadros, em T. de Arrudas cap. 3/ § 7, sem geração. Fez assento
na vílla de Itú e estabelecimento do boas fazendas de cultura, e por-
que nâo tiveram filhos» fizeram liberal doação de seus bens (que foi
de 6:O00íU) rs.) , ao convento do Carmo da mesma vijla, por escrip-
tura nas notas do tabelliào da dita villa em 1740, tendo antes d'ella
dotado a 3 sobrinhas com 800^ rs. a cada uma, e uma morada de
casas.
D. Leonor de Siqueira, que foi casada com Domingos Dias da
Silva, natural e cidadão de S. Paulo, onde serviu os cargos da re-
publica e foi juiz ordinário. Foi este paulista intrépido, liberal e
n)uito amante do real serviço, á imitação de seu irmão Alexandre da
Silva Correia, que depois de lente da universidade de Coimbra, onde
a sua grande litteratura será sempre applaudida pela sua postilla de....
passou para a casa da supplicação, e acabou conselheiro d'Ultra-
mar, em T. de Pires cap. 6.* Casou Domingos Dias da Silva na
matrizdeS. Paulo, a 12 de Fevereiro de 1684. Estabeleceu a opu-
lenta fazenda chamada a — Juá. — com grandes culturas, e passando
ás Minas Geraes, estando n'ellas muito opulento pela abundância de
ouro, que extrahiam seus escravos, chegando a noticia de que a ci-
dade do Rio de Janeiro estava invadida pelo poder do inimigo fran-
cez, para soccorrer a esta praça marchou Domingos Dias da Silva,
com um iròço de soldados á sua custa, em cujo serviço gastou avul-
tido cabedal; porque tanto na ida, como na residência e regresso,
sustentou sempre com liberalidade a força toda, e então se lhe conferiu
a patente de brigadeiro d'aquelle exercito, por António d* Albuquer-
que Coelho de Carvalho, governador e capitão general do Rio de Ja«
neíro e S. Paulo, o d'este cavalheiro recebeu distinctas estimações,
porque como zeloso do real serviço sabia conhecer os cavalheiros d<i
S. Paulo, que u'clle se faziam dislinclos. Deixando nas Minas Gorues
2Í8
asna numerosa escravatura, entregue á adininislrsçSo de seu filho
Manoel Dias da Silva, se recolheu a descansar de tantas fadigas a S:^
Paulo, sua pátria, onde nào gozou niu-ítosannos^du tranquillídad&dod*
povoados, porque acabou a vidn a 22 de Março de 1719 (cart. de or-
pliSo» deS. Paulo, masso i." letra l>. invcniario da brigadeiro Do-
mingos Dias da Silva). Teve do seu malríiDOiiio dous* íilbos, natu-^
raesdeS. Paul»
Manoel D ias da Sflva.
Ignacio Dias da Silva.
SIanoel Dias da Silva, fidadSo de S. Paijfo, onde servia' oscar--
gos da republica, e de juiz ordinário e de orphsos em 1722, foi mestre-
de campo dos auxiliares das minas de Cuyabá^. por patente do Ex.**^
D. Rodrigo César de Menezes. A mercê da habito de Christo, coii>
50,J2> r^-» ^^ ^^^ eflecliva, feita a seu tio, a sargciUo-mór Luiz Pe-
droso de Barros, n*elle se verificou eom grandeza, que se notano'
padrão da tença, em que Sua Magestade declarou-, que os venceri»
desde o dia em que lhe linha feito mercê do habito, q.ue antes de pôr
ao pcilo, tinha percebido mais 3^ rs., detença^ Estando em miiias^
de Goyaz estabelecido ecom lavras mineraes,e numerosa escravatura,
cnn 1736 (achou-se n'este tempo a praça da colónia do Sacramenta
posta em assedio pelas tropas castelhanas, debaixo do commando do
^). Miguel de Salcedo, governador da provincia de Buenos-Ayres)
se publicou a real ordem, pela qual Sua Magestade El-Rei D. João V,
deu a conhecer o muito que seria do seu real agrada, que os seu^
vassallos Paulistas invadissem as índias da Hespanha pelas povoaçõe»
da provincia do Paraguay emcima da serra. Bastou este levearcno,
para que o mestre de campo Manoel Dias da Silva projectasse, ^(uo
passando com um corpo de armas de soldados escolhidos pela expe-
riência do valor de sua disciplina a demandar as povoações da Vac-
caria, faria um particular serviço ao real agrado, destruindo as ditas
povoações, para evitar-se que a forca d'esta gente cmprehcndesso dar
subitamente sobre as minasda villa real deCuyabá,sendo-]hes muito
fácil a resolução d'esta idéa, por lerem abundância de gado vaccun>
nas campanhas chamadas — Vaccaria, — lodo o sustento para qual-
21í>
quer grosso pê de exercito. Coino« para Manoel Dias Ja Silva« |iAr
em execução este íntecto^ preci<Q\*n atrare^^r o vasto 5eriào« f]iic n>e«
deia entreoríoCamapoaiti da navegação do Cuvabâ o Villa Roa do
Goyaz (lodo habitado de innumeraveisaidéas dus bravos e iKirbaros
índios da nação Cayapó) nSò foi a sua resolução approvada dos me-
lhores sertanistas, com os quaes conferiu a materia« porque deman-'
dava uma força grande para sustentar na marcha os repetidos assaltos
d'esta potencia Cayapó« qtie é formidável no tnl sertáo ; porém Ma-
noel Dias da Silva, que só media pelo valor próprio o dos estranhos,
não desistiu da arção, e reforçando mais o corpo, com que se achava,
que não passava entào de 180t armas, (nSo se percebe bem si é 1801
ou 7801 armas) intrépido so mettou no sertão a rumo de demandar o
sitio de Camapoam, atravessando o vasto sertão, que tinha pani pas-
sar. Consistiu também a diíliculdade no temor de não acertar com o
sitio de Camapoam, por falta de geographin, cuja sciencía tolalmonto
ignorava, bem coroo todos os antigos paulistas, que, sem outro adju-
torio mais, que o rumo do nascente ao poente, o o sol, que lhe serviu
de verdadeira agulha, penetravam a maior parte dos incultos sertOes
da America, conquistando nações barbaras, de cujos indios se sorviam
como administradores seus pelo beneficio de os terem desentranhado
do paganismo para o grémio da igreja. Assim succedeu a Manoel
Dias, que com 3 mezes de jornada, chegou a salvamento ao sitio Ca-
mapoam (ào direito, que foi sahir afastado do muioquarto
de légua. N'este sitio deu descanso á tropa^ que nos 3 mezes se sus-
tentara da providencia da bocca d'armd, c conseguindo o necessário
ócio, já bem guarnecidos os seus soldados com todo o necessário, se
poz em marcha para as campanhas da Vaccaria, chegou a esta, o
cnrrendo-os até grande distancia, estranhou a novidade de hUan^nm
gados, que n^ellas sempre existiam em numerosa multidíio. Avizi-
nhou-se mais á serra, e para logo desrobriu acautelados castelha-
nos. Tinham elles retirado aquellas consideráveis manadas de gndos
e bestas, para os férteis campos de cima da serra, $() para que m mo-
radores das minas do Cuyabá se não viessem a ulilísíir de l/io l'«;lh%
rujDadas, quando fofsem atacados dos meamos castellianos, e no.
220
achássemos em qualquer aperto de sitio. Decorrendo ou peneirando
mais as campanhas para a parte do Paraguay, encontrou com uma
franca estrada eabarracamen to, em que haveria um mez (atépel»
figura dos ranchos e cinzas do fogõo conheciam os sertanejos, pouco
mais ou menos, o tempo, que havia passado depois que n^aquelle sitio
estivera alguma tropa) tinham ali estado os castelhanos, epela cooG-
guraçào do terreno, que occiípava o centro do abarracamento, se co-
nheceu que a barraca era de commandante de patente grande, como
a de mestre de campo, de quem os castelhanos costumam fiar as suas
tropas na provi ncia do Paraguay, e outras. Pela estacaria, que circu-
lava, CO abarracamento, via-seque o numero dos cavallos^ que n'ella
se alavam excedia ao numero de 800. Este grande corpo, na retirada,
tinha feito abrir a franca estrada, que encontrou Manoel Dias d»
Silva. Poz este em consulta o movimento que Ibe oeoorreu, e appro-
vando-lhe a temeridade os de sua comitiva, dispozas escoltas, que fex
embarcarem diversos pontos da malta, por onde seseguia aquella es-
trada, ficando elle com o resto dos soldados em sitio, d'onde avançando
(1(3 tropel, ficasse completa a victoria, que esperava alcançar pela sua
promediladd idéa. Era esta que ganhando distancias certo numero de
soldados bem montados e avistando os castelhanos, voltassem costas
como fugindo e os trouxessem enganados para perecerem todos nas
emb( soadas referidas, e ficando nós senhores da cavalhada, pudéssemos
dar com toda a força das nossas armas a acabar o inimigo. Foi»
Deus servido que já os caslelhanos estivessem acolhidos ás suas povoa-
rões, porque do contrario pereceria ou ficaria prisioneira toda a Irop
de Manoel Dias da Silva, e quando nada ficaria rota uma guerra cm
tempo, que a que na colónia se sustentava por as:-edio, era com o
^ysieiii;i do c.irla coberta, que é a máxima, que costuma praticar o ga-
biiieio iU Casiella sobre a praça da Culonia por algumas vezes posta
já em siiio. No regresso enconlrou Manoel Dias da Silva com o eíTec-
tivo d'aquelle {grande corpo,que nffo contente com a retirada dos gados
e cavallos da Vaccaria, deixou um padrão de pedra lavrada em forma
de cruz, pobla ao alio a que servia de base outra pedra em figura trian-
gular de G palmos de allu, com proporcionada grossura à altura do
221
padrão : n'elle estavam abertas as letras do idioma caslelliano, que
diziam : — ^Viva el-rei de Castella , senhor dos domínios doestas
campanhas. Não tinha o mestre de campo instrumento para deitar
abaixo aquelle padrão, e por isso mandou cavar a terra em roda, até
que faltando-lhe esta, e perdendo a machina o equilíbrio, veio abaixo,
fazendci^se em 3 pedaços. Conseguido com facilidade este intento,
fez elle conduzir aquelles pedaços para diversos sítios, e sepultar cada
um d'elles em altas covas dentro da matta. Do madeiro mais grosso
e menos corruptível, mandou lavrar em 4 faces uma cruz, em que
lhe gravou as letras em idioma portuguez, que diziam — Viva o mui-
to alto e muito poderoso rei de Portugal, D. João V, senhor dos do-
tninio8d'este sertão da Vaccaria. — Recolheu-se o mestre de campo
Manoel Dias da Silva pelo mesmo sertão a Cuyabá, onde então era
ouvidor d'aquellas minas o Dr. Jo9o Gonçalves Pereira, dando conta
tio successo, se juntaram os olBcíaes da camará, e os republicanos
d'ella, em cuja presença deu conta do que tinha examinado e obrado.
Disto formou-se um assento nos livros d'aquelle senado, onde então
se discorreu sobre o evidente risco, em que estavam as minas de
Cuyabá, de serem invadidas pelos castelhanos, ainda que já este mes-
fno temor tinha ponderado a Sua Magestade Vasco Fernandes César,
vice-rei do estado da Bahia, em carta de 20 de Janeiro de 1721, avi-
sando que os paulistas haviam descuberto minas de ouro no sertão de
Cuyabá. o que dava grande ciúme aos padres da companhia de Jesus
dos domínios da Hespanha (secr. do cons.ultr. no masso das cartas de
1721). Eipediram-sa as cartas para o general da capitania, o conde
deSarzedas António Luiz de Távora ; e para os camaristas da cidade
de S. Paulo ; estes recebendo as cartas e estando ausente o general
em Goyaz, convocaram os cidadãos em acto de camará, e presidio o
ouvidor e corregedor, o Dr. João Rodrigues Campelo, e lidas as car-
tas dos camaristas de Cuyabá, do ouvidor e mestre de campo, ponde-
rada a matéria, e attendidas as razões, que expendeu o capitão Bar-
tholomea Paes d'Abreu com sua grande intelligencia sobre a matéria,
concordaram todos, que se devia pôr em execução a abertura de um
caminho de terra, pelo qual se pudesse a qualquer tempo soccorrer o
222
Cuyabá «om tropas e gente tle cavallos, o que nao admiltiu a nav^a-
^0 dos lanchões desde a ddade do Paraguay até a barra do rio dos
Porrudos, que vai ter ao porto geral de desembarque* e d'eUe por
terra meia légua até o Cuyabá ; que para a factura d'esi6 caminho
bavia «ma franca de 50 títulos, celebrada por Manoel Gonçalves
^Aguiar» Sebastião Fernandes do Rego o António Gonçalves Tigre,
cada nm por si, e um por todos, a favor de Manoel Godinho^ quando
no anno de 1722 ajustou a factura d*este caminho com o governador e
«apitáo general Rodrigo César de Meneses, por cuja, causa não vinha
a gastar a fazenda real um só real peia factura d'este caminho. D*este
ticcordam se lavrou termo em 17 de Agosto.de 17579 qMCser^melteu
ao mestre de campo João dos Santos, governador da praça de Santos,
6 interino da commandancia pela auzeocÍ3 do gpvernsidor d*ella, o
•conde de Sarzedas. Nada teve effei(o^ porque o prqudicado Manoel
Gonçalves d'Aguiar soube atalhar o damno, que lhe ameaçava a
bolsa, repartindo liberalmente certos cartuxos de moeda por pessoa,
i|ue cala a prudência o nome, por Ibe evitar a vileza da injuria. Qeu-
se conta a Sua Magestade pelo conselho ultramarino em 1793, e na
socretaria d'elle se acham estas representações no massp do dito aooo,
c também na camará de S. Paulo, no livro grande capa de. ,
•que serviu de registo T, de 1726 até Í740 ils. 112 a 120, o que dif-
íusamente trataremos no corpo da Historia de S. Paulo, si Deus qui-
ser dar-nos vida para este trabalho, que intentamos tomar sem.forçps
de talento para sua execução. Sua Magestade mandou ao Sr. João
Gonçalves Pereira, ouvidor do Cuyabá, que informasse, tirapdo um
summario de testemunhas sobre a matéria da representação, que se
tinha ferto da acção, que obrara na Vaccaria Manoel Dias da Silva;
essim executou aquelle activo mineiro. .0 certo é que em 1733 me-
receu o mestre de campo o« votos de alguns conselheiros do conse-
lho ultramarino para governador de Cuyabá, com quatro , de
isoldo, e vindo a informar sobre a matéria e caroinlip, qqe Manoel
Dias da Silva se oifereceu a el-rei fazer á sua custa para p Cpy^^bá a
Gomes Freire d* Andrade, governador e capiUSo general do Bio de
Janeiro, por ordem, que se lhe expediu pelo mesmo conselho, de 2
4e Sclembra át ST^â, nío subemos por que oeculto deslino se poz
silencio n^ella. Parece que os Paulistas contrahiram um novo pecca*
4^ original para nào serem jamais bem vistos, e ser a fazenda real
prejudicada só para que ellesr d5o tenham o premio. Nas minas d^
Cuyabá fioeu exisiindo o mestre de campo. Manoel Dias da Silva;
i/ellas eslava sendo juiz ordinário, quando falleeeu o Dr. ouvidor
Manoel Antunes Nogueira, eiijo lugar substituiu na fórroa da orde*
fiação do reino. Das suas grandes providencias, que tomou posse,
(ai para cuidar da esttraeçá^) dos diamantes no Rio Paraguaj, descu*^
bertes pouco tempo antes da morte do antecessor, serão perpetiips tes-r
lemunhas, que proelamiêm o s^u ardente ^lo, as cartas de agradeoi^-
fnento, que lhee<ereveu o governador que então tinha em 1752 o
ffifvemo dm capitanias de Cuyabá o Goyaz o Ex.^ Gomes Freire
li' Andrade, que acabou digno cond e de Bobadella, que se acham re«
l^istadas DOS livros da eamara de Cuyabá; suceedeu-lbo oDr. João
António Vaz Morilbas, que pof se affastar da virtude de limpeza de
mãos, como lho deixava exemplos de dif^lincta honra o seu anteces-
iior, cahiu em deseoerios tiLOs, que antes de lhe chegar successor, foi
<lepoilo doiugarpela admirável rectidão do Ex.**" D. António Roliíra
de Moura, primeiro governaiW ecapitío general d^aqueila capitania
•(que depois Un conde de Azambuja, presidente do conselho da bzeoda,
•o conselheiro do conselho de guerra» em cujos postos blleceu eml78â)«
£m i75t! faileeau o mestre de eauipo Manoel Dias da Silva, dis-
tante da villa doi]uythá dous dias de jornada, para cujo rotiro o fez
<!onduzir p eitronda de tantas injustiças, ifue via praticadas na dit|
vilía em danmo do todos. Foi casado nn matriz de S. Paulo com sua
prima em terceiro grau de consanguinidade duplicado (amcujo im«
pedimento foram dispensados peio Ex.*** bb^po Fr. D. António da
Gnadaiupe) D. Theresa Paes da Silva, fliha do capitão Bartholomeu
Paes d'AbreM ede sua mulher D. Leonor de Siqueira Paee, de quem
fazemos roendo n'.aste mesmo $ 2., n« S« 3, e teve doesta mAtriouwio
dous filho9 naturaes de 8. Paulo.
D. Anna Leonor, falleceii solteira.
Aleixo da Silva Correia, taUeccu na ior Aos ^nnps.
XTUi 29
224
Ignnelo DiasJa Silva, fillm do Vigadeird BommgiB Dias da Silva,
c dé D^ Leonor de Siqueira, rip 3 e 5 retro* fui de gmlW presença,
dócil e alfavel genioi com cujas virtiidâs sonhe merecer geral ^llm»-
çã04 não $é (\m pnefitm^ €omo tombem dos estranhos* Nu arte ã&
andar a cavallo e^redeu a tjxios de seu tempo^ e ainda aos do passji»
dot e ssbia na itltima perfeição todo o manejo de ravallana, e fot da
lanlâs forcas, que c^m el las executava a cavallo algumas ao55es, em
as quaes não achou, f|nem o fompetí^ise ; na violenria da carreira se
debruçava peTo lado direito ou esquerdo a levantar do chfSo qualquer
cousa p que se Ibe destinava em qualquer bali^, e n^tsto mesmo era a
eiectjçilo do brinquedo com tanla destreza e airoso garbo, que sempre
cf^nseguia os applaugo^ dos circumBtantes. Nas (grandes e magnificafi
festas de escarnmuç.^s, que se executavam com liberal despeza em ap-
pia uso de ter cantado missa nova o reverendo EuKebio de Barroâ
Leite, filho da matrona D* Maria Leite de Mesquita, viuva de Pedro
VãE de fíarros, um do3 cavalheiros mais polentadoí entre os seus na-
cionaes pautiíttas, e de quem fazem os larga mençffo em T. de Pe-
drosos Barros § 2*^ e no de Meítquitas, Levou Ignaclo Dias da Silva
em todas as três tardes sempre o% prémios de louvor em os muitos o
deitros eavalheirús d*aquella ftincçâo» da qual foi elle o primeiro
mantenedor e guia nas escaramuças. Sempre gozou Igoacio Dias dit
Silvadas delicias e Iranquiltidade da pátria, sem ver a cara a aspe-
reza dos sertões, porque quando seu pai Domingos Diag da Silva, sa
ausentou para as Minas Geraes, fíeou elle governando a casa em com*
panhia de sua mal D, Leonor de Siqueira, que na educação do^ li-
Ihos mereceu os applausos de matrona a mais advertida e ajuizada.
Seus pais o casaram com aquelia discreta eleição de sua nobreza
com D, Anna Maria do Amaral Gurgel, e se receberam na matriz
de S* Paulo a 30 de Janeiro de 1719 (ainda viveu ella em Í763) a
qual era sua prima em quarto grau de aanguinidadet em que foram dis*
pensados» filha do sargento-mór Bento do Amaral da Silva, e de D«
Escolástica de Godoy. Poucos annos se gozaram^ porque na flor
d^elles falleeeu Ignacio Dias da Silva com geral sentimento dos que
o haviam conhecido» deixando d*6ste amoroso vinculo três tenros ã-
225
IboSy para cuja educação não fez falia a vida do pai, pelos cuidados
de D. Maria do Amaral, que rageiloa rarios casamentos, que se lhe
propuaeeraro, uAo querendo dar padrasto a seus filhos, que foram
Bento do Amaral da Silva.
Domiogqs Dias do Amaral da Silva.
Ignacio Dias da Silva casou nos curraes da Bahia e falleceu com
geração.
Copiado de uiMaBiifcriplo, que esisleai poder do Sr» Lab Igaado Bit^
UBOoart, da cidade de& Paulo, e binei» do UJustre «Hir Pedro Taqvei»
Rio de Xaneiro, 20 de JobIm de 1852.
À. áa Ce9ta Pinto Silva.
226
EPITOME
Da ereeçfto e creaçfto do novo bítpado de S« Panloy reiy qa»
impetrou etta graça^ pobtifioey que a coaeedeuy tea primeiri^
bitpo, e eoneg^oty etei ^e te Afcndou a ealhed^al.
Descuberta o America Lusitana, passaram a ella alguns missioná-
rios, que instruíram nos dognins da fé a muitos dos gentios, que
a póvoatrãm» o eorrestpondendo semfm) d fhtelo ao iiMiisatel zelo
d^nctuòtleà ^yó-òommissàriòs , e verdadeiros operiírios évatigelicod,
90 viram em pouco lempo fundadas nSo poucas aldáas dos novo»
converiidoft, e estabelecidas muiu» colónias de européos, que se
Iransporinram d'nquella para esta nova região : o que vendo os
nossos augustissimos e fideiissimos monnrehas, mandaram logo nffo
Fú quem governasse a uns e outros no temporal, mas Cambem quem
os regesse no espiritual, pondo para esse tim um prelado na Babia,
a cujo cuidado estavam entregues as almas de todos os calliolicos,
que habitavam todo esto continente : mos crescendo cada vez mais
o numero dos que lavando-i5e na sagrada fonte do baptisnu), renun-
ciavam os erros do gcnlilisnio, o nbraçnvam a verdadeira religião, o
concorrendo successivamente os portuguezes, uns que voluntários
deixavam as suas pátrias, e vinham estabelecer-se n'eslas terras, e
outros, que obrigados, vinham cumprir os dogredos, para com elles
satisfazerem os crimes, que lá conunellôram se cdifícaram tantas
povoações, que já se fazia moralmente impossível aquelie prelada
acudir a lodos com as providencias necessárias; e como o principl
escopo dos nossos fideiissimos monarchas sempre foi attender ao maior
bem dos seus vassallos, puzerain outro prelado no Hio de Janeiro,
para que fossem menores os incominodos, e mais promptos os reme*
diosdas necessidades, que occorressem; e não satisfeita ainda com
esta novidade, a piedade d'aquelles régios corações, elevaram esta
prelazia a bispado, que em breves annos, com a descuberta de novas
minas, se dilatou tanto, que era preciso mais de anno para chegar
uma providencia ás ultimas colónias do bispado, e uma supplica ou
227
qaeixa aos ouvidos do prelado, sem embargo do que assim se con-
servou muilos ennos.
Reinando porém o muito alto» poderoso e Gdelissimo rei o senhor
D. João Vy e representando-se-iiie a necessidade, que padeciam estes
povos, a falta de recurso, e o perigo que corria a sua salvação na falta
de (Melado, que de mais perto Ibes ministrasse o pasto espiritual,
recorreu ao oráculo do Vaticano o santissiroo P. Benedicto XIV,
para que dividisse o dito bispado do Rio, e como a supplica era tâo
jiislaGOdH) pia^ promptamente annuiu S Santidade a ella, e aos 8
doe Idos de Deiembro óò 1745 se expediu o motu-proprio da divbõo,
per virtude do qiiai se separou d'aquelle bispado território, com que
se erigiram os dous de S. Paulo e Mariana, cada um com sua sé
catbedral, composta de quatro dignidades. Arcediago, Arcipreste c
Cbantre theâouretro-mór, e dez cónegos, dosquaeséum magistral
e outro penitenciário, doise capellães» um mestro de ceremonias, qua-
tro meninos do coro, um organista e um porteiro da massa. A pri-
meira dignidade com a côngrua de 200^ rs., as mais 160^ rs. ;
os RR. coneges 120 rs,, os capeilaes BO^ rs. ; o mestre de ceremo-
nias 10^ r?.; oslHieninos dooôro 24^ rs. ; o organista 50^ rs.,
eo porteiro da massa 10^ fs., todos fwgos pela real fazenda da villa
de Santos^
O numero das dignidades e cónegos foi determinado por S. Santi-
dade, e o dos mais ministros ficou á eleição do soberano, como consta
do motu-proprio; o qual expedido que foi, cuidou logo SuaMages-
tade em eleger sugeilo capaz de reger este bis^tado ; e sendo todas as
acções d aquelle augustissirao monarcba lilbas de sua alta compre-
liensâo, e obradas com tanto acerto, que eram a inveja de todas as
coroas da Europa, na eleição do primeiro bispo, que nos deu, ou
havemosdedizer que se excedeu o si mesmo, ou que toda a eleiyào
foi de Deos; porque, segundo experimentamos, parece que nào podia
liaver outra mais acertada do que a que fez do £x."<» e Rv."* Sr.
D. Bernardo Rodrigues Nogueira, pelas virtudes, em que resplande-
cia, o pela grande liltcratura e mais requisitos, do queso adornava.
Foi este grande c ex."** prelado natural da ilha de Santa Marinha,
situada na Serra da Estrada, bispado du Coimbra, e das principaes
228
fararlras d'ei>ar; na mesma aprendeu as" feiras proprhas da^ prmmii^
idade, e lendo 13 annos o mandaram seus pais para a universidad»
de Coimbra, onde esludou philosophia, e depois se graduou em câ-
nones, em cuja faculdade aproveitou lanto» que mereceu os applauaos
dos priíueiros mestres d'aquella Atbenas. Gonckiidos o» esludos, se
recolheu á sua pátria, e pelo grande nome, que deixou em Goimbray
o fizeram logo arcipreste do arcediago d^elh; porém como esia occu^
pav'âo era limitado emprego para a sua Ktteratura, passado pouco
tempo o convidou o Sr. GeraMo Pereira Coutinho, para lente do primar
de cânones na dita universidade, para vigário geral e provisor de sev
irmáo o Sr. D. Frei Manoel Coutinho, bkpo do Funchat, e recusan-
do esles lugares primeira e segunda vei, ultimamente teve de ceder
aos rogos d'aquelle, a quem devia respeites de mestre, si já nâo foi
por fazer escrúpulo de enterrar os telentos, que Deos lhe dèu.
Feita a aceitação, se passou a Lisboa, onde el-rei logo o conde^
corou com um canonicate da sé do Funchal, para onde embarcou no
anno de 1725 a exercer as oceupações para que era charaedo: o que
n'ellas obrou necessitava de roais larga narraçSo, que náo é própria
d'este lugar, e só basta dizer, que quando entrou n'aquelle bispado*, e
achou outra Inglaterra nos costumes, muita gente, que, havia quinze
e mais annos, se não confessava, os testamentos estevam por cumprir
do tempo, em que os Philippes reinaram em Portugal, e a este res-
ptnte todos os mais vícios. Entrou a fazer a que devia, e logo o de-
mónio se principiou a dar por achado, levantendo tão grandes tem>-
pestades, que parece superavam os altos Olympos, de que se compõe
aquella ilha ; mas nada foi bastente para o aossobrar ; porque ainda
por aquelle mar tão proceiloso de contradícçõcs, navegou sempre
senhor de si, o sem jamais desistir da reforma principiada, de sorte
que sahindodo dito bispado no anno de 1740, tendo sempre exer-
cido os referidos empregos, eoccupado na Sé, primeiro uma cadeira
de cónego, depois a de mestr'escola, e ultimamente a de arcediago,
deixou «nquella diocese tão outra, que se desconhecia a si mesma, e
Ido reforniada, que [K)dia servir de exemplo a todos os mais bis-
pados
Checado que íoiá Lisboa, logu no mesmo anno de 1740, passou
SM
« governar o bispado de La mega na ausâncía ilo Ex.**" bispo d*@lle o
St. D. Fr6l Manoel Coutinho; tqui m portou com a prudência,
reetidáoe inflei^tbi] idade, r|tic ju se Ih6 tintia admirada nos mais lu-
gares^ qye^rvíra; porém eomo cm Xoáa a parte ha liomen^ e con-
s^quenlemonte viciõSf qtie castigar^ também afjui lha não Taftou que
tolerM^; nem con&radicções qnesdIFrer; mas como estes combates
para elle ja não eram novos, lhe nao foi diíTicuitoso triumphar e^
triumpharia de outros mo H)res, Bi o Ex."^ prelado nSo pasãssse ifesta
n melhor vida.
Morto o Ex.^ bispe, o chegando a Lamego a notteiãf foi o Rev,*"*
cabido tio ntieneio^quenâo c|ui£ mandar tocar a sè vaga, sem pri*
melro mandar pedtr licença m Sr* D, Bernardo, e juntamente lho
mandou rogar que q«ií^*e continuar na me^ma occupaçao, Hos-
pondeu agradecido o este obsequio, maa nâo aceitou a olferta, e pas-
«^dos alguns dias f^reeolheu ao coHegio da companhia do N. S* da
Lapa, seis léguas dístafites de I.^mego« onde o foi achar um decrêlõ
do soberano, fio qual lhe ordenava, que continuasse no governo do
t>Í5pado: alienando porém ao mesmo senhor as justas ratOcs, que
tinha para não fazer, houve por bem ali í via-lo*
Com poucos dias de demora no dito colleí^io» se despediu d'aquelb
religiosíssima communidade» o tomando a benção á raintia dos anjos,
quen^aquelle templo se venera cem a invocação de N. S. da Lapa,
seguiu viagem pra a sua pairia, para ii'eUa descansar do trabalho da
tantos annos, mas como podia socegar quem nâo nasceu para si, d
parece que sé foi creado para beneficio dos mais? Passado pouco
lempo, o mandou eon vidar o sereníssimo Sr. D* José, arcebispo da
Bragae primaz das 11 espa nhãs para seu vigário geral: muito traba-
lhou para &e escusar* mjis ultimamente obedeceu a quem podia
mandar.
Partiu para aquetla cidade e logo que chegou a etla entrou a exer-
ce o lugar de vigário geral com tanta satisfação do Sua Alteza, que
não duvidou o mesmo senhor dizer publicamente que se tivesse na
suareUçfodots NogueiraSj náo queria n'alla mais ninguém. Refor-
mou muitos abusos assim do auditório^ como da mesma relaçàoi efaz
A
230
outrns mais coisos, qaa lhe eternisararo o nomo n*aqu6lla euria. No
lugar do vigário geral o achou a nomeaçfio, que Sua MagesUide d'clle
fez para primeiro bispo d'esla diocese, a fazendo deixaçao d'aqueUo
com grande pezar de Sua Alteza por perder ministro tal, se passou á
corte a beijar a mio d'el*rei, e o mesmo senhor mandou logo busear
as bulias, que se expediram em Roma aos 23 de Dezembro de 1745.
Chegadas as ditas bulias, se celebrou o acto da sagrarão pelo Eu.""*
Sr. cardeal patriarcha, primeiro de Lisboa, no dia 13 da Março do
1746, na santa igreja patriarchal, sendo padrinhos o Et."« eRov.**^
Sr. D. José, arcebispo de Lacedeíncmia, e o Ez.** e Rev.^ Sr. D.
Frei JoSo da Cruz, bispo que foi do Rio de Janeiro.
Depois da sagraQao fez vários requerimentos a Sua Hagestada,
respectivos ao novo bispado, que vinha crear, a daferindo^se a uns,
ficaram outros indecisos, sem embargo do que, por eumprir com a
ordem do soberano, se embarcou para esta America a 9 de Maio do
dito anno de 1746, e a lâ de Julho aportou ao Rio de Janeiro. Re-
colheu-se ao collegio da companhia de Jesus, onde se demorou alguns
inezes, nSo por estar ocioso, porque era este um vicio, contra o qual
linha publicado perpetua guerra , mas porque assim o pedia a ne-
cessidade.
Na primeira occasiao que so offerocou, mandou tomar posse do
bispado pelo reverendo Dr. Manoel Joseph Vaz, que então era vi-
gário da vara d'esta cidade, o que se executou a 7 de Agosto do mesmo
anno com assistência do clero, religiões e nobreza : a eniquanto isto
se obrava em S. Paulo, ia S. Ex.' Rev."' mandando pastoraes a
outras providencias para Santa Catharina, Laguna, Rio Grande,
Colónia do Sacramento, e outras freguezias da marinha : ia cuidando
na divisão do cartório, e outras coisas pertencentes ao bispado, ns
quaes concluidas se embarcou para Santos^ oride chegou a 23 do
Outubro e se recolheu ao coilegio da companhia.
Logo nesta villa entrou a cuidar no curtiprimento dos missionários,
a examinar a capacidade e procedimento dos clérigos, a dos que o
pretendiam ser; d'ahi mesmo mandou providencias para varias fre-
guezias, e finalmente nomeou e collou alguns dos reverendos cnpitu-
tSí
máf^ dtgfiiMe fiõtm o ryieff«ri<i dotlor HiilM>its l^mftntço db
CirrilkH mlitrsl <b ^itb iiovi lii Cén«|fiy «rarfifepib Ai Bnfi^
^<|iial KiuJo i^iid«do na w^iikt ciáido« pUlonfèti tlMbfli. 10
pimú^ m RÍ0 d« IjiHifO, omie l«io« pttr otmcnnf» 1 tgni|a il*«iUi
cidâdet i|Ud mfi tâiii|iâ ila at»^ d*«M biípiloi «sttn |iitiwhi«lido:
a Sâgtifi(ti eMiforiít Miéts vigaria gtnl o rtf«f«itiiii GinUo Ii>i44«
Abmnelitis, tormada iia^icitMdile Ja$ sagrados ciiiaiMs |i«k «nU-er*
sí4íide de Coiai&ri, c naiurtl da vUIa da iU% bt^dt» dti Coimbra :
3 lerceira ao seu prttmi^ior o f^vôrenda Manoel dú him Portara 1
foffBfido fta isaama faculd^la e pda su^nm uHÍvfjT^Ml»dts natural da
V ília dâ Soures Lispuiii» de Q>iiiihra : a quãila ao reverenda Tobias
lUbcrr^ de Atrdrade, laitiU*ni iannâáú em caitmte^ \^h diUi uiti-
vep^idadi^. fiatur^l dj viUá deSanloi dWc Li.<pAdo; wu CNdtiira ma-
HiMral {\fuflim m r6v«r«ndú Uanoel Vilkla l\mm^ ilo moiíua villa
tle Símbo<^f tqué em oiitra tempo iitilin §ído aluíunada ctimpauhia
4ts iesuÂ, a 11 Vi a eiltiduu pliitofafíliLa # ttitiulo^ia t lia di pmiilon»
ciaria ao reveretido Luureitço Leite PmMeadat ineelre eru ar(c»» na-
to nI d^oita cídadLs e nas múi mdmn^ o ru varando Gregorid de
SfluJEã, d'€âtaddude', q r^vereudo Lui£ Tai^oira LAMiau» iiuiund da
Praçn de Almeida, iiãpado da Lamegoi o reverendo Thonié Pínui
<juedos. mestre em aH^ dV^ta eidade; a reverendo Anlonid Nune^i
4e Síqiteira, da uiL^iia; a reverendo Jjieifillio de Alljuc|uerr|ue, na-
tural du Traocóio, bispdo de Viseu ; o rererenítu Anionio hlmiz
llartano* fliâftlfo cm arlest o reverendo Salvâdâf PifâSi o ruverviido
João Gonçalves da Cosia» ledoB á'MA cidadã*
Uésèiiiliara^aJo das coUas iiisíi pruciiaif que se oíTereceraiit na
dita TÍUa, subiu á Serra para faier a stia entrada no dia S de Ue*
c«mbro de uiesmd ruim da 1146. NSo §m éíaerõ em dascrefera
grandeza c pompa d e%u íuncipo, poi^ue beilmtfite se tira no m-
ehdeiíiiaftta d'ella, ciHunioii(»yrafid«»-fit pdo ebjcel^, a rjue dí icía reJa^
^ d ftgOeeUiiái>-ac na» rircunt^ncia*» ftM cofif urriam d« primeira
feèpo, prooorida com unto desvelo, a|is»fi(ade d«;pciii tk veneidia
iãtom ififieuldade^ e poiKiiAi mom imif^nal de ludoi.
HJtt **»
Bf^eíjlíiiiD n proeis^iíu, <|iie deu príncipio no [íbuslvel acto da en-
lnidn« f4iriloti o rcvereíidocilitilo na novn cailiedrat vésperas solemfi@s
da Imfiííiculaib G>ncei<;Àí> ón ^t^nUor», tup fesia celebrava a igreja
ii'aqu€lle din« as qmm cBpiiulmí S, Ei,i Rev*", e conelaidas túm
yma doula e fiiõ prottca, ^^fh kr.^ ccomá bervçáo Sôlcmnê que lançou
ao innumeravííl pvo. que concorreu a e^ta festivo aeio, foi o ai€Sino
senhor conduzido ao eollegio dô companhia, o passadoã alguns dias
m recolheu «10 seu paiacío.
túgúq\}ú so vru n*cste, a primeira coisa, em qaêeuídoti^ foi hzér
m estaiutos, porque s^ devia regular a sua familia ; porque como o
smi prrneipDl fim era desterrar os vicios do novo bispado» que vinlia
créar, por ^ na casa devia principiar a refortns, porque emSm devem
MT Bs dos prelados, seminário de virtudes, e espelho, em que se nao
desf.Lfhrr^m manehfift, ^mrque n'elie se hão de vâr todos os súbditos,
para obrarem segundo a imagem, que n^ellese representar. De tal
mH& Q^ ordenou que nSo linha o ^u palácio que invejar aos mais
reformador; cia uslros; porque a oração manlal era exercício quoli-
diano, e de todn& os dias eram também a ladainha, larço, exame,
filencíoe HMSsa ; disciplina Iodas as sexlas-feiras doanno, e segundas
e quartas da quaresma, confessava-se e oommungava a familia lodos
m oiio dias, e cada mez os escravos^ e finalmente haviam outros mais
esereicios, que por abreviar não refiro*
Regulada d'esía sorte sua casa, entrou a cuidar no que dii:ia rei-
pettoao bispado, olhando para todo elte, parece que com vista mais
que de lince* ou com tantos olhos, quantos lá contava o celebrado filho
de Aristor; porque emOm nada lhe escapou, senão para remediar
tudo e para ler que ^ntir mais na parle, em que se ihe ímposâibíli-
lavam as providencias. Mandou pastoraes para todas as freguesias
cheias de saudáveis doutrinas; fez estatutos ^lara sa governar o cdro
fiacathedral interinamente; deu a todos os parochosa formalidade
com que deviam fa^er os róes dos confessados ; dividiu as freguezias^
qtie todas estavam confusdssem demarcações ou limites certos; man-
dou lombar todos os bens das igrejas; fez estatutos para o recolhi-
mento de Santa Theresa doesta cidade, e o restaurou da ultima de-
25S
■
■
I
fvtiluncm^ 0in f]u{i %% achova; e Ihutfiiitiiiio Í(ia outras inutlo^ coisas,
ijuã niío retiro, por ser esie lugnrcurlo ciim[)a para o ihoalrõ d'ellAS»
e m Imslâ líah&r, que em tal o stin wh e tnl a mí\ compfehen^âo, rjno
a nJio fiâ âii&ecipnr lanto a tnorie, poJâria este bbpádo ánr leis íún m
nos lia América, como a muitos da Buropa.
Foi \èo amariia da pabr^iza, i|ue itulo o que tÍTi1i:i llio pnfecla pôiiro
fitra d^penddr com olia : fazra inuiUis aâmotas pariiculares^ iitiia^
pelo reverândo parocbo da Sé, e ouiras peta seu secretario^ e alérn
<lo grande numero de pobres, a que todos m diás dava di? jnnlarf se
diilribuiam peEa dispensa cada mez Dttuiita ordinárias; mas como
ai tida iâso era pouco para o muito que desejava fazer, mandou bus-
rnra l^ortugAl baetas, sarj as a uulros géneros, que, sufpusto não teva
II satisfação de vércom eiles cutjerta a nuder, de suas ovelhas, por cha-
garem depois de morto, náo lhe faltou o merecimento de determinar
em vida que, logo qua chegaifôom, m dislribuissem pelos pobres mais
noce^ttadoíj, o que assim se cumpriu,
Poróm não satisfeita sua ardente caridade com o que Ika dilo, [lara
ter mais que dar, cartou com o que ainda parecia preciio, |)OÍs man-
dou a um er iodo que lizeSíte a conta ao gasto ^ que [loderia faa^er a li-
teira» e feita aquoita, perguntou ú nao seria melhor, que o que ^
bavin de dispender com estta, quo jidgava âU[>erllu idade, se distri-
buísse €om os pobres, o roipondendo-se-lhtí que mais grata seria «•
Ituoscsta appticat^ão, mandou log'^ di^iiòr das bestas.
Todos oi dias se levanLiv^ dt; madru<{a4bi» e a príiueira coisa, que
fazia, era ter uma bera de unição mciital. como quem bem sabia que
è esta a metbor chave para abrir as porias do céo, e as mulliores armas
pa^ se defender um ctiristâo dos ires inimigos Cõínuiuns, o com a
mesmo &into exercício dava Gm M)dta, porque antes de se recolher a
dijrmir, o tornava a repetir,
poi táo devoto da Sen hora, que, sem embargo das muitasoccupat;oes,
que ti n lia, nunca se lha passeou dia» em que, antro outros obsaquioiíi,
que lhe tributava, nao lhe reinasse o rosário, e esta mt^sma devoção
desejava radicar no corarão dos mai$«
Todos os annosse confessava duas vexas geralmente : uma no dia,
23A
em que pelo baptismo entroo na igreja, e ovlra n^aqnelle, em que
celebrou a primeira missa» a qual dizia todos os dias, e nunca jámai»
por esmola» inda quando clérigo; edepois de bispo celebrada quotr-
dianaroente pelas suas ovelhas, e si por enfermo a nffo podia dixer,
a fazia celebrar por um dos seus capellâes, ao qual data a esmola de
cruzado.
Estes eram os seus cuidados» estes os seus empregos, eitira os qutes
o accommetteu uma doença, que depois de mostrar n'ella uma larg»
constância» e de ensinara bem morrer» ultimamente a 7 de Novem^
bro de 1748» resignado todo na Yontade divina» passou d'esta i eter->
nidade» pela uma bora depois do meio dia, tendo de idade 54 annos,.
8 mezes e 4 dias» e de gpvemod'este bispado um asno» onze mezes e
vinte e três dias Três dias esteve insepulto» para se lhe fazerem as
honras devidas á sua dignidade, e em todos elles se conservou flexível ;
e dando*se á sepultura no terceiro dia na eapella-mór docollegio da
componhia d'esla cidade, junto aos degraus do presbitério» ahi se picou
e deitou sangue, que muitos aproveitaram em lenços e pannos, e al-
guns nos pesooeinhos, que tiraram ; signaes» senSo infalliveis» saltero
prováveis da glpría, que está gozando, por premio do muito, que, no
decurso de tantos annos padeceu e obrou por Deos. Assim o cremos
piamente, e também que se nâo esquecerá de rogar ao mesmo senhor
pelas suas ovelhas» para que lhe vào fazer companhia lá na Bemaven-
turança.
Amen.
Copiado de um mannscrípfi), que exisle na secretaria do cabido da sé de
S. Paulo.— Por
A. da Coita Pinto Júnior.
nõ
S. SOAO DE VPANEMil.
Il«#oripf4o A^ morro do minera] áe fvrt^f sus rí^esaf flieifiotii»
iiMtdo o* Antiga fabrioaf teus d^feitot.
(OJTerfddo lo Initílulo pelo Sr, AntaníA da CúkU ^mía,)
O marro diaoiAdo f ulgârmente de íerrc, ou de iir^iracav^vn consta
de três cabaçíB [írincipaes, tíeiínminados i>elos lavradnres morro
vermelho, morro dd ferro prnpriamenle dili, o rnorro (fe íiruraçojava,
além de oulros muítm jugos qtie fazem timhem prtó de lodn e^m
grande mon lanhei ; clleâsâo Dorlaiíos por dtfTertfnle? quehradns e valie?»
eiilre osquae?ío principal è ochamado — th% Furnas, centro de todo
o tnorro; sua direcção é quasi norte-^ul, e conta na maior exlon^firt
duns Iegua$ pouco mais ou menos. Está ilisiante tros kguns da vi lia
de Sorocaba* O grande valle das Fumas, que Jísla meia leKtJi das
margens do Vpanema, onde a meu ver se devem estabelecer a$
ferrarias e nào no corre^'0 da ?^ntiga f^ftbríca, este valteeas encnslis
dorjbe<;ojá mencionadoí e dos outros jugos^ que pnr» el1eolfmm«
abundam dê mineral de ferro magnético, Elle ptireoé pou^r mbns
[ bancos de grés de rebolo, e este sobre oscbito novaeular ; já não falto
de outros muitos mmeraes, que se arham em dtversiO!^ pontos d*e$to
uionte, por n9o pertencerem n maioria de que trato. A«^lm-f^ o dito
mineral entre um barro ferruginoso vermelho muito escuro, dií-se
minado em pedra? ííulíag e desíirrnnj.Kh?, de dlITefente peso e gran-
de7.fl, tanto á superficie, como ái vezes ma ts profundamente; formand*/
pirem grandes cintas o ti manchas nos corra;2fnâ e quebradas. Este
iniricrat de ferro m^igneií ca t- com | meto. muito pesado, de fractura
esqui losa, c/ir gfísea de ferro fom j*fMrc;í ou nenhuma ncre de ferru
do (itíTmeio no mais rico; maior qirantidade porém ún á\lB acre o
m^nur \mo no mais pohre* Snn riqueza é laí que parlei íguaes do rico
e pobre me deram 60 por cento de prodiicto em ferro coado* Quanto
a sua posição t^jm íMh minera] mais a seu favor o nào iiecc^*iii»r
i^nào de o Ap;<nhar õ su^^crliné* ou de o cavar om maneini de |>e-
drefra, e íf^ihi iran-^porlí» ío ;'i fabrica» que lic^ nas fraldai d** mfirro
rilH
2»6
e meia légua dislanle, crrcumstancías Gshs» (fâ que potrcas od
nenhumas minas na Earopa, segundo ó meu conhecimetno, se
|x>dem vangloriar. Nâo obstante a grande riqueza d'esta mina, pa rli-
culares, que emprehenderam sua extracto» tiraram grandes perda»-
em vez de avultados lucros, que esperavam, du que resultou o per-
suadir-se a gente da capitania, que uma empreza d'esta natureza
seria sempre damnosa ao estado : é verdade porém que estas asserções
nascem muitas vezes de vistas interessadas, do aborrecimento a todas
as novidades, dos incommodos, que necessariamente sobrevêm ao»
que possuem terras no dito morro e suas cireumviztnhanças, e da inca-
pacidade de conhecer os defeitos do metiiodo usado na amiga fabrica ,
que era o seguinte: estraficavam carvão mineral^ depois da ustulado
e pillado sem ajuntar fundente, entretinham o fogo por dous folies e
depois de um dado tempo, achavam o ferro reunido em uma massa ,
que levavafn aos malhos. Os fornos, de que se serviam, tinham cinco
palmos de altura. Este methodo, que é dos Lucquezes, só póde-se
applicar ás minas ricas e puras, em que o ferro está nada ou quast
nada altera Jo Já nào fallo da pequena altura dos fornos, porque esta
só podia caber na mente de homens ignorantes do oflicio, e que
parece procuravam por gosto sua ruina. Além d*ísso^ como não
sabiam distinguir o mineral rico e puro do pobre e impuro^ houve
dias de pura perda, por ser impossível fundir o mineral pobre e mni»
alter.tdo sem fundente. Do referido é claro, que um similhanle esta-
belecimento, dirigido por homens inhabeis e ignorauies, deveria
arruinares emprehendedores, pois de ouiro modo seria para adminir,
que um minerai lâo rico desse perda, semlo que na Europa já f<iz
conta a sxlracçíio das minas, que dáo 25 por cento apczar de nãa
haver tanta abundância de lenha, e serem (»s salários por mais «lilo
preço.
Matias , methodo de fazer carvão mado em Sorocaba , seu»
defeitos^ .facilidade da conducção.
A maior prle d*este morro, esuascircumvizinhanças é coberta dtí
arvoredos, e seria todo elle uma malta continua a não estar dividido
M7
j?or ctjnle c «essanla niofãilortís pouco m:iis ou manos, além d^ oulrm
líiiiilos, que laiiibepi ^(\m [)laiHani por fftTor : lodos Mes rii-am pra*
Inibidos de derrubar mattos virgens e capoeiras altas, (jonsenlindo-
se-tbés Ho somentei que fitçam plantações em capoeiras bai^a^ alé
decidir-^, si acasa se deve dar principia a este estabeleci mento,
porque então liáo de por necessidade ser esbulhados da plisse d^esses
lerrenos» miQ sefem paires de nsínas* ou si a equidade á& S. A. R.
o ordetiàf, indemnisados com outras seamariaâ, verdade é, que dis-
antes d^aq-ui, por nSo lia ver quasi terreno algum realengo nas vízi-
blianças. Esta prohibíçao de plantar em ma t tos virgens etc. esten-
deu-se a mais de mela tegua em roda do morro; conta-se dai faldas
d'elle per n elta baver muitos bosques desvaira' fos , como os do
r^iyere» Ipanemerim e outros. Posso sQanç^ir a bondade daâ ienhas
para 4^rf30i Mo só com os ferreiros de Sorocaba, mas também com
a experiência pTopria. poís qued^etle me fervi para fundir o minorai
de ferro t e $i carvão feito de lenhas verdes, e que nSo chegaram a seu
pertoito crescimento, queimado em cavas feitas no cháo^ som regras
algumas para conhecer o completo estado de carbonisaçáo , é bom,
umito melber será ensinando aos carvoeiros do pai^^ o modo de o
faier usado em Suécia, França e Altemanha. Os carvoeiros coslumam
vender ;i carga de carvào 80 rs. Quanto ao carreto do carvjío feito
nas mattas do districto mineiro^ ó quasi nenbum por estarem eílas
jikuito prOTtimas à fabrica- O ear^^ao porém feito em todo o terreno
d*esta villa (porque a meu ver será bom ordenar aos lavradores^, nao
destritam seus bt^ues, nem vendam as lenhas para fora, (mis d'ellas
pôde vir a carecera fabrica) tem caminhos bons e planos por onde
|Kissa ser transportado. E como ãs margens do rio Sorocaba s^o muito
abundantes de arvoredos, o rarvâo que ahl se fizer, pode ser trans*
portado por elle abaixo, e d*ahi pelo Ypanema acima em csnaes, que
se deverão mandar fazer, visto as de S. A. B.» que se achavam no
porto de Araritaguaba, terem sido vendidas por ordem da junta, e
muitas, ^tor grandes, nffo poderem nav^ar em similbantes rios.
Lugar t em qm u derem eHakehcer aá ferrarias,
Eli dfsstí fio S l.** que as margens do Y panem a deviam ser pre-
2S8
ímAã^ m córrego^ era (\m se acham ainda hojt^ riilnns iln dnli^
bbrica^ a segunda mi repito* qoô é o mtjlhor local para esle i^^iabe
tecifnento ; 1/ por teroYpanema abiindâneb de ^guBS, â** por esbr
fias faldas do morro, ecomo centro c)â mína o maUos, 3.* por ser o
caminiio d' aqui a põdra calcarcia melhor, plano e mais breve, oqn€
não fiiicoederia a s^r no córrego, como ri^eram os antiga, o qual,
além ih nào ter aguas em abundância, fica mais longe, e o caminho
é pêíur. Além á^mo^ o lugar escolhido é uma planície eoniioua com
a melhor localidade para quantos editlcios m quiíerem lovnnlnr.
Ultimamônle a natureza nos está ensinando, que esid rio deve com
preferencia S6r escolhido, porque na distancia de cenlo e set^ braçM
pouco mais ou menos, contadas rio abaiio até a ponte, por onde
passam os moradores do morro» ba um paqueno salto; d^ella nos
podemos senir para fa^er oassude, quo ha de levantar até o barranco
ou ribanceira do rio as aguas necessárias ás macbinaa hyrfraulíeas,
^m bão da pôr em movimento na folies e malhas : a altura f)o lugar
do salto até o barranco é de dezoito palmos, e d*ali até a ponte, quo
fazem cento o sate bra^s, ha quinze palmos de queda com potica
differença para mais. Podo eslabelecer-se a fabrica um pouco abaiiro
da ponte» por abaiscar mais o nível do tarreno; d'este múèo^ ainda
quando as aguas n$o fossem em muita quantidade, dando maior
queda d oilas, augmeniavamos a velocidade, a por consequência a
quantidade do movimento, que é o produeto da massa pela dita
velocidade. A largura do rio na ponte é de trinta e novo e meio
palmos t a altura il'agua no mesmo lugar para cima de quatro palmos,
Fundmie,
Como não é possível emprehender a fus9o das minas de ferro sem
fundente, e a pedra calca rea, é o próprio do mineral de ferro mag-
nético, tive o cuidado de examinar todos os arr^lores do morro, a so
achei no sitio do capitão mor, que fjca menos de quatro léguas dis-
tante da fabrica, e já ha uma boa picada e plana« A direcçáo dos
bancos é les-nordeste ou sudoeste; elles sâo de pedra calcarea secun>
daria, densa e grísta de fumo : euntinuam alé as margens do rio
â30
Sorocaba nn disU»m:ia de uni *imfiú ito li*guíi, c iornarti íi í»ppaiPí*ctT
doutra banda do río>
Oi gadôs íinnd vaccum» como ta va liar, precisos para a euulurçâa
th ferfo, carvio, funJenteedo outros géneros p/erlonccnlos à fíilu-íua,
^lem de se poderejn ter a bom inercada; porquanio lum jiinra ik
Lais r4jsl3 8^000 rs. o ni^ncís, o uma Uefla 1 ií^SOí) rs* (>oiico
rnai$ oti menos, creio os Lia em algumas úi\s fa/.endas aotigamrnlè
ilm padres jesuíLis (<] tia ^íq Cubatão, Sonla Anaa, Aras^arr^njama,
Fiiilaiiguy, Borda do Ccítnpo etc.) quo íazcm poder poupar asta
ilefpczj, 0 para o fiiui ro se pode mandara ir por diffL*reokis vesíe?,
í|UíiiHÍi) tíjrern precisos pç Li falia dos prímiaircis, quo p esUverctu
causados fia vendo o cuidado de áugitieniar o sua criííçào* Estes
lindos do costíjb Ja f^djric.i tem mui 10 bons pavios, mn m na meia
líí^ua do morro, nue se deve loinar pvrt disiricto das usjiki^ mas
uuibefii nos ^randci valles conteúdos no dílo morro.
•
Os bomens einpregadoíí no serviço doesta ferraríat pmlem ser ou
e?€mms de S> A* IL, Imm quo e«leâ tenliam ditninuido com as
tuurla^ voiidn<^« uit índios qiJO poduni tirar* 50 dns aldeai de Embau,
llaruiri, lUêpcceriea, Pinliéirosj Carapecuiba, S, Miguel, Noíísa
Seofiora dj Escada ctr»: da mistura d*estes eom otitros trabalhadoras
naiice 0 dei^triiir-s«2 o pcmícioso uso de os t€r em povoações separadas»
uso ^ eapa^ de arraigar o antigo udto; por esta mistura eonfun-
dtím~sô suas opitiiôcs com as tiossasi tornâm-sâ nossos amigos e
tnriao^, ou alguém dos babilantcs de Sorocaba, visto ser {grande a
[^Hivoafào, lyé^ de novtt mil ^etcci^Eitos e do^e, e Uaver ijuaniidado de
(ifurtens dadas a radiatiào e ocíoí^idade; será jucsmo proveitoso con-
demnar aotraballio das miuasos homens de grandes crimes o scnteii-
ciailos fiela lei a pena ultima, osqoaes morretido nas tiad^bs, como é
ordinário, tornam-se p&'^dos ao publico « o nu lios j s^ociedaJe: peln
contrario oceupados n'esta servieo» sJo uteis^ porí[ue com os seus
240
traBalhos cooperam pnra o bom crella, lira-se-llies a faculdade do
commeUerem novos crimes, o castiga m-sc os antigos com a pena do
nm trabalho continuo até o fim da vida ; deixam de ser onerosos ao
publico, porque tem meios de subsistência, e a sociedade ganha
adquirindo mais estes membros, que para cila estavam perdidos; além
d*isso, nma pena d*esia natureza ó uma lição continua para os mal-
vados, o que não succede com a pena de morte, que, por ser momen-
tânea, é logo esquecida, e muitas vezes n*esse mesmo instante produz
um effeito contrario, que é fazer esquecer o delicto, e enternecer o
innocente a favor do culpado ; cm consequência julgo acertado, que
não só os d'esta capitania, mas também os das capitanias vizinhas
sejam d'est'arte castigados cm premio de seus enormes crimes. Os
jornaes em Sorocaba andam por 140 e 160 rs. a secco conforme a
qualidade do serviço, e a 100 rs. dando-se-llies o sustento; devo
poróm advertir, que estes jornaes hão de necessariamente abara tar
todas as vezes que houver serviço continuado.
Fundos para dar principio ao estabelecimento. ,
Depois de ter feito ver a possibilidade de uma similhante emproza,
isto é, bom local, riqueza do mineral, abundância d'aguas, lenhas»
fundente, barateza de gados etc, cumpre fallar nos fundos precisos
no começo do estabelecimento.
Apezar do ser a receita da fazenda real muito menor, que a despeza,
pois que no anno passado foi de 76:673^482 rs. e a despeza de
104:781^190 rs., coratudo, como temos já o tributo denominado —
contribuição lilteraria, destinado unicamente para pagamento das
despezas, que fizerem as minas no caso de se porem em extracção,
tributo bastantemente rendoso, pelo qual pagam todos os géneros
exportados da villa de Santos para fora da capitania, o para outras
partes da mesma, com este fundo, e si fòr prociso, com algum que
venha do erário das geraes, porque n'essas a receita excede em muito
á despeza, pôde dar-se principio a este estabelecimento. Talvez
quando a contribuição litleraria não bastasse, parecesse justo, em vez
de fazer um empréstimo, impor um novo tributo; mas o povo d'esta
2AI
capitania eslá }á Ião onerado, que mo náo dá lugar a lembrar siuii-
Ihanto cojsa; e eu náo enumero todos os tributos, de quo estão
gravados os povos, por s:iber, que V. Ex/ está a esto respeito melhor
ifitcirado do que eu. Alem d'isso, nenhuma capitania principiante
(náo obstante ser das primeiras povoadas) tributos impostos sobre
géneros agriculturaes (como aqui so tem feito) só servem dedefuihar
o roaUir a agricultura nascente. Eu me n2o lembro de propor a ex-
tracção d'estas e outras minas, que com o tempo se descobrirem, por
companhias, nasquaes cada particular entra com uma ou mais acções,
o depois de pagas as despezas, o liquido se divide á razão das en-
tradas, por saber, que uma similhante proposição ó contraria às
vistas actuaes do governo.
Exportação do ferro.
O ferro fabricado u'asta ferraria podo ser transportado em carros,
ou bestas, por uma estrada plana de cinco léguas a Porto Feliz, e
d*ahi embarcado pnra Matto Grosso, Guyabá ele. Pôde também vir
por terra a S. Paulo (distancia de vinte léguas e meia) da cidade ao
Cubat«lo (nove léguas pouco mais ou nienos) e d'ahi embarcado para
Santos, d*onde pôde ser transportado ptira as dilTcrenies capitanias do
Brazil; ou melhor conduzido por terra á aldôa de Baruiri, cuja dis-
tancia c do dezoito léguas, e d*ahi ombarcnilo no RíoTietó, Pinheiros,
Rio Grande, Pequeno, nu caminho ile S. Paulo para Santos, d'onda
pôde ser carregado em bestas, que se lenham do sobrecellenlo na
fazenda do Cubatâo. Quanto á navegação peloTiolé acima, é impôs-
sivel pelo salto de Ilú, salto do Pirapóra, caxoeira do Peralaraca, o
outras, que não relato. Não é menos possível transporta-lo pelo llio
Sorocaba acima alô pertoda Cotia, e d*ali a conducç^io por terra até o
Rio dos Pinheiros, como ou tinha projectado, porque os grandes saltos
de Uruturanli, Ilúparananga, e a caxoeira de Perataraca são obstá-
culos invenciveis á simillianto navegação. A varação das canoas em
todas as mencionadas diflficuldadas e outras qtto não apontei, por
enfadonha e dispendiosa, náo pôde fazer conta alguma. Ultimamente,
pôde o forro ser conduzido por terra a Ilú (distancia do seis pequenas
242
le^^iins] [Kn* onde ])asf^ s grairdo estrada ([«rs trops e gndas âe S^
Paulo para a^ geraos, que (em igunrl rrocessidade de ferro baralo para
a cxlracçilo de sua» lavras mineiras; eu já não fallo do grande con-
sumo, que ioda esln capitania ha de dar ao ferro exlraliido' d^esl.*»»
minas^
Protfidencíctí necessárias ao bom êxito doeste esíaôetecimenío.
Cm consequência de todo a referkloy se parecer conveniente á S^
A, K., que se dé principio n esi» fabrica, creio. sSk> de toda a neces-'
sidadeas providencias seguintes: f.* mandar vir com & possível bre-
vidade d'aquellas partes d'Allemanlia, em que se trabalharem minas
da mesma natureza, um hábil fundidor, que entenda também da
fonstrurcão dos fornos altos, e um forjador, que seja amestrado na
reducrâo do ferro cm aço, os quaes ensinando os do patz as manipu"
tacões da {\i$So e refíno do ferro, formarão para o futuro homens
liabeis a práticos, capazes de serem empregados em outros similhanles
estabelecimentos; 2.* reclamar as sesmarias ou doações feitas em
terras âo morro, e de meia lugua em roda contada das faldas d^ellcy
visto ser todo este terreno drslriclo das minas, e malta<í, esi parect»^r
Cíuiforme com a eq«iidade do S. A. U. indemnisados com ouirns
sesmarins; 3." nomear um conservador de maltas, qtie por via de
regra deve ser o mesmo director gorai afim do evitar maLsdespezas;
osíe deve tor a seu cargo o fazer o aproveitamento dasdiías mallas por
colides regulares, e a cito, allendendo ao perfcilo crcscímenlo d;is
arvores, de feição, que sempre haja uma follia int(3Íra a coriar, que
basta ao consixuio d'cstas ftírrarias, e o ensiii.ir devidamente o
melhodo mais adequado e económico para a factura do carvão; 4*
acariciar por meio de prémios e privilégios razoados, tanto os indros,
como homens do paiz, e conceder-lhes, que nos dias de descanso
possam plantar n'aquellas parles do districto, que estiverem incultas,
o em que não houver maltas, pondo sempre de reserva os campos
precisos para pastos tios gados necessários ao costeio da mesma fabrica;
este será o melhor meio de ter um numero certo de mineiros hábeis,
interessados no bom exilo d'esla ferraria, carvoeiros, carreiros e outros
243
obreiros; 5." nomear um escriváo de rcreila e despeza, enirada er
sabida o um feitor timbem encarregado da economia das lenhas e
carvão, advertindo porém, quo não iia precisão de dar estes lugares,
senào d;;poÍ3 de principiarem a trabalhar estas ferrarias, porque é
contra todas as regras da boa economia fazer despezas sem tirar
lucros; 6." si para o futuro erigir a creaçâo de outros similiiante^
estabelecimentos, nomear um inspector particular, o qual possa
servir no lempo da ausência do director. Todos os ofliciaes devem
estar debaixo da tmmediala direcção o ordens do director geral, o
qual será obrigado a dar as contas no governador da capitania, a
quem também recorrerá, quando precisar do seu auxilio para o bem
d'este estabelecirhento. Com estas e outras providencias, que as luzes
de y. £x/ podem subministrar, parere-me de toda a necessidade o
fazer-se um regimento para a administração assim económica, como
policial d'eslas ferrarias.
Esta memoria foi copiada de um Uvro da secretaria do governo da proviocia
de S. Paulo, que tem no rotulo — Documentos.
S. Paulo , 16 de Junho de J852.
A. da Costa Pinto Silva.
24A
CÓPIA.
Da parte «pie deu o copitfto de granadeiros Cândido Xavier de
Almeida e Souza.
SOBRE O DESCOBRIMENTO DO UIO YGUREHY.
(OITcrccido ao Institudo pelo Sr. António da Cosia Piolo).
III."" O Ex."° Sr. — Vendo qoanto favoreço o céo as acertadissima»
disposições do V. Ek.% anticipa-se minha fiel escravjdáo, tanlo a dar
o innis plnusivel parabém de tanta felicidade, como pôr na presença
de V. £x.', logo que chegamos a este sitio denominado Curnssá, á
margem do Ticlé, em qiio encontro possibilidade para ir por meio
d*esla aos pés de V. Ex.% que voltamos todos cora saúde, feliz o pros-
peramonie. Esiá V. Et.' na posse do rio Ygurey á margem occidental
do Paraná, solo loguns abaixo da parte superior das Sete-quedas, na
mesma silunçâo, em que o demonstra a carta de Mr. de Anville. Foi
Deos servido levar-me ao dito rio no dia 10 de Julho ás 5 horas da
tarde, ao depois de vinte e qiialro dias do traballm por terra, e meio
de navegação, da maneira porque vou expor a V. Ex/
Ex.^^Sr., com notável diOiculJade e indizível trabalho pudecon-
se?;uir o fructo d'e3ta diligencia e obedecer ás ordens do V. Ex.' por
entro lanlos perigos, pula diminuía forço do genle com que onlramos
para ella ; mas esforçnndo-se a minha obediência em dar cumprimento
ásonlons do V. Ex.», chegamos eni frente das Selo-qued.is no dia 10
de Junho ás 9 horas da manhla com vinle e nove dias de viagem do
porlo de Araritaguabn: e n.i ultima illia, íjsieali eslá, estabelecemos
o acnnionamcnto para existência das canoas, e manlimenlos de re-
serva, o mais petrechos, conformo as ordens de V. Ex.* No dia 11,
logti pela manhàa, sem querer perder um instante de tempo, em-
barquei com seis soldados cm um balelào , c passei á parte oriental
a examinar o lerrroiio ale abaixo dos sallus: o meu tenenle-coronel.
aA5
[emlmrcou também com sm romeiros m\ úuitò liâ talão o s^uíma»
|ti^d(>s. Com grnndf Irabalhri prÍEici|rÍamo!» a fiicar o mriuo, [porque ao
fílcpóís do pâisannos um 4ipra3çi\iíl larafijal, entramos em mn silvado
Éíspesso, o l.iqiiaral p^pintio^o, rui que pouto w atlianlnvam os golps
io$ íâcôas: pouco ófidamosi f|iiaiiiJo eiilranJo em um arranclijntenlo
' th hvim de quatro ou cinco dias aiilras, Q'picadaf rráni:as, por ollas
Itiús servimos olé uW\%q dos s^ko!^, sem mais delrímenlo de picar
maUo, a extensão do logua a meia, que laulo lom ãqtielle transi lo p^r
Ire"; [konlas da serras, que vem abeirar ao rio, o [»enedos bem agros
do transitar* D'a1Í pude ob^rvar pruJentameute que era frustrado
lodo o trabalho por aquella parte para o tiosso intento* porquâ os
altos penedos da occidenlal não permitlem averiguar-so de ca o que
^_ de lá ^eocculta: por cima dos da margem orienLal, que estào mai^
^f |)roiímos ao rio, não sú pde d:ir pasáo para bat^o, ea fa?/'-b pelo
matto, ficávamos tia mesma indonsio do que o rio contém. Ex vi
du que diipuz-me lop a p^tiT tVAi para a pnrte 0€fÍJeutal o retr-
IH raiuo-itos para a ilha da^ Harraca^^ que assim denoininájuos n do
^■liosi^o acuo tonar nenio. No dia li, lo^o que o pormltlirant as luzes do
i^ dis, pass«i h |}urie ot^fídental com a mesmo numero de poucos soldados
I! remei ros, onde lambem f|ui£ ir o diloleneiílo-eofonoL £ncontr.^n]OS
terreno mais plano o meibor matto, deitando as esn^s dentro de um
»[íei|ueno bruço do Parani [íor deiraz de uma pequena ilba; n*este
lugar fizemos porto, u que dL^nommamos do S« Francisco, elerni-
sando assim d^esdc ja o 111,**" nome de V* Ex,' Picamos matto aquolle
dia todo alé Lin ribeiro corrente, em cuja margom pernoitamos, sem
mais abrigo que o das arvores frondosas osetn eoberla mais que a do
II frigido sereno d'aquel!a noile. No dia 13 ás t O horas da inanhaa
^■«ahimes abaiio dos saltos, em distancia de légua e quarto por aquella
1^^ parte, onde niSo encontrámos indicio algum, que e^praneasáe o bom
oiito do nossa diligencia o com esla descenso la (;áo nos recolhemos an
nosso campOi No dia 14 partiu o dito tenenle-corouet om uma canoa
a navegar ujn pnníaiiõ nlagado, que ha por cima do porio de S,
Francisco ale a barra do iguateriiy, em busca do rio Vgurey. e reco-
246
Ueih^Q às 2 horas da tarde sem mais fructo» que o cansado trabalho
4I0S romeiros : a mesma diligencia, repetiu no dia 20» cm que cliegou
á barra do rio Iguatemy. No dia 1G. fiz adiantar uma partida para a
pnrte Occidental com facões, fouces o machados a proseguir uma
picada, por onde podessemos desembaraçadamente transitar; e eu
parti no dia 17 com oito soldados e dezoito romeiros das canoas,
abrindo um largo caminho estivado com andaimos por cima dos
ribeirões e sangns mais profundas, para com mais brevidade varar
duas canoas, como fiz, na esperança de achar em poucas léguas nave-
gação no Paraná por baixo das Sete-quédas, e embarcar sem a demora
de fazer canoas e ir com mais brevidade dar um inteiro cumprimento
ás ordens de V. Ex.% e d'esta sorte asseguramos por terra o feliz
descobrimento do um caudaloso rio com n configuração seguinte :
Dia 21 de Junho ás 9 horas da manhàa. Desemboca este rio no
Paraná enlre altissímos paredões de pedras, mais altos para a parle
do norte, e para a parte do sul menos elevados; vem as suas aguas
era arrebatadíssimas cachoeiras ; em pouca distancia acima de sua
bffrra faz um sallo com a aUura de duas braças. Um quarto de légua
acima da dita barra faz o primeiro assento, onde desemboca um ribeiro
parado, nativo de algumas pequenas lagoas circum vizinhas, que tem
á sua margem da parte do norte, por onde fíz todas as averiguações :
pouco acima do ribeiro ha quatro ilhns vizinhas entre cachoeiras,
umas maiores que outras; até a distancia de meia légua acima da
sua barra sóhe a rumo de noroeste, e ahi desemboca um ribeiro
perjueno e corrente da parte do norte, com algumas poucas pedras no
fundo. Entramos ali em principio de um herval de Congonhas, de
que nos provemos para toda a jornada: d'este lugar para cimacur-
vandose o rio em um quieto assento navegável e largo, isento de
cachoeiras, sobe a rumo de oeste; nós voltamos do dito herval,
receiando encontrar n'elle alguma vizinhança importuna. Tem o
dito rio de largura no primeiro assento abaixo da ilhas sessenta e três
palmos e meio, e tem de fundo doze, sendo n'este lugarlodo lageado;
o paredão de pedras do pontal, da parte do norte da sua barra, tem de
largura cento e 1 palmos e duas pollegadas e meia. Aqui tive demora
247
ftm fazer uma pingutíiln de n^adeirp ígrússimn, ^ahrQ dozo tesoura;,
que lantas levou, para pas^igem dos qvisqs, que necessitnsf^ fazer,
le dos conduclores de luanúmef^tQ?, quo me eram precisos conduzir ein
parcellas; por Qâo ler gente suflicientje para trabalho tào eíTicaz. No
dia 23 ;ís 11 boras chegou conduzida .em uma rode, por causa de
suas noolesljas, a vór o difo rio, peia parte, que lhe eu dei do haver
jdescober^ , o s^bredUo lepci^te-coronel João Alves Ferreira, e nâp
queren()Q par^r n^aquella parte un) só instaote, voltou no mesmo tlia
))ara g sei^ acaf^tQiiaioeiUo da ilba 4as Parracas, onde coqservou-sé
jkKlo o fempg que ^odei j^*esia diligeocia.
yasafii aosi^l do rio da Pinguelfa, abriodo caminho e varando por
(A\e as d^as .c^nòa^;, que conduzia, e t<mdo marchado iima iegua e
quarto £hegan^os dofron^o da barra 4o rio Ilalú, que cahe no Paraná
pelk parfe oriental, e precipitando- se por cin^a dos penedos, faz tal
jestrondo^ q^e se ouve na distaniúa de duas léguas abaixo. Aqui
^hei comnyodidade o porto, pe|a quebra de um ribeirão, por onde
lancei yioa canoa no Paraná com cinco remos, par? ver praticamente
.0 effeiio de suas esp^nto^as (ervnras. Teve a dita canoa que submer-
gida er^re os redemoinhos , d onde sal^iu salva por mcrcé de Doos,
moslrando-nos a experiência que para aquelja arriscadissíroa nave-
gação precisa^vamos de canòn de maior porte. Tiramos aquella para
terra, ecoutinuamos a mtircba com o mesmo laborioso trabalho. Em
^distancia de quatro léguas o meia decamipl^o andado, acbei um paú
suficiente, de qjue Qzemos em seis dias nn^a canoa maior. Em dis-
tancia de sejs léguas de yara^'âo, parecendo-me o rio mais moderado,
por uma quebra que achei entre os paredões de sua margem, que
d ali para baixo s9o n^ais tratayeis e permíttem andar por ella, puz
n agua as Xres caiadas, on coqjectur^ d^ n*'^ ^^^ haveria para baixo
mais obstáculo que roo eml^araçasse uma veiosissima Qavegaçj^o. No
dia iode Julbo pelo meio dia^ despedindo os trai^alhadQres para a
ilha das Barracas a fazerem companhia ao lenenle-coronel, q^e ali
S8 achava residindo, embarquei nos três batelões cono oito soldados
.6 dez remeiros, que unicamente cabiamos, sete saccos de farinha,
jtres de feijão, douscunhetes de cartuxos, pólvora, chumbo etc. Çon}
XTIIX 32
24S
\:\\ coiiirn-iuiiicitit. i.aveganvos ns ftiriosns mrrenlttfi (l\i(jiielle soberlio
rio, que julgo mos concluir n cornada om quatro ou oinro «Jias, e que
nada nos Hcasso occullo, nem por averiguar u*aqucllc «(^rtâo, quando
rcpontinamenic nos vimos 5ul)mer?os lodos cm uma confus5o de rede-
moinlios c bombas d*ag!io, d'ondo no? lirou a Providencia Divina,
ao depois de muitos trabalhnçi o afllícçdcs, em que julgamos aquelb
a hora ultima, o ninguém livmr-sc para dar noticia do succedido.
Antccipando-nos aquelle para isentar-nos de outro perigo maior, cm
que inevitavelmente pereceriamos todos, quinemos tomar terra, e a
não conseguimos senão d\nl)i a nieia légua abaixo para a parte
oriental, d onde observamos es:ar já na frcrtie de um grande e afuni-
nilado tombo d'aguas tdo perigoso como intransitável. Emprelien-
demos passar para a parte occidental, onde tinbamos o nosso caminho
e proscguir por terra como (Pautes, do que com muita brevidade nos
arrependemos, porque subindo por cordas tiradas de cima dos penedos
com as canoas muito para cima, e largando para a outra banda a toda
a forf^a de remos, fomos de improviso arrebatados pelas correntes até
á frente do precipicio, onde tomamos porto em uma alta e formosa
ilba sobre {lencdos, abastecida de alto e gra«íso arvoredo, sendo a
primeira que encontrei abaixo das Sete-quódas, a que denominamos
da Senbora do Pillnr, e ali assentamos o nosso campo emquanto obser-
vávamos o que tinham«>s na vanguarda , e as circumstancias do
formoso rio Ygurey, que ali se nos apresentou com a barra defronte
d*esla alterosa ilha. Sóde o formoso rio Ygurey a rumo de noroeste,
um quarto de légua até o primeiro assento; tem de largura na sua
barra cem palmos, pouco acima faz a primeira estrondosa cachoeira,
por onde dá váo com muito trabalho com a extensão de um quarto de
]egua até o dito primeiro assento, em cujo termo dá navegação de
canoas carregadas, e tem a largura de eincoenta palmos e dezesetede
fundo: acima d'este obscuro e parado assento curva-se para oeste, e
n*esto rumo sobe aguas atH onde não chegamos a averiguar, corres-
pondcndo-lhe pelo occidente o rio Cu ruy-guassú, que corre para o Pa-
raguay, e faz barra seis ou sele léguas acima de Gurugmaty, como aqui
afBxmam alguns companheiros práticos, que la foram em outro tempo.
2A9
Da referida ilha expedi ires camaradas para o porlo de S. Francisca
a fazer retroceder os trabalhadores, que cliegarain no dia 13 ás nove
ou dez horas da manbâa. D'aH observamos as novas dilBculdades,
em que prosegue o Paraná a precipitar-se por entre serras, que :ili
chegam ássuasmargen», e abríndo-se-lhc também o campo Occidental,
fomos presentidos dos indios Hespnnhóes, que imperceptívehnento
vieram no dia 14 espreitar o nosso campo, como nos mostraram ns suas
trilhas e picadas na mesma tardt^, cm qiio fomos á terra firme dispor
a continuação do nosso caminho , d onde nus recolhemos oom a
certesa de estarem os alojamentos em |)ouca distancia pelos frequen-
tados caminhos, que cultivam aquelle ntatlo. No dia 16 logo pela
manhSa por toda a ()ar(o se incendia o campo occidental á beira do
rio, e d'ahi a poucos instantes correspondeu o campo oriental em mais
distancia, pois no dia 13 se havia incendiado e turbado todo o hori-
zonte defronte do nosso acampamento.
Presenlida a nossa partida no cain(Hi inimigo, a estrada do nosso
regresso por aquella parto nus ficou cortada ; o rio cada vez mais
obstinado em nos denegar a sua navegaoào, sen) o refrigério de po-
dermos passar á margem oriental som o evidenlissímo risco de arre-
batarem-nos as cachoeiras, como já observamos á custa de nossa
experiência, determinei relirar-me á ilha das Barracas, reforçar com
a gente mais capaz de mover as armas, que não havia muita, e passar
á margem oriental por cima dos Sete-quódas, e desde logo picar o
matto até onde encontrasse navegarão na distancia que fosse, e
quando a achasso ou não pudesse fazer canoas e embarcar, caminhar
por terra aló o meu destino, em cumprimento das ordens de V. Ex*
Com esta resolução cheguei á ilha referida aos 18 do mez, incapa*
cissimos todos petas continuadas chuvas, de que fomos vexados em
toda aquella desabrida jornada. Para l(»go porém mandou o tenente-
coronel João Alves Ferreira desesperadissímamente apromptar canoas
e gente para recolher*se, sem admittir razão alguma, deixando-me
rora os espiritos sopitados e atadas as mãos para proseguir na dili-
gencia, pois sendo-lhe precisas trinta pes^aas, quando menos para
varar canoas, nos dous saltos, inutilmente me ficavam vinte para pe-
^50
iíètrarutn sertão pelo menos de quarenta aeincoenii íegusfs, (JoTÒáktd
fle inumeráveis índios, que hábítarai nquelle contifiente^ quando todil'
a pequena expedição não èrá bastante para diligencia táo' árduaf e Ufitf
arriscada. Deixámos d'este rriodo descobertas d't!!Sla vez, seis leguai
è meia da barra do rio Iguatemy ao da Pinguelld, e quatro e roeíaí
doeste 80 rio Ygufey : ao sul d'este andamos duas léguas e vaeiàébáixô
pelas margens do Paraná, o cbegamcfí ò'ride fázefído segiinJo jiperto;
faz oulro tombo d'aguas conio lias SeÍe-r|uéda'St e da máinta s6rtè
encana entre penedos, e assim pròsegue qdahlo d'ali sflcánça d víst.'^,'
sem qde em distancia de note léguas e meia, ^ue andamos, S6j.i
()ossivei admiltir nãvegaç^d, como obser^^mosá ctistade nòsád piioprU
experiência.
Deliberei-me subir ate o porto Jè Araritáguab.'^; oncíe cbeganíos
com quarenta e seis dias de íiavegacão e viagem rèlícissima, seni um sâ
de chuva; è aqui com toda a gente esperarei a mefcd das ordens de V.
Ex.% fazendo h'este conienos úma casd, em que suiRcleiilementé
pssam com comiriodidáde acautebr-se dos rigoreâ áó tenri^jo as sete
banôas de ridsso tráhspdrie.
Saliimos do acanlonameiitd da ilha das ^di-racas río dia 20de Julho,*
è em dòzoitd dias síibimds ò Paraíiá, toiriánuo no did 7 de Agosto si
kirra d'esteTíet6, em (jué Ijdvemos tido a deitiora de vinte oito dias.
Em âS de Ago^(o nos encontrou o sargento Ignacio Alves de
Toledo, por c|dem éú espéravd, òontiecendo d âeu avultado préstimo,
bom os nlanlímcntoé, com que qdií àoccdrrer-ndá a cuidadosa piedade
do V. £x.% a qUém repelidas vezeè rendemos ds devidas graças ; q$
ditos mdrillméntos veni intactoá, porque aiíida dd ti^azemosòom sobra
bastante á exòepçâo de algum toucinho, dé qiie nds servimos, porque
do que levarhds, cbrròmpcu-se d terça párie pioi- hial ciirado, e o
Inesnio abontecériá á csíé, que ainda ià cdm menos tempo de beneficio.
Todos os nieus companheiros se lênl portado n'esta acção com in-
hbmparaveí zelo, ildelídáde, cdHsiarícia e vdior, [bloque se fazeni
aigndS da preciosa aitertçno de V. Ex.'; hiuito pHncIpalmente o
èargentd Miguel Pinto los Anjos, que desde agora o proponho ao.^
bihdá de V; Ex.% pdrá Sondo servido lembrar-se do scii dislincio
251
tnerecimentò, possam assim aniroarcm-se de novo os que bem sé'
bmpregam no serviço de Sua Magestade e no devido desempenho das
respeitáveis ordens de Y. £x.*
Meu Sr. Ex."^, as utilidades do real serviço de Sua Magestade» e
as disposiçdeà mais do agrado de V. Ex.% tanto sabe prezar a minhaf
submissa obediência, qué anteponho ú minha commodidade própria»
e ainda á minha saudé: esta ainda Deosc àervidom'a conservar em
seu inteiro vigor, estou ainda ha mesMa accào, a niaior parte das
candas promplas, parte da despeza feila, o tempo ainda favonivel»
af^im sendo do agrado de V. £x.* e de seu empenho ú penetrar desde
dgora aquelle sertão, e ver quanto n'élle ha incógnito^ seja Y. Ex>
áérvidò consigndr-se um corpo da trdpas mais numeroso e suíTiciente^
bom cujas forças possamos sem pdlliar demoras, riem escogitar cau-
telas, costear o rio Paraná até ú barrd do Iguassú, ver por onde
perroitte navegação, e por ella passar a pdrte occidental, onde couber
no possível, de sorte que em breve tempo hada mais Gque ali que se
possa occultar aos olliosi de V. Ex.*
Nenhum trabalho nem cuidado me Gcãrá na subsistência de minha
Ifamilia confiando flrmemehté, como devú^ nas benignas e sinceras
expressões de V. Ex;% com as qunes se dignou honrar-me, sendo
mais próprias da benignidade de V. Ex.* que do meu merecimento,-
e n'este reconhecimetíto^ pára abrigo meil e do todos os súbditos, fui
rogando a Deos guarde a illustrissima pessoa de V. Ex." muitos
annos. Sítio de Curussá áos 2 deSetembi'o de 1783.-— De V. Ex.%
III.** e Ex.^* Sr., o mais submisso, obrigado súbdito e reverente
baptiVo. — Cuiidldo Xavier dé Almeida e Souza.
Esta parte fòí dirigida ao capitão general l-Yancisco da Cunha e
Menezes, c acha-sc na secretaria do governo ié S. Paulo; livro dos
bífidos para o minbtro — annos 1782 a 1788.
S. Paulo; L' de Junho de 1852.
Antofíio da Coita Pinto Silrd.
255
DESCOBERTA
DOS
CAMPOS DE GUARAPUAVA.
(Oferecido ao Instituto pelo Sr. António da Costa Pinto Silva. )
HL— e Ex.** Sr.— Para dar cumprimento ás ordens de V. E\#
entrai pelo porto do Carrapato a 18 de Novembro e clteguei a estes
campos do tiuarapuava dia de Santa Barbara, 4 Novembro, pelas 3
horas da tarde, com a gente e trem, que consta do mappa incluso,
passando todo o sert&o, que é malto grosso de trinta loguas sem cousa
de maior cuidado, nem achar novidade memorável. Houve sempre
bom tempo, a maior felicidade, que Deos fui servido dar-nos, pois
si estivesse mau tempo, seria impossivel sahir fora todo u trem, por
causa dos cavallos nâo aturarem o matto, pelo pouco pasto, que n'6lles
ha, e sempre houvo a perda de quinze ou dezeseis cavallos, quo
ficaram cansados e mortos.
Eu passei algumas noites bera mal acommodado, dormindo no
capote, e ceando uma pouca d'dgua fria, e outros incommodos por
causa de ficar airaz todo o trem ; mas agora nada lembra pelo gosto
de ver n'esl6s alegres campos, e ter accrescenlado aos douiinios de
Sua Magestade, nu governo de V. £x.*, estes grandiosos campos e
dilatados sertões, pois os campos que já lenho descoberto passam de
quarenta léguas de norte a sul e leste a oeste, pelo que tenho andado
mais de vinte com um grande rio, que passa pelo meio o por ter
algumas cachoeiras nào é navegável em toda a parte: tem pelos
campos muitos ribeiros grandes e outras aguadas, que ofierecem
alegres e de boa apparencia para criar, pois lodos dizem que produ-
zirão muita cria<}âo pela bondade dos pastos, que são de muito dif-
ferente e melhor qualidade que dos campos gcraes de Coritiba» u si
Deos perroittir que se povoem, será um delicioso paíz, pois os ares
sÁo muito alegres e as aguas excellenles, a terra mostra Jarú alguns
558
fructos do cnmpo <^m ser preciso plantar no matto, como íazem por
Coriíiba contras partes, e assim pedem formar>se muitas fazendas e
povos, d*onde resulta para Sua Magestade grandes utilidades, pois
também ha grandes esperanças de ouro para a parte de oeste, que, si
houver tempo, hei de examinar antes de sabír para fora, si Deos fôr
servido.
No mesmo dia que sahi a estes campos deixando a maior parte da
gente arrnnchada no capão de Santa Barbara, sahi com dous capitães
decavallo, José dos Santos Rosa e Francisco Carneiro Lobo a explorar
o campo e ver o que n*el]e havia ; tendo marchado um quarto de
légua atiramos um tiro e logo em distancia de três quartos nos respon-
deram iH)m uma grande fumaça ; presumindo ser gentio, achei o
lonente-coronel Cândido Xavier com vinte e oito camaradas em um
forttf, que tinha principiado com ranchos feitos e bastante cautela
para defesa do gentio : foi inexplicável o gosto, que todos tivemos por
nos encontrarmos tão breve, quando era dos maiores cuidados, que
eu tiTiha em ver gastaria muito tempo em topar esta gente, que tinbii
entrado pelo porto do Nossa Senhora da Victoria, ou que ainda não
teriam sabido ao campo e que isto me demoraria. Tanto que quando
o dito tenente me reconheceu, arvorou bandeira, que de uma parte
tem Nossa Senhora da Conceição e da outra as reaes armas, e fez
todas as mais demonstrações de alegria, qlie foi possivel, pois havia
quinze dias que ali se achava, sem mais provimento que alguma carne
secca de porco do matto e anta» com que passavam sem sal : ali mo
informei do estado d^aquella expedição e achei toda desbaratada, e
certamente se nSo poderia continuar sem uma grande providencia
pelo desmaio em que todos estavam, principalmente pelo desacordo
do tenente Filippe de Santiago, que achando-se um dia ou dous de
i^iagem d'estes campos, voltou para traz, foi ao porto de Nossa Senhora
da Victoria, aonde recebeu cartas minhas, em que lhe dizia partia já
para o Carrapato a entrar para estes campos, e esperava encontra-lo
até o dia de Nossa Senhora da Conceição, que pretendia se dissesse a
primeira missa n'estes campos, o que nSo foi bastante para deixar de
seguir o desaccordo de subir pelo rio do Registo acima até o porto de
1^
254
Nossa Senhora da Conceição da Cayacanga com o destino de se en-:
contrar comigo pelo Carrapato c entrar juntos para estes sertões,
sendo necessário para isso dar uma volta do mais de cento e cincoenta
jeguas, o que em dous dias conseguia continuando a marcha par^
iclles d'onde se achava, passando de mez que partiu do porto de N0SS4
Senhora da Victoria com trinca hon^ens en) três canoas até agora não
tenho noticia d*elles.
Também tinham desertado vinte e quatro homens pouco antes dq
dito temente Santiago partir levando as armas e racõ.es, que Mnham,
de que o mesmo tenente não tipha dado parjte, e ifepois de dar algumas
providencias mo recolVi pelas 6 horas par^ q cap^o de S^ula Barbara,
onde estava nossa gen^, que já de um ai(o tinha visto a bandeira a
torro, que reconheceram com um ocujo, o festejaram com muita
salva, e também lhe tinha mandado dor parte por gm c^valleiro par.*^
lOS tirar do cuidado, que lhe podia causar rr^inha demoi^a. Ao outro
dia 5 de Dezembro, contados Qs ofliciaes e inais gente, qtie me acom?
panhavam, marçl^ei paraQ forte e com o maior ajvQroço, nos^coni-
modamos nos ranchos, que estavam feitos, e banraca^^ue levávamos,
je todo o dia ^ passou em nos arrumarmo-nos« e no 6, sexui feira,
pela t hora montei a cavallo com dezeseis cavalleíros, fMi ver o campo
ffíiTu aparte de oeste, e lendo andado tresleguas não encontrei mais que
^mpo e alguns capões, e tudo quanto podia descobrir, tudo era
X^mpos, e porque desejava saber onde ficava o Rio Grande, de que
havia noticia, mandei o capitão Francisco Carneiro Lobo o ao tenente
Francisco Lopes Cascaes continuassem a^é encontrar o Rio Grande e
descobrir algum alojamento de indios, pois nSo linha visto signal
d*elles, mais, do que em vários cappes, vestígios de roças antigas e
me recolhi para a torre, onde cheguei pelas 10 horas da noite, e já
todos estavam com cuidados pela minha grande demora. Ao outfo
dia, sabbado, véspera de Nossa Senhora da Conceição, chegou q
l^pitão Carneiro 6 os mais, que foram ver o rio e deram noticia de
fer chegado a elle, sem encontrar mais signal de gentio, e no mesmq
(dia se arvorou uma grande cruz no forte por signal da lei de Nosso
penhor Jesus Christo nestes sertões, e i\ nqile se íizeran^ gr^qdji^
255
fogos e lumioarias: nodomingo, dia de Nossa Senhora da Conceição,
oanlou o reverendo padre frei José missa, e festejou-se a mesma
Senhora com o maior culto, que foi possível, confessando-se muiia
genle, e quasi no fim da missa succedeu o que consta da relação
inclusa: passoii-se todo o dia com muito contentamento e vários di-
vertimcntoà pelo gosto, em que todos estavam.
Na segunda feira sahi com os ires capitães e trinta de cavallo até
o rio a ver o porto, onde haviamos do alojar, e dar ordens a fazer
canoas para se passar a outra parte ; chegamos já quasi noite a um
sitio ao pó d'etle, onde nos acommodamos e peta muita chuva, que
imuvu n'essa noite, passamos bem mal, e sem embargo de continuar
a chuva, ao outro dia, 10, pelas 8 horas da noite a cavallo, ficando
o capitão Lourenço Ribeiro com a sua gente a procurar o melhor
porto do rio, e me recolhi ao porto de Nossa Senhora do Carmo,
onde eslava mars gente a dispor a marcha, para quinta feira 12,
pnra o rio. Fui para a parte de leste, que é onde sahe o caminho de
Nossa Senhora da Vrcloria, para os campes, ver se achava melhor
lugar para dar principio á fortaleza, c por não achar paragem suíB-
oiente, nem me agradar o sitio, onde estava principiado. Na sexta
feira com toda agente marchei para o rio, onde cheguei no sabbado,
e já ali estava o capitão Lourenço situado em boa paragem, onde o
rio dá vâo por uma cachoeira estando muito abaixo e sempre com
grande difliculdade.
Nào posso no raappa, que presentemente oíTereço a V. Ex.' doestes
campos, assignalar o lugar da fortaleza, que n'elies pretendo fazer,
pois emquanto não alcanço verdadeiro conhecimento d'elles, não
disponho o estabelecimento, mas si Deos me ajudar por lodo o mcz
de Janeiro, que entra, me hei de estabelecer n'aquella parte, qu^
achar mais cammoda para dar execução ás ordens de V. Ex.'
Deos guarde a V. £x.* muitos annos. Porto do Pinhão no Rio
Jordão, '22 do Di-/c»mbro de 1771.
AffonsQ Botelho de Sampaio.
256
Relação do primeiro encontro que o tenenle-coronel Affanso
Botelho de Sampaio teve com os Índios do sertão do Tybagy
nos campos de Guarapuava, Dezembro de 1771.
Estando obarracado nas margens do rio Jordão, que pas.«a quasi
pelo meio dos novos campos de Guarapuava correndo d'cnire norle
e nordeste para o sul, e resolvendo passara margem occidenlal para
descobrir os campo*:, que se vinm para a mesma parle, o fiz no do-
minjín, 15 de Dezcmbio. ouvindo missa, que disse o reverendo píidre
rfiiiell-ío fríi .losé de Santa Tluiresa de Jesus, acompauhando-me os
irts ríijâiaes decavallo da tropa auxiliar de Coriíiba, Francisco Car-
neiío Libo, Lourenço Riboiro de Andrade e José dos Santos Rosa,
o loiiento Domingos Lopes Cascaes, os duus sargentos da praça de
Santo?» Matinel Gomes Marsagao e José Joaquim César e varias
pessoas mais, quo por tudo faziam o numero de vinte e seis cavalleíros»
sem provimento algum, pois faziam tençSo de voltar no mesmo dia,
e passando o rio na cachoeira, que faz no mesmo porto, que permittia
váo com alguma diiiiculdade peia corrente, que faz o despenhado das
?guas, e muito roais pelos caldeirões o canaes, que tem petas lages,
em que tropeçando os cavnllos, fica evidente o perigo, coraosuccedeu
n*esta occasiào, cahindo os cavallos de quatro camaradas, um se
avizinhou á morte por se nâo p^oder desembaraçar dos estribos, e sendo
levado com o cavallo pelo impulso das aguas a lugar fundo, onde foi
visto dar três voltas o cavallo por cima d*elle e, por milagre do Deos,
escapou, e assim mesmo continuou a viagem : d'este perigo me não
livrei, pois(*>ahindo o cavallo, mo lancei fora com brevidade da sella,
fiquei em no rio, dando-me a agua por baixo dos braços e pelo soe-
corro, que tive da gente de pé, que me avizinhava para cautelar o
peri;:o, passei o mais arriscado a pé, até ganhar uma lage mais alta,
que esiâ quasi no meio do rio, en*este passo tendo mais de cincoenta
braças do largo pouco mais ou menos, grande farte é perigoso, por
cujo motivo para o não repetir, retrocedendo á barraca para mudar
roupa, fiz no meio do rio, na mesma lage, mandando vir da barraca
a roupa, passando a gente de pé, que os cavallos todos corriam o
257
mesmo risco, e proseguindo passei o rio sem mais novidade. Conli-
nueí a viagem ao rumo de oeste com pouca diíTerenca, c chegamos
a um capão, que serão cinco léguas de distancia ao posto, ao pé do
qual se achou uma trilha de gente, e d'ahi a pouco um caminho, quo
terá um palmo de largo, bem seguido e logo assentei continuar por
elle para a parte do sul para encontrar o gentio, de quem indispen-
savelmente havia de ser, e porque os cães sentiram porcos no tal
capão, correram para elle latindo e alguns camaradas juntamente.
Entendendo eu ser gentio, bradei parassom para o nào maltrarem,
porém segurando eram porcos montezes, nos demoramos algum tempo,
em que os camaradas, seguindo aos càes pelo malto, mataram quatro,
com que ficamos babeis a seguir o caminho, porque para isso só
tínhamos algumas perdizos, que eu tinha morto, e assim seguimos o
dito caminho até chegar ao córrego do campo do Craveiro. Distante
uma légua d'ahi achamos um rancho grande e vários signaes dd
haverem pousado os indios, haveria oito dias, e por ser p tarde,
determinei pousássemos, como fizemos arredado do passo cem braças,
para aproveitar um verde bom para os cavailos e termo-los á vista, o
porque o tenento Cascaes e três camaradas se tinham adiantado p:ira
explorar, e já era noite, repeliram-se as salvas no pouso pin stt
recolherem a elle, o que fizerauí pelas 8 horas da noite, o ceamos
muito bem porco do matto assado e perdiz, e dormimos com mui tu
socego estendidos pelo campo com cautela de senlinollas, para w\o
parecer imprudência. Toda a noite nos cercarant grandíssimas tro-
voadas, que, por milagre de Deos, corriam para diíTerenles pnrlos, c
passamos sem incommodu algum. Na segunda feira, logo de manhãa,
juntos os cavailos, sem mais demora partimos, porque umj grando
trovoada, que ameaçava horrorosa chuva nos nào apanhasse a pé,
tendo escapado de tantas em toda a noite passada. Proseguimos
viagem acompanhados bastantemente d'ella, seguindo o mesmo ca-
minho do gentio, e depois de encontrarmos alguns passos imperti-
nentes para os cavailos, tendo marchado mais de Icgua, avistan)o^
em um alto um grande rancho do gentio, onde chegando, o achamos
deserto de poucos dias; e n'elles foram vistas varias alcofas ou ee-
258
linhos, em que o genlio icm guardados os seus pobres trastes» e enlrt
estes foi achado a semi-trunfa composta de pennas não mal tecidos, t
uma tlta bronca, ú maneira po liga, trançada, dous novellos de fio
muito bem fiado, panellas, porungose um grande de metal, caracachas
e outras cousas, com que costumam fazer os seus festejos. Nas fontes
vizinhas lagos de piniiõcs e outros viveres, de que se costumam sus-
tentar, e porque se lhes tiraram alguns d'esles trastes para mostrar-lhes«
recompensei deixando uma carapuça vermelha, duas facas, mis-
sangas, medalhas, anneis, maravalhas, frocos, o outras cousas sirai-
Ihantes, e proseguindo mais a distancia de duzentas braças, estava
em um capão, uma roça de perto de alqueire de planta de milho,
que já pendoava. Continuando o caniinho, por elle achamos vários
alojamentos e um bastantcmente grande, queimado do fogo do campo:
na distancia do trcs léguas boas achamos outros ires ranchos grandos,
^ue bem acommodam cento e cincoenta pessoas, e um pequeno, onde
por vir o cavallo de um camarada cansado, d^^i^Tminei pousássemos,
seria uma até duas horas da tarde ; epara melhor cautela mandei ao
capiíao Francisco Carneiro Lobo junto com o tenente Dom'ingos
Lopes Cascàes com mais dous camaradas a exfilornr o campo. Se-
guiram o caminho para diante, que parecia mais trilhado, por haver
já vários f|uo sabiam do mesmo rancho, e dos camaradas, que ficaram,
oito foram para a caça para o malto, e eu com Paulo de Chaves,
um sargento e um soldado ás perdizes.
Nos ranchos ficaram o cap"lào Lourenro Ribeiro e o capitão José
dos Santos com os cansados para o (jue se barreou um dos ranchos,
onde foi achado um ciriode tnilho brajiro, roxo eamarello, lodo póro-
Tiica, quo leria um bom alqueire, do qual se remediou a necessidade
do cavallo cansado, o a nossa com piruns, que é milho torrado feito
cm uma panei la dos gentios que se acharam duas de que lodos co-
meram e gostaram muito bem, e eu os acompanhei com o mesmo go^lo,
Lebendo emcima uma pouca d*agua. que foi a sobremesa. Fui ás
perdizes e matando quatro á vista do rancho, me recolhi, quando já
apparecia o capilSo Carneiro ejps ditos exploradores, dando muita
salva e repetindo-as, tivemos bom annuncio, vindo o tenente sem
S59
Yéstin e sem barreio, e um camarada Joào Lopes, nú, só com as
ceroulas e os mais sem alguns trastes, que levavam, o que nos fuz
inferir tinham dado tudi ao gentio, pelo alvoroço com que vinham.
E logo contaram que lendo marchado pouco mais de um*» légua,
encontraram um rancho queimado, e logo mais adiante em um lago,
irando pinhOes uni indiocom cinco filhos, que por verem-os arrebata-
damente fugiram, o elles á rédea solta os alcançaram, fazendo logo
ao longo sígnal do paz, batendo palmas, com o que parou o indio
sobresaltado em extremo susto, do que logo tiraram dando o tenente
lima carapuça de pir3o encarnada, que duvidou o indio pe^ar n'ella,
mas botando-lhe decima du cavallo, a apanhou antes que chcgusso
ao chão, ficou alegre, c muito majfs, quando o mesmo tenente despiu
uma ximarra de baôla côr de rosa, que levava vestida, e pegamlo
n'ella a abraçou muito mais alegre e contente : logo se apeou o mesmo
tenente o lh*a vestia, com o que ficou muito mais satisfeito. Joào
Lopes, que linha dado alcance aos filhos lhe vestiu as suas mombachas,
dando a vestia de guingão a um filho, a camisa de bretanha a outro;
o capitão Carneiro deu um lenço branco com listas vermelhas a uma
filha do mesmo, outro camarada Diogo Bueno deu outro lenço e abra-
çaram muilo aos pequenos, moslrando-lhcs muilo agrado, de que o
pai ficou muito satisfeito, dando abraços a todos, e praticando pur
acenos, por se não lhes entender a língua, disseniMi-lhes onde esUi-
vamos arranchados, e promelleram de virão oulroiJia. Por fim deu
mais Jo3o Lopes ao pai um facão, que mostrando gusto nas mais
dadivas, com isto fez extremos dealtígria, pondo-so a corlar o capitn
do campo com elle, o que vendo os nossos fonun ao luniio buscar um
páu, e o cortaram em muitas pnrtes diante d'clli\ (|uo mostrou maior
conlcnlamcnlo, odes[>edindo-so por acenos, cerlilicou de vir ao oulro
dia com mais companheiros. Os nossos camaradas, que indo á cara
ao mallo, ouvindo as salvas, e entendendo estarmos atacados do geniii»
acudiram a toda a.pressa, e certificados d*aquelle encontro suavisaram
a perda da caça cm gostos. Passamos a noite com as cautelas neces-
sárias, sendo tão grande a chuva e trovoadas, principalmente de|)0is
de rezar, que chovia nos ranchos, como si fosse no campo. Torra
260
(eira, 17, se cuidou em reunir os cavailos, e porque o paslo era
roássegoso, se espalharam du tal sorte, que ale o meio dia» ainda nSo
tinham apparecido todos, pelo que teve o gentio tempo até ás 9 horas
de achar-nos no seu arranchamento, vindo primeiro oito guiados pelo
que no dia antecedente tinha sido vestido pelos exploradores. Foi
João Lopes o o tenente recebé-Ios uni pouco desviado do rancho,
abarracando os e fazendo-lhes muitas cortezias, o que os livrou da
algum receio, com que vinham, c chegando a nós muito alegres os
tratamos com grande carinho, e si o vé-los mansos causou prazer»
compaixão grande foi vô-los nus, sem roupa ou compostura alguma:
traziam a modo de camisa sem mangas, e estas mesmas sendo muilo
curtas arregaçadas de sorte, que se lhes via todo o corpo da cintura
para baixo. Dous d'estes traziam um bastão na mão, dos quaes vai
amostra ; inferimos ser insígnias de oiTioiaes entre elles, e os mais com
arcos e flechas, de que lambem vão amostras, sendo todos moços,
bem feitos e claros, tendu os m.iis velhos cíncoenta annos : os cabellos
compridos de um palmo potic» mais ou menos, cortados por diante
muito redondo, c dous com comas bem redondas nos lugares em que
as tom os nossos padres: as sobrancelhas em geral raspadas, as barbas
a uns mais crescidas, a outros monos, e porgunlado-se-lhes por
acenos, porque as não trazíamos nós, responderam pelos mesmos que
por não terem com que: a falia tào barbara, que é inteiramente
distincta da geral indiana. Foram logo vestidos, despindo-seos nossos
das próprias camisas do corpo, pois o irem todo nos ficou no porto,
que diz ter mais de dez léguas : li rei a veslia, que levava vestida, que
era còrde canna com boi ões^ brancos, íicando com um sobretudo, e
a vesli a um que já liidia camisa, que lodo si mirou. Puz-lbes ao
pescoço algumas medalhas, maravalhas e vidrillios, que por caulela
tinham ido, e os mais camaradas deram a maior parle dos seus trastes,
ficando quasi nús, e lambem muitas facas e facões, o que elles mais
que tudo estimaram, e um machado, que ia para fazer algum ca
minho, que fosso necessário, mostrando por acenos o estimarem para
tirar mel. £ assim como se viram vestidos disseram que iam chamar
outros que tinham ficado no caminlm. e foram dous a este effeito
261
correndo, e os mais ficaram iratando-nos com muita familiaridada,
como so fossemos muito conhecidos. Pegando em cascas de pinhões ,
se ofíereciam a ir busca-los, caso os quizessemos, c dízendo-lhes
que sim para os contentar , pegaram em dous jacazes que alli estavam,
e travando da mão de um camarada [José Pinto] o levaram até á
borda do matto , que distnrin do alojamento onde eslavamos dous
tiros de espingarda, e ahi lho deram a entender que voltasse para
traz, porque era longe ondo estavam os pinhões, o que clle fez logo.
Chegaram os dous, que tinham ido a conduzir os mais que atrás
tinham Ocado, os quacs eram oito, recebemo-los e vestimo-los como
aos mais. Entre dlcs vinha um , que se chamava Pai , e que mos-
irava mais madureza; todos os mais me tratavam já por Pai : deram
mostras de conGança , armando praticas imperceptíveis , com que
queriam mostrar o seu agrado por acenos. Lhes pedimos que d is-
pnrnssem as frechas, o que proraptamente fizeram, pedindo qu^
disparássemos também as nossas armas , a qiic se lhe fez o gosto; o
Loi;indo-fie-lhe um bocado de coiro ao ar, lhe pedimos que atirassem,
o que fizeram; pnrcm foi errado; e mandando-lhe deitar ao ar, lho
atiroi com tal felicidade de empregar toda a carga i)o dito coiro, em
qiie logii i)ognr.ifn, admirando-se todos de o ver passado de uma para a
otiira pnrtc. Tiravam-nos as catanas das bainhas, pedindo muito
lh\is liosseinos, e se lhe deram outras cousas para os divertirem :
pediam muito os botões das vestias por serem de casquinha reluzentes,
e ao rnpitâo José dos Santos tiraram alguns pela sua mão, cortando-os
com um facão sem offenderem o panno, nem a corda do pé do botão.
Chegaram os dous que tinham ido ao pinhão, despidos da roupa
que lhes linhamos dado para não sujarem, o trazendo bastantes
pinhões o lançaram no meio do terreiro e lhe fizeram fogo em cima,
entrando logo a pegar nelles e ensinando como se comião: pôz-se-
lhe no terreiro um quarto de porco do matto e lhe dissemos que
comessem, o que não aceitaram, convidando-nos muito a que fos-
semos a seus arranchamenios, e pegando-me na m3o para me levar,
andei um pouco e lhes disse fos<em adiante que eu me punha a
cavallo c lá iria ter, o qnc clles perceberam muito bem, e dei-
262
xando-nos alguns arcos e frechas se f&ram embora , mostrand«-B«s
esperavSo no seu alojamento: osdotis que tinham ido ao pinhão nos
disseram que para onde elles foram busca-los estavam cavallos , e
mandando lá achámos cinco que nos faltavam e que se andaram a
procurar toda a manhãa, o que tudo se percebeu por acenos, e nisto
reconhecemos sua lisura. Depois de appareccrem os cavallos , sendo
perto de uma hora, montámos. Fiz retroceder um camarada doente
e três que o acompanhassem para o Porto, 6 marchando com os mais,
desejoso de fazer mais experiência nos ânimos dos mesmos gentios ,
e para cumprir a promessa que lhes fíz de lá ir, segui o caminho
que haviao tomado , encontrando vários lagos de pinhão , provi-
dencia de que usáo para o annual sustento, e uma rancharia quei-
mada , e tendo caminhado mais de légua e meia , bem molhados da
trovoada, se avistou de um alto a sua rancharia , e a poucos passos
nos sentiram, sahindo alguns ao terreiro , como inquietos, vimo-los
vestir a roupa , que lhes haviamos dado , vestindo um a camisa com
o detrás para diante.
Seguindo nós a marcha sem alteração, e chegando já cm dis-
tancia de cincoenta braças, vieram ao nosso encontro três Bugres,
um com bordão, e outros, como acima se declarara , sem armas,
e nos fnziam signaes com a m5o de que chegássemos, e com vozcj
imperce[)iiveis, caminhando accelerados na nossa frente, receiosos
dos cavallos, até ás porias do seu alojamento, e porque os càes
que nos acompanhavam se embraveceram contra elles, e os nossos
tiveram a cautela de promplamente castiga-los, reconheceram o
auxilio e se puzeram em socego, conservando-se a jnaior parte delles
armados, e apeados que fomos, nos fizerão com vozes e acenos o
abrigo de seus pobres ranchos para que nos livrássemos da chuva
que cahia , e para mais os agradar entrei em um rancho quasi do
galinhas pela pequenhez da porta , e logo dous delles comigo, le-
vando-me direito ao fogo que eslava no fun do rancho. Assenloram-so
logo e me oíToreceram assento, o que fiz em um pedaço de pão
que alli eslava, e me oíTereceram do pinhão que eslava ao fogo,
e tirando um com a mão, descascaram e comeram, dizendo-me
263
fizesse o mosmo ; oulro , [»cij;aii(Jo tMii um atannz do taquara , 4no?-
Irando-me o uso quo dovia fazer delia para lirar o pinlião do fogo,
descasca-lo e comó-lo, m*a offeroceu. Aceitei, c, tirando o piídiSo,
a passei ao tenente Cascacs, que comeu, e outros também o fizeram,
dizendo que estes eram melhore^ quo os trazidos do cairão, com o
que ficaram muito satisfeitos.
Sahi para fora do rancho, estíivam lodos os camaradas para diíTe-
rentes bandas, mostrando reciprocos sij;na(;s de alToclo e olTorlando-
Ibes algumas pequenas dadivas.
OITereci-lbos vie>sein ao Forlo, nntie havia muilo que lhos dar,
o que prometleram , dando mostras de trazerem suas mulheres e
fillios, para que já as haviam mandado vir da aldèa principal , des-
culjKindo cora isto 8 cautela que tinham tido pondo-as fora do aloja-
mento, conserva ndíí-so sómenie nelle os íjuo [lodiSo trazer armas,
e boni mostravam o receio quo tinham houvesse em nós traição;
mas como não viram mostras, nos (Mediram muito ficássemos lá, pois
tinham mandado caçar e melar para o P.ú, que assim me tratavam :
[)egavam nas mâo<% dos camaradas para quo fossem com elles comer
onde estavam as mulheres e os filhos e mostravam muito breve
viriam. Faltavam alguns dos que pela maidiSa tinham ido ao nosso
ponto e outros que lá não tinham ido, o dos trastes que se lhes deu
poucos tinham, o que entendemos terem dado ás familias; e vendo-
iios com resolução de montar a cavallo, tornaram a rogar que llcas-
somos, pois havia do chover muito, o que assim foi.
Estando nós montados trouxeram-nos um grande tição de fogo,
que levássemos : entendemos ser grande fineza pelo muito que lhes
custa tirar, e quando estávamos a partir veio um oíTerecer um bastão
dos referidos, um arco e uma frecha : aceitei e dei um lençx) vermelho
e as ligas das pernas, que é o que lhe podia alli dar, com o quo
ficou muito satisfeito.
Todos os índios oííereceram aos camaradas sua frecha , e vendo
o gosto com que as aceitávamos, prometteram fazer muitas o trazê-
ias : pozemo-las diante de nós direitas ao ar com as pennas para cima
e marchámos, do que elles fizeram grande galhofa : tímfim volliinL»
IVIII 3^
264
com re5()lu(H;o de virmos ao Porto, e passando pelo pouso , ílVndc
liiilKiiiiossnhido, lovnntámos uma grande cruz para memoria de que
alli linhamos cliop;ndo, c o primeiro lugar onde Dcos principiou
a abrir as porias de sua divina misericórdia a cslo geniilismo, que
nunca presumia acha-lo lào humano o iralavel como experimentei.
O Mesmo Senhor permilla-lhes a luz para acertarem com o
caminho dn sua divina lei c es traga ao grémio da igreja , e a mim
forças para continuar n'esla grande obra.
Ficou-sc chamando c-ic pouso o de Santa Ouz, c continuando »
viagem debaixo de grandes trovoadas o infinilas clnivas nas veio a
an( ilecf no meio do campo, o porque os camaradas se pozoram em
opiniões íobro o rumo dos campo^ se foram apartando pelo escuro
da noite , de forma que me .'ichei só com o capiíão Lourenço Ribeiro,
capitão José dos Santos !<osa e di?z camarada'? quasi perdidos, sem
saber para onde marcharíamos. Nos abrigámos a um capãozinho d
ahi passámos a noite sobre a terra branda , por molhada da chuva,
supprindo a falta da côa o (Misopado da roupa. Cuidou-so muito em
fazer uma boa fogueira» procurando-se a lenha molhada com uma
hiz.
A este tempo ouvimos sulvas e conhecemos ser o capitão Gameiro
com alguns camaradas; res[>ondemo-lhes, c conhecendo ell o estar-
mos já pousados, o fizeram também em um pequeno capão, e os
mais camaradas, que se achavam divididos, fizeram o mesmo : e
porque peio direito estaríamos distante do Porto até légua emeia, a
Irop.i , que n'elle velava cuidadosa, ouvindo os tiros, nos julgaram
em algum perigo ; e porque o Jordiío não dava váo pelas cheias das
trovoadas, cuidaram logo em botar uma canoa que tinham princi-
piado no rio. e passaram para outra banda, fazendo varias dili-
gencias para nos encontrar, dando salvas, até que com a manhsa
montámos, e nos fomos juntando de forma, que ao mesmo tempo
chegámos lodos ao mesmo Porto , onde com a noticia do passado
fomos recebidos com reciprocas salvas, sendo inexplicável em todos
a alegria, vendo quanto Deos favoreceu esta empreza para reducçSo
deste inimcn*!© povo pagão.
2(3:)
Ncslo dia 18 cliegámos, como j.i disse, a v^io IMilo, onde «
alegria dos que ficaram de nos ver vollar illesos e a emularão e pezar
do nos haver deixado, á visUi das nolicijs do occorrido, deu bas-
tante matéria para que, divertidos com as maiores demonstrações
de alegria, passássemos estes dias alé lioje, domingo, 22 do cor-
rente; na esperança de vermos n'esio porto o gentio ; o que so deu,
appa recendo hoje ús sete horas e meia da manhâa defronie do porto
em um alto alguns, e porque logo se percebeu que outros cautelosa-
mente se encobriram por detrás da lomba , ordenei á nossa gente ,
que curiosamenle se alvoraçava a vò-Ios, se nâo movessem das bar-
racas e ranchos onde estavam e nâo pcgnssem cm armas fora do ran-
cho , para que o nosso socego lhes diminuisse o receio. Passou logo á
outra band<i em uma canoa a recebe-los o capitulo Carneiro, João
Lopes, e outros mais : com carinhos, abraços e oíTerias os resolveram '
logo a passar o rio, grilando primeiro prendessem os cachorros,
advertência dos mesmos índios.
OíTertando-so a canoa para a passagem , eiles foracenO) disseram
ae capitão Carneiro que passasse elle ()ue e.^^tav.i de b tis , que elles
iriâo pela cachoeira, a[X)nlando [Kira baixo onde ella existe e dá \.'ui,
acompnhando-os um moço, Francisco Martins, o qual posto .'idiaiu<\
ao passar do váo, só o permjttiram em quanto baixo, porém chegadci»
que foram ao fundo e mais perigoso , pozernm-no para trás, tomando
dous a dianteira a sondar a passagem , e tanto que estiveram doslo
lado, entraram a procurar por Pai, que assim mo tratavam, receioics
de chegar aos mais , até que sahi a recebé-loF.
Fizeram-me muita festa e muito alegres chegaram á minlia bar-
raca , onde mandei dar dous cavados do baeta a cada um , ou á
maior parte d*elles, tangas pintadas, facas, contas e outras inOnitas
«•ousas que estavam preparadas, e a confusão con> que chegavam uns
e se retiravam para chegarem outros, não deti lugar a que <i5
pudesse fazer o verdadeiro computo de lodo que levaram. Dos pri-
meiros que chegaram á barraca foi uma moça, que teria 1G amio"
pouco mais ou menos, bem feita , esc andasse tratada se não cunhe
ccr-ia por índia. Trazia sua tanga op-jrlnJa pela cinta, (iuoda\.! ic;
cima (los jcelhos sem mais romposlura algum.r proparon-se com
lima tanga ilti sufuliili e hai^Mn \ermelha. ao p<si'Oço varias mis-
sangas, pentes na lesta, cliapéo na cabeça, iJe «jue ficou muito
alegre, c foi dizer aos sens, tanto (jue saliio fia barraca, qiio eslava
muito bonita, o (jue se llie percebeu {^►r ser quasi na língua da terra;
todas as suas acções eram obradas com honestidade.
Vieram mais duas mulheres, que passavam do quarenta annos,
que foram vestidas da mesma forma ; vários rapazes de oito annos
para cima. todos bem feitos, o um que teria dez annos veslio António
da Silva Freire , dando-lhc camisíi de linho e calçHo branco, véslia
o cliapéo, que não parecia índio creado nestes sertões, mas sim
rapaz nascido em uma terra muito civilisada. Veio lambem um índio
pequenino que teria dous annos e meio até Ires, o Pai Irazia-o ás
costas, era bem feito o bonilo, e tanto que se vio entre nós chorou
com bastante exct^sso, mas, dando-lhe uma baeta vermelha e vários
brincos, logo se accommodou.
Finalmente porquo um tomou um machado em um rancho,
sahindo com ello a dansar e a fazer extremos de alegria, dando a
entender que era pra tirar mel, fez com que muitos d^elles, pcr-
ditlo o maior receio, se derramassem pelos ranchos o entre os nossos,
confundidos uns com os outros , de; fónna que já cusiava a distingui-
los com facilidade: «Mníim IímIos os machados (jue viram, facas e
facões, Ilido levaram, duas bayonetas, uma catana de António da
Silva Freire, son(ll^ excessivo o gosto do (jue a levou : todos os mais
que viram, as |)releiuleram com grande excesso. Uma fac^ dematlo,
que eu linha á cinta, cuslou-me infinito defendé-la; um queria que
lira í!.j>so, fazendo já negocio com uma hayoneln, (juerendo-a metler
na bainha da faca, o só o soceguei dando a entender que era j»ara o
Cijciquc St} cá viesse. ]Manil(ui-se pelos prelí.)s tocar trombetas, boa-
zos e caixaí, com o que ficaram admirados e alegres.
Roberto André, que excellenlemente loca viola, a locou e dansou,
c elles alegres e confusamente o acompanharam , fazendo fortes
diligências |»ara levar a viola, holindo muito nas cordas, n)irando-a
muilo o examinaniii» o que linha [lor dentro.
2(>7
Seriam por lodos scleiíta (K)uco mais ou menos, íornrn-sc peln;»
dez horas, deixando muitos arcos e freclias n todos os camaradas ,
dando a entender que iam buscar as mulheres e vinham, e quasi se
lhes percebia que queriam vir comigo. £ logo qtie se preparou o
altar para o nosso capellão dizer missa, por ser domingo, a qual
ouvimos , dando graças a Deos por tão bons principies para a re-
ducçào d*cste$ pagãos , foram-se passando para a outra banda do rio
antes de principia-la; e se foram, dei\ando-nos cheios do gosto o
alegria 9 pela esperança que temos de recolher para o grémio da
igreja este indispensável rebanho.
E* o que se tem passado nostes campos do Guarapuaba com os
índios de nação Xoelan, segundo algumas palavras quose Hm tom
percebido, e para melhor clareza fiz extrahir esta relação no porto do
Pinhão no rio JordSo, aos 22 de Dezembro do 1771. — Affonso
Botelho de Sampaio.
Relação do segundo successo acontecido com os Índios no
acampamento do rio Jordão^ tirado do diário que ao fjcneral
de 5. Paulo escreveu Botelho de Sampaio.
III."* e Ex."« Sr. — Depois de ler dado parle a V.Ex.* dos camjws
de Guarapuava cm 23 de Dezembro do anno pretérito, das círcuins-
tanciasmais notáveis do que atéali se tinham passado como indómito
gentio d'eslc sertão do Ti bagy, edo estado cm que so achavam as
expedições, queso dirigiram aconquisla-lo, so me faz preciso parti-
cipar a V.Ex. o mais que foi occorrendo até o dia 8 de Janeiro d*eslo
presente anno, em que veio este gentio com loilo o seu poder, e em
fede paz ao nosso arraial com demonstrações da mais sincera ami-
zade para nos acabarem á traição, o que logo nos deram hastanto-
meniea conhecer, usando de sua ferocidade e modos, quo a V. Kx.
exporei na seguinte relação.
Depois de ter dado a referida conta, vendo a insufliciencia do hi
gar, cm que se tinha principiado a furlilicarão ;m^»»^ da mirdía elu'-
^'.ida, immcdialamcnie mo dispuz a fazer a eloirão ♦• inudança íjr-
208
ouira melhor posiçSo para construir uma forialtíza, <|ue com res-
peito militar, [K)ssa conservar n'eslos sertões a obeíliencia dos bár-
baros, que n'elles habitam, e defensa do paiz, em que se podem
e^belecer opulentíssimas povoações com multiplicadas fazendas de
campo, a que está convidando o ameno d*estes deliciosos e ferieis
campos.
O gentio, que sempre vive emdosconGaníja, sem embarj^o de não
esperar a afTabilidadé e agrado, com que o tratamos, tendo-se retiradn
no dia 22 com promessa de voltarem com suas famílias, movidos ou
do rcteio que justamente tem do nós pelas tyranissímas acções, que
com elles praticaram os antigos, ha pouco mais de 50 ânuos, ou da
curiosidade de notarem os nossos movimentos, julga-se que deixaram
sentinellas, porque indo alguns dos nossos á caca no dia 21. a uns
capões, que abeiram os rios perto d'e>le porto, conforme a recommen-
daç5o, que levaram, reconheceram haver d*elles trilha fresca, e lendo
morto uma onríidia vulgarmente chamada jaguatarica, e pondo a no
barranco do rio , continuaram a caçada, e na volta náo achando no
lugar em que a tinham deixado, conheceram que o gentio a tinha
levado, e chegaram a averiguar a trilhado quatro, o que mais se ve-
rificou; porque, andando ires camaradas em uns ca|>ões mais altos á
cd(;a, vendo um veado no campo, o ijuizeram negaciar, o (|iie tizeraiii
lambem cinco índios, nflo podendo nem nus, nem outros mati-lo.
Voltando os nossos por não haver algum euconlro, que desrompu/.ess<^
a boa harmonia, que conservávamos, viram ft)go em um capão peno,
em que suppuzeram os nossos eslar maior numero de irulios.
No dia 25 se disseram as três missas do dia de Natal auies de ama-
nhecer dia claro ; esperando que viessem os índios n'este dia por
estarem perto, nos conservamos mais desembaraçados para recebai-los,
mas como não appareceram ale o meio dia, se occiípou a gente nas
diligencias precisas, uns pnra a caça, e outros para o campo alraz
das cavalhadas.
No dia 27 indo outros camaradas lambem á caca para a parte dos
capões do Pouso Triste, encontrando uns porcos no campo, ao mali-
jos, viram que dois buíras de um ollo vizinho, curiosamcnl« prescn-
2G9
ciavam o modo, por que os nossos fa^iam a cucada, e i)orque os porco»
acuados dos c^es se recolheram a um capíío vizinho, seguiram-nos a
mata-los, eromquanio andassem embebidos no proveitoso deleite da
cara, por ouvirem um assobio, o que um bup;rc muito perlo d*elles
o tinha dado, se retiraram sem haver mais acção.
No dia 28 apparecôram alguns em imi alto fronteiro a este porto na
distancia de mais de seiscentas braças, d'onde logo se retiraram, tor-
nando a apparecer ao meio dia, e seriam ires horas quando, che-
cando mais perlo de sorte que se lhes podo acenar o bradar, mas elles
fi/eram o mesmo, do que se inferiu nflo ser mais que curiosidade do
exploradores : e porque acenaiido-so-llies queehegasrem ao porto so
retiraram, determinei fossem â outra banda do rio. ondeelles estavam
João Lopes e Manuel Pinlo, o ossí^guisscm om alí^uma distancia, a
ver si assim chegavam. Procurando-os assim o fizeram, porém os
bugres vencio-os mais se ausentavam, por cujo motivo determinaram
voltar, o que fizeram, e a poucos passos olhando para ellcs viram quo
estavam no alto seis, e que d'estes, quatro vinham direitos aos nossos
e dois fitíavam immoveis. Percebendo-lhes acenos e vozes voltaram
os nossos para elles, e chegando os indios, so abraçaram, dando gran-
des mostras de conservarem a mesma amizade. Convidados a que
vissem ao porto, onde havia muilo que se lhes dar, mostraram res-
ponder, sendo mal entendidos os sons acenos, que iam buscar suas
famílias e coisas de comer, e que yullavam para buscar facas e facões,
e assim so despediram com muilos carinhoso abraças, tendo umd*elles
usado a acção do cortar uns pequenos ramos do campo o estende-los
no chão com acenos , que os nossos entendôram para que n'elles pi-
sassem. Será talvez afTectuosa fmeza entro elles, como entre osHe-
breos; o passon-se o resto do dia e a nno sem mais novidade que o
não virem como esperávamos.
Annodel772. — No primeiro dia d'este anno, depois de dizer
missa o reverendo capellSo, e do me confessar e mais varias pessoas,
mandei Paulo de Chaves com 18 camaradas passar o rio além, e
procurar o caminho, que no capffo dos Porcos tínhamos encontrado
o gentio, e seguindo para a parlo do Sul para d'ello proseguir para a
270
ilo Norlo» n ver si liavia mais algumas aldeãs de gentio, e fazer outras
diligencias necessárias. Passou o rio além pelo meio dia, municiado
e preparado para poder-se demorar o tempo, que fosse preciso, para
dar cumprimento ao que ordenei.
No dia 2 passaram o rio alem algumas pessoas para tValar da cava-
lhada, que por lá andava por ter rnelhor pasto, c andando na diligen--
cia do procura-la, viram 7 Índios em um capão perlo: polo fogo
((uo d*cllo sahia conhecendo estarem mais, «icenaram-Ihes que vies-
sem, mas clles levantaram os arcos e não lhes i>erceLoram os mais
acenos , quo íizeram. Os mesmos também foram vistos d'esta parte
do rio.
Não houve mais novidade ate o dia 5, em que passei com seis ca-
valleiros o rio, o segui as suas margens para a parto do Sul a \òr se en-
contrava paragem suífícienlc para dar principio á fortaleza, e tendo
andado quasi Ires léguas, avistando grandes campos para o Sul, que
faltam examinar, segui para a parte do Oeste, e lendo marchado uma
l>oa légua, encontrei o caminho, que os indios ttnham feito, quando
vieram a este porto a 22 de Dezembro do anno passado, o me recolhi
por elle [Kira o porto, encontrando vários passos em ribeiros, que com
bastante trabalho passaraojí. Recolhi-me pelas oito horas da noite, e
[)Ouco depois chegou Paulo Chaves como acima se lhe ordenou dando
as noticias seguintes :
Que caminhou pelo rio Jordão até as cabeceiras pela parte do Norte,
que nascem dos montes; costeando-as ao Sul, encontrou um aloja-
mento deixado poucos dias com algum milho e morangas, e que pro-
seguindo o mesmo rumo para examinar toda aquella costa até o capão
dos Porcos, mais adiante encontraram outro alojamento maior, onde
um dos ranchos tinha de comprido 25 passos e oito de largo, eahi
acharam alguns trastes do uso gentio, panellas, porungos, carachazes
e linho com estriga, do que fazem os seus pannos o mostram que o
tiram das ortigas grandes ; três colhes muito bem feitos e limpos,
que bem podem levar de 7 alqueires para cima cada um, balaios, c
cestos bem tapados e bem feitos rebocados por dentro e por fora com
cika, quo se suppõe ser para trazer agua das fontes, crystaes finos.
REVISTA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHIGO DO BRAZIL.
3.- SERIE. — N.» 19. — 3.* TRIMESTRE DE 1855.
SOBRE
O DES€lIBRINENTO DO BRASIL
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Por J. J. MàGIIâDO DE OLIVEIRA
Membro pmniado do Instituto histórico e Kcographico brasileiro e sorio de
varias sociedades Utterarías e scientificas do império.
III."^ Sr.
O prurido que sento o Brazileiro , que tem estudado coro
alguma meditação as cousas primitivas da sua terra ainda
não relatadas 5 e que, sem intenção de monopoiísar comsigo
as idéas assim colhidas, procura dar-lhes expansão commu-
nicando-as, affectou-me ao saber que o programma — si o
descubrímento do Brazil por Pedro Alvares Cabral foi devi-
do a um mero acaso, ou teveclle alguns indícios para isso — ,
sahfra no sorteameoto dos que deviam ser desenvolvidos pe-
los nossos consócios ; e levou-me ao ponto de , n*esse tempo ,
iriii ^c
280
n sem atlenlar para o meu apoucainento intellrctual ^ lançar
no incluso papel as poucas palavras , que ahi vam sob a
epigraphe — O Brazil. (Algumas considerações sobre o seu
(lesciibrimíínto.)— Feito esse trabalho, extrahi-lhe um ligeiro
esboço, que foi publicado no n.° 3." dos Ensaios Litterarios ,
jorual académico do Athcneu Paulistano , reservando-me para
offerecê-lo em sua integra ao Instituto Histórico c Geogra-
phico Brazileiro , o que agora faço pelo intermédio de V. S.*
Depois d'isso, li no n.**6 do tomo XV (tomo 2.** da S.*
serie) , a assaz bem elaborada quanto erudita dissertação
do nosso illustrado consócio o Sr. Joaquim Norberto de
Souza Silva , sobre esse programma ; e bem me pesa que a
conclusão que o nosso consócio tirou d'esse portentoso
acontecimento , esteja em opposta extremidade á minha ,
pois que com tão distincto e ameno litterato desejara estar
sempre de accordo. Comtudo , permíttirá elle que sobre
este assumpto não lhe faça preito de minhas convicções ,
modificando-as pelo theor da sua opinião ; porque , si ha
erro em mim , outras razões , que não as de meras probabi-
lidades , poderáõ dissipa-lo , sem que de minha parte haja a
menor reluctancia.
E como ainda me prevaleça do antigo indulto com que o
Instituto se dignou de agraciar-me , desde que honrou-me
í?m me admittir em seu seio , de acolher benignamente meus
cscriptos, tão pobres de mérito como ricos de petulância, é
n'esta confiança que lhe apresento o incluso.
Deus guarde a V. S.* muitos annos. S. Paulo, 2A de Maio
de 1854.
111.™° Sr. Dr. Joaquim Manoel diB Macedo, í.' secretario
do Instituto Histórico e Geographico Brazileiro.
Josí Joaquim Machado de Olivemu
As cruzadas na Palesliiia, sondo rran<|ueado o camÍ!iho da Ásia
Occidental, oDereceram ao mesmo passo favorável ensejo aos viajantes
para explorarem essa região inspiradora de pensamentos biblicos , tào
cheia de tradiçOes dos tempos primitivos, pri;Heiro berço da civilisa-
yào do homem , ponto luminoso d^onde radiou-se a sciencia , e onde.
a titulo de redemir-se o sepulchro d'um Dcos de paz e de clemência ,
por longo tempo derramou-se copioso sangue humano no meio de
horrorosas matanças , e em derredor da cruz hasteada pelo fanatismo
cruento , que encarnara-se em Pedro o eremita.
O judeo Benjamim do Tudela teve a iniciativa nessas ousadas ex-
cursões ; e foi ello o primeiro a perluslrar aqiiella terra myslcriosa ,
pullulando de reminiscências ascéticas, o em que a esse tempo ainda
se lubrigavam recentes vestigias d*essas atrozes hecatombes humanas :
e os enlevos deslisados do seu testemuidto decidiram a eni[»rehende-
rem-se essas explorações longinquas, em que só realçava o empenho
de acquisirão de riquezas, que tào fácil se antolhava , o (|uando era
cm máxima intensidade o fanatismo do religião, e o espirito de con*
(juista, estes dous tópicos que sobremodo actuaram o globo n*a(|uella
varieilade dos tempos.
Ao menos d'esse enfurecido asceticismo . que m:tnchou de sangue
aspginas da historia da religião áo Cordeiro inimaculado. e que
ainda faz estorcer do dor a humanidade; e d'esso espirito rav.illeiroso
que d'ahi se derivou, começou a abalar-se o fundamento áo feudalis-
mo do velho mundo, e provieram conhecimentos de mòr preço para
as sciencias e para o commercio ; levando-se ao Orienle em numero-
sas cáfilas as mercadorias ^a Europa airavés de descoinmuns
obstáculos.
Não tanto o incenlivi» d*essas cmpre/.as, (|ue devas>arain á Kurup;i
peloisthmo de Suez as plagas doCaspio, aTariaria chinc/a , o uma
•285
part6 da índia , siiiSo o de dar pabulo ao alvitre ataviado de feiçdes
lieroieas em grande voga na meia idade , indtiziu os Portuguezes a
procurarem pelo oceano atlântico a rota do Orienle , auxiliando-os
para isso o conhecimento que já tinhào da costa, occidental d*Africa ;
e levando elles ao cabo tão portentoso feito , renome infindo lhes so-
bejara si o não eclypsasse, fazendo-o decahir do fastígio da gloria a que
subira, esse longo encadeamento de inauditos attentado» e cmexas,
que assaz o desvirtuaram , abatendo-o da elevação a que se aba-
lançara.
Tão prompto visaram esses audaciosos aventureiros , que da r^íao
de que se apoderaram na Asía , arrancando-a á viva força ao dooir-
nio originário das castas indianas » das quaes já haviam em somenos
computado o po«Jerio , mudariam suas riquezas e opulência para o
paiz seu natalicío , que tão dependente era de levantar-se doabali-
mento a que o lançara a luta sarracena , de que no correr de muilos
annos fora theatro a peninsula ibérica, como puzeram peito a t5o
afanosa lida , fazendo atroz nido-baixa sobre centenares de povos ,
que , embora descridos , porque para elles nâfo alumiara mais da que
um ténue reflexo da luz do Evangelho , resistiam á dura e estranha
Oppressão ; e em seguida espoliando suas terras , ou tomando-as com
violência para apanágio d'ura senhor que nem por imaginaçào lhe
podiam dar vulto.
Após o que, o brado da insurreição e resistência compacta aos
Portuguezes , echoou por fim n'aquellas regiões desoladas, e pollui-
das por mãos de conquistador ; e esse brado atroou toda a índia ,
que fora por elltís subjugada, calou na consciência de seus habitan-
tes ; c sem que os invasores se preoccupassem d'csse acto de desespero
de myriadas de homens , que , sacudindo a illusào que até ali os en-
volvera, erguidos do terror que os esmagara, e lhes infundira a ar-
rogante audácia da gente estranha , decidiram-se estes, emfim , a
ron:[>er pclcjn vigorosa , e a lodo transe [K)r suas crensas religiosas, e
om defensa exlrctnc de seu paiz , de seus penates, de suas riquezas.
E affronlando os conquisladores a esta desesperada reacção , a esta
qiia:?! simultânea leva de broqueis, em breve sontiram-se altenuados
283
e enfraquecidos de tamanho lidar ; esuas plialanges, que , á medida
i]uo se faziam menos den^s ostentavam maior imensidade de aggres-
são, de prompto precisaram de reforços , que só do próprio paiz 09
podiam ter valiosos e de confiança.
Houve-se, pois, de mister tnandar para a índia reiterados auxílios
de guerra » que apenas serviram para que n9o fosse complelo e instan-
tâneo o aniquilamento dos invasores sob a pressão reaccionária que
elles mesmos haviam suggerido d'esses povos por sua conquista, pel»
depredação de suas riquezas, pelas atrocidades do seu dominio: e
rompendo essa gente do entorpecimento a que fora lançada a it^pulso
do primeiro acommettimento , ergueu se como um só homem , insur-
gíu-se em massa , repelliu o que a conquista tinha do mais violento
e feroz, e por Gm foram os Portuguezes obrigados a recuarem de
suas atrozes animosidades , e apenas a se fazerem defesos , e a susten-
tarem através de muralhas alguns dos pontos do litoral d» peninsula
indiana, onde puderam deparar com a sua salvaguarda.
No intuito de socoorrer no Oriente aos conquistadores lusitanos ,
que reclamavam incessantemente auxilios do seu paiz , apresentou-se
abi, no anno de 1500 , uma forte armada , que sarpou de Lisboa a
9 de Março d'esse anno , tendo pr chefe a Pedr'alves Cabral , de
alta prosápia portugueza , e d'um nume prestigioso para as lides do
Oriente.
Euibaido o rei portuguez pelo pensamento, quiçá cheio de phi-
laucia e de iliusão, de manter seu poderio, e perseverar em seu
prcdominio subre aquellas tão longinquas paragens, para ondu, além
de se escoarem á porúa os pequenos recursos do paiz , corria com
immoderada afouteza e obstinação a flor de seus vassallos , nâo podia
attentar para o descubrimento da America , descortinada , oito annos
liavia , ao velho mundo pelo afortunado Colombo ; não podin entre-
ver n'olle um acontecimento providencial , que destruindo radical-
mente deploráveis prejuízos a preconceitos , deu começo á reacção
contra o dominio do erro dogmatisado em crença religios;i ; gravitoii
sobre uma massa de sophismas e argucias. que havia supplaiilado o?
284
princípios da razão e da verdade etorna ; o sobretudo dou preponde-
rância decidida c firinc aos destinos para que o lionriem fora lançado
na terra. Então , só a Ásia preoccupava com fascinação em muitos «
avidez e a cobiça, em poucos, os prestígios da gloria sustentada
pelas armas — os embustes das considerardes mundanas, e em raros
o sacerdócio da fé. Do novo mundo nada se curava, ou porque fosse
tido por illusorío o testemualio de Colombo, as narrações dos seus
sequazes 9 ou porque prevalecessem as idcas supersticiosas que eslig-
matisavam a esse portentoso facto de irreligião e descrença da lei do
Eterno inscripta nas sagradas letras.
A monsáo em que velejou para o Oriente a frota de Cabral Dào
era de bom lance para tal navegação. Eram ainda escassos os ventos
que a podiam favorecer , dominando no mais do tempo os que aug-
mentavam a pujança das correntes para a costa Occidental d'Africa.
Ainda reinavam as calmarias na rota que devia ser sulcada pelos na-
v^anies, e o mar que vinha ali balido por fortes vondavaes da costa ,
pairava em marachões , e remoinhando sobre si abria-se em vastos
abysmos ameaçando tragar ceo e terra : e Cabral , que nem a ousa-
dia tinha do seu illustre conterrâneo, que primeiro se lançara áqueU
lesmares abrindo-os ao mundo, desviou a navegação pra o alto
mar, dando-lhe largas sangraduras, o engolfando a armada para
Oeste , e por mares que lhe eram desconhecidos.... , eesle demasia-
do precaver, orçando para uma prudência meticulosa ; este desorien-
tado effugio ao originário propósito só com o filo de evitar perigos ,
que já anteriormente linham sido affronlados, e a que a insciencia
affigurava de grandes proporções , deu o Brazil á coroa de Portugal ,
atando- o com vínculos de ferro , sujeilaiulo-o pelo terror e desolação
a um dos mais pequenos estados da Europa ; envolvendo-o só em suas
vicissitudes e decadência ; leniio-o em commum só cm seus reve-
zes; sublrahindo-o por mais de ires séculos úquelia preeminência ,
a que dava-lhe jus sua posição no globo, a perenne sanidade du
seu clima, e seus graiuics ulomenlos de riqueza e opulência ; pos-
tergando-o, cmlim , uuí século na cnrnMr.i da rivilisaonn compnrali-
285
vãmente com outras regiões da America , que eram coevas em seu
(lescubri mento y e que couberam em partilha a nações que lhes soube-
ram dar preponderância e illustração.
Depois de navegar vogando como ao acaso por quarenta e quatro
dias , e sempre descahindo desapercebidamenie para ooccidente, a
frota de Cabral sem que de lai curasse deu fó de lerra , por lho surdi-
rem d'oesie, em 22 de Abril , e níío sem a menor surpreza dos nave-
gantes, os alcantis dos Aymorés, e após elles a costa que ó fronteira
a ea^e grande appendice da cordilheira , que mais se approxima do
oceano atlântico meridional , e com este guarda parallelo eslenden-
do-se para os confins auslraos. £ a terra , no ponto quo era estimado
por aquelles navegantes, e nas hypolhescs da derrota que suppunham
vencida, antolhou-se-lhes nào outra sinào uma ilha do atlântico
grandemente separada do archipelago dos Açores.
E a terra que , surgindo do relance no oceano, abslraira-se a todos
os cálculos e previsões, sequestrava todas as atlenrões, ea quo se
attribuia diversas e absurdas conjecturas , era o Brazil : e essa terra
que ao longe desenhava-se no horisonte occidental , e que um dia ,
depois de rodados três séculos de escravidão o de ignominia, seria
uma portentosa realidade, avultando, e muito , entre as demais que
se assentam no hemicyclo austral da America, era o paiz da Vera-Cruz,
duramente conquistado ao gentilismo, por aquelles que, arrojando-se
cavalheiros á Africa e Ásia a quebrar lanças de paladino, correriam
de aventura a essa terra a ceifar vidas com o ardimenlo da cubica ,
com as armas do sicário.
Esta maravilhosa eventualidade , e quanto houve n'ella de impre-
vidência enSo prcsentimenlo , denuncia alto , que em Portugal já se
achavam obliteradas as prelecções astronómicas, as probabilidades
geographicas ensinadas na escola de Sagres, mais famosa para os
estranhos do quo para si , e d*ondo partiram centelhas de mor valor ,
que foram aceitas, e mais bem aproveitadas (>or nações mais avança-
das em civilisaçào o intelligencia. A mais do que , as preoccupações
do Oriente, e sua inteira sujeição ao dominio lusitano havia como
280
fascinado aos Poriuguezes ; e o exclusivismo d'esto único pensainenlo
neutralísava oulro qualquer, que aquelles tempos de patranhas aven-
turosas pudessem suscitar.
O descubrimento do novo mundo por Colombo foi o resultado d«
prestancia de um génio activo c emprehendedor, illustrado peia
sciencia , guiado pela experiência , e operando sobre ura plano exe-
cutado com não menos esforço do que perseverança, e que fora anies,
por muito tempo e profundamente meditado esubmettido ao exame
e analyse dns illustrações d'aquelle século, que nào estavSo eivadas da
falsa crença , que por um mysticismo exngerado se ostentava em con-
traposição ás leis positivas do globo , e que bastante compromettea
os dogmas da fé. Mas, o do Brazíl pelos Poriuguezes , devido só ao
effeitodo puro acaso, denegn-se-lhe o mérito e a legitimidade que
comporta o grandioso feito do impávido genovez.
Por longo tempo alludiu-se a Podr'alves Cabral a prerogativa de
ser o primeiro que pelo Occidenle devassou os mares do hemispherio
austral , e d'ahi o titulo de primeiro descubridor das torras do Brazil.
Por indubitável que nào pôde aspirar a taes foros quem , por mais
pretencioso que o figurem na bistoria , teve n'essa portentosa descu-
berla um feliz predecessor , e quem , si á face se achou d*essa parle
do continente americano, deveu-o absolutamente a essa imprevista
occurrencia que iica relatada, a esse inesperado lance da fortuna ,
que cega atirou-o ao portuguez. £ prâs que esta gloria é mal cabida
ao almirante, que partira da Lusitânia com o exclusivo intuito e só
em demanda das regiões do Oriente, reporta-se toda ella a Vicente
Janes Pinzon , um dos intrépidos e dedicados companheiros de Co-
lombo , que so associaram a este no esforçado e incommensuravel
empenho de abrir-se rota para o levante pelos mares occidenlaes.
Tanto que o infatigável lidador Pinzon, exonerado do serviço do
almirante Colombo , assombrado dos admiráveis feitos d'este, e como
elleanhelando as mesmas esperanças e glorias, premuniu-se da pró-
pria capacidade c dos conhecimentos adquiridos para dirigir nova
tentativa sobro a região , de cujo descubrimento fora elle quinhoeiro ,
«87
a«l|a'»lootameiitipoas peildoom o animo da ^vperianma e puas 4a
amMflo : e para a rqaiidade de taroanha amprazp , posto sobrasMin-
Ifae inielligeneia ^ perseverança , a prudência aconselhoe-o ^ua
a compankse eom alguns doe soeíos do illuscre Colombo , que a esla
««eadjuvaram em eetis posleriores deecubrimentos.
Preparadae as cousas , e reunido o pessoal , Fínzon fez sarpir do
porto de Paios uma frotinha de quatro caravelas no principio de De-
lembro de f 499 ; e depois d*um trajecto de 700 léguas , e de haver
eonado o equador em longitude que nSo pôde determinar , foi a na-
veg^o inteiramente desvairada do rumo primordial , por um impe*
tuoae temporal do septentriio , que aturou por muitos dias , arrojando
os navegantes a mares desconhecidos , e sob uma eonstella^ ainda
nao observada.
Sobranceiro e amestrado em taes lances e revezes tão estranha
situaçSo não trepidou Pinzon em domina-la ; e tirando partido da
própria força , que, por dias consecutivos e através de descommuns
perigos , o compellira a vogar ao acaso , mandou á frotinha dar popa
ao vento 9 e dest'arte deixou-a ir para oeste, correndo o parallelo
austral de oito gráos; e a esse rumo , depois de haver-se percorrido
roais 240 l^uas^ affrontou*se terra alta , e d'ella dou-se fé em 28 de
Janeiro de 1500 , oitenta eseis dias antes que Cabral houvesse vista
de terra no hemyspherioque» sem que fosse buscado , patenteou-se
imprevisto. E a essa terra deu Pinzon o nome de Santo Maria da
Consolação , conhecida ao depois com o de cabo de Santo Agostinho »
a ponta de maior projecção do litoral do Brazil no oceano atlântico.
Reincidem os Portugueses a avocar para da-lo a Cabral o laurel
de primeiro descubridor do Brazil , desviando- o assim de Pinzon ,
que 9 como fica dito , com antecedência o avistara e o reconhecera
como continuidade longitudinal , que corria a sul da Terra-firme ,
observada antes por Colombo em seguida aos seus primeiros descu-
brimentos ; que determinara a posição astronómica do ponto do lito-
ral que havia tocado ; e que , emfim , restabelecera ahi a derrota
primitiva , reatando o fio que tomara ao iniciar sua navegação , c
xviu 37
S88
èproTeitandò-sedaraacçio da corrente equinocial para a dirigir pam
o norte. É certo que contra esta espécie de plagio tem-se já pro-
nunciado n^esse repto generosos e abalísados escriplores em reivindi-
cação da memoria do illustre hespanhol : mas, o julgamento d'e8te
pleito de vida e morte intellectual, que dura três séculos, ainda está
pendente, ainda a posteridade nâo lançou n'elIeoseu severo e cons-
ciencioso verdict, talvez por deficiência de quem com legitima au-
torisação tome em peito a defensão d'essa causa. E quem quer que
saia vencedor n'esta famosa contenda , Ibe caberá, eu o juro, a
gloria immortal do portentoso feito , que só é commensuravel com o
do illustre Colombo — o de$eubrimmío io Braxil — , d'esta terr»
mimosa e querida do céo.
8« Paulo , 7 de Setembro de 1850.
289
REFLEXÕES
iCJCaCA DÁ MXMORU DO ILLUSTRB MEMBRO O 81U JOAQUIM NORBERTO
DE SOUZA 6ILVA.
A. GONÇALVES DUS
Sócio cffectiTo do lottituto Historíco e Geograpliico Braiileiroi lidat na
•essio de 26 de M«io de i85á
HA AUGUSTA PRESENÇA DE S. M. O IMPERADOR.
O descubrimento do Brazíl por Pedro Alvares Cabral foi devido a
um mero acaso , ou teve elle alguns indícios para isso ? — Doeste
ponto dado para a discussão d'uma das nossas ultimas sessOes do anno
pretérito , já tinha tratado o nosso illustre consócio, o Sr. Norberto,
em uma memoria lida n'este Instituto , por elle approvada , impressa
em um dos números da sua Revista (1), e geralmente applaudida.
Credor de elogios pela maneira cheia de erudição e sciencia com que
o desenvolveu, o autor da Memoria não se poupou , nem a investiga-
ções , nem a estudos para o cabal desempenho da sua tarefa : o seu
trabalho foi , e devia ser elogiado. Assim que a escolha d*esle pon-
to, sendo o primeiro apresentado para os debates d'esta illustre
corporação, era por um lado a demonstração evidente do interesse
de que julgamos credora a primeira e singela pogina da nossa histo-
ria , e por outra 'a manifestação do apreço em que se tem a Memoria
do nosso illustre consócio.
Abalancei-me a tomar parte n'esta discussão; mas íallando em
sentido contrario á conclusão da Memoria , não lhe neguei , e nem
que o quizesse lhe poderia negar o incontestável merecimento que
tem : pelo contrario , apressei-me logo em principio a cumprir com
esse dever y nào tanto de amizade^ como de consciência ; porque era
S90
de mim reelaroado peia cordial sympathia que volo ao autor da Me-
moria; porem mais particubrmente por amor da justiça, que aliás,
e por differentes veies lhe tem Feito este Instituto, appnovandoos
seus importantes trabalhos com demonstrações de nio eqaivoeo
apreço.
A razão porém por que fui obrigado a tomar parte n'esta discussão,
ainda que o Instituto a saiba , nso me julgo dispensado de a consig-
nar novamente aqui. Em um trabalho , de que também tive a honra
de ser incumbido, e que está bem longe de ser , como o de que se
trata , hon>ogeneo , e , segundo a maneira do vér do seu autor , com-
pleto , toquei por incidente n'eM factd. Fallet do descubrimento do
Brazil , e a este respeito escrevi palavras que passo a transcrever (2).
(c Colombo aeèrescentava um muncío ao mundo conhecido , e
« Pedro Alvares afhstado da sua derrota e arrastado pelas grandes
« torrentes do oceano atlântico, viria aportar ás terras de Santa
« Crui; ecom a sue descuberia provar á humanidade, orgulhosa
a de suas anteriores conquistas — com esta que não é de todas á
« somenos — que o destino, o acaso, a fatalidade valem mais muitas
(c vezes do que as forças todas da intelligencia combinadas com os
m esforços da perseverança e da magnanimidade. )>
O autor da Menooria , que foi também o relator do parecer apresen-
tado áotírca d'e$le meu trabalho, notou a minha opinião que ia de
encontro á sua , e sem se fazer cargo de a refutar , o que bem pode-
ria suppòr escusado depois da publicação da sua Memoria , nSo pôde
e não devia talvez passar em silencio a asserção, ou antes contradic-
ção , que nas minhas palavras se continha. D*esta maneira me achei
sustentando uma opinião , que ainda me parece verdadeira , a qual
porém é impossível que não tenlia em seu abono senão o assentimento
da maior parte; mas nem seguir a opinião do maior numero ó ter
raaão , nem o haver consultado a historia é fiador seguro de termos
acertado com a verdade.
Eâtarei em erro ; e d'elle me convenceria o nosso illustre consócio ,
autor da Memoria , si para isso bastasse a consciência que tenho, de
f lanio eaUidou elle «u maleria y e da quão largamente a neditott
astes de pôr a luDpo a soâ curiosa • erudita dissertação.
Péde^ dissentir do seu pareèér, ter uma opinito em oonthirie
firraemenie estabelecida ; mas concordando em que será bem dtíBcU
stísteniar a sua these^— roelbor do que elle o fet ,<-- folgo ao mesma
lemfio de confessar qoe B'es8a Memoria se acha expendido , ou pela
menos apontado» tudo quanto de mais importante se pode diser^-^
pró ou contra esta matéria.
Náo me parece pois que lhe será desagradável arguaoenttr eu cem
as suas próprias palavras « abonando a Odelídade das suasciUiçaeB
com o servir-me d'ellas em me sendo necessárias » e deixanda da
parte os argumentos de que elle julgou nio se dever aproveitar^
Por esta Tórma, a falta de lógica ficará sendo privativamente mi-
nha ; e essa falta agora se tomará sem duvida mais saliente , quànda
em cumprimento do honroeo encargo que me foi imposto por esta
Instituto, lendo de redusir a escripto as observações acerca d*eSta
assumpto , com que tive o arrojo de sollicitar a sua attençâo ^ a a mal
esperada ventura de a captivar por alguns instantes.
Entro em matéria.
Para que o deecubriíÉento do BrStil por Cabral não fosse obra da
mero acaso, seria preciso que antes da sua viagem este tiàvegaaie
tivesse ou podesse ter tido conhecimento das terras da America. Certo
que ellas haviam sido anteriormente descuberlas e visitadas , si po-
dem ser considerados verdadeiros descubriroentos os que se circums-
crevem nos limites d'um paiz pouco frequentado por estrangeiros, —
e nio passam' do conhecimento de alguns poucos de sábios ou curio-
sos ; comtudo , nem a noticia de terras da America loi o que induziu
a Colombo a procnra-las; tíem a tal motivo parece que so possa razoa-
velmente attribuir o descubrímento doBrazíl.
Em algumas partes da America Septentrional fofam visitadas (3)
naanno 986 porBjame, filho de Herjulfs; quequatorze annos
depois, no ultimo do 10.* século da nossa éra, Leif , filho de Erioo
o ruivo , partindo das extremidades boreaes da Europa , reconheceu
alguns lugares d'ella , podendo datar-se d'esta expedição a descuberta
292 .
da America ; — que estes intrépidos navegantes occupavam o paiz
denominado por Leíf « do bom vinho » — território que compreben-
dia todo o espaço do litoral enlre Boston e New- York : — factos sào
que parecem ter attingido o gráo da certeza histórica , depois das pro-
fundas e pacientes investigações da sociedade dos antiquários do
norte de Copenhague ; mas que » apezar de tudo , em nada empa-
nam a gloria de Colombo.
É certo que este babil mareante tinha visitado a Islândia em
1477, como elle próprio o eonfessa na sua obra a das cinco zonas
habitáveis da terra » — obra láo rara (4] » que me não pejo de decla-
rar que só pelo titulo a conheço ; mas esse titulo mesmo involve uma
proposição , que ainda no seu tempo tinha alguma coisa de paradoxal.
E tanto isto assim é , que o cardeal Pedro d'AiIly , chamado — «a
águia dos doutores de França x>, e cuja autoridade Colombo muito
respeitava — na sua obra íl Imago mundin ^ escripta em 1410 »
qualifica de inbabitavel a região situada ao sul do monte Atlas. Em
um mappa-mundi do começo do século XV, mappa que pertenceu
ao cardeal Borgia , lé-se , segundo diz o visconde de Santarém (5) ,
que a zona tórrida era inbabitavel por causa do calor do sol. Em ou-
tro , desenhado em 1488 por Bartholomeu Colombo para o rei de
Inglaterra Henrique VIII , nolam-se os Ires seguintes versos :
Pingitur hic etiam- nuper sulcata carínis
Ilispanis^ zona illa, prius incógnita genli,
Tórrida, qus tandem nuoc est uotisiima multis.
Voltemos porém ao assumpto de que nos vinhamos occupando.
Apezar da viagem do Colombo á Islândia , ha bons fundamentos
para duvidar que elle tivesse obtido ali informações acerca de taes
descubrimentos , ou que ao menos concebesse suspeita da existência
d'estas terras. Di-lo Humboldt, que para isso se apoia em razões,
que sào ou parecem concludentes, além da consideração, que elle
também apresenta, de que, quando foi da viagem do Colombo a
Islândia , havia já dous séculos que se linha inlerdicto á Groelandia
todo o Gommercio com estrangeiros.
ã93
Colombo visitou a Islândia em Fevereiro de 14T7; mas os prò«
jectos, de que resultou o descubrímento do novo mundo, já o occupa"
vam nos annos de 1470 e 1473 ; e esta razão já de per si valiosa , se
corrobora com o argumento que se deduz do silencio que sobre a
viagem dos Islandezes se guarda no celebre processo sobre a prio-
ridade das descobertas de Colombo, — processo que só seconclaiu
em 1517.
Nota-se por fim que, si Colombo tivesse intenção dedescubrir o
paiz vizinbo ou collocado em face da Islândia, — na sua primeira
viagem 5 eile nao teria seguido o rumo de sudoeste largando da9
Canárias (6).
Que Colombo lenha recebido a relação da viagem , e o roteiro de
Afionso ou Alonso Sanches, Tosse elle, como diversamente se tem
escripto, bespanhol, biscainho ou portuguez, ou se desse o caso em
Lisboa, Madeira ou Cabo Verde, — é facto tão pouco verosímil,
que tem sido desprezado pelos bons historiadores, e que também não
será motivo de controvérsia, visto que o autor da Memoria por sua
parte o regeita (7). Oviedo o qualifica de <( fabula que tinha voga
entre o povo miúdo d, e o reputa falso na sua Historia geral t
natural dos Índios (8). Por outro lado bem fácil é demonstrar-se
a falsidade do que se allega. A viagem de Sanches data de 1484 , —
isto é — , quatorze annos depois de Colombo ter concebido a possi^
bílidade de navegar para a índia por oeste, — dez annos depois de
ler encetado a sua correspondência com Toscanelli — sobre tal
projecto.
Outro facto de mais importância em relação á viagem de Colombo
é o que se menciona no processo da propriedade de seus descubrimen-
tos, — o de ler Marlim Alonzo Pinzon', um dos seus companheiros
de viagem, affirmado que vira em Roma um mappa-mundi, em
que o novo continente se achava figurado. D'esta eírcumslancia ,
combinada com a de ter Colombo na sua primeira viagem mandado
ao mesmo Pinzon uma carta de marear (9) , onde se achavam pin-
tadas certas ilhas , se tem querido argumentar que não foi tanto ás
S9I
eegn f Qomo 3a poosa» quQ ell^ ^ av^ntmo» no qçiBffiiP cm premira
da (Bwiiqlios 9 torras daaeonbefwhoi
S' certo que Colombo na sua primeini viagem levou eofugigo uipa
oarti de marear, que lhe merecia alguma coq|iaR(a, oarMi que, m-
gvknáo 80 julga» elle recebera de Paulo ToscaBellí* e mais d^ meÍQ
aB^lo depois da morte do almirante era ainda pessiiida por Bartko->-
lomeu Las Casas : essa foi a que elle enviou a Marlim AlonzQ Piozgn
a bordo do Pin^a. Sabe-«e» porém, que essa carta, si era a mesma,
Ibe fora legada por Tospanelli em 1477 (10) ; e si nos nfioesqueis^
noa da eircumslaneia, já indicada, de qi^e oa projectos de qma viagçwfi
para oésle occupavam o espirito de Colombo, sete annos antes 4'ma
época» concluiremos que as allegaçõesde Pintou carecem da impor-
Iraeia, que á primeira vista estaríamos dispostos a attribuir-)hei.
Gomo quer que seja , se Colombo si tivesse guiado unicamente p0la
carta de Toseaqelli (observa Humboldt no logar supracitfldo) , « ^-
n pe-ria dirigido mais para o norte, e conservado sob o perallel^ do
f Lisboa ; emquanto, oa esperanga de çbegar mpis cedo a Cypango
n ouao Japlo, elle percorreu metade do seu p^minbo pela altura da
% ilbade Gopoera (uma dos Açores), e inclinando-so depois para 9
<i sul, acboursea 7 de Outubro áq 1492 aos 95 i\9 grioa de lati-
m tude. Então, como ainda nio tivesse descoberto as coitas dpJl^pÀo»
a que segundo seus cálculos, devera ter achado $216 léguas mariti-
« mas Biais chegadas ao Oriente, cedep, depois de longa relçictancia,
f ás pepresentações de Martim Alonzo Pinzon , e navegou para o
« sud-oéste, mudança de rumo, que o levou alguns dias depois á ilba
n de Quaoahani. »
y^raQi pois, que para a descoberta de Colombo jao inQuiram as
viagens dos Scandinavos, nem o roteiro de AfEonso Sanches, si em
algum tempo existio ; servindo a carta de Tosc^mellji aómenle, para
çiais o confirmar pas 9uas idéas.
Qev^ei ainda observar que n'esta carta viíun-ie pintados fi^ía^
iUm* Gomtudo nâo era isso para admirar ; por que antes e depois
fi^emoda de}ux>beria das Canárias, a exíst^ia de jlhas siMiada§ m
id5
Atlântico era objecto de fabulas e contos, que se casavam algumas
vezes com as ficções do paganismo grego e romano. No século XIV
o celebre Boccacto no seu livro: « De montibús et diversis nomi"
nibus fnaris. » Escreveu, a propósito do Oceano Allánlico : «Além
« do Oceano Atlântico existem certas ilbas separadas por canaes, e
c um pouco affastadas de terra, nas quaes, segundo $e diz, habitam
« asgorgonas: outros aíBrmam que ollas estão muito pelo mar
« dentro, ia O diz-se^ que este autor emprega, tratando das Caná-
rias, revela o imperfeitíssimo conhecimento que então se tinha do
Atlântico, mesmo na proximidade de suas costas orientaes $ e mais
Boocacio foi um grande geographo no seu tempo, e tratava especial-
mente dos mnres e montanhas.
Bakony, geographo árabe, que viveu no século XV, dizendo que
o poente é terminado peio oceaso, faz menção das famosas seis esta*
tuas de bronze das Canárias, cada uma d'ellas de cem cevados de
altura, e que serviam como de fanaes para dirigir os navios, e avi-
sa-los de que nâo havia mais caminho para as partes d'aquem (11).
D'cstas estatuas escreveu Ibn Said»(12) que haviam sido erigidas
nas ilhas de Kkaíidát (que são as mesmas Canárias j coma inscrip-
ç{[o, similhante ao — Non plus ultra — das columtías de Hercules :
não se vai além !
O phenomeno da miragem servia também para alimentar a crença
de terras inexploradas que havia no Atlântico. Colombo, no roteiro
da sua primeira viagem, falia de umas ilhas, que por effeito deste
phenomeno, appareciam todos os annos a oeste dos Açores, Canárias e
Madeira.
Sendo isto assim, não seria para admirar que na carta possuiJa
por Colombo, apparecessem ilhas desconhecidas ; mas nenhuma ra-
zão ha para crer que ellas ali fossem postas por Toscanelli, a não ser
como dependências da Ásia , parte do mundo que era então bem
pouco conheciJa, e cujo caminho o florentino pretendia demonstrar.
O que ou concluo, tanto do roteiro de Colombo, impresso por Na-
varreii, como da passapjem, que Humboldt cita, do manuFcriplo de
Las Casas (13), é que íôra o próprio Colombo quem havia desenhado
XV1I1 ^8
296
aquellas ilhas. A proposiio d*6ssa caria, lô-se noroieiro dâGotombo
« d'onde, segun parece, lenia pintadas el almirante cierlas islas por
aquela mar (14). » Las Casas tendo dito que essa carta parava em seu
poder com outras cousas do almirante, e escripturas do seu próprio
nunho, accrescenta: « En ella lo pinto muchas isias.» A' vista de laes
.abrases nào se pôde muito bem suppôr quetaes ilhas Gzessem origina-
riomente parte do mappa do Toscanelli : peio contrario, parece ter sido
Colombo quem n'elle as desenhara, por ventura como sendo aquelles
os (lontosque demandava, e esperava encontrar. Si porém foram essas
ilhas representadas pelo próprio Toscanelli, se com a expressão de
— Antilia^ — que elle emprega, quis revelar a existência de terras
desconhecidas, embora nào fossem propriamente a America ou as
ilhas caraibas ; como nenhum fundamento tivesse para o fazer, não
poderiamos n'este caso, deixar de ciassiGca-lo no numero dos astró-
nomos e cosmographos, que apresentavam como realidades as pro-
ducções da sua fantasia, como si a verdade nunca tivesse de appa-
recer. Tal ó o mappa de Frá Mauro de 1460, no qual a Africa ter^
mina por uma ilha ; e o globo do, Martinho Behain ou Bohemio, que
data de 1A92, em que esta mesma parte do mundo , depois do rio
do Infante, lança uma grande lingua de terra para o Oriente.
Mas porque havemos de roubar à humanidade esse glorioso florão
da coroa de suas conquistas? A tentativa de Colombo foi aventurosa,
atrevida, arrojada ; mos o genovez tinha concebido o seu plano, tinha
em vista um fim que seguia com afinco e tenacidade. O que elle pre-
tendia era descobrir um caminho pnra as terras das especiarias, era
chegar ao oriente pelo caminho do occidente; e iongode acreditar,
com Bumboldt,que o fim principal ecomo que único dn sua empreza
era descobrir esse caminho (15), sou levado a crer que alguns desco-
brimentos, ainda que nào tão importantes como na realidade foram,
entravam, como uma probabilidade, nos seus planos (16). É isso o
que claramente se deduz logo do capitulo primeiro das condirões ajus-
tadas entre elle e os reis catholicos (Í7). Ninguém o queria acre-
ditar; eram chimeras de Marco Polo, cuja obra elle provavelmente
não lira (18); eram artificies do cavalheiro d'indu$trla, que armava
297
laços á fortuna. Os Theologos argumentavam que nSo podia baver
nenhum povo ignorado; porque Deos linha mandado aos seus após-
tolos que pregassem o evangelho a todas as gentes. Os sábios lança-
vam-lhe em rosto a sus^arrogante presumpçâo de querer cllc só saber
mais que todo o mundo (19); e pretendiam que si algum paiz ha-
bitável havia além do oceano occidenlal, não estaria elle por tantos
séculos ignorado dos homens, nem á espera d*ellc, que o viesse des-
cobrir. Os astrónomos e cosír.ogrophos argiimenlnvam de modo si-
milhante, com razões, que não eram profundas; mas pareciam con-
cludentes; porque se baseavam na ignorância de todos: (ai era a
conjectura dos que, admittindoaesfericidade do mundo, sustentavam
que, passado certo ponto, a volta se tornaria ímpossivel (20).
Uma viagem de descobrimentos no mar atlântico, — o mar verde, o
mar tenebroso, o mar sem fím dos geographos árabes 1 1... Era d'esse
mar, que apoiado nas autoridades de Ibn Said e de Masondi,
Edrisi escrevia (21) : « Ignora-se o que existe além do mar tene-
broso ; nada se sabe a seu respeito por causa das diíliculdades que
oppoem á navegação a espessura das trevas, a altura das vagas, a
frequência das tormentas, a multiplicidade de animaes monstruosos
e a violência dos ventos. Ha comtudo n'este oceano grande numero
de ilhas, ou sejam habitadas ou desertas; mas nenhum navegante se
tem aventurado a atravessa-lo, nem a cortar o mar alto, límitando-se
lodos a seguir as costas, sem perder nunca a terra de vista. As vagas
d'esto mar, da altura de montanhas, bem que se agitem e se compri-
mam, ficam sempre inteiras o insulcaveis sempre. »
Era esse o mar que Colombo so propunha a navegar! Triumphou
porlim, e devia triumphar, porque era homem de allissimo en-
genho. Em um memorial ou carta (22), que dirigiu ao rei de Hes-
panha, dizia ello de si : ;< Desde criança que embarco, e ha quarenta
annos, que percorro os mares: examinei-os a todos com cuidado, —
pratiquei com grande numero de homens letrados de todas as nações,
— ecciesiasticos e seculares, latinos e gregos, — judeus e mouros ede
outras muitas seitas; adquiri alguns conhecimentos da navegação,
da astronomia e da geometria, e sinto-mo capaz de dar relação da
298
todas os eidades^ rios e montanhas, e de as collocar cada uma d'eUaSy
nos mappas, nos lugares que devem occupar. Tenho além d'isso es-
tudado os livros que tratam da Gosmographiay da Historia o da Phi-
losophia, eto. a A isto se chamou n'aquelle tempo, ser gloriono
em mostrar as suas habilidades; e todavia, como observa Hum--
boldt (23), os homens que hoje se occupam com os phenomeoos da
mundo exterior, admiram-se da penetração de Colombo, a quem não
escapa, ao passo em que procura gomas e especiarias, o exame
da conOguração da terra, da pbisionomía e forma dos vegetaes, dos
costumes dos animaes, da distribuição do calor, e dag variações do
magnetismo terrestre. Humboldt admira também a nobreza e sim-
plicidade das expressões com que o grande viajante vai descrevendo
e como que pintando o novo céo e o novo mundo, que se ia desdo-
brando a seus olhos, cad.) ve/. rn:iis embellezados dos objectos que
contemplavam.
Hon>em distincio (entre os seus contemporâneos], pelo se^ atilamento
e scieneia; a gloria do Genovez está no seu génio e não na sua felicidade.
Assim que, deixando de parte o seu descobrimento, bastaria para
illustra-lo o seu projecto, que daria á execução, si factos occasionaes
o nfio tivessem contrariado , de uma viagem em roda do globo, con-
tinuando a sua derrota para oósle, aGm de voltar á Hespanha por
mar, ou por terra, atravessando Jerusalém. Era isto 4 annos antes
do Garoa, 27 annos anies de Magalhães; e antes que Balbon des*
cobrisse o pacifico das alturas do Panamá , dez annos untes que o in-
trépido aventureira hespaniiol entrasse no mar até aos joelhos, com a
espada desembainhada, para tomar conta d'elle, cm nome da Coroa
de Castella, já Colombo tinha advinhado o mar d oósle, como, antes de
as avistar, tinha advinhado as terras da America, o profetisado o seu
apparecimento aos seus companheiros timidos e assustados.
Foi-me preciso entrar n'estas considerações por que o autor da
Memoria dá começo ao seu trabalho, referindo a recusa que soffreu
Colombo do rei de Portugal, a quem pedia auxilio para a execução
dos seus planos, recusa que, acha o nosso digno collega, não seria
inteiramente dostiluida de calculo.
299
Era poesivel que o rei de Porlugnl, antes de descoberla a America,
IÍT63S6 idóas vagas de algum inundo que podesse estar perdido n»
vastidão até então inexplorada do oceano ; por que nas proximidades
dos grandes pbenomenos da natureza, sente-se uma como revelação
intima, ura rumor vago que presagia o acontecimento futuro: taes
são os indicies de tempestades nos paizes intertropicaes e os ameaços
do erupções vulcanieas. Ha também exemplos nnalop[os nos aconte-
cimentos humanos, ou, se os não ha, a nossa credulidade ao menos
faz que os tomemos por verdades.
Nao quero, pois, negar todo o credito a um facto, que os antigos
traduziram em rifão, chamandd-a a voz de Deos, porque de ordi-
nário se realisam os seus prognósticos, ou do diabo, porque vem, não
se sabe d*onde. O que é certo é que, dada a existência de um acon-
tecimento de alguma importância, podemos ler a certeza de que um,
e muitos servos de Deos, o revelaram em extaais bealilicos, na presen*
ça de todo o mundo I Assim ó que depois de Colombo apparccéram
o roteiro de Affonso Sanches, os mappas de Orontius e os conheci--
mentos ante-diluvianos do Brazil.
Si porém tal recusa foi filha de calculo, á vista do resultado que
teve, podemos aquilata-lo de bem desgraçado ; mas, antes d*i&so,
vem apelo perguntar — qual o motivo por que o rei de Portugal,
recusando a Colombo o fraco auxilio, que este llie pedia, tentou, sem
a sua intervenção, realisar o projectado descobrimento?!
£sta hypoiheso nSo é admissível, quando consideramos que nSo
ha razão alguma para suppôr que Colombo tinha sido mais bem con-
ceituado em Portugal que regeitouos seus serviços, do que na lies-
panlia, onde, antes que elles fossem aceitos, os humens prudentes e
sensatos se riam do forasteiro, quasi mendigo, que promcltia aos reis
gloriosos de Aragão e Castella montões de ouro, que deslumbrassem
a Europa. N'esse tempo D. João 11 não teria em melhor opinião do
que o teve o grande historiador, o Tito Lívio Portuguez — Joào de
Barros, annos depois do descobrimento da America, recordando a
proposta de Colombo e o modo por que ella fora encarada pelo rei e
cosmographos portuguezes, dil-o em palavras, de que se cxclue toda
a idóa do calculo, ou inOuencia de motivos occulios.
soo
Eis o que elle escreveu (24) : « El-rei porque via sec esle Chris-
tovam Colom homem fallador e glorioso em mostrar suas habili-
dades, e mais fantástico e de imaginações com a sua ilha Gypango»
que certo no que dizia, dava-Ihe pouco credito. Comtudo á força
de importunações mandou que estivesse com D. Diogo Ortiz, bispo
de Ceuta, e com Mestre Rodrigo e Mestre José, a quem elle commeltia
estas cousas de cosmographia e seus descobrimentos : e todos ouviram
por vaidade as palavras de Christovam Coiom, por tudo ser fundado
em imaginações e cousas da ilha Cypango de Marco Paulo (24). »
Portanto, na recusa que em Portugal soffreu o grande navegante,
não entrou calculo : digamo-lo em desaggravo do principe illustrado,
que então regia aquelle paiz : o que houve, foi antes falta de convic-
ção ede fé. Assim, quer me parecer de toda a verosimilhança, para
o não pôr inteiramente fora de duvida, — em ntlenção ao pouco e
duvidoso que se tem escripto acerca da viogem de um Corte Real no
século 15.", — quer me parecer, digo, que antcís da viagem de Cabral
ignorava-se a existência das terras por elle descobertas, ainda mesmo
supposto que depois das viagens de Colombo se suspeitasse ou admit-
tisse a possibilidade de novos descobrimentos.
Examinemos os documenlos e provas que o nosso illustrado con*
sócio lomou para servirem de base ao seu trabalho.
Deixemos de parte a palavra « Brazil « bem que já existisse muito
antes de ser imposta como denominação a esta parte do mundo ; pois
o illustre autor da Memoria regeilou o argumento que d*ahi se poderia
deduzir, querendo que os lij^ares em tempos remotos conhecidos con-
fusamente por tal nome, si exceplUvimos o Drazil propriamente dito.
talvez fossem os mesmos que ainda hoje o conservam. Taes sâo, como
a memoria o indica, uma roclia na Irlanda, e um monte junto de
Angra na ilha Terceira.
Adoptando plenamente a opinião do iilustro membro d*esle insti-
tuto, scja-me parmiltido pôr em duvida a suíTiciencia dos documen-
tos, em que elle se baseia, para provar que em Portugal se tinha
conhecimento das terras que Pedro Alvares descobriu, não por mero
acaso, mas demandando-as como por propósito deliberado.
É o primeiro d'esles documenlos a carta datada de Barcelona do
301
5 de Setembro de 1493 (25)» em que o rei de Hespanba, escrevendo
ao âeu almirante, lhe recommendava que se afastasse (ias costas e ilhas
de Portugal, pois que os portuguezes pretendiam emharaça-^lo na sua
viagem. Tratava-se também n'essa carta si seria conveniente am-^
pliar-se a bulia de Alexandre VI.
£' corto que os portuguezes se oppuzerara á execução d'esta bulia •
mas não se deve altribuirá perspicácia de D. João 11 ficar o Brazil
incluído na sua demarcação. Bulias anteriores davam-Ihe o senhorio
e conquistas das terras que descobrissem, e ás quaes não tivesse che-
gado a luz do Evangelho ; e como a de Alexandre VI restringia estas
concessões amplas, e tâo amplas que se poderam considerar illimi-
tadas : por isso se oppuzeram os portuguezes á sua execução. Si
a^im nào fosse, seria diílicil explícar-se o motivo porque se recusa-^
ram os portuguezes a aceila-la em um tempo em que era tão respei-
tada a autoridade ponlificia (26) ; nom se poderia conceber como
conseguiram o tratado de Tordesillas e a escriplura de Sar.igossa que
estenderam em favor dos portuguezes, as raias do lote que Alexandre
VIlhesGzera.
Quanto porém à emenda de fal bulia, devendo-so, segundo as suns
pfe$crípções,tirar-se uma linha que cahisse cem léguas a oeste de uma
das ilhas dos Açores ou Cabo Verde, é claro que nao era preciso ser
emendada para que as terras novamenie descobertas se achassem
com prehend idas na demarcação da coroa de Hespanha. Do modo por
que n'essa carta se exprimia o rei de Hespanha, vé-se que, si os
portuguezes tentavam intervir nos descobrimentos occidentaes, fun-
dava m-se em outros pretextos.
Póde-se admitlir, eé bem desuppòr, que Colombo depois da sua
primeira \iagem estivesse convencido que lhe restava muito que ver e
navegar antes de chegar ao Gm dos seus descobrimentos; c que então
fosse cógamenle acreditado , porque já nào era o aventureiro sem
pátria, uims o navegante iliustre, quo cobrira de gloria a terra que
havia confiado no seu génio, e aquella a que devia o nascimento.
Mas o que os portuguezes queriam era intervir nos descobri menlof^
de Castella, e embaraçar o progresso marítimo de uma nnçâo rival.
S02
qaaesqDer que fossem os pretextos qoe para isso apresentassem. Alie-
gavam pois a existência de terras próximas oa dependentes d' Africa,
em cu]os mares já se havia descoberto o rochedo deserto de S. Hel«3a :
isto fez impressão no animo do rei de Hespanha, tanto mais que õs
porluguezes, ao que se suppunhay mandavam surrateiramente cara-
vellas ao descobrimento : era com referencia a estas alIegaçOes dos
portuguezes — de terras nos mares d'Africa — que orei tratava da
conveniência de se emendar a bulia. « Sabeis d'isso mais que todos
(escrevia ellea Colombo], dizei, pois, si é preciso emendar a bulia, i»
^ratava-se, pois, de terras que ficassem na distancia de cem léguas,
dos Açores ou Cabo Verde.
Poderá também concluir-se que ainda que se dissesse, e geralmente
se acreditasse que as tiovas terras pertenciam á índia, o rei de Hes-
panha admittia a possibilidade de que ellas nào fossem senão depen-
dências d* Africa. Não eram os portuguezes n'aquelle tempo marujos
inferiores aos hespanhóes, nem creio que o rei de Hespanha fosse mais
illustrado que o de Portugal; comtudo, segundo aiBrma André de
Rezende em um trecho citado pelo illustre autor da Memoria, D.
JoâD II senliu-se das descobertas de Colombo pelas suppôr feitas
dentro dos mares e termos de seus senhorios de Guiné (27). Esse ao
menos era o pretexto.
Não me cansarei, comtudo, em formar conjecturas acerca da ex-
plicação que deve tur esle documento ; porque a historia se encar-
regou de a pôr fora de duvida.
Eis o facto : Colombo, cujos ofTerecimenlos recusados por Portu-
gal, haviam finalmente sido aceitos porCaslelin, cortsegniu realisar o
seu projecto; e descoberta a America , viu-sc na sua volta obrigado
por circumslancias a entrar no Tejo. Teve isto logar a 6 de Março de
1493. Alvorocaram-se os portuguezes, e D. João II, desejando
ouvir a Colombo, mandou-o chamar, « o que elle foz de boa ventado
(escreveu João do Barros) (28), nào tanto por aprazerá el-rei, quanto
por o magoar com a sua vista. »
Colombo, possuído de enlhusiasmo pelas scenas do novo mundo,
como no-lo revelam seus escriptos^ poderi.i nào ler-se reprimido de
ainda mais engrandecer € axalUir o mérito da sna deseobetli (29)
na pralka qye leve com o rei* eompreliendendo que d*esta fórmâ se
vingava dft lobejo das humilhaçõeâ por que passara em Parlyga1«
qtiandõ the cffareeia um reino, em cuja existência ninguém aera-
dicava> Nlo era preciso para bsú^ nem parece presumivel, queelle
com soitura de pala? ra?, como dí?. Barros, accusasse b reprehendessd
o rei de não ler aceiíado a %nA otterin. Porá accasar e reprehendar
ó rei bailava nnicâ mente o presença de Colombo, ainda que nônt
«ma sd palíivra pronimciass^ (30). E de fado mo&troii-se o rei tão
pezaroso e sentido queossQus eorietaos se lembraram de aconselhar^
llieo ignominioso expedienie de máfidarai^ssinar a Colombo. Era
homem así^maJo, di/Jam elles: bnslavapois manjar-se algum espa-
dachim tmvar-se á^ rabões com elle, que de cerio não recusaria a
bftga» t dVte modo perderia a Hespanha a sua conquista*
O. João 11 já tinlia sido Injuslo para com ogênovei, e n*êssà mes-
ma audiência parece que a sua magnanimidade lia via fraqueado d
cedido ao despeito não disfarçado de ver eomo a Hespnnha por um sâ
laticade fortuna m linha opulentâdo e obscurecido a sua gloria. O
meio repugnoQ-lha; e o crímo lhe pareceu desnece^aario, porqtii
roiou-lhe n^nlma não sei que esperança, fortalecida pelos seus desejos^
d«que as terras de Colombo GcassetQ nos seus mares de Guiné. Era
o rei de uma nação forte, de um povo glorioso, e quiz lançar mão da
força f mandando» ^mo escreveu Resende, preparar uma grande a r--
mada contra aquel las parleis; mas em quanto estes aprestos se faziam
0m Poftugal, os reis de tlespanha o suspeliaram ou a ventara nu o
reqiiererarn-lhequesobre-estívesse na sua resoltiçào, ai6 que se man«
disse ver a que mart^s e conquistas cabia o descobrimento da Co-
lombo.
B. João il aceitou a proposta pela convicção em que estava de qu9
iS ilhas de Cypango e Anullps u^u eram mais que de{)enddnciai
d' Africa (31 J* Nt.m6Íam-se embaixadores, entabulam^se negocia^
(oes; masnii emlania, como Colombo tivesse dd partir novamente, a
prudência aconselhou aos íeÍ!i catholicos deiârminarem a Colombo
que nSo aporia^íi? ao« domini<w portugu^ee.
tuii $B
iOà
Este eseripto, pois, nenhuma relação tem com o brazil ; neabao»
prova ofTrece, nenhuma indução se pode d'elle tirar de que os por-
tuguezes tivessem noticia ou noções d'esta parte do mundo.
Ouiro documento éa carta do bacharel^ mestre João, datada de
1/ de Maio de 1500, escripta da frota de Pedro Alvares ao rei dd
Portugal , na occasião do descobrimento do Brazil (32). Que n'essa
caria , ou n'esse icinpo se tratasse da existência de ilhas ou terra fír^
me, não seria de admirar por icr-se propagado na Europa logo após
as descubcrtas de Colonilx) que era conlinenle o que elie achara. Era
isso o que devia acontecer , quando o próprio Colombo, assim coma
Yespucio, acreditavam ter tocado n'Asia , e morreram ambos n'esta
supposi(;ào. Não seria muito pois, quo os poriiiguczes o suspeitassem
também. No entanto não creio que sirva essa carta , como quer o nos-
so digno consócio, para comprovar a asserção dos reis calholicos de
que os portuguezes suspeitavam a existência de muitas ilhas, e ainda
de terra firme. O que pretendia o physico e cirurgião da armada
de Pedro Alvares ora dar uma idéa ao seu rei da terra descoberta por
elle e seus companheiros. O menos pois que d'elle se podia exigir era
que informasse si Vera Cruz era ilha ou continente ; porque essa era
a pergunta que a si próprios fariam chegando á vista d'uma terra
ignorada. Mas apezar de tudo, como que o mestre João propendia
para a opinião de que era ilha a terra de Vera Cruz , e , segundo os
signaes que julgava ler percebido dos indigenas , quiz lhe parecer que
eram em numero de quatro.
O que ó porém mais significativo é qiie o physico da frota de Pedro
Alvares recommenda ao rei que mande ver o mappa-nvundi , que
possuia Pêro Vaz Bísagudo ! Que niopp era esse , para o qual se
chamava a particular attençào do rei ? Teria alguma coisa de notável
ou achar-se-hia n'elle consignada a terra de Cabral, posto qiie se nSo
certificasse si era ou não luibitada ? Nada sabemos, e niuilo pouco
se pódc conjecturar d'esto docun>ento, q^io poderia ter sido eseripto
de modo mais inlelligivel. Para d'clle se fazer idéa aproveilo-me do
trecho que cita o nosso consócio a pag. 169 da sua Memoria, ao
q>ual, apezar de ser dos menos ambiguos, dou- eu uma interpretação-
S()5
Jíitairamenteopposta : » porem no mappa (lô-se na Memoria) nao
ceriilici ser esia turra habiiada, e não é mappa-mundo antigo. » — ^j
Eu leio pelo conlrario ^nm cÊrlillca ser eslíi lerra IjabitíiJa ou nao i^
é míipp.i-mimdj antigo {%%]^^
Mas por que motivo, ou com que íim , perguntamos ^ clinmnría o
physico , mestre João , a alii-neíSo do rm pra o uiappa que possuia
Pêro Vnif O illtisiradoaulor da Mtífnoría úh que ím para que o rei
visi&en'elie a altura díi lerra novauiento descoberta; no entanto nàô
seriíi isso grando coliertíricifl da píirto de quem o escrevia, quando elle
próprio accrescenta quo, sagundoas regras do astrolábio, era mani-
festo qm elleâ tinham a altura do póio aniarlico em 17 gráos? ; e era
liío firme a suâ convirçSo que elle desafiava os pilolos para verem »
quando <íhegassem ao Cabo da Boa Esperança, quoui tinfia razào : si
os pilotos com as eortaâ somente , ^u si eik L^om as canas e o
astrolaliío,
O qtie n mestre João recommendava não era que se varificasse nffo
a altura que elle dava ; mas o sitio da lerra , no mappa de Pêro Vasc ;
nem mequ^r pareeer que n'tdle boiívesse terras inseri-las; porque
dizendo : et nso so certilka ser esta lerra habitada ou nâo j> , — e não
sendo de ordinário coístume fazer ein-síi similhanles indiaçõas em
taes ^n^ppas , eu entendo que elle advertia ao rei que nâo procurará
aquella lerra no que lhe elte indicrtva.
De tudo islo o que é para conclui r-se é que eram n*aquelle tempo
rari^imos os mappas-mundii e tAuio que, lrí»lando d*elles , Antó-
nio Ribeiro do^ Santos (34) , citado f>elo ;inb\f da Memoria , aponta
apenf*s Jous, — * um do iníaulJi D, Pedro, díiípio de Coimbra , e ou-
ir^ do cartoriú do Alcobaça , m\(} veio m mãos do infante D, Fer-
nando . Cibo de J>. Manool. Masqueoiíísesmiippns fossetn siníítilares
pelas demãrcaçóiisqiie n*tíile^ vínbam do Cabo da Boa E-^^pír.mça , o
da terra do novo mundo, anteâ dos d^eubrimentos do UírntdoEnsit
Dias , ede Christovào Coloníbo, ^ íacto esso de qnt a real anidemía
me permittirá duvidar^ a[K3iar da autoridade de Aolonio Ribeiro dos
Santos.
tm argumenta cm favor da opiniso que a Memoria sustenta , nos
806
dá o Sr. Varnliag^n, racordaodo que Gaspar Corte-Real pedira a
doação que lhe fora coQcedida a 12 de Maio de ISOO, da ilba ou
terra firme que encontrasse*-^ isto — dous mezes depois da partida da
Cabral , e quando as suas náos se achavam fundeadas em Porto Se-r
guro. A' vista d'isto , e do rumo que tomou Pedro Alvares, diz-nos
o Sr. Vamhagen que nâo nos podemos deixar de persuadir que eu-*
trou n'i$so o quer que fosse das esperanças, curiosidade , ou vertigem
descobridora dos portugnczes d'aquella idade. Alguns autores d*asta
nação, apontando o facto, explicam-rno de maneira que nenhuma
correlação se achará entre uma e outra viagem , si não a da simples
coincidência do tempo. António Galvão , por exemplo, narrando a
viagem de Cabral , passa logo em seguida á de Corierfteal , referindo
como no mesmo anno de 1500 Gaspar Çorte-Real pedira licença a
al-rei D. Manuel para ir descubrir a terra nova : que partira da liba
Terctíira com dous navios armados á sua custa, e íàra ao díffla que
está debaixo do norte em cincoenla gráos de altura. « É terra que se
agora chama do seu nome )», accrescenta Galvfio (35).
Ainda que do exposto se deduza que sin^ilbante doação nada vem
para o caso, sejam- me comtudo permiuidas, para melly)r o compro-
var, algumas outras ponderações.
Si se tratasse n'esta doação de terras a que já Pedro Alvares tivesse
sido mandado , nâo as doava o rei tão de leve, principalmente si ha-
via tentado aquellodesciibrimento á custa da sua real fazenda; e si o
tivesse feito, nâo deixaria elie de ter contemplado a Corte- Real, ou
seus herdeiros no numero dos donatários por quen^-foi depois distri-^
buidaaoosta doBrazil,
O de que se tratava, segundo o autor já citado, Trigoso no seu
« Ensaio sobre os descubrimentos e commercio dos portugtM'
jses» — e outros, era das terras que pudessem ser descuberlas em
uma viagem para a índia pelo pólo árctico, viagem que se dizia ,
sem muito fundamento, ter sido feita por um outro Corle-Real no
anno de 1463. Estas terras, comprobendidas entre os cincoenla e
sessenta gráos do norte , hoje conliecidas com a denominação de
terras dd labrador , acbam-se no mappa que acompanha a obra de
807
Lafftau « subre os deseubrimentos dos portuguezes)> com o nome dd
• Corte- Real » , como diz GalvSo, que ficaram sendo chamadas.
O rumo seguido por Cabral prova queelle não pretendia tocar na
terra do hbrador ; e do mesmo beto da doação feita a Corte-Reai se
conclua que ambos não teriam as mesmas vistas. Uma d*e$tasduas
bypotbeses repelle a outra , porque o Corte-Real nada tinha que
entender com o Brazil^ ou Cabral nSo vinha descubrir terras para
elle. Has como quer que seja , será sempre curioso argumentar-se
d'uma viagem para o sul para outra ao pólo árctico , embora cabissem
ambas no mesmo tempo. Enxergar-se propósito ou o que quer que
fosse de intencional da parte de Cabral em descubrir terras em frente
déBenguelIa, porque sabia-se (si isso era sabido] d'outras fronteiras
ás ilhas brítannicasy era suppò-lo com conhecimentos da extensão da
America , que só depois d*elle é que se conseguiu ter. Deixemos po-
rém de parte a doação feita a Corte-Rcal, que será uma coincidência
curiosa , mas nenhuma relação tem com a questão que nos occupa.
Outra e ultima prova que citaremos , da noticia que os portugue-
zes , antes de Cabral , poderiam ter lido do Brazil, acba-se na obra
deGajoso « Principies de Lavoura do Maranhão • , — na qual se
lé que Martinho Beliain, sendo já de idade madura quando princi-
piou a capacitar-se da possibilidade da existência dos antipodas , a
d'um continente occidental, passara a Portugal em 1484 (36), e
pedira a D. Joáo III alguns meios para entrar em uma grande expe-
dição para o sud-oeste.
A critica e illustraçáo do nosso digno consócio Gzeram no regcitar
esta noticia , ou como nao provada ou como inverosimil , não attri-
buindo a Behain mais importância do que a que elle teve no seu
tempo 9 — isto ó — a de ser um grande astrónomo, que se tornara
reoommendavel em Portugal pelos melhoramentos introduzidos no
astrolábio (37). De facto a critica a menos reflectida nào poderá acre-
ditar no que nos refere Gayoso das descubertas d'este homem. Diz-nos
que confiando o monarcha portuguez alguns navios a Behain , este
astroQomo-navegante deseubrira, annos antes de Culombo e de Maga-
lhães, a grande parte da America , conhecida com o nome de Brazil ,
308
*r> e chegara a esleodur a sua navegação até ao estreito a que dera o
nome «de Magalhães» , ou até a terra de algumas povoaçOes de
bárbaros, a que chamara «Patagões» : Gayoso observa que talvez
por este motivo foi Colombo pouco attendido quando veio offerecer a
Portugal os seus servi(}os para o descubrimento do novo mundo.
Constam estas particularidades , segundo o mesmo autor , a de uroa
memoria sobre o di^scubrimento da America , dedicada ao Dr.
Franklin pela socied.-wJe philosophica de Amsterdam ; mas com tão
pouca fortuna 9 que nem a novidade do assumpto^ nem o nome
da sociedade ou da pessoa a quem fora offertada ^ a podoram sal-
var do esquecimento.
Examinadas , ainda que ligeiramente, estas questões prelimi-»
nares, resta-nos ainda mostrar como as informações de Tosranelli ,
que o autor da Memoria qualifica de exactas, e que lhe haviam sido
pedidas pela corte de Lisboa (38) , antes da descoberta do Colombo ,
não podiam ter dado aos porluguezcs conhecimento de novas terras ,
nem servir de guia a Cabral para realisar descubrimento algum.
Aproveito-me da traducçâodo nosso digno consócio :
<c Muito me agrada saber (escrevia Toscanelli a um cónego de
Lisboa] a familiaridade que tendes com o sereníssimo e magnifí-
cenlissimo rei , e ainda que eu já tenha tratado por outras vezes
do brevissimo caminho que ha d*aqui para as índias , onde nas-
cem as especiarias por via domar, que tinha por mais custo a
que fazeis por Guiné; como porém agora me dizeis que S. A.
pretende algum;! declaração ou demonstração , para que entomia
« veja como se pôde tomar esse caminho , o que mais fácil seria
demonstrar com a a<;phera na mfío , para vér como está o mundo :
todavia para maior clareza mostrarei o referido caminho em uma
caria similhante ás de marear ; e assim a mando a S. A. feita e
traçada por minha própria mâo, N'ella vai indicndo lodo o fim do
poente, tomando desde a Irlanda o austro até o fim de Guiné, com
todas as ilhas que eslam situadas n'esla viagem, a cuja frente está
pintado em direitura pelo poente, o principio das índias com todas
as ilhas eltigares por onde podeis andar, e quanto podereis apar-
309
Ur vos do pólo árctico pela iiaba equinocial , e porquanto espaço ;
isto éf com quantas léguas podereis chegar a aquelles lugares íerti-
lissimos de especiaria e pedras preciosas (39).
O de que se trata pois não é de descuberta de terras; masd^um
novo caminho para as índias, para a terra das especiarias ^ ou como
se exprime Humboldl (40) , Toscanelli n'esta celebre carta pretendia
demonstrar a facilidade com que poderia chegar a Índia quem partisse
da Ilespanha. Era falsa, a idóa que n'aqiielie tempo se tinha da pro-
porção em que a agua e n terra si acham enlro si : Jesconhecia-se o
préstimo do mar; nem os philosoplioscúmprehendiam de que proveito
era tão grande porção de elemento liquido que occupa uma área de
vastidão pasmosa quando comparada a Ja superfície da lerra. Era
esla uu)â das quesiões qiio mais preocupavâo a Colombo, porque sabe-
se que elle nas suas via;;ens, uào se esquecia de trazer entre outras
obras do Bispo Pedra d'Ailly, a que tem por titulo « De quantUate
terrcB habitabilis, » Movido pela falsa conjectura que a este res-
peito formava , Colombo suppunha que a distancia entre a peninsula
hiborica ea china era de 120 gráos. Martinho Behain no seu globo,
que não sei se ainda existe em Nuremberg, dava para o mesmo
espaço pouco mais de 100 gráos. Toscanelli porém sustenUva, qu0
similhante intervallo,quoé na realidade do mais de 200 gráos, não
passava de'52; e porque isso ufanava-se de demonstrar o brevissimo
caminho que havia para o oriente navegando por oeste. Toscanelli
fundava-se na autoridade do prophela Esdras, quando diz que os
% da terra estavam em secco , occupando apenas a superfície do
Riar|- delia. A' vista de uma autoridade tirada de tal fonte, seria
bem difOcil que Toscanelli não achasse crédito f^oin preferencia a
aquelles, que pudessem dizer então a verdade que é hoje sabida.
E' certo que os geographos árabes a tinhão alcançado antes do
tempo de Cok)mbo ; mas os seus livros erão pouco lidos, e quando
o fossem muito, seria n*j(]uelle tempo enorme impiedade, t<ilvez
qualificada de herezia , crtur-se um autor pagáo e musolmano para
combater a asserção de um propbeta.
Atbufcdo, geographo árabe do século XIV, cscrevco quo, segundo-
310
M lè nos livros iodios, metade da narra é agua, e outra matada'
argila, isto é, que metade é continente e metade mar. Já alo bem
difiTdrentes as opiniões dos pbilosophos Índios e a do propheta Eadraa.
Albufeda porém ainda vai mais adianto, e parece que nao era esta
opinião peculiarmente sua; mas as dos sábios do seu tempo e
nação. « Segundo os philosophos, escreveo elle, a porção da
terra descoberta oonstilue pouco mais ou menos o 4.*" do globo,
estando os outros ^ submergidos pelas aguas. » £' com pouca diffe-
rença a que hoje se diz , que a superficie da ngua está para a da terra
na razão (não de 3 , como queria Albureda) mas 3| para 1.
Assim que as informações de Toscanelli podiam ser exactas»
segundo as suas deducçOes; mas pouca influencia teriam sobre a
viagem de Cabral.
E si , como quer parecer ao illustrado autor da memoria, o máppa,
que acompanhava essa carta , seria o mesmo que Pêro Vaz possuía »
confirmará isto o que já disse — que nelle se não fazia, nem se
podia fazer menção de novas terras.
Digo que se nSo poderia fazer tal menção , porque o que sabemos
da carta que analjsamos é por uma copia d'ella dirigida a Colombo
e impressa por Navarretc. E logo na carta que Immediatamente se
lé na mesma colleccno^ Toscanelli acoroçoando a Colombo que trate
de realisar o seu projecto, diz-lhe, para pôr fora de duvida, que
não tratava de novas terras, mas de um novo caminho para o
Oriente: « A viagem que quereis emprebendcr não ó tãodiflScil
« como se pensa.... Ficaríeis inteiramenle persuadido d*isso si hou«
« vesseis communicado , como eu , muitas pessoas que tem estado
« n*estes paixes : estai seguro de que haveis de ver reinos poderosos,
« quaniidado de cidades povoadas , e ricas provincias que abundam
« em toda a sorte de pedrarias. »
Toscanelli portanto adaptava , como Colombo, as suas conjecturas
ás idéas vulgarisadns por Marco Paulo.
Todavia o illustrado autor da memoria parece achar outro doeu-»
mento da influencia de Toscanelli nos descobrimentos da America,
quando lhe quer aitribuir a paternidade de uni livro que os reis de
311
Hâspanlm liaviam feílo copisr para Colombo debaixo do maior
segredo. Citarei as suas próprias expressões (42).
« Embora Colombo se expressasse em Lisboa com a maio^ pr-
0 cimonia, e ainda depois da sua viagem procurassennf tíB reis
« calhollcof lodo o segredo no exame de seas papeis , sls éommu-
« nicaçOes que elle recebera de Toscanelli eram ptffentes e conhe-
• cidas. Com este correio (escrevia a rainha Isabef) vos envio umí
« traslado do livro que cá deixastes^ ele. » Da leitura dospre-'
ciosos documentos da collecçào de Navarreie nào^ é possível depre-
bénder-se que esse manuseripto deixado por Colombo em mâòs dos
féê eatholicos tenha a minima relação eoiti á carta de Toscanelli ,
que atraz deixamos extractada. Esse livro, sò náó foi ú roteiro dd
primeira viagem dó Colombo , era trabalho seu e relativo ao des-
cobrimento já realisado da America. Navarrete apresenta outra
carta doe reis eatholicos , onde a propósito Áo mesmo livro se lé :
« Alguma cousa temos visto do livro que noscíeixastes, e quanto
« mais nisto praticamos e vemos, conhecemos qnammanha parte
« foi a vossa nesse negocio « e quanto sabíeis d'Í9so mais dtor qtfé
« nunca se pensou que nenhum mortal soubesse. »
Teobo até aqui procurado combater a supposição ou píroposiçio^
de que antes de 1500 houvesse em Portugal dadoe a respeito dâ
Brazil , que aconsdbasaem uma empreza de descobertas de novas
terras no sentido do rumo que tomou , ou viu-se forçacía a tomar
a frota de Pedro Alvares ; ao que acòreseentarei mais uma obser-^
vafâo , e é que ainda quando fosse pro\'ado e fora de duvida qu€(
Sé soubesse da existência de taes terras, não àca igualmente pro*
vado que Cabral o suspeitasse , ou que essé podetá fer sido um
dos Gnsda sua viagem.
Pelo contrario , tanto creio que a descoberta do Brasil ndo entrava
ni« seus planos , como que nSo será muito possível desodbrir-se'
n'elle â força de vontade e tenacidade de propósito ^ue é o carac-
terialico de toda a vida , e da primeira viagem de Colombo.
Os historiadores abundam no sentido da opinião que me propui
i\ sustentar. O dtgrtotfutorda Memoria os cita escrupulosa e textual-
iTni Al
312
menie com uma consciência , que nío é dos menores merecimenK^
do seu trabalho. Todavia nSo sao esses nomes tão pouco conhecidos
que cu me prive de os invocar tamhem em meu íavor , principl-
menle quando elles se exprimem de fórroa táo catbegorica c termi-
nante , que contrasta com as phrases ambiguas de outros , em
que se procura base para u opinião contraria.
Os acontecimentos anteriores á viagem de Cabral podem esclarecer
o fim único que se teve em vista com a expedição da nossa frota.
Eis o que se 1ô em Mariz (43) :
« Remunerados os grandes serviços do forlissimo D. Vasco dar
Gama e setis companheiros com signaiadas mercês.... , einformadc
el-rei D. Manoel bastantemenle de quanta importância era o nego-
cio da nova navegaçiio , e rico commercio da especiaria , e do
muito proveito que se poderia seguir si poderosamenie se conti-'
nuasse, mandou o felicíssimo reicmoanno centésimo do jubileo
de 1500 uma formosa armada de treze náos grandes com todo o
necessário assi para o commercio das cousas preciosas do Oriente y
como também para o remédio das almas dos moradores d'el]a.... £
por capitão Pedro Alvares Cabral.... Oquat, partindo de Lisboa,....
foi tal sua ventura que.... depois de uma espantosa tormenta, ....
descobriu a provincia do Brazil. »
A narração de Barros (44) está concebida em termos mais
signifícalivos. Refere este autor que com n chegada de Vasco da
Gama o povo não se sentia de contentamento , alvoroçado com a
vista do cravo , canella , aljôfar c pedrarias, e que o rei em táo
alto gráo se mostrou conienlo de ver o seu povo inclinada a esta
conquista, quese resolveu a mandar outra frota sem demora «ainda
que fosse mais segura a navegação no mez de Março. Por isso ,•
quando Gaspar de Lemos chegou a Lisboa, teve o rei e lodo o
reino muito prazer — em primeiro logar — , por saber da boa viagem
que a frota levava » — e quanto a terra , escrevia no seu contentamento
ao rei de Hespanha — « que era muito conveniente á navegação da
Índia. >í
« A qual terra (escreveu o historiador porluguez) estavam os
313
homens iào crentes en) nâo baver alguma firme occideulal a toda
a Costa d^Aírica, que os roais dos pilotos affirmavam ser alguma
grande ilha assí comoasTerceiras, e as que so actiarnm por Christovão
Colombo, que eram de Castella 9 a que os Castelhanos commum-
mente chamavam Antilhas. »
Damião de Góes escreve : <c Ahos 22 dias do mez do Abril viram
ierra do que foram mui alegres, porque polo rumo em que jazia
\iam não ser nenhuma das que até então eram descobertas (45).»
Jeronymo Osório diz : «A 24 de Abril descobriram os gageiros
ierra, de que todos conceberam incrível contentamento, nâo ha-
vendo nenhum dos nossos que tivesse a menor suspeita, do que
lhes demorasse terra habitada de honiens por similhantes paragens.
Nada menos mandou Pedro Álvares virar sobre a terra (46). »
Ha além d'estas uma outra autoridade, que nâo deverá ser omittida,
nem a omitie o autor da Memoria , Caminha , que- se lhe antolha
estar do alguma forma no segredo dos desígnios de Cabral ^ —
Caminha mesmo remata a sua carta com uma phrase , da qual se
conclue que de similhantes designíos, si acaso existiram, nOo era
elle sabedor. N'essa carta Caminlia aconselhando a seu rei , que
mande cathequisar os índios : 9 Tem bom eorpo e bom rosto (diz
elle) , e Deos, que aqui nos trouxe, creio que não íoi sem causa. »
Caminha não teria por certo escripto essas palavras, não teria por
tal íórma appellado para a religião do rei , argumentando com os
designios da Providencia , si a descoberta do Brazil tivesse sido in-
tencional. O rei mesmo , si tal descobrimento houvesse entrado em
suas vistas , si nas instrucções que deu a Cabral alguma cousa
houvesse que a isso se referisse , ter-lhe-hia podido responder.
« Enganais- vos , roeu Caminha : náo foi Deos^que vos levou, fui
cu que vos roandei lá. » Mas náo foi isto o que |)ensou o rei de
Portugal ao receber a carta de Caminha , a do mestre João e as
de outros companheiros de Cabral ; pois escrevendo de Santa-
rém aos reis catholicos em 29 de Julho de 1501 , e dando-lhes
[Mirte da viagem de Cabral, accrescenta mui significativamente:
(i Fareceque Kosso Senhor quiz núlagrosameulo que se acbasseesta
31A
lerra ; porque é muito necessária e conveniente á navegação da
Ipdia. » Phraees de sentido tSo obvio , que Navarrete resumiu n'estas
palavras o seu conteúdo : « Carta d*el-rei &. Manoel de Porliigal
a sus suegros los rejs catholícos — dando les ouenta de e$ta jornada
y casuol descubrimiento. »
Ora , quando o próprio rei de Portugal reputou oousa de milagre
p descobrimento do Brasil , nào é muito que o auler da Historia
Phikwphica oattribua ao acaso, a que estn fosse a opinião dos
feus coevos e soccessores. £u por mim sinto-me lambem inclinadq
a atlribuii-p antes aoac(iao doquo a milagre: 4(:^o que no acaso,
isto é, em todo o facto ou acontecimento de alguma importância,
que se dá contra a npssa previsio ou expectaçio , intervém a Pro-
videncia: interve(n por meio de leis que eiistem, embora as nfjQ
conheçamos, de pbenomenps embora ignorados. O acaso aqqi fon^n^
^9 corrente do Atlântico.
Digo ppis que Cabral veio ap Braz^l por a(»so ; e que si d'-elh
teve indícios nqo foram o\]tro8 neoffo os que n^ proximidade di|
lerra a revelam aos navegantes , eomo a fumaça |ndici| aos viajantes
perdid<ks a vizinhança de habitações humanas.
Antes porém de entrar n'<«ssa den\on$trnçâo, aeja*m<ii perniittidq
rebater aipda alguns argumentos com quo pretende o nosso digno
consócio provar como Cabral tevo intençàp dp descobrir p Brazil.
Diz-se : nâo foi sem desípio qup Pedro Alvares deu á sua via-
gem uma direcção inteiramente nova da que levara Vasco da Gama.
Observarei quo tanto se ndo pode chamar inteiramente nova a
direcção que trouxe Pedro Alvares , que em Jeronymo Osório se
)é vir elle seguindo n m^ma esteira do seu antecessor (47) , quando
lhe sobreveio o roáo tpmpo. em &bo Verde. Mas quando mesmo
elle tinha voluntarianiento tomado outro rumo , ainda assim , nàp
se poderá concluir d'este facto que houve da sua parte outro desígnio
o propósito que nflo íosse o de facilitar a sua navegação: por isso
escrevem outros quo um dos caf>itulos do regimento que trazia
o mandava afastar da Costa d'Aírica (48) ; e do facto os mares e
ventos reinantes cm suas costas, que iam sendo melhor conhecidas ,
815
aconselhavam <|ue se Gzesse a viagem » como a fez Pedro Alvares ,
como se Geou fazendo depois d'ollo , e como se continuaria a fazer ,
ainda que nâo existisse Bratil.
O digno autor da Memoria , para mostrar os diflerentes cursos
das derrotas de Gama e Pedro Alvares, appeila (49) para o mappo que
I^Gtau eollocou na frente da sua obra : estou de accordo com elle
oa supposição de que o illuslre Jesuita, que tantos documentos teve
4 sua disposição paru a feitura da sua « Historia das conquistas
do^ Portugí^xe$ no novo mMndo , » náo as traçaria segundo as
$uas inspirações. E é por isso que , á vista d'esse mesmo mappa ,
^spero demonstrar mais para adiante que, segundo é verosímil ,
Pedro Alvares n^o teria c4iegado ao Brazil , a nào ser um erro na
sua derrotn « — erro que lhe sobreviveu , e continuou algum tempo
^pois d*elle; porque sSo constantes e permanentes as oacisas (^m
p produziram.
Mas insistem (5Q): Vasco da Gama evitou as calmarias da (Qosta
d'Africa, e nSo se amarou tanto para oóste, nem foi por isso
arrebatado pelas correntes. Bem duvida que assim foi ; mas , st
evitou as calmarias, não evitou as tormentas; nem são aquellas o
único perigo d^pma navegação pela Costa d'Africa (51). Cabral
f0Z*so ao b^rgo , fugindo da Cosfa d*Africa , para dar resguardo ao
pabo e dobra-lo com mais facilidade (53) ; emquanto Gama affasta-
ra-se alguma cpusa , mas muito menos do que seria preciso para
podiT contar com uma viagem segura , e nâo se amarando tanto
nâo corria o perigo de ser arrastado pelas correntes.
Adroiltidp isto, fácil é do ver-se como a este respeito tifHo devia ella
aichar-se nas mesmas cqndições em que esteve Pedro Alvares. Por-
que, de qual curren(e se trata? Si é do íjulf-slream , essa nào
podi^ influir na sua viagem, pprque sahindo do Golfo do Mexicq
sobe até quarenta gr^os do norte, desce depojs procurando a Africa ,
e d'alii rabifurcando-se, corta de novo o equador para perder-se
outra vez no mesmo Golfo. Ainda que seja violenta , como só ten:^
dez léguas de largo , e Gama a cortasse recta ou obliquamente ,
não podiam os seus navios experimentar senão pequeno descahimealo,
316
6 isso riào o induziria a granJc erro. O vcnlu alguma cousa favorável
o punha fora (1'esse perigo em três ou quatro horas , ou o erro seria
emendado pelo segundo ramo da mesma corrente , que mais abaixo
encontraria fazendo-se sentir em direcção contraria á primeira.
Si se trata de outras correntes , sabd*se que essas variam perlo de
terra : nas proximidades das costas todas as aguas puxam para ellas ;
nem é preciso que seja muito grande a proximidade , porque esse
phenomeno, principalmente na Costa d'Africa, experimenta -se muitas
léguas pelo mar dentro , e em distancia d onde talvez so nuo |K)der
ria suspeitar a existência de terras , si os marcantes nào tivessem
conhecimento anterior d'ellas.
Nào tendo pois carregado tanto para oeste, Gama nSo pôde expe-
rimentar a forçada corrente que arrastou a Pedro Alvares. Si ponderar-
roo6 agora que um doestes se entrega á força d'ella 9 emquanto o outro
a cortava rectamente ou com pequena obliquidade, havemos de con-
cluir que o descahimento que se tornaria insignificante para os navios
de Gama , era incalculável para os de Cabral , e mais ainda por senSo
contar com elle. Por isso nSo nos consta que Gama errasse na sua der-
rota , emquanto a de Cabral nos oíTerece um erro de cem legoas»
peio menos que elle nào julgava ter andado. Cem Icgoas! . . .
Eis a descoberta de Cabral. Quando elle se julgava a 600 c
tantas léguas de Cabo Verde (53), e quando, segundo António Galvão,
os seus companheiros lhe requeriam que tomasse outro caminho;
encontram signaes de lerra e logo no dia seguinte descobrem a
própria terra (54). Ora, si os companheiros de Cabral soubes-
sem quanto se iam alVastando de Cabo Verde, muitos dias antes te-
riam pedido a mudança de proa. Cabral mesmo o teria feito, e nào
encontrando indicies de lerra , nào leria chegado ao novo mundo.
Desenganemo-nos que nào se tratava do Brazil , nem de terras situa-
das a oósie do antigo conlineiue. Os historiadores portuguezes nos
revelam isto de uma maneira que nào sollre nem duvida , nem contra-
dicçâo. O que nos dizem elles? Cabral ia para a índia ! (55)
Pois enlào c claro que si Cabral ia para a índia n5o vinha para
o Brazil.
3i7
Oulras considerações so podem fazer quo , si nSo resolvem , AHa
grande luz á queslàoquese ventila (56).
Cabral vinha com 13 náos, c nem Ilespanha nem Portugal man-
daram nunca esse numero de vólas a fazer descobrimentos. Nem um
dos descobridores por parte de qualquer das duas coroas » nem mes-
mo Gonçalo Coelho , Américo Vespucio, Christovão Jaques ou Mar-
tim AÍTonso , em viagens de explorações , em que as fiordas são mais
frequentes, maiores» e cousa com que mais se deve contar, não
trouxe tal numero de navios.
Ainda mais, as anteriores viagens ú índia tinham sido de explora-
ções ; a de Cabral era para um fim commercial. As suas náos con-
duziam mercadorias (57) ; e nãoé em navios carregados de géneros
de commercio que se projectam descobrimentos.
Essa frota ia apercebida em guerra (58) ; porque os portuguezes
suppunham que iam encontrar os reis do Oriente em armas. Quando
pois se arriscassem vidas em numero sobejo, — nSo se exporiam
riquezas a serem escusadamente tragadas pelas ondas, em uma ten-
tativa de descobertas.
Insisto ainda, si nas instrucções de Cabral se tratasse, mesmo de pas-
sagem, ou da possibilidade que fosse de descobrimentos, quando
estes se realisassem, não creio que elle pudesse hesitar em ser o pró-
prio portador c alviçareiro de uma noticia quo em Portugal causou
tanta sensaçSo. Mas o que aconteceu? Descoberto o Brazil,e mal averi-
guado será continente ou ilhas e quantas eram , o que deixava atrás
de si , Cabral continua a sua derrota , dando áquelle incidente da
sua viagem a attençào que podia sem transtorno do serviço de que se
acha va incumbido. O seu lim era um ajuste de commercio com o oriente;
fez o ajuste , e voltou ; mas antes . não ; porque a isso se oppunha
o seu regimento e as ordens que tinha : o mais que pôde fazer, foi
despedir um navio que levasse a Portugal a noticia da terra nova.
Ainda mais , recebendo a noticia do descobrimento do Brazil , I).
Manoel não se alegra senão por saber da boa viagem de suas náos (59),
que as mercadorias não tinham soíTrido, que se tornava mais
fácil a navegação. ¥/ muito conveniente e necessária á navegação da
318
índia , escrevia elle a respeito da terra do Brazil. — Ore si , oomo se
suppOe, elle tinha dados tão positivos da existência de terras situadas
no mar oocidente; si as suas vistas tivessem sido de as deseobrir e
conquistar: essas deseobertas teriam valor em si , independente das
viagens e commercio de oriente.
Além disto, logo depois da viagem de Cabral, fat D. Manoel todos
os esforços para que Vespucio, o venha servir; e lòmando mais oa-
lor no seu empenho depois de ter sido regeitado o seu primeiro eonrite,
mandou um mensageiro ao piloto florentino eom recomtnendaçiO de
otraaserportodos os modos (60). Si pude dispensar antes os seus
serviços e só depois é que o não pòde^ nào revelará Isto que antas éa
viagem de Cabral, o rei de Portugal nfio antevia a probabilidade do
descobrimento n'dquelles mares sulcados pelos marujos da escola
hespanhola a um dos queas preten(f ia attrahir ao seu serviço?
Por flm oque no if^eu conceito prova mais do que tudo • casoali^
dade do descobrimento do tfraril i 6 o afgumento moral que se dedur
de não transluzirdes escriptosde nenfaum dos companheiros de Cabral
a satisfação intima díe bâvefem conscienciosamente cons^uído um
resultado, acertando em objecto détanU ponderação: não reivindicam
para si nem para os seus a gloria dé tào bello achado; pois que se
não enorgulhecem de o haverem feito de consciência. Cabral e a sua
gente alegram-se sem dovida pelo seu descobrimento; porém mais
ainda porque essas terras não pertenciam aos dominios de Respanha
visitados por Colombo. E de feito, si foi o acaso o que lhes deu o
ferazil , grande feficidade foi que elle devesse legitimamente perten-
cer-lhes.
A derrota de Cabral não foi devida a propósito ; era a consequên-
cia necessária do melhor conhecimento dos ventos e mares d'Africa,
e de melhoramentos nos roteiros introduzidos pela experiência.
Senão , vejamos.
Todasascircumstanciassão contrarias desdeo começo até ao flm para
osque na Costa d'Africa navegam na proximidade de terra, seguindo a
direcção do sul. Ha escolhos, baixos, correntes impetuosas; succe-
^m-se rápida e bruscamente as vicissitudes do bom c do máo tempo.
31»
lie fómia que parece nSa liaver meio termo entre as ealmarias podres
e as tempestades violentas.
Além d'estas, convém attender a outras circumstaneias. Em Marro-
cos » o vento que ó regularmemte noroésie impelle o navia para a
costa , e o impede de ganhar Cabo Verde.
No golfo de Guiné varia o venio : sopra o sudoésie , que amasia o
navio para terra , — ou entáo o sul , em sentido inteiramente cotura-
rvo aos que vso costa a costa, procurando dobrar o Cabo da Boai
Esperança, que também lhes Gca ao sul.
Em Angola varia de novo ; o vento oeste, que é o dominante» impaln-
la o navio para uma cesta semeada de escolhos.
Temos emBm o Cabo da Boa Esperança , que os portuguezes c\tíH
maramdas «Tormentas» pelas diíBeuldades qua tinham en dobra-lo.
Estes inconvenientes da navegação da Cosia d'Africa foram
logo experinientados peloa portuguezes. Vasco da Gama se fez ao mar,
fugindo da eosla» econseguiu volta-lo, ainda que com grand» trabalho ;
Cabral julgava ler andado 650 legoasnessesentido, eem 1 503, segvmd»
JoiodeEmpoli» Aflbnso de Albuquercfue, chegando a Cabo Verde, con-
sultou osseuspiloloasoiíreo melhor romoquedeveriamseguir para ga-
nhar o Cabo da Boa Esperança, eresolveramquese engolfassen de 700 a
800 léguas (61) ; e não parece que fosse a sua intençffo chegar ao
Brazil. AvÍ8laram*B0 a le-lo-hiam avistado, ainda que Cabral
o nso houvesse descoberto. Em 1505 )á esse era o costume; por^e
a pratica assim o tinha estabelecido. Por isso acho profunda a obser-
vação de Robertson , e dos que após elle o repeliram, que entrava nas
vistas da Providencia » descoberta da America no século 16 (62).
Nao julgo que com isto se pretenda avançar que , si nao fosse Coiom*
bo, Cabral teria descoberto a America : náo , isto no meu entender
significa qoe» especiarias da índia, e por amor d^eHas , o Cabo da
BúQ Esperanfa, leriam a^i Irazido os navegantes da Europa,
quando aeoenenlescb AUantíee náo tivessem apressado esse resul-
tados
Dqí que acabamos da «tpAr oonduimos çoe éperígosa , senão írh
possifel, a navegaçioi reale ou pouco aflb^a da Costa d' Africa ^
xvin âã
• 320
procurando dobrar o Cabo da Boa Esperança. Vejamos agora como
Cabral pôde ser arrastado para o Brazil , sem que elle o soubesse ,
sem que talvez o suspeitasse.
Quando Colombo penetrou no Atlanlrco , um dos phenomenos que
feriram o espirito d'aquelle homem eminentemente observador, foi a
corrente d'este mar. Las aguas van como hs cieloê , disse elle poeti-
camente— isto é — as aguas marcham como os céos , como as estrel--
las, como o sol nn direcção do nascente para ooccaso. Vé-se pois que elle
não fallava do Gulf-stream , nem é a essa que eu quero attribuir
influencia alguma na derrota de Cabral.
Este facto é sabido e provado , e eu o leio no « Roteiro das Anti-
lhas)» modernamente publicado (63). Geralmente se observa que as
embarcações, que navegam para o occaso no Atlântico ou Pacífico se
adiantam nSo pequeno numero de legoas sobre a estimativa ; e esse
numero cresce e progride ao passo que se prolonga e dilata a nav^-
ção. Da Europa às Antilhas, boje, com instrumentos náuticos mais
perfeitos do que havia n^aquello tempo, — com mais perfeito conhe-
cimento d^esses phenomenos— da Europa ás Antilhas (digo) adiantam-
se os navios de 4 a 6 gràos ; e nas viagens das costas occidentaes da
America para as Filippinas , o avanço é de 15 e 20 gráos. Conclue-
sed'aqui que ha entre os trópicos uma grande corrente, que os
bomens da scicncia distinguem com o nome de corrente equino-
cial (64) , que corre do oriente para o occidente , de 4 legoas por dia ,
ou talvez de mais; porque quatro legoas é a correcção, que ainda
modernamente se aconselha que se faça a estimativa.
Explicando-se estes phenomenos pela regularidade do vento ; vem a
explicação a converter"^ em uma nova causa , que terá influído para
a descoberta do Brazil. Observa-se estephenomeno nas costas orienlaes
da America , e nestas costas o vento reinante é leste ou variações de
leste, que ficam n'uma zona comprehendiJa entre 30 gráos de latitude
septentrional e 30 de meridional. Quasi toda a costa d^Africa fica
comprehendida nestas latitudes (entre 37 gráos norte e 35 sul) ; e em
toda esta zona reina o vento leste chamado também os ventos alízados.
Cabral pois, tendo de dobrar o Cabo da Boa Esperança; e sabendo,
321
eomo t experiência já o havia inosirado , que era difficil e peri*
gosa a viagem navegando próximo de lerra, considerou que
era de vantagem compensar com a maior velocidade o maior
espaço, que teria de percorrer, si se Gzesse muito ao mar.
Andava mais; mas esse mais andava-o em menos tempo : d*este
modo se explica o dizer de Galvão que Cabral se aOastava da costa
d'Africa — para encurtar o caminho. Assim começou com o bordo na
volta do mar , na frase dos navegantes , e antes que tivesse dobrado na
volta de terra, do que já se tratava , descobriram signaesd'ella.
Cabral portanto , desde que viu que eram baldadas as suas diligen-
cias para encontrar o navio que se tinha desgarrado da sua conserva,
tomou o rumo que conservou durante todo o seguimento da sua via-
gem : é isso frequente nos que navegam entre Europa eBrazil, o de-
pois não leio em parte alguma queelle tivesse mudado de proa. Cami-
nha diz : (65) cc Seguimos o nosso rumo » — e logo depois aceres*
eenta : — « a 21 de Abril topamos alguns signaes de terra. y> Ora ,
sendo o rumo de sudoeste approximadamente o que vem de Cabo Verde
a Porto Seguro, as expressões de Caminha são em todos os sentidos
equivalentes ás de Jofio de Empoli , que já citámos^ as quaes dizem
. . . > e indo nós nesta volta obra do 28 dias , em uma tarde avis-
tamos a terra. »
O illustre autor da Memoria quiz também argumentar com esta
frase de Caminha: «Seguimos o nosso rumo» (66). A ella poderia eu
oppôr a asserção de António Galvão, de que Cabral « tinha perdido a
derrota e vinha fora d'ella , quando descobriu o Brazil ; x> eas palavras
deHaffeo : <xln teluris conspectu ventis feruntur. » No emtanto não o
farei ; porque Caminha tem razSo no que diz. A derrota de Cabral
era para a índia; o seu rumo devera ser aquelle, ainda que não
existisse BraziL O dizer de Jeronymo Ozorio — que Cabral pozera a
prftanooccidente, carece de exactidão; porque essa prAa 6 traria de
Cabo Verde ás Antilhas , e não a mais de 30 gráos aflfastados d*ellas
para o sol.
Resta-me agora demonstrar eomo Cabral veio ao Brazil arrastado
pelas eorrentes sem o saber. Em calmaria poderia eUe ter visle
322
a corrente equatoriat, e calcular approximadamenie a sua (orça;
fei felicidade sua ter elle constantemente vento (avoravel Mé chagar
ao Braeil : o roesmo vento que lhe foi contrario quando dobsou
na voka d^Africa. N'estas circumstanciaa , e julgando da mordia
do novio peio vento, não via, nem podia caletilar com a força da
correme que o io arrastando no mesmo sentido , a ponto de nSo
sab»«ffl a qtie distancia se achavam de Cabo Verde ; e de harer
dflvida aeerca da altura que tinham. Esle por ventura aerá o
verdadeiro eentido das expressões de António Galváo, quando dia
que Cabral tinha perdido o rumo! E noto que António Galvão ,
tratando especialmente dos descobrimentos dos Portoguezas , é n^esto
caso mais digno de credito do que os historiadoRis eooao Góes o
Osório y qae , tratando por iaeidente doeste ponto, bBo ae cangam
em meditar a fonga das expressões de que ae servem.
Comtude nào é absoluta a preferencia que dou a Galvão ; porque ,
no mea conceito , a primeira relaçSo da riagem de Cabral ; a mais
exaeta; — a que oombina, explica e resume as divergências que
se notam nos historiadores é a de Gandavo. Em favor de ter sido
oeno copiado por Barros » tal é a conformidade entre ambos ,
sqa<«ne permittido reproduzil-o n'esta parte (67).
<r Reinando aquelle mui catholico e sereníssimo princípe el-rei
D. Manoel, fcz-se uma frota pêra a índia , de que ia por capilão-
mÓT Pedro Alvares Cabral , que i(À a segunda navegação quo
fizeram os Portuguezes pêra aquelias parles do Oriente. A qual
partiu da cidade de Lisboa a 9 de Março no annode 15O0. E sendo
já OBtre as itbas de Cabo Verde (as quaes iam demandar pêra fazer
ahi aguada) , deu-tbes um temporal , que foi causa de as não
poderam tomar , e de se apartarem alguns navios da companhia. E
depois de haver bonança , íunta outra vez a frota empegarem-se ao
aar , assi por fugirem das calmarias de Guiné, que lhes podiam
estorvar sua viagem , como por lht$ ficar largo podercwi do-
brar o Cabo da Boa Esperança, E avendo já um mez quo
iam n'aqu9lla voUa, navegando com vento prospero foram dar
na oosla doesta província , ao longo da qual cortaram iodo aquelle
S23
dia , parecendo a lodos que era alguma grande ilha que ali
estava, sem haver jriloío, nem outra pessoa alguma gue tivesse
noticia d'ella, nem gue presumisse ^e podia estar terra fir-
me pêra aquella parte oceidental. E no logar que lhes pareceu
d'ella mais accoromodado 9 surgiram aquella tarde.... Estando assi
surtos n'esta parte que digo, saltou aquello noite com elles tanto
tempo , que Ihea foi forçado levarem as ancoras , e com aquefle
vento que lhes era largo por aquelle rumo , foram correndo a costa
até cliegarem a um porto de limpo e bom surgidouro , onde entra-
ram : ao qual poxeram então este nome , que boje em dia tem de
Porto Seguro, por Ibes dar colbeíui , c os assegurar do perigo da
tempestade que levavam. »
Deixando porém de parte o primitivo historiador do Brazil , entro
na demonstração que me propus fazer.
No dia 22 de Março estava Cabral em Cabo Verde, a 21 de
Abril topou signaes de terra, que avistou logo no dia seguinte. Os
pilotos diziam que estavam a 660 ou 670 legoas de Cabo Verde.
Impressiona-me o dizer de Caminha, quando, tratando da dis-
tancia a que se suppunham de Cabo Verde , náo a indica simples*
mente, como ftizem os viajantes quando conflam nos pilotos, com
os qiiaes navegam. Pelo eontrario , Caminha , como que procura
resalvar-se com o sen parenihesís «c segundo os pilotos diziam, d
Logo , ou elle duvidava do que os pilotos diziam , ou os pilotos
discordavam entre si.
Barros referiu-se i tenra do Brazil e a Cabral n'estas palavras :
« A qual, segundo a estimação dos pilotos, lhe pareceu que podia
distar para aloeste da Costa de Guiné 450 legoas , — e em altura do
polo antartico da parte do sul 10 gráos (66). »
lulgar-se-ba pois que a conclusSo que acima tiramos não carece
de sólidos fuadamentos, principalmente si ottendermos a que o me-
tbodo de navegaçSo d'Qqudla ^ca era imperfeitissimo , bem que
á primeira vista nos possa parecer o contrario. Os Romanos tinham
deacoberlo o neio de rôjar , sabendo as horas que na viagem
gaslavtm, e o «paço que percorriam. Segundo Iodas as probabilidades
32&
era esta invenção um objecto de luxo , quo usavam trazer dentro
das liteiras , e também applicavam aos navios para conhecer a sua
marcha ; mas ignora-se si foi geral esse uso na navegação.
No tempo de Cabral não havia isso. A barquinha , que ó um
meio bem imperfeito de se conhecer no mar a distancia percorrida ,
não era usada então. Humboldt , depois de profundas pesquisas ,
achou f segundo os dados da historia , que ella fora usada primei-
ramente por Magalhães , — um quarto de século depois de Cabral.
Julgava-se a olho, que era coroo se fazia o calculo por estimativa ;
via-^ a carreira do navio , e dizia-se: « anda tantas milhas» : era
essa a pratica e a theoria , — a rotina e a sciencia ; pois que nas
obras de pilotagem d*aquelle tempo , — no « Roteiro de Céspedes»
por exemplo» que data de 1 500 , acham-se estabelecidas as regras de
como podem e devem os pilotos julgar a olho da carreira do navio.
Ora ^ que o navegante portuguez nfio sabia a quantas andava ,
servirá de irrefragavel testemunho a carta dophysico e cirurgião que
o acompanhava , — pessoa que » s^undo de sua carui se collige ,
tinha orgulho de ser entendido na matéria. Eram dous os meios
pelos quaes se reconhecia a situação d'um navio no mar alto : os
cálculos do astrolábio , e as conjecturas feitas sobre a marcha do
navio em determinado sentido. Para o astrolábio tinham elles a in*
venção de Beliain, invenção quo era ainda de fresca data; e para o
avanço do navio , — umas taboas da índia , roais modernas ainda
que o astrolábio. Um e outro doestes processos que mutuamente se
auxiliariam , longe de serem úteis aos pilotos de Cabral , eram mo-
tivo de divergências entre elles , ou porque fossem realmente im-
perfeitos, ou por não saberem bem usar d'elles.
O mestre João , por exemplo , desculpa-se com o rei , dizendo
que era o seu navio muito pequeno» e vinha além d'isso muito
carregado ; que elle próprio soiTria algum incommodo » e depois
accrescenta, como auribuindo em parte o facto a estas causas —
« que no mar se não poderia observar a altura de qualquer estrella ;
porque , por pouco que o navio jogasse , errava-se de 4 a 5 grãos ; e
que assim esse trabalho só se podia fazer em terra. » Em terra
325
mesmo ^ feitas as suas observações , acliou-se elle em Porto Seguro
aos 17 gráos sul ; os pilotos porém a 10; e todos (Pedro Escobar ,
entre elles) discordavam em 150 l^oas, uns para mais e outros
pnra menos ; differiam pois os extremos em 30O legoas.
Permitta-se-me uma consideração antes de passar adiante. A dis-
tancia para oeste de Porto Seguro ao ponto correspondente na Costa
d^Africa ó de mais de 40 gráos : no emtanto Barros , em um trecho
que deixei citado , diz que, segundo os pilotos de Cabral » a costa
de Guiné distava 450 legoas para oeste da terra por elles descoberta.
Este espaço accrescentado com as 300 legoas dos extremos de que
fallava o mestre João , dá 750 legoas , que é approximadamente o
termo médio do numero de legoas precisas para encher 40 gráos (de
18 ou 20 cada gráo). O erro pois de Cabral estaria em mais de
300 legoas no sentido de oeste.
Volto ao assumpto de que me vinha occupando — do processo da
navegação no tempo de Cabral.
Si 9 como levo dito , o astrolábio » mesmo em terra , e fazendo-se
as observações com toda a commodidade e descanso , não era instru-
mento que servisse para resolver todas as duvidas , -^ as taboas da
índia eram mais imperfeitas ainda , e mais sujeitas a erro. Por isso
o pbysico escrevia que o rei se riria d'ellas com mais razão ou von-
tade, si soubesse como todos desconcerUi\am com ellas; e mais,
era isso em mares conhecidos como de Lisboa ás Canárias , e das
Canárias a Cabo Verde! Nem por ellas julgavam do espaço per-
corrido; mas pelo contrario marcavam n'ellas a quantidade de
caminho, que lhes parecia ter feito.
Falhando os cálculos dos pilotos de Lisboa até Cabo Verde , não
se pôde razoavelmente admittir que elles tenham d'ahi por diante
navegado accordes e conscienciosamente , quando haviam causas que
desculpavam , assim como occasionavam o erro. Por Lsso poz
Caminha aquella resalva « segundo os pilotos diziam ;»- por isso
Galvão assevera que elles tinham perdido a derrota , o que é bem
presumível.
Vimos já como Cabral topoo a SI de Abril signaes de terra , que
82G
avistou no dia 22. Quer-me parecer que o numero de legoas^ que
elles suppunbam ler andado desdo Gabo Verde foi delerminadõ em
lerra , como íoi em terra que tratou de averiguar a que altuca se
achavam ; mas deixo de parte esta circumstancia.
Do dia 21 a 22 nào podiam navegar com muita afoiteza por
estarem com signaes de terra , e precisarem de ir a lodos os okh
mentos lançando a sonda , sendo até de suppòr, e eu o creio »
que amainassem de noiíe. De Cabo Verde a Porto Seguro a distan-
cia em linha recta é de cerca de 40 gráos ou de 800 legoas de
20 ao gráo. Depois de descoberto o Brazil, Affooso de Albuquerque,
como jà dissemos y determinou engolfar-se de 7S0 a 800 l^oas na
volta do mar. Cabral portanto teve um engano de obra de ISO le-
goas no rumo de Sud-oeste* Nâo seriam estas as 150 lagoas deqae
falia o physico-mór, por cujo motivo discordava da opinião de
Pedro Esoobar ?
Cento e cincoenta legoas n'aquel!a direcção, corresponde a 80
ou 100 legoas mais para o occaso, do que elle se julgava achar ; e
estas 100 ou 80 legoas equivalem a 4 ou 5 gráos de differença para
oeste ou de 15' a 20' no ehronometro com que qualquer marinheiro
de boje se nào equivocaria facilmente. Mas não seria» estes quatro
ou cinco gráos que errava o mestre João quando com o astrolábio
tomava a altura das estrellas, as quaes por esta causa lhe pareciam
nio poderem ser observadas do mar?
Examinemos o mappa de Lafitau.
Si este escriplor, como presume o autor da Memoria, e eu
estou disposto a crer , nào delineou o mappa , que se vé na frente
da sua obra a dos descobrimentos dosPortuguezes,» segundo as
suas inspirações ; si pelo contrario foi traçado á viâta de documen-
tos valiosos t — d'âsse mesmo mappa tiro eu a roais eloquente de
todas as provas em coroo Cabral errou na sua derrota > sendo esse
erro a causa do seu descobrimento.
N'este mappa está Porto Seguro entre 15 e iê gráos do sul , e
não aos 17 , como queria mestre João» e como se acha no Atlas
de Vaugpndj. É pequena a differença ; mas outras ha mais im-
S27
portantes , e que um simples lançar (]*olhos revela : é a proti-
midade em que se acham as ilbas de Cabo Verde e a America
Meridional , erro que se reproduz em João de Barros , que dá 450
legoas para a distancia entre a terra descoberta por Cabral e a
€osta de Guiné. Em Lafiiau a distancia para oóste entre S. Niooláo
em Cabo Verde e Porto Seguro é de 13 gráos contados no equa-
dor; no mappa mundi construido sobre a projecção de Mercator ^
assim como no deVaugondy, essa mesma distancia é de 17 gráos.
Esta differença de Ix gráos não é ainda a mesma que o physico
mestre João designava como erro nas observa<;ões do Astrolábio?
Por Gm — vemos no mappa mundi de Bruet que a distanda
em linha recta , entre Porto Seguro e a ilha de S. Nicoláo é de 45
gráos ; emquanlo no de Laíitau a distancia ó de 37 gráos da ilha
de S. Nicoláo , e 35 da de S. Thiago.
Como aconteceu porém que Pedro Alvares errasse tão brassamen-*
te? Já dissemos que então se julgava a olho do caminho que se
andava no mar. O erro não seria considerável em mares conhecidos >
porque os que tem navegado sabem que os homens práticos do
mar raras vezes se enganam , olhando para a carreira do navio»
Por via de regra , a barquinha os não desmente ; mas a barquinha
é um instrumento Imperfeitíssimo, que faciLuente ihduz a erro^
quando ha correntes em sentido contrario ou favorável ao vento ,
porque fica sempre áquem ou vai além da verdade. Por outro lado
a vista' equivoca-se também com as correntes , porque as mesmas
causas que actuam sobre a barquinha , falseando os seus resulta-
dos, obram de igual modo sobre a vista.
Cabral pois , que trouxe vento fresco até ao Brazil , e julgando
a olho das sangfaduras do caminho , devia equivocar-se , principal-»
mente no Atlântico , porque mesmo com o uso da barquinha e com
instrumentos mais simplices e perfeitos , os roteiros moderaos acon-
selham que , navegando-se n'elle para oeste , se accresoente a esti-
mativa quatro legoas por dia (69). Note-se mais que esta quantidade
longe de ser constante se augmenta com as distancias percorridas.
Mas supponlttmos que nao ba augmento progressivo > eque basta
ivni Ã3
328
aeeresceniar-se quatro l^as diárias á esUmativa. — Cabral sabia
de Cabo Verde a 2â de Março, — viu signaesde terra a 21 de
Abril » — o espaço é de 30 dias ; — o accrescimo que se teria a
fazer seria portanto de 120 legoas pelo menos. Os seus pilotos jul-
gavam ter andado 660 ou 670 legoas, com mais esta 120, que
elles não contavam, teriam 780 a 790 legoas de Cabo Verde a Porto
Seguro. Estariam assim alguma cousa próximos da verdade , si
nilo tivessem igualmente errado na determinação da longitude: a
i$0 legoas da costa de Guinei
Creio pois que Cabral não teria chegado ao Brazil si soubesse
quanto consideravelmente ia descabindo para oeste. Os seus pilotos
que ibe requereram a mudança de proa , tôl-o-iam feito antes , e
nenhuma razão ha para que Cabral não accedesse ás suas instan-
cias, não havendo ainda encontrado signaes de terra, -^sígnees
que por certo não toparia a não se ter engolfado tanto, e tão próxi-
mo do Brazil , que um dia depois o avistaram. Estes signaes foraia
sargasso e algumas aves (70).
Tenho ató aqui procurado sustentar a minha opinião ; mias
quanto á Memoria em si, devo observar mais esta vez, e para
concluir, que acerca d'esta matéria nenhuma autoridade [K)rtugueza
se pode invocar, que não esteja n*elia fielmente reproduzida ou
citada. O autor não as occulta , não disfarça os seus argumentos ;
apresenta-os , e corobate-os de frente. Com séria meditação, com
aturado estudo , aproveitando-se liabilmeoto de todas as circums-
tancias, de todas as phrases , e ató de todas as expressões que
faziam ao seu propósito; combinando engenhosamente os historia-
dores, e disfarçando completamente, á força de talento, a fraqueza ,
que tal mo parece, da sua causa, conseguiu fazer um trabalho
erudito, agradável e fácil; — e, direi mais, si não pòz inteiramente
(ora de duvida , ao menos quanto a mim, a opinião que merocen*
do-lhe tantos esforços > ó mais uma prova do seu bello engenho ; —
^ telvez pela regra sabida — de que nem sempre a verdade está nas
ceodições da verosimilhança,
g|la das $ess9es do Instituto Hislorico , 12 de Maio de 1854.
A, Gonçalves Du^.
329
IVOTAS.
(1) Rerista Trimensal. Tom. XV, n." 6.*
(2) Brazil e Oceania. P. 1/ cap. 13.
(3) Rafn. Anliquitates Americanw. i8Zi5. Revista do InstUulO T. 2»
pag. 208, e seg. llumboldt Cosrtws. Bruxellcs 1852. T. 2, cap. 6.''
{íi) Humboldt (Examen critique de Flristoire de la Oéographic da
Nouveau Gontinent. Paris. 1836. T. 1, p. 80) diz-nos que é a D. Fer-
nando Gc^ombo a quem devemos um exlraao doesta obra do Almirante;
e reproduz as seguintes expressões de Barda. Hist primit Tom. i«
pag. 6, 6. V Memoria ó anotacion que hizó el almirante, mostrando ser
habitabiles todas las cinco zonas con la experiência de la navegacion. »
(5) Reeberches siir la príorité de la decouverte des pays situes sur la
cote occidentale d'Afríqne etc, par V. de Santarém. Introduc. pag.
XCVIII. Pars tcrrx, torridx zona! subníma, inhabUabiUs nimio oedore
solis.
(6) llumboldt Cosmos, edic cit Tom. 2, cap. 6.
(7) Revista Trfmensal. Tom. XV, n.* 6, pag. 1^^.
(8) Edição da Real Academia de Historia de Madrid de 1S52. Ttfdi.
!.• pag. 13. (Uv. 2.'* cap. 2.*)
(9) Navarrctc. Goleccion delosviagesydescubrimientos. Madrid. 1825.
Tom. 1, pag. 13. Eis por inteiro o perio<lo do roteiro de Colombo que
neste antor se lé sobre esta carta. « Iba hablando el almirante con Maiítín
Alonzo Pinzon, capitan de la otra carabela <f Htíta » sobre una carta qne
le babta enviado três dias hada a la carabela, donde segmi parece tetna
pintadas el almirante ciertas islãs por aquella mar. »
(10) llumboldt. Cosmos. Edic dt T. 2, pag. 219.
(11) V. de Santarém. Ob. cit. pag. 91.
(12) Idem. Introduc. pag. XLl (álj.
(13) Bste manuscripto de Las Casas intitulasse : Uisotria General de
las Índias, llumboldt dta as palavras de uma copia possuída por
Temaux^Con^tans.
(16) Navarrete. Ob. e lug. citado.
C15) Ainda que Iltúnboldt na sua a Historia da Ccographia » diga que
Colombo, assim como Toscandll, admittmm a probabilidade, mullâ
330
incerta, de noYOs descobrimentos (Ob. dt T. !• pag. 21 e 2h) todaTia na
seu Cosmos falia de um fim único qtie tivera Colombo na soa empresa;
parecendo nesta sua obra ter modificado ou corrigido a asserção da
^terior.
(16) Tbe Woriu of Wílliam Robertson. London 18áC^. T/uHistoryof
America. BooIl II — : Colwnbiis after resolving long and seríously eTcry
drcumstance suggested by his superior linowledge in the theory as wdl
as practice of navigation; — after comparing attendvely the obserTatian^
of modem pllots with tlie hints and conjectures of andent authors, he at
last conduded, that by salingdirectly towards the west, across the atlantic
oçean , new countries, wbich prpbably formed a part of the great cqq-
tinent of índia, must infalúbly be discovered.
(17) O que diz ^umboldt (na Hist. da Geogr.) de que para Colombo o
descobrimento de novas terras não era ^en^o um fim muito secundário d%
sua empreza, não se combina muito bem com o fecto de ter sido essa a
primeira condição ajustada, como se 16 na « Histoire general de TAmé-
rique par le R. P. * Toumon. Paris 1768. T. 1, pa^ 8.
(18) Cosmos (ed. cit pag. 213). Humboldt o conjectura, por ter sido
9 obra de Marco Polo impressa primeiramente em 1477 , na Iradacção
aDemãa, Ihigua que nem Colpmbo, nem Toscandli sabiam.
(19) P.* Toumon. Ob. e lug. dtado.
(20) Others concludcd, that cither be would find ^e ocean to be of
infinite extent, accordhig to the opinionof some andent philosophers; or
if he should persist in steering ^ow^rds the west beyond a certain point
that the convex figure of the globe would prevent his return... etc. Ro-
bertson. Ob, dt. pag. 748.
Vid. lugar citado que outras opiniões se manifestavam conlra os pro-t
jectos de Colombo.
(21) Edrisi, Traduc de Jaubert. Tom. 2, p. 2« citado pelo V. de San^
tarem, e Humboldt na Hist. da Geog. Tom. 1, pag. 51. Masondi (traduc
ingleza) de Sprenger Tom. i, p. 282, diz do Atlântico, o the sea has no
limits neither in its depih nor extent . . this is the sea of darkncss, also
called the green sea. »
(22) Extracto o P,* Toi\rnon. Ob. cit, T. 1, pag. ti; mas vem por
extenso este trecho, digno de lêr-se, em Humboldt « Hist. de la G., T.
1, pag. 80, nota 2,* »
(23) Cosmos cit,
(24) Barros. Décadas da Ásia. Lisboa lffi28. L. 3.% cap. 11. fl. 56, v.
(25) Bevista TrimcnsaL Tom. 15, pag. Mxi. Navarretc Coleccion de
|os viages y descubrimíentos. Madrid 1825. Tom, 2.'
(26) Hakluyt dta o caso notável de haver um rd de Inglaterra pro^
^ibido o armamento que projectavam alguns súbditos seus para a Cosu
S31
iTAfrica, por lhe representarem embaixadores portugnezes que aqaeUas
eram terras de Portugal por concessõespontificias. O autor dta a chronica
de Rezende; mas (f facto assume certo caraeter de authentiddade, sendo re-
produzido por um autor inglez, que lhe não faz objecção alguma, nem
mesmo escrevendo que o m de Inglaterra se dera por muito satisfeito
com a embaixada; e mandara pôr bando para que se não fizesse o ar-'
momento. Uakluyt Tom. 2, pag. 1x^1.
(27) Chronica dos valerosos e insignes feitos d'el-rei D. João II. Gap.
165, Ruy de Pina diz também na sua « Chronica d'Ei-Rei D. João II »
(cap. 66) I « E sendo El-Rei logo dMsso avisado (da chegada de Colombo)
ho mandou ir ante si, e mostrou por isso receber nojo e sentimento assi
por crer que o dito descobrimento era feito dentro dos mares e termos
de seu senhorio de Guinée,em que se offereda defensão... etc » Inéditos
da Historia portugueia. T, 2, pag, 178.
(^%) L. 3, cap. li, pag, 56, da edic dt.
(29) Ruy de Pina. Ob. e lug. cit. « o dito almirante que..., no recon-
lamento de suas cousas, excedia sempre os termos da verdade, fez esta
cousa em ouro, prata e riquezas muito maior do que era. »
(30) O Marquez de Alegrete refere nestes termos a entrevista de Co-
lombo com o rei de Portugal: — prolixa narratione facta, inventarum
regionum divitias adeo profuse extulit, ut acceptam à Joanne repulsam
haud obscure ipsi exprobare videretur. Qua de causa, et quod Joannes
sibi persuaserat Columbus lusitanas navigationis jura violasse, torvo
superdlio auditum, ingrata responsione dhnisit « De rebus gestis Joanni
II. Auctore Emmanuele Tellesio Sylvío. Marchione AlegretensL Olisip.
1689, pag. 363. « Munoz na sua Historia dei Nuevo Mundo^ dizendo
que o rei mandara chamar a Colombo de Valparaiso, accrescenta : « — Fui
recebido con singular ostentacion y onor, y mandado cubrir y sentar en
la real prezenda : habló desembarazadamente de los sncesos dei viage,
pintando las cscelentes calidades de los paizes descubiertos, con los colores
próprios de su imaginadon viva y acalorada. Los cortezanos calificaron
el despejo por soltura, descomediniíento y alienaria, y las grandezas refe-
ridas, por exageradones faltas de vcrdad, despueslas de propósito a iin
de reprender y contristar ai monarca, que tanto bicn perdia por no baber
aceptado la impreza, ni dado credito a su autor. » Edic de Madrid de
1793, pag. lZi7.
(31) Quod quidem Joannes non recusavit, sibi persuadens Ferdinandi
cansam omnino jure destituíam esse. Marquez do Alegrete, Ob. citada
pag. 367.
(32) Revista TrímensaL Tom. 5, pag. 3á2.
(33) Rev. Trim. T. 5, pag. 342 (!.' serie.)
(34) Memoria do ^r. Norberto. Nota 225.
(35) Tratado dos descobrimentos antigos e modernos... composto pelo
filDoso António Galvão. Lisboa 1731, pag. 36.
332
(36) Lé-sc na obra citada , 158/i ; mas é erro de Impreaslo.
(37) Manos dá nestes termos o resuUada das conferencias de Behain
com dous dos mais hábeis cosmographosde l^ortugal » Despoes de mochas
investigaciones y coníereucias se invento la aplicacioa dei astrolábio a la
pratica de la navigacioii , para observar a bordo la altura nieridiana dei
sol sobre el horisonte. Historia dei I^uevo Mundo^ de D. Juan BauU
Munoz, Madrid, 1793, pag. 37.
(38) Lô-se esta carta em outra escripta pelo mesmo Toseanelli a Colombo
a 25 de Junho de l/i74, e Impressa na « GolL de los viag. y descubr. » de
Mavarretc. T. 2, pag. 3.
(39) Revista TrímensaL Tom. 5, pag. 158.
(40) Cosmos. T. 2, cap. 6."
(61) V. de SanUrem. Ob. clt. pag. 72« prol., etta atradacção fraiiceza
de Reinaud.
(42) Pag. 157.
(43) Diálogos de varia historia. Counbra, 1594, pag. 186.
(4/l) Dec. !.• L. 5.% cap. 85.
(45) Chronica do felicíssimo rei D. Alanoel. ParL 1.% cap. 55, foi. 51.
(46) Da vida e feitos d'£l-Rei D. ]VIanoel: traducção de Francisco Ma-
noel. Lisboa, 1804. Tom. 1. pag. 143.
(47) Da vida e feitos d'El-Rei D. Manoel. Ob. cit., T. 1, pag. 143.
« Mas l^edro Alvares Cabral, qtie ia em derrota da índia , seguindo a
mesma esteira do Gama, veio á iltia de S. lago, d'onde querendo passar
avante tal tormenta se levantou etc. »
(48) u Par tio l^cdro Alvares. . . com regimento que se afastasse da
Costa d' Africa pcra encurtar a via. » Tratado dos descobrimentos etc, de
Galvão pag. 3õ.
(49) Memoria, pag. 169.
(50) Memoria, pag. 142.
(51) Exalta-se muito a coragem de Gama pelas dííiiculdades com que
teve de lutar na sua viagem. « Correram para o sul, porfiados a montar
o Cabo da Boa Esperança, porfia cm que realçou muito o esforço do ca^
pitão Vasco da (iama; porque eram cruclissimas os mares, frigidis-
simos e contrários os ventos , as brumas e os temporaes contínuos ,
sendo sempre naqucllas partes cm tempos certos muito horríveis c
muito para temer. » Osório. Trad. cil. pag. 69.
(52) Ainda que os autores por via de regra só tratem das calmarias
da Costa d*Africa, comtudo accrescentam alguns d'elles a razão por que
Pedro Alvares se deveria fazer ao mar.
333
Ad vítandam Gkieae malatiam, et superaudum boa» fidei promoti^
toríam, longiore anabitu capto etc. Maílei. Ob. ciu L. 2." pag. 31,
o .. . Por fugir da terra de Goiaé, onde as calmarias Ibe podiam im-
pedir seu caoiinbo ; empegou-se muito no mai* por lhe ficar seguro
poder dobrar o cabo da Boa Esperança. i> Barros. Década i.* L. 5,
(53) Direi mais abaixo o motivo por que desconfio cpie a cstimaição
de Caminha da distancia em que se achavam de Cabo Verde me parece
não ter sido feita a boi-do.
(5^) Galvão diz que tcndo-sc topado signaes de terra, foi Cabral em
busca dVlla tantos dias, que os seus lhe requereram que deixasse aquella
porfia. A narração de Caminha me parece mais digna de credita Os
signaes só foram encontrados um dia antes que elles tivessem vista da
lerra.
(55) Os historiadores são unanimes; mas para não accumular cí-
tacões só doas apontaremos. » Fez-se uma frota para a índia , de que
ia por capitão mór Pedro Alvares Cabral. » Gandava. Cap. 1. p. 6.**
(56) A maior parte das considerações que passo a fazer se acham
consignadas no seguinte trecho de Maffco. Ilist. índic. Florença 1588.
L. 2." pag. 30. Et quoniam Gammae comitumque fama celebritasque
et multípiex indicarum opmn relatum in Lusitaniam specimen, om-
niom animoft in rcrum ingentium spcm et ejusdem itineris cupiditatem
erexerat; ncquacqoam ultra explora toriis navigi», verum justis jam
classibus ea maria sibi sulcanda constitoit. NavílMis tredecim , qua? advei
magnitudiue et hominum frequentia et onerum exislimatione , haud
eriguas lusitani regni opes et copias indicarent... etc. »
(57) MafT. Ob. c log. cít. Dialogoji de Mariz cit «... nma formosa
armada de treze náos grandes, com todo o necessário assim para o com-
mercio das cousas preciosas do oriente , como também para o remédio
das almas dos moradores d'eUe. »
(58) Mafiei. Ob. c lug. ciL a ... poder de náos e de gente » Barros
Dec, 1, L. 5, a oompimha-sc de treze náos, levava soldados 1,500, ia
artilhada e guerreira em summo gráo com as muitas peças e munições»
Osório cit.
(59) Pedralvarcs vendo que por ratão de sua viagem outra cousa
não podia fazer, d'aii expediu um navio, capitão Gaspar de liemos,
com novas para el-rei D. xManoel do que tinha descoberto: o qual navio
com sua chegada deu muito prazer a el-rci e a todo o reino, assi por
sal)er da boa viagem qne a frota tevava, como pela terra que descobrira.
« Barros Dec. 1, L. 5, cap. 88. »
(60) Cartas de Yespucio. « Noticias para a Ilist e Geogr. etc. T. 2,
pag. 141. »
(61) « Partimos de Lisboa no dia 6 de AbrU de 1503, na armada
do capitão mór Aflonso de Albuquerque.. • principiamos a navegar di-
feitos a Cabo Verde, do qual quando houvemos vista, toinoõ o capitão
r.onselbo com os seus pilotos sobre o melhor rumo que se devia seguir
para ser melhor a navegação até ganhar o cabo da Boa Esperança ; por-
c|ue o caminho que de ordinário se fazia era ao longo da costa de
Guiné da Ethiopia^ enl a qual ha muitas correntes, cachopos e baixos,
e fica além d'isso sotopostaa equinoxial, acalmando por esta causa muitas
vezes o vento : para fugirmos pois d'ella deliberamos engolfar-nos de 750
a 800 léguas; e navegando nesta volta Obra de 28 dias, em uma tarde
avistamos a terra. » Viagem as índias Oríentaes por João de Empolié N<h
ticias para a Uist. e Geogr., etc T. 2, pag. 219.
(62) Kctoerison^Histonj o f América.
(63) Derrotero de las islás Antillas. Madrid 18^9.
(66) .... Fleuve equatorial qui va de TEst à TOuest et se brise contre lá
cote opposée. Humboldt. Cosmos. T. 2, cap. 6, p. 239, ed. dt.
(65) Noticias para a (Ost^ e Geogr. das Naa IJltr. Tr. k^ pagw I79-.
(66) Memoria pag. 165.
(67) Historia da provinda Santa Griiz por Pêro Magalhães de Gandava.
C 1, p. 6.
(68) Não creio que Barros tenha coiifúndido com Guiné ás costas de
Marrocos e da Senegambia. Ainda assim, tomados doas pontos salientes
ba Costa d' Africa e Brazil, o cabo da fioa Esperança á Olinda, a distancia
é de 27." e â' ou de 5^1 léguas e 1 milha.
Guiné propriamente dito começa do cabo das Palmas para o sul ; e a
disuncia de 10 gráos sul no Brazil ao ponto correspondente n' Africa (que
parece ser como Barros calcula) é de Zi5 gráos pouco mais ou menos.
(69) Derroters de Ias Tslas AntiUes. 18Z(9.
(70) Carta de Cammha n signaes de terra... os quaes eram muita quan-
tidade de hervas compridas a que os mareantes chamam bolhelho, e assim
Outras a que também chamam rabo d' asno... a 6." feira seguinte pela
manhãa topamos aves, e n'cste dia a hora da véspera houvemos vista de
terra. » Notícias para a Hisl. e Geogr. etc T. A, pag. 179.
SS5
REFLTAÇAO ÁS REFLEXÕES
Do DIGNO MEMBRO O SR. DR. A. GONÇALVES DIAS
POR J. NORBERTO DE SOUZA SILVA
Sodo effectifo do Instítnto Historíco e Geographico Dranleiro
Lida lias sessões de 15 de Setembro , 13 de Outubro , 2Zi de Novembro
e 7 de Deíembro de 1854
NA AUGUSTA PRESENÇA DE S. M. O IMPERADOR»
Outr*« coiuid«r*çAci »• p^i m ÍMcr qiic, ic nfto
raiolveai , a«osraiidc lusa qii«»(*o qna m vtntilt»
fDãa Ktflêxòêt d» St. Jmt0HÍt CMi(air«fl Diaê. )
Na elaboração de uma roenoria sobre o descobrimento da parto
da Ameriea que habitamos , em desenvolvimento do programma :
K Si o descobrimento do Brazil por Pedro Alvares Cabral fora de«
vido a um mero accaso ou si teve elle alguns indícios para isso»
tive como que de derrocar um monumento > cujas pedras acco-
muladas pelo decurso de trezentos annos me serviram para elevar a
verdade em novo padrão. Um incidente , porôm, p.iZ*me frente a
frente de um poderoso campeão , o sr. António Gonçalves Dias »
a quem o brilhante talento» o consummado saber, e o aturado es^
tudo tornaram faeil demolil-o por sua vez e collocaUo no seu antigo
estado.
Si o auctor das Reflexões se limitasse tflo somente a isso»
fácil me fora também a resposta; eu veria ler de novo a me-
moria que aqui apresentei nos uliimos dias do annode 1850 sob
o novo titulo de refutação ás suas reflexões; o auctor, porém » pro-
curou encarar a imprevidência do descobrimento do Brazil devida as
correntes do Atlântico que arrastaram as naus de Pedro Alvares Ca-
bral is noasas plagas. Graças á verdade » que deve lançar perenne-
aieote a sua luz resplandecente sobre a historia , já não foi esta
xmi 4A
SM
imprevidência devida ás tempestades que sacudindo o t)ccano impei'
liram a famosa esquadra sobre as costas do Bnizil , como repetiram
alguns hisloriadores menos conscienciosos, e como á face do piz
o proctamára o illustrado eone«ro Januário da Cunha RarKo&n , Ião
entendido nas cousas fia pátria e que tanto a mal levara ao abbade
Barbosa Machado o deixar sem repnro a asserção do nosso Ravaseo
Vieira , quando aRirmnra que o Bra/.il fora descoberto em 3 de
Maio de 1500. Assim pois vanglorio-me de que a este Instituto nâo
fosse de todo em todo perdido o tempo que lhe roubei com o captar
a sua attenção para um ponto menos averiguado da nossa historia.
Agradeço ao illusire cavalheiro os elogios que tão immerecida-
mente me tece, mais derivados da sua bondade, como quo para
mitigar a destruiçiío de minhas razões, do que ao mérito de um dos
roais obseuros de seus consócios , e ainda mais o ter annuidoa pòr
por escripto o quo aqui se passou em palestra , cujas glorias s6
pertencem a quem o cóo proveu óo dom da palavra.
Aos aabtos deixaria de boa vontade o decidir entre a discordanci*
de nassas opiniões, si as suas próprias palavras quando disse : « Ou«*
trás coBsiderações se podem fazer que se nSo resolvem , dão grand»
lua à questão que se ventila , » não nto tirassem de meo propósito ,
e nSo me animassem á pesquiza de novos documentos, a novo es-^
ludo e mais reflectidas meditações.
Para mais methodicaroenlo refutar as reflexões do meu illusiro
adversário , dividirei o seu trabalho nos seguintes pootos em que se
pretende demonstrar :
1.* Quo para a descoberta do Colombo não iníluiram as viagens
dos Seandinavos, nem o roteiro do Affansíx Sanches, si existiu ,
servindo apenasa carta deToscanelli para o confiraiar nas suas idéos*
2.* Qud são insudicienu^s os documentos em quo me baseei , que
em Portugal so tiuha conheci mento deis terras quo Pedro Alvares
Cabral descobriu , não por n^ero accaso, sias doaiandando-a» por
{«loposiio deliberado.
a.* Que a dícscobaita do BrazU não entrou no» planos do Cabral ,
e que os hi(>totiadore^ abuniam n'€»te aentido , c qu6 so eiprimem
SS7
4tí íorma lào catliegorica e terininanle, que contrastam com as fra-
des ambíguas do outros em que se procura base para opinião con-
traria.
4.** Que o deâicobrimenio foi de\'ido ás correntes do Atlântico, 6
a um erro na derrota que sobreveio e continuou depois pela coRStan-
íancia e perman<incia das cansas que o produziram.
Entrarei pois no dcsenvoKimemo da minha refutnçXo.
§ 1.»
Que para a descoberta de Colombo não iníluira'na
as viagens dos Scandinavos, nem o roteiro de Âf-
fonso Sanches, m existiu, servindo apenas acarta
de Tosr^nelli pnni o coníirm?ir nas snas idéas.
O auctor das Beflexôes querendo provar que para o descobri-
mento de Colombo não iiifluíram as viagens dos Scandinavos, re-
monta-se a essa epocha lofi|;inqua, passa cm revista as expedições
de Bjarne, fílbo de Herjulfs, e de Leif, filho de Érico, durante 06
últimos qualorze annos do século 10.**, e concluo que nào sendo a
noticia da existência das terms dn America o que induziu Colombo
a procural-a, noticia que eircumsr revendo -se nos limites de um paiz
pouco frequentado por estrangeiros, e não p.tssando do conlíccimenlo
de alguns poucos de sábios ou curiosos , muílo menos poderia influir
no descobrimento de Cabral , que para não ser devido a um mero
aoeaso, fora preciso que antes da sua viagem podesse ter conheci-
mento das terras americanas.
Bando toda a importância que merecem as eruditas HirestigaçOes
Aw 9ri)H» antiqBarios de Copenbagen , notei na mtnba lUtmoriú
que «ra hoje faeil suppòr , depois da certeza das expediç&es dos
Seandinavoftá America Septentríonal , que Co)pmbo colhesse til^uns
índicios sobre om novo continente situado a Oeste ; porém que se-
meUiantc supposiçSo nSO se baseava nem na direcção de Sudoeste
que déni á sua viagem, partindo das Canárias, nem nas palavras
388
d'aquelle que se propunha a « buscar el levante por el poDieott,
passar ádonde oacen las especiarias , navegando ai occidenle» » e
que morrera na convicção, como Américo Vespucci de ter tocada
as costas da Asin , esse continente do grande império Khatai oa
do império Mogol da China Septentrional , sem comprehender a ím-
mensidade do seu descobrimento , e portanto a gloria ioamortal que
d'ahi lhe provinha c sem ligar o seu nome a esse continente quea $ua
intrepidez punlia em contacto com a cobiça e crimes da %elha Eu-
ropa , e tanto mais que a Islândia, que Colombo \isitára, estava
privada de toda a communícaçilo com a Groenlândia, havia já dous
séculos.
Nào so infira porém que esse silencio sobre as expedições Scan-
dinavas se tornasse tão absoluto que a tradição se perdesse de iodo ,
quando apenas os factos começam de surgir da escura noite em que
tem estado sepultados; quando novos documentos trazidos ao nosso
conhecimento derramam a sua luz sobre uma epoclki que parecia
condemnada e para todo sempre ao olvido, e podem de um momenta
para outro patentear toda a verdade da historia , e nos mostrar a oaSo
que guiou o illustre Genovez na sua atrevida empreza. Já não estar-
mos n'e8ses tempos em que a imaginação apressava os descobri-
mentos, como si o dia devesse anlicipar-se á aurora; é necessário
cavar no abysmo do passado os documentos que ninda jazem nas
trevas para nos darem a luz , que nos deve guiar na solução d*ess6s
problemas, e dos quaes alguns que tem chegado no nosso conheci-
mento nos dâo tão seductoras esperanças de po^Jermos ainda coor-
denar a historia da America anti-colombiana. Ilumboldt, que tão
profundamente ha estudado a historia da geographia do nosso conti*
nentd^ lutando com as numerosas contradicções , reconheceu que
na historia da geographia era prudente, como em outras muitas
cousas, não se pretender explicar tudo(l). £ tanto mais, como
nota o illustre sábio, que tem havido descobertas geographicas
como muitas nas sciencias physicas, em que as tentativas coroadas
por. successos , porém isolados por muito tempo, tem ficado desa-
percebidos ou condemnados ao esquecimento (2).
339
Quanto á relação da vingem e roteiro do piloto do Huelva, éo
próprio^ nuctor das reflexões quem diz que não será motivo de con-
trovérsia, visto seguirmos ambos a opinião de Oviedo, que os
reputara como uma fabula.
Combinando n'estes dous pontos da primeira parte de suas refle-
xões , não deixarei de fazer algumas observações acerca da carta
de Toscanelli e suas ilhas.
A carta do illustre florentino serviu somente , segundo o nosso
consócio , para mais confirmar o intrépido Colombo nas suas ideias ;
este somente modifica a grande gloria do illustrado Toscanelli» a
quem deveu Colombo o descobrimento da America , e para com o
qual , segundo nota o auctor do Exame critico sobre a historia
da geographia do novo Continente lào ingrat«i se mostrou a pos-
teridade que quasi o esqueceu ( 3). « Foi elle, diz o illustre fillio
de Colombo, foi elle a causa mais poderosa do ânimo com que o
almirante se lançou na immensidade de um mar desconhecido > (4).
Sabemos, pelos esforços e pesquizasdo incansável Navarrette, que
foi em Portugal , em 1474, três annos antes de receber a carta de
Toscanelli, que elle concebeu a primeira ideia de sua emprcza (5) ;
mas também é incontestável quo Toscanelli nfio se limitou tão
somente a essa carta. E^^se astrónomo , cuja avançada idade nio
obstou a que se distinguisse pelos seus estudos sobre os astrónomos
de seu tempo , não só se deu as correcções d:'s taboas solares e
lunares por observações gnomonicas e do astrolábio, coroo de tudo
quanto podia facilitar o emprego dos methodos da astronomia náu-
tica, por longo tempo discutidos, mas raramente empregados até
então. Do interior de seu gabinete levou o astrónomo florentino as
suas vistas perspicazes sobre a comparação da geographia antiga
com o resultado dos descobrimentos modernos, e sobre a utilidade
pratica que o commercio europeu devia tirar d'este género de tra-
balhos abrindo um caminho directo ao paiz das especiarias com a
navegação pelo Oeste, o que também adquiriu com a pratica que
tivera com grande numero de pessoas que tinham estado n^esse paiz
de tão cobiçadas prodacções.
3A0
Dirigiiido-se a Colombo, exprimia-se af^m o veHio aslnHiomo :
• Vejo q<ie leodes o nobre desejo de passar ao paiz em «joe iiasf^em as
especiarias, c, em resposta á vossa caria, vos envio cópia da que
dirigi ha alguns dias n um amigo ao serviço do serenissimo rei do
Portugal , antes das guerras de Castella , em resposla de outra que
me escreveu do ordem de S. Alteza sobre o mesmo objeclo (6). »
Póde-se crer, diz Uumboldt, á vista d'est4 pbrase incidente « b«
alguns dias » que Colombo consultou a Toscanelli no prinoipio do
anno de 1474 , porquanto a carta do cónego de Lisboa é dalâda da
2B de Junho doesse anno (7). «
I E* sabido como e por que motivo abriu Cbristovão Colombo a
6ua correspondência com Toscanelli. O intrépido descobridor da
America havia chegado a Lisboa em 1470; e d'ahi a annos veio a
saber que o rei Dom AÍTonso V havia i)edido a Toscanelli por inter-
médio do cónego Fernão Martins uma infurmaçuo detalliada
acerca do caminho da índia pelos mares de Oeste. « Esta nOva ,
(reflecte o illustre Uumboldt) devia inquietar o homem ardenie
4]ue nutria o mesmo projecto (8). » £ Lourenço G ri naldi se en-
carregou das cartas de Colombo para Toscanelli , de rujas luzes
pensou o illustre genovez (o não se enganou) que se devia apro*
veitar ',9).
Ora , Toscanelli linha 77 annos quando fallou no cónego Martins
de seus projectos. £' pois provável , accrescenta Huniboldt (10], que
a persuasão d'ossc « brevíssimo caminho » atravez do Oceano atlan»
tico datasse de ha muito tempo em seu espirito, a Ainda que por
muitas vezes tenho tratado do brevissimo caminlio, diz Paulo Tos*^
canellí , que ha d'aqui para as índias , onde nascem as especiarias^
por via do mar, que tenho por mais curto do que o que fazeis por
Guiné, como, porém, agora me dizeis que S. Alteza pretende
alguma declaração ou demonstração, para que entenda e veja como
;Se pôde tomar esse caminho, o que mais íacil seria demonstrar com
a esphera na mão, para ver como está o mundo, todavia, para
Mior clareza , mostrarei o referido caminho em uu>a c^rla simi^
Ihanle ás de marear, c <issini a mando á Sua Alteza feita c traçada
por minha própria mão; n^ella vai indioado lodo o âm do Po«nf0<
tomando desde a Islândia o austro alé o fim de Guiné, com todas
as ilhas que estão situadas n'esla viagem , a cuja frente está pin-
tado, 6JII direitura pelo poente, o principio das índias com todas
as ilhas e lugares por onde podeis andar, e quando vos podereis
apartar do polo ariico pela linha equinocial , e por quanto espaço;
isto éf com quantas léguas podereis chegar áquelles lugares fertilis-'
siraos de especiarias e de pedras preciosas (tf). • Estas palavras (dís
Humboldt) provam suficientemente que muito antes de 1474
tinha Toscaneili aconselhado ao governo porltiguez a rota que Go-^
lombo seguiu , o que accidentalmcnlc deu lugar ao descobrimento
de um grande continente (12). £' provável que essa mesma idéa se
tivesse apresentado ao mesmo tempo a muitos liomens instruídos a
ardentemente occupados em estender a esphera dos conhecimeu^
tos. (13)
Si o alvo da empreza tinha por flm achar um caminho mais curti»
para a índia , o fim secundário era o descobrimento de algumas ilhas;
nSo quer porém o auctor das Refiexáes que as ilhas que appareoem
na carta marítima fossem postas por Toscanellí , mas sim por Co-
lombo» segundo oonclue, tanto do roteiro de Colombo, impresso
por Navarrete , como da pasi^agem que Humboldt cita do manus*-
eripto de Las Casas» quando Toscanelii é Iam CTcplicilo a esse res-
peito , pois diz a que se enconiriírá sobre a rota as ilhas que estaa
i>'esta viagem , por exemplo, a Ántilha, comas ilhas próximas á
lodia continental; por exemplo ^ Cypango^ com as ilhas com que
iraficam os negociantes do differentcs nações (14). »
£ra opinião do próprio Toscanelli que essas ilhas podiam servir
para alguma detenção ou arribada forçada por ventos contrários ov
qualquer outro incidente» que obrigasse a procurar um asylo (15). 9
Pondo em execução como hábil, intrépido e instruído marinheiro
que era, o que até então não passara de uma estéril especulação
lis gabinete (16)^ deveu Colombo a Toscanelli o que Vasco da Gamii
deie*aCovilhan, que augmentou-lhe a sua confiança , sobresabinid^
como nota Humboldt , á vista da possibilidade do êxito , provada
por arguinenlos irrocusovois , o hardímonlo da execuçSo de sèun
projectos (17) ».
Foi a carta mariíima , dirigida ao cónego de Lisboa , quo serviu
de guia a Colombo na sua primeira viagem. Assim o peosa o eru-
dito traduclor de Munhoz (18) , e Bartholomeu de las Casas a preavi
por isso como um monumento histórico (19). « Sob esta circums*
tancía, reflexiona Humbuldl, merece muito mais interesse do que
aquelle que até aqui tem merecido; Toscanelii communicando a
Colombo uma cópia de sua caria ao cónego Fernão Martins diz
claramente: « Envio outra carta de marear semelhante á que enviei
00 cónego » (20).
Na sua primeira viot^em se dirigiu Colombo por uma carta mari*
tima que tinha a bordo; navegou com a segurança de um homem
que sabia que devia achar o que buscava (21).
9 Assim , diz elle no seu roteiro de 3 de outubro de 1492 , que
ti8o queria governar barlavonteando e perder o tempo apezar de tam
frequentes indícios de algumas ilhas n'aquet las paragens, poisara
seu fim passar ás índias e si se detivesse não era isso razSo » (22).
Em 6 de outubro pretendeu Martim Alonso Pinzon que seria van-
tajoso mudar de rumo o aproar ao sud-oeste ; foi o almirante de
contraria opinião o julgou rpje Martim Alonso se exprimia assim por
causa da ilha doCypango; e objectou que a lhes faltar essa ilha não
se poderia tào cedo tomar terra, e que era melhor ir de seguida
á terra firme e na volta tocar nas ilhas ^ (23). Mais tarde a belleza
de um grupo de parceis verdejantes , no Velho Canal , perto do porto
dei Principe, apresentou-se á sua ardente phantasia como parte
d'essas innumeraveis ilhas, que se notam, dizia elle (24), em os
mappas-mundos, a extremidade do Levanto ! O conhecimento da exis-
tência de muitas ilhas não nasceu da fabula imaginada pelos poetas.
Orna a verdade , mas nSo mente a musa ,
Disse 0 lyrico portuguez (25) que como Pindaro engrandeceu as
acções heróicas de seus illustres compatriotas , e sabe-o muito bem
o erudito autor das Reflexões.
ihi
No alias do carias Calalanes da bibliolheca de Parys, que dala
de 1374, vem uma I^enJa relalíva ao mar da índia que indica a
existência de 7H8 ilhas , ricas em pedras finas e metaos preciosos.
No mappa-mundi de Martin Behaim , terminado em 1A92 , traz
de|)0is do 45*" norte aos 40** sal uma cadôa de ilhas opposta a extre-
midade da Ásia. E* nesse mappa que se acha uma citação de Marco
Polo (26) e de 12700 ilhas com montanhas de ouro, de pérolas, e
de doze espécies de especiarias. Humboldt nota que a citação de
Marco Polo não é exacta, que o viajante veneziano falia de 12700
ilhas (27)aIIudindo ás Maldivas (28). Behaim transportou esse gru-
po para o nordeste, o que influiu sobre a opiniSo dos navegantes no
fim do 15.* século (29).
Era Colombo de opinião que essas ilhas se esiendiam prolongan-
do-se para o sul, e que ahi se encontravam grandíssimas riquezas, e
pedras preciosas e especiarias. Assim ajuntava que as ilhas do canal
Viejo pertenciam ás innumeraveis ilhas que os mappa-mundi collocam
en fin dei orientCy c que elle considerava ricas em especiarias e
predras preciosos, e cria que se augmeniavam em numero para o
sul (30).
A Ásia era então geographicamente conhecida na sua parle orien-
tal e marítima pelas narrações de Marco Polo , Balducci , Pelogetti
e Nicolau de Gonti; liguravam-so innumeras ilhas ricas em especia-
rias, e em ouro, no mar de Ciu ou do Japão, da China e do
Grande Archipelago das índias.
Nasceu d'ahi sem duvida a idéa de serem tomados por ilhas os
diversos pontos do continente americano a proporção que se iam des*
cobrindo; ao passo que algumas ilhas pela sua immensa extensão
foram tidas pelo continente da Ásia; é que cada descobridor adaptava
ás suas idéas os seus descobrimentos. Os Portuguezes suppanham a
existência de muitas ilhas, que encadeadas ás que descobrira Co-
lombo se augmentavam a proporção que esse immenso archipelago
se estendia para o sul , e amda na existência de uma terra firme ,
no emlanto Colombo que sonhava com as riquezas do Oriente,
xviii 45
pensava ler locado nas cosias da Ásia abordando o Hltoral da flba
de Cuba.
Assim cincoenla annos depois de seu descobrímenlo por Pedro
Alvares Cabral, pensava-se que o Brazil era uma ilba , pois que
Barros y que escreveu antes de 1551 , o teve por uma d'essas ilh»
descobertas por Colombo, e que, dizia elle, chamavam vulgarmeDl»
os castelhanos Antilhas (31). Assim também Colombo fazia jurar
em 12 de julho de 1494 a mais de oitenta pessoas das trípolacões
das ires caravellas Nina, San Juan e Cardera , que a ilha de Cuba
era terra firme. (32)
Ora suppunha Colombo ter tocado as costas da Ásia e se lhe
afigurava ver na vasla extensão de uma ilha o continente tâo aos-
bicionado, e, buscado de tão longe, atravéz de tantas difficuldades
a par e passo de tantos perigos e tantos damnos, que o melhor
mal, na phrase poética de Camões posta na boca negra do génio das
tormentas, seria a morte , ora sonhando com essas ilhas tão nume-
rosas como as estrellas da Via-lacteá, as encontrava por toda a
parle: tanto pôde a imaginação prevenida! Assim na sua primeira
viagem pensou elle que as hervas marinhas do mar verde ou de Sar-
gaço, que encontrou vindo de Hespanha, perto dos Açores, era
o indício de uma cadéa de ilhas , que so estendia a leste das Anti-
lhas ale quatrocentas léguas de distancia das Canárias, que o mar de
Sargaço, pertencia aos baixos visinhos d'essa cadêa, e que as cor-
rentes de leste a oeste levavam esses corpos fluctuantes ao litloral do
Haity (33). Ainda na altura de 28** de lalitute e 9* ao occidente
do meridiano da ilha do Corvo, em 19 de seplembro de 1492, acre-
ditou acbar-se na visinhança de muitas terras , porém a sua von-
tade era , segundo as suas próprias expressões , continuar a sua via-
gem para as índias, porque com descanso poderia em sua volta exa-
minar tudo o mais (34).
Aos Portuguezes, no entanto , não era de toda em toda desco-
nhecida a idca da existência de uma terra fírme austral. « E' assaz
notável, diz Humboldt, que essa idéa se apresentasse ao rei dom
João II , morto três annos antes da 3.' expedição de Colombo. Her-
3A5
rera assevera, sâo ainda expressões do profundo sábio allemSo , que
Colonobo navegou para o sul (em 1498) desde as ilhas de cabo
Verde , porque queria verificar si o rei dom João tinba-se enganado
quando affirmava^ ao sul havia terra firme (35). Era, continua
o erudito Humboldt, predizer o continente antes das verdadeiras
descobertas da terra firme de Caboto e de Colombo. NSo acho nem
em Barros, nem nas Chronicas de Garcia de Rezende e de Manuel de
Faria e Souza cousa que explique a asserção de Herrera. Sabemos que
o rei dom João II de Portugal , por occasiâo da entrada de Colombo
a barra do Tejo, em março de 1493, se admirara de ver que não
eram negros os indígenas das novas terras (36). O aspecto d'esses
Índios fez talvez nascer no espirito de um monarcha tam occupado
em descobertas geographicas e tão feliz nas que os Portuguezes tenta-
vam no hemisphcrio austral , uma hypothese , que Francisco de
Almeida filho do conde de Abrantes, devia verificar. »
Era bastante esta coincidência de idéas para me convencer que
Cabral afastando-se das costas de Africa, empegando-se tanto, com
direcção ao sul, teve em vistas verificar ainda que de passagem a
existência d'essas ilhas tão falladas então , e tanto que descobrindo
o continente americano e pisando em terras do Brazil , pensa ter
tocado n'umad'essas ilhas que os Hespanhoes vulgarmente chamavam
Antilhas, como refere João de Barros , e toma posse plantando a
cruz hasteada sobre o escudo das armas portuguezas em uma pe-
quena ilha , em vez de fazel-o sobre o continente , pois era tudo o
mesmo a quem tudo quanto via tinha por ilhas ^ si bem que era
fama corrente em Madrid que os Portuguezes accreditavam na possi-
bilidade da existência não só de muitas ilhas como ainda de uma
terra firme. E' pelo menos o que se deprehende da carta que ao
seu almirante escreviam os reis catholicos em 5 de septembro de
1493, quando lhe diziam: « £ porque depois da vinda dos Portu-
guezes a pratica que com elles encetamos alguns querem dizer que
o que está em meio desde o cabo que os portuguezes chamam da Boa
Esperança, que está na derrota que levam agora pela Mina de Ouro
e Guiné, abaixo, até a raia que dissestes que devia vir na bulia do
3A6
papa» poQsam que podorá haver ilhas e ainda torra firme, que se-
gundo a parte do sol quo estão , se crêem que serão mui proveitosas
e roais rícas que todas os outras; e porque sabemos que d'isso sabeis
nelhor que ninguém, vos rogamos que nos envieis já o vosso parecer
sobre esse objecto , porque a convir e a ser assim , como aqui
pensam que será, se emendará a bulia. (38) »
Si a tão eloquente trecho juntarmos o mappa-mundi de qoe
falia o mestre João, physico do rei dom Manoel, em sua carta ,
datada de Vera Cruz a 1 de maio de loOO , noticiando-Ibe a nova
do descobrimento do Brazil , e pelo qual dizia eUe que poderia o
feliz monarcha ver o sitio da terra descoberta , e ainda os dous
antigos mappas geographicos , um que pertenceu ao infante dom
Pedro, irmão do illustrado geographo o infante dom Henrique» e
outro quo foi do cartório reni do niosteiro de Alcobaça , com as suas
singulares demarcações do cabo da Boa Esperança e da terra do
novo mundo antes dos descobrimentos de Bartholomeu Dias e de
Colombo, não poderemos deixar de acreditar que alguma cousa
houve de mais quo influiu no descobrimento d'esta terra abençoada ,
além das correntes que insensivelmente vieram trazendo as naus do
grande Pedro Alvares Cabral , como pretende o illustre autor das
Reflexões,
Não concluirei esta primeira parte da minha Refutação sem fazer
reparo n'uma passagem doauctor das Refkxões. Diz elle « que si
a recusa do rei dom João 11 foi fílha áe cálculo , á vista do resul-
tado que teve, isto ô, o descobrimento do Brnzil, podemos aquila-
ta-lo de bem desgraçado ; mas antes d'isso vem a pello perguntar,
qual o motivo por que o rei de Portugal , recusando a Colombo o
fraco auxilio, que esto lhe pedia, tentou , sem a sua intervenção,
realisar o projectado descobrimento? Esta bypothese, continua o
auclor das Reflexões , não ó admissível , quando consideramos que
não ha razão alguma pnrn suppôr que Colombo tinlia sido mais bem
conceituado em Portugal, que regeitou os seus serviços, do que na
Hespanha, onde, antes que elles fossem accei los, os homens pru-
dentes o sensatos so riam do forasteiro , quasi mendigo , que pro-
547
meuia aos reis gloriosos de Aragão e Casleila montões de ouro que
deslumbrassem a Europa. » E para mais corroborar as suas asser-
ções cila o auclor os, trechos , oivados de ódio e de ínsulia; , de JoSo
de Barros , como si a Hespanha » que logrou dos descobrimentos
do grande genovez, nào tivesse lambem na pessoa do historiador
Francisco de Gomara outro João de Barros para insultar o prolo-
nauta do mar tenebroso. O ódio que se resenle nas palavras do
historiador portuguez tem a mesma origem que o que resalta das
phrases do historiador hespanhol. Humboldt diz que o ódio do
Gomara contra Colombo nâo era pessoal , mas o eITeito d'esse pa-
triotismo exagerado e pouco philosophico , do que a historia das
descobertas e invenções dos mais modernos tempos offarece tintos
exemplos (39), eque o grande historiador portuguez, deixando um
livre curso ao ódio nacional e ao pezar de ver passar tantos ihesouros
ás mãos dos hespanhóes, o pinta como um homem fallador e glo-
rioso em mostrar suas habilidades , e mais phanlastico e de ima-
ginação com sua ilha Cipngo (40). »
<i Portanto , continua o nosso illustrado consócio, na recusa que
em Portugal soíTreu o grande navegante não entrou cálculo ; diga-
mo-lo em desaggravo do príncipe illustrado, que então reagia
aquelíe paiz , o que houve foi antes falta de fó e de convicção. »
Ninguém ignora que Colombo deixou mysleriosamenle Lisboa , e
o quanto dom JoSo II se resentiu de sua partida. O que porém mais
admira ó o silencio em que o auctor das Rcfkxões passa a carta que
o rei escreveu de Aviz a 20 de março de 1488 ao grande navegador
dando-lhe o signiGcante titulo de especial amigo, e instando para
que tornasse a seu reino , carta que Ggura nas pagina? da memoria
refutada, eque por certo nâo era escripta por quem tinha faltn de
fó c de convicção nos projectos de Colombo, que eram patentes ao
rei, tanto pelas suas próprias communicaçôes como pelas informa-
ções de Toscanelli.
E a nao serem os amores e os quatro mezes de gravidez da celebro
dona Beatriz Enriquez, mãi de dom Fernando Colombo, filho na-
tural do almirante, nascido aos 15 de agosto de 1488 , roais do que
3A8
a persuasão e a boa amizade do bispo de Falência, dom Diego de
Beza » que o impediram de voltar a Lisboa e de aceitar os offere-
cimentos do magnânimo dom JoSo II, quem sabe si ainda assim
teria Colombo realísado os seus planos em gloria e proveito da
pátria dos Bartholomeus Dias, dos Gamas e dos Cabraes? (41)
« Na verdade 5 ajunta o erudito António Ribeiro dos Santos ,
aquelle principe estava desejoso de proseguir a carreira que o infante
tinha começado pela costa de Africa ; e estava cheio da leitura das
Viagens de Marco Polo, de Nicolau Gonti e de outros viajantes da
Ásia, que muito lhe atiçaram os desejos de abrir por mar caminho
novo para a índia Oriental; fazer voltar o commorcío d*ella para
Portugal e estancar o monopólio das especiarias que fazião os Árabes
e Turcos e os Venezianos por Alexandria , principal recurso de seu
poder e riqueza. Esta era só a empreza que elle considerava digna
de seu animo real e capaz de lhe trazer em direitura os thesouros
do Oriente e fazer revolução no curso do continente e no estado
politico de toda a Europa , em muito proveito doestes reinos. E tão
acceso andava neste descobrimento da índia, que sem embargo de
ter já reconhecido até além do cabo da Boa Esperança por mar, o
quiz também fazer por terra em 1486, enviando viajantes encarre-
gados d'isso; e em verdade tantos desejos tinha de a descobrir^ que
havia concertado e prestes uma armada para este fim , com os regi-
mentos feitos 6 escolhido já para capitão-mór d'ella o mesmo Vasco
da Gama. (43) »
Colombo tinha o seu plano e o rei dom João 11 possuía os seus ,
parecendo-lhe mais fácil dobrar o cabo das Tormentas que já o era
da Boa Esperança , do que atirar com as suas naus ás vagas de um
mar conhecido pelo nome de Oceano tenebroso, tanto mais 'que
tão mal se havia dado com os ensaios que projectara. Depois dos
descobrimentos do Vasco da Gama e de Christovam Colombo dissi-
param-se os receios, e os perigos começaram a ser compensados com
esse grito que alegra as tripolações e passageiros; até ordenou-se
em regimento que a segunda esquadra se afastasse das costas afri-
S&9
canas, e talvez também se ordenasse verbalmente para onde se devião
aproar as naus n'esses desvios.
A corte que regeitára os serviços de Colombo como uma burla,
segundo a sua própria expressão (44) , havia de emprehender , sem
cohonestar apparentemente , uma empreza semelhante à sua? A
gloria nacional aconselhava, abrasava, inspirava, levava lodosos
ânimos para es.^s atrevidas emprezas; mas o povo que, além de
concorrer com pesados tributos , via perecer tantos dos seus n'essas
viagens de descobrimentos , aos quaes o papa Martinho V concedeu
larga indulgência plenária (45) , o 4>ovo murmurava e amarga-
mente (46). Camões, tão grande poeta como historiador, perso-
nificou 08 seus murmúrios n'esse velho de venerando aspecto , cheio
de um saber adquerido á força de experiências, que fica á margem
do Tejo quando Gama se empega nos mares que o conduzem ao
esplendido Oriente (47).
S 2.**
Que são insufficientes os documentos em que me
baseei, que em Portugal se tinha conhecimento
das terras que Pedro Alvares Cabral descobriu ,
não por mero acaso , mas demandando-as por pro-
pósito deliberado.
O nosso illustrado consócio, procura provar nesta segunda perto
de sua obra que são insufficientes os documentos em que me baseei.
Estes documentos sào:
1.** A carta datada de Barcelona a 5 de septembro de 1491 pelo
rei de Hespanha ao seu almirante , em que se trata da bulia do
papa Alexandre VI.
2.* A carta do bacharel mestre João, datado do l.*" de maio de
1500, escripta da frota de Pedro Alvares ao rei de Portugal, na
oocasiào do descobrimento do BraziK
3â0
Z.' Os map|ia-muiiJi do iaf^nle dom Pairo, ãúqm dy Caímbrti^
o do cariorío de Alcoboça, que perionceram ao infanie dora Fer*
nanJo, filho de dom Manud, singulares po^as dcinorcaçuos qya
eonlíniiato do cabo da Boa Esperança e do aovo mundo aniaft do
descobfimeíilo do Barlbolaníyu Dias e do Chrístovaoi Columbo*
4." A viagem M Corle-íleal o os de&wbritnonlos th Behatm*
5." A carU) (]U0 ToscaoclJi dirigiu no conogo da Sé \\t Listioi|
FerníiQ J^Jarijtis*
6." O HíTOj qm o aucior mpim ser o roleiro da primuira ria»
gem do Colombo. ^
Comt^ça o itUiâtre copsocio por quârer nioslrar tt pouca impor*
tancià qm m^tttàm os docum^nlos quo âpreseniei mi abono da mi*
nba optnbo^ o sai» dios a tKiIla ila domarcaçáo da Jinba dú 4 do '
maio dti 149^ o a carta datada da Borcelona a 6 dosoptembro do
mesmo anuo em ijue orei Jellespanba consultava a (Iulond)o si seriAJ
conveniente emendíir-se essa bulia, por isso que, com a pratica que
tivera com alj^uns Portugueses viera no conhecimento de que elles
criam no exisle.icia de algumas ilhas c ainda de uma terra Ormc
Quanto ao nosso amável consócio pouco ou nada lucrou a Hespa-
nha com a emenda da bulia, [kjt isso quo segundo as suas prés-
crip^OiíS lho pertenciam as terras novamente descobertas. Eu vojo
pelo contrario qtie o dosejc^ que havia da parte da curte de Hispanha
era excluir os portugue^^eâ do dtretio dos descobri mentos HOS HUire
de oeste, ainda mesmo n'esses mares que lhes dava a bulia to-
mada a linha a rcm léguas ao oeste dos Açores ou cabo Verde,
como pouco mais ou menos indicara Colombo a mm reaes pro-
f|0c toros»
<^ A recepção solcmne que os soberanos líie fizeram, diz Hum-
boldi, teve logar uo mox de abril o já em 4 th maio do m^mã
nnno . eí^ íamo^ butla qne fíxou a linha de demarraQlo a Cdm le-l
guas de distancia das ilhas dos Açores e do cal)o Verde linba sido
.issignada pelo papa Alexandre VL Jamais negociação comacurlo do i
Roma terminou com liinla mpidc^. Penso quo o motivo por que t^
linha n3o íoi tirada pela mais occidental dasilhns dos A^ore^ (Ftoréi
361
e Corvo ) mais eem léguas a oeste » deve ser buscada nas idéas dê
geographia do próprio Colombo. » (48)
A opposiçilo que da parte dos Portugueses encontrou a bulia que
fixava a linha de demarcação, foi devida ^ segundo o nosso con-
sócio , não á perspicácia do rei dom João 11 , para incluir na soa
demarcação o Brazil » mas para que dando-ihes as bulias anteriores
o senhorio e conquista das terras que descobrissem e ás quaes não
tivesse chegado a luz do Evangelho , vinha a nova bulia a restringir-
lhe tão amplas concessões, r Si assim não fosse , diz o nosso con-
sócio, seria difficil eiplicar-se o motivo por que se recusaram oi
portuguezes a acceital-a em um tempo em que era tão respeitada a
autoridade pontificia , nem se poderia conceber como conseguiram
o tratado de Tordesilla e a escríptura de Saragoça , que estende-
ram em favor dos Portuguezes as raias do lote que Alexandre VI
lhes fizera. » Ha considerações de muito peso para oppôr ás refle-
xões do nosso consócio. A primeira , é que os portuguezes se nÍo
curvavam tão facilmente á tiara ; e a segunda , é que a origem het-
panhola de Alexandre VI podería-lhes trazer , coroo lhes trouxe ,
uma tal ou qual desconGança a respeito da imparcialidade de seu
^uizo. Acatava-se a auctoridade pontiGcia mas nSo se seguia á
rijp as suas injustas deliberações, nem eram tão cegos oe seus
contemporâneos que não testemunhassem a sagrada cadeira de Sfo
Pedro salpicada de horríveis nódoas.
Era o fim de ambas as nações possuirem as terras das especiarias.
Dma caminhava pelo oriente, outra pelo occidente^ e entretanto
Portugal se oppunha a que a linha fosse tirada a cem léguas a oeslo
dos Açores e cabo Verde , só porque se cria lesado nas amplas con-
cessões das bulias anteriores e em Tardesilhas sacrificava as amplas
concessões ás 370 léguas para o oecidente das ilhas de cabo Verde»
e essa carta e essa bulia são documentos de nem um valor para a
opinião cx)ntraria? Era apenas o rochedo deserto de Santa Helena,
que fazia impressão no animo do rei deHespanha, « e ajunta o
nosso consócio 9 tanto mais que os Portuguezes mandavam sorra-
teíramente caravellas ao descobrimento. » O descobrimento de ornai
irni 40
352
ilhas nos mares africanos impressionara o rei da Hespanlia • en-
tretanto debaixo d'essas impressões rcdia n Portugal na demam-
cHo dos mares de oeste. Os Porluguezes respeitaram a auctorídade
pontiticia e obtiveram o tratado de Tordesilhas que alterou a bulia
de Alexandre VI» que elles recusavam aceitar.
As amplas concessões obtidas por anleriores bulias da parte dos
Portugnezes e tào amplas^ que segundo o nosso cimsocio pareciam
iliimiladas, parece-me que nào tinham essa amplidão que se quer dar.
Martinho V tinha concedido á coroa portugueza o dcscobrimenlo e
a conquista de todas as terras ^ mares e ilhas adjacentes para o
Oriente e para o meio dia ; conquista que os papas Calisto III e
Sixto IV confirmaram por novas bulias ^ exceptuando, este as
ilhas Canárias em favor dos reis catholicos e aquelle concedendo ao
infante dom Henrique, como gram-mestre da ordem de Christo , o
provimento de todos os benefícios ecciesiasticos nas terras descober-
tas. (49) Essas amplas concessões pois limitavam-se ao Oriente e
ao meio dia ; a opposiçào que a bulia de Alexandre VI encontrou
nos Porluguezes teve outra origem e talvez que a historia um dia
nos revele com toda a sua luz ; pelo menos Mufioz descobriu nos
arcbivos de Simancas uma nova bulia da concessão das índias da-
tada de 3 de maio de 1493 e inteiramente semelhante á de 4 de
maio conservada nos archivosde Sevilha, com a diíTerença , porém »
de que na de 3 de maio, nao se trata d'es$a linha de demarcação
designada na bulia do dia seguinte, faz-se apenas concessão aos
ruis catholicos das ilhas e terras firmes recentemente descobertas por
Ghristovam Colombo, e que as possuiriam cora os mesmos privilé-
gios e direitos que os papas tem concedido aos reis de Portugal.
Si dom João 11 se oppoz á execução dn hiilla por que tolhia as am-
plas concessões que tinha para novos descobrimentos, então elle
projectava alguma expedição aos mares de oeste , e nào tinha tào
pouca fé como pretende o nosso consócio, nos planos de Colombo;
si a sua influencia não conseguiu na Santa Sé que essas amplas
concessões lhe fossem coarctadas de um dia para outro , claro está ,
que a origem he^^panhola do papa influiu de algum modo na repar-
3Õ3
lição do mundo entre as duas coròns, mas lào importante questão, coroo
nota Humboldt , só poderá ser elucidada nos archivos romanos. (50)
Nero a carta dos reis catholicosde 5 deseptembro de 1493, nem a
bulia de Alexandre VI de 4 de maio d'esse anno foram apresentadas
como documentos por onde se podesse provar ate a evidencia o co-
nhecimento da existência d'esto ponto do mundo pelos Portuguezes,
como quer o nosso illustrado consócio. Cria-se na possibilidade de
sua existência e as provas d'essa crença alri estão na carta dos rei
catholicos» na impugnação da bulia de Alexandre VI, e na con*
cessão mais ampla que a coroa portugueza obteve nos mares de oesto
para os seus descobrimentos , quando mais que nunca estava empe-r
nhada na navegaçfio do Oriente.
A' leitura da carta do bacharel mestre João, parece mais do
que todos os outros documenlos ter por alguns mon^entos abalado as
convicções do nosso illustre consócio. Já o auctor das Refkxõei rs
nio admira que n'essa carta ou n'esse tempo se Iratasse da exis-
tência de ilhas ou terra firme, por se ter propalado na Europa,
logo após as descobertas de Colombo que era continente o que elle
achara. « Nso seria muito pois , diz o auctor-, que os Portuguezes
a suspeitassem também » e logo ajunta, como que arrependido do
bom caminho que ia levando: « No emtanto não creio, quo sirva
essa carta , coroo quer o nosso consócio , para comprovar a asserção
dos reis oatholicos de que os Poriuguezes suspeitavam a existência
de muitos ilhas e ainda de terra firme; o q^ie pretendia o physico
e cirurgião da armada de Pedro Alvares era dar uma idéa ao seu
rei da terra descoberta por elle e seus companlieiros. » £sta plirase
<i dar uma idéa ao sou rei da terra descoberta » diz o digno auctor
que reduz-se a informar si Vera Cruz era ilha ou continente. O ba-
charel mestre João foi muito além dos desejos do nosso illustre
consócio, porquanto propendendo erraciamente, segundo a interpre-
traçào que deu aos signaes dos Índios para a opinião de que era ilha,
e em numero de quatro , além de outra, vinham indios contrários a
pelejar com os indios que hospedavam tão pacificamente os Portu-.
guezeS) apellou ainda para ote^itcmuuho de um mappa-mundii o
35A
que por carto ja não ó conlenlar-se com dar uma simples idóa da lerra
descoberta. Á vista doeste documento , exclama o auclor das Jtcjjb-
xõe$: c O que é porém mais signiflcatiro é que o physico da frola
de Pedro Alvares recommenda ao rei que mande ver o mappa-
mundi que possuia Pedro Vaz Bisagudo ! »
Ainda uma segunda vez a carta d'esse bacharel, astrónomo e me-
dico como Toscanelli , abalou as suas convicções , e íez eUe a si
mesmo esta interrogação , que prova que começou a acreditar na
possibilidade do que quer que fosse do intencional em semeikanie
descobrimento. « Que mappa era esse, pergunta o illustrado aaelor,
para o qual se chamava a particular attençáo do rei? Teria algoma
cousa de notável ou achar sc-hia n'elle consignado a terra de Ca-
bral, posto que se nâo certiGcasse si era ou nào habitada? »
A dúvida volta, e o auctor chama-se a ignorância , e deplorando
que a carta nâo fosse escripta do modo mais intelligivel , abraça de
novo a sua velha opinião; eis as suas palavras : « Nada sabemos e
muito pouco se pôde conjecturar d'este documento, que poderia ter
sido escripto do modo mais intelligivel. » Alé aqui resplandece a
consciência cândida do nosso consócio ; mas d'aqui por diante é
necessário torcer o sentido das palavras e dar nova interpretação á
carta do physico do rei dom Manuel. Mestre Joào escreveu d'esta
maneira : « Aquel mappa-mundi non Gertyfica esta terra ser ha-
bytada o no es mappa-mundi anliguo. » Eu li : por^m no mappa
nào se certifica ser esta terra habitada e não é mappa-mundi anti-
go. • O auclor das Reflexões leu pelo contrario : « Nâo certiGca ser
esta terra habitada ou nào : ó mappa-mundi antigo. » E' uma
questão de interpretação da melhor collocaçâo de uma e outra vir-
gula , ao quo annúo de boa vontade , adoptando a lição do nosso
illuslre consócio.
« Mas por que motivo, pergunta o auclor, ou com que iim ,
chamaria o physico mestre João a aliençâo do rei para o mappa
que possuia Pêro Vaz ? » O illustrado consócio para refutar a mi-
nha resposta põe a sua pergunta dando-lhe uma interpretação que
não tive em vista. Eu disse que tinha sido para que o rei visse nelle
355
a altura da terra novamente descoberta , e a palavra altura serviu
para torcer o sentido da phraso exposta assim isoladamente ; si me
é dado explicar o sentido das minhas expressões , eu qiiiz dizer^
para verificar n'elle a altura da terra descoberta , para ver si estava
situada aos 17." do polo antartico , si coincidia a sua posição natu-
ral com a sua collocaçáosobreo mappa. Temeroso do demorar-seem
reflexionar sobre tâo iniportanlo documento o auctor abandona a
questão , dizendo quo entende quo o physico mestre João advertia
ao rei que não procurasse aquelta terra no mappa que elle indi-
cara. Assim, cabe aqui a interrogação do illuslrado consócio. « Mas
por que motivo ou com que fim chamaria o physico mestre João a
attençào do rei para o mappa que possuía Poro Vaz? » Si era para
quo o rei nào procurasse n^elie o sitio da terra descoberta , escusado ,
bem escusado era fallar n*um mappa que possuia esse Pêro Vaz
Bisagudo , nome que apenas apparece na carta do bacharel mestre
João , pois não é crivei quo o poderoso monarcha dom Manuel não
possuísse um mappa-mundi, apezar do auctor das Refleooões que*
rer fazer ver quão raros eram enláo semelhantes instrumentos geo-
graphicos, e se contentasse com saber quo Pêro Vaz possuia um,
mas que não procurasse lá a situação da terra por ser cousa escu-
sada. £' uma interpretação tão forçada quo a<imira tenha por auctor
o nos^o consócio» até aqui lógico nas suas illações, e tão profundo
meditador sobre as cousas da nossa pntria , qualidades quo não
pouco realce e lustro dão aos cscriptos devidos a sua ponna , e que
por certo a não querer acreditar que n'um mappa-mundi de quo
era possuidor em Lisboa esse Pêro Vaz se fizesse menção da terra
que elles descobriram <, habitada ou não, o que é questão secunda-
ria, melhor fura conscrvar-so n'aquella apparente ignorância,
quando disse, depois (h; interrogar-so sobro a sua importância tão
saliente que se chamava a altenção do rei sobre elle: « Nada sa-
bemos e muito pouco so pódc conjecturar d'esso documento , quo
poderia ter sido escripto de modo mais intelligivel. » (51)
A Memoria do erudito académico António Ribeiro dos Sanctos
acerca dos mappa-mundi do infante dom Pedro, duquo de Coimbra
356
o (Ju carloriu Jo mosteiro do Alcobaça, que pertenceram ao infante
dom Fernando, Olho do rei dom Manuel , apenas contlrma na opi-
nião do nosso consócio a raridade dos mappa-mundi n'aquelle tempo*
porquanto o condigno auctor das Reflexões pede permissão á aca-
demia real do historia portugueza para duvidar das demarcações
que continham do cabo da Boa Esperança e da terra do novo mundo
com a indicação do estreito de Magalhães antes dos descobrimentos
do Bariholomeu Dias , de Christovam Colombo e de Fernando de
Magalhães , nào obstante a auctoridode de António Ribeiro dos
Sanctos. Doesta maneira desembaraçou -se o nosso consócio das
grandes didiculdades que se antepunham ao livre curso de sua opi-
nião. Também Voltaire disse, que não fallaria desse cidadão de Nu-
remberg que, segundo o que se conta fabulosamente, fora em 1460
ao estreito do Magalliães. Mas, Humboldt juntou á asserção do
auctor do Essai sur les maurs estas sabias reflexões : « Uma preten-
ção tão absurda e entretanto muitas vezes repetida , mereceria
pouca allenção si não houvesse na vidado Magalhães, como na
relação da expedição d'este navegante por Anlonto Pigafelta , alguma
cousa tão extraordinária, que parece do dever do historiador
submelter um lai problema a uma discussão profunda » (52). Assim
pois o Instituto ha de permillir que eu pelo contrario me demore
na apreciação de tão celebres documentos , porque si não obtiver
completa vicloria mostrarei todavia que me assiste alguma razão
eqvie n'elles ha pelo menos alguma cousa de veridico quanto a estas
demarcações, mormente á do cabo da Boa Esperança.
O e.ximio poela Iradiiclor do Horácio , o erudito académico An-
tónio Ribeiro dos Sançlos occupou-so tanlo com a tradição d*esses
mappas que não só escreveu a Memoria, que vem nas obras da Aca-
demia portugueza, e da qual dei conla no meu trabalho (53) ,
como que voltou ainda a seu assumpto com novas reílexões, depois
de mais acurado estudo, com a sua memoria que está na Historia
e memorias da Academia real das sciencias de Lisboa, e que á
primeira vista me pareceu uma reproducção d\nquella.
Sebastião Francisco de Mendo Trigoso a quem coube as honras
857
do fallar em nome da Academia real na sua sessão magna de 24
de junho de 1817 assim se exprime a respeito dos trabalhos de seu
incansável collega, que tSo interessado se mostrou em intcirar-se ha
liistoria do descobrimento da America : « Fazem parte do moio vo-
lume da collecçáo académica que este anno se publica , três memo-
rias que o sr. António Ribeiro dosSanctos^ tinha entregado lia muito
tempo , mas que do novo retocou e augmentou ; tendentes todas a
provar que algumas partes da America eram conhecidas anterior-
mente ao descobrimento de Gollon , e que este celebre navegador
com razão foi de tempos a tempos perturbado por afguns cscriptorei
na posse 9 cm que geralmente se suppunha estar, de tão assignalada
primazia. Já a Academia de Copenhague, desejando pôr tlm a esta
controvérsia sobre uma das epcchas mais notáveis da Historia mo-
derna 9 tinha proposto um programma em que convidava os sábios
a ajuntarem todos os indicies , em que se funda a opinião da an-
terioridade d'dquelle descobrimento ; o isto foi o mesmo quo fez o
sr. António Ribeiro , antes de ter apparecido aquelle projecto na
capital da Dinamarca.
« O modo por que elle encara esta questão , faz-lho involver
nella outros factos « que servem a elucidal-a ; assim a primeira
memoria é destinada a provar que o uso da bússola data do sé-
culo anterior ao de Flávio Gioja, que nasceu cm Amalfi pelos
annos de 1300: e que também são do muito maior antiguidade
do que commumente se cré muitos dos outros instrumentos marí-
timos e a applicaçào do conhecimento dos astros de que se serviram
os Phenicios, os Gregos, os índios, e os mesmos Árabes. Estes
meios e sciencia náutica fazem já desvanecer muito do maravi-
lhoso que se pôde achar nas viagens pelo mar largo, anteriores ás
nossas e ás de Collon ; e por isso essa Memoria serve como de proe-
mio á segunda , em que se recapitulam os testemunhos contra a
prioridade altribuida ao mesmo genovez.
« Não pára porém aqui o sr. António Ribeiro , e depois de ter
mostrado que já eram conhecidas algumas paragens da America sep-
tentrional , pretende provar em uma terceira memoria que também
358
o eram outras da meridional c entro cilas o celebre cslreílo de Ma-
galhães;, com o que ficaria vindicada a authenlicidade dos decan-
lados mappas do infante dom Pedro , duque de Coimbra, e do car-
tório de Alcobaça, onde é fnma que de tempos mui rennotosse
achava nquella demarcação. É no aucfor que se deve ver as razões
em que elle fund» esta opinião, que n*um simples extracto perderiam
muito da sua forca. » (54)
Ou o nosso erudito consócio nâoadmitte o testemunho da historia, ou
cntiio não prestou toda a attenrào ás palavras do abalisado académico
portuguez. Duas foram as memorias qno António Ribeiro dos Sanclos
apresentou á academia real das sciencias de Lisboa e que figuram nas
suas publicações. Na primeira tratou o auctorda possibilidade etero-
similhança da demarcação do cabo da Boa Esperança e da
terra do novo mundo nos dous mappas do cartório de Alcobaçm
e do infante dom Pedro ^ duque de Coimbra^ antes dos deteo-
brimentos de Bertholomeu Dias e de Christorão Colombo. Eis as
suas palavras acerca de sua existência : « Os estudos da geographia
e da náutica tendo começado de reviver no século XV em muitas
parles da Europa, não deixaram também de excitar em Portugal a
curiosidade de algum dos nossos para se darem ao conhecimento
d'estas sciencias ou procurarem havê-las dos estranhos: d'esta nossa
applicaçiío scicntifica n^aquelles tempos, bons testemunhos foram
os dous mappas de que se falia em nossa historia , um do infante
dom Pedro, duque de Coimbra e regedor do reino na menoridade
do sr. dom AfTonso V , c de quo dizem se servira seu irmão o infante
dom Henrique p^.ra seus gloriosos descobrimentos maritimos, e
outro que fora do precioso cartório do Alcobaça , que veio ás mãos
do infante dom Fernando , (ilho do sr. rei dom Manoel : e porque
cllos eram notáveis pelas augustas mãos em que estiveram e pelas
5ii!gulares demarcações que n'elles vinham do cabo da Bôa Espe-
rançai e da terra do novo mundo , antes dos descobrimentos de
Bartholomeu Dias e de Colombo, entendemos ser matéria curiosa
c interessante pra d'oIla se fallar em beneficio da nossa historia ,
dizendo alguma cousa da sua existência e demarcação ; e removendo,
359
quanto em nós está, alguma duvida que pode haver n*esta maté-
ria. (55) »
Na segunda memoria que tem por titulo Da possibilidade e
verosimilhança da demarcação do estreito de Magalhães no
mappa do infante dom Pedro 9 procurou o auctor aprofundar
os seus estudos acerca de um facto de tanta transcendência, e n9o
admira que o nosso consócio duvide das demarcações contidas n'e$tes
mappas , quando o próprio António Ribeiro dos Sanctos é o primeiro
a confessar que grande motivo é para duvidar da existência e authen-
ticidade do que principalmente contém a demarcação do estreito de
Magalhães 9 o que pôde admirar a uns e fazer vacillar a outros;
eis as suas expressões : « Havendo tratado em uma memoria par-
ticular da possibilidade e verosimilhança da demarcarão do cabo da
Boa Esperança , nos dous mappas do cartório de Alcobaça e do
infante dom Pedro, duque de Coimbra , passamos agora a fallar da
possibilidade e verosimilhança da outra demarcação do estreito de
Magalhães y que só se acha no do infante doai Pedro, ainda mais
notável que a primeira. Principiamos confessando que grande mo-
tivo é, para duvidar da existência ou authentícidade d'este mappa,
achar-se n'elle demarcado aquelle Estreito, o que (lóde admirar a
uns e fazer vacillar a outros.
Gomo admittir ou suppor facto de longa navegação para a Ame-
rica meridional , como ora natural que houvesse antes do descobri-
mento de Fernando de Magalhães , para d'elle resultar a singular
demarcação d'aquelle estreito, para assim se signalar no mappa do
nosso infante?
Seja-nos dada a liberdade de discursar um pouco sobre este
assumpto e de resolver, si nos fòr possivel, as difficuldades. NSo
pretendemos defraudar com isto a gloria de Magalhães , que será
sempre grande e magestosa aos olhos do universo, de qualquer modo
que se considere a sua navegação; mas nfio o oíTendemos, si em
matéria (si tQ^n sido. e ainda é hoje controvertida de alguns sábios)
da originalidade doeste descobrimento tomamos por outro caminho
mui diverso do que até aqui se tem seguido (56). »
xvm 67
300
Eu já disse que a existência de semellianles documenlos não deixa
de ser muito importante para que passe desapercebida , o que o
descuido, porém, com que os nossos antepassados escreveram dis
cousas mais notáveis da nossa historia , invertendo muitas vezes a
veracidade dos factos, foi causa a que por muito tempo se olbasM
cora pouca importância para ella e se recebesse o que eslava escripto,
sem mais critério, sem que se notasse nas encontradas asserções com
que se contradiziam a cada passo , tal qual succede com o descobri-
mento do Brazil, que cada um attribue ás causas que mais acar-
tadas lhe pareceram a poder produzir tão extraordinário aconteci-
mento nos annaes portuguezes, e fez que esses documentos cabissem
em esquecimento.
Doestes dous mappas é o mais celebre o que pertenceu ao ioranle
dom Pedro, não só por ser o primeiro mappa ou carta geograpbica
de que faz menção a historia portugueza, como por conter a indicação
do estreito de Magalhães, quando o que foi do cartório de Alcobaça
só menciona o cabo da Boa Esperança e da terra da America.
O príncipe dom Pedro o levou a Portugal de volta de suas pere*
grinações e viagens e d'elle assaz se aproveitou o infante dom Hen-
rique. Suppõe-se que o houve do? Venezianos, de quem recebeu o
livro das Viagens de Marco Polo, que mereceu ser vertido em
portuguez por Valentim Fernandes, e se publicou cm Lisboa em
1502. Tanto o Iraduclor portuguez no prefacio da sua traducção^
como João Baptista Ramu^io no seu discurso sobre a primeira e
segunda carta de André Cursa. i, dizem ter pertencido á casa do
thesouro de Veneza. È provável que o infante não obtivesse senão
uma cópia, ignora-se porém aonde, quando e por quem foi elle
delineado, mas ha dados para se crer que não é o mappa do infante
cópia do do cartório de Alcobaça , como pretende o padre Cordeiro
na suallistoria insulana, pois nota António Ribeiro dos Santos quo
não combinam entre si as demarcações ; e ainda mais, que feita a
conta, o de Alcobaça já existia em 1408, sendo pojtanto anterior
ao do infante dom Pedro, que só poderia tê-lo levado para Portugal
em 1438, quando voltou áquelle reino.
S61
Porque, porém, duvida o nosso consócio das demarcações conti-
das n'esses m^appas apezar da aactoridade de António Ribeiro dos
Santos? O académico portuguez baseou-se nos historiadores das
cousas de sua pátria , e nos apresenta os testemunhos de António de
GalvSo, que examinou muitos documentos e adquiriu grande somma
de conhecimentos para a confecção de seu Tratado dos descobri-
mentos antigos e modernos , e nelle refere que o infante dom Hen-
rique se aproveitara de tào importante padrão, o Dr. Gaspar Fruo-
tnoso na sua obra Saudades da terra , quando trata do descobri-
mento das ilhas, Manuel de Faria e Souza na sua Europa por tu-
gueza e o padre Cordeiro na sua Historia insulana. Quanto n&o
ganhariamos nós si o nosso consócio com os conhecimentos que tem
da historia da geographia do nosso continente não se contentasse em
guardar as suas razões e no-las communicasse com aquella eluci-
dação que costuma a emanar de seus raciocínios? Como, porôm , não
o fez permittir-me-ha que persistindo nas minhas opiniões, as reforce
com as leituras que procurei obter a respeito.
António Ribeiro dos Sanctos foi o primeiro a não aceitar sem exa-
me a existência de taes demarcações, e mormente da do estreito de
Magalhães, que, como já disse , só se achava no mappa que perten-
ceu ao infante dom Pedro, pnra isso, interroga-se a si próprio,
perguntando : « Sendo o estreito denominado de Magalhães tão
remoto do nosso continente e d'clle separado por tno longas marés ,
é claro que a sua demarcação no mappa do infante dom Pedro, que
veio a Portugal em 1438 não podia deixar de ser resultado do facto
de alguma viagem, que lhe tivesse precedido para aquellas partes
do novo mundo. Era esta navegação possível naquelles tempos?
Houve algum facto de descobrimento de terras da America , que
faça verosímil aquella descoberta antes de Cólon e Magalhães (57)? »
Para resolver estas questões o illustre acadt^mico. lança mão dos
mesmos raciocínios que lançaria o nosso consócio quanto a poder ser
casual citando o próprio exemplo do descobrimento do Brazil , que
elle o tem por isso.
Quanto a poder ser feito por propósito deliberado o auetor apre-
35-2
sen la algumas hypolhei^es, q«e ioda via n5o ns reproduzi fui 3*7111,
Depis fio vari-is reflexões ?í>brco rlescobfimentoanlí-cõlomUbtw ãã
America tanto scpteniríunal como rtieridional em que o andor e^posã
&s opiniões dos auctores sys tema Li cos, soccorre-se a Marli m Beabííu»
(t pois , diz elle, nas s^nas cartas maritimíis já estavam Hemarcâdat »%
terras visinhas á Ponta Austral d'aqueHtí continente ou no esireiío,
que depois so chamou de Magalhães, Isto ost-reve tfelic posilivamenlis
Pigaíehaj auctor Coevo e fidotlií^no qne foi seii companlieíro de
viagem , díí.endo que o mesnno Magalhfl^ vira na Thesoonria de
El'Rei de Portugal uma carta feila poraqueile ext-ellentissímo Mar*
tim de Boliemia , em quo aquollas lerrss vinliain delineadas * (âS).
Para corroborar esia opinião firma-se o aucior em flerrera , liislo»
riador íiespanHol . ern Wangcnsel que com pz o Pnm^ricQ úm
Behãínif am o auetor (h Bmionario tmimrsal hollandez^ em
Dúpdinayor , qtie escreveu n Relação hisioricn Hm aríislag dt
Nurmiherg ^ no barão do Bielfeld, quo imprimiu a obra íiuítularla
Progresso dos Alhmâeã^ em Frober no seu Thtatro , citando
fiobre lodos Cornara, de quem traslada o seguinte irccbo: <• Fer-
nando Magaibãos o Uuy Falero vieram de Portugal a Castdia a
Iratar com o Conselho das índias, que descobr iriam si bom partido
Jbes thf^sem , as Molticas^ que produzem as especiarias» por
novo c4imÍnho g mais breve que não o dos P0rlugue7.es a Cali-
cul, Malaca e China* O cardeal fr. Francisco Ximenez de Cisne-
roÂ, governador de CastoDa , e osdo Conselho de índias thi?s doram
muitas graças pela noticia o vontade e grande esperança Cfue d»-
gado quo Fosio el-rei don Círios de Flandres seriam mui bem aco-
lhidos a despachados. Esperaram com esta resposta a vinda do novo
?ei, e entretanto informarem ao bi*po dom Juan Rodrignez da Fon-
leca , presiilentG das índias e aos ouvidores de todo o negocio e
viagem. Era II uy Falero bom co.^mographo e bumunisla , e Maga-
lhães grande marinhoircK O qual alUrmava que pela cosia do Braiil
i Rio da Praia havia pas5agem para as ilhas de especiaria muito
mais cerca que pelo rabo da Boa Esperança ; a menos antes de TO"',
segundo a carta de marear que poluta o rei de Portupl , feita por
363
Martiin de Bolieinia , si bem que a carta náo punha estreito algum,
ao que ouvi dizer, senáo o asnento das Mol ucas. Si já não pôz
por estreito o Rio da Prata , ou algum outro grande rio (fnquella
costa. Mostrava uma carta de Francisco Serrano Porluguez , amigo e
parente seu, escripta nas Malucas, em o qual lhe rogava que fosse
para lá, si queria Gear rico depressa » (59).
O erudito académico suspeitara por muito tempo que o inappa-
mundi de Alcobaça seria o que havia feito o famoso cosmographo
fr. Mauro , monge camaldulense do mosteiro de S. Miguel de Mu-
rano, junto a Veneza. Sabe-se que este mappa foi ter a Portugal
em 1459, como consta dos assentos d'aquelle mosteiro, e que fora
alcançado pela corte portugueza por intermédio de Estevam Tervi-
giani, mas o mappa de Alcobaça foi visto em 1528, e dizia-se ter
sido feito cento e vinte annos antes. Assim quando mesmo o nosfo
consócio queira duvidar da representação do Cabo dn Boa Esperança
no mappa do cartório de Alcobaça , apezar da auctoridade de Antó-
nio Ribeiro dos Santos , ti9o poderá quanto a igual denominação
que apparece no mappa de fr. Mauro dezesete a vinte sete annos
\íí\es que o descobrisse aquelle de quem as suas tormentas se vinga-
ram , 6 o círcumdasse Vasco da Gama.
a Muito tempo antes, diz Alexandre de Huroboldt,de Bartho-
lomeu Dias e Vasco da Gama , vemos a extremidade triangular da
Africa representada no planispherio de Sanuto de 1306 annexo ao
Secreta fidelium Crucis e publicado por Bongars (GO) ; no Por tu-
Iam delia Medieeo Laurencianna , de 1351, obra gcnoveza,
que o conde Baldelli tornou conhecida (61) ; no Planispherio de
la Palatina de Florença , de 1417 , elucidado (discute) pelo car-
dial Zuriá (62) , e sobretudo (noto-se bem) em o famoso mappa-
mundi de fr. Mauro, traçado (63) em os .annos 1458 e 1459.
E esta ultima carta sobretudo quarenta annos anterior á circumna-
vegaçfio de Vasco da Gama , que oíTerece, com a maior clareza, o
promontório de Africa austral sob o nome de Capo di diab. A con-
figuração d'esta extremidade do continente merece uma attenção par-
ticular. Apresenta o aspecto de uma ilha triangular, na qual , ao
nordeste do Capo di Diab (nosso cabo da Boa Esperança) se acham
36A
inscriplos os nomes de SolTala e de Xengibar, e que é separada ex-
pressões estas do auclor do mappa-mundo) de I^Abassia (Abyssinit)
« por um canal contornado de altas montanhas e de florestas es-
pessas. » Este canal dirigido do N. N. E a S. S. O. ó tào eslreito^
que reina nelle perpetua obscuridade, tornando-se perigoso ás em-
barcações pelos remoinhos que faz a agua. » Estas indicações e o
aspecto da carta provam que a extremidade do continente é figurada
como separada da grande massa mais boreal , por um estreito qoe
involuntariamente traz á lembrança o estreito de Magalhães. Uma ioa-
crípçso collocada ao lado' do Cabo Diab indica que em 1420 um
navio indiano zoncho da índia (Giunco , jonque) procedente de
leste, dobrou o cabo para buscar as ilhas dos homens e das uiulhe-
res (habitadas separadamente por umas o por outros) que estão
além ; quo 40 dias depois , tendo percorrido mais de 2,000
milhas o não tendo visto mais do que céo e agua, tornara o navio
indiano , com setenta dias de navegação , ao cabo Diab , onde os
marinheiros acharam, spbrc a praia, um ovo grande como um
tonnel, e reconheceram ser o ovo de um Crocho. » (64)
Depois de algumas observações continua o sábio allemao '
« A terra quo o zoncho da índia buscava alôm do cabo austral de
Africa, e não seria sinuo no caso que se acreditasse em um vasto
alargamento a leste do promonlorio de Ouac-Ouac , e tendo-se o
conhecimento da esphericidade da terra, geralmente admiltida pelos
geographos árabes , que se poderia encontrar percorrendo a aoeste ,
o mar tenebroso (o Atlântico) a que cont<}m as isole verde j das
quaes não se tinha mais do que uma norao mui vaga. Porôm o que
mais importa do que a posição de uma d'essas ilhas fabulosas dos
árabes, que os navegantes christàos povoaram de bispos e de mon-
ges, c o traço do cabo da Boa Esperança em um mappa-mundí
de 1459. Aquelles mesmos que suppOem algumas addições posterio-
res nSoas estendem além do anno de 1470: de sorte que as expedições
de Dias e do Gama são indubitavelmente pelo menos de dezasete a
vinte sete annos posteriores ú redacção da carta quo nos offcrece o
Capo de Diab. » (66).
A* vista da existência d'esses mappas-mundi, do qual o primeiro
365
dala de 1306 , figurando a extremidade triangular da Africa , já vé
o nosso illusire consócio que nâo é para se desprezar assim lao de
leve a demarcação da lerra do novo mundo , e ainda do estreito de
Magalhães nas cartas que pertenceram ao duque de Coimbra e ao
mosteiro de Alcobaça , quando era fama entre os castelhanos que os
portuguezes desconfiavam da existência de muitas ilhas que se pro-
longavam se augmentando em numero para o sul, e ainda de uma terra
firme, e quando os portuguezes suppunham que o Brazil era uma
d'cssas ilhas que, diz Joào de Barros, os hespanhóes chamam Antilhas,
Osr. Alexandre deHumboldt, que tao profundo exame fez sobre
a historia da geographia do nosso continente, e cuja autoridade tanto
se apraz em citar a cada trecho d*esta rcfutaç9o, não julgou dever
desprezar uma quosiào tão importante, como a demarcação do
estreito de Magalhães n'essa caria portugucza, e fez sobre ella as
roais brilhantes investigações. « Demonstremos, diz elle, roais
anteriormente , como o cabo austral de Africa veio a poder figurar
sobre a carta deFra Mauro trinta annos antes que Dias o dobrasse;
roas como explicar a indicação de um estreito americano sobre uma
carta portugueza antes da viagem de Magalhães? (67) » O Sr.
barão de Humboldt lembrando que algumas circumstancias pode-
riam ter feito conjecturar a existência de uma passagem, e que na
idade média as conjecturas eram religiosamente inscriptas nas cartas ,
como a prova o Antilia, S. Brandon ou Borondon, a Mao de Satan,
a ilha Verde, a ilha Maida e a configuração de vastas terras
anstraes, diz que v a par das expedições autorísadas pelo governo hes-
panhol, e cuja lista completa já dera, apparecem viagens clan-
destinas emprehendidas por outras nações ou por súbditos hespa-
nhóes que pretenderam illudir o fisco (68). £' tao judiciosa esta
reflexão do sábio allemão que cm setembro de 1501 achou-se o
«governo hespanhol na indispensável obrigação de publicar uma
nrdenança particular em Sevilha, na ilha de Grâa Canária e a
Hayly (la Espaíiola) condemnando nas mais graves penas aos que,
sem permissão particular, ensaiassem descobertas no raar-oceano o
terra firmt^ das índias (69).
IP
Q Eiislíat ajunta q sábio IlurDbuUu uim em SeviUia como ôm
Lisboâi iioçòeiídermmailas por via jantei d and ^'^liimi; e cvs aiitôre$
de carlAS que se cíjiii punha lo enlão, com um ardor exl reino ^ cm
lodíis a>i cidades mariíirna!^. aproveitavíim de laes iioções verdadelraiS
ou falsas em as deâiuralkirido depois d<J ODtnbinaçíios Cfinjeclor
Nos primeiros lomfMís da conquista da America tinba-se por
lume considerar cada parte novamente desí^obí-Tt.i como uma ílba
mais ou meno£ i^raiide. Pouco e pouco sâ foi reconhecendo a con*
(inguidade d^cssas [iaftes« o logo que rnUnvijui hb oh^ervaçõéi, ima-
ginava-so sobre as corras a nmneira de retinir e de prolongar «!
costas, segundo vagas indicações [70). «
Sf ara o caminho pelo {lesitífjue Gdomho proiuirava pam pta^r
as lndi<is» ^ clnro que â Idè^ de um estreito nílo podia deitar di
apresenlar-se à Ilespanh» parj o complemento de seus pto|dctiH ,
quando o contineniê da America se prolongava como iim» barreirai
ania as snas nâtis. A idéa da existência ou da possibilidade da
existência de nui estreito começou a occupar a atten^ào dos homens
dados com ardor nm descobrimentos, desde os primeiros iemps do
descobrim^nlo da America,
A cbegada dos Porlugueíies á índia , dous mozes ontas que Colombo
descobrisse as terras americanas, nio amort^^een nos Hef^panbées o
zulo com que buscavam um caminho através das costas orienUí!s
da America , cuja conlinuidode era ainda duvidosa (71), O próprio
descobri meu Lo do Bradl levou a corte portugueza a dirigir suas
vistas sobre uma passageui pi^ra oeste (7^). O Sr* barào d^ flumboldl
tem por mnito provável que esta serie de cíipodiçdes que úverein
lõgar pelos annos que decorrem de 1505 a 1508 ao sul de Porto
Seguro (73) tinham por fim descobri-la, e qne as vagas noções
provenientes d*eUas seniram de baso a uma multidão de cartas
marilimasque se fabricavam nos portos mais frequentados (74).
As viagens de Vespucci parece que nâo tiveram outro fim, ^e
I nl se não pode deprebeoder de suas plavras quando dir que lai
empreza deveria i! lustrar o seu nome e perpetuar sua memoria. « Em
* 1501 , eâcreve Gomara» entrou elle por ordem do rei dom Manoel
^
567
I
wÂtõ a» costas úú sul na iiUançffo da procurar um titrÊiifi peto quat
9ã pudesse buscar eaminliQ para as Molucas o especiarias. « (TS)
ISáo se tiaf ia ainda descoberto a oeeano PacÍIÍco, mas sab&ado
Colonibo por comniuaicaçllQ com os indígenas Ja e^isi€KtôÍa de Oiitr%
co&la (76), anuunciava ao partir para astia quarUi liageni, em II
da maio da 1502, quõ acJtaria um oslrciio sobre ê cosia de Vera-
gua (77). Entre os annos da 1505 a 1^07 redobraroni-sõ osesforçoi
por parte da cdrte da Uespanba , quo laiu^ou às suas vigias Eobre as
cosias do Brazil o ossa p te ia do de atrevidos n^ivegadores, Vospum
a Vicenbo Vanez Pinson e Juan d^ la Co^ oSolis foram coosuUados
Acerca d^aqudla famosa axpâdiçàaquâ tJena prUr em Fevereiro da
ÍS^l, iiios que a Uiiluencia da díplamacia partugui^za obstara (78).
O quo, porém f não m fez em grande esoita íú^ú logar poios a mios
segutotas em poquenas expãdi^ões; seiB apparaio; assim \kmtA
Yanez Pinsoa o iuan de la Cosa c Dias e Sol is parlirsm de Sm Luaà%
mÊ2B áú iulbo de IdOS para tguacs ieutativas (70) ; e Vasco Nuno»
de Batboi procurava em 2$ de Setembro do 151ã do alto da gorra
it Qaarequa (80) o mart da qae dopois veio a tomar posse, en^
traodo põf eile com agua até os joelhos > e de espada ím mão,
£m 8 de Outubro de IStâ parti« Solis do porto do Lepe pari
jamais voltar á Europa ; enviado t como diz Hcrrera (SI] » paiti o
sul, pois que» segundo as opiniões dos geogriphos, podia acliâr
pmcgem para cbegaras ilhas das especiarias ^ si anioâ mo foi» oomo
pretende o eom mais acarto, o Sr. A. de Humboldt, encarregado de
eootornar a eii trem idade austral p^ra peneirar no m^r descoberto por
fiaJboa (H2). £m tS17» quinze anno^ depois d'essas tentaiivas, foi
que surgiu Mâgalbàest quei segundo a frase de Camõ^, mostrou-
50 ma is portuguez no feito, que Mo na lealdade, noticiando tor
visto consignado u* uma carta de Martim do Bohemta o estreito a que
db dfltt o nome da patagonico « que depois se intitulou de La Vic-
loriii, que outros denominaram de — Todos los Santos — qua outros
ainda chamaram do — Ia Mudre da Bios — e que Pbilippe U achou
fuedof ia tar o inane do próprio MagalUei*
-se ^m Goloixibo imaginase um caminho peTo oesie para
iVill À8
SM
• ptiz das cspecrartas, dada a tspberícidadt do globo; mas qam
Magalbies^ por meras conjecturas» como tào profundaiDenld pio-
curou demonstrar o auctor do Exame critico da geographia á»
novo continente, desconCasse da exbtencia do estreito e procuraae
auctorisar as suas conjecturas coro o nome de um consumiiad»
cosmographoy que entào gozava de grande celebridade , é o qoeoi»
é facíl de altender-se. (83)
Com que razões apoiou etle a sua asserção? Seria bastante díiè^fe
para convencer, depois de tantos ensaios infructiferos ? Eile , tomo
G))ombo, navegou seguro de que devia encontrar o que buscava.
Passava além da foz do Prata , e já a tripdaçéo se lastimava de nà»
ter encontrado n'essa longa viagem cousa que se assimilfaasie a mo
estreito, e Magalhães lhes respondia» segundo a concisiode lier-
rera : « Que no puede faltar » e ajunctava » segundo Pigafetta , qot
iria, si necessário fosse, até aos 7&*de latitude, onde, durante •
hinvemo, quasi que não havia dia (84). A singeleza d*esta ulcine
expressão , conservada no jornal de Pigafetta , prova , diz o Sr. Hani-
boldt (85), que Magalhães estava persuadido da existência de ume
passagem além do Rio da Prata > mas que a carta dos arcbivos,.
attribuida a Behairo , não indicara ao certo a posição d'esse eslreilo.
Depois d'estas indagações, como que se voltam os olhos outra vez
para Martim de Bohemia, esse nobre Porluguez, natural de ia islã
de Fayal, como tão erradamente o chamou Herrera (86), cidadão
de Nuremberg segundo outros, que passou por ter descoberto o
archipelago dos Açores, e que Wangenseil deu como o descobridor
do novo mundo , enlhusiasmando o génio de Leibnitz , pelo que
chegou-se a propor que se chamasse Behaimia ou Bohemia Occi-
dental o paiz a que Hylaedmylus deu o nome de Américo Vespucci,
deixando o de Colombo no mais injusto esquecimento.
£' certo que Martim de Bohemia achou -se ao serviço de Portugal
e que com Diogo. Cão fez parto da expedição ás costas de Africa,
por cujos serviços parece ter sido feito em 1485 cavalleiroda ordem
da Christo , conjunctamente com os dous médicos do rei dom ioâo U,
mestre Rodrigo e Joseph índio , e que ftea nomeado membro da
%61l
juDcU ctomathemaltcos» encarregada de indicar o meio de navegar
pela altura do sol. Sabe-se também, pelo conhecimento synchronico
dos factos, que Colombo e Martim de Boheniia se encontroam em
Lisboa pelos mesmos annos e ambos oceupados em projectos náuticos;
mas como deduzir d'essa viagem ás costas de Africa e d^essas com-
nuinicaçdes com os bomens oceupados nos descobrimentos de novas
terras, os dados que teve para figurar n'uma carta o estreito meri-
dional da America ?
Nada ha pois quo se possa affirmar ; roas também como negar o
conhecimento da existência d'esse estreito, quando o próprio Maga-
lhães confessava possui-lo por lé-lo visto n'uma carta dos archivos
do rei de Portugal , e quando essa declaração coincide com a exis-
tência da carta do infante dom Pedro ? Os documentos que devem
lançar alguma liiz sobre este ponto da historia da geograpbia dormem
talvez esquecidos em algum archivo. «Para chamar a attençSo
d'aque1les a quem interessa a historia da geograpbia maríiima, diz
Humboldt, quando tantos opúsculos do começo do 16.* século con-
servados em grandes bibliothecas merecem ser arrancados ao olvido ,
darei o extracto de uma relação de viagem ao estreito de Magalhães,
sem data e sem indicação do logar de impressão. » (87)
A relação d'essa viagem é posterior á de MagalhSes, como apenas
se depreheiíde da menção dos únicos nomes próprios que n'ella se
encontrão de Nuno e Christovão de Haro , mas este exemplo prova ,
como nota o Sr. A. de Humboldt, que,sem contar as expedições
clandestinas, emprebendidas em detrimento do fisco, tiveram logar
ontras muitas que não são mencionadas, nem nas grandes collecçOes
de viagens, nem em outras muitas obras de raro merecimento.
Quanto ás viagens de Corte-Real e de Martim de Bohemia , direi
apenas ao distíncta auctor das Reflexões , que estamos concordes »
porquanto as viagens de Corte-Real nenhuma ligação tem com o
descobrimento do Brazil., e não foram trazidas sinão para mostrar a
anbiçSo, o desejo da nação em intervir em todos os descobrimentos,
como si o reino lusitano não coubesse em si mesmo ; e deixarei de
juDCtur outras ponderações por uio serem próprias d*esle logar. E
87Õ
quanto ás viagens de Martim de Bobemía , elhs se Kmiuran» f M
qae se sabe , ao que se tem aTerígoado até agora pelo eonbefioMHili
syncbronico dos factos , á. sua expedição as eoelas da Afriesa»
companhia de Diogo Go, Ha porém uma passagem na Tida 4»
Martim do Bohemia de que já fiz menção e a que Rga toda a ínpar-
tancia o sr. Alexandre de Humboldt, a.qnem se devem as mait ar^-
duas pesqnizas acerca de notícias biographieas d^essa personagenrpop
tanto tempo mjsteriosa. O illustre cosmographo achou-ae tm Lia*
boa petos mesmos annos que Colombo , occupados ambos conieiis
projectos naulicos e fez parte d^essa jnncta.de mathematíeos a que*.
coube o exame dos planos de navegação de Colombo , e sobre oaqaaea
obtivera a (Arte portoguesa Jnfòrmac6c9 tio positivas de Paulo Toa-
canelH por intermédio do eonego Fernão Martins. E » quanta a Bnw
rera (89) , c Cordeiro (90) e Ribeiro dos Sanetos (91) , foi o tUaaira
cosmograpbo. de Nuremberg quem influiu no animo do rei do».
loão n para a expediçlo que se mandou aos mares de oeste^ a qae
devia o não ser tão mal succedida pela pouca coragem d*aqaella qaa.
H dirigia, deixar sepultada em perpetoo dvido toda a gloria Aa
illustre Genovez^ privando-ode um descobrimento tão tranaGeadante.
por todos 06 bdos que se procure encara*Io.
O auctor das Reflexões tratando do livro que elle supp9e, e muito
tem, ser o roteiro da primeira viagem deColombo, mostra naotercom-
prehendido as^ minbas expressi5es. Diz o nosso consoeio que pareoa.
que achei outro documento da influencia de Toscanelli nos desea-
brimentos da America quando lhe attribuo a paternidade d'es9e livro.
Não o citei como tal, nem. o podia fazer. Quiz lâo somente pro*
var , como provei , para mostrar os zelos de Castelia a que ponto.
^ elevavam quando em Portugal não se ignorava o fito das viagens
de Colombo. Permitta-me o Instituto que cite as minbas próprias
palavras :
« Antes porém , dizia eu, que e tratado de Tordesilba viessa^
equilibrar a harmonia entre os dous povos , a Bespanba senpra
ieceiosa do augmento do reino visinbo, mal podia tranquilltsar-se;.
9io sa armavam expedições em Portugal que nlo tivessem por dea-.
I
»7t
ifcio os mítrâs ãé oeste ^ e as suspeitas die que pretendia inlentr em
saus tlâseobrtmentos , pozerêm*na nâ mâissever» vfglbnci3;a pots
os Portugueses eram no reino iberio ínierrupdtís sobre as intenções
de sua pátria » sendo em LtsbcKi o espirito de espíoneigími acdra-
menle nranltdo pelo governo hespanhol* i
Depois do outras eensíderaçncs , que se podem ler nu Memorís,
ajuncteí :
* As suspeitas de Castelb nto eran» pois sem fundameitio ; em-
bora Colombo se expressasse em Lisboa com a mnior parcimofim»
• einda depis da sua viagem procurassem os reis calholíMs toda 6
ligr^o no exame da seus papeis ; as eemmtiniesçôeis que elle reee-
héra deToscancíFi eram patentes e conhecidas,!' — <k Com esíecorreio^
« eacr^via a rainha Isabdl a seu nl mirante no mar oceano em ^ de
ti Septembro de 1491 vm envio um irasíado do lirro {fue cá det?cAste,
« eu]a demora prorém , (nole^se bem) de se ter eserípto secretÁmentâ
« para que não fosse sabida d'e^es que aqui eslão de Portugal ott
m de outro algum, i»
§i dèslas palavras sa deduz que attribuo a paternidade doesse lifro
â Toseanelli ooiife^^o ingeniiamenie que não soube o que escrevia ^ e ãi
o Ironie de invoka com a arln deTo^an^lU foi apenas por ueuíq-
eidente, querendo demonstrar que esse segredo era inutiU porque pela
carta de Toseanelli estava mais que infonuado o governo porlugueí dos
planos da viagem de Colombo , que para melhor asseguror-se em seus
dmgRtos bebera os mesmíssimas inrorma^^ões na mesma fonte , lal é
pefò menos o que se dere iuífífir das minbas palavras : » Entreianlo
\m Paulo Toseanelli p celebre floreDlino ^ medico e astrónomo,
30 mesmo tempo « bavia dado a essa respeito as mais exactas
informa^òes que llio ttnbMu sido pedidas pel» cérte de Lisboa i
êm 147V t» (92). Essas ioirips continuaram ainda por muitos
annos dipois do descobrimento do Braitl ^ (»mo coiista do testo-*
AunKo da historia (93). Vm eram somente a Oeepanba e Portu-
fil qm se vigiavam mutuamenti : õt fatadm eommefcianles da lia-
Ka , linha m petas &ua& relaf Qes cem o E^pto e a Perdia, os olbci
%m whm 0 ptrifo que )b«a nsukdria do ^mmertío dos PorttN
»72
guezes com as costas da Africa, e Unto assim que Loranio Cm-
tico» Piero Pasqualigo, Vicenti Quirini, Angelo Trivigumo , 6
Girolamo Priuli foram encarregados de secretas missões, que pfo^
curaram desempenhar mais ou menos satísfactoríamente (94). A pac
e passo que a Hespanha velava no segredo dos roleirosde Colombe,
Portugal prohibia ^ sob pena do morte , a sabida de cartas ineritiíeaey
que indicassem a rota para a índia. (95)
Passando a tratar da carta de loscanelli pretende o audor de-.
monstrar que as suas informações nào podiam ter dado aos PMu»
guezes o conhecimento de novas terras , nem servir de guia a Gh
bral para realísar descobrimento algum , e de passagem nota qiM
eu qualiGcasse de exactas as suas informações. Ainda d'e8ta vei o
digno consócio, apezar de seu brilhante talento , deu erradas in-
terpretações á minha memoria neste ponto da historia.
Como poderia eu qualificar de exactas as informações transmittl-
das por Toscanelli, quando quem seguisse o « brevissimo cami-
nho V indicado por elle, achar-se-hia sobre a costa da America em
vez de tocar as costas da Ásia? Fora preciso que não se oonheoasse
o typo imaginário da geographia árabe e italiana do XV século.
Eu disse que embora Colombo quizesse occultar os seus projectos^
e ainda depois de sua viagem procurassem os reis catholicos todo o
segredo no exame de seus papeis , sabidas eram as communicações.
que ello recebt^ra de Toscanelli , e que este celebre astrónomo fUw
renlino já havia dado a esse respeito as mais exactas informações,,
isto é , exactas por coincidirem com as que poderia fornecer sobre o
mesmo assumpto o descobridor da America , sempre relativae nunca
absolutamente fdlkndo.
A carta de Toscanelli não figura na memoria do descobrimento
do Brazil como um monumento que servisse de ponto de partida
para tal descoberta ; o trecho que apresentei serve apenas para in-
dicar que os projectos de Colombo não eram tSo mysteriosos, coma
se pensa geralmente, para o governo portuguez, apezar da sua parei-^
monia em explicar-se acerca de suas palavras. Onde concebeu Co-
lombo a idéa da sua atrevida navegação senão em Lisboa á \ista.dai
S7S
tentativas dos Portuguezes para acharem um novo caminho pan a
índia? Onde estudou elle com ardor sinào n'esse Tejo que se enso-
berbecia com as novas de novos descobrimentos? Porque abriu elIe
communicações scienti ficas com Toscanelli por intermédio de seu
compatriota Lourenço Giratdo sinão para inteirar-se das informa-
ções obtidas pelo governo portuguez por meio do cónego da Sé de
Lisboa Fernão Martins? O século em que vivia Colombo era cha-
mado por exceliencia o século do renascimento , do heroismo e eru-
dição e que evocava as tradições dos séculos passados (96) : não era
tão cheio de trevas como se diz vagamente, porque essas pesavam
sobre as massas (97) » e nos conventos e seminários primavam
as tradições da antiguidade , e um ardor de estudo, que, segundo
Bacon, contrastava com a ignorância geral dos povos (98). A Atlân-
tida de Platão, os Outfps mundos de S. Clemente Alexandrino, A
Insula permagna de Didozo Siculo , O grande continente de Theo-
pompo, de Plutarcho e Amminiano Marcellino, os Novos orbis
além de Thule de Séneca, o Ophir dos Rabinos tão celebrado
na Bíblia, O continente, além dos mares oppostos á Africa , da
parte do Poente de Porphyrio e Proclo, Arnobio eTertuliano,
A ilha Secca firme ou continente (Gezira Kheschk) , As mara-
vilhas da natureza {Àlgiaib ai Mokhhnkat) e a Jeni Dumia ou
novo mundo além da Ethiopia ou Africa nos fins do oceano Te^
nebroso ou occidental dos antigos Árabes, nSo eram desconhecidos
aos estudiosos , e os descobrimentos de Porto Sancto e dos Açores
pelos Portuguezes, attrahindo as attenções para o Oeste, chegaram
a fazer ver nessas nuvens perpendiculares ao horisonteem sua maior
dimensão a confirmação d'essas terras trans-oceanicas , que os tempos
e as navegações acabaram por provar não ser engenhosas ficções e
puros mytbos , sinão quanto a proximidade que se lhes assignava.
Eram os livros raros nesse tempo ; roas é preciso não esquecer
qoe Colombo tinha por contemporâneos a sábios e celebres astrónomos,
qie aasaz se compraziam em oommdnicar as suas luzes aos navega-
dores e geographos de seu lempo. (99)
S7A
S 3.
Que a tlescobeila do Brazil nãa enlrou nos planos de
Cabral e que os hislonadores abundam n este sen-
tido e que se exprimem de forma l5o calhcgorica e
teiiBinante que L4>nlrablam com as frases ambí-
guas lie t)utros em que ^ie procura base para opimão
eonlrariâ .
Pará provar que a descoberta do Brasil não entrou nos planoi rit
Cabral, e (]ue m tilstariadores obuudam n'esto sentido e qua tt
iKpriínem de forma táo mliegonc^ a lerminanta, que coRtnslaa
com âs frases ombigtias de otiu-os am quo procumí base pira t
minha opinião , o auclor das Eellôicõâs pssa a demonstrar o iim nmm
qtta sâ leve em Ytsia com a expedição da nova frola, apoiado not
seiis historiadores j — Mariz, que tevoa habilidade de improvisar uiu
flspaniosa tormenta para occasionar o desfx>brimento do Bni^il;
— Caminfin , do q uem apenas citu o Ijnal da carta ; — Barros, DamiaQ
de €dest Xororty mo Osório , a e^rlâ úu rei dom l^lanoel » datada áti
2$ de JuHio de iõ0l ao rei de Uo^anha , dando cona do desce*
brímenLoe Raynal -
Vôjamos SI os histon andores , que cita o iUastre auctor das rcllo-
3t5e3 sào por ventura de móis peso e considernçSo do que esses que
testemunharam o acontecimento, e que escreveram com a HiWÊtíUà
úm primeiros cbronistas, fonles primitivas que« i^mo nota o sr.
Ferdinand Oenls , narram sem exnííeraçao o próprio facto » ;iiitei
que seja on volvida em circumsianeias estranhos ao principal ãcoiití&<-
oimenio, e que permitiam ao leitor tornar-se por momenio laiMo-
dador. {iW)
Pêro de ftfariz , o auctor do Biulago de varin hiitmim é
primeiro de quem i| nosso esclarecido consócio transcreva iim i
que termino por estas palavras; « O qual (Pedro Alvares)*., par-
875
linJú dó Lisboa.... foi lai a sua ventura que.... depois de uma
espantosa tormenta.... descobriu a província do Bra/il. » Nem na
carta de Caminha ^ nem na narração de um dos pilotos da famosa
frota , nem na participação do rei dom Manoel « nem nas obras de
Barros, de Damiáu de Góes, de Jeronvmo Ozorio, de Lafítau» de
António de San lioman , de La Clcde, de Gandavo, de Bento Tei'*
xeira, de Ballkazar Telles, de Simão do Vasconcullos, de Ayres do
Gazal e de W. Irwing se menciona tempestade alguma, cuja faria
impelíiase as naus de P. A. Cabral sobre as costas lirazilicas. Mariz »
que escreve)! sem se dar ao trabaliio de averiguar a sua verdadeira
causa, som ao menos se Niformar dos numerosos documentos exis«
tentes em seu tempo e dos quaes apenas escassas reliquias rh>s che-
garam, D§o merece o conceito que o auctor das reflexões lhe deu,
para ser trazido a elucidar a qtfeslàoque se discute, e nem sei que
tal trecho o elucide. Deixemo-lo repousando ao lado de Laet, de
Faria, de Lafucnie, de Santa Theresa, de Solor/ano, de dom
António Caetano do Souza > de Bocha Pitta , de Vieira Ravasco , dé
Barbosa Machado > de Brito Freire, de Jaboaiffo, de Balthasar da
Silva Lísbo-j, de Madre de Deus, de Pedro Taques , de Pizarro,
de Milliet de Saint Adolphe e Caetano Lo|)es de Moura, e tantos
outros illostres historiadores que não trataram da matéria senão do
passagem , deixando de estiidarem^na nos documentos ra^peetivos ,
ou porque ignoravam da sua existência, ou porque não pensavam
que cmn isso prestavam um serviço á historia do nosso paiz, e repe-
tindo com Baynal que o descobrimento fora obra do acaso, inven-
taram ou reproduziram um dos outros essas espantosas tormentas
que Gzeram a Cabral perder os rumos da navegação (101)>e que lhe
pôz a mao na vida (102) , invertendo a ordem dos factos, pois a
tormentas apeilas precederam ou ségoiram-se ao feliz descobrimento.
Após Pêro de Mariz vem João de Barros, como si a soa reputação
de grande historiador o livrasse de pagar o tributo da humana
trflelligeneia , que teve o erro por partilha geral ; assim ella n9ô o^
isempta da paeba de menos exacto no relatar o descobrimento de
Pedro Alvares Cabral, pais basta uma simptes vista de olhos pelas
XVIII à9
37G
LrílUakJb pfpfk» de «*» Dtt^dm Jm Âsim (on se (
eea «m eoobaciíBeol» leve di orla de Gjúritt, e de
|iois peleoui det ian scf ao {udúso hitteriador lodos as |
ie guanbiaio dos arrliivos reses, s é que a polriica de (
aeMueUksva a saa rcsenra vedando absolulameote • seu
Barros fcí iSu bem inferoiado, si teve todos os documeolos i soa
«Ikfttíçâo até para a belora de uma obra peculÍK ao
neiíle, coaio não efcrereu » soas Hecodei á fisla d*4
ticídades ? Porque igocrava elle lodos os pormeDores da viagam a da
Jeseobrífnento de Cabral , a ponio de acbar-se em nuDÍfesta eooUa-
dieçio eom as leslemuohas ocubresT Veria eRe os manuseriplos da
Csmioba , do pílolo que escreveu a narração que Bamusio traslados
pra a líogua de Tasw, e que a academia real dasseteaeias de Lisboa
restituiu á lingua de Camões , a carta do pbjsioo mestre João e ainda
outras que se escrereramt datadas de Vera Cruz, e que taliei
repousam sob a poeira dos archivos de Portugal e de Hespaoba ?
Descoberto o Brazil, dizem as testemunhas oculares que Cabra!
correu para o norte; JoSo de Barros , porém , sem que nos diga em
que documentos se baseara , aíTirma que foi para o sul. Nolavel con-
iradicçào! « Pedro Alvares, escreve elle, lendo determinado (ao
outro dia) de mandar lançar mais bateis e gente fora, saltou aquella
noiío tanto tempo com elles, que lhe conveio levar as ancoras a
correr contra o sul, sempre ao longo da costa, por lhes ser per
aquello rumo o vento largo té que chegaram a um porto de mui bom
surgidouro, ao qual por esta razSo pôz o nome , que ora tem , que
é porto Seguro, d (103)
As testemunhas oculares relatam differontemente, concordando
entre si, o que é mui significativo para realçar o erro doauclor das
Décadas da A tia.
« Si levo la detta armalta (diz o piloto de Cabral, segundo a
traducçâo de Ramusio, única que tenho ante os olhos n'este mo-
mento] con un gran temporal, scorrendo la costa per la tramontana ;
il vento era do siroco. » (104)
377
« A noite f^inte (diz Caminha) ventou tnnto sueste com
chuvaceiros quefes casar as naus... Per conselho dos pilotos mandou
o capitão levantar ancoras e fomos do largo da costa contra o
norte. » (105)
Segunda contradicçao. — Gonforme Caminha , que historia a
viagem ehronologicamenie, narrando dia por dia ainda os menos
notáveis acontecimentos, a terra foi vista em 22 de abril de 1500;
Barros dataessedia de 24 do mesmo mez, e tem a seu favor a relação
da viagem de um dos pilotos da armada. Mas ó para notar-se que a
carta do Caminha^ foi redigida quatorze mezes antes da relação da
viagem, em que a memoria nào podia ser tão facilmente illudida,
eomo depois de mais de anno.
Teroeira contradicçao. — Entre Barros e o physieo da frota
mestre JoSo , existe ainda uma dififerença de 7* de latitude.
Barros escreve nas suas Decadat: « Pedro Alvares foi dar em
ootra costa, a qual , segundo a estimação dos pilotos , lhes pareceu
que podia distar para aloeste da costa de Guiné 450 léguas e em
altura do polo antartico, da parte do sul, 10 gráos. » (106)
O physieo mestre Joio escreve díSerentemente na sua carta diri-
gida ao seu afortunado soberano: cc Segunda feira, que forem 27
de abril, descemos em terra eu e o piloto do. oapítão-mór e o piloto
de Santo de Tovar e tomamos a altura do sol ao maio dia e acha-
mos 56 gráos, e a sombra era septentrional , pela qual , segundo as
regras do astrolábio julgamos estar afastados do equinocial por 17
gráos, e por conseguinte ter a. altura do polo anlartico em 17 gráos,
segundo o que é manifesto (107). A seguir-sea altura dada por
J. do Barros a primeira terra do Brazil pisada pelo grande Cabral
teria sido na província de Pernambuco, dez léguas ao norte do
rio de S. Francisco, juiicto á embocadura do rio Jiqúiá, como
nota o illustre sr. Alexandre de Humboldt: t D'ésse ponto is costas
que tocaram Pinzon e Lepe, dous a trez mezes antes, diz elle, nfio
ha mais do que trinta a quarenta l^uas, pois o cabo de S. Agosti-
nho ó pelos 8.' 21' de latitude e Diogo de Lepe tinha costeado o
Brazil além do paralldo em que a costa se dirige de N. E. ao S. (X .
378
Como Barros raramenla indica latitudes, e o piloto d6 Cibrah...
56 occupa lanlo menos coroo Pêro Vaz de Caminha , eujos manu»*
criptos poderia ter visto o historiador , póde-se ficar stirpreso eonr
esta designação do 10**. Deprcltende-se claramente da asserção das
duas testemunhas oculares que durante a tempestade a expedição
de Cabral se dirigiu para o norte, o que, por consequência « o
lugar em que primeiro se tomou conhecimento da terra foi ao sitl
da actual cidade de porto Seguro, cuja latitude é de 16* e 27' sul.
Segundo a carta de Caminha , viu-sc primeiramente uma montanha
de cume arredondado a que so deu o nome de monto Pascoal. E* um
dos cabeças da serra dos Aymorés, que, sob a denominnçáo do Itaráea
ou Goytaracas começa na província da Bahia e se prolonga ató a pro-
víncia de Porto Seguro (108). A 23 Cabral se dirigiu para a am-
bocadura de um rio (segundo o padre Cazal , o rio do Frade) (109),
que fez sondar pelo capitfio Nicolau Coelho, o companheiro de
Gama^ na sua grande expedição. Durante a noite de 23 para 24 de
Abril ventou com força do sud-oeste; levaram as ancoras e fise-
ram-se de vela para o norte em busca de um abrigo , que acharam
a dez léguas de distancia do rio do Frade, cm uma bahia (110) que
poderia conter mais de duzentos navios. Foi a esta bahia, que Ca-
bral» como provam a assignatura c a data da carta de Caminha,
chamou porto Seguro; e depois tomou o nome de bahia Cabralia.
Eu tenhoa situado aos 16" c 16' de latitude. » (111)
Sem o testemunho da carta do physico mestre João , da qual o
auctor do Exame critico da historia da geographia do novo
continente não teve conhecimento ao tempo em quo escreveu a
sua tão importante obra, restabeleceu pelas asserções das testemu-
nhas oculares a veracidade de um facto , que as palavras do grande
historiador puzeram em duvida , como si fòra de pouca importância
a questão de saber-se qual fòra a parte do Brazil que vira primeira-
mente a expedição portugueza , e qual a distancia desse ponto da
primeira ancoração (aiterage) ao porto visitado anteriormente por
Pinzon e Diego de Lepe. (112)
Seguem-se a Barros, Damião de Góes o Jeronymo Osório ^ que
379
nao escròveram senão de pssogem sobre as cousas da nossa Ame^
rica , o os trechos que cita o auctor das RefUxões, extrahidos d^esses
venerandos historiadores ou chrontslas , apenas servem para confir-
mar a opinião seguida de que a terra que descobriram os Portu-
guezes nAo era pelo rumo em que jazia nem uma das que até en-
láo eram descobertas (113) ou pelo menos nflo tinham nem um
delles suspeita de que lhe demorasse terra habitada de homens por
similhantes paragens. Na minha memoria fiz ver que si concor-
davam enire si osdous historiadores do reinado de dom Manuel,
Barros e Damião de Góes, sobre os quaes parece ter-so baseado
Jeronymo Osório, estavam todavia em manifesta contradicção com
as palavras de Caminha e do piloto auctor da narraçSo da viagem ;
o esclarecido auctor das Refkxôes achou , porém , que devia dar
preferencia a esses historiadores sobre as testemunhas oculares que
escreveram brgamente do assumpto, principal objecto de seus escrip-
tos, a6m de poder comprovar que a descoberta do Brazil não entrou
nos planos de Cabral, e que os historiadores que abundam n^ese
sentido se exprimem tào cathogorica e terminante que contrastam
com as frases ambíguas de outros em que se procura base para
opinião eontraria. Nno aceitando n confrontação que fiz d'ondo re*
salta evidenteroenta a contradicçno em que cahiram , seja-me per-
roiltido antepor a sua auctoridade uma de não menor peso na ma-*
teria , e será ella o inesire da geographia brazileira. Recorro ao
juízo de Ayres do Casal acerca do mérito dos historiadores que
abundam no sentido da opinião do auctor das reflexões relativa-
mente á narração do descobrimento do nosso paíz, e que pela sua
própria confissão contrastam com as asserções d'esses que presencia-
ram o facto e que a historia chamou testemunhas occulares, porque
o illustre auctor da Corograpkia òrasilica^ tendo antes se apoiado
na opinifto dos ires historiadores de que justamente nos occupamos
e-sobreomesmo assumpto de nossos trabalhos, viu-^ao dqK)is obri»
gado a abandona-los e confessar a oontrariedade em que cahiara
á vista das importantes o minuciosas communicaçOes de Pêro
Vaz do Caminha. « Havendo relatado, diz eile, o deacobrinionlo
380
do Braidl com Barros , Góes e Osório á vista , cofflmunictDdo-i
depois no archivo da real marinha do Rio de Janeiro a oopia de
uma carta escripta de porto Seguro , pelo mencionado Paro Vaz de
Caminha , companheiro de Pedro Alvares Cabral , que refere o
caso em contrario d'aque11es outros , não 9Ó com miudeza mas ali
eom veracidade palpável , me vi obrigado a dar-lhe prefereneia. »
lá vé o illustre auctor das Reflexa que a veracidade e nSo as plira-
ses ambíguas me decidiram a aceitar antes, com Ayres do Casal ,
Humboldt, Ferdinand Denis e outros, as simples narrações doaeoin-
panheíros de Cabral ás brilhantes e eloquentes paginas das Decaá&ê
ia Àiia de J. de Barros , da Chronica do rei dom Manuel de
Damião de Góes e da sua Vida • fHloi pelo bispo X. Osório , que
leve as honras de ser traduzido por Francisco Manuel, o restaara*
dor da pureza da nossa língua.
Para comprovar que no próprio Caminha havia matéria a mos-
trar que o descobrimento fora devido a um- mero acaso, o avctor
das Refkxões apenas encontrou uma frase,, que interpreta a seu
bom grado, sem ns honras da invenção, porque essa compete por
certo a Navarrete , como demonstrei na Memoria e que o nosso
illustre consócio reproduziu ainda contra a minha opinílo. O auctor
das Refkwôet nota que Caminha aconselhando a seu rei que man-
dasse calhechisar os índios, ajnnclava : que Deus que aqui os trou-
xera nSo fora sem causa, a Caminha, diz o illustrado consócio,
nSo teria por certo escripto estas palavras ,. n9o teria por tal forma
appellado para a religião do rei , argumentando com os desígnios
da prudência si a descoberta do Brazíl tivesse sido intencional.
O rei mesmo , si tal descobrimento houvesse entrado em suas vistas,
si nas ínstrncçòes que dou a Cabral alguma cousa houvesse que a
isso se referisse, ter-lhe-hia podido responder : Enganai-vos, meu
Caminha , não foi Deus quem nos levou , fui eu quem vos mandei
lá. « Para corroborar a sua opinião cita o auctor o trecho da carta
do rei dom Manoel aos reis catholícos dando-lhes parte da viageoi
de Cabral em que esse monarcha diz: « Parece que nosso senhor
quiz que milagrosamente se achasse esta terra , porque é muita ne-
881
cessaria e conveniente i nategação da índia. » Eu disse em uma
das muitas notas de minha Mtmoria que a essa frase : — «La
cual parece que nuestro Senor milagrosamente quizo que se
hallasse — « dera sem duvida o illustre Navarrete a interpretação
de ser o descobrimento do Brazil casual quando escrevia : — « Tone-
mos a la vista una carta dei rei don Manuel de Portogal a sus
suegros los reis catholioos , fecha em Sanctarem * a 29 de Juik>
de 1501, dando-ihes cuenta de esta jornada e casual descobri-
mento» — (li4). Assim é fora de duvida para o auctor que repu-
tando o próprio rei o descobrimento do Brazil cousa de milagre
nio era muito que Raynal o attribuisse ao acaso e que essa fosse
a opinião de seus successores, e seja a sua» e condue mesmo,
que foi mais obra do acaso do que milagre. Acha o auctor que no
acaso ou em todo o facto e acontecimento de alguma importância
que se dá contra a noesa previsão ou expectação» intervém a Pro-
videncia > e Caminha não teria appellado para a religião do rei argu-
mentando com o desígnio da Providencia , si a descobeita do Brazil
fosse intencional; — de maneira, que quando o homem marcha ao
acaso, é guiado pela providencia» e quando intencionalmente^ esta
longe de apoiar os seus esforços, o abandona ! ...
N'e8se século 9 tão transcendente pelos seus descobrimentos geogra-
phicos, a religião como que imprimia o seu caracter em todos acoa-
lecimentos extraordinários, e de mais para o christão nada se faz
sem o auxilio de Deus, e assim antes que as naus levassem ferro e
deixassem as aguas auriferas de seu aprasivel Tejo, viu Lisboa em
peso esses todos venerandos marítimos, esses todos intrépidos guer-
reiros que iam dictar a lei ao potente Samorim , curvados sob as
abobadas do tero(do de Rastello, no começado mosteiro de Belen,
implorando o auxilio do céo para a navegaçio que iam empre-
hender, e que, a terem por deslinoo Oriente, pouco tinham de ver de
novo nas sangraduras impressas pelas nius de Vasco da Gama. Camões
^ue cantou a gloria do protonauta do Oriente, já hesitava entre
as inspirações do velho polytheismo dos gregos, e as crenças de
moa religião, que a poesia dos modernos tempos ainda respeíuva.
3S2
nào tendo os lábios piiriíicaJos de baias para aJomal-os de
Cintos; a lyra de Caldas <, a harpa de S. Carlos , com a sua
coroada de estrellas, deviam vibrar os seus sons harmoniosos e im-
lancoliros, não nas ruínas da nova Babilónia, mas nas solidões da
terra da Sancta Cruz.
A esquadra que o Tejo vira partir das suas aguas , para o desco-
brimento d'esscs rios que um dia rivalisariam (k>m elle em riqoe» e
gloria f não sahira de um porto pequeno e quasi desconhecido, et^
tregue ao génio involto n'uma capa de mendigo , quo de cidade em
cidade mendigava um batel para ensaio de sua atrevida navegação'»
sem o arruido, mais do que o choro das mães e esposas que om-
davam apertar pela ultima voz em seus braços os seus caros filiios e
maridos. Ufana de sua missão , tremulava na popa de oma.de suas
naus o real estandarte da ordem de Cbristo , e o seu capitão linha
por capacete o chapéo bento que o rei recebera do papa e eom as
suas próprias màos, lhe pozera na cabeça , sob as abobadas do mos-
teiro de Belém. A serra dos Aymorés se ergue com o seu cume
além do grémio do trovão pnra receber essu nomo de Monte Pas-
coal que em respeito ao oitavario lhe pòz o capitãe-mór da famosa
es<]uadra, e para toda essa terra , que tão bella e magestosa surgia
como por encanto do sepulchro do sol , — não houvo outro nomo
sinão o de Vera Cruz, Colombo ao doscobrir a primcin ilha , leui-
brou-se do seus perigos e chamou-a de S. Salvador ; Cabral só se
lembrou da seguranç^i do porto quo lhe deu abrigo depois de ler
dado ao payz o nome da torra da cruz.
A Ilespnha menos tolerante que Portugal quanto a rLlígiSo , nào
se mostrava tão religiosa nas suas emprezas. Balboa conquistara o
oceano Pacifico , que elle antes descobrira do cimo das montanhas »
entrando com agua até os joelhos e de espada na mão. Colombo
tomara posse da terra que vinha buscando de tão longe, com o
apparalo de um auto real. Cabral contentou-se oom hastear uma
cruzy apoiada no escudo das quinas , symbolisando nos seus braços
abertos a conquista paciíica da terra que descobrira. O incruento
sacrifício da missa sanciifícou as praias manchadas com o sangue da
I
383
aotpopphãgiá , como oiiir'ora o sacrifício Jo líomem Deus remira
a tarra do velho mundo do peeeado dâ desobediência do primeiro
ento , a a vo^ do Evangtelho tmou das praias de porto Seguro ás^
oxtremidades de um império qm ropotisará nm entninhas focundas
de tf es seeulos. Respeitando a liberdade dos Índios, náo foi o íllustrá
cãpítâoquem permutou o Gtptivein} peh hospiul idade , foi Gaspar
de Lemos t mas em contra vençáo ás suas terminantes ordens* CSo-
lombo mal tinha chegado á iíha do S. Salvador, e mal bavta ob-
servado m costumes dos hidios que promettía aos reis eatholicos
qtio — « placiendo a nu estro Sefmr Jevaré d 'aqui a{ li empo de mi
partida seis a V« A. para que deprendan bahiir, — w Ao menos a
nmhs portugueia nUo teve de implorar , como Itabel de Afagiô a
Juanoto Berardí , estabelecido em Sevilha , que os índios que Co-
iombo enviava para aprender o castelhaiio nâo rosseni vendidos como
«Kravos (115).
Si como di£ Robortson esta^'n resenhado no desiino do género hn^
«lano que ti novo continente seria d^coberto no fim do XV século;
si a em[teta de Colombo tilo tívesse sido corooda de táo magníficos
resultados; si quando ello, como nota Navarratle , em i9 a 2t de
setembro encontrava os mais endentes signaes de lerra se approii-
niasse das RonkpimUã » ^ue os navegadores btspanhoôs asseguram
ter descoberto sobra o grande banco de fncu» em ISOâ^ e qua
coroo observa Humboldt [K»dería ler retardado o descobrimento do
11090 mundo até 2t de abril de 1S0#| dia em que Pedro Alvares
Cabral descobríii o Brazit , o que nâo seria enUlo o illuitra sucessor
de Vasco da Gama (ff 6} ? Perderam-no , nio a navoga^io atre*
vida do íllustre genoveí, — porque lambem o descobrimento do
Brasil não podia caber únMo a quem ousado sulcasse o oceano
em tio remotas paragens ^ mas o inroriunio do grande bomemf
Faltaram a Cabral, atém do âsquecimento da pátria, os ferros
da ingratidão eom que os m& catboticos premiaram os feitos do
Aseobridor da America. Mas si Pedro Alvares Cabral comeUes^
um 80 dos etms de Colòmho ; si esse homem que âeJIou com os
trt^feos do Cah-arto a fundação de um ntívo imperití» e—quo
riBtílta
38A
eomo diz Barros, era a|>onlai]o pelas qualidades de sua pessoa (f 17) ,
que como nota Mariz era homem fidalgo e ^e/.muito esforço e mui
expcrimcnlndo em guerras marítimas (118), que como quer Rocht
Pitta mereceu os cognomes do illustre e famoso capilfio (119), e
que como pinta S. Thereza , era dotado de vivissiroo espirilo e igaat
valor[ 120] « si esse homem adestrasse os cies aos combates conlra os
jjadigenas acharia ainda na grande intelligencia de um Alexandre de
Humboldt a desculpa que acho*) Chrístovão Colombo para si n'estas
sublimes palavras em que a verdade brilha a par do sentimento em
que prorompe o coração : « Nào é desgraçadamente mais do que certo
que foi Christovão Colombo quem introduziu o abominável eostuiRe
defazor combater os cães contra os indígenas.» (121) A injusliça dos
homens domina a própria historia ; os ódios nacionaes não desappa-
recem no crisol da critica : — nem se despedaçam na lago do sepulcbro;
— afama, — a heroicidade , — a gloria, — também dependem dt felici*
dade dos indivíduos como recompensa ou não de seus feitos, moeda
arbitraria entregue ás oscillações do cambio dos tempos , dos pa^^Kes,
dos povos e dos reis. O infortúnio também é um prestigio; sem elie
os louros do poeta (122) se teriam murchado deixando desconhecida
para o mundo a belleza da immortal Mineira, pois o fumo da candôa
da masmorra não leria-lhe ministrado tinta para novos cantos ;
nem o exilio de Napoleílo apagaria a lembrança de suas tyrannias ,
realçando os raios de sua gloria. A historia ainda não pagou a Ca-
bral a homenagem que lhe c devida , c nós a ptria e a língua, e a
religião que nos coube por herança. Em paga chamam-no o heróe
do acaso , como si aquelle que descobriu a America e que morrera
na convicção de ter locado as costas da Asía não podesse pela mesma
razão merecer o cognome de heroe do equivoco.
£ esses homens que imprimiam o caracter da religião em todos os
seus actos poderiam não ver no bom êxito de uma tentativa um mi-
lagre de Deus ? O próprio Colombo que ufano surcava um oceano
desconhecido, o oceano Tenebroso dos geographos árabes 9 e quo
com a sua tenacidade^ uperou tantos e tão grandes perigos , o próprio
Colombo também attribue a sua chegada ás suppostas costas da Ásia a
885
uma vontade divina e a certas miraculosas inspirações (iâ3). A carta
do rei dom Manuel dando conta do achamento da terra de Sancta
Cruz , como então se dizia , prova o contentamento que elle teve
por ver coroadas as tentativas que fazia por obter um porto inter-
mediário para a sua navegação da índia ; eessa frase « — parece
^ue nosso senhor milagrosamente quiz que se achasse essa torra >^»
seria quando muito para acobertar essas tendências desmarcadas
da nação portugueza nos descobrimentos maritimos , essa ambição
insaciável de possuir em todos os mares uma ilha em que hasteassem
o pendão glorioso das quinas, como si o reino portuguez fosse
pequeno para sua população, mas nunca para dizer qne o descobri-
mento fora devido a um mero acaso.
Què o descobrimento do Brazil foi devido ás correntes
do Atlântico e a um erro na derrota que sobreveio
6 continuou depois d'elle pela constância e perma*
nencia da causa que o produziram.
Antes de.entrar na elucidação d*este ponto , o auctor pede permis-
são para deroorar-se em desfazer alguns de meus argumentos, a força
é segui-lo passo a passo na sua argumentação.
Tem o auctor para si que não foi inteiramente nova a direcção
que trouxe Pedco Alvares Cabral da que levara Vasco da Gama,
porquanto Jeronymo Ozorio diz que seguira a mesma esteira de seu
antecessor, quando lhe sobreveio o mau tempo era cabo Verde (124),
mas, ajuncta o nosso illustrado consócio, quando mesmo tivesse
tomado outro rumo , ainda assim não se poderia concluir d'este facto
que houvesse da sua parte ouUro desígnio e propósito que nfio
íoeie o de facilitar a sua navegação. « Por isso escrevem outros
(acerescenta o nosso consócio) que um dos capítulos do regimento
que trazia o mandava afastar da costa d' Africa , e de facto os mani6>
386
0 ventos reinaiilâs em suas costas, que iam saodo mallior (
ddas» aconaeibavani que se fizesse a Tiagem» como a fat-Mv»
Alvares, oomo se fioe« fazendo depois d'ell0 , e eemo aecooliowBlB.
4, lazer ainda que aio exislisM Brasil; t
8iito que o audor. caia em lio manifiosta eoatradítgio. 9epni*>
beode de lenonymp Oiorio qae Badro Almes Cabral aegni» #
etfeíro. das naus de. seu antecessor, ecrè, peio artige. de nq^jk
mento, qne elle. leve de abstarn» da eoatade Africa por i
e esselenpo mais conheddaa., e aoonaaliMiiem oa marea •
mnantea que sefizease a víagmn. como a iéz Pedro Ahanet, eeme
ee £coa {pzendp depois d-elle,. ^ nio eomo a traçara. Vem da.
Garoa.
Cumpre- restabelecer a verdade doshctos; Cabral tinha que- fnar
aguada, em cabo Verde (125) , e é^por isso que Jeronymo Ozono
diz que seguia o esteiro de sen antecessor quando lhe sobravaso
esse máu tempo, de que nSo faliam nem. Giminba, nemopilolo
que escreveu a Narração dQ viagens;- ao deixar, porém , as ilhaa
da costa, africana começou a. soa navegaçSo empegando-ae no
oceano, ou como o.auctor havia, de ler no.proprjo.0aorio : « pAs a
proa no Occidente. » (126)
O auctor que concorda que o jesuita Eafitau, tendo tantos
documentos á soa disposição para a. feitura de sua JEKslerta das
etmquuiM doêi PorêuguexeR no novo mundo nio traçou as derrotas
de Vasco da Gama e de ^n> Alvaaes Cabral, segundo as suas
in^nraçOes,. encontrará no. planisferio ,. collocado em frente de sua
obra, o esteiro das naus do protonauta do Oriente , confundido oom
o esteiro das naus do descobridor da terra de Sancta Cruz, desda a
foz do Tejo até as ilbas de cabo Verde e distinctamenie se afastando
Uffi do outix) até q^ue na altura do equador o Gama corta a linha «oa
351^ e Cabral aos 346% ficando de permeio 1.1% e ao dobrar do
eabo da. Boa Esperança confundem-se de novo oa esteiroa das naus
doe dous atrevidos navegadores. Vé-se pois que o traço das viagens
fiareadas no roappa que íllustra a obra do sabia jesuíta nio aslieQi
eonH^adicçao com es historiadores.
^
$
S87
£u disse qud 6ra evidente, á vista da documentos irrecusáveis^
coetinos e inconlej^Uiveis que os portuguezes suspei lasse rn da exjs*
lencb das têrrus que Padro Aii'ares Cabral descobriu demândando-aBi
quando deu é sua naveg^içáo essa dtrecçita inleirimeQle novi^ e não
para lugir as calmariis da cu^la dâ Africa ^ porquanla essa Gto livera
Vasco da Gania sôm eomtudo amarar-se tanlo para o^te» nem aer
arfihatado das correntes. Q auctor para destruir essas razoes poo*
dera que Cahrd ft£-sd ao largo alonga udo-sa da cosia de Atriei
para dar i^figuardo ao cabo e dobra-lo com mais facilidade, em-
quanto que Gama afasta ra-ãe algiitna cousa, mas muito menos do
quo seria preciso para poder contar com uma viagem segura ^ a nào
se aJ^arando tanto nào corria o perigo de sor arrebatado pelas cor**
reates. Aqiii entra o iHustre auclor na questão que o descobrimento
foi devido ás cormntiss do Atlântico e a um erro na derrota que
sobreveio e continuou depois peta consumcia e pânnanencía da
causa que o produziam*
A eriíiea^ com o seu iRÍiiucioâa exame, fez coabecor quenio
fòra Cabral impellido por essa hono^úB^ e longa tenipesiade que
arrebata as suas naus ás ilbas d6 cabo Verde & vem de tão longe
arremessa-las ás costas brazilicas, como improvisaram os historia^
dores que se niSo deram i confrontarão dos documentos, que as
peequizas feitas em nossos dias patenieanim^ á luz p ubltca ; d'aht
ntsceu no espirito dos homens imminentemenAe peasadoí^ do nosso
século a idéa de que uma causa desoonbecída aos próprios auciores
do descobrimento tinha concorrido pra elle , pois que para etles a
suspeita da possibilidade da e^slencia do Brazil não podia entrar
no calculo da intelligencla humana, embora o descobrimento das
Antilhas t St^ease presumir aos Portugueses a existência de maltas
ilbas que se augmentaram em numero à proporçio qua se prolonga-
ram para o sul i a vissem mesmo no Brazil « a que deram o nome
de "—ilha de Vara Crut, uma daa que descobrira Colombo^ como
refere Joio de Barros, e como Geou demonstrado na primeira parto
d'esta refutação, e pois essa causa desoonhecida nào podia ser outra
cousa sinão aã correntes ^ que lob varias doaominações al^uiu tanto
388
vagas correm enlre as aguas tranquillas do mar e sem Iraaiaçáo
própria* apenas obedecem á impulsão local dos ventos. Assim o sr.
Alexandre de Humboldt dizia em Paris, em 1836, quando dava á
luz a sua iroporlantissima obra Exame crítico da hiãíaria- éa
geographia do novo contineníe: « O conliecimento intimo tfãe
temos hoje da multiplicidade d^essas correntes ou rios pelágicos, de
differentes temperaturas , que atravessam o grande valie longiuidioal
do Atlântico , oflferece uma explicação fácil do descahimento exinor-
dinario, para oeste, que experimentou a pequena esquadra -d<9
Cabral. Tiveram a imprudência de cortar o equador em uma loO'-
gitude assaz occidental e pelo effeito da corrente equinocial media
(sirvo-me da nomenclatura do major Rennel) entrou-se na corrente
do Brazil , que não é senSío uma continuação da corrente eqoiíiociai,
modificada pela configuração do continente americano, n (1^7)
Guiado pelo génio do sábio allemão, o auctor das reBexõas»
aproveitando-se também das correntes para entregar ao acaso o des-
cobrimento de Pedro Alvares Cabral, procura provar, segundo Suas
supposições, como poderam influir na viagem de Cabral ao ponto
que nenhuma influencia exerceram na de Vasco da Gama, que
também afaslára-se da costa africana evitando as suas calmarias-
Assim Gama, no parecer do auctor das Reflexões, nSo pôde
experimentar a força da corrente que arrastou a Pedro AWaros por
não ter carregado tanto para oeste.
« Si ponderarmos agora, accrescenta elle, que um doestes se
entrega á força d'ella emquanlo o outro a cortava rectamente ou com
pequena obliquidade, havemos de concluir que o descobrimento,
que se tomaria insignificante para os navios de Gama , era incal-
culável para os de Cabral , e mais ainda por se não contar com
elle. »
Tudo isto porém nSo passa de uma supposição, que apenas entra
na espbera das possibilidades , roas não na veracidade do facto que
se deu , pois só quando com os roteiros na mão seguirmos os esteiros
de Vasco da Gama e de Pedro Alvares Cabral sobre a carta geral
que o major Rennel coilocou á frente de sua obra (128), c a par
589
de recentes observações de novos hydrograpbos, poderemos averi-
guar o que suppozera o sr. A. de Humboldt, e. presume o nosso
estudioso consócio ; entfio veremos si com efTeito entrou em calculo
devassar os mares, onde dom Joào II cria poder existir muitas
ilhas e ainda uma terra flrme ou si as correntes trouxeram insen-
sivelmente 08 Portuguezes és praias dos hospitaleiros Tupíninkins.
Sinto que o planisferio collocado em frente da obra do incansável
jesuíta seja de tão acanhadas dimensões, e até ás vezes imperfeita,
que se não preste para mais aprofundada confrontação. Dado o caso
porém de que com efifeito Cabral fosse favorecido pelas correntes
equatorial e da costa doBrazil, ainda assim se não poderá dar o
facto por averiguado sem outros documentos que o comprovem, á
vista d'aquelles que fazem suspeitar que houve o quer que fosse de
ambiçSo ou de gloria em partilhar dos descobrimentos que então se
faziam nos mares de oeste em tão remotas paragens, porquanto
Pedro Alvares Cabral tinha por fim principal da sua navegação o
Oriente, e largando de porto Seguro foi ainda levado pela soulhern
connecting current, que se dirige de E. S. E. ao banco Lagullas,
quando proejava sobre o cabo da Boa Esperança , e nem por isso se
diz quo essa navegação fosse devida ao acaso.
Para mais se confirmar na sua opinião o auctor argumenta com
o numero das naus de Pedro Alvares Cabral , e assombra-se que tão
grande esquadra tivesse por fim uma viagem de explorações por
jamais haverem a Hespanha e Portugal mandado esse numero de
veias a fazer descobrimentos, e concluo que a esquadra tinha um
fim todo commercial e que ia apercebida em guerra, porque os
Portuguezes suppunham que iam encontrar os reis do Oriente em
armas e que arriscando-se vidas em numero sobejo nào se exporiam
riquezas a serem escusadamente tragadas pelas ondas em uma ten-
tativa de descobertas; como si expondo tantas riquezas ás eventua-
lidades da guerra não pudessem arrisca-las também nas tentativas
das descobertas dando-se á esquadra uma dupla missão 1 Admira-se
com o numero das naus pouco mais do duplo das que compozeram
outras esquadras de meras explorações , quando o sr. Alexandre de
890
HumboUr, pelo oonlrarío, a coondanr pequena pelos ponoes navioi
que a formtnm, meneiooando-a por eslas palavras: lapetitêm^
eadre de Cabral (129) , pois qu^ o'e9so tempo a marinl» ports-
gueza primava tanto pelo grande numero de seus vasos que aó nds
dezoito primeiros annos que se seguiram i cireumnav^gação do
cabo da Boa Esperança calcula-se em íí94 os navios enviado» pelo rei
dom Manoel á índia e ao Brazil. Gama sahira do Tejo eoro quatro na^
vioSk a esse pequeno numero de vasos a o oio ter sunsadò ooim GaiMnl
O oceano em tao longínquas paragens fes diísr a Américo Veapaoaí
que a uma tal viagem nSo podia dar o nome de viagem de desoohri*
mentos, pois era prolongar-se com as cosias, que estavam já descdbar*
las. • Estes navegadores, aocrescenta die, nao perderam deviata a
terra e fizeram a volta de Africa pelo sal , eon» todos os coamografhoa
o haviam indicado. » (130) Que muito pois q«e asttfiasaaor a
Cabral doze, treze ou qoaiorze navios, que até n'isso dtvergBBi.ot
historiadores, para sulcar o oceano em* remotas paragens^ dando á
soa navegação mais amplas proporções, perdidos os leceioB doa
mares tenebrosos, «ujas barreiras de branaO', segundo a frase
poética de Colombo , haviam sido quebradas e para sempre peli
quilha de seus bateis ?
Cré o nosso consócio que a ter entrado nas instrucçOes de CabraU
ainda mesmo de passagem , a possibilidade de descobrimento > deveria
o capitão-mór da esquadra, descoberto o Brazil, ser o portador e
alviçareiro de uma noticia que em Portugal causou tanta admiraçio^
Deixara ao próprio auctor das Refle^õeê o rasponder á sua objec^
çio, trasladando as suas palavras quando disse que Cabral eoná-
nuára a sua derrota dando ao descobrimento a attenção que podia
sara transtorno do serviço.
Adffiiitida a hjpothese de ter entrado nas infracções, conw
diz o auctor das Reflea^eê , a possibilidade do descobrimento ,
nSO podia o nosso consócio tirar outra conclusão, e nem Càbiel
deveria voltar á Europa sá para communicar o achamento daterim»
quando um de seus escrívfies se encarregara de todas as notkâaa
ainda as mais minuciosas relativas ao descobrimento, a Gaspar da
391
Lemos o féx umbem com uma náa eomo Cabral o faria oòm lodoí
os seus navios, que na opinião do auctor eram era graade numero
para uma viagem de deseoberias, e nào o seria no entanlo pari ama
viagem , tendo por íim uma mera noticia l '
E' certo 9 como nota Brito Freire, que alguns companheiros
insistiram eom Cabral sobre a conveniência de arribar ao raia-
no (131) e que a sua recusa foi reputada pelo bistoriador fr. Gia
Gioseppe de Saneia Tberesa como una aeçao generosa , por ter lida
em maior conta o serviço que o premio» e assim prosi^uiu em
soa viagem. (132)
Insiste ainda o aueior que o rei se não al^ràra ao reeeber
a nova do descobrimento do Brazii senào por saber da boa viagem
das suas naus, que as mercadorias nào tinham sofTrido e que «e
tornava mais faeil a navegação; eu, pelo contrario, dísie que o
descobrimento nio so causara geral satisfação em todo o reino,
dando logar ás mais extra vagaotes combinações astrológicas, coma
qut euthosiasmára o rei ; « aasira , diz João da Barros, por saber
da boa viagem que a frota levava, como pela terra que desco^
bríra» (133); e o Sr. Alaiandre deHumbõidt Wta, oílando as
palavras com que dom Manoel deu conta aos reis eaibolioos d'esce
aeontecimeoto, que fome notável o terse para logo prefislo a
importância que deveria merecer uma terra situada, por assim
diaer , sobre a rota do cabo da Boa Esperança , e da navegação
da Índia. (134)
Chega a vez do auctor appellar para o papel que reptesentou usa
armadaa que vieram a eiplorações, reconhecimentos e conquista da
Braztl, o rival da gloria de Cdombo, a quem Hyiacomylns etei^
nisott dando o sen nome á immensa extensão do novo mundo palan*
laado aos olhos da Europa pelo intrépido genovês. O seo emprega
n*estas explorações 'conGrma, quanto ao aoctor das RefkaBÔetf a
opinião de que não se podia aniever a possibilidade dodeseebrimeota
nas mares aaioBdos pelos marajts da aseala heapanhol», parqMint»
ao depeía do deioabrknento de Cnhial é que dom Manoel lembrovHa
mm Mnhk Anmsico Vespioci a seu sanéjo madando mr immih
inu Si
geirOy depois de regeiíniio o seu primeiro conviíe, «cun a
mendaçâo de trazé<lo \)or todos os modos. Hoje é liquido qae Amé-
rico Vespueci apenas (ornou parte nas expedições portugueias oono
rosmographo ou astrónomo, e que o seu chamado a Portugal foi
de?ido á recommendaçâo que Caminha fez ao rei de que prosoguísse
no descobrimento mandando novos na?ios; e ainda mais, a alegria
com que o rei recebeu a nova da descoberta, que por cerlo, a não
lhe dar importância alguma , como pareceu ao nosso consócio, náo
86 apressaria tanto em expedir novas armadas para o seu reconheci-
mento nem em procurar homens abalisados em conherimenlos
náuticos que viessem le\antar a conGgurnçâo de suas costas, tentar
novos descobrimentos e procurar uma passagem pelo Oeste ás ilhas
Molucas, como se deprcliende das palavras de Gomara (133). Não
me alongarei n'este ponto, de que tratiroi quando puder com mais
alguma extensão na Historia do descobrimento, exploração e
conquista do Brazilj que tonho entre máos.
Káo sei que argumento moral se possa deduzir a favor da opiniSo
do auctor do facto de não transluzir dos escriptos de nem um dos
companheiros de Cabral a satisfação intima de haverem conscien-
ciosamente conseguido um resultado.
Diz o auctor das Befkxões que Cabral e sua gente alegram-se
sem duvida pelo seu descobrimento, porém mais ainda porque essas
terras não pertenciam aos dominios de Uespanha visitadas por
Colombo. Nào era por ventura isso mesmo o que se devia dar? Os
intrépidos marítimos, abandonando o esteiro das naus de Vasco
da Gama, se entregaram na vastidão do Atlântico á Providencia que
os guiasse ás suspeitosas ilhas dos mares de oeste que, se prolon-
gando para o sul, avultavam em numero, e ainda a terra firme,
cuja existência entrara nos cálculos de dom João 11 , o que bem se
deprehende da direcção de sudoeste que deram á sua navegação
quando sahiram de cabo Verde: e pois não viram em seu en-
contro mais do que um favor de Deus. cc £ elle, dizia Caminha »
dírígindo-se ao rei, a quem tanto a fortuna favorecera, e elle que
nos per aquy trouxe, creo que nom foy sem caussa, e per tanto
393
Vosa Alteza, pois tanto deseja acrescentar na Santa Fé Catbolica,
deve entender em sua salvação , e prazerá a Deus que com pouco
trabalho será assy. * Si os Portuguezes se alegraram com a encontro
da terra , porque não redobrariam de alegria sabendo que a acbavam
para a coroa portugue/a, e vendo estenderem-se os doroinios da pátria
ás terras do novo mundo, comprebendidas na demarcaçSo da bulia
de Alexandre VI ? Grande pezar seria si a tivessem descoberto para
o domínio da Hespnnha, e tal foi pelo menos o que aconteceu a Yanez
Pinson e a Diego de Lepe, do que sem duvida se originou a pouoa
importância que Ibe deram, pois que , recolhidos á £uropa , se limi-
taram a dizer que em toda a costa ao sul da linha, desde o cabo de
Sancta Maria até o de Sancto Agostinho somente se encontrava muito
brazil e nenhuma outra cousa que de proveito fosse. (136)
Combatidos todos esses argumentos resta mostrar que o auctor
não é mais feliz quando trata do erro na derrota que sobreveio •
continuou depois d'elle pela constância e permanência da causa que
o produziram.
Diz o auctor que Cabral tendo desdobrar o cabo da Boa Espe^
rança considerou que evitando as costas de Africa compensava a
grande volta com » 6vicar as suas calmarias, e que d'este modo
fim explicada o dizer de Galvão de que Cabral se afastava da costa
de Africa para encurtar o caminho; o desditoso Galvão lornou-se
tão resumido em seu Tratado dos descobrimentos antigos e mo-
dernos, que, não obstante ser de todos os escriptores o que mais
se approxima de Caminha , foi corntudo o que menos claro deixou
a causa que deu lugar ao descobrimento do Brasil. A seguirmos as
suas palavras com a mesma fé com que o auctor das Reflexões bs
acata, para fundamentar a sua idéa de que houve erro na derrota,
eque continuou depois d'eUe; o descobrimento do Brazil foi devido
meramente á perda que experimentou Pedro Alvares Cabral em uma
de suas naus, « o qual, diz elle no seu citado Tratado dos des cobri-
mentos, tendo uma náu perdida, em sua busca perdeu a derrota,
e indo fora d'ella toparam signaes de terra por ondeoc^pitão-mór
foi em sua busca tantos dias que os da armada lhe requerecam
SM
deiia«i8 aquettia porfia; mas ao ostro dia YÍffain a
zil » (1S7). A' prímdra visu parece que lodo é exada ii'em Oa
eoneísa narração, porém da sua comrisio nasceu a folta de algaoMC
particularidades que modificam o facto como ae pretende reprododr.
No dia 22 de marco avistou a esquadra de Cabral as ilhas de cabo
Verde passando pela ilha de S. Nicolau , segundo assevera • pildo
Fero Eseober, ou segundo Damião de Góes e outros auctoras e
ilha de &nThiago, e no dia seguinte ao amanhecer dera» por
(alta da nàu, que, segundo Caminha, era a de Vasco de Alajrde.
Quanto a Barroa, a Damião de Góes e a Oaorio,. a caosa d'eaBa peida
fci uma tormenta , quando o pítoto em sua narraçSo nem uma
BMnçáo faz de tempestade, e o próprio Caminha diz que nao boofe
tempo forte nem contrario para poder ser. Segundo Osório, esperoa
Cabral dous dias pela sua nau ; segundo Caminha , fez elle suas
diligencias para acha-la a umas e outras partes e nSo appareeeu
asais: « e assi, diz eUe, seguimos nosso caminho per esse mar de
longo. » Estou bem convencido que Cabral não andou buscando
pdo oceano a náu que se lhe de^rrára; havia necessariamente
busoa-Ia nas ilhas, onde era crivei que se tivesse abrigado, que nem
ouln cousa se deprehende da frase de Caminha « a umas e outras
partes » e desferindo as suas velas das ilhas de cabo Verde não era
MK) crível trazer a derrota perdida.
Perdida a derrota, eis Cabral entregue ás correntes , sem o saber ,
com vento favorável que o traz ao Brazil, e que o impede de conhecer
a marcha de seus navios sem poder dizer a que distancia se achava
de cabo Verde e em duvida sobre a altura que tinha.
Era n'esse tempo imperfeitíssimo o methodo da navegação, em
relação aos conhecimentos de hoje , como tfio cheio de erudição
demonstrou o auctor , mas apezar d^isso escaparia á penetração de
abelisados maritimos, como Pedro Alvares Cabral, Bartholooieu
Dias, e tantos outros que iam na frota , a força das correntes, não
podendo conhecé-las pela marcha de seu navio, por isso que o
vente era favorável? Poder-se-ha affirmar que não sabiam a dis-
tancia em que se achavam de cabo Verde so porque Caminha
395
escrevia ao seu rei que esta?am a 660 ou 670 legoas, a aocresoentara
em parenihesis que assim os pilotos diziam v para concluir-se que
eo eile duvidava do que os pilotos diziam , ou os pilotos discordavam
entre si 7 Náo é o próprio Caminba quem diz ao rei que não daria
conta da marinhagem e sangraduras do caminho porque o nâoeaberia
fazer, e os pijolos teriam esse cuidado? Duvidavam dá altura que
tinham» porque o mestre João, que ia na frota mais como physico do
que coma astrónomo discordava em seus cálculos dos cálculos doa
pilotos, quando em terra é a mesmo que nos diz que aos 27 de abril
ao tomarem a altura do sol a sombra era septentrional ?
Mas insiste-^ que Cabral e os pilotos enganararo-se na sua nave-
gação, e se suppunham mais próximos da costa africana do que por
eerto bSo estavam; e esse engano de longitude oii;ava em umas
trezentas legoas no sentido de oeste , e no entanto os pilotos exigiam
a mudança da proa, e té-lo-hiam feito antes, e nem uma razão
havia para que Cabral não accedesse ás suas instancias por não haver
encontrado ainda signaes de terra..
Que certeza haveria n'isso 7 E como se explica essa exigência dos
pilotos á vista dos signaes de terra ?
E para lastimar que tantas e tão disformes contrariedades cons-
purquem a primeira pagina da historia da pátria I Si o illustrado
auctor das RefkxôeSy com aquelle zelo que todos nós lhe reconhecemos,
procurasse antes cavar no abysmo do passado esses documentos, cuja
falta lamentamos, e com os recursos do talento que o céu lhe deu em tão
elevado grau e superioridade de seus conhecimentos tivesse escripto
nova memoria, teria a historia lucrado, deixaria para todo o
sempre esquecido o meu trabalho, e nflo ficaria o descobrimento
do Brazil entregue ás supposições de ter sido ou não devido a
um mero acaso. Assim, o sr. Bivar pensa que Cabral não se
entregou aos mares como fatalista ; mas que traçou a sua derrota
para a índia por um trilho novo, e si n'esse trilho avistou e des-
cobriu a terra de Santa Cruz, póde-se dizer que o fim foi casual,
mas não os meios (138)1 Assim, o distincto e benévolo sr. Ma-
chado de Oliveira não pôde modificar as suas convicções ao theor
306
da minha opinião, porque, a haver erro da sua parte, smnentó
outras razões que não as de meras probabilidades poderád dis-
sipa-lo; e assim o illustrado sr. Gonçalves Dias acha que a verdade
não está nas condições da verosimilhança que resaila no mea
trabalho.
Refutando as Reflexões do erudito consócio , tão digno por tantos
títulos da nossa estima e admiração, força foi cingtr-me aos meus
apontamentos, esgotada a fonte onde achei os documentos que
revolvi na confecção da memoria feita em desenvolvimento do
programma que Sua Magestade Imperial se dignou de dar«-me
quando pela primeira vez presidiu as nossas sessões; agora que o
sr. dr. Gdnçalves Dias viaja pela Europa, tão dignamente com-
missionado pelo governo , poderá melhor do que eu colher docu-
mentos que lhe lucrem novos louros e que elucidem para todo o
sempre a primeira pagina da historia da nossa pátria.
Sala das sessões do Instituto histórico e geographico braztleiro„
7 de Setembro de 1854.
J. Norberto de S. S..
897
IVOTAS.
(1) EJMimên critique de Chistoire de la géographie du nouveau continent
êt des progrès de Castronomie nautique anx lõ."* et 16."* siccles* Paris,
5 vols.. Tom. V, pag. 23, nol.
(2) It. Tomei, pag, 285.
(3) Para Ilcrrera c outros historiadores não existiu Toscanelli ! V. A.
DE HuMBOLDT, Examcn critique ^ tom. I, pag. 255.
{k) V. A. DE liuMooLDT oa obra , tomo e pagina citados na nota ante-
rior.
(5) Coleccion de los viages y descubrimientos qui hicieron per mar los
espanoles^ etc. Tumo 1, pag. LXXIX.
(6) Carta de Pablo Toscanelli, V. Navarrete, Coleccion de los
viages y descubrimientos , Tomo l, pag. 1.
(7) Examen critique, tomo IT, pag. 22A.
(8) Idem.
(9) Idem.
(10) Idem, tomo II, pag. 226.
(11) V. a Carta citada na nota 6.
(12) Examen critique, tomo II, pag. 227.
(13) Idem.
(16) Cartas já citadas d** Toscanelli e o Examen critique de A. de
HCMBOLDT, tomo 11, pug. 228.
(15) Cartas citadas. «Tambien le píntaba en dicha carta muchos
lugares en las partes de las índias donde se podrá ir , succediendo algun
caso fortuito , como vientos contrários ú otro qualquiero que no se espe-
rasse. » V. Mavarrete, CoL de los viages y descubrimientos , tomo 2 ,
pag. 2.
(16) A. de IIlmboldt , Examen critique, tomo IV, pag. 16.
(17) Idem, tomo I, pag. 231.
(18) Sprengel.
C19) Bartholoheu de las Casas deixou entre os seus manuscríptos
esse monumento a que elle chamava « la carta de marear que Toscanelli
enrió a Colom. » V. A. de Hdmboldt , Examen critique , tomo I ,
pag. 268.
(20) A. DE Uomboldt, na obra citada, tomo I, pag. 233.
398
(21) A. DE ll\3MWyLi>T,Examen critique, tomol» pag. 139.
(22) V. Navarrete, Col, de lo» viagêsy discubrimientos. Tomo I^
heiacione», cartas c otros documentos concernentes a los cuairo viages
quê hizo el almirante don Christobal Cólon para ei descubrimiento de
las índias occideniales. Pag. 16, Miercoles^ 3 de Ociubre.
(23) Idem. Sábado, 6 de octubre, pag. 17.
(2à) « MaraYillóse en gran manera ver tantas islãs y tan altas, y oertí-
íka â los Reyes que las montanas qiie desde antier ha visto por estas
costas y las údas , qoe le parece que no las bay mas altas eit el noiído,
ni tan hermosas y claras sin niebia , ni nieve, y ai pie delias graadiasbao
fondo ; y dice que cree que estas islãs son aquellas innumerables que en
los mapamondos en fin de Oriente se ponen. 0 Relaciones, carias» etc
V. Navarrete, CoL de los Viages, tomo I, pag. 57 , Miercoles, ih de
noveimbre. A respeito d'esses mappa-mundi nota o illuste Navarrete <[ae
« Vea-se el mapamimdi de iMartin Dehen construído em 1492 y pubUcado
por Mur y por Gladera , e se advirtira la multitud de ischas que se colo-
caba ai extremo oriental de la índia. »
(25) Diniz , na sua Ode pindarica a dom Vasco da Gama.
(26) Uvro III, cap. bH.
(27) Uvro m, cap. 33.
(28) Edição de Marsden^ pag. 712.
(29) A. de Udmboldt, Examen critique, tomo I, pag. 26, not 1.
(30) V. a nota 2/i.
(31) Décadas da Ásia, tomo I, dec V, cap. lí, pag. 389.
(32) V. Informacion y testimonio de como el almirante fue a reco-
nocer la islã de Cuba quedando persuadido de que era tierra firme, Docn
num. LXXVI da Colercion de los viages y descubrimientos publicada
por Navarrete, tomo II, pag. l/i3. V. também A. de Homboldt,
Examen critique, tomo III, pag. 9 e 10, not. I e pag. 266.
(33) V. Relaciones, cartas y otros documentos , da Coleccion de l&s^
viages y descubrimientos de Navarrete , tomo I, Martes 15 de Enero ,
pag. 139. « Dice que halló mucha Yerba en aquella bahía de la que
hallaban en el golfo cuando vénia ai descubrimiento , por lo quai creia
que habia islãs ai Leste hasta cn derecho de donde las comenzo á balar ,
porque tiene por cierto que aquella yerba nasce en poço fondo junto á
tierra, y dice que si asi es, muy cerca estaban estas índias de las Islãs
de Canária , y por esta razon creia que distaban menos de cuatrodentas
kguas. 1»
(3/^) w No qniso detener-se barloventeando el ahnirante para averigoar
si babia tierra mas de que tuvo por cierto que a la banda dei Norte e dei
Sar babia algunas islãs , como en el verdad lo estaban y el ila por médio
delias; porque su volontad era de segnir adclante basta las índias , y el
S99
tlempcies baeno, porqae placiendo á Dios á la Tolta se veria toda » V.
Relacionas , cartas y otros documentos ua coleceion de los viagê$ y des*
cubrimientos de Natarrite, tomo I, pag. li; Miercoles 19 de setiembre.
(35) Década /, lib. UI, cap. 9.
(36) Munoz, tomo VI, pag. 13.
(37) J. DE Barros, Década I, lib. III, cap. li,pag. 252. V. A. de
IIdmboldt, Examen critique, tomo IV» pag. 259» nota.
(38) V. Navarrete, Coleceion de los viages y descuMmientôs ,
tomo II, num. LXXI, pag. 109.
(39) Examen critique, tomo IV, pag. 134.
(60) Idem , tomo IV, pag. 26 e 27.
(41) Navarrete , Colleccion de los viages y descubrimientos , tomo I ,
pag. GXXXXIU; tom. pag. 598; IIdmboldt, Examen critique, tomo I»
pag. 104, nota.
(42) V. Investigador portuguez em Inglaterra, volume VUI, num*
30, pag. 199 a 212.
(43) Da possibilidade e verosimilhança da demarcação do estreito dê
Magalhães no mappa do infante D. Pedro, cap. IV. V. Historia e
memorias da Academia real das sciencias de Lisboa, tomo V, parte I,
pag. 134.
(44) « A quanto se íablo de mi empresa todos a una dijeron que era
bmrla. »
(45) V. nota i/ii a pag. 187 da Memoria sobre o descobrimento do
Brasil, no tomo XV, num. 6, desta Bevista.
(46) « Com effBíto , as grandes despezas que era necessário fazer na»
expedições marítimas e as declamações dos que muito reprovavam as snaa
tentativas como dispendiosas, inúteis e até fataes , tudo concorria para
que elle se limitasse unicamente ao decobrímento das costas dTÂfríca ,
que eram mais próximas e conbeddas , e se não repartisse e dividisse
para novos descobrimentos de outros rumos diversos e de terras não
sabidas.» António Ribeiro dos Santos, Da possibilidade e verosi-
milhança da demarcação do estreito de Magalhães no mappa do infante
D, Pedro, capw IV, pag. 133 do tomo V, parte I , da Historia e nume^
rias da Academia real das sciencias de Lisboa.
(47) Os Lusíadas , canto IV, da esL XCIV a esL aV.
(â8> Examen critique, tomo XR » pag. 92.
(1^9) T. a Memoria refattáa, Revista irimenseá do hutHuto histórica,
X9im XV, pag. 1^7, noCft 14t.
xvui 52
AOO
(50) « n est bien rcmarquable que Ics aithifes de Siimincas i
ment une bulle de concession des Indes , du 3 mai l/i93 {quinto i
Maiax), trouvéf* par mon iUustre ami Munoz, et entièrement sembiabe à
celle du U mai {quarto iSonas Muitu), conservée dans Ics archíTes de
Sévílle. (Munoz, Hist. dei i\uevo Mundo, lib. IV, $ 29; Nat. LkMimu
diplom., t. II, pag. 23 — 35) , aux diíTérences prés que je vais consigiier
ici. Dans la concession du 3 mai , il h^est aucunement questíon d*aiie
lijne de détnarcatúm désiguée dans ia buUe du jour suivant ; il est sfm-
plement dit « qa*il est fait à perpétuité don dcs lies et terres íerines
récemment décou vertes per diUctwn filium Chrislophorum Cólon aux
róis de Gastille et de L<5on» et que ces róis posséderont ces terres avec Jes
mémes privilèges et drolts que les papes ont accordés (en i/ii38 et i&59,
du cap Bojador jusqu'aux Indcs oricntales, d*après Barros, Dec I, lib. I,
cap. 8 — 15) au roís de Portugal. » Les deux bulles de 3 et /k mai sont
littéralement les raêmes dans la premicre moitié jnsqu'aux uiots « ac de
Apostolíc» Potestatis plenitudine omnes et singulas terras et insulas
pra^ctas et per Nimtios veslros rcpertas per marc ubí hactenus naTi-
gatum non fuerat , per partes occidcntaies, ut dicitur, versus Indiunu,. »
Après ce passage, on a inséré dans la bulle du ú mai Ia ciause que
TEspagne possédera «onmes insulas et terras firmas inventas et inve-
niendas, detectas et detegendas versus occidentem et meridiem, fabri-
cando et constituendo unam lineam a polo árctico ad polum antarcticam
qux linea distet a qualibet insularum quae vulgariter nuncupantnr de los
Azores et cabo Verde centum leucis versus occidentem et meridiem. 0 II
faut convenir que cettc détermínation a qualibet visularwn est bien
vague lorsquMl s'agit de dcux groupes d'iles qui occupent une grande
étendue en longitude. (Uet. hist,, t. III, pag. 183—186. ) I/expres8Íon
bizarrc et plusieurs fois répétée ; versus occidentem et meridiem , »'ex-
plique par la Capitulacion de la particion dei Mar Oceaiio conclue, sous
Tinfluence du í;aint-Siège , lo 7 juin iU^U , pendant le cours du secand
voyage de Colomb, et qui fixo ia lignc de démarcation tf por términos
de viemos y grados de Norie y Sur. » Dans un autre endroit de ce docu-
ment il est dit « que le roi de Portugal doit posséder tout ce qui est à
Vest, ou au nord, ou au sud de Ia bande [raya), » Cest une circonlo-
cution à laquellc il auraít faliu substitucr la phrase <( à Test du méridien,
sur un parallèle quelconque. » La capitulacion, aussi mal rédlgéc qne
la bulle , est restée pendant trois siòcles une cause dlnterminables hosti-
lités entre le Portugal et TEspagne. La bulle ^\Çi de plus Pépoque de la
légitíme possession des terres pour i'ouest des Açores, à Noêl 1693 ,
a conmie Tépoque à laquelle les découverles furent faltes par les capi-
taines caslOlans ; » mais ce jour de No^l est celui du naufrage de Golomb
snr les coles d'Ha!ti, prcs de la baie d'Acul, appelée alors Mar de Satito
Thomas (Vida, c. 32) et depuis deux móis et demi Colomb avait tílé
dans cette !le, à Cuba et à Guanabani. Ces inexactitudes sont moins
frappantes que les changemens que la bulle du 3 mai a subis dans l'inter-
valle de vingt-quatre heures. (Herrera, Dec. I, lib. II, cap. á.) Cest
dans les archives romaines que la cause de ce cbangement pourrait étre
édaircie* Aussi , dans la bulle du 25 septembre 1^93 , appelée Bula de
extension y donacion apostólica de las Índias (Nav., t. II, p. 606), il
n'estpas plus question d'une ligue de démarcation que dans ia bulle du
3 mai.» A. de Uumboldt, Examm critique, tomo III, pag, 52, nota.
AM
(51) O Sr. F. A. de Varnhagea transcreveu de noTO em ama das
notas da sua recente historia do Brasil a carta do mestre João , sem com-
tudo ligar grande importância ás palavras do astrónomo e medico da
frota de Pedro Alvares Cabral ; a transcripção da carta tem unicamente
por fim provar que mestre João não se devia fiar no acceno dos sel-
vagens sobre o numero de ilhas de que suppunha compòr-se a terra de
Santa Cruz ; a questão é importante ! . . . Será bom que sempre aqui
declare, não sem admiração, que o Sr. F. A. de Varnhagen, modificando
as suasidéas, tem o descobrimento do Brazil por casual, sem que comtudo
ousasse de tocar n'essa questão, que tão debatida ha sido, e na qual elle
tomou previamente parte. .^
(52) Kxamen critique, tomo I, pag. 297.
(53) Memorias de litterdiura portugueza, tomo VIII, pag. 275 a pagr.
30à. V. a Memoria sobre o descobrimento do Brazil, Rivista trimensal do
Instituto histórico e geographico do Brazil, tomo XV, num. 6, pag*
202, nota 225.
(5/i) Discurso recitado na sessão publica de ^ de Junho de 1817.
V. Historia e memorias da Academia real das sciencias de Lisboa ,
tomo V, parte II, pag. XXIV.
(55) V. Memorias de litteratura portugueza, tomo VIII , pag. 275..
(56) Historia e memorias da Academia real das sciencieLS de Lisboa,.
tomo V, parte i, pag. 115.
(57) Da possibilidade e verosimilhança da demarcação do Estreito
de Magalhães, Cap. L V. Historia e memoria^ da Academia real de
sciencias de Lisboa, tomo V, parte I, pag. 116.
(58) Idem, cap. III, pag. 128 da parte I do tomo V da citada Historia
e memorias da Academia real das sciencias de Lisboa*
(59) Idem.
(60) « Gesta Dei per Francos,, é± 1611 , t. II , p. 281 , 296 ; Marino
Sanuto, qu'il ne faut pas confondre avec LivioSanuto, géographe du
16.** siècle et qui s^apelie lui meme, dans un mauuscriplc de la Blblio-
thèque Laurentioienne de 1321 , a Marinus Sanuto dictus Torxellus de
Venedis », precha adroitement une croisadc dans l'intérét du commerce,
voulant détruire la prospérité de TEgypte et diriger toutes les marchan-
dises de Tlnde par Bagdad, Bassora et Tanris (Tebriz), à KafTa, Tana
(Azow) et aux cotes aziatiques de la Méditerranée. Né en 1260, compa-
triote et contemporaia de Marco-Polo, le voyageur de TOrient, Sanuto,
n'a pas connu le Mitione mais probablement la Géographie á* Abn IMchsía
(Albiruni) dans laquelle Abulfeda a puisé. Ardent ae caractere, il s'élève
u de grandes vues de politique commerciale (Ant. dc Capmany, Mem^
históricas sobre la marina de Barcel. 1779, t. I, p. /lO) Cest le Baynal
du moyeu-Âgc, moins riucredoiité d'un abbé philosophc du 18."* siècle ji*
A02
(61) « 11 Milione, 1827, t. I, pag. GLV. »
(62) « Dissert., tomo II , pag. 397. »
(63) « II Mappamondo di Fra Mauro CanialdoUse^ descrittode itcido
l^iirla, 1806, $54.»
(6&) «ZCRLA . $ 33t 39» ii6--118é » Y. Examen critique^ tomai»
r«& 333..
(65) «Baldelli, Milione, t í, p^XXXÍIL Le sompçon des addllloDg
•e íoiàe sor des doiíods qui pa^aissent dues avx ooime8d*uii boém,
TaliaOt qui a?ait parcouru rEthiopie. La coDJectara de Ramuaio elde
taDt de géographes modernes, que fra Mauro aurait copie une carte
rapportée par Marco-Paulo du GaUy, me parait a^oir été victorieniseHient
réfatée par le cardinal Zurla ($ 136^1^3). L^orientation de la m^ipe-
monde de Mauro , dana laquelie le midi, comme dans le planlsf^ère de
Ydetri (du 15* siòcle), publié par le neveu du cardinal Borgia, est^plaoé
dans le haut de la carte (l'orient étant par conséquent à gaúche), firaippe
sans doute lorsqu'on se rappelie qu'en Ghine, oà d*après de noufelles et
ingénieuses recherches de M. Klaprotb , les marins se dirigeaient por la
boussole dòs le troisième slècle de notre ère , Taiguille émantée porte le
nom á^aiguilU quimontre le sud, Tcbinantcliin. La direction da com-
mercê du nord au sud et au snd-ouest donnait une importanoe parti-
culière à larégion méridionale, mais les orientations des cartes paraissent
avoir été long-temps assez arbitraires. Dans la mappemonde circulafre
d*Andrea Bianco, beaucoup phis ancienne que son Portulan de 1A36, et
peut-êlre même coplée d'unc carte du 13* siècle , le sud est à droite ,
ainsi que dans la mappemonde de la bibliothèque de Turin, annexée à un
commcntaire de TAlpocalípse composé en 787 et transcritau 12* siècle
(Cad. manuscripti. Bibl. Taurin. 17/i9, t. H, p. 29, Cod. XCIII). La
carte fragmentalre du moine Cosmas Indicopleustcs , de même que la
car^ générale d^Edrísi , de la bibliothèque Bodleyenne, que j'ai souvent
dtée, est orientée comme nous avons coutume d^orienter nos cartes,
Torient à droite, L'antiquité a généralement suivi Texemplc d'Hoaière
(IL XII^ 239; Strab. lib. í, p. 34, Cas.), qui fait voler Taigle à droite,
vers Taurore; à gaúche, vers le séjour de la nuit (le coucher). II n'y a
qu'£mpedocle qui renversait, pour ainsi dire , les points cardinaux dans
un sens diamétralement opposé à la méthode de Bianco , en nommaiit
« la droite du monde le nord, et la gaúche le sud (Plut. Plac. phil, II,
10; Stob. Ecl, phys. XVI, p. 358). Ccst, comme M. Lommatzsch
Tobserve , un reflet de la doctiine égyptienne (Plut. de Isid, c 32), qui
regardait Torient «comme la face du monde, » ce qui, non pour celai
qui regarde Torient, mais pour une face tournée vers Toccident , place
^nune dit Empedocle) le tropique de Thiver, ou le sud, à gaúche (Lomm .
Wiish. des Emp, 1830, p. 200). » A de Uvmboldt ^ Examen critique,
^omo I,'pag. 3U0 a 3/i2, nota.
(66) EJP<trnen critique, tomo 1, pag. 360.
(67) Examen critique, tomo I, pag. 35/i.
AOS
(68) Idem, pag. 355.
(69) Navarrete» Colecci&n de los viages y dcicuhrijfn^enJtifa^ t09io U»
pag. 257.
(70) Eçcamm crUigue^ tomo I, paig« 359.
(71) Idem, tomo V^, fag, 68.
(72) Idein, toroall, pag. 8^
(73) « Le mokie célestia de Bénéveni, saas nommer Veapucd*, semble
^ttribaer la decouverte de rAmérique mérklionale phis encore aox por-
tugals mi*ai]x Espagnob. D Inscrit le chapilre U que j'ai dté pios haiit;
f De tellare quam tom Lusltani „ tmn CMombus werare, e( Mutidmii
^ppellaot Novom vel terram Sanct» Grads. »
(7á) J^xamen çritiqm, tomo II , pag. 8^
(75) Foi. XLIX a,
(76) Nayarrete , Colêccion de los viuges y àgicuàrindentos^ tom* íj,
pag. 299. A. DE HUMBOLDT , Examen critúfue, tomo V, pag. 153.
(77) Nayarrete,, Colêccion de los. viaget y descuifrimientos „ tomo l ,
P9g- 285.
(78) Herrera, Decadn /, lib.. VI, cap. 16, lft>. VII , cap. I » tomai „
pag. l/i2 e 168. Nayarrete, CoL. de los viag. y desc. , tomo III , pag.
67, 296, 302 e 321» A. f^E Uomboloj„ Ex. crít., tomo I» pag,^ 3i8^
(79) A. de Huhboldt, Ex. crit^ toma I, pa^ 3.1&,
(80) PeTí MART^JBp. 560» pag. 296,.
(81) Década U, Ub. I, cap^ 7.
(82) Ex^ crit., tomo I, pag. 353*.
(83) Idem, tomo I, pag« 356..
(66) PiGAPELTA, Primo ViaggiOf pag^ 60.
(85) Exam. crit,, tomo II , pag. 22.
(86) « Martin de Bohemia, português natoial de la júà de Fayal« grau
cosmógrafo. » Her. , Década í, Ifl). I, cap. 2«
(87) Ex. crit, tomoV, pag. 239.
(88) Idem, pag. 265.
(89) Década /, cap. VII.
(90) Historia Insular, Líy. IX, cap. 9, $ 61.
hm
(91) Dã possibíUdadé e verosimi ihaiiça da deman^mm é^êitrdU^
de Magalhães, V, Hutoria evimu da Acad. real de iciencias df hub*m^
loino V, pag, 122.
(92) MejmHit sobvê a descotriniefíto do Bra^iL Heviiia trim* 4a
InsL hist^ tomo XV» n/6, |«ig* 158. ~
(93) V, A* DK HuMBOLDT, Bxmn, cn7,» tomo V, pag- 459;
(94) Idem, tomo IV, pag, 68.
{95) V, as cartas de Anseio Trivigiam de 1503, BAnesiO, lOllio 1.
pag, Í287 b, etc
(96) A* l>l HtJMBOLDT, Ejcanu criL, lOHJO.I, pag, 39.
(97) Idcm.pag, 69.
(98) Idem.
(99) Idem, lomo I, paf* 7*
(190) U Brésii, pag. 2, coL L
(101) KoGiuriTTA, HisLda Am, port^, IW* í, pa^. 6, J 5.
(102) Pêro de Maaíz, Dialogo de varia historia, díaL IV, cap. VIU,,
i)L 186 V,
(193) Dí^rííí/íi f, Ubk 6, cap. 2,
(104) Hclítção do Piloto de Cabral, traduc^ de Uamuâio,
(105J Carla* V* Ayres do Casal, Corograpkia ttrasiticit, lomo Ip.
fag, 15.
(106) De€atla l, liv. 5, cap. ±
flí>7) Itevista Irimarísal do ínsU hÍ£L , lomo V, pag. Zh*2*
(lOâ) « Coí'í?j7. l^ratiL , tomo íf, pag. 74 e 98, i>
(109) d Les temolns ocuiaíres ue laiãseot aucun doiite 9ur la diFeetióii
áu veoL Ji
(110) (t Les IraductioDs consurvées dans le pays et ía stnuorilés , ele. »
(111) B;r, mf- ^ lomo V, pag., 56 e seguintes,
(11^) Tomo V, pag. hh,
(113) Damião oe goes, Chronica do felteisãimo rei D. Manoel^
ParL I, cap. LV, foL 51.
liih} Nota 218 paj^. 202 do n," G do tomo XV da nemla trimeniM d^
íniL hisL
&0S
(115) Cartas de 2 de Junho de ili9b. V. NàVARRETE, CoL de los
viag, y desc. , tomo II, pag. 177 e 178.
(116) A. DE IIUMBOLDT, Exom. crit.^ tomo I, pag. 2/il, nota.
(117) Década I, liv. 5, cap. I, foi. 86.
(118) Dialogo IV, cap. VIII, foi. 186 v.
(119) Uv. I, S 5, pag. 5.
(120) Part. I, lib. I, pag. 5.
(121) ExatHé cril., tomo lU, pag. 374.
(122) Gonzaga, o autor da Marília de Dirceu.
(123) Carta dei Abnirante Coloii á Su Santidad. V. Navarrete, Col.
de documentos diplomáticos. Num. GXLV, tomo 11, pag« 280.
(124) Tomo I, pag. 1/|3.
(125) João de Barros, Ásia, Década I, liv. V, cap. II, foK 87 ?.
(126) Da vida e feiton d^el-Rei D. Manoel, tomo 1, liv. II , pag. 143.
(127) Tomo I, pag, 317.
(128) JnvestigaJtion of the currents of ihe Atlantic^ Ocean,
(129) Exam, crit. , tomo I, pag. 317.
(130) Car^a a Medicis de 18 de Julho de 1500.
(131) Nov, Lusit., Uv. I, nom. 24, pag. 15.
(132) Ilist. dei guer^ iel reg. dei Brasile, tomo I> part. í, Lib. I, pag> 6^
(133) Década já citada.
(134) Examen critique y iom /, pag. 316.
(135) Historia de las Índias ^ foi, XLIX.
(136) Mem. sobre o desc do Braz. Revist. trim, do Inst. hist, tomo
XV, n, 6, pag. 138, e noU 63, pag. 179.
(137) Pag. 35.
(138) Revist. trim. do Inst. histy brasil , tomo XV, pag. 78.
REVISTA
DO
IKSTITIJTO HISTÓRICO E eE06MPHIC0 DO BRAZIL
3.*SERIB. — N.*20. — «.'TRIMESTIIE DE 185S.
OFFICIO
De
GOVERNADOR DE CABO FRIO
CONSTANTINO DE MENELAU
DATADO DO RIO DE JANEIRO A 1 DE OUTUBRO DE 1625.
' (Merecido ao Instituto Histórico por S. M. I.)
Tenho avisado a Vossa Magestade do sucesso , que com as naaos
•olanJezas tive , e assy em coroo os que DcarSo vivos emviey ao
governador gueral com os autos de preguntas que aqui lhe fiz , de
que ya tive aviso aviào clieguado a salvamento : as ditas nãos não
torào vbtas mais nesta costa e devião seguir a viagem , que con-
íessarSo biâo fazer se o guasalhado que lho fiz o comseiUío , e mal
de loanda de que vinhão iscados = ha hum mez que ^pparagem de
cabo frio vierão sinco nãos de Umgleses , a genle das quoais desem-
barcarão em terra, e fízerào hufi fortaleza de faguina , e plantarão
nela artilharia e comessarSo a fazer e carreguar paao com grande
goarda e viguia , de que vindo-me aviso , com a brevidade que o
ccaso requeria , fui por terra a dita paragem na quoal me ouvera de
suceder hum bem asombrado caso , seosUmglezes não tiverSo aviso
de minha hida por espias , que não foi possivei desmentir , e assy se
embarcarão com bem depresa « E Ibe não fiz roór damno , que
queimar lhe o forte e alguãs casas de madeira que ya tiobão feito ,
e dous homens canários (por nação) aqui moradores , que com elles
znn 53
40S
estavão promJí » o lhe fiz preguntas da gente e cantitlâdo que Imi *
6 autos que com ellea emviey ao governador gueral , avisando-o do
que no caso úz , na ditta viagem guaslei mais do víntu dias cúth asât
trabalfio por fazer o caminho tâoappresado como comvinha. Corri
as malas do paao brasil e tichey muiuo derrubado qno trao pudêrào
levar ^ e sinal de tarem embarcado t^ulidada da cargua de hmn
navio t e foi bom sucesso eslrovar-lhe a cargua dos outrxis, em
vindo da diua viagem acliLiy n*esia sidade caria do govemtdcw
geral , o nela imserta o aviso de Vossa MagesLado , per qua
me manda va ao ditto cabo frio fazer duas fortalezas , o liuã povúi-
çàopara estrovo destes imiguos carreguarem ali » e supposfo que a
fazenda de VoBa Magestade esià ojo im possibilitada para se fazerem
guasios , pois a\ iida náo esta acabado de paguar despezas do tempo
de dom fraucisco de sousa, e novamente creserem outras, assy
com a vimda de Salvador Corrua de Saa , como com yornada do
maraohfio para omde se embarcáo farinbas da fazenda de ^os^a Ma-
gestade quu em via pedir o governador gueral , mo poroy em cami-
nho dentro de quínzo dias, com oifjciais f>ara fa^er as fortalezas , e
povoaçíSO , na melhor Irasa e ordem que me pareser conivem a de-
íemçlo doimiguo, e estrovo de carreguar paao , tomando-lhe a
paragem da que elles se queirão valer, e com a brevidade que
me eracomenda o governador gueral , aynda que por ser cbeguado
o tempo das aguoas fiqua o negocio (para mim) irabalhosei^ e lenho
ja avisado ao cappitâo da eappitania do espirito Santo ^ me mande
imdtos (quo la ha bastanies) para por no ditto cabo frio , e do que
fizer e me suceder avisarey a Vossa Mageslade , a para se com^a-
guir milhor este eíTeito deve Vc^a Mageslade mandar a saWader
correa abrevie a averiguoação das minas (que esta facii saber-so a
verdade) o que será menos guasto da fazenda de Vossa Mages^
ttde , e fieará a gente dcs^occupada para poder acudir ao cabo frio ,
liomde lenbo por aserlado fazer-se ímstancia , ou que o ditto Sal-
vador correa suspemda os guasios das minas , por quo paguamdo so
lhe seis cen los mil reis de ordenado (fora outros gastos) fiquo ea
d^emparada da Remédio. Sem embargue do qtie seguirej o
A09
intento que diguo , lhe acabar de guastar o que possuo , pezarozo
de não ser muylo , para no cabo frio deixar (feito huã. grande
povoação 9 para o que será de grande efTeilo dar a guerra ao gen-
tio aitacas por nâo vir a ffavoreser ao imigo. Vossa Magestade
mande com brevidade me venhào as caravelas de munisões porque
com ysso ficarey animado a fazer hu9 grande preza j porque sem
falta pretemdem carreguar ali todos os anos paao , por ser bom
e aver canlidade , e do que suceder hirey sempre avisando A Vossa
magestade cuya Gatholica pessoa nosso senhor guarde como pode.
— Rio de yaneiro primeiro de Outubro mil seis centos vinte cinco
annos. = Constantino de nuneláo»
ítor
APONTAMENTO**
A VIDA DO INDU) CUIDO P()KKA:SE
o nuNCEz Qumo maulièíie,
{Ofl>n*cÍdo pelo sorín o Gi."* Sr. CoriseUicií^o Luk Ucfireim áo Cotitt»
E' cabido í[uc com o progresso dh popiibçno d'esla pfm*m<íi> e i
do Eíspirito Sanlô, ns indígenas d "oslc hdu da Brujfil ríifliiirími pdr
ji!r margens mipêrmres do rio Dof.a e outros setis .^!11iienU^, para c^
S. Matfieiis, Slttciíry o Geqtríiinhonha íío uorio o*i oeste tf esta pro*
vinm. E' natural que oíj priíntTros coíonos qiiie se ^tsMecâfani'
n*esla parttí do Uriízil eiiçonirnaseiii resistência án parte d aquelfes
que se achavom de posse tio lerrrtorio: as aggressôes do lado do#
mdios é iratufí^l rjiie fossem consideradas poios mesmos como \nsiãã
represúli.is exercidas contra os invasores diis lerrâs íjuc os dimen-
iBVãm. As ifiltra indianas quo se metiam estabelecidas em «m tjilfe^
por eTen>|ilo, repeiíem a todo trãnsie aâ outras que alif penetram em
procura do fructos noiuraissit de caca e peíxi»* Enirelanto* aqueltes
4|ue se eonsideravam simples mantenedores de seus dirdto?, htêm
julgados os sggres?ofes dos colonos, e como taes tratados cofn incon-
eebivel barbaridade, A raça de indios era eí]uí parada á das fcras.
Pela sut parte m tndios punbam em pratica tudo quanto de maii
horroroso possa ser sogyeTido pela cólera eMinjubda á*úín self^^igeni
e de um bruto, qtie se julga privado de seus u nicos recursos contra
a fome o a morte; etles matavam famílias inteiras, os respectivo§
§aám B e$«r»'0St o a todos os edifícios e paiées de mú\m % oturo»
411
manlimentos lançavam fogo devastador. Havin n^oi^lis horríveis ma-
tanças um luxo de barbaridade: as crianças eram arrancadas dos
peitos maternos para serem abertas pelas pernas I ! I Durante o sjs-
tema da guerra ofTcnsiva os indígenas não se submellíam senào ao
temor y e só pareciam domesticados emquanto durava sobre ellesa
pressão d'aquetle sentimento, que só pôde fazer escravos, nunca fará
cidadáoS9''ou homens civilisados. Eis que porém em 1824, ó feito
director geral do» indios d'esta provincia o tenente-coronel de linha
Guido Thomaz Marlière, francez naturalisado, já conhecido por seus
serviços prestados á cathechese dos indios, e idóas a similhante
respeito expressadas em ofBcios dirigidos ao governo, na qualidade de
major encarregado da inspecção das diversas divisões militares; eis
que esla nomeação teve lugar, dizíamos, e a cathechese e civilísação
dos indígenas apresenta uma phase assaz dislincta das anteriores,
uma época bem marcada nos seus annaes. Tendo entrado havia pouco
no exercício de suas funeções, Guido declara ao governo que elle tem
emprehendido domar os indios preferindo para este Gm balas de
milho ás de chumbo até entáo empregadas. Até então era indomável
o ódio que dividia os índios do norte e do sul d'esta provincia: a
continua guerra que se faziam inquietava os colonos, quando contra
estes não eram dirigidos os seus ataques. A navegação do rio Doce
era então e sempre perigosa em consequência das hostilidades dos
botocudos antropophagos, e tal era o horror que incutiam por toda
a parte que as sesmarias concedidas aos colonos não eram demarcadas
pelos respectivos juizes, que não se animavam a penetrar em maltas
em que, não sem razão, julgavam lerem de encontrar morte cerla e
horrorosa. N'estds circumstancias Guido dá começo a seu novo sj&-
tema de cathechese ; faz construir uma canoa, enche-a de viveres e
ferramentas de toda a espécie, dá-lhe uma pequena guarnição de sol-
dados divisionários, commandados por um sargento de nome António
Pereira do Nascimento (por alcunha Virassaia), e pôz á disposição
d'este um interprete. Parte a expedição do quartel geral das divisões^
6 tendo já navegado uma parte do rio Doce, avista á margem esquerda
do mesmo rio grande numero de botocudos armados do suas terríveis
&12
flechas. Batem-se píilmas da pane úâ eitptídíçaQ , o pelo
iriterprelo se diz nm mim qm se vem a e1l«scom iniençôes i
veis, ti para 03 prover do sustentn quo lhes ó iieco^sarío.
Os índios exigem que se deponíiam as armas, em que os expedí-
cionarios soguravoni para qnú elles possam dm^ar suas tlechas: i
exig€[icia è saliafeita, e cumprida fl promossa dos iiidigenas- Enlf^
loDlQ sendo assâz conhecida a itidole traiçoeira dos botocudos* por
um momento paraceu haver da parle da expedií^ilo receio dê hter
approximar a canoa da margem qu<j os índios occupom: mas o ia-
Irepido sargenU) para ali hz rcsoluiamente embicar a eanda. O
resultado d*esla íentaiiva foi o móis soiisfactorio possível: m índios
entram na cauòa, recebem manlí mentos e ferra menias, 0 voltam i
suas maUas^ pelo qua diiiam, convencidos de que mú se lhes queria
mal fazer, ou que os carmitonhas^ conto chamavam aos eolonoft jà w
achavam mansos. ITeçtes índios fiííaram alguns na canoa a eottríls
do sargento^ para st^rem apresentados ao director geral dos índios;
entre esles o indio Pokrane, entáo na idade do 21 ou 35 annod^e
seu pai fjue capitaneava a sobredita partida de indigenas* Bepoisde
terem estado alguns dias uo quariel geral; ondo foram recebidos por
Guido com muitas demonstrações de amizade e benevolência, fol-
iaram as ma tias» ficando porém o joven PokranOj que desde hgQ
íoi tomado debaixo de especial protecção do mesmo director* Guidt»
fâ-lo baptisar, e pux-lhe o aou nome em signal da sympaihia que con-
cebera pelo indio que Ibe parecia leal e intelligente, E nSo se euganoii
n^esle juízo, porquanto, como depois se exprimia o mesmo Gníd
foi Pokrane o seu braço direito na gerência de tudo quanto ra^peiD
á allicioçáo dos indígenas, Pokrane comprehendeu logo as fanl
da Cívilisaçfio, e tanto pareceu bem firmada esta sua convicção que
elle deixou o botoque, ou a insígnia de sua antiga barbaria, — 80(0^
cudos vem de botoque ou bodoque^ termo portuguez; e allusivo »
uma taboa quo estes índios adaptam ás orelhas e ao beiço inferior, e
que lhes serve de ornato, e (a do beiço) para ahi picarem miuda-
mente a carne quando a estáo comendo. Estes pretendidos ornatos ou
bisarros utetisiâ 0^ tornam hediondos» O joven Pokrane, logo queciQ
híi
depdz, persuadia aos seus que deixassem um costume ião feio (assim
se exprimia), e quando isto tinha conscf?uido, vinha dizA-lo mui
alegremente a Guido. Para logo foi Pokrane o interprete Gel e pre-
dilecto de Guido, que o despachava conlinuadamenle para as mattas
afim de persuadir a diversas tribus ou aos de sua naçào, a que dei-
xando a vida errante e miserável, viessem compartir os gozos da
civilísaçâo. Tão perfeitamente comprehendeu elle estas verdades, ou
tfio persuasivas eram as suas allocuções aos demais indígenas, que
estes affluiam a convite seu para o quartel geral da directoria, de
continuo e em grande numero. Com este poderoso auxilio pôde Guido
conseguir o arrefecimento das odiosidades que até enl9o existiam
entre os índios do norte e do sul d'esta provincia. A conciliação dos
coroados e Puris, e a dos Naknenuks, c Krakmuns {*) foram os
fundamentos principaes de uma peíiçáo, em que se diz que Guido
requerera um titulo de nobresa. Ao contrario dos outros Pokrane
nfio comroettia actos de deslealdade e traição, nem se dava á em-
briaguez. Etie era todo devotado á pessoa de seu padrinho de bap-
tismo, o tenente-coronel Guido, a cujas ordens estava sempre
prompto a obedecer, e das quaes era inteilígente executor: era tão
amigo de seu bemfeitor, que, ainda ao contrario dos seus, mostrou
sentir profundamente a retirada de Guido em 1830 da directoria
geral dos índios, facto este que declarava ser a causa de nio ter elle
de ser mais feliz. Este excel lente cathechista declarava que se occu-
pava com a cathechese de Índios havia 1 3 annos, e em seus ofBcíos
sempre reconheceu dever em grande parte a Pokrane o feliz successo
de suas emprezas. O respeitável Guido Pokrane, eis como o tratava
moitas vezes. Pokrane, como todos os de sua nação, foi sempre
poljgamo: amava suas mulheres e filhos, a quem alimentava, vestia
e alojava a nosso modo , e quanto lh'o permittiam sua condição e
escassos recursos. %
Era soldado da 2.* companhia de montanhas do rio Doce: pouco
(*) Pejaurum ou Krakmuns são os botocudos que habitam a margem
meridional do rio Doce. Os daaeptentrional chamam-se Naknenuka.
hià
antes i!a morrer, ú «{ug xm^} lugar em Í64«t m ídtiiJe provável d« (I
annos cm conseqiiencia do um pleuríz. como tlizLHii ixm, ou ili? cuve*
neoamento como preiuridem oulim, no sirmnl da Animno íím
ftbatiOt v^io a esta cidaife quai%ar-sâ âo lanenle general Andréa d**
qiie n^ recebia seus soldos Ih^tvia inaii; de 3 âune»* Erilâo deçlaroti
elfe kr vindo da côrie do Rio, onde se Uiiha apresentado d S. M. o
Imperador, pare4'endo a ulgueriu couiíjuem a tal re^peílo convemn*
ter elle accrescciítado r|ue tornara â S. M. por padrinho da um f^u
filho , e que por olle fora brinda jo com uma boa espingardai fiil-
minatiíe,
Fokrane fazia baptisar aeirs filhos, e ouvia missa eom atteoçio
própria de quem mm m menos compreliendia a sígmíícm^àn éu
ceremonias que preseuciava* Fazía-se entender bem na Hnguapcr-
luguo^a, u)as não consta que livasse recebido a insirueçio primarb.
Seu trato era agradável , bem que ulgum tanto pírave : desdeitliavá j
intimidade com |KrssQas da classe ínfima , procurando com tuareadi
preferencia o irato das pessoas gradas de qualquer parte em quêsê
acliasâe. Era fiel á sua palavra e leal em seus contractos. Seu andar
ero rápido e animado , o que condizia com sua conhecida jntrapiditt*
l^kratie era alio, peitos largos ^ bem configurado | cab^llo iii^ro
corrido e luzidio; corado e menos trigueiro do que os botocodi
margem meridional do rio Doce, era visto calçado muitas vi
que igualmente se observava em alguma de suas mulheres. Imolei
dirigia uma aidéa de índios, a do Mnnliu-assú no Cniethé; ahi tíjilii
elle casa, criava porcos e galliidias, e plantava mil lio» mandioca t
outros artigos altiiienticios. IVelende^se que aléni d'i»ma ertgenhoci
de ralar mandioca, Ira Uiva de estabelecer, ou ja linlisi esiaboJecidii
tima outra para moagem da canna e fabrico de rapaduras. O qttié
mais, e o que mostra ter este Índio nascido para mandar o dirigir,
é que eilo exercia toda ;j inHuencia possiiâil sobre os Índios úê sua
aldda ; conipellio-es com castigos cETtca/^es eopportunas a darem-sè ao
trabalho, o era obe<Jecido: qtrando assim procedia dizia aos Bra*
ziloiroa que os ÍJidios sao mui preguiçosos. Não obsUinto signas
liabitos religiosos eontraludos por Pokraue, a incotierencia que [lot
udot^H
Al
ál5
este lado se ol)servava em sua conductamostrava que nào fora a religião
o primeiro sentimento n*elle inoculado, pelo menos de preferencia a
qualquer outro. Nenhuma de suas mulheres elle tinha recehido á
face da igreja, e no tempo de Guido elle dirigia uma expedição contra
es Paris, nasupposiç^o de que estes feiticeiros^ como eram consi-
derados pelos hotocudos , tinfaam-lhe occasionado a morte de pa-
rentes seus. £ isto tanto mais provável quanto é certo que o ca-
Ihechista de que temos faltado t&o vantajosamente reprovava nos
jesuítas o começarem a catbechese pelo periodo religioso (aliás agora
preferido por muitos ao civil). Quem quizesse escrever a biographia
do Índio Pokrane deveria talvez ter nào só toda a correspondência da
directoria geral dos Índios no tempo do tenente coronel Guido, como
os sens apontamentos ou diário sobre a cathechese que consta ter elle
deixado, e ncharem-se na fazenda de Guido Wal do termo do Presidio
em poder da sua viuva. De todos os indígenas domesticados n'esta
provincia, é certamente Pokrane o que mais perseverante mostrou-se
nos hábitos do homem civilisado. Falla-se de um indio de nome
Paulo Carahjba» que, depois de ter recebido a inslrucçào primaria,
vívido não pouco tempo em companhia de um vigário seu bemfeitor,
em lugares civilisados , e até feito com solemnidade uma allocução
de cathechista aos setis, consta que fora director de partidas de indios
com o firo de matar e roubar. Até ha quem aiUrme ter existido um
outro que despio as vestes sacerdotaes e tendo cingido o seu cocar,
empunhado seu areo, e flechas, se retrahira às suas florestas nataes.
Bem perto d'esta cidade, em casa de Mr. A. Buselin, existe um
exemplo vivo da inconstância de que acabamos de fallar. £* um indio
que não mostra boje a delicada educação que lhe foi dada. Além de
ter recebido a ínstrucção primaria, foi instruído na língua franceza,
que fallava sofTrivelmente. Esteve em Paris, e pelo que n'elle se
observava, parecia ter-se firmado no gosto pela vida civilisada : nada
o fazia suspeito de saudades da vida selvagem, quando porém menos
se esperava, o indio adoece de nostalgia, e declara terminantemente
que queria voltar ao Brazit. Fez-se-lhe a vontade, desde porém que
chegou á casa, outro homem n'elle appareceu : rehouve quasi todos
xvin 5á
410
os tiabUosdt selvaguiih Não se deve passar em âílencío o indiD Om-
úmm^ de quam dizia o lenenie coronel Guklo, que pelas nuneifU
mostrava eer príncipe ou cacique entre os s«ua, Pareço ler-ae laml*
mânlecloin^ltcado* Avulta purém sobre lodos, não sõ p6la ísciUdidt
com que o dotneslícou o sobredilo Guitio» coniír pelos esforçcia qu«
fez para o allíciamenlo dos seus e cbãmameoto á vida riviitsada o
agresLo índio GoiJo Pokrana que se tivesse tido mais acciírada edu*
caçàoi lalvm liv^isa ido muito mais longa do que íok
Ouro Prelo, em 13 de StHanbro de 1865* — Confurme, Jth%é FrU-
ADDITAMENTO
km AFOHTAd£»TOS PARA A BTOGlUPillA 00 llifDIO GDtOO KIEHAAK.
O coronel Tbomaz Cuido Marti^ro^ como commandatihs gertl
das divisões, mandou uma canoa a Linhares. Comniandava a eã*
nòa o cabo Luciano Vieira, que encontrou no purio de Souza ai
Indigena Pokrane e a sua tribu. Os soldados dâ provincia do E^
rito Santo» que ahi se ai^havam, nHo tiveram animo da Iba TalUr}
porém o cabo Luciano e seu irm^o Francisco Vieira ammQran]*se o
foram ao sen encontro; a offerecendo-the facas e mllboi gue mlbd-
ram de uma rora, Pokrane acceitou, e^ chegando á íalla, conversa-
ram amigavelmente j e com die contraiou o cabo Vieira de se en-
contrarem no dia seguinte, e de o levar coma sua tribu para o ijuarleU
Pokrane cumpríoa sua promessa , Vjeira o encontrou com a sua Lribu
na roça, e o lavou para o quartel^ e ahi lhe dou o que podia, o Ibe
pediu que O esperasse, até que elle voltasse de Linhares. Mas, ape»
nas 86 retirou Vieira com os seus soldados, os Capíiavas, não ^ não
quizeram receber a Pokrane e a sua tribu, como ato, por amodroa-
tadosp lhes fizeram fogo no dia seguinte, pelo que offendidos os In-
dioã mataram os ires que lhes fizeram fogo ; e dando-se com Lslo por
vingados, esporaram pelos Vieiras, Quando estes chegaram, enteei-
deram-stí com Pokrane, e o accommodaram e a sua iribu. Os Viei-
ras deram parto de Ludo ao capitão LÍ2ardo José da Fonseca^ a «la
mandou am prompto duas canoas com mantimentos, a em seu r&*
417
gresso trouxeram ja Pokrane e a todos da sua tribu para o quartel
geral, que era então em Santa Anna do AiGó. Pokrane era corpu-
lento, tinha boa physionomía , era agradável no seu trato , doeil , ge-
neroso, valente nas suas armas, e entre os seus bastante intelligente,
e por todos os Indígenas era respeitado. Quando esteve no quartel
da 4.* divisão no Sacramento Grande observou attentamente como
se tratava da cultura, e quando voltou fez a sua aldôa nas mar-
gens do Rio do Manhuassú, fez grandes plantações de milho, feijão,
arroe, canas, «"etc. , fez uma engenhoca, criava porcos e gallinhas,
vivia na abundância, e tinha mais de trezentos homens debaixo do
seu commando. Amava a honra das familias, aborrecia os crimino-
sos, e 08 castigava exemplarmente. Ia com os seus soldados ás al-
dáas vizinhas e ahi castigava os criminosos e turbulentos, e era
sempre obedecido. Gostava de viajar, instruir-se e relacionar-se com
o governo. Foi á corte e apresentou -se ao governo imperial, e
por elle foi bem acolhido. Pokrane era generoso, amava muito aos
seus, repartia com elles tudo quanto adquirira, e não deixava de
punir aquelles que os oíTendiam. Guerreou com os Pucis e índios do
norte, e depois que firmou a paz com elles, tomou-os debaixQ de sua
protecção, e os socoorría em suas precisões. Quando em Cuiethé
houve falta de viveres, elle foi com a sua gente carregado de arroz
pilado e repartiu pelas casas, conforme o numero das pessoas que
as iiabitavaro, e levou para sua aidéa aquelles que quizeram acom-
panha-lo, o os tratou como podia. Em princípios de 1843 Pokrane
de volta de Ouro Preto, onde tinha ido entender-se com o governo
acerca do soldo que se lhe devia , falleceu em a freguezia de Anto*
nio Dias abaixo, e ahi foi sepultado. Pokrane deixou dous filhos ,
Guido Pokrane e Miguel Ribas Pokrane. Mavan Pantinan, irroflo de
Pokrane, lhe succedeu no commando. Jucanac, sobrinho de Po-*
krane succedeu a Mavan Pantinan. António que é o actual com-
roandante foi que succedeu a Jucanac. O primeiro aldeamento foi
estabelecido no Bananal Grande, Cuiethé acima. O actual aldea-
mento tem sua sede no Ribeirão do Queiroga Hontiná.
Conforme. — JoU Feliciano França.
M9
Instituto Qistocko t ®cogra|>[)úo iio 6ra}U.
ACTAS DAS SESSÕES DE ISSfi. i*»
!.• SESSÃO EM 4 DE MAIO DE 1855.
Boneada com a Aiif;osta P^eteo^fA de 8é H, o liiipera.f|i>r*
FREfllBlDA j*EI,0 EXIt** SE* T19CQNIIEDE SÁPtJCABT.
A's horas do coslume, presentes o$ Srs, viscontfe deS^píicíilij, 1^*
lõâquim Manoel de MaceJo, Ferreira Lagoa, cónego Pinheiro, Dn
Emílio Maia, Porta Alôgre, Dr, Souza Fontes, Copaoema, Rio, I.
Norberto, P&fdiglíí) Malheiros e Vmih Meneies, abre-se íi sessiou
Lida e approTada â neta da ontcrior^ o Sr. í r secretario ctÀ eocili
do seguinte:
IXPEDIEISTE.
Avisos do Sr* iinuislro do Iinp«rio, remettendo as copia* d« âunf^
memorias feitas pe(o brigadeiro José Joaquim Machado d^OlivaiTi;
uma sobre os timites da província deSarita Caibarlfta o a do ParAiii,
e outra sobre a emigração dos índios Cayaas.^A' commissSo d»
redflc^o da Revista*
Outro, do meíEmo minisiroj enviando ireíe estempíares dos reh-
torios de diflereotes presidentes de províncias.
Outro, mandando que o Insiituto remetia a4éo dia i,"" de Feve-
reiro do presente anno uma exposição dos seus trabalhos no áúentsó
ia anno findo, eic.
Outro, communicando ler recebido a relaçlo dos membros qm
compõem a mesa administrativa e eoramtssOes do Instituto.
(') As ultimas artaa da^ íc*sôe5 ordinapias de 7 e 22 de l>esembro de Í6S& *
iine Dlo poderauí «r piiMicadas no N.* 16 do tomo l7.o desta RcvUta^ vÍo
em i«fuida ás deste anuo.
àí9
Outro, enviando as copias do roleiro da viagem do rio Brilhante
da província de Matto Grosso ao porlo de Tibagy, por António Mon-
teiro de Mendonça. — A' commissso da redacção da Revista.
Outro, transmittindo o relatório do presidente da província do
Paraná, acompanhado dos competentes documentos, apresentado á
assembléa provincial.
Do Sr. ministro da guerra, participando ficar expedida, ao
archivo militar, a necessária ordem para tirar a copia da carta geo-
grapbica do engenheiro António Peres da Silva Pontes, para ser
reroettida ao Instituto logo que esteja prompta : ficou-se inteirado.
Outro, do mesmo senhor, communicando haver expeJido as
ordens necessárias acerca dos despojos que em differentes épocas
foram tomados aos inimigos , e bem como sobre as bandeiras que
serviram na guerra da Independência. — Inteirado.
Foram recebidos os seguintes officios :
Dos Srs. Zacarias do Góes e Vasconcellos, presidente da província
do Paraná, e Herculano Ferreira Penna da do Alto Amazonas, en-
viando um exemplar de seus relatórios apresentados á assembléa
provincial.
Outro, do Sr. Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos, ofTere-
cendo o mappa demonstrativo do movimento da população da pro-
víncia de Minas, desde 1837 a 1847, organisado pelo cidadão Luiz
Maria da Silva Pinto. — Recebido com agrado.
Do Sr. brigadeiro Moraes Ancora , director do archivo militar,'
enviando um exemplar da — Pauta hydographica da bahia do Rio
de Janeiro. — Jlecebido também cora agrado.
Do sócio correspondente Ladisláu dos Santos Titara, oíferendo um
exemplar da sua obra — Memorias do grande exercito aliiado liber-
tador do sul d'America. — Recebido igualmente com agrado.
Da presidência das Alagoas , pondo em duvida as informações a
respeito de terremotos ahi havidos, e remettendo uma pedra das que
o povo ahi tem como cabidas do céo por occasiáo de trovoadas.
Do Sr. Emiliano Faustino Lins, relator da commissão de fundos^
enviando o parecer da mesma acerca das contas do Sr. tbesoureira^
rdalivas ao antio de tSSI, bem como o orçamento pam o etsrrentc
exôfciciO* — Fica sobro a mesa*
Do sócio o Sr. Perdífçio Malheiros, cíímmiiiiicando aceitar o eii^
eargo de iriembro dâ com missão do mvisâo de manuscripim.
Outro, do Sr. Franco do Paulicéa, oífofecendo a sua prodiíffiii
poelloi — SaudaÇilo ao Instihilo Ilísiorico, — Rae^bida mm agrado.
Do Sr. Henrique Marques d'01iveira Lisboa, declarando deixar
da ser sócio corra*! pn d enle^ — Fifá-^e i fiteira d o
Uma earla do Sr. consellieiro Luiz António Barbosa, pte$iáêní0Íg
prOTincio deBioile Janeiro, offorecendo um exemplar àn planiada
isidade de Nícib^roy, cuidadora ment^^ levantada no anno em quaiS*
MM. visitaram a mesma cid^idu. — Recebido com agrado^
Foram igualmente recebidas com agrado as seguintes ôffi&rlii do
Sr. Joíó Ribeiro da Silvo : —Viagem em Porlugnl tios annos dfr
17^9 a 1790, traduzida do infílez, 3 vol. Viagem à parte oríèiibil dj
Terra Firme, 3 voÍ, Periódico Aurora fluniinenso p 10 votiitnes*
Eclio daeamara dos deputados de 1832, i votumOp
OfiDlM DO t»]\.
O Sr. J. Norbortõ manda á mesa aá três jegniQtcs propottaSf
quaesas duas piimeirai são Jiscutidafl e approvddai, e a 3.' reii
á commissãodo estattrios*
1/ Proponho qne a mesa do Instituto fique autoríi^da part
mandar vir do Moiuevidéo n obra ali publicada em 1847, pelo Sf.
J. Marmol sob o titulo de ^' Eiíamen critim de la juventude pM>-
gressista dei Rio de Janeiro ^ a qual nào £o encontra n'm\a oórta
2/ Proponbo (fue so obtenha do jíovcrno de S, M. L^ par tiUcr-
medío do £xm/ Sr. ministro do império, a copia e^ciãtente ni bíbliiK
tbêca publica doesta corte dni cartas jeâuitícas sobre o Erazil , %vm
possuo a mesma bibliolbeca, conferindo*so essa copia comaiiuetla de
que foi trasladada mim de sor retneltida para aqui. Outrosim^ tioi^âo
de se obter a dita copia« que seja ell» remeltida a illtislrocomiiiissi^
do revísSo de manuscriptes para o:tamiua-ta^ confroma-lâ com m
y
A21
carias já publicadas em nossa Revista, nos Annaes fluminenses de
Bahhazar da Silva Lisboa, e junlar-lhe as que faltarem, como as de .
Fernam Cardim, recentemente dadas á luz em Lisboa, traduzindo as
que andam em italiano, latím^ etc, afím de tornar a collecção a
mais completa possivel e poder ser publicada em um só volume.
3.* Proponho que além das dez commissões, de que trata o artigo
11 dos nossos estatutos, sejam creadas mais duas de litteratura
brazileira.
As commissões de litteratura brazileira serão eleitas na forma e
pelo mesmo tempo que se elegerem as já creadas.
Al/ procurará reunir todos ospromenores e subsidies necessários
para a historia litteraria do Brazil, e emittirá o seu parecer acerca
das obras a respeito que vierem ao Instituto.
A â.% subsidiaria da primeira, irá colligindo methodicamente as
obras inéditas ou já impressas de cada um dos autores brazileiros já
fallecidos , para serem reimpressas em collecção, quando convier e
puder ser, e buscará archivar as obras dos autores existentes, emit-
tindo também o seu juizo sobre ellas todas as vezes que o Instituto
determinar.
Estas commissões, bem coroo as existentes, darão conta de setis
trabalhos por intermédio de seus relatórios, ao 1/ secretario do
Instituto, quinze dias antes da sessão magna.
â.- SESSÃO EM 18 DE MAIO DE 1855.
Honrada oom a Angtuta presença de 8. H. I.
PRESIDIDA PELO EXBL* SR. VISCONDE OB SÀPUCAHT.
A'8 cinco horas da tarde, achando-se presentes os Srs. visconde de
Sapacahy, Drs. Capanema, Lagos, Carlos Honório de Figueiredo,
J. Norberto e cónego Pinheiro, abre-se a sessáo.
Lida e approvada a acta d'antecedente o Sr. 2.** secretario no im-
pedimeoto do 1.* dá conta do seguinte
A22
OfTicios :
1/ Do Sr, Eloj Pessoa, enviando umc5:cmp!ai
MiirUimo^ e pedindo uma colltíceao tias Ee vistas do histilulOt para •
bibliolheca de uiaríDha. — OrdeDa-ííG (]m se satisfaça o podido agni-
(lefi€ndo-se a lífferLu
2," Do Sr. Dr, Joaquim Caetano ila Silva, mandando alguns «sela*
rectmenlos sabre a naturalidade do podre Aiilúiiio Vieira- — Maiidd-ie
archivof.
3,* Do Sr. Moraes Ancora remellendo iim exemplar da carta da
provinda do Itio úa Janeiro, em f 840 i a planta da direcção do mné
de Campos a Mâcahé : e a planta da entrada da bahiã^ iondada «ia
18S4t por Mr, Garníer * todas liiliograpliadas no archivo militar d'€Sta
cÔrle* — Recebidas com agrado.
4»° Do Sn Amónio Maria dos Santos Brilfianle , enviando seis
exemplares dos retratos dosdous collaboradores do jornal lisboneose
o Esf tífftpfo.
fí." Do Sr, Franco dePaulIcéa, qneÍxando*se de nào ter sido aíodi
accusada a rocepçáo d oíTertas soas» principlmenla a d^uma ode que
ultimp mente enderessãra ao Instituto. — Besolveu-se que se Jhe tus*
ponderia opportunamente,
S. M. o Imperador dignou-sc d offerocer os seguintes mam»s-
mptos para serem copiado».
1," Foral da capiíania da Bahia, e cidade de S. Salvador, Evoti,
â6 de Agosto de 1534.
3." Regimento dado a Aoionio Cardoso de Barros, cavallôifo
fidalgo da casa d oUrei , como procurador-rnór da faEénda^ que pri*
nneiro foi ao Braíiil, Almoirim, 17 do Dezembro de 15Í8.
Acompanha aos dilos maouseriptos uma carta do Sr. Dr. CaetaDo
Lopes de Moura, que os reraeltéra de Paris, o que ficou sobre a mesa
afim do^er tomada tia devida eonsiderai^So depois de copiada.
Foram estes donativos recebidos com muito especial ngrado.
O Sr. Lagos apresenta ura exemplar da memoria do abbade Bãti
af2s
ifititiilada « Lés Samaritáins de Naplouse » remcUida peto Sr. Per*
dinand Denis.— Manda-sc agradecer.
ORDEM DO DIl.
O Sr. Lagos faz a leitura d'uma parte da stía analyse á viagem do
conde de Casteínau pelo interior do Brazil.
Lcvanta-se a sessão ás ^ horas, sendo marcado paro ordem do dia
seguinte: pareceres adiados: a continuação da leitura interrompida
peia hora.
3.- SESSÃO EM 1.- DE JUNHO 1)E 1855.
Honrada «iom a Aoguf la presença de S. M, I.
PRESIDIDA PELO BXM." SR. YISCONDE DE SEPETIBAw
Â's cinto horas da tarde, achando-so presentes os Srs. visconde
de Sepetiba, conselheiro Baptista d'Oliveira, Drs. Capanema, Emílio
Maia, Honório de Figueiredo, Paula Menezes, Porto-Alegre, Sebas^
tiáo Soares, Gomes dos Santos, Pádua Fleury, Pereira Coruja, Dn
Lagos e cónego Pinheiro, abre-se a sessão.
Lida a acta da antecedente é approvada.
O Sr^ S.** secretario, n'ausencia do 1.% dá conta do
EXPEDIENTE^
Oflicios :
1.* Do Sr. visconde de Sapucahy, participando que por incommo-
dado não pôde cofnporecer á presente sessão. — Fica o Instituto
inteirado.
2." Do Sr. Dr. Eduardo Ferreira França, remettendo um exemplar
da sua obra a Investigações Psycoiogicas. d
3.* Do Sr. Pedro de Angelis, oiTerecendo om exemplar da sua
memoria ultimamente publicada sobre a nav^ação do Amazonas.
4.* Do Ex."* Srw miniatro do império enviando um exemplar do
xvui 55
relatório com qye o presí Jentô Je S* Paul« abriu 8
da respeciivo assembiêa provincial
TotliseslasolTertas são recebidas com agrado.
O Sr. Dr. Lagos continua a leUura da suannaKse i nngçm do
eo0tjD de Casiclnau peto interior do Braj^il interrompida pela liura,
lia se^Fão anterior, a qual Uca ainda ndiada,
Levania-se a íe^o ás 6 horas e meia, marcando-se para a ordeni
do dia da ^guinie: 1.* Pareceres» propostas adiadas « contifiiisçía
da bitura do trabalho do Sr. Dr* Lagos,
4.' SES;^ÃO EM 15 »E JUNHO M 1855,
Honrada crotn a Aufuita Prei«ii^a de Soa ■ag«'ft*il« Imperial,
FACSID10JI riLO EX-** SR. TISCOÍÍ0E »E Í4FTC4U¥.
Ás horas do cosiume» presentes os Bn. consefheiro Candtila Bap-
tista, Dr, Joaíiuim ^fflnoel de Macedo, cónego Pinheiro» J, Norberto,
Rio, Luiz António de Castro » II de FigueiredOí Porto Ategre, F,
J, Borges, Ferreira Lagos, Drs. Lapa, Capanemd e Paula Sfencses^
abre-se a sessáo.
Lida 6 approvada a acta da anterior, o Sr* t / secretario dá conu
do seguinte
EXPEDIENTE.
Offt€Íõ$ : — l.* do ex-** «r* ministro do imperío.conimuntcmda ler
eipêdido as necessárias ordeni h Bibliotheca publica para smtm m-
metttdas ao Instituto as copias das cartas dos Jesuítas solíiciladas fàh
mesmo Instituto, — Fica-se inteirado,
2*" Do vice-presidente da provincia do AmaEonisv renmllend* ai
nr 114 o 115 do periódico a EstnUa áú Afm-.&nas. — iiecebido
mm agrido.
%,* Booffictal^imior da secretaria dVstftdo dos negociou estfin*
I
425
gaím» ^vkiado dous ex^npUras io folheto — ▲ Desoripsio d»
fioUnck^Bwil, de Piíimbu a S. Benio» etc., — pelo Sr. Manoel
António Vital d'Oliveíra.
4,« Po Sr. ooaaelhoiro Joaé Ildefonao de Souza Ramos, enviando
o seu parecer sobre o manuscripio, que li)e fôra comroeUido, tnti-
lalado ; -^ CoosideraçOes sobre o estade de Portugal e do Brazil
desde a sabida d'£l-Reiy de Lisboa em tô07.— O parecer fica sobre
A meza na fornia do estylo.
Findo o expediente, são lidas as seguintes propostas, dos Srs. I.
Norberto e cónego Pinheiro ;
« 1/ Propomos:^!.* Qpe sob O tiluLo de Bibliotheca histórica
brazileira, publicações do Instituto histórico geographico e ethno-
graphicodo Brazil, auxiliadas pelo poder Legislativo e altamente pro-
tegidas por S. M. o Imperador o Sr. O. Pedro 2.*", sem numeração
de volumes, mas com a designação das obras, sejam publicadas as
qua o Instituto lem que dar á lua ou reimprimir avulsamente, co-
meçando pela Clironica de Jaboatão , ficando a Revista trimensal ,
que será sempre de 50 folhas ou 400 paginas de impressão, para os
trabalhos oIBciaes do Intitutoe obras menos extensas de seus sócios.
2.* Que a BiUíotlieca americana , tão benignamente doada po»
S. H. Imperial , se)a conservada na sala que o augusto protector do
Instituto se dignou de mandar preparar para esse fim, com o mesmo
titulo de Bibliolheea Americana, ficando a Bibliotheca brazileira na
sala dassessòesdo Instituto.
« 3 * Que sft organise, afim de ser impresso quanto antes, os ca-
tálogos das duas bibltolhecas do Instituto. » ---Entrando em dis-
cussão, são approvadas a 2.* e 3.' parte, ficando adiada a primeira.
« 2.' Propomos: — 1.° Que sejam creados, para melhor anda-
mento de nossos trabalhos, os cargos de bibliothecario e de redactor
que até aqui existiam annexos ap do 1.* secretario e á eommissão
4'£9Utiilâs«
^ 2.* Que se pn^eçcbam as vagaa de sócios effectivos e se fixe o
nuioero dos sócios correspondenles nas províncias, creando-se direc-
torias nas capitães daa fliemai para execução das ordens e melhor
jrreerlo (lu cúrrcspõitdcncia do Instituto; mmesitf ffistribin^ c
tenda de sua Revista trhiionsâl e nní§ publicaçOâi, e cobnn^ iliii
mensalidades vencíd<is, j>
Submetttda ã discussão^ vefice-se^ que seja rcinettida á eõcnnib-
sàode Eslalulos para interpor o mn parecer.
O Sr. Lagos continua a leitura do seu trabalho mhrt a vii^gv!» d©
conde de Caslelnau , começatfíi nas sessões nnieríores.
Dada a bara, levantd-se a sessão , toãrcando-sô porá onleai è> úh
fta seguinte :
1." Propostas e pareceres decommissaea
2.* t3ôntinQâí;aoda kitura do Sr Ferreira Lagos.
5/ SESSAO EM 6 DE JIJLIÍO DE 1855.
HofiradA com m Anfmta Prctenf a ée Sua. BSag«»l3id* loupcrtAE»
Ã's hora*! do costume , preâentes os Srs, cooselhtiro Oadido
Baplista d'01iveira, Dr* Macedo, J. Norberto» h\ J. Borgti^, tmis^
Iheiro Mariz Sarraeoto, barào d'Anlot>ina, Pádua Fleury, Figueire-
do, Ferreira Soares, h F, Lisboa, Pereira Coruja, Du Sauia Foií-
las, Dr, Ferreira Lapa, cónego Pinheiro, Lagos, Pereira PtQUi« ff
Paula Menezes» abre*^ a se^sãa
Lida e approvadaa acta áã anlecedeate, o Sc. L* aecretarb ià
fonla do soguUite
Um oQiciodoSr. Henrique de Beaurepaire, ofTorâCêndo umextnii-
piar do relatório de sua viagem ao Campo de Palmas; um eilrtcto de
sua viagem a S. Paulo* comendo iima noticia do Campo do Vpi-
ranga ; e um manuscHpto em loira estranha que fora acihadu cm um
ctub de negros minas na capital do Bio Gramie do SuL
427
Uma carta do Sr. Angetis, enviando um trabalho sea acerca da
questão do Amazonas.
Outra do Sr. James Fletcher, offerecendo varias obras americanas.
Todas estas offertas sào recebidas com agrado.
Terminado o expediente , entra em discussão , e é approvado o
seguinte parecer do Sr. conselheiro Souza Ramos :
« O Manuscripto intitulado — Considerações sobre o estado de
Portugal e do Brazil desde a sabida de El-Rei de Lisboa em 1807,
até Julho de 1822 — nenhuma importância ofTeroce, não contém
factos novos que mereçam consignar-se na nossa historia, nem dou-
trina que se deva aproveitar ou seriamente refutar, como severa das
breves reflexões que passo a expor.
<r Assignala a Memoria como causa da revolução do Porto em 24
de Agosto de 1820 , o despeito dos Portuguezes vendo o reino de
Portugal rebaixado a colónia do Brazil pela carta régia de 10 de
Dezembro de 1815, que elevou este Estado á catbegoria de Reino ;
as continuas sangrias feitas no Erário de Lisboa para satisfazer as
delapidações do governo do Rio de Janeiro ; a corrupção e inépcia
dos ministros , e finalmente a intempestiva retirada do marechal
Beresford, circumstancias de que se aproveitaram alguns demagogos
para, seduzindo a tropa, impor ao Reino um governo faccioso, es-
forçando-se na propagação do contagio revolucionário ao Brazil.
Dada esta crise, entende o autor da Memoria que, sendo sobremodo
prejudicial e ruinosa a desmembração do Reino-Unido de Portugal,
Brazil e Algarves, se podia evitar o mal, dissolvidas as cortes facciosas
de Lisboa, e vigorada a lei fundamental da monarchia (os estatutos
das cortes de Lamego) com emendas convenientes para dar-seao
Regente do Reino, em que não estivesse presente £I-Rei, a força e
necessária autoridade, e igualar em condição os estados componen-
tes do Reino-Unido. Em substancia este é o propósito do manus-
cripto.
<c O único facto histórico novo que offerece o Manuscripto ó a
origem dada á Carta Régia de 16 de Dezembro^do 1815, isto é, que
fora inspirada pelos Ministros da Legação Portugueza no Congresso
428
ie Tiênoa; e mtpaf^ stm íundameDU», parque naáà tbliâiiiqy«
veraspoicnciasestraQgetms am um acto puramente baaortficOt ({ut
[ mao alTectava as reUçôes inlemaciooac^ , nem allerava a pdliiCM da
Monarcbia. Seja, porém^conio fòr, nenhum int^reasn» p^dã ur uma
çoDlestação sobre ^le objecto: 05 ^ffi^itos da Car^ Rãgsatdffv^»
se iraia, são os mesmos, ou Tosse a idéa d'alla suggeridt no Con-
gresso deVíenna^ como diz o autor da Memonar eu nascesse de
inspiniçao espontânea do $enhor D. Joáo ^.% como creio- Caba dijui
Obítrvar qad eslc facto^ i]ue tanto irritou o orgulbo do$ {'arUiguezfs,
€omp conCâssa o autor da Jlemana , pas^u «juasi dci$aperpdbi4a
«ntíe 01 Briíitleiroi ; peb turnos em n&da meliiarou pon oHas »
jnarcba Ja adminíslraçm
K O commereio da Portugal liavia diminuído eon&ideravelmetttet
desduque os portos do EraEil foram abertoi a Iodas aâna$õ«s eot
I8O81 e o dume dos Portugueies exasperou-seg vendo a sua ôolonjs
elevada a uma calhegoria igual á da Melropole. Ac<sresc# quo^lki
ja se impacientavam das — fMrtnulas absrjlutas, — dâ^pidde iú m^
ptendor da realeza , ao mesmo tempo quo a Ilespaniia e a luUa tooIft^H
Yam organisar-s^ cofL^íUuciiímiitmnis : ê t^ta é noconcoiio de peii^^|
soas competente» a razão capitai da revolu^âi» de 24 de Agâslo do
1820 no Porto, seguida em iiaboa a 15 do Sulembro. Além d^iséOp
' Giisti4 outra cau&a, talvez mm ponderosa, pois oITendia o brioni-
cional, qual o dominio despótico do mareciíal Bureâ^rd, cyja rieii*
rada de Lisboa chama o auior da Uomoria — intempesiiv^t ^^ por
ia dar muito cedo (!!)
f lima revolução I somente em Portugal, não salisfana ás vifiai
dos revoiumonariosi que pretendiam collocar Eí-Hei na necettfdid#
do regres^r a Portugal» d se emfienbaram em commuojcar ao Braiil
a revolu^^o ; ma&, ou porque livLsse já con«;guidoseu principal fim p
oudotnmado? do ciúme contra os Brazileiroi* 0 espantados de su^
própria obra, quizeram recuar ; entio medidas foram adoptada^ paia
egnservar o Brazit jungida cumo cdonia ao carro de Portugal
K E ianegavel que o Srazil n0o estava preparado para umá mjf^
ra^abfioliiiacjâ Portugal : Ainda na proclamação de tSdt Jui^bo
I
r
«80
iê 1§22 h\h\A o MafiTaiiimo Frincfpa o Senlior D. Ptdro l> gm
-^liidapendctick mõilsraíta peb UniÀo Nâdonal :■— pensamento
repraduzido na repreaentaçio das procumdorefi geraeâ, dirigida ã<^
mesmo Attgus!o Senhor no dia 3 do mesma mez, e no monif«i»to de
0 dê Agosto, »p6^rde lontas, e t^úclamarosns itijusliças praticadas
eontra o Brazíl paio Congresso Je Lisboa. Só depoh ã@ fechados
todos os meios de conciliação, como so expressa a proclamaçiio de
31 deOuiubro, équo o Brazi! usoo do sau direito lnconti?itaTe1 ,
jKcbtnandõ D Senhor D. Pedro l.*§é0 imperador ConstlinclonaU e
proetaoiando sna independência.
u Também è jnnegavel, que o Eraxll, mais populoso e maís rloo
do qn? Portuga U d*el1â f^prado pela natureza por immen.sos mares»
nao podí^rb por muito tempo Ij ca r<^l lie unido, o muito menos sujeito
ao systéifift colonial , q a and o lodo o eonUnenla aoraríoano aspirava
com enérgica aclividade as — instituições ti berne&t ACotumbiaô
Buenc^Ayres já eram Estados independentes ; oErazilnão podia
continuara aer uma dependência do velho Portugal, embora podesso
este dispor de muitos meios de compressão. A independência podia
$QT retardãik , a penmaeía dos PontiguezAS podia daf lugar a uma
luta sanguinolenta, ma?; o resultado cru todo o caso seria o reconhe-
cimento da [ndependenda do Brazil ^ principalmente tendo á sua
frente, identíGeado nosseus intereâsi3fi, em sua sagrada causa, o Prin*
cipa Magnânimo e Generoso^ que fundou as Instituições á sombra
dts qnaes elle tattto se tem avantajado em prosperidade e engrande-
cimento.
¥ t pai3 manifesto a túéa^ as luzof qae a lemlyran^a isontida fio
Manuscfiplo, e qoe làtmà o seu principal ot^jecto , de querer coiT^
servar Portugal e o Brazil onldos o debaito do regimen dos EstaHitos
dai cortes de Lamego, ainda refomiados, itãn tem mereetntdnto
algum.
^ O Manuscripto si nâo tem por íím principal interessar o Brasil na
enusa da Púrui^t, e fazê-to lirvír ás ídáaa de geu a olor contra a
ri¥aluçâo, que ali um ena»ntniTa a rasiitencia que ello dõii«jofa,
entio é apenas um documei^to d^ qnõ-^ mal avisados andavam sobfo
ri^^rtd^^^Jtí
m
Ésc5lBâs ão Br&í^il, iião compreliendíam sua shuaçJo^ ie^únlimnm
CO mf>i Ota mento seus racurios e sou destino os liorocns politicou «]«
Portugal» ainda mesmo os que se inlromettiam a beneficia -lo.
« Rio de Janeiro, 12 de Junho de Í8ã5» — José iiéeftm^f^ df
Souza Ramoã. n
O Sr. conselheiro B.ipliíta d*OUveíra propõe para wtíú corre*^
pôiidenteoSr Dr. Eduardo Ferreira Frânçír, leniôda faeuld^de ik
mediciím ih Baliía, — è a proposta remeUida á rominíss^o de adiiiís-^
fiSc»desocio:s»na formados Estatutos,
O Sr. Lugos coiUinuou a leitura de sua analv^sõ da viagem do'
conde da Qisielnau pela interior do Brasil.
Dada a hora levonla-se a sessão, marcando-fe para ordem do àla :
1** Propostas o pareceres sdtados ^ 2/* CooliouaçSo da leitura dt
analysedoSr. Lagos.
6.' SESSÃO EM 20 DE JULHO DE !8S1
Hóiirada Oóm a Augusta prcièn^a de St Bt, L
1>AESlt)tt>i PELO EIM." SH* VlSCONfiE Dí SGPETJIâ.
*
A's laras do csivlo arhando-se presentes os Srs. viseoada de Sc*
peliba, conselheiros Baptista d^Oliveira e Mariz Sarmento» Dn,
Haia, Lapa o Paula Menezes, Pereira Pinto, Lagos, Porto- Alegre»
J, Norberto, Pádua FIcurye cónego Pinheiro, abre*se a sessfo»
Lida a acta da antecedente é approvada.
O Sr. 2." serrotaria, no impedimento do 1.', dá contii do soguint<3
Km officío do Sr. Pranciseo José Borges^ remeltondo um exemplar
^ da obra de Mr. d*Orbigny intitulada « Vojage ptttorcsquâ datis lei
deux Amerífiues* — tteccbida com agrado.
*31
Idem do Sr. Franc de Paulicéa Marques de Carvalho pocKndo para
1 •bibliotheca da província de Saata Catbarina, de que é chefe, iodas
as publicares do Imiitulo.
Idem , do Sr. Joaquim Maria Nascentes d'Aearobuja, pedindo
dispensa do traJbalho de que foi incumbido acerca das diversas atiri-
buiçéeç dos capitães- mores do Braeil desde a sua origem até a sua
«xtincçáo. — Dispensado.
Idem, do Sr. Dr. Adolpbo Manoel Victerio da Costa, remettendo
um exemplar da obra de seu pi relativa á cholera morbus. — Rece<*
bida com agrado.
Idem, do Sr. presidente da província do Rio Gratide do Norte par-
ticipando que ficam dadas as providtmcías para serem remetlídas a
«ste Instituto as «amostras dos meteoros, que tem havido na mesma
província. — Inteirado.
Idem, do Sr. Dr. Praxedes, remettendo um exemplar da sua obra
— o Útil Cultivador — para servir de prova á sua admissão ao Ins-
tituto.— A' commissão d'adnMSsáo de sócios.
Idem, do Sr, ministro da guerra remettendo copiasdas informações
recebidas das províncias da Bahia e Pará sobire os objectos das pro-
postas do Instituto relativas ás bandeiras, qUe servitam na guerra da
independência e ás peças tomadas em Cayena.— Inteirado.
Idem, do Sr. Pimenta Bueno offerecendo dous dos seus discursos
pronunciados na presente sessão do senado. — Recebidos com agrado.
Idem, do Sr. Joaquim Maria Nascentes d'Azambuja remettendo:
I.*, um exemplar do relatório da repartição dos negócios estran-
geiros; 2.% a obra denominada — Viagem ao Drazil por Burmeister;
3.^, a mensagem que o poder executivo de Buenos-Ayres dirigiu á
sala dos representantes censurando o general em cheTe do exercito
argentino, por nfio ter colhido resultado algum satisfactorio d'aquella
campanha. 4.*" A exposição, que etn sua defesa íet aqueíle general.
— Recebidos com agrado lodos estes donativos.
Idem, do Sr. cónego Pinto de Campo«, remettendo oa seguintes
manuscriptos : um oflicio de Francisco Xavier de Mendonça Furtado
dirigido -ao conde da Cunha relativamente aos jesuitaêc uma expo<>
ivin 96
siçào do occoFfido na colónia do Sacramento occupaíb pefos (Vfo-
goe^ês desde o traindo provisional de 1681 a[é 1737, e pedindo qtiâ
sirvam estas ofTerlas de tilulo porá a sua recepção na dmm deserdo
correi ponden to, e compromeitendo-se a escrever yma mefooria
acerca de cerlos acontecimeniõs, que em épocas nlo mui remoiai
tiveram lugar na p^o^incla de Pernambuco, — A*commi^o d'«diiii5*
saodesocm
Idem« do Sr. visconde de Sapuc^diy, dizendo que não podo eoni'
parecer a sessão d 'hoje por inrommodo de pessoa de sua famifja.--
Inteirado*
I noFOSTAS,
Lt}-se uma proposta assignada pelos Srs. Pereira Fínlo e Br* Lapa
propondo para sócio do Instituto ao Sr> cónego Pitilo de Campos. —
A' coromissão d^admi^fío de sócios,
ORD^M m> nu,
O Sr. Lagos continua a leitura da sua analyse á liagem do conde
de C^stclnau pelo interior do Brazil na parte rtitaliva i provinda d^
Goyaz.
A*â 7 horas levanLa-se a sessão^ marcando-se para a ordem do dia
seguinte a mesma que fora designada para a d'!io]e«
7.' SESSÃO EM 17 DE AGOSTO DE !S5S.
PHESIDIDA BtLQ IXltf,* SH. TliCGNDll DE MPCCAftT.
i's cinco horas da tarde achando-se presentes os Srs. fiícc
dd Sepetibs, conselheiro Cândido Baptista, Drs. Carvalho « Silva
con^o Fernandes Pinheiro, Porto*Alegre, Lagos, J* Ifortert»,
Ffireira Pinto^ o Sr. presidente abro a s€Mo« aervinda de i.* leei^
àU
tario.0 Sr. eoQego 9r. Fârnandes Pinheiro, e de 2." o Dr. Perára
Pinio.
Lida e approvada a acta d'antecedenle o Sr. 1.** secretario dá conta
do seguinte
EXPBPIBNTE.
Um tíOicio dojSr« cónego Dr. Fernandes Pinheiro offerecendo ao
Jnsútijto ura exemplar da iraducção do livro de Job, feita pelo fai-
lecido José Eloy Ottoni.
Outro do Sr. Firmino Herculano de Moraes Ancora, remettendo
um exemplar do mappa corographico da villa de S. Gabriel, seus
arredores, t fortificações, o um dito do lugar das Caldas ao sul do rio
Cubatão na província de Santa Catharina.
Outro, do Ex."** Sr. ministro do império transmittindo para uso
do Instituto a descrípção da viagem feita no anno de 1854, desde a
cidade da Barra do Rio Negro pelo rio do mesmo nome até a serra
do Cucui por Hilário Maximiano Antunes Gurjao.
Outro, do mesmo senhor enviando os relatórios com que os Drs.
Cansansão do Sinimbu, e Manoel Gomes Corrêa de Miranda, o pri-
meiro, entregou ao seu substituto a presidência do Rio Grande do
Sul , e o segundo abriu a assembléa provincial da provincia do
Amazonas.
Outro do mesmo senhor accusando a rece|)ção dos roanuscriptos
relativos á conquista de Cayena.
Outro do Sr. James Fletcher pedindo ao Instituto , que estabeleça
correspondência e troca de publicações com a associação histórica de
New-York.
Outro do Sr. A. D. de Pascoal Adadus Calpe, enviando ao Insti-
tuto um trabalho a que deu o nome de — Breves reflexões históricas.
Outro do Sr. José Martins Pereira de Alencaslro, remettendo as
suas — Memorias históricas da provincia do Piauhy — para servirem de
título á sua admissão como sócio correspondente do Instituto.
Outro do Ex.** Sr. arcebispo da Bahia transmittindo a memoria
iU
sobre o prograrmiiâ , qira lhe foi dado por S. Bf agascaife ratitito â
Baluralitlado do padre António Vieira.
OrFEUTÃB.
O Sr. Iof»quJm Nofberlode Souza e Sílvã ofKireee os docunjmiJdi
clEctnes da província do Ria de JanftírOj apresentodos no correme
anno a assembléa legíslfitivd provi nríal
O &r, CDrtseílieiro Cândido Baptista ofTerece aã ínsliluto por pane
do Sr. Migtíel Maria Lisboíj um matiuâcrrplo sobre a republica A
Venezuela*
r RO POSTA».
Os Srs. Norberto de Soyza, € Pefeira l*iiitoapresentania seguioit
proposta :
Propomos que o In^ilulo solicite ao governo a etilfigi de uoi
fragmento dos despojos mortas do missioiíano Anchíeia» que se co!>-
serva em uma caixa com lavurde prata ou no ihesouro publko na-
cional, ou na thesuuraria da pruvincia do Espirita Santo,
Depois d@ pequena discussão ep que tomara lU parte os Sr& vis*
conda da Sepetiba , Porlo-Alegrõ, e os autoras da praposU foi ella
approvada^ reservando-se para época posieriorá entrega doesse obj6ei£^
a decisão do h%'ar em que elle deve ser definitiva mente coll^íodo,
O Sr. Br. Lagos rontinua a leitura de sua analyse ã viagem da
conde de Castelnau pelo interior do BraziL
O Sr. Dr, CarvalEio e Silva enceta a leitura da memoria da stia
viagem desJo a foz do rio S. Francisco até a (Cachoeira de Pauto
ABbnso.
Âcham-se sabre a mesa nujnerosos ob|ecto<3 de historia natural
apresentados pelo mesmo Sr Dr. Can^llioe Silva.
O Sr Dr, Fitula Menezes communtca que por inoommodada náo
pode comparecer á sessão-
A's sete boras levantou-se a sâssào. A ordem do dia é a mesma.
i35
8/ SESSÃO EM 31 DE AGOSTO DE 1855.
PRESIDIDA PELO EXM.* SR. TISGONDE DE SEPETIBA.
A's horas do costume, presentes os Srs. conselheiros Cândido
Baptista d'Olíveira, visconde de Sepetiba, Porlo-Alegre, Dr. Lapa,
Lagos, cónego Fernandes Pinheiro* Hariz Sarmento, Pereira
Coruja, Honório de Figueiredo, Pereira Pinto, Carvalho e Silva, J.
Norberto, Macedo e Paula Menezes, abre-se a sessão, presidida pelo
Sr. 1.* vice-presidente visconde de Sepetiba, tendo communicado o
Sr. presidente não poder comparecer por impossibilidade.
Lida e approvada a acta da antecedente, o Sr. i.* secretario lé o
seguinte
EXPEDIE5TE.
Um oflBcio do Sr. ministro do império communícando ter expedido
ordem á casa de correcção para pôr é disposição do Instituto dous
Africanos livres para seu serviço, conforme lhe fora solicitado: ficou-
se inteirado.
Outro do Sr. ministro de estrangeiros, offerecendo ao Instituto a
obra intitulada — ^Expedição exploradora dos Estados-Unidos, durante
os annos de 1838 a 1842, sob o commando de Carlos Wilkes; por
julga-la de utilidade ao mesmo Instituto: recebida com agrado.
Outro do Sr. vice-presidente da provincia do Paraná enviando
dous exemplares dá collecçào das leis promulgadas pela assembléa
provincial no corrente anno.
Outro do Sr. J. Norberto, pedindo permissSo para ir lendo os
capítulos dos dous primeiros livros que se achar promptos, de sua
historia da litteratura brazileira.
ORDEM DO DU.
Lé-se o seguinte parecer da commissao de admissio de sócios :
« A commissao de admissão de sócios, tomando na devida eonsi-
dera<;Ão o proposta dosSrs. Drs- António Pereira Pinlo e LuJgero rfa
Bocha FeiTtíira Lapa, afim dt:; que o Sr. cónego Joaguim Pinto de
Campos, deputado a ass^mblóa geral legL^laiiva, seja inscrtplo entfd
os membros oorrcspondenies do Ijistítulo Histórico eGâograpbico do
Brazil; e aUendeudo a quo o candidato, além da sua reconhecida
capacidade litleraria , compriu o disposto no âriÍgo6-''da nossa lei or-
gânica ofiferccendoa esta associação Iros auíliographos preciosos, e se
€omprom6tle de m.ii^ a apr(i:!í6ntar brcvemenle tiina rDOmorta da sua
pQtina a respoito do certos aeonterímentos rjua em épocas não nmi
remotas 9 tiveram lugar na provincia de Pernambuco, é úb parecer;
« Que o Sr* cónego Joaquim Pinlo de Campos soja admillído na
qualidade do membro correspondenle d'este Instituto . na forma de-
terminada pelo artigo 7.- dos estatutos ora vigentes.— Sala das ms^es
do Instituto, em 31 da Agosto de 1853. — Âhmei Ftrrcha L^gm* —
Dr. Caitdido àe A lertdo Couiinfw. »
Tendo sido pedida n urgência, o sendo approvada; é o parecer
adopUado, corre o esorutinio e sabe o Sr, cónego J. Pinto áê Ctmpoi
ekilo sócio correspondenle.
O Sr* Ferreira Lagos propOe qiio lendo sido oITerocrdo pio Sr,
conselheiro Cândido Baptista um trabalho do Sr. Liiboa^ mbfé m
republica de V^eneziiela, seja en vindo a uma commiss^a para iiMerpòr
o seu parecer, Approvada a proposta, resolve o Ins titulo <|uc sej»
rameltidoás duas primeiras commis!sc>es de bisioria egeograpfiii.
Tendo*3e relirado para a Europa um dos membros da commisiéa
do admissíío de socÍob, o Sr, Ur, Capânema, é nomeado o 8r. Manoel
d'Araujo Porto- Alegre para o substituir,
O Sr. Br. Rodrigues de Carvalho e Silva, lé alguns capítulos âê
sua riagom pelo rio do S» Francisco^ o o Sr* Dr. LíJgos etmtinuandij
a leitura da sua ana]3'se a viagem do conde Castdnau occu^ion ú
resto da sessão; a qual t^^rminou ás 7 huras da noite, nittrcandíHse
para ordem do dia da seguinte: f." Propostas e pareceres de com-
missOes. 2.* Leitura da memoria do Sr. Souza Fontes, e ronlinuaçâo
da bitura doB trabalhos do Sr. Rodrigues de Carvalho a Fenéra
i87
9.' StS&kO EU 14 DE SETEMBRO DE 18S6.
filonrada eom « Augusta Presença de Soa llagestade.
PRBSIDIBA PELQ BXM.* SR. YftSCOMDE DB 8APUGAHY.
Ás horas Jo costume achando-se presentes os srs. visconde de Sa-
pucahjy conseHieiros Souza Franco, Cândido Baptista e António
Manoel de Mello, cónego Fernandes Pinheiro, dr. Souza Fontes,
J. Norberto, Miguel Maria Lisboa, drs. Azeredo Coitinho, Carva-
lho e Silva, Honório de Figueiredo e Pereira Pinto, abre-se a sessSo.
Lida e approvada a acta da antecedente, o sr. 1.* secretario sup-
plemte dá conta do seguinte
EXPBD1E5TE.
Um oflScio do sr. JoSo Francisco Lisboa offerecendo os ns. 6 a 10
do jornal do Timon.
Um dito do exm. sr. ministro do império remottendo a exposi-
ção impressa apresentada pelo conselheiro Rego Barros ao vice-pre-
sidente do Pará, no aeto de passar-lhe o governo da província.
Um dito do sr. dr. Francisco Nunes de Souza enviando a sua geo-
graphia histórica, physica e politica do Brazíl para concorrer ao pre-
mio— á melhor geographia d'dste Império.
Outro do sr. Raposo de Almeida offerecendo uma collecçào de
diplomas do sr. conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva.
Outro do sr. conselheiro Eozebio de Queiroz pedindo informações
sobre um compendio da Historia do Brazíl, que consta ter escripto o
visconde de S. Leopoldo.
Todos estes ofiScios tem o conveniente destiiM, agradecendo-se as
offertas.
pAMCiRKa BE comisalo.
O sr. Lagos procede á leitura do seguinte parecer :
« A commissSo de admissão de sócios, tomando na devida consi-
deração as propostas inclusas para que sejam inscriptos na lista do»
membros correspondentes do Instituto HistOfico eGdographioo Bfs-
rJleiro o e^na. sr, consdheifoXuíi Peílreira do Coutto Ferra t^ minis-
Iro e secretario de estado dos negócios do império, & o sr. JoSo Fran-
ÚBCQ Lisboa, autor do interessante jornal publicado no Mannlião
fom o litulo de Timon; e attendendo a que os Cííndidatos, alem dss
suas incontestáveis iiabilítaçúes Utterarias, cumpriram o di^pcisto peto
«rt. 6.° dos estatutos doesta sociedade » é de parecer :
*t Que os srs. conselheiro Lni^ Pedreira do Couito Ferras e Jd
Francisco Lisboa sejam approvíjdos na categofia de membros fi)rfi
pendentes doeste Instituto, na forma determinada pelos sobredil
estatutos.
fi Sala das sess(iês do Instituto , em t4 de Setembro de 18SS*—
Manael ferrnra Lagoi, — Manoel de Araújo Por(o-ÁU^i> *
Vencida a urgência requerida pelo sr. cónego Pinheiro para que
seja o parecer discutido , corre o escrutínio secreto ^ e sabem eleitdi
sócios correspondentes os srs. conselheiro Luii Pedreira do Coutte_
Ferraz e João Francisco Lisboa.
O sr. dn Souza Fontes lê a sua mamork em desen volvi menld
do programma que lUe foi dado de — extremar qmm os aoiniam
que pelos conquisUkdores foram introduzidos na America.
O sr. dr. Lagos prosegue na leitura de sua analjf« á viagôm ila
conde de Castelnau , na.parte relativa á província de Gojai, ,
O sr. dr. Carvalho e Silva preenche o re^to da sesâSo com i W*
lura de sua viagem a cachoeira de Pauto AfTonso.
0$ sr. drs* Macedo e Paula Menezes participam que por tnedin-
modados nào podem comparecer á sessão.
O sr. Angelo Thomar do Amaral communica que seus Incom-
modos, o trabalhos olliciaes tem -lhe impedido de conolutr a iua
memoria em desenvolvimento do programma que lhe foi designado.
As sete horas e meia da noite levanta-se a sessão, dando q sr.
presidente para ordem do dia seguinte a continuação das leitum
adiadas.
&S9
19.- SESSÃO EM 28 DE SETEMBRO DE IftSS.
iSttfuraAa eom « Attgoita Preteâça de 8«« Hagestadèv
PRESIDIDA PELO CX*.* SRv TRCONDÍ DB SAPVGAÀT.
Achaíido-se presentes às horas do Êostttme os srs. visconde de Sa«>
pocaby, conselheiro Cândido Baplista, dr». Souza Fontes, Carvalho
6 Silva, Honório de Pigaeiredo, thoraai Gomes, Lagos, cónego
iPinheiro, Porto-Alegre, J. Norberto, Pereira Coruja e Pereira Pin-
to, o sf. presidente abre a sessão, e approvada a acta da aniece*
«dente^ o sr. i.* secretario supplente lè o seguinte
tXPEIílEHTE.
Um officio do sr. dr. barlanaque, director do musèo nacional^
f)edindo uma coRecçlto da Revista do Instituto para o uso d'aqueUô
«stabelecimemio.
Outro do sr. Joaquim António Fernandes Pinheiro remettendo
por parte do sr. Joào Diogo Sturz o exemplar de om tratado de
geographia de Acbilles Mecisas, e Aug. Mtchelot, e OQtro do jor-
nal da sociedade geológica allemà.
Um officio do sr. Honorato da Silveira acerca da exislencra do
Ititiaia, em Ayuruoca, tia província de Minas Geraes.
Outro do sr. António Bernardo de Barros, presidente ila pro-
víncia do Rio Grande do Norte, enviando varias amostras de aero-
fites.
Outro do sn Manoel Gomes Corrêa de Miranda, vice-presidente
da provincia do Amazonas, traasmittindo dons nnmeros da EsireHá
do Amazonas.
Agradecem -se as oifertas» t manda-se satisfazer os pedidos.
S. M. o Imperador se digna communicar quo para a outra sessão
trará uma interessante e curiosiasima obra que se intitula : Livro qm
dá raeâo das cousas do Brazil. — Recebida com muito especial agrado
«sta coramunicaçào.
xfiii dV
m
£m seguida prosugua o sr. dr. Lagos im leitura de unm iOâljae
à viagem do eoitdõ de Castelnau peto Braiil» tratando da provícicíi
de Goyass.
O sr. C^rvallio e Silva contínua ígtialmenla a l itiim de sua
meínoriíjí sobre a sua viagem á coclioeira de Paulo AlTwtJSO.
O SL'. dr. Paula Meneies [iariíclpa que não eom|iMrece por ift-
cumínodado.
Levani!i-se a sessão as sek tioras e meia, dando-se para ordem da
dia seguinte as leitoras adiadas.
11/ SESSÃO EM 13 DE OUTUBUO DE ISSS,
HooradA com a Au^giuta Presença de S* M< o Impcr«d#r^
ÃchâJido-$e presentes à Ijora do costume os Srs. visconde de
Sapucahy, conselheiro Cândido Baptista, Drs, Lagos, Figueireda,
Souiã Fontes, Cor%-alho c Silva, cónego Pinheiro, Lisboa^ Porto-
Alegre, J* Norbcrio, conselheiro Paranhos, e Pereira Piuto^ o Sr,
|.iresídenle abre a sessáo, e lida a aeia da antecedente, o Sr. 1.'
!^crelarÍo sup]>knte dá conta do seguinte
Um officio do Sr. ministro do tmperío, transtnittindo o relatório
apresentado ao vice-presidente da provincia do Bio de Janeiro, Ur.
José Ricardo de Sá Bego pelo presidente o conselheiro Luix Ãtitooid
Barbosa ao passa r-lhe a administração.
Outro do Sr. Franc de Paulieéa Ãlarques de Carvalho ofle-
recendo os primeiros números do periódico intitulado — Menêagntú^
publicado na capital da provincia de Santa Calharina.
Outro do Sr. Dr. Caetano Alves de Souxa Filgueiras enviando u
ffUas— ReQexôes sobre as primeiras opocas da historia do BraiU mã
geral, e sobre a tnstituiçSo das capitanias em particular , para servir
de titulo de sua admissão a sócio do Instituto.
Um ofiicio do Sr. J. E. H. da Silveira, referindo-se ainda á exis-
tência do Itiliaia em Minas Geraes.
Outro do Sr. Porto-Àlegre remettendo o malheto que serviu na
demarcação da base da estatua equestre do fundador do império para
ser guardada entre idênticos objectos pertencentes ao Instituto.
Um officio do Sr. Pereira Coruja , pedindo para substituir o seu
programma — Quaes foram os primeiros Americanos que intentaram
a independência de seu paíz? por um indice chronologíco da pro-
vinda do Rio Grande do Sul.
S. M. o Imperador dignou-se expender algumas observações sobre
a obra denominada — Livro que dá razHo das cousas do Brazil,
observações suggeridas pelo exame a que está procedendo da refe-
rida obra.
S. Magestade foi ouvido pelos membros do Instituto com profunda
attençao, e suas informações recebidas com todo o agrado.
O Sr. Dr. Lagos prosegue na leitura do sua analyse sobre a
viagem do conde de Castelnau pelo Brazil, tratando da província de
Matto Grosso.
O Sr. Norberto dá começo á leitura de sua historia da litteratura
brazileira.
O Sr. Dr. Paula Menezes communica, que não pôde comparecer
á sessão em razão de multiplicados afazeres clinicos, que lhe sobro*
vieram.
Levanta-se a sessão ás 7 horas e meia, dando o Sr. presidente para
ordem do dia seguinte as leituras addiadas.
12.- SESSÃO EM 26 DE OUTUBRO DE 185S.
PRESIDIDA PELO EXII.* 8R. VISCONDE DE SAPUCAHT.
A's cinco e meia boras achando-se presentes os Srs. visconde dt
Sapucahy, Dr. Macedo, PortoAlegre, J. F. Lisboa, J. Norberto, c
432
ft. LapD» ITônorio rfc Figueiredo^ Curvallio, a cónego DrJ
tbre-se a Sessão, o lida a aclo d^antecçdente é approv^*
O Sr. 1,^ seerev^io iM conta dô sâguiai^
OfUcio& ;
1." Do Sr. J* I>. Slrtr^, eonsul doBrazil em Jíresé^f rei
por irUermiMlki da bíèlioilioca Fíumine»í>e, mn atl^isgeographiax
2** 1)0 Sn Norberia o íítí recenda utii eitímptíif ib lÍmilaiÍÍssHi
ediçiíi em avuísíj do sua meínoria lií&lorica e doeumÊTUada \h% aldj
á'indiosda províitcia do Rio de laiieiTO.
3.* Do Sr. Poreira Pimo ftífiMsltetido uirw carta do cNh dl I
souraria da provincÍQ do Espirilo S^irito acerca dos despojos i
do p^dre AnchÍL4a.
4." Do Sr* vííre-preairfíenie da prOYincta das Atogòas enTÍiodu os
actos oflicBes da m&sma provintia.
S," Do Sr. více-presfdeiUe da provinda do Arnazonos remelleodb
qualro números do jornal Eslreíia ih Amatotms^
#».■* Do Sr. minislro do império trartâmitlíndo o exemplar emtml^
na Jbiblíotlieca poblica das cartai je^sultictu sohrt o BrauL
7.* Do mesmo senhor enviando um exemplar impresso dp rriiiofio
dirigido á assembléa provincial do Amazonas pelo respeetifii vic#'
pre§ideiii0.
B,^ Bú mesmo senhor olíeraeendo ires eiem|i1ares úm relatorii»
dos presidentes do Ceará, Parahyba e Pará.
9.** Do Sr, presideme do Rio Grande do Norle remetltôiido «n>
saquinho de pedras meteóricas.
Í0," Do Sr. vice^presldotiie da província daa Abgdas onví&ndo
um exemplar da fatia com que abriu a respeeUvt asembláa pro^
TÍncial.
ILvDo Sr. Munnick âecretario da sociedade d»â aria e seiôneiís
deBatavia offerecendo alguns volomes das publÍcor"tísd*aiiudla sabia
associação e pedindo em truca as publicações do Instituto.
12,* Da Sr- coiíego Pinto de Campos olTi^rocotida um c%empbr do
sra sermio pregadd em Nictheroy no dia 7 dô Setémbm do correm»
anno.
13.» Do Sr. Vieira de Onralho offerecethfo um exemplar dojieu
drama em três actos As três épocas cTuma pnsidincia,
14.* Do mesmo senhor offerecendo duas estampas representando d
cachoeira de Paulo Affonso pelo engenheiro o Sr. Fernando Halfeld.
Todas estas offortas são recebidas com especial agrado.
15.» Do Sr. ministro do império communicândo que foram dadés
as convenientes ordens para que sejam entregues ao thesoureiro do
Instituto os dous conios de réis votados no orçamento vigente para
auxiliar as publicações do mesmo Instituto.
16.* Do Sr. Cruz Lima pedindo uma solução acerca da sua bio-
graphia do Sr. bispod^Anemuria. Fica o Instituto inteirado d'ambo&
08 olBcioS) respondendo-se opportunamente.
S. Magestade dignou-se de mandar guardar no archivo do Instituto
o precioso manuscripto, que offerecera n'outra sessão, acompanhado
d'a8tampas e atlas coloridos ; bem como uma copia do mesmo sem
estampas.
O Sr. 1.* secretario participa que 06 Srs. Lagos e Dr. Paula He^
nezes náo podem eooiparecer por doentes.
Lé-se o seguinte parecer :
cc A commissão de admissão de sócios tomando na devida consi-
deração a proposta para que seja admiltido na qualidade de membro
correspondente do Instituto e Geographico Brazileiro, o Sr. Dr.
Caetano Alves de Souza Filgueiras; e reconhecendo que o candidato,
além das suas habilitações litterarias« cumpriu o disposto na lei
orgânica d'esta sociedade offerecendo um trabalho próprio com o titulo
de — Reflexões sobre as primeiras épocas da historia do Brazil em go-
rai, e sobre a instituição das capitanias em particular, é de parecer;
« Que o Sr. Dr. Caetano Alves de Souza Filgueiras seja consi-
derado na classe dos membros correspondentes d'este Instituto, pro-
cedendo-se a seu respeito s^ndo determinam os estatutos.— Sala
das sessões do Instituto, em 26 de Outubro de 1855. — Manoil Fít--
rtlta Lágos.-^Manúel it Araújo Porlo-AUgre.
hàà
Sendo requerida a urgência pelo Sr* Porlo*Aíegre é dpproraiío o
parecer e eleilo sócio correspondente por unonimidade de voto3 0 re-
ferido Sr. Cr Câetane Alves de Souza Filguoira^.
ORDEM no DIA.
O Sr. Norberto hz a leitura de um dos capítulos da sua //af«
Ha Li Hera tara BratUcirn.
O Sr, Carvalho e Silva prosegue na da sua Viagem ás eachúelrm <
Pãuh  ff orno.
À's 7 l/â horas ievanta-se à s^sao dando-se pâfã ordem dodÍ4
seguinte os matérias adiadas.
13.' SESSÍO EM d BE NOVEMBRO DE f S5Õ,
PB ES im DA FELO EIM.* SR. TtSCOKDE DE 91FI7CABT.
A*s horas do costume âchando-se presentes osSr^, ?ife<mdd Ab
Sapucahy, conselheiro Cândido Baptista, J- Norberto, Sebafliá»
Soaras^ Almeida Raposo, e Drs. Ferreira Lapa, Canallio e Silva,
Honório de Figueiredo, e cnnego Fernandes Pinheiro, abr^-sa a
sessão, e lida a acta d'antecedente è npprovada.
O Sr. 1** secretario dá conta do seguinte
Oflicios :
1.* Do Sr. ministro do império remeitendo copia d*ura oííjcio do
delegado da reprtiç^io empecia] das terras publicas da provinei» deJ
Âma^conasj contendo esclarecimentos sobre as missões da r&íerida
província.
2." Do Sr. A. A* Pereira Coruia» remeitendo iim exemplar das
suas lições d'histona do BrazÀl^ pedindo que seja a dita obra enviada,
a uma das commi.^sues d'bisioria; assim se decide.
3/ Do Sr, ministro Am negócios estrangeiros offereecndo uma
copia das instrucçoes que em 23 d'Outubro de 1797^ foram dada
hh6
por D. Rodrigo de Souza Coutinho a Fernando Delgado Freire de
Castilíio, que acabava de ser nomeado para o governo da Parahyba.
4.* Do Sr. conselheiro Pedreira offerecendo um curioso manus-
criplo sobre a conversão á fé catholica do marechal Bôhn occorrida
n'esla capital no dia 18 de Agosto de 1782.
Todas estas offertas são recebidas com especial agrado.
5.* Do Sr. Pereira Pinto, presidente nomeado para a província
do Sergipe, participando que parte para ali, onde espera as deter*
minações do Instituto.
6.** Do Sr. visconde de Maranguape enviando o parecer das com*
missões de geographia e historia sobre a viagem do Sr. Miguel Maria
Lisboa.
7.* Do Sr. Adadus Calpe remettendo o seu opúsculo intitulado
— La Novella actual, consideraciones sobre la litteratura contem-
porânea.
Vai a uma commissão especial, composta dos Srs. conselheiro
Cândido Baptista ^ J. Norberto e cónego Fernandes Pinheiro um
trabalho geographico politico e estatístico do Sr. F. Nunes de Souza.
Approva-so o seguinte parecer :
« Foi presente ás commissões de historia e geographia do Instituto
nistorico e Geographico Brazileiro o manuscripto apresentado ao
mesmo Instituto com o titulo: — Relação de uma viagem pelas re«
publicas de Venezuela, Nova Granada e Equador, nos aonos de 1852
e 1853, por Miguel Maria Lisboa, AM.»
« As commissões reunidas, tendo atlentamente examinado o dito
manuscripto, consideram-no muito interessante.
1.* Porque está escripto em um estylo claro, deleitante e sem a
descripções poéticas, e reflexões sarcásticas com que muitos viajantes
desGguram ou exageram o que ha de real nas creaçôes da natureza
ou da arte, e nas relações da vida social e domestica por elles obser-
vadas, como se temessem desagradar ao leitor nao lhes fornecendo
em uma obra de inslrucçiio, quadros mais ou menos extensos , mais
ou menos brilhantes, de pura imaginação, e não poucas vezos copiados
IA6
4oâ <pte abundara em semelhantei cucriptcis ; viajantes de qii«m st
çóà& dÍEer eom Beaumareltâls ^qm ditauteur» dit oseur. n
2.' Porque rt obrn d'esle dislincto Brazileiro trata de patxes i[ue^
^indu que víiinhos e limUr^phes do impãHo, sao pouco conhecidos
tanto anire nos como na Europa; dá uma drcunistancjada noção dâ
topogrãpliiOf casiumes, commercio, agricultor:} e população da ada
um d'6Íles, e contém importantes exlractos da sua hUtoriá, que o
au(or promette trãtâr, noseguimonlo da $m obra» com m^is ptrtícu*
húútuh.
3/ Porque urna obra, escripia em sentido benévolo pam com oí
fiabitanlâs d^aquclles paizes , contribuirá para d^vaneoer antigas
amipathiâs^ que ainda possam existir entre elles e este íiuperjo.
Cl Pensam, porém, as commissdes que nào poderá ter lugar a ioi*
pressão da obra na Revista, nio só porquQ é muito eictensa e exige i
lilhogrophia ou gravura de ixiappas o estampas» Cõmo parque nào
Um senão uma relação indirecta com a historia a a geograptiit do
Braeil.
Rio de Janeiro 16 de Outubro de I85S. — Visconde de Mãnm'
guoffê, — BernmHÍ& de Souzu Fruncú, — Jmqtdm Núrimtt^ dê Souzs
é SUm, — ãktrqÊtei d*Àèrémi€s, — Jqíí Ânídnw Pimenta Buma,
OntlLKt Dó DIA.
o Sr. I. Norberto procado á leitura de um dos çapitulos da sua
bistoria da litteratura brasileira.
O Sr. Carvalho e Silva termina a sua memoria sobre a sua viageiB
ás cachoeiras de Paulo AÍTanso.
A'a 7 6 meia horas levantasse a s&ssàQ mareando- se para a ordeoi
do dfca seguinte as ntaterias adiadae.
hà7
14.* SESSÃO EM S8 DE NOVEMBRO DE 1855.
Honrada eom a A^gasla PrtMmfa da 8. H, o Iniperadon
PRESIDIDA PELO EXM.* SR. TlâCOKDB DE SAPVCAHY.
As horas do costume achando-se presentes os srs. visconde de Sa-
pucahjy coDselbeiro Cândido Baptista, dr§. Macedo e Ferreira Lapa,
J. Norberto» Porto-Alegre, J. F. Lisboa, Lagos, Ebnorio de Fi-
gueiredo, Pereira Coruja, Raposo d'Alrneida econ^o Fernandes Pi-
nheiro, abre-se a sessão e lida a acta da anterior é approvada.
O sr. 1.* secretario dá conta do seguinte
EXPEDIENTE.
Officios:
1.* Do sr. minbtro do império remettendo um exemplar impresso
do relatório apresentado á assembléa provincial do Rio Grande dò
Norte pelo seu respectivo presidente.
2.* Do mesmo senhor remettendo o relatório com que o presidente
do Rio Grande do Sul abriu a sessão ordinária da respectiva assem-
bléa.
3.* Idem enviando o relatório com que o vice-presidente da pro-
víncia do Rio Grande do Sul entregou o governo da mesma ao seu
presidente o sr. barSo de Muritiba.
4.* Idem transmittindo o relatório apresentado á assembléa pro-
vincial de Minas Geraes pelo seu presidente.
5.** Do sr. conselheiro José Paulo de Figueròa Nabueo de
Araújo oQerecendo o 7.* volume da sua collecçâo cbronologica sys-
temática da legislação do Brasil , assim como varias obras de legis-
lado e alguns roanuscriptos a ella relativos.
6.* Do sr. Ignacio Manoel Alvares d'Azevedo offerecendo um
exemplar das obras de seu fallecido filho.
7.* Do sr. dr. Filgueiras oQerecendo um exemplar do catbecismo
XTiu 58
kàS
Braeilico da Doutrina Chrísiia com o Ritual ãos Sacramentos e m^i§
actos parochiaes pelos PP. da Companhia de Jesus-
8." Bo Sr, Carlos Augusto de Sá oíTerccendo um mstiuscriptD do_
poema — ^Vills Eíca^ — por Cláudio Manoel da Costa,
9/ Do sr Eloy Pessoa, bibíioihecario da marinha o&^ertando uii
coliecçâo da — Revista Marítima. —
10.' Dô sr, Manoel Anionio Vital de Oliveifíi offerecendo um fo-
lheto fom o ltmlo--De^crípri!o da Coslâ do \]r^zú de PíUmbú Ji
S. Bento, e de todas as barras, portos, rios do (itofal da proviiidl
de Pernarabuco.
Tinias estas offertag sao recebidas com o eostumado agrada,
Lê-se e fica sobre a mesa o parâcer da commissáo especial sobre o
trabalho geogrâphico, poUitco e estatlstíeo dosr. Fraocisco Nun«s
de Souza.
UllDEU DO DIA.
O sr. Lagos prosegue na lâitura da sua analjse a viagem do
conde de Gastei na tu e o sr, Norburio na de um dos capítulos da
sua Ilistoria da Litteratura Brazileira,
A*â 7 horas levantasse a se^o, marcando-se para a ordem do dia
seguinte as matérias adiadas.
15.' SESSÃO EM 7 DE DEZEMBRO DE 1855,
Hoaradacom a An^tta Preieafa de SuaMagcitade Imperial,
FltEfilOSBA rtLO EX.*' Sã, TISCOIÍIH »E SAFUCÃBl.
A's horas do costume, preseníes os Srs, visconde de Sapucahy,
conselheiro Cândido Baptista, Macedo, Norberto de Souzã, Horto-
Alegre, Figueiredo^ Raposo d' Almeida, Miguel Maria Lisboa, Fer-
reira Lapa, cónego Pinheiro, Lago^, e Paula Menezes, aliiB-^e i
sessaã
Lida e approvada a acta da antecedente , o Sr, !,' seerttario áà
conta do seguintn
440
1X»DIIVTK.
Officio do Ex.** Sr. ministro do império: 1.* pedindo uma ex^
posiçSo dos trabalhos do Instituto no decurso do corrente anno; 2.*
fraosmittindo um exemplar impresso do relatório apresentado pelo
presidente de Sergipe, Dr. Ignacio Joaquim Barbosa, á assembléa
provincial da mesma provi ncia.
Outro do Sr. Morelli Landolf, remettendo por parte do Sr. Giu-
seppe Fiorella, professor de archeologia e numismática de Nápoles,
a sua publicação em dous volumes — Ànalyse numismática e nar-
raçSo de vários monumentos gregos e romanos»
Outro do Sr. J. P. Figueiròa Nabuco d'Araujo» enviando novos
volumes sobre a legislação do paiz.
Do Sr. André Lamas offerecendo varias obras impressas nas repu-
blicas Hispano-Americanas.
Outros do mesmo senhor, offerecendo -se, visto restar-lhe tempo
agora, para encarregar-se de qualquer commissão de que o quizesse
incumbir o Instituto; e enviando um opúsculo seu sobre os negócios
da Republica do Uruguay e a generosa intervenção que exerceu o
governo do Brazil.
Ainda dous oiBcios mais do Sr. ministro do império : um enviando
o relatório do presidente das Alagoas, o Dr. António Coelho de Sá
e Albuquerque, apresentado á assembléa provincial ; e outro remet-
tendo apontamentos contendo uma noticia sobre Guido Pokrane , e
sobre o francez Guido Thomaz Marlière.
Uma carta do Sr. F. A. de Varnhagen remettendo o 1.* vol. da
sua Historia do Braxil: enviada á 1.' commissão de historia para
interpor o seu parecer.
Um oiBcio do Sr. Miguel Maria Lisboa, offerecendo dous exem-
piares de uma estampa representando a batalha doe Santos-Lugares.
Outra do Sr. Diogo Sturz, remettendo vários impressos e lilho-
graphias.
Outro da Imperial Academia de Sciencias de S. Petersburgo,
classe physico-mathamatieai, remettftndo o seu bolletín.
A52
Dr. José Ilibei ro de Souza Fonles*
Dr. Francisco Freire Atlemão.
Commlssm de admissão de t&eie$.
Os Srs. : Maníiel Ferreira Lagos.
Dn Guilherme Scbucb de Capaneroa.
Dr. Cândido d^Azeredô Coitinho.
Ccmmissâú d^ peg^aha de manu^criptOA $ dúcumtniúã»
Os Srs. ; Dr. Joaquim Maria Nascentes d*Azambtija,
Luiz António de Castro.
Dr António Ferreira Pinto.
Terminada a eleição o Sr. Ferreira Lagos, pedindo a pbvra, tez
a leitura do prospecto d'uma nova publicação, que vai encetar, com
o titulo de BiUiútkeca BraúUlra ou coUecçãú d*0hrm § dõCitmtniúã
relativos á hhiariií e a gtograpkia do Brazil^ dedicada, com pdrcnts-
são, a S. Al. L o Sr. D. Pedro 11, protector do Instituto. Couimu-
nica lambem qtie esiá tratando da organisaçSõ, que já está multo
adiantada, d' uma Blhíiograpkia BraiiUira, ou catalogo de LôdáS as
obras sobre o Brazil, impressas desde o seu descnbrimenlo atá boje^
tanto na língua nacional, como nas estrangeiras» trabsilho que i^rá
pur complemento uma relação dos mappas geograpbic<^ enistenteii
acerca do paiz, eque em tempo opportuno o apresentará ao Im-
tituto.
Não bavendo mais nada a traur o Sr» presidente levanion i
A53
AftMiibléa geral dos soeSot do lailitiilo HUlorSeo •
Geographioo Brasileiro.
SESSÃO ELEITORAL EM 22 DE DEZEMBRO DE 1854.
PBE8IDENCIÁ DO EXM.* SR. TISCOIIDB DE SAPUCÁHT.
A's 5 horas da tarde, presentes os srs. visconde de Sapucaby,
Porto- Al^e, Lagos, cónego Fernandes Pinheiro, Campos Mello ,
Rio, I. Norberto, Honório de Figueiredo, Capanema, Sebastião
Ferreira e Paula Menezes, abre-sea sessão. O sr. presidente declara
o objecto da reunião da assembléa geral e dá começo aos trabalhos
eleitoraes, nomeando para escrutadores aos srs. cónego Fernandes
Pinheiro e Norberto.
Procede-se á eleição do presidente e colhendo o escrutinio um
numero de cédulas igual ao dos sócios presentes fica eleito o sr. vis-
conde de Sapucabycom 10 votos, tendo o sr. conselheiro Aure-
liano 1.
Seguiu-se a eleiçfio dos três vice-presidentes. Para o l.** sahiu
eleito o sr. conselheiro Aureliano com 10 votos, obtendo o sr. con-
selheiro Souza Franco 1. Comparecendo o sr. Luiz António de Cas-
tro e Ferreira Lapa, e votando-se para â.** vice-presidente, reco-
lheu o escrutinio 13 cédulas, sendo eleito o sr. Cândido Baptista
de Oliveira com unanimidade. Para S.** vice-presidente foi eleito o
sr. Ferreira Lagos com 9 votos, obtendo o sr. Souza Franco 3 e o
sr. Porto-Alegre 1.
Passando-se a el^er o 1.* secretario obteve o sr. dr. Manoel Joa-
quim de Macedo a unanimidade de votos, e para â.** tiveram os srs.
Norberto 6, dr. Paula Menezes 6 e o sr. cónego Fernandes Pi-
nheiro 1. Dando-se empate entre aquelles dous primeiros, correu
segunda vez o escrutinio e foi eleito o dr. Paula Menezes por 6 votos
tendo obtido o sr. J. Norberto 5.
Foram votados para l.« e 2.* secretários supplentes os srs. dr.
Pereira Pinto e cónego Fernandes Pinheiro, cada um com 9 votos,
alcançando tambtm o sr. J. Norberto 3, o sr. Porto- Alegre 1 , La-
Afia
gos 1, Cuíz António de Castro â, Sebastião 1. Como micms de
igualdade de votos entre os sts. Pereira Pialo e Fernandes Pínbstro»
recorreu-sa á sorte para escolha do i." supplenle, e foi por eUa d^
signado o sn ccnego Fernandes Pinheiro.
Procedendo-se depois á eleiçíio do orador foi o sr, Manoel de
Araújo Porto-Alegre eleito com 12 votos, obtendo o dr, Paab
Menezes 1.
Para ihesoureiro alcançaram votos m ^n, dr* Gáudio Lnix di
Costa 1| CapaiiÊfna^ Soares 2 e foi eleito o sr.Souift ftio mm 9
votos.
Terminada a elelçlo da mesa administrativa, p»ssou-se i no*^
meação das commísâoes permanenies.
Cõmmissão ds fundoi. —São eleitos os sra, €o»tllieiro« Emi-
liano Faustino Lins com 13 voios^ Lísiioa Serra fO, Mariz Sar-
mento 9. Tendo o sn Campos Mello 3 votos, Soares % Captnemo i.
Porto- Alegre 1-
Commissão de e$tatutõê e redacção áa Âcvhía, ^CompâifMi
6 sr. conselheiro I^Jariz; recolhe o escrutínio 14 cedulaSf e sahiram
eleitos os srs. dr, Thomaz Gomes dtis Santos mm 14 votos, osr, Cor
ruja 14 edr, Souzii Fontes 13, Osr, dr. CA|iãnema itve í
€úmmis$ão de revisãú de manmmptm, — 5ão eleib&soti
eonego Pinheiro com !3 votos, dr* Ferreira Lipa com 13, dr.
Perdigão Malheiros 12, obtendo ainda os srâ. J. NofbBrto, Capa-
nema, drs. Honório do Figueiredo e Lagos 1 voto r^ida um.
Para a 1 .' eommmtJo de Hiúoría* — Foram eleitys os sf§* coo-
selheiros Souza Franco com 13 volos, marquez do Abranles «om %%
J. Norberto com 12, obtendo também os srs. Ferroiri Soares 2 vo-^
tos, Carlos Honório 1 e Casiro 1,
íora a 2** de Historia. — O sr. dr- Emilio Meia eon 14
votos, Pereira da Silva 13, Ferreira Soaras 13; tondo lido os ãia.
Grlos Honório I e Cnsiro L
Para a L* cúmmiâsão de Ceo^rap Aí a. — Foram mmeBàm os
ars. eonselbeiro Pimenta fiueno (X)m 14 votosp visconde do Hârtit-
guape M, Pontes Bíbeiro 11 1 tendo também ossrs. Galdíno lus-
&55
liniano da Silva Pimenid 2 votos, Souza Franco 1| t J. NoN
berlo 1.
Para a 2/ de Geographia. — Os sre. Jeronymo Francisco Coelho
com 13 votos, Jardim 9, conselheiro António Manoel de Mello 9,
6 foram também votados os srs. Campos Mello com 3 votos. Honório
de Figueiredo 2, Capanema 2, Soares 1, Porto-Al^re 1 e Nor-
berto 1.
Para a de Ethnographia.—OssTs. Cláudio Luiz da Costa 14, dr.
Freire 13, Porto-Alegre 13 e os srs. J. Norberto 1 e Capanema 1.
Retira-se o sr. Castro , e seguindo-se a eleição da
Commissão de admisêão de êocios y foram escolhidos os drs.
Capanema com 12 votos, Ferreira Lagos com 10, Azeredo Couti-
nho 10, tendo osr. Carlos Honório 4 votos. Lapa 1, Castro e Paula
Menezes 1.
Comparece o sr. Lisboa Serra, e procedendo-se á eleição da
Cammissâo depesquixas de mantiscriptos ; foram eleitos os srs.
Nascentes de Azambuja 12, Angelo Thomaz 14, Campos Mello 12.
Sendo também votados os srs. Serra com 3 votos, Luiz António de
Castro 1.
Feita a apuraçSo^ e lida a acta da sessão afim de verificar-se sua
exactidão, levanta-se a sessão.
Sala das sessOes, em 22 de Dezembro de 1854.
" xnn 59
hbú
UlSCUltSO
Proferido em nome do Insliíuío núiorico e GeQgrapkic& Brazi'
kira pdú %r^ Joaquim Norberto de Souza Siha^ em cãmH~
qumcia de íer-se reiifffdo por incommodado o seu autcr o
êr. Manoel de Arauja Porto- Áh^re , (lo dar-se á sepuflurao
ctidavsr do 5om knmr^ario o sr. Manoel Áha Branco^ ris-
conde ie Camvdím.
O Brasileiro que proíeí^i a religião áè iiioral e do pairrotismo nia
fíóde ver esle funeral sem ilerramor uma logrimii dú amor , soiidadí*.
respetlo eadaiiroçíOp
Vão dcsappareccr os reslos morlfles de Manoel Alv^s Bmntt, th-
conde dQ Caravellasji consellieim de estado, senador do império e
uma das intêlligoncias tnaii probas e mnis illustrãdâs dâ nossa epocba.
Clieb do re&|>6jto do %úm contemporâneos desce á sepulton o
cídadio completo, o canselheiro leal, 0 mogislrado récío, o estiflifÊi
o o liuerato» o ftmiíjoda mocidade, o pai estremoso, ti m^rído etéfO-
.plar, e o ami;ío eoiíiitanle c desvelado. O seu nome foi, corao o mnm
do Mariim Francisco, do Piula Souza e de outros vários inemora-
veis, honra e gloria da nossa idíide^ íjuôdoixDPam um nome pyrd*
uma vida exemplar, c, como terrivel lestomunho de tantas virtudes «
essa pobreza admirável quo os edifica e os recém menda á posta-
ridade*
O cidadão quo agora deploramos foi unm poderosa dualidade fa-
vorecida com as harmonias do engenito e com a scíencia da admi-
nistrado; a força orculta e mystoríosa que se manirestàra mm tanta
brilho Q Kuperioridada no poeta foi sempre a mesma que rutilou na
iribonai, no gabinete e na pratica ; o poeta e o (^ladisla sonorioavam
pela estrella do amor da pátria. Sectário dos grandes princípios
constitucionaes d^essa tolerância de opiniões consentânea com a
ordem publica e com a paz interna, inimigo das pâr$oguiçcios3}'s-
temáticas o do exclusivismo, em ioda a sua carreira publica no
luinisterio e no parlamento só conheceu a probidade o o ta1enlo> i
«57
fraternidade nos Brazileiros , a moderação na pratica^ o perdão para
os arrependidos, ea amnistia para os dissidentes. Alma generosa,
nunca pers^uiu o vencido nem conculcou o moribundo : o anno
de 1842 pertence á historia.
Nas epocbas que atravessou, nas opiniões que combateu, nos
actos que annulou, foi sempre o mesmo bomem, a mesma grande
individualidade. Apostolo do progresso e da economia, viveu e fal-
leceu circumdado dessa atmoçphera sagrada que protege o homem
justo, e o torna sempre venerado de iodas as parcialidades politicas
que os tempos vão formando, agrupando, confundindo, annuilando
e revivendo.
Não deixa á sua numerosa família palácios, nem domínios^ nem
ouro que se multiplica, masdeixa-lhe o honroso direito de poder
pedir aos poderes do estado um pâo para alimentar-se, uma dimi-
nuta parcella d'aquellas riquezas nacionaes para as quaes elle tanto
concorreu como estadista e Gnanceiro que era, como Brazileiro
que foi.
Tal foi o homem que o Braxit perdeu, que a sociedade chora,
e que o Instituto Histórico nos manda acompanhar ao seu ultimo
jazigo.
Que a terra lhe seja leve ê a pátria agradecida.
458
DISCURSO
X^ripto e proferida em nome do fnstituto ffi$iori€o e Geagra-
fhito Brasikiro pelo sr^ Joaquim Norhcrto de Souza Siha
par occasiâo de d ar -se à scpullura o cadáver do vice-prui-
dmtn a $r. Aurdiano de Sou^a e Oliveira Coutinho ^ mi-
eande de Sepdiòa.
A trombela do anjo da morta repârcuie nos valles e nas monta^
nhãs do terra da Cru!^,
Ao hymno da independência, qiio ainda ha pouco acordava a
brado victoríosú do Ypiranga, succedcu o canto das preces; trajam
luto os paredes tios templos que so cobriam das galas nacíonaes, o
a tristeza assoma nas faces em qntj se divisava o riso! Por toda a
parle o pranto ! Por ioda a parle a dor I
D'enire as taj^riraas o soltiços ; do meio das vozes que niuminratn
lábios dilacerados pela saudade, nào escutais um nome que se l«vi
aeima de todos es^s nomes que baixam lioja ao nada do sepnlchm f
Ab t já nffo exista o i Ilustre Aurelíano de Soua o Oliveira Cou-
tinho, o dbtincto visconde de Sepeiiba I
Sua alma já peoetroii 05 umbraesda eternidade^ 00 seu nome
desde este momento solemne pertence ás pagioa^^da bístoria. £ comd
radiante, puro e sublime nSo surge agora para pusleridadc que 1
me(;a I £!m vão a imprensa desregrada , esquecida de sua miã
bella, snbiimc e grandiosa, como o próprio pânsamenln de Guti
berg; em vàoa celeuma dos partidos contrarir>â, accest^ da (kàttõos
mesquinhas e tao pequenas se debatendo no seio da grandeza da pá-
tria, protcncltram fnanchar iima roputaçiio que lOiJos m dias so
sublimava , que todos os dias avultava com o engrandecimen&o da
palrin que cibi promovia.
Ministro da josUça em tempos Je provações, quando o car-
ro da rãvoluçào não bavia ainda parado sobra o seu piano in-
clinado ; miuistro dos negócios estrangeiras, quando o horizontt da~
A6d
pátria se ampliava aos primeiros raios da aurora da maioridade, elle
mostrou-se acima de si mesmo, e prestou serviços que longo fora
enumerar. O odío dos partidos negava-lhe então essa capacidade que
para os públicos negócios lhe imprimira a natureza em seu génio,
roas a fama de seus serviços e talentos passando o Atlântico o mostra-
vam no velho munde tal qual elle renasce neste momento para a
posteridade, e as honras concedidas pelos monarchas estrangeiros
vinham adoçar a aridez de sua estrada escabrosa , como flores se-
meadas sobre os espinhos espargidos por mSos inimigas.
Deputado, e depois escolhido da lista triplico da eleição da pro-
víncia das Alagoas para representa-la no senado, o estadista dislincto
sempre se houve circumspecto, não tendo outro norte mais do que o
bem do paiz que o viu nascer, mais do que o engrandecimento e a
prosperidade da pátria , que não é um mytho vão na crença bra-
zileira.
Gigante do porvir, no meio das lutas dos partidos, elle anteci-
pou os melhoramentos materiaes do nosso paiz e fundou bellas e
úteis instituições. Osorphãos da nação, esses filhos e viuvas dos
servidores do Estado, lhe devem o pão quotidiano e o amparo^
nesse monte-pio , que como um anjo de piedade abre suas azas
douradas para proteger a infância e a viuvez desvalida.
Presidente d'esta provincia, proseguiu na série de melhoramentos
que haviam emprehendido seus antecessores, e bem depressa o ho-
mem creador e incansável tornou-se notável pelo seus passos agigan-
tados tirando-se da senda batida. A nova estrada da serra da Es-
trella como uma serpente sinuosa elevou-se soberbamente desde a
raiz alé o pincaro da altiva cordilheira, que submissa dobrou o
seu collo. Então uma cidade pittoresea surgiu como por encanto do
meio das florestas, com seus canaes bordando largas e magnificas
ruas, e realisando o sonho da poesia !
A emigração européa mereceu-lhe os maiores cuidados muito
antes que o trafico africano fosse detido pelo pavilhão auri-verde
em sua iniqua propaganda, que linha por fim converter a nossa
terra em uma nova Africa, e o colono de Westphalia, da Rhena-
A60
nji^ (Ia Simerb, de Badon encouUou era fetropoits o qut
sonhara possuir om seu ninho pternot e c^irontianflo pr^b WlleE» o
eipkndor da naturaíía esses quarteirões que possuem os denomina*
çOes de seus condados de além-mar, abençíiava no mei<> das préeâ»
de suaíamil^a, mh o teclo da cabana ho^pilaleIrd4onoDna d^âu-
Teliano de Souza o Oliveira Coutinho.
A morie o colheu ne^la capital > que elleetcolliéra pamsiia neei-
doncia* quíindo redobrava do ardor pelos s^jtjs eí^tmlcjts partienUréâ
o favoritos, e truia essa grão jneflavd i](io .^ se eurji>ntrj tio ^rci (l«
uma familU nobre » houesldi cuja vjriude está acuna de UkÍh ti
çlogio.
No impedimoBto do orador do (nstituio Hiãlorie^ BraiiWtri», cyja
yoz eloqtiente ^iato nâo ouvir rept^tculir sob eslas Ttbubiidas lecon-
da-lbeo meracido encoujio, venho oti, o mais diiifonlieeido dos seus
sócios, ao lado do meus amígníí e eoílogss, que me deiv^rram úo
triala dever, espargir-lbe eslas flores e duer-iíie Q aduos elenio-
REVISTA
DO
IHSTITIITO HIST0R1€0 E 6E06RAPUIG0 DO BRAZIL.
3.* SERIE. —SUPPLEMENTO AO TOMO XVIII. — 185$.
SESSÃO PUBUCi iimiVERSilUA
DO
Instituto i^iBtorico e (Beograpijico bo ffira^U
No dia 16 de Dezembro de 185S.
DISCURSO
IX) PRESIDENTE O EX.- Sr. VISCONDE DE SAPUCAHT.
Annunciaiido-vos a solemne oommemoração do dia eui que (ti
regenerado o Instituto Histórico e Geographico Brazileiro» leoho,
srs. , completa satisfação em patentear, inda uma vez, perante
auditório iSo conspícuo e benévolo, que a S. M. o Imperador , aeu
immediato protector , deve elle tudo quanto é — ávida e o pro*
Mais um anno de existência conta o nosso Instituto. Mais um
apoo çle esforços uo desempenho dos árduos deveres da associação vai
ajuntar-se aos jà engoJpbados no abysmo do pa^^sado.
E esse anoo de existência , esse anno de esforços nâo foi estéril j
ufíÇ será esquecido. . ,• .
•O relatório do digno e illustriudo I.^^Sqcretiirio fará coabecer
circumstaooiadamente ^ estado da sociedade^ o fructo da appUcação
doe talentos de nossos consócios. Vereis que , longe da retrogradar*
mos , avançamos com prudente passo na vereda dos melboramentos.
Escriptos frajoqueados ao publico na Revista Trimensal, escrip-
tos que aguardam a vez de verem a luz, escriptos de longo e im-
XTni suK 1
probQ trabalho 4 fuja ttvittirâ mo foi fkinda irrmínaiifi ^m noftas
sessões ordinárias » exhibtíui prova incontastãvd úa cipâeídide e
istudo de seus dtsLinctos e diligontas niiior@s.
Em brfeve, srs. , a Revista ofTereeera è v09«ft estudiosa curiúsidtJe
erudita e efigenho!>a nnalyse da viagem do conde cleCastelnau, tVesss
viagem invada de inexactidões, crespa do erros e rraquentemeiíie
adversaria da verdade nas cousas da nossa terra. Em brere \erm
em ílorirta e castigado estyba variada historia dã poesia, qmçà
da littaratura nacional. Os illuslres soctos que d@ taos larefàs
m oneraram são de vós conhecidos vantaj(fêamontQ por ímporitncas
lucubraçues que os tem constiluidQ beneméritos do InsiituEo e das
letras brazileiras*
Comqnnnta os poderes do estado continuem a auxi1iar*no5 pt-
trioticamente , o snbi^idio votado no orçamento dti império fíci
ainda áquem do que havomns mister para bem atiingrr-se o do^í^
úm social. Não estamos habilitados com as sommns precisas para dar
ao prelo alguns dos bons manit^riptos que enriquecem nosrá ar*
chivo, nem para reimprimir obras de merecimento, p rai^,
concernentes a nossa historia egeographia-
Não desmaiamos porém, dignos consócio;;, âhi aãtá a mão podo*
rosa e muniflcenle que nos elevou a emUienciH^i que o<^upiiiioi i
ella nào cinsa de dispensar heneficíos* EsforcemcHnos por ni«rt*
cé^los, que nada faltará ao credito do Instituto , e concribuirenios
efficaimente para a gloria da palria.
Resta» srs. , manifestar ao nosso proiecu»r magnânimo o pro-
fundo reconhecimenlo do Instituto Histórico e Geographico firiit-
leiro pela mercÔ» que ora lhe outorga, de assistir com S. M. a
Imperatriz a esta solemnidade. Cumpro gostoso essa dever sagrado,
rendendo , Sr. , a V. M* I. innumeras graças em nome do loslitutoi.
E a vós, Sn. » que poderei eu dignamente dizer? Na presença
augusta 6 sempre desejada da V. M. I. sentem os Brazileiroadíla-
larem-se*thes oscuroçôes deiiíefFavei jubilo. £ que muito, Sra. ? si
e1le§ tem ante os olhos sua mâi bemfazeja e adorada l
RELATÓRIO
DO PRIMEinO SECRETABIO O DR. JOAQUIM MANOEL DE
MACEDO.
Voltar 08 olhos para a estrada decorrida , renovar o passado com o
poder resuscitador , que tem a alma na faculdade que lembra , é um
tormento profundo do coração que aitribula o peregrino da vida
humana, quando elle, tendo-se perdido nos desvios dos erros , ou
cahído no abysmo do crime, trouxe da trabalhosa viagem um amargo
arrependimento » e experimenta o primeko castigo de Deos na voz
lerrivel do remorso, que incessante llie brada na consciência. É
lambem um sacríGcio que pesa e morlíGca as associações litterarias,
que f enervadas pela inércia , adormecidas pela^ indiferença , des«
conceituadas por sua esterilidade, recuam tremulas e vergonhosas
ante o juixo dos contemporâneos , que as observam , e lêem medo de
confessar que estragaram o thesoure do tempo , e que do seu seio
infecundo como a indolência , gelado como o egoísmo , árido como
» descrença , não sahiur um só fruoto ,. que as fizesse merecer os
applausoe e as bênçãos da pátria ; vestaes-que deixaram extinguir-se
o fogo sagrado, quando sda a hora^ em que devem apresentar-se a
seus juizes, fogem, e procuram esconder-se nos recantos escuros do
tempo , e preferem as trevas á luz.
É então que para o peregrino que transviou-se , esquecendo o
caminho da virtude ^ que , para as associações que nada produziram
em proveito da humanidade ,.transforma-se a memoria em um algoz,
que tortura, forjando , com as recordações que suscita , uma coroa
de espinhos.
lias quando lembranças de nobres ou gloriosos feitos vem suave-
mente desli^odo-se pela alma, como as aguas limpidas de um
ribeiro formoso , que corre por entre duas margens alcatifadas de
flores, quando as ideias do passado chegam doces e enlevadoras,
como as deleitosas harmonias de imi canto , que ao longe se entta ,
e íazem sorrir o homem justo» que levanta sem. terror os olhos para
4
Dees. D pode ofúrever o c^, porque não lhe lalhe a vísti a nureiíi
negra t! densa úm remoTSus, que paira etiire os cúmús da turra 9 o*
gozos puros da eturnidado ; quando uma associação littoraria ^ trfaiid»
de fadiga p toca o marco de suas lidas annuâes » 0 sabe qua õa «ilii*
bit;ào de seus trabalhos dará evidentes e irrecusáveis tesiemunbôs d»
desvelo eom que procurou desempenhar a tarefi , que sobre setii
hombros tomárs^ entáo as lembranças do plissado não âo UM
atribularòds que atoroMnlAm « nem um peso que anela ; a mmmm
deixa de ssr algoz, c transforma-se era uma fada t^rtfanladari, 0 «fn
vea de forjar uma eoròa de espinhos, off^rece uma coroa á& glorii.
Ainda um nofo e foli^ e^iempio vem hojo pôr em releva a v»n}a4#
d' essa tâo simpl^ observação : recebido com honras precUrai nm
lalas imperiaes, o Imiiuiio Histórico e Geographicg do Brasil 1
com ardente eíFusãe de jubilo 0 dia de seu annrversam* #,
brando uma fesia de Jeitras, apresenla em publica e siKÊdri 6ifPtH
$k5ú ú quadro de ,seus tr^kilhos no anno do tSSS, é m áot»
recordaçio dos serviços que presiou á hisloria potria eniOfUri ^
]Uâto pruniio de mm fadigas.
Mas antes mesmo de proirar com a riqueza da masie o leto dos
euhivadorgtg , o Instiiuio llrnorko e Gaographieo do 0roxil \)àdã
ôstenlôr previa Enente, na impnancis elevada do que goia, e no vito
tnleresw que inypira * o demonstração írrefragavol do esmiro nuoei
desmaiilido, com que tem-s^ empenhado por cumprir a diíEcil »
espinhoSA missão de que se encarregou.
Com efféito , tan(o no seio da pátrio , como no resto ào mundo d#
Colombo, e como ainda nas mais cívilisadas nações, que demoram
além do ailaruico, o nosso Instituto se honra de ler mtrt^i^rdo e d#
continuar a merecer solemnes dislinccôes, que se não barateam
járaais, e que antes com empenlio se apurara para realçar as grandes
e sabias academias do mundo lilterario.
No grémio pátrio o Instituto Histoneo eGeograpIrieo doBraiH
se desvanece e gloria de ler por primeiro sócio o prrmetro ddaéào
do Brasil : é um nobra apostolado que conta por mestre o impiirador :
nao desceria a magestade do alto de seu ibrono para chagar a tê dk,
6
para recebé-lo como hospede querido debaixo do$ régio» tectos » pani
adupta-lo como filho , cujos passos vigia , coja vida anima e sustenta,
cujo futuro prepara e engrandece, si por ventura a nossa associaçáe
não se mostrasse de alguma sorte digna de sua generosa e magnânima
proteeç0o.
E ainda mais, dignando-se de tomar parte em nossos ífãmA
trabalhos , fasendo de seu palácio o templo augusto, em que se solem-
nísa a nossa festa anniversaria , o imperador faz reflectir os raios
luminosos de sua corda sobre esla instituição litteraría, que tomando
a peilo coliigir , methodisar e publicar ou arcbivar os documento»
concernentes á historia e á geographia do império, o á archeologia,
etbnographia e linguas de seus indígenas, estabelece essehçòde
unidade e de continuidade entre o nosso serdehontem e o nosso ser
de hoje, segundo a pbrase do sr. Lamartine, prepara o elo magico
que deve unir á actualidade á posteridade , e concorre com os futuros
historiadores, para quem enthesoura os mais preciosos elementos ,
nó exercicio d'eS6a alta magistratura politica, que, na opinião de
Courcelle Senevil, assumem aquelles que escrevem a historiado
uma nação.
E para que finalmente tudo concorresse a aoeender o enthusiasmo"
em nossos corações , ao lado de nosso augusto protector vemos sempre
a nossa magnânima imperatriz, que, desvelada também pelo Insti-
tuto Histórico e Geograpbico do Brazil, não deixa uma s<^ vez de vir
tomar mais bella e graciosa a solemnidade de seu anniversario.
Os grandes poderes do estado vào de anno em anno tornando mai»
salientes e ostensivas as provas do elevado apreço quo fazem do Insti*
tulo, e as mais bem fundadas esperanças, que depositam omsoas
investigações e nos seus estudos, esperanças que não podem ser senão
o resultado dos frudos que o paiz já tem colhido das nossas porfiadas
luculyações.
Os ex.*** ministros de S. Magestade» bem como todos os pre»í*^
dentes das províncias do império lêem incessante e notaveloiente
obsequiado o instituto nfio só eom« mais prompta satisfação de lodo»
06 seus pedidos, mas ainda eom a remessa de obras , manuacriploa a
ddcumcntcã todos luab ou menos inleri^saiileâ ã liUluftt pslrja » #^
que v3o enriquecendo e dabranJo da valor o hosso arebhn e i fio^sa
btblioiht>ca.
Espaciaimenta o e\**' sf. ministro e secretario de mlMú diK.^
negócios do império , como aquelk â cuja repartição se acfia lígido o
Instituto t continuou oãle armo a j^ssiguslar-se pafâ eomíiosoo com
um« solicitude esmerada^ quts desafia u^da a gratidão 4k ooaii
parte: omsuas rela^^ôes com su» esíCtíllencia a iK»ssa associado enem*
trou-o sempre activo e obequioso, dando todas as pmviddod».
tomando iodas as nítidas propostas u requeridas com um esa»ero e
uma diligencia , que não podiam dispensar um agradecimento.
O corpo legislativo, comprehendend» em sua sabedoria smtuM
importante de que nos achamos incumbidos, e querendo babilílK*
aos com todos os meios para mais fácil e cabalmente de^mpenha-la ,
elerou o subsidio com que nus auxiliam os cofres do estado t que-
brando assim com po^anie mao essa barreira material, que obstau
uffl mais rápido desenvolvimento e progresso da nossa associa^,
sopeando*- Ibe as vezes a marcha.
As sympaLhias e a razão esclarocida do povo respondem coroo um.
echo á protecção ooin que S. Magestade nos exalta e és demonstraçâa*
de interesse, com que nos acuroçaam os poderes do estido; e
podemos di^er que é chegada a época em que o Instituto é abençoido
por todos os braiiteirog^ que nelle honram o sacrário venerarei «
onde se recolhem os feitos do passado^ e onde se guarda reUgiosa*
mente o livro d' ouro , em que se registram os grandes aeontecimeitlâs
da nossa idade, para ser deixado como um precioso legado ásgeraçM
íuturas. I
Emquanto dentro do ímparlo uma gra^a imperial nos áleoia,
como o sol quo desenvolve e robustece a arvore, que apcm^ desata
seus primeiros ramas e o governo do estado * e todos os ciibdàis^
uoi encorajam e spplaudém , de todo o mundo civilisado tem piritcio
sãtidações, que, primeiro apanhando ainda no berço o noso loâ
tuto, cãhíram sobre elle como flores ou bymnos genôthliacot ^ s;^
depois I sempre coatinuaudo até hoje ^ sáo como Uços de pura fca-
^
ternidade ^ne ligam esireitamenta a nossa assoctor^o com as mnh
sabias e famõSâS academias do mando.
O nome do Instituto soa com louvor c honra no novo e na velho
mundo, e das tnArgm$ M Fotomak como das praias do atlaniicci
em New-York , e das margens do Ma mana rei" e do Tèjo , 4o Sena
e do Tamisa, do tser e do Danubto, do Sprée o do Ne^fl * b das
praias do Mediterrâneo e do Batttco, de Washington ede New* York»
de Nápoles, de Marselha o do Pariá» de Lisboa « de Madrid tdt
Londres^ de Copenhague ^ de Berlim, de Baviera « de Viénna
d* Áustria , de â. Potersburgo e de Christíanía ^ as mais celebres 6
illustres sociedades nos estendem as mios e saúdam com espanco e
conl]ant*4i o seu irmfo do império diamantino*
O nosso Instituto cultiTando solliciío relates, qoe a seiencia
santiãca , e cujos iaços sao cada vez maís apertados pela identidade
ou similitíid^í dog fins a que se consagram Iodas as sociedade lilte-
rarias e scientiftcas » cumpre um dever por certo bem agradável.
Até aqui signaes manifestos e honrosos de uma estimação sempre
crescente e elevada abonam de antemão o Instituto Histórico d
Geographico do Brasil : bosquejando agora a historia da sua vida no
anno social de 1855, veremos como cila vem felizmente sancctonar
aquelle prévio e favorável juiEO.
O Instituto Histórico e Geographico do Brazil , no correr do anno
que vai acabar , desvelou -se ^ corno nos precedente , no ííd e exacto
cumprimento dos preceitos dos seus estatutos « e o fez com tanto maior
cuidado^ quanto reconhece que essas regras a que se cingiu sSo
pbaróes accesos pelos conselhos da axpariencia que o devem mais
segura e faeitmente dirigir pela estrada do progresso.
Mas ha preceitos ^ que se podem chamar inaprectavets gozos : ha
votos, que a natureza e um affeeto ardente fazem prtir esponta-
neamente do coração , e que a religião e d moral ainda assim rdeom-'
mendam como deveres : a natureza impelte um filho a amar seus
paii, esse amor è uma 6ór do coração e uma dt^licia da alma, e enirt-
tanto a rellgijitj e a mural estabelecem o dever do amor filiat : com o
Instituto succede que a sua lei lhe rec^mmenib que uma commi^ão
i
íq seu SBiú fa^ ouvir a voz do reconliertmeíito e tia Rd«ltdftle p&êot»
o ihvmo augusto de S. AL Imperial nos dbs íau$U)S6« da patri« ;
5ôbr4)sahe poÍ5 o esntero e a urania com que a Institulô de»eiii{)ei>tia
çsta fôgraffíJ e ao n;9smt> leinpo inaprecinve! ilisposieiTo da sua tó-
, Nossas stíssòes ordinárias íoram celebnJjs com a mais tiitímplar
jraguijiriíJoJa dorAnte o cufí^o da lodu anoc social , e canstauteiuâiitti
se íuerâm roconimenibf^eis pt^la apresefitaç^o e lÊÍtura detraiLaltiâft
de um mertlo jucúnte^tâv^L Cuniprt; tão olvidar que esx$ pomiiati*
dado ireui unia sú vez inlâr rompida torua-§a lanlo mais digna dt
9ttaD^t quanto é de iodos sabida que tivemos de atravessar Ir^
longos mezBS da aíHídiva provD^.io , e de ir por diante com 9
nos^ tarefa » entrêgnndo-nos a a fadigosos estudos no mtfio dosgami-
dm da população, e em uma época lormeniosâ, em queodtadi
amanliãa era maia que uunca duvidoso o problemático*
O tremendo Qagello da A>ia» que nínda não ha muito um poeta,
personifica ndo'0 em uma pentonãgem bíblica , pintou-o e$Jt5uduud</
jjâbatdo os braços para a America, pois que aão púdia vencer ih
umsaho o estreito de Bhertng , arrojou-sâ atravoi do atlantioi, que
«lia perlustrou , como bavia perlustrado o mar das índias e a maii*
terraneo, e cliegou finalmente alé nós: a capital do impeno foi
invadida pelo fatal inimigo, e ms tjven^ms de encarar fartifâce
e^a borroro^ peí^ta*
£m taes cireurnstancias nao nos foi inspirada a firmei por aquelk
fatalismo muiulmano, que fa^ia com que os vízires otlomanos c^^-
TBsmn impávidos e immovcis, e ofTerecâssem o pescoço ao cordão
4a morto imposta pela vontade despótica do sultáo: a fé em fímt
nos accendeu a coragem , a razão uo» deu a placidez do espirito . e i
^ais sublime lição nos veiu engrandecer jia violência da advtnidade.
A capital do imporio testemunhou um facto, que tia desercon*
^gnado m historia.
: $. M- O Imperador iiSo quiz abandonar a sua capital no momenio
aupremo. Elie, o homem necessário, aquelle que liiilia o direito
4â- recuar ante o aspecto sinistro da mor(6; porqua com tik m
âcba identificado o futuro brilhante do pi^, e c delle principalmeiHe
<|ue depende a grandeza, a prosperidade, o progresso do Brazil;
6 poque é elle a nossa mais segura garantia de estabilidade , de
ordem e de liberdade; S. Magestade, em ve2 de retírar-se, para
não se expor ao impeto da epidemia , lembrou-se que a porta por
onde sahisse da miseni cidade poderia ficar aberta e dar ingresso ao
terror; e entào , para que seus súbditos vissem partir do apogeo da
esphera social o exemplo da resignação e da coragem , permaneceu
no centro de sua capital , no meio da peste, que ceifara centenares
4e TÍdas, conservou-se no seu palácio, situado em um dos bairros
mais dítímados pela epidemia , partilhando igualmente com o seu
povo os sérios perigos da situação.
Ó flagelio não escolhia as victimas que devia derribar ; e o anjo
4a morte não via nas portas das casas dos escolhidos de Deos , a
quem cumpria poupar, o signal de sangue do cordeiro, que no
l^pto salvou os filhos de IsraeK
Enireianto o Imperador levou adiante a sua immensa dedicação :
desceu do throno e entrou nesses piedosos asylos, onde se adivinhava
a dôr e o soifrimento na horrível decomposição dos traços physiono-
micos e nos pungentes gemidos arrancados do ooraçSo de míseros
doentes ; visitou os ' hospitaes , e pòz-se em contacto com os chole-
ricos , renovando o feito do grande homem do secuk) , que em Jaffa
tocara com suas mãos os corpos infectos dos empestados para extin-
guir assim o terror , que abatia um exercito vtctorioso , e enáinar*
ihe a triumphar lambem da peste pdo facto de arrosta-la e não
temé-Ia.
E depois de tão bdlos feitos , plácido e sereno , o Imperador vinha
entregar-se aos estudos da historia e da geographia pátria , calmo e
Iranquillo, como o sábio matbematico deSjracusa* que resolvia
problemas ao ruido sinistro das batalhas e ao fragor do assalto im-
petuoso de uma cidade. ^
Gora as liçOes de tal mestre era impossível que arrefecesse o ardor
dos membros do Instituto : elles pois souberam proseguir em seus
trabalhos, e a despeito das dolorosas e exoepciooaes circunslanoias
iò
em que sq viu a rnpHal (fo império , o Imúuno (romo firoi» rf f tu j
nem uma só vez ileivou *Je ceíiibrar suas sessões ordiíimí*^.
A nossa — Revista TH raen^nl — ^eonlirma a ser publicafli eom
regula fida d o e n recommen^lâr-se ^mpre pela «vcellimcia do*
valiosos manuscripios e iloctimenttis. qm arranca íÍd olvítln e p<h»
acifna do poJer JeslruJEJor do IdmpQf que nWà^ [ior ci*rtò dúv^rira
muitas e bem imporlfinles memarbs d& alguns curioços dos ins
primeiros séculos que succídcram ú rlf^sfoberln de C;ibrat , n qut^
a não so fia verem exiraviado ou coosuiuitío . esclarecer iam Xtbt
hoje alguns dos pontos obscuros da nossa liistorja. Olnmiuioi
ufana alem d*isio de vèr enriquecendo também o seu periódico os
fructos preciosos das vigílias de muítós de seus membros. A im*
prensa , elernisando e vulgar isando líssas obras e ( servindo -nos aqui
do pensameuto de um dos muis brilhantes e dnq uonte»( i*si:rrptofei
da Franra) a palavra esçri|ita. lornando-se etania e utiiiíersal ittãà
sua perpetuidade o irírnsmi^^ibilidade , poilendo-se coníH^rvar í^,•mpre
6 ouvir por toda a parle , cria na nossa Revista um thesouro de prc^ti
inestimável, que sersi proveilosamenle explorada pek>s Tadu» »
Xenopfiontes da posiendadc,
O estado financeiro do Instituto se apresenta sob um «ípeclo
lisonjeiro e animador: por um lado, dovcmos ao patriotismo do
corpo legisla livo e ao concurso manifesto do governo iiuperial o
augmenio de mais um terço no subsidio qtie nos presta o e^wh ; t
pof outro ^ á actividade do noâso di^no tliesonreiro, na collecudi
nossa receita, proveniente dos jóias e mensalidades dos sócios , no»
tem habilitado para acudir sem vexame a todas as nossas dcfpeias .
que aliás uma economia desvelada, mas de nenhum modo acanha-
dora e inconsequente, sabe conservar d*entro dos mais justos finiiles.
Esta prosperidade fmancíal nos voi abrir espaço para corres jionder-
mos a lanta solicitudo com a publicação e propagação de escrípios
I ]mi>ortantes relativos a historia pátria e independentes da
' Revista,
Q quadro dos nossos sócios correspondentes foi no mno de ÍB55
realç-ado com quatro nomes respei Uiveis e prmigtosos , que netli
11
86 vieram inscrever. Cumpre lembra-los apenas , porque a estreiteza
de um resumido relatório não comporta uma apreciação sufiSciente
dos serviços que prestaram ao Instituto alguns dos notáveis varões ,
que foram recebidos no seu grémio , ao mesmo tempo que em lugar
competente proporcionar-se-ha o ensejo de assignalar o merecimento
da Memoria com que um d'elles soube apadrinhar a sua can«
didatura.
Esses nossos novos coliegas são os senhores cónego Joaquim Pinto
de Campos, deputado pela província de Pernambuco na actual legis-
latura , e orador sagrado de reputação não contestada : conselheiro
Luiz Pedreira do Couto Ferraz , cuja illustração ó por todos reco-
nhecida, e que se ha tornado dignamente rerommendavel ao Insti-
tuto pela dedicação de que lhe tem dado sobejas provas durante todo
o exercício do cargo de ministro do império : doutor João Francisco
Lisboa , o autor do — Jornal do Timon — escriptor eloquente e
correcto, de esty lo apurado e attico, de observação fina e profunda
e grande conhecedor da historia pátria , e especialmente na parto
relativa á província do Maranhão , seu berço natal ; e o Dr. Caetano
Alves de Souza Filgueiras emtim, joven de talento brilhante e rico
de esperanças de futuro.
Tão notáveis e preciosas acquisições são promissoras de ricas
oíTrendas de intelligoneia , que hão de por certo ser trazidas ao altar
da sciencia.
Bem como por um céu bonançoso e risonho passa ás vezes uma
nuvem negra, que rouba por momentos á terra o brilhantismo dos
raios do astro do dia , vem agora uma triste lembrança toldar o
prazer, com que contemplávamos a prosperidade e o progressivo
desenvolvimento do Instituto.
SoíTremos este anno perdas lastimosas e grandes. A morte riscou
da lista dos membros do Instituto nomes de homens prestimosos e
eminentes, cuja recordação será sempre cara ao mundo queelles
Hlustraram e ao paiz , de que foram tão beneméritos filhos : entre
elles avulta na Europa o nome de João Baptista de Almeida Garrett,
o primeiro poeta portuguez do nosso século, eno Brazil o do vis«»*
Caravellas d o de Sopetibâ^ que êra o rio^so priíawD
presidotitâ: nobres caracteres poliiicos, anciães iienerandos ^
Uõcidoa no serviro da pabria.
Em bem dâ memoria gloriosa da m preclaros virões, nmé^Wí
debii o ao espirito fraco e desaleniado da actual sacretório dci locti*
luto que está coníiado o elogio iiiiparciai e jusio dos noisoi irnioft
de lettras , que passaram á eternidade : d'aqui a pouco ef lo na hri
ouvir partindo da bocca do no3so dístineto oràâúf , o d^esi» «lõgH»
se poderá dizer sem duvida que é q mais espkndido tepiAeifú^
eomo disseraoi os ouomanos da ode fuoebro de Abdoul-Bbki l^it»
ao suUão SolimSo»
£atrando a^ora na resenha das obras , manuseríptc^s , mapptt e
documento^ qoo vieram, como pingues iribulosi êogroasar »
archivo o a biblioLbeca do lostUuto » bem como dos irabalàoa qê%
ftãt# aBQo foram devidos ás tucubraç&ofi dos nossos soi^ios, poupa^
leiBOS â paciência do illusirado aihlilwia, eíiunierando apenas o»
nais notáveis 6 salientes ; reservando a sua enumofâçà^ eitoii ^
oompteíâ para m quadros que aiiueios aoonipaubam este relatório,
A mialerk é arkja e fatiganto; dura^ porém p áspera e monótona
4 também a lida continuada e longa do lavrador, que abn» »
entranhas da terra , que a fecunda com o trabalho, quesemài a
espera um anno peia deseiada o duvidosa m^-sse; mas dopoísa
planta desabrocha, o arbusliaho cresço, as fldrcs corúáo iímmm\
famos, õ os íruclos pendem das bastes graciosas.
Entre os mappas que nos foram benignameute oftârecidas cumpra
mencionar: 1.% utBa planta bydrograpbiea da bibia do &io d*
lanoiro levantada em ISIO por uma comniissão de âflkb^ da ar-
mada, c novamente correcta e augmerítada pelo Dr. Joaquim Ray*
mundo de X^mare, capitâo-tenente da arotada inifienal, cm tS47:
â,% uma carta eorograpfaíca da província de Sauta Caibarioa > con-
tendo as divisões terriloriaes ejudiciaesi as dislanciasdiísc»
doa municípios á capital da província, a superGeie quadrada
cada um dos mumcipios e uma e^taiistica da população; pelo 1.*
tinento de eogenbeiros o Sr. João de Souza Mello e Alvim : 3.%
IS
uma carta da província do Espirito Saneio, organisada segundo os
trabalhos de Frejcinet, SpixeMartius e SiWa Pontes; pelo capitão
de engenheiros o Sr. Torquato Xavier de Brito, 18à4 : 4.% oma
carta da província do Rio de Janeiro, 1850: 5.% uma planta eoro-
graphica do lugar das Caldas do Sul do rio Cubatào e seus arredores»
levantada em 1841, e desenhada pelo major do imperial corpo da
engenheiros o Sr. Miguel de Farias e V&sconcellos : 6.*, um
mappa topographico da villa de S« Gabriel com seus arredores o
fortificações, traçado, levantado e desenhado pelo major do impe-
rial corpo de engenheiros o Sr. Miguel de Frias eVasconcellos»
sendo a fortificação pelo mesmo projectada e começada em 1843.
Ao obsequioso cuidado do ministério da guerra devemos estes map*
pes, cartas e plantas, que sobremaneira interessam ao Instituto,
pois que diiem respeito ás aguas a ao solo , e a uma importante villa
do império.
Pelo Ex."* pre^dente da província do Rio de Janeiro nos foi tann
bem oSertada a planta da imperial cidade deNiclberoy, cuidado-
samente levantada no anno de 1854, em que SS. Magestadea
Imperiaes se dignaram visitar a mesma cidade.
O nosso distincto consócio o Sr. Miguel Maria Lisboa fez pr^
sente ao Instituto de um curioso desenho, representando a batalha
dos Santos Lugares: a recordação de uma batalha, em que Ifio
galhardamente se assignalaram os nossos bravos , ha de ser sempro
deleitosa e grata a todos os corações brazileiros. Nos campos da
Moron os guerreiros do império conquistaram virentes louros antes
e depois da victoria ; porque no fervor da luta nossas legiões illuS"*
traram-se pelo seu valor, e logo após o triumpho distinguiram-so
por sentimentos de humanidade dignos do valente exercito de tuna
nação eivilisada.
Uma escolhida eoHecção de apreciáveis manuscriplos e documen-
tos importantes veio no anno da 1855 archivar-sa na Instituto o
proporcionar suceulenta nutrição á nossa Ravisla Trimensal.
Sua Magestada o Imperador, em cuja benignidade a alta pro-
lecçfio, encontramos sempre uma fonte inesgotável a cada vez nuns
i4
opulênlâ , Iionrôu o Inslimto Histórica c Geogrojiliico do BraiH tom
Ires manuscriptos inleressanilssimos e dti etlreniado vabr : são ch
dom primeiros ns copms itn foral ún opítaiita Ja Bâhta a €Í4a<)e dd
S. Salvador— Evorn—âti de A*fo5io de 1S34; e do regímenlõ dado
a António Caniosu de Barros, cavalleiro-tulrtígõ da c^m roàl
KI*Hei, Qorno procurailur-njôr ila faxerida , qne prinjôiro foi
Brasil: Almeirim, 17 de Ouhibru de ISiBt subrariam u datis
e os tilulos d^esles dous taa antij^us » como iniporUntí^s dora*
mentos p^ra excitar a m/tis amortecida ctirÍosid;ide, e a Fua lei*
lura vem ainda dobrar-lhes a cslimaçío, pois <|ije de proujploia
reconhece que derratuam&mljos grande copin de lu7 solíre o r*í;íimefi
admini^ralivo do Bíazil cólon inl , nSo pudendo portmitò deixar de
ser cônsul lados puriodos atinei les que se occupam da historia. fHàdè
menos insiro e precioso o tercnro niaimscriplo , qwe devemos a mao
uso graciosa: intitula se elfo^ Livro que dá a mrm doestado do
Brazil — enriquecido de utimerosos nioppas coloridos: parece um
trabalho executado na primeira ametade do sectdo decimo setÍJiio, o
contém curiosas noções geograliicis o estudos túpc>gr»pbicos ô admi-
nistríilivos sobre fís diversos eapilotiias eslaboleridas no Bríiíil ^ sando
iílystrada a deserrpção de cada uma d'e$sas capitaiii&s comoiapitts
coloridos , que soo do uni soccorro estimável para a completa apre-
eiaçôo do texto. O livro que dà a ra?Jo do estado doBr;mÍ è um
verdadeiro thesouro do passado.
S. Ex** o Sr, ministro do império mimoBeou-nos com uma
copia da De$crrpçâo da Viagem feita dírsde o Bio Negro im\ú rio do
mesmo nome ai<í a serra do Cucui, por lliJano Maximiano Aalunt*!^
Gorjào, major de artilheria e bacharel em mathematicas, iêêêt
é um trabalho que se rccommenda muito pela clarcj^o da cxposi^ilti
e pelos eurios;>s detalhes que encerra sobre bcatirlades, aiirdi {nal
exploradas u iiao bastaniemeute conliocidas. A viagem, pof^uiias a
investigações dos nossos admiráveis rios» e dos desertos e do itt&críor
do alguma de nossas províncias sao as chaves magicas, qtiô nos*
devem abrir a porta do um futuro magestoso, ou a \*m f|UÊ nos
guiará pelo caminho do uma ímmensa prosperidade.
^^uk
15
Ainda pelo mesmo Ex.*° ministro do império foram trazidas pof
copia ao seio do Inslituto os seguintes aproveitáveis trabalhos : 1.*",
o roleiro da Viagem do Brilliaiile na provinoia de Matlo Grosso ao
porto do Tibagy na do Paraná , por António Monteiro de Mendonça :
2.% Informação do alferes Manoel Theotonio Ribeiro , encarregado
das obras do Varadouro, entre o rio Brilhante e o Anhac, na qual
se ratiGca o roteiro precedentemente nomeado: 3.", A immigraçio
dos Cayuás: narraySo coordenada sobre apontamentos dados pelo
Sr. João Henrique Elliot, por José Joaquim Machado d'01iveira:
4."*, Razão em que se fundou o presidente da província de S. Paulo
para denegar-se á reclamação que em 1844 lhe fizera o presidente
da província de Santa Catharina sobre o inculcado direito que tem
esta ao Campo de Palmas na comarca de Coritiba , hoje província
do Paraná , por José Joaquim Machado d'01iveira.
Todas estas memorias contém noções e esclarecimentos de incon-
testável utilidade, e poderáõ opportunamente servir para aclarar
pontos duvidosos ou facilitar novas e mais completas investigações ,
mostrando a vereda já trilhada.
O scrmSo de acção de graças pregado na igreja de Nossa Senhora
da Conceição do Hospício em 18 do Agosto de 1782 pela conversão
que fez para a fé catholica o marechal Henrique Bohm , e que nos
foi ofTerecido também polo mesmo Ex."* ministro do império , é uma
luminosa explicação de um periodo doloroso, mas de feliz resultado
da vida d'esse homem, e será lido com manifesto proveito, por
quem tomar o empenho de escrever a biographia do dislincto general
que no fim do século passado expelliu os hespanhóes do nosso ter-*
ritorio , illustrando com brilhante victoria os campos do Rio Grande
do Sul.
Da parto do Ex."^ Sr. conselheiro José Maria da Silva Paranhos
recebeu o Instituto uma copia das Instrucçòes que em 20 de Ou-
tubro de 1797 foram dadas por D. Rodrigo de Souza Coutinho a
Fernando Delgado Freire do Castilho , que acabava de ser nomeado
para o governo da Parahyba : documentos d'este género regorgitam
sempre de importância, porque d^elles transpira o pensamento iq-
10
limo do governo Ja «poça, e nào poucas veies resumem cni bre^^
paginas a litsturía do ;i«^L<EiycimeoLos oceorrido» em uma pane da
imporío, em utn período deiermínada.
Ao favor f|f* nosstj consócio o Sr. Miguel Maria Lisbo» foi devedor
o Itisiituto do uma obra de sua compsiç^u, ainda nâo dada á há
dã impren>a, c quo se intitula ; a Bebeio de timn viagem a Vene-
zuela, Nova Granada e Equador, nos ânuos de 18526 1853^ se-
guida dâ um Losquejo liislorica ú*^^s ires Republicas. » Ascoiit-
luissoes de bístorla e geograpbia^ que liverâoi de axaminar eiti
jnterosâania mantiBcripto» ethibiram sobro ello um precar,9tio
fez justiça ao merilo da obra e ao sou i ilustrado autor.
Na viagem a Venezíiela , Nova Granada e Equador i do Sr. Miguel
Maria Lisboa, deleita-se o espirito com o estylo claro e fttienie> t
a razão se apptaude por nao encontrar abí descripçOes romanescas e
fabulosas, nem tao pouco observações sarcásticas e ferinas, cotiique
tantos viajantes, confundindo a bistoria com a poesia i e a vivacidadiS
com a maledicência, destlguram mil rezâs a própria verdade* exa-
gerando o que ba de real na& creaçOes da natureza ou da arte, ú
nas relações da vida suciai e domestica.
Tratando de paiscesi que bem que sejào limitroph^ do ijopdrio
são ainda nelle, como também na Europa, muito pouco conbeci-
dosni o Sr. Miguel Maria Lisboa apre^àenta na sua obra uma eiftiiiB-
stanciada nocjlo da topograpbia, costumes, commerctOi «grieultun
fl população de cada um d'elles, e oílerece aprove» Ur veis eiincw
da sua bistoria, compromettendo-se a entrar em maior desenvolvi^
mento sobre elía.
Não é po^ivel finalmente esquecer que ã benevolência e á suave
rectidSo com que o di^tincto autor « compatriota nosso, falia doa
habitantes daquellas repubticas, contribuirii de algum modo pana
desvanecer antigas 6 infundadas aotípathias ^ que por ventura ainda
possam subsistir entre ellas e o império do Braiil*
O E\.*' Sr* Francisco Diogo Pereira de Vasconcetlos , como
presidente da província de Minas Garaes, remetteu ao Instituto
um [oappa do movimento da população d'aquella província, execu'
17
lado á face dos arrolamentos de 18S1 , 1834 e 1838, e dos mappas
parochiaes de nascimentos, casamentos e óbitos desde oanno de
1836 aié 1847, reorganisado e oiTerecido á presidência de Minas
Geraes pelo cidadão Luiz Maria da Silva Pinto. A palpitante neces*
sidade de uma boa estatística do Império , a attençSo de todos os
homens esclarecidos convergindo para essa verdadeira e urgente re-
clamação do Estado , afiançam o cordial agradecimento , com que o
Instituto recebe lodosos estudos sobre esta matéria.
Os srs. AdadusCalpe, e José Martins Ferreira de Alencastro am-
bicionando inscrever-se no quadro dos nossos sócios , oifereceram-
nos, como premissas de suas lucubrações, o primeiro um manuscri^
pto, a que deu o tiiuio de — Breves reflexões históricas , e o segundo
as suas — Memorias Históricas da província do Piaufay : — confiados
ao exame da commissSo de admissSo de sócios esses trabalhos nfio
foram ainda definitivamente julgados pelo Instituto.
O nosso novo consócio o sr. cónego Joaquim Pinto de Campos
marcou a sua entrada no grémio do Instituto*, offertando-Ihe pre-
viamente três manuscriptos de considerável valor , o primeiro se
nomeia — Extracto de todas as occurrencias acerca da praça da Co-
lónia do Sacramento occupada pelos Portuguezes sobre o Rio da
Prata desde o tratado provisional celebrado no anno de 1681 até o
de 1737, como das notícias de outros territórios de S. M. , que se
tem occupado e fortificado: é o segundo um officio de D. Franciscii
de Souza Coutinho a Luiz Pinto de Souza em 21 de Junho de 1795
dando conta das providencias, que empregara para obstar a evasão
dos escravos do Pará para Cayenna: e o terceiro em fim é o officio
de Francisco Xavier de Mendonça Furtado dirigido ao conde da Cu-
nha acerca dos jesuitas. Qualquer destes manuscriptos e especial-
mente o primeiro e o ultimo se occupa de matéria de grande estima-
ção para a historia, pois que concernem a questões de subida trans-
cendência, o algumas discutidas oom a lógica das batalhas nos sécu-
los passados.
O noaso consócio o sr. Francisco Manoel Raposo de Almeida pe-
nhorou o Instituto presenteandoH> com uma coIleo(8o de diplomas,
xfin iopp. * a
18
que perlenceram 30 %íúm e pnrríõla Jogé Bonfraeio àn Airrlnida «
Silva. Fíimoso nn sciencin , noínvel na novslti , tieroe fia? lnlíw glo-
riosas da regenerarão ih pnlníi* e*í^e homcfii que lembram "S^ anhingiofi
no governo, Camillo rm éTcílin.Cincmn^ito no retiro, assume prf^porNíefi
çiganiescas no Pnnilfeon dos nossos bencinerllos: itido pois que a
recorda nos é graín.
O sr. I>r. CifUano Alves dê SoiiKn Fíf^uelnjs, dfmejnncto fijeêr
parlo da nossa associação, procurou salisfaxer as roíidírôe!! ímpoflif
pelos no35ôs estaiotos, esercvondo n ofTereíèndo ao IiiííIíIuIíj ufna
memoria , (jue denominou — Rellexões sobre íb pritneir,is épocas ifi
Historia do Brszil em gorai* e ^bre a in^litu!ç4[o das rnpitinbifcim
particular, — O Insiituio foi prompto em abrir suas portasao imito
adepto, íjiiG tão bizarramente se recommendára,
O trabalho do nosso consócio fa?:-sô reeommendav*!l nâo sopeia
elegância do estylo , como pelo rigor e precisão do rarioeinio. De-
pois de algumas ligeiras mas bem dediíí-jdafi coiisideni(r5í»s ^bre a
ci\ilÍ5aç.1o dos anli^íos e sueis tendenciais, elle cbejía por um» tran-
sição feliz dianfc do monte Prmdutt nu momento me^mo em ffiieo
almíranie portugtie? absorto deixa ouvir o brado — lerr^i I — sempre
consolador para o marinheiro : acompanha depois o mnnÓQ dú rei
venturoso em suas relações com o BradI , e lamentando n abandono,
em que se csquí?ce doesta bel la porra o da A me rira , estuda as <taii$a5
d* esse olvido, e vai encontra-las na ambicào das conqoisi4ii das irrms
da Ásia, e nas especulações murcantís coroadas de bbulosoíi Iticnw
na índia : chega Unnlmente a época de D. Jo^o llt a qvefn «lie
considera como verdadeiro euíior e povoador dg Bra^^iU e pissando
em revista o syslema de celonisaçffo empregado por esse mourcha
na doa^'5o das capitanias hereditárias» sustenta-o, jusiitlfa-o,
n3o disfarça os abusos eommettidos peto.^ capitães-mâr^, ma» re-
flecte sobre a nova instituirão ^ a sem lhe esconder os grives ín-
convantentes , acetta-a, absolve-a de seus senões e de6vaiit«giOf,
moslrando quo ella nasceu direciamenle da suprema mràú de lodàt
as cousas humanas— a necessidade ; — a reforma d "este synema em
I5W, o estatieJíTÍmento do gmerno geral dn Braxil com a tbi^i
19
de Thomé de Souza , e as considerações , que lhe suggere um9 pro-
videncia de tanto alcance, e de lào evidente proveito para a rica e es~
perançosa colónia portugueza da America , vem rematar o bem
eladorado trabalho do nosso consócio o sr. Dr. Caetano Alves de
Souza Filgueiras.
Náo importa uma adopçSo inteira de todos os principies lançados
em sua dissertação pelo nosso distincto consócio o reconhecimento da
verdade nas consequências que deduzio. Com effeito o sr. Filgueiras
investigou o passado com olhar certeiro de um philosopho recto e
imparcial. Os Portuguezes, que ao impulso do génio do infante
D. Henrique , essa pedra angular do monumento do poder liisi-
tano, se tinham lançado para os mares, o logo depois para o conti-
nente africano, e que concentravam todas as^suas vistas nessa parte do
velho mundo, estremeceram, como a um choque eléctrico, ao
primeiro passo dado para o oceano indico, com a descoberta de
Bartholomeo Dias, e logo após os triumphos do grande Vasco da
Gama, voltaram os cálculos de sua ambição, e os sonhosde^ua
gloria para a região» prodigiosa, que fora o berço do género buma-
no , e do verdadeiro Deos , o thealro dos sublimes mysterios , e
que era sempre a terrados grandes rios, o das altas montanhas, dos
perfumes embriagadores , das jóias preciosas , dos custosos estofos ,
em uma palavra da riqueza inaxgotavel : foi então que a Providencia
Divina fez surgir o Brazil aos olhos de Cabral ; mas oBrazil era um
paiz inculto , e nunca explorado; e a Ásia mostrava os seus thesou-
ros nos seus basares ; mas no Brazil a morte era um sacriGcio igno-
rado , perdido nas praias , onde as ondas arrojavam o cadáver do
naufrago, ou esquecido na immensa solidão das florestas, onde a
flexa do tamoyo derribava o guerreiro da Europa, ou em fim con-
summadono meio de uma taba, que não tinha passado , porque não
eonservava tradições, e que não podia ter futuro , porque não sabia
escrever a historia , e onde uma horda de selvagens devorava o infe-
lie prisioneiro ; e na Ásia as heróicas acções dos bravos eram canta-
das nos hymnos enthusiasticos dos poetas, o echo dos golpes da
espada terrivel de Albuquerque resoava em todas as nações da Eu-
50
TOpa I ninguém riiorría para a [iOfiterídade, porque a ísma iii
lisa V a com o roíiome , e por lanLó a ambição como a gloria kvtvi a«
quinas portuguezas nos mares d^ Índia , beijando ns rezas ap«ni» do
passagem as proias occidenlaes do allanticQ* D. Maiiuoi seguiu a cof^
renle da suâ cpocha.
B. João 111 tomando diverso caminho quait que planlou^ o kuéu^
Hsmo m lerra da Sanla Cruz para conseguir arranca-la do drido,
a que estava condemRada peb indiíleren^a^ii vinte ãnno;ídâpi/ki,
Penoiope púHiica, desfaz a obra perigosa « que ideara pra atlfahir
colonos a suas novas possess&ôs , e am Thomé de Sonm imiia a
laço providencial que destrmntlo talvez o gerreen de mtiHos reinos
luluros, reúne era um só corpo os elementos que deviam formar do
im de três séculos um knperío vasto, fico da grandiosos recucsoiSt
robustecido peb idenlidadô da religião^ e psla bomogeneidado d#
costunieSr da Uis, e de Índole de todos os seus babiiauies.
£' força respeiíai as proporções limitadas de um relaloriOp o \
tevar adíítiile considerações, que em n^ior desenvohimento nos
bnçariâm muito afêm di> nosso dever, pondo «m doloroso tfibut»
as alleJições ^ que já fatigo.
Si kicrosa e pingue foi para nós a eolbeita de manuâcripKis 110
anno que se approiijiia de sou termo, ver^se-ha que
fecundo se mostrou a de obras e documentos iiBpressos , que 1» hf
0 a generosklade^ de muitos oonsocios nossos» o dô não
homens dedicados, Lroiueram ao Instituto Uktorico e ^mgmçki
do Brasil
A Uêimua aliás bem bmontavel qua a falta de remessa dote i^la-
[torios úm presidenles de algumas das províncias do império deisara
|fim iiosias coSlecções^ desíip pareceu emfim» grjças 001 euld
^do Ex**" Sr. ministro du império» que, pela Secretaria a seu itf^
nos facilita todas essas peças olBciaiis l^ indispensáveis a un
associação t que se occupa exclusivamente da historia e dtgaofra
l^bia paU-ia, Conseguimos arcliívar este anão os rclatorioa de i£
de todos os presidefiies das provtftciâs.
O £1.** Sr. José da Silva Ribeiro brindou o InstiiuMi com os
^àÊssa^
n
três volumes da — Viagem á parte Oriental da Terra Firme na
America Meridional — feita durante os annos de iSOl »té 1804,
ornada com uma carta geographica e com os planos da cidade capital
e dos portos principaes, por Depoui , e ainda com a — Viagem a
Portugal — por Jac(](ues Mifrpby, traduzida do inglez e enrique-
cida de estampas, em dous volumes; ambas as obras em francez : e
emfim com dous apreciáveis in-folío, contendo o primeiro a collec-
ção do — Echo da Camará dos Deputados do Brazil, 1832 — e o
segundo a da — Aurora Fluminense — desde 1827 até 1834.
Ás collecções d'estes periódicos vieram juntar-se os seis primeiros
números do — Industrial Paulistano — jornal da sociedade Auxi-
liadora da Agricultura, Commercio e Artes da provincía de Sào
Paulo, remettidas pela mesma sociedade; a — Estrella do Ama-
zonas— regularmente mandada pelo governo d'aquella província;
e — jornal de Timon — do 6.* ao 10. ** numero, oSérecidos pelo
seu redactor o nosso consócio o Sr. João Francisco Lisboa;
o — Mensageiro — jornal industrial , noticioso e litterario , publi-
cado na cidade do Desterro, e enviado pelo Sr. Franc de Paulicéa
Marques de Carvalho ; emfim , a colleeçào da — Revista Marítima
de 1851 a 1855 — devida ao favur do Sr. José Eloy Pessoa.
O Sr. Ladistáu dos Santos Titara prendou o Instituto com um
volume das suas — Memorias do grande exercito alliado libertador
do sul da America — impresso no Rio Grande do Sul em 1852:
é um livro que perpetua a foma do valor dos nossos bravos, e que
deve ser caro á pátria, porque n'elle se reflecte a gloria d^ella.
Ao nosso consócio o Sr. Angelis tivemos de agradecer um notável
trabalho de sua penna, que tem por titulo — Da Navi^gaçáo do
Amazonas — resposta a uma memoria de Mr. Maury, official da
marinba dos Estados- Unidos, impresso em Montevideo em 1854.
E' um eloquente e victorioso desaggravo do direito das nações ti-
rado contra as extravagantes pretenções e exagerados sonhos de uma
ambição em delírio.
O Sr. Dr. Eduardo Ferreira França offertòu ao Instituto as
suas -*- Investigações de Fsycbologia: um volume impresso Uà
25
Bailia em 1S54: hem que eslranho ao^ estudds, de qtie seWiipj
a nossa associarão , foi esle livro por tília recebido com o bem jus-
tificado iiuercãsa, que sempre lhe inspiram as obras liuenrías iia
scieoiificâs, com qu@ m illu^tram aqudles de nossos comptríoiiis,
que tem, como o Sr. Dr, Ferreira' França, talento supemr c
ifitelligencía lào esclarecida e vaâla»
O ííossa prestante consócio o Sr. Consâllietro Joaquim Uifii
Nascanlos de Azambtija oITereiteu ao InsuirUo^ onlrc outras obns
e áocumeníos; 1.% a descrÍpi;ào da eostíi d<r Braseil da I*onii âe
S, Bento a Filimbú, por Manoel Amoriio Vilal de OHieira ,
trabalho de evidenle valor: 2.% a inengagom que em 1827 apre-
sentou o pdtírexeculivo de Buenas-Ajres á fala dos R aprese iitanlí^
censurando uéo ler havido resultado algum saiisfaeíorííj pra a
republica » da campanha aberla contra o Brazit : 3.% expoiíçla qoê
í&t o general Alvcar para contosiar a mensagem do governo, de H
da setembro de ÍB21 : Buenos Ayres » 1827, A confrontação doestas
duas peças ofíleiaes dos nossos inimigos então com as Memorieis do
dísiíncio escriptor Titara^ e eom os diversos Irobalhos que sobre
aí|uella campanha lem o Instituto recebido de aígurts genenes
brasileiros domonstra acima de todas as duvidas, que nos campos
de llusaingo houvo para nós no dia 20 do Fevereiro sim uma
batalha de êxito incerto; tuas de nenhum modo uma derrota:
nossas bímdeiras náo soUreram uma âíTronla no Passa do Rosaria,
e os sohlados dn exercito imperial prova rajn mesmo n'essa peleja
mal dirigida, que eram aindn os bravos da independência, e
dignos de ter por til lios c por herdeiros de gloria os guerreiroa de
Moron.
Do Sr, James Flelclier te^ô o IjistHuto em graciosa olTerta doícsete
volumes de diversas obras nilidamente impressas.
O nosfifí digno eonaocio o Sr. Henrique de Beaurepaíre Rohait
tmnou-no3 dous curiosos opúsculos: o prtmeiro, coutando ãâeé-
cripção de uma viagem ao campo do Palmas; e o segundo^ que,
ttomeando-se simplesmenle o campo doYpíranga, rec4>rdã o mais
brilhante e glorioso feito dá nossa bisloria^ e rcpeto oomo tim
23
echo enlhusiastico o grito heróico da liberdade, a primeira palsYra
da regeneração politica de um nobre povo.
O sr. Dr. José Praxedes Pereira Pacheco offereceu-nos um exem*
piar da sua. obra recentemente impressa o intitulada o — Útil Culti-
vador instruído em todo o manejo rural e accommodado a qualquer
clima, desejando que ella fosse recebida como recommendaçâo de
sua candidatura a membro do Instituto : a nossa commissão de
admissão de sócios se fará ouvir em breve sobre o louvável intento
do sr. Dr. Praxedes.
O nosso prestimoso consócio o sr. cónego Dr. Joaquim Caetano
Fernandes Pinheiro fez presente ao Instituto do Livro de Job tradu-
zido em verso por José Eloy Ottoni, e precedido 1.** : de um dis-
curso sobre a poesia em geral e em particular no Brazil pelo mesmo
sr. cónego Dr. Pinheiro : â."" , de uma notícia sobra a vida e
poesias do traductor pelo sr. Theophilo Benedicto Ottoni : 3.**^
de um prefacio extraindo da versão da Biblia por De Genoude.
£' um pequeno volume , que encerra immensa riqueza : o discurso
sobre a poesia , que dá começo â obra é a chave de oiro, que abre a
porta de um monumento : o patriotismo quo anima o eloquente es-
criptor suspende-lhe o vôo, em que rapidamente considerara os
poetas sagrados do velho mundo, e fazendo-o contemplar os vultos
.magestosos do Caldas, S. Carlos, e de outros inspirados da terra de
Sancta Cruz, que formam a plêiada brilhante, de que faz parte
José Eloy Ottoni, arranca-lhe da modesta penna paginas elegantes,
que formaram um bello capitulo da historia da nossa litteratura.
O mérito subido do poeta brazileiro José Eloy Ottoni já era
reconhecido antes da sua morte : o livro de Job por elle traduzido
em verso é um novo florão que vem prender-se á coroa ^ que elle
conquistara com a traducç^o dos Provérbios de Salomão. As nações
exaltam-se, e fulguram com o esplendor do génio de seus filhos , e
sempre que honram a memoria de seus grandes poetas nobilitaro-se
e engrandecem aos olhos da humanidade. José Eloy Ottoni é um
d*esses homens, que tem o poder de íllustrar seu berço e de realçar
a pátria.
AWm d'eslas demuilas oulras imporlanies obras ^ qiic obMiíiutíiiiyi-
mente foram oITereritbís ao InsUtuio, três ainJa ha, que nm pa-
dem ikixnr á& ser meiicíonntiaíi , pois que as dtívcmos n ree^mc* i
1ucubraçô<?!i da comp.iiriôías noíísns» nrctipnndo^fie as dun? prirufbTif
excUisi Vil monto da historia 0 da comera (.ibín palna , e seiídí» a ul-
Itma , como umji (\òt que dôsíibrochou sobre uma SDpultura* Sâd
eilâs o Ensaio Corographíeo do Iiiipeno do Brazil aíTt^rtífido «
consagrado a S, M. 0 ímpera<lor o sr. D, Pedro II pelos if*.
Alexandre losè dâ MeUo Moraes e Ignario Âcctoli dô Oiniucin
e SilVíj : — Lrrôtís da Hi5lCKÍa do Erazíl adaptadas á li^ilum das
escolas pelo sr. António Alvts Pereira Coruja — tímfim ;is õbrts d«
Manoel ÀiUonio Alvares do Azevedo ofTertadas ao lnsliliit«» jielo
nosso consócio o ir. Dr* Ignacio Manoel A Iva mi dô XteweáQ,
O Ensaio eorographico do Brazil pelos sr^. Mello Moraes ponofw
disUnclo tonmcío o sr. Acj^íoIÍ e um esludado resumo da al^íum^-íi
obras da me^mo género e de longo Mego;e seus dignos du\or^
iricurnbírain-llie sem duvida a mis^^Ho tie espalftar as primetniA i
mais indí^pomaveií» noções da no^a lii^ioria e corograplda (leb
Tiossa massa da popularõo menos instruída: cooipcneir^^r&m-íív, ruma
disso uhimamenle Lamartine « da ne{!es.^Ídâde de onsinar ao poro , es*
erevendo o livro do povo, o livro de moíjíco preço e do p^ucflu) tor*
mato, de eslylo stniplea, o de malería ími : escrévêratu poiso s®u
eiisajo eorograplúco mais pelo amor de seus concidadãos , do qtio
pala gloria própria , au antes converteram a gloria própria naqustta .
amor, conforma ndo-se ainda i-om o pensamento do illoslrti poeli^
francez, que hz dizer a uma personagem, mimosa o suave crbçio
de sua musa, quo u a gloria que se não converta «toi amiiade é^
semente que nâo germina , e ílamma que nao aquece, >»
Bebaixo d*estê ponto de visui é inn^avel o servido pres^tado á pilria
pelos dous hábeis escriptores : mas um assumplo do lOo vastas pro^
porç6es apertado em láo mesquinhos limites devia ra^^s^nur-so d«
laeunas, e ommissOes aMás inovítaveis: ninguém compendia que
nSo sacrifique idéas.
Entretanto o Brazíl leni tlireilo de oi^pcrar ainda muito msis d»
1^
I
m
BluâtT^Çíto d'65i06 seus ilous iliustrados íllhos. Si Ayres Caz»! iwi
deve jámnis ser esquecido , cumpre que aproveitando-sê o i]ua bà de
bom na sua obre, corri ja-se-lhd oa erros* qu$ tbe nscãfvaram , e
tceresc6ntitndo»ââ o que lhe falia, dessê*Uie toda a amplitude, que
os ^nbeci mantos ale hoje adquiridos fací tilam. Mais utn esfarço
doi nosN^itlusircseorograpliâs, e daveMItêâ-Lemofi urna eicelJaute
eorograpUia da no^a pairia.
Pmprias para sererú lidas e apraciEdss pek Infância , escreveu ú
wm& eonsuiMo ú sr. António Alvares Pereira Coruja as suas — LiçOos
da Htsioria do Brasil : —-o methodo que $eguÍo é simpleâ . os diver-^
SOS reinados da monarchia porltigueEa e do novo império amarícanç
jTDfiTx^ãn) as secçOes , em que se divide o seu livro t e em cada uma
d^ellas aponta os feiíoa tnais noLaveis da epoeba, que abrangem:
a critict severa louvondo o aoerto com que o autor procurou nos
nossos melhores bisloriograpíios, e na Rei islã do Instiluto, c^m*
pulsada com provdlo , 03 elementos da suú obra^ íimíiar-so-bíi
tal¥â£ a preferir ao eâiylo, que foi empregado a amenidade de
Cfimpe*
O sr, Dr. Magalbães ém um de seus betlos cnntos chama a mo^
eidade gigatile do por\ír: a plirase cabe igual menle á infanda : roas
a es^te novo Hercules não se robustece nem se ^for^a prefutrondoK^
para as lulas a os trabalhos do futuro, alimenlBrido-Oi oomo A9
Paria da fabula , roni a medula dos tigres e dut$ le^es ^ é só a
ínairucçâo ^miu o vigora e lortaleco : é m no fogo da aeienci» e no
suor dn trrrijalho que m tempera a lamiita doeste guerreiro d 6^
t4impos que hào de vir ^ e enlre as Qammaií r|u@ cumpre atear em sua
inléllígeoeie , deftois d*aquella que aoende o amor de Deos , dera
logo segui r-so a úuira , que acende o amor da pátria.
No berço ainda , o no regaço materiiô adorme^ o meniao ao
iom das bailadas, ou ouvindo as lendas^ e osconiog lor^dos com
as tradições do pa)z» e de.^de que pussa ioielrar um nome, soletrai
no l\no da historia da tarra em quir nast^u.
Bem huja pois o nosso consócio ^ que co^iaagrou a infftiieia ae
suas lucubraçQdi, e que lhe offeriou um livro, que elia devaeatu-
lYttl tu»», A
Hâ^iA
20
Ãút e am,ir, porqiiô Hiii fíilln iln pMría , que c o féo do flOflçffd
dos hnn«^ rnrnn n rr^n n ã píitria fin j\lm*i dnf^ ju*itfíft,
\% í^bra*? íie Manoel Anionm Aívíires *!c Azevedo constam <lt
éom volumes, fonlendn n pri moiro sôos fíinto^ poetíoos, ©01
gondo disrnrsos, arli|;os, o *Iiven!3S rompoííi çcms fim prosai.
Dez snnos míirfi mora qoe André Cheníer, da meRma id^dê qii«
Lovâlle, dons anoos apenas mais vdho fjiiti ChaUerton , esse joviíi
ÍTíãpirado n&ií foi armbíílíiclo pela mOríc.
Como a aura saltiiia dô seio dos jardins, que intofns ondus <!•
perfumes por onde passa, em sua curta peregrinn^o pcb íerrt ,
êlle deitou seus vesiígios cc^jertos de flores»
Essas flores ^ram bymnos: apanhou-as uma a uma iiqualb ábf ,
que só acaba com a vida: hz ú*cÍ\bs uma eonsobçáô e timji coroa:
ft consolação foi a glorja postbuma áé om (ílho; n rorôa fot tim
livro, que honra a terfa do berro do poeta, eque Wvà perpetua 1*
tioma.
Alvares de Aze vedo tinba na alma o sagrado fogo do enthti£Ía$^o :
em suas obras que são os primeiros raios de um so! que^tirgedo
erieote, admira-so uiuii imaginação brilhante, a originalidade, «jftie
é privilegio do gtsnio^ a graça que ó sempre um encanto, a inspiri-
çSo, quo é um Supro divino , a sí^nsibilidííde . que falia ao« C4)rs-
^es; a pbrase correcta mm è o frucio do estudo. Sua lyr* Unht
uma corda vibrante e pungeule para o sarcasmo; ti n tia sons arreba-
tadores para os cantos lieroicos; e j^uaves emdancdicas harmonii»
para exprimir o amor , e adivinhar a morte.
Até onde iria esse mancebo niso e dadn a alguém dotermiair:
rvie se pode mBàn o génio, nem marear-lhe um limite io iAj de
suas asas de fogo.
ir> Morreu deixando-nos um livro, que é de sobra pnni o rriic^mr ác
im joven de vinte annos. e que é também ao mesmo tempo o tumulo
de uma ingente esperança perdida.
Tocamos Gnalmente a ultima parte doeste relatório reservada' pani
õ registo dos trabalhos dos membro;^ e das commis»6a£ dalnsLttmo.
B aqui é opportuno e ntces^rio observar p qm si o Dumero 4ai^
27
memorias liJas esta anno ó inferior aoi das que foram meDcionidás
em 1854 « nem por isso se deverá concluir , que menos fecundo se
mostrou ukimamento o Instituto : nossas sessOes nunca deixaram de
ser preenchidas com interessantes e longas leituras: sobrou- nos a
seara » a só nos faltou o tempo para aproveita-la logo toda : e o anno
de 1856 receberá do que vai acabar em vantajoso legado dous cu-
riosos escriptos a respeito da campanha do Sul e dir batalha* de
Itusaingo em 1827,, e a preciosa memoria acerca da naturalidade
do padre António Vieira, da Companhia de Jesus, pelo nosso sábio
•..venerando consócio o e\m. sr. Arcebispo da Bahia. Leituras co-
meçadas, algumas dasquaes nem mesmo ainda se acham concluídas,
nfto permittirao ao Instituto o esgotar todo o seu thesouro de 1855.
O nosso digno consócio o sr. Dr. Jusé Ribeiro de Souza Fontes
•m desempenho do programma, que S. M. Imperial se dignara de
eonfiar ao seu estudo, apresentou e leu a sua Memoria discorrendo
nella sobre quaes foram os animaes importados da Europa no con-
tinehte americano.
O trabalho do nosso consócio se acha dividido em duas partes;
na primeira U'a(a elle de demonstrar que os animaes importados oa
America foram os domésticos: e na ultima seoccupa década um
d'elle$ em particular. A matéria é tão intrincada como árida. Her-
rera. Torrente, Pedro Simfio, BufTon, Simáo de Vasconcellos,
Caniu , Prichard , Asara , e outros diversos escriptores familiares
ao sr. Dr. Souza Fontes consultados, e confrontados com paciência
e apurado exame por elle, prestaram^lhe o fio de Ariadna, que
lhe serviu para se nào perder em um inexlrincavel labyrintho.
Muitos pontos da questão ficaram esclarecidos , e si o problema
não chegou á sua completa- resolução, pelo menos ficou aberto largo
caminho para se chegar á verdade ; e também o nosso consócio pro^
mette-nos mais extensa obra, da qual considera modestamente a sua
memoria , como o luminoso prologo.
O sr. , Dr. José Vieira Rodrigues de Carvalho da Silva , membro
correspondente da nossa associação, procedeu á leitura da stia. via-
gem desde a fox do Rio deS. Francisco até acachoeica do P.attlo
58
kfftinm f occup»ndo com cIJa n altençáo do Instlluto durante il^
tna$ sessões,
O nosso díslincto consócio o sf. ManOÊl Ferraim LafM trouna é
consíilerscao do Iniiituta a sua— Anftiyso á viagem de Ci^niu (lelo
intaríor do Brazil ; trabalho , de qtie se achata «lOirrvgid» t«>f}ii»l
Íêb um desenvolvimento , que fu£ honra ao leu talentn a Uhiatraçáo.
O sr. Lagos n^o se comentou com um simpliâ e broto juíjo»
que poderia ser budutívo ou conirario ao mérito da obra sujeíli 1
*U3 fina e profunda critica t não: acompanha passo a pasaoa fti-
jaitta ÍTÈiicnA âtravez das nossas províncias por elte tisitada»: éè4ím
a mào sempre quo o vô iropeçar, % isso acontece muitâS Teees:
aponta um a um 06 orros numerosos que commeUe , marca-lha õf
Cactos que inveota ; prova-lhe o conhefimouto antigo ^ (fue noa
temos de algumaf das suas pretendidas descobertés; vinga-oos di
maledicência p eejm um sopro vigoroso de potente lógica deeíai a»
ereaç&es imaginarias» que o conde de Caslelneau quer (aapr cor-
ler mundo com foros de realidades^ Fai mais atnd? : Ingo ^t
depara com unia falsa apreciaçáo do carecter, da índole dos Bra-
lileiros, fere-o com um epigramma ponulranto 0 adequado; aap-
pèllandõ para os viajantos e bístoriadorea ^ranpiros qua Iam
eaertpto acerca do Braztl ^ compara â observarão maligna com ojiiia
imparcial e generoso de grondas homens, como o respeitável Bi
boMt^ Saint-HiJaire, Perdtnând Denis e alguns oiitros» «^iiti
fazem jusliça , e em Gm eom índisivel graça cliamando Lambem a
eonlas a cohorte dos Íraprovis,idores dn viagons 1 e dos Chavagne* da
lodos os lempoâ, mosira destilando era oxtravagiinte revista a mul-
tidão de absurdos , de Tiicongruencias e contradicrôos , b tiào ponfitt
vG£e^ de immerecldss injurias» com que desfiguram e caliíDOtaii
ô Erazíl homens, qtie esconJem o que veam^ que improvisam i
que aio existe, e que para escrever invocam â musa da meniin.
Trabalhos como o do sr. Manoel Ferreira Lagos mQ nobf«if
torras de uma naçáo repeiidamento offendida em escriptoi, qoe
Itsêrecem fé* ^ que sáo desprezados entre u6%, mas que nos afatam
tm atrangeiío, O conde de Castejnau nffo escreve como Cha^agiiv,
20
más «ti longe d# o fizer como Saint-Hilaire , e já è qtiast em éerer
do Insiitoto Histórico e Geographico da Brazil castigar todas essas
relações in6eb , e inconvenientes , que deformam o nosso paiz> com
•nalyses lúcidas , vastas e espirituosas , como esta do nosso consócio.
As sessões de i855 não foram sufBcientes para que nellas se qUh
masse a leitura de uma obra tão extensa e considerável ; no anno
próximo futuro o sr. Manoel Ferreira Lagos continuará a prender
noesas attenções e a justificar a merecida reputação litteraria de
que goza.
O nosso prestante e incansável consócio o sr. Jooquim Norberto
de Souza e Silva leu-nos os seis capitules dos dous primeiros livros
da sua — Historia da Litteratura Brazileira, producio esmerado dé
oma constante e prolongada meditação.
Começa o autor por mostrar-nos em uma elegante introducçâo a
marcha, que se propOe a seguir : e estrea o seu trabalho manifestando a
feliz tendência dos Brazileiros para o cultivo das leltras ; tendência que
ainda mais evidencia « mostrando, como a despeito das difBculdades
calculadas ou não , que obstavam á instruccSo do nosso povo no
tempo colonial, tínhamos já antes da independência historiadores,
que memorassem a gloria da pátria , poetas que celebrassem os feitoe
dos seus heróes e oradores , que do alto da tribuna sagrada dissessem
a palavra á Deos eom a eloquência dos inspirados : passa depois o
autor a lançar uma vista d^olhos sobre esses povos intrépidos que
habitavam o sertso easeostas do Brazil, o que succumbiram aos^
golpes das espadas de Mem de Sá , e de Salema , e demora-se entSb
alguns momentos recordando a imaginação ardente e a facilidade do
impttiviso, que distinguiam os tamoyos, verdadeiros bardos das
florestas.
Estudando a litteratura portugueza na hora do seu apogéo,
quando se personificava em GamOes a grande epopéa , em Ferreira
a tragedia e a comedia, em Gil Vicente o auto, e em Joáo de Bar-
bos a historia , demonstre que a soa influencia deslumbrante tiroa
a originalidade aos nossos escríptores, desafiando a imitação que
abati 00 apaga o gento. Sostenta e prova depois a existência reat
30
fiti possível da UUtiraiura brazileirã , hiú è a $uã imcijrt^liJ^tle •
com a ifiâpíraçâo ilj natureza virgem, magestosa e subtirne do
novo mundo, com a origitialidaJe, que transuda dai obras dt»
escrrlptores na c^r local do paí£, nos quadros doá cmiumm úu
sem habitantes, nos sentimentos , que tem a surt [oiituna religião»
e na sua historia , que é o mfl^xo da gloria Ja n»ç9o.
Parlindo do XVI suculo » qim é o nosso primeiro século^ o mma
consócio occti|>a-âe largamente dussoWagmis» a do seu pundor pant a
poeiiã; diz quaes as Iribus quts mais se avantaiãram nella, dtííer«i^
seus usos e costumes , seos jogos e dansas dramalicas ? suns crença*
o mythos, e depois finalmente eontompla as figuras venerandas dai
Jtísuilas, que trabaliiando na çatL*chose dWas tribuserranlt^, íp>-
veitam-se de &eu lalcniu poético , dô sua língua harnioniosa e ílet»-
vol j faiem versos pagãos com pensamentos chrislàos , e intr^ui^m
o tbeatro nas cidades que surgem no meio dos de^rtos« fatentio
representar as comedias de Anchieta nos adros das igrejjii , a Sombra
das Qorestas,
Parou ahi a Imtora do nosso illustrado eonsucio (lela roêsmi
razáo porque fora interrompida a do sr* Ugos, mos o (juc omim^j^
íoi fú de sobra para avaliar a vaíítidáo do plano , o a relicidode Ja
execuyáo doeste insigne traballto.
O poeta quit escriíver a liistoria da poesia de âua rormo:§a palrti ,
e RO desempenho de lâo honroso rntento iriumpha dos mais gri-
ves obstaeuloi, esclarece as mais duvidosas questões, e sahe da
iaburíosa lide, cansado, como o ãtbieta , qm acabou rb lula ; ma*
resplendendo com o próprio enlbusiasmo , que fulge nos; sous rscrip-
tos, e coberto d'essiis mesmas flores, que a mSos cheias derraniDu nas
paginas do seu livro.
Não foram m estes os trabalhos, íjue oecuparam o Instilulo Uu*
rante o anno social « de que damos conta* Algumas de noiaaaoom-
missôeSt a entre ellas notavelmente a de admissão â^soám^ e as
de nisloria o Geographia deram provas de uma acttvididee dili-
gencia , que muito útil nos foi.
Ao nosso consócio o txm. sr. cou^lbeiro José Ildefonso de ãutiM
31
Bamos devemos um lúcido parecer acerca do manuscripto que se
intitula — Consideração sobre o estado de Portugal e do Brazil desde
a sabida d*EI-Rei em Lisboa em 1807 até 1822; e de commissõcs
especiaes nomeadas na conformidade dos estatutos tivemos juízos e
conselhos, a que o Instituto deu muito subido apreço, e que lhe fo-
ram de aproveitado soccorro.
Finalmente entre diversas propostas, algumas das qnaes foram
adoptadas pelo Instituto , c outras remetlidas a commissões , que
meditam ainda a respeito de sua matéria , uma houve tâo cheia de
religiosa sensibilidade e de gratidão patriótica, que não podemos
deixar de lembra-la , rematando com ella este jú tão enfadonho
relatório.
Os nossos dignos consócios Dr. António Pereira Pinto e Joaquim
Norberto de Souza e Silva propuzeram , que o Instituto solicitasse
do governo imperial a entrega de um fragmento dos despojos mor-
taes do missionário Anchieta que se conserva em uma caixa com
lavor de prata na ihesouraria da província do Espirito Santo , ou
no Thesouro Nacional. Nào é preciso dizer , que uma tal idóa teve
prompta e unanime approvaçSo.
O padre Anchieta, o santo irmão de Nóbrega, o apostolo do
novo mundo, aquelle que se occupava só da conquista das almas,
quando quasi todos se occupnvam da acquisiçáo das riquezas,
que abria as portas do céo ao jfHibre selvagem, quando tantos lhe
roubavam a terra , aquello que preparava para o índio a bemaven-
turança na eternidade , quando os outros lhe impunham o captiveíro
no mundo , aquelle que defendia a vida do tamoyo para toma-lo
digno de Deos , quando muitos lhe davam a morte sem cuidar de
salva-lo do inferno, Anchieta, o orvalho celeste, que apagava o
incêndio ateado pelas espadas de fogo dos conquistadores , esse pio e
virtuoso missionário, de quero se podia dizer, repetindo o pensa-
mento de La Mennais, que uma cruz, semelhante a um raio do céo ,
)he apparecia ao longe, para guiar-lhe oe passos, Anchieta, que
na historia do nosso primeiro século representa a caridade do apos-
tolo de Christo contrastando a tyrannia iniqua dos exterminadores
32
jUt uma rnçflj Aucluclú merece bem que lionremos esse ultimo fm^-
leuio de saus deí^pojos morraes , mmo uma piedosa e ssoeia re*
Aqui Jeveinos parar: fai mesquinho, rude e obscuro ci q^iaira
que em núss^i t^o cotiliectdâ insuffíciendâ |H)d<;D)os apena§ esboçar ;
mas a despeito de suas sombras e imperfeiçõcís, d ímporbiicii , a
utilidade e o desenvolvimenio do [n<itituh» Ilistorim e Geogrdpbieo
do Brazil se píUemeom e brítliam, Cí)mo os raios da dia , que roeu*
I pendo r«s dens^as iiovons da inanbã de iiiverao derramam a luz fiú
Lseiíi da lerra<
Muiios SQO os âerviçoSf e ardufis as conquista que tem já prestada»
[e conseguido o Instituto; mas a sna misslo é ainda m^^is etlefia ^^|
^ árdua. Si o brílbânlismo do futuro , scituíllando da aureola glofíoia
que cofóã a fronte do magestoso império diamantino, nof íuflamaii
e arrekila ; preoecupa-nos , e qtiasi que nos exliaure os forças o cui-
dado dtí i^martltiar o passado u oiais sábio tatèa nas ifi^vts qtie
^envolvem a bbturin das rnc^s indigenas, e luta qnasí sempre ifo-
I ])alde cem efsa m}'sterio , que paira s^^bre o berço dos povc^t ienus^
Ibante á nuvem que oceuUa a nascente dos rios, que fe jift?cipi-
' Iam dos cumes gelados das montanhas pra inundar oa eonliftao-
les , como dÍE um grande poeta e hislurÍ?idor-
Mas não dt^s^tiiimamoâ! lia vemos de legar ás noras gÊrát6e& os
elementos du historia de uma grande e predestinada n^çilo ; hav6*
mos de ajuntar * carregando sobra nossos bombros , as pedrai , qtia
jjtvem servir de alicerces do mais soberbo monumenlo, a bistoriá,
que confera ^os heróes essa í mmortal idade , que é na terra usia
sombra úa eternidade no cég,
, Prosegy iremos na cmpre^^sim, proseguiremos; para iospicar-
Dos a animeçâo c coragein , lemos o amor da pauia t o pura guiara
no3 pelo eamiidio da bgnra , da dedicação e da gloria (ai&ús o
Imperador, que marclio intrépido à nossa frente, que noscom^
manda» e nos enl[m£ia.<ma p que comnosco e sempre diante de nós
£e atira no maio da luta, que nos leva a combate* b um outorp
« vtetoria ; fazendo sempre soar a ncssoe ouvidiis, a minir t íq nossas
st
corações um ^rltOf que aléa n*alma um foga divino , obrado lia-
rgic5, o brado tio génio, o brado Je Goelho — avaiiló? avant«t
DISCURSO DO ORADOK
o sn. MANOEL DE AHAUIQ POnTO-ALEGEE.
Senhores*— Aquella dia felii em que o silencio do vo^o orador será
á mais betia piígina do pmgrammad^o^lasrauntOes ainda nDoebegou.
O anjo da morte baixou ao sêio do Instituto , \'*àz sua mõo gelnda no
coração ardente de alguns sócios beneméritos : mudos e frios cdbi*
ram para ntinca mais se levantoretn ; mas de todo não morreram ,
porque só tnorre quem se não identíllca com a pátria , ou noo com-
bate na phalâfige doi idealistas.
Yé$ que haveis percorrido , ú semelhança de Pausatiias » por essa»
regiões animadas de láo bellas reminiscências, por esse passado que
vos acaba de eiornar o nosso Primeiro Secretario; vós que bafeis
contemplado oi dias do uma existência magní Geada pelã consiania
presença do grondé Americano em vossos trabalhos, e pelos trium-
pbos do espirito cirílisador, vinde comigo agora , não ás prtas da
cidade de Sócrates e Pbidias, mas sim ao berço de Caldas e de José
Maurício, onde achareis, em vez de cenotaphios, cypos, coiumnai
e mausoleos, a gleba humilde e enflorecida ^ e a lapida singela , pro-
tegida pela crur, ou por um nome que recorda uma virtude, no
qual repousa o amor sagrada da família « a saudade do amigo « e a
gratidão nactonat,
Nao ramos de Etausis para Alhenas eom o preceptor de Paulo
Emílio e Scipião , porque não vemos a cimeira do elmo dâ famosa
Palias f sciiboreando oâumoioeo Pyréo , nem o fastrgio d*essa ma-
raviihâ da arte que recorda Péricles ; nao peneiramos por essa via
Iríumphal da morte, guardada por vultos iconícos^ por sentiuellas
de mármore « por homens cujo nome eneberam o passado nas lides
da perfectibilidade.
A arte que se alimenta das virtudes i^onsummadas ainda nio dvi^
'■- -^^
veotoi] h mõrté peto poderio ão eQgêuhfi , nem coHoêou «m írenia cfa
fuLum eomo aulaios vigilaules o transuAiplo dos grtiiJes liomeru , «
imagem do general , e a do escravo generoso que çoofutidb seu
sangue com o do hefóe no campo da batalha ; ella ainda nUo fez ám
gemidos da gratídíla pubUca uma harmonia do fiuito da pátria ,
nem converteu as sepulturas n*ura paniheâo da gloria, n'um livro
de fastos naclonacs , n esse ihesouro de recordações o àé notira
In^ntrvoâ para a mocidade; úm^ para a mocidade^ porqua tUi
i aquellô magico eipelho á& esperança , onde sa reQacld anlicipft*
damente a aurofa da todas as grandezas m da todas >$ hunillii*
çòea de um povo t
Por piedado, meussõnhoresi nm sâjais para comigo íSQwnkgmmè'
mn para Calchas i o Binistro augura nào esta aqui para predkar is
male». Lá chegaremos um dia ^ e essa dia nâo e&tá longe*
O nosso passado , a^o Adamastor quedo a petf iticado junloá Aliai
da indílTerença , começa a decompòr-se pelo choque das tdóaagmii^
dio^aa, e regeo^rar-^d pela mecânica applicada ao tempo e ao aipaças
tm breve nos acharemos tão longa d elle que apenas restará a imi-
gram iradicionat do seu longo império para oscarneo de si m«mi,
vargonlia de mm apofoglstas« e lição para os vincbiiros. A in
^blica é um dos vehiculosda barbaria.
Mas ÊcnquantD a fé , o amor sublime, sa nàa malÊrtalis
dignameniâ aos oUios do mundo» vamos proseguindo fio«si modata
tarefa , vamos oommemorando as virtude e os sorvi^ éé
finados companlieirog» depositando a oblata si tigela de nossa gmi-
dío sobre es$a$sepul luras que reclamam um testemunho duradouro*
. O Insliluto nào amoriallia seus membros em uma folba d«í jor-
Bal , não os envolve na poeira transitória das correnas da uni fligmlt .
marcenario, nuo; presta-lheso culto da mais profunda
ttomo lesiemunbo publico de sua saudada a recaohecimdiitci.
Mas que vejo, sen liores, que brilhante appartçjoé esta qiiai
meus QÍht>s como a luz meteórica no seio da eseuridio ? 1 kUm
OeeanOi junto ao cabo de Sagres, d onde partiram os conquitladu-
tm di iQaris nunca d'antes navegados . v^ja um púiaqito cmiã b^r -
16
moniosdmentd n^â^itielb Vm^m qus com pouca eorrtipçlo ei4-$e qúè
ú .1 latina^ e esCe povo olbndo p»râ um homem l
Frometheo de ao^a espécie # anima a própria estatua eom a ílamma
qu^ Ibô inftmdtro o anjo da poasía « para alraros^ar as epi «subltmar
isgeraçõéâ Tuturás. iuniôá tmagõm radiante doesse trarao proemínentâ
ÊStá a do llomero lusitano protó|&{idci-a com o lume de auâ gtoría â
immomlídade! Quô antiilridâs sâo essas que lho adornam o pedestat^
ti que por 51 só a tira bem a admira^ do dous povos? Guerreiro»» t^
das, cavallctros, Mouros , navegmtâs, monges e amores engrinal-
dados de todas as ftòres da Ibéria ^ de t^dos as peffumos do Ofíen-
le! Vm tan^gem Uarpai e ataúdes , o autroi se a<}ornam do manto ite
Eurípldes e Shakespeare! Aqui e ali , resumbrando perfumes varia-
dos, estáo livroâ, mãa esses prismas da menle que reflectem todtt
as cAres de uma alma dinnisada pel& engenho. Qiiem sdrá ?..».
E' um cencUnphio consagrado á gloria , é um triumpho do homefii
sobra o silencio da sepultura; é lonj& e variada oseuepitapyo,
ira temos d e resu mi - to .
Iodo Baptista Leitíío áê Almotda Garret nasceu na cidade do Porto
m dia 4 de Fevereiro de iSOá. Foraroseus pois António Demardd
dâ Silva Garrei, fidalgo da casa rea!, e 1>^ Maria Augusta de At*
meida Leitão, filha daBrazileiro José Bento Lei tio..
Educado por seu tio a bispo Ih Frei Alexandre da Sagrada Fa-
milia, comptetous as suas humanidades ao£ 13 ânnos; e na de IS
matriculou-^ na Univertidade do Coimbni, Abi reveloiHie o poetíu
Em Í8I8 e§creveii a trageíMa XcrTm ; en* %%t% tuG^cia §
iierúpei e em 21 de Agosto de f830 eantotha líberdiide^ Em 1621
publicou o J¥tf(mf<i dt Vénus: em f6t*2 fomiou-se em toí» e To*
nomeado oltlcial da secretaria do reino, echefo da sec^^ào ãt instruo-
çáo publica. CompÒK o sen Catão ^ e fez o elogio do patrjar«ha d*
Hbordade poriugueza Manoel Fernandes Thomas;.
Em 1SÍ3 , emigrou para a In^latorr.^^ onde ôwreveu o seu Tpí>
iado de Educado ^ e o poema heroi-oomico Mnjriçop qua p«r*
deu*se em um naufrágio.
Em iê2'% passou ã Frajiça» entrou do caifeiro tia casi de LaJTlttd ^
36
i roí no Hâvre de Grar^j ^ no meio Jos seus deveres , que conipòt Cu*
^mõei ^ D. branca- A tragedia o Infante Sanío , c|ua alii iguil-
manla oompòz , te?0 a mesma sorte do Magriço,
Em 18^6 escreveu um longo artigo intitulado  Europa e n
im«ríra, o qual ^m J830 foi ampliado o estampado mruo titulo
^ d@ Portugal na òalança da verdade,
£m Paris concebeu a ídéa do ParnwfQ Luiitano, e escrtveu a
ÍQiroducçDo que sq acha no ir volumu.
Jurada a Carta Consliliicional em Portugal Toi o principal redactor
dõ deus jornaes: o ParíugiHZ^ dado u accio politica; a o CÃro*
, núífl, ao movimento liUerarSo.
No primeiro combate eleitoral publicou a Guia do$ ehítúrts : ^
intrigas de partido o encarceraram por três mei«a.
Em 182S tornou a expotriar^se. Trabalhou no gabinele do du-
que de Palmelia. N^este novo exílio publicou Ados^inda e a Lyrim
de Mo Minimo, e cantou a batalha da %illa da Praia em umt
canção que denominou : Â Leaídade em triumpho,
. Foi soldado no exercito libertador, e logo qua se dissolveu o seu
batatbâo pas^u para o académico.
No gabinete de Mousinho redigio o decreto de lã de Maio, e »!-
tou de arma o muchila na praia do Mindelo com o príndp^quv
abdicou duos coroas.
No cerco do Porto organisou e dirigio a nova secretaria do reino,
e recebeu os maiores elogios do príjicipe libertador pela r0Drg&nÍ3««
ção que fez da ordem da Torre e Espada.
Na qualidade do secretario acompanhou a Londres Palmella t
Mousinho, e esteve algum tempo em Paris em 1833 , onde procu-
rou refazer o seu Magriço ^ e escreveu umas cartas á semelbançã dâs
de Demouslier.
Voltou á pátria em 18?4^^ foi nomeado vogal e secretario da com-
missão reíormadora dos estudos « o deu um plano de reforma geral,
N'eâso mcsroo anno foi nomeado encarregado de negocio;» em Bru-
xdlas ; passou a ministro residente na Dinamarca.
Em fitnbts as miâsOes (oí condecorado.
aí
Voltou á vida privada , e redigiu em 1836 o Poriíigues Cam^
íiiueional, que terminou com a revolução de Setembro.
Recusou n'es5a epocha vários empregos e o miuisterio, porém acei-
tou o de juiz do tribunal do commercio.
Foi deputado polo Minho e pelos Açores no congresso constituinte»
onde foi tido por um orador eloquente e sem rival.
Emprehendeu a reforma do iheatro nacional e compôz o Auêo tU
Gil Vicente. Nomeado inspector dos theatros » creou o Conservatório
Dramático e essa família de roemographus que fizeram uma nova
epocha litteraria.
Em 1838, sendo deputado pelos Açores» pronunciou aquelle fa-
moso discurso que a nação intitulou Porto Pyreo, e escreveu a Fto-
gem á minha terra.
Nomeado cbronista-mór do reino, abriu um curso de historia
portugueza , que muito edificou a mocidade.
Novamente eleito deputado teve de optar entre circules de Li»«
boa 9 Açores e Vianna.
Compôz para os alumnos do Conservatório o drama D. Philippa
de Vilhena em quanto negociava com os Estados-Unidos. Seguio-se
o Àlfageme , o Elogio histórico de Vieira de Castro^ Frei Luím
de Souzoy e a Historia das revoluções de Portugal desde 1820.
A rainha o nomeou viscondt) do seu próprio nome, e o encarre-
gou da pasta do ministério dos negócios estrangeiros. Acabou o seu
romance histórico do Arco de Santa Anna^ e morreu como um
verdadeiro christáo. Poeta » soldado e estadista , é mais um exem-
plo assigrialado contra a fé da mediocridade que nega o dualismo ,
porque almeja a especialidade.
Foi Carreto primeiro poeta portuguez que me fez amar a poesia»
parque me mostrou a natureza pela face mjsteriosa do coração em
todas as suas pbases , em todas as suas sonoras modificações : lord
Bjron foi o ostensor que o collocou n'esta bella senda.
A maioria dos poetas portuguezes anteriores» mormente o que
fechou o século passado e abrio o presente > era monótona , insen-
sível ao aspecto da natureza phjsica, por(][ue estava toda narepi-
38
mà^ Gtmiã ; ús seus nov(B cnntos eram échos da ^utiguidado. ar-
rastado pr>r êlles á clarlJadiS da Oljmpo ^ ou « eâcuridão do Bin^
ttiro, viã sempre ai mosmas imagens, ouvia leaiprd m wêêiub
harmonias : so tremta conculcado pelo poso do massas lítanicts , ati
petos arrojos da exagera^ào^ descansava ri^um lofrano dnifkbL
sem perfumes , sem crenças » sem memoria e sem esperança , çmm
as divindades amigas que o povoavam e proleginm* A arli qii«
linha os poios nas màos do Júpiter o do Plutão era, a meus olb»,
^Bm craneo de marfim^ um ariefaolo que nao rocorcb a Ikiaiem
Istma, mas o homem dextra.
O poeta quarrdo evoca o pasmada coav n musa da espertiiçt « iitli
orna lifjào profícua, prrjuo a passado redivivo se eslamp noboiv
tonta do futuro oomo uma forma s'tgniricatlva e proporcional. Na
conversão das dores e melodias, e úm prazeres eni hirmonias , es4á
o espelho da ^piettcia , estão lodos os se^^ed^s do engenUo : UMhf «s
irradiações do pensamento, todo esse moto conoen tricô ou «xeen*
tricô, quer do universo para o coração, ou d^esle para a iiDmensi-
dãdot no« conduzem a aíguma verdade soberana* Cuvier dma ao
ST. Lamarline que o emblema de Tasso > do md sobre a beífi 4^
vaso que contóm o licor amargo, que dá vida^ está toda Oi poâsia :
€úsi alVegro fanciuí porgiamo asperãi
Di sonv^ licor gli orli dêl mso:^
Sucdií amnri iufiãnnato intunto c* Aci?f ,
E daU inganm sm viía rmve,
' A mocidade íitlrahida pela bel leia das idéas e do rbythroo, p^hi
brilho e movimonto dos imagens ; presa a essa cadèa magica d^ sen-
sações, atltinta a essa língua sobreliurama, recebo um eufso de
profunda moral e philosophia : A epopéa, a tragedia o os poemai
didácticos assim o provam.
O poeta educa e íortaleco o liomem quando o ensina a T4r o bolta
o o prepara para o ftiloro; o grando proceptor se sobrelefi prali*
cando com as ruinas; pesando as cinzas dos grandes homeiu, sôiif
tido sobre os seus túmulos; cxornando a pátria com os dieta mes ^
I
39
razfo ; fazendo concutir nas almas os sons da sua » ou pintando a
desgraça como um abutre preando o universo , e a gloria nacional
como a luz da rcdempçào» Job, Salomão e David seráo sempre os
legisladores do futuro , os guias, conselheiros e consoladores de todoa
os corações sensiveis; porque ensinar a soffrer é amestrar para a
victcria.
Mo Camões do nosso finado consócio está a musa da esperança;. o
proscripto abre a scena pela saudade da pátria antes que o seu heróe
respire o ar que extingue a nostalgia que o consome,
Com áÒT que os seiot d^alma dilacenu
O desterrado que agonisa entrevê nos enlevos da esperanç-a as de-
licias do que volta ; o poeta falia pelo poeta , e nos mostra nas fa-
talidades do engenho e como a Providencia converte os espinhos da
vida em uma coroa de flores immorlaes depois án sepultura ; com
elle vemos o Homero Lusitano pisar as praias do Tejo , receber o^
affagos de um rei que sonhava com a gloria j cahir na indigên-
cia, ter por inimigos os inimigos da sua pátria; com elle vamos á
sepultura de Catharina, e ao hospital..», ao hospital , senhores, em
cuja porta as nações ingratas deveriam escrever : Aux gran1)S hom-
MES LA PATHIE EECONNAISSANTE (*}.
Amor da pátria , veneração á virtude , verdades úteis, é uma la-
grima para a desgraça , é o que se colhe na leitura d*esta obra amá-
vel e innovadora que prorompeu a luz para mostrar a Portugal
que a poesia é uma arte, uma força e um progresso, e nâo um
esterzido plástico das formas rebatidas da antiguidade , do seu sen-
sualismo , da sua descrença , e doesse materialismo que eothronisou
o suícidio como uma virtude salvadora.
O christianismo pouco apparece na arte portugueza antes da re-
forma exemplificada pelo nosso consócio. Os próprios padres, como
Philinto Elysio e outros se mostram idolatras como Anacreonte e
Horácio, incrédulos como Séneca o outros, que nâo viam nada
além da morte. Trasfoleando os contornos da musa grega , a repfu-
(*) E* » inscripçSo do PalitbéoD Francez I
ftO
duiíam dtscadeíile como as pinturas dos vasos atruscos , ondi a mia
iosciente do operário denuncia uma belleza mutilada.
Antes de haver emigrado já tinha produzido o Retrato de Vé-
nus e Catão. Os primeiros lampos do génio foram atacados violen-
tamente pelos críticos, pelos inimigos da arte, e pela bypoerisía
disfarçada em moralista. Ganhou ambos os processos : provou em
publico que o seu poema nâo era mais que uma oblaçSo á pintura,
e uma maneira de grupar todos os pintores para, no retratar a
deosa, distingui-los pelo seu mérito especial. O abbadd Corrêa da
Serra o abraçou , e lhe disse estas palavras : « O vosso poema é a
aurora de outros mais bellos; porque a litteratura é como as aguas
de Versalhes j que quando correm pela primeira vez no anno sa-
bem sempre turvas, mas ao depois se tornam límpidas e coroadas de
mil arcos-iris; e o arco-ris, moço , ó o symboío da paz. •
Provou , cotejando os textos, que não havia traduzido o Catão
da Addisson , e os seus inimigos se calaram.
A inveja , meus senhores, é o missionário da decadência humana,
o Protêo que toma todas as formas para embaraçar o que é bello e
creador; nos seus olhos estão os raios que só ferem as cousas gran-
des; quando louva os estranhos é porque odeia os nacíonaes, e
quando adora os antigos é porque aborrece os modernos; para
ella não ha progresso, porque ella é essencialmente estacionaria :
vampiro de natureza hybrida , toma a abalada do condor para ferir
as summidadcs , e os meneios da serpente para destruir todos o$
germens fecundadores. Este monstro só se alimenta no coração da
mediocridade ambiciosa.
Os homens que querem na poesia uma arte como Platão estabe-
leceu , acclamam Camões como obra prima de Garret , porém os
poetas consideram D. Branca em primeiro lugar: tanto uma como
outra tem seu mérito especial.
Na primeira resumbra o patriotismo , a missão do poeta elevado e
generoso para com a sua nação; a livre mas sensata inspiração
guiando a socidade , c com ella a religião severa , santa e des-
interessada.
M
£m D. Branca a arte ap[)arece debnixo de uma forma mais
ampla, roais variada e graciosa; o poeta deleitou-se em animar ^
em colorir antigas lendas e tradições , e ao mesmo tempo em infun-
dir pelos exemplos e virtudes de outras eras aqaellas idéas que re-
generam um povo. Estos dous poemas, filho da escola byronniana^
abateram a poesia idolatra , a musa plástica o anachronica do paga-
nismo, e abriram á juventude portuguesa essa nova epocha litte-
rana que tanta honra lhe faz.
£' lisongeiro para o nosso Instituto contar em seu seio os grandes
prophetas da arte , os reformadores da lilleratura em França , em
Portugal , e também ai|nelle que fez e mesmo no seu Brazil.
Depois da reforma do thealro brazileiro, pelo sr. Dr, Magalhies^
em 1837, appareceu a do thealro portuguez pelo nosso finado col-
lega. As suas obras dramáticas anteriores ao ÁlfãgemeeFrei Luiu
áe Souza pertenciam á escola clássica de Racine e seus contem-
porâneos Shakespeare , Galderon , Schiller , e o mesmo Byron ainda
não tinham sido escutados e admirados por elle. E n'essa epocha ser-
lhe-ia pcrmittido dar largas à inspiração , e passar do circulo do
vassallo para o do cidadão em uma cidade que vira consumir na
fogueira o Molière fluminense e preparava a mesma festa de sangue
ao Paulista que realisou os sonhos da antiguidade , e foi o pri-
meiro mortal que rompeu as leis da attraccào e subiu aos ares em
uma machina que inventara! O predominio e os hábitos da servidffo
só se destróe como Moysés , só se aniquila com novas idéas , e uma
nova geração: o idealista é o Argos, e o iempo e a morte os
Briareos.
Apezar dos tempos , de tanto engenho e precocidade ^ e de tantos
e tão innumeros escriptos, o nosso consócio soffreu grandes e in-
qualificáveis injustiças ; tinha o estigma de poeta , que por muito
tempo nullifícou o homem, e o proscreveu da coramunhfio dos seres
priviligiados que elevam á virtude os seus talentos negativos, e sd
absolvem mutuamente da ruina do estado e da moral publica, por-
que tem o dom celeste de nào versificarem.. .. E no entanto, senhores»
o poeta é quem eternisa a nacionalidade e a gloria do seu paic ;
xvin scPb e
42
porque um ília virá om que Porlugal será Camt^, « iiviró glorio»^
mente íJo sua individualidade*
Os homôos de notureia tãfrActarííi ad vulgiimmo sensual , ú& ea*
racierÊs q\m mflíUim contro o deâpaiitmo dns mAÍarías, náo te cctn-
taminam facílmenle, porque nío podem lisonjear, por(|uo sáo lába-
roto ri os do [lensa mento , e ia^trumentus providunciâe^ para á$ grandes
revoltiçôos. E^tes Uoimns formam uma tribu de ptigílistãs, qua
abííirQom cconibEJlem anda hora da vida essas pbiííungesde madr
ços prtitoncLosos, quo se íordam com o uiiíroniie do p:iss3do, t pro
clam-im-se coosorvadoras zeki^.ns , eoiiiti se a liiimanidHdô fosiâ osca*
tionarin, a não houvesse ito espirito humano os íacimdos ©iemen-
los do infinito, do íínito d das relações !
A rotina, a ft-bre soporifora da doei^dcncia, a moda» t vo]av«Í
soberana dos míritos fuleis 56 ad unem sempre para peleprde ío-
duslria contra o homem que se colloca em primeira plana paloi,
fructos do engenho, ou o que Ibes apresenta uma verdade s.ilTadofat
um« nova vida. Os doutos pela imittiçiio^ pelo plagio, peit pani*
pbrasíe, pela ra podia do passn d o se apresentam; proclamam vicloria,
Iripndifím de aleL^rta e no entanto uma força como aqudfa que
impelia o Judc-o ErraiUe a caminhar lhes grita,,.. Marebl, e elle»
camintiam , Cjml;indo a mais irisle das palinodias...
Fei-bemos es*4as pobres considerações cuin nmas palavr» eseriplt&
na frente do Jrco àe Santa Ànna , pelo nosso finado colidi, por- J
que elia$ retraçam sua missáo e suas consequências durante o trote-
lljo: ft Os grandes poetas edificam o futuro quando reagem como
passado em mão, «
Todos sabemos que ostt romance é a porsanifiraçâú da r6.Meo jyt-
tieaiidu aní ioda a sua plenitude: IK Pedro , o eru , aqut»Ile pria-^
cípe que collocou o diadema dos reis sobre a fronte da morto, o
acelajnou rainha o cadáver de D. Igiie*, vai á cidade do Porto ,
depõe o bispu , e o castiga com suas próprias mãos. Este drama com
paginas de fogo, e escripto por um idealista , teve nma sigoíficftçii»
particular ao sabir á luz. Havia pouco que outro tt. Pedro dissd*'^
yèii os conventos, e abalara a úligarcbiâ monacal transviada ila
sua sagrada missão. Os poetas , os medianeiros enlre as lutas do espí-
rito e da matéria, sahiram a campo para suspenderem a torrente e
salvar a igreja ameaçada: foi prompto o armistício, e gloriosa a
vicloria, mas os homens que atiçaram as rop:ueiras do Rocio de
Lisboa e benzeram os baraços da forca do Porto e de todo o reino
não se contiverem; nào quizeram esperar pelo tempo, por essa
mesma autoridade que os havia enthronísado e proscripto , e que só
os poderia rehabilitar uma outra vez , mas debaixo d'aqliella lei que
diz: «O passado nunca se renova com as mesmas circum-
tancias. »
São palavras de Garret» senhores, escutemos o homem : < Wallec
Scott resuscitou a poesia dos tempos feudaes, e nos enthusiasmou por
ella: Lamartine ft*z-nos chorar sobre a ruina dos mosteiros; Victor
Hugo fez-nos carpir a soledade das nossas quasi abandonadas calhe-
draes. As artes do desenho acudiram ao reclamo da poesia e lhe
prestaram todos os seus prestígios. Fez -se uma grande revolução»
nos sentidos primeiro , depois nos sentimentos , depois nas opiniões.
O feudalismo,, que não inspirava seiíSo horror ao homem, do século
desanove, começou a excílnr-ihe a admiraç<ão ; o monachismo, que era
aborrecido e desprezado , obteve dó e compaixão. E até aqui a revor
lução era salutar : ganhava a tolerância, ganhava a moral, ganhava a
religião com cila ; porque em verdade o philosophismo do século
passado tinha derrancado tudo á Corça de corrigir e aperfeiçoar.
« A reacção, como ella se fez naturalmente , nos coraçOes e nos
ânimos, como a inspiraram os grandes poetas, grandes prophetas e
grandes missionários do século , era salutar e benéfica. Mas os
royopes e pygmeos da oligarchia , exagerando o elasterio verdadeiro»
quizeram leva-la onde não pôde ir, torcer-llie a direcç^Ko e gron-
gea-la em sórdido proveito de seus interesses.
ff Eis aqut como os Jesuitas queriam obscurantísar a França á
sombra de Chataaubrbnd , o immortal defensor da liberdade da
imprensa ; eis aqui como ali vinha a lei dos morgados , como ali
veio a lei dos sacrtiegioe e como ainda hoje , de novo , as preten-
çOes clericaes ^ por lá e por cá , por toda a parte vão levantando.
3í
k eatieçs qm ninguém diria seiíào que e^ta grente vem^
ffHhSf ou que sào m seíê dormentus da Grocia, qtití êt
^QTã e não sabom o qti© por cá fôí , neste ultínuj século wíbreliidi^J
« Oní, a reacçíio polilica e rdtginsa è unui s>ó, e * meifiia, é
outra ú mui diííerente th qiie etles querem ou sup^oem , os la«
senhores : liso de se ir desenganauilo. Mas emquajjto se não desençi*
num, molestam © falifíani 03 povos com suas tenlnti^jis , tle«mi>r!i-
tísam a sociodíide, alra^^am ã ciiriníâcâa, compromeltem a causa d»
religião e a da humanidade,
K E tudo isto , a maior parte d*islo pelo menos , fhemo-to nôs^
sem querer, com a paixão do gothico,
« A obra do espirito que se n5o confunda mm a corrupçSo ít
matéria !
» Bo meio d*esEe lodo do nlililarios e agimos enn qiH piinlja e
chafurda o curpo da ííocieríade * o pen^amenlo d'eUa lenile « chívar-s<í
a Deos, ao ideal da verdade e da formosura eterna, ao suhlirmt
do chrklianísmo. E* um faitto* nm íaclo inconlestavc!, O aliar
esxà mais seguro úú que nunea esteve ! mas m mm minisiros espe*
iam em vao loruar a devorar a gríHSura da terra ^ muito mm ainít
tornar a dom mar a ti^rra,
« E 05 que mah trabrtlhavam na reacç^ reli^icHia e poética , mais
obrigação tem agora dtf liro dizer, c de fazer sentir aos povtis
esUi verdade. Pbupar-se muita fadiga inútil , muita dt^sgraet, quem
sabe se muito sangue lambem?
d Quando ao dSabo desias grandes considerações e» concluir que
por isso vou p^iblicar um romance, uma novtilla » que dirSo
leves de cabeei* mais leves de língua ? Paiurknt montes, Poià (
«ma sandice t uma nccedad^ em poitugufíi mais vulgar, raasnào
Dieoos clássico , uma tolice.
fl Cora romances ecom versos fea Ghati^auhriand , Walltr SeoU#'
toz Lamarline, fe^ ScbÉlter, a (Iteram os nossos tamhefii , eisi twh-
víroetito reaccionário quo Itoje querem sophismar e graugear pat»
si os prosisias c íalculistaeda oligarchiíj*
« Com romances e com versos^ lho havemos de desfazer pots »
vilào artificio. »
O visconde de Almeida Garrei o- que mais ambicionou em sua
Yida foi o lugar de representante de Portugal no império do Brazil ^
e tal era a vontade que tinha de vér esta bella natureza^ e de abra-*
çar os seus mais Íntimos amigos do tempo da Universidade , que me
mostrou o começo de um romance brazilciro, no qual descrevia
muitas das nossas plantas pelo que havia observado na Madeira á
luz do sol , e em outros lugares, nas estufas dos jardins botânicos.
Era um homem de estatura mediana, de apparencia grave e
sympathica, e de uma physioDomia expressiva. A parte superior da;
sua cabeça era sublime , mas a inferior humanamente sensual ,
mormente a bocca ; Plutão e Anacreonte se poderiam encontrar
DOS seti£ traços physionomtcos. Tinha a voz sonora, forte e flexível
em todas as modulações ; a sua conversação era um teclado extcnsis^
simo que percorria desde as abstracrões philosopbicas até o brilho
do lyrismo , assim como passava d*este aos molejos graciosos, áquelles
epigrammas que sabe manejar lodo o homem altamente educado.
A sua palavra era animada por um nobre gesto, e seu trato o do
homem social ; lhano e simples com os amigos, cortez e aulico com
os grandes, reservado e artificiof^) com os desconhecidos, o jovial
e engraçado quando abria o coração. Nos seus variadíssimos escrip-
los se lé a flexibilidade de sua alma , mormente no que olle intitu-
lou. Viagem á minha terra.
Debaixo da pressão de uma almosphera carregada de prevenções^
subiu ao ministério. Poeta para os homens do positivo concreto,
homem das damas nos salões para os hypocritas, artista nas aca-
demias etheatros para os monges políticos, alma de joven para os
velhos a rtíficiaes , amigo da mocidade para os egoístas, parecia»
apezar de seus talentos oratórios nas cortes, um ente negativo para
tão alto magistério, para a gravidade composta da maioria dos ho-
mens que aspiram o mando, e que muitas vezes o conquistam por
certas c determinadas exteriorídades.
Subio mal agourado ^ mas sahio chorado de todos os s^eus subaU
40
ternos, e o que é mala atiidíi, de lado o corpo tliptoni:iiico , qua
tã¥8 n^ãqiielle enseja mais de umo ve£ da apreciar sua actividade,
ÊOrleiia, íirmezíi e nrgucia nos negócios públicos.
Choram pop elle ns letrns! e as boas aHes, g m homens que com*
prehenderam e avniinram suíi missão na reforma nuernria o scmií*^.
Obreiro do Senhor, ento prôíleslinado, morial imgíJo pelo nnj^i dajr
harmonias I erguen-se ro nniio do burborinho d© um sôcuIõ revotii-
ciDnario, enire o Iripudio e as PorrÈrias de uma óra aj^ooríjinto para
preencher seu mandate, e desceu á terra envoíio n*essa auretda trii-
mortíil que a inveja nlo pôde obscurecer, porqu» o luroulo é im-
peneEravel como a escuridão que o rodeia.
Tive a Toriuna de o conhecer e de o admirar pe^õalmenie, mil
nunoa soi^bei que Itie coubesse a desgraça de me ter par féu biogfi*
pho; suppra a amizade e o respeito a intelligencia qtiemefalleoe.
Foi victima das suas convicções e [íqt ollas sofTrea e
Je crois à <te$ temoln^ quJ k font égorger (1).
Como todos os grandes poetas, teve a sua aurora de õsperinfiSt
os seus dias do halaltia , uma vida dd agonias e algum^Lâ iioras d«
triumpbo.
Onofite raatLsinia poeta (f).
I
Deixemos o outro lado do Oceano» As epochas lencbrosíis dos
Barburini crepusc^ulam no passado diante dos deltigados Jo Ales-
aias: GuUemberg e Fuiton e^^tuo compíetandu a ubra do Evsngt^lhe.
No cemitério de S. Francisco de Piiula t^iá sepultado José Lino
de Moura, nrvtural do Sabará e nascido em iT7B. Seu pai, o tir,
José Caetano Rolim de Moura, o mandou educar conformo os
meios dos tempos coloniaes, e tties foram os seus progressos que em
Í788 foi empregado na casa descontos. Em ISUS, á cbegidt di h-
milia real , foi nomeado contador das armazéns da fazenda r^l ; e
(IJ Radne fik
(2} Dante.
hl
na creaçiTo do arsenal de marinha foi incumbido da organisaçâo da
contadoria geral; assim como na creaçâo do arsenal de guerra»
onde deu provas de sua perícia , melhodo e zelo no trabalho , pelo
que foi agraciado cm 18(0 com a ordem de Chrislo , e com a cir-
cumslancia singular de ser condecorado perante lodos os emprega-
dos, por assim o haver ordenado o príncipe regente.
D'aquella epocha só consta -me dous casos d'esta espécie de galar-
doar o mérito : o do nosso finado consócio e o padre José Maurício»
a quem o senhor dos dous mundos condecorou com a sua augusta
mão em plena corte.
Na creação da caixa da amortização foi ainda empregado como
contador, e nesse emprego se aposentou com honra ecomIouvor«
Na construcçdo do futuro ha homens que apparecem como mes-
tres» e outros como operários ; a grande perícia em uma especialidade
quando é acompanhada das virtudes da modéstia e da probidade i
serve de embaraço ao empregndo , porque o egoísmo dos superiores
o condemna á perpetua escuridão. Todo o empregado babil e modesto
è mais um sentido e um membro de seus chefos*
Ah! quantos nomes passam obscurjmente na historia da admt<^
nistração, que deveríam anJar em plena luz, e serem eternisados
na praça publica por padrões o^peciaes I O empregado zeloso e in-*
telligenleéa artería vital do ministério; elle cornge e harmonisa os
grandes planos com n medi In da experiência » com a pratica dos negó-
cios ; suspende calamidades publicas por meio de razoáveis demons-
trações; esmerílha o passado, e em cada dia recolhe uma somma
que no Om de annos representa um capiínl enprme ; estabelece a
ordem; dá credito ao governo ; torna a administração amada pela
justiça , presteza e urbanidade nos despachos ; identifica-se com o
serviço publico , e geme em todas as suas perturbações ; e á sombra
da sua probidade» da sua constância , repousa o Estado e a moral
publica .
Nâo baraléa a sua vida á frente de um exercito » não é excitado
pelo amor da gloria , pelas acciamações da fama ; mas deixa a es-
posa e os filhos no leito da morte pelo trabalho ; e elle mesmo ar-
ftS
dendo em fobrc , mal podendo sost6r-se , arrasia-se até o idlanio
da repartição, caminha porque a honra o chama, porque o dever
o impello, purqtio o so!i superior e o seu inferior descansam neUe,
o assim devora uma existciicia cara no silencio e na meia luz.
A esla nobre ínnilia do sfími-proscriptos pertenceu o nosso finado
collega 9 de ((uein os íundailores doesta associarão ainda conservam a
mais grata mtMUoria.
Obreiro incansável , desinteressado, trabalhou largos annos pan
ê prosperidade da Sociedade Auxiliadora , e p^tra a croaçâo do Ins*
tituto (iisiorico , de (piem foi o seu primeiro thesoureiro, e abona-
dor nas mais criticas circumstancias. O instituto vivia enlào só-
Diente de seus mesi]uinhos recursos ; ainda nào tinha a immediata
protecção imperial, nem a dos outros poderes do Estado; ainda
não sonhava esta éra de um esplendor augusto , que o toma á face
do mundo intelligente a mais nobre de todas as associações lillerarias.
Quando em t838 fundamos o Instituto, faziamos nossas sessõei
em uma sala baixa, escura esem forro, despida de moveis e de lodo
o necessário ; mas no meio d'esta pobreza tinhamos o coração ardente
dos fundadores: as nossas sessões eram numerosas, e os nossos
irabaihoso que mostra a Revista. José Lino de Moura aJi se via a
animar os operariO) do novo edifício ea estudar e promovef os recur-
sos materiaes f)ara o progre.^so do Instituto ; a sua bolsa eslava sem-
pre aberta, e nunca nos kz esperar por uma impra<isão qualquer.
Tenho saudades, meus nobres col legas, d*aquelles vardes respei-
táveis, d*aquelles velhos que, por amor da pátria , se privavam do
descanso e de seus conchegos nas horas do repouso. Como eram ale-
gres e bonda dosas aquellas faces venerandas do visconde de S. Leo-
poldo, do sonego Januário, de Rodrigo Pontes, de Aureliano, c
como ellas se harmonisavam com a gravidade melancólica das dog
nossos beneméritos finados José Silvestre Rebello, Thomé Maria da
Fonseca , José Lino de IMoura e o conselheiro José António Lisboúl
Recordemos de vez em quando estes nomes sagrados para o Instituto,
aíim do que os modernos e os estranhos os respeitem como nós , e
•98im venerem os primeiros lidadores que combatteram os madra^ ,
19
•s ajpostolos do regreíBú » os defensores da inércia > capeada pela du-
vida, com esto exemplo laminoso e triumphantel
A maior parte dos thesouros accumulados nos 17 volumes da
nossa Revista seria perdida, si o espirito de adiamento tivesse
prevalecido no animo dos fundadores do Instituto. Os homens que
esperam pelo tempo esperam pela morte.
Para nós todos o trabalho náo é pena , nem uma alavanca merce«
naria; porque o consideramos como um dever sagrado, como um
tributo exigido pela pátria , e como um meio honroso de bem ni^re-
eer do Imperador e dos Brazileiros.
Os individues que se encarregam por delegaçSo de um poder»
ou espontaneamente de organisar qualquer cousa , s&o os que mais
abençoam os homens da tempera e qualidades do nosso finado con-
sócio: constantes e prestativos, laboriosos e modestos, só desejam
as cousas sem se importarem com vaidosas exterioridades, prose-
guem alegremente, e saboream os fructos de sua cooperação. Se-
jam elles sempre bemditos, para castigo dos que professam a reli-
gião da inércia, e se abraçam com essa força poderosa, que desloca
todo o poderio, e toda a fé dos corações generosos.
Na idade das illusOes, tendo em perspectiva uma carreira bri-»
Ihante ; moço, cheio de viço e esperança , havendo percorrido ji os
mais altos gráos na jerarchia social , falleceu inesperadamente o
nosso amável consócio João Duarte Lisboa Serra , doutor em mathe-
roaticas pela Universidade de Coimbra, deputado pelo Maranhão &
assembléa geral legislativa, ex-thesoureíro geral do thesouro nacio-
nal , presidente do Banco do Brazil , e do conselho de Sua Magestade^
Homem generoso, nunca apertou os cordões da bolsa ao necessi-
tado: soccorreu os seus patrícios na terra estranha, amporou-oa na
pátria, promoveu industrias, ajudou o trabalho, e ameigou a iih
ielligencia. Poqta sentencioso , empregou a sua musa em anumptos
dignos, c rooralisou com ella.
Si me abstenho de continuar a bllar-vos doesse nosao constante
(;pmpanheiro, é porque em breve tereis sobre elle trabalho roais
completo : a amizade ^ a gratidão e o dever preencberio mais digna*
vmi 8CP, 7
filante o sau etúgia , do que o mmo optlor , miirm^Dle <futn^ a
luz Jo engenho o de uma curada cultura adoraaoi o fôp&rit^ da
seu futuro biograplia»
Di£ia-me o immortuL Gnrret (\ue o Bni£ÍI , do pusso ijiie ganbm
em politica coni a independência, perddra em tiílcriítura, ponjoei
independência arranc;ira do gabineta de estudo muitos dossuuscont*
panlieirckS de Coimbra, que elfe congiderava como tilemos de pri-
meira plana, e liomens capo3^es de crear uma c;pocha noiavsl ko
reinado do espirito, AfTIrmava com um sincero cnihttsiasniõ c|ii«
estes iiomens eram da boa tempera dos creadore:» , e que af^uus
subiam as alturas do engenbo* Enlre elles di&linguta lni& gniidei
laUnisbSt capa?.);^ de discorrer em qualfjuer academia ImoA
fobre a tingua de Cícero e de Virgílio: um doestes latinistas ^la
aqui senlado na cadeira presidenciíil doeste Instituto; outro e^ti em
Paris, e é o interprete de Virgílio; o terceiro está na terra da ver-
dade » o se chama entre os humanos Manoel Alves Braaco*
A um moço talentoso I esiTÍptor publico, íez g^çio nosso be-
nemérito coiisocio com um aponUimento biographico sobfB a £ua
vida [)oUliea, e é d'usso autographo que eu pa^^s^irei a dir-voâtein
primeiro lugar, um traslado fiet, reservando sdmeaie deu$ pontos
que a conveniência social me obriga a passar por alto: asgratides
verdades quando nao editlcam devem ser clausuradas alò tjue a \m*
terídade as expooba a uma luz íructiiicadora , porjue a verdada
pode ser oííensiva e ale destruidora si é lançada e!i tempo raoea #
deslocadamcnte. O morto é quem fulla, esculemo-lo comre^to
o acatamento;
c Manoel Alves Rraiico, lilbo do negociante da Bahij Jo£o Al-
ves Branco » e D* Anna Joaquina de S* Silvestre, nasceu eni 7 i
Junho de ÍTJl ; e depois do prv prado nas escolas da Bahia i
primeiras letras , Utmi , franca , Jogiea e rhetorica , partiu para a
Universidade do Coimbra no anno de 1815.
tt £m Coimbra frequentou o curso completo de scienciaa natu-*
racs; por ires unnoso curso acccssorio de siienríus uiath«f]iaitc«$«
de quo openas deixou de estudar as matérias do 4:** amiOi que so
61
limitavam á ajUromomia ; matriculou-sa em direito , do que com-
pletou o curso em 1823.
« Retirou-se para Lishon, e d'aht para sua patri.i em 1824,
onda chegou pouca depois da retirada das tropas do general Ma-
deira.
c Yeiu ao Rio de Janeiro nesse mesmo anno, & foi despichado
}UÍ2 do crime da cidade da Rabia , onde serviu pouco mais de Ires
annos , e foi despachada juis de fora da villa de Santo Amaro ,
d'ondd depois de servir pouco mais de um anno voltou para a corte
por ter sido despachado juiz de fora d'ella , e por ter sido deputado
i legislatura que prioeipioa em 1830, na qual foi< reputado membro
do partido liberai , ainda que de opinião independente.
« Nesse anno foi encarregado pela camará de redigir o primeiro
código da processo por jurados que teve o império; e que passou em
1831 , a ainda rege com as modiGoações da lei de 3 de Dezembro
da 18(1,. que alterou profundamente, ou antes aniquilou aquelle
systema de julgar , e foi a causa da revolta de Minas e S. Paulo ,
pon .. ^ ... ^ ......* .,
« No anno de 1831 apresentou diversos projectos sobre o^poder
judiciário, e um sobre o ^ystema eleitoral, foi o. primeiro que se
lembrou das incompatibilidades dos juizes e oiUros empregados, para
o exercício do poder legislativo em harmonia, com. os preceitos da
constituição, que vedaa confusão dos poderes, e^^Uabelececomo base
essencial do S}'stema constitucional sua divisão e indepeadencia. . .
nssignou n'essa epocha, com a deputado philosophoda^ua provin-
cia, a proposta da liberdade completa de consciência e. federação
monarchica , que náo passou por parecer muito Nberal , mas que
teve o mesmo destino que a outra , pois foi envolvida, no acto addi-
cional de 1833, que estabeleceu administrações em a^sembléas pre-
vinciaes, debaixo da tutella da assembléa geral., e dos presidentes
de província de exclusiva e arbitraria nomeação da corte, as qoaes
ainda hoje continuam a existir nominalmente , pois que todo o podar
Ib^s (oi tiradp pelo acto annullotorio, a, que se- cbamoa ioter|^Qr
62
lalivo da camará da assembléa geral
« Em ÍSS2 foi A]v€s Branca cliarnaJono ibesoura, dmth-
Q lagar áe contador geral membro do iribunal, a âceilou porque x^úq
esiudús mathom^iticoâ e dô direito , ciilendeu que devia dir-se ati
imporuinLe ramo deadralnislraçao que nosEslados livres niab octu-
pam a altençào, e é do maior iaHuencia para o bani da sociedade é
sua grundc^; fazendo logo noBse mesmo anno diversos reguhoieoJKi
ÚQ canlabilidadei e m primeiras instruci-^es pam a eacríplfifiçio
por partidas dobradas, que teva o império, onde su no ihesimrú e
íia Bahia se appUcava esse systoma com iniiitas tmperfoi^ o
irregularidades.
4t Foi doesse logar cEiamado para o minkterío da jusiiçt d dos «s^
trangeiros , em os quaes props diversos mel bora mentas, e as^ígnou
com Mr. Fox a convengáo pra reforçar os meios de reprimira tr>-
iico que tí assembléa.*.. não approvou , dando logar aos insultos qu#
uUimamente soíTrumaSf e talvez aindo solíramoâ; e quando sâhm
d*esse ministério, por poquonas deslnlslligencias eom o regente Fri*
.}ò t e moksib , foi â sua provi noia ^ d onde veio efeito senador, e
foi nomeado pelo mesmo ugmiò em Julbo de tS3T, esiand<i do
mínislerio da fazenda o do íniperío por nomeaçào do mesmo regente.
de que se retirou pela retira Ja do mesmo regente
recusando absolutamente ficar com a regência do império , eoiiNl
ministro do império que era ^ não obstante as instancias do men^^l
SE. Feijó ^ por lhe parecer indiano de um homem de bem sem^
com os inimigos lidagaes de um homem de quem era ami^^o.
« Voltou ao ministério da fazenda por nomeaç-ão do rCfgeitto
Araiiio Lima ^ boje visconile do Olinda » e nesso miitislerio fex o
dccrt^o do 20 útí Fevereiro de 1840 ^ que introduziu ã conta birtfJadft
franceza no thesouro , creando o ^ystema de contas por fseicicto
nnico, pelo qual se pode bem reíilisaf a responsabilidade cia admi^
nistraçSo no s^siema representativo « o qual quando ainda que tnaf
«taruiadu pclíi ignoraitcia dos agentes o empregados da admintstni-
ção aindu boje e^sle, porque tienbtiin ministerto dfida dufidoii
i
5»
da sua utilidade , já muito demonstrada pela ordem e clare^ què
vai estabelecendo no thesouro e thesourarias, onde antigamente os
balangos não diziam , e eram a confusão e o cbáos.
« Sabiu d'esse ministério em Maio de 1840 por desintelligencia
com membros influentes da maioria, mas voltou ao ministério da
fazenda em 2 de Fevereiro de 1844, por nomeação de S. H. o
Imperador 5 em o qual lutou com a grande e diíBcil epoeha, me^
Ihorando muitos regulamentos de arrecadação de rendas , dimi-^
minuindo os direitos, e melhorando o systema de cobrança de an-**
coragem, e fazendo a tarifa ds 1844, que ainda hoje existe, e
que ó o manancial indisputável da renda que actualmente apresente
o império, embora sabisse , e na sua volta cahisse moroentaneamento
em consequência do grande cataclysmo revolucionário da França
e da Europa em 1848, pois immediatamente levantou-se , e mar-
cha triumphante, ao que nSo assistiu por sabir outra vez do mi-
nistério pura curar-se de uma moléstia que ainda boje lhe dura ,
e que na epoclia inteiramente o impossibilitava de servir,
« Nos diversos ministérios que sérvio fez propostas de bancos »
de um tribunal de contas, de reformas de thesouro , que não pôde
levar avante ; e como deputado e senador tem sido sempre empre-
grdo nas commissões mais importantes , á excepção dos três annos
anteriores por graça dos seus inimigos, que não podem deixar de
ser inimigos do bem do império. »
Si exceptuarmos as ultimas palavras d'esta fé de oflicio , la-
vrada pelo próprio punho de tão alto funccionnrio , veremos no seu
todo resumbrar aquella recusa , aquulle laconismo do homem probo,
que alira á luz os factos da sua vida publica , sem temor , e de uma
maneira victoriosa.
O magistrado , o legislador , o economista e o ministro não eram
mais que a parte ostensiva e laboriosa d'esle grande Brazileiro ; ho-
mem encyclopedico , estudante incansável , alma harmoniosa , - que
possuia o estro e a arithmetica, e o dom de contemplar e ler
•s mjsterios da creaçào; artista e geometra, poeta e estadista^
54
llieolago 0 naluralisU , cabe*;^ pensanlo , ihiali JaJe poicrosa » Ma
aLrnçava c|uaiíjuer grupo da liaitireta com a mesma foffa e sere*
mãsátà como fxainitiava aâ labellas pauliJas fjuo comprovam q mo-
tivo do fluxo 6 refluxo das rendas mciooa^.
O cmiro de toda a orbita da sua viJa pubHca foi a probidade:
imrautavel e forie con^o ella, exoneraJo dos dons da sapísnda,
con&ervou-Sô ntsssa atmosphera sagrachi e incorruplivel em que mor-
reu; como o nobre Marlíjn Francisco» o d^^iiíunico social da iJid^j
Quando o desgraçado ti rio, do fundo ih sua prisio , impelnva »
piedâdo dos juizas, desculpamio sous erros |Hjta obediancia qu»
tivera eníi emprestar os dinheiros públicos a algum de seu^ superíoceí,
Alves Branco foi o prkneiro que proieslou em publico cootra sai
ihante suggesiao, putverisou-a, começando por st a râhabilítâieiél
dô seus nobrds ooliegai , porque a sua honrs era o ^eu maior rjklxwl
dal, o seu esmido, &a base de lodos os seuií uiumpbos e çonquít
las« Por t^lla e por sua iiuelligencia se havia tornado tim bomea
necessário na admiolsiraçio publioa » o um cidadão respeitada do
Iodas as jerarcluas socíaes.
Ministro da fa?.endx} e do império na regência de Feijó « rcaunci^
como esle o mais alto higar a que pôde atliitgir o eidadlo!
Na regcncia que succedeu^ passada a natural temporada áaspô-*
presaliasi é de novo chamado á administraçíiodas llníiiifts; pro*
rompe a maioridade » e o soberano o cliama para eompleur a obra^Ja
reforma administrativa Jas nos-^a^i (in:in(;a5, A sua constaiite appirt*.
ç^o no poder em cpochas láo diversas q de sen li mentos e interoscs
tio opposlos, prova que eite não era iiind*osses Hemnom politícoii.
quem a camaradagem ou o íavor pnpular erguem tcmporaríaitiâtili
para perecerem no primeiro recontro. Combateu com os Ufysses i
não foi vencido; justou com toda a sorte de Protéos esatnu triutii*
pbante; a probidade ó uma eterna espada dêBrcnnoem todas âs.
lutas de interesses pessoais.
Eu o vi rasgar um decreto porque se lhe provara sua injusUç^ ç
cu o \i conslernadissimo por mio poder reparar a demissão do bcoi-i
55
mérito José Joaquim da Rocha ; a nossa diplomacia tinha entao uma
espécie de Saul , vertiginoso , um rei occulto , para quem os psal-
mos da verdade e as harmonias da luz eram o principio de sua
irritabilidade e inconsciência. Esta espécie de vampiVos fotacs a
todos os governos , vive enconchada a queixar-se quotidianamente ;
mas sua alma cruza os mares nos paquetes , vôa com a malaposta ,
e, sem ser vista de ninguém , fere como o raio nos dias da prima-
vera , nas horas da esperança.
Foi nobre a sua existência, foi admiravelmente exemplar, porque
venceu as lutas da pobreza em alta posição , e satisfez dignamente as
suas necessidades; foi nobre porque os exemplos da corrupção trium-
phante nunca o abalaram do pedestal em que se Grmára. Os dardos
de seus inimigos o nào feriram , resvalavam como a setta de junco
n'um broquel de aço polido.
Os homens da sua tempera são como os que na antiguidade fa-
bulosa penetravam a caverna de Protão , para arrancar do advinho
dormente os segredos do futuro. Era precisa a luta , era preciso acor-
da-lo por meio de torturas, era preciso esgana-lo fortemente: duas
pelejas se travavam , uma temporal , e a outra permanente. O adi-
vinho, estorcendo-se de mil modos, tomando aspectos diversos,
lutava até voltar á forma humana, á verdade do que era, para
entào despertar , predizer o futuro , e confessar a verdade.
E quem é esse Protéo , srs. , que luta com o homem abalisado , e
toma a forma da serpente , da águia , da prostituta , e da onça trai-
çoeira? NSo será o homem invejoso ou ambicioso na sucressão dos
tempos e dos acontecimentos? Nâo será elle também esse demónio
popular, o demo de Parrhnsio, o conjuncto de todas as paixões
terrenas contra o homem do bem, contra o talento, contra essas
forças que o abatem, e essas verdades que o forçam a proclamar suas
virtudes, a transmitti-las á posteridade, ao animado império do
futuro?
Certamente que sim ; os resultados públicos de seus trabalhos, dos
seus planos e do seu patriotismo o levaram do juiz a deputado , a
senador, a ministro, a conselheiro do estado, c ao titulo de vis-
conde de Caravellas.
56
Eu vos disse» srs» , que o compafjhtiro de Garrei era di tàmUk
dos poetas; dos poetas, sim» e nâo dos vorsifieadores ininj$Qdi , íjuô
o povo ou a myopia confuiitio para aniquilar os fjJhosdocéo. Co-
roarei o visconde de Caravellas com as flòf es da primavera que rili
cantou , e indemnisarei o vosso tempo perdido em me ouvir com m
harmonias brilhantes da sua ode a liberdade ^ no ni^mo mm «
lugar em que a cantara Garrett e onda ello conjuncUmenie co*
Iheii as palmas immortaes dos triuinphos do sua musa grandíloa
6 sonora.
O poeta e$là defronto do penedo da Saudade, em Coimtrj ; a
réo oflá puro e perfumado, e os rouxinoes gorgeiam melodias*
« Primavera gentil, elhorco mimo^
« IX) seio des&a nuvem resplendent*?
«Ao iadf) dii harmonia baixa á terra,
it Wiil que ãpontãiiiie , ubu troaram flores
tí MU variadas em matiz, em chf?irc».
ií Com leu ai mo calor atfcrvorada
« Bcsiirge do lethargo a natureza,
« E vem beber nas Tírac^ões a vida.
« Amor as brancas azas desferindo ,
« D^mio franjadas incansável vOa
II Feto manso, azulado firmamento ?
M No templo omnipotente do universo
íi Iimocciítcs mjsiej ios solemnisa*
E nesle cantar, dando pnsto aú corarão e âmmie^ defpi^ndt
sua alma , vòa polo Mondego , atravessa os valles , eolh« as Mrm
dos vergéis e as honinas dos campos , deslisa [lelas messes qua oa-
deiam como o Oceano; vòa mais longe, pa?sa 6 Grecís, poitsa no
lumulo de Heitor, evoca as cinzas, e chora o seu dfisterro volutt-
tario, e diz:
M Aqui tudo me traça os patríoi campos 1
A sua lyra se afina agora pelos sons de Píndaro. Para canlar i
liberdade procura a solidão ; vai senta r-se nos desertos onda o Aratm
errante, a despeito do Antonino o de Trajano, conser\'OU t li-
Lurdade:
i Penhor do santo do^ma da igualdade.
?7
A liberdade doura as trevas do ermo, traz os emblemas de As-
tréa; a seu seio desce do céo uma cadêa, cujo primeiro fuzil é
Zeno 9 e após elle Licurgo , Catão , Séneca , Trazéas e Peto. Admira
a singeleza do seu templo ^ não vé em seus átrios respirar a moUeza
effeminada do Oriente. Contempla as phalanges de leões do Cáucaso
descendo sobre a Grécia , vé Dário , vê Milciades em Marathona.
Passa para Roma, contempla o terreno dos semi-deoses e dos mons-
tros ; vé a natureza extremar-se em Bruto , abater-se em Nero, e
remontar em Aurélio. Evoca a cidade dos Césares 5 interroga-a,
e diz :
« Ob I Roma ! alta prínceza das cidades ,
« Dormitas? Onde os teus antigos brios?
« Eia , acorda 1 eia , arranca denodada
« A mascara fagueira dessas bydi*as
« Que famulentas em teu sangue iliustre
o Anhelam sadar pérfidas garras 1
« Não tens a liberdade em teu amparo ?
« Ah I que á cobiça franqueaste o peito.
« Contemplai povos livres no cadáver
« Da soberana de um milbão de impérios....
« Chorai sobre estas ruinas magcstosas l
« Aqui foi Roma , oh povos !
tf A mudez dos scpulchros ,
« Onde o veco troou tremendo impera,
a Será que mais horror a terra opprime?
« Que lúgubre alarido
« Nos antárcticos gelos longe echôa?
« O ar se entenebrece; arqueja a terra;
« £nsanguentam-se os astros;
« Redobrados trovões stallam teterrimos!
a Travam combate horrisono com as penhas
« Enfurecidos mares ; ronca rouco
« Da tempestade o génio pavoroso*
« Por amplo hiato
a Feias harpias
« O inferno aborta
€ Entre ondas de espessimos vaporesé
« Tantos grãos não revolve
a No stn bojo o Oceano ! !
« Co'as estridentes, rebatidas azas,
« Vem sulcando cahoticos negrumes !
kvm svpPé A
« Tu as si^nllsie , Europa;
u Tu grmCíiíe nas irevas eíircdada,
« A ftaiiia liberdade es(>a\Qri4a
9 Desampara teu grémio ;
u Arvora O Tcrreo scepiro a tyraotiiii í, .-
H Ai de ti miser atida 1 qnantos sccubs
*f JH^ndcm de horrores 1 Aí que íí toclia ct«iiia
« Da razão tenta embalde alkiitdar-le,
« l^or aqui, por ali trepasculavam
« J)c espúiço a espaço dia^ m)tai;ro!ias
« Abafados em sangue, mat nacídoal. • ^
« Já quasi íftiecía o santo tu me
tí Eis que avulía rm vigor , e BÚnm m orb*» ,
c I-:* fauia , qun de lobrega cspetuiíeji
M TroíJU pcív^da vo^ : — Njuios vonddos ;
« ¥tí%i úli filhos 5 o Udmem cnnbcceu-se. n
Basta por agora*
O vis€onde de Caravellas linha na íronto e no olhar u lume <ft
jntelligenciã ; a vôk sonora e grave, e a eónversaçSõ admírai-e).
Morreu pensando no imperador e no Era%il> Homem pn>gre$sÍTO»
augmenloa scmpro de dia em dia íi sua maneira de st?r paio asiudo,
0 marcou a ex tensão da sua personalidade no paÍ2 com os slgnae»
de, sua íntelligencia o probtdadQ*
Nõ dia 13 de Itilha descansou dquella poderosa realidade , oquelfe
homem que soube dar luslre á pobreza^ e i;fevâç4o á modéstia.
V Nasci pobre , dizia elle , c pubre morrerei ; mas nasci na me-
diania social, o fui elevado ao fastígio das pesiçOes pela magna-
nimidade de um príncipe qtie não pergunta pelos atòs dos servídoret
do £.^tado. u
Todos nós , meus srs. , costumamos ei^uer no forsção um im^
nymento àquelles que veneramos pefo amor , pela amizadn e pdb
ram. No monumento qtto lhe ergueu a tninlia gratidão ittá gr»-
\ida esta inscríp^ao:
o aujo das vírludf^ fjficiis
ijjrõe a memoria perdoravc^l
Do cidadão
lilanoel Alws Branco*
59
A imreza de saa alma ,
A pratica de sua Tida publica ,
Os dons celestes da intelligencia
Deram nelle um lustre e?iterno
Ao suggesto da Justiça «
Ao voto do coDselheiro ,
Aos actos do mloistro ,
E ao tbrono do legislador.
Homem incorrupti?el :
Não fortificou o rico contra o pobre.
Não tolerou a prevarijcaçâo ,
Nem cedeu a justiça
Ao ouro e ao egoismo.
Não gangrenou por interesse ou an\biçlo
* O futuro da pátria;
pobre, modesto e parco ,
Foi grande e renerado
Pelos dotes do entendimento ,
P^a nobreza do coração,
Os mãos o detestavam*
A pptrU do vÍ3conde de Cayrú » além da perda do seu iUho b^Q^
çierito y o visconde de Caravellas , lamenta ainda duas grandes per-
das: a do visconde da Pedra Bfanpa e da dp conselheiro Rodrigo
fontes.
O visconde da Pedra Branca « o amável ppeta das sra^. BrazU
leiras y depois de haver completado as suas humanidades na Bahia ,
foi para Portugal, onde tomou na Universidade, de Goimbra.o gráo
de doutor em direito , e fez alguns estudos n^. faculdade, de phi-
losophia para os applicar á agricultura. Herdeiro d^ uma grande
fortuna, que soube cQn3ervar, viveu em Lisboa ppr algMm teropp
cultivando as musas, e em companhia d*aquella plêiada de poetau
que contava em seu numero Bocage^ Nicoláo Tolenlino e José Agos-
tinho de Macedo.
Amigo de Hippoljto , do redactor do Correio Brazilien$e , e
do laborioso Filinto Elysio, e comparticipante das idéas fran-
çezas, soflreu pela liberdade da sua pátria, eató.foi encarcerado.
Deputado ás cartes portuguezas , erótico por natureza , e amiga
de uma lisongeira nomeada , advogou a liberdade politica das mu-
Ijieres» mas os seus amáveis esforços naufragaram ooo^o as teo^ae-
60
livas dos discípulos de S* Simão ^ eas das reuniões promof idis fiefa
dufjucza de Abraíiles posleriorraenie : o século nlo qmt abdicar
unia parle da sua míisctilintdsidâ, e as amazonas porlamaiitâros
voltaram ás almofadas e bastido rea.
Nomeado represstilante do Bfm\ em França, leve d# kiUf fàm
o seu reconbecimenlo , que im pi icí lamente envolvia o do noto im-
pério. Foi em Paris e durante a sua missão que deuá Iu2 dous
tomos de Poesias offerecidas ás senhoras òrazUeiras par um
^ahiana.
Eleito senador do império , na fundado do respeitável araopigd
brasileiro, poucas vezes velo ao senado ; os seus hábitos âiiropaos,
€ o amor qne tinlia ás vbgeos o dãmoraram por longos annos
fora da pátria,
A velhice b as enfermidades o fizeram regressar : o calor íoter-
Iropica! é conservador para os velhos valetudinários- Fallecmi estó
^nno oiberio da estima geral » porque o seu luimor alogre e picanle
nuuca feneceu.
Como poeta pertencia á escola clássica , mas o seu género fa-
vorito , o da sua natureza crolira , o impedia de elevar-so aos arro-
jos varonis das musas inilammadDs; purista e suave metrificador go-
zará por muito lempo de boa nomeada. Peza-me o Dão iet lido
aié hoje a sua ultima obra — 0$ (umulõs.
Alguns escriptos deveria ter deixado, porque fora laborioso «
porém é lai ainda o estado de nossas cousas a respeito d*esui ma-
nteria, que de nada snbemospelo momento. A impren^i diária ainda
^ao preenche a sua boa missão cívilisadora : quando a mão da ami'
«ide, ou do parente não traça o passado de um morto IllustiVp o
jornalismo n5o o estampa , porque a irnprofisa ainda não esii ni sq
plana utilitária p ainda se náo libertou do fardo matertat quo
limita a trabalhar para viver indi^ pendeu te. Estão longe ainda m
seus dias soberanos, os seus dias edificantes, porque a orbita da
nossa esphera social está ainda limitada , e muito limitada.
Entre as nossas calamidades domesticas^ devemos lamentar a perda
do muito iirudito o prcsta/ite sócio, o conselheiro Eiedrigo de Souxt
61
da Silva Pontes, desembargador da relação do Maranhão, e minisiro
plenipotenciário junto ao governo da Confederação Argentina.
As paginas da nossa Revista Trimensal faliam mais alto do que a
minha fraca voz sobre a capacidade e zelo doeste Brazileiro tão notável
pela sua illustraçflo, caractere probidade.
O seu elogio vos será lido em outra occasiào pelo nosso vice-presi-
dente o Sr. Dr. Manoel Ferreira Lagos, e espero que o Instituto lu-
crará n'esta substituição , assim como a memoria d'aquelle preclaro
Brazileiro bem digna de semelhante encomiasta.
No dia em que desceu á terra o corpo que encerrou a intelligencia
ea probidade do visconde de Caraveilas, viu-seem pé, junto á sepul-
tura do nobre cidadão e no meio da multidão consternada, Aureliano
de Souza o Oliveira Coutinho, dominando as turbas pela magestade
da sua presença, pelo seu aspecto robusto, calmo e prognosticador de
uma longa vida. No dia 25 do Outubro já não existia ! Já não vivia
aquelle homem que durante 23 annos, quer no poder , ou fora
d*elle , ocGupou a attençâo publica por seus actos e sua moderação.
O irmão de Saturnino de Souza e Oliveira nasceu a 21 de Julho
de 1800, e foi baplisado na freguezia do Ilaipú. Seu pai, o coronel
de engenheiros Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho , cora o
exemplo das muitas obras publicas que construiu, plantou no coração
do filho o gosto de edificar, e ó esse espirito creador que tão notável
tornou o nosso benemérito consócio nas épocas mais criticas da nossa
vida social.
■ Criado no seio de uma natureza virgem, quando seu pai construía
a estrada velha da Serra da Estrella, dado ao livre exercício do corpo
e velado pela intelligencia o amor de seus pais, adquirioaquella
constituição pliysica cujas proporções o tornavam saliente e admi-
rado.
Na idade dos estudos maiores entrou para o seminário de S. José,
que era então o coUegio mais regular e mais apto ao desenvolvimento
das boas inlellígencias. Ahi passou por um estudante de primeira
plana e por um joven modelo, taes eram os dons do seu espirito , as
graças exteriores, e a am3nidade do seu caracter. Matriculou-se na
02
méeniia nillílar , onde foi s<3mpro premiado ; porém a &m vociçái
nSo em aqiitília.
El-rei D. João VI íitiereiítlõ mais posUiTumenle premítr os i
vús Jo mu pni , e o bel lo cxempb de sua probldadô nos Irshilho^
colosaatís dtí qyo o encarre;|ára, perfiUiotJ Aiirellano, eomo ô liiiriâ
feito a muitos outros Bros^ileiro^t e o nkindou para Coimbrã era St
à^ Jullio de tS20, com a coridíçSo expressa de esluilar a* sâmési
níituraes.
Um raio do liime da Divina Providencia s^llitmioii Aarefianô ni
universidade» Deixou o império de Linneo e dô BuíTcin ptilo éô Mon-
IcsEjuieu e Boccariâ. Eitudoii as seioncia?! jurídicas e stMSÍieS- Ho*
ni{jni n^^cido paro o mundo para n*4ílle dignamenle appar^ôeâr*
presentiuquoa pJjJÍosophia o conderanaria a esse osíracismo singular
a que foram antes e depoií d'elb condamn^duis i5o altas ô táo Mhi
intelligencias. As na^úes qtie medem o FuíiirD a vara e coíido ns-
pellem os na t uni listas; os modestos contetnpladpres das obras dl
natureza não engrandecem as doutrinas do fanqueírismo nem res»
peitam seu aícorSo.
O lempo comprovou a etaccSo das vistas do nosso consoeia #
muito mais o resultado dd i^D alia protecção. Os executores dis or-
dens do el-rei resumirão â suo grai;^ ent uma mozada de IO|}OWp^^B
a qual foi lacilamenle desprezado pelo coronel Aurélia no, Ostntbi^l
lhos que dirigira com tanto acerto e probidade na furlaleía de SanW
Cruz, na Serra da E^trella e no eucanamantoda Carioca, dôviam-lH*?
conquistar bem altos inimi^j^os em uma época do orgullio d tk
indiíjencia*
Formado em direito, voltou o nosso consócio nm 18:^5, 0 logo foi
despodiadojuíz tle fora a ouvidor para S. João d*£t-Hei* Em Mina*
acabou a sua magistratura como a lia via começado. Ao despedir-se
de todos^ refere o seu piedoso biographo (*), seiscentos eidâdâos dos
. jnais conspícuos Ihi; cnlregnram por eseripto um testemunho de sua
gratidão e saudade no qual se liam csias palavras memoráveis:
(•) No Jitrmi fio Cítmmírriú,
68
a Ide coberto de bênçãos, homem probo e leal ; a pureza de rossa
consciência grangeou-vos um titulo glorioso; bem sabeis que vos cha-
mais aqui o juiz recto. »
Homem de natureza activa, progressista, porém Tora da grande
alçada administrativa, não podia actuar directamente um desenvol-
vimento nas cousas da provincia ; mas fnzia-o pesando a sua
influencia popular e official na balança de todos os melhoramentos.
A instrucçâo era animada no acolhimento benigno que fazia a todos
os professores e moços talentosos , e o progresso material nas conver-
sas que fazia com o governador. Tentou a creação de uma bibliotheca;
procurou melhorar as vias de communicaçâo ; arrecadou sommas
enormes que se julgavam perdidas; porém aquella época era ainda
iropropicia para o cultivo dos dons da paz. A politica individual re-
volvia e agitava todos os ânimos cubiçosos.
Nomeado presidente de S. Paulo em 1830, nada pôde fazer do
que intentara. A sedição que occasionou a abdicação do fundador do
Império tinha lá grandes raízes; e a sua presidência não foi mais do
que um acto provisório, e uma lula entre o dever e as cir-
cumstancias.
Chegado ao Rio de Janeiro, occupou logo o lugar de juiz de or-
phàos, e pouco depois o de intendente geral ^a policia e o de
desembargador da relação da corte.
Chamado pela regência, em 1832, ao ministério da justiça, tor-
nouse um homem necessário ao governo, porque naquella época ,
durante quatro annos , occupou successivamente dífferentes
pastas.
Todas as lutas erguidas entre o dever ostensivo e a moral de sua
posição, entre um programma politico, firmado pelas circumstancias
e a lógica , a razão fria, elle soíTreu. Trabalhando de industria no
meio de tantos desencontros, de tantos arrojos, quantos ersm os in-
teresses movediços, teve a gloria de vencer. A causa principal de
todos os agitadores era puramente material ; a energia prevaleceu á
argúcia ; o lide Julho e o 7 de Outubro não tinham significação
profunda ; eram desregramentos de uma anarchia parcial ; ^ra a li-
benlãd^^ com o barrete dos galés, eram o& preludias ãú unm tyrsnníi
sonhada por alguus súphisías que so viara ordem nu seu eommimhia
predomínio,
O Btmi n'aque1k decnda, apegar de linver Ormado su« indêpeo^
dancia , e do haver entrado etn todjs as tnnovaçôes do systfimâ
conslitucionalj Mo esUiva preparado para o exercício das vírlude» d-
\'icás que sàa a alma desgovernos livres. !<o seu pnssado se tuiTti
balituado a ver as honras e as dignidades, os poslos e a influencb
virem do príncipe ; a ver no rei a lei viva, no Edatgo o cidflJào, «
no va^allo o escravo possuidor de outros escravos,
A regência destiluida d*osie presligio, d*esla mageslade consagridii
pelos tempos^ era um exemplo que favorecia toda sorte de ambi^^€«i
mórmeotò n'um paiz onde o homem se acostuma desde a infanciít
ser obedecido pelo escravo , e ao poder jrrcspoosaveí do govamo
domeãtieo.
Foi nesta perigosa situaçSo, e ainda assim feliz por lha haver pre-
parado o terreno o enérgico Diogo António Feijó, que Aursltaoo sih
Llu ao poder, llomern de outra naturezop anirjuillou esse poti^
revolucionário que estendia os seus braços do Nortâ âoSul, e soinu
pe!â$ extremidades o sangue bras^ijeiro.
Poderoão dom dos coos, que começava pelos a ttribulOfipitysieos
para as massas, pelos moraes para os sensatos, e aoabava pém ener-
gicos para com os perturbadores da ordem ; a sua prtseaça , qtiindo
benéfica, desarmava ; quando severa aterrava; e logo quosaretesúi
d'aque1l3 dignidade com que se animava nas horas do perigo, lodos
lhe obedeciam i a sua mão nunca tremeu para castigar « nem eoQin*
biu-se para premiar.
Que época do angustias, de inconsequeneias c de desordem;
que quadra medonha o perigosa ; as províncias nadavam em sangue,
6 a decomposíp4o sociaU por meio das patxd^ ferozes » {i&recii
tocar ao apogeu.
Os amigos da realoza desmentiam sua fè com o sonho e os actoâ
de uma r^iauraçáo , repellída energicamente pelo principe quocHf
luavam.
ita^
Os demagogos , inquietos nos delírios de suas ambí(dos, oscilla-
vam em grupos tumultuosos de um para outro lado.
O partido oonsenrador da eonstiluiçao e do seu futuro, também,
era abalado por mesquinhas personalidades, via a todas as horas cla-
rearem 06 suas Gleiras e grupos de transfugas , segundo o pro-
gnostico das probabilidades , passarem e Toltarem com o mesmo
furor.
Os monarchistas pessoaes conspiravam contra o legitimo monarcha
o sagrado pupillo da nação , porque não viam n'elle o immediato
manancial das graças e favores, nem junto do throno o primeiro
degráo de suas sonhadas grandezas.
A imprensa se havia convertido em um rodomoínfao de injurias e
sevicias, na expressão de paixões ignóbeis : todos escreviam, cada pa-
trulha tinha o seu órgão politico.
As sociedades secretas, com seus tolegraphos ímmersos, tudo sola-
pavam.
A força armada , em parte desmoralisada pelos pasquins impressos,
nSo merecia a confiança da regência.
Nesta conjunctura , porém , no meio d'e8te grande conflicto , três
entidades seguravam o império, e mantinham a ordem saprema per-
sonificada na regência : Evaristo Ferreira da Veiga , a guarda
nacional e o senado, senhores , pela sua firmeza , pela sua illustraç^o
e pela sua nobre coragem.
Para a plena conquista da ordem geral , era necessário um golpe
n'este nó gordio, e um punho certeiro e Taronil que o desfechasse.
Havia no meio d'estes grupos variados uma fonte veneranda , na
qual repousava um passado glorioso ; mas essa fonte coroada pela au-
reola sublime da independência e pela corAa do martyrio , havia
caducado aos assaltos de perigosas enfermidades. Não era mais a
fronie do homem do Ypiranga, do sábio acclamado pelas naçdes,
era um membro inerte em cujos sentidos a paraljsia tinha oblite-
rado a razão, e obscurecido aquelles dons sublimes que o megnifi'*
caram em outras eras.
O perigo era imminente^ a crise se apressara ; era preciso um
znii SDPP. 9
66
oulro guarda junto ao*rillio Ja nacao, tnliiJo no sou proprií) pafci-
cio Fcz^se a mudaíiç;i. Um novo luior foi vdar ásitorusda
r4^gLa« e um novo mordomo i^ht a ordem domestica e reorganil&T a
serviço ímpariaL
Reslabdecida a ordem, enlroii Aureliano no desGn!roIvíiiien(0de
uma época orgânica, da qual ainda saboreamos os fructos ví-
vificadores.
Uma cousa notável e bem caracterisiica da época da minorídâdêi
iTiormente daquolJa em que eslamos, foi a aridez do esptnto^a
summa esterilidade do pensamenlOi O que eslava ein andimenlAj
parotu 6 nada sú produziu. As obras que eslampam em ú própria
o cunbo \ilal e progressivo de unva nitcional idade, aexprâttiúdi
mente conleoiporanea, os seus voos para o futuro, cu as que :
as peripécias da bísioria, deixaram de existir. E porque, meui"
' seiíbores ? Porque aquella época nada significava : era unm repuLlkà
monarebica, ou uma monarcbia republicana,
Aureliano, depois do consolidar o elemeiíio potilico^ passoti a
torna-lo permaucn lo pelos recursos da sociabilidade, feio eoolãcta
dos homens em boras e occâsiúes impróprias da dí^scutírem interesses
I ou recriminações individuaes. Para obâiar laes ensejes, comacou
fazer reoniõea periódicas eui sua casa, onde a presença do bdL
sevo desarmava os pugilatos politicos, onde a da risa e a harmonia
consorciavam atmas que se haviam amado e desquitado pr opím^es
politicas* Foi n'um d'esles saraos que iiela primeira vez appareceram
os sorvetes, c cj?les sorvetes, srs, , e o magnifico exempla de sua
urbanidadc e gentileza, diluíram muitos ódios, aplacaram muitas
raivas eaccabuaram muitos reíH^rntimenlos; porque alé ali as ramlliaaj
S0 pareciam lum tf ibus rivaes , ou encerrados no circulo traçado pelati
suas opiniões e interesses.
Ha bomons que atlrabem as intcilígeneias sinceras pelo mag
lismo da cordialidade, [k.'Io brilho do seu espirito , e (lor essa atmo
f phera conciliadora que os circumda, e diíTunde uui continuo bcm-
estar no circulo do seus sócios o amigos. Estes homens, quando i
pregam os seus dias e serões em festas a intelligeneia, em culto
67
pátria , e em obras meritórias , se convertem em centros 4e uma
plêiada bemíazeja, que longe dos velabros e do borborinho mun*
dano , derrama a sua luz sobre a terra em que se acham. A erudi-
ção ^ o thesouro iropiovel do homem bibulo, do homem esponja,
quando não ó appHcada d<^ nada. servo;, porque. nem. sempre são
creadores aquelles varões que passaqíi a folear os mortos em^monor
logos silenciosos, e.com,o$ olhos fitos no. passado, sem. volvd-los
para o futuro da pátria. Os homens que excedem estes esterei3 pen-
sadores, sào os que se identificam com p. solo e sei^ futuro, por<-
que plantam em favor dos outros.
Nas reuniões que ojiitrora se fizera/n nq c^.dp nosso ooDsocio^
o actual mordomo d^ cas9 imperial, d'e^e hom^m que ha visto o
mundo por todas as suas faces, planejaram-se a creaçâo de myitos
estabelecimentos que fazem hoje a felicida(le social , o.cpmmodo das
famílias^ e o lustre d'esta capital. Aureliano era.d'este nuipero,6
um dos sócios majs constantes e naais ardentes.
A Providencia tinha-lhe 4ado a feliz qualidade que deye ter todo
o homem de Estado : aceitava de coração qualquer verdade pratica ;
qualquer principio utilj sem lhe importar com a sua origem pes-
soal; porque nâo tinha essa vaidade infantit e presumpçosa, tâo
funesta aos que querem a prioridade em tudo.
Não; a idóa era por elle meditada e discutida no gabinete, e
logo que se convencia de sua utilidade^ executa va-a. Titão impas-
sível, caminhava com passo regular ao seu fim, derrocando fria-
mente todos os embaraços até conseguir o escopo desejado. Assim
se fizeram e planejaram os fundamentos da Casa da Correcção , a
instituirão do Monte de Soccorro , o Moiite-Pio dos Servidores do
Estado, aCompanliía dos Omnibus, e o primeiro regulamento para
as legaçÂ5es do império e secretaria dos negócios estrangeiros.
Em vésperas de retirar se do ministério , o desembargador Ra*
miro, deputada independente e illuslrado , disse em plena camará o
seguinte: « O sr. Aureliano dentro e fora da camará óo melhor
cidadão! São muitos e de immensa importância os seus serviços;
estão ahi bem patentes ; e praza a Deos que não nos esqueçamos nunàb,
nós todos Graiileirosy do apreciar s re!;peítar lâo hetmmmfotí^
diiJão, >» A camará o nio desmentiu ; os apoiados roram qutst
unanimes.
Mas ú é grande mlò lastemunho publico de uma assomMé^ ^ njo
é de menor valora eonfisâSo do seu maior aJvei^ario, Bernardo Pe-
reira de Vasconiyoltús^ a qunl findava proclamando^ que * <j namt
dá ir. Aureliam enava gramdona tasQ da msãa rmfmrehiã. •
A confissão d^osto inimígD equivaEo a um aresto da poslâr]tM&i|
A sua acção nSo sa limitou á polluca @ aos bans matâriââs, a i
ral publica tambom lucrou. Os moedeíros falsos « as casal de jogicii'
illkitos 6 os lupanares desappurecerajn diante do seu bra^. Tuilos
os vícios se julgavam acima da lei , e invocavam a liberdade.
A anarchia não è mais que o mcdoaho symptoma da corruf
social ; quando a empada da justi^^a se embola de um gume , e qua i
deusa tira a venda t a pátria se transfigura no homanx â o hon
Diurna maehina infernal que naJa poupa. Doos é reprâsantado pdõ
ouro, a religião pelo cgobmo » e a pbilosophia pelo trâ&co.
O regente Feijó , depois da formal renuncio do visconde de Can-
vollas» em não o stibslituir na regência, mandou chamar Aure-
Hano para tomar conia de lào grande encargo , a o nú%ú cotisociQ
so dcaiJitiu prelextanlo ineommodos de saúde-
A morte do fundador do império , abatendo as mp&mipB dt
klins, e refor<;4mda a d'aquellcs qno alo lí eram soIJímIos nas fileira,^
Ido um partido^ desfe;s o exercito restauradijf e dispersoit o m^-
úerado. DosJapprocido o grande poulo do antagonismo d*eâtjis duai
Ull ranças, era necessária uma recomposição política: as irigooi
' Inpi^inodos são falaes, porquo m pre^urosos partidários, os aieiorei
fílèrgumenos » m liomens som cunvir^ões, mudarn de tfijo » e
I passam como Ficsoo para o partida de Dória w remato da catas*
Irophe^ O ^\ do poder, que altmcutava a esperança das frafçil^
turbuleutas de ambos qí ladg^, renasce com nova Iu2 ^ toéoa a
etlo marcliavam , u as paixões contrariadas achavam nm lenilttc^
uo seu mutuo des^^jar. Do exercito dissolvido novos clM^físs so |^
69
vantaram, e com elles um futuro difficil de descrímiaar^ do
primeiro intuito.
Aureliano sabia que o novo regente devia sentar-se ao pé do
throno cem um plano consciencioso , e esse plano era diffieil tra-»
çar-se em um terreno movediço que impedia a sua justa triangu-»
(ação. Os successos posteriores comprovaram soa evidencia^
Todo o movimento politico é a resultante de Um protesto contra A
^cçào do poder que altera as leis do equilíbrio social , restaura o
passado I ou promove innovaçòes. A maioridade fez-sOj^e para
realisar q programma da nova epocha foi chamado Aureliano, 6
occupou a pasta dos negócios exteriores.
Reformou a secretaria a seu cargo ^ estabeleceu diíTerentes secções
para o trabalho e ordem nas relações exteriores , intentou a ereaeâo
de um subsecretario de estado, para nielbor regularidade e prés-
Vsza no serviço , e manteve em plenissima paz todas as nossas re^
^çOes exteriores.
A' sua presença no ministério deveu a província de S. Pedro tk
presidência de seu irmão Saturnino , e os resultados de sua politicai
durante a sedição.
Tratou e conseguiu a mão de uma primceza fllba de S. Luiz , parát
fazer as (telicias do throno brazileiro , e uniu a casa imperial do Bra-
sil com os tbronos das Duas Sicilias e'da Franca.
Nomeado presidente da província do Rio de Janeiro, eficargo mais
administrativo do que politico , fez obras consideráveis, que por longa
tempo conservarão seu nome. Partidário do trabalho livre, para dar
maior andamento á nova estrada da Serra da Estrella, mandou vir 500
trabalhadores da Allemanha. O correspondente , em vez de lhe man-
dar homens solteiros , envioií-ilies 500 famílias. Ora , os commodos
c providencias dadas para receber aquelles hospedes não eram os
mesmos para acolher tantos casaes , porque a tarimba do homem sol-
teiro afasta de razão o homem casado.
Nestes grandes apuros, e como medida salvadora, concebeu o
^lordomo da casa imperial, o nosso consócio sr. Paulo Barbosa, a
Í4é^ de realisar uma colónia no alto da serra da Estrella , nas terras
70
im[»eHaes^ denominadas Cúrre^o-Sútm; i^U^a f\m íiavía iiidicjjf
anteriurmenie 0 eogisiiliDiro Frederico Koelet em um opíjs^ula im-
presso ^ com o fim de crear uma companhia para esio flm: m.%s
este dcseJD do múrdomo dependia da approvaçao do aaguMo pro-
prielario.
Sua Alfigeatade foi aiam dos desejos do seu mordomo # © abriti <ts
cofres inesgotáveis ik stia pariictilar generOííiJado e sua Síibísranit t 0
a nova colónia (lenominou-se Ptítropulis.
Com a m agasta Uca iníluencíao acção da um príncipe lio pn>grt^
sisia, com os seus cofras abertos, com a ictivídaJâ o uio do seu
mordomo, com os recursos da presidência dn Rio de Janeiro « e eom
a dirccçíio pratica do nosso contiocio o fíilleeido Ko^br, o rdúim
devia prosperar 6 crescer contra todos os embaraçns nattirâes. o os
que suggeria a ignorância t a inércia, e a ma fé d*aque!les liomuní
políticos 0 mercenários* qus náo consentem qm seus ad veria rioi
lhes purili(]Uúm a agua que estão bebendo. A este grupo insens^la
sa veio reunir o grupo criminoso dos traficantes de carna bumani »
que viam n'essa creaçfío íamoía, neste exomplo do trabalho do ho*
mera livre, um embnraco ã sua avidez, e talvez a agonia dô sua
eJLOcranda proGssao, O nome de Carrego-Secco os autorisavi a na*
gar agua aos cotouos ; e o aspecto escalvada dos picos da 3«fn éoê
Órgãos a propalarem que arjuollas regiões eram uai deserto.' fiiificai
a néscia maldade desenvolveu maiores recursos o actividado fioitw «
t|ue mostrou para aniquihir Polropolis,
Porém ao sigual do Imperador, as montanhas se aehatamm, Of
vatles se complanaram , as Hurcstas se abateram , ã$ estradas sa oi^ .,
vellarara , as casas se leva u taram , os vergéis florecerara , as searas e
as liares tapetaram as encostas, as feras fugiram, e aqiieltas de-
vesas solilariaí^s ouJc^ somente de vok em quand») se ouvia o sincerro ,
o trotar dos lotes» ou o galope do expresso, repercutiram os hym-
nos da faniosa Germânia, o trtunqdia do trabalho do hamom litrd, o
se converteram ifauí recreio imperial, n'um manancial de delicias,
ii*uui salutar asylo dos Flumincusos, o n^uma cidade cauâlisada ^
frasca , tranquilla 1 qye (a2 o pr^ij^er dos nacionaes e estrangeiros.
71
£ porque, meus srs., se consummou em tâo breve espaço amà
obra que tem uma estrada igual em solidez , audácia e perfeição ,
as melhores que atravessam os Alpes e Pyreneos? Porque sobre a
coneurrencia de tantas inlelligencias e vontades havia uma inlelli-
genria e uma vontade mais forte e permanente : — a do Imperador !
A vontade do soberano é como a força constante de uma lei da na-
tureza, que actua sem cessar atravez dos tempos, das estações,
das tempestades, e das próprias revoluções do globo: artéria vital
que bate no centro da intelligencia e communica a vida regalar
e progressiva a todo o corpo social.
£ qual será o futuro de Petrópolis? Immenso : exemplificou os
melhoramentos do trabalho livre; deu a forma colonial e produc-^
tiva ao proprietário de terras incultas; introduziu a industria e a
lavoura reaccionária , e provou que todo o terreno é fecundo quando
a cultura lhe é apropriada.
Aquelle que encara o nosso horizonte sensivel , circulado de mor>^
lanhas de granito ; o que vé o augraento progressivo do gráo médio
do calor, a inversão das estações, á proporção que nos multiplica-
mos; e o que já não vô uma parte d'esses montes coberta de fronden-
tes florestas e palmares, treme pelo futuro. Cada dia que avançamos
mais se descarna o gigante, cantado por Januário, e a sua ossada de
pedra prorompe á luz do sol : as aguas do eco o descarnam de dia em
dia> e arrastam para os valies o crystal que o encobria envolto em terra
vegetal ; o sol de Aquário e de Piseis cresta o lichen rasteiro e
transitório, e as rajadas o sepultam diluído nas profundidades : é
o começo de um novo ermo , é o alicerce d'esse forno de rever-
bero que virá um dia calcinar as planices , seccar as fontes , in-
cendiar as casas , e a plantar o deserto naquelle Elyseo onde por
tantos séculos floresceu a risonha Guanabara, e se dilatou o edenico
Nitherohy , em cujas aguas ancoravam todas as frotas do universo I
Atalhemos que ainda ó tempo. Naturalistas, imploramos o soc-
corro da nossa sabedoria.
Enxada do agricultor cava n'estes restos de crosta que ainda en-
volve a montanha > e garfa os germens de novas florestas, de novas
foniGs e de orna nova vida* Nao durma o I^b lador * oi&te dflitore
u edil, que o tempo mttú, 0 ainda nos pódô salvar. Gloria a qiwm
eotneçar iSo bella ^mprazap gloría ao qud salvara minlui SifMen*
iríonoL
O Brazilciro ji imo viva debaixo d*essa fireíísílo atenospliefiGa fu»
Q enlorpccia; e não appellemos pra o clima * poríjutia bUkideéa
noma ainda c a mesma f o solo o mesmíssima, mas o homt^m nlti. O
niandriSo romano que sd embuça no /rcraíoí^j á lux meHdíotiit ,
quando ^praa cnnícub ou o intenso sirouco, qiiandueantaa r^^
sinol e a terra é lodâ flores ^ coriamente ndo é aquelle mmaa So-
mano , aquolle soldado que dormia sobfe as arâas da LvbU o mesmo
somno quts na$ margens do Danúbio^ ou nai serrai da Giledonía ; o
homem é uma alavarica moviíJa por uma idéa, que o fa£ saspender
a torrente ou sepultar-^ nella*
Pelropolis é ura iritimpbo assrgnalado solíre o pessimismo dos
nposiolos da roiina e da inércia.
Acabada a presidâocia deAurelianOf reiirouse parai bise da
$erra da Estrella> junlo do lugar denominado FragosOt e abí , soii*
nbO} longo de sua numerosa família j começou a edírtcâçjfo di um
reliro, â que elle dava o nome de seu leito dô pedra c caL
Operário incansável , trabaliiou com as virtuda dâ prudonõa
entre os maiores tropeços, e teve muitos annos do ajiarar oi pipes
arremeçados peio mais furmidavel e arguto adversário, O Utegoili
Juvenal nun^a o ferio, porque o seu maior inimigo linba indipigil
â moral ; porém aqueila musa qua bâbitit as sentinas nas boras d«
um torpe dvliiio intentou rnacuta-lot mas Au relia no era como o
crystai da Bobem ia, que so núo pode embaclur. O ^u Oúraçia
desconbeceu os ódios d'aquollcs Tantalos politico®, ct^jaãnkm
jnove do aho do poder á ignóbil conspiração ; porcfue sabia rcpoyfiaf
dignamente quando so retirava do poder. Houveram n^elle dlguiBâS
paginas da aniiguiJade nobre: a agricultura e a pbitosopUla preeã-
rliiam as suas férias poiílica^.
O Instiluio Histórico clegeu-o sempre sou viee^presid^te, i
73
a sua assiduidade ás nossas sessões era a maior prova do seu
reconhecimenU).
Escreveu muito, porém quasi tudo para o expediente diário, para
esse subterrâneo que esconde o tempo e a illustraçãode tantos eng&^
nhos abalisados.
Magistrado, deputado, senador, presidente, ministro de estado,
pouco tempo lhe restava para derramar sobre o papel os voos do seu
espirito philosopbico.
Nas suas ultimas vacâncias escreveu um tratado de geograpbía
para seus Glhos; alguns artigos em favor da colonisaçào; e^ sobra
todos y um no qual perfilhou as idéas astronómicas de um autor qua
ainda nào foi aceito pela maioria dos sábios.
Fora do poder, ninguém o viu conspirar contra a ordem publiea^
nem embaraçar a marcha da adminisU-açâo, porque não queria auto-
risarcom o seu exemplo aquillo que sempre condenmára* A imprensa
deve servir de podôa e nunca de machado !
Era um homem de alta estatura, bem proporcionado, de forte
compleição, traços regulares, e de uma pbysionomia agradável. A
elle também cabia o espirituoso dito de Isabel Catholica , que appln
quei a seu irmão Saturnino : « A natureza e a oducação formam os
geniishomens; o nascimento ea posiçSo os contrafazem* » Oseit
aspecto exterior infundia respeito, e o seu trato um sentimento da
amizade. Os incautos se illudiam , porque sob apparencias tio calmas
e amáveis cuidavam encontrar uma alma timorata ; pelo contrariOf
todo elle era a energia reflectida, a tenacidade tranquilla* Asuâ
mão nunca tremeu para dar um golpe, como elle mesmo diiia,
porque antes de o despedir havia*o meditado e calculado.
Prompto na expedição dos negócios, não participava da lentidXa
espartana , nem da morosidade ibérica : a elle se não poderia appliear
o provérbio inglez no tempo de Isabel : Venga la muerU de EipancL
Cônscio do seu próprio valor, nunca invejou o mérito albeíoi
a sua alma se nutria dos seus bens , e nunca dos males alheios.
N^esse quarto de século que percorreu como homem publioo ieoa
sempre victoríoso, porque ósseos inimigoa, que eram audazes na
XYIII SUPP. IQ
nggtmàú^ erflm tamluím néscios nos meios ^ fracos m raifiot iMíigi-
cos no proceíior ^ d rnalríiítidorios eiri tofia a soá miHTh.i^
Morreu Aiirefinoo de Sonm ú OliveirD CDuiinlia nos nlilmos
fCráos dn a^cala sioci^il ; rlosoailârgjidor da f elação dii curte « tJ^ rm-^
sfslho de Sua MageíílailíJ, senador do império, gentil do mt*m d.i
imperial oim^rA f viscoocle do Sepeliba, grande do íiiiftorio cet>
ministro de^eslodo, ravallisim das onliins t)o Climio «^ (l:i Rfijsi, e
dignitário da do Cruzeiro, griSa-cruz das ordens ila Lcío Iktga, ée
Nossa Senhora da Conneíçfío do Villa Viçosa, de S. Foni*ndo do
NapoteSf de C^irlo<i III da U^jspnnfi^, doi! qualro ímperidofes dâ
Ilussia , e da ordem de S. Jíííjo de Jerusalém,
Ero presidente dns cavallerros do ¥piranga, e membro de fnull:ii
sociedades liUerarias nanonnes e eslranginraâ, O seu rfliríito foi col-
krodo em vida, no anno de i839, na sala das seíísôes do Monte
Pio dos Servidores do Eâlado, como um tributo de reconliecí mento
ao seu fundaflor.
A cidade do Rio de JaneírOt a de Nintboroy e Petrópolis lhe ddftm
serviços reaos ; ires coroas torreadas adornam o pedalai de sua gt»la
memoria.
Falleceo em dias luetnosos, na forra da epidemia , e no emUni
de toda parte concorreram numerosos amigos ao seu funeral. O sea
nome ja pertence á bistoria.
Se por um lado vemos haitar á sepultura homens iMo raro§ i
moral pubtica« pelo nutro recebemos o mais btdio lenitivo a tanta dor*
A nossa época apresenta um espectáculo digno da contemplação do
futuro; a aeçào moral civilísadera prorompe e se manifesta ; ■ ctri-
dade multjplicou-se dclai^o da forma de iodas a^ virtudes ioriaaSt
e os melhora meutos matoriaes prose^^^uiram diariarnonte atraia dt
peste; os ricos abriram os seus cofres, os pobres dividiram oasãus
liens, o seu píio e o seu trabalho ; eo futuro no meio d*esteatubti-
tnes exemplos colherá mais esta [>ngína digna dos annaes da maior
naçM do mundo*
O imperador n*um dia visitava todos os desgraçados acommettidos
da peste f no outro vinha santai-sa nos bancos do Instituto c nÍTelbr*
."1
75
se com o cidadão ; em oulros inspeccionava as escolas i, as taiiricas,
as casernas, e os IrabaJlios dos fiUios das musas.
No paço imperial se renova a escola palatina ; o príncipe estuda e
abre conferencias; discute o passado e prepara o futuro; compra
livros aos sábios da Germânia, e engrandece a nossa bifoliolheca ame-^
ricana. Estes factos não caminham isoladamente com as obras acon-
selhadas e intermittentes ; vai ás aulas primarias, inspecciona a
educação da familia que o ha de circular na madureza da vida, e
occupa-se do seufulufo; penetra acella do franciscano, onde jaz ò
monge cego e quebrantado; honra a imagem fugitiva do grande
orador sagrado, e dá-llie como em signal de sua estima e veneração
aquella cadeira antiga, onde o apostolo brazileiro, o venerável
Anchieta, estudou a pratica de suas memoráveis conquistas, ed'ella
subio tranquillo á presença do Senhor Deo$ !
APFEI\DICE AO RELATÓRIO DO SECRIT.IRIO.
OFFERTAS FEtTAS KO ANKO DE Íg54.
niAziuBeriptOi.
Sua Magestade o Imperador^
Foral ía capitania da Bahia ecldsdô de S. Salvador. Ewún, M ib
Agoslo de f 534.— (Copiai — Em 18 do Maio de ÍBS$.
Regimento dado a António Cardoso de Barros, cavnileíro fidalfço i
casa d'et-r6Ít como procufador-mór d.i fjzeíiJa quo prtmeifo í _
ãô Bvml Alineirtm, 17 da Dezembro de 1548. — (Copia),— Em
18 do Maio de 18S5.
Livro que dá raziiodo Estado do Brasil, enriquecido do moppfif e4i^
lorídos e desenhos. 1 vol. folio grande obloíigo, — Em 2$ dê
Outubro dolÔSS-
0>piadodito, 1 vol, folio pdqueno,^ — Dito^
Miniitro do Império, Comdhêiro Luiz Pedreira da Comiio
Ferraz,
Roteiro da vingem do Brilhante na província de Maito Grosso a<i
porto doTibagy na do Parafiá por Anlonio Monteiro de Men-
donça.— (Cópia)- — Em 4 de Mato de 1855.
Informação do ri Iferes Manoel Tbeotonio Ribeiro, encarregftda das
obrai doVaradottro entre o dito rio Brilb^inte e o Anhac, nâ quil
se retifina aquelle roteiro. — (Cópia). — Dilo,
A emigração dos Ca^uá;:, narração coordenada, sobre aponUmentâs
dailos pelo Sr. Joáo Henrique Eliiot, por José Joaquim Macbado
d^Olivtíira.— (Cópia).— Dilo,
Baião cm que se fundou o prusidenie da província de S* Pauk pari
denegar-^ á reclamaçiSo que em 1844 Ibe fíiíerao preiídeote di
província dfj Santa Calharina sobre o inculratlo direito qtie esli
província tem aooímí^o de Palmas da comarca de Corilyba, ti(>]o
provincia do Paraná^ por José Joaquim Machado de Oliveira,—
(Cópia)*— Diio-
Descripçio da viagem feita dôsde a cidade da Barra do Rio hVgro
pelo rio do mesmo nome^ até a serra doCoeuíp por Ilibrío M^
ximiano Antuties Gorjão, major de artilbería e bacharel em int-
thematicas.— 1855. (Copia).- Em 17 de Agosto do 1835.
Oflicio do dfjlegado da ropurlí^áo especial das (erras publica d< pri>-
77
vincia do Amazonas, João Wilkens de Mattos, contendo esclare-
cimentos sobre as missões da mesma provincia. 1855. — (Cópia).
— Em 9 de Novembro de 1855.
Sermão de Acção do Graças, pregado na ifiçreja de N. S. da Concei-
ção do Hospício, em 18 de Agosto de 1782, pela conversão que fez
para a Fé cathoíica o marechal Bôhm. — Dito.
Apontamentos contendo uma noticia sobre Guido Pochrane, e sobre
o francez Guido Thomaz Marlière. — Em 7 de Dezembro de
1855.
Ministro dos Negócios Estrangeiros^ Conselheiro José Maria
da Silva Paranhos.
Cópia das instrucçOes qne em 23 de Outubro de 1797 foram dadas
por D. Rodrigo de Souza Coutinho a Fernando Delgado Freire de
Castilho que acabava de ser nomeado para o governo da Parahyba.
— Em 9 de Novembro de 1855.
Conselheiro José Pauh de Figueirôa Nabuco d^ Araújo.
Memorias do bispado do Rio de Janeiro que serviram de base para a
composição das Memorias Históricas do Rio de Janeiro por mon-
senhor Pizarro. — 4 vols. folio. — Em 9 de Novembro de 1855.
Repertório ou Index Alphabetico remissivo de todas as leis, decre-
tos. Alvarás, cartas régias, regimentos, etc, que se tem publicado
desde o anno 1603 até o fim de 1806. Feito e ofi[erecido a S. A.
R. o principe regente N. S. por Diogo Vieira de Tuvar e Al-
buquerque. 1808. — 1 vol. folio grande. — Em 23 de Novembro
de 1855.
Çhronologia do pessoal, que nos diversos tempos compozT) tribunal
do conselho da fazenda.— Em 7 de Dezembro de 1855.
Historia da leitura dos bacharéis formados, feita perante o extincto
Desembargo do Paço. — Dito.
Collecçáode leisde 1799 a 1803.-— Dito.
Cónego Joaquina Pinto de Campos.
Extracto de todo lo ocorrido sobre la plaza de la colónia dei Sacra-
mento ocupada por los Portuguezes sobre el Rio dela Plata, desde
el tratado provisional celebrado en el ano de 1681 hasta el de
1737, como de las noticias de oiros territórios de S. M. que han
ocupado y fortificado. — Em 20 de Julho de 1855.
Oíficiode D. Francisco de Souza Coutinho a Luiz Pinto de Souza ,
en;i 21 de Junho de 1795, dando conta das providencias que em-
78
firê;;ura pára avilur a evjisào lios escravos iId Ptrá jiara Cãjr«ititfl.—
Dito.
Oflicm ile Franciáco Xavier da MoiiJoiíca l^urtado^ dirigida m
Ciinda lia Ctmli3i acenda das jesuUas*
Francma Diorjo Pereira th Vmcofteclím, Pretteímle dã
Fnwincia dã Minm titmes,
Mappa do movimenta cln poi^iílaçfío da província de Minu^ Gefatí5» ú
hm dds nTohimn\o^ Je \S1\^ 1831. u 1838; u ilos ntíipfui^
paii^cluaes de nascuijiirUti:; , c^samonlos o oliUos d^sil^i u^nno rJd
183í> até 1847, mjPííaniSínJo tí olFiíreciJo á (irtíííideficia dn pro-
vineia de Miíifi^ peb cidadão Luiz Maria da Silva Pitilã, — Em 4
ik5biadíí 185 a.
Sauflaçào ao íllusiradu Insiiintn Hisaaríco e Geofínifdiico BratUcki^—
Od^ — qm em leâleouíidiu íIíí profuntlu ra^j^eiLo c;dt{i roíisidtsra-
Çiíija estíísíibiíí acrídemiíi, O. D, C» Fraiic de Pautioci llaf-
ijueâ do Carvalho.— D i lo.
fíemiijue de íleaurepaire Rohan-
Um mafiuseripkJ ©m IcItíi c^inuitPt aeliaJo çni ma cluh du ne^^i*
miiias »a capital der Hio Graddo dti Sul— I^m G d^ Juljto do 18â5.
Mujmí Mm^iaLtúuíu
lítíhrSo li' uma ví*i;5em a Venezuela, Ntiva GranaJrí o E-iuador, ní»
aniiuíítú t8o'ic ltí3J, seí^iiida Aú mw Wsíjiíl*jo liisltuioMla* \^
Ik-publicas, pgr Mi^íutíl alaria Li sbua. —Em 17 do AguisOu dt»
Breveí^ reíliixúcs liiíloricas por Adailu^Cafiie* — %m Itdg Agosla Jo
1855.
jQsé Martins Fareirade Ahncmirç.
Memorias liiaiorícan da çirovít)iria do Piauhy por José M:irimi For^
reira do AltrirasirQ.— Eai 17 Jl* A^iistu dtJ 185 o.
Francisco Munúd RúpQ$o d*À (màda,
Coltcri;.lude diplomrLs do itliisireli)3é Btíivifariu do Aijdrajdc eS>i]«4,
— Em 14 lie Seíciídjm ik tb'á'ú.
79
Carlos Augusto de Sá,
Yilla Rica, poemn de Cláudio Manoel dn CosUi, com uma introducçao
Ilislorica. — Em 9 de Novembro de 1855.
Obras e ímprettof.
O Ex,^ Sr, Ministro do Império.
Reinterio do presidenle da província do Paraná, o confielheiro Zaca-
rias de Góes e Vasctoncellos, na abertura da assombléa legislativa
provincial em 15 de Julbo de 1854. Corytiba, 1854, 1 vol. in-
folio. — Em 4 de Maio de 1855.
Relatório que á assemblóa legislativa provincial de Pernambuco apre-
sentou na abertura da sessão ordinária de 1854, o Ex."" Sr. con-
selheiro í)r. José Bento da Cunha e Figueiredo, presidente da
mesma provincia. Pernambuco, 1854, 1 vol. em 4."— Dito.
Relatório que á assembléa legislativa provincial de Pernambuco
apresentou no dia da abertura da sua sessão extraordinária em 1 1
de Setembro de 1854, o Ex."" conselheiro Dr. José Bento da
da Cunha e Figueiredo, presidente da mesma provincia. Recife^
1854. 1 vol. 8.-— Dito.
Falia que o III." e Ex.*" Sr. Dr. António Bernardo de Passos, pre-
sidente da provincia do Hio Grande do Norte, dirigiu á assemblóa
legislativa provincial, no acto da abertura da sua sessão ordinária
em 4 de Julho de 1854. Pernambuco, 1 vol. folio, 1854. — Dito.
Falia Cfue o Ex."" Sr. Dr. Joào José Coutinho, presidente da pro-
vincia de Santa Calharina, dirigiu á assemblóa legislativa provin-
cial no acto de abertura de sua sessão ordinária em 9 de Abril de
1854. Desterro, 1 folheto, 1854.— .Dito.
Relatório com que o Ex."** Sr. Dr. Sebastião Machado Nunes, pre-
sidente da provincia do Espirito Santo, abriu a sessão ordinária da
respectiva assemblóa legislativa, no dia 25 de Maio do corrente
anno. Victoria, 1854, 1 vol. — Dito.
Falia recitada na abertura da assemblóa legislativa da Bahia, pelo
presidente da provincia o Dr. JoãoMauricio Wanderley no dia 1.*
de Março de 1855. Bahia, 1855, 1 vol. 4.**— Dito.
Relatório do presidente da provincia do Maranhão o Dr. Eduardo
Olympio Machado, na abertura da assemblóa legislativa provincial
no dia 3 de Maio de 1854, acompanhado do orçamento da receita
e despeza para o anno de 1855. Maranhão, 1855, 1 vòl. folio. —
Dito.
Relatario apresentado ao Ex."^ vice-presidente da provincia do Rio
de Janeiro o Sr. veador barão do Rio Bonito, pelo presidente o
con^lhcíro Luiz AnlontoBarbiHa, por oeeasrlaila psiiiHhe a
adminisiraçiio ih mesma provinda ein 2 de llab de 1851. Níe*
lheraytl8S4, 1 vuf. íolio.— Diio. ^
lielaloriQ do vico-presidunle úq província ão Hio de Janeiro, o &*-
barão do Bio Eunilo na abertura da 1/ sessão d;t f 0.* laRÍsIilun
daas5«mbl^i iegislativa provincÍDl no dia 1.* de Agosto ÚBÍSU,
acompaidiado do orçamento da r<?ceÈLa o des[>oxt part oinika át
18S5, Hio de Janeiro. iSU, 1 voL foUo, — Dilo.
Bolíiloríoqueao 111";; e Ex."" Sr- Dr. Fnancbco Diop* Peti
Vaseoíicetlos ^ muito digno presldento d«?sta |)rúvinrí«t , 91
seniôD aofjassar-lliea adminisiraçioo 1." vice-priísidenie J>t<
iopes da Silva Viarna, Ouro Prelo, 1853,1 vcd. ítiiio,^ Djl
Relfitorio que à assemblèa legisla li va prnvincial de MindS i
aprescnlou nasessito ordinária do 1854, o presidenle dipciviíicta
Frand^o Diogo Perdra de VascoiiceSlo^. Oura Prato, ÍSI4,t
i/ok folio*— l)i lo*
Relalorio do presidente da provinda do Piauby ao passar a admiiríi-
traçâo da mesma provinria aoEx."" Sn Ur. Luii Carlos de Piú^^i
Tetieira» 1*^ vice- presidente, em 2 de Abril de 1853» t vob Sr
— Dilo.
Biscurso com que o III*" 0 Ex."* Sr, Dr* José Aniíinio Sar>ÍT»»
presidente da provincia do S, Paulo* abriu a asteitibléa legi^bliva
provincial, no dia 15 de Fevereiro de ÍM5, S. PaiiIo« t855f l
vol, 8,- Documentos, 1 dito. — Em o 1.*" de Junho da 18S5,
Belatorio com que o Dr. Joflo Lins VíL^ira Caní^nsâo dt* Sir^imLà m
tregou íi presidência da provincia de S. Pedro do lUo tirWe
Sul ao vice-pre^idimte Dr Luiz Alvos Leite de Olivmra BilÍo,tii
dia 30 de Junbo de 18SS. Porlo Alegre, 18S5, 1 voL 4**— Eiaí
17 de Agosto de 1855,
Fatia dirif^ida á as^embléa b'gis1aliva provincial do Amazonas no
3 dê Maio de 1855 em quo se abriti a ^ua 4.' sessão ordinarii
pelo vice-presidente da provinda o Dr- Manoel Gomes Cofrèa
Miranda. Cidade da Barra, 1855, 1 voK 8.* — Dilo.
EKnosieflo apresentada pelo Ex "* Sr. consdheiro Sebasliiodo R<fO
Barros, presidente da provincia do Gran Parú,por oçc^siào dep>!t^
^r a adminisiraiào da mesma provincia ao 1/ vice*pre6Íd«fiie o
Ex,-" Sr. Dr. Ángeío Cuslodio Corrêa. Pará 1855, 1 wl. *.■—
Em 14 deSoiembro de 1855,
Belatorio com que o Ex."'^ Sr. Dr StíbasliSo Machtdo Ntinês^
sidente da proviocia do Eí^pi rito San lo^ âbrlu dSBssáo ordinária
respectiva assembléa legislativa no dia 25 de Maio do comnilí
anuo, Victoria, 1855, 1 voL 8.'-^ Em 28 d e Setembro do 185S«
BeUtorio apresentado ao Ei.*" vice-presidente da provincia do Rad^
de Janeiro^ o Sr Dr. ãosí) Ricardo de Sá Rego, pelo presídeíOlt '
81
conselheiro Luiz AntoDÍo Barbosa, por occasíffo de paasar-lhe a
administração da mesma provincia. Nictheroy, 1855, 1 vol. fo-
lio.—Em 12 de Outubro de 1855.
Exposição apresenlada pelo Ex.*"* Sr. Dr. João Maria de Moraes,
4.* vice-presidente da provincia do Grão Pará, por occasiào de
passar a administração da mesma provincia ao 3.** vjce-pr&<tidente
o Ex."* Sr. coronel Miguel António Pinto Guimarães. 1855, 1
vol. 8.»— Em 26 de Outubro de 1855,
Relatório do presidente o Ex."* Sr. conselheiro Dr. Vicente Pires
da Motta.^a abertura da 2.* sessão da 10.' legislatura da assem-
biéa legislativa provincial no dia 1.* de Julho de 1855. Ceará,
1855, Ivol. 8. '—Dito.
Exposição feita pelo Dr. Francisco Xavier Paes Barreto, na quali-
áade de presidente da provincia da Parahyba do Norte, no acto
de passara administração da provincia ao Ex."* vice-^esidente o
Dr. Flávio Clemente da Silva Freire, em 16 de Abril de 1855.
Parahyba, 1855, Ivol. 8. •—Dito.
Falia dirigida à assembléa legislativa provincial do Amazonas no dia
3 de Maio de 1855, em que se abriu a sua 4.* sessão ordinária,
pelo vice-presidente da provincia o Dr. Manoel Gomes Corrêa
de Miranda. Cidade da Barra, 1855, 1 vol. 8.» — Dito.
Relatório que á assembléa legislativa provincial de Minas Geraes
apresentou na 2.* sessão ordinária da 10.* legislatura de 1855, e
presidente da província Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos.
Ouro Preto, 1855, 1 vol. folio. — Em 23 de Novembro de 1855,
Relatório com que o vice-presidente Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello entregou a presidência da provincia de S. Pedro do Rio
Grande do Sul ao Ex "* Sr. barão de Muritiba. Porto Alegre,
1855, 1 vol. folio.— Dito.
Relatório do presidente da provincia de S. Pedro do Rio Grande d»
Sul, barão de Muritiba, na abertura óa assembléa legislativa pro-
vincial em o l.*de Outubro de 1855. Porto Alegre, 1855,1
vol. folio. — Dito.
Falia que o III."* e Ex.** Sr. Dr. António Bernardo de Passos, pre-
sidente da província do Rio Grande do Norte, dirigiu á assembléa
legislativa provincial, no acto da abertura de sua sessão ordinária
em o l."" de Julho de 1855. Pernambuco, 1855, 1 vol. 8.* — ^Dito.
Relatório apresentado á assembléa legislativa provincial de Sergipe ,
na abertura de sua sessão ordinária no dia l."" de Março de 1855,
pek) Ex.** presidente da provincia Dr. Ignacio Joaquim Barboza.
Sergipe, 1855, 1 vol. 8.»— Em 7 de Dezembro de 1855.
Falia dirigida á assembléa legislativa da provincia das Alagoas em
1855, pelo Ex.** presidente da mesma provincia, o Dr. António
Coelbo de Sá e Albuquerque. Recife, 1855, 1 vol. folio pequeno.
ZTin sup. 11
It
o £^v"* Si\ Ministro d&* íf^gocm Ei^írangúrm*
Narrolivaof ttieUniled States explorii^gèxpaditiõo, durbj;^ lhe ymu
1838, 1H39, 184a. \U\. 1B42, tíõder lhe eommainr ofOiiirles
Wiikes. Píiiladolpliia, 1H44 ol854, 15 vok em fulio-— Eia t7
de Agosto de 1855.
Soekdade doM SchncifJUh e Arits de Bataria,
Tefhindelingon vsn hei Batflvíaasrh Genoolschsp ?a() Kufl5têfieii
Wfllensehíippen. Balavin, 18S5, t vô!. 4.*
TijHscUrifi voor Incíisrbe Taal, Land ea VolkenkuntJtj* eia fi^Utia,
1852 â 1854, a vok 8,'^ Em 25 de Outubro de li)S5,
Academia Impariítl das Snmaax de S, Ptttrshnrgú.
Bulletin dõ h Cb^^ Histórico— Pliilologi(|uõ il@ i'Acadómie im*
perlnle des Sciencôfí de Snint Peiersboufg, S vols» 4.* — Em 7
de Dezembro de Ifiãâ.
Sociedade Áua;ilimiora da Ágr*tcutini*a^ Cúmmêfcio « Jriu dm
Prm>ÍncÍa dt S. Pauto,
O Induslriul PauUstíino, jornal da Sociedade Auiilíidom da Agri-
cultura, Commercioe Aries da provifjciíi deS, Paulo, S. Paub,
1854, 2 exemplares » 1 vol (o."' 1 a 6). — Em 4 de M^ia áú
1855,
O S*\ Jameít C. Fíetrfirr.
Htitorj, conditiou and prri^fiectã ôf lho IikdÍ3QTríb(!$of th« Unilal
Suies, lllustrated by B. I{, ^chvolorart. Pbibddpbi», 1851,
4 vols. folio*— Em 6 de Julho díi 1855,
Typesof mankind, by NoUan Giiddort, 1 voi — Dtlo.
Rtspurt oí tbe superintendant ofthe Unitfsd Statei aia&tsurrey 185t,
IS52, 1853. Washiii-íton, 1855 â 1854, 3 vok à/'— Oito-
Pícl^irial, historj of lhe wears of lho Uuiled States by John Lewís
Thomson. Philadelphiaj 1854, 1 voL 8." grandií. — Diio.
VStafabury^s oipeditlon to tbe g real s< Lake. Phijaddlpbíi, tSSà,
3 vols. 8/— Dito.
Sutistícal view of ibe Uaíted States. Washiuglou, 185Ô, 1 lol, 8,*
^Dito,
The Mississipi aod Ohío rbers conta iníngpt&ns for the [iroiectioii «f
the Doiu frofii inufidalioiip etc, ; by Charies Ellet* Fhiladtlpltb»
1853.— J)iia
88
GaUlogue o( Booka bdlonging to tha LogaoiaQ Library, Marcantila
Library catalogue in New- York. New-York, 1850, 2 vols. 8.*—
Dito.
Beport OD the Geology of lhe Lake superior Land district, by J. W.
Fosler and J. D. Whiiney. Washington, 1851, 1 vol. 8.'— Dito.
Report of the commissioner of Palents, 1850 a 1853, 6 vols.8.*—
Dito. •
Colieclions of the New- York historical society. second series. New-
York, 1841, 1 vol. 8.*— Dito.
O Sr. Jndrei Lamas,
Cotnpílaeionde doeu mientos relativos a sucessos dei Rio dela Plata
desde 1806. Montevideo, 1851, 1 vol. 8.* grande. — Em 7 de
Dezembro de 1855.
Protocolo de conferencia tenida entre los Ex."*' gobernadores de
Buenus-Ayres, Entre-Rios y Corrientes y el plenipotenciário de la
província de Santa Fé en Palermo da S. Benito, para el nombra-
iniento de un encargado de ladireccion de las relaciones exteriores
de la confederacion. Buenos-Ayres, 1852, 1 vol. 8.*" — Dito.
Método de lectura gradual por Domingo F. Sarmiento. Santiago,
1850, 1 vol. em 12.— Dito.
Estúdios históricos, politicosy sociales sobre el Rio do la Plata» por
D. Alejandro Magarinos Cervantes. Paris, 1854, 1 vol. 8. <» pe-
queno.— Dito.
Comentários de la constitucion de la confederacion Arjentina, con
numerosos documentos illustrativos dei texto por D. F. Sarmien-
to. Santiago de Chile, 1853, 1 vol. 8.*— Dita
Observaciones con motivo de los articules suscritos por J. B. A. en
el Mercúrio de Valparaizo con el titulo de cuestions Americanas,
y que aon un examen de la constitucion dei Estadas de Buenos
Ayres, por Mariano E. de Sarratea. Santiago de Chile, 1854, 1
Yol. 8. •—Dito.
BiograGa dei brígadier argentino D. Miguel Estanislao Soler, escrita
por el tenienta-ooronel Pedro Lacasa. Buenos-Ayres, 1854,1
voL 8.«— Dito.
Bases y puntos de partida para la orsanisacion politica de la Repu-
blica Argentina, derivados de la ley que preside ai desarrollo de
la civilisacion en la America dei Sud, y dei tratado litoral de 4 de
Enero de 1831 por Juan BautistaAlberdi, 2." edicion correjida
y aumentada. Valparaizo, 1852, i vol. 8.»— Dito.
Instrueeton para los maestros de ascoela, para ensenar a leer por el
método gradual de lectura, por Domingo F. Sarmiento. Santiago,
1849,1 vol. i2.— Dita
tft
indres Lamas » sus compatrlotasu Eia dôlamirOt !S55,
piares, 1 voL 8,-— Dita.
D. F. SarmientQi deputado ai congresso nacional por la provineit
da San Juâr», ti jenernt P. Juflo Josédt» L'n|uí7ap vattoedor 60
Câseroa SanUago de Cbilet 18^2, 1 vot. 4'"— Diio.
San Jiian, $u$ Immbreâ y síjs neios en h r^jeneracbn trgenUna,
i Sinúaííodo Oiilí^, 1852. 1 vol 4."— Dito.
Convincum de Snn Niralns dá los Arfoyoã, pôr F- !?amiíenKK Sif»-
liago de Chile^ 1S52, 1 vol 4.*— Dilo.
Carias sobre la prensa y lapoliiíca míUtanleen b R^piibUai Xim*-
úm^ porJuan B. Alberdi. Vulprniifo, I8.i3, 1 voL 12, — Drto.
ElTraladQ de Pa^ entre el directur provisório do la conlederaebti
Arj^enlind y d gobtemo de líuenos-Ayre* , en 9 d« Umio d«
1853. Buenos-Ayres, 1B53, 1 ¥oL a- — Dita
Docum«ititos uficíales relativos a la celebradi}ii dei tratado de poide
9 de Marzode 1853 entre e! gobinrnodt) b provinda de Bu^nfl»-
Avres y eí director provisório de las iret^e províncias reunidas m
cíiiigraiiú enS;intoFé. Buenos Ayres, 1653, 1 vol. 4." — Dito*
Dbcussion de tus lilulos de! gobiernode Ghilf*, a las tierrai dal ei-
trerbo deMagnlhin^ por íA DmUor D. Dalcnacio V€le£SarÃl
Buenos-Ayres, 1853, 1 vol. 4,*^ — Dito,
\ iaj«s en Europa, Africa y America por Domingo F. Strrmieoia
SanliagQ de Chile, 1840, S vok-^Díta.
0 Sr. ConsHhúrú Joh Pmdo 4$ Figurirâít Xalftuv d^Ârmuj^,
E^gimonio dai^ mercês e doeretos ralatívú». Bio de Janeiro^ 18$fi,
1 vol. 4.'*— Em 23 de Novembro de 1855.
Collec^ào chfonologifu.sysiernatica delog'slflçaod« hmmh no Im*
poriu BriiziJiensa, porlose F^uto de Figueirèa Nabuco d' Araújo.
Rio do Janeiro, 1830, 183í, 2 vofs. 8,-— nHo.
Legi^l a çâo H ra ;e i li en se o 11 rol I er ção q li rono I ogi ca da b I ai 4, d eerelQS»
resoluções de consultas, ele, do Impeíio do Braiil, úi*<á^ o anno
de 1808 aié 1831 indusive, colligidaf pelo ronsellieiro lu^ P«ula
do Figiieiróa Nabuco d* Araújo* Bio de Janeiro, 1844, 1 voÍ ft.-
(o 7.«) — Dilo,
Appendix á culli^cvâo chronologieo — systematíeAda legiflã^Jo dt fi-
lenda do Império Brazileiro, 2 vds. 8." — Em 7 d« Desomtiro úú
1855,
Discurso com que o III** e Ix."* Sr, Dr. José Thomaz Hibsco d*
Araújo, presidenie da provineia do S. Paulo, abriu a tfMittUèi
Jegíilativa provincial no dia 1.« de Maio de 1851 S, Pitib «
1W2, 1 voL 8.' ; Dorumenlos. t vol. 8--— Dito,
85
O Ex.'^ Sr. José da Silva Ribeiro.
Voyaffe à la partie orientale de la terre ferme, dans rAmérique Me-
ridionaie, fait pendant les années 1801, 1802, 1803 et 1804,
avec une carte géograpbíque, et les plans de la vílle capitale et des
ports princípaux, par F. Depons. Paris, 1806, 3 vols. 8.* — Em
4 de Maio de 1855.
Vojageen Portugal alravers les provinces d'Entre-Douro et Minho»
de Beira, d*£siremadure et d'Alenieju, dans les années 1789 et
1790, tradtiitde TAnglais de Jacques Murphy. Ornée de planches.
Paris, 1797, 2 vols. 8.»— Dito.
Echo da camará dos deputados. Rio de Janeiro, 1832, 1 vol. folio.
— Dito.
Aurora Fluminense, jornal politico e litterario. Rio de Janeiro, 1827
a 1834, 10 vols. folio.— Dito.
O Sr. João Diogo Sturz.
Nouvelle geographíe Méthodique par MM. Achille Meissas et Aug,
Micbelot, suivie d'un petit traíté sur la construclion des cartes par
M. Charle. Ouvrage autorisé par Tuniversité, Trentième édition.
Paris, 1850, 1 vol. 8.*— Em 28 de Setembro de 1855.
Zeilschrift der Deutschen geologíschen Geselischaft. Berlin, 1854.
(Agosto, Setembro e Outubro de 1854), 1 vol. 8.* — Dito.
Fabula Geographica Europae ad slatum (juo sub finem anni 400
posl Christ : nat. fiiit, in usum juventutis erudiendae descri pta a
C. Kruse. 1 vol. folio oblongo.— Em 26 de Outubro de 1855.
Nosiilogia Histórica ex monumentis Medii aevi lecta animadversioni-
bus historieis ac medicis illustrata. Edidit D. Cliristian Gothfr.
Gruner. Jenae, 1795, 1 vol. 8.» — Em 7 de Dezembro de 1855.
0 Sr. Conselheiro Joaquim Maria Nascentes de Azambuja,
Deserípçâo da co^ta do Brazil, da Ponta de S. Rento a Pitimbú, apre-
sentada por Manoel António Vital de Oliveira. Pernambuco,
1855, 2 exemplares, 1 vol. 8.*' — Em 15 de Junho de 1855.
Esposicion que hace el general Alvear, para contestar ai mensage dei
gobiernodel4 deSeiiembre de 1827. Buenos-Ayres, 1827, 1
vol. 8.« — Em 20 de Julho de 1855.
Mensagem que em 1827 apresentou o poder executivo de Buenos-
Ayres á saln dos representantes , censurando nào ter havido re-
sultado algum satisfatório para a republica da campanha, etc.,
avulso.
Reise nach Rrasilien, tod Dt. Hermann Rurmaister. Berlio, 1853»
1 vol. 8.»— Em 20 de Julho de 1855.
o Sr, Jimifuim Norbirto ãt Smta Síivã.
Beifttorio apr^senlado ao E%."* více-presrdenie àa pmvífieia_ âo Ké
de Jíiní^iro, o Sr. Dr JD?é Ricarrío ífe Sá Rego peín preâidaoie Hj
conselheiro Luiz Anlonio Barbosa, por occasiíío «Íb fiassiir-lbe ai
admiiiistraçnoda miasma provmcia* Niclheroyt 1855, I vot falb,
^Erri 17 de Afíoslo dfi Í855>
Reinlorio do virs-preíidente da orovincia do Riô de Janeiro o Dr,
José Ricardo de Sá Rcro nn aberliím da 2/ seísSo d:i IO.* legi^
laiura da as^embléa It^gisiativa [inovincial , acíirnjwriliJtdo da ur*
çamento da reci^iUi e despoja pra o anno de 1856. Jííctberoj ,
1855,1 voL 4/'— Dilo.
Balanço da receita & de?pe7a da provinda do Rio de Jm^^íro iio
exercício de I85|. Riodí* Janeiro^ Í855, l çqI 4.*— Uim,
Menuiria histórica o documeiUada dasaidôasde rndm da nruvincia
do Rio de Jemelru , composta por Joaquim Norberlo de SoyZJ
Silva, RiodclaneJro, 1855, I vol 8 • — Em 2fi dô Ouuibra de
1855.
O iír* Augusto Lecérger^ presidi nl§ da prmUttriã dê Mnltfí GroêSi>.
Relatório do presidente di província de lilatto (■ro^iSD « ^tiftiibct
Leverpr. Cuyabá, Í8õ0 a 18&4« ã vuL S,""— Em 4 á% maio de
i855.
CoHeeção das lais provinciaes de Malto Grosso. Rioecionadas «pro-
mulgadas nos annu3dél850 a 1854. Cnvabã, 18S0 a 1SSÍ, 5
i/oi.a— Dito.
O Sk Roh^rt^ CmUtêiroit di Mi tio t vire-pftítidmU du proi^incim dãã
Átagóas.
CfiWecífiQ das J eis da província das Alagoas* promõlpdai^ m> ifiDoife
1S55, Maca>á lS5g, 2 examplartíã, 1 vot, 8/ — £ui M da Ou-
lubro de 1S5S.
Falia dirigida á as.S€mb1éa le^islaiiva dà província das Alag^vs» çnt
185S, pelo E%.^" prej^idefíta da mesma província, o Dr. Afilonio
Coellio do Sá e Albuquerqiiâ. Ueeife, íHBB^à eiemplêtm. — Otlo.
O Sn Glusifm Fiorrlli.
Annali diNumiFímatica publícatê da Giuseppe FiorelU. Napolír 1851
â 18Sa, 2 voIk Qm 4.^ — Em 7 de oiHubm da 18^.
ítlonumenií Cumani» I vul. id«ni.--DiIo.
87
O Sr, André Curcino tíinjamim.
Relatório da ihosouraría provincial da Bahia» apresentado em f 85S«
Bahia, 1855, 1 vuL folio peq. — £in 4 de Maio de 1835.
índice on repertório geral das leis da assombléa legislativa provincial
do Grão Pará, (1838 a 1853,) por André Curcino Benjamim.
Pará, 1854, 1 voL — Dito:
O Sr, Hinriqtu dê Beaur^pairê Rohan,
O campo do Ypiranga, por Henrique de Beaurepaire Rohan. Cori-
tyba, 1855, 1 vol.
Viagem ao campo de Palma, Uenriquo de Beaurepaire Rohan. 1 vol.
O Sr, Ignacio Accioli de Cerqueira e SUca,
Ensaio corographico do império do Brazil oíTerecido e consagrado a
S. M. o Imperador o Sr. D. Pedro II, por Alexandre Josó de
Mello Moraes e Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva. Rio de Ja-
neiro, 1854, 1 vul. 12.% 8 exemplares —Em 4 de Maio de 1855.
O Sr. conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, presidente da
provinda do Paraná,
Relatório do presidente da provincia do Paraná o conselheiro Zacarias
de GiKiS e Vasconcellos, na abertura da assembléa legislativa pro-
vincial, em 15 de Julho de 1854 Corityba, 1834, 2 vols. folio,
' 2 exemplares. — Dito.
O Sr, Conselheiro Herculano Ferreira Penna, presidente da
provincia do Amazonas,
Falia dirigida á assembléa legislativa provincial do Ama7X)nas, no
dia 1.* de Agosto de 1854, em que se abriu a sua 3.* sessSo
ordinária, pelo presidente da provincia o conselheiro Herculano
Ferreira Penna. Barra do Rio Negro, 1854, 1 vol. S. — Dilo.
O Sr. Presidente da provincia das Alagoas,
Collecçao de leis da provincia das Alagoas promulgadas no anno de
1854. Maceyó, 1854, 1 vol. 8.*— Dito.
O Sr. Ladislau dos Santos Titara,
Memorias do grande exercito alliado libertador do Sul d'America,
por Ladislau doa Santot Titara. Rio Grande do Sul, 1853, 1 vol,
8.-— Dílo.
88
O Sr, Ferdinãnd Denii,
hm SamantainíiíJe Naplouse, Epi^ode lYun peloríiiíigo Hans \èf IÍ«tíf
sainU, pir M. TAbbó J. J, L. Burgés, Paris, 1855, I vol « •—
EmiSdeMafode ISSS.
O Sr, Ú. Pedro dt Ãngtth.
De \^ navigraion de 1'Amfiíono. RefK^nso ala incmciífe de M. Maury,^
ofílcier de lí> marine des Eial« Unis, pr M. de Angôliv Munte
vidéo, 1854, l vul. 8/— Em 1 du Jutilio de I8S5.
O Jjv Dr. Eduardo Firrmra França,
Investig&ções de fsychología , fielo Dr* Eduardo Ferreira Frsfiçt.
Bahia, 185'i, 2vol. S./^— Dito.
O Sr. Dr, Âítofpho Manoel Vicíõrio da Coilã,
Aponta meiUo*^ sobre a cholura morbus epidemica na sua tnriisioeai''
Pnriug.il, pL'lo fanecido Dr. Eniidio Mani>6l Victofio da CoAi*
Coordenados por sen filbo o Df. Adoíplio Manoel Vicioria da
Gosta» com ym proemio em que se trata amplamente o género d*€8ta
palavra. Ria de Janeiro, i voK 8.'— Ecn !20 d6 Julho d^ 18SS.
O Sr, consÉÍhtiro António Pimenta Bu^nt»,
Discurso do Sr. Pimenta Bueno na sessão do senado de 26 dê luiit
de 18S3, relativarnenltí aos limiles com n Piiraguay, discutindo
a fixa^àú das forças de mar. Eío de Janeiro, iSS^t t esdinpliras*
1 folhtítoem Ij2*— Dito.
O Sr. Francisro Joné Borgfs.
Voyage piltoresque dans les deus AmôriqyeSj par Alcíd« d*Orljigiiy.
Pada. 1841, 1 voL i.**— Dil0.
O Sr, />n José PrãSíd€3 Pereira Pachéro,
O mil cultivaLÍor insiruido em lodo o manejo rural e aíTcmroodaíô i
qualquer clinia. Bio de Janeiro, 1855, I voL S.** — DiUi-
O Sr, coHtgú 0í\ Jodqíttm Catíana Femamies Pinheiro*
Job, traduzido em verso» por José Etoy Ouoni, procedido 1.* de un
discurso sobre a poesia em geral e «m particular no Erafil pde
89
cónego Joaquim C. Fernandes Pinheiro: 2.* de uma nolicia sobre
a vida e poesias do iraductor pelo Sr. Thoophilo Benedicto Ouoni:
3." d'um prefacio extrahido da versão da Biblia, por De Genoude.
Rio de Janeiro, 1852, 1 vol. 8.* — Em 17 do Agosto de 1855.
O Sr. Theophilo Ribeiro de Rezende.
Leis, decretos e regulamentos da provincia do Paraná, 1855. Cori-
tyba, 1855, 2 exemplares, 1 vol. 4." — Dito.
O Sr. Dr. João Francisco Lisboa.
Jornal deTimon. Maranhão, 1853, n.*^ 6 a 10. — Em 14 de Setembro
de 1855.
O Sr, Manoel Gomes Corrêa de Miranda.
A Estrella do Amazonas, n.*^ 100 a 113, 118 e 120 a 125 do anno
de 1855.— Em 26 de Outubro de 1855.
O Sr. Franc de Paulicea Marques de Carvalho.
O Mensageiro, jornal industrial, noticioso e lítterario (impresso na
cidade do Desterro) 1855, os n.«* 1 a 3. — Em 12 de Outubro
de 1855.
O Sr. cónego Joaquim Pinto de Campos.
Sermão recitado na matriz do Niclheroy no dia 7 do Setembro pró-
ximo findo, pelo cónego Joaquim Pinto de Campos, 1855. — Cm
26 de Outubro do 1855.
O Sr. Dr. José Vieira Rodrigues de Carvalho e Silca.
As três épocas de uma presidência , drama em três actos, pelo Dr.
José Vieira Rodrigues de Carvalho e Silva. Sergipe, 1855, 1 vol.
em 8.'— Dito.
O Sr. António Alvares Pereira Coruja.
Lições da historia do Brazil adaptadas â leitura das escolas, por An-
tónio Alvares Pereira Coruja. Rio de Janeiro 1855, 1 vol. em 12.
— ^Em 9 de Novembro de 1855.
O Sr, Adadus Calpe.
La novella actual breves consideraciones sobre la litteratura contem^
poranea, por Adadus Calpe, 1 vol.— Dito.
xviii ifp. 12
to
o Sí% Út\ Cattano Aha di Súutã FiigUfirMM.
C&lhecHma brasílico dá doutrina chrbtSa com o ceremcmbl ém
sacraínenlos ^ mai» íiclos paror liiaeí, composto por padres JotiUa
(lii caniponbia de Jesus, etc« EmanrJado tiV^^ta %* ími^ressào p«1«i
padre Bendolomeu de Leam da mosm^ compaidiia. Lisboa, 1(^86»
1 vol env 12.— Diío-
O Sr. ManQei Ant&niú Vital d'OUrsÍni,
Descri peão da cosin do Braiíl de Pitimbu a S. Benlo, e da lodaa m
barras^ portos e rios do litoral dfi província de rêrnambuco, se-
guida de um rolíííro para se demandarem as mosm-is baiTM afom-
pariliando a planta fremida cosia» polo i,* lenenlo d'*rmada Manoel
António Vital d'01iveira, Uecife» 1855, 1 vol. 8/— Em 23 di,
Novembro de 1855.
O Sr ígnacio Manod Àlvarn d' Autedo^
Poesias de Manoel António Alvares do Azâ^ado. Rio do lan*ifO,
1853, i vol. 8,*— Diio.
O Sr^ J&ãf Efoy Ptssúã.
Revista Mariltma Brasileira. (Cotlcc^âo) 1851a i855,^Diía.
O Sr, Francisco Adoipfw de Vãmfutgm.
Hisioria geral do Brazil, por Francisco Adolpho dâ l^amhagen* '
Madrid 1854, 1.* vol, 8," ^ands— Bítò.
Obra que eouoorrcn aq* premioi propoUot por 9, M* IiDperi«|
e pela loifltuto Híitoríflo.
Geograpbia Itislarica physicn o poUtii-a do Brazil, por Franeisea
Kunes de Souza.— Em U ée Solcmbro do IÍS55.
Trabalho ^fferettiào para icrvir de ti talo d« admiti i^ d« »«ci#
na tàrtsím do artigo €.> dõ« éttatuto*^
Refletões .^bro as primeiras ópocas da historia do Braiil em ííeral •
sobre a innituiçào das capitanias em particular pelo Dr, Caelaiio
A)v«s do Souza Fitgueiras —Em 12 de Otitubro di 1851.
91
floeiot admíttidot no aimo de 1896.
Correspondentes,
Os Srs. — Cónego Joaquim Pinlode Campos. — Em 31 do Agosto.
» Conselheiro Luiz Pedreira do CouUo Ferraz. — Em 14 da
Selembro.
» João Francisco Lisboa. — Dilo.
• Dr. Caetano Alves de Souza Filgueiras.— Etn 26 de Ou-
tubro.
iMIlgiti
IIVDICE
DOS ARTIGOS CONTIDOS NO TOMO XVllL
N/ 17.
AuAzoKAS. — Memoria escrípta em desenvolvimento do progranima
dado por S. M. 1. ao sócio effeclivo o Sr. Dr. A. Gonçalves
Dias rag. 5
Ensaio sobre os Jesuilas. — Memoria escrípta pelo Sr. Cónego
Dr. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro 67
N.^ 18.
Foral da Capitania da Bahia e cidade de S. Salvador. (Ms. offerc- j
eido ao Instituto \yoT S. M, o Imperador) 159 • *?
riE(;iMFNTO dado a António Cardoso de Barros, cavallciro fidalgo da
casa d'Elrei, como provedor-mór da fazenda que primeiro foi ao
Brazil. (Ms. olíerecido por S. M. o Imperador) 166
DescripçÃo da viagem feita desde a cidade da Barra do Bio Negro
pelo rio do mesmo nome, por Hilário Maximiano Antunes (iur-
jão. (Ms. offerccido pelo Kx."" Sr. ministro do imi)erio, Luiz
Pedreira do Coulto Ferraz) 177
CÓPIA fiel do titulo de Taques Pompeu , que fez Pedro Taques de
Almeida Paes Leme pelo anno de 1763, e que se acha em poder •
de João Pereira Kamos d' Azeredo Coutinho. (Ms. offerccido pelo !
Sr. António da Costa Pinto Silva) 190 j
Epitome da erecção e creação do novo bispado de S. Paulo , km que i
impetrou esta graça, ]K)ntifíce que a concedeu, seu ]Hiineiro j
bispo e cónegos com que se fundou a calhedral. (Ms. olferccido ♦
jKílo mesmo senlior) 226
S. João de Ypauema. Descripção do morro do mineral de ferro ,
sua riqueza, methodo usado na antiga fabrica, seus defeitos.
(Ms. offerecido pelo mesmo senhor) 235
CÓPIA da parte que deu o capitão de granadeiros Cândido Xavier
de Almeida e Souza, sobre o descobrimento do rio tgurehy. (Ms.
oíTerecido pelo mesmo senhor) 2UU
Descoderta dos campos de Guarapuava por António Botelho de
Sampaio. (Ms. oíTerecido pelo mesmo senhor) 252
CÓPIA da carta do commandantc da praça de Iguatemy, em que dá
parte ao governador e capitão-general D. Luiz António de Souza
Botelho e Mourão, do descobrimento que fez dos fundamentos
de uma grande povoação , que se suppõe ser as ruinas da antiga
cidade de UcaJ 277
04
N/ 19.
Memorias sobre o descobrimento do Brazil. — Algumas conside-
rações, por J. J. Machado de Oliveira, membro premiado do
Instituto Histórico e Geographico 279
Reflexões acerca da Memoria do illustre membro o Sr. Joacrnim
Norberto de Souza Silva, por A. GonçaWes Dias, sócio effectivo
do Instituto , lidas na sessão de 29 de Maio de 185^ 289
— Notas 329
Refutação ás Reflexões do digno membro o Sr. A. Gonçalves Dias,
por J. Norberto de Souza Silva, sodo effectivo do instituto, lida
nas sessões de 15 de Setembro , 13 de Outubro, 2U de Novembro
e 7 de Dezembro de i85/i , na augusta presença de S. M. I. 335
— . Notos 397
N/20.
Officio do governador de Cabo Frio, Constantino de Meneiau,
datado do l\io de Janeiro a i de Outubro de 1625 (offerecido
ao Instituto por S, M. I.) ,. 407
Apontamentos sobre a vida do Tndío Guido Pokrane, e sobre o
Francez Gmdo Marlière (offerecido pelo sodo o Ex."^ Sr. Conse-
lheiro Luiz Pedreira do (>)utto Ferraz). . , AIO
Addi TA MENTO aos Apontamcntos para a biogrq>hia do Índio Guido
Pokrane . . . iil6
Actas das sessões de 1855 / . . . . kiS
Discurso proferido em nome do Instituto Histórico e Geographico
pelo Sr. Joaquim Norberto de Souza Silva, aodar-se á sepultura
o cadáver do socío honorário o Sr. Manoel Alves Branco, Vis-
conde de Cnratrollas 456
Discurso proferido vm nomo do Instituto, pelo mesmo senhor, por
occasião de dar-se á sepultura o cadáver do Vice-Presidcnte o
Sr. Aureliano do Souza c Oliveira Coutinho, Visconde de Sepeliba. /i58
SLPPLEMENTO.
Sessão publica anniversaria do Instituto Histórico no dia 15
de Dezembro de 1855.
Discurso do Presidente o Ex."' Sr. Visconde de Sapucahy. ... i
Relatório do 1." Secretario o Dr. Joaquim Manoel de Macedo. . 3
Discurso do Orador o Sr. Manoel de Araújo Porto-Alegre. ... 33
Appendice ao relatório do Secretario.
Offertas feitas no anno de 1855 76
Obra que concorreu aos prémios propostos por S. M. I. e pelo Ins-
tituto Histórico 90
Trabalho offerecido para servir de titulos de admissão de sócio,
na forma do art. 6." dos Estatutos 90
Sócios^ admittidos no anno de 1855 91
Rio de Janeiro, 1855. Typ. Univei-Rl deLAEMMERT, r. d«« Invalidof, 61 B.
H^ii
fcios
£i3áj
f ãm
i
65 1
4
i
^ c;' *"
U
m •a
^ o Or-
r-i :^ u *
CO ijl-^ >
CM 01
CM «1 Ç
o a
14 -d c
o t
^ o E
fl? -^ ..-
o o Cd
4-» ^ 4J
1
í
m
<
'
! M
r-fO
^
^<\
^K