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Full text of "Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais"

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REVISTA 


DO 


INSTITUTO  HISTÓRICO  E  GEOGRAPHICO 


TERCEIRA  SERIE. 


TOMO  XTIII. 


REVISTA 

DO 

INSTITUTO  HISTÓRICO  E  GEOGRAPUIGO  DO  BRAZIL 

FCNOADO  NO  RIO  DE  JANEIRO 

DBBAIXO  DA  IHMEDIATA  PROTECÇÃO  DE  S.  H.  i. 

O  SKNHOR  D.  PEDRO  II. 


IIoc  facit  ut  loufn*  durcnt  Itenc  g«tl>  per  aunoi 
líl  potsiiit  ipri  posteriute  frui. 


TOMO  XVIII 


4  TOMO  V  DA  TBRCXIBA  «EBIE.) 


BIO  DB  JAITBIUO 

ITPOGBAPHIA  UNIVERSAL  DE  LAEMMERT 
Rua  dos  Inválidos,  61  B. 

1855 


3228 1 I 


REVISTA 


DO 


INSTITUTO  HISTÓRICO  E  GEOGRAPHIGO  DO  MAZIÍ. 


3/  SERIE.  — N.«  17.  —  1."  TIUMESTRE  DE  1855.     *•>;/. 


AHiZOHAS. 


A  nossa  historia  não  resolveu  ainda ,  nem  mesmo  tem  tratado  com 
seriedade  de  saber  si  em  algum  tempo  existiram  amazonas  no  Brazil. 
Este  ponto  pode  ser  ventilado  pela  critica;  para  o  tentar,  foi-mo 
preeiso  eomparar  os  historiadores,  confrontar  as  relações  dos  viajan- 
tes anúgos  e  iDodemos,  quer  citando-os»  quer  extractando-os.  D'eIIcs, 
portanto,  é  o  presente  trabalho ,  que  a  minha  tarefa  so  foi  de  com- 
bina-los. 

N8o  pretendo,  pois,  senão  apresentar  um  esboço,  imperfeito,  sem 
duvida,  do  que  a  tal  respeito  se  tem  escriplo;  e  si  a  este  resumo 
honter  de  aecrescentar  algumas  observações ,  ou  de  aventar  alguma 
opinião,  que  me  seja  própria,  tanto  folgarei  de  que  aquellas  possam 
parecer  judiciosas,  como  que  esta  não  seja  inteiramente  inverosimil. 


;    AMAZONAS 

:'*•%*'      14  de  Dezembro  de  1853. 
•  •  - 

\^  $í  existiram  amazonas  no  Brazil? — Si  existiram,. 

./qi^es  os  testemunhos  de  sua  existência ;  quaes  seus 

*'*tçôstumes ,  usanças  e  crenças?  —  Si  se  assemelhavam 

...  V*ou  indicavam  originarem-se  das  amazonas  da  Scythia 

.**\      e  Lybia» — e  quaes  os  motivos  do  seu  rápido  desappa- 

recimento?  Si  não  existiram,    que  motivos  tiveram 

Orellana  e  Christovão  da  Cunha,  seu  fiador,  para  nos 

asseverarem  a  sua  existência?  » 


A  simples  leitura  do  programma,  que  deixo  transcripto,  em  cujo 
desenvolvimento  me  cabe  agora  a  honra  de  occupar  a  attenção  d'este 
instituto;  indica,  no  meu  entender,  que  se  dá  como  certo,  ou  pelo 
menos  como  presumivel ,  a  existência  de  amazonas  na  Scythia  e  na 
Lybia ;  e  ainda  mais,  parece  que  se  admitte  não  so  a  probabilidade 
da  sua  existência,  como  a  possibilidade  de  virem  de  paizes  tão  remo- 
tos implantar  na  America  seus  usos,  costumes  e  forma  de  governo, 
estabelecendo,  em  vez  de  colónias,  gynecôos  politicos. 

Ora,  admitlido  que  em  algum  paiz  ou  tempo  se  tivesse  dado  a 
existência  de  uma  republica,  exclusivamente  composta  de  mulheres, 
que  tivessem  achado  meios  de  se  conservar  e  -progredir  sem  que  as 
fatigasse  o  exercício  das  armas,  nem  o  estado  violento  em  que  se 
achariam  collocadas,  ja  meio  resolvido  estaria  o  programma ;  porque, 
supposto  haja  um  grande  intervallo  a  percorrer-se  entre  a  possibili- 
dade e  a  effeclividade  ou  realidade  de  um  facto,  neste  caso  comtudo 
ficariam  previamente  regeitados  muitos  e  os  mais  fortes  dos  argu- 
mentos em  que  a  opinião  contraria  se  baseia. 


£!sta  consideri{lio  me  loduz  ã  dar  uma  nova  collocaçao  ââ  proposí^ 
çõas  do  programma  sobre  que  me  cabo  dissertar.  Tralarel  pois  em 
primeiro  lugar  d^s  «^imazoms  áo  velho  inundo,  e  do  quQ  a  seu  res- 
peito pensaram  ou  acreditaram  os  antigos;  e  occypar-m6-bdi  depois 
pom  as  que  alguns  descobridores  suppoieram  ler  tmcon trado  na 
America.  Nem  dei^iarei  em  silencio  as  rabões  e  autoridades  com 
que  uns  o  outros  argumentam;  poque,  ^upposto  nao  cheguem  a 
(^[abelecer  irrecusavelmente  o  facto ,  servirá  isso  coro  tudo  para  justi  - 
fiear  o  programma. 

Assim  i]ue,  não  oecullo  o  meu  pensamento*  Creio  que  alguns 
haverá  iotima  epor  assim  dizer  insUncUvamonte  eonvencidos  de  quo 
o  desenvdvimenlo  do  presente  programma  n5o  poderá  trazer  em 
resuhado  mais  do  que  uma  dissertação,  que  seria,  ainda  tratadn  por 
outros,  quando  muito,  curiosa.  Para  estes  pois  não  eatandu  que 
seja  desnecessária  a  citação  do  autores»  que  são  reputados  lidedi<|no^^ 
de  viajantes  que  {>assam  por  verídicos,  e  a  apresentação  de  provas, 
quo«  H  não  sào concludentes,  bastam,  em  Uklo  ocaso,  para  demons* 
Irar  a  necessidade  de  um  exame  $obre  eite  ponto^  mais  serio  do  que 
á  primeira  vista  se  poderia  pensar, 

O  rãâumo  doestas  provas  apresí^^iHji-a*  como  um  todo^  que  n3o  é 
indigno  do  attençào. 

Colombo  levo  noticia  nas  Antilhas  da  existência  das  amazonas, 
liálegh  a  espalhou  na  fiiglaterra,  Orellana  na  Hespanba :  diz-se  qual 
era  a  nação  com  qu6m  ellas  tratavam,  e  de  que  tribu  descendiam. 
Ilernando  Ribera  ouviít-ono  Para^uay,  Ln  Condamine  nu  Amazonas, 
emquanto  Bi  beiro  que  linpugnava  a  veracidade  ã<^  facto  verillcou  a 
ejiistancia  da  tradiçio  com  o  testemunfio  dos  próprios  indig^nas* 
Ilumboldl  mesmo»  á  vista  do  tantas  provas,  não  se  recusa  a  admittir  a 
sua  eiiitonciaf  ainda  que  so  temporariamente  ede  cerlo  modo* 

Estas  pmvas  adunam-se  o  precipitam-se,  como  que  se  queira  com 
a  agglomeraçãó  de  todas  ellas  disfarçar  a  fraqueza  de  cada  uma  de 
per  si;  mas  ainda  assim  uma  consideração  de  aígum  modo  as  corro- 
bora. Do  dons  únicos  autores  sei  que  especialmente  seoccuparam 
d^ÊSte  assumpto ;  é  um  d'etles  Pedro  Petlt  na  sua  obra  DUstriatto  de 


8 

ÀmazmibuSf  e  o  segundo  o  abbade  Guyon  na  sua  BisMre  des 
Amazones  anciennes  et  modtrnes, — e  ambos  conciliem  que  existiram 
aBfiazonas.  Todavia ,  seria  esta  consideração  de  mais  peso,  si  nSo 
soubéssemos  a  inclinação  que  mostram  os  eruditos  para  sustentarem 
paradoxos,  aproveitando-se  para  isso  das  obscoridadee  e  discrepâncias 
que  de  necessidade  se  notam  nas  obras  de  homens,  que  escreveram 
em  tempos  o  lugares  diversos,  sob  a  influencia  de  idéasoppostas,  e 
sobre  assumptos  difTerentes.  Si  bem  lhes  parecer,  virão  graven^ente 
apresentar-nos  testemunhos  o  provas  do  maior  momento,  susten- 
tando, no  seu  desenvolvimento,  que  Napoleát  é  um  miibo  da  anti- 
guidade e  a  republica  das  Amazonas  um  facto  dos  tempos  modernos. 

'  Porém  ainda  mesmo  depois  da  autoridade  d'estes  eruditos ,  será 
curioso  de  nolar-se  que  assim  como  bastou  entre  os  romanos  para 
transmittir  o  nome  das  anaozonas  até  ao  tempo  de  Âugusto^  a  segure 
de  um  só  fio,  opposla  á  bipenne,  que  tinha  dous,  e  que  se  chamava 
Ámazanica  {Âmaxonia  securi,  diz  Horácio)  (1);  tenha  a  mesma 
tradição,  quando  nSo  existisse  o  rio  de  igual  nomo,  de  ser  perpe- 
tuada entre  os  modernos  pela  pedra  de  acha  Beilstein^  que  por  algum 
tempo  se  confundiu  com  a  que  é  conhecida  pela  denominação,  mais 
significativa  para  o  caso,  de  Àmaxonenstein  ou  de  pedra  das 
'  amazonas. 

Originou-se  esta  opiniSo  da  poesia,  introduziu-se  no  vulgo  pelo 
amor  do  maravilhoso, —  os  historiadores^  si  a  nSo  improvisaram, 
aeeitaram-na  sem  critério;  e  foi,  como  muitas  outras,  recebida  nos 
tempos  modernos  como  um  deposito  venerando  pela  sua  antiguidade, 
e  talvez  só  dignotde  fé  pelos  idiomas  em  que  nos  foi  transmittida. 

Quasi  três  séculos  antes  da  nossa  éra,  Apollonio  cantava  a  expe- 
dição dos  argonautas.  Este  feito,  que  os  gregos  reputaram  heróico  e 
de  um  esforço  quasi  divino,  era  apezar  d'isso  mal  escolhido  assumpto 
para  a  acção  de  um  poema  épico  por  ser  para  ella ,  como  todas  as 
navegações,  dó  uma  extrema  e  extreme  simplicidade.  Das  costas  da 
Tbessalia  ao  Ponto  Euxino  não  era  muito  dilatada  a  viagem:  seriam 

(1)  Horau  Uf.  à.  Od.  h. 


tarOs  os  incidentes,  e  não  tao  grandes  e  tantos  os  perigos,  que  com 
«lies  se  pudesse ,  ou  encher  o  quadro  do  poema,  ou  justificar  a  gbria 
e  veneração  de  que  entre  os  antigos  fruiam  os  argonautas.  Apollonio 
teve  de  recorrer  ao  maravilhoso  e  do  sobrecarregar  o  seu  poema  de 
episódios:  para  isso  povoou  a  terra  de  gigantes  ferozes,  e  de  peri- 
gosas feiticeiras, —  encheu  o  mar  de  escolhos  temerosíssimos,  c 
valeu -se 'da  tradição  das  amazonas,  que  na  ilha  de  Lenmos  appare- 
cem  tfio  fora  do  caracter  que  se  lhes  attribuo,  e  táo  tractaveis  aos 
navegantes  do  Argos  coroo  as  habitantes  das  ilhas  dos  Amores  aos 
companheiros  do  Gan»a. 

Eis  o  que  se  ló  no  primeiro  dos  quatro  cnnlos  da  expedição  dos 
argonautas  on  a  conquista  do  Tosáo  de  Ouro  do  Apollonio:  (1) 

cc  Sobre  a  manhãa  descobrimos  o  monte  Athos.  Bem  que 
aíTastado  da  ilha  de  Lemnos  o  caminho  que  podo  fazer  um  navio 
ligeiro  desde  o  romper  do  sol  ató  ao  meio  dia ,  todavia  a  sombra  do 
seu  píncaro  cobre  uma  parte  da  ilha ,  e  se  projecta  até  a  cidade  de 
Meryna.  O  vento  que  linha  soprado  lodo  o  dia  o  a  noite  seí,'iíinie , 
escasseou  ao  romper  do  sol.  Chegaram  á  força  de  remos  á  ilha  de 
Lemnos,  habitação  dos  antigos  Sintios. 

«  Ali  tinham  perecido  miseravelmente  todos  os  homens  no  anno 
precedente,  victimas  do  furor  das  mulheres.  Muito  tempo  havia  que 
ellas  não  apresentavam  ofTerenda  alguma  a  Vénus.  A  deosa  irritada  as 
lornou  aborrecidas  a  seus  maridos,  que,  abandonando-as,  procura- 
ram novos  prazeres  nos  braços  das  escravas  que  captivavam ,  disso- 
lando  a  Thracia.  Mas«  que  attentados  nos  não  conduz  o  ciúme?  As 
mulheres  de  Lemnos  assassinaram  na  mesma  noite  a  seus  maridos  e 
rivaeSy  e exterminaram  até  o  ultimo  dos  varões  para  que  nenhum 
sobrevivesse  que  algum  dia  lhes  podesso  impor  o  castigo  merecido 
pelo  seudelicto.  Hypsípyla  só,  a  filha  do  rei  Thoas,  poupou  o  sangue 
de  seu  pai,  ja  maduro  em  annos.  Fechou-o  em  um  cofre,  e  abando- 
nou-o  assim  á  merco  das  ondas,  na  esperança  de  que  algum  feliz 
acaso  lhe  salvasse  a  vida.  E  assim  aconteceu  de  feito.  Viram-no 

(1)  Apolloiiio.  C  1.  Trad.  de  Caassin. 

xfni  3 


10 

alguns  pescadores  e  o  recolheram  na  ilha  OEnoi^  chamada  depoai 
5icnittf ,  do  nome  de  um  filho  qiio  Tboas  leve  da  nyiaptMb  OEnoS* 
uma  das  nayades. 

(( As  mulheres  do  Leronos ,  quando  se  Tiram  as  unicae  babitantei 
da  ilha »  abandonaram  as  obras  de  Minerva ,  de  qoe  até  então  ao 
linham  exclusivamente  oocupado,  e  sem  difficoldade  seaeosiomaram 
a  manejar  as  armas,  a  guardar  rebanhos,  e  a  lavrar  a  terra.  Gomtudo 
voltavam  sempre  para  o  mar  os  olhos  inquietos»  temendo  de  continua 
que  os  ihracios  as  acoromettessem.  • 

Seguiram-se  a  Apollonio  outros  poetas  que,  aproveitaodo^se  da 
mesma  tradiçSo,  tiveram  comtudo  de  a  reduzir  ás  proporções  da 
verosimilhança.  Ninguém  ha  versado  nas  litteraturas  latina  e  italiana^ 
que  não  conheça  os  nomes  de  Gamilla  e  de  Clorínda ;  mas ,  nem 
mesmo  no  cantar  dos  poetas,  Camilla  ou  Clorinda  eram  verdadeiras 
amazonas.  Tornadas  taes  por  circumslancias  extraordinárias,  queaa 
deverão  ter  aíTaslado  das  occupações  pacificas  e  dos  hábitos  sedenta- 
rios  e  naturalmente  compassivos  do  seu  sexo,  e  apezar  de  terem  no 
caracter  alguma  cousa  de  fero  e  sanguinário  que  o  encanto  da  poesia 
de  tão  grandes  mestres  n«io  disforça  inteiramente,  nem  uma,  nem 
outra,  comtudo  poderiam  sympathisar  com  a  selvagem  ferocidade  das 
mulheres  amazonas  da  Thracia,  que  começando  peta  própria  mutila- 
çSò,  rematavam  pelo  homicidio  constante  e  systhemalico  da  metade 
da  espécie  humana.  Camilla,  rainha  dos  volscos,  commandava  uma 
ala  do  exercito  latino,  cercada  de  mulheres,  que  eram  seu  braço  na 
acção,  e  sua  alma  nos  conselhos.  VirginU  ala  Camilwy  diz-nos 
Virgifio.  E  Clorinda ,  única  e  solitária  no  exercito  dos  serracenos 
demonstrava  que  nSo  era  naquelle  lugar  senão  uma  figura  excepcio- 
nal pela  singularidade,  como  era  entre  as  do  seu  sexo  pelo  theor  da 
vida.  Os  creadoresde  tão  poéticas  imagens  tiveram  de  nos  explicar 
longamente  o  motivo  porque  taes  seres  se  achavam  como  collocados 
fora  das  leis  da  natureza,  e  dos  hábitos  dos  povos  com  os  (}uaes  con- 
viviam. Camilla  educada  na  dura  escola  da  adversidade  e  da  imperiosa 
necessidade,^  Clorinda  amamentada  por  feras,  tonge  do  commercb 
humano. 


11 

Assim  qiiô  «â  [>roporçõeâ  da  bbtifa  «o  iâm  reduxinda  m  (Misâtique 
minguava  a  crodulídfide  humana.  No  poela  grego  as  amazonas  com- 
ptinham  timã  cidndet  no  latino  uma  ab  do  eiercito,  no  iiatiano  nâa 
pianváníi  da  unídado, 

i  lodjivia  notável  que  ao  passo  em  quo  os  pootas  por  amor  da  lei 
dft  virosjmitbançã  m  viam  constrangidos  a  cercear  a  lala  dos  seus 
quadros,  o§  seguiseem  bem  de  perto  o^  liialoriadores»  que*  sem  res- 
peiío  á  etílica ,  sem  amor  á  verdade  os  ampliassem  e  exagerassem» 
adinillíndo  nas  lições  sôv^ras  da  historia  i»s  ficções  caprichosaa  da 
imaginação.  Termas  Theopompo  para  Âpollonbp  Justino  para  Vírgi* 
lio«  Silvio  ^neas  para  Tasso. 

A  seu  lômpo  t>os  oceu premes  d*eâte!t  autores ;  por  agora  cabe^nos 
t%p6f  o  quo  áeerca  da$  amazonas  pensaram  oi  untigos. 

Começo  por  dar  a  devida  preferencia  ás  letras  sagradas,  A  historia 
antiga  nos  offereee  um  eiiemplo  notâvol  da  extincçáo  do  ramo  mas- 
eutino  em  todo  um  povo.  Lemos  no  Excedo  (1)^  que  Pharaó  irritado 
com  B  retirada  de  Moysás  a  dos  israelitas  ^«  tomara  eomsigo  todo  o 
teu  povo  para  os  perseguir,  e  que  na  passagem  do  Mar  Vermelho, 
lis  aguas ^  divididos  pela  víira  de  Ifoysés,  tornaram  se  a  ajuntar  sobro 
o  exercito  de  Wiaraó,  e,  diz  o  historiador  sagrado  —  $ém  que  (fdks 
ucapnstc  mm  §§  qutr  ttm* 

Alguns  escriplores  menos  reflectidos,  oti  querendo  conciliar  a 
lota!  destruição  do  exarcit^^  de  IHtaraó  corn  a  persistência  da  raça 
egypela,  tomaram  doeste  facto  occasifo  para  improvisarem  um  reinado 
de  mnlberes  que,  st  nlo  eram  verdadeiras  amazonas »  nem  por  isso 
seriam  menos  dignas  da  attençâo  dos  InsloriadoreB;  porque  ^  si  ó 
pouco  verosímil  que  um  grande  numero  de  mulheres  se  tenham 
completamento  segregado  da  convivçDCfa  com  os  homens^  é  ainda 
menos  verosimif,  ou  antes,  maispasmoso  que  a  energia  viril  se  tenha 
podido  sugeitar  ao  império  das  mulheres-  (t  Quando  estíis  reinam, 
diz  um  ^eriptor  moderno^  os  homens  governam.  »  Seria  pois  hom 
notável  que  todos  os  liomens  se  eurvassem ,  sem  reluctanfía ,  como 


(i)  Cap«  ii«  r,  a  a  SI. 


sem  resl^iMicii»,  «i  servi-las,  quamlt)  cilas  se  lembrassem  de  irsurf^ar 
o  mnndo. 

Diz-iios  ()oi^  u  paiirAj  Atlianasio  Kircher  no  seu  Tratado  (io$: 
Reis  do  Egypto,  ter  extrahído  de  um  escriptor  árabe  (Ben  Lehiaja) 
que  de|)ois  da  submerí^ão  de  Pharaó  e  de  todo  o  seu  exercito  no  Mar 
Vermelho  y  onde  pereceram  tudo  quanto  no  Egypio  havia  de  homens 
illustres,  príncipes  e  gràos  senhores,  não  restando  senão  escravos  e 
libertos,  reuniram-se  as  viuvas  dos  magnatas  e  escolheram  para  suo 
rainha  a  uma  litha  de  Zabu ,  de  nome  Dalíska,  afamada  por  sua 
|)rudencia  e  habilidade  nos  negócios,  illustre  por  seu  nascimento  e 
família  ,  macrobria  respeitável  que  já  contava  160  annos  de  idade! 

Algumas  circumstancías ,  quanto  a  mim,  escaparam  a  este  autor: 
em  primeiro  lugar  que  oseseisavos  dos Egypcios  eram  os  Israelitas,  & 
estes  ha viâo  acompanhado  a  Moysés;  depois  que  um  exercito  se  não 
pode  compor  nem  das  crianças  nem  dos  velhos,  nem  dos  infermos, 
de  forma  que,. ainda  exiinctos  lodos  os  guerreiros,  sobrariam  anciãos 
para  o  governo,  e  haveria  jovens  para  esperança  do  futuro. 

Mais  explícitos  e  noticiosos  são  os  antigos  escriptores  gregos  e  lati-, 
nos.  Começamos  por  Justino ,  não  porque  lhe  seja  de\ida  a  prefe- 
rencia em  razão  de  antiguidade ,  nem  porque  o  reputo  autoridade 
mais  segura  ;  n)as  porque  sendo  certo  ,  como  se  tem  escripto,  e  elle. 
próprio  o  con fossa,  quQ  a  sua  obra  não  é  senão  um  resumo  dadeXro- 
guo  Pompeo,  parece  lambem  fora  de  duvida  pelas  pacientes  investi- 
gações Ha  critica  que  Troguo  Pompeo,  no  trecho  que  vou  citar  de  Jus- 
tino, baseou  se  na  autoridade  de  Theopompo :  completando  os  dados 
d'este  historiador  com  os  que  lhe  forneciam  Heródoto,  Ctesias  e  os 
miiographos ,  veremos  como  Justino,  ou  quem  quer  que  seja  a  quem. 
cile  reproduz,  dá.  largas  á  imaginação  com  a  facilidade  de  quem  se 
iiáo  sente  tolhido  pelas  peias  da  versificação,  nem  da  rythma,  deixando, 
muito  alrás  de  si  aos  poetas  no  campo  do  improviso. 

V  Dous  principes  Scyihas  Ylínos  e  Scolopito  (*),  expulsos  da 
pátria    pela    facção    dos    nobres,    arrastaram     comsigo    graodQ^. 

Ci)  JusL  HisU  L..  2  E.  L 


ifttim^fo  ãú  njurictílú»  (An.  Mim,  181)8}  e  i^e  ('St^jLdecerâm  nos 
roíiluk^  ilij  C:i[^{iiidocii»  pertu  do  v\i^  Thúr  mo  Joule,  sujoitaiido  ê 
ot:cii[Ki(ido  m  vin\\]mií  T(iumi^i}'nos.  Ali  vivi^nnn  por  rnuttos  atiuós 
iiii  cuâtutnd  du  di^prudamin  os  s6us  viictnbos ,  nté  que  por  fim  morre- 
ram iKis  eiubfL^^adus  qtie  Iba^  arm^ir;in>  os  povos  conspirados  cootrii 
iú\cs  Sm^  mtiliitTo^  T  vtuvus  alem  de  exiladas ,  lorouin  us  armas , 
iJ(;kud@udo  ao  principio  as  suas  fronteifAS  t  e  logo  depois  alucando  as 
du  eonlrarios;  renunciam  ao  casamento  rjue  chamam  úutes  servidão 
ijue  niatrimoriio;  —  o  ousando  ura  feiío  sem  exemplo  tim  íeculo 
algum,  consotidao  sem  homens  a  mn  repultico,  e  delles  se  deíendem 
ao  passo  que  os  desprezam.  E  para  que  umas  tião  parecessem  mais 
felÍ2i3sdo  que  ouiras,  matam  os  poucos  homem  quo  reslavam  entre 
olIaSi  8  logram  vingar  a  morle  dos  cônjuges  com  a  dos  seus  con  tina  a- 
(es*  Depois,  quando  com  as  armas  já  tinham  conseguido  pa^^  facilitam 
»o$  viicirdioã  os  seus  lei  los. 

«  M alavam  aos  filhos  varões  (^ccrescerUít  Justino]  o  as  Olhas  edu- 
cavam a  sou  modo^  não  no  ócio  o  em  oecupações  mulheris;  mas  no 
trafego  das  armas,  dâ  equitação  e  áii  cara,  —  queimaado-lhes  na 
infância  o  peito  direito  para  que  tivessem  mais  facilidade  na  úm  da 
iâta,  d  onde  lhes  veio  o  nome  de  Amazoujis. 

•  Uouve  entre  elbs  duas  rainhas  Marpczia  e  Lampedo«  ãsquaes^ 
dividiriiio entre  si  a  noçáo*  que  jii  tinha  crescido  em  forças»  faziam 
íilternadamente  a  guerra  ;  e  basiava  cada  uma  de  per  si  para  conier 
úA  adversários.  l>Íziam-so  descendoutes  de  Marte  para  realçar  o  merilo 
ãtà  suas  vícioriâs  com  a  autoridade  da  reíigiâo. 

A  Depois  de  subjugada  a  u)aíof  parte  da  Europa,  apoderaram-^ 
iBinbem  de  algumas  cidades dMsía*  Ali  ediffcam  E[dieso,  e  muitas 
outras  cidades  o  licenciam  uma  parto  do  seu  exercito,  quo  volto  para 
a  palria  carregado  de  desp<qcs.  A  outra  parle «  que  tinha  ficado  na 
Ásia  para  defesa  do  suas  conquistai,  íoi  anniquilada  com  a  morte  da 
raiuta  Marpezia  por  uma  erupção  de  barbãroi< 

«  \  Marpezia  succedeu  no  reino  sua  Olha  Orithya »  que  com 
stnijubres  conhecimentos  da  guerra  foi  a  admir3(;áodosea  |ym[iíí  [K>r 
uma  consiaute  virgindade.  Com  o  seu  valor  tanto  se  augmenlou  ix 


u 

glorb  e  ê  ímití  das  AmAZOfias ,  f)U6  o  rei  a  quem  llerctiles  devia  úúm 
inbnlGSt  Itie  ardanou  pr  julga- b  imfiowível ,  que  lhe  trouiesse  ai 
armas  da  raínli^  das  Amazona»  (A.  M«  27^0)*  Partiu  Hercules  oom 
£1  Oor  da  mocidaile  grega  em  nova  navios»  o  lieu  iii^peradamente 
sobre  aí  Amit{onas«  As  duas  irmãs  Ântíope  e  OríUiya  âs  governavam 
eotâõ ;  mas  Orilhya  açii^va-se  ausenta  em  uma  étperlição,  e  Antiófm 
á  cdegada  de  Uarculeã  linha  poucas  iropas ,  nem  previa  acommelti- 
msnlo  alguni,  O  inesperado  do  ataque,  a  excitação  do  iumulio  eom 
que  correm  áâ  armas iproporeionaoi  ao  inimigo  uma  vielcria  mal  dis- 
pulada.  Morreram  muilas,  outras  ficaram  prisioneiras»  o  enlra  esus 
conlaram-seduas  inníis  de  Anliope  :  Menalippe  de  Uercuies,  e  Hip- 
polyiade  Ttie^eo.  lUmm  tomou  por  mullier  a  sua  capcira.a  delia 
tevo  a  llippolyto ;  Uerculâs  porem  entregou  á  trmàa  a  que  lhe  tocara^ 
rec-ebendo-lbõ  as  armas  por  pre^  do  resgate»  e  volluu  cumprida  a 
sua  missão* 

M  Apenas  Orithya  pabe  da  guorra  feita  a  suas  irmíís  por  um  prín- 
cipe Ãilieniense^  exKaria  as  suas  companbeiras*  lambrando-lhes 
que  debalde  teriam  subjugado  o  Pontú  e  Ásia,  si  o  seu  proprm 
pai£  ainda  m  via  exposto  aos  ataques  e  depredações  dos  Gregos. 
Depois  pede  auxilio  a  Sagillo,  rei  da  Scylhia*  «  Eram  as  Amazonas 
descendeu  les  dos  âeytlias  (dt^ia  ella)  que  a  morte  dosmnjuges  e  a 
própria  defesa  haviam  forçado  a  recorrerás  armas  com  o  valor  acosiu* 
mado  das  mulheres  da  Scythla.  O  rei  movido  pela  gloria  nacional 
mandon-llie  em  auxilio  Panaxagoras  á  írenie  dê  numerosa  e^vallaria ; 
mas  anlesdã  batalha,  introduzlndo-se  a  discórdia  nos  doua  exércitos, 
as  Amazonas  soltram  uma  derrota  pelo  abandono  dos  seus  ai  liados ; 
acham  porem  guarida  em  seus  quíirleis^  e  sob  a  sua  piotec^So  voltam 
ã  Sc^ihía^  sem  receber  damno  das  outras  naçoes. 

•i  A  Orilbja  auccedâu  Pentesílea  (an.  M.  âSOO]  que  partindo 
eiitrô  vaknteB  soldador  em  tuxilio  de  Tróia  contra  os  gre§o«^^  deu  ali 
elariíísimos  testemunhos  do  seu  valor.  Iloría  cmfim  Pentesílea  e  des- 
troçado o  sou  Gf$êTCí\Q^  as  (loueas  amazonas  que  tinham  ficado  na 
Scythia^  cheiram  até  ao  (empo  de  Alexandre  Magno,  defendendo-se 
com  diOiculd^do  úm  viíiaiios.  Minitbya  ou  Tallestris,  sua  rainha^ 


1& 

fAttdve  compartilhar  por  tre2e  noiles  o  lm\ú  d'tôld  keróe  orinl  de  ter 
d*ellii  tim  Olho  *,  mm  voltando  ao  seu  rétiOf  morreu  poucd  Icmpc  de- 
pois, ^  com  elk  se  acjiloii  o  nome  das  amazonas*  a 

Citamos  por  extenso  esta  passagem  da  Joslleo;  porque  é  nefla 
que  se  funda  e  é  essa  que  eiílracta  om  aiilor  moderno,  prociirondo 
oom  provar  a  eíxisleneta  d'eslas  cale  bradas  haroinflâ,  Canserog  âuior 
beâpanhol,  no  s«d  Diccionario  dm  mulheres  itluitres  pubUeadõ 
em  Madrid,  ainda  nâo  ha  úqz  ânnos  (em  IK4I]  cita  e  como  que  apoia 
o  autor  do  diecionario  hislorico^  publicado  em  Barcelona  em  ÍMO^ 
qtie  dá  como  multo  provard  t>0]e  em  dia  a  eiTâtencia  das  anin^tanas. 
No  entrelantOj  do  modo  por  qm  se  exprime  aqtrelle  autor,  quando  S6 
ofcup»  de  tal  afisumpío,  sena  antes  de  suppor,  o  para  osta  opinião 
mo  inclino,  nâo  queetie  escreva  serra  mente;  mas  que  por  gracejo  e 
simulando  uma  seriedade  de  que  está  bem  Ionize,  dá  mm  o  provado 
aqtiilto  em  que  nem  ellecré^  nem  com  facilidode  se  pôde  ãcreJitar, 
procurando  por  esta  Turma  tornar  verosímil  a  sua  ihese^  com  a  nega- 
ção de  circumstancias  curacieristreas ,  e  invocando,  como  que  lhe 
fossem  favoraveiSp  autlior^  que  intes  o  dosabonariam. 

Tratarei  de  o  demonstrar,  eonfroniauda  â  opinião  de  Canaeco  cãm 
a  de  JuBtiniK 

Independentt  de  consíderâçdaâ  geraea  com  que  a  mú  tempo  pro- 
curarei mostrar  a  inferosimilhança  d'esta  fabula,  que  muitos  nao  juf- 
pm  digtia  do  uma  discussão  serid,  o  autor  latino  retesta  o  facto  dê 
laes  cireumstancioSt  qtje  o  tomam  por  demais  âusf)eito. 

Em  primeiro  logar  começa  elie  por  dí^er-nos  pouco  antes  do  tre* 
tho  que  citamos,  que  por  espaço  de  1$0()  annos  a  Ásia  pagara  aos 
scythas  um  trtbutOt  qoe  cessou  no  tompo  de  Nino»  isto  e,  segundo  o 
seu  computo,  no  anno  1300  da  creaçííD  do  mundo.  Ora,  como  tam- 
bém DOS  di£  este  autor^  foi  por  nieaíio  {tnedi4>  Umpor^)  do  período 
em  que  a  Ásia  se  achava  tributaria  dos  scythas,  que  se  deti  a  sçisão 
d*éité  povo  a  o  subseciuente  apparecimento  daa  amazofias. 

O  império  doestas  mulberea  deveria  poftanio  ter  começado  no  anito 
1100,  pouco  mais  ou  menos,  para  concluir-se,  aupponbamos  em 
Peutesil^,  que  foi  ai  liada  de  Priamo  na  guerra  de  Tróia,  isto  é  no 


16 

(snno  (Io  mundo  2,800.  Assim  deveram  ter  subsislído  por  espaço  de 
1700  annos,  duração  pouco  provável  em  uma  época  de  guerras,  rapi- 
nas e  conquistas ;  e  menos  provável  ainda  em  um  império  de  mulhe- 
res, que,  a  ter  existido,  não  podia  deixar  de  ser  tão  precário  quanto 
era  excepcional. 

  segunda  circumstancia  pouco  provável,  ou  antes  tào  inverosimil 
como  a  primeira,  ó  a  vastidão  das  suas  conquistas.  Justino  trata 
somente  das  amazonas  asiáticas,  e  essas  no  seu  dizer  conquistaram 
toda  a  Europa,  e  alguns  estados  da  Ásia.  Os  que  tratam  das  Amazo-* 
nas  da  Lybia,  não  querendo  que  as  suas  heroinas  parecessem  menos 
esforçadas,  quando  comparadas  ás  primeiras,  fazem-nas  vencedoras 
dos  atlantes,  numidas  e  ethiopes,  e  senhoras  das  costas  septentrío- 
naes  da  Africa.  Sendo  cilas  porém  contemporâneas  umas  das  outras 
segue-se  que  subjugaram.quasi  todo  mundo  entào  conhecido,  todas  as 
zonas  que  reputavam  habitáveis  e  habitadas,  e  por  assim  dizer  todos 
os  povos. 

Vem  aqui  a  pello  uma  reflexão  de  Strabão : 

cc  Quem  acreditará,  dízelle  (1)  que  tenha  jamais  existido  exercito, 
cidade  ou  nação,  composta  so  de  mulheres,  que  de  mais  a  mais  inva- 
diam paizes  estranhos,  conseguindo  nSo  so  bater  os  seus  vizinhos, 
como  também  passar  a  Jonia,  chegando  a  enviar  exércitos  alem  do 
Ponto  Euxíno  até  no  paiz  da  Atiça?  £'  a  mesma  cousa  que  si  alguém 
dissesse  que  os  homens  eram  mulheres,  e  as  mulheres  homens  I  o 

Alem  d'estcs,  ha  em  Justino  outros  factos  de  menos  alcance,  mas 
igualmente  dignos  de  reparo  :  são  aquellas  duas  rainhas  que  subdi- 
videm e  repartem  entre  si  a  nação,  e  a  governam  independentes ,  si 
bem  que  ao  mesmo  tempo,  conjunctamente  e  na  melhor  harmonia  , 
cousa  que  não  aconteceu  nunca,  nem  mesmo  aos  dous  irmãos  funda- 
dores de  Roma  :  são  os  contos  de  Hercules  e  Thesco  que  se  prendem 
a  esto  novo  conto :  ó  Pentesilea  que  soccorre  Tróia,  e  Thalestris  que 
supplica  ao  vencedor  da  índia  a  honra  de  ser  por  treze  noites  conse- 
cutivas admittida  a  compartilhar  o  seu  leito. 

(1)  Slrb.  Geogr.  L.  ii. 


17 

Si  eonfrúntâmas  Juaúnê  com  A|iollõnÍi>i  o  htAEorkdor  mm  o  \m% 
vemos  que  nenhum  fundfimGnto  Xem  Qitiâeco  pjira  ávant^ar  que  os 
poetai  t  d  ÊSpecialmentiios  ilâ  untigiiiJade,  ao  pimo  que  so  i  m  mono  li- 
^iram  cont  a$  Siuas  bêilais  in§pi rações,  causaram  f^rantfo  rhmoo  i% 
sciencías  hístóricai  pr  cnlralecâf^m  fic^dof;  rom  v«}fdad6$. 

Pelo  cDfiifarití,  é  Jusbmetuo  aos  bisiorbdor^  gregas  c  làtímB,  n 
fjue  pOíkni  ser  í»p[iticaveís  as  suas  palavras,  de  que  nemsô  éla^  miuú 
todas  as  {Kissimi  do  mediano  crUerio »  íiâo  pod^mi  logo  â  primeira 
Ttstai  deixar  de  reputar  exagerado  a  maior  iioria  do  qne  acerca  das 
araiiZDnas  Sd  conta,  —  eomo  sejíi —  matarem  os  filhos  varâi!^»  quei- 
maram um  poíloelc-,  o  que  Ciimiudo  s^lu  co.^itumcs  caraeleríslií^oii  d*os* 
ias  muthores,  o  se  acha  eonsiguado  om  Justino,  e  ainda  oin  uutrGS 
que  pegaitam  o  factn.  Cansoco  reputa  impoíííítvtíl  a  pruneiri  clrcumB- 
Isncla  por  se  opptk  ás  leis  da  natureza,  e  as^^vera  q^ie  Imure  c^^uivoco 
na  segunda;  pois  que a^íimazonds  não  (|ueimavam,  ma^  atropliiavain 
por  moio  da  pressão  o  peílo  direi  lo,  reduzindo  o  $eu  tamaíihú  iiâlural 
para  com  mais  facilidnJo  alinirtTm  o  arr^i, 

Ccmitudo  tom  \n)t  verdadeira  a  ^ua  existência  ;  iihls  redu^idii  a 
questGo  a  setis  ju»tlo$  Hmilas,  e  separando  da  sua  íustoria  o  que  nella 
introduiiram  de  fabuloso,  como  em  quasi  todas  ns  outros^  os  poetas  do 
antiguidade.  Dá  como  certo  ter  ido  Pentesilca  em  auxilio  dos  Troia- 
nos, pois  não  julga  quo  se  possa  crer  na  destruiç/lo  de  Troia^  ^  tiào 
nu  Amazonas  quci  aifiítíarama  Priamo,  quando  iiâo  siippSd  mais 
fãmú  para  uma  do  que  para  outra  cousa.  No  emtanlo  flomero  que 
goxa  dos  foros  de  historiador «  e  tao  minucioso  em  numerar  as  tropas 
blinda  mesmo  em  Jescretâr  as  armas  de  cada  combatente,  imo  falta 
em  laes  amíionas^  devendo  o  sen  sitencio  ser  tomado  como  um  argit* 
mento  em  contrario  de  mutta  considernçao. 

Nada  importa  a  asserção  de  Pausanias  de  ter  visto  no  tempto  de 
Jtipíl^  Oiympico  uma  pintura  represeribindo  Pantesilía  aos  pés  de 
Achilles,  PicíõrUfUS  aíque  púttis  quwtihd  nudmda  imnper  fuií 
mquapaieêíQi^  Hem  ara  preciso  que  Horácio  o  mmíti  escrípto  para 
sabermos  qut  procurando  os  pintores  assumpto  para  m  iitai  composi* 
ifitt  d 


18 

çOes,  onde  o  encontram,  que  nSo  somente  nas  cbronicas  timbradas 
pela  critica,  o  cfTeito  do  bello  os  dispensa  da  provada  verdade. 

Canseco  reputa  também  fidedigno  o  que  se  conta  de  Tbalestris,  ne- 
gando porem  que  fosse  verdadeira  amazonas, — nSo  obstante  a  auto-» 
ridade  de  Justino,  que  a  cbama  não  só  Amazonas  como  a  rainba  d'ellas. 
ft  Porque  se  ha  de  acreditar  (diz  elle)  em  tudo  quanto  nos  refere  a 
historia  antiga  acerca  de  Alexandre  Magno,  e  negar  que  a  descendente 
das  amazonas,  Tallestris,  se  apresentou  na  Ásia  ao  heroé  macedónio, 
quando  o  relata  o  severo  Quinto  Cursio,  e  outros?  »  Não  sei  a  que 
outros  aliude  o  autor  hespanhol;  mas  é  pouco  de  presumir  que 
seriamente  se  attribua  a  Quinto  Cursio  o  caracter  de  historiador 
severo.  «  Não  admiro,  nem  creio  por  ser  escripto  em  latim  neste 
conto  insipido  (leio  nas  investigações  philosophicas  sobre  os  america- 
nos) (1)  que  nos  narra  Quinto  Cursio  de  ler  vindo  Thalestris  dos 
confins  da  Hyrcania  impetrar  de  Alexandre  o  grande  a  honra  de 
dormir  três  noites  (treze  diz  Justino)  em  seu  leito,  o  (2). 

Para  nfio  ter  de  voltar  alguma  vez  mais  a  occupar-me  com  este 
autor,  notarei  algumas  inexactidões  que  são  para  nolar-se  neste  seu 
artigo.  Em  primeiro  logar,  entre  as  armas  que  lhes  deu  a  antigui- 
dade não  se  contava  a  bipcnne  que  linha  dous  gumes,  mas  uma 
segure  chamada  do  seu  nome,  que  tinha  um  só  fiõ.  Unâ  tantúm 
parte  secanSf  commontam  os  annotadores  de  Horácio.  Nota-se  tam- 
bém que  nem  em  Platão  se  pode  achar  argumento  em  favor  da  exis- 
tência das  antigas  amazonas,  nem  a  respeito  das  modernas  se  expri- 
me Humboldt  da  maneira  cathegorica  e  terminante  que  o  autor  hes- 
panhol parece  indicar.  No  dizer  de  Canseco ,  Platão  assevera  que 
pouco  antes  da  sua  época  (sendo  elle  quasi  contemporâneo  de  Ale- 

(l)Recherches  Philosophiqucs  sur  les  Áméricains.  Berlim  1770.  d2.pag.i06. 

(2)  Os  próprios  autores  que  nos  asscTeram  a  existência  das  Amazonas,  regei- 
tam  esta  fabula  de  procurar  palestris  o  heróe  macedónio ;  argumentando  que 
ellas  já  não  existiam  no  tempo  de  Alexandre,  porque  Xenofonte,  mais  antigo  dó 
que  elle,  não  trata  d*ella8,  ainda  que  descreva  os  paizes  que  se  dix  terem  ellas 
habitado.  Acham  que  ha  raxão  para  duvidar  da  fidelidade  de  Arriano,  que  é 
quem  nos  refere  este  facto ;  porque  Ptolomeo  e  Aristobulo  que  todavia  i 
panharam  Alexandre  o  não  relatam. 


10 

idndrõ,  floresciam  as  amnonmf  e  IltiiiiboKJi  apoia  i»asla  parto  a  reU- 
ç^ô  do  padre  d'Evreu\- 

P  lata  o  nao  ira  ta  propriamente  de  aiiiMúrias,  mâS  do  Sauromali* 
dê^,  qiiâ  quer  dizer  olhoâ  còr  dâ  pelltí  de  lâgarlo^  —  ou  como  leem 
outros — Sauro[intidê&-come- lagartos,  ou  aííiJÍa  Snuromálâs  como 
€)screve  llippocrules.  Com  43sUi5  expresso  es  eram  enlrío  designadas  as 
pescas  de  uru  e  outro  s^xo  que  babita^am  a  Scythla  Sauromatya. 
Platfio  rccomraeriJa  ás  mulhereâ  da  sua  nação  os  exercícios  ^mnas- 
ticos,  do  quB  eobranãin  taiUa  boura  como  os  homerií^ ;  porqua  (diz 
elle)  (1)  assim  o  aprendi  das  velbas  fabutas,  Ealas  velbus  bistorías  oti 
faliiibs,  segundo  aniendo,  coiiiariâtucisosdemulberes  que  se  bouves^ 
sem  tornado  celebres  ern  laes  e\ercic:iof  ganbâodo  coroas  nos  jogos 
publicoâ  da  <jrecia;  e  tanto  mais  que  as  mulberas  com  que  nesla 
prte  do  seu  dialogo  se  occupa  riatào  não  podem  ser  propriamente 
consideradas  como  Amazonas*  n  Eu  uào  ignoro  (diz  elle)  que  uinda 
110  meu  tempo  Kavía  nas  circumviztnbanças  do  ponto  £u%ino  um 
numero  innumeravel  de  mulheres  chaniDdas  Sn  uromatidos,  as  quaes 
incumbia  ,  assim  como  aos  liomens  af^retider  n^o  $á  a  montar  a 
camlio,  mas  a  atirar  o  arco^  e  a  se  servtr  de  outras  armas.  » 

Vé-se,  pois,  que  se  não  pôde  rnvoear  a  autoridade  de  l^JatãOf 
como  que  venha  muila  a  pello  para  ú  caso  ou  que  soja  decbtva»  Ve- 
jamos porém  si  ha  outros  i  em  cujo  testemunho  se  podesse  Canseco 
tasear. 

Jeronymo  Mercuriali  (-l),  assevera  que  llippocrates  provou  clara- 
mente que  3  naçto  dm  umazoniis  que  alguns  lem  repntado  fabufo^  ^ 
existiu  realmente,  posto  que  não  com  o  eoHtunie  de  deslocar  as  juntas 
aúi  rapazes ,  atlm  de  por  este  modo  os  toj  nar  coxos  o  mais  fraeos« 
Nâo  sei  a  que  obra  do  tlippocrat^  se  refere  t)Sto autor;  o  que  o  certo 
équoso  arn  outra  parte  (3)  lemos  o  eostunio  de  deslocarem  as  ama- 
tonas  as  juntas  aos  íillios^^  circumstancia  que  parece  invouiada 


(1]  7  dbL  dat  leis. 

(S)  Jcrdine  Mercunatl  l  a«  cip.  7«  Dlterse»  Le^i>n». 

(a)  In  ArgODialicn  —  apud  DÍAíiofum. 


20 

para  resulvcr  a  elerna  difiliculdadu  de  combinar  a  piedadtí  materna 
ront  a  dcscaroavcl  crucldado  das  amazonas. 

No  entanto,  si  Jt^romo  Mercuriali  se  refere  á  obra  que  se  intilala 
—  dos  aros,  aguas  e  lugares  (1) —  na  qual  o  medico  grego  nos  des- 
creve os  costunu^s  dos  sauromatas,  a  sua  asserção  vem  a  carecer  abso- 
Intoroonle  de  fundamento.  Da  maneira  por  que  a  respeito  das  sau- 
romatas  se  exprimo  Hippocrates  na  obra  cilada,  vé-se  que  elle 
comprehende  nesse  termo  todas  as  pessoas  de  um  e  de  outro  sexo. 
Diz  que  os  sauromatas  se  casavam,  mas  accrescenta  acerca  de  suas 
mull>eres,  que  estas  andavam  a  cavallo,  atiravam  settas,  arremeçavam 
dardos,  e  se  batiam  com  os  inimigos  emquanto  virgens;  e  que 
depois  de  se  terem  dado  as  armas,  era-)hes  então  permittidocasarem-se, 
licando  desde  logo  dispensadas  de  montarem  a  eavallo ,  ou  de  irem  á 
guerra,  emquanto  uma  expedição  commum  as  não  obrigasse  a  isso. 
E  logo  em  seguida  ajunta  que  careciam  do  peito  direito,  porque  sobre 
ellesas  mSis  applieavam  às  filhas  desde  a  sua  primeira  infância,  um 
instrun»enk>  de  cobre  feito  de  propósito  para  esse  uso,  de  modo  que, 
remata  elle,  davam  por  esta  forma  mais  vigor  ao  braço  com  o 
accrescimo  da  substancia  que  deveria  alimentar  aquelle  orgSo  no 
seu  estado  iKMrmal. 

81  das  palavras  de  Hippocrates,  que  deixei  extractadas,  se  não  pode 
concluirá  existência  das  amazonas,  ha  todavia  uma  phrase  de  um 
dos  sanctos  padres,  em  que  se  poderia  e  talvez  mesmo  se  tenha  que- 
rido i>nsúar  eesa  opinião.  Tartuliano  (2)  d\t  das  mulheres  scytas  que 
ellas  queriaru  aoles  usar  das  armas  do  que  easarem-se.  No  emtanto 
para  se  lhe  dar  esta  intelligencia ,  é  preciso  tomar  em  outro  sentido 
do  que  deve  ler  naquelle  lugar  o  vocábulo  latino  -^  prim» . .  quam, 
ou  priustuam^  que  lanto  pôde  indicar  preíereneia  como  prioridade. 
Teriuliano  descrevo-nos  a  extrema  barbárie  dos  scythas,  mostrando- 
nos  como  as  suas  mulheres  loffia\'am  parte  em  seus  banquetes,  mais 
hediondos  do  que  os  dos  nossos  anlropopbagos!  As  mulheres  mesmo 

(1)  Cap.  17.  Hippocrates. 

(2)  L.  i.**  contra  Marcion. 


21 

(eferevt;  ullc)  iiâo  m  amenim^m  mm  coid  o  súxo,  nem  cum  o  pudor. . , 
trabalham  com  aehm...  íí  ãccra^rentando  no  mesmo  péHúcfo  a  pbrnsd 
quti  de  iríamos  âporilado*  mo  pòAe  isllii  ulTum^r  auiro  sentido  senâú 
r|Utii!ssas  mulheres  usavam  ilus  *irmas  íinies  de  so  Cíisnrem.  Doesta 
íútnm  $ô  híirmonísa  a  õpMiiãu  da  T^^rtulíaho  com  o  que  outros  autores 
110$  refere tn  d jis  mulheres  da  SAuromatliía,  t|na  nãa  podiam  casar 
tiem  deíiar  dg  »er  virgens  anleâ  de  ler  captívâdo  â  trás  íoiuitgos. 

Um  autgr  qua  GOtn[)arado  0  eâtes  iJoJemmos  ctiamar  tnodémo « 
pfaltíndd  explicar «  seu  modo  3  origem  d'aBia  fabula,  Paít^pbatys  na 
tui  obra  Oiítoiru  incroyahhê  (1],  aventa  a  opitiilo  de  que  i9 
amatona^  nao  eram  âen3o  homens  bárbaro*,  chamados  mulheres  por 
s&us  inimigos  por  uí^arem  veâtídos  compridos  como  as  mulheres  da 
Thracia,  triíêrem  o  âahdio  em  eoifas  e  raparem  a  bârbâ.  Ainda 
qud  esta  opinião  s^ja  sujieeptivet  da  melhor  desenvolvtniento ,  a  que 
uetn  iodm  os  factos  cooi  quo  P^iloptiatus  a  sustenla  sejam  absoluta* 
mente  e:iactoSi  tiâo  ma  |/arâce  i^mludo  improvável,  nem  que  careça 
de  rundamentõ. 

Em  primeiro  lugar  nào  é  tntiíto  exacto  que  todos  os  scythas,  em 
lihlã^  as  circumstanciás  usassem  dc^vt^stidu^  tafarès  ou  compridos; 
pelo  contrario,  Hippocrata:»  na  obra  cilada,  fatia  do  uma  espc^cie  da 
catç^ttô  ou  seroulas  proprits  dos  pa\uj  da  Scythiir,  que  sempre  anda^ 
vam  acavalti),  o  a  que  os  gregos  davam  o  mintí  de  anaxyridií$. 
Ora  si  as  mulbenos  iam  á  guerra  e  andavam  a  cavallo  era  de  $tippor 
que  livessem  o  mesmo  vestuário  Jos  homens»  E  lambam  isio  o  que 
se  collige  de  Hurodolo  quando  noi  di£  que  foi  depois  de  um  com- 
bate que  os  scythns  reconheceram  as  amazonas  por  mulheres,  o  quo 
Mo  deitaria  út^  ter  sconlâcído  antes ,  si  ellas  tivessem  um  traje  parti- 
cular 6  distineto. 

Os  scythás  usavam  na  guerra  vestidos  curtos  o  estreitos »  mas 
UippOiçrates  {2)  accrescanta ,  como  com  pouca  dilTôrenc^  se  dii  de 

(J)  !ll[>p«!lutee^  nl<i  falia  firopri^inenlf»  4p  í?u  micho»  ti.i  obra  que  jâ  dU' 
mm-^ílm  iircs,  iiguas  *í  lnj^ore^*  C:íp*  22*  O  i\mv  eUr  nos  flii  f-  (\uc  achii* 
faiii-S«  éiitre  i>s  fc^Uias  muito?  boju^ns  ifnjK»lefífe9  qtie  fc  cn^ilemiitivao)  t 
occu|KicÕ€»  mulheris»  riUandu  e  viveml»  como  («to,  c  «Hie  cit«»  tics  ifint 


22 

alguns  dos  americanos,  que  grande  numero  d'elies  se  faziam  eunuclios^ 
davam-se  a  occupações  mulheris,  tomando  vestidos  compridos, 
faltando  como  as  mulheres,  adoptando  as  suas  maneiras,  e  o  seu 
modo  de  vida.  D'onde  se  vô  que  na  paz  as  mulheras  e  grande  nu- 
mero  descythas  usavam  os  vestidos  compridos. 

Agora,  si  considerarmos  a  estranheza  que  naquelles  tempos  e 
entre  povos  orientaes  e  bárbaros,  entre  os  quaes  o  cabello  solto  e  livre 
era  reputado,  como  foi  em  outros  tempos  e  por  outros  povos ,  ornato 
viril  e  decente  compostura ,  a  estranheza,  digo,  que  devia  causar 
esses  cabellos.mettidos  em  coifas,  e  as  caras  rapadas, — e  ainda  mais 
a  confusão  que  resultaria  de  se  verem  mulheres  scythas  na  guerra, 
vestidas  e  obrando  como  homens,  e  homens  na  paz  obrando  e  ves- 
tindo como  si  fossem  mulheres;  si  a  isto  se  addiciona  a  imaginação 
dos  povos  na  sua  infância,  e  a  credulidade  que  os  propende  para  o 
maravilhoso  e  extraordinário,  fácil  será  de  conceber  como  se  originou 
6  propagou  a  tradição  de  mulheres  guerreiras,  e  de  guerreiros  mu- 
lheres, dando  em  resultado  o  conto  das  amazonas. 

Passo  agora  a  completar  a  narração  de  Justino  com  os  dados  de 
outros  escriplores  acerca  das  antigas  amazonas;  porque,  bem  que 
duvide  da  sua  existência,  não  me  julgo  por  isso  dispensado  de 
expor,  ainda  que  summariamente,  o  que  a  seu  respeito  se  tem 
escrípto. 

Dizem  os  antigos  escriptores  que  as  houve  na  Ásia  e  na  Africa ,  e 
posto  que  mais  particularmente  se  estendam  acerca  das  primeiras, 
alguma  cousa  comtudo  chegou  á  nossa  noticia  a  respeito  das  segun- 
das (1).  « Das  lybicas  escreve  Aunio  no  liv.  5."  de  Beroso,  que  de 
uma  filha  de  Japeto  Atlante,  chamada  Palias,  tiveram  principio  as 
amazonas.  A  dita  Palias,  pela  inclinação  que  teve  ás  armas,  escolheu 

odorados  pelos  indígenas  scythas,  que  temiam  que  lhes  sobreviesse  tal  afflicção, 
é  a  attribuiam  6  cólera  da  divindade  offcndida.  Hippocrates  attríbuc  esta 
circumstancia  ao  clima,  ao  costume  de  andarem  os  homens  constantemente 
acavailo,  ede,  no  começo  da  enfermidade,  sangrarem-se  atraz  de  ambas  as 
soelhas,  onde,  segundo  a  sua  opinião,  ha  veias  que  cortadas,  privam  aos  que 
soffreram  tal  operação  da  faculdade  reproductira. 

(1)  Blute&u— Toc  palavra  Amazonas, 


2S 

varias  mull*erés moças  e  valorosos,  mm  qm  fez  ura  ôxercita^  0  co- 
meçou a  Bcnliorear*se  de  algumas  pequenus  leitas  juiUo  «la  lago» 
Tritonidâ,  o  ereseeucb  assim  era  numero  como  em  reputaçJo  du 
gu  errei  rai«  se  apoderaram  ih  granpJe  pnrte  dWfrica  com  Lm  ta  ordem 
e  bom  governo  c|iie  foram  mui  tamídns  de  todos  os  reis  d*aquella 
lampo.  Veniiô  pois  que  sem  ajuntamouto  do  v^roos  m  extinguiria  a 
sua  memoria,  ordenaram,  segundo  quer  Dtoui^io  (i),  autor  grego, 
que  andassem  solteiras  as  mrjç.ãs,  e  gunrdnssem  virgiudndo  âUí  um 
certo  tempo,  oxereitando-se  nas  artms  e  seguindo  a  bíindeira  de  sua 
rainbap  o  o  tal  li^mpo  a  ca  lia  do,  tomassora  marido*  e  o  tivessem  em 
casa  so  a  eITeito  de  haver  Qlhos  e  do  as  servir  como  crêsido;  e  lia- 
vendo  filho  macho  o  aleijavam,  e  o  faziam  in hábil  para  a  guerra, 
guardando  as  filh^á  caum  succeãsoras  da  sua  gloria  ;  as  miâQn  íaziam 
crear  aos  maridos  i^m  leite  de  c^bra^t  ou  de  outros  animaes*  D'estas 
amazonas  da  Lybia  foT  rainha  íkliryna,que  com  um  exercito  de  trinta 
mi)  iníant^se  dous  mil  ca^^alios  acommelteu  o  venceu  a  Uíarb:is,  rei 
da  Lybia  que  primeiro  lhe  havia  negado  a  vassalagem.  Outr»s  notá- 
veis emprer^s  fa  adita  Miryna  eom  aú  suas  amazonas  no  Egyplo.  >• 

Ou  asiáticas,  porém^  nos  dií  Heródoto  (2),  que  os  scythas  as  deno- 
minavam úÊúrparioã ,  que  vale  o  mesmo  que  androntonoi  ou 
homicidag^  designarão  que  Petit»  autor  que  ja  citamos^  quer  quo 
venha,  náo  do  facto  de  terem  assassinado  os  maridos,  mas  do  costuma 
de  sacrificarem  os  filhos.  Conjeelura  o  historiador  grego,  que  estas 
mulheres  habitavam  a  Cappadoda  perto  do  Termodonie*  Di£-nas 
que  junto  a  e^to  rio  foram  derrotadas  por  Hercules; — que,  prisio- 
neiras e  cdpúvas ,  foram  condurJdas  em  três  navios  quantas  se  apa- 
nharam vivas; — que^  levantando-so  depois  no  meio  da  viagem 
mataram  a  seas  roubadores,  eque  vendo-se  depois  sós  o  sem  entende- 
rem de  navegação,  sem  saberem  ao  menos  dirigir  o  leme,  abando- 
naram^se  á  murcé  dos  ventos  e  das  vagas*  sendo  impellidas  para  as 
bordas  escarpadas  da  Palus-MmtideM :  que  os  povos  livres  da 

(t)  tn  ArgOQãiiUca  apud  Diodurum. 
(2)  Lk.  I.* 


m 


2A 

Scyihia  que  então  senhoreavam  estes  lugares,  sabiram-lbes  ao 
encontro,  e  reconhecendo-es  no  combate  por  mulberes,  resultou  d*âhi 
casarem-se,  juntarem  as  tropas,  e  passarem  porflm  além  doTanais, 
indo-se  todos  estabelecer  na  Sarmatbya. 

Outros  autores quizeram  ver  na  Europa  uma  semelhança  de  repu- 
blica do  amazonas,  em  tempos  remotos,  bem  que  náo  sejam  de  tão 
alta  antiguidade.  O  Papa  Pio  II  que  sob  o  pseudonymo  de  Mnea$ 
Silviu$  escreveu  a  historia  da  Bohemia  (1),  conta-nos  que  outr*ora 
se  vira  neste  paiz  uma  forma  de  republica  tal  qual  era  a  das  amazo- 
nas, sob  a  direcção  da  moça  Valasca ,  e  uma  das  damas  de  Libyssa , 
filha  de  Crocus,  rei  do  Bohemia. 

Esta  Libyssa  (é  ainda  o  mesmo  autor  que  o  refere]  depois  da 
morte  do  rei ,  seu  pai ,  governou  o  reino  por  muitos  annos ,  apoiada 
no  favor  e  na  affeição  do  seu  povo.  Tiveram  as  mulheres  muito 
poder  durante  o  seu  reinado,  de  sorte  que  este  costume  prevaleceu 
de  que  suas  filhas  se  applicassem  aos  mesmos  exercícios  que  os  ho- 
mens; e  como  tivessem  o  corpo  affeito  á  lida  e  trabalho,  havia 
sempre  entre  ellas  um  bom  numero  de  mulheres  robustas  e  corajosas. 
Morta  Libyssa,  Valasca,  rapariga  de  grande  alma  e  coragem ,  apro- 
veitou-se  da  occasiào  para  reunir  as  suas  companheiras,  ex.hortando-as 
a  se  apoderarem  do  reino.  Estas  seguiram  o  seu  conselho,  tomaram 
as  armas,  e  foram  tão  favorecidas  da  fortuna,  que  Valasca  tornan- 
do-se  senhora  absoluta  do  paiz,  governou,  segundo  dizem ,  por  7 
annos  o  reino  da  Bohemia ,  conjunctamente  com  as  suas  mulheres, 
quasi  com  as  mesmas  leis  que  as  amazonas  tinliam  outr'ora  esta- 
belecido. 

«  Depois  d* isto  (ajunta  Jlneas  Silvius)  diz-se  que  já  senhoras  de 
todo  a  paiz,  estas  escolheram  maridos,  e  tiveram  de  seus  casamentos 
descendência  para  sustentar  a  sua  republica :  deram  também  uma 
lei  pela  qual  foi  ordenado  que  se  guardassem  cuidadosamente  as 
filhas^  e  aos  filhos  se  arrancasse  o  olho  direito,  cortando-se-lhes  ao 
mesmo  tempo  o  polegar  para  que,  quando  homens,  nem  podessem 

(4)  Cap.  7. 


eiiteisir  õ  orço»  nem  servifcm*se  de  oiilrfls  Drmsa.  Isto  foi  pmtieido 
por  algíjm  tpmpa,  A  Bulieinin  (reitiíita  JEncm  SíIvíuí:)  foi  dúmnle  7 
annos  a.^sobJa  por  e^lâ  pesla,  e  vlu^^je  qiisM  toda  lribut;inad'c^ta} 
irirgpns.  k 

Bem  (|tii;  AUjerlfi  Krariti  na  íun  CAron/ra  rfoi  ret>  rfa  norH  (1) 
cílâ  uma  lic^íiti  corajosa  do  \aí.isea,  e  pir  nms  Itdedigno  fjiie  õ 
r^puiemos  mo  $q  poderá  concluir  d'alii,  Simão  i^iioé  verdndulra  a 
^xislencia  ú'm^  íiHroiuâ;  iinsninda  m>m  noo  será  prsciso  grando 
d^forço  deiíildligenein  (Kira  â«  ver  que  taúis  bolioititíis  nSo  eram,  nem 
foram  verdiitTeir?»?!  amazonni^,  i^  p<m|tie  iiosnssevera  iEneas  Silvius 
que  a  su»  rept>|jfica  era  tul  qual  a  d'oqitellas. 

Si  quanlo  !;?il)6mo5  án%  anií<,'ai  .nmaz«>na5  Mo  bnstn  pani  p6r  fora 
de  duvida  a  stia  existeiich,  as  provas  quo  n5s  apresentam  os  antigos 
emodornos  vinpntes  áeorea  de  nmn  republica  âimilhante  qtiú  m  dii 
lare^iMido  iio  ríodõ  s&n  nomo  talvez  r^^o  5<^jam  mais  conc1udéiUes« 

Aisim  como  as  ^nliiías  rfcdnjrani  as  difft^retittss  denominações  do 
ima£»>naSf  taiiromalidtô,  e  !;aiirapfiiiil(?s,  tjimlíeni  as  modernas  f tiram 
chainndnâ  na  lingnú  Limanaquo  alkeambmnno  (^2],  e  na  dos  tupis 
cunha teseeutj ma  (3J,  e  laniápuyara  (4)  --multieresque  vivem  sós, 
mulheres  saiií  marMos,  tr  grandes  senlioraSi 

Como  portvm  eslej^  ínliniumenle  ligada  eom  a  liistoria  d'estas  ceIo<- 
brea  heroínas^  a  de  uma  peilra  a  que  os  mineralogistas  deram  o  seu 
nome,  pedra  de  maravilliosas  viriudes^  o  ciijn  origem  se  procura 
icbar  tio  fíú  do  seu  nomog  não  mo  parero  fora  de  propósito  entrar 
nesta  queslàci  preliminar «  da  qual  se  tOJU  deduzido  argirmentos  em 
fa vor  díi  et inten eí a  das  m o< le rr ias  á  mai.on a s  ^  — ^  a rg u  m e n  tos  q u e  pa ■* 
reeem  dd  tanto  maior  peso,  quanto  invocam  em  seu  apoio  nomes 
itiustres  ou  conhecidos,  e  como  quo  m  basuam  na  autoridade  respet* 
tavel  da  scíenciã. 


(tj  y V,  í ,  caiw  s. 

(2)  Padre  C:iU, 

(3)  Lt  Ctínd 

(H)  fu  Ga^jiar  de  Canaj^a^eiíido  por  Herreia*  Doc-  e»  liv.  9,  tip,  !*• 
B^  Geaeisl  de  las  tadlai.  àuton  I73S» 

tfllf  ^ 


Uma  peara  é  âCtUâlmente  túnhmâti  m^  pMúèm  <le  hísiorU 
nattirol,  cam  a  tlenominaçâo  de  p+?dra  das  am.'izot^a<  [Amãzí^nm 
Êkin),  Duffoíi  dá"lhe  o  nome  de  jade^  pêdríi  nenhriiica» —  Orna- 
IÍU3(lj  â  ctas^ifica  nn  familiu  ãúH'  iúmúiis^  ei.»fikO  t  o^peeio  ele  um  stib- 
pneiiO|áqUe  conserva  o  nomo  de  Feldspãlíi.  HumbolJt  {*l),  prém>  diz 
que  o  qoe  nos  gubineies  se  cbama  amíizoneii-stein  *  náo  é  jade*  nem 
feldfpâth  compacTo,  quo  é  o  claque  trnta  Otn.ilnis.  mns  sómentâ 
fddspoth  commum.  Comludo,  esie  mesmo  niituralisía  úit  ter  visio 
tJUla  d'essas  pedras ^  que  ora  orna  saussuriLo^  verdailelro  jade»  que 
d(7Ctogn opticamente  se  approxima  do  fdd^pátb  comparlneque  forma 
uma  das  panes  consiituintcsdo  verãe  di  Corska  ou  doGnlbro* 

Ora,  discordando  tanto  os  autores  na  clâs^^ifia^fo  d'esla  ^edra* 
qbB«  ^niú  em  extremo  rdra  e  dura,  é  apezar  disso  conftmdida  com 
a  pedra  de  acha  {BeiUtein  de  Werner)  muito  menos  lena^, —  nSo 
é  muito  que  a  descrúv^  cada  um  a  seu  modo.  &  llie  aitríbuam  nalu- 
TBZB  e  caracteres  d  iffy rentes. 

E  assim  é,  Emqftaiua  Omalius  a  classifica  como  uma  sílictde, 
Buffon  a  considera  como  uma  matéria  mi^la  servindo  de  transição 
^Ire  as  pedras  quarizosas,  e  as  uneacL^as  ou  lalquosa^.  Ba^eaudo-sõ 
ms  experiéneías  do  chímico  d^Arcet,  de  qt^e  o  jade  m  enrijece  ainda 
mais  ao  fogo,  persuade -se  BufTan  (5)  que  a  pedra  das  amazonas  não  é 
pfdduiida  immediala mente  pela  natureza ;  mas  que  depois  do  traba- 
lhada devera  ter  sido  6mpre<;ndo  o  fogo  para  Itie  dar  a  extrema  dureza 
que  a  earaclerísa;  pois  que  estas  pedras  resistem  ás  melliores  limas, 
eso  cedem  ao  diamante. 

Funda-so  também  esie  autor  na  autoridade  de  Seyfried  (l).seííundô 
o  qual  existe  junto  ao  rio  Amazonas  uma  terra  esverdeada  qnedebatio 
d'água  é  inteiramente  molle;  mas  que  adrjuire  a  coUí^islLnicia  e  rigi- 
dez do  diamante  exposta  á  acção  do  ar  BufFi^u  argumenta  que,  st 
isto  assim  era^  e  si  par  outro  lado  le  considerava  que  os  indígenas 

(1)  Omalius*  latfodaciloa  à  ta  Géologrje*  Bruidtes  1B5S*  T.  1.* 

(í)  VDjage  aui  R^OttS  Equinojuales  par  4.  HumboldL  Parii  1816.  T,  S,' 

(B)  BuííoQ,  HMoíre  naturelle.  Mínérauí^  Dit  Jaik, 

W  Um>  dA  Aeed.  de  B^t^xa  ilk7* 


27 

da  Americii,  que  mm  m  menos  tinham  ínstrumeníos  de  (èrroi  Ioda* 

vrâ  A$  irjib»lliavAm,  fiôm  pra  eondtjiN^,  a  elle  o  conclue^  que  ellai 
devoram  lar  siJo  uma  matéria  mollu,  que  os  americanos  á  mm  lhe 
der^im  9  forma  dú  adias,  ou  da  eyllmlros  brocados  ou  de  Jamínas 
rom  iiiMrri(içye<^,  u  que  dtifNjis  de  diseixâdaB  pebári  m torÃâram  peta 
âcç«^o  tiií  Uipt  pednn^  lio  dura^  como  o^t  conhecemos. 

É  ísio  utna  pre^^um^ição  como  tíile  pretende;  mas  insidie  que  lem 
em  geu  upLWu  além  de  muitas  razoes  e  enlre  outros  factos —  ter  eEle 
vmo  um  ^clia  d«  jade  a^ettonodo,  trazida  das  terras  vizinhai  do 
Amazuiins,  a  qiinl  sú  pdta  cortar  com  uma  faca, — esiado  em  qued^ 
certo  não  podia  servir  para  o  uso  a  r]uo  a  sua  forma  demonstrava  que 
era  dminada,  sendo  para  sup|>ír  que  so  lhe  (aliava  ser  aquecida 
pêlo  fogo. 

£  notável  qno  e5ia  opinioõ  do  grande  natumlista  do  século  d$ 
Luii  XI V,  se  encontro  com  a  dos  rudes  selvagens  do  novo  mundo  (t ), 
Estcí^  tamhom,  liJo  conrebendo  o  inato  nem  a  possibilidade  da  sa 
cortar  e  laUiar  pedríis  duras— laes  como  a  esmeralda,  o  jaspe,  o  feld- 
spíh  com|Micia^  o  crystnl  de  roeba  ô  ouUas^  imaginaram  que  a 
pildra  vt^rdt;  romo  elles  lho  chamam  i  é  molle  ao  sahif  da  terra  e  se 
enrijece  ílepoM  de  irabalhj(dii  á  mão* 

Bumboldt  [ú)  negando  que  sim ilhantes  pedras  sejam  naiuraes  do 
Amiiiona5,  dt«r*revo-aâ  rorno  recebendo  nm  brilhante  polido,  to« 
mando  a  cor  verde  e^^maralda,  transi  andas  nas  bordas,  eitremamento 
tdnase$  esunorai,  e  tanto  qiio  tolhadas  em  tampos  antigos  petos  indi- 
genas  em  laminas  muito  delgadas,  perfuradas  no  centro  a  suspensas 
a  um  lio,  dáo  um  som  metallic^)  qitando  percutidas  por  outro  corpo 
duro, —  motivo  por  que  foram  por  Brogniari  c-omparadas  ás  pedras 
sonoras  que  os  chineze^s  empregam  nos  seus  instrumentos  de  musica^ 
a  que  chrimam  King, 

«  Dá>se-lhes(di£  Bumboldtjtdá-s&^lhesas  maisdas  vezes  a  forma  de 


(II  CW  une  opiniot)  detiui^  detotit  ranrteiDent,,  qugjque  ti<ã^4«|iafict|||i  ft 

VA»fío$tum  qw*  ttft"c  [Ávirt  (Sii*iS*urUt')  pstli  èc»  úàm  un  état  de  i 
niÊiit  paiÊuti  du  p^Ul  lac  ÂmucMt  tírnn^Mi  Qb,  eiu  T.  8»  pag^  307. 
(3)  OU  e  log'  cit4do^ 


S8 

fylináros  persepoíilariost  perfuríidos  If>n;çitinlínfilniôi>le  c  sôbffieaire- 
gadoK  de  inseri pç^i*â  o  de  fiiiiir»^.  M''is  ma  ^h*^  os  mim  í]e  ho]^,  Bssm 
iii{}í^'ena£  do  Aaia^oria^  e  Qrenon>«  qtm  vomns  nrv  ultimo  gnin  do  em* 
bruíti^irDdntOt  os  ^jul*  brof araíii  subsiâfiria^  íSo  duras,  d^fiil^i-tligs  as 
fur^AS  de  aíiima^  e  do  friiet^^.  * — D'.^r]tji  quer  o  autor  âllen^ào 
ÊOncluír  adxíiteneiii  úú  unvá  civi1i£;içáa  niilenor« 

EaiBs  pedras»  que  por  tmiiir)  t'i\\\m  sie  ene^^nlraram  nas  mãôs  dos 
indifítínas  do  Amáz^mas.  Ainda  com  rnai^i  rncilidade  se  acIravAm  ni> 
rio  Tapnjoí ,  não  obt^mte  S4.Tem  ninsmmHft  <^m  lodâ  a  parlo.  Ora  foi 
justamente  junlo  ao  ríD  Tapajós  quo  íinh^U  coltúeou  as  suas  ^ mamonas 
—  ricas  (dÍ2  etia)  ih  hnnA\n  ife  úitm,  que  iil4|iiirli»in,em  triíra  dâS 
fitmo^as  pedras  vcrde$  ou  \yití*\r7k$  liijníbw  (dal  Ligada);  e  foi  ainda 
no  mesmo  rio  que  I4S  nmrni  depois,  Li  Conclamina  a.";  acliou  em 
maii  abundância  (1).  0^  indígena!;,  seguindo  uma  anti^n  lradi{âa| 
pretendem  que  êsla^  pedrus  *inliíim  do  pi^  dím  mnlluíre?  s^m  mnridOí 
ou  das  muUierââ  que  vhinm  sòs«  d.^ndo  mnio  giscment  leilo  prrmi- 
livo  d*esi0  mineral  as  Cjibtscdras  do  Oy:if!Otk*  Orimcico,  ou  Rio 
Bnmco.  Humbotdi  d  incendo  qtie  viu  algumas  dV^ltas  nas  mSos  dos 
índios  do  rio  Negro  (2)«  ecoiktínnandu  a  nntina  de  que  o^  índios  úú 
Tap[02  possuíam  ontr'ora  i^rande  quaniidade  d'cÍ1as,  não  salie  si 
atlas  as  retebaram  do  sul  ou  do  [mh  qm  se  entende  dan  montanhas 
de  Cayenna  para  asiuscen^as  do  Essequibo»  Caronyt  OrenocOf  e  m 
das  Trombetas. 

E«tas  pedras  que  ja  sjo  riras  lomam-sa  mais  raras  de  dia  em  diSt 
ja  prque  os  índios  que  as  estimam  em  muito  âs  guardam  como 
preciosidades,  ja  pela  Gxpriâçãoque  d'el1as  m  tez  e  fq  faz  para  a 
Europa  (3)^  Eram  de  mais  d' isso  mu  rio  proru  radas  e  estimadas  pastos 
colonos  tanto  portugueses»  como  k^^^pandoes  pela  virtude  que  se  tbes 


(1)  Oi  tapajot  mofiram  i^rtas  fHdras  vt'r#lr«,  qtie  ú\mm  m  lierdado  de 
fCUi  piti**  e  que  i-sle»  a*  nbtiviiiiain  áus  Coiíg-uiJntahi^seeouima ^  t|ue  quer 
diKT  ud  Mift  linirua  miiltifrcii  $^ni  uiJirKln*  cm  cuja  pak  abuudam  aqiiellii 
|i«diiiv   LaCõnii,^  (lag,  IQâ,  edic.  çtc  ilà5^ 

(3)  Voy,  aui  Rcf»  \Lq. »  T,  8**,  pof.  10. 

(3)  miUtoi.  dea  Vo;.>Tt  lú»p<s.4letô. 


29 

ittribuia  de  euTurem  pedra,  cólica   nêptireticâ»  a  epilepsia*  âs 
molesiin^  do  f}|;ndn,  e  otilraa, 

Ma^  tintas  mesmaí;  |irelunil (tias  virtudes  tohez  não  n^jam  senSo  uma 
rí^Dhlixno  da  rrença  (vopuiar  tia  aniiguidafi©  ácerua  de  ou  iras  qua 
tn6<t  fk'àfm  sm\^.  O*  inlígos*  gregns  o  romanos,  compraiiam*sa 
rom  o  verde  brílItaiUe  Híi  esmernlJa,  mais  bella  hú  ãmrãti  Plínio  (1) 
ãií  que  o  verde  díi  primavera ,  —  pedra  sempre  brillmnle  (escreve 
elltí),  sempre  afaririmloro  dosotlioSt  quer  visiimaõsfil,  quer  á  sombra, 
quer  du  noite  rq  reflii^o  ilss  lurm.  A  elbs  lauibem ,  além  da  belleza 
aitrlbuiam-l1ii?s  innu meras  virtudes. 

Si  porém  os  antigos,  Plinía  e  Tlieopbrastô  (i)»  davam  o  nome 
genérico  de  o*^m<^ralda  a  lod  is  as  pedras  verdes *^ — a  mais  tsstimada, 
a  maii  belfa  de  lodáK:,  3  verdadeira  efm>TâMa  er»  a  pedra  do  paiídas 
êmmom^ — a  e^^meralda  dd  Scyihía.  Quero  crer,  porianio,  iiao  so 
que  a  inttm.i  cerreljirâo  da  bistoria  das  pdras  verda  com  a  das  ama* 
lona!^  é  uma  recordação  dn  anttguiitade .  como  que  é  doesse  facto  que 
se  originou  a  fé  nua  seus  pretendidos  mibgrca. 

Sei  que  em  mth  amuleto  ou  patuá  se  encofi irará  sempre  um  frag- 
mento  de  mineral,  get  qm  ú  sees^crevesse  a  hisieria  dos  feiffços  entre 
lOiíoá  m  púvo^,  grande  parte  d*ella  si?ria  oceupada  com  a  crença  no 
pretendido  poder  de  certas  pedras.  Assim»  eom  o  que  levo  dito,  longe 
Cftou  de  negar  a  importancra  que  na  sua  iuíancia  m  (lovos  lem  dado 
áspedrait  que  seafTastam  do  coitimum*  eomo  a  lodos  os  objectos  que 
|ior  algum j  singubndade  se  desiaeam  d*entre  as  produção t^  da 
natureza.  Me$mo  na  America  do  Nurta  parece  que  a  pedra  verde 
fui  veDârada  debaiio  de  uma  signtlicaçâo  religiosa. 

••  Vmio  qua  (di^  Humboldt)  (3)  quinhentas  tegtiaf  de  distancia 
ftparem  as  margens  do  Amazonas  e  Orenoeo  do  pbiò  mexicano; 
posto  que  a  bisloria  nio  façâ  menção  de  nenhum  íacto  que  ligue  os 
pavoã  sdlvagens  da  Guyana  aos  |>ovo9  civilísados  de  Anabuac^  o 

(1)  fuq.  im,  xxKVOt  n.<  le. 

d)  Upi4  et  Gemm.  q«<'  4â- 
W  ¥o|,  aox  R^  Eq,,  T.  6,' 


m 


M 

mengi  Bemirdo  dâ  Sah/ipn  uhm  era  Cho!uTa ,  110  começo  da 
torií{iJÍsu,  cnn^rvíidfts  i'oiuo  roliijiiUs  pêdra$  verdes  f|iie  liahsm 
portenridod  Qmtzakahuali,  o  biiíiljadas  meiticiinoít,  qnuriii  itimpo 
4ús  toIlCKiu^  furnlara  â^  primeiras  congref^riçot^^  reli^ioitâSi 

Cf»n%ém  lodí»via  ponderar  qmú  o  estado  em  que  enconlroinos  m 
indígenas  T>âo  hasln  píira  «xplicaf  comoé  cjiio  lattii  pednis  foram  lapi- 
dadas«  âUribuí-láâ  m  aninion^is  st^ria  tornar  menoâ  aceltavul  a  tíxpli* 
cação,  exrfifUo  si  quítt^írnofi  «tipjíôr  <|iie  nt^SL^i  rtópubliea ,  ãú  sua 
natureza  o^liL^merâ^  wi  [m  um  momento  admiUimo^  »  iua  e^i^ttencia. 
se  pile  aptíZitr  d' isso  lor  cliepdo  a  um  gráo  d&  civitiãáçáo  u  cjue  os 
homens  não  leriam  iiinda  ntiíngida* 

E  ainda  tpiando  cõneedessenias  esio  novo  ponta»  faluiris  inve^li- 
ghf  d'onde  teriam  >indo  mmilhãntes  pedras;  pnrqim  não  parece, 
segundo  a  opinião  da  Humboldt,  que  eItM  $«;|am  Driginariâs  do 
Amazonas. 

Vejamos  prám  o  qtte  a  respeito  das  amazonas  da  Ameriea  noi 
referem  m  historiadores* 

■  Si  não  exibiram  (inquire  o  nosso  programma]  qtie  moiivns  tive- 
ram Orotlitia  eChristovío  dâ  Cunha»  seu  íhdot^  p)ra  nu^  áèSúvera- 
rem  a  sua  existâucia,  ip 

DeiTíando  para  ao  depois  tratar  dos  niotivos  que  tiveram  on  poda^ 
riam  ter  estes  viajanles,  e  outros  antes  d'elles  para  reproduzirem  nas 
suas  narrKçQos  a  fabul»  quâ  nos  leganim  ú?^  ciscript()r0s  da  antiguid:td«, 
cabo-nos  ver  o  que  a  tal  respeito  escreveram  os  modernos.  Acredifo 
que  á*miu  ex|kOsiçfo  facilmonte  m  poderá  concluir  kí  estais  mulhitres 
sõasã43mâlhavam  ou  Indicavam oríginarem^se  d jis  da  Seythiaou  Lybia. 

Anie^  de  tudo,  poderb  i^arecer  que  o  nosso  programni^  ^a  uceupa, 
nfo  da  OrelUna»  coirpgn beiro  de  G.  Ptiarro;  mns  de  Pizarro  y 
Orelbna»  antor  da  obra  Varones  iluãtret  dct  Numo  afundo  (1), 
o  qual  na  vida  de  Gonciílú  PÍEarro  trata  de  amazona»,  — « nao  ns  que 
descendiam  de  Oryihiã  ou  Penteailea^  diz  elle*  mas  deoulrasque  por 
serem  mulheres  que  petejavam  roram  chamadas  assim.  1»  Purâm  o 


(i)  Madrid  1^9,  pag.  3ãl. 


SI 

ft^rtimmn ,  indicAndo  ^r  a  notiei»  d'essd  Orellana  eonRrm»d«  por 

CbrÍJit(>^iio  tb  Cm\m t  h^í  ver  «]iie  sa  reíera  ao  próprio  dfisccibridm'. 

Gernltiienle  íe  acredita,  e  é  e^ta  5  nprniao  do  Paw  ,  qyu  o  DVentii- 
refrí^  hesponliul  foi  o  inverUor  dWe  conto,  bem  ^m  p  anlesd'ellâ 
Cnloinbo  jijlg.TS^i>  m  emonirndo  nmtitma^  nas»  AtitiJbrm.  Se^^iindo 
llakliiyls  diít.^ram  na  imvegorit^  íli>reminti  (!)  (jiiea  p»N)iiena  úlm  dô 
Madiínino  (â)  (Monsorraie)  era  habitada  por  iriulbercsfíuorreirft!*,  que 
vivium  a  maior  fmrlo  do  anno  atíosladas  do  comrnoriMâ  dos  bomons* 
P.  Martyr  dí£  também  ter-so  afUrmndo  a  Ckjlõmbufiu^  mulberessem 
bomons  ímbitavam  n  ilha  de  Malilyma,  defcndendn^ae  com  srinaSj 
âftíío  recebdíidi  eommando  sitmaõ  de  si  mestoãs,  ae4!rescontaodo que 
Vi  por  ma  íK^osi^o,  quo  Cobmibo  ;is  ebamára  arnia7.úoas. 

Orulbris  Atlamou  eila  bisiona  com  outras  partieubridades ,  nào 
tanto  para  a  fazer  tnaiã  di^na  dn  credii.>t  como  para  a  tomar  niBis 
^ogiibr.  Gotizaivas  Ovjedo  na  sua  relação  ao  cardeal  Bembo,  que  ó 
daladit  Aki  20  de  laneiro  do  f  543,  narrando  a  liagem  da  Oral  lana. 
escreviB  quo  ouvira  a  Gonçalo  Pizarro  ttT  aqudio  combatido  com 
mttlbere^  armadas,  comtnandadn^  por  uma  rainba;  quaeitas  mulbe- 
res  rif iam  ^,^qné  nâo  matavam  os  filhos;  mas  os  entregavam  aos 
pak, —  que  oram  emfiiti  cbmadas  as  amatonas,  posto  que  tivessem 
ambos  os  poitns. 

Quando  Oviedo  escrevia  i  stin  carta  ao  cardeal  BemlfO»  nâo  tinha 
por  certo  notícia  da  rotação  que  Hernando  Hibera  (3)  jurava  na 
Asgrimp(;ãoaos  3  de  Março  de  l$iS,  do  qtiB  nos  ofcuparomos  ainda. 

Quíisi  um  íkículo  depois  publicava  o  padre  Christováo  d*AciJÔa  (4) 
qutíseiabia  por  iníomiações  que  a  real  audiência  do  Quito  mandara 
tomar  £t*rem  as  m:irgens  do  Amntmtis  babítados  por  mulheres 
guerreiras  i  mas  a  priucipl  rjtzao  pr  que  este  autor  nos  as^ella  o  facío 
da  suaa^ístenciíiy  é  porque  ba  ma  rio  com  eâse  QOme.  E  ilo  tnt^in» 


(1)  Gun.  umá,  mt^  pig.  mL 

(a)  Impressa  na  CúIU  de  Temaui.  T.  6^  fiâg.  ^^0. 
[j)  l^ueto  daciit»riiaiaiita  tld  Gri  IVío  dt  In  ^m*  Mídrii^  la&t»  tkiíl  ée 

•   I 


82 

sístentd  este  argumento  que  o  mesmo  é  exp4*1o  que  destrui-lo.  Vòra 
cousa:a(kniravel^9  ami^tijGcaieille  noestylo-dò  tempo,  que  o  rio  sem 
múi^raves^fundamentos  houvesse  usurpaçlo  o  nome  dns  amazonas» 
— podehtlo  qualquer  Jaqfar  lhe  emHrosto,  que  com  elle  se  prelendia 
tornar  famoso,  semimais  razão  do  que^a.de  vestír-se  com  o  alheio. 
Além  d*este  argumento,  Chrislovâo  da  Cunha  desce  também  á 
consideração  de  factos.  «  O  que  ouvi  com  os  meus  ouvidos  (diz  elle) 
e  com  grande  cuidado  averiguei  desde  qtie  puzemos  os  pés  neste  rio, 
é  que  nào  ha  geralmente  cousa  mais  commum  (ao  menos  ninguqm 
p  ignoja)  que«é  dizer-se  que^habitam  nelle  eslas  mulheres,  dando 
signaes  táo  particulares,  que  convindo  todos  n'elles,  nàoé.crivel  que. 
podesse 'haver  umai  mentira  introduzida  em  tantas  linguas,  eem 
tantas  nações  com  tantas  cores  de  verdade,     i  i 

'  4.0'  parire  Cunha  se  esquece  somente ,  que  a  fé  nos  feitiços  e  agouros 
«busam  do  apparecimento  de  phantasmas,  da  .existência  de  gigantes 
e  pygmeos,  sAo  factos  que  em  todo  o  mundo  se  tem  repelido,  sem  que 
da  universalidade  da  opinião  se  possa  deduzir  cousa  alguma  em  favor 
da  credibilidade  de  taes  factos. 

Re^re-nos  o  mesmo  autor  como  em  certa  quadra  doanno,  vinham 
ter  uns  indios  com  as  amazonas.  Elias  ao  vé-los  se  alvoroçavam , 
sabiam  fora  de  suas  trincheiras,  armadas  em  guerra,  edepois  de  uma 
breve  simulação  de  combate,  corriam,  todas  as  canoas  dos  hospedes 
bem*  vindos,  e  cada  qual  desprendia  uma  das  redes  que  estes  indios 
traziam-armadas  nas  canoas,  e  voltavam  triunfantes  para  arma-las 
em  suas  habitações ,  onde  vínhamos  donos  procura-las.  £m  festas  e 
contentamento^.se  passavam  os  dias  (1)  até  que  no  tempo  marcado  se 
retiravam  os  hospedes.  Quanto  á  sorte  dos  iilhos,  diz-nos  o  mesmo 
autor  quoi  o  que  parece-  mais  certo  é  que  as  mais  os.  matavam  em  os 
.  recpnlteelndo  como  taes^^E'  taqjbem  isto  o  que  nos  afGrma  Nuno  de 
Guzman  na  sua  relação  a  Carlos  Y  (2).  Feijó  pelo  contrario  no  seu 
theatro  critico  (5),M'issertando  sobre  as  amazonas,  e  escrevendo  com 

(1)  Cunha.  Cap.  72. 
.'(2)  LaCond.  Mem.da  Ac,R^astSc«^e?aiif'l7Ã5. 
(3)  .T.  i»  Diss.  ia,  *ii.«*  àòeA^ 


r^t  preffpiííiçío  queõWe^^  nn^qué  ^  nolidnva  ietlíteneTèt  tiin 

que  as  |)rf)pnf»A  i^im.irnt^j^s  trnvrirn  sitia  ifi^ubertiií ,  tAú  mpi  que  t 
Cí^li»,  ffrití  *.^Ue  mtíshlcrfl  venbdrio  liblarijí,  k  tetjlp  ajuntado  fiiuilás 
íiivermiminiahçns;  0  neílo  ninnero  conlfi  a  absoluta  «f^p-if^nçáa  Joi 
sexm^  bm\  Ciuno  o  i]i/.er-fttí  que  ns  maus  tnnUiv-arn  os  tllhoS.  Nâa 
cbsUtiiLe  n  aiiinriihiJe  do  p.itire  Cuntm ,  OvieJo  quâ  o  escreve  por 
ié  \é  ôtfvhío  m  prnpfÍQ  riranro ,  de  acr/irjo  rom  Ftíijá,  dU  queof 
fiHios,  Iiiti^e  de  sufem  mnrtí)!!,  eram  enlnv^ues  ar>s  pak 

Cunha  feva  â  sua  miounfiiiiibrla  i  ponto  da  noi  designar  qttal  eu 
n  Irihu,  qiic  e^tav.1  no  privitL«^iti  Ju  fonir^cor  ns  ama;Eonas  esit<s  mari- 
dos £angno<s.  C1idii)fi-a  fíjiararã  ou  Giiaenri^  Anvjlle  fe£  notar  a  La 
Cunti^intno  {|iie  os  dns  antíi^L^i  amazõtia^  eram  dk'ímados  Gargori» 
na  diicer  deSirabâo  (I);  miuíIÍkimç^  qiio  preceu  bastantd  euriou  a 
Carfi  (â),  o  autor  iW Curtam  Americanas, 

Uni  ponia  dtí  ímiiilian<ja«  qua  não  (lOílemos  paitsar  em  silencio « 
mtlre  «Síimaíonas  da  Scyiliia  0  as  Ja  Ainerla,  é  este; 

As  fcvt^iA!»  qne.  diz-n^is  Jii^iino,  ^  liaviam  com  Isnla  facitidada 
divort^i^MJu  dos  (iiinienfi^  a  Dm^idi^ravam  a  virginihdôcomo  víHmk  da 
lât»gntndij  prríço » quts  Oryiliia  era  p>r  este  mdtlvagerulrnonte  adnii'- 
rarla  entre  ellis;  ainda  n^^ijin  maturam  os  ví^cinhos  para  sovin^^rem 
éã  morte  de  sens  m;iriifrM.  e  acabnrom  dí^p^ii^  curn  os  que  ainda 
éttitiam  entre  eltas  ne  feliciarei  alim  alãt  mderenturi  para  quo 
umas  niío  fossem  reptilalai  maíi  fetízes  il  1  que  oníras^  Forarn  tam- 
bém Q^ia^  mesmas  niulliere^  que  uao  podendo  snpportar  por  oitil 
ãnnes  ^  ausência  dos  l»omcns  ã*  sua  tin^JIo  ,  se  cnsaram  com  m  pro-^ 
prtos  escravos,  que  linbam  lleado  para  guarda  dos  rebanhos.  Isto 
poMo,  fiâo  lia  ra^o  [tara  díxar-se  que  ta^  mulheril  tiveáSóm  aversão 
ios  liomers. 

O  mesmo  emaisdevi»ria  acontecer  na  Amerira,  poque  si  secon« 
itdefa  qoe  ú\U^  liabitavnm  dobiiiio  do  equadf»r,  talvez  se  íiche 
razão  no  desembargador  ãampaio  ,  que  i»ào  descobre,  nem  poda 


iitH  < 


Èh 

imiglnir  que  mfks  bo^loitlo  pcuíeraeis!*  liveram  as  ^mazonns  pftra 
vencer  a  qiiasi  irrâ$Í!^tiv@í  fórç^  da  çliiiiâ.  O  CL-rto  é  (alisi^vn  Mtm- 
lesquieu)  (i),  quão  alvoroço  com  qm  Ah^  recebiam  n^  liM5[)4Hle^t  t 
que  Cuaha  tios  reblãi  moâtra  quo  lhos  uSoera  ititlilTorârtle  aiiuijlb 
ti  n  tão. 

Voltámos  porém  no  ncs.^  assumpto. 

Para  aqoelles  que  consíderom  a  iradirâo  dns  fimazonis  4a  Ame- 
rica eomo  uma  reprodueç.âo  da  crenç.i  de  outras  Ic^inpos  u  de  otiiros 
poTõs,  Qeníiuma  maravilha  será  que  so  nfL«em4*1fiejn  oí  eosiumes 
que  a  umas  e  oulras  su  aUribuem,  llymbnldt  observa  jiidicMisninentn 
que  da  leilura  das  ol»ras  de  Colomijo,  do  GemlJini ,  de  Ovu^do»  de 
Pedro  Mariyr  de  Angbíerri  se  conlujce  a  lendaiifí;»  dm  escripLores 
do  século  XVI  piira  adiar  entre  o§  povos  descobertos  no  novo  roniU 
nente  tudo  quanto  os  gregos  nos  rontnm  doã  co^^tunies  dn  prirneíra 
Idade  do  mundo,  *í  dos  costumt^  bárbaros  dm  sryihnse  dosaOicauos. 
D*aquÍeonclueetle  quo  tanto  a  amor  do  maravilf^oso,  como  o  desejo 
da  ornar  as  descri p^6es  do  novo  cont imante  com  nf^^nns  iraços  da 
antiguidade  clássica  contribuinam  para  a  grande  im^K^rtancia  que 
se  de  ti  ás  primeiras  narraçôus  dú  Ordbnap 

E'  certo  que  estes  estudos  deveram  tor  ron  corri  do  pnrn  que  com 
mais  facilidade  se  dessa  credito  a  uma  iiotiria  de  que  havin  tí\Qu>pfos 
Hâs  ãrttigas  historias;  no  emtanto,  convém  observar  que  intaudo, 
quer  estes,  quer  os  modernos escrlptorest  de  povos  mergulbadtis  no 
estado  do  barbárie  e  selvatiqueza,  não  é  murto  parn  adnnr.ir  qtie 
sara  se  copiar  se  encontrem.  O  autor  das— lnvesíig.i(;ôtíS  pl»ilotnphi* 
eis  sobre  os  americanos —  (2),  fiTtplica-nos  romo  íiqtidlos  que  tem 
estudado  os  seus  costumeB,  e  sobri^tudu  oscosiumos  du«  ameriranos 
ieptentrtonaes,  admirando-po  do  que  elles,  fjor  assíui  diz.'r,  fussi^m 
os  mesmos  que  os  dos  antigos  scytlias,  foram  bvadns  a  ilfdt.jíir  dV-sla 
apparente  similitude  línbas  de  lílía^^áa  e  de  extrm-çào  de  um  f»ara 
outro  doestes  povos»  sem  ponderaram  que,  nau  offj retendo  os  co^tu* 


(1)  Esprit  dea  Lois.  L.  1&,  C  ^ 


18 

mes  sryíhas  mfãú  úb  csrartóTUS  diítinclivos  da  Tida  teNagem ,  en 
nr^tur,»!  r|uo  lul  âimillmnçi  sio  [lereebaíSô  antra  lodos  os  sdlvagens  da 

Vejínnns  p  *h  qiis  moiiv^í  puridr^m  ler  esses  viajantes  ou  escriplo- 
rêS  pnni  iiiipravi'^nrLHn  sítnilfi;iiitH  re[Miblíca>  ou  para  a?c  a  gerarem  a 
lai  poitio  ú  rjdu  LJj  iniilhdres  cmiibatorem;  (acto«  que  enire  povos 
bafÍjíiros«  frt5f{tii<nieminUo  se  repete. 

Dkiifi^iiiffn-^^e  «^nlreosijna  até  aqui  lemos  citado  Orellanai  Ha* 
Irgh,  e  Onedn*  Cito  a  Ovji>(Ja  com  preFerericin  ao  padre  Cunha , 
pí>rigMea  snu  opinião  foi  divulgada  um  secub  antes  da  publicaçiõ 
do  —  Nijfivo  DcscuhriíMiento, 

Orei h na  ^nk^^lo  eni  d^^]os  de  se  tornar  celebre  por  uma  deseo- 
bert:i  pf('pri;i,  íorirmu  o  atrevi dii  projecto  de  navegar  0  Amazonas, 
R^giiindo  fi  rm  Uido  o  seu  cursn  até  encontrar-se  com  o  oceano ;^ — % 
ainda  quti  ntkriarmente  seiílisie  tfuanio  havia  de  obscurecer  o  seu 
nanie  a  cmtsideruçnu  ifas  cii^u melancias  em  que  cila  tomava  sobre  si 
tal  euiprex^t  confiava  m  stia  boa  furtuns,  e  esperava  que  o  resultado 
atienitarEá  n§  ju^tíis  eenguras  de  que  se  tornava  merecedor, 

.s  Eíia  v!a;:í'm  (eífrevô W.  Irving  na  víJa  de  Chrístováo Colombo  (*) 
bt  aeou»paf distila  de  muitos  ptingos  o  í^^digAS.  Orellnna  obrigado 
a  de^'mbi«rcítr  nns  innrgens  do  rio,  foi  muitas  vezes  atacado  por 
iiiirniiíut  numcrtíRos  e  níjuerridos^  ronira  os  quses  tinha  de  empregar 
for^-a  pra  t^bter  provií^Dgs.  Em  alguns  Uigfires  as  próprias  mulheres 
eirn*gnrãm  contra  os  tu^patdióes:  e  e^^ta  cirounistanciâ  deu  logar  ás 
fabiitu^^f  narrações,  quesoGKeram,  acerca  da  pretendida  ilha  dai 
auiaxona^,  » 

Tiidavii  oudeacíiamos  a  glorio  de  Orellanap  nio  énem  nosperH 
goff  nem  nastradl^iiíque  paí^ou;  stnio  em  ter  feito  umanavegaçlo 
e%ten«a .  em  nm  barco  mal  preparado ,  por  entre  naçCíes  dasconho- 
ciiiaji  e  ba!«ti^,  sentia  o  primeiro  a  revelar  o  immeiíso  tracto  de  ler- 
rtmo  qtjt»  maileia  entre  os  Âudes  para  o  lado  da  nascente  até  cbagar 
ao  Atbulico* 

(*)  Tra4  de  Deí^QOoopmç,  %  l«  pag.  È7U 


^^Mflk 


«9 

Efsa  gjoru  porém  ito  pmp-jo  Orelb^a  no  fim  ih  $m  mg^  jn 
ii5^  pnrgceu  umD  ínsiinoçriri  b^anie*  nmã  g:iriniia  soguro  íln  inn 
pitniflfl<le  ou  motivo  efíicãi  ih  rt>riHnpi'iH'>  i  ({tiniiilo  .1  cii^ji^ravn 

hlintiti  10  $âu  (Jtivef  ilí'j^iUtiileceiit]o  :iq  smi  &jiuinauil^iiilta, —  dt»  tsr 
abandonada  os  seus  irompattlitíjmi  de  artmâein  um  dt^^rlo,^'  (k  at 
ler  [vrivâdo  da  iinica  pnib.tbiliibiJy  de  FdKiiçâo  que  tiuh.im  na  nnvio 
quf  llics  levava»^-  du  haver -fo  subtuvadj  cmOni,  fais^^oila-sa  êlogor 
capiUit)  dâiua  mage^tadu  wm  dependeiitia  dií  Piearrn  (I). 

A  rt^peilo  de  Orrlíauia  esitrevo  Robarl^Mn  na  ?ua  tti^^torin  cfa  Am$* 
ricn  (2):  «c  A  vjiidiule  iiitund  aos  vbpitla^  qm  perci^rreii)  lârraa 
dasconlmdaâ  ao  r@sto  i|o«:  liamorii;,  o  o  tiriíficlo  da  uni  av^nlurâirOp 
com  p;*gncidadfí  de  en^nindecdr  o  %m  próprio  /nertíínmtínta,  coneor- 
reram  para  dbpè-I^  a  etntiriárt  em  e\lni^>rdiitaniis  proporções,  o 
nifiravilhosoá  tiarralíva  da  sua  vj:i<;ein*  EWíí  pfii^ndou  tor  d^isco^ 
bufto  naçOas  táo  rka^^  que  o  paviíiioiilo  dflrfiius  u.^mp|i»5  era  alaf^trado 
de  pli^sdenuFo;  o  di^MTuveu  uuiart*ptibhcn  ãà  mult^ares  láo  guer- 
mras  e  biíllfc^>sa$  quo  tiidmui  av^i^snll^iijo  eoitâidcMVtiJ  Irnda  das 
ferieis  plcinkíes  por  olle  visitad;»*.  pi«r  \j[hh  extra v;)gniues  que  fú^^kni 
esleí  conlos,  bnslaràe  pi^rn  dar  ori^í^iii  á  opluíno  de  que  uma  iotrn^ 
dbumlantâ  deouro,  Unum  p^lo  uotne  de  El  l^^inida,  0  uma  repu« 
blíca  de  Amatonai  pfuliam  ser  vi^ii^^  nesia  pana  do  n^vu  mundo;  o 
lai  é  a  propensão  dugmiem  humnmi  porá  dnr  credito  ao  maravilliuso 
que  só  lentameolo  e  com  muita  dilBruIilmle  é  que  n  ra/io  e  a  ob^^^* 
va^*âo  tem  feito  d<i.^prê£ar  simtllianie  fabula.  Está  viagem  camtiídoy 
mesmo  d^sbaf^tada  du  emEtolteKamtsiiinsromauticos,  meraae  €0^  lemr 
brpda,  n^o  so menta  tomo  uma  Jn^  mnÍ!i  msmoraveis  oreufrounias 
dVjufílla  éj^ncâ  avoniuruira,  m^^^  lambem  como  a  primairo  ^ucctíifQ 
qno  (^  eoncâber  algumas  no^*des  mano$  ímiierfeitaâ  da^  tereis  eileaT 
til,  queseproEongfim  para  o  Oriento  d^^de  os  ^nde^  alá  ^o  mar  (Z],ft 


({)  Gtreilaiâ  de  Ta  V«fra,  Hlit  GeneTp  dei  Verú.  MadHd  172t.  L,  3,  Ptrt 
S,'Cnp,  4,  pBg,  1á5  — 9. 

;S]  Hob*  cita  Zarate  L,  4.  C.  d,  Gõm.  WH,  Cap,  80.  Voj,  t^  9*  CaD^  4* 


17 

Cúnr.uhtUm  ^  tiiitr»  tfiiUiva  ttm  a  elTiuio  qiiH  fi^jre  dl  es  prodoziríi 
a  iifirrjifâfi  (lia  suuf^  íivi*ii|urji!;  simni  «finsii^raiiiiâ»  que«  romo  fios  canta 
Op<lfi  MnriAul  Ui>(|ri;;uti^  (ft)  fi)Í  ^  (erra  diift  afniju>njis  oqtto  dia 
p  (Jíii  mi  ínijMjriíifór  C nlfis  V;  ^  y  is»)  o  f|iitt  Itie  mereceu  ú  despacho 
qne  reiptõTÍa*  pi^r^j^e  t^bkve  «  carta  ptenltí  d»  govornador  genefatis- 
«imo  da  rio  das  iiiinioiias  pafA  o  recompensar  de  ts  ler  subjugado 
em  nomo  de  suã  ma^fi^^^tade  cnil^jln-a  ^âj . 

Apezar  de  Mf  sito  Orellana  geailmanie  acreduado,  Gomara,  seu 
conlemporaneo,  expritne-^ú  por  lai  rõrina  na  bii^loria  ^eral  das  Iit^ 
dí^t  [3).  qtiú  parem  ro^entiito,  ianio  do  gros^itítro  ainbuslo  deOrdlt^ 
m$  cu  mo  du  geral  cráNlu  lidada.  Os  outros  osort  piares  quo  a  eaia  m 
se^foir^^m,  Ve|^'a,  Ikrrera  eo  mmxíQ  Zarale,  escriplores  de  mtts 
fiillo,  e  oi  de  mais  concQÍtâ  no  que  re&peiía  bb  índias  e  doscobri* 
nieitlosdaihâífariljótía,  tão  prestars^ii»  féalguaia  á  lai  sonhíiiia  repu- 
llrca  ainda  qtm  rebkm  a  tradi^)âo*  P^la  etjntrarío  o  quodellessô 
pCHtora  conriuif ,  e  ú  qm  pareça  certo  é  que  oppoiiiíi>*s@  ao  desem» 
barqtio  da  Ordl^na  «  íiígitmas  mutheres,  ou  medrosas  ou  valentes, 
potquQ  dt^fendíain  a  ra^a  e  os  íílitui,  lumaii  está  úiHKisíão  para  eia-^ 
girar  as  ma^  avenliirni,  E'  íi4o  o  ^uo  se  lè  ern  Gomara ^  Vega, 
H  rrara  e  Manoiit  R^^dngues.  Nio  ob&Ui  qtio  Ordlaiia  dl^^seise  en usa 
difri^reni^;  [lorqiie  alnirga  relação  da  sua  viagem  por  ellâ  apresentada 
aoconsoifio  dag  Imliits.  (|u<»  então  fii  rico  lona va  em  Valladolid,  [toucd^t 
e  bani  poiíoos  annm  dopoíi,  no  V2m\iii  em  qnu  Goma  ri  (I)  ^crevia 
a  sua  liistoria  ja  paiisava  por  paftco  dij^na  de  eâneatl»* 

St  roíifróntamoâ  os  Inssiorindores  m  parta  ém  qm  referem  esla 
viagem,  e  oWrvanio^  o  modo  [jor  que  all«$  moral isam  os  factos  quo 
esorev^m,  verenioa  que  aindii  qii»iiitu  fosse  fora  de  lodn  a  duvida 


(I)  M^ranon  j  Amaionaff  Usiúni  ÍÚ^à*  l^#  9l  L«  I*  C  Jb  Q^ncilaso^-Hibpa 
dtada^  V,  nota, 

(3)  IlpchÉn^  Pyiot.  T<  I.  psf.  lia. 

{%)  Hísl.  Gener,  dehslmlh*.  CU-  Gip,iô.  {Hf*  ttl  v.«^  Entre  lo$dltpi< 
rBt«  que  dijo  (ié-««  3  p^f^^  112)  fuc  alxriaar  que  avia  CO  «sta  rid  Aieaio&ii 


88 

eii^tírem  amazonas  no  MaranhSo,  nem  por  is$:o  se  poderá  concluir 
que  Orollnnn  a<;  (enhn  enrontrarlo  e  rnmliatido. 

No  aiino  <le  ISiOsaliíi  Gonzalo  Pizarro  «lo  Peru  ao  dcscolirimpnto 
e  conquista  que  enliio se  cli.imnii  —  (\:.  c^inflla  (I).  Aljorncido  de  nAo 
encontrar  o  que  (irocnniva ,  e  cansndode  o  perf^iiiilnr  «'lOS  índios  que 
elle  Fe  persuadia  lli'o  orrultavarn  pnr  ninlicia,  nâo  poucas  vete^ 
tentou  arrancar-llies  fK)r  meio  do  tractos  um  so;j;rodo  qiio  os  pohres 
selva^^ens  ifçnoravam.  Assim  morreram  alguns  alormeni.idos,  e  moio 
vivos  consumidos  pelas  chaminns,  em«]uanlo'oiilros  ernin  dil.icerados 
e  devorados  pelos  cães,  que  tinham  sido  industriados  nesta  caçada 
humana  (2).  Foi  então  que  destacou  de  si  a  Orellana  para  uma  ex()e« 
dição,  recommeiíd.-indo-lhe,  que  bem  ou  mal  succedidovolassecomo 
bergantim,  que  levava  o  do  qual  careciam  para  a  volta,  o  o  esperasse 
na  confluência  do  Napo  com  o  Amazonas. 

As  vistas  de  Orellana  eram  outras:  deixou  se  vir  pelo  rio  abaixo, 
6  quando  a  volta  se  tornara  qiiasi  impossível,  pela  demora  i|ue  teriam 
vencendo  a  corrente,  continuou  a  seguir  o  curso  do  rio,  tendo-se 
feito  eleger  capitão  em  nome  do  r^^i  catliolico.  Tinlia  apmia>  passado 
0  rio  Negro,  quando  começou  a  eneiuitrar  notiria  das  amazonas. 
Era  a  ellas,  segundo  suppòz  ter  ouvido  a  um  indio,  que  aquellas 
terras  pertenciam.  Fr.  Gaspar  de  Carvajal  (3)  aílirma  ter  sabido  da 
existência  d*estas  mulheres  pelos  indigenas,  e  que  esta  noticia  lho 
fora  confírinada  por  um  chefe  indio,  o  qual  perguntando-lhe  si  iam 
ver  as  amazonas,  que  em  sua  lingua  dizem  — Cunliápuyara,  que  é 
omestnoque  grandes  senhoras,  accroscentâra  que  vissem  bem  que 
eram  poucos  e  ellas  muitas. —  Chegaram  efrectivamente  a  um  lugar 
onde  os  Índios  se  oppozeram  aos  bespanhoes  com  muita  resolução,  e 
corajosamente  se  defenderam.  Então  allirmou  fr.  Gaspar  que  si  estes 
Índios  se  defenderam  com  tanto  encarniçamento  era  por  serem  tribu- 
tários das  amazonas ,  e  tanto  que  elle  próprio  e  setis  companheiros 
viram  dez  ou  doze  d'ellas,  que  andavam  pelejando  adiante  dos  Índios^ 

(1)  Gom.  cit.  Rerr.  Dec  6.  L.  7.  Cap.  6,  pag.  365. 

(2)  Herr.  liv.  ciU 

(3)  Her.  D.  &  L»  9.  G.  &»  pag.  377  dU 


30 

j)  areK  E-^^liis  luulltms  picnTrniii-ltiLS  ii^ui>o  nlias,  enrpiilenlas  e 
liraitrAá»  ttm  ú  rnWlo  lia?l<i,  jríinç.,ila  e  enrobilrt  mi  crilit*ra,  em 
|*ÔII-s  tfm^  Cíiiri  iiiri  ligeiro  Hmãal ;—  íoin  í»reos  e  fretlins  mê  mhti$, 
$e\i}  mi  iHtii  fiVILiK  (tirniu  morla?«  pelo^  osleltiatia^,  e  p)ri«stu  moiiva^ 
dccresfâiiia  o  rufuriJa  \iajaiil0^  fugiraak  os  iiiJíos  que  as  acom- 
panbvam. 

Oní  cíimo  ^Li>i  m  111  heras  cnmharmm  conjun^^tnmenta  mm  os  ho- 
mens»  iiiiu  é  a  «Uns  pir  rcrio  niie  se  ref<irtiu  m  íiulurtj^  qiinnflo  nos 
aHirmnrii  (\m  exi^ilirnni  ain'»zurin!i.  Os  próprios  lif^punlioes  il^osta 
e%finl(i;âo,  :iCj  rutMio^  iiuiiUxdVlli^H,  corno  mi^í  diz  ÍL:!rrera  (I]  julg^- 
rAin  que  a  ra|>iiâu  Oa-llaim  [lâodtivia  (tiirsimilltanfo  nmm  a  muilie- 
fÊS  qtrâ  pli'|avam  f  nem  com  ijli}  írticos  fiindnmeTilo^  alTlrmarqiio 
Iiaiia  nmaiíon:*»;  porque  não  é  rouía  fiovo  nas  Intliaíi  [jeli-prem"  as 
miiHiorrs,  Ccihnireikt  rrecíias,  ct>mQ  so  ^m  em  a(;^'um;is  iifin^  do  Bar- 
bvcf)io«  Oitn^i-na  o  Compres  ^  onde  se  moslrnraiki  Lào  animosas 
como  tíSprií[irios  hoiMcns, 

IsíD,  arcm^HJtínfn  lÍLíffera,  ou  o  refino  romo  o  adio  nos  momorías 
dVta  jtirimd§,  n^seromlo  0  rre<lilc  no  alvedrio  d^  c<ida  um ;  pois  nâo 
aH)o  pnra  ^^retn  estis  iihilfitíren  amazonas,  mais  do  que  0  nome  que 
esii*$  (M^liithano^  IftpqNÍjítiraiti  d^tr. 

Or^bna,  rjUH  par(H*e  ler  pftívisto  eí^la  ol»jâC{ào^  vnleil^se  mais 
lima  %tz  úú  te^lelllilntJO  tao  falti^el  do^  indioiíf  di/*endo^  i^giiiido 
Zirati^  (-2),  iHrouuLlu  a  nmdVlloHque  ali  luivin  tim  piz  niircamonta 
hiitniado  por  mulheres,  que  sabiniii  combater  e  íaaT  guerra,  esô 
d^fcjiidiam  moilo  Içm  dos  seus  viíEinliiiS. 

E'  p/rém  para  nntar«5o  quo  ZtiralQ  não  nos  dá  inícgrntmente  a 
mitiría  ♦(til!  1105  foi  iraiií^rerida  ptir  Orcllaim»  e  que  este  defiCdlridor 
tmMIe^ou  com  qnnnias  maravillias  ília  suggeriu  a  [ihanííiMa.  Sd- 
gomlo  Ordlana,  víviaia  lams  mulheres  da  meáma  maneira  que  ãf 


(I)  D.  d.  i,  o,  Cap»  àf  pa|.  37â« 

(f)  Hbt*  de  la  decoutcíté  €t  de  la  ooupeie  dii  Fi?rú«  Vêm  174S«  i.  A.  C* 


antigás  ftmAzonus  i  «nm  nqnimimns^  po$iimiini  muito  ouro  p  pmm, 
tmliam  ciiieó  rni^as  cto  stil  coiti  pnvimeníoi  da  miro*  ct^fii  littliNfiçi^-s 
lie  pedra  e  ciila4â^  murorfasi  e  l»nb5  ouiraií  i^^^ilunií^irijíiiji^s  rofii^ita 
11  errara  (I)»  que  nAo  mo  alre vo  a  cré* las t  oeiíi  a  nílirain-laí  fcfa 
dílBculdjidis  eiti  i]tie  me  ^mj^  o  mhet  quo  nautas  raiisns  m  relações  tbf 
mdiõs  sáo  sempre  incerías;  e  íiíivenda  ocipiláo  On^llana  Ci>nfesëJo 
pouco  antes  que  não  entendia  a  estes  irtdtu^  mo  pmce  que  em  Ua 
poucos  d  tas  (Hidia  ser  o  seu  vocabubrio  tâu  ropioâu  o  ceno^  qtio 
liinias  pariiciibri Jades  se  poí lessem  cnlender  a  estes  Índios.  Así^^iui 
creia  ada  um  o  que  lhe  pn^cer*  Vé^^e  pnh  b^rn  claranianió  qu6 
nen)  so  lierrern  duvida  do  verscldad^  dus  índios»  cotnu  da  bo3  Té 
dos  avenluréros  bespanlioei, 

ResiiUa  dequ^tuio  temos  dito  que  um  so  Taeio  sa  apresenta —  o  dd 
ter  Orelkina  combatido  cotu  muilieres  que^  dh  olle^  batiam  com 
páas  tiós  que  fugiam.  A  âsaerrâo  lUMh  ser  verdadetrat  aiuda  que  o 
facto  podessd  Ilt  sido  mal  ubstírvado  Cu  n  Li -nos  Lery  (2),  ti  nquefla 
que  nos  pruneiros  leinpos  da  descoberta  vtiijar.im  petii  Brasil ,  q^e 
as  mulheres  ítidigeuas  ac4>mpanti.ivam  os  maridiis  á  fCUHrra,  e  lli^ 
apnlmvam  e  miuistravam  durante  a  ac^fTo  íts  íhíUhs  dr5;parad;^5  pelua 
contrários.  Ora  durante  a  arçào  os  inditis  a  q<ie  faltavam  a^  5e1taS 
vjrrham  tuma-las  da?  mãos  dsist  mulheres  p-in»  volrtrao  combote^  é  uo 
acto  de  lbesiluni^trareu)  arm^s,  aeompauhadt»  das  paTtlrjtnimas  qu0 
empregavam  para  ameiH^'^ir  os  ínimigus,  viriam  os  liçjtpanbdes  a 
at^áú  d«3  os  rspncarem,  de  os  matar  mesmo,  si  com  a  viva  cidadã 
da  ca  f  feira  faltasse  o  pé  u  algum  dos  índios  apanha  o  do  as  sçtias 
caiu  das. 

Algumas  vezes  mesmo  combatiam  as  mulheres  por  nece^idade,  o 
prineípaimetue  nas  iribus  menos  ucibref,  nas  quaes,  como  em  Ofitra 
memoiin  Cícraos  observar,  ja  ndo  era  láo  forte  o  sentimento  da  di^çiíL 
dade  própria  do  guerreiro,  que  eito  se  pt^ja^se  de  combater  ao  lado 
das  mulheres.  EiUraos  caraibas  lionva  exemplos  d  isiso.  Os  maruja 
de  Colombo  deram  ca^a  a  uma  canoa  tripolada  por  oilo  guerretros  a 

(1)  D,  6.  L.  9.  C.  2. 

(fi  Modu  ÚhU  de  ('Am.  BruicUc»  íWi  pãg*  Ô&# 


Al 

mi  Iras  f^nus  mullmrcii :  1)4  áel^agerts  cnrailm  se  tltírêmlúrâm  até  á 
iillfmn  oJílreíijkbJo;  as  riiuMii'r«s  armmins  úa  orcús  mo<ilf;Kíini  a 
mç^in.i  cúriígcMí ,  o  dt*pí»Ís  ãú  viiV)r!,i  a  canoa,  Mlvnríitn-íííí  :i  tiadô 
|)!)ra  um  (lus  rochedos  vizíitlifjs,  iJ\iiu1d  rum  Lvs.<anirki  úe  votnhulnT* 
Shs  Uiinfiem  iIN*ste  ínvia  nuAti  ^t*fnji!(i  cínicluir  ara  fnvnr  datinif^tencía 
das  íiiiiní^iirKJS,  ^^b  [itíiia  du  nnr  1:4  conclu^fiú  rln^siliraJa  á»mo  um 
dii^pnrole,  corno  n  cli].<^ilkuu  Gonrara  a  rú^pcnli)  dns  Amazonas  de 
Orisibfia.  ci  Que  .is  rnulher^Ês  nndem  :t\\  ooin  nrnias  e  plqiirn  Mo  é 
mullti,  (jiiis  t\Hú  (5111  Pariu  (t^úlfu  na  ilha  da  Triadaih^  ondtí  aportou 
Gdoiiibo)  ff  lie  fuiu  o  rnultii  brrgô,  0  tírn  muitas  outr«is  prles  ÚM 
Indlast  o  Itírn  [lOr  cosiaau*;  nem  ju1;^a  íjuíi  nenhuma  cúrU}  oti  f|UDÍrnâ 
t)  pciKt  drmiLo  para  poífer  ntirar  H)it?is,  [Xiis  «fuo  com  elle  as  atiram 
Jiiui  tiuai;  ucm  cieío  (\ue  matera  i>u  tangei  Cem  0^  próprios  íillwsf 
irurn  rjuu  vivam  soai  iaaridoí«,  pis  $>aa  luxrii^iosissiaras.  OiUros,  índe- 
pendanlá  de  Orelhna,  tem  letâaUdo  simílhrmte  balela  deamrj^oaas, 
d<^potique  Toram  doscobcTla^^  âs  índios,  o  nunca  tal  se  viu,  áúrnso 
ha  úú  ver  tso  pouco  noáte  rio  (1).  1  Para  confirmar  esta  a^serçOado 
bísioriador  liespaaltoÍ«  f]iio  por  muiH  arriscada»  no  tompõ  em  que 
eflo  a  publicava  (em  t^$i)  so  Ifje  podia  sor  arrancada  por  forra  da 
eonvic^Ao,-—  a»ais  do  urn  secuto  depob  (rstoé,  cm  1684)  dizia  ú 
padrõ  Manoel  Rodrigues  (t]  quo  taos  mullveres  nào  eiisiiam 
n'^i|uull@  rio* 

'  St  pois^  como  jn\'*cí  lar  demonstrado,  a  ralarão  dâ  Orollana  é  dâ 
pura  imaginário ,  ainda  quando  sô  nÍo  podiisso  atinar  com  o  motivo 
da  sua  invenção,  riuai  \inr  tj^^o  fica  ria  provada  a  sua  veracidade.  Mas 
e5Se>  motivos  ja  os  di:i\et  referidos  — era  a  vai dadu  do  nai'eganlo 
que  pretendia  ineulcar  o  mereci  monto  da  sua  víagorn,  <*  da  sua  paíi* 
soa,  qu€  iinhã  vi^to  cousas  láo  extr^iordinarías,  s  corrido  riscos  tão 
?mprevisios,-^a  ardil  do  criminoso  que  procura  dar  vulto  o  maiores 
pro[>ortjúes  ás  razões  com  que  se  justiticavar^a  mau  lia  emPim  do 
pfelendtíniti ,  que  requeria  uma  ^raci  do  seu  mouarcha. 
Aquelles  porém  que  assoalharam  hb  suas  pbantasias,  deveram  ler. 


(I)  Gomara  ob*  eif. 

(í)  L,  i*  C»  5,  ob,  cll-  •  Y  nt  \n%  \x»f  p«rH  M*f*iíim  amh,i. 
tfnt 


Irívn)  pr  rerlQ  fiiriiivrs  ilrflerrnifS.  Oiifílc»,  por  exemplo,  tiar- 
raiiila  :i  [>iiíni^ira  iiavGí;a(;iri  fio  Ani;iiífiníis,  r  iltrigiiulo  as  suas fíirlô^ 
m  eartíí^al  Bf^mtJO»  julgou  devor  fi*ii»gfiflr  o  griMo  de  um  homtíin  tio 
ínfuiUar  ruiu  o  esíiifío  *h  nuúgniútuh  thmvu  .  como  nm  revela  tk ^ 
pureza  dn  sii5  l^tLiniílrylf. 

W.  Ilalií^íl»  mn  r\mi  mnúo  ilef perlar  a  t;iiriosiJ^e  e  eslimiilar  a 
fr>l>rçii  ihs  sesis  i^ofilemporafKidB,  Itelcrii  etie  que  um  IrmSo  de  Atn- 
tiâlipa.  t^  çvaJira  diA|^>bdo  ílit5lFi!ição  do  imporio  rlôS  Incaíi, —  tci- 
maiub  com^igo  iSo  cotísiilora^el  e:iereilu  úq  màm  Oiyom$  qua 
hnvit  con5og Ilido  {>Diii]uÍMí)r  Irnlo  o  interior  t\n  G(iyatia.  Mtis  nota-íia 
qiití,  devendo  ter  pae^ç^ido  a  liisturií»  cfue  elle  nos  le^ou»  no  tempo  fk 
I1ií?^f>  deOrtiíis,  viidia  ella  a  Inrfiar-sa  impoíisÍveÍ,  ainda  $ò  cbruno- 
logicameníe  falhmdo;  porqntí  Pkítffo  conquisiavíio  PíTÒ,  no  mesmt> 
aiíuaem  que  O  rd  as  subia  o  OruníJCO* 

Kaíogh  queria  teimbem  chonior  a  nuençáa  dn  rainha  Isabel  paru  * 
t>  grande  império  da  Guyana,  cujo  acquisiçfío  propunha  ao  seu  go- 
verno, e  não  ^  esqueceu  do  dupliendo  fim  n  que  visava.  Para  o  vutgo 
D  iijaravílbosn»  -*  para  n  governo  o  inieresse  —  e  para  a   ríiinha  a 
lisonja. 

Descreveu  piít  crealura^  cxtraordi nanas,  seres  mousiruosament* 
pbania5ticos,  lan.^  como  os  í^waipanoniaií ,  nação  de  ai^epfialos  qud 
liBham  os  olhos  nus  espáduas  o  a  luct-y  no.^  jc*Íu^s^;—  e  relatou  ccuio 
mn  um  dos  lemplos  do  sol  no  Peru  se  Imvia  achado  a  iradição  de  qno 
o  imporio  dos  ImMy  destruído  |>e1os  fieí^panhées  Feria  restabelecido 
pelos  inglestcs.  Tara  contem  a  menio  da  cohr(;a  de^^meveu  o  levan(ar-so 
do  rei  Et  Dorado,  ao  qual  m  seus  fama  rislas  armados  de  comprida 
sarabalíinas  sopravam  iodas  as  manhas  euro  em  \yò  no  rorpo  humc- 
ílecido  por  óleos  e  e^seneiaí:  aromnlicas  ;~  e  pnra  satisfarão  da  lisonja 
aflirmava  o  corlexão  valido  que  a^  mmtúms  ouviriam  o  nome  da 
rainha  virgem.  E'  cerio,  como  observa  Humboldi,  que  nada  deveria 
erir  tãnlo  a  iinagina^^ào  th  Isabel ,  como  a  bel  1Í cosa  republica  da^ j 
mulheres  sem  marido,  como  ora  ella ,  o  que  da  mais  a  mais  se  en- 
contravam com  elU  na  resistência  que  oppunham  com  fel  is  succcsso 
aos  beróes  crtslelhano^.  O  fim  qtio  Rafegh  leve  cm  visla  míinifeita*^^ 


pnlfnvrlmemtí  do  mOíio  [Myr  (|iíc  olki  onti-lno :  t<  Finr nu  Dots  (dírretí» 
eite)  (I)  que  é  a  mi  ãué  m^  tí  o  seiílior  Ju«^  ãentiuia^,  <]tio  ulttí  {Hírn 

El  rhirnda 

fi^gli  «fOíi  nã;ir  esislirei  li  Uiubçíiti  dt*  dnr  ;4i|ui  iiiii  It^^eira  oslior  ^  lUt 
^11  tmioso  dtíscobritnantií. 

rt  Quando  Dlego  de  OdaK  tinfireltoiídia  fl  CímqiiiTíln  do  Orituoru  , 
€  tontio  jj^  subido  rin  Eirtrnn  ceicâ  dtt  iri'"^  (tiíl  itMlh;m  n^è  ao  k»j^>  f 
chumodo  <iMí)riquiêo<tf  acdou  cansuinida  tmb  a  sou  |iro visão  da 
polforti-  Irritado  pr  toE  né^gligerino ,  foiídemrioti  á  tnorta  o  sau 
fjuarlel  meâiref  ou  como  entào  o  chamava ni  m  Hespanbmt^^  o  sau 
mestre  dos  f?rnocifiienVos,  cti]o  noriift  era  Jôiiu  Mariíue?;*  SuppUfanm* 
lha  os  S6US  companheiros  í|iie  [Knjpasso  a  vidri  nn  f|imncUfn(jsirt%  o 
o  maí?4  que  puderrtiii  cariie^íuir  dn  iiii^ítíHcímlía  do  Orda.í,  ím  iíer 
aliandonetdo  Mdflioez  ent  tirna  caiia^i  ^cia  uliniuiiln  atgiirn.  A  mrrmUi 
n  arrasloii  pelo  rio  abaixo  alõ  qiio  Mjbrtj  a  tanlt;  dou  com  uma  trnin 
d^:"  íioyanos,  que  não  itíinJo  vtslo  nu  rira  limiiorn  branco»  cumu  ;ipa- 
nlíí>^*om  a  este t  pusçerani-íljfí  uma  venda,  *i  o  coudu/jratn  ierrasa 
dentro,  fazendo  uma  jiiniada  de  iftialnr/A' i>i]  quiozo  dias,  pura  ser 
rna<trado  de  cidadã  cm  cid^ide «  até  que  cliejí.irniii  a  Muriòa  ,  a  ^randk^ 
fíjpital  do  Iríc;».  Tiraram^ílio  a  venda  á  tíiilraila  da  cidadi* ,  Ofideelím 
rhegaramja  de  lUille,  l'iiininlírirani  ao  Irave^í  ila^  rttas  twda  es^i  iwil"^ 
«  a  dia  sapfuíma  até  o  sol  posto «  prim^^íru  i^uo  chcgas^im  at»  pabcía, 
NV^ía  cidade  foi  Martiituy.  tldidu  siltí  i»R"/»ís;  roas  *k*ni  que  Ihu  Íoslsíj 
líeik>  sablr  fora  das  muratlias.  No  furi  d'e.<*stj  lem|iJ)  lhe  foi  conreilidi) 
voltar;  e  um  troço  de  Govatios  oarregadas  mm  quanto  ouro  podíáo« 
€€»m  que  fora  pre^nt^adOf  teve  ordem  de  o  reconduzir  ao  Orenuco. 
Chagndos  que  foram  a  este  rio,  os^dlvtigan:^  o  accommellem,  despojam* 
00  do  tCKÍos  0$  seus  ihesouros»  excíi^pio  da  duas  cabaças  cheias  de 
eontas de  ourfi ,  quo  llie  deitaram  pr  5up|K)rem-nos  cheias  de  alt- 
foento.  Chegou  Martuiezà  Trindade*  c  d*alí  se  dirigiu  d  S.  Joáo  áê 


(1)  tlaklu^là -.  ob*  afc  3^  6  r  m. 


Porlo  Rico,  omie  niorre»,  o  por  occasiâo  da  sua  morlc  cedeu  lae^ 
eoiilasá  ij^reja  para  os  suílragiosda  sua  nhna  ,  e  deixou  esta  narrativa 
Jo  sou  descobrimento.  O  vestuário  da  enrio,  como  ello  dizia ,  era  de 
ouro  om  pó  grudodo  no  corpo  ,  segundo  a  sabida  fabula  do  £1 
Dorado»  (1). 

O  século  em  que  Hnlegh  escrevia  taes  portentos  do  rei  que  se  vestia 
de  ouro  em  pó  como  os  .láos  se  pintavaín  de  amareiio,  de  mulheres 
sem  homens,  e  de  homens  sem  cabeça ,  era  singnlarmento  propenso  a 
prestar  uma  fé  implicita  a  tudo  quanto  era  extraordinário,  e  isto  ex- 
plica a  voga  que  tiveram  no  seu  tempo,  empregando-se  dentro  em 
pouco  em  toda  a  Europa  os  nomes  de  Potosi  e  £1  Qprado  (nome  do 
rei  que  depois  erradamente  se  applicou  ao  paiz)  para  significar  na 
linguagem  do  vulgo  e  na  dos  sábios  a  accummulação  de  grandes 
thesouros,  e  assim  também  a  de  riquezas  fabulosas. 

Esta  razão  porém  nno  basta  para  explicar  a  propagação  da  noticia 
das  Amazoutos  entre  os  indivíduos  da  America;  porque  nSosãosó  os 
habitantes  d*esle  rio,  mas  Índios  de  muitas  linguas  e  de  logares  bem 
remotos  os  que  attestam  a  sua  existência. 

Hernando  Ribera  (2)  declarou  debaixo  de  juramento  (anno  de 
Í5i5),  que  nas  suas  explorações  do  interior  do  Paraguay ,  estes 
Índios  unanimemente  e  sem  discrepar  nas  suas  respostas  ,  lho  atlir- 
maram  que  a  dez  dias  do  logar  em  que  estavam  e  na  direcção  do 
nordeste  existiam  mulheres,  que  possuíam  grandes  cidades,  e  tinham 
considerável  copia  de  metal  amarello  e  branco ;  mas  que  os  seus 
utensílios  eram  lodos  do  metal  amarollo.  Accrescentava  que  era  o  seu 
chefe  uma  mulher  da  mesma  naç5o,  que  eram  todas  guerreiras  e 
temidas  dos  naturaes,  que  antes  de  chegar  ao  seu  paiz  existia  uma 
nação  de  índios  muito  pequenos ,  aos  quaes  ellas  faziam  guerra,  —  e 
do  outro  lado  nações  considerabilíssimas de  negros;  —  que  emtim  os 
seus  antepassados  as  tinham  visto,  e  elies  o  ouviram  a  nações  vizinhas 
d'ellas. 

(1)  Soul.  Ilist.  of  Bra.  Notas.  T.  1,  pag.  652. 

(2)  Ternaux.  Voyages,  Relations.  clc.  T.  6,  pag,  /i90. 


A5 

Nâo  são  c.^t8$  iinicatnenlo  os  lesieiuuiibos,  embora  injperfóito^ «  4« 
e^isieiicia  tlVsEas  miillieres;  ponjueni  como  difse,  limilbaiUâ  irãdiQuo 
so  fispiíUiou  niíiis  Í10  brgi)  tio  íju^j  o  poderanios  suppõr. 

Vlrkh  Schmiáí  (1)  iratâ  também  ãã%  AmaisoRM,  mqm^f  se- 
gíuiila  iiDs  ílí;!  ler  ííuvida,  hDbíla%:itM  u'iima  llíia, — ^tinham  um  $ò 
poilo,  recebiam  harncris  tfés  ou  ijinilru  vexes  por  anno;  q  sr  davam 
fildos  á  [u£,  oa  tíritre^avam  um  [ms;  6  m  íiilias,  guartkvotn-nãS i  e 
fjuejmavíim-ltit^s  o  $4^10  direito  [Kira  f)ue  pudessem  encurvar  a  arco 
euDi  m:tiâ  índl idade. 

Como  em  tod^is  as  rebcôes  de  v^iagens  ii'j3quella  l&mpo  na  áú 
S  eh  mi  dl  nbifnJam  «s  inverosimilbançns,  Nflu  é  crive!,  par  exemplo, 
ú  que  ellenos  routií  dos  Xarruas  oí|  Sherues,  segundo  a  sua  orlogra- 
phiíí.ciija  rei  m  bsmquoloava  ao  som  de  instrumentos, — que  os  fora  re- 
feber  em  um  eammbo  timpo,  aplanado  e  eoberio  de  fiòres^  fazenda  ao 
mesmo  tempo  batera  malte,  de  fornia  que  seaebou  e  caça  presa  no 
cauvínbo  entre  oseuropeos  que  diagavam  õ  o^  índios  que  víiibom  a 
rectíbeí-tís,  —  e  assim  se  mataram  (diai-no^  elle)  trinta  veados ,  vinte 
omas  e  nào  sei  quanios  outros  animaes  [i).  Este  rei  ma^nilico  deu- 
Ibesde  preij^ente  uma  coroa  de  ouro,  que  linha  adquirido  em  uma 
guerra  contra  as  Amumnm. 

fia  ainda  uma  outra  autoridade  re«i|>oitave1  pelo  caracter  saeerdotal 
e  apostólico  de  que  se  revoslira.  O  padre  Cypriano  Baraze,  como  se 
]é  na  sua  biographia  que  o  bi^po  da  pa;ç  mandou  imprimir  (3)«  diiia 
que  osTapeurcs  (ramo  da  Iribu  do^  Moxosj,  dando-lbe  noticia  do 
paÍ£  das  Amazonas,  altirmavam  sem  discordância,  nem  excopção, 
liÉiver  para  o  lado  do  Oriente  uma  nafíto  de  mulberesbetUcosas,  que 
em  certo  tempo  do  anno  recebiam  bomens  em  suas  moradas,  e  (jue 
eslas  mullieres,  matando  os  filhos^  Unham  grande  cuidado  com  a 
educação  das  filhas  >  que  desde  eriançâs  se  exercitavam  nos  trabalhos 
dã  guerra. 


(1)  C0P*  37  (Tcmiu^).  Tora,  n,* 

(2)  fi.  Mi, 

;a)  Ultr*  ¥m  F.iris  ITSl  l.  10  pag.  IM. 


&0 

A  lTuá\i^ÃH  [uriju!  cleviTíi  Mtrsido  propapclci  pir  ilmi  f  f»naes  difT»*- 
rei>kK  —  [itsltís  nopqimLitlíirí!S  e  pelos  m&?mõs  iiulios. 

Os  míKíiíiíJlíithri.ífí,  cn'ii>tn  íirnicfnorítn  m  pfisíií  bí  lidai  to ,  r  iiítuIi 
fiíCííinD  na  enií^eíiriíi  (1*^  laf  rcpublicíi,  vinm-  como  Oriílkiiiji , 
Ama^oiifis  niis  mtílherosíjiiií  imliam  (>or  costume  spííuir  osmíirífliis 
à  gmtfA^ — 0u  iiaB  <|Ui)dr.'fi^riJiaiii  seus  rilfio^  o  r3lva(ta.<  na  nnscnríji 
dos  maridos  (íj ,  — uii  já  como  Colombo,  ijàrH|uí/,tjraní  únr  a  i^j^^a 
|^il»vra  outra  signiruuiç^o,  ífiie  não  fossesimpleNn<?nte  a  ú*s  mullii*n*s 
íjtiú  sabiam  fomhnier,  o  íjtieera  e.\cepcioníil  no^coi^luniesda  Kurnp, 
—  ou  por  Gm,  o  í]ug  era  sobrciudo  indesculpavelt  davaju  essà  nrj- 
me  a  congregaçiies  religiosas,  a  convénios  de  virgens  mexicaiias  quo 
vivíani  na  maior  austeridade  &  reclusão,  lotige  de  receberem  ho- 
mens cm  qualquer  quadra  que  Ume  do  anno. 

Quanlo  nos  irMling,  e^tes  lambam  ,  piilo  que  im^i^nno,  náo  coiuri- 
biitrain  pouco  para  af^soaltiar  tal  opiniilo.  Crédulos,  e  m  mesmo  temp 
mentirosos,  aiuigai»  de  contos  e  do  maravilhas,  è  procb>  náo  lhes 
ifioHrar  muíLa  ruriosi^fadc,  nem  muito  inleresso  m  quo  so  Íbc5 
poryunta.  Como  crianças  resspondem  muitos  ve7,es  no  sonlido  ent  qu« 
suppoem  que  desejamos  n  resposla  ,  e  prestam  facilmente  o  seu  tésle- 
munhoa  cousas  que  nunca  viram.  Era  maÍ5  peral  enlrtí  elles  a  crença 
nos  gigantes,  nos  pygnu^iis,  nos  homens  do  pes  virailns;  encm  por 
isso  m  prelendti  a r{çu montar  que  taes  entes  e\ií tiram ,  só  porque  era 
gorat  entre  os  indigenasa  tradição  dà  sua  existência. 

Nota  em  primeiro  logar  que,  apegar  de  tudo ,  nêiilium  iadio  asse- 
vera ler  visto  as  Amazonas ,  sendo  que  o  testemunho  isolado  de  um 
só  bem  pouco  faria  para  o  caso. 

N^ilo  mats — que  essa  tradiçfo  predomina  nos  lugares  por  onda 
andaram  HespanhóeSi— e  quer  tne  parecer  que  elles  desejando  veri^ 
fír^r  a  narra(;ãa  da  Orei  lana  i  eram  os  que  aos  índios  davam  idéa  do 
stmilhante  facto,  ao  passo  em  que  ingenuamente  se  persuadiam 
deverom-sodar  por  convimridos  com  o  apoio  que  nelles  encontravam. 

Enlre  os  cscriptõreçi  poriuguczes  ha  a  eslcs  respeito  menos  credu- 

(I)  Fiav.  FiMlro  SíintMi.  N<  «»tnp»5§* 


A7 

liílailt».  Bríio  Treirú  {1)  *  ira  lati  Jo  tias  eon*iilenivcis  n^t^ões  {\m 
Inbii^vaia  ú  AinnMHns*  k-íti  pnr  faliulosas  íis  Am  MntujiJS,  f|iit? 
iiasrtni*  ê  amloriJ  ciiín  uh  pesas  avf^àíks^  — dos  pyfí(not>*  Gonj^ítU,^ 
lios  ;^ipnu*s  Ciirriii]uuii]5,— t;  das  Amazoiíns  t|ue  llie  tleram  o  iiame; 
i*  p  iiuvidor  HampnÍQ,  uún  o^tinte  ayvil-o  ao^  índios,  não  ftôdt^ 
nu  rira  arnbsir  coíiisÍ|ío  rrm  rmr  nu  rjuit  dltis  lhe  diziam  ,  lalve^í  por 
rnnhí*cel-*í;s  d  ti  iiem  pertcu 

NfíiD  pí»r  fim  qytí  níia  Uíivondo  eiUfe  as  inlus  iiiíli<ícrias  nenliiim 
rammúfnií  oi}  mmfnunícJ^çflo,  conhecendtMití  -ipímris  nr|!itílbs  com 
(ftjt*  ronflitavam  ,  ti  mm  as  qyae^^  iicliavam  nm  i*»tndn  do  iiusLilidadf^ 
imrmanerite .  l*  fufni  —  ou  que  roiisideroniO!!i  ;i  Uibnht  díi?t  Ainaronas 
ciimo  tim  d'n(|uelles  erfiif^  e  preJLiir^os  romm^ins  à  in  fanei ã  do  lodo^ 
1)8  povos,  — ml  i]iie  ef^sa  tradição  lht*s  lerá  sido  trananTitlida  por  iimn 
raça  que  esteve  om  ronla^uo  eom  lodus  ciles  —  com  os  Europcos.  Ha 
Uimbcrn  uma  ouira  explicação ;  mas  essa  é  apenas  verosímil ,  §  eu  a 
reservo  para  outro  logar. 

LaCondarnirin.  aulor  cuja  opinião  nos  rescrvamiisa  expÕr  ainda 
mais  por  extenso,  como  quií  argumenta  que  se  áávú  crer  na  e?iiiíltinci;í 
das  Amazonas  ponjuo  os  iiidios  o  relulam ,  sem  que,  dâ  curlu,  tenham 
nenhum  eondecímenio  de  luslino  ou  Diodoro,  Todavia  pouco  anleâ 
dt^sli  preposição  nos  diz  o  mesmo  escríptor  íjue  al^íuus  dos  cosi  umes 
que  a  osías  mulheres  se  aUribue  tal  como  o  de  ampularem  o  peíio 
direito  ás  filhas,  sSo  circumsianclas  accessorias,  adulteradas  ou 
aecrescenladas  pelos  europeos,  e  que  o  amor  do  maravilhoso  ãsiería 
foito  adoptar  pelos  rndios. 

Nao  pondera  esto  autor  que  o  mesmo  canaf  por  onde  se  p  li  deram 
vulgnrisar  entre  os  indigenas  oi  ornatos  rom  qim  Justino  e  Diodoro 
julgaram  ler  arormcjieado  csti  fabulai  basta  para  explir^r  o  conbe- 
eimento  que  da  própria  fabula  tiniiara  os  índ  genrííi;  poisquo  aqaella 
fircunistancia da  dt;ikiencía  do  peíto  é  Ião  i^erahnenlo  noticiada,  qu^ 
m  eonslituiu  como  caracter  essencial  das  Amazonas,  como  distinctíro 
doi  seus  costumes ,  —  ou  pelo  menos  como  parle  inli^grnnte  da  ira- 


(1)  Niiiri  Lu^itattia*  IJulioa,  líi75.  — pau,  fl,  tmta. 


i8 
dição.  Não  pondera  9obreludo  que  si  o  amor  ao  maravilhoso  è  a 
que  foz  nos  indios  adoptar  similhanle  circuinstancia,  era.  nas  sua<) 
idéas  inais  admirável  a  formaçclode  uma  republica  de  mulheres,  do 
quo  seria  —  para  elles,  acostumados  a  supporlar  soffrimenlos  para  se 
endurecerem  nas  fadigas  da  j;uerra,  —  a  caulerisaç3o  ou  ampulaçáo 
do  seio ,  operação  cujos  perigos  mal  poderiam  elles  suspeitar ,  e  que  o 
próprio  Cunha  refere  de  um  modo  tão  singelo  e  simples  como  se 
tratasse  de  aparar  as  unhas  ou  de  cortar  o  cabello.  Pouco  versado 
também  nos  costumes  dos  indígenas,  o  europeo  nSo  enxergava  quo 
essa  circumslancia  que  torna  incrível  o  facto  para  os  habaantes  da 
Europa ,  era  exactamente  o  que  o  torna  verosimil  para  o  selvagem 
(Ia  America  meridional ,  que  não  poderia  conceber,  sem  uma  dolorosa 
iniciação  guerreira ,  uma  republica  forte  e  armada ,  como  seria  de 
necessidade  a  das  amazonas,  a  terem  algum  tempo  existido. 

Si  além  d'isto  se  considera  que  o  Amazonas  foi  explorado  logo 
nos  primeiros  tempos  da  descoberta  do  Brazil, —  que  foi  navegado 
em  todo  o  seu  curso — em  primeiro  logar  por  Orellana^  depois  e 
em  sentido  contrario  por  Pedro  Teixeira ,  em  cuja  companhia  foi 
Christovão  da  Cunha, —  que  os  demarcadorcs  portuguezes  e  hespa- 
nhóes  por  ali  andaram  differenles  vezes,  em  épocas  diversas,  por 
legares  distantes,  e  em  exames  que  ás  vezes  levaram  annos; —  que 
essas  tribus,  como  em  outro  escripto  procuramos  demonstrar,  haviam 
sido  recalcadas  do  litlornl  para  as  margens  e  valle  do  Amazonas;  si, 
porOm  ,  a  isto  se  accrescenta  a  curiosidade  que  teriam  os  europeos 
de  verificarem  as  relações  de  Orellana,  Oviedo,  Ralegh  e  Cunha, — 
com  facilidade  se  poderá  suppôrque  d'csla  multiplicidade  de  infor- 
mações pedidas  deverá  resultar  a  vulgnridade  da  noticia  encontrada, 
—  noticia  que  apezar  de  tudo  não  era  lá  muito  vulgar. 

Depois  d'estas  considerações  tem  logar  o  seguinte  trecho  do  La 
Condamine  (1). 

((  Poder-se-ha  acreditar  (diz  elle],  que  selvagens  de  paizes  tão 
remotos  se  tenham  combinado  para  imaginar ,  sem  fundamento,  o 

(i)  La  C.  Relalion  d*un  vojage  fail  dans  rinléricur  de  rAmérique  mcri- 
dionale  par  Mr.  de  la  C,  Paris  17Ã5. 


6i> 

mesmo  faciõ? — e  fjue  *»sid  pretendida  fabula  lenha  sido  adaptnil^ 
fom  tónla  yrHformidade  e  ião  uni  versa  hnenle  em  Minas^  Pará , 
€íiyeiin3  e  Venezuela^ —  enire  lanUs  naçOes  que  se  nào  eomprelvett- 
dent,  e  (]uê  nenhuma  commynicaçào  tem  entre  si?  • 

Creio  que  estâs  objecc^õtis  ja  ficam  respondidas, —  e  prinnpal- 
menle  si  atUttdormos  que  todos  aquelles  logares  eram  frequótilãdos 
por  cnmybnSr  ou  ramos  bem  projclm*QS  da  mesma  trlbu,^ — o  que 
todos  etlea  ^e  deviam  mais  ou  menos  ter  reséntido  do  retrocBg&o  da 
poputaç/iO  indigena  ,  qtie  se  amalgamava  e  confundia  na  sua  reeml- 
graeilo  do  sul  para  o  norte. 

81  queremos  saber  tm  que  parte  do  AmaEonas  m  eslábelecera  esta 
fí^publica  feminil ,  alé  n^isto  eneonira remos  náo  pequena  diversidade 
da  opiniões. 

Raliígh  as  hz  habitantes  do  sul  do  Amnzona^i  junto  ao  rio  Tapa* 
\úz  :  idi  n'esse  mesímo  rtoqtie  La  Condamine,  Rpf  u!o  e  meio  depois  (*), 
í3n€onlrou  as  afamadas  f>tHlras  vardes,  de  que  Halegh  a^isoverava  quo 
eram  ficas.  N'as!?a  margem  lhe  foi  communicada  a  tradição  dos  indi- 
gena s  acerca  d'ei^sas  ífuerreiras  qna  elle  suppõe  ter  atravessado  o 
ÂmnEOrtas  entre  o  Tefó  eoPiirús.  Foi  ainda  n*é3m  mesmo  rio  que  o 
púfiugtiez  Hibeiro ,  penx>fréndo  03  seus  aiHu entes  do  norte,  acboi! 
a  mesmo  tradição,  qtm  fora  revelada  a  La  Condamine. 

Ha  porlanio  duos  opiniiles  a  respeito  do  logar  onde  se  suppíJequê 
Sê  estabeleceram  asAmazona'^!  cotlocando-as  uns  ao  norte,  outros 
ao  £ul  d'esle  rÍo.  Halegh  o  Condamine  as  colbcam  ao  sul^  o  assim 
lambem  Ore!  la  na,  que  cbegâfido  ao  Amazonas,  segundo  se  cré  pelo 
Coca  e  o  Napo  parece  ter combalido-a5,  que  nfio  eram,  mas  quo  ella 
denominou  amazonas  entre  a  fo£  do  rio  Negro  e  a  do  Xingu, 

Outros  porém  as  eol locam  ao  norte,  e^  eonforme  as  informardes 
transmíuidas  pelos  indios  de  Cayenna  e  do  Fará — em  dríTerentes 
togares  —  umas  vezes  a  oeste  das  grandes  quedas  do  Oyapock»  além 
dos  índios  amicuanes  — lambem  cbaraadosf>re//a£/oi,  orelhas  com- 
pridas, e  que  são  os  mesmt^  Ory*íueí,  de  quo  falia  Halegft ; —  011  Ims 


xtttt 


50 

vcE&sa  oeste  de  rio  Anjo  ou  Injò,  que  desagua  no  Amazonas  iim 
Houco  ao  sul  (lo  Araguary;—  outras  por  fira — junio  as  cabeceitíis 
úo  CudúvarOi 

Quanto  a  este  ultimo  rio  deverei  observar  que  o  pdro  Gilif  míssto- 
nmo  ff ae  acredita  na  existência  ãâs  amo^Oiii»s,  ptenteia  a  opinião  dti 
qm  nào  wm  taleiramenCe  accídenbl  a  grando  dmítlian^  qua  m\à 
anire  o$  nomes  do  Ciietiivar^,  aííliiente  do  Amazona!!,  jutiio  ao  qual 
dèvtrão  elbs  ter  passado  csle  rio,  e  Cucbivero,  ^LJlluente  do  Orenoco* 
Pretecida  o  missionário  que  os  aíkeâulenano,  descendentes  das  ama^ 
zonas  do  Marmihào,  dáram  á  sua  nova  ^  o  tionM  da  aRteríor  ou  pri- 
mitiva lialitacSo.  O  sábio  Uomboldt  duvida  com  razoo,  de  si  mi  Hian  to 
[acto  e  de  sirniHianto  genealogia. 

No  era  tanto,  como  modernamente  se  tem  querido  argumenuircoin 
a  opinião  a  esta  respeito  apresentada  por  La  Candamlne,  [;eral menta 
secrá,  ou  pelo  menos  9e  di£  que  as  amaz^onas  origiiianâs  do  (ago 
t  d'ali  se  passaram  as  monti^iibas  do  interior  da  GuyaikAi 
onda  por  certo  não  ierâoi  nem  julga  o  autor  fraficez  que  tenbam  de 
&er  descobertas  nunca, 

âendo  porém  temp  de  passarmos  a  expor  a  opinião  de  La  Condi- 
mine,  a  cuja  vragem  m  deve  neãle^  últimos  temps  o  reappííreci  mento 
na  fcena  litterarta  das  ja  quasi  deslembradas  amazonas,  eíâ  o  qua 
para  o  caso  nos  parece  digno  de  ser  extractado  da  relação  da  sua  via- 
gem ao  interior  da  Atnorlca  Meridional  (*). 

«No  decurso  da  nossa  viagem  (escreve  elle)  questionamos  por 
toda  a  parte  aos  Índios  das  diversas  naç^s,  e  d^elles  nos  informámos 
com  grande  cuidado  si  tinham  algum  conhecimento  d^aquellas  mu- 
lheres belltcosas,  que  Oreltana  pretendia  ter  ent^ontnidoc  combatido ; 
e  si  era  verdade  que  ellus  vive^ím  fora  do  commercio  dos  homens^ 
Jtáo  09  recebendo  entre  si  ienao  uma  so  vez  poranno. . .  . 

«Todos  nos  disseram  lê-lo  assim  ouvido  a  sens  pi3|  ajuntando 
mii  pariicutaridades,  muitas  longas  de  se  repetirem^  todas  tendentes 
1  coafirmar  que  houve  neste  continente  uma  republica  de  mulheres 


(*)  Ob,  tit.,  paj,  101, 


que  flsiãm  30S|  fôm  homÊns,  e  qu^*  sa  retiraram  para  o  interior  das 

terras  dõ  fado  do  norte,  pio  rio  fi*.*;LTo  ou  por  um  dos  que  p^lú  mos^ 
tno  lado  corrafn  para  o  rio  Marafikiu. 

*  Um  inclio  de  5,  Joaquim  de  Oma^uai  nos  disse  que  par  vcn- 
tiifã  oncontrarbinoâ  âíadâ  em  Cuarí ,  um  velbo,  cujo  pai  vira  as 
tmaKtnas.  Sitiemos  em  Coari  que  o  Índio  ^  que  nos  Unha  iido  in* 
dicado  hâvb  fallccido  ;  mas  fallomos  a  seu  íilbú,  homem  dâ  70  ânuos, 
e  coaira.ind.iTite  ii&  oulros  da  rnesma  Ifitm.  £sLa  uos  assegurou  que  ^u 
p9Í  ^s  linha  mio  passar  na  entrada  do  Gucbiuara,  vindas  do  Cayamé, 
que  desafina  no  Amazonas  do  lado  do  sul  entre  Tefé  e  Coari : — que 
tinha  falíado  a  quatro  d'entre  eltas,  quo  uma  Iras^ta  um  filho  ao 
peito, , ,  , —  que,  deixando  o  Cuchiuara,  atravessaram  o  Grande 
Riõf  o  tomaram  o  caminho  do  rio  Negro.  Omilto  certos  deJalhes 
(dÍ2  La  Condamiiio)  pouco  verosimeis;  nms  quo  nada  importam  m 
easenciat  do  assumpto. 

« Abaixo  do  Coari  nos  disseram  os  Índios  a  mesma  cousa,  variando 
so  em  algumas  circunistancias ;  puram  quanto  ao  ponto  principal 
estavam  lodos  Je  accordo* 

«  Um  índio  de  Mortigura,  mis^o  vidinha  do  Pará  (continua  o 
in^mo  autor]  oíTereceu-se  para  n i ostra r- me  um  rio,  pelo  qual, 
segundo  entendia,  se  podia  subir  ale  a  pi*quena  distancia  do  paii 
em  que  n'ai]ue]la  actualidade  sa  encontrariam  amassonas.  Era  este  rio 
olrijd;  o  di^ia  o  mosmo  iudio,  que  quanJú  tal  rio  deixava  de  ser 
Jiave|avel  por  cau.«a  das  cachoeiras,  era  preciso,  para  se  penetrar  no 
paí£  das  amazonas,  caminhar  muitos  dias  petos  mattos  para  a  banda 
de  oesto,  Q  atravessar  um  paijs  montânhusOn. 

1  Um  veterano  da  guarnição  de  Cayena,  assegurou  que,  sendo 
enviado  em  um  d^astacatuento  para  rçronhecer  o  paizem  1726,  havia 
peneirado  entra  us  amíaianei ,  nação  de  orelhas  compridas,  que 
Imkila  além  das  cabeceiras  do  Oyapoek,  c  junto  as  de  um  outro  riu, 
que  desagua  no  Amaxonas, —  e  que  ali  vira  ao  pesoM^o  das  mulheres 
»s  taeâ  pedras  verdes:^ e  que,  perguntxmdo  aos  Índias  donde  as 
tiravam ,  rc!ipondoram  ei^tes  que  lhes  vinham  do  paií  das  mulhere.'^ 
que  não  ttnham  marido,  paiz  que  lic^iva  a  ?ele  ou  oiio  léguas  ^U 
distancia  p^ira  o  bdo  do  occidenti^.  n 


52 

La  Condamine  obsenra  que  a  naçáo  dos  amicuanes  habita  longe 
do  mar,  em  um  paiz  elevado,  onde  os  rios  não  são  ainda  na?ega* 
veii;  e  que  assim,  não  era  verosímil  que  elles  tivessem  recebido  esta 
tradição  dos  índios  do  Amazonas,  com  os  quaes  não  tinham  relaçAo 
de  commercio. 

(c  O  que  merece  attençào  (é  ainda  o  mesmo  autor  quem  falia)  (^) 
ê  que  emquanto  as  diversas  relaçOes  designam  o  legar  da  residência 
das  Amazonas — umas  para  o  oriente ,  —  outras  para  o  norte,  e  outras 
emfim  para  o  occidente, — todas  estas  direcções  difíerentes  concorrem 
em  collocar  o  centro  commum  nas  montanhas  do  interior  da  Guyana, 
e  em  um  recanto  onde  ainda  mo  penetraram  nem  os  Portuguezes  do 
Pará,  nem  os  Francezes  de  Cayena. 

«  Apezar  de  tudo,  confesso  que  me  seria  bem  difficíl  acreditar  que 
as  nossas  Amazonas  ali  estejam  actualmente  estabelecidas,  sem  noti- 
cias mais  positivas...  » 

Para  desvanecer  a  duvida  que  poderá  suscitar  esta  ingénua  conGssào 
da  parte  do  seu  mais  acalorado  defensor ,  La  Condamine  pondera 
que  a  naçáo  ambulante  das  Amazonas  poderá  muito  bem  ter  mudado 


«E  o  que  mais  que  tudo,  me  parece  verosímil  (diz  elle)  ó  que 
eltas  tinham  com  o  tempo  perdido  os  seus  antigos  costumes,  quer 
fossem  subjugadas  por  outra  nação,  quer,  aborrecidas  da  sua 
soledade,  as  filhas  esquecessem  a  aversão  das  mães  para  os  homens. 
— Assim  (eonclue  eNe),  quando  hoje  não  deparássemos  com  vesligios 
d'essa  Republica  feminil ,  não  seria  isso  bastante  para  aíTlrmar  que 
ellas  não  tinham  existido  nunca.  » 

O  que  d*esle  extracto  se  concfue  é  que  La  Condamine,  em  prin- 
cípios doeste  século,  achou  no  Amazonas  a  tradição  d^essas  mulheres 
que  ninguém  vira  ,  e  sómenlelhe  asseverava  um  indio  de  70  annos 
que  isso  acontecera  a  seu  pai.  Note-se  agora,  que,  segundo  a  própria 
relação  de  La  Condamine,  quem  devera  ter  visto  as  Amazonas  era  o 
avô  d*este  indio ,  como  seu  pai  aflirmava ;  mas  morto  este  ultimo ,  já 
o  neto  dizia  que  não  era  o  avò,  mas  o  próprio  pai,  que  as  vira. 

(•)  Pag,  107. 


O  €scriptor  portu^nez  Ribeiro»  diogou  na  sua  risgem  ao 
Âniâzonns  á  povoação  já  enlào  desílrtiiJu  de  Citchubára  [que  ftcava 
lia  bacca  cfo  Purys}*  onde  perfítinuintjo  pelo  inJio,  que  transmitlira 
Iflí/s  ififorniações  a  Líi  Condam ine^  verificou  ter  sido  o  iarj^Biito-môr 
da  orJcnnnçji  José  da  Costa  Pu n ilha ,  já  então  fidíecirlã.  ^  Porém 
(íictíraíC4?nta  elle)  outro  Índio  do  dito  logar,  chamado  Josu  Manoi;!, 
alferes  de  ordenança  ^  liomem  já  de  70  annos  para  cima  ^  e  de  Lom 
propósito «  nQUjral  da  dítu  anúga  povoarão  deCuchuiuára,  me  asse- 
gurou ter  ouvido  direr  muitas  vt;zeíi  ao  nonieodi}  sar^eiiio-mór ,  a 
que  este  disse  qq  Sr*  de  La  Condarttine,  segurjindc^me  além  Uma 
qutí  era  ri 'este  rio  conálanlc  eiilre  os  ítiJÍos  a  Iríidiçno  da  tí^blcucia 
das  mullieres  Amazoaas,  do  c|ijai  m  ralírurduu  onlriíidiaudo-se  uas 
terras  do  norUi  d^elle^  da  bocea  do  rio  Kegro  para  haho.  » 

£'  certo  que  esla  Iradteão  correu  entre  os  mdf|íensis  do  Amazonaíí , 
ê  correrá  talvez  ainda  lníje;  mas  qu atuo  a  mitn  riào  ÍUa  ex|jl içado — 
si  foram  os  Europeus  oâ  que  a  receltL^nim  dos  iiidioã,  —  ou  ú  peb 
contraria  I  como  eruío,  foram  alies  os  que  lh'a  traiismiuiram.  Cotn 
firmomc  n*tíStaopU!Íãoqoando!Jíi  particularidades fjue  La  Condafnine 
auli^  |iouco  verosímeis  nflt»  eram  scníto  o  acccssorio  da  liibula  do 
velliô  mundo.  A  mesma  eouclusâo  pudia  Hi  beiro  tirar  do  dilo  th 
iuffio  pni  a  esíslenem  das  Amazofías ,  e  comtudo  decídiu-so  pela 
negativa  laivez  porque  metbQr  coubecedor  do  caracter  dos  indi^^cnns , 
.sabia  quáo  pfjuco  verdadeiros coâtumam  ^er ,  sendo  liomenâ  crédulos 
jto  que  ouvem,  0  exagerados  no  que  narram. 

DVsLt  píirle  da  sua  vi  Liarem  ttii.  Li  Cumiamino  uoia  memoria  »  que 
foi  lida  na  Academia  Real  das  Sciencia^  du  Puris;  nias  entre  os  iuu:s 
contemporâneos  (como  6 liem  de  soppòr,  e  Ilumboídt  no-la  assevera)* 
não  se  julgou  que  elle  lívesso  tomado  a  defesa  das  Amazonas  senão 
para  capiivara  atten(;io  do  seu  auditório  com  um  taclo^  que  era  peto 
menos  admirável 

Não  nega  comtudo  o  viajante  franccz  quese  possa  ai  legar  contra  i\ 
verosimilliatiça  du  tal  Republica  (^0  palavras  su^)  a  impa^iid- 


lidaie  de  ê€  €$tahUc€r  $  iubmtir;  mm  prefôiiíia  que  si  em  âlgumii 
parto  pâdaráâ  iâr  âxlstkla  AmAignas,  oio  foi  mn§o  m  Amcrioi ;  — 
e  que  a  vida  errantâ  díis  mal  bares,  seguindo  os  niarÍLÍo!}  mssuat 
âxpadíç^ ,  e  põr  oulro  bJo  a  sua  inrdicidade  domestica  lltâs  dis> 
parta  riam  a  idéa»  assim  como  lhes  praporoí  cariam  oecasiáo  dd  st  i 
esquivarem  deum  jugo  tâo  í  ne  oro  porta  vd. 

La  Condam ínâ  Ma  previa  por  certo  quantas  objec^ées  sofTro  simi- 
Ihânte  hypottieso*  Como  todas  ou  o  maior  niimaro  das  mutheres  d^ 
uma  tribii  so  poderio  colligar  e  fugir»  q ciando  quasií  diiiría menta 
acompanhavam  seus  mn ridas?  Como  em  tríbuis  resumidas  se  reuniram 
em  numero  bastante  pra  formar  uma  Republica  ou  um  corpo  que 
íosso  respeiíado  das  na^^  por  cujo  território  passasse ,  e  em  cuja 
vizinhança  se  estabelecessem  ?  Como  abandonar  os  lilíjos?  Como 
subsistir  por  Dm  P  De  matsd^isso  não  era  tHo  deseí^peroda  a  condição 
das  mulberes  entra  as  tribus  inJigenas  da  America  MefidioDal ,  que 
alguns  autores  modernos,  que  attenta mento  estudaram  os  seus  eos< 
lumes ,  não  a  reputem  preferi  ?el  à  d^ã  mui  Vieres  da  classe  inferior 
nos  paizes  mais  civilizados  e  nas  capitães  mai^  populosas  da  Europa, 
£stõ  dito  de  d'Orbtgny  e  eon firmado  e  gent^ralisado  por  um  naLti^ 
ralísta,  a  quem  se  não  nega  perspicácia ,  e  eujas  observações  slo  d» 
ordinário  agudas,  e  não  dastiiuidas  de  profundeza*  tHo  extremo 
da  barbaridade  (diz  Virey]  (*)  nao  é  o  sêto  feminino  lâo  oppriínido» 
como  50  poderá  soppòr;  porquo  so  torna  necessarioeomo  o  centro  da 
família  e  esperança  da  nação,  —  emquanU]  os  homens  se  occupam  por 
fóm  da  caça  e  da  pesca,  n 

Ainda  no  tempo  om  que  o  inundo  soientilico  e  lilterario  so  cccti- 
pava  com  a  dísscrtaçSo  de  Lt  Conda  mino ,  perguntou -se  a  Humboldl 
si  elle  seguia  a  mesma  opinião  do  viajante  f rance;,  numboldt  que  por 
si  nada  tinba  podido  verificar^  porque  não  eompreliendia  a  linguagem 
dos  indígenas f  julgou  quo  se  nSo  devia  rejeitar  uma  tradição  táo 
geral,  bem  que  perfeitamente  aventasse  quacs  os  motivos  que  puderam 


(*)  Histi  uaL  duGen  tltunaiorc.  Vàm»  109i.  f .  3,  pag,  ^o. 


6fi 

tir  levado  á  exageraçlo  os  eserípiores  qua  deram  maisTc^a  ás  Ama-* 
xonas. 

Apresenta  cômtudD  um  leslemunlio  que  olle  reputa  dâ  algum  pesa» 
o  dá  mm  i'Xp]tcai;âo  qm  mppm  satUfoctoria.  O  teatemunho  ó  do 
padre  Giii*  e  a  e?(plieaç3o  ti  com  pouca  e  bem  pouca  diíferençaa 
mesma  ée  La  Conda  mine. 

aPerguntándo  (escreve  o  padre  Giíí)  (*)  a  um  índio  ptãquá^ 
f[ue  uarôas  Imbiliivam  o  rio  Cuchivero,  elte  fsomeou-ino, *.  eus 
aikmmbenano.  Sabendo  bem  a  língua  tamanaque,  comprehendi 
sem  difílcutdode  o  sentido  d*esta  palavra  que  ó  composta  »  e  signifícs 
—  miííAer«f  vimndo  aái.  O  tndie  conrirmou  a  minltã  observação » 
ecofiLtiu-meqnoos  Aikcambensno  era  uma  reunião  de  mu Iheresi  que 
fabncim  bogas  sara  baianas  e  outros  in^^tru  mentos  de  guerra.,*  e  que 
matam  de  pequena  idade  os  filfKJs  varões. 

Quer  IlLimboldt  que  esta  historia  se  resinla  das  tradições  dos 
Índios  do  ilâranhão  e  dos  Caraybas;  mas  o  mesmo  autor  ac^rescenta 
que  o  índio  de  que  falia  o  padre  Gili  ignorava  o  castelhonot  nlo 
linha  «faiado  em  con lacto  com  os  brancos ,  e  não  sabia  do  certo  que 
ao  sul  do  Orenoco  eiislía  um  rio  que  se  chama  dos  Afkeambenano» 
ou  dái  muilieres  que  vivem  ms, 

Humboldtconclue  enláo:  as  mulheres  fatigadas  doestado  de  escra- 
viduot  em  que  eram  ildas  pelos  homens  ^  se  reuniram  ,  como  negros 
fugidos,  em  algum  pahnquty  onde  o  desejo  de  con^rvar  a  sua  inde- 
pendência as  lornaria  mais  guerreiras»  —  a  receberiam  depois  visitas 
de  algumas  tribus  vizinhas  e  amigas ,  taKm  menos  methodicamenle 
do  que  o  refere  a  trâdjçílo.  Basta  que  esta  sociedade  lenha  algum 
vuUo  em  qualquer  parie  da  Guaysna  para  que  acontetti mentos  muito 
aimplices,  que  se  poderfio  ter  repelido  em  diíTerentes  legares  tenham 
sido  pinladoãde  uma  maneira  uniforoie  e  exagerada. 

La  Condam ine  trouxera  também  para  exempla  da  possibilidade 
de  uma  Republica  de  mulheres  os  mocambos  dos  prelos;  nâo  julgando» 
QO  que  parece  ^  que  íos^  um  doestes  factos  mais  admirável  do  que  o 


(*)  tlumboldt,  c»b.  du 


56 

oQlro.  Fogem  os  pretos  ó  certo ,  e  cousa  bem  commum ;  mss  «s 
pretas  já  nSo  fogem  na  mesma  proporção ,  nem  em  parte  alguma 
formam  quilombos  só  compostos  de  mulheres ,  pois  isso  lhes  obsta  a 
fraqueza,  a  irresoluçSo  da  maior  parte,  o  amor  materno,  e  a  natural 
dependência  do  sexo. 

Si  além  d'isto  se  attende  a  que  La  Condamine  parece  suppôr  que 
as  suas  heroinas  subsistem  desde  Orellana  até  o  seu  tempo,  isto  é, — 
por  espaço  de  dous  séculos  e  meio,  ver-se-ha  que  nenhuma  paridade 
se  pôde  realmente  descobrir  entre  uma  republica  de  mulheres  guer- 
reiras, e  um  mucambo  de  pretos  fugidos. 

Inclinar-me-hei  também  para  a  opinião  de  Humboldt  de  que  não 
devemos  rejeitar  inteiramente  uma  tradição  tào  vulgarísada :  é  mesmo 
possivel  que  ella  tenha  algum  fundamento  na  historia  da  anniquilação 
dos  nossos  indigenas,  mas  por  outro  lado  ser-me-ha  permittido  estabe- 
lecer ao  mesmo  tempo  com  o  autor  das  Investigações  Philosophicas  {*) 
não  ser  possivel  que  em  tempo  algum  tenha  havido  nem  no  novo  mundo, 
nem  em  qualquer  outra  parte ,  uma  verdadeira  Republica  de  mu- 
lheres confederadas  e  unidas  por  um  pacto  social,  por  leis  e  consti- 
tuições particulares ,  que  tenham  propagado  a  sua  descendência  e  o 
seu  império  durante  muitas  idades ,  não  admiltindo  homens  em  sua 
companhia  senão  uma  só  vez  por  anno. 

£  pois  que  so  com  as  da  America  nos  occupamos,  vejamos  si 
poderão  ter  existido  verdadeiras  amazonas. 

As  verdadeiras  amazonas  deveram  ter  vivido  cm  uma  completa 
separação  do  outro  sexo.  Comtudo  Orellana  affirma  tel-as  visto  em 
companhia  de  homens,  a  quem  ellas dirigiam  no  combate,  impondo- 
Ihes  mesmo  no  campo  da  batalha  a  pena  dos  cobardes.  Segundo  em 
antigos  historiadores  se  lô ,  exemplos  ha  de  povos  entre  os  quaes 
predominava  o  sexo  feminino.  A  este  propósito  Virey  (**)  appella  para 
o  testemunho  de  Diodoroo  Siculo,  e  da  obra  que  se  intitula  «Em- 
baixada aoThibet. »  Ainda  em  tempos  posteriores,  como  nos  affirma 

(*)  Rcch.  Philosoph.  pag.  110. 
(••)  Ob.  cit. 


0/ 

um  viíijaiUe  inoílcrno  (Rionzi)  (*),  as  miilliores  das  Marianas  exer- 
ciam em  nulo  o  por  tudo  o  commandu,  oxctípld  na  guerra  e  na  ma- 
nol)ra  ile  uma  canoa.  Mas  sendo  verosímil,  como  prelendíí  Caril  (**), 
«|uo  Diodora  Siculo  se  lenha  deixado  illudir,  quando  refere  que  as 
amazonas  linham  império  sobre  os  homens  do  seu  paiz,  prece 
lambem  cerlo  i|ue  enlre  os  Maríannezes  deu-se  o  mesmo  f.icto  que  nós 
lemf>os  feudaes  e  cavalleirosos  da  Europa  ,  em  que  os  homens  mos 
Iravam  extrema  deferência  para  com  as  mulheres  ,  sem  que  d*ahi  se 
possa  deduzir  que  ellas  lenham  exercido  imi)erio  em  tempo  algum. 

Por  Oíilro  lailo  nâo  ó  possível  crer ,  que  os  homens  de  uma  nacíío, 
se  deixassem  avasfallar  e  subjugar  completamente  pelas  mulheres, 
porque  seria  preciso  pra  isso  que  fossem  lodos  elles  muilo  poltrões ; 
e  iodas  ellas  muilo  resolutas  ,  e  que  de  um  momento  para  outro  se 
^chasscm  iodas  com  a  consciência  de  uma  su prioridade  que  bem  Fe 
lhes  pôde  contestar,  —  emquanloos  homens  se  sentissem  aniquilados 
pela  rcvelaç.io  fulminante  da  sua  inferioridade — cousa  que  os  próprios 
bárbaros  seriam  os  primeiros  a  não  admittir. 

Nada  imprla  (como  diz  Virey)  (***)  que  enlre  pvos  bellicosos  e 
nas  extremidades  da  guerra  as  mulheres  tomem  armas.  Ha  factos 
d'estes  na  historia  de  lodos  os  povos ,  e  na  nossa  mesmo  (pie  é  ainda 
bem  recente  mais  do  que  um  exemplo  glorioso  se  aponta. 

Mas  que  as  mulheres  façam  no  manejo  das  armas  a  norma  da  vida, 
pretende  Pass  que  c  esse  um  acto  contra  a  natureza ,  o  um  facto 
inadmissível.  Sustenta  este  autor  (e  a  sua  proposição  nos  parece  um 
axioma)  que  podem  os  homens  submelter-se  ao  império  de  uma 
mulher;  mas  nâo  á  aristocracia  olygarchia  do  sexo  feminino.  De 
facto,  si  conveniências  de  alia  politica  reclamam  ás  vezes  a  derogaçíio 
da  leísalica  da  humanidade,  nunca  as  mulheres  ou  por  força  ou  por 
astúcia  poderiam  chegar  a  idênticos  resultados. 

Pois ,  para  que  essas  mulheres  se  não  deixassem  subjugar  pelos 

(•)  Oc— T.  1,  p.  395.  b.  L*Uiiivers. 
(••)  Lilt.  Am.  T.  2.  liU.  25. 
(•••)  Ob.  e  log.  cit. 

WIII  ^ 


58 

homens  ,  deveriam  \ivcr  sos.  Mas,  admittida  a  liypolliese,  comose 
consliluiu  essa  republica?  —  Si  vieram  da  Scylhia  como  o  indicam 
os  costumes  que  se  lhes  attrihuc ,  como  poderam  concluir  similhante 
viagem?  Si  se  organisaram  no  seio  das  Iríbus  indígenas,  como  se 
combinaram ,  se  evadiram  e  se  encontraram  todas  nas  mesmas  dispo- 
sições desearoaveis de  abandonarem .  ou,  o  que  ainda  menos  admis- 
sível seria,  de  sacrificarem  seus  filhos  e  maridos?  —  Depois  de 
estabelecidas ,  como  se  puderam  sustentar  no  meio  de  tribus  beliicosas 
e  aguerridas,  e  acostumadas  a  procurar  nas  tribus  vidinhas  escravas 
e  mulheres,  para  se  dispensarem  do  presente  que  deviam  á  familia 
da  noiva  que  tomavam  ? 

Dada  a  existência  de  similhante  republica ,  seria  preciso  admitlir- 
Se  a  reunião,  conveniência  e  boa  harmonia  de  alguns  milhares  ou 
eenténares  de  mulheres  ao  mesmo  tempo  insensatas ,  homicidas , 
infanticidas  e  guerreiras ;  e  o  caracter  do  sexo,  como  pondera  o  autor 
das  Investigações  Philosophicas  (*),  nào  poderia  desmentir-se  a  ponto 
de  commetter  regularmente,  de  commum  accôrdo  e  animo  tranquillo* 
crimes  que  so  raramente  se  perpetram ,  e  por  indivíduos  agitados  pela 
raiva,  pelo  temor  ou  desespero. 

Admiltamos  porém  que  essas  mulheres  so  tinham  podido  combinar 
para  a  fuga^  estabelecerem-se ,  c  subsistirem  na  vizinhança  e  cm 
combates  repelidos  com  as  tribns  aguerridas  dos  vizinhos. 

Quaes  eram  os  seus  costumes?  — Dizem-nos  que  corta\'am  um 
peito  para  poderem  despedir  as  seitas;  mas  esta  asserção  ó  dolorosís- 
sima, e  mais  perigosa  ainda  do  que  dolorosa,  e  sobretudo  seria  inútil ; 
por  isto,  os  autores  regeitam  esta  circumstancia  como  inverosímil , 
c  Gomara  escrevo  das  mulheres  indígenas  que  ellas  atiravam  settas 
perfeitamente  bem  com  ambos  os  peitos.  —  Enlào  vieram  outros  que 
disseram:  o5o,  nào  cortavam  o  peito, — caulerisavam-no  so,  quei- 
mavam-no  na  infância.  —  Mas  nem  a  infância  talvez  podesse  tesistir 
a  essa  dôr,  nem  as  mães  leriam  a  coragem  de  impol-a  ás  filhas  por 

(•)  Tom.  J.«  pag.  206. 


5ÍÍ 


flmútíle  nmííyírtcmíj,  e  so  por  lim,  ikio  fira  por  essa  fótma  cxplicSa 

Ouiru.s  ãupim  íiiin^iiiJaniin  <\\ã&  não  eorlavaiii«  iiâin  caulensav^iii , 
maá  sóriíeiile  aimpíiííivairi  «qiítílle  or^ào  por  meio  in  pffissão-  E  coia 
*|iní  litri?— ^Paro  íitirarcjii  oi seit*!^  prujértUl*  ituiSM  as  podíom  Dlirar 
mm  íílle?  ilyppocraies  rnclhur  [itírH;idãr  íipres^ntava  outra  razáo: 
íis  Amazonas  o  teriajii  feilu  para  (lareiíi  maii  forca  e  vií;or  ao  hrBc/L 
Mas  observa  Vi rL7i  jindâ  í[ue  uinn  mJucín;ãf)  luaisvírilj  e  acompii- 
ikliâda  ãe  iiinis  e  «lií  rnaion^^  è^i^rdtnos  possam  ésmulberus  aiigmentãr- 
lhe»  asfòn;as.  ó  no  efulaíilo  inaoniââiavtil  i[uê  nesio  particular  nào 
poderá  d  nunc^a  ^èv  equiparados  aos  bomens* 

Admitíamos  tajnbuni  que  ãs  Amazonas  encontrassem  homens ,  qu6 
10  prostassem  a  fecunda-laâ,  %ênão  inimigas  «fricarniç^das,  e  fíom  a 
«certeza  de  que  seriani  dentro  fum  pouro  enxotados  eonio  os  jsarigãoii 
pelas  abtíthas^.  Quantas  vezos  receberiam  ln^nitjns?  —  Uma  *  disEem 
al|;im5 ;  mas  outros,  altetidendo  n  inflii«ttcia  do  cltma  ,  á  sua  pro{>rtn 
natureia,  a*j  arodamenlo  e  fttílíi  rom  qiio  rcctíbtam  os  nltnejadíís 
hoíipedi^s,  asíitíveram  q^m  eram  quatro  as  ve^e:^.  As  mulbores  indígenas 
a  quum  ^  conOaia  a  guarda  do:^pri.<miitítms,  Fugiam  rroquentujiicntL* 
rom  diaí;  «  eram  iuím^o^  aqoulias  mja  quem  assim  fugiam,— 
n  Siio  sacriflciíi  era  occasíào  de  o  ma  fesla  riarional »  — e  a  sua  fegsi 
considdrada  como  uma  ignominia  para  ^uã  iam  ília  o  para  a  própria 
Iribii.  Ora ,  si|  stpe^cardo  Iodas  e^ids  circumstaneias^  eç^as  mulboros 
fugia ui,  cunio  ml>  fugiriam  tambr^m  as  Amazonas  com  ac|uotlo4  que 
ho>pL»<lriva(n  em  ve^  dia  ami;íos,  —  ou  como  \mUi  menos  no  i\m  dtj 
lempos  e  dtí  rebçôes  eonliuuadas  se  nS^»  amalgamavam  íis  tribus? 

Isto  porém  será  maisconclud-^nle,  O  qoe  íaRiam  estas  niollíi^fea 
òm  filhos? — Uns  e  a  maior  parle  dí^em  que  os  matavam.  Ma^  onde 
ibi  fica  o  forarlo  materno?  O  infanlíddio  ò  um  ocio  que  repugna 
i  natureza,  e a  quB  poueas  mk^  sàú  levadas  por  força  da  necessidade, 
do  medo  ou  do  mais  intonsfi  deses^pero.Nâo  basta  diitor-se  que  as 
Amtizoriasniosi^rtam  láomáeseomo  ai^ootras.— Nsoe  a^sim;  porqu^^ 
DMi  fé  O  ^nlimeattí  dõ  amor  ninierno  é  tU  todas  a^^  mfie5  <  como  nê 
Americaius  ol amavam  lào  e^tromf)í$.^m<?nl^  rumn  f^m  lodos  os  pai;sos, 


GO 

onde  reín.i  a  polyguiniao  nos  quacs  a  a(T6Íção  materna,  única  o  cxclu- 
sivamenle  se  oonccnlra  cm  uma  so  vida.  As  amazonas  eram  lambem 
americanas. 

Mas  rcs()ondcm  outros:  Não  os  matavam,  entregavam-nos  aos |>aes. 
Sejn;  mas  quando  os  entrcp;avam?  No  anno  próximo,  diz  o  pdrc 
Cunha ;  mas  no  anno  proxim9  o  filho  teria  três  mezes  apenas.  Seria 
o  paemais  amoravcl  que  o  viesse  buscar;  porque  era  possivel  ter 
entre  ellas  um  filho  ignorado?  E  si  o  fosse,  convêm  ponderar  lambem 
que  o  poriodo  da  alimentação  entre  os  selvagens  era  de  Ires.  Já  so  vé 
que  nada  podia  fazer  de  uma  criança  de  três  mezes,  de  um  anno ,  de 
dous  ou  de  mais,  um  selvagem  (|ue  vive  dos  recursos  da  caça,  e  sem 
ler  onde  fosse  buscar  amas. 

Si  a  máe  os  alimentava  e  educava  durante  a  infância  ,  mais  inve- 
rosímil se  torna  que  nâo  sentisse  em  favor  d'e11es  o  estremecimento 
de  amor  e  de  piedade ,  que  sente  a  mercenária  a  quem  se  confia  um 
d*estes  entes  desgraçados  orphâos  de  mãe  e  de  amor. 

Mas  deixando  ainda  de  parle  estas  circumslancias,  l>a  outras  do 
maior  ponderação. 

Entro  os  indígenas  eram  escassos  os  meios  de  subsistência ;  por 
esto  motivo  nSo  havia  grandes  focos  de  população ,  —  e  apenas  pe- 
quenas aldéas  de  algumas  mil  almas, — e  todavia  nâo  se  distrabiam 
homens  para  a  lavoura,  que  era  occupação  quasi  privativa  das  mu- 
lheres. A  republica  das  amazonas  devia  ser  igualmente  muito 
limitada,  e  mais  escassos  os  seus  meios  de  subsistência,  por  nâo 
haver  classe  alguma  incumbida  especialmente  da  agricultura.  Ora  , 
da  mais  populosa  aidóa  Tupinambá,  deduzidas  as  velhas  e  as  muito 
jovens,  apenas  se  poderiam  cxlrahir  mil  mulheres  com  animo  o 
disposição  bastantes  para  tentarem  similhante  aventura.  Suppondo 
que  estas  logo  depois  de  estabelecidas  encontrassem  Gargaris  com  os 
quaes  se  alliassem ,  haveria  comtudo  causas  para  que  fosso  espantoso 
o  decréscimo  da  sua  população. 

Em  primeiro  logar^  nem  todas  seriam  fecundas,  nem  todas  conce- 
beriam logo :  por  outro  lado  demonstra  a  cstatistíca  que  nascem  mais 
homens  do  que  mulheres;  —  além  d'isso ,  a  experiência  confirma  a 


M 

ob$efvoçíTo  do  vulgo  da  que  tios  primeiros  annos  rfo  malrimoiiiti 
iiasc^m  rjuasi  cultishâineiUe  homens :  as  ama^onds  variando  an- 
fiiiaimente  dú  maridos,  teriâtn  mais  Otlio»*  do  r|tie  íiltms^  que  inúm- 
meii te  aprove] ta vam.  Depois,  côneabciido  imlas  ao  inesmo  tempo, 
cstavatn  \Hfum  aptas  para  resistirem  a  ag^ressao  dôs  Inimigos,  qno 
II  ao  fiei  cariam  de  sti  apníveitar  de  ião  favorável  ensejo.  Devendo 
poiâ  n'e$les  tempos  criíjcos  velir  nas  armas  com  mais  assiduidade ,  o 
oc€  11  parem -se  da  própria  subsistancta ,  o^ses  e«@rcicÍos  violentos 
deveriam  occ<isionar  maior  quantidade  de  abortos. 

Si  emfitn  consideramos  que  a  raçu  omerií-ãna  era  e  O  a  menos  pro- 
lifica  de  todas, — que  as  màts  gastavam  três  annos  roni  um  tllbo,  anti3s 
de  sâ  poderem  oceupar  com  o  segutido,  concluiremos  por  ventura 
que  é  ímpossivol  que  em  ta  as  cireumstancias  subsista  uma  republica 
d@  mulher^. 

Ainda  mais  claramente:  de  í,WO  muUieres  rieariam  gravidas 
800;  ea  proporção  Ibes  é  excessivamente  favorável:  d'eslas  80&, 
abortaria  a  quarta  parte,  e  seria  maravllba  que  nau  abortarem  todas; 
lemos  prém  GOOj— os  lilbos  da  maior  parte  doestas  serão  homens* 
porque  nascem  mats  bomcns  do  que  iiiutbcriB* — íamos  350  bomens; 
nascem  porém  nos  primeiros  tem|»õs  lio  matrimonia  quasi  exclusiva- 
inenio  varões, —  temos  em  resultado  de  mil  mulberes  quando  muito 
150  íilbas,  Occnpajido-se  amai  com  uma  so  íitba  por  três  annos, 
[Hinjua  sendo  gémeas,  uma  d^ellas,  como  dos  filhos,  lenba  de  ^r 
5:iCTÍ  ficada  «^ —  vemos  quo  a  reproducçào  oâo  podia  deixar  de  ser 
iriennaL  Deduzidas  as  que  morressem  ale  a  idade  de  15  annos,  as 
amazonas  que  succumbíssem  de  enfermidades,  por  aocidentes  ou  nos 
fombatoSp*  lemos  que  antes  que  as  primeiras  tllha^  chegassem  ú 
idade  de  poder  encurvar  um  arco,  ja  deixaria  de  ler  existido  simi- 
Ibante  republica. 

Nem  nos  podem  dmt  que  sejam  (Kir  este  calculo  desfavorecidas  as 
amazonas,  si  exceptuarmos;  o  postulado  de  que  cada  uma  d'ellas 
gastaria  tre^  annos  com  a  alimentacõo  de  um  lilbot  e  e^te  não  nos 
fiodeser  ncí^ado,  porque  i^  a  ímfíeriosí»  necessidade  da  vida  selvagem, 
f>igo  f|«e  n5o  é  d  calculi»  exagerada  mnlra  as  amazonai^^  porque  é 
prccÍKt  que  as  cireum^íancias  septn  antes  mais  do  que  menos  favo- 


C2 

rav6is  para  que  uma  população  se  possa  duplicar  no  espaço  de  trinta 
annos,  attendidas  as  naturaos  quantidades  do  sexo  e  da  idade.  Ora 
seria  isto  o  que  acontecera  quando  em  qualquer  povo  de  1,000  mu- 
lheres núbeis  nascessem  150  filhas  que  passassem  dos  15  annos. 
Tornemos  mais  claro  o  exemplo.  Em  uma  população  regularmente 
constituída ,  de  5.000,000  de  almas, —  mais  de  metade  ,  isto  c , 
mais  de  2.500^000  são  mulheres;  porque  supposlo  nasçam  mais 
filhos  do  que  Glhas,  como  estes  na  primeira  idade  morrem  em  maior 
numero  do  que  aquellas,  chegam  á  idade  púbere  mais  mulheres  do 
que  homens.  D*estas  2.500,000  mulheres,  (calculamos  pelo  minimo) 
tirando-se  as  demasiadamente  jovens  e  as  que  teriam  passado  a  idade 
da  concepção,  podemos  calcular  que  ficariam  1.000,000  de  mulheres 
de  idade  de  12  a  40  annos.  Ora,  si  1,000  mulheres  produzem  150 
filhos  9  1.000,000  produzirá  150,000  ou  4.500,000  (perto  de 
5.000,000  no  espaço  de  30  annos). 

Dever-se^ia  aind^  duplicar  este  numero,  pois  si  attendermos  a 
que  as  amazonas  teriam  ongeitajo  os  filhos  varões,  dobrariam  por 
esta  forma  a  sua  população  em  15  annos. 

Si  attendermos  por  fim  a  que  consideramos  que  quasi  toda  a 
população  das  amazonas  era  prolífica,  sem  velhos,  nem  crianças,  nem 
mulheres  que  nào  estivessem  em  idade  de  ter  filhos,  concluiriainos 
que  se  pode  dar  o  caso  de  se  dobrar  uma  população  em  cerca  de  três 
annos:  o  que  por  certo  seria  mais  estupendo  que  a  própria  existência 
das  amazonas.  Foi  isto  o  que  dissemos:  que  1,000  amazonas  pode- 
riam ter 500  filhos  por  anno,  ou  1,500  em  3  annos! 

Ainda  assim  dissemos :  não  poderiam  subsistir  por  muito  tempo; 
porque  as  guerras,  as  moléstias,  as  fadigas  demasiadamente  ásperas 
para  o  sexo,  os  abortos  provenientes  de  taes  excessos, —  o  incentivo 
que  teriam  os  vizinhos  para  tomarem  d*entre  ellas  escravas  e  mulhe- 
res, todas  essas  causas  concorreriam  para  diminuir  rapidamente 
similhanle  população, —  e  enfraquecendo-a  aggravariam  mais  a  sua 
condição  com  tornar  mais  precária  a  sua  sorte.  Com  a  total  anniqui- 
lação  do  taes  insensatas ,  se  vingaria  a  lei  eterna  da  Providencia  que 
creou  os  homens  para  viverem  em  família. 

Si  nos  repugna  admittir  a  existência  de  verdadeiras  amazonas  em 


63 

qtialqaer  parte  Jo  mundo  ^  si  úapàe  em  alto  griío  contra  a  sua  existen- 
cb  o  Tãcto  íricí)riic\*ilnv(íl  á&  não  Icrínn  sído  vistas  nuna,  nem  por 
ciirfipt^os,  nem  (lor  indigfno  j^lgum;  [njrqiio  de  nenhum  d*olles  leb 
quâ  fossíQ  lastemunhn  uctilar,  embora  poum  digna  de  fé,  nindn  que 
no-lo  jurassem;  5i  Imh  blnamm  úi  jmdcrcmos  mais  por  deferência 
l^-íra  rnjn  o  niiloridíido  de  Hafuhold  .  dn  que  por  consciência  ndmillir 
a  sufllciencjíi  dn  ruim  qne  #sie  aiilor  aliegn ,  dis  que  nOa  devemos 
rcííeilftr  inteiro  mente  nina  iradiõo  líio  vulgíirisiidn, 

E'  {M>ssivel  lonilem,  aiitdii  que  niia  s^p  muito  provavei,  como 
jft  dif!^,  qtre  símillianlo  liypulheso  lenha  algum  fundamento  na 
historia  da  America.  Algumas  indiicrues  liístoricus  podariam  prea- 
tar-sB  â  hypolhesi!  de  muitas  mulKeres,  que  se  vissem  quasi  simul- 
laneíimeula  privíidus  dus  maridos,  a  ainda  em  grande  fiarte  dos  Ulhos, 
DV'Sia  forma  se  guardaria  a  lriMÍ'rçíto  «xplicondo-o ,  e  se  respoiíaria  a 
autoridadf}  de  escri piores  que,  como  o  padre  Gili,  pareeenfi  possuidos 
de  l)oa  lé. 

Disse  um  indb  a  esie  mií^slonario  qua  o  fio  Cuchivero  era  habi- 
tado pe!oâ  indin^^  dn  naçio  Aikeatiibeiumo.  palavra  que  na  Itngua  dos 
lamauaques,  quer  dizer— mulheres  que  vivem  sós.  Estas  mulíjeres 
eram  CGufiecidaí!  como  fraaíuidoras  das  famosas  pedras  verdes,  que 
õllas  por  certo  nào  poderiam  lor  lavrado.  Ora  o  padre  Ivesdu  Evreux  (') 
qne  Ferdiuand  Diui^  cita  como  lomlo  recebiJo  communtcações 
fnuito  posiílvas  &ohíc  estas  mulheres,  as  reputa  desceiídenles  dos 
lupinambás,  e  é  certo  que  esies  indígenas  possuíam  grande  numero 
d'estâs  pedras,  c  as  Itnham  apezar  disso  em  grande estima^So. 

Assim  corno  os  Bt/loeudos  usavam  irazer  no  beiço  inferior  placas 
cylindrictas  de  barrigudo  ^  Haximílbno  Newied  (**)  dir-nosque  m 
Tupinambás  traziam  esse  ornato »  riâo  de  madeira,  mas  de  pedras 
nepbriticss  verdes.  De  H-icfôrdo  com  esia  asserçíio,  FcrdinAnd 
iDiniz  (**•),  arcrescenta  que  alguns  lupinambás,  como  referem  os 


p)  L^Uttiwff*  nrfeii » |ji(ç.  aa(j, 

(•••)  Paif,  13.  ob.  iíi. 


64 

primeiros  exploradores  e  viajantes  que  visitaram  o  BraziU  Ira/iiim 
n(é  quatorze  de  similhantes  pedras  em  diíTerentes  parles  do  rost) ,  e 
Azara  o  escreve  lambem  dos  habitantes  do  Paraguay,  qnc  oraiu  um 
ramo  da  língua  geral. 

Lemos  na  noticia  da  viagem  do  capitão  Pedro  Alvares  (*)  quo 
alguns  dos  lupinambás  usavam  trazer  no  beiço  uma  |»edra  azul  ou 
verde;  e  em  Lery  (**)  — que  os  guerreiros,  emquanto  mancebos 
usavam  um  osso  branco,  e  quando  homens  uma  pedra  verde;  e  que 
outros  d'entre  elles  não  se  contentando  de  os  trazer  nos  lábios,  furavam 
as  faces  e  ali  as  punham  igualmente.  Lery  as  qualíGca  de  falsas  esme- 
raldas. 

Estas  pedras  oram  tão  estimadas  que  um  francez ,  querendo  nego- 
ciar uma  d'ellas  com  um  selvagem,  este  recusou-se  a  isso,  afUrmando 
que  a  não  daria  nem  pelo  seu  navio  com  todo  o  carregamento. 

As  achas  eram  de  um  mineral  tam  similhante  que  BuíTon  e  outros 
mineralogístas  as  confundiram. 

Vó-se  pois  que  os  lupinambás  ou  eram  os  possuidores  originários 
de  similhantes  pedras,  ou  pelo  menos  eram  entre  elles  de  um  uso 
quasi  geral. 

Sabemos  que  os  lupinambás,  ou  melhora  raça  tupi  se  espalhava 
e  occupava  todo  o  littoral  do  Brazil, — e  que  com  a  chegada  dos 
europeos ,  e  depois  de  vencidos  por  elles,  procuraram  recolhor-se  nas 
margens  do  amazonas  e  nas  terras  do  norte,  e  foi  n*esse  mesmo 
período  que  os  caraibas  das  ilhas  começaram  a  devastar  o  continente. 
Não  8ão  ignorados  os  costumes  dos  caraibas :  implacáveis  com  os 
prisioneiros,  abstinham-se  de  dar  morte  ás  mulheres  as  quaes  eram 
reservadas  para  escravas.  Era  isso  o  que  já  haviam  praticado  quando 
invadiram  as  Antilhas.  Contavam  os  selvagens  de  S.  Domingos  quo 
aquellas  ilhas  eram  habitadas  por  uma  naçào  de  aruages,  que  os 
caraibas  destruíram  completamente ,  com  a  excepção  das  mulheres. 
Cahiram  os  lupinambás  víclimas  d'e1les,  e  em  seu  poder  as  pedras 
verdes.  Não  usando  os  caraibas  d'esle  ornato ,  e  náo  o  reputando 

(*)  C  2.°— (Nol.  para  a  Hisl.  c  Geogr.  das  N.  ultr.— T.  3.-») 
(•*)  Pag.  98. 


iloIâJoíi  ám  ivrapriíHlatlts  iiinríivtflKiã^iâ,  qui^iii^fniU  jlits  ^Uritiuiram  <^ 
eurui^eos ,  ltjii)ar,iiii-rins  cqíuo  rtiocda  pr3  Hírv  i  n*in  *le  rnein  ci  i  cu  lauta 
nas  suus  trat>saeçr»e$  reciprocas  ou  com  m  txihnm.  Dalnrà  iles^la 
enlúo ,  e  não  dosile  muUos  saenlos  como  |>retijntfe  llnmfialijt ,  si^roni 
êlKns  objeclo  do  eonfiinerdo  L^ntre  os  indíos  ao  norte  o  .-lo  sul  <lu 
Orenoco,  Di^-nos  o  mesmo  nulor  i]ne  íomm  os  carnilia^  os  rjue 
fijtetliiii  luos  ptídns  conliecidas  n^s  irosítas  Já  tiuyauíi,— e  asítívurA-iias 
que  corriam  eomo  dinheiro  ,  e  £â  vendiam  por  ditos  prtí(\)$,  mtísmo 
ânlro  os  colonos  ttespnboas. 

Venciíloâ  e  aunii|ii(bdt>:^  os  tupínamhás^  o  qiifi  $CTh  ih%  suas 
mulEieres?  Conduzidas  fAu  rc.«to  dos  «^uerroiros  da  Irilui «  a  mnior 
pnrte  dosqnaes  si^ríam  provavolmmio  \éhm  e  críançis  rmrt«íLídtírÍani 
na  iíua  emigraçíici ;  o  couto  os  vdlios  e  criauç-ts  Fu^ruiuhiriam  uiní^ 
bei  1  mento  aos  íncom  modos  o  fídigagda  jornadi^  clu^gstrmm  d  d  volta 
ao  Áma^onaSi  quaf^l  sem  liomcns.,  d'un<lL%  na  lingurtgmn  figiir:idados 
Índios,  ll»e  pderã  ler  vindo  3  desi^^naçao ^ do  AÍkL»iiihbeuano,  ou 
de  mulheres  quô  vivtnui  ^^m  liorneus. 

Oscaraibas  porém  Dfim  inimigos  lerriveis,  quo  pela  ninior  parte 
das  1'ezes  uiTo  iJeiv.uirkm  ost;ap:ir  as  muliiures  dus  vcncid^^^*  NVtu 
casOt  o  que  fjí riam  el las?  Si  íi Inumas  do  gua  pro[iri;i  narã"  pro feriram 
fugir  á  trio  d«.í$hiimrtnos  timhorc^  pnra  m  Tctinirmu  aos  qiidumholus 
da  ilha  do  S,  Vi  cento;  não  ^rà  fam  da  proímhi  lidado  snppormos 
que  ouiraFí ,  r^cntidos  th  nrKjrlu  do«  maiídos ,  rdl*os  e  jtnrenloR,  p*! 
conloiassem  om  maior  nutnâro»  procurando  &s  trihus  aliiadas  a  amigas 
ao  Irafé^  das  t^uaes  leriam  piSfiadu  fia  su&  Êtnígraj^in  para  o  norle> 

Achar-sc-fdam  posso  idorns  do  taes  pedras  por  Urarem^nas  do  rosto 
aos  quo  morreísom  no  combale ,  a  que  era  coslume  seu  sssisiiírem  » 
— ou  úm  velhos  que  Po  esmeravam  em  tracei -ís  em  grande  numero , 
ç*']mi  succtiinbíííiini  duranlo  a  jfírnada.  Nem  é  mniiode  crer  quú  se 
de-^uidasseu!  íVisso,  sendt»  i'tes  ohjecios  do  lanla  estimação. 

Poroiílro  lati  o ,  ou  roubando  na  snn  fuga  íirmas  rom  qne  se  defen- 
dessem^ ou  hurdando*as  — anuas  que  tlics  seriam  ilo  pouco  préstimo 


tviit 


0(5 

apenas  se  alliassem  a  outras  tribus,-^  podo  d'aqui  originar*se  a  tra- 
dição— das  mulheres  fabricantes  de  exrellenies  armas ,  e  de  pos- 
suidoras das  famosas  pedras  verdes. 

Repito  que  não  passa  isto  de  uma  hypothese  que  eu  já  me  contento 
que  seja  a  explicação  plausível  de  uma  tradição  existente.  Mas  si  se 
trata  de  verdadeiras  amazonas  9  concluo  que  nem  na  Europa,  nem 
na  America  existiram;  e  que  ainda  dada  como  provável  ou  somente 
como  possivel  a  sua  existência,  nâo  encontro  nem  nos  antigos escríp- 
tores  y  nem  nos  modernos  viajantes  razoável  fundamento  para  me 
decidir  pela  affirmativa. 


NOTAS. 

Lê-se  na  obra  «El  Maranon  y  Amazonas» — do  padre  Manoel 
Rodriguez.  — 1648.  Madrid.  L.  1  cap.  3.''—  «....  bailando  ya 
algunos  moradores  en  las  rij)eras  dei  rio  con  quines  tuvo  algunas 
refriegas,  y  se  mostraron  muy  feroces;  y  en  algunas  partes  salian  las 
mesmas  mugeres  a  polear  con  ellos.  Por  lo  qual  y  por  engrandecer 
Orellana  su  jornada,  dixeo  que  aquella  era  tierra  do  Amazonas,  y  en 
la  conquista  que  pedio  a  S.  M.  la  llama  assi : » 

Garcilazo  diz  quasí  pelas  mesmas  palavras :  a  F.  Orellana  tuvo 
por  el  rio  abajo  algunas  refriegas ,  con  los  indios ,  moradores  de 
aquella  ribera,  que  se  mostraron  mui  fieros,  donde  en  algunas 
partes  salieron  las  mugeres  á  polear ,  juntamente  con  sus  maridos. 
Por  lo  qual,  por  engradecer  Orellana  su  jornada,  dijo  que  era  tierra 
de  Amaçonas:  y  assi  pedio  a  S.  M.  la  conquista  de  ellas.»  Historia 
General  dei  Peru.  Madrid,  1722.  Liv.  S."»  Part.  2.'  cap  ^.^ 


07 


E.\S:V10  SOBRE  OS  JESIITAS. 


U  ík*?stiÍtbfTU),  iiljtuibiie  umnnat  ri:ila 
cal  H'tiipo,  e  dc^tiimm  a  p4.rir  cpt 
li!iii|Ki  í)b*iú  \nú  |iti-stQ  di  attrj 
ildio  »((?sfi<j  ^cn(*rc »  j>erdi*>  fio  ri  la 
biT VI'  spcizin,  Q  itwo  a n dure  dediírò, 
Hcaildc^  |uci-j|>iLú,  si  $[>cns^f  ri  sor ^-^ 
mfi  AtMiiíi  inigliorari?!  uníj  «foii  noU* 
liitn  ^K^^iniujiiefilOi  c  coa  segnl  de 

{H  Gesuit fi  .\hitlerfto  per  V.  GiOd£«T1|  cap.  1.*) 

De^flâ  â  idade  da  vírtle  annos,  em  que  começámos  nossas  lides 
joritâlísticas,  o  objecto  que  mnls  nos  int^re^sou  foi  ú  sotuçao  do  grande 
prohlemn— ^iosjesuilas  Unham  fido  tileis,  ou  prejudlcíaes  ao  mundo 
cm  ^i'Tii\  tí  em  piíriii^ular  ao  Brazil — .Nos  arcliivosdes  nossas  glorto- 
sns  tradições  onconlrovamosconsíAnlemenló  o  nomed^oases  rcgniares, 
seus  ir;ib.illi03  apo^tolieof^,  5ua  lucla  com  osprimeinis  colonos  acerca 
d;i  líberdiíde  dos  tndígpnas,  viãmoâ  seu  zulo  pola  diíTusJo  dns  luzes 
miiUtplícândo  ^m  eollegíoít,  desperta  mia  o  gosio  pt^la  luicnitura 
jíagrada  o  profnna;  e  clieio  dVnlhusin^rno  p<>r  esses  benemerilos 
larutií  inscrevemos  nossa  obscuro  nom^  no  nilalogo  dos  apologistas 
da  companliia  de  Jesus,  Quiztsmos depois  profundar  nossas  ínvesli^a- 
i^ò&^f  qttizeuios  esUidar  soa  marrlia  atravéâ  ilos  paramos  da  hii^ioria^ 
eompuJsamos  sous  annaes,  e  vimos  com  adniira^iio  que  os  discí^iulos 
do  Loyola  tintiam  por  mk  a  parlo  deixado  um  sulcu  luminoso :  e 
rada  vujé  nos  apaixonávamos  mais  [Kjressa  r43lebre  instituição^  qud  no 
di^er  do  visconde  de  Boaald,  é  $  mais  perf^^ita  que  lenha  sabido  de 
míttis  !mmanas«  Tomamos  então  soa  dcfoi^a,  ;irn>siamos  a  imf^pyln- 
ridado  que  d'abi  nos  provi i\ fia,  íufga vamos  alo  certo  pnn to  que  nos 
averbassem  de  —  Jeãuittí — -,  [ifjrque  para  nos  essa  palavra  era  o 
com[>endto  do  padre  virtuoso  o  dedicodaá  eausa  da  Igreja.  P  ro  lesta - 
mos  pela  imiircnsa  cenlra  tudo  o  que  nos  parttia  a^-lÍNí.^  coniraiiíj; 


(^8 

repii  Li  vamos  uma  clamorosa  injtistira,  uni  ildicto  d^ingraliJào  indo 
o  (|ue  cm  seu  dtssfavor  se  podessc  dizer.  Nossos  epinicios  foram  aco- 
lliiiloscom  frieza  pelo  publico,  e  aló  pelos  homens  sensatos  c  d*uma 
oribu  loxia  superior  a  menor  suspeila  :  alguns  aconselliavam-nos  que 
esludassemos  lambem  os  livros  dos  adversários,  que  conlem piássemos 
a  medalha  pelo  sen  reverso,  e  que  pondo  de  parte  o  espirito  de  sys- 
temn,  interrogássemos  com  imparcialidade  o  passado.  Gnnsarain-nos 
laes  plavras  a  devida  impressão,  a  nós,  que,  posto  qtie  joven,  \)5o 
eerramos  os  ouvidos  ás  lições  da  experiência,  e  que  por  habito  c 
educação,  respeitamos  os  cotiselhos  dos  anciões,  llaviamos  encetado 
o  i)eno;io  trabalho  da  decomposiçtâo  das  nossas  ideias,  f|unni{o  iim 
íeiíz  ensejo  se  nos  apresentou  de  melhor  conhecermos  o  terreno^  so- 
bre o  qual  devêramos  assentar  a  base  das  nossas  operações:  realiza- 
Tani-se  nossos  mais  doirados  sonhos;  parliamos  para  a  Europa. 
Pequena  foi  nossa  demora  na  capital  do  orbe  ealholico,  porém  marca 
olla  a  roais  bella  épocha  da  nossa  vida,  colhemos  da  boca  dos  sábios 
oráculos  (|ue  estes  jamais  confiam  aos  livros,  avaliamos  por  nós 
mesmo  o  quanto  dista  a  praclica  da  theoria :  tudo  desejamos  ver,  tudo 
perguntáramos,  e  talvez  qne  d'essa  nossa  disposição  d'espirilo  resul- 
tassem algumas  vantagens  para  o  esclarecimento  da  importante  quês- 
lâo,  qu'ora  nos  occiípa.  Não  se  collija  porém  d'eslas  nossas  palavras , 
que  renegamos  inteiramente  nosso»  antigos  principies,  que  passamos 
para  o  rampo  inimigo  com  armas  e  bagagens;  apenas  modificamos 
as  nossas  ideias,  e  desde  já  pedimos  Tenía  para  expor  com  rude  fran- 
queza 09  motivos,  que  a  isso  nos  levaram,  implorando  indulgência 
pela  audácia  com  que  entramos  em  tão  árdua  tarefa,  o  correcção  pelos 
infinitos  crrns,  de  que  deve  abundar  este  nosso  trabalho.  Para  mór 
facilidade  dívidi-lo-hemos  em  duas  partes;  na  primeira  trataremos 
dos  jesuítas  em  geral,  e  na  segunda  dos  do  Brazil,  rogando  ainda 
lima  vez  que  seja  esta  nossa  tosca  producçSo  considerada  como  um 
ligeiro  ensaio,  como  estreia  escripta  unicamente  com  o  filo  de  sup- 
plicar  uma  cadeira  no  recinto  dos  nossos  sábios  para  de  mais  perl^j 
ouvir  suas  doutas  prelecções. 


m 


wAin  aciílía  iliMniM-^uliirir-ííc  iroornso  da  Irisiloiia  :  fome- 
ç;iía  m  Uimjki^  infiiliTntíS  nírneadus  pjf  gig;iíilea»03  c  f^rovidcnniaea 
írcontedriM^tiiíis.  rrulloinbor^'  írudítiji  os  carncteros  inoveis  tín  ini- 
prensa:  Vasi"o  Ja* (iíiuia  dolírn  o  Gibo  da  Boa  Esporynra  iiUrinJo 
IIUV4J  iMmiiihn  finn')  as  liidías^  Mn^iilbk*»  Uao  gyru  do  ummJo,  c 
ClirisluVJiti  Colam  ba  des^ubre  ímiiionsíis  rugífiL^^ ,  íb  rjuaes  ou  Iro 
rlcvcta  dar  SGii  iionic.  O  Bíiixô  tniprro  sncciímljtj  ?oÍi  o  alfan^o  áú 
Mnlífimet  II  c  os  sntíííj^  í;re>í:oii  esrap;mdo  ds  minas  do  seu  belln  \inh 
vem  Liiiscar  na  luilíri,  irmati  da  Grécia  [híIo  dima,  costumes,  e  até 
jKitai  suas  rev^ohiçrjtiSi  um  a^vlot  em  que  poisam  respirar  a  num 
saj^riida  da  íiberdadií,  Abrem-lhes  o»  Medíris  a^  porias  dtí  Fluronra  , 
lííTufecaido-lhes  laíigidlita  búS|iitaIidadi* ;  e  cuii|naiilo  \ms  reiíios  da 
nuUu  dâ  Europa  os  lltmíadeâdt!tem  o$  |»ro;;na^soâ  do  Moíiomulisiim, 
as  cavalleiros  dk^  Rliodo^  ^  taiHtnanflaifrpis  puín  si^u  |;rari  ineslrc 
d'AidMJ^«^n,  stí  úeúmm  p«^la  cliristatid^dc*  O  ourruio  <^nlra  cm  nova 
pita!^  :  a  licgjra  d:i  cívilr^aeírQ. 

De  lempoíj  ein  lomjKJS  alguns  ínnovã^iores  físç^jprnjfjíj.se  das  solidões 
d«>  cUusLru,  ou  díts  !^mibras  do  ^«iiíctuarto  do1lav;im  o  fjratfa  da  rebel- 
lian  rotilra  a  autlinriilitde  Ja  li^rt^ja,  safiira  a  Saneia  Si'  Betnf»ro  vicio- 
tio5a  ilVíiirâ  ronibates;  o  campo  da  baLitba  fiorém  nnidura  eom  o 
decimo  siixíQ  st^rulu  :  o  cbrpfjtiodas  ideias  e  das  ínielligeiíiias  lançava 
nino  desu^^adu  i^plcndiír  pur  Ioda  a  Europa.  A  Igreja  analbemaíi' 
íondo  a  IVjcteíT  o  a  JuíVi  llnss,  tmlB-m  perecorpela  mão  do  olgO!?^ 
mas  o  gérmen  das  birems  fora  confiatlado  a  iimlerreno  feíiundo  pelos 
grandos  abu^CK^  (|ue  então  ^i  (iraiicavain  cm  nonie  da  Religião,  c 
ronlra  o»  qiiacs  clíiu*av"im  o^  luajs  i Ilustrei  snnrtos*  u,  A  reforma  do 
it  16."  seeulo*  áh  ú  $mUor  Cúrlon  de  Rcmmat  no  seu  entrei tenio 
*^  arlíjíô  HÀiVi}  a  líeforma  e  o  Protestantismo  ínserlo  na  Utviêta 
tf  dos  iJonn  Ulttmhs  de  15  de  Junbo  do  correnle  armo  ^  éum  itcott- 
*  lecimenlo  miropeu;  inanífcsiou-w;  como  que  ao  inesiuo  leni|m  um 
u  principaeí  pmr^  da  Eiira)»a<  Eui  rnenoç  dtí  ileis  imnm  linlia  inva- 


7íí 

V  rfiiln  á  Allem;iiili:ií  n  Subsi,  a  Fmnra  o  !i  tn<;latei'ra.  Sua  appDri* 
*i  rSo  quasi  (]tie  ^ímuUanoa  a  seu  prornplo  dcsten  volvi  mento  ^bro 
w  pontos  tSodivfimis  provam  que  provi nim  d' uma  catita  geral  ^  c  por 
«  tod;j  a  partL*  mosirou-se  com  cam teres  commum^  quo  atte«;lotD  a 
<•  e%Ísl6íicia  Jt9  eeria  unidade,  n 

A  e5;pad;t  cadera  o  lugar  á  penna :  não  necessitava  da  gitdrrâiroso 
Catliolicísmo  o  sim  de  doutores.  Tinlinm  desappareeido  as  ordens 
iutlit;ires,  ásiniilhnnça  da  obreiro  que  5C  reúra  quando  toniíiria  o 
^ou  ira  bailio.  Âs  ofilens  monásticas  e  jnendiraiites,  vivendo  pela 
uaiurez:\  dus  seus  institutos  entre  o  altar  e  o  cliiuslro,  ignoravam  os 
negocias  do  mundo,  do  qual  se  haviam  segregado  porsolemne  prolis- 
fíi\ú ,  n  ão  esta  va  m  por  ta  ti  to  em  os  ta  do  d  *en  t  ra  r  n  *a  rena  pa  ra  com  ba  tur 
com  allilf^tas,  que  recusavam  suas  armas  c^pirilUDeSy  e  ehamavãrn 
os  rarrqH'uc3  da  Igreja  para  o  campo  das  sei e netas  e  da  litteratur*i 
profaiia,  Appareceram  ^istís  novos  lidadores  no  momeDlo  preciso  *  a 
erudíçno  niostioti-í«  emdefeza  da  dopma,  eo  mundo  teve  ainda  uma 
prov,!  t!(;  qtie  á  Es^iiosa  de  Jo^us  Cliríslo  nuncí*  faltara  o  celeste  auxilio. 
A  obra  liumana,  o  maiis  ^olíilainentc  edificada ,  qua  imaginar  so 
jmsíi  f  feria  ^ido  derribada  pelo  violonlo  vendaval .  que  açoitou  o 
bahcl  do  Pedro  no  t6*°  século:  mas  a  obra  divina  Síibiu  ptiichra  6 
radia II lo  d'esia  nova  provaçi3o.  Eram  necessários  homens  dedícadoís 
Qos  interessei  catholifos,  euja  única  occupaçâo  foíse  o  estudar  o<í 
erros  do  século,  e  proiliga-los  com  a  sua  mesma  linguagem;  n'uin 
tempo  d' independência  e  dâ  livro  exaiue  bavia-^  mister  dUiomens 
quo  lizes^eui  «'vbntjgaeao  da  vontade,  consagrando  o  praticando  t> 
di(TicÍl  principio  da  obediência  absoluta :  e  a  companhia  de  J<ssus  foi 
fundadíi  por  S,  Ignacin  de  Loyola. 

niiruu  diria ,  que  estava  reservaila  ao  valente  cavalIeiro+  que  de- 
IH)is  d  Li  ter  obrado  prodigios  de  valor,  era  gravemenie  ferido  no  cereo 
tio  Pamplona  »  a  gloria  d 'inscrever  feu  nome  ao  lado  dos  Domingos 
u  iius  Franciscos?  Quando  D,  Ignacin  ilc  Lovida  transportado  ao 
rastello  paterno  podia  para  distrabir-se  um  livro,  esporava  certa- 
nientequelbe  trou?EOSsetn  uêAmadiu  tiú$  Gnlíim^ou  qualquer  outra 
ii tutoria  rotuuticbca  d'e^.^a  iqiocha  tão  bem  euracterisaidâ  pulo  iminor- 


71 

lai  Cervantes;  mas  [ior  tima  liisposiçiía  parliculrtr  da  providencia  núo 
foi  posisivel  encontrar  ^imilíiantes  livros  mi  toJo  um  raslella  feudal, 
IfázenJo-se-Ilío  ctiJ  seu  lugar  a  Vida  de  Jc&m  Chrisio,  e  o  Fios 
Sanciorum*  Tal  I^Uiira  produzi  o  profunda  impre^sSo  iio  múmo 
bd  li  coso  do  nobre  bvícniiiho ,  que  em  vex  dt:  «jucrer  combater  mou- 
ros, dedicou -66  eictusi vãmente  ú  grande  obra  d^  conversão  dos 
til  O  o  is. 

Todos  sabem  como  o  illtistro  cavalleiro  de  Jesus  e  de  Maria  fez  a 
vigiiia  das  armas  no  mosteiro  de  Monserrate ,  c  como  no  dia  seguinio 
suspetidendo  a  sua  espada  ii'um  dos  pilares  do  templo  partiu  para  a 
gruía  íle  Manresa ,  onde  devera  ser  visitado  pr  exiasis  e  visões  divi- 
nas ,  ê  onde  devera  escrever  esses  exercidos  tipirituans ,  que  tem 
sido  ISO  diversamente  interpretados. 

Abrasado  pelo  desejo  de  mudar  a  faço  do  mundo  conheceu  Igoa- 
cio  que  havia  mister  da  sciencia  profana ,  e  eÍ-lo  na  idade  de  trinta 
e  três  annos  sentado  n'um  banco  escolar  entro  meninos  aprendendo 
os  primeiros  rudimentos  da  lingua  latina.  Admirável  exemplo  d'hu- 
mi Idade  dado  por  um  hidalgo  ediicado  nos  princípios  e  preconceitos 
da  idaJe  media  !  As  universidades  de  Salamanca  o  a  de  Paris  o  viram 
siíccessi vãmente  no  numero  dos  seus  alumnos;  mas  era  nests  ultima 
onde  devera  estabelecer  a  sua  propaganda,  chamando  para  sous 
cooperadores  algnns  dos  seus  mai£  díslinclos  condiscípulo.^. 

^0  dia  13  d' Agosto  do  anno  da  graça  1534,  n'uma  copella  sub- 
terrânea da  famosa  igreja  de  Montmartre ,  e  no  mesmo  sitio ,  onde 
uma  pia  trndir^o  assevera  que  fora  decapitado  S.  Dionysio ,  seis  man- 
cebos capitaneados  por  Ignaeto  prestavam  nas  mãos  de  Lefevre,  o 
único  sacerdote  d'entre  elles,  o  juraoiento  de  viverem  sempre  unidos, 
proferiram  os  votos  solcmncs  de  pobreza »  castidade  e  obediência  ^  e 
lançavam  d*esl*art0  a  primeira  p^dra  doesse  ediliciot  que  devera  cm 
breve  causar  a  admiração  do  mundo. 

Não  acompanharemos  a  Loyola  6  aos  seus  companheiros  em  -^ua 
Yida  peregrina;  pregando  de  dia  nas  igrejas  e  passando  as  noites  nos 
hospital  junto  á  cabeceiro  dos  enfermos^  omittlremos  a  sua  estada  em 
Veneta »  onde  a  sua  presença  tso  grande  alarmo  causou  aos  protostan* 


lús,  pfira  vc*los  eliojítr  n  Rofiiíi ;  Inrsrarcni^ííii  aos  pcs  Jo  Paulo  IH 
itnjiloraniJo  ilu  Stumiic»  Puithfice,  a  approvíirSo  Ja  siu  refjra. 

O  livra  doa  ComtitmiSff»  u  Dedaraçôa  úti  companhia  do  h*ms 
oscripto  IíhIô  por  S.  Ignacio  em  Im^un  hfFpniihola  è  um  codi{;o  per- 
fi/ílo,  ranccbiJo  earn  {^fflndtí  er>goiihu  6  etcí-Jíl-xio  com  pnsmtif^T 
ííiiimloria ,  o  que  conquisianim  pura  o  se w  iiutlor  a  tilulo  «b  Ltjrurgt}- 
di  ris  tão  *  Seja  *ti  m  porém  1  í  ci  lo  d  t  zer  q  u  e  n  pessa  r  do  ser  obra  i)  *  n  rti 
FnncUt  não  é  isenfâ  d'ímp['rWçrí0s;  deviílM  umns  an  caracter  do  lef;is* 
l.idor»  que  traníiprtavíi  o  espirito  guerreiro  dos  seus  verdes  anno5 
nmÚQ  para  os  misteres;  mais  paciQcos,  de  quô  lemos  «i  provo  até  na 
donoinífiarào  da  sua  Ordem ,  e  outras  oriíjinadas  pelo  ardento  anhelo 
do  locar  a  per  fecltbil  idade  ^  lào  opposln  ã  fraqueza  da  e^seneía  ti  uma  na, 

Eevela  o  livro  das  CanUituiçães  profundo  conliecimenlo  do  corti- 
í^.to  Immnno  ,  e  notável  arie  do  governar ;  mas  considerado  em  seu 
UkIú  é  UEUa  6âpecie  dí?  nípiíblicsi  doPíalíío,  ^ly^tcma  impossível  de 
praijcar-5e.  Seria  preciso  mudar  iníeiramenle  a  natureza  do  homem, 
diispoja-lo  das  suas  paÍKde.^  para  qtm  onlão  pudesse  atlingír  ao  seu 
km  suspirado  íim,  qual  o  Je  jícnernliííar  por  ioda  uma  numerosa 
eon^ro^aí^ào  virtudes  lieroica^*  que  0eos  concede  a  algumas  almas 
escol  lud  as. 

Assignalaremos  ai^ínas  douíí  p^^nlos  sobre  os  quaes  versa  ioda  a 
economia  da  soneílade ,  n  nuloridade  do  geral ,  e  as  provai,  n  que 
5£io  submeltidõs  D^e^ndidalos* 

O  pmlor  absoluto  conferido  ao  fçeral  preso ppíie  nelle  grandi;  vir- 
li  ido,  e  náo  vulgar  sííbedoria.  E'  a  cabeça  que  pensa  cm  ioda  a 
eompanliia  ^  cujos  membros  são  machinas  postas  ò  sua  disposição, 
O  unieo  correctivo  a  ião  desmarcada  aulorid^de  é  a  instituirão  de 
quiitro  ttsststentfs^  que  em  casos  raríssimos,  como  no  de  públicos  e 
escandalosos  paccadm .  no  da  dissipação  dos  lons  da  ordem «  lem 
o  direito  de  suspondé-lo  eonvocando  im  medi  a  ta  mente  a  congrega- 
çio  geral,  que  deve  tomar  conhecimento  d^accmaçao  o  punir  o 
<nilpado.  «  Si  a  com  pa  rd  i  i  a ,  d  i  i  G  io  ^erh ,  fosso  mm  p  ro  ca  pi  la  n  (?a  d  a 
«  por  tim  honK>m  dotado  d*allÍ53Ímo  engenho,  a  autoridade  de  gerai 
«  opiimo  inslrumcnlo  para  opefarem-se  muravilhosas  cousas,  pois 


^iie  a  sua  líiíínle  pjilcrijt  ctuíctíbí^r  grathhs  ompr" 

•  execula-las  ,  farnectíiiJíi-lha  o  sm  infiiiiUí  potler  o§  n*cni&fjs  ntj- 

•  cess9rii^5  para  bvQ-las  n  elTtíito,  u  Si  so  jutila^é  a  q^so  oiigenlin 
«Enínentt^nJQ  rnertos  stiii^iilar  viritiile  (como  em  Ignâclo)  iienluimÍD- 
eonvenknio  liavb  em  depositar  nas  mãos  truiii  homem  os  fijLiinm' 
destinos  da  corporação.  Mas  ú  por  vtsuiura  o  eKu|e  da  ordi.^m  abri- 
gasse  em  seu  peito  âlgynsd^esses  vicíos  t^o  frequentes  nas  regiões 
do  poder,  como  a  ambição^  a  vaidade,  o  tunt^to  orgulho  rte 
querer  sempre  fazer  Iriumpbar  o  seu  alvcJrio,  ou  quando  virtuo- 
síssimo poi^suisse  um  espirito  apoucado ,  inc^pa^  de  corietiher  e 
executar  grandes  cousas,  que  uso  poderá  fa/^r  da  autoridade  d ts- 
frkionaría  que  Ibe  (."onterem  as  roflíÍ4ítiífJíf*.^  Si  o  geral  for  dotado 
de  [mbihdade  e  vigor  €omo  um  Layne?,  um  Àquaviva  »  um  Gru- 
ber  supprirá  pela  tnlellígencia  o  que  llie  fullar  em  santidade,  e 
i  arisUieraeia  da  ordem  debalde  m  opporá  á  sua  vontíide,  posto- 
que  tu  lima  mente  eõnveneída,  que  ella  se  oppõe  aa  e.<ptritodo  seu 
Instituto^  e  á-s  piei!osai  vi.stas  do  seu  fundador;  mas  si  for  débil 
eomo  um  Vitellesebi,  ou  um  Iticci,  seu  poder  se  reduzira  a  zero, 
eem  vez  de  ser  a  ordem  uma  momtrcfiia  se  eonvcrterj  abprcbi^. 

Cremos  que  lambem  uaofói  l^^m  consultada  a  natureza  bumana 
na  inslitui^^au  do  noviciado  jesuítico:  abrange  ellc  Ires  ânuos,  posto 
que  rigoros-imenie  falIjindonSo  seja  manos  de  du^oilo  annoso  temp^i 
d  e  pro  V  a  pa  ra  ser  ãatí  mú  va  men  te  a  d  d  i  c  lo  á  com  pa  n  h  i  a  ,  sçg  u  n  d  o  o 
testemunho  dos  historiadores  da  ordem  oomoBariuIi.  Citemos  sua. 
mesmas  palavras  :  *>  Primerameute  ella  (la  compaguia  )  ha  Ire  anui 
Q  de  stfeiLessimo  noviziaio ,  duo  ai  pritieipio  quando  3'entra »  cd 
«  uno  ruiiti  gli  slredj*  2,*  Olírea  ciíi,  ha  intorno  adimoto  anni  di 

•  prova,  nei  quali  si  vive  sotto  conlinue  osservazioui  e  censure  de 

•  varj  superiori,  e  fanuosi  di  moiti  esami  sopra  il  vivere  d'og- 
■  nuno :  e  iulanio  dove  a  Uri  non  viriesca  dt  lauta  spirilo  e  virlú« 

•  quanto  ê  di  dôvere  che  ahlua  de*es.^re  unito  coii  la  religinue,  si 
'  per  rimelterlo  allrí  ímiú  iton  vngliano,  ella  se  ne  libera  e 
«  lo  rimauda  ol  secolo,  Perriò  a  tanto  si  dííTereâce  riucorporant 
«  neirOrdine  cou  la  proftssiuno,  o  il  n^panc  iti  altro  grad**  píú 


1 


TA 

a  basso»  lec^nJo  lalârili  u  1  merilâ  dô  dascuno.  3.*  E  queslã  an* 
•  com  è  unà  delia  ossen^ansâ  proprie  nostrei  lo  stare  tn  viu.  In 
«  prova  ^  ove  airiin  demLmto  \\  rechioggía .  o  íntanto  disposio  a 
ft  rieever  dipoi  quel  grado  alioobaâso^  ãove  socomld  le  cosliiu- 
o  fíonij  pare  ai  proposila  gene  rale  ã\  ripo  me,  perche  immuUíbil- 
K  mente  vi  slla  tullo  il  rimanôn  ta  delia  vila**  (Fita  deSanfl^mtw 

Durante  e$^  Ifo  longo  período  o  lio  m em  transformasse  intai- 
r:}meí>ta  i  parda  a  indala  qiio  úú  Doos  r^cbéra  para  matamorplio- 
safir<sa  em]e@uíla«  Cumpre  examinar  si  ganha  ou  piirda  o  noviço 
com  uma  tao  completa  muJança  da  natureza.  Aâ  puras  e  ^amaa 
inteiiçôQS  do  iltustre  fumlador  eram  certamente  eorriglr  os  defeitos 
iidierentcs  á  natureza  humana  ,  levando  s^qs  discípulos  ú  perfeição 
da  vida  esplrilual ;  mas  os  maios,  que  para  tal  fmi  empregou  nào 
5â0,  no  nosso  humilde  entender,  os  mais  próprios,  ou  por  outra,  nlfa 
isemptos  de  graves  ineonvenientes  ^  que  talvez  neutralisami 
enao  nuílíficam  os  bens  quo  d'elles  poderiam  provir.  Vejamos  si 
podemos  demonstrar  a  nossn  proposição* 

As  duas  bases  sobre  as  quaos  se  assenta  o  noviciado  je^tiiti* 
00  são ,  a  obediência  pas.Mva'  aos  superiores ,  e  o  mysticismo 
ebsolutOf  que  eMclua  todo  o  estado  e  occupar^o  lílterârra ,  con- 
centrando as  faculdades  d  alma  nas  eominuns  moditagões  e  pra- 
ticas devotas.  Ora ,  por  pouco  exageradas  que  sejam  estas  duas 
tendências  violentam  ellas  a  natureza  humana  ;  porque  a  obediên- 
cia i Ilimitada  destroe  necessariamente  a  vaifío  e  o  livre  arbítrio , 
&  transforma  as  pessoas  em  cousas ;  e  o  desmarcado  mysticismo 
extinguindo  nos  jovens  corações  as  mais  nobres  e  doces  aíTeições, 
que  o  eéo  Ibes  infunde,  como  sejam  o  amor  dos  pais^  dos  amigos 
e  da  pátria  ^  anniquila  as  faculdades  activas  ^  ú  pôe  a  vida  ter- 
restre em  contra  dicção  violenta  e  nece^^saria  com  a  que  se  dedica. 
Essa  vioIai;ão  da  uaturoza  é  ainda  contraria  ao  Evangelho,  que 
Imdea  aperfeiçoar  e  santificar  as  legitimas  o  puras  aíTeições,  levan- 
tando o  edifício  da  companhia  sobre  um  terreno  estéril isado  pela 
absoluta  ausência  de  i^o  nobres  sentimentos.    Assim,  o  noviciado 


/a 

rius  Jesuilas,  A[H)Í£L-sa  na  cega  obriégação  da  própria  %aiiLaJe 
reunida  a  ura  iámi  mysúdsxnú.  annulbiidú  â  porsotiatidâdu  Itu- 
ínana,  rornã  o  homem  m»iâ  aplo  ao  prcJominio  da  phantasia  ^  q 
f^gri^gafidO'0  do  munda  sensive!  úh\\õe  se\i  múmú  a  uma  in- 
teira e  niílaliea  F^rvidm)* 

Resumindo  o  rjiie  aobanios  do  dher  úa^€on$tituiçôe$  de  Loyoln 
IMidtífeinos  aíifiignpr  como  causa  imniediata  da  decadência  e  dej^e- 
mrn^àú  úo  iriMÍluto  a  duas  mitõâs  pnncipáes  :  o  exf^e^ãivD  {Kidtir 
confiado  ao  geruU  o  n  iifjsoliíia  obediência  e  m)^flicísino  dos  n^ 
plryio®*  ambas  orÍLíjnadns  po!o  erro  d*iiiu  liamem  extraordinário, 
e  d'um  grande  soado ;  mas  cfue  nSõ  sabe  ealoubr  ato  que  ponio 
|Mjd er i .1  m  c h ega  r  as  da  li u ma ni d ad e. 

Oin sagrando  seu  lertipo  precioso  á  diíTkil  larefa  d*orgonisar  orna 
ordem»  que  dereri  exceder  a  Iodas  as  outra^^,  Ignacío,  quesâUía, 
quô  a  lida  do  homem  é  uma  ^rie  nSo  in  ler  rompida  de  eoinbate»^ 
ifescia  da  seu  Sinai  ^  para  occupar-se  com  as  cousas  m  mais  po- 
iji^eiias  rrappareneia  ,  resolvendo  as  d ifíicu Idades,  pondo  freio  a 
todas  as  fiai  Iões,  Compreliendau  esse  grande  génio  que  era  neces* 
sano  enviar  ^eus  padres  pra  o  campo  da  bablho ,  que  eiUào  se 
|)efójQva  em  quasi  todos  os  reinos  da  Europa,  O  espírito  da  época» 
as  idèis  novas  chamavam  a  igroja  a  lerreirOf  e  esia  nao  devera 
ruspiinder  unicamente  com  excommuníiòes  ao  cariei  que  lho  lan- 
çava a  heresia*  Roma  íaEia  um  appctio  a  lodos  os  iheologos  ca- 
iholicos  confiandô-ilies  a  defcza  do  dogma:  e  os  Jesuitas  seaprc- 
j^ieniaram  nc^a  honrosa  arena,  que  acabava  de  abrir-^. 

Poucos,  oh !  bem  poucos  eram  elles :  nias  d 'esses  poucos  de- 
veram sahir  os  mais  vaktttes  campeõ<]S  da  igreja  romana.  «  Ã 
<t  Itália,  como  mutto  bom  se  exprime  o  senhor  Critineau  Joiy , 
«  palpitava  eniifo  debaixo  do  cuit^lío  do  afgoz :  contava  seus  mar- 
«  lyres  por milliarcs ;  a  mina  seniava-se  à  píjría  das  soas  cabanas: 
i«  aqui  se  proscrevia^  ali  conQscava-se,  por  toda  a  pne  d^^gol- 
V  lava-se.  •  Eram  precisos  mií^sionarios  dL*ajcados  *  homens  d'ab- 
ncsgsçio  e  de  fé »  que  fossem  consabr  os  Jilhos  da  verde  Erirot 
que  lhes  lixcsscm   ver  quij  u   igreja ,  sua  extremosa   mai   nào  os 


7íí 

•IxiuJítfi  iv:i  tia*  r.ríiios(3<Iiííu:tfÍ!i  nm|i!(U'.tiirus  *   vtn  «jtie  mí  .'irlu* 
tarri ,  e  I*;iiilrt  III  cmín  lhes  rnsrjuier  e  Salmeroii ,  iíí.>i'i|mlú*  dô 

E<!k*  rari|o  nuir*í*r'»  líío  cmI>íf:iíJo  era  enXho  eviía^ío:  fugia  50 
ílVIIfl ,  como  do  qua.^i  inevitável  mariyríò :  íim  ioda  o  p,irlo  la* 
TffiA^íi  o  fopto  eh  guerríi  religiosa:  ouvia  se  em  lodos  os  liig^reí 
*]ofiiÍn.*#lí>s  pó!ii  prat<ístaí>lísmoogriio  iumisXodemarte  ao»  Píjdrci, 
Trnhini  4u  píissar  pcUs  fmnloiras  dn  Fniirs»  ^  onde  so  r^.^onva  o 
tinido  fb^  armas;  deveram  visiiar  a  Eéicossiia  ,  ando  J;iCí|ues  V 
reinava ,  dt^Kiito  úm  [mpmrms  th  $m  lio  Henrique  VI 11  o  ini- 
pbeavél  inimigo  do  nome  calliolicí> ,  da  qual  jíi  fora  defensor  ; 
ma<i  prote^iíiiios  por  Aqutíito ,  a  quem  voiavom  a  sua  eti^efiría, 
rhi^garam  ftdizmenlfi  á  Irlanda  ,  onde  conlribuirom  pnder&sn monta 
príi  arraigar  no  corarão  d'eâKT  povo  essa  fé  ardento ,  qiie  aiinl^  j 
Ijnjo  hl  n  admirado  do  universo. 

O*  pdrus  da  compnliia  se  dispersavam  por  todas  as  cldjíiles  , 
mmo  Síínhnellaíi  avanraibs  do  rallitdicísmn;  ims  como  Lt^fevre  o 
I^^ y  n *\ 7.  pa rir rn  ^in ra  V eii esta »  m\ ç  va s l o  em  | kj  r if  1  do  eo rn  nier r iodo 
Levanto  ,  ou  d  o  toilas  as  sdla^  cntroliobani  emissários  e  prnruinvam 
Íazpt  prosídytofl  :  011  tr(}»  rorno  Rorlrigtiçs  e  Xavier  tomani  o  amiinbo 
do  |*r*rhig:d  jnra  onde  o?;  Hiainn  o  zah  prL*díiso  do  prande  roi  D. 
J^mo  1!l,  i^mqiiafUo  Biibadilln,  Lojay  o  Cniniãio^  comttaiosn  o  erro 
nas  dieitis  de  Worms,  Spira  e  Ratisboima ,  e  deiom  Mayonra,  e 
Ijolinía  prí.Híiofí  a  *b>ípt?fdierem-?e  no  ab>snio  da  líçríísia. 

O;  a routiei mentos  so  preci pilavam  e  ia  ict  lují^ir  o  maior  («cio 
da  Iiislona  cceMasiica  moderna;  o  concilio  geral  iSo desejado  para 
;i  reforma  dõS  abusos,  qno  se  linham  iutroiIu7-iijQ  na  disrijdma  da 
if^reja,  e  pan  o  qual  baviarn  appellado  os  disripulos  de  Lulhoro  das 
decisõi^  dn  sidKTano  fKjínífice,  obriu-!ío  »olpmnomeule  no  dia  13 
de  l)e7A*ndiro  de  IS  ia  na  cailiíídral  ile  TanUo.  Era  e^la  a  grandij 
lira  ,  em  q>ii^  os  mais  extreinaJoi  paladinos  driveram  brandir  suas 
lanras,  uni  eui  favor  da  verdaJo  revelada  e  do  ensino  doutrinanci 
da  igreja  ,  o  outros  em  prol  dos  foros  da  razíSo,  aceitando  a  bíblia 
CO  evau^rlfut   mhi}   founuenltrio^.    Grandio^  era  o  e^porlacnlti ; 


nniirn  lioincra  i)rit;i  íi^Ht^mhléa  lio  n^sp^iiinvol «  nem  tub^hio  n  tU 
Wwtíu»  vnWfin-^^núíi  iJejh*is  da  pa/*  gerol  iUuh  [lor  Con^laruirio  (aí Io 
R^ij  Cíílebroudifiíj  iii*JiJiláo.  Os  protesbnítíâ  depuravam  seus  gramioâ 
liomem,  aí|i]olloa  i\m  nccusandõ  o  calholicbino  de  ler  aduliõfâdo 
íi  Joulnria  do  líi^iuu  \h^im  devemiu  tleiíiúní^trar  a  sua  proposiçáti 
líutiJtí  d'esi'arie  a  causal  do  sou  scliísmn*  Corria  aos  otljolíca^  o 
dever  iln  dtiítHidyr  a  &ua  crençn  ,  e  provar  quii  n  t^reja  depo^iUirm 
da  ró  não  linha  sâ  afâsUido  jumrns  cli^  espirtto  do  evaiipllio.  0$ 
eiBbaíx:)dor6S  dos  prIncÍ|>Li^  (s  povus  cltrislnos  nssislíain  a  e&^u  tor- 
imo  tliijolíi^íco*  A*  cumpíiidiíu  do  Josys  aitida  cnvolia  nM  fiixas 
iiiíanlis  0a^f>e  ii»ia  graúdo  gloria»  fdlíj^  agouro  da  sua  próxima 
futura  grandtij£a.  f^ayn^z  q  Salmorori  foram  oâ  ilieulogos  da  S.  Sé 
nesse  faínoso  concilio  ecumeídco. 

«  Quiconque^  diz  l*Âhíé  D&  Pradt ,  djuis  une  liauie  carriAre  , 
«  parvienl  á  ínscrtro  âun  noiu  sur  W  mondo,  à Je  reudri}  in^é- 
•1  prãMo  da  iten  eido  ia  mémQÍrodt.>s]Éumnies,  e$l  grand.  ear  il 
ft  parlidpe  à  ta  grandeur  niéme  du  mojido,  aveo  lequul   il  reato 

•  ídcnlífio^  Qtií  (Kturrait,,  sons  ces  rappoi is ,  dt^nior  a  Saint  Igna-» 
«I  ce»  L't  a  ^li  iuslitu(iun  btitrodo  grand  ?  Qoclle  eompnratsony 

\  a-l-il  entre  lui  cl  im  aulrâs  íond^itourâ  âtiè  JnstiluliuO!}  iiionas- 
K  líqoa  ?  CdUTL-d  no  foreni  que  dos  homniLis  do  réli^iun,  el  loiírs 

•  inMilniiuus  n'atíl  eu  que  co  caríiclère*  l^nace  fui  un  grand 
M  Lunquúfaui,  d  cot  lo  gfsnie  ács  conquótes,  il  y  fii  á^rvir  tuut  cc 

#  ijuo  coastiluo  Ití  pouvoir,  il  eu  fitrespríi  portaancni  el  indòltíUile  de 
«  soo  uHlítutioiit  ellcí  n'a  pasdovié  de  eollo  ligne,   lint  cei!e-ct 

*  ctait  t]abílt:!tuoni  et  furioiuenl  Iraeáe:  les  aulros  fondatour^  furenl 
«  des  moines  p  ei  teurs  m^tituiions  deâ  machinos  puremeni  mona* 

*  eaíctâ.  Igna£^  fot  un  grand  polilíque,  fatiam  servir  la  réiigioii 
t  a  la  pohti  [ao,oi  san  institutiQn  Tui,  si  loii  peyt  paHor  ainsí , 
«  uu  liomintí  d  oLai  rt^^igí^ux,  *  (Du  JemUitim  anckn  et  moder- 
m,  cap.  XíV.) 

Crem^js  que  o  illustre  oscriplor,  cujas  palavras  acabamos  de  lex- 
luãtmonio  rílarr  rándondu  i  dovida  lioinenagmn  á  alta  capacidad^^ 
direnioâ  menino  au  gonio  tronscundcnte  do  Iguacto  do  Loyola  ,  nlo 


M^ 


^aoG 


78 

Tui  bnstanM  jmlú  [Ktn  com  a  sua  memoria  quatulo  o  tjualirico  ile 
lioitiom  |Hjtítico,  legando  um  ^us  sm^es^vm  n  rfiave  do  eiiigmti , 
(['oriíla  Jíjpeiideria  ;i  íiiltuencia  sacreia  do  íiislituto.  O  priji^círa 
geiât  dos  jasuius  ti3Q  rmiríâ  em  seu  \m\iõ  esf^as  yjsíis  aniÍMuiosas, 
essa  stídtó  «Jo  mando  d'i]íega]  preponííeraneia  ,  f\m  des^l listraram  ii 
compiiliia  cm  ópnas  posteriores.  A  sua  politica  (si  a  tinija]  pra 
a  me^sma  que  professaram  os  apóstolos,  piitica  civilisadora ^  que 
a  niMh  iiicrioi  leridta  do  que  purificar  a  terra  polhila  [xtr  tantos 
vieiíís  o  crimes*  Enviando  seus  discipolos,  como  vimos,  ao  thcairo 
dos  m»iar0s  aeon  Icei  meu  Los ,  ao  centro  em  (fuo  se  debatia  m  catlio- 
licos  e  protestantes,  queria  impedir  quo  mSoa  ousadas  o  temerárias 
nfto  lacerassem  a  (oga  ioconsutil  de  Cliristo,  e  do  itenlium  modo 
iuHuíf  nos  gabinetes  dos  príncipes. 

Os  jeíuitas  estavam  nessa  época  á  frente  da  grande  reaci^âo  ca- 
tliolica  :  eram  os  mais  valentes  soldados  da  igreja.  Vemo-los  luc- 
lando  braço  a  bram  com  o  proie&taiUismo  :  mas  ainda  n90  se  achava 
rompleia  a  sua  ambíçio  dti  gloria  ode  martyrio ;  necessitavam  de 
inaÍ!^  vasta  arena.  Grande  parle  da  Europa  se  destacara  da  com- 
miinfião  romana :  a  Aliemanlia,  a  religiosa  Aílemanha ,  se  decla- 
lira  em  completa  reboHi^o  seguindo  as  doutrinas  d'um  monge  após- 
tata ;  a  In^Hatorra  ,  a  ilha  dos  Santos ,  arvorava  o  pendão  d' um 
novo  culto  i  de  que  ora  fundador  um  rei  notável  pidos  seus  satânicos 
caprieims;  todo  o  norte  seguia  o  exemplo  da  reforma  e  a  própria 
Franç»t  ^  ttib^  primogénita  da  igreja,  estava  ameaçada  d^essa  ter- 
rível i^uerra  cUW ,  entre  os  r^tholtcos  e  buguonotes ,  que  devera 
terminar  p^tn  exaltaçílo  ao  solto  de  S*  Luiz  do  illustre  hearnez^ 
ej;  mimnista.  Nesse  século,  em  que  lao  grandes  perdas  e?fpe- 
rimeniava  o  nosso  culto,  permittiu  Deos  que  immensas  regiões 
ÍDS^m  abertas  á  propagação  do  catholicismo  exactamente  pelas  duas 
naçOes  as  mais  oiahodoxas  do  mundo,  Vasco  da  Gama  e  Colombo 
oflerociam  nas  Índias  o  na  America  um  campo  diguo  d'ensaiaram 
as  suas  forças  os  novos  apustolos  do  catbolicísmo. 

D,  João  III,  rei  do  Portugal,  pedia  á  Roma  missionários  ile- 
dicadoâ  para  evangelísar  esses  reinos^  que  a  fortuna  tinha  submclildo 


79 

piLHÍoso  desejo  Jo  luonarcfií»  lusitono  enviando-lhe  alguns  (J*)S  9<im 
disciputos.  A  companhia  acha va-so  então  no  berço,  apenas  exhtuim 
m  professos;  mast  d*es(es  partem  doas  (Azevedo  6  Xavier)  para 
Lisboa,  onde  devera  ficar  o  primeiro,  eslanJa  resen^ado  no  se- 
gundo o  glorioso  titã  lo  de  Âpoêtúlo  dai  tndias, 

Ess<?s  bel  los  paistes  bani  iodos  pelo  Ganges  e  pelo  Indo ,  cuja 
Insforia  nos  parece  elernamonto  oeetjlla  por  urn  denso  vi}o  d 'alie* 
goria^,  t/bjectô  con^tanle  d  a  cobiça  de  todos  m  conf|uts(adoreâ  do 
inundo  desde  Baecho  o  Sesoslris  ate  Napoleão  ,  subjugados  polo 
grande  AíTanso  d'Albiií|ucrque,  viam  ent^o  tremular  sobro  os  mtiros 
dás  suas  cidades  o  pavilhão  das  lusas  quinas, 

Aleondre  das  missões,  Franeiseo  Xavier  conquista  pelo  tinico 
ascendente  do  sua  palavra  ardente  mais  coraçOes  para  a  nossa  té 
do  que  reino$  e  províncias  stibmetliam  ao  rei  ridelissimoos  liordei- 
Tos  do  Gama.  As  bombaolas  podbm  abater  as  muralhas  inexpug* 
Haveis,  onde  se  asjiavam  os  filhos  BraUma,  mas  o  odío  contra 
os  invasores,  contra  aquellest  que  de  lenges climas  vomitara  o  mar 
sobre  as  margens  ào  rio  sagrado,  esse  fieára  gravado  em  lodos  09 
peitos  espreitando  a  occasiâoopporiuna  para  farer  a  sua  terrivel  explo- 
são. A  hiimanidadoobedeee  aos  seus  verdugos  mas so  ama  aos  seus  bem- 
feilores.  Em  BJorambique ,  que  pela  insalubridade  do  seu  clima « 
fora  chamarJo  o  tumulo  dos  portuguezes,  improvisou-se  Xavier  em 
medico  do  corpo  assim  como  era  das  almas,  o  aos  seus  desvelos  m 
deveram  a  consorciarão  de  preciosas  vidas.  Cathechisa  em  Gáa , 
capital  do  estado  da  índia ,  anto$  aos  catholicDs  portuguezps,  que 
andavam  transviados  pelo  etcessivo  amor  do  ouro  o  dos  praz.cres, 
do  que  aos  idolatras,  cuja  docilidade  em  ouvir  as  sanctas  praticas 
enchia  de  jubilo  ao  piedoso  varão.  O  cabo  Ca  morim  o  a  costa  ún 
Pescaria  soffrem  successi vãmente  o  influxo  da  sua  palavra  ;  ganha 
almas  para  o  cêo,  e  estende  as  fronteiras  da  civirisacào.  Evan- 
gelisa  a  ilha  d^Amboise,  as  Molucas,  Meliapor  e  vai  a  Malaca , 
onde  cora  o  favor  d*um  clima  delicioso ,  rlcbaixo  d*um  céo  do 
saphirasi  a  voluptuositlade  se  infiltra  pelos  poros  dos  $ous  habi- 


y^ 


30 

tantos ,  e]ue  entregues  no  sensual ísmo  pn recém  pcvuco  «lísposios  n 
ftnvir  ns  liçOes  «Ia  severa  mofal»  que  Hios  vem  pregnr  o  jf^suitó.  Sut 
vôí  harmoniosa,  mu  eí^ptritó  jucundo,  njudam-no  poiterus^môíilo 
a  Êonverler  esso  povo,  que  linha  deificado  n  prazer*  Poude  íílfira 
ebma-Ins  ao  cuTiiprimfjilo  iloi  devert»?  dn  cKristnns  mostro ntlo-IlRts 
a  esiiitua  tia  virliide  onf^rinnldaílív  dê  Uòres  inyfíiícaR  rujo  ortnr  ura 
rorlamcnie  mnis  njjtadaviíl  «lo  que  o  dos  h  rios  o  madres-f^ylvns , 
que  cresciam  em  seus  poeiicos  JAr^irns. 

O  Japõo ,  efíse  mundo  íl'ilíias  o  montanluis ,  nos  confins  d^A^ia  c 
defronte  díi  Clnn?i,  desafia  o  desejo  do  excelso  missiona  rio,  t)inj  aâ* 
pira  à  honra  de  chnmar  os  seus  tiabítnnles  á  verdadeira  crença  ar- 
raneando'Os  da  idolatria  ou  do  atheismo.  Nao  ha  [>erig(is^  nem 
prívaçQes,  a  que  de  bom  ^rado  não  ^  oxponbâ  para  reali^r  o  seu 
santo  propósito*  Os  bonzos  debalde  revolta m-!^e  contra  a  sua  dou- 
trina^ í]ue  mais  prejudicada  os  seus  mais  vimes  ínieresses,  Xavier 
triumfdia  du  sua  tenaz  e  sy^lematica  opj^síçào  operando  numero- 
sas conversões  na  prnpria  cidade  de  Meaco,  residência  habitua} 
do  Dayru  Sua^  vistas  sa  voltaram  entSo  para  Cbvna ,  vastissimo 
império  deqtie  se  conlavam  lantns  maravilhas,  e  que  se  gloriava 
d' uma  C]vslí$a<;ao  de  muitos  séculos  anterior  á  nossa*  Queria  ou- 
vir os  mandarins  ^íroí/^^  defenderam  o  dogma  e  a  moral  do  Con< 
fuccio  ,  e  convencer  a  esses  presumidos  doolores  que  a  uni  ca  dou- 
trina verdíídeir:!  é  a  de  Chrislo ;  mas  o  céo  linha  pressa  de  possuir 
TIO  numero  dos  seus  habitadores  o  g  rand  o  òonzú  da  Europa^  como 
lho  chamavam  os  -Taponeiíes,  Semelbanle  a  Mo^^sés,  a  quem  n§ô 
foi  pcrmíuído  entrar  na  terra  da  promissilo^  e  que  Gndou  a  sua 
gloriosa  carreira  avistando  as  aguas  do  lordao,  que  como  uma  ser- 
pente de  prata  sulca  a  Palestina ,  assim  tnmbem  o  grande  apostolo 
entregou  a  sua  alma  a  Deos  em  Sancian,  agreste  e  íneijlta  terra 
na  extremidade  da  península  de  Macáo*  e  em  f^ce  do  celeste  impe« 
perio*  A  xaz  da  gratidão  dos  povos  aliestou  suas  virtudes,  seus  ba- 
roicos  serviços,  e  alguns  protestantes  como  Bildeus  {I)  e  Ricardo 


(i)  HUl  d<!stnde5* 


m 

Ií^kIvH  {!)  [MjijJii  Jtí  |*íirití  os  [treconceíttís  *  tjUtí  tiulreiíi  i?€iUra  0 
ijDsso  CU  lio*  insereverâiii  seus  valiosos  tesiemunhos  em  prol  da  ver- 
daile  e  da  juâlíçor  e  r^ndoram  homiinageni  á  memoria  de  Francbca 
Xiivier^  a  quem  a  igreja  conta  no  numero  dos  seus  santos. 

O  ^pifito  do  grande  a^>oslo1o  dirigia  ainda  seus  emufos  e  dís- 
oipulos:  0  o  que  não  lhe  fora  dado  con^^'iiíã  Mt^kbior  Nuntís 
penetrando  nessa  Oiina  quad  fabulosa.  Â  Africa  rivalisava  com 
a  Aiia  :  a  Eiliiopio ,  a  Abyaamiat  a  Egyptn  ,  Angola  e  Congo  eram 
succêssi vãmente  eliristianis^dos  pelos  heróicos  filhos  do  Loyola :  seu 
sangue  regava  a  frondosa  arvora  da  fé,  e  sua  palavra  como  b  lava 
do  Vesúvio ,  calcinava  os  erros  da  idolatria.  A  terra  parecendo 
faltar  para  as  conquistas  pacificas  dosjesuilas;  o  mundo  do  Co- 
lombo oHeruceu  ampla  seara  aos  openirios  do  evangelho ;  6  até  O 
noííso  Brazii  j  que  o  acaso  ou  anitis  a  Providencia  revelara  a  Ca- 
bral recebia  os  compnlieíros  de  Nubrega  iíovó  aíjnos  a  punas  de- 
líeis da  solem ne  fundação  da  companhia- 

Maravilhado  d^uma  iao  pasniosa  conversão  do  mundo,  que  recor- 
dava os  trabalhos  dos  primeiros  propagadores  do  nosso  culto ,  vendo 
a  ubra  d'esses  padiest  rjuc  aniniadoí  do  sacro  enlhusiasmo,  e  como 
que  cogarncnle  obiideceiHJo  a  uma  impulsão  divina,  osabíu  arcebispo 
de  Cambraia,  o  grande  FèiU'lon,  no  seu  ct^lebre  sennáo  da  Eprpha- 
nía,  pmnum^iaJona  igreja  das  ^fi^^se.^^trangeiraF^,  rendia  aos  Jesuí- 
tas esta  tão  imporUmlequão  imparcial  bo menagem. 

«  Alexandre,  cs.^  rápido  conquistador,  que  ptnUi  Dantel  como 
m  nao  lócandii  a  terra  com  0$  seus  pés»  elle,  que  tão  cioso  mostrou- 
m  £6  de  subjugar  o  mundo*^  parou  muito  áquem  de  vós^  porque  a 
«  caridade  vai  mais  longe  do  que  o  orgullto.  Mem  as  aroias  abrasa- 
>>  dnras,  nem  os  desertos,  nem  as  montanhas^  nem  a  distancia  dos 
m  Itigarc^s,  nem  as  syrtes  do  oceano^  nem  a  intempérie  das  estaQõeít, 
«  nêin  as  frotas  inimigas,  nem  as  costai  barbaras  poderam  deter  os 
«  enviados  de  Deus,  Quem  sào  os  que  voam  como  as  nuvens  ?  Povos, 
«  levai-os  sobre  as  vossas  àinè,  O  Oriente,  o  Meio  dia,  as  ignoia!» 


(1)  U^eueU  d«?  \o>£t|!rs. 

tIfU 


II 


«  úhu  ve]am  em  aileiício  os  que  ile  longe  vem.  Quanto  sao  bcltos 

■  os  pés  d'esses  liomôns,  que  vera  do  alto  das  roontonliis  traxêr  a 
t  pa?.,  atmunniar  t>s  ben«  elcniof^.  pa%ir  a  salvação  eí!i£Cr:Oli! 
n  Sion !  teu  Dous  reinava  sobro  it !  Ei-los»  estos  no%"os  roriquislflílo- 

■  res,  que  vem  sem  arninâ  extí<*(ílo  a  cm 7,  do  Salvador  Vem,  n5o 
«  para  desipjar  os  vencidos  darramarKif)  ondcis  do  $.ir)guQ,  mas  para 
•  oUerôcer  o  seu  próprio,  o  eúRimunipar  o§  celostus  thesouros-  ■  (1) 

A  organisaçào  áâ  companhia  cfâ  do  tSo  notavél  mncbinismo»  qm 
ludo  dependia  do  chefe t  do  eenlro  psniam  todos  os  mm  para  a 
perípTieria.  Quando  o  geral  ds  ordem  era  animado  de  santas  e  lou- 
váveis íotmções,  quando  nao  aspirava  senão  augmentaro  numero  dos 
moldados  da  cru2,  empregando  para  isso  os  meios  suasórios  e  uãõ 
violentos  ;  n'uma  palavra »  quando  os  geraes  se  chamavam  Ignacros* 
Layné/*,  Franciscos  de  Borgia,  marchava  o  inslilulo  maravilhosa  memo 
bem  ;  era  guiado  fmr  pios  varões,  a  quem  politica  era  íníeirammitô 
estranha :  e  o  eeho  das  snas  palavras,  reboava  nos  confins  do  gtobo, 
e  o  perfume  das  suas  virtiides  oínbnlsamava  a  aimosphera  do  cfauslro, 

A  idade  d'oiro  dosJDsuilns  foi  linitladUsima;  não  e^^cdeu  a  qua- 
renta e  um  annos  incompletos  desde  o  dia  27  de  Setembro  de  IS  10, 
dala  da  bulia  líeffimim  tntiUfiniis  Ecclma,  que  apprnvou  a  obn 
do  solitário  de  Manresa,  até  o  de  i9  do  Fevereiro  de  15Slj  em  qua 
Cláudio  Aquavíva  foi  eleito  GeraL 

Alguns  eseríptores,  como  dd  Prat  e  Gíoberti,  razem-se  remontar  a 
degeneração  do  insUlulo  do  Generalato  de  Laynez,  nós  porém  pedi- 
mos vonía  para  aparlarmo-nos  da  sua  opinião  pelas  razões  que  passa- 
mos a  esípúr. 

Jarôme  Laynez,  rompa n liei  ro  e  collaborador  de  Loyola  linhi 
tomado  muita  parte  na  obra  d*esi6  para  qtierur  destrui-lo  quando  á 
Irentií  dos  negócios.  lia  via  uma  certa  srdídariedado  onlre  elles:  Lay- 
nez  posí^uía  qualidades,  que  fa liavam  a  Loyola,  eram  dous  entes^  que 
mutuamente  secojnpíeiavam*  Ignacio  tinha  lodo  aqueile  ardor  carne- 
lerislico  dos  fundadores;  im  pacientava -se  com  os  óbices  e  deloiígas, 


(1]  Fènélon.  OEuVi  tojn«  VIL 


83 

t|i]6  thô  oppynham  os  húTTiens  pntã  quem  a  Companhia  era  um  myslt- 
rio;  anib  por  Ye-fa  dâfirtiuvíiínenió  eâtaLulecid»,  porque  consitloro- 
Tô-n  como  o  irnico  nitíío  iJe  cotiibaier  a  heresia  iríumphanle:  via  no 
í^w  ImúlutxiQ  rjirisiiairismo  em  nrçào.  La^nez,  o  faòioCunctatorf 
[í.icienlú  sabia  áspera r,  ocoiistilhava  a  seu  amigo  d *em pregar  o  tempo 
como  sen  prtneipl  aiiiadt>.  Apôs  o  erilhu^ia^mo  viuhu  u  reOexíli»  o 
Loyuln  lârnHiiavci  sôiupre  |ior  conenrdar  ánji  L:iyuez,  Igiucio  app!i- 
vhnãv  eiti  Lud»  a  su»  blittuJe  ii  íiiiivitiui  ^vattgulica  4|U43  ordeua  jtilgai'  o 
proximu  cuthu  ihiHejaratuos  Súr  pil^aiJoscriíi  que  luilos  os  homem  pos- 
sutdinassuas  rarisâim^ssvirtuJã^,  povoava  o  iimndo  do  sauetos  o  eio 
sua  serjphica  iín9gtmji;ão  reduzia  ludosoâ  crimes  a  veniaes  peccados, 
que  o  borrií^r  do  h}ssope  fazia  desappartítur,  Lavíiez  era  mais  posilívot 
cuiilitíeía  mais  diMjiie  seu  comjKilfiola  m  vícios  da  lerra  e  iiáo  poucas 
vezes  mosiroti  o  fujo  cavado  pela  iraicáo  ilcbaíio  dos  pésdo  b^^âcaÍJihOt 
que  eom  os  oiho&  fuos  no  céo  desdenhava  olhar  para  o  chàa.  As  poucas 
medidas  pralicoii  e  ideias admini^lraUvâs ,  que  se  lôni  nas  prinmivas 
con&ruuivOtíS  da  comjmnhia  sati  jnui  siegurameulo  iiispiradas  por 
J^VueJ!*  Ainda  occorreMios  uma  consiJt^raçai},  quií  prova  que  o  se- 
gundo geral  iiao  alterou  em  nada  a  ubra  do  primeiro :  t^uacío  não 
quÍJE  dar  as  cojiâULuiyúeâ  [Mir  terminados  e  íuimutavuís  por  essa  modes^ 
ih  tão  cotnmum  aos  saiUos;  mas  Laynez  conliecendo  que  ellas  teu* 
tliam  a  formar  uma  classe  J*liomeus,  que  deslaeaado-se  dos  laços 
$oeiaes,  que  dVdínãriõ  prendem  os  homens  em  suas  aííeiçi^es  terre- 
nas, para  se  conátigrareni  ao  serviço  Ja  reUgiiioT  e  serem  na  expres* 
híio  d'um  rei  philusopho  es  Jam$aro$  da  Sane  ta  Sé^  julgou  que 
semi í dantes  homens  sem pra  exiitinani,ô  que  d*el[es  era  lodos  os 
tenqias  haveria  mister  a  igreja,  a  movido  por  es^s  razúcs  deu  o  carac- 
ier  d^ímmuUibiUibde  á$  regras  do  fundador ,.  exceplo  na  sua  partd 
mtrauieiUe  discí|)1inâr,  que  c  por  soa  mesma  natureza  mutaveL 
Efitaretnos  om  erro;  mas  julgamos  quia  quem  assim  procedo  nâo  pódá 
ier  tsiado  d*innovattor ;  nem  tào  pouco  de  ser  o  primeiro  cio  d^essii 
cadeia  de  i^craot  poti ticos  e  ariificioios,  que  adulteraram  o  iustituto 
pra  cuja  fundação  elle  Layne?.  lanto  contribuirá* 
O  duque  de  Gandra,  o  aungo  do  Carbi  V  c  de  Philippe  It^  rctnm- 


tofTMnilo  o  nioile^to  nome  de  Pudre  Fn3^ci^t:u  iJl*  Bor^ia ;  a  éste 
tmmom  humilJe»  a  este  nobi^  sem  vaídido»  o  protestante  MâeauUy 
(I)  (lií  ser  o  soncio  do  calendiíria  romano  que  maiores  dignidíides 
leidiu  tilidirDcio  privando- 36  de  maísdomeii^iicjs  venturafí^  e  cujíi  vida 
iJ  tnais  Hoqnente  do  ^m  todas  as  homellas  da  S.  João  Chrysf>stoii)Qr 
a  L^o  coTispiciio  e  pio  vnrâô  pareceu  Lf>ytieE  eít pirando  designo  r  para 
.seu  sucíítíssop.  Giraetep  conccutrádu,  o^pirilo,  {]íiú  necossílava  dt!  leçe- 
Ler  alheia  iinfiroásão^  mas  qtieuinà  ves^  rocúblda  não  r^ctiav-a  [N^ranle 
dÍ(!icidd.tdo  ufgtiino,  erâ  o  liomem  mais  proprtíi  para  desânvoíviír  os 
pboo5  dlgnocio  dií  Loyola  cdo  L;iynez,  *»  Não  linda,  dlí;  u  í(<?nliOf 

•  Crtftitiesiu  July,  uein  a  irnuiensidadtí  d.i^  eoticoproosdo  fuiidiídor, 
n  mm  a  arJocHe  inící;iltvn,  e  o  raro  conjuncto  de  laleitios  rjua  acaba 
li  de  desenvolver  o  ?^gi»ndo  geral  da  ordeíu:  lintrelanio  nn  cooiarUi 

•  dVssfsdous  homens,  (jtie  laií  grande  infíaencia  exerceram  subre 
«  «die,  Borgia  aqueceu  com  o  fo^o  do  seu  ví^or  a  natural  frriqnej^a. 
«L  D 'um  lejnperamento  meJaneolíco  Icrifl  á  existência  íigifoda  di>  nú;;- 
«  siíinario  prefiirido  as  doçurns  da  vída  contcmplaltva.  Arranrnu-o 
K  Ignacio  ao  ropoiíso  da  solKlao,  queDmlit-ionora^  o  Ltynesc  tant;ou-a 
«  nos  Irabnlíios  do  apo^siíjlado  preprando-o  pr  dilliceis  provas  pnra 

•  Iwjíar-liie  a  sua  liemnça.  »> 
Sob  o  regimen  do  lerceiro  genil  o  inslittílo  continuou  a  prosperar! 

iem  afastar-se  ainda  das  sabias  vistas  de  Loyola :  Borgia  tinha  vivido 
na  i§m  intimidade;  ouvira-IIie  muilas  vezes  a  eiposíráo  do  seu  pie- 
doso plano,  Q  deíiiuis  nao  era  difílcultoso  a  um  canelo  inlerpmUir  as 
intenções  d'oulro  saocto,  Donmte  o  seu  generala  to  leve  de  luctar 
coiii  um  vJrtuosis,*^imo  ponliliee  S*  Pio  V%  que  som  duvida  levado 
pelas  ideias  da  perfeição  espiritual,  quiz  impor  aos  jesuitas  o  ónus  do 
o1!lno  foraU  de  quo  tinham  sido  di.spensados  pia  bulia  da  sua  insti- 
Inirãu*  A's  ponderosas  razões  ilo^^eral  cedeu  allim  o  soberano  Punlí- 
fice*  louvando  a  modoraçilo  t^om  que  este  procedera ;  o  nau  tardou  n 
roídjeccr  praéiíeamcnta  quanto  o  antigo  duque  de  Gandia  era  addicti» 
ii  Sannta  âé^  e  quanto  a  fua  influencia  de  Tamil  ia  lhe  era  salutar* 


(t]  IWv   iin^dhnlmrKti. 


S3 

Os  Til  TL"  ( y%^  I  n  V  pe  ríH  M 1  ii  Scl  i  m  II,  filho  e  m  iccessor  do  soH  inaf» , 
iilirasaiit^H  p&b  i^t^itú  liu  ijng;)r)i;a  p€la  inuúlidafle  da  sua  lenlalTv;t 
ronira  MaliiF,  ame^iravam  invadir  os  esindos  da  igreja  e  o  lerritoria 
veneziano.  O  Papa  lt*inbrí>ti-so  de  pregar  mnlra  ellcâ  uma  novi  cru- 
mt  l  ti ;  mi)^  os  pr  i  n  1 1  pes  cíi  r  i  ^l  aos  esta  v  a  i  ii  n  i  tn  la  m  e  n  le  ooci  i  pa  d  os  co  rn 
AS  suas  diasencCes  para  pfest;irem  á  voz  de  S,  Pio  V  o  alteuçào  ou!r'nr!i 
prestada  a  d'Urbano  It*  A  Itâspanhii  era  porém  nessa  èpocha  a  prí- 
fiieira  potencia  ratlioíica,  e  a  Summo  PontiOce  enviando  a  Philip^H} 
11  seu  sobrinlio  ocardeol  Alexandnni  na  qualidade  de  legado  a  lakre 
kúfi-o  ãcompantiar  por  Francisco  de  Borgía ;  a  seus  esforços  deveu-se 
tnlve^  não  cm  peqaen^  estrala  esse  magníReo  triumpho  de  D»  Joâr> 
irAtiFtna  em  Lepnto,  d^oudo  se  póile  daiara  decadeneía  do  poder 
othomano. 

Si  peneirásseis  eulão  \w$  poUh^^íos  da  dou  la  Gormania,  \h  e^piri- 
liioíia  França,  da  orthodoia  ffespanha,  da  piedosa  Itália,  edo  fidclis- 
si  mo  Porliígal,  ve-loí^-liicis  povoados  por  uma  mullidaa  de  síiIjíob  de 
roupeta,  que  insiruiam  a  luecidadc?,  prrj^íivam,  ronfessíivãrn,  admi- 
ti listravam  os  Sanfamenlos  com  0'1Í tirante  soltnitude.  SÍ  d'aíii  vossas 
1  iMis  sVslf*fiflLíííStím  ds  míísões  lougiiKjuas,  st  perlnstrassei^as  rcduc- 
^ões  d^Amerira,  da  Cocbínchina,  es  dâ  Flltiopiaf  $1  das  margens 
ifllruguaj  %os  remo nbsí eis  ás  df>  Nilo,  verieis  os  infatigáveis  sor- 
pcssores  de  Xavier  eliamando  ao  grémio  da  Ign^ja  e  án  civilísaeío 
esses  Otlios  pitKligosdo  Evangelhoi  e  ao  contemplar  tanta  alnega^Ot 
iiíjia  li6roidda4e.  facilmente  vos  convencerieis  de  que  a  conjpanliii* 
estava  nos  seus  áureos  dias^  e  que  um  Sancto  presidia  aos  seus 
destinos. 

A*  era  dos  sanclosla  se^^iiír-sea  dos  politícoí? ;  a  cuja  frente  deve- 
mos colloear  o  faraoíso  Cíaodio  Aquaviva*  Pnnripe  romano  enirafíi 
pam  a  companhiit  com  v Ísl:is  ani l>icÍosas:  aspirava  o  pr inteiro  lugar 
116S5Í  corporaçiio,  qtii)  acabavarti  d'ilhistrar  Ires  grandes  personagens, 
e  quB  devia  á  virtude  dor  seus  cliefes,  á  dedicação  dos  seus  membros 
o  ter  levado  o  vexillo  do  Goigotha  mais  lotige  do  que  as  águias  da 
rainha  do  Tibre.  Aquariva  substituid  á  rud*!  franqueza  dos  Hespa- 
ulióesá  rtiiura  italiana  :  a  simplicidade  da  pomba  a  aslueía  áa  sor- 
|iente.  Commeniamio  ptdi>  seu  f^ireclQrio  as  €on$tiíuicÕ€9  íabcava 


■■ 


inuirnmenle  8  obn  ile  Loyola :  díivn  Uie  uni  carncler  lotlo  Ji verso  ; 
u  fornecia  aos  inimigas  da  insliiuln  armas  para  esligmaltsíir  Ioda  u 
iitslitiiição  n^o  aitendetidu  ás  épocbas  noin  aos  liutntins,  íjue  diri- 
giam o  Umâo  da  onfórn. 

A  ihooria  das  reliam  cias  e  das  restrifções  menlaes  iniciada  pelo 
gorai  foi  estudada  e  levada  á  ultima  períi^iç^o  puli^s  tlii*u(iigos  da  coro- 
pnhtí),  aúsf]uuesem  lempo  ^dgiim  m  poinh  ntif^ar  ^'rande  lalenlOi  o 
que  agora  applii'i»vDm  «i$  subtllozas  e  argncias  os  tazcres  otKrWíi  em- 
preitados em  dttfejta  do  dogfiis.  Os  lemfim  esUivam  mudados:  o  scô- 
mirio  tira  o  mesmo,  mas  outros  os  actores,  A$  comtituiçêe^,  qm^ 
romo  dissemos  davam  ampla  oiargem  ao  arbilrio,  suppuiiham  no 
gorai  ^rnprc  um  homem  eomo  Borgia,  que  fugia  os  pompas  o  os 
vaidades  do  mundo,  6  nào  corno  Aqua viva  ,  qtio  as  procurava,  O 
orro  tvtpiial  do  B.  Ignaeio  foi  do  crar  que  seu^  Olhos  csrallteriani 
sempro  pra  succeder-lhe  os  homens  mais  noiavcis  d'enire  eJlos,  e 
sobretudo  0^  quo  monos  ambicionassem  as  honras  da  governa nca  ,  & 
PFtava  mnilo  knr^^  ifospcrar  que  o  espirito  du  cabala  podosso  cegados 
a  portiíj  do  col Inçarem  ã  sua  ire n to  uai  joven  fogoiso,  o  unicamotilo 
riolav^d  peta  sua  nobro  linhagem ,  o  pebs  occuitas  e  loneb rosas  machi- 
naçoesdo  clao^lro. 

IVio  prafufKÍfiR  golpes  j  quaes  os  de5Carregadof  por  Aqtiaviva  na 
primitiva  regra  da  eompanUlit  que  alteravam  profundãmento  o  iun 
da  sua  insliUíiçãOt  nSo  poiliam  ^er  vistas  nim  indiUtírença  pelo  Papa* 
cujo  nome  consta nlemen lo  invocavam  os  ps€udo*refarmaílores  da 
ordem*  Presidia  enláoa  Igreja  Univarsal  o  grandô  Si^cto  V,  a  qtíom 
Roma  o  a  cbri^^UmiaJe  tanto  devem.  E^te  liomein,  cuja  vontada  fazia 
lei  ponpiâ  alia  ora  qtiasi  sempre  a  mais  exacta  e?£ pressão  da  justiça  o 
da  verdade,  concebera  vastos  projectos  para  a  grandeza  da  cidado 
eterna  e  do  caihidit^ismo.  Com  sua  pa^mosa  actividade  tudo  via, 
tildo  examinava:  e  chegando-lhe  aos  ouvidos  as  queixas  que  alguns 
Jcsuiiis  do  antii^o  regímen  faziam  contra  a  adulteração  da  magoâlosa 
obra  do  seu  mestre,  chamou  as  Cofishtuuõcs  a  exame,  e  annolou 
com  a  suo  própria  letra  as  passagens,  que  mais  precisavam  ser  altera- 
das como  abrindo  a  poria  aos  maiore§  abusos  nas  màm  d'l!omens, 
que  tiáo  seguissem  as  iradií^ões  deixadas  pelos  primeiros  Geracs« 


8Í 

Contrastando  mn\  o  prúcader  Jclíciído  ô  vcrtJâiluírarneme  chrisliro 
tie  S.  Francisco  cíc  Borgia ,  que  levou  aos  pés  do  S,  Pio  V  as  suns 
IjumilJes  represeiifaeões  cm  [nòi  úà  immulabi  lidado  do  Imitiu  Lo,  o 
Gemi  jVquaviva  aiiimou-set  coittíado  no  irnmenso  poderio  a  que  já 
eni3o  chegava  a  Ordem,  ã  resi?^tir  a  vontado  do  Papa  ;  d  apesar  d 'esse 
Pap3  ser  Sixio  V,  para  quem  as  dillleuldades  eram  um  poderoso 
incenlívo  d'ãcrão,  não  poude  irtumphar  dos  embaraços  de  todo  o 
gtíuero ,  qutí  íhe  oppoz  o  Geral  já  da  parle  dos  priucifies  chrísiàos 
como  o  imperador  Kodolpho,  o  rei  Sigismutido,  o  o  duque  da  Bavie^ 
ra,  já  da  dos  membros  do  Sacro  Collegio,  a  ponlo  d'exclaniar  o 
magnânimo  Antislile :  f(  Todos  os  Cardeae.%  ainda  os  que  m$  crea- 
mos,  nos  sào  contrários  e  favoráveis  aos  jesuítas t  »  Para  cumulo  do 
dissimulaçlo,  ecomo  exemplo  vivo  da  regra  ,  que  dera  aos  provin- 
cjaes  no  seu  Directório  Cláudio  Aquaviva  assigna  e  remetto  ao 
QuÍTinal  o  raquerimentú  pedindo  as  rerormas;,  que  meditava  o  Sobe- 
rano pontlííce,  e  contra  as  quaea  tantas  inirigas  movera ,  quaudo  foi 
informado  pôr  seus  agentes  que  âixto  V  estava  perigosamenlo  en- 
fermo, õjá  fora  do  e^imlo  de  deliberar.  Era  uma  farça,  que  represen- 
tava, e  destinada  para  mostrar  úb  almas  simples  e  crédulas  que  a 
companbia  de  Jesus  era  esiencialmente  obediente  â  S.  Só.  Illaquo- 
ando  a  boa  íé  do  novo  Papa  Gregório  XIV  obteve  logo  a  rovogaçio 
d^aquillo  mesmo  que  acabava  de  pnátr, 

Tinba  Loyola  exprL'Ssa mente  probibldo  aoa  que  seguissem  a  sua 
Ordem  o  oceilar  bonras  e  empregos  fora  d'ella :  querendo  d'est'arie 
qne  o  jestiita  lhe  consagrasse  toda  a  sua  existeuctUj  e  podea^  com 
mais  liberdade  faliar  aos  príncipes  e  aos  povoa  a  linguagem  ,  quo 
convínlia»  que  e^iés  ouvissem.  Com  o  favor  de  tão  uul  modid;!  nin- 
guém receou  tomar  um  padre  da  companhia  ♦  em  que  se  nío  pdiam 
suppor  vistas  interesseiras,  nem  ambii^^ào  pessoal,  por  director  da  tua 
consciência.  Assim  foram  eHes  admiltidos  nas  cortes  dos  imperantes, 
o  os  primeiros,  que  ahi  ^pparecerjui  nf!o  desmentiram  a  ideia,  quo 
d'clles  se  forma vj,  Degenerando  o  instituto  tomo  acima  menciona- 
mos resenliu-5e  disso  todo  o  pessoal  da  ordem,  NíSo  queremos  diaer 
quando  avançamos  iâl  proposição  que  todos  os  jesuilas  se  tinham  cor- 


ruíiifiiJo;  ma^  sim  quíj  5(?hdu  4.i§ta  inslítun^âu  ttm  wsloma  compWlo, 
n  q\w  ítírigk  o  principia  d'uHÍiia[]o^  nâu  pilíom  íjl|;uns  itoinons  bons 
e  bem  inlennonados  impedir  o  mal,  que  prlía  do  Ceíó,  e  slnfil* 
trava  por  lodos  <ííi  poros.  Como  confessores  âm  ré%  tiveram  assen!o 
um  i-cniselliosda  cdfoa  ,  o  e^queceiído-se  das  Hr^ôes  dos  *t?us  mejtlr<s, 
ingeriram -se  na  polilicâ;  quiseram  luinbiiin  emittir  a  sm  opítniio  ik»» 
negueros  d'cslado,  a  faliam  o  mais  repngnnnie  e  monsinio&o  cunsor- 
cio  áa  Reli^^ifio  com  a  í?cíííii€Ía  de  MiiíTliiavelli*  Dusinlcrpssados» 
índividuoíinenle  íalbndo,  tinham  uma  desordmiadã  âm lição  eoltee* 
liva  :  tudo  sacrificando  ao  que  chamavam  bem-estaf  da  companhia 
mostrava in- se  pouco  esernpiilo>os  sobre  os  muios  pelos  í\uil^'A  obta- 
riam  o  Ião  suspirado  predomínio.  Pela  su^  liabitldade*,  pelo  talenlo 
com  que  levavam  as  negocin^Gus,  pelo  taeto  Hno,  que  mostravam  no 
eommerriu  da  vida,  mnijldando-se  a  todos  us  usos  e  cosiuraoâ,  to- 
mando na  Quna  as  v^steâ  de  Mandar un ,  siijeilando-se  á  vida 
ãspi^ra  e  nom*ida  do  selvagem  Iroquez  ou  do  Esquimáo^  e  voltando 
dttpoiíí  dtí  longas  e  perigosas  peregrinações  f>elos  inhospitos  desertos 
d 'Ara  Lia,  ou  da  Lybia,  leccionarem  a^us  roilegios  com  doce  e  seduc- 
tora  linguagem ,  Foram  chamados  os  diploma  la»  da  Igreja,  Cum- 
pre porém  notar  quo  para  gomarem  de  s@miíhaniD  denominação ,  qoo 
por  mais  d 'um  titulo  cabe  lhes  maravilhosamente «  na  if<!gunda  phas^ 
da  5ua  existência^  deveram  primeiro  rentinciar  o  do  raÍÊSÍonarióF »  o 
apóstolos  do  catholicismo  ;  porque  este  despreza  os  meios  ubliquos  o 
vai  desassombrada  mente  aos  seus  tins. 

Na  logbiierra  se  decidetti  em  favor  de  Maria  Stuart  contra  Isa- 
bel;  envenenam  com  as  stJâs  predicas,  com  os  seus  escnpto5,o 
enm  suas  meias  conridenelns  os  ânimos  jii  t^o  irritados  dos  ca- 
t  ti  o  1  i  cos  e  p  ro  tes  ta  n  te  s  ,  a  1  te  niâ  ti  va  men  te  v  eiieedo  res  e  v  ene  id  o  s  em 
breve  espço  de  tempo.  Provocam  a  bulia  de  pio  V.  contra  Isabel # 
e  o  consequente  edicto  d'e«ta  princesa  que  responde  com  medidas 
violentas  e  extemnníidoras  ás  duras  e  severas  palavra?,  de  que  con- 
ira  ella  se  servira  Kotna,  A  intolerância  d^esses  regulares^  que 
recebiam  do  f:eu  geral  as  mais  estreitas  ordens  para  esccitar  umu 
ireacção  ealholica  contra  a  filha  de  Henrique  VIIÍ  cobre  a  firàa- 


se 

BrftonhA  do  cadafalsos t  faa  f^rrer   oíidas  dô  £^ngue  iimotente,  t 
i»0a5ta-af   sabe  Deos  por  quanto  tempo  ,  do  grémio  da  verdadeira 

O  novo  programma  da  companltb  g,ifiliavo  cséda  dia  tíovo  íidfen- 
volviniento  e  as  mai^iifias  d'Ai]uaviva  eram  sé^uida^  far  seus  vassaU 
loí&  com  a  maior  poo  tu  alidade.  A  França  do  16,*  54'cuto,  dividida, 
corno  a  Inglaterra «  entre  as  duos  rotnniunhõQsdissidí^nl&s ,  coíide- 
tidas  ti'aqueUt)  reino  pela  deíyominaçnodt!  Cntkolicm  e  fíuguenúte§ 
oíTurccía  ?ofi  jesuiUs  a  vidos  du  so  moslrarem  no  seu  novo  elemento, 
um  vaf^io  llie;ilrõ  para  as  suas  operações.  Promoveram  por  intorma- 
dio  do  p^dre  Eirvoíid  Auger,  seu  nm\s  eloquente  e  !mbil  correligto- 
nariOi  a  íonna^io  da  Liga^  que  li n lia  por  fim  o^lensivo  a  de^fe,«a 
da  retigiào  rallioltca^e  dominando  o  espirito  dn  fraco  ruonarcl^a 
Henrique  111  e^ punha m-no  a  anima vadvcrgào  da  seu  povo  em  pro- 
vi^ito  da  causa  das  Guises.  O  astsa^tnalo  do  rei  por  Jarqup^  Cle- 
meiíl  no  dia  I.*  dâ  Agosto  da  ISêO,  íalsameitte  attribuitin  ao» 
|éSuUaS|  advertiu  ao  geral  da  uêce^^sidode  de  oeçiiliar  a  sua  ínQrien^ 
cia  nos  neffvcios  piililkos  de  FrnnçR ;  e  d*aíii  ioda  e^a  «cena 
de  dissimubçào  de  que  Aqiirtviva  foi  o  prologonista  ,  e  que  ^ri 
ser  bem  aprei^íada  deire  Itir-se  a  sua  celebre  caria  de  2â  de  Fevereiro 
de  !$86escripla  ao  padre  MatheiíSf  em  quâ  proJiibindo  lhe  e  aos 
seus  cí^nfrftdiís  de  França  lud?i  a  iinervençlo  nos  negncios  da  Ligúf 
servi u-the  todavia  de  letras  credmcimê  para  ir  pôr-sena  Lirmint 
á  frente  do  partido  levantado  contra  o  rei  de  Navarra.  Túo  ainptji^ 
bologica  e  enigmática  era  ella  l 

Durante  o  guvertio  dos  quatros  prime troii  gerae^t  a  compantiia  de 
hi$U3  estava  rnieiran^enta  ÍdiinlÍ ficada  com  os  seys  chefes  :  o  carac- 
ter de  cada  um  dVltes  fieon  imprenso  nos  st^iis  annaes,  e  revi^lou-é^ 
m  ipdute  do  instituto ?  porque  eram  toflos  poderosas  índividualir 
iaãcs :  homens  notáveis  por  esle  ou  aquclle  tiiuto ;  e  o  próprio 
Âquaviva ,  de  qu^m  acabamos  de  falbrf  manírestou  á  te^ta  ám 
negocioa  tsin  iit^uiei  qualidudeá  políticas,  que  se  nào  esper^ivamp  e 
que  apezir  de  contrarias  á  naiureia  e  (ins  da  iiisiituiçio  provft- 
vim  ao  mmos  não  ser  elle  um  boNiuio  vulpr  A  partir  pomu   «^ 


Mueio  Vitellesehi  elevado  ao  generalato  a  11  de  Dezembro  de  1563, 
os  chefes  da  ordem  de  Jesus,  como  que  desnpparccem,  eclipsados  por 
uma  dominadora  oligarchía,  composta  dos  assistentes,  provinciaes 
e  mais  professos.  Parecem  os  geraes  governar  com  o  mesmo  pres- 
tigio de  autoridade  que  tinham  os  seus  predecessores ;  mas  encon- 
tram por  toda  a  parte  obediências  activas,  intelligcncins  incapazes 
de  submetterem-se  sem  murmurur.  A  fraqueza  dos  cbeff^  era  a 
causa  principal  d'es^e  predomínio  de  alguns  membros,  que  lhes  im- 
punham um  jufl[0  muitas  vezes  insupportavel,  rôduzindo-os  ao  mes- 
quinho papel  d'um  manequim.  Com  mui  pequeno  intervallo  senta- 
ram-se  na  cadeira  presidencial  do  Gesií ,  cinco  geraes ,  e  tso  pouco 
importantes  eram  elles,  que  poucose  importava  o  mundo  em  saber  st 
86 chamavam  Vitelleschís,  Casaiías,  Piccolominis,  Goiíifredísou  (ios- 
Viim,  Serviam  de  dóceis  e  passivos  instrumentos  nas  m^os  de  nl.^uns 
poucos  homens,  que  possuiam  o  segredo ,  depositários  da  monilà 
secreta^  e  que  afectando  exteriormente  a  maior  sujeição  ás  onions 
do  geral  serviam-se  d'autoridade  illimitada,  que  lhes  conferiam 
as  constituições,  para  satisfazer  aos  seus  caprichos,  e  saciaruia 
quiçá  as  suas  vinganças. 

A  funesta  influencia  da  politica  jesuítica  fazia-se  sentir  cm  toda 
a  Europa:  por  toda  a  parto  agitavam  os  ânimos;  provocavam  ran- 
corosas discussões.  Protegidos  em  França  por  Richeliou  ,  auxi- 
liam as  vistas  ambiciosas  d'esse  ministro  omnipotente ,  que  nfio 
duvidava  prestar-lhcs  lodo  o  seu  apoio  contra  a  universi^lnde,  para 
a  qual  os  Glhos  de  Loyola  com  suas  pretcnçOes  de  mono[K>Ii(^:irem 
a  inslrucçSo  publica,  eram  perigosos  rivaes.  Dorninnm  na  Hespa- 
nha  nos  conselhos  do  rei  Filippe  111 ,  que  os  consulta  até  acerca  da 
Conveniência  de  lançar  sobre  o  seu  povo  novos  impostos,  e  depois  da 
sua  morte  apro-isavam-se  em  apoderar-se  do  animo  de  seu  Ullio  o 
successor  Filippe  IV,  a  quem  prodigalisavam  as  maiores  provas  de 
adhesâo,  ao  passo  que  auxiliavam  em  Portugal  a  heróica  revolução 
de  1640 ,  que  devera  collocar  no  throno  aíTonsino  o  senhor  D.  Jodo 
IV',  entSó  aiiidá  duque  de  Bragança.  Explicando  a  sua  conducta 
ambigua  com  a  famosa  iheoria  das  restriccõos  mcntaes  tinham  a 


91 

•rle  do  obterem  os  príncipaes  lugares  na  nova  oôrte,  sem  comtuda 
86  indisporem  como  gabinete  do  Escurial.  Com  razão  ou  sem^lla, 
Uniiam  sido  accusados  pela  voz  publica  deterem  por  meio  das  suas 
su^^estões  inipellido  o  senhor  rei  D.  Sebastião  a  essa  tristíssima 
^uorn  d' Africa  que  terminou  de  modo  tão  funesto  para  a  naçào,  a 
que;ii  arremessou  no  jugo  estrangeiro ,  agora  pois  reparavam  o  seu 
erro,  ou  melhor  serviam  a  sua  ambição.  Os  Hosannas  sao  nao 
poucas  vezes  interrompidos  pelo  crucifige^  á  serie  de  triumpbos  da 
companhia  vinham  de  quando  em  quandojuntarem-se  alguns  revezes. 
Por  motivos  que  ainda  hoje  jazem  sepultados  na  noite  do  mysterioi 
foram  elles  n'essa  época  expulsos  da  ilha  de  Malla  no  orgão-mes- 
trado  de  Paulo  Lascari,  seu  grande  amigo,  e  dedicado  protector 
da  sua  politica,  O  povo  e  os  cavalleiros  grandemente  irritados  con- 
tra elles  obrigaram-nos  a  embarcarem-se  em  uma  frágil  barca  que 
o  vento  arrojou  ás  costas  da  Sicília.  Os  espirites  turbulentos  conhe- 
cendo que  mãos  vigorosas  não  sustinham  mais  as  rédeas  do  governa 
da  ordem  davam  largas  ao  seu  génio,  e  atirando  a  mascara,  qua 
por  tinto  tempo  tinham  sido  constrangidos  a  usar,  caminhavam  agora 
a  passos  largos  para  o  dominio  universal. 

A  substituição  das  puras  e  sanctas  máximas  das  Constituições 
baseadas  sobre  o  evangelho  pela  casuística  interpretação  ão  Direc- 
tório^ seguida  dos  corollarios  dos  continuadores  da  politica  d'Aqua- 
viva  ,  não  podia  deixar  de  prejudicar  a  sorte  das  missOes:  assim  os 
missionários  d'essa  épocha  se  parecem  tanto  com  Xavier  como  o  seu 
geral  com  Loyola.  Ainda  haviam  nesse  tempo  apostólicos  varões,  a 
martyres  da  fé ;  mas  o  que  podiam  as  virtudes  e  o  sangue  d'esses  ho- 
mens contra  a  torrente  devastadora,  que  se  despenhava  das  catarac- 
tnsdo  Gesú?  Uma  ethíca  singular,  consequência  do  prubabilismo 
dos  seus  doutores,  arruinou  as  missões,  contribuindo  assaz  para  o 
d&scredito  do  catholicbmo,  que  era  representado  como  uma  lei  fallaz, 
mentirosa;  permittindo  os  enganos,  os  perjuros,  as  revoltas,  n'uma 
palavra  todos  os  vicios  e  crimes:  assemelhando  a  fé  romana  á  púnica. 
Quando  homens  honestos ,  e  bastante  vigorosos  para  realisarem  as 
siias  ideias,  estavam  n'administrarSo  da  Ordem,  viam-se  nas  mÚBões 


91 

I  fiaÍBlrMiiumptoi,  noo  aspínináo  mrío  o  prefeito  «piritoal  dit 
povos  a  quem  km  tirar  das  garras  do  erro,  ou  da  impiedade;  mêá 
guando  a  politica  formou  o  programmo  dos  chefes  da  companhia  ^ 
quando  estes  quiseram  dominar  por  todos  os  meios,  embora  licitos 
»ào  fossem  os  fins,  então  os  novos  apóstolos  não  se  contentam  com 
M^m  saco  por  bagngem,  e  um  pedaço  de  pão  negro  por  provisão  de  via- 
gem, e  desejam  as  commodidades  da  vida,  porque  não  já  como  missiê- 
nariossaem  dos  seus  collegios,  mas  sim  como  diplomatas  d'um  sobe- 
rano, que  impera  sobre  muitos  milbsesde  vassallos. 

Na  tão  famosa  questik)  dos  ritos  chinozes  deram  provas  manifestas 
da  sua  degeneração,  e  dos  progressos,  que  tinham  feito  n^nrtedesophie* 
mar  as  ordens,  que  contrariassem  as  suas  vistas  embora  emanadas  da 
suprema  cadeira  da  verdade.  O  seu  espirito  de  fraternidade  e  mansi- 
dão 08tenta-se  a  descoberto  nas  continuas  dissensões  eoíitra  as  outras 
ordens  religiosas ,  principalmente  contra  as  que  com  elles  emulavam 
Ros  trabalhos  da  catbecliese.  Nso  queriam  admiuír  compnheiros 
ii'abundantó  ine.<se  da  conversão  dos  gentios:  pretendiam  neste  ma* 
tario,  bem  coroo  em  muitas  outras,  o  privilegio  exclusivo  para  o  seu 
instituto.  Não  havia  embaraços,  que  nSo  suscitassem ;  não  recuando 
até  ante  a  ideia  de  se  declararem  em  completa  opposiçâo  aos  bispos, 
allegtiudo os  privilégios  recebidos  da  Santa  Sé,  e  fingindo  para  com 
esta  uma  reverencia  som  limites.  Ora,  Roma  não  lhes  podia  ceder  taes 
iserapções  sem  se  pôr  em  cqntradic^^io  oom  os  seus  principies ;  que 
consistem  em  rodear  de  totio  o  prestigio  os  pastores  da  Igreja ,  por- 
que são  estes,  que  com  o  supremo  chi^fe,  formam  o  corpo  doutrinaute, 
único  depositário  dn  Religião  de  Chrislo. 

A  faisioria  das  missões  na  segunda  metade  do  seinijo  XVU  o  no 
seguinte  oííerece  uma  constante  luta,  ora  manifesta,  ora  latente, 
entre  os  jesuítas,  e  os  delegados  de  Roma,  aos  quaes  queriam  impedir 
todo  accesso  nesses  paizes,  e  todo  o  inquérito  sobre  as  suas  acções. 
Alexandre  Vil  e  a  propaganda  querendo  pôr  um  dique  á  audácia 
d'esses  regulares,  ordenaram  que  os  missionários  dd  China  e  da  Indo- 
Cbina  fossem  submettidos  á  auctoridade  dos  vigários  apostólicos  e  á 
4e  «eus  cooperadores ;  e  como  menosprezassem  esses  decretos  partiu 


|ltí  m  qmViâtiiú  dô  legado  a  tatere  o  bispo  d'Eliopoli  Pruii- 
Je  Píilu,  liomcm  a  fjuem  loriiavíim  illnslre  irinta  anno(sde  fadi- 
gus  spnstolicos*  Seu  poder  ^  vírludcs  o  longa  pralfca  dos  negócios  nS» 
poder:íiii  sujttíraf  a  lenaz  resistência  dos  degenerados  fiíhos  de  Loyobj 
qrie  cheg.^ríini  a  dizer  fjtiç  o  Papa  não  tinha  auctúridade  paraefi' 
mar  no  Oriente  fttspos,  iH^artoí,  ou  íjuaes'iu€r  úuirm  rfe%a<fo#, 
em  quanio  não  fossem  expressamente  revogados  os  privilegiõB  dã 
cúmpanhia  c  os  do  padroado^  que  os  reis  de  Portugal  exercinm 
Êobre  essas  igrejas*  A  dc^beditíiiLiii  ftirjnal  uos  dccraitfs  e  decisões 
d»  Snriti  Sé  nos  paizes  lon^ínqiirjs  emin  pn ilididos  em  Rumo  com  os 
imh  krww^iS  proteiiLos  dt^  rt^ptfiki  @  submissão »  que  os  gemn 
Oliva  e  Novelb  fiizinm,  dando  a  lodos  esses  ^clo^  um  arlificioso  fob- 
ndo;  dtí  modo  qu»í  os  rebdde?,  d'est*íirle  j  usti  ficados  ^  airidii  pare- 
ciam n  vis  servi  dores)  da  boa  o  saneia  causa  da  prnpognçfio  da  íé. 

OfTtireetTani  os  jeáuili»!^  por  algum  tempo  no  Paraguay  o  locante 
c^pcciactílo  d*  ti  ma  ^ociedíida  de  selvagens  regida  por  pn*ireSj  e  lavada 
áruUura  e  ao  prog^u^so  peia  rolli^iíSo-  A  obro  porem  d't^ses  piedosos 
iiíJssfi>nnrÍos  corrom[^u-50  bem  de  pres-sa  nas  mãos  dosa^us  siaTe.sí«)- 
res,  que  sei|ui(íSos  de  mando  e  riquezas  qnizeram  sor  os  ^ibores 
absoEiílos  dVjuetle&p  qua  baviam  calbceliísadop  Assim  as  míss&es  do 
Píjraguay,  qsie  a  principio  eram  um  objecto  dViiíieaçáo,  tran^í forma- 
ram-se  cm  Tonto  d 'escarnia  lo  para  tovia  a  Europa  t  e  fizeram  sem 
duvida  com  que  o  bom  Muraiori  se  arrependesse  do  ler  escripto  a  sua 
celebre  obra  do  Chrislíanestmo  Fel  ice,  Cbaluaubriand  ,  arompa- 
nbando  nú  illustrado  escrÍpU>rÍialiauo  nos  encumios,  quo  prodif^altsii 
as  missões  jesiiílicasd'Americ0»  era  bvado  por  e^se  e.^piritod*entlm- 
staismo  religioso,  de  reafçào  cailiolica,  que  lanlo  caraclcrisa  as  brl- 
Ibantes  paj,'rnas  do  Génio  da  Ckristinnismo ;  e  refore-s©  mui  scgij- 
rameriie  é  primeira  phaseda  e^tisiencia  das  reforiJas  missOes  ;  jiorque 
H  lires&e  proseguido  em  suas  inve»ligaç6fò£  recuaria  espaiorído  pelos 
«xcèfôus  fommettido?  pelos  njembros  da  suriedndo  de  Jes^us,  que  nfío 
duvidaram  de  recorrer  as  armas  contra  seus  legiúuios  soberauos  logo 
que  paroceti-lhe^  que  a  política  dVslas  coulrariava  a  sua.  O  leitor  * 
ijoe  pretender  avaliar  por  ú  tn<  smo  o  que  acabamos  de  dizer^  leii  t 


iriaçio  pnblicadn  cm  defesa  do  1ii«pr>  do  Paragaay,  Bernardino  d« 
Cardenas,  a  quem  esses  regulares  moveram  crua  guerra,  e  a  quem 
tjBceram  iim:^  d.is  mais  completas  e  perfeitas  inlrigas,  dando  assim 
provas  dograndQ  progresso,  que  ne«sn  sciencia,  enlào  para  elles  nova, 
faziam  qoolidlannmenle.  De  til  modo  Iiaviam  segregado  as  suas 
colónias  irnnsailuntíens  do  resto  do  mundo,  que  ellas  eram  ignoradas 
por  lodo?,  eTi repto  pelos  seus  superiores  em  Roma ,  aos  qu«ies  eram 
obrigados  a  cnvinr  todos  os  annns  umn  conta  minuciosa  sobce  o  seu 
estado,  especificnndo  o  ramo,  em  que  mais  prosperavam.  Obstina- 
vam-se  em  recusor  o  accesso  em  suas  missões  a  quem  quer  que  fosse, 
ou  enviado  pj!o  poiier  civil,  ou  pelo  ecclesinsiieo,  sendo  o  principal 
motivo  das  suas  dissenrões  com  Cardenas  o  pretender  esto  prelado 
visitares  territórios  do  Paraguay  e  do  Uruguay,  nào  só  por  fazerem 
parte  integmnte  da  sua  diocese,  cumo  até  porque  tal  lhe  fora  orde-*, 
nado  pelo  governo  de  Madrid. 

Náu  ha  queu)  nno  tenha  ouvido  foliar  n'essa  famosa  q^ieslao  sus- 
citada em  Frnncn  ,  por  occasiào  da  bancarota  do  padre  Lavaliele , 
superior  ger.;l  dos  jesuitns  na  ilha  da  Martiòica,  c  que  fui  a  cnusa 
ocçasion^l  da  sua  suppressào  nos  estados  de  S.  M.  Christiaiiissima. 
Dissemos  que  os  ji^suitas  desmentindo  o  seu  glorioso  passado  tiiilnm-> 
se  deixado  de  t:il  sorte  dominor  pel.)  sede  das  riquezas,  que  consi- 
deravam as  missões  como  ffilorias,  e  pnra  ellas  mand.nam  homens 
ipais  azados  p;ira  opcraeõns  men'antis  do  que  para  os  trabalhos  do 
npastohido.  N'esie  caso  estava  o  padre  Lavalette,  descendente  do 
heróico  grno-nifslre  de  Malta,  ern  ambicioso,  emprehrndedor  o 
de  grande  acii vidado  :  o  qunl  vendo  que  o  espado  financeiro  da  com- 
panhia nas  .Ai.lilhas  nno  era  igurd  ao  do  algumas  outras  suns  pos- 
sessões resolveu  clnn-lo  a  um  ponto  capaz  de  fjzer  inveja  aos  seus 
confrades  das  margens  do  Parímá.  Enlrogou-se  com  ardor  ao  com- 
mercio«  o  em  pouco  tompo  accumulou  grossos  cabcdaesf  que  em- 
pregou n*;ir(|uisiç;"ío  de  terras  c  do  escravos  paia  rotea-las  :  elevando 
o  seu  numero  ao  prodigioso  algarismo  de  dou^  mil.  T5o  granda 
emprego  de  capitães,  simultaneamente  occupados  no  commercio  e 
na  agricultura  ,  devera  trazer  após  si  um  deficit^  que  foi  obrigado. 


Í>5 

â  supprir  por  meio  do  credito,  tomando  uiu  iniihúo  Je  libras  tòr- 
nezas  em  Marselha  9  e  em  outras  pruoas,  com  <]uaes  estava  em 
relações,  e  que  não  duvidaram  fazer  esse  empréstimo  a  tão  boDs 
fornecedores  como  erani  os  padres  da  companliia  ,  que  abasteciam 
os  mercados  europeoi  com  os  productos  dos  paizes  ultramarinos. 
Seus  empenhos  seriam  em  breve  tempo  satisfeitos ,  como  já  linha 
acontecido  com  outros  idênticos,  si  nâo  f')sscní  aprisionados  os 
navios  que  transportavam  òs  géneros  das  suas  feitorias  pelos  corsá- 
rios inglezes,  que  desde  o  anno  do  1735  infestai vam  os  mares.  Pro- 
testadas as  letras ,  elevados  os  jesiiiias  pornfito  os  tribuhaes  foram 
condemnados  a  pngnr  in-solidum  a  diviíia  conlrahida  pòr  Lava- 
iette.  Causou  esse  processo  grande  escândalo  ;  e  a  companhia  sur- 
prehendida  em  flagrante  violação  dos  cânones  da  igreja  desapprovou 
publicamente  o  procedimi^ntu  do  seu  agente,  que  assignou  a  decla- 
iraçào  de  25  de  abril  de  1762,  peia  qual  assumia  a  responsabilidade 
d'esse  acto ,  isentando  os  cliefeS  da  ordem  de  toda  a  solidariedade 
n'elle.  De  sorte  que  si  as  transacções  fossem  coroadas  de  bom  suc- 
cesso  todo  o  proveito  redundaria  eiii  próI  da  ordem  ,  como  purém 
foram  desgraçados  era  ella  inleiramonle  estranha  ao  que  em  seu 
nome,  e  mui  seguramente  com  o  seu  beneplácito,  fazia  o  seu  de- 
legado n'America  I  Semilhnnte  mjslifírarao  nào  enganou  a  ninguém; 
6  o  ódio  contra  a  cor()oraçflo ,  crescu  prodigiosamente.  Os  mais 
decididos  ápologista<  do  instituto,  como  o  seidior  Cn>tin(!au-Joly, 
coiidemnam  o  pr(íce«ler  do  seu  sup«rior  geral  nas  Antilhas,  e  con- 
jftfssam  que  este  negociara  em  grando  escala  ;  mas  a  sua  parci-didado 
os  priva  de  recoidiecer  cpie  esta  tendência  para  as  cousas  profanas 
não  era  uiu  facto  isidado  o  sim  a  consoqnencia  l';;itima  e  neces>aria 
de  principies  adoptados  em  Koma ,  o  faziani-st.*  sefiiir  por  toda  a 
parte,  onde  tremulava  o  pavilhão  da  companhia  de  Jesus. 

A  liei'esia  de  Jansenio  ('oi ,  na  phr.-ise  do  (lioberli,  urna  mina 
d*oiro  para  os  jesuítas  :  sua  prolongada  polemica  com  a  escola  do 
lPorto*UeaI  absorvia  a  atlençào  úo  u)un<lo  religioso  e  I literato  des- 
TÍando-0  do  estudo  da  marcha  tortuosa,  que  levava  a  obra  do 
santo  prisioneiro  de  Painplona.  Si  porventura  al;3'uom  ah-^va  a  vox 


90 

port  denunciar  os  delictos  da  ordem  tinha  esla  um  fácil  meio  da 
reduzi-lo  ao  silencio  averbando-o  de  iierege  jansenista ;  e  ínver- 
ieivâo  babilmenle  os  papeis  d'accus«'ida  Iransmutava-se  em  accusa- 
dòra ;  largava  o  banco  dos  réos  p.ira  sentar-se  nas  cndeiras  dos 
juízos.  Com  esla  poliiica  arlificiosa,  que  consistia  em  iilentificarem 
a  sua  causa  com  a  da  rtíligido,  de  que  então,  com  honrosas  exn^pçõeSy 
eram  indignos  ministros,  hnvíain-se  tornado  qiiasi  invulneráveis, 
ecobertos  com  o  escudo  d*Achillcs  desafíavam  a  cólera  dos  modernos 
Heitores. 

•  A  deslruiçlíodo  Porlo-Real,  diz  o  senhor  Dutilleul  (*),  an- 
nunria  e  prep.ira  a  destruição  dos  jesuitas  :  sâo  dua^  perseguições 
parallehis.  Luiz  XIV  temia  os  jansenistas,  corporação  austera,  ar- 
mada de  talentos  estimados  e admirados,  professímilo  perigosas  dou- 
trinas, pois  que  importavam  a  crença  no  fatiilismo,  e  compondo 
no  seio  de  seu  governo  um  grupo  compacto  e  quasí  esparrinta. 
Occultava-se  no  grémio  do  jansenismo  um  elemento  de  critica  , 
secreto  fervor  dopposiçâo,  de  resistência,  ecomo  que  um  meio 
calvinismo  drgmatico,  tanto  mais  lemivel  por  isso  que  as  fornias 
respeitosas  pata  com  o  soberano  pontifico  eram  conservadas,  e  não 
rompiam  o  laço  dn  união  catholica.  Com  a  sua  poderosa  autoridade 
esnvigou  Luiz  XI V  essa  corporação  d'almas  enérgicas,  cuja  secreta 
cadeia  todavia  conservou-se. » 

«  Foram  estas  que  mais  tarde  precipitaram  os  golpes  do  dnquo 
de  Choiseul  e  dos  philosophos,  e  que  cruelmente  vingaram  o  Porto- 
Real  em  minas.  Tinham  por  alliadas  todas  as  congregações  ini- 
migas dos  jesuitas;  Dominicanos,  Agustinianos ,  Benedictinos , 
as  mesmas  ordens  medicantes  e  sobretudo  a  universidade  e  o  par- 
lamento. » 

«  Representantes  do  passado  e  da  idade  média ,  diz  o  citado  au- 
tor no  cap.  5."  da  sua  importante  obra,  por  mais  d'um  tiiulo 
recommendavel ,  os  jesuitas  se  tinham  despojado  d*austeridade 
ohrislâa  para  combater  o  mundo,  que  renascia,  e  da  mesma  ma- 

(*)  Hist.  dcs  Corporal.  Rclig.  en  FYauce,  livr.  3,  cbap.  t. 


g7 

neira  que  os  cavelleiros  do  Templo  S6  linliam  despedido  do  caracter 
pacifico  do  evangelho  para  combater  debaixo  da  coiraça  os  inimigos 
da  cruz.  Uma  vez  terminada  a  obra  tornavam-so  inúteis  aquelles  a 
quem  não  podiam  mais  defender ,  odiosof  aos  que  tínhan;  vencido  : 
foram  tratados  inexoravelmente.  » 

D'esias  mui  judiciosas  observações  do  illustrc  advogado  de  la 
cour  royaU  de  Paris^  seja-nos  licito  discrepar  no  ponio  em  que 
diz  serem  os  jesuilas  anachronicos  por  sua  instituição ,  quando 
nós  pensamos  que  só  o  eram  pelo  aburo ,  que  d'ella  faziam  ,  pelo 
constante  6  progressivo  desvio  das  constituições  primitivas.  Nunca 
é  fora  de  tempo  defender  a  religião ,  e  propaga-la  pelos  meios 
indicados  no  evangelho. 

Chegamos  á  parte  mais  diíTicil  do  nosso  trabalho,  queremos  fallar 
da  suppressSo  dos  jesuitas.  São  tão  contradictorias  as  versões,  que 
e  tem  feito  d'este  facto  aliás  da  maior  simplicidade,  que  causam 
graves  embaraços ,  a  quem  deseja  estuda-lo.  Temos  á  vista  quatro 
escriptores,  que  se  tem  occupado  com  este  importantíssimo  assump- 
to :  cada  qual  parece  ter  a  justiça  do  seu  lado ,  e  o  leitor  termi- 
nando a  sua  leitura  está  quasi  disposto  a  militar  debaixo  das  suas 
bandeiras.  Ao  condo  Alexis  de  S.  Priest,  que  primeiro  escreveu  a 
Historia  da  queda  dos  jesuitas  no  18  seculoy  vier.im  juntar-so 
n'estes  últimos  tempos  os  nomes  respeitáveis  dos  Srs.  Cretineau- 
Joiy ,  Tbeiner  o  Ravignan.  O  Sr.  Crelineau-Joly  no  tomo  V  da 
sua  Historia  religiosa ,  politica  e  litleraria  da  companhia  de 
Jesus,  tratando  d'esse  celebre  litigio  absolve  complelamenio  os  filhos 
de  Loyola  das  accusações  que  n'e.<sa  época  pesaram  sobro  elles,  e 
parece  attribuir  a  bulia  Dominus  ac  Redemptor  noster  á  fra- 
queza, e  quiçá  á  nimia  condescendência  do  pontífice  então  reinanio 
na  igreja  de  Deos.  Posteriormente  publicou  um  livro,  a  que  deu 
o  titulo  de  Clemente  XIV  e  os  Jesuitas^  em  quê  firmanJo-se  em  do- 
cumentos authenticos  e  inediclos,  pinta-nos  ao  vivo  as  varias  scenas 
a  que  esto  grande  acontecimento  deu  lugar  em  quasi  toda  a  Europa. 
Através  do  seu  respeito  para  com  a  Santa  Sé  póde-se  ver  n'esse 
livro  alguma  acrimonia  para  cora  o  immortal  Gangancili ,  que  é 

1VI1I  1.'} 


alií  representado  como  instrumento  passito  dos  poderosos  e  implacáveis 
inimigos  da  companhia.  Para  arredar  do  grando  pontifico  a  nota  de 
precipitado,  e  justiiicar  aquelles  de  seus  actos,  que  mais  desfigurados 
foram  pelo  apologista  dos  jesuítas,  pubru^ou  em  1852  o  reverendo 
Agostinho  Thelner,  padre  d'oratorio,  e  perfeito- coadjutor  dos  ar- 
chivos  secretos  do  vaticano  a  sua  excellente  obra  denominada  Histo- 
ria do  fnmtificado  de  Clemente  JT/Fenriquecidade  preciosas  peças 
jttsliricalívas  extrahidas  das  mais  puras  fontes.  Veio  lai  publicação 
lançar  um  raio  de  luz  no  meio  das  trevas  com  que  expressamente 
se  tem  querido  envolver  essa  questão  :  o  seu  juizo  é  sempre  calmo 
e  reflectido :  orienta  o  leitor  curioso  no  meio  d'esse  cahos  de  des- 
encontradas opiniões  e  hypotheses  arriscadas,  que  por  toda  a  parte 
se  formam ,  e  levanta  a  ponta  do  véo ,  que  encobre  a  verdade,  vin- 
gando a  memoria  de  Clemente  XIV.  fEssa  bellissima  producçSo 
devida  á  penna  do  douto  oratoríano  aflligiu  profundamente  aos  je- 
suítas, e  o  seu  ultimo  geral  o  padre  Roothan,  queixou-se  ao  reverendo 
padre  Ravignan  do  terrível  eiíeito  que  ia  ella  produzir  no  mundo  {*), 
O  illustrado  jesuita  francez  comprehendeu  as  intenções  do  seu  chefe , 
e  apressou-se  em  satisfazô-las  dando  á  luz  em  Maio  do  corrente  anno 
a  sua  obra ,  em  cujo  frontespicio  lé-se  Clemente  XIII  e  Clemente 
XIV,  a  qual  acabamos  de  receber  no  momento,  em  que  estas  linhas 
escrevemos.  Apenas  tivemos  tempo  para  fazer  uma  rápida  leitura 
dos  seus  principaes  capitules ,  e  d'ella  deprehendemos  que  «eu  autor 
tomou  a  peito  o  defender  a  ordem  a  que  pertence,  o  que  seja  dito 
com  verdade,  fé-lo  com  muito  talento  e  dignidade.  Todavia ,  como 
era  de  esperar ,  o  reverendo  padre  Ravi«çnan  deixou-se  dominar 
pslo  excessivo  amor,  que  consagra  ao  seu  inslittito;  c  portanto  nSo 
se  descobre  no  seu  trabalho  aquella  imparcialidade,  e  elevação  de 
pensamentos ,  que  tanto  distinguem  o  livro  do  reverendo  padre  Thei- 
ner.  É  o  parecer  d^te  ultimo  escriptor  de  grande  valia ,  até  por 
não  pertencer  á  escola  philosophica  como  S.   Pricst,   nem  á  da 


n  Vide  CUmint  IIIl  etCíem$nt  XIV  par  Ravignan— Prefaee. 


00 

Giuvine  Itália  como  o  illustrado autor  dos  ProUgomeni  ai  Primalo 
Morale  e  Civile  degVItalianu 

Interrogando  essas  diversas  testemunhas  do  grande  processo  jesuí- 
tico,  o  acareando  osseui  oppostos  depoimentos  dizemos  com  rude 
franqueza  o  que  a  tal  respeito  pensamos  :  e  oxalá  que  o  mesquinho 
íructo  dos  nossos  estudos  tenham  a  insigne  ventura  d'eneon(rflr  as 
sympalhías  d'aquelie$  para  quem  escrevemos. 

Entre  ns  causas,  que  originaram  a  suppressão  d'esta  celebre  ordem 
um  douto  historiador  moderno ,  o  senhor  Canlú ,  aponta  as  se- 
guintes : , 

«  Os  jesuitas  tinham  contra  si  os  dominicanos,  pela  sua  opjK)- 
«  siçao  á  doutrina  de  S.  Thomnz  :  os  franciscanos  pela  sua  grande 
«  autoridade  nas  missões ;  os  nremiffos  da  universidade  pela  con- 
«  currencia  9  que  fnziam  ás  suas  escolas,  ainda  que  sem  privjle- 
«  gios;  os  negociantes,  que  n'elles  temiam  activos  conrurrentcs, 
«  os  quacs  por  não  lerem  impostos  a  pagar  podiam  vender  mais 
«  barato;  os  mestres 9  ou  os  que  aspiravam  sé-lo,  vendoa  juven- 
o  ludtí  correr  em  muUidáo  ás  escolas  d'esses  rivaes,  cujo  ensino 
«  era  gratuito  e  desvellado;  os  bispos,  que,  a  exemplo  do  governo, 
«  tendiam  a  alargar  a  autoridade  local,  emquanto  que  os  jesuiliis 
«  eram  ardentes  fautores  da  universalidade  pontifícia.  Tinham  sobre* 
«  tudo  contra  si  os  jansenislns,  que  lhes  exprobravam  de  usar  d*al- 
«  tenções  pra  com  o  século,  constituindo-se  defensores  da  liberdade 
tt  a  poder  da  vonuide  humana,  e  autorisando  devoções  que  pnre-< 
tt  ciam  pouco  convenientes.  Chegavam  mesmo  ao  ponto  d'exhumar 
Cl  DOS  livros  dos  seus  casuistas,  obras  escriptas  em  latim  e  para  a 
«  inslrucção  dos  direclon*s  dns  consci<.'ncias  ,  pas<a^ens  indecentes , 
tt  avim  como  poder-so-hia  fazer  o  mesmo  nos  tratados  de  me<li- 
«  cina  (*).  » 

Densas  nuvens  se  acciímulavam  no  horisonte,  e  os  ntnis  inexpertos 
iinutas  presagiavam  h^rrivel  procella :  a  náo  da  compnnhia  amoi- 
naiva  as  velas  o  punlia-se  á  capa.  Ninguém  porém  poderia  supp^r 

(*)  lii$t\  Univ.  ဠ (;.  V,m\{n,  tom.  0.  liv.  wii,  iiliap.  \. 


9h 

lélaçio  ptiblicdiin  cm  rlefesa  do  1ii<:po  do  Paragaay,  Bernardino  (k 
Cardenas.  n  quem  esses  rotulares  movernm  crua  pftierra,  e  a  quem 
l^eeeram  uma  d.is  mais  completas  e  perfeitas  inlrigns,  dando  assim 
provas  do  grande  progresso.  (|(io  ne«sa  sciencia,  entno  para  elles  nova, 
faziam  qi)OtitlianHmen(e.  De  til  modo  haviam  Sí^gregado  as  suas 
colónias  iransntlantiras  {\o  resto  do  mundo,  que  ellas  eram  ignoradas 
por  todo9,  exreplo  pelos  seus  superiores  om  Roma ,  aos  quaes  eram 
obrigados  a  cnvinr  totios  os  nnfios  umn  conta  minuciosa  sobce  o  seu 
estado,  especificando  o  roíno,  en»  que  mais  prosperavam.  Obsiina- 
vam-se  em  recusnr  o  accesso  em  suas  missões  a  quem  quer  que  íi)sse, 
ou  enviado  p^!o  poder  civil,  ou  pelo  eccIesin<!tico,  seudo  o  principal 
motivo  das  suas  dissenrões  com  Cardenas  o  pretender  este  prelado 
yisilar  os  territórios  do  Paraguay  e  do  Uruguay,  nâo  só  por  fazerem 
parte  integrante  da  sua  diocese,  como  até  porque  tal  ilie  fora  orde*, 
nado  pelo  governo  de  Madrid, 

Não  ha  queu)  nHo  leulia  ouvido  foliar  n*essa  famosa  questão  sus-, 
ritada  em  Frnnça  ,  por  occasiào  da  hancarota  do  padre  Lavallele  , 
superior  gcr.;l  dos  jcsuitns  na  ilha  da  Mnrlifiica,  c  que  fui  a  causa 
occasiooal  da  sua  suppressào  nos  estados  de  S.  M.  Ciiristiauissima. 
Dissemos  qiio  os  jesui las  desmentindo  o  sou  glorioso  passado  tiulnm- 
se  deixado  de  t.d  sorte  dominar  pela  F-êde  das  riquezas,  qjie  consi- 
deravam ns  missões  como  feitorias,  e  para  ellas  mandavauí  homens 
roais  azados  para  operações  men-antis  do  (|uo  para  os  trabalhos  do 
apostolado.  N*esie  caso  estava  o  padre  Lavaluite,  desccndoule  do 
heróico  grào- mestre  de  Malla  ,  era  ambicioso,  emprehrndedor  o 
de  grande  acii\  idado  :  o  qual  vendo  que  o  espado  financeiro  da  com- 
panhia nas  Ai.lillins  nâo  era  igual  ao  de  algumas  outras  suas  pos- 
sessores resolveu  cI.!va-lo  a  um  ponto  copaz  de  fjzer  inveja  aos  seus 
confrades  das  marg«»ns  íIo  Paraná.  Entregou -se  com  ardor  ao  com- 
mercio,  e  em  pouco  tompo  accumulou  grossos  ca bcdaes  que  em- 
pregou n*acqiiisi(;à()  do  terrase  de  escravos  para  rotea-las  :  elevando 
o  seu  numero  ao  prodigioso  algarismo  de  dous  mil.  T5o  grande 
emprego  do  capitães,  simultaneamente  occuiKtdos  no  rommcrcio  e 
na  agricultura  ,  devera  trazer  após  si  um  rfc/ícíí ,  que  foi  obrigado, 


»5 

a  supprir  por  meio  do  credito,  lomaiido  um  inilhúo  de  libras  tòr- 
nezas  em  Marselha,  e  em  outras  praças,  com  (|uaes  estava  em 
relações,  e  que  não  duvidaram  fazer  esse  empréstimo  a  tfio  bons 
rornecedúres  como  eraih  os  padres  da  compaiiiiia ,  que  iibasteciam 
os  mercados  europcos  com  os  produclos  dos  puízcs  ultramarinos. 
Seus  empenhos  seriam  em  breve  tempo  satisfeitos ,  como  já  tinha 
acontecido  com  outros  idênticos,  si  nâo  ÍMSsem  aprisionados  os 
navios  que  transportavam  os  géneros  das  suas  feitorias  [)eIos  corsá- 
rios inglezes,  que  desde  o  anno  do  17õ5  infesUivam  os  mares.  Pro- 
testadas as  letras ,  elevados  os  jesuilas  perante  os  trihuhaes  foram 
condemnados  a  pagar  in-solidum  a  divíila  coiilrahída  por  Liva- 
iette.  Causou  esse  processo  grande  escand.-ilo  ;  e  a  companhia  sur- 
prehendida  em  fl.igrante  violaçi)o  dos  cânones  d.i  igrojn  desapprovou 
publicamente  o  procedimento  do  seu  agente,  que  assignou  a  decla- 
rarão do  25  de  abril  de  176*2,  pela  qual  assumia  a  respotisabilidado 
d'esse  acto,  isenUindo  os  chefes  da  ordem  de  toda  a  solidariedade 
n'elle.  De  sorte  que  si  as  transacções  fossem  coroadas  de  bom  suo 
cesso  todo  o  proveito  redundaria  em  prol  da  ordem  ,  como  puréni 
foram  desgraçados  era  ella  inleirameiílo  estranha  ao  qiio  em  seu 
nome,  o  mui  seguramente  com  o  seu  beneplácito,  fa/ja  o  seu  de- 
legado n'America  1  Semilhante  mjslifírarào  nào  engímou  a  ninguém; 
e  o  ódio  contra  0  corjioraçíío ,  crescni  prodigiosíimenle.  Os  mais 
deriditios  apologista^  do  instituto,  c<uuo  o  senhor  Cn^tineau-Joly^ 
condemnam  o  proceder  do  seu  superior  geral  nas  Antilhas,  e  C(ui- 
fessam  que  este  negociara  em  grande  esrala  ;  mas  a  sun  p:i  rei  alidade 
os  priva  de  i^econhecei*  (|ne  esta  tendência  [tara  as  cousas  profanas 
nSo  era  uin  facto  ísidadu  esim  a  conse<)uencia  li>p;itiina  e  necessária 
de  principies  adoptados  em  Konia ,  e  fazi«ini-S(j  seniir  por  toda  a 
purte,  oiide  tremulava  o  pavilhão  da  companhia  de  J«;sus. 

A  heresia  de  Jansenio  foi,  na  phr.ise  de  (jiol>erli,  uma  mina 
d*oiro  para  os  jesuítas  :  sua  prolongada  polemica  cuin  a  escola  do 
t^urto-lleal  absorvia  a  attençào  do  mundo  religioso  o  litlerato  des- 
TÍando-o  do  estudo  da  marcha  tortuosa,  que  levava  a  obra  do 
sanio  prisioneiro  de  Pamplona.  Si  porventura  al^^uom  ali.^Qva  a  voi 


.•    •..•         102 

fuarquez  de  PoiíiM-If^  os  jesuítas  fautores  da  conspiração  regicidíi. 
O  tribunal  4Í^ffconfidencii9  presidido  pelo  poderoso  minisiro 
declaroti-os/T^VMraMa  traiçno ,  expulsando-os  dos  sous  coUegios, 
condeinn(iiliB«  mais  notáveis  d^enire  eiles  aos  rigores  do  cárcere  com 
excepçaij>lô$'P.  P  Malagrida,  Mattos,  e  .loao  Alexandre  destinados 
a  ad(4'^*o  .«^upplícío  da  Tamil  ia  Távora. 

••Expúlsosde  Portugal  e  suas  possessões  foram  os  jesuítas  lançados 
cobrdas  costas  d'Ilatia,  e  o  primeiro  comboi  d'esses  desgraçados 
.*  Jpciltres,  que  assim  eram  privados  do  qu»)  de  mais  caro  existe  na  terra, 
.'/.••  cíiegoii  a  Chita- Vecchia  a  24  d'Oulubro  de  1739  em  numero  de 
>^-/  cento  e  trinta  e  três  no  estado  o  mais  lastimável.  É  sempre  iniqiio  o 
procedimento  d'aquo!le,  que  abusando  do  seu  poder  eondemna  sem 
deixar  ao  accusado  os  meios  de  defender-se,  e  que  in volve  nos  rigo- 
res d*uma  mesma  sentença  innocenlese  culpados.  Semilhunte  excesso 
de  poder  fui  recebido  com  indignação  por  toda  a  Europa,  e  os  mais 
acérrimos  inimigos  da  companhia  desapprovaram-no.  O  soberano 
ponlifíce  Clemente  XIII,  que  substituirá  ao  doutíssimo  Lambertint 
na  cadeira  do  S.  Pedro,  encarregou  ao  seu  representante  em  Lisboa, 
monsignore  Accínjoli  arcebispo  deNaupacta,  de  fazer  chegar  aos 
ouvidos  do  rei  fidelissimo  as  vozes  magoadas  dos  exilados,  a  que  o 
pai  cummum  dos  christàos  náo  podia  ser  índífTerente.  Pombal  porém 
havia  de  tal  modo  predisposto  o  animo  d'e!-rei  D.  José,  que  este 
príncipe  naturalmente  propenso  à  piedade,  foi  surdo  ás  admoestações 
do  pipa,  che^^ando  seu  minisiro  a  commetler  o  excesso  d*expellir 
ignominiosamente  do  reino  o  núncio  de  S.  Santidade,  e  retirando 
de  Romi  o  embaixador  Mendonça,  precipitar  o  orlhodoxo  Portugal 
no  abysrao  d*um  prolongado  schisma  de  ques^ó  sahiu  pela  prudência 
e  doçura  do  grande  Ganganelli. 

Nesta  celebre  questão  dos  jestiitas  tinha-se  invertido  a  ordem  das 
cousas ;  e  assim  Portugal,  que  desde  o  século  XVII  perdera  a  sua 
influencia,  e  deixara  a  outros  povos  tomarem  a  dianteira  na  civílisa- 
çào  abria  agora  nova  estrada ,  depois  trilhada  peia  França,  que  no 
reinado  anterior  dictara  leis  á  Europa.  Dissemos  que  o  processo  de 
Lavalette  havia  causado  grande  sensaçilo ,  e  fui  ella  de  natureza  tal 


103 

*\út  Ifúútê  a  loUil  exputi^ija  tios  je^^uitâs  «rarjuoUc  roino,  tiojâ  império* 
Os  parlamentos  qulzeam  tomur  'raitbecí mento  das  Cúnstituições 
da  componhin  p;>ra  e^aminnr,  dkiam  el'cs  ,  s^c^Uivam  e^ta^  ronítiniiE! 
díi  leis  í|ij(í  ofíl^o  rpgiam  Ioda  o  tnonardiia :  e  foi  ú*e^í^  BX&mo  imo 
pir  ltOíTien>^  rujn  mã  vniitarlo  ^n  conlRTiiia  »  qtic  re^ulloii  IoíIo  o 
Jíimno  para  o  if>siiMio,  «r  E  p.tfa  temor  f[y"3  cstiís  mrí^nstrí?ilí)is  {diTh 
o  firincipe  Pamphlli  Colí^nn.n,  arcebiRpo do  Co^osses ,  e  núncio  aposto- 
liro  em  Purís,  em  seu  despacho  d<:  1 1  de  Miiio  di>  ITfil  dirigido  íio 
cardwal  Trirrp^íaiií,  secreltirio  d*íífl^ do)  cojíi  tota  idiíde  é  por  nalurexa 
e  jkír  príncijíios  hostil  noi?  j>íiiíIíi.%  nào  «0  í!oi\em  fasciriíir  a  ponío  d» 
tomnr  medidas  vjolentM*  qt^nto  á  con*ítiiuiç5o  e  dir*?i  mesmo  á  exis- 
tência da  soríedado  ;  o  i]imí  nliíi<í  nao  me  causaria  npnftuma  siirpr&ía» 
41  cm  cujn  caso  nâo  sa  di^ve  cotilar  com  o  mjriimo  ap^io  ih  cotia.  ^ 
Hatâv»  du  longe  n  guerra  entre  iisparb mentos  6  os  jeseitaí,  e  é  |>or 
íiifíú  ijiie  o  ntint^io  do  papa  temm  todo  a  s^orte  de  violenda^  do  partíi 
iCjiquelteJi.  Haviam  i4!es  resistido  ao  rti,  e  á  nobreza »  proteí!loros 
docidido3  da  fompanhia,  è  note-so  que  físst;  rei  ctijas  iras  arro*%tâvam 
era  o  imperío.^o  Lui^  XIV",  a  crtjo  aceno  todo.^  ^e  curvavam,  O  seu 
f)dÍo  fontni  o  instituto  ã^  Lovola  era  portanto  prortmdam(:?nto  rn* 
rnÍLailo  ;  formava  nelítíS  como  uma  nova  natureza  ,  as^im  ctiifsa-^ncys 
pasmo  do  ver  que  os  jr^soita^  dando-se  por  \ir.timas  de  Sladamt*  Pom- 
padoiir,  ti?,t*í!Sem  d'esses  corpfís  respeitáveis  dóceis  instrumentos  dos 
capfirhní;  d*uma  mulier.  «  Os  jesuitns,  dÍ7*Theiuef,  tiveram  real- 
mente pouca  pérspicdcia,  nesta  e^^^eeio  do  vaídado  ridiciila  em  í]iie- 
rurem  paíssísr  p<ir  marijTeí  d^es^a  real  eôDCuhina*  e  com  a  qual ,  para 
melhor  exritar  a  compaixão  em  seu  favor,  attribuiram-tlio  a  sua  qu^da^ 
bem  como  ao  seu  suppostoaf liado,  o  duque  dô  Choiseut.  Nâo  nega- 
mos que  Madame  âa  Pompdanr  se  unifse  aos  immiííos  da  rí>mps- 
nbia»  e  que  junlosse  seus  esíttrços  nos-  d*el'c,  mas  o  qtre  contestamos 
é  que  fiofJesse  elia  mudnr  a  tal  respeito  a  opinião  publica :  n^o  estava 
isio  no  pcMler  de  pt^s^oa  alj^uma^  uãm  (50  pouco  o  du  conjurar  a  tem- 
pestade, que  por  tudíi  a  Europ,  ameaçava  e\ termina-los.  (*)  • 


(•]  Vide  Tbcincr  íUst,  du  roíitifirai  de  Clíment  XIV.  cliajw  f. 


Luiz  XV  estimava  os  jesuítas,  mas  nào  tinlia  n  coragem  de  tomar 
abertamente  a  sua  defesa;  contentava-se  com  meios  paltiativos,  que 
d'ordinario  não  satisfazem  a  ninguém.  Esperando  neutralisar  a  acçSo 
da  commissào  nomeada  pelo  parlamento  de  Paris  para  rever  as  eofis- 
tituiçôes  do  instituto,  composto  d'ardentes  jansenístas,  addicionou-lhe 
seis  membros,  que  depois  de  muitas  conferencias  e  prolongados  deba- 
tes terminaram  seus  trabalhos  concordando  com  o  parecer  da  mino- 
ria da  commissào,  e  colhendo-se  ainda  d'esse  ensaio  a  triste  convic- 
ção dé  que  a  companhia  não  podia  continuar  a  permanecer  na  terra 
de  França. 

Bestava-lhe  o  apoio  do  episcopado  e  para  grangear  oseu  favor  náo 
duvidaram  os  jesuitas  subscrever  a  famosa  declaração  do  clero,  dn 
1682,  que  constituiani  as  liberdades  da  Igreja  Gallicana^  que 
sempre  haviam  combatido  com  energia,  e  cujo  ensino  sempre  repel- 
liram  dos  seus  collegios.  Este  acto  de  fraqueza  da  parte  dos  zelosos 
defensores  dos  direitos  e  prerogatívas  da  S.  Sé  foi  ainda  estéril  para  o 
bem  da  sua  causa ;  e  comquanto  nlo  se  compromettessem  para  com 
Roma,  graças  á  sua  celeberrima  theoría  da  restricção  mental ,  náo  - 
encontravam  todavia  na  grande  maioria  dos  bispos  francezes  defenso- 
res decididos  e  calorosos  apologisias  como  Christovam  Beaumont, 
arcebispo  de  Paris,  que  queria  levar  seus  cullegas  a  uma  manifesta- 
ção publica  e  solemne  das  sympathias,  que  nutria  para  com  os  filhos 
de  Loyola. 

O  plano  adoptado  pelo  parlamento  era  um  dos  mais  babeis  e  digno 
certamente  de  ser  empregado  contra  uma  sociedade  de  padres,  qtio 
haviam  posto  a  sagicidade  diplomática  em  lugar  da  candura  evangé- 
lica. Consistia  elle  em  chamar  todos  os  collegios  da  companhia  á  sua 
barra,  examinar  os  titules  da  sua  existência ,  e  supprimi-los  depois 
isoladamente,  a  titulo  de  nào  terem  auctorisação  legal:  d'est*arte 
feriam-na  nos  seus  mais  caros  interesses,  e  ao  passo  que  declaravam 
respeitar  os  direitos  de  cada  padre,  tomado  individualmente,  torna- 
vam impossivel  o  suhsistirem  em  França  como  corporação. 

Por  amor  da  verdade  cumpre  confessar  que  de  todos  os  paizes , 
que  nessa  epocha  se  declararam  contra  a  sociedade  de  Jesus,  foi  a 


103 

Fron(*.i  o  rpiii  prai'ei1cu  tviru  mais  ímdtír^ào;  e  eujás  joyisdii,s  pun»- 
rum  ter  mais  o  ctinlm  iia  s^itiudorla*  Pur  5Un  onif^imat;^  riu  f7  J«i 
Junha  ilo  1T<»3  sa»]u£Mrava-lhes  LuÍ£  XV  a^  suas  popriíuMes  em 
t^^ndjrfo  tlu  estado,  doirando  comludci  aoa  meuibros  da  oulmu  di^sul- 
víiJ,i  Q  livro  ciereícíõ  do  mu  rninistt^río  snccrdottil,  f^unrilóni]^^  quanto 
tlia  fofôe  ptjssival,  úS  mgras  do  seu  iit^tituto,  q  si  mní^^  lardo,  em 
iS*ovemLri-i  dô  Í7Gi,  supprtniia  UUíitoienU)  em  itíua  et^tadusa  Otn* 
panhíã  deJesuB^  iiâo  nidn chova  esse  aeto  cam  aa  scanas  do  liáíbara 
lífílt^ncin,  qiit!  o  sssigimluu  em  Uospanha  0  Nap0l6&i  como  @m  brere 

D.  Círios  Hl  reinava  erilào  em  llespanha  1  e  mostra vn  no  tljrono 

d't!í»se  pÍ2(i  tíiesma  bondado,  ijiie  un\a  o  ílr^ra  gmar  dos  Napolilanos. 
Espírito  olâvadop  deâujriva  ardentemente  melhorar  a  «oiiedasiia 
pátria,  oxiirpnr  v^I\iq$  abusos,  que  Jc^gradavam-na  aoa  olliitô  d n  cu  ha 
Eumpa :  o  uma  sàz  trilhando  a  vereda  da  progresso  o  daií  rt^forman 
força  era<)ue  laiigasbdmão  dos  Itumens,  que  reprã^antavam  o  ífí^pirito 
da  epocba,  a  euja  hmi^  doveuios  cnllciear  o  conde  d'Aranda,  illu»^irc 
diseipulo  da  escola  eno^dopedisia.  E  sonipredifficil  a  tareia  de  reíor- 
niador.  príncíp.'dmc[iLo  n'uai  paiz  tiSo  aferrado  ás  uadiçòc^s  como  cor- 
tamsnte  é  a  ptri^do  Ciii  Murmurava  o  povo  contra  algumas  modi^ 
daa  lomadas  contra  os  seos  hábitos  pelos  Iwmcm  da  ãituaçãi}:  Unlng 
aainnovaçòes  lha  pareciam  ofTénsivas  a  díi^^nidade  onrioríal.  'l';d  nosi 
pareço  a  causa  da  sedição  madrilana  do  dia  26  do  Uarm  ih  176^1 
quo  tomou  por  prtiloxlo  a  conservíi^âQ  do  Ixaje  castelhano  lai  eapm 
e  hãsomirerQM  contra  a  irivasão  das  modas  írancezas*  Viu-so  et  rtii 
constrangido  a  retirar  se  parn  AranjucUt  o  por  pou  cai  hora  d  úãsôdi- 
ciosos  contaram  com  o  triuropho  das  suas  prekinçdosi  ]So  meia  do 
tumulto,  0^  jcEuilai,  que  nelle  appareceram  para  aplaca-lo,  foram 
fíctoríado!^,  e  a  seu  pedido  retiraraui-^e  os  insurgoníes  aoK  &em  lares 
com  a  f  romessa  de  que  seus  desejos  seriam  sati&faitos^  uqua  o  manto 
da  real  clomencia  seria  esti^ndído  sobre  o  pasmado*  Ou  porque  o/(o 
osúves^em  autorisados  para  ía^gf  laes  concessões;  ou  pelas  iwvm 
quedas  vi.^i tas  dom ici fiarias  pareceram  colber-sc contra  ell^^,  quando 
OMisuas  eaitas  familiares  censuravam  os  actos  gi>vi^rnativos,  que  nau 
witt  ih 


106 

eram  conformes  aos  seus  sentimenlos,  o  cerlo  ê  que  D.  Carlos  iTt 
concebeu  acerca  d'elles  suspeitas  de  conspiradores ;  suspeitas,  que 
julgamos  hoje  infundadas,  mas  que  então  nào  deixavam  d'impressio- 
nar  vivamente  os  espíritos,  mormente  depois  da  opposíçào  que  o  tra- 
tado de  limites  de  1750  encontrara  n^America  da  parte  d'esses  indi- 
genas,  cuja  direcção  espiritual  e  temporal  estava  exclusivamente 
entregue  aos  membros  da  sociedade  de  Jesus. 

No  estudo  imparcial ,  que  fazemos  das  causas  da  suppressâo  dos 
jesuítas  acreditamos  serem  os  motivos  acima  allegados  muito  mais 
prováveis  do  que  a  anecdota  referida  pelos  senhores  Cretineau-Joly « 
e  Ravignan  relativa  á  supposta  carta  do  geral  Ricci»  em  que 
punha-se  em  duvida  a  legitimidade  do  nascimento  de  D.  Carlos  III. 
O  ultimo  d'es8es  escriptores,  apezar  da  sua  sisudez  e  gravidade,  pre- 
feriu dar  ao  conto  uma  forma  dramática :  po-la  na  bocca  d'um  grande 
d'Hespanha  viajando  pela  Itália,  e  tendo  por  ouvinte  o  padre  Casséda, 
ex-reitor  da  primeira  casa  dos  jesuítas  em  Madrid  {*).  Si  S.  M. 
Catholíca,  em  sua  ordenança  de  2  d'Abril  de  1767,  publicada  em 
forma  de  pragmatica-sancçâo^  disse  que  bania  os  jesuítas  do^ 
domínios  da  sua  coroa  par  motivos  que  ficavam  oceuUos  no  seu  real 
coração^  não  foi.  como  pensa  o  senhor  Cretineau-Joly,  por  querer 
esconder  ás  vistas  profanas  a  verdadeira  razão  do  seu  resenlimento 
contra  a  companhia ;  mas  sim  por  um  resto  de  compaixão  pelas  des- 
graçadas victimas,  que  outr'ora  tanto  amara  e  venerara ,  por  não 
querer  envenenar  as  feridas  do  seu  doloroso  exílio  repetindo  n'um 
documento  oíBcíal,  destinado  a  fazer  o  gyro  da  Europa,  o  que  então 
contra  elles  se  allegava. 

Com  todo  o  sangue  frio  hespanhol  ordenou  el  rei  a  execução  do 
seu  edicto ,  e  inabalável  mostrou-se  em  sua  resolução.  Estava  de  tal 
modo  prevenido  contra  os  jesuítas,  que  incorria  em  seu  desagrado 
todo  o  que  tomasse  a  sua  defesa. 

O  zelo  excessivo  dos  subalternos  não  poucas  vezes  desnaturalisa  as 
intenções  dos  superiores :  o  rei  catholico  achava-se,  conio  dissemos , 

n  Vide  Ravignan  aément  XIII  et  Clément  XIV,  chap.  V  pag.  ÍH. 


107 

fiimmnmGnte  imlado,  mas  não  linha  do  moda  nlgum  autorfsatlo  os 
e\cessoE^,  que  cm  seu  nomâ  seccimni^tlenim.  Â  expukio  dos  jestiltná 
da  liespanba  foi  cruel ;  e  levou  as  lampos  á  ordenada  pelo  niarí|ueg 
de  PombdL  Ouçamos  a  ta)  respeito  o  testemunho  d 'um  siictor  pur 
forma  alguma  su^peilo*  país  que  todos  o  reconhecem  como  nlumna 
da  pjtilosojdna  domioanlã  na  fittropa  no  soculo  passado.  O  comlo 
AltixísdeS.  Pfiesi  assim  se  exprime  t 

«  A  douB  dMt>ril  dé  1767  no  mesmo  dia,  á  mesma  hora,  ao  norte 
>  c  âo  meío-dia  d^Arrica,  ti' Ada  e  n* America,  em  todas  as  ilbas  da 
a  mon»rchia,  os  governadores  gernes  das  promcins,  os  alcaides  das 
«  Cl  d  ades  a  br  iram  03  pre^^oí  mim  idos  de  iriplieesello*  linilorme  era 
ti  o  seu  tlieor:  sob  as  mais  iieveras  penas,  inclusive  a  da  niarle«  lhes 
ti  era  ordenado  de  dirtgirem-$e  com  mSo  armada  ás  casas  dos  jesuilíi!^, 
u  JnvesLi-lãs^  expulsa-los  dos  seus  conventos  e  transporta-los  como 

•  prisioneiros  em  TÍnla  e  quatro  horíis  a  um  porto  d*ante-mfio  deáí- 
■  gnad  o,  O  s  c  a  pii  v  m  áti  v  era  m  e  mb  a  rca  r-se  i  m  med  i  a  ta  m  en  Le ,  d  ei- 
«  xando  sous  [tapeis  selUdos  e  nSo  levando  comsigo  seffito  o  bre- 
t  viário  e  o  seu  fato.*...  Devemos  convir  que  a  prisào  dosjesyitns 
tt  o  o  seu  embarque  sõ  iet  com  uma  preeipitaçâo  talvez  necesfcar ia, 

•  porém  barbara.  Perto  do  seis  mil  padres  de  todas  as  idades,  ho- 
«  mtím  de  nascimento  t Ilustre,  dou  las  pcrsfmagens ,  velltos  oppnmi- 

•  dos  d  onfermiJadeà ,  privados  dos  mais  indisfx^nsaveis  objoctos , 
^  aUrndos  no  íutido  do  porão ,  e  cnlre^cues  ás  ofidas  sem  destino  lixo, 
li  ne m  d  I  rccçSo  prec í sa ,   ( * )  # 

Clemente  XII i  aruava  os  jesuitas  e  fez  para  salvr^-los  tudo  qunnio 
listava  ao  seu  a toaiice;  jíi  publicando  a  bulia  Apostalirum  pasc^ndí 
de  7  de  Janeiro  de  1765»  em  que  proclamava  ú  face  da  cbrislaridadtí  a 
sua  sanciidadee  innocencia,  bulia  que  seu  suecessordiâse  ter  sido  antes 
cxu>rquída  do  que  pedida,  ejríoría  poííf«  quam  impeírata  r  já  escre- 
vendo ao  rei  d^Hespanlia  em  favor  dos  jesuitos  do  seu  reino  a  sentidís- 
sima epistola  onde  se  lem  estas  toCJintes  patavns:  tu  quoqtte,  filimihi. 
fião  podia  porém  permiuir  o  soberano  ponliÍJce  que  fossem  scu5  dirc-K 


íHMI 


é^ 


los 

los  de  tal  inodo  menosprezados,  que  sem  con^iilia-lo^emanifeslantente 
conlra  seus  desejos»  arrojassem  ás  costas  dos  estados  da  igreja  os  des* 
terrados  das  outras  nações ,  embora  pertencessem  estes  desterrados 
á  classe  eiticsiastica.  Vodou-liies  porlant<i  o  accesso  no  seu  território, 
ordenou  aos  governadores  de  Ci?tla-Verchia,  Porto  d'AnziOy  Aneona 
e  outros  lugares  banbados  pelo  Mediterraneot  ou  pelo  Adriático,  q«e 
prohíbissem  formalmente  o  desembarque  dos  jesuítas  hespanhoea,  eo 
cardeal  Torreginni «  secretario  d*eslado  communicando  esta  resolu- 
ção ao  núncio  da  Santa  Sé  em  Madrid  usava  d'estas  formaes  palavras : 
«  O  papa  é  em  seus  estados  um  soberano  lào  independente  com- 
qualquer  outro  monarcha,ennoó  seguramente  permitiido  a  nenhum 
principe  o  deportar  os  exilados  do  seu  poiz  parn  outro,  sem  o  prévio 
assenso  do  res{)ectivo  governo*  »Repellídos  assim  os  jesuítas  por  erro 
dos  governantes  da  sua  nação,  erraram  por  muito  tempo  á  merco  das 
vagas,  expostos  a  todo  o  género  de  privnçõesi  soíTrendo  todas  as  misé- 
rias imagináveis,  até  que  a  republica  de  Génova  offerecou-llies  uma 
hospitalidade  provisória  na  ilha  de  Córsega,  d'onde  saliiram  em  tem- 
pos mais  calmos  para  partilharem  no  património  de  S.  Pedro  do  asylo, 
quo  lhes  tinham  preparado  seus  irmãos  do  infortúnio. 

Semquererjuslifícar  os  jesuítas  de  todas  as  accusaçõcs,  que  sobro 
elles  pesavam,  sem  entrar  mesmo  naanalyse  minuciosa  dos  moiivos 
allegadosparaa  sua  suppressao  naHespanha^e  sem  pretender  negar 
nos  governos  a  faculdade  de  supprimir  pelos  meios  reconhecidos  em 
direito  as  congregações  religiosas,  cuja  permanência  possa  ser  dam- 
nosa  ao  paiz,  não  podemos  todavia  deixar  d^estigmatisar  a  maneira 
violenta,  diremos  quasi  brutal,  com  que  foi  executado  o  edito  d'e1-roi 
catholico  por  esses  mesmos  homons  que  pouco  antes  rojavam  aos  pés 
dos  padres  de  companhia,  que  mendigavam  seu  patrocínio,  e  a  quem 
em  grande  parte  lhes  deviam  a  posi^^ão  eminente,  que  ora  occupnvam 
e  da  qual  se  serviam  para  pagar  a  sua  divida  com  a  mais  negra  ingrati- 
dão. Innocentes  ou  culpados  os  jesuilas  deveram  ser  tratados  d'um 
modo  diverso  porque  o  foram:  o  conde  d*Aranda  comprehendin  mal 
as  intrucções  de  Choisoul. 

A  exemplo  da  Hespanhn,  Nápoles,  Malta,  Parma  rejeitaram  do  seu 


10» 

mo  (odos  os  religiosos  da  companliM  de  Jesus*  Maha  dependia  do 
rei  de  Ntipoles,  este  devia  submissão  e  restpeílo  a  seu  pai  dom  Carlos 
III,  e  o  duquei  perteneenie  á  m>bre  familia  dos  Bourbons,  devera 
Kguir  a  poliviea  adoptada  nos  gabinetes  da  Fmnço  d  da  Hespanha. 

Passaremos  em  niencio  as  arbitrariedades  commeilidas  no  reino 
das  Duas  Sicilias  pelo  marquez  de  Tanucci,  em  nome  do  seu  joven 
soberano^  cbegando  a  ponto  de  lançar  os  jesuítas  Tindosdedifferenles 
collegios  sobre  as  raias  d'AscoIi ,  Uieli  eXerracina,  acompanhados 
fjelas  tropas  reaes,  e  com  defesa  de  porem  os  pés  no  território  napoli- 
lanoi  sob  pena  de  morte :  as  medidas  repressivas  tomadas  contra  a 
companhia  pela  republica  de  Venotn,  e  pr  outros  estados  da  Itália 
para  occupnrmo-nos  das  garantias  maleriães  que  contra  a  S.  Sê 
lon^aram  mâo  os  governos  de  Françn,  Hespanha  e  Nápoles. 

O  papa  Ue27.onico  (Clemente  Xlll)  mostrara-sc  desde  o  começo 
do  debate  decidido  protector  da  companhia,  e  a  cada  nova  aggressSo, 
que  esta  recebia  fazia  corra«ponder  palavras  de  justa  e  sancta  indig- 
nação. Em  tempos  ordinários  as  palavras  do  pai  commum  dos  fieis 
seriam  ouvidas  com  o  devido  acatamento,  nessa  épocha  porém  intei- 
ramente anormal»  quando  o  philosophismojnmra  immolar  aos  filhos 
de  Loyola  ante  as  azas  fumegantes  do  Porio-Real,  não  serviam  e\U\s 
senão  para  irritf^r  cada  vez  mais  os  espíritos:  e  a  historia  imparcial 
nâo  deixará  de  culpar  a  esses  regulares  por  não  terem  por  uma 
prompla  submissão  desarmado  os  seus  contrários  dtíixando  de  expor 
ás  tribulações,  e  ás  angustias  os  amargurados  dias  d*um  Augusto 

Sabem  os  nossos  imtores  que  o  ducado  de  Parma  e  Placencia  era 
nm  antigo  feudo  do  S.  Sé  destacado  d'esta  por  oiTasião  dn  elevação 
do  príncipe  Alexandre  Farnose  ao  sólio  pontíficio  com  o  nome  de 
Patilo  111,  impondo  a  seus  succassores  a  obrigação  de  pagarem  um 
tributo  annuo  de  9000  escudos  para  as  despezas  da  camará  após- 
lolica.  Sabem  ainda  que  pela  exlincçào  da  familia  reinante  nn 
pessoa  de  Francisco  Farnese,  o  imperador  d'Altemanha  o  o  rei 
d't!espdnha  disputaram  a  sua  posse,  nlc  que  veio  esta  a  caber  no 
infante  dom  Carlos,  filho  dodom  Fillippo  V,  rei  de  Hespanha.  O 


110 

íliiquc  dom  Fornando,  successor  (1'este  príncipe,  linlin  promulgado  em 
seu  estado  alguns  decretos  offensivos  ás  imrounidades  ecciesiaslicas, 
6  o  S.  Padre  atiendendo  ás  reclamações  dos  bispos,  julgou  dever 
intervir  nesses  negócios  revogando  pelo  seu  breve  de  30  de  Janeiro 
de  1768  tudo  o  que  lhe  parecia  contrario  ás  suas  prerogativas ,  e 
ameaçando  no  caso  de  resistência  ás  suas  ordens  com  as  censuras 
ecciesinslícas.  Aproveitando-se  do  ensejo  reivindicava  (talvez  com 
pouca  opportunidade)  seus  direitos  de  suzerania  ao  ducado  de 
Parma  e  Placencia,  como  antiga  possessão  da  S.  Sé,  e  cujos  direitos 
esta  jamais  renunciara.  Tanto  bastou  para  que  as  cortes  cujos  prín- 
cipes pertenciam  à  família  de  Bourbon,  se  julgassem  profundamente 
offendidas,  e  que  em  virtude  do  pacto  de  família^  sem  contradicçâo 
lima  das  mais  felizes  creações  diplomáticas  do  século  passado,  orde- 
nassem uma  leva  de  broqueis  contra  Roma.  Castro  e  Ronciglione, 
foram  occupados  pelo  duque  de  Parma,  a  pretexto  de  serem  antigas 
dependências  dos  seus  estados ;  o  rei  de  Nápoles  invadiu  os  princi- 
pados de  Ponte  Corvo  e  Benevento  encravados  nos  domínios  da  sua 
coroa;  e  o  mesmo  praticou  a  França  a  respeito  do  Avinhso  e  do 
condado  Venaissin.  O  monitorio  de  Parma  era  apenas  um  pretexto : 
o  fim  real  de  todas  estas  represálias,  semilhante  a  que  acaba  de 
practicar  a  Rússia  nos  principados  do  Danúbio  com  a  reprovação  de 
toda  a  Europa,  era  o  de  constranger  o  papa  a  supprímir  a  ordem  de 
Jesus,  como  se  encarregaram  de  evidenciar  os  acontecimentos  pos- 
teriores. 

Depois  de  ter  inutilmente  protestado  contra  tal  violação  do  direito 
internacional,  nâo  lendo  podido  fazer  chegara  linguagem  da  razãfo  e 
da  justiça  aos  ouvidos  dos  monarchas  calholicos,  que  julgavam 
servira  religião  contrariando  as  intenções  do  seu  chefe.  Clemente 
XIII  expirou  no  dia  2  para  3  de  Fevereiro  de  1769,  pondo  assim 
termo  a  um  laborioso  pontificado  de  dez  annos,  seis  mezcs  e  vinte  e 
seis  dias. 

(c  Collocado  sem  cessar  peia  oraçiio  em  presença  de  seu  Deos ,  e 
«  do  seu  cargo  supremo,  diz  o  R.  P.  Ravignan,  quando  todos  os 
«  interesses  terrestres,  todas  as  instancias  as  mais  vivas  pareciam 


111 

ti  Jictar-llio  o  silencio  a  as  frocMS  eoniliiscômleneias^  ouvia  no  tmuh 
tt  do  íeu  peito  reso.ir  a  granJo  voz  da  Igreja^  *]Ué  jamais  pdJe  aban- 
4f  donar  ilireilos,  ijno  do  cvO  recebí?^ra,  e  nem  as  ameanjis,  ns  «I- 
«c  trajes «  a^  usurpardes  o  of^  socrílegos  aiicinLaJos  const^gniram 
u  abrandar  a  sua  enérgica  resisiencia  :  nunca  deixou  esfiapar  um  só 
«  acro  de  fraqueza  (*]»  i» 

Acompanhando  ao  douto  jssuiLã  fio  juízo  quo  forma  écerca  de 
elemento  Xinseja-nos  todavia  lidío  ponsarcoraoo  R.  P*  TheiMrt 
que  lanlo  o  papa  como  o  í^eu  secretano  d^esladoj  o  cardeal  Torregiafii 
linhsHi  vistas  estreitas  o  oslavnm  em  completa  ignorância  daa  neces- 
sidades do  seu  tempo*  O  certo  é  que  em  seu  governo  se  deu  o  facto 
inaudito  de  serem  as  letras  apo^toíicas  do  vif^ario  de  Christo  laceradas 
publicamente  nas  praças  publicas^  e  queimadas  pela  mao  do  algoz. 

Não  faremos  a  historia  do  conclave  de  176d  d*onde  sahíu  eleito 
papa  Lourenço  Ganganelli  com  o  nome  do  Clemente  Xl¥  t  é  ^lo 
um  drama,  que  apresenta  muitas  peripecias«  e  que  tem  sido  díversa- 
menle  narrado*  Para  uns  como  o  sr.  Cretineau  Joiy,  foioihealro 
das  intrigas  as  mais  baixaa  e  abjeetâs  dos  embaixadores  dos  príncipes 
cntbolíeos  e  o  da  mais  vergonbosa  corrupção  d^alguns  bomem  con* 
decorados  com  a  purpura  romana*  {•*)  Para  outros  como  oH,  Tbeiner 
na  sua  excel lente  Historia  do  pontificada  de  Clemente  XI V^  foi 
esta  uma  assembléa  venerando  convocada  n'um  dusmais  solemnes  mo- 
mentos por  que  tem  p.issado  a  tgrqa  ,  e  que  apczar  da  press^lo,  que 
d*enconlro  ás  paredes  do  Quiri nal  exerciam  os  delegados  dos  diversos 
gabinetes  catholicos  para  Ibe  extorqtjirem  um  voto,  que  fo^e  íavo- 
ravel  aos  seus  intentos,  procedeu  com  a  maior  liberdade»  e  o  escru- 
linio  que  deu  a  Igreja  um  chefe  na  pessoa  de  Gang.inelU  nau  podo 
ser  suspeito  di  menor  violencíi»,  ou  corrupção.  No  entender  d*este 
grave  autor  a  historieta  da  obrigação  assiguada  pelo  fuiuro  ponúOee 
d'eittnguir  a  companhia  de  Jesus  uao  passa  d'uma  fabula  inventada 
pela  fértil  imaginação  dos  seus  eonlraríos.  Outros  flnalmentei  como 


(')  Climeiíl  XIU  et  Cltmcnt  XIV  p^ir  Ituvipjnan  diDp.  VI  png.  íí6, 
(•*)  ViJe  Oémpitl  XIV  Hls^  Jpsuitw  i^r  CrdíacauJolj,  cliap,  111  pog 


2CB. 


112 

p  R.  Ravignân  so  ve^m  nos  roais  sérios  embaraços  tendo  de  fazer  a 
narrativa  doesta  celebre  eleiçSo,  devendo  por  um  lado  o  maior  res- 
peito para  com  a  memoria  d'um  homem ,  que  sentou-se  na  codeira 
de  S.  Pedro,  e  juIgando*se  por  outro  lado  na  necessidade  d*attenuar 
a  impressão  causada  pela  suppressào,  que  esse  pontiGce  fulminou 
contra  o  seu  instituto.  Procura  livrar-se  da  sua  critica  situação  lan- 
çando todo  o  odioso  sobre  os  cardeaes  das  coroas^  assim  chamados 
os  que  advogavam  seus  interesses ,  ou  em  razâô  dq  nascimento,  ou 
pela  residência  que  tinham  fixado  nos  seus  domínios :  c  chegando  á 
pessoa  do  papa  saúda-o  com  respeito,  mas  não  se  demora  em  fazer 
o  seu  panegyricO)  como  praticava  com  seu  succcssor  (*).  Si  fosse 
permitlido  á  nossa  inópia  emittir  um  juizo  n'uma  questão  tão  deha- 
tida,  e  a  que  tâo  hábeis  pennas  se  tem  consagrado,  diriamos  que  a 
eleição  d'um  pontitice  como  Clemente  XIV,  notável  pela  prudência, 
pela  brandura  do  seu  caracter,  n*uma  épocha  tão  calamitosa,  ó  uma 
prova  de  mab  do  cuidado  com  que  Peos  vela  pela  sua  igreja.  Nenhum 
outro  nome  no  sacro  collegio  poderia  reunir  tantas  sympalhias; 
ninguém  mais  do  que  elle  era  dotado  d'um  espirito  conciliador;  a 
mãos  mais  hábeis  não  poderia  ser  confiada  a  barca  de  Pedro. 

O  grande  acto  de  Clemente  XIV,  e  que  só  per  si  resdme  todo  o 
seu  glorioso  pontificado  ó  o  da  extincçSo  da  sociedade  de  Jesus. 
Como  era  de  esperar  foi  elle  diversamente  interpretado :  para  os 
jesuítas  e  os  seus  encomiastas  foi  um  acto  execrando:  o  papa  estava 
louco  quando  assignou  o  breve,  que  feriu-os  de  morte:  para  os 
homens  imparciaes,  para  aquelles  que  lôm  a  historia  sem  amor,  nem 
ódio,  foi  um  acto  de  grande  sabedoria,  reclamado  pelas  circums- 
tancias;  pois  que  de  modo  algum  devera  a  igreja  identificar-se  do 
lai  sorte  com  a  obra  de  S.  Ignacio,  que  confundisse  a  sua  existência 
eterna,  baseada  nas  divinas  promessas  com  a  vida  transitória  d'uma 
instituição,  creada  para  o  seu  serviço,  e  que  podia  ceder  o  posto  a 
outras,  logo  que  d'ella  se  nSo  precisasse;  e  maxime  quando  se  tor- 
nava prejudicior  pelos  abusos  que  no  primitivo  instituto  se  tinham 
introduzido. 

(•)  Vide  Ravignan— Cljmcnt  XIII  a  Clémeiít  XIV  chap,  VII. 


113 

Remcuemos  o  lêilor  curioso  pari  as  obras  apaciacs,  qiieã  tal 
respeilo  se  tem  escripto  nestas  últimos  lompos^  e  talvez  que  com  mu  is 

vfig^r  nas  occupemos  doeste  importante  episodio  da  historia  modern:i. 
For  ora  e  para  formular  o  juízo  qtiô  ^oLre  a  companhia  dúvcrnos 
pronunciar  neste  losco  o  imperfeito  Ensuío  sódiremus  que  o  grande 
poniifice  livameole  instado  pelos  governos  catholicoí!,  que  laolo 
applaiiíliram  a  »\i(\  eíeiçào,  pediu-lhftS  que  lhe  roncedossem  o  lempo 
iieçtíàSíirio  p^-^ra  o  conliecimenlo  pratico  dos  objectos,  sobre  os  quaes 
cljamnvam  n  í^m  ai  tenção  e  zelo  pastoral,  Grav^  por  sem  duvida 
eram  as  iiceus:K;õe?,  que  pesavam  sobre  a  sociedade  de  Jesus  :  cum- 
priii  ron^agrnr  algum  [empo  ao  seu  estudo,  no  exame  dos  documenlo^, 
que  de  (nJo  a  rfiri^taudDdã  se  tlie  eTuiaram*  Quatro  ânuos  foram 
n*i>5G  empregados,  durante  os  quacs  ou  viram  se  ns  mais  doutas  per- 
sonagens nacionaos  c  estrangeiras,  e  s<3  depois  de  madura  reflexão, 
quatido  se  convenceu  que  era  gera]  a  a nimad versão  contra  o$  niem- 
htm  do  instituto  de  Loyola,  e  que  conn  pi*quenas  excepçOes  todfls  as 
almas  piedosas^  todos  es  verdadeiros  e  slneeros  amigos  da  igreja, 
(ormavâm  votos  péla  «ua  suppressflo»  ó  que  decidiu-se  ea:  informata 
eonscienda  a  promulgar  o  breve  de  21  de  Julho  de  1773  em  qua 
Sé  lho  retiravam  lodos  os  privilégios  concedidos  palas  bulias  de 
I^jinlo  III  e  dos  seus  surcê5;sõres ,  declarando  ex  ti  ar  ta  a  companhia 
de  Jcsus,  e  ^us  membros  desligados  dos  votos,  que  ncltn  tinliam 
sole  m  n  e  m  en  lo  p  rií  f  er  ido  * 

Wessecek^bre  rescripto,  que  começa  poreslasplavras:  *  Dúminus 
ac  RcdemptQr  noêkr  »  o  soberano  pcntifiee»  depois  de  ter  comme- 
morado  os  exemplos  das  outros  ordens  religiosas,  qut*  pelos  seus  nn- 
tecem^res  haviam  sido  supprimidas ,  como  a  dos  lemplarius  [>or 
Clemente  V,  a  dos  humilhados  por  S.  IHo  V  etc*,  cbegaudo  as 
causas,  que  o  moviam  a  exiinguir  a  dos  jesuitas  díz  que  a  teso  o 
levava  o  amor  da  paz,  e  em  benefido  da  sociedade  cb  ris  ta  a,  que 
«ssesregulare-  linbam  agitado  pela  sua  dauirína  e  srelo  ardente  com 
qua  defendiam-na  com  notável  detrimenla  tios  intorej^scs  da  igrejt. 
Pddimas  qtie  nos  leja  concedido  o  citar  lentualmente  o  trecho  do' 

MUI  Í:^ 


114 

breve,  em  que  se  dá  a  causal  d'es^-a  decisão  pontificia»  até  para  que 
se  veja  com  que  moderação  proCfCdía  a  S.  Sé. 

«  Tot  ílaque,  ao  cam  necessária  adhibi||s  mediis,  Divitit  Spirilus, 
CL  ut  confidimus,  adjuii  praesentia  et  aíflatu,  nec  non  muneris  nostri 
«  compulsi  necessitate,  quo  ad  CliristianaBReipublicas  quietem  et 
a  tranquilliUHcm  conciliandam,  fovendam,  roborandam,  et  ad  illa 
«  omnia  penitus  de  médio  tolienda,  quas  eidem  detrimento  vel  mi- 
«  nimo  essepossunt,  quantum  vires  sinunt,  arctissime  adigimur; 
c(  cumque  praeterea  anímadverteremus  prsBdiciam  societatem  Jesu 
a  ubérrimos  illos,  amplissimosque  fructus,  et  ulililales  afferre 
«  amplíus  non  posse,  ad  quos  instituía  fuít,  a  tot  prãBdecessoribus 
a  nostris  approbata,  ac  plurimisornala  priviiegíis,  imo  íleri,  aut  vix» 
a  aut  nullo  modo  posse,  ut  ea  incolumi  manente  vera  pax  ac  diuturna 
«  ecclesia&  reslituatur;  bis  propterea  gravíssímis  adducti  causis 
«  aliisque  pressi  rationibus,  quas  a  prudenti»  leges  et  opiimuni 
«  uníversalís  ecciesi»  regímen  nobis  suppedilant,  alta(|ue  mente 
«  repositasservamus,  vestigiis  inhaerentes  eorundem  praedecessorum 
a  nostrurum,  et  prsesertim  memorati  Gregorii  Praedeces,  nostri  in 
<(  generali  concilio  lugdunensi,  cum  etnuncdesocietateagatur,  tum 
a  institui!  sui,  tum  privilegiorum  etiam  suorum  ralíone,  mendi- 
a  caniiutn  ordinum  numero  ascripla,  maturo  consilio,  ex  certa 
í  scienlia,  et  plenitudine  potestalis  aposlelicse  saepediclam  socielalem 
«  exiinguimus  et  supprimimus;  tollimus  et  abrogamus  omnía  et 
a  singula  ejusoíTicia,  minisieríaeladminislraliones,  domus,  scholas, 
<(  collegia,  hospitia,  gymnasia  et  loca  qiiaecuinquo  quavis  in  pro- 
<c  vincia^  regno  et  dilione  existência  et  modo  quolibet  ad  eam  p;r- 
a  tinentia;  ejus  slatuta,  mores,  consueludines,  decreta,  consiitu- 
m  lionês,  etiam  juramento,  conGrmaiíone  aposlulica,  aut  alias 
<í  roboratas;  omnia  item  et  singula  privilegia,  et  indulta  generalia^ 
n  vel  specialia,  quorum  tenores  praesentibus ,  ac  si  de  verbo  ad 
n  verbum  essent  inserta,  ac  eliamsi  quibusvis  formulis,  clausulis 
«c  irritantibus ,  et  qulbuscumque  vinculis  et  decretis  sini  concepta, 
c(  pro  plena  et  sufficiente  exprossis  baberi  volumns.  » 


115 

Todti  o  liomem  o  quem  nlo  cegar  o  ê^pirtto  da  ganido  verá  ms 
palavras  cuja  ik\  trAnsrrípe&a  acabamos  de  citara  bem  com*^  nas  ds 
todo  o  hreve  em  qtie^tâo  â  calma  qm  pre^^idiu  a  um  acto  de  tania 
iti^gniliidequal  aqueifti  d*3quofia  trnuiva.  Minguem  por  terlo  aere* 
diliirá  00  romance  conladô  f^elo  sr«  Crctíncau  Joiy,  @  repelido  paio 
sr  Ravignim  mmh  que  revesiidodacireumsiancíusmais  attenijante.% 
nor]rj.ilo  sancto  ftadreassigua  o  breve  fleqíie  Iraciansosctíiíi  o  lapi$ 
durante  a  notle,  e  ttumn  dasjandloê  do  Quirial  cahindo  depois 
em  (lofiquiõ  de  que  m  ^Wm  no  db  seguinte!*.*.  São  por  demais 
ridirulaii  narraçòéj^  de  ^euiíltinute  nalitrt^a  para  que  p^rcimos  nosso 
leinpo  em  refuta  b«^  e  enviamos  m  que  desejaram  ve*las  pulveri* 
fiadas  para  ajãcitacfa  obra  do  H.  P.  Tbeíner,  Aos  argumentos  do 
Babío  oratoriaiio  reÂ[tondâu  o  sr.  Cfelineáii^Joly  com  duas  carias  cm 
qu6  âbuudúm  ns  ífbisOes  pessotii>s,  e  que  mais  se  parecem  com  um 
pamphltt  do  que  com  o  eíícnptod'um  bomem  aliás  dd  muito  merilOp 
e  da  quem  se  devera  esperar  alguma  cousa  de  mais  serio. 

Para  se  vif*;^arem  da  m.'S*^  que  os  ptinia,  os  e^-josniias  nao  ro- 
eunram  púraiile  nerdium  do4  meios,  a  que  bomens  honestos  e  sobre- 
tudo ecçtesLisiicos  jamais  deitem  recorrer:  já  promovendo  Bn  hbu 
prophecíaç,  (\m  encerravam  uma  ameaça  contra  o  papa ^  como  a$ 
deTbere^  Poli,  já  ptiblícindo  uma  multidão  de  libei  los  ramosos, 
elieie«  de  negras  cjilumntas  contra  a  5.  Sé»  a  cujas  impuras  fontes 
Yan  h()je  busc^ir  os  seus  apologistas  esse  im manso  material  de  docu-^ 
mentias,  qui^  se  di/.em  tfeviíbs  a  testem tm ha s  fidedignas  e  conte mpO' 
raneas;  já  rinabnente  declarando  se  em  completa  rebelUào  contra 
AS  ordens  do  chefe  tia  igreja,  como  na  Silesia,  Polónia  e  Rossia 
Branca,  com  o  favor  de  soberanos  hereges,  ou  schísmaticos.  Para 
conjuram  sua  próxima  qmla  tinbam  implorado  a  protecção  de  Fre* 
derico  11,  que  respondeu-lbesqua  assim  como  Mo  linha  intercedido 
em  prol  do  regimento  de  Fitz  lames,  ^upprimido  por  Luiz  XV» 
também  não  queria  se  ingerir  nas  reformas  que  a  provesse  ao  papa 
fazer;  agora  lisongeavam  na  Polónia  o  amor  próprio  de  Calbarina, 
parit  tttieonirartmi  um  asylo,  onde  se  abri  gessem  contra  o  ódio  dos 
povos  e  dos  rei^,  o  d  onde  podeisem  a  seu  salvo  desobedecer  ao  papa. 


116 

Desde  o  dia  i7  de  Agosto  de  1773  em  que  fora  publicado  o  breve 
•  Dominus  ac  Redemplor  noster  »  até  o  de  7  de  Agosto  de  1814^ 
em  que  foi  solcmnemente  restabelecida  a  sociedade  de  Jesus  pelp 
papa  Pio  Vil  em  virtude  da  bulia  sollicitudo  omnium  Ecclesiarum 
tinliam-se  passado  trinta  e  um  annos,  em  cujo  lapso  graudes  e  ma- 
ravilhosos acontecimentos  tiveram  lugar.  Como  um  grande  rio  a 
revolução  franceza  dividia  as  duas  margens  oppostas,  e  ^p  ella  podia 
fornecer  plausivel  explicação  ao  que  parece  á  primeira  vista  incon- 
ciliável. O  catacjysma  popular  havia  derribado  todas  as  crenças.;  Q 
principio  d'autoridade  estava  profundamente  abalado,  nec6S$itav9-ÇQ 
de  quem  sustivesse  a  sociedade  moderna  i)as  bordas  do  abismo,  en^ 
que  ia  de^penhar-se.  Este  paradeiro  só  podia  ser  a  religião  catholica, 
mas  os  jesuítas  foram  bastante  hábeis  para  fc^er  crer. aos  povos  quQ 
a  sua  ruina  procedera  do  seu  grande  zelo  religioso,  da  defesa  que 
haviam  emprehendido  do  dogma  contra  os  ataques  da  impiedade. 
Aguardando  melhores  diqs  empregavam-se  na  Prusçin,  qa  Áustria 
e  na  Rússia  na  educarão  da  juventu  lo^  e  os  governos  d'es$es  paizes, 
que  6Ó  viam  nelles  mestres  dedicados  o  esclarecidos  continuaram  ^ 
preslar-lhes  o  mesmo,  senão  maior  f^ivor,  que  outrVa  lhes  con- 
cediam. Foi  oa  Ruisia,  que  a  pedido  de  Paulo  I,  foi  permittida  a 
conservação  da  antiga  regra  vivendo  sob  o  seu  regimen  os  padreç 
que  n*aquelle  império  haviam  oulr'ora  pertencido  á  sociedade  dissol- 
vida, com  a  condição  de  s*empregarom  unicamente  nos  trabalhos 
do  magistério  e  cntechese.  Oito  annos  mais  Uirde  em  1809  foi  a 
mesma  graça  concedida  ao  rei  de  Nápoles,  que  por  ella  instava;  até 
que  o  restabelecimento  geral  da  companhia  foi  pronunciado  por 
Pio  Vil  voltando  do  exílio,  o  julgando  pelos  symjitomas  da  reacção 
que  de  todas  as  partes  se  manifestava ,  que  a  saneia  alliança  conse« 
guira  com  seu  famoso  congresso  de  Víehna  pôr  um  cravo  no  eixo  do 
carro  revolucionário,  e  que  o  mundo  ia  retrogradar,  desenganado 
pelo  triste  resultado  das  modernas  utopias. 

Os  factos  da  historia  contemporânea  se  encarregam  melhor  do 
que  poderíamos  faze-lo  de  demonstrar  que  os  jesuítas  nada  apren^ 
deram ,  nem  esqueceram  em  sua  adversidade ,  o  que  depois  d'esta 


li 


I 


U7 

Agaâ  dura  provnç,!*)  volUirDin  nulrimlo  as  niti^imas  iJeiíis  Jo  «Jo- 
tniriio  e  Je  iltcgílima  influencia,  que  acarretaram  a  m^  e^tínn;jio. 
Longe  de  empri^niram  o  tempo  da  seu  exílio  em  se  corrigi rrri»  ilos 
seus  p.issmbs  erros,  pmctirMulo  imíiar  m  sublimes  liçues  do  tm 
sanflo  ínslituídor  dir-se-liia  que  causagraram-no  pariicuLirmeula  ao 
estudo  do  directano  d*A«juavlva»  Todcw  sabem  quo  foPiim  dleá» 
que  deram  origem  á  formação  d*u$e  partido  padre ^  qtio  (anio  con- 
tribuo paríi  lornnr  em  Ffanç,i  impopular  a  restaurarão.  Wmle  mesmo 
paií  travaram  unia  grami^i  lula  com  a  universidaíle  relativa  á  liber- 
dade do  ensino,  de  quo  agon  ko  faziam  campeOo^,  ilepóiâ  de  torem-no 
out/ora  mouopolifado*  Na  Uíssprinh.i  chaumiio^  por  Ferunudti  Vtl 
afim  traiixilifl-lo  em  suas  rneilidas  reaccionárias,  feiram  d*ena 
novamente  expulsos  em  1S20  com  o  momenlaneo  iriumplio  d*»  par- 
tido liberal;  e  no  reino  vizinho  deveram  também  a  dom  Miguel  o 
serom  reJDsriillada!^  no  seu  antigo  eollegio  de  Coimbra  ;  xmÚQ  do 
abandonar  o  reino  quando  o  seu  proieetor  eesf^ti  de  reiíinr*  Prn- 
Yoc^iram  na  Sul^ísa  a  guerra  eivil,  e  a  tljes  *e  poderá  com  vírrdado 
altribulr  tmlasas  ruinatt,  to^io  o  s.'>ngiia  inuocente  derram^ido  n*e5sa 
paíz.  Pregam  a  intolerância  na  Bdgira,  ena  Allcm^nba;e  mesmo 
em  Uoma  altrahem  lanio  contra  si  o  roj^niimento  [lopular  que  o 
pr  í  ni  e  i  ro  gri  to  do  po  vo  li  [je  ria  do  d  os  se  u  3  gri  I  b  ôes  pelo  m^i  gna  n  i  mo 
Pio  IX  é  ped inflo  a  mn  cxpul,«no,  N*cfse^  Ak\n  vçrih^mmm^  em 
que  dominou  na  cidade  do4  Ct-âarc«  e  dos  Papas  a  republica  dé 
Ma^'£Íui  o  convento  de  Gesu  escapam  tie  ^r  devorado  p^biH  cliammas 
ao  pas^o  que  to^Joá  os  outros  foram  res[>eitadoã.  lia  bUe^  em  ttulo 
isto  uma  lerrivei  fatniidode:  póilo  ser  que  iojâ  a  focietlade  de  leius 
inuocente  de  tmjâs  as  reerimtnarOas  que  contra  elb  se  diri;];t*m,  á 
que  amtií^irmb  por  uma  dolorosa  ciperiencia  tenha  íi^teira mente  ro^ 
nuuciado  o  campo  da  politica;  mas  no  m^m  fraco  entender  é  ella 
um  ooaebroui^mo  láo  grande  em  nossos  dias  c^mo  $o-lo*hía  o  re»- 
tabelecimeuto  dos  templários.  Ponhamos  aqui  tormo  á  primeira 
parte  dV^te  rápido  esboço,  e  vejimos  qtiaei  foram  &.«  ptiase*  da  sui 
enistenda  no  Brasil 


^ 


118 


II 


Nove  annos  apenas  haviam  decorrido  depois  da  formal  approvaçla 
do  instituto  de  Loyola  quando  aportaram  ao  Brazíl  os  primeiros  jesui* 
las»  acompanhando  o  primeiro  governador  geral.  Todos  sabem  que  o 
DOBO  bello  paiz  que  o  acaso,  ou  antes  a  providencia  mostrara  a  Ga- 
hrdlf  foi  nos  verdes  annos  da  sua  existência  entregue  a  especuladores, 
qoe  d'ell6  queriam  tirar  lucros  fabulosos,  e  que  se  viram  pela  maior 
parta  illudidos  em  seus  ambiciosos  designíos.  Os  primitivos  donatários 
depois  dlnuteis  esforços  renunciaram,  ou  venderam  á  coroa  os  seus 
direitos,  quando  uma  politica  mais  esclarecida  do  que  a  que  presidira 
MS  destinos  da  joven  colónia,  pensou  em  substituir  por  um  governo 
geral,  dependente  da  metrópole,  esses  governos  independentes  uns  dos 
outros,eque  com  o  andar  dos  tempos  poderia  conduzir-nos  ao  feuda- 
lismo, si  porventura  esse  golhico  legado  dos  séculos  bárbaros  podesse 
88  aclimatar  no  livre  só'o  de  Colombo.  Nfio  era  possível  que  a  socie- 
dade de  Jesus,  que  havia  tomado  por  divisa  a  conversão  do  mundo 
80  verdadeiro  culto,  deixasse  por  mais  tempo  permanecer  nas  trevas 
da  idolatria  esta  láo  importante  porção  do  novo  continente;  assim 
pois  a  instancias  do  senhor  rei  dom  João  III  apressou-se  o  P.  Simão 
Rodrigues,  superior  dos  jesuitas  em  Portugal,  a  enviar  trcs  padres, 
6  dous  irmãos  eoadjuctores ,  sob  a  direcção  do  padre  Manoel  da 
Nóbrega. 

A  exemplo  de  Xavier,  cujas  maravilho^s  arções  já  enchiam  de 
pasmo  o  mundo,  e  arrancavam  a  admiração  dos  próprios  contempo- 
râneos, tiveram  os  primeiros  membros  da  companhia  de  regar  com  o 
puor  dos  seus  trabalhos  e  tribulações  o  ef^teril  terreno  da  cathechese, 
chamando  ao  grémio  da  Igreja  a  esses  fíllios  das  palmeiras,  que  esque- 
cidos da  tradição  primitiva  tinham  qiiasí  que  de  todo  perdido  as  mais 
simples  noções  da  religião  revelada,  apenas  conservando,  como  uma 
lâmpada  suspensa  n'ababoda  da  sua  alma,  a  ideia  d'um  Deus  rcmu> 


119 

nerador  da  virtudej  e  a  eujss  peneira  nles  vistas  não  se  pode  subi  rali  ir 

À  primeira  igreja  bvantada  na  Bahia  (a  de  N.  S*  d'Ajudu)  e  por 
consequência  eni  todo  o  Brazt)  foÍ  devíJn  a  esses  intrépidos  ifiís&iona-* 
rios»  que  não  sa  ti  afeitos  de  se  consagra  reni  á  penosa  tarefa  do  aposto* 
bdo  [t'vanlavam  com  as  suas  próprias  mãos  os  templos  onde  deveram 
Sd  ci^jubrar  iis  pompas  augustas  do  chrisLÍaíusmo.  Carregaram  sâ 
[lednis;  Iam  á  ronte  buscar  agua,  largavam  o  breviário  para  tomara 
Iroiiiâ  e  a  esijuadria^  e  desciam  dos  andaimes  para  subirão  olbrondo 
celebrjjvam  o  ireniendo  mistério  eucharistico.  Jubilosos  concorriam 
m  indi^^cnas  pan  laes  trabalhos  e  cada  ym>  na  proporção  demitias  for- 
ças* i\mTu  t^imbinn  ter  o  seii  quinhão  na  g^lorioia  eíuprds^ada  civiliza* 
(âo  do  pâi£  por  via  do  Evímí^oUio.  Coitduida  n  edincnção  d*essa 
Igfffja.  Ctíderam-nj  ao  Ui-^po  dom  PadrõFern^mdes  Sardinha  e  em- 
pretii^ndi^ram  a  erecção  d 'uma  casa,  que  Ihi^s  servisse  de  cullcgio,  e 
o  deS.  Tbia'r(o  Foi  fundailo  com  o  tiuxilio  dos  moradorcf  e  príneipal- 
mente  do^  indígenas.  O  P,  liuy  Fiírt5Íra  escrevendo  aoii  seus  co n Tra- 
dos dePorttigal  assim  exprimia  o  concurso  qtie  m  naturt»es  da  torra 
prestavam  as  obras  por  eílesexnpreiíendidas: 

a  Quando  o&  primeiros  p.idrcs  foriim  fundnraeasi  (adeS.  Thiago 

•  na  fialiia)  Mm  d*ali*gria,  que  moM^rarim  com  a  sua  vinda  trouxe* 
«  ra milites  gallinhas  e  outn^^s  m^intímefitos  pura  comerem ,  e  foi 
m  tanla  a  dilí^^ncia,  qiio  puzerani  eiit  h?Aif  ã  ígrejn»  qtxeem  quatro 
i  dias  arabaram,  desoccupando-se  de  Uido  o  mai^,  até  as  mulbered 

•  limpnvnm  os  terreiros,  e  no  m^^io  if estes  arvoravam  uma  cruK,  a 

■  muiorquõero  tniidja  vid»  vi:  íi^to acabado  ajuntav^im  os  meninos 
«  e  meninas  em  casa  dos  padres  para  o^  asseniarem  em  ro),  ^em  lhes 

•  ser  feita  biri^a  alguma,  niâs  de  suas  próprias  vontades,  o  ii>an dando 

•  os  seus  piincipites,  ajuntaram-se  logo  pra  a  escola  c^nto  e  cin- 

■  foeiíta  moi;os  ihríslâos^  e  íniioccnU£Cii«to  e  quarenta  pouco  mais, 
ft  ou  iiienOi<^»  x 

Graniles  por  ^tn  duvida  deveram  &or  os  olstacutoâ  que  de  lodis  is 
partes  surgiam  e  capazes  de  desacoroçoar  a  outros  r|ue  nâo  rognem  06 
noisos  heróicos  misâionarios.  Entre  e^sm  obsta<*u1os  de  lodo  o  genera 


120 

talvez  que  nao  fosse  o  menor  a  completa  ignorância  da  língua  do  paiz; 
mas  foi  olle  cm  breve  superado  pelo  zelo  infalígavel  do  padre  Joàa 
d'AspilctíeUi  I^avarro,  que  habilítou*se  logo  para  compor  nella  as 
orações  e  diálogos  necessários  para  doutrina-los  na  nossa  fé.  Parece 
que  alé  Deus  lhes  concedia  o  dom  daslinguas  I 

A  musica,  esse  poderoso  meio  d'acçào,  era  empregado  pelos  jesuí- 
tas com  maravilhoso  resultado.  Sabiam  que  os  povos  selvagens  são 
insensiveis  a  tudo  o  que  nào  impressiona  vivamente  a  sua  imngiáa- 
çào^  que  é  por  meio  do  organismo  que  póde-se  fazer  chegar  ao  seo 
espirito  as  grandes  verdades,  precisnndo  de  certo  modo  materialisa- 
]8S  para  po-lasao  alcance  do  seu  rude  entendimento.  Antes  d'ensinar 
8  ler  e  a  escrever  aos  meninos  davam-lhes  lições  de  canto;  e  eram 
elles  poderosos  auxiliares,  qire  encontravam  os  padres  nó  seu  louvável 
intento ;  e  assim  lemos  na  Chronica  dá  Companhia  pelo  P.  Vascon- 
cellos,  «  que  os  mais  provectos  sahiam  em  procissão  pelas  ruas 
entoando  em  cantd  de  solfa  as  orações  e  mysterios  dd  fé  (*)^  » 
Celebravam  as  festas,  que  eram  em  grande  numero,  com  todo  o 
esplendor  compatível  com  a  falta  de  recursos  que  experiníientavam ; 
aGm  de  que  os  indígenas  respeitassem  pela  mageslade  externa  as 
ceremòniás  cuja  razào  escapava  á  sua  intelligencía.  Nào  duvidavam 
recorrer  ao  drama ,  pondo  em  aòção  os  mysterios  do  cátholicísmo;  já 
no  adro  das  igrejas  em  um  theatro  improvisado,  em  que  representa- 
vam indrgcnas  e  portuguezes  em  ambos  os  idiomas  e  com  todos  os 
caracteres  da  prisca  comedia,  como  s'exprime  o  senhor  Magalhães ; 
já  no  interior  dos  templos,  como  por  occasiàa  da  semana  saneia ,  em 
que  a  scena  sanguinolenta  do  Calvário  era  apresentada  com  cores  tão 
vivas  e  naturaes  que  o  espectador  dir-se-hia  transportado  á  Palestina, 
e  retrogradando  quasi  dous  mil  annos  assistir  ao  grande,  inqualificá- 
vel attentado  do  povo  deicida. 

O  zelo  dos  missionários  era  superior  a  lodo  o  elogio  :  infatigáveis 
na  propagação  da  fé  nâo  recuavam  ante  a  ideia  do  martyrio,  e  os  pró- 
prios protestantes,  como  Soullícy  na  sua  estimadíssima  Historia  do 

(•)  Vide  Chronica  da  Companhia  de  Jesus  'iv.  7  n."  93,  paj,  &5. 


121 

Brar.il,  fav^^m-lhes  a  devida  justiça.  Ouçamos  suas  palavras :  «  Tliese 
inissionartes  were  cvery  way  qualified  for  iheir  ofBcc.  They  were 
Kealous  for  lhe  salvotion  of  souls,  ihey  had  desingaged  ihemselves 
from  ali  tbe  ties  whicli  atlach  us  (o  life,  and  were  thererore  not 
merely  fearless  of  martyrJom  bui  ambilious  of  iu  »  Gomprehende^se 
de  quáo  grande  valia  seja  este  testemunho  devido  i  penna  d'um 
adversário  tâo  conspictio.  Por  fmia  degradação  da  natureza  humana* 
dirQcild^expiicar-.<:e,  aanthropophagio  era  uma  paixão  dominante  em 
muitas  tribus  dos  nossos  selvagens,  e  para  extirpa-la  não  houveram 
perigos  a  que  se  não  expuzessem  os  jesuítas,  ora  cahindo  de  surpresa 
em  uma  taba,  {*)  e  arrancavam  das  mãos  das  velhas  o  cadáver  ainda 
palpitante  da  desgraçada  victima,  que  destinavam  para  os   seus. 
satânicos  festins;  ora  fazendo  com  ospríncipcíes  uma  concordata  pela 
qual  lhes  era  permitlido  baptisarem-nas  antes  do  sacrifício ,  o  que  era 
quasi  equivalente  a  salvarem-lhes  as  vidas,    porque  uma  crença 
espalhou-se  entre  os  indígenas  de  que  as  aguas  regeneradoras  preju- 
dicavam ao  sabor  da  carne  dos  prisioneiros.  Não  era  porém  impu- 
nemente que  assim  combatiam  um  uso  arraigado  pelos  séculos,  e  um 
dia  escapou  o  primeiro  eollegio  dos  padres  de  ser  destruído  pelos 
ferozes  Tupinambás  a  não  ser  a  energia  do  governador  geral  Thomé 
de  Souza. 

Homens  habituados  aos  commodosda  vida  civilisada  achavam-so 
no  meio  das  nossas  virgens  florestas  obrigados  a  viverem  como  si 
nellas  tivessem  visto  a  luz  do  dia.  Assim  era  preciso;  cumpria  que 
se  amoldassem  aos  hábitos  do  paiz  para  que  mais  proveitosa  fosse  a 
sua  missão,  não  rcceiando  os  naturaes  da  sua  presença.  Sahindo  de 
manhSa  do  seu  eollegio  entranhavam -se  pelos  seriDes  em  busca  das 
tribus  nómadas  a  quem  annunciassem  a  Boa  Nova  (**] ,  levando 
unicamente  comsigo  o  crucifixo  c  o  breviário,  porque  até  do  sustento 
se  descuidavam,  sustento  que  aliás  lhes  oíTereciam  as  arvores  carre- 
gadas de  saborosos  e  succuientos  fructos,  e  quando  a  noite  colhia-os 

(*)  AUdas  de  selTOf^s. 
(••)  O  Evangelho, 


12á 

»Ie  improviso  ile|u)is  de  lereni  galf^^ado  ingrtMiuís  monlaniias,  alraves- 
sado  a  váo  e  muitas  vezes  a  iía»lo  as  lorrenlos  dos  dossos  caudalosos 
rios,  com  a  culis  loslada  pelo  ardente  sol  dos  lropiii)S,  ou  o  rosto 
zurzido  pelos  espinhos,  baliam  com  confiança  â  frágil  |K)rla  d'agresle 
cabana,  perlenciMnes  a  alguma  taba  escondida  em  profundo  valle, 
e  deilados  nas  inis  (*]  dormiam  tranquillos.  Outras  vezes  mudava-se 
a  scena  e  apresentava-lhes  no\o  o  desoommunal  espectáculo.  Chega- 
vam no  meio  dus  festins;  o  assistiam  ás  suas  dansiis,  ou  antes  aos 
seus  tripúdios,  e  aquelles  ouvidos  afeitos  ao  som  do  orgào  reboando 
pelas  abobadas  dos  seus  templos,  eram  feridos  |>elo  desagradável 
chocalho  dos  maracàs  (**).  Trocavam  o  pão  pela  la/nova  :  andavam 
descalços  e  vestiam-se  d'algodào :  impossivel  seria  resislir  as  palavras 
d'csses  homens,  que  tào  bem  sabiam  alliar  atheoria  com  a  pratica  : 
pregavam  a  píjbresa  o  eram  pobres,  o  desprezo  do  mundo  e  abne- 
gavam-sc. 

Tinham  porém  os  jesuítas  mais  obstáculos  a  encontrar  da  i)art6 
dos  colonos  do  que  da  dos  naturaos  do  paiz.  A  povoação  do  Brazil 
fora  entregue  ao  acaso;  e  n*essa  ópocha  ,  e  ainda  por  muito  tempo 
depois,  considerado  como  um  presidio  do  degradados,  asylo  d^homens 
perdidos,  a  quem  a  metrópole  nSo  podia  supportar  por  seus  vicios. 
Ora,  si  taes  homens  eram  temiveis  no  reino,  ondo  a  policia  podia 
vigiar  os  seus  passos,  e  reprimirem  de  prompto  as  autoridades  os  seus 
crimes,  como  não  seriam  em  uma  terra  nova,  ondo  viviam  com  a 
mais  solta  independência,  e  onde  a  acçào  das  leis  era  quasi  que  per- 
feitamente nulla.  Péssimo  era  o  systema  de  colonisar  adoptado  por 
Portugal,  consistindo  em  mandar  para  as  suas  possessões  d'alóm  mar 
os  criminosos,  os  réos  de  policia,  para  servirem  de  núcleo  á  nova 
povoação.  Uma  natureza  virgem  exigia  lambem  costumes  simples  o 
puros,  almas  virtuosas,  e  não  era  certamente  próprio  o  enviar-lhe  a 
escoria,  as  fezes  da  população  do  reino,  mas  o  reino  não  tinha 
outros  homens  para  exportar^  porque  os  cavalleiros,  os  mancebos 

(•)  Reies  d*al^o<lão, 

(**)  Iiytruroento  de  musica. 


123 

perlencenles  às  boas  ísmilias  parliam  para  o  OriciUe  a  colher  louros, 
ou  morrer  heroicamenle;  oulrts  iam  negociar,  e  sem  duvida  que 
mais  lucravam  cmbarcando-so  paro  n  Índia  e  trazendo  d*ali  os  ricos 
pToduclos  ih  seu  solo,  as  pérolas,  os  brocados,  o  marfim  já  convertido 
em  preciosos  arleractas,  do  que  virem  permutar  com  selvagens  os 
géneros  dn  Europ,  que  nâo  apreciavam,  pelas  suas  palhetas  d'oiro, 
e  por  outros  objectos  também  incultos,  e  aos  quaes  então  não  se  dava 
grande  valor.  Os  lavradores,  os  artesões  não  tinham  igualmente 
que  fazer  na  nossa  terra,  não  queriam  aquelles  expor-se  aos  rigores 
do  nosso  clima,  e  receavam  estes  não  achar  occupaçno,  e  morrerem 
á  mingoa  com  suas  familias.  Restavam  portanto  colonos,  que  nos 
não  convinham ;  mas  qtie  se  reputavam  por  felizes  trocando  o  seu 
desterro  pelos  cárceres  da  pátria,  ou  talvez  que  pela  corda  do  algoz. 
Exercea  felizmente  o  clima  (xxlerosn  influencia  sobre  o  caracter 
d'es$es  primeiros  povoadores  do  Brazil ;  modificaram,  graças  á  sua 
aci^o,  a  sua  Índole,  e  muitos  so  metamorphosearam  em  homens 
honestos  e  oxcellenles  cidadãos. 

Todavia  para  que  taes  phcnomcnos  tivessem  lugar  era  necessarip 
que  alguns  annos  decorressem ;  c  ainda  assim  não  podiam  elles  con- 
verter-se  em  regra  geral.  Haviam  muitos  corações  endurecidos, 
temperas  d*aço,  que  eram  inseusiveis  aos  primores  da  natureza  ame- 
ricana, equc  ainda  aqui  reproduziam  os  máos  hábitos  a  que  estavam 
avezados.  D'esses  homens  ó  quo  se  queixavam  os  jesuítas  cm  suas 
carias,  lamentando  que  christãos,  que  poriuguezes  fossem  mais  difli- 
ceis  de  se  converterem  du  que  os  selvagens,  que  viviam  entregues 
ás  paixões,  sem  a  mmima  noção  da  lei  de  Deos.  E  o  que  era  ainda 
peor,  alguns  clérigos,  inteiramente  esquecidos  do  seu  sancto  minis- 
tério, pregavam  com  o  seu  exemplo  e  com  as  suas  palavras  uin.i 
doutrina  opposla  á  moral  de  Christo,  da  qual  os  jesuitas  eram  pro- 
mulgadores.  *  Os  clérigos  d*esla  terra  (dizia  o  padre  Nóbrega  em 
uma  carta  mandada  d.i  capitania  de  Pernambuco  em  1551)  ten\ 
mais  o  oílicio  du  demónios  (|uo  do  clérigos;  porque  além  do  seu  máo 
exemplo  e  costumes  querem  contrariar  a  doutrina  de  Chrisio,  o 
dizem  publicamente  ao<  homens  que  lhos  ó  lícito  eslar  em  peccado 


Í2à 

com  suas  negras ,  pob  que  são  suas  escrav«is,  eque  pédeni  ter  os 
salteados,  pois  que  são  eàes;  e  outras  cousas  similhantesi  por 
escusar  seus  peccados  e  abomioaçôes.  De  iiKmeini  que  nenhum 
demónio  temos  agora  que  nos  persiga ,  senão  estes.  Querem-no3 
mal  porque  lhes  somos  contrários  aos  seus  máos  costumes »  e  nSio 
podem  soOrer  que  digamos  as  missas  de  gmça  em  detrimento  dos 
seus  interesses.  »  Era  necessário  toda  a  energia,  todo  o  zelo  d*un> 
jesuita  da  primeira  época,  pom  soperar  taes  óbices. 

A  grandeza  e  a  futura  importância  do  Braíil  não  escapou  ao 
espirito  eselarecifio  do  primeiro  geral  dos  jesuítas,  eloT&ndo-o  em 
1553  á  eath^oría  de  província  independente  da  de  Portugol  e  no- 
meando para  provincial  o  padre  Nóbrega,  tendo  por  seu  coodjucior  o 
padre  Lui2  da  Gram»  que  fora  reitor  do  oolleglode  Coimbra.  Esto 
distincto  jesuíta  embareou-se  na  frota,  em  que  veio  o  novo  governador 
geral  D.  Duarte  da  Costa,  trazendo  comsigo  seis  companheiros  e 
entre  elles  o  padre  José  d'Anchieta,  então  ainda  coadjucior  temporal^ 
mas  que  em  breve  devera  grangear  tso  grande  nomeada  pelas  suas 
acç(^  e  heróicas  virtudes. 

O  primeiro  uso  que  fez  o  novo  provincial  da  sua  autoridade  foi  o 
ordenar  a  ereeçSo  4]e  roais  um  eolJegio  nos  campos  de  Piratininga, 
que  foi  o  terceiro  que  contou  a  ordem  no  Brazil,  sendo  o  primeiro  o 
da  Bahia  e  o  segundo  o  de  S.  Vicente,  fundado  pelo  padre  Leonardo 
Nunes  e  pelo  irmão  Diogo  Jacome  no  mesmo  anno  da  sua  chegada, 
isto  é  em  1549.  Foi  o  collegio  de  Piratininga  depois  chamado  de  S. 
Paulo,  em  razão  de  ter-se  n'elie  celebrado  a  primeira  missa  no  anni*- 
versario  da  conversão  do  Doutor  da$  GenieSy  o  grande  theairo  em 
que  começou  a  ostentar-se  o  zelo  verdadeiramente  apostólico  do 
padre  Anchieta.  Encarregado  do  ensino  dos  neophylos  desempe- 
nhou de  modo  admirável  a  sua  sublime  missão,  na  falta  de  livros' 
escrevia  as  lições  cm  cadernos  que  distribuía  por  cada  alumno, 
» trabalho  insano,  que  nào  poderia  ser  emprebendido  senão  por  quem, 
como  elle ,  saeriíicava-se  pelo  próximo,  o  cujo  único  interesse  era  o 
de  ganhar  almas  para  o  céo.  Apprcndiam  ali  os  jovens  cathecbumenos, 
6  06  (í1Ik)S  dos  colonos  os  rudimentos  das  línguas  porlugueza,  Ites* 


12S 

panliolâi  latina  q  br^silk^if  chaiDQcVa  a  tingu»  gorai,  indbpí^nsaiel 
para  o  (ralo  com  os  indígenas,  íJioma  cíieía  do  doçura  o  de  Lctlenaã 
e  que  é  pena  se  deisíasse  em  comptelo  abandoDo  diipoisda  siippressão 
dosjesuitai* 

O  jri  citado  R»  SowtííDy  fallindo  dos  iraballios  do  padre  Anduíta  no 
callegio  de  Piraiininga  ser%c-se  d^eíítas  fialíivTâs:  «>  Anchiata  lauglil 
V  £atin  and  learnt  froio  ihem  the  Tupinamban,  of  whlcli  lie  compos^d 
>  a  granimar  and  vocabubryv  Ibe  Drsi  wbicf»  wcro  made.  Day  and 
«  nigbt  did  ibís  iíidefaijgabl<í  man ,  whusií  iifa,  T^útlioul  lhe  machúntjry 
«  oímtracles,  íssufllcíenil^y  bonou rabie  lo  himself  and  to  bisorder, 
«  fabour  índíácharging  Uii^dutlesof  bboflieo.  n  (*)  Parece  incrívef 
quo  depois  de  loo  árduas  funcções  qtiaes  ás  que  s'cniregava  iífca^ari- 
temente  restassa-lbe  ainda  lempo  para  compor  na  lingua  do  paiz 
remanoes,  ou  anies  bailadas  próprias  a  inspírar*Ibeâ  horror  ao  vicio 
e  eslima  para  com  a  virtude  t  tendo  lodos  por  base  a  sublime  moral 
christSâ,  e  pondo  em  musica  aâ  etorniis  verdades  do  nosso  cullo, 
IkessQ-nas  depois  cantar  pelos  meninos  índios  d'ambcs  os  sexos,  a 
quem  d'e3t'ârie  inspirava  amor  [>e!a  religião,  desenvolvendo  n'eiles  o 
natural  pendor  para  a  musica.  Conhecendo  por  etperiencia  o  quanlo 
inOub  sobre  o  homem  este  importante  ramo  das  bel  Ias  artes»  c  que 
di£ía  o  grande  e  virtuoso  padre  Manoel  da  Nóbrega :  *  com  a  musicí* 
0  harmonia  airovo^me  a  atirabira  mim  lodosos  índios d'Âmerica.  » 

O  Àposiolõ  do  NavQ  Mundo  escrevendo  ao  geral  da  companhia 
assim  descreve  a  distribuiçilo  do  lempo,  e  a  vida  activa  que  passavam 
osjesuifas:  •  Quasl  nenhuma  arte  das  necessárias  para  ocommercio 
a  da  vida  deixam  de  fazer  os  irmãos;  fazemos  validos,  sapatos 
«  principimente  alpercatas  d'um  fio,  como  cânhamo,  que  nós  outros 
•«  liramos  d'uns  cardos  lançados  n'agua ,  e  curtidos,  enjas  alpercatas 
«  pela  aspereza  das  selvas  e  das  grandes  enchentes  d'agua,  ú  necessário 
•  pasmar  muitas  vezes  por  grande  enfiara  at<*  a  cinta,  c  algumas  veies 
«  até  o  peitOj  barbear^  curar  feridoSj  sangrar»  faiei  cosas  o  coisas  do 


(*)  Vyc  tti  Sautliej  míMiry  oí  BrvU»  dka^.  IX. 


426 

«  barro,  e  oulras  siniiihnnlcs  coisas  nno  se  bu^am  fora ,  de  sorte  (jiie 
«  a  ociosidade,  nào  lem  Ingnr  nesta  casa.  (*) »» 

Por  mais  d'uma  vez  esteve  em  perigo  o  coUegio  de  Piralininga 
ihealro  de  l5o  bel  las  acções,  já  pelos  mamcZuro^,  já  pelos  indígenas 
inimigos  dos  Poriiiguezes,  devendo  sempre  a  sua  saKaçào  ao  zelo  e 
intrepidez  do  seu  reitor,  auxiliado  pelos  calliecbumenose  pelo  valente 
Tibereçá ,  cujo  nome  nos  deve  ser  i.lo  caro. 

Não  menos  admiráveis  sâi»  os  heróicos  missionários  aplacando  os 
ódios  entre  os  naturaes  o  o»  Porlugtiezes,  e  ó  com  verdadeira  vene- 
ração que  pronunciamos  seus  nomes  lembrando-nos  dos  relevantes 
serviços,  que  prestaram  à  recente  colónia.  Quando  em  i  562  os  ferozes 
Pitagoares  assolaram  a  capitania  do  Espirito  Santo,  depois  de  terem 
devastado  as  dos  llheos  e  Porto  Seguro,  quando  uma  guerra  de  exter- 
mínio, cujos  resultados  não  se  podiam  prever,  se  tinha  travado  entro 
os  colonos  e  os  selvagens,  foram  doiis  jesuítas  (Nohregn  e  Anchieta) 
que  poderam  conseguir  que  a  paz  se  celebrasse  ficando  clles  como 
reféns  nas  màos  dos  harharos,  esporando  a  c^ida  instante  que  soasse  a 
hora  do  supplicio;  altenta  a  fó  púnica  dos  primeiros  habitadores  d*esla 
^erra. 

Graças  a  uma  solicitude  superior  a  tudo  a  que  em  seu  abono  se 
poderia  dizer,  linha-so  propagado  o  clirislianismo  com  eléctrica  velo- 
cidade :  a  Bahia,  S.  Vicente,  Espirito  Santo ,  Porto  Seguro  e  Per- 
nambuco possuíam  já  collegios,  e  reducções  servidos  pelos  padres  da 
compnhia  de  Jesus. 

Exerciam  sobre  o  animo  dos  indígenas  quasi  que  illimitado  ascen- 
déhle,  porque  consideravam  os  jesuítas  como  amigos  de  Deos  e  seus 
naturaes  protectores.  Vimos  a  maneira  porque  desarmaram  aos  cruéis 
Pitagoares  fazendo  d*elles  alliadosdos  Portuguczes,  e  sempre  que  no 
meio  dos  combates,  ou  ainda  no  fervor  das  suas  rixas  apparccia  um 
(ilho  de  S.  Ignacio  serenava  este  a  atmosphera  impregnada  da  cólera 
e  do  desejo  de  vingança,  tal  como  o  iris  depois  de  proc^llosa  tempes- 
tade c  núncio  do  bonança.  A  palavra  d*um  jesuíta  era  o  mais  solido 

(•)  Vide  S.  de  Vascoiicell.   Vida  d^Ancliicta. 


Í27 

penhor  que  se  puJia  dar ;  c  assim  tambcm  era  o  uiuco  que  aceitassem 
os  (illios  das  brenhas,  amestrados  por  uma  triste  experiência  a  descon^ 
fiarem  dos  protestos  d*esses  homens  fementidos,  que  os  iam  buscar 
em  seus  longínquos  asylos  para  iraze-los  ao  povoado  oíTerccendo-lhes 
em  troca  da  sua  cre<luIidadeo  captiveiro,  ou  a  morte. 

Ninguém,  que  tenha  se  occupado  com  as  coisas  da  nossa  terra, 
ignora  que  foram  os  jesuítas  que  poderosamente  contribuíram,  já  por 
seus  conselhos,  já  pela  sua  amizade  com  os  indígenas,  para  o  iriumpho 
da  expedição  de  Eslacio  de  Sá :  lendo  anteriormente  coadjuvado  ao 
govern  ador  geral,  seu  tio,  no  nobre  empenho  de  resistir  com  as  poucas 
forças,  que  tinha  á  sua  disposição,  ao  ataque  que  os  Francezes,  com- 
mandados  por  Nicoláo  Durand  de  Villegaignon,  e  contando  com  a 
alliança  dos  Tamojos  dirigiram  contra  o  Rio  de  Janeiro.  A  fundação 
d*esta  cidade,  destinada  a  ser  a  capital  d*um  grande  império,  a  rainha 
d*America  meridional ,  foi  a  consequência  ifnmetliala  da  expulsão 
dos  invasores.  Sem  os  jesuilds,  sem  os  seus  patrióticos  esforços,  talvez 
que  os  Francezes  tivessem  permanecido  na  nossa  cidade.  O  tempo 
urgia;  D.  João  III  linha  cessado  de  existir;  eo  reinado  seguinte 
devera  ser  o  ultimo  que  contasse  Portugal  anles  do  fatal  eclipse  da 
dominação  hespanhola,  e  ó  fácil  ajuizar  si  durante  ella  poderia  o  Brazil 
liberlar-se  da  dupla  invasão  dos  Hollandezes  ao  norte  o  dos  Francezes 
ao  sul. 

As  palmas  do  martyrio  vieram  lambera  juntar-se  aos  serviços  de 
lodo  o  género  que  os  padres  da  companhia  prestavam  á  religião :  era 
talvez  preciso  que  como  no  Japão  sellassem  com  o  seu  sangue  a  pureza 
da  sua  fó.  Esla  honra  eslava  reservada  ao  padre  Ignacio  d^Azevedo, 
visitador  nomeado  para  a  província  do  Brazil,  o  que  para  ellc  vinha 
com  sessenta  o  nove  companheiros.  Jacques  Soria,  corsário  calvinista, 
conderonando  á  morte  com  satânica  frieza  a  esses  soldados  de  Christo 
julgava  ler  rarefeito  as  fileiras  do  exercito  da  cruz  quando  pelo  con- 
trario só  augmenlava  o  seu  numero  ;  porque  o  sangue  dos  mariyres, 
como  disso  Teriulliano,  ó  semente  de  chrisUíos. 

Durante  a  primeira  época  da  existência  dos  jesuítas  no  Brazil^  que 
corresponde  ao  seu  século  áureo,  praticavam  elles  tantas  virtudes, 


128 

houveram -se  com  lanla  abnegação,  que  longe  iríamos,  si  quizessemos 
fazer  o  inventario  de  todas  essas  celestes  riquezas:  além  do  que  não  é 
o  nosso  propósito  escrever  a  historia  {\o  seu  estabelecimento,  e  pro- 
gressos na  nossa  terra ,  o  que  talvez  ainda  um  dia  o  façamos  si  tempo 
c  disposição  tivermos  para  isso.  Como  porém  parece  ser  destino  da 
humanidade  o  encontrar  sempre  ao  lado  da  verdade  o  erro,  e  da 
virtude  o  crime,  uma  pagina  negra  e  borrifada  de  sangue  vem  fechar 
a  primeira  parte  dos  brilhantes  annaes  do  instituto  na  terra  de  Santa 
Cruz.  A  perspicácia  do  leitor  ter-nos-ha  certamente  prevenido  adi- 
vinhando que  queremos  fallar  do  supplído  do  calvinista  Joio  Boles, 
que  fugindo  ás  perseguições  do  Caim  d' America  viera  com  muitos 
coreligionarios  seus,  buscar  asylo  nas  povoações  portuguezas.  A  into- 
lerância e  o  fanatismo  religioso  linha  aocendído  em  Portugal  as 
fogueiras  da  inquisiçSo  :  queimavam-se  entffo  ali  nas  praças  publicas 
08  christãos  novos,  accusados  de  ser  occultamente  Géis  á  religião  de 
seus  pais,  da  qual  pela  força,  ou  pelo  temor  do  exílio,  haviam  sido 
constrangidos  a  apostatar.  Os  jesuitas  eram  bastante  esclarecidos, 
gozavam  da  mais  bem  merecida  influencia,  para  impedirem  que  na 
nossa  pátria,  onde  nem  sequer  podiam  se  dar  as  razdes  com  que  se 
procuravam  attenuar  taes  excessos  no  velho  mundo,  se  reproduzissem 
elles  com  horror  da  natureza.  Era  porém  grande  o  poder  dos  pre- 
conceitos; fatal  o  dominio  das  falsas  idéas,  que  obtigava  a  homens 
illustres  como  o  padre  Luiz  da  Gram ,  a  denunciarem  como  horege 
obstinado,  perigoso  ao  bem-estar  da  colónia,  digno  n*umd  palavra  do 
derradeiro  supplicio,  a  um  homem  cujo  tinico  erro  foi,  no  nosso 
entender,  o  não  saber  respeitar  a  crença,  a  que  não  tinha  fortuna  de 
pertencer,  provocando  perigosas  discussões  sobro  o  dogma.  Causa-nos 
ainda  mais  estranhesa  que  o  venerando  Anchieta,  o  symbolo,  a  per- 
soniGeação  da  virtude,  acompanhasse  o  réo  ás  escadas  da  forca,  e 
temendo  que  se  não  arrependesse  este  da  sua  conversão  apressasse  o 

algoz  ensinando-lhe  até  a  desempenhar  o  seu  oificio  1 1 

«  O'  caridade  admirável  e  engenhosa  (exclama  o  padre  8.  de 
«  YasQoncellos).  Bem  sabia  Joseph  que  segundo  as  leis  ecciesiasticas, 
«  iucorm  na  suspensão  das  ordens  todo  o  sacerdote,  que  accelera  a 


129 
«  €tecttçií*i  th  morte  em  qit/*k}iíeF  oreastJo ,  mr\M  qtie  morido  it 

•  en\í9^  pi?i;  fiorém  mní^  fwxlííi  com  elle  a  canJadtí  o  o  nmof,  f|ua 
4â  ile\io  no  próximo,  que  outro  qriâlquor  r^pmto  e  eomid^rârlo.  * 
O  Jornal  de  Tim&n^  oíeriplô  por  «ma  dâs  noe!!ii9  melhores  pennas 
eofiltímptjfafieas ,  citnnJo  o  irecho,  lytío  lamliom  ncabamos  de  írans- 
era  ver,  assim  m«poilde  à  íogica  sopíiUlit^a  do  biogrnpho  ji^suilí»:  **  E 

•  nasdi^oiuos:  ibominavel  fíH%íitism<i«  ijiic  t^$im  perverto  o  trans- 
«  forma  \%m  m]momrmmh\me  em  miâêravaf  n]\uh  tio  atgozT  trisfe* 
m  i  elonva  contraflrcçno  iÍo  espirito  humana!  ^h^  padr^,  (luò 
m  vditiAiii  O  pmpríf>  íisngiit*  pela  cnnversffo  tie  selvagens  cotiiboe?» 

•  Agora  o  derramam  d' um  irmão  innocente  e  quando  muito  tmns* 
«  viado,  violando  m  sua  pensos  as  lets  ^agrtidns  da  Itospilâtidadc;^  o 
«  àtan^eando-o  na  sus  hora  derradeira  com  torturas  moraes»  mah 
m  crueh  d  tmmppt^rtaveis  por  ventura  que  bs  da  corda  e  do  emello*  * 

Sejamos  porém  ^nêrosos*  ífò%  que  vtfcmoi  ri*ijm  secuto  em  que  a 
raziío  impera  ,  em  qu6  a  foeha  da  píiilosophia  csclarsce  os  ministros 
da  igtvp  nccnpàdo!^  na  mâdílaçJio  âo  Evangelho,  e  ta  ninando  o  vçodd 
í\mÊQ  reconliícimenio  sobre  os  erros  dos  primetros  dvilísaibres  da 
nossa  fKiiria,  rurvemo-nos  re*peiiíiFOS  ante  Sôoi  liimulos,  neííeâ  depo- 
íéiáAiIó  cori3»sdi^  perpetuans  t;  fia  tida  des. 

Cora  a  nwrte  d**  Nobreíía  e  d*AnchÍ€ta  lerminarAm  m  tempos 
lieroieos  d*j«  ji^siiilAS  no  Bra/íl ,  íindou  a  primeira  e  brilhante  pbsso 
éa  swa  Ivtstoria :  a  era  (íoeticii  dtnera  seguir -se  á  prosaica-  Reconhe- 
cemos qtie  duranto  o  se^uffdo  período  houveram  entro  nds  liomens 
notareis  péa  êm  piediide,  «  vercfade  ira  mento  apostólicos:  mas  0 
espirito  que  dirigia  as  acçftes  dos  padres  empalhados  pelo  no^o  Tastís* 
símo  território  nio  era  o  mesmo,  e  devem  necessária  mente  resentir-se 
«la  impuljío,  qao  lho  era  fommunieado  do  bnge-  O  provincial  do 
firtzM  d^ver»  ie^uír  3  Nnha  de  conducta,  qrit^  lhe  era  traçada  pelo 
S&nlf  «  si  •  leitor  lii^r  a  bondade  de  \oltar  BÍgymas  pa*;fnas  d'e6íft 
nome  gfflsseiro  Emai&  verá  que  a  indote  das  constiturçoes  íc  achava 
|d  0*6998  época  [irofundamente  modifrcada ,  pelos  addíta mentos  que 
nielor^m  fetíos.  Verdsde  é  que  nao  Ifies  apresentava  a  terra  de  Cabra^ 
ífgno  tKcatro  pani  a  stia  ambiçào  :  não  haviam  aqui  reis,  de  quem 
«III  17 


130 

se  fizessem  confessores,  nâo  tínhamos  politica  de  que  fossem  09 
oráculos;  mas  no  pequeno  o  humilde  scenario  escolheram  o  ppel  de 
protogonislaSy  e  na  defesa  da  liberdade  dos  indígenas  a  alavanca  da 
sua  próxima  opulência. 

Cremos  piamente  que  os  primeiros  jesuítas  que  pregaram  contra  o 
deshumano  trafico  dos  índios,  estavam  animados  das  mais  puras  e 
santas  intenções,  e  até  porque  recebiam  as  inslrucções  dos  três  pri- 
meiros chefes  da  ordem,  de  quem  formamos  o  mais  subido  conceito, 
6  tinham  por  executores  homens  zelosos  da  propagação  do  christia- 
nismo,  para  cujo  beneficio  tudo  sacnficavam ,  como  deixamos  es- 
boçado. E  como  poderiam  ser  indiflerentes  ao  escândalo  commettido 
pelos  colonos  de  reduzirem  á  escravidão  os  selvagens,  a  pretexto  de 
necessitarem  dos  seus  serviços  para  fazerem  florescera  lavoura,  a  que 
não  se  queriam,  ou  n3o  podiam  se  entregar?  Nffo  eram  as  bandeiras^ 
os  resgates  e  as  entradas  ao  sertão  um  poderoso  obstáculo  á  catho- 
cheset  Poderiam  os  indígenas  acreditar  na  fé  d'homens  que  tàa 
perfidamente  os  atraiçoavam  ?  Não,  mil  vezes  não ;  era  necessário  pôr 
um  dique  a  taes  excessos,  refrear  a  desordenada  cobiça  dos  colonos ; 
6  é  o  que  emprehenderam  os  jesuítas;  si  porém  o  seu  zelo  era  intei- 
ramente desinteressado  é  o  quo  passamos  a  examinar,  tendo  debaixo 
dos  olhos  os  mais  contradiclorios  juízos ,  para  que  d'elles  possamos 
extrahir  o  nosso,  que  oxalá  possa  ser  exacto.  Julgamo-nos  imparciaes 
n*esta  tào  celebre  e  debatida  questão ;  porque  ainda  uma  vez  decla- 
ramos, que  o  amor,  nem  o  ódio  nos  liga  ao  Instituto  de  Loyola : 
elogiamos  as  boas  acções  dos  seus  ministros  com  a  mesma  indepen- 
dência com  que  censuramos  aquellas ,  que  nos  parecem  pouco  con- 
dignas com  a  sua  santa  instituição. 

Não  penetraremos  no  intricado  labyrínthoda  legislação  portugueza 
relativa  á  liberdade  dos  indígenas  do  Brazil,  ainda  que  para  tal  fim 
possuíssemos  o  fio  d*Ariadne.  Os  S.  S.  P.  P.  Paulo  III,  Urbano 
yill  6  Benedicto  XIV*  puzeram  o  cunho  da  sua  poderosa  autoridade 
na  série  de  leis,  alvarás  e  cartas  regias  emanadas  na  corte  de  Lisboa ; 
roas  esse  mesmo  luxo  legislativo  provava  a  sua  pouca,  ou  nenhuma 
eiiicacia.  As  leis,  como  dizem  todos  os  publicistas,  devem  ser  poucas 


I 


181 

«claras,  mas  vígorosamãfitâ  executadas.  A  oallecção  de  todas  asorJe- 
nanças  sobro  esta  lào  impomntft  qul^  simples  matéria  ^  forma  sem 
duvida  um  volume  igual^^  smão  maior  do  que  o  do  eodigo  cliamado 
ún  ^'apo^eôo* 

*' As  Ids,  dir.  o  supracitado  Jornal  de  TintQn^  que  inculcando 
«  uma  larga  proiecçJo  aos  indígenas,  admittiam  comtudoo  principio 
«  funesto  da  eicra vidão,  eslaMeciam  em  certos  e  determinados  casos 
«  diversas  formulas  e  garantias  paí*íi  evitaras  injustiças,  istoé,  os 
u  CãpU veiros  chamados  i]lícilo#*  Entretanto  a  cobira  aclmva  mil  meios 
«  de  ilíudir  assas  preestiçOes,  em  verdade  quíisi  sempre  ^ã»s»  porque 
••  admiti  ido  um  principio  vicioso  e  falso  como  baso  fundamental  da 
«  legislarão  as  couâeqoenciâs  liavíam  nt^ceásariainenle  de  participar 
«  da  sua  origem.  [')  ^ 

Apegar  da  ti  hl  a  execução  das  ordens  da  metropolô  votavam  et  las 
todavia  aoscdofios  de  certo  modo  ferindo  seus  interesses,  que  li n liam 
feito  consistir  na  pusse  dos  escravos»  A  dislincçoo  de  guerra  injusta 
da  justa,  em  que  era  permittido  reduair  ao  ca  p  tive  iro  os  que  fossem 
achados  com  as  armas  nas  mílos,  era  cnsuistica^  o  abria  largo  campo 
30$  abusos  por  íafta  de  qui^m  fassti  bastante  desinteressado  para  kzt^r 
essa  apreciarão»  Os  padres  da  eoiiipanbí-i,  que  bnviam  solicitado  lae» 
providencias  da  parte  do  governo  portuguei,  eram  ainda  incumbidos 
em  grande  parte  da  sua  execu(\nO|  e  comquanto  «ligam  os  seus  brsto- 
hsdoreSt  que  as  leis  eram  [jor  eties  ^cruputos^unente  cumpridas, 
parece  que  nem  lodos  seríSo  d'csle  parecer  lendo  a  sua  pr^vpría  narração 
das  entradas  e  rtsgattin  não  poucas  vmes  ordenadas  por  arbítrio 
4os  capitães  mores,  em  que  se  eomnieitiam  pasmosos  ittenisdos: 
contra  os  qua^s  nao  recl amavam  elles  se  grande  numero  de  ÍndÍoM 
fofraê  e  de  administradm  entrava  para  as  suas  parocbias. 

Ilãvla  portam f  dir-nos-ba  alguém,  grande  vantagem  para  os  indi- 
geiíss  o  serem  mandados  para  as  missues  da  compnbia  porque  ao 
menos  ali  conservavam  a  sua  liberdade^  ao  [msm  que  eram  reduzidos 
«i  triste  sorte  de  escravos  quando  cabiam  em  partilha  aos  particularos. 


n  Vide  Jormit  d»  Timvn ,  lirr,  S.  *  secc.  4**  p«8.  *«1. 


1S2 

Cremos  que  pouco,  ou  nada  mudava -«e  a  sua  rondíçSo  si  ajunCm 
da  reiimpçãodos  captiva^  eoneedra-Utes  a  liberdade  reconbecendo 
terem  sido  apresados  em  guerra  injnsla,  e  romettia-os  para  as  aidèas 
dos  jesuítas,  afim  de  se  empregarem  no  serviço  dos  mesmos  com  o  onua 
de  ensinar-Ities  a  doulrína ,  e  cuidar  da  salvação  das  suas  almas. 
Poderemos  por  inducçflo  avaliar  do  <{ue  então  se  passava  preseneiando 
a  conducta  d'uma  grande  e  poderosa  naçàa  moderna,  quo  tem 
assumido  a  si  o  privilegio  exclusivo  da  piíilaniropía  na  nâo  menos 

^  celebre  quesléo  do  trafico  dos  Africanos.  As  commissões  miadas  ao 
principio,  e  depois  do  bitl  Aberdeem  os  tribunaes  esperiaes,  mandam 
para  as  cotonias  inglesas  os  negros  aprisionados  nos  navios  julgados 
boas  presas,  e  oi  libertos  vão  terminar  sua  existência  longe  da  pátria, 
soffrendo  todo  o  género  de  privações,  mas  tendo  Umbem  a  bonra  de 
trabalbarem  para  o  engrandecimento  da  genereãa  Albion.  Os  bomens 
sempre  foram  e  bao  de  ser  os  mesmos:  o  que  n*ei»saera  praticávamos 
jesuitas  eom  os  indios  forros  fazem  boje  os  inglezes  com  os  Africanos 

\   libertos. 

Ninguém  bojo  se  illudecom  palavras ,  moeda  falsa  da  civilisaç^o, 
lodos  querem  entrar  no  âmago  das  coisas,  e  si  é  possire!  perscrutar 
o  segredo  das  consciências.  £'  um  principio  juridico  que  o  autor  do 
crime  ó  quasi  sempre  o  que  mais  utilidade  d'olle  tira,  e  si  o  appli- 
carmos  ao  caso  vertente  poderemos  concluir  que  si  os  jesuitas  enri- 
queciam na  razão  directa  da  pbreza  e  da  quasi  miséria  dos  moradores, 
que  confiados  nos  braços  da  escravatura  abandonavam-se  ao  desespero 
quando  estes  llies  faltavam  não  era  unicamente  por  amor  da  buma- 
nidade,  e  sim  movidos  por  outros  motivos,  quiçá  menos  nobres,  que 
provocavam  os  edictos  régios»  instavam  com  os  governadores  pra 
que  ospozessem  em  execução,  augmentando  d'est'arte  o  numero  dos 
administrados  f  com  não  pequena  vantagem  das  suas  residências. 
Ouçamos  a  este  respeito  uma  testemunba  imparcial,  que  se  acbava 
muito  em  estado  de  apreciar  do  metlKHlo  seguido  pelos  padres  da 
oompanbia  pelo  profundo  estudo  que  fizera  d'este  assumpto  corro- 
borado pela  long!)  residência  n'uma  provincid.  que  talvez  mais  que 
nenhuma  outra  conserva  ainda  os  vestígios  do  dominio  d*esscb 


1S3 

regulares.  O  tenente  general  Aroucbe  na  saa  Memeria  êobre  oi 
Indioi  da  pravmeia  de  S.  Pauh  no  anno  de  1798 ,  assim  so 
exprime :  «  Os  Índios  das  Cssendas  jesiiitícas  tinham  uma  liberdade 
«  imaginaria,  porque  eltes  eram  tratados  com  a  mesma  sujeição ,  o 
«  mesmo  aperto,  e  a  mesma  obediência  que  o  resto  dos  escravos, 
a  Accrescia  além  d*isto  o  systema  de  os  ter  sempre  separados  do 
«  commum  dos  homens  para  nunca  poderem  ser  desabusados,  d^ 
«  os  casarem  com  pretos  e  pretas  escrayas,  baplisando  os  filhos  como 
9  servos.  »  (*)  Interroguemos  ainda  outra  testemunha  qualificada, 
e  prestemos  summa  attenção  ao  sen  depoimento.  Paliando  acerca  das 
admiuisíraçõei  que  qualifica  d'uma  modificação  no  nome  carac- 
ieri$tÍ€o  de  capíiveiro  um  illustre  brazileiro,  assaz  conhecido  por  seus 
esoriptos,  serve*se  doestas  palavras:  «  Accumulavam  elles  (os  padres 
«  de  todos  as  ordens,  e  principalmente  os  jesuítas)  os  dous  poderes, 
«  e  então  a  sorte  dos  índios  era  mais  deplorável,  sua  sujeição  mais 
«  restricta,  seus  trabalhos  mais  vexatórios  e  duplicados;  por  isso 
«  que  o  mando  nSo  era  partilhado,  e  de  taes  animosidades  não 
«  haviam  testemunhas  que  ousassem  revela-las.  (**)  » 

Ainda  mesmo  admittindo  que  haja  exageração  no  juizo  eroittido 
por  tffo  oonspicuas  authorídades  supporoos  que  os  jesuítas  não 
poderSo  ser  inteiramente  absolvidos  de  terem  por  sua  ambfção 
excitado  os  moradores  aos  lamentáveis  excessos,  a  que  se  entregaram 
contra  elles  nas  capitanias  de  S.  Vicente,  Rio  de  Janeiro,  Pará  e 
Maranhão.  Profundo  devera  ser  o  ódio  de  que  eram  objecto  os  pad  res 
para  que  fizesse  esta  tão  grande  explosão  em  pontos  tão  distantes  entre 
si,  6  sem  que  para  isso  houvesse  a  menor  combinação. 

Diz- nos  o  sargento  mór  Pedro  Taqnes  de  Paes  Leme  na  sua 
Noticia  Bistorica  da  expulsão  dos  jesuítas  do  collegio  de  S. 
Paulo  y  que  os  moradores  d'e8sa  capitania  depois  de  terem-nos 
hneado  fora  das  suas  casas  na  manhãa  do  dia  13  de  Julho  de  1640 
dirigiram  a  el-rei  D.  João  IV  uma  representação  contra  os  jesuítas  em 

(•)  Vide  Rev.  Trim.  do  Inst.  Hisl,  e  Geog.  Br.  tom.  4.  *» 
(**)  Vide  Not.  Racion.  sobre  as  Aid.  d*Ind,  da  Prov.  de  S.  Paulo  pelo  Brig- 
Machado  d'01i?r.  inserta  no  tom.  8.**  da  Rev.  do  Inst.  Uist*  e  Gepgr.  Br. 


13i 

que  se  qíuixavam  qtie  estes  regulares  monapolisavam  o  serviço 
dos  Índios  com  grave  damno  dos  moradores,  que  se  viam  pri-^ 
vãdos  d'elles  para  o  serviço  da  sua  lavoura  e  mineração .  no  que 
íambem  prejudicavam  a  fazenda  real  com  a  perda  dos  quintos, 
Poderam  neulralisar  pola  sua  immensa  inOuencia  em  Lisboa  o 
effeito  que  ali  necessariamente  produziria  táo  grave  accusaçfio  e  pelo 
alvará  de  3  de  Outubro  de  1643  ordenava  el-rei  que  lhes  fossem 
resliluidos  os  seus  coUegios,  continuando  as  aldeias  a  serem  por  elles 
administradas ;  pois  que  mais  ganhava  o  Estado  (dizia  o  referido 
alvará}  que  as  aldeias  fossem  administradas  por  esses  padres^ 
que  o  faziam  de  graça  do  que  por  sacerdotes  seculares ,  que 
vindos  de  fôra^  por  força  haviam  de  tirar  o  seu  sustento  do 
trabalho  dos  Índios.  As  ordens  regias  encontravam  porém  grande 
opposição  da  parte  dos  moradores,  e  só  com  a  promessa  de  ampla 
amnistia  a  todos  os  comprehendidos  na  sedição  de  1640,  que  lhes 
assegurava  o  alvará  de  7  de  Outubro  de  1647»  é  que  entraram  os 
jesuítas  na  posse  mansa  e  pacifica  das  sua  casas  e  aldeias  d'onde 
estiveram  ausentes  por  espaço  de  treze  annos  (*). 

No  Rio  de  Janeiro,  paiz  clássico  da  paz ,  que  lhe  assegura  a  Índole 
pacifica  dos  seus  naturaes,  rebentou  também  um  motim  popular 
n'esse  mesmo  anno  de  1640  em  que  tivera  lugar  o  de  S.  Paulo  por 
occasiSo  de  querer  o  padre  Francisco  DiasTanho,  procurador  dos 
índios  do  Paraguay ,  publicar  a  bulia  de  6  de  Março  de  1638,  em 
que  se  fulminava  a  pena  de  excommunhio  contra  os  promotores  e 
fautores  da  escravidão  dos  indígenas.  Sem  a  intervenção  do  gover- 
nador Salvador  Correia  de  Sá  e  Benavídes ,  ajudado  por  seu  primo 
D.  Jofio  de  Avaios  e  Benavídes,  capitão  da  infantaria  da  praça,  o 
povo  irritado  teria  arrombado  as  portas  do  coliegio  dos  padres  da 
companhia ,  e  talvez  attentado  contra  as  suas  pessoas.  Atemorisados 
assignaram  a  escriptura  de  22  de  Junho  de  1640  pela  qual  desistiam 
da  promulgação  da  bulia,  e  obrigavam-se  a  respeitar  o  statu  ftio, 
sem  duvida  protestando  em  segredo  contra  sinrilhante  acto,  que  lhes 

(*)  Vide  Rev.  Trim.  do  lost.  Hisl.  e  Geog.  Br.  tom.  12.o 


135 


I 


I 


ODCAilii  pela  violência,  e  .iguarJando  dias  mo  is  serenos  para 
eiigireiíi  inipep tosa  m€í lie  u  sua  revogação  (*J. 

Em  parttí  alguma  lomou  fôla  lula  propíjrçôes  mais  colossaes  do 
qtiâ  no  M^tranHfío  &  P^rá,  onde  um  grande  homem  sâ  pÔ£  á  íâsta 
d*âUa.  IriconlefitavúlmÊiite  o  padr^  António  Vieira  era  a  alma  dos 
jdsuiias  do  seu  tempo  tanto  no  Brazil,  eomo  ainda  âm  PorUigal ;  o 
eentro  pnra  o  qual  coíivergiam  todos  os  raios;  a  cabeça  cnc^rrogi^di 
dú  pensar  por  todos.  Como  lodos  os  homans  cônscios  da  sua  supe* 
rio  ri  d  ade  era  die  ambicioso  ^  queria  S4^mpre  representar  g  prímoiro 
pap^t,  ou  em,  Lisboa  sentado  nos  conselíjos  da  coroa,  ou  na  Hollandn 
como  fino  e  dextro  diplomata»  ou  no  Maranhão  como  fautor  da 
liberdade  dos  indigenas.  Com  a  mesma  facilidade  com  que  pregava 
dia n la  do  chefe  vísivel  da  igreja  faiia  ouvir  a  sua  eloquente  wi  nm 
margens  do  autocraia  dos  rios,  convertendo  os  selvagens  Nhein- 
gshibas*  Possuía  uma  d'essas  maravilhosas  organisaçoes,  quo  nunca 
podem  estar  ociosas:  para  elle  o  movimento  era  a  vida;  amava  a 
discussão  e  chegava  a  desejar  as  contrariedades.  Era  u'uma  paia  vra 
um  varão  e)itraordinario ,  talvez  mesmo  que  demasiado  grande  para 
o  mesquinho  plco«  que  lho  ofTereciam  estas  longinquas  e  quast  qud 
esquecidas  terras  do  Brazil 

Por  motivos,  que  não  ciaminaremoi  n'€sto  lugar^  deÍ!cou  o  padre 
António  Vieira  o  posto  elevado^  qoa  oceupava  na  çòrto  para  vir 
exorcor  o  do  superior  da  sua  ordem  do  estado  do  Maranhão.  Seu  zelo 
levou-o  á  cidade  de  Belém,  cujo  collegto  acabava  do  sar  Tutidado  sob 
a  invocação  de  S,  Abxaudre,  o  ahí  clamando  com  a  sua  costumada 
franqueza  contra  os  vicios  dos  moradores,  principalmente  contra  a 
sua  desmarcada  cobiça,  accumutando  ímmensas  riquezas  á  custa  das 
lagrimas  dos  mi^ro®  itidios,  mostrou^e  disposto  a  tornar  effeclivas 
as  ordens  regias  relativas  á  liberdade  d'€9ses  d^sgra^dos,  o  que  lhe 
íóra  mui  particularmente  rccommendado  por  el-rci  D,  Joio  iV, 
espocialmcnto  na  sua  carta  de  âl  de  Outubro  de  1652.  Por  esse 
celebre  documento  conforta  o  piedoso  monarcha  lusitano  ao  primeiro 


f*)  \iã0  Annao  4o  Aio  de  Jánetm  fior  UslUK  fU  Silrii  Lbboa,  tom*  S,« 


iSô 

je^iu  (Ia  seu  reino  poderes  qnasi  quo  discriciooaríos,  esperanJo 
que  este  empregasse  com  íructo  na  nunca  assaz  louvayel  obra  da 
propagâçâb  da  fé.  N'ell6  so  léia  estas  notáveis  palarras....  «  vos 
«  encommendo  a  continuação  da  propgaçia  do  Evangelho,  qse  vos 
«  leva  équeUas  partes  eque  para  isso  levanteis  as  igrejas »  que  vos 
«  parecer  nos  lugares,  que  para  isso  escolherdes ,  e  façais  as  missões 
«  do  aeniOy  que  Tiverdes  por  mais  convenientes ,  ou  por  mar,  ou  por 
M  terra»  ou  levando  índios  comvoseo,  descendo-os  do  sertão,  ou 
«  deixando  os  em  suas  aldeias,  como  julgardes  por  mais  necessário 

•  á  sua  conaervaçSo,  que  de  tudo  terei  grande  contentamento  pelo 
«  muito  que  desejo  quo  aquellas  terras  se  cultivem  com  a  nossa 
■•  santa  religião,  e  para  melhor  o  conseguirdes  ordeno  aos  gover- 

•  nadores»  capUSes  nóres,  mÍBistros  de  justiça  e  guerra,  capitães  de 
«  fortalesaa^  camarás  e  povos  vos  dém  toda  a  ajuda  e  favor,  que 
«  pedirdes,  assim  de  indios,  canoas,  pessoas  praticas  na  terra  e 
«  linguas,  cómodo  mais  que  vos  fòr  necessário  para  o  que  lhes  raos- 

•  trareia  esta,  ou  copia  d^ella^  que  guardarão  inviolavelmente  como 
%  fi*eUa  se  contém ;  e  fazendo  o  contrario  me  dareis  logo.  conta  para 
«  mandar  proceder  contra  os  que  assim  o  não 'fizerem  como  me 
«  parecer  de  justiça.  » 

Longe  de  obedecer  ao  que  lhe  era  tão  formalmente  ordenado  pelo 
soberano  requereu  á  camará  de  Belém  pdo  órgão  do  seu  procurador 
para  que  se  lançassem  fora  os  religiosas  da  companhia,  pretextando  a 
sua  oppoeição  ao  oonunercio  dos  indigenas,  e  muito  maior  foi  a 
indignação  d^aquelles  povos  quando  havendo  obtido  da  metrópole  a 
provisão  regia  de  17  de  Outubro  de  Í6â3>  que  permiítia  pode- 
rmn-ie^  fazer  eícrauis  oa  indigenas ,  que  houvessem  u  alliado 
com.  oê  múm^os,  gue  exercitassenv  laírocinias  por  mar,  ou  p&r 
terra,  qu%  reeu$as9em  pa^ar  os  tributas »  não  obedecessem  ao 
chamado  para  o  serviço  ou  para  pelejar  com  os  inimigos :  ou- 
irosim  os  fita  comessem  canu  humana,  sendo  dt  vassalios  reaes, 
viram  os  seus.  esforços  baldados  pela  vigorosa  resislenda  cpie  oppu^ 
zeram  os  jesuítas  á  promulgação  de  semilhante  ordenança,  que, 
diziam  elles^  ia  abrir  largas  portas  para  toda  a  daase  de  aèusos;  e 


137 

tendo  por  esse-  motivo  emprehendido  o  padre  António  Vieira  uma 
viagem  a  Lisboa  alcançou  a  completa  revogação  d'ella. 

Havia  da  parte  dos  jesuítas  trop  dt  zêU^  qui  e$t  toujourt  nm- 
sible  na  pbrasedo  famoso  Talieyrand;  e  da  dos  colonos  excessivo 
amor  do  ganho  e  das /iquezas,  pouco  se  importando  com  os  meios  que 
para  esse  fira  empregavam.    Ambas  as  parcialidades  talvez  que 
quizessem  a  mesma  cousa,  isto  é,  maior  numero  de  índios,  ou  a 
titulo  de  administrados  t  ou  do  de  escravos,  para  fazer  medrar  as 
suas  lavouras  nSo  concordando  porém  no  modo  pratico  de  realísarem 
suas  pretenções.   D'esta  divergência  originou-se  a  luta,  que  ora 
assignalamos ,  terminada  no  Pará  pela  expulsSo  do  padre  Vieira  e 
dos  seus  companheiros  do  collegio  de  Belém ,  sem  que  Ibes  podessa 
valer  o  governador  D.  Pedro  de  Mello,  remettendo-os  presos  para  o 
Maranhão,  onde  não  menos  cruelmente  foram  tratados,  sendo  man- 
dados para  Portugal  em  um  patacho  que  d*alí  seguia  para  esse  reino. 
Semilhante  procedimento  foi  altamente  censurado  em  Lisboa  e  a 
carta  regia  de  18  de  Outubro  de  1663  ordenava  que  lhes  fossem 
restituídos  os  oollcgios  e  mais  casas,  que  possuíam  nas  referidas 
capitanias;  mas  ají,  bem  como  em  S.  Paulo,  só  um  completo  perdfo 
e  esquecimento,  igual  ao  que  lhes  assegurava  a  pro\isâo  de  13  de 
Setembro  do  mesmo  anno,  podia  serenar  os  ânimos,  ainda  exces- 
sivamente irritados,  e  permittir que  podessem  voltar  ao  lugar  donde 
haviam  sido  expulsos  (*). 

Não  estavam  porém  de  tal  modo  reconciliados  com  os  moradores 
que  nSo  tivessem  de  temer  o  seu  reseniimento ,  e  o  movimento 
popular  capitaneado  por  Manoel  Beckmann,  mostrou-lbes  o  que  deviam 
esperar  da  parte  de  homens  a  quem  constantemente  feriam  nas  suas 
mais  caras  affeic^es,  que  todas  se  cifravam  nos  seus  interesses  e  bem- 
eHar  pecuniário.  Foi  ainda  preciso  que  viesse  em  seu  socoorro  o 
braço  secular,  e  que  o  governador  do  estado  do  Maranhão  Gomes 
Freire  de  Andrade,  punindo  severamente  os  cabeças  da  ^içãe, 
pocesse  termo  a  tso  lastimáveis  discórdias  (**). 


n  Vide  Berredo  Ano.  do  Maraahio  livros  XV  t  XVI. 
(^)  Vide  Bamde  Abb.  do  Marimbio  livro  XVUI. 


áS 


as 

o  padre  António  Meira  tinha  comprehtfndido  maravilhosamente 
o  princípio  jesuítico  do  sacrifício  d*om  em  favor  de  muitos;  assim 
pois  desejava  o  augmento  ih  ofdem,  a  sua  preponderância,  que  não 
podia  resultar-Ihe  no  Brazil  senio  dos  grandes  cabedaes,  que  tivesse 
ajuntado ;  porque  nos  paizes  hovos,  e  principalmente  nas  colónias  a 
plut^/oracia  exerce  a  maior  ihfluehfcia  na  falta  de  toda  outra  dis- 
tincção.  Era  ainda  preciso  que  as  frotas  annuaes  levassem  aos  grandes 
armazéns,  que  à  companhia  possuia  em  Lisboa,  os  géneros  do  nosso 
paiz,  para  qué  o  tôU  voto  nãò  deixasse  dé  fazer  pender  para  seu  lado 
á  balança  politica  do  estado.  Permittidos  aos  moradores  os  descimentos 
é  entradas  M  sBftáo  estariam  estes  habilitados  a  fazer  concúrreficia 
áos  jesuitas  nli  exportação  do§  pfoduetois  éoloniaes,  que  produziam  as 
àtJãs  mfèÈÔes  è  pátúchiai,  servidas  por  ihdios  forrós  submetiidos  a 
uma  admirável  dlséiplina. 

Julganrios  poder  âssim  explicar  a  conducta,  a  primeira  vista  con- 
tradictoria,  do  padre  António  Vieira.  Individualmente  tomado  era 
elle  do  maior  desinteresse,  dirômos  fnedmo  da  mais  completa 
abnegação :  o  seu  historiador  André  de  Barros  pinta-nos  este  homem 
illustre  encerrado  na  cella  estreita  e  nua  do  seu  collegio ,  despo- 
jando-so  da  roupa  e  moveis  os  roais  indispensáveis  para  acudir  á 
pobreza  e  por  vezes  reduzido  a  dormir  n*uma  esteira  de  tabúa  em 
V62  de  cama,  vestindo  uma  roupeta  esfarrapada  de  panno  grosseiro 
tinto  na  lama,  e  calçando  sapatos  de  pelle  de  poróo  inontez.  A  mesma 
parcimonia  usava  na  comida  e  bebida  e  não  raramente  privava-se  da 
côa  para  manda-la  de  presente  a  alguma  familia  necessitada  {*),  A 
sua  ambição  era  unicamente  em  prol  dó  seu  instituto;  para  si  só 
queria  a  gloria:  anhelava  que  se  fallasse  no  seu  nome,  e  a  miudó 
ekicárregava-sô  6llé  mesmo,  á  exemplo  de  CicerO,  de  fazer  a  longa 
enumeração  dos  serviços. 

Longo  e  porfiado  fora  o  litigio,  e  ambos  os  contendores  extrema- 
ínente  cansados  suspiravam  pelo  repouso ;  mas  este  impossivel  era 
para  o  jesuíta  antes  do  triumpho.  Conseguiram-no  completo^  ao 

(•)  Vide  André  de  Barrw  tohi.  !.•  cap,  XXV. 


130 

manos  por  algum  tempo;  e  os  colonos  perddndo  a  esperança  de  terem 
escravos  indios  voltaram  as  suas  vistas  para  a  costa  d^Africa,  como  já 
lhes  tinha  lembrado  o  virtuoso  dominicano  I^s  Casas  e  fizera-o  depois 
o  padre  António  Vieira,  offerecendo  ao  governo  um  plano  para 
mandar  vir  escravos  por  conta  do  estado  distribuindo-os  depois  pelos 
moradores  gratuitamente,  como  o  único  meio  de  remediar  a  falta  de 
braços,  que  já  então  se  fazia  sentir.  Deplorável  cegueira  d*um  espirito 
aliás  tão  íltuslrado,  que  não  duvidava  aconselhar  que  se  fizesse  n'Africa 
um  trafico,  a  que  com  tanto  afinco  se  oppunha  n'America ! 

Ficou-lhee  portanto  livre  a  administração  dos  indios  forros ;  e 
para  ass^urar  a  sua  posse  privativa  obtiveram  da  curte  prohibição 
expressa  de  penetrar  quem  quer  que  fosse,  sem  vénia  sua,  nas  aldeias, 
que  lhe  eram  confiadas ,  a  titulo  de  não  irem  os  colonos  corromper 
a  moral  simples  dos  indígenas  afastando-os  dos  seus  costumes 
patriarcbaes.  Quem  se  tiver  dado  ao  trabalho  de  compulsar  os  nossos 
annaes  recordar-se-ba  das  contestações  suscitadas  por  estes  regulares 
eom  os  religiosos  das  outras  ordens,  mercenários,  capuchos  e 
carmelitas,  que  como  elles  se  occupavam  do  trabalho  da  cathechese. 
As  aldeias,  que  estes  últimos  haviam  fundado  nas  mfirgens  do  Kio 
Negro  por  ordem  do  governador  Luiz  do  Vasconcellos  Lobo,  foram 
de  curta  duração  e  tiveram  seus  administradores  de  retirar-se  por 
não  poderem  mais  resistir  á  guerra,  que  lhes  faziam  os  seus  rivaes,  os 
jesuiias. 

O  metbodo  por  elles  adoptado  no  regimen  das  missões  do  Paraguay 
era,  com  algumpis  modificações,  seguido  entre  nós.  Tinham «  como 
ali 9  a  suprema  inspecção  das  aldeias,  que  eram  governadas  por 
maioraeê^  e  a. cada  chefe  de  familia  assignava-se  o  terreno  que  devera 
cultivar,  para  com  o  prpducto  do  seu  irpbalho  sustentar-se  a  si,  e  aos 
seus.  Kâo  ibes  era  porém  permittido  alienar  uma  parte  dos  seus 
reditos,  que  eram  applicados  ás  deiçpezasçommuns  arrecadadas  pelos 
pdres,  que  lambem  inspeccionavam  a  permuta  dos  géneros  da  terra 
com  as  mercadorias  estrangeiras,  quç  abi  iam  fazer  os  mascates,  depois 
de  competentemente  aulhorisados.  O  registo  dos  indios  rorro>  era 
remettido  todos  os  dous  aunos  ao  governador,  firmado  com  o  juramento 


êas  missionários,  •  deíf  arte  podiam  elles  saber  do  numero  de  bomei» 
com  que  deviam  conlar  para  oserviço  regio,  a  que  lodos  eram  obri- 
gados por  espaço  de  seis  mezes,  ficando  o  resto  do  tempo  disponível 
para  se  empregarem  na  lavoura,  ou  n'oulros  quaesqucr  serviços,  que 
resultassem  em  proveito  seu,  ou  ainda  maior  do  dos  sous  tutores  (*). 
Ao  escambio  dos  géneros  coloniaes  pelos  vindos  da  metrópole 
chamavam  os  jesuítas  permuta ;  porque  sendo  o  coinmercio  defeso 
pelos  cânones  aos  ecciesiasticos,  proscreviam  a  palavra,  que  poderia 
escandalisar  aos  ouvidos  pios,  e  conservavam  a  cousa  em  toda  a  sua 
pureza,  e  sem  mudança  alguma  na  essência.  A  esta  origem  podemos 
atlríbuir  as  colossaes  riquezas  da  companhia  entro  nós ,  maxime  si 
reflectirmos  que  nâo  tinha  ella  concurrenles  para  o  commercio,  que 
em  larga  escala  fazia ;  sem  que  seja  necessário  dar  credito  ás  lendas 
populares ,  que  nos  pintam  os  padres  sentados  á  cabeceira  dos  ricos 
moribundos,  aterrando  a  sua  timorata  consciência,  e  apontando-lhes 
como  o  único  meio  do  se  reconciliarem  com  Deus  o  de  legarem  todos 
os  seus  bens  em  beneficio  dos  collegios  e  mais  casas  do  instituto.  Si 
semilhantes  abusos  foram  praticados  uma,  outra  vez,  por  este,  ou 
aquelle  jesuita,  não  podia  ser  uma  regra  adoptada  por  toda  uma  classe 
de  homens  illustrados,  que  deviam  assaz  respeitar  a  sua  dignidade 
para  lançar  mão  de  meios  tão  vergonhosos,  e  que  quando  conhecidos 
redundariam  em  prejuizo  seu.  Cétait  pis  qu'un  crimes  c'itait  unt 
fautCj  como  dizia  o  já  citado  Talleyrand. 

E'  ordem  da  natureza,  que  a  borrasca  preceda  a  calma;  assim 
gozaram  os  jesuitas  alguns  annos  da  mais  profunda  paz  antes  que 
contra  elles  se  forjassem  as  armas ,  que  deveram  derriba-los  do 
pedestal  em  que  se  criam  seguros.  Esses  dias  serenos,  que  o  céo  lhes 
concedia  foram  empregados  na  edificação  e  embellezamento  das  suas 
igrejas  e  collegios;  onde  nao  empregaram  artistas  estranhos,  nSo 
mandaram  vir,  o  que  lhes  seria  tfld  fácil,  pintores,  estatuários, 
archilectos,  etc. ;  mas  desenvolvendo  o  gosto  e  o  natural  talento  dos 
indígenas  faziam-nos  aprender  com  os  seus  consócios,  que  se  avan- 

(*)  Vide  Stttthey  History  of  Brazil  tom  III,  chap.  XXXIIL 


141 

tajavam  nas  artes  liberacs,  aquellasque  mais  necessárias  julgavam 
dever  ser  transplantadas  para  a  America.  E'  d'est*arte  que  se  ergueram 
os  magniGcos  templos  das  missões  do  Uruguay  hoje  em  ruinas, 
graças  á  nossa  indolência ,  ao  desprezo  a  que  votamos  as  nossas 
cousas  para  ir  com  insensato  enthusiasmo  dar  duetos  a  peregrinas  e 
quiçá  mesquinhas  obras.  Sobre  o  culto,  que  reqdiam  os  jesuitas  às 
bellas  artes,  sobre  o  modo  por  que  n'ellas  iniciavam  os  naturaes  do 
paiz,  ouçamos  o  juizo  d*um  var9o  tão  notável  pelas  suas  luzes,  como 
pela  sua  alta  posição.  «  Si  pois  os  jesuitas  exerciam  ,  cultivavam  e 
«  professavam  as  artes  liberaes  ou  mechanicas,  mui  natural  óque 
«  encontrando  n' America  um  tào  grande  numero  de  sujeitos  aptis- 
«  simos,  e  direi  sem  receio,  dotados  mui  particularmente  pelo  autor 
•  da  natureza  i  com  talento  especial  para  as  artes ,  procurassem 
«  instrui-los  n'es8as  mesmas  artes ,  tanto  mais  quanto  era  esse  um 
«  meio  efficacíssimo  de  domesticar  e  cívilisar ,  de  fazer  christàos  os 
t  bárbaros  indígenas  do  continente  americano.  [")  » 

Entregavam-se  também  com  zelo  admirável  á  educação  da  mo- 
cidade; e  foram  elles  os  mestres  dos  beneméritos  brazileiros  cujos 
escríptos  formam  a  nossa  litteratura  nos  séculos  XVlI  e  XVIIL  Se- 
riamos ingratos  si  nffo  reconhecêssemos  os  importantes  serviços  que 
estes  regulares  prestaram  á  noesa  terra,  no  numero  dos  quaes  occupa 
distincto  logar  o  ensino  disvellado ,  que  davam  á  nossa  juventude. 
As  aulas  dos  jesuitas  eram  as  únicas ,  que  então  existiam  no  aban- 
dono completo  em  que  deixava-nos  vegetar  a  metrópole ;  e  os  moços 
talentosos  encontravam  n'elles  mestres  eruditos,  que  sem  pedantismo 
abriam-lhes  as  portas  do  templo  das  sciencias.  Aqui  no  Rio  do 
Janeiro  ensinavam  gratuitamente  grammatica  latina,  pbilosophia, 
iheologia  dogmática  e  moral  além  das  mathemalicas  elementares ,  de 
que  eram  summamente  apaixonados,  e  conferiam  aos  seus  alumnos , 
quando  terminado  o  curso,  o  diploma  de  mestre  em  artes,  que  era 
entfio  mais  estimado  do  que  é  hoje  do  doutor  em  qualquer  faculdade. 
Na  Bahia  possuíam  as  mesmas  aulas,  com  additamento  da  de  rhetorica, 

(*)  Vide  Rev.  Trím.  do  In&t.  II,  e  G.  B.  tom.  4,<  Prog.  dcsenv.  pelo  scnr. 
Desemb.  SUva  Pontes. 


1A2 

6  nas  outras  partos  do  Brazil,  onde  existiam  coliegios,  ou  aioda 
simples  hospícios,  era  o  ensino  das  primeiras  letras  e  o  da  grammaiica 
latina  franqueado  sem  o  menor  ónus  para  os  pais  de  família.  Accu- 
sa-se  aos  jesuítas  (sem  duvida  para  diminuir  o  tributo  da  gratidão 
que  por  tal  titulo  lhes  devemos  pagar)  de  attrabirem  ao  grémio  da 
sua  sociedade  aquelles  dos  seus  alumnos  quo  mais  talentosos  e 
applicados  se  mostravam ;  mas  essa  propaganda,  si  por  ventura  exisúu , 
a  julgamos  nós  innocente;  todos  desejam  fazer  entrar  para  a  &uíi| 
corporação  homens  capazes  de  ennobrece-la ;  e  os  jesuítas  no  Brazil 
deveram  recrutar  nas  fileiras  dos  seus  discípulos  os  que  tinham  da 
succeder-lhes:  e  é  fácil  de  comprehonder  que  não  convidaríamos 
roais  rudes,  porém  os  mais  hábeis :  pensamos  todavia  que  não  em- 
pregavaiQ  elles  meios  reprovados  para  alliciarem  inexpertos  e  incautos 
mancebos. 

Havia  o  século  XVIII  chegado  ú  metade  da  sua  carreira  quando 
sobreveio  um  acontecimento  na  apparencia  insignificante,  mas  que 
veio  profundamente  exacerbar  o  ódio,  que  contra  os  jesuítas  nunca 
fora  de  todo  extincto  no  Brazil,  odío,  a  que,  como  dissemos,  linha 
dado  causa  às  suas  longas  contestações  áeerca  da  liberdade  dos  indiosi 
e  que  era  sempre  alimentado  pelo  ciúme  do  monopólio,  que  exerciam 
sobre  os  gcncros  eoloniaes  nos  mercados  de  Lisboa  e  Porto ;  assim 
como  pela  inveja  que  inspiravam  as  suas  extraordinárias  riquezasw 
Referimo-nos  ao  tratado  de  limites  celebrado  entre  os  gabinetes  de 
Lisboa  e  o  de  Madrid  aos  treze  de  Janeiro  de  1750,  n^ociado  com 
o  Cto  de  pòr  termo  ás  usurpações  de  território,  que  as  colónias  trans- 
atlânticas mutuamente  se  faziam ,  chegando-se  a  um  accordo  sobre 
a  linha  divisória  entre  as  possessões  das  duas  coroas.  Desistindo  ambas 
as  altas  partes  contractantes  das  suas  pretenções  fundadas  na  celebre 
bulia  de  Alexandre  VI  declaravam  que  as  cessões,  que  n'elle  se 
faziam  não  eram  por  tia  de  equivalentes,  mas  com  o  fim  dê  perpetuar 
a  união  e  harmonia  entre  as  duas  nações.  Pelo  ortigo  13  do  mesmo 
tratado  cedia  6.  M.  F.,  a  colónia  do  Sacramento,  e  todo  o  território 
adjacente  a  ella  na  margem  septentrional  do  Rio  da  Prata ;  e  pelo 
16."*  fazia  expressa  cessão  S.  M.  C.  dos  povos,  ou  aldeias  situadas  na 


margem  oriental  do  UrugiiAy,  peritaiuindo  porém  que  os  missionariod 
sAhissem  com  os  seus  bens  moveis  e  semoventes  levando  comsigo  os 
índios  para  aldea*lps  em  outras  terras  de  Hespanha  (*). 

Esta  ultima  clausula  feria  vivamente  os  interesses  dos  jesuítas, 
que  80  iinhfthi  estabelecido  naquellas  fegiões;  e  por  isso  resolveram 
oppôr-se  a  ella  depois  d6  terem  debalde  tentado  embaraçar  a  sua 
eiecuçâo»  o  que  certamente  conseguiriam  a  não  ser  a  energia  do 
negociador  portuguez»  o  visconde  da  Villa  Nova  da  Cerveira.  Vejamos 
{wrque  defendiam  esses  regulares  com  tanto  aCnco,  e  até  resistindo 
formalmetite  às  ordens  do  sen  governo,  umas  aldeias  plantadas  nas 
ribas  do  Uruguay  e  habitadas  por  semi* bárbaros  Guaranys, 

Gorria  o  anno  de  1610,  quando  dous  jesuítas  Marcello  de  Loren- 
zana  e  Friíncisco  de  S.  Martin»  conseguiram  que  os  ferozes  Charruas 
que  vagueavam  por  esses  ermos  se  curvassem  ás  suas  doces  palavras, 
fundando  algumas  tobtiSf  que  serviram  de  núcleo  ás  futuras  reduc- 
çSes.Gfaças  aos  esforços  dos  primeiros  missionários  e  doe  seus  imme- 
diatos  sucoessores,  rápido  foi  o  incremento :  de  modo  que  já  vinte  e 
lun  ànnos  depois  (em  1631)  contavam-se  vinte  povoações ,  regidas 
pelo  gevenio  Ibeoeraticè,  o  melhor,  como  setprime  Rayoal,  si 
fofise  possível  oohse^vh-lo  na  sua  pureza.  Leamos  o  quadro,  que  da 
sua  vida  nos  traça  uti  escriplor»  de  quem  não  fazemos  o  elogio , 
porque  d^ieso  no-lo  vedam  os  estreitos  laços  de  parentesco ,  que  a 
die  nos  ligam. 

«  Fatiavam  todos  a  oiesma  lingua,  o  guarany  (diz  o  visconde  de 
«  S.  Leopoldo) ;  sem  leis  civis ;  pois  que  entre  elles  era  quaâ  imper- 
«  ceptivel  o  direito  da  propriedade,  nem  mesmo  das  producções  da 
«  sorte  de  terras,  que  se  adjudicava  a  cada  pei  de  família ,  era  licito 
«  dispor  a  seu  arbítrio  sem  a  direcção  do  cura ;  os  artíGces  e  lavra- 
«  dores  levavam  á  risca  aos  depósitos  públicos  o  fructo  do  seu  suor, 
tf  e  das  suas  fadigas,  vivendo  em  commum ;  os  religiosos  directores 
«  com  os  ms^btrados  do  povo  (do  modo,  que  ao  diante  diremos) 
«  proviam,  e  velavam  sobre  as  precisões  de  cada  um;  sem  leis 

(•)  Vide  Atmaes  aa  IVov.  de  S.  Pedro  ^elo  viêCíotide  de  S,  Leopoldo,  cap.  3.* 


ia 

«  penaes,  pois  que  todas  eram  preceitos  de  religião,  as  transgressões 
«  se  puniam  com  jejuns ,  oracOes ,  cárceres ,  e  algumas  vezes  flagel- 
«  lações  e  extermínio ;  o  culpado  se  accusava  elle  mesmo  aos  pés 
«  do  magistrado,  e  recebia  o  castigo  com  acções  do  graças:  no 
«  fundo  dos  sertões  d'America  parecia  emfim  realísada  essa  r^- 
«  blica  ideiada  por  Platão  e  por  Thomaz  Horus  {*].  » 

Estes  vassallos  fieis  da  compnhia  de  Jesus,  que  ao  tempo  da 
suppressão  orçavam-se  em  trinta  mil  unicamente  nos  sete  povos  que 
couberam  em  partilha  à  coroa  portuguesa ,  fertilisavam  um  solo  já 
ubérrimo ,  com  o  seu  trabalho ,  e  davam  aos  bemdiioi  padres  lucros 
incalculáveis.  Cultivavam  o  algodão ,  o  tabaco  t  a  canna  d'assucar  , 
e  toda  a  qualidade  de  grãos»  mas  o  producto  que  maior  interesse 
lhes  dava  era  da  erva  matte,  também  chamada  chá  do  Paraguay  , 
que  reniettiam  em  grande  quantidade  para  os  mercados  de  S.  Fé  e 
Corrientes. 

Além  da  lavoura  empregavam-se  também  os  indios  na  criação  do 
gado  vaccum  e  cavallar  nas  vastíssimas  estancias,  que  possuiam  os 
paraguayos  nos  lugares  os  mais  asados  para  tal  fim.  Segundo  os 
cálculos  mais  moderados  a  renda  annual  d'essas  missões  elevava-se 
à  somma  de  cem  mil  pesos  fortes,  dos  quaes  deduzida  uma  pequena 
parcella  para  os  soccorros ,  que  deviam  ser  fornecidos  aos  necessita- 
dos, e  o  adorno  e  reparação  dos  templos,  e  mais  despezas  com  o 
culto,  era  o  restante  remettido  para  Roma,  centro  da  unidade 
jesuítica,  afim  de  fazer  face  aos  gastos  communs  e  urgências  da 
companhia. 

Aqui,  como  em  todas  as  partes,  tinham  vedado  a  entrada  das 
missões  a  todos  os  individues,  embora  da  mesma  nação,  que  não 
tivessem  a  honra  de  pertencer  ao  instituto  de  Loyola,  sempre  debaixo 
do  especioso  motivo  de  receiarem  a  corrupção  dos  costumes  dos  seus 
administrados;  levando  esse  seu  desmarcado  zelo  a  ponto  de  terem , 
como  já  deixamos  dito ,  obstado  à  visita  pastoral  do  bispo  do  Para- 
guay D.  Bernardino  de  Cardinas. 

(V  Vide  Annaes  da  Província  de  S,  Pedro,  cap.  XIII,  pag.  256. 


1A5 

Para  r)iic  nada  faltasse  ao  completo  domínio  dos  jesuítas  n'essas 
tongínqti^s  paragens  até  tiveram  um  exercito  ás  suas  ordens  devida- 
mente disciplinado ;  havendo  para  isso  obtido  o  assenso  do  governo 
da  metrópole.  Pela  reai  cédula  de  20  de  setembro  de  1649  foi  con- 
cedida a  licença,  que  tinham  impetrado,  d'ndestrarem  os  índios 
christãos  velhos  no  manejo  das  armas  de  fogo ;  e  que  para  instruí-los 
Ibes  fosse  permiltido  levar  das  províncias  do  Chili  alguns  irmãos 
roadjuctores,  que  houvessem  sido  soldados;  pretextando  para  isso 
a  necessidade,  em  que  se  viam  dolorosam^inte  collocados,  de  repellir 
os  aggressores  dos  Portuguezes  (*). 

Comprehende-se  facilmente  o  quanto  desgostaria  aos  jesuítas  a 
noticia  dn  próxima  chegada  ás  suas  missões  dos  commissarios  por- 
tuguez  e  hespanbot,  que  iam  em  nome  dos  seus  respectivos  sobe- 
ranos tornar  effeciivas  as  clausulas  estipuladas  no  novo  tratado  de 
limites.  Nâo  havia  tempo  a  perder;  era  preciso  lançar  mão  da  diplo- 
macia, e  em  ultimo  caso  recorrer  ás  armas,  para  o  que.»  como  vimos, 
estavam  preparados.  Allegando  que  precisavam  d*algum  tempo  para 
effeituarem  a  sua  mudança,  colherem  os  frutos  pendentes,  e  muda- 
rem o  gado  das  estancias,  obtiveram  que  por  muito  tempo  se  sustcn. 
tassem  ns  operações  da  demarcação,  a  que  iam  proceder  o  marqnez 
do  Vai  de  Lirios  e  o  general  Gomes  Freire  d'Anílrade.  Esperavam 
que  os  governos  d'ambos  os  paizes  interessados  na  reaiisaçâo  d'esse 
pacto,  que  tanto  os  contrariava,  mudassem  de  re.soluçno  desengnnadog 
pelas  diíTiculdadeis,  qunsi  insuperáveis  com  que  tinhim  de  lutar; 
quando  porém  viram  que  nada  seria  rapaz  de  dernovò-los  do  propó- 
sito, que  haviam  formado,  fizeram  appello  á  ultima  ratio  regum, 
O  padre  Lourenço  Balda,  cura  do  povo  de  S.  Miguel,  foi  a  alma 
da  rebeliiilo,  foi  eile  que  concitou  os  pobres  e  pacíficos  índios  a  se 
sublevarem  contra  as  decisões  dos  soberanos,  de  quem  nào  tinham 


(*)  Naturalmente  dos  paulistas,  que  algumas  vpzes  peneiravam  em  suas 
aldeias  para  fazer  escravos  os  índios,  que  viviam  sujeitos  á  administração 
espiritual  e  temporal  dos  padres  da  companhia:  do  que  amargamente  se 
queiíava  o  conde  de  Casieílar,  \ire-rel  do  Peru  cm  uma  nota  datada  do  1.* 
<Í0  janeiro  de  HM9, 

XVIII  1  y 


iA6 

a  menor  noticia,  innta  era  n  ignorância,  que  a  tal  respeito,  bem  come 
a  muitos  outros,  deixavam-nos  permanecer  os  seus  sanctos  padres  /.. . 
Por  documentos  autlienticos^  que  tivemos  occasiào  de  compulsar, 
está  hoje  mais  que  provada  a  complicidade  dos  jesuitas  n'essa  fatal 
trama  cujos  resultados  nào  podiam  deixar  de  ser  funestissimos  para 
os  indígenas,  de  quem  se  declaravam  protectores. 

Os  commissionaríos  régios  communícando  ás  suas  respectivas 
cortes  a  resistência  que  as  suas  ordens  tinham  encontrado  da  parte 
dos  naturaes  nao  dissimularam  ser  ella  devida  ás  instigações  dos 
filhos  de  Loyoia,  e  o  gabinete  de  S.  Ildefonso  estranhando  alta* 
mento  o  proceder  d*elles,  escrevia  a  seu  delegado  o  roaquez  de  Vai 
de  Liríos,  estas  notáveis  palavras: 

«  En  Ia  carta  de  officio ,  que  escribo  a  V.  Exc.  vera  que  Su 

*  Mageslad  ha  descubierto,  y  assegurando-so  de  que  los  jesuítas 
«  de  esta  província  son  la  causa  total  de  la  rebeldia  de  los  índios. 
«  Y  mas  de  las  providencias,  que  digo  en  ella  haber  tomado,  dts- 
«  pidíendo  a  su  confessor;  y  mandando  que  seembien  mil  hombres, 
«  me  ha  escriplo  una  carta  (própria  de  un  soberano)  para  que  yo 

•  exhorte  ai  provincial  hechando-le  en  cara  el  delicto  de  infedelí- 
Cl  dade,  y  diciendo-le,  que  si  luego  luego  no  entrega  los  pueblos 
«  pacificamente  sin  que  se  derrame  una  gola  de  sangre,  tendra  Su 
«  Magestad  esta  prueba  mas  relevante;  procederá  contra  el  y  los 
«  de  mas  padres  por  todas  las  leys  de  los  derechos  canónico  y  civil, 
«  los  tratará  como  reos  de  lesa  magestad,  y  los  hará  responsa- 
«  bles  a  Dios  de  todas  las  vidas  innocentes,  que  se  sacrificas- 
«  sem,  ele.  (*).  » 

Pela  corte  de  Lisboa  foram  Iransmittidas  a  Gomes  Freire  d'An- 
drada  as  mais  terminantes  recommendaçõcs  d'auxiliar  ao  general 
hespanhol ,  pondo  termo  o  mais  cedo  possível  a  tâo  escandalosa 
rebeldia. 


(*)  Vide  Relação  Abrev,  da  Jiep»,  que  os  Rclig,  Jetuiias  estabeleceram  nos 
domínios  ultr.  de  Port,  e  Uesp,  e  da  guerra f  que  Welles  moveram  contra  os 
exércitos  diambas  as  potencias,  inserta  na  Rcv.  Trim.  do  InsU  Hist.  e  Geog. 
Brás.  tom.  à^*" 


Íà7 

Duas  vezes  moiirram-se  os  índios  eom  o  exercito  combinado;  uma 
a  10  do  fevereiro  de  1756.  capitaneados  |ielo  valente  Sepé,  perdendo 
nesse  conflicto  mil  eduzenios  homens,  diRereates  peçis  d'artilberia 
e  outros  despojos  beHícos;  e  outra  a  iO  de  maio  do  mesmo  anno, 
em  que  foi  complotameme  desbaratado  o  seu  exercite  composto  de 
mais  de  três  mil  combatentes.  Alem  doestas  duas  batalhas  campots 
houveram  muitas  refregas  entre  as  partidas  volarftes ,  portoguezas 
o  hespanliolas ,  que  batiam  a  campanha,  e  troc^  de  indigenas ,  que 
surgiam  como  que  do  centro  da  (erra,  para  tolher^lhes  o  passo. 
Concluindo  a  participação  oflicíal  da  segunda  grande  acçSo»  que 
teve  lugar  n'esse  anno  nas  campinas  do  stil ,  assim  se  exprimia  » 
general  Gomes  Freire  d'Andrada  referindo-su  ás  fortificações  levan- 
tadas para  obstar  a  passagem  do  rio  Churieby :  «  A  plaiita  bem  dú 
«  a  vér  a  defensa  como  eslava  própria.  E  si  eib  é  feita  pelos  índios 
«  devemos  persuadir-nos  que  em  lugar  de  doutrina  se  Mies  tem 
i<  ensinado  architectura  miliuir.  • 

Perdidas  as  ultimas  esperanças  da  defenderem  o  |)aiz  /  a  cujo 
domínio  se  haviam  arrogado,  empregaram  o  ultimo  recurso,  que  em 
scmílhantes  casos  aconselha  a  coragem  da  desesperação.  O  fogo 
devora  reduzira  cinzas  aquílloque  lhes  fora  impossível  defender,  e  as 
labaredas,  que  já  prendiam  o  magnifico  templo  do  povo  de  S.  Mi- 
p:ue1 ,  quando  n'elle  entraram  os  ailiados  no  dia  1G  do  maio,  adver- 
tiam-lhes  que  se  apressassem  si  acaso  queriam  encontrar  ainda 
illesos  os  magnificos  monumentos ,  que  attcstassom  á  posteridade  a 
esplendida  habitação  dos  padres.  Um  dos  nossos  melhores  poetas 
i.  Basílio  da  Gama  descreveu  com  as  delicadas  tintas  do  seu  pri- 
moroso pincel  a  scena  lastimável  de  que  acabamos  de  fallar ,  e  para 
ali  remeltemos  o  leitor  curioso. 

Assim  terminou  a  guerra  civil,  suscitada  pelos  jesuítas  na  extre- 
midade meridional  do  Brazil,  emquanto  que  ao  norte  oppunham 
tenaz,  posto  que  m<-nos  ruidosa  opposiçâo.  No  Pará  e  Maranhão, 
foi  incumbido  o  respectivo  governador  e  capitão  general  Francisco 
Xavier  Furtado  de  Mendonça,  por  despachos  do  30  d'Abril  de  1753 
de  presidir  por  parte  de  â.  M.  F.  ás  conferencias,  que  com  o  com- 


íás 

míssario  castelhano  se  deveram  abrir  afiin  de  regiilar-se  os  IrmiCes 
das  possesj^ões  do  que  os  dous  reinos  da  península  ibérica  eram 
senhores  n'esla.<f  partes  d'Americn.  Ainda  que  a  perda  dos  jcsuitas 
nas  margens  do  Rio  Negro  nào  fosse  equlvatonlo  ú  que  experi- 
mentavam nas  do  Uruguay  e  Paraná ,  todavia  preparavam-se  porá 
a  demarcarão  dos  limites. 

Os  meros  de  que  se  serviram  no  Pará  um  pouco  diiteriam  do 

methodo  por  elles  empregado  ao  sul  do  estado.  Sublevaram  con>o 

operação  previa  os  índios  das  visinhanças  d'aqueile  lugar  que  fora 

destinado  para  as  conferencias ;  depois  amotinaram  os  da  capital 

•do  Pará  afim  de  que  não  encontrasse  o  governador  gente  dis()onivel 

para  tripular  as  canoas,  e  mais  objectos  de  serviço,  e  fínalmento 

Qtó  fomentaram  deserções  entre  os  soldados ,   por  nâo  poderem 

faze-lo  entre  os  ofliciaes.  Por  mais  graves  que  pareç^mi  taes  accusa- 

ções  nós  as  mencionamos  firmados  no  juijso  do  autores,  que  temo$^ 

por  Gdedignos,  entre  outros  citaremos  o  nome  do  sargento-mór 

António  Ladisláo  Monteiro  Baena,  no  seu  «  Compendio  das  Eras 

da  Província  do  Pará,*  a  quem  julgamos  bem  informado,  e  muito 

em  estado  de  discernir  a  verdade.  Citemos  suas  piopnas  palavra*: 

«  Em  junho  (de  1757)  assoma  no  Pará  a  iioiicia  de  lerem 

«  desertado  d'aldèia  do  Mariuá  p.'ira  as  uus>ões'  da  capitania  do 

«  Omaguas  dos  domínios  d'el-rei  catholíco  cenlo  e  vinte  soldados 

«  de  menos  obrigações  e  de  reprovado  procedimen:o,  em  virtude 

«  dos  manejos  clandestinos  dos  ja^uitas,  os  quaes  ndo  podendo  obrar 

«  na  honra  e  fidelidade  dos  odiclaes  obravam  comludo  n*aquelle 

«  numero  de  combatentes,  que  ainda  ampliaram  o  crinte  roubando 

«  os  armazéns  reaes  de  muniròes  de  guerra  e  crouiro.s  muilos  gene- 

<  ros,  que  n*tílles  havia,  o  tiraram  da  povoação  conlribuiçòci  ras- 

«  pando-a  de  modo,  que  para  comer  foi  preciso  aos  moradores 

«  mandar  vir  os  viveres  de  longo  (*).  » 

Fruslraneos  foram  seus  planos  de  revolta  e  passaram  pelo  desgosto 
do  verem-nos  por  toda  a  parte  repellidos  com  gramle  descrédito  dos 

(•)  Baena  — Compendio  das  Eras  da  Prov.  do  Pará,  pag.  248. 


149 

seus  autores,  e  o  mais  é  que  de  toda  a  sociedade  de  Jesus,  que  artó 
certo  ponlo  se  tornava  solidaria  com  elles.  Si  as  mais  severas  ordena 
tivessem  partido  de  Roma,  ou  ainda  dos  seus  superiores  locaes, 
cremos  que  as  cousas  nfio  chegariam  a  taes  excessos,  nem  a  animad- 
versão  cootra  o  instituto  seria  tào  geral.  Houve  porém  imprudência  e 
grandissima  irreflexâo  no  seu  proceder,  e  cusla-nos  a  crer  como 
homens  cuja  finura  e  tacto  dos  negócios  lemos  por  mais  d*uma  vez 
assignulado,  nâo  tivessem  notado  que  d'est'arto  apressavam  a  sua 
queda  fornecendo  uma  poderosa  arma  aos  seus  contrários.  Eram  mui 
iilustrados  para  conliecerem  (|uo  o  espirito  dos  séculos  lhes  era 
contrario,  e  que  unicamente  restava-llkes  appellar  para  melhores 
dias  e  et^perarem  pela  reacç/io,  que  cedo,  ou  tarde,  se  manifestaria 
contra  as  idéas  dominantes.  Toda  a  abstenção  da  politica,  a  nenhuma 
ingerência  nos  negócios  públicos  erum  reclamadas  pelas  circums- 
tancias:  o  a  exemplo  dos  peritos  nadadores  deveram  curvar  a  cabeçal 
para  deixarem  passar  a  onda,  sem  procurar  lutar  contra  eila.  Deplo- 
rável obstina^jio  no  emprego  de  meius  reprovados,  para  nâo  expli- 
carmos pela  força  do  destino,  precipitava  o  baixel  da  companhia 
contra  os  parcéis:  e  os  seus  palinuros  cerravam  os  ouvidos  para  nâo 
ouvir  a  linguagem  da  verdade,  que  escoa va-se  dos  lábios  de  doutos  e 
prudentes  varões,  condemnados  á  sorte  de  Cassandra. 

O  marquez  de  Pombal ,  cuja  causa  da  indisposição  e  nntipalhia 
que  consagrava  aos  jesiiilas  já  assigiinhimos  na  primeira  parle  iresle 
nosso  tosco  trabalho,  espreitava  com  iina  malicia  os  erros  pr  elltis 
commettidos;  e,  qual  lobo  faminto,  aguçava  as  garras  aguardando 
a  sua  victíma.  A  impolilica,  para  não  qualifiearnios  de  insensata 
resistência,  quo  fizeram  ao  tratado  de  limites  de  1750,  serviu  melhor 
as  intenções  do  primeiro  ministro  d'el-rei  D.  José  do  que  toda  essa 
propaganda  philosophica,  que  naluralisava  em  Purlugal ,  e  em  cujas 
brochuras  e  libellos  era  horrivelmente  guerreada,  e  não  poucas  vezes 
caluroniada  a  grande  obra  do  santo  byscainho.  Accusava-se  a  com- 
panhia de  sequestrar  em  proveito  sou  o  suor  dos  míseros  indígenas, 
de  conserva-los  em  uma  tutela  forçada;  e  ei-la  que  so  encarrega  por 
si  mesma  do  demonstrar  a  veracidade  de  laes  argui'jõuá,  ievandu-oa 


150. 

DO  campo  da  batalha  em  defesa  dos  seus  interesses  gravemente 
lesados. 

Antes  de  descarregar  o  derradeiro  golpe  quiz  Pombal  verse  inti- 
midava aos  jesuíta^,  fazendo-os  recuar ;  e  para  tal  fim  impretrou  d# 
S.  P.  Benedicto  XIV  o  breve  de  l.""  de  Abril  de  i758  pelo  qual  era 
o  cardeal  Saldanha  investido  das  funcçGes  de  visitador  apostólico  e 
reformador  dos  claigos  regulares  da  companhia  de  Jesus.  Seu 
primeiro  acto  foi  o  da  publicação  d'um  mandamento  ordenando  a 
suspensão  do  escandaloso  commerciOt  que  os  sobreditos  regulares 
«stavam  publicamente  fazendo  em  Portugal  o  seus  dominios.  Esta 
medida  era  summamente  justa  e  reclamada  por  todos  os  que  nutriam 
sinceros  desejos  de  podar  a  arvore  em  vez  de  derriba-la;  mas  o 
patriarcba  de  Lisboa,  cardeal  Manoel»  ntfo  se  contentou  com  admoes- 
tações e  moios  brandos  e  affixou  um  edital  datado  de  7  de  Junho  do 
referido  anno,  em  que  suspendia  os  mesmos  regulares  dos  exercicios 
de  confessarem  e  pregarem  no  seu  patríarchado  (*).  Depois  d'um 
acto  tão  violento  quáo  desnecessário;  mas  que  foi  infelizmente 
imitado  por  todos  os  prelados  do  reino  era  impossivel  a  conciliação,  e 
a  guerra  estava  declarada,  a  perseguição  systematisada  em  contra- 
dicção  ás  ordens  do  soberano  ponlifice. 

Nào  juigando-se  ainda  suíTicientes  os  capitulos  de  accusaçK^o 
formulados  contra  os  jesuitns,  muitos  dos  quaes,  como  por  vezes 
temos  dito,  eram  d'uma  triste  realidade,  veio  o  attentado  contra  os 
dias  d  el-rei  D.  José  fornecer  mais  uma  verba  para  ser  lanceada  na 
conta  corrente  da  companhia.  Era  preciso  esgotar  a  taça  da  odiosidado 
para  justificar  o  decreto  de  3  de  Setembro  de  1759,  em  que  eram  os 
filhos  lie  Loyola  firoscriplos,  dcsnatur alisados ,  e  lançados  fora  do 
reino  e  seus  dominios.  Repetimos  aqui  o  que  já  em  outro  logar 
dissemos:  nâo  negamos  ao  governo  portuguez,  nem  a  nenhum  outro, 
o  direito  de  tirar  a  existência  civil  nos  seus  estados  a  esla,  ou  áquella 
corporação  religiosa,  quando  assim  o  exijam  seus  interesses  políticos. 


(•)  Vide  l)educ(;5o  C/iironol.  e  Analj.  dos  crimes  dos  Jesuítas  pelo  Descmbg, 
Jo:)é  de  Scabia  du  SU\ii. 


151 

o  que  unicamente  estranhamos  sào  os  abusos  de  poder ,  innto  Ja 
parte  do  régio  edicto»  como  ainda  mais  da  dos  seus  executores. 

Os  bispos  do  Brazil  tinham  sido  nomeados  visitadores  e  reforma- 
dores dos  jesuítas  era  suas  respectivas  dioceses  por  delegação  do 
cardeal  Saldanha ;  e  n'este  emprego  houveram-se  uns  com  excessivo 
rigor,  como  D.  Miguel  de  BuIhOes  no  Pará,  e  outros  com  louvável 
moderação,  como  D.  frei  Antonio  de  S.  José  no  Maranhão,  e  D. 
José  Botelho  de  Mattos  na  Bahia. 

A  mesma  difierença  no  proceder  noteu-se  quando  foram  in- 
cumbidos de  tornar  effectivas  as  disposições  do  decreto  de  3  do 
Setembro  de  1759  contentando-se  alguns  com  serem  meros  executores 
adoçando  ainda  quanto  estava  ao  seu  alcance  a  aspereza  do  legislador, 
6  querendo  outros  mostrar  trop  de  lèU.  Paliando  a  respeito  doestes 
serve-se  o  illustre  liisloriador  inglez  R.  Southey  d*esias  enérgicas 
palavras:  « There  are  aiways  wicked  Instruments  enough  to  carry 
«  into  fuU  efTect  the  worst  intentions  of  injust  and  tyrannica! 
f  power. » 

Não  contente  D.  Miguel  de  Bulhões  de  ter  suspendido  do  uso  do 
ordens  aos  padres  da  companhia  de  Jesus  no  seu  bispado,  como  lhe 
era  expressamente  ordenado  de  Lisboa,  e  te-los  rometlidos  em  numero 
de  cento  e  cíncoenta  accumulados  no  porão  d'um  péssimo  navio  para 
acidado  de  S.  Luiz  do  Maranhão;  foi  ainda  ali  exercer  as  suas  pouco 
caridosas  funcções,  por  ter  o  bispo  d'essa  diocese,  recusado-se  a  ser 
instrumento  de  medidas,  que  inteiramente  desapprovava  partindo 
para  a  visite  episcopal  de  longínquas  parochias;  recebendo  Bulhões 
em  recompensa  do  seu  zelo  o  ser  trasladado  para  a  sé  de  Leiria.  Os 
jesuítas  da  Parahyba  e  Ceará  foram  mandados  para  o  Recife,  onde  o 
governador  Luiz  Diogo  Lobo  da  Silva,  e  o  bispo  D.  Francisco  Xavier 
Aranha ,  os  receberam  com  summa  begnidade :  sendo  d'ali  trans- 
portedos  para  Lisboa  em  um  navio,  que  outr'ora  pertencia  á  sua  socie- 
dade, e  no  qual  fazia  o  provincial  a  visita  ás  diversas  casas  da  ordem, 
espalhadas  pelas  capitanias  do  Brazil  (*). 

(*)  Wác  R.  SouthcT,  History  of  Braiil  chap,  XL. 


152 

No  melropoití  do  Brazil  rclií];ioso,  onde  já  enlíiof^overnnva  o  arce* 
l)ispo  D.  Joaquim  Borges  Figiieirôa ,  por  ler  re^^íignado  o  pallio  o 
mencionado  D.  José  Botelho  de  Mallos,  foram  os  jesiiilas  privados  do 
exercício  das  suas  fiincçôes  sacerdotoes,  assim  como  preredenlemenle 
haviam  sido  da  adminislraç?ío  das  missOes  e  aldeias  de  indios, 
confiadas  a  parochos  seculares,  e  no  dia  18  do  Abril  do  1760  con- 
duzidos debaixo  de  grande  escolln,  c  com  lodo  o  apparalo  de  força, 
para  bordo  das  náos  N.  S.  do  Carmo  e  N  S.  d* Ajuda,  que  levaram- 
nos  a  Li?boa;  onde  acharam  inprala  liospedafçem  na  torre  de  S. 
Juliào  até  serem  desterrados  para  Itália  os  que  não  quizeram  sujeilar-se 
ás  condições  estipuladas  pela  lei  de  28  de  Agosto  da  1767  {*). 

D.  frei  António  do  Desterro,  bispo  do  Rio  de  Janeiro,  não  foi 
menos  severo  para  com  os  proscriptos  do  que  seu  collega  do  Pará; 
talvez  porque,  como  diz  Soutbey,  «  í.eing  a  Friar  he  appears  on  ilàs 
«  occasion  lo  hare  indulged  the  enry  and  hatred  tvith  wldcli  ihat 
«  description  of  Religioners  commonljr  rcgarded  ihe  Jesuits,  »  (**) 
Esta  aversão  que  consagrava  á  companhia  revelou -a  elle  mais  do  que 
nenhum  outro  prelado  em  seus  actos  olBciaes.  Depois  de  ter  privado 
aos  jesuítas  por  carta  pastoral  de  8  de  Novembro  de  1759,  do  mi- 
nistério do  púlpito  e  confissionario;  assim  como  o  de  celebrarem, 
e  ainda  ofliciarem  em  quaesquer  igreja*?,  capellas  e  oratórios,  recom- 
mendando  aos  fieis  que  fugissem  do  contagio  das  suas  pestíferas 
opiniões;  pelos  edítaes  de  17  e  29  do  referido  mez  e  anno  accusava  a 
esses  regulares  de  terem  sonegado  reUqaias,  rasos  sagrados  e  para  • 
mentos  das  igrejas,  ordenando  a  todos  que  soubessem  onde  elles 
os  tinham  occulto  que  fossem  revela-lo  ao  ordinário,  sob  pena 
de  excommunhso. 

Pedia  a  decência  que  se  nào  lançassem  tHo  feias  nódoas  sobre  a 
roupeta  da  companhia ;  porque  ella  pouco  diíTería  da  batina  do  padre, 
e  do  burel  do  monge. 

Vinham  erabarcar-se  n*esta  capital   os    padres  cujos   collegios 

n  Vide  Accioli,  Mem.  Hist.  e  Polit.  da  Prov.  da  Bahia,  tom.  i.*  png.  222. 
(•*)  Hislory  of  Brazil  cliap.  XL. 


153 

eslavam  situadas  ao  sul  do  Brazil ;  em  cujo  numero  comprehendiam-se 
os  de  S.  Paulo,  que  apezar  das  antigas  queixas,  que  os  moradores 
nutriam  contra  etlos  furam  todavia  tratados  na  hora  da  adversidade 
com  heróica  generosidade;  o  seu  bispo  D.  frei  António  da  Madre 
de  Deus,  seguindo,  apezar  de  ser  também  frade,  uma  politica 
opposta  á  do  nosso  diocesano ,  cncheu-os  de  obséquios  não  receando 
de  arrostar  por  semilhante  conducta  as  iras  do  imperioso  ministro, 
6  a  dos  seus  satellites,  mil  vezes  mais  temível.  Embarcados  em  um  só 
navio  lodos  os  jesuitas  das  capitanias  mcridionaes,  e  em  numero  de 
cento  e  quarenta  e  cinco,  foram  entregues  ao  capricho  das  ondas» 
sem  os  meios  necessários  para  fazer  tão  longa  qu9o  penosa  travessia , 
recusando-lhes  até  um  cirurgião ! 

Assim  deixaram  os  jesuitas  as  nossas  plagas  depois  de  terem  vivido 
entre  nós  por  espaço  de  duzentos  o  vinte  e  um  annos;  depois  de 
terem  regado  com  o  seu  sangue  a  arvore  da  cruz ;  depois  de  terem 
roteado  nossas  virgens  florestas^  depois  de  terem  erguido,  para  servi r- 
roo-nos  das  palavras  do  sábio  Dr.  Martins,  os  únicos  monumentos 
grandiosos  ainda  existentes,  e  deixado  instituições,  que  aió  o 
presente  não  desappareceram  de  todo,  nem  perderam  a  sua  influencia. 

No  nosso  humilde  entender  pensamos  que  si  esses  regulares 
mereceram  pelos  abusos  que  praticaram  do  seu  primitivo  e  santíssimo 
instituto  no  velho  mundo,  e  ainda  mesmo  n'America,  o  breve  de 
suppressão,  que  contra  elles  fulminou  o  beatissimo  padre  Clemente 
XIV,  tinham  adquirido  jus  pelos  relevantes  serviços  prestados  em 
outras  eras  em  prol  da  religião  e  das  letras  a  serem  tratados  com  mais 
doçura  :  pois  que  tal  oxigiam-no  a  gratidão  dos  povos  e  a  honra  dos 
governos. 

Pelo  que  nos  diz  respeito  cremos  que  grande  foi  a  nossa  perda  com 
a  sua  completa  oxtincção :  devêramos  ter  imitado  o  procedimento  da 
Rússia ,  onde  se  conservaram  encarregados  do  ensino  da  mocidade, 
para  o  que  sempre  se  mostraram  summamente  aptos ;  pois  que  já  em 
seu  tempo  dizia  Bacon:  iratando^se  de  educação  o  melhor  é  con- 
sultar as  escolas  dos  jesuitas.  Si  depois  da  sua  secularisaçao  continuas- 
sem entre  bós  incumbidos  da  educação  da  juventude  e  igualmente  da 

X?iii  20 


15i 

calhechese  dos  indígenas^  uma  vez  que  nâo  lhes  fosse  esla  exclusi- 
vamente entregue,  concorrendo  com  as  demais  ordens  religiosas^  e 
partilhando  a  administração  das  aldeias  com  os  magistrados  régios 
para  tal  firo  nomeados ,  é  de  esperar  que  muito  tivesse  lucrado  a  nossa 
terra  com  semilhante  methodo,  e  que  el-rei  de  Portugal  podesse  talvez 
melhor  exprimir  a  seu  respeito  o  que  acerca  d'elle8  dizia  em  1783 
Catharína  II  em  sua  carta  ao  papa :  a  Os  motivos  que  me  fizeram 
«  concedera  minha  protecção  aos  jesuitassão  fundados  tanto  na  razSo 
it  e  na  justiça  como  na  esperança  de  serem  úteis  aos  meus  estados, 
t  Essa  pacifica  e  innocente  reuniSo  de  homens  ficará  no  meu 
«  império;  porque  de  todas  as  sociedades  catholicas  são  os  mais 
«  capazes  de  instruir  os  meus  vassallos,  de  inspirar-lhes  sentimentos 
«  de  humanidade  com  os  verdeiros  principies  da  religifio  christãa. 
c  Estou  resolvida  a  sustentar  esses  padres  contra  todos  os  padres,  e 
•  (aço  fiisto  o  meu  dever,  porque  os  contemplo  como  vassallos  úteis 
«  e  innoceqtes.  » 

S.  M.  F.  não  podia  seguir  o  exemplo  da  Czarína  sustentando  iotis 
úribus  no  seu  império  uma  associaçfio  dissolvida  por  quem  poder 
tinha  para  isso ;  e  si  citamos  o  trecho  acima  foi  para  mostrar  que 
possuiam  os  jesuítas  qualidades,  reconhecidas  até  pelos  príncipes 
hereges  e  schismaticos,  que  nos  seriam  grandemente  proficuas 
tomando-se  a  precaução  de  priva-los  dos  meios  dos  quaes  uma  dolorosa 
experiência  mostrava  terem  tanto  abusado.  Em  um  paiz  novo  em  que 
nfio  superabundayam  as  intelligencias ,  para  que  privar-nos  do 
auxilio  de  homens,  a  cuja  illustraçSo  seus  próprios  contrários  rendiam 
preito  e  homenagem?  Não  seria  mais  conveniente  conservar  esses 
padres  despidos  do  seu  antigo  caracter  t  sujeitos  em  tudo  á  jurisdicção 
episcopal  ? 

Foi  um  erro,  dir-nos-ha  alguém,  o  total  extermínio  de  homens  que 
estavam  afeitos  ao  nosso  modo  de  viver,  que  comprehendiam  as  nossas 
necessidades;  mas  procuremos  remediar  tal  erro,  e  agora  que  se  acha 
restabelecida  a  companhia  de  Jesus  convidemo*la  para  que  venha 
de  novo  estabelecer-se  entre  nós.  «  Havendo  entre  nds  pelo  menos 
«  cento  e  cincoenta  mil  índios  bravos  (diz  J.  Silvestre  Rebello)  e 


166 

•  sendo  o  primeiro  dos  deveres  do  governo  o  tratar  da  salvaçio 
«  e  civilisaçSo  d'aquelles  pobres  infelizes ,  é  claro  que  d'isso  se  deva 
«  seriamente  occupar.  Os  jesuítas ,  segundo  as  suas  instituições, 
«  foram  em  outro  tempo  os  mais  próprios  para  isso ;  ora ,  como  a^ 
«  instituições  sSo  ainda  as  mesmas,  é  evidente,  que  d'elles  se  deve  o 
«  governo  servir  com  preferencia.  » 

«  Deve  o  governo  pois  propor  ao  corpo  legislativo  a  abolição  da 
«  lei  que  os  exterminou  do  Brazil,  e  convidar  os  mesmos  a  vir  de 
«  novo  fundar  missões  no  nosso  império.  O  interior  da  provincia 

•  de  S.  Paulo ;  os  matos  virgens ,  que  separam  as  provincias  da 
«  Capitania,  de  Minas  e  Babia ;  as  províncias  de  Gojazes  e  Matio 
«  Grosso ;  e  mais  do  que  todas  as  outras  a  do  Pará,  fornecem  tocali- 
1  dades  abundantes  para  a  fundaçSo  das  missGes que  sequizerem(*j.  > 

Cremos  que  a  maior  dificuldade  não  consiste  na  revogação  da 
ordenança  de  3  de  Setembro  de  1759,  apezar  de  ter  o  gabinete  do 
Rio  de  Janeiro  protestado  em  1.*  de  Abril  de  1815  contra  os  primeiros 
assomos  da  resurreíçio  dos  jesuitas ;  mas  sim  no  espirito  publico,  que 
continua  a  ser-lhes  contrario :  e  ainda  ultimamente  tivemos  uma 
prova  da  veracidade  d'esta  nossa  proposiçSo. 

Alguns  padres  da  companhia  de  Jesus,  obrigados  a  deixar  a  pro- 
vincia de  Buenos-Ayres ,  para  onde  os  chamara  o  dictador  Rosas; 
por  contrariarem-no  talvez  em  sua  politica,  procuraram  um  asylo  nas 
provincias  brazileiras  do  Rio  Grande  do  Sul ,  e  de  Santa  Catharina, 
e  com  o  favor  da  tolerância  religiosa,  que  felizmente  existe  entre  nós, 
não  só  exerceram  as  suas  ordens  com  vénia  do  nosso  virtuoso  prelado, 
como  queligaram-se  em  associação  eseguiram  quanto  lhes  permiitiam 
as  circumstancias  anormaes,  em  que  se  achavam ,  as  regras  do  seu 
instituto.  Occuparam-se  na  primeira  das  referidas  provincias  com 
a  catbechese  dos  indígenas  e  na  segunda  com  a  educação  da  moci- 
dade em  uma  casa»  que  para  esse  fim  estabeleceram.  O  ministro  da 
justiça,  qne  entso  era  o  Sr.  Manoel  António  Galvão,  dando  conta  á 


{*)  Vide  Mem.  doenvolvendo  o  pruf  rioima:  «  Qual  era  a  fómia  por  que  os 
jeiuitaf  administraTam  at  povoações  dos  indios,  que  estavam  a  leu  cargo?  • 
MiBUicríplo  do  Inst.  H.  e  Geogr.  BtaiUeiro. 


156 

tfsscrublea  geral  no  começo  da  sessão  de  1845  doeste  aconlecimehto 
depois  de  ter  mencionado  os  louváveis  esforços  dos  missionários  om 
favor  da  propagação  da  fé,  e  em  beneficio  publico  termina  esta  parte 
do  seu  relatório  com  estas  palavras,  que  demonstram  o  quanto  era 
melindroso  o  exigir-se  uma  medida  legislativa  que  aulhorisasse  a 
existência  legal  dos  jesuitas  no  Brazil. 

o  Cumpro  porém  dcclarar-vos ,  que  taes  missionários  pertencem 
«  á  exlincta  companhia  de  Jesus.  Esta  observação  justificará  a  cir- 
«(  cumspecçSo  com  que  o  governo  pretende  resolver  este  assumpto, 
«  que  á  sua  deliberação  sujeitou  no  citado  ofllcio  o  presidente  da 
«  provincia  de  S.  Catharina.  » 

£m  seu  relatório  apresentado  á  assembléa  provincial  cm  1851  o 
presidente  da  já  mencionada  provincia  (o  Sr.  Dr.  João  José  Coiti* 
nhoj  lamentando  o  atraso  da  instrucção  primaria  comprazia-sc  cm 
commemorar  o  amsidcrarcl  progresso  da  secundaria,'  devida  ao  zelo 
dos  padres  jesuitas,  para  cuja  casa  pedia  aos  cofres  provinciaes  o 
ténue  subsidio  de  seiscentos  mil  réis.  Apezar  das  reconhecidas  vanta- 
gens, que  resultavam  á  juventude  do  seu  ensino  a  prestação,  que 
lhes  dava  a  provincia  foi-ibes  depois  retirada,  e  contra  clles  mo- 
veu-sc  a  mais  implacável  guerra  tanto  ahi ,  coroo  no  Rio  Grande 
do  Sul,  com  cujo  jornalismo  tivemos  ocasião  do  travar  polemica  a 
seu  respeito.  Si  somos  bem  informado,  esses  regulares  já  abandona- 
ram S.  Catharina ;  o  mui  curta  será  a  sua  persistência  na  extremi- 
dade meridional  do  império,  a  menos  que  não  se  mudem  as  ideias, 
que  contra  elles  dominam. 

Pelo  que  temos  dito  já  sabe  o  leitor  qual  é  o  nosso  modo  de 
pensar  acerca  dos  jesuítas ,  e  as  razões  pelas  quaes  modificamos  o 
nosso  juizo  sobre  ellcs.  Formulemos  agora  este  juizo  com  a  maior 
franqueza  e  liberdade,  destacado  de  qualquer  outra  consideração, 
6  terminando  o  grosseiro  quadro  que  submettemos  á  correcção  dos 
doutos. 

O  instituto  de  Loyola  no  Brazil,  bem  como  em  toda  a  parte, 
passou  por  diíTerentes  phases:  corrompeu-se  depois  com  o  andar  dos 
tempos;  mas  em  sua  degeneração  foi  menos  fatal  á  nossa  terra  do 


157 

que  ao  velho  continente,  porque  o  nosso  theatro  era  mesquinho  o 
por  isso  menos  destros  os  actores,  que  n'elle  representaram.  Como 
brazlleiro  nâo  deixaremos  jamais  de  tributar  o  testemunho  da  nossa 
gratidão  pelos  serviços  que  ao  paiz  prestaram :  nós  tudo  lhe  deve- 
mos; formam  a  antiguidade  da  nossa  historia,  e  foram  os  architectos 
da  presente  prosperidade,  e  da  nossa  futura  grandeza.  Hoje  porém 
não  desejamos  a  sua  velta :  ser-nos-hia  ella  damnosa,  uma  vez  que 
se  não  despissem  pisando  as  nossas  fronteiras  do  manto  de  polilicos, 
o  que  seria  talvez  exigir  d'elles  o  impossivel.  Cônscios  da  sua  supe- 
rioridade intellectual  querem  dominar  por  ella ;  esquecem  muitas 
vezes  o  lugar  de  modestos  operários  do  Evangelho  para  se  emara- 
nharem no  intrincado  labyrintho  da  politica,  e  enláo  tomam-so 
prejudiciaeS;  deixam  de  ser  uma  congregação  religiosa  para  se  con- 
verterem em  seita  politica,  em  carbonários  da  Igreja.  Tal  é  a  nossa 
opinião. 

Rio  de  Janeiro,  12  de  Outubro  de  1854. 

O  Cónego  Dr.  J.  C.  Fernandes  Pinheiro. 


gJOOOCF 


r*io  d«   Jueiro,  Typographia  VoítcimI  de  LAEHMEAT,  ru»  dm  lofilidoii  61  B 


REVISTA 


DO 


INSTITUTO  HISTÓRICO  EfilEOGMPlIICO  DO  BRÂZIL. 


3.'  SERIE.  — N,-  18.  —  2.-  TKIMESTRE  l)E  1865. 


DA 

€APITAMA  M  BAHIA 

E 

CIDADE  DE  S.  SALVADOR. 

Évora,  26  de  Agosto  de  1534. 
(Ms.  ufTerecido  ao  Instituto  por  S.  M«  o  Imperador.) 


1 .  Dom  João  por  graça  de  Deos  rei  de  Portugal  e  dos  Algarves 
d'aquem  e  d'além  mar,  em  Africa  senhor  de  Guiné,  e  da  conquista, 
navegação  e  commercio  de  Ethiopia,  Arábia,  Pérsia  e  da  índia  etc. 

A  quantos  esta  minha  carta  virem  faço  saber,  que  eu  fiz  ora  doação 
e  mercê  a  Francisco  Pereira  Coutinho,  fidalgo  de  minha  casa,  para 
file  e  todos  seus  filhos,  netos,  herdeiros  c  successores  de  juro  e  her- 
dade para  sempre  da  capitania  e  governança  de  cincoenta  léguas  do 
terra  maninha,  costa  do  Brazil,  as  quaes  começarão  na  ponta  do  rio 
de  S.  Francisco,  e  correm  para  o  Sul  até  á  ponta  da  Bahia  de  todos 
os  Santos,  segundo  mais  inteiramente  é  conlbeúdo  e  declarado  na 
carta  de  doação,  que  da  dita  terra  lhe  tenho  passado,  e  por  ser  muito 
XVIII  21 


ICO 

necessário  haver  alii  foral  dos  direitos,  foros,  tributos  e  cousas,  que 
se  na  dita  terra  hão  de  pagar,  assi  do  que  a  mim  e  a  coroa  de  meus 
reinos  pertence,  como  do  que  pertence  ao  dito  capitão  e  bem  da  dita 
doação;  Eu  havendo  respeito  á  qualidade  da  dita  terra,  e  a  se  ora 
novamente  ir  pvoar,  morar  e  aproveitar,  e  para  que  isto  melhor  e 
mais  cedo  faça,  sentíndo-o  assi  por  serviço  de  Deose  meu,  e  bem 
do  dito  capitão,  e  moradores  da  dita  terra,  e  por  folgar  de  lhes  fazer 
mercê,  Ivouve  por  bem  de  mandar  fazer,  e  ordenar  o  dito  foral  na 
forma  o  maneira  seguinte: 

(  Primeiramente  o  capitão  da  dita  capitania  e  seus  successores  darão 
6  repartirão  todâs  as  terras  d*ellas  de  sesmaria  a  quaesquçr  pessoas 
de  qualquer  qualidade  e  condição  que  ^fita ,  comtanto  que  sejam 
christãos,  livremente,  sem  foro  nem  direito  algum,  sómente_o 
dizimo,  que  serão  obrij;ados  a  pa^^r  à  ordem  do  mestrado  de  nosso 
SenhorJ[esus  Çhristo,  de  todo  que  nas  ditas  terras  houver,  as  quaes 
sesmarias  darão  da  forma  e  maneira ,  que  se  contém  em  minhas 
ordenações,  e  não  poderão  tomar  terra  alguma  para  si  de  sesmarias 
nem  para  sua  mulher,  nem  para  filhos  herdeiros  da  dita  capitania, 
e  porém  podé-la-hão  dar  aos  outros  filhos  si  os  tiverem ,  que  não 
forem  herdeiros  da  dita  capitania,  e  assi  aos  seus  parentes  como  se 
contóm  em  sua  doação,  esi  algum  dos  filhos  que  não  forem  herdeiros 
da  dita  capitania,  ou  qualquer  outra  pessoa  tiver  alguma  sesmaria 
por  qualquer  maneira  que  a  tenha,  e  vier  a  herdar  a  dita  capitania , 
será  obrigado  do  dia  que  nella  succeder  a  um  anno  de  largar  e 
trespassar  a  tal  sesmaria  em  outra  pessoa ,  e  não  a  trespassando  no 

*  dito  tempo,  perderá  para  mim  a  dita  sesmaria  com  mais  outro  tanto 
preço  quanto  ella  valer,  e  por  esta  mando  ao  meu  feitor  ou  almoxa* 
rife  que  por  mim  na  dita  capitania  estiver,  que  em  tal  caso  lance 
logo  mão  pela  dita  terra  para  mim,  a  faça  assentar  no  livro  dos  meus 
próprios ,  e  faça  execução  pela  valia  d*el]a ,  e  não  o  fazendo  assi  hei 
por  bem  que  perca  seu  oiBcio  e  me  pague  de  sua  fazenda  outro  tanto 
quanto  montar  na  valia  da  dita  terra. 

2.  Havendo  nas  terras  da  dita  capitania  costas,  mares,  riose 
babias  d'dlla  qual^^uer  sorte  de  pedreira^  pérolas,  aljôfar,  ouro^ 


161 

pratn,  cornl,  cobre,  estanho  e  chumbo,  ou  qualquer  outra  sorlo  <lc 
nietaU  p^ar-se-ha  a  mim  o  q^ijínto,  do  cjual  ciuinto  haverá  o  capitão 
sua  dizima  como  so  contém  era  sua  doação,  e  ser-Ihe-ha  entregue  a 
parte  que  na  ditn  dizima  montar  ao  tempo  que  se  o  dilo  quinto  por 
roeusoflílciaes  arrecadar  para  mim. 

3.  p  páo  do  Bray.il  da  dita  capitania  9  assi  qualquer  especiaria, 
^M  drogaria  de  qualquer  quali^lade  que  seja  que  nelta  houver  per- 
tencerá a  mim,  e  jserá  sempre  tudo  meu  e  de  meus  suceessores  sem 
o  dito  capitão  nem  outra  alguma  pessoa  poder  tratar  das  ditas  cousas 
nem  em  algumas  d'ellas  lá  na  terra,  nem  as  poderão  vender,  nem 
tirar  para  meus  reinos  e  senhorios  nem  para  fora  d'elles,  sob  pena 
de  quem  o  contrario  fizer  perder  por  isso  toda  a  sua  fazenda  para 
a  coroa  do  reino  e  ser  degradado  para  a  Ilha  de  S.  Thomé  para 
sempre,  e  por  emquanto  ao  Brasil  hei  por  bem  que  o  dilo  capitão  e 
assi  os  moradores  da  dita  capitania  se  possam  aproveitar  d'elle  no 
que  lhes  ahi  na  terra  fôr  necessário  não  sendo  em  o  queimar  porquo 
queimando-o  incorreram  nas  ditas  penas. 

4.  De  todo  o  pescado jgue  se  na  dita  capitania  pescar  náo  sendo 
á  cantí^ cagará  a  dizima  que  é  de  dez  peixes  um  á  ordem,  e  além 
da  dita  dizima  hei  por  bem  que  se  pague  mais  meia  dizima,  que  é 
de  \inte  peixes  um,  a  qual  meia  dizima  o  capitão  da  dita  capitania 
haverá  a  arrecadação  para  si  porquanto  lhe  tenho  d*ella  feito  mercê 
como  se  contém  era  sua  doação. 

5.  Querendo  o  dito  capitão,  moradores  e  povoadores  da  dita  capi- 
tania trazer  ou  mandar  trazer  por  si ,  ou  por  outrem  a  meus  reinos 
e  senhorios  quaesquer  sortes  de  mercadorias  que  na  dita  terra  e 
partes  d*ella  houver,  tirado  escravos,  e  as  outras  cousas  que  acima 
são  defezas,  pode-lo-h9o  fazer,  e  serão  recolhidos  e  agazalhados  em 
quaesquer  portos  e  cidades,  villas  ou  lugares  dos  ditos  meus  reinos 
e  senhorios,  em  que  vierem  aportar,  e  não  serSo  obrigados  a  des- 
carregar suas  mercadorias,  nem  as  vender  em  alguns  dos  ditos  portos, 
cidades  ou  villas  contra  suas  vontades,  si  para  outras  partes  quizerem 
antes  ir  fazer  seu  proveito,  e  querendo  as  vender  nos  ditos  lugares  de 
meus  reinos  e  senhorios  não  pagarSod*ellas  direitos  alguns,  somente 


162 

a  siza  do  que  vendôrem,  posto  qtie  pelos  foraes,  regimentos  ou  cos^ 
tiimes  dos  laes  lugares  forem  obrigados  a  pagnr  outros  direitos  ou  tri- 
butos; e  poderão  os  sobreditos  vender  suas  mercadorias  a  quem  qui'- 
zorem  ,  e  leva-las  para  fora  do  reino  se  Ilics  bem  vier  sem  embargo 
dos  ditos  foraes,  ragimeiítos  e  costumes,  que  se  o  contrario  Iiaja. 

6.  Todos  osjianos  de  meus  remos  c  senhorios  que  á  dita  terra 
forem  com  mercadorias ,  de  (lue  já  cá  tenham  pgo  _dire'rtps  em 
minhas  alfandegas,  e  mostrarem  d'Í3S0  certidão  dos  meus  oOiciaes 
d*ellas,  nâojgagarâo  jva^iUta  ifiiX^  o  si  lá 
carregarem  mercadorias  da  terra  para  (óra  do  reino  pogarâo  da 
sabida  dizima  a  mim,  da  qual  dizima  o  capitão  haverá  sua  dizima 
como  se  contém  em  sua  doa^o;  e  porém  trazendo  as  taes  mercadorias 
para  meus  jeinos  ou  senhorios  nao  pagarão  da  sabida  cousa  alguma, 
ti  estes  que  trouxerem  as  ditas  mercadorias  para  meus  reinos  ou 
senhorios  serào  obrigados  de  dentro  de  um  anno  levar  ou  enviar  á 
dita  capitania  certidão  dos  oíTiciaes  do  minhas  alfandegas  do  lugar 
d*onde  descarregarem,  de  como  assi  descarregaram  em  meus  reino» 
o  a  qunlidiíde  das  mercadorias  que  descarregaram,  e  quantas  eram ; 
o  nào  mostrando  a  dita  certidão  dentro  no  dito  tempo,  pagarão  a 
dizima  das  ditas  mercadorias,  ou  d'aquella  parte,  que  nos  ditos  meus 
reinos  o  senhorios  não  descarregarem,  assi  e  da  maneira  que  hão 
de  pagar  a  dita  dizima  na  dita  capitania  se  carregarem  para  fora 
do  reino,  o  si  for  pessoa  que  não  haja  de  tornar  á  dita  capitania 
dará  lá  Gança  ao  que  montar  na  dita  dizima  para  dentro  do  dito 
tempo  de  uni  anno  mandar  certidão  de  como  veio  descarregar  em 
meus  reinos  ou  senhorios,  o  não  mostrando  a  dita  certidão  no  dito 
tempo  se  arrecadará  o  haverá  a  dita  dizima  pela  dita  llança. 

7.  Quaesquer  pessoas  estrangeiras  que  não  forem  naturaes  do 
meus  reinos  e  senhorios,  que  á  dita  terra  levarem,  ou  mandar  levar 
quaesquer  mercadorias,  posto  que  as  leve  de  meus  reinos  ou  senhorios 
o  que  cá  tinham  pago  dizima,  pop^rão  lá  da  entrada  dizima  a  nnm 
das  mercadorias  que  assi  levarem,  e  carregando  na  dita  capitania 
algumas  mercadorias  da  torra  para  fora,  pagar-me-hão  assim  mesmo 
dizima  da  sabida  dus  taes  mercadorias,  das  quaes  dizimas  o  capitão 


163 

haverá  sua  redi/jma  segundo  se  contém  em  sua  doação,  eser-Uio- 
ha  a  dita  redízima  entregue  por  meus  oHiciaes  ao  tempo  que  se  as 
ditas  dizimas  para  mim  arrecadarem. 

8.  De  mantimentos,  armas  e  artilharia ,  pólvora,  salitre,  enxofre, 
chumbo  e  quaesquer  outras  cousas  de  munição  de  guerra,  que  á  dita 
capitania  levarem  ou  mandarem  levar,  o  capitão  o  moradores  d'ella, 
ou  quaesquer  outras  pessoas  assi  naturaes  como  estrangeiras,  hei 
por  bem  que  se  não  paguem  direitos  alguns,  e  que  os  sobreditos 
|)ussam  livremente  vender  todas  as  ditas  cousas,  e  cada  uma  d'ellas 
na  dita  capitania  ao  capitão,  moradores  o  provedores  d  ella  que  forem 
christâos  e  meus  súbditos. 

9.  Todas  as  pessoas  assi  kIo  meus  reinos  e  senhorios  como  do 
fora  d'elles,  que  á  dita  capitania  forem  não  poderão  tratar  nem 
comprar,  nem  vender  cousa  alguma  com  os  gentios  da  torra,  e 
tratarão  somente  com  o  capitão  e  provedores  d'ella,  tratando,  ven- 
dendo e  resgatando  com  elles  tudo  o  que  puderem  haver,  e  quem 
o  contrario  fizer  hei  por  bem  que  perca  em  dobro  toda  a  mercadoria 
c  cousas  que  com  os  ditos  gentios  contraclarem,  de  que  será  a  terça 
parte  para  a  minha  camará ,  e  a  outra  terça  parto  para  quem  o 
accusar,  o  a  ouU*a  terça  parte  para  o  hospital  que  na  dita  terra 
houver,  e  não  o  havendo  ahi  será  para  a  fabrica  da  igreja  d  ella. 

10.  Quaesquer  pessoas  que  na  dita  capitania  carregarem  seus 
navios  serão  obrigados  antes  que  comecem  a  carregar ,  e  antes  que 
saião  fora  da  dita  capitania  de  o  fazer  a  saber  ao  capitão  d'ella  para 
prover  e  ver  que  se  não  tirem  mercadorias  defezas ,  nem  partirão 
isso  mesmo  da  dita  capitania  sem  licença  do  dito  capitão,  o  não  o 
fazendo  assi,  ou  partindo  sem  a  dita  licença,  perder-se-hão  em 
dobro  para  mim  todas  as  mercadorias  que  carregarem  posto  que  não 
sejam  defezas,  o  isto  porém  se  entenderá  emquanto  na  ditd  capitania 
não  houver  ollicial  meu  deputado  para  isso,  porque  havendo-o  ahi 
a  elle  se  fará  a  saber  o  que  dito  é,  o  a  ello  pertencerá  fazer  a  dita 
diligencia,  e  dar  as  ditas  licenças. 

li.  O  capitão  da  dita  capitania,  e  os  moradores  e  povoadores 
d'cílas  poderão  livre  tratar,  comprar  e  vender^suas  mercadorias  com 


10a 

os  capitães  das  outras  capitanias,  que  tenho  provido  na  dita  costa  do 
Brazil  o  com  os  moradores  e  povoadores  d'ella  a  saber  de  umas  Capita- 
nias para  outras,  dasquaes  mercadorias,  ecomprase  vendas  d'ellaa 
nào  pagaram  uns  nem  outros  direitos  alguns. 
I      12.  Todo  o  vizinho  e  morador  que  viver  na  dita  capitania,  e  fôr 
;  feitor  ou  tiver  companhia  com  alguma  pessoa  que  viver  fora  dos  meus 
reinos  ou  senhorios,  nSo  poderá  tratar  com  os  Brazis  da  terra  posto 
que  sejam  chrislSos,  e  tratando  com  elles  hei  por  bem  que  perca  toda 
a  fazenda  com  que  tratar,  da  qual  será  um  terço  para  quem  o  accusar, 
'  6  os  dous  terços  para  as  obras  dos  muros  da  dita  capitania. 

13.  Os  alcaides  mores  da  dita  capitania  e  das  villas  e  povoações 
haverão  e  arrecadarão  para  si  lodos  os  foros  e  tributos  que  em  meus 
reinos  e  senhorios  por  bem  de  minhas  ordenações  pertencem  e  são 
concedidos  aos  alcaides  mores. 

14.  Nos  rios  das  ditas  capitanias  em  que  houver  necessidade  pôr 
barcas  para  passagem  d'elles  o  capitão  as  porá  e  levará  d*ella3  direito 
ou  tributo  que  là  em  camará  (ôr  taxado  que  leve,  sendo  confirmado 
por  mim. 

15.  Os  moradores,  povoadores  e  povo  da  dita  capitania  serão 
lobrigados  em  tempo  de  guerra  de  servir  n*ella  com  o  capitão  se  lhe 

necessário  fôr. 

16.  £  cada  um  dos  tabelliães  do  publico  e  judicial  que  nas  ditas 
povoações  da  dita  capitania  houver  serão  obrigados  a  pagar  ao  dito 
capitão  quinhentos  réis  de  pensão  em  cada  um  anno. 

17.  Nolítlco-o  assim  ao  capitão  da  dita  capitania  que  ora  é,  e  ao 
diante  fôr,  eao  meu  feitor,  almoxarife»  e  officiaes  d'ella ,  e  aos 
juízes,  justiças  das  ditas  capitanias,  e  a  todas  as  outras  justiças,  o 
officiaes  de  meus  reinos  e  senhorios  assi  de  justiça  como  de  fazenda 
mando  a  todos  em  geral  o  a  cada  um  em  especial  que  cumpram 
aguardem,  o  façam  inteiramente  cumprir  e  guardar  esta  minha 
carta  de  foral,  assi  e  da  maneira  que  se  n'ella  contém;  sem  lhe 
n'Í8S0  ser  posto  duvida ,  embargo  nem  contradícção  alguma,  porque 
assi  é  minha  vontade  digo  mercê,  e  por  firmeza  d*elle  lhe  mandei 
dar  esta  carta  por  mim  assignada  e  sellada  de  meu  sello  pendente, 


Í6i 

a  qual  mando  que  se  registe  no  livro  dos  registos  de  minha  alfan- 
dega de  Lisboa ,  e  assi  nos  Kvros  de  minha  feitoria  da  dita  eapi- 
tania ,  e  pela  mesma  maneira  se  registará  nos  livros  das  camarás 
das  villas  e  povoações  da  dita  capitania  para  que  a  todos  seja  notório 
o  conteúdo  n'este  foral^  ese  cumprir  inteiramente. 

Manoel  da  Costa  a  fez  em  Évora  a  vinte  e  seis  dias  do  mez  de 
Agosto»  anno  do  nascimento  de  nosso  senhor  Jesus  Christo  de  mil 
quinhentos  e  trinta  o  quatro. 

(Bibliotheca  publica  d'Evora.  Códice ^^f.  229  v.) 


166 

REGIMENTO 

DADO  A  ANTÓNIO   CARDOSO    DE  BARROS, 

Cavallciro  fidalgo  da  casa  dVI-rei 
Como  provcdor-mór  da  fazenda  que  primeiro  foi  aoBrazil. 

Almeirim ,  17  de  Dezembro  de  1548. 
(Ms.  offèrocido  ao  IniUtuto  por  Sua  Magestade  o  Imperador.) 


1.*  Eu  el-rei  faço  saber  a  vós  António  Cardoso  de  Barros,  cavai- 
leiro  fidalgo  de  minlia  casa ,  que  vendo  cu  quanto  serviço  de  Deos  o 
meu  é  serem  as  terras  do  Brazíl  povoadas  do  christSos  pelo  muito 
fructo  que  d'isso  segue  ,  mando  ora  fazer  uma  fortaleza  na  Bahia  de 
Todos  os  Santos,  e  por  vôr  as  outras  capitanias  para  d*aqui  em  diante 
possam  ser  melhor  povoadas ,  o  a  isto  ordenei  que  fosse  Thomó  de 
Souza ,  fidalgo  de  minha  casa  ,  que  envio  por  capitão  da  dita  Bahia  o 
governador  de  todas  as  terras  do  Brazil.  E  porque  as  minhas  rendas 
e  direitos  das  ditas  terras  até  aqui  não  foram  arrecadadas  como  cum- 
priam por  não  haver  que  comprovesse  n'ellas ,  e  d'aqui  em  diante  es- 
pero que  com  ajuda  de  nosso  senhor  irào  em  muito  crescimento,  o 
para  que  a  arrecadação  d'ellas  se  ponha  na  ordem  que  a  meu  serviço 
cumpre,  ordenei  mandar  ora  ás  ditas  terras  uma  pessoa  do  confiança 
que  sirva  de  provedor-mór  de  minha  fazenda  n'ellas,  o  por  confiar 
de  vós  que  n'isso  me  sabereis  bem  servir ,  e  com  aquelle  cuidado  e 
diligencia  que  de  vós  espero ,  hei  por  bem  de  vos  encarregar  o  dito 
cargo  no  qual  tereis  a  maneira  seguinte  : 

2.*  Ireis  d'aq(ii  em  companhia  do  dito  Thomó  de  Souza  direita- 
mente a  dita  Bahia  de  Todos  os  Santos,  e  porque  ello  leva  por  meu 


167 

regimento  a  maneira  que  ha  do  ler  em  assentar  a  terra »  e  fazer  a  for- 
taleza e  povoação  da  dita  Bahia ,  e  prover  em  outras  cousas  quo 
cumprem  a  meu  serviço ,  vos  mandoqueem  tudo  o  que  elle  comvosco 
praticar  acerca  das  ditas  cousas  lhe  deis  vosso  parecer  e  o  ajudeis  em 
tudo  o  que  puderdes  e  lhe  do  vós  fôr  necessário. 

3.*  Tanto  que  chegardes  á  dita  Bahia  \os  informareis  que  oíliciaes 
de  minha  fazenda  ha  em  cada  capitania  para  proverem  e  arrecadarem 
minhas  rendas,  e  aos  que  achardes  por  informação  que  ha  nas  ditas 
capitanias  escrevereis  em  como  eu  vos  encommendo  por  provedor  de 
minha  fazenda  nas  ditas  terras ,  e  que  portanto  vos  escreverão  logo 
que  rendas  e  direitos  ha  na  capitania  d'onde  forem  ofGciaes  que  ma 
pertençam ,  e  de  qm  cousas  se  pagam «  e  da  maneira  que  so  tem  na 
arrecadação  d'elles ,  e  sobre  (fuo  pessoas  está  carregado ,  e  o  que  até 
agora  renderam  ,  e  si  ha  ahi  casa  ordenada  para  a  dita  arrecadação , 
e  que  assim  vos  escrevam  que  artilharia ,  armas,  e  munires  minhas 
ha  na  tal  capitania,  e  si  está  tudo  carregado  em  n^ceita  sobre  meus 
officiaes ,  o  sendo-vos  informado  que  em  algumas  capitanias  nffo  ha 
ofticiaes  de  minha  fazenda  ,  escrevereis  o  sobredito  aos  capitães  ou 
pessoas  que  estejam  em  seu  lugar. 

4.*  Tanto  que  na  dita  Bahia  a  terra  estiver  assentada  dareis  ordem 
que  se  façam  umas  casas  para  alfandega  perlo  do  mnr ,  em  lugar  con- 
veniente para  bom  despacho  das  partes ,  c  arrecadação  do  meus  direi- 
tos ,  e  vereis  que  ofticiaes  ao  presente  são  necessários  para  a  dita  al- 
fandega ,  o  dareis  conta  d'isso  ao  diioThoméde  Souza  para  etic  com- 
vosco parecer  prover  dos  officiaes  quo  logo  se  não  poderem  escusar 
aquellas  pessoas  que  vir  quo  n'isso  me  poderão  bem  servir ,  até  eu 
prover  d'elles  a  pessoa  que  houver  por  meu  serviço ,  e  porém  estando 
lá  que  ó  provido  de  ofScio  de  provedor  de  minha  fazenda  da  capitania 
da  dita  Bahia  ,  elle  servirá  de  juiz  da  dita  alfandega  segundo  a  forma 
do  regimento  dos  provedores ,  e  as  pessoas  que  forem  encarregadas 
dos  ditos  officios  haverão  juramento  quo  servirão  bem  o  verdadei- 
ramente. 

5.*  Ordenareis  que  na  dita  alfandega  haja  livros,  a  saber :  um  de 
receita  o  despeza  dos  reudimentos  d'ella ,  e  outro  cm  que  so  registe  o 

xynx  22 


W8 

^ral  o  regimento  Jos  ofGciâús  o  qiv^tisriuçrauUas  provisúiís  rpie  ai^ 
clMiule  se  passprem  sobre  v^  aurecadação  dos  diruilos  da  dita  ai|fajiJeg:i , 
oscjoaes  Iryros  serão  contados,  e  a3sii^«iailu5  ein  caib  fuJiia  pelo. dito 
||ro,Y9doi'.  Ordenareis  ea3a  en>  que  se  f'ã(p  o  ue*fi^h  d<^  uiinlm  fazendút 
e  contos,  e  pra  adilo negoci<^ se  far^  livros  ,  sr saber  :  um  em  qm. 
ae  a^s^rtaráO  todas  as  roíiiase.  direitos. que  eu  leuho  nas  Jitas  capito- 
i^iaa ,  a  saber :  as  renda»  de  cada  uma  por  lrli>k>  por  si,  declui^atido  de 
ijue cousas, o  porque  in&oefras.  se  pa^ao  osc  dilos  dípelios ,  eordensv- 
(Iq^ ,  Q  n»9i4imetU09  queor9,aao  diantti.  livorem  os  offieraes  di5  míih» 
l^zeiida.e.  quaesijuer.  outras  pessoas ,  e  assim  lcnçn&  quose  lá  inaB- 
d«fi;em  paga«,  e  haverá  oulro  livro  en^que  se  assentem  os  con^trractos- 
e  arren.dumenkis  que  se  íizerem ,  e  outro  em  quese  assentetif  os  fo- 
r,ai9S  e  regimentos  e  quaesq^uer  outras  provisões  que  se  pssarem  sobre- 
c^u^s  que  toquem  a  minha  bzeuda ,  e  assim  se  fará  para  matr rcultf 
eia  que  se  assente  a  geiUe  de  so!do  que  ora  vai  nesta  arriKtdB  ,  e  ao 
diante  fòr,  e  cada  pessoa  terá  titulo  apartado  em  que  se  decla^re  a 
nome  da  pessoa  e  alcunha  si  a  tiver,  e  cujo  fílbg  é ,  e  tugar  onde  ó- 
morador»  e  o  soldo,  que  ha  de  haver  e  o  tempo  que  servir ,  e  os  paga- 
mentos que  IIk3  forem  feitos ,  e  assrm  se  fará  outro  livro  em  que  sei 
a^Mleni  todos  os  ofOciaes  que  tiverem  cargo  de  i;eceber  mis  dita» 
terras  dp,  Briuii  minhas  rendas  c  direitos  ,  declarando  o  tempo  en> 
^ue  começaram  a  servir  para  t^nto  qut;  fàf  tpmpo  de  darem  suas 
eoq.tas  scren)  para  isso  chamados ,  e  assia>  se  farão,  quaesquer  outro», 
livros  e  emenius  que  para  os  negócios  da  dita  fazenda  forem  necossan. 
rios,  e  encarregareis  uma  pessoa  apta  que  sirva  de  porteira  das  ditas 
rasas  da  fazenda ,  contos  e alfandega,,,  e  l(snba  curdadadegiiardar  o» 
livros  das  ditas  casas,  os  quaes  livros  lhe  serSo  carregados  em  receitai, 
€jm  um  livro  que  pra  isso  haverá  que  terá  as  fplhas  assignadps  o  nu- 
liberadas  por  vós ,  e  estarão  em,  poder  do  escrivão  da  fazenda. 

(f,*.  Tanto  que  assim  ordenardes  a  dita  casa  para  o  negocio  de 
iQinha  faz^ndp ,  vós  com  o  esQriydo  de  yosso,  cargo  ireis  a  ellatodo» 
os  dias  que  vos  parecer  que  ó  necessário  para  despacho  das  causas  e 
liegpcios  qtie  haveis  de  provôr  de  quacsquer  outros  que  succodani. 

7.*  Conhecereis  de  todas  as  appellp^õjs  e  aggravos ,  que  sahirei» 


169 

^"atíte  eis  provedores  e  offíciacs  de  minha  raxònda,  assim  d'essa  cápiu. 
fiia  como  dó  todas  as  dulfaá  do  Brazíl ,  de  feitos  qiie  se  tratarem  pe. 
rante  ellies  iRobrè  qtíaiitiâ  que  passálr  <ie  dez  mil  réis ,  ou  sobre  cousa 
4}ué  ós  valiui. 

8.'  E  poréiVi  no  lugar  onde  Ws  eí^tiverdiss ,  conhecereis  das  appèl- 
iaçõeis  b  nggravosqíue  sehírèilíl  d^anléos  òfficiaés  do  tal  lugar,  ainda 
<]\íè  seji^tn  dé  menos  qnnliliia  dos  ditos  déz  mil  réis ,  sendo  porém  de 
<fous  ítlM  réis  para  cima. 

9/  Conhecereis  por  àcçãò  nova  no  lugar  d'onde  estiverdes  e  a 
cinco  léguas  ao  redor  de  qdáesquer  casos  que  tocarem  á  minha  fazen- 
da ^  ehtre  (ludéSquiH*  pfessbas ,  jpòsto  que  o  meu  procurador  n'isso  nflo 
Sf^jh  parle «  e  assihí  podereis  aVocáír  a  vos  quaesquér  feitos ,  e  cousas 
<júe  tocaréln  á  rhtniià  fazenda  qúé  se  tratarem  perante  o  provedor  oú 
élihò^arifo  do  lugar  onde  vóã  estiverdes,  e  nos  ditos  feitos  de  que 
^nhecerdés  pòr  ãCçâò ,  e  aVocàrdes  a  \'ós  ,  procedereis  até  final  sén- 
4en<^  f  iíiclosiTé  fâsndo  a  causa  da  quantia  de  dez  mil  réis  e  (i*ahi  para 
bèi^LO  i  èu  sobi^e  tòMs^  que  OS  valha ,  é  sendo  de  mor  quantia  levareis 
o  feito  á  Bahia  para  lá  o  despachardes  peta  maneira  que  haveis  de 
destpechar  òs  outros,  è  náo  havendo  vós  dé  ir  tão  cedo  o  reinettereis 
|à  para  o  dito  Thonlé  de  Souza  dar  a  élles  jiitzes  em  vossa  àusehcia 
qtié  0^  dèspnchem  ttiúiH  fdr  jUslíifá  ,  e  indo  vosáo  tal  iugafde  terdeà 
«lado  séfitença  ftiial  ilos  ditos  feitos  os  deixáreis  ao  provedor  da  capi- 
tôtiin  dé  que  fdr  o  tal  lugát ,  ò  qu»t  os  ncadarâ  de  processar  e  deter- 
minai* k  dando  appellaçtlo  é  aggritvo  fios  em  que  couber. 

10.  £  erhquãtilò  éstlveirdes  tia  povonçào  da  dita  Rahio  dèspactiareis 
CS  dito^  feitos  (jiié  vos  hâo  dé  vir  pòr  appelbçâò  ou  ãggravocóm  dous 
letrados ,  os  qikáe^  perfi^ís  do  diiò  Yhòmé  de  Souza ,  o  clle  vc^los  dará 
qútítídôtéútaptW^  e  Mool  liãvendò  sdfó  éom  diiàs  pessoas,  quaes  ibe 
é\è  befn  párfecér ,  6  t^òrtl  às  ditas  peksoas  determinareis  os  dito^  feitos 
de  quàésqiief  qvtèhtía^  qiié  ferefn  sòhí  appéllaçào  nem  aggravo ,  pela 
mesma  fttáiieiírit  deteffmfnarÉífs  bé  ditos  feitos  que  levardes  das  outras 
<<if|)!lMiías,  e  assim  équellés  q(ié  na  dítá  capitânia  da  Éahía  se  trata- 
tm  perante  tos  por  à^^Sa  tiòva  ,  ou  avocardes  do  pí-óvedor  e  almo- 
ilrife  d*ella. 


170 

11.  Hei  por  bem  que  oulrosím  conheçais  por  acçfio  nova,  assim 
na  capitania  da  Bahia ,  como  em  qualquer  outra ,  d'onde  fordes  # 
estiverdes  do  todas  as  duvidas  e  foilos  que  se  moverem  sobre  as  ses- 
marias e  datas  do  terras  o  aguas  entre  o  capitão  em  cuja  capitania 
estiverem  as  ditas  terras  e  aguas ,  o  outras  pessoas  ou  entre  quaesquer 
outras  parles ,  e  assim  podereis  avocar  a  vós  quaesquer  feitos  e  causas 
que  sobre  as  ditas  dadas  de  terras  «  aguas  se  tratarem  entre  os  prove- 
dores ,  e  assim  das  appellações  e  aggravos  que  d'ante  eites  sahirem , 
e  de  tudo  conhecereis  na  maneira  e  com  a  mesma  alçada  que  haveis 
de  ter  nos  outros  feitos  acima  conteúdos. 

12.  Pelo  regimento  que  leva  Tbomé  de  Souza  lhe  mando  que 
depois  que  chegar  á  Bahia  tanto  que  o  tempo  lhe  der  lugar  e  os  ne- 
gócios d'aquella  capitania  estiverem  para  os  elle  poder  deixar ,  vá 
visitar  as  outras  capitanias ,  quando  assim  fòr  vós  ireis  com  elle  para 
o  ajudardes  nas  cousas  de  meu  serviço  que  nas  ditas  capitanias  ha  de 
fazer  ^  e  para  também  vos  proverdes  em  cada  uma  d'ellas  nas  cousas 
que  tocarem  a  vosso  cargo ,  o  que  vós  por  este  regimento  mando  que 
façais. 

13.  Em  cada  uma  das  ditas  capitanias  tanto  quen*ella  fordes  fareis 
vir  perante  vós  o  provedor ,  e  almoxarife  eoíBcíaes  de  minha  fazenda 
que  n'ella  hou\er,  e  sendo  presente  o  escrivSo  de  vosso  cargo,  vos 
informareis  dos  ditos  officiaes  que  rendas  e  direitos  tenlio  e  me  per- 
tencem na  tal  capitania,  como  se  arrecadaram  ató  entào  ,  e  si  foram 
arrendadas ,  ou  se  arrecadaram  para  mim ,  e  si  foi  tudo  carregado 
na  receita ,  e  por  que  pessoas ,  e  sobre  que  officiaes ,  e  em  que  se 
despendeu  o  dito  rendimento ;  e  para  isso  tomareis  conta  às  ditas  pes- 
soas; o  que  achardes  que  despenderam  lhe  levareis  em  conta  ,  e  o 
que  ficarem  devendo  fareis  arrecadar  d'elles ,  aos  tempos  e  pela  ma- 
neira que  mais  meu  serviço  vos  parecer ,  e  o  treslado  das  arrecada- 
ções das  contas  que  se  tomarem  enviareis  aos  meus  contos  do  reino. 

14.  N50  havendo  na  tal  capitania  officiaes  de  minha  fazenda  pro- 
vidos por  mim ,  ou  faltando  alguns  dos  que  forem  necessários ,  dareis 
conta  d'isso  a  Thomé  de  Souza ,  para  elle  comvosco  parecer  prover 
dos  officios  que  forem  necessários  em  pessoas  que  para  isso  forem 


aptas ,  6  escrcver-me-hois  os  ofUcios  que  nssini  proverem ,  e  a  que 
pessoas  para  eu  mandar  acerca  d*isso  o  que  houver  por  meu  .serviça 

15.  Em  cada  uma  das  ditas  capitanias  ordenareis  que  haja  casas 
para  alfandegas  e  contos,  e  livros  para  o  negocio  das  ditas  casas  da 
maneira  que  o  haveis  de  ordenar  na  Bahia ,  e  como  se  tem  feito  no 
regimento  dos  provedores. 

16.  E  assim  ordenareis  de  fazerem  ramos  apartados ,  a  rendas  e 
direitos  que  eu  tiver  e  me  pertencer  em  cada  uma  das  capitanias , 
annexando  a  cada  ramo  aqueila  parte  das  ditas  rendas  e  direitos  que 
vos  parecer  melhor,  digo  que  vos  parecer  que  melhor  se  poderSo 
n'elles  arrecadar ,  de  que  se  íurà  assento  no  livro  dos  regimentos  da 
provedoria  da  dita  capitania  das  ditas  rendas  mandareis  metter  em 
pregão  por  ramos  ou  juntamente  como  vos  mais  meu  serviço  vos  pa- 
recer 9  6  as  arrematareis  a  quem  por  ellas  mais  der ,  guardando  n'isso 
a  forma  do  regimento  de  minha  fazenda ,  e  as  quantias  dos  arrenda- 
mentos fareis  carregar  em  receita  sobre  o  dito  almoxarife  para  ter  cui- 
dado de  tomar  as  fianças ,  e  arrecadar  a  dita  quantia  segundo  se 
contém  no  regimento  de  minha  fazenda  com  a  qual  vos  conformareis 
em  tudo  o  que  não  fôr  contrario  a  este. 

17.  Em  cada  um  anno  escrevereis  a  cada  um  dos  provedores  de 
rainha  fazenda  que  vos  mandem  por  certidSo  o  que  renderam  minhas 
rendas  e  direitos  de  sua  provedoria  o  anno  atraz ,  e  que  d'ellas  des- 
pendeu-se,  e  em  que  cousas,  e  que  todo  o  mais  enviem  a  entregar 
ao  meu  thesoureiro  que  ha  de  estar  na  dita  Bahia  para  receber  todas 
as  ditas  rendas ,  e  eu  lhes  mando  em  seu  regimento  que  assim  o 
façam. 

18.  Tereis  cuidado  que  tanto  que  cada  almoxarife  tiver  recebido 
cada  cinco  annos  lhe  mandar  notificar  que  vá  dar  sua  conta  a  Bahia 
na  casa  dos  contos  que  ahí  ha  de  estar ,  e  que  leve  para  isso  todos 
os  seus  livros,  e  papeis;  e  ao  provedor  da  tal  provedoria  escrevereis 
que  resumisse  ao  dito  almoxarife  sua  conta  primeiro  que  vá  à  dita 
Bahia,  e  arrecadar  d'elle  o  que  achar  que  fica  devendo  e  o  envie  logo 
ao  meu  thesoureiro ,  e  que  assim  vos  escreva  que  pessoas  ha  na  dita 
provedoria  que  sejam  aptas  para  receber  as  rendas^  emquanto  o  ai- 


172 

n^oxarifo  der  sun  conta  ,  c  vós  encarregnfcis  do  dito  i'eccliimcnto  yma 
das  dilBs  pessoas 9  à  quem  ò  ftmvedor  vos  notnieia^ 

19.  Tanio  quôo  dito  almoTtáftfe  Tór  ha  Bahia  p^fn  dar  áiià  cóhU , 
lhe  fareis  tomar,  e  como  for  ac&badn  !%rS  vista  por  vós,  è  tícando  o 
almoxarife  devendo  nlgunfia  eou^  lb'á  fareis  pagar,  e  dòpois  de  ter 
dado  conta  com  entrega  lhe  passem  provisão  para  tofnar  ã  servir  seu 
cargo,  declarando  n*etla  como  tem  dedo  a  dita  conta  com  entregar  ao 
provedor  que  estiver  servindo  d  dito  òargd;  acabará  dé  Servir  aqitellé 
anno  que  tiver  começado ,  posto  qtiê  o  dito  almoxarife  dentro  dó  diio 
anno  leve  a  dita  provisão  para  podòr  tornar  a  receber,  e  pela  dita 
maneira  venliam  os  recebedores  dar  áua  eoitta  a  cabo  o  lenipo  de  seus 
recebimentos. 

20.  As  duvidas  que  liduvor  nãs  ditAs  eonlaá  determinareis  cnm 
nm  letrado  quo  pedireis  ao  dito  Tbomé  deSouata  ou  òom  qualquer 
outra  pesfoá  que  ello  para  isso  ordenar ,  e  hio  séndó  ambos  confor- 
mes em  algumas  das  dilis  duvidas  o  dito  Thótii^á  de  Sduzà  dará  outra 
pessoa  paro  terteiro  ^  e  o  que  par  dous  for  dotermifiâdo  se  (Cumprirá. 

31 «  Quamio  pelo  tempo  em  diahlo  depois  d*em  primeiro  véz  fordes 
a  cada  uma  das  ditas  capitanias  v«)s  informnreis  éorrtò  os  ditos  prove- 
dores, è  almoxarifes  o  recebedores  é  òiitros  ófficlaè^  dé  mihha  faíérída 
servem  seus  cargos,  e  achando  pela  dita  informação  ({ue  fazóm  n*ellcs 
o  que  nao  devem  tirareis  sobre  isso  iníjiiiriçõeS  e  deV^lssà  ô  próòèdé- 
reis  contra  os  culpados  como  for  justiça  delefmihnndo  sóifs  fellós  ha 
Babia  como  haveis  de  fazer  nos  otitros  féitòs^  e  Si  sii^pénrlôrdeá  al- 
guns dos  ditos  ofilcines  de  seus  cargos  o  fareis  sifber  h  Tliomè  dé 
Souza  para  elle  prover  possons  que  sirvam ,  e  nào  sendo  o  dito  Thòmé 
<le  Souza  presente  na  capitania  ém  que  o^  a^isim  suspehderdés  ,  vóS  os 
provereis  daodo-lhc  juramento. 

22.  Hei  por  bem  que  d*aqui  em  diahté  pessoa  alguitla  nâd  taéti 
nas  ditas  terras  do  Brazil  navio  mtn  caravélla  nlgUma  scrtt  tíóen^á 
do  dito  Thomé  do  Souza ,  a  qual  Ihedará  nos  lugares  ohde  tat  pre- 
sente, e  n'aquelles  cm  que  o  ni^aférf  dareis  vós  á  dita  lióença  ú  òhl 
estiverdes,  e  nào  estando  a  dará  em  vos^  áitseitôia  o  provedor  dá 
capitania  t  ^^nte  o  tal  navio  sò  houver  de  íatet,  as  qnaes  licehçns 


Í7Z 

(farão  os  [Mssoas  ab9st^«l^'ts  e  $C]$uri8  e  qtto  dêem  fiança  por  quo  se 
obrigiie^  „  qii^quaoiiq  houivcrein  de  ir  tratar  eom  o  tal  navio  o  h^Bim 
a  sakr  9a  provedor  da  oa^iitanMi  d*oiié0>  partir ,  equo  cumpram  mtei- 
rafiQBttf  o  que  soit>re  Q  dito  ó  coiUbemlo  noft  regimentos  dos  dites  pro* 
Yedoi:c9. 

23<i  Tr9Ji)9Uiareis  com  as  pessoas  qoo:  vos  pedirem  licença  par» 
fazeceu)  os  ditos  naiv^os»  qiH>  oe  faqnm  de  remo  em  sendo  deqtitn2i> 
bancos  ou  d^abi  para  cima ,  e  ^u.e  tepiM  de  banco  a  banco  tx^es  palmos* 
de  guoa ,  bei  por  bem  que  nâo  paguem  direitos  nas  minhas  albade* 
lasdOi  içeinQ  dt.  tQ<ibs  ^s  muniçOois  e  apparelhos ,  que  para  os  taes 
i^sm  forem  oecess^^ÍAS  9  ^  (az^ndo-Oft  det  deitoiío  bancos  e  d'abí  paan 
ciraa.ba.v(;i;âe  mais  aUm  dos  ditos  direitos ()Marenta  cruiadois  de  mercê' 
á  QU3191  de  minjia  fazenda  1^  das.  rendas  cjiie  so:  arrecadarem  nae  ditflie 
te/ras.  dv  B^/JJ^  e.  isso  para  aj,uda  de  os  fazeremicomo  todo  é  con** 
tjieudo  00  rc{ÍAu<^to  dos.dito^  pi^edopeis ,  06  quaes  quarenta  ecuzado» 
]fíO  vós  pQa^dnrejs.  pagar  nq^  dilae  ceodas  com  oertidqo  do>  provedor 
da  capitania  onde  se  houverem  de  fazerem ,  dft  como  lhe  ten  dado« 
tiaoça  no  (ívffir  dei^l,ro.  de  gn^.  aPUQ  >.  O:  lereis  cuid^o  dDi  sabor  si 
nquellcsqjiie  se  Q^riganv^  fa^cer  os  dinos  navios  os  fizeram  e  ctunpri^ 
raíp  se.a^.  pbrigfiçõei  ^  porque  acb^Qydo)  que  as  nSo  cumpcínam  se>aiK. 
recadp  d'elle$.e,  de  seus  tiador^e^  os  ditos  quarenta  onuzados;,  segundoi. 
é  conJl)^.^do.  no  r.egimeoto.dois  diitos. provedores. 

2V  Si,  ao.  djipi  Thpmó  de  $ouza  parecer  meu  serviçoi  fazer*  eati 
slljl^a^  i^s  i\\s»  capitanias  a)gi|n)k  na^io  ó  custa;  de  minha  fazieittfai. 
paca,  d^ensSOtda.  co$Ui  vós  dareis  ordem:  e  maneara  como  se  faça  con»*- 
fonoe  qo  qjue  ello;  nisso  ordenar»  e  o?  tal  oavio  será.  carregado. em: 
receia  soji^re.  o  almoxarife  d^aqueila  eapitaniaem  que  se  flzer ,  e  aasit 
a  ar.tiJ>pria.e  miipições  que  ap  diio  Xliomé  de  Souza  parecer  neeea- 
sariqs.  para.s^  armpr  quando  cumprir. 

2$.  E.  por  qim  será  ooeu.  secviço-  q  proveito  dei  meus.  reinos:  pela. 
aba^t^nça  d.a3  madeiras  que.  ba  nos  ditas  terras  do  Brazil ,  facerein^e.> 
lá  qáus,  bei  per  bom  que  as  pessoas  que  naidita  lecra  do*  Bra^l.  as 
fizereniLdoeento  e  triota;toneis,  Ottdehi  para  cima  hajam  uma  meroè 
e  gozem  de  Ubercfedc ,  dp  que  gos^m  por  bom  do  regimento  de  mi^ 


174 

nha  fazenJa  ,  oâ  que  fazem  naus  da  díla  grandura  nestes  reinos  ,  a 
qual  mercê  haverão  nas  minhas  rondas  das  ditas  terras  do  Braztl. 

26.  Informar-Yos-beis  do  que  se  fez  da  artilharia  ,  armas  e  muni- 
ções minhas  que  estavam  na  fortaleza  velha  de  Pernambuco  ,  e  fa-la> 
heis  arrecadar  e  carregar  em  receita  sobre  o  almoxarife ,  e  pela  mesma 
maneira  vos  informareis  em  cada  capitania  onde  fordes  si  nella  ha 
alguma  artilharia  y  armas  e  munições  que  me  pertençam ,  e  achando-a 
a  fareis  arrecadar  pela  dita  maneira  ,  e  carregar  em  receita  ao  almo- 
xarife. 

27.  Tendo  alguns  capitães  ou  pessoas  outras  das  dilas  capitanias 
necessidade  de  alguma  artilharia  para  seu  uso  na  terra  e  defensão 
d'ella  9  a  pedirão  a  Tliomé  de  Souza »  e  eite  lh'a  mandará  dar  nos 
meus  armazéns  si  lhe  bem  parecer,  e  será  pelo  preço  que  achardes 
que  me  custa  posta  lá ,  e  por  isso  levareis  d'aqiii  por  certidão  do  pro- 
vedor de  meus  armazéns  o  que  cada  uma  das  ditas  cousas  custa  posta 
lá  ,  e  o  preço  por  que  se  assim  der  as  ditas  pessoas  se  carregará  em 
receita  sobro  o  almoxarife  que  as  der. 

28.  Eu  tenho  ordenado  que  os  capitSes  das  capitanias  da  dita  terra 
e  senhorios  dos  engenhos  e  moradores  d  ella  sejam  obrigados  a  ter  as 
armas,  e  artilharia  seguinte ,  a  saber:  cada  capitão  om  sua  capitania 
ao  menos  dous  falcões ,  e  seus  berços ,  e  seis  meios  berços ,  e  vinte 
arcabuzes  ou  espingardas  e  sua  pólvora  necessária ,  e  vinte  bestas  ,  e 
vinte  lanças  e  chuços ,  quarenta  espadas ,  quarenta  corpos  d'armas 
de  algodão  dos  que  na  terra  do  Brazil  costumam  ,  e  os  senhorios  dos 
engenhos  e  fazendas  que  hão  de  ter  terras  ou  casas  fortes ,  tenham  ao 
menos  quatro  berços  ,  dez  espingardas ,  e  dez  bestas ,  e  vinte  espadas 
e  dez  lanças  ou  chuços,  e  vinte  corpos  d'arroas  de  algodão ,  e  todo 
o  morador  das  ditas  terras  que  n'ellas  tiver  casas,  ou  aguas  ,  ou  navio 
tenha  ao  menos  besta  ou  espingarda  ,  espada  ,  lança  ou  chuço  e  que 
os  que  não  tiverem  as  ditas  armas  se  provejam  d'ellas  da  notiGcação 
Q  um  anno  achando-se  que  as  não  tem  paguem  em  dobro  a  valia  das 
armas,  que  lhe  fallecerem,  das  que  são  obrigados  a  ter,  a  metade 
para  quem  os  accusar ,  e  a  outra  ametade  para  captivos ,  e  portanto 
vós  tereis  cuidado  quando  correrdes  as  ditas  capitanias  de  saber  si  as 


175 

ditts  pessoas  tem  as  ditais  armas ,  e  de  executar  as  penas  sobreditas 
nas  que  irellas  iflcorrerem ,  e  porque  no  regimento  dos  provedores 
tenho  mandado  q«ie  quando  vós  nao  lordes  ás  ditas  capitanias  cada  um 
d'ene8  em  sua  provedoria  faça  a  dita  diligencia  e  autos  do  qqe  n'isso 
achar «  e  vo-los  envio  :  quando  vo-los  assim  enviarem  procedereis  por 
elles  segundo  tórma  d*este  capitulo,  e  também  sabereis  que  9a  pessoas 
que  por  este  capitulo  hSo  de  ter  artilharia  tem  a  que  sio  obrigados ,  e 
a  dita  diligencia  fareis  vós  ou  os  ditos  provedores  na  artilharia  e  armas 
que  os  capilàes  sio  obrigados  a  ter ,  porque  com  os  ditos  capiuses 
somente  fareis  vós  ou  os  ditos  provedores  a  dita  diligencia ,  e  n^o 
6  nem  outras  pessoas. 

29.  E  quando  algumas  pessoas  das  ditas  se  queiram  prover  das 
ditas  G0U8as'ou  de  algumas  d*eilas,  hei  por  hiem  que  vós  lh*as  façais 
dar  dos  meus  arniazens  havendo-as  n'elle  pelos  ofGcios  que  se  achar 
que  me  custam  li  postas. 

30.  Para  que  o  assucar  que  nas  ditas  torras  do  Brazil  se  houver 
de  fazer  seja  da  bondade  e  perfeição  que  deve  ser ,  ordenareis  que 
em  cada  capitania  haja  alealdador  elegido  por  vós  quando  fordes  pre- 
sente* e  sendo  ausente  pelo  provedor  da  tal  capitania  como  capitão 
d'ella ,  e  officiaes  da  camará  ,  e  a  pessoa  que  assi  for  elegida  ser- 
virá o  dito  cargo  emquanto  o  bem  Gzer ,  e  lhe  será  dado  o  juramento 
em  camará  para  que  sirva  o  dito  cargo  bem  e  verdadeiramente  «  e 
de  todo  o  assucar  que  lealdar  e  se  carregar  para  íóra  haverá  de  seu 
premio  um  real  por  arroba  á  custa  das  {)essoas  cujo  o  dito  assucar  for, 
e  as  pessoas  que  fliq^em  o  dito  assucar  o  não  tirarão  da  casa  de  purgar 
sem  primeiro  ser  visto  e  lealdade  sob  pena  de  o  perder ,  e  o  aie^il- 
dador  será  avisado  que  não  alealde  assucar  algum  senão  sendo  da 
bondade  e  perfeição  que  deve  na  sorte  de  que  cada  um  for. 

31.  De  todas  as  cousas  que  por  este  regimento  vos  mando  que 
façais  dareis  sempre  conta  ao  dito  Tbomé  de  Souza  sendo  vivo  no 
lugar  onde  estiver ,  e  si  em  algumas  cousas  fordes  differente  de  seu 
parecer  se  cumprirá  o  que  se  ordenar  e  mandar. 

32.  Encororoendo- vos  e  mando-vos  que  este  regimento  cumprais  e 
guardeis  inteiramente  como  de  vós  conGo  que  o  fareis. 

Ifin  23 


176 

Domingos  de  Figuoiredo  o  fez  em  Almeirim  a  dezesete  de  dezembro 
de  mil  e  quinhentos  e  quarenta  e  eito.  E  eu  Manoel  de  Moura  o  fiz 
escrever ,  o  qual  regimento  vinha  assignado  por  sua  alteza  e  com  visla 
posto  n'elle  pelo  conde  da  Castanheira. 

cxv 
(Bibliotheca  publica  de  Évora.  Códice-;;;^  f.  182.) 


177 


DESGRIPÇÂO 


Da  Tiagem  feita  detde  a  eidade  da  Baita  do  Rio  Negro 
pelo  rio  do  mefmo  nome. 


HILÁRIO  MAXIMIANO  ANTUNES  GURIÃO, 

Major  de  artilharia,  bacharel  em  mathemaUcas. 

(Maauscrípto  offereddo  ao  instituto  pelo  cx.""  sr«  ministro  do  império, 
Laii  Pedreira  do  Goatto  Ferrai.) 


Descripção  da  viagem ,  ^  fiz  desde  a  cidade  da  Barra  do  Rio 
Negro,  pelo  rio  do  mesmo  nomsy  até  a  serra  do  Cttcui,  indo 
em  eommissãOj  como  engenheiro,  por  ordem  doex.*^  sr.  con- 
selheiro  Herculano  Ferreira  Pennay  presidente  da  provinda, 
no  anno  de  1854. 

Ebivendo  sido  nomeado  pelo  ex."*  sr.  conselheiro  Herculano  Fer- 
reira Penna,  presidente  d'esta  proviucia»  no  dia  1.*  de  Outubro  do 
anno  próximo  passado  para  como  engenheiro  dirigir  as  diversas  obras 
militares,  que  por  ordem  do  governo  imperial  tem  de  ser  feitas  na 
província ;  e  sendo  necessário  construir  um  quartel  nas  fronteiras  de 
Marabitanas  perto  da  serra  do  Cucui ,  tive  de  ir  escolher  o  lugar  ^ 
levantar  a  planta,  e  principiar  o  dito  quartel:  digoando-se  também 
o  mesmo  ex."' senhor  encarregar-me  de  examinar  o  estado  das  ma- 
trizes das  freguezias  do  Rio  Negro ;  parti  para  os  fins  indicados  no 
dia  21  do  dito  mez  ás  4  horas  da  tarde  em  uml  igaritó  da  adminis- 
tração das  obras  publicas  com  2  soldados,  e  8  indios;  navegando 
regularmente  até  Santa  Isabel  16  horas  por  dia,  com  excepção  de 


47« 

afguns  era  que  furtes  teniporacs ,  cpue  se  formaram  ao  anoiteeer  me 
obrigaram  a  parar  mais4»do;  e  rómeiHo  tO  horas  de  Santa  Isabel 
p;ira  cvma  por  causa  das  murtas  pedras  que  se  encontram  em  todo  ^ 
leito  do  ria,  aporter  ás  povoações  de  Tana-pessossà  ne  dia  24,  de 
AyrSo  a  26,  da  freguezia  de  Moura  a  2^  de  Garroeire  a  29  tudo  de 
Outubro;  á  vilta  de  Barcellos  no  dia  2  de  Noveii>bro,  á  íregoezie 
de  Moreira  a  4,  á  de  Tboinaz  a  6,  á  de  Santa  isabef  a  9,  á  povoação 
de  SHnto  António  do  Castanheiro  a  if ,  á  de  Ma^araby  a  12,  ã  de 
S.  José  a  13^  á  de  S.  Pedro  a  T4,  á  ffegueria  de  S.  Gabriel  a  f7,  á 
povoação  de  Sant^Anna,  e  á  deS.  Fofippe  a  20,  á  da  Guia  a  21 , 
á  deS.  Mareei Hno  a  22,  e  finalmente  á  freguezia  de  S.  ksé  de  Ma- 
r»bitanas  ás  6  horas  da  manhâa  do  dia  24,  do  mez  ja  indicado. 

Poderia  aqur  faser  a  deacripçào  da  estrucluia  do  terreno,  da  quali* 
dade  dos  vegetaes,  ete. ,  que  observei  durante  mrirha  viagem;  mas 
•ó  dírer  que,  desde  o  porto  da  capital  vém-se  as  margens  doeste  ria, 
tributário  do  gigante  dos  rios ,  ornadas  de  arvores  colossaes  sempre 
verdejantes  e  floridas,  e  qtia  prova  qtie  a  destruidora  das  obras  d» 
miiÊr&m-^9  màodo  btNmem<— pouoo  lem  feito  a  bem  d^aquillo,  que 
se  ctmmo  civifisaçâo.  A'  sombra  doestas  bellas  arvores,  pela  maior 
pi^rtd  madeiras  de  lei,  descançhm  inimensos  vegetaes,  muitos  dos 
quaes  ainda  nèo  tiguram  na  eseala  botânica.  A  grande  quantidade 
de  argiila  branca e  colorida  peto  oxido  de  ferro  em  diversos  estados, 
apresentando-se  oíDais  das  vezes  em  camadas  distrnctas,  o  barra  de 
Inteire,  a  ptçarn»,  e  os  seixos  rolados  que  se  encontram  até  Santa 
Knbel,  segmndcKse  depois  as  pedras  dispersas  per  lodo  o  leito  áe 
rio,  e  em  umúLis  parl^fs  como  formando  muros  nas  margens,  e  quaei 
iHticamoate  a  argilta  pura,  provam  as  diversas  épocas  em  que  estes 
terrewí)s  forain  forinjidos» 

Poderra  tamt»etu  enumerar  a  infinidade  dt  aves  e  inisectos  de  varie- 
gAda($<*ères,  que  encantam  a  vií^a  do  viajante,  porém  nào  é  este  e 
meu  fim,  e  deixo  a  descrípçâo  dus  v^etaes  ao  botânico,  a  dos  terre- 
nos ao  geólogo,  e  a  4as  aves  e  insectos  ao  curioso  naturalista,  reser- 
«ando-me  unir^imtMite  a  mostrar  o  estado  em  que  encontrei  as  povoa- 
ções d'eiíte  rio ,  para  que  chegando  ao  conhecimento  do  governo  da 


179 

província »  possa  elle  curar  dos  rodos  de  fazer  prosperar  esfa  parfe 
d  ella ,  que  oom  os  íroineinee  prodoetos,  fue  eiwerra,  ainda  um  dia 
inuilo  concorrerá  para  abastecer  seus  cofres. 

Vou  agora  tratar  das  povoações  que  acima  mencionei ,  e  nomear 
os  rios  6  riachos  que  ficam  entre  ellas. 

A  povoação  de  Tana-pessasú  ó  situada  na  margem  austral  em  um 
lugar  elevado  e  aprazível ;  porém  nSo  encontrei  ai»  pessoa  alguma; 
composta  de  uma  igreja,  cujo  orago  èSsnio  Angelo;  com  8&  palmos 
de  comprimento  sobre  37  de  laigura ,  con  duas  sachrrstias ;  eéeíS 
casas  cobertas  de  palha  bem  conservada.  O  corpo  da  igneja  eslá  co- 
berto de  telha ,  e  acha-se  em  bom  estado ;  as  sacbrístKis  sSo  coberUis 
de  palha ,  e  suas  paredes  que  sf  o  de  madeira  e  barro  precisam  de 
•mboço  e  reboque  para  qse  otempe  nSocontmue  a  estraga-las.  Enire 
•^  povoação  e  a  cidade  da  Barra  encontram^e  algumas  casas,  em 
imbas  as  margens  do  rio,  a  que  chamam  sítios;  porém  mal  cons- 
truídas ,  e  pela  maior  parte  sem  pbntação  alguma ,  á  exeepcSo  de 
p^uenas  roças  de  manivas;  além  doestes  shios»  outros  existem  pela 
mesma  fórma  nas  margens  dos  rios  e  riachos  que  fazem  barra  ifesse 
e^ço  pela  maneira  segvinie:  na  margem  austral  o  riacho  Xiburena, 
e  oa  do  norte  o  Ayurím ,  e  o  rio  Anarelhana. 

Povoação  de  Ayrão  situada  na  margem  austral  10  léguas  acima 
d j  Tana-peesasú ,  formada  de  ama  igreja  dedicada  a  Santo  Elias , 
oberta  de  pallia  com  61  palmos  de  comprimento,  e  39  de  largo  ^ 
fHitando-lhe  as  portas  e  janellas,  en>beear,  rebocar  e  caiar  as  paredes' 
qu8  sSo  de  madeiras  embarreadas,  e  de  16  casas  cobertas  de  palha, 
nào  lendo  algumas  d'elia8  predes  iateraes. 

Nas  margens  que  ficam  entre  estas  duas  poToaçOes  avístam-se 
alguns  sítios  em  nada  diiferentes  dos  que  deixo  descriptos;  e  fazem 
barra  na  do  norte  os  riachos  Gamimaú,  Mapauaú ,  e  Dcuríuaá ,  que 
fica  quasi  fronteiro  à  povoaçllo. 

Navegando-se  mais  12  lagoas  cbega-se  á  freguezia  de  Moura,  que 
está  situada  na  marcam  austral  em  uma  enseada  com  muitas  pedras, 
pelo  que  'vulgarmenla  lhe  chamam — Pedreira— e  composta  de  21 
casas  cobertas  de  paltia  (sendo  uma  de  sobrado)  e  de  uma  igreja  de 


180 

Santa  Rita  de  Cássia  coberta  de  telha  com  80  palmos  de  comprí- 
inenlò  o  32  de  largura  precisando  rebocar  e  caiar  as  paredes  e  ladri- 
lhar a  sua  área. 

Tem  esta  freguezia  uma  escola  de  ensino  primário  com  13  discí- 
pulos. 

Raros  são  os  sítios  que  se  encontram  neste  intervallo,  porém  alguns 
existem  nas  margens  dos  rios  e  riachos  que  desaguam  no  Negro ,  que 
são:  pela  inafgem  do  sul  o  Jaú  pouco  acima  do  Ayrâo,  e  que  na  carta 
geral  da  província  vem  apontado  abaixo ;  do  Unini  que  se  communica 
com  o  Cadajáz  pelo  lago  Atíniem :  e  pela  margem  do  norte  o  rio 
Jaguaperiy  que  é  de  agua  branca. 

Oito  léguas  distante  de  Moura ,  e  na  mesma  margem  está  fundada 
a  freguezia  do  Carvoeiro  em  uma  iingua  de  terra  úrme ,  que  mal 
admitte  as  casas  que  existem,  de  forma  que,  si  para  o  futuro  tiverem 
de  se  construir  mais,  será  necessário  muito  trabalho  em  aterrar  o 
terreno  que  forma  o  fundo  da  povoação,  que  é  inundado  nas  en- 
-chenles  do  rio. 

Compõe-se  a  freguezia  de  20  casas  cobertas  de  palha  e  com  paredes 
de  madeira  e  barro,  sem  serem  emboçadas  nem  rebocadas:  e  de  uma 
capella  em  conslrucçào  com  34  palmos  de  comprimento  e  30  de 
largura,  e  um  alpendre  rodeado  de  parapeito  com  47  palmos.  A 
cobertura  é  de  palha ,  suas  paredes  de  madeira  e  barro,  faltando-lhes 
ainda  emboçar,  rebocar,  caiar,  e  ladrilhar  a  sua  área,  toda  ellaé  mal 
constAiida ;  porém  antes  esta  do  que  nenhuma,  c^mo  acontecia  até  ahi 
chegar  o  reverendo  vigário  frei  Manoel  de  Sant'Anna  Salgado,  que 
convidou  os  habitantes  para  edificar  a  que  hoje  existe,  que  é  dedicada 
a  Santo  Alberto,  ao  que  elles  sempre  religiosos  se  prestaram  de  boa 
vontade. 

O  decresci  mento  que  se  nota  em  quasi  todas  as  povoações  d'esle 
rio  é  devido  não  tanto  á  falta  do  habitantes  como  á  ausência ,  que 
infelizmente  soffrcm  as  freguezias  de  vigários,  que  com  suas  presen- 
ças obrigariam  o  povo  a  comparecer  aos  domingos,  e  dias  santificados 
nas  povoações,  não  deixando  assim  suas  casas  abandonadas  muitas 
vezes  por  mais  de  um  anno,  do  forma  que,  sendo  ellas  mal  construi- 


181 

daSy  é  este  o  tempo  suffícieutepara  deraolirem-se,  não  havendo  quem 
d'ellas  trate :  além  d'isto,  sendo  os  habitantes  d'este  rioquasi  todos 
indígenas,  será  mister  que  os  mesmos  vigários  lhes  mostrem  a  conve- 
niência que  ha  em  terem  suas  terras  plantadas,  fazendo-lhes  ver  as 
vantagens  que  d'ahi  lhos  vem,  prometendo  por  essa  forma  o  amor  ao 
trabalho,  e  a  ambição  de  que  tanto  carecem,  resultando  d'aqui  que, 
adoptados  uma  vez  estes  principies,  já  não  abandonarão  os  lugares» 
em  que  residem,  com  a  mesma  facilidade,  com  que  hoje  fazem ,  por 
nada  terem. 

E'  esta  povoação,  que  me  dizem  ser  mais  atacada  das  febres  inter- 
mittentes,  devidas  talvez  aos  muitos  vegetaes  que  com  a  vasante  ficam 
em  putrefacção,  e  ao  cemitério,  que  todos  os  annos  é  inundado,  duas 
léguas  abaixo  da  freguezia,  na  margem  do  norte  vem  confundir  o  rio 
Branco  suas  aguas  com  as  do  Negro,  por  quatro  boccas,  formadas  três 
pela  separação  de  duas  ilhas,  e  a  quarta  pouco  inferior  ao  rio  Uarana- 
cuá,  que  também  desagua  nesta  margem  e  fronteiro  a  Carvoeiro. 

Poucos  sítios  se  avistam  entre  estas  duas  freguezias  por  serem  suas 
margens  momotas ,  como  são  quasi  todas  d'esle  rio. 

Segue-se  a  villa  de  Barcellos  assentada  na  margem  do  sul  24  léguas 
acima  de  Carvoeiro  em  um  lindo  lugar,  tendo  um  pequeno  igarapé 
que  passa  pelo  meio  da  villa,  sobre  o  qual  existia  uma  ponte  de 
madeira,  que  foi  ultimamente  mandada  demolir  pela  camará  muni- 
cipal, pois  o  seu  estado  era  tal  que  a  cada  momento  ameaçara  desabar, 
por  estarem  os  vigamentos  inteiramente  podres :  além  d'este  tem  outro 
igarapé  de  nome  Cololipú,  que  entra  pelo  lado  esquerdo  da  villa,  e  é 
de  excellente  agua  branca. 

Pelas  ruinas  de  muitas  casas,  que  ainda  avistam-se  na  villa,  co- 
nhece-se  que  ella  era  muito  grande;  mas  hoje  está  reduzida  a  18 
casas,  sendo  7  cobertas  de  telhas  e  11  de  palha,  e  uma  igreja  de 
Nossa  Senhora  da  Conceição  coberta  de  telha  com  112  palmos  de 
comprimento  sobre  42  de  largo ,  com  2  sacbristias ,  e  tribunas  na 
eapella-mór,  precisando  concertar  suas  paredes,  emboçar,  rebocar 
e  caiar. 

Os  paramentos  estão  em  péssimo  estado. 


182 

Consta-me  que  iiUimAmente  foram  vendidas  duas  das  7  casas  co- 
bertas de  telha ,  para  tirarem  as  telhas  e  transportarem  pm'a  esia 
capital. 

Ha  aqui  uma  escola  de  ensino  primário  tendo  16  discípulos  in- 
cluídos no  mappa ,  porém  apenas  frequentam  9. 

Julgo  que  os  empregados  da  camará  municipal  pouco  se  interessam 
pelo  asseio  da  villa,  porque  encontrei  o  mato  junto  das  casas. 

No  espaço,  que  medeia  entre  Carvoeiro  e  Barcellos,  véem*so  alguns 
sitios  em  a  margem  do  sul,  bem  como  nas  do  rio  Cabui,  e  riachos 
Uatanaré,  que  ficam  nesta  margem ,  e  nos  riachos  Uanopexi ,  Uana- 
nibá,  Cuarú,  Uirauau,  ZamuruuaúdBuibui,  que  ficam  na  margem 
opposta. 

Depois  que  cliegou  á  villa  o  rev."<»  frei  Salgado,  começaram  a 
reformar  algumas  casas,  e  os  gentios  do  rio  Uaraca  vieram  logo  vé-lo 
com  o  seu  tuxaua ;  porém  nio  fallando  elles  a  língua  geral ,  nem 
tendo  o  padre  pessoa  que  os  entendesse  >  Umitou-se  a  agrada-los,  a 
fazor-lhes  ver  por  signaes  que  era  necessário  voltarem  com  seus  Glbos, 
para  serem  baplísados. 

Esia  influencia  dos  habitantes  d'este  districto,  6  dos  gentios,  prova 
o  que  deixei  dito  quando  tratei  de  Carvoeiro. 

E  quem  duvidará  do  quanto  concorre  a  religião  para  o  bem  do 
povo?  Sim,  quem  ha  que  ignore  que  a  religião  preside  o  nasci- 
mento do  homem,  segue-o  em  sua  educação,  guia-^o  nos  negócios 
mais  importantes  de  sua  vida,  está  presente,  quando  elle moribundo, 
o  conduz  ao  tumulo,  e  que  depois  a  crença  dos  vivos  faz  com  que 
elle  ainda  siga  os  passos  d'aquclle  que  já  não  existe! 

E'  fiado  nestes  princípios,  e  nas  sabias  medidas  do  illusirado 
governo  da  província,  que  tanto  se  interessa  pelo  bem-e$tar  d'ella, 
e  que  portanto  não  deixará  de  continuar  a  sollicitar  do  ex."*sr.  bispo 
diocesano,  parochos,  senão  para  todas  as  freguezias,  ao  menos  para 
algumas  d'ellas,  de  modo  que  estes  possam  visitar  as  que  lhe  ficam 
vizinhas;  digo  que  fiado  n'isto  nutro  esperanças  de  ainda  ver  as 
povoações  d'este  rio  tão  florescentes ,  como  já  foram ,  e  hoje  com  pro- 
porções para  ainda  roais  com  a  navegação  a  vapor. 


Em  disuneÍA  de  16  léguas  do  Barcellos  está  fundada  a  rreguâzta 
de  Mofetra  m  m^rgBtn  do  sul  ^m  uma  barreira  âtta  d  pauco  caosis-^ 
lente,  do  modo  que  iodm  03  ^innos  eáe  parto  d'eUa ;  snndo  por  isso 
prudento  que  is  casas  sà  difiquein  a  nlguma  distancia  da  margem^ 
para  que  com  o  correr  do  atino  nio  venham  a  damoltrem-se  como 
tem  icnniêcido  em  a  eldâda  do  Oimeta.  Nao  se  pôde  ir  á  povoa^Ào 
seDÍo  por  péssimas  e^c^idas  enrosbidas  á  barreira. 

  freguBzia  eompoa-sa  dê  f  I  easas  cobertas  do  palhz» ,  a  algumas 
d*ell«ssem  paredes  loieracs,  e  de  uma  igreja  dedicada  a  Nossa  Se- 
nhora do  Carmo  eobcrLi  ão  lelki  mm  S5  palmos  de  comprimenlOt 
o  3B  dô  larg;ur.i»  Os  rrísclçirn mentos  dos  altos  esláo  novos,  porém  os 
«^t€Íos  principaes,  e  a  matar  purté  dos  páos  f\m  fi:»rmam  as  paredes 
acbãin-SQ  infoimmente  arruinados,  e  convém  substituir  os  esteios 
pfin  Cl  pães,  para  ruio  dosa  bar  o  edílkio* 

0%  paraincn(m  i^tôo  no  estado  dos  das  ouUas  tr^gmzm.  fi$ú  ha 
^qtu  n/tm  serjuer  um  pcsqueno  sino  pfira  chamar  m  Beis  ao  templo. 
líçMh  .-1  vi  lia  do  Oarctílloa  até  u  freguezia  de  íjue  irato,  hiem  barra 
petfi  margem  do  sul  os  rios  Bururi,  e  Quirjuni»  e  os  riachos  Aratau 
e  Qoimruniri ;  s  puLi  do  noríe  o  riacho  Paraiafjut  o  o  rio  Uaracá* 
Es^ifs  rio  téfT)  exccl lentos  terras  fírmes,  a  abunda  em  piassava. 

Nairegando-^  mais  17  léguas  chega-so  á  ffí^guezia  deThomart 
siiunda  na  margem  nterídionat  em  uma  barreira  semelb.inte  á  do 
More  ira,  poròm  menos  alta;  aqut  bmbem  sobe-se  por  péssimas  esca^ 
das  à  povoação,  que  tem  1 1  casas  cobertas  de  palha,  o  tima  igreja  do 
Nossa  Senitora  do  Eosario  com  tlt  palmos  do  comprimento,  56  do 
largura  110  corpo  da  igreja,  e  20  na  capeiia-mór,  a  qual  tem  o  ponto 
da  cumieira  miiíto  alto,  pelo  i|ue  correm  as  telhas,  deixando  desço-* 
berta  esta  parte  do  edifício ,  «juo  est<'k  ba Planto  arruinada. 

0c$p<'jíi  suas  aguas  oa  margem  do  sul  enire  a  fregueiia  de  que 
lratO|  e  a  imniediaLi mente  inferior  o  fio  Uauâ,  o  na  do  norte  os  rios 
llareré,  e  PailunH »  que  é  do  agua  branca ,  e  tem  por  tributários  m 
rm  Utirnri  a  Prelo.  Oí*  habitantes  d'*í!!tas  duas  freguêzias  tem  pela 
maior  parto  sons  sUtos  dos  rios  que  ílcsm  entre  ellas ;  e  se  empregam 
na  eitracçiio  do  alguma  i-dísaparril ha.  piaiísava  egomma  elástica. 
um  a4 


Aik 


184 

A  freguezia  do  Santa  Isabel,  que  consta  de  9  casas  coro  oobertora 
^  paredes  de  palba ;  o  de  uma  igreja  com  81  palmos  de  comprimento 
e  46  de  largura  com  paredes  de  madeira  embarreadas,  precisando 
cobrir  de  novo,  emboçar,  rebocar,  e  caiar;  está  fundada  na  margem 
do  norle  20  léguas  distante  de  Tbomar,  em  um  bonito  lugar,  tendo  o 
porto  orlado  de  grandes  pedras,  qtie  servem  como  de  muro.  N'este 
lugar  nâo  encontrei  pessoa  alguma,  c  informam-me  que  quasi  sempre 
esta  abandonado. 

Fazem  barra  entre  Santa  Isabel  e  Tbomar  na  margem  do  norte,  os 
riachos  Cajuary,  e  Anhori  em  o  canal  chamado  Uatauai ;  e  o  riacho 
Hyaá;  na  austral  os  riachos  Cbibaní,  Mabá  e  Màtaquiá;  d'estes  o 
primeiro  cntrando-se  por  elle,  enconlra-se  um  lago  ^  muitos  casta- 
nheiros ,  e  campinas  que  vão  até  a  antiga  povoação  de  Lama-longa ; 
e  o  segundo  9  é  abundante  em  puxeri. 

Antes  d'esta  freguezia  marca  o  mappa  geral  dd  província  a  povoação 
de  Lama-longa  que  já  não  existe,  e  ficava  na  margem  septenirionaK 

Continuando-se  a  viagem  oncontram-se  pela  margem  do  norte  o 
rio  Mararuá,  o  riacho  Jurudi ,  e  os  rios  Inabú  e  Abuará,  todos  d'agua 
bronca  9  excepto  o  ultimo,  e  pela  margem  opposta  os  rios  Yurubati, 
Uaijuana,  Ueneiioxi  c  Chruará,  para  então  chegar-se  á  povoaçSo  de 
Santo  António  de  Castanheiro,  que  dista  12  léguas  dn  do  Santa  Isabel, 
c  na  mesma  margem,  contendo  11  casas  cobertas  de  palha,  estando 
4  bem  arranjadas  com  paredes  embarreadas,  e  estão  rebocadas,  o 
caiadas,  e  as  outras  são  como  as  do  Santa  Isabel ;  tem  lambem  uma 
igreja  com  68  palmos  de  com[)rimenlo  e  27  de  largura .  coberta  de 
palha :  suas  paredes  são  de  madeira  embarreadas,  e  eslSo  rebocadas, 
c  caiadas ;  é  a  igreja  a  mais  bem  conservada  que  até  aqui  encontrei, 
pois  só  lhe  faltam  as  janellns  dos  lados,  e  ladrilhar  a  sua  área. 

Navegando-se  pelo  rio  Yurubaxi  se  encontram  muitos  lagos,  pelos 
quaes  este  rio  se  communica  com  o  Japurá,  fazendo  um  pequeno 
transito  por  terra. 

A  povoação  de  Maçaraby  que  dista  da  do  Castanheiro  14  léguas, 
acha-se  situada  na  margem  do  norte ,  e  apenas  tem  C  paliioças  de 
alguns  habitantes  da  antiga  povoarão  do  musa)o  nome,  que  ficava 


185 

aa  margem  opposla ,  e  que  por  causa  das  muitas  aggressões  dos  indios 
Hacús  a  abandonaram,  fundando  uns  o  que  hoje  existe,  e  retirando-se 
outros  para  as  vizinhas! 

Aqui  cncontram-se  as  primeiras  cachoeiras,  e  uma  impetuosa  cor- 
renteza, o  que  também  acontece  logo  acima  de  Santa  Isabel. 

Entre  Maçaraby  e  Santa  Isabel  fazem  barra  na  margem  meridio- 
nal o  rio  Mauxi ,  e  na  septentrional  os  riachos  Jahuruá  e  Dibá. 

Na  margem  do  norte,  distante  do  Maçaraby  8  léguas,  avisla-se 
uma  igreja  com  47  palmos  de  comprimento  e  19  de  largura,  coberta 
de  palha,  em  máu  estado,  tendo  suas  paredes  unicamente  embarrea- 
das;  e  mais  6  casas,  construídas  como  a  igreja:  é  isto  a  povoação 
de  S.  José. 

Neste  intervallo  existe  uma  pequena  fazenda  pertencente  a  Manoel 
Jacinto,  e  ó  o  melhor  estabelecimento  do  rio  Negro ;  e  o  sitio  de  Fran- 
cisco das  Chagas,  que  tem  alguma  plantação  de  puxcri,  café,  e  salsa- 
parrilha, larangeiras,  ele. 

.  Logo  acima  de  Maçaraby  o  na  mesma  margem  faz  barra  o  rio  Cau- 
bury,  d'onde  extrahem  alguma  salsaparrilha,  e  do  qual  se  passa  pelo 
rio  Umarinaui,  que  sabe  na  sua  margem  occidenlal,  para  o  rioCaci- 
quiari  que  faz  barra  acima  da  povoação  de  S.  Carlos  em  Venezuela. 

Do  mesmo  rio  também  se  pôde  passar,  fazendo  um  pequeno  transito 
por  terra,  para  o  rio  Demiti  que  desagua  um  pouco  abaixo  de  Ma- 
rabitanas. 

Vencidas  mais  6  léguas  chega-se  á  povoação  de  S.  Pedro  situada 
na  margem  meridional  e  composta  de  6  casas  cobertas  de  palha  com 
paredes  de  madeira  embarreadas. 

£'  preciso  estar  no  porto  para  saber-se  que  ahi  existem  casas,  por 
estar  o  mato  na  frente  da  povoação  em  tal  altura,  que  as  encobre. 

N'este  intervallo  não  desagua  rio  ou  riacho  alg|um  digno  de  men- 
cionar-se. 

O  mappa  gerai  da  província  apresenta  em  seguida  a  povoação  de 
S.  Bernardo,  que  acha-se  extincta  e  era  fundada  na  margem  do  norte 
7  léguas  acima  de  S.  Pedro,  tendo  cm  seu  porto  a  perigosa  cach(jei!\> 
deCamanáos:  seria  de  grande  utilidade  oreapparecimentodVsla  fo- 


186 

voação  por  ser  d'ella  que  os  viajantes  se  forneciam  de  homens  ptra  à 
passagem  d'esla  e  das  outras  cachoeiras  que  se  seguem;  porque d'ahl 
em  diante  está  o  rio  cheio  de  pedras,  formando  muitas  oaladopas  pe- 
rigosas e  diSiceis  de  vencer »  algumas  das  quaes  não  ó  possivel  sem 
grande  risco  de  perder  a  carga ,  e  muitas  vezes  a  própria  embarcação, 
(o  que  ja  tem  acontecido)  passarem-se  sem  primeiro  descarregadas; 
o  que  será  prudente  fazer  sempre  na  que  acabo  de  mencionar,  d«s 
de  Cujubi  e  Turmas.  £*  por  entre  estas  catadupas,  que  se  chega  a 
S.  Gabriel,  que  fica  na  margem  septentrional  12  léguas  pouco  mats 
ou  menos,  distante  de  S.  Pedro,  sendo  fundada  sobre  a  cachoeira  da 
Crocubi,  que  abrange  toda  a  largura  do  rio,  e  ó  composta  de  21  casaiF 
cobertas  de  palha  com  paredes  de  madeira  embarreadas,  quasi  todas 
pertencentes  ás  famílias  dos  soldados  que  fazem  a  guarnição  do  forte  \ 
ede  uma  igreja  coberta  de  palha  com  140  palmos  de  comprimento 
e  35  de  largura :  a  capella-mór  ó  separada  do  corpo  da  igreja  por 
grades  bem  arranjadas,  assoalhada  e  forrada  de  taboas,  e  tem  um 
altar  muito  decente,  ornado  com  castiçaes  de  madeira  torneados,, 
emfim  só  falta  ladrilhar  das  grados  para  baixo. 

Não  posso  deixar  de  mencionar  o  nome  do  cidadão  a  quem  se  dera 
em  grande  parle  o  asseio  d'esle  templo,  que  é  o  ex-commandanteFraa- 
cisco  Gonçalves  Pinheiro. 

Ha  aqui  uma  escola  de  ensino  primário  com  27  alumnos:  o  pro- 
fessor mostra  intcressar-se  pelo  adiantamento  dos  díscipulos. 

Em  o  lugar  mais  alto  da  freguezia  está  udiíicado  o  forte,  que  lhe 
dá  o  nome,  conslruido  de  pedra  e  cal,  com  canhoneiras  para  montar 
16  canhões,  existindo  5  de  calibre  6,  e  3  de  4  em  bom  estado,  pre- 
cisando unicamente ,  para  poderem  íunccionar ,  serem  montadas  em 
reparos  a  Onofre.  Não  se  poderia  escolher  melhor  posiçio  para  se 
cdiGcar  um  forte,  do  que  esta,  não  só  porque  suas  baterias  tem  acção 
sobre  grande  parte  do  rio ,  como  porque  descendo  não  offerece  um  só 
porto  de  desembarque ,  som  que  as  embarcações  corrão  o  risco  das 
cachoeiras,  e  subindo  apenas  tem  um  que  é  batido  completamente 
por  uma  bateria  de  3  peças. 
Entre  esta  freguezia  e  a  povoação  de  S.  Fedro  fazem  barra  na  mor- 


187 


ttiiitTi) 


gim  ttiiitTi)  os  rjofl  Msríá  e  Curicuríâri,  d'«ite  sa  paisa,  por  um 
Cinal  chamado  Inebú,  psra  ario  Waupis;  e  na  margem  do  noUt  ot 
tmdhm  Uacuború,  Murâciâni »  Cacabú  e  o  rio  Meul 

tfmpouooicima  da  S.  Gabriel  estão  outras  cachoeiras ,  chamadas 
Caldeirões r  as  quaes  também  são  bastante  parig^ssas  de  m  pássareju 
quando  o  rio  «siá  eheio^ 

€onúnumà(hsa  a  viagem  mm  difGculdade  até  a  barra  do  rio 
Waupi^  por  causa  das  eon  ti  n  toadas  oorren  teias,  e  cachoeiras  que  a  lã 
ahi  se  encontram ;  chcgn>se  á  povoação  de  San  t 'An na  IB  íi^guas  dis- 
tante de  S.  Gabriel^  situada  na  marg«m  do  norte  com  uma  pequena 
igff ja  muito  arruinada »  e  3  easas  cobertas  do  polb. 

O  niiippa  da  provi  neta  aponta  antes  d*6sía  povoarão  as  de  S.  Miguel 
0  Santa  Barbara  que  já  não  eiistem. 

No  espaço  que  separa  S.  Gabriet  do  Sant^Ànna  fazem  barra  na 
rnargern  do  norte  o  riacho  Hfiját  e  na  do  sul  o  rio  Waupís  que» 
subifído-se  por  elle ,  encontram-se  em  suas  margens  as  aldéassofçuiji- 
tes:  de  Santo  António  com  9  casas  e  uma  igre|n  dê  S*  Francisco  das 
Chegas  com  ê  casas;  da  Concetçào  de  Nússa  Senhora  com  1$  casas; 
de 5.  Domingos  com  S  casas;  deSant'Anna  com  t2  casas;  seguia-is 
a  de  S.  Paulo  que  foi  queimada  uttimameniâ:  de  S.  Schastiao  ium 
10  casas:  de  5.  João  Baptista  com  âS  ca^ií:  de  Sagrado  Coração 
com  to  casas:  Santa  Gruí  com  S  casas:  Pu  punha  com  5  casas: 
Nossa  Senhora  das  Dores  com  4  c^n%  de  S.  José  com  Ocasos:  de 
S.  Gregório  com  6  casas,  de  S.  Miguel  com  4  casas:  e  fínnlinenteda 
S«  Fidehs  com  2Ô  casas.  Poderiam  estas  povoafõês  estarem  mais 
ongmeritadas,  si  o  cttrector  se  interessasse  por  elfas;  pis  que  é  doi 
trihmarios  do  Negro  o  rio  que  conta  maior  numero  do  indios. 

Para  que  se  possa  navegar  deide  Santa  habet  em  embarcaçdes  de 
alto  bordo  será  mister  náo  eó  destruir  as  cachocinis  que  ficnni  uhaito 
deS.  Gabriel,  como  d'afii  para  cima,  até  a  distancia  de  tO  lugua^í. 
abrir  um  canal  por  entre  essa  serie  de  roehas  quo  «e  prolonfam  quasi 
atéâ  barra  do  rio  Waupis,  o  que  sena  muíio  di!<pêndioso;  porém 
não  impossível ,  %'isto  que  na  tempo  ãm  vasantes  do  rio  estas  roeljAs 
aebam-se  pela  maior  parte  a  poucos  pi  mos  de  profundidade;  eomtudi» 


1S8 

quando  o  rio  estiver  cheio  poderá  qualquer  embarcação  chegar  até  a 
antiga  povoaç&o  de  S.  Bernardo. 

A  povoação  de  S.  Filippe  fica  na  margem  do  sul  em  distancia  de 
4  léguas ,  com  1 1  casas  cobertas  de  palha ,  tendo  suas  paredes  rebo- 
cadas e  caiadas,  e  uma  igreja  que  está  em  copcerto. 

Em  distancia  de  mais  de  4  léguas  fica  a  povoação  da  Guia  na  mes- 
toia  margem,  e  se  compõe  de  15  casas  cobertas  de  palha  com  suas 
paredes  rebocadas  e  caiadas ;  e  de  uma  igreja  que  se  está  edificando 
com  74  palmos  de  comprimento  e  42  de  largura. 

Neste  intervallo  na  margem  meridional  desagua  o  rio  Içana  onde 
so  contam  as  seguintes  aldôas:  S.  Matheus  com  6  casas;  Nossa  Se- 
Tihora  do  Carmo  com  10  casas  e  uma  igreja  em  construcção;  Naza- 
reth  com  13  casas  e  uma  igreja  em  construcção;  Santo  António  com 
13  casas;  Sanl'Anna  com  8  casas ;  S.  Lourenço  com  12  casas ;  S.  Pe- 
dro com  10  casas;  S.  João  Baptista  com  11  cnsas;  S.  Bento  com  9 
cas^s;  S.  Roque  com  1$  casas;  e  finalmente  S.  Jo.<:é  com  12  casas. 
Todas  estas  casas  são  cobertas  de  palha  com  paredes  de  madeira  em- 
barreadas. 

A  povoação  de  Sanl'Anna  é  situada  na  foz  do  rio  Coiary ;  pois  que 
o  Içana  divide-se  ahi  em  dous  ramos  um  para  o  sul,  que  continua 
com  o  mesmo  nome,  e  outro  pra  o  norte  que  é  denominado  Coiary. 

Os  Índios  dos  rios  AíVaupis  e  Içana  são  dados  ao  trabalho,  e  empre- 
gam-se  na  factura  de  ralos,  balaios,  redes  de  maqueira,  farinha,  e 
uma  grande  parte  na  extracção  da  salsaparrilha. 

Na  foz  do  rio  Ixió  está  fundada  a  povoação  de  S.  Marcellino,  dis- 
tante da  Guia  16  léguas,  e  na  margem  do  sul  com  uma  igreja  nova 
de  23  palmos  de  fronte,  e  49  de  fundo ;  e  17  casas  cobertas  do  palha 
rebocadas  e  caiadas.  Tem  esla  povoação  um  destacamento  militar 
para  privar  a  entrada  de  pessoas  suspeitas  no  Yxiê,  que  desde  a  ca- 
choeira do  Coma  té  oiferece  caminhos  por  onde  com  facilidade  se  pôde 
passara  diversas  povoações  de  Venezuela.  Fazem  barra  entre  a  Guia, 
e  S.  Marcellino  na  margem  do  sul  os  riachos  Mubuaby  e  Bucury. 

Ante^de  S.  Marcellino  indica  o  roappa  geral  a  povoação  deS.  João 
Baptista,  que  já  náo  existe.  Vencendo -?e  mais  9  léguas  chega-se  a 


froguezta  ile  S.  José  de  MarãbitciiiaSi  que  é  fuaiiaila  na  margenà 
xíusml,  e  composlâ  de  uma  ígn^ja  com  51  patmo^  dô  comprimento 
e  27  dtí  largura,  clousodi tidos  perteocenles  a  lu^çãô,  um  que  sarve 
de  quartel  t  e  outro  de  residência  do  eommandanltí,  cobertor  de  palha, 
Imm  etíííic^dos  o  conservados,  c  íiâ  casas  lambem  eoííertâs  de  palha, 
com  sijíís  paríidcs  rebocadas  e  ca  ilidas* 

Da  amigo  forte  que  ^qul  tia  via  só  restam  os  vestígios  de  dous 
baluartes,  e  6  canltnes  desmontadof. 

Todas  as  povõ^çoi^s  do  dhíricio  da  lUarabitanas,  lem  suas  casâs 
rebocadas  e  caiadas  com  argilla  pura,  á  que  si  asouiras  imilâasem 
iiio  apre^^entariam  um  irisio  aspecto^  o  mesmo  emle  dfslricia  o  que 
,ipre5enla  alguma  aoi mação*  devido  aos  esforços  do  2**  lenente  com- 
mandanto  Felisberto  AnloDio  Corrêa  de  Araújo ,  que  lambem  serve 

d i redor  do  rio  Iça  na. 

iuba  opinião  que  se  forme  em  x^íarabitanas  uma  colónia  oiililar 
praças  queabi  exisieai»  quesdo  muíLoanlígas,  e  eslao  sobre- 
carregadas de  íamillaf  mandando-^  novos  soldados  para  o  quartel 
do  Cucui.  poisdocôuirarioesfa  povoação,  que  esta  floroscenle^  ficara 
redu/jda  ao  estado  das  outras, 

Enlro  esia  povoação  e  a  uliimameitie  fallada  fa^em  barra  na  mar- 
gem do  norie  o  rio  Demiti,  e  ns  riachos  Muíibi ,  e  Ilibarei  que  Oca 
qua^i  fronteiro  à  frcguezia;  o  d^ella  até  a  serra  do  Cucui,  os  riachos 
Emei  e  Ineni ,  das  vertentes  dos  quaes  se  \mh  passar  para  o  €act- 
quiari ,  fazendo  um  transito  por  Xúrm  Lrabulboso  e  de  muitos  dias. 

Eis  o  fruclo  de  algumas  horas  quts  me  reataram  do  cumprimento 
do  minhas  obrigações,  esi  n'eíle  uão  se  enmotram  cs^as  bellas  fliires 
de  rfietorica»  que  soem  tkvar  a  imaginação  do  leitor,  o  as  quaes 
o  árido  estudo  das  maíbcmalicas  não  me  lem  doisado  cultivar  com 
esmero,  encontra-se  todavi**!  a  narrarão  ex:icta  do  ijue  observei  ou 
relaí;íram-me  pessoas  fidedignas. 

Cidade  da  Barra  do  Hio  Negro,  Í2  de  Fevereiro  de  1855. 

if iLaRia  MAi^iBirAnía  A^rruBtEs  GvbjÃo, 

Major  de  arii Ibéria. 


190 


COPIA  FIEL 

Oo  titnio  d«  Taques  Pompeu,  t^am  fra  P«dro  Taqoet  d'Aliii«t4a 
Paes  Ii«ine  pelo  anno  de  1763,  e  qae  le  aoha  cm  poder  de  JoAe 
Pereira  Ramof  d' Azeredo  Coutinho. 

(OCTereddo  ao  Instituto  pelo  Sr.  Antooio  da  Coita  Pinto.) 

Francisco  Taques  Pompeu,  natural  de  Brabante  dos  estados  i% 
Flandres,  da  nobilíssima  família  de  seu  appeilído,  passou  a  Portugal 
por  causa  do  commercio,  e  fez  assento  na  villa  de  Setúbal»  onde  casou 
eom  D.  Ignez  Rodrigues,  natural  da  mesma  villa,  e  foram  mora- 
dores no  casal  da  freguezia  de  S«  Julião.  Assim  se  vé  nos  autos  de 
genere  da  camará  patríarchal  de  Lisboa ,  processados  no  anno  de 
1696  por  parte  de  Pedro  Taques  d'Almeida9  sendo  juiz  da  justíGcaçio 
de  genere  o  Dr.  Manoel  da  Costa  d'0Iíveira9  prior  da  igreja  de  6. 
Christovão ,  desembargador  da  relação  ecciesiastica  ,  ouvidor  da 
capella  real  em  tempo  de  D.  Luiz  de  Souza,  cardeal  e  arcebispo  de 
Lbboa,  ese  passou  commíssão  ao  reverendo  vigário  geral  de  Setúbal, 
o  Dr.  Ventura  dé  Frias  da  Frola,  em  cujo  cumprimento,  precedendo 
informação  do  parocho.  o  Dr.  João  de  Brito  e  Mello,  prior  da  fre- 
gtjezia  de  S.  Juliáo,  se  inquiriram  as  testemunhas  seguintes :  Do-' 
mingos  Alvares  de  Paiva,  moço  da  camará  de  Sua  Mageslade,  o 
capitão  António  Borges  Ferreira ,  Francisco  da  Cruz  Vieira ,  e 
António  Nogueira  Homem,  que  todas  depuzeram  singularmente  sobfe 
a  pureza  e  nobreza  de  sangue  dos  Taques  Pompeu.  D'estes  autos  se 
passou  instrumento  em  30  de  Dezembro  de  1697  pelo  Dr.  Manoel  da 
Costa  d*Oliveira,  sendo  escrivão  Bonto  Ferreira  Feijó,  que  se  re- 
melteu  á  camará  episcopal  do  Rio  de  Janeiro,  por  onde  se  tinha 
expedido  a  requisitória  para  as  diligencias  de  genere  a  favor  de  Pedro 
Taques  d*AImeida,  natural  da  villa  de  S.  Paulo.  Do  matrimonio  de 
Francisco  Taques  Pompeu  e  D.  Tgnez  Rodrigues  nasceram  somente 
dons  íilhos,  D.  Francisca  Taques,  c  Pedro  Taques.  D.  Francisca 


"TÍqtiefi  em  xuh  àe  «cus  pak,  foi  casada  em  Stilabal  cam  Actnolá 
Joio»  fidalgo  ti'Atl*ímaTiliii ,  fjue  tiHt;  a  lionia  dts  ser  pagem  do  real 
tslandarle  d*el-r^i  I>.  Sebastina.  Aclmndo-s<;  om  Selubali  teve  õsle 
nHómao  umas  dilTorgnçss  eom  Fernão  Velbo,  fidalgo  da  casa  mal,  q 
tf!mDi!ntlo-SB  morte  do  dito  alíomaa,  o  mesmo  monirreha  Ihasêguroii  3 
vida  pordârrclo :  porém  Femão  Velho,  que  era  cavalheiro  portuguei^ 
fireocciípado  mais  dos  esMmutos  de  bria,  quo  attento  ao  respeito  da 
reaí  decreto,  lírou  a  vida  ao  frd^ilgoaltemJío,  hmnúo-o  expirar  com 
doai  bafas,  que  Jho  metteu  p^ío  postigo  da  camará,  em  (|ue  seacbava 
muito  descansado,  em  ma  essa*  Esta  culpa  fm  eommettida  publi- 
camenle.  de  dia,  em  Seiuba!.  Iiiíormatlo  SuaMagestade  pelos  grUt» 
(Ja  viuva.  B.  Fraocma  Tafiiios  (fpje  logo  se  pot  em  Lisboa  para  na 
piedade  do  monarclia  achar  a  rccia  justiça  contra  ô  aggressor)  o 
maotlmt  prender;  porém  refugiou -se  o  reo  no  convento  dis  freira^ 
Je.le^ii^  (la  villa  de  Si^iubsU  Procedeu  a  justiça  com  as  costumadas 
providmriaíí^  que  em  taes  c«sos  aJmilte  a  immunidade  >  porém  sem 
flTeiííi,  poríjue  asreligitísas  tinham  occultadoa  Fernão  Velho  (expli* 
(amos  (jkIu  mesmo  lormo,  qui^  se  v^  no  instrumento  d'esfe  facto, 
procMçáflo  tím  Setúbal  a  favor  de  Pedro  Taques  antes  de  vir  para  o 
Brasil)  nri  iiífemú  datifona ;  deu -se  conta  a  el-rei^  que  mandando 
flsordenftrom  a  potestade  de  príncipe  soberano,  nio  tiveram  ãs  freiras 
outro  remédio,  que  Itnçar  para  fora  o  deiinqueniej  o  qual  sendo 
preto  e  processado,  foi  finalmente  na  praça  publica  de  Lisboa  degol- 
hda  no  cadafaliío,  i^  depois  es(|uartejaííoo  cadáver.  Em  cumprimento 
da  sentença  lhe  furam  entu Ilíadas  as  suas  casas  de  sal  em  Setúbal  pari 
memoria  do  caso.  Com  esta  infelicidade  nâo  proereou  D«  Fraticisca 
Taqtic*»  como  Itido  conota  do  mesmo  Instrumento* 

Pedro  Taques»  irmão  unioi  de  D.  Francisca  Taqoe*i,  passou  ao 
Brasil  feito  secretario  d 'este  esLido  cm  cf^mpanhia  de  B,  Francisco 
dtí  Souza,  7.'  governador  geral  do  mesmo  estado  em  159L  Depois 
de  residir  na  cidade  da  Bahia  aié  1598,  levei).  Francisco  de  Soura 
ordem  d>Urti  Felip[>e  do  Gastei  lã  para  passar  a  S.  Paulo  a  faior 
iniublar  as  novas  minas  de  ouro,  quo  já  os  Paulistas  Affonso  Sar- 
dinha e  Pedro  Sardinha«  seu  alho,  haviam  descoberto  em  1597  na 
vem  2^ 


192 

serra  de  Jaguamínbaba  (hoje  se  conhece  pela  nomenclatura  de  Man- 
tequira),  e  na  de  Jaraguá.e  Vuturana;  e  com  effeito  se  achou  D. 
Francisco  de  Souza  em  S.  Paulo  em  Novembro  de  1599,  e  com  elle 
o  secretario  Pedro  Taques.  Em  Julho  de  1602  se  recolheu  de  S. 
Paulo  B.  Francisco  para  o  reino,  d*onde  voltou  em  1609  feito  gover- 
Dador  e  administrador  geral  das  minas  de  ouro  e  prata,  descobertas  o 
por  descobrir  das  três  capitanias  do  Espirito  Santo,  Rio  de  Janeiro  e 
S.  Paulo,  as  quaes  ficaram  separadas  da  jurisdícção  do  governo  geral 
da  Bahia,  por  provisão  do  rei  Filippe  passada  em  aos  15  de 

Junho  de  1608.  E  trouxe  a  mercê  de  marquez  das  minas  com  trinta 
mil  cruzados  de  juro  e  herdade,  que  depois  se  verificou  em  seu  neto, 
D.  Francisco  de  Souza,  terceiro  conde  do  Prado  e  primeiro  marquez 
das  Minas  por  carta  de  7  de  Janeiro  de  1670.  Trouxe  mais  D. 
Francisco  de  Souza  o  poder  do  dar  o  foro  de  fidalgo  da  casa  real,  e  o 
dom  para  as  mulheres,  a  quatro  pessoas  por  alvará  passado  em 
Madrid  e  2  de  Janeiro  de  1608;  outro  alvará  para  poder  dar  o  fôro 
de  cavalleiro  fidalgo  a  cem  pessoas  da  mesma  data,  e  outro  também 
da  mesma  data,  para  conferir  dezoito  hábitos  da  ordem  Xp"o,  doze 
com  tença  de  20ijj)000  rs.  e  seis  com  tença  de  50^000  rs.  Outro 
alvará  para  dar  a  serventia  dos  oíficios  vitalicios,  os  quaes  todos  se 
acham  registrados  na  camará  de  S.  Paulo,  livro  T.  1607  desde 
folhas  30  alé  37.  E  dos  mesmos  e  da  maior  parle  d*elles  faz  menção 
D.  António  Caetano  de  Souza,  clérigo  regular  da  Divina  Providencia 
no  seu  livro  dos  grandes  de  Portugal,  trataçdo  do  marquez  das 
Minas. 

Em  S.  Paulo  casou  Pedro  Taques  com  D.  Anna  de  Proença, 
natural  do  S.  Paulo ,  filha  de  António  de  Proença,  moço  da  camará 
do  infante  D.  Luiz.  O  dito  António  de  Proença  occupou  os  em- 
pregos de  que  fazemos  menção  em  o  titulo  de  Proenças ,  onde  mos- 
tramos, que  fora  casado  na  villa  de  Santos  com  D.  Maria  Castanho, 
cuja  qualidade  veja-se  em  dito  titulo  do  Proenças. 

Pedro  Taques  falleceu  em  S.  Paulo  com  muito  avanç^ida  idade , 
lendo  occupado  todo  o  tempo  no  real  serviço,  porque  acabando  dt» 
ser  secretario  do  estado  do  Brazil  em  1602,  em  que  se  recolheu  para 


193 

o  reino  D.  Frarrcisco  de  Souza,  serviu  os  cargos  honrosos  da  repu^ 
blica.  Voilando  D.  Francisco  do  Souza  ^  1609  com  os  poderes,  de 
que  já  fizemos  menção,  deu  a  Pedro  Taques  o  officio  de  juiz  de 
orphãos  da  villa  de  S.  'Paulo  vitalicio  por  provisão  datada  de  6  de 
Junho  de  1609,  que  se  acha  registrada  na  camará  de  S.  Paulo  livro 
T.  registros  de  1607  a  folhas  22.  Este,  como  fica  dito,  falleceu  em 
S.  Paulo  com  testamento  a  26  de  Outubro  de  1644,  como  SjS  vô  nos 
autos  de  inventario  de  seus  bens  no  cartório  1.**  do  tabellião  de 
notas,  masso  de  inventários  antigos,  letra  P  o  de  Pedro  Taques  com 
testamento.  N'elle  declarou  a  sua  naturalidade,  seus  empregos,  e  os 
nomes  de  seus  pais,  e  que  fora  casado  com  Anna  de  Proença,  de  cujo 
matrimonio  tivera  seis  tilhos  de  um  e  outro  sexo,  e  declarou  também 
as  pessoas  com  quem  tinha  casado  suas  duas  filhas ,  e  de  lodos 
iremos  fazendo  menção,  6  foram  elles : 

Pedro  Taques  Cap.  1.» 

Guilherme  Pompeu  d*Almeida  Cap.  2." 

Lourenço  Castanho  Taques  Cap.  3.* 

D.  Sebastiana  Taques  Cap.  4." 

D.  Marianna  Pompeu  Cap.  5/ 

António  Pompeu  d'Almeida  Cap.  6.^ 

CAP.    1." 

1  —  1  Pedro  Taques  estando  casado  coin  D.  Potencia  (irmâa  do 
governador  Fernão  Diâs  Paes,  que  depois  foi  mulher  de  Manoel  de 
Carvalho  d' Aguiar)  teve  umas  diíFerenças  em  1640  com  Fernando 
de  Camargo,  o  primeiro  d'este  nome  na  família  de  seu  appellído, 
chamado  o  ligre  por  alcunha,  e  desembainhando  ambos  as  espadas  e 
adagas  no  palio  da  matriz  da  villa  de  S.  Paulo ,  se  travou  tâo  rija 
contenda,  que  acudindo  numeroso  concurso  a  favor  de  um  e  outro 
partido,  passou  esse  desafio  a  combate  vivo.  Baralhada  a  machina 
d'este  tumulto,  se  ofifendiam  uns  aos  outros,  sem  atinarem  na  iraa- 
quillidade,  que  em  taes  casos  costuma  ser  todo  aquelle  empenho  dos 
que  se  põem  na  rua  a  atalhar  qualquer  pendência.  Esta  teve  prin- 
cipio na  porta  do  templo,   mas  levados  uns  e  outros  do  arior  d? 


peleji^  conliDuou  este  troado,  correada  âs  rusi  até  fâcbir-iâ 
vicioso  circulo  no  mesnjo  logar,  onde  tivera  origem  o  primeiro" 
furor  da  paii«o  dos  dous  contendores.  Grande  foi  a  providencia 
ocealla  de  Deos  n'«sta  lance,  parque  sendo  mmim  o&  mortoi 
ii*4qiietlô  desordenado  rompimento,  não  perigaram  osdoa$  priacipMi 
combalantea,  Pôdro  Taques,  e  Fernando  de  Camargo;  serenoa  isslt 
primeira  tempeâtftde,  em  que  se  dispararam  também  tiros  d^escapeoá, 
que  oausaram  as  mortes,  que  tiouveram  n  este  ronflicto. 

Passado  tempo  ^  o  jú  convalescido  das  feridtis  oi  dous  oúcitrartofi, 
éiislift  um  temor  de  novo  combate,  para  o  qual  se  oóuvídavam  intre* 
pidos  Oâ  parenies,  alliados  e  amigos  de  um  e  outro  partid^f  jâ  ne&H 
ternpo  deelirados  inimigos  sem  maU  causa  para  tanto  de»ocrt0t  que 
a  vingança  o  ú  ódio  o  índaRuípav^t  eãtimuiu  de  uma  cega  paiiflo. 
Em  o  anuo  de  íHÍ  e&tanda  Pedro  laques  em  Oúava«0o  com 
um  amigo,  tendo  as  eoi^ins  para  a  porta  iraverái  d&  mãtri£  ú^  S. 
Paulo  y  veio  á  fal^i  Íú  letnando  de  Caiuaigo  >  e  cúrrtu  a  adaga 
pelas  costas  de  Pedru  Taquoã,  que  logo  purdeu  a  vida  ao  figor 
do  golpe.  Deixou  du  -úú  matrimonio  u  nuuem no  chamado  P^ro* 
que  em  tenros  annui  voou  para  o  ceo. 

cAp.  :;•■ 

1  —  2  Guilherme  Pompeu  d'Â(meÍda  viveu  abastado  no  termo  dt 
S,  Paulo,  ^ndo  um  áo%  primeiros  cavalheiroâ,  que  na  própria 
pátria  deâfructava  o  maior  respeito^  retirou-se,  mudando  de  do^ 
micilto,  para  o  termo  da  \iila  da  Parnahjba.  Esta  mesma  pru- 
dente rosoluçlo  seguiram  oulros  p rentes*  Fui  muito  zelóSO  do 
bem  €ommum  e  das  utilidades  do  sorvido  do  monarcha,  e  taiUo« 
qriò  as  magestades  cl-rei  D.  JoSo  l\\  D.  Affonso  VI  e  D*  V&ítq 
U,  sendo  principo  regente  ^  o  honraram  com  carias  lirmadas  do 
real  punho,  não  s^  quando  vieram  a  S*  Paulo  os  administradorea 
das  Minas  D.  Rodrigo  Casiel  Branco,  e  Jorge  Soares  da  Uacedo 
em  t6B0,  mas  quando  veiu  o  governadur  D,  Manoel  Lobo  em  1677; 
a  é  digna  de  memoria  a  que  recebeu  o  dilu  Guilb^rnu^  Pompeu  • 
datada  de  2  de  Mato  de  1&B2 ,  rccommendando-lhe  dése  ajuda  t 


195 

favor  de  V.  Pedro  da  Souza,  que  vinha  examinar  a  pedra  de 
prata  de  Byracojaba,  no  termo  da  villa  de  Sorocaba.  Foi  Guilherme 
Pompeu  capitão  roór  da  villa  da  Parnahjba  por  el-rei  D.  Pedro , 
sendo  regente.  Viveu  abundante  de  cabedaes  com  grande  tratamento 
e  opulência  em  sua  casa.  \  cópia  de  prata,  que  possuiu  excedeu  a 
quarenta  arrobas,  porque  os  antigos  Paulistas  costumavam  penetrar  os 
vastíssimos  sertões  do  rio  Paraguay  atravessando  suas  terras,  con- 
quistando bárbaros  índios,  seus  habitadores,  e  chegavam  ao  Peru  o 
Potosy,  o  se  aproveitavam  da  riqueia  de  suas  minas  de  prata,  de  que 
ennobreceram  suascasas.  Com  cópia  de  muitas  arrobas,  de  cuja  gran- 
deza ao  presente  tempo  nada  existe  pela  ambição  de  ministros  e  gover- 
Badores,  que  nodecurso  de  sessenta  e  novo  annos  altrahiram  a  si  esta 
grandoza,  porque  nenhum  se  recolheu  para  o  reino,  que  nfio  levasf^ 
boas  arrobas.  Fundou  no  termo  da  villa  da  Parnahyba,  a  capclla  de 
Nossa  Senhora  da  Conceição,  em  Vuturuna,  e  a  dotou  com  liberal 
mào,  constiluindo-lhe  um  copioso  património  em  dinheiro  amoedado» 
escravos  officiaes  de  vários  ofBcios,  e  todos  com  rendas  para  o 
exercício  de  suas  occupações.  Adornou  a  capclla  com  retabolo  de 
talho,  toda  dourada,  o  lhe  deu  ornamentos  ricos  para  as  festi- 
vidades, e  outros  de  menos  custo  para  semanários  com  castiraes 
de  prata. 

Do  tudo  se  lavrou  escriptura  pelo  tabelliâo  du  villa  da  Parnahyba 
em  13  de  Fevereiro  de  1687,  e  que  na  sua  desce.ndciicia  so  con- 
servasse a  administração  da  dita  capeila  ,  sendo  1/  administrador  o 
reverendo  Dr.  Guilherme,  e  por  morte  doeste  António  de  Godoy 
Moreira,  seu  genro,  a  que  succedia  a  sua  descendência,  e  instituiu 
por  sua  alma  duas  missas  cada  mez,  pelo  património  dn  dita  capeila, 
de  que  dariam  contas  os  administradores  d*e1td.  Casou  Guilherme 
Pompeu  d'Almeida  em  a  matriz  de  S.  Paulo  a  20  de  Agosto  de  1G39 
com  D.  Itfaria  de  Lima  Pedroso,  filha  de  João  Pedroso  de  Moraes 
e  de  sua  mulher  Maria  de  Lima.  Em  T.  de  Moraes  cap.  3.*  Jaz 
sepultado  na  capeila  mór  da  matriz  da  Parnahyba  em  sepultura,  que 
n'ella  tinha,  como  declarou  no  seu  testamento,  com  que  fulleoeu. 
Deixou  três  filhos : 


196 

2  —  1  Guilherme  Pompeu  d' Almeida      §  l.** 
2  —  2  D.  Maria  de  Limai  e  Moraes  §  2.* 

2  —  3  D.  Anna  de  Lima  e  Moraes  §  3.* 

S  1.'' 

Guilherme  Pompeu  d' Almeida  foi  o  mimo  de  seus  país,  3  —  i 
como  único  varão,  e  com  os  desejos  de  o  verem  bem  inslruido,  o 
mandaram  para  a  cidade  da  Bahia  aprender  a  lingua  lalina  no  col- 
legio  dosjesuitas,  onde  se  consummou  excellente  grammalico.  Foi 
dotado  de  grande  viveza  de  engenho  e  docilidade,  sohre  que  sahiu 
muito  um  natural  respeito,  que  soube  sempre  conciliar  dos  estranhos, 
amigos  e  parentes.  Abandonando  Gear  herdeiro  de  seu  pai  do  grande 
cabedal,  que  intentaram  n'este  Clho  perpetuar  a  sua  casa,  teve  vocação 
de  ser  religioso  franciscano  na  província  da  Bahia,  onde  se  achava, 
o  que  sendo  communicado  a  seus  pais,  atalharam  com  rogativas  este 
religioso  intento,  e  cedeu  o  filho  ás  supplicas  paternaes,  assentando 
ser  presbytero  secular.  Estudou  a  philosophia  e  iheologia,  da  quai 
teve  o  grào  de  doutor  por  bulia  pontifícia.  Foi  tão  amante  das  letras, 
queda  grande  profusão  do  seu  liberal  animo  tinham  segura  protecção 
os  sujeitos  bem  instruídos  na  historia  sacra.  Teve  excellente  livraria, 
que,  por  í;ua  morte,  encheram  os  seus  livros  as  estantes  do  collegio 
de  S.  Paulo,  a  quem  constituiu  herdeiro  da  maior  parte  de  seus 
grandes  cabedaes.  Nasceu  elle  na  villa  da  Parnahyba,  em  cuja  matriz 
foi  baplisado  n  24  de  Abril  de  1656.  Fez  assento  no  sitio  de  Arassa- 
riguama,  onde  fundou  a  capolla  de  Nossa  Senhora  da  Conceição ,  a 
cujo  myslerio  teve  cordial  devoção,  toda  adornada  de  excellente  talha 
dourada  com  muita  magnificência.  Celebrava-se  annualmenie  a  festa 
a  8  de  Dezembro  com  um  oilavario  de  festas  de  missas  cantadas, 
sacramento  exposto,  e  sermão  a  vários  santos  de  sua  especial  devoção, 
ese  concluía  o  oitnvario  com  um  anniversario  pelas  almas  do  purga- 
tório com  oífício  de  nove  lições,  missa  cantada  e  sermão  para  excitar 
a  devoção  dos  fieis  ouvintes.  De  S.  Paulo  concorria  a  maior  parte 
da  nobreza  com  os  religiosos  da  maior  autoridade  das  quatro  com- 
munidades,  companhia  de  Jesus ,  Carmo,  S.  Bento  e  S.  Francisco, 


p 

I 


197 

fí  os  clérigos  de  maiar  graduação-  Era  a  casa  tio  Dr.  Pompou 
A*aqt]elle&  dias  uma  populosa  villa  ou  côrlÊ  pela  assistência  e  concurso 
fios  hospedes.  Psra  a  grande?..!  do  tralamenlo  da  casa  d'6Slâ  heróe 
Paiilístãt  basta  saber  se,  que  havia  parameniM  para  cem  camas, 
cadf  unia  cum  cortinado  pmprm,  Eeiii^noa  6iíos  da  bretnfiba,  guarne- 
cidos dê  reodns  e  corn  uma  bi^in  de  praia  debaixo  de  rada  uma  das 
dílas  cem  eamas.  som  pedir-fe  nada  empreitado.  Tínba  na  entrada 
de  sua  fd^cenda,  em  Arassariguama,  um  pórtico,  do  qual  até  a$  casas 
mediava  um  plano  de  50í)  pasmos,  todo  mirnídoí  cujo  leneno  servia 
de  palio  á  igreja  ou  capelta  da  Conceição.  !Pi\*ste  porião  ficavam  todos 
os  criado?^  dos  ltospi?d*3s,  qíiordí  so  apeavam,  largnndo  ei^poras  e  outros 
trastes,  com  quô  viuliam  a  c:ivall0t  e  tudo  ficava  entref^uea  criados 
DscravD^,  qtiepara  esto  politico  ministério  os  linlia  hmn  disciplinados* 
Enlpva  o  liespede,  ou  sfi  um,  ou  mui  los  era  nu  mero*  o  nunca  mais 
nus  dias,  que  so  demorava ,  aíndj  quo  fus^e  de  uma  ^emtína  ou  do 
um  mes,  n3o  tíntia  nenhum  dos  hospedes  noticia  algumíi  dos  seus 
escravos,  cava  lios  è  trastes.  Quando  porém  quf)lquer  dos  hospedes  se 
despedia,  ou  fosse  um  ou  muitos  ao  mesmo  tempo diegando  ao  portão^ 
cada  II  rn  achava  sua  cava  lio  com  os  mesmos  armíoi^,  eni  que  tinha 
vindo  montado,  as  mesmas  esporas,  e  os  trastt^  lodos,  sam  que  a 
multidão  de  gente  produzisse  a  menor  confuííía  na  advertência 
d*a^uelles  criados .  que  para  isio  estavam  destinados;  os  cavallos 
rocoltiíam  as  cavallanças,  onde  tinham  todo  o  necessário  e  milho.. 
que  é  o  que  Sê  úi  diariamente  no  Bra7.ii  aos  cavai  los,  principalmeutô 
ug  capitania  do  S.  Paulo;  o  lem  feito  ver  a  experiência  a  utilidade^ 
qu0  recebom  d*asie  alimento,  que  as  ki  mais  briosos,  aíenlndos  o 
capares  da  aturar,  coroo  aturam,  jornncins  de  duzentas  leguns,  sem 
haver  um  só  d  ta  do  descanso.  Esta  advertência  era  uma  das  acções 
do  q»)e  os  hospodes  se  aturdiam,  por  verem  que  nunca  jamais  entre 
muUidao  de  varias  po^oa^,  que  diariamente  concorriam  a  visitar  e 
ohsí?qfiiar  dias  o  dias  a  Pompeu,  e^perimen tossem  a  menor  fulia, 
nem  ainda  uma  sê  troca  de  trastes.  Foi  profusa  a  mesa  de  Pompeu, 
pois  que  nVlla  as  iguarias  de  varias  viandas  se  praticava  com  tal 
Iveriífncia.  que  se  depnis  de  aeabflda  olla  e  passadas  algumas  horas» 


198 

chegassem  hospeJes,  nSío  liavia  a  menor  falta  para  banquelaa-los. 
Por  esia  razão  estava  a  uckaria  sempre  prompla.  A  abundância  de 
rrigo  n'esta  casa  foi  tanta,  que  todos  os  dias  se  fazia  pSo,  de  sorlo 
que  parn  o  seguinte  já  não  servia  o  que  tinha  sobrado  do  antecedente : 
o  vinho  ora  primoroso,  e  de  uma  grande  vinha,  que  com  aceno  se 
cultivava,  e  supposto  o  consumo  era  sem  miséria ,  sempre  o  vinlio 
sobrava  de  anno  a  anno   Engrossou  o  seu  copioso  cabedal  com  a 
fertilidade  das  minas  geraes,  para  as  quaes  mandando  numerosa  escra- 
Tatura  debaixo  da  administração  de  zelosos  feitores  recebia  lodos  os 
annos  avultadas  remessas  de  ouro.   Soube  distribuir  este  grande 
cabedal ,  mandando  á  corte  de  Lisboa  reformar  a  prata ,  que  em 
muitas  arrobas  herdou  de  seus  pais,  e  posta  em  obra  mais  polida, 
teve  a  copa  mais  primorosa,  que  nenhum  seu  nacional.  Distribuía 
considerável  somma  de  dinheiro  em  esmolas  e  sustentava  com  liberal 
grandeza  aos  sou>  correspondenleSi  Na  cúria  romana  teve  excedente 
aceitação  no  honroso  obsequio  de  alguns  cardeaes,  pelos  quaea 
conseguiu  as  letras  de  bispo  missionário,  que  chegaram  a  tempo  que 
já  estava  enfermo,  do  quo  acabou  a  vida,  servindo-lhe  só  para  o 
tratamento  de  III.**,  que  na  oração  fúnebre,  que  se  recitou  no  cotiegio 
de  Jesus  de  S.  Paulo,  deu  o  orador  ao  cadáver  exposto  no  mausoléo, 
que  com  funeral  pompa  lhe  erigio  o  mesmo  collegio,  agradecido  á 
henetlcenria,  com  que  lhe  deixou  muita  parle  dos  bens.  A  escravatura 
toda  e  terras  de  cultura  encnpeilou  à  sua  capella  de  Nossa  Senhora  da 
Conceição  de  Arassariguama,  e  deixou  ao  collegio  de  S.  Paulo  para 
lhe  aproveitar  seus  rendimentos,  cumprindo-se  annoalmente  comia 
festa  de  Nossa  Senhora  da  Conceição  em  8  de  Dezembro.  Teve  o  reve- 
rendo Dr.  Pompeu  a  gloria  de  hospedar  por  muitos  mezes  a  um 
bispo  grego,  que  dos  indios  da  Hespanha  veiu  ter  a  S.  Paulo  para  na 
frota  do  Rio  de  Janeiro  se  passar  a  Lisboa.  Depois  hospedou  ao  padre 
Manoel  de  Sá.  palriarcha  da  Ethíopia,  que,  vindo  da  índia  á  Bahia, 
passou  a  S.  Paulo  em  1707,  attrahido  do  nome  de  Pompeu,  a  cuja 
conta  corrou  por  noticias,  que  teve  antecedentes  da  vinda  do  pa- 
triarcln.  toda  a  despeza,  logo  que  da  Bahia  chegou  ao  Rio  de  Janeiro, 
onde  o  rorr»;«?pandenle  o  fez  tratar  com  toda  devida  grandeza,  com  a 


199 

^nai  embarcot]  pnra  Santa<«,  donde  pnssou  a  S.  Paulo,  já  tòfiduzído 
pelo  comboio  de  cem  índios,  quo  lodos  carregados  tinha  mandad<i 
Pompeu  para  transitar  dous  dias  do  jornada  até  S.  Paulo  ao  dito 
palriarcha;  tudo  foi  feito  â  custa  de  Pompeu.  Esle  se  confundiu  de 
encontrar  nos  mattos  da  villa  de  S.  Paulo  um  varão  Ião  bem  instruído, 
quo  lhe  não  fazia  falta  a  criarão  das  cortes,  que  Pompeu  nSo  tinha 
conseguido.  Emfim,  úo  reverendo  Dr.  Pompeu  toda  a  noticia  será 
sempre  diminuta  e  duvidosa,  expressão ,  que  se  fez  verdadeira  pela 
ocular  experiência  dos  que  alcançaram  tanta  magnlGcencia ;  só  em 
um  legado  ao  collegio  de  S.  Paulo  para  moveis  de  sua  igreja,  e  do 
cinco  altares,  de  prata  quatorze  arrobas  em  castiçaes,  uns  lisos  para 
os  dias  semanários,  e  outra  ordem  de  lavrados  para  os  dias  festivos,  a 
cinco  grandes  alampadas ,  todas  de  prata  lavrada  além  de  pratos 
grandes  de  dar  agua  para  as  mãos  com  jarras  para  o  mesmo  6m. 
Falleceu  Da  villa  da  Parnahyba  a  7  de  Janeiro  de  1713,  e  com 
marchado  sete  léguas  foi  conduzido  o  cadáver  em  um  caiião  coberto 
de  velludo,  que  «arrogaram  os  seus  parentes  com  acompanhamento 
de  todo  o  povo  d*aquella  villa,  onde  elle  tinha  sido  o  verdadeiro  pai 
da  pobreza,  o  amparo  dos  necessitados,  e  objecto  da  maior  veneração; 
por  esta  comprida  estrada  vieram  tochas  accesas  acompanhando  o 
cadáver,  que  veio  para  o  deposito  do  elevado  mausoléo,  que  já  no 
collegio  se  tinha  formado.  E>tas  exéquias  se  celebraram  com  pompa 
funeral  pelo  agradecimento  da  grande  herança ,  que  recebeu  depois 
da  morte  do  Dr.  Pompeu,  não  contente  com  a  liberal  grandeza,  com 
que  em  vida  lhe  fizera  largos  donativos.  Náo  consumirá  o  tempo  o 
grande  Rome,  que  soube  conciliar,  a  docilidade  sem  alteração,  a 
grandeza  de  animo  «em "nota  de  diminuição,  a  procedência,  afTabi- 
lidade,  o  amor  e  caridade,  que  praticou  até  o  fim  da  vida,  o  heróe 
dos  Paulistas,  o  famoso,  o  saudoso  e  appetecido  Guilherme  Pompeu 
d'Almeida,  porque  a  memoria  de  seu  nome  durará  sempre  na  noticia, 
que  se  transmittirá  nos  vindouros  de  uns  para  outros.  Não  quiz  que 
a  campa  do  seu  sepulchro  tivesse  mais  armas,  que  o  breve  epitaphio, 
que  lhe  declarasse  o  nome.  Jaz  sepultado  ao  pé  do  altar  de  S.  Fran- 
cisco Xavier,  que  elle  fundou,  porém  os  padres  do  collegio  de  S. 

xvni  26 


200 

Paulo  lhe  mandaram  abrir  no  mesmo  mármore,  que  lhe  serre  d» 
campa,  o  seguinte  epilnphio : 

Hoc  jacet  in  íumulo  Guilhermus  Presbyíer  auro  et  genere  et 
magno  nomine  Pompeius. 

§2.- 

â  —  2  D.  Maria  de  Lima  Moraes  easou  três  vezes,  e  de  nenhama 
teve  frueto.  A  primeira  com  António  Bicudo  de  Brito,  na  matriz  da 
Parnahyba  a  31  de  Janeiro  de  1667,  capitão  da  dita  vijja,  filho  de 
Joio  êicudo  de  Brito  e  de  D.  Anna  Ribeiro  de  Alvarenga ;  em  T/ 
de  Alvarengas,  cap.  3.*  §  1  .•  n/  2  —  1.  Falleceu  sem  geraçSo  o  dito 
António  Bicudo  com  testamento  a  1 1  de  Janeiro  de  1687.  Segunda  vez 
easou  com  o  capitão  Pedro  Dias  Paes,  filho  do  governador  Fernão 
Dias  Paes  o  de  sua  mulher  D.  Maria  Garcia,  e  falleceu  o  dito  ca- 
pitão mór  Pedro  Dias  Paes,  sem  geração  em  1700.  Casou  terceira 
vez  com  Thomó  Monteiro  de  Faria,  natural  da  Bahia »  familiar  do 
Santo  Offlcto,  capitão  mór  e  governador  da  capitania  de  S.  Vicente 
aS.  Pauk).  Falleceu  sem  geração  a  dita  Maria  de  Lima  em  S.  Paulo 
com  testamento  ao  l.*"  de  Fevereiro  de  1711.  Cartório  do  2.''  tabellilo 
de  S.  Paulo,  nota  n.*"  16  T.*  1710  até  1713,  testamento  de  D. 
Maria  de  Lima. 

S  3.- 

D.  Anna  de  Lima,  qne  no  mesmo  dia  31  de  Janeiro  2  —  3  do 
1667,  em  que  se  casou  sua  irmãa  D.  Maria  de  Lima,  se  casou  também 
com  António  de  Godoi  Moreira,  cidadão  de  S.  Paulo,  filho  de  João 
de  Godoi  Moreira  e  de  sua  mulher  D.  Eufemia  da  Costa  Motta. 
Falleceu  António  de  Godoi  Moreira  com  testamento  a  15  de  Julho 
de  1721,  6 já  muitos  annos  antes  tinha  fatlecidosua  mulher  D.  Anna 
da  Lima.  Teve  de  seu  matrimonio ,  como  consta  do  testamento 
referido,  cinoo  filhos,  que  são  os  que  abaixo  seguem.  António  do 
Godoi  Moreira  soube  assignalar-se  nas  obrigações  de  seu  nobre 
saague.  Vindo  a  S.  Paulo  em  1697  o  £x."<»  Artbur  de  Sá  e  Menezes, 
govamader  a  capitão  general  da  capitania  do  Rio  de  Janeiro  para 


201 

adiantar  os  novos  descobrimentos  das  minas  de  ouro  descobertas 
pelos  Paulistas  Carlos  Pedroso  da  Silveira,  e  Bartholomeu  Bueno  de 
Siqueira  pelo  anno  do  1695,  no  sertfio  de  Sabarabuçu,  que  hoje  sa 
conhece  por  Minas  Geraes;  ordenando-llie  Sua  Magestade  esta  pas- 
sagem com  600^000  rs.  mais  em  cada  um  anno  por  ajuda  de  custo 
por  carta  de  27  de  Janeiro  de  1697  (secretaria  do  conselho  ultrama* 
ríno,  livro  de  registros  das  cartas  do  Rio  de  Janeiro  T.*  1673,  folhas 
163)  o  encarregou  o  dito  Arlhur  de  Sá  de  varias  diligencias  do  real 
serviço»  o  por  desempenhar  n'ellas  as  obrigações  de  honrado  e  leal 
vassallo,  António  de  Godoí  Moreira  mereceu  que  el-rei  D.  Pedro  II 
lhe  mandasse  agradecer  por  carta  de  20  de  Outubro  de  1698,  firmada 
do  seu  real  punho  do  theor  seguinte:  (secr.  do  cons.  ultram.  liv.  de 
reg.  dos  cari,  T.*  1673.)  António  de  Godoi  Moreira.  Euel-réi  vos 
envio  muito  saudar.  Por  haver  sido  informado  pelo  governador  e 
capitão  general  do  Rio  de  Janeiro  Arthur  de  Sá  e  Menezes  do  zelo» 
com  que  vos  houvestes  na  expedição  das  ordens»  que  tocavam  ao 
meu  serviço,  que  o  dito  governador  para  esse  effeito  expediu  ,  e  a 
grande  vontade»  com  que  vos  acháveis  em  tudo»  que  vos  recommendou» 
mostrando  n'istoa  boa  lealdade  de  honrado  vassallo.  Me  pareceu  por 
esta  agradecer- vos»  e  scgurar-vos,  que  tudo  que  n'este  particular 
obrastes  me  fica  em  lembrança  para  folgar  de  vos  fazer  toda  roercé. 
quando  trateis  de  vossos  requerimentos.  Escripta  em  Lisboa  aos  20 
de  Outubro  de  1698.  Com  a  rubrica  de  Sua  Magestade. 
Teve  cinco  filhos : 

3  —  1  José  de  Godoi,  falloceu  solteiro. 

3  —  2  D.  Escholastica  de  Godoi. 

3  —  3  JoSo  de  Godoi  d'Almeida. 

3  —  4  Guilherme  de  Godoi  d'AImcida. 

3  —  5  Francisco  de  Godoi  Moreira. 
D.  Escholastica  de  Godoi  casou  duas  vezes ;  a  primeira  com  Bento 
do  Amaral  da  Silva»  a  segunda,  com  José  Pinto  Coelho  de  Mes- 
quita ;  de  ambos  fazemos  distincta  e  clara  menção. 
1.*  Casamento. 
Foi  Bento  do  Amaral  da  Silva,   natural  da  cidade  do  Rio  de 


202 

Janeiro,  da  nobre  ibmilia  dos  Amaral  Gurgcl  d'aqne)Ia  cafrilaniV^ 
onda  a  sua  dislincrio  e  nobreza  ó  assaz  conhecida ,  o  continua  a  sua 
descendência  em  avultadas  casas  c  senhores  de  engenhos  da  dita 
cidade.  Foi  Bento  do  Amaral  irmão  de  Fr.  António  de  Santa  Clara, 
religioso  franciscano,  que  na  sua  província  do  Rio  de  Janeiro  nào 
esquecera  o  seu  nom3  pelos  empregos,  que  occupou  no  seio  da 
religião,  e  de  Franci^^co  do  Amaral  Gurgei,  que  fai  capitão  mór  da 
capitania  de  S.  Vicente  o  S.  Pauio,  em  cujo  governo  suecedeu  ao 
capitão  mór  governador  José  de  Godoi  e  Moraes,  e  lendo  feito  pleito 
e  homenagem  da  dita  capitania  nas  mãos  do  governador  e  capitão 
general  do  Rio  de  Janeiro ,  tomou  posse  na  camará  capital  de  S. 
Vicente:  irmão  também  do  D.  Isidora  do  Amaral,  D.  Martha  do 
Amaral,  D.  Maria  Josefa  do  Amaral  que  todas  três  foram 
freiras  professas  no  convento  de  Sanla  Clara  de  Lisboa :  irmão 
também  de  I).  Domingas  do  Amaral,  que  casando  no  Rio  de 
Janeiro  foi  mâi  de  Fr.  Luiz  do  Santa  Rosa ,  que  occupou  o 
logar  de  provincial  dos  franciscanos ,  em  cujo  emprego  deixou  bem 
estabelecido  o  seu  nome  na  su^  província,  c  foi  também  mãi  de  D. 
Antónia  Maria  do  Amaral,  mulher  do  tenenlc-coroncl  Salvador 
Vianna,  e  de  Helena  de  Jesus,  mulher  do  sargento  mór  Felippe 
Soaras  Lousada,  senhor  de  engenho  do  Rio  de  Janeiro;  de  D.  Maria 
Antónia,  mulher  do  capitão  André  de  Souza,  de  cujo  matrimonio  6 
filho  o  capitão  Félix  de  Souza  Castro,  professo  na  ordem  de  Chrislo,  e 
fenhor  deengenlio,  onde  possuía  conto  c  noventa  escravos.  Foi  Banto 
do  Amaral  da  Silva  filho  do  coronel  José  Nunes  do  Amaral,  morador 
que  foi  da  oidnde  do  Rio  de  Janeiro;  e  de  sua  mulher  D.  Mecia  de 
Araon  Gurgei.  Foi  dito  Bento  do  Amaral  sargento  mór  no  Rio  do 
Janeiro,  foi  ouvidor  e  corregedor  da  capitania  de  S.  Paulo  por 
ausência  do  proprietário,  o  descmbargndor  João  Saraiva  de  Carvalho. 
Teve  grande  tratamento,  igual  ao  fundo  do  seu  cabedal.  A  sua  casa 
foi  servida  com  numerosa  escravatura ,  criados  mulatos,  todos  cal- 
çados, bons  cavallos  de  estribaria,  ricos  jaezes,  excellcnlcs  moveis 
de  prata  e  ouro,  sendo  bastante  avultadas  as  bnixcllas  de  prata,  cuja 
copa  foi  de  muitas  arrobas.  Tinha  passado  a  Minas  Geraes  no  prin- 


203 

cipio  da  grandeza  e  ferlilidade  dd  seu  descobrimento ,  e  se  recolheu 
n  S.  Paulo  com  grosso  cabedal,  que  soube  empregar  em  fazen- 
das de  cultura  para  o  tratamento  que  leve  de  pessoa  lao  distincla. 
A  sua  fazenda  foi  no  sitio  de  Emboacaba,  margem  entre  os  rios 
Tieié  e  Pinheiros.  Todo  o  grande  cabedal  d*esta  casa  veiu  a  con- 
5umir-se  com  o  tempo  depois  da  morte  de  Bento  do  Amaral,  nao  só 
por  meio  da  divisão  entre  muitos  herdeiros,  que  deixou,  mas  também 
pelo  segundo  casamento  da  viuva ,  que  acertando  nas  qualidades  do 
nobfe  sangue  do  segundo  marido ,  nâo  lhe  pude  atalhar  os  descon-: 
certos  do  animo,  de  que  faremos  menção. 

2."  Casamento. 

Casou  pois  segunda  vez  com  José  Pinto,  de  distincla  qualidade, 
como  ramo  da  illustro  C3sa  do  Bom  Jardim,  o  qual  fallepcu  em  S. 
Paulo  em  bem  contraria  fortuna  á  opulência ,  que  desfruclou  cm- 
qu.anlo  casado,  porque  fallando-lhe  a  nea^ssaria  economia,  consumiu 
o  cabedal.  Teve  um  único  filho  que  morreu. 

Teve  D.  Escholastica  de  Godoi  de  seu  primeiro  matrimonio  com  o 
sargento  mór  Benlo  do  Amaral  da  Silva  (que  falleccu  a  21  de  Junho 
de  1719,  cari.  de  orphnos  de  S.  Paulo,  masso  2/ de  inventários, 
letra  B)  nascidos  em  S.  Paulo  11  filhos: 

4  —  1  José  du  Amaral. 
4  —  2  Anlonio  Nunes  do  Amaral. 
4  —  3  Francisco  do  Amaral. 
4  —  4  Guilherme  do  Amaral  da  Silva. 
4  —  5  Bento  do  Amaral  Gurgel. 
4  —  G  João  do  Amaral,  falleceu  solteiro. 
4  —  7  Anna  Maria  do  Amaral. 
4  —  8  Mccia  Gurgel. 
4 —  9  Escholnslira  do  Amaral. 
4 —  10  Isidora  do  Amaral. 
4  — 11  Ignacia  do. 
4  —  1  José  do  Amaral  Gurgel,  morador  na  villa  de  Iiú,  ond« 
existiu  cm  1764  c  tem  servido  os  honrosos  cargos  da  republica,  da 


2M 

qual,  extinguindo-se  o  caracter  do  jaiz  áe  fora  na  pessoa  à&  Dr^ 
Theotonio  da  Silva  Gusmão^  foi  José  do  Amaral  o  primeiro  juir 
ordinário.  Está  casado  com  D.  Escholastica  de  Arruda.  Em  IV  de 
Arrudas  cap.  !.•  §  4.»  tíJ*  2  —  ia. 

4 — 2  António  Nunes  do  Amaral  falleeeu  em  Jundiahy  sem-geraçàok 

4  —  3  Francisca  do  Amaral  fallecea  solteiro  na  sua  fazend» 
de  Emboacaba. 

4  —  4  Gulllierme  do  Amaral  da  Silva,  que  existia  em  sua  fa- 
zenda do  rio  Tiotó,  sitio  de  Piracicaba,  e  foi  casado  com  Escbolastica 
da  Silva  Maciel,  estando  viuva  do  primeiro  marido,  Álvaro  Netto 
Bicudo.  Em  T.*»  de  Pachecos  Jorges  §  1."  n.°  2  —  10. 

Bento  do  Amaral  Gurgolr  que  existiu  solteiro  em  1764  4 — 5. 

João  do  Amaral,  que  falleeeu  solteiro  4 —  6. 

D,  Anna  Maria  Gurgel  do  Ainaral,  (^ue  existiu  no  estado  de 
viuva  de  Ignacio  Dias  da  Silva,,  de  quem  tratamos  n'este  T.°  cap. 
3."  §  i."  n.-  4  —  2  cora  descendência  4  —  7. 

D.  Mecia  Gurgel  do  Amaral,  que  existiu  casada  com  Manoel  Be- 
zerra Cavalcanti,  natural  da  cidade  de  Olinda,  filho  de  Miguel  Bezerra 
de  Vasconccilos  o  de  Brigida  de  Figueiró»  e  tem  dous  filhos  4  —  8. 

—  Josó  Bezerra  do  Amaral  Gurgel  Cavalcanti,,  natural  de  S. 
Paulo  5—  1. 

D.  Maria  Josefa  Bezerra  do  Amaral,  que  foi  casada  com  José  de 
Godoi  Rodrigues  5  —  2. 

I).  Escbolastica  do  Amaral,  que  falleeeu  nas  minas  do  Maranhão  na 
capitania  de  Goyaz,  para  onde  tinha  passada  com  seu  marido  Paula 
Cailos  de  França  4  —  9. 

D.  Isidora  do  Amaral,  que  foi  casada  com  José  Gonçalves  Ribeiro, 
irniào  do  Sebastião  do  Prado  Cortes,  que  (!ra  1722,  por  testemunhas 
de  maior  exreprSo,  justificou  a  sua  nobreza  no  cart.  do  vig.  da  vara 
de  S.  Paulo,  cujo  logar  occupava  o  reverendo  João  de  Pontes  §  5.* 
4—10. 

D.  Ignaci.1,  que  falleeeu  sem  geraçSo,  lendo  sido  casada  com 
Aleixo  Leme  da  Silva,  que  foi  mestre  de  campo  dos  auxiliares  do 
regimento  de  4  —  11. 


2t)5 

3  —  3  loào  de  Godei  d* Almeida  (§  3.'  n."  3—3)  falleceu 
tia  Parnahyba  a  26  de  Julho  de  1727.  €art.  de  orph,  da  Pamahyba, 
letra  I^  n.*  555.  Foi  «asado  «om  Anna  da  Silva ,  natural  da  dita 
villa,  viuva  de  Francisco  Carvalho,  capitão  de  infantaria  paga.  Em 
T.-  de  Godoís.  Gap.  3.*  §  7.«  n.*  3  —  3.  Teve  uma  filha  única. 

—  Rita  de  Godei  d*Almeida  e  Silva,  que  casou  em  Parnahyba 
coro  João  de  Mattos  Raposo,  natural  da  ilha  de  S.  Miguel,  protector 
e  administrador  da  capella  da  Conceição  de  Vuturuna ,  filho  de 
Domingos  de  Mattos  Fernandes  e  sua  mulher  Maria  Vieira,  e  teve 
em  Parnahyba  10  filhos : 

Anna  da  Silva. 

Maria  Paes. 

Francisco  de  Salles.  casada  com  Pedro  Frasáo  de  Brito,  filho  da 
Guilherme  Pompeu  de  Brito. 

Mariana  Paes. 

Sebastiana  Paes. 

D.  Maria,  ainda  menor  em  1773. 

Manoel  Raposo. 

José  da  Silva  Paes. 

Francisco  de  Godoi. 

Eufemia,  que  falleceu  de  tenros  annos. 

3  —  4  Guilherme  de  Godoi  d' Almeida  (§  3.*)  que  um  raio  matou 
no  morro  de  Vuturuna,  e  acabou  solteiro. 

3  —  5  Francisco  de  Godoi  Moreira.  Foi  capitSo  mór  nas  Minas 
Geraes,  e  foi  morgado  da  casa  Branca ,  e  tomou  posse  da  adminis-* 
traçSo  dos  bens  da  capella  de  Nossa  Senhora  da  Conceição  de  Vuiu-^ 
runa,  da  qual  foi  fundador  e  padroeiro  o  capitão  mór  Guilherme 
Pompeu  d' Almeida,  em  22  de  Novembro  de  1727,  e  lhe  passou  esta 
adminfstraçSo  por  morte  de  seu  irmão  João  de  Godoi  d'Almeída. 
(Gart.  da  ouv.  de  S.  Paulo,  massos  dos  T.*'  do  residuo,  letra  F, 
Francisco  de  Godoi.)  Recolhido  das  Minas  Geraes  fez  estabeleci- 
mento naTilIa  de  Mogi  das  Cruzes,  onde  casou  com  D.  Maria  Jorge^ 
e  teve  um  filho  (na  copia  n9o  se  percebe  bem  si  é  um  ou  quatro  por 
estar  mal  escripto).  António  Jorge  de  Godoi,  filho  de  Francisco  de 


206 

Godoi  Moreira,  morador  na  villa  dd  Jundiahy,  onde  occupa  o  posto 
do  sargento  mór  das  ordenanças,  a  cujo  cargo  existem  as  tropas 
militares,  depois  da  morte  do  capitão  mór  Martinho  da  Silva  Prado. 

CAP.  III. 

Lourenço  Castanho  Taques  casou  €om  D.  Maria  de  Lara,  1  —  2 
filha  de  D.  Diogo  Lara,  e  de  sua  mulher  D.  Magdalena  Fernandes 
de  Moraes  Feijó  (em  T.»  <le  Laras  §  4.**)  na  matriz  de  S.  Paulo,  a 
24  de  Novembro  de  1631.  Este  Paulista  conservou-se  sempre  na 
pátria,  sem  que  o  infeliz  successo  de  seu  irmão  Pedro  Taques,  morto 
á  falsa  fé  por  Fernando  de  Camargo  fcap.  1.")  o  obrigasse  a  seguir  a 
mudança,  que  fizeram  os  outros  irmãos,  porque  o  seu  grande  respeito 
e  força  d'armas  o  promptificava  para  pôr  em  cerco  os  inimigos  do 
partido  contrario.  Teve  assento  na  mesma  fazenda  da  Ribeira  de 
Iporanga,  que  tinha  sido  de  seu  pai  Pedro  Taques.  Não  lhe  foi 
adversa  a  fortuna  nos  cabedades,  com  que  se  fez  opulento  para 
«conservar  respeito  e  tratamento  de  pessoa  aposentada.  Nas  occasiões 
do  real  serviço  sempre  deu  acreditadas  mostras  de  honrado  vassallo 
com  liberal  despeza  de  sua  própria  fazenda.  Assim  o  praticou,  quando 
Salvador  Corrêa  de  Sá  e  Benavides  passou  a  S.  Paulo  feito  adminis- 
trador geral  das  minas  de  ouro  e  prata,  no  anno  de  1659  com  o 
governo  das  três  capitanias  Espirito  Santo ,  Rio  de  Janeiro  e  S. 
Vicente  e  S.  Paulo  (camará  de  S.  Paulo  n.*  4  T."  1658  a  folhas 
62  e  64)  por  ordem  d'6l-rei  D.  João  IV,  datada  em  Lisboa  a  7  do 
Junho  de  1644  (archv.  da  cam.  de  S.  Paulo  liv.  de  reg.  capa  de 
couro  de  veado  n.*"  2  T.**  1642  folhas  50  em  diante)  o  se  dilatou 
pela  capitania  do  Espirito  Santo,  para  onde  passou  primeiro  a  tratar 
do  descobrimento  das  esmeraldas,  tendo  Lourenço  Castanho  a  incom- 
parável honra  de  receber  uma  carta  do  monarcha,  firmada  pelo  seu 
real  punho,  em  que  lhe  recommendava  desse  ajuda  á  favor  do  admi- 
nistrador e  governador  Salvador  Corrêa  de  Sá  para  ter  eCTeilo  a 
diligencia,  a  que  era  enviado.  Assim  o  fez;  e  conservando-se  em  S. 
Paulo  até  1661  o  dito  governador  Salvador  Corrêa  de  Sá  dando 
execução  ás  diligencias,  de  que  fora  encarregado,  obraram  os  officiaes 


S07 

jhr  camará  do  Rio  de  Jaoeirch»  povo  d*aquella  cidade  em  l-CGO  um 
altentado.  conlra  as  pessoas  de  Thomé  Corrêa  d'Alvarenga ,  gover- 
nador da  praça ,  do  sargento  roór  Martim   Corrêa  Vasques,  do 
provedor  da  fazenda  real  Pedro  de  Souza  Pereira,  prendendo  a  todos 
em  uma  fortaleza,  e  os  dopuzerara  do  governo,  negando  lambem 
inteira  obediência  ao  governador  geral  Salvador  Corrêa.  Este  se 
achava  em  S.  Paulo,  quando  chegaram  as  noticias  do  insulto ,  e 
muito  mais  quando  os  mesmos  officiaes  da  camará  dirigiram  aos  da 
de  S.  Paulo  uma  carta,  de  que  abaixo  daremos  uma  liei  copia  para 
instrucçâo  d'este  attentado.  Logo  se  dispôz  o  governador  a  p^-se  a 
caminho»  e  ir  para  o  Rio  sooegar  o  tumulto  e  dar  o  merecido  castigo 
aos  cabeças  e  autores  da  sedição;  mas  reconhecendo-se  o  gravo 
perigo  de  vida,  a  que  ia  expôr-se,  ou  ao  menos  de  Gear  desautorisado, 
experimentando  a  violência,  que  costuma  produzir  o  desafogo  da 
paixáo»  intentou  Lourenço  Taques  com  o  sen  grande  respeito,  a  que 
se  uniram  gostosos  os  Paulistas  da  primeira  nobreza,  alalliar  este 
damno,  supplicando  com  instancias  de  leal  vassallo  náo  quizesse  pôr 
em  tào  evidente  risco  a  sua  vida  e  autoridade.  £  porque  o  valor  e 
constância  de  Salvador  Corrêa  não  admiliiu  a  pratica  por  julgar,  que 
nâo  ficava  bem,  deixando-se  persuadir  d'estas  rogativas,  e  residir 
em  S.  Paulo  até  a  real  resolução  sobre  matéria  delanto  peso,  assentou 
Lourenço  Castanho  acompanha-lo  com  forças  de  armas  até  o  Rio  de 
Janeiro,  mas  nem  com  este  auxilio  admilliu  elle,  e  com  este  total 
desengano  fomentou  Lourenço  Castanho,  que  a  nobreza  seajuntasse 
em  corpo  de  uniào  con  o  senado  da  camará,  para  por  carta  da  parta 
de  Sua  Magestade  se  lhe  ponderar  a  matéria  com  esperanças  de 
aceitar  as  ponderações,  que  se  lhe  fizessem.  Emfíra  aquelle  cavalheiro 
reconheceu  a  lealdade  di^s  Paulistas,  o  seu  animo  e  o  interesse,  que 
tinham  da  quietação  publica  em  serviço  do  sen  monarcha.  E  como 
já  tinha  mandado  lançar  bando  ao  som  das  caixas,  no  Rio  de  Janeiro, 
promettendo  perdão  em  nome  de  Sua  Magestade  aos  delinquentes » 
assentou  ir  para  Ilha  Grande  com  o  fundamento  de  ter  ali  em  que 
occupar-se,  e^cr  aquolla  villa  uma  das  da  capitania  de  S.  Vicente  e 
S.  Paulo,  e  conhecido  este  intento  sempre  lhe  quizeram  atalhar  a 

XTiii  27 


208 

resolução  pnra  evitar  algum  novo  altentado  contra  elle.  Isto  assim 
ponderado,  so  tonnou  em  camará  um  assento,  de  que  abaixo  faremos 
mençSo  Sào  tantos  os  apertos,  ou,  para  melhor  dizer,  as  tyrannias» 
com  que  o  máu  gcverno  de  Salvador  Corrêa  de  Sá  e  seus  parentes 
tem  opprimido  toda  esta  capitania,  que  não  podendo  já  supera-los 
(por  mais  que  o  intentem),  resolveu  a  nobreza,  dero  e  povo,  unanimes 
e  conformes  a  deitar  de  si  a  carga,  com  que  já  nao  podiam.  Gados  n» 
justificação  ante  as  reaes  pessoas  de  Suas  Magesta cies  das  catisas,  que> 
tiveram,  e  os  moveram,  e  em  que  se  fundaram  para  depor  ao  dito 
Salvador  Conôa,  e  a  Thomê  Corroa  d^Alvarenga  do  governo  em  que 
|)or  sua  ausência  o  deixou ;  tirando  também  do  seu  posto  ao  sargento 
mór  Marli m  Corrêa  Vasques,  o  o  prov-edor  da  fazenda  Pedro  de  Souza 
Pereira  (todos  ficam  presos  na  fortaleza  doesta  cidade),  pois  a  todos 
estes  senhores  reconhecia  esta  miserável  capitania  ,  com  outros 
parentes  seus,  por  governadores  d'e1la,  tratando  só  de  seus  accres- 
eentamentos,  e  por  muitas  vias  de  nossa  destruição,  dO  qne  os  mo- 
radores doesta  capitania,  que  a  esta  vem  com  as  suas  drogas,  são> 
bastantes  testemunhas,  pois  experimentando  o  rigor,  com  queso 
Ibes  tomavam,  eo  máu  pagamento  que  eUes  sustínham,  acudindo-nos^ 
como  tão  bons  vizinhos  com  o  ordinário  sustento ,  qtio  aqui  neces- 
sitamos, devendo  ser  differentemente  correspondidos  ao  beneficio^ 
que  nos  fazem ,  como  será  d'aqui  em  diante,  sendo  Deus  servido. 
Supposto  isto,  queremos  com  toda  a  verdade  representar  á  Soa  Ma- 
gestade,  entre  outras  cousas,  o  procedimento  com  que  o  adminis- 
trador geral  Pedro  de  Souza  Pereira  se  tem  iiavido  n'eI1as  em  razão 
Aos  estanques ,  que  ba  mandado  fazer  de  aguas  ardentes  e  vinho  e- 
outras  fazendas  para  com  ellas  comprar  ouro  o  mandar  a  Sua  Ma- 
gestade  a  titulo,  de  que  é  rendimento  de  quintos,  afim  de  ir 
sustentando  o  muito,  que  tem  promettido  a  Sua  Magestade  pretender 
tirar  das  sobreditas  minas.  E  também  o  que  n^essa  capitania  se  tem 
alcançado  sobre  o  mineiro  Jaime  Connnere,  do  qual  corre  por  c& 
fluna,  que  fora  violentamente  morto  em  respeito  de  haverem  man- 
dado a  Sua  Magestade,  em  nome  do  dito  mineiro,  alguns  avisos 
phantasticos^  para  se  ir  continuando  com  o  engano  sobredito.  Pe- 


209 

diinos  a  Vm/**,  nos  queiram  mandar  informação  certa  de  todo 
sobredito,  pois  também  vem  Vm/**  a  fazer  n'isto  serviço  a  Sua 
Magestade,  que  tanto  deseja  ^aber  com  certeza  o  desengano  doestas 
minas,  e  de  todo  o  procedimento  d*ellas,  fazendo  timbem  (e  á  nós 
SC  lhes  parecer]  aviso  ao  dito  senhor,  enviando- nos  as  cartas  para  por 
nossa  via  se  lhe  remetterem.  Também  pedimos,  nos  queiram  mandar 
inforniaçâo  certa,  e,  si  puder  ser,  jurídica  dos  preços,  por  que  de 
vinte  annos  a  esta  parle  se  vende  o  sal  n'essa  capitania,  e  por  cuja 
conta  carregado  ou  já  lodo  ou  parte  d'elle;  n'isto  farSo  Vni.***  um 
grande  serviço  a  este  povo,  e  a  nós  mercê,  e  com  ella  reconhece- 
remos, para  nSo  faltarmos  nunca  com  a  mesma  correspondência, 
que  com  razão  a  devemos  fazer,  visto  a  chegada  vizinhança  em  que 
estamos,  nSo  faltando  a  ella  uns  e  outros.  Guarde  Deus  a  Vm/** 
Rio  de  Janeiro,  em  camará,  aos  IG  de  Novembro  de  1660.  Eu  Jorge 
de  Souza,  escrivão  da  camará,  a  fiz  escrever  e  sobre*screvi.— C/c- 
meníe  Nogueira.'-Fernando  Falleyro  llomem.Simào  Botelho 
d' Almeida. — Diogo  Lobo  Pereira. 

Retpotta  dos  oamaríttaf  de  8.  Paulo. 

De  16  de  Novembro  é  a  carta,  que  aqui  recebemos  de  Vm/^,  cujo 
cuidado  presente  sentimos  grandemente,  e  muito  mais  as  causas  d'elle. 
Deus,  nosso  Senhor,  que  nos  maiores  trabalhos  costuma  dar  por 
mais  suaves  alegres  fins,  se  servirá  concedô-los  a  sim  a  Yro/*',  para 
que  lhes  possamos  dar  os  parabéns,  como  agora  os  pezames  de  seus 
enfados.  A'  informação,  que  Vm.'**  nos  pedem  dos  estanques,  que  o 
administrador  das  minas  Pedro  de  Souza  Pereira  mandou  fazer  de 
vinhos  e  aguas  ardentes,  nSo  podemos  satisfazer;  porque  n*esta  villa 
nunca  os  p&z,  o  si  nas  outras  o  fez,  é  por  razão  de  que  ficavam-lhe 
ellas  em  via  para  a  jornada  das  minas.  As  camarás  d*ellas  devem 
informara  Vm.***  n'eí:te  caso,  que  nós  ignoramos.  Emquantoá  morte 
do  mineiro  Jaime  Commere,  supposto  que  a  principio  a  fama,  como 
em  outras  cousas^  publicou,  fora  violentada,  todavia  em  contrario  se 
praticou  depois;  entrenós  serve  n'esta  camará  quem  com  curiosidade 
perguntou  pelo  successo  a  pessoas,  que  foram  presentes,  asquaeslhe 


21  (í 

disseram,  que  fora  a  morie  casuahi)ente  desastrosa  ,  porque  indo  a^ 
mudar  com  passo  mais  largo  o  dilo  mineiro  do  uma  para  outra  pedr» 
por  baver  antes  escorregado,  e  cabHo  se  despenhara  na  cata  ou  alta 
cova,  que  fàzia;  também  podem  ter  mais  plena  noticia  dos  que  são 
vizinhos  do  lugar,  ondesuccedeu  o  caso.  AVcrca  do  saf  não  temosr 
noticia,  por  cuja  conta  tem  vfndo  da  vrlla  de  Santos,  e  os  preços  tenr 
sido  vários;  os  moradores  de  tal  villa  avisarão  a  Vm.**'  d*esta  matéria 
com  certeza.  Em  razão  do  governador  Salvador  Corrêa  de  Sá,  expe- 
rimentamos tanto  pelo  conrtrario  as  mal  fundadas  queixas  d'esse  povo, 
que  com  todos  os  d'esta  capitania  juntos,  lhe  nSo  devesse  parte  do 
muito  que  a  essa  estranham  a  novidade  do  surcesso,  a  que  Vm.*'* 
devem  acudir  com  o  remédio,  para  que  Sua  Magestade  fique  melhor 
servido,  c  nós  não  faltaremos  á  obrigação  que  temos,  de  seus  leae» 
vassallos.  Guanle  Deus  a  Vm/**  S.  Paulo  em  camará,  aos  iS 
de  Dezembro  de  Í66Q. —  António  de  Madureira  Moraes. — 
Manoel  Alves  Preto.^Antonio  Paes  Leme.— João  Vieira  da 
Silva, 

Resposta  do  general  Salvador  Corroa  á  carta,  que  lhe  escreveu  a 
nobrezn  de  S.  Paulo  com  os  prelados  o  reverendo  D.  Abbade  de  S. 
Bento  Fr.  Jeronymo  do  Rosário,  o  prior  do  Carmo,  Fr.  Gaspar  de 
S.  innocencio,  guardião  de  S.  Francisco,  o  vigário  da  igreja  Do- 
mingos Gomes  (fAIbernas,  o  prior  do  Carmo  Fr.  André  de  Santa 
Maria.  Os  camaristas  Estevão  BaySo  Parente,  Constantino  de 
Lavedra,  Francisco  Dias  Leme,  Manoel  Cardoso  e  Paulo  Gonçalves; 
•e  os  da  primeira  nobreza  foram  Lourenço  Castanho  Taques,  e  seu 
filho  Lourenço  Castanho  Taques,  o  capitão  mór  António  Ribeiro  de 
Moraes,  D.  Francisco  Lemos,  João  de  Godoi  Moreira,  João  Ortíz 
de  Camargo,  Jeronymo  de  Camargo,  António  Pires,  D.  Simão  de 
Toledo  Piza,  Paulo  da  Fonseca  Bueno,  António  Lopes  de  Medeiros, 
Manoel  Dias  da  Silva,  António  do  Canto  de  Mesquita,  António  de 
Godoi  Moreira,  Estevão  Fernandes  Porto,  Gabriel  Barbosa  de  Lima, 
Estevão  Gomes  Cabral,  Gaspar  Maciel  Aranha,  Manoel  Alves  de 
Souzs,  o  outros  muitos  Paulistas  de  veneração  e  respeito,  que  constam 
do  mesmo  accorJam  á  fl.  112  do  liv.  de  reg.  n."  4  T.'  1658  do 


211 

arch.  da  cnmara  de  S.  Paulo,  onde  se  contam  cincoenta  e  oito  pessoas 
assígnadas. 

«  Conheço  o  zolo,  com  que  Vra.  *•*  o  mais  ministros,  camará, 
cidadãos  e  povo  tratam  do  serviço  de  Sua  Magestade,  como  tão  fieis 
vassallos;  eu  llie  representarei  em  todas  as  occasiões,  que  se  ofTere- 
cerem,  do  augmento  d'estas  capitanias  e  moradores  d'ellas;  e  de 
minha  parte  fico  com  o  devido  agradecimento  da  mercê,  que  me 
fazem  em  abonar  as  minhas  occasiões  que,  supposto  hão  sido  com  o 
desejo  de  acertar,  ás  vezes  nSo  são  agradecidas.  A  Vm/**  lhes  é 
presente  o  que  tenho  obrado,  e  que  me  não  fica  que  fazer  por  estar  a 
abandonar  o  sul,  o  não  é  justo,  que  estando  no  derradeiro  quartel  da 
Tida,  me  fique  n'esta  villa  tratando  de  conveniências  próprias , 
quando  posso  occupar  o  tempo  nas  de  serviço  de  Sua  Magestade, 
indo-me  chegando  á  cidade  do  Rio  de  Janeiro  a  dar  calor  ás  obras 
dos  galeões ,  que  ali  estão  começadas ;  porque  considero  que  os 
moradores,  á  vista  do  bando,  que  já  mandei  lançar,  e  lhes  dava  modo 
de  bom  governo,  acommoilando-me  ás  suas  desconfianças,  espero, 
obrem  como  leaes  vassallos,  conhecendo  que  a  minha  tenção  nâo  é 
mais  que  conservar  a  jurisdicção  real,  que  supposto  com  ajuda  de 
\m.*"  e  d*esla  capitania,  e  zolo  dos  moradores  d*ella  no  real  serviço 
podia  eu  tratar  do  castigo,  me  Címformo  antes  cm  obrar  em  matérias 
de  povo  com  toda  a  prudência  até  resolução  de  Sua  Magestade,  para 
com  ella  obrar  o  que  me  mandar:  espero  que  n'essa  occasião  e  em 
todas  as  mais,  que  se  ofTurecerem  ao  serviço  de  Sua  Magestade,  por 
me  fazerem  merco,  os  ache  com  a  mesma  vontade,  que  em  esta 
occasião  experimento.  S.  Paulo,  2  de  Março  de  1661. — Salvador 
Corrêa  deSáe  Benavides.  » 

Não  se  aquietou  o  ardor  do  zelo  de  Lourenço  Castanho  desejando 
sempre  acreditar-se  no  real  serviço.  Por  esto  motivo  achando-se  com 
a  disciplina  militar  na  guerra  contra  os  bárbaros  Índios,  e  pratico  no 
conhecimento  dos  sertões  que  havia  penetrado  na  conquista  de  varias 
nações  dos  mesmos  índios,  tendo  recebido  uma  carta  do  príncipe 
regente  o  infante  D.  Pedro,  datada  do  23  de  Fevereiro  de  167i 
sobre  o  descobrimento  de  minas  de  ouro  e  prata,  para  cuja  diligencia 


212 

tinha  praticado  Fernando  Dias  Paes  com  patente  de  governador  da 
gente  de  sua  leva  ou  tropa,  de  que  no  T/  de  Dias  Paes  fazennos 
menção,  tomou  Lourenço  Castanho  a  si  pelos  setis  cabedaes  e  força 
de  corpo  d'armas  peneirar  o  sertSo  dos  bárbaros  indios  Cataguazes,  e 
entrou  para  esta  conquista  com  patente  de  governador  com  juris- 
dic^ao  o  poder  correspondente  ao  caracter  de  sua  patente,  largando  a 
serventia  do  olHcio  de  juiz  de  orphãos,  que  occupava  por  procuração 
de  mercd  vitalicia,  como  tinha  sido  seu  pai  Pedro  Taques.  E  con- 
seguiu o  primeiro  conhecimento,  que  depois  veiu  a  produzir  a  ferti- 
lidade das  minas  de  ouro,  chamadas  no  principio  de  seu  decobrimenlo 
—  Cutagiiozes,  e  depois  cstendendo-se  em  ftiuitas  léguas  de  distancia» 
mas  no  mesmo  sertão^  os  novos  descobrimentos  vieram  estas  minas  a 
ficar  conliccidas  com  a  nomenclatura  de  geraes,  em  que  se  conservam. 

Lourenço  Castanho  Taques. 

Francisco  d' Almeida. 

Pedro  Taques  d'Almeida. 

Tiiomé  Lara  d'AImcida. 

Diogo  de  Lara  Moraes. 

António  d*Almeida  Lara. 

Jusó  Pompeu  d'Almcida. 

D.  Anna  de  Proença. 

D.  Branca  dWlmeiJa. 

D.  Muria  de  Lara. 

§1.- 

Lourenço  Castanho  Taques,  que  foi  chamado  o  moço  por  diíTe' 
rença  de  seu  pai,  do  mesmo  nome  e  appellido,  igualmente  com  o  ser 
da  natureza  lhe  herdou  os  espirites  de  ardor  e  zelo  pela  utilidade 
puhlicii  da  pniria  e  do  real  serviço;  serviu  os  honrosos  cargos  da 
republica  de  S.  Paulo,  onde  fui  juiz  ordinário  o  de  orphàos,  cujo 
pesado  emprego  occupou  muitos  annos  com  utilidade  dos  pupillos, 
porque  aos  (|uc  eram  do  inferior  condição  recolhia,  quando  desam- 
parados, á  sua  paternal  providencia,  mandando-os  ensinar  a  lôr, 
escrever  e  olBcios  mecânicos  para  ficarem  com  elles  estabelecidos. 


218 

Foi  muito  respeitado  e  fstimado  geralmente  de  todos  os  moradores 
do  S.  Paulo,  porque  o  seu  grande  respeito  se  adornava  das  virtudes 
da  beneficência,  docilidade  e  compaixflo;  não  bavia  differença, 
ainda  entre  os  roais  poderosos  que  Castanho  não  vencesse  em  har- 
monia o  amizade.  A  sua  casa  era  de  numerosa  escravatura,  com  logar 
destinado  para  o  trabalho  das  oflicinas,  em  que  trabalhavam  os 
mestres,  oiBcíaes  de  varÍ9s  oiBcios,  seus  escravos,  de  que  percebia  os 
lucros  dos  salários  que  ganhavam.  Além  das  virtudes  moraes  pratícaVa 
aquellas,  que  adornam  a  um  bom  catholico  temente  a  Deos.  Na 
educação  dos  filhos  que  foram  muitos  excedeu  muito  pelos  dictames 
e  máximas  calholícait,  em  que  os  instruía,  nio  se  esquecendo  do 
tratamento  do  cavalheiros,  com  que  cada  filho  varão  se  portava, 
tendo  cavallos  de  estribaria,  distinctos  uns  dos  outros  para  cada  filho, 
cos  criados  e  escravos  mulatos  (vulgo  pagens  no  Brazil)  que  o  serviam 
reconhecendo  estes  o  dominio  do  senhorio  para  obediência  a  cada 
um  de  seus  senhores.  Quando  se  achou  em  S.  Paulo  Arlhur  de  Sá  e 
Menezes,  governador  e  capitão  general  do  Rio  de  Janeiro ,  de  quem 
fizemos  menç9o  no  cap.  2.*  d*este  T.*,  o  hospedou  Lourenço  Castanho 
Taques,  em  cujo  animo  e  zelo  achou  este  general  uma  efficaz  prova 
de  amor,  honra  e  lealdade  de  bom  vassallo;  algumas  ordens  lhe 
incumbiu,  e  na  execução  d'ellas  se  fez  elle  merecedor  de  qne  Arthur 
de  Sá  informasse  a  Sua  Magestade  el-rei  D.  Pedro  que  por  carta  de 
20  de  Outubro  de  1698,  firmada  do  sen  real  pulso,  lhe  escreveu  o 
seguinte  Lourenço  Castanho  Taques.  Eu  el-rei  vos  envio  muito 
saudar.  Por  ser  informado  pelo  governador  e  capitão  general  do  Rio 
de  Janeiro  Arthur  de  Sá  e  Menezes  do  zelo,  com  que  vos  houvestes 
Na  expedição  das  ordens,  que  tocavam  o  meu  serviço,  qne  o  dito 
governador  para  este  eflfeilo  expedia,  e  a  grande  vontade,  com  que 
vos  acháveis  em  tudo  qee  vos  recommendoo,  mostrando  nisto  a  boa 
lealdade  de  vassallo:  me  pareceu  por  esta  mandar- vos  agradecer  o 
assegorar-Tos,  que  tudo  o  que  n'este  particular  obrastes  me  fica  em 
lembrança  para  folgar  de  vos  fazer  toda  mercê,  quando  trateis  de 
vossos  requerimentos.  Escripta  em  Lisboa,  aos  20  de  Outnbro  de 
1698.  Com  a  rubrica  de  Sua  Magestade. »  Esta  mesma  cópia  fica 


214 

lançada  no  cap.  2.''  §  3.<*  d'este  T.<>,  quando  traiamos  de  António 
dtí  Godoí  Moreira.  O  mesmo  monarcha  escreveu  lambem  esta  mesma 
caria  a  outros  Paulistas,  como  veremos,  quaes  elles  foram,  quando 
tratamos  de  cada  um  d'elles  cx)n(orme.oT.''  a  que  pertencem,  e  se 
acham  todas  lançadas  no  reg.  dasecr.  docons.  ultram.  liv.  das  cartas 
do  Rio  dti  Janeiro  T."  1763  d*esde  fl.  199,  sendo  a  primeira  a  que 
se  escreveu  a  Lourenço  Castanho  Taques.  Depois  de  ter  casado  os 
fiUios  e  todas  as  lilhas,  vendo-se  já  sem  as  pensões  do  as  manter, 
como  d'afítes,  quando  juntos  os  conservava  debaixo  do  pátrio  poder, 
de  tal  sorte  praticou  a  virtude  da  caridade  com  a  pobreza  dos  fieis, 
que  durando-lhe  a  vida  em  avultada  idade  de  annos,  admiraram  a 
sua  decadência  os  mesmos,  que  reconheceram- lhe  os  cabedades. 
Onde  apurou  o  resto  de  sua  grandeza  foi  na  fundação  e  construcçao 
do  recolhimento  de  Santa  Thereza,  que  emprehendeu  por  dictames  do 
Ex. ""  e  Rv."'»  D.  Josó  de  Barros  de  Alarcão,  !••  bispo  do  Rio  de 
Janeiro,  passando  de  visita  a  S.  Paulo,  onde  fez  assento  muitos 
annos,  e  travou  amizade  com  Lourenço  Castanho,  que  lhe  deveu 
honrosissimas  denK)nstrações.  O  destino  d'esla  obra  foi  deixar  para  a 
posteridade  um  excellente  commodo  para  as  suas  nelas  e  mais  des* 
cendentes,  que  quizessem  abraçar  o  instituto  da  matriarcha  Santa 
Theresa,  cuja  vocação  se  deu  ao  recolhimento  com  a  bem  nascida 
esperança  de  que  a  real  grandeza  o  passasse  a  convento  professo;  e 
com  este  bem  projectado  intento  se  construiu  ja  a  obra  com  tal  for- 
malidade, que  nào  necessitasse  de  forma  para  a  apertada  clausura. 
Mancommunou-se  elle  com  seu  irmão  o  capitão  mór  e  alcaide  mór 
Pedro  Taques  d'Almeida,  o  qual  concorrendo  com  dinheiros  ficaram 
sobre  elles  as  despezas  da  erecção  e  formatura  de  lodo  o  recolhimento, 
principiando-se  a  fundamentar  os  alicerces  para  as  paredes.  Para 
estas,  madeiras  e  ferragens  concorreu  só  Lourenço  Castanho,  e 
muito  apenas  o  sino,  que  serviu,  occupado  de  duas  moradas  de  casas 
pertencentes  a  Manoel  Vieira  Barros  não  custou  dinheiro,  porque 
este  com  liberal  mão  entregou  tudo  para  se  fundar  o  dito  recolhi* 
mento.  Acabou-se  este  com  os  dormitórios,  igreja  e  coro,  e  tudo  mais 
em  sua  ultima  perfeição  com  muito  custo,  correndo  a  direcçdo  do 


215 

risco  pela  iJca  do  Ex."*  bispo,  a  qticm  so  deu  a  gloria  de  fundador 
«e  prolecior  no  anno  de  tôSO»  em  que  entraram  com  solemne  festivi- 
dade de  missa  cantada,  sermão  e  sacramento  exposto  para  recolbidas 
•do  mesmo  ^Mmvcnlo  três  filhas  de  Manoel  Vieira  Barros,  tomando  <à 
habito  de  Santa  Tiíerosa.  Este  recolhHnento  ainda  existe  sem  pro- 
fissão solemne  (porque  mertes  os  lundadores  faltou  o  respeito»  que 
lhe  so)ÍGÍt{i6se  a  graça  de  passar  a  convento),  consorvando-se  porém 
•n'elle  algumas  recolliidas,  que  para  chorar  peccados  e  seguraram  a 
salvação  de  clausuraçào,  alimentadas  do  pequeno  património,  qua 
tom  a  casa,  supprindo  a  de  seus  pais  e  parentes  cora  muita  parte  do 
necessário  sustento,  para  o  qual  resplandeceu  sempre  a  caridade  dos 
fieis.  M'este  estado  o  achou  o  primeiro  bispo  de  S.  Paulo  em  7  de 
Dezembro  de  1746,  cm  que  fez  a  sua  publica  entrada  o  Ex."*"  e 
'Rv.^  D.  Bernardo  Rodrigues  Nogueira,  cuja  alta  esphera,  zelo  e 
economia,  actividade,  rectidão  e  governo  o  farão  sempre  suspirada 
«objecto  da  saudade,  que  nos  deixou  de  sua  exemplar  vida,  que  acabou 
nodin  7  de  Novembro  de  1748  com  irreparável  perda  do  augmento, 
que  se  perpetuava  nas  direcções  de  seu  pastoral  governo.  Este  santo 
prelado  dictou  uma  inslrucção  para  servir  como  de  regra  ás  suas 
amadas  ovelhas,  esposas  de  Jesus  no  recolhimento  de  Santa  Theresa, 
•que  ainda  hoje  so  conserva  tao  inalterável,  como  si  fora  dada  pelo 
summo  pastor.  Dando  conta  o  Ex.*"  bispo  do  Rio  de  Janeiro  á  camará 
'de  S.  Paulo  para  se  extinguir  o  recolhimento,  visto  n(ío  ser  professo^ 
>e  não  ter  recolhidas  em  1718  mandou  Sua  Magestade,  por  ordem  de 
26  de  Dezembro  do  mesmo  anno,  expedida  ao  mesmo  bispo,  fizesse 
conservar  o  dito  recolhimento  de  Santa  Theresa,  de  S.  Paulo,  e  por 
•ordem  de  3  de  Setembro  de  1745  tomou  .Sua  Magestade  debaixo  de 
sua  real  protecçSo  o  dito  recolhimento  (secr.  uhram.  h.  1.*  das 
cartas  de  S.  Paulo).  Nip  passamos  a  mais  por  nos  termos  já  afastado 
muito  da  genealogia  que  seguimos.  Voltando  o  discurso  a  Lourenço 
Castanho  Taques,  foi  este  casado  com  D.  Maria  d*Araujo,  natural 
•deS*  Paulo,  que  na  pia  de  sua  matriz  a  recebeu  Deus  a  20  de  Agosto 
de  1645;  filho  de  Luiz  Pedroso  de  Barros,  capitão  que  foi  de  infan- 
4aria  paga  na  restauração  de  Pernambuco,  e  de  sua  mulher  D. 
xvm  IH 


216 

Leonor  de  Siqueira  Góes  Araújo  da  cidade  da  Bahia»  irmSa  de  Joffo 
de  Góes  e  Araújo,  que  foi  desembargador  da  relação  de  sua  pátria  e 
n*e]la  juiz  do  cível  pelo  anno  de  1666  :  em  T.*  de  Pedrosos  Barros 
cap.  3/  Falleceu  Lourenço  Cislanho  Taques  com  evidentes  signaes 
de  predestinado  e  geral  sentimento  de  todo  um  povo,  em  S.  Paulo» 
sua  pátria,  em  Dezembro  de  1708.  (Cart.  1  "  de  notas  de  S.  Paulo» 
maço  de  inventários  antigos,  letra  L.  o  de  Castanho  Taques.)  E  teve 
de  seu  matrimonio  onze  filhos,  todos  naturaesda  mesma  cidade»  que 
foram : 

Lourenço  Castanho  Taques. 

Maximiano  de  Góes  e  Araújo. 

Luiz  Pedroso  de  Barros. 

JoséPompéo  Castanho. 

D.  Leonor  de  Siqueira. 

D.  Angela  de  Siqueira. 

D.  Maria  d*Araujo. 

D.  Ignacia  de  Góes. 

D.  Theresa  de  Góes. 

António  Pompeo  Taques. 

D.  Maria  de  Lara. 

Lourenço  Castanho  Taques,  que  foi  verdadeiro  herdeiro  das  vir- 
tudes de  seu  pai,  do  mesmo  nome,  casou  com  D.  Anna  d^Arruda» 
filha  de  Francisco  d' Arruda  Sá,  da  Ribeira  Grande  da  Ilha  de  S.  Mi- 
guel, e  de  sua  mulher  D.  Maria  de  Quadros.  Em  T.  de  Arrudas 
com  sua  descendência. 

Maximiano  de  Góes  o  Araújo,  casou  com  D.  Maria  d'Arruda, 
na  villada  Parnahyba,  a  13  de  Janeiro  de  1695,  filha  de  Sebastião 
d* Arruda  Botelho  e  de  sua  mulher  D.  Isabel  de  Quadros.  Em  T.  de 
Arrudas  cap.  2.*  §  d.''  com  sua  descendência. 

Luiz  Pedroso  de  Barros,  que  falleceu  a  30  de  Abril  de  1731,  sar- 
gento-mór  do  regimento  dos  auxiliares  da  villa  da  Parnahyba,  teve 
mercê  d'el-rei  D.João  V.  de  um  habito  deChristo  com  tensa  eíTectiva 
de  50^  rs.  pagos  no  almoxarifado  da  fazenda  real  da  praça  de  San  - 
tos,  o  que  se  verificou  por  renuncias  em  seu  sobrinho  o  mestre  de 


217 

campo  Manuel  Dias  da  Silva,  de  quem  faremos  menção  n*este  cep. 
3.**  n.  2  e  3  de  Pedro  Taques  d'Almeida.  Foi  casado  com  D.  Ages- 
linha  Rodrigues  e  sem  geraçflo.  Em  T.  de  Jorges  Velhos. 

José  Pompeo  Caslanho,  que  foi  casado  com  D.  Isabel  de  Sampaio, 
íilbade  André  de  Sampaio  a  Arruda  e  de  sua  mulher  D.  Annade 
Quadros,  em  T.  de  Arrudas  cap.  3/  §  7,  sem  geração.  Fez  assento 
na  vílla  de  Itú  e  estabelecimento  do  boas  fazendas  de  cultura,  e  por- 
que nâo  tiveram  filhos»  fizeram  liberal  doação  de  seus  bens  (que  foi 
de  6:O00íU)  rs.) ,  ao  convento  do  Carmo  da  mesma  vijla,  por  escrip- 
tura  nas  notas  do  tabelliào  da  dita  villa  em  1740,  tendo  antes  d'ella 
dotado  a  3  sobrinhas  com  800^  rs.  a  cada  uma,  e  uma  morada  de 
casas. 

D.  Leonor  de  Siqueira,  que  foi  casada  com  Domingos  Dias  da 
Silva,  natural  e  cidadão  de  S.  Paulo,  onde  serviu  os  cargos  da  re- 
publica e  foi  juiz  ordinário.  Foi  este  paulista  intrépido,  liberal  e 
n)uito  amante  do  real  serviço,  á  imitação  de  seu  irmão  Alexandre  da 
Silva  Correia,  que  depois  de  lente  da  universidade  de  Coimbra,  onde 
a  sua  grande  litteratura  será  sempre  applaudida  pela  sua  postilla  de.... 
passou  para  a  casa  da  supplicação,  e  acabou  conselheiro  d'Ultra- 
mar,  em  T.  de  Pires  cap.  6.*  Casou  Domingos  Dias  da  Silva  na 
matrizdeS.  Paulo,  a  12  de  Fevereiro  de  1684.  Estabeleceu  a  opu- 
lenta fazenda  chamada  a  — Juá.  —  com  grandes  culturas,  e  passando 
ás  Minas  Geraes,  estando  n'ellas  muito  opulento  pela  abundância  de 
ouro,  que  extrahiam  seus  escravos,  chegando  a  noticia  de  que  a  ci- 
dade do  Rio  de  Janeiro  estava  invadida  pelo  poder  do  inimigo  fran- 
cez,  para  soccorrer  a  esta  praça  marchou  Domingos  Dias  da  Silva, 
com  um  iròço  de  soldados  á  sua  custa,  em  cujo  serviço  gastou  avul- 
tido  cabedal;  porque  tanto  na  ida,  como  na  residência  e  regresso, 
sustentou  sempre  com  liberalidade  a  força  toda,  e  então  se  lhe  conferiu 
a  patente  de  brigadeiro  d'aquelle  exercito,  por  António  d* Albuquer- 
que Coelho  de  Carvalho,  governador  e  capitão  general  do  Rio  de  Ja« 
neíro  e  S.  Paulo,  o  d'este  cavalheiro  recebeu  distinctas  estimações, 
porque  como  zeloso  do  real  serviço  sabia  conhecer  os  cavalheiros  d<i 
S.  Paulo,  que  u'clle  se  faziam  dislinclos.   Deixando  nas  Minas Gorues 


2Í8 

asna  numerosa  escravatura,  entregue  á  adininislrsçSo  de  seu  filho 
Manoel  Dias  da  Silva,  se  recolheu  a  descansar  de  tantas  fadigas  a  S:^ 
Paulo,  sua  pátria,  onde  nào  gozou  niu-ítosannos^du  tranquillídad&dod* 
povoados,  porque  acabou  a  vidn  a  22  de  Março  de  1719  (cart.  de  or- 
pliSo»  deS.  Paulo,  masso  i."  letra  l>.  invcniario  da  brigadeiro  Do- 
mingos Dias  da  Silva).  Teve  do  seu  malríiDOiiio  dous*  íilbos,  natu-^ 
raesdeS.  Paul» 

Manoel  D  ias  da  Sflva. 

Ignacio  Dias  da  Silva. 

SIanoel  Dias  da  Silva,  fidadSo  de  S.  Paijfo,  onde  servia'  oscar-- 
gos  da  republica,  e  de  juiz  ordinário  e  de  orphsos  em  1722,  foi  mestre- 
de  campo  dos  auxiliares  das  minas  de  Cuyabá^.   por  patente  do  Ex.**^ 
D.  Rodrigo  César  de  Menezes.  A  mercê  da  habito  de  Christo,  coii> 
50,J2>  r^-»  ^^  ^^^  eflecliva,  feita  a  seu  tio,  a  sargciUo-mór  Luiz  Pe- 
droso de  Barros,  n*elle  se  verificou  eom  grandeza,  que  se  notano' 
padrão  da  tença,  em  que  Sua  Magestade  declarou-,  que  os  venceri» 
desde  o  dia  em  que  lhe  linha  feito  mercê  do  habito,  q.ue  antes  de  pôr 
ao  pcilo,  tinha  percebido  mais  3^  rs.,  detença^  Estando  em  miiias^ 
de  Goyaz  estabelecido  ecom  lavras  mineraes,e  numerosa  escravatura, 
cnn  1736  (achou-se  n'este  tempo  a  praça  da  colónia  do  Sacramenta 
posta  em  assedio  pelas  tropas  castelhanas,  debaixo  do  commando  do 
^).  Miguel  de  Salcedo,  governador  da  provincia  de  Buenos-Ayres) 
se  publicou  a  real  ordem,  pela  qual  Sua  Magestade  El-Rei  D.  João  V, 
deu  a  conhecer  o  muito  que  seria  do  seu   real  agrada,  que  os  seu^ 
vassallos  Paulistas  invadissem  as  índias  da  Hespanha  pelas  povoaçõe» 
da  provincia  do  Paraguay  emcima  da  serra.  Bastou  este  levearcno, 
para  que  o  mestre  de  campo  Manoel  Dias  da  Silva  projectasse,  ^(uo 
passando  com  um  corpo  de  armas  de  soldados  escolhidos  pela  expe- 
riência do  valor  de  sua  disciplina  a  demandar  as  povoações  da  Vac- 
caria,  faria  um  particular  serviço  ao  real  agrado,  destruindo  as  ditas 
povoações,  para  evitar-se  que  a  forca  d'esta  gente  cmprehcndesso  dar 
subitamente  sobre  as  minasda  villa  real  deCuyabá,sendo-]hes  muito 
fácil  a  resolução  d'esta  idéa,  por  lerem  abundância  de  gado  vaccun> 
nas  campanhas  chamadas  —  Vaccaria,  —  lodo  o  sustento  para  qual- 


21í> 

quer  grosso  pê  de  exercito.  Coino«  para  Manoel  Dias  Ja  Silva«  |iAr 
em  execução  este  íntecto^  preci<Q\*n  atrare^^r  o  vasto  5eriào«  f]iic  n>e« 
deia  entreoríoCamapoaiti  da  navegação  do  Cuvabâ  o  Villa  Roa  do 
Goyaz  (lodo  habitado  de  innumeraveisaidéas  dus  bravos  e  iKirbaros 
índios  da  nação  Cayapó)  nSò  foi  a  sua  resolução  approvada  dos  me- 
lhores sertanistas,  com  os  quaes  conferiu  a  materia«  porque  deman-' 
dava  uma  força  grande  para  sustentar  na  marcha  os  repetidos  assaltos 
d'esta  potencia  Cayapó«  qtie  é  formidável  no  tnl  sertáo  ;  porém  Ma- 
noel Dias  da  Silva,  que  só  media  pelo  valor  próprio  o  dos  estranhos, 
não  desistiu  da  arção,  e  reforçando  mais  o  corpo,  com  que  se  achava, 
que  não  passava  entào  de  180t  armas,  (nSo  se  percebe  bem  si  é  1801 
ou  7801  armas)  intrépido  so  mettou  no  sertão  a  rumo  de  demandar  o 
sitio  de  Camapoam,  atravessando  o  vasto  sertão,  que  tinha  pani  pas- 
sar. Consistiu  também  a  diíliculdade  no  temor  de  não  acertar  com  o 
sitio  de  Camapoam,  por  falta  de  geographin,  cuja  sciencía  tolalmonto 
ignorava,  bem  coroo  todos  os  antigos  paulistas,  que,  sem  outro  adju- 
torio  mais,  que  o  rumo  do  nascente  ao  poente,  o  o  sol,  que  lhe  serviu 
de  verdadeira  agulha,  penetravam  a  maior  parte  dos  incultos  sertOes 
da  America,  conquistando  nações  barbaras,  de  cujos  indios  se  sorviam 
como  administradores  seus  pelo  beneficio  de  os  terem  desentranhado 
do  paganismo  para  o  grémio  da  igreja.  Assim  succedeu  a  Manoel 
Dias,  que  com  3  mezes  de  jornada,  chegou  a  salvamento  ao  sitio  Ca- 
mapoam (ào  direito,  que  foi  sahir  afastado  do muioquarto 

de  légua.  N'este  sitio  deu  descanso  á  tropa^  que  nos  3  mezes  se  sus- 
tentara da  providencia  da  bocca  d'armd,  c  conseguindo  o  necessário 
ócio,  já  bem  guarnecidos  os  seus  soldados  com  todo  o  necessário,  se 
poz  em  marcha  para  as  campanhas  da  Vaccaria,  chegou  a  esta,  o 
cnrrendo-os  até  grande  distancia,  estranhou  a  novidade  de  hUan^nm 
gados,  que  n^ellas  sempre  existiam  em  numerosa  multidíio.  Avizi- 
nhou-se  mais á serra,  e  para  logo desrobriu  acautelados  castelha- 
nos. Tinham  elles  retirado  aquellas  consideráveis  manadas  de  gndos 
e  bestas,  para  os  férteis  campos  de  cima  da  serra,  $()  para  que  m  mo- 
radores das  minas  do  Cuyabá  se  não  viessem  a  ulilísíir  de  l/io  l'«;lh% 
rujDadas,  quando  fofsem  atacados  dos  meamos  castellianos,  e  no. 


220 

achássemos  em  qualquer  aperto  de  sitio.  Decorrendo  ou  peneirando 
mais  as  campanhas  para  a  parte  do  Paraguay,  encontrou  com  uma 
franca  estrada  eabarracamen to,  em  que  haveria  um  mez  (atépel» 
figura  dos  ranchos  e  cinzas  do  fogõo  conheciam  os  sertanejos,  pouco 
mais  ou  menos,  o  tempo,  que  havia  passado  depois  que  n^aquelle  sitio 
estivera  alguma  tropa)  tinham  ali  estado  os  castelhanos,  epela  cooG- 
guraçào  do  terreno,  que  occiípava  o  centro  do  abarracamento,  se  co- 
nheceu que  a  barraca  era  de  commandante  de  patente  grande,  como 
a  de  mestre  de  campo,  de  quem  os  castelhanos  costumam  fiar  as  suas 
tropas  na  provi ncia  do  Paraguay,  e  outras.  Pela  estacaria,  que  circu- 
lava, CO  abarracamento,  via-seque  o  numero  dos  cavallos^  que  n'ella 
se  alavam  excedia  ao  numero  de  800.  Este  grande  corpo,  na  retirada, 
tinha  feito  abrir  a  franca  estrada,  que  encontrou  Manoel  Dias  d» 
Silva.  Poz  este  em  consulta  o  movimento  que  Ibe  oeoorreu,  e  appro- 
vando-lhe  a  temeridade  os  de  sua  comitiva,  dispozas  escoltas,  que  fex 
embarcarem  diversos  pontos  da  malta,  por  onde  seseguia  aquella  es- 
trada,  ficando  elle  com  o  resto  dos  soldados  em  sitio,  d'onde  avançando 
(1(3  tropel,  ficasse  completa  a  victoria,  que  esperava  alcançar  pela  sua 
promediladd  idéa.  Era  esta  que  ganhando  distancias  certo  numero  de 
soldados  bem  montados  e  avistando  os  castelhanos,  voltassem  costas 
como  fugindo  e  os  trouxessem  enganados  para  perecerem  todos  nas 
emb(  soadas  referidas,  e  ficando  nós  senhores  da  cavalhada,  pudéssemos 
dar  com  toda  a  força  das  nossas  armas  a  acabar  o  inimigo.  Foi» 
Deus  servido  que  já  os  caslelhanos  estivessem  acolhidos  ás  suas  povoa- 
rões,  porque  do  contrario  pereceria  ou  ficaria  prisioneira  toda  a  Irop 
de  Manoel  Dias  da  Silva,  e  quando  nada  ficaria  rota  uma  guerra  cm 
tempo,  que  a  que  na  colónia  se  sustentava  por  as:-edio,  era  com  o 
^ysieiii;i  do  c.irla  coberta,  que  é  a  máxima,  que  costuma  praticar  o  ga- 
biiieio  iU  Casiella  sobre  a  praça  da  Culonia  por  algumas  vezes  posta 
já  em  siiio.  No  regresso  enconlrou  Manoel  Dias  da  Silva  com  o  eíTec- 
tivo  d'aquelle  {grande  corpo,que  nffo  contente  com  a  retirada  dos  gados 
e  cavallos  da  Vaccaria,  deixou  um  padrão  de  pedra  lavrada  em  forma 
de  cruz,  pobla  ao  alio  a  que  servia  de  base  outra  pedra  em  figura  trian- 
gular de  G  palmos  de  allu,  com  proporcionada  grossura  à  altura  do 


221 

padrão :  n'elle  estavam  abertas  as  letras  do  idioma  caslelliano,  que 
diziam  :  — ^Viva  el-rei  de  Castella ,  senhor  dos  domínios  doestas 
campanhas.  Não  tinha  o  mestre  de  campo  instrumento  para  deitar 
abaixo  aquelle  padrão,  e  por  isso  mandou  cavar  a  terra  em  roda,  até 
que  faltando-lhe  esta,  e  perdendo  a  machina  o  equilíbrio,  veio  abaixo, 
fazendci^se  em  3  pedaços.  Conseguido  com  facilidade  este  intento, 
fez  elle  conduzir  aquelles  pedaços  para  diversos  sítios,  e  sepultar  cada 
um  d'elles  em  altas  covas  dentro  da  matta.  Do  madeiro  mais  grosso 
e  menos  corruptível,  mandou  lavrar  em  4  faces  uma  cruz,  em  que 
lhe  gravou  as  letras  em  idioma  portuguez,  que  diziam — Viva  o  mui- 
to alto  e  muito  poderoso  rei  de  Portugal,  D.  João  V,  senhor  dos  do- 
tninio8d'este  sertão  da  Vaccaria. —  Recolheu-se  o  mestre  de  campo 
Manoel  Dias  da  Silva  pelo  mesmo  sertão  a  Cuyabá,  onde  então  era 
ouvidor  d'aquellas  minas  o  Dr.  Jo9o  Gonçalves  Pereira,  dando  conta 
tio  successo,  se  juntaram  os  olBcíaes  da  camará,  e  os  republicanos 
d'ella,  em  cuja  presença  deu  conta  do  que  tinha  examinado  e  obrado. 
Disto  formou-se  um  assento  nos  livros  d'aquelle  senado,  onde  então 
se  discorreu  sobre  o  evidente  risco,  em  que  estavam  as  minas  de 
Cuyabá,  de  serem  invadidas  pelos  castelhanos,  ainda  que  já  este  mes- 
fno  temor  tinha  ponderado  a  Sua  Magestade  Vasco  Fernandes  César, 
vice-rei  do  estado  da  Bahia,  em  carta  de  20  de  Janeiro  de  1721,  avi- 
sando que  os  paulistas  haviam  descuberto  minas  de  ouro  no  sertão  de 
Cuyabá.  o  que  dava  grande  ciúme  aos  padres  da  companhia  de  Jesus 
dos  domínios  da  Hespanha  (secr.  do  cons.ultr.  no  masso  das  cartas  de 
1721).  Eipediram-sa  as  cartas  para  o  general  da  capitania,  o  conde 
deSarzedas  António  Luiz  de  Távora ;  e  para  os  camaristas  da  cidade 
de  S.  Paulo ;  estes  recebendo  as  cartas  e  estando  ausente  o  general 
em  Goyaz,  convocaram  os  cidadãos  em  acto  de  camará,  e  presidio  o 
ouvidor  e  corregedor,  o  Dr.  João  Rodrigues  Campelo,  e  lidas  as  car- 
tas dos  camaristas  de  Cuyabá,  do  ouvidor  e  mestre  de  campo,  ponde- 
rada a  matéria,  e  attendidas  as  razões,  que  expendeu  o  capitão  Bar- 
tholomea  Paes  d'Abreu  com  sua  grande  intelligencia  sobre  a  matéria, 
concordaram  todos,  que  se  devia  pôr  em  execução  a  abertura  de  um 
caminho  de  terra,  pelo  qual  se  pudesse  a  qualquer  tempo  soccorrer  o 


222 

Cuyabá  «om  tropas  e  gente  tle  cavallos,  o  que  nao  admiltiu  a  nav^a- 
^0  dos  lanchões  desde  a  ddade  do  Paraguay  até  a  barra  do  rio  dos 
Porrudos,  que  vai  ter  ao  porto  geral  de  desembarque*  e  d'eUe  por 
terra  meia  légua  até  o  Cuyabá ;  que  para  a  factura  d'esi6  caminho 
bavia  «ma  franca  de  50  títulos,  celebrada  por  Manoel  Gonçalves 
^Aguiar»  Sebastião  Fernandes  do  Rego  o  António  Gonçalves  Tigre, 
cada  nm  por  si,  e  um  por  todos,  a  favor  de  Manoel  Godinho^  quando 
no  anno  de  1722  ajustou  a  factura  d*este  caminho  com  o  governador  e 
«apitáo general  Rodrigo  César  de  Meneses,  por  cuja, causa  não  vinha 
a  gastar  a  fazenda  real  um  só  real  peia  factura  d'este  caminho.  D*este 
ticcordam  se  lavrou  termo  em  17  de  Agosto.de  17579  qMCser^melteu 
ao  mestre  de  campo  João  dos  Santos,  governador  da  praça  de  Santos, 
6  interino  da  commandancia  pela  auzeocÍ3  do  gpvernsidor  d*ella,  o 
•conde  de  Sarzedas.  Nada  teve  effei(o^  porque  o  prqudicado  Manoel 
Gonçalves  d'Aguiar  soube  atalhar  o  damno,  que  lhe  ameaçava  a 
bolsa,  repartindo  liberalmente  certos  cartuxos  de  moeda  por  pessoa, 
i|ue  cala  a  prudência  o  nome,  por  Ibe  evitar  a  vileza  da  injuria.  Qeu- 
se  conta  a  Sua  Magestade  pelo  conselho  ultramarino  em  1793,  e  na 
socretaria  d'elle  se  acham  estas  representações  no  massp  do  dito  aooo, 

c  também  na  camará  de  S.  Paulo,  no  livro  grande  capa  de. , 

•que  serviu  de  registo T,  de  1726  até  Í740  ils.  112  a  120,  o  que  dif- 
íusamente  trataremos  no  corpo  da  Historia  de  S.  Paulo,  si  Deus  qui- 
ser dar-nos  vida  para  este  trabalho,  que  intentamos  tomar  sem.forçps 
de  talento  para  sua  execução.  Sua  Magestade  mandou  ao  Sr.  João 
Gonçalves  Pereira,  ouvidor  do  Cuyabá,  que  informasse,  tirapdo  um 
summario  de  testemunhas  sobre  a  matéria  da  representação,  que  se 
tinha  ferto  da  acção,  que  obrara  na  Vaccaria  Manoel  Dias  da  Silva; 
essim  executou  aquelle  activo  mineiro.  .0  certo  é  que  em  1733  me- 
receu o  mestre  de  campo  o«  votos  de  alguns  conselheiros  do  conse- 
lho ultramarino  para  governador  de  Cuyabá,  com  quatro ,  de 

isoldo,  e  vindo  a  informar  sobre  a  matéria  e  caroinlip,  qqe  Manoel 
Dias  da  Silva  se  oifereceu  a  el-rei  fazer  á  sua  custa  para  p  Cpy^^bá  a 
Gomes  Freire  d* Andrade,  governador  e  capiUSo  general  do  Bio  de 
Janeiro,  por  ordem,  que  se  lhe  expediu  pelo  mesmo  conselho,  de  2 


4e  Sclembra  át  ST^â,  nío  subemos  por  que  oeculto  deslino  se  poz 
silencio  n^ella.  Parece  que  os  Paulistas  contrahiram  um  novo  pecca* 
4^  original  para  nào  serem  jamais  bem  vistos,  e  ser  a  fazenda  real 
prejudicada  só  para  que  ellesr  d5o  tenham  o  premio.  Nas  minas  d^ 
Cuyabá  fioeu  exisiindo  o  mestre  de  campo. Manoel  Dias  da  Silva; 
i/ellas  eslava  sendo  juiz  ordinário,  quando  falleeeu  o  Dr.  ouvidor 
Manoel  Antunes  Nogueira,  eiijo  lugar  substituiu  na  fórroa  da  orde* 
fiação  do  reino.  Das  suas  grandes  providencias,  que  tomou  posse, 
(ai  para  cuidar  da  esttraeçá^)  dos  diamantes  no  Rio  Paraguaj,  descu*^ 
bertes  pouco  tempo  antes  da  morte  do  antecessor,  serão  perpetiips  tes-r 
lemunhas,  que  proelamiêm  o  s^u  ardente  ^lo,  as  cartas  de  agradeoi^- 
fnento,  que  lhee<ereveu  o  governador  que  então  tinha  em  1752  o 
ffifvemo  dm  capitanias  de  Cuyabá  o  Goyaz  o  Ex.^  Gomes  Freire 
li' Andrade,  que  acabou  digno  cond e  de  Bobadella,  que  se  acham  re« 
l^istadas  DOS  livros  da  eamara  de  Cuyabá;  suceedeu-lbo  oDr.  João 
António  Vaz  Morilbas,  que  pof  se  affastar  da  virtude  de  limpeza  de 
mãos,  como  lho  deixava  exemplos  de  dif^lincta  honra  o  seu  anteces- 
iior,  cahiu  em  deseoerios  tiLOs,  que  antes  de  lhe  chegar  successor,  foi 
<lepoilo  doiugarpela  admirável  rectidão  do  Ex.**"  D.  António  Roliíra 
de  Moura,  primeiro  governaiW  ecapitío  general  d^aqueila  capitania 
•(que  depois  Un  conde  de  Azambuja,  presidente  do  conselho  da  bzeoda, 
•o  conselheiro  do  conselho  de  guerra»  em  cujos  postos  blleceu  eml78â)« 
£m  i75t!  faileeau  o  mestre  de  eauipo  Manoel  Dias  da  Silva,  dis- 
tante da  villa  doi]uythá  dous  dias  de  jornada,  para  cujo  rotiro  o  fez 
<!onduzir  p  eitronda  de  tantas  injustiças,  ifue  via  praticadas  na  dit| 
vilía  em  danmo  do  todos.  Foi  casado  nn  matriz  de  S.  Paulo  com  sua 
prima  em  terceiro  grau  de  consanguinidade  duplicado  (amcujo  im« 
pedimento  foram  dispensados  peio  Ex.***  bb^po  Fr.  D.  António  da 
Gnadaiupe)  D.  Theresa  Paes  da  Silva,  fliha  do  capitão  Bartholomeu 
Paes  d'AbreM  ede  sua  mulher  D.  Leonor  de  Siqueira  Paee,  de  quem 
fazemos  roendo  n'.aste  mesmo  $  2.,  n«  S«  3,  e  teve  doesta  mAtriouwio 
dous  filho9  naturaes  de  8.  Paulo. 

D.  Anna  Leonor,  falleceii  solteira. 

Aleixo  da  Silva  Correia,  taUeccu  na  ior  Aos  ^nnps. 

XTUi  29 


224 

Ignnelo  DiasJa  Silva,  fillm  do  Vigadeird  BommgiB  Dias  da  Silva, 
c  dé  D^  Leonor  de  Siqueira,  rip  3  e  5  retro*  fui  de  gmlW  presença, 
dócil  e  alfavel  genioi  com  cujas  virtiidâs  sonhe  merecer  geral  ^llm»- 
çã04  não  $é  (\m  pnefitm^  €omo  tombem  dos  estranhos*  Nu  arte  ã& 
andar  a  cavallo  e^redeu  a  tjxios  de  seu  tempo^  e  ainda  aos  do  passji» 
dot  e  ssbia  na  itltima  perfeição  todo  o  manejo  de  ravallana,  e  fot  da 
lanlâs  forcas,  que  c^m  el las  executava  a  cavallo  algumas  ao55es,  em 
as  quaes  não  achou,  f|nem  o  fompetí^ise ;  na  violenria  da  carreira  se 
debruçava  peTo  lado  direito  ou  esquerdo  a  levantar  do  chfSo  qualquer 
cousa p  que  se  Ibe  destinava  em  qualquer  bali^,  e  n^tsto  mesmo  era  a 
eiectjçilo  do  brinquedo  com  tanla  destreza  e  airoso  garbo,  que  sempre 
cf^nseguia  os  applaugo^  dos  circumBtantes.  Nas  (grandes  e  magnificafi 
festas  de  escarnmuç.^s,  que  se  executavam  com  liberal  despeza  em  ap- 
pia  uso  de  ter  cantado  missa  nova  o  reverendo  EuKebio  de  Barroâ 
Leite,  filho  da  matrona  D*  Maria  Leite  de  Mesquita,  viuva  de  Pedro 
VãE  de  fíarros,  um  do3  cavalheiros  mais  polentadoí  entre  os  seus  na- 
cionaes  pautiíttas,  e  de  quem  fazem  os  larga  mençffo  em  T.  de  Pe- 
drosos Barros  §  2*^  e  no  de  Meítquitas,  Levou  Ignaclo  Dias  da  Silva 
em  todas  as  três  tardes  sempre  o%  prémios  de  louvor  em  os  muitos  o 
deitros  eavalheirús  d*aquella  ftincçâo»  da  qual  foi  elle  o  primeiro 
mantenedor  e  guia  nas  escaramuças.  Sempre  gozou  Igoacio  Dias  dit 
Silvadas  delicias e  Iranquiltidade da  pátria,  sem  ver  a  cara  a  aspe- 
reza dos  sertões,  porque  quando  seu  pai  Domingos  Diag  da  Silva,  sa 
ausentou  para  as  Minas  Geraes,  fíeou  elle  governando  a  casa  em  com* 
panhia  de  sua  mal  D,  Leonor  de  Siqueira,  que  na  educação  do^  li- 
Ihos  mereceu  os  applausos  de  matrona  a  mais  advertida  e  ajuizada. 
Seus  pais  o  casaram  com  aquelia  discreta  eleição  de  sua  nobreza 
com  D,  Anna  Maria  do  Amaral  Gurgel,  e  se  receberam  na  matriz 
de  S*  Paulo  a  30  de  Janeiro  de  1719  (ainda  viveu  ella  em  Í763)  a 
qual  era  sua  prima  em  quarto  grau  de  aanguinidadet  em  que  foram  dis* 
pensados»  filha  do  sargento-mór  Bento  do  Amaral  da  Silva,  e  de  D« 
Escolástica  de  Godoy.  Poucos  annos  se  gozaram^  porque  na  flor 
d^elles  falleeeu  Ignacio  Dias  da  Silva  com  geral  sentimento  dos  que 
o  haviam  conhecido»  deixando  d*6ste  amoroso  vinculo  três  tenros  ã- 


225 

IboSy  para  cuja  educação  não  fez  falia  a  vida  do  pai,  pelos  cuidados 
de  D.  Maria  do  Amaral,  que  rageiloa  rarios  casamentos,  que  se  lhe 
propuaeeraro,  uAo  querendo  dar  padrasto  a  seus  filhos,  que  foram 

Bento  do  Amaral  da  Silva. 
Domiogqs  Dias  do  Amaral  da  Silva. 

Ignacio  Dias  da  Silva  casou  nos  curraes  da  Bahia  e  falleceu  com 
geração. 


Copiado  de  uiMaBiifcriplo,  que  esisleai  poder  do  Sr»  Lab  Igaado  Bit^ 
UBOoart,  da  cidade de&  Paulo,  e  binei»  do  UJustre  «Hir  Pedro  Taqvei» 
Rio  de  Xaneiro,  20  de  JobIm  de  1852. 

À.  áa  Ce9ta  Pinto  Silva. 


226 
EPITOME 

Da  ereeçfto  e  creaçfto  do  novo  bítpado  de  S«  Panloy  reiy  qa» 
impetrou  etta  graça^  pobtifioey  que  a  coaeedeuy  tea  primeiri^ 
bitpo,  e  eoneg^oty  etei  ^e  te  Afcndou  a  ealhed^al. 

Descuberta  o  America  Lusitana,  passaram  a  ella  alguns  missioná- 
rios, que  instruíram  nos  dognins  da  fé  a  muitos  dos  gentios,  que 
a  póvoatrãm»  o  eorrestpondendo  semfm)  d  fhtelo  ao  iiMiisatel  zelo 
d^nctuòtleà  ^yó-òommissàriòs ,  e  verdadeiros  operiírios  évatigelicod, 
90  viram  em  pouco  lempo  fundadas  nSo  poucas  aldáas  dos  novo» 
converiidoft,  e  estabelecidas  muiu»  colónias  de  européos,  que  se 
Iransporinram  d'nquella  para  esta  nova  região :  o  que  vendo  os 
nossos  augustissimos  e  fideiissimos  monnrehas,  mandaram  logo  nffo 
Fú  quem  governasse  a  uns  e  outros  no  temporal,  mas  Cambem  quem 
os  regesse  no  espiritual,  pondo  para  esse  tim  um  prelado  na  Babia, 
a  cujo  cuidado  estavam  entregues  as  almas  de  todos  os  calliolicos, 
que  habitavam  todo  esto  continente  :  mos  crescendo  cada  vez  mais 
o  numero  dos  que  lavando-i5e  na  sagrada  fonte  do  baptisnu),  renun- 
ciavam os  erros  do  gcnlilisnio,  o  nbraçnvam  a  verdadeira  religião,  o 
concorrendo  successivamente  os  portuguezes,  uns  que  voluntários 
deixavam  as  suas  pátrias,  e  vinham  estabelecer-se  n'eslas  terras,  e 
outros,  que  obrigados,  vinham  cumprir  os  dogredos,  para  com  elles 
satisfazerem  os  crimes,  que  lá  conunellôram  se  cdifícaram  tantas 
povoações,  que  já  se  fazia  moralmente  impossível  aquelie  prelada 
acudir  a  lodos  com  as  providencias  necessárias;  e  como  o  principl 
escopo  dos  nossos  fideiissimos  monarchas  sempre  foi  attender  ao  maior 
bem  dos  seus  vassallos,  puzerain  outro  prelado  no  Hio  de  Janeiro, 
para  que  fossem  menores  os  incominodos,  e  mais  promptos  os  reme* 
diosdas  necessidades,  que  occorressem;  e  não  satisfeita  ainda  com 
esta  novidade,  a  piedade  d'aquelles  régios  corações,  elevaram  esta 
prelazia  a  bispado,  que  em  breves  annos,  com  a  descuberta  de  novas 
minas,  se  dilatou  tanto,  que  era  preciso  mais  de  anno  para  chegar 
uma  providencia  ás  ultimas  colónias  do  bispado,  e  uma  supplica  ou 


227 

qaeixa  aos  ouvidos  do  prelado,  sem  embargo  do  que  assim  se  con- 
servou muilos  ennos. 

Reinando  porém  o  muito  alto»  poderoso  e  Gdelissimo  rei  o  senhor 
D.  João  Vy  e  representando-se-iiie  a  necessidade,  que  padeciam  estes 
povos,  a  falta  de  recurso,  e  o  perigo  que  corria  a  sua  salvação  na  falta 
de  (Melado,  que  de  mais  perto  Ibes  ministrasse  o  pasto  espiritual, 
recorreu  ao  oráculo  do  Vaticano  o  santissiroo  P.  Benedicto  XIV, 
para  que  dividisse  o  dito  bispado  do  Rio,  e  como  a  supplica  era  tâo 
jiislaGOdH)  pia^  promptamente  annuiu  S  Santidade  a  ella,  e  aos  8 
doe  Idos  de  Deiembro  óò  1745  se  expediu  o  motu-proprio  da  divbõo, 
per  virtude  do  qiiai  se  separou  d'aquelle  bispado  território,  com  que 
se  erigiram  os  dous  de  S.  Paulo  e  Mariana,  cada  um  com  sua  sé 
catbedral,  composta  de  quatro  dignidades.  Arcediago,  Arcipreste  c 
Cbantre  theâouretro-mór,  e  dez  cónegos,  dosquaeséum  magistral 
e  outro  penitenciário,  doise  capellães»  um  mestro  de  ceremonias,  qua- 
tro meninos  do  coro,  um  organista  e  um  porteiro  da  massa.  A  pri- 
meira dignidade  com  a  côngrua  de  200^  rs.,  as  mais  160^  rs. ; 
os  RR.  coneges  120  rs,,  os  capeilaes  BO^  rs. ;  o  mestre  de  ceremo- 
nias 10^  r?.;  oslHieninos  dooôro  24^  rs. ;  o  organista  50^  rs., 
eo  porteiro  da  massa  10^  fs.,  todos fwgos  pela  real  fazenda  da  villa 
de  Santos^ 

O  numero  das  dignidades  e  cónegos  foi  determinado  por  S.  Santi- 
dade, e  o  dos  mais  ministros  ficou  á  eleição  do  soberano,  como  consta 
do  motu-proprio;  o  qual  expedido  que  foi,  cuidou  logo  SuaMages- 
tade  em  eleger  sugeilo  capaz  de  reger  este  bis^tado ;  e  sendo  todas  as 
acções  d  aquelle  augustissirao  monarcba  lilbas  de  sua  alta  compre- 
liensâo,  e  obradas  com  tanto  acerto,  que  eram  a  inveja  de  todas  as 
coroas  da  Europa,  na  eleição  do  primeiro  bispo,  que  nos  deu,  ou 
havemosdedizer  que  se  excedeu  o  si  mesmo,  ou  que  toda  a  eleiyào 
foi  de  Deos;  porque,  segundo  experimentamos,  parece  que  nào  podia 
liaver  outra  mais  acertada  do  que  a  que  fez  do  £x."<»  e  Rv."*  Sr. 
D.  Bernardo  Rodrigues  Nogueira,  pelas  virtudes,  em  que  resplande- 
cia, o  pela  grande  liltcratura  e  mais  requisitos,  do  queso  adornava. 

Foi  este  grande  c  ex."**  prelado  natural  da  ilha  de  Santa  Marinha, 
situada  na  Serra  da  Estrada,  bispado  du  Coimbra,  e  das  principaes 


228 

fararlras  d'ei>ar;  na  mesma  aprendeu  as"  feiras  proprhas  da^  prmmii^ 
idade,  e  lendo  13  annos  o  mandaram  seus  pais  para  a  universidad» 
de  Coimbra,  onde  esludou  philosophia,  e  depois  se  graduou  em  câ- 
nones, em  cuja  faculdade  aproveitou  lanto»  que  mereceu  os  applauaos 
dos  priíueiros  mestres  d'aquella  Atbenas.  Gonckiidos  o»  esludos,  se 
recolheu  á  sua  pátria,  e  pelo  grande  nome,  que  deixou  em  Goimbray 
o  fizeram  logo  arcipreste  do  arcediago  d^elh;  porém  como  esia  occu^ 
pav'âo  era  limitado  emprego  para  a  sua  Ktteratura,  passado  pouco 
tempo  o  convidou  o  Sr.  GeraMo  Pereira  Coutinho,  para  lente  do  primar 
de  cânones  na  dita  universidade,  para  vigário  geral  e  provisor  de  sev 
irmáo  o  Sr.  D.  Frei  Manoel  Coutinho,  bkpo  do  Funchat,  e  recusan- 
do esles  lugares  primeira  e  segunda  vei,  ultimamente  teve  de  ceder 
aos  rogos  d'aquelle,  a  quem  devia  respeites  de  mestre,  si  já  nâo  foi 
por  fazer  escrúpulo  de  enterrar  os  telentos,  que  Deos  lhe  dèu. 

Feita  a  aceitação,  se  passou  a  Lisboa,  onde  el-rei  logo  o  conde^ 
corou  com  um  canonicate  da  sé  do  Funchal,  para  onde  embarcou  no 
anno  de  1725  a  exercer  as  oceupações  para  que  era  charaedo:  o  que 
n'ellas  obrou  necessitava  de  roais  larga  narraçSo,  que  náo  é  própria 
d'este  lugar,  e  só  basta  dizer,  que  quando  entrou  n'aquelle  bispado*,  e 
achou  outra  Inglaterra  nos  costumes,  muita  gente,  que,  havia  quinze 
e  mais  annos,  se  não  confessava,  os  testamentos  estevam  por  cumprir 
do  tempo,  em  que  os  Philippes  reinaram  em  Portugal,  e  a  este  res- 
ptnte  todos  os  mais  vícios.  Entrou  a  fazer  a  que  devia,  e  logo  o  de- 
mónio se  principiou  a  dar  por  achado,  levantendo  tão  grandes  tem>- 
pestades,  que  parece  superavam  os  altos  Olympos,  de  que  se  compõe 
aquella  ilha ;  mas  nada  foi  bastente  para  o  aossobrar ;  porque  ainda 
por  aquelle  mar  tão  proceiloso  de  contradícçõcs,  navegou  sempre 
senhor  de  si,  o  sem  jamais  desistir  da  reforma  principiada,  de  sorte 
que  sahindodo  dito  bispado  no  anno  de  1740,  tendo  sempre  exer- 
cido os  referidos  empregos,  eoccupado  na  Sé,  primeiro  uma  cadeira 
de  cónego,  depois  a  de  mestr'escola,  e  ultimamente  a  de  arcediago, 
deixou  «nquella  diocese  tão  outra,  que  se  desconhecia  a  si  mesma,  e 
Ido  reforniada,  que  [K)dia  servir  de  exemplo  a  todos  os  mais  bis- 
pados 

Checado  que  íoiá  Lisboa,  logu  no  mesmo  anno  de  1740,  passou 


SM 


«  governar  o  bispado  de  La  mega  na  ausâncía  ilo  Ex.**"  bispo  d*@lle  o 
St.  D.  Fr6l  Manoel  Coutinho;  tqui  m  portou  com  a  prudência, 
reetidáoe  inflei^tbi]  idade,  r|tic  ju  se  Ih6  tintia  admirada  nos  mais  lu- 
gares^ qye^rvíra;  porém  eomo  cm  Xoáa  a  parte  ha  liomen^  e  con- 
s^quenlemonte  viciõSf  qtie  castigar^  também  afjui  lha  não  Taftou  que 
tolerM^;  nem  con&radicções  qnesdIFrer;  mas  como  estes  combates 
para  elle  ja  não  eram  novos,  lhe  nao  foi  diíTicuitoso  triumphar  e^ 
triumpharia  de  outros  mo H)res,  Bi  o  Ex."^  prelado  nSo  pasãssse  ifesta 
n  melhor  vida. 

Morto  o  Ex.^  bispe,  o  chegando  a  Lamego  a  notteiãf  foi  o  Rev,*"* 
cabido  tio  ntieneio^quenâo  c|ui£  mandar  tocar  a  sè  vaga,  sem  pri* 
melro  mandar  pedtr  licença  m  Sr*  D,  Bernardo,  e  juntamente  lho 
mandou  rogar  que  q«ií^*e  continuar  na  me^ma  occupaçao,  Hos- 
pondeu  agradecido  o  este  obsequio,  maa  nâo  aceitou  a  olferta,  e  pas- 
«^dos  alguns  dias  f^reeolheu  ao  coHegio  da  companhia  do  N.  S*  da 
Lapa,  seis  léguas  dístafites  de  I.^mego«  onde  o  foi  achar  um  decrêlõ 
do  soberano,  fio  qual  lhe  ordenava,  que  continuasse  no  governo  do 
t>Í5pado:  alienando  porém  ao  mesmo  senhor  as  justas  ratOcs,  que 
tinha  para  não  fazer,  houve  por  bem  ali  í via-lo* 

Com  poucos  dias  de  demora  no  dito  colleí^io»  se  despediu  d'aquelb 
religiosíssima  communidade»  o  tomando  a  benção  á  raintia  dos  anjos, 
quen^aquelle  templo  se  venera  cem  a  invocação  de  N.  S.  da  Lapa, 
seguiu  viagem  pra  a  sua  pairia,  para  ii'eUa  descansar  do  trabalho  da 
tantos  annos,  mas  como  podia  socegar  quem  nâo  nasceu  para  si,  d 
parece  que  sé  foi  creado  para  beneficio  dos  mais?  Passado  pouco 
lempo,  o  mandou  eon vidar  o  sereníssimo  Sr.  D*  José,  arcebispo  da 
Bragae  primaz  das  11  espa  nhãs  para  seu  vigário  geral:  muito  traba- 
lhou para  &e  escusar*  mjis  ultimamente  obedeceu  a  quem  podia 
mandar. 

Partiu  para  aquetla  cidade  e  logo  que  chegou  a  etla  entrou  a  exer- 
ce o  lugar  de  vigário  geral  com  tanta  satisfação  do  Sua  Alteza,  que 
não  duvidou  o  mesmo  senhor  dizer  publicamente  que  se  tivesse  na 
suareUçfodots  NogueiraSj  náo queria  n'alla  mais  ninguém.  Refor- 
mou muitos  abusos  assim  do  auditório^  como  da  mesma  relaçàoi  efaz 


A 


230 

outrns  mais  coisos,  qaa  lhe  eternisararo  o  nomo  n*aqu6lla  euria.  No 
lugar  do  vigário  geral  o  achou  a  nomeaçfio,  que  Sua  MagesUide  d'clle 
fez  para  primeiro  bispo  d'esla  diocese,  a  fazendo  deixaçao  d'aqueUo 
com  grande  pezar  de  Sua  Alteza  por  perder  ministro  tal,  se  passou  á 
corte  a  beijar  a  mio  d'el*rei,  e  o  mesmo  senhor  mandou  logo  busear 
as  bulias,  que  se  expediram  em  Roma  aos  23  de  Dezembro  de  1745. 

Chegadas  as  ditas  bulias,  se  celebrou  o  acto  da  sagrarão  pelo  Eu.""* 
Sr.  cardeal  patriarcha,  primeiro  de  Lisboa,  no  dia  13  da  Março  do 
1746,  na  santa  igreja  patriarchal,  sendo  padrinhos  o  Et."«  eRov.**^ 
Sr.  D.  José,  arcebispo  de  Lacedeíncmia,  e  o  Ez.**  e  Rev.^  Sr.  D. 
Frei  JoSo  da  Cruz,  bispo  que  foi  do  Rio  de  Janeiro. 

Depois  da  sagraQao  fez  vários  requerimentos  a  Sua  Hagestada, 
respectivos  ao  novo  bispado,  que  vinha  crear,  a  daferindo^se  a  uns, 
ficaram  outros  indecisos,  sem  embargo  do  que,  por  eumprir  com  a 
ordem  do  soberano,  se  embarcou  para  esta  America  a  9  de  Maio  do 
dito  anno  de  1746,  e  a  lâ  de  Julho  aportou  ao  Rio  de  Janeiro.  Re- 
colheu-se  ao  collegio  da  companhia  de  Jesus,  onde  se  demorou  alguns 
inezes,  nSo  por  estar  ocioso,  porque  era  este  um  vicio,  contra  o  qual 
linha  publicado  perpetua  guerra ,  mas  porque  assim  o  pedia  a  ne- 
cessidade. 

Na  primeira  occasiao  que  so  offerocou,  mandou  tomar  posse  do 
bispado  pelo  reverendo  Dr.  Manoel  Joseph  Vaz,  que  então  era  vi- 
gário da  vara  d'esta  cidade,  o  que  se  executou  a  7  de  Agosto  do  mesmo 
anno  com  assistência  do  clero,  religiões  e  nobreza :  a  eniquanto  isto 
se  obrava  em  S.  Paulo,  ia  S.  Ex.'  Rev."'  mandando  pastoraes  a 
outras  providencias  para  Santa  Catharina,  Laguna,  Rio  Grande, 
Colónia  do  Sacramento,  e  outras  freguezias  da  marinha :  ia  cuidando 
na  divisão  do  cartório,  e  outras  coisas  pertencentes  ao  bispado,  ns 
quaes  concluidas  se  embarcou  para  Santos^  oride  chegou  a  23  do 
Outubro  e  se  recolheu  ao  coilegio  da  companhia. 

Logo  nesta  villa  entrou  a  cuidar  no  curtiprimento  dos  missionários, 
a  examinar  a  capacidade  e  procedimento  dos  clérigos,  a  dos  que  o 
pretendiam  ser;  d'ahi  mesmo  mandou  providencias  para  varias  fre- 
guezias, e  finalmente  nomeou  e  collou  alguns  dos  reverendos  cnpitu- 


tSí 


máf^  dtgfiiMe  fiõtm  o  ryieff«ri<i  dotlor  HiilM>its  l^mftntço  db 
CirrilkH  mlitrsl  <b  ^itb  iiovi  lii  Cén«|fiy  «rarfifepib  Ai  Bnfi^ 
^<|iial  KiuJo  i^iid«do  na  w^iikt  ciáido«  pUlonfèti  tlMbfli.  10 
pimú^  m  RÍ0  d«  IjiHifO,  omie  l«io«  pttr  otmcnnf»  1  tgni|a  il*«iUi 
cidâdet  i|Ud  mfi  tâiii|iâ  ila  at»^  d*«M  biípiloi  «sttn  |iitiwhi«lido: 
a  Sâgtifi(ti  eMiforiít  Miéts  vigaria  gtnl  o  rtf«f«itiiii  GinUo  Ii>i44« 
Abmnelitis,  tormada  iia^icitMdile  Ja$  sagrados  ciiiaiMs  |i«k  «nU-er* 
sí4íide  de  Coiai&ri,  c  naiurtl  da  vUIa  da  iU%  bt^dt»  dti  Coimbra  : 
3  lerceira  ao  seu  prttmi^ior  o  f^vôrenda  Manoel  dú  him  Portara  1 
foffBfido  fta  isaama  faculd^la  e  pda  su^nm  uHÍvfjT^Ml»dts  natural  da 
V  ília  dâ  Soures  Lispuiii»  de  Q>iiiihra  :  a  quãila  ao  reverenda  Tobias 
lUbcrr^  de  Atrdrade,  laitiU*ni  iannâáú  em  caitmte^  \^h  diUi   uiti- 
vep^idadi^.  fiatur^l  dj  viUá  deSanloi  dWc  Li.<pAdo;  wu  CNdtiira  ma- 
HiMral  {\fuflim  m  r6v«r«ndú  Uanoel  Vilkla  l\mm^  ilo  moiíua  villa 
tle  Símbo<^f  tqué  em  oiitra  tempo  iitilin  §ído  aluíunada  ctimpauhia 
4ts  iesuÂ,  a  11  Vi  a  eiltiduu   pliitofafíliLa  #  ttitiulo^ia  t  lia  di  pmiilon» 
ciaria  ao  reveretido  Luureitço  Leite  PmMeadat  ineelre  eru  ar(c»»  na- 
to nI  d^oita  cídadLs  e  nas  múi  mdmn^  o  ru varando  Gregorid  de 
SfluJEã,  d'€âtaddude',  q  r^vereudo  Lui£  Tai^oira  LAMiau»  iiuiund  da 
Praçn  de  Almeida,  iiãpado  da  Lamegoi  o  reverendo  Thonié  Pínui 
<juedos.  mestre  em  aH^  dV^ta  eidade;  a  reverendo  Anlonid  Nune^i 
4e  Síqiteira,  da  uiL^iia;  a  reverendo  Jjieifillio  de  Alljuc|uerr|ue,  na- 
tural du  Traocóio,  bispdo  de  Viseu  ;  o  rererenítu  Anionio  hlmiz 
llartano*  fliâftlfo  cm  arlest  o  reverendo  Salvâdâf  PifâSi  o  ruverviido 
João  Gonçalves  da  Cosia»  ledoB  á'MA  cidadã* 

Uésèiiiliara^aJo  das  coUas  iiisíi  pruciiaif  que  se  oíTereceraiit  na 
dita  TÍUa,  subiu  á  Serra  para  faier  a  stia  entrada  no  dia  S  de  Ue* 
c«mbro  de  uiesmd  ruim  da  1146.  NSo  §m  éíaerõ  em  dascrefera 
grandeza  c  pompa  d  e%u  íuncipo,  poi^ue  beilmtfite  se  tira  no  m- 
ehdeiíiiaftta  d'ella,  ciHunioii(»yrafid«»-fit  pdo  ebjcel^,  a  rjue  dí icía  reJa^ 
^  d  ftgOeeUiiái>-ac  na»  rircunt^ncia*»  ftM  cofif urriam  d«  primeira 
feèpo,  prooorida  com  unto  desvelo,  a|is»fi(ade  d«;pciii  tk  veneidia 
iãtom  ififieuldade^  e  poiKiiAi  mom  imif^nal  de  ludoi. 

HJtt  **» 


Bf^eíjlíiiiD  n  proeis^iíu,  <|iie  deu  príncipio  no  [íbuslvel  acto  da  en- 
lnidn«  f4iriloti  o  rcvereíidocilitilo  na  novn  cailiedrat  vésperas  solemfi@s 
da  Imfiííiculaib  G>ncei<;Àí>  ón  ^t^nUor»,  tup  fesia  celebrava  a  igreja 
ii'aqu€lle  din«  as  qmm  cBpiiulmí  S,  Ei,i  Rev*",  e  conelaidas  túm 
yma  doula  e  fiiõ  prottca,  ^^fh  kr.^  ccomá  bervçáo  Sôlcmnê  que  lançou 
ao  innumeravííl  pvo.  que  concorreu  a  e^ta  festivo  aeio,  foi  o  ai€Sino 
senhor  conduzido  ao  eollegio  dô  companhia,  o  passadoã  alguns  dias 
m  recolheu  «10  seu  paiacío. 

túgúq\}ú  so  vru  n*cste,  a  primeira  coisa,  em  qaêeuídoti^  foi  hzér 
m  estaiutos,  porque  s^  devia  regular  a  sua  familia  ;  porque  como  o 
smi  prrneipDl  fim  era  desterrar  os  vicios  do  novo  bispado»  que  vinlia 
créar,  por  ^ na  casa  devia  principiar  a  refortns,  porque  emSm  devem 
MT  Bs  dos  prelados,  seminário  de  virtudes,  e  espelho,  em  que  se  nao 
desf.Lfhrr^m  manehfift,  ^mrque  n'elie  se  hão  de  vâr  todos  os  súbditos, 
para  obrarem  segundo  a  imagem,  que  n^ellese  representar.  De  tal 
mH&  Q^  ordenou  que  nSo  linha  o  ^u  palácio  que  invejar  aos  mais 
reformador;  cia uslros;  porque  a  oração  manlal  era  exercício  quoli- 
diano,  e  de  todn&  os  dias  eram  também  a  ladainha,  larço,  exame, 
filencíoe  HMSsa ;  disciplina  Iodas  as  sexlas-feiras  doanno,  e  segundas 
e  quartas  da  quaresma,  confessava-se  e  oommungava  a  familia  lodos 
m  oiio  dias,  e  cada  mez  os  escravos^  e  finalmente  haviam  outros  mais 
esereicios,  que  por  abreviar  não  refiro* 

Regulada  d'esía  sorte  sua  casa,  entrou  a  cuidar  no  que  dii:ia  rei- 
pettoao  bispado,  olhando  para  todo  elte,  parece  que  com  vista  mais 
que  de  lince*  ou  com  tantos  olhos,  quantos  lá  contava  o  celebrado  filho 
de  Aristor;  porque  emOm  nada  lhe  escapou,  senão  para  remediar 
tudo  e  para  ler  que  ^ntir  mais  na  parle,  em  que  se  ihe  ímposâibíli- 
lavam  as  providencias.  Mandou  pastoraes  para  todas  as  freguesias 
cheias  de  saudáveis  doutrinas;  fez  estatutos  ^lara  sa  governar  o  cdro 
fiacathedral  interinamente;  deu  a  todos  os  parochosa  formalidade 
com  que  deviam  fa^er  os  róes  dos  confessados ;  dividiu  as  freguezias^ 
qtie  todas  estavam  confusdssem  demarcações  ou  limites  certos;  man- 
dou lombar  todos  os  bens  das  igrejas;  fez  estatutos  para  o  recolhi- 
mento de  Santa  Theresa  doesta  cidade,  e  o  restaurou  da  ultima  de- 


25S 


■ 
■ 


I 


fvtiluncm^  0in  f]u{i  %%  achova;  e  Ihutfiiitiiiio  Í(ia  outras  inutlo^  coisas, 
ijuã  niío  retiro,  por  ser  esie  lugnrcurlo  ciim[)a  para  o  ihoalrõ  d'ellAS» 
e  m  Imslâ  líah&r,  que  em  tal  o  stin  wh  e  tnl  a  mí\  compfehen^âo,  rjno 
a  nJio  fiâ  âii&ecipnr  lanto  a  tnorie,  poJâria  este  bbpádo  ánr  leis  íún  m 
nos  lia  América,  como  a  muitos  da  Buropa. 

Foi  \èo  amariia  da  pabr^iza,  i|ue  itulo  o  que  tÍTi1i:i  llio  pnfecla  pôiiro 
fitra  d^penddr  com  olia  :  fazra  inuiUis  aâmotas  pariiculares^  iitiia^ 
pelo  reverândo  parocbo  da  Sé,  e  ouiras  peta  seu  secretario^  e  alérn 
<lo  grande  numero  de  pobres,  a  que  todos  m  diás  dava  di?  jnnlarf  se 
diilribuiam  peEa  dispensa  cada  mez  Dttuiita  ordinárias;  mas  como 
ai  tida  iâso  era  pouco  para  o  muito  que  desejava  fazer,  mandou  bus- 
rnra  l^ortugAl  baetas,  sarj as  a  uulros  géneros,  que,  sufpusto  não  teva 
II  satisfação  de  vércom  eiles  cutjerta  a  nuder,  de  suas  ovelhas,  por  cha- 
garem depois  de  morto,  náo  lhe  faltou  o  merecimento  de  determinar 
em  vida  que,  logo  qua  chegaifôom,  m  dislribuissem  pelos  pobres  mais 
noce^ttadoíj,  o  que  assim  se  cumpriu, 

Poróm  não  satisfeita  sua  ardente  caridade  com  o  que  Ika  dilo,  [lara 
ter  mais  que  dar,  cartou  com  o  que  ainda  parecia  preciio,  |)OÍs  man- 
dou a  um  er iodo  que  lizeSíte  a  conta  ao  gasto ^  que  [loderia  faa^er  a  li- 
teira» e  feita  aquoita,  perguntou  ú  nao  seria  melhor,  que  o  que  ^ 
bavin  de  dispender  com  estta,  quo  jidgava  âU[>erllu idade,  se  distri- 
buísse €om  os  pobres,  o  roipondendo-se-lhtí  que  mais  grata  seria  «• 
Ituoscsta  appticat^ão,  mandou  log'^  di^iiòr  das  bestas. 

Todos  oi  dias  se  levanLiv^  dt;  madru<{a4bi»  e  a  príiueira  coisa,  que 
fazia,  era  ter  uma  bera  de  unição  mciital.  como  quem  bem  sabia  que 
è  esta  a  metbor  chave  para  abrir  as  porias  do  céo,  e  as  mulliores  armas 
pa^  se  defender  um  ctiristâo  dos  ires  inimigos  Cõínuiuns,  o  com  a 
mesmo  &into  exercício  dava  Gm  M)dta,  porque  antes  de  se  recolher  a 
dijrmir,  o  tornava  a  repetir, 

poi  táo  devoto  da  Sen  hora,  que,  sem  embargo  das  muitasoccupat;oes, 
que  ti n lia,  nunca  se  lha  passeou  dia»  em  que,  antro  outros  obsaquioiíi, 
que  lhe  tributava,  nao  lhe  reinasse  o  rosário,  e  esta  mt^sma  devoção 
desejava  radicar  no  corarão  dos  mai$« 

Todos  os  annosse  confessava  duas  vexas  geralmente  :  uma  no  dia, 


23A 

em  que  pelo  baptismo  entroo  na  igreja,  e  ovlra  n^aqnelle,  em  que 
celebrou  a  primeira  missa»  a  qual  dizia  todos  os  dias,  e  nunca  jámai» 
por  esmola»  inda  quando  clérigo;  edepois  de  bispo  celebrada  quotr- 
dianaroente  pelas  suas  ovelhas,  e  si  por  enfermo  a  nffo  podia  dixer, 
a  fazia  celebrar  por  um  dos  seus  capellâes,  ao  qual  data  a  esmola  de 
cruzado. 

Estes  eram  os  seus  cuidados»  estes  os  seus  empregos,  eitira  os  qutes 
o  accommetteu  uma  doença,  que  depois  de  mostrar  n'ella  uma  larg» 
constância» e  de  ensinara  bem  morrer»  ultimamente  a  7  de  Novem^ 
bro  de  1748»  resignado  todo  na  Yontade  divina»  passou  d'esta  i  eter-> 
nidade»  pela  uma  bora  depois  do  meio  dia,  tendo  de  idade  54  annos,. 
8  mezes  e  4  dias»  e  de  gpvemod'este  bispado  um  asno»  onze  mezes  e 
vinte  e  três  dias  Três  dias  esteve  insepulto»  para  se  lhe  fazerem  as 
honras  devidas  á  sua  dignidade,  e  em  todos  elles  se  conservou  flexível ; 
e  dando*se  á  sepultura  no  terceiro  dia  na  eapella-mór  docollegio  da 
componhia  d'esla  cidade,  junto  aos  degraus  do  presbitério»  ahi  se  picou 
e  deitou  sangue,  que  muitos  aproveitaram  em  lenços  e  pannos,  e  al- 
guns nos  pesooeinhos,  que  tiraram ;  signaes»  senSo  infalliveis»  saltero 
prováveis  da  glpría,  que  está  gozando,  por  premio  do  muito,  que,  no 
decurso  de  tantos  annos  padeceu  e  obrou  por  Deos.  Assim  o  cremos 
piamente,  e  também  que  se  nâo  esquecerá  de  rogar  ao  mesmo  senhor 
pelas  suas  ovelhas»  para  que  lhe  vào  fazer  companhia  lá  na  Bemaven- 
turança. 

Amen. 


Copiado  de  um  mannscrípfi),  que  exisle  na  secretaria  do  cabido  da  sé  de 
S.  Paulo.—  Por 

A.  da  Coita  Pinto  Júnior. 


nõ 


S.  SOAO  DE  VPANEMil. 


Il«#oripf4o  A^  morro  do  minera]  áe  fvrt^f  sus  rí^esaf  flieifiotii» 
iiMtdo  o*  Antiga  fabrioaf  teus  d^feitot. 

(OJTerfddo  lo  Initílulo  pelo  Sr,  AntaníA  da  CúkU  ^mía,) 

O  marro  diaoiAdo  f  ulgârmente  de  íerrc,  ou  de  iir^iracav^vn  consta 
de  três  cabaçíB  [írincipaes,  tíeiínminados  i>elos  lavradnres  morro 
vermelho,  morro  dd  ferro  prnpriamenle  dili,  o  rnorro  (fe  íiruraçojava, 
além  de  oulros  muítm  jugos  qtie  fazem  timhem  prtó  de  lodn  e^m 
grande mon lanhei ;  clleâsâo  Dorlaiíos  por  dtfTertfnle?  quehradns  e  valie?» 
eiilre  osquae?ío  principal  è  ochamado — th%  Furnas,  centro  de  todo 
o  tnorro;  sua  direcção  é  quasi  norte-^ul,  e  conta  na  maior  exlon^firt 
duns  Iegua$  pouco  mais  ou  menos.  Está  ilisiante  tros  kguns  da  vi  lia 
de  Sorocaba*  O  grande  valle  das  Fumas,  que  Jísla  meia  leKtJi  das 
margens  do  Vpanema,  onde  a  meu  ver  se  devem  estabelecer  a$ 
ferrarias  e  nào  no  corre^'0  da  ?^ntiga  f^ftbríca,  este  valteeas  encnslis 
dorjbe<;ojá  mencionadoí  e  dos  outros  jugos^  que  pnr»  el1eolfmm« 
abundam  dê  mineral  de  ferro  magnético,  Elle  ptireoé  pou^r  mbns 
[  bancos  de  grés  de  rebolo,  e  este  sobre  oscbito  novaeular ;  já  não  falto 
de  outros  muitos  mmeraes,  que  se  arham  em  dtversiO!^  pontos  d*e$to 
uionte,  por  n9o  pertencerem  n  maioria  de  que  trato.  A«^lm-f^  o  dito 
mineral  entre  um  barro  ferruginoso  vermelho  muito  escuro,  dií-se 
minado  em  pedra?  ííulíag  e  desíirrnnj.Kh?,  de  dlITefente  peso  e  gran- 
de7.fl,  tanto  á  superficie,  como  ái  vezes  ma  ts  profundamente;  formand*/ 
pirem  grandes  cintas  o  ti  manchas  nos  corra;2fnâ  e  quebradas.  Este 
iniricrat  de  ferro  m^igneií ca  t-  com | meto.  muito  pesado,  de  fractura 
esqui losa,  c/ir  gfísea  de  ferro  fom  j*fMrc;í  ou  nenhuma  ncre  de  ferru 
do  (itíTmeio  no  mais  rico;  maior  qirantidade  porém  ún  á\lB  acre  o 
m^nur  \mo  no  mais  pohre*  Snn  riqueza  é  laí  que  parlei  íguaes  do  rico 
e  pobre  me  deram  60  por  cento  de  prodiicto  em  ferro  coado*  Quanto 
a  sua  posição  t^jm  íMh  minera]  mais  a  seu  favor  o  nào  iiecc^*iii»r 
i^nào  de  o  Ap;<nhar  õ  su^^crliné*  ou  de  o  cavar  om  maneini  de  |>e- 
drefra,  e  íf^ihi  iran-^porlí»  ío  ;'i  fabrica»  que  lic^  nas  fraldai  d**  mfirro 


rilH 


2»6 

e  meia  légua  dislanle,  crrcumstancías  Gshs»  (fâ  que  potrcas  od 
nenhumas  minas  na  Earopa,  segundo  ó  meu  conhecimetno,  se 
|x>dem  vangloriar.  Nâo  obstante  a  grande  riqueza  d'esta  mina,  pa  rli- 
culares,  que  emprehenderam  sua  extracto»  tiraram  grandes  perda»- 
em  vez  de  avultados  lucros,  que  esperavam,  du  que  resultou  o  per- 
suadir-se  a  gente  da  capitania,  que  uma  empreza  d'esta  natureza 
seria  sempre  damnosa  ao  estado :  é  verdade  porém  que  estas  asserções 
nascem  muitas  vezes  de  vistas  interessadas,  do  aborrecimento  a  todas 
as  novidades,  dos  incommodos,  que  necessariamente  sobrevêm  ao» 
que  possuem  terras  no  dito  morro  e  suas  cireumviztnhanças,  e  da  inca- 
pacidade de  conhecer  os  defeitos  do  metiiodo  usado  na  amiga  fabrica , 
que  era  o  seguinte:  estraficavam  carvão  mineral^  depois  da  ustulado 
e  pillado  sem  ajuntar  fundente,  entretinham  o  fogo  por  dous  folies  e 
depois  de  um  dado  tempo,  achavam  o  ferro  reunido  em  uma  massa , 
que  levavafn  aos  malhos.  Os  fornos,  de  que  se  serviam,  tinham  cinco 
palmos  de  altura.  Este  methodo,  que  é  dos  Lucquezes,  só  póde-se 
applicar  ás  minas  ricas  e  puras,  em  que  o  ferro  está  nada  ou  quast 
nada  altera Jo  Já  nào  fallo  da  pequena  altura  dos  fornos,  porque  esta 
só  podia  caber  na  mente  de  homens  ignorantes  do  oflicio,  e  que 
parece  procuravam  por  gosto  sua  ruina.  Além  d*ísso^  como  não 
sabiam  distinguir  o  mineral  rico  e  puro  do  pobre  e  impuro^  houve 
dias  de  pura  perda,  por  ser  impossível  fundir  o  mineral  pobre  e  mni» 
alter.tdo  sem  fundente.  Do  referido  é  claro,  que  um  similhanle  esta- 
belecimento, dirigido  por  homens  inhabeis  e  ignorauies,  deveria 
arruinares  emprehendedores,  pois  de  ouiro  modo  seria  para  adminir, 
que  um  minerai  lâo  rico  desse  perda,  semlo  que  na  Europa  já  f<iz 
conta  a  sxlracçíio  das  minas,  que  dáo  25  por  cento  apczar  de  nãa 
haver  tanta  abundância  de  lenha,  e  serem  (»s  salários  por  mais  «lilo 
preço. 

Matias ,  methodo  de  fazer  carvão  mado  em  Sorocaba ,  seu» 
defeitos^  .facilidade  da  conducção. 

A  maior  prle  d*este  morro,  esuascircumvizinhanças  é  coberta  dtí 
arvoredos,  e  seria  todo  elle  uma  malta  continua  a  não  estar  dividido 


M7 

j?or  ctjnle  c  «essanla  niofãilortís  pouco  m:iis  ou  manos,  além  d^  oulrm 
líiiiilos,  que  laiiibepi  ^(\m  [)laiHani  por  fftTor  :  lodos  Mes  rii-am  pra* 
Inibidos  de  derrubar  mattos  virgens  e  capoeiras  altas,  (jonsenlindo- 
se-tbés  Ho  somentei  que  fitçam  plantações  em  capoeiras  bai^a^  alé 
decidir-^,  si  acasa  se  deve  dar  principia  a  este  estabeleci  mento, 
porque  então  liáo  de  por  necessidade  ser  esbulhados  da  plisse  d^esses 
lerrenos»  miQ  sefem  paires  de  nsínas*  ou  si  a  equidade  á&  S.  A.  R. 
o  ordetiàf,  indemnisados  com  outras  seamariaâ,  verdade  é,  que  dis- 
antes  d^aq-ui,  por  nSo  lia  ver  quasi  terreno  algum  realengo  nas  vízi- 
blianças.  Esta  prohibíçao  de  plantar  em  ma t tos  virgens  etc.  esten- 
deu-se  a  mais  de  mela  tegua  em  roda  do  morro;  conta-se  dai  faldas 
d'elle  per  n  elta  baver  muitos  bosques  desvaira' fos ,  como  os  do 
r^iyere»  Ipanemerim  e  outros.  Posso  sQanç^ir  a  bondade  daâ  ienhas 
para  4^rf30i  Mo  só  com  os  ferreiros  de  Sorocaba,  mas  também  com 
a  experiência  pTopria.  poís  qued^etle  me  fervi  para  fundir  o  minorai 
de  ferro t  e  $i  carvão  feito  de  lenhas  verdes,  e  que  nSo  chegaram  a  seu 
pertoito  crescimento,  queimado  em  cavas  feitas  no  cháo^  som  regras 
algumas  para  conhecer  o  completo  estado  de  carbonisaçáo ,  é  bom, 
umito  melber  será  ensinando  aos  carvoeiros  do  pai^^  o  modo  de  o 
faier  usado  em  Suécia,  França  e  Altemanha.  Os  carvoeiros coslumam 
vender  ;i  carga  de  carvào  80  rs.  Quanto  ao  carreto  do  carvjío  feito 
nas  mattas  do  districto  mineiro^  ó  quasi  nenbum  por  estarem  eílas 
jikuito  prOTtimas  à  fabrica-  O  ear^^ao  porém  feito  em  todo  o  terreno 
d*esta  villa  (porque  a  meu  ver  será  bom  ordenar  aos  lavradores^,  nao 
destritam  seus  bt^ues,  nem  vendam  as  lenhas  para  fora,  (mis  d'ellas 
pôde  vir  a  carecera  fabrica)  tem  caminhos  bons  e  planos  por  onde 
|Kissa  ser  transportado.  E  como  ãs  margens  do  rio  Sorocaba  s^o  muito 
abundantes  de  arvoredos,  o  rarvâo  que  ahl  se  fizer,  pode  ser  trans* 
portado  por  elle  abaixo,  e  d*ahi  pelo  Ypanema  acima  em  csnaes,  que 
se  deverão  mandar  fazer,  visto  as  de  S.  A.  B.»  que  se  achavam  no 
porto  de  Araritaguaba,  terem  sido  vendidas  por  ordem  da  junta,  e 
muitas,  ^tor  grandes,  nffo  poderem  nav^ar  em  similbantes  rios. 

Lugar t  em  qm  u  derem  eHakehcer  aá  ferrarias, 

Eli  dfsstí  fio  S  l.**  que  as  margens  do  Y  panem  a  deviam  ser  pre- 


2S8 

ímAã^  m  córrego^  era  (\m  se  acham  ainda  hojt^  riilnns  iln  dnli^ 

bbrica^  a  segunda  mi  repito*  qoô  é  o  mtjlhor  local  para  esle  i^^iabe 

tecifnento ;  1/  por  teroYpanema  abiindâneb  de  ^guBS,  â**  por  esbr 

fias  faldas  do  morro,  ecomo  centro  c)â  mína  o  maUos,  3.*  por  ser  o 

caminiio  d' aqui  a  põdra  calcarcia  melhor,  plano  e  mais  breve,  oqn€ 

não  fiiicoederia  a  s^r  no  córrego,  como  ri^eram  os  antiga,  o  qual, 

além  ih  nào  ter  aguas  em  abundância,  fica  mais  longe,  e  o  caminho 

é  pêíur.  Além  á^mo^  o  lugar  escolhido  é  uma  planície  eoniioua  com 

a  melhor  localidade  para  quantos  editlcios  m  quiíerem   lovnnlnr. 

Ultimamônle  a  natureza  nos  está  ensinando,  que  esid  rio  deve  com 

preferencia  S6r  escolhido,  porque  na  distancia  de  cenlo  e  set^  braçM 

pouco  mais  ou  menos,  contadas  rio  abaiio  até  a  ponte,  por  onde 

passam  os  moradores  do  morro»  ba  um  paqueno  salto;  d^ella  nos 

podemos senir  para  fa^er  oassude,  quo  ha  de  levantar  até  o  barranco 

ou  ribanceira  do  rio  as  aguas  necessárias  ás  macbinaa  hyrfraulíeas, 

^m  bão  da  pôr  em  movimento  na  folies  e  malhas :  a  altura  f)o  lugar 

do  salto  até  o  barranco  é  de  dezoito  palmos,  e  d*ali  até  a  ponte,  quo 

fazem  cento  o  sate  bra^s,  ha  quinze  palmos  de  queda  com  potica 

differença  para  mais.  Podo  eslabelecer-se  a  fabrica  um  pouco  abaiiro 

da  ponte»  por  abaiscar  mais  o  nível  do  tarreno;  d'este  múèo^  ainda 

quando  as  aguas  n$o  fossem  em  muita  quantidade,  dando  maior 

queda  d  oilas,  augmeniavamos  a  velocidade,  a  por  consequência  a 

quantidade  do  movimento,  que  é  o  produeto  da  massa  pela  dita 

velocidade.  A  largura  do  rio  na  ponte  é  de  trinta  e  novo  e  meio 

palmos  t  a  altura  il'agua  no  mesmo  lugar  para  cima  de  quatro  palmos, 

Fundmie, 


Como  não  é  possível  emprehender  a  fus9o  das  minas  de  ferro  sem 
fundente,  e  a  pedra  calca rea,  é  o  próprio  do  mineral  de  ferro  mag- 
nético, tive  o  cuidado  de  examinar  todos  os  arr^lores  do  morro,  a  so 
achei  no  sitio  do  capitão  mor,  que  fjca  menos  de  quatro  léguas  dis- 
tante da  fabrica,  e  já  ha  uma  boa  picada  e  plana«  A  direcçáo  dos 
bancos  é  les-nordeste  ou  sudoeste;  elles  sâo  de  pedra  calcarea  secun> 
daria,  densa  e  grísta  de  fumo :  euntinuam  alé  as  margens  do  rio 


â30 

Sorocaba  nn  disU»m:ia  de  uni  *imfiú  ito  li*guíi,  c  iornarti  íi  í»ppaiPí*ctT 
doutra  banda  do  río> 

Oi  gadôs  íinnd  vaccum»  como  ta va liar,  precisos  para  a  euulurçâa 
th  ferfo,  carvio,  funJenteedo  outros  géneros  p/erlonccnlos  à  fíilu-íua, 
^lem  de  se  poderejn  ter  a  bom  inercada;  porquanio  lum  jiinra  ik 
Lais  r4jsl3  8^000  rs.  o  ni^ncís,  o  uma  Uefla  1  ií^SOí)  rs*  (>oiico 
rnai$  oti  menos,  creio  os  Lia  em  algumas  úi\s  fa/.endas  aotigamrnlè 
ilm  padres  jesuíLis  (<]  tia  ^íq  Cubatão,  Sonla  Anaa,  Aras^arr^njama, 
Fiiilaiiguy,  Borda  do  Ccítnpo  etc.)  quo  íazcm  poder  poupar  asta 
ilefpczj,  0  para  o  fiiui  ro  se  pode  mandara  ir  por  diffL*reokis  vesíe?, 
í|UíiiHÍi)  tíjrern  precisos  pç  Li  falia  dos  prímiaircis,  quo  p  esUverctu 
causados  fia  vendo  o  cuidado  de  áugitieniar  o  sua  criííçào*  Estes 
lindos  do  costíjb  Ja  f^djric.i  tem  mui  10  bons  pavios,  mn  m  na  meia 
líí^ua  do  morro,  nue  se  deve  loinar  pvrt  disiricto  das  usjiki^  mas 
uuibefii  nos  ^randci  valles  conteúdos  no  dílo  morro. 
• 

Os  bomens  einpregadoíí  no  serviço  doesta  ferraríat  pmlem  ser  ou 
e?€mms  de  S>  A*  IL,  Imm  quo  e«leâ  tenliam  ditninuido  com  as 
tuurla^  voiidn<^«  uit  índios  qiJO  poduni  tirar* 50  dns  aldeai  de  Embau, 
llaruiri,  lUêpcceriea,  Pinliéirosj  Carapecuiba,  S,  Miguel,  Noíísa 
Seofiora  dj  Escada  ctr»:  da  mistura  d*estes  eom otitros  trabalhadoras 
naiice  0  dei^triiir-s«2  o  pcmícioso  uso  de  os  t€r  em  povoações  separadas» 
uso  ^  eapa^  de  arraigar  o  antigo  udto;  por  esta  mistura  eonfun- 
dtím~sô  suas  opitiiôcs  com  as  tiossasi  tornâm-sâ  nossos  amigos  e 
tnriao^,  ou  alguém  dos  babilantcs  de  Sorocaba,  visto  ser  {grande  a 
[^Hivoafào,  lyé^  de  novtt  mil  ^etcci^Eitos  e  do^e,  e  Uaver  ijuaniidado  de 
(ifurtens  dadas  a  radiatiào  e  ocíoí^idade;  será  jucsmo  proveitoso  con- 
demnar  aotraballio  das  miuasos  homens  de  grandes  crimes  o  scnteii- 
ciailos  fiela  lei  a  pena  ultima,  osqoaes  morretido  nas  tiad^bs,  como  é 
ordinário,  tornam-se  p&'^dos  ao  publico  «  o  nu  lios  j  s^ociedaJe:  peln 
contrario  oceupados  n'esta  servieo»  sJo  uteis^  porí[ue  com  os  seus 


240 

traBalhos  cooperam  pnra  o  bom  crella,  lira-se-llies  a  faculdade  do 
commeUerem  novos  crimes,  o  castiga m-sc  os  antigos  com  a  pena  do 
nm  trabalho  continuo  até  o  fim  da  vida ;  deixam  de  ser  onerosos  ao 
publico,  porque  tem  meios  de  subsistência,  e  a  sociedade  ganha 
adquirindo  mais  estes  membros,  que  para  cila  estavam  perdidos;  além 
d*isso,  nma  pena  d*esia  natureza  ó  uma  lição  continua  para  os  mal- 
vados, o  que  não  succede  com  a  pena  de  morte,  que,  por  ser  momen- 
tânea, é  logo  esquecida,  e  muitas  vezes  n*esse  mesmo  instante  produz 
um  effeito  contrario,  que  é  fazer  esquecer  o  delicto,  e  enternecer  o 
innocente  a  favor  do  culpado ;  cm  consequência  julgo  acertado,  que 
não  só  os  d'esta  capitania,  mas  também  os  das  capitanias  vizinhas 
sejam  d'est'arte  castigados  cm  premio  de  seus  enormes  crimes.  Os 
jornaes  em  Sorocaba  andam  por  140  e  160  rs.  a  secco  conforme  a 
qualidade  do  serviço,  e  a  100  rs.  dando-se-llies  o  sustento;  devo 
poróm  advertir,  que  estes  jornaes  hão  de  necessariamente  abara  tar 
todas  as  vezes  que  houver  serviço  continuado. 

Fundos  para  dar  principio  ao  estabelecimento.    , 

Depois  de  ter  feito  ver  a  possibilidade  de  uma  similhante  emproza, 
isto  é,  bom  local,  riqueza  do  mineral,  abundância  d'aguas,  lenhas» 
fundente,  barateza  de  gados  etc,  cumpre  fallar  nos  fundos  precisos 
no  começo  do  estabelecimento. 

Apezar  do  ser  a  receita  da  fazenda  real  muito  menor,  que  a  despeza, 
pois  que  no  anno  passado  foi  de  76:673^482  rs.  e  a  despeza  de 
104:781^190  rs.,  coratudo,  como  temos  já  o  tributo  denominado  — 
contribuição  lilteraria,  destinado  unicamente  para  pagamento  das 
despezas,  que  fizerem  as  minas  no  caso  de  se  porem  em  extracção, 
tributo  bastantemente  rendoso,  pelo  qual  pagam  todos  os  géneros 
exportados  da  villa  de  Santos  para  fora  da  capitania,  o  para  outras 
partes  da  mesma,  com  este  fundo,  e  si  fòr  prociso,  com  algum  que 
venha  do  erário  das  geraes,  porque  n'essas  a  receita  excede  em  muito 
á  despeza,  pôde  dar-se  principio  a  este  estabelecimento.  Talvez 
quando  a  contribuição  litleraria  não  bastasse,  parecesse  justo,  em  vez 
de  fazer  um  empréstimo,  impor  um  novo  tributo;  mas  o  povo  d'esta 


2AI 

capitania  eslá  }á  Ião  onerado,  que  mo  náo  dá  lugar  a  lembrar  siuii- 
Ihanto  cojsa;  e  eu  náo  enumero  todos  os  tributos,  de  quo  estão 
gravados  os  povos,  por  s:iber,  que  V.  Ex/  está  a  esto  respeito  melhor 
ifitcirado  do  que  eu.  Alem  d'isso,  nenhuma  capitania  principiante 
(náo  obstante  ser  das  primeiras  povoadas)  tributos  impostos  sobre 
géneros  agriculturaes  (como  aqui  so  tem  feito)  só  servem  dedefuihar 
o  roaUir  a  agricultura  nascente.  Eu  me  n2o  lembro  de  propor  a  ex- 
tracção d'estas  e  outras  minas,  que  com  o  tempo  se  descobrirem,  por 
companhias,  nasquaes  cada  particular  entra  com  uma  ou  mais  acções, 
o  depois  de  pagas  as  despezas,  o  liquido  se  divide  á  razão  das  en- 
tradas, por  saber,  que  uma  similhante  proposição  ó  contraria  às 
vistas  actuaes  do  governo. 

Exportação  do  ferro. 

O  ferro  fabricado  u'asta  ferraria  podo  ser  transportado  em  carros, 
ou  bestas,  por  uma  estrada  plana  de  cinco  léguas  a  Porto  Feliz,  e 
d*ahi  embarcado  pnra  Matto  Grosso,  Guyabá  ele.  Pôde  também  vir 
por  terra  a  S.  Paulo  (distancia  de  vinte  léguas  e  meia)  da  cidade  ao 
Cubat«lo  (nove  léguas  pouco  mais  ou  nienos)  e  d'ahi  embarcado  para 
Santos,  d*onde  pôde  ser  transportado  ptira  as  dilTcrenies  capitanias  do 
Brazil;  ou  melhor  conduzido  por  terra  á  aldôa  de  Baruiri,  cuja  dis- 
tancia c  do  dezoito  léguas,  e  d*ahi  ombarcnilo  no  RíoTietó,  Pinheiros, 
Rio  Grande,  Pequeno,  nu  caminho  ile  S.  Paulo  para  Santos,  d'onda 
pôde  ser  carregado  em  bestas,  que  se  lenham  do  sobrecellenlo  na 
fazenda  do  Cubatâo.  Quanto  á  navegação  peloTiolé  acima,  é  impôs- 
sivel  pelo  salto  de  Ilú,  salto  do  Pirapóra,  caxoeira  do  Peralaraca,  o 
outras,  que  não  relato.  Não  é  menos  possível  transporta-lo  pelo  llio 
Sorocaba  acima  alô  pertoda Cotia,  e  d*ali  a  conducç^io  por  terra  até  o 
Rio  dos  Pinheiros,  como  ou  tinha  projectado,  porque  os  grandes  saltos 
de  Uruturanli,  Ilúparananga,  e  a  caxoeira  de  Perataraca  são  obstá- 
culos invenciveis  á  simillianto  navegação.  A  varação  das  canoas  em 
todas  as  mencionadas  diflficuldadas  e  outras  qtto  não  apontei,  por 
enfadonha  e  dispendiosa,  náo  pôde  fazer  conta  alguma.  Ultimamente, 
pôde  o  forro  ser  conduzido  por  terra  a  Ilú  (distancia  do  seis  pequenas 


242 

le^^iins]  [Kn*  onde  ])asf^  s  grairdo  estrada  ([«rs  trops  e  gndas  âe  S^ 
Paulo  para  a^  geraos,  que  (em  igunrl  rrocessidade  de  ferro  baralo  para 
a  cxlracçilo  de  sua»  lavras  mineiras;  eu  já  não  fallo  do  grande  con- 
sumo, que  ioda  esln  capitania  ha  de  dar  ao  ferro  exlraliido'  d^esl.*»» 
minas^ 

Protfidencíctí  necessárias  ao  bom  êxito  doeste  esíaôetecimenío. 

Cm  consequência  de  todo  a  referkloy  se  parecer  conveniente  á  S^ 
A,  K.,  que  se  dé  principio  n  esi»  fabrica,  creio.  sSk>  de  toda  a  neces-' 
sidadeas  providencias  seguintes:  f.*  mandar  vir  com  &  possível  bre- 
vidade d'aquellas  partes  d'Allemanlia,  em  que  se  trabalharem  minas 
da  mesma  natureza,  um  hábil  fundidor,  que  entenda  também  da 
fonstrurcão  dos  fornos  altos,  e  um  forjador,  que  seja  amestrado  na 
reducrâo  do  ferro  cm  aço,  os  quaes  ensinando  os  do  patz  as  manipu" 
tacões  da  {\i$So  e  refíno  do  ferro,  formarão  para  o  futuro  homens 
liabeis  a  práticos,  capazes  de  serem  empregados  em  outros  similhanles 
estabelecimentos;  2.*  reclamar  as  sesmarias  ou  doações  feitas  em 
terras  âo  morro,  e  de  meia  lugua  em  roda  contada  das  faldas  d^ellcy 
visto  ser  todo  este  terreno  drslriclo  das  minas,  e  malta<í,  esi  parect»^r 
Cíuiforme  com  a  eq«iidade  do  S.  A.  U.  indemnisados  com  ouirns 
sesmarins;  3."  nomear  um  conservador  de  maltas,  qtie  por  via  de 
regra  deve  ser  o  mesmo  director  gorai  afim  do  evitar  maLsdespezas; 
osíe  deve  tor  a  seu  cargo  o  fazer  o  aproveitamento  dasdiías  mallas  por 
colides  regulares,  e  a  cito,  allendendo  ao  perfcilo  crcscímenlo  d;is 
arvores,  de  feição,  que  sempre  haja  uma  follia  int(3Íra  a  coriar,  que 
basta  ao  consixuio  d'cstas  ftírrarias,  e  o  ensiii.ir  devidamente  o 
melhodo  mais  adequado  e  económico  para  a  factura  do  carvão;  4* 
acariciar  por  meio  de  prémios  e  privilégios  razoados,  tanto  os  indros, 
como  homens  do  paiz,  e  conceder-lhes,  que  nos  dias  de  descanso 
possam  plantar  n'aquellas  parles  do  districto,  que  estiverem  incultas, 
o  em  que  não  houver  maltas,  pondo  sempre  de  reserva  os  campos 
precisos  para  pastos  tios  gados  necessários  ao  costeio  da  mesma  fabrica; 
este  será  o  melhor  meio  de  ter  um  numero  certo  de  mineiros  hábeis, 
interessados  no  bom  exilo  d'esla  ferraria,  carvoeiros,  carreiros  e  outros 


243 

obreiros;  5."  nomear  um  escriváo  de  rcreila  e  despeza,  enirada  er 
sabida  o  um  feitor  timbem  encarregado  da  economia  das  lenhas  e 
carvão,  advertindo  porém,  quo  não  iia  precisão  de  dar  estes  lugares, 
senào  d;;poÍ3  de  principiarem  a  trabalhar  estas  ferrarias,  porque  é 
contra  todas  as  regras  da  boa  economia  fazer  despezas  sem  tirar 
lucros;  6."  si  para  o  futuro  erigir  a  creaçâo  de  outros  similiiante^ 
estabelecimentos,  nomear  um  inspector  particular,  o  qual  possa 
servir  no  lempo  da  ausência  do  director.  Todos  os  ofliciaes  devem 
estar  debaixo  da  tmmediala  direcção  o  ordens  do  director  geral,  o 
qual  será  obrigado  a  dar  as  contas  no  governador  da  capitania,  a 
quem  também  recorrerá,  quando  precisar  do  seu  auxilio  para  o  bem 
d'este  estabelecirhento.  Com  estas  e  outras  providencias,  que  as  luzes 
de  y.  £x/  podem  subministrar,  parere-me  de  toda  a  necessidade  o 
fazer-se  um  regimento  para  a  administração  assim  económica,  como 
policial  d'eslas  ferrarias. 

Esta  memoria  foi  copiada  de  um  Uvro  da  secretaria  do  governo  da  proviocia 
de  S.  Paulo,  que  tem  no  rotulo  —  Documentos. 

S.  Paulo ,  16  de  Junho  de  J852. 

A.  da  Costa  Pinto  Silva. 


24A 
CÓPIA. 

Da  parte  «pie  deu  o  copitfto   de   granadeiros  Cândido   Xavier  de 
Almeida  e  Souza. 

SOBRE  O  DESCOBRIMENTO  DO  UIO  YGUREHY. 

(OITcrccido  ao  Institudo  pelo  Sr.  António  da  Cosia  Piolo). 

III.""  O  Ex."°  Sr.  —  Vendo  qoanto  favoreço  o  céo  as  acertadissima» 
disposições  do  V.  Ek.%  anticipa-se  minha  fiel  escravjdáo,  tanlo  a  dar 
o  innis  plnusivel  parabém  de  tanta  felicidade,  como  pôr  na  presença 
de  V.  £x.',  logo  que  chegamos  a  este  sitio  denominado  Curnssá,  á 
margem  do  Ticlé,  em  qiio  encontro  possibilidade  para  ir  por  meio 
d*esla  aos  pés  de  V.  Ex.%  que  voltamos  todos  cora  saúde,  feliz  o  pros- 
peramonie.  Esiá  V.  Et.'  na  posse  do  rio  Ygurey  á  margem  occidental 
do  Paraná,  solo  loguns  abaixo  da  parte  superior  das Sete-quedas,  na 
mesma  silunçâo,  em  que  o  demonstra  a  carta  de  Mr.  de  Anville.  Foi 
Deos  servido  levar-me  ao  dito  rio  no  dia  10  de  Julho  ás  5  horas  da 
tarde,  ao  depois  de  vinte  e  qiialro  dias  do  traballm  por  terra,  e  meio 
de  navegação,  da  maneira  porque  vou  expor  a  V.  Ex/ 

Ex.^^Sr.,  com  notável  diOiculJade  e  indizível  trabalho  pudecon- 
se?;uir  o  fructo  d'e3ta  diligencia  e  obedecer  ás  ordens  do  V.  Ex.'  por 
entro  lanlos  perigos,  pula  diminuía  forço  do  genle  com  que  onlramos 
para  ella ;  mas  esforçnndo-se  a  minha  obediência  em  dar  cumprimento 
ásonlons  do  V.  Ex.»,  chegamos  eni  frente  das  Selo-qued.is  no  dia  10 
de  Junho  ás  9  horas  da  manhla  com  vinle  e  nove  dias  de  viagem  do 
porlo  de  Araritaguabn:  e  n.i  ultima  illia,  íjsieali  eslá,  estabelecemos 
o  acnnionamcnto  para  existência  das  canoas,  e  manlimenlos  de  re- 
serva, o  mais  petrechos,  conformo  as  ordens  de  V.  Ex.*  No  dia  11, 
logti  pela  manhàa,  sem  querer  perder  um  instante  de  tempo,  em- 
barquei com  seis  soldados  cm  um  balelào  ,  c  passei  á  parte  oriental 
a  examinar  o  lerrroiio  ale  abaixo  dos  sallus:  o  meu  tenenle-coronel. 


aA5 

[emlmrcou  também  com  sm  romeiros  m\  úuitò  liâ talão  o  s^uíma» 
|ti^d(>s.  Com  grnndf  Irabalhri  prÍEici|rÍamo!»  a  fiicar  o  mriuo,  [porque  ao 
fílcpóís  do  pâisannos  um  4ipra3çi\iíl  larafijal,  entramos  em  mn  silvado 
Éíspesso,  o  l.iqiiaral  p^pintio^o,  rui  que  pouto  w  atlianlnvam  os  golps 
io$  íâcôas:  pouco  ófidamosi  f|iiaiiiJo  eiilranJo  em  um  arranclijntenlo 
'  th  hvim  de  quatro  ou  cinco  dias  aiilras,  Q'picadaf  rráni:as,  por  ollas 

Itiús  servimos  olé  uW\%q  dos  s^ko!^,  sem  mais  delrímenlo  de  picar 
maUo,  a  extensão  do  logua  a  meia,  que  laulo  lom  ãqtielle  transi  lo  p^r 
Ire";  [konlas  da  serras,  que  vem  abeirar  ao  rio,  o  [»enedos  bem  agros 
do  transitar*   D'a1Í  pude  ob^rvar  pruJentameute  que  era  frustrado 
lodo  o  trabalho  por  aquella  parte  para  o  tiosso  intento*  porquâ  os 
altos  penedos  da  occidenlal  não  permitlem  averiguar-so  de  ca  o  que 
^_  de  lá  ^eocculta:  por  cima  dos  da  margem  orienLal,  que  estào  mai^ 
^f  |)roiímos  ao  rio,  não  sú  pde  d:ir  pasáo  para  bat^o,  ea  fa?/'-b  pelo 
matto,  ficávamos  tia  mesma  indonsio  do  que  o  rio  contém.  Ex  vi 
du  que  diipuz-me  lop  a  p^tiT  tVAi  para  a  pnrte  0€fÍJeutal  o  retr- 
IH      raiuo-itos  para  a  ilha  da^  Harraca^^  que  assim  denoininájuos  n  do 
^■liosi^o  acuo  tonar  nenio.  No  dia  li,  lo^o  que  o  pormltlirant  as  luzes  do 
i^  dis,  pass«i  h  |}urie  ot^fídental  com  a  mesmo  numero  de  poucos  soldados 
I!  remei ros,  onde  lambem  f|ui£  ir  o  diloleneiílo-eofonoL  £ncontr.^n]OS 
terreno  mais  plano  o  meibor  matto,  deitando  as  esn^s  dentro  de  um 

»[íei|ueno  bruço  do  Parani  [íor  deiraz  de  uma  pequena  ilba;  n*este 
lugar  fizemos  porto,  u  que  dL^nommamos  do  S«  Francisco,  elerni- 
sando  assim  d^esdc  ja  o  111,**"  nome  de  V*  Ex,'  Picamos  matto  aquolle 
dia  todo  alé  Lin  ribeiro  corrente,  em  cuja  margom  pernoitamos,  sem 
mais  abrigo  que  o  das  arvores  frondosas  osetn  eoberla  mais  que  a  do 
II      frigido  sereno  d'aquel!a  noile.  No  dia  13  ás  t O  horas  da  inanhaa 
^■«ahimes  abaiio  dos  saltos,  em  distancia  de  légua  e  quarto  por  aquella 
1^^  parte,  onde  niSo  encontrámos  indicio  algum,  que  e^praneasáe  o  bom 
oiito  do  nossa  diligencia  o  com  esla  descenso  la  (;áo  nos  recolhemos  an 
nosso  campOi  No  dia  14  partiu  o  dito  tenenle-corouet  om  uma  canoa 
a  navegar  ujn  pnníaiiõ  nlagado,  que  ha  por  cima  do  porio  de  S, 
Francisco  ale  a  barra  do  iguateriiy,  em  busca  do  rio  Vgurey.  e  reco- 


246 

Ueih^Q  às  2  horas  da  tarde  sem  mais  fructo»  que  o  cansado  trabalho 
4I0S  romeiros :  a  mesma  diligencia,  repetiu  no  dia  20»  cm  que  cliegou 
á  barra  do  rio  Iguatemy.  No  dia  1G.  fiz  adiantar  uma  partida  para  a 
pnrte  Occidental  com  facões,  fouces  o  machados  a  proseguir  uma 
picada,  por  onde  podessemos  desembaraçadamente  transitar;  e  eu 
parti  no  dia  17  com  oito  soldados  e  dezoito  romeiros  das  canoas, 
abrindo  um  largo  caminho  estivado  com  andaimos  por  cima  dos 
ribeirões  e  sangns  mais  profundas,  para  com  mais  brevidade  varar 
duas  canoas,  como  fiz,  na  esperança  de  achar  em  poucas  léguas  nave- 
gação no  Paraná  por  baixo  das  Sete-quédas,  e  embarcar  sem  a  demora 
de  fazer  canoas  e  ir  com  mais  brevidade  dar  um  inteiro  cumprimento 
ás  ordens  de  V.  Ex.%  e  d'esta  sorte  asseguramos  por  terra  o  feliz 
descobrimento  do  um  caudaloso  rio  com  n  configuração  seguinte : 

Dia  21  de  Junho  ás  9  horas  da  manhàa.  Desemboca  este  rio  no 
Paraná  enlre  altissímos  paredões  de  pedras,  mais  altos  para  a  parle 
do  norte,  e  para  a  parte  do  sul  menos  elevados;  vem  as  suas  aguas 
era  arrebatadíssimas  cachoeiras ;  em  pouca  distancia  acima  de  sua 
bffrra  faz  um  sallo  com  a  aUura  de  duas  braças.  Um  quarto  de  légua 
acima  da  dita  barra  faz  o  primeiro  assento,  onde  desemboca  um  ribeiro 
parado,  nativo  de  algumas  pequenas  lagoas  circum vizinhas,  que  tem 
á  sua  margem  da  parte  do  norte,  por  onde  fíz  todas  as  averiguações  : 
pouco  acima  do  ribeiro  ha  quatro  ilhns  vizinhas  entre  cachoeiras, 
umas  maiores  que  outras;  até  a  distancia  de  meia  légua  acima  da 
sua  barra  sóhe  a  rumo  de  noroeste,  e  ahi  desemboca  um  ribeiro 
perjueno  e  corrente  da  parte  do  norte,  com  algumas  poucas  pedras  no 
fundo.  Entramos  ali  em  principio  de  um  herval  de  Congonhas,  de 
que  nos  provemos  para  toda  a  jornada:  d'este  lugar  para  cimacur- 
vandose  o  rio  em  um  quieto  assento  navegável  e  largo,  isento  de 
cachoeiras,  sobe  a  rumo  de  oeste;  nós  voltamos  do  dito  herval, 
receiando  encontrar  n'elle  alguma  vizinhança  importuna.  Tem  o 
dito  rio  de  largura  no  primeiro  assento  abaixo  da  ilhas  sessenta  e  três 
palmos  e  meio,  e  tem  de  fundo  doze,  sendo  n'este  lugarlodo  lageado; 
o  paredão  de  pedras  do  pontal,  da  parte  do  norte  da  sua  barra,  tem  de 
largura  cento  e  1  palmos  e  duas  pollegadas  e  meia.  Aqui  tive  demora 


247 

ftm  fazer  uma  pingutíiln  de  n^adeirp  ígrússimn,  ^ahrQ  dozo  tesoura;, 
que  lantas  levou,  para  pas^igem  dos  qvisqs,  que  necessitnsf^  fazer, 
le  dos  conduclores  de  luanúmef^tQ?,  quo  me  eram  precisos  conduzir  ein 
parcellas;  por  Qâo  ler  gente  suflicientje  para  trabalho  tào  eíTicaz.  No 
dia  23  ;ís  11  boras  chegou  conduzida  .em  uma  rode,  por  causa  de 
suas  noolesljas,  a  vór  o  difo  rio,  peia  parte,  que  lhe  eu  dei  do  haver 
jdescober^ ,  o  s^bredUo  lepci^te-coronel  João  Alves  Ferreira,  e  nâp 
queren()Q  par^r  n^aquella  parte  un)  só  instaote,  voltou  no  mesmo  tlia 
))ara  g  sei^  acaf^tQiiaioeiUo  da  ilba  4as  Parracas,  onde  coqservou-sé 
jkKlo  o  fempg  que  ^odei  j^*esia  diligeocia. 

yasafii  aosi^l  do  rio  da  Pinguelfa,  abriodo  caminho  e  varando  por 
(A\e  as  d^as  .c^nòa^;,  que  conduzia,  e  t<mdo  marchado  iima  iegua  e 
quarto  £hegan^os  dofron^o  da  barra  4o  rio  Ilalú,  que  cahe  no  Paraná 
pelk  parfe  oriental,  e  precipitando- se  por  cin^a  dos  penedos,  faz  tal 
jestrondo^  q^e  se  ouve  na  distaniúa  de  duas  léguas  abaixo.  Aqui 
^hei  comnyodidade  o  porto,  pe|a  quebra  de  um  ribeirão,  por  onde 
lancei  yioa  canoa  no  Paraná  com  cinco  remos,  par?  ver  praticamente 
.0  effeiio  de  suas  esp^nto^as  (ervnras.  Teve  a  dita  canoa  que  submer- 
gida er^re  os  redemoinhos ,  d  onde  sal^iu  salva  por  mcrcé  de  Doos, 
moslrando-nos  a  experiência  que  para  aquelja  arriscadissíroa  nave- 
gação precisa^vamos  de  canòn  de  maior  porte.  Tiramos  aquella  para 
terra,  ecoutinuamos  a  mtircba  com  o  mesmo  laborioso  trabalho.  Em 
^distancia  de  quatro  léguas  o  meia  decamipl^o  andado,  acbei  um  paú 
suficiente,  de  qjue  Qzemos  em  seis  dias  nn^a  canoa  maior.  Em  dis- 
tancia de  sejs  léguas  de  yara^'âo,  parecendo-me  o  rio  mais  moderado, 
por  uma  quebra  que  achei  entre  os  paredões  de  sua  margem,  que 
d  ali  para  baixo  s9o  n^ais  tratayeis  e  permíttem  andar  por  ella,  puz 
n  agua  as  Xres  caiadas,  on  coqjectur^  d^  n*'^  ^^^  haveria  para  baixo 
mais  obstáculo  que  roo  eml^araçasse  uma  veiosissima  Qavegaçj^o.  No 
dia  iode  Julbo  pelo  meio  dia^  despedindo  os  trai^alhadQres  para  a 
ilha  das  Barracas  a  fazerem  companhia  ao  lenenle-coronel,  q^e  ali 
S8  achava  residindo,  embarquei  nos  três  batelões  cono  oito  soldados 
.6  dez  remeiros,  que  unicamente  cabiamos,  sete  saccos  de  farinha, 
jtres  de  feijão,  douscunhetes  de  cartuxos,  pólvora,  chumbo  etc.  Çon} 

XTIIX  32 


24S 

\:\\  coiiirn-iuiiicitit.  i.aveganvos  ns  ftiriosns  mrrenlttfi  (l\i(jiielle  soberlio 
rio,  que  julgo  mos  concluir  n  cornada  om  quatro  ou  oinro  «Jias,  e  que 
nada  nos  Hcasso  occullo,  nem  por  averiguar  u*aqucllc  «(^rtâo,  quando 
rcpontinamenic  nos  vimos  5ul)mer?os  lodos  cm  uma  confus5o  de  rede- 
moinlios  c  bombas  d*ag!io,  d'ondo  no?  lirou  a  Providencia  Divina, 
ao  depois  de  muitos  trabalhnçi  o  afllícçdcs,  em  que  julgamos  aquelb 
a  hora  ultima,  o  ninguém  livmr-sc  para  dar  noticia  do  succedido. 
Antccipando-nos  aquelle  para  isentar-nos  de  outro  perigo  maior,  cm 
que  inevitavelmente  pereceriamos  todos,  quinemos  tomar  terra,  e  a 
não  conseguimos  senão  d\nl)i  a  nieia  légua  abaixo  para  a  parte 
oriental,  d  onde  observamos  es:ar  já  na  frcrtie  de  um  grande  e  afuni- 
nilado  tombo  d'aguas  tdo  perigoso  como  intransitável.  Emprelien- 
demos  passar  para  a  parte  occidental,  onde  tinbamos  o  nosso  caminho 
e  proscguir  por  terra  como  (Pautes,  do  que  com  muita  brevidade  nos 
arrependemos,  porque  subindo  por  cordas  tiradas  de  cima  dos  penedos 
com  as  canoas  muito  para  cima,  e  largando  para  a  outra  banda  a  toda 
a  forf^a  de  remos,  fomos  de  improviso  arrebatados  pelas  correntes  até 
á  frente  do  precipicio,  onde  tomamos  porto  em  uma  alta  e  formosa 
ilba  sobre  {lencdos,  abastecida  de  alto  e  gra«íso  arvoredo,  sendo  a 
primeira  que  encontrei  abaixo  das  Sete-quódas,  a  que  denominamos 
da  Senbora  do  Pillnr,  e  ali  assentamos  o  nosso  campo  emquanto obser- 
vávamos o  que  tinham«>s  na  vanguarda  ,  e  as  circumstancias  do 
formoso  rio  Ygurey,  que  ali  se  nos  apresentou  com  a  barra  defronte 
d*esla  alterosa  ilha.  Sóde  o  formoso  rio  Ygurey  a  rumo  de  noroeste, 
um  quarto  de  légua  até  o  primeiro  assento;  tem  de  largura  na  sua 
barra  cem  palmos,  pouco  acima  faz  a  primeira  estrondosa  cachoeira, 
por  onde  dá  váo  com  muito  trabalho  com  a  extensão  de  um  quarto  de 
]egua  até  o  dito  primeiro  assento,  em  cujo  termo  dá  navegação  de 
canoas  carregadas,  e  tem  a  largura  de  eincoenta  palmos  e  dezesetede 
fundo:  acima  d'este  obscuro  e  parado  assento  curva-se  para  oeste,  e 
n*esto  rumo  sobe  aguas  atH  onde  não  chegamos  a  averiguar,  corres- 
pondcndo-lhe  pelo  occidente  o  rio  Cu  ruy-guassú,  que  corre  para  o  Pa- 
raguay,  e  faz  barra  seis  ou  sele  léguas  acima  de  Gurugmaty,  como  aqui 
afBxmam  alguns  companheiros  práticos,  que  la  foram  em  outro  tempo. 


2A9 

Da  referida  ilha  expedi  ires  camaradas  para  o  porlo  de  S.  Francisca 
a  fazer  retroceder  os  trabalhadores,  que  cliegarain  no  dia  13  ás  nove 
ou  dez  horas  da  manbâa.  D'aH  observamos  as  novas  dilBculdades, 
em  que  prosegue  o  Paraná  a  precipitar-se  por  entre  serras,  que  :ili 
chegam  ássuasmargen»,  e  abríndo-se-lhc  também  o  campo  Occidental, 
fomos  presentidos  dos  indios  Hespnnhóes,  que  imperceptívehnento 
vieram  no  dia  14  espreitar  o  nosso  campo,  como  nos  mostraram  ns  suas 
trilhas  e  picadas  na  mesma  tardt^,  cm  qiio  fomos  á  terra  firme  dispor 
a  continuação  do  nosso  caminho ,  d  onde  nus  recolhemos  oom  a 
certesa  de  estarem  os  alojamentos  em  |)ouca  distancia  pelos  frequen- 
tados caminhos,  que  cultivam  aquelle  ntatlo.  No  dia  16  logo  pela 
manhSa  por  toda  a  ()ar(o  se  incendia  o  campo  occidental  á  beira  do 
rio,  e  d'ahi  a  poucos  instantes  correspondeu  o  campo  oriental  em  mais 
distancia,  pois  no  dia  13  se  havia  incendiado  e  turbado  todo  o  hori- 
zonte defronte  do  nosso  acampamento. 

Presenlida  a  nossa  partida  no  cain(Hi  inimigo,  a  estrada  do  nosso 
regresso  por  aquella  parto  nus  ficou  cortada ;  o  rio  cada  vez  mais 
obstinado  em  nos  denegar  a  sua  navegaoào,  sen)  o  refrigério  de  po- 
dermos passar  á  margem  oriental  som  o  evidenlissímo  risco  de  arre- 
batarem-nos  as  cachoeiras,  como  já  observamos  á  custa  de  nossa 
experiência,  determinei  relirar-me  á  ilha  das  Barracas,  reforçar  com 
a  gente  mais  capaz  de  mover  as  armas,  que  não  havia  muita,  e  passar 
á  margem  oriental  por  cima  dos  Sete-quódas,  e  desde  logo  picar  o 
matto  até  onde  encontrasse  navegarão  na  distancia  que  fosse,  e 
quando  a  achasso  ou  não  pudesse  fazer  canoas  e  embarcar,  caminhar 
por  terra  aló  o  meu  destino,  em  cumprimento  das  ordens  de  V.  Ex* 
Com  esta  resolução  cheguei  á  ilha  referida  aos  18  do  mez,  incapa* 
cissimos  todos  petas  continuadas  chuvas,  de  que  fomos  vexados  em 
toda  aquella  desabrida  jornada.  Para  l(»go  porém  mandou  o  tenente- 
coronel  João  Alves  Ferreira  desesperadissímamente  apromptar  canoas 
e  gente  para  recolher*se,  sem  admittir  razão  alguma,  deixando-me 
rora  os  espiritos  sopitados  e  atadas  as  mãos  para  proseguir  na  dili- 
gencia, pois  sendo-lhe  precisas  trinta  pes^aas,  quando  menos  para 
varar  canoas,  nos  dous  saltos,  inutilmente  me  ficavam  vinte  para  pe- 


^50 

iíètrarutn  sertão  pelo  menos  de  quarenta  aeincoenii  íegusfs,  (JoTÒáktd 
fle  inumeráveis  índios,  que  hábítarai  nquelle  contifiente^  quando  todil' 
a  pequena  expedição  não  èrá  bastante  para  diligencia  táo' árduaf  e  Ufitf 
arriscada.  Deixámos  d'este  rriodo  descobertas  d't!!Sla  vez,  seis  leguai 
è  meia  da  barra  do  rio  Iguatemy  ao  da  Pinguelld,  e  quatro  e  roeíaí 
doeste  80  rio  Ygufey :  ao  sul  d'este  andamos  duas  léguas  e  vaeiàébáixô 
pelas  margens  do  Paraná,  o  cbegamcfí  ò'ride  fázefído  segiinJo  jiperto; 
faz  oulro  tombo  d'aguas  conio  lias  SeÍe-r|uéda'St  e  da  máinta  s6rtè 
encana  entre  penedos,  e  assim  pròsegue  qdahlo  d'ali  sflcánça  d  víst.'^,' 
sem  qde  em  distancia  de  note  léguas  e  meia,  ^ue  andamos,  S6j.i 
()ossivei  admiltir  nãvegaç^d,  como  obser^^mosá  ctistade  nòsád  piioprU 
experiência. 

Deliberei-me  subir  ate  o  porto  Jè  Araritáguab.'^;  oncíe  cbeganíos 
com  quarenta  e  seis  dias  de  íiavegacão  e  viagem  rèlícissima,  seni  um  sâ 
de  chuva;  è  aqui  com  toda  a  gente  esperarei  a  mefcd  das  ordens  de  V. 
Ex.%  fazendo  h'este  conienos  úma  casd,  em  que  suiRcleiilementé 
pssam  com  comiriodidáde  acautebr-se  dos  rigoreâ  áó  tenri^jo  as  sete 
banôas  de  ridsso  tráhspdrie. 

Saliimos  do  acanlonameiitd  da  ilha  das  ^di-racas  río  dia  20de  Julho,* 
è  em  dòzoitd  dias  síibimds  ò  Paraíiá,  toiriánuo  no  did  7  de  Agosto  si 
kirra  d'esteTíet6,  em  (jué  Ijdvemos  tido  a  deitiora  de  vinte  oito  dias. 

Em  âS  de  Ago^(o  nos  encontrou  o  sargento  Ignacio  Alves  de 
Toledo,  por  c|dem  éú  espéravd,  òontiecendo  d  âeu  avultado  préstimo, 
bom  os  nlanlímcntoé,  com  que  qdií  àoccdrrer-ndá  a  cuidadosa  piedade 
do  V.  £x.%  a  qUém  repelidas  vezeè  rendemos  ds  devidas  graças ;  q$ 
ditos  mdrillméntos  veni  intactoá,  porque  aiíida  dd  ti^azemosòom  sobra 
bastante  á  exòepçâo  de  algum  toucinho,  dé  qiie  nds  servimos,  porque 
do  que  levarhds,  cbrròmpcu-se  d  terça  párie  pioi-  hial  ciirado,  e  o 
Inesnio  abontecériá  á  csíé,  que  ainda  ià  cdm  menos  tempo  de  beneficio. 

Todos  os  nieus  companheiros  se  lênl  portado  n'esta  acção  com  in- 
hbmparaveí  zelo,  ildelídáde,  cdHsiarícia  e  vdior,  [bloque  se  fazeni 
aigndS  da  preciosa  aitertçno  de  V.  Ex.';  hiuito  pHncIpalmente  o 
èargentd  Miguel  Pinto  los  Anjos,  que  desde  agora  o  proponho  ao.^ 
bihdá  de  V;  Ex.%  pdrá  Sondo  servido  lembrar-se  do  scii  dislincio 


251 

tnerecimentò,  possam  assim  aniroarcm-se  de  novo  os  que  bem  sé' 
bmpregam  no  serviço  de  Sua  Magestade  e  no  devido  desempenho  das 
respeitáveis  ordens  de  Y.  £x.* 

Meu  Sr.  Ex."^,  as  utilidades  do  real  serviço  de  Sua  Magestade»  e 
as  disposiçdeà  mais  do  agrado  de  V.  Ex.%  tanto  sabe  prezar  a  minhaf 
submissa  obediência,  qué  anteponho  ú  minha  commodidade  própria» 
e  ainda  á  minha  saudé:  esta  ainda  Deosc  àervidom'a  conservar  em 
seu  inteiro  vigor,  estou  ainda  ha  mesMa  accào,  a  niaior  parte  das 
candas  promplas,  parte  da  despeza  feila,  o  tempo  ainda  favonivel» 
af^im  sendo  do  agrado  de  V.  £x.*  e  de  seu  empenho  ú  penetrar  desde 
dgora  aquelle  sertão,  e  ver  quanto  n'élle  ha  incógnito^  seja  Y.  Ex> 
áérvidò  consigndr-se  um  corpo  da  trdpas  mais  numeroso  e  suíTiciente^ 
bom  cujas  forças  possamos  sem  pdlliar  demoras,  riem  escogitar  cau- 
telas, costear  o  rio  Paraná  até  ú  barrd  do  Iguassú,  ver  por  onde 
perroitte  navegação,  e  por  ella  passar  a  pdrte  occidental,  onde  couber 
no  possível,  de  sorte  que  em  breve  tempo  hada  mais  Gque  ali  que  se 
possa  occultar  aos  olliosi  de  V.  Ex.* 

Nenhum  trabalho  nem  cuidado  me  Gcãrá  na  subsistência  de  minha 
Ifamilia  confiando  flrmemehté,  como  devú^  nas  benignas  e  sinceras 
expressões  de  V.  Ex;%  com  as  qunes  se  dignou  honrar-me,  sendo 
mais  próprias  da  benignidade  de  V.  Ex.*  que  do  meu  merecimento,- 
e  n'este  reconhecimetíto^  pára  abrigo  meil  e  do  todos  os  súbditos,  fui 
rogando  a  Deos  guarde  a  illustrissima  pessoa  de  V.  Ex."  muitos 
annos.  Sítio  de  Curussá  áos  2  deSetembi'o  de  1783.-— De  V.  Ex.% 
III.**  e  Ex.^*  Sr.,  o  mais  submisso,  obrigado  súbdito  e  reverente 
baptiVo.  —  Cuiidldo  Xavier  dé  Almeida  e  Souza. 

Esta  parte  fòí  dirigida  ao  capitão  general  l-Yancisco  da  Cunha  e 
Menezes,  c  acha-sc  na  secretaria  do  governo  ié  S.  Paulo;  livro  dos 
bífidos  para  o  minbtro  —  annos  1782  a  1788. 

S.  Paulo;  L'  de  Junho  de  1852. 

Antofíio  da  Coita  Pinto  Silrd. 


255 

DESCOBERTA 

DOS 

CAMPOS  DE  GUARAPUAVA. 

(Oferecido  ao  Instituto  pelo  Sr.  António  da  Costa  Pinto  Silva. ) 

HL—  e  Ex.**  Sr.— Para  dar  cumprimento  ás  ordens  de  V.  E\# 
entrai  pelo  porto  do  Carrapato  a  18  de  Novembro  e  clteguei  a  estes 
campos  do  tiuarapuava  dia  de  Santa  Barbara,  4  Novembro,  pelas  3 
horas  da  tarde,  com  a  gente  e  trem,  que  consta  do  mappa  incluso, 
passando  todo  o  sert&o,  que  é  malto  grosso  de  trinta  loguas  sem  cousa 
de  maior  cuidado,  nem  achar  novidade  memorável.  Houve  sempre 
bom  tempo,  a  maior  felicidade,  que  Deos  fui  servido  dar-nos,  pois 
si  estivesse  mau  tempo,  seria  impossivel  sahir  fora  todo  u  trem,  por 
causa  dos  cavallos  nâo  aturarem  o  matto,  pelo  pouco  pasto,  que  n'6lles 
ha,  e  sempre  houvo  a  perda  de  quinze  ou  dezeseis  cavallos,  quo 
ficaram  cansados  e  mortos. 

Eu  passei  algumas  noites  bera  mal  acommodado,  dormindo  no 
capote,  e  ceando  uma  pouca  d'dgua  fria,  e  outros  incommodos  por 
causa  de  ficar  airaz  todo  o  trem ;  mas  agora  nada  lembra  pelo  gosto 
de  ver  n'esl6s  alegres  campos,  e  ter  accrescenlado  aos  douiinios  de 
Sua  Magestade,  nu  governo  de  V.  £x.*,  estes  grandiosos  campos  e 
dilatados  sertões,  pois  os  campos  que  já  lenho  descoberto  passam  de 
quarenta  léguas  de  norte  a  sul  e  leste  a  oeste,  pelo  que  tenho  andado 
mais  de  vinte  com  um  grande  rio,  que  passa  pelo  meio  o  por  ter 
algumas  cachoeiras  nào  é  navegável  em  toda  a  parte:  tem  pelos 
campos  muitos  ribeiros  grandes  e  outras  aguadas,  que  ofierecem 
alegres  e  de  boa  apparencia  para  criar,  pois  lodos  dizem  que  produ- 
zirão muita  cria<}âo  pela  bondade  dos  pastos,  que  são  de  muito  dif- 
ferente  e  melhor  qualidade  que  dos  campos  gcraes  de  Coritiba»  u  si 
Deos  perroittir  que  se  povoem,  será  um  delicioso  paíz,  pois  os  ares 
sÁo  muito  alegres  e  as  aguas  excellenles,  a  terra  mostra  Jarú  alguns 


558 

fructos  do  cnmpo  <^m  ser  preciso  plantar  no  matto,  como  íazem  por 
Coriíiba  contras  partes,  e  assim  pedem  formar>se  muitas  fazendas  e 
povos,  d*onde  resulta  para  Sua  Magestade  grandes  utilidades,  pois 
também  ha  grandes  esperanças  de  ouro  para  a  parte  de  oeste,  que,  si 
houver  tempo,  hei  de  examinar  antes  de  sabír  para  fora,  si  Deos  fôr 
servido. 

No  mesmo  dia  que  sahi  a  estes  campos  deixando  a  maior  parte  da 
gente  arrnnchada  no  capão  de  Santa  Barbara,  sahi  com  dous  capitães 
decavallo,  José  dos  Santos  Rosa  e  Francisco  Carneiro  Lobo  a  explorar 
o  campo  e  ver  o  que  n*el]e  havia ;  tendo  marchado  um  quarto  de 
légua  atiramos  um  tiro  e  logo  em  distancia  de  três  quartos  nos  respon- 
deram iH)m  uma  grande  fumaça ;  presumindo  ser  gentio,  achei  o 
lonente-coronel  Cândido  Xavier  com  vinte  e  oito  camaradas  em  um 
forttf,  que  tinha  principiado  com  ranchos  feitos  e  bastante  cautela 
para  defesa  do  gentio :  foi  inexplicável  o  gosto,  que  todos  tivemos  por 
nos  encontrarmos  tão  breve,  quando  era  dos  maiores  cuidados,  que 
eu  tiTiha  em  ver  gastaria  muito  tempo  em  topar  esta  gente,  que  tinbii 
entrado  pelo  porto  do  Nossa  Senhora  da  Victoria,  ou  que  ainda  não 
teriam  sabido  ao  campo  e  que  isto  me  demoraria.  Tanto  que  quando 
o  dito  tenente  me  reconheceu,  arvorou  bandeira,  que  de  uma  parte 
tem  Nossa  Senhora  da  Conceição  e  da  outra  as  reaes  armas,  e  fez 
todas  as  mais  demonstrações  de  alegria,  qlie  foi  possivel,  pois  havia 
quinze  dias  que  ali  se  achava,  sem  mais  provimento  que  alguma  carne 
secca  de  porco  do  matto  e  anta»  com  que  passavam  sem  sal :  ali  mo 
informei  do  estado  d^aquella  expedição  e  achei  toda  desbaratada,  e 
certamente  se  nSo  poderia  continuar  sem  uma  grande  providencia 
pelo  desmaio  em  que  todos  estavam,  principalmente  pelo  desacordo 
do  tenente  Filippe  de  Santiago,  que  achando-se  um  dia  ou  dous  de 
i^iagem  d'estes  campos,  voltou  para  traz,  foi  ao  porto  de  Nossa  Senhora 
da  Victoria,  aonde  recebeu  cartas  minhas,  em  que  lhe  dizia  partia  já 
para  o  Carrapato  a  entrar  para  estes  campos,  e  esperava  encontra-lo 
até  o  dia  de  Nossa  Senhora  da  Conceição,  que  pretendia  se  dissesse  a 
primeira  missa  n'estes  campos,  o  que  nSo  foi  bastante  para  deixar  de 
seguir  o  desaccordo  de  subir  pelo  rio  do  Registo  acima  até  o  porto  de 


1^ 


254 

Nossa  Senhora  da  Conceição  da  Cayacanga  com  o  destino  de  se  en-: 
contrar  comigo  pelo  Carrapato  c  entrar  juntos  para  estes  sertões, 
sendo  necessário  para  isso  dar  uma  volta  do  mais  de  cento  e  cincoenta 
jeguas,  o  que  em  dous  dias  conseguia  continuando  a  marcha  par^ 
iclles  d'onde  se  achava,  passando  de  mez  que  partiu  do  porto  de  N0SS4 
Senhora  da  Victoria  com  trinca  hon^ens  en)  três  canoas  até  agora  não 
tenho  noticia  d*elles. 

Também  tinham  desertado  vinte  e  quatro  homens  pouco  antes  dq 
dito  temente  Santiago  partir  levando  as  armas  e  racõ.es,  que  Mnham, 
de  que  o  mesmo  tenente  não  tipha  dado  parjte,  e  ifepois  de  dar  algumas 
providencias  mo  recolVi  pelas  6  horas  par^  q  cap^o  de  S^ula  Barbara, 
onde  estava  nossa  gen^,  que  já  de  um  ai(o  tinha  visto  a  bandeira  a 
torro,  que  reconheceram  com  um  ocujo,  o  festejaram  com  muita 
salva,  e  também  lhe  tinha  mandado  dor  parte  por  gm  c^valleiro  par.*^ 
lOS  tirar  do  cuidado,  que  lhe  podia  causar  rr^inha  demoi^a.  Ao  outro 
dia  5  de  Dezembro,  contados  Qs  ofliciaes  e  inais  gente,  qtie  me  acom? 
panhavam,  marçl^ei  paraQ  forte  e  com  o  maior  ajvQroço,  nos^coni- 
modamos  nos  ranchos,  que  estavam  feitos,  e  banraca^^ue  levávamos, 
je  todo  o  dia  ^  passou  em  nos  arrumarmo-nos«  e  no  6,  sexui  feira, 
pela  t  hora  montei  a  cavallo  com  dezeseis  cavalleíros,  fMi  ver  o  campo 
ffíiTu  aparte  de  oeste,  e  lendo  andado  tresleguas  não  encontrei  mais  que 
^mpo  e  alguns  capões,  e  tudo  quanto  podia  descobrir,  tudo  era 
X^mpos,  e  porque  desejava  saber  onde  ficava  o  Rio  Grande,  de  que 
havia  noticia,  mandei  o  capitão  Francisco  Carneiro  Lobo  o  ao  tenente 
Francisco  Lopes  Cascaes  continuassem  a^é  encontrar  o  Rio  Grande  e 
descobrir  algum  alojamento  de  indios,  pois  nSo  linha  visto  signal 
d*elles,  mais,  do  que  em  vários  cappes,  vestígios  de  roças  antigas  e 
me  recolhi  para  a  torre,  onde  cheguei  pelas  10  horas  da  noite,  e  já 
todos  estavam  com  cuidados  pela  minha  grande  demora.  Ao  outfo 
dia,  sabbado,  véspera  de  Nossa  Senhora  da  Conceição,  chegou  q 
l^pitão  Carneiro  6  os  mais,  que  foram  ver  o  rio  e  deram  noticia  de 
fer  chegado  a  elle,  sem  encontrar  mais  signal  de  gentio,  e  no  mesmq 
(dia  se  arvorou  uma  grande  cruz  no  forte  por  signal  da  lei  de  Nosso 
penhor  Jesus  Christo  nestes  sertões,  e  i\  nqile  se  íizeran^  gr^qdji^ 


255 

fogos  e  lumioarias:  nodomingo,  dia  de  Nossa  Senhora  da  Conceição, 
oanlou  o  reverendo  padre  frei  José  missa,  e  festejou-se  a  mesma 
Senhora  com  o  maior  culto,  que  foi  possível,  confessando-se  muiia 
genle,  e  quasi  no  fim  da  missa  succedeu  o  que  consta  da  relação 
inclusa:  passoii-se  todo  o  dia  com  muito  contentamento  e  vários  di- 
vertimcntoà pelo  gosto,  em  que  todos  estavam. 

Na  segunda  feira  sahi  com  os  ires  capitães  e  trinta  de  cavallo  até 
o  rio  a  ver  o  porto,  onde  haviamos  do  alojar,  e  dar  ordens  a  fazer 
canoas  para  se  passar  a  outra  parte ;  chegamos  já  quasi  noite  a  um 
sitio  ao  pó  d'etle,  onde  nos  acommodamos  e  peta  muita  chuva,  que 
imuvu  n'essa  noite,  passamos  bem  mal,  e  sem  embargo  de  continuar 
a  chuva,  ao  outro  dia,  10,  pelas  8  horas  da  noite  a  cavallo,  ficando 
o  capitão  Lourenço  Ribeiro  com  a  sua  gente  a  procurar  o  melhor 
porto  do  rio,  e  me  recolhi  ao  porto  de  Nossa  Senhora  do  Carmo, 
onde  eslava  mars  gente  a  dispor  a  marcha,  para  quinta  feira  12, 
pnra  o  rio.  Fui  para  a  parte  de  leste,  que  é  onde  sahe  o  caminho  de 
Nossa  Senhora  da  Vrcloria,  para  os  campes,  ver  se  achava  melhor 
lugar  para  dar  principio  á  fortaleza,  c  por  não  achar  paragem  suíB- 
oiente,  nem  me  agradar  o  sitio,  onde  estava  principiado.  Na  sexta 
feira  com  toda  agente  marchei  para  o  rio,  onde  cheguei  no  sabbado, 
e  já  ali  estava  o  capitão  Lourenço  situado  em  boa  paragem,  onde  o 
rio  dá  vâo  por  uma  cachoeira  estando  muito  abaixo  e  sempre  com 
grande  difliculdade. 

Nào  posso  no  raappa,  que  presentemente  oíTereço  a  V.  Ex.'  doestes 
campos,  assignalar  o  lugar  da  fortaleza,  que  n'elies  pretendo  fazer, 
pois  emquanto  não  alcanço  verdadeiro  conhecimento  d'elles,  não 
disponho  o  estabelecimento,  mas  si  Deos  me  ajudar  por  lodo  o  mcz 
de  Janeiro,  que  entra,  me  hei  de  estabelecer  n'aquella  parte,  qu^ 
achar  mais  cammoda  para  dar  execução  ás  ordens  de  V.  Ex.' 

Deos  guarde  a  V.  £x.*  muitos  annos.  Porto  do  Pinhão  no  Rio 
Jordão,  '22  do  Di-/c»mbro  de  1771. 

AffonsQ  Botelho  de  Sampaio. 


256 

Relação  do  primeiro  encontro  que  o  tenenle-coronel  Affanso 
Botelho  de  Sampaio  teve  com  os  Índios  do  sertão  do  Tybagy 
nos  campos  de  Guarapuava,  Dezembro  de  1771. 

Estando  obarracado  nas  margens  do  rio  Jordão,  que  pas.«a  quasi 
pelo  meio  dos  novos  campos  de  Guarapuava  correndo  d'cnire  norle 
e  nordeste  para  o  sul,  e  resolvendo  passara  margem  occidenlal  para 
descobrir  os  campo*:,  que  se  vinm  para  a  mesma  parle,  o  fiz  no  do- 
minjín,  15  de  Dezcmbio.  ouvindo  missa,  que  disse  o  reverendo  píidre 
rfiiiell-ío  fríi  .losé  de  Santa  Tluiresa  de  Jesus,  acompauhando-me  os 
irts  ríijâiaes  decavallo  da  tropa  auxiliar  de  Coriíiba,  Francisco  Car- 
neiío  Libo,  Lourenço  Riboiro  de  Andrade  e  José  dos  Santos  Rosa, 
o  loiiento  Domingos  Lopes  Cascaes,  os  duus  sargentos  da  praça  de 
Santo?»  Matinel  Gomes  Marsagao  e  José  Joaquim  César  e  varias 
pessoas  mais,  quo  por  tudo  faziam  o  numero  de  vinte e  seis  cavalleíros» 
sem  provimento  algum,  pois  faziam  tençSo  de  voltar  no  mesmo  dia, 
e  passando  o  rio  na  cachoeira,  que  faz  no  mesmo  porto,  que  permittia 
váo  com  alguma  diiiiculdade  peia  corrente,  que  faz  o  despenhado  das 
?guas,  e  muito  roais  pelos  caldeirões  o  canaes,  que  tem  petas  lages, 
em  que  tropeçando  os  cavnllos,  fica  evidente  o  perigo,  coraosuccedeu 
n*esta  occasiào,  cahindo  os  cavallos  de  quatro  camaradas,  um  se 
avizinhou  á  morte  por  se  nâo  p^oder  desembaraçar  dos  estribos,  e  sendo 
levado  com  o  cavallo  pelo  impulso  das  aguas  a  lugar  fundo,  onde  foi 
visto  dar  três  voltas  o  cavallo  por  cima  d*elle  e,  por  milagre  do  Deos, 
escapou,  e  assim  mesmo  continuou  a  viagem :  d'este  perigo  me  não 
livrei,  pois(*>ahindo  o  cavallo,  mo  lancei  fora  com  brevidade  da  sella, 
fiquei  em  no  rio,  dando-me  a  agua  por  baixo  dos  braços  e  pelo  soe- 
corro,  que  tive  da  gente  de  pé,  que  me  avizinhava  para  cautelar  o 
peri;:o,  passei  o  mais  arriscado  a  pé,  até  ganhar  uma  lage  mais  alta, 
que  esiâ  quasi  no  meio  do  rio,  en*este  passo  tendo  mais  de  cincoenta 
braças  do  largo  pouco  mais  ou  menos,  grande  farte  é  perigoso,  por 
cujo  motivo  para  o  não  repetir,  retrocedendo  á  barraca  para  mudar 
roupa,  fiz  no  meio  do  rio,  na  mesma  lage,  mandando  vir  da  barraca 
a  roupa,  passando  a  gente  de  pé,  que  os  cavallos  todos  corriam  o 


257 

mesmo  risco,  e  proseguindo  passei  o  rio  sem  mais  novidade.  Conli- 
nueí  a  viagem  ao  rumo  de  oeste  com  pouca  diíTerenca,  c  chegamos 
a  um  capão,  que  serão  cinco  léguas  de  distancia  ao  posto,  ao  pé  do 
qual  se  achou  uma  trilha  de  gente,  e  d'ahi  a  pouco  um  caminho,  quo 
terá  um  palmo  de  largo,  bem  seguido  e  logo  assentei  continuar  por 
elle  para  a  parte  do  sul  para  encontrar  o  gentio,  de  quem  indispen- 
savelmente  havia  de  ser,  e  porque  os  cães  sentiram  porcos  no  tal 
capão,  correram  para  elle  latindo  e  alguns  camaradas  juntamente. 
Entendendo  eu  ser  gentio,  bradei  parassom  para  o  nào  maltrarem, 
porém  segurando  eram  porcos  montezes,  nos  demoramos  algum  tempo, 
em  que  os  camaradas,  seguindo  aos  càes  pelo  malto,  mataram  quatro, 
com  que  ficamos  babeis  a  seguir  o  caminho,  porque  para  isso  só 
tínhamos  algumas  perdizos,  que  eu  tinha  morto,  e  assim  seguimos  o 
dito  caminho  até  chegar  ao  córrego  do  campo  do  Craveiro.  Distante 
uma  légua  d'ahi  achamos  um  rancho  grande  e  vários  signaes  dd 
haverem  pousado  os  indios,  haveria  oito  dias,  e  por  ser  p  tarde, 
determinei  pousássemos,  como  fizemos  arredado  do  passo  cem  braças, 
para  aproveitar  um  verde  bom  para  os  cavailos  e  termo-los  á  vista,  o 
porque  o  tenento  Cascaes  e  três  camaradas  se  tinham  adiantado  p:ira 
explorar,  e  já  era  noite,  repeliram-se  as  salvas  no  pouso  pin  stt 
recolherem  a  elle,  o  que  fizerauí  pelas  8  horas  da  noite,  o  ceamos 
muito  bem  porco  do  matto  assado  e  perdiz,  e  dormimos  com  mui  tu 
socego  estendidos  pelo  campo  com  cautela  de  senlinollas,  para  w\o 
parecer  imprudência.  Toda  a  noite  nos  cercarant  grandíssimas  tro- 
voadas, que,  por  milagre  de  Deos,  corriam  para  diíTerenles  pnrlos,  c 
passamos  sem  incommodu  algum.  Na  segunda  feira,  logo  de  manhãa, 
juntos  os  cavailos,  sem  mais  demora  partimos,  porque  umj  grando 
trovoada,  que  ameaçava  horrorosa  chuva  nos  nào  apanhasse  a  pé, 
tendo  escapado  de  tantas  em  toda  a  noite  passada.  Proseguimos 
viagem  acompanhados  bastantemente  d'ella,  seguindo  o  mesmo  ca- 
minho  do  gentio,  e  depois  de  encontrarmos  alguns  passos  imperti- 
nentes para  os  cavailos,  tendo  marchado  mais  de  Icgua,  avistan)o^ 
em  um  alto  um  grande  rancho  do  gentio,  onde  chegando,  o  achamos 
deserto  de  poucos  dias;  e  n'elles  foram  vistas  varias  alcofas  ou  ee- 


258 

linhos,  em  que  o  genlio  icm  guardados  os  seus  pobres  trastes»  e  enlrt 
estes  foi  achado  a  semi-trunfa  composta  de  pennas  não  mal  tecidos,  t 
uma  tlta  bronca,  ú  maneira  po  liga,  trançada,  dous  novellos  de  fio 
muito  bem  fiado,  panellas,  porungose  um  grande  de  metal,  caracachas 
e  outras  cousas,  com  que  costumam  fazer  os  seus  festejos.  Nas  fontes 
vizinhas  lagos  de  piniiõcs  e  outros  viveres,  de  que  se  costumam  sus- 
tentar, e  porque  se  lhes  tiraram  alguns  d'esles  trastes  para  mostrar-lhes« 
recompensei  deixando  uma  carapuça  vermelha,  duas  facas,  mis- 
sangas, medalhas,  anneis,  maravalhas,  frocos,  o  outras  cousas  sirai- 
Ihantes,  e  proseguindo  mais  a  distancia  de  duzentas  braças,  estava 
em  um  capão,  uma  roça  de  perto  de  alqueire  de  planta  de  milho, 
que  já  pendoava.  Continuando  o  caniinho,  por  elle  achamos  vários 
alojamentos  e  um  bastantcmente  grande,  queimado  do  fogo  do  campo: 
na  distancia  do  trcs  léguas  boas  achamos  outros  ires  ranchos  grandos, 
^ue  bem  acommodam  cento  e  cincoenta  pessoas,  e  um  pequeno,  onde 
por  vir  o  cavallo  de  um  camarada  cansado,  d^^i^Tminei  pousássemos, 
seria  uma  até  duas  horas  da  tarde ;  epara  melhor  cautela  mandei  ao 
capiíao  Francisco  Carneiro  Lobo  junto  com  o  tenente  Dom'ingos 
Lopes  Cascàes  com  mais  dous  camaradas  a  exfilornr  o  campo.  Se- 
guiram o  caminho  para  diante,  que  parecia  mais  trilhado,  por  haver 
já  vários  f|uo  sabiam  do  mesmo  rancho,  e  dos  camaradas,  que  ficaram, 
oito  foram  para  a  caça  para  o  malto,  e  eu  com  Paulo  de  Chaves, 
um  sargento  e  um  soldado  ás  perdizes. 

Nos  ranchos  ficaram  o  cap"lào  Lourenro  Ribeiro  e  o  capitão  José 
dos  Santos  com  os  cansados  para  o  (jue  se  barreou  um  dos  ranchos, 
onde  foi  achado  um  ciriode  tnilho  brajiro,  roxo  eamarello,  lodo  póro- 
Tiica,  quo  leria  um  bom  alqueire,  do  qual  se  remediou  a  necessidade 
do  cavallo  cansado,  o  a  nossa  com  piruns,  que  é  milho  torrado  feito 
cm  uma  panei  la  dos  gentios  que  se  acharam  duas  de  que  lodos  co- 
meram e gostaram  muito  bem,  e  eu  os  acompanhei  com  o  mesmo  go^lo, 
Lebendo  emcima  uma  pouca  d*agua.  que  foi  a  sobremesa.  Fui  ás 
perdizes  e  matando  quatro  á  vista  do  rancho,  me  recolhi,  quando  já 
apparecia  o  capilSo  Carneiro  ejps  ditos  exploradores,  dando  muita 
salva  e  repetindo-as,  tivemos  bom  annuncio,  vindo  o  tenente  sem 


S59 

Yéstin  e  sem  barreio,  e  um  camarada  Joào  Lopes,  nú,  só  com  as 
ceroulas  e  os  mais  sem  alguns  trastes,  que  levavam,  o  que  nos  fuz 
inferir  tinham  dado  tudi  ao  gentio,  pelo  alvoroço  com  que  vinham. 
E  logo  contaram  que  lendo  marchado  pouco  mais  de  um*»  légua, 
encontraram  um  rancho  queimado,  e  logo  mais  adiante  em  um  lago, 
irando  pinhOes  uni  indiocom  cinco  filhos,  que  por  verem-os  arrebata- 
damente fugiram,  o  elles  á  rédea  solta  os  alcançaram,  fazendo  logo 
ao  longo  sígnal  do  paz,  batendo  palmas,  com  o  que  parou  o  indio 
sobresaltado  em  extremo  susto,  do  que  logo  tiraram  dando  o  tenente 
lima  carapuça  de  pir3o  encarnada,  que  duvidou  o  indio  pe^ar  n'ella, 
mas  botando-lhe  decima  du  cavallo,  a  apanhou  antes  que  chcgusso 
ao  chão,  ficou  alegre,  c  muito  majfs,  quando  o  mesmo  tenente  despiu 
uma  ximarra  de  baôla  côr  de  rosa,  que  levava  vestida,  e  pegamlo 
n'ella  a  abraçou  muito  mais  alegre  e  contente :  logo  se  apeou  o  mesmo 
tenente  o  lh*a  vestia,  com  o  que  ficou  muito  mais  satisfeito.  Joào 
Lopes,  que  linha  dado  alcance  aos  filhos  lhe  vestiu  as  suas  mombachas, 
dando  a  vestia  de  guingão  a  um  filho,  a  camisa  de  bretanha  a  outro; 
o  capitão  Carneiro  deu  um  lenço  branco  com  listas  vermelhas  a  uma 
filha  do  mesmo,  outro  camarada  Diogo  Bueno  deu  outro  lenço  e  abra- 
çaram muilo  aos  pequenos,  moslrando-lhcs  muilo  agrado,  de  que  o 
pai  ficou  muito  satisfeito,  dando  abraços  a  todos,  e  praticando  pur 
acenos,  por  se  não  lhes  entender  a  língua,  disseniMi-lhes  onde  esUi- 
vamos  arranchados,  e  promelleram  de  virão  oulroiJia.  Por  fim  deu 
mais  Jo3o  Lopes  ao  pai  um  facão,  que  mostrando  gusto  nas  mais 
dadivas,  com  isto  fez  extremos  dealtígria,  pondo-so  a  corlar  o  capitn 
do  campo  com  elle,  o  que  vendo  os  nossos  fonun  ao  luniio  buscar  um 
páu,  e  o  cortaram  em  muitas  pnrtes  diante  d'clli\  (|uo  mostrou  maior 
conlcnlamcnlo,  odes[>edindo-so  por  acenos,  cerlilicou  de  vir  ao  oulro 
dia  com  mais  companheiros.  Os  nossos  camaradas,  que  indo  á  cara 
ao  mallo,  ouvindo  as  salvas,  e  entendendo  estarmos  atacados  do  geniii» 
acudiram  a  toda  a.pressa,  e  certificados  d*aquelle encontro  suavisaram 
a  perda  da  caça  cm  gostos.  Passamos  a  noite  com  as  cautelas  neces- 
sárias, sendo  tão  grande  a  chuva  e  trovoadas,  principalmente  de|)0is 
de  rezar,  que  chovia  nos  ranchos,  como  si  fosse  no  campo.  Torra 


260 

(eira,  17,  se  cuidou  em  reunir  os  cavailos,  e  porque  o  paslo  era 
roássegoso,  se  espalharam  du  tal  sorte,  que  ale  o  meio  dia»  ainda  nSo 
tinham  apparecido  todos,  pelo  que  teve  o  gentio  tempo  até  ás  9  horas 
de  achar-nos  no  seu  arranchamento,  vindo  primeiro  oito  guiados  pelo 
que  no  dia  antecedente  tinha  sido  vestido  pelos  exploradores.  Foi 
João  Lopes  o  o  tenente  recebé-Ios  uni  pouco  desviado  do  rancho, 
abarracando  os  e  fazendo-lhes  muitas  cortezias,  o  que  os  livrou  da 
algum  receio,  com  que  vinham,  c  chegando  a  nós  muito  alegres  os 
tratamos  com  grande  carinho,  e  si  o  vé-los  mansos  causou  prazer» 
compaixão  grande  foi  vô-los  nus,  sem  roupa  ou  compostura  alguma: 
traziam  a  modo  de  camisa  sem  mangas,  e  estas  mesmas  sendo  muilo 
curtas  arregaçadas  de  sorte,  que  se  lhes  via  todo  o  corpo  da  cintura 
para  baixo.  Dous  d'estes  traziam  um  bastão  na  mão,  dos  quaes  vai 
amostra ;  inferimos  ser  insígnias  de  oiTioiaes  entre  elles,  e  os  mais  com 
arcos  e  flechas,  de  que  lambem  vão  amostras,  sendo  todos  moços, 
bem  feitos  e  claros,  tendu  os  m.iis  velhos  cíncoenta  annos :  os  cabellos 
compridos  de  um  palmo  potic»  mais  ou  menos,  cortados  por  diante 
muito  redondo,  c  dous  com  comas  bem  redondas  nos  lugares  em  que 
as  tom  os  nossos  padres:  as  sobrancelhas  em  geral  raspadas,  as  barbas 
a  uns  mais  crescidas,  a  outros  monos,  e  porgunlado-se-lhes  por 
acenos,  porque  as  não  trazíamos  nós,  responderam  pelos  mesmos  que 
por  não  terem  com  que:  a  falia  tào  barbara,  que  é  inteiramente 
distincta  da  geral  indiana.  Foram  logo  vestidos,  despindo-seos  nossos 
das  próprias  camisas  do  corpo,  pois  o  irem  todo  nos  ficou  no  porto, 
que  diz  ter  mais  de  dez  léguas :  li  rei  a  veslia,  que  levava  vestida,  que 
era  còrde  canna  com  boi ões^ brancos,  íicando  com  um  sobretudo,  e 
a  vesli  a  um  que  já  liidia  camisa,  que  lodo  si  mirou.  Puz-lbes  ao 
pescoço  algumas  medalhas,  maravalhas  e  vidrillios,  que  por  caulela 
tinham  ido,  e  os  mais  camaradas  deram  a  maior  parle  dos  seus  trastes, 
ficando  quasi  nús,  e  lambem  muitas  facas  e  facões,  o  que  elles  mais 
que  tudo  estimaram,  e  um  machado,  que  ia  para  fazer  algum  ca 
minho,  que  fosso  necessário,  mostrando  por  acenos  o  estimarem  para 
tirar  mel.  £  assim  como  se  viram  vestidos  disseram  que  iam  chamar 
outros  que  tinham  ficado  no  caminlm.  e  foram  dous  a  este  effeito 


261 

correndo,  e  os  mais  ficaram  iratando-nos  com  muita  familiaridada, 
como  so  fossemos  muito  conhecidos.  Pegando  em  cascas  de  pinhões , 
se  ofíereciam  a  ir  busca-los,  caso  os  quizessemos,  c  dízendo-lhes 
que  sim  para  os  contentar ,  pegaram  em  dous  jacazes  que  alli  estavam, 
e  travando  da  mão  de  um  camarada  [José  Pinto]  o  levaram  até  á 
borda  do  matto ,  que  distnrin  do  alojamento  onde  eslavamos  dous 
tiros  de  espingarda,  e  ahi  lho  deram  a  entender  que  voltasse  para 
traz,  porque  era  longe  ondo  estavam  os  pinhões,  o  que  clle  fez  logo. 
Chegaram  os  dous,  que  tinham  ido  a  conduzir  os  mais  que  atrás 
tinham  Ocado,  os  quacs  eram  oito,  recebemo-los  e  vestimo-los  como 
aos  mais.  Entre  dlcs  vinha  um  ,  que  se  chamava  Pai ,  e  que  mos- 
irava  mais  madureza;  todos  os  mais  me  tratavam  já  por  Pai :  deram 
mostras  de  conGança ,  armando  praticas  imperceptíveis ,  com  que 
queriam  mostrar  o  seu  agrado  por  acenos.  Lhes  pedimos  que  d  is- 
pnrnssem  as  frechas,  o  que  proraptamente  fizeram,  pedindo  qu^ 
disparássemos  também  as  nossas  armas ,  a  qiic  se  lhe  fez  o  gosto;  o 
Loi;indo-fie-lhe  um  bocado  de  coiro  ao  ar,  lhe  pedimos  que  atirassem, 
o  que  fizeram;  pnrcm  foi  errado;  e  mandando-lhe  deitar  ao  ar,  lho 
atiroi  com  tal  felicidade  de  empregar  toda  a  carga i)o  dito  coiro,  em 
qiie  logii  i)ognr.ifn,  admirando-se  todos  de  o  ver  passado  de  uma  para  a 
otiira  pnrtc.  Tiravam-nos  as  catanas  das  bainhas,  pedindo  muito 
lh\is  liosseinos,  e  se  lhe  deram  outras  cousas  para  os  divertirem : 
pediam  muito  os  botões  das  vestias  por  serem  de  casquinha  reluzentes, 
e  ao  rnpitâo  José  dos  Santos  tiraram  alguns  pela  sua  mão,  cortando-os 
com  um  facão  sem  offenderem  o  panno,  nem  a  corda  do  pé  do  botão. 
Chegaram  os  dous  que  tinham  ido  ao  pinhão,  despidos  da  roupa 
que  lhes  linhamos  dado  para  não  sujarem,  o  trazendo  bastantes 
pinhões  o  lançaram  no  meio  do  terreiro  e  lhe  fizeram  fogo  em  cima, 
entrando  logo  a  pegar  nelles  e  ensinando  como  se  comião:  pôz-se- 
lhe  no  terreiro  um  quarto  de  porco  do  matto  e  lhe  dissemos  que 
comessem,  o  que  não  aceitaram,  convidando-nos  muito  a  que  fos- 
semos a  seus  arranchamenios,  e  pegando-me  na  m3o  para  me  levar, 
andei  um  pouco  e  lhes  disse  fos<em  adiante  que  eu  me  punha  a 
cavallo  c  lá  iria  ter,  o  qnc  clles  perceberam  muito  bem,  e  dei- 


262 

xando-nos  alguns  arcos  e  frechas  se  f&ram  embora  ,  mostrand«-B«s 
esperavSo  no  seu  alojamento:  osdotis  que  tinham  ido  ao  pinhão  nos 
disseram  que  para  onde  elles  foram  busca-los  estavam  cavallos ,  e 
mandando  lá  achámos  cinco  que  nos  faltavam  e  que  se  andaram  a 
procurar  toda  a  manhãa,  o  que  tudo  se  percebeu  por  acenos,  e  nisto 
reconhecemos  sua  lisura.  Depois  de  appareccrem  os  cavallos ,  sendo 
perto  de  uma  hora,  montámos.  Fiz  retroceder  um  camarada  doente 
e  três  que  o  acompanhassem  para  o  Porto,  6  marchando  com  os  mais, 
desejoso  de  fazer  mais  experiência  nos  ânimos  dos  mesmos  gentios , 
e  para  cumprir  a  promessa  que  lhes  fíz  de  lá  ir,  segui  o  caminho 
que  haviao  tomado ,  encontrando  vários  lagos  de  pinhão ,  provi- 
dencia de  que  usáo  para  o  annual  sustento,  e  uma  rancharia  quei- 
mada ,  e  tendo  caminhado  mais  de  légua  e  meia ,  bem  molhados  da 
trovoada,  se  avistou  de  um  alto  a  sua  rancharia ,  e  a  poucos  passos 
nos  sentiram,  sahindo  alguns  ao  terreiro ,  como  inquietos,  vimo-los 
vestir  a  roupa ,  que  lhes  haviamos  dado ,  vestindo  um  a  camisa  com 
o  detrás  para  diante. 

Seguindo  nós  a  marcha  sem  alteração,  e  chegando  já  cm  dis- 
tancia de  cincoenta  braças,  vieram  ao  nosso  encontro  três  Bugres, 
um  com  bordão,  e  outros,  como  acima  se  declarara ,  sem  armas, 
e  nos  fnziam  signaes  com  a  m5o  de  que  chegássemos,  e  com  vozcj 
imperce[)iiveis,  caminhando  accelerados  na  nossa  frente,  receiosos 
dos  cavallos,  até  ás  porias  do  seu  alojamento,  e  porque  os  càes 
que  nos  acompanhavam  se  embraveceram  contra  elles,  e  os  nossos 
tiveram  a  cautela  de  promplamente  castiga-los,  reconheceram  o 
auxilio  e  se  puzeram  em  socego,  conservando-se  a  jnaior  parte  delles 
armados,  e  apeados  que  fomos,  nos  fizerão  com  vozes  e  acenos  o 
abrigo  de  seus  pobres  ranchos  para  que  nos  livrássemos  da  chuva 
que  cahia ,  e  para  mais  os  agradar  entrei  em  um  rancho  quasi  do 
galinhas  pela  pequenhez  da  porta  ,  e  logo  dous  delles  comigo,  le- 
vando-me  direito  ao  fogo  que  eslava  no  fun  do  rancho.  Assenloram-so 
logo  e  me  oíToreceram  assento,  o  que  fiz  em  um  pedaço  de  pão 
que  alli  eslava,  e  me  oíTereceram  do  pinhão  que  eslava  ao  fogo, 
e  tirando  um  com  a  mão,  descascaram  e  comeram,  dizendo-me 


263 

fizesse  o  mosmo  ;  oulro ,  [»cij;aii(Jo  tMii  um  atannz  do  taquara  ,  4no?- 
Irando-me  o  uso  quo  dovia  fazer  delia  para  lirar  o  pinlião  do  fogo, 
descasca-lo  e  comó-lo,  m*a  offeroceu.  Aceitei,  c,  tirando  o  piídiSo, 
a  passei  ao  tenente  Cascacs,  que  comeu,  e  outros  também  o  fizeram, 
dizendo  que  estes  eram  melhore^  quo  os  trazidos  do  cairão,  com  o 
que  ficaram  muito  satisfeitos. 

Sahi  para  fora  do  rancho,  estíivam  lodos  os  camaradas  para  diíTe- 
rentes  bandas,  mostrando  reciprocos  sij;na(;s  de  alToclo  e  olTorlando- 
Ibes  algumas  pequenas  dadivas. 

OITereci-lbos  vie>sein  ao  Forlo,  nntie  havia  muilo  que  lhos  dar, 
o  que  prometleram ,  dando  mostras  de  trazerem  suas  mulheres  e 
fillios,  para  que  já  as  haviam  mandado  vir  da  aldèa  principal ,  des- 
culjKindo  cora  isto  8  cautela  que  tinham  tido  pondo-as  fora  do  aloja- 
mento, conserva ndíí-so  sómenie  nelle  os  íjuo  [lodiSo  trazer  armas, 
e  boni  mostravam  o  receio  quo  tinham  houvesse  em  nós  traição; 
mas  como  não  viram  mostras,  nos  (Mediram  muito  ficássemos  lá,  pois 
tinham  mandado  caçar  e  melar  para  o  P.ú,  que  assim  me  tratavam  : 
[)egavam  nas  mâo<%  dos  camaradas  para  quo  fossem  com  elles  comer 
onde  estavam  as  mulheres  e  os  filhos  e  mostravam  muito  breve 
viriam.  Faltavam  alguns  dos  que  pela  maidiSa  tinham  ido  ao  nosso 
ponto  e  outros  que  lá  não  tinham  ido,  o  dos  trastes  que  se  lhes  deu 
poucos  tinham,  o  que  entendemos  terem  dado  ás  familias;  e  vendo- 
iios  com  resolução  de  montar  a  cavallo,  tornaram  a  rogar  que  llcas- 
somos,  pois  havia  do  chover  muito,  o  que  assim  foi. 

Estando  nós  montados  trouxeram-nos  um  grande  tição  de  fogo, 
que  levássemos :  entendemos  ser  grande  fineza  pelo  muito  que  lhes 
custa  tirar,  e  quando  estávamos  a  partir  veio  um  oíTerecer  um  bastão 
dos  referidos,  um  arco  e  uma  frecha  :  aceitei  e  dei  um  lençx)  vermelho 
e  as  ligas  das  pernas,  que  é  o  que  lhe  podia  alli  dar,  com  o  quo 
ficou  muito  satisfeito. 

Todos  os  índios  oííereceram  aos  camaradas  sua  frecha ,  e  vendo 
o  gosto  com  que  as  aceitávamos,  prometteram  fazer  muitas  o  trazê- 
ias :  pozemo-las  diante  de  nós  direitas  ao  ar  com  as  pennas  para  cima 
e  marchámos,  do  que  elles  fizeram  grande  galhofa  :  tímfim  volliinL» 

IVIII  3^ 


264 

com  re5()lu(H;o  de  virmos  ao  Porto,  e  passando  pelo  pouso ,  ílVndc 
liiilKiiiiossnhido,  lovnntámos  uma  grande  cruz  para  memoria  de  que 
alli  linhamos  cliop;ndo,  c  o  primeiro  lugar  onde  Dcos  principiou 
a  abrir  as  porias  de  sua  divina  misericórdia  a  cslo  geniilismo,  que 
nunca  presumia  acha-lo  lào  humano  o  iralavel  como  experimentei. 

O  Mesmo  Senhor  permilla-lhes  a  luz  para  acertarem  com  o 
caminho  dn  sua  divina  lei  c  es  traga  ao  grémio  da  igreja ,  e  a  mim 
forças  para  continuar  n'esla  grande  obra. 

Ficou-sc  chamando  c-ic  pouso  o  de  Santa  Ouz,  c  continuando  » 
viagem  debaixo  de  grandes  trovoadas  o  infinilas  clnivas  nas  veio  a 
an(  ilecf  no  meio  do  campo,  o  porque  os  camaradas  se  pozoram  em 
opiniões  íobro  o  rumo  dos  campo^  se  foram  apartando  pelo  escuro 
da  noite ,  de  forma  que  me  .'ichei  só  com  o  capiíão  Lourenço  Ribeiro, 
capitão  José  dos  Santos  !<osa  e  di?z  camarada'?  quasi  perdidos,  sem 
saber  para  onde  marcharíamos.  Nos  abrigámos  a  um  capãozinho  d 
ahi  passámos  a  noite  sobre  a  terra  branda ,  por  molhada  da  chuva, 
supprindo  a  falta  da  côa  o  (Misopado  da  roupa.  Cuidou-so  muito  em 
fazer  uma  boa  fogueira»  procurando-se  a  lenha  molhada  com  uma 
hiz. 

A  este  tempo  ouvimos  sulvas  e  conhecemos  ser  o  capitão  Gameiro 
com  alguns  camaradas;  res[>ondemo-lhes,  c  conhecendo  ell o  estar- 
mos já  pousados,  o  fizeram  também  em  um  pequeno  capão,  e  os 
mais  camaradas,  que  se  achavam  divididos,  fizeram  o  mesmo  :  e 
porque  peio  direito  estaríamos  distante  do  Porto  até  légua  emeia,  a 
Irop.i ,  que  n'elle  velava  cuidadosa,  ouvindo  os  tiros,  nos  julgaram 
em  algum  perigo ;  e  porque  o  Jordiío  não  dava  váo  pelas  cheias  das 
trovoadas,  cuidaram  logo  em  botar  uma  canoa  que  tinham  princi- 
piado no  rio.  e  passaram  para  outra  banda,  fazendo  varias  dili- 
gencias para  nos  encontrar,  dando  salvas,  até  que  com  a  manhsa 
montámos,  e  nos  fomos  juntando  de  forma,  que  ao  mesmo  tempo 
chegámos  lodos  ao  mesmo  Porto ,  onde  com  a  noticia  do  passado 
fomos  recebidos  com  reciprocas  salvas,  sendo  inexplicável  em  todos 
a  alegria,  vendo  quanto  Deos  favoreceu  esta  empreza  para  reducçSo 
deste  inimcn*!©  povo  pagão. 


2(3:) 

Ncslo  dia  18  cliegámos,  como  j.i  disse,  a  v^io  IMilo,  onde  « 
alegria  dos  que  ficaram  de  nos  ver  vollar  illesos  e  a  emularão  e  pezar 
do  nos  haver  deixado,  á  visUi  das  nolicijs  do  occorrido,  deu  bas- 
tante matéria  para  que,  divertidos  com  as  maiores  demonstrações 
de  alegria,  passássemos  estes  dias  alé  lioje,  domingo,  22  do  cor- 
rente; na  esperança  de  vermos  n'esio  porto  o  gentio ;  o  que  so  deu, 
appa recendo  hoje  ús  sete  horas  e  meia  da  manhâa  defronie  do  porto 
em  um  alto  alguns,  e  porque  logo  se  percebeu  que  outros  cautelosa- 
mente se  encobriram  por  detrás  da  lomba  ,  ordenei  á  nossa  gente , 
que  curiosamenle  se  alvoraçava  a  vò-Ios,  se  nâo  movessem  das  bar- 
racas e  ranchos  onde  estavam  e  nâo  pcgnssem  cm  armas  fora  do  ran- 
cho ,  para  que  o  nosso  socego  lhes  diminuisse  o  receio.  Passou  logo  á 
outra  band<i  em  uma  canoa  a  recebe-los  o  capitulo  Carneiro,  João 
Lopes,  e  outros  mais :  com  carinhos,  abraços  e  oíTerias  os  resolveram ' 
logo  a  passar  o  rio,  grilando  primeiro  prendessem  os  cachorros, 
advertência  dos  mesmos  índios. 

OíTertando-so  a  canoa  para  a  passagem ,  eiles  foracenO)  disseram 
ae  capitão  Carneiro  que  passasse  elle  ()ue  e.^^tav.i  de  b  tis  ,  que  elles 
iriâo  pela  cachoeira,  a[X)nlando  [Kira  baixo  onde  ella  existe  e  dá  \.'ui, 
acompnhando-os  um  moço,  Francisco  Martins,  o  qual  posto  .'idiaiu<\ 
ao  passar  do  váo,  só  o  permjttiram  em  quanto  baixo,  porém  chegadci» 
que  foram  ao  fundo  e  mais  perigoso ,  pozernm-no  para  trás,  tomando 
dous  a  dianteira  a  sondar  a  passagem ,  e  tanto  que  estiveram  doslo 
lado,  entraram  a  procurar  por  Pai,  que  assim  mo  tratavam,  receioics 
de  chegar  aos  mais ,  até  que  sahi  a  recebé-loF. 

Fizeram-me  muita  festa  e  muito  alegres  chegaram  á  minlia  bar- 
raca ,  onde  mandei  dar  dous  cavados  do  baeta  a  cada  um  ,  ou  á 
maior  parte  d*elles,  tangas  pintadas,  facas,  contas  e  outras  inOnitas 
«•ousas  que  estavam  preparadas,  e  a  confusão  con>  que  chegavam  uns 
e  se  retiravam  para  chegarem  outros,  não  deti  lugar  a  que  <i5 
pudesse  fazer  o  verdadeiro  computo  de  lodo  que  levaram.  Dos  pri- 
meiros que  chegaram  á  barraca  foi  uma  moça,  que  teria  1G  amio" 
pouco  mais  ou  menos,  bem  feita  ,  esc  andasse  tratada  se  não  cunhe 
ccr-ia  por  índia.  Trazia  sua  tanga  op-jrlnJa  pela  cinta,  (iuoda\.!  ic; 


cima  (los  jcelhos  sem  mais  romposlura  algum.r  proparon-se  com 
lima  tanga  ilti  sufuliili  e  hai^Mn  \ermelha.  ao  p<si'Oço  varias  mis- 
sangas, pentes  na  lesta,  cliapéo  na  cabeça,  iJe  «jue  ficou  muito 
alegre,  c  foi  dizer  aos  sens,  tanto  (jue  saliio  fia  barraca,  qiio  eslava 
muito  bonita,  o  (jue  se  llie  percebeu  {^►r  ser  quasi  na  língua  da  terra; 
todas  as  suas  acções  eram  obradas  com  honestidade. 

Vieram  mais  duas  mulheres,  que  passavam  do  quarenta  annos, 
que  foram  vestidas  da  mesma  forma ;  vários  rapazes  de  oito  annos 
para  cima.  todos  bem  feitos,  o  um  que  teria  dez  annos  veslio  António 
da  Silva  Freire ,  dando-lhc  camisíi  de  linho  e  calçHo  branco,  véslia 
o  cliapéo,  que  não  parecia  índio  creado  nestes  sertões,  mas  sim 
rapaz  nascido  em  uma  terra  muito  civilisada.  Veio  lambem  um  índio 
pequenino  que  teria  dous  annos  e  meio  até  Ires,  o  Pai  Irazia-o  ás 
costas,  era  bem  feito  o  bonilo,  e  tanto  que  se  vio  entre  nós  chorou 
com  bastante  exct^sso,  mas,  dando-lhe  uma  baeta  vermelha  e  vários 
brincos,  logo  se  accommodou. 

Finalmente  porquo  um  tomou  um  machado  em  um  rancho, 
sahindo  com  ello  a  dansar  e  a  fazer  extremos  de  alegria,  dando  a 
entender  que  era  pra  tirar  mel,  fez  com  que  muitos d^elles,  pcr- 
ditlo  o  maior  receio,  se  derramassem  pelos  ranchos  o  entre  os  nossos, 
confundidos  uns  com  os  outros  ,  de;  fónna  que  já  cusiava  a  distingui- 
los  com  facilidade:  «Mníim  IímIos  os  machados  (jue  viram,  facas  e 
facões,  Ilido  levaram,  duas  bayonetas,  uma  catana  de  António  da 
Silva  Freire,  son(ll^  excessivo  o  gosto  do  (jue  a  levou  :  todos  os  mais 
que  viram,  as  |)releiuleram  com  grande  excesso.  Uma  fac^  dematlo, 
que  eu  linha  á  cinta,  cuslou-me  infinito  defendé-la;  um  queria  que 
lira  í!.j>so,  fazendo  já  negocio  com  uma  hayoneln,  (juerendo-a  metler 
na  bainha  da  faca,  o  só  o  soceguei  dando  a  entender  que  era  j»ara  o 
Cijciquc  St}  cá  viesse.  ]Manil(ui-se  pelos  prelí.)s tocar  trombetas,  boa- 
zos  e  caixaí,  com  o  que  ficaram  admirados  e  alegres. 

Roberto  André,  que  excellenlemente  loca  viola,  a  locou  e  dansou, 
c  elles  alegres  e  confusamente  o  acompanharam  ,  fazendo  fortes 
diligências  |»ara  levar  a  viola,  holindo  muito  nas  cordas,  n)irando-a 
muilo  o  examinaniii»  o  que  linha  [lor  dentro. 


2(>7 

Seriam  por  lodos  scleiíta  (K)uco  mais  ou  menos,  íornrn-sc  peln;» 
dez  horas,  deixando  muitos  arcos  e  freclias  n  todos  os  camaradas , 
dando  a  entender  que  iam  buscar  as  mulheres  e  vinham,  e  quasi  se 
lhes  percebia  que  queriam  vir  comigo.  £  logo  qtie  se  preparou  o 
altar  para  o  nosso  capellão  dizer  missa,  por  ser  domingo,  a  qual 
ouvimos ,  dando  graças  a  Deos  por  tão  bons  principies  para  a  re- 
ducçào  d*cste$  pagãos ,  foram-se  passando  para  a  outra  banda  do  rio 
antes  de  principia-la;  e  se  foram,  dei\ando-nos  cheios  do  gosto  o 
alegria  9  pela  esperança  que  temos  de  recolher  para  o  grémio  da 
igreja  este  indispensável  rebanho. 

E*  o  que  se  tem  passado  nostes  campos  do  Guarapuaba  com  os 
índios  de  nação  Xoelan,  segundo  algumas  palavras  quose  Hm  tom 
percebido,  e  para  melhor  clareza  fiz  extrahir  esta  relação  no  porto  do 
Pinhão  no  rio  JordSo,  aos  22  de  Dezembro  do  1771.  —  Affonso 
Botelho  de  Sampaio. 


Relação  do  segundo  successo  acontecido  com  os  Índios  no 
acampamento  do  rio  Jordão^  tirado  do  diário  que  ao  fjcneral 
de  5.  Paulo  escreveu  Botelho  de  Sampaio. 

III."*  e  Ex."«  Sr. — Depois  de  ler  dado  parle  a  V.Ex.*  dos  camjws 
de  Guarapuava  cm  23  de  Dezembro  do  anno  pretérito,  das  círcuins- 
tanciasmais notáveis  do  que  atéali  se  tinham  passado  como  indómito 
gentio  d'eslc  sertão  do  Ti bagy,  edo  estado  cm  que  so  achavam  as 
expedições,  queso  dirigiram  aconquisla-lo,  so  me  faz  preciso  parti- 
cipar a  V.Ex.  o  mais  que  foi  occorrendo  até  o  dia  8  de  Janeiro  d*eslo 
presente  anno,  em  que  veio  este  gentio  com  loilo  o  seu  poder,  e  em 
fede  paz  ao  nosso  arraial  com  demonstrações  da  mais  sincera  ami- 
zade para  nos  acabarem  á  traição,  o  que  logo  nos  deram  hastanto- 
meniea  conhecer,  usando  de  sua  ferocidade  e  modos,  quo  a  V.  Kx. 
exporei  na  seguinte  relação. 

Depois  de  ter  dado  a  referida  conta,  vendo  a  insufliciencia  do  hi 
gar,  cm  que  se  tinha  principiado  a  furlilicarão  ;m^»»^  da  mirdía  elu'- 
^'.ida,     immcdialamcnie  mo  dispuz  a  fazer  a  eloirão  ♦•   inudança  íjr- 


208 

ouira  melhor  posiçSo  para  construir  uma  forialtíza,  <|ue  com  res- 
peito militar,  [K)ssa  conservar  n'eslos  sertões  a  obeíliencia  dos  bár- 
baros, que  n'elles  habitam,  e  defensa  do  paiz,  em  que  se  podem 
e^belecer  opulentíssimas  povoações  com  multiplicadas  fazendas  de 
campo,  a  que  está  convidando  o  ameno  d*estes  deliciosos  e  ferieis 
campos. 

O  gentio,  que  sempre  vive  emdosconGaníja,  sem  embarj^o  de  não 
esperar  a  afTabilidadé  e  agrado,  com  que  o  tratamos,  tendo-se  retiradn 
no  dia  22  com  promessa  de  voltarem  com  suas  famílias,  movidos  ou 
do  rcteio  que  justamente  tem  do  nós  pelas  tyranissímas  acções,  que 
com  elles  praticaram  os  antigos,  ha  pouco  mais  de  50  ânuos,  ou  da 
curiosidade  de  notarem  os  nossos  movimentos,  julga-se  que  deixaram 
sentinellas,  porque  indo  alguns  dos  nossos  á  caca  no  dia  21.  a  uns 
capões,  que  abeiram  os  rios  perto  d'e>le  porto,  conforme  a  recommen- 
daç5o,  que  levaram,  reconheceram  haver  d*elles  trilha  fresca,  e  lendo 
morto  uma  onríidia  vulgarmente  chamada  jaguatarica,  e  pondo  a  no 
barranco  do  rio ,  continuaram  a  caçada,  e  na  volta  náo  achando  no 
lugar  em  que  a  tinham  deixado,  conheceram  que  o  gentio  a  tinha 
levado,  e  chegaram  a  averiguar  a  trilhado  quatro,  o  que  mais  se  ve- 
rificou; porque,  andando  ires  camaradas  em  uns  ca|>ões  mais  altos  á 
cd(;a,  vendo  um  veado  no  campo,  o  ijuizeram  negaciar,  o  (|iie  tizeraiii 
lambem  cinco  índios,  nflo  podendo  nem  nus,  nem  outros  mati-lo. 
Voltando  os  nossos  por  não  haver  algum  euconlro,  que  desrompu/.ess<^ 
a  boa  harmonia,  que  conservávamos,  viram  ft)go  em  um  capão  peno, 
em  que  suppuzeram  os  nossos  eslar  maior  numero  de  irulios. 

No  dia  25  se  disseram  as  três  missas  do  dia  de  Natal  auies  de  ama- 
nhecer dia  claro ;  esperando  que  viessem  os  índios  n'este  dia  por 
estarem  perto,  nos  conservamos  mais  desembaraçados  para  recebai-los, 
mas  como  não  appareceram  ale  o  meio  dia,  se  occiípou  a  gente  nas 
diligencias  precisas,  uns  pnra  a  caça,  e  outros  para  o  campo  alraz 
das  cavalhadas. 

No  dia  27  indo  outros  camaradas  lambem  á  caca  para  a  parte  dos 
capões  do  Pouso  Triste,  encontrando  uns  porcos  no  campo,  ao  mali- 
jos,  viram  que  dois  buíras  de  um  ollo  vizinho,  curiosamcnl«  prescn- 


2G9 

ciavam  o  modo,  por  que  os  nossos  fa^iam  a  cucada,  e  i)orque  os  porco» 
acuados  dos  c^es  se  recolheram  a  um  capíío  vizinho,  seguiram-nos  a 
mata-los,  eromquanio  andassem  embebidos  no  proveitoso  deleite  da 
cara,  por  ouvirem  um  assobio,  o  que  um  bup;rc  muito  perlo  d*elles 
o  tinha  dado,  se  retiraram  sem  haver  mais  acção. 

No  dia  28  apparecôram  alguns  em  imi  alto  fronteiro  a  este  porto  na 
distancia  de  mais  de  seiscentas  braças,  d'onde  logo  se  retiraram,  tor- 
nando a  apparecer  ao  meio  dia,  e  seriam  ires  horas  quando,  che- 
cando mais  perlo  de  sorte  que  se  lhes  podo  acenar  o  bradar,  mas  elles 
fi/eram  o  mesmo,  do  que  se  inferiu  nflo  ser  mais  que  curiosidade  do 
exploradores :  e  porque  acenaiido-so-llies  queehegasrem  ao  porto  so 
retiraram,  determinei  fossem  â  outra  banda  do  rio.  ondeelles  estavam 
João  Lopes  e  Manuel  Pinlo,  o  ossí^guisscm  om  alí^uma  distancia,  a 
ver  si  assim  chegavam.  Procurando-os  assim  o  fizeram,  porém  os 
bugres  vencio-os  mais  se  ausentavam,  por  cujo  motivo  determinaram 
voltar,  o  que  fizeram,  e  a  poucos  passos  olhando  para  ellcs  viram  quo 
estavam  no  alto  seis,  e  que  d'estes,  quatro  vinham  direitos  aos  nossos 
e  dois  fitíavam  immoveis.  Percebendo-lhes  acenos  e  vozes  voltaram 
os  nossos  para  elles,  e  chegando  os  indios,  so  abraçaram,  dando  gran- 
des mostras  de  conservarem  a  mesma  amizade.  Convidados  a  que 
vissem  ao  porto,  onde  havia  muilo  que  se  lhes  dar,  mostraram  res- 
ponder, sendo  mal  entendidos  os  sons  acenos,  que  iam  buscar  suas 
famílias  e  coisas  de  comer,  e  que  yullavam  para  buscar  facas  e  facões, 
e  assim  so  despediram  com muilos  carinhoso  abraças,  tendo  umd*elles 
usado  a  acção  do  cortar  uns  pequenos  ramos  do  campo  o  estende-los 
no  chão  com  acenos ,  que  os  nossos  entendôram  para  que  n'elles  pi- 
sassem. Será  talvez  afTectuosa  fmeza  entro  elles,  como  entre  osHe- 
breos;  o  passon-se  o  resto  do  dia  e  a nno  sem  mais  novidade  que  o 
não  virem  como  esperávamos. 

Annodel772. —  No  primeiro  dia  d'este  anno,  depois  de  dizer 
missa  o  reverendo  capellSo,  e  do  me  confessar  e  mais  varias  pessoas, 
mandei  Paulo  de  Chaves  com  18  camaradas  passar  o  rio  além,  e 
procurar  o  caminho,  que  no  capffo  dos  Porcos  tínhamos  encontrado 
o  gentio,  e  seguindo  para  a  parlo  do  Sul  para  d'ello  proseguir  para  a 


270 

ilo  Norlo»  n  ver  si  liavia  mais  algumas  aldeãs  de  gentio,  e  fazer  outras 
diligencias  necessárias.  Passou  o  rio  além  pelo  meio  dia,  municiado 
e  preparado  para  poder-se  demorar  o  tempo,  que  fosse  preciso,  para 
dar  cumprimento  ao  que  ordenei. 

No  dia  2  passaram  o  rio  alem  algumas  pessoas  para  tValar  da  cava- 
lhada, que  por  lá  andava  por  ter  rnelhor  pasto,  c  andando  na  diligen-- 
cia  do  procura-la,  viram  7  Índios  em  um  capão  perlo:  polo  fogo 
((uo  d*cllo  sahia  conhecendo  estarem  mais,  «icenaram-Ihes  que  vies- 
sem, mas  clles  levantaram  os  arcos  e  não  lhes  i>erceLoram  os  mais 
acenos ,  quo  íizeram.  Os  mesmos  também  foram  vistos  d'esta  parte 
do  rio. 

Não  houve  mais  novidade  ate  o  dia  5,  em  que  passei  com  seis  ca- 
valleiros  o  rio,  o  segui  as  suas  margens  para  a  parto  do  Sul  a  \òr  se  en- 
contrava paragem  suífícienlc  para  dar  principio  á  fortaleza,  e  tendo 
andado  quasi  Ires  léguas,  avistando  grandes  campos  para  o  Sul,  que 
faltam  examinar,  segui  para  a  parte  do  Oeste,  e  lendo  marchado  uma 
l>oa  légua,  encontrei  o  caminho,  que  os  indios  ttnham  feito,  quando 
vieram  a  este  porto  a  22  de  Dezembro  do  anno  passado,  o  me  recolhi 
por  elle  [Kira  o  porto,  encontrando  vários  passos  em  ribeiros,  que  com 
bastante  trabalho  passaraojí.  Recolhi-me  pelas  oito  horas  da  noite,  e 
[)Ouco  depois  chegou  Paulo  Chaves  como  acima  se  lhe  ordenou  dando 
as  noticias  seguintes : 

Que  caminhou  pelo  rio  Jordão  até  as  cabeceiras  pela  parte  do  Norte, 
que  nascem  dos  montes;  costeando-as  ao  Sul,  encontrou  um  aloja- 
mento deixado  poucos  dias  com  algum  milho  e  morangas,  e  que  pro- 
seguindo  o  mesmo  rumo  para  examinar  toda  aquella  costa  até  o  capão 
dos  Porcos,  mais  adiante  encontraram  outro  alojamento  maior,  onde 
um  dos  ranchos  tinha  de  comprido  25  passos  e  oito  de  largo,  eahi 
acharam  alguns  trastes  do  uso  gentio,  panellas,  porungos,  carachazes 
e  linho  com  estriga,  do  que  fazem  os  seus  pannos  o  mostram  que  o 
tiram  das  ortigas  grandes  ;  três  colhes  muito  bem  feitos  e  limpos, 
que  bem  podem  levar  de  7  alqueires  para  cima  cada  um,  balaios,  c 
cestos  bem  tapados  e  bem  feitos  rebocados  por  dentro  e  por  fora  com 
cika,  quo  se  suppõe  ser  para  trazer  agua  das  fontes,  crystaes   finos. 


REVISTA 


DO 


INSTITUTO  HISTÓRICO  E  GEOGRAPHIGO  DO  BRAZIL. 


3.-  SERIE.  — N.»  19.  —  3.*  TRIMESTRE  DE  1855. 


SOBRE 


O  DES€lIBRINENTO  DO  BRASIL 

ALGUMAS  CONSIDERAÇÕES 

Por  J.  J.  MàGIIâDO  DE  OLIVEIRA 

Membro  pmniado  do  Instituto  histórico  e  Kcographico  brasileiro  e  sorio  de 
varias  sociedades  Utterarías  e  scientificas  do  império. 

III."^  Sr. 

O  prurido  que  sento  o  Brazileiro ,  que  tem  estudado  coro 
alguma  meditação  as  cousas  primitivas  da  sua  terra  ainda 
não  relatadas 5  e  que,  sem  intenção  de  monopoiísar  comsigo 
as  idéas  assim  colhidas,  procura  dar-lhes  expansão  commu- 
nicando-as,  affectou-me  ao  saber  que  o  programma  —  si  o 
descubrímento  do  Brazil  por  Pedro  Alvares  Cabral  foi  devi- 
do a  um  mero  acaso,  ou  teveclle  alguns  indícios  para  isso — , 
sahfra  no  sorteameoto  dos  que  deviam  ser  desenvolvidos  pe- 
los nossos  consócios ;  e  levou-me  ao  ponto  de ,  n*esse  tempo , 
iriii  ^c 


280 

n  sem  atlenlar  para  o  meu  apoucainento  intellrctual  ^  lançar 
no  incluso  papel  as  poucas  palavras ,  que  ahi  vam  sob  a 
epigraphe  —  O  Brazil.  (Algumas  considerações  sobre  o  seu 
(lesciibrimíínto.)— Feito  esse  trabalho,  extrahi-lhe  um  ligeiro 
esboço,  que  foi  publicado  no  n.°  3."  dos  Ensaios  Litterarios  , 
jorual  académico  do  Athcneu  Paulistano ,  reservando-me  para 
offerecê-lo  em  sua  integra  ao  Instituto  Histórico  c  Geogra- 
phico  Brazileiro ,  o  que  agora  faço  pelo  intermédio  de  V.  S.* 

Depois  d'isso,  li  no  n.**6  do  tomo  XV  (tomo  2.**  da  S.* 
serie) ,  a  assaz  bem  elaborada  quanto  erudita  dissertação 
do  nosso  illustrado  consócio  o  Sr.  Joaquim  Norberto  de 
Souza  Silva  ,  sobre  esse  programma ;  e  bem  me  pesa  que  a 
conclusão  que  o  nosso  consócio  tirou  d'esse  portentoso 
acontecimento ,  esteja  em  opposta  extremidade  á  minha , 
pois  que  com  tão  distincto  e  ameno  litterato  desejara  estar 
sempre  de  accordo.  Comtudo  ,  permíttirá  elle  que  sobre 
este  assumpto  não  lhe  faça  preito  de  minhas  convicções , 
modificando-as  pelo  theor  da  sua  opinião ;  porque ,  si  ha 
erro  em  mim  ,  outras  razões ,  que  não  as  de  meras  probabi- 
lidades ,  poderáõ  dissipa-lo ,  sem  que  de  minha  parte  haja  a 
menor  reluctancia. 

E  como  ainda  me  prevaleça  do  antigo  indulto  com  que  o 
Instituto  se  dignou  de  agraciar-me  ,  desde  que  honrou-me 
í?m  me  admittir  em  seu  seio ,  de  acolher  benignamente  meus 
cscriptos,  tão  pobres  de  mérito  como  ricos  de  petulância,  é 
n'esta  confiança  que  lhe  apresento  o  incluso. 

Deus  guarde  a  V.  S.*  muitos  annos.  S.  Paulo,  2A  de  Maio 
de  1854. 

111.™°  Sr.  Dr.  Joaquim  Manoel  diB  Macedo,  í.'  secretario 
do  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brazileiro. 

Josí  Joaquim  Machado  de  Olivemu 


As  cruzadas  na  Palesliiia,  sondo  rran<|ueado  o  camÍ!iho  da  Ásia 
Occidental,  oDereceram  ao  mesmo  passo  favorável  ensejo  aos  viajantes 
para  explorarem  essa  região  inspiradora  de  pensamentos  biblicos ,  tào 
cheia  de  tradiçOes  dos  tempos  primitivos,  pri;Heiro  berço  da  civilisa- 
yào  do  homem ,  ponto  luminoso  d^onde  radiou-se  a  sciencia ,  e  onde. 
a  titulo  de  redemir-se  o  sepulchro  d'um  Dcos  de  paz  e  de  clemência , 
por  longo  tempo  derramou-se  copioso  sangue  humano  no  meio  de 
horrorosas  matanças ,  e  em  derredor  da  cruz  hasteada  pelo  fanatismo 
cruento ,  que  encarnara-se  em  Pedro  o  eremita. 

O  judeo  Benjamim  do  Tudela  teve  a  iniciativa  nessas  ousadas  ex- 
cursões ;  e  foi  ello  o  primeiro  a  perluslrar  aqiiella  terra  myslcriosa  , 
pullulando  de  reminiscências  ascéticas,  o  em  que  a  esse  tempo  ainda 
se  lubrigavam  recentes  vestigias  d*essas  atrozes  hecatombes  humanas  : 
e  os  enlevos  deslisados  do  seu  testemuidto  decidiram  a  eni[»rehende- 
rem-se  essas  explorações  longinquas,  em  que  só  realçava  o  empenho 
de  acquisirão  de  riquezas,  que  tào  fácil  se  antolhava  ,  o  (|uando  era 
cm  máxima  intensidade  o  fanatismo  do  religião,  e  o  espirito  de  con* 
(juista,  estes  dous  tópicos  que  sobremodo  actuaram  o  globo  n*a(|uella 
varieilade  dos  tempos. 

Ao  menos  d'esse  enfurecido  asceticismo .  que  m:tnchou  de  sangue 
aspginas  da  historia  da  religião  áo  Cordeiro  inimaculado.  e  que 
ainda  faz  estorcer  do  dor  a  humanidade;  e  d'esso  espirito  rav.illeiroso 
que  d'ahi  se  derivou,  começou  a  abalar-se  o  fundamento  áo  feudalis- 
mo do  velho  mundo,  e  provieram  conhecimentos  de  mòr  preço  para 
as  sciencias  e  para  o  commercio ;  levando-se  ao  Orienle  em  numero- 
sas cáfilas  as  mercadorias  ^a  Europa  airavés  de  descoinmuns 
obstáculos. 

Não  tanto  o  incenlivi»  d*essas  cmpre/.as,  (|ue  devas>arain  á  Kurup;i 
peloisthmo  de  Suez  as  plagas  doCaspio,  aTariaria  chinc/a  ,  o  uma 


•285 

part6  da  índia ,  siiiSo  o  de  dar  pabulo  ao  alvitre  ataviado  de  feiçdes 
lieroieas  em  grande  voga  na  meia  idade ,  indtiziu  os  Portuguezes  a 
procurarem  pelo  oceano  atlântico  a  rota  do  Orienle  ,  auxiliando-os 
para  isso  o  conhecimento  que  já  tinhào  da  costa,  occidental  d*Africa ; 
e  levando  elles  ao  cabo  tão  portentoso  feito ,  renome  infindo  lhes  so- 
bejara si  o  não  eclypsasse,  fazendo-o  decahir  do  fastígio  da  gloria  a  que 
subira,  esse  longo  encadeamento  de  inauditos  attentado»  e  cmexas, 
que  assaz  o  desvirtuaram ,  abatendo-o  da  elevação  a  que  se  aba- 
lançara. 

Tão  prompto  visaram  esses  audaciosos  aventureiros ,  que  da  r^íao 
de  que  se  apoderaram  na  Asía ,  arrancando-a  á  viva  força  ao  dooir- 
nio  originário  das  castas  indianas »  das  quaes  já  haviam  em  somenos 
computado  o  po«Jerio ,  mudariam  suas  riquezas  e  opulência  para  o 
paiz  seu  natalicío ,  que  tão  dependente  era  de  levantar-se  doabali- 
mento  a  que  o  lançara  a  luta  sarracena ,  de  que  no  correr  de  muilos 
annos  fora  theatro  a  peninsula  ibérica,  como  puzeram  peito  a  t5o 
afanosa  lida ,  fazendo  atroz  nido-baixa  sobre  centenares  de  povos  , 
que ,  embora  descridos ,  porque  para  elles  nâfo  alumiara  mais  da  que 
um  ténue  reflexo  da  luz  do  Evangelho ,  resistiam  á  dura  e  estranha 
Oppressão ;  e  em  seguida  espoliando  suas  terras ,  ou  tomando-as  com 
violência  para  apanágio  d'ura  senhor  que  nem  por  imaginaçào  lhe 
podiam  dar  vulto. 

Após  o  que,  o  brado  da  insurreição  e  resistência  compacta  aos 
Portuguezes ,  echoou  por  fim  n'aquellas  regiões  desoladas,  e  pollui- 
das  por  mãos  de  conquistador ;  e  esse  brado  atroou  toda  a  índia  , 
que  fora  por  elltís  subjugada,  calou  na  consciência  de  seus  habitan- 
tes ;  c  sem  que  os  invasores  se  preoccupassem  d'csse  acto  de  desespero 
de  myriadas  de  homens ,  que ,  sacudindo  a  illusào  que  até  ali  os  en- 
volvera, erguidos  do  terror  que  os  esmagara,  e  lhes  infundira  a  ar- 
rogante audácia  da  gente  estranha  ,  decidiram-se  estes,  emfim  ,  a 
ron:[>er  pclcjn  vigorosa ,  e  a  lodo  transe  [K)r  suas  crensas  religiosas,  e 
om  defensa  exlrctnc  de  seu  paiz  ,  de  seus  penates,  de  suas  riquezas. 
E  affronlando  os  conquisladores  a  esta  desesperada  reacção ,  a  esta 
qiia:?!  simultânea  leva  de  broqueis,  em  breve  sontiram-se  altenuados 


283 

e  enfraquecidos  de  tamanho  lidar ;  esuas  plialanges,  que ,  á  medida 
i]uo  se  faziam  menos  den^s  ostentavam  maior  imensidade  de  aggres- 
são,  de  prompto  precisaram  de  reforços ,  que  só  do  próprio  paiz  09 
podiam  ter  valiosos  e  de  confiança. 

Houve-se,  pois,  de  mister  tnandar  para  a  índia  reiterados  auxílios 
de  guerra » que  apenas  serviram  para  que  n9o  fosse  complelo  e  instan- 
tâneo o  aniquilamento  dos  invasores  sob  a  pressão  reaccionária  que 
elles  mesmos  haviam  suggerido  d'esses  povos  por  sua  conquista,  pel» 
depredação  de  suas  riquezas,  pelas  atrocidades  do  seu  dominio:  e 
rompendo  essa  gente  do  entorpecimento  a  que  fora  lançada  a  it^pulso 
do  primeiro  acommettimento ,  ergueu  se  como  um  só  homem  ,  insur- 
gíu-se  em  massa  ,  repelliu  o  que  a  conquista  tinha  do  mais  violento 
e  feroz,  e  por  Gm  foram  os  Portuguezes  obrigados  a  recuarem  de 
suas  atrozes  animosidades ,  e  apenas  a  se  fazerem  defesos ,  e  a  susten- 
tarem através  de  muralhas  alguns  dos  pontos  do  litoral  d»  peninsula 
indiana,  onde  puderam  deparar  com  a  sua  salvaguarda. 

No  intuito  de  socoorrer  no  Oriente  aos  conquistadores  lusitanos , 
que  reclamavam  incessantemente  auxilios  do  seu  paiz ,  apresentou-se 
abi,  no anno  de  1500 ,  uma  forte  armada  ,  que  sarpou  de  Lisboa  a 
9  de  Março  d'esse  anno ,  tendo  pr  chefe  a  Pedr'alves  Cabral ,  de 
alta  prosápia  portugueza ,  e  d'um  nume  prestigioso  para  as  lides  do 
Oriente. 

Euibaido  o  rei  portuguez  pelo  pensamento,  quiçá  cheio  de  phi- 
laucia  e  de  iliusão,  de  manter  seu  poderio,  e  perseverar  em  seu 
prcdominio  subre  aquellas  tão  longinquas  paragens,  para  ondu,  além 
de  se  escoarem  á  porúa  os  pequenos  recursos  do  paiz  ,  corria  com 
immoderada  afouteza  e  obstinação  a  flor  de  seus  vassallos ,  nâo  podia 
attentar  para  o  descubrimento  da  America  ,  descortinada  ,  oito  annos 
liavia  ,  ao  velho  mundo  pelo  afortunado  Colombo  ;  não  podin  entre- 
ver n'olle  um  acontecimento  providencial ,  que  destruindo  radical- 
mente deploráveis  prejuízos  a  preconceitos ,  deu  começo  á  reacção 
contra  o  dominio  do  erro  dogmatisado  em  crença  religios;i ;  gravitoii 
sobre  uma  massa  de  sophismas  e  argucias.   que  havia  supplaiilado  o? 


284 

princípios  da  razão  e  da  verdade  etorna ;  o  sobretudo  dou  preponde- 
rância decidida  c  firinc  aos  destinos  para  que  o  lionriem  fora  lançado 
na  terra.  Então ,  só  a  Ásia  preoccupava  com  fascinação  em  muitos  « 
avidez  e  a  cobiça,  em  poucos,  os  prestígios  da  gloria  sustentada 
pelas  armas  —  os  embustes  das  considerardes  mundanas,  e  em  raros 
o  sacerdócio  da  fé.  Do  novo  mundo  nada  se  curava,  ou  porque  fosse 
tido  por  illusorío  o  testemualio  de  Colombo,  as  narrações  dos  seus 
sequazes  9  ou  porque  prevalecessem  as  idcas  supersticiosas  que  eslig- 
matisavam  a  esse  portentoso  facto  de  irreligião  e  descrença  da  lei  do 
Eterno  inscripta  nas  sagradas  letras. 

A  monsáo  em  que  velejou  para  o  Oriente  a  frota  de  Cabral  Dào 
era  de  bom  lance  para  tal  navegação.  Eram  ainda  escassos  os  ventos 
que  a  podiam  favorecer ,  dominando  no  mais  do  tempo  os  que  aug- 
mentavam  a  pujança  das  correntes  para  a  costa  Occidental  d'Africa. 
Ainda  reinavam  as  calmarias  na  rota  que  devia  ser  sulcada  pelos  na- 
v^anies,  e  o  mar  que  vinha  ali  balido  por  fortes  vondavaes  da  costa , 
pairava  em  marachões ,  e  remoinhando  sobre  si  abria-se  em  vastos 
abysmos  ameaçando  tragar  ceo  e  terra :  e  Cabral ,  que  nem  a  ousa- 
dia tinha  do  seu  illustre  conterrâneo,  que  primeiro  se  lançara  áqueU 
lesmares  abrindo-os  ao  mundo,  desviou  a  navegação  pra  o  alto 
mar,  dando-lhe  largas  sangraduras,  o  engolfando  a  armada  para 
Oeste  ,  e  por  mares  que  lhe  eram  desconhecidos.... ,  eesle  demasia- 
do precaver,  orçando  para  uma  prudência  meticulosa  ;  este  desorien- 
tado effugio  ao  originário  propósito  só  com  o  filo  de  evitar  perigos  , 
que  já  anteriormente  linham  sido  affronlados,  e  a  que  a  insciencia 
affigurava  de  grandes  proporções ,  deu  o  Brazil  á  coroa  de  Portugal , 
atando- o  com  vínculos  de  ferro  ,  sujeilaiulo-o  pelo  terror  e  desolação 
a  um  dos  mais  pequenos  estados  da  Europa ;  envolvendo-o  só  em  suas 
vicissitudes  e  decadência ;  leniio-o  em  commum  só  cm  seus  reve- 
zes; sublrahindo-o  por  mais  de  ires  séculos  úquelia  preeminência  , 
a  que  dava-lhe  jus  sua  posição  no  globo,  a  perenne  sanidade  du 
seu  clima,  e  seus  graiuics  ulomenlos  de  riqueza  e  opulência  ;  pos- 
tergando-o,  cmlim  ,  uuí  século  na  cnrnMr.i  da  rivilisaonn  compnrali- 


285 

vãmente  com  outras  regiões  da  America ,  que  eram  coevas  em  seu 
(lescubri mento  y  e  que  couberam  em  partilha  a  nações  que  lhes  soube- 
ram dar  preponderância  e  illustração. 

Depois  de  navegar  vogando  como  ao  acaso  por  quarenta  e  quatro 
dias  ,  e  sempre  descahindo  desapercebidamenie  para  ooccidente,  a 
frota  de  Cabral  sem  que  de  lai  curasse  deu  fó  de  lerra ,  por  lho  surdi- 
rem d'oesie,  em  22  de  Abril ,  e  níío  sem  a  menor  surpreza  dos  nave- 
gantes, os  alcantis  dos  Aymorés,  e  após  elles  a  costa  que  ó  fronteira 
a  ea^e  grande  appendice  da  cordilheira  ,  que  mais  se  approxima  do 
oceano  atlântico  meridional ,  e  com  este  guarda  parallelo  eslenden- 
do-se  para  os  confins  auslraos.  £  a  terra ,  no  ponto  quo  era  estimado 
por  aquelles  navegantes,  e  nas  hypolhescs  da  derrota  que  suppunham 
vencida,  antolhou-se-lhes  nào  outra  sinào  uma  ilha  do  atlântico 
grandemente  separada  do  archipelago  dos  Açores. 

E  a  terra  que ,  surgindo  do  relance  no  oceano,  abslraira-se  a  todos 
os  cálculos  e  previsões,  sequestrava  todas  as  atlenrões,  ea  quo  se 
attribuia  diversas  e  absurdas  conjecturas ,  era  o  Brazil :  e  essa  terra 
que  ao  longe  desenhava-se  no  horisonte  occidental ,  e  que  um  dia  , 
depois  de  rodados  três  séculos  de  escravidão  o  de  ignominia,  seria 
uma  portentosa  realidade,  avultando,  e  muito  ,  entre  as  demais  que 
se  assentam  no  hemicyclo  austral  da  America,  era  o  paiz  da  Vera-Cruz, 
duramente  conquistado  ao  gentilismo,  por  aquelles  que,  arrojando-se 
cavalheiros  á  Africa  e  Ásia  a  quebrar  lanças  de  paladino,  correriam 
de  aventura  a  essa  terra  a  ceifar  vidas  com  o  ardimenlo  da  cubica  , 
com  as  armas  do  sicário. 

Esta  maravilhosa  eventualidade  ,  e  quanto  houve  n'ella  de  impre- 
vidência enSo  prcsentimenlo ,  denuncia  alto  ,  que  em  Portugal  já  se 
achavam  obliteradas  as  prelecções  astronómicas,  as  probabilidades 
geographicas  ensinadas  na  escola  de  Sagres,  mais  famosa  para  os 
estranhos  do  quo  para  si ,  e  d*ondo  partiram  centelhas  de  mor  valor , 
que  foram  aceitas,  e  mais  bem  aproveitadas  (>or  nações  mais  avança- 
das em  civilisaçào  o  intelligencia.  A  mais  do  que  ,  as  preoccupações 
do  Oriente,  e  sua  inteira  sujeição  ao  dominio  lusitano  havia  como 


280 

fascinado  aos  Poriuguezes ;  e  o  exclusivismo  d'esto  único  pensainenlo 
neutralísava  oulro  qualquer,  que  aquelles  tempos  de  patranhas  aven- 
turosas pudessem  suscitar. 

O  descubrimento  do  novo  mundo  por  Colombo  foi  o  resultado  d« 
prestancia  de  um  génio  activo  c  emprehendedor,  illustrado  peia 
sciencia ,  guiado  pela  experiência  ,  e  operando  sobre  ura  plano  exe- 
cutado com  não  menos  esforço  do  que  perseverança,  e  que  fora  anies, 
por  muito  tempo  e  profundamente  meditado  esubmettido  ao  exame 
e  analyse  dns  illustrações  d'aquelle  século,  que  nào  estavSo  eivadas  da 
falsa  crença ,  que  por  um  mysticismo  exngerado  se  ostentava  em  con- 
traposição ás  leis  positivas  do  globo ,  e  que  bastante  compromettea 
os  dogmas  da  fé.  Mas,  o  do  Brazíl  pelos  Poriuguezes ,  devido  só  ao 
effeitodo  puro  acaso,  denegn-se-lhe  o  mérito  e  a  legitimidade  que 
comporta  o  grandioso  feito  do  impávido  genovez. 

Por  longo  tempo  alludiu-se  a  Podr'alves  Cabral  a  prerogativa  de 
ser  o  primeiro  que  pelo  Occidenle  devassou  os  mares  do  hemispherio 
austral ,  e  d'ahi  o  titulo  de  primeiro  descubridor  das  torras  do  Brazil. 
Por  indubitável  que  nào  pôde  aspirar  a  taes  foros  quem  ,  por  mais 
pretencioso  que  o  figurem  na  bistoria ,  teve  n'essa  portentosa  descu- 
berla  um  feliz  predecessor ,  e  quem ,  si  á  face  se  achou  d*essa  parle 
do  continente  americano,  deveu-o  absolutamente  a  essa  imprevista 
occurrencia  que  iica  relatada,  a  esse  inesperado  lance  da  fortuna  , 
que  cega  atirou-o  ao  portuguez.  £  prâs  que  esta  gloria  é  mal  cabida 
ao  almirante,  que  partira  da  Lusitânia  com  o  exclusivo  intuito  e  só 
em  demanda  das  regiões  do  Oriente,  reporta-se  toda  ella  a  Vicente 
Janes  Pinzon  ,  um  dos  intrépidos  e  dedicados  companheiros  de  Co- 
lombo ,  que  so  associaram  a  este  no  esforçado  e  incommensuravel 
empenho  de  abrir-se  rota  para  o  levante  pelos  mares  occidenlaes. 

Tanto  que  o  infatigável  lidador  Pinzon,  exonerado  do  serviço  do 
almirante  Colombo ,  assombrado  dos  admiráveis  feitos  d'este,  e  como 
elleanhelando  as  mesmas  esperanças  e  glorias,  premuniu-se  da  pró- 
pria capacidade  c  dos  conhecimentos  adquiridos  para  dirigir  nova 
tentativa  sobro  a  região ,  de  cujo  descubrimento  fora  elle  quinhoeiro , 


«87 

a«l|a'»lootameiitipoas  peildoom  o  animo  da  ^vperianma  e  puas  4a 
amMflo :  e  para  a  rqaiidade  de  taroanha  amprazp  ,  posto  sobrasMin- 
Ifae  inielligeneia  ^  perseverança  ,  a  prudência  aconselhoe-o  ^ua 
a  compankse  eom  alguns  doe  soeíos  do  illuscre  Colombo ,  que  a  esla 
««eadjuvaram  em  eetis  posleriores  deecubrimentos. 

Preparadae  as  cousas ,  e  reunido  o  pessoal ,  Fínzon  fez  sarpir  do 
porto  de  Paios  uma  frotinha  de  quatro  caravelas  no  principio  de  De- 
lembro  de  f  499 ;  e  depois  d*um  trajecto  de  700  léguas ,  e  de  haver 
eonado  o  equador  em  longitude  que  nSo  pôde  determinar ,  foi  a  na- 
veg^o  inteiramente  desvairada  do  rumo  primordial ,  por  um  impe* 
tuoae  temporal  do  septentriio ,  que  aturou  por  muitos  dias ,  arrojando 
os  navegantes  a  mares  desconhecidos ,  e  sob  uma  eonstella^  ainda 
nao  observada. 

Sobranceiro  e  amestrado  em  taes  lances  e  revezes  tão  estranha 
situaçSo  não  trepidou  Pinzon  em  domina-la ;  e  tirando  partido  da 
própria  força ,  que,  por  dias  consecutivos  e  através  de  descommuns 
perigos ,  o  compellira  a  vogar  ao  acaso ,  mandou  á  frotinha  dar  popa 
ao  vento 9  e  dest'arte  deixou-a  ir  para  oeste,  correndo  o  parallelo 
austral  de  oito  gráos;  e  a  esse  rumo ,  depois  de  haver-se  percorrido 
roais  240  l^uas^  affrontou*se  terra  alta ,  e  d'ella  dou-se  fé  em  28  de 
Janeiro  de  1500 ,  oitenta  eseis  dias  antes  que  Cabral  houvesse  vista 
de  terra  no  hemyspherioque»  sem  que  fosse  buscado ,  patenteou-se 
imprevisto.  E  a  essa  terra  deu  Pinzon  o  nome  de  Santo  Maria  da 
Consolação ,  conhecida  ao  depois  com  o  de  cabo  de  Santo  Agostinho » 
a  ponta  de  maior  projecção  do  litoral  do  Brazil  no  oceano  atlântico. 

Reincidem  os  Portugueses  a  avocar  para  da-lo  a  Cabral  o  laurel 
de  primeiro  descubridor  do  Brazil ,  desviando- o  assim  de  Pinzon , 
que  9  como  fica  dito ,  com  antecedência  o  avistara  e  o  reconhecera 
como  continuidade  longitudinal ,  que  corria  a  sul  da  Terra-firme , 
observada  antes  por  Colombo  em  seguida  aos  seus  primeiros  descu- 
brimentos ;  que  determinara  a  posição  astronómica  do  ponto  do  lito- 
ral que  havia  tocado ;  e  que ,  emfim ,  restabelecera  ahi  a  derrota 
primitiva ,  reatando  o  fio  que  tomara  ao  iniciar  sua  navegação ,  c 

xviu  37 


S88 

èproTeitandò-sedaraacçio  da  corrente  equinocial  para  a  dirigir  pam 
o  norte.  É  certo  que  contra  esta  espécie  de  plagio  tem-se  já  pro- 
nunciado n^esse  repto  generosos  e  abalísados  escriplores  em  reivindi- 
cação da  memoria  do  illustre  hespanhol :  mas,  o  julgamento  d'e8te 
pleito  de  vida  e  morte  intellectual,  que  dura  três  séculos,  ainda  está 
pendente,  ainda  a  posteridade  nâo  lançou  n'elIeoseu  severo  e cons- 
ciencioso verdict,  talvez  por  deficiência  de  quem  com  legitima  au- 
torisação  tome  em  peito  a  defensão  d'essa  causa.  E  quem  quer  que 
saia  vencedor  n'esta  famosa  contenda ,  Ibe  caberá,  eu  o  juro,  a 
gloria  immortal  do  portentoso  feito ,  que  só  é  commensuravel  com  o 
do  illustre  Colombo — o  de$eubrimmío  io  Braxil  — ,  d'esta  terr» 
mimosa  e  querida  do  céo. 

8«  Paulo ,  7  de  Setembro  de  1850. 


289 


REFLEXÕES 

iCJCaCA  DÁ  MXMORU  DO  ILLUSTRB  MEMBRO  O  81U   JOAQUIM  NORBERTO 
DE   SOUZA  6ILVA. 


A.  GONÇALVES  DUS 

Sócio  cffectiTo  do  lottituto  Historíco  e  Geograpliico  Braiileiroi  lidat  na 
•essio  de  26  de  M«io  de  i85á 

HA  AUGUSTA  PRESENÇA  DE  S.   M.   O  IMPERADOR. 

O  descubrimento  do  Brazíl  por  Pedro  Alvares  Cabral  foi  devido  a 
um  mero  acaso ,  ou  teve  elle  alguns  indícios  para  isso  ?  —  Doeste 
ponto  dado  para  a  discussão  d'uma  das  nossas  ultimas  sessOes  do  anno 
pretérito ,  já  tinha  tratado  o  nosso  illustre  consócio,  o  Sr.  Norberto, 
em  uma  memoria  lida  n'este  Instituto ,  por  elle  approvada ,  impressa 
em  um  dos  números  da  sua  Revista  (1),  e  geralmente  applaudida. 
Credor  de  elogios  pela  maneira  cheia  de  erudição  e  sciencia  com  que 
o  desenvolveu,  o  autor  da  Memoria  não  se  poupou ,  nem  a  investiga- 
ções ,  nem  a  estudos  para  o  cabal  desempenho  da  sua  tarefa :  o  seu 
trabalho  foi ,  e  devia  ser  elogiado.  Assim  que  a  escolha  d*esle  pon- 
to, sendo  o  primeiro  apresentado  para  os  debates  d'esta  illustre 
corporação,  era  por  um  lado  a  demonstração  evidente  do  interesse 
de  que  julgamos  credora  a  primeira  e  singela  pogina  da  nossa  histo- 
ria ,  e  por  outra  'a  manifestação  do  apreço  em  que  se  tem  a  Memoria 
do  nosso  illustre  consócio. 

Abalancei-me  a  tomar  parte  n'esta  discussão;  mas  íallando  em 
sentido  contrario  á  conclusão  da  Memoria ,  não  lhe  neguei ,  e  nem 
que  o  quizesse  lhe  poderia  negar  o  incontestável  merecimento  que 
tem :  pelo  contrario ,  apressei-me  logo  em  principio  a  cumprir  com 
esse  dever  y  nào  tanto  de  amizade^  como  de  consciência ;  porque  era 


S90 

de  mim  reelaroado  peia  cordial  sympathia  que  volo  ao  autor  da  Me- 
moria; porem  mais  particubrmente  por  amor  da  justiça,  que  aliás, 
e  por  differentes  veies  lhe  tem  Feito  este  Instituto,  appnovandoos 
seus  importantes  trabalhos  com  demonstrações  de  nio  eqaivoeo 
apreço. 

A  razão  porém  por  que  fui  obrigado  a  tomar  parte  n'esta  discussão, 
ainda  que  o  Instituto  a  saiba ,  nso  me  julgo  dispensado  de  a  consig- 
nar novamente  aqui.  Em  um  trabalho ,  de  que  também  tive  a  honra 
de  ser  incumbido,  e  que  está  bem  longe  de  ser ,  como  o  de  que  se 
trata ,  hon>ogeneo ,  e ,  segundo  a  maneira  do  vér  do  seu  autor ,  com- 
pleto ,  toquei  por  incidente  n'eM  factd.  Fallet  do  descubrimento  do 
Brazil ,  e  a  este  respeito  escrevi  palavras  que  passo  a  transcrever  (2). 

(c  Colombo  aeèrescentava  um  muncío  ao  mundo  conhecido ,  e 
«  Pedro  Alvares  afhstado  da  sua  derrota  e  arrastado  pelas  grandes 
«  torrentes  do  oceano  atlântico,  viria  aportar  ás  terras  de  Santa 
«  Crui;  ecom  a  sue  descuberia  provar  á  humanidade,  orgulhosa 
a  de  suas  anteriores  conquistas — com  esta  que  não  é  de  todas  á 
«  somenos — que  o  destino,  o  acaso,  a  fatalidade  valem  mais  muitas 
(c  vezes  do  que  as  forças  todas  da  intelligencia  combinadas  com  os 
m  esforços  da  perseverança  e  da  magnanimidade.  )> 

O  autor  da  Menooria ,  que  foi  também  o  relator  do  parecer  apresen- 
tado áotírca  d'e$le  meu  trabalho,  notou  a  minha  opinião  que  ia  de 
encontro  á  sua ,  e  sem  se  fazer  cargo  de  a  refutar ,  o  que  bem  pode- 
ria suppòr  escusado  depois  da  publicação  da  sua  Memoria ,  nSo  pôde 
e  não  devia  talvez  passar  em  silencio  a  asserção,  ou  antes  contradic- 
ção ,  que  nas  minhas  palavras  se  continha.  D*esta  maneira  me  achei 
sustentando  uma  opinião ,  que  ainda  me  parece  verdadeira ,  a  qual 
porém  é  impossível  que  não  tenlia  em  seu  abono  senão  o  assentimento 
da  maior  parte;  mas  nem  seguir  a  opinião  do  maior  numero  ó  ter 
raaão ,  nem  o  haver  consultado  a  historia  é  fiador  seguro  de  termos 
acertado  com  a  verdade. 

Eâtarei  em  erro ;  e  d'elle  me  convenceria  o  nosso  illustre  consócio , 
autor  da  Memoria ,  si  para  isso  bastasse  a  consciência  que  tenho,  de 


f  lanio  eaUidou  elle  «u  maleria  y  e  da  quão  largamente  a  neditott 
astes  de  pôr  a  luDpo  a  soâ  curiosa  •  erudita  dissertação. 

Péde^  dissentir  do  seu  pareèér,  ter  uma  opinito  em  oonthirie 
firraemenie  estabelecida ;  mas  concordando  em  que  será  bem  dtíBcU 
stísteniar  a  sua  these^—  roelbor  do  que  elle  o  fet  ,<--  folgo  ao  mesma 
lemfio  de  confessar  qoe  B'es8a  Memoria  se  acha  expendido ,  ou  pela 
menos  apontado»  tudo  quanto  de  mais  importante  se  pode  diser^-^ 
pró  ou  contra  esta  matéria. 

Náo  me  parece  pois  que  lhe  será  desagradável  arguaoenttr  eu  cem 
as  suas  próprias  palavras «  abonando  a  Odelídade  das  suasciUiçaeB 
com  o  servir-me  d'ellas  em  me  sendo  necessárias »  e  deixanda  da 
parte  os  argumentos  de  que  elle  julgou  nio  se  dever  aproveitar^ 

Por  esta  Tórma,  a  falta  de  lógica  ficará  sendo  privativamente  mi- 
nha ;  e  essa  falta  agora  se  tomará  sem  duvida  mais  saliente ,  quànda 
em  cumprimento  do  honroeo  encargo  que  me  foi  imposto  por  esta 
Instituto,  lendo  de  redusir  a  escripto  as  observações  acerca  d*eSta 
assumpto ,  com  que  tive  o  arrojo  de  sollicitar  a  sua  attençâo  ^  a  a  mal 
esperada  ventura  de  a  captivar  por  alguns  instantes. 
Entro  em  matéria. 

Para  que  o  deecubriíÉento  do  BrStil  por  Cabral  não  fosse  obra  da 
mero  acaso,  seria  preciso  que  antes  da  sua  viagem  este  tiàvegaaie 
tivesse  ou  podesse  ter  tido  conhecimento  das  terras  da  America.  Certo 
que  ellas  haviam  sido  anteriormente  descuberlas  e  visitadas ,  si  po- 
dem ser  considerados  verdadeiros  descubriroentos  os  que  se  circums- 
crevem  nos  limites d'um  paiz  pouco  frequentado  por  estrangeiros, — 
e  nio  passam' do  conhecimento  de  alguns  poucos  de  sábios  ou  curio- 
sos ;  comtudo ,  nem  a  noticia  de  terras  da  America  loi  o  que  induziu 
a  Colombo  a  procnra-las;  tíem  a  tal  motivo  parece  que  so  possa  razoa- 
velmente attribuir  o  descubrímento  doBrazíl. 

Em  algumas  partes  da  America  Septentrional  fofam  visitadas  (3) 
naanno  986  porBjame,  filho  de  Herjulfs;  quequatorze  annos 
depois,  no  ultimo  do  10.*  século  da  nossa  éra,  Leif ,  filho  de  Erioo 
o  ruivo ,  partindo  das  extremidades  boreaes  da  Europa ,  reconheceu 
alguns  lugares  d'ella ,  podendo  datar-se  d'esta  expedição  a  descuberta 


292  . 

da  America ;  —  que  estes  intrépidos  navegantes  occupavam  o  paiz 
denominado  por  Leíf  «  do  bom  vinho  »  —  território  que  compreben- 
dia  todo  o  espaço  do  litoral  enlre  Boston  e  New- York :  — factos  sào 
que  parecem  ter  attingido  o  gráo  da  certeza  histórica ,  depois  das  pro- 
fundas e  pacientes  investigações  da  sociedade  dos  antiquários  do 
norte  de  Copenhague ;  mas  que »  apezar  de  tudo ,  em  nada  empa- 
nam a  gloria  de  Colombo. 

É  certo  que  este  babil  mareante  tinha  visitado  a  Islândia  em 
1477,  como  elle  próprio  o  eonfessa  na  sua  obra  a  das  cinco  zonas 
habitáveis  da  terra  » — obra  láo  rara  (4] »  que  me  não  pejo  de  decla- 
rar que  só  pelo  titulo  a  conheço ;  mas  esse  titulo  mesmo  involve  uma 
proposição ,  que  ainda  no  seu  tempo  tinha  alguma  coisa  de  paradoxal. 
E  tanto  isto  assim  é  ,  que  o  cardeal  Pedro  d'AiIly ,  chamado  —  «a 
águia  dos  doutores  de  França  x>,  e  cuja  autoridade  Colombo  muito 
respeitava — na  sua  obra  íl  Imago  mundin  ^  escripta  em  1410  » 
qualifica  de  inbabitavel  a  região  situada  ao  sul  do  monte  Atlas.  Em 
um  mappa-mundi  do  começo  do  século  XV,  mappa  que  pertenceu 
ao  cardeal  Borgia ,  lé-se ,  segundo  diz  o  visconde  de  Santarém  (5)  , 
que  a  zona  tórrida  era  inbabitavel  por  causa  do  calor  do  sol.  Em  ou- 
tro ,  desenhado  em  1488  por  Bartholomeu  Colombo  para  o  rei  de 
Inglaterra  Henrique  VIII ,  nolam-se  os  Ires  seguintes  versos : 

Pingitur  hic  etiam-  nuper  sulcata  carínis 
Ilispanis^  zona  illa,  prius  incógnita  genli, 
Tórrida,  qus  tandem  nuoc  est  uotisiima  multis. 

Voltemos  porém  ao  assumpto  de  que  nos  vinhamos  occupando. 
Apezar  da  viagem  do  Colombo  á  Islândia ,  ha  bons  fundamentos 
para  duvidar  que  elle  tivesse  obtido  ali  informações  acerca  de  taes 
descubrimentos ,  ou  que  ao  menos  concebesse  suspeita  da  existência 
d'estas  terras.  Di-lo  Humboldt,  que  para  isso  se  apoia  em  razões, 
que  sào  ou  parecem  concludentes,  além  da  consideração,  que  elle 
também  apresenta,  de  que,  quando  foi  da  viagem  do  Colombo  a 
Islândia ,  havia  já  dous  séculos  que  se  linha  inlerdicto  á  Groelandia 
todo  o  Gommercio  com  estrangeiros. 


ã93 

Colombo  visitou  a  Islândia  em  Fevereiro  de  14T7;  mas  os  prò« 
jectos,  de  que  resultou  o  descubrímento  do  novo  mundo,  já  o  occupa" 
vam  nos  annos  de  1470  e  1473 ;  e  esta  razão  já  de  per  si  valiosa ,  se 
corrobora  com  o  argumento  que  se  deduz  do  silencio  que  sobre  a 
viagem  dos  Islandezes  se  guarda  no  celebre  processo  sobre  a  prio- 
ridade  das  descobertas  de  Colombo, — processo  que  só  seconclaiu 
em  1517. 

Nota-se  por  fim  que,  si  Colombo  tivesse  intenção  dedescubrir  o 
paiz  vizinbo  ou  collocado  em  face  da  Islândia,  — na  sua  primeira 
viagem  5  eile  nao  teria  seguido  o  rumo  de  sudoeste  largando  da9 
Canárias  (6). 

Que  Colombo  lenha  recebido  a  relação  da  viagem ,  e  o  roteiro  de 
Afionso  ou  Alonso  Sanches,  Tosse  elle,  como  diversamente  se  tem 
escripto,  bespanhol,  biscainho  ou  portuguez,  ou  se  desse  o  caso  em 
Lisboa,  Madeira  ou  Cabo  Verde,  — é  facto  tão  pouco  verosímil, 
que  tem  sido  desprezado  pelos  bons  historiadores,  e que  também  não 
será  motivo  de  controvérsia,  visto  que  o  autor  da  Memoria  por  sua 
parte  o  regeita  (7).  Oviedo  o  qualifica  de  <(  fabula  que  tinha  voga 
entre  o  povo  miúdo  d,  e  o  reputa  falso  na  sua  Historia  geral  t 
natural  dos  Índios  (8).  Por  outro  lado  bem  fácil  é  demonstrar-se 
a  falsidade  do  que  se  allega.  A  viagem  de  Sanches  data  de  1484 ,  — 
isto  é — ,  quatorze  annos  depois  de  Colombo  ter  concebido  a  possi^ 
bílidade  de  navegar  para  a  índia  por  oeste, — dez  annos  depois  de 
ler  encetado  a  sua  correspondência  com  Toscanelli —  sobre  tal 
projecto. 

Outro  facto  de  mais  importância  em  relação  á  viagem  de  Colombo 
é  o  que  se  menciona  no  processo  da  propriedade  de  seus  descubrimen- 
tos,  —  o  de  ler  Marlim  Alonzo  Pinzon',  um  dos  seus  companheiros 
de  viagem,  affirmado  que  vira  em  Roma  um  mappa-mundi,  em 
que  o  novo  continente  se  achava  figurado.  D'esta  eírcumslancia  , 
combinada  com  a  de  ter  Colombo  na  sua  primeira  viagem  mandado 
ao  mesmo  Pinzon  uma  carta  de  marear  (9) ,  onde  se  achavam  pin- 
tadas certas  ilhas ,  se  tem  querido  argumentar  que  não  foi  tanto  ás 


S9I 

eegn  f  Qomo  3a  poosa»  quQ  ell^  ^ av^ntmo»  no  qçiBffiiP  cm  premira 
da  (Bwiiqlios  9  torras  daaeonbefwhoi 

S'  certo  que  Colombo  na  sua  primeini  viagem  levou  eofugigo  uipa 
oarti  de  marear,  que  lhe  merecia  alguma  coq|iaR(a,  oarMi  que,  m- 
gvknáo  80  julga»  elle  recebera  de  Paulo  ToscaBellí*  e  mais  d^  meÍQ 
aB^lo  depois  da  morte  do  almirante  era  ainda  pessiiida  por  Bartko->- 
lomeu  Las  Casas :  essa  foi  a  que  elle  enviou  a  Marlim  AlonzQ  Piozgn 
a  bordo  do  Pin^a.  Sabe-«e»  porém,  que  essa  carta,  si  era  a  mesma, 
Ibe  fora  legada  por  Tospanelli  em  1477  (10) ;  e  si  nos  nfioesqueis^ 
noa  da  eircumslaneia,  já  indicada,  de  qi^e  oa  projectos  de  qma  viagçwfi 
para  oésle  occupavam  o  espirito  de  Colombo,  sete  annos  antes  4'ma 
época»  concluiremos  que  as  allegaçõesde  Pintou  carecem  da  impor- 
Iraeia,  que  á  primeira  vista  estaríamos  dispostos  a  attribuir-)hei. 
Gomo  quer  que  seja ,  se  Colombo  si  tivesse  guiado  unicamente  p0la 
carta  de  Toseaqelli  (observa  Humboldt  no  logar  supracitfldo) ,  «  ^- 
n  pe-ria  dirigido  mais  para  o  norte,  e  conservado  sob  o  perallel^  do 
f  Lisboa ;  emquanto,  oa  esperanga  de  çbegar  mpis  cedo  a  Cypango 
n  ouao  Japlo,  elle  percorreu  metade  do  seu  p^minbo  pela  altura  da 
%  ilbade  Gopoera  (uma  dos  Açores),  e  inclinando-so  depois  para  9 
<i  sul,  acboursea  7  de  Outubro  áq  1492  aos  95  i\9  grioa  de  lati- 
m  tude.  Então,  como  ainda  nio  tivesse  descoberto  as  coitas  dpJl^pÀo» 
a  que  segundo  seus  cálculos,  devera  ter  achado  $216  léguas  mariti- 
«  mas  Biais  chegadas  ao  Oriente,  cedep,  depois  de  longa  relçictancia, 
f  ás  pepresentações  de  Martim  Alonzo  Pinzon ,  e  navegou  para  o 
«  sud-oéste,  mudança  de  rumo,  que  o  levou  alguns  dias  depois  á  ilba 
n  de  Quaoahani.  » 

y^raQi  pois,  que  para  a  descoberta  de  Colombo  jao  inQuiram  as 
viagens  dos  Scandinavos,  nem  o  roteiro  de  AfEonso  Sanches,  si  em 
algum  tempo  existio ;  servindo  a  carta  de  Tosc^mellji  aómenle,  para 
çiais  o  confirmar  pas  9uas  idéas. 

Qev^ei  ainda  observar  que  n'esta  carta  viíun-ie  pintados  fi^ía^ 
iUm*  Gomtudo  nâo  era  isso  para  admirar ;  por  que  antes  e  depois 
fi^emoda  de}ux>beria  das  Canárias,  a  exíst^ia  de  jlhas  siMiada§  m 


id5 

Atlântico  era  objecto  de  fabulas  e  contos,  que  se  casavam  algumas 
vezes  com  as  ficções  do  paganismo  grego  e  romano.  No  século  XIV 
o  celebre  Boccacto  no  seu  livro:  «  De  montibús  et  diversis  nomi" 
nibus  fnaris.  »  Escreveu,  a  propósito  do  Oceano  Allánlico :  «Além 
«  do  Oceano  Atlântico  existem  certas  ilbas  separadas  por  canaes,  e 
c  um  pouco  affastadas  de  terra,  nas  quaes,  segundo  $e  diz,  habitam 
«  asgorgonas:  outros  aíBrmam  que  ollas  estão  muito  pelo  mar 
«  dentro,  ia  O  diz-se^  que  este  autor  emprega,  tratando  das  Caná- 
rias, revela  o  imperfeitíssimo  conhecimento  que  então  se  tinha  do 
Atlântico,  mesmo  na  proximidade  de  suas  costas  orientaes  $  e  mais 
Boocacio  foi  um  grande  geographo  no  seu  tempo,  e  tratava  especial- 
mente dos  mnres  e  montanhas. 

Bakony,  geographo  árabe,  que  viveu  no  século  XV,  dizendo  que 
o  poente  é  terminado  peio  oceaso,  faz  menção  das  famosas  seis  esta* 
tuas  de  bronze  das  Canárias,  cada  uma  d'ellas  de  cem  cevados  de 
altura,  e  que  serviam  como  de  fanaes  para  dirigir  os  navios,  e  avi- 
sa-los de  que  nâo  havia  mais  caminho  para  as  partes  d'aquem  (11). 
D'cstas  estatuas  escreveu  Ibn  Said»(12)  que  haviam  sido  erigidas 
nas  ilhas  de  Kkaíidát  (que  são  as  mesmas  Canárias  j  coma  inscrip- 
ç{[o,  similhante  ao — Non  plus  ultra  —  das  columtías  de  Hercules : 
não  se  vai  além ! 

O  phenomeno  da  miragem  servia  também  para  alimentar  a  crença 
de  terras  inexploradas  que  havia  no  Atlântico.  Colombo,  no  roteiro 
da  sua  primeira  viagem,  falia  de  umas  ilhas,  que  por  effeito  deste 
phenomeno,  appareciam  todos  os  annos  a  oeste  dos  Açores,  Canárias  e 
Madeira. 

Sendo  isto  assim,  não  seria  para  admirar  que  na  carta  possuiJa 
por  Colombo,  apparecessem  ilhas  desconhecidas ;  mas  nenhuma  ra- 
zão ha  para  crer  que  ellas  ali  fossem  postas  por  Toscanelli,  a  não  ser 
como  dependências  da  Ásia ,  parte  do  mundo  que  era  então  bem 
pouco  conheciJa,  e  cujo  caminho  o  florentino  pretendia  demonstrar. 
O  que  ou  concluo,  tanto  do  roteiro  de  Colombo,  impresso  por  Na- 
varreii,  como  da  passapjem,  que  Humboldt  cita,  do  manuFcriplo  de 
Las  Casas  (13),  é  que  íôra  o  próprio  Colombo  quem  havia  desenhado 

XV1I1  ^8 


296 

aquellas  ilhas.  A  proposiio  d*6ssa  caria,  lô-se  noroieiro  dâGotombo 
«  d'onde,  segun  parece,  lenia  pintadas  el  almirante  cierlas  islas  por 
aquela  mar  (14). »  Las  Casas  tendo  dito  que  essa  carta  parava  em  seu 
poder  com  outras  cousas  do  almirante,  e  escripturas  do  seu  próprio 
nunho,  accrescenta:  «  En  ella  lo  pinto  muchas  isias.»  A'  vista  de  laes 
.abrases  nào  se  pôde  muito  bem  suppôr  quetaes  ilhas  Gzessem  origina- 
riomente  parte  do  mappa  do  Toscanelli :  peio  contrario,  parece  ter  sido 
Colombo  quem  n'elle  as  desenhara,  por  ventura  como  sendo  aquelles 
os  (lontosque  demandava,  e  esperava  encontrar.  Si  porém  foram  essas 
ilhas  representadas  pelo  próprio  Toscanelli,  se  com  a  expressão  de 
— Antilia^  —  que  elle  emprega,  quis  revelar  a  existência  de  terras 
desconhecidas,  embora  nào  fossem  propriamente  a  America  ou  as 
ilhas  caraibas ;  como  nenhum  fundamento  tivesse  para  o  fazer,  não 
poderiamos  n'este  caso,  deixar  de  ciassiGca-lo  no  numero  dos  astró- 
nomos e  cosmographos,  que  apresentavam  como  realidades  as  pro- 
ducções  da  sua  fantasia,  como  si  a  verdade  nunca  tivesse  de  appa- 
recer.  Tal  ó  o  mappa  de  Frá  Mauro  de  1460,  no  qual  a  Africa  ter^ 
mina  por  uma  ilha ;  e  o  globo  do,  Martinho  Behain  ou  Bohemio,  que 
data  de  1A92,  em  que  esta  mesma  parte  do  mundo ,  depois  do  rio 
do  Infante,  lança  uma  grande  lingua  de  terra  para  o  Oriente. 

Mas  porque  havemos  de  roubar  à  humanidade  esse  glorioso  florão 
da  coroa  de  suas  conquistas?  A  tentativa  de  Colombo  foi  aventurosa, 
atrevida,  arrojada ;  mos  o  genovez  tinha  concebido  o  seu  plano,  tinha 
em  vista  um  fim  que  seguia  com  afinco  e  tenacidade.  O  que  elle  pre- 
tendia era  descobrir  um  caminho  pnra  as  terras  das  especiarias,  era 
chegar  ao  oriente  pelo  caminho  do  occidente;  e  iongode  acreditar, 
com  Bumboldt,que  o  fim  principal  ecomo  que  único  dn  sua  empreza 
era  descobrir  esse  caminho  (15),  sou  levado  a  crer  que  alguns  desco- 
brimentos, ainda  que  nào  tão  importantes  como  na  realidade  foram, 
entravam,  como  uma  probabilidade,  nos  seus  planos  (16).  É  isso  o 
que  claramente  se  deduz  logo  do  capitulo  primeiro  das  condirões  ajus- 
tadas entre  elle  e  os  reis  catholicos  (Í7).  Ninguém  o  queria  acre- 
ditar; eram  chimeras  de  Marco  Polo,  cuja  obra  elle  provavelmente 
não  lira  (18);  eram  artificies  do  cavalheiro  d'indu$trla,  que  armava 


297 

laços  á  fortuna.  Os  Theologos  argumentavam  que  nSo  podia  baver 
nenhum  povo  ignorado;  porque  Deos  linha  mandado  aos  seus  após- 
tolos que  pregassem  o  evangelho  a  todas  as  gentes.  Os  sábios  lança- 
vam-lhe  em  rosto  a  sus^arrogante  presumpçâo  de  querer  cllc  só  saber 
mais  que  todo  o  mundo  (19);  e  pretendiam  que  si  algum  paiz  ha- 
bitável havia  além  do  oceano  occidenlal,  não  estaria  elle  por  tantos 
séculos  ignorado  dos  homens,  nem  á  espera  d*ellc,  que  o  viesse  des- 
cobrir. Os  astrónomos  e  cosír.ogrophos  argiimenlnvam  de  modo  si- 
milhante,  com  razões,  que  não  eram  profundas;  mas  pareciam  con- 
cludentes; porque  se  baseavam  na  ignorância  de  todos:  (ai  era  a 
conjectura  dos  que,  admittindoaesfericidade  do  mundo,  sustentavam 
que,  passado  certo  ponto,  a  volta  se  tornaria  ímpossivel  (20). 

Uma  viagem  de  descobrimentos  no  mar  atlântico, — o  mar  verde,  o 
mar  tenebroso,  o  mar  sem  fím  dos  geographos  árabes 1 1...  Era  d'esse 
mar,  que  apoiado  nas  autoridades  de  Ibn  Said  e  de  Masondi, 
Edrisi  escrevia  (21) :  «  Ignora-se  o  que  existe  além  do  mar  tene- 
broso ;  nada  se  sabe  a  seu  respeito  por  causa  das  diíliculdades  que 
oppoem  á  navegação  a  espessura  das  trevas,  a  altura  das  vagas,  a 
frequência  das  tormentas,  a  multiplicidade  de  animaes  monstruosos 
e  a  violência  dos  ventos.  Ha  comtudo  n'este  oceano  grande  numero 
de  ilhas,  ou  sejam  habitadas  ou  desertas;  mas  nenhum  navegante  se 
tem  aventurado  a  atravessa-lo,  nem  a  cortar  o  mar  alto,  límitando-se 
lodos  a  seguir  as  costas,  sem  perder  nunca  a  terra  de  vista.  As  vagas 
d'esto  mar,  da  altura  de  montanhas,  bem  que  se  agitem  e  se  compri- 
mam, ficam  sempre  inteiras  o  insulcaveis  sempre.  » 

Era  esse  o  mar  que  Colombo  so  propunha  a  navegar!  Triumphou 
porlim,  e  devia  triumphar,  porque  era  homem  de  allissimo  en- 
genho. Em  um  memorial  ou  carta  (22),  que  dirigiu  ao  rei  de  Hes- 
panha,  dizia  ello  de  si  :  ;<  Desde  criança  que  embarco,  e  ha  quarenta 
annos,  que  percorro  os  mares:  examinei-os  a  todos  com  cuidado, — 
pratiquei  com  grande  numero  de  homens  letrados  de  todas  as  nações, 
— ecciesiasticos  e  seculares,  latinos  e  gregos, — judeus  e  mouros  ede 
outras  muitas  seitas;  adquiri  alguns  conhecimentos  da  navegação, 
da  astronomia  e  da  geometria,  e  sinto-mo  capaz  de  dar  relação  da 


298 

todas  os  eidades^  rios  e  montanhas,  e  de  as  collocar  cada  uma  d'eUaSy 
nos  mappas,  nos  lugares  que  devem  occupar.  Tenho  além  d'isso  es- 
tudado os  livros  que  tratam  da  Gosmographiay  da  Historia  o  da  Phi- 
losophia,  eto.  a  A  isto  se  chamou  n'aquelle  tempo,  ser  gloriono 
em  mostrar  as  suas  habilidades;  e  todavia,  como  observa  Hum-- 
boldt  (23),  os  homens  que  hoje  se  occupam  com  os  phenomeoos  da 
mundo  exterior,  admiram-se  da  penetração  de  Colombo,  a  quem  não 
escapa,  ao  passo  em  que  procura  gomas  e  especiarias,  o  exame 
da  conOguração  da  terra,  da  pbisionomía  e  forma  dos  vegetaes,  dos 
costumes  dos  animaes,  da  distribuição  do  calor,  e  dag  variações  do 
magnetismo  terrestre.  Humboldt  admira  também  a  nobreza  e  sim- 
plicidade das  expressões  com  que  o  grande  viajante  vai  descrevendo 
e  como  que  pintando  o  novo  céo  e  o  novo  mundo,  que  se  ia  desdo- 
brando a  seus  olhos,  cad.)  ve/.  rn:iis  embellezados  dos  objectos  que 
contemplavam. 

Hon>em  distincio  (entre  os  seus  contemporâneos], pelo  se^  atilamento 
e  scieneia;  a  gloria  do  Genovez  está  no  seu  génio  e  não  na  sua  felicidade. 

Assim  que,  deixando  de  parte  o  seu  descobrimento,  bastaria  para 
illustra-lo  o  seu  projecto,  que  daria  á  execução,  si  factos  occasionaes 
o  nfio  tivessem  contrariado ,  de  uma  viagem  em  roda  do  globo,  con- 
tinuando a  sua  derrota  para  oósle,  aGm  de  voltar  á  Hespanha  por 
mar,  ou  por  terra,  atravessando  Jerusalém.  Era  isto  4  annos  antes 
do  Garoa,  27  annos  anies  de  Magalhães;  e  antes  que  Balbon  des* 
cobrisse  o  pacifico  das  alturas  do  Panamá  ,  dez  annos  untes  que  o  in- 
trépido aventureira  hespaniiol  entrasse  no  mar  até  aos  joelhos,  com  a 
espada  desembainhada,  para  tomar  conta  d'elle,  cm  nome  da  Coroa 
de  Castella,  já  Colombo  tinha  advinhado  o  mar  d  oósle,  como,  antes  de 
as  avistar,  tinha  advinhado  as  terras  da  America,  o  profetisado  o  seu 
apparecimento  aos  seus  companheiros  timidos  e  assustados. 

Foi-me  preciso  entrar  n'estas  considerações  por  que  o  autor  da 
Memoria  dá  começo  ao  seu  trabalho,  referindo  a  recusa  que  soffreu 
Colombo  do  rei  de  Portugal,  a  quem  pedia  auxilio  para  a  execução 
dos  seus  planos,  recusa  que,  acha  o  nosso  digno  collega,  não  seria 
inteiramente  dostiluida  de  calculo. 


299 

Era  poesivel  que  o  rei  de  Porlugnl,  antes  de  descoberla  a  America, 
IÍT63S6  idóas  vagas  de  algum  inundo  que  podesse  estar  perdido  n» 
vastidão  até  então  inexplorada  do  oceano ;  por  que  nas  proximidades 
dos  grandes  pbenomenos  da  natureza,  sente-se  uma  como  revelação 
intima,  ura  rumor  vago  que  presagia  o  acontecimento  futuro:  taes 
são  os  indicies  de  tempestades  nos  paizes  intertropicaes  e  os  ameaços 
do  erupções  vulcanieas.  Ha  também  exemplos  nnalop[os  nos  aconte- 
cimentos humanos,  ou,  se  os  não  ha,  a  nossa  credulidade  ao  menos 
faz  que  os  tomemos  por  verdades. 

Nao  quero,  pois,  negar  todo  o  credito  a  um  facto,  que  os  antigos 
traduziram  em  rifão,  chamandd-a  a  voz  de  Deos,  porque  de  ordi- 
nário se  realisam  os  seus  prognósticos,  ou  do  diabo,  porque  vem,  não 
se  sabe  d*onde.  O  que  é  certo  é  que,  dada  a  existência  de  um  acon- 
tecimento de  alguma  importância,  podemos  ler  a  certeza  de  que  um, 
e  muitos  servos  de  Deos,  o  revelaram  em  extaais  bealilicos,  na  presen* 
ça  de  todo  o  mundo  I  Assim  ó  que  depois  de  Colombo  apparccéram 
o  roteiro  de  Affonso  Sanches,  os  mappas  de  Orontius  e  os  conheci-- 
mentos  ante-diluvianos  do  Brazil. 

Si  porém  tal  recusa  foi  filha  de  calculo,  á  vista  do  resultado  que 
teve,  podemos  aquilata-lo  de  bem  desgraçado ;  mas,  antes  d*i&so, 
vem  apelo  perguntar — qual  o  motivo  por  que  o  rei  de  Portugal, 
recusando  a  Colombo  o  fraco  auxilio,  que  este  llie  pedia,  tentou,  sem 
a  sua  intervenção,  realisar  o  projectado  descobrimento?! 

£sta  hypoiheso  nSo  é  admissível,  quando  consideramos  que  nSo 
ha  razão  alguma  para  suppôr  que  Colombo  tinha  sido  mais  bem  con- 
ceituado em  Portugal  que  regeitouos  seus  serviços,  do  que  na  lies- 
panlia,  onde,  antes  que  elles  fossem  aceitos,  os  humens  prudentes  e 
sensatos  se  riam  do  forasteiro,  quasi  mendigo,  que  promcltia  aos  reis 
gloriosos  de  Aragão  e  Castella  montões  de  ouro,  que  deslumbrassem 
a  Europa.  N'esse  tempo  D.  João  11  não  teria  em  melhor  opinião  do 
que  o  teve  o  grande  historiador,  o  Tito  Lívio  Portuguez  — Joào  de 
Barros,  annos  depois  do  descobrimento  da  America,  recordando  a 
proposta  de  Colombo  e  o  modo  por  que  ella  fora  encarada  pelo  rei  e 
cosmographos  portuguezes,  dil-o  em  palavras,  de  que  se  cxclue  toda 
a  idóa  do  calculo,  ou  inOuencia  de  motivos  occulios. 


soo 

Eis  o  que  elle  escreveu  (24) :  «  El-rei  porque  via  sec  esle  Chris- 
tovam  Colom  homem  fallador  e  glorioso  em  mostrar  suas  habili- 
dades, e  mais  fantástico  e  de  imaginações  com  a  sua  ilha  Gypango» 
que  certo  no  que  dizia,  dava-Ihe  pouco  credito.  Comtudo  á  força 
de  importunações  mandou  que  estivesse  com  D.  Diogo  Ortiz,  bispo 
de  Ceuta,  e  com  Mestre  Rodrigo  e  Mestre  José,  a  quem  elle  commeltia 
estas  cousas  de  cosmographia  e  seus  descobrimentos  :  e  todos  ouviram 
por  vaidade  as  palavras  de  Christovam  Coiom,  por  tudo  ser  fundado 
em  imaginações  e  cousas  da  ilha  Cypango  de  Marco  Paulo  (24).  » 

Portanto,  na  recusa  que  em  Portugal  soffreu  o  grande  navegante, 
não  entrou  calculo  :  digamo-lo  em  desaggravo  do  principe  illustrado, 
que  então  regia  aquelle  paiz  :  o  que  houve,  foi  antes  falta  de  convic- 
ção ede  fé.  Assim,  quer  me  parecer  de  toda  a  verosimilhança,  para 
o  não  pôr  inteiramente  fora  de  duvida, — em  ntlenção  ao  pouco  e 
duvidoso  que  se  tem  escripto  acerca  da  viogem  de  um  Corte  Real  no 
século  15.", —  quer  me  parecer,  digo,  que  antcís  da  viagem  de  Cabral 
ignorava-se  a  existência  das  terras  por  elle  descobertas,  ainda  mesmo 
supposto  que  depois  das  viagens  de  Colombo  se  suspeitasse  ou  admit- 
tisse  a  possibilidade  de  novos  descobrimentos. 

Examinemos  os  documenlos  e  provas  que  o  nosso  illustrado  con* 
sócio  lomou  para  servirem  de  base  ao  seu  trabalho. 

Deixemos  de  parte  a  palavra  «  Brazil  «  bem  que  já  existisse  muito 
antes  de  ser  imposta  como  denominação  a  esta  parte  do  mundo ;  pois 
o  illustre  autor  da  Memoria  regeilou  o  argumento  que  d*ahi  se  poderia 
deduzir, querendo  que  os  lij^ares  em  tempos  remotos  conhecidos  con- 
fusamente por  tal  nome,  si  exceplUvimos  o  Drazil  propriamente  dito. 
talvez  fossem  os  mesmos  que  ainda  hoje  o  conservam.  Taes  sâo,  como 
a  memoria  o  indica,  uma  roclia  na  Irlanda,  e  um  monte  junto  de 
Angra  na  ilha  Terceira. 

Adoptando  plenamente  a  opinião  do  iilustro  membro  d*esle  insti- 
tuto, scja-me  parmiltido  pôr  em  duvida  a  suíTiciencia  dos  documen- 
tos, em  que  elle  se  baseia,  para  provar  que  em  Portugal  se  tinha 
conhecimento  das  terras  que  Pedro  Alvares  descobriu,  não  por  mero 
acaso,  mas  demandando-as  como  por  propósito  deliberado. 

É  o  primeiro  d'esles  documenlos  a  carta  datada  de   Barcelona  do 


301 

5  de  Setembro  de  1493  (25)»  em  que  o  rei  de  Hespanba,  escrevendo 
ao  âeu  almirante,  lhe  recommendava  que  se  afastasse  (ias  costas  e  ilhas 
de  Portugal,  pois  que  os  portuguezes  pretendiam  emharaça-^lo  na  sua 
viagem.  Tratava-se  também  n'essa  carta  si  seria  conveniente  am-^ 
pliar-se  a  bulia  de  Alexandre  VI. 

£'  corto  que  os  portuguezes  se  oppuzerara  á  execução  d'esta  bulia  • 
mas  não  se  deve  altribuirá  perspicácia  de  D.  João  11  ficar  o  Brazil 
incluído  na  sua  demarcação.  Bulias  anteriores  davam-Ihe  o  senhorio 
e  conquistas  das  terras  que  descobrissem,  e  ás  quaes  não  tivesse  che- 
gado a  luz  do  Evangelho ;  e  como  a  de  Alexandre  VI  restringia  estas 
concessões  amplas,  e  tâo  amplas  que  se  poderam  considerar  illimi- 
tadas :  por  isso  se  oppuzeram  os  portuguezes  á  sua  execução.  Si 
a^im  nào  fosse,  seria  diílicil  explícar-se  o  motivo  porque  se  recusa-^ 
ram  os  portuguezes  a  aceila-la  em  um  tempo  em  que  era  tão  respei- 
tada a  autoridade  ponlificia  (26) ;  nom  se  poderia  conceber  como 
conseguiram  o  tratado  de  Tordesillas  e  a  escriplura  de  Sar.igossa  que 
estenderam  em  favor  dos  portuguezes,  as  raias  do  lote  que  Alexandre 
VIlhesGzera. 

Quanto  porém  à  emenda  de  fal  bulia,  devendo-so,  segundo  as  suns 
pfe$crípções,tirar-se  uma  linha  que  cahisse  cem  léguas  a  oeste  de  uma 
das  ilhas  dos  Açores  ou  Cabo  Verde,  é  claro  que  nao  era  preciso  ser 
emendada  para  que  as  terras  novamenie  descobertas  se  achassem 
com prehend idas  na  demarcação  da  coroa  de  Hespanha.  Do  modo  por 
que  n'essa  carta  se  exprimia  o  rei  de  Hespanha,  vé-se  que,  si  os 
portuguezes  tentavam  intervir  nos  descobrimentos  occidentaes,  fun- 
dava m-se  em  outros  pretextos. 

Póde-se  admitlir,  eé  bem  desuppòr,  que  Colombo  depois  da  sua 
primeira  \iagem  estivesse  convencido  que  lhe  restava  muito  que  ver  e 
navegar  antes  de  chegar  ao  Gm  dos  seus  descobrimentos;  c  que  então 
fosse  cógamenle  acreditado ,  porque  já  nào  era  o  aventureiro  sem 
pátria,  uims  o  navegante  iliustre,  quo  cobrira  de  gloria  a  terra  que 
havia  confiado  no  seu  génio,  e  aquella  a  que  devia  o  nascimento. 
Mas  o  que  os  portuguezes  queriam  era  intervir  nos  descobri menlof^ 
de  Castella,  e  embaraçar  o  progresso  marítimo  de  uma  nnçâo  rival. 


S02 

qaaesqDer  que  fossem  os  pretextos  qoe  para  isso  apresentassem.  Alie- 
gavam  pois  a  existência  de  terras  próximas  oa  dependentes  d' Africa, 
em  cu]os  mares  já  se  havia  descoberto  o  rochedo  deserto  de  S.  Hel«3a : 
isto  fez  impressão  no  animo  do  rei  de  Hespanha,  tanto  mais  que  õs 
porluguezes,  ao  que  se  suppunhay  mandavam  surrateiramente  cara- 
vellas  ao  descobrimento :  era  com  referencia  a  estas  alIegaçOes  dos 
portuguezes — de  terras  nos  mares  d'Africa — que  orei  tratava  da 
conveniência  de  se  emendar  a  bulia.  «  Sabeis  d'isso  mais  que  todos 
(escrevia  ellea  Colombo],  dizei,  pois,  si  é  preciso  emendar  a  bulia,  i» 
^ratava-se,  pois,  de  terras  que  ficassem  na  distancia  de  cem  léguas, 
dos  Açores  ou  Cabo  Verde. 

Poderá  também  concluir-se  que  ainda  que  se  dissesse,  e  geralmente 
se  acreditasse  que  as  tiovas  terras  pertenciam  á  índia,  o  rei  de  Hes- 
panha  admittia  a  possibilidade  de  que  ellas  nào  fossem  senão  depen- 
dências d*  Africa.  Não  eram  os  portuguezes  n'aquelle  tempo  marujos 
inferiores  aos  hespanhóes,  nem  creio  que  o  rei  de  Hespanha  fosse  mais 
illustrado  que  o  de  Portugal;  comtudo,  segundo  aiBrma  André  de 
Rezende  em  um  trecho  citado  pelo  illustre  autor  da  Memoria,  D. 
JoâD  II  senliu-se  das  descobertas  de  Colombo  pelas  suppôr  feitas 
dentro  dos  mares  e  termos  de  seus  senhorios  de  Guiné  (27).  Esse  ao 
menos  era  o  pretexto. 

Não  me  cansarei,  comtudo,  em  formar  conjecturas  acerca  da  ex- 
plicação que  deve  tur  esle  documento  ;  porque  a  historia  se  encar- 
regou de  a  pôr  fora  de  duvida. 

Eis  o  facto  :  Colombo,  cujos  ofTerecimenlos  recusados  por  Portu- 
gal, haviam  finalmente  sido  aceitos  porCaslelin,  cortsegniu  realisar  o 
seu  projecto;  e descoberta  a  America  ,  viu-sc  na  sua  volta  obrigado 
por  circumslancias  a  entrar  no  Tejo.  Teve  isto  logar  a  6  de  Março  de 
1493.  Alvorocaram-se  os  portuguezes,  e  D.  João  II,  desejando 
ouvir  a  Colombo,  mandou-o  chamar,  «  o  que  elle  foz  de  boa  ventado 
(escreveu  João  do  Barros)  (28),  nào  tanto  por  aprazerá  el-rei,  quanto 
por  o  magoar  com  a  sua  vista.  » 

Colombo,  possuído  de  enlhusiasmo  pelas  scenas  do  novo  mundo, 
como  no-lo  revelam  seus  escriptos^  poderi.i  nào  ler-se  reprimido  de 


ainda  mais  engrandecer  €  axalUir  o  mérito  da  sna  deseobetli  (29) 
na  pralka  qye  leve  com  o  rei*  eompreliendendo  que  d*esta  fórmâ  se 
vingava  dft  lobejo  das  humilhaçõeâ  por  que  passara  em  Parlyga1« 
qtiandõ  the  cffareeia  um  reino,  em  cuja  existência  ninguém  aera- 
dicava>  Nlo  era  preciso  para  bsú^  nem  parece  presumivel,  queelle 
com  soitura  de  pala? ra?,  como  dí?.  Barros,  accusasse  b  reprehendessd 
o  rei  de  não  ler  aceiíado  a  %nA  otterin.  Porá  accasar  e  reprehendar 
ó  rei  bailava  nnicâ mente  o  presença  de  Colombo,  ainda  que  nônt 
«ma  sd  palíivra  pronimciass^  (30).  E  de  fado  mo&troii-se  o  rei  tão 
pezaroso  e  sentido  queossQus  eorietaos  se  lembraram  de  aconselhar^ 
llieo  ignominioso  expedienie de  máfidarai^ssinar  a  Colombo.  Era 
homem  así^maJo,  di/Jam  elles:  bnslavapois  manjar-se  algum  espa- 
dachim tmvar-se  á^  rabões  com  elle,  que  de  cerio  não  recusaria  a 
bftga»  t  dVte  modo  perderia  a  Hespanha  a  sua  conquista* 

O.  João  11  já  tinlia  sido  Injuslo  para  com  ogênovei,  e  n*êssà  mes- 
ma audiência  parece  que  a  sua  magnanimidade  lia  via  fraqueado  d 
cedido  ao  despeito  não  disfarçado  de  ver  eomo  a  Hespnnha  por  um  sâ 
laticade  fortuna  m  linha  opulentâdo  e  obscurecido  a  sua  gloria.  O 
meio  repugnoQ-lha;  e  o  crímo  lhe  pareceu  desnece^aario,  porqtii 
roiou-lhe  n^nlma  não  sei  que  esperança,  fortalecida  pelos  seus  desejos^ 
d«que  as  terras  de  Colombo  GcassetQ  nos  seus  mares  de  Guiné.  Era 
o  rei  de  uma  nação  forte,  de  um  povo  glorioso,  e  quiz  lançar  mão  da 
força f  mandando»  ^mo  escreveu  Resende,  preparar  uma  grande  a r-- 
mada  contra  aquel  las  parleis;  mas  em  quanto  estes  aprestos  se  faziam 
0m  Poftugal,  os  reis  de  tlespanha  o  suspeliaram  ou  a  ventara  nu  o 
reqiiererarn-lhequesobre-estívesse  na  sua  resoltiçào,  ai6  que  se  man« 
disse  ver  a  que  mart^s  e  conquistas  cabia  o  descobrimento  da  Co- 
lombo. 

B.  João  il  aceitou  a  proposta  pela  convicção  em  que  estava  de  qu9 
iS  ilhas  de  Cypango  e  Anullps  u^u  eram  mais  que  de{)enddnciai 
d' Africa  (31 J*  Nt.m6Íam-se  embaixadores,  entabulam^se  negocia^ 
(oes;  masnii  emlania,  como  Colombo  tivesse  dd  partir  novamente,  a 
prudência  aconselhou  aos  íeÍ!i  catholicos  deiârminarem  a  Colombo 
que  nSo  aporia^íi?  ao«  domini<w  portugu^ee. 

tuii  $B 


iOà 

Este  eseripto,  pois,  nenhuma  relação  tem  com  o  brazil ;  neabao» 
prova  ofTrece,  nenhuma  indução  se  pode  d'elle  tirar  de  que  os  por- 
tuguezes  tivessem  noticia  ou  noções  d'esta  parte  do  mundo. 

Ouiro  documento  éa  carta  do  bacharel^  mestre  João,  datada  de 
1/  de  Maio  de  1500,  escripta  da  frota  de  Pedro  Alvares  ao  rei  dd 
Portugal ,  na  occasião  do  descobrimento  do  Brazil  (32).  Que  n'essa 
caria  ,  ou  n'esse  icinpo  se  tratasse  da  existência  de  ilhas  ou  terra  fír^ 
me,  não  seria  de  admirar  por  icr-se  propagado  na  Europa  logo  após 
as descubcrtas  de  Colonilx)  que  era  conlinenle  o  que  elie  achara.  Era 
isso  o  que  devia  acontecer ,  quando  o  próprio  Colombo,  assim  coma 
Yespucio,  acreditavam  ter  tocado  n'Asia  ,  e  morreram  ambos  n'esta 
supposi(;ào.  Não  seria  muito  pois,  quo  os  poriiiguczes  o  suspeitassem 
também.  No  entanto  não  creio  que  sirva  essa  carta ,  como  quer  o  nos- 
so digno  consócio,  para  comprovar  a  asserção  dos  reis  calholicos  de 
que  os  portuguezes suspeitavam  a  existência  de  muitas  ilhas,  e  ainda 
de  terra  firme.  O  que  pretendia  o  physico  e  cirurgião  da  armada 
de  Pedro  Alvares  ora  dar  uma  idéa  ao  seu  rei  da  terra  descoberta  por 
elle  e  seus  companheiros.  O  menos  pois  que  d'elle  se  podia  exigir  era 
que  informasse  si  Vera  Cruz  era  ilha  ou  continente ;  porque  essa  era 
a  pergunta  que  a  si  próprios  fariam  chegando  á  vista  d'uma  terra 
ignorada.  Mas  apezar  de  tudo,  como  que  o  mestre  João  propendia 
para  a  opinião  de  que  era  ilha  a  terra  de  Vera  Cruz ,  e ,  segundo  os 
signaes  que  julgava  ler  percebido  dos  indigenas ,  quiz  lhe  parecer  que 
eram  em  numero  de  quatro. 

O  que  ó  porém  mais  significativo  é  qiie  o  physico  da  frota  de  Pedro 
Alvares  recommenda  ao  rei  que  mande  ver  o  mappa-nvundi ,  que 
possuia  Pêro  Vaz  Bísagudo  !  Que  niopp  era  esse ,  para  o  qual  se 
chamava  a  particular  attençào  do  rei  ?  Teria  alguma  coisa  de  notável 
ou  achar-se-hia  n'elle  consignada  a  terra  de  Cabral,  posto  qiie  se  nSo 
certificasse  si  era  ou  não  luibitada  ?  Nada  sabemos,  e  niuilo  pouco 
se  pódc  conjecturar  d'esto  docun>ento,  q^io  poderia  ter  sido  eseripto 
de  modo  mais  inlelligivel.  Para  d'clle  se  fazer  idéa  aproveilo-me  do 
trecho  que  cita  o  nosso  consócio  a  pag.  169  da  sua  Memoria,  ao 
q>ual,  apezar  de  ser  dos  menos  ambiguos,  dou- eu  uma  interpretação- 


S()5 

Jíitairamenteopposta  :  »  porem  no  mappa  (lô-se  na  Memoria)  nao 
ceriilici  ser  esia  turra  habiiada,  e  não  é  mappa-mundo  antigo.  »  — ^j 
Eu  leio  pelo  conlrario  ^nm  cÊrlillca  ser  eslíi  lerra  IjabitíiJa  ou  nao  i^ 
é  míipp.i-mimdj  antigo  {%%]^^ 

Mas  por  que  motivo,  ou  com  que  íim  ,  perguntamos  ^  clinmnría  o 
physico  ,  mestre  João  ,  a  alii-neíSo  do  rm  pra  o  uiappa  que  possuia 
Pêro  Vnif  O  illtisiradoaulor  da  Mtífnoría  úh  que  ím  para  que  o  rei 
visi&en'elie  a  altura  díi  lerra  novauiento  descoberta;  no  entanto  nàô 
seriíi  isso  grando  coliertíricifl  da  píirto  de  quem  o  escrevia,  quando  elle 
próprio  accrescenta  quo,  sagundoas  regras  do  astrolábio,  era  mani- 
festo qm  elleâ  tinham  a  altura  do  póio  aniarlico  em  17  gráos? ;  e  era 
liío  firme  a  suâ  convirçSo  que  elle  desafiava  os  pilolos  para  verem  » 
quando  <íhegassem  ao  Cabo  da  Boa  Esperança,  quoui  tinfia  razào  :  si 
os  pilotos  com  as  eortaâ  somente ,  ^u  si  eik  L^om  as  canas  e  o 
astrolaliío, 

O  qtie  n  mestre  João  recommendava  não  era  que  se  varificasse  nffo 
a  altura  que  elle  dava  ;  mas  o  sitio  da  lerra ,  no  mappa  de  Pêro  Vasc ; 
nem  mequ^r  pareeer  que  n'tdle  boiívesse  terras  inseri-las;  porque 
dizendo  :  et  nso  so  certilka  ser  esta  lerra  habitada  ou  nâo  j>  ,  —  e  não 
sendo  de  ordinário  coístume  fazer ein-síi  similhanles  indiaçõas  em 
taes  ^n^ppas ,  eu  entendo  que  elle  advertia  ao  rei  que  nâo  procurará 
aquella  lerra  no  que  lhe  elte  indicrtva. 

De  tudo  islo  o  que  é  para  conclui r-se  é  que  eram  n*aquelle  tempo 
rari^imos  os  mappas-mundii  e  tAuio  que,  lrí»lando  d*elles ,  Antó- 
nio Ribeiro  do^  Santos  (34)  ,  citado  f>elo  ;inb\f  da  Memoria  ,  aponta 
apenf*s  Jous,  — *  um  do  iníaulJi  D,  Pedro,  díiípio  de  Coimbra  ,  e  ou- 
ir^  do  cartoriú  do  Alcobaça ,  m\(}  veio  m  mãos  do  infante  D,  Fer- 
nando .  Cibo  de  J>.  Manool.  Masqueoiíísesmiippns  fossetn  siníítilares 
pelas  demãrcaçóiisqiie  n*tíile^  vínbam  do  Cabo  da  Boa  E-^^pír.mça  ,  o 
da  terra  do  novo  mundo,  anteâ  dos  d^eubrimentos  do  UírntdoEnsit 
Dias  ,  ede  Christovào  Coloníbo,  ^  íacto  esso  de  qnt  a  real  anidemía 
me  permittirá  duvidar^  a[K3iar  da  autoridade  de  Aolonio  Ribeiro  dos 
Santos. 

tm  argumenta  cm  favor  da  opiniso  que  a  Memoria  sustenta  ,  nos 


806 

dá  o  Sr.  Varnliag^n,  racordaodo  que  Gaspar  Corte-Real  pedira  a 
doação  que  lhe  fora  coQcedida  a  12  de  Maio  de  ISOO,  da  ilba  ou 
terra  firme  que  encontrasse*-^  isto — dous  mezes  depois  da  partida  da 
Cabral ,  e  quando  as  suas  náos  se  achavam  fundeadas  em  Porto  Se-r 
guro.  A'  vista  d'isto ,  e  do  rumo  que  tomou  Pedro  Alvares,  diz-nos 
o  Sr.  Vamhagen  que  nâo  nos  podemos  deixar  de  persuadir  que  eu-* 
trou  n'i$so  o  quer  que  fosse  das  esperanças,  curiosidade ,  ou  vertigem 
descobridora  dos  portugnczes  d'aquella  idade.  Alguns  autores  d*asta 
nação,  apontando  o  facto,  explicam-rno  de  maneira  que  nenhuma 
correlação  se  achará  entre  uma  e  outra  viagem ,  si  não  a  da  simples 
coincidência  do  tempo.  António  Galvão ,  por  exemplo,  narrando  a 
viagem  de  Cabral ,  passa  logo  em  seguida  á  de  Corierfteal ,  referindo 
como  no  mesmo  anno  de  1500  Gaspar  Çorte-Real  pedira  licença  a 
al-rei  D.  Manuel  para  ir  descubrir  a  terra  nova :  que  partira  da  liba 
Terctíira  com  dous  navios  armados  á  sua  custa,  e  íàra  ao  díffla  que 
está  debaixo  do  norte  em  cincoenla  gráos  de  altura.  «  É  terra  que  se 
agora  chama  do  seu  nome )»,  accrescenta  Galvfio  (35). 

Ainda  que  do  exposto  se  deduza  que  sin^ilbante  doação  nada  vem 
para  o  caso,  sejam- me  comtudo  permiuidas,  para  melly)r  o  compro- 
var,  algumas  outras  ponderações. 

Si  se  tratasse  n'esta  doação  de  terras  a  que  já  Pedro  Alvares  tivesse 
sido  mandado ,  nâo  as  doava  o  rei  tão  de  leve,  principalmente  si  ha- 
via tentado  aquellodesciibrimento  á  custa  da  sua  real  fazenda;  e  si  o 
tivesse  feito,  nâo  deixaria  elie  de  ter  contemplado  a  Corte- Real,  ou 
seus  herdeiros  no  numero  dos  donatários  por  quen^-foi  depois  distri-^ 
buidaaoosta  doBrazil, 

O  de  que  se  tratava,  segundo  o  autor  já  citado,  Trigoso  no  seu 
«  Ensaio  sobre  os  descubrimentos  e  commercio  dos  portugtM' 
jses»  — e  outros,  era  das  terras  que  pudessem  ser  descuberlas  em 
uma  viagem  para  a  índia  pelo  pólo  árctico,  viagem  que  se  dizia  , 
sem  muito  fundamento,  ter  sido  feita  por  um  outro  Corle-Real  no 
anno  de  1463.  Estas  terras,  comprobendidas  entre  os  cincoenla  e 
sessenta  gráos  do  norte ,  hoje  conliecidas  com  a  denominação  de 
terras  dd  labrador ,  acbam-se  no  mappa  que  acompanha  a  obra  de 


807 

Lafftau  «  subre  os  deseubrimentos  dos  portuguezes)>  com  o  nome  dd 
•  Corte- Real »  ,  como  diz  GalvSo,  que  ficaram  sendo  chamadas. 

O  rumo  seguido  por  Cabral  prova  queelle  não  pretendia  tocar  na 
terra  do  hbrador ;  e  do  mesmo  beto  da  doação  feita  a  Corte-Reai  se 
conclua  que  ambos  não  teriam  as  mesmas  vistas.  Uma  d*e$tasduas 
bypotbeses  repelle  a  outra ,  porque  o  Corte-Real  nada  tinha  que 
entender  com  o  Brazil^  ou  Cabral  nSo  vinha  descubrir  terras  para 
elle.  Has  como  quer  que  seja ,  será  sempre  curioso  argumentar-se 
d'uma  viagem  para  o  sul  para  outra  ao  pólo  árctico ,  embora  cabissem 
ambas  no  mesmo  tempo.  Enxergar-se  propósito  ou  o  que  quer  que 
fosse  de  intencional  da  parte  de  Cabral  em  descubrir  terras  em  frente 
déBenguelIa,  porque  sabia-se  (si  isso  era  sabido]  d'outras  fronteiras 
ás  ilhas  brítannicasy  era  suppò-lo  com  conhecimentos  da  extensão  da 
America ,  que  só  depois  d*elle  é  que  se  conseguiu  ter.  Deixemos  po- 
rém de  parte  a  doação  feita  a  Corte-Rcal,  que  será  uma  coincidência 
curiosa ,  mas  nenhuma  relação  tem  com  a  questão  que  nos  occupa. 

Outra  e  ultima  prova  que  citaremos ,  da  noticia  que  os  portugue- 
zes ,  antes  de  Cabral ,  poderiam  ter  lido  do  Brazil,  acba-se  na  obra 
deGajoso  «  Principies  de  Lavoura  do  Maranhão  • ,  —  na  qual  se 
lé  que  Martinho  Beliain,  sendo  já  de  idade  madura  quando  princi- 
piou a  capacitar-se  da  possibilidade  da  existência  dos  antipodas ,  a 
d'um  continente  occidental,  passara  a  Portugal  em  1484  (36),  e 
pedira  a  D.  Joáo  III  alguns  meios  para  entrar  em  uma  grande  expe- 
dição para  o  sud-oeste. 

A  critica  e  illustraçáo  do  nosso  digno  consócio  Gzeram  no  regcitar 
esta  noticia  ,  ou  como  nao  provada  ou  como  inverosimil ,  não  attri- 
buindo  a  Behain  mais  importância  do  que  a  que  elle  teve  no  seu 
tempo  9  —  isto  ó — a  de  ser  um  grande  astrónomo,  que  se  tornara 
reoommendavel  em  Portugal  pelos  melhoramentos  introduzidos  no 
astrolábio  (37).  De  facto  a  critica  a  menos  reflectida  nào  poderá  acre- 
ditar no  que  nos  refere Gayoso  das  descubertas  d'este  homem.  Diz-nos 
que  confiando  o  monarcha  portuguez  alguns  navios  a  Behain ,  este 
astroQomo-navegante  deseubrira,  annos  antes  de  Culombo  e  de  Maga- 
lhães, a  grande  parte  da  America ,  conhecida  com  o  nome  de  Brazil , 


308 

*r>  e  chegara  a  esleodur  a  sua  navegação  até  ao  estreito  a  que  dera  o 
nome  «de  Magalhães»  ,  ou  até  a  terra  de  algumas  povoaçOes  de 
bárbaros,  a  que  chamara  «Patagões»  :  Gayoso  observa  que  talvez 
por  este  motivo  foi  Colombo  pouco  attendido  quando  veio  offerecer  a 
Portugal  os  seus  servi(}os  para  o  descubrimento  do  novo  mundo. 

Constam  estas  particularidades ,  segundo  o  mesmo  autor ,  a  de  uroa 
memoria  sobre  o  di^scubrimento  da  America  ,  dedicada  ao  Dr. 
Franklin  pela  socied.-wJe  philosophica  de  Amsterdam  ;  mas  com  tão 
pouca  fortuna  9  que  nem  a  novidade  do  assumpto^  nem  o  nome 
da  sociedade  ou  da  pessoa  a  quem  fora  offertada  ^  a  podoram  sal- 
var do  esquecimento. 

Examinadas  ,  ainda  que  ligeiramente,  estas  questões  prelimi-» 
nares,  resta-nos  ainda  mostrar  como  as  informações  de  Tosranelli , 
que  o  autor  da  Memoria  qualifica  de  exactas,  e  que  lhe  haviam  sido 
pedidas  pela  corte  de  Lisboa  (38) ,  antes  da  descoberta  do  Colombo , 
não  podiam  ter  dado  aos  porluguezcs  conhecimento  de  novas  terras , 
nem  servir  de  guia  a  Cabral  para  realisar  descubrimento  algum. 

Aproveito-me  da  traducçâodo  nosso  digno  consócio  : 

<c  Muito  me  agrada  saber  (escrevia  Toscanelli  a  um  cónego  de 
Lisboa]  a  familiaridade  que  tendes  com  o  sereníssimo  e  magnifí- 
cenlissimo  rei ,  e  ainda  que  eu  já  tenha  tratado  por  outras  vezes 
do  brevissimo  caminho  que  ha  d*aqui  para  as  índias ,  onde  nas- 
cem as  especiarias  por  via  domar,  que  tinha  por  mais  custo  a 
que  fazeis  por  Guiné;  como  porém  agora  me  dizeis  que  S.  A. 
pretende  algum;!  declaração  ou  demonstração  ,  para  que  entomia 
«  veja  como  se  pôde  tomar  esse  caminho  ,  o  que  mais  fácil  seria 
demonstrar  com  a  a<;phera  na  mfío ,  para  vér  como  está  o  mundo  : 
todavia  para  maior  clareza  mostrarei  o  referido  caminho  em  uma 
caria  similhante  ás  de  marear ;  e  assim  a  mando  a  S.  A.  feita  e 
traçada  por  minha  própria  mâo,  N'ella  vai  indicndo  lodo  o  fim  do 
poente,  tomando  desde  a  Irlanda  o  austro  até  o  fim  de  Guiné,  com 
todas  as  ilhas  que  eslam  situadas  n'esla  viagem,  a  cuja  frente  está 
pintado  em  direitura  pelo  poente,  o  principio  das  índias  com  todas 
as  ilhas  eltigares  por  onde  podeis  andar,  e  quanto  podereis  apar- 


309 

Ur  vos  do  pólo  árctico  pela  iiaba  equinocial ,  e  porquanto  espaço  ; 
isto  éf  com  quantas  léguas  podereis  chegar  a  aquelles  lugares  íerti- 
lissimos  de  especiaria  e  pedras  preciosas  (39). 

O  de  que  se  trata  pois  não  é  de  descuberta  de  terras;  masd^um 
novo  caminho  para  as  índias,  para  a  terra  das  especiarias ^  ou  como 
se  exprime  Humboldl  (40) ,  Toscanelli  n'esta  celebre  carta  pretendia 
demonstrar  a  facilidade  com  que  poderia  chegar  a  Índia  quem  partisse 
da  Ilespanha.    Era  falsa,  a  idóa  que  n'aqiielie  tempo  se  tinha  da  pro- 
porção em  que  a  agua  e  n  terra  si  acham  enlro  si :  Jesconhecia-se  o 
préstimo  do  mar;  nem  os  philosoplioscúmprehendiam  de  que  proveito 
era  tão  grande  porção  de  elemento  liquido  que  occupa  uma  área  de 
vastidão  pasmosa  quando  comparada  a  Ja  superfície  da  lerra.   Era 
esla  uu)â  das  quesiões  qiio  mais  preocupavâo  a  Colombo,  porque  sabe- 
se  que  elle  nas  suas  via;;ens,  uào  se  esquecia  de  trazer  entre  outras 
obras  do  Bispo  Pedra  d'Ailly,  a  que  tem  por  titulo  «  De  quantUate 
terrcB  habitabilis,  »   Movido  pela  falsa  conjectura  que  a  este  res- 
peito formava ,  Colombo  suppunha  que  a  distancia  entre  a  peninsula 
hiborica  ea  china  era  de  120  gráos.  Martinho  Behain  no  seu  globo, 
que  não  sei  se  ainda  existe  em  Nuremberg,  dava  para  o  mesmo 
espaço  pouco  mais  de  100  gráos.  Toscanelli  porém  sustenUva,  qu0 
similhante  intervallo,quoé  na  realidade  do  mais  de  200  gráos,  não 
passava  de'52;  e  porque  isso  ufanava-se  de  demonstrar  o  brevissimo 
caminho  que  havia  para  o  oriente  navegando  por  oeste.  Toscanelli 
fundava-se  na  autoridade  do  prophela  Esdras,  quando  diz  que  os 
%  da  terra  estavam  em  secco ,  occupando  apenas  a  superfície  do 
Riar|- delia.  A'  vista  de  uma  autoridade  tirada  de  tal  fonte,  seria 
bem  difOcil  que  Toscanelli  não  achasse  crédito  f^oin  preferencia  a 
aquelles,  que  pudessem  dizer  então  a  verdade  que  é  hoje  sabida. 
E'  certo  que   os  geographos  árabes  a  tinhão  alcançado   antes  do 
tempo  de  Cok)mbo ;  mas  os  seus  livros  erão  pouco  lidos,  e  quando 
o  fossem  muito,  seria  n*j(]uelle  tempo  enorme  impiedade,  t<ilvez 
qualificada  de  herezia ,  crtur-se  um  autor  pagáo  e  musolmano  para 
combater  a  asserção  de  um  propbeta. 

Atbufcdo,  geographo  árabe  do  século  XIV,  cscrevco  quo,  segundo- 


310 

M  lè  nos  livros  iodios,  metade  da  narra  é  agua,  e  outra  matada' 
argila,  isto  é,  que  metade  é  continente  e  metade  mar.  Já  alo  bem 
difiTdrentes  as  opiniões  dos  pbilosophos  Índios  e  a  do  propheta  Eadraa. 
Albufeda  porém  ainda  vai  mais  adianto,  e  parece  que  nao  era  esta 
opinião  peculiarmente  sua;  mas  as  dos  sábios  do  seu  tempo  e 
nação.  «  Segundo  os  philosophos,  escreveo  elle,  a  porção  da 
terra  descoberta  oonstilue  pouco  mais  ou  menos  o  4.*"  do  globo, 
estando  os  outros  ^  submergidos  pelas  aguas.  »  £'  com  pouca  diffe- 
rença  a  que  hoje  se  diz ,  que  a  superficie  da  ngua  está  para  a  da  terra 
na  razão  (não  de  3 ,  como  queria  Albureda)  mas  3|  para  1. 

Assim  que  as  informações  de  Toscanelli  podiam  ser  exactas» 
segundo  as  suas  deducçOes;  mas  pouca  influencia  teriam  sobre  a 
viagem  de  Cabral. 

E  si ,  como  quer  parecer  ao  illustrado  autor  da  memoria,  o  máppa, 
que  acompanhava  essa  carta ,  seria  o  mesmo  que  Pêro  Vaz  possuía » 
confirmará  isto  o  que  já  disse  —  que  nelle  se  não  fazia,  nem  se 
podia  fazer  menção  de  novas  terras. 

Digo  que  se  nSo  poderia  fazer  tal  menção ,  porque  o  que  sabemos 
da  carta  que  analjsamos  é  por  uma  copia  d'ella  dirigida  a  Colombo 
e  impressa  por  Navarretc.  E  logo  na  carta  que  Immediatamente  se 
lé  na  mesma  colleccno^  Toscanelli  acoroçoando  a  Colombo  que  trate 
de  realisar  o  seu  projecto,  diz-lhe,  para  pôr  fora  de  duvida,  que 
não  tratava  de  novas  terras,  mas  de  um  novo  caminho  para  o 
Oriente:  «  A  viagem  que  quereis  emprebendcr  não  ó  tãodiflScil 
«  como  se  pensa....  Ficaríeis  inteiramenle  persuadido  d*isso  si  hou« 
«  vesseis  communicado ,  como  eu ,  muitas  pessoas  que  tem  estado 
«  n*estes  paixes :  estai  seguro  de  que  haveis  de  ver  reinos  poderosos, 
«  quaniidado  de  cidades  povoadas ,  e  ricas  provincias  que  abundam 
«  em  toda  a  sorte  de  pedrarias.  » 

Toscanelli  portanto  adaptava ,  como  Colombo,  as  suas  conjecturas 
ás  idéas  vulgarisadns  por  Marco  Paulo. 

Todavia  o  illustrado  autor  da  memoria  parece  achar  outro  doeu-» 
mento  da  influencia  de  Toscanelli  nos  descobrimentos  da  America, 
quando  lhe  quer  aitribuir  a  paternidade  de  uni  livro  que  os  reis  de 


311 

Hâspanlm  liaviam  feílo  copisr  para  Colombo  debaixo  do  maior 
segredo.  Citarei  as  suas  próprias  expressões  (42). 

«  Embora  Colombo  se  expressasse  em  Lisboa  com  a  maio^  pr- 
0  cimonia,  e  ainda  depois  da  sua  viagem  procurassennf  tíB  reis 
«  calhollcof  lodo  o  segredo  no  exame  de  seas  papeis ,  sls  éommu- 
«  nicaçOes  que  elle  recebera  de  Toscanelli  eram  ptffentes  e  conhe- 
•  cidas.  Com  este  correio  (escrevia  a  rainha  Isabef)  vos  envio  umí 
«  traslado  do  livro  que  cá  deixastes^  ele.  »  Da  leitura  dospre-' 
ciosos  documentos  da  collecçào  de  Navarreie  nào^  é  possível  depre- 
bénder-se  que  esse  manuseripto  deixado  por  Colombo  em  mâòs  dos 
féê  eatholicos  tenha  a  minima  relação  eoiti  á  carta  de  Toscanelli , 
que  atraz  deixamos  extractada.  Esse  livro,  sò  náó  foi  ú  roteiro  dd 
primeira  viagem  dó  Colombo ,  era  trabalho  seu  e  relativo  ao  des- 
cobrimento já  realisado  da  America.  Navarrete  apresenta  outra 
carta  doe  reis  eatholicos ,  onde  a  propósito  Áo  mesmo  livro  se  lé : 
«  Alguma  cousa  temos  visto  do  livro  que  noscíeixastes,  e  quanto 
«  mais  nisto  praticamos  e  vemos,  conhecemos  qnammanha  parte 
«  foi  a  vossa  nesse  negocio «  e  quanto  sabíeis  d'Í9so  mais  dtor  qtfé 
«  nunca  se  pensou  que  nenhum  mortal  soubesse.  » 

Teobo  até  aqui  procurado  combater  a  supposição  ou  píroposiçio^ 
de  que  antes  de  1500  houvesse  em  Portugal  dadoe  a  respeito  dâ 
Brazil ,  que  aconsdbasaem  uma  empreza  de  descobertas  de  novas 
terras  no  sentido  do  rumo  que  tomou ,  ou  viu-se  forçacía  a  tomar 
a  frota  de  Pedro  Alvares ;  ao  que  acòreseentarei  mais  uma  obser-^ 
vafâo ,  e  é  que  ainda  quando  fosse  pro\'ado  e  fora  de  duvida  qu€( 
Sé  soubesse  da  existência  de  taes  terras,  não  àca  igualmente  pro* 
vado  que  Cabral  o  suspeitasse ,  ou  que  essé  podetá  fer  sido  um 
dos  Gnsda  sua  viagem. 

Pelo  contrario ,  tanto  creio  que  a  descoberta  do  Brasil  ndo  entrava 
ni«  seus  planos ,  como  que  nSo  será  muito  possível  desodbrir-se' 
n'elle  â  força  de  vontade  e  tenacidade  de  propósito  ^ue  é  o  carac- 
terialico  de  toda  a  vida  ,  e  da  primeira  viagem  de  Colombo. 

Os  historiadores  abundam  no  sentido  da  opinião  que  me  propui 
i\  sustentar.  O  dtgrtotfutorda  Memoria  os  cita  escrupulosa  e  textual- 

iTni  Al 


312 

menie  com  uma  consciência  ,  que  nío  é  dos  menores  merecimenK^ 
do  seu  trabalho.  Todavia  nSo  sao  esses  nomes  tão  pouco  conhecidos 
que  cu  me  prive  de  os  invocar  tamhem  em  meu  íavor  ,  principl- 
menle  quando  elles  se  exprimem  de  fórroa  táo  catbegorica  c  termi- 
nante ,  que  contrasta  com  as  phrases  ambiguas  de  outros ,  em 
que  se  procura  base  para  u  opinião  contraria. 

Os  acontecimentos  anteriores  á  viagem  de  Cabral  podem  esclarecer 
o  fim  único  que  se  teve  em  vista  com  a  expedição  da  nossa  frota. 

Eis  o  que  se  1ô  em  Mariz  (43)  : 

«  Remunerados  os  grandes  serviços  do  forlissimo  D.  Vasco  dar 
Gama  e  setis  companheiros  com  signaiadas  mercês....  ,  einformadc 
el-rei  D.  Manoel  bastantemenle  de  quanta  importância  era  o  nego- 
cio da  nova  navegaçiio ,  e  rico  commercio  da  especiaria ,  e  do 
muito  proveito  que  se  poderia  seguir  si  poderosamenie  se  conti-' 
nuasse,  mandou  o  felicíssimo  reicmoanno  centésimo  do  jubileo 
de  1500  uma  formosa  armada  de  treze  náos  grandes  com  todo  o 
necessário  assi  para  o  commercio  das  cousas  preciosas  do  Oriente  y 
como  também  para  o  remédio  das  almas  dos  moradores d'el]a....  £ 
por  capitão  Pedro  Alvares  Cabral....  Oquat,  partindo  de  Lisboa,.... 
foi  tal  sua  ventura  que....  depois  de  uma  espantosa  tormenta,  .... 
descobriu  a  provincia  do  Brazil. » 

A  narração  de  Barros  (44)  está  concebida  em  termos  mais 
signifícalivos.  Refere  este  autor  que  com  n  chegada  de  Vasco  da 
Gama  o  povo  não  se  sentia  de  contentamento  ,  alvoroçado  com  a 
vista  do  cravo  ,  canella  ,  aljôfar  c  pedrarias,  e  que  o  rei  em  táo 
alto  gráo  se  mostrou  conienlo  de  ver  o  seu  povo  inclinada  a  esta 
conquista,  quese  resolveu  a  mandar  outra  frota  sem  demora  «ainda 
que  fosse  mais  segura  a  navegação  no  mez  de  Março.  Por  isso  ,• 
quando  Gaspar  de  Lemos  chegou  a  Lisboa,  teve  o  rei  e  lodo  o 
reino  muito  prazer  —  em  primeiro  logar —  ,  por  saber  da  boa  viagem 
que  a  frota  levava » —  e quanto  a  terra ,  escrevia  no  seu  contentamento 
ao  rei  de  Hespanha  —  «  que  era  muito  conveniente  á  navegação  da 
Índia.  >í 

«  A  qual   terra  (escreveu  o  historiador  porluguez)  estavam  os 


313 

homens  iào  crentes  en)  nâo  baver  alguma  firme  occideulal  a  toda 
a  Costa  d^Aírica,  que  os  roais  dos  pilotos  affirmavam  ser  alguma 
grande  ilha  assí  comoasTerceiras,  e  as  que  so  actiarnm  por  Christovão 
Colombo,  que  eram  de  Castella  9  a  que  os  Castelhanos  commum- 
mente  chamavam  Antilhas. » 

Damião  de  Góes  escreve  :  <c  Ahos  22  dias  do  mez  do  Abril  viram 
ierra  do  que  foram  mui  alegres,  porque  polo  rumo  em  que  jazia 
\iam  não  ser  nenhuma  das  que  até  então  eram  descobertas  (45).» 

Jeronymo  Osório  diz  :  «A  24  de  Abril  descobriram  os  gageiros 
ierra,  de  que  todos  conceberam  incrível  contentamento,  nâo  ha- 
vendo nenhum  dos  nossos  que  tivesse  a  menor  suspeita,  do  que 
lhes  demorasse  terra  habitada  de  honiens  por  similhantes  paragens. 
Nada  menos  mandou  Pedro  Álvares  virar  sobre  a  terra  (46). » 

Ha  além  d'estas  uma  outra  autoridade,  que  nâo  deverá  ser  omittida, 
nem  a  omitie  o  autor  da  Memoria  ,  Caminha  ,  que- se  lhe  antolha 
estar  do  alguma  forma  no  segredo  dos  desígnios  de  Cabral  ^  — 
Caminha  mesmo  remata  a  sua  carta  com  uma  phrase ,  da  qual  se 
conclue  que  de  similhantes  designíos,  si  acaso  existiram,  nOo  era 
elle  sabedor.  N'essa  carta  Caminlia  aconselhando  a  seu  rei ,  que 
mande  cathequisar  os  índios :  9  Tem  bom  eorpo  e  bom  rosto  (diz 
elle) ,  e  Deos,  que  aqui  nos  trouxe,  creio  que  não  íoi  sem  causa.  » 

Caminha  não  teria  por  certo  escripto  essas  palavras,  não  teria  por 
tal  íórma  appellado  para  a  religião  do  rei ,  argumentando  com  os 
designios  da  Providencia ,  si  a  descoberta  do  Brazil  tivesse  sido  in- 
tencional. O  rei  mesmo ,  si  tal  descobrimento  houvesse  entrado  em 
suas  vistas ,  si  nas  instrucções  que  deu  a  Cabral  alguma  cousa 
houvesse  que  a  isso  se  referisse ,  ter-lhe-hia  podido  responder. 
«  Enganais- vos ,  roeu  Caminha  :  náo  foi  Deos^que  vos  levou,  fui 
cu  que  vos  roandei  lá. »  Mas  náo  foi  isto  o  que  |)ensou  o  rei  de 
Portugal  ao  receber  a  carta  de  Caminha ,  a  do  mestre  João  e  as 
de  outros  companheiros  de  Cabral  ;  pois  escrevendo  de  Santa- 
rém aos  reis  catholicos  em  29  de  Julho  de  1501 ,  e  dando-lhes 
[Mirte  da  viagem  de  Cabral,  accrescenta  mui  significativamente: 
(i  Fareceque  Kosso  Senhor  quiz  núlagrosameulo  que  se  acbasseesta 


31A 

lerra ;  porque  é  muito  necessária  e  conveniente  á  navegação  da 
Ipdia.  »  Phraees  de  sentido  tSo  obvio ,  que  Navarrete  resumiu  n'estas 
palavras  o  seu  conteúdo :  « Carta  d*el-rei  &.  Manoel  de  Porliigal 
a  sus  suegros  los  rejs  catholícos — dando  les  ouenta  de  e$ta  jornada 
y  casuol  descubrimiento. » 

Ora ,  quando  o  próprio  rei  de  Portugal  reputou  oousa  de  milagre 
p  descobrimento  do  Brasil ,  nào  é  muito  que  o  auler  da  Historia 
Phikwphica  oattribua  ao  acaso,  a  que  estn  fosse  a  opinião  dos 
feus  coevos  e  soccessores.  £u  por  mim  sinto-me  lambem  inclinadq 
a  atlribuii-p  antes  aoac(iao  doquo  a  milagre:  4(:^o  que  no  acaso, 
isto  é,  em  todo  o  facto  ou  acontecimento  de  alguma  importância, 
que  se  dá  contra  a  npssa  previsio  ou  expectaçio ,  intervém  a  Pro- 
videncia: interve(n  por  meio  de  leis  que  eiistem,  embora  as  nfjQ 
conheçamos,  de  pbenomenps  embora  ignorados.  O  acaso  aqqi  fon^n^ 
^9  corrente  do  Atlântico. 

Digo  ppis  que  Cabral  veio  ap  Braz^l  por  a(»so ;  e  que  si  d'-elh 
teve  indícios  nqo  foram  o\]tro8  neoffo  os  que  n^  proximidade  di| 
lerra  a  revelam  aos  navegantes ,  eomo  a  fumaça  |ndici|  aos  viajantes 
perdid<ks  a  vizinhança  de  habitações  humanas. 

Antes  porém  de  entrar  n'<«ssa  den\on$trnçâo,  aeja*m<ii  perniittidq 
rebater  aipda  alguns  argumentos  com  quo  pretende  o  nosso  digno 
consócio  provar  como  Cabral  tevo  intençàp  dp  descobrir  p  Brazil. 

Diz-se :  nâo  foi  sem  desípio  qup  Pedro  Alvares  deu  á  sua  via- 
gem uma  direcção  inteiramente  nova  da  que  levara  Vasco  da  Gama. 
Observarei  quo  tanto  se  ndo  pode  chamar  inteiramente  nova  a 
direcção  que  trouxe  Pedro  Alvares ,  que  em  Jeronymo  Osório  se 
)é  vir  elle  seguindo  n  m^ma  esteira  do  seu  antecessor  (47) ,  quando 
lhe  sobreveio  o  roáo  tpmpo.  em  &bo  Verde.  Mas  quando  mesmo 
elle  tinha  voluntarianiento  tomado  outro  rumo  ,  ainda  assim  ,  nàp 
se  poderá  concluir  d'este  facto  que  houve  da  sua  parte  outro  desígnio 
o  propósito  que  nflo  íosse  o  de  facilitar  a  sua  navegação:  por  isso 
escrevem  outros  quo  um  dos  caf>itulos  do  regimento  que  trazia 
o  mandava  afastar  da  Costa  d'Aírica  (48) ;  e  do  facto  os  mares  e 
ventos  reinantes  cm  suas  costas,  que  iam  sendo  melhor  conhecidas , 


815 

aconselhavam  <|ue  se  Gzesse  a  viagem »  como  a  fez  Pedro  Alvares , 
como  se  Geou  fazendo  depois  d'ollo ,  e  como  se  continuaria  a  fazer , 
ainda  que  nâo  existisse  Bratil. 

O  digno  autor  da  Memoria  ,  para  mostrar  os  diflerentes  cursos 
das  derrotas  de  Gama  e  Pedro  Alvares,  appeila  (49)  para  o  mappo  que 
I^Gtau  eollocou  na  frente  da  sua  obra :  estou  de  accordo  com  elle 
oa  supposição  de  que  o  illuslre  Jesuita,  que  tantos  documentos  teve 
4  sua  disposição  paru  a  feitura  da  sua  « Historia  das  conquistas 
do^  Portugí^xe$  no  novo  mMndo , »  náo  as  traçaria  segundo  as 
$uas  inspirações.  E  é  por  isso  que ,  á  vista  d'esse  mesmo  mappa , 
^spero  demonstrar  mais  para  adiante  que,  segundo  é  verosímil , 
Pedro  Alvares  n^o  teria  c4iegado  ao  Brazil ,  a  nào  ser  um  erro  na 
sua  derrotn  « —  erro  que  lhe  sobreviveu ,  e  continuou  algum  tempo 
^pois  d*elle;  porque  sSo  constantes  e  permanentes  as  oacisas  (^m 
p  produziram. 

Mas  insistem  (5Q):  Vasco  da  Gama  evitou  as  calmarias  da  (Qosta 
d'Africa,  e  nSo  se  amarou  tanto  para  oóste,  nem  foi  por  isso 
arrebatado  pelas  correntes.  Bem  duvida  que  assim  foi ;  mas ,  st 
evitou  as  calmarias,  não  evitou  as  tormentas;  nem  são  aquellas  o 
único  perigo  d^pma  navegação  pela  Costa  d'Africa  (51).  Cabral 
f0Z*so  ao  b^rgo  ,  fugindo  da  Cosfa  d*Africa ,  para  dar  resguardo  ao 
pabo  e  dobra-lo  com  mais  facilidade  (53) ;  emquanto  Gama  affasta- 
ra-se  alguma  cpusa ,  mas  muito  menos  do  que  seria  preciso  para 
podiT  contar  com  uma  viagem  segura ,  e  nâo  se  amarando  tanto 
nâo  corria  o  perigo  de  ser  arrastado  pelas  correntes. 

Adroiltidp  isto,  fácil  é  do  ver-se  como  a  este  respeito  tifHo  devia  ella 
aichar-se  nas  mesmas  cqndições  em  que  esteve  Pedro  Alvares.  Por- 
que, de  qual  curren(e  se  trata?  Si  é  do  íjulf-slream ,  essa  nào 
podi^  influir  na  sua  viagem,  pprque  sahindo  do  Golfo  do  Mexicq 
sobe  até  quarenta  gr^os  do  norte,  desce  depojs  procurando  a  Africa , 
e  d'alii  rabifurcando-se,  corta  de  novo  o  equador  para  perder-se 
outra  vez  no  mesmo  Golfo.  Ainda  que  seja  violenta ,  como  só  ten:^ 
dez  léguas  de  largo ,  e  Gama  a  cortasse  recta  ou  obliquamente , 
não  podiam  os  seus  navios  experimentar  senão  pequeno  descahimealo, 


316 

6  isso  riào  o  induziria  a  granJc  erro.  O  vcnlu  alguma  cousa  favorável 
o  punha  fora  (1'esse  perigo  em  três  ou  quatro  horas ,  ou  o  erro  seria 
emendado  pelo  segundo  ramo  da  mesma  corrente ,  que  mais  abaixo 
encontraria  fazendo-se  sentir  em  direcção  contraria  á  primeira. 

Si  se  trata  de  outras  correntes ,  sabd*se  que  essas  variam  perlo  de 
terra  :  nas  proximidades  das  costas  todas  as  aguas  puxam  para  ellas ; 
nem  é  preciso  que  seja  muito  grande  a  proximidade ,  porque  esse 
phenomeno,  principalmente  na  Costa  d'Africa,  experimenta -se  muitas 
léguas  pelo  mar  dentro ,  e  em  distancia  d  onde  talvez  so  nuo  |K)der 
ria  suspeitar  a  existência  de  terras ,  si  os  marcantes  nào  tivessem 
conhecimento  anterior  d'ellas. 

Nào  tendo  pois  carregado  tanto  para  oeste,  Gama  nSo  pôde  expe- 
rimentar a  forçada  corrente  que  arrastou  a  Pedro  Alvares.  Si  ponderar- 
roo6  agora  que  um  doestes  se  entrega  á  força  d'ella  9  emquanto  o  outro 
a  cortava  rectamente  ou  com  pequena  obliquidade,  havemos  de  con- 
cluir que  o  descahimento  que  se  tornaria  insignificante  para  os  navios 
de  Gama ,  era  incalculável  para  os  de  Cabral ,  e  mais  ainda  por  senSo 
contar  com  elle.  Por  isso  nSo  nos  consta  que  Gama  errasse  na  sua  der- 
rota ,  emquanto  a  de  Cabral  nos  oíTerece  um  erro  de  cem  legoas» 
peio  menos  que  elle  nào  julgava  ter  andado.  Cem  Icgoas!  .  .  . 
Eis  a  descoberta  de  Cabral.  Quando  elle  se  julgava  a  600  c 
tantas  léguas  de  Cabo  Verde  (53),  e  quando,  segundo  António  Galvão, 
os  seus  companheiros  lhe  requeriam  que  tomasse  outro  caminho; 
encontram  signaes  de  lerra  e  logo  no  dia  seguinte  descobrem  a 
própria  terra  (54).  Ora,  si  os  companheiros  de  Cabral  soubes- 
sem quanto  se  iam  alVastando  de  Cabo  Verde,  muitos  dias  antes  te- 
riam pedido  a  mudança  de  proa.  Cabral  mesmo  o  teria  feito,  e  nào 
encontrando  indicies  de  lerra  ,  nào  leria  chegado  ao  novo  mundo. 

Desenganemo-nos  que  nào  se  tratava  do  Brazil ,  nem  de  terras  situa- 
das a  oósie  do  antigo  conlineiue.  Os  historiadores  portuguezes  nos 
revelam  isto  de  uma  maneira  que  nào  sollre  nem  duvida  ,  nem  contra- 
dicçâo.  O  que  nos  dizem  elles?  Cabral  ia   para  a  índia  !  (55) 

Pois  enlào  c  claro  que  si  Cabral  ia  para  a  índia  n5o  vinha  para 
o  Brazil. 


3i7 

Oulras  considerações  so  podem  fazer  quo ,  si  nSo  resolvem  ,  AHa 
grande  luz  á  queslàoquese  ventila  (56). 

Cabral  vinha  com  13  náos,  c  nem  Ilespanha  nem  Portugal  man- 
daram nunca  esse  numero  de  vólas  a  fazer  descobrimentos.  Nem  um 
dos  descobridores  por  parte  de  qualquer  das  duas  coroas »  nem  mes- 
mo Gonçalo  Coelho ,  Américo  Vespucio,  Christovão  Jaques  ou  Mar- 
tim  AÍTonso ,  em  viagens  de  explorações ,  em  que  as  fiordas  são  mais 
frequentes,  maiores»  e  cousa  com  que  mais  se  deve  contar,  não 
trouxe  tal  numero  de  navios. 

Ainda  mais,  as  anteriores  viagens  ú  índia  tinham  sido  de  explora- 
ções ;  a  de  Cabral  era  para  um  fim  commercial.  As  suas  náos  con- 
duziam mercadorias  (57) ;  e  nãoé  em  navios  carregados  de  géneros 
de  commercio  que  se  projectam  descobrimentos. 

Essa  frota  ia  apercebida  em  guerra  (58) ;  porque  os  portuguezes 
suppunham  que  iam  encontrar  os  reis  do  Oriente  em  armas.  Quando 
pois  se  arriscassem  vidas  em  numero  sobejo,  —  nSo  se  exporiam 
riquezas  a  serem  escusadamente  tragadas  pelas  ondas,  em  uma  ten- 
tativa de  descobertas. 

Insisto  ainda,  si  nas  instrucções  de  Cabral  se  tratasse,  mesmo  de  pas- 
sagem, ou  da  possibilidade  que  fosse  de  descobrimentos,  quando 
estes  se  realisassem,  não  creio  que  elle  pudesse  hesitar  em  ser  o  pró- 
prio portador  c  alviçareiro  de  uma  noticia  quo  em  Portugal  causou 
tanta  sensaçSo.  Mas  o  que  aconteceu?  Descoberto  o  Brazil,e  mal  averi- 
guado será  continente  ou  ilhas  e  quantas  eram ,  o  que  deixava  atrás 
de  si ,  Cabral  continua  a  sua  derrota  ,  dando  áquelle  incidente  da 
sua  viagem  a  attençào  que  podia  sem  transtorno  do  serviço  de  que  se 
acha  va  incumbido.  O  seu  lim  era  um  ajuste  de  commercio  com  o  oriente; 
fez  o  ajuste  ,  e  voltou  ;  mas  antes  .  não ;  porque  a  isso  se  oppunha 
o  seu  regimento  e  as  ordens  que  tinha  :  o  mais  que  pôde  fazer,  foi 
despedir  um  navio  que  levasse  a  Portugal  a  noticia  da  terra  nova. 

Ainda  mais ,  recebendo  a  noticia  do  descobrimento  do  Brazil ,  I). 
Manoel  não  se  alegra  senão  por  saber  da  boa  viagem  de  suas  náos  (59), 
que  as  mercadorias  não  tinham  soíTrido,  que  se  tornava  mais 
fácil  a  navegação.  ¥/  muito  conveniente  e  necessária  á  navegação  da 


318 

índia ,  escrevia  elle  a  respeito  da  terra  do  Brazil.  —  Ore  si ,  oomo  se 
suppOe,  elle  tinha  dados  tão  positivos  da  existência  de  terras  situadas 
no  mar  oocidente;  si  as  suas  vistas  tivessem  sido  de  as  deseobrir  e 
conquistar:  essas  deseobertas  teriam  valor  em  si ,  independente  das 
viagens  e  commercio  de  oriente. 

Além  disto,  logo  depois  da  viagem  de  Cabral, fat D.  Manoel  todos 
os  esforços  para  que  Vespucio,  o  venha  servir;  e  lòmando  mais  oa- 
lor  no  seu  empenho  depois  de  ter  sido  regeitado  o  seu  primeiro  eonrite, 
mandou  um  mensageiro  ao  piloto  florentino  eom  recomtnendaçiO  de 
otraaserportodos  os  modos  (60).  Si  pude  dispensar  antes  os  seus 
serviços  e  só  depois  é  que  o  não  pòde^  nào  revelará  Isto  que  antas  éa 
viagem  de  Cabral,  o  rei  de  Portugal  nfio  antevia  a  probabilidade  do 
descobrimento  n'dquelles  mares  sulcados  pelos  marujos  da  escola 
hespanhola  a  um  dos  queas  preten(f ia  attrahir  ao  seu  serviço? 

Por  flm  oque  no  if^eu  conceito  prova  mais  do  que  tudo  •  casoali^ 
dade  do  descobrimento  do  tfraril  i  6  o  afgumento  moral  que  se  dedur 
de  não  transluzirdes  escriptosde  nenfaum  dos  companheiros  de  Cabral 
a  satisfação  intima  díe  bâvefem  conscienciosamente  cons^uído  um 
resultado,  acertando  em  objecto  détanU  ponderação:  não  reivindicam 
para  si  nem  para  os  seus  a  gloria  dé  tào  bello  achado;  pois  que  se 
não  enorgulhecem  de  o  haverem  feito  de  consciência.  Cabral  e  a  sua 
gente  alegram-se  sem  dovida  pelo  seu  descobrimento;  porém  mais 
ainda  porque  essas  terras  não  pertenciam  aos  dominios  de  Respanha 
visitados  por  Colombo.  E  de  feito,  si  foi  o  acaso  o  que  lhes  deu  o 
ferazil ,  grande  feficidade  foi  que  elle  devesse  legitimamente  perten- 
cer-lhes. 

A  derrota  de  Cabral  não  foi  devida  a  propósito ;  era  a  consequên- 
cia necessária  do  melhor  conhecimento  dos  ventos  e  mares  d'Africa, 
e  de  melhoramentos  nos  roteiros  introduzidos  pela  experiência. 

Senão ,  vejamos. 

Todasascircumstanciassão  contrarias  desdeo  começo  até  ao  flm  para 
osque  na  Costa  d'Africa  navegam  na  proximidade  de  terra,  seguindo  a 
direcção  do  sul.  Ha  escolhos,  baixos,  correntes  impetuosas;  succe- 
^m-se  rápida  e  bruscamente  as  vicissitudes  do  bom  c  do  máo  tempo. 


31» 

lie  fómia  que  parece  nSa  liaver  meio  termo  entre  as  ealmarias  podres 
e  as  tempestades  violentas. 

Além  d'estas,  convém  attender  a  outras  circumstaneias.  Em  Marro- 
cos » o  vento  que  ó  regularmemte  noroésie  impelle  o  navia  para  a 
costa ,  e  o  impede  de  ganhar  Cabo  Verde. 

No  golfo  de  Guiné  varia  o  venio :  sopra  o  sudoésie ,  que  amasia  o 
navio  para  terra ,  —  ou  entáo  o  sul ,  em  sentido  inteiramente  cotura- 
rvo  aos  que  vso  costa  a  costa,  procurando  dobrar  o  Cabo  da  Boai 
Esperança,  que  também  lhes  Gca  ao  sul. 

Em  Angola  varia  de  novo ;  o  vento  oeste,  que  é  o  dominante»  impaln- 
la  o  navio  para  uma  cesta  semeada  de  escolhos. 

Temos  emBm  o  Cabo  da  Boa  Esperança ,  que  os  portuguezes  c\tíH 
maramdas  «Tormentas»  pelas  diíBeuldades  qua  tinham  en  dobra-lo. 

Estes  inconvenientes  da  navegação  da  Cosia  d'Africa  foram 
logo  experinientados  peloa  portuguezes.  Vasco  da  Gama  se  fez  ao  mar, 
fugindo  da  eosla»  econseguiu  volta-lo,  ainda  que  com  grand»  trabalho ; 
Cabral  julgava  ler  andado  650  legoasnessesentido,  eem  1 503,  segvmd» 
JoiodeEmpoli»  Aflbnso  de  Albuquercfue,  chegando  a  Cabo  Verde,  con- 
sultou osseuspiloloasoiíreo  melhor  romoquedeveriamseguir  para  ga- 
nhar o  Cabo  da  Boa  Esperança,  eresolveramquese  engolfassen  de  700  a 
800  léguas  (61)  ;  e  não  parece  que  fosse  a  sua  intençffo  chegar  ao 
Brazil.  AvÍ8laram*B0  a  le-lo-hiam  avistado,  ainda  que  Cabral 
o  nso  houvesse  descoberto.  Em  1505  )á  esse  era  o  costume;  por^e 
a  pratica  assim  o  tinha  estabelecido.  Por  isso  acho  profunda  a  obser- 
vação de  Robertson ,  e  dos  que  após  elle  o  repeliram,  que  entrava  nas 
vistas  da  Providencia  »  descoberta  da  America  no  século  16  (62). 
Nao  julgo  que  com  isto  se  pretenda  avançar  que ,  si  nao  fosse  Coiom* 
bo,  Cabral  teria  descoberto  a  America :  náo ,  isto  no  meu  entender 
significa  qoe»  especiarias  da  índia,  e  por  amor  d^eHas ,  o  Cabo  da 
BúQ  Esperanfa, leriam  a^i  Irazido  os  navegantes  da  Europa, 
quando  aeoenenlescb  AUantíee  náo  tivessem  apressado  esse  resul- 
tados 

Dqí  que  acabamos  da  «tpAr  oonduimos  çoe  éperígosa ,  senão  írh 
possifel,  a  navegaçioi  reale  ou  pouco  aflb^a  da  Costa  d' Africa  ^ 

xvin  âã 


•   320 

procurando  dobrar  o  Cabo  da  Boa  Esperança.  Vejamos  agora  como 
Cabral  pôde  ser  arrastado  para  o  Brazil ,  sem  que  elle  o  soubesse , 
sem  que  talvez  o  suspeitasse. 

Quando  Colombo  penetrou  no  Atlanlrco ,  um  dos  phenomenos  que 
feriram  o  espirito  d'aquelle  homem  eminentemente  observador,  foi  a 
corrente  d'este  mar.  Las  aguas  van  como  hs  cieloê ,  disse  elle  poeti- 
camente— isto  é  —  as  aguas  marcham  como  os  céos ,  como  as  estrel-- 
las,  como  o  sol  nn  direcção  do  nascente  para  ooccaso.  Vé-se  pois  que  elle 
não  fallava  do  Gulf-stream ,  nem  é  a  essa  que  eu  quero  attribuir 
influencia  alguma  na  derrota  de  Cabral. 

Este  facto  é  sabido  e  provado ,  e  eu  o  leio  no  «  Roteiro  das  Anti- 
lhas)» modernamente  publicado  (63).  Geralmente  se  observa  que  as 
embarcações,  que  navegam  para  o  occaso  no  Atlântico  ou  Pacífico  se 
adiantam  nSo  pequeno  numero  de  legoas  sobre  a  estimativa ;  e  esse 
numero  cresce  e  progride  ao  passo  que  se  prolonga  e  dilata  a  nav^- 
ção.  Da  Europa  às  Antilhas,  boje,  com  instrumentos  náuticos  mais 
perfeitos  do  que  havia  n^aquello  tempo,  —  com  mais  perfeito  conhe- 
cimento d^esses  phenomenos— da  Europa  ás  Antilhas  (digo)  adiantam- 
se  os  navios  de  4  a  6  gràos ;  e  nas  viagens  das  costas  occidentaes  da 
America  para  as  Filippinas ,  o  avanço  é  de  15  e  20  gráos.  Conclue- 
sed'aqui  que  ha  entre  os  trópicos  uma  grande  corrente,  que  os 
bomens  da  scicncia  distinguem  com  o  nome  de  corrente  equino- 
cial (64) ,  que  corre  do  oriente  para  o  occidente ,  de  4  legoas  por  dia , 
ou  talvez  de  mais;  porque  quatro  legoas  é  a  correcção,  que  ainda 
modernamente  se  aconselha  que  se  faça  a  estimativa. 

Explicando-se  estes  phenomenos  pela  regularidade  do  vento ;  vem  a 
explicação  a  converter"^  em  uma  nova  causa ,  que  terá  influído  para 
a  descoberta  do  Brazil.  Observa-se  estephenomeno  nas  costas  orienlaes 
da  America ,  e  nestas  costas  o  vento  reinante  é  leste  ou  variações  de 
leste,  que  ficam  n'uma  zona  comprehendiJa  entre  30  gráos  de  latitude 
septentrional  e  30  de  meridional.  Quasi  toda  a  costa  d^Africa  fica 
comprehendida  nestas  latitudes  (entre  37 gráos  norte  e  35  sul) ;  e  em 
toda  esta  zona  reina  o  vento  leste  chamado  também  os  ventos  alízados. 

Cabral  pois,  tendo  de  dobrar  o  Cabo  da  Boa  Esperança;  e  sabendo, 


321 

eomo  t  experiência  já  o  havia  inosirado ,  que  era  difficil  e  peri* 
gosa  a  viagem  navegando  próximo  de  lerra,  considerou  que 
era  de  vantagem  compensar  com  a  maior  velocidade  o  maior 
espaço,  que  teria  de  percorrer,  si  se  Gzesse  muito  ao  mar. 
Andava  mais;  mas  esse  mais  andava-o  em  menos  tempo :  d*este 
modo  se  explica  o  dizer  de  Galvão  que  Cabral  se  aOastava  da  costa 
d'Africa — para  encurtar  o  caminho.  Assim  começou  com  o  bordo  na 
volta  do  mar ,  na  frase  dos  navegantes ,  e  antes  que  tivesse  dobrado  na 
volta  de  terra,  do  que  já  se  tratava ,  descobriram  signaesd'ella. 

Cabral  portanto ,  desde  que  viu  que  eram  baldadas  as  suas  diligen- 
cias para  encontrar  o  navio  que  se  tinha  desgarrado  da  sua  conserva, 
tomou  o  rumo  que  conservou  durante  todo  o  seguimento  da  sua  via- 
gem :  é  isso  frequente  nos  que  navegam  entre  Europa  eBrazil,  o  de- 
pois não  leio  em  parte  alguma  queelle  tivesse  mudado  de  proa.  Cami- 
nha diz :  (65)  cc  Seguimos  o  nosso  rumo  »  —  e  logo  depois  aceres* 
eenta :  —  «  a  21  de  Abril  topamos  alguns  signaes  de  terra.  y>  Ora , 
sendo  o  rumo  de  sudoeste  approximadamente  o  que  vem  de  Cabo  Verde 
a  Porto  Seguro,  as  expressões  de  Caminha  são  em  todos  os  sentidos 
equivalentes  ás  de  Jofio  de  Empoli ,  que  já  citámos^  as  quaes  dizem 
. . .  >  e  indo  nós  nesta  volta  obra  do  28  dias ,  em  uma  tarde  avis- 
tamos a  terra.  » 

O  illustre  autor  da  Memoria  quiz  também  argumentar  com  esta 
frase  de  Caminha:  «Seguimos  o  nosso  rumo»  (66).  A  ella  poderia  eu 
oppôr  a  asserção  de  António  Galvão,  de  que  Cabral  « tinha  perdido  a 
derrota  e  vinha  fora  d'ella ,  quando  descobriu  o  Brazil ;  x>  eas  palavras 
deHaffeo :  <xln  teluris  conspectu  ventis  feruntur. » No  emtanto  não  o 
farei ;  porque  Caminha  tem  razSo  no  que  diz.  A  derrota  de  Cabral 
era  para  a  índia;  o  seu  rumo  devera  ser  aquelle,  ainda  que  não 
existisse  BraziL  O  dizer  de  Jeronymo  Ozorio  —  que  Cabral  pozera  a 
prftanooccidente,  carece  de  exactidão;  porque  essa  prAa  6  traria  de 
Cabo  Verde  ás  Antilhas ,  e  não  a  mais  de  30  gráos  aflfastados  d*ellas 
para  o  sol. 

Resta-me  agora  demonstrar  eomo  Cabral  veio  ao  Brazil  arrastado 
pelas  eorrentes  sem  o  saber.  Em  calmaria  poderia  eUe  ter  visle 


322 

a  corrente  equatoriat,  e  calcular approximadamenie  a  sua  (orça; 
fei  felicidade  sua  ter  elle  constantemente  vento  (avoravel  Mé  chagar 
ao  Braeil :  o  roesmo  vento  que  lhe  foi  contrario  quando  dobsou 
na  voka  d^Africa.  N'estas  circumstanciaa ,  e  julgando  da  mordia 
do  novio  peio  vento,  não  via,  nem  podia  caletilar  com  a  força  da 
correme  que  o  io  arrastando  no  mesmo  sentido ,  a  ponto  de  nSo 
sab»«ffl  a  qtie  distancia  se  achavam  de  Cabo  Verde ;  e  de  harer 
dflvida  aeerca  da  altura  que  tinham.  Esle  por  ventura  aerá  o 
verdadeiro  eentido  das  expressões  de  António  Galváo,  quando  dia 
que  Cabral  tinha  perdido  o  rumo!  E  noto  que  António  Galvão , 
tratando  especialmente  dos  descobrimentos  dos  Portoguezas ,  é  n^esto 
caso  mais  digno  de  credito  do  que  os  historiadoRis  eooao  Góes  o 
Osório  y  qae ,  tratando  por  iaeidente  doeste  ponto,  bBo  ae  cangam 
em  meditar  a  fonga  das  expressões  de  que  ae  servem. 

Comtude  nào  é  absoluta  a  preferencia  que  dou  a  Galvão ;  porque , 
no  mea  conceito ,  a  primeira  relaçSo  da  riagem  de  Cabral ;  a  mais 
exaeta;  —  a  que  oombina,  explica  e  resume  as  divergências  que 
se  notam  nos  historiadores  é  a  de  Gandavo.  Em  favor  de  ter  sido 
oeno  copiado  por  Barros »  tal  é  a  conformidade  entre  ambos  , 
sqa<«ne  permittido  reproduzil-o  n'esta  parte  (67). 

<r  Reinando  aquelle  mui  catholico  e  sereníssimo  princípe  el-rei 
D.  Manoel,  fcz-se  uma  frota  pêra  a  índia ,  de  que  ia  por  capilão- 
mÓT  Pedro  Alvares  Cabral ,  que  i(À  a  segunda  navegação  quo 
fizeram  os  Portuguezes  pêra  aquelias  parles  do  Oriente.  A  qual 
partiu  da  cidade  de  Lisboa  a  9  de  Março  no  annode  15O0.  E  sendo 
já  OBtre  as  itbas  de  Cabo  Verde  (as  quaes  iam  demandar  pêra  fazer 
ahi  aguada) ,  deu-tbes  um  temporal ,  que  foi  causa  de  as  não 
poderam  tomar ,  e  de  se  apartarem  alguns  navios  da  companhia.  E 
depois  de  haver  bonança  ,  íunta  outra  vez  a  frota  empegarem-se  ao 
aar ,  assi  por  fugirem  das  calmarias  de  Guiné,  que  lhes  podiam 
estorvar  sua  viagem ,  como  por  lht$  ficar  largo  podercwi  do- 
brar o  Cabo  da  Boa  Esperança,  E  avendo  já  um  mez  quo 
iam  n'aqu9lla  voUa,  navegando  com  vento  prospero  foram  dar 
na  oosla  doesta  província ,  ao  longo  da  qual  cortaram  iodo  aquelle 


S23 

dia ,  parecendo  a  lodos  que  era  alguma  grande  ilha  que  ali 
estava,  sem  haver  jriloío,  nem  outra  pessoa  alguma  gue  tivesse 
noticia  d'ella,  nem  gue  presumisse  ^e  podia  estar  terra  fir- 
me pêra  aquella  parte  oceidental.  E  no  logar  que  lhes  pareceu 
d'ella  mais  accoromodado  9  surgiram  aquella  tarde....  Estando  assi 
surtos  n'esta  parte  que  digo,  saltou  aquello  noite  com  elles  tanto 
tempo ,  que  Ihea  foi  forçado  levarem  as  ancoras ,  e  com  aquefle 
vento  que  lhes  era  largo  por  aquelle  rumo ,  foram  correndo  a  costa 
até  cliegarem  a  um  porto  de  limpo  e  bom  surgidouro  ,  onde  entra- 
ram :  ao  qual  poxeram  então  este  nome ,  que  boje  em  dia  tem  de 
Porto  Seguro,  por  Ibes  dar  colbeíui ,  c  os  assegurar  do  perigo  da 
tempestade  que  levavam. » 

Deixando  porém  de  parte  o  primitivo  historiador  do  Brazil ,  entro 
na  demonstração  que  me  propus  fazer. 

No  dia  22  de  Março  estava  Cabral  em  Cabo  Verde,  a  21  de 
Abril  topou  signaes  de  terra,  que  avistou  logo  no  dia  seguinte.  Os 
pilotos  diziam  que  estavam  a  660  ou  670  legoas  de  Cabo  Verde. 

Impressiona-me  o  dizer  de  Caminha,  quando,  tratando  da  dis- 
tancia a  que  se  suppunham  de  Cabo  Verde ,  náo  a  indica  simples* 
mente,  como  ftizem  os  viajantes  quando  conflam  nos  pilotos,  com 
os  qiiaes  navegam.  Pelo  eontrario ,  Caminha ,  como  que  procura 
resalvar-se  com  o  sen  parenihesís  «c  segundo  os  pilotos  diziam,  d 

Logo ,  ou  elle  duvidava  do  que  os  pilotos  diziam ,  ou  os  pilotos 
discordavam  entre  si. 

Barros  referiu-se  i  tenra  do  Brazil  e  a  Cabral  n'estas  palavras : 
«  A  qual,  segundo  a  estimação  dos  pilotos,  lhe  pareceu  que  podia 
distar  para  aloeste  da  Costa  de  Guiné  450  legoas ,  —  e  em  altura  do 
polo  antartico  da  parte  do  sul  10  gráos  (66). » 

lulgar-se-ba  pois  que  a  conclusSo  que  acima  tiramos  não  carece 
de  sólidos  fuadamentos,  principalmente  si  ottendermos  a  que  o  me- 
tbodo  de  navegaçSo  d'Qqudla  ^ca  era  imperfeitissimo ,  bem  que 
á  primeira  vista  nos  possa  parecer  o  contrario.  Os  Romanos  tinham 
deacoberlo  o  neio  de  rôjar ,  sabendo  as  horas  que  na  viagem 
gaslavtm,  e  o  «paço  que  percorriam.  Segundo  Iodas  as  probabilidades 


32& 

era  esta  invenção  um  objecto  de  luxo ,  quo  usavam  trazer  dentro 
das  liteiras ,  e  também  applicavam  aos  navios  para  conhecer  a  sua 
marcha ;  mas  ignora-se  si  foi  geral  esse  uso  na  navegação. 

No  tempo  de  Cabral  não  havia  isso.  A  barquinha ,  que  ó  um 
meio  bem  imperfeito  de  se  conhecer  no  mar  a  distancia  percorrida , 
não  era  usada  então.  Humboldt ,  depois  de  profundas  pesquisas  , 
achou  f  segundo  os  dados  da  historia ,  que  ella  fora  usada  primei- 
ramente por  Magalhães ,  —  um  quarto  de  século  depois  de  Cabral. 
Julgava-se  a  olho,  que  era  coroo  se  fazia  o  calculo  por  estimativa  ; 
via-^  a  carreira  do  navio ,  e  dizia-se:  «  anda  tantas  milhas» :  era 
essa  a  pratica  e  a  theoria ,  —  a  rotina  e  a  sciencia ;  pois  que  nas 
obras  de  pilotagem  d*aquelle  tempo ,  —  no  «  Roteiro  de  Céspedes» 
por  exemplo»  que  data  de  1 500 ,  acham-se  estabelecidas  as  regras  de 
como  podem  e  devem  os  pilotos  julgar  a  olho  da  carreira  do  navio. 

Ora  ^  que  o  navegante  portuguez  nfio  sabia  a  quantas  andava , 
servirá  de  irrefragavel  testemunho  a  carta  dophysico  e  cirurgião  que 
o  acompanhava ,  —  pessoa  que »  s^undo  de  sua  carui  se  collige , 
tinha  orgulho  de  ser  entendido  na  matéria.  Eram  dous  os  meios 
pelos  quaes  se  reconhecia  a  situação  d'um  navio  no  mar  alto  :  os 
cálculos  do  astrolábio ,  e  as  conjecturas  feitas  sobre  a  marcha  do 
navio  em  determinado  sentido.  Para  o  astrolábio  tinham  elles  a  in* 
venção  de  Beliain,  invenção  quo  era  ainda  de  fresca  data;  e  para  o 
avanço  do  navio ,  —  umas  taboas  da  índia ,  roais  modernas  ainda 
que  o  astrolábio.  Um  e  outro  doestes  processos  que  mutuamente  se 
auxiliariam ,  longe  de  serem  úteis  aos  pilotos  de  Cabral ,  eram  mo- 
tivo de  divergências  entre  elles ,  ou  porque  fossem  realmente  im- 
perfeitos, ou  por  não  saberem  bem  usar  d'elles. 

O  mestre  João ,  por  exemplo ,  desculpa-se  com  o  rei ,  dizendo 
que  era  o  seu  navio  muito  pequeno»  e  vinha  além  d'isso  muito 
carregado ;  que  elle  próprio  soiTria  algum  incommodo »  e  depois 
accrescenta,  como  auribuindo  em  parte  o  facto  a  estas  causas  — 
«  que  no  mar  se  não  poderia  observar  a  altura  de  qualquer  estrella ; 
porque ,  por  pouco  que  o  navio  jogasse ,  errava-se  de  4  a  5  grãos ;  e 
que  assim  esse  trabalho  só  se  podia  fazer  em  terra. »  Em  terra 


325 

mesmo  ^  feitas  as  suas  observações ,  acliou-se  elle  em  Porto  Seguro 
aos  17  gráos  sul ;  os  pilotos  porém  a  10;  e  todos  (Pedro  Escobar , 
entre  elles)  discordavam  em  150  l^oas,  uns  para  mais  e  outros 
pnra  menos ;  differiam  pois  os  extremos  em  30O  legoas. 

Permitta-se-me  uma  consideração  antes  de  passar  adiante.  A  dis- 
tancia para  oeste  de  Porto  Seguro  ao  ponto  correspondente  na  Costa 
d^Africa  ó  de  mais  de  40  gráos :  no  emtanto  Barros ,  em  um  trecho 
que  deixei  citado ,  diz  que,  segundo  os  pilotos  de  Cabral »  a  costa 
de  Guiné  distava  450  legoas  para  oeste  da  terra  por  elles  descoberta. 
Este  espaço  accrescentado  com  as  300  legoas  dos  extremos  de  que 
fallava  o  mestre  João  ,  dá  750  legoas ,  que  é  approximadamente  o 
termo  médio  do  numero  de  legoas  precisas  para  encher  40  gráos  (de 
18  ou  20  cada  gráo).  O  erro  pois  de  Cabral  estaria  em  mais  de 
300  legoas  no  sentido  de  oeste. 

Volto  ao  assumpto  de  que  me  vinha  occupando  —  do  processo  da 
navegação  no  tempo  de  Cabral. 

Si  9  como  levo  dito ,  o  astrolábio »  mesmo  em  terra ,  e  fazendo-se 
as  observações  com  toda  a  commodidade  e  descanso ,  não  era  instru- 
mento que  servisse  para  resolver  todas  as  duvidas ,  -^  as  taboas  da 
índia  eram  mais  imperfeitas  ainda ,  e  mais  sujeitas  a  erro.  Por  isso 
o  pbysico  escrevia  que  o  rei  se  riria  d'ellas  com  mais  razão  ou  von- 
tade, si  soubesse  como  todos  desconcerUi\am  com  ellas;  e  mais, 
era  isso  em  mares  conhecidos  como  de  Lisboa  ás  Canárias ,  e  das 
Canárias  a  Cabo  Verde!  Nem  por  ellas  julgavam  do  espaço  per- 
corrido; mas  pelo  contrario  marcavam  n'ellas  a  quantidade  de 
caminho,  que  lhes  parecia  ter  feito. 

Falhando  os  cálculos  dos  pilotos  de  Lisboa  até  Cabo  Verde ,  não 
se  pôde  razoavelmente  admittir  que  elles  tenham  d'ahi  por  diante 
navegado  accordes  e  conscienciosamente ,  quando  haviam  causas  que 
desculpavam ,  assim  como  occasionavam  o  erro.  Por  Lsso  poz 
Caminha  aquella  resalva  «  segundo  os  pilotos  diziam ;»-  por  isso 
Galvão  assevera  que  elles  tinham  perdido  a  derrota ,  o  que  é  bem 
presumível. 

Vimos  já  como  Cabral  topoo  a  SI  de  Abril  signaes  de  terra ,  que 


82G 

avistou  no  dia  22.  Quer-me  parecer  que  o  numero  de  legoas^  que 
elles  suppunbam  ler  andado  desdo  Gabo  Verde  foi  delerminadõ  em 
lerra  ,  como  íoi  em  terra  que  tratou  de  averiguar  a  que  altuca  se 
achavam ;  mas  deixo  de  parte  esta  circumstancia. 

Do  dia  21  a  22  nào  podiam  navegar  com  muita  afoiteza  por 
estarem  com  signaes  de  terra ,  e  precisarem  de  ir  a  lodos  os  okh 
mentos  lançando  a  sonda ,  sendo  até  de  suppòr,  e  eu  o  creio  » 
que  amainassem  de  noiíe.  De  Cabo  Verde  a  Porto  Seguro  a  distan- 
cia em  linha  recta  é  de  cerca  de  40  gráos  ou  de  800  legoas  de 
20  ao  gráo.  Depois  de  descoberto  o  Brazil,  Affooso  de  Albuquerque, 
como  jà  dissemos  y  determinou  engolfar-se  de  7S0  a  800  l^oas  na 
volta  do  mar.  Cabral  portanto  teve  um  engano  de  obra  de  ISO  le- 
goas  no  rumo  de  Sud-oeste*  Nâo  seriam  estas  as  150  lagoas  deqae 
falia  o  physico-mór,  por  cujo  motivo  discordava  da  opinião  de 
Pedro  Esoobar  ? 

Cento  e  cincoenta  legoas  n'aquel!a  direcção,  corresponde  a  80 
ou  100  legoas  mais  para  o  occaso,  do  que  elle  se  julgava  achar  ;  e 
estas  100  ou  80  legoas  equivalem  a  4  ou  5  gráos  de  differença  para 
oeste  ou  de  15'  a  20'  no  ehronometro  com  que  qualquer  marinheiro 
de  boje  se  nào  equivocaria  facilmente.  Mas  não  seria»  estes  quatro 
ou  cinco  gráos  que  errava  o  mestre  João  quando  com  o  astrolábio 
tomava  a  altura  das  estrellas,  as  quaes  por  esta  causa  lhe  pareciam 
nio  poderem  ser  observadas  do  mar? 

Examinemos  o  mappa  de  Lafitau. 

Si  este  escriplor,  como  presume  o  autor  da  Memoria,  e  eu 
estou  disposto  a  crer ,  nào  delineou  o  mappa ,  que  se  vé  na  frente 
da  sua  obra  a  dos  descobrimentos  dosPortuguezes,»  segundo  as 
suas  inspirações ;  si  pelo  contrario  foi  traçado  á  viâta  de  documen- 
tos valiosos  t  —  d'âsse  mesmo  mappa  tiro  eu  a  roais  eloquente  de 
todas  as  provas  em  coroo  Cabral  errou  na  sua  derrota  >  sendo  esse 
erro  a  causa  do  seu  descobrimento. 

N'este  mappa  está  Porto  Seguro  entre  15  e  iê  gráos  do  sul ,  e 
não  aos  17 ,  como  queria  mestre  João»  e  como  se  acha  no  Atlas 
de  Vaugpndj.  É  pequena  a  differença ;  mas  outras  ha  mais  im- 


S27 

portantes ,  e  que  um  simples  lançar  (]*olhos  revela :  é  a  proti- 
midade  em  que  se  acham  as  ilbas  de  Cabo  Verde  e  a  America 
Meridional ,  erro  que  se  reproduz  em  João  de  Barros ,  que  dá  450 
legoas  para  a  distancia  entre  a  terra  descoberta  por  Cabral  e  a 
€osta  de  Guiné.  Em  Lafiiau  a  distancia  para  oóste  entre  S.  Niooláo 
em  Cabo  Verde  e  Porto  Seguro  é  de  13  gráos  contados  no  equa- 
dor; no  mappa  mundi  construido  sobre  a  projecção  de  Mercator  ^ 
assim  como  no  deVaugondy,  essa  mesma  distancia  é  de  17  gráos. 
Esta  differença  de  Ix  gráos  não  é  ainda  a  mesma  que  o  physico 
mestre  João  designava  como  erro  nas  observa<;ões  do  Astrolábio? 

Por  Gm  —  vemos  no  mappa  mundi  de  Bruet  que  a  distanda 
em  linha  recta  ,  entre  Porto  Seguro  e  a  ilha  de  S.  Nicoláo  é  de  45 
gráos ;  emquanlo  no  de  Laíitau  a  distancia  ó  de  37  gráos  da  ilha 
de  S.  Nicoláo ,  e  35  da  de  S.  Thiago. 

Como  aconteceu  porém  que  Pedro  Alvares  errasse  tão  brassamen-* 
te?  Já  dissemos  que  então  se  julgava  a  olho  do  caminho  que  se 
andava  no  mar.  O  erro  não  seria  considerável  em  mares  conhecidos  > 
porque  os  que  tem  navegado  sabem  que  os  homens  práticos  do 
mar  raras  vezes  se  enganam ,  olhando  para  a  carreira  do  navio» 
Por  via  de  regra  ,  a  barquinha  os  não  desmente ;  mas  a  barquinha 
é  um  instrumento  Imperfeitíssimo,  que  faciLuente  ihduz  a  erro^ 
quando  ha  correntes  em  sentido  contrario  ou  favorável  ao  vento , 
porque  fica  sempre  áquem  ou  vai  além  da  verdade.  Por  outro  lado 
a  vista'  equivoca-se  também  com  as  correntes ,  porque  as  mesmas 
causas  que  actuam  sobre  a  barquinha  ,  falseando  os  seus  resulta- 
dos, obram  de  igual  modo  sobre  a  vista. 

Cabral  pois ,  que  trouxe  vento  fresco  até  ao  Brazil ,  e  julgando 
a  olho  das  sangfaduras  do  caminho ,  devia  equivocar-se ,  principal-» 
mente  no  Atlântico ,  porque  mesmo  com  o  uso  da  barquinha  e  com 
instrumentos  mais  simplices  e  perfeitos  ,  os  roteiros  moderaos  acon- 
selham que ,  navegando-se  n'elle  para  oeste ,  se  accresoente  a  esti- 
mativa quatro  legoas  por  dia  (69).  Note-se  mais  que  esta  quantidade 
longe  de  ser  constante  se  augmenta  com  as  distancias  percorridas. 
Mas  supponlttmos  que  nao  ba  augmento  progressivo  >  eque  basta 

ivni  Ã3 


328 

aeeresceniar-se  quatro  l^as  diárias  á  esUmativa.  —  Cabral  sabia 
de  Cabo  Verde  a  2â  de  Março,  —  viu  signaesde  terra  a  21  de 
Abril » —  o  espaço  é  de  30  dias ;  —  o  accrescimo  que  se  teria  a 
fazer  seria  portanto  de  120  legoas  pelo  menos.  Os  seus  pilotos  jul- 
gavam ter  andado  660  ou  670  legoas,  com  mais  esta  120,  que 
elles  não  contavam,  teriam  780  a  790  legoas  de  Cabo  Verde  a  Porto 
Seguro.  Estariam  assim  alguma  cousa  próximos  da  verdade ,  si 
nilo  tivessem  igualmente  errado  na  determinação  da  longitude:  a 
i$0  legoas  da  costa  de  Guinei 

Creio  pois  que  Cabral  não  teria  chegado  ao  Brazil  si  soubesse 
quanto  consideravelmente  ia  descabindo  para  oeste.  Os  seus  pilotos 
que  ibe  requereram  a  mudança  de  proa ,  tôl-o-iam  feito  antes ,  e 
nenhuma  razão  ha  para  que  Cabral  não  accedesse  ás  suas  instan- 
cias, não  havendo  ainda  encontrado  signaes  de  terra, -^sígnees 
que  por  certo  não  toparia  a  não  se  ter  engolfado  tanto,  e  tão  próxi- 
mo do  Brazil ,  que  um  dia  depois  o  avistaram.  Estes  signaes  foraia 
sargasso  e  algumas  aves  (70). 

Tenho  ató  aqui  procurado  sustentar  a  minha  opinião  ;  mias 
quanto  á  Memoria  em  si,  devo  observar  mais  esta  vez,  e  para 
concluir,  que  acerca  d'esta  matéria  nenhuma  autoridade  [K)rtugueza 
se  pode  invocar,  que  não  esteja  n*elia  fielmente  reproduzida  ou 
citada.  O  autor  não  as  occulta ,  não  disfarça  os  seus  argumentos  ; 
apresenta-os ,  e  corobate-os  de  frente.  Com  séria  meditação,  com 
aturado  estudo ,  aproveitando-se  liabilmeoto  de  todas  as  circums- 
tancias,  de  todas  as  phrases ,  e  ató  de  todas  as  expressões  que 
faziam  ao  seu  propósito;  combinando  engenhosamente  os  historia- 
dores, e  disfarçando  completamente,  á  força  de  talento,  a  fraqueza , 
que  tal  mo  parece,  da  sua  causa,  conseguiu  fazer  um  trabalho 
erudito,  agradável  e  fácil;  —  e,  direi  mais,  si  não  pòz  inteiramente 
(ora  de  duvida ,  ao  menos  quanto  a  mim,  a  opinião  que  merocen* 
do-lhe  tantos  esforços  >  ó  mais  uma  prova  do  seu  bello  engenho ;  — 
^  telvez  pela  regra  sabida  —  de  que  nem  sempre  a  verdade  está  nas 
ceodições  da  verosimilhança, 

g|la  das  $ess9es  do  Instituto  Hislorico ,  12  de  Maio  de  1854. 

A,  Gonçalves  Du^. 


329 


IVOTAS. 


(1)  Rerista  Trimensal.  Tom.  XV,  n."  6.* 

(2)  Brazil  e  Oceania.  P.  1/  cap.  13. 

(3)  Rafn.  Anliquitates  Americanw.  i8Zi5.  Revista  do  InstUulO  T.  2» 
pag.  208,  e  seg.  llumboldt  Cosrtws.  Bruxellcs  1852.  T.  2,  cap.  6.'' 

{íi)  Humboldt  (Examen  critique  de  Flristoire  de  la  Oéographic  da 
Nouveau  Gontinent.  Paris.  1836.  T.  1,  p.  80)  diz-nos  que  é  a  D.  Fer- 
nando Gc^ombo  a  quem  devemos  um  exlraao  doesta  obra  do  Almirante; 
e  reproduz  as  seguintes  expressões  de  Barda.  Hist  primit  Tom.  i« 
pag.  6,  6.  V  Memoria  ó  anotacion  que  hizó  el  almirante,  mostrando  ser 
habitabiles  todas  las  cinco  zonas  con  la  experiência  de  la  navegacion.  » 

(5)  Reeberches  siir  la  príorité  de  la  decouverte  des  pays  situes  sur  la 
cote  occidentale  d'Afríqne  etc,  par  V.  de  Santarém.  Introduc.  pag. 
XCVIII.  Pars  tcrrx,  torridx  zona!  subníma,  inhabUabiUs  nimio  oedore 
solis. 

(6)  llumboldt  Cosmos,  edic  cit  Tom.  2,  cap.  6. 

(7)  Revista  Trfmensal.  Tom.  XV,  n.*  6,  pag.  1^^. 

(8)  Edição  da  Real  Academia  de  Historia  de  Madrid  de  1S52.  Ttfdi. 
!.•  pag.  13.  (Uv.  2.'*  cap.  2.*) 

(9)  Navarrctc.  Goleccion  delosviagesydescubrimientos.  Madrid.  1825. 
Tom.  1,  pag.  13.  Eis  por  inteiro  o  perio<lo  do  roteiro  de  Colombo  que 
neste  antor  se  lé  sobre  esta  carta.  «  Iba  hablando  el  almirante  con  Maiítín 
Alonzo  Pinzon,  capitan  de  la  otra  carabela  <f  Htíta  »  sobre  una  carta  qne 
le  babta  enviado  três  dias  hada  a  la  carabela,  donde  segmi  parece  tetna 
pintadas  el  almirante  ciertas  islãs  por  aquella  mar.  » 

(10)  llumboldt.  Cosmos.  Edic  dt  T.  2,  pag.  219. 

(11)  V.  de  Santarém.  Ob.  cit.  pag.  91. 

(12)  Idem.  Introduc.  pag.  XLl  (álj. 

(13)  Bste  manuscripto  de  Las  Casas  intitulasse :  Uisotria  General  de 
las  Índias,  llumboldt  dta  as  palavras  de  uma  copia  possuída  por 
Temaux^Con^tans. 

(16)  Navarrete.  Ob.  e  lug.  citado. 

C15)  Ainda  que  Iltúnboldt  na  sua  a  Historia  da  Ccographia  »  diga  que 
Colombo,  assim  como  Toscandll,  admittmm  a  probabilidade,  mullâ 


330 

incerta,  de  noYOs  descobrimentos  (Ob.  dt  T.  !•  pag.  21  e  2h)  todaTia  na 
seu  Cosmos  falia  de  um  fim  único qtie  tivera  Colombo  na  soa  empresa; 
parecendo  nesta  sua  obra  ter  modificado  ou  corrigido  a  asserção  da 
^terior. 

(16)  Tbe  Woriu  of  Wílliam  Robertson.  London  18áC^.  T/uHistoryof 
America.  BooIl  II  —  :  Colwnbiis  after  resolving  long  and  seríously  eTcry 
drcumstance  suggested  by  his  superior  linowledge  in  the  theory  as  wdl 
as  practice  of  navigation; —  after  comparing  attendvely  the  obserTatian^ 
of  modem  pllots  with  tlie  hints  and  conjectures  of  andent  authors,  he  at 
last  conduded,  that  by  salingdirectly  towards  the  west,  across  the  atlantic 
oçean ,  new  countries,  wbich  prpbably  formed  a  part  of  the  great  cqq- 
tinent  of  índia,  must  infalúbly  be  discovered. 

(17)  O  que  diz  ^umboldt  (na  Hist.  da  Geogr.)  de  que  para  Colombo  o 
descobrimento  de  novas  terras  não  era  ^en^o  um  fim  muito  secundário  d% 
sua  empreza,  não  se  combina  muito  bem  com  o  fecto  de  ter  sido  essa  a 
primeira  condição  ajustada,  como  se  16  na  «  Histoire  general  de  TAmé- 
rique  par  le  R.  P.  *  Toumon.  Paris  1768.  T.  1,  pa^  8. 

(18)  Cosmos  (ed.  cit  pag.  213).  Humboldt  o  conjectura,  por  ter  sido 
9  obra  de  Marco  Polo  impressa  primeiramente  em  1477 ,  na  Iradacção 
aDemãa,  Ihigua  que  nem  Colpmbo,  nem  Toscandli  sabiam. 

(19)  P.*  Toumon.  Ob.  e  lug.  dtado. 

(20)  Others  concludcd,  that  cither  be  would  find  ^e  ocean  to  be  of 
infinite  extent,  accordhig  to  the  opinionof  some  andent  philosophers;  or 
if  he  should  persist  in  steering  ^ow^rds  the  west  beyond  a  certain  point 
that  the  convex  figure  of  the  globe  would  prevent  his  return...  etc.  Ro- 
bertson.  Ob,  dt.  pag.  748. 

Vid.  lugar  citado  que  outras  opiniões  se  manifestavam  conlra  os  pro-t 
jectos  de  Colombo. 

(21)  Edrisi,  Traduc  de  Jaubert.  Tom.  2,  p.  2«  citado  pelo  V.  de  San^ 
tarem,  e  Humboldt  na  Hist.  da  Geog.  Tom.  1,  pag.  51.  Masondi  (traduc 
ingleza)  de  Sprenger  Tom.  i,  p.  282,  diz  do  Atlântico,  o  the  sea  has  no 
limits  neither  in  its  depih  nor  extent . .  this  is  the  sea  of  darkncss,  also 
called  the  green  sea.  » 

(22)  Extracto  o  P,*  Toi\rnon.  Ob.  cit,  T.  1,  pag.  ti;  mas  vem  por 
extenso  este  trecho,  digno  de  lêr-se,  em  Humboldt  «  Hist.  de  la  G.,  T. 
1,  pag.  80,  nota  2,*  » 

(23)  Cosmos  cit, 

(24)  Barros.  Décadas  da  Ásia.  Lisboa  lffi28.  L.  3.%  cap.  11.  fl.  56,  v. 

(25)  Bevista  TrimcnsaL  Tom.  15,  pag.  Mxi.  Navarretc  Coleccion  de 
|os  viages  y  descubrimíentos.  Madrid  1825.  Tom,  2.' 

(26)  Hakluyt  dta  o  caso  notável  de  haver  um  rd  de  Inglaterra  pro^ 
^ibido  o  armamento  que  projectavam  alguns  súbditos  seus  para  a  Cosu 


S31 

iTAfrica,  por  lhe  representarem  embaixadores  portugnezes  que  aqaeUas 
eram  terras  de  Portugal  por  concessõespontificias.  O  autor  dta  a  chronica 
de  Rezende;  mas  (f  facto  assume  certo  caraeter  de  authentiddade,  sendo  re- 
produzido por  um  autor  inglez,  que  lhe  não  faz  objecção  alguma,  nem 
mesmo  escrevendo  que  o  m  de  Inglaterra  se  dera  por  muito  satisfeito 
com  a  embaixada;  e  mandara  pôr  bando  para  que  se  não  fizesse  o  ar-' 
momento.  Uakluyt  Tom.  2,  pag.  1x^1. 

(27)  Chronica  dos  valerosos  e  insignes  feitos  d'el-rei  D.  João  II.  Gap. 
165,  Ruy  de  Pina  diz  também  na  sua  «  Chronica  d'Ei-Rei  D.  João  II  » 
(cap.  66)  I  «  E  sendo  El-Rei  logo  dMsso  avisado  (da  chegada  de  Colombo) 
ho  mandou  ir  ante  si,  e  mostrou  por  isso  receber  nojo  e  sentimento  assi 
por  crer  que  o  dito  descobrimento  era  feito  dentro  dos  mares  e  termos 
de  seu  senhorio  de  Guinée,em  que  se  offereda  defensão...  etc  »  Inéditos 
da  Historia  portugueia.  T,  2,  pag,  178. 

(^%)  L.  3,  cap.  li,  pag,  56,  da  edic  dt. 

(29)  Ruy  de  Pina.  Ob.  e  lug.  cit.  «  o  dito  almirante  que...,  no  recon- 
lamento  de  suas  cousas,  excedia  sempre  os  termos  da  verdade,  fez  esta 
cousa  em  ouro,  prata  e  riquezas  muito  maior  do  que  era.  » 

(30)  O  Marquez  de  Alegrete  refere  nestes  termos  a  entrevista  de  Co- 
lombo com  o  rei  de  Portugal: — prolixa  narratione  facta,  inventarum 
regionum  divitias  adeo  profuse  extulit,  ut  acceptam  à  Joanne  repulsam 
haud  obscure  ipsi  exprobare  videretur.  Qua  de  causa,  et  quod  Joannes 
sibi  persuaserat  Columbus  lusitanas  navigationis  jura  violasse,  torvo 
superdlio  auditum,  ingrata  responsione  dhnisit  «  De  rebus  gestis  Joanni 
II.  Auctore  Emmanuele  Tellesio  Sylvío.  Marchione  AlegretensL  Olisip. 
1689,  pag.  363.  «  Munoz  na  sua  Historia  dei  Nuevo  Mundo^  dizendo 
que  o  rei  mandara  chamar  a  Colombo  de  Valparaiso,  accrescenta :  « — Fui 
recebido  con  singular  ostentacion  y  onor,  y  mandado  cubrir  y  sentar  en 
la  real  prezenda :  habló  desembarazadamente  de  los  sncesos  dei  viage, 
pintando  las  cscelentes  calidades  de  los  paizes  descubiertos,  con  los  colores 
próprios  de  su  imaginadon  viva  y  acalorada.  Los  cortezanos  calificaron 
el  despejo  por  soltura,  descomediniíento  y  alienaria,  y  las  grandezas  refe- 
ridas, por  exageradones  faltas  de  vcrdad,  despueslas  de  propósito  a  iin 
de  reprender  y  contristar  ai  monarca,  que  tanto  bicn  perdia  por  no  baber 
aceptado  la  impreza,  ni  dado  credito  a  su  autor.  »  Edic  de  Madrid  de 
1793,  pag.  lZi7. 

(31)  Quod  quidem  Joannes  non  recusavit,  sibi  persuadens  Ferdinandi 
cansam  omnino  jure  destituíam  esse.  Marquez  do  Alegrete,  Ob.  citada 
pag.  367. 

(32)  Revista  TrímensaL  Tom.  5,  pag.  3á2. 

(33)  Rev.  Trim.  T.  5,  pag.  342  (!.' serie.) 

(34)  Memoria  do  ^r.  Norberto.  Nota  225. 

(35)  Tratado  dos  descobrimentos  antigos  e  modernos...  composto  pelo 
filDoso  António  Galvão.  Lisboa  1731,  pag.  36. 


332 

(36)  Lé-sc  na  obra  citada ,  158/i ;  mas  é  erro  de  Impreaslo. 

(37)  Manos  dá  nestes  termos  o  resuUada  das  conferencias  de  Behain 
com  dous  dos  mais  hábeis  cosmographosde  l^ortugal »  Despoes  de  mochas 
investigaciones  y  coníereucias  se  invento  la  aplicacioa  dei  astrolábio  a  la 
pratica  de  la  navigacioii ,  para  observar  a  bordo  la  altura  nieridiana  dei 
sol  sobre  el  horisonte.  Historia  dei  I^uevo  Mundo^  de  D.  Juan  BauU 
Munoz,  Madrid,  1793,  pag.  37. 

(38)  Lô-se  esta  carta  em  outra  escripta  pelo  mesmo  Toseanelli  a  Colombo 
a  25  de  Junho  de  l/i74,  e  Impressa  na  «  GolL  de  los  viag.  y  descubr.  »  de 
Mavarretc.  T.  2,  pag.  3. 

(39)  Revista  TrímensaL  Tom.  5,  pag.  158. 

(40)  Cosmos.  T.  2,  cap.  6." 

(61)  V.  de  SanUrem.  Ob.  clt.  pag.  72«  prol.,  etta  atradacção  fraiiceza 
de  Reinaud. 

(42)  Pag.  157. 

(43)  Diálogos  de  varia  historia.  Counbra,  1594,  pag.  186. 
(4/l)  Dec.  !.•  L.  5.%  cap.  85. 

(45)  Chronica  do  felicíssimo  rei  D.  Alanoel.  ParL  1.%  cap.  55,  foi.  51. 

(46)  Da  vida  e  feitos  d'£l-Rei  D.  ]VIanoel:  traducção  de  Francisco  Ma- 
noel. Lisboa,  1804.  Tom.  1.  pag.  143. 

(47)  Da  vida  e  feitos  d'El-Rei  D.  Manoel.  Ob.  cit.,  T.  1,  pag.  143. 
«  Mas  l^edro  Alvares  Cabral,  qtie  ia  em  derrota  da  índia ,  seguindo  a 
mesma  esteira  do  Gama,  veio  á  iltia  de  S.  lago,  d'onde  querendo  passar 
avante  tal  tormenta  se  levantou  etc.  » 

(48)  u  Par  tio  l^cdro  Alvares. . .  com  regimento  que  se  afastasse  da 
Costa  d' Africa  pcra  encurtar  a  via.  »  Tratado  dos  descobrimentos  etc,  de 
Galvão  pag.  3õ. 

(49)  Memoria,  pag.  169. 

(50)  Memoria,  pag.  142. 

(51)  Exalta-se  muito  a  coragem  de  Gama  pelas  dííiiculdades  com  que 
teve  de  lutar  na  sua  viagem.  «  Correram  para  o  sul,  porfiados  a  montar 
o  Cabo  da  Boa  Esperança,  porfia  cm  que  realçou  muito  o  esforço  do  ca^ 
pitão  Vasco  da  (iama;  porque  eram  cruclissimas  os  mares,  frigidis- 
simos  e  contrários  os  ventos ,  as  brumas  e  os  temporaes  contínuos , 
sendo  sempre  naqucllas  partes  cm  tempos  certos  muito  horríveis  c 
muito  para  temer.  »  Osório.  Trad.   cil.  pag.   69. 

(52)  Ainda  que  os  autores  por  via  de  regra  só  tratem  das  calmarias 
da  Costa  d*Africa,  comtudo  accrescentam  alguns  d'elles  a  razão  por  que 
Pedro  Alvares  se  deveria  fazer  ao  mar. 


333 

Ad  vítandam  Gkieae  malatiam,  et  superaudum  boa»  fidei  promoti^ 
toríam,  longiore  anabitu  capto  etc.  Maílei.  Ob.  ciu  L.  2."  pag.  31, 

o  .. .  Por  fugir  da  terra  de  Goiaé,  onde  as  calmarias  Ibe  podiam  im- 
pedir seu  caoiinbo ;  empegou-se  muito  no  mai*  por  lhe  ficar  seguro 
poder  dobrar  o  cabo  da  Boa  Esperança.  i>  Barros.  Década  i.*  L.  5, 

(53)  Direi  mais  abaixo  o  motivo  por  que  desconfio  cpie  a  cstimaição 
de  Caminha  da  distancia  em  que  se  achavam  de  Cabo  Verde  me  parece 
não  ter  sido  feita  a  boi-do. 

(5^)  Galvão  diz  que  tcndo-sc  topado  signaes  de  terra,  foi  Cabral  em 
busca  dVlla  tantos  dias,  que  os  seus  lhe  requereram  que  deixasse  aquella 
porfia.  A  narração  de  Caminha  me  parece  mais  digna  de  credita  Os 
signaes  só  foram  encontrados  um  dia  antes  que  elles  tivessem  vista  da 
lerra. 

(55)  Os  historiadores  são  unanimes;  mas  para  não  accumular  cí- 
tacões  só  doas  apontaremos.  »  Fez-se  uma  frota  para  a  índia ,  de  que 
ia  por  capitão  mór  Pedro  Alvares  Cabral. »  Gandava.  Cap.  1.  p.  6.** 

(56)  A  maior  parte  das  considerações  que  passo  a  fazer  se  acham 
consignadas  no  seguinte  trecho  de  Maffco.  Ilist.  índic.  Florença  1588. 
L.  2."  pag.  30.  Et  quoniam  Gammae  comitumque  fama  celebritasque 
et  multípiex  indicarum  opmn  relatum  in  Lusitaniam  specimen,  om- 
niom  animoft  in  rcrum  ingentium  spcm  et  ejusdem  itineris  cupiditatem 
erexerat;  ncquacqoam  ultra  explora toriis  navigi»,  verum  justis  jam 
classibus  ea  maria  sibi  sulcanda  constitoit.  NavílMis  tredecim ,  qua?  advei 
magnitudiue  et  hominum  frequentia  et  onerum  exislimatione ,  haud 
eriguas  lusitani  regni  opes  et  copias  indicarent...  etc.   » 

(57)  MafT.  Ob.  c  log.  cít.  Dialogoji  de  Mariz  cit  «...  nma  formosa 
armada  de  treze  náos  grandes,  com  todo  o  necessário  assim  para  o  com- 
mercio  das  cousas  preciosas  do  oriente ,  como  também  para  o  remédio 
das  almas  dos  moradores  d'eUe.  » 

(58)  Mafiei.  Ob.  c  lug.  ciL  a  ...  poder  de  náos  e  de  gente  »  Barros 
Dec,  1,  L.  5,  a  oompimha-sc  de  treze  náos,  levava  soldados  1,500,  ia 
artilhada  e  guerreira  em  summo  gráo  com  as  muitas  peças  e  munições» 
Osório  cit. 

(59)  Pedralvarcs  vendo  que  por  ratão  de  sua  viagem  outra  cousa 
não  podia  fazer,  d'aii  expediu  um  navio,  capitão  Gaspar  de  liemos, 
com  novas  para  el-rei  D.  xManoel  do  que  tinha  descoberto:  o  qual  navio 
com  sua  chegada  deu  muito  prazer  a  el-rci  e  a  todo  o  reino,  assi  por 
sal)er  da  boa  viagem  qne  a  frota  tevava,  como  pela  terra  que  descobrira. 
«  Barros  Dec.  1,  L.  5,  cap.  88.  » 

(60)  Cartas  de  Yespucio.  «  Noticias  para  a  Ilist  e  Geogr.  etc.  T.  2, 
pag.  141.  » 

(61)  «  Partimos  de  Lisboa  no  dia  6  de  AbrU  de  1503,  na  armada 
do  capitão  mór  Aflonso  de  Albuquerque.. •  principiamos  a  navegar  di- 


feitos  a  Cabo  Verde,  do  qual  quando  houvemos  vista,  toinoõ  o  capitão 
r.onselbo  com  os  seus  pilotos  sobre  o  melhor  rumo  que  se  devia  seguir 
para  ser  melhor  a  navegação  até  ganhar  o  cabo  da  Boa  Esperança ;  por- 
c|ue  o  caminho  que  de  ordinário  se  fazia  era  ao  longo  da  costa  de 
Guiné  da  Ethiopia^  enl  a  qual  ha  muitas  correntes,  cachopos  e  baixos, 
e  fica  além  d'isso  sotopostaa  equinoxial,  acalmando  por  esta  causa  muitas 
vezes  o  vento :  para  fugirmos  pois  d'ella  deliberamos  engolfar-nos  de  750 
a  800  léguas;  e  navegando  nesta  volta  Obra  de  28  dias,  em  uma  tarde 
avistamos  a  terra.  »  Viagem  as  índias  Oríentaes  por  João  de  Empolié  N<h 
ticias  para  a  Uist.  e  Geogr.,  etc  T.  2,  pag.  219. 

(62)  Kctoerison^Histonj  o f  América. 

(63)  Derrotero  de  las  islás  Antillas.  Madrid  18^9. 

(66)  ....  Fleuve equatorial  qui  va  de  TEst  à  TOuest  et  se brise contre  lá 
cote  opposée.  Humboldt.  Cosmos.  T.  2,  cap.  6,  p.  239,  ed.  dt. 

(65)  Noticias  para  a  (Ost^  e  Geogr.  das  Naa  IJltr.  Tr.  k^  pagw  I79-. 

(66)  Memoria  pag.  165. 

(67)  Historia  da  provinda  Santa  Griiz  por  Pêro  Magalhães  de  Gandava. 
C  1,  p.  6. 

(68)  Não  creio  que  Barros  tenha  coiifúndido  com  Guiné  ás  costas  de 
Marrocos  e  da  Senegambia.  Ainda  assim,  tomados  doas  pontos  salientes 
ba  Costa  d' Africa  e  Brazil,  o  cabo  da  fioa  Esperança  á  Olinda,  a  distancia 
é  de  27."  e  â'  ou  de  5^1  léguas  e  1  milha. 

Guiné  propriamente  dito  começa  do  cabo  das  Palmas  para  o  sul ;  e  a 
disuncia  de  10  gráos  sul  no  Brazil  ao  ponto  correspondente  n' Africa  (que 
parece  ser  como  Barros  calcula)  é  de  Zi5  gráos  pouco  mais  ou  menos. 

(69)  Derroters  de  Ias  Tslas  AntiUes.  18Z(9. 

(70)  Carta  de  Cammha  n  signaes  de  terra...  os  quaes  eram  muita  quan- 
tidade de  hervas  compridas  a  que  os  mareantes  chamam  bolhelho,  e  assim 
Outras  a  que  também  chamam  rabo  d' asno...  a  6."  feira  seguinte  pela 
manhãa  topamos  aves,  e  n'cste  dia  a  hora  da  véspera  houvemos  vista  de 
terra.  »  Notícias  para  a  Hisl.  e  Geogr.  etc  T.  A,  pag.  179. 


SS5 
REFLTAÇAO  ÁS  REFLEXÕES 

Do  DIGNO  MEMBRO  O  SR.  DR.  A.  GONÇALVES  DIAS 

POR  J.  NORBERTO  DE  SOUZA  SILVA 
Sodo  effectifo  do  Instítnto  Historíco  e  Geographico  Dranleiro 

Lida  lias  sessões  de  15  de  Setembro  ,  13  de  Outubro ,  2Zi  de  Novembro 
e  7  de  Deíembro  de  1854 

NA  AUGUSTA  PRESENÇA  DE  S.    M.    O  IMPERADOR» 


Outr*«   coiuid«r*çAci  »•  p^i  m  ÍMcr  qiic,  ic  nfto 
raiolveai ,  a«osraiidc  lusa  qii«»(*o  qna  m  vtntilt» 
fDãa   Ktflêxòêt  d»  St.    Jmt0HÍt   CMi(air«fl   Diaê.  ) 

Na  elaboração  de  uma  roenoria  sobre  o  descobrimento  da  parto 
da  Ameriea  que  habitamos ,  em  desenvolvimento  do  programma : 
K  Si  o  descobrimento  do  Brazil  por  Pedro  Alvares  Cabral  fora  de« 
vido  a  um  mero  accaso  ou  si  teve  elle  alguns  indícios  para  isso» 
tive  como  que  de  derrocar  um  monumento  >  cujas  pedras  acco- 
muladas  pelo  decurso  de  trezentos  annos  me  serviram  para  elevar  a 
verdade  em  novo  padrão.  Um  incidente ,  porôm,  p.iZ*me  frente  a 
frente  de  um  poderoso  campeão ,  o  sr.  António  Gonçalves  Dias » 
a  quem  o  brilhante  talento»  o  consummado  saber,  e  o  aturado  es^ 
tudo  tornaram  faeil  demolil-o  por  sua  vez  e  collocaUo  no  seu  antigo 
estado. 

Si  o  auctor  das  Reflexões  se  limitasse  tflo  somente  a  isso» 
fácil  me  fora  também  a  resposta;  eu  veria  ler  de  novo  a  me- 
moria que  aqui  apresentei  nos  uliimos  dias  do  annode  1850  sob 
o  novo  titulo  de  refutação  ás  suas  reflexões;  o  auctor,  porém »  pro- 
curou encarar  a  imprevidência  do  descobrimento  do  Brazil  devida  as 
correntes  do  Atlântico  que  arrastaram  as  naus  de  Pedro  Alvares  Ca- 
bral is  noasas  plagas.  Graças  á  verdade »  que  deve  lançar  perenne- 
aieote  a  sua  luz  resplandecente  sobre  a  historia ,  já  não  foi  esta 

xmi  4A 


SM 

imprevidência  devida  ás  tempestades  que  sacudindo  o  t)ccano  impei' 
liram  a  famosa  esquadra  sobre  as  costas  do  Bnizil ,  como  repetiram 
alguns  hisloriadores  menos  conscienciosos,  e  como  á  face  do  piz 
o  proctamára  o  illustrado  eone«ro  Januário  da  Cunha  RarKo&n ,  Ião 
entendido  nas  cousas  fia  pátria  e  que  tanto  a  mal  levara  ao  abbade 
Barbosa  Machado  o  deixar  sem  repnro  a  asserção  do  nosso  Ravaseo 
Vieira ,  quando  aRirmnra  que  o  Bra/.il  fora  descoberto  em  3  de 
Maio  de  1500.  Assim  pois  vanglorio-me  de  que  a  este  Instituto  nâo 
fosse  de  todo  em  todo  perdido  o  tempo  que  lhe  roubei  com  o  captar 
a  sua  attenção  para  um  ponto  menos  averiguado  da  nossa  historia. 

Agradeço  ao  illusire  cavalheiro  os  elogios  que  tão  immerecida- 
mente  me  tece,  mais  derivados  da  sua  bondade,  como  quo  para 
mitigar  a  destruiçiío  de  minhas  razões,  do  que  ao  mérito  de  um  dos 
roais  obseuros  de  seus  consócios ,  e  ainda  mais  o  ter  annuidoa  pòr 
por  escripto  o  quo  aqui  se  passou  em  palestra ,  cujas  glorias  s6 
pertencem  a  quem  o  cóo  proveu  óo  dom  da  palavra. 

Aos  aabtos  deixaria  de  boa  vontade  o  decidir  entre  a  discordanci* 
de  nassas  opiniões,  si  as  suas  próprias  palavras  quando  disse  :  «  Ou«* 
trás  coBsiderações  se  podem  fazer  que  se  nSo  resolvem ,  dão  grand» 
lua  à  questão  que  se  ventila ,  »  não  nto  tirassem  de  meo  propósito  , 
e  nSo  me  animassem  á  pesquiza  de  novos  documentos,  a  novo  es-^ 
ludo  e  mais  reflectidas  meditações. 

Para  mais  methodicaroenlo  refutar  as  reflexões  do  meu  illusiro 
adversário ,  dividirei  o  seu  trabalho  nos  seguintes  pootos  em  que  se 
pretende  demonstrar  : 

1.*  Quo  para  a  descoberta  do  Colombo  não  iníluiram  as  viagens 
dos  Seandinavos,  nem  o  roteiro  do  Affansíx  Sanches,  si  existiu  , 
servindo  apenasa  carta  deToscanelli  para  o  confiraiar  nas  suas  idéos* 

2.*  Qud  são  insudicienu^s  os  documentos  em  quo  me  baseei ,  que 
em  Portugal  so  tiuha  conheci  mento  deis  terras  quo  Pedro  Alvares 
Cabral  descobriu ,  não  por  n^ero  accaso,  sias  doaiandando-a»  por 
{«loposiio  deliberado. 

a.*  Que  a  dícscobaita  do  BrazU  não  entrou  no»  planos  do  Cabral , 
e  que  os  hi(>totiadore^  abuniam  n'€»te  aentido ,  c  qu6  so  eiprimem 


SS7 

4tí  íorma  lào  catliegorica  e  terininanle,  que  contrastam  com  as  fra- 
des ambíguas  do  outros  em  que  se  procura  base  para  opinião  con- 
traria. 

4.**  Que  o  deâicobrimenio  foi  de\'ido  ás  correntes  do  Atlântico,  6 
a  um  erro  na  derrota  que  sobreveio  e  continuou  depois  pela  coRStan- 
íancia  e  perman<incia  das  cansas  que  o  produziram. 

Entrarei  pois  no  dcsenvoKimemo  da  minha  refutnçXo. 

§  1.» 

Que  para  a  descoberta  de  Colombo  não  iníluira'na 
as  viagens  dos  Scandinavos,  nem  o  roteiro  de  Âf- 
fonso  Sanches,  m  existiu,  servindo  apenas  acarta 
de  Tosr^nelli  pnni  o  coníirm?ir  nas  snas  idéas. 

O  auctor  das  Beflexôes  querendo  provar  que  para  o  descobri- 
mento de  Colombo  não  iiifluíram  as  viagens  dos  Scandinavos,  re- 
monta-se  a  essa  epocha  lofi|;inqua,  passa  cm  revista  as  expedições 
de  Bjarne,  fílbo  de  Herjulfs,  e  de  Leif,  filho  de  Érico,  durante  06 
últimos  qualorze  annos  do  século  10.**,  e  concluo  que  nào  sendo  a 
noticia  da  existência  das  terms  dn  America  o  que  induziu  Colombo 
a  procural-a,  noticia  que  eircumsr  revendo -se  nos  limites  de  um  paiz 
pouco  frequentado  por  estrangeiros,  e  não  p.tssando  do  conlíccimenlo 
de  alguns  poucos  de  sábios  ou  curiosos ,  muílo  menos  poderia  influir 
no  descobrimento  de  Cabral ,  que  para  não  ser  devido  a  um  mero 
aoeaso,  fora  preciso  que  antes  da  sua  viagem  podesse  ter  conheci- 
mento  das  terras  americanas. 

Bando  toda  a  importância  que  merecem  as  eruditas  HirestigaçOes 
Aw  9ri)H»  antiqBarios  de  Copenbagen ,  notei  na  mtnba  lUtmoriú 
que  «ra  hoje  faeil  suppòr ,  depois  da  certeza  das  expediç&es  dos 
Seandinavoftá  America  Septentríonal ,  que  Co)pmbo  colhesse  til^uns 
índicios  sobre  om  novo  continente  situado  a  Oeste ;  porém  que  se- 
meUiantc  supposiçSo  nSO  se  baseava  nem  na  direcção  de  Sudoeste 
que  déni  á  sua  viagem,  partindo  das  Canárias,  nem  nas  palavras 


388 

d'aquelle  que  se  propunha  a  «  buscar  el  levante  por  el  poDieott, 
passar  ádonde  oacen  las  especiarias ,  navegando  ai  occidenle»  »  e 
que  morrera  na  convicção,  como  Américo  Vespucci  de  ter  tocada 
as  costas  da  Asin  ,  esse  continente  do  grande  império  Khatai  oa 
do  império  Mogol  da  China  Septentrional ,  sem  comprehender  a  ím- 
mensidade  do  seu  descobrimento ,  e  portanto  a  gloria  ioamortal  que 
d'ahi  lhe  provinha  c  sem  ligar  o  seu  nome  a  esse  continente  quea  $ua 
intrepidez  punlia  em  contacto  com  a  cobiça  e  crimes  da  %elha  Eu- 
ropa ,  e  tanto  mais  que  a  Islândia,  que  Colombo  \isitára,  estava 
privada  de  toda  a  communícaçilo  com  a  Groenlândia,  havia  já  dous 
séculos. 

Nào  so  infira  porém  que  esse  silencio  sobre  as  expedições  Scan- 
dinavas  se  tornasse  tão  absoluto  que  a  tradição  se  perdesse  de  iodo  , 
quando  apenas  os  factos  começam  de  surgir  da  escura  noite  em  que 
tem  estado  sepultados;  quando  novos  documentos  trazidos  ao  nosso 
conhecimento  derramam  a  sua  luz  sobre  uma  epoclki  que  parecia 
condemnada  e  para  todo  sempre  ao  olvido,  e  podem  de  um  momenta 
para  outro  patentear  toda  a  verdade  da  historia  ,  e  nos  mostrar  a  oaSo 
que  guiou  o  illustre  Genovez  na  sua  atrevida  empreza.  Já  não  estar- 
mos n'e8ses  tempos  em  que  a  imaginação  apressava  os  descobri- 
mentos, como  si  o  dia  devesse  anlicipar-se  á  aurora;  é  necessário 
cavar  no  abysmo  do  passado  os  documentos  que  ninda  jazem  nas 
trevas  para  nos  darem  a  luz ,  que  nos  deve  guiar  na  solução  d*ess6s 
problemas,  e  dos  quaes  alguns  que  tem  chegado  no  nosso  conheci- 
mento nos  dâo  tão  seductoras  esperanças  de  po^Jermos  ainda  coor- 
denar a  historia  da  America  anti-colombiana.  Ilumboldt,  que  tão 
profundamente  ha  estudado  a  historia  da  geographia  do  nosso  conti* 
nentd^  lutando  com  as  numerosas  contradicções ,  reconheceu  que 
na  historia  da  geographia  era  prudente,  como  em  outras  muitas 
cousas,  não  se  pretender  explicar  tudo(l).  £  tanto  mais,  como 
nota  o  illustre  sábio,  que  tem  havido  descobertas  geographicas 
como  muitas  nas  sciencias  physicas,  em  que  as  tentativas  coroadas 
por.  successos ,  porém  isolados  por  muito  tempo,  tem  ficado  desa- 
percebidos ou  condemnados  ao  esquecimento  (2). 


339 

Quanto  á  relação  da  vingem  e  roteiro  do  piloto  do  Huelva,  éo 
próprio^  nuctor  das  reflexões  quem  diz  que  não  será  motivo  de  con- 
trovérsia, visto  seguirmos  ambos  a  opinião  de  Oviedo,  que  os 
reputara  como  uma  fabula. 

Combinando  n'estes  dous  pontos  da  primeira  parte  de  suas  refle- 
xões ,  não  deixarei  de  fazer  algumas  observações  acerca  da  carta 
de  Toscanelli  e  suas  ilhas. 

A  carta  do  illustre  florentino  serviu  somente ,  segundo  o  nosso 
consócio ,  para  mais  confirmar  o  intrépido  Colombo  nas  suas  ideias ; 
este  somente  modifica  a  grande  gloria  do  illustrado  Toscanelli»  a 
quem  deveu  Colombo  o  descobrimento  da  America ,  e  para  com  o 
qual ,  segundo  nota  o  auctor  do  Exame  critico  sobre  a  historia 
da  geographia  do  novo  Continente  lào  ingrat«i  se  mostrou  a  pos- 
teridade que  quasi  o  esqueceu  ( 3).  «  Foi  elle,  diz  o  illustre  fillio 
de  Colombo,  foi  elle  a  causa  mais  poderosa  do  ânimo  com  que  o 
almirante  se  lançou  na  immensidade  de  um  mar  desconhecido  >  (4). 
Sabemos,  pelos  esforços  e  pesquizasdo  incansável  Navarrette,  que 
foi  em  Portugal ,  em  1474,  três  annos  antes  de  receber  a  carta  de 
Toscanelli,  que  elle  concebeu  a  primeira  ideia  de  sua  emprcza  (5) ; 
mas  também  é  incontestável  quo  Toscanelli  nfio  se  limitou  tão 
somente  a  essa  carta.  E^^se  astrónomo ,  cuja  avançada  idade  nio 
obstou  a  que  se  distinguisse  pelos  seus  estudos  sobre  os  astrónomos 
de  seu  tempo ,  não  só  se  deu  as  correcções  d:'s  taboas  solares  e 
lunares  por  observações  gnomonicas  e  do  astrolábio,  coroo  de  tudo 
quanto  podia  facilitar  o  emprego  dos  methodos  da  astronomia  náu- 
tica, por  longo  tempo  discutidos,  mas  raramente  empregados  até 
então.  Do  interior  de  seu  gabinete  levou  o  astrónomo  florentino  as 
suas  vistas  perspicazes  sobre  a  comparação  da  geographia  antiga 
com  o  resultado  dos  descobrimentos  modernos,  e  sobre  a  utilidade 
pratica  que  o  commercio  europeu  devia  tirar  d'este  género  de  tra- 
balhos abrindo  um  caminho  directo  ao  paiz  das  especiarias  com  a 
navegação  pelo  Oeste,  o  que  também  adquiriu  com  a  pratica  que 
tivera  com  grande  numero  de  pessoas  que  tinham  estado  n^esse  paiz 
de  tão  cobiçadas  prodacções. 


3A0 

Dirigiiido-se  a  Colombo,  exprimia-se  af^m  o  veHio aslnHiomo : 
•  Vejo  q<ie  leodes  o  nobre  desejo  de  passar  ao  paiz  em  «joe  iiasf^em  as 
especiarias,  c,  em  resposta  á  vossa  caria,  vos  envio  cópia  da  que 
dirigi  ha  alguns  dias  n  um  amigo  ao  serviço  do  serenissimo  rei  do 
Portugal ,  antes  das  guerras  de  Castella ,  em  resposla  de  outra  que 
me  escreveu  do  ordem  de  S.  Alteza  sobre  o  mesmo  objeclo  (6).  » 
Póde-se  crer,  diz  Uumboldt,  á  vista  d'est4  pbrase  incidente  «  b« 
alguns  dias  »  que  Colombo  consultou  a  Toscanelli  no  prinoipio  do 
anno  de  1474 ,  porquanto  a  carta  do  cónego  de  Lisboa  é  dalâda  da 
2B  de  Junho  doesse  anno  (7).  « 

I  E*  sabido  como  e  por  que  motivo  abriu  Cbristovão  Colombo  a 
6ua  correspondência  com  Toscanelli.  O  intrépido  descobridor  da 
America  havia  chegado  a  Lisboa  em  1470;  e  d'ahi  a  annos  veio  a 
saber  que  o  rei  Dom  AÍTonso  V  havia  i)edido  a  Toscanelli  por  inter- 
médio do  cónego  Fernão  Martins  uma  infurmaçuo  detalliada 
acerca  do  caminho  da  índia  pelos  mares  de  Oeste.  « Esta  nOva , 
(reflecte  o  illustre  Uumboldt)  devia  inquietar  o  homem  ardenie 
4]ue  nutria  o  mesmo  projecto  (8).  »  £  Lourenço  G ri naldi  se  en- 
carregou das  cartas  de  Colombo  para  Toscanelli ,  de  rujas  luzes 
pensou  o  illustre  genovez  (o  não  se  enganou)  que  se  devia  apro* 
veitar  ',9). 

Ora  ,  Toscanelli  linha  77  annos  quando  fallou  no  cónego  Martins 
de  seus  projectos.  £'  pois  provável ,  accrescenta  Huniboldt  (10],  que 
a  persuasão  d'ossc  «  brevíssimo  caminho  »  atravez  do  Oceano  atlan» 
tico  datasse  de  ha  muito  tempo  em  seu  espirito,  a  Ainda  que  por 
muitas  vezes  tenho  tratado  do  brevissimo  caminlio,  diz  Paulo  Tos*^ 
canellí ,  que  ha  d'aqui  para  as  índias ,  onde  nascem  as  especiarias^ 
por  via  do  mar,  que  tenho  por  mais  curto  do  que  o  que  fazeis  por 
Guiné,  como,  porém,  agora  me  dizeis  que  S.  Alteza  pretende 
alguma  declaração  ou  demonstração,  para  que  entenda  e  veja  como 
;Se  pôde  tomar  esse  caminho,  o  que  mais  íacil  seria  demonstrar  com 
a  esphera  na  mão,  para  ver  como  está  o  mundo,  todavia,  para 
Mior  clareza ,  mostrarei  o  referido  caminho  em  uu>a  c^rla  simi^ 
Ihanle  ás  de  marear,  c  <issini  a  mando  á  Sua  Alteza  feita  c  traçada 


por  minha  própria  mão;  n^ella  vai  indioado  lodo  o  âm  do  Po«nf0< 
tomando  desde  a  Islândia  o  austro  alé  o  fim  de  Guiné,  com  todas 
as  ilhas  que  estão  situadas  n'esla  viagem ,  a  cuja  frente  está  pin- 
tado, 6JII  direitura  pelo  poente,  o  principio  das  índias  com  todas 
as  ilhas  e  lugares  por  onde  podeis  andar,  e  quando  vos  podereis 
apartar  do  polo  ariico  pela  linha  equinocial ,  e  por  quanto  espaço; 
isto  éf  com  quantas  léguas  podereis  chegar  áquelles  lugares  fertilis-' 
siraos  de  especiarias  e  de  pedras  preciosas  (tf).  •  Estas  palavras  (dís 
Humboldt)  provam  suficientemente  que  muito  antes  de  1474 
tinha  Toscaneili  aconselhado  ao  governo  porltiguez  a  rota  que  Go-^ 
lombo  seguiu ,  o  que  accidentalmcnlc  deu  lugar  ao  descobrimento 
de  um  grande  continente  (12).  £'  provável  que  essa  mesma  idéa  se 
tivesse  apresentado  ao  mesmo  tempo  a  muitos  liomens  instruídos  a 
ardentemente  occupados  em  estender  a  esphera  dos  conhecimeu^ 
tos.  (13) 

Si  o  alvo  da  empreza  tinha  por  flm  achar  um  caminho  mais  curti» 
para  a  índia ,  o  fim  secundário  era  o  descobrimento  de  algumas  ilhas; 
nSo  quer  porém  o  auctor  das  Refiexáes  que  as  ilhas  que  appareoem 
na  carta  marítima  fossem  postas  por  Toscanellí ,  mas  sim  por  Co- 
lombo» segundo  oonclue,  tanto  do  roteiro  de  Colombo,  impresso 
por  Navarrete ,  como  da  pasi^agem  que  Humboldt  cita  do  manus*- 
eripto  de  Las  Casas»  quando  Toscanelii  é  Iam  CTcplicilo  a  esse  res- 
peito ,  pois  diz  a  que  se  enconiriírá  sobre  a  rota  as  ilhas  que  estaa 
i>'esta  viagem ,  por  exemplo,  a  Ántilha,  comas  ilhas  próximas  á 
lodia  continental;  por  exemplo  ^  Cypango^  com  as  ilhas  com  que 
iraficam  os  negociantes  do  differentcs  nações  (14).  » 

£ra  opinião  do  próprio  Toscanelli  que  essas  ilhas  podiam  servir 
para  alguma  detenção  ou  arribada  forçada  por  ventos  contrários  ov 
qualquer  outro  incidente»  que  obrigasse  a  procurar  um  asylo  (15).  9 

Pondo  em  execução  como  hábil,  intrépido  e  instruído  marinheiro 
que  era,  o  que  até  então  não  passara  de  uma  estéril  especulação 
lis  gabinete  (16)^  deveu  Colombo  a  Toscanelli  o  que  Vasco  da  Gamii 
deie*aCovilhan,  que  augmentou-lhe  a  sua  confiança  ,  sobresabinid^ 
como  nota  Humboldt ,  á  vista  da  possibilidade  do  êxito ,  provada 


por  arguinenlos  irrocusovois ,  o  hardímonlo  da  execuçSo  de  sèun 
projectos  (17)  ». 

Foi  a  carta  mariíima  ,  dirigida  ao  cónego  de  Lisboa ,  quo  serviu 
de  guia  a  Colombo  na  sua  primeira  viagem.  Assim  o  peosa  o  eru- 
dito traduclor  de  Munhoz  (18) ,  e  Bartholomeu  de  las  Casas  a  preavi 
por  isso  como  um  monumento  histórico  (19).  «  Sob  esta  circums* 
tancía,  reflexiona  Humbuldl,  merece  muito  mais  interesse  do  que 
aquelle  que  até  aqui  tem  merecido;  Toscanelii  communicando a 
Colombo  uma  cópia  de  sua  caria  ao  cónego  Fernão  Martins  diz 
claramente:  «  Envio  outra  carta  de  marear  semelhante  á  que  enviei 
00  cónego  »  (20). 

Na  sua  primeira  viot^em  se  dirigiu  Colombo  por  uma  carta  mari* 
tima  que  tinha  a  bordo;  navegou  com  a  segurança  de  um  homem 
que  sabia  que  devia  achar  o  que  buscava  (21). 

9  Assim  ,  diz  elle  no  seu  roteiro  de  3  de  outubro  de  1492  ,  que 
ti8o  queria  governar  barlavonteando  e  perder  o  tempo  apezar  de  tam 
frequentes  indícios  de  algumas  ilhas  n'aquet las  paragens,  poisara 
seu  fim  passar  ás  índias  e  si  se  detivesse  não  era  isso  razSo  »  (22). 
Em  6  de  outubro  pretendeu  Martim  Alonso  Pinzon  que  seria  van- 
tajoso mudar  de  rumo  o  aproar  ao  sud-oeste ;  foi  o  almirante  de 
contraria  opinião  o  julgou  rpje  Martim  Alonso  se  exprimia  assim  por 
causa  da  ilha  doCypango;  e  objectou  que  a  lhes  faltar  essa  ilha  não 
se  poderia  tào  cedo  tomar  terra,  e  que  era  melhor  ir  de  seguida 
á  terra  firme  e  na  volta  tocar  nas  ilhas  ^  (23).  Mais  tarde  a  belleza 
de  um  grupo  de  parceis  verdejantes ,  no  Velho  Canal ,  perto  do  porto 
dei  Principe,  apresentou-se  á  sua  ardente  phantasia  como  parte 
d'essas  innumeraveis  ilhas,  que  se  notam,  dizia  elle  (24),  em  os 
mappas-mundos,  a  extremidade  do  Levanto !  O  conhecimento  da  exis- 
tência de  muitas  ilhas  não  nasceu  da  fabula  imaginada  pelos  poetas. 

Orna  a  verdade ,  mas  nSo  mente  a  musa , 

Disse  0  lyrico  portuguez  (25)  que  como  Pindaro  engrandeceu  as 
acções  heróicas  de  seus  illustres  compatriotas ,  e  sabe-o  muito  bem 
o  erudito  autor  das  Reflexões. 


ihi 

No  alias  do  carias  Calalanes  da  bibliolheca  de  Parys,  que  dala 
de  1374,  vem  uma  I^enJa  relalíva  ao  mar  da  índia  que  indica  a 
existência  de  7H8  ilhas ,  ricas  em  pedras  finas  e  metaos  preciosos. 

No  mappa-mundi  de  Martin  Behaim ,  terminado  em  1A92 ,  traz 
de|)0is  do  45*"  norte  aos  40**  sal  uma  cadôa  de  ilhas  opposta  a  extre- 
midade da  Ásia.  E*  nesse  mappa  que  se  acha  uma  citação  de  Marco 
Polo  (26)  e  de  12700  ilhas  com  montanhas  de  ouro,  de  pérolas,  e 
de  doze  espécies  de  especiarias.  Humboldt  nota  que  a  citação  de 
Marco  Polo  não  é  exacta,  que  o  viajante  veneziano  falia  de  12700 
ilhas  (27)aIIudindo  ás  Maldivas  (28).  Behaim  transportou  esse  gru- 
po para  o  nordeste,  o  que  influiu  sobre  a  opiniSo  dos  navegantes  no 
fim  do  15.*  século  (29). 

Era  Colombo  de  opinião  que  essas  ilhas  se  esiendiam  prolongan- 
do-se  para  o  sul,  e  que  ahi  se  encontravam  grandíssimas  riquezas,  e 
pedras  preciosas  e  especiarias.  Assim  ajuntava  que  as  ilhas  do  canal 
Viejo  pertenciam  ás  innumeraveis  ilhas  que  os  mappa-mundi  collocam 
en  fin  dei  orientCy  c  que  elle  considerava  ricas  em  especiarias  e 
predras  preciosos,  e  cria  que  se  augmeniavam  em  numero  para  o 
sul  (30). 

A  Ásia  era  então  geographicamente  conhecida  na  sua  parle  orien- 
tal e  marítima  pelas  narrações  de  Marco  Polo  ,  Balducci ,  Pelogetti 
e  Nicolau  de  Gonti;  liguravam-so  innumeras  ilhas  ricas  em  especia- 
rias, e  em  ouro,  no  mar  de  Ciu  ou  do  Japão,  da  China  e  do 
Grande  Archipelago  das  índias. 

Nasceu  d'ahi  sem  duvida  a  idéa  de  serem  tomados  por  ilhas  os 
diversos  pontos  do  continente  americano  a  proporção  que  se  iam  des* 
cobrindo;  ao  passo  que  algumas  ilhas  pela  sua  immensa  extensão 
foram  tidas  pelo  continente  da  Ásia;  é  que  cada  descobridor  adaptava 
ás  suas  idéas  os  seus  descobrimentos.  Os  Portuguezes  suppanham  a 
existência  de  muitas  ilhas,  que  encadeadas  ás  que  descobrira  Co- 
lombo se  augmentavam  a  proporção  que  esse  immenso  archipelago 
se  estendia  para  o  sul ,  e  amda  na  existência  de  uma  terra  firme , 
no  emlanto  Colombo  que  sonhava  com  as  riquezas  do  Oriente, 
xviii  45 


pensava  ler  locado  nas  cosias  da  Ásia  abordando  o  Hltoral  da  flba 
de  Cuba. 

Assim  cincoenla  annos  depois  de  seu  descobrímenlo  por  Pedro 
Alvares  Cabral,  pensava-se  que  o  Brazil  era  uma  ilba ,  pois  que 
Barros  y  que  escreveu  antes  de  1551 ,  o  teve  por  uma  d'essas  ilh» 
descobertas  por  Colombo,  e  que,  dizia  elle,  chamavam  vulgarmeDl» 
os  castelhanos  Antilhas  (31).  Assim  também  Colombo  fazia  jurar 
em  12  de  julho  de  1494  a  mais  de  oitenta  pessoas  das  trípolacões 
das  ires  caravellas  Nina,  San  Juan  e  Cardera ,  que  a  ilha  de  Cuba 
era  terra  firme.  (32) 

Ora  suppunha  Colombo  ter  tocado  as  costas  da  Ásia  e  se  lhe 
afigurava  ver  na  vasla  extensão  de  uma  ilha  o  continente  tâo  aos- 
bicionado,  e, buscado  de  tão  longe,  atravéz  de  tantas  difficuldades 
a  par  e  passo  de  tantos  perigos  e  tantos  damnos,  que  o  melhor 
mal,  na  phrase  poética  de  Camões  posta  na  boca  negra  do  génio  das 
tormentas,  seria  a  morte ,  ora  sonhando  com  essas  ilhas  tão  nume- 
rosas como  as  estrellas  da  Via-lacteá,  as  encontrava  por  toda  a 
parle:  tanto  pôde  a  imaginação  prevenida!  Assim  na  sua  primeira 
viagem  pensou  elle  que  as  hervas  marinhas  do  mar  verde  ou  de  Sar- 
gaço, que  encontrou  vindo  de  Hespanha,  perto  dos  Açores,  era 
o  indício  de  uma  cadéa  de  ilhas ,  que  so  estendia  a  leste  das  Anti- 
lhas ale  quatrocentas  léguas  de  distancia  das  Canárias,  que  o  mar  de 
Sargaço,  pertencia  aos  baixos  visinhos  d'essa  cadêa,  e  que  as  cor- 
rentes de  leste  a  oeste  levavam  esses  corpos  fluctuantes  ao  litloral  do 
Haity  (33).  Ainda  na  altura  de  28**  de  lalitute  e  9*  ao  occidente 
do  meridiano  da  ilha  do  Corvo,  em  19  de  seplembro  de  1492,  acre- 
ditou acbar-se  na  visinhança  de  muitas  terras ,  porém  a  sua  von- 
tade era ,  segundo  as  suas  próprias  expressões ,  continuar  a  sua  via- 
gem para  as  índias,  porque  com  descanso  poderia  em  sua  volta  exa- 
minar tudo  o  mais  (34). 

Aos  Portuguezes,  no  entanto ,  não  era  de  toda  em  toda  desco- 
nhecida a  idca  da  existência  de  uma  terra  fírme  austral.  «  E'  assaz 
notável,  diz  Humboldt,  que  essa  idéa  se  apresentasse  ao  rei  dom 
João  II ,  morto  três  annos  antes  da  3.'  expedição  de  Colombo.  Her- 


3A5 

rera  assevera,  sâo  ainda  expressões  do  profundo  sábio  allemSo ,  que 
Colonobo  navegou  para  o  sul  (em  1498)  desde  as  ilhas  de  cabo 
Verde ,  porque  queria  verificar  si  o  rei  dom  João  tinba-se  enganado 
quando  affirmava^  ao  sul  havia  terra  firme  (35).  Era,  continua 
o  erudito  Humboldt,  predizer  o  continente  antes  das  verdadeiras 
descobertas  da  terra  firme  de  Caboto  e  de  Colombo.  NSo  acho  nem 
em  Barros,  nem  nas  Chronicas  de  Garcia  de  Rezende  e  de  Manuel  de 
Faria  e  Souza  cousa  que  explique  a  asserção  de  Herrera.  Sabemos  que 
o  rei  dom  João  II  de  Portugal ,  por  occasiâo  da  entrada  de  Colombo 
a  barra  do  Tejo,  em  março  de  1493,  se  admirara  de  ver  que  não 
eram  negros  os  indígenas  das  novas  terras  (36).  O  aspecto  d'esses 
Índios  fez  talvez  nascer  no  espirito  de  um  monarcha  tam  occupado 
em  descobertas  geographicas  e  tão  feliz  nas  que  os  Portuguezes  tenta- 
vam no  hemisphcrio  austral ,  uma  hypothese ,  que  Francisco  de 
Almeida  filho  do  conde  de  Abrantes,  devia  verificar.  » 

Era  bastante  esta  coincidência  de  idéas  para  me  convencer  que 
Cabral  afastando-se  das  costas  de  Africa,  empegando-se  tanto,  com 
direcção  ao  sul,  teve  em  vistas  verificar  ainda  que  de  passagem  a 
existência  d'essas  ilhas  tão  falladas  então ,  e  tanto  que  descobrindo 
o  continente  americano  e  pisando  em  terras  do  Brazil ,  pensa  ter 
tocado  n'umad'essas  ilhas  que  os  Hespanhoes  vulgarmente  chamavam 
Antilhas,  como  refere  João  de  Barros ,  e  toma  posse  plantando  a 
cruz  hasteada  sobre  o  escudo  das  armas  portuguezas  em  uma  pe- 
quena ilha ,  em  vez  de  fazel-o  sobre  o  continente ,  pois  era  tudo  o 
mesmo  a  quem  tudo  quanto  via  tinha  por  ilhas  ^  si  bem  que  era 
fama  corrente  em  Madrid  que  os  Portuguezes  accreditavam  na  possi- 
bilidade da  existência  não  só  de  muitas  ilhas  como  ainda  de  uma 
terra  firme.  E'  pelo  menos  o  que  se  deprehende  da  carta  que  ao 
seu  almirante  escreviam  os  reis  catholicos  em  5  de  septembro  de 
1493,  quando  lhe  diziam:  «  £  porque  depois  da  vinda  dos  Portu- 
guezes a  pratica  que  com  elles  encetamos  alguns  querem  dizer  que 
o  que  está  em  meio  desde  o  cabo  que  os  portuguezes  chamam  da  Boa 
Esperança,  que  está  na  derrota  que  levam  agora  pela  Mina  de  Ouro 
e  Guiné,  abaixo,  até  a  raia  que  dissestes  que  devia  vir  na  bulia  do 


3A6 

papa»  poQsam  que  podorá  haver  ilhas  e  ainda  torra  firme,  que  se- 
gundo a  parte  do  sol  quo  estão ,  se  crêem  que  serão  mui  proveitosas 
e  roais  rícas  que  todas  os  outras;  e  porque  sabemos  que  d'isso  sabeis 
nelhor  que  ninguém,  vos  rogamos  que  nos  envieis  já  o  vosso  parecer 
sobre  esse  objecto ,  porque  a  convir  e  a  ser  assim ,  como  aqui 
pensam  que  será,  se  emendará  a  bulia.  (38) » 

Si  a  tão  eloquente  trecho  juntarmos  o  mappa-mundi  de  qoe 
falia  o  mestre  João,  physico  do  rei  dom  Manoel,  em  sua  carta , 
datada  de  Vera  Cruz  a  1  de  maio  de  loOO ,  noticiando-Ibe  a  nova 
do  descobrimento  do  Brazil ,  e  pelo  qual  dizia  eUe  que  poderia  o 
feliz  monarcha  ver  o  sitio  da  terra  descoberta ,  e  ainda  os  dous 
antigos  mappas  geographicos ,  um  que  pertenceu  ao  infante  dom 
Pedro,  irmão  do  illustrado  geographo  o  infante  dom  Henrique»  e 
outro  quo  foi  do  cartório  reni  do  niosteiro  de  Alcobaça  ,  com  as  suas 
singulares  demarcações  do  cabo  da  Boa  Esperança  e  da  terra  do 
novo  mundo  antes  dos  descobrimentos  de  Bartholomeu  Dias  e  de 
Colombo,  não  poderemos  deixar  de  acreditar  que  alguma  cousa 
houve  de  mais  quo  influiu  no  descobrimento  d'esta  terra  abençoada , 
além  das  correntes  que  insensivelmente  vieram  trazendo  as  naus  do 
grande  Pedro  Alvares  Cabral ,  como  pretende  o  illustre  autor  das 
Reflexões, 

Não  concluirei  esta  primeira  parte  da  minha  Refutação  sem  fazer 
reparo  n'uma  passagem  doauctor  das  Refkxões.  Diz  elle  «  que  si 
a  recusa  do  rei  dom  João  11  foi  fílha  áe  cálculo ,  á  vista  do  resul- 
tado que  teve,  isto  ô,  o  descobrimento  do  Brnzil,  podemos  aquila- 
ta-lo de  bem  desgraçado ;  mas  antes d'isso  vem  a  pello  perguntar, 
qual  o  motivo  por  que  o  rei  de  Portugal ,  recusando  a  Colombo  o 
fraco  auxilio,  que  esto  lhe  pedia,  tentou ,  sem  a  sua  intervenção, 
realisar  o  projectado  descobrimento?  Esta  bypothese,  continua  o 
auclor  das  Reflexões ,  não  ó  admissível ,  quando  consideramos  que 
não  ha  razão  alguma  pnrn  suppôr  que  Colombo  tinlia  sido  mais  bem 
conceituado  em  Portugal,  que  regeitou  os  seus  serviços,  do  que  na 
Hespanha,  onde,  antes  que  elles  fossem  accei los,  os  homens  pru- 
dentes o  sensatos  so  riam  do  forasteiro ,  quasi  mendigo ,  que  pro- 


547 

meuia  aos  reis  gloriosos  de  Aragão  e  Casleila  montões  de  ouro  que 
deslumbrassem  a  Europa.  »  E  para  mais  corroborar  as  suas  asser- 
ções cila  o  auclor  os,  trechos ,  oivados  de  ódio  e  de  ínsulia; ,  de  JoSo 
de  Barros ,  como  si  a  Hespanha »  que  logrou  dos  descobrimentos 
do  grande  genovez,  nào  tivesse  lambem  na  pessoa  do  historiador 
Francisco  de  Gomara  outro  João  de  Barros  para  insultar  o  prolo- 
nauta  do  mar  tenebroso.  O  ódio  que  se  resenle  nas  palavras  do 
historiador  portuguez  tem  a  mesma  origem  que  o  que  resalta  das 
phrases  do  historiador  hespanhol.  Humboldt  diz  que  o  ódio  do 
Gomara  contra  Colombo  nâo  era  pessoal ,  mas  o  eITeito  d'esse  pa- 
triotismo exagerado  e  pouco  philosophico ,  do  que  a  historia  das 
descobertas  e  invenções  dos  mais  modernos  tempos  offarece  tintos 
exemplos  (39),  eque  o  grande  historiador  portuguez,  deixando  um 
livre  curso  ao  ódio  nacional  e  ao  pezar  de  ver  passar  tantos  ihesouros 
ás  mãos  dos  hespanhóes,  o  pinta  como  um  homem  fallador  e  glo- 
rioso em  mostrar  suas  habilidades ,  e  mais  phanlastico  e  de  ima- 
ginação com  sua  ilha  Cipngo  (40).  » 

<i  Portanto ,  continua  o  nosso  illustrado  consócio,  na  recusa  que 
em  Portugal  soíTreu  o  grande  navegante  não  entrou  cálculo ;  diga- 
mo-lo em  desaggravo  do  príncipe  illustrado,  que  então  reagia 
aquelíe  paiz ,  o  que  houve  foi  antes  falta  de  fó  e  de  convicção.  » 
Ninguém  ignora  que  Colombo  deixou  mysleriosamenle  Lisboa ,  e 
o  quanto  dom  JoSo  II  se  resentiu  de  sua  partida.  O  que  porém  mais 
admira  ó  o  silencio  em  que  o  auctor  das  Rcfkxões  passa  a  carta  que 
o  rei  escreveu  de  Aviz  a  20  de  março  de  1488  ao  grande  navegador 
dando-lhe  o  signiGcante  titulo  de  especial  amigo,  e  instando  para 
que  tornasse  a  seu  reino ,  carta  que  Ggura  nas  pagina?  da  memoria 
refutada,  eque  por  certo  nâo  era  escripta  por  quem  tinha  faltn  de 
fó  c  de  convicção  nos  projectos  de  Colombo,  que  eram  patentes  ao 
rei,  tanto  pelas  suas  próprias communicaçôes  como  pelas  informa- 
ções de  Toscanelli. 

E  a  nao  serem  os  amores  e  os  quatro  mezes  de  gravidez  da  celebro 
dona  Beatriz  Enriquez,  mãi  de  dom  Fernando  Colombo,  filho  na- 
tural do  almirante,  nascido  aos  15  de  agosto  de  1488 ,  roais  do  que 


3A8 

a  persuasão  e  a  boa  amizade  do  bispo  de  Falência,  dom  Diego  de 
Beza »  que  o  impediram  de  voltar  a  Lisboa  e  de  aceitar  os  offere- 
cimentos  do  magnânimo  dom  JoSo  II,  quem  sabe  si  ainda  assim 
teria  Colombo  realísado  os  seus  planos  em  gloria  e  proveito  da 
pátria  dos  Bartholomeus  Dias,  dos  Gamas  e  dos  Cabraes?  (41) 

«  Na  verdade  5  ajunta  o  erudito  António  Ribeiro  dos  Santos , 
aquelle  principe  estava  desejoso  de  proseguir  a  carreira  que  o  infante 
tinha  começado  pela  costa  de  Africa ;  e  estava  cheio  da  leitura  das 
Viagens  de  Marco  Polo,  de  Nicolau  Gonti  e  de  outros  viajantes  da 
Ásia,  que  muito  lhe  atiçaram  os  desejos  de  abrir  por  mar  caminho 
novo  para  a  índia  Oriental;  fazer  voltar  o  commorcío  d*ella  para 
Portugal  e  estancar  o  monopólio  das  especiarias  que  fazião  os  Árabes 
e  Turcos  e  os  Venezianos  por  Alexandria ,  principal  recurso  de  seu 
poder  e  riqueza.  Esta  era  só  a  empreza  que  elle  considerava  digna 
de  seu  animo  real  e  capaz  de  lhe  trazer  em  direitura  os  thesouros 
do  Oriente  e  fazer  revolução  no  curso  do  continente  e  no  estado 
politico  de  toda  a  Europa ,  em  muito  proveito  doestes  reinos.  E  tão 
acceso  andava  neste  descobrimento  da  índia,  que  sem  embargo  de 
ter  já  reconhecido  até  além  do  cabo  da  Boa  Esperança  por  mar,  o 
quiz  também  fazer  por  terra  em  1486,  enviando  viajantes  encarre- 
gados d'isso;  e  em  verdade  tantos  desejos  tinha  de  a  descobrir^  que 
havia  concertado  e  prestes  uma  armada  para  este  fim ,  com  os  regi- 
mentos feitos  6  escolhido  já  para  capitão-mór  d'ella  o  mesmo  Vasco 
da  Gama.  (43)  » 

Colombo  tinha  o  seu  plano  e  o  rei  dom  João  11  possuía  os  seus , 
parecendo-lhe  mais  fácil  dobrar  o  cabo  das  Tormentas  que  já  o  era 
da  Boa  Esperança ,  do  que  atirar  com  as  suas  naus  ás  vagas  de  um 
mar  conhecido  pelo  nome  de  Oceano  tenebroso,  tanto  mais 'que 
tão  mal  se  havia  dado  com  os  ensaios  que  projectara.  Depois  dos 
descobrimentos  do  Vasco  da  Gama  e  de  Christovam  Colombo  dissi- 
param-se  os  receios,  e  os  perigos  começaram  a  ser  compensados  com 
esse  grito  que  alegra  as  tripolações  e  passageiros;  até  ordenou-se 
em  regimento  que  a  segunda  esquadra  se  afastasse  das  costas  afri- 


S&9 

canas,  e  talvez  também  se  ordenasse  verbalmente  para  onde  se  devião 
aproar  as  naus  n'esses  desvios. 

A  corte  que  regeitára  os  serviços  de  Colombo  como  uma  burla, 
segundo  a  sua  própria  expressão  (44) ,  havia  de  emprehender ,  sem 
cohonestar  apparentemente ,  uma  empreza  semelhante  à  sua?  A 
gloria  nacional  aconselhava,  abrasava,  inspirava,  levava  lodosos 
ânimos  para  es.^s  atrevidas  emprezas;  mas  o  povo  que,  além  de 
concorrer  com  pesados  tributos ,  via  perecer  tantos  dos  seus  n'essas 
viagens  de  descobrimentos ,  aos  quaes  o  papa  Martinho  V  concedeu 
larga  indulgência  plenária  (45) ,  o  4>ovo  murmurava  e  amarga- 
mente (46).  Camões,  tão  grande  poeta  como  historiador,  perso- 
nificou 08  seus  murmúrios  n'esse  velho  de  venerando  aspecto ,  cheio 
de  um  saber  adquerido  á  força  de  experiências,  que  fica  á  margem 
do  Tejo  quando  Gama  se  empega  nos  mares  que  o  conduzem  ao 
esplendido  Oriente  (47). 


S  2.** 

Que  são  insufficientes  os  documentos  em  que  me 
baseei,  que  em  Portugal  se  tinha  conhecimento 
das  terras  que  Pedro  Alvares  Cabral  descobriu , 
não  por  mero  acaso ,  mas  demandando-as  por  pro- 
pósito deliberado. 

O  nosso  illustrado  consócio,  procura  provar  nesta  segunda  perto 
de  sua  obra  que  são  insufficientes  os  documentos  em  que  me  baseei. 
Estes  documentos  sào: 

1.**  A  carta  datada  de  Barcelona  a  5  de  septembro  de  1491  pelo 
rei  de  Hespanha  ao  seu  almirante ,  em  que  se  trata  da  bulia  do 
papa  Alexandre  VI. 

2.*  A  carta  do  bacharel  mestre  João,  datado  do  l.*"  de  maio  de 
1500,  escripta  da  frota  de  Pedro  Alvares  ao  rei  de  Portugal,  na 
oocasiào  do  descobrimento  do  BraziK 


3â0 

Z.'  Os  map|ia-muiiJi  do  iaf^nle  dom  Pairo,  ãúqm  dy  Caímbrti^ 
o  do  cariorío  de  Alcoboça,  que  perionceram  ao  infanie  dora  Fer* 
nanJo,  filho  de  dom  Manud,  singulares  po^as  dcinorcaçuos  qya 
eonlíniiato  do  cabo  da  Boa  Esperança  e  do  aovo  mundo  aniaft  do 
descobfimeíilo  do  Barlbolaníyu  Dias  e  do  Chrístovaoi  Columbo* 

4."  A  viagem  M  Corle-íleal  o  os  de&wbritnonlos  th  Behatm* 

5."  A  carU)  (]U0  ToscaoclJi  dirigiu  no  conogo  da  Sé  \\t  Listioi| 
FerníiQ  J^Jarijtis* 

6."  O  HíTOj  qm  o  aucior  mpim  ser  o  roleiro  da  primuira  ria» 
gem  do  Colombo.  ^ 

Comt^ça  o  itUiâtre  copsocio  por  quârer  nioslrar  tt  pouca  impor* 
tancià  qm  m^tttàm  os  docum^nlos  quo  âpreseniei  mi  abono  da  mi* 
nba  optnbo^  o  sai»  dios  a  tKiIla  ila  domarcaçáo  da  Jinba  dú  4  do  ' 
maio  dti  149^  o  a  carta  datada  da  Borcelona  a  6  dosoptembro  do 
mesmo  anuo  em  ijue  orei  Jellespanba  consultava  a  (Iulond)o  si  seriAJ 
conveniente  emendíir-se essa  bulia,  por  isso  que,  com  a  pratica  que 
tivera  com  alj^uns  Portugueses  viera  no  conhecimento  de  que  elles 
criam  no  exisle.icia  de  algumas  ilhas  c  ainda  de  uma  terra  Ormc 

Quanto  ao  nosso  amável  consócio  pouco  ou  nada  lucrou  a  Hespa- 
nha  com  a  emenda  da  bulia,  [kjt  isso  quo  segundo  as  suas  prés- 
crip^OiíS  lho  pertenciam  as  terras  novamente  descobertas.  Eu  vojo 
pelo  contrario  qtie  o  dosejc^  que  havia  da  parte  da  curte  de  Hispanha 
era  excluir  os  portugue^^eâ  do  dtretio  dos  descobri  mentos  HOS  HUire 
de  oeste,  ainda  mesmo  n'esses  mares  que  lhes  dava  a  bulia  to- 
mada a  linha  a  rcm  léguas  ao  oeste  dos  Açores  ou  cabo  Verde, 
como  pouco  mais  ou  menos  indicara  Colombo  a  mm  reaes  pro- 
f|0c  toros» 

<^  A  recepção  solcmne  que  os  soberanos  líie  fizeram,  diz  Hum- 
boldi,  teve  logar  uo  mox  de  abril  o  já  em  4  th  maio  do  m^mã 
nnno  .  eí^  íamo^  butla  qne  fíxou  a  linha  de  demarraQlo  a  Cdm  le-l 
guas  de  distancia  das  ilhas  dos  Açores  e  do  cal)o  Verde  linba  sido 
.issignada  pelo  papa  Alexandre  VL  Jamais  negociação  comacurlo  do  i 
Roma  terminou  com  liinla  mpidc^.  Penso  quo  o  motivo  por  que  t^ 
linha  n3o  íoi  tirada  pela  mais  occidental  dasilhns  dos  A^ore^  (Ftoréi 


361 

e  Corvo )  mais  eem  léguas  a  oeste »  deve  ser  buscada  nas  idéas  dê 
geographia  do  próprio  Colombo.  »  (48) 

A  opposiçilo  que  da  parte  dos  Portugueses  encontrou  a  bulia  que 
fixava  a  linha  de  demarcação,  foi  devida ^  segundo  o  nosso  con- 
sócio ,  não  á  perspicácia  do  rei  dom  João  11 ,  para  incluir  na  soa 
demarcação  o  Brazil »  mas  para  que  dando-ihes  as  bulias  anteriores 
o  senhorio  e  conquista  das  terras  que  descobrissem  e  ás  quaes  não 
tivesse  chegado  a  luz  do  Evangelho ,  vinha  a  nova  bulia  a  restringir- 
lhe  tão  amplas  concessões,  r  Si  assim  não  fosse ,  diz  o  nosso  con- 
sócio, seria  difficil  eiplicar-se  o  motivo  por  que  se  recusaram  oi 
portuguezes  a  acceital-a  em  um  tempo  em  que  era  tão  respeitada  a 
autoridade  pontificia ,  nem  se  poderia  conceber  como  conseguiram 
o  tratado  de  Tordesilla  e  a  escríptura  de  Saragoça ,  que  estende- 
ram em  favor  dos  Portuguezes  as  raias  do  lote  que  Alexandre  VI 
lhes  fizera.  »  Ha  considerações  de  muito  peso  para  oppôr  ás  refle- 
xões do  nosso  consócio.  A  primeira ,  é  que  os  portuguezes  se  nÍo 
curvavam  tão  facilmente  á  tiara ;  e  a  segunda ,  é  que  a  origem  het- 
panhola  de  Alexandre  VI  podería-lhes  trazer ,  coroo  lhes  trouxe , 
uma  tal  ou  qual  desconGança  a  respeito  da  imparcialidade  de  seu 
^uizo.  Acatava-se  a  auctoridade  pontiGcia  mas  nSo  se  seguia  á 
rijp  as  suas  injustas  deliberações,  nem  eram  tão  cegos  oe  seus 
contemporâneos  que  não  testemunhassem  a  sagrada  cadeira  de  Sfo 
Pedro  salpicada  de  horríveis  nódoas. 

Era  o  fim  de  ambas  as  nações  possuirem  as  terras  das  especiarias. 
Dma  caminhava  pelo  oriente,  outra  pelo  occidente^  e  entretanto 
Portugal  se  oppunha  a  que  a  linha  fosse  tirada  a  cem  léguas  a  oeslo 
dos  Açores  e  cabo  Verde ,  só  porque  se  cria  lesado  nas  amplas  con- 
cessões das  bulias  anteriores  e  em  Tardesilhas  sacrificava  as  amplas 
concessões  ás  370  léguas  para  o  oecidente  das  ilhas  de  cabo  Verde» 
e  essa  carta  e  essa  bulia  são  documentos  de  nem  um  valor  para  a 
opinião  cx)ntraria?  Era  apenas  o  rochedo  deserto  de  Santa  Helena, 
que  fazia  impressão  no  animo  do  rei  deHespanha,  «  e  ajunta  o 
nosso  consócio  9  tanto  mais  que  os  Portuguezes  mandavam  sorra- 
teíramente  caravellas  ao  descobrimento.  »  O  descobrimento  de  ornai 

irni  40 


352 

ilhas  nos  mares  africanos  impressionara  o  rei  da  Hespanlia  •  en- 
tretanto debaixo  d'essas  impressões  rcdia  n  Portugal  na  demam- 
cHo  dos  mares  de  oeste.  Os  Porluguezes  respeitaram  a  auctorídade 
pontiticia  e  obtiveram  o  tratado  de  Tordesilhas  que  alterou  a  bulia 
de  Alexandre  VI»  que  elles  recusavam  aceitar. 

As  amplas  concessões  obtidas  por  anleriores  bulias  da  parte  dos 
Portugnezes  e  tào  amplas^  que  segundo  o  nosso  cimsocio  pareciam 
iliimiladas,  parece-me  que  nào  tinham  essa  amplidão  que  se  quer  dar. 
Martinho  V  tinha  concedido  á  coroa  portugueza  o  dcscobrimenlo  e 
a  conquista  de  todas  as  terras  ^  mares  e  ilhas  adjacentes  para  o 
Oriente  e  para  o  meio  dia ;  conquista  que  os  papas  Calisto  III  e 
Sixto  IV  confirmaram  por  novas  bulias ^  exceptuando,  este  as 
ilhas  Canárias  em  favor  dos  reis  catholicos  e  aquelle  concedendo  ao 
infante  dom  Henrique,  como  gram-mestre  da  ordem  de  Christo  ,  o 
provimento  de  todos  os  benefícios  ecciesiasticos  nas  terras  descober- 
tas. (49)  Essas  amplas  concessões  pois  limitavam-se  ao  Oriente  e 
ao  meio  dia ;  a  opposiçào  que  a  bulia  de  Alexandre  VI  encontrou 
nos  Porluguezes  teve  outra  origem  e  talvez  que  a  historia  um  dia 
nos  revele  com  toda  a  sua  luz ;  pelo  menos  Mufioz  descobriu  nos 
arcbivos  de  Simancas  uma  nova  bulia  da  concessão  das  índias  da- 
tada de  3  de  maio  de  1493  e  inteiramente  semelhante  á  de  4  de 
maio  conservada  nos  archivosde  Sevilha,  com  a  diíTerença  ,  porém  » 
de  que  na  de  3  de  maio,  nao  se  trata  d'es$a  linha  de  demarcação 
designada  na  bulia  do  dia  seguinte,  faz-se  apenas  concessão  aos 
ruis  catholicos  das  ilhas  e  terras  firmes  recentemente  descobertas  por 
Ghristovam  Colombo,  e  que  as  possuiriam  cora  os  mesmos  privilé- 
gios e  direitos  que  os  papas  tem  concedido  aos  reis  de  Portugal. 
Si  dom  João  11  se  oppoz  á  execução  dn  hiilla  por  que  tolhia  as  am- 
plas concessões  que  tinha  para  novos  descobrimentos,  então  elle 
projectava  alguma  expedição  aos  mares  de  oeste ,  e  nào  tinha  tào 
pouca  fé  como  pretende  o  nosso  consócio,  nos  planos  de  Colombo; 
si  a  sua  influencia  não  conseguiu  na  Santa  Sé  que  essas  amplas 
concessões  lhe  fossem  coarctadas  de  um  dia  para  outro ,  claro  está , 
que  a  origem  he^^panhola  do  papa  influiu  de  algum  modo  na  repar- 


3Õ3 

lição  do  mundo  entre  as  duas  coròns,  mas  lào  importante  questão,  coroo 
nota  Humboldt ,  só  poderá  ser  elucidada  nos  archivos  romanos.  (50) 

Nero  a  carta  dos  reis  catholicosde  5  deseptembro  de  1493,  nem  a 
bulia  de  Alexandre  VI  de  4  de  maio  d'esse  anno  foram  apresentadas 
como  documentos  por  onde  se  podesse  provar  ate  a  evidencia  o  co- 
nhecimento da  existência  d'esto  ponto  do  mundo  pelos  Portuguezes, 
como  quer  o  nosso  illustrado  consócio.  Cria-se  na  possibilidade  de 
sua  existência  e  as  provas  d'essa  crença  alri  estão  na  carta  dos  rei 
catholicos»  na  impugnação  da  bulia  de  Alexandre  VI,  e  na  con* 
cessão  mais  ampla  que  a  coroa  portugueza  obteve  nos  mares  de  oesto 
para  os  seus  descobrimentos ,  quando  mais  que  nunca  estava  empe-r 
nhada  na  navegaçfio  do  Oriente. 

A'  leitura  da  carta  do  bacharel  mestre  João,  parece  mais  do 
que  todos  os  outros  documenlos  ter  por  alguns  mon^entos  abalado  as 
convicções  do  nosso  illustre  consócio.  Já  o  auctor  das  Refkxõei  rs 
nio  admira  que  n'essa  carta  ou  n'esse  tempo  se  Iratasse  da  exis- 
tência de  ilhas  ou  terra  firme,  por  se  ter  propalado  na  Europa, 
logo  após  as  descobertas  de  Colombo  que  era  continente  o  que  elle 
achara.  «  Nso  seria  muito  pois ,  diz  o  auctor-,  que  os  Portuguezes 
a  suspeitassem  também  »  e  logo  ajunta,  como  que  arrependido  do 
bom  caminho  que  ia  levando:  «  No  emtanto  não  creio,  quo  sirva 
essa  carta ,  coroo  quer  o  nosso  consócio ,  para  comprovar  a  asserção 
dos  reis  oatholicos  de  que  os  Poriuguezes  suspeitavam  a  existência 
de  muitos  ilhas  e  ainda  de  terra  firme;  o  q^ie  pretendia  o  physico 
e  cirurgião  da  armada  de  Pedro  Alvares  era  dar  uma  idéa  ao  seu 
rei  da  terra  descoberta  por  elle  e  seus  companlieiros.  »  £sta  plirase 
<i  dar  uma  idéa  ao  sou  rei  da  terra  descoberta  »  diz  o  digno  auctor 
que  reduz-se  a  informar  si  Vera  Cruz  era  ilha  ou  continente.  O  ba- 
charel mestre  João  foi  muito  além  dos  desejos  do  nosso  illustre 
consócio,  porquanto  propendendo  erraciamente,  segundo  a  interpre- 
traçào  que  deu  aos  signaes  dos  Índios  para  a  opinião  de  que  era  ilha, 
e  em  numero  de  quatro ,  além  de  outra,  vinham  indios  contrários  a 
pelejar  com  os  indios  que  hospedavam  tão  pacificamente  os  Portu-. 
guezeS)  apellou  ainda  para  ote^itcmuuho  de  um  mappa-mundii  o 


35A 

que  por  carto  ja  não  ó  conlenlar-se  com  dar  uma  simples  idóa  da  lerra 
descoberta.  Á  vista  doeste  documento ,  exclama  o  auclor  das  Jtcjjb- 
xõe$:  c  O  que  é  porém  mais  signiflcatiro  é  que  o  physico  da  frola 
de  Pedro  Alvares  recommenda  ao  rei  que  mande  ver  o  mappa- 
mundi  que  possuia  Pedro  Vaz  Bisagudo !  » 

Ainda  uma  segunda  vez  a  carta  d'esse  bacharel,  astrónomo  e  me- 
dico como  Toscanelli ,  abalou  as  suas  convicções ,  e  íez  eUe  a  si 
mesmo  esta  interrogação ,  que  prova  que  começou  a  acreditar  na 
possibilidade  do  que  quer  que  fosse  do  intencional  em  semeikanie 
descobrimento.  «  Que  mappa  era  esse,  pergunta  o  illustrado  aaelor, 
para  o  qual  se  chamava  a  particular  attençáo  do  rei?  Teria  algoma 
cousa  de  notável  ou  achar  sc-hia  n'elle  consignado  a  terra  de  Ca- 
bral, posto  que  se  nâo  certiGcasse  si  era  ou  nào  habitada?  » 
A  dúvida  volta,  e  o  auctor  chama-se  a  ignorância  ,  e  deplorando 
que  a  carta  nâo  fosse  escripta  do  modo  mais  intelligivel ,  abraça  de 
novo  a  sua  velha  opinião;  eis  as  suas  palavras :  «  Nada  sabemos  e 
muito  pouco  se  pôde  conjecturar  d'este  documento,  que  poderia  ter 
sido  escripto  do  modo  mais  intelligivel.  »  Alé  aqui  resplandece  a 
consciência  cândida  do  nosso  consócio ;  mas  d'aqui  por  diante  é 
necessário  torcer  o  sentido  das  palavras  e  dar  nova  interpretação  á 
carta  do  physico  do  rei  dom  Manuel.  Mestre  Joào  escreveu  d'esta 
maneira :  «  Aquel  mappa-mundi  non  Gertyfica  esta  terra  ser  ha- 
bytada  o  no  es  mappa-mundi  anliguo. »  Eu  li :  por^m  no  mappa 
nào  se  certifica  ser  esta  terra  habitada  e  não  é  mappa-mundi  anti- 
go. •  O  auclor  das  Reflexões  leu  pelo  contrario  :  «  Nâo  certiGca  ser 
esta  terra  habitada  ou  nào :  ó  mappa-mundi  antigo. »  E'  uma 
questão  de  interpretação  da  melhor  collocaçâo  de  uma  e  outra  vir- 
gula ,  ao  quo  annúo  de  boa  vontade ,  adoptando  a  lição  do  nosso 
illuslre  consócio. 

«  Mas  por  que  motivo,  pergunta  o  auclor,  ou  com  que  iim  , 
chamaria  o  physico  mestre  João  a  aliençâo  do  rei  para  o  mappa 
que  possuia  Pêro  Vaz  ?  »  O  illustrado  consócio  para  refutar  a  mi- 
nha resposta  põe  a  sua  pergunta  dando-lhe  uma  interpretação  que 
não  tive  em  vista.  Eu  disse  que  tinha  sido  para  que  o  rei  visse  nelle 


355 

a  altura  da  terra  novamente  descoberta ,  e  a  palavra  altura  serviu 
para  torcer  o  sentido  da  phraso  exposta  assim  isoladamente ;  si  me 
é  dado  explicar  o  sentido  das  minhas  expressões ,  eu  qiiiz  dizer^ 
para  verificar  n'elle  a  altura  da  terra  descoberta ,  para  ver  si  estava 
situada  aos  17."  do  polo  antartico  ,  si  coincidia  a  sua  posição  natu- 
ral com  a  sua  collocaçáosobreo  mappa.  Temeroso  do  demorar-seem 
reflexionar  sobre  tâo  iniportanlo  documento  o  auctor  abandona  a 
questão  ,  dizendo  quo  entende  quo  o  physico  mestre  João  advertia 
ao  rei  que  não  procurasse  aquelta  terra  no  mappa  que  elle  indi- 
cara. Assim,  cabe  aqui  a  interrogação  do  illuslrado  consócio.  «  Mas 
por  que  motivo  ou  com  que  fim  chamaria  o  physico  mestre  João  a 
attençào  do  rei  para  o  mappa  que  possuía  Poro  Vaz?  »  Si  era  para 
quo  o  rei  nào  procurasse  n^elie  o  sitio  da  terra  descoberta ,  escusado , 
bem  escusado  era  fallar  n*um  mappa  que  possuia  esse  Pêro  Vaz 
Bisagudo ,  nome  que  apenas  apparece  na  carta  do  bacharel  mestre 
João ,  pois  não  é  crivei  quo  o  poderoso  monarcha  dom  Manuel  não 
possuísse  um  mappa-mundi,  apezar  do  auctor  das  Refleooões  que* 
rer  fazer  ver  quão  raros  eram  enláo  semelhantes  instrumentos  geo- 
graphicos,  e  se  contentasse  com  saber  quo  Pêro  Vaz  possuia  um, 
mas  que  não  procurasse  lá  a  situação  da  terra  por  ser  cousa  escu- 
sada. £'  uma  interpretação  tão  forçada  quo  a<imira  tenha  por  auctor 
o  nos^o  consócio»  até  aqui  lógico  nas  suas  illações,  e  tão  profundo 
meditador  sobre  as  cousas  da  nossa  pntria ,  qualidades  quo  não 
pouco  realce  e  lustro  dão  aos  cscriptos  devidos  a  sua  ponna ,  e  que 
por  certo  a  não  querer  acreditar  que  n'um  mappa-mundi  de  quo 
era  possuidor  em  Lisboa  esse  Pêro  Vaz  se  fizesse  menção  da  terra 
que  elles  descobriram  <,  habitada  ou  não,  o  que  é  questão  secunda- 
ria, melhor  fura  conscrvar-so  n'aquella  apparente  ignorância, 
quando  disse,  depois  (h;  interrogar-so  sobro  a  sua  importância  tão 
saliente  que  se  chamava  a  altenção  do  rei  sobre  elle:  «  Nada  sa- 
bemos e  muito  pouco  so  pódc  conjecturar  d'esso  documento ,  quo 
poderia  ter  sido  escripto  de  modo  mais  intelligivel.  »  (51) 

A  Memoria  do  erudito  académico  António  Ribeiro  dos  Sanctos 
acerca  dos  mappa-mundi  do  infante  dom  Pedro,  duquo  de  Coimbra 


356 

o  (Ju  carloriu  Jo  mosteiro  do  Alcobaça,  que  pertenceram  ao  infante 
dom  Fernando,  Olho  do  rei  dom  Manuel ,  apenas  contlrma  na  opi- 
nião do  nosso  consócio  a  raridade  dos  mappa-mundi  n'aquelle  tempo* 
porquanto  o  condigno  auctor  das  Reflexões  pede  permissão  á  aca- 
demia real  do  historia  portugueza   para  duvidar  das  demarcações 
que  continham  do  cabo  da  Boa  Esperança  e  da  terra  do  novo  mundo 
com  a  indicação  do  estreito  de  Magalhães  antes  dos  descobrimentos 
do  Bariholomeu  Dias ,  de  Christovam  Colombo  e  de  Fernando  de 
Magalhães ,  nào  obstante  a  auctoridode  de  António  Ribeiro  dos 
Sanctos.  Doesta   maneira  desembaraçou -se  o  nosso  consócio  das 
grandes  didiculdades  que  se  antepunham  ao  livre  curso  de  sua  opi- 
nião. Também  Voltaire  disse,  que  não  fallaria  desse  cidadão  de  Nu- 
remberg  que,  segundo  o  que  se  conta  fabulosamente,  fora  em  1460 
ao  estreito  do  Magalliães.  Mas,  Humboldt  juntou  á  asserção  do 
auctor  do  Essai  sur  les  maurs  estas  sabias  reflexões :  «  Uma  preten- 
ção  tão  absurda    e  entretanto  muitas  vezes   repetida  ,    mereceria 
pouca  allenção  si  não  houvesse  na  vidado  Magalhães,  como  na 
relação  da  expedição  d'este  navegante  por  Anlonto  Pigafelta ,  alguma 
cousa    tão  extraordinária,   que    parece   do    dever  do   historiador 
submelter  um  lai  problema  a  uma  discussão  profunda  »  (52).  Assim 
pois  o  Instituto  ha  de  permillir  que  eu  pelo  contrario  me  demore 
na  apreciação  de  tão  celebres  documentos ,  porque  si  não  obtiver 
completa  vicloria  mostrarei  todavia  que  me  assiste  alguma  razão 
eqvie  n'elles  ha  pelo  menos  alguma  cousa  de  veridico  quanto  a  estas 
demarcações,  mormente  á  do  cabo  da  Boa  Esperança. 

O  e.ximio  poela  Iradiiclor  do  Horácio  ,  o  erudito  académico  An- 
tónio Ribeiro  dos  Sançlos  occupou-so  tanlo  com  a  tradição  d*esses 
mappas  que  não  só  escreveu  a  Memoria,  que  vem  nas  obras  da  Aca- 
demia portugueza,  e  da  qual  dei  conla  no  meu  trabalho  (53)  , 
como  que  voltou  ainda  a  seu  assumpto  com  novas  reílexões,  depois 
de  mais  acurado  estudo,  com  a  sua  memoria  que  está  na  Historia 
e  memorias  da  Academia  real  das  sciencias  de  Lisboa,  e  que  á 
primeira  vista  me  pareceu  uma  reproducção  d\nquella. 
Sebastião  Francisco  de  Mendo  Trigoso  a  quem  coube  as  honras 


857 

do  fallar  em  nome  da  Academia  real  na  sua  sessão  magna  de  24 
de  junho  de  1817  assim  se  exprime  a  respeito  dos  trabalhos  de  seu 
incansável  collega,  que  tSo  interessado  se  mostrou  em  intcirar-se  ha 
liistoria  do  descobrimento  da  America :  «  Fazem  parte  do  moio  vo- 
lume da  collecçáo  académica  que  este  anno  se  publica  ,  três  memo- 
rias que  o  sr.  António  Ribeiro  dosSanctos^  tinha  entregado  lia  muito 
tempo ,  mas  que  do  novo  retocou  e  augmentou ;  tendentes  todas  a 
provar  que  algumas  partes  da  America  eram  conhecidas  anterior- 
mente ao  descobrimento  de  Gollon ,  e  que  este  celebre  navegador 
com  razão  foi  de  tempos  a  tempos  perturbado  por  afguns  cscriptorei 
na  posse  9  cm  que  geralmente  se  suppunha  estar,  de  tão  assignalada 
primazia.  Já  a  Academia  de  Copenhague,  desejando  pôr  tlm  a  esta 
controvérsia  sobre  uma  das  epcchas  mais  notáveis  da  Historia  mo- 
derna 9  tinha  proposto  um  programma  em  que  convidava  os  sábios 
a  ajuntarem  todos  os  indicies ,  em  que  se  funda  a  opinião  da  an- 
terioridade d'dquelle  descobrimento ;  o  isto  foi  o  mesmo  quo  fez  o 
sr.  António  Ribeiro ,  antes  de  ter  apparecido  aquelle  projecto  na 
capital  da  Dinamarca. 

«  O  modo  por  que  elle  encara  esta  questão ,  faz-lho  involver 
nella  outros  factos «  que  servem  a  elucidal-a ;  assim  a  primeira 
memoria  é  destinada  a  provar  que  o  uso  da  bússola  data  do  sé- 
culo anterior  ao  de  Flávio  Gioja,  que  nasceu  cm  Amalfi  pelos 
annos  de  1300:  e  que  também  são  do  muito  maior  antiguidade 
do  que  commumente  se  cré  muitos  dos  outros  instrumentos  marí- 
timos e  a  applicaçào  do  conhecimento  dos  astros  de  que  se  serviram 
os  Phenicios,  os  Gregos,  os  índios,  e  os  mesmos  Árabes.  Estes 
meios  e  sciencia  náutica  fazem  já  desvanecer  muito  do  maravi- 
lhoso que  se  pôde  achar  nas  viagens  pelo  mar  largo,  anteriores  ás 
nossas  e  ás  de  Collon ;  e  por  isso  essa  Memoria  serve  como  de  proe- 
mio  á  segunda ,  em  que  se  recapitulam  os  testemunhos  contra  a 
prioridade  altribuida  ao  mesmo  genovez. 

«  Não  pára  porém  aqui  o  sr.  António  Ribeiro ,  e  depois  de  ter 
mostrado  que  já  eram  conhecidas  algumas  paragens  da  America  sep- 
tentrional ,  pretende  provar  em  uma  terceira  memoria  que  também 


358 

o  eram  outras  da  meridional  c  entro  cilas  o  celebre  cslreílo  de  Ma- 
galhães;, com  o  que  ficaria  vindicada  a  authenlicidade  dos  decan- 
lados  mappas  do  infante  dom  Pedro ,  duque  de  Coimbra,  e  do  car- 
tório de  Alcobaça,  onde  é  fnma  que  de  tempos  mui  rennotosse 
achava  nquella  demarcação.  É  no  aucfor  que  se  deve  ver  as  razões 
em  que  elle  fund»  esta  opinião,  que  n*um  simples  extracto  perderiam 
muito  da  sua  forca.  »  (54) 

Ou  o  nosso  erudito  consócio  nâoadmitte  o  testemunho  da  historia,  ou 
cntiio  não  prestou  toda  a  attenrào  ás  palavras  do  abalisado  académico 
portuguez.  Duas  foram  as  memorias  qno  António  Ribeiro  dos  Sanclos 
apresentou  á  academia  real  das  sciencias  de  Lisboa  e  que  figuram  nas 
suas  publicações.  Na  primeira  tratou  o  auctorda  possibilidade  etero- 
similhança  da  demarcação  do  cabo  da  Boa  Esperança  e  da 
terra  do  novo  mundo  nos  dous  mappas  do  cartório  de  Alcobaçm 
e  do  infante  dom  Pedro ^  duque  de  Coimbra^  antes  dos  deteo- 
brimentos  de  Bertholomeu  Dias  e  de  Christorão  Colombo.  Eis  as 
suas  palavras  acerca  de  sua  existência  :  «  Os  estudos  da  geographia 
e  da  náutica  tendo  começado  de  reviver  no  século  XV  em  muitas 
parles  da  Europa,  não  deixaram  também  de  excitar  em  Portugal  a 
curiosidade  de  algum  dos  nossos  para  se  darem  ao  conhecimento 
d'estas  sciencias  ou  procurarem  havê-las  dos  estranhos:  d'esta  nossa 
applicaçiío  scicntifica  n^aquelles  tempos,  bons  testemunhos  foram 
os  dous  mappas  de  que  se  falia  em  nossa  historia ,  um  do  infante 
dom  Pedro,  duque  de  Coimbra  e  regedor  do  reino  na  menoridade 
do  sr.  dom  AfTonso  V ,  c  de  quo  dizem  se  servira  seu  irmão  o  infante 
dom  Henrique  p^.ra  seus  gloriosos  descobrimentos  maritimos,  e 
outro  que  fora  do  precioso  cartório  do  Alcobaça ,  que  veio  ás  mãos 
do  infante  dom  Fernando ,  (ilho  do  sr.  rei  dom  Manoel :  e  porque 
cllos  eram  notáveis  pelas  augustas  mãos  em  que  estiveram  e  pelas 
5ii!gulares  demarcações  que  n'elles  vinham  do  cabo  da  Bôa  Espe- 
rançai e  da  terra  do  novo  mundo ,  antes  dos  descobrimentos  de 
Bartholomeu  Dias  e  de  Colombo,  entendemos  ser  matéria  curiosa 
c  interessante  pra  d'oIla  se  fallar  em  beneficio  da  nossa  historia , 
dizendo  alguma  cousa  da  sua  existência  e  demarcação ;  e  removendo, 


359 

quanto  em  nós  está,  alguma  duvida  que  pode  haver  n*esta  maté- 
ria. (55)  » 

Na  segunda  memoria  que  tem  por  titulo  Da  possibilidade  e 
verosimilhança  da  demarcação  do  estreito  de  Magalhães  no 
mappa  do  infante  dom  Pedro  9  procurou  o  auctor  aprofundar 
os  seus  estudos  acerca  de  um  facto  de  tanta  transcendência,  e  n9o 
admira  que  o  nosso  consócio  duvide  das  demarcações  contidas  n'e$tes 
mappas ,  quando  o  próprio  António  Ribeiro  dos  Sanctos  é  o  primeiro 
a  confessar  que  grande  motivo  é  para  duvidar  da  existência  e  authen- 
ticidade  do  que  principalmente  contém  a  demarcação  do  estreito  de 
Magalhães 9  o  que  pôde  admirar  a  uns  e  fazer  vacillar  a  outros; 
eis  as  suas  expressões :  «  Havendo  tratado  em  uma  memoria  par- 
ticular da  possibilidade  e  verosimilhança  da  demarcarão  do  cabo  da 
Boa  Esperança ,  nos  dous  mappas  do  cartório  de  Alcobaça  e  do 
infante  dom  Pedro,  duque  de  Coimbra ,  passamos  agora  a  fallar  da 
possibilidade  e  verosimilhança  da  outra  demarcação  do  estreito  de 
Magalhães y  que  só  se  acha  no  do  infante  doai  Pedro,  ainda  mais 
notável  que  a  primeira.  Principiamos  confessando  que  grande  mo- 
tivo é,  para  duvidar  da  existência  ou  authentícidade  d'este  mappa, 
achar-se  n'elle  demarcado  aquelle  Estreito,  o  que  (lóde  admirar  a 
uns  e  fazer  vacillar  a  outros. 

Gomo  admittir  ou  suppor  facto  de  longa  navegação  para  a  Ame- 
rica meridional ,  como  ora  natural  que  houvesse  antes  do  descobri- 
mento de  Fernando  de  Magalhães ,  para  d'elle  resultar  a  singular 
demarcação  d'aquelle  estreito,  para  assim  se  signalar  no  mappa  do 
nosso  infante? 

Seja-nos  dada  a  liberdade  de  discursar  um  pouco  sobre  este 
assumpto  e  de  resolver,  si  nos  fòr  possivel,  as  difficuldades.  NSo 
pretendemos  defraudar  com  isto  a  gloria  de  Magalhães ,  que  será 
sempre  grande  e  magestosa  aos  olhos  do  universo,  de  qualquer  modo 
que  se  considere  a  sua  navegação;  mas  nfio  o  oíTendemos,  si  em 
matéria  (si  tQ^n  sido.  e  ainda  é  hoje  controvertida  de  alguns  sábios) 
da  originalidade  doeste  descobrimento  tomamos  por  outro  caminho 
mui  diverso  do  que  até  aqui  se  tem  seguido  (56).  » 

xvm  67 


300 

Eu  já  disse  que  a  existência  de  semellianles  documenlos  não  deixa 
de  ser  muito  importante  para  que  passe  desapercebida ,  o  que  o 
descuido,  porém,  com  que  os  nossos  antepassados  escreveram  dis 
cousas  mais  notáveis  da  nossa  historia ,  invertendo  muitas  vezes  a 
veracidade  dos  factos,  foi  causa  a  que  por  muito  tempo  se  olbasM 
cora  pouca  importância  para  ella  e  se  recebesse  o  que  eslava  escripto, 
sem  mais  critério,  sem  que  se  notasse  nas  encontradas  asserções  com 
que  se  contradiziam  a  cada  passo ,  tal  qual  succede  com  o  descobri- 
mento do  Brazil,  que  cada  um  attribue  ás  causas  que  mais  acar- 
tadas lhe  pareceram  a  poder  produzir  tão  extraordinário  aconteci- 
mento nos  annaes  portuguezes,  e  fez  que  esses  documentos  cabissem 
em  esquecimento. 

Doestes  dous  mappas  é  o  mais  celebre  o  que  pertenceu  ao  ioranle 
dom  Pedro,  não  só  por  ser  o  primeiro  mappa  ou  carta  geograpbica 
de  que  faz  menção  a  historia  portugueza,  como  por  conter  a  indicação 
do  estreito  de  Magalhães,  quando  o  que  foi  do  cartório  de  Alcobaça 
só  menciona  o  cabo  da  Boa  Esperança  e  da  terra  da  America. 

O  príncipe  dom  Pedro  o  levou  a  Portugal  de  volta  de  suas  pere* 
grinações  e  viagens  e  d'elle  assaz  se  aproveitou  o  infante  dom  Hen- 
rique. Suppõe-se  que  o  houve  do?  Venezianos,  de  quem  recebeu  o 
livro  das  Viagens  de  Marco  Polo,    que  mereceu  ser  vertido  em 
portuguez  por  Valentim  Fernandes,  e  se  publicou  cm  Lisboa  em 
1502.  Tanto  o  Iraduclor  portuguez  no  prefacio  da  sua  traducção^ 
como  João  Baptista  Ramu^io  no  seu  discurso  sobre  a  primeira  e 
segunda  carta  de  André  Cursa. i,  dizem  ter  pertencido  á  casa  do 
thesouro  de  Veneza.  È  provável  que  o  infante  não  obtivesse  senão 
uma  cópia,  ignora-se  porém  aonde,  quando  e  por  quem  foi  elle 
delineado,  mas  ha  dados  para  se  crer  que  não  é  o  mappa  do  infante 
cópia  do  do  cartório  de  Alcobaça ,  como  pretende  o  padre  Cordeiro 
na  suallistoria  insulana,  pois  nota  António  Ribeiro  dos  Santos  quo 
não  combinam  entre  si  as  demarcações ;  e  ainda  mais,  que  feita  a 
conta,  o  de  Alcobaça  já  existia  em  1408,  sendo  pojtanto  anterior 
ao  do  infante  dom  Pedro,  que  só  poderia  tê-lo  levado  para  Portugal 
em  1438,  quando  voltou  áquelle  reino. 


S61 

Porque,  porém,  duvida  o  nosso  consócio  das  demarcações  conti- 
das n'esses  m^appas  apezar  da  aactoridade  de  António  Ribeiro  dos 
Santos?  O  académico  portuguez  baseou-se  nos  historiadores  das 
cousas  de  sua  pátria ,  e  nos  apresenta  os  testemunhos  de  António  de 
GalvSo,  que  examinou  muitos  documentos  e  adquiriu  grande  somma 
de  conhecimentos  para  a  confecção  de  seu  Tratado  dos  descobri- 
mentos antigos  e  modernos ,  e  nelle  refere  que  o  infante  dom  Hen- 
rique se  aproveitara  de  tào  importante  padrão,  o  Dr.  Gaspar  Fruo- 
tnoso  na  sua  obra  Saudades  da  terra ,  quando  trata  do  descobri- 
mento das  ilhas,  Manuel  de  Faria  e  Souza  na  sua  Europa  por  tu- 
gueza  e  o  padre  Cordeiro  na  sua  Historia  insulana.  Quanto  n&o 
ganhariamos  nós  si  o  nosso  consócio  com  os  conhecimentos  que  tem 
da  historia  da  geographia  do  nosso  continente  não  se  contentasse  em 
guardar  as  suas  razões  e  no-las  communicasse  com  aquella  eluci- 
dação que  costuma  a  emanar  de  seus  raciocínios?  Como,  porôm ,  não 
o  fez  permittir-me-ha  que  persistindo  nas  minhas  opiniões,  as  reforce 
com  as  leituras  que  procurei  obter  a  respeito. 

António  Ribeiro  dos  Sanctos  foi  o  primeiro  a  não  aceitar  sem  exa- 
me a  existência  de  taes  demarcações,  e  mormente  da  do  estreito  de 
Magalhães,  que,  como  já  disse ,  só  se  achava  no  mappa  que  perten- 
ceu ao  infante  dom  Pedro,  pnra  isso,  interroga-se  a  si  próprio, 
perguntando :  «  Sendo  o  estreito  denominado  de  Magalhães  tão 
remoto  do  nosso  continente  e  d'clle  separado  por  tno  longas  marés , 
é  claro  que  a  sua  demarcação  no  mappa  do  infante  dom  Pedro,  que 
veio  a  Portugal  em  1438  não  podia  deixar  de  ser  resultado  do  facto 
de  alguma  viagem,  que  lhe  tivesse  precedido  para  aquellas  partes 
do  novo  mundo.  Era  esta  navegação  possível  naquelles  tempos? 
Houve  algum  facto  de  descobrimento  de  terras  da  America ,  que 
faça  verosímil  aquella  descoberta  antes  de  Cólon  e  Magalhães  (57)? » 

Para  resolver  estas  questões  o  illustre  acadt^mico. lança  mão  dos 
mesmos  raciocínios  que  lançaria  o  nosso  consócio  quanto  a  poder  ser 
casual  citando  o  próprio  exemplo  do  descobrimento  do  Brazil ,  que 
elle  o  tem  por  isso. 

Quanto  a  poder  ser  feito  por  propósito  deliberado  o  auetor  apre- 


35-2 

sen  la  algumas  hypolhei^es,  q«e  ioda  via  n5o  ns  reproduzi  fui  3*7111, 

Depis  fio  vari-is  reflexões  ?í>brco  rlescobfimentoanlí-cõlomUbtw  ãã 
America  tanto  scpteniríunal  como  rtieridional  em  que  o  andor  e^posã 
&s  opiniões  dos  auctores  sys  tema  Li  cos,  soccorre-se  a  Marli  m  Beabííu» 
(t  pois  ,  diz  elle,  nas  s^nas  cartas  maritimíis  já  estavam  Hemarcâdat »% 
terras  visinhas  á  Ponta  Austral  d'aqueHtí  continente  ou  no  esireiío, 
que  depois  so  chamou  de  Magalhães,  Isto  ost-reve  tfelic  posilivamenlis 
Pigaíehaj  auctor  Coevo  e  fidotlií^no  qne  foi  seii  companlieíro  de 
viagem  ,  díí.endo  que  o  mesnno  Magalhfl^  vira  na  Thesoonria  de 
El'Rei  de  Portugal  uma  carta  feila  poraqueile  ext-ellentissímo  Mar* 
tim  de  Boliemia ,  em  quo  aquollas  lerrss  vinliain  delineadas  *  (âS). 
Para  corroborar  esia  opinião  firma-se  o  aucior  em  flerrera  ,  liislo» 
riador  íiespanHol .  ern  Wangcnsel  que  com  pz  o  Pnm^ricQ  úm 
Behãínif  am  o  auetor  (h  Bmionario  tmimrsal  hollandez^  em 
Dúpdinayor ,  qtie  escreveu  n  Relação  hisioricn  Hm  aríislag  dt 
Nurmiherg  ^  no  barão  do  Bielfeld,  quo  imprimiu  a  obra  íiuítularla 
Progresso  dos  Alhmâeã^  em  Frober  no  seu  Thtatro ,  citando 
fiobre  lodos  Cornara,  de  quem  traslada  o  seguinte  irccbo:  <•  Fer- 
nando Magaibãos  o  Uuy  Falero  vieram  de  Portugal  a  Castdia  a 
Iratar  com  o  Conselho  das  índias,  que  descobr iriam  si  bom  partido 
Jbes  thf^sem ,  as  Molticas^  que  produzem  as  especiarias»  por 
novo  c4imÍnho  g  mais  breve  que  não  o  dos  P0rlugue7.es  a  Cali- 
cul,  Malaca  e  China*  O  cardeal  fr.  Francisco  Ximenez  de  Cisne- 
roÂ,  governador  de  CastoDa  ,  e  osdo  Conselho  de  índias  thi?s  doram 
muitas  graças  pela  noticia  o  vontade  e  grande  esperança  Cfue  d»- 
gado  quo  Fosio  el-rei  don  Círios  de  Flandres  seriam  mui  bem  aco- 
lhidos a  despachados.  Esperaram  com  esta  resposta  a  vinda  do  novo 
?ei,  e entretanto  informarem  ao  bi*po  dom  Juan  Rodrignez  da  Fon- 
leca ,  presiilentG  das  índias  e  aos  ouvidores  de  todo  o  negocio  e 
viagem.  Era  II uy  Falero  bom  co.^mographo  e  bumunisla ,  e  Maga- 
lhães grande  marinhoircK  O  qual  alUrmava  que  pela  cosia  do  Braiil 
i  Rio  da  Praia  havia  pas5agem  para  as  ilhas  de  especiaria  muito 
mais  cerca  que  pelo  rabo  da  Boa  Esperança  ;  a  menos  antes  de  TO"', 
segundo  a  carta  de  marear  que  poluta  o  rei  de  Portupl ,  feita  por 


363 

Martiin  de  Bolieinia  ,  si  bem  que  a  carta  náo  punha  estreito  algum, 
ao  que  ouvi  dizer,  senáo  o  asnento das  Mol ucas.  Si  já  não  pôz 
por  estreito  o  Rio  da  Prata  ,  ou  algum  outro  grande  rio  (fnquella 
costa.  Mostrava  uma  carta  de  Francisco  Serrano  Porluguez ,  amigo  e 
parente  seu,  escripta  nas  Malucas,  em  o  qual  lhe  rogava  que  fosse 
para  lá,  si  queria  Gear  rico  depressa  »  (59). 

O  erudito  académico  suspeitara  por  muito  tempo  que  o  inappa- 
mundi  de  Alcobaça  seria  o  que  havia  feito  o  famoso  cosmographo 
fr.  Mauro  ,  monge  camaldulense  do  mosteiro  de  S.  Miguel  de  Mu- 
rano,  junto  a  Veneza.  Sabe-se  que  este  mappa  foi  ter  a  Portugal 
em  1459,  como  consta  dos  assentos  d'aquelle  mosteiro,  e  que  fora 
alcançado  pela  corte  portugueza  por  intermédio  de  Estevam  Tervi- 
giani,  mas  o  mappa  de  Alcobaça  foi  visto  em  1528,  e  dizia-se  ter 
sido  feito  cento  e  vinte  annos  antes.  Assim  quando  mesmo  o  nosfo 
consócio  queira  duvidar  da  representação  do  Cabo  dn  Boa  Esperança 
no  mappa  do  cartório  de  Alcobaça  ,  apezar  da  auctoridade  de  Antó- 
nio Ribeiro  dos  Santos ,  ti9o  poderá  quanto  a  igual  denominação 
que  apparece  no  mappa  de  fr.  Mauro  dezesete  a  vinte  sete  annos 
\íí\es  que  o  descobrisse  aquelle  de  quem  as  suas  tormentas  se  vinga- 
ram ,  6  o  círcumdasse  Vasco  da  Gama. 

a  Muito  tempo  antes,  diz  Alexandre  de  Huroboldt,de  Bartho- 
lomeu  Dias  e  Vasco  da  Gama ,  vemos  a  extremidade  triangular  da 
Africa  representada  no  planispherio  de  Sanuto  de  1306  annexo  ao 
Secreta  fidelium  Crucis  e  publicado  por  Bongars  (GO) ;  no  Por  tu- 
Iam  delia  Medieeo  Laurencianna ,  de  1351,  obra  gcnoveza, 
que  o  conde  Baldelli  tornou  conhecida  (61) ;  no  Planispherio  de 
la  Palatina  de  Florença ,  de  1417 ,  elucidado  (discute)  pelo  car- 
dial  Zuriá  (62) ,  e  sobretudo  (noto-se  bem)  em  o  famoso  mappa- 
mundi  de  fr.  Mauro,  traçado  (63)  em  os  .annos  1458  e  1459. 
E  esta  ultima  carta  sobretudo  quarenta  annos  anterior  á  circumna- 
vegaçfio  de  Vasco  da  Gama  ,  que  oíTerece,  com  a  maior  clareza,  o 
promontório  de  Africa  austral  sob  o  nome  de  Capo  di  diab.  A  con- 
figuração d'esta  extremidade  do  continente  merece  uma  attenção  par- 
ticular. Apresenta  o  aspecto  de  uma  ilha  triangular,  na  qual ,  ao 
nordeste  do  Capo  di  Diab  (nosso  cabo  da  Boa  Esperança)  se  acham 


36A 

inscriplos  os  nomes  de  SolTala  e  de  Xengibar,  e  que  é  separada  ex- 
pressões estas  do  auclor  do  mappa-mundo)  de  I^Abassia  (Abyssinit) 
«  por  um  canal  contornado  de  altas  montanhas  e  de  florestas  es- 
pessas. »  Este  canal  dirigido  do  N.  N.  E  a  S.  S.  O.  ó  tào  eslreito^ 
que  reina  nelle  perpetua  obscuridade,  tornando-se  perigoso  ás  em- 
barcações pelos  remoinhos  que  faz  a  agua.  »  Estas  indicações  e  o 
aspecto  da  carta  provam  que  a  extremidade  do  continente  é  figurada 
como  separada  da  grande  massa  mais  boreal ,  por  um  estreito  qoe 
involuntariamente  traz  á  lembrança  o  estreito  de  Magalhães.  Uma  ioa- 
crípçso  collocada  ao  lado'  do  Cabo  Diab  indica  que  em  1420  um 
navio  indiano  zoncho  da  índia  (Giunco ,  jonque)  procedente  de 
leste,  dobrou  o  cabo  para  buscar  as  ilhas  dos  homens  e  das  uiulhe- 
res  (habitadas  separadamente  por  umas  o  por  outros)  que  estão 
além ;  quo  40  dias  depois ,  tendo  percorrido  mais  de  2,000 
milhas  o  não  tendo  visto  mais  do  que  céo  e  agua,  tornara  o  navio 
indiano ,  com  setenta  dias  de  navegação ,  ao  cabo  Diab ,  onde  os 
marinheiros  acharam,  spbrc  a  praia,  um  ovo  grande  como  um 
tonnel,  e  reconheceram  ser  o  ovo  de  um  Crocho.  »  (64) 

Depois  de  algumas  observações  continua  o  sábio  allemao ' 
«  A  terra  quo  o  zoncho  da  índia  buscava  alôm  do  cabo  austral  de 
Africa,  e  não  seria  sinuo  no  caso  que  se  acreditasse  em  um  vasto 
alargamento  a  leste  do  promonlorio  de  Ouac-Ouac ,  e  tendo-se  o 
conhecimento  da  esphericidade  da  terra,  geralmente  admiltida  pelos 
geographos  árabes ,  que  se  poderia  encontrar  percorrendo  a  aoeste , 
o  mar  tenebroso  (o  Atlântico)  a  que  cont<}m  as  isole  verde j  das 
quaes  não  se  tinha  mais  do  que  uma  norao  mui  vaga.  Porôm  o  que 
mais  importa  do  que  a  posição  de  uma  d'essas  ilhas  fabulosas  dos 
árabes,  que  os  navegantes  christàos  povoaram  de  bispos  e  de  mon- 
ges, c  o  traço  do  cabo  da  Boa  Esperança  em  um  mappa-mundí 
de  1459.  Aquelles  mesmos  que  suppOem  algumas  addições  posterio- 
res nSoas  estendem  além  do  anno  de  1470:  de  sorte  que  as  expedições 
de  Dias  e  do  Gama  são  indubitavelmente  pelo  menos  de  dezasete  a 
vinte  sete  annos  posteriores  ú  redacção  da  carta  quo  nos  offcrece  o 
Capo  de  Diab.  »  (66). 

A*  vista  da  existência  d'esses  mappas-mundi,  do  qual  o  primeiro 


365 

dala  de  1306 ,  figurando  a  extremidade  triangular  da  Africa ,  já  vé 
o  nosso  illusire  consócio  que  nâo  é  para  se  desprezar  assim  lao  de 
leve  a  demarcação  da  lerra  do  novo  mundo ,  e  ainda  do  estreito  de 
Magalhães  nas  cartas  que  pertenceram  ao  duque  de  Coimbra  e  ao 
mosteiro  de  Alcobaça ,  quando  era  fama  entre  os  castelhanos  que  os 
portuguezes  desconfiavam  da  existência  de  muitas  ilhas  que  se  pro- 
longavam se  augmentando  em  numero  para  o  sul,  e  ainda  de  uma  terra 
firme,  e  quando  os  portuguezes  suppunham  que  o  Brazil  era  uma 
d'cssas  ilhas  que,  diz  Joào  de  Barros,  os  hespanhóes  chamam  Antilhas, 
Osr.  Alexandre  deHumboldt,  que  tao  profundo  exame  fez  sobre 
a  historia  da  geographia  do  nosso  continente,  e  cuja  autoridade  tanto 
se  apraz  em  citar  a  cada  trecho  d*esta  rcfutaç9o,  não  julgou  dever 
desprezar    uma  quosiào   tão  importante,   como  a  demarcação  do 
estreito  de  Magalhães  n'essa  caria  portugucza,  e  fez  sobre  ella  as 
roais  brilhantes  investigações.    «  Demonstremos,  diz  elle,   roais 
anteriormente ,  como  o  cabo  austral  de  Africa  veio  a  poder  figurar 
sobre  a  carta  deFra  Mauro  trinta  annos  antes  que  Dias  o  dobrasse; 
roas  como  explicar  a  indicação  de  um  estreito  americano  sobre  uma 
carta  portugueza  antes  da  viagem  de  Magalhães?  (67)  »    O  Sr. 
barão  de  Humboldt  lembrando  que  algumas  circumstancias  pode- 
riam ter  feito  conjecturar  a  existência  de  uma  passagem,  e  que  na 
idade  média  as  conjecturas  eram  religiosamente  inscriptas  nas  cartas , 
como  a  prova  o  Antilia,  S.  Brandon  ou  Borondon,  a  Mao  de  Satan, 
a   ilha    Verde,   a   ilha  Maida  e  a  configuração  de  vastas  terras 
anstraes,  diz  que  v  a  par  das  expedições  autorísadas  pelo  governo  hes- 
panhol,  e  cuja  lista  completa  já  dera,  apparecem  viagens  clan- 
destinas emprehendidas  por  outras  nações  ou  por  súbditos  hespa- 
nhóes que  pretenderam  illudir  o  fisco  (68).  £'  tao  judiciosa  esta 
reflexão  do  sábio  allemão  que  cm  setembro  de  1501  achou-se  o 
«governo    hespanhol  na  indispensável  obrigação  de  publicar  uma 
nrdenança  particular  em  Sevilha,  na  ilha  de  Grâa  Canária  e  a 
Hayly  (la  Espaíiola)  condemnando  nas  mais  graves  penas  aos  que, 
sem  permissão  particular,  ensaiassem  descobertas  no  raar-oceano  o 
terra  firmt^  das  índias  (69). 


IP 


Q  Eiislíat  ajunta  q  sábio  IlurDbuUu  uim  em  SeviUia  como  ôm 
Lisboâi  iioçòeiídermmailas  por  via  jantei  d  and  ^'^liimi;  e  cvs  aiitôre$ 
de  carlAS  que  se  cíjiii punha lo  enlão,  com  um  ardor  exl reino  ^  cm 
lodíis  a>i  cidades  mariíirna!^.  aproveitavíim  de  laes  iioções  verdadelraiS 
ou  falsas  em  as  deâiuralkirido  depois  d<J  ODtnbinaçíios  Cfinjeclor 
Nos  primeiros  lomfMís  da  conquista  da  America  tinba-se  por 
lume  considerar  cada  parte  novamente  desí^obí-Tt.i  como  uma  ílba 
mais  ou  meno£  i^raiide.  Pouco  e  pouco  sâ  foi  reconhecendo  a  con* 
(inguidade  d^cssas  [iaftes«  o  logo  que  rnUnvijui  hb  oh^ervaçõéi,  ima- 
ginava-so  sobre  as  corras  a  nmneira  de  retinir  e  de  prolongar  «! 
costas,  segundo  vagas  indicações  [70).  « 

Sf  ara  o  caminho  pelo  {lesitífjue  Gdomho  proiuirava  pam  pta^r 
as  lndi<is»  ^  clnro  que  â  Idè^  de  um  estreito  nílo  podia  deitar  di 
apresenlar-se  à  Ilespanh»  parj  o  complemento  de  seus  pto|dctiH , 
quando  o  contineniê  da  America  se  prolongava  como  iim»  barreirai 
ania  as  snas  nâtis.  A  idéa  da  existência  ou  da  possibilidade  da 
existência  de  nui  estreito  começou  a  occupar  a  atten^ào  dos  homens 
dados  com  ardor  nm  descobrimentos,  desde  os  primeiros  iemps  do 
descobrim^nlo  da  America, 

A  cbegada  dos  Porlugueíies  á  índia ,  dous  mozes  ontas  que  Colombo 
descobrisse  as  terras  americanas,  nio  amort^^een  nos  Hef^panbées  o 
zulo  com  que  buscavam  um  caminho  através  das  costas  orienUí!s 
da  America ,  cuja  conlinuidode  era  ainda  duvidosa  (71),  O  próprio 
descobri  meu  Lo  do  Bradl  levou  a  corte  portugueza  a  dirigir  suas 
vistas  sobre  uma  passageui  pi^ra  oeste  (7^).  O  Sr*  barào  d^  flumboldl 
tem  por  mnito  provável  que  esta  serie  de  cíipodiçdes  que  úverein 
lõgar  pelos  annos  que  decorrem  de  1505  a  1508  ao  sul  de  Porto 
Seguro  (73)  tinham  por  fim  descobri-la,  e  qne  as  vagas  noções 
provenientes  d*eUas  seniram  de  baso  a  uma  multidão  de  cartas 
marilimasque  se  fabricavam  nos  portos  mais  frequentados  (74). 

As  viagens  de  Vespucci  parece  que  nâo  tiveram  outro  fim,  ^e 

I  nl  se  não  pode  deprebeoder  de  suas  plavras  quando  dir  que  lai 

empreza  deveria  i! lustrar  o  seu  nome  e  perpetuar  sua  memoria.  «  Em 

*  1501 ,  eâcreve  Gomara»  entrou  elle  por  ordem  do  rei  dom  Manoel 


^ 


567 


I 


wÂtõ  a» costas  úú  sul  na  iiUançffo  da  procurar  um  titrÊiifi  peto  quat 
9ã  pudesse  buscar  eaminliQ  para  as  Molucas  o  especiarias. «  (TS) 

ISáo  se  tiaf  ia  ainda  descoberto  a  oeeano  PacÍIÍco,  mas  sab&ado 
Colonibo  por  comniuaicaçllQ  com  os  indígenas  Ja  e^isi€KtôÍa  de  Oiitr% 
co&la  (76),  anuunciava  ao  partir  para  astia  quarUi  liageni,  em  II 
da  maio  da  1502,  quõ  acJtaria  um  oslrciio  sobre  ê  cosia  de  Vera- 
gua  (77).  Entre  os  annos  da  1505  a  1^07  redobraroni-sõ  osesforçoi 
por  parte  da  cdrte  da  Uespanba ,  quo  laiu^ou  às  suas  vigias  Eobre  as 
cosias  do  Brazil  o  ossa  p  te  ia  do  de  atrevidos  n^ivegadores,  Vospum 
a  Vicenbo  Vanez  Pinson  e  Juan  d^  la  Co^  oSolis  foram  coosuUados 
Acerca  d^aqudla  famosa  axpâdiçàaquâ  tJena  prUr  em  Fevereiro  da 
ÍS^l,  iiios  que  a  Uiiluencia  da  díplamacia  partugui^za  obstara  (78). 
O  quo,  porém  f  não  m  fez  em  grande  esoita  íú^ú  logar  poios  a  mios 
segutotas  em  poquenas  expãdi^ões;  seiB  apparaio;  assim  \kmtA 
Yanez  Pinsoa  o  iuan  de  la  Cosa  c  Dias  e  Sol  is  parlirsm  de  Sm  Luaà% 
mÊ2B  áú  iulbo  de  IdOS  para  tguacs  ieutativas  (70) ;  e  Vasco  Nuno» 
de  Batboi  procurava  em  2$  de  Setembro  do  151ã  do  alto  da  gorra 
it  Qaarequa  (80)  o  mart  da  qae  dopois  veio  a  tomar  posse,  en^ 
traodo  põf  eile  com  agua  até  os  joelhos  >  e  de  espada  ím  mão, 

£m  8  de  Outubro  de  IStâ  parti«  Solis  do  porto  do  Lepe  pari 
jamais  voltar  á  Europa ;  enviado  t  como  diz  Hcrrera  (SI] »  paiti  o 
sul,  pois  que»  segundo  as  opiniões  dos  geogriphos,  podia  acliâr 
pmcgem  para  cbegaras  ilhas  das  especiarias ^  si  anioâ  mo  foi»  oomo 
pretende  o  eom  mais  acarto,  o  Sr.  A.  de  Humboldt,  encarregado  de 
eootornar  a  eii  trem  idade  austral  p^ra  peneirar  no  m^r  descoberto  por 
fiaJboa  (H2).  £m  tS17»  quinze  anno^  depois  d'essas  tentaiivas,  foi 
que  surgiu  Mâgalbàest  quei  segundo  a  frase  de  Camõ^,  mostrou- 
50  ma  is  portuguez  no  feito,  que  Mo  na  lealdade,  noticiando  tor 
visto  consignado  u*  uma  carta  de  Martim  do  Bohemta  o  estreito  a  que 
db  dfltt  o  nome  da  patagonico «  que  depois  se  intitulou  de  La  Vic- 
loriii,  que  outros  denominaram  de  — Todos  los  Santos  —  qua  outros 
ainda  chamaram  do  —  Ia  Mudre  da  Bios  —  e  que  Pbilippe  U  achou 
fuedof  ia  tar  o  inane  do  próprio  MagalUei* 

-se  ^m  Goloixibo  imaginase  um  caminho  peTo  oesie  para 

iVill  À8 


SM 

•  ptiz  das  cspecrartas,  dada  a  tspberícidadt  do  globo;  mas  qam 
Magalbies^  por  meras  conjecturas»  como  tào  profundaiDenld pio- 
curou  demonstrar  o  auctor  do  Exame  critico  da  geographia  á» 
novo  continente,  desconCasse  da  exbtencia  do  estreito  e  procuraae 
auctorisar  as  suas  conjecturas  coro  o  nome  de  um  consumiiad» 
cosmographoy  que  entào  gozava  de  grande  celebridade ,  é  o  qoeoi» 
é  facíl  de  altender-se.  (83) 

Com  que  razões  apoiou  etle  a  sua  asserção?  Seria  bastante  díiè^fe 
para  convencer,  depois  de  tantos  ensaios  infructiferos ?  Eile ,  tomo 
G))ombo,  navegou  seguro  de  que  devia  encontrar  o  que  buscava. 
Passava  além  da  foz  do  Prata ,  e  já  a  tripdaçéo  se  lastimava  de  nà» 
ter  encontrado  n'essa  longa  viagem  cousa  que  se  assimilfaasie  a  mo 
estreito,  e  Magalhães  lhes  respondia»  segundo  a  concisiode  lier- 
rera :  «  Que  no  puede  faltar  »  e  ajunctava »  segundo  Pigafetta ,  qot 
iria,  si  necessário  fosse,  até  aos  7&*de  latitude,  onde,  durante • 
hinvemo,  quasi  que  não  havia  dia  (84).  A  singeleza  d*esta  ulcine 
expressão ,  conservada  no  jornal  de  Pigafetta ,  prova ,  diz  o  Sr.  Hani- 
boldt  (85),  que  Magalhães  estava  persuadido  da  existência  de  ume 
passagem  além  do  Rio  da  Prata  >  mas  que  a  carta  dos  arcbivos,. 
attribuida  a  Behairo ,  não  indicara  ao  certo  a  posição  d'esse  eslreilo. 

Depois  d'estas  indagações,  como  que  se  voltam  os  olhos  outra  vez 
para  Martim  de  Bohemia,  esse  nobre  Porluguez,  natural  de  ia  islã 
de  Fayal,  como  tão  erradamente  o  chamou  Herrera  (86),  cidadão 
de  Nuremberg  segundo  outros,  que  passou  por  ter  descoberto  o 
archipelago  dos  Açores,  e  que  Wangenseil  deu  como  o  descobridor 
do  novo  mundo ,  enlhusiasmando  o  génio  de  Leibnitz ,  pelo  que 
chegou-se  a  propor  que  se  chamasse  Behaimia  ou  Bohemia  Occi- 
dental o  paiz  a  que  Hylaedmylus  deu  o  nome  de  Américo  Vespucci, 
deixando  o  de  Colombo  no  mais  injusto  esquecimento. 

£'  certo  que  Martim  de  Bohemia  achou  -se  ao  serviço  de  Portugal 
e  que  com  Diogo.  Cão  fez  parto  da  expedição  ás  costas  de  Africa, 
por  cujos  serviços  parece  ter  sido  feito  em  1485  cavalleiroda  ordem 
da  Christo ,  conjunctamente  com  os  dous  médicos  do  rei  dom  ioâo  U, 
mestre  Rodrigo  e  Joseph  índio ,  e  que  ftea  nomeado  membro  da 


%61l 

juDcU  ctomathemaltcos»  encarregada  de  indicar  o  meio  de  navegar 
pela  altura  do  sol.  Sabe-se  também,  pelo  conhecimento  synchronico 
dos  factos,  que  Colombo  e  Martim  de  Boheniia  se  encontroam  em 
Lisboa  pelos  mesmos  annos  e  ambos  oceupados  em  projectos  náuticos; 
mas  como  deduzir  d'essa  viagem  ás  costas  de  Africa  e  d^essas  com- 
nuinicaçdes  com  os  bomens  oceupados  nos  descobrimentos  de  novas 
terras,  os  dados  que  teve  para  figurar  n'uma  carta  o  estreito  meri- 
dional da  America  ? 

Nada  ha  pois  quo  se  possa  affirmar ;  roas  também  como  negar  o 
conhecimento  da  existência  d'esse  estreito,  quando  o  próprio  Maga- 
lhães confessava  possui-lo  por  lé-lo  visto  n'uma  carta  dos  archivos 
do  rei  de  Portugal ,  e  quando  essa  declaração  coincide  com  a  exis- 
tência da  carta  do  infante  dom  Pedro  ?  Os  documentos  que  devem 
lançar  alguma  liiz  sobre  este  ponto  da  historia  da  geograpbia  dormem 
talvez  esquecidos  em  algum  archivo.  «Para  chamar  a  attençSo 
d'aque1les  a  quem  interessa  a  historia  da  geograpbia  maríiima,  diz 
Humboldt,  quando  tantos  opúsculos  do  começo  do  16.*  século  con- 
servados em  grandes  bibliothecas  merecem  ser  arrancados  ao  olvido , 
darei  o  extracto  de  uma  relação  de  viagem  ao  estreito  de  Magalhães, 
sem  data  e  sem  indicação  do  logar  de  impressão.  »  (87) 

A  relação  d'essa  viagem  é  posterior  á  de  MagalhSes,  como  apenas 
se  depreheiíde  da  menção  dos  únicos  nomes  próprios  que  n'ella  se 
encontrão  de  Nuno  e  Christovão  de  Haro ,  mas  este  exemplo  prova , 
como  nota  o  Sr.  A.  de  Humboldt,  que,sem  contar  as  expedições 
clandestinas,  emprebendidas  em  detrimento  do  fisco,  tiveram  logar 
ontras  muitas  que  não  são  mencionadas,  nem  nas  grandes  collecçOes 
de  viagens,  nem  em  outras  muitas  obras  de  raro  merecimento. 

Quanto  ás  viagens  de  Corte-Real  e  de  Martim  de  Bohemia ,  direi 
apenas  ao  distíncta  auctor  das  Reflexões ,  que  estamos  concordes » 
porquanto  as  viagens  de  Corte-Real  nenhuma  ligação  tem  com  o 
descobrimento  do  Brazil.,  e  não  foram  trazidas  sinão  para  mostrar  a 
anbiçSo,  o  desejo  da  nação  em  intervir  em  todos  os  descobrimentos, 
como  si  o  reino  lusitano  não  coubesse  em  si  mesmo ;  e  deixarei  de 
juDCtur  outras  ponderações  por  uio  serem  próprias  d*esle  logar.  E 


87Õ 

quanto  ás  viagens  de  Martim  de  Bobemía ,  elhs  se  Kmiuran»  f  M 
qae  se  sabe ,  ao  que  se  tem  aTerígoado  até  agora  pelo  eonbefioMHili 
syncbronico  dos  factos ,  á.  sua  expedição  as  eoelas  da  Afriesa» 
companhia  de  Diogo  Go,  Ha  porém  uma  passagem  na  Tida  4» 
Martim  do  Bohemia  de  que  já  fiz  menção  e  a  que  Rga  toda  a  ínpar- 
tancia  o  sr.  Alexandre  de  Humboldt,  a.qnem  se  devem  as  mait  ar^- 
duas  pesqnizas  acerca  de  notícias  biographieas  d^essa  personagenrpop 
tanto  tempo  mjsteriosa.  O  illustre  cosmographo  achou-ae  tm  Lia* 
boa  petos  mesmos  annos  que  Colombo ,  occupados ambos conieiis 
projectos  naulicos  e  fez  parte  d^essa  jnncta.de  mathematíeos  a  que*. 
coube  o  exame  dos  planos  de  navegação  de  Colombo ,  e  sobre  oaqaaea 
obtivera  a  (Arte  portoguesa  Jnfòrmac6c9  tio  positivas  de  Paulo  Toa- 
canelH  por  intermédio  do  eonego  Fernão  Martins.  E » quanta  a  Bnw 
rera  (89) ,  c  Cordeiro  (90)  e  Ribeiro  dos  Sanetos  (91) ,  foi  o  tUaaira 
cosmograpbo.  de  Nuremberg  quem  influiu  no  animo  do  rei  do». 
loão  n  para  a  expediçlo  que  se  mandou  aos  mares  de  oeste^  a  qae 
devia  o  não  ser  tão  mal  succedida  pela  pouca  coragem  d*aqaella  qaa. 
H  dirigia,  deixar  sepultada  em  perpetoo  dvido  toda  a  gloria  Aa 
illustre  Genovez^  privando-ode  um  descobrimento  tão  tranaGeadante. 
por  todos  06  bdos  que  se  procure  encara*Io. 

O  auctor  das  Reflexões  tratando  do  livro  que  elle  supp9e,  e  muito 
tem,  ser  o  roteiro  da  primeira  viagem  deColombo,  mostra  naotercom- 
prehendido  as^  minbas  expressi5es.  Diz  o  nosso  consoeio  que  pareoa. 
que  achei  outro  documento  da  influencia  de  Toscanelli  nos  desea- 
brimentos  da  America  quando  lhe  attribuo  a  paternidade  d'es9e  livro. 
Não  o  citei  como  tal,  nem. o  podia  fazer.  Quiz  lâo  somente  pro* 
var ,  como  provei ,  para  mostrar  os  zelos  de  Castelia  a  que  ponto. 
^  elevavam  quando  em  Portugal  não  se  ignorava  o  fito  das  viagens 
de  Colombo.  Permitta-me  o  Instituto  que  cite  as  minbas  próprias 
palavras : 

«  Antes  porém ,  dizia  eu,  que  e  tratado  de  Tordesilba  viessa^ 
equilibrar  a  harmonia  entre  os  dous  povos ,  a  Bespanba  senpra 
ieceiosa  do  augmento  do  reino  visinbo,  mal  podia  tranquilltsar-se;. 
9io  sa  armavam  expedições  em  Portugal  que  nlo  tivessem  por  dea-. 


I 


»7t 

ifcio  os  mítrâs  ãé  oeste  ^  e  as  suspeitas  die  que  pretendia  inlentr  em 
saus  tlâseobrtmentos ,  pozerêm*na  nâ  mâissever»  vfglbnci3;a  pots 
os  Portugueses  eram  no  reino  iberio  ínierrupdtís  sobre  as  intenções 
de  sua  pátria »  sendo  em  LtsbcKi  o  espirito  de  espíoneigími  acdra- 
menle  nranltdo  pelo  governo  hespanhol*  i 

Depois  do  outras  eensíderaçncs ,  que  se  podem  ler  nu  Memorís, 
ajuncteí : 

*  As  suspeitas  de  Castelb  nto  eran»  pois  sem  fundameitio ;  em- 
bora Colombo  se  expressasse  em  Lisboa  com  a  mnior  parcimofim» 
•  einda  depis  da  sua  viagem  procurassem  os  reis  calholíMs  toda  6 
ligr^o  no  exame  da  seus  papeis ;  as  eemmtiniesçôeis  que  elle  reee- 
héra  deToscancíFi  eram  patentes  e  conhecidas,!' — <k  Com  esíecorreio^ 
«  eacr^via  a  rainha  Isabdl  a  seu  nl mirante  no  mar  oceano  em  ^  de 
ti  Septembro  de  1491  vm  envio  um  irasíado  do  lirro  {fue  cá  det?cAste, 
«  eu]a  demora  prorém ,  (nole^se  bem)  de  se  ter  eserípto  secretÁmentâ 
«  para  que  não  fosse  sabida  d'e^es  que  aqui  eslão  de  Portugal  ott 
m  de  outro  algum,  i» 

§i  dèslas  palavras  sa  deduz  que  attribuo  a  paternidade  doesse  lifro 
â  Toseanelli  ooiife^^o  ingeniiamenie  que  não  soube  o  que  escrevia  ^  e  ãi 
o  Ironie  de  invoka  com  a  arln  deTo^an^lU  foi  apenas  por  ueuíq- 
eidente,  querendo  demonstrar  que  esse  segredo  era  inutiU  porque  pela 
carta  de  Toseanelli  estava  mais  que  infonuado  o  governo  porlugueí  dos 
planos  da  viagem  de  Colombo ,  que  para  melhor  asseguror-se  em  seus 
dmgRtos  bebera  os  mesmíssimas  inrorma^^ões  na  mesma  fonte ,  lal  é 
pefò  menos  o  que  se  dere  iuífífir  das  minbas  palavras  :  »  Entreianlo 
\m  Paulo  Toseanelli  p  celebre  floreDlino  ^  medico  e  astrónomo, 
30  mesmo  tempo  «  bavia  dado  a  essa  respeito  as  mais  exactas 
informa^òes  que  llio  ttnbMu  sido  pedidas  pel»  cérte  de  Lisboa i 
êm  147V  t»  (92).  Essas  ioirips  continuaram  ainda  por  muitos 
annos  dipois  do  descobrimento  do  Braitl  ^  (»mo  coiista  do  testo-* 
AunKo  da  historia  (93).  Vm  eram  somente  a  Oeepanba  e  Portu- 
fil  qm  se  vigiavam  mutuamenti  :  õt  fatadm  eommefcianles  da  lia- 
Ka  ,  linha m  petas  &ua&  relaf  Qes  cem  o  E^pto  e  a  Perdia,  os  olbci 
%m  whm  0  ptrifo  que  )b«a  nsukdria  do  ^mmertío  dos  PorttN 


»72 

guezes  com  as  costas  da  Africa,  e  Unto  assim  que  Loranio  Cm- 
tico»  Piero  Pasqualigo,  Vicenti  Quirini,  Angelo  Trivigumo ,  6 
Girolamo  Priuli  foram  encarregados  de  secretas  missões,  que  pfo^ 
curaram  desempenhar  mais  ou  menos  satísfactoríamente  (94).  A  pac 
e  passo  que  a  Hespanha  velava  no  segredo  dos  roleirosde  Colombe, 
Portugal  prohibia  ^  sob  pena  do  morte ,  a  sabida  de  cartas  ineritiíeaey 
que  indicassem  a  rota  para  a  índia.  (95) 

Passando  a  tratar  da  carta  de  loscanelli  pretende  o  audor  de-. 
monstrar  que  as  suas  informações  nào  podiam  ter  dado  aos  PMu» 
guezes  o  conhecimento  de  novas  terras ,  nem  servir  de  guia  a  Gh 
bral  para  realísar  descobrimento  algum  ,  e  de  passagem  nota  qiM 
eu  qualiGcasse  de  exactas  as  suas  informações.  Ainda  d'e8ta  vei  o 
digno  consócio,  apezar  de  seu  brilhante  talento ,  deu  erradas  in- 
terpretações á  minha  memoria  neste  ponto  da  historia. 

Como  poderia  eu  qualificar  de  exactas  as  informações  transmittl- 
das  por  Toscanelli,  quando  quem  seguisse  o  «  brevissimo  cami- 
nho V  indicado  por  elle,  achar-se-hia  sobre  a  costa  da  America  em 
vez  de  tocar  as  costas  da  Ásia?  Fora  preciso  que  não  se  oonheoasse 
o  typo  imaginário  da  geographia  árabe  e  italiana  do  XV  século. 

Eu  disse  que  embora  Colombo  quizesse  occultar  os  seus  projectos^ 
e  ainda  depois  de  sua  viagem  procurassem  os  reis  catholicos  todo  o 
segredo  no  exame  de  seus  papeis ,  sabidas  eram  as  communicações. 
que  ello  recebt^ra  de  Toscanelli ,  e  que  este  celebre  astrónomo  fUw 
renlino  já  havia  dado  a  esse  respeito  as  mais  exactas  informações,, 
isto  é ,  exactas  por  coincidirem  com  as  que  poderia  fornecer  sobre  o 
mesmo  assumpto  o  descobridor  da  America ,  sempre  relativae  nunca 
absolutamente  fdlkndo. 

A  carta  de  Toscanelli  não  figura  na  memoria  do  descobrimento 
do  Brazil  como  um  monumento  que  servisse  de  ponto  de  partida 
para  tal  descoberta ;  o  trecho  que  apresentei  serve  apenas  para  in- 
dicar que  os  projectos  de  Colombo  não  eram  tSo  mysteriosos,  coma 
se  pensa  geralmente,  para  o  governo  portuguez,  apezar  da  sua  parei-^ 
monia  em  explicar-se  acerca  de  suas  palavras.  Onde  concebeu  Co- 
lombo a  idéa  da  sua  atrevida  navegação  senão  em  Lisboa  á  \ista.dai 


S7S 

tentativas  dos  Portuguezes  para  acharem  um  novo  caminho  pan  a 
índia?  Onde  estudou  elle  com  ardor  sinào  n'esse  Tejo  que  se  enso- 
berbecia com  as  novas  de  novos  descobrimentos?  Porque  abriu  elIe 
communicações  scienti ficas  com  Toscanelli  por  intermédio  de  seu 
compatriota  Lourenço  Giratdo  sinão  para  inteirar-se  das  informa- 
ções obtidas  pelo  governo  portuguez  por  meio  do  cónego  da  Sé  de 
Lisboa  Fernão  Martins?  O  século  em  que  vivia  Colombo  era  cha- 
mado por  exceliencia  o  século  do  renascimento ,  do  heroismo  e  eru- 
dição e  que  evocava  as  tradições  dos  séculos  passados  (96) :  não  era 
tão  cheio  de  trevas  como  se  diz  vagamente,  porque  essas  pesavam 
sobre  as  massas  (97) »  e  nos  conventos  e  seminários  primavam 
as  tradições  da  antiguidade ,  e  um  ardor  de  estudo,  que,  segundo 
Bacon,  contrastava  com  a  ignorância  geral  dos  povos  (98).  A  Atlân- 
tida de  Platão,  os  Outfps  mundos  de  S.  Clemente  Alexandrino,  A 
Insula  permagna  de  Didozo  Siculo ,  O  grande  continente  de  Theo- 
pompo,  de  Plutarcho  e  Amminiano  Marcellino,  os  Novos  orbis 
além  de  Thule  de  Séneca,  o  Ophir  dos  Rabinos  tão  celebrado 
na  Bíblia,  O  continente,  além  dos  mares  oppostos  á  Africa ,  da 
parte  do  Poente  de  Porphyrio  e  Proclo,  Arnobio  eTertuliano, 
A  ilha  Secca  firme  ou  continente  (Gezira  Kheschk) ,  As  mara- 
vilhas da  natureza  {Àlgiaib  ai  Mokhhnkat)  e  a  Jeni  Dumia  ou 
novo  mundo  além  da  Ethiopia  ou  Africa  nos  fins  do  oceano  Te^ 
nebroso  ou  occidental  dos  antigos  Árabes,  nSo  eram  desconhecidos 
aos  estudiosos ,  e  os  descobrimentos  de  Porto  Sancto  e  dos  Açores 
pelos  Portuguezes,  attrahindo  as  attenções  para  o  Oeste,  chegaram 
a  fazer  ver  nessas  nuvens  perpendiculares  ao  horisonteem  sua  maior 
dimensão  a  confirmação  d'essas  terras  trans-oceanicas ,  que  os  tempos 
e  as  navegações  acabaram  por  provar  não  ser  engenhosas  ficções  e 
puros  mytbos ,  sinão  quanto  a  proximidade  que  se  lhes  assignava. 
Eram  os  livros  raros  nesse  tempo ;  roas  é  preciso  não  esquecer 
qoe  Colombo  tinha  por  contemporâneos  a  sábios  e  celebres  astrónomos, 
qie  aasaz  se  compraziam  em  oommdnicar  as  suas  luzes  aos  navega- 
dores e  geographos  de  seu  lempo.  (99) 


S7A 


S  3. 


Que  a  tlescobeila  do  Brazil  nãa  enlrou  nos  planos  de 
Cabral  e  que  os  hislonadores  abundam  n  este  sen- 
tido e  que  se  exprimem  de  forma  l5o  calhcgorica  e 
teiiBinante  que  L4>nlrablam  com  as  frases  ambí- 
guas lie  t)utros  em  que  ^ie  procura  base  para  opimão 
eonlrariâ . 


Pará  provar  que  a  descoberta  do  Brasil  não  entrou  nos  planoi  rit 
Cabral,  e  (]ue  m  tilstariadores  obuudam  n'esto  sentido  e  qua  tt 
iKpriínem  de  forma  táo  mliegonc^  a  lerminanta,  que  coRtnslaa 
com  âs  frases  ombigtias  de  otiu-os  am  quo  procumí  base  pira  t 
minha  opinião ,  o  auclor  das  Eellôicõâs  pssa  a  demonstrar  o  iim  nmm 
qtta  sâ  leve  em  Ytsia  com  a  expedição  da  nova  frola,  apoiado  not 
seiis historiadores  j — Mariz,  que  tevoa  habilidade  de  improvisar  uiu 
flspaniosa  tormenta  para  occasionar  o  desfx>brimento  do  Bni^il; 
— Caminfin ,  do  q  uem  apenas  citu  o  Ijnal  da  carta  ; — Barros,  DamiaQ 
de  €dest  Xororty  mo  Osório ,  a  e^rlâ  úu  rei  dom  l^lanoel »  datada  áti 
2$  de  JuHio  de  iõ0l  ao  rei  de  Uo^anha ,  dando  cona  do  desce* 
brímenLoe  Raynal  - 

Vôjamos  SI  os  histon andores  ,  que  cita  o  iUastre  auctor  das  rcllo- 
3t5e3  sào  por  ventura  de  móis  peso  e  considernçSo  do  que  esses  que 
testemunharam  o  acontecimento,  e  que  escreveram  com  a  HiWÊtíUà 
úm  primeiros  cbronistas,  fonles  primitivas  que«  i^mo  nota  o  sr. 
Ferdinand  Oenls  ,  narram  sem  exnííeraçao  o  próprio  facto » ;iiitei 
que  seja  on volvida  em  circumsianeias  estranhos  ao  principal  ãcoiití&<- 
oimenio,  e  que  permitiam  ao  leitor  tornar-se  por  momenio  laiMo- 
dador.  {iW) 

Pêro  de  ftfariz  ,  o  auctor  do  Biulago  de  varin  hiitmim  é 
primeiro  de  quem  i|  nosso  esclarecido  consócio  transcreva  iim  i 
que  termino  por  estas  palavras;   «  O  qual  (Pedro  Alvares)*.,  par- 


875 

linJú  dó  Lisboa....  foi  lai  a  sua  ventura  que....  depois  de  uma 
espantosa  tormenta....  descobriu  a  província  do  Bra/il.  »  Nem  na 
carta  de  Caminha  ^  nem  na  narração  de  um  dos  pilotos  da  famosa 
frota ,  nem  na  participação  do  rei  dom  Manoel «  nem  nas  obras  de 
Barros,  de  Damiáu  de  Góes,  de  Jeronvmo  Ozorio,  de  Lafítau»  de 
António  de  San  lioman ,  de  La  Clcde,  de  Gandavo,  de  Bento  Tei'* 
xeira,  de  Ballkazar  Telles,  de  Simão  do  Vasconcullos,  de  Ayres  do 
Gazal  e  de  W.  Irwing  se  menciona  tempestade  alguma,  cuja  faria 
impelíiase  as  naus  de  P.  A.  Cabral  sobre  as  costas  lirazilicas.  Mariz » 
que  escreve)!  sem  se  dar  ao  trabaliio  de  averiguar  a  sua  verdadeira 
causa,  som  ao  menos  se  Niformar  dos  numerosos  documentos  exis« 
tentes  em  seu  tempo  e  dos  quaes  apenas  escassas  reliquias  rh>s  che- 
garam, D§o  merece  o  conceito  que  o  auctor  das  reflexões  lhe  deu, 
para  ser  trazido  a  elucidar  a  qtfeslàoque  se  discute,  e  nem  sei  que 
tal  trecho  o  elucide.  Deixemo-lo  repousando  ao  lado  de  Laet,  de 
Faria,  de  Lafucnie,  de  Santa  Theresa,  de  Solor/ano,  de  dom 
António  Caetano  do  Souza  >  de  Bocha  Pitta ,  de  Vieira  Ravasco ,  dé 
Barbosa  Machado >  de  Brito  Freire,  de  Jaboaiffo,  de  Balthasar  da 
Silva  Lísbo-j,  de  Madre  de  Deus,  de  Pedro  Taques ,  de  Pizarro, 
de  Milliet  de  Saint  Adolphe  e  Caetano  Lo|)es  de  Moura,  e  tantos 
outros  illostres  historiadores  que  não  trataram  da  matéria  senão  do 
passagem ,  deixando  de  estiidarem^na  nos  documentos  ra^peetivos , 
ou  porque  ignoravam  da  sua  existência,  ou  porque  não  pensavam 
que  cmn  isso  prestavam  um  serviço  á  historia  do  nosso  paiz,  e  repe- 
tindo com  Baynal  que  o  descobrimento  fora  obra  do  acaso,  inven- 
taram ou  reproduziram  um  dos  outros  essas  espantosas  tormentas 
que  Gzeram  a  Cabral  perder  os  rumos  da  navegação  (101)>e  que  lhe 
pôz  a  mao  na  vida  (102) ,  invertendo  a  ordem  dos  factos,  pois  a 
tormentas  apeilas  precederam  ou  ségoiram-se  ao  feliz  descobrimento. 
Após  Pêro  de  Mariz  vem  João  de  Barros,  como  si  a  soa  reputação 
de  grande  historiador  o  livrasse  de  pagar  o  tributo  da  humana 
trflelligeneia ,  que  teve  o  erro  por  partilha  geral ;  assim  ella  n9ô  o^ 
isempta  da  paeba  de  menos  exacto  no  relatar  o  descobrimento  de 
Pedro  Alvares  Cabral,  pais  basta  uma  simptes  vista  de  olhos  pelas 

XVIII  à9 


37G 

LrílUakJb  pfpfk»  de  «*»  Dtt^dm  Jm  Âsim  (on  se  ( 
eea  «m  eoobaciíBeol»  leve  di  orla  de  Gjúritt,  e  de 

|iois  peleoui  det ian  scf  ao  {udúso  hitteriador  lodos  as  | 
ie  guanbiaio  dos  arrliivos  reses,  s  é  que  a  polriica  de  ( 
aeMueUksva  a  saa  rcsenra  vedando  absolulameote  •  seu 
Barros  fcí  iSu  bem  inferoiado,  si  teve  todos  os  documeolos  i  soa 
«Ikfttíçâo  até  para  a  belora  de  uma  obra  peculÍK  ao 
neiíle,  coaio  não  efcrereu  »  soas  Hecodei  á  fisla  d*4 
ticídades  ?  Porque  igocrava  elle  lodos  os  pormeDores  da  viagam  a  da 
Jeseobrífnento  de  Cabral ,  a  ponio  de  acbar-se  em  nuDÍfesta  eooUa- 
dieçio  eom  as  leslemuohas  ocubresT  Veria  eRe  os  manuseriplos  da 
Csmioba ,  do  pílolo  que  escreveu  a  narração  que  Bamusio  traslados 
pra  a  líogua  de  Tasw,  e  que  a  academia  real  dasseteaeias  de  Lisboa 
restituiu  á  lingua  de  Camões ,  a  carta  do  pbjsioo  mestre  João  e  ainda 
outras  que  se  escrereramt  datadas  de  Vera  Cruz,  e  que  taliei 
repousam  sob  a  poeira  dos  archivos  de  Portugal  e  de  Hespaoba  ? 

Descoberto  o  Brazil,  dizem  as  testemunhas  oculares  que  Cabra! 
correu  para  o  norte;  JoSo  de  Barros ,  porém ,  sem  que  nos  diga  em 
que  documentos  se  baseara ,  aíTirma  que  foi  para  o  sul.  Nolavel  con- 
iradicçào!  «  Pedro  Alvares,  escreve  elle,  lendo  determinado  (ao 
outro  dia)  de  mandar  lançar  mais  bateis  e  gente  fora,  saltou  aquella 
noiío  tanto  tempo  com  elles,  que  lhe  conveio  levar  as  ancoras  a 
correr  contra  o  sul,  sempre  ao  longo  da  costa,  por  lhes  ser  per 
aquello  rumo  o  vento  largo  té  que  chegaram  a  um  porto  de  mui  bom 
surgidouro,  ao  qual  por  esta  razSo  pôz  o  nome ,  que  ora  tem ,  que 
é  porto  Seguro,  d  (103) 

As  testemunhas  oculares  relatam  differontemente,  concordando 
entre  si,  o  que  é  mui  significativo  para  realçar  o  erro  doauclor  das 
Décadas  da  A  tia. 

«  Si  levo  la  detta  armalta  (diz  o  piloto  de  Cabral,  segundo  a 
traducçâo  de  Ramusio,  única  que  tenho  ante  os  olhos  n'este  mo- 
mento] con  un  gran  temporal,  scorrendo  la  costa  per  la  tramontana ; 
il  vento  era  do  siroco.  »  (104) 


377 

«  A  noite  f^inte  (diz  Caminha)  ventou  tnnto  sueste  com 
chuvaceiros  quefes  casar  as  naus...  Per  conselho  dos  pilotos  mandou 
o  capitão  levantar  ancoras  e  fomos  do  largo  da  costa  contra  o 
norte.  »  (105) 

Segunda  contradicçao.  —  Gonforme  Caminha ,  que  historia  a 
viagem  ehronologicamenie,  narrando  dia  por  dia  ainda  os  menos 
notáveis  acontecimentos,  a  terra  foi  vista  em  22  de  abril  de  1500; 
Barros  dataessedia  de  24  do  mesmo  mez,  e  tem  a  seu  favor  a  relação 
da  viagem  de  um  dos  pilotos  da  armada.  Mas  ó  para  notar-se  que  a 
carta  do  Caminha^  foi  redigida  quatorze  mezes  antes  da  relação  da 
viagem,  em  que  a  memoria  nào  podia  ser  tão  facilmente  illudida, 
eomo  depois  de  mais  de  anno. 

Teroeira  contradicçao.  —  Entre  Barros  e  o  physieo  da  frota 
mestre  JoSo ,  existe  ainda  uma  dififerença  de  7*  de  latitude. 

Barros  escreve  nas  suas  Decadat:  «  Pedro  Alvares  foi  dar  em 
ootra  costa,  a  qual ,  segundo  a  estimação  dos  pilotos ,  lhes  pareceu 
que  podia  distar  para  aloeste  da  costa  de  Guiné  450  léguas  e  em 
altura  do  polo  antartico,  da  parte  do  sul,  10  gráos.  »  (106) 

O  physieo  mestre  Joio  escreve  díSerentemente  na  sua  carta  diri- 
gida ao  seu  afortunado  soberano:  cc  Segunda  feira,  que  forem  27 
de  abril,  descemos  em  terra  eu  e  o  piloto  do. oapítão-mór  e  o  piloto 
de  Santo  de  Tovar  e  tomamos  a  altura  do  sol  ao  maio  dia  e  acha- 
mos 56  gráos,  e  a  sombra  era  septentrional ,  pela  qual ,  segundo  as 
regras  do  astrolábio  julgamos  estar  afastados  do  equinocial  por  17 
gráos,  e  por  conseguinte  ter  a.  altura  do  polo  anlartico  em  17  gráos, 
segundo  o  que  é  manifesto  (107).  A  seguir-sea  altura  dada  por 
J.  do  Barros  a  primeira  terra  do  Brazil  pisada  pelo  grande  Cabral 
teria  sido  na  província  de  Pernambuco,  dez  léguas  ao  norte  do 
rio  de  S.  Francisco,  juiicto  á  embocadura  do  rio  Jiqúiá,  como 
nota  o  illustre  sr.  Alexandre  de  Humboldt:  t  D'ésse  ponto  is  costas 
que  tocaram  Pinzon  e  Lepe,  dous  a  trez  mezes  antes,  diz  elle,  nfio 
ha  mais  do  que  trinta  a  quarenta  l^uas,  pois  o  cabo  de  S.  Agosti- 
nho ó  pelos  8.'  21'  de  latitude  e  Diogo  de  Lepe  tinha  costeado  o 
Brazil  além  do  paralldo  em  que  a  costa  se  dirige  de  N.  E.  ao  S.  (X  . 


378 

Como  Barros  raramenla  indica  latitudes,  e  o  piloto  d6  Cibrah... 
56  occupa  lanlo  menos  coroo  Pêro  Vaz  de  Caminha  ,  eujos  manu»* 
criptos  poderia  ter  visto  o  historiador ,  póde-se  ficar  stirpreso  eonr 
esta  designação  do  10**.  Deprcltende-se  claramente  da  asserção  das 
duas  testemunhas  oculares  que  durante  a  tempestade  a  expedição 
de  Cabral  se  dirigiu  para  o  norte,  o  que,  por  consequência «  o 
lugar  em  que  primeiro  se  tomou  conhecimento  da  terra  foi  ao  sitl 
da  actual  cidade  de  porto  Seguro,  cuja  latitude  é  de  16*  e  27'  sul. 
Segundo  a  carta  de  Caminha ,  viu-sc  primeiramente  uma  montanha 
de  cume  arredondado  a  que  so  deu  o  nome  de  monto  Pascoal.  E*  um 
dos  cabeças  da  serra  dos  Aymorés,  que,  sob  a  denominnçáo  do  Itaráea 
ou  Goytaracas  começa  na  província  da  Bahia  e  se  prolonga  ató  a  pro- 
víncia de  Porto  Seguro  (108).  A  23  Cabral  se  dirigiu  para  a  am- 
bocadura  de  um  rio  (segundo  o  padre  Cazal ,  o  rio  do  Frade)  (109), 
que  fez  sondar  pelo  capitfio  Nicolau  Coelho,  o  companheiro  de 
Gama^  na  sua  grande  expedição.  Durante  a  noite  de  23  para  24  de 
Abril  ventou  com  força  do  sud-oeste;  levaram   as  ancoras  e  fise- 
ram-se  de  vela  para  o  norte  em  busca  de  um  abrigo ,  que  acharam 
a  dez  léguas  de  distancia  do  rio  do  Frade,  cm  uma  bahia  (110)  que 
poderia  conter  mais  de  duzentos  navios.  Foi  a  esta  bahia,  que  Ca- 
bral» como  provam  a  assignatura  c  a  data  da  carta  de  Caminha, 
chamou  porto  Seguro;  e  depois  tomou  o  nome  de  bahia  Cabralia. 
Eu  tenhoa  situado  aos  16"  c  16'  de  latitude.  »  (111) 

Sem  o  testemunho  da  carta  do  physico  mestre  João ,  da  qual  o 
auctor  do  Exame  critico  da  historia  da  geographia  do  novo 
continente  não  teve  conhecimento  ao  tempo  em  quo  escreveu  a 
sua  tão  importante  obra,  restabeleceu  pelas  asserções  das  testemu- 
nhas oculares  a  veracidade  de  um  facto ,  que  as  palavras  do  grande 
historiador  puzeram  em  duvida ,  como  si  fòra  de  pouca  importância 
a  questão  de  saber-se  qual  fòra  a  parte  do  Brazil  que  vira  primeira- 
mente a  expedição  portugueza  ,  e  qual  a  distancia  desse  ponto  da 
primeira  ancoração  (aiterage)  ao  porto  visitado  anteriormente  por 
Pinzon  e  Diego  de  Lepe.  (112) 

Seguem-se  a  Barros,  Damião  de  Góes  o  Jeronymo  Osório  ^  que 


379 

nao  escròveram  senão  de  pssogem  sobre  as  cousas  da  nossa  Ame^ 
rica ,  o  os  trechos  que  cita  o  auctor  das  RefUxões,  extrahidos  d^esses 
venerandos  historiadores  ou  chrontslas ,  apenas  servem  para  confir- 
mar a  opinião  seguida  de  que  a  terra  que  descobriram  os  Portu- 
guezes  nAo  era  pelo  rumo  em  que  jazia  nem  uma  das  que  até  en- 
láo  eram  descobertas  (113)  ou  pelo  menos  nflo  tinham  nem  um 
delles  suspeita  de  que  lhe  demorasse  terra  habitada  de  homens  por 
similhantes  paragens.  Na  minha  memoria  fiz  ver  que  si  concor- 
davam enire  si  osdous  historiadores  do  reinado  de  dom  Manuel, 
Barros  e  Damião  de  Góes,  sobre  os  quaes  parece  ter-so  baseado 
Jeronymo  Osório,  estavam  todavia  em  manifesta  contradicção  com 
as  palavras  de  Caminha  e  do  piloto  auctor  da  narraçSo  da  viagem ; 
o  esclarecido  auctor  das  Refkxôes  achou ,  porém ,  que  devia  dar 
preferencia  a  esses  historiadores  sobre  as  testemunhas  oculares  que 
escreveram  brgamente  do  assumpto,  principal  objecto  de  seus  escrip- 
tos,  a6m  de  poder  comprovar  que  a  descoberta  do  Brazil  não  entrou 
nos  planos  de  Cabral,  e  que  os  historiadores  que  abundam  n^ese 
sentido  se  exprimem  tào  cathogorica  e  terminante  que  contrastam 
com  as  frases  ambíguas  de  outros  em  que  se  procura  base  para 
opinião  eontraria.  Nno  aceitando  n  confrontação  que  fiz  d'ondo  re* 
salta  evidenteroenta  a  contradicçno  em  que  cahiram  ,  seja-me  per- 
roiltido  antepor  a  sua  auctoridade  uma  de  não  menor  peso  na  ma-* 
teria ,  e  será  ella  o  inesire  da  geographia  brazileira.  Recorro  ao 
juízo  de  Ayres  do  Casal  acerca  do  mérito  dos  historiadores  que 
abundam  no  sentido  da  opinião  do  auctor  das  reflexões  relativa- 
mente á  narração  do  descobrimento  do  nosso  paíz,  e  que  pela  sua 
própria  confissão  contrastam  com  as  asserções  d'esses  que  presencia- 
ram o  facto  e  que  a  historia  chamou  testemunhas  occulares,  porque 
o  illustre  auctor  da  Corograpkia  òrasilica^  tendo  antes  se  apoiado 
na  opinifto  dos  ires  historiadores  de  que  justamente  nos  occupamos 
e-sobreomesmo  assumpto  de  nossos  trabalhos,  viu-^ao dqK)is obri» 
gado  a  abandona-los  e  confessar  a  oontrariedade  em  que  cahiara 
á  vista  das  importantes  o  minuciosas  communicaçOes  de  Pêro 
Vaz  do  Caminha.  «  Havendo  relatado,  diz  eile,  o  deacobrinionlo 


380 

do  Braidl  com  Barros ,  Góes  e  Osório  á  vista ,  cofflmunictDdo-i 
depois  no  archivo  da  real  marinha  do  Rio  de  Janeiro  a  oopia  de 
uma  carta  escripta  de  porto  Seguro ,  pelo  mencionado  Paro  Vaz  de 
Caminha ,  companheiro  de  Pedro  Alvares  Cabral ,  que  refere  o 
caso  em  contrario  d'aque11es  outros ,  não  9Ó  com  miudeza  mas  ali 
eom  veracidade  palpável ,  me  vi  obrigado  a  dar-lhe  prefereneia.  » 
lá  vé  o  illustre  auctor  das  Reflexa  que  a  veracidade  e  nSo  as  plira- 
ses  ambíguas  me  decidiram  a  aceitar  antes,  com  Ayres  do  Casal , 
Humboldt,  Ferdinand  Denis  e  outros,  as  simples  narrações  doaeoin- 
panheíros  de  Cabral  ás  brilhantes  e  eloquentes  paginas  das  Decaá&ê 
ia  Àiia  de  J.  de  Barros ,  da  Chronica  do  rei  dom  Manuel  de 
Damião  de  Góes  e  da  sua  Vida  •  fHloi  pelo  bispo  X.  Osório ,  que 
leve  as  honras  de  ser  traduzido  por  Francisco  Manuel,  o  restaara* 
dor  da  pureza  da  nossa  língua. 

Para  comprovar  que  no  próprio  Caminha  havia  matéria  a  mos- 
trar que  o  descobrimento  fora  devido  a  um-  mero  acaso,  o  avctor 
das  Refkxões  apenas  encontrou  uma  frase,,  que  interpreta  a  seu 
bom  grado,  sem  ns  honras  da  invenção,  porque  essa  compete  por 
certo  a  Navarrete ,  como  demonstrei  na  Memoria  e  que  o  nosso 
illustre  consócio  reproduziu  ainda  contra  a  minha  opinílo.  O  auctor 
das  Refkwôet  nota  que  Caminha  aconselhando  a  seu  rei  que  man- 
dasse calhechisar  os  índios,  ajnnclava :  que  Deus  que  aqui  os  trou- 
xera nSo  fora  sem  causa,  a  Caminha,  diz  o  illustrado  consócio, 
nSo  teria  por  certo  escripto  estas  palavras ,.  n9o  teria  por  tal  forma 
appellado  para  a  religião  do  rei ,  argumentando  com  os  desígnios 
da  prudência  si  a  descoberta  do  Brazíl  tivesse  sido  intencional. 
O  rei  mesmo ,  si  tal  descobrimento  houvesse  entrado  em  suas  vistas, 
si  nas  ínstrncçòes  que  dou  a  Cabral  alguma  cousa  houvesse  que  a 
isso  se  referisse,  ter-lhe-hia  podido  responder :  Enganai-vos,  meu 
Caminha ,  não  foi  Deus  quem  nos  levou ,  fui  eu  quem  vos  mandei 
lá.  «  Para  corroborar  a  sua  opinião  cita  o  auctor  o  trecho  da  carta 
do  rei  dom  Manoel  aos  reis  catholícos  dando-lhes  parte  da  viageoi 
de  Cabral  em  que  esse  monarcha  diz:  «  Parece  que  nosso  senhor 
quiz  que  milagrosamente  se  achasse  esta  terra ,  porque  é  muita  ne- 


881 

cessaria  e  conveniente  i  nategação  da  índia.  »  Eu  disse  em  uma 
das  muitas  notas  de  minha  Mtmoria  que  a  essa  frase :  —  «La 
cual  parece  que  nuestro  Senor  milagrosamente  quizo  que  se 
hallasse  —  «  dera  sem  duvida  o  illustre  Navarrete  a  interpretação 
de  ser  o  descobrimento  do  Brazil  casual  quando  escrevia :  —  « Tone- 
mos a  la  vista  una  carta  dei  rei  don  Manuel  de  Portogal  a  sus 
suegros  los  reis  catholioos ,  fecha  em  Sanctarem  *  a  29  de  Juik> 
de  1501,  dando-ihes  cuenta  de  esta  jornada  e  casual  descobri- 
mento» —  (li4).  Assim  é  fora  de  duvida  para  o  auctor  que  repu- 
tando o  próprio  rei  o  descobrimento  do  Brazil  cousa  de  milagre 
nio  era  muito  que  Raynal  o  attribuisse  ao  acaso  e  que  essa  fosse 
a  opinião  de  seus  successores,  e  seja  a  sua»  e  condue  mesmo, 
que  foi  mais  obra  do  acaso  do  que  milagre.  Acha  o  auctor  que  no 
acaso  ou  em  todo  o  facto  e  acontecimento  de  alguma  importância 
que  se  dá  contra  a  noesa  previsão  ou  expectação»  intervém  a  Pro- 
videncia >  e  Caminha  não  teria  appellado  para  a  religião  do  rei  argu- 
mentando com  o  desígnio  da  Providencia ,  si  a  descobeita  do  Brazil 
fosse  intencional;  —  de  maneira,  que  quando  o  homem  marcha  ao 
acaso,  é  guiado  pela  providencia»  e  quando  intencionalmente^  esta 
longe  de  apoiar  os  seus  esforços,  o  abandona ! ... 

N'e8se  século  9  tão  transcendente  pelos  seus  descobrimentos  geogra- 
phicos,  a  religião  como  que  imprimia  o  seu  caracter  em  todos  acoa- 
lecimentos  extraordinários,  e  de  mais  para  o  christão  nada  se  faz 
sem  o  auxilio  de  Deus,  e  assim  antes  que  as  naus  levassem  ferro  e 
deixassem  as  aguas  auriferas  de  seu  aprasivel  Tejo,  viu  Lisboa  em 
peso  esses  todos  venerandos  marítimos,  esses  todos  intrépidos  guer- 
reiros que  iam  dictar  a  lei  ao  potente  Samorim ,  curvados  sob  as 
abobadas  do  tero(do  de  Rastello,  no  começado  mosteiro  de  Belen, 
implorando  o  auxilio  do  céo  para  a  navegaçio  que  iam  empre- 
hender,  e  que,  a  terem  por  deslinoo  Oriente,  pouco  tinham  de  ver  de 
novo  nas  sangraduras  impressas  pelas  nius  de  Vasco  da  Gama.  Camões 
^ue  cantou  a  gloria  do  protonauta  do  Oriente,  já  hesitava  entre 
as  inspirações  do  velho  polytheismo  dos  gregos,  e  as  crenças  de 
moa  religião,  que  a  poesia  dos  modernos  tempos  ainda  respeíuva. 


3S2 

nào  tendo  os  lábios  piiriíicaJos  de  baias  para  aJomal-os  de 
Cintos;  a  lyra  de  Caldas <,  a  harpa  de  S.  Carlos ,  com  a  sua 
coroada  de  estrellas,  deviam  vibrar  os  seus  sons  harmoniosos  e  im- 
lancoliros,  não  nas  ruínas  da  nova  Babilónia,  mas  nas  solidões  da 
terra  da  Sancta  Cruz. 

A  esquadra  que  o  Tejo  vira  partir  das  suas  aguas ,  para  o  desco- 
brimento d'esscs  rios  que  um  dia  rivalisariam  (k>m  elle  em  riqoe»  e 
gloria  f  não  sahira  de  um  porto  pequeno  e  quasi  desconhecido,  et^ 
tregue  ao  génio  involto  n'uma  capa  de  mendigo ,  quo  de  cidade  em 
cidade  mendigava  um  batel  para  ensaio  de  sua  atrevida  navegação'» 
sem  o  arruido,  mais  do  que  o  choro  das  mães  e  esposas  que  om- 
davam  apertar  pela  ultima  voz  em  seus  braços  os  seus  caros  filiios  e 
maridos.  Ufana  de  sua  missão ,  tremulava  na  popa  de  oma.de  suas 
naus  o  real  estandarte  da  ordem  de  Cbristo ,  e  o  seu  capitão  linha 
por  capacete  o  chapéo  bento  que  o  rei  recebera  do  papa  e  eom  as 
suas  próprias  màos,  lhe  pozera  na  cabeça ,  sob  as  abobadas  do  mos- 
teiro de  Belém.  A  serra  dos  Aymorés  se  ergue  com  o  seu  cume 
além  do  grémio  do  trovão  pnra  receber  essu  nomo  de  Monte  Pas- 
coal que  em  respeito  ao  oitavario  lhe  pòz  o  capitãe-mór  da  famosa 
es<]uadra,  e  para  toda  essa  terra ,  que  tão  bella  e  magestosa  surgia 
como  por  encanto  do  sepulchro  do  sol ,  —  não  houvo  outro  nomo 
sinão  o  de  Vera  Cruz,  Colombo  ao  doscobrir  a  primcin  ilha  ,  leui- 
brou-se  do  seus  perigos  e  chamou-a  de  S.  Salvador ;  Cabral  só  se 
lembrou  da  seguranç^i  do  porto  quo  lhe  deu  abrigo  depois  de  ler 
dado  ao  payz  o  nome  da  torra  da  cruz. 

A  Ilespnha  menos  tolerante  que  Portugal  quanto  a  rLlígiSo ,  nào 
se  mostrava  tão  religiosa  nas  suas  emprezas.  Balboa  conquistara  o 
oceano  Pacifico  ,  que  elle  antes  descobrira  do  cimo  das  montanhas » 
entrando  com  agua  até  os  joelhos  e  de  espada  na  mão.  Colombo 
tomara  posse  da  terra  que  vinha  buscando  de  tão  longe,  com  o 
apparalo  de  um  auto  real.  Cabral  contentou-se  oom  hastear  uma 
cruzy  apoiada  no  escudo  das  quinas ,  symbolisando  nos  seus  braços 
abertos  a  conquista  paciíica  da  terra  que  descobrira.  O  incruento 
sacrifício  da  missa  sanciifícou  as  praias  manchadas  com  o  sangue  da 


I 


383 

aotpopphãgiá ,  como  oiiir'ora  o  sacrifício  Jo  líomem  Deus  remira 
a  tarra  do  velho  mundo  do  peeeado  dâ  desobediência  do  primeiro 
ento ,  a  a  vo^  do  Evangtelho  tmou  das  praias  de  porto  Seguro  ás^ 
oxtremidades  de  um  império  qm  ropotisará  nm  entninhas  focundas 
de  tf  es  seeulos.  Respeitando  a  liberdade  dos  Índios,  náo  foi  o  íllustrá 
cãpítâoquem  permutou  o  Gtptivein}  peh  hospiul idade ,  foi  Gaspar 
de  Lemos  t  mas  em  contra vençáo  ás  suas  terminantes  ordens*  CSo- 
lombo  mal  tinha  chegado  á  iíha  do  S.  Salvador,  e  mal  bavta  ob- 
servado m  costumes  dos  hidios  que  promettía  aos  reis  eatholicos 
qtio  —  «  placiendo  a  nu  estro  Sefmr  Jevaré  d 'aqui  a{  li  empo  de  mi 
partida  seis  a  V«  A.  para  que  deprendan  bahiir, —  w  Ao  menos  a 
nmhs  portugueia  nUo  teve  de  implorar ,  como  Itabel  de  Afagiô  a 
Juanoto  Berardí ,  estabelecido  em  Sevilha ,  que  os  índios  que  Co- 
iombo  enviava  para  aprender  o  castelhaiio  nâo  rosseni  vendidos  como 
«Kravos  (115). 

Si  como  di£  Robortson  esta^'n  resenhado  no  desiino  do  género  hn^ 
«lano  que  ti  novo  continente  seria  d^coberto  no  fim  do  XV  século; 
si  a  em[teta  de  Colombo  tilo  tívesse  sido  corooda  de  táo  magníficos 
resultados;  si  quando  ello,  como  nota  Navarratle ,  em  i9  a  2t  de 
setembro  encontrava  os  mais  endentes  signaes  de  lerra  se  approii- 
niasse  das  RonkpimUã » ^ue  os  navegadores  btspanhoôs  asseguram 
ter  descoberto  sobra  o  grande  banco  de  fncu»  em  ISOâ^  e  qua 
coroo  observa  Humboldt  [K»dería  ler  retardado  o  descobrimento  do 
11090  mundo  até  2t  de  abril  de  1S0#|  dia  em  que  Pedro  Alvares 
Cabral  descobríii  o  Brazit ,  o  que  nâo  seria  enUlo  o  illuitra  sucessor 
de  Vasco  da  Gama  (ff 6}  ?  Perderam-no ,  nio  a  navoga^io  atre* 
vida  do  íllustre  genoveí,  —  porque  lambem  o  descobrimento  do 
Brasil  não  podia  caber  únMo  a  quem  ousado  sulcasse  o  oceano 
em  tio  remotas  paragens  ^  mas  o  inroriunio  do  grande  bomemf 
Faltaram  a  Cabral,  atém  do  âsquecimento  da  pátria,  os  ferros 
da  ingratidão  eom  que  os  m&  catboticos  premiaram  os  feitos  do 
Aseobridor  da  America.  Mas  si  Pedro  Alvares  Cabral  comeUes^ 
um  80  dos  etms  de  Colòmho ;  si  esse  homem  que  âeJIou  com  os 
trt^feos  do  Cah-arto  a  fundação  de  um  ntívo  imperití»  e—quo 


riBtílta 


38A 

eomo  diz  Barros,  era  a|>onlai]o  pelas  qualidades  de  sua  pessoa  (f  17) , 
que  como  nota  Mariz  era  homem  fidalgo  e  ^e/.muito  esforço  e  mui 
expcrimcnlndo  em  guerras  marítimas  (118),  que  como  quer  Rocht 
Pitta  mereceu  os  cognomes  do  illustre  e  famoso  capilfio  (119),  e 
que  como  pinta  S.  Thereza  ,  era  dotado  de  vivissiroo  espirilo  e  igaat 
valor[  120] «  si  esse  homem  adestrasse  os  cies  aos  combates  conlra  os 
jjadigenas  acharia  ainda  na  grande  intelligencia  de  um  Alexandre  de 
Humboldt  a  desculpa  que  acho*)  Chrístovão  Colombo  para  si  n'estas 
sublimes  palavras  em  que  a  verdade  brilha  a  par  do  sentimento  em 
que  prorompe  o  coração :  «  Nào  é  desgraçadamente  mais  do  que  certo 
que  foi  Christovão  Colombo  quem  introduziu  o  abominável  eostuiRe 
defazor  combater  os  cães  contra  os  indígenas.»  (121)  A  injusliça  dos 
homens  domina  a  própria  historia  ;  os  ódios  nacionaes  não  desappa- 
recem  no  crisol  da  critica :  — nem  se  despedaçam  na  lago  do  sepulcbro; 
—  afama, — a  heroicidade , — a  gloria, — também  dependem  dt  felici* 
dade  dos  indivíduos  como  recompensa  ou  não  de  seus  feitos,  moeda 
arbitraria  entregue  ás  oscillações  do  cambio  dos  tempos ,  dos  pa^^Kes, 
dos  povos  e  dos  reis.  O  infortúnio  também  é  um  prestigio;  sem  elie 
os  louros  do  poeta  (122)  se  teriam  murchado  deixando  desconhecida 
para  o  mundo  a  belleza  da  immortal  Mineira,  pois  o  fumo  da  candôa 
da  masmorra  não  leria-lhe  ministrado  tinta  para   novos  cantos ; 
nem  o  exilio  de  Napoleílo  apagaria  a  lembrança  de  suas  tyrannias  , 
realçando  os  raios  de  sua  gloria.  A  historia  ainda  não  pagou  a  Ca- 
bral a  homenagem  que  lhe  c  devida ,  c  nós  a  ptria  e  a  língua,  e  a 
religião  que  nos  coube  por  herança.  Em  paga  chamam-no  o  heróe 
do  acaso ,  como  si  aquelle  que  descobriu  a  America  e  que  morrera 
na  convicção  de  ter  locado  as  costas  da  Asía  não  podesse  pela  mesma 
razão  merecer  o  cognome  de  heroe  do  equivoco. 

£  esses  homens  que  imprimiam  o  caracter  da  religião  em  todos  os 
seus  actos  poderiam  não  ver  no  bom  êxito  de  uma  tentativa  um  mi- 
lagre de  Deus  ?  O  próprio  Colombo  que  ufano  surcava  um  oceano 
desconhecido,  o  oceano  Tenebroso  dos  geographos  árabes 9  e  quo 
com  a  sua  tenacidade^  uperou  tantos  e  tão  grandes  perigos ,  o  próprio 
Colombo  também  attribue  a  sua  chegada  ás  suppostas  costas  da  Ásia  a 


885 

uma  vontade  divina  e  a  certas  miraculosas  inspirações  (iâ3).  A  carta 
do  rei  dom  Manuel  dando  conta  do  achamento  da  terra  de  Sancta 
Cruz ,  como  então  se  dizia ,  prova  o  contentamento  que  elle  teve 
por  ver  coroadas  as  tentativas  que  fazia  por  obter  um  porto  inter- 
mediário para  a  sua  navegação  da  índia  ;  eessa  frase  « —  parece 
^ue  nosso  senhor  milagrosamente  quiz  que  se  achasse  essa  torra >^» 
seria  quando  muito  para  acobertar  essas  tendências  desmarcadas 
da  nação  portugueza  nos  descobrimentos  maritimos ,  essa  ambição 
insaciável  de  possuir  em  todos  os  mares  uma  ilha  em  que  hasteassem 
o  pendão  glorioso  das  quinas,  como  si  o  reino  portuguez  fosse 
pequeno  para  sua  população,  mas  nunca  para  dizer  qne  o  descobri- 
mento fora  devido  a  um  mero  acaso. 


Què  o  descobrimento  do  Brazil  foi  devido  ás  correntes 
do  Atlântico  e  a  um  erro  na  derrota  que  sobreveio 
6  continuou  depois  d'elle  pela  constância  e  perma* 
nencia  da  causa  que  o  produziram. 

Antes  de.entrar  na  elucidação  d*este  ponto ,  o  auctor  pede  permis- 
são para  deroorar-se  em  desfazer  alguns  de  meus  argumentos,  a  força 
é  segui-lo  passo  a  passo  na  sua  argumentação. 

Tem  o  auctor  para  si  que  não  foi  inteiramente  nova  a  direcção 
que  trouxe  Pedco  Alvares  Cabral  da  que  levara  Vasco  da  Gama, 
porquanto  Jeronymo  Ozorio  diz  que  seguira  a  mesma  esteira  de  seu 
antecessor,  quando  lhe  sobreveio  o  mau  tempo  era  cabo  Verde  (124), 
mas,  ajuncta  o  nosso  illustrado  consócio,  quando  mesmo  tivesse 
tomado  outro  rumo ,  ainda  assim  não  se  poderia  concluir  d'este  facto 
que  houvesse  da  sua  parte  ouUro  desígnio  e  propósito  que  nfio 
íoeie  o  de  facilitar  a  sua  navegação.  «  Por  isso  escrevem  outros 
(acerescenta  o  nosso  consócio)  que  um  dos  capítulos  do  regimento 
que  trazia  o  mandava  afastar  da  costa  d' Africa ,  e  de  facto  os  mani6> 


386 

0  ventos  reinaiilâs  em  suas  costas,  que  iam  saodo  mallior  ( 
ddas»  aconaeibavani  que  se  fizesse  a  Tiagem»  como  a  fat-Mv» 
Alvares,  oomo  se  fioe«  fazendo  depois  d'ell0 ,  e  eemo  aecooliowBlB. 
4,  lazer  ainda  que  aio  exislisM  Brasil;  t 

8iito  que  o  audor.  caia  em  lio  manifiosta  eoatradítgio.  9epni*> 
beode  de  lenonymp  Oiorio  qae  Badro  Almes  Cabral  aegni»  # 
etfeíro.  das  naus  de.  seu  antecessor,  ecrè,  peio  artige.  de  nq^jk 
mento,  qne elle.  leve  de  abstarn»  da  eoatade  Africa  por  i 
e  esselenpo  mais  conheddaa.,  e  aoonaaliMiiem  oa  marea  • 
mnantea  que sefizease a  víagmn.  como  a iéz Pedro  Ahanet,  eeme 
ee  £coa  {pzendp  depois  d-elle,.  ^  nio  eomo  a  traçara.  Vem  da. 
Garoa. 

Cumpre-  restabelecer  a  verdade  doshctos;  Cabral  tinha  que- fnar 
aguada,  em  cabo  Verde  (125) ,  e  é^por  isso  que  Jeronymo  Ozono 
diz  que  seguia  o  esteiro  de  sen  antecessor  quando  lhe  sobravaso 
esse  máu  tempo,  de  que  nSo  faliam  nem. Giminba,  nemopilolo 
que  escreveu  a  Narração  dQ  viagens;-  ao  deixar,  porém ,  as  ilhaa 
da  costa,  africana  começou  a.  soa  navegaçSo  empegando-ae  no 
oceano,  ou  como  o.auctor  havia, de  ler  no.proprjo.0aorio :  «  pAs  a 
proa  no  Occidente.  »  (126) 

O  auctor  que  concorda  que  o  jesuita  Eafitau,  tendo  tantos 
documentos  á  soa  disposição  para  a.  feitura  de  sua  JEKslerta  das 
etmquuiM  doêi  PorêuguexeR  no  novo  mundo  nio  traçou  as  derrotas 
de  Vasco  da  Gama  e  de  ^n>  Alvaaes  Cabral,  segundo  as  suas 
in^nraçOes,.  encontrará  no.  planisferio ,.  collocado  em  frente  de  sua 
obra,  o  esteiro  das  naus  do  protonauta  do  Oriente ,  confundido  oom 
o  esteiro  das  naus  do  descobridor  da  terra  de  Sancta  Cruz,  desda  a 
foz  do  Tejo  até  as  ilbas  de  cabo  Verde  e  distinctamenie  se  afastando 
Uffi  do  outix)  até  q^ue  na  altura  do  equador  o  Gama  corta  a  linha  «oa 
351^  e  Cabral  aos  346%  ficando  de  permeio  1.1%  e  ao  dobrar  do 
eabo  da.  Boa  Esperança  confundem-se  de  novo  oa  esteiroa  das  naus 
doe  dous  atrevidos  navegadores.  Vé-se  pois  que  o  traço  das  viagens 
fiareadas  no  roappa  que  íllustra  a  obra  do  sabia  jesuíta  nio  aslieQi 
eonH^adicçao  com  es  historiadores. 


^ 


$ 


S87 

£u  disse  qud  6ra  evidente,  á  vista  da  documentos  irrecusáveis^ 
coetinos  e  inconlej^Uiveis  que  os  portuguezes  suspei lasse rn  da  exjs* 
lencb  das  têrrus  que  Padro  Aii'ares  Cabral  descobriu  demândando-aBi 
quando  deu  é  sua  naveg^içáo  essa  dtrecçita  inleirimeQle  novi^  e  não 
para  lugir  as  calmariis  da  cu^la  dâ  Africa ^  porquanla  essa  Gto  livera 
Vasco  da  Gania  sôm  eomtudo  amarar-se  tanlo  para  o^te»  nem  aer 
arfihatado  das  correntes.  Q  auctor  para  destruir  essas  razoes  poo* 
dera  que  Cahrd  ft£-sd  ao  largo  alonga udo-sa  da  cosia  de  Atriei 
para  dar  i^figuardo  ao  cabo  e  dobra-lo  com  mais  facilidade,  em- 
quanto  que  Gama  afasta ra-ãe  algiitna  cousa,  mas  muito  menos  do 
quo  seria  preciso  para  poder  contar  com  uma  viagem  segura  ^  a  nào 
se  aJ^arando  tanto  nào  corria  o  perigo  de  sor  arrebatado  pelas  cor** 
reates.  Aqiii  entra  o  iHustre  auclor  na  questão  que  o  descobrimento 
foi  devido  ás  cormntiss  do  Atlântico  e  a  um  erro  na  derrota  que 
sobreveio  e  continuou  depois  peta  consumcia  e  pânnanencía  da 
causa  que  o  produziam* 

A  eriíiea^  com  o  seu  iRÍiiucioâa  exame,  fez  coabecor  quenio 
fòra  Cabral  impellido  por  essa  hono^úB^  e  longa  tenipesiade  que 
arrebata  as  suas  naus  ás  ilbas  d6  cabo  Verde  &  vem  de  tão  longe 
arremessa-las  ás  costas  brazilicas,  como  improvisaram  os  historia^ 
dores  que  se  niSo  deram  i  confrontarão  dos  documentos,  que  as 
peequizas  feitas  em  nossos  dias  patenieanim^  á  luz  p  ubltca ;  d'aht 
ntsceu  no  espirito  dos  homens  imminentemenAe  peasadoí^  do  nosso 
século  a  idéa  de  que  uma  causa  desoonbecída  aos  próprios  auciores 
do  descobrimento  tinha  concorrido  pra  elle ,  pois  que  para  etles  a 
suspeita  da  possibilidade  da  e^slencia  do  Brazil  não  podia  entrar 
no  calculo  da  intelligencla  humana,  embora  o  descobrimento  das 
Antilhas  t  St^ease  presumir  aos  Portugueses  a  existência  de  maltas 
ilbas  que  se  augmentaram  em  numero  à  proporçio  qua  se  prolonga- 
ram para  o  sul  i  a  vissem  mesmo  no  Brazil «  a  que  deram  o  nome 
de  "—ilha  de  Vara  Crut,  uma  daa  que  descobrira  Colombo^  como 
refere  Joio  de  Barros,  e  como  Geou  demonstrado  na  primeira  parto 
d'esta  refutação,  e  pois  essa  causa  desoonhecida  nào  podia  ser  outra 
cousa  sinão  aã  correntes  ^  que  lob  varias  doaominações  al^uiu  tanto 


388 

vagas  correm  enlre  as  aguas  tranquillas  do  mar  e  sem  Iraaiaçáo 
própria*  apenas  obedecem  á  impulsão  local  dos  ventos.  Assim  o  sr. 
Alexandre  de  Humboldt  dizia  em  Paris,  em  1836,  quando  dava  á 
luz  a  sua  iroporlantissima  obra  Exame  crítico  da  hiãíaria-  éa 
geographia  do  novo  contineníe:  «  O  conliecimento  intimo  tfãe 
temos  hoje  da  multiplicidade  d^essas  correntes  ou  rios  pelágicos,  de 
differentes  temperaturas ,  que  atravessam  o  grande  valie  longiuidioal 
do  Atlântico ,  oflferece  uma  explicação  fácil  do  descahimento  exinor- 
dinario,  para  oeste,  que  experimentou  a  pequena  esquadra -d<9 
Cabral.  Tiveram  a  imprudência  de  cortar  o  equador  em  uma  loO'- 
gitude  assaz  occidental  e  pelo  effeito  da  corrente  equinocial  media 
(sirvo-me  da  nomenclatura  do  major  Rennel)  entrou-se  na  corrente 
do  Brazil ,  que  não  é  senSío  uma  continuação  da  corrente  eqoiíiociai, 
modificada  pela  configuração  do  continente  americano,  n  (1^7) 

Guiado  pelo  génio  do  sábio  allemão,  o  auctor  das  reBexõas» 
aproveitando-se  também  das  correntes  para  entregar  ao  acaso  o  des- 
cobrimento de  Pedro  Alvares  Cabral,  procura  provar,  segundo  Suas 
supposições,  como  poderam  influir  na  viagem  de  Cabral  ao  ponto 
que  nenhuma  influencia  exerceram  na  de  Vasco  da  Gama,  que 
também  afaslára-se  da  costa  africana  evitando  as  suas  calmarias- 
Assim  Gama,  no  parecer  do  auctor  das  Reflexões,  nSo  pôde 
experimentar  a  força  da  corrente  que  arrastou  a  Pedro  AWaros  por 
não  ter  carregado  tanto  para  oeste. 

«  Si  ponderarmos  agora,  accrescenta  elle,  que  um  doestes  se 
entrega  á  força  d'ella  emquanlo  o  outro  a  cortava  rectamente  ou  com 
pequena  obliquidade,  havemos  de  concluir  que  o  descobrimento, 
que  se  tomaria  insignificante  para  os  navios  de  Gama ,  era  incal- 
culável para  os  de  Cabral ,  e  mais  ainda  por  se  não  contar  com 
elle.  » 

Tudo  isto  porém  nSo  passa  de  uma  supposição,  que  apenas  entra 
na  espbera  das  possibilidades ,  roas  não  na  veracidade  do  facto  que 
se  deu ,  pois  só  quando  com  os  roteiros  na  mão  seguirmos  os  esteiros 
de  Vasco  da  Gama  e  de  Pedro  Alvares  Cabral  sobre  a  carta  geral 
que  o  major  Rennel  coilocou  á  frente  de  sua  obra  (128),  c  a  par 


589 

de  recentes  observações  de  novos  hydrograpbos,  poderemos  averi- 
guar o  que  suppozera  o  sr.  A.  de  Humboldt,  e.  presume  o  nosso 
estudioso  consócio ;  entfio  veremos  si  com  efTeito  entrou  em  calculo 
devassar  os  mares,  onde  dom  Joào  II  cria  poder  existir  muitas 
ilhas  e  ainda  uma  terra  flrme  ou  si  as  correntes  trouxeram  insen- 
sivelmente 08  Portuguezes  és  praias  dos  hospitaleiros  Tupíninkins. 
Sinto  que  o  planisferio  collocado  em  frente  da  obra  do  incansável 
jesuíta  seja  de  tão  acanhadas  dimensões, e  até  ás  vezes  imperfeita, 
que  se  não  preste  para  mais  aprofundada  confrontação.  Dado  o  caso 
porém  de  que  com  efifeito  Cabral  fosse  favorecido  pelas  correntes 
equatorial  e  da  costa  doBrazil,  ainda  assim  se  não  poderá  dar  o 
facto  por  averiguado  sem  outros  documentos  que  o  comprovem,  á 
vista  d'aquelles  que  fazem  suspeitar  que  houve  o  quer  que  fosse  de 
ambiçSo  ou  de  gloria  em  partilhar  dos  descobrimentos  que  então  se 
faziam  nos  mares  de  oeste  em  tão  remotas  paragens,  porquanto 
Pedro  Alvares  Cabral  tinha  por  fim  principal  da  sua  navegação  o 
Oriente,  e  largando  de  porto  Seguro  foi  ainda  levado  pela  soulhern 
connecting  current,  que  se  dirige  de  E.  S.  E.  ao  banco  Lagullas, 
quando  proejava  sobre  o  cabo  da  Boa  Esperança ,  e  nem  por  isso  se 
diz  quo  essa  navegação  fosse  devida  ao  acaso. 

Para  mais  se  confirmar  na  sua  opinião  o  auctor  argumenta  com 
o  numero  das  naus  de  Pedro  Alvares  Cabral ,  e  assombra-se  que  tão 
grande  esquadra  tivesse  por  fim  uma  viagem  de  explorações  por 
jamais  haverem  a  Hespanha  e  Portugal  mandado  esse  numero  de 
veias  a  fazer  descobrimentos,  e  concluo  que  a  esquadra  tinha  um 
fim  todo  commercial  e  que  ia  apercebida  em  guerra,  porque  os 
Portuguezes  suppunham  que  iam  encontrar  os  reis  do  Oriente  em 
armas  e  que  arriscando-se  vidas  em  numero  sobejo  nào  se  exporiam 
riquezas  a  serem  escusadamente  tragadas  pelas  ondas  em  uma  ten- 
tativa de  descobertas;  como  si  expondo  tantas  riquezas  ás  eventua- 
lidades da  guerra  não  pudessem  arrisca-las  também  nas  tentativas 
das  descobertas  dando-se  á  esquadra  uma  dupla  missão  1  Admira-se 
com  o  numero  das  naus  pouco  mais  do  duplo  das  que  compozeram 
outras  esquadras  de  meras  explorações ,  quando  o  sr.  Alexandre  de 


890 

HumboUr,  pelo  oonlrarío,  a  coondanr  pequena  pelos  ponoes  navioi 
que  a  formtnm,  meneiooando-a  por  eslas  palavras:  lapetitêm^ 
eadre  de  Cabral  (129) ,  pois  qu^  o'e9so  tempo  a  marinl»  ports- 
gueza  primava  tanto  pelo  grande  numero  de  seus  vasos  que  aó  nds 
dezoito  primeiros  annos  que  se  seguiram  i  cireumnav^gação  do 
cabo  da  Boa  Esperança  calcula-se  em  íí94  os  navios  enviado»  pelo  rei 
dom  Manoel  á  índia  e  ao  Brazil.  Gama  sahira  do  Tejo  eoro  quatro  na^ 
vioSk  a  esse  pequeno  numero  de  vasos  a  o  oio  ter  sunsadò  ooim  GaiMnl 
O  oceano  em  tao  longínquas  paragens  fes  diísr  a  Américo  Veapaoaí 
que  a  uma  tal  viagem  nSo  podia  dar  o  nome  de  viagem  de  desoohri* 
mentos,  pois  era  prolongar-se  com  as  cosias,  que  estavam  já  descdbar* 
las.  •  Estes  navegadores,  aocrescenta  die,  nao  perderam  deviata  a 
terra  e  fizeram  a  volta  de  Africa  pelo  sal ,  eon»  todos  os  coamografhoa 
o  haviam  indicado.  »  (130)  Que  muito  pois  q«e  asttfiasaaor  a 
Cabral  doze,  treze  ou  qoaiorze  navios,  que  até  n'isso  dtvergBBi.ot 
historiadores,  para  sulcar  o  oceano  em*  remotas  paragens^  dando  á 
soa  navegação  mais  amplas  proporções,  perdidos  os  leceioB  doa 
mares  tenebrosos,  «ujas  barreiras  de  branaO',  segundo  a  frase 
poética  de  Colombo ,  haviam  sido  quebradas  e  para  sempre  peli 
quilha  de  seus  bateis  ? 

Cré  o  nosso  consócio  que  a  ter  entrado  nas  instrucçOes  de  CabraU 
ainda  mesmo  de  passagem ,  a  possibilidade  de  descobrimento  >  deveria 
o  capitão-mór  da  esquadra,  descoberto  o  Brazil,  ser  o  portador  e 
alviçareiro  de  uma  noticia  que  em  Portugal  causou  tanta  admiraçio^ 
Deixara  ao  próprio  auctor  das  Refle^õeê  o  rasponder  á  sua  objec^ 
çio,  trasladando  as  suas  palavras  quando  disse  que  Cabral  eoná- 
nuára  a  sua  derrota  dando  ao  descobrimento  a  attenção  que  podia 
sara  transtorno  do  serviço. 

Adffiiitida  a  hjpothese  de  ter  entrado  nas  infracções,  conw 
diz  o  auctor  das  Reflea^eê ,  a  possibilidade  do  descobrimento , 
nSO  podia  o  nosso  consócio  tirar  outra  conclusão,  e  nem  Càbiel 
deveria  voltar  á  Europa  sá  para  communicar  o  achamento  daterim» 
quando  um  de  seus  escrívfies  se  encarregara  de  todas  as  notkâaa 
ainda  as  mais  minuciosas  relativas  ao  descobrimento,  a  Gaspar  da 


391 

Lemos  o  féx  umbem  com  uma  náa  eomo  Cabral  o  faria  oòm  lodoí 
os  seus  navios,  que  na  opinião  do  auctor  eram  era  graade  numero 
para  uma  viagem  de  deseoberias,  e  nào  o  seria  no  entanlo  pari  ama 
viagem ,  tendo  por  íim  uma  mera  noticia  l  ' 

E'  certo 9  como  nota  Brito  Freire,  que  alguns  companheiros 
insistiram  eom  Cabral  sobre  a  conveniência  de  arribar  ao  raia- 
no (131)  e  que  a  sua  recusa  foi  reputada  pelo  bistoriador  fr.  Gia 
Gioseppe  de  Saneia  Tberesa  como  una  aeçao  generosa ,  por  ter  lida 
em  maior  conta  o  serviço  que  o  premio»  e  assim  prosi^uiu  em 
soa  viagem.  (132) 

Insiste  ainda  o  aueior  que  o  rei  se  não  al^ràra  ao  reeeber 
a  nova  do  descobrimento  do  Brazii  senào  por  saber  da  boa  viagem 
das  suas  naus,  que  as  mercadorias  nào  tinham  sofTrido  e  que  «e 
tornava  mais  faeil  a  navegação;  eu,  pelo  contrario,  dísie  que  o 
descobrimento  nio  so  causara  geral  satisfação  em  todo  o  reino, 
dando  logar  ás  mais  extra vagaotes  combinações  astrológicas,  coma 
qut  euthosiasmára  o  rei ;  «  aasira ,  diz  João  da  Barros,  por  saber 
da  boa  viagem  que  a  frota  levava,  como  pela  terra  que  desco^ 
bríra»  (133);  e  o  Sr.  Alaiandre  deHumbõidt  Wta,  oílando  as 
palavras  com  que  dom  Manoel  deu  conta  aos  reis  eaibolioos  d'esce 
aeontecimeoto,  que  fome  notável  o  terse  para  logo  prefislo  a 
importância  que  deveria  merecer  uma  terra  situada,  por  assim 
diaer ,  sobre  a  rota  do  cabo  da  Boa  Esperança ,  e  da  navegação 
da  Índia.  (134) 

Chega  a  vez  do  auctor  appellar  para  o  papel  que  reptesentou  usa 
armadaa  que  vieram  a  eiplorações,  reconhecimentos  e  conquista  da 
Braztl,  o  rival  da  gloria  de  Cdombo,  a  quem  Hyiacomylns  etei^ 
nisott  dando  o  sen  nome  á  immensa  extensão  do  novo  mundo  palan* 
laado  aos  olhos  da  Europa  pelo  intrépido  genovês.  O  seo  emprega 
n*estas  explorações 'conGrma,  quanto  ao  aoctor  das  RefkaBÔetf  a 
opinião  de  que  não  se  podia  aniever  a  possibilidade  dodeseebrimeota 
nas  mares  aaioBdos  pelos  marajts  da  aseala  heapanhol»,  parqMint» 
ao  depeía  do  deioabrknento  de  Cnhial  é  que  dom  Manoel  lembrovHa 
mm  Mnhk  Anmsico  Vespioci  a  seu  sanéjo  madando  mr  immih 

inu  Si 


geirOy  depois  de  regeiíniio  o  seu  primeiro  conviíe,  «cun  a 
mendaçâo  de  trazé<lo  \)or  todos  os  modos.  Hoje  é  liquido  qae  Amé- 
rico Vespueci  apenas  (ornou  parte  nas  expedições  portugueias  oono 
rosmographo  ou  astrónomo,  e  que  o  seu  chamado  a  Portugal  foi 
de?ido  á  recommendaçâo  que  Caminha  fez  ao  rei  de  que  prosoguísse 
no  descobrimento  mandando  novos  na?ios;  e  ainda  mais,  a  alegria 
com  que  o  rei  recebeu  a  nova  da  descoberta,  que  por  cerlo,  a  não 
lhe  dar  importância  alguma ,  como  pareceu  ao  nosso  consócio,  náo 
86  apressaria  tanto  em  expedir  novas  armadas  para  o  seu  reconheci- 
mento nem   em  procurar  homens  abalisados    em   conherimenlos 
náuticos  que  viessem  le\antar  a  conGgurnçâo  de  suas  costas,  tentar 
novos  descobrimentos  e  procurar  uma  passagem  pelo  Oeste  ás  ilhas 
Molucas,  como  se  deprcliende  das  palavras  de  Gomara  (133).  Não 
me  alongarei  n'este  ponto,  de  que  tratiroi  quando  puder  com  mais 
alguma  extensão  na  Historia  do  descobrimento,   exploração  e 
conquista  do  Brazilj  que  tonho  entre  máos. 

Káo  sei  que  argumento  moral  se  possa  deduzir  a  favor  da  opiniSo 
do  auctor  do  facto  de  não  transluzir  dos  escriptos  de  nem  um  dos 
companheiros  de  Cabral  a  satisfação  intima  de  haverem  conscien- 
ciosamente conseguido  um  resultado. 

Diz  o  auctor  das  Befkxões  que  Cabral  e  sua  gente  alegram-se 
sem  duvida  pelo  seu  descobrimento,  porém  mais  ainda  porque  essas 
terras  não  pertenciam  aos  dominios  de  Uespanha  visitadas  por 
Colombo.  Nào  era  por  ventura  isso  mesmo  o  que  se  devia  dar?  Os 
intrépidos  marítimos,  abandonando  o  esteiro  das  naus  de  Vasco 
da  Gama,  se  entregaram  na  vastidão  do  Atlântico  á  Providencia  que 
os  guiasse  ás  suspeitosas  ilhas  dos  mares  de  oeste  que,  se  prolon- 
gando para  o  sul,  avultavam  em  numero,  e  ainda  a  terra  firme, 
cuja  existência  entrara  nos  cálculos  de  dom  João  11 ,  o  que  bem  se 
deprehende  da  direcção  de  sudoeste  que  deram  á  sua  navegação 
quando  sahiram  de  cabo  Verde:  e  pois  não  viram  em  seu  en- 
contro mais  do  que  um  favor  de  Deus.  cc  £  elle,  dizia  Caminha  » 
dírígindo-se  ao  rei,  a  quem  tanto  a  fortuna  favorecera,  e  elle  que 
nos  per  aquy  trouxe,  creo  que  nom  foy  sem  caussa,  e  per  tanto 


393 

Vosa  Alteza,  pois  tanto  deseja  acrescentar  na  Santa  Fé  Catbolica, 
deve  entender  em  sua  salvação ,  e  prazerá  a  Deus  que  com  pouco 
trabalho  será  assy.  *  Si  os  Portuguezes  se  alegraram  com  a  encontro 
da  terra ,  porque  não  redobrariam  de  alegria  sabendo  que  a  acbavam 
para  a  coroa  portugue/a,  e  vendo  estenderem-se  os  doroinios  da  pátria 
ás  terras  do  novo  mundo,  comprebendidas  na  demarcaçSo  da  bulia 
de  Alexandre  VI  ?  Grande  pezar  seria  si  a  tivessem  descoberto  para 
o  domínio  da  Hespnnha,  e  tal  foi  pelo  menos  o  que  aconteceu  a  Yanez 
Pinson  e  a  Diego  de  Lepe,  do  que  sem  duvida  se  originou  a  pouoa 
importância  que  Ibe deram,  pois  que ,  recolhidos  á  £uropa ,  se  limi- 
taram a  dizer  que  em  toda  a  costa  ao  sul  da  linha,  desde  o  cabo  de 
Sancta  Maria  até  o  de  Sancto  Agostinho  somente  se  encontrava  muito 
brazil  e  nenhuma  outra  cousa  que  de  proveito  fosse.  (136) 

Combatidos  todos  esses  argumentos  resta  mostrar  que  o  auctor 
não  é  mais  feliz  quando  trata  do  erro  na  derrota  que  sobreveio  • 
continuou  depois  d'elle  pela  constância  e  permanência  da  causa  que 
o  produziram. 

Diz  o  auctor  que  Cabral  tendo  desdobrar  o  cabo  da  Boa  Espe^ 
rança  considerou  que  evitando  as  costas  de  Africa  compensava  a 
grande  volta  com  »  6vicar  as  suas  calmarias,  e  que  d'este  modo 
fim  explicada  o  dizer  de  Galvão  de  que  Cabral  se  afastava  da  costa 
de  Africa  para  encurtar  o  caminho;  o  desditoso  Galvão  lornou-se 
tão  resumido  em  seu  Tratado  dos  descobrimentos  antigos  e  mo- 
dernos, que,  não  obstante  ser  de  todos  os  escriptores  o  que  mais 
se  approxima  de  Caminha ,  foi  corntudo  o  que  menos  claro  deixou 
a  causa  que  deu  lugar  ao  descobrimento  do  Brasil.  A  seguirmos  as 
suas  palavras  com  a  mesma  fé  com  que  o  auctor  das  Reflexões  bs 
acata,  para  fundamentar  a  sua  idéa  de  que  houve  erro  na  derrota, 
eque  continuou  depois  d'eUe;  o  descobrimento  do  Brazil  foi  devido 
meramente  á  perda  que  experimentou  Pedro  Alvares  Cabral  em  uma 
de  suas  naus,  «  o  qual,  diz  elle  no  seu  citado  Tratado  dos  des  cobri- 
mentos,  tendo  uma  náu  perdida,  em  sua  busca  perdeu  a  derrota, 
e  indo  fora  d'ella  toparam  signaes  de  terra  por  ondeoc^pitão-mór 
foi  em  sua  busca  tantos  dias  que  os  da  armada  lhe  requerecam 


SM 

deiia«i8  aquettia  porfia;  mas  ao  ostro  dia  YÍffain  a 
zil  »  (1S7).  A'  prímdra  visu  parece  que  lodo  é  exada  ii'em  Oa 
eoneísa  narração,  porém  da  sua  comrisio  nasceu  a  folta  de  algaoMC 
particularidades  que  modificam  o  facto  como  ae  pretende  reprododr. 
No  dia  22  de  marco  avistou  a  esquadra  de  Cabral  as  ilhas  de  cabo 
Verde  passando  pela  ilha  de  S.  Nicolau ,  segundo  assevera  •  pildo 
Fero  Eseober,  ou  segundo  Damião  de  Góes  e  outros  auctoras  e 
ilha  de  &nThiago,  e  no  dia  seguinte  ao  amanhecer  dera»  por 
(alta  da  nàu,  que,  segundo  Caminha,  era  a  de  Vasco  de  Alajrde. 
Quanto  a  Barroa,  a  Damião  de  Góes  e  a  Oaorio,.  a  caosa  d'eaBa  peida 
fci  uma  tormenta ,  quando  o  pítoto  em  sua  narraçSo  nem  uma 
BMnçáo  faz  de  tempestade,  e  o  próprio  Caminha  diz  que  nao  boofe 
tempo  forte  nem  contrario  para  poder  ser.  Segundo  Osório,  esperoa 
Cabral  dous  dias  pela  sua  nau ;  segundo  Caminha ,  fez  elle  suas 
diligencias  para  acha-la  a  umas  e  outras  partes  e  nSo  appareeeu 
asais:  «  e  assi,  diz  eUe,  seguimos  nosso  caminho  per  esse  mar  de 
longo.  »  Estou  bem  convencido  que  Cabral  não  andou  buscando 
pdo  oceano  a  náu  que  se  lhe  de^rrára;  havia  necessariamente 
busoa-Ia  nas  ilhas,  onde  era  crivei  que  se  tivesse  abrigado,  que  nem 
ouln  cousa  se  deprehende  da  frase  de  Caminha  «  a  umas  e  outras 
partes  »  e  desferindo  as  suas  velas  das  ilhas  de  cabo  Verde  não  era 
MK)  crível  trazer  a  derrota  perdida. 

Perdida  a  derrota,  eis  Cabral  entregue  ás  correntes ,  sem  o  saber , 
com  vento  favorável  que  o  traz  ao  Brazil,  e  que  o  impede  de  conhecer 
a  marcha  de  seus  navios  sem  poder  dizer  a  que  distancia  se  achava 
de  cabo  Verde  e  em  duvida  sobre  a  altura  que  tinha. 

Era  n'esse  tempo  imperfeitíssimo  o  methodo  da  navegação,  em 
relação  aos  conhecimentos  de  hoje ,  como  tfio  cheio  de  erudição 
demonstrou  o  auctor ,  mas  apezar  d^isso  escaparia  á  penetração  de 
abelisados  maritimos,  como  Pedro  Alvares  Cabral,  Bartholooieu 
Dias,  e  tantos  outros  que  iam  na  frota ,  a  força  das  correntes,  não 
podendo  conhecé-las  pela  marcha  de  seu  navio,  por  isso  que  o 
vente  era  favorável?  Poder-se-ha  affirmar  que  não  sabiam  a  dis- 
tancia em  que  se  achavam  de  cabo  Verde  so  porque  Caminha 


395 

escrevia  ao  seu  rei  que  esta?am  a  660  ou  670  legoas,  a  aocresoentara 
em  parenihesis  que  assim  os  pilotos  diziam  v  para  concluir-se  que 
eo  eile  duvidava  do  que  os  pilotos  diziam ,  ou  os  pilotos  discordavam 
entre  si  7  Náo  é  o  próprio  Caminba  quem  diz  ao  rei  que  não  daria 
conta  da  marinhagem  e  sangraduras  do  caminho  porque  o  nâoeaberia 
fazer,  e  os  pijolos  teriam  esse  cuidado?  Duvidavam  dá  altura  que 
tinham»  porque  o  mestre  João,  que  ia  na  frota  mais  como  physico  do 
que  coma  astrónomo  discordava  em  seus  cálculos  dos  cálculos  doa 
pilotos,  quando  em  terra  é  a  mesmo  que  nos  diz  que  aos  27  de  abril 
ao  tomarem  a  altura  do  sol  a  sombra  era  septentrional  ? 

Mas  insiste-^  que  Cabral  e  os  pilotos  enganararo-se  na  sua  nave- 
gação, e  se  suppunham  mais  próximos  da  costa  africana  do  que  por 
eerto  bSo  estavam;  e  esse  engano  de  longitude  oii;ava  em  umas 
trezentas  legoas  no  sentido  de  oeste ,  e  no  entanto  os  pilotos  exigiam 
a  mudança  da  proa,  e  té-lo-hiam  feito  antes,  e  nem  uma  razão 
havia  para  que  Cabral  não  accedesse  ás  suas  instancias  por  não  haver 
encontrado  ainda  signaes  de  terra.. 

Que  certeza  haveria  n'isso  7  E  como  se  explica  essa  exigência  dos 
pilotos  á  vista  dos  signaes  de  terra  ? 

E  para  lastimar  que  tantas  e  tão  disformes  contrariedades  cons- 
purquem a  primeira  pagina  da  historia  da  pátria  I  Si  o  illustrado 
auctor  das  RefkxôeSy  com  aquelle  zelo  que  todos  nós  lhe  reconhecemos, 
procurasse  antes  cavar  no  abysmo  do  passado  esses  documentos,  cuja 
falta  lamentamos,  e  com  os  recursos  do  talento  que  o  céu  lhe  deu  em  tão 
elevado  grau  e  superioridade  de  seus  conhecimentos  tivesse  escripto 
nova  memoria,  teria  a  historia  lucrado,  deixaria  para  todo  o 
sempre  esquecido  o  meu  trabalho,  e  nflo  ficaria  o  descobrimento 
do  Brazil  entregue  ás  supposições  de  ter  sido  ou  não  devido  a 
um  mero  acaso.  Assim,  o  sr.  Bivar  pensa  que  Cabral  não  se 
entregou  aos  mares  como  fatalista ;  mas  que  traçou  a  sua  derrota 
para  a  índia  por  um  trilho  novo,  e  si  n'esse  trilho  avistou  e  des- 
cobriu a  terra  de  Santa  Cruz,  póde-se  dizer  que  o  fim  foi  casual, 
mas  não  os  meios  (138)1  Assim,  o  distincto  e  benévolo  sr.  Ma- 
chado de  Oliveira  não  pôde  modificar  as  suas  convicções  ao  theor 


306 

da  minha  opinião,  porque,  a  haver  erro  da  sua  parte,  smnentó 
outras  razões  que  não  as  de  meras  probabilidades  poderád  dis- 
sipa-lo; e  assim  o  illustrado  sr.  Gonçalves  Dias  acha  que  a  verdade 
não  está  nas  condições  da  verosimilhança  que  resaila  no  mea 
trabalho. 

Refutando  as  Reflexões  do  erudito  consócio ,  tão  digno  por  tantos 
títulos  da  nossa  estima  e  admiração,  força  foi  cingtr-me  aos  meus 
apontamentos,  esgotada  a  fonte  onde  achei  os  documentos  que 
revolvi  na  confecção  da  memoria  feita  em  desenvolvimento  do 
programma  que  Sua  Magestade  Imperial  se  dignou  de  dar«-me 
quando  pela  primeira  vez  presidiu  as  nossas  sessões;  agora  que  o 
sr.  dr.  Gdnçalves  Dias  viaja  pela  Europa,  tão  dignamente  com- 
missionado  pelo  governo ,  poderá  melhor  do  que  eu  colher  docu- 
mentos que  lhe  lucrem  novos  louros  e  que  elucidem  para  todo  o 
sempre  a  primeira  pagina  da  historia  da  nossa  pátria. 

Sala  das  sessões  do  Instituto  histórico  e  geographico  braztleiro„ 
7  de  Setembro  de  1854. 

J.  Norberto  de  S.  S.. 


897 


IVOTAS. 


(1)  EJMimên  critique  de  Chistoire  de  la  géographie  du  nouveau  continent 
êt  des  progrès  de  Castronomie  nautique  anx  lõ."*  et  16."*  siccles*  Paris, 
5  vols..  Tom.  V,  pag.  23,  nol. 

(2)  It.  Tomei,  pag,  285. 

(3)  Para  Ilcrrera  c  outros  historiadores  não  existiu  Toscanelli !  V.  A. 
DE  HuMBOLDT,  Examcn  critique ^  tom.  I,  pag.  255. 

{k)  V.  A.  DE  liuMooLDT  oa  obra ,  tomo  e  pagina  citados  na  nota  ante- 
rior. 

(5)  Coleccion  de  los  viages  y  descubrimientos  qui  hicieron  per  mar  los 
espanoles^  etc.  Tumo  1,  pag.  LXXIX. 

(6)  Carta  de  Pablo  Toscanelli,  V.  Navarrete,  Coleccion  de  los 
viages  y  descubrimientos ,  Tomo  l,  pag.  1. 

(7)  Examen  critique,  tomo  IT,  pag.  22A. 

(8)  Idem. 

(9)  Idem. 

(10)  Idem,  tomo  II,  pag.  226. 

(11)  V.  a  Carta  citada  na  nota  6. 

(12)  Examen  critique,  tomo  II,  pag.  227. 

(13)  Idem. 

(16)  Cartas  já  citadas  d**  Toscanelli  e  o  Examen  critique  de  A.  de 
HCMBOLDT,  tomo  11,  pug.  228. 

(15)  Cartas  citadas.  «Tambien  le  píntaba  en  dicha  carta  muchos 
lugares  en  las  partes  de  las  índias  donde  se  podrá  ir ,  succediendo  algun 
caso  fortuito ,  como  vientos  contrários  ú  otro  qualquiero  que  no  se  espe- 
rasse. »  V.  Mavarrete,  CoL  de  los  viages  y  descubrimientos ,  tomo  2 , 
pag.  2. 

(16)  A.  de  IIlmboldt ,  Examen  critique,  tomo  IV,  pag.  16. 

(17)  Idem,  tomo  I,  pag.  231. 

(18)  Sprengel. 

C19)  Bartholoheu  de  las  Casas  deixou  entre  os  seus  manuscríptos 
esse  monumento  a  que  elle  chamava  « la  carta  de  marear  que  Toscanelli 
enrió  a  Colom.  »  V.  A.  de  Hdmboldt  ,  Examen  critique ,  tomo  I , 
pag.  268. 

(20)  A.  DE  Uomboldt,  na  obra  citada,  tomo  I,  pag.  233. 


398 

(21)  A.  DE  ll\3MWyLi>T,Examen  critique,  tomol»  pag.  139. 

(22)  V.  Navarrete,  Col,  de  lo»  viagêsy  discubrimientos.  Tomo  I^ 
heiacione»,  cartas  c  otros  documentos  concernentes  a  los  cuairo  viages 
quê  hizo  el  almirante  don  Christobal  Cólon  para  ei  descubrimiento  de 
las  índias  occideniales.  Pag.  16,  Miercoles^  3  de  Ociubre. 

(23)  Idem.  Sábado,  6  de  octubre,  pag.  17. 

(2à)  « MaraYillóse  en  gran  manera  ver  tantas  islãs  y  tan  altas,  y  oertí- 
íka  â  los  Reyes  que  las  montanas  qiie  desde  antier  ha  visto  por  estas 
costas  y  las  údas ,  qoe  le  parece  que  no  las  bay  mas  altas  eit  el  noiído, 
ni  tan  hermosas  y  claras  sin  niebia ,  ni  nieve,  y  ai  pie  delias  graadiasbao 
fondo ;  y  dice  que  cree  que  estas  islãs  son  aquellas  innumerables  que  en 
los  mapamondos  en  fin  de  Oriente  se  ponen.  0  Relaciones,  carias»  etc 
V.  Navarrete,  CoL  de  los  Viages,  tomo  I,  pag.  57 ,  Miercoles,  ih  de 
noveimbre.  A  respeito  d'esses  mappa-mundi  nota  o  illuste  Navarrete  <[ae 
«  Vea-se  el  mapamimdi  de  iMartin  Dehen  construído  em  1492  y  pubUcado 
por  Mur  y  por  Gladera ,  e  se  advirtira  la  multitud  de  ischas  que  se  colo- 
caba  ai  extremo  oriental  de  la  índia.  » 

(25)  Diniz  ,  na  sua  Ode  pindarica  a  dom  Vasco  da  Gama. 

(26)  Uvro  III,  cap.  bH. 

(27)  Uvro  m,  cap.  33. 

(28)  Edição  de  Marsden^  pag.  712. 

(29)  A.  de  Udmboldt,  Examen  critique,  tomo  I,  pag.  26,  not  1. 

(30)  V.  a  nota  2/i. 

(31)  Décadas  da  Ásia,  tomo  I,  dec  V,  cap.  lí,  pag.  389. 

(32)  V.  Informacion  y  testimonio  de  como  el  almirante  fue  a  reco- 
nocer  la  islã  de  Cuba  quedando  persuadido  de  que  era  tierra  firme,  Docn 
num.  LXXVI  da  Colercion  de  los  viages  y  descubrimientos  publicada 
por  Navarrete,  tomo  II,  pag.  l/i3.  V.  também  A.  de  Homboldt, 
Examen  critique,  tomo  III,  pag.  9  e  10,  not.  I  e  pag.  266. 

(33)  V.  Relaciones,  cartas  y  otros  documentos ,  da  Coleccion  de l&s^ 
viages  y  descubrimientos  de  Navarrete  ,  tomo  I,  Martes  15  de  Enero , 
pag.  139.  «  Dice  que  halló  mucha  Yerba  en  aquella  bahía  de  la  que 
hallaban  en  el  golfo  cuando  vénia  ai  descubrimiento ,  por  lo  quai  creia 
que  habia  islãs  ai  Leste  hasta  cn  derecho  de  donde  las  comenzo  á  balar , 
porque  tiene  por  cierto  que  aquella  yerba  nasce  en  poço  fondo  junto  á 
tierra,  y  dice  que  si  asi  es,  muy  cerca  estaban  estas  índias  de  las  Islãs 
de  Canária ,  y  por  esta  razon  creia  que  distaban  menos  de  cuatrodentas 
kguas.  1» 

(3/^)  w  No  qniso  detener-se  barloventeando  el  ahnirante  para  averigoar 
si  babia  tierra  mas  de  que  tuvo  por  cierto  que  a  la  banda  dei  Norte  e  dei 
Sar  babia  algunas  islãs ,  como  en  el  verdad  lo  estaban  y  el  ila  por  médio 
delias;  porque  su  volontad  era  de  segnir  adclante  basta  las  índias ,  y  el 


S99 

tlempcies  baeno,  porqae  placiendo  á  Dios  á  la  Tolta  se  veria  toda  »  V. 
Relacionas ,  cartas  y  otros  documentos  ua  coleceion  de  los  viagê$  y  des* 
cubrimientos  de Natarrite,  tomo I,  pag.  li;  Miercoles  19  de  setiembre. 

(35)  Década  /,  lib.  UI,  cap.  9. 

(36)  Munoz,  tomo  VI,  pag.  13. 

(37)  J.  DE  Barros,  Década I,  lib.  III,  cap.  li,pag.  252.  V.  A.  de 
IIdmboldt,  Examen  critique,  tomo  IV»  pag.  259»  nota. 

(38)  V.  Navarrete,  Coleceion  de  los  viages  y  descuMmientôs , 
tomo  II,  num.  LXXI,  pag.  109. 

(39)  Examen  critique,  tomo  IV,  pag.  134. 
(60)  Idem ,  tomo  IV,  pag.  26  e  27. 

(41)  Navarrete  ,  Colleccion  de  los  viages  y  descubrimientos ,  tomo  I , 
pag.  GXXXXIU;  tom.  pag.  598;  IIdmboldt,  Examen  critique,  tomo  I» 
pag.  104,  nota. 

(42)  V.  Investigador  portuguez  em  Inglaterra,  volume  VUI,  num* 
30,  pag.  199  a  212. 

(43)  Da  possibilidade  e  verosimilhança  da  demarcação  do  estreito  dê 
Magalhães  no  mappa  do  infante  D.  Pedro,  cap.  IV.  V.  Historia  e 
memorias  da  Academia  real  das  sciencias  de  Lisboa,  tomo  V,  parte I, 
pag.  134. 

(44)  «  A  quanto  se  íablo  de  mi  empresa  todos  a  una  dijeron  que  era 
bmrla. » 

(45)  V.  nota  i/ii  a  pag.  187  da  Memoria  sobre  o  descobrimento  do 
Brasil,  no  tomo  XV,  num.  6,  desta  Bevista. 

(46)  «  Com  effBíto ,  as  grandes  despezas  que  era  necessário  fazer  na» 
expedições  marítimas  e  as  declamações  dos  que  muito  reprovavam  as  snaa 
tentativas  como  dispendiosas,  inúteis  e  até  fataes ,  tudo  concorria  para 
que  elle  se  limitasse  unicamente  ao  decobrímento  das  costas  dTÂfríca , 
que  eram  mais  próximas  e  conbeddas ,  e  se  não  repartisse  e  dividisse 
para  novos  descobrimentos  de  outros  rumos  diversos  e  de  terras  não 
sabidas.»  António  Ribeiro  dos  Santos,  Da  possibilidade  e  verosi- 
milhança da  demarcação  do  estreito  de  Magalhães  no  mappa  do  infante 
D,  Pedro,  capw  IV,  pag.  133  do  tomo  V,  parte  I ,  da  Historia  e  nume^ 
rias  da  Academia  real  das  sciencias  de  Lisboa. 

(47)  Os  Lusíadas ,  canto  IV,  da  esL  XCIV  a  esL  aV. 

(â8>  Examen  critique,  tomo  XR  »  pag.  92. 

(1^9)  T.  a  Memoria  refattáa,  Revista  irimenseá  do  hutHuto  histórica, 
X9im  XV,  pag.  1^7,  noCft  14t. 

xvui  52 


AOO 

(50)  «  n  est  bien  rcmarquable  que  Ics  aithifes  de  Siimincas  i 
ment  une  bulle  de  concession  des  Indes ,  du  3  mai  l/i93  {quinto  i 
Maiax),  trouvéf*  par  mon  iUustre  ami  Munoz,  et  entièrement  sembiabe  à 
celle  du  U  mai  {quarto  iSonas  Muitu),  conservée  dans  Ics  archíTes  de 
Sévílle.  (Munoz,  Hist.  dei  i\uevo  Mundo,  lib.  IV,  $  29;  Nat.  LkMimu 
diplom.,  t.  II,  pag.  23 — 35) ,  aux  diíTérences  prés  que  je  vais  consigiier 
ici.  Dans  la  concession  du  3  mai ,  il  h^est  aucunement  questíon  d*aiie 
lijne  de  détnarcatúm  désiguée  dans  ia  buUe  du  jour  suivant ;  il  est  sfm- 
plement  dit  « qa*il  est  fait  à  perpétuité  don  dcs  lies  et  terres  íerines 
récemment  décou vertes  per  diUctwn  filium  Chrislophorum  Cólon  aux 
róis  de  Gastille  et  de  L<5on»  et  que  ces  róis  posséderont  ces  terres  avec  Jes 
mémes  privilèges  et  drolts  que  les  papes  ont  accordés  (en  i/ii38  et  i&59, 
du  cap  Bojador  jusqu'aux  Indcs  oricntales,  d*après  Barros,  Dec  I,  lib.  I, 
cap.  8  — 15)  au  roís  de  Portugal.  »  Les  deux  bulles  de  3  et  /k  mai  sont 
littéralement  les  raêmes  dans  la  premicre  moitié  jnsqu'aux  uiots  «  ac  de 
Apostolíc»  Potestatis  plenitudine  omnes  et  singulas  terras    et  insulas 
pra^ctas  et  per  Nimtios  veslros  rcpertas  per  marc  ubí  hactenus  naTi- 
gatum  non  fuerat ,  per  partes  occidcntaies,  ut  dicitur,  versus  Indiunu,. » 
Après  ce  passage,  on  a  inséré  dans  la  bulle  du  ú  mai  Ia  ciause  que 
TEspagne  possédera  «onmes  insulas  et  terras  firmas  inventas  et  inve- 
niendas,  detectas  et  detegendas  versus  occidentem  et  meridiem,  fabri- 
cando et  constituendo  unam  lineam  a  polo  árctico  ad  polum  antarcticam 
qux  linea  distet  a  qualibet  insularum  quae  vulgariter  nuncupantnr  de  los 
Azores  et  cabo  Verde  centum  leucis  versus  occidentem  et  meridiem.  0  II 
faut  convenir  que  cettc  détermínation  a  qualibet  visularwn  est  bien 
vague  lorsquMl  s'agit  de  dcux  groupes  d'iles  qui  occupent  une  grande 
étendue  en  longitude.  (Uet.  hist,,  t.  III,  pag.  183—186. )  I/expres8Íon 
bizarrc  et  plusieurs  fois  répétée ;  versus  occidentem  et  meridiem ,  »'ex- 
plique  par  la  Capitulacion  de  la  particion  dei  Mar  Oceaiio  conclue,  sous 
Tinfluence  du  í;aint-Siège ,  lo  7  juin  iU^U ,  pendant  le  cours  du  secand 
voyage  de  Colomb,  et  qui  fixo  ia  lignc  de  démarcation  tf  por  términos 
de  viemos  y  grados  de  Norie  y  Sur.  »  Dans  un  autre  endroit  de  ce  docu- 
ment  il  est  dit  «  que  le  roi  de  Portugal  doit  posséder  tout  ce  qui  est  à 
Vest,  ou  au  nord,  ou  au  sud  de  Ia  bande  [raya),  »  Cest  une  circonlo- 
cution  à  laquellc  il  auraít  faliu  substitucr  la  phrase  <(  à  Test  du  méridien, 
sur  un  parallèle  quelconque. »  La  capitulacion,  aussi  mal  rédlgéc  qne 
la  bulle ,  est  restée  pendant  trois  siòcles  une  cause  dlnterminables  hosti- 
lités  entre  le  Portugal  et  TEspagne.  La  bulle  ^\Çi  de  plus  Pépoque  de  la 
légitíme  possession  des  terres  pour  i'ouest  des  Açores,  à  Noêl  1693 , 
a  conmie  Tépoque  à  laquelle  les  découverles  furent  faltes  par  les  capi- 
taines  caslOlans  ; »  mais  ce  jour  de  No^l  est  celui  du  naufrage  de  Golomb 
snr  les  coles  d'Ha!ti,  prcs  de  la  baie  d'Acul,  appelée  alors  Mar  de  Satito 
Thomas  (Vida,  c.  32)  et  depuis  deux  móis  et  demi  Colomb  avait  tílé 
dans  cette  !le,  à  Cuba  et  à  Guanabani.  Ces  inexactitudes  sont  moins 
frappantes  que  les  changemens  que  la  bulle  du  3  mai  a  subis  dans  l'inter- 
valle  de  vingt-quatre  heures.  (Herrera,  Dec.  I,  lib.  II,  cap.  á.)  Cest 
dans  les  archives  romaines  que  la  cause  de  ce  cbangement  pourrait  étre 
édaircie*  Aussi ,  dans  la  bulle  du  25  septembre  1^93 ,  appelée  Bula  de 
extension  y  donacion  apostólica  de  las  Índias  (Nav.,  t.  II,  p.  606),  il 
n'estpas  plus  question  d'une  ligue  de  démarcation  que  dans  ia  bulle  du 
3  mai.»  A.  de  Uumboldt,  Examm  critique,  tomo  III,  pag,  52, nota. 


AM 

(51)  O  Sr.  F.  A.  de  Varnhagea  transcreveu  de  noTO  em  ama  das 
notas  da  sua  recente  historia  do  Brasil  a  carta  do  mestre  João ,  sem  com- 
tudo  ligar  grande  importância  ás  palavras  do  astrónomo  e  medico  da 
frota  de  Pedro  Alvares  Cabral ;  a  transcripção  da  carta  tem  unicamente 
por  fim  provar  que  mestre  João  não  se  devia  fiar  no  acceno  dos  sel- 
vagens sobre  o  numero  de  ilhas  de  que  suppunha  compòr-se  a  terra  de 
Santa  Cruz ;  a  questão  é  importante ! . . .  Será  bom  que  sempre  aqui 
declare,  não  sem  admiração,  que  o  Sr.  F.  A.  de  Varnhagen,  modificando 
as  suasidéas,  tem  o  descobrimento  do  Brazil  por  casual,  sem  que  comtudo 
ousasse  de  tocar  n'essa  questão,  que  tão  debatida  ha  sido,  e  na  qual  elle 
tomou  previamente  parte.  .^ 

(52)  Kxamen  critique,  tomo  I,  pag.  297. 

(53)  Memorias  de  litterdiura  portugueza,  tomo  VIII,  pag.  275  a  pagr. 
30à.  V.  a  Memoria  sobre  o  descobrimento  do  Brazil,  Rivista  trimensal  do 
Instituto  histórico  e  geographico  do  Brazil,  tomo  XV,  num.  6,  pag* 
202,  nota  225. 

(5/i)  Discurso  recitado  na  sessão  publica  de  ^  de  Junho  de  1817. 
V.  Historia  e  memorias  da  Academia  real  das  sciencias  de  Lisboa , 
tomo  V,  parte  II,  pag.  XXIV. 

(55)  V.  Memorias  de  litteratura  portugueza,  tomo  VIII ,  pag.  275.. 

(56)  Historia  e  memorias  da  Academia  real  das  sciencieLS  de  Lisboa,. 
tomo  V,  parte  i,  pag.  115. 

(57)  Da  possibilidade  e  verosimilhança  da  demarcação  do  Estreito 
de  Magalhães,  Cap.  L  V.  Historia  e  memoria^  da  Academia  real  de 
sciencias  de  Lisboa,  tomo  V,  parte  I,  pag.  116. 

(58)  Idem,  cap.  III,  pag.  128  da  parte  I  do  tomo  V  da  citada  Historia 
e  memorias  da  Academia  real  das  sciencias  de  Lisboa* 

(59)  Idem. 

(60)  « Gesta  Dei  per  Francos,, é±  1611 ,  t.  II ,  p.  281 ,  296  ;  Marino 
Sanuto,  qu'il  ne  faut  pas  confondre  avec  LivioSanuto,  géographe  du 
16.**  siècle  et  qui  s^apelie  lui  meme,  dans  un  mauuscriplc  de  la  Blblio- 
thèque  Laurentioienne  de  1321 ,  a  Marinus  Sanuto  dictus  Torxellus  de 
Venedis  »,  precha  adroitement  une  croisadc  dans  l'intérét  du  commerce, 
voulant  détruire  la  prospérité  de  TEgypte  et  diriger  toutes  les  marchan- 
dises  de  Tlnde  par  Bagdad,  Bassora  et  Tanris  (Tebriz),  à  KafTa,  Tana 
(Azow)  et  aux  cotes  aziatiques  de  la  Méditerranée.  Né  en  1260,  compa- 
triote  et  contemporaia  de  Marco-Polo,  le  voyageur  de  TOrient,  Sanuto, 
n'a  pas  connu  le  Mitione  mais  probablement  la  Géographie  á* Abn  IMchsía 
(Albiruni)  dans  laquelle  Abulfeda  a  puisé.  Ardent  ae  caractere,  il  s'élève 
u  de  grandes  vues  de  politique  commerciale  (Ant.  dc  Capmany,  Mem^ 
históricas  sobre  la  marina  de  Barcel.  1779,  t.  I,  p.  /lO)  Cest  le  Baynal 
du  moyeu-Âgc,  moins  riucredoiité  d'un  abbé  philosophc  du  18."*  siècle ji* 


A02 

(61)  « 11  Milione,  1827,  t.  I,  pag.  GLV.  » 

(62)  «  Dissert.,  tomo  II ,  pag.  397.  » 

(63)  «  II  Mappamondo  di  Fra  Mauro  CanialdoUse^  descrittode  itcido 
l^iirla,  1806,  $54.» 

(6&)  «ZCRLA .  $  33t  39»  ii6--118é  »  Y.  Examen  critique^  tomai» 
r«&  333.. 

(65)  «Baldelli,  Milione,  t  í,  p^XXXÍIL  Le  sompçon  des  addllloDg 
•e  íoiàe  sor  des  doiíods  qui  pa^aissent  dues  avx  ooime8d*uii  boém, 
TaliaOt  qui  a?ait  parcouru  rEthiopie.  La  coDJectara  de  Ramuaio  elde 
taDt  de  géographes  modernes,  que  fra  Mauro  aurait  copie  une  carte 
rapportée  par  Marco-Paulo  du  GaUy,  me  parait  a^oir  été  victorieniseHient 
réfatée  par  le  cardinal  Zurla  ($  136^1^3).  L^orientation  de  la  m^ipe- 
monde  de  Mauro ,  dana  laquelie  le  midi,  comme  dans  le  planlsf^ère  de 
Ydetri  (du  15*  siòcle),  publié  par  le  neveu  du  cardinal  Borgia,  est^plaoé 
dans  le  haut  de  la  carte  (l'orient  étant  par  conséquent  à  gaúche),  firaippe 
sans  doute  lorsqu'on  se  rappelie  qu'en  Ghine,  oà  d*après  de  noufelles  et 
ingénieuses  recherches  de  M.  Klaprotb ,  les  marins  se  dirigeaient  por  la 
boussole  dòs  le  troisième  slècle  de  notre  ère ,  Taiguille  émantée  porte  le 
nom  á^aiguilU  quimontre  le  sud,  Tcbinantcliin.  La  direction  da  com- 
mercê  du  nord  au  sud  et  au  snd-ouest  donnait  une  importanoe  parti- 
culière  à  larégion  méridionale,  mais  les  orientations  des  cartes  paraissent 
avoir  été  long-temps  assez  arbitraires.  Dans  la  mappemonde  circulafre 
d*Andrea  Bianco,  beaucoup  phis  ancienne  que  son  Portulan  de  1A36,  et 
peut-êlre  même  coplée  d'unc  carte  du  13*  siècle ,  le  sud  est  à  droite , 
ainsi  que  dans  la  mappemonde  de  la  bibliothèque  de  Turin,  annexée  à  un 
commcntaire  de  TAlpocalípse  composé  en  787  et  transcritau  12*  siècle 
(Cad.  manuscripti.  Bibl.  Taurin.  17/i9,  t.  H,  p.  29,  Cod.  XCIII).  La 
carte  fragmentalre  du  moine  Cosmas  Indicopleustcs ,  de  même  que  la 
car^  générale  d^Edrísi ,  de  la  bibliothèque  Bodleyenne,  que  j'ai  souvent 
dtée,  est  orientée  comme  nous  avons  coutume  d^orienter  nos  cartes, 
Torient  à  droite,  L'antiquité  a  généralement  suivi  Texemplc  d'Hoaière 
(IL  XII^  239;  Strab.  lib.  í,  p.  34,  Cas.),  qui  fait  voler  Taigle  à  droite, 
vers  Taurore;  à  gaúche,  vers  le  séjour  de  la  nuit  (le  coucher).  II  n'y  a 
qu'£mpedocle  qui  renversait,  pour  ainsi  dire ,  les  points  cardinaux  dans 
un  sens  diamétralement  opposé  à  la  méthode  de  Bianco ,  en  nommaiit 
« la  droite  du  monde  le  nord,  et  la  gaúche  le  sud  (Plut.  Plac.  phil,  II, 
10;  Stob.  Ecl,  phys.  XVI,  p.  358).  Ccst,  comme  M.  Lommatzsch 
Tobserve ,  un  reflet  de  la  doctiine  égyptienne  (Plut.  de  Isid,  c  32),  qui 
regardait  Torient  «comme  la  face  du  monde, »  ce  qui,  non  pour  celai 
qui  regarde  Torient,  mais  pour  une  face  tournée  vers  Toccident ,  place 
^nune  dit  Empedocle)  le  tropique  de  Thiver,  ou  le  sud,  à  gaúche  (Lomm . 
Wiish.  des  Emp,  1830,  p.  200).  »  A  de  Uvmboldt ^  Examen  critique, 
^omo  I,'pag.  3U0  a  3/i2,  nota. 

(66)  EJP<trnen  critique,  tomo  1,  pag.  360. 

(67)  Examen  critique,  tomo  I,  pag.  35/i. 


AOS 

(68)  Idem,  pag.  355. 

(69)  Navarrete»  Colecci&n  de  los  viages  y  dcicuhrijfn^enJtifa^  t09io  U» 
pag.  257. 

(70)  Eçcamm  crUigue^  tomo  I,  paig«  359. 

(71)  Idem,  tomo  V^,  fag,  68. 

(72)  Idein,  toroall,  pag.  8^ 

(73)  «  Le  mokie  célestia  de  Bénéveni,  saas  nommer  Veapucd*,  semble 
^ttribaer  la  decouverte  de  rAmérique  mérklionale  phis  encore  aox  por- 
tugals  mi*ai]x  Espagnob.  D  Inscrit  le  chapilre  U  que  j'ai  dté  pios  haiit; 
f  De  tellare  quam  tom  Lusltani  „  tmn  CMombus  werare,  e(  Mutidmii 
^ppellaot  Novom  vel  terram  Sanct»  Grads. » 

(7á)  J^xamen  çritiqm,  tomo  II ,  pag.  8^ 

(75)  Foi.  XLIX  a, 

(76)  Nayarrete  ,  Colêccion  de  los  viuges  y  àgicuàrindentos^  tom*  íj, 
pag.  299.  A.  DE  HUMBOLDT ,  Examen  critúfue,  tomo  V,  pag.  153. 

(77)  Nayarrete,,  Colêccion  de  los.  viaget  y  descuifrimientos  „  tomo  l , 
P9g-  285. 

(78)  Herrera,  Decadn  /,  lib..  VI,  cap.  16,  lft>.  VII ,  cap.  I » tomai  „ 
pag.  l/i2  e  168.  Nayarrete,  CoL.  de  los  viag.  y  desc. ,  tomo  III ,  pag. 
67,  296,  302  e  321»  A.  f^E  Uomboloj„  Ex.  crít.,  tomo  I»  pag,^  3i8^ 

(79)  A.  de  Huhboldt,  Ex.  crit^  toma I,  pa^  3.1&, 

(80)  PeTí  MART^JBp.  560»  pag.  296,. 

(81)  Década  U,  Ub.  I,  cap^  7. 

(82)  Ex^  crit.,  tomo  I,  pag.  353*. 

(83)  Idem,  tomo  I,  pag«  356.. 

(66)  PiGAPELTA,  Primo  ViaggiOf  pag^  60. 

(85)  Exam.  crit,,  tomo  II ,  pag.  22. 

(86)  «  Martin  de  Bohemia,  português  natoial  de  la  júà  de  Fayal«  grau 
cosmógrafo.  »  Her.  ,  Década  í,  Ifl).  I,  cap.  2« 

(87)  Ex.  crit,  tomoV,  pag.  239. 

(88)  Idem,  pag.  265. 

(89)  Década  /,  cap.  VII. 

(90)  Historia  Insular,  Líy.  IX,  cap.  9,  $  61. 


hm 

(91)  Dã  possibíUdadé  e  verosimi ihaiiça  da  deman^mm  é^êitrdU^ 
de  Magalhães,  V,  Hutoria  evimu  da  Acad.  real  de  iciencias  df  hub*m^ 
loino  V,  pag,  122. 

(92)  MejmHit  sobvê  a  descotriniefíto  do  Bra^iL  Heviiia  trim*  4a 
InsL  hist^  tomo  XV»  n/6,  |«ig*  158.  ~ 

(93)  V,  A*  DK  HuMBOLDT,  Bxmn,  cn7,»  tomo  V,  pag-  459; 

(94)  Idem,  tomo  IV,  pag,  68. 

{95)  V,  as  cartas  de  Anseio  Trivigiam  de  1503,  BAnesiO,  lOllio  1. 
pag,  Í287  b,  etc 

(96)  A*  l>l  HtJMBOLDT,  Ejcanu  criL,  lOHJO.I,  pag,  39. 

(97)  Idcm.pag,  69. 

(98)  Idem. 

(99)  Idem,  lomo  I,  paf*  7* 
(190)  U  Brésii,  pag.  2,  coL  L 

(101)  KoGiuriTTA,  HisLda  Am,  port^,  IW*  í,  pa^.  6,  J  5. 

(102)  Pêro  de  Maaíz,  Dialogo  de  varia  historia,  díaL  IV,  cap.  VIU,, 
i)L  186  V, 

(193)  Dí^rííí/íi  f,  Ubk  6,  cap.  2, 

(104)  Hclítção  do  Piloto  de  Cabral,  traduc^  de  Uamuâio, 

(105J  Carla*  V*  Ayres  do  Casal,  Corograpkia  ttrasiticit,  lomo  Ip. 
fag,  15. 

(106)  De€atla  l,  liv.  5,  cap.  ± 

flí>7)  Itevista  Irimarísal  do  ínsU  hÍ£L ,  lomo  V,  pag.  Zh*2* 

(lOâ)  «  Coí'í?j7.  l^ratiL  ,  tomo  íf,  pag.  74  e  98,  i> 

(109)  d  Les  temolns  ocuiaíres  ue  laiãseot  aucun  doiite  9ur  la  diFeetióii 
áu  veoL  Ji 

(110)  (t  Les  IraductioDs  consurvées  dans  le  pays  et  ía  stnuorilés ,  ele. » 

(111)  B;r,  mf-  ^  lomo  V,  pag.,  56  e  seguintes, 

(11^)  Tomo  V,  pag.  hh, 

(113)  Damião  oe  goes,  Chronica  do  felteisãimo  rei  D.  Manoel^ 
ParL  I,  cap.  LV,  foL  51. 

liih}  Nota  218  paj^.  202  do  n,"  G  do  tomo  XV  da  nemla  trimeniM  d^ 
íniL  hisL 


&0S 

(115)  Cartas  de  2  de  Junho  de  ili9b.  V.  NàVARRETE,  CoL  de  los 
viag,  y  desc. ,  tomo  II,  pag.  177  e  178. 

(116)  A.  DE  IIUMBOLDT,  Exom.  crit.^  tomo  I,  pag.  2/il,  nota. 

(117)  Década  I,  liv.  5,  cap.  I,  foi.  86. 

(118)  Dialogo  IV,  cap.  VIII,  foi.  186  v. 

(119)  Uv.  I,  S  5,  pag.  5. 

(120)  Part.  I,  lib.  I,  pag.  5. 

(121)  ExatHé  cril.,  tomo  lU,  pag.  374. 

(122)  Gonzaga,  o  autor  da  Marília  de  Dirceu. 

(123)  Carta  dei  Abnirante  Coloii  á  Su  Santidad.  V.  Navarrete,  Col. 
de  documentos  diplomáticos.  Num.  GXLV,  tomo  11,  pag«  280. 

(124)  Tomo  I,  pag.  1/|3. 

(125)  João  de  Barros,  Ásia,  Década  I,  liv.  V,  cap.  II,  foK  87  ?. 

(126)  Da  vida  e  feiton  d^el-Rei  D.  Manoel,  tomo  1,  liv.  II ,  pag.  143. 

(127)  Tomo  I,  pag,  317. 

(128)  JnvestigaJtion  of  the  currents  of  ihe  Atlantic^  Ocean, 

(129)  Exam,  crit. ,  tomo  I,  pag.  317. 

(130)  Car^a  a  Medicis  de  18  de  Julho  de  1500. 

(131)  Nov,  Lusit.,  Uv.  I,  nom.  24,  pag.  15. 

(132)  Ilist.  dei  guer^  iel  reg.  dei  Brasile,  tomo  I>  part.  í,  Lib.  I,  pag>  6^ 

(133)  Década  já  citada. 

(134)  Examen  critique  y  iom  /,  pag.  316. 

(135)  Historia  de  las  Índias  ^  foi,  XLIX. 

(136)  Mem.  sobre  o  desc  do  Braz.  Revist.  trim,  do  Inst.  hist,  tomo 
XV,  n,  6,  pag.  138,  e  noU  63,  pag.  179. 

(137)  Pag.  35. 

(138)  Revist.  trim.  do  Inst.  histy  brasil ,  tomo  XV,  pag.  78. 


REVISTA 


DO 


IKSTITIJTO  HISTÓRICO  E  eE06MPHIC0  DO  BRAZIL 


3.*SERIB.  — N.*20.  —  «.'TRIMESTIIE  DE  185S. 


OFFICIO 

De 

GOVERNADOR  DE  CABO  FRIO 

CONSTANTINO  DE  MENELAU 

DATADO  DO    RIO  DE  JANEIRO   A    1    DE  OUTUBRO   DE   1625. 

'  (Merecido  ao  Instituto  Histórico  por  S.  M.  I.) 

Tenho  avisado  a  Vossa  Magestade  do  sucesso  ,  que  com  as  naaos 
•olanJezas  tive ,  e  assy  em  coroo  os  que  DcarSo  vivos  emviey  ao 
governador  gueral  com  os  autos  de  preguntas  que  aqui  lhe  fiz ,  de 
que  ya  tive  aviso  aviào  clieguado  a  salvamento :  as  ditas  nãos  não 
torào  vbtas  mais  nesta  costa  e  devião  seguir  a  viagem ,  que  con- 
íessarSo  biâo  fazer  se  o  guasalhado  que  lho  fiz  o  comseiUío  ,  e  mal 
de  loanda  de  que  vinhão  iscados  =  ha  hum  mez  que  ^pparagem  de 
cabo  frio  vierão  sinco  nãos  de  Umgleses ,  a  genle  das  quoais  desem- 
barcarão em  terra,  e  fízerào  hufi  fortaleza  de  faguina ,  e plantarão 
nela  artilharia  e  comessarSo  a  fazer  e  carreguar  paao  com  grande 
goarda  e  viguia  ,  de  que  vindo-me  aviso ,  com  a  brevidade  que  o 
ccaso  requeria  ,  fui  por  terra  a  dita  paragem  na  quoal  me  ouvera  de 
suceder  hum  bem  asombrado  caso ,  seosUmglezes  não  tiverSo  aviso 
de  minha  hida  por  espias ,  que  não  foi  possivei  desmentir ,  e  assy  se 
embarcarão  com  bem  depresa «  E  Ibe  não  fiz  roór  damno ,  que 
queimar  lhe  o  forte  e  alguãs  casas  de  madeira  que  ya  tiobão  feito , 
e  dous  homens  canários  (por  nação)  aqui  moradores ,  que  com  elles 
znn  53 


40S 

estavão  promJí »  o  lhe  fiz  preguntas  da  gente  e  cantitlâdo  que  Imi  * 
6  autos  que  com  ellea  emviey  ao  governador  gueral ,  avisando-o  do 
que  no  caso  úz ,  na  ditta  viagem  guaslei  mais  do  víntu  dias  cúth  asât 
trabalfio  por  fazer  o  caminho  tâoappresado  como  comvinha.  Corri 
as  malas  do  paao  brasil  e  tichey  muiuo  derrubado  qno  trao  pudêrào 
levar  ^  e  sinal  de  tarem  embarcado  t^ulidada  da  cargua  de  hmn 
navio  t  e  foi  bom  sucesso  eslrovar-lhe  a  cargua  dos  outrxis,  em 
vindo  da  diua  viagem  acliLiy  n*esia  sidade  caria  do  govemtdcw 
geral ,  o  nela  imserta  o  aviso  de  Vossa  MagesLado  ,  per  qua 
me  manda  va  ao  ditto  cabo  frio  fazer  duas  fortalezas ,  o  liuã  povúi- 
çàopara  estrovo  destes  imiguos  carreguarem  ali »  e  supposfo  que  a 
fazenda  de  VoBa  Magestade  esià  ojo  im possibilitada  para  se  fazerem 
guasios  ,  pois  a\  iida  náo  esta  acabado  de  paguar  despezas  do  tempo 
de  dom  fraucisco  de  sousa,  e  novamente  creserem  outras,  assy 
com  a  vimda  de  Salvador  Corrua  de  Saa  ,  como  com  yornada  do 
maraohfio  para  omde  se  embarcáo  farinbas  da  fazenda  de  ^os^a  Ma- 
gestade  quu  em  via  pedir  o  governador  gueral ,  mo  poroy  em  cami- 
nho dentro  de  quínzo  dias,  com  oifjciais  f>ara  fa^er  as  fortalezas ,  e 
povoaçíSO ,  na  melhor  Irasa  e  ordem  que  me  pareser  conivem  a  de- 
íemçlo  doimiguo,  e  estrovo  de  carreguar  paao  ,  tomando-lhe  a 
paragem  da  que  elles  se  queirão  valer,  e  com  a  brevidade  que 
me  eracomenda  o  governador  gueral ,  aynda  que  por  ser  cbeguado 
o  tempo  das  aguoas  fiqua  o  negocio  (para  mim)  irabalhosei^  e  lenho 
ja  avisado  ao  cappitâo  da  eappitania  do  espirito  Santo  ^  me  mande 
imdtos  (quo  la  ha  bastanies)  para  por  no  ditto  cabo  frio  ,  e  do  que 
fizer  e  me  suceder  avisarey  a  Vossa  Mageslade ,  a  para  se  com^a- 
guir  milhor  este  eíTeito  deve  Vc^a  Mageslade  mandar  a  saWader 
correa  abrevie  a  averiguoação  das  minas  (que  esta  facii  saber-so  a 
verdade)  o  que  será  menos  guasto  da  fazenda  de  Vossa  Mages^ 
ttde ,  e  fieará  a  gente  dcs^occupada  para  poder  acudir  ao  cabo  frio  , 
liomde  lenbo  por  aserlado  fazer-se  ímstancia ,  ou  que  o  ditto  Sal- 
vador correa  suspemda  os  guasios  das  minas ,  por  quo  paguamdo  so 
lhe  seis  cen los  mil  reis  de  ordenado  (fora  outros  gastos)  fiquo  ea 
d^emparada   da  Remédio.    Sem   embargue  do  qtie  seguirej    o 


A09 

intento  que  diguo  ,  lhe  acabar  de  guastar  o  que  possuo ,  pezarozo 
de  não  ser  muylo  ,  para  no  cabo  frio  deixar  (feito  huã.  grande 
povoação  9  para  o  que  será  de  grande  efTeilo  dar  a  guerra  ao  gen- 
tio aitacas  por  nâo  vir  a  ffavoreser  ao  imigo.  Vossa  Magestade 
mande  com  brevidade  me  venhào  as  caravelas  de  munisões  porque 
com  ysso  ficarey  animado  a  fazer  hu9  grande  preza  j  porque  sem 
falta  pretemdem  carreguar  ali  todos  os  anos  paao ,  por  ser  bom 
e  aver  canlidade  ,  e  do  que  suceder  hirey  sempre  avisando  A  Vossa 
magestade  cuya  Gatholica  pessoa  nosso  senhor  guarde  como  pode. 
—  Rio  de  yaneiro  primeiro  de  Outubro  mil  seis  centos  vinte  cinco 
annos.  =  Constantino  de  nuneláo» 


ítor 


APONTAMENTO** 


A  VIDA  DO  INDU)  CUIDO  P()KKA:SE 
o  nuNCEz  Qumo  maulièíie, 

{Ofl>n*cÍdo  pelo  sorín  o  Gi."*  Sr.  CoriseUicií^o  Luk  Ucfireim  áo  Cotitt» 


E'  cabido  í[uc  com  o  progresso  dh  popiibçno  d'esla  pfm*m<íi>  e  i 
do  Eíspirito  Sanlô,  ns  indígenas  d "oslc  hdu  da  Brujfil  ríifliiirími  pdr 
ji!r  margens  mipêrmres  do  rio  Dof.a  e  outros  setis  .^!11iienU^,  para  c^ 
S.  Matfieiis,  Slttciíry  o  Geqtríiinhonha  íío  uorio  o*i  oeste  tf  esta  pro* 
vinm.  E'  natural  que  oíj  priíntTros  coíonos  qiiie  se  ^tsMecâfani' 
n*esla  parttí  do  Uriízil  eiiçonirnaseiii  resistência  án  parte  d  aquelfes 
que  se  achavom  de  posse  tio  lerrrtorio:  as  aggressôes  do  lado  do# 
mdios  é  iratufí^l  rjiie  fossem  consideradas  poios  mesmos  como  \nsiãã 
represúli.is  exercidas  contra  os  invasores  diis  lerrâs  íjuc  os  dimen- 
iBVãm.  As  ifiltra  indianas  quo  se  metiam  estabelecidas  em  «m  tjilfe^ 
por  eTen>|ilo,  repeiíem  a  todo  trãnsie  aâ  outras  que  alif  penetram  em 
procura  do  fructos  noiuraissit  de  caca  e  peíxi»*  Enirelanto*  aqueltes 
4|ue  se  eonsideravam  simples  mantenedores  de  seus  dirdto?,  htêm 
julgados  os  sggres?ofes  dos  colonos,  e  como  taes  tratados  cofn  incon- 
eebivel  barbaridade,  A  raça  de  indios  era  eí]uí parada  á  das  fcras. 
Pela  sut  parte  m  tndios  punbam  em  pratica  tudo  quanto  de  maii 
horroroso  possa  ser  sogyeTido  pela  cólera  eMinjubda  á*úín  self^^igeni 
e  de  um  bruto,  qtie  se  julga  privado  de  seus  u nicos  recursos  contra 
a  fome  o  a  morte;  etles  matavam  famílias  inteiras,  os  respectivo§ 
§aám  B  e$«r»'0St  o  a  todos  os  edifícios  e  paiées  de  mú\m  %  oturo» 


411 

manlimentos  lançavam  fogo  devastador.  Havin  n^oi^lis  horríveis  ma- 
tanças um  luxo  de  barbaridade:  as  crianças  eram  arrancadas  dos 
peitos  maternos  para  serem  abertas  pelas  pernas  I !  I  Durante  o  sjs- 
tema  da  guerra  ofTcnsiva  os  indígenas  não  se  submellíam  senào  ao 
temor  y  e  só  pareciam  domesticados  emquanto  durava  sobre  ellesa 
pressão  d'aquetle  sentimento,  que  só  pôde  fazer  escravos,  nunca  fará 
cidadáoS9''ou  homens  civilisados.  Eis  que  porém  em  1824,  ó  feito 
director  geral  do»  indios  d'esta  provincia  o  tenente-coronel  de  linha 
Guido  Thomaz  Marlière,  francez  naturalisado,  já  conhecido  por  seus 
serviços  prestados  á  cathechese  dos  indios,  e  idóas  a  similhante 
respeito  expressadas  em  ofBcios  dirigidos  ao  governo,  na  qualidade  de 
major  encarregado  da  inspecção  das  diversas  divisões  militares;  eis 
que  esla  nomeação  teve  lugar,  dizíamos,  e  a  cathechese  e  civilísação 
dos  indígenas  apresenta  uma  phase  assaz  dislincta  das  anteriores, 
uma  época  bem  marcada  nos  seus  annaes.  Tendo  entrado  havia  pouco 
no  exercício  de  suas  funeções,  Guido  declara  ao  governo  que  elle  tem 
emprehendido  domar  os  indios  preferindo  para  este  Gm  balas  de 
milho  ás  de  chumbo  até  entáo  empregadas.  Até  então  era  indomável 
o  ódio  que  dividia  os  índios  do  norte  e  do  sul  d'esta  provincia:  a 
continua  guerra  que  se  faziam  inquietava  os  colonos,  quando  contra 
estes  não  eram  dirigidos  os  seus  ataques.  A  navegação  do  rio  Doce 
era  então  e  sempre  perigosa  em  consequência  das  hostilidades  dos 
botocudos  antropophagos,  e  tal  era  o  horror  que  incutiam  por  toda 
a  parte  que  as  sesmarias  concedidas  aos  colonos  não  eram  demarcadas 
pelos  respectivos  juizes,  que  não  se  animavam  a  penetrar  em  maltas 
em  que,  não  sem  razão,  julgavam  lerem  de  encontrar  morte  cerla  e 
horrorosa.  N'estds  circumstancias  Guido  dá  começo  a  seu  novo  sj&- 
tema  de  cathechese ;  faz  construir  uma  canoa,  enche-a  de  viveres  e 
ferramentas  de  toda  a  espécie,  dá-lhe  uma  pequena  guarnição  de  sol- 
dados divisionários,  commandados  por  um  sargento  de  nome  António 
Pereira  do  Nascimento  (por  alcunha  Virassaia),  e  pôz  á  disposição 
d'este  um  interprete.  Parte  a  expedição  do  quartel  geral  das  divisões^ 
6  tendo  já  navegado  uma  parte  do  rio  Doce,  avista  á  margem  esquerda 
do  mesmo  rio  grande  numero  de  botocudos  armados  do  suas  terríveis 


&12 

flechas.  Batem-se  píilmas  da  pane  úâ  eitptídíçaQ ,  o  pelo 
iriterprelo  se  diz  nm  mim  qm  se  vem  a  e1l«scom  iniençôes  i 
veis,  ti  para  03  prover  do  sustentn  quo  lhes  ó  iieco^sarío. 

Os  índios  exigem  que  se  deponíiam  as  armas,  em  que  os  expedí- 
cionarios  soguravoni  para  qnú  elles  possam  dm^ar  suas  tlechas:  i 
exig€[icia  è  saliafeita,  e  cumprida  fl  promossa  dos  iiidigenas-  Enlf^ 
loDlQ  sendo  assâz  conhecida  a  itidole  traiçoeira  dos  botocudos*  por 
um  momento  paraceu  haver  da  parle  da  expedií^ilo  receio  dê  hter 
approximar  a  canoa  da  margem  qu<j  os  índios  occupom:  mas  o  ia- 
Irepido  sargenU)  para  ali  hz  rcsoluiamente  embicar  a  eanda.  O 
resultado  d*esla  íentaiiva  foi  o  móis  soiisfactorio  possível:  m  índios 
entram  na  cauòa,  recebem  manlí mentos  e  ferra menias,  0  voltam  i 
suas  maUas^  pelo  qua  diiiam,  convencidos  de  que  mú  se  lhes  queria 
mal  fazer,  ou  que  os  carmitonhas^  conto  chamavam  aos  eolonoft  jà  w 
achavam  mansos.  ITeçtes  índios  fiííaram  alguns  na  canoa  a  eottríls 
do  sargento^  para  st^rem  apresentados  ao  director  geral  dos  índios; 
entre  esles  o  indio  Pokrane,  entáo  na  idade  do  21  ou  35  annod^e 
seu  pai  fjue  capitaneava  a  sobredita  partida  de  indigenas*  Bepoisde 
terem  estado  alguns  dias  uo  quariel  geral;  ondo  foram  recebidos  por 
Guido  com  muitas  demonstrações  de  amizade  e  benevolência,  fol- 
iaram as  ma  tias»  ficando  porém  o  joven  PokranOj  que  desde  hgQ 
íoi  tomado  debaixo  de  especial  protecção  do  mesmo  director*  Guidt» 
fâ-lo  baptisar,  e  pux-lhe  o  aou  nome  em  signal  da  sympaihia  que  con- 
cebera pelo  indio  que  Ibe  parecia  leal  e  intelligente,  E  nSo  se  euganoii 
n^esle  juízo,  porquanto,  como  depois  se  exprimia  o  mesmo  Gníd 
foi  Pokrane  o  seu  braço  direito  na  gerência  de  tudo  quanto  ra^peiD 
á  allicioçáo  dos  indígenas,  Pokrane  comprehendeu  logo  as  fanl 
da  Cívilisaçfio,  e  tanto  pareceu  bem  firmada  esta  sua  convicção  que 
elle  deixou  o  botoque,  ou  a  insígnia  de  sua  antiga  barbaria,  —  80(0^ 
cudos  vem  de  botoque  ou  bodoque^  termo  portuguez;  e  allusivo  » 
uma  taboa  quo  estes  índios  adaptam  ás  orelhas  e  ao  beiço  inferior,  e 
que  lhes  serve  de  ornato,  e  (a  do  beiço)  para  ahi  picarem  miuda- 
mente a  carne  quando  a  estáo  comendo.  Estes  pretendidos  ornatos  ou 
bisarros  utetisiâ  0^  tornam  hediondos»  O  joven  Pokrane,  logo  queciQ 


híi 

depdz,  persuadia  aos  seus  que  deixassem  um  costume  ião  feio  (assim 
se  exprimia),  e  quando  isto  tinha  conscf?uido,  vinha  dizA-lo  mui 
alegremente  a  Guido.  Para  logo  foi  Pokrane  o  interprete  Gel  e  pre- 
dilecto de  Guido,  que  o  despachava  conlinuadamenle  para  as  mattas 
afim  de  persuadir  a  diversas  tribus  ou  aos  de  sua  naçào,  a  que  dei- 
xando a  vida  errante  e  miserável,  viessem  compartir  os  gozos  da 
civilísaçâo.  Tão  perfeitamente  comprehendeu  elle  estas  verdades,  ou 
tfio  persuasivas  eram  as  suas  allocuções  aos  demais  indígenas,  que 
estes  affluiam  a  convite  seu  para  o  quartel  geral  da  directoria,  de 
continuo  e  em  grande  numero.  Com  este  poderoso  auxilio  pôde  Guido 
conseguir  o  arrefecimento  das  odiosidades  que  até  enl9o  existiam 
entre  os  índios  do  norte  e  do  sul  d'esta  provincia.  A  conciliação  dos 
coroados  e  Puris,  e  a  dos  Naknenuks,  c  Krakmuns  {*)  foram  os 
fundamentos  principaes  de  uma  peíiçáo,  em  que  se  diz  que  Guido 
requerera  um  titulo  de  nobresa.  Ao  contrario  dos  outros  Pokrane 
nfio  comroettia  actos  de  deslealdade  e  traição,  nem  se  dava  á  em- 
briaguez. Etie  era  todo  devotado  á  pessoa  de  seu  padrinho  de  bap- 
tismo, o  tenente-coronel  Guido,  a  cujas  ordens  estava  sempre 
prompto  a  obedecer,  e  das  quaes  era  inteilígente  executor:  era  tão 
amigo  de  seu  bemfeitor,  que,  ainda  ao  contrario  dos  seus,  mostrou 
sentir  profundamente  a  retirada  de  Guido  em  1830  da  directoria 
geral  dos  índios,  facto  este  que  declarava  ser  a  causa  de  nio  ter  elle 
de  ser  mais  feliz.  Este  excel lente  cathechista  declarava  que  se  occu- 
pava  com  a  cathechese  de  Índios  havia  1 3  annos,  e  em  seus  ofBcíos 
sempre  reconheceu  dever  em  grande  parte  a  Pokrane  o  feliz  successo 
de  suas  emprezas.  O  respeitável  Guido  Pokrane,  eis  como  o  tratava 
moitas  vezes.  Pokrane,  como  todos  os  de  sua  nação,  foi  sempre 
poljgamo:  amava  suas  mulheres  e  filhos,  a  quem  alimentava,  vestia 
e  alojava  a  nosso  modo ,  e  quanto  lh'o  permittiam  sua  condição  e 
escassos  recursos.  % 

Era  soldado  da  2.*  companhia  de  montanhas  do  rio  Doce:  pouco 


(*)  Pejaurum  ou  Krakmuns  são  os  botocudos  que  habitam  a  margem 
meridional  do  rio  Doce.  Os  daaeptentrional  chamam-se  Naknenuka. 


hià 

antes  i!a  morrer,  ú  «{ug  xm^}  lugar  em  Í64«t  m  ídtiiJe  provável  d«  (I 
annos  cm  conseqiiencia  do  um  pleuríz.  como  tlizLHii  ixm,  ou  ili?  cuve* 
neoamento  como  preiuridem  oulim,  no  sirmnl  da  Animno  íím 
ftbatiOt  v^io  a  esta  cidaife  quai%ar-sâ  âo  lanenle  general  Andréa  d** 
qiie  n^  recebia  seus  soldos  Ih^tvia  inaii;  de  3  âune»*  Erilâo  deçlaroti 
elfe  kr  vindo  da  côrie  do  Rio,  onde  se  Uiiha  apresentado  d  S.  M.  o 
Imperador,  pare4'endo  a  ulgueriu  couiíjuem  a  tal  re^peílo  convemn* 
ter  elle  accrescciítado  r|ue  tornara  â  S.  M.  por  padrinho  da  um  f^u 
filho ,  e  que  por  olle  fora  brinda jo  com  uma  boa  espingardai  fiil- 
minatiíe, 

Fokrane  fazia  baptisar  aeirs  filhos,  e  ouvia  missa  eom  atteoçio 
própria  de  quem  mm  m  menos  compreliendia  a  sígmíícm^àn  éu 
ceremonias  que  preseuciava*  Fazía-se  entender  bem  na  Hnguapcr- 
luguo^a,  u)as  não  consta  que  livasse  recebido  a  insirueçio  primarb. 
Seu  trato  era  agradável ,  bem  que  ulgum  tanto  pírave :  desdeitliavá  j 
intimidade  com  |KrssQas  da  classe  ínfima ,  procurando  com  tuareadi 
preferencia  o  irato  das  pessoas  gradas  de  qualquer  parte  em  quêsê 
acliasâe.  Era  fiel  á  sua  palavra  e  leal  em  seus  contractos.  Seu  andar 
ero  rápido  e  animado ,  o  que  condizia  com  sua  conhecida  jntrapiditt* 
l^kratie  era  alio,  peitos  largos ^  bem  configurado |  cab^llo  iii^ro 
corrido  e  luzidio;  corado  e  menos  trigueiro  do  que  os  botocodi 
margem  meridional  do  rio  Doce,  era  visto  calçado  muitas  vi 
que  igualmente  se  observava  em  alguma  de  suas  mulheres.  Imolei 
dirigia  uma  aidéa  de  índios,  a  do  Mnnliu-assú  no  Cniethé;  ahi  tíjilii 
elle  casa,  criava  porcos  e  galliidias,  e  plantava  mil  lio»  mandioca  t 
outros  artigos  altiiienticios.  IVelende^se  que  aléni  d'i»ma  ertgenhoci 
de  ralar  mandioca,  Ira  Uiva  de  estabelecer,   ou  ja  linlisi  esiaboJecidii 
tima  outra  para  moagem  da  canna  e  fabrico  de  rapaduras.  O  qttié 
mais,  e  o  que  mostra  ter  este  Índio  nascido  para  mandar  o  dirigir, 
é  que  eilo  exercia  toda  ;j  inHuencia  possiiâil  sobre  os  Índios  úê  sua 
aldda ;  conipellio-es  com  castigos  cETtca/^es  eopportunas  a  darem-sè  ao 
trabalho,  o  era  obe<Jecido:  qtrando  assim  procedia  dizia  aos  Bra* 
ziloiroa  que  os  ÍJidios  sao  mui  preguiçosos.    Não  obsUinto  signas 
liabitos  religiosos  eontraludos  por  Pokraue,  a  incotierencia  que  [lot 


udot^H 


Al 


ál5 

este  lado  se  ol)servava  em  sua  conductamostrava  que  nào  fora  a  religião 
o  primeiro  sentimento  n*elle  inoculado,  pelo  menos  de  preferencia  a 
qualquer  outro.  Nenhuma  de  suas  mulheres  elle  tinha  recehido  á 
face  da  igreja,  e  no  tempo  de  Guido  elle  dirigia  uma  expedição  contra 
es  Paris,  nasupposiç^o  de  que  estes  feiticeiros^  como  eram  consi- 
derados pelos  hotocudos ,  tinfaam-lhe  occasionado  a  morte  de  pa- 
rentes seus.  £  isto  tanto  mais  provável  quanto  é  certo  que  o  ca- 
Ihechista  de  que  temos  faltado  t&o  vantajosamente  reprovava  nos 
jesuítas  o  começarem  a  catbechese  pelo  periodo  religioso  (aliás  agora 
preferido  por  muitos  ao  civil).  Quem  quizesse  escrever  a  biographia 
do  Índio  Pokrane  deveria  talvez  ter  nào  só  toda  a  correspondência  da 
directoria  geral  dos  Índios  no  tempo  do  tenente  coronel  Guido,  como 
os  sens  apontamentos  ou  diário  sobre  a  cathechese  que  consta  ter  elle 
deixado,  e  ncharem-se  na  fazenda  de  Guido  Wal  do  termo  do  Presidio 
em  poder  da  sua  viuva.  De  todos  os  indígenas  domesticados  n'esta 
provincia,  é  certamente  Pokrane  o  que  mais  perseverante  mostrou-se 
nos  hábitos  do  homem  civilisado.  Falla-se  de  um  indio  de  nome 
Paulo  Carahjba»  que,  depois  de  ter  recebido  a  inslrucçào  primaria, 
vívido  não  pouco  tempo  em  companhia  de  um  vigário  seu  bemfeitor, 
em  lugares  civilisados  ,  e  até  feito  com  solemnidade  uma  allocução 
de  cathechista  aos  setis,  consta  que  fora  director  de  partidas  de  indios 
com  o  firo  de  matar  e  roubar.  Até  ha  quem  aiUrme  ter  existido  um 
outro  que  despio  as  vestes  sacerdotaes  e  tendo  cingido  o  seu  cocar, 
empunhado  seu  areo,  e  flechas,  se  retrahira  às  suas  florestas  nataes. 
Bem  perto  d'esta  cidade,  em  casa  de  Mr.  A.  Buselin,  existe  um 
exemplo  vivo  da  inconstância  de  que  acabamos  de  fallar.  £*  um  indio 
que  não  mostra  boje  a  delicada  educação  que  lhe  foi  dada.  Além  de 
ter  recebido  a  ínstrucção  primaria,  foi  instruído  na  língua  franceza, 
que  fallava  sofTrivelmente.   Esteve  em  Paris,  e  pelo  que  n'elle  se 
observava,  parecia  ter-se  firmado  no  gosto  pela  vida  civilisada :  nada 
o  fazia  suspeito  de  saudades  da  vida  selvagem,  quando  porém  menos 
se  esperava,  o  indio  adoece  de  nostalgia,  e  declara  terminantemente 
que  queria  voltar  ao  Brazit.  Fez-se-lhe  a  vontade,  desde  porém  que 
chegou  á  casa,  outro  homem  n'elle  appareceu :  rehouve  quasi  todos 

xvin  5á 


410 

os  tiabUosdt  selvaguiih  Não  se  deve  passar  em  âílencío  o  indiD  Om- 
úmm^  de  quam  dizia  o  lenenie  coronel  Guklo,  que  pelas  nuneifU 
mostrava  eer  príncipe  ou  cacique  entre  os  s«ua,  Pareço  ler-ae  laml* 
mânlecloin^ltcado*  Avulta  purém  sobre  lodos,  não  sõ  p6la  ísciUdidt 
com  que  o  dotneslícou  o  sobredilo  Guitio»  coniír  pelos  esforçcia  qu« 
fez  para  o  allíciamenlo  dos  seus  e  cbãmameoto  á  vida  riviitsada  o 
agresLo  índio  GoiJo  Pokrana  que  se  tivesse  tido  mais  acciírada  edu* 
caçàoi  lalvm  liv^isa  ido  muito  mais  longa  do  que  íok 
Ouro  Prelo,  em  13  de  StHanbro  de  1865*  — Confurme,  Jth%é  FrU- 


ADDITAMENTO 

km  AFOHTAd£»TOS  PARA  A  BTOGlUPillA  00  llifDIO  GDtOO  KIEHAAK. 

O  coronel  Tbomaz  Cuido  Marti^ro^  como  commandatihs  gertl 
das  divisões,  mandou  uma  canoa  a  Linhares.  Comniandava  a  eã* 
nòa  o  cabo  Luciano  Vieira,  que  encontrou  no  purio  de  Souza  ai 
Indigena  Pokrane  e  a  sua  tribu.  Os  soldados  dâ  provincia  do  E^ 
rito  Santo»  que  ahi  se  ai^havam,  nHo  tiveram  animo  da  Iba  TalUr} 
porém  o  cabo  Luciano  e  seu  irm^o  Francisco  Vieira  ammQran]*se  o 
foram  ao  sen  encontro;  a  offerecendo-the  facas e  mllboi  gue  mlbd- 
ram  de  uma  rora,  Pokrane  acceitou,  e^  chegando  á  íalla,  conversa- 
ram amigavelmente  j  e  com  die  contraiou  o  cabo  Vieira  de  se  en- 
contrarem no  dia  seguinte,  e  de  o  levar  coma  sua  tribu  para  o  ijuarleU 
Pokrane  cumpríoa  sua  promessa ,  Vjeira  o  encontrou  com  a  sua  Lribu 
na  roça,  e  o  lavou  para  o  quartel^  e  ahi  lhe  dou  o  que  podia,  o  Ibe 
pediu  que  O  esperasse,  até  que  elle  voltasse  de  Linhares.  Mas,  ape» 
nas  86  retirou  Vieira  com  os  seus  soldados,  os  Capíiavas,  não  ^  não 
quizeram  receber  a  Pokrane  e  a  sua  tribu,  como  ato,  por  amodroa- 
tadosp  lhes  fizeram  fogo  no  dia  seguinte,  pelo  que  offendidos  os  In- 
dioã  mataram  os  ires  que  lhes  fizeram  fogo ;  e  dando-se  com  Lslo  por 
vingados,  esporaram  pelos  Vieiras,  Quando  estes  chegaram,  enteei- 
deram-stí  com  Pokrane,  e  o  accommodaram  e  a  sua  iribu.  Os  Viei- 
ras deram  parto  de  Ludo  ao  capitão  LÍ2ardo  José  da  Fonseca^  a  «la 
mandou  am  prompto  duas  canoas  com  mantimentos,  a  em  seu  r&* 


417 

gresso  trouxeram  ja  Pokrane  e  a  todos  da  sua  tribu  para  o  quartel 
geral,  que  era  então  em  Santa  Anna  do  AiGó.  Pokrane  era  corpu- 
lento, tinha  boa  physionomía ,  era  agradável  no  seu  trato ,  doeil ,  ge- 
neroso, valente  nas  suas  armas,  e  entre  os  seus  bastante  intelligente, 
e  por  todos  os  Indígenas  era  respeitado.  Quando  esteve  no  quartel 
da  4.*  divisão  no  Sacramento  Grande  observou  attentamente  como 
se  tratava  da  cultura,  e  quando  voltou  fez  a  sua  aldôa  nas  mar- 
gens do  Rio  do  Manhuassú,  fez  grandes  plantações  de  milho,  feijão, 
arroe,  canas, «"etc. ,  fez  uma  engenhoca,  criava  porcos  e  gallinhas, 
vivia  na  abundância,  e  tinha  mais  de  trezentos  homens  debaixo  do 
seu  commando.  Amava  a  honra  das  familias,  aborrecia  os  crimino- 
sos, e  08  castigava  exemplarmente.  Ia  com  os  seus  soldados  ás  al- 
dáas  vizinhas  e  ahi  castigava  os  criminosos  e  turbulentos,  e  era 
sempre  obedecido.  Gostava  de  viajar,  instruir-se  e  relacionar-se  com 
o  governo.  Foi  á  corte  e  apresentou -se  ao  governo  imperial,  e 
por  elle  foi  bem  acolhido.  Pokrane  era  generoso,  amava  muito  aos 
seus,  repartia  com  elles  tudo  quanto  adquirira,  e  não  deixava  de 
punir  aquelles  que  os  oíTendiam.  Guerreou  com  os  Pucis  e  índios  do 
norte,  e  depois  que  firmou  a  paz  com  elles,  tomou-os  debaixQ  de  sua 
protecção,  e  os  socoorría  em  suas  precisões.  Quando  em  Cuiethé 
houve  falta  de  viveres,  elle  foi  com  a  sua  gente  carregado  de  arroz 
pilado  e  repartiu  pelas  casas,  conforme  o  numero  das  pessoas  que 
as  iiabitavaro,  e  levou  para  sua  aidéa  aquelles  que  quizeram  acom- 
panha-lo, o  os  tratou  como  podia.  Em  princípios  de  1843  Pokrane 
de  volta  de  Ouro  Preto,  onde  tinha  ido  entender-se  com  o  governo 
acerca  do  soldo  que  se  lhe  devia ,  falleceu  em  a  freguezia  de  Anto* 
nio  Dias  abaixo,  e  ahi  foi  sepultado.  Pokrane  deixou  dous  filhos , 
Guido  Pokrane  e  Miguel  Ribas  Pokrane.  Mavan  Pantinan,  irroflo  de 
Pokrane,  lhe  succedeu  no  commando.  Jucanac,  sobrinho  de  Po-* 
krane  succedeu  a  Mavan  Pantinan.  António  que  é  o  actual  com- 
roandante  foi  que  succedeu  a  Jucanac.  O  primeiro  aldeamento  foi 
estabelecido  no  Bananal  Grande,  Cuiethé  acima.  O  actual  aldea- 
mento tem  sua  sede  no  Ribeirão  do  Queiroga  Hontiná. 
Conforme. — JoU  Feliciano  França. 


M9 


Instituto  Qistocko  t  ®cogra|>[)úo  iio  6ra}U. 


ACTAS  DAS  SESSÕES  DE  ISSfi.    i*» 
!.•  SESSÃO  EM  4  DE  MAIO  DE  1855. 

Boneada  com  a  Aiif;osta  P^eteo^fA  de  8é  H,  o  liiipera.f|i>r* 
FREfllBlDA  j*EI,0  EXIt**  SE*    T19CQNIIEDE  SÁPtJCABT. 

A's  horas  do  coslume,  presentes  o$  Srs,  viscontfe  deS^píicíilij,  1^* 
lõâquim  Manoel  de  MaceJo,  Ferreira  Lagoa,  cónego  Pinheiro,  Dn 
Emílio  Maia,  Porta  Alôgre,  Dr,  Souza  Fontes,  Copaoema,  Rio,  I. 
Norberto,  P&fdiglíí)  Malheiros  e  Vmih  Meneies,  abre-se  íi  sessiou 

Lida  e  approTada  â  neta  da  ontcrior^  o  Sr.  í  r  secretario  ctÀ  eocili 
do  seguinte: 

IXPEDIEISTE. 

Avisos  do  Sr*  iinuislro  do  Iinp«rio,  remettendo  as  copia*  d«  âunf^ 
memorias  feitas  pe(o  brigadeiro  José  Joaquim  Machado  d^OlivaiTi; 
uma  sobre  os  timites  da  província  deSarita  Caibarlfta  o  a  do  ParAiii, 
e  outra  sobre  a  emigração  dos  índios  Cayaas.^A'  commissSo  d» 
redflc^o  da  Revista* 

Outro,  do  meíEmo  minisiroj  enviando  ireíe  estempíares  dos  reh- 
torios  de  diflereotes  presidentes  de  províncias. 

Outro,  mandando  que  o  Insiituto  remetia  a4éo  dia  i,""  de  Feve- 
reiro do  presente  anno  uma  exposição  dos  seus  trabalhos  no  áúentsó 
ia  anno  findo,  eic. 

Outro,  communicando  ler  recebido  a  relaçlo  dos  membros  qm 
compõem  a  mesa  administrativa  e  eoramtssOes  do  Instituto. 

(')  As  ultimas  artaa  da^  íc*sôe5  ordinapias  de  7  e  22  de  l>esembro  de  Í6S&  * 
iine  Dlo  poderauí  «r  piiMicadas  no  N.*  16  do  tomo  l7.o  desta  RcvUta^  vÍo 
em  i«fuida  ás  deste  anuo. 


àí9 

Outro,  enviando  as  copias  do  roleiro  da  viagem  do  rio  Brilhante 
da  província  de  Matto  Grosso  ao  porlo  de  Tibagy,  por  António  Mon- 
teiro de  Mendonça.  —  A'  commissso  da  redacção  da  Revista. 

Outro,  transmittindo  o  relatório  do  presidente  da  província  do 
Paraná,  acompanhado  dos  competentes  documentos,  apresentado  á 
assembléa  provincial. 

Do  Sr.  ministro  da  guerra,  participando  ficar  expedida,  ao 
archivo  militar,  a  necessária  ordem  para  tirar  a  copia  da  carta  geo- 
grapbica  do  engenheiro  António  Peres  da  Silva  Pontes,  para  ser 
reroettida  ao  Instituto  logo  que  esteja  prompta :  ficou-se  inteirado. 

Outro,  do  mesmo  senhor,  communicando  haver  expeJido  as 
ordens  necessárias  acerca  dos  despojos  que  em  differentes  épocas 
foram  tomados  aos  inimigos ,  e  bem  como  sobre  as  bandeiras  que 
serviram  na  guerra  da  Independência.  —  Inteirado. 

Foram  recebidos  os  seguintes  officios : 

Dos  Srs.  Zacarias  do  Góes  e  Vasconcellos,  presidente  da  província 
do  Paraná,  e  Herculano  Ferreira  Penna  da  do  Alto  Amazonas,  en- 
viando um  exemplar  de  seus  relatórios  apresentados  á  assembléa 
provincial. 

Outro,  do  Sr.  Francisco  Diogo  Pereira  de  Vasconcellos,  ofTere- 
cendo  o  mappa  demonstrativo  do  movimento  da  população  da  pro- 
víncia de  Minas,  desde  1837  a  1847,  organisado  pelo  cidadão  Luiz 
Maria  da  Silva  Pinto.  —  Recebido  com  agrado. 

Do  Sr.  brigadeiro  Moraes  Ancora ,  director  do  archivo  militar,' 
enviando  um  exemplar  da  —  Pauta  hydographica  da  bahia  do  Rio 
de  Janeiro.  — Jlecebido  também  cora  agrado. 

Do  sócio  correspondente  Ladisláu  dos  Santos  Titara,  oíferendo  um 
exemplar  da  sua  obra  — Memorias  do  grande  exercito  aliiado  liber- 
tador do  sul  d'America.  —  Recebido  igualmente  com  agrado. 

Da  presidência  das  Alagoas ,  pondo  em  duvida  as  informações  a 
respeito  de  terremotos  ahi  havidos,  e  remettendo  uma  pedra  das  que 
o  povo  ahi  tem  como  cabidas  do  céo  por  occasiáo  de  trovoadas. 

Do  Sr.  Emiliano  Faustino  Lins,  relator  da  commissão  de  fundos^ 
enviando  o  parecer  da  mesma  acerca  das  contas  do  Sr.  tbesoureira^ 


rdalivas  ao  antio  de  tSSI,  bem  como  o  orçamento  pam  o  etsrrentc 

exôfciciO*  —  Fica  sobro  a  mesa* 

Do  sócio  o  Sr.  Perdífçio  Malheiros,  cíímmiiiiicando  aceitar  o  eii^ 
eargo  de  iriembro  dâ  com  missão  do  mvisâo  de  manuscripim. 

Outro,  do  Sr.  Franco  do  Paulicéa,  oífofecendo  a  sua  prodiíffiii 
poelloi  —  SaudaÇilo  ao  Instihilo  Ilísiorico,  —  Rae^bida  mm  agrado. 

Do  Sr.  Henrique  Marques  d'01iveira  Lisboa,  declarando  deixar 
da  ser  sócio  corra*!  pn  d  enle^  — Fifá-^e  i  fiteira  d  o 

Uma  earla  do  Sr.  consellieiro  Luiz  António  Barbosa,  pte$iáêní0Íg 
prOTincio  deBioile  Janeiro,  offorecendo  um  exemplar  àn  planiada 
isidade  de  Nícib^roy,  cuidadora  ment^^  levantada  no  anno  em  quaiS* 
MM.  visitaram  a  mesma  cid^idu.  —  Recebido  com  agrado^ 

Foram  igualmente  recebidas  com  agrado  as  seguintes  ôffi&rlii  do 
Sr.  Joíó  Ribeiro  da  Silvo : —Viagem  em  Porlugnl  tios  annos  dfr 
17^9  a  1790,  traduzida  do  infílez,  3  vol.  Viagem  à  parte  oríèiibil  dj 
Terra  Firme,  3  voÍ,  Periódico  Aurora  fluniinenso  p  10  votiitnes* 
Eclio  daeamara  dos  deputados  de  1832,  i  votumOp 

OfiDlM  DO  t»]\. 

O  Sr.  J.  Norbortõ  manda  á  mesa  aá  três  jegniQtcs  propottaSf 
quaesas  duas  piimeirai  são  Jiscutidafl  e approvddai,  e  a  3.'  reii 
á  commissãodo  estattrios* 

1/  Proponho  qne  a  mesa  do  Instituto  fique  autoríi^da  part 
mandar  vir  do  Moiuevidéo  n  obra  ali  publicada  em  1847,  pelo  Sf. 
J.  Marmol  sob  o  titulo  de  ^'  Eiíamen  critim  de  la  juventude  pM>- 
gressista  dei  Rio  de  Janeiro  ^  a  qual  nào  £o  encontra  n'm\a  oórta 

2/  Proponbo  (fue  so  obtenha  do  jíovcrno  de  S,  M.  L^  par  tiUcr- 
medío  do  £xm/  Sr.  ministro  do  império,  a  copia  e^ciãtente  ni  bíbliiK 
tbêca  publica  doesta  corte  dni  cartas  jeâuitícas  sobre  o  Erazil ,  %vm 
possuo  a  mesma  bibliolbeca,  conferindo*so  essa  copia  comaiiuetla  de 
que  foi  trasladada  mim  de  sor  retneltida  para  aqui.  Outrosim^  tioi^âo 
de  se  obter  a  dita  copia«  que  seja  ell»  remeltida  a  illtislrocomiiiissi^ 
do  revísSo  de  manuscriptes  para  o:tamiua-ta^  confroma-lâ  com  m 


y 


A21 

carias  já  publicadas  em  nossa  Revista,  nos  Annaes  fluminenses  de 
Bahhazar  da  Silva  Lisboa,  e  junlar-lhe  as  que  faltarem,  como  as  de . 
Fernam  Cardim,  recentemente  dadas  á  luz  em  Lisboa,  traduzindo  as 
que  andam  em  italiano,  latím^  etc,  afím  de  tornar  a  collecção  a 
mais  completa  possivel  e  poder  ser  publicada  em  um  só  volume. 

3.*  Proponho  que  além  das  dez  commissões,  de  que  trata  o  artigo 
11  dos  nossos  estatutos,  sejam  creadas  mais  duas  de  litteratura 
brazileira. 

As  commissões  de  litteratura  brazileira  serão  eleitas  na  forma  e 
pelo  mesmo  tempo  que  se  elegerem  as  já  creadas. 

Al/  procurará  reunir  todos  ospromenores  e  subsidies  necessários 
para  a  historia  litteraria  do  Brazil,  e  emittirá  o  seu  parecer  acerca 
das  obras  a  respeito  que  vierem  ao  Instituto. 

A  â.%  subsidiaria  da  primeira,  irá  colligindo  methodicamente  as 
obras  inéditas  ou  já  impressas  de  cada  um  dos  autores  brazileiros  já 
fallecidos ,  para  serem  reimpressas  em  collecção,  quando  convier  e 
puder  ser,  e  buscará  archivar  as  obras  dos  autores  existentes,  emit- 
tindo  também  o  seu  juizo  sobre  ellas  todas  as  vezes  que  o  Instituto 
determinar. 

Estas  commissões,  bem  coroo  as  existentes,  darão  conta  de  setis 
trabalhos  por  intermédio  de  seus  relatórios,  ao  1/  secretario  do 
Instituto,  quinze  dias  antes  da  sessão  magna. 


â.-  SESSÃO  EM  18  DE  MAIO  DE  1855. 

Honrada  oom  a  Angtuta  presença  de  8.  H.  I. 
PRESIDIDA  PELO  EXBL*  SR.   VISCONDE  OB   SÀPUCAHT. 

A'8  cinco  horas  da  tarde,  achando-se  presentes  os  Srs.  visconde  de 
Sapacahy,  Drs.  Capanema,  Lagos,  Carlos  Honório  de  Figueiredo, 
J.  Norberto  e  cónego  Pinheiro,  abre-se  a  sessáo. 

Lida  e  approvada  a  acta  d'antecedente  o  Sr.  2.**  secretario  no  im- 
pedimeoto  do  1.*  dá  conta  do  seguinte 


A22 


OfTicios : 

1/  Do  Sr,  Eloj  Pessoa,  enviando  umc5:cmp!ai 
MiirUimo^  e  pedindo  uma  colltíceao  tias  Ee vistas  do  histilulOt  para  • 
bibliolheca  de  uiaríDha.  —  OrdeDa-ííG  (]m  se  satisfaça  o  podido  agni- 
(lefi€ndo-se  a  lífferLu 

2,"  Do  Sr.  Dr,  Joaquim  Caetano  ila  Silva,  mandando  alguns  «sela* 
rectmenlos  sabre  a  naturalidade  do  podre  Aiilúiiio  Vieira-  — Maiidd-ie 
archivof. 

3,*  Do  Sr.  Moraes  Ancora  remellendo  iim  exemplar  da  carta  da 
provinda  do  Itio  úa  Janeiro,  em  f  840  i  a  planta  da  direcção  do  mné 
de  Campos  a  Mâcahé :  e  a  planta  da  entrada  da  bahiã^  iondada  «ia 
18S4t  por  Mr,  Garníer  *  todas  liiliograpliadas  no  archivo  militar  d'€Sta 
cÔrle*  —  Recebidas  com  agrado. 

4»°  Do  Sn  Amónio  Maria  dos  Santos  Brilfianle ,  enviando  seis 
exemplares  dos  retratos  dosdous  collaboradores  do  jornal  lisboneose 

o  Esf  tífftpfo. 

fí."  Do  Sr,  Franco  dePaulIcéa,  qneÍxando*se  de  nào  ter  sido  aíodi 
accusada  a  rocepçáo  d  oíTertas  soas»  principlmenla  a  d^uma  ode  que 
ultimp mente  enderessãra  ao  Instituto.  —  Besolveu-se  que  se  Jhe  tus* 
ponderia  opportunamente, 

S.  M.  o  Imperador  dignou-sc  d  offerocer  os  seguintes  mam»s- 
mptos  para  serem  copiado». 

1,"  Foral  da  capiíania  da  Bahia,  e cidade  de  S.  Salvador,  Evoti, 
â6  de  Agosto  de  1534. 

3."  Regimento  dado  a  Aoionio  Cardoso  de  Barros,  cavallôifo 
fidalgo  da  casa  d  oUrei ,  como  procurador-rnór  da  faEénda^  que  pri* 
nneiro  foi  ao  Braíiil,  Almoirim,  17  do  Dezembro  de  15Í8. 

Acompanha  aos  dilos  maouseriptos  uma  carta  do  Sr.  Dr.  CaetaDo 
Lopes  de  Moura,  que  os  reraeltéra  de  Paris,  o  que  ficou  sobre  a  mesa 
afim  do^er  tomada  tia  devida  eonsiderai^So  depois  de  copiada. 

Foram  estes  donativos  recebidos  com  muito  especial  ngrado. 

O  Sr.  Lagos  apresenta  ura  exemplar  da  memoria  do  abbade  Bãti 


af2s 

ifititiilada  «  Lés  Samaritáins  de  Naplouse »  remcUida  peto  Sr.  Per* 
dinand  Denis.— Manda-sc  agradecer. 


ORDEM  DO  DIl. 


O  Sr.  Lagos  faz  a  leitura  d'uma  parte  da  stía  analyse  á  viagem  do 
conde  de  Casteínau  pelo  interior  do  Brazil. 

Lcvanta-se  a  sessão  ás  ^  horas,  sendo  marcado  paro  ordem  do  dia 
seguinte:  pareceres  adiados:  a  continuação  da  leitura  interrompida 
peia  hora. 


3.-  SESSÃO  EM  1.-  DE  JUNHO  1)E  1855. 

Honrada  «iom  a  Aoguf  la  presença  de  S.  M,  I. 
PRESIDIDA  PELO  BXM."  SR.  YISCONDE  DE  SEPETIBAw 

Â's  cinto  horas  da  tarde,  achando-so  presentes  os  Srs.  visconde 
de  Sepetiba,  conselheiro  Baptista  d'Oliveira,  Drs.  Capanema,  Emílio 
Maia,  Honório  de  Figueiredo,  Paula  Menezes,  Porto-Alegre,  Sebas^ 
tiáo  Soares,  Gomes  dos  Santos,  Pádua  Fleury,  Pereira  Coruja,  Dn 
Lagos  e  cónego  Pinheiro,  abre-se  a  sessão. 

Lida  a  acta  da  antecedente  é  approvada. 

O  Sr^  S.**  secretario,  n'ausencia  do  1.%  dá  conta  do 

EXPEDIENTE^ 

Oflicios : 

1.*  Do  Sr.  visconde  de  Sapucahy,  participando  que  por  incommo- 
dado  não  pôde  cofnporecer  á  presente  sessão.  —  Fica  o  Instituto 
inteirado. 

2."  Do  Sr.  Dr.  Eduardo  Ferreira  França,  remettendo  um  exemplar 
da  sua  obra  a  Investigações  Psycoiogicas.  d 

3.*  Do  Sr.  Pedro  de  Angelis,  oiTerecendo  om  exemplar  da  sua 
memoria  ultimamente  publicada  sobre  a  nav^ação  do  Amazonas. 

4.*  Do  Ex."*  Srw  miniatro  do  império  enviando  um  exemplar  do 

xvui  55 


relatório  com  qye  o  presí  Jentô  Je  S*  Paul«  abriu  8 

da  respeciivo  assembiêa  provincial 
TotliseslasolTertas  são  recebidas  com  agrado. 


O  Sr.  Dr.  Lagos  continua  a  leUura  da  suannaKse  i  nngçm  do 
eo0tjD  de  Casiclnau  peto  interior  do  Braj^il  interrompida  pela  liura, 
lia  se^Fão  anterior,  a  qual  Uca  ainda  ndiada, 

Levania-se  a  íe^o  ás  6  horas  e  meia,  marcando-se  para  a  ordeni 
do  dia  da  ^guinie:  1.*  Pareceres»  propostas  adiadas  «  contifiiisçía 
da  bitura  do  trabalho  do  Sr.  Dr*  Lagos, 


4.'  SES;^ÃO  EM  15  »E  JUNHO  M  1855, 

Honrada  crotn  a  Aufuita  Prei«ii^a  de   Soa   ■ag«'ft*il«   Imperial, 

FACSID10JI   riLO    EX-**    SR.    TISCOÍÍ0E    »E    Í4FTC4U¥. 

Ás  horas  do  cosiume»  presentes  os  Bn.  consefheiro  Candtila  Bap- 
tista, Dr,  Joaíiuim  ^fflnoel  de  Macedo,  cónego  Pinheiro»  J,  Norberto, 
Rio,  Luiz  António  de  Castro  » II  de  FigueiredOí  Porto  Ategre,  F, 
J,  Borges,  Ferreira  Lagos,  Drs.  Lapa,  Capanemd  e  Paula  Sfencses^ 
abre-se  a  sessáo. 

Lida  6  approvada  a  acta  da  anterior,  o  Sr*  t  /  secretario  dá  conu 
do  seguinte 

EXPEDIENTE. 

Offt€Íõ$ : — l.*  do  ex-**  «r*  ministro  do  imperío.conimuntcmda  ler 
eipêdido  as  necessárias  ordeni  h  Bibliotheca  publica  para  smtm  m- 
metttdas  ao  Instituto  as  copias  das  cartas  dos  Jesuítas  solíiciladas  fàh 
mesmo  Instituto, —  Fica-se  inteirado, 

2*"  Do  vice-presidente  da  provincia  do  AmaEonisv  renmllend*  ai 
nr  114  o  115  do  periódico  a  EstnUa  áú  Afm-.&nas. — iiecebido 
mm  agrido. 

%,*  Booffictal^imior  da  secretaria  dVstftdo  dos  negociou  estfin* 


I 


425 

gaím»  ^vkiado  dous  ex^npUras  io  folheto  —  ▲  Desoripsio  d» 
fioUnck^Bwil,  de  Piíimbu  a  S.  Benio»  etc.,  — pelo  Sr.  Manoel 
António  Vital  d'Oliveíra. 

4,«  Po  Sr.  ooaaelhoiro  Joaé  Ildefonao  de  Souza  Ramos,  enviando 
o  seu  parecer  sobre  o  manuscripio,  que  li)e  fôra  comroeUido,  tnti- 
lalado ;  -^  CoosideraçOes  sobre  o  estade  de  Portugal  e  do  Brazil 
desde  a  sabida  d'£l-Reiy  de  Lisboa  em  tô07.— O  parecer  fica  sobre 
A  meza  na  fornia  do  estylo. 

Findo  o  expediente,  são  lidas  as  seguintes  propostas,  dos  Srs.  I. 
Norberto  e  cónego  Pinheiro ; 

«  1/  Propomos:^!.*  Qpe  sob  O  tiluLo  de  Bibliotheca  histórica 
brazileira,  publicações  do  Instituto  histórico  geographico  e  ethno- 
graphicodo  Brazil,  auxiliadas  pelo  poder  Legislativo  e  altamente  pro- 
tegidas por  S.  M.  o  Imperador  o  Sr.  O.  Pedro  2.*",  sem  numeração 
de  volumes,  mas  com  a  designação  das  obras,  sejam  publicadas  as 
qua  o  Instituto  lem  que  dar  á  lua  ou  reimprimir  avulsamente,  co- 
meçando pela  Clironica  de  Jaboatão ,  ficando  a  Revista  trimensal , 
que  será  sempre  de  50  folhas  ou  400  paginas  de  impressão,  para  os 
trabalhos  oIBciaes  do  Intitutoe  obras  menos  extensas  de  seus  sócios. 

2.*  Que  a  BiUíotlieca  americana ,  tão  benignamente  doada  po» 
S.  H.  Imperial ,  se)a  conservada  na  sala  que  o  augusto  protector  do 
Instituto  se  dignou  de  mandar  preparar  para  esse  fim,  com  o  mesmo 
titulo  de  Bibliolheea  Americana,  ficando  a  Bibliotheca  brazileira  na 
sala  dassessòesdo  Instituto. 

«  3  *  Que  sft  organise,  afim  de  ser  impresso  quanto  antes,  os  ca- 
tálogos das  duas  bibltolhecas  do  Instituto.  »  ---Entrando  em  dis- 
cussão, são  approvadas  a  2.*  e  3.'  parte,  ficando  adiada  a  primeira. 

«  2.'  Propomos: — 1.°  Que  sejam  creados,  para  melhor  anda- 
mento de  nossos  trabalhos,  os  cargos  de  bibliothecario  e  de  redactor 
que  até  aqui  existiam  annexos  ap  do  1.*  secretario  e  á  eommissão 
4'£9Utiilâs« 

^  2.*  Que  se  pn^eçcbam  as  vagaa  de  sócios  effectivos  e  se  fixe  o 
nuioero  dos  sócios  correspondenles  nas  províncias,  creando-se  direc- 
torias  nas  capitães  daa  fliemai  para  execução  das  ordens  e  melhor 


jrreerlo  (lu  cúrrcspõitdcncia  do  Instituto;  mmesitf  ffistribin^  c 
tenda  de  sua  Revista  trhiionsâl  e  nní§  publicaçOâi,  e  cobnn^  iliii 
mensalidades  vencíd<is,  j> 

Submetttda  ã  discussão^  vefice-se^  que  seja  rcinettida  á  eõcnnib- 
sàode  Eslalulos  para  interpor  o  mn  parecer. 

O  Sr.  Lagos  continua  a  leitura  do  seu  trabalho  mhrt  a  vii^gv!»  d© 
conde  de  Caslelnau ,  começatfíi  nas  sessões  nnieríores. 

Dada  a  bara,  levantd-se  a  sessão ,  toãrcando-sô  porá  onleai  è>  úh 
fta  seguinte : 

1."  Propostas  e  pareceres  decommissaea 

2.*  t3ôntinQâí;aoda  kitura  do  Sr  Ferreira  Lagos. 


5/  SESSAO  EM  6  DE  JIJLIÍO  DE  1855. 

HofiradA  com  m  Anfmta  Prctenf  a  ée  Sua.  BSag«»l3id*  loupcrtAE» 


Ã's  hora*!  do  costume ,  preâentes  os  Srs,  cooselhtiro  Oadido 
Baplista  d'01iveira,  Dr*  Macedo,  J.  Norberto»  h\  J.  Borgti^,  tmis^ 
Iheiro  Mariz  Sarraeoto,  barào  d'Anlot>ina,  Pádua  Fleury,  Figueire- 
do, Ferreira  Soares,  h  F,  Lisboa,  Pereira  Coruja,  Du  Sauia  Foií- 
las,  Dr,  Ferreira  Lapa,  cónego  Pinheiro,  Lagos,  Pereira  PtQUi«  ff 
Paula  Menezes»  abre*^  a  se^sãa 

Lida  e  approvadaa  acta  áã  anlecedeate,  o  Sc.  L*  aecretarb  ià 
fonla  do  soguUite 

Um  oQiciodoSr.  Henrique  de  Beaurepaire,  ofTorâCêndo  umextnii- 
piar  do  relatório  de  sua  viagem  ao  Campo  de  Palmas;  um  eilrtcto  de 

sua  viagem  a  S.  Paulo*  comendo  iima  noticia  do  Campo  do  Vpi- 
ranga  ;  e  um  manuscHpto  em  loira  estranha  que  fora  acihadu  cm  um 
ctub  de  negros  minas  na  capital  do  Bio  Gramie  do  SuL 


427 

Uma  carta  do  Sr.  Angetis,  enviando  um  trabalho  sea  acerca  da 
questão  do  Amazonas. 

Outra  do  Sr.  James  Fletcher,  offerecendo  varias  obras  americanas. 

Todas  estas  offertas  sào  recebidas  com  agrado. 

Terminado  o  expediente ,  entra  em  discussão ,  e  é  approvado  o 
seguinte  parecer  do  Sr.  conselheiro  Souza  Ramos : 

«  O  Manuscripto  intitulado  —  Considerações  sobre  o  estado  de 
Portugal  e  do  Brazil  desde  a  sabida  de  El-Rei  de  Lisboa  em  1807, 
até  Julho  de  1822  —  nenhuma  importância  ofTeroce,  não  contém 
factos  novos  que  mereçam  consignar-se  na  nossa  historia,  nem  dou- 
trina que  se  deva  aproveitar  ou  seriamente  refutar,  como  severa  das 
breves  reflexões  que  passo  a  expor. 

<r  Assignala  a  Memoria  como  causa  da  revolução  do  Porto  em  24 
de  Agosto  de  1820 ,  o  despeito  dos  Portuguezes  vendo  o  reino  de 
Portugal  rebaixado  a  colónia  do  Brazil  pela  carta  régia  de  10  de 
Dezembro  de  1815,  que  elevou  este  Estado  á  catbegoria  de  Reino ; 
as  continuas  sangrias  feitas  no  Erário  de  Lisboa  para  satisfazer  as 
delapidações  do  governo  do  Rio  de  Janeiro ;  a  corrupção  e  inépcia 
dos  ministros ,  e  finalmente  a  intempestiva  retirada  do  marechal 
Beresford,  circumstancias  de  que  se  aproveitaram  alguns  demagogos 
para,  seduzindo  a  tropa,  impor  ao  Reino  um  governo  faccioso,  es- 
forçando-se  na  propagação  do  contagio  revolucionário  ao  Brazil. 
Dada  esta  crise,  entende  o  autor  da  Memoria  que,  sendo  sobremodo 
prejudicial  e  ruinosa  a  desmembração  do  Reino-Unido  de  Portugal, 
Brazil  e  Algarves,  se  podia  evitar  o  mal,  dissolvidas  as  cortes  facciosas 
de  Lisboa,  e  vigorada  a  lei  fundamental  da  monarchia  (os  estatutos 
das  cortes  de  Lamego)  com  emendas  convenientes  para  dar-seao 
Regente  do  Reino,  em  que  não  estivesse  presente  £I-Rei,  a  força  e 
necessária  autoridade,  e  igualar  em  condição  os  estados  componen- 
tes do  Reino-Unido.  Em  substancia  este  é  o  propósito  do  manus- 
cripto. 

<c  O  único  facto  histórico  novo  que  offerece  o  Manuscripto  ó  a 
origem  dada  á  Carta  Régia  de  16  de  Dezembro^do  1815,  isto  é,  que 
fora  inspirada  pelos  Ministros  da  Legação  Portugueza  no  Congresso 


428 

ie  Tiênoa;  e  mtpaf^  stm  íundameDU»,  parque  naáà  tbliâiiiqy« 
veraspoicnciasestraQgetms  am  um  acto  puramente  baaortficOt  ({ut 
[  mao  alTectava  as  reUçôes  inlemaciooac^ ,  nem  allerava  a  pdliiCM  da 
Monarcbia.  Seja,  porém^conio  fòr,  nenhum  int^reasn»  p^dã  ur  uma 
çoDlestação sobre  ^le  objecto:  05  ^ffi^itos  da  Car^  Rãgsatdffv^» 
se  iraia,  são  os  mesmos,  ou  Tosse  a  idéa  d'alla  suggeridt  no  Con- 
gresso deVíenna^  como  diz  o  autor  da  Memonar  eu  nascesse  de 
inspiniçao  espontânea  do  $enhor  D.  Joáo  ^.%  como  creio-  Caba  dijui 
Obítrvar  qad  eslc  facto^  i]ue  tanto  irritou  o  orgulbo  do$  {'arUiguezfs, 
€omp  conCâssa  o  autor  da  Jlemana  ,  pas^u  «juasi  dci$aperpdbi4a 
«ntíe  01  Briíitleiroi ;  peb  turnos  em  n&da  meliiarou  pon  oHas  » 
jnarcba  Ja  adminíslraçm 

K  O  commereio  da  Portugal  liavia  diminuído  eon&ideravelmetttet 
desduque  os  portos  do  EraEil  foram  abertoi  a  Iodas  aâna$õ«s  eot 
I8O81  e  o  dume  dos  Portugueies  exasperou-seg  vendo  a  sua  ôolonjs 
elevada  a  uma  calhegoria  igual  á  da  Melropole.  Ac<sresc#  quo^lki 
ja  se  impacientavam  das  — fMrtnulas  absrjlutas,  —  dâ^pidde  iú  m^ 
ptendor  da  realeza ,  ao  mesmo  tempo  quo  a  Ilespaniia  e  a  luUa  tooIft^H 
Yam  organisar-s^  cofL^íUuciiímiitmnis  :  ê  t^ta  é  noconcoiio  de  peii^^| 
soas  competente»  a  razão  capitai  da  revolu^âi»  de  24  de  Agâslo  do 
1820  no  Porto,  seguida  em  iiaboa  a  15  do  Sulembro.  Além  d^iséOp 
'  Giisti4  outra  cau&a,  talvez  mm  ponderosa,  pois  oITendia  o  brioni- 
cional,  qual  o  dominio  despótico  do  mareciíal  Bureâ^rd,  cyja  rieii* 
rada  de  Lisboa  chama  o  auior  da  Uomoria — intempesiiv^t  ^^  por 
ia  dar  muito  cedo  (!!) 

f  lima  revolução  I  somente  em  Portugal,  não  salisfana  ás  vifiai 
dos  revoiumonariosi  que  pretendiam  collocar  Eí-Hei  na  necettfdid# 
do  regres^r  a  Portugal»  d  se  emfienbaram  em  commuojcar  ao  Braiil 
a  revolu^^o  ;  ma&,  ou  porque  livLsse  já  con«;guidoseu  principal  fim p 
oudotnmado?  do  ciúme  contra  os  Brazileiroi*  0  espantados  de  su^ 
própria  obra,  quizeram  recuar  ;  entio  medidas  foram  adoptada^  paia 
egnservar  o  Brazit  jungida  cumo  cdonia  ao  carro  de  Portugal 

K  E  ianegavel  que  o  Srazil  n0o  estava  preparado  para  umá  mjf^ 
ra^abfioliiiacjâ  Portugal :  Ainda  na  proclamação  de  tSdt  Jui^bo 


I 


r 


«80 

iê  1§22  h\h\A  o  MafiTaiiimo  Frincfpa  o  Senlior  D.  Ptdro  l>  gm 
-^liidapendctick  mõilsraíta  peb  UniÀo  Nâdonal  :■— pensamento 
repraduzido  na  repreaentaçio  das  procumdorefi  geraeâ,  dirigida  ã<^ 
mesmo  Attgus!o  Senhor  no  dia  3  do  mesma  mez,  e  no  monif«i»to  de 

0  dê  Agosto,  »p6^rde  lontas,  e  t^úclamarosns  itijusliças  praticadas 
eontra  o  Brazíl  paio  Congresso  Je  Lisboa.  Só  depoh  ã@  fechados 
todos  os  meios  de  conciliação,  como  so  expressa  a  proclamaçiio  de 
31  deOuiubro,  équo  o  Brazi!  usoo  do  sau  direito  lnconti?itaTe1 , 
jKcbtnandõ  D  Senhor  D.  Pedro  l.*§é0  imperador  ConstlinclonaU  e 
proetaoiando  sna  independência. 

u  Também  è  jnnegavel,  que  o  Eraxll,  mais  populoso  e  maís  rloo 
do  qn?  Portuga U  d*el1â  f^prado  pela  natureza  por  immen.sos  mares» 
nao  podí^rb  por  muito  tempo  Ij ca r<^l lie  unido,  o  muito  menos  sujeito 
ao  systéifift  colonial ,  q  a  and  o  lodo  o  eonUnenla  aoraríoano  aspirava 
com  enérgica  aclividade  as  —  instituições  ti berne&t  ACotumbiaô 
Buenc^Ayres  já  eram  Estados  independentes  ;  oErazilnão  podia 
continuara  aer  uma  dependência  do  velho  Portugal,  embora  podesso 
este  dispor  de  muitos  meios  de  compressão.  A  independência  podia 
$QT  retardãik ,  a  penmaeía  dos  PontiguezAS  podia  daf  lugar  a  uma 
luta  sanguinolenta,  ma?;  o  resultado  cru  todo  o  caso  seria  o  reconhe- 
cimento da  [ndependenda  do  Brazil  ^  principalmente  tendo  á  sua 
frente,  identíGeado  nosseus  intereâsi3fi,  em  sua  sagrada  causa,  o  Prin* 
cipa  Magnânimo  e  Generoso^  que  fundou  as  Instituições  á  sombra 
dts  qnaes  elle  tattto  se  tem  avantajado  em  prosperidade  e  engrande- 
cimento. 

¥  t  pai3  manifesto  a  túéa^  as  luzof  qae  a  lemlyran^a  isontida  fio 
Manuscfiplo,  e  qoe  làtmà  o  seu  principal  ot^jecto ,  de  querer  coiT^ 
servar  Portugal  e  o  Brazil  onldos  o  debaito  do  regimen  dos  EstaHitos 
dai  cortes  de  Lamego,  ainda  refomiados,  itãn  tem  mereetntdnto 
algum. 

^  O  Manuscripto  si  nâo  tem  por  íím  principal  interessar  o  Brasil  na 
enusa  da  Púrui^t,  e  fazê-to  lirvír  ás  ídáaa  de  geu  a  olor  contra  a 
ri¥aluçâo,  que  ali  um  ena»ntniTa  a  rasiitencia  que  ello  dõii«jofa, 
entio  é  apenas  um  documei^to  d^  qnõ-^  mal  avisados  andavam  sobfo 


ri^^rtd^^^Jtí 


m 

Ésc5lBâs  ão  Br&í^il,  iião  compreliendíam  sua  shuaçJo^  ie^únlimnm 
CO  mf>i  Ota  mento  seus  racurios  e  sou  destino  os  liorocns  politicou «]« 
Portugal»  ainda  mesmo  os  que  se  inlromettiam  a  beneficia -lo. 

«  Rio  de  Janeiro,  12  de  Junho  de  Í8ã5» — José  iiéeftm^f^  df 
Souza  Ramoã.  n 

O  Sr.  conselheiro  B.ipliíta  d*OUveíra  propõe  para  wtíú  corre*^ 
pôiidenteoSr  Dr.  Eduardo  Ferreira  Frânçír,  leniôda  faeuld^de  ik 
mediciím  ih  Baliía,  —  è  a  proposta  remeUida  á rominíss^o  de  adiiiís-^ 
fiSc»desocio:s»na  formados  Estatutos, 

O  Sr.  Lugos  coiUinuou  a  leitura  de  sua  analv^sõ  da   viagem  do' 
conde  da  Qisielnau  pela  interior  do  Brasil. 

Dada  a  hora  levonla-se  a  sessão,  marcando-fe  para  ordem  do  àla  : 
1**  Propostas  o  pareceres  sdtados  ^  2/*  CooliouaçSo  da  leitura  dt 
analysedoSr.  Lagos. 


6.'  SESSÃO  EM  20  DE  JULHO  DE  !8S1 

Hóiirada  Oóm  a  Augusta  prcièn^a  de  St  Bt,   L 

1>AESlt)tt>i   PELO  EIM."   SH*   VlSCONfiE  Dí  SGPETJIâ. 

* 

A's  laras  do  csivlo  arhando-se  presentes  os  Srs.  viseoada  de  Sc* 
peliba,  conselheiros  Baptista  d^Oliveira  e  Mariz  Sarmento»  Dn, 
Haia,  Lapa  o  Paula  Menezes,  Pereira  Pinto,  Lagos,  Porto- Alegre» 
J,  Norberto,  Pádua  FIcurye  cónego  Pinheiro,  abre*se  a  sessfo» 

Lida  a  acta  da  antecedente  é  approvada. 

O  Sr.  2."  serrotaria,  no  impedimento  do  1.',  dá  contii  do  soguint<3 

Km  officío  do  Sr.  Pranciseo  José  Borges^  remeltondo  um  exemplar 
^  da  obra  de  Mr.  d*Orbigny  intitulada  «  Vojage  ptttorcsquâ  datis  lei 
deux  Amerífiues*  —  tteccbida  com  agrado. 


*31 

Idem  do  Sr.  Franc  de  Paulicéa  Marques  de  Carvalho  pocKndo  para 
1  •bibliotheca  da  província  de  Saata  Catbarina,  de  que  é  chefe,  iodas 
as  publicares  do  Imiitulo. 

Idem ,  do  Sr.  Joaquim  Maria  Nascentes  d'Aearobuja,  pedindo 
dispensa  do  traJbalho  de  que  foi  incumbido  acerca  das  diversas  atiri- 
buiçéeç  dos  capitães- mores  do  Braeil  desde  a  sua  origem  até  a  sua 
«xtincçáo.  —  Dispensado. 

Idem,  do  Sr.  Dr.  Adolpbo  Manoel  Victerio  da  Costa,  remettendo 
um  exemplar  da  obra  de  seu  pi  relativa  á  cholera  morbus.  —  Rece<* 
bida  com  agrado. 

Idem,  do  Sr.  presidente  da  província  do  Rio  Gratide  do  Norte  par- 
ticipando que  ficam  dadas  as  providtmcías  para  serem  remetlídas  a 
«ste  Instituto  as  «amostras  dos  meteoros,  que  tem  havido  na  mesma 
província.  —  Inteirado. 

Idem,  do  Sr.  Dr.  Praxedes,  remettendo  um  exemplar  da  sua  obra 
— o  Útil  Cultivador — para  servir  de  prova  á  sua  admissão  ao  Ins- 
tituto.— A'  commissão  d'adnMSsáo  de  sócios. 

Idem,  do  Sr,  ministro  da  guerra  remettendo  copiasdas  informações 
recebidas  das  províncias  da  Bahia  e  Pará  sobire  os  objectos  das  pro- 
postas do  Instituto  relativas  ás  bandeiras,  qUe  servitam  na  guerra  da 
independência  e  ás  peças  tomadas  em  Cayena.— Inteirado. 

Idem,  do  Sr.  Pimenta  Bueno  offerecendo  dous  dos  seus  discursos 
pronunciados  na  presente  sessão  do  senado.  — Recebidos  com  agrado. 

Idem,  do  Sr.  Joaquim  Maria  Nascentes d'Azambuja  remettendo: 
I.*,  um  exemplar  do  relatório  da  repartição  dos  negócios  estran- 
geiros; 2.%  a  obra  denominada — Viagem  ao  Drazil  por  Burmeister; 
3.^,  a  mensagem  que  o  poder  executivo  de  Buenos-Ayres  dirigiu  á 
sala  dos  representantes  censurando  o  general  em  cheTe  do  exercito 
argentino,  por  nfio  ter  colhido  resultado  algum  satisfactorio  d'aquella 
campanha.  4.*"  A  exposição,  que  etn  sua  defesa  íet  aqueíle  general. 
— Recebidos  com  agrado  lodos  estes  donativos. 

Idem,  do  Sr.  cónego  Pinto  de  Campo«,  remettendo  oa  seguintes 
manuscriptos :  um  oflicio  de  Francisco  Xavier  de  Mendonça  Furtado 
dirigido  -ao  conde  da  Cunha  relativamente  aos  jesuitaêc  uma  expo<> 

ivin  96 


siçào  do  occoFfido  na  colónia  do  Sacramento  occupaíb  pefos  (Vfo- 
goe^ês  desde  o  traindo  provisional  de  1681  a[é  1737,  e  pedindo  qtiâ 
sirvam  estas  ofTerlas  de  tilulo  porá  a  sua  recepção  na  dmm deserdo 
correi ponden to,  e  compromeitendo-se  a  escrever  yma  mefooria 
acerca  de  cerlos  acontecimeniõs,  que  em  épocas  nlo  mui  remoiai 
tiveram  lugar  na  p^o^incla  de  Pernambuco, — A*commi^o  d'«diiii5* 
saodesocm 

Idem«  do  Sr.  visconde  de  Sapuc^diy,  dizendo  que  não  podo  eoni' 
parecer  a  sessão  d 'hoje  por  inrommodo  de  pessoa  de  sua  famifja.-- 
Inteirado* 

I  noFOSTAS, 

Lt}-se  uma  proposta  assignada  pelos  Srs.  Pereira  Fínlo  e  Br*  Lapa 
propondo  para  sócio  do  Instituto  ao  Sr>  cónego  Pitilo  de  Campos. — 
A'  coromissão  d^admi^fío  de  sócios, 

ORD^M  m>  nu, 

O  Sr.  Lagos  continua  a  leitura  da  sua  analyse  á  liagem  do  conde 
de  C^stclnau  pelo  interior  do  Brazil  na  parte  rtitaliva  i  provinda  d^ 

Goyaz. 

A*â  7  horas  levanLa-se  a  sessão^  marcando-se  para  a  ordem  do  dia 
seguinte  a  mesma  que  fora  designada  para  a  d'!io]e« 


7.'  SESSÃO  EM  17  DE  AGOSTO  DE  !S5S. 


PHESIDIDA    BtLQ    IXltf,*  SH.    TliCGNDll  DE  MPCCAftT. 

i's  cinco  horas  da  tarde  achando-se  presentes  os  Srs.  fiícc 
dd  Sepetibs,  conselheiro  Cândido  Baptista,  Drs.  Carvalho  «  Silva 
con^o  Fernandes  Pinheiro,  Porto*Alegre,  Lagos,  J*  Ifortert», 
Ffireira  Pinto^  o  Sr.  presidente  abro  a  s€Mo«  aervinda  de  i.*  leei^ 


àU 

tario.0  Sr.  eoQego  9r.  Fârnandes  Pinheiro,  e  de  2."  o  Dr.  Perára 
Pinio. 

Lida  e  approvada  a  acta  d'antecedenle  o  Sr.  1.**  secretario  dá  conta 
do  seguinte 

EXPBPIBNTE. 

Um  tíOicio  dojSr«  cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro  offerecendo  ao 
Jnsútijto  ura  exemplar  da  iraducção  do  livro  de  Job,  feita  pelo  fai- 
lecido  José  Eloy  Ottoni. 

Outro  do  Sr.  Firmino  Herculano  de  Moraes  Ancora,  remettendo 
um  exemplar  do  mappa  corographico  da  villa  de  S.  Gabriel,  seus 
arredores,  t  fortificações,  o  um  dito  do  lugar  das  Caldas  ao  sul  do  rio 
Cubatão  na  província  de  Santa  Catharina. 

Outro,  do  Ex."**  Sr.  ministro  do  império  transmittindo  para  uso 
do  Instituto  a  descrípção  da  viagem  feita  no  anno  de  1854,  desde  a 
cidade  da  Barra  do  Rio  Negro  pelo  rio  do  mesmo  nome  até  a  serra 
do  Cucui  por  Hilário  Maximiano  Antunes  Gurjao. 

Outro,  do  mesmo  senhor  enviando  os  relatórios  com  que  os  Drs. 
Cansansão  do  Sinimbu,  e  Manoel  Gomes  Corrêa  de  Miranda,  o  pri- 
meiro, entregou  ao  seu  substituto  a  presidência  do  Rio  Grande  do 
Sul ,  e  o  segundo  abriu  a  assembléa  provincial  da  provincia  do 
Amazonas. 

Outro  do  mesmo  senhor  accusando  a  rece|)ção  dos  roanuscriptos 
relativos  á  conquista  de  Cayena. 

Outro  do  Sr.  James  Fletcher  pedindo  ao  Instituto ,  que  estabeleça 
correspondência  e  troca  de  publicações  com  a  associação  histórica  de 
New-York. 

Outro  do  Sr.  A.  D.  de  Pascoal  Adadus  Calpe,  enviando  ao  Insti- 
tuto um  trabalho  a  que  deu  o  nome  de  — Breves  reflexões  históricas. 

Outro  do  Sr.  José  Martins  Pereira  de  Alencaslro,  remettendo  as 
suas — Memorias  históricas  da  provincia  do  Piauhy — para  servirem  de 
título  á  sua  admissão  como  sócio  correspondente  do  Instituto. 

Outro  do  Ex.**  Sr.  arcebispo  da  Bahia  transmittindo  a  memoria 


iU 

sobre  o  prograrmiiâ  ,  qira  lhe  foi  dado  por  S.  Bf agascaife  ratitito  â 
Baluralitlado  do  padre  António  Vieira. 

OrFEUTÃB. 

O  Sr.  Iof»quJm  Nofberlode  Souza  e  Sílvã  ofKireee  os  docunjmiJdi 
clEctnes  da  província  do  Ria  de  JanftírOj  apresentodos  no  correme 

anno  a  assembléa  legíslfitivd  provi  nríal 

O  &r,  CDrtseílieiro  Cândido  Baptista  ofTerece  aã  ínsliluto  por  pane 
do  Sr.  Migtíel  Maria  Lisboíj  um  matiuâcrrplo  sobre  a  republica  A 
Venezuela* 

r  RO  POSTA». 

Os  Srs.  Norberto  de  Soyza,  €  Pefeira  l*iiitoapresentania  seguioit 

proposta : 

Propomos  que  o  In^ilulo  solicite  ao  governo  a  etilfigi  de  uoi 
fragmento  dos  despojos  mortas  do  missioiíano  Anchíeia»  que  se  co!>- 
serva  em  uma  caixa  com  lavurde  prata  ou  no  ihesouro  publko  na- 
cional, ou  na  thesuuraria  da  pruvincia  do  Espirita  Santo, 

Depois  d@  pequena  discussão  ep  que  tomara lU  parte  os  Sr&  vis* 
conda  da  Sepetiba ,  Porlo-Alegrõ,  e  os  autoras  da  praposU  foi  ella 
approvada^  reservando-se  para  época  posieriorá  entrega  doesse  obj6ei£^ 
a  decisão  do  h%'ar  em  que  elle  deve  ser  definitiva  mente  coll^íodo, 

O  Sr.  Br.  Lagos  rontinua  a  leitura  de  sua  analyse  ã  viagem  da 

conde  de  Castelnau  pelo  interior  do  BraziL 

O  Sr.  Dr,  CarvalEio  e  Silva  enceta  a  leitura  da  memoria  da  stia 
viagem  desJo  a  foz  do  rio  S.  Francisco  até  a  (Cachoeira  de  Pauto 
ABbnso. 

Âcham-se  sabre  a  mesa  nujnerosos  ob|ecto<3  de  historia  natural 
apresentados  pelo  mesmo  Sr  Dr.  Can^llioe  Silva. 

O  Sr  Dr,  Fitula  Menezes  communtca  que  por  inoommodada  náo 
pode  comparecer  á  sessão- 

A's  sete  boras  levantou-se  a  sâssào.  A  ordem  do  dia  é  a  mesma. 


i35 
8/  SESSÃO  EM  31  DE  AGOSTO  DE  1855. 

PRESIDIDA  PELO  EXM.*  SR.   TISGONDE  DE  SEPETIBA. 

A's  horas  do  costume,  presentes  os  Srs.  conselheiros  Cândido 
Baptista  d'Olíveira,  visconde  de  Sepetiba,  Porlo-Alegre,  Dr.  Lapa, 
Lagos,  cónego  Fernandes  Pinheiro*  Hariz  Sarmento,  Pereira 
Coruja,  Honório  de  Figueiredo,  Pereira  Pinto,  Carvalho  e  Silva,  J. 
Norberto,  Macedo  e  Paula  Menezes,  abre-se  a  sessão,  presidida  pelo 
Sr.  1.*  vice-presidente  visconde  de  Sepetiba,  tendo  communicado  o 
Sr.  presidente  não  poder  comparecer  por  impossibilidade. 

Lida  e  approvada  a  acta  da  antecedente,  o  Sr.  i.*  secretario  lé  o 
seguinte 

EXPEDIE5TE. 

Um  oflBcio  do  Sr.  ministro  do  império  communícando  ter  expedido 
ordem  á  casa  de  correcção  para  pôr  é  disposição  do  Instituto  dous 
Africanos  livres  para  seu  serviço,  conforme  lhe  fora  solicitado:  ficou- 
se  inteirado. 

Outro  do  Sr.  ministro  de  estrangeiros,  offerecendo  ao  Instituto  a 
obra  intitulada — ^Expedição  exploradora  dos  Estados-Unidos,  durante 
os  annos  de  1838  a  1842,  sob  o  commando  de  Carlos  Wilkes;  por 
julga-la  de  utilidade  ao  mesmo  Instituto:  recebida  com  agrado. 

Outro  do  Sr.  vice-presidente  da  provincia  do  Paraná  enviando 
dous  exemplares  dá  collecçào  das  leis  promulgadas  pela  assembléa 
provincial  no  corrente  anno. 

Outro  do  Sr.  J.  Norberto,  pedindo  permissSo  para  ir  lendo  os 
capítulos  dos  dous  primeiros  livros  que  se  achar  promptos,  de  sua 
historia  da  litteratura  brazileira. 

ORDEM  DO  DU. 

Lé-se  o  seguinte  parecer  da  commissao  de  admissio  de  sócios  : 
«  A  commissao  de  admissão  de  sócios,  tomando  na  devida  eonsi- 


dera<;Ão  o  proposta  dosSrs.  Drs-  António  Pereira  Pinlo  e  LuJgero  rfa 
Bocha  FeiTtíira  Lapa,  afim  dt:;  que  o  Sr.  cónego  Joaguim  Pinto  de 
Campos,  deputado  a  ass^mblóa  geral  legL^laiiva,  seja  inscrtplo  entfd 
os  membros  oorrcspondenies  do  Ijistítulo  Histórico  eGâograpbico  do 
Brazil;  e  aUendeudo  a  quo  o  candidato,  além  da  sua  reconhecida 
capacidade  litleraria ,  compriu  o  disposto  no  âriÍgo6-''da  nossa  lei  or- 
gânica ofiferccendoa  esta  associação  Iros  auíliographos  preciosos,  e  se 
€omprom6tle  de  m.ii^  a  apr(i:!í6ntar  brcvemenle  tiina  rDOmorta  da  sua 
pQtina  a  respoito  do  certos  aeonterímentos  rjua  em  épocas  não  nmi 
remotas  9  tiveram  lugar  na  provincia  de  Pernambuco,  é  úb  parecer; 

«  Que  o  Sr*  cónego  Joaquim  Pinlo  de  Campos  soja  admillído  na 
qualidade  do  membro  correspondenle  d'este  Instituto .  na  forma  de- 
terminada pelo  artigo  7.-  dos  estatutos  ora  vigentes.— Sala  das  ms^es 
do  Instituto,  em  31  da  Agosto  de  1853. — Âhmei  Ftrrcha  L^gm* — 
Dr.  Caitdido  àe  A lertdo  Couiinfw.  » 

Tendo  sido  pedida  n  urgência,  o  sendo  approvada;  é  o  parecer 
adopUado,  corre  o  esorutinio  e  sabe  o  Sr,  cónego  J.  Pinto  áê  Ctmpoi 
ekilo  sócio  correspondenle. 

O  Sr*  Ferreira  Lagos  propOe  qiio  lendo  sido  oITerocrdo  pio  Sr, 
conselheiro  Cândido  Baptista  um  trabalho  do  Sr.  Liiboa^  mbfé  m 
republica  de  V^eneziiela,  seja  en vindo  a  uma  commiss^a  para  iiMerpòr 
o  seu  parecer,  Approvada  a  proposta,  resolve  o  Ins titulo  <|uc  sej» 
rameltidoás  duas  primeiras  commis!sc>es  de  bisioria  egeograpfiii. 

Tendo*3e  relirado  para  a  Europa  um  dos  membros  da  commisiéa 
do  admissíío  de  socÍob,  o  Sr,  Ur,  Capânema,  é  nomeado  o  8r.  Manoel 
d'Araujo  Porto- Alegre  para  o  substituir, 

O  Sr.  Br.  Rodrigues  de  Carvalho  e  Silva,  lé  alguns  capítulos  âê 
sua  riagom  pelo  rio  do  S»  Francisco^  o  o  Sr*  Dr.  LíJgos  etmtinuandij 
a  leitura  da  sua  ana]3'se  a  viagem  do  conde  Castdnau  occu^ion  ú 
resto  da  sessão;  a  qual  t^^rminou  ás  7  huras  da  noite,  nittrcandíHse 
para  ordem  do  dia  da  seguinte:  f."  Propostas  e  pareceres  de  com- 
missOes.  2.*  Leitura  da  memoria  do  Sr.  Souza  Fontes,  e  ronlinuaçâo 
da  bitura  doB  trabalhos  do  Sr.  Rodrigues  de  Carvalho  a  Fenéra 


i87 
9.'  StS&kO  EU  14  DE  SETEMBRO  DE  18S6. 

filonrada  eom  «  Augusta  Presença  de  Soa  llagestade. 
PRBSIDIBA  PELQ  BXM.*  SR.   YftSCOMDE  DB  8APUGAHY. 

Ás  horas  Jo  costume  achando-se  presentes  os  srs.  visconde  de  Sa- 
pucahjy  conseHieiros  Souza  Franco,  Cândido  Baptista  e  António 
Manoel  de  Mello,  cónego  Fernandes  Pinheiro,  dr.  Souza  Fontes, 
J.  Norberto,  Miguel  Maria  Lisboa,  drs.  Azeredo  Coitinho,  Carva- 
lho e  Silva,  Honório  de  Figueiredo  e  Pereira  Pinto,  abre-se  a  sessSo. 

Lida  e  approvada  a  acta  da  antecedente,  o  sr.  1.*  secretario  sup- 
plemte  dá  conta  do  seguinte 

EXPBD1E5TE. 

Um  oflScio  do  sr.  JoSo  Francisco  Lisboa  offerecendo  os  ns.  6  a  10 
do  jornal  do  Timon. 

Um  dito  do  exm.  sr.  ministro  do  império  remottendo  a  exposi- 
ção impressa  apresentada  pelo  conselheiro  Rego  Barros  ao  vice-pre- 
sidente do  Pará,  no  aeto  de  passar-lhe  o  governo  da  província. 

Um  dito  do  sr.  dr.  Francisco  Nunes  de  Souza  enviando  a  sua  geo- 
graphia  histórica,  physica  e  politica  do  Brazíl  para  concorrer  ao  pre- 
mio— á  melhor  geographia  d'dste  Império. 

Outro  do  sr.  Raposo  de  Almeida  offerecendo  uma  collecçào  de 
diplomas  do  sr.  conselheiro  José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva. 

Outro  do  sr.  conselheiro  Eozebio  de  Queiroz  pedindo  informações 
sobre  um  compendio  da  Historia  do  Brazíl,  que  consta  ter  escripto  o 
visconde  de  S.  Leopoldo. 

Todos  estes  ofiScios  tem  o  conveniente  destiiM,  agradecendo-se  as 
offertas. 

pAMCiRKa  BE  comisalo. 

O  sr.  Lagos  procede  á  leitura  do  seguinte  parecer : 
«  A  commissSo  de  admissão  de  sócios,  tomando  na  devida  consi- 
deração as  propostas  inclusas  para  que  sejam  inscriptos  na  lista  do» 


membros  correspondentes  do  Instituto  HistOfico  eGdographioo  Bfs- 
rJleiro  o  e^na.  sr,  consdheifoXuíi  Peílreira  do  Coutto  Ferra t^  minis- 
Iro  e  secretario  de  estado  dos  negócios  do  império,  &  o  sr.  JoSo  Fran- 
ÚBCQ  Lisboa,  autor  do  interessante  jornal  publicado  no  Mannlião 
fom  o  litulo  de  Timon;  e  attendendo  a  que  os  Cííndidatos,  alem  dss 
suas  incontestáveis  iiabilítaçúes  Utterarias,  cumpriram  o  di^pcisto  peto 
«rt.  6.°  dos  estatutos  doesta  sociedade »  é  de  parecer : 

*t  Que  os  srs.  conselheiro  Lni^  Pedreira  do  Couito  Ferras  e  Jd 
Francisco  Lisboa  sejam  approvíjdos  na  categofia  de  membros  fi)rfi 
pendentes  doeste  Instituto,  na  forma  determinada  pelos  sobredil 
estatutos. 

fi  Sala  das  sess(iês  do  Instituto  ,  em  t4  de  Setembro  de  18SS*— 
Manael  ferrnra  Lagoi,  —  Manoel  de  Araújo  Por(o-ÁU^i>  * 

Vencida  a  urgência  requerida  pelo  sr.  cónego  Pinheiro  para  que 
seja  o  parecer  discutido ,  corre  o  escrutínio  secreto  ^  e  sabem  eleitdi 
sócios  correspondentes  os  srs.  conselheiro  Luii  Pedreira  do  Coutte_ 
Ferraz  e  João  Francisco  Lisboa. 

O  sr.  dn  Souza  Fontes  lê  a  sua  mamork  em  desen volvi menld 
do  programma  que  lUe  foi  dado  de  —  extremar  qmm  os  aoiniam 
que  pelos  conquisUkdores  foram  introduzidos  na  America. 

O  sr.  dr.  Lagos  prosegue  na  leitura  de  sua  analjf«  á  viagôm  ila 
conde  de  Castelnau ,  na.parte  relativa  á  província  de  Gojai,   , 

O  sr.  dr.  Carvalho  e  Silva  preenche  o  re^to  da  sesâSo  com  i  W* 
lura  de  sua  viagem  a  cachoeira  de  Pauto  AfTonso. 

0$  sr.  drs*  Macedo  e  Paula  Menezes  participam  que  por  tnedin- 
modados  nào  podem  comparecer  á  sessão. 

O  sr.  Angelo  Thomar  do  Amaral  communica  que  seus  Incom- 
modos,  o  trabalhos  olliciaes  tem -lhe  impedido  de  conolutr  a  iua 
memoria  em  desenvolvimento  do  programma  que  lhe  foi  designado. 

As  sete  horas  e  meia  da  noite  levanta-se  a  sessão,  dando  q  sr. 
presidente  para  ordem  do  dia  seguinte  a  continuação  das  leitum 
adiadas. 


&S9 
19.-  SESSÃO  EM  28  DE  SETEMBRO  DE  IftSS. 

iSttfuraAa  eom   «  Attgoita  Preteâça  de  8««  Hagestadèv 
PRESIDIDA  PELO  CX*.*  SRv  TRCONDÍ  DB  SAPVGAÀT. 

Achaíido-se  presentes  às  horas  do  Êostttme  os  srs.  visconde  de  Sa«> 
pocaby,  conselheiro  Cândido  Baplista,  dr».  Souza  Fontes,  Carvalho 
6  Silva,  Honório  de  Pigaeiredo,  thoraai  Gomes,  Lagos,  cónego 
iPinheiro,  Porto-Alegre,  J.  Norberto,  Pereira  Coruja  e  Pereira  Pin- 
to, o  sf.  presidente  abre  a  sessão,  e  approvada  a  acta  da  aniece* 
«dente^  o  sr.  i.*  secretario  supplente  lè  o  seguinte 

tXPEIílEHTE. 

Um  officio  do  sr.  dr.  barlanaque,  director  do  musèo  nacional^ 
f)edindo  uma  coRecçlto  da  Revista  do  Instituto  para  o  uso  d'aqueUô 
«stabelecimemio. 

Outro  do  sr.  Joaquim  António  Fernandes  Pinheiro  remettendo 
por  parte  do  sr.  Joào  Diogo  Sturz  o  exemplar  de  om  tratado  de 
geographia  de  Acbilles  Mecisas,  e  Aug.  Mtchelot,  e  OQtro  do  jor- 
nal da  sociedade  geológica  allemà. 

Um  officio  do  sr.  Honorato  da  Silveira  acerca  da  exislencra  do 
Ititiaia,  em  Ayuruoca,  tia  província  de  Minas  Geraes. 

Outro  do  sr.  António  Bernardo  de  Barros,  presidente  ila  pro- 
víncia do  Rio  Grande  do  Norte,  enviando  varias  amostras  de  aero- 
fites. 

Outro  do  sn  Manoel  Gomes  Corrêa  de  Miranda,  vice-presidente 
da  provincia  do  Amazonas,  traasmittindo  dons  nnmeros  da  EsireHá 
do  Amazonas. 

Agradecem -se  as  oifertas»  t  manda-se  satisfazer  os  pedidos. 

S.  M.  o  Imperador  se  digna  communicar  quo  para  a  outra  sessão 
trará  uma  interessante  e  curiosiasima  obra  que  se  intitula :  Livro  qm 
dá  raeâo  das  cousas  do  Brazil.  — Recebida  com  muito  especial  agrado 
«sta  coramunicaçào. 

xfiii  dV 


m 

£m  seguida  prosugua  o  sr.  dr.  Lagos  im  leitura  de  unm  iOâljae 
à  viagem  do  eoitdõ  de  Castelnau  peto  Braiil»  tratando  da  provícicíi 
de  Goyass. 

O  sr.  C^rvallio  e  Silva  contínua  ígtialmenla  a  l  itiim  de  sua 
meínoriíjí  sobre  a  sua  viagem  á  coclioeira  de  Paulo  AlTwtJSO. 

O  SL'.  dr.  Paula  Meneies  [iariíclpa  que  não  eom|iMrece  por  ift- 
cumínodado. 

Levani!i-se  a  sessão  as  sek  tioras  e  meia,  dando-se  para  ordem  da 
dia  seguinte  as  leitoras  adiadas. 


11/  SESSÃO  EM  13  DE  OUTUBUO  DE  ISSS, 

HooradA  com  a  Au^giuta  Presença  de  S*  M<  o  Impcr«d#r^ 

ÃchâJido-$e  presentes  à  Ijora  do  costume  os  Srs.  visconde  de 
Sapucahy,  conselheiro  Cândido  Baptista,  Drs,  Lagos,  Figueireda, 
Souiã  Fontes,  Cor%-alho  c  Silva,  cónego  Pinheiro,  Lisboa^  Porto- 
Alegre,  J*  Norbcrio,  conselheiro  Paranhos,  e  Pereira  Piuto^  o  Sr, 
|.iresídenle  abre  a  sessáo,  e  lida  a  aeia  da  antecedente,  o  Sr.  1.' 
!^crelarÍo  sup]>knte  dá  conta  do  seguinte 

Um  officio  do  Sr.  ministro  do  tmperío,  transtnittindo  o  relatório 
apresentado  ao  vice-presidente  da  provincia  do  Bio  de  Janeiro,  Ur. 
José  Ricardo  de  Sá  Bego  pelo  presidente  o  conselheiro  Luix  Ãtitooid 
Barbosa  ao  passa r-lhe  a  administração. 

Outro  do  Sr.  Franc  de  Paulieéa  Ãlarques  de  Carvalho  ofle- 
recendo  os  primeiros  números  do  periódico  intitulado — Menêagntú^ 
publicado  na  capital  da  provincia  de  Santa  Calharina. 

Outro  do  Sr.  Dr.  Caetano  Alves  de  Souxa  Filgueiras  enviando  u 
ffUas— ReQexôes  sobre  as  primeiras  opocas  da  historia  do  BraiU  mã 


geral,  e  sobre  a  tnstituiçSo  das  capitanias  em  particular ,  para  servir 
de  titulo  de  sua  admissão  a  sócio  do  Instituto. 

Um  ofiicio  do  Sr.  J.  E.  H.  da  Silveira,  referindo-se  ainda  á  exis- 
tência do  Itiliaia  em  Minas  Geraes. 

Outro  do  Sr.  Porto-Àlegre  remettendo  o  malheto  que  serviu  na 
demarcação  da  base  da  estatua  equestre  do  fundador  do  império  para 
ser  guardada  entre  idênticos  objectos  pertencentes  ao  Instituto. 

Um  officio  do  Sr.  Pereira  Coruja ,  pedindo  para  substituir  o  seu 
programma  —  Quaes  foram  os  primeiros  Americanos  que  intentaram 
a  independência  de  seu  paíz?  por  um  indice  chronologíco  da  pro- 
vinda do  Rio  Grande  do  Sul. 

S.  M.  o  Imperador  dignou-se  expender  algumas  observações  sobre 
a  obra  denominada  —  Livro  que  dá  razHo  das  cousas  do  Brazil, 
observações  suggeridas  pelo  exame  a  que  está  procedendo  da  refe- 
rida obra. 

S.  Magestade  foi  ouvido  pelos  membros  do  Instituto  com  profunda 
attençao,  e  suas  informações  recebidas  com  todo  o  agrado. 

O  Sr.  Dr.  Lagos  prosegue  na  leitura  do  sua  analyse  sobre  a 
viagem  do  conde  de  Castelnau  pelo  Brazil,  tratando  da  província  de 
Matto  Grosso. 

O  Sr.  Norberto  dá  começo  á  leitura  de  sua  historia  da  litteratura 
brazileira. 

O  Sr.  Dr.  Paula  Menezes  communica,  que  não  pôde  comparecer 
á  sessão  em  razão  de  multiplicados  afazeres  clinicos,  que  lhe  sobro* 
vieram. 

Levanta-se  a  sessão  ás  7  horas  e  meia,  dando  o  Sr.  presidente  para 
ordem  do  dia  seguinte  as  leituras  addiadas. 


12.-  SESSÃO  EM  26  DE  OUTUBRO  DE  185S. 

PRESIDIDA  PELO  EXII.*  8R.   VISCONDE  DE  SAPUCAHT. 

A's  cinco  e  meia  boras  achando-se  presentes  os  Srs.  visconde  dt 
Sapucahy,  Dr.  Macedo,  PortoAlegre,  J.  F.  Lisboa,  J.  Norberto,  c 


432 

ft.  LapD»  ITônorio  rfc  Figueiredo^  Curvallio,  a  cónego  DrJ 
tbre-se  a  Sessão,  o  lida  a  aclo  d^antecçdente  é  approv^* 
O  Sr.  1,^  seerev^io  iM  conta  dô  sâguiai^ 


OfUcio& ; 

1."  Do  Sr.  J*  I>.  Slrtr^,  eonsul  doBrazil  em  Jíresé^f  rei 

por  irUermiMlki  da  bíèlioilioca  Fíumine»í>e,  mn  atl^isgeographiax 

2**  1)0  Sn  Norberia  o íítí recenda  utii  eitímptíif  ib  lÍmilaiÍÍssHi 
ediçiíi  em  avuísíj  do  sua  meínoria  lií&lorica  e  doeumÊTUada  \h%  aldj 
á'indiosda  províitcia  do  Rio  de  laiieiTO. 

3.*  Do  Sr.  Poreira  Pimo  ftífiMsltetido  uirw  carta  do  cNh  dl  I 
souraria  da  provincÍQ  do  Espirilo  S^irito  acerca  dos  despojos  i 
do  p^dre  AnchÍL4a. 

4."  Do  Sr*  vííre-preairfíenie  da  prOYincta  das  Atogòas  enTÍiodu  os 
actos  oflicBes  da  m&sma  provintia. 

S,"  Do  Sr.  více-presfdeiUe  da  provinda  do  Arnazonos  remelleodb 
qualro  números  do  jornal  Eslreíia  ih  Amatotms^ 

#».■*  Do  Sr.  minislro  do  império  trartâmitlíndo  o  exemplar  emtml^ 
na  Jbiblíotlieca  poblica  das  cartai  je^sultictu  sohrt  o  BrauL 

7.*  Do  mesmo  senhor  enviando  um  exemplar  impresso  dp  rriiiofio 
dirigido  á  assembléa  provincial  do  Amazonas  pelo  respeetifii  vic#' 
pre§ideiii0. 

B,^  Bú  mesmo  senhor  olíeraeendo  ires  eiem|i1ares  úm  relatorii» 
dos  presidentes  do  Ceará,  Parahyba  e  Pará. 

9.**  Do  Sr,  presideme  do  Rio  Grande  do  Norle  remetltôiido  «n> 
saquinho  de  pedras  meteóricas. 

Í0,"  Do  Sr.  vice^presldotiie  da  província  daa  Abgdas  onví&ndo 
um  exemplar  da  fatia  com  que  abriu  a  respeeUvt  asembláa  pro^ 
TÍncial. 

ILvDo  Sr.  Munnick  âecretario  da  sociedade  d»â  aria  e  seiôneiís 
deBatavia  offerecendo  alguns  volomes das  publÍcor"tísd*aiiudla  sabia 
associação  e  pedindo  em  truca  as  publicações  do  Instituto. 

12,*  Da  Sr-  coiíego  Pinto  de  Campos  olTi^rocotida  um  c%empbr  do 


sra  sermio  pregadd  em  Nictheroy  no  dia  7  dô  Setémbm  do  correm» 
anno. 

13.»  Do  Sr.  Vieira  de  Onralho  offerecethfo  um  exemplar  dojieu 
drama  em  três  actos  As  três  épocas  cTuma  pnsidincia, 

14.*  Do  mesmo  senhor  offerecendo  duas  estampas  representando  d 
cachoeira  de  Paulo  Affonso  pelo  engenheiro  o  Sr.  Fernando  Halfeld. 

Todas  estas  offortas  são  recebidas  com  especial  agrado. 

15.»  Do  Sr.  ministro  do  império  communicândo  que  foram  dadés 
as  convenientes  ordens  para  que  sejam  entregues  ao  thesoureiro  do 
Instituto  os  dous  conios  de  réis  votados  no  orçamento  vigente  para 
auxiliar  as  publicações  do  mesmo  Instituto. 

16.*  Do  Sr.  Cruz  Lima  pedindo  uma  solução  acerca  da  sua  bio- 
graphia  do  Sr.  bispod^Anemuria.  Fica  o  Instituto  inteirado  d'ambo& 
08  olBcioS)  respondendo-se  opportunamente. 

S.  Magestade  dignou-se  de  mandar  guardar  no  archivo  do  Instituto 
o  precioso  manuscripto,  que  offerecera  n'outra  sessão,  acompanhado 
d'a8tampas  e  atlas  coloridos ;  bem  como  uma  copia  do  mesmo  sem 
estampas. 

O  Sr.  1.*  secretario  participa  que  06  Srs.  Lagos  e  Dr.  Paula  He^ 
nezes  náo  podem  eooiparecer  por  doentes. 

Lé-se  o  seguinte  parecer : 

cc  A  commissão  de  admissão  de  sócios  tomando  na  devida  consi- 
deração a  proposta  para  que  seja  admiltido  na  qualidade  de  membro 
correspondente  do  Instituto  e  Geographico  Brazileiro,  o  Sr.  Dr. 
Caetano  Alves  de  Souza  Filgueiras;  e  reconhecendo  que  o  candidato, 
além  das  suas  habilitações  litterarias«  cumpriu  o  disposto  na  lei 
orgânica  d'esta  sociedade  offerecendo  um  trabalho  próprio  com  o  titulo 
de —  Reflexões  sobre  as  primeiras  épocas  da  historia  do  Brazil  em  go- 
rai, e  sobre  a  instituição  das  capitanias  em  particular,  é  de  parecer; 

«  Que  o  Sr.  Dr.  Caetano  Alves  de  Souza  Filgueiras  seja  consi- 
derado na  classe  dos  membros  correspondentes  d'este  Instituto,  pro- 
cedendo-se  a  seu  respeito  s^ndo  determinam  os  estatutos.— Sala 
das  sessões  do  Instituto,  em  26  de  Outubro  de  1855. — Manoil  Fít-- 
rtlta  Lágos.-^Manúel  it Araújo  Porlo-AUgre. 


hàà 

Sendo  requerida  a  urgência  pelo  Sr*  Porlo*Aíegre  é  dpproraiío  o 
parecer  e  eleilo  sócio  correspondente  por  unonimidade  de  voto3  0  re- 
ferido Sr.  Cr  Câetane  Alves  de  Souza  Filguoira^. 

ORDEM  no  DIA. 

O  Sr.  Norberto  hz  a  leitura  de  um  dos  capítulos  da  sua  //af« 
Ha  Li  Hera  tara  BratUcirn. 

O  Sr,  Carvalho  e  Silva  prosegue  na  da  sua  Viagem  ás  eachúelrm  < 
Pãuh  Â  ff  orno. 

À's  7  l/â  horas  ievanta-se  à  s^sao  dando-se  pâfã  ordem  dodÍ4 
seguinte  os  matérias  adiadas. 


13.'  SESSÍO  EM  d  BE  NOVEMBRO  DE  f  S5Õ, 

PB  ES  im  DA  FELO  EIM.*  SR.  TtSCOKDE  DE  91FI7CABT. 

A*s  horas  do  costume  âchando-se  presentes  osSr^,  ?ife<mdd  Ab 
Sapucahy,  conselheiro  Cândido  Baptista,  J-  Norberto,  Sebafliá» 
Soaras^  Almeida  Raposo,  e  Drs.  Ferreira  Lapa,  Canallio  e  Silva, 
Honório  de  Figueiredo,  e  cnnego  Fernandes  Pinheiro,  abr^-sa  a 
sessão,  e  lida  a  acta  d'antecedente  è  npprovada. 

O  Sr.  1**  secretario  dá  conta  do  seguinte 

Oflicios : 

1.*  Do  Sr.  ministro  do  império  remeitendo  copia  d*ura  oííjcio  do 
delegado  da  reprtiç^io  empecia]  das  terras  publicas  da  provinei»  deJ 
Âma^conasj  contendo  esclarecimentos  sobre  as  missões  da  r&íerida 
província. 

2."  Do  Sr.  A.  A*  Pereira  Coruia»  remeitendo  iim  exemplar  das 
suas  lições  d'histona  do  BrazÀl^  pedindo  que  seja  a  dita  obra  enviada, 
a  uma  das  commi.^sues  d'bisioria;  assim  se  decide. 

3/  Do  Sr,  ministro  Am  negócios  estrangeiros  offereecndo  uma 
copia  das  instrucçoes  que  em  23  d'Outubro  de  1797^  foram  dada 


hh6 

por  D.  Rodrigo  de  Souza  Coutinho  a  Fernando  Delgado  Freire  de 
Castilíio,  que  acabava  de  ser  nomeado  para  o  governo  da  Parahyba. 

4.*  Do  Sr.  conselheiro  Pedreira  offerecendo  um  curioso  manus- 
criplo  sobre  a  conversão  á  fé  catholica  do  marechal  Bôhn  occorrida 
n'esla  capital  no  dia  18  de  Agosto  de  1782. 

Todas  estas  offertas  são  recebidas  com  especial  agrado. 

5.*  Do  Sr.  Pereira  Pinto,  presidente  nomeado  para  a  província 
do  Sergipe,  participando  que  parte  para  ali,  onde  espera  as  deter* 
minações  do  Instituto. 

6.**  Do  Sr.  visconde  de  Maranguape  enviando  o  parecer  das  com* 
missões  de  geographia  e  historia  sobre  a  viagem  do  Sr.  Miguel  Maria 
Lisboa. 

7.*  Do  Sr.  Adadus  Calpe  remettendo  o  seu  opúsculo  intitulado 
—  La  Novella  actual,  consideraciones  sobre  la  litteratura  contem- 
porânea. 

Vai  a  uma  commissão  especial,  composta  dos  Srs.  conselheiro 
Cândido  Baptista  ^  J.  Norberto  e  cónego  Fernandes  Pinheiro  um 
trabalho  geographico  politico  e  estatístico  do  Sr.  F.  Nunes  de  Souza. 

Approva-so  o  seguinte  parecer : 

«  Foi  presente  ás  commissões  de  historia  e  geographia  do  Instituto 
nistorico  e  Geographico  Brazileiro  o  manuscripto  apresentado  ao 
mesmo  Instituto  com  o  titulo:  —  Relação  de  uma  viagem  pelas  re« 
publicas  de  Venezuela,  Nova  Granada  e  Equador,  nos  aonos  de  1852 
e  1853,  por  Miguel  Maria  Lisboa,  AM.» 

«  As  commissões  reunidas,  tendo  atlentamente  examinado  o  dito 
manuscripto,  consideram-no  muito  interessante. 

1.*  Porque  está  escripto  em  um  estylo  claro,  deleitante  e  sem  a 
descripções  poéticas,  e  reflexões  sarcásticas  com  que  muitos  viajantes 
desGguram  ou  exageram  o  que  ha  de  real  nas  creaçôes  da  natureza 
ou  da  arte,  e  nas  relações  da  vida  social  e  domestica  por  elles  obser- 
vadas, como  se  temessem  desagradar  ao  leitor  nao  lhes  fornecendo 
em  uma  obra  de  inslrucçiio,  quadros  mais  ou  menos  extensos ,  mais 
ou  menos  brilhantes,  de  pura  imaginação,  e  não  poucas  vezos  copiados 


IA6 

4oâ  <pte  abundara  em  semelhantei  cucriptcis ;  viajantes  de  qii«m  st 
çóà&  dÍEer  eom  Beaumareltâls  ^qm  ditauteur»  dit  oseur.  n 

2.'  Porque  rt  obrn  d'esle  dislincto  Brazileiro  trata  de  patxes  i[ue^ 
^indu  que  víiinhos  e  limUr^phes  do  impãHo,  sao  pouco  conhecidos 
tanto  anire  nos  como  na  Europa;  dá  uma  drcunistancjada  noção  dâ 
topogrãpliiOf  casiumes,  commercio,  agricultor:}  e  população  da  ada 
um  d'6Íles,  e  contém  importantes  exlractos  da  sua  hUtoriá,  que  o 
au(or  promette  trãtâr,  noseguimonlo  da  $m  obra»  com  m^is  ptrtícu* 
húútuh. 

3/  Porque  urna  obra,  escripia  em  sentido  benévolo  pam  com  oí 
fiabitanlâs  d^aquclles  paizes ,  contribuirá  para  d^vaneoer  antigas 
amipathiâs^  que  ainda  possam  existir  entre  elles  e  este  íiuperjo. 

Cl  Pensam,  porém,  as  commissdes  que  nào  poderá  ter  lugar  a  ioi* 
pressão  da  obra  na  Revista,  nio  só  porquQ  é  muito  eictensa  e  exige  i 
lilhogrophia  ou  gravura  de  ixiappas  o  estampas»  Cõmo  parque  nào 
Um  senão  uma  relação  indirecta  com  a  historia  a  a  geograptiit  do 
Braeil. 

Rio  de  Janeiro  16  de  Outubro  de  I85S. — Visconde  de  Mãnm' 
guoffê, — BernmHÍ&  de  Souzu  Fruncú, — Jmqtdm  Núrimtt^  dê  Souzs 
é  SUm, — ãktrqÊtei  d*Àèrémi€s, — Jqíí  Ânídnw  Pimenta  Buma, 

OntlLKt   Dó  DIA. 

o  Sr.  I.  Norberto  procado  á  leitura  de  um  dos  çapitulos  da  sua 

bistoria  da  litteratura  brasileira. 

O  Sr.  Carvalho  e  Silva  termina  a  sua  memoria  sobre  a  sua  viageiB 
ás  cachoeiras  de  Paulo  AÍTanso. 

A'a  7  6  meia  horas  levantasse  a  s&ssàQ  mareando- se  para  a  ordeoi 
do  dfca  seguinte  as  ntaterias  adiadae. 


hà7 
14.*  SESSÃO  EM  S8  DE  NOVEMBRO  DE  1855. 

Honrada  eom  a  A^gasla  PrtMmfa  da  8.  H,  o  Iniperadon 

PRESIDIDA  PELO  EXM.*  SR.   TlâCOKDB  DE  SAPVCAHY. 

As  horas  do  costume  achando-se  presentes  os  srs.  visconde  de  Sa- 
pucahjy  coDselbeiro  Cândido  Baptista,  dr§.  Macedo  e  Ferreira  Lapa, 
J.  Norberto»  Porto-Alegre,  J.  F.  Lisboa,  Lagos,  Ebnorio  de  Fi- 
gueiredo, Pereira  Coruja,  Raposo  d'Alrneida  econ^o  Fernandes  Pi- 
nheiro, abre-se  a  sessão  e  lida  a  acta  da  anterior  é  approvada. 

O  sr.  1.*  secretario  dá  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE. 

Officios: 

1.*  Do  sr.  minbtro  do  império  remettendo  um  exemplar  impresso 
do  relatório  apresentado  á  assembléa  provincial  do  Rio  Grande  dò 
Norte  pelo  seu  respectivo  presidente. 

2.*  Do  mesmo  senhor  remettendo  o  relatório  com  que  o  presidente 
do  Rio  Grande  do  Sul  abriu  a  sessão  ordinária  da  respectiva  assem- 
bléa. 

3.*  Idem  enviando  o  relatório  com  que  o  vice-presidente  da  pro- 
víncia do  Rio  Grande  do  Sul  entregou  o  governo  da  mesma  ao  seu 
presidente  o  sr.  barSo  de  Muritiba. 

4.*  Idem  transmittindo  o  relatório  apresentado  á  assembléa  pro- 
vincial de  Minas  Geraes  pelo  seu  presidente. 

5.**  Do  sr.  conselheiro  José  Paulo  de  Figueròa  Nabueo  de 
Araújo  oQerecendo  o  7.*  volume  da  sua  collecçâo  cbronologica  sys- 
temática  da  legislação  do  Brasil ,  assim  como  varias  obras  de  legis- 
lado e  alguns  roanuscriptos  a  ella  relativos. 

6.*  Do  sr.  Ignacio  Manoel  Alvares  d'Azevedo  offerecendo  um 
exemplar  das  obras  de  seu  fallecido  filho. 

7.*  Do  sr.  dr.  Filgueiras  oQerecendo  um  exemplar  do  catbecismo 

XTiu  58 


kàS 
Braeilico  da  Doutrina  Chrísiia  com  o  Ritual  ãos  Sacramentos  e  m^i§ 

actos  parochiaes  pelos  PP.  da  Companhia  de  Jesus- 

8."  Bo  Sr,  Carlos  Augusto  de  Sá  oíTerccendo  um  mstiuscriptD  do_ 
poema  — ^Vills  Eíca^ — por  Cláudio  Manoel  da  Costa, 

9/  Do  sr  Eloy  Pessoa,  bibíioihecario  da  marinha  o&^ertando  uii 
coliecçâo  da  —  Revista  Marítima. — 

10.'  Dô  sr,  Manoel  Anionio  Vital  de  Oliveifíi  offerecendo  um  fo- 
lheto fom  o  ltmlo--De^crípri!o  da  Coslâ  do  \]r^zú  de  PíUmbú  Ji 
S.  Bento,  e  de  todas  as  barras,  portos,  rios  do  (itofal  da  proviiidl 
de  Pernarabuco. 

Tinias  estas  offertag  sao  recebidas  com  o  eostumado  agrada, 

Lê-se  e  fica  sobre  a  mesa  o  parâcer  da  commissáo  especial  sobre  o 
trabalho  geogrâphico,  poUitco  e  estatlstíeo  dosr.  Fraocisco  Nun«s 
de  Souza. 

UllDEU    DO    DIA. 

O  sr.  Lagos  prosegue  na  lâitura  da  sua  analjse  a  viagem  do 
conde  de  Gastei  na  tu  e  o  sr,  Norburio  na  de  um  dos  capítulos  da 
sua  Ilistoria  da  Litteratura  Brazileira, 

A*â  7  horas  levantasse  a  se^o,  marcando-se  para  a  ordem  do  dia 
seguinte  as  matérias  adiadas. 


15.'  SESSÃO  EM  7  DE  DEZEMBRO  DE  1855, 

Hoaradacom  a  An^tta  Preieafa  de  SuaMagcitade  Imperial, 
FltEfilOSBA    rtLO    EX.*'    Sã,    TISCOIÍIH    »E    SAFUCÃBl. 

A's  horas  do  costume,  preseníes  os  Srs,  visconde  de  Sapucahy, 
conselheiro  Cândido  Baptista,  Macedo,  Norberto  de  Souzã,  Horto- 
Alegre,  Figueiredo^  Raposo  d' Almeida,  Miguel  Maria  Lisboa,  Fer- 
reira Lapa,  cónego  Pinheiro,  Lago^,  e  Paula  Menezes,  aliiB-^e  i 
sessaã 

Lida  e  approvada  a  acta  da  antecedente ,  o  Sr,  !,'  seerttario  áà 
conta  do  seguintn 


440 

1X»DIIVTK. 

Officio  do  Ex.**  Sr.  ministro  do  império:  1.*  pedindo  uma  ex^ 
posiçSo  dos  trabalhos  do  Instituto  no  decurso  do  corrente  anno;  2.* 
fraosmittindo  um  exemplar  impresso  do  relatório  apresentado  pelo 
presidente  de  Sergipe,  Dr.  Ignacio  Joaquim  Barbosa,  á  assembléa 
provincial  da  mesma  provi  ncia. 

Outro  do  Sr.  Morelli  Landolf,  remettendo  por  parte  do  Sr.  Giu- 
seppe  Fiorella,  professor  de  archeologia  e  numismática  de  Nápoles, 
a  sua  publicação  em  dous  volumes — Ànalyse  numismática  e  nar- 
raçSo  de  vários  monumentos  gregos  e  romanos» 

Outro  do  Sr.  J.  P.  Figueiròa  Nabuco  d'Araujo»  enviando  novos 
volumes  sobre  a  legislação  do  paiz. 

Do  Sr.  André  Lamas  offerecendo  varias  obras  impressas  nas  repu- 
blicas  Hispano-Americanas. 

Outros  do  mesmo  senhor,  offerecendo -se,  visto  restar-lhe  tempo 
agora,  para  encarregar-se  de  qualquer  commissão  de  que  o  quizesse 
incumbir  o  Instituto;  e  enviando  um  opúsculo  seu  sobre  os  negócios 
da  Republica  do  Uruguay  e  a  generosa  intervenção  que  exerceu  o 
governo  do  Brazil. 

Ainda  dous  oiBcios  mais  do  Sr.  ministro  do  império :  um  enviando 
o  relatório  do  presidente  das  Alagoas,  o  Dr.  António  Coelho  de  Sá 
e  Albuquerque,  apresentado  á  assembléa  provincial ;  e  outro  remet- 
tendo apontamentos  contendo  uma  noticia  sobre  Guido  Pokrane ,  e 
sobre  o  francez  Guido  Thomaz  Marlière. 

Uma  carta  do  Sr.  F.  A.  de  Varnhagen  remettendo  o  1.*  vol.  da 
sua  Historia  do  Braxil:  enviada  á  1.'  commissão  de  historia  para 
interpor  o  seu  parecer. 

Um  oiBcio  do  Sr.  Miguel  Maria  Lisboa,  offerecendo  dous  exem- 
piares  de  uma  estampa  representando  a  batalha  doe  Santos-Lugares. 

Outra  do  Sr.  Diogo  Sturz,  remettendo  vários  impressos  e  lilho- 
graphias. 

Outro  da  Imperial  Academia  de  Sciencias  de  S.  Petersburgo, 
classe  physico-mathamatieai,  remettftndo  o  seu  bolletín. 


A52 

Dr.  José  Ilibei  ro  de  Souza  Fonles* 
Dr.  Francisco  Freire  Atlemão. 

Commlssm  de  admissão  de  t&eie$. 

Os  Srs. :  Maníiel  Ferreira  Lagos. 

Dn  Guilherme  Scbucb  de  Capaneroa. 
Dr.  Cândido  d^Azeredô  Coitinho. 

Ccmmissâú  d^  peg^aha  de  manu^criptOA  $  dúcumtniúã» 

Os  Srs. ;  Dr.  Joaquim  Maria  Nascentes  d*Azambtija, 
Luiz  António  de  Castro. 
Dr  António  Ferreira  Pinto. 

Terminada  a  eleição  o  Sr.  Ferreira  Lagos,  pedindo  a  pbvra,  tez 
a  leitura  do  prospecto  d'uma  nova  publicação,  que  vai  encetar,  com 
o  titulo  de  BiUiútkeca  BraúUlra  ou  coUecçãú  d*0hrm  §  dõCitmtniúã 
relativos  á  hhiariií  e  a  gtograpkia  do  Brazil^  dedicada,  com  pdrcnts- 
são,  a  S.  Al.  L  o  Sr.  D.  Pedro  11,  protector  do  Instituto.  Couimu- 
nica  lambem  qtie  esiá  tratando  da  organisaçSõ,  que  já  está  multo 
adiantada,  d' uma  Blhíiograpkia  BraiiUira,  ou  catalogo  de  LôdáS  as 
obras  sobre  o  Brazil,  impressas  desde  o  seu  descnbrimenlo  atá  boje^ 
tanto  na  língua  nacional,  como  nas  estrangeiras»  trabsilho  que  i^rá 
pur  complemento  uma  relação  dos  mappas  geograpbic<^  enistenteii 
acerca  do  paiz,  eque  em  tempo  opportuno  o  apresentará  ao  Im- 
tituto. 

Não  bavendo  mais  nada  a  traur  o  Sr»  presidente  levanion  i 


A53 

AftMiibléa  geral  dos  soeSot  do  lailitiilo   HUlorSeo  • 
Geographioo  Brasileiro. 

SESSÃO  ELEITORAL  EM  22  DE  DEZEMBRO  DE  1854. 

PBE8IDENCIÁ  DO  EXM.*  SR.  TISCOIIDB  DE  SAPUCÁHT. 

A's  5  horas  da  tarde,  presentes  os  srs.  visconde  de  Sapucaby, 
Porto- Al^e,  Lagos,  cónego  Fernandes  Pinheiro,  Campos  Mello , 
Rio,  I.  Norberto,  Honório  de  Figueiredo,  Capanema,  Sebastião 
Ferreira  e  Paula  Menezes,  abre-sea  sessão.  O  sr.  presidente  declara 
o  objecto  da  reunião  da  assembléa  geral  e  dá  começo  aos  trabalhos 
eleitoraes,  nomeando  para  escrutadores  aos  srs.  cónego  Fernandes 
Pinheiro  e  Norberto. 

Procede-se  á  eleição  do  presidente  e  colhendo  o  escrutinio  um 
numero  de  cédulas  igual  ao  dos  sócios  presentes  fica  eleito  o  sr.  vis- 
conde de  Sapucabycom  10  votos,  tendo  o  sr.  conselheiro  Aure- 
liano  1. 

Seguiu-se  a  eleiçfio  dos  três  vice-presidentes.  Para  o  l.**  sahiu 
eleito  o  sr.  conselheiro  Aureliano  com  10  votos,  obtendo  o  sr.  con- 
selheiro Souza  Franco  1.  Comparecendo  o  sr.  Luiz  António  de  Cas- 
tro e  Ferreira  Lapa,  e  votando-se  para  â.**  vice-presidente,  reco- 
lheu o  escrutinio  13  cédulas,  sendo  eleito  o  sr.  Cândido  Baptista 
de  Oliveira  com  unanimidade.  Para  S.**  vice-presidente  foi  eleito  o 
sr.  Ferreira  Lagos  com  9  votos,  obtendo  o  sr.  Souza  Franco  3  e  o 
sr.  Porto-Alegre  1. 

Passando-se  a  el^er  o  1.*  secretario  obteve  o  sr.  dr.  Manoel  Joa- 
quim de  Macedo  a  unanimidade  de  votos,  e  para  â.**  tiveram  os  srs. 
Norberto  6,  dr.  Paula  Menezes  6  e  o  sr.  cónego  Fernandes  Pi- 
nheiro 1.  Dando-se  empate  entre  aquelles  dous  primeiros,  correu 
segunda  vez  o  escrutinio  e  foi  eleito  o  dr.  Paula  Menezes  por  6  votos 
tendo  obtido  o  sr.  J.  Norberto  5. 

Foram  votados  para  l.«  e  2.*  secretários  supplentes  os  srs.  dr. 
Pereira  Pinto  e  cónego  Fernandes  Pinheiro,  cada  um  com  9  votos, 
alcançando  tambtm  o  sr.  J.  Norberto  3,  o  sr.  Porto- Alegre  1 ,  La- 


Afia 

gos  1,  Cuíz  António  de  Castro  â,  Sebastião  1.  Como  micms  de 
igualdade  de  votos  entre  os  sts.  Pereira  Pialo  e  Fernandes  Pínbstro» 
recorreu-sa  á  sorte  para  escolha  do  i."  supplenle,  e  foi  por  eUa  d^ 
signado  o  sn  ccnego  Fernandes  Pinheiro. 

Procedendo-se  depois  á  eleiçíio  do  orador  foi  o  sr,  Manoel  de 
Araújo  Porto-Alegre  eleito  com  12  votos,  obtendo  o  dr,  Paab 
Menezes  1. 

Para  ihesoureiro  alcançaram  votos  m  ^n,  dr*  Gáudio  Lnix  di 
Costa  1|  CapaiiÊfna^  Soares  2  e  foi  eleito  o  sr.Souift  ftio  mm  9 
votos. 

Terminada  a  elelçlo  da  mesa  administrativa,  p»ssou-se  i  no*^ 
meação  das  commísâoes  permanenies. 

Cõmmissão  ds  fundoi.  —São  eleitos  os  sra,  €o»tllieiro«  Emi- 
liano Faustino  Lins  com  13  voios^  Lísiioa  Serra  fO,  Mariz  Sar- 
mento 9.  Tendo  o  sn  Campos  Mello  3  votos,  Soares  %  Captnemo  i. 
Porto- Alegre  1- 

Commissão  de  e$tatutõê  e  redacção  áa  Âcvhía,  ^CompâifMi 
6  sr.  conselheiro  I^Jariz;  recolhe  o  escrutínio  14  cedulaSf  e  sahiram 
eleitos  os  srs.  dr,  Thomaz  Gomes  dtis  Santos  mm  14  votos,  osr,  Cor 
ruja  14  edr,  Souzii  Fontes  13,  Osr,  dr.  CA|iãnema  itve  í 

€úmmis$ão  de  revisãú  de  manmmptm, — 5ão  eleib&soti 
eonego  Pinheiro  com  !3  votos,  dr*  Ferreira  Lipa  com  13,  dr. 
Perdigão  Malheiros  12,  obtendo  ainda  os  srâ.  J.  NofbBrto,  Capa- 
nema,  drs.  Honório  do  Figueiredo  e  Lagos  1  voto  r^ida  um. 

Para  a  1 .'  eommmtJo  de  Hiúoría*  —  Foram  eleitys  os  sf§*  coo- 
selheiros  Souza  Franco  com  13  volos,  marquez  do  Abranles  «om  %% 
J.  Norberto  com  12,  obtendo  também  os  srs.  Ferroiri  Soares  2  vo-^ 
tos,  Carlos  Honório  1  e  Casiro  1, 

íora  a  2**  de  Historia.  — O  sr.  dr-  Emilio  Meia  eon  14 
votos,  Pereira  da  Silva  13,  Ferreira  Soaras  13;  tondo  lido  os  ãia. 
Grlos  Honório  I  e  Cnsiro  L 

Para  a  L*  cúmmiâsão  de  Ceo^rap  Aí  a.  —  Foram  mmeBàm  os 
ars.  eonselbeiro  Pimenta  fiueno  (X)m  14  votosp  visconde  do  Hârtit- 
guape  M,  Pontes  Bíbeiro  11 1  tendo  também  ossrs.  Galdíno  lus- 


&55 

liniano  da  Silva  Pimenid  2  votos,  Souza  Franco  1|  t  J.  NoN 
berlo  1. 

Para  a  2/  de  Geographia.  —  Os  sre.  Jeronymo  Francisco  Coelho 
com  13  votos,  Jardim  9,  conselheiro  António  Manoel  de  Mello  9, 
6  foram  também  votados  os  srs.  Campos  Mello  com  3  votos.  Honório 
de  Figueiredo  2,  Capanema  2,  Soares  1,  Porto-Al^re  1  e  Nor- 
berto 1. 

Para  a  de  Ethnographia.—OssTs.  Cláudio  Luiz  da  Costa  14,  dr. 
Freire  13,  Porto-Alegre  13  e  os  srs.  J.  Norberto  1  e  Capanema  1. 

Retira-se  o  sr.  Castro ,  e  seguindo-se  a  eleição  da 

Commissão  de  admisêão  de  êocios  y  foram  escolhidos  os  drs. 
Capanema  com  12  votos,  Ferreira  Lagos  com  10,  Azeredo  Couti- 
nho 10,  tendo  osr.  Carlos  Honório  4  votos.  Lapa  1,  Castro  e  Paula 
Menezes  1. 

Comparece  o  sr.  Lisboa  Serra,  e  procedendo-se  á  eleição  da 

Cammissâo  depesquixas  de  mantiscriptos ;  foram  eleitos  os  srs. 
Nascentes  de  Azambuja  12,  Angelo  Thomaz  14,  Campos  Mello  12. 
Sendo  também  votados  os  srs.  Serra  com  3  votos,  Luiz  António  de 
Castro  1. 

Feita  a  apuraçSo^  e  lida  a  acta  da  sessão  afim  de  verificar-se  sua 
exactidão,  levanta-se  a  sessão. 

Sala  das  sessOes,  em  22  de  Dezembro  de  1854. 


"  xnn  59 


hbú 


UlSCUltSO 

Proferido  em  nome  do  Insliíuío  núiorico  e  GeQgrapkic&  Brazi' 

kira  pdú  %r^  Joaquim  Norberto  de  Souza  Siha^  em  cãmH~ 
qumcia  de  íer-se  reiifffdo  por  incommodado  o  seu  autcr  o 
êr.  Manoel  de  Arauja  Porto- Áh^re  ,  (lo  dar-se  á  sepuflurao 
ctidavsr  do  5om  knmr^ario  o  sr.  Manoel  Áha  Branco^  ris- 
conde  ie  Camvdím. 

O  Brasileiro  que  proíeí^i  a  religião  áè  iiioral  e  do  pairrotismo  nia 
fíóde  ver  esle  funeral  sem  ilerramor  uma  logrimii  dú  amor  ,  soiidadí*. 
respetlo  eadaiiroçíOp 

Vão  dcsappareccr  os  reslos  morlfles  de  Manoel  Alv^s  Bmntt,  th- 
conde  dQ  Caravellasji  consellieim  de  estado,  senador  do  império  e 
uma  das  intêlligoncias  tnaii  probas  e  mnis  illustrãdâs  dâ  nossa  epocba. 

Clieb  do  re&|>6jto  do  %úm  contemporâneos  desce  á  sepulton  o 
cídadio  completo,  o  canselheiro  leal,  0  mogislrado  récío,  o  estiflifÊi 
o  o  liuerato»  o  ftmiíjoda  mocidade,  o  pai  estremoso,  ti  m^rído  etéfO- 
.plar,  e  o  ami;ío  eoiíiitanle  c  desvelado.  O  seu  nome  foi,  corao  o  mnm 
do  Mariim  Francisco,  do  Piula  Souza  e  de  outros  vários  inemora- 
veis,  honra  e  gloria  da  nossa  idíide^  íjuôdoixDPam  um  nome  pyrd* 
uma  vida  exemplar,  c,  como  terrivel  lestomunho  de  tantas  virtudes « 
essa  pobreza  admirável  quo  os  edifica  e  os  recém menda  á  posta- 
ridade* 

O  cidadão  quo  agora  deploramos  foi  unm  poderosa  dualidade  fa- 
vorecida com  as  harmonias  do  engenito  e  com  a  scíencia  da  admi- 
nistrado; a  força  orculta  e  mystoríosa  que  se  manirestàra  mm  tanta 
brilho  Q  Kuperioridada  no  poeta  foi  sempre  a  mesma  que  rutilou  na 
iribonai,  no  gabinete  e  na  pratica  ;  o  poeta  e  o  (^ladisla  sonorioavam 
pela  estrella  do  amor  da  pátria.  Sectário  dos  grandes  princípios 
constitucionaes  d^essa  tolerância  de  opiniões  consentânea  com  a 
ordem  publica  e  com  a  paz  interna,  inimigo  das  pâr$oguiçcios3}'s- 
temáticas  o  do  exclusivismo,  em  ioda  a  sua  carreira  publica  no 
luinisterio  e  no  parlamento  só  conheceu  a  probidade  o  o  ta1enlo>  i 


«57 

fraternidade  nos  Brazileiros ,  a  moderação  na  pratica^  o  perdão  para 
os  arrependidos,  ea  amnistia  para  os  dissidentes.  Alma  generosa, 
nunca  pers^uiu  o  vencido  nem  conculcou  o  moribundo :  o  anno 
de  1842  pertence  á  historia. 

Nas  epocbas  que  atravessou,  nas  opiniões  que  combateu,  nos 
actos  que  annulou,  foi  sempre  o  mesmo  bomem,  a  mesma  grande 
individualidade.  Apostolo  do  progresso  e  da  economia,  viveu  e  fal- 
leceu  circumdado  dessa  atmoçphera  sagrada  que  protege  o  homem 
justo,  e  o  torna  sempre  venerado  de  iodas  as  parcialidades  politicas 
que  os  tempos  vão  formando,  agrupando,  confundindo,  annuilando 
e  revivendo. 

Não  deixa  á  sua  numerosa  família  palácios,  nem  domínios^  nem 
ouro  que  se  multiplica,  masdeixa-lhe  o  honroso  direito  de  poder 
pedir  aos  poderes  do  estado  um  pâo  para  alimentar-se,  uma  dimi- 
nuta parcella  d'aquellas  riquezas  nacionaes  para  as  quaes  elle  tanto 
concorreu  como  estadista  e  Gnanceiro  que  era,  como  Brazileiro 
que  foi. 

Tal  foi  o  homem  que  o  Braxit  perdeu,  que  a  sociedade  chora, 
e  que  o  Instituto  Histórico  nos  manda  acompanhar  ao  seu  ultimo 
jazigo. 

Que  a  terra  lhe  seja  leve  ê  a  pátria  agradecida. 


458 


DISCURSO 


X^ripto  e  proferida  em  nome  do  fnstituto  ffi$iori€o  e  Geagra- 
fhito  Brasikiro  pelo  sr^  Joaquim  Norhcrto  de  Souza  Siha 
par  occasiâo  de  d  ar -se  à  scpullura  o  cadáver  do  vice-prui- 
dmtn  a  $r.  Aurdiano  de  Sou^a  e  Oliveira  Coutinho  ^  mi- 

eande  de  Sepdiòa. 

A  trombela  do  anjo  da  morta  repârcuie  nos  valles  e  nas  monta^ 
nhãs  do  terra  da  Cru!^, 

Ao  hymno  da  independência,  qiio  ainda  ha  pouco  acordava  a 
brado  victoríosú  do  Ypiranga,  succedcu  o  canto  das  preces;  trajam 
luto  os  paredes  tios  templos  que  so  cobriam  das  galas  nacíonaes,  o 
a  tristeza  assoma  nas  faces  em  qntj  se  divisava  o  riso!  Por  toda  a 
parle  o  pranto !  Por  ioda  a  parle  a  dor  I 

D'enire  as  taj^riraas  o  soltiços ;  do  meio  das  vozes  que  niuminratn 
lábios  dilacerados  pela  saudade,  nào  escutais  um  nome  que  se  l«vi 
aeima  de  todos  es^s  nomes  que  baixam  lioja  ao  nada  do  sepnlchm  f 

Ab  t  já  nffo  exista  o  i Ilustre  Aurelíano  de  Soua  o  Oliveira  Cou- 
tinho,  o  dbtincto  visconde  de  Sepeiiba  I 

Sua  alma  já  peoetroii  05  umbraesda  eternidade^  00  seu  nome 
desde  este  momento  solemne  pertence  ás  pagioa^^da  bístoria.  £  comd 
radiante,  puro  e  sublime  nSo  surge  agora  para  pusleridadc  que  1 
me(;a  I  £!m  vão  a  imprensa  desregrada ,  esquecida  de  sua  miã 
bella,  snbiimc  e  grandiosa,  como  o  próprio  pânsamenln  de  Guti 
berg;  em  vàoa  celeuma  dos  partidos  contrarir>â,  accest^  da  (kàttõos 
mesquinhas  e  tao  pequenas  se  debatendo  no  seio  da  grandeza  da  pá- 
tria, protcncltram  fnanchar  iima  roputaçiio  que  lOiJos  m  dias  so 
sublimava  ,  que  todos  os  dias  avultava  com  o  engrandecimen&o  da 
palrin  que  cibi  promovia. 

Ministro  da  josUça  em  tempos  Je  provações,  quando  o  car- 
ro da  rãvoluçào  não  bavia  ainda  parado  sobra  o  seu  piano  in- 
clinado ;  miuistro  dos  negócios  estrangeiras,  quando  o  horizontt  da~ 


A6d 

pátria  se  ampliava  aos  primeiros  raios  da  aurora  da  maioridade,  elle 
mostrou-se  acima  de  si  mesmo,  e  prestou  serviços  que  longo  fora 
enumerar.  O  odío  dos  partidos  negava-lhe  então  essa  capacidade  que 
para  os  públicos  negócios  lhe  imprimira  a  natureza  em  seu  génio, 
roas  a  fama  de  seus  serviços  e  talentos  passando  o  Atlântico  o  mostra- 
vam no  velho  munde  tal  qual  elle  renasce  neste  momento  para  a 
posteridade,  e  as  honras  concedidas  pelos  monarchas  estrangeiros 
vinham  adoçar  a  aridez  de  sua  estrada  escabrosa  ,  como  flores  se- 
meadas sobre  os  espinhos  espargidos  por  mSos  inimigas. 

Deputado,  e  depois  escolhido  da  lista  triplico  da  eleição  da  pro- 
víncia das  Alagoas  para  representa-la  no  senado,  o  estadista  dislincto 
sempre  se  houve  circumspecto,  não  tendo  outro  norte  mais  do  que  o 
bem  do  paiz  que  o  viu  nascer,  mais  do  que  o  engrandecimento  e  a 
prosperidade  da  pátria ,  que  não  é  um  mytho  vão  na  crença  bra- 
zileira. 

Gigante  do  porvir,  no  meio  das  lutas  dos  partidos,  elle  anteci- 
pou os  melhoramentos  materiaes  do  nosso  paiz  e  fundou  bellas  e 
úteis  instituições.  Osorphãos  da  nação,  esses  filhos  e  viuvas  dos 
servidores  do  Estado,  lhe  devem  o  pão  quotidiano  e  o  amparo^ 
nesse  monte-pio ,  que  como  um  anjo  de  piedade  abre  suas  azas 
douradas  para  proteger  a  infância  e  a  viuvez  desvalida. 

Presidente  d'esta  provincia,  proseguiu  na  série  de  melhoramentos 
que  haviam  emprehendido  seus  antecessores,  e  bem  depressa  o  ho- 
mem creador  e  incansável  tornou-se  notável  pelo  seus  passos  agigan- 
tados tirando-se  da  senda  batida.  A  nova  estrada  da  serra  da  Es- 
trella  como  uma  serpente  sinuosa  elevou-se  soberbamente  desde  a 
raiz  alé  o  pincaro  da  altiva  cordilheira,  que  submissa  dobrou  o 
seu  collo.  Então  uma  cidade  pittoresea  surgiu  como  por  encanto  do 
meio  das  florestas,  com  seus  canaes  bordando  largas  e  magnificas 
ruas,  e  realisando  o  sonho  da  poesia  ! 

A  emigração  européa  mereceu-lhe  os  maiores  cuidados  muito 
antes  que  o  trafico  africano  fosse  detido  pelo  pavilhão  auri-verde 
em  sua  iniqua  propaganda,  que  linha  por  fim  converter  a  nossa 
terra  em  uma  nova  Africa,  e  o  colono  de  Westphalia,  da  Rhena- 


A60 

nji^  (Ia  Simerb,  de  Badon  encouUou  era  fetropoits  o  qut 
sonhara  possuir  om  seu  ninho  pternot  e  c^irontianflo  pr^b  WlleE»  o 
eipkndor  da  naturaíía  esses  quarteirões  que  possuem  os  denomina* 
çOes  de  seus  condados  de  além-mar,  abençíiava  no  mei<>  das  préeâ» 
de  suaíamil^a,  mh  o  teclo  da  cabana  ho^pilaleIrd4onoDna  d^âu- 
Teliano  de  Souza  o  Oliveira  Coutinho. 

A  morie  o  colheu  ne^la  capital >  que  elleetcolliéra  pamsiia  neei- 
doncia*  quíindo  redobrava  do  ardor  pelos  s^jtjs  eí^tmlcjts  partienUréâ 
o  favoritos,  e  truia  essa  grão  jneflavd  i](io  .^  se  eurji>ntrj  tio  ^rci  (l« 
uma  familU  nobre »  houesldi  cuja  vjriude  está  acuna  de  UkÍh  ti 
çlogio. 

No  impedimoBto  do  orador  do  (nstituio  Hiãlorie^  BraiiWtri»,  cyja 
yoz  eloqtiente  ^iato  nâo  ouvir  rept^tculir  sob  eslas  Ttbubiidas  lecon- 
da-lbeo  meracido  encoujio,  venho  oti,  o  mais  diiifonlieeido  dos  seus 
sócios,  ao  lado  do  meus  amígníí  e  eoílogss,  que  me  deiv^rram  úo 
triala  dever,  espargir-lbe  eslas  flores  e  duer-iíie  Q  aduos  elenio- 


REVISTA 


DO 

IHSTITIITO  HIST0R1€0  E  6E06RAPUIG0  DO  BRAZIL. 

3.*  SERIE. —SUPPLEMENTO  AO  TOMO  XVIII.  — 185$. 

SESSÃO  PUBUCi  iimiVERSilUA 

DO 

Instituto  i^iBtorico  e  (Beograpijico  bo  ffira^U 

No  dia  16  de  Dezembro  de  185S. 


DISCURSO 

IX)  PRESIDENTE  O  EX.-  Sr.  VISCONDE  DE  SAPUCAHT. 

Annunciaiido-vos  a  solemne  oommemoração  do  dia  eui  que  (ti 
regenerado  o  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brazileiro»  leoho, 
srs. ,  completa  satisfação  em  patentear,  inda  uma  vez,  perante 
auditório  iSo  conspícuo  e  benévolo,  que  a  S.  M.  o  Imperador ,  aeu 
immediato  protector ,  deve  elle  tudo  quanto  é — ávida  e  o  pro* 


Mais  um  anno  de  existência  conta  o  nosso  Instituto.  Mais  um 
apoo  çle  esforços  uo  desempenho  dos  árduos  deveres  da  associação  vai 
ajuntar-se  aos  jà  engoJpbados  no  abysmo  do  pa^^sado. 

E  esse  anoo  de  existência ,  esse  anno  de  esforços  nâo  foi  estéril  j 
ufíÇ  será  esquecido. .  ,• . 

•O  relatório  do  digno  e  illustriudo  I.^^Sqcretiirio  fará  coabecer 
circumstaooiadamente  ^  estado  da  sociedade^  o  fructo  da  appUcação 
doe  talentos  de  nossos  consócios.  Vereis  que ,  longe  da  retrogradar* 
mos ,  avançamos  com  prudente  passo  na  vereda  dos  melboramentos. 

Escriptos  frajoqueados  ao  publico  na  Revista  Trimensal,  escrip- 
tos  que  aguardam  a  vez  de  verem  a  luz,  escriptos  de  longo  e  im- 

XTni  suK  1 


probQ  trabalho  4  fuja  ttvittirâ  mo  foi  fkinda  irrmínaiifi  ^m  noftas 
sessões  ordinárias »  exhibtíui  prova  incontastãvd  úa  cipâeídide  e 
istudo  de  seus  dtsLinctos  e  diligontas  niiior@s. 

Em  brfeve,  srs. ,  a  Revista ofTereeera  è  v09«ft  estudiosa  curiúsidtJe 
erudita  e  efigenho!>a  nnalyse  da  viagem  do  conde  cleCastelnau,  tVesss 
viagem  invada  de  inexactidões,  crespa  do  erros  e  rraquentemeiíie 
adversaria  da  verdade  nas  cousas  da  nossa  terra.  Em  brere  \erm 
em  ílorirta  e  castigado  estyba  variada  historia  dã  poesia,  qmçà 
da  littaratura  nacional.  Os  illuslres  soctos  que  d@  taos  larefàs 
m  oneraram  são  de  vós  conhecidos  vantaj(fêamontQ  por  ímporitncas 
lucubraçues  que  os  tem  constiluidQ  beneméritos  do  InsiituEo  e  das 
letras  brazileiras* 

Comqnnnta  os  poderes  do  estado  continuem  a  auxi1iar*no5  pt- 
trioticamente ,  o  snbi^idio  votado  no  orçamento  dti  império  fíci 
ainda  áquem  do  que  havomns  mister  para  bem  atiingrr-se  o  do^í^ 
úm  social.  Não  estamos  habilitados  com  as  sommns  precisas  para  dar 
ao  prelo  alguns  dos  bons  manit^riptos  que  enriquecem  nosrá  ar* 
chivo,  nem  para  reimprimir  obras  de  merecimento,  p  rai^, 
concernentes  a  nossa  historia  egeographia- 

Não  desmaiamos  porém,  dignos  consócio;;,  âhi  aãtá  a  mão  podo* 
rosa  e  muniflcenle  que  nos  elevou  a  emUienciH^i  que  o<^upiiiioi  i 
ella  nào  cinsa  de  dispensar  heneficíos*  EsforcemcHnos  por  ni«rt* 
cé^los,  que  nada  faltará  ao  credito  do  Instituto ,  e  concribuirenios 
efficaimente  para  a  gloria  da  palria. 

Resta»  srs.  ,  manifestar  ao  nosso  proiecu»r  magnânimo  o  pro- 
fundo reconhecimenlo  do  Instituto  Histórico  e  Geographico  firiit- 
leiro  pela  mercÔ»  que  ora  lhe  outorga,  de  assistir  com  S.  M.  a 
Imperatriz  a  esta  solemnidade.  Cumpro  gostoso  essa  dever  sagrado, 
rendendo ,  Sr. ,  a  V.  M*  I.  innumeras  graças  em  nome  do  loslitutoi. 

E  a  vós,  Sn. »  que  poderei  eu  dignamente  dizer?  Na  presença 
augusta  6  sempre  desejada  da  V.  M.  I.  sentem  os  Brazileiroadíla- 
larem-se*thes  oscuroçôes  deiiíefFavei  jubilo.  £  que  muito,  Sra.  ?  si 
e1le§  tem  ante  os  olhos  sua  mâi  bemfazeja  e  adorada  l 


RELATÓRIO 

DO  PRIMEinO  SECRETABIO  O  DR.  JOAQUIM  MANOEL  DE 
MACEDO. 

Voltar  08  olhos  para  a  estrada  decorrida ,  renovar  o  passado  com  o 
poder  resuscitador ,  que  tem  a  alma  na  faculdade  que  lembra ,  é  um 
tormento  profundo  do  coração  que  aitribula  o  peregrino  da  vida 
humana,  quando  elle,  tendo-se  perdido  nos  desvios  dos  erros ,  ou 
cahído  no  abysmo  do  crime,  trouxe  da  trabalhosa  viagem  um  amargo 
arrependimento »  e  experimenta  o  primeko  castigo  de  Deos  na  voz 
lerrivel  do  remorso,  que  incessante  llie  brada  na  consciência.  É 
lambem  um  sacríGcio  que  pesa  e  morlíGca  as  associações  litterarias, 
que  f  enervadas  pela  inércia ,  adormecidas  pela^  indiferença ,  des« 
conceituadas  por  sua  esterilidade,  recuam  tremulas  e  vergonhosas 
ante  o  juixo  dos  contemporâneos ,  que  as  observam ,  e  lêem  medo  de 
confessar  que  estragaram  o  thesoure  do  tempo ,  e  que  do  seu  seio 
infecundo  como  a  indolência ,  gelado  como  o  egoísmo ,  árido  como 
»  descrença ,  não  sahiur  um  só  fruoto ,.  que  as  fizesse  merecer  os 
applausoe  e  as  bênçãos  da  pátria ;  vestaes-que  deixaram  extinguir-se 
o  fogo  sagrado,  quando  sda  a  hora^  em  que  devem  apresentar-se  a 
seus  juizes,  fogem,  e  procuram  esconder-se  nos  recantos  escuros  do 
tempo ,  e  preferem  as  trevas  á  luz. 

É  então  que  para  o  peregrino  que  transviou-se ,  esquecendo  o 
caminho  da  virtude  ^  que ,  para  as  associações  que  nada  produziram 
em  proveito  da  humanidade  ,.transforma-se  a  memoria  em  um  algoz, 
que  tortura,  forjando ,  com  as  recordações  que  suscita ,  uma  coroa 
de  espinhos. 

lias  quando  lembranças  de  nobres  ou  gloriosos  feitos  vem  suave- 
mente desli^odo-se  pela  alma,  como  as  aguas  limpidas  de  um 
ribeiro  formoso ,  que  corre  por  entre  duas  margens  alcatifadas  de 
flores,  quando  as  ideias  do  passado  chegam  doces  e  enlevadoras, 
como  as  deleitosas  harmonias  de  imi  canto ,  que  ao  longe  se  entta , 
e  íazem  sorrir  o  homem  justo»  que  levanta  sem. terror  os  olhos  para 


4 

Dees.  D  pode  ofúrever  o  c^,  porque  não  lhe  lalhe  a  vísti  a  nureiíi 
negra  t!  densa  úm  remoTSus,  que  paira  etiire  os  cúmús  da  turra  9  o* 
gozos  puros  da  eturnidado ;  quando  uma  associação  littoraria  ^  trfaiid» 
de  fadiga  p  toca  o  marco  de  suas  lidas  annuâes »  0  sabe  qua  õa  «ilii* 
bit;ào  de  seus  trabalhos  dará  evidentes  e  irrecusáveis  tesiemunbôs  d» 
desvelo  eom  que  procurou  desempenhar  a  tarefi ,  que  sobre  setii 
hombros  tomárs^  entáo  as  lembranças  do  plissado  não  âo  UM 
atribularòds  que  atoroMnlAm «  nem  um  peso  que  anela ;  a  mmmm 
deixa  de  ssr  algoz,  c  transforma-se  era  uma  fada  t^rtfanladari,  0  «fn 
vea  de  forjar  uma  eoròa  de  espinhos,  off^rece  uma  coroa  á&  glorii. 

Ainda  um  nofo  e  foli^  e^iempio  vem  hojo  pôr  em  releva  a  v»n}a4# 
d' essa  tâo  simpl^  observação  :  recebido  com  honras  precUrai  nm 
lalas  imperiaes,  o  Imiiuiio  Histórico  e  Geographicg  do  Brasil  1 
com  ardente  eíFusãe  de  jubilo  0  dia  de  seu  annrversam*  #, 
brando  uma  fesia  de  Jeitras,  apresenla  em  publica  e  siKÊdri  6ifPtH 
$k5ú  ú  quadro  de  ,seus  tr^kilhos  no  anno  do  tSSS,  é  m  áot» 
recordaçio  dos  serviços  que  presiou  á  hisloria  potria  eniOfUri  ^ 
]Uâto  pruniio  de  mm  fadigas. 

Mas  antes  mesmo  de  proirar  com  a  riqueza  da  masie  o  leto  dos 
euhivadorgtg ,  o  Instiiuio  llrnorko  e  Gaographieo  do  0roxil  \)àdã 
ôstenlôr  previa  Enente,  na  impnancis  elevada  do  que  goia,  e  no  vito 
tnleresw  que  inypira  *  o  demonstração  írrefragavol  do  esmiro  nuoei 
desmaiilido,  com  que  tem-s^  empenhado  por  cumprir  a  diíEcil  » 
espinhoSA  missão  de  que  se  encarregou. 

Com  efféito ,  tan(o  no  seio  da  pátrio ,  como  no  resto  ào  mundo  d# 
Colombo,  e  como  ainda  nas  mais  cívilisadas  nações,  que  demoram 
além  do  ailaruico,  o  nosso  Instituto  se  honra  de  ler  mtrt^i^rdo  e  d# 
continuar  a  merecer  solemnes  dislinccôes,  que  se  não  barateam 
járaais,  e  que  antes  com  empenlio  se  apurara  para  realçar  as  grandes 
e  sabias  academias  do  mundo  lilterario. 

No  grémio  pátrio  o  Instituto  Histoneo  eGeograpIrieo  doBraiH 
se  desvanece  e  gloria  de  ler  por  primeiro  sócio  o  prrmetro  ddaéào 
do  Brasil :  é  um  nobra  apostolado  que  conta  por  mestre  o  impiirador : 
nao  desceria  a  magestade  do  alto  de  seu  ibrono  para  chagar  a  tê  dk, 


6 

para  recebé-lo  como  hospede  querido  debaixo  do$  régio»  tectos »  pani 
adupta-lo  como  filho ,  cujos  passos  vigia ,  coja  vida  anima  e  sustenta, 
cujo  futuro  prepara  e  engrandece,  si  por  ventura  a  nossa  associaçáe 
não  se  mostrasse  de  alguma  sorte  digna  de  sua  generosa  e  magnânima 
proteeç0o. 

E  ainda  mais,  dignando-se  de  tomar  parte  em  nossos  ífãmA 
trabalhos ,  fasendo  de  seu  palácio  o  templo  augusto,  em  que  se  solem- 
nísa  a  nossa  festa  anniversaria ,  o  imperador  faz  reflectir  os  raios 
luminosos  de  sua  corda  sobre  esla  instituição  litteraría,  que  tomando 
a  peilo  coliigir ,  methodisar  e  publicar  ou  arcbivar  os  documento» 
concernentes  á  historia  e  á  geographia  do  império,  o  á  archeologia, 
etbnographia  e  linguas  de  seus  indígenas,  estabelece  essehçòde 
unidade  e  de  continuidade  entre  o  nosso  serdehontem  e  o  nosso  ser 
de  hoje,  segundo  a  pbrase  do  sr.  Lamartine,  prepara  o  elo  magico 
que  deve  unir  á  actualidade  á  posteridade ,  e  concorre  com  os  futuros 
historiadores,  para  quem  enthesoura  os  mais  preciosos  elementos , 
nó  exercicio  d'eS6a  alta  magistratura  politica,  que,  na  opinião  de 
Courcelle  Senevil,  assumem  aquelles  que  escrevem  a  historiado 
uma  nação. 

E  para  que  finalmente  tudo  concorresse  a  aoeender  o  enthusiasmo" 
em  nossos  corações ,  ao  lado  de  nosso  augusto  protector  vemos  sempre 
a  nossa  magnânima  imperatriz,  que,  desvelada  também  pelo  Insti- 
tuto Histórico  e  Geograpbico  do  Brazil,  não  deixa  uma  s<^  vez  de  vir 
tomar  mais  bella  e  graciosa  a  solemnidade  de  seu  anniversario. 

Os  grandes  poderes  do  estado  vào  de  anno  em  anno  tornando  mai» 
salientes  e  ostensivas  as  provas  do  elevado  apreço  quo  fazem  do  Insti* 
tulo,  e  as  mais  bem  fundadas  esperanças,  que  depositam  omsoas 
investigações  e  nos  seus  estudos,  esperanças  que  não  podem  ser  senão 
o  resultado  dos  frudos  que  o  paiz  já  tem  colhido  das  nossas  porfiadas 
luculyações. 

Os  ex.***  ministros  de  S.  Magestade»  bem  como  todos  os  pre»í*^ 
dentes  das  províncias  do  império  lêem  incessante  e  notaveloiente 
obsequiado  o  instituto  nfio  só  eom«  mais  prompta  satisfação  de  lodo» 
06  seus  pedidos,  mas  ainda  eom  a  remessa  de  obras ,  manuacriploa  a 


ddcumcntcã  todos  luab  ou  menos  inleri^saiileâ  ã  liUluftt  pslrja »  #^ 
que  v3o  enriquecendo  e  dabranJo  da  valor  o  hosso  arebhn  e  i  fio^sa 
btblioiht>ca. 

Espaciaimenta  o  e\**'  sf.  ministro  e  secretario  de  mlMú  diK.^ 
negócios  do  império ,  como  aquelk  â  cuja  repartição  se  acfia  lígido  o 
Instituto t  continuou  oãle  armo  a  j^ssiguslar-se  pafâ  eomíiosoo  com 
um«  solicitude  esmerada^  quts  desafia  u^da  a  gratidão  4k  ooaii 
parte:  omsuas  rela^^ôes  com  su»  esíCtíllencia  a  iK»ssa  associado  enem* 
trou-o  sempre  activo  e  obequioso,  dando  todas  as  pmviddod». 
tomando  iodas  as  nítidas  propostas  u  requeridas  com  um  esa»ero  e 
uma  diligencia  ,  que  não  podiam  dispensar  um  agradecimento. 

O  corpo  legislativo,  comprehendend»  em  sua  sabedoria  smtuM 
importante  de  que  nos  achamos  incumbidos,  e querendo  babilílK* 
aos  com  todos  os  meios  para  mais  fácil  e  cabalmente  de^mpenha-la , 
elerou  o  subsidio  com  que  nus  auxiliam  os  cofres  do  estado  t  que- 
brando assim  com  po^anie  mao  essa  barreira  material,  que  obstau 
uffl  mais  rápido  desenvolvimento  e  progresso  da  nossa  associa^, 
sopeando*- Ibe  as  vezes  a  marcha. 

As  sympaLhias  e  a  razão  esclarocida  do  povo  respondem  coroo  um. 
echo  á  protecção  ooin  que  S.  Magestade  nos  exalta  e  és  demonstraçâa* 
de  interesse,  com  que  nos  acuroçaam  os  poderes  do  estido;  e 
podemos  di^er  que  é  chegada  a  época  em  que  o  Instituto  é  abençoido 
por  todos  os  braiiteirog^  que  nelle  honram  o  sacrário  venerarei « 
onde  se  recolhem  os  feitos  do  passado^  e  onde  se  guarda  reUgiosa* 
mente  o  livro  d' ouro ,  em  que  se  registram  os  grandes  aeontecimeitlâs 
da  nossa  idade,  para  ser  deixado  como  um  precioso  legado  ásgeraçM 
íuturas.  I 

Emquanto  dentro  do  ímparlo  uma  gra^a  imperial  nos  áleoia, 
como  o  sol  quo  desenvolve  e  robustece  a  arvore,  que  apcm^  desata 
seus  primeiros  ramas  e  o  governo  do  estado  *  e  todos  os ciibdàis^ 
uoi  encorajam  e  spplaudém ,  de  todo  o  mundo  civilisado  tem  piritcio 
sãtidações,  que,  primeiro  apanhando  ainda  no  berço  o  noso loâ 
tuto,  cãhíram  sobre  elle  como  flores  ou  bymnos  genôthliacot  ^  s;^ 
depois  I  sempre  coatinuaudo  até  hoje  ^  sáo  como  Uços  de  pura  fca- 


^ 


ternidade  ^ne  ligam  esireitamenta  a  nossa  assoctor^o  com  as  mnh 
sabias  e  famõSâS  academias  do  mando. 

O  nome  do  Instituto  soa  com  louvor  c  honra  no  novo  e  na  velho 
mundo,  e  das  tnArgm$  M  Fotomak  como  das  praias  do  atlaniicci 
em  New-York ,  e  das  margens  do  Ma  mana  rei"  e  do  Tèjo ,  4o  Sena 
e  do  Tamisa,  do  tser  e  do  Danubto,  do  Sprée  o  do  Ne^fl  *  b  das 
praias  do  Mediterrâneo  e  do  Batttco,  de  Washington  ede  New* York» 
de  Nápoles,  de  Marselha  o  do  Pariá»  de  Lisboa «  de  Madrid  tdt 
Londres^  de  Copenhague ^  de  Berlim,  de  Baviera «  de  Viénna 
d* Áustria ,  de  â.  Potersburgo  e  de  Christíanía  ^  as  mais  celebres  6 
illustres  sociedades  nos  estendem  as  mios  e  saúdam  com  espanco  e 
conl]ant*4i  o  seu  irmfo  do  império  diamantino* 

O  nosso  Instituto  cultiTando  solliciío  relates,  qoe  a  seiencia 
santiãca ,  e  cujos  iaços  sao  cada  vez  maís  apertados  pela  identidade 
ou  similitíid^í  dog  fins  a  que  se  consagram  Iodas  as  sociedade  lilte- 
rarias  e  scientiftcas »  cumpre  um  dever  por  certo  bem  agradável. 

Até  aqui  signaes  manifestos  e  honrosos  de  uma  estimação  sempre 
crescente  e  elevada  abonam  de  antemão  o  Instituto  Histórico  d 
Geographico  do  Brasil :  bosquejando  agora  a  historia  da  sua  vida  no 
anno  social  de  1855,  veremos  como  cila  vem  felizmente  sancctonar 
aquelle  prévio  e  favorável  juiEO. 

O  Instituto  Histórico  e  Geographico  do  Brazil ,  no  correr  do  anno 
que  vai  acabar ,  desvelou -se  ^  corno  nos  precedente ,  no  ííd  e  exacto 
cumprimento  dos  preceitos  dos  seus  estatutos «  e  o  fez  com  tanto  maior 
cuidado^  quanto  reconhece  que  essas  regras  a  que  se  cingiu  sSo 
pbaróes  accesos  pelos  conselhos  da  axpariencia  que  o  devem  mais 
segura  e  faeitmente  dirigir  pela  estrada  do  progresso. 

Mas  ha  preceitos  ^  que  se  podem  chamar  inaprectavets  gozos :  ha 
votos,  que  a  natureza  e  um  affeeto  ardente  fazem  prtir  esponta- 
neamente do  coração ,  e  que  a  religião  e  d  moral  ainda  assim  rdeom-' 
mendam  como  deveres :  a  natureza  impelte  um  filho  a  amar  seus 
paii,  esse  amor  è  uma  6ór  do  coração  e  uma  dt^licia  da  alma,  e  enirt- 
tanto  a  rellgijitj  e  a  mural  estabelecem  o  dever  do  amor  filiat :  com  o 
Instituto  succede  que  a  sua  lei  lhe  rec^mmenib  que  uma  commi^ão 


i 


íq  seu  SBiú  fa^  ouvir  a  voz  do  reconliertmeíito  e  tia  Rd«ltdftle  p&êot» 
o  ihvmo  augusto  de  S.  AL  Imperial  nos  dbs  íau$U)S6«  da  patri«  ; 
5ôbr4)sahe  poÍ5  o  esntero  e  a  urania  com  que  a  Institulô  de»eiii{)ei>tia 
çsta  fôgraffíJ  e  ao  n;9smt>  leinpo  inaprecinve!  ilisposieiTo  da  sua  tó- 
,  Nossas  stíssòes  ordinárias  íoram  celebnJjs  com  a  mais  tiitímplar 
jraguijiriíJoJa  dorAnte  o  cufí^o  da  lodu  anoc  social ,  e  canstauteiuâiitti 
se  íuerâm  roconimenibf^eis  pt^la  apresefitaç^o  e  lÊÍtura  detraiLaltiâft 
de  um  mertlo  jucúnte^tâv^L  Cuniprt;  tão  olvidar  que  esx$  pomiiati* 
dado  ireui  unia  sú  vez  inlâr rompida  torua-§a  lanlo  mais  digna  dt 
9ttaD^t  quanto  é  de  iodos  sabida  que  tivemos  de  atravessar  Ir^ 
longos  mezBS  da  aíHídiva  provD^.io ,  e  de  ir  por  diante  com  9 
nos^  tarefa »  entrêgnndo-nos  a  a  fadigosos  estudos  no  mtfio  dosgami- 
dm  da  população,  e  em  uma  época  lormeniosâ,  em  queodtadi 
amanliãa  era  maia  que  uunca  duvidoso  o  problemático* 

O  tremendo  Qagello  da  A>ia»  que  nínda  não  ha  muito  um  poeta, 
personifica ndo'0  em  uma  pentonãgem  bíblica ,  pintou-o  e$Jt5uduud</ 
jjâbatdo  os  braços  para  a  America,  pois  que  aão  púdia  vencer  ih 
umsaho  o  estreito  de  Bhertng ,  arrojou-sâ  atravoi  do  atlantioi,  que 
«lia  perlustrou  ,  como  bavia  perlustrado  o  mar  das  índias  e  a  maii* 
terraneo,  e  cliegou  finalmente  alé  nós:  a  capital  do  impeno  foi 
invadida  pelo  fatal  inimigo,  e  ms  tjven^ms  de  encarar  fartifâce 
e^a  borroro^  peí^ta* 

£m  taes  cireurnstancias  nao  nos  foi  inspirada  a  firmei  por  aquelk 
fatalismo  muiulmano,  que  fa^ia  com  que  os  vízires  otlomanos  c^^- 
TBsmn  impávidos  e  immovcis,  e  ofTerecâssem  o  pescoço  ao  cordão 
4a  morto  imposta  pela  vontade  despótica  do  sultáo:  a  fé  em  fímt 
nos  accendeu  a  coragem ,  a  razão  uo»  deu  a  placidez  do  espirito .  e  i 
^ais  sublime  lição  nos  veiu  engrandecer  jia  violência  da  advtnidade. 

A  capital  do  imporio  testemunhou  um  facto,  que  tia  desercon* 
^gnado  m  historia. 

:  $.  M-  O  Imperador  iiSo  quiz  abandonar  a  sua  capital  no  momenio 
aupremo.  Elie,  o  homem  necessário,  aquelle  que  liiilia  o  direito 
4â- recuar  ante  o  aspecto  sinistro  da  mor(6;  porqua  com  tik  m 
âcba  identificado  o  futuro  brilhante  do  pi^,  e  c  delle  principalmeiHe 


<|ue  depende  a  grandeza,  a  prosperidade,  o  progresso  do  Brazil; 
6  poque  é  elle  a  nossa  mais  segura  garantia  de  estabilidade ,  de 
ordem  e  de  liberdade;  S.  Magestade,  em  ve2  de  retírar-se,  para 
não  se  expor  ao  impeto  da  epidemia  ,  lembrou-se  que  a  porta  por 
onde  sahisse  da  miseni  cidade  poderia  ficar  aberta  e  dar  ingresso  ao 
terror;  e  entào ,  para  que  seus  súbditos  vissem  partir  do  apogeo  da 
esphera  social  o  exemplo  da  resignação  e  da  coragem ,  permaneceu 
no  centro  de  sua  capital ,  no  meio  da  peste,  que  ceifara  centenares 
4e  TÍdas,  conservou-se  no  seu  palácio,  situado  em  um  dos  bairros 
mais  dítímados  pela  epidemia ,  partilhando  igualmente  com  o  seu 
povo  os  sérios  perigos  da  situação. 

Ó  flagelio  não  escolhia  as  victimas  que  devia  derribar ;  e  o  anjo 
4a  morte  não  via  nas  portas  das  casas  dos  escolhidos  de  Deos ,  a 
quem  cumpria  poupar,  o  signal  de  sangue  do  cordeiro,  que  no 
l^pto  salvou  os  filhos  de  IsraeK 

Enireianto  o  Imperador  levou  adiante  a  sua  immensa  dedicação : 
desceu  do  throno  e  entrou  nesses  piedosos  asylos,  onde  se  adivinhava 
a  dôr  e  o  soifrimento  na  horrível  decomposição  dos  traços  physiono- 
micos  e  nos  pungentes  gemidos  arrancados  do  ooraçSo  de  míseros 
doentes ;  visitou  os '  hospitaes ,  e  pòz-se  em  contacto  com  os  chole- 
ricos ,  renovando  o  feito  do  grande  homem  do  secuk) ,  que  em  Jaffa 
tocara  com  suas  mãos  os  corpos  infectos  dos  empestados  para  extin- 
guir assim  o  terror ,  que  abatia  um  exercito  vtctorioso ,  e  enáinar* 
ihe  a  triumphar  lambem  da  peste  pdo  facto  de  arrosta-la  e  não 
temé-Ia. 

E  depois  de  tão  bdlos  feitos ,  plácido  e  sereno ,  o  Imperador  vinha 
entregar-se  aos  estudos  da  historia  e  da  geographia  pátria ,  calmo  e 
Iranquillo,  como  o  sábio  matbematico  deSjracusa*  que  resolvia 
problemas  ao  ruido  sinistro  das  batalhas  e  ao  fragor  do  assalto  im- 
petuoso de  uma  cidade.  ^ 

Gora  as  liçOes  de  tal  mestre  era  impossível  que  arrefecesse  o  ardor 
dos  membros  do  Instituto :  elles  pois  souberam  proseguir  em  seus 
trabalhos,  e  a  despeito  das  dolorosas  e  exoepciooaes  circunslanoias 


iò 

em  que  sq  viu  a  rnpHal  (fo  império  ,  o  Imúuno  (romo  firoi»  rf f tu  j 
nem  uma  só  vez  ileivou  *Je  ceíiibrar  suas  sessões  ordiíimí*^. 

A  nossa  —  Revista  TH raen^nl — ^eonlirma  a  ser  publicafli  eom 
regula  fida  d  o  e  n  recommen^lâr-se  ^mpre  pela  «vcellimcia  do* 
valiosos  manuscripios  e  iloctimenttis.  qm  arranca  íÍd  olvítln  e  p<h» 
acifna  do  poJer  JeslruJEJor  do  IdmpQf  que  nWà^  [ior  ci*rtò  dúv^rira 
muitas  e  bem  imporlfinles  memarbs  d&  alguns  curioços  dos  ins 
primeiros  séculos  que  succídcram  ú  rlf^sfoberln  de  C;ibrat ,  n  qut^ 
a  não  so  fia  verem  exiraviado  ou  coosuiuitío .  esclarecer  iam  Xtbt 
hoje  alguns  dos  pontos  obscuros  da  nossa  liistorja.  Olnmiuioi 
ufana  alem  d*isio  de  vèr  enriquecendo  também  o  seu  periódico  os 
fructos  preciosos  das  vigílias  de  muítós  de  seus  membros.  A  im* 
prensa ,  elernisando  e  vulgar isando  líssas  obras  e  ( servindo -nos  aqui 
do  pensameuto  de  um  dos  muis  brilhantes  e  dnq uonte»(  i*si:rrptofei 
da  Franra)  a  palavra  esçri|ita.  lornando-se  etania  e  utiiiíersal  ittãà 
sua  perpetuidade  o  irírnsmi^^ibilidade  ,  poilendo-se  coníH^rvar  í^,•mpre 
6  ouvir  por  toda  a  parle  ,  cria  na  nossa  Revista  um  thesouro  de  prc^ti 
inestimável,  que  sersi  proveilosamenle  explorada  pek>s  Tadu»  » 
Xenopfiontes  da  posiendadc, 

O  estado  financeiro  do  Instituto  se  apresenta  sob  um  «ípeclo 
lisonjeiro  e  animador:  por  um  lado,  dovcmos  ao  patriotismo  do 
corpo  legisla livo  e  ao  concurso  manifesto  do  governo  iiuperial  o 
augmenio  de  mais  um  terço  no  subsidio  qtie  nos  presta  o  e^wh ;  t 
pof  outro ^  á  actividade  do  noâso  di^no  tliesonreiro,  na  collecudi 
nossa  receita,  proveniente  dos  jóias  e  mensalidades  dos  sócios ,  no» 
tem  habilitado  para  acudir  sem  vexame  a  todas  as  nossas  dcfpeias . 
que  aliás  uma  economia  desvelada,  mas  de  nenhum  modo  acanha- 
dora  e  inconsequente,  sabe  conservar  d*entro  dos  mais  justos  finiiles. 
Esta  prosperidade  fmancíal  nos  voi  abrir  espaço  para  corres jionder- 
mos  a  lanta  solicitudo  com  a  publicação  e  propagação  de  escrípios 

I  ]mi>ortantes    relativos  a   historia  pátria  e  independentes  da 

'  Revista, 

Q  quadro  dos  nossos  sócios  correspondentes  foi  no  mno  de  ÍB55 
realç-ado  com  quatro  nomes  respei Uiveis  e  prmigtosos ,  que  netli 


11 

86  vieram  inscrever.  Cumpre  lembra-los  apenas ,  porque  a  estreiteza 
de  um  resumido  relatório  não  comporta  uma  apreciação  sufiSciente 
dos  serviços  que  prestaram  ao  Instituto  alguns  dos  notáveis  varões , 
que  foram  recebidos  no  seu  grémio ,  ao  mesmo  tempo  que  em  lugar 
competente  proporcionar-se-ha  o  ensejo  de  assignalar  o  merecimento 
da  Memoria  com  que  um  d'elles  soube  apadrinhar  a  sua  can« 
didatura. 

Esses  nossos  novos  coliegas  são  os  senhores  cónego  Joaquim  Pinto 
de  Campos,  deputado  pela  província  de  Pernambuco  na  actual  legis- 
latura ,  e  orador  sagrado  de  reputação  não  contestada :  conselheiro 
Luiz  Pedreira  do  Couto  Ferraz ,  cuja  illustração  ó  por  todos  reco- 
nhecida, e  que  se  ha  tornado  dignamente  rerommendavel  ao  Insti- 
tuto pela  dedicação  de  que  lhe  tem  dado  sobejas  provas  durante  todo 
o  exercício  do  cargo  de  ministro  do  império :  doutor  João  Francisco 
Lisboa ,  o  autor  do  —  Jornal  do  Timon  —  escriptor  eloquente  e 
correcto,  de  esty lo  apurado  e  attico,  de  observação  fina  e  profunda 
e  grande  conhecedor  da  historia  pátria ,  e  especialmente  na  parto 
relativa  á  província  do  Maranhão ,  seu  berço  natal ;  e  o  Dr.  Caetano 
Alves  de  Souza  Filgueiras  emtim,  joven  de  talento  brilhante  e  rico 
de  esperanças  de  futuro. 

Tão  notáveis  e  preciosas  acquisições  são  promissoras  de  ricas 
oíTrendas  de  intelligoneia  ,  que  hão  de  por  certo  ser  trazidas  ao  altar 
da  sciencia. 

Bem  como  por  um  céu  bonançoso  e  risonho  passa  ás  vezes  uma 
nuvem  negra,  que  rouba  por  momentos  á  terra  o  brilhantismo  dos 
raios  do  astro  do  dia ,  vem  agora  uma  triste  lembrança  toldar  o 
prazer,  com  que  contemplávamos  a  prosperidade  e  o  progressivo 
desenvolvimento  do  Instituto. 

SoíTremos  este  anno  perdas  lastimosas  e  grandes.  A  morte  riscou 
da  lista  dos  membros  do  Instituto  nomes  de  homens  prestimosos  e 
eminentes,  cuja  recordação  será  sempre  cara  ao  mundo  queelles 
Hlustraram  e  ao  paiz ,  de  que  foram  tão  beneméritos  filhos :  entre 
elles  avulta  na  Europa  o  nome  de  João  Baptista  de  Almeida  Garrett, 
o  primeiro  poeta  portuguez  do  nosso  século,  eno  Brazil  o  do  vis«»* 


Caravellas  d  o  de  Sopetibâ^  que  êra  o  rio^so  priíawD 
presidotitâ:  nobres  caracteres  poliiicos,  anciães  iienerandos  ^ 
Uõcidoa  no  serviro  da  pabria. 

Em  bem  dâ  memoria  gloriosa  da  m  preclaros  virões,  nmé^Wí 
debii  o  ao  espirito  fraco  e  desaleniado  da  actual  sacretório  dci  locti* 
luto  que  está  coníiado  o  elogio  iiiiparciai  e  jusio  dos  noisoi  irnioft 
de  lettras ,  que  passaram  á  eternidade :  d'aqui  a  pouco  ef  lo  na  hri 
ouvir  partindo  da  bocca  do  no3so  dístineto  oràâúf ,  o  d^esi»  «lõgH» 
se  poderá  dizer  sem  duvida  que  é  q  mais  espkndido  tepiAeifú^ 
eomo  disseraoi  os  ouomanos  da  ode  fuoebro  de  Abdoul-Bbki  l^it» 
ao  suUão  SolimSo» 

£atrando  a^ora  na  resenha  das  obras ,  manuseríptc^s ,  mapptt  e 
documento^  qoo  vieram,  como  pingues  iribulosi  êogroasar  » 
archivo  o  a  biblioLbeca  do  lostUuto »  bem  como  dos  irabalàoa  qê% 
ftãt#  aBQo  foram  devidos  ás  tucubraç&ofi  dos  nossos  soi^ios,  poupa^ 
leiBOS  â  paciência  do  illusirado  aihlilwia,  eíiunierando  apenas  o» 
nais  notáveis  6  salientes ;  reservando  a  sua  enumofâçà^  eitoii  ^ 
oompteíâ  para  m  quadros  que  aiiueios  aoonipaubam  este  relatório, 

A  mialerk  é  arkja  e  fatiganto;  dura^  porém  p  áspera  e  monótona 
4  também  a  lida  continuada  e  longa  do  lavrador,  que  abn»  » 
entranhas  da  terra  ,  que  a  fecunda  com  o  trabalho,  quesemài  a 
espera  um  anno  peia  deseiada  o  duvidosa  m^-sse;  mas  dopoísa 
planta  desabrocha,  o  arbusliaho  cresço,  as  fldrcs  corúáo  iímmm\ 
famos,  õ  os  íruclos  pendem  das  bastes  graciosas. 

Entre  os  mappas  que  nos  foram  benignameute  oftârecidas  cumpra 
mencionar:  1.%  utBa  planta  bydrograpbiea  da  bibia  do  &io  d* 
lanoiro  levantada  em  ISIO  por  uma  comniissão  de  âflkb^  da  ar- 
mada, c  novamente  correcta  e  augmerítada  pelo  Dr.  Joaquim  Ray* 
mundo  de  X^mare,  capitâo-tenente  da  arotada  inifienal,  cm  tS47: 
â,%  uma  carta  eorograpfaíca  da  província  de  Sauta  Caibarioa  >  con- 
tendo as  divisões  terriloriaes  ejudiciaesi  as  dislanciasdiísc» 
doa  municípios  á  capital  da  província,  a  superGeie  quadrada 
cada  um  dos  mumcipios  e  uma  e^taiistica  da  população;  pelo  1.* 
tinento  de  eogenbeiros  o  Sr.  João  de  Souza  Mello  e  Alvim :  3.% 


IS 

uma  carta  da  província  do  Espirito  Saneio,  organisada  segundo  os 
trabalhos  de  Frejcinet,  SpixeMartius  e  SiWa  Pontes;  pelo  capitão 
de  engenheiros  o  Sr.  Torquato  Xavier  de  Brito,  18à4 :  4.%  oma 
carta  da  província  do  Rio  de  Janeiro,  1850:  5.%  uma  planta  eoro- 
graphica  do  lugar  das  Caldas  do  Sul  do  rio  Cubatào  e  seus  arredores» 
levantada  em  1841,  e  desenhada  pelo  major  do  imperial  corpo  da 
engenheiros  o  Sr.  Miguel  de  Farias  e  V&sconcellos :  6.*,  um 
mappa  topographico  da  villa  de  S«  Gabriel  com  seus  arredores  o 
fortificações,  traçado,  levantado  e  desenhado  pelo  major  do  impe- 
rial corpo  de  engenheiros  o  Sr.  Miguel  de  Frias  eVasconcellos» 
sendo  a  fortificação  pelo  mesmo  projectada  e  começada  em  1843. 
Ao  obsequioso  cuidado  do  ministério  da  guerra  devemos  estes  map* 
pes,  cartas  e  plantas,  que  sobremaneira  interessam  ao  Instituto, 
pois  que  diiem  respeito  ás  aguas  a  ao  solo ,  e  a  uma  importante  villa 
do  império. 

Pelo  Ex."*  pre^dente  da  província  do  Rio  de  Janeiro  nos  foi  tann 
bem  oSertada  a  planta  da  imperial  cidade  deNiclberoy,  cuidado- 
samente levantada  no  anno  de  1854,  em  que  SS.  Magestadea 
Imperiaes  se  dignaram  visitar  a  mesma  cidade. 

O  nosso  distincto  consócio  o  Sr.  Miguel  Maria  Lisboa  fez  pr^ 
sente  ao  Instituto  de  um  curioso  desenho,  representando  a  batalha 
dos  Santos  Lugares:  a  recordação  de  uma  batalha,  em  que  Ifio 
galhardamente  se  assignalaram  os  nossos  bravos ,  ha  de  ser  sempro 
deleitosa  e  grata  a  todos  os  corações  brazileiros.  Nos  campos  da 
Moron  os  guerreiros  do  império  conquistaram  virentes  louros  antes 
e  depois  da  victoria ;  porque  no  fervor  da  luta  nossas  legiões  illuS"* 
traram-se  pelo  seu  valor,  e  logo  após  o  triumpho  distinguiram-so 
por  sentimentos  de  humanidade  dignos  do  valente  exercito  de  tuna 
nação  eivilisada. 

Uma  escolhida  eoHecção  de  apreciáveis  manuscriplos  e  documen- 
tos importantes  veio  no  anno  da  1855  archivar-sa  na  Instituto  o 
proporcionar  suceulenta  nutrição  á  nossa  Ravisla  Trimensal. 

Sua  Magestada  o  Imperador,  em  cuja  benignidade  a  alta  pro- 
lecçfio,  encontramos  sempre  uma  fonte  inesgotável  a  cada  vez  nuns 


i4 

opulênlâ ,  Iionrôu  o  Inslimto  Histórica  c  Geogrojiliico  do  BraiH  tom 
Ires  manuscriptos  inleressanilssimos  e  dti  etlreniado  vabr :  são  ch 
dom  primeiros  ns  copms  itn  foral  ún  opítaiita  Ja  Bâhta  a  €Í4a<)e  dd 
S.  Salvador— Evorn—âti  de  A*fo5io  de  1S34;  e  do  regímenlõ  dado 
a  António  Caniosu  de  Barros,  cavalleiro-tulrtígõ  da  c^m  roàl 
KI*Hei,  Qorno  procurailur-njôr  ila  faxerida  ,  qne  prinjôiro  foi 
Brasil:  Almeirim,  17  de  Ouhibru  de  ISiBt  subrariam  u  datis 
e  os  tilulos  d^esles  dous  taa  antij^us »  como  iniporUntí^s  dora* 
mentos  p^ra  excitar  a  m/tis  amortecida  ctirÍosid;ide,  e  a  Fua  lei* 
lura  vem  ainda  dobrar-lhes  a  cslimaçío,  pois  <|ije  de  proujploia 
reconhece  que  derratuam&mljos  grande  copin  de  lu7  solíre  o  r*í;íimefi 
admini^ralivo  do  Bíazil  cólon inl ,  nSo  pudendo  portmitò  deixar  de 
ser  cônsul  lados  puriodos  atinei  les  que  se  occupam  da  historia.  fHàdè 
menos  insiro  e  precioso  o  tercnro  niaimscriplo ,  qwe  devemos  a  mao 
uso  graciosa:  intitula  se  elfo^  Livro  que  dá  a  mrm  doestado  do 
Brazil —  enriquecido  de  utimerosos  nioppas  coloridos:  parece  um 
trabalho  executado  na  primeira  ametade  do  sectdo  decimo  setÍJiio,  o 
contém  curiosas  noções  geograliicis  o  estudos  túpc>gr»pbicos  ô  admi- 
nistríilivos  sobre  fís  diversos  eapilotiias  eslaboleridas  no  Bríiíil  ^  sando 
iílystrada  a  deserrpção  de  cada  uma  d'e$sas  capitaiii&s  comoiapitts 
coloridos ,  que  soo  do  uni  soccorro  estimável  para  a  completa  apre- 
eiaçôo  do  texto.  O  livro  que  dà  a  ra?Jo  do  estado  doBr;mÍ  è  um 
verdadeiro  thesouro  do  passado. 

S.  Ex**  o  Sr,  ministro  do  império  mimoBeou-nos  com  uma 
copia  da  De$crrpçâo  da  Viagem  feita  dírsde  o  Bio  Negro  im\ú  rio  do 
mesmo  nome  ai<í  a  serra  do  Cucui,  por  lliJano  Maximiano  Aalunt*!^ 
Gorjào,  major  de  artilheria  e  bacharel  em  mathematicas,  iêêêt 
é  um  trabalho  que  se  rccommenda  muito  pela  clarcj^o  da  cxposi^ilti 
e  pelos  eurios;>s  detalhes  que  encerra  sobre  bcatirlades,  aiirdi  {nal 
exploradas  u  iiao  bastaniemeute  conliocidas.  A  viagem,  pof^uiias a 
investigações  dos  nossos  admiráveis  rios»  e  dos  desertos  e  do  itt&críor 
do  alguma  de  nossas  províncias  sao  as  chaves  magicas,  qtiô  nos* 
devem  abrir  a  porta  do  um  futuro  magestoso,  ou  a  \*m  f|UÊ  nos 
guiará  pelo  caminho  do  uma  ímmensa  prosperidade. 


^^uk 


15 

Ainda  pelo  mesmo  Ex.*°  ministro  do  império  foram  trazidas  pof 
copia  ao  seio  do  Inslituto  os  seguintes  aproveitáveis  trabalhos  :  1.*", 
o  roleiro  da  Viagem  do  Brilliaiile  na  provinoia  de  Matlo  Grosso  ao 
porto  do  Tibagy  na  do  Paraná ,  por  António  Monteiro  de  Mendonça  : 
2.%  Informação  do  alferes  Manoel  Theotonio  Ribeiro ,  encarregado 
das  obras  do  Varadouro,  entre  o  rio  Brilhante  e  o  Anhac,  na  qual 
se  ratiGca  o  roteiro  precedentemente  nomeado:  3.",  A  immigraçio 
dos  Cayuás:  narraySo  coordenada  sobre  apontamentos  dados  pelo 
Sr.  João  Henrique  Elliot,  por  José  Joaquim  Machado  d'01iveira: 
4."*,  Razão  em  que  se  fundou  o  presidente  da  província  de  S.  Paulo 
para  denegar-se  á  reclamação  que  em  1844  lhe  fizera  o  presidente 
da  província  de  Santa  Catharina  sobre  o  inculcado  direito  que  tem 
esta  ao  Campo  de  Palmas  na  comarca  de  Coritiba ,  hoje  província 
do  Paraná ,  por  José  Joaquim  Machado  d'01iveira. 

Todas  estas  memorias  contém  noções  e  esclarecimentos  de  incon- 
testável utilidade,  e  poderáõ  opportunamente  servir  para  aclarar 
pontos  duvidosos  ou  facilitar  novas  e  mais  completas  investigações , 
mostrando  a  vereda  já  trilhada. 

O  scrmSo  de  acção  de  graças  pregado  na  igreja  de  Nossa  Senhora 
da  Conceição  do  Hospício  em  18  do  Agosto  de  1782  pela  conversão 
que  fez  para  a  fé  catholica  o  marechal  Henrique  Bohm ,  e  que  nos 
foi  ofTerecido  também  polo  mesmo  Ex."*  ministro  do  império ,  é  uma 
luminosa  explicação  de  um  periodo  doloroso,  mas  de  feliz  resultado 
da  vida  d'esse  homem,  e  será  lido  com  manifesto  proveito,  por 
quem  tomar  o  empenho  de  escrever  a  biographia  do  dislincto  general 
que  no  fim  do  século  passado  expelliu  os  hespanhóes  do  nosso  ter-* 
ritorio ,  illustrando  com  brilhante  victoria  os  campos  do  Rio  Grande 
do  Sul. 

Da  parto  do  Ex."^  Sr.  conselheiro  José  Maria  da  Silva  Paranhos 
recebeu  o  Instituto  uma  copia  das  Instrucçòes  que  em  20  de  Ou- 
tubro de  1797  foram  dadas  por  D.  Rodrigo  de  Souza  Coutinho  a 
Fernando  Delgado  Freire  do  Castilho ,  que  acabava  de  ser  nomeado 
para  o  governo  da  Parahyba  :  documentos  d'este  género  regorgitam 
sempre  de  importância,  porque  d^elles  transpira  o  pensamento  iq- 


10 

limo  do  governo  Ja  «poça,  e  nào  poucas  veies  resumem  cni  bre^^ 
paginas  a  litsturía  do  ;i«^L<EiycimeoLos  oceorrido»  em  uma  pane  da 
imporío,  em  utn  período  deiermínada. 

Ao  favor  f|f*  nosstj  consócio  o  Sr.  Miguel  Maria  Lisbo»  foi  devedor 
o  Itisiituto  do  uma  obra  de  sua  compsiç^u,  ainda  nâo  dada  á  há 
dã  impren>a,  c  quo  se  intitula ;  a  Bebeio  de  timn  viagem  a  Vene- 
zuela, Nova  Granada  e  Equador,  nos  ânuos  de  18526  1853^  se- 
guida dâ  um  Losquejo  liislorica  ú*^^s  ires  Republicas.  »  Ascoiit- 
luissoes  de  bístorla  e  geograpbia^  que  liverâoi  de  axaminar  eiti 
jnterosâania  mantiBcripto»  ethibiram  sobro  ello  um  precar,9tio 
fez  justiça  ao  merilo  da  obra  e  ao  sou  i ilustrado  autor. 

Na  viagem  a  Venezíiela ,  Nova  Granada  e  Equador  i  do  Sr.  Miguel 
Maria  Lisboa,  deleita-se  o  espirito  com  o  estylo  claro  e  fttienie>  t 
a  razão  se  apptaude  por  nao  encontrar  abí  descripçOes  romanescas  e 
fabulosas,  nem  tao  pouco  observações  sarcásticas  e  ferinas,  cotiique 
tantos  viajantes,  confundindo  a  bistoria  com  a  poesia  i  e  a  vivacidadiS 
com  a  maledicência,  destlguram  mil  rezâs  a  própria  verdade*  exa- 
gerando o  que  ba  de  real  na&  creaçOes  da  natureza  ou  da  arte,  ú 
nas  relações  da  vida  suciai  e  domestica. 

Tratando  de  paiscesi  que  bem  que  sejào  limitroph^  do  ijopdrio 
são  ainda  nelle,  como  também  na  Europa,  muito  pouco  conbeci- 
dosni  o  Sr.  Miguel  Maria  Lisboa  apre^àenta  na  sua  obra  uma  eiftiiiB- 
stanciada  nocjlo  da  topograpbia,  costumes,  commerctOi  «grieultun 
fl  população  de  cada  um  d'elles,  e  oílerece  aprove» Ur veis  eiincw 
da  sua  bistoria,  compromettendo-se  a  entrar  em  maior  desenvolvi^ 
mento  sobre  elía. 

Não  é  po^ivel  finalmente  esquecer  que  ã  benevolência  e  á  suave 
rectidSo  com  que  o  di^tincto  autor «  compatriota  nosso,  falia  doa 
habitantes  daquellas  repubticas,  contribuirii  de  algum  modo  pana 
desvanecer  antigas  6  infundadas  aotípathias  ^  que  por  ventura  ainda 
possam  subsistir  entre  ellas  e  o  império  do  Braiil* 

O  E\.*'  Sr*  Francisco  Diogo  Pereira  de  Vasconcetlos ,  como 
presidente  da  província  de  Minas  Garaes,  remetteu  ao  Instituto 
um  [oappa  do  movimento  da  população  d'aquella  província,  execu' 


17 

lado  á  face  dos  arrolamentos  de  18S1 ,  1834  e  1838,  e  dos  mappas 
parochiaes  de  nascimentos,  casamentos  e  óbitos  desde  oanno  de 
1836  aié  1847,  reorganisado  e  oiTerecido  á  presidência  de  Minas 
Geraes  pelo  cidadão  Luiz  Maria  da  Silva  Pinto.  A  palpitante  neces* 
sidade  de  uma  boa  estatística  do  Império ,  a  attençSo  de  todos  os 
homens  esclarecidos  convergindo  para  essa  verdadeira  e  urgente  re- 
clamação do  Estado ,  afiançam  o  cordial  agradecimento ,  com  que  o 
Instituto  recebe  lodosos  estudos  sobre  esta  matéria. 

Os  srs.  AdadusCalpe,  e  José  Martins  Ferreira  de  Alencastro  am- 
bicionando inscrever-se  no  quadro  dos  nossos  sócios ,  oifereceram- 
nos,  como  premissas  de  suas  lucubrações,  o  primeiro  um  manuscri^ 
pto,  a  que  deu  o  tiiuio  de —  Breves  reflexões  históricas ,  e  o  segundo 
as  suas — Memorias  Históricas  da  província  do  Piaufay  :  —  confiados 
ao  exame  da  commissSo  de  admissSo  de  sócios  esses  trabalhos  nfio 
foram  ainda  definitivamente  julgados  pelo  Instituto. 

O  nosso  novo  consócio  o  sr.  cónego  Joaquim  Pinto  de  Campos 
marcou  a  sua  entrada  no  grémio  do  Instituto*,  offertando-Ihe  pre- 
viamente três  manuscriptos  de  considerável  valor ,  o  primeiro  se 
nomeia  —  Extracto  de  todas  as  occurrencias  acerca  da  praça  da  Co- 
lónia do  Sacramento  occupada  pelos  Portuguezes  sobre  o  Rio  da 
Prata  desde  o  tratado  provisional  celebrado  no  anno  de  1681  até  o 
de  1737,  como  das  notícias  de  outros  territórios  de  S.  M. ,  que  se 
tem  occupado  e  fortificado:  é  o  segundo  um  officio  de  D.  Franciscii 
de  Souza  Coutinho  a  Luiz  Pinto  de  Souza  em  21  de  Junho  de  1795 
dando  conta  das  providencias,  que  empregara  para  obstar  a  evasão 
dos  escravos  do  Pará  para  Cayenna:  e  o  terceiro  em  fim  é  o  officio 
de  Francisco  Xavier  de  Mendonça  Furtado  dirigido  ao  conde  da  Cu- 
nha acerca  dos  jesuitas.  Qualquer  destes  manuscriptos  e  especial- 
mente o  primeiro  e  o  ultimo  se  occupa  de  matéria  de  grande  estima- 
ção para  a  historia,  pois  que  concernem  a  questões  de  subida  trans- 
cendência, o  algumas  discutidas  oom  a  lógica  das  batalhas  nos  sécu- 
los passados. 

O  noaso  consócio  o  sr.  Francisco  Manoel  Raposo  de  Almeida  pe- 
nhorou o  Instituto  presenteandoH>  com  uma  coIleo(8o  de  diplomas, 

xfin  iopp.  *  a 


18 

que  perlenceram  30  %íúm  e  pnrríõla  Jogé  Bonfraeio  àn  Airrlnida  « 
Silva.  Fíimoso  nn  sciencin  ,  noínvel  na  novslti ,  tieroe  fia?  lnlíw  glo- 
riosas da  regenerarão  ih  pnlníi*  e*í^e  homcfii  que  lembram  "S^  anhingiofi 
no  governo,  Camillo  rm  éTcílin.Cincmn^ito  no  retiro,  assume  prf^porNíefi 
çiganiescas  no  Pnnilfeon  dos  nossos  bencinerllos:  itido  pois  que  a 
recorda  nos  é  graín. 

O  sr.  I>r.  CifUano  Alves  dê  SoiiKn  Fíf^uelnjs,  dfmejnncto  fijeêr 
parlo  da  nossa  associação,  procurou  salisfaxer  as  roíidírôe!!  ímpoflif 
pelos  no35ôs  estaiotos,  esercvondo  n  ofTereíèndo  ao  IiiííIíIuIíj  ufna 
memoria ,  (jue  denominou  —  Rellexões  sobre  íb  pritneir,is  épocas  ifi 
Historia  do  Brszil  em  gorai*  e  ^bre  a  in^litu!ç4[o  das  rnpitinbifcim 
particular,  —  O  Insiituio  foi  prompto  em  abrir  suas  portasao  imito 
adepto,  íjiiG  tão  bizarramente  se  recommendára, 

O  trabalho  do  nosso  consócio  fa?:-sô  reeommendav*!l  nâo sopeia 
elegância  do  estylo ,  como  pelo  rigor  e  precisão  do  rarioeinio.  De- 
pois de  algumas  ligeiras  mas  bem  dediíí-jdafi  coiisideni(r5í»s  ^bre  a 
ci\ilÍ5aç.1o  dos  anli^íos  e  sueis  tendenciais,  elle  cbejía  por  um»  tran- 
sição feliz  dianfc  do  monte  Prmdutt  nu  momento  me^mo  em  ffiieo 
almíranie  portugtie?  absorto  deixa  ouvir  o  brado  —  lerr^i  I  —  sempre 
consolador  para  o  marinheiro  :  acompanha  depois  o  mnnÓQ  dú  rei 
venturoso  em  suas  relações  com  o  BradI ,  e  lamentando  n  abandono, 
em  que  se  csquí?ce  doesta  bel  la  porra  o  da  A  me  rira  ,  estuda  as  <taii$a5 
d* esse  olvido,  e  vai  encontra-las  na  ambicào  das  conqoisi4ii  das  irrms 
da  Ásia,  e  nas  especulações  murcantís  coroadas  de  bbulosoíi  Iticnw 
na  índia :  chega  Unnlmente  a  época  de  D.  Jo^o  llt  a  qvefn  «lie 
considera  como  verdadeiro  euíior  e  povoador  dg  Bra^^iU  e  pissando 
em  revista  o  syslema  de  celonisaçffo  empregado  por  esse  mourcha 
na  doa^'5o  das  capitanias  hereditárias»  sustenta-o,  jusiitlfa-o, 
n3o  disfarça  os  abusos  eommettidos  peto.^  capitães-mâr^,  ma»  re- 
flecte sobre  a  nova  instituirão  ^  a  sem  lhe  esconder  os grives  ín- 
convantentes ,  acetta-a,  absolve-a  de  seus  senões  e  de6vaiit«giOf, 
moslrando  quo  ella  nasceu  direciamenle  da  suprema  mràú  de  lodàt 
as  cousas  humanas— a  necessidade ;  —  a  reforma  d  "este  synema  em 
I5W,  o  estatieJíTÍmento  do  gmerno  geral  dn  Braxil  com  a  tbi^i 


19 

de  Thomé  de  Souza ,  e  as  considerações ,  que  lhe  suggere  um9  pro- 
videncia de  tanto  alcance,  e  de  lào  evidente  proveito  para  a  rica  e  es~ 
perançosa  colónia  portugueza  da  America ,  vem  rematar  o  bem 
eladorado  trabalho  do  nosso  consócio  o  sr.  Dr.  Caetano  Alves  de 
Souza  Filgueiras. 

Náo  importa  uma  adopçSo  inteira  de  todos  os  principies  lançados 
em  sua  dissertação  pelo  nosso  distincto  consócio  o  reconhecimento  da 
verdade  nas  consequências  que  deduzio.  Com  effeito  o  sr.  Filgueiras 
investigou  o  passado  com  olhar  certeiro  de  um  philosopho  recto  e 
imparcial.  Os  Portuguezes,  que  ao  impulso  do  génio  do  infante 
D.  Henrique ,  essa  pedra  angular  do  monumento  do  poder  liisi- 
tano,  se  tinham  lançado  para  os  mares,  o  logo  depois  para  o  conti- 
nente africano,  e  que  concentravam  todas  as^suas  vistas  nessa  parte  do 
velho  mundo,  estremeceram,  como  a  um  choque  eléctrico,  ao 
primeiro  passo  dado  para  o  oceano  indico,  com  a  descoberta  de 
Bartholomeo  Dias,  e  logo  após  os  triumphos  do  grande  Vasco  da 
Gama,  voltaram  os  cálculos  de  sua  ambição,  e  os  sonhosde^ua 
gloria  para  a  região» prodigiosa,  que  fora  o  berço  do  género  buma- 
no ,  e  do  verdadeiro  Deos ,  o  thealro  dos  sublimes  mysterios ,  e 
que  era  sempre  a  terrados  grandes  rios,  o  das  altas  montanhas,  dos 
perfumes  embriagadores ,  das  jóias  preciosas  ,  dos  custosos  estofos  , 
em  uma  palavra  da  riqueza  inaxgotavel :  foi  então  que  a  Providencia 
Divina  fez  surgir  o  Brazil  aos  olhos  de  Cabral ;  mas  oBrazil  era  um 
paiz  inculto  ,  e  nunca  explorado;  e  a  Ásia  mostrava  os  seus  thesou- 
ros  nos  seus  basares  ;  mas  no  Brazil  a  morte  era  um  sacriGcio  igno- 
rado ,  perdido  nas  praias ,  onde  as  ondas  arrojavam  o  cadáver  do 
naufrago,  ou  esquecido  na  immensa  solidão  das  florestas,  onde  a 
flexa  do  tamoyo  derribava  o  guerreiro  da  Europa,  ou  em  fim  con- 
summadono  meio  de  uma  taba,  que  não  tinha  passado ,  porque  não 
eonservava  tradições,  e  que  não  podia  ter  futuro ,  porque  não  sabia 
escrever  a  historia ,  e  onde  uma  horda  de  selvagens  devorava  o  infe- 
lie  prisioneiro ;  e  na  Ásia  as  heróicas  acções  dos  bravos  eram  canta- 
das nos  hymnos  enthusiasticos  dos  poetas,  o  echo  dos  golpes  da 
espada  terrivel  de  Albuquerque  resoava  em  todas  as  nações  da  Eu- 


50 

TOpa  I  ninguém  riiorría  para  a  [iOfiterídade,  porque  a  ísma  iii 
lisa V a  com  o  roíiome  ,  e  por  lanLó  a  ambição  como  a  gloria  kvtvi  a« 
quinas  portuguezas  nos  mares  d^  Índia ,  beijando  ns  rezas  ap«ni»  do 
passagem  as  proias  occidenlaes  do  allanticQ*  D.  Maiiuoi  seguiu  a  cof^ 
renle  da  suâ  cpocha. 

B.  João  111  tomando  diverso  caminho  quait  que  planlou^  o  kuéu^ 
Hsmo  m  lerra  da  Sanla  Cruz  para  conseguir  arranca-la  do  drido, 
a  que  estava  condemRada  peb  indiíleren^a^ii  vinte  ãnno;ídâpi/ki, 
Penoiope  púHiica,  desfaz  a  obra  perigosa  «  que  ideara  pra  atlfahir 
colonos  a  suas  novas  possess&ôs ,  e  am  Thomé  de  Sonm  imiia  a 
laço  providencial  que  destrmntlo  talvez  o  gerreen  de  mtiHos  reinos 
luluros,  reúne  era  um  só  corpo  os  elementos  que  deviam  formar  do 
im  de  três  séculos  um  knperío  vasto,  fico  da  grandiosos  recucsoiSt 
robustecido  peb  idenlidadô  da  religião^  e  psla  bomogeneidado  d# 
costunieSr  da  Uis,  e  de  Índole  de  todos  os  seus  babiiauies. 

£'  força  respeiíai  as  proporções  limitadas  de  um  relaloriOp  o  \ 
tevar  adíítiile  considerações,  que  em  n^ior  desenvohimento  nos 
bnçariâm  muito  afêm  di>  nosso  dever,  pondo  «m  doloroso  tfibut» 
as  alleJições  ^  que  já  fatigo. 

Si  kicrosa  e  pingue  foi  para  nós  a  eolbeita  de  manuâcripKis  110 
anno  que  se  approiijiia  de  sou  termo,  ver^se-ha  que 
fecundo  se  mostrou  a  de  obras  e  documentos  iiBpressos ,  que  1»  hf 
0  a  generosklade^  de  muitos  oonsocios  nossos»  o  dô  não 
homens  dedicados,  Lroiueram  ao  Instituto  Uktorico  e  ^mgmçki 
do  Brasil 

A  Uêimua  aliás  bem  bmontavel  qua  a  falta  de  remessa  dote  i^la- 
[torios  úm  presidenles  de  algumas  das  províncias  do  império  deisara 
|fim  iiosias  coSlecções^  desíip pareceu  emfim»  grjças  001  euld 
^do  Ex**"  Sr.  ministro  du  império»  que,  pela  Secretaria  a  seu  itf^ 
nos  facilita  todas  essas  peças  olBciaiis  l^  indispensáveis  a  un 
associação  t  que  se  occupa  exclusivamente  da  historia  e  dtgaofra 
l^bia  paU-ia,  Conseguimos  arcliívar  este  anão  os  rclatorioa  de  i£ 
de  todos  os  presidefiies  das  provtftciâs. 

O  £1.**  Sr.  José  da  Silva  Ribeiro  brindou  o  InstiiuMi  com  os 


^àÊssa^ 


n 

três  volumes  da  —  Viagem  á  parte  Oriental  da  Terra  Firme  na 
America  Meridional  —  feita  durante  os  annos  de  iSOl  »té  1804, 
ornada  com  uma  carta  geographica  e  com  os  planos  da  cidade  capital 
e  dos  portos  principaes,  por  Depoui ,  e  ainda  com  a  —  Viagem  a 
Portugal  —  por  Jac(](ues  Mifrpby,  traduzida  do  inglez  e  enrique- 
cida de  estampas,  em  dous  volumes;  ambas  as  obras  em  francez :  e 
emfim  com  dous  apreciáveis  in-folío,  contendo  o  primeiro  a  collec- 
ção  do  —  Echo  da  Camará  dos  Deputados  do  Brazil,  1832  —  e  o 
segundo  a  da — Aurora  Fluminense  —  desde  1827  até  1834. 

Ás  collecções  d'estes  periódicos  vieram  juntar-se  os  seis  primeiros 
números  do  —  Industrial  Paulistano  —  jornal  da  sociedade  Auxi- 
liadora da  Agricultura,  Commercio  e  Artes  da  provincía  de  Sào 
Paulo,  remettidas  pela  mesma  sociedade;  a  —  Estrella  do  Ama- 
zonas—  regularmente  mandada  pelo  governo  d'aquella  província; 
e  —  jornal  de  Timon  —  do  6.*  ao  10. **  numero,  oSérecidos  pelo 
seu  redactor  o  nosso  consócio  o  Sr.  João  Francisco  Lisboa; 
o  —  Mensageiro  —  jornal  industrial ,  noticioso  e  litterario ,  publi- 
cado na  cidade  do  Desterro,  e  enviado  pelo  Sr.  Franc  de  Paulicéa 
Marques  de  Carvalho ;  emfim ,  a  colleeçào  da  —  Revista  Marítima 
de  1851  a  1855  —  devida  ao  favur  do  Sr.  José  Eloy  Pessoa. 

O  Sr.  Ladistáu  dos  Santos  Titara  prendou  o  Instituto  com  um 
volume  das  suas — Memorias  do  grande  exercito  alliado  libertador 
do  sul  da  America  —  impresso  no  Rio  Grande  do  Sul  em  1852: 
é  um  livro  que  perpetua  a  foma  do  valor  dos  nossos  bravos,  e  que 
deve  ser  caro  á  pátria,  porque  n'elle  se  reflecte  a  gloria  d^ella. 

Ao  nosso  consócio  o  Sr.  Angelis  tivemos  de  agradecer  um  notável 
trabalho  de  sua  penna,  que  tem  por  titulo  —  Da  Navi^gaçáo  do 
Amazonas  —  resposta  a  uma  memoria  de  Mr.  Maury,  official  da 
marinba  dos  Estados- Unidos,  impresso  em  Montevideo  em  1854. 
E'  um  eloquente  e  victorioso  desaggravo  do  direito  das  nações  ti- 
rado contra  as  extravagantes  pretenções  e  exagerados  sonhos  de  uma 
ambição  em  delírio. 

O  Sr.  Dr.  Eduardo  Ferreira  França  offertòu  ao  Instituto  as 
suas -*- Investigações  de  Fsycbologia:   um  volume  impresso  Uà 


25 

Bailia  em  1S54:  hem  que  eslranho  ao^  estudds,  de  qtie  seWiipj 
a  nossa  associarão  ,  foi  esle  livro  por  tília  recebido  com  o  bem  jus- 
tificado iiuercãsa,  que  sempre  lhe  inspiram  as  obras  liuenrías  iia 

scieoiificâs,  com  qu@  m  illu^tram  aqudles  de  nossos  comptríoiiis, 
que  tem,  como  o  Sr.  Dr,  Ferreira' França,  talento  supemr  c 
ifitelligencía  lào  esclarecida  e  vaâla» 

O  ííossa  prestante  consócio  o  Sr.  Consâllietro  Joaquim  Uifii 
Nascanlos  de  Azambtija  oITereiteu  ao  InsuirUo^  onlrc  outras  obns 
e  áocumeníos;  1.%  a  descrÍpi;ào  da  eostíi  d<r  Braseil  da  I*onii  âe 
S,  Bento  a  Filimbú,  por  Manoel  Amoriio  Vilal  de  OHieira , 
trabalho  de  evidenle  valor:  2.%  a  inengagom  que  em  1827  apre- 
sentou o  pdtírexeculivo  de  Buenas-Ajres  á  fala  dos  R aprese iitanlí^ 
censurando  uéo  ler  havido  resultado  algum  saiisfaeíorííj  pra  a 
republica »  da  campanha  aberla  contra  o  Brazit :  3.%  expoiíçla  qoê 
í&t  o  general  Alvcar  para  contosiar  a  mensagem  do  governo,  de  H 
da  setembro  de  ÍB21 :  Buenos  Ayres » 1827,  A  confrontação  doestas 
duas  peças  ofíleiaes  dos  nossos  inimigos  então  com  as  Memorieis  do 
dísiíncio  escriptor  Titara^  e  eom  os  diversos  Irobalhos  que  sobre 
aí|uella  campanha  lem  o  Instituto  recebido  de  aígurts  genenes 
brasileiros  domonstra  acima  de  todas  as  duvidas,  que  nos  campos 
de  llusaingo  houvo  para  nós  no  dia  20  do  Fevereiro  sim  uma 
batalha  de  êxito  incerto;  tuas  de  nenhum  modo  uma  derrota: 
nossas  bímdeiras  náo  soUreram  uma  âíTronla  no  Passa  do  Rosaria, 
e  os  sohlados  dn  exercito  imperial  prova rajn  mesmo  n'essa  peleja 
mal  dirigida,  que  eram  aindn  os  bravos  da  independência,  e 
dignos  de  ter  por  til  lios  c  por  herdeiros  de  gloria  os  guerreiroa  de 
Moron. 

Do  Sr,  James  Flelclier  te^ô  o  IjistHuto  em  graciosa  olTerta  doícsete 
volumes  de  diversas  obras  nilidamente  impressas. 

O  nosfifí  digno  eonaocio  o  Sr.  Henrique  de  Beaurepaíre  Rohait 
tmnou-no3  dous  curiosos  opúsculos:  o  prtmeiro,  coutando  ãâeé- 
cripção  de  uma  viagem  ao  campo  do  Palmas;  e  o  segundo^  que, 
ttomeando-se  simplesmenle  o  campo  doYpíranga,  rec4>rdã  o  mais 
brilhante  e  glorioso  feito  dá  nossa  bisloria^  e  rcpeto  oomo  tim 


23 

echo  enlhusiastico  o  grito  heróico  da  liberdade,  a  primeira  palsYra 
da  regeneração  politica  de  um  nobre  povo. 

O  sr.  Dr.  José  Praxedes  Pereira  Pacheco  offereceu-nos  um  exem* 
piar  da  sua.  obra  recentemente  impressa  o  intitulada  o  —  Útil  Culti- 
vador instruído  em  todo  o  manejo  rural  e  accommodado  a  qualquer 
clima,  desejando  que  ella  fosse  recebida  como  recommendaçâo  de 
sua  candidatura  a  membro  do  Instituto :  a  nossa  commissão  de 
admissão  de  sócios  se  fará  ouvir  em  breve  sobre  o  louvável  intento 
do  sr.  Dr.  Praxedes. 

O  nosso  prestimoso  consócio  o  sr.  cónego  Dr.  Joaquim  Caetano 
Fernandes  Pinheiro  fez  presente  ao  Instituto  do  Livro  de  Job  tradu- 
zido em  verso  por  José  Eloy  Ottoni,  e  precedido  1.** :  de  um  dis- 
curso sobre  a  poesia  em  geral  e  em  particular  no  Brazil  pelo  mesmo 
sr.  cónego  Dr.  Pinheiro  :  â."" ,  de  uma  notícia  sobra  a  vida  e 
poesias  do  traductor  pelo  sr.  Theophilo  Benedicto  Ottoni :  3.**^ 
de  um  prefacio  extraindo  da  versão  da  Biblia  por  De  Genoude. 
£'  um  pequeno  volume ,  que  encerra  immensa  riqueza :  o  discurso 
sobre  a  poesia  ,  que  dá  começo  â  obra  é  a  chave  de  oiro,  que  abre  a 
porta  de  um  monumento :  o  patriotismo  quo  anima  o  eloquente  es- 
criptor  suspende-lhe  o  vôo,  em  que  rapidamente  considerara  os 
poetas  sagrados  do  velho  mundo,  e  fazendo-o  contemplar  os  vultos 
.magestosos  do  Caldas,  S.  Carlos,  e  de  outros  inspirados  da  terra  de 
Sancta  Cruz,  que  formam  a  plêiada  brilhante,  de  que  faz  parte 
José  Eloy  Ottoni,  arranca-lhe  da  modesta  penna  paginas  elegantes, 
que  formaram  um  bello  capitulo  da  historia  da  nossa  litteratura. 

O  mérito  subido  do  poeta  brazileiro  José  Eloy  Ottoni  já  era 
reconhecido  antes  da  sua  morte  :  o  livro  de  Job  por  elle  traduzido 
em  verso  é  um  novo  florão  que  vem  prender-se  á  coroa  ^  que  elle 
conquistara  com  a  traducç^o  dos  Provérbios  de  Salomão.  As  nações 
exaltam-se,  e  fulguram  com  o  esplendor  do  génio  de  seus  filhos ,  e 
sempre  que  honram  a  memoria  de  seus  grandes  poetas  nobilitaro-se 
e  engrandecem  aos  olhos  da  humanidade.  José  Eloy  Ottoni  é  um 
d*esses  homens,  que  tem  o  poder  de  íllustrar  seu  berço  e  de  realçar 
a  pátria. 


AWm  d'eslas  demuilas  oulras  imporlanies  obras  ^  qiic  obMiíiutíiiiyi- 
mente  foram  oITereritbís  ao  InsUtuio,  três  ainJa  ha,  que  nm  pa- 
dem  ikixnr  á&  ser  meiicíonntiaíi ,  pois  que  as  dtívcmos  n  ree^mc*  i 
1ucubraçô<?!i  da  comp.iiriôías  noíísns»  nrctipnndo^fie  as  dun?  prirufbTif 
excUisi  Vil  monto  da  historia  0  da  comera  (.ibín  palna ,  e  seiídí»  a  ul- 
Itma ,  como  umji  (\òt  que  dôsíibrochou  sobre  uma  SDpultura*  Sâd 
eilâs  o  Ensaio  Corographíeo  do  Iiiipeno  do  Brazil  aíTt^rtífido  « 
consagrado  a  S,  M.  0  ímpera<lor  o  sr.  D,  Pedro  II  pelos  if*. 
Alexandre  losè  dâ  MeUo  Moraes  e  Ignario  Âcctoli  dô  Oiniucin 
e  SilVíj  :  — Lrrôtís  da  Hi5lCKÍa  do  Erazíl  adaptadas  á  li^ilum  das 
escolas  pelo  sr.  António  Alvts  Pereira  Coruja  —  tímfim  ;is  õbrts  d« 
Manoel  ÀiUonio  Alvares  do  Azevedo  ofTertadas  ao  lnsliliit«»  jielo 
nosso  consócio  o  ir.  Dr*  Ignacio  Manoel  A  Iva  mi  dô  XteweáQ, 

O  Ensaio  eorographico  do  Brazil  pelos  sr^.  Mello  Moraes  ponofw 
disUnclo  tonmcío  o  sr.  Acj^íoIÍ  e  um  esludado  resumo  da  al^íum^-íi 
obras  da  me^mo  género  e  de  longo  Mego;e  seus  dignos  du\or^ 
iricurnbírain-llie  sem  duvida  a  mis^^Ho  tie  espalftar  as  primetniA  i 
mais  indí^pomaveií»  noções  da  no^a  lii^ioria  e  corograplda  (leb 
Tiossa  massa  da  popularõo menos  instruída:  cooipcneir^^r&m-íív,  ruma 
disso  uhimamenle  Lamartine «  da  ne{!es.^Ídâde  de  onsinar  ao  poro ,  es* 
erevendo  o  livro  do  povo,  o  livro  de  moíjíco  preço  e do  p^ucflu)  tor* 
mato,  de  eslylo  stniplea,  o  de  malería  ími :  escrévêratu  poiso  s®u 
eiisajo  eorograplúco  mais  pelo  amor  de  seus  concidadãos ,  do  qtio 
pala  gloria  própria  ,  au  antes  converteram  a  gloria  própria  naqustta . 
amor,  conforma ndo-se  ainda  i-om  o  pensamento  do  illoslrti  poeli^ 
francez,  que  hz  dizer  a  uma  personagem,  mimosa  o  suave  crbçio 
de  sua  musa,  quo  u  a  gloria  que  se  não  converta  «toi  amiiade  é^ 
semente  que  nâo  germina  ,  e  ílamma  que  nao  aquece,  >» 

Bebaixo  d*estê  ponto  de  visui  é  inn^avel  o  servido  pres^tado  á  pilria 
pelos  dous  hábeis  escriptores  :  mas  um  assumplo  do  lOo  vastas  pro^ 
porç6es  apertado  em  láo  mesquinhos  limites  devia  ra^^s^nur-so  d« 
laeunas,  e  ommissOes  aMás  inovítaveis:  ninguém  compendia  que 
nSo  sacrifique  idéas. 

Entretanto  o  Brazíl  leni  tlireilo  de  oi^pcrar  ainda  muito  msis  d» 


1^ 

I 


m 

BluâtT^Çíto  d'65i06  seus  ilous  iliustrados  íllhos.  Si  Ayres  Caz»!  iwi 
deve  jámnis  ser  esquecido ,  cumpre  que  aproveitando-sê  o  i]ua  bà  de 
bom  na  sua  obre,  corri ja-se-lhd  oa  erros*  qu$  tbe  nscãfvaram ,  e 
tceresc6ntitndo»ââ  o  que  lhe  falia,  dessê*Uie  toda  a  amplitude,  que 
os  ^nbeci mantos  ale  hoje  adquiridos  fací tilam.  Mais  utn  esfarço 
doi  nosN^itlusircseorograpliâs,  e  daveMItêâ-Lemofi  urna  eicelJaute 
eorograpUia  da  no^a  pairia. 

Pmprias  para  sererú  lidas  e  apraciEdss  pek  Infância ,  escreveu  ú 
wm&  eonsuiMo  ú  sr.  António  Alvares  Pereira  Coruja  as  suas — LiçOos 
da  Htsioria  do  Brasil :  —-o  methodo  que  $eguÍo  é  simpleâ .  os diver-^ 
SOS  reinados  da  monarchia  porltigueEa  e  do  novo  império  amarícanç 
jTDfiTx^ãn)  as  secçOes ,  em  que  se  divide  o  seu  livro  t  e  em  cada  uma 
d^ellas  aponta  os  feiíoa  tnais  noLaveis  da  epoeba,  que  abrangem: 
a  critict  severa  louvondo  o  aoerto  com  que  o  autor  procurou  nos 
nossos  melhores  bisloriograpíios,  e  na  Rei  islã  do  Instiluto,  c^m* 
pulsada  com  provdlo ,  03  elementos  da  suú  obra^  íimíiar-so-bíi 
tal¥â£  a  preferir  ao  eâiylo,  que  foi  empregado  a  amenidade  de 
Cfimpe* 

O  sr,  Dr.  Magalbães  ém  um  de  seus  betlos  cnntos  chama  a  mo^ 
eidade  gigatile  do  por\ír:  a  plirase  cabe  igual menle  á  infanda :  roas 
a  es^te  novo  Hercules  não  se  robustece  nem  se  ^for^a  prefutrondoK^ 
para  as  lulas  a  os  trabalhos  do  futuro,  alimenlBrido-Oi  oomo  A9 
Paria  da  fabula ,  roni  a  medula  dos  tigres  e  dut$  le^es  ^  é  só  a 
ínairucçâo  ^miu  o  vigora  e  lortaleco  :  é  m  no  fogo  da  aeienci»  e  no 
suor  dn  trrrijalho  que  m  tempera  a  lamiita  doeste  guerreiro  d 6^ 
t4impos  que  hào  de  vir  ^  e  enlre  as  Qammaií  r|u@  cumpre  atear  em  sua 
inléllígeoeie ,  deftois  d*aquella  que  aoende  o  amor  de  Deos ,  dera 
logo  segui r-so  a  úuira ,  que  acende  o  amor  da  pátria. 

No  berço  ainda ,  o  no  regaço  materiiô  adorme^  o  meniao  ao 
iom  das  bailadas,  ou  ouvindo  as  lendas^  e  osconiog  lor^dos  com 
as  tradições  do  pa)z»  e  de.^de  que  pussa  ioielrar  um  nome,  soletrai 
no  l\no  da  historia  da  tarra  em  quir  nast^u. 

Bem  huja  pois  o  nosso  consócio  ^  que  co^iaagrou  a  infftiieia  ae 
suas  lucubraçQdi,  e  que  lhe  offeriou  um  livro, que  elia  devaeatu- 

lYttl  tu»»,  A 


Hâ^iA 


20 

Ãút  e  am,ir,  porqiiô  Hiii  fíilln  iln  pMría  ,  que  c  o  féo  do  flOflçffd 
dos  hnn«^  rnrnn  n  rr^n  n  ã  píitria  fin  j\lm*i  dnf^  ju*itfíft, 

\%  í^bra*?  íie   Manoel  Anionm  Aívíires  *!c  Azevedo  constam  <lt 
éom  volumes,  fonlendn  n  pri moiro  sôos  fíinto^  poetíoos,  ©01 
gondo  disrnrsos,  arli|;os,  o  *Iiven!3S  rompoííi çcms  fim   prosai. 

Dez  snnos  míirfi  mora  qoe  André  Cheníer,  da  meRma  id^dê  qii« 
Lovâlle,  dons  anoos  apenas  mais  vdho  fjiiti  ChaUerton  ,  esse  joviíi 
ÍTíãpirado  n&ií  foi  armbíílíiclo  pela  mOríc. 

Como  a  aura  saltiiia  dô  seio  dos  jardins,  que  intofns  ondus  <!• 
perfumes  por  onde  passa,  em  sua  curta  peregrinn^o  pcb  íerrt , 
êlle  deitou  seus  vesiígios  cc^jertos  de  flores» 

Essas  flores  ^ram  bymnos:  apanhou-as  uma  a  uma  iiqualb  ábf , 
que  só  acaba  com  a  vida:  hz  ú*cÍ\bs  uma  eonsobçáô  e  timji  coroa: 
ft  consolação  foi  a  glorja  postbuma  áé  om  (ílho;  n  rorôa  fot  tim 
livro,  que  honra  a  terfa  do  berro  do  poeta,  eque  Wvà  perpetua  1* 
tioma. 

Alvares  de  Aze  vedo  tinba  na  alma  o  sagrado  fogo  do  enthti£Ía$^o : 
em  suas  obras  que  são  os  primeiros  raios  de  um  so!  que^tirgedo 
erieote,  admira-so  uiuii  imaginação  brilhante,  a  originalidade,  «jftie 
é  privilegio  do  gtsnio^  a  graça  que  ó  sempre  um  encanto,  a  inspiri- 
çSo,  quo  é  um  Supro  divino  ,  a  sí^nsibilidííde  .  que  falia  ao«  C4)rs- 
^es;  a  pbrase  correcta  mm  è  o  frucio  do  estudo.  Sua  lyr*  Unht 
uma  corda  vibrante  e  pungeule  para  o  sarcasmo;  ti n tia  sons  arreba- 
tadores para  os  cantos  lieroicos;  e  j^uaves  emdancdicas  harmonii» 
para  exprimir  o  amor  ,  e  adivinhar  a  morte. 

Até  onde  iria  esse  mancebo  niso  e  dadn  a  alguém  dotermiair: 
rvie  se  pode  mBàn  o  génio,  nem  marear-lhe  um  limite  io  iAj  de 
suas  asas  de  fogo. 
ir>  Morreu  deixando-nos  um  livro,  que  é  de  sobra  pnni  o  rriic^mr  ác 
im  joven  de  vinte  annos.  e  que  é  também  ao  mesmo  tempo  o  tumulo 
de  uma  ingente  esperança  perdida. 

Tocamos  Gnalmente  a  ultima  parte  doeste  relatório  reservada' pani 
õ  registo  dos  trabalhos  dos  membro;^  e  das  commis»6a£  dalnsLttmo. 
B  aqui  é  opportuno  e   ntces^rio  observar  p  qm  si  o  Dumero  4ai^ 


27 

memorias  liJas  esta  anno  ó  inferior  aoi  das  que  foram  meDcionidás 
em  1854 «  nem  por  isso  se  deverá  concluir ,  que  menos  fecundo  se 
mostrou  ukimamento  o  Instituto :  nossas  sessOes  nunca  deixaram  de 
ser  preenchidas  com  interessantes  e  longas  leituras:  sobrou- nos  a 
seara »  a  só  nos  faltou  o  tempo  para  aproveita-la  logo  toda :  e  o  anno 
de  1856  receberá  do  que  vai  acabar  em  vantajoso  legado  dous  cu- 
riosos escriptos  a  respeito  da  campanha  do  Sul  e  dir  batalha*  de 
Itusaingo  em  1827,,  e  a  preciosa  memoria  acerca  da  naturalidade 
do  padre  António  Vieira,  da  Companhia  de  Jesus,  pelo  nosso  sábio 
•..venerando  consócio  o  e\m.  sr.  Arcebispo  da  Bahia.  Leituras  co- 
meçadas, algumas  dasquaes  nem  mesmo  ainda  se  acham  concluídas, 
nfto  permittirao  ao  Instituto  o  esgotar  todo  o  seu  thesouro  de  1855. 

O  nosso  digno  consócio  o  sr.  Dr.  Jusé  Ribeiro  de  Souza  Fontes 
•m  desempenho  do  programma,  que  S.  M.  Imperial  se  dignara  de 
eonfiar  ao  seu  estudo,  apresentou  e  leu  a  sua  Memoria  discorrendo 
nella  sobre  quaes  foram  os  animaes  importados  da  Europa  no  con- 
tinehte  americano. 

O  trabalho  do  nosso  consócio  se  acha  dividido  em  duas  partes; 
na  primeira  U'a(a  elle  de  demonstrar  que  os  animaes  importados  oa 
America  foram  os  domésticos:  e  na  ultima  seoccupa  década  um 
d'elle$  em  particular.  A  matéria  é  tão  intrincada  como  árida.  Her- 
rera.  Torrente,  Pedro  Simfio,  BufTon,  Simáo  de  Vasconcellos, 
Caniu ,  Prichard ,  Asara ,  e  outros  diversos  escriptores  familiares 
ao  sr.  Dr.  Souza  Fontes  consultados,  e  confrontados  com  paciência 
e  apurado  exame  por  elle,  prestaram^lhe  o  fio  de  Ariadna,  que 
lhe  serviu  para  se  nào  perder  em  um  inexlrincavel  labyrintho. 
Muitos  pontos  da  questão  ficaram  esclarecidos ,  e  si  o  problema 
não  chegou  á  sua  completa- resolução,  pelo  menos  ficou  aberto  largo 
caminho  para  se  chegar  á  verdade ;  e  também  o  nosso  consócio  pro^ 
mette-nos  mais  extensa  obra,  da  qual  considera  modestamente  a  sua 
memoria ,  como  o  luminoso  prologo. 

O  sr. ,  Dr.  José  Vieira  Rodrigues  de  Carvalho  da  Silva  ,  membro 
correspondente  da  nossa  associação,  procedeu  á  leitura  da  stia. via- 
gem desde  a  fox  do  Rio  deS.  Francisco  até  acachoeica  do  P.attlo 


58 

kfftinm  f  occup»ndo  com  cIJa  n  altençáo  do  Instlluto  durante  il^ 
tna$  sessões, 

O  nosso  díslincto  consócio  o  sf.  ManOÊl  Ferraim  LafM  trouna  é 
consíilerscao  do  Iniiituta  a  sua— Anftiyso  á  viagem  de  Ci^niu  (lelo 
intaríor  do  Brazil ;  trabalho ,  de  qtie  se  achata  «lOirrvgid»  t«>f}ii»l 
Íêb  um  desenvolvimento  ,  que  fu£  honra  ao  leu  talentn  a  Uhiatraçáo. 

O  sr.  Lagos  n^o  se  comentou  com  um  simpliâ  e  broto  juíjo» 
que  poderia  ser  budutívo  ou  conirario  ao  mérito  da  obra  sujeíli  1 
*U3  fina  e  profunda  critica  t  não:  acompanha  passo  a  pasaoa  fti- 
jaitta  ÍTÈiicnA  âtravez  das  nossas  províncias  por  elte  tisitada»:  éè4ím 
a  mào  sempre  quo  o  vô  iropeçar,  %  isso  acontece  muitâS  Teees: 
aponta  um  a  um  06  orros  numerosos  que  commeUe ,  marca-lha  õf 
Cactos  que  inveota ;  prova-lhe  o  conhefimouto  antigo  ^  (fue  noa 
temos  de  algumaf  das  suas  pretendidas  descobertés;  vinga-oos  di 
maledicência  p  eejm  um  sopro  vigoroso  de  potente  lógica  deeíai  a» 
ereaç&es  imaginarias»  que  o  conde  de  Caslelneau  quer  (aapr  cor- 
ler  mundo  com  foros  de  realidades^  Fai  mais  atnd? :  Ingo  ^t 
depara  com  unia  falsa  apreciaçáo  do  carecter,  da  índole  dos  Bra- 
lileiros,  fere-o  com  um  epigramma  ponulranto  0 adequado;  aap- 
pèllandõ  para  os  viajantos  e  bístoriadorea  ^ranpiros  qua  Iam 
eaertpto  acerca  do  Braztl  ^  compara  â  observarão  maligna  com  ojiiia 
imparcial  e  generoso  de  grondas  homens,  como  o  respeitável  Bi 
boMt^  Saint-HiJaire,  Perdtnând  Denis  e  alguns  oiitros»  «^iiti 
fazem  jusliça ,  e  em  Gm  eom  índisivel  graça  cliamando  Lambem  a 
eonlas  a  cohorte  dos  Íraprovis,idores  dn  viagons  1  e  dos  Chavagne*  da 
lodos  os  lempoâ,  mosira  destilando  era  oxtravagiinte  revista  a  mul- 
tidão de  absurdos ,  de  Tiicongruencias  e  contradicrôos ,  b  tiào  ponfitt 
vG£e^  de  immerecldss  injurias»  com  que  desfiguram  e  caliíDOtaii 
ô  Erazíl  homens,  qtie  esconJem  o  que  veam^  que  improvisam i 
que  aio  existe,  e  que  para  escrever  invocam  â  musa  da  meniin. 

Trabalhos  como  o  do  sr.  Manoel  Ferreira  Lagos  mQ  nobf«if 
torras  de  uma  naçáo  repeiidamento  offendida  em  escriptoi,  qoe 
Itsêrecem  fé*  ^  que  sáo  desprezados  entre  u6%,  mas  que  nos  afatam 
tm  atrangeiío,  O  conde  de  Castejnau  nffo  escreve  como  Cha^agiiv, 


20 

más  «ti  longe  d#  o  fizer  como  Saint-Hilaire ,  e  já  è  qtiast  em  éerer 
do  Insiitoto  Histórico  e  Geographico  da  Brazil  castigar  todas  essas 
relações  in6eb ,  e  inconvenientes ,  que  deformam  o  nosso  paiz>  com 
•nalyses  lúcidas ,  vastas  e  espirituosas ,  como  esta  do  nosso  consócio. 

As  sessões  de  i855  não  foram  sufBcientes  para  que  nellas  se  qUh 
masse  a  leitura  de  uma  obra  tão  extensa  e  considerável ;  no  anno 
próximo  futuro  o  sr.  Manoel  Ferreira  Lagos  continuará  a  prender 
noesas  attenções  e  a  justificar  a  merecida  reputação  litteraria  de 
que  goza. 

O  nosso  prestante  e  incansável  consócio  o  sr.  Jooquim  Norberto 
de  Souza  e  Silva  leu-nos  os  seis  capitules  dos  dous  primeiros  livros 
da  sua  —  Historia  da  Litteratura  Brazileira,  producio  esmerado  dé 
oma  constante  e  prolongada  meditação. 

Começa  o  autor  por  mostrar-nos  em  uma  elegante  introducçâo  a 
marcha,  que  se  propOe  a  seguir :  e  estrea  o  seu  trabalho  manifestando  a 
feliz  tendência  dos  Brazileiros  para  o  cultivo  das  leltras ;  tendência  que 
ainda  mais  evidencia  «  mostrando,  como  a  despeito  das  difBculdades 
calculadas  ou  não ,  que  obstavam  á  instruccSo  do  nosso  povo  no 
tempo  colonial,  tínhamos  já  antes  da  independência  historiadores, 
que  memorassem  a  gloria  da  pátria  ,  poetas  que  celebrassem  os  feitoe 
dos  seus  heróes  e  oradores ,  que  do  alto  da  tribuna  sagrada  dissessem 
a  palavra  á  Deos  eom  a  eloquência  dos  inspirados :  passa  depois  o 
autor  a  lançar  uma  vista  d^olhos  sobre  esses  povos  intrépidos  que 
habitavam  o  sertso  easeostas  do  Brazil,  o  que  succumbiram  aos^ 
golpes  das  espadas  de  Mem  de  Sá ,  e  de  Salema  ,  e  demora-se  entSb 
alguns  momentos  recordando  a  imaginação  ardente  e  a  facilidade  do 
impttiviso,  que  distinguiam  os  tamoyos,  verdadeiros  bardos  das 
florestas. 

Estudando  a  litteratura  portugueza  na  hora  do  seu  apogéo, 
quando  se  personificava  em  GamOes  a  grande  epopéa ,  em  Ferreira 
a  tragedia  e  a  comedia,  em  Gil  Vicente  o  auto,  e  em  Joáo  de  Bar- 
bos a  historia ,  demonstre  que  a  soa  influencia  deslumbrante  tiroa 
a  originalidade  aos  nossos  escríptores,  desafiando  a  imitação  que 
abati  00  apaga  o  gento.  Sostenta  e  prova  depois  a  existência  reat 


30 

fiti  possível  da  UUtiraiura  brazileirã ,  hiú  è  a  $uã  imcijrt^liJ^tle  • 

com  a  ifiâpíraçâo  ilj  natureza  virgem,  magestosa  e  subtirne  do 
novo  mundo,  com  a  origitialidaJe,  que  transuda  dai  obras  dt» 
escrrlptores  na  c^r  local  do  paí£,  nos  quadros  doá  cmiumm  úu 
sem  habitantes,  nos  sentimentos ,  que  tem  a  surt  [oiituna  religião» 
e  na  sua  historia  ,  que  é  o  mfl^xo  da  gloria  Ja  n»ç9o. 

Parlindo  do  XVI  suculo  »  qim  é  o  nosso  primeiro  século^  o  mma 
consócio  occti|>a-âe  largamente  dussoWagmis»  a  do  seu  pundor  pant  a 
poeiiã;  diz  quaes  as  Iribus  quts  mais  se  avantaiãram  nella,  dtííer«i^ 
seus  usos  e  costumes ,  seos  jogos  e  dansas  dramalicas  ?  suns  crença* 
o  mythos,  e  depois  finalmente  eontompla  as  figuras  venerandas  dai 
Jtísuilas,  que  trabaliiando  na  çatL*chose  dWas  tribuserranlt^,  íp>- 
veitam-se  de  &eu  lalcniu  poético  ,  dô  sua  língua  harnioniosa  e  ílet»- 
vol  j  faiem  versos  pagãos  com  pensamentos  chrislàos ,  e  intr^ui^m 
o  tbeatro  nas  cidades  que  surgem  no  meio  dos  de^rtos«  fatentio 
representar  as  comedias  de  Anchieta  nos  adros  das  igrejjii ,  a  Sombra 
das  Qorestas, 

Parou  ahi  a  Imtora  do  nosso  illustrado  eonsucio  (lela  roêsmi 
razáo  porque  fora  interrompida  a  do  sr*  Ugos,  mos  o  (juc  omim^j^ 
íoi  fú  de  sobra  para  avaliar  a  vaíítidáo  do  plano  ,  o  a  relicidode  Ja 
execuyáo  doeste  insigne  traballto. 

O  poeta  quit  escriíver  a  liistoria  da  poesia  de  âua  rormo:§a  palrti , 
e  RO  desempenho  de  lâo  honroso  rntento  iriumpha  dos  mais  gri- 
ves  obstaeuloi,  esclarece  as  mais  duvidosas  questões,  e  sahe  da 
iaburíosa  lide,  cansado,  como  o  ãtbieta ,  qm  acabou  rb  lula  ;  ma* 
resplendendo  com  o  próprio  enlbusiasmo ,  que  fulge  nos;  sous  rscrip- 
tos,  e  coberto  d'essiis  mesmas  flores,  que  a  mSos  cheias  derraniDu  nas 
paginas  do  seu  livro. 

Não  foram  m  estes  os  trabalhos,  íjue  oecuparam  o  Instilulo Uu* 
rante  o  anno  social «  de  que  damos  conta*  Algumas  de  noiaaaoom- 
missôeSt  a  entre  ellas  notavelmente  a  de  admissão  â^soám^  e  as 
de  nisloria  o  Geographia  deram  provas  de  uma  acttvididee  dili- 
gencia ,  que  muito  útil  nos  foi. 

Ao  nosso  consócio  o  txm.  sr.  cou^lbeiro  José  Ildefonso  de  ãutiM 


31 

Bamos  devemos  um  lúcido  parecer  acerca  do  manuscripto  que  se 
intitula  —  Consideração  sobre  o  estado  de  Portugal  e  do  Brazil  desde 
a  sabida  d*EI-Rei  em  Lisboa  em  1807  até  1822;  e  de  commissõcs 
especiaes  nomeadas  na  conformidade  dos  estatutos  tivemos  juízos  e 
conselhos,  a  que  o  Instituto  deu  muito  subido  apreço,  e  que  lhe  fo- 
ram de  aproveitado  soccorro. 

Finalmente  entre  diversas  propostas,  algumas  das  qnaes  foram 
adoptadas  pelo  Instituto  ,  c  outras  remetlidas  a  commissões ,  que 
meditam  ainda  a  respeito  de  sua  matéria  ,  uma  houve  tâo  cheia  de 
religiosa  sensibilidade  e  de  gratidão  patriótica,  que  não  podemos 
deixar  de  lembra-la ,  rematando  com  ella  este  jú  tão  enfadonho 
relatório. 

Os  nossos  dignos  consócios  Dr.  António  Pereira  Pinto  e  Joaquim 
Norberto  de  Souza  e  Silva  propuzeram ,  que  o  Instituto  solicitasse 
do  governo  imperial  a  entrega  de  um  fragmento  dos  despojos  mor- 
taes  do  missionário  Anchieta  que  se  conserva  em  uma  caixa  com 
lavor  de  prata  na  ihesouraria  da  província  do  Espirito  Santo ,  ou 
no  Thesouro  Nacional.  Nào  é  preciso  dizer ,  que  uma  tal  idóa  teve 
prompta  e  unanime  approvaçSo. 

O  padre  Anchieta,  o  santo  irmão  de  Nóbrega,  o  apostolo  do 
novo  mundo,  aquelle  que  se  occupava  só  da  conquista  das  almas, 
quando  quasi  todos  se  occupnvam  da  acquisiçáo  das  riquezas, 
que  abria  as  portas  do  céo  ao  jfHibre  selvagem,  quando  tantos  lhe 
roubavam  a  terra ,  aquello  que  preparava  para  o  índio  a  bemaven- 
turança  na  eternidade ,  quando  os  outros  lhe  impunham  o  captiveíro 
no  mundo ,  aquelle  que  defendia  a  vida  do  tamoyo  para  toma-lo 
digno  de  Deos ,  quando  muitos  lhe  davam  a  morte  sem  cuidar  de 
salva-lo  do  inferno,  Anchieta,  o  orvalho  celeste,  que  apagava  o 
incêndio  ateado  pelas  espadas  de  fogo  dos  conquistadores ,  esse  pio  e 
virtuoso  missionário,  de  quero  se  podia  dizer,  repetindo  o  pensa- 
mento de  La  Mennais,  que  uma  cruz,  semelhante  a  um  raio  do  céo , 
)he  apparecia  ao  longe,  para  guiar-lhe  oe  passos,  Anchieta,  que 
na  historia  do  nosso  primeiro  século  representa  a  caridade  do  apos- 
tolo de  Christo  contrastando  a  tyrannia  iniqua  dos  exterminadores 


32 

jUt  uma  rnçflj  Aucluclú  merece  bem  que  lionremos  esse  ultimo  fm^- 
leuio  de  saus  deí^pojos  morraes ,  mmo  uma  piedosa  e  ssoeia  re* 

Aqui  Jeveinos  parar:  fai  mesquinho,  rude  e  obscuro  ci  q^iaira 
que  em  núss^i  t^o  cotiliectdâ  insuffíciendâ  |H)d<;D)os  apena§  esboçar  ; 
mas  a  despeito  de  suas  sombras  e  imperfeiçõcís,  d  ímporbiicii ,  a 


utilidade  e  o  desenvolvimenio  do  [n<itituh»  Ilistorim  e  Geogrdpbieo 
do  Brazil  se  píUemeom  e  brítliam,  Cí)mo  os  raios  da  dia  ,  que  roeu* 

I  pendo  r«s  dens^as  iiovons  da  inanbã  de  iiiverao  derramam   a  luz  fiú 

Lseiíi  da  lerra< 

Muiios  SQO  os  âerviçoSf  e  ardufis  as  conquista  que  tem  já  prestada» 

[e  conseguido  o  Instituto;  mas  a  sna  misslo  é  ainda  m^^is  etlefia  ^^| 

^  árdua.  Si  o  brílbânlismo  do  futuro ,  scituíllando  da  aureola  glofíoia 
que  cofóã  a  fronte  do  magestoso  império  diamantino,  nof  íuflamaii 
e  arrekila ;  preoecupa-nos  ,  e  qtiasi  que  nos  exliaure  os  forças  o  cui- 
dado dtí  i^martltiar  o  passado  u  oiais  sábio  tatèa  nas  ifi^vts  qtie 

^envolvem  a  bbturin  das  rnc^s  indigenas,  e  luta  qnasí  sempre  ifo- 

I  ])alde  cem  efsa  m}'sterio ,  que  paira  s^^bre  o  berço  dos  povc^t  ienus^ 
Ibante  á  nuvem  que  oceuUa  a  nascente  dos  rios,  que  fe  jift?cipi- 

'  Iam  dos  cumes  gelados  das  montanhas  pra  inundar  oa  eonliftao- 
les ,  como  dÍE  um  grande  poeta  e  hislurÍ?idor- 

Mas  não  dt^s^tiiimamoâ!  lia  vemos  de  legar  ás  noras  gÊrát6e&  os 
elementos  du  historia  de  uma  grande  e  predestinada  n^çilo ;  hav6* 
mos  de  ajuntar  *  carregando  sobra  nossos  bombros  ,  as  pedrai ,  qtia 
jjtvem  servir  de  alicerces  do  mais  soberbo  monumenlo,  a  bistoriá, 
que  confera  ^os  heróes  essa  í mmortal idade ,  que  é  na  terra  usia 
sombra  úa  eternidade  no  cég, 

,  Prosegy iremos  na  cmpre^^sim,  proseguiremos;  para  iospicar- 
Dos  a  animeçâo  c  coragein  ,  lemos  o  amor  da  pauia  t  o  pura  guiara 
no3  pelo  eamiidio  da  bgnra ,  da  dedicação  e  da  gloria  (ai&ús  o 
Imperador,  que  marclio  intrépido  à  nossa  frente,  que  noscom^ 
manda»  e  nos  enl[m£ia.<ma  p  que  comnosco  e  sempre  diante  de  nós 
£e  atira  no  maio  da  luta,  que  nos  leva  a  combate*  b  um  outorp 
«  vtetoria ;  fazendo  sempre  soar  a  ncssoe  ouvidiis,  a  minir  t íq  nossas 


st 

corações  um  ^rltOf  que  aléa  n*alma  um  foga  divino ,  obrado  lia- 
rgic5,  o  brado  tio  génio,  o  brado  Je  Goelho  —  avaiiló?  avant«t 


DISCURSO  DO  ORADOK 

o  sn.  MANOEL  DE  AHAUIQ  POnTO-ALEGEE. 

Senhores*— Aquella  dia  felii  em  que  o  silencio  do  vo^o  orador  será 
á  mais  betia  piígina  do  pmgrammad^o^lasrauntOes ainda  nDoebegou. 
O  anjo  da  morte  baixou  ao  sêio  do  Instituto ,  \'*àz  sua  mõo  gelnda  no 
coração  ardente  de  alguns  sócios  beneméritos :  mudos  e  frios  cdbi* 
ram  para  ntinca  mais  se  levantoretn  ;  mas  de  todo  não  morreram , 
porque  só  tnorre  quem  se  não  identíllca  com  a  pátria ,  ou  noo  com- 
bate na  phalâfige  doi  idealistas. 

Yé$  que  haveis  percorrido ,  ú  semelhança  de  Pausatiias » por  essa» 
regiões  animadas  de  láo  bellas  reminiscências,  por  esse  passado  que 
vos  acaba  de  eiornar  o  nosso  Primeiro  Secretario;  vós  que  bafeis 
contemplado  oi  dias  do  uma  existência  magní Geada  pelã  consiania 
presença  do  grondé  Americano  em  vossos  trabalhos,  e  pelos  trium- 
pbos  do  espirito  cirílisador,  vinde  comigo  agora  ,  não  ás  prtas  da 
cidade  de  Sócrates  e  Pbidias,  mas  sim  ao  berço  de  Caldas  e  de  José 
Maurício,  onde  achareis,  em  vez  de  cenotaphios,  cypos,  coiumnai 
e  mausoleos,  a  gleba  humilde  e  enflorecida  ^  e  a  lapida  singela ,  pro- 
tegida pela  crur,  ou  por  um  nome  que  recorda  uma  virtude,  no 
qual  repousa  o  amor  sagrada  da  família «  a  saudade  do  amigo «  e  a 
gratidão  nactonat, 

Nao  ramos  de  Etausis  para  Alhenas  eom  o  preceptor  de  Paulo 
Emílio  e  Scipião ,  porque  não  vemos  a  cimeira  do  elmo  dâ  famosa 
Palias f  sciiboreando oâumoioeo  Pyréo , nem  o  fastrgio  d*essa  ma- 
raviihâ  da  arte  que  recorda  Péricles ;  nao  peneiramos  por  essa  via 
Iríumphal  da  morte,  guardada  por  vultos  iconícos^  por  sentiuellas 
de  mármore «  por  homens  cujo  nome  eneberam  o  passado  nas  lides 
da  perfectibilidade. 

A  arte  que  se  alimenta  das  virtudes  i^onsummadas  ainda  nio  dvi^ 


'■-  -^^ 


veotoi]  h  mõrté  peto  poderio  ão  eQgêuhfi ,  nem  coHoêou  «m  írenia  cfa 
fuLum  eomo  aulaios  vigilaules  o  transuAiplo  dos  grtiiJes  liomeru ,  « 
imagem  do  general ,  e  a  do  escravo  generoso  que  çoofutidb  seu 
sangue  com  o  do  hefóe  no  campo  da  batalha ;  ella  ainda  nUo  fez  ám 
gemidos  da  gratídíla  pubUca  uma  harmonia  do  fiuito  da  pátria , 
nem  converteu  as  sepulturas  n*ura  paniheâo  da  gloria,  n'um  livro 
de  fastos  naclonacs ,  n  esse  ihesouro  de  recordações  o  àé  notira 
In^ntrvoâ  para  a  mocidade;  úm^  para  a  mocidade^  porqua  tUi 
i  aquellô  magico  eipelho  á&  esperança ,  onde  sa  reQacld  anlicipft* 
damente  a  aurofa  da  todas  as  grandezas  m  da  todas  >$  hunillii* 
çòea  de  um  povo  t 

Por  piedado,  meussõnhoresi  nm  sâjais  para  comigo  íSQwnkgmmè' 
mn  para  Calchas  i  o  Binistro  augura  nào  esta  aqui  para  predkar  is 
male».  Lá  chegaremos  um  dia  ^  e  essa  dia  nâo  e&tá  longe* 

O  nosso  passado ,  a^o  Adamastor  quedo  a  petf  iticado  junloá  Aliai 
da  indílTerença ,  começa  a  decompòr-se  pelo  choque  das  tdóaagmii^ 
dio^aa,  e  regeo^rar-^d  pela  mecânica  applicada  ao  tempo  e  ao  aipaças 
tm  breve  nos  acharemos  tão  longa  d  elle  que  apenas  restará  a  imi- 
gram iradicionat  do  seu  longo  império  para  oscarneo  de  si  m«mi, 
vargonlia  de  mm  apofoglstas«  e  lição  para  os  vincbiiros.  A  in 
^blica  é  um  dos  vehiculosda  barbaria. 

Mas  ÊcnquantD  a  fé ,  o  amor  sublime,  sa  nàa  malÊrtalis 
dignameniâ  aos  oUios  do  mundo»  vamos  proseguindo  fio«si  modata 
tarefa ,  vamos  oommemorando  as  virtude  e  os  sorvi^  éé 
finados  companlieirog»  depositando  a  oblata  si  tigela  de  nossa  gmi- 
dío  sobre  es$a$sepul luras  que  reclamam  um  testemunho  duradouro* 
.  O  Insliluto  nào  amoriallia  seus  membros  em  uma  folba  d«í  jor- 
Bal ,  não  os  envolve  na  poeira  transitória  das  correnas  da  uni  fligmlt . 
marcenario,  nuo;  presta-lheso  culto  da  mais  profunda 
ttomo  lesiemunbo  publico  de  sua  saudada  a  recaohecimdiitci. 

Mas  que  vejo,  sen liores,  que  brilhante  appartçjoé  esta  qiiai 
meus  QÍht>s  como  a  luz  meteórica  no  seio  da  eseuridio  ?  1  kUm 
OeeanOi  junto  ao  cabo  de  Sagres,  d  onde  partiram  os  conquitladu- 
tm  di  iQaris  nunca  d'antes  navegados .  v^ja  um  púiaqito  cmiã  b^r - 


16 

moniosdmentd  n^â^itielb  Vm^m  qus  com  pouca  eorrtipçlo  ei4-$e  qúè 
ú  .1  latina^  e  esCe  povo  olbndo  p»râ  um  homem  l 

Frometheo  de  ao^a  espécie  #  anima  a  própria  estatua  eom  a  ílamma 
qu^  Ibô  inftmdtro  o  anjo  da  poasía «  para  alraros^ar  as  epi  «subltmar 
isgeraçõéâ  Tuturás.  iuniôá  tmagõm  radiante  doesse  trarao  proemínentâ 
ÊStá  a  do  llomero  lusitano  protó|&{idci-a  com  o  lume  de  auâ  gtoría  â 
immomlídade!  Quô  antiilridâs  sâo  essas  que  lho  adornam  o  pedestat^ 
ti  que  por  51  só  a  tira  bem  a  admira^  do  dous  povos?  Guerreiro»»  t^ 
das,  cavallctros,  Mouros ,  navegmtâs,  monges  e  amores  engrinal- 
dados de  todas  as  ftòres  da  Ibéria  ^  de  t^dos  as  peffumos  do  Ofíen- 
le!  Vm  tan^gem  Uarpai  e  ataúdes ,  o  autroi  se  a<}ornam  do  manto  ite 
Eurípldes  e  Shakespeare!  Aqui  e  ali ,  resumbrando  perfumes  varia- 
dos, estáo  livroâ,  mãa  esses  prismas  da  menle  que  reflectem  todtt 
as  cAres  de  uma  alma  dinnisada  pel&  engenho.  Qiiem  sdrá  ?..». 

E'  um  cencUnphio  consagrado  á  gloria ,  é  um  triumpho  do  homefii 
sobra  o  silencio  da  sepultura;  é  lonj&  e  variada  oseuepitapyo, 
ira  temos  d  e  resu  mi  -  to . 

Iodo  Baptista  Leitíío  áê  Almotda  Garret  nasceu  na  cidade  do  Porto 
m  dia  4  de  Fevereiro  de  iSOá.  Foraroseus  pois  António  Demardd 
dâ  Silva  Garrei,  fidalgo  da  casa  rea!,  e  1>^  Maria  Augusta  de  At* 
meida  Leitão,  filha  daBrazileiro  José  Bento  Lei  tio.. 

Educado  por  seu  tio  a  bispo  Ih  Frei  Alexandre  da  Sagrada  Fa- 
milia,  comptetous  as  suas  humanidades  ao£  13  ânnos;  e  na  de  IS 
matriculou-^  na  Univertidade  do  Coimbni,  Abi  reveloiHie  o  poetíu 

Em  Í8I8  e§creveii  a  trageíMa  XcrTm ;  en*  %%t%  tuG^cia  § 
iierúpei  e  em  21  de  Agosto  de  f830  eantotha  líberdiide^  Em  1621 
publicou  o  J¥tf(mf<i  dt  Vénus:  em  f6t*2  fomiou-se  em  toí»  e  To* 
nomeado  oltlcial  da  secretaria  do  reino,  echefo  da  sec^^ào  ãt  instruo- 
çáo  publica.  CompÒK  o  sen  Catão ^  e  fez  o  elogio  do  patrjar«ha  d* 
Hbordade  poriugueza  Manoel  Fernandes  Thomas;. 

Em  1SÍ3 ,  emigrou  para  a  In^latorr.^^  onde  ôwreveu  o  seu  Tpí> 
iado  de  Educado  ^  e  o  poema  heroi-oomico  Mnjriçop  qua  p«r* 
deu*se  em  um  naufrágio. 

Em  iê2'%  passou  ã  Frajiça»  entrou  do  caifeiro  tia  casi  de  LaJTlttd  ^ 


36 

i  roí  no  Hâvre  de  Grar^j  ^  no  meio  Jos  seus  deveres ,  que  conipòt  Cu* 
^mõei  ^  D.  branca-  A  tragedia  o  Infante  Sanío  ,  c|ua  alii  iguil- 
manla  oompòz ,  te?0  a  mesma  sorte  do  Magriço, 

Em  18^6  escreveu  um  longo  artigo  intitulado  Â  Europa  e  n 
im«ríra,  o  qual  ^m  J830  foi  ampliado  o  estampado  mruo  titulo 
^  d@  Portugal  na  òalança  da  verdade, 

£m  Paris  concebeu  a  ídéa  do  ParnwfQ  Luiitano,  e  escrtveu  a 
ÍQiroducçDo  que  sq  acha  no  ir  volumu. 

Jurada  a  Carta  Consliliicional  em  Portugal  Toi  o  principal  redactor 
dõ  deus  jornaes:  o  ParíugiHZ^  dado  u  accio  politica;  a  o  CÃro* 
,  núífl,  ao  movimento  liUerarSo. 

No  primeiro  combate  eleitoral  publicou  a  Guia  do$  ehítúrts  :  ^ 
intrigas  de  partido  o  encarceraram  por  três  mei«a. 

Em  182S  tornou  a  expotriar^se.  Trabalhou  no  gabinele  do  du- 
que de  Palmelia.  N^este  novo  exílio  publicou  Ados^inda  e  a  Lyrim 
de  Mo  Minimo,  e  cantou  a  batalha  da  %illa  da  Praia  em  umt 
canção  que  denominou  :  Â  Leaídade  em  triumpho, 
.  Foi  soldado  no  exercito  libertador,  e  logo  qua  se  dissolveu  o  seu 
batatbâo  pas^u  para  o  académico. 

No  gabinete  de  Mousinho  redigio  o  decreto  de  lã  de  Maio,  e  »!- 
tou  de  arma  o  muchila  na  praia  do  Mindelo  com  o  príndp^quv 
abdicou  duos  coroas. 

No  cerco  do  Porto  organisou  e  dirigio  a  nova  secretaria  do  reino, 
e  recebeu  os  maiores  elogios  do  príjicipe  libertador  pela  r0Drg&nÍ3«« 
ção  que  fez  da  ordem  da  Torre  e  Espada. 

Na  qualidade  do  secretario  acompanhou  a  Londres  Palmella  t 
Mousinho,  e  esteve  algum  tempo  em  Paris  em  1833 ,  onde  procu- 
rou refazer  o  seu  Magriço  ^  e  escreveu  umas  cartas  á  semelbançã  dâs 
de  Demouslier. 

Voltou  á  pátria  em  18?4^^  foi  nomeado  vogal  e  secretario  da  com- 
missão  reíormadora  dos  estudos «  o  deu  um  plano  de  reforma  geral, 

N'eâso  mcsroo  anno  foi  nomeado  encarregado  de  negocio;»  em  Bru- 
xdlas ;  passou  a  ministro  residente  na  Dinamarca. 

Em  fitnbts  as  miâsOes  (oí  condecorado. 


aí 

Voltou  á  vida  privada ,  e  redigiu  em  1836  o  Poriíigues  Cam^ 
íiiueional,  que  terminou  com  a  revolução  de  Setembro. 

Recusou  n'es5a  epocha  vários  empregos  e  o  miuisterio,  porém  acei- 
tou o  de  juiz  do  tribunal  do  commercio. 

Foi  deputado  polo  Minho  e  pelos  Açores  no  congresso  constituinte» 
onde  foi  tido  por  um  orador  eloquente  e  sem  rival. 

Emprehendeu  a  reforma  do  iheatro  nacional  e  compôz  o  Auêo  tU 
Gil  Vicente.  Nomeado  inspector  dos  theatros »  creou  o  Conservatório 
Dramático  e  essa  família  de  roemographus  que  fizeram  uma  nova 
epocha  litteraria. 

Em  1838,  sendo  deputado  pelos  Açores»  pronunciou  aquelle  fa- 
moso discurso  que  a  nação  intitulou  Porto  Pyreo,  e  escreveu  a  Fto- 
gem  á  minha  terra. 

Nomeado  cbronista-mór  do  reino,  abriu  um  curso  de  historia 
portugueza ,  que  muito  edificou  a  mocidade. 

Novamente  eleito  deputado  teve  de  optar  entre  circules  de  Li»« 
boa  9  Açores  e  Vianna. 

Compôz  para  os  alumnos  do  Conservatório  o  drama  D.  Philippa 
de  Vilhena  em  quanto  negociava  com  os  Estados-Unidos.  Seguio-se 
o  Àlfageme ,  o  Elogio  histórico  de  Vieira  de  Castro^  Frei  Luím 
de  Souzoy  e  a  Historia  das  revoluções  de  Portugal  desde  1820. 

A  rainha  o  nomeou  viscondt)  do  seu  próprio  nome,  e  o  encarre- 
gou da  pasta  do  ministério  dos  negócios  estrangeiros.  Acabou  o  seu 
romance  histórico  do  Arco  de  Santa  Anna^  e  morreu  como  um 
verdadeiro  christáo.  Poeta »  soldado  e  estadista ,  é  mais  um  exem- 
plo assigrialado  contra  a  fé  da  mediocridade  que  nega  o  dualismo , 
porque  almeja  a  especialidade. 

Foi  Carreto  primeiro  poeta  portuguez  que  me  fez  amar  a  poesia» 
parque  me  mostrou  a  natureza  pela  face  mjsteriosa  do  coração  em 
todas  as  suas  pbases ,  em  todas  as  suas  sonoras  modificações :  lord 
Bjron  foi  o  ostensor  que  o  collocou  n'esta  bella  senda. 

A  maioria  dos  poetas  portuguezes  anteriores»  mormente  o  que 
fechou  o  século  passado  e  abrio  o  presente  >  era  monótona ,  insen- 
sível ao  aspecto  da  natureza  phjsica,  por(][ue  estava  toda  narepi- 


38 

mà^  Gtmiã  ;  ús  seus  nov(B  cnntos  eram  échos  da  ^utiguidado.  ar- 
rastado pr>r  êlles  á  clarlJadiS  da  Oljmpo  ^  ou  «  eâcuridão  do  Bin^ 
ttiro,  viã  sempre  ai  mosmas  imagens,  ouvia  leaiprd  m  wêêiub 
harmonias :  so  tremta  conculcado  pelo  poso  do  massas  lítanicts ,  ati 
petos  arrojos  da  exagera^ào^  descansava  ri^um  lofrano  dnifkbL 
sem  perfumes ,  sem  crenças  »  sem  memoria  e  sem  esperança ,  çmm 
as  divindades  amigas  que  o  povoavam  e  proleginm*  A  arli  qii« 
linha  os  poios  nas  màos  do  Júpiter  o  do  Plutão  era,  a  meus  olb», 
^Bm  craneo  de  marfim^  um  ariefaolo  que  nao  rocorcb  a  Ikiaiem 
Istma,  mas  o  homem  dextra. 

O  poeta  quarrdo  evoca  o  pasmada  coav  n  musa  da  espertiiçt «  iitli 
orna  lifjào  profícua,  prrjuo  a  passado  redivivo  se  eslamp  noboiv 
tonta  do  futuro  oomo  uma  forma  s'tgniricatlva  e  proporcional.  Na 
conversão  das  dores  e  melodias,  e  úm  prazeres  eni  hirmonias ,  es4á 
o  espelho  da  ^piettcia ,  estão  lodos  os  se^^ed^s  do  engenUo  :  UMhf  «s 
irradiações  do  pensamento,  todo  esse  moto  conoen tricô  ou  «xeen* 
tricô,  quer  do  universo  para  o  coração,  ou  d^esle  para  a  iiDmensi- 
dãdot  no«  conduzem  a  aíguma  verdade  soberana*  Cuvier  dma  ao 
ST.  Lamarline  que  o  emblema  de  Tasso  >  do  md  sobre  a  beífi  4^ 
vaso  que  contóm  o  licor  amargo,  que  dá  vida^  está  toda  Oi  poâsia : 


€úsi  alVegro  fanciuí  porgiamo  asperãi 

Di  sonv^  licor  gli  orli  dêl  mso:^ 

Sucdií  amnri  iufiãnnato  intunto  c*  Aci?f , 

E  daU  inganm  sm  viía  rmve, 

'  A  mocidade  íitlrahida  pela  bel  leia  das  idéas  e  do  rbythroo,  p^hi 
brilho  e  movimonto  dos  imagens ;  presa  a  essa  cadèa  magica  d^  sen- 
sações, atltinta  a  essa  língua  sobreliurama,  recebo  um  eufso  de 
profunda  moral  e  philosophia  :  A  epopéa,  a  tragedia  o  os  poemai 
didácticos  assim  o  provam. 

O  poeta  educa  e  íortaleco  o  liomem  quando  o  ensina  a  T4r  o  bolta 
o  o  prepara  para  o  ftiloro;  o  grando  proceptor  se  sobrelefi  prali* 
cando  com  as  ruinas;  pesando  as  cinzas  dos  grandes  homeiu,  sôiif 
tido  sobre  os  seus  túmulos;  cxornando  a  pátria  com  os  dieta  mes  ^ 


I 


39 

razfo ;  fazendo  concutir  nas  almas  os  sons  da  sua »  ou  pintando  a 
desgraça  como  um  abutre  preando  o  universo  ,  e  a  gloria  nacional 
como  a  luz  da  rcdempçào»  Job,  Salomão  e  David  seráo  sempre  os 
legisladores  do  futuro ,  os  guias,  conselheiros  e  consoladores  de  todoa 
os  corações  sensiveis;  porque  ensinar  a  soffrer  é  amestrar  para  a 
victcria. 

Mo  Camões  do  nosso  finado  consócio  está  a  musa  da  esperança;. o 
proscripto  abre  a  scena  pela  saudade  da  pátria  antes  que  o  seu  heróe 
respire  o  ar  que  extingue  a  nostalgia  que  o  consome, 
Com  áÒT  que  os  seiot  d^alma  dilacenu 

O  desterrado  que  agonisa  entrevê  nos  enlevos  da  esperanç-a  as  de- 
licias do  que  volta ;  o  poeta  falia  pelo  poeta ,  e  nos  mostra  nas  fa- 
talidades do  engenho  e  como  a  Providencia  converte  os  espinhos  da 
vida  em  uma  coroa  de  flores  immorlaes  depois  án  sepultura  ;  com 
elle  vemos  o  Homero  Lusitano  pisar  as  praias  do  Tejo ,  receber  o^ 
affagos  de  um  rei  que  sonhava  com  a  gloria  j  cahir  na  indigên- 
cia, ter  por  inimigos  os  inimigos  da  sua  pátria;  com  elle  vamos  á 
sepultura  de  Catharina,  e  ao  hospital..»,  ao  hospital ,  senhores,  em 
cuja  porta  as  nações  ingratas  deveriam  escrever  :  Aux  gran1)S  hom- 

MES  LA  PATHIE  EECONNAISSANTE  (*}. 

Amor  da  pátria ,  veneração  á  virtude ,  verdades  úteis,  é  uma  la- 
grima para  a  desgraça ,  é  o  que  se  colhe  na  leitura  d*esta  obra  amá- 
vel e  innovadora  que  prorompeu  a  luz  para  mostrar  a  Portugal 
que  a  poesia  é  uma  arte,  uma  força  e  um  progresso,  e  nâo  um 
esterzido  plástico  das  formas  rebatidas  da  antiguidade ,  do  seu  sen- 
sualismo  ,  da  sua  descrença ,  e  doesse  materialismo  que  eothronisou 
o  suícidio  como  uma  virtude  salvadora. 

O  christianismo  pouco  apparece  na  arte  portugueza  antes  da  re- 
forma exemplificada  pelo  nosso  consócio.  Os  próprios  padres,  como 
Philinto  Elysio  e  outros  se  mostram  idolatras  como  Anacreonte  e 
Horácio,  incrédulos  como  Séneca  o  outros,  que  nâo  viam  nada 
além  da  morte.  Trasfoleando  os  contornos  da  musa  grega ,  a  repfu- 

(*)  E*  »  inscripçSo  do  PalitbéoD  Francez  I 


ftO 

duiíam  dtscadeíile  como  as  pinturas  dos  vasos  atruscos ,  ondi  a  mia 
iosciente  do  operário  denuncia  uma  belleza  mutilada. 

Antes  de  haver  emigrado  já  tinha  produzido  o  Retrato  de  Vé- 
nus e  Catão.  Os  primeiros  lampos  do  génio  foram  atacados  violen- 
tamente pelos  críticos,  pelos  inimigos  da  arte,  e  pela  bypoerisía 
disfarçada  em  moralista.  Ganhou  ambos  os  processos :  provou  em 
publico  que  o  seu  poema  nâo  era  mais  que  uma  oblaçSo  á  pintura, 
e  uma  maneira  de  grupar  todos  os  pintores  para,  no  retratar  a 
deosa,  distingui-los  pelo  seu  mérito  especial.  O  abbadd  Corrêa  da 
Serra  o  abraçou ,  e  lhe  disse  estas  palavras :  «  O  vosso  poema  é  a 
aurora  de  outros  mais  bellos;  porque  a  litteratura  é  como  as  aguas 
de  Versalhes  j  que  quando  correm  pela  primeira  vez  no  anno  sa- 
bem sempre  turvas,  mas  ao  depois  se  tornam  límpidas  e  coroadas  de 
mil  arcos-iris;  e  o  arco-ris,  moço ,  ó  o  symboío  da  paz.  • 

Provou  ,  cotejando  os  textos,  que  não  havia  traduzido  o  Catão 
da  Addisson ,  e  os  seus  inimigos  se  calaram. 

A  inveja ,  meus  senhores,  é  o  missionário  da  decadência  humana, 
o  Protêo  que  toma  todas  as  formas  para  embaraçar  o  que  é  bello  e 
creador;  nos  seus  olhos  estão  os  raios  que  só  ferem  as  cousas  gran- 
des; quando  louva  os  estranhos  é  porque  odeia  os  nacíonaes,  e 
quando  adora  os  antigos  é  porque  aborrece  os  modernos;  para 
ella  não  ha  progresso,  porque  ella  é  essencialmente  estacionaria : 
vampiro  de  natureza  hybrida ,  toma  a  abalada  do  condor  para  ferir 
as  summidadcs ,  e  os  meneios  da  serpente  para  destruir  todos  o$ 
germens  fecundadores.  Este  monstro  só  se  alimenta  no  coração  da 
mediocridade  ambiciosa. 

Os  homens  que  querem  na  poesia  uma  arte  como  Platão  estabe- 
leceu ,  acclamam  Camões  como  obra  prima  de  Garret ,  porém  os 
poetas  consideram  D.  Branca  em  primeiro  lugar:  tanto  uma  como 
outra  tem  seu  mérito  especial. 

Na  primeira  resumbra  o  patriotismo ,  a  missão  do  poeta  elevado  e 
generoso  para  com  a  sua  nação;  a  livre  mas  sensata  inspiração 
guiando  a  socidade ,  c  com  ella  a  religião  severa ,  santa  e  des- 
interessada. 


M 

£m  D.  Branca  a  arte  ap[)arece  debnixo  de  uma  forma  mais 
ampla,  roais  variada  e  graciosa;  o  poeta  deleitou-se  em  animar ^ 
em  colorir  antigas  lendas  e  tradições ,  e  ao  mesmo  tempo  em  infun- 
dir pelos  exemplos  e  virtudes  de  outras  eras  aqaellas  idéas  que  re- 
generam um  povo.  Estos  dous  poemas,  filho  da  escola  byronniana^ 
abateram  a  poesia  idolatra ,  a  musa  plástica  o  anachronica  do  paga- 
nismo, e  abriram  á  juventude  portuguesa  essa  nova  epocha  litte- 
rana  que  tanta  honra  lhe  faz. 

£'  lisongeiro  para  o  nosso  Instituto  contar  em  seu  seio  os  grandes 
prophetas  da  arte ,  os  reformadores  da  lilleratura  em  França  ,  em 
Portugal ,  e  também  ai|nelle  que  fez  e  mesmo  no  seu  Brazil. 

Depois  da  reforma  do  thealro  brazileiro,  pelo  sr.  Dr,  Magalhies^ 
em  1837,  appareceu  a  do  thealro  portuguez  pelo  nosso  finado  col- 
lega.  As  suas  obras  dramáticas  anteriores  ao  ÁlfãgemeeFrei  Luiu 
áe  Souza  pertenciam  á  escola  clássica  de  Racine  e  seus  contem- 
porâneos Shakespeare ,  Galderon ,  Schiller ,  e  o  mesmo  Byron  ainda 
não  tinham  sido  escutados  e  admirados  por  elle.  E  n'essa  epocha  ser- 
lhe-ia  pcrmittido  dar  largas  à  inspiração ,  e  passar  do  circulo  do 
vassallo  para  o  do  cidadão  em  uma  cidade  que  vira  consumir  na 
fogueira  o  Molière  fluminense  e  preparava  a  mesma  festa  de  sangue 
ao  Paulista  que  realisou  os  sonhos  da  antiguidade ,  e  foi  o  pri- 
meiro mortal  que  rompeu  as  leis  da  attraccào  e  subiu  aos  ares  em 
uma  machina  que  inventara!  O  predominio  e  os  hábitos  da  servidffo 
só  se  destróe  como  Moysés ,  só  se  aniquila  com  novas  idéas ,  e  uma 
nova  geração:  o  idealista  é  o  Argos,  e  o  iempo  e  a  morte  os 
Briareos. 

Apezar  dos  tempos ,  de  tanto  engenho  e  precocidade  ^  e  de  tantos 
e  tão  innumeros  escriptos,  o  nosso  consócio  soffreu  grandes  e  in- 
qualificáveis injustiças ;  tinha  o  estigma  de  poeta  ,  que  por  muito 
tempo  nullifícou  o  homem,  e  o  proscreveu  da  coramunhfio  dos  seres 
priviligiados  que  elevam  á  virtude  os  seus  talentos  negativos,  e  sd 
absolvem  mutuamente  da  ruina  do  estado  e  da  moral  publica,  por- 
que tem  o  dom  celeste  de  nào  versificarem.. ..  E  no  entanto,  senhores» 
o  poeta  é  quem  eternisa  a  nacionalidade  e  a  gloria  do  seu  paic ; 
xvin  scPb  e 


42 

porque  um  ília  virá  om  que  Porlugal  será  Camt^,  «  iiviró  glorio»^ 
mente  íJo  sua  individualidade* 

Os  homôos  de  notureia  tãfrActarííi  ad  vulgiimmo  sensual ,  ú&  ea* 
racierÊs  q\m  mflíUim  contro  o  deâpaiitmo  dns  mAÍarías,  náo  te  cctn- 
taminam  facílmenle,  porque  nío  podem  lisonjear,  por(|uo  sáo  lába- 
roto  ri  os  do  [lensa  mento  ,  e  ia^trumentus  providunciâe^  para  á$  grandes 
revoltiçôos.  E^tes  Uoimns  formam  uma  tribu  de  ptigílistãs,  qua 
abííirQom  cconibEJlem  anda  hora  da  vida  essas  pbiííungesde  madr 
ços  prtitoncLosos,  quo  se  íordam  com  o  uiiíroniie  do  p:iss3do,  t  pro 
clam-im-se  coosorvadoras  zeki^.ns ,  eoiiiti  se  a  liiimanidHdô  fosiâ  osca* 
tionarin,  a  não  houvesse  ito  espirito  humano  os  íacimdos  ©iemen- 
los  do  infinito,  do  íínito  d  das  relações  ! 

A  rotina,  a  ft-bre  soporifora  da  doei^dcncia,  a  moda»  t  vo]av«Í 
soberana  dos  míritos  fuleis  56  ad unem  sempre  para  peleprde  ío- 
duslria  contra  o  homem  que  se  colloca  em  primeira  plana  paloi, 
fructos  do  engenho,  ou  o  que  Ibes apresenta  uma  verdade  s.ilTadofat 
um«  nova  vida.  Os  doutos  pela  imittiçiio^  pelo  plagio,  peit  pani* 
pbrasíe,  pela  ra  podia  do  passn  d  o  se  apresentam;  proclamam  vicloria, 

Iripndifím  de  aleL^rta e  no  entanto  uma  força  como  aqudfa  que 

impelia  o  Judc-o  ErraiUe  a  caminhar  lhes  grita,,..  Marebl,  e  elle» 
camintiam  ,  Cjml;indo  a  mais  irisle  das  palinodias... 

Fei-bemos  es*4as  pobres  considerações  cuin  nmas  palavr»  eseriplt& 
na  frente  do  Jrco  àe  Santa  Ànna  ,  pelo  nosso  finado  colidi,  por-  J 
que  elia$  retraçam  sua  missáo  e  suas  consequências  durante  o  trote- 
lljo:  ft  Os  grandes  poetas  edificam  o  futuro  quando  reagem  como 
passado  em  mão,  « 

Todos  sabemos  que  ostt  romance  é  a  porsanifiraçâú  da  r6.Meo  jyt- 
tieaiidu  aní  ioda  a  sua  plenitude:  IK  Pedro  ,  o  eru  ,  aqut»Ile  pria-^ 
cípe  que  collocou  o  diadema  dos  reis  sobre  a  fronte  da  morto,  o 
acelajnou  rainha  o  cadáver  de  D.  Igiie*,  vai  á  cidade  do  Porto , 
depõe  o  bispu ,  e  o  castiga  com  suas  próprias  mãos.  Este  drama  com 
paginas  de  fogo,  e  escripto  por  um  idealista  ,  teve  nma  sigoíficftçii» 
particular  ao  sabir  á  luz.  Havia  pouco  que  outro  tt.  Pedro  dissd*'^ 
yèii  os  conventos,  e  abalara  a  úligarcbiâ  monacal  transviada  ila 


sua  sagrada  missão.  Os  poetas ,  os  medianeiros  enlre  as  lutas  do  espí- 
rito e  da  matéria,  sahiram  a  campo  para  suspenderem  a  torrente  e 
salvar  a  igreja  ameaçada:  foi  prompto  o  armistício,  e  gloriosa  a 
vicloria,  mas  os  homens  que  atiçaram  as  rop:ueiras  do  Rocio  de 
Lisboa  e  benzeram  os  baraços  da  forca  do  Porto  e  de  todo  o  reino 
não  se  contiverem;  nào  quizeram  esperar  pelo  tempo,  por  essa 
mesma  autoridade  que  os  havia  enthronísado  e  proscripto ,  e  que  só 
os  poderia  rehabilitar  uma  outra  vez ,  mas  debaixo  d'aqliella  lei  que 
diz:  «O  passado  nunca  se  renova  com  as  mesmas  circum- 
tancias.  » 

São  palavras  de  Garret»  senhores,  escutemos  o  homem  :  <  Wallec 
Scott  resuscitou  a  poesia  dos  tempos  feudaes,  e  nos  enthusiasmou  por 
ella:  Lamartine  ft*z-nos  chorar  sobre  a  ruina  dos  mosteiros;  Victor 
Hugo  fez-nos  carpir  a  soledade  das  nossas  quasi  abandonadas  calhe- 
draes.  As  artes  do  desenho  acudiram  ao  reclamo  da  poesia  e  lhe 
prestaram  todos  os  seus  prestígios.  Fez -se  uma  grande  revolução» 
nos  sentidos  primeiro  ,  depois  nos  sentimentos ,  depois  nas  opiniões. 
O  feudalismo,,  que  não  inspirava  seiíSo  horror  ao  homem,  do  século 
desanove,  começou  a  excílnr-ihe  a  admiraç<ão ;  o  monachismo,  que  era 
aborrecido  e  desprezado ,  obteve  dó  e  compaixão.  E  até  aqui  a  revor 
lução  era  salutar :  ganhava  a  tolerância,  ganhava  a  moral,  ganhava  a 
religião  com  cila ;  porque  em  verdade  o  philosophismo  do  século 
passado  tinha  derrancado  tudo  á  Corça  de  corrigir  e  aperfeiçoar. 

«  A  reacção,  como  ella  se  fez  naturalmente ,  nos  coraçOes  e  nos 
ânimos,  como  a  inspiraram  os  grandes  poetas,  grandes  prophetas  e 
grandes  missionários  do  século ,  era  salutar  e  benéfica.  Mas  os 
royopes  e  pygmeos  da  oligarchia  ,  exagerando  o  elasterio  verdadeiro» 
quizeram  leva-la  onde  não  pôde  ir,  torcer-llie  a  direcç^Ko  e  gron- 
gea-la  em  sórdido  proveito  de  seus  interesses. 

ff  Eis  aqut  como  os  Jesuitas  queriam  obscurantísar  a  França  á 
sombra  de  Chataaubrbnd ,  o  immortal  defensor  da  liberdade  da 
imprensa ;  eis  aqui  como  ali  vinha  a  lei  dos  morgados ,  como  ali 
veio  a  lei  dos  sacrtiegioe  e  como  ainda  hoje ,  de  novo  ,  as  preten- 
çOes  clericaes  ^  por  lá  e  por  cá ,  por  toda  a  parte  vão  levantando. 


3í 

k  eatieçs  qm  ninguém  diria  seiíào  que  e^ta  grente  vem^ 
ffHhSf  ou  que  sào  m  seíê  dormentus  da  Grocia,  qtití  êt 
^QTã  e  não  sabom  o  qti©  por  cá  fôí ,  neste  ultínuj  século  wíbreliidi^J 
«  Oní,  a  reacçíio  polilica  e  rdtginsa  è  unui  s>ó,  e  *  meifiia,  é 
outra  ú  mui  diííerente  th  qiie  etles  querem  ou  sup^oem  ,  os  la« 
senhores :  liso  de  se  ir  desenganauilo.  Mas  emquajjto  se  não  desençi* 
num,  molestam  ©  falifíani  03  povos  com  suas  tenlnti^jis ,  tle«mi>r!i- 
tísam  a  sociodíide,  alra^^am  ã  ciiriníâcâa,  compromeltem  a  causa  d» 
religião  e  a  da  humanidade, 

K  E  tudo  isto ,  a  maior  parte  d*islo  pelo  menos ,  fhemo-to  nôs^ 
sem  querer,  com  a  paixão  do  gothico, 

«  A  obra  do  espirito  que  se  n5o  confunda  mm  a  corrupçSo  ít 
matéria ! 

»  Bo  meio  d*esEe  lodo  do  nlililarios  e  agimos  enn  qiH  piinlja  e 
chafurda  o  curpo  da  ííocieríade  *  o  pen^amenlo  d'eUa  lenile  «  chívar-s<í 
a  Deos,  ao  ideal  da  verdade  e  da  formosura  eterna,  ao  suhlirmt 
do  chrklianísmo.  E*  um  faitto*  nm  íaclo  inconlestavc!,  O  aliar 
esxà  mais  seguro  úú  que  nunea  esteve !  mas  m  mm  minisiros  espe* 
iam  em  vao  loruar  a  devorar  a  gríHSura  da  terra  ^  muito  mm  ainít 
tornar  a  dom  mar  a  ti^rra, 

«  E  05  que  mah  trabrtlhavam  na  reacç^  reli^icHia  e  poética ,  mais 
obrigação  tem  agora  dtf  liro  dizer,  c  de  fazer  sentir  aos  povtis 
esUi  verdade.  Pbupar-se  muita  fadiga  inútil ,  muita  dt^sgraet,  quem 
sabe  se  muito  sangue  lambem? 

d  Quando  ao  dSabo  desias  grandes  considerações  e»  concluir  que 
por  isso  vou  p^iblicar  um  romance,   uma  novtilla »  que  dirSo 
leves  de  cabeei*  mais  leves  de  língua  ?  Paiurknt  montes,  Poià  ( 
«ma  sandice t  uma  nccedad^  em  poitugufíi  mais  vulgar,  raasnào 
Dieoos  clássico ,  uma  tolice. 

fl  Cora  romances  ecom  versos  fea  Ghati^auhriand  ,  Walltr  SeoU#' 
toz  Lamarline,  fe^  ScbÉlter,  a  (Iteram  os  nossos  tamhefii ,  eisi  twh- 
víroetito  reaccionário  quo  Itoje  querem  sophismar  e  graugear  pat» 
si  os  prosisias  c  íalculistaeda  oligarchiíj* 


«  Com  romances  e  com  versos^  lho  havemos  de  desfazer  pots  » 
vilào  artificio.  » 

O  visconde  de  Almeida  Garrei  o- que  mais  ambicionou  em  sua 
Yida  foi  o  lugar  de  representante  de  Portugal  no  império  do  Brazil  ^ 
e  tal  era  a  vontade  que  tinha  de  vér  esta  bella  natureza^  e  de  abra-* 
çar  os  seus  mais  Íntimos  amigos  do  tempo  da  Universidade  ,  que  me 
mostrou  o  começo  de  um  romance  brazilciro,  no  qual  descrevia 
muitas  das  nossas  plantas  pelo  que  havia  observado  na  Madeira  á 
luz  do  sol ,  e  em  outros  lugares,  nas  estufas  dos  jardins  botânicos. 

Era  um  homem  de  estatura  mediana,  de  apparencia  grave  e 
sympathica,  e  de  uma  physioDomia  expressiva.  A  parte  superior  da; 
sua  cabeça  era  sublime ,  mas  a  inferior  humanamente  sensual , 
mormente  a  bocca ;  Plutão  e  Anacreonte  se  poderiam  encontrar 
DOS  seti£  traços  physionomtcos.  Tinha  a  voz  sonora,  forte  e  flexível 
em  todas  as  modulações ;  a  sua  conversação  era  um  teclado  extcnsis^ 
simo  que  percorria  desde  as  abstracrões  philosopbicas  até  o  brilho 
do  lyrismo ,  assim  como  passava  d*este  aos  molejos  graciosos,  áquelles 
epigrammas  que  sabe  manejar  lodo  o  homem  altamente  educado. 

A  sua  palavra  era  animada  por  um  nobre  gesto,  e  seu  trato  o  do 
homem  social ;  lhano  e  simples  com  os  amigos,  cortez  e  aulico  com 
os  grandes,  reservado  e  artificiof^)  com  os  desconhecidos,  o  jovial 
e  engraçado  quando  abria  o  coração.  Nos  seus  variadíssimos  escrip- 
los  se  lé  a  flexibilidade  de  sua  alma ,  mormente  no  que  olle  intitu- 
lou. Viagem  á  minha  terra. 

Debaixo  da  pressão  de  uma  almosphera  carregada  de  prevenções^ 
subiu  ao  ministério.  Poeta  para  os  homens  do  positivo  concreto, 
homem  das  damas  nos  salões  para  os  hypocritas,  artista  nas  aca- 
demias etheatros  para  os  monges  políticos,  alma  de  joven  para  os 
velhos  a rtíficiaes ,  amigo  da  mocidade  para  os  egoístas,  parecia» 
apezar  de  seus  talentos  oratórios  nas  cortes,  um  ente  negativo  para 
tão  alto  magistério,  para  a  gravidade  composta  da  maioria  dos  ho- 
mens que  aspiram  o  mando,  e  que  muitas  vezes  o  conquistam  por 
certas  c  determinadas  exteriorídades. 

Subio  mal  agourado ^  mas  sahio  chorado  de  todos  os  s^eus  subaU 


40 

ternos,  e  o  que  é  mala  atiidíi,  de  lado  o  corpo  tliptoni:iiico ,  qua 

tã¥8  n^ãqiielle  enseja  mais  de  umo  ve£  da  apreciar  sua  actividade, 
ÊOrleiia,  íirmezíi  e  nrgucia  nos  negócios  públicos. 

Choram  pop  elle  ns  letrns!  e  as  boas  aHes,  g  m  homens  que  com* 
prehenderam  e  avniinram  suíi  missão  na  reforma  nuernria  o  scmií*^. 
Obreiro  do  Senhor,  ento  prôíleslinado,  morial  imgíJo  pelo  nnj^i  dajr 
harmonias  I  erguen-se  ro  nniio  do  burborinho  d©  um  sôcuIõ  revotii- 
ciDnario,  enire  o  Iripudio  e  as  PorrÈrias  de  uma  óra  aj^ooríjinto  para 
preencher  seu  mandate,  e  desceu  á  terra  envoíio  n*essa  auretda  trii- 
mortíil  que  a  inveja  nlo  pôde  obscurecer,  porqu»  o  luroulo  é  im- 
peneEravel  como  a  escuridão  que  o  rodeia. 

Tive  a  Toriuna  de  o  conhecer  e  de  o  admirar  pe^õalmenie,  mil 
nunoa  soi^bei  que  Itie  coubesse  a  desgraça  de  me  ter  par  féu  biogfi* 
pho;  suppra  a  amizade  e  o  respeito  a  intelligencia  qtiemefalleoe. 
Foi  victima  das  suas  convicções  e  [íqt  ollas  sofTrea  e 


Je  crois  à  <te$  temoln^  quJ  k  font  égorger  (1). 

Como  todos  os  grandes  poetas,  teve  a  sua  aurora  de  õsperinfiSt 
os  seus  dias  do  halaltia  ,  uma  vida  dd  agonias  e  algum^Lâ  iioras  d« 
triumpbo. 

Onofite  raatLsinia  poeta  (f). 


I 


Deixemos  o  outro  lado  do  Oceano»  As  epochas  lencbrosíis  dos 
Barburini  crepusc^ulam  no  passado  diante  dos  deltigados  Jo  Ales- 
aias:  GuUemberg  e  Fuiton  e^^tuo  compíetandu  a  ubra  do  Evsngt^lhe. 

No  cemitério  de  S.  Francisco  de  Piiula  t^iá  sepultado  José  Lino 
de  Moura,  nrvtural  do  Sabará  e  nascido  em  iT7B.  Seu  pai,  o  tir, 
José  Caetano  Rolim  de  Moura,  o  mandou  educar  conformo  os 
meios  dos  tempos  coloniaes,  e  tties  foram  os  seus  progressos  que  em 
Í788  foi  empregado  na  casa  descontos.  Em  ISUS,  á  cbegidt  di  h- 
milia  real ,  foi  nomeado  contador  das  armazéns  da  fazenda  r^l ;  e 


(IJ  Radne  fik 
(2}  Dante. 


hl 

na  creaçiTo  do  arsenal  de  marinha  foi  incumbido  da  organisaçâo  da 
contadoria  geral;  assim  como  na  creaçâo  do  arsenal  de  guerra» 
onde  deu  provas  de  sua  perícia  ,  melhodo  e  zelo  no  trabalho  ,  pelo 
que  foi  agraciado  cm  18(0  com  a  ordem  de  Chrislo ,  e  com  a  cir- 
cumslancia  singular  de  ser  condecorado  perante  lodos  os  emprega- 
dos, por  assim  o  haver  ordenado  o  príncipe  regente. 

D'aquella  epocha  só  consta -me  dous  casos  d'esta  espécie  de  galar- 
doar  o  mérito :  o  do  nosso  finado  consócio  e  o  padre  José  Maurício» 
a  quem  o  senhor  dos  dous  mundos  condecorou  com  a  sua  augusta 
mão  em  plena  corte. 

Na  creação  da  caixa  da  amortização  foi  ainda  empregado  como 
contador,  e  nesse  emprego  se  aposentou  com  honra  ecomIouvor« 

Na  construcçdo  do  futuro  ha  homens  que  apparecem  como  mes- 
tres» e  outros  como  operários ;  a  grande  perícia  em  uma  especialidade 
quando  é  acompanhada  das  virtudes  da  modéstia  e  da  probidade  i 
serve  de  embaraço  ao  empregndo ,  porque  o  egoísmo  dos  superiores 
o  condemna  á  perpetua  escuridão.  Todo  o  empregado  babil  e  modesto 
è  mais  um  sentido  e  um  membro  de  seus  chefos* 

Ah!  quantos  nomes  passam  obscurjmente  na  historia  da  admt<^ 
nistração,  que  deveríam  anJar  em  plena  luz,  e  serem  eternisados 
na  praça  publica  por  padrões  o^peciaes  I  O  empregado  zeloso  e  in-* 
telligenleéa  artería  vital  do  ministério;  elle  cornge  e  harmonisa  os 
grandes  planos  com  n  medi  In  da  experiência » com  a  pratica  dos  negó- 
cios ;  suspende  calamidades  publicas  por  meio  de  razoáveis  demons- 
trações; esmerílha  o  passado,  e  em  cada  dia  recolhe  uma  somma 
que  no  Om  de  annos  representa  um  capiínl  enprme ;  estabelece  a 
ordem;  dá  credito  ao  governo  ;  torna  a  administração  amada  pela 
justiça ,  presteza  e  urbanidade  nos  despachos ;  identifica-se  com  o 
serviço  publico ,  e  geme  em  todas  as  suas  perturbações ;  e  á  sombra 
da  sua  probidade»  da  sua  constância ,  repousa  o  Estado  e  a  moral 
publica . 

Nâo  baraléa  a  sua  vida  á  frente  de  um  exercito »  não  é  excitado 
pelo  amor  da  gloria  ,  pelas  acciamações  da  fama ;  mas  deixa  a  es- 
posa e  os  filhos  no  leito  da  morte  pelo  trabalho  ;  e  elle  mesmo  ar- 


ftS 

dendo  em  fobrc ,  mal  podendo  sost6r-se ,  arrasia-se  até  o  idlanio 
da  repartição,  caminha  porque  a  honra  o  chama,  porque  o  dever 
o  impello,  purqtio  o  so!i  superior  e  o  seu  inferior  descansam  neUe, 
o  assim  devora  uma  existciicia  cara  no  silencio  e  na  meia  luz. 

A  esla  nobre  ínnilia  do  sfími-proscriptos  pertenceu  o  nosso  finado 
collega  9  de  ((uein  os  íundailores  doesta  associarão  ainda  conservam  a 
mais  grata  mtMUoria. 

Obreiro  incansável  ,  desinteressado,  trabalhou  largos  annos  pan 
ê  prosperidade  da  Sociedade  Auxiliadora  ,  e  p^tra  a  croaçâo  do  Ins* 
tituto  (iisiorico  ,  de  (piem  foi  o  seu  primeiro  thesoureiro,  e  abona- 
dor  nas  mais  criticas  circumstancias.  O  instituto  vivia  enlào  só- 
Diente  de  seus  mesi]uinhos  recursos ;  ainda  nào  tinha  a  immediata 
protecção  imperial,  nem  a  dos  outros  poderes  do  Estado;  ainda 
não  sonhava  esta  éra  de  um  esplendor  augusto ,  que  o  toma  á  face 
do  mundo  intelligente  a  mais  nobre  de  todas  as  associações  lillerarias. 

Quando  em  t838  fundamos  o  Instituto,  faziamos  nossas  sessõei 
em  uma  sala  baixa,  escura  esem  forro,  despida  de  moveis  e  de  lodo 
o  necessário ;  mas  no  meio  d'esta  pobreza  tinhamos  o  coração  ardente 
dos  fundadores:  as  nossas  sessões  eram  numerosas,  e  os  nossos 
irabaihoso  que  mostra  a  Revista.  José  Lino  de  Moura  aJi  se  via  a 
animar  os  operariO)  do  novo  edifício  ea  estudar  e  promovef  os  recur- 
sos materiaes  f)ara  o  progre.^so  do  Instituto ;  a  sua  bolsa  eslava  sem- 
pre aberta,  e  nunca  nos kz  esperar  por  uma  impra<isão  qualquer. 

Tenho  saudades,  meus  nobres  col legas,  d*aquelles  vardes  respei- 
táveis, d*aquelles  velhos  que,  por  amor  da  pátria ,  se  privavam  do 
descanso  e  de  seus  conchegos  nas  horas  do  repouso.  Como  eram  ale- 
gres e  bonda  dosas  aquellas  faces  venerandas  do  visconde  de  S.  Leo- 
poldo, do  sonego  Januário,  de  Rodrigo  Pontes,  de  Aureliano,  c 
como  ellas  se  harmonisavam  com  a  gravidade  melancólica  das  dog 
nossos  beneméritos  finados  José  Silvestre  Rebello,  Thomé  Maria  da 
Fonseca ,  José  Lino  de  IMoura  e  o  conselheiro  José  António  Lisboúl 

Recordemos  de  vez  em  quando  estes  nomes  sagrados  para  o  Instituto, 
aíim  do  que  os  modernos  e  os  estranhos  os  respeitem  como  nós ,  e 
•98im  venerem  os  primeiros  lidadores  que  combatteram  os  madra^ , 


19 

•s  ajpostolos  do  regreíBú »  os  defensores  da  inércia  >  capeada  pela  du- 
vida, com  esto  exemplo  laminoso  e  triumphantel 

A  maior  parte  dos  thesouros  accumulados  nos  17  volumes  da 
nossa  Revista  seria  perdida,  si  o  espirito  de  adiamento  tivesse 
prevalecido  no  animo  dos  fundadores  do  Instituto.  Os  homens  que 
esperam  pelo  tempo  esperam  pela  morte. 

Para  nós  todos  o  trabalho  náo  é  pena ,  nem  uma  alavanca  merce« 
naria;  porque  o  consideramos  como  um  dever  sagrado,  como  um 
tributo  exigido  pela  pátria ,  e  como  um  meio  honroso  de  bem  ni^re- 
eer  do  Imperador  e  dos  Brazileiros. 

Os  individues  que  se  encarregam  por  delegaçSo  de  um  poder» 
ou  espontaneamente  de  organisar  qualquer  cousa ,  s&o  os  que  mais 
abençoam  os  homens  da  tempera  e  qualidades  do  nosso  finado  con- 
sócio: constantes  e  prestativos,  laboriosos  e  modestos,  só  desejam 
as  cousas  sem  se  importarem  com  vaidosas  exterioridades,  prose- 
guem  alegremente,  e  saboream  os  fructos  de  sua  cooperação.  Se- 
jam elles  sempre  bemditos,  para  castigo  dos  que  professam  a  reli- 
gião da  inércia,  e  se  abraçam  com  essa  força  poderosa,  que  desloca 
todo  o  poderio,  e  toda  a  fé  dos  corações  generosos. 

Na  idade  das  illusOes,  tendo  em  perspectiva  uma  carreira  bri-» 
Ihante ;  moço,  cheio  de  viço  e  esperança  ,  havendo  percorrido  ji  os 
mais  altos  gráos  na  jerarchia  social ,  falleceu  inesperadamente  o 
nosso  amável  consócio  João  Duarte  Lisboa  Serra ,  doutor  em  mathe- 
roaticas  pela  Universidade  de  Coimbra,  deputado  pelo  Maranhão  & 
assembléa  geral  legislativa,  ex-thesoureíro  geral  do  thesouro  nacio- 
nal ,  presidente  do  Banco  do  Brazil ,  e  do  conselho  de  Sua  Magestade^ 
Homem  generoso,  nunca  apertou  os  cordões  da  bolsa  ao  necessi- 
tado: soccorreu  os  seus  patrícios  na  terra  estranha,  amporou-oa  na 
pátria,  promoveu  industrias,  ajudou  o  trabalho,  e  ameigou  a  iih 
ielligencia.  Poqta  sentencioso ,  empregou  a  sua  musa  em  anumptos 
dignos,  c  rooralisou  com  ella. 

Si  me  abstenho  de  continuar  a  bllar-vos  doesse  nosao  constante 
(;pmpanheiro,  é  porque  em  breve  tereis  sobre  elle  trabalho  roais 
completo :  a  amizade  ^  a  gratidão  e  o  dever  preencberio  mais  digna* 

vmi  8CP,  7 


filante  o  sau  etúgia ,  do  que  o  mmo  optlor ,  miirm^Dle  <futn^  a 
luz  Jo  engenho  o  de  uma  curada  cultura  adoraaoi  o  fôp&rit^  da 
seu  futuro  biograplia» 

Di£ia-me  o  immortuL  Gnrret  (\ue  o  Bni£ÍI ,  do  pusso  ijiie  ganbm 
em  politica  coni  a  independência,  perddra  em  tiílcriítura,  ponjoei 
independência  arranc;ira  do  gabineta  de  estudo  muitos  dossuuscont* 
panlieirckS  de  Coimbra,  que  elfe  congiderava  como  tilemos  de  pri- 
meira plana,  e  liomens  capo3^es  de  crear  uma  c;pocha  noiavsl  ko 
reinado  do  espirito,  AfTIrmava  com  um  sincero  cnihttsiasniõ  c|ii« 
estes  iiomens  eram  da  boa  tempera  dos  creadore:» ,  e  que  af^uus 
subiam  as  alturas  do  engenbo*  Enlre  elles  di&linguta  lni&  gniidei 
laUnisbSt  capa?.);^  de  discorrer  em  qualfjuer  academia  ImoA 
fobre  a  tingua  de  Cícero  e  de  Virgílio:  um  doestes  latinistas  ^la 
aqui  senlado  na  cadeira  presidenciíil  doeste  Instituto;  outro  e^ti  em 
Paris,  e  é  o  interprete  de  Virgílio;  o  terceiro  está  na  terra  da  ver- 
dade »  o  se  chama  entre  os  humanos  Manoel  Alves  Braaco* 

A  um  moço  talentoso I  esiTÍptor  publico,  íez  g^çio  nosso  be- 
nemérito coiisocio  com  um  aponUimento  biographico  sobfB  a  £ua 
vida  [)oUliea,  e  é  d'usso  autographo  que  eu  pa^^s^irei  a  dir-voâtein 
primeiro  lugar,  um  traslado  fiet,  reservando  sdmeaie  deu$ pontos 
que  a  conveniência  social  me  obriga  a  passar  por  alto:  asgratides 
verdades  quando  nao  editlcam  devem  ser  clausuradas  alò  tjue  a  \m* 
terídade  as  expooba  a  uma  luz  íructiiicadora ,  porjue  a  verdada 
pode  ser  oííensiva  e  ale  destruidora  si  é  lançada  e!i tempo raoea  # 
deslocadamcnte.  O  morto  é  quem  fulla,  esculemo-lo  comre^to 
o  acatamento; 

c  Manoel  Alves  Rraiico,  lilbo  do  negociante  da  Bahij  Jo£o  Al- 
ves Branco  »  e  D*  Anna  Joaquina  de  S*  Silvestre,  nasceu  eni  7  i 
Junho  de  ÍTJl ;  e  depois  do  prv prado  nas  escolas  da  Bahia  i 
primeiras  letras ,  Utmi ,  franca ,  Jogiea  e  rhetorica ,  partiu  para  a 
Universidade  do  Coimbra  no  anno  de  1815. 

tt  £m  Coimbra  frequentou  o  curso  completo  de  scienciaa  natu-* 
racs;  por  ires  unnoso  curso  acccssorio  de  siienríus  uiath«f]iaitc«$« 
de  quo  openas  deixou  de  estudar  as  matérias  do  4:**  amiOi  que  so 


61 

limitavam  á  ajUromomia ;  matriculou-sa  em  direito ,  do  que  com- 
pletou o  curso  em  1823. 

«  Retirou-se  para  Lishon,  e  d'aht  para  sua  patri.i  em  1824, 
onda  chegou  pouca  depois  da  retirada  das  tropas  do  general  Ma- 
deira. 

c  Yeiu  ao  Rio  de  Janeiro  nesse  mesmo  anno,  &  foi  despichado 
}UÍ2  do  crime  da  cidade  da  Rabia ,  onde  serviu  pouco  mais  de  Ires 
annos ,  e  foi  despachada  juis  de  fora  da  villa  de  Santo  Amaro , 
d'ondd  depois  de  servir  pouco  mais  de  um  anno  voltou  para  a  corte 
por  ter  sido  despachado  juiz  de  fora  d'ella  ,  e  por  ter  sido  deputado 
i  legislatura  que  prioeipioa  em  1830,  na  qual  foi<  reputado  membro 
do  partido  liberai ,  ainda  que  de  opinião  independente. 

«  Nesse  anno  foi  encarregado  pela  camará  de  redigir  o  primeiro 
código  da  processo  por  jurados  que  teve  o  império;  e  que  passou  em 
1831 ,  a  ainda  rege  com  as  modiGoações  da  lei  de  3  de  Dezembro 
da  18(1,.  que  alterou  profundamente,  ou  antes  aniquilou  aquelle 
systema  de  julgar ,  e  foi  a  causa  da  revolta  de  Minas  e  S.  Paulo  , 
pon     ..     ^    ...     ^    ......*     ., 

«  No  anno  de  1831  apresentou  diversos  projectos  sobre  o^poder 
judiciário,  e  um  sobre  o  ^ystema  eleitoral,  foi  o. primeiro  que  se 
lembrou  das  incompatibilidades  dos  juizes  e  oiUros  empregados,  para 
o  exercício  do  poder  legislativo  em  harmonia,  com.  os  preceitos  da 
constituição,  que  vedaa  confusão  dos  poderes,  e^^Uabelececomo  base 
essencial  do  S}'stema  constitucional  sua  divisão  e  indepeadencia.  .  . 
nssignou  n'essa  epocha,  com  a  deputado  philosophoda^ua  provin- 
cia,  a  proposta  da  liberdade  completa  de  consciência  e.  federação 
monarchica ,  que  náo  passou  por  parecer  muito  Nberal ,  mas  que 
teve  o  mesmo  destino  que  a  outra ,  pois  foi  envolvida,  no  acto  addi- 
cional  de  1833,  que  estabeleceu  administrações  em  a^sembléas  pre- 
vinciaes,  debaixo  da  tutella  da  assembléa  geral.,  e  dos  presidentes 
de  província  de  exclusiva  e  arbitraria  nomeação  da  corte,  as  qoaes 
ainda  hoje  continuam  a  existir  nominalmente ,  pois  que  todo  o  podar 
Ib^s  (oi  tiradp  pelo  acto  annullotorio,  a,  que  se- cbamoa  ioter|^Qr 


62 

lalivo  da  camará  da  assembléa  geral 


«  Em  ÍSS2  foi  A]v€s  Branca  cliarnaJono  ibesoura,  dmth- 
Q  lagar  áe  contador  geral  membro  do  iribunal,  a  âceilou  porque  x^úq 
esiudús  mathom^iticoâ  e  dô  direito ,  ciilendeu  que  devia  dir-se  ati 
imporuinLe  ramo  deadralnislraçao  que  nosEslados  livres  niab  octu- 
pam  a  altençào,  e  é  do  maior  iaHuencia  para  o  bani  da  sociedade  é 
sua  grundc^;  fazendo  logo  noBse  mesmo  anno  diversos  reguhoieoJKi 
ÚQ  canlabilidadei  e  m  primeiras  instruci-^es  pam  a  eacríplfifiçio 
por  partidas  dobradas,  que  teva  o  império,  onde  su  no  ihesimrú  e 
íia  Bahia  se  appUcava  esse  systoma  com  iniiitas  tmperfoi^  o 
irregularidades. 

4t  Foi  doesse  logar  cEiamado  para  o  minkterío  da  jusiiçt  d  dos  «s^ 
trangeiros ,  em  os  quaes  props  diversos  mel bora mentas,  e  as^ígnou 
com  Mr.  Fox  a  convengáo  pra  reforçar  os  meios  de  reprimira  tr>- 
iico  que  tí  assembléa.*..  não  approvou  ,  dando  logar  aos  insultos qu# 
uUimamente  soíTrumaSf  e  talvez  aindo  solíramoâ;  e  quando  sâhm 
d*esse  ministério,  por  poquonas  deslnlslligencias  eom  o  regente  Fri* 
.}ò  t  e  moksib ,  foi  â  sua  provi noia  ^  d  onde  veio  efeito  senador,  e 
foi  nomeado  pelo  mesmo  ugmiò  em  Julbo  de  tS3T,  esiand<i  do 
mínislerio  da  fazenda  o  do  íniperío  por  nomeaçào  do  mesmo  regente. 

de  que  se  retirou  pela  retira Ja  do  mesmo  regente 

recusando  absolutamente  ficar  com  a  regência  do  império ,  eoiiNl 
ministro  do  império  que  era  ^  não  obstante  as  instancias  do  men^^l 
SE.  Feijó  ^  por  lhe  parecer  indiano  de  um  homem  de  bem  sem^ 
com  os  inimigos  lidagaes  de  um  homem  de  quem  era  ami^^o. 

«  Voltou  ao  ministério  da  fazenda  por  nomeaç-ão  do  rCfgeitto 
Araiiio  Lima  ^  boje  visconile  do  Olinda »  e  nesso  miitislerio  fex  o 
dccrt^o  do  20  útí  Fevereiro  de  1840  ^  que  introduziu  ã  conta birtfJadft 
franceza  no  thesouro ,  creando  o  ^ystema  de  contas  por  fseicicto 
nnico,  pelo  qual  se  pode  bem  reíilisaf  a  responsabilidade  cia  admi^ 
nistraçSo  no  s^siema  representativo  «  o  qual  quando  ainda  que  tnaf 
«taruiadu  pclíi  ignoraitcia  dos  agentes  o  empregados  da  admintstni- 
ção  aindu  boje  e^sle,  porque  tienbtiin  ministerto  dfida  dufidoii 


i 


5» 

da  sua  utilidade ,  já  muito  demonstrada  pela  ordem  e  clare^  què 
vai  estabelecendo  no  thesouro  e  thesourarias,  onde  antigamente  os 
balangos  não  diziam ,  e  eram  a  confusão  e  o  cbáos. 

«  Sabiu  d'esse  ministério  em  Maio  de  1840  por  desintelligencia 
com  membros  influentes  da  maioria,  mas  voltou  ao  ministério  da 
fazenda  em  2  de  Fevereiro  de  1844,  por  nomeação  de  S.  H.  o 
Imperador  5  em  o  qual  lutou  com  a  grande  e  diíBcil  epoeha,  me^ 
Ihorando  muitos  regulamentos  de  arrecadação  de  rendas ,  dimi-^ 
minuindo  os  direitos,  e  melhorando  o  systema  de  cobrança  de  an-** 
coragem,  e  fazendo  a  tarifa  ds  1844,  que  ainda  hoje  existe,  e 
que  ó  o  manancial  indisputável  da  renda  que  actualmente  apresente 
o  império,  embora  sabisse ,  e na  sua  volta  cahisse  moroentaneamento 
em  consequência  do  grande  cataclysmo  revolucionário  da  França 
e  da  Europa  em  1848,  pois  immediatamente  levantou-se ,  e  mar- 
cha triumphante,  ao  que  nSo  assistiu  por  sabir  outra  vez  do  mi- 
nistério pura  curar-se  de  uma  moléstia  que  ainda  boje  lhe  dura  , 
e  que  na  epoclia  inteiramente  o  impossibilitava  de  servir, 

«  Nos  diversos  ministérios  que  sérvio  fez  propostas  de  bancos » 
de  um  tribunal  de  contas,  de  reformas  de  thesouro ,  que  não  pôde 
levar  avante ;  e  como  deputado  e  senador  tem  sido  sempre  empre- 
grdo  nas  commissões  mais  importantes ,  á  excepção  dos  três  annos 
anteriores  por  graça  dos  seus  inimigos,  que  não  podem  deixar  de 
ser  inimigos  do  bem  do  império.  » 

Si  exceptuarmos  as  ultimas  palavras  d'esta  fé  de  oflicio ,  la- 
vrada pelo  próprio  punho  de  tão  alto  funccionnrio ,  veremos  no  seu 
todo  resumbrar  aquella  recusa  ,  aquulle  laconismo  do  homem  probo, 
que  alira  á  luz  os  factos  da  sua  vida  publica ,  sem  temor ,  e  de  uma 
maneira  victoriosa. 

O  magistrado ,  o  legislador ,  o  economista  e  o  ministro  não  eram 
mais  que  a  parte  ostensiva  e  laboriosa  d'esle  grande  Brazileiro ;  ho- 
mem encyclopedico ,  estudante  incansável ,  alma  harmoniosa ,  -  que 
possuia  o  estro  e  a  arithmetica,  e  o  dom  de  contemplar  e  ler 
•s  mjsterios  da  creaçào;  artista  e  geometra,  poeta  e  estadista^ 


54 

llieolago  0  naluralisU  ,  cabe*;^  pensanlo ,  ihiali JaJe  poicrosa »  Ma 
aLrnçava  c|uaiíjuer  grupo  da  liaitireta  com  a  mesma  foffa  e  sere* 
mãsátà  como  fxainitiava  aâ  labellas  pauliJas  fjuo  comprovam  q  mo- 
tivo do  fluxo  6  refluxo  das   rendas  mciooa^. 

O  cmiro  de  toda  a  orbita  da  sua  viJa  pubHca  foi  a  probidade: 
imrautavel  e  forie  con^o  ella,  exoneraJo  dos  dons  da  sapísnda, 
con&ervou-Sô  ntsssa  atmosphera  sagrachi  e  incorruplivel  em  que  mor- 
reu; como  o  nobre  Marlíjn  Francisco»  o  d^^iiíunico  social  da  iJid^j 

Quando  o  desgraçado  ti  rio,  do  fundo  ih  sua  prisio  ,  impelnva  » 
piedâdo  dos  juizas,  desculpamio  sous  erros  |Hjta  obediancia  qu» 
tivera  eníi  emprestar  os  dinheiros  públicos  a  algum  de  seu^  superíoceí, 
Alves  Branco  foi  o  prkneiro  que  proieslou  em  publico  cootra  sai 
ihante  suggesiao,  putverisou-a,  começando  por  st  a  râhabilítâieiél 
dô  seus  nobrds  ooliegai ,  porque  a  sua  honrs  era  o  ^eu  maior  rjklxwl 
dal,  o  seu  esmido,  &a  base  de  lodos  os  seuií  uiumpbos  e  çonquít 
las«  Por  t^lla  e  por  sua  iiuelligencia  se  havia  tornado  tim  bomea 
necessário  na  admiolsiraçio  publioa »  o  um  cidadão  respeitada  do 
Iodas  as  jerarcluas  socíaes. 

Ministro  da  fa?.endx}  e  do  império  na  regência  de  Feijó « rcaunci^ 
como  esle  o  mais  alto  higar  a  que  pôde  atliitgir  o  eidadlo! 

Na  regcncia  que  succedeu^  passada  a  natural  temporada  áaspô-* 
presaliasi  é  de  novo  chamado  á  administraçíiodas  llníiiifts;  pro* 
rompe  a  maioridade  »  e  o  soberano  o  cliama  para  eompleur  a  obra^Ja 
reforma  administrativa  Jas  nos-^a^i  (in:in(;a5,  A  sua  constaiite  appirt*. 
ç^o  no  poder  em  cpochas  láo  diversas  q  de  sen  li  mentos  e  interoscs 
tio  opposlos,  prova  que  eite  não  era  iiind*osses  Hemnom  politícoii. 
quem  a  camaradagem  ou  o  íavor  pnpular  erguem  tcmporaríaitiâtili 
para  perecerem  no  primeiro  recontro.  Combateu  com  os  Ufysses  i 
não  foi  vencido;  justou  com  toda  a  sorte  de  Protéos  esatnu  triutii* 
pbante;  a  probidade  ó  uma  eterna  espada  dêBrcnnoem  todas  âs. 
lutas  de  interesses  pessoais. 

Eu  o  vi  rasgar  um  decreto  porque  se  lhe  provara  sua  injusUç^  ç 
cu  o  \i  conslernadissimo  por  mio  poder  reparar  a  demissão  do  bcoi-i 


55 

mérito  José  Joaquim  da  Rocha ;  a  nossa  diplomacia  tinha  entao  uma 
espécie  de  Saul ,  vertiginoso ,  um  rei  occulto ,  para  quem  os  psal- 
mos  da  verdade  e  as  harmonias  da  luz  eram  o  principio  de  sua 
irritabilidade  e  inconsciência.  Esta  espécie  de  vampiVos  fotacs  a 
todos  os  governos ,  vive  enconchada  a  queixar-se  quotidianamente ; 
mas  sua  alma  cruza  os  mares  nos  paquetes ,  vôa  com  a  malaposta , 
e,  sem  ser  vista  de  ninguém ,  fere  como  o  raio  nos  dias  da  prima- 
vera ,  nas  horas  da  esperança. 

Foi  nobre  a  sua  existência,  foi  admiravelmente  exemplar,  porque 
venceu  as  lutas  da  pobreza  em  alta  posição ,  e  satisfez  dignamente  as 
suas  necessidades;  foi  nobre  porque  os  exemplos  da  corrupção  trium- 
phante  nunca  o  abalaram  do  pedestal  em  que  se  Grmára.  Os  dardos 
de  seus  inimigos  o  nào  feriram ,  resvalavam  como  a  setta  de  junco 
n'um  broquel  de  aço  polido. 

Os  homens  da  sua  tempera  são  como  os  que  na  antiguidade  fa- 
bulosa penetravam  a  caverna  de  Protão ,  para  arrancar  do  advinho 
dormente  os  segredos  do  futuro.  Era  precisa  a  luta ,  era  preciso  acor- 
da-lo por  meio  de  torturas,  era  preciso  esgana-lo  fortemente:  duas 
pelejas  se  travavam ,  uma  temporal ,  e  a  outra  permanente.  O  adi- 
vinho, estorcendo-se  de  mil  modos,  tomando  aspectos  diversos, 
lutava  até  voltar  á  forma  humana,  á  verdade  do  que  era,  para 
entào  despertar ,  predizer  o  futuro ,  e  confessar  a  verdade. 

E  quem  é  esse  Protéo ,  srs. ,  que  luta  com  o  homem  abalisado ,  e 
toma  a  forma  da  serpente ,  da  águia ,  da  prostituta ,  e  da  onça  trai- 
çoeira? NSo  será  o  homem  invejoso  ou  ambicioso  na  sucressão  dos 
tempos  e  dos  acontecimentos?  Nâo  será  elle  também  esse  demónio 
popular,  o  demo  de  Parrhnsio,  o  conjuncto  de  todas  as  paixões 
terrenas  contra  o  homem  do  bem,  contra  o  talento,  contra  essas 
forças  que  o  abatem,  e  essas  verdades  que  o  forçam  a  proclamar  suas 
virtudes,  a  transmitti-las  á  posteridade,  ao  animado  império  do 
futuro? 

Certamente  que  sim ;  os  resultados  públicos  de  seus  trabalhos,  dos 
seus  planos  e  do  seu  patriotismo  o  levaram  do  juiz  a  deputado ,  a 
senador,  a  ministro,  a  conselheiro  do  estado,  c  ao  titulo  de  vis- 
conde de  Caravellas. 


56 

Eu  vos  disse»  srs» ,  que  o  compafjhtiro  de  Garrei  era  di  tàmUk 
dos  poetas;  dos  poetas,  sim»  e  nâo  dos  vorsifieadores  ininj$Qdi ,  íjuô 
o  povo  ou  a  myopia  confuiitio  para  aniquilar  os  fjJhosdocéo.  Co- 
roarei o  visconde  de  Caravellas  com  as  flòf es  da  primavera  que  rili 
cantou ,  e  indemnisarei  o  vosso  tempo  perdido  em  me  ouvir  com  m 
harmonias  brilhantes  da  sua  ode  a  liberdade  ^  no  ni^mo  mm  « 
lugar  em  que  a  cantara  Garrett  e  onda  ello  conjuncUmenie  co* 
Iheii  as  palmas  immortaes  dos  triuinphos  do  sua  musa  grandíloa 
6  sonora. 

O  poeta  e$là  defronto  do  penedo  da  Saudade,  em  Coimtrj ;  a 
réo  oflá  puro  e  perfumado,  e  os  rouxinoes  gorgeiam  melodias* 

«  Primavera  gentil,  elhorco  mimo^ 
«  IX)  seio  des&a  nuvem  resplendent*? 
«Ao  iadf)  dii  harmonia  baixa  á  terra, 
it  Wiil  que  ãpontãiiiie  ,  ubu troaram  flores 
tí  MU  variadas  em  matiz,  em  chf?irc». 
ií  Com  leu  ai  mo  calor  atfcrvorada 
«  Bcsiirge  do  lethargo  a  natureza, 
«  E  vem  beber  nas  Tírac^ões  a  vida. 
«  Amor  as  brancas  azas  desferindo , 
«  D^mio  franjadas  incansável  vOa 
II  Feto  manso,  azulado  firmamento ? 
M  No  templo  omnipotente  do  universo 
íi  Iimocciítcs  mjsiej  ios  solemnisa* 

E  nesle  cantar,  dando  pnsto  aú  corarão  e  âmmie^  defpi^ndt 
sua  alma ,  vòa  polo  Mondego ,  atravessa  os  valles ,  eolh«  as  Mrm 
dos  vergéis  e  as  honinas  dos  campos ,  deslisa  [lelas  messes  qua  oa- 
deiam  como  o  Oceano;  vòa  mais  longe,  pa?sa  6  Grecís,  poitsa  no 
lumulo  de  Heitor,  evoca  as  cinzas,  e  chora  o  seu  dfisterro  volutt- 
tario,  e  diz: 

M  Aqui  tudo  me  traça  os  patríoi  campos  1 

A  sua  lyra  se  afina  agora  pelos  sons  de  Píndaro.  Para  canlar  i 
liberdade  procura  a  solidão  ;  vai  senta r-se  nos  desertos  onda  o  Aratm 
errante,  a  despeito  do  Antonino  o  de  Trajano,  conser\'OU  t  li- 

Lurdade: 

i  Penhor  do  santo  do^ma  da  igualdade. 


?7 

A  liberdade  doura  as  trevas  do  ermo,  traz  os  emblemas  de  As- 
tréa;  a  seu  seio  desce  do  céo  uma  cadêa,  cujo  primeiro  fuzil  é 
Zeno  9  e  após  elle  Licurgo ,  Catão ,  Séneca ,  Trazéas  e  Peto.  Admira 
a  singeleza  do  seu  templo  ^  não  vé  em  seus  átrios  respirar  a  moUeza 
effeminada  do  Oriente.  Contempla  as  phalanges  de  leões  do  Cáucaso 
descendo  sobre  a  Grécia ,  vé  Dário ,  vê  Milciades  em  Marathona. 
Passa  para  Roma,  contempla  o  terreno  dos  semi-deoses  e  dos  mons- 
tros ;  vé  a  natureza  extremar-se  em  Bruto ,  abater-se  em  Nero,  e 
remontar  em  Aurélio.  Evoca  a  cidade  dos  Césares  5  interroga-a, 
e  diz : 

«  Ob  I  Roma !  alta  prínceza  das  cidades , 
«  Dormitas?  Onde  os  teus  antigos  brios? 
«  Eia ,  acorda  1  eia ,  arranca  denodada 
«  A  mascara  fagueira  dessas  bydi*as 
«  Que  famulentas  em  teu  sangue  iliustre 
o  Anhelam  sadar  pérfidas  garras  1 
«  Não  tens  a  liberdade  em  teu  amparo  ? 
«  Ah  I  que  á  cobiça  franqueaste  o  peito. 

«  Contemplai  povos  livres  no  cadáver 

«  Da  soberana  de  um  milbão  de  impérios.... 

«  Chorai  sobre  estas  ruinas  magcstosas  l 

«  Aqui  foi  Roma ,  oh  povos ! 

tf  A  mudez  dos  scpulchros , 
«  Onde  o  veco  troou  tremendo  impera, 
a  Será  que  mais  horror  a  terra  opprime? 

«  Que  lúgubre  alarido 
«  Nos  antárcticos  gelos  longe  echôa? 
«  O  ar  se  entenebrece;  arqueja  a  terra; 

«  £nsanguentam-se  os  astros; 
«  Redobrados  trovões  stallam  teterrimos! 
a  Travam  combate  horrisono  com  as  penhas 
«  Enfurecidos  mares ;  ronca  rouco 
«  Da  tempestade  o  génio  pavoroso* 

«  Por  amplo  hiato 
a  Feias  harpias 
«  O  inferno  aborta 
€  Entre  ondas  de  espessimos  vaporesé 
«  Tantos  grãos  não  revolve 
a  No  stn  bojo  o  Oceano ! ! 
«  Co'as  estridentes,  rebatidas  azas, 
«  Vem  sulcando  cahoticos  negrumes  ! 
kvm  svpPé  A 


«  Tu  as  si^nllsie ,  Europa; 
u  Tu  grmCíiíe  nas  irevas  eíircdada, 
«  A  ftaiiia  liberdade  es(>a\Qri4a 
9  Desampara  teu  grémio ; 
u  Arvora  O  Tcrreo  scepiro  a  tyraotiiii  í,  .- 
H  Ai  de  ti  miser atida  1  qnantos  sccubs 
*f  JH^ndcm  de  horrores  1  Aí  que  íí  toclia  ct«iiia 
«  Da  razão  tenta  embalde  alkiitdar-le, 
«  l^or  aqui,  por  ali  trepasculavam 
«  J)c  espúiço  a  espaço  dia^  m)tai;ro!ias 
«  Abafados  em  sangue,  mat  nacídoal.  •  ^ 
«  Já  quasi  íftiecía  o  santo  tu  me 
tí  Eis  que  avulía  rm  vigor ,  e  BÚnm  m  orb*» , 
c  I-:*  fauia ,  qun  de  lobrega  cspetuiíeji 
M  TroíJU  pcív^da  vo^ :  —  Njuios  vonddos ; 
«  ¥tí%i  úli  filhos  5  o  Udmem  cnnbcceu-se.  n 


Basta  por  agora* 

O  vis€onde  de  Caravellas  linha  na  íronto  e  no  olhar  u  lume  <ft 

jntelligenciã ;  a  vôk  sonora  e  grave,  e  a  eónversaçSõ  admírai-e). 
Morreu  pensando  no  imperador  e  no  Era%il>  Homem  pn>gre$sÍTO» 
augmenloa  scmpro  de  dia  em  dia  íi  sua  maneira  de  st?r  paio  asiudo, 
0  marcou  a  ex tensão  da  sua  personalidade  no  paÍ2  com  os  slgnae» 
de, sua  íntelligencia  o  probtdadQ* 

Nõ  dia  13  de  Itilha  descansou  dquella  poderosa  realidade ,  oquelfe 
homem  que  soube  dar  luslre  á  pobreza^  e  i;fevâç4o  á  modéstia. 

V  Nasci  pobre ,  dizia  elle ,  c  pubre  morrerei ;  mas  nasci  na  me- 
diania social,  o  fui  elevado  ao  fastígio  das  pesiçOes  pela  magna- 
nimidade de  um  príncipe  qtie  não  pergunta  pelos  atòs  dos  servídoret 
do  £.^tado.  u 

Todos  nós ,  meus  srs. ,  costumamos  ei^uer  no  forsção  um  im^ 
nymento  àquelles  que  veneramos  pefo  amor ,  pela  amizadn  e  pdb 
ram.  No  monumento  qtto  lhe  ergueu  a  tninlia  gratidão  ittá  gr»- 
\ida  esta  inscríp^ao: 

o  aujo  das  vírludf^  fjficiis 
ijjrõe  a  memoria  perdoravc^l 

Do  cidadão 
lilanoel  Alws  Branco* 


59 

A  imreza  de  saa  alma , 
A  pratica  de  sua  Tida  publica , 

Os  dons  celestes  da  intelligencia 
Deram  nelle  um  lustre  e?iterno 
Ao  suggesto  da  Justiça « 
Ao  voto  do  coDselheiro , 
Aos  actos  do  mloistro , 
E  ao  tbrono  do  legislador. 

Homem  incorrupti?el : 
Não  fortificou  o  rico  contra  o  pobre. 
Não  tolerou  a  prevarijcaçâo , 
Nem  cedeu  a  justiça 
Ao  ouro  e  ao  egoismo. 
Não  gangrenou  por  interesse  ou  an\biçlo 
*      O  futuro  da  pátria; 

pobre,  modesto  e  parco , 
Foi  grande  e  renerado 
Pelos  dotes  do  entendimento , 
P^a  nobreza  do  coração, 
Os  mãos  o  detestavam* 

A  pptrU  do  vÍ3conde  de  Cayrú »  além  da  perda  do  seu  iUho  b^Q^ 
çierito  y  o  visconde  de  Caravellas ,  lamenta  ainda  duas  grandes  per- 
das: a  do  visconde  da  Pedra  Bfanpa  e  da  dp  conselheiro  Rodrigo 
fontes. 

O  visconde  da  Pedra  Branca «  o  amável  ppeta  das  sra^.  BrazU 
leiras  y  depois  de  haver  completado  as  suas  humanidades  na  Bahia , 
foi  para  Portugal,  onde  tomou  na  Universidade,  de  Goimbra.o  gráo 
de  doutor  em  direito ,  e  fez  alguns  estudos  n^.  faculdade,  de  phi- 
losophia  para  os  applicar  á  agricultura.  Herdeiro  d^  uma  grande 
fortuna,  que  soube  cQn3ervar,  viveu  em  Lisboa  ppr  algMm  teropp 
cultivando  as  musas,  e  em  companhia  d*aquella  plêiada  de  poetau 
que  contava  em  seu  numero  Bocage^  Nicoláo  Tolenlino  e  José  Agos- 
tinho de  Macedo. 

Amigo  de  Hippoljto ,  do  redactor  do  Correio  Brazilien$e ,  e 
do  laborioso  Filinto  Elysio,  e  comparticipante  das  idéas  fran- 
çezas,  soflreu  pela  liberdade  da  sua  pátria,  eató.foi  encarcerado. 

Deputado  ás  cartes  portuguezas ,  erótico  por  natureza  ,  e  amiga 
de  uma  lisongeira  nomeada ,  advogou  a  liberdade  politica  das  mu- 
Ijieres»  mas  os  seus  amáveis  esforços  naufragaram  ooo^o  as  teo^ae- 


60 

livas  dos  discípulos  de  S*  Simão  ^  eas  das  reuniões  promof  idis  fiefa 
dufjucza  de  Abraíiles  posleriorraenie :  o  século  nlo  qmt  abdicar 
unia  parle  da  sua  míisctilintdsidâ,  e  as  amazonas  porlamaiitâros 
voltaram  ás  almofadas  e  bastido  rea. 

Nomeado  represstilante  do  Bfm\  em  França,  leve  d#  kiUf  fàm 
o  seu  reconbecimenlo ,  que  im pi icí lamente  envolvia  o  do  noto  im- 
pério. Foi  em  Paris  e  durante  a  sua  missão  que  deuá  Iu2  dous 
tomos  de  Poesias  offerecidas  ás  senhoras  òrazUeiras  par  um 
^ahiana. 

Eleito  senador  do  império  ,  na  fundado  do  respeitável  araopigd 
brasileiro,  poucas  vezes  velo  ao  senado ;  os  seus  hábitos  âiiropaos, 
€  o  amor  qne  tinlia  ás  vbgeos  o  dãmoraram  por  longos  annos 
fora  da  pátria, 

A  velhice  b  as  enfermidades  o  fizeram  regressar :  o  calor  íoter- 
Iropica!  é  conservador  para  os  velhos  valetudinários-  Fallecmi  estó 
^nno  oiberio  da  estima  geral »  porque  o  seu  luimor  alogre  e  picanle 
nuuca  feneceu. 

Como  poeta  pertencia  á  escola  clássica ,  mas  o  seu  género  fa- 
vorito ,  o  da  sua  natureza  crolira  ,  o  impedia  de  elevar-so  aos  arro- 
jos varonis  das  musas  inilammadDs;  purista  e  suave  metrificador  go- 
zará por  muito  lempo  de  boa  nomeada.  Peza-me  o  Dão  iet  lido 
aié  hoje  a  sua  ultima  obra  —  0$  (umulõs. 

Alguns  escriptos  deveria  ter  deixado,  porque  fora  laborioso « 
porém  é  lai  ainda  o  estado  de  nossas  cousas  a  respeito  d*esui  ma- 
nteria, que  de  nada  snbemospelo  momento.  A  impren^i  diária  ainda 
^ao  preenche  a  sua  boa  missão  cívilisadora  :  quando  a  mão  da  ami' 
«ide,  ou  do  parente  não  traça  o  passado  de  um  morto  IllustiVp  o 
jornalismo  n5o  o  estampa  ,  porque  a  irnprofisa  ainda  não  esii  ni  sq 
plana  utilitária  p  ainda  se  náo  libertou  do  fardo  matertat  quo 
limita  a  trabalhar  para  viver  indi^  pendeu  te.  Estão  longe  ainda  m 
seus  dias  soberanos,  os  seus  dias  edificantes,  porque  a  orbita  da 
nossa  esphera  social  está  ainda  limitada ,  e  muito  limitada. 

Entre  as  nossas  calamidades  domesticas^  devemos  lamentar  a  perda 
do  muito  iirudito  o  prcsta/ite  sócio,  o  conselheiro  Eiedrigo  de  Souxt 


61 

da  Silva  Pontes,  desembargador  da  relação  do  Maranhão,  e  minisiro 
plenipotenciário  junto  ao  governo  da  Confederação  Argentina. 

As  paginas  da  nossa  Revista  Trimensal  faliam  mais  alto  do  que  a 
minha  fraca  voz  sobre  a  capacidade  e  zelo  doeste  Brazileiro  tão  notável 
pela  sua  illustraçflo,  caractere  probidade. 

O  seu  elogio  vos  será  lido  em  outra  occasiào  pelo  nosso  vice-presi- 
dente o  Sr.  Dr.  Manoel  Ferreira  Lagos,  e  espero  que  o  Instituto  lu- 
crará n'esta  substituição  ,  assim  como  a  memoria  d'aquelle  preclaro 
Brazileiro  bem  digna  de  semelhante  encomiasta. 

No  dia  em  que  desceu  á  terra  o  corpo  que  encerrou  a  intelligencia 
ea  probidade  do  visconde  de  Caraveilas,  viu-seem  pé,  junto  á  sepul- 
tura do  nobre  cidadão  e  no  meio  da  multidão  consternada,  Aureliano 
de  Souza  o  Oliveira  Coutinho,  dominando  as  turbas  pela  magestade 
da  sua  presença,  pelo  seu  aspecto  robusto,  calmo  e  prognosticador  de 
uma  longa  vida.  No  dia  25  do  Outubro  já  não  existia !  Já  não  vivia 
aquelle  homem  que  durante  23  annos,  quer  no  poder ,  ou  fora 
d*elle ,  ocGupou  a  attençâo  publica  por  seus  actos  e  sua  moderação. 

O  irmão  de  Saturnino  de  Souza  e  Oliveira  nasceu  a  21  de  Julho 
de  1800,  e  foi  baplisado  na  freguezia  do  Ilaipú.  Seu  pai,  o  coronel 
de  engenheiros  Aureliano  de  Souza  e  Oliveira  Coutinho ,  cora  o 
exemplo  das  muitas  obras  publicas  que  construiu,  plantou  no  coração 
do  filho  o  gosto  de  edificar,  e  ó  esse  espirito  creador  que  tão  notável 
tornou  o  nosso  benemérito  consócio  nas  épocas  mais  criticas  da  nossa 
vida  social. 

■  Criado  no  seio  de  uma  natureza  virgem,  quando  seu  pai  construía 
a  estrada  velha  da  Serra  da  Estrella,  dado  ao  livre  exercício  do  corpo 
e  velado  pela  intelligencia  o  amor  de  seus  pais,  adquirioaquella 
constituição  pliysica  cujas  proporções  o  tornavam  saliente  e  admi- 
rado. 

Na  idade  dos  estudos  maiores  entrou  para  o  seminário  de  S.  José, 
que  era  então  o  coUegio  mais  regular  e  mais  apto  ao  desenvolvimento 
das  boas  inlellígencias.  Ahi  passou  por  um  estudante  de  primeira 
plana  e  por  um  joven  modelo,  taes  eram  os  dons  do  seu  espirito ,  as 
graças  exteriores,  e  a  am3nidade  do  seu  caracter.  Matriculou-se  na 


02 

méeniia  nillílar ,  onde  foi  s<3mpro  premiado ;  porém  a  &m  vociçái 

nSo  em  aqiitília. 

El-rei  D.  João  VI  íitiereiítlõ  mais  posUiTumenle  premítr  os  i 
vús  Jo  mu  pni ,  e  o  bel  lo  cxempb  de  sua  probldadô  nos  Irshilho^ 
colosaatís  dtí  qyo  o  encarre;|ára,  perfiUiotJ  Aiirellano,  eomo  ô  liiiriâ 
feito  a  muitos  outros  Bros^ileiro^t  e  o  nkindou  para  Coimbrã  era  St 
à^  Jullio  de  tS20,  com  a  coridíçSo  expressa  de  esluilar  a*  sâmési 
níituraes. 

Um  raio  do  liime  da  Divina  Providencia  s^llitmioii  Aarefianô  ni 
universidade»  Deixou  o  império  de  Linneo  e  dô  BuíTcin  ptilo  éô  Mon- 
IcsEjuieu  e  Boccariâ.  Eitudoii  as  seioncia?!  jurídicas  e  stMSÍieS-  Ho* 
ni{jni  n^^cido  paro  o  mundo  para  n*4ílle  dignamenle  appar^ôeâr* 
presentiuquoa  pJjJÍosophia  o  conderanaria  a  esse  osíracismo  singular 
a  que  foram  antes  e  depoií  d'elb  condamn^duis  i5o  altas  ô  táo  Mhi 
intelligencias.  As  na^úes  qtie  medem  o  FuíiirD  a  vara  e  coíido  ns- 
pellem  os  na  t  uni  listas;  os  modestos  contetnpladpres  das  obras  dl 
natureza  não  engrandecem  as  doutrinas  do  fanqueírismo  nem  res» 
peitam  seu  aícorSo. 

O  lempo  comprovou  a  etaccSo  das  vistas  do  nosso  consoeia  # 
muito  mais  o  resultado  dd  i^D  alia  protecção.  Os  executores dis  or- 
dens do  el-rei  resumirão  â  suo  grai;^  ent  uma  mozada  de  IO|}OWp^^B 
a  qual  foi  lacilamenle  desprezado  pelo  coronel  Aurélia  no,  Ostntbi^l 
lhos  que  dirigira  com  tanto  acerto  e  probidade  na  furlaleía  de  SanW 
Cruz,  na  Serra  da  E^trella  e  no  eucanamantoda  Carioca,  dôviam-lH*? 
conquistar  bem  altos  inimi^j^os  em  uma  época  do  orgullio  d  tk 
indiíjencia* 

Formado  em  direito,  voltou  o  nosso  consócio  nm  18:^5,  0  logo  foi 
despodiadojuíz  tle  fora  a  ouvidor  para  S.  João  d*£t-Hei*  Em  Mina* 
acabou  a  sua  magistratura  como  a  lia  via  começado.  Ao  despedir-se 
de  todos^  refere  o  seu  piedoso  biographo  (*),  seiscentos  eidâdâos  dos 
.  jnais  conspícuos  Ihi;  cnlregnram  por  eseripto  um  testemunho  de  sua 
gratidão  e  saudade  no  qual  se  liam  csias  palavras  memoráveis: 


(•)  No  Jitrmi  fio  Cítmmírriú, 


68 

a  Ide  coberto  de  bênçãos,  homem  probo  e  leal ;  a  pureza  de  rossa 
consciência  grangeou-vos  um  titulo  glorioso;  bem  sabeis  que  vos  cha- 
mais aqui  o  juiz  recto.  » 

Homem  de  natureza  activa,  progressista,  porém  Tora  da  grande 
alçada  administrativa,  não  podia  actuar  directamente  um  desenvol- 
vimento nas  cousas  da  provincia ;  mas  fnzia-o  pesando  a  sua 
influencia  popular  e  official  na  balança  de  todos  os  melhoramentos. 
A  instrucçâo  era  animada  no  acolhimento  benigno  que  fazia  a  todos 
os  professores  e  moços  talentosos ,  e  o  progresso  material  nas  conver- 
sas que  fazia  com  o  governador.  Tentou  a  creação  de  uma  bibliotheca; 
procurou  melhorar  as  vias  de  communicaçâo ;  arrecadou  sommas 
enormes  que  se  julgavam  perdidas;  porém  aquella  época  era  ainda 
iropropicia  para  o  cultivo  dos  dons  da  paz.  A  politica  individual  re- 
volvia e  agitava  todos  os  ânimos  cubiçosos. 

Nomeado  presidente  de  S.  Paulo  em  1830,  nada  pôde  fazer  do 
que  intentara.  A  sedição  que  occasionou  a  abdicação  do  fundador  do 
Império  tinha  lá  grandes  raízes;  e  a  sua  presidência  não  foi  mais  do 
que  um  acto  provisório,  e  uma  lula  entre  o  dever  e  as  cir- 
cumstancias. 

Chegado  ao  Rio  de  Janeiro,  occupou  logo  o  lugar  de  juiz  de  or- 
phàos,  e  pouco  depois  o  de  intendente  geral  ^a  policia  e  o  de 
desembargador  da  relação  da  corte. 

Chamado  pela  regência,  em  1832,  ao  ministério  da  justiça,  tor- 
nouse  um  homem  necessário  ao  governo,  porque  naquella  época , 
durante  quatro  annos ,  occupou  successivamente  dífferentes 
pastas. 

Todas  as  lutas  erguidas  entre  o  dever  ostensivo  e  a  moral  de  sua 
posição,  entre  um  programma  politico,  firmado  pelas  circumstancias 
e  a  lógica ,  a  razão  fria,  elle  soíTreu.  Trabalhando  de  industria  no 
meio  de  tantos  desencontros,  de  tantos  arrojos,  quantos  ersm  os  in- 
teresses movediços,  teve  a  gloria  de  vencer.  A  causa  principal  de 
todos  os  agitadores  era  puramente  material ;  a  energia  prevaleceu  á 
argúcia  ;  o  lide  Julho  e  o  7  de  Outubro  não  tinham  significação 
profunda ;  eram  desregramentos  de  uma  anarchia  parcial ;  ^ra  a  li- 


benlãd^^  com  o  barrete  dos  galés,  eram  o&  preludias  ãú  unm  tyrsnníi 
sonhada  por  alguus  súphisías  que  so  viara  ordem  nu  seu  eommimhia 
predomínio, 

O  Btmi  n'aque1k  decnda,  apegar  de  linver  Ormado  su«  indêpeo^ 
dancia ,  e  do  haver  entrado  etn  todjs  as  tnnovaçôes  do  systfimâ 
conslitucionalj  Mo  esUiva  preparado  para  o  exercício  das  vírlude»  d- 
\'icás  que  sàa  a  alma  desgovernos  livres.  !<o  seu  pnssado  se  tuiTti 
balituado  a  ver  as  honras  e  as  dignidades,  os  poslos  e  a  influencb 
virem  do  príncipe ;  a  ver  no  rei  a  lei  viva,  no  Edatgo  o  cidflJào,  « 
no  va^allo  o  escravo  possuidor  de  outros  escravos, 

A  regência  destiluida  d*osie  presligio,  d*esla  mageslade  consagridii 
pelos  tempos^  era  um  exemplo  que  favorecia  toda  sorte  de  ambi^^€«i 
mórmeotò  n'um  paiz  onde  o  homem  se  acostuma  desde  a  infanciít 
ser  obedecido  pelo  escravo ,  e  ao  poder  jrrcspoosaveí  do  govamo 
domeãtieo. 

Foi  nesta  perigosa  situaçSo,  e  ainda  assim  feliz  por  lha  haver  pre- 
parado o  terreno  o  enérgico  Diogo  António  Feijó,  que  Aursltaoo  sih 
Llu  ao  poder,  llomern  de  outra  naturezop  anirjuillou  esse  poti^ 
revolucionário  que  estendia  os  seus  braços  do  Nortâ  âoSul,  e  soinu 
pe!â$  extremidades  o  sangue  bras^ijeiro. 

Poderoão  dom  dos  coos,  que  começava  pelos  a ttribulOfipitysieos 
para  as  massas,  pelos  moraes  para  os  sensatos,  e  aoabava  pém  ener- 
gicos  para  com  os  perturbadores  da  ordem ;  a  sua  prtseaça  ,  qtiindo 
benéfica,  desarmava  ;  quando  severa  aterrava;  e  logo  quosaretesúi 
d'aque1l3  dignidade  com  que  se  animava  nas  horas  do  perigo,  lodos 
lhe  obedeciam  i  a  sua  mão  nunca  tremeu  para  castigar «  nem  eoQin* 
biu-se  para  premiar. 

Que  época  do  angustias,  de  inconsequeneias  c  de  desordem; 
que  quadra  medonha  o  perigosa  ;  as  províncias  nadavam  em  sangue, 
6  a  decomposíp4o  sociaU  por  meio  das  patxd^  ferozes »  {i&recii 
tocar  ao  apogeu. 

Os  amigos  da  realoza  desmentiam  sua  fè  com  o  sonho  e  os  actoâ 
de  uma  r^iauraçáo ,  repellída  energicamente  pelo  principe  quocHf 
luavam. 


ita^ 


Os  demagogos ,  inquietos  nos  delírios  de  suas  ambí(dos,  oscilla- 
vam  em  grupos  tumultuosos  de  um  para  outro  lado. 

O  partido  oonsenrador  da  eonstiluiçao  e  do  seu  futuro,  também, 
era  abalado  por  mesquinhas  personalidades,  via  a  todas  as  horas  cla- 
rearem 06  suas  Gleiras  e  grupos  de  transfugas ,  segundo  o  pro- 
gnostico das  probabilidades ,  passarem  e  Toltarem  com  o  mesmo 
furor. 

Os  monarchistas  pessoaes  conspiravam  contra  o  legitimo  monarcha 
o  sagrado  pupillo  da  nação ,  porque  não  viam  n'elle  o  immediato 
manancial  das  graças  e  favores,  nem  junto  do  throno  o  primeiro 
degráo  de  suas  sonhadas  grandezas. 

A  imprensa  se  havia  convertido  em  um  rodomoínfao  de  injurias  e 
sevicias,  na  expressão  de  paixões  ignóbeis :  todos  escreviam,  cada  pa- 
trulha tinha  o  seu  órgão  politico. 

As  sociedades  secretas,  com  seus  tolegraphos  ímmersos,  tudo  sola- 
pavam. 

A  força  armada ,  em  parte  desmoralisada  pelos  pasquins  impressos, 
nSo  merecia  a  confiança  da  regência. 

Nesta  conjunctura ,  porém ,  no  meio  d'e8te  grande  conflicto ,  três 
entidades  seguravam  o  império,  e  mantinham  a  ordem  saprema  per- 
sonificada na  regência :  Evaristo  Ferreira  da  Veiga ,  a  guarda 
nacional  e  o  senado,  senhores ,  pela  sua  firmeza ,  pela  sua  illustraç^o 
e  pela  sua  nobre  coragem. 

Para  a  plena  conquista  da  ordem  geral ,  era  necessário  um  golpe 
n'este  nó  gordio,  e  um  punho  certeiro  e  Taronil  que  o  desfechasse. 
Havia  no  meio  d'estes  grupos  variados  uma  fonte  veneranda ,  na 
qual  repousava  um  passado  glorioso ;  mas  essa  fonte  coroada  pela  au- 
reola sublime  da  independência  e  pela  corAa  do  martyrio ,  havia 
caducado  aos  assaltos  de  perigosas  enfermidades.  Não  era  mais  a 
fronie  do  homem  do  Ypiranga,  do  sábio  acclamado  pelas  naçdes, 
era  um  membro  inerte  em  cujos  sentidos  a  paraljsia  tinha  oblite- 
rado a  razão,  e  obscurecido  aquelles  dons  sublimes  que  o  megnifi'* 
caram  em  outras  eras. 

O  perigo  era  imminente^  a  crise  se  apressara  ;  era  preciso  um 
znii  SDPP.  9 


66 

oulro  guarda  junto  ao*rillio  Ja  nacao,  tnliiJo  no  sou  proprií)  pafci- 

cio Fcz^se  a  mudaíiç;i.  Um  novo  luior  foi  vdar  ásitorusda 

r4^gLa«  e  um  novo  mordomo  i^ht  a  ordem  domestica  e  reorganil&T  a 
serviço  ímpariaL 

Reslabdecida  a  ordem,  enlroii  Aureliano  no  desGn!roIvíiiien(0de 
uma  época  orgânica,  da  qual  ainda  saboreamos  os  fructos  ví- 
vificadores. 

Uma  cousa  notável  e  bem  caracterisiica  da  época  da  minorídâdêi 
iTiormente  daquolJa  em  que  eslamos,  foi  a  aridez  do  esptnto^a 
summa  esterilidade  do  pensamenlOi  O  que  eslava  ein  andimenlAj 
parotu  6  nada  sú  produziu.  As  obras  que  eslampam  em  ú  própria 
o  cunbo  \ilal  e  progressivo  de  unva  nitcional idade,  aexprâttiúdi 
mente  conleoiporanea,  os  seus  voos  para  o  futuro,  cu  as  que  : 
as  peripécias  da  bísioria,  deixaram  de  existir.  E  porque,  meui" 

'  seiíbores  ?  Porque  aquella  época  nada  significava  :  era  unm  repuLlkà 
monarebica,  ou  uma  monarcbia  republicana, 

Aureliano,  depois  do  consolidar  o  elemeiíio  potilico^  passoti  a 
torna-lo  permaucn lo  pelos  recursos  da  sociabilidade,  feio  eoolãcta 
dos  homens  em  boras  e  occâsiúes  impróprias  da  dí^scutírem  interesses 

I  ou  recriminações  individuaes.  Para  obâiar  laes  ensejes,  comacou 
fazer  reoniõea  periódicas  eui  sua  casa,  onde  a  presença  do  bdL 
sevo  desarmava  os  pugilatos  politicos,  onde  a  da  risa  e  a  harmonia 
consorciavam  atmas  que  se  haviam  amado  e  desquitado  pr  opím^es 
politicas*  Foi  n'um  d'esles  saraos  que  iiela  primeira  vez  appareceram 
os  sorvetes,  c  cj?les  sorvetes,  srs, ,  e  o  magnifico  exempla  de  sua 
urbanidadc  e  gentileza,  diluíram  muitos  ódios,  aplacaram  muitas 
raivas  eaccabuaram  muitos  reíH^rntimenlos;  porque  alé  ali  as  ramlliaaj 
S0  pareciam  lum  tf ibus  rivaes ,  ou  encerrados  no  circulo  traçado  pelati 
suas  opiniões  e  interesses. 

Ha  bomons  que  atlrabem  as  intcilígeneias  sinceras  pelo  mag 
lismo  da  cordialidade,  [k.'Io  brilho  do  seu  espirito  ,  e  (lor  essa  atmo 

f  phera  conciliadora  que  os  circumda,  e  diíTunde  uui  continuo  bcm- 
estar  no  circulo  do  seus  sócios  o  amigos.  Estes  homens,  quando  i 
pregam  os  seus  dias  e  serões  em  festas  a  intelligeneia,  em  culto 


67 

pátria ,  e  em  obras  meritórias ,  se  convertem  em  centros  4e  uma 
plêiada  bemíazeja,  que  longe  dos  velabros  e  do  borborinho  mun* 
dano ,  derrama  a  sua  luz  sobre  a  terra  em  que  se  acham.  A  erudi- 
ção ^  o  thesouro  iropiovel  do  homem  bibulo,  do  homem  esponja, 
quando  não  ó  appHcada  d<^  nada.  servo;,  porque. nem. sempre  são 
creadores  aquelles  varões  que  passaqíi  a  folear  os  mortos  em^monor 
logos  silenciosos,  e.com,o$  olhos  fitos  no. passado,  sem.  volvd-los 
para  o  futuro  da  pátria.  Os  homens  que  excedem  estes  esterei3  pen- 
sadores, sào  os  que  se  identificam  com  p.  solo  e  sei^  futuro,  por<- 
que  plantam  em  favor  dos  outros. 

Nas  reuniões  que  ojiitrora  se  fizera/n  nq  c^.dp  nosso  ooDsocio^ 
o  actual  mordomo  d^  cas9  imperial,  d'e^e  hom^m que  ha  visto  o 
mundo  por  todas  as  suas  faces,  planejaram-se  a  creaçâo  de  myitos 
estabelecimentos  que  fazem  hoje  a  felicida(le  social ,  o.cpmmodo  das 
famílias^  e  o  lustre  d'esta  capital.  Aureliano  era.d'este  nuipero,6 
um  dos  sócios  majs  constantes  e  naais  ardentes. 

A  Providencia  tinha-lhe  4ado  a  feliz  qualidade  que  deye  ter  todo 
o  homem  de  Estado :  aceitava  de  coração  qualquer  verdade  pratica  ; 
qualquer  principio  utilj  sem  lhe  importar  com  a  sua  origem  pes- 
soal; porque  nâo  tinha  essa  vaidade  infantit  e  presumpçosa,  tâo 
funesta  aos  que  querem  a  prioridade  em  tudo. 

Não;  a  idóa  era  por  elle  meditada  e  discutida  no  gabinete,  e 
logo  que  se  convencia  de  sua  utilidade^  executa va-a.  Titão  impas- 
sível, caminhava  com  passo  regular  ao  seu  fim,  derrocando  fria- 
mente todos  os  embaraços  até  conseguir  o  escopo  desejado.  Assim 
se  fizeram  e  planejaram  os  fundamentos  da  Casa  da  Correcção ,  a 
instituirão  do  Monte  de  Soccorro  ,  o  Moiite-Pio  dos  Servidores  do 
Estado,  aCompanliía  dos  Omnibus,  e  o  primeiro  regulamento  para 
as  legaçÂ5es  do  império  e  secretaria  dos  negócios  estrangeiros. 

Em  vésperas  de  retirar  se  do  ministério ,  o  desembargador  Ra* 
miro,  deputada  independente  e  illuslrado ,  disse  em  plena  camará  o 
seguinte:  «  O  sr.  Aureliano  dentro  e  fora  da  camará  óo  melhor 
cidadão!  São  muitos  e  de  immensa  importância  os  seus  serviços; 
estão  ahi  bem  patentes ;  e  praza  a  Deos  que  não  nos  esqueçamos  nunàb, 


nós  todos  Graiileirosy  do  apreciar  s  re!;peítar  lâo  hetmmmfotí^ 
diiJão,  >»  A  camará  o  nio  desmentiu ;  os  apoiados  roram  qutst 
unanimes. 

Mas  ú  é  grande  mlò  lastemunho  publico  de  uma  assomMé^  ^  njo 
é  de  menor  valora  eonfisâSo  do  seu  maior  aJvei^ario,  Bernardo  Pe- 
reira de  Vasconiyoltús^  a  qunl  findava  proclamando^  que  *  <j  namt 
dá  ir.  Aureliam  enava  gramdona  tasQ  da  msãa  rmfmrehiã.  • 

A  confissão  d^osto  inimígD  equivaEo  a  um  aresto  da  poslâr]tM&i| 
A  sua  acção  nSo  sa  limitou  á  polluca  @  aos  bans  matâriââs,  a  i 
ral  publica  tambom  lucrou.  Os  moedeíros  falsos «  as  casal  de  jogicii' 
illkitos  6  os  lupanares  desappurecerajn  diante  do  seu  bra^.  Tuilos 
os  vícios  se  julgavam  acima  da  lei ,  e  invocavam  a  liberdade. 

A  anarchia  não  è  mais  que  o  mcdoaho  symptoma  da  corruf 
social ;  quando  a  empada  da  justi^^a  se  embola  de  um  gume ,  e  qua  i 
deusa  tira  a  venda  t  a  pátria  se  transfigura  no  homanx  â  o  hon 
Diurna  maehina  infernal  que  naJa  poupa.  Doos  é  reprâsantado  pdõ 
ouro,  a  religião  pelo  cgobmo »  e  a  pbilosophia  pelo  trâ&co. 

O  regente  Feijó ,  depois  da  formal  renuncio  do  visconde  de  Can- 
vollas»  em  não  o  stibslituir  na  regência,  mandou  chamar  Aure- 
Hano  para  tomar  conia  de  lào  grande  encargo ,  a  o  nú%ú  cotisociQ 
so  dcaiJitiu  prelextanlo  ineommodos  de  saúde- 

A  morte  do  fundador  do  império ,  abatendo  as  mp&mipB  dt 

klins,  e  refor<;4mda  a  d'aquellcs  qno  alo  lí  eram  soIJímIos  nas  fileira,^ 

Ido  um  partido^  desfe;s  o  exercito  restauradijf  e  dispersoit  o  m^- 

úerado.  DosJapprocido  o  grande  poulo  do  antagonismo  d*eâtjis  duai 

Ull ranças,   era  necessária  uma    recomposição  política:   as  irigooi 

'  Inpi^inodos  são  falaes,  porquo  m  pre^urosos  partidários,  os  aieiorei 

fílèrgumenos »   m   liomens   som    cunvir^ões,  mudarn  de  tfijo »  e 

I  passam  como  Ficsoo  para  o  partida  de  Dória  w  remato  da  catas* 

Irophe^  O  ^\  do  poder,  que  altmcutava  a  esperança  das  frafçil^ 

turbuleutas  de  ambos  qí    ladg^,  renasce  com  nova  Iu2  ^  toéoa   a 

etlo  marcliavam ,  u  as  paixões  contrariadas  achavam  nm   lenilttc^ 

uo  seu  mutuo  des^^jar.  Do  exercito  dissolvido  novos  clM^físs  so  |^ 


69 

vantaram,  e  com  elles  um  futuro  difficil  de  descrímiaar^  do 
primeiro  intuito. 

Aureliano  sabia  que  o  novo  regente  devia  sentar-se  ao  pé  do 
throno  cem  um  plano  consciencioso ,  e  esse  plano  era  diffieil  tra-» 
çar-se  em  um  terreno  movediço  que  impedia  a  sua  justa  triangu-» 
(ação.  Os  successos  posteriores  comprovaram  soa  evidencia^ 

Todo  o  movimento  politico  é  a  resultante  de  Um  protesto  contra  A 
^cçào  do  poder  que  altera  as  leis  do  equilíbrio  social ,  restaura  o 
passado I  ou  promove  innovaçòes.  A  maioridade  fez-sOj^e  para 
realisar  q  programma  da  nova  epocha  foi  chamado  Aureliano,  6 
occupou  a  pasta  dos  negócios  exteriores. 

Reformou  a  secretaria  a  seu  cargo  ^  estabeleceu  diíTerentes  secções 
para  o  trabalho  e  ordem  nas  relações  exteriores ,  intentou  a  ereaeâo 
de  um  subsecretario  de  estado,  para  nielbor  regularidade  e  prés- 
Vsza  no  serviço ,  e  manteve  em  plenissima  paz  todas  as  nossas  re^ 
^çOes  exteriores. 

A'  sua  presença  no  ministério  deveu  a  província  de  S.  Pedro  tk 
presidência  de  seu  irmão  Saturnino ,  e  os  resultados  de  sua  politicai 
durante  a  sedição. 

Tratou  e  conseguiu  a  mão  de  uma  primceza  fllba  de  S.  Luiz ,  parát 
fazer  as  (telicias  do  throno  brazileiro ,  e  uniu  a  casa  imperial  do  Bra- 
sil com  os  tbronos  das  Duas  Sicilias  e'da  Franca. 

Nomeado  presidente  da  província  do  Rio  de  Janeiro,  eficargo  mais 
administrativo  do  que  politico ,  fez  obras  consideráveis,  que  por  longa 
tempo  conservarão  seu  nome.  Partidário  do  trabalho  livre,  para  dar 
maior  andamento  á  nova  estrada  da  Serra  da  Estrella,  mandou  vir  500 
trabalhadores  da  Allemanha.  O  correspondente ,  em  vez  de  lhe  man- 
dar homens  solteiros ,  envioií-ilies  500  famílias.  Ora ,  os  commodos 
c  providencias  dadas  para  receber  aquelles  hospedes  não  eram  os 
mesmos  para  acolher  tantos  casaes ,  porque  a  tarimba  do  homem  sol- 
teiro afasta  de  razão  o  homem  casado. 

Nestes  grandes  apuros,  e  como  medida  salvadora,  concebeu  o 
^lordomo  da  casa  imperial,  o  nosso  consócio  sr.  Paulo  Barbosa,  a 
Í4é^  de  realisar  uma  colónia  no  alto  da  serra  da  Estrella  ,  nas  terras 


70 

im[»eHaes^  denominadas  Cúrre^o-Sútm;  i^U^a  f\m  íiavía  iiidicjjf 
anteriurmenie  0  eogisiiliDiro  Frederico  Koelet  em  um  opíjs^ula  im- 
presso ^  com  o  fim  de  crear  uma  companhia  para  esio  flm:  m.%s 
este  dcseJD  do  múrdomo  dependia  da  approvaçao  do  aaguMo  pro- 
prielario. 

Sua  Alfigeatade  foi  aiam  dos  desejos  do  seu  mordomo  #  ©  abriti  <ts 
cofres  inesgotáveis  ik  stia  pariictilar  generOííiJado  e  sua  Síibísranit  t  0 
a  nova  colónia  (lenominou-se  Ptítropulis. 

Com  a  m  agasta  Uca  iníluencíao  acção  da  um  príncipe  lio  pn>grt^ 
sisia,  com  os  seus  cofras  abertos,  com  a  ictivídaJâ  o  uio  do  seu 
mordomo,  com  os  recursos  da  presidência  dn  Rio  de  Janeiro «  e  eom 
a  dirccçíio  pratica  do  nosso  contiocio  o  fíilleeido  Ko^br,  o  rdúim 
devia  prosperar  6  crescer  contra  todos  os  embaraçns  nattirâes.  o  os 
que  suggeria  a  ignorância t  a  inércia,  e  a  ma  fé  d*aque!les  liomuní 
políticos  0  mercenários*  qus  náo  consentem  qm  seus ad veria rioi 
lhes  purili(]Uúm  a  agua  que  estão  bebendo.  A  este  grupo  insens^la 
sa  veio  reunir  o  grupo  criminoso  dos  traficantes  de  carna  bumani » 
que  viam  n'essa  creaçfío  íamoía,  neste  exomplo  do  trabalho  do  ho* 
mera  livre,  um  embnraco  ã  sua  avidez,  e  talvez  a  agonia  dô sua 
eJLOcranda  proGssao,  O  nome  de  Carrego-Secco  os  autorisavi  a  na* 
gar  agua  aos  cotouos ;  e  o  aspecto  escalvada  dos  picos  da  3«fn  éoê 
Órgãos  a  propalarem  que  arjuollas  regiões  eram  uai  deserto.'  fiiificai 
a  néscia  maldade  desenvolveu  maiores  recursos  o  actividado  fioitw  « 
t|ue  mostrou  para  aniquihir  Polropolis, 

Porém  ao  sigual  do  Imperador,  as  montanhas  se  aehatamm,  Of 
vatles  se  complanaram ,  as  Hurcstas  se  abateram ,  ã$  estradas  sa  oi^  ., 
vellarara  ,  as  casas  se  leva u taram  ,  os  vergéis  florecerara  ,  as  searas  e 
as  liares  tapetaram  as  encostas,  as  feras  fugiram,  e  aqiieltas  de- 
vesas solilariaí^s  ouJc^  somente  de  vok  em  quand»)  se  ouvia  o  sincerro  , 
o  trotar  dos  lotes»  ou  o  galope  do  expresso,  repercutiram  os  hym- 
nos  da  faniosa  Germânia,  o  trtunqdia  do  trabalho  do  hamom  litrd,  o 
se  converteram  ifauí  recreio  imperial,  n'um  manancial  de  delicias, 
ii*uui  salutar  asylo  dos  Flumincusos,  o  n^uma  cidade  cauâlisada  ^ 

frasca ,  tranquilla  1  qye  (a2  o  pr^ij^er  dos  nacionaes  e  estrangeiros. 


71 

£  porque,  meus  srs.,  se  consummou  em  tâo  breve  espaço  amà 
obra  que  tem  uma  estrada  igual  em  solidez ,  audácia  e  perfeição , 
as  melhores  que  atravessam  os  Alpes  e  Pyreneos?  Porque  sobre  a 
coneurrencia  de  tantas  inlelligencias  e  vontades  havia  uma  inlelli- 
genria  e  uma  vontade  mais  forte  e  permanente  : —  a  do  Imperador ! 
A  vontade  do  soberano  é  como  a  força  constante  de  uma  lei  da  na- 
tureza, que  actua  sem  cessar  atravez  dos  tempos,  das  estações, 
das  tempestades,  e  das  próprias  revoluções  do  globo:  artéria  vital 
que  bate  no  centro  da  intelligencia  e  communica  a  vida  regalar 
e  progressiva  a  todo  o  corpo  social. 

£  qual  será  o  futuro  de  Petrópolis?  Immenso  :  exemplificou  os 
melhoramentos  do  trabalho  livre;  deu  a  forma  colonial  e  produc-^ 
tiva  ao  proprietário  de  terras  incultas;  introduziu  a  industria  e  a 
lavoura  reaccionária ,  e  provou  que  todo  o  terreno  é  fecundo  quando 
a  cultura  lhe  é  apropriada. 

Aquelle  que  encara  o  nosso  horizonte  sensivel ,  circulado  de  mor>^ 
lanhas  de  granito  ;  o  que  vé  o  augraento  progressivo  do  gráo  médio 
do  calor,  a  inversão  das  estações,  á  proporção  que  nos  multiplica- 
mos; e  o  que  já  não  vô  uma  parte  d'esses  montes  coberta  de  fronden- 
tes  florestas  e  palmares,  treme  pelo  futuro.  Cada  dia  que  avançamos 
mais  se  descarna  o  gigante,  cantado  por  Januário,  e  a  sua  ossada  de 
pedra  prorompe  á  luz  do  sol :  as  aguas  do  eco  o  descarnam  de  dia  em 
dia>  e  arrastam  para  os  valies  o  crystal  que  o  encobria  envolto  em  terra 
vegetal ;  o  sol  de  Aquário  e  de  Piseis  cresta  o  lichen  rasteiro  e 
transitório,  e  as  rajadas  o  sepultam  diluído  nas  profundidades :  é 
o  começo  de  um  novo  ermo ,  é  o  alicerce  d'esse  forno  de  rever- 
bero que  virá  um  dia  calcinar  as  planices ,  seccar  as  fontes ,  in- 
cendiar as  casas ,  e  a  plantar  o  deserto  naquelle  Elyseo  onde  por 
tantos  séculos  floresceu  a  risonha  Guanabara,  e  se  dilatou  o  edenico 
Nitherohy ,  em  cujas  aguas  ancoravam  todas  as  frotas  do  universo  I 

Atalhemos  que  ainda  ó  tempo.  Naturalistas,  imploramos  o  soc- 
corro  da  nossa  sabedoria. 

Enxada  do  agricultor  cava  n'estes  restos  de  crosta  que  ainda  en- 
volve a  montanha >  e  garfa  os  germens  de  novas  florestas,  de  novas 


foniGs  e  de  orna  nova  vida*  Nao  durma  o  I^b lador  *  oi&te  dflitore 
u  edil,  que  o  tempo  mttú,  0  ainda  nos  pódô  salvar.  Gloria  a  qiwm 
eotneçar  iSo  bella  ^mprazap  gloría  ao  qud  salvara  minlui  SifMen* 
iríonoL 

O  Brazilciro  ji  imo  viva  debaixo  d*essa  fireíísílo  atenospliefiGa  fu» 
Q  enlorpccia;  e  não  appellemos  pra  o  clima  *  poríjutia  bUkideéa 
noma  ainda  c  a  mesma  f  o  solo  o  mesmíssima,  mas  o  homt^m  nlti.  O 
niandriSo  romano  que  sd  embuça  no /rcraíoí^j  á  lux  meHdíotiit , 
quando  ^praa  cnnícub  ou  o  intenso  sirouco,  qiiandueantaa  r^^ 
sinol  e  a  terra  é  lodâ  flores  ^  coriamente  ndo  é  aquelle  mmaa  So- 
mano ,  aquolle  soldado  que  dormia  sobfe  as  arâas  da  LvbU  o  mesmo 
somno  quts  na$  margens  do  Danúbio^  ou  nai  serrai  da  Giledonía ;  o 
homem  é  uma  alavarica  moviíJa  por  uma  idéa,  que  o  fa£  saspender 
a  torrente  ou  sepultar-^  nella* 

Pelropolis  é  ura  iritimpbo  assrgnalado  solíre  o  pessimismo  dos 
nposiolos  da  roiina  e  da  inércia. 

Acabada  a  presidâocia  deAurelianOf  reiirouse  parai  bise  da 
$erra  da  Estrella>  junlo  do  lugar  denominado  FragosOt  e  abí ,  soii* 
nbO}  longo  de  sua  numerosa  família  j  começou  a  edírtcâçjfo  di  um 
reliro,  â  que  elle  dava  o  nome  de  seu  leito  dô  pedra  c  caL 

Operário  incansável  ,  trabaliiou  com  as  virtuda  dâ  prudonõa 
entre  os  maiores  tropeços,  e  teve  muitos  annos  do  ajiarar  oi  pipes 
arremeçados  peio  mais  furmidavel  e  arguto  adversário,  O  Utegoili 
Juvenal  nun^a  o  ferio,  porque  o  seu  maior  inimigo  linba  indipigil 
â  moral ;  porém  aqueila  musa  qua  bâbitit  as  sentinas  nas  boras  d« 
um  torpe  dvliiio  intentou  rnacuta-lot  mas  Au  relia  no  era  como  o 
crystai  da  Bobem  ia,  que  so  núo  pode  embaclur.  O  ^u  Oúraçia 
desconbeceu  os  ódios  d'aquollcs  Tantalos  politico®,  ct^jaãnkm 
jnove  do  aho  do  poder  á  ignóbil  conspiração ;  porcfue  sabia  rcpoyfiaf 
dignamente  quando  so  retirava  do  poder.  Houveram  n^elle  dlguiBâS 
paginas  da  aniiguiJade  nobre:  a  agricultura  e  a  pbitosopUla preeã- 
rliiam  as  suas  férias  poiílica^. 

O  Instiluio  Histórico  clegeu-o  sempre  sou  viee^presid^te,  i 


73 

a  sua  assiduidade  ás  nossas  sessões  era  a  maior  prova  do  seu 
reconhecimenU). 

Escreveu  muito,  porém  quasi  tudo  para  o  expediente  diário,  para 
esse  subterrâneo  que  esconde  o  tempo  e  a  illustraçãode  tantos  eng&^ 
nhos  abalisados. 

Magistrado,  deputado,  senador,  presidente,  ministro  de  estado, 
pouco  tempo  lhe  restava  para  derramar  sobre  o  papel  os  voos  do  seu 
espirito  philosopbico. 

Nas  suas  ultimas  vacâncias  escreveu  um  tratado  de  geograpbía 
para  seus  Glhos;  alguns  artigos  em  favor  da  colonisaçào;  e^  sobra 
todos  y  um  no  qual  perfilhou  as  idéas  astronómicas  de  um  autor  qua 
ainda  nào  foi  aceito  pela  maioria  dos  sábios. 

Fora  do  poder,  ninguém  o  viu  conspirar  contra  a  ordem  publiea^ 
nem  embaraçar  a  marcha  da  adminisU-açâo,  porque  não  queria  auto- 
risarcom  o  seu  exemplo  aquillo  que  sempre  condenmára*  A  imprensa 
deve  servir  de  podôa  e  nunca  de  machado ! 

Era  um  homem  de  alta  estatura,  bem  proporcionado,  de  forte 
compleição,  traços  regulares,  e  de  uma  pbysionomia  agradável.  A 
elle  também  cabia  o  espirituoso  dito  de  Isabel  Catholica ,  que  appln 
quei  a  seu  irmão  Saturnino :  «  A  natureza  e  a  oducação  formam  os 
geniishomens;  o  nascimento  ea  posiçSo  os  contrafazem*  »  Oseit 
aspecto  exterior  infundia  respeito,  e  o  seu  trato  um  sentimento  da 
amizade.  Os  incautos  se  illudiam ,  porque  sob  apparencias  tio  calmas 
e  amáveis  cuidavam  encontrar  uma  alma  timorata ;  pelo  contrariOf 
todo  elle  era  a  energia  reflectida,  a  tenacidade  tranquilla*  Asuâ 
mão  nunca  tremeu  para  dar  um  golpe,  como  elle  mesmo  diiia, 
porque  antes  de  o  despedir  havia*o  meditado  e  calculado. 

Prompto  na  expedição  dos  negócios,  não  participava  da  lentidXa 
espartana ,  nem  da  morosidade  ibérica :  a  elle  se  não  poderia  appliear 
o  provérbio  inglez  no  tempo  de  Isabel :  Venga  la  muerU  de  EipancL 
Cônscio  do  seu  próprio  valor,  nunca  invejou  o  mérito  albeíoi 
a  sua  alma  se  nutria  dos  seus  bens ,  e  nunca  dos  males  alheios. 

N^esse  quarto  de  século  que  percorreu  como  homem  publioo  ieoa 
sempre  victoríoso,  porque  ósseos  inimigoa,  que  eram  audazes  na 

XYIII SUPP.  IQ 


nggtmàú^  erflm  tamluím  néscios  nos  meios ^  fracos  m  raifiot  iMíigi- 
cos  no  proceíior  ^  d  rnalríiítidorios  eiri  tofia  a  soá  miHTh.i^ 

Morreu  Aiirefinoo  de  Sonm  ú  OliveirD  CDuiinlia  nos  nlilmos 
fCráos  dn  a^cala  sioci^il  ;  rlosoailârgjidor  da  f elação  dii  curte «  tJ^  rm-^ 
sfslho  de  Sua  MageíílailíJ,  senador  do  império,  gentil  do  mt*m  d.i 
imperial  oim^rA  f  viscoocle  do  Sepeliba,  grande  do  íiiiftorio  cet> 
ministro  de^eslodo,  ravallisim  das  onliins  t)o  Climio  «^  (l:i  Rfijsi,  e 
dignitário  da  do  Cruzeiro,  griSa-cruz  das  ordens  ila  Lcío  Iktga,  ée 
Nossa  Senhora  da  Conneíçfío  do  Villa  Viçosa,  de  S.  Foni*ndo  do 
NapoteSf  de  C^irlo<i  III  da  U^jspnnfi^,  doi!  qualro  ímperidofes  dâ 
Ilussia ,  e  da  ordem  de  S.  Jíííjo  de  Jerusalém, 

Ero  presidente  dns  cavallerros  do  ¥piranga,  e  membro  de  fnull:ii 
sociedades  liUerarias  nanonnes  e  eslranginraâ,  O  seu  rfliríito  foi  col- 
krodo  em  vida,  no  anno  de  i839,  na  sala  das  seíísôes  do  Monte 
Pio  dos  Servidores  do  Eâlado,  como  um  tributo  de  reconliecí mento 
ao  seu  fundaflor. 

A  cidade  do  Rio  de  JaneírOt  a  de  Nintboroy  e  Petrópolis  lhe  ddftm 
serviços  reaos ;  ires  coroas  torreadas  adornam  o  pedalai  de  sua  gt»la 
memoria. 

Falleceo  em  dias  luetnosos,  na  forra  da  epidemia ,  e  no  emUni 
de  toda  parte  concorreram  numerosos  amigos  ao  seu  funeral.  O  sea 
nome  ja  pertence  á  bistoria. 

Se  por  um  lado  vemos  haitar  á  sepultura  homens  iMo  raro§  i 
moral  pubtica«  pelo  nutro  recebemos  o  mais  btdio  lenitivo  a  tanta  dor* 
A  nossa  época  apresenta  um  espectáculo  digno  da  contemplação  do 
futuro;  a  aeçào  moral  civilísadera  prorompe  e  se  manifesta ;  ■  ctri- 
dade  multjplicou-se  dclai^o  da  forma  de  iodas  a^  virtudes  ioriaaSt 
e  os  melhora meutos  matoriaes  prose^^^uiram  diariarnonte  atraia  dt 
peste;  os  ricos  abriram  os  seus  cofres,  os  pobres  dividiram  oasãus 
liens,  o  seu  píio  e  o  seu  trabalho  ;  eo  futuro  no  meio  d*esteatubti- 
tnes  exemplos  colherá  mais  esta  [>ngína  digna  dos  annaes  da  maior 
naçM  do  mundo* 

O  imperador  n*um  dia  visitava  todos  os  desgraçados  acommettidos 
da  peste  f  no  outro  vinha  santai-sa  nos  bancos  do  Instituto  c  nÍTelbr* 


."1 


75 

se  com  o  cidadão ;  em  oulros  inspeccionava  as  escolas i,  as  taiiricas, 
as  casernas,  e  os  IrabaJlios  dos  fiUios  das  musas. 

No  paço  imperial  se  renova  a  escola  palatina  ;  o  príncipe  estuda  e 
abre  conferencias;  discute  o  passado  e  prepara  o  futuro;  compra 
livros  aos  sábios  da  Germânia,  e  engrandece  a  nossa  bifoliolheca  ame-^ 
ricana.  Estes  factos  não  caminham  isoladamente  com  as  obras  acon- 
selhadas e  intermittentes ;  vai  ás  aulas  primarias,  inspecciona  a 
educação  da  familia  que  o  ha  de  circular  na  madureza  da  vida,  e 
occupa-se  do  seufulufo;  penetra  acella  do  franciscano,  onde  jaz  ò 
monge  cego  e  quebrantado;  honra  a  imagem  fugitiva  do  grande 
orador  sagrado,  e  dá-llie  como  em  signal  de  sua  estima  e  veneração 
aquella  cadeira  antiga,  onde  o  apostolo  brazileiro,  o  venerável 
Anchieta,  estudou  a  pratica  de  suas  memoráveis  conquistas,  ed'ella 
subio  tranquillo  á  presença  do  Senhor  Deo$ ! 


APFEI\DICE  AO  RELATÓRIO  DO  SECRIT.IRIO. 


OFFERTAS  FEtTAS  KO  ANKO  DE  Íg54. 
niAziuBeriptOi. 

Sua  Magestade  o  Imperador^ 

Foral  ía  capitania  da  Bahia  ecldsdô  de  S.  Salvador.  Ewún,  M  ib 
Agoslo  de  f  534.—  (Copiai  —  Em  18  do  Maio  de  ÍBS$. 

Regimento  dado  a  António  Cardoso  de  Barros,  cavnileíro  fidalfço  i 
casa  d'et-r6Ít  como  procufador-mór  d.i  fjzeíiJa  quo  prtmeifo  í  _ 
ãô  Bvml  Alineirtm,  17  da  Dezembro  de  1548. —  (Copia),— Em 
18  do  Maio  de  18S5. 

Livro  que  dá  raziiodo  Estado  do  Brasil,  enriquecido  do  moppfif  e4i^ 
lorídos  e  desenhos.  1  vol.  folio  grande  obloíigo,  —  Em  2$  dê 
Outubro  dolÔSS- 

0>piadodito,  1  vol,  folio  pdqueno,^ — Dito^ 

Miniitro  do  Império,  Comdhêiro  Luiz  Pedreira  da  Comiio 
Ferraz, 

Roteiro  da  vingem  do  Brilhante  na  província  de  Maito  Grosso  a<i 
porto  doTibagy  na  do  Parafiá  por  Anlonio  Monteiro  de  Men- 
donça.— (Cópia)- — Em  4  de  Mato  de  1855. 

Informação  do  ri Iferes  Manoel  Tbeotonio  Ribeiro,  encarregftda  das 
obrai  doVaradottro  entre  o  dito  rio  Brilb^inte  e  o  Anhac,  nâ  quil 
se retifina aquelle  roteiro. —  (Cópia). —  Dilo, 

A  emigração  dos  Ca^uá;:,  narração  coordenada,  sobre  aponUmentâs 
dailos  pelo  Sr.  Joáo  Henrique  Eliiot,  por  José  Joaquim  Macbado 
d^Olivtíira.—  (Cópia).—  Dilo, 

Baião  cm  que  se  fundou  o  prusidenie  da  província  de  S*  Pauk  pari 
denegar-^  á  reclamaçiSo  que  em  1844  Ibe  fíiíerao  preiídeote  di 
província  dfj  Santa  Calharina  sobre  o  inculratlo  direito  qtie  esli 
província  tem  aooímí^o  de  Palmas  da  comarca  de  Corilyba,  ti(>]o 
provincia  do  Paraná^  por  José  Joaquim  Machado  de  Oliveira,— 
(Cópia)*—  Diio- 

Descripçio  da  viagem  feita  dôsde  a  cidade  da  Barra  do  Rio  hVgro 
pelo  rio  do  mesmo  nome^  até  a  serra  doCoeuíp  por  Ilibrío  M^ 
ximiano  Antuties  Gorjão,  major  de  artilbería  e  bacharel  em  int- 
thematicas.— 1855.  (Copia).-  Em  17  de  Agosto  do  1835. 

Oflicio  do  dfjlegado  da  ropurlí^áo  especial  das  (erras  publica  d<  pri>- 


77 

vincia  do  Amazonas,  João  Wilkens  de  Mattos,  contendo  esclare- 
cimentos sobre  as  missões  da  mesma  provincia.  1855. —  (Cópia). 

—  Em  9  de  Novembro  de  1855. 

Sermão  de  Acção  do  Graças,  pregado  na  ifiçreja  de  N.  S.  da  Concei- 
ção do  Hospício,  em  18  de  Agosto  de  1782,  pela  conversão  que  fez 
para  a  Fé  cathoíica  o  marechal  Bôhm. —  Dito. 

Apontamentos  contendo  uma  noticia  sobre  Guido  Pochrane,  e  sobre 
o  francez  Guido  Thomaz  Marlière.  —  Em  7  de  Dezembro  de 
1855. 

Ministro  dos  Negócios  Estrangeiros^  Conselheiro  José  Maria 
da  Silva  Paranhos. 

Cópia  das  instrucçOes  qne  em  23  de  Outubro  de  1797  foram  dadas 
por  D.  Rodrigo  de  Souza  Coutinho  a  Fernando  Delgado  Freire  de 
Castilho  que  acabava  de  ser  nomeado  para  o  governo  da  Parahyba. 

—  Em  9  de  Novembro  de  1855. 

Conselheiro  José  Pauh  de  Figueirôa  Nabuco  d^ Araújo. 

Memorias  do  bispado  do  Rio  de  Janeiro  que  serviram  de  base  para  a 
composição  das  Memorias  Históricas  do  Rio  de  Janeiro  por  mon- 
senhor Pizarro. —  4  vols.  folio. —  Em  9  de  Novembro  de  1855. 

Repertório  ou  Index  Alphabetico  remissivo  de  todas  as  leis,  decre- 
tos. Alvarás,  cartas  régias,  regimentos,  etc,  que  se  tem  publicado 
desde  o  anno  1603  até  o  fim  de  1806.  Feito  e  ofi[erecido  a  S.  A. 
R.  o  principe  regente  N.  S.  por  Diogo  Vieira  de  Tuvar  e  Al- 
buquerque. 1808.  — 1  vol.  folio  grande. — Em  23  de  Novembro 
de  1855. 

Çhronologia  do  pessoal,  que  nos  diversos  tempos  compozT)  tribunal 
do  conselho  da  fazenda.— Em  7  de  Dezembro  de  1855. 

Historia  da  leitura  dos  bacharéis  formados,  feita  perante  o  extincto 
Desembargo  do  Paço. —  Dito. 

Collecçáode  leisde  1799  a  1803.-— Dito. 

Cónego  Joaquina  Pinto  de  Campos. 

Extracto  de  todo  lo  ocorrido  sobre  la  plaza  de  la  colónia  dei  Sacra- 
mento ocupada  por  los  Portuguezes  sobre el  Rio  dela  Plata,  desde 
el  tratado  provisional  celebrado  en  el  ano  de  1681  hasta  el  de 
1737,  como  de  las  noticias  de  oiros  territórios  de  S.  M.  que  han 
ocupado  y  fortificado. — Em  20  de  Julho  de  1855. 

Oíficiode  D.  Francisco  de  Souza  Coutinho  a  Luiz  Pinto  de  Souza , 
en;i  21  de  Junho  de  1795,  dando  conta  das  providencias  que  em- 


78 

firê;;ura  pára  avilur  a  evjisào  lios  escravos  iId  Ptrá  jiara  Cãjr«ititfl.— 
Dito. 
Oflicm  ile  Franciáco    Xavier  da  MoiiJoiíca  l^urtado^   dirigida  m 
Ciinda  lia  Ctmli3i  acenda  das  jesuUas* 

Francma  Diorjo  Pereira  th  Vmcofteclím,  Pretteímle  dã 
Fnwincia  dã  Minm  titmes, 

Mappa  do  movimenta  cln  poi^iílaçfío  da  província  de  Minu^  Gefatí5»  ú 
hm  dds  nTohimn\o^  Je  \S1\^  1831.  u  1838;  u  ilos  ntíipfui^ 
paii^cluaes  de  nascuijiirUti:; ,  c^samonlos  o  oliUos  d^sil^i  u^nno  rJd 
183í>  até  1847,  mjPííaniSínJo  tí  olFiíreciJo  á  (irtíííideficia  dn  pro- 
vineia  de  Miíifi^  peb  cidadão  Luiz  Maria  da  Silva  Pitilã, —  Em  4 
ik5biadíí  185  a. 

Sauflaçào  ao  íllusiradu  Insiiintn  Hisaaríco  e  Geofínifdiico  BratUcki^— 
Od^ — qm  em  leâleouíidiu  íIíí  profuntlu  ra^j^eiLo  c;dt{i  roíisidtsra- 
Çiíija  estíísíibiíí  acrídemiíi,  O.  D,  C»  Fraiic  de  Pautioci  llaf- 
ijueâ  do  Carvalho.— D i lo. 

fíemiijue  de  íleaurepaire  Rohan- 

Um  mafiuseripkJ  ©m  IcItíi  c^inuitPt  aeliaJo  çni  ma  cluh  du  ne^^i* 
miiias  »a  capital  der  Hio  Graddo  dti  Sul— I^m  G  d^  Juljto  do  18â5. 

Mujmí  Mm^iaLtúuíu 

lítíhrSo  li' uma  ví*i;5em  a  Venezuela,  Ntiva  GranaJrí  o  E-iuador,  ní» 
aniiuíítú  t8o'ic  ltí3J,  seí^iiida  Aú  mw  Wsíjiíl*jo  liisltuioMla*  \^ 
Ik-publicas,  pgr  Mi^íutíl  alaria  Li sbua.  —Em  17  do  AguisOu  dt» 

Breveí^  reíliixúcs  liiíloricas  por  Adailu^Cafiie* — %m  Itdg  Agosla  Jo 
1855. 

jQsé  Martins  Fareirade  Ahncmirç. 

Memorias  liiaiorícan  da  çirovít)iria  do  Piauhy  por  José  M:irimi  For^ 
reira  do  AltrirasirQ.—  Eai  17  Jl*  A^iistu  dtJ  185 o. 

Francisco  Munúd  RúpQ$o  d*À  (màda, 

Coltcri;.lude  diplomrLs  do  itliisireli)3é  Btíivifariu  do  Aijdrajdc  eS>i]«4, 
— Em  14  lie  Seíciídjm  ik  tb'á'ú. 


79 

Carlos  Augusto  de  Sá, 

Yilla  Rica,  poemn  de  Cláudio  Manoel  dn  CosUi,  com  uma  introducçao 
Ilislorica.  —  Em  9  de  Novembro  de  1855. 

Obras  e  ímprettof. 

O  Ex,^  Sr,  Ministro  do  Império. 

Reinterio  do  presidenle  da  província  do  Paraná,  o confielheiro Zaca- 
rias de  Góes  e  Vasctoncellos,  na  abertura  da  assombléa  legislativa 
provincial  em  15  de  Julbo  de  1854.  Corytiba,  1854,  1  vol.  in- 
folio. —  Em  4  de  Maio  de  1855. 

Relatório  que  á  assemblóa  legislativa  provincial  de  Pernambuco  apre- 
sentou na  abertura  da  sessão  ordinária  de  1854,  o  Ex.""  Sr.  con- 
selheiro í)r.  José  Bento  da  Cunha  e  Figueiredo,  presidente  da 
mesma  provincia.  Pernambuco,  1854, 1  vol.  em  4."—  Dito. 

Relatório  que  á  assembléa  legislativa  provincial  de  Pernambuco 
apresentou  no  dia  da  abertura  da  sua  sessão  extraordinária  em  1 1 
de  Setembro  de  1854,  o  Ex.""  conselheiro  Dr.  José  Bento  da 
da  Cunha  e  Figueiredo,  presidente  da  mesma  provincia.  Recife^ 
1854.  1  vol.  8.-—  Dito. 

Falia  que  o  III."  e  Ex.*"  Sr.  Dr.  António  Bernardo  de  Passos,  pre- 
sidente da  provincia  do  Hio  Grande  do  Norte,  dirigiu  á  assemblóa 
legislativa  provincial,  no  acto  da  abertura  da  sua  sessão  ordinária 
em  4  de  Julho  de  1854.  Pernambuco,  1  vol.  folio,  1854. — Dito. 

Falia  Cfue  o  Ex.""  Sr.  Dr.  Joào  José  Coutinho,  presidente  da  pro- 
vincia de  Santa  Calharina,  dirigiu  á  assemblóa  legislativa  provin- 
cial no  acto  de  abertura  de  sua  sessão  ordinária  em  9  de  Abril  de 
1854.  Desterro,  1  folheto,  1854.— .Dito. 

Relatório  com  que  o  Ex."**  Sr.  Dr.  Sebastião  Machado  Nunes,  pre- 
sidente da  provincia  do  Espirito  Santo,  abriu  a  sessão  ordinária  da 
respectiva  assemblóa  legislativa,  no  dia  25  de  Maio  do  corrente 
anno.  Victoria,  1854,  1  vol. —  Dito. 

Falia  recitada  na  abertura  da  assemblóa  legislativa  da  Bahia,  pelo 
presidente  da  provincia  o  Dr.  JoãoMauricio  Wanderley  no  dia  1.* 
de  Março  de  1855.  Bahia,  1855,  1  vol.  4.**—  Dito. 

Relatório  do  presidente  da  provincia  do  Maranhão  o  Dr.  Eduardo 
Olympio  Machado,  na  abertura  da  assemblóa  legislativa  provincial 
no  dia  3  de  Maio  de  1854,  acompanhado  do  orçamento  da  receita 
e  despeza  para  o  anno  de  1855.  Maranhão,  1855,  1  vòl.  folio.  — 
Dito. 

Relatario  apresentado  ao  Ex."^  vice-presidente  da  provincia  do  Rio 
de  Janeiro  o  Sr.  veador  barão  do  Rio  Bonito,  pelo  presidente  o 


con^lhcíro  Luiz  AnlontoBarbiHa,  por  oeeasrlaila  psiiiHhe  a 
adminisiraçiio  ih  mesma  provinda  ein  2  de  llab  de  1851.  Níe* 
lheraytl8S4,  1  vuf.  íolio.— Diio.  ^ 

lielaloriQ  do  vico-presidunle  úq  província  ão  Hio  de  Janeiro,  o  &*- 
barão  do  Bio  Eunilo  na  abertura  da  1/  sessão  d;t  f  0.*  laRÍsIilun 
daas5«mbl^i  iegislativa  provincÍDl  no  dia  1.*  de  Agosto  ÚBÍSU, 
acompaidiado  do  orçamento  da  r<?ceÈLa  o  des[>oxt  part  oinika  át 
18S5,   Hio  de  Janeiro.  iSU,  1  voL  foUo,  — Dilo. 

Bolíiloríoqueao  111";;  e  Ex.""  Sr-  Dr.  Fnancbco  Diop*  Peti 
Vaseoíicetlos  ^  muito    digno  presldento  d«?sta  |)rúvinrí«t ,   91 
seniôD  aofjassar-lliea  adminisiraçioo  1."  vice-priísidenie  J>t< 
iopes  da  Silva  Viarna,  Ouro  Prelo,  1853,1   vcd.  ítiiio,^  Djl 

Relfitorio  que  à  assemblèa  legisla  li  va  prnvincial  de  MindS  i 
aprescnlou  nasessito  ordinária  do  1854,  o  presidenle  dipciviíicta 
Frand^o  Diogo  Perdra  de  VascoiiceSlo^.  Oura  Prato,  ÍSI4,t 
i/ok  folio*— l)i lo* 

Relalorio  do  presidente  da  provinda  do  Piauby  ao  passar  a  admiiríi- 
traçâo  da  mesma  provinria  aoEx.""  Sn  Ur.  Luii  Carlos  de  Piú^^i 
Tetieira»  1*^  vice- presidente,  em  2  de  Abril  de  1853»  t  vob  Sr 
—  Dilo. 

Biscurso  com  que  o  III*"  0  Ex."*  Sr,  Dr*  José  Aniíinio  Sar>ÍT»» 
presidente  da  provincia  do  S,  Paulo*  abriu  a  asteitibléa  legi^bliva 
provincial,  no  dia  15  de  Fevereiro  de  ÍM5,  S.  PaiiIo«  t855f  l 
vol,  8,-  Documentos,  1  dito. —  Em  o  1.*"  de  Junho  da  18S5, 

Belatorio  com  que  o  Dr.  Joflo  Lins  VíL^ira  Caní^nsâo  dt*  Sir^imLà  m 
tregou  íi  presidência  da  provincia  de  S.  Pedro  do  lUo  tirWe 
Sul  ao  vice-pre^idimte  Dr  Luiz  Alvos  Leite  de  Olivmra  BilÍo,tii 
dia  30  de  Junbo  de  18SS.  Porlo  Alegre,  18S5,  1  voL  4**— Eiaí 
17  de  Agosto  de  1855, 

Fatia  dirif^ida  á  as^embléa  b'gis1aliva  provincial  do  Amazonas  no 
3  dê  Maio  de  1855  em  quo  se  abriti  a  ^ua  4.'  sessão  ordinarii 
pelo  vice-presidente  da  provinda  o  Dr-  Manoel  Gomes  Cofrèa 
Miranda.  Cidade  da  Barra,  1855,  1  voK  8.* — Dilo. 

EKnosieflo  apresentada  pelo  Ex  "*  Sr.  consdheiro  Sebasliiodo  R<fO 
Barros,  presidente  da  provincia  do  Gran  Parú,por  oçc^siào  dep>!t^ 
^r  a  adminisiraiào  da  mesma  provincia  ao  1/  vice*pre6Íd«fiie  o 
Ex,-"  Sr.  Dr.  Ángeío  Cuslodio  Corrêa.  Pará  1855,  1  wl.  *.■— 
Em  14  deSoiembro  de  1855, 

Belatorio  com  que  o  Ex."'^  Sr.  Dr  StíbasliSo  Machtdo  Ntinês^ 
sidente  da  proviocia  do  Eí^pi rito  San lo^  âbrlu  dSBssáo  ordinária 
respectiva  assembléa  legislativa  no  dia  25  de  Maio  do  comnilí 
anuo,  Victoria,  1855,  1  voL  8.'-^  Em  28  d e  Setembro  do  185S« 

BeUtorio  apresentado  ao  Ei.*"  vice-presidente  da  provincia  do  Rad^ 
de  Janeiro^  o  Sr  Dr.  ãosí)  Ricardo  de  Sá  Rego,  pelo  presídeíOlt  ' 


81 

conselheiro  Luiz  AntoDÍo  Barbosa,  por  occasíffo  de  paasar-lhe  a 
administração  da  mesma  provincia.  Nictheroy,  1855,  1  vol.  fo- 
lio.—Em  12  de  Outubro  de  1855. 
Exposição  apresenlada  pelo  Ex.*"*  Sr.  Dr.  João  Maria  de  Moraes, 
4.*  vice-presidente  da  provincia  do  Grão  Pará,  por  occasiào  de 
passar  a  administração  da  mesma  provincia  ao  3.**  vjce-pr&<tidente 
o  Ex."*  Sr.  coronel  Miguel  António  Pinto  Guimarães.  1855,  1 
vol.  8.»—  Em  26  de  Outubro  de  1855, 
Relatório  do  presidente  o  Ex."*  Sr.  conselheiro  Dr.  Vicente  Pires 
da  Motta.^a  abertura  da  2.*  sessão  da  10.'  legislatura  da  assem- 
biéa  legislativa  provincial  no  dia  1.*  de  Julho  de  1855.  Ceará, 
1855,  Ivol.  8. '—Dito. 
Exposição  feita  pelo  Dr.  Francisco  Xavier  Paes  Barreto,  na  quali- 
áade  de  presidente  da  provincia  da  Parahyba  do  Norte,  no  acto 
de  passara  administração  da  provincia  ao  Ex."*  vice-^esidente o 
Dr.  Flávio  Clemente  da  Silva  Freire,  em  16  de  Abril  de  1855. 
Parahyba,  1855,  Ivol.  8. •—Dito. 
Falia  dirigida  à  assembléa  legislativa  provincial  do  Amazonas  no  dia 
3  de  Maio  de  1855,  em  que  se  abriu  a  sua  4.*  sessão  ordinária, 
pelo  vice-presidente  da  provincia  o  Dr.   Manoel  Gomes  Corrêa 
de  Miranda.  Cidade  da  Barra,  1855,  1  vol.  8.»  —  Dito. 
Relatório  que  á  assembléa  legislativa  provincial  de  Minas  Geraes 
apresentou  na  2.*  sessão  ordinária  da  10.*  legislatura  de  1855,  e 
presidente  da  província  Francisco  Diogo  Pereira  de  Vasconcellos. 
Ouro  Preto,  1855, 1  vol.  folio. —  Em  23  de  Novembro  de  1855, 
Relatório  com  que  o  vice-presidente  Luiz  Alves  Leite  de  Oliveira 
Bello  entregou  a  presidência  da  provincia  de  S.  Pedro  do  Rio 
Grande  do  Sul  ao  Ex  "*  Sr.  barão  de  Muritiba.  Porto  Alegre, 
1855,  1  vol.  folio.— Dito. 
Relatório  do  presidente  da  provincia  de  S.  Pedro  do  Rio  Grande  d» 
Sul,  barão  de  Muritiba,  na  abertura  óa  assembléa  legislativa  pro- 
vincial em  o  l.*de  Outubro  de  1855.  Porto   Alegre,  1855,1 
vol.  folio.  — Dito. 
Falia  que  o  III."*  e  Ex.**  Sr.  Dr.  António  Bernardo  de  Passos,  pre- 
sidente da  província  do  Rio  Grande  do  Norte,  dirigiu  á  assembléa 
legislativa  provincial,  no  acto  da  abertura  de  sua  sessão  ordinária 
em  o  l.""  de  Julho  de  1855.  Pernambuco,  1855,  1  vol.  8.* — ^Dito. 
Relatório  apresentado  á  assembléa  legislativa  provincial  de  Sergipe , 
na  abertura  de  sua  sessão  ordinária  no  dia  l.""  de  Março  de  1855, 
pek)  Ex.**  presidente  da  provincia  Dr.  Ignacio  Joaquim  Barboza. 
Sergipe,  1855,  1  vol.  8.»—  Em  7  de  Dezembro  de  1855. 
Falia  dirigida  á  assembléa  legislativa  da  provincia  das  Alagoas  em 
1855,  pelo  Ex.**  presidente  da  mesma  provincia,  o  Dr.  António 
Coelbo  de  Sá  e  Albuquerque.  Recife,  1855,  1  vol.  folio  pequeno. 
ZTin  sup.  11 


It 

o  £^v"*  Si\  Ministro  d&*  íf^gocm  Ei^írangúrm* 

Narrolivaof  ttieUniled  States  explorii^gèxpaditiõo,  durbj;^  lhe  ymu 
1838, 1H39,  184a.  \U\.  1B42,  tíõder  lhe  eommainr  ofOiiirles 
Wiikes.  Píiiladolpliia,  1H44  ol854,  15  vok  em  fulio-— Eia  t7 
de  Agosto  de  1855. 

Soekdade  doM  SchncifJUh  e  Arits  de  Bataria, 

Tefhindelingon  vsn    hei  Batflvíaasrh  Genoolschsp  ?a()  Kufl5têfieii 

Wfllensehíippen.   Balavin,  18S5,  t  vô!.  4.* 
TijHscUrifi  voor  Incíisrbe  Taal,  Land  ea  VolkenkuntJtj*  eia  fi^Utia, 

1852  â  1854,  a  vok  8,'^  Em  25  de  Outubro  de  li)S5, 

Academia  Impariítl  das  Snmaax  de  S,  Ptttrshnrgú. 

Bulletin  dõ  h  Cb^^  Histórico— Pliilologi(|uõ  il@  i'Acadómie  im* 
perlnle  des  Sciencôfí  de  Snint  Peiersboufg,  S  vols»  4.* — Em  7 
de  Dezembro  de  Ifiãâ. 

Sociedade  Áua;ilimiora  da  Ágr*tcutini*a^  Cúmmêfcio  «  Jriu  dm 
Prm>ÍncÍa  dt  S.  Pauto, 

O  Induslriul  PauUstíino,  jornal  da  Sociedade  Auiilíidom  da  Agri- 
cultura, Commercioe  Aries  da  provifjciíi  deS,  Paulo,  S.  Paub, 
1854,  2  exemplares »  1  vol  (o."'  1  a  6).  — Em  4  de  M^ia  áú 
1855, 

O  S*\  Jameít  C.  Fíetrfirr. 

Htitorj,  conditiou  and  prri^fiectã  ôf  lho  IikdÍ3QTríb(!$of  th«  Unilal 

Suies,  lllustrated  by  B.    I{,  ^chvolorart.    Pbibddpbi»,  1851, 

4  vols.  folio*—  Em  6  de  Julho  díi  1855, 
Typesof  mankind,  by  NoUan  Giiddort,  1  voi  — Dtlo. 
Rtspurt  oí  tbe  superintendant  ofthe  Unitfsd  Statei  aia&tsurrey  185t, 

IS52,  1853.    Washiii-íton,  1855  â  1854,  3  vok  à/'— Oito- 
Pícl^irial,  historj  of  lhe  wears  of  lho  Uuiled  States  by  John  Lewís 

Thomson.  Philadelphiaj  1854,  1  voL  8."  grandií. —  Diio. 
VStafabury^s  oipeditlon  to  tbe  g real  s&lt  Lake.  Phijaddlpbíi,  tSSà, 

3  vols.  8/— Dito. 
Sutistícal  view of  ibe  Uaíted  States.  Washiuglou,  185Ô,  1  lol,  8,* 

^Dito, 
The  Mississipi  aod  Ohío  rbers  conta iníngpt&ns  for  the  [iroiectioii  «f 

the  Doiu  frofii  inufidalioiip  etc, ;  by  Charies  Ellet*  Fhiladtlpltb» 

1853.— J)iia 


88 

GaUlogue  o(  Booka  bdlonging  to  tha  LogaoiaQ  Library,  Marcantila 

Library  catalogue  in  New- York.  New-York,  1850, 2  vols.  8.*— 

Dito. 
Beport  OD  the  Geology  of  lhe  Lake  superior  Land  district,  by  J.  W. 

Fosler  and  J.  D.  Whiiney.  Washington,  1851,  1  vol.  8.'— Dito. 
Report  of  the  commissioner  of  Palents,  1850  a  1853,  6  vols.8.*— 

Dito.  • 

Colieclions  of  the  New- York  historical  society.  second  series.  New- 

York,  1841,  1  vol.  8.*— Dito. 

O  Sr.  Jndrei  Lamas, 

Cotnpílaeionde  doeu mientos relativos  a  sucessos  dei  Rio  dela  Plata 
desde  1806.  Montevideo,  1851,  1  vol.  8.*  grande.  — Em  7  de 
Dezembro  de  1855. 

Protocolo  de  conferencia  tenida  entre  los  Ex."*'  gobernadores  de 
Buenus-Ayres,  Entre-Rios  y  Corrientes  y  el  plenipotenciário  de  la 
província  de  Santa  Fé  en  Palermo  da  S.  Benito,  para  el  nombra- 
iniento  de  un  encargado  de  ladireccion  de  las  relaciones  exteriores 
de  la  confederacion.  Buenos-Ayres,  1852,  1  vol.  8.*" — Dito. 

Método  de  lectura  gradual  por  Domingo  F.  Sarmiento.  Santiago, 
1850,  1  vol.  em  12.— Dito. 

Estúdios  históricos,  politicosy  sociales  sobre  el  Rio  do  la  Plata»  por 
D.  Alejandro  Magarinos  Cervantes.  Paris,  1854,  1  vol.  8.  <»  pe- 
queno.— Dito. 

Comentários  de  la  constitucion  de  la  confederacion  Arjentina,  con 
numerosos  documentos  illustrativos  dei  texto  por  D.  F.  Sarmien- 
to. Santiago  de  Chile,  1853, 1  vol.  8.*—  Dita 

Observaciones  con  motivo  de  los  articules  suscritos  por  J.  B.  A.  en 
el  Mercúrio  de  Valparaizo  con  el  titulo  de  cuestions  Americanas, 
y  que  aon  un  examen  de  la  constitucion  dei  Estadas  de  Buenos 
Ayres,  por  Mariano  E.  de  Sarratea.  Santiago  de  Chile,  1854, 1 
Yol.  8. •—Dito. 

BiograGa  dei  brígadier  argentino  D.  Miguel  Estanislao  Soler,  escrita 
por  el  tenienta-ooronel  Pedro  Lacasa.  Buenos-Ayres,  1854,1 
voL  8.«—  Dito. 

Bases  y  puntos  de  partida  para  la  orsanisacion  politica  de  la  Repu- 
blica Argentina,  derivados  de  la  ley  que  preside  ai  desarrollo  de 
la  civilisacion  en  la  America  dei  Sud,  y  dei  tratado  litoral  de  4  de 
Enero  de  1831  por  Juan  BautistaAlberdi,  2."  edicion  correjida 
y  aumentada.    Valparaizo,  1852,  i  vol.  8.»—  Dito. 

Instrueeton  para  los  maestros  de  ascoela,  para  ensenar  a  leer  por  el 
método  gradual  de  lectura,  por  Domingo  F.  Sarmiento.  Santiago, 
1849,1  vol.  i2.— Dita 


tft 

indres  Lamas  »  sus  compatrlotasu  Eia  dôlamirOt  !S55, 

piares,  1  voL  8,-—  Dita. 
D.  F.  SarmientQi  deputado  ai  congresso  nacional  por  la  provineit 

da  San  Juâr»,  ti  jenernt  P.  Juflo  Josédt»  L'n|uí7ap   vattoedor  60 

Câseroa  SanUago  de  Cbilet  18^2,  1  vot.  4'"— Diio. 
San  Jiian,  $u$  Immbreâ  y  síjs  neios  en  h  r^jeneracbn  trgenUna, 
i     Sinúaííodo  Oiilí^,  1852. 1  vol  4."—  Dito. 
Convincum  de  Snn  Niralns  dá  los  Arfoyoã,  pôr  F-  !?amiíenKK  Sif»- 

liago  de  Chile^  1S52, 1  vol  4.*—  Dilo. 
Carias  sobre  la  prensa  y  lapoliiíca  míUtanleen  b  R^piibUai  Xim*- 

úm^  porJuan  B.  Alberdi.  Vulprniifo,  I8.i3,  1  voL  12, —  Drto. 
ElTraladQ  de  Pa^  entre  el  directur  provisório  do  la  conlederaebti 

Arj^enlind  y  d  gobtemo  de  líuenos-Ayre* ,  en  9  d«  Umio  d« 

1853.  Buenos-Ayres,  1B53,  1  ¥oL  a- — Dita 
Docum«ititos  uficíales  relativos  a  la  celebradi}ii  dei  tratado  de  poide 

9  de  Marzode  1853  entre  e!  gobinrnodt)  b  provinda  de  Bu^nfl»- 

Avres  y  eí  director  provisório  de  las  iret^e  províncias  reunidas  m 

cíiiigraiiú  enS;intoFé.  Buenos  Ayres,  1653,  1  vol.  4." — Dito* 

Dbcussion  de  tus  lilulos  de!  gobiernode  Ghilf*,  a  las  tierrai  dal  ei- 
trerbo  deMagnlhin^  por  íA  DmUor  D.  Dalcnacio  V€le£SarÃl 
Buenos-Ayres,  1853, 1  vol.  4,*^ — Dito, 

\  iaj«s  en  Europa,  Africa  y  America  por  Domingo  F.  Strrmieoia 
SanliagQ  de  Chile,  1840,  S  vok-^Díta. 


0  Sr.  ConsHhúrú  Joh  Pmdo  4$  Figurirâít  Xalftuv  d^Ârmuj^, 

E^gimonio  dai^  mercês  e  doeretos  ralatívú».  Bio  de  Janeiro^  18$fi, 

1  vol.  4.'*— Em  23  de  Novembro  de  1855. 

Collec^ào  chfonologifu.sysiernatica  delog'slflçaod«  hmmh  no  Im* 
poriu  BriiziJiensa,  porlose  F^uto  de  Figueirèa  Nabuco  d' Araújo. 
Rio  do  Janeiro,  1830,  183í,    2  vofs.  8,-— nHo. 

Legi^l  a  çâo  H  ra  ;e  i  li  en  se  o  11  rol  I  er  ção  q  li  rono  I  ogi  ca  da  b  I  ai  4,  d  eerelQS» 
resoluções  de  consultas,  ele,  do  Impeíio  do  Braiil,  úi*<á^  o  anno 
de  1808  aié  1831  indusive,  colligidaf  pelo  ronsellieiro  lu^  P«ula 
do  Figiieiróa  Nabuco  d* Araújo*  Bio  de  Janeiro,  1844,  1  voÍ  ft.- 
(o  7.«)  —  Dilo, 

Appendix  á  culli^cvâo  chronologieo — systematíeAda  legiflã^Jo  dt  fi- 
lenda  do  Império  Brazileiro,  2  vds.  8." — Em  7  d«  Desomtiro  úú 
1855, 

Discurso  com  que  o  III**  e  Ix."*  Sr,  Dr.  José  Thomaz  Hibsco  d* 
Araújo,  presidenie  da  provineia  do  S.  Paulo,  abriu  a  tfMittUèi 
Jegíilativa  provincial  no  dia  1.«  de  Maio  de  1851  S,  Pitib  « 
1W2,  1  voL  8.' ;  Dorumenlos.  t  vol.  8--— Dito, 


85 

O  Ex.'^  Sr.  José  da  Silva  Ribeiro. 

Voyaffe  à  la  partie  orientale  de  la  terre  ferme,  dans  rAmérique  Me- 
ridionaie,  fait  pendant  les  années  1801,  1802,  1803  et  1804, 
avec  une  carte  géograpbíque,  et  les  plans  de  la  vílle  capitale  et  des 
ports  princípaux,  par  F.  Depons.  Paris,  1806,  3  vols.  8.* —  Em 
4  de  Maio  de  1855. 

Vojageen  Portugal  alravers  les  provinces  d'Entre-Douro  et  Minho» 
de  Beira,  d*£siremadure  et  d'Alenieju,  dans  les  années  1789  et 
1790,  tradtiitde  TAnglais  de  Jacques  Murphy.  Ornée  de  planches. 
Paris,  1797,  2  vols.  8.»— Dito. 

Echo  da  camará  dos  deputados.  Rio  de  Janeiro,  1832, 1  vol.  folio. 
—  Dito. 

Aurora  Fluminense,  jornal  politico  e  litterario.  Rio  de  Janeiro,  1827 
a  1834,  10  vols.  folio.—  Dito. 

O  Sr.  João  Diogo  Sturz. 

Nouvelle  geographíe  Méthodique  par  MM.  Achille  Meissas  et  Aug, 
Micbelot,  suivie  d'un  petit  traíté  sur  la  construclion  des  cartes  par 
M.  Charle.  Ouvrage  autorisé  par  Tuniversité,  Trentième  édition. 
Paris,  1850, 1  vol.  8.*—  Em  28  de  Setembro  de  1855. 

Zeilschrift  der  Deutschen  geologíschen  Geselischaft.  Berlin,  1854. 
(Agosto,  Setembro  e  Outubro  de  1854),  1  vol.  8.* —  Dito. 

Fabula  Geographica  Europae  ad  slatum  (juo  sub  finem  anni  400 
posl  Christ :  nat.  fiiit,  in  usum  juventutis  erudiendae  descri pta  a 
C.  Kruse.  1  vol.  folio  oblongo.—  Em  26  de  Outubro  de  1855. 

Nosiilogia  Histórica  ex  monumentis  Medii  aevi  lecta  animadversioni- 
bus  historieis  ac  medicis  illustrata.  Edidit  D.  Cliristian  Gothfr. 
Gruner.   Jenae,  1795, 1  vol.  8.» —  Em  7  de  Dezembro  de  1855. 

0  Sr.    Conselheiro  Joaquim  Maria  Nascentes  de  Azambuja, 

Deserípçâo  da  co^ta  do  Brazil,  da  Ponta  de  S.  Rento  a  Pitimbú,  apre- 
sentada por  Manoel  António  Vital  de  Oliveira.  Pernambuco, 
1855,  2  exemplares,  1  vol.  8.*' —  Em  15  de  Junho  de  1855. 

Esposicion  que  hace  el  general  Alvear,  para  contestar  ai  mensage  dei 
gobiernodel4  deSeiiembre  de  1827.  Buenos-Ayres,  1827,  1 
vol.  8.«  —  Em  20  de  Julho  de  1855. 

Mensagem  que  em  1827  apresentou  o  poder  executivo  de  Buenos- 
Ayres  á  saln  dos  representantes ,  censurando  nào  ter  havido  re- 
sultado algum  satisfatório  para  a  republica  da  campanha,  etc., 
avulso. 

Reise  nach  Rrasilien,  tod  Dt.  Hermann  Rurmaister.  Berlio,  1853» 

1  vol.  8.»—  Em  20  de  Julho  de  1855. 


o  Sr,   Jimifuim  Norbirto  ãt  Smta  Síivã. 

Beifttorio  apr^senlado  ao  E%."*  více-presrdenie  àa  pmvífieia_  âo  Ké 
de  Jíiní^iro,  o  Sr.  Dr  JD?é  Ricarrío  ífe  Sá  Rego  peín  preâidaoie  Hj 
conselheiro  Luiz  Anlonio  Barbosa,  por  occasiíío  «Íb  fiassiir-lbe  ai 
admiiiistraçnoda  miasma  provmcia*  Niclheroyt  1855,  I  vot  falb, 
^Erri  17  de  Afíoslo  dfi  Í855> 

Reinlorio  do  virs-preíidente  da  orovincia  do  Riô  de  Janeiro  o  Dr, 
José  Ricardo  de  Sá  Rcro  nn  aberliím  da  2/  seísSo  d:i  IO.*  legi^ 
laiura  da  as^embléa  It^gisiativa  [inovincial ,  acíirnjwriliJtdo  da  ur* 
çamento  da  reci^iUi  e  despoja  pra  o  anno  de  1856.  Jííctberoj , 
1855,1  voL  4/'— Dilo. 

Balanço  da  receita  &  de?pe7a  da  provinda  do  Rio  de  Jm^^íro  iio 
exercício  de  I85|.    Riodí*  Janeiro^  Í855,  l  çqI  4.*— Uim, 

Menuiria  histórica  o  documeiUada  dasaidôasde  rndm  da  nruvincia 
do  Rio  de  Jemelru ,  composta  por  Joaquim  Norberlo  de  SoyZJ 
Silva,  RiodclaneJro,  1855,  I  vol  8  •  — Em  2fi  dô  Ouuibra  de 
1855. 

O  iír*  Augusto  Lecérger^  presidi nl§  da  prmUttriã  dê  Mnltfí  GroêSi>. 

Relatório  do  presidente  di  província  de  lilatto  (■ro^iSD «  ^tiftiibct 
Leverpr.  Cuyabá,  Í8õ0  a  18&4«  ã  vuL  S,""—  Em  4  á%  maio  de 
i855. 

CoHeeção  das  lais  provinciaes  de  Malto  Grosso.  Rioecionadas  «pro- 
mulgadas nos  annu3dél850  a  1854.  Cnvabã,  18S0  a  1SSÍ,  5 

i/oi.a— Dito. 


O  Sk  Roh^rt^  CmUtêiroit  di  Mi  tio  t  vire-pftítidmU  du  proi^incim  dãã 

Átagóas. 

CfiWecífiQ  das  J eis  da  província  das  Alagoas*  promõlpdai^  m>  ifiDoife 
1S55,  Maca>á  lS5g,  2  examplartíã,  1  vot,  8/  —  £ui  M  da  Ou- 
lubro  de  1S5S. 

Falia  dirigida  á  as.S€mb1éa  le^islaiiva  dà  província  das  Alag^vs»  çnt 
185S,  pelo  E%.^"  prej^idefíta  da  mesma  província,  o  Dr.  Afilonio 
Coellio  do  Sá  e  Albuquerqiiâ.  Ueeife,  íHBB^à  eiemplêtm. — Otlo. 

O  Sn  Glusifm  Fiorrlli. 

Annali  diNumiFímatica  publícatê  da  Giuseppe  FiorelU.  Napolír  1851 

â  18Sa,  2  voIk  Qm  4.^  —  Em  7  de  oiHubm  da  18^. 
ítlonumenií  Cumani»  I  vul.  id«ni.--DiIo. 


87 

O  Sr,  André  Curcino  tíinjamim. 

Relatório  da  ihosouraría  provincial  da  Bahia»  apresentado  em  f  85S« 
Bahia,  1855, 1  vuL  folio  peq.  —  £in  4  de  Maio  de  1835. 

índice  on  repertório  geral  das  leis  da  assombléa  legislativa  provincial 
do  Grão  Pará,  (1838  a  1853,)  por  André  Curcino  Benjamim. 
Pará,  1854,  1  voL  — Dito: 

O  Sr,  Hinriqtu  dê  Beaur^pairê  Rohan, 

O  campo  do  Ypiranga,  por  Henrique  de  Beaurepaire  Rohan.  Cori- 

tyba,  1855,  1  vol. 
Viagem  ao  campo  de  Palma,  Uenriquo  de  Beaurepaire  Rohan.  1  vol. 

O  Sr,  Ignacio  Accioli  de  Cerqueira  e  SUca, 

Ensaio  corographico  do  império  do  Brazil  oíTerecido  e  consagrado  a 
S.  M.  o  Imperador  o  Sr.  D.  Pedro  II,  por  Alexandre  Josó  de 
Mello  Moraes  e  Ignacio  Accioli  de  Cerqueira  e  Silva.  Rio  de  Ja- 
neiro, 1854, 1  vul.  12.%  8  exemplares  —Em  4  de  Maio  de  1855. 

O  Sr.  conselheiro  Zacarias  de  Góes  e   Vasconcellos,  presidente  da 
provinda  do  Paraná, 

Relatório  do  presidente  da  provincia  do  Paraná  o  conselheiro  Zacarias 
de  GiKiS  e  Vasconcellos,  na  abertura  da  assembléa  legislativa  pro- 
vincial, em  15  de  Julho  de  1854  Corityba,  1834,  2  vols.  folio, 
'  2  exemplares. — Dito. 

O  Sr,  Conselheiro  Herculano  Ferreira  Penna,  presidente  da 
provincia  do  Amazonas, 

Falia  dirigida  á  assembléa  legislativa  provincial  do  Ama7X)nas,  no 
dia  1.*  de  Agosto  de  1854,  em  que  se  abriu  a  sua  3.*  sessSo 
ordinária,  pelo  presidente  da  provincia  o  conselheiro  Herculano 
Ferreira  Penna.  Barra  do  Rio  Negro,  1854,  1  vol.  S. — Dilo. 

O  Sr.  Presidente  da  provincia  das  Alagoas, 

Collecçao  de  leis  da  provincia  das  Alagoas  promulgadas  no  anno  de 
1854.  Maceyó,  1854,  1  vol.  8.*— Dito. 

O  Sr.  Ladislau  dos  Santos  Titara, 

Memorias  do  grande  exercito  alliado  libertador  do  Sul  d'America, 
por  Ladislau  doa  Santot  Titara.  Rio  Grande  do  Sul,  1853, 1  vol, 
8.-— Dílo. 


88 


O  Sr,  Ferdinãnd  Denii, 

hm  SamantainíiíJe  Naplouse,  Epi^ode  lYun  peloríiiíigo  Hans  \èf  IÍ«tíf 
sainU,  pir  M.  TAbbó  J.  J,  L.  Burgés,  Paris,  1855,  I  vol  «  •— 
EmiSdeMafode  ISSS. 

O  Sr,  Ú.  Pedro  dt  Ãngtth. 

De  \^  navigraion  de  1'Amfiíono.  RefK^nso  ala  incmciífe  de  M.  Maury,^ 
ofílcier  de  lí>  marine  des  Eial«  Unis,  pr  M.  de  Angôliv  Munte 
vidéo,  1854,  l  vul.  8/— Em  1  du  Jutilio  de  I8S5. 

O  Jjv  Dr.  Eduardo  Firrmra  França, 

Investig&ções  de  fsychología ,  fielo  Dr*  Eduardo  Ferreira  Frsfiçt. 
Bahia,  185'i,  2vol.  S./^— Dito. 

O  Sr.  Dr,  Âítofpho  Manoel  Vicíõrio  da  Coilã, 

Aponta meiUo*^  sobre  a  cholura  morbus  epidemica  na  sua  tnriisioeai'' 
Pnriug.il,  pL'lo  fanecido  Dr.  Eniidio  Mani>6l  Victofio  da  CoAi* 
Coordenados  por  sen  filbo  o  Df.  Adoíplio  Manoel  Vicioria  da 
Gosta»  com  ym  proemio  em  que  se  trata  amplamente  o  género  d*€8ta 
palavra.  Ria  de  Janeiro,  i  voK  8.'— Ecn  !20  d6  Julho  d^  18SS. 

O  Sr,  consÉÍhtiro  António  Pimenta  Bu^nt», 

Discurso  do  Sr.  Pimenta  Bueno  na  sessão  do  senado  de  26  dê  luiit 
de  18S3,  relativarnenltí  aos  limiles  com  n  Piiraguay,  discutindo 
a  fixa^àú  das  forças  de  mar.  Eío  de  Janeiro,  iSS^t  t  esdinpliras* 

1  folhtítoem  Ij2*— Dito. 

O  Sr.  Francisro  Joné  Borgfs. 

Voyage  piltoresque  dans  les  deus  AmôriqyeSj  par  Alcíd«  d*Orljigiiy. 
Pada.  1841,  1  voL  i.**— Dil0. 

O  Sr,  />n  José  PrãSíd€3  Pereira  Pachéro, 

O  mil  cultivaLÍor  insiruido  em  lodo  o  manejo  rural  e  aíTcmroodaíô  i 
qualquer  clinia.  Bio  de  Janeiro,  1855,  I  voL  S.** — DiUi- 

O  Sr,  coHtgú  0í\  Jodqíttm  Catíana  Femamies  Pinheiro* 

Job,  traduzido  em  verso»  por  José  Etoy  Ouoni,  procedido  1.*  de  un 
discurso  sobre  a  poesia  em  geral  e  «m  particular  no  Erafil  pde 


89 

cónego  Joaquim  C.  Fernandes  Pinheiro:  2.*  de  uma  nolicia  sobre 
a  vida  e  poesias  do  iraductor  pelo  Sr.  Thoophilo  Benedicto  Ouoni: 
3."  d'um  prefacio  extrahido  da  versão  da  Biblia,  por  De  Genoude. 
Rio  de  Janeiro,  1852,  1  vol.  8.* — Em  17  do  Agosto  de  1855. 

O  Sr.  Theophilo  Ribeiro  de  Rezende. 

Leis,  decretos  e  regulamentos  da  provincia  do  Paraná,  1855.  Cori- 
tyba,  1855,  2  exemplares,  1  vol.  4." — Dito. 

O  Sr.  Dr.  João  Francisco  Lisboa. 

Jornal  deTimon.  Maranhão,  1853,  n.*^  6  a  10. — Em  14  de  Setembro 
de  1855. 

O  Sr,  Manoel  Gomes  Corrêa  de  Miranda. 

A  Estrella  do  Amazonas,  n.*^  100  a  113,  118  e  120  a  125  do  anno 
de  1855.— Em  26  de  Outubro  de  1855. 

O  Sr.  Franc  de  Paulicea  Marques  de  Carvalho. 

O  Mensageiro,  jornal  industrial,  noticioso  e  lítterario  (impresso  na 
cidade  do  Desterro)  1855,  os  n.«*  1  a  3. — Em  12  de  Outubro 
de  1855. 

O  Sr.  cónego  Joaquim  Pinto  de  Campos. 

Sermão  recitado  na  matriz  do  Niclheroy  no  dia  7  do  Setembro  pró- 
ximo findo,  pelo  cónego  Joaquim  Pinto  de  Campos,  1855. — Cm 
26  de  Outubro  do  1855. 

O  Sr.  Dr.  José  Vieira  Rodrigues  de  Carvalho  e  Silca. 

As  três  épocas  de  uma  presidência ,  drama  em  três  actos,  pelo  Dr. 
José  Vieira  Rodrigues  de  Carvalho  e  Silva.  Sergipe,  1855,  1  vol. 
em  8.'— Dito. 

O  Sr.  António  Alvares  Pereira  Coruja. 

Lições  da  historia  do  Brazil  adaptadas  â  leitura  das  escolas,  por  An- 
tónio Alvares  Pereira  Coruja.  Rio  de  Janeiro  1855, 1  vol.  em  12. 
— ^Em  9  de  Novembro  de  1855. 

O  Sr,  Adadus  Calpe. 

La  novella  actual  breves  consideraciones  sobre  la  litteratura  contem^ 
poranea,  por  Adadus  Calpe,  1  vol.— Dito. 

xviii  ifp.  12 


to 

o  Sí%  Út\  Cattano  Aha  di  Súutã  FiigUfirMM. 

C&lhecHma  brasílico  dá  doutrina  chrbtSa  com  o  ceremcmbl  ém 
sacraínenlos  ^  mai»  íiclos  paror liiaeí,  composto  por  padres  JotiUa 
(lii  caniponbia  de  Jesus,  etc«  EmanrJado  tiV^^ta  %*  ími^ressào  p«1«i 
padre  Bendolomeu  de  Leam  da  mosm^  compaidiia.  Lisboa,  1(^86» 
1  vol  env  12.— Diío- 

O  Sr.  ManQei  Ant&niú  Vital  d'OUrsÍni, 

Descri  peão  da  cosin  do  Braiíl  de  Pitimbu  a  S.  Benlo,  e  da  lodaa  m 
barras^  portos  e  rios  do  litoral  dfi  província  de  rêrnambuco,  se- 
guida de  um  rolíííro  para  se  demandarem  as  mosm-is  baiTM  afom- 
pariliando  a  planta  fremida  cosia»  polo  i,*  lenenlo  d'*rmada  Manoel 
António  Vital  d'01iveira,  Uecife»  1855,  1  vol.  8/— Em  23  di, 
Novembro  de  1855. 

O  Sr  ígnacio  Manod  Àlvarn d' Autedo^ 

Poesias  de  Manoel  António  Alvares  do  Azâ^ado.  Rio  do  lan*ifO, 
1853,  i  vol.  8,*— Diio. 

O    Sr^   J&ãf  Efoy  Ptssúã. 
Revista  Mariltma  Brasileira.  (Cotlcc^âo)  1851a  i855,^Diía. 

O  Sr,  Francisco  Adoipfw  de  Vãmfutgm. 

Hisioria  geral  do  Brazil,   por  Francisco  Adolpho  dâ  l^amhagen* ' 
Madrid  1854,  1.*  vol,  8,"  ^ands— Bítò. 

Obra  que  eouoorrcn  aq*  premioi  propoUot  por  9,   M*  IiDperi«| 
e  pela  loifltuto  Híitoríflo. 

Geograpbia  Itislarica  physicn  o  poUtii-a  do  Brazil,  por  Franeisea 
Kunes  de  Souza.— Em  U  ée  Solcmbro  do  IÍS55. 

Trabalho   ^fferettiào  para  icrvir  de    ti  talo    d«  admiti  i^  d«  »«ci# 
na  tàrtsím  do  artigo  €.>  dõ«  éttatuto*^ 

Refletões  .^bro  as  primeiras  ópocas  da  historia  do  Braiil  em  ííeral  • 
sobre  a  innituiçào  das  capitanias  em  particular  pelo  Dr,  Caelaiio 
A)v«s  do  Souza  Fitgueiras  —Em  12  de  Otitubro  di  1851. 


91 
floeiot  admíttidot  no  aimo  de  1896. 

Correspondentes, 

Os  Srs.  —  Cónego  Joaquim  Pinlode  Campos. — Em  31  do  Agosto. 
»  Conselheiro  Luiz  Pedreira  do  CouUo  Ferraz. — Em  14  da 

Selembro. 
»  João  Francisco  Lisboa. — Dilo. 

•  Dr.  Caetano  Alves  de  Souza  Filgueiras.— Etn  26  de  Ou- 

tubro. 


iMIlgiti 


IIVDICE 

DOS  ARTIGOS  CONTIDOS  NO  TOMO  XVllL 


N/  17. 

AuAzoKAS. — Memoria  escrípta  em  desenvolvimento  do  progranima 
dado  por  S.  M.  1.  ao  sócio  effeclivo  o  Sr.  Dr.  A.  Gonçalves 
Dias rag.         5 

Ensaio  sobre  os  Jesuilas.  —  Memoria  escrípta  pelo  Sr.  Cónego 
Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes  Pinheiro 67 

N.^  18. 

Foral  da  Capitania  da  Bahia  e  cidade  de  S.  Salvador.  (Ms.  offerc-  j 

eido  ao  Instituto  \yoT  S.  M,  o  Imperador) 159  •      *? 

riE(;iMFNTO  dado  a  António  Cardoso  de  Barros,  cavallciro  fidalgo  da 
casa  d'Elrei,  como  provedor-mór  da  fazenda  que  primeiro  foi  ao 
Brazil.  (Ms.  olíerecido  por  S.  M.  o  Imperador) 166 

DescripçÃo  da  viagem  feita  desde  a  cidade  da  Barra  do  Bio  Negro 
pelo  rio  do  mesmo  nome,  por  Hilário  Maximiano  Antunes  (iur- 
jão.  (Ms.  offerccido  pelo  Kx.""  Sr.  ministro  do  imi)erio,  Luiz 
Pedreira  do  Coulto  Ferraz) 177 

CÓPIA  fiel  do  titulo  de  Taques  Pompeu ,  que  fez  Pedro  Taques  de 
Almeida  Paes  Leme  pelo  anno  de  1763,  e  que  se  acha  em  poder  • 

de  João  Pereira  Kamos  d' Azeredo  Coutinho.  (Ms.  offerccido  pelo  ! 

Sr.  António  da  Costa  Pinto  Silva) 190  j 

Epitome  da  erecção  e  creação  do  novo  bispado  de  S.  Paulo ,  km  que  i 

impetrou  esta  graça,  ]K)ntifíce  que  a  concedeu,  seu  ]Hiineiro  j 

bispo  e  cónegos  com  que  se  fundou  a  calhedral.  (Ms.  olferccido  ♦ 

jKílo  mesmo  senlior) 226 

S.  João  de  Ypauema.  Descripção  do  morro  do  mineral  de  ferro , 
sua  riqueza,  methodo  usado  na  antiga  fabrica,  seus  defeitos. 
(Ms.  offerecido  pelo  mesmo  senhor) 235 

CÓPIA  da  parte  que  deu  o  capitão  de  granadeiros  Cândido  Xavier 
de  Almeida  e  Souza,  sobre  o  descobrimento  do  rio  tgurehy.  (Ms. 
oíTerecido  pelo  mesmo  senhor) 2UU 

Descoderta  dos  campos  de  Guarapuava  por  António  Botelho  de 
Sampaio.  (Ms.  oíTerecido  pelo  mesmo  senhor) 252 

CÓPIA  da  carta  do  commandantc  da  praça  de  Iguatemy,  em  que  dá 
parte  ao  governador  e  capitão-general  D.  Luiz  António  de  Souza 
Botelho  e  Mourão,  do  descobrimento  que  fez  dos  fundamentos 
de  uma  grande  povoação ,  que  se  suppõe  ser  as  ruinas  da  antiga 
cidade  de  UcaJ 277 


04 

N/  19. 

Memorias  sobre  o  descobrimento  do  Brazil.  —  Algumas  conside- 
rações, por  J.  J.  Machado  de  Oliveira,  membro  premiado  do 
Instituto  Histórico  e  Geographico 279 

Reflexões  acerca  da  Memoria  do  illustre  membro  o  Sr.  Joacrnim 
Norberto  de  Souza  Silva,  por  A.  GonçaWes  Dias,  sócio  effectivo 
do  Instituto ,  lidas  na  sessão  de  29  de  Maio  de  185^ 289 

—  Notas 329 

Refutação  ás  Reflexões  do  digno  membro  o  Sr.  A.  Gonçalves  Dias, 
por  J.  Norberto  de  Souza  Silva,  sodo  effectivo  do  instituto,  lida 
nas  sessões  de  15  de  Setembro ,  13  de  Outubro,  2U  de  Novembro 
e  7  de  Dezembro  de  i85/i ,  na  augusta  presença  de  S.  M.  I.  335 

— .  Notos 397 

N/20. 

Officio  do  governador  de  Cabo  Frio,  Constantino  de  Meneiau, 
datado  do  l\io  de  Janeiro  a  i  de  Outubro  de  1625  (offerecido 
ao  Instituto  por  S,  M.  I.) ,.    407 

Apontamentos  sobre  a  vida  do  Tndío  Guido  Pokrane,  e  sobre  o 
Francez  Gmdo  Marlière  (offerecido  pelo  sodo  o  Ex."^  Sr.  Conse- 
lheiro Luiz  Pedreira  do  (>)utto  Ferraz).   .  , AIO 

Addi  TA  MENTO  aos  Apontamcntos  para  a  biogrq>hia  do  Índio  Guido 
Pokrane .   .    .    iil6 

Actas  das  sessões  de  1855 /  .   .   .   .     kiS 

Discurso  proferido  em  nome  do  Instituto  Histórico  e  Geographico 
pelo  Sr.  Joaquim  Norberto  de  Souza  Silva,  aodar-se  á sepultura 
o  cadáver  do  socío  honorário  o  Sr.  Manoel  Alves  Branco,  Vis- 
conde de  Cnratrollas 456 

Discurso  proferido  vm  nomo  do  Instituto,  pelo  mesmo  senhor,  por 
occasião  de  dar-se  á  sepultura  o  cadáver  do  Vice-Presidcnte  o 
Sr.  Aureliano  do  Souza  c  Oliveira  Coutinho,  Visconde  de  Sepeliba.     /i58 

SLPPLEMENTO. 

Sessão  publica  anniversaria  do  Instituto  Histórico  no  dia  15 
de  Dezembro  de  1855. 

Discurso  do  Presidente  o  Ex."'  Sr.  Visconde  de  Sapucahy.  ...  i 
Relatório  do  1."  Secretario  o  Dr.  Joaquim  Manoel  de  Macedo.  .  3 
Discurso  do  Orador  o  Sr.  Manoel  de  Araújo  Porto-Alegre.    ...       33 

Appendice  ao  relatório  do  Secretario. 

Offertas  feitas  no  anno  de  1855 76 

Obra  que  concorreu  aos  prémios  propostos  por  S.  M.  I.  e  pelo  Ins- 
tituto Histórico 90 

Trabalho  offerecido  para  servir  de  titulos  de  admissão  de  sócio, 

na  forma  do  art.  6."  dos  Estatutos 90 

Sócios^ admittidos  no  anno  de  1855 91 


Rio  de  Janeiro,  1855.  Typ.  Univei-Rl  deLAEMMERT,  r.  d««  Invalidof,  61  B. 


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