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A 

J 


>  * 


m\m  mwMki 

DO 

INSTITUTO  HISTÓRICO 

GEOGRAPHIGO  E  ETHi\OGRAPHlCO  DO  BRASIL. 

FCNDADO   >0   KIO   DE  JANEIBO 
DEBAIXO  DA  IMMEDiATA  PROTECÇÃO  DE  S.  U.  I. 


rrOliMO  IKLIKIK. 


IliiC  fficit^  ut  longos  durini  bcnc  gesta  per  annoSf 
Et  jwssint  sei'à  poster itatc  frui. 


RIO    DE    JANEIRO. 

RUA   DA   CARIOCA   K.   ZA. 


•      •  • 


xiàf"^  REVISTA  TRIIWENSÂL 


'''fn 


DO 

WWm  SISTOBICO,  GEOGRAPHICO  EETDKOGRAPHICO  DO  BBASiL 


»»9I08««« 


i.o  TBlilIESTRE  DE  IMO. 

A  FRANCA   ANTÁRCTICA. 

BOSQUEJO  HISTÓRICO  DO  ESTABELECIMENTO  DOS  FRANCEZES 
NO  Rip  OK  JANEIRO  E  SUA  EXPULSÃO  NO  SÉCULO  XVI  E 
DAS    SU\S    NOVAS    INVASÕES    NO    XVIII. 

PELO 

Cónego  Dr.  %.  <£•  iFrrnanítfií  i9inl)fíro. 


O  am(yr  da  patrin  e  o  desejo  de  contribuir  coin  o 
noiso  fraco  contingente  para  a  vulgarisação  dos  factos 
mais  gloriosos  da  nossa  historia^  nos  levaram  a  escrever 
um  opv^culo  sobre  a  fundação  da  cidade  do  Rio  de  Ja- 
neiro, hoje  capital  do  Grande  Império  Americano. 
Folheando  as  velhas  chronicas,  vimos  que  os  francezes 
buscaram  estabelecer-se  nesta  terra  e  lançar  os  alicer- 
ces d' uma  colónia  muito  antes  que  os  portuguezes  pen- 
sassem em  firmar  o  seu  dominio  na  magestosa  bahia  de 
Nirtheroy.  Suggeriu-nos  isto  a  ideia  d* examinar  quaes 
0$  c^iu^as  e  resultados  da  invasão  franceza^  tractan- 
do  igualmente  das  expedições  de  Duclerc  c  de  Duguay- 
Trouin,  que,  postoque  afastadas  da  primeira  tentativa 
de  Villegainon  por  um  espaço  (te  cento  e  cincoenta  e 
einco  annoSj  formam  como  que  o  seu'  complemento. 


_  4  — 

Parpce  qne  só  muito  tarde  abandonaram  os  francezes 
a  ideia  de  se  estabelecerem  no  Rio  de  Janeiro  y  e  ao 
passo  que  os  hollandezes  forcejaram  por  se  assegurar 
da  posse  das  capitanias  do  norte  olhava  a  França 
com  olhos  de  cobiça  para  a  nossa  cidade.  Quasi  todos 
os  escríptores  que  ttactáram  doesse  assumpto,  quer 
nacionaes,  quer  estrangeiros ,  são  apaixonados ,  e  a 
linguagem  da  imparcialidade  ainda  se  não  fez  ouvir : 
não  temos  a  pretenção  d'emittir  o  nosso  juizo  como 
infallivel;  queremos  unicamente  disperlar  Ingenhos 
curiosos,  chamando  á  arena  da  discussão  um  ponto 
que  tanto  nos  interessa. 

Todos  sabem  quão  árduo  é  o  trabalho  que  toma- 
mos sobre  nós:  quão  difficil  é  o  colleccionar  docu- 
mentos^ que  andam  esparsos;  ler  grossos  volumes 
pesquizando  um  facto,  um  nçme,  ou  uma  dacta;  e 
achar  no  cahos  de  narrações  desencontradas  a  verdade 
para  sobre  ella  assentar  a  pedra  do  nosso  edifício. 
Os  nossos  chronistas  como  S.  de  Vasconcellos  Jaboa- 
tão,  Rocha-Pitta,  Fr.  Gaspar,  Silva  Lisboa  e  Pizar- 
ro, escrevem  sem  critica  alguma;  Thevet  e  Lery  tra- 
vam entre  si  encarnecida  lucta. :  Hans-Stadens,  mais 
imparcial,  de  pouco,  ou  nada  nos  serciu  para  o  plano 
que  haviamos  adoptado ;  os  valiosíssimos  trabalhos  dos 
Senrs,  Ferdinand  Dénis,  Varnhagen  e  Norberto  nos 
foram  porém  de  grande  auxilio:  e  folgamos  de  ren- 
der-lhes  publico  testemunho  de  nossa  gratidão. 

Dividiremos  a  nossa  memoria  em  três  partes:  na 
primeira  occupar-nos-hemos  com  o  estabclecimeiíto  de 
Villegaignon,'  e  traçaremos  wn  rápido  esboço  histórico 


da  projectada  França  Antárctica ;  e  na  segunda  e  ter- 
ceira tradaremos  das  expedições  da  Duclerc  e  de 
Ihiguay-Tromn. 

Sem  amor  nem  ódio  diremos  com  franqueza  o  que 
pensamos  acerca  dos  francezes  e  de  seus  ensaios  de 
colonisação  e  de  conquista ;  procuraremos  averiguar 
quaes  foram  os  motivos  que  os  trouxeram  ás  nossas 
plagas^  e  a  que  deveremos  attribuir  a  pouca  fortuna 
que  tiveram  de  não  se  conservarem  n^um  paiz^  onde 
gozaram  de  tantas  sympathias  dos  naturaes. 

O  nosso  trabalho  nada  tem  de  definitivo:  é  apenas 
um  estudo  histórico;  um  gymnasio  em  que  quizemos 
adestrar  as  nossas  forças  para  outros  de  maior  mag- 
nitude, que  temos  em  mente. 

Depois  de  havermos  feito  uma  singela  narração  dos 
acontecimentos  guiando-nos  pelos  mais  verídicos  expo- 
sitores, examinaremos  com  toda  a  imparcialidade  a 
questão :  si  a  expulsão  dos  francezes  foi  útil,  ou  pre^ 
judicial  ao  Brasil,  inclinando-nos  pela  primeira  hy- 
pothese  pelas  razões,  que  exporemos  e  que  julgamos 
que  serão  partilhadas  pela  maioria  dos  leitores. 


-*/v\A/\A/Vv>- 


—  7  — 

PARTE  PRIMEIRA. 

ESTABELECIMENTO  DE  VILLEGAIGNON. 

I. 

DESCOBRIMENTO  DO  RIO  DE  JANEIRO. 

iNáo  nos  maravilha  que  pairem  tantas  duvidas  sodre  os 
factos  afastados  de  nós  por  uma  longa  serie  de  séculos, 
que  a  Historia  encerre  problemas  de  solução  quasi  impos- 
sivel,  quando  acontecimentos  de  recente  data  dão  origem 
à  longas  e  quasi  que  intermináveis  controvérsias.  Suscitou- 
se  ha  pouco  tempo  na  primeira  associação  litteraria  do 
paiz  uma  importantissima  discussão  acerca  do  descobri- 
mento da  Terra  de  Saneia  Cruz,  e  illustres  paladinos  que- 
braram suas  lanças  em  prol  de  contrarias  opiniões :  pre- 
tendeu-se  que  o  acaso  presidira  a  este  facto,  e  sustentou- 
se  com  não  menos  talento  e  erudicção  que  a  esquadra 
portugueza  deixara  Lisboa  com  o  firme  propósito  d^apor- 
tar  ao  novo  continente,  cuja  existência  acabava  Colombo 
de  revelar  á  Europa. 

A  mesma  incerteza  existe  acerca  de  quem  fosse  o 
ousado  navegador  que  primeiro  ancorou  na  formosa  en- 
seada de  Guanabara.  Tão  importante  ponto  da  nossa  His- 
toria parecia  ter  escapado  às  investigações  d'  uma  escla- 
recida critica  e  a  maioria  dos  chronistas  abraçavam  uma 
versão  que  como  vamos  demonstrar,  parece-nos  inteira- 
mente distituida  de  fundamento. 

Monsenhor  Pizarro  nas  suas  Memorias  Históricas  do 
Rio  de  Janeiro  e  o  Conselheiro  Balthasar  da  Silva  Lisboa 
nos  seus  Anna€s,  trabalhos  de  summa  importância,  que 
serão  sempre  consultados  pelos  estudiosos,  seguem  a 
opinião  que  a  nossa  bahia  fora  descoberta  por  Martim 


—  8  — 

Affonso  de  Soiiza,  que  deixara  as  aguas  do  Tejo  no  dia  3 
de  Dezembro  de  1530,  commandando  uma  esquadrilha  de 
cinco  velas  na  qual  se  embarcaram  fjualrocenlas  pessoas, 
tendo  por  fim  o  explorar  a  costa  do  Brasil  até  a  em- 
bocadura do  Rio  da  Prata.  Pretendem  que  o  dia  í.°  de 
Janeiro  de  1531  fora  aquelle  em  que  pela  primeira  vez 
tremulou  o  pavilhão  das  lusas  quinas  aos  olhos  dos 
absortos  Tamoyos. 

Procuremos  provar  que  Martim  affonso  não  foi  o 
primeiro  portuguez  que  entrou  neste  porto;  nem  tão 
pouco  tivera  este  acontecimento  lugar  no  dia  1.**  de 
Janeiro  de  1331,  não  se  lhe  devendo  igualmente  imputar 
a  falsa  denominação  que  ainda  hoje  conserva. 

Graças  ás  lucubrações  do  Sr.  F.  A.  de  Varnhagen, 
ao  seu  zelo  infatigável  em  elucidar  os  pontos  mais 
obscuros  da  nossa  Historia  possuimos  hoje  um  docu- 
mento que  prova  irrefragavelmenie  que  Martim  Alfonso 
não  foi  o  descobridor  do  Rio  de  Janeiro.  Rcferimo-nos 
à  importante  publicação  que  o  mencionado  litterato  fez 
em  Lisboa  cm  1839  do  Diário  da  Navegação  d* Armada 
que  foi  á  Terra  do  Brasil  em  1530  sob  a  capilãnia-múr 
de  Martim  Affonso  de  Sonsa,  escripto  por  seu  irmão  Pêro 
Lo\)es  de  Sousa.  O  irmão,  o  companheiro  do  grande 
almirante  portuguez,  testemunha  ocular  das  ^uas  faça- 
nhas nos  mares  do  Brasil,  fatiando  da  sua  chegada  à 
nossa  bahia  assim  se  exprime: 

«  Sabbado  trinta  dias  dWbril,  ao  quarto  (Paiva  era- 
•  mos  com  a  boca  do  Rio  de  Janeiro,  e  por  nos  acal- 
«  mar  o  vento,  surgimos  á  par  de  uma  ilha,  qm  está 
«  na  entrada  do  dito  Rio,  um  fundo  de  quinze  braças  d'arêa 
«  limpa.  Ao  meio  dia  se  fez  ao  vento  do  mar  e  entramos 
«  dentro  com   as   nàos.    Este  rio  6    muito   grand^^ ; 


—  9  — 

tem  dentro  oito  illias,  assi  muitos  abrigos :  faz  a  entrada 
norte  sul  toma  da  quarta  de  noroeste  :  tem  ao  sueste 
duas  ilhas,  outras  duas  ao  sul  e  três  ao  noroeste ;  e 
entre  ellas  podem  navegar  carraças:  é  limpo,  de 
fundo  vinte  duas  braças  no  mais  baixo,  sem  restin- 
ga nenhuma  e  o  fundo  limpo.  Na  bôcca  de  fora  tem 
duas  ilhas  da  banda  de  leste,  e  da  banda  de  aloesto 
tem  quatro  ilhéos.  A  bôcca  não  é  mais  que  d'um  tiro 
de  arcabuz ;  tem  no  meio  uma  ilha  de  pedra  raza  com 
o  mar;  pegado  com  ella  ha  fundo  de  dezoito  braças 
d'arêa  limpa.  Está  em  altura  de  vinte  três  gráos  e  um 
quarto. 

<  Como  fomos  dentro,  mandou  o  capitão  J.  fazer  uma 
casa  forte,  com  cerca  por  derrador ;  e  mandou  sahir  a 
gente  em  terra  e  pôr  cm  ordem  a  ferraria  para  fazer- 
mos cousas,  de  que  tínhamos  necessidade.  Daqui  man- 
dou o  Capitão  J.  quatro  homens  pela  terra  dentro:  e 
foram  e  vieram  em  dois  mezes ;  e  andaram  pela  terra 
cento  e  quinze  léguas ;  e  as  sessenta  e  cinco  delias  foram 
por  montanhas  mui  grandes  e  as  cincoenta  foram  por 
um  campo  mui  grande ;  e  foram  ate  darem  com  um 
grande  rei,  senhor  de  todos  aquelles  campos,  e  lhes  fez 
muita  honra,  e  veio  com  elles  até  os  entregar  ao  ca- 
pitão J. ;  e  lhe  trouxe  muito  christal,  e  deu  novas  como 
no  Rio  de  Peraguaij  havia  muito  ouro  e  prata.  O  capi- 
tão lhe  fez  muita  honra,  e  lhe  deu  muitas  dadivas  o  o 
mandou  tornar  para  as  suas  terras.  A  gente  deste  rio 
ó  como  a  da  Bahia  de  todos  los  Santos;  seriam  quanto  é 
mais  gentil  gente.  Toda  a  terra  deste  rio  ó  de  monta- 
nhas e  serras  mui  altas.  As  melhores  aguas  ha  neste 
rio  que  podem  ser.  Aqui  estivemos  três  mezes  toman- 

JANEIRO.  i 


—  IO  — 

«  do  manlimenlos,  para  um  anno,  e  para  quatrocentos 

f  homens  que  trazíamos ;  e  fizemos  dois  bargantins  de 

«  quinze  bancos. 

«  Terça  feira  primeiro  dia  d'Agosio  de  mil  quinhentos 

«  e  trinta  e  um  partimos  deste  Rio  de  Janeiro  cora  vento 

«  nordeste.  Faziamos  o  caminho  aloeste  a  quarto  de  sa- 

«  dueste. 

D'aqui  se  deduz  claramente  que  náo  foi  Martim  Affonso 
quem  denominou  o  nosso  porto  de  Rio  de  Janeiro ;  por 
isso  que  Pêro  Lopes,  que  escrevia  o  seu  Diaiio  à  propor- 
ção que  os  acontecimentos  se  iam  dando,  como  se  vê 
pelo  seu  estylo  já  assim  o  denomina ;  prova  manifesta  de 
ser  d^épocha  anterior  esse  erro  geographico.  Acresce 
ainda  uma  razão  que  nos  parece  de  grande  peso,  vem  a 
ser  que  dizendo  os  chronistas  que  a  origentf  do  nome 
fora  devida  à  ter  aqui  chegado  o  capitáo-mór  no  dia  1 ."  de 
Janeiro  de  1531,  e  sabendo  nós  pelo  referido*í)wiiio  que 
a  esquadrilha  sahira  de  Lisboa  à  3  de  Dezembro  de  1S30 
seria  preciso  ter  feito  uma  viagem  de  vinte  oito  dias,  o 
que  é  quasi  impossível  em  navios  de  velas,  maxime  em 
um  tempo,  em  que  pelo  escasso  conhecimento  da  nossa 
costa  eram  as  viagens  muito  longas  navegando-se  pouco 
de  noite.  Lembremo-nos  também  que  essa  expedição  era 
feita  no  inverno,  e  que  devera  experimentar,  como  de 
facto  experimentou,  fortes  temporaes  e  ventos  contrários. 
O  testemunho  de  Pêro  Lopes,  que  havemos  invocado  como 
o  mais  competente  para  a  solução  doeste  problema  his- 
tórico, servirá  igualmente  para  marcar  o  tempo  da  che- 
gada de  seu  illustre  irmão  às  nossas  plagas,  que  segundo 
diz-nos  fora  n'um  sabbado  30  d*Abril  de  1531.  Está  pois 
evidentemente  provado  não  ter  Martim  Affonso  de  Souza 


—  11  — 

descoberto  a  bahia  de  Nictheroy,  nem,  por  uma  falsa  se- 
melhança com  o  Tejo,  cognominando-a  de  rio. 

O  chronista  castelhano  António  Herrera  dando  conta  da 
ousada  navegação  dos  celebres  portuguezes  Fernáo  de 
Magalhães  e  Ruy  Falleiro,  que  se  achavam  ao  serviço  do 
imperador  Carlos  V.  serve-se  destas  palavras. 

€  Y  continuando  su  viage  entraron  à  treze  de  Deziem- 
«  bre  (1519)  en  una  bahia  muy  grande,  que  chamavan  los 
«  Portuguezes  en  la  costa  dei  Brasil  la  balúa  de  Género,  y 
•  los  Castelhanos  de  Saneia  Lúcia ;  porque  en  tal  dia  en- 
€  traron  en  ella.  »  (Decad.  2.*  Lib.  4.*^  cap.  lO.^j. 

fá  por  occasião  da  vinda  ao  nosso  porto  d'esses  dois 
navegadores  que  a  ingratidão  da  pátria  levou  a  voltar 
contra  ella  o  seu  pasmoso  génio  e  grandiosa  audácia,  era 
elle  conheci(}o  pelo  nome  que  ainda  hoje  conserva :  e  se 
refletirmos  que  essa  viagem  de  circumnavegação  tivera 
lugar  doze  annos  antes  da  expedição  de  Martim  Affonso 
juntaremos  outro  voto  não  menos  valioso  ao  de  Pêro  Lo- 
pes:.  e  ficaremos  certos  de  que  já  em  1519  sabiam  os  cas- 
telhamos  que  os  portuguezes  haviam -nos  precedido  na 
posse  da  nossa  magestosa  enseada,  e  tinham-lhe  dado  um 
nome,  que  talvez  por  julgarcm-no  impróprio,  pretende- 
ram trocal-o  pelo  de  Santa  Luzia,  em  commemoraç^o  do 
dia  em  que  aqui  aportaram.  (1) 

Nem  tão  pouco  podemos  attribuir  tal  descobrimento  á 
João  Dias  Solis,  que  em  sua  viagem  para  o  Rio  da  Prata 
em  1515  tocou  no  nosso  porto ;  pois  que  além  do  silencio 
que  guarda  Gomara  à  semelhante  respeito,  temos  a  asse- 
veração positiva  d'Herrera  «  de  haverem  chegado  (os  cas- 
telhanos) ao  Rio  de  Janeiro  na  costa  do  Brasil  »  É  fora  de 
duvida  que  si  os  castelhanos  da  expedição  de  Solis  fossem 


-  12  — 

os  primeiros  a  avistarem  a  nossa  bahía  não  deixariam  os 
seus  chronisias  de  fazer  d'am  semelhante  successo  ex- 
pressa menção,  como  sempre  practicarara  acerca  de  outros 
sitios  de  muito  menor  importância. 

Pensaram  alguns  escriptores  que  tal  honra  coubera  ao 
douto  florentino  Américo  Vespucci.  Discutamos  esta  hy- 
potlicse  na  qual  descobrimos  mais  algum  fundamento.  (2) 

Sabe-se  que  Américo  Vespucci  semu  de  piloto  e  cos- 
mographo  nas  duas  primeiras  frotinhas  enviadas  para  ex- 
plorar a  costa  do  Brasil :  era  porém  o  seu  emprego  secun- 
dário não  podia  por  tanto  dar  nomes  ás  terras  descober- 
tas, prerogativa  esta  que  sempre  pertenceu  aos  chefes. 
Pensamos  porém  que  estivera  elle  ancorado  neste  porto 
pelos  annos  de  1302  à  1303.  Citemos  em  abono  doesta 
opinião  um  trecho  d'um  moderno  e  illustrado  escriptor 
hespanhol  o  Sr.  D.  Martin  Fernandez  Navarrete  : 

«  De  estas  declaraciones  puede  deducir-se  que  Amerigo 
t  navego  per  la  costa  dei  Brasil,  y  endo  probabelmente 
«  como  individuo  subalterno  dei  equipage,  ó  trepulation 
t  de  alguna  de  las  nãos  portuguezas  que  desde  1301  á 
«  1504  fueran  despachadas  desde  Lisboa  para  reconhecer, 
I  ó  poblarlospaizesdescobiertosrecientimente.  »  (Colec. 
de  las  viag.  y  descob.  etc.  a  tom.  3.*^  pag.  320). 

Caminhando  de  conjectura  em  conjectura  aproximamo- 
nos  à  épocha  do  descobrimento  do  Brasil,  e  tudo  nos  in- 
duz a  crer  que  a  nossa  terra  foi  uma  das  primeiras  visitadas 
pelos  audazes  aventureiros,  que  corriam  então  a  costa  afim 
de  reconhecôl-a.  Pensamos  mesmo  que  apenas  distou  um, 
ou  dois  annos,  do  desembarque  de  Cabral  em  Porto  Se- 
guro, e  que  Gonçalo  Coelho,  chefe  da  primeira  expedição 
foi  o  verdadeiro  descobridor  do  Rio  de  Janeiro.  Ora,  si. 


—  13  — 

como  mui  jutliciosamonlc  observa  o  Sr.  Varnliagen,  á 
primeira  frotinha  exi)lorailora  se  deve  allribuir  os  nomes 
postos  ao  Cabo  de  Santo  Agostinho  (siiccosso  este  que  teve 
lugar  à  16  d' Agosto  de  1501)  como  tambom  as  outras 
paragens  da  costa,  tendo  sempre  os  exploradores  o  ca- 
lendário na  mão,  devoram  entrar  no  nosso  porto  no  mez 
de  Janeiro  de  1302  talvez  que  mesmo  no  dia  primeiro 
doesse  mez,  visto  (|iie  jà  no  dia  da  Epiphania  se  achavam 
n^altura  da  Ilha  Grande,  que  chamavam  Angra  dos  Reis, 
proseguindo  em  sua  derrota  para  o  sul. 

Preferimos  esta  opinião  por  nos  parecer  muito  mais 
fundada  do  que  as  que  havemos  combalido  e  formamos 
votos  para  que  um  feliz  acaso  depare  á  algum  estudioso 
com  os  roteiros,  que  necessariamente  apresentariam  aos 
seus  respectivos  governos  os  chefes  das  primeiras  expedi- 
ções; documentos  estes  que  lançariam  sobre  este  e  muitos 
outros  pontos  vivamente  disputados  grande  luz,  se  não 
puzessem  logo  termo  ao  debate. 

II. 

ORIGEM   DA    EXPEDIÇÃO    FRANCEZA   AO   RIO  DE  JANEIRO. 

O  estal)elecimento  dos  hespanhoes  e  portuguezes  causou 
grande  ciúme  á  todas  as  potencias  maritimas  da  Europa : 
todas  se  arrependeram  de  não  terem  prestado  ouvidos  ás 
proposições  do  navegador  genovez.  A  Inglaterra  reparou 
em  breve  o  erro  que  commettêra  apoderando-se  da  parle 
mais  septentrional  do  novo  continente,  e  a  França  têl-a-hia 
imitado  fundando  algum  estabelecimento  duradouro  nas 
regiões  recentemente  descobertas,  si,  como  muito  bem 
observa  o  Sr.  Cantu,  não  se  mostrasse  alheia  às  grandes 


-  14  — 

emprezas,  absorvida  como  estava  pelas  guerras  de  reli- 
gião e  intrigas  de  côrle.  Todavia  alguns  aventureiros  nor- 
mandos e  bretões,  seguindo  a  trilha  dos  Colombos  e  dos 
Cabraes,  exploraram  «  os  mares  nunca  dantes  navegados  » 
e,  segundo  pensa  o  Sr.  Ferdinand  Dénis,  já  desde  1508 
os  marinheiros  d^Honfleur  visitaram  o  nosso  porto. 

Os  normandos,  assas  conhecidos  pelo  seu  espirito  auda- 
cioso, foram  os  que  se  avantajaram  nessas  expedições :  tra- 
varam estreita  alliança  com  os  selvagens,  aprenderam  a 
sua  lingua,  e  muitos  d'elles  renunciaram  a  vida  civilisada 
para  vagarem  pelas  florestas,  à  imitação  dos  indigenas.  Lu- 
crativo conunercio  faziam  elles  permutando  o  precioso 
ibirapitanga  (3)  por  vidrilhos  e  outros  objectos  de  nenhum 
valor.  Hans-Stadens,  que  residio  por  muito  tempo  entre 
os  Tupinambàs  nos  pinta  o  estado  degenerado  de  muitos 
d'esses  transfugas  da  civilisação,  que  não  escrupulisavam, 
para  se  tornarem  bem  quistos  à  seus  hospedes,  de  toma- 
rem parte  nos  horrendos  festins  d^antropophagia.  (4)  As 
narrações  d'esses  primeiros  viajantes  exageradas  pelo  gosto 
romanesco  da  sua  nação  deveu  a  Europa  o  conhecimento 
do  nosso  paiz,  cuja  existência  o  suspeitoso  Portugal  dese- 
java occultar  aos  olhos  do  mundo  inteiro. 

A  principio  tinham  essas  expedições  um  caracter  parti- 
cular: eram  os  armadores  que  enviavão  os  seus  navios 
para  negociarem  com  os  naturaes  do  Brasil :  nenhuma 
ideia  de  conquista,  nenhum  pensamento  de  colonisaçáo, 
ou  de  permanência  existia.  Mais  tarde  quiz  o  governo 
francez  intervir  e  sustentar  os  seus  pretendidos  direitos 
sobre  as  costas  do  Brasil  e  da  Guiné.  Temos  a  este  res- 
peito um  precioso  documento  citado  pelo  Sr.  Ferdinand 
Dénis.   (5)  É  uma  communicação  de  Marino  Cavalli,  em- 


!!% 


—  15  — 

baixador  de  Veneza  junto  à  côrie  d'Henrique  II,  que  em 
data  de  1^46  assim  se  expremia : 

€  Com  Portugal  não  pôde  haver  bôa  intelligencia ;  pois 
€  que  ha  uma  guerra-surda  entre  os  dous  paizes.  Os  fran- 
«  cezes  pretendem  poder  navegar  para  Guiné  e  o  Brasil, 
f  e  os  portuguezes  pensam  o  contrario.  Si  se  encontram 
«  no  mar  e  sendo  os  francezes  os  mais  fracos  os  outros 
«  atacam  e  mettem  ao  fundo  os  seus  navios:  o  que  até 
«  certo  ponto  justifica  as  cruéis  represálias  que  se  com- 
<  mettem  contra  os  navios  portuguezes.  » 

Náo  havia  declaração  alguma  de  guerra ;  as  relações  di- 
plomáticas náo  se  tinham  interrompido,  e  um  embaixador 
d'el-rei  D.  João  III  não  duvidava  levar  a  sua  condescendên- 
cia à  ponto  de  assistir  á  uma  extravagante  festividade,  em 
que  simulava-se  um  combale  naval  no  fim  do  qual  um 
navio  portuguez  era  presa  das  chammas.  As  esquadras 
porém  das  duas  nações  batiam-se  no  alto  mar  como  acon- 
teceu a  que  capitaneava  Martim  Affonso,  que  aprisionou 
três  náos  francezas  na  altura  do  cabo  de  Santo  Agostinho 
e  Gaspar  Gomes  era  detido  dous  mezes  e  meio  no  Rio  de 
Janeiro  pelo  commandante  de  um  vaso  d'essa  nação. 

Factosde  tamanha  magnitude  náo  serviam  para  desper- 
tar o  governo  portuguez  do  seu  somno  lethargico.  e  sabe 
Deus  porquanto  tempo  nelle  jazeria  si  a  França  não  pen- 
sasse em  firmar  seriamente  o  seu  dominio  na  plaga  austral 
do  continente  americano. 

Como  já  vimos  occupava  então  o  throno  de  França 
Henrique  II,  em  cujo  reinado  tomaram  maior  vulto  as  dis- 
cussões entre  os  catholicos  e  os  calvinistas,  que  havião  co- 
meçado no  tempo  de  seu  pai  Francisco  I.  Cedendo  ás  ins- 
tigações de  sua  irman  Margarida,  que  publicamente  abra- 


—  IC  — 

çára  as  doulrinas  protestantes,  favoreceu  a  Maurício  deSa- 
xonia ;  pòz-se  em  hostilidade  com  a  Sancta  Sé  occupando 
Parma,  e  declarando  que  jamais  veria  no  concilio  de  Trento 
senáo  um  conciliábulo,  á  cujos  decretos  recusava  obede- 
cer. Pouco  tempo  depois  tomava  um  partido  diametral- 
mente opi)osto  e  pelas  suggestóes  do  cardeal  de  Lorena  e 
das  famosas  Catharina  de  Medicis  e  Diana  de  Poitiers;  or- 
denava perseguições  contra  os  huguenotes.  e  obrigava-se 
j)or  um  artigo  secreto  do  tratado  Cateau-Cambrésis  (1559) 
à  extirpar  a  heresia  do  seu  reino.  O  almirante  Gaspar  de 
Ck)ligny,  à  cujo  nobre  caracter  hoje  rende  homenagem  a 
historia,  era  effectivamente  o  chefe  do  partido  protestante, 
gozando  por  algum  tempo  de  grande  e  bem  merecida  in- 
lluencia.  Testemunha  das  sanguinárias  sentenças  lavradas 
pelos  tribunaes  excepcionaes  (chambres  ardentes)  e  com- 
pungido pelas  lagrimas  das  victiraas  de  Paris  e  dos  Alpes 
pensou  em  procurar  para  os  seus  co-religionarios  perse- 
guidos em  sua  pátria  um  seguro  asylo  além  dos  mares» 
Suas  vistas  se  voltaram  logo  para  a  terra  de  Gmmbàra  ha- 
bitada pelos  Tamoyos,  fieis  alliados  dos  francezes,  e  julgou 
encontrar  em  Yillegaignon  o  homem  necessário  para  táo 
diflicil  quão  gloriosa  empreza. 

Estudaremos  mais  tarde  o  caracter  doeste  chefe  e  analy- 
sarcmoscom  imparcialidade  a  sua  conducta ;  contentando- 
nos  por  agora  em  citar  um  trecho  de  Lery,  que  mostra  cla- 
ramente qual  foi  a  causa  da  expedição  dos  francezes  ao 
Rio  de  Janeiro. 

«  No  anno  de  1555  um  certo  Yillegaignon,  cavaJleiro 
t  de  Malta  cuja  ordem  é  também  chamada  de  S.  João  de 
•  Jerusalém,  achando-se  em  França  e  bastante  descon- 
»  tente  na  Bretanha,  onde  então  residia,  fez  conhecer  á 


—   17  — 

€  diversas  personagens  moradoras  em  dilferentcs  locali- 
€  dades  do  reino  de  França,  qne  ha  muito  tempo  conce- 
«  bera  a  ideia  de  retirar-se  para  algum  lugar  longínquo, 
f  onde  podesse  livre  e  puramente  servir  a  Deus.  conformo 
e  a  reforma  do  Evangelho ;  e  (pie  desejava  outrosim  pre- 
«  parar  um  retiro  para  os  que  quizesscm  evit:ir  as  pcrse- 
«  guições;  as  quaes  eram  reahnente  taes,  que  muitas 
*  personagens  de  todos  os  sexos  e  idades  eram  em  muitos 
«  lugares  do  reino  queimadas  vivas  por  sentença  dos  Par- 
«  lamentos,  confiscados  os  seus  bens  por  motivo  de  rc- 
«  ligiáo.  »  (G) 

ÍII. 

FUNDAÇÃO    DO    FOUTE    COLKJNY. 

Nicoláo  Durand  de  Villegaignon,  o  chefe  escolhido  para 
essa  empreza  era  jà  vantajosamente  conhecido  em  França 
pela  sua  coragem  e  sciencia  militar.  Cilavam-se  as  suas 
proezas  em  Argel  e  a  maneira  destemida  com  que  trans- 
portara de  Dunkerque  á  França  a  rainha  da  Escossia  Maria 
Stwart.  A  esquadrilha,  composta  de  dous  navios  de  du- 
zentas toneladas  e  de  uma  chalupa  deixou  o  Ilavre  (então 
chamado  Vmnciscoiiolh)  no  dia  G  de  Mai(»  de  15Í55,  se- 
gundo o  testemunho  de  André  Thevet,  franciscano  d'An- 
goalème,  que  acorapanliou  Villegaignon,  por  ser  elle  iin 
homme  (jénérenx  et  auíant  bien  accompli,  sai  à  la  marine, 
soit  à  (rantres  lionnetez.  (7)  Contratempos  obrigaram-no  á 
arribar  a  Dieppe,  onde  os  habitantes  lhe  ajudaram  á  repa- 
rar as  avarias,  que  haviam  experimentado  os  seus  navios, 
e  após  uma  hmga  e  perigosa  viagem  ancorou  no  nossf> 
porto  a  li  de  Novembro  do  referido  anno. 

Não  sabemos  com  que  fundamento  allirma  o  eloquente 
jAM:mo.  :i 


-  18  — 

autlior  (la  Historia  (lAmerim  Portarjueza  que  o  Tice-al- 
miranie  da  Bretanha  vagava  com  algum  mvios  á  sua 
casta  anmdos,  buscando  presas  e  estimulado  da  cobiça,  ou 
do  valor  (8) ;  dando  assim  um  caracter  particular,  e  apre- 
sentando como  um  acto  de  pirataria  o- que  só  era  o 
resultado  da  politica  franceza,  que  queria  estabelecer 
no  Brasil  uma  feitoria  que  protegesse  o  commercio  que 
de  ha  muito  os  seus  navegadores  aqui  faziam.  Nâo  de- 
vemos menospresar  a  expedição  por  compor-se  de  pou- 
cos navios;  porque  bem  pequena  era  também  a  de  Co- 
lombo, à  qual  se  deve  a  desço  berta  d'America :  e  todos 
os  documentos  que  havemos  consultado  nos  induzem  a 
(Tcr,  que  Villegaignon  sulcou  os  nossos  mares,  nâo  como 
um  aventureiro,  mas  sim  como  o  representante  de  uma 
grande  nação ,  cujos  projectos  acerca  da  posse  do  nosso 
paiz  podiáo  não  ser  justos,  mas  certamente  justificados 
pelas  ideias  da  épocha. 

Assignalaremos  também  outro  equivoco,  que  julgamos 
commettêra  o  referido  Rocha-Pitta  no  lugar  supra-citado 
quando  diz  que  o  almirante  francez  desembarcara  em  Cabo 
Frio,  e  que  contrahira  alii  uma  alliança  com  os  Tamoyos 
regressando  á  sua  pátria  mais  tarde  (em  1560)  e  com 
avantajado  poder  apossar -se  da  enseada  do  Rio  de  Jnneiro. 
Semelhante  proposição,  além  de  inexacta,  encerra  em  si 
um  grande  anachronismo.  Thevei  eLery,  que  escreveram 
sobre  esta  expedição,  antagonistas  implacáveis,  concor- 
dam que  a  chegada  de  Villegaignon  tivera  lugar  no  mez 
de  Novembro  do  anno  de  1333,  e  nenhuma  menção  fazem 
d'essa  viagem  do  chefe  francez  partindo  de  Cabo-Frio 
para  regressar  cinco  annos  depois,  à  frente  de  forças  res- 
peitáveis, para  fazer  a  conquista  da  bahia  de  Guanabúni. 


—  19  - 

Neste  posilo,  como  em  muitos  outros,  foi  o  douto  historia- 
dor levado  ao  erro  por  falsas  informações. 

Suppomos  comtudo  que  Viilegaignon  estivera  em  Calio 
Frio  ( paragen\  esta  mui  frequentada  nesse  tempo  pelos 
francezes)  antes  d^aproar  para  o  Rio  de  Janeiro:  e  só  as- 
sim se  explica  como  tendo  sabido  do  Havre  a  6  de  Maio 
só  chegasse  aqui  à  14  de  Novembro,  trajecto  excessiva- 
mente longo,  dando  ainda  desconto  ao  tempo  que  gastaria 
em  Dieppe  á  reparar  as  avarias;  viagem  sem  exemplo 
para  homens  que  não  eram  estranhos  á  arte  da  navegação. 
Mais  curial  é  pensar  que  aportaram  primeiro  a  Cabo-Frio; 
iiáo  só  para  refrescarem,  como  aíim  de  colherem  inlbr- 
macões  mais  exactas  acerca  do  paiz  que  demandavam. 
Ora,  esse  paiz  nôo  lhes  era  de  todo  desconhcoido  porque 
muitos  annos  antes  nàos  de  sua  nação  haviam-no  visitado 
e  feito  com  os  selvagens  grande  commercio,  mas  como 
era  a  mesma  nça  que  habitava  Cabo-Frio  e  o  Rio  de  Ja- 
neiro aconselhava  a  prudência  que  começassem  logo  a  têl-a 
por  alhada  aproveitando-se  habilmente  do  ensejo  de  vive- 
rem em  constantes  rixas  os  Tamoyos  com  os  habitantes  de 
S.  Vicente,  offerecessem  àquelles  a  sua  amisade.  Thevet 
se  contradiz  neste  ponto  quando  depois  de  haver  dito  nas 
suas  Simjularklades  da  França  Antárctica  que  Viilegaignon 
se  demorara  sò  três  dias  em  Cabo-Frio  assevera  depois  na 
sua  Cosmõgraphia  que  ahi  estivera  por  alguns  mezes. 

Oiçamos  a  tal  respeito  uma  testemunha  mui  qualificada : 
«  A'  esse  tempo,  tendo  sulcado  os  mares  do  Sul  Nicoláo 
•  Durand  de  Viilegaignon.  francez  nobre  do  habito  de  S. 
«  João,  e  achando-se  em  Cabo-Frio,  situailo  na  latitude  de 
«  23^  e  a  longitude  34^^  3'  27'\  ou  na  latitude  22^  35'  e 
«  longitude  de  Londres  41^  15\  facil  lhe  foi  em  convir 


—  20  — 

«  com  aquelles,  a  quem  o  oclio  contra  os  declarados  con-* 
«  trarios  fomentou  a  liga  com  os  taes  hospedes,  trazidos 

*  da  fortuna  em  soccorro  da  sua  defensa,  à  custa  dos 

•  fniclos  e  drogas  da  terra  que  lhe  promettêram.  »  (9) 

Levantando  os  ferros  e  desferindo  as  velas  chegaram  os 
francezcs  com  prospera  navegarão  ao  Rio  de  Janeiro,  e  o 
magestoso  panorama  da  nossa  bahia  não  causou -lhes  a 
impressão  que  se  devera  esperar.  Compararam-na  com  o 
lago  de  Genebra,  mesquinho  paradigma  para  essa  gran- 
diosa enseada,  digna  de  igualar-se  ao  bello  golfo  de  Nápo- 
les, ou  ao  sublime  Bosphoro.  O  hieroglypho  do  futuro 
império  do  cruzeiro  não  lhes  mereceu  senã®  o  prosaico 
nome  de  pote  de  manteiga  (pot  de  beurre),  substituído  pe- 
los portugaezes  por  outro  não  menos  impróprio  de  Pão 
d*Assu€m\  commettendo  ura  inqualificável  erro  geogra- 
phico  denominaram  de  rio  de  Gnanabára,  o  immenso  la- 
gamar que  oíTcrecc  amplo  ancodouro  ás  esquadras  do 
mundo  inteiro.  E  o  cosmographo  Thevet,  chronista  oíB- 
m\  da  expedição,  não  protestou  contra  a  impropriedade 
d^esses  nomes ! ! ! 

Cercado  por  uma  população  que  lhe  era  devotada  e  dis- 
pondo de  tantos  lugares  onde  poderia  estabelecer-se  com 
fixidade,  Villegaignon,  para  que  a  disciphna  da  sua  tropa 
fosse  melhor  observada,  desembarcou  em  um  rochedo  de 
cem  à  cento  e  vinte  passos  de  circumferencia,  collocado 
na  entrada  da  barra,  batido  constantemente  pelas  vagas, 
tentando  ahi  construir  um  forte  de  madeira.  (10) 

Havendo-lhe  porém  demonstrado  a  experiência  que  era 
impossivel  conservar-se  em  semelhante  sitio  lançou  o  al- 
mirante as  suas  vistas  para  uma  pequena  ilha,  situada  mais 
próxima  a  terra,  de  c^rca  de  mil  pés  de  circuito,  rodeada 


% 


-  âl  - 

ilc  cachopos,  à  llòr  tragiia,  sendo  accossivel  iinicamentn 
pelo  lado  de  terra.  Fortificou  esto  lugar,  já  por  sua  natu- 
reza inexpugnável,  o  o  guarneceu  com  oitenta  homens.  (H) 

O  Iheologo  calvinista  João  de  Lery  (chamado  individa- 
mente  pelo  consellieiro  B.  da  S.  Lishòa  (Vabbmle ),  que  vi- 
sitou a  colónia  franceza  um  anno  depois  da  sua  rundação.. 
diz-nos  que  nas  extremidades  da  ilha  existião  dous  outei- 
ros, onde  Villegaignon  fez  construir  duas  casinhas,  collo- 
cando  a  sua  residência  sobre  um  rochedo  de  cincoenta  à 
sessenta  pés  de  altura.  Aplanando  as  escabrosidades  do 
terreno  fizeram  os  francezes  algumas  praças  onde  ergue- 
ram a  casa  da  oração,  o  refeitoiio  (o  que  indica  que  co- 
miam em  commum)  e  os  seus  modestos  aposentos,  cuja 
maior  parte  era  de  páo  á  pique  e  cobertos  de  sapé,  ao  gosto 
dos  selvagens  que  haviam  sido  seus  architectos.  (12) 

Para  lisongear  ao  seu  protector  deu  Villegaignon  à 
nova  colónia  o  nome  de  forte  Colhjmj,  e  a  toda  a  terra  o 
de  França  Antárctica,  por  onde  facilmente  se  deprehende 
quaes  as  suas  vistas  de  permanência  no  nosso  paiz,  que 
devera  ser  para  o  seu  o  que  mais  tarde  foi  para  Portugal, 
fecundo  manancial  de  incalculáveis  riquezas.  Tencionava 
mais  tarde,  depois  de  mais  amplo  conhecimento  do  ter- 
reno, edificar  na  praia  fronteira  (talvez  que  as  da  Gloria. 
Flamengo  ou  Botafogo)  uma  grande  cidade,  que  devera 
tomar  o  nome  do  monarcha  reinante  ( Henri-Ville )  sendo 
porém  desviado  d'esse  intento  por  graves  occurrencias  í|ue 
tiveram  lugar,  e  de  que  mais  tarde  faremos  menção. 

Lery  accusa  fortemente  de  falsario  h  Tlievet  por  ler 
mencionado  em  sua  Cosmographia  h  essa  cidade  como 
•existente,  offerecendo  uma  planta  d'ella  ao  rei  Ilenri- 
■que  II  (13).  Somos  completamente  neutral  na  lide  travada 


—  2S  — 

f^ntre  os  dons  chronistas  francezes,  reconhecemos  que 
írnibos  tem  muito  mérito  e  que  prestaram  relevantes  ser- 
viços a  nossa  historia,  dando  conta  de  factos  que  sem  o 
seu  testemunho  jazeriam  quiçá  no  olvido :  náo  podemos 
comtudo  dissimular  que  Thevet  sacriíicou  neste  ponto  a 
verdade  ao  maravilhoso  realisando  com  elle  o  quod  volu- 
mus  facile  credimm.  Segundo  a  sua  própria  confissão  (14) 
embarcou-se  para  a  França  à  bordo  de  um  navio  comman- 
<lado  por  Bois-le-Comte  á  31  de  Janeiro  de  1556,  havendo 
apenas  permanecido  na  America  dous  mezes  e  alguns 
dias,  e  durante  esse  período  não  é  crivei  que  se  tivesse 
começado  á  erigir  a  nova  cidade,  estando  o  chefe  da  ex- 
pedição à  braços  com  os  trabalhos  de  forlificaçóes  a  que  jà 
alhidimos ;  razões  estas  a  que  devemos  addicionar  a  asse- 
veração de  Lery  de  não  haver  nenhum  vestigio  da  pro- 
jectada Henri-Ville,  quando  d'aqui  sahio,  dezoito  mezes 
depois  de  Thevet.  Note-se  que  o  mencionado  Lery  appella 
para  a  reminiscência  de  todos  os  francezes  que  antes  e  de- 
pois d^elle  haviam  estado  no  Rio  de  Janeiro,  e  náo  nos 
consta  que  ninguém  apparecesse  para  contrarial-o.  O  res- 
peitável chronista  da  Companhia  de  Jezus,  Simão  de  Vas- 
concellos,  tão  minucioso  sempre  em  suas  narrativas,  não 
faz  tão  pouco  menção  d'essa  cidade,  que.  á  nosso  vêr, 
nunca  teve  se  quer  um  começo  de  realidade. 

IV. 

ALLIA.NÇA  DOS  FRANCEZES  COM  OS  INDÍGENAS. 

Jà  vimos  que  desde  oanno  de  1508  os  armadores  d'IIon- 
fleur  na  Normandia  expediam  os  seus  navios  às  terras 
então  mui  pouco  conhecidas  do  Brasil  e  citam-se  os  nomes 
d'um  certo  Dionysio  e  do  pai  do  famoso  João  Ango  como 


—  23  — 

dos  que  mais  se  destinguiram  nessas  arriscadas  explora- 
ções. Guilherme  Tastu,  Barre,  e  o  celebre  Jacques  Soro 
adquiriram  a  reputação  d^ousados  navegadores,  juntando 
também  à  ella  a  gloria  litteraria.  Dos  dois  primeiros  exis- 
tem interessantes  escriptos,  como  o  famoso  Roteiro  de  Gui- 
lherme Tastu,  composto  em  1355,  e  as  Cartas  acerca  da 
navegação  do  cavalleiro  de  VUlegaljnon ,  publicadas  em 
1337  por  Nicoláo  Barre,  que,  como  creoSr.  Ferdinand 
Dénis,  foi  provalmente  o  primeiro  documento  sobre  o 
Brasil  impresso  em  França.  (15) 

As  relações  commerciaes  mantidas  pelas  principaes  ci- 
dades marítimas  (em  cujo  numero  se  contava  Dieppe)  com 
os  naturaes  do  Brasil  trouxe  a  necessidade  d'uma  classe 
de  homens,  que  tiveram  nessa  époclia  grande  importância, 
queremos  fallar  dos  interpretes  (truchements)  dos  quaes 
trataremos  pcrfunctoriamente. 

Ou  fosse  por  despeito  para  com  a  sociedade,  em  cujo 
grémio  tinhim  vivido,  despeito,  que  tem  dado  origem  á 
grandes  aberrações,  como  os  paradoxos  de  Rousseau  e  de 
lord  Byron,  ou  levados  pela  auri  sacra  fames,  viu-se  nesse 
século  alguns  homens  p;^netrarem  cm  nossas  florestas,  co- 
piarem tão  ao  natural  o  modo  de  vida  dos  indígenas  que 
podiam  ser  tomados  por  verdadeiros  selvagens.  Cobriam- 
se  dos  mais  extravagantes  ornatos;  perfuravam  o  lábio  su- 
perior e  as  faces  para  introduzirem  ahi  enormes  batoques, 
armavam-se  d'arco  e  flecha,  revestiam-se  de  pennase  pin- 
tavam o  corpo  com  as  mais  caprichosas  cores.  Adheriam 
completamente  á  causa  das  aldeias,  onde  se  haviam  natu- 
ralisado :  esposavam  as  íilhas  dos  maioraes,  marchavam 
para  a  gaerra  dirigindo  os  seus  alliados  com  conselhos  o 
empregando  em  seu  favor  as  armas  de  fogo  e  a  estratégia 


—  á4  — 

européas  assegaravam-lhes  o  triumplio  sobre  os  seus  ini- 
migos. Já  dissemos  qre  o  seu  despreso  levava-os  á  tomar 
parle  nos  festins  anlropophagos,  excedendo  em  crueldade 
aos  seus  preceptores.  Adoptando  de  bom  grado  a  poly- 
gamia  pouco  se  embaraçavam  com  a  sorte  da  sua  progénie, 
que  abandonada  a  seus  próprios  instinctos  perdia  até  os 
vestigios  da  sua  origem  européa. 

A  múr  pr^rle  d'esses  homens  eram  francezes,  e  especi- 
almente normandos,  e  as  suas  informações  transmittidas 
aos  seus  compatriotas,  que  visitavam  táo  frequentemente 
os  nossos  portos,  c  talvez  mesmo  (jue  algumas  cartas,  que 
escrevessem  para  a  pátria,  sejam  as  fontes  à  que  recorre- 
ram os  que  primeiro  deram  ao  m.mdo  civilisado  noticias 
ílos  usos  e  costumes  dos  aborígenes  brasileiros.  Lery  e 
Thevet  refcrem-se  constantemente  ao  testemunho  dos  in- 
terpretes ;  posto  que  estigmatisem  o  seu  inqualificável  pro- 
ceder, e  Hans-Stadens.  na  relação  dos  seus  soffrimentos 
entre  os  Tupinambâs  dá-nosbem  a  conhecer  qual  a  sua 
influencia  entre  os  indígenas,  quando  refere-nos  que  da 
decisão  d"um  d'elles  esteve  pendente  o  seu  destino.  (IG). 

D'essi  mesma  relação  do  viajante  allemáo  se  deprehende 
quanta  estima  votavam  os  selvagens  aos  francezes ;  porque 
dizendo-se  elle,  no  acto  de  ser  aprisionado,  pertencente 
a  essa  nação,  deveu  a  tal  circunstancia  o  não  ser  condem- 
nando  á  morte.  OsTupinambás  c  os  Tamoyos.  que  tinham 
uma  commum  origem,  procuravam  com  avidez  a  sua  ami- 
zade appellidando-os  de  perfeilOH  alliados,  e  todos  os  his- 
toriadores são  concordes  em  asseverar  que  nos  mais  crí- 
ticos momentos  lhes  guardavam  escrupulosa  fidelidade. 

Semelhante  resultado  devera  ser  a  natural  recompensa 
d^esses  homens,  que  deTiamhmlo  as  nossas  plagas  com  o 


fim  de  eariíjaeccreni,  oa  talvez  qae  pelo  espirito  de  cu- 
riosidade, não  se  faziam  detestar  pelos  nacionaes:  não 
lhes  captivavam  as  filhas,  não  lhes  extorquiam  o  oiro,  a 
que  aliás  davam  os  indígenas  pouco  valor,  nem  os  expul- 
savam à  ferro  e  a  fogo  dos  lugares  consagrados  pelas  mais 
tocantes  scénas  da  vida  humana. 

O  estabelecimento  de  Villegaignon  no  Kio  de  Janeiro 
nada  tem  do  caracter  odioso  íFimia  conquista  :  chega  como 
alliado  e  recebe  dos  Tamoyos  nâo  equivocas  provas  de 
jubilo  e  de  affeiçáo.  Não  expelle  os  nalaraes  das  suas  tabas, 
e  poílendo,  como  já  dissemos  escolher  os  melhores  sitios 
para  fundar  a  sua  feitoria,  fortiíica-se  em  uma  ilha  até  en- 
táo  abamlonada  e  mostra-sc»  severo  para  com  os  seus  pela 
mais  leve  infracção  dos  tractados  (juc  firmara  com  os 
filhos  do  paiz.  Esperando  que  ce;Jo,  ou  tarde  seria  ata- 
cado pelos  portuguezes,  aos  ipiaes  pela  própria  confissão 
do  Padre  S.  de  Vasconcellos  não  foi  o  primeiro  á  aggre- 
dir  (17),  e  de  perfeito  accôrdo  com  os  selvagens  adestrou- 
os  no  manejo  das  armas,  fazen  lo  dellcs  excellentes  sol- 
dados. 

Sobre  o  modo  porque  eram  tratados  os  indigenas 
pelos  francezes  não  podemos  citar  melhor  testemunho 
do  que  o  de  Mem  de  Sá,  3^  Governador  Geral  da  Bra- 
sil, n'uma  carta  escripta  de  S.  Vicente  aos  16  de  Junho  de 
i360àel-reiD.  JoãollI. 

Fallando  à  respeito  de  Villegaignon  assim  se  exprime 
o  delegado  do  governo  portuguez :  «  Elle  leva  muito  diíTe- 
«  rente  ordem  com  os  gentios  que  nós  levamos :  é  liberal 
€  em  extremo  com  elles  e  faz-lhes  muita  justiça,  enforca 

<  os  francezes  por  culpas  sem  processo,  com  isto  ó  muito 

<  temido  dos  seus,  e  amado  dos  gentios :  manda-os  cnsi- 

JANEIRO.  4 


^  2C  — 

«  nnr  a  todo  o  género  (l'ofliclos  e  críirmas,  ajinla-os  nas 
«  suas  giien*as.  O  gentio  é  muito  e  dos  mais  valentes  da 
•  costa  era'pouco  tempo  se  pode  fazer  muito  fórle.  (18)  » 

Grande  é  o  [)eso  que  deve  merecer- nos  as  palavras  do 
illustre  Mem  de  Sà :  só  a  forra  da  verdade  actuando  n\mia 
alma  nobre  como  a  sua  poderia  dictar  este  juizo  pronun- 
ciado acerca  d\mi  inimigo  da  sua  nação,  e  cujos  entrin- 
cheiramentos  elle  acabava  d^arrasar  com  lanto  denodo. 

Em  conclusão  diremos  que  os  francezes  pelas  suas  jna- 
nciras  alTaveis,  pelo  seu  tracto  cav;dIieiresco  souberam  gran- 
gear  as  sympathias  dos  nossos  indigenas. 


CONDUCTA   DE  VILLEGAIGNON  V\r\\  COM  OS  CALVINISTAS. 

É  tempo  de  examinarmos  o  procedimento  de  Ville- 
gaignon  para  com  os  sectários  da  religião  reformada,  e  de 
verificar  si  merecida,  ou  injustamente  lhe  deram  estes  o 
ignominioso  epitheto  de  Caim  d  America. 

Sabemos  que  o  cavalleiro  de  Malta  vivia  afastadj  da 
corte  e  esquecidos  os  seus  serviços  quííndo  pela  interven- 
ção do  celebre  Gaspar  de  Coligny,  aquém  o  ni  Henri- 
que II  testemunhava  grande  estima  e  veneração,  foi  elle 
incumbido  da  tarefa  de  limiar  o  dominio  fraiicez  nWme- 
rica  do  Sul.  Ora,  como  já  referimos,  o  almiraníe  Coligny, 
pertencente  á  nobilÍ6.>ima  casa  dr  Chatillon  era  o  chefe  os- 
tensivo dos  protestantes  do  reino,  e  o  astuto  Villegaignon 
apnn^eitou-se  doesta  circamstancia  para  inculcando-se  con- 
vertido à  doutrina  de  Galviíio  ad(iuirir  em  Coligny  um 
protector.  Já  vimos  como  pela  sua  influencia  esquipou  elle 
uma  frotinha  com  que  se  apresentou  no  lUo  de  Janeiro,  e 
como  simulando  um  sentimento  que  por  certo  não  existia 


—  27  — 

em  sua  alma,  condecorou  com  o  nome  do  illustre  almi- 
rante o  rorliPilo  em  (jue  se  forlilicára.  Quasi  todos  os  seus 
companheiros  seguiam  a  nova  doutrina,  ou  pelo  menos 
haviam  disso  feito  promessa,  e  parece  «luc  doeste  numero 
não  se  exceptuava  o  próprio  franciscano  André  Thevet. 

Xa  carti  eicri[)ta  á  Calvino  e  citada  integralmenle  por 
Ler/  hVsc  o  seguinte  periodo. 

«  Poniue  os  irmãos  que  tinham  vindo  commigo  de 

€  França  para  esse  fim  (o  do  exercicio  da  religião)  desa- 

«  nimadoá  pelas  difficuklades  da  obra  voltaram  jmra  o  E(j\j- 

<  pUh  allegando  cada  qual  um  pretexto.  >  Quem  estiver 

ao  facto  da  linguagem  empregada  nas  polemicas  religiosas 

da  épocha  saberá  que  a  plirase  voltar  ^xira  o  Egijpto  era 

synonymade  regres.>nr  para  o  grémio  da  religião  catholica; 

e  Villegaignon  ([ueixando-se  à  Calvino  do  abandono  em 

que  haviam  deixado  os  primeiros  operários  do  Evangelho 

agradcce-lhe  a  vinda  dos  novos  ministros  Richier  e  Chnr- 

ticr .  que  traziam  em  sua  companhia  alguns  outros  theolo- 

gos  de  Genebra,  sendo  um  delles  João  de  Lery,  a  quem 

S4)mo3  devedores  d'um  excellente  livro,  que  foi  das  mais 

abundantes  fontes  a  que  recorremos  para  a  confecção  doeste 

nosso  tosco  trabalho. 

Chegando  á  America  o  primeiro  cuidado  de  Villegaig- 
non foi  o  de  pedir  ministros  da  religião  refoimada  jmra 
morigerar  aos  seus  e  catheehisar  aos  selvagem,  prestando  a 
maior  obediência  a  igreja  de  Genebra.  Náo  nos  causa 
pasmo  que  o  almirante  Coligny,  homem  de  guerra,  do 
franco  e  generoso  caracter,  fosse  iHudido  pelas  fallacias 
do  seu  protegido;  admira-nos  porém  que  (divino,  cujo 
espirito  subtil  se  havia  ainda  mais  aguç-ado  nas  (juestões 
theologicas,  sendo  afamado  pela  sua  argúcia,  se  deixasse 
kidibriar  por  um  hmnem  (pie  llèe  era  muita  inferior  em 


-  28  — 

conhecimentos.  Para  attenuar  porém  a  impressão  que  na- 
turalmente causa  o  ver  tantas  pessoas  honestas  victimas 
da  mais  negra  perfídia  devemos  lembrar-nos  que  o  pro- 
jecto de  crcar-sc  um  estabelecimento  n'America  era  o 
mais  popular  possivel ;  que  todos  contribuíam  para  elle 
com  enthusiasmo,  uns  levados  por  vistas  politicas,  outros 
por  cálculos  dlnteresse  individual,  e  finalmente  outros, 
entre  os  quaes  devemos  comprehender  Calvino,  pelo  vivo 
desejo  de  propagar  a  nova  crença  além  do  athlantico. 

O  venerando  Philippc  de  Corguilleray,  senhor  Du-Pont, 
cuja  honrada  velhice  se  deslisava  em  Genebra,  foi  solici- 
tado por  cartas  do  almirante  Coligny,  e  por  vivas  instan- 
cias de  Calvino  para  dirigir  a  expedição  enviada  em  auxilio 
de  Villegaignon.  Esquecendo  os  inconunodos  inherentes 
a  uma  tal  empreza,  muito  mais  sensiveis  no  inverno  da 
vida,  deixou  as  doçuras  do  lar  domestico  partindo  à  16  de 
Septembro  de  looC  para  Chatillon  sur  Loing,  onde  o 
aguardava  o  almirante:  de  quem  elle,  e  os  seus  treze  com- 
panheiros ouviram  as  mais  animadoras  expressões.  Após 
um  mez  de  demora  em  Pariz,  onde  se  lhes  reuniram  mais 
alguns  fidalgos  partiram  os  peregrinos  para  Honfleur,  de 
cujo  porto  deram  à  vela  para  a  França  Antárctica  a  20  de 
Novembro  do  referido  anno. 

Compunha-se  a  expedição  de  três  navios  transportando 
cento  e  vinte  pessoas,  sendo  o  supremo  commando  con- 
fiado a  Bois-le  Comte,  com  o  titulo  de  vice-almirante.  Este 
Bois-le  Comte,  sobrinho  de  Villegaignon  é  o  mesmo  a 
quem  o  illustrado  Author  dos  Annaes  do  Rio  rfe  Janeiro 
chama  de  conde  de  Bois,  sem  duvida  equivocado  pelo  seu 
segundo  nome,  que  é  ao  mesmo  tempo  um  titulo  de  no- 
breza e  um  appellido  de  familia.  (19) 

Sobre  a  memoria  desses  homens  que  tão  heroicamente 


—  29  — 

se  expatriaram  posam  mui  graves  accusações  si  dermos 
credito  ao  qae  à  seu  respeito  diz  Thevet.  Oiçamos  as  suas 
palavras: 

<  Esquecia-me  de  dizer-vos  que  pouco  tempo  antes 
houvera  uma  sedição  entre  os  francezes,  occasionada 
pela  divisão  e  parcialidade  de  quatro  ministros  da  reli- 
gião nova,  que  Calvino  para  ahi  enviara  a  fim  de  plan- 
tar o  seu  sanguinolento  Evangelho :  o  principal  d^elles 
era  um  ministro  sedicioso  chamado  Richier,  que  tinha 
sido  carmelita  e  doutor  de  Paris  alguns  annos  antes. 
Estes  ridiculos  pregadores  não  cuidando  senão   em 
enriquecerem-se  e  apoderarem-se  do  que  podiam  fize- 
ram conluios  e  intrigas  secretas  originando-se  d'ahi 
que  alguns  dos  nossos  fossem  por  e!les  mortos.  Porém 
sendo  presos  alguns  d'esses  sediciosos  foram  executa- 
dos e  entregues  os  seus  corpos  aos  peixes :  outros  sal- 
varam-se,  em  cujo  numero  se  achava  o  referido  Richier, 
o  qual  pouco  tempo  depois  serviu  de  ministro  em  Ro- 
chella  :  onde  penso  que  ainda  está.  Irritados  os  selva- 
gens por  semelhante  tragedia  pouco  faltou  para  que  não 
se  precipitassem  sobre  nós,  matando  aos  que  res- 
tavam. 1  (20) 
Para  contrariar  o  libello  do  franciscano  dWngouleme 
senir-nos-hemos  d'um  documento  de  que  já  fizemos  men- 
ção, isto  é,  da  carta  que  Villegaignon  escreveu  á  Calvino 
agradecendo-lhe  o  ter  annuido  aos  votos  que  lhe  expri- 
mira na  sua  primeira  missiva  relativamente  á  urgente  ne- 
cessidade que  sentia  de  novos  cooperadores.  Posto  que  a 
tenhamos  unicamente  lido  na  obra  de  Lerj'  (Historia  d*uma 
Viagem  á  terra  do  Brasil,  aliás  França  Antárctica)  repu- 
tamo-la authentica ;  por  isso  que  diz -nos  este  escriptor 
que  o  original  escripto  em  latim  e  com  tincta  do  Brasil, 


—  30  — 

parava  em  mãos  idóneas  havendo  já  sido  impressa  uma  sua 
traducção. 

Justificando  a  escolha  que  lizera  da  ilhota  de  SerUjipe 
para  o  primeiro  núcleo  da  colonisarão,  aíim,  como  já  dis- 
semos, d'observar  entre  os  seus  a  mais  restricta  disciplina 
cortando-lhes  toda  a  communicaçáo  com  a  terra,  povoada 
por  selvagens  assim  se  exprime  o  chefe  francez. 

t  Aconteceu  contudo  (pie  alguns  vinte  seis  dos  nossos 

€  mercenários,  estimulados  pelos  apetites  sensuaes  cons- 

«  piraram  para  matar-me.  No  dia  porém  assignado  para 

«  a  execução  foi-me  revelada  a  trama  por  irni  dos  com- 

»  plices  na  mesma  occasilo  em  que  deligentemente  pro- 

«  curavam-me  para  cahirem  sobre  mim.  Evitei  o  perigo 

t  pela  maneira  seguinte:  havendo  feito  armar  à  cinco 

•  criados  meus  investimos  contra  elles,  que  possuídos  de 
«  terror  e  pasmo  deixaram-se  facilmente  vencer.  Prendi  a 
«  quatro  dos  principaes  conspiradores,  cujos  nomes  me 
t  haviam  sido  revelados ;  occultando-se  os  outros  depois 

•  deterem  deposto  as  armas.  Mandei  no  dia  seguinte  sol- 
«  tar  à  um  para  que  podesse  na  maior  liberdade  pleitear 
«  a  sua  causa ;  maspondo-se  á  correr  lançou-se  no  mar, 
«  onde  afogou-se.  Os  restantes  sendo  conduzidos  à  mi- 
«  nha  presença,  amarrados  como  estavam,  declararam  o 
«  que  eu  já  sabia,  da  boca  do  complice  e  dilator:  istoé, 
«  que  um  d'elles  havendo  sido  pouco  antes  castigado  por 

•  mim  por  entreter  relações  illicitas  com  uma  mulher  de 
«  má  vida  captou  por  presentes  o  pai  d'essa  mulher  para 
«  que  o  livrasse  do  meu  poder  no  caso  d^obstinar-me  eu 
«  em  interromper  as  ditas  relações.  Tal  foi  o  primeiro 
«  pensamento  da  revolta.  Fi-lo  enforcar  e  estrangular  p  ir 
«  semelhante  crime.  Gommutei  à  dois  outros  a  pena  de 
«  morte  na  de  prisáo  com  trabalho :  e  quanto  aos  mab 


—  ;h  -^ 

f  náo  quiz  tomar  conhecimento  do  seu  delicio  alim  de  que 
«  não  fosse  obrigado  à  punil-os ;  o  qae  importaria  n'um 
■  grande  desfalque  d^operarios  para  as  obras  que  tenho 
«  emprehendido.  » 

Em  todi  esta  narrativa  não  se  faz  a  menor  menção  dln- 
trigas  e  suggestôes  dos  ministros  calvinistas,  que  por  for- 
ma alguma  poderiam  ter  concorrido  para  a  supracitada  se- 
dição; por  isso  que  náo  tinham  ainda  chegado  ao  paiz. 
Esta  carta  tem  a  data  de  31  de  Março  de  1357  ;  (í  sabemos 
(jue  os  companheiros  de  Du-Pont  clicgáram  ao  forte  Co- 
ligny  á  iodo  referido  mez  eanno,  e  os  factos  referidos  por 
Villegaignon  passaram-se  nos  primeiros  tempos  da  sua 
chegada,  como  se  deduz  das  suas  próprias  palavras.  Si  os 
emissários  de  Calvino  se  tivessem  manchado  com  tão  negro 
crime  por  certo  que  Villegaignon  náo  deixaria  de  fazer 
amarga  queixa  d^elles  nessa  carta  dirigida  á  seu  chefe,  e 
não  nos  consta  que  depois  d'essa  revolta  houvesse  mais  al- 
guma no  estabelecimento  francez.  É  por  tanto  fora  de  du- 
vida que  é  inteiramente  calumniosa  a  asserção  de  Thevet, 
c  que  o  ódio  que  nutria  para  com  os  sectários  da  reforma 
foi  o  único  motor  de  tão  cruel  quáo  infundado  juizo.  Ora 
esse  ódio  era  tanto  mais  excessivo,  quanto,  como  já  deixa- 
mos entrever,  o  íilho  de  S.  Francisco  parece  que  não  pos- 
suiu sempre  uma  inabalável  convicção  acerca  da  superiori- 
dade da  religião  catholica  sobre  todos  os  cultos  dissidentes, 
ou  então,  o  que  não  lhe  é  menos  deshonroso  introduziu-se 
entre  os  protestantes  de  Villegaignon,  para,  á  seu  exemplo, 
alraiçoal-os  e  conspurcal-os  comas  suas  falsidades  e  diatri- 
bes. O  antagonismo  religioso  não  deve  por  maneira  alguma 
auctorisar  a  infracção  das  leis  da  verdade. 

Prosigamos  no  exame  da  conducta  de  Villegaignon. 

Com  falsas  apparencias  de  grande  regosijo  recebeu  elle 


—  sã- 
os seus  novos  conijiaiilieiros,  e  convocando  a  guarnição  do 
forte,  em  uma  pequena  sala  situada  no  meio  da  ilha,  ouviu 
cheio  de  compuncção  e  prédica  do  ministro  llichier,  a  pri- 
meira, observa  Lery,  «jue  se  fez  n^America  conforme  o 
culto  protestante.  Mandou  distribuir  pelos  recem-chegados 
rações  de  peixe  assado  ao  modo  dos  selvagens,  raizes  co- 
zidas debaixo  da  cinza  e  para  saciarem  a  sede  foi-lhes  dada 
a  verde  negra  e  salobra  agua  diurna  cisterna.  Alojou-os  em 
cabanas  cobertas  de  palln  destinando  apenas  um  quarto 
para  Du-Pont  e  os  dois  ministros  Richier  e  Chartier.  Tão 
desabrida  recepção  foi  seguida  d'acerbo  trabalho  a  que  con- 
demnou  os  seus  hospedes,  empregando-os  em  carregar 
barro  e  pedra  desd'o  nascimento  até  o  occaso  do  sol.  Longe 
de  soprar  o  espirito  da  revolta  no  animo  dos  colonos,  des- 
contentes por  tão  bárbaro  tratramento,  aconselhava-os 
Richier  que  supportassem  as  privações  com  paciência,  e 
vissem  em  Yillegaignon  um  novo  S.  Paulo.  De  facto  nin- 
guém melhor  do  (jue  elle  sabia  representar  o  papel  de 
zelador  ardente  do  Evangelho  e  de  fervoroso  apostolo  da 
reforma  :  seus  discursos,  transcriptos  por  Lery,  são  re- 
passados d'uncçáo,  e  trazem-nos  à  memoria  a  linguagem 
biblica  de  Gromwell  nas  suas  proclamações  e  ordens  do  dia. 

Pensamos  que  a  chegada  da  missão,  que  elle  tão  arden- 
temente pedira,  causou-lhe  grande  contrariedade,  ou  por 
compòr-se  de  pessoas  illustradas,  que  não  deixariam  de 
condemnar  o  despotismo  que  aqui  exercia,  dando-se  d^elle 
conhecimento  à  França,  ou  porque  visse  em  Du-Pont  um 
ancião,  cuja  virtuosa  conducta  contrastava  com  a  sua,  ou 
finalmente  porque  já  tivesse  recebido  do  cardeal  de  Lorena, 
seu  occulto  protector,  ordem  para  levantar  a  mascara  da 
hypo^isia. 

M'uma  épocha  em  que  os  debates  religiosos  estavam  em 


—  :]:]  — 

grande  voga  depois  que  Lulhero  proclamara  o  principio  do 
livre  exame,  que  fazia  de  cada  fiel  um  juiz  da  sua  crença,  e 
interprete  da  palavra  divina,  não  parecerá  estranho  que  um 
official  de  marinha  se  ingerisse  em  questões  theologicas  e 
exercesse  as  funcções  do  pregador.  Sustentou  contra  o 
ministro  Chartier  uma  opinião  diversa  relativamente  á 
Céa  (21) ;  mas  fingindo  desejar  ser  melhor  instruído  sobre 
este  ponto  enviou-o  á  Franca  para  consultar  os  doutores, 
e  muito  principalmente  a  Calvino.  Era  este  um  meio  hábil 
j)ara  dcscartar-se  pouco  á  pouco  dos  que  lhe  faziam  sombra. 
Sem  se  importar  com  a  resposta  dos  quesitos  que  fizera 
para  a  Europa  declarou  o  seu  juizo  como  o  único  infallivel 
e  mudando  da  linguagem  que  até  então  tivera  disse  publi- 
camente que  reputava  a  Calvino  como  um  herege,  e  inimigo 
de  Deus.  Semelhante  apjstasia  não  devera  surprehender 
à  ninguém ;  pois  que  já  uma  vez  por  motivos  de  mero  in- 
teresse abjurara  Villegaignon  a  religião  de  seus  pais;e 
quem  assim  procede  está  sempre  disposto  a  regular  a  sua 
consciência  por  uma  tarifa,  mais,  ou  menos  elevada. 

Como  que  envergonhado  de  tal  proceder  tractou  os  seus 
antigos  co-religionarios  com  o  mais  excessivo  rigor.  Exas- 
perados os  calvinistas  dirigiram-se  ao  seu  conductor  (Du- 
Pont)  e  lhe  supplicaramque  alcançasse  de  Villegaignon  a  per- 
missão para  regressarem  á  seus  lares.  Du-Pont  representou 
ao  chefe  da  colónia  que  a  sua  nova  abjuração  tornando  inútil 
o  fim  para  que  tinham  vindo  á  America  e  não  existindo 
nqui  a  liberdade  de  consciência,  que  através  de  mil  perigos, 
tinham  vindo  procurar,  lhes  fosse  ao  menos  concedida  a 
licença  que  imploravam  os  seus  companheiros  de  infor- 
túnio. Depois  d'alguma  hesitação  annuiu  Villegaignon  ao 
peJidoquelhe  era  feito,  e  os  calvinistas,  a[)ós  oito  mezes 
j.v.NEiRo.  y 


—   34  — 

dos  mais  rudes  trabalhos  iio  fórlc  Coligny,  passaram  ao 
continente,  onde  ainda,  se  demoraram  dois,  aguardando 
um  navio  que  os  transportasse  à  Prança. 

Nutrindo  negros  projectos  de  vingança  contra  esses  ho. 
mens,  que  d'est'arte  sesubtrahiam  ao  seu  jugo.  dissimulou 
o  seu  ódio  e  indignação  parecendo  approvar  o  seu  desígnio 
dizia  que  assim  como  se  regosijára  com  a  sua  vinda  quando 
cria  achar  nellcs  o  que  procurava ;  assim  folgava  que  re- 
gressassem mna  vez  que  nâo  podiam  estar  d^accordo.  Entre- 
gou porém  a  Martin  Beaudoin,  capitão  do  navio  Jacques, 
(|ue  os  conduzia  um  cofre  coberto  com  encerado,  onde  in- 
cluirá o  processo  (lue  lhes  fizera,  acompanhado  d'mna  pre- 
catória ás  authoridades  do  porto  de  França  onde  chegassem 
para  que  fizessem-nos  queimar  como  revoltosos  e  hereges. 
A  Providencia  Divina  porém  que  nâo  {X)dia  concorrer  para 
semelhante  crime,  fez  com  que  aportassem  á  Blauet,  na 
Bretanha,  onde  dominava  o  partido  protestante,^  que  lhe  fez 
a  mais  cordial  recepção. 

Remettemos  o  leitor  curioso  para  a  interessante  obra  de 
Lery,  verdadeira  odysséa  d'essa  longa  e  perigosa  navegação 
de  quatro  mezes  e  meio,  em  que  elle  e  seus  companheiros 
encaravam  de  perto  à  morte,  jà  vendo  o  seu  navio  quasi 
despedaçado  nos  baixios,  jà  experimentando  as  torturas  da 
sede  e  os  horrores  da  fome. 

Quando  o  Jacqiies,  que  roçara  nos  rocliedos  submarinos 
fíizia  agua  por  todas  as  partes  alguns  viajantes  preferiram 
os  perigos  de  terra  aos  do  mar,  e  desembarcando  em  um 
escaler  voltaram  aos  domínios  de  Villegaignon.  Bem  de- 
pressa tiveram  d'arrepender-se  de  semelhante  resolução ; 
pois  que  cahindo  nas  garras  do  irritado  tigre  [)agavam  al- 
guns cojii  a  vida  i\  sua  audácia,   fugindo  oulros  para  as 


I 


—  35  — 

povoações  portitguezas,  onde,  para  viverem,  liveram  (rahra- 
í;ar  ocatholicismo. 

Qual  seria  a  causa  cFessa  mudança  que  tão  subitamente 
se  operara  no  animo  de  Villegaignon  ? 

Abramos  as  paginas  da  Historia  de  Franga^  e  vejamos 
se  nos  pôde  ella  dára  solução  do  enigma. 

É  geralmente  sabido  que  pela  exaltação  ao  Ihrono  d^Hen- 
rique  II,  os  Guises,  que  no  precedente  reinado  tinham  sido 
privados  de  toda  a  influencia,  se  viram  rehabilitados  nas 
boas  graças  do  monarcha  e  partilhavam  com  os  Montmo- 
rencys  e  Chatillons  das  primeiras  posições  olliciaes.  Entri^ 
as  facções  diversas  que  nessa  épocha  dividiam  a  França 
oscillava  o  espirito  pouco  enérgico  do  rei :  e  assim  se  ex- 
plica como  Gaspar  de  Chatillon,  conde  de  Coligny,  reunia 
em  si  os  cargos  d\almirante  e  coronel  general  d'infantaria, 
em  quanto  o  duque  de  Guise,  commandava  o  exercito,  que 
repellia  á  Carlos  V  dos  muros  de  Metz,  e  seu  irmão  Cláudio, 
cardeal  de  Lorena,  tinha  a  suprema  administração  da  fa- 
zenda publica,  send;)  incontestavelmente  a  primeira  in- 
telligencia  do  clero.  Todas  essas  ambições  rivaes.  todos 
esses  caracteres  oppostos,  não  podiam  viverem  harmonia  : 
uns  procuravam  supplantar  aos  outros  no  espirito  do  rei. 
Como  era  natural  o  almirante  Coligny  succumbiu  na  lucta  ; 
e  uma  intriga  urdida  pela  duqueza  de  Valentinois  (Diana 
de  Poitiers)  fez  com  que  exfriassem  as  boas  relações  entre 
Henrique  II  e  seu  virtuoso  ministro. 

Foi  provavelmente  nessa  occasião  que  o  cardeal  de  Lo- 
rena escreveu  a  Villegaignon  para  que  deixasse  o  seu  dis- 
farce porque  nada  mais  podia  esperar  do  almirante,  e  que 
se  declarasse  abertamente  catholico ;  e  este,  à  imiLação  de 
lodos  os  renegados  que  querem,  por  excesso  de  zelo  dar 


—  »8  — 

índia  carregailos  de  immensas  riquezas,  accommelteria  as 
principaes  povoações  do  littoral  brasilico  submeltendo-as 
com  facilidade,  attento  o  estado  de  fraqueza  era  que  se 
achavam.  O  temor  de  vêr  cortado  o  commercio  do  Oriente 
e  perdidas  as  praças  mais  importantes  que  possuia  na  re- 
cente colónia,  além  do  sentimento  que  lhe  causaria  a  pro- 
pagação do  protestantismo,  que  seria  inevitável  com  o 
triumpho  de  Villegaignon,  que  então  era  geralmente  con- 
siderado como  sectário  da  Reforma,  influíram  poderosa- 
mente no  animo  do  politico  e  catholico  Rei  D.  João  III, 
que  deu  terminantes  ordens  para  a  expulsão  dos  francezes 
dos  seus  dominios  ultra-marinos. 

Apenas  chegou  à  Bahia  cuidou  Mem  de  Sà  de  dar  cum- 
primento à  ordem  regia ;  mas  para  uma  empreza  na  qual 
a  honra  nacional  se  achava  empenhada  apenas  lhe  havia 
mandado  a  corte  três  máos  navios  de  guerra,  abandonando, 
com  indesculpável  incúria  o  governador  geral  aos  fracos 
recursos  que  lhe  podiam  ministrar  os  colonos. 

Sobre  o  estado  de  penúria  em  que  se  achava  a  capital  do 
Brasil  interroguemos  os  chronistas  e  Rocha  Pitta  nos  res- 
ponderá : 

c  Estavam  a  cidade  da  Bahia  e  seu  recôncavo  faltos  de 
f  tudo  o  que  era  preciso  para  tanta  empreza.  Não  haviam 
t  navios,  era  pouca  agente,  por  se  achar  muita  noem- 
«  prego  da  conquista  dos  gentios,  cuja  guerra,  posto  que 
•  porfiada  era  mui  differente  da  que  agora  emprehendia 
f  com  a  nação  franceza,  tão  conhecidamente  valerosa  : 
«  haviam  poucos  instrumentos  próprios  e  precisos  para  as 
€  expugnaçôes.  Os  viveres  e  vitualhas  não  eram  propor- 
c  cionadas  para  a  facção.  >  (25) 

A'  esta  falta  quasi  que  absoluta  de  meios  necessários 


—  37  — 

administral-a  tom  o  titulo  do  governador  geral  a  Mem  de 
Sá.  desembargador  da  Casa  da  Supplicação,  varão  conspí- 
cuo pelas  suas  luzes  e  raras  virtudes,  que  faziáo-no  digno 
irmão  do  grande  poeta  Francisco  de  Sá  e  Miranda,  o  il- 
lustre  emulo  de  Camões.  A  esc4)lha  de  um  homem. da  lei, 
de  um  cultor  das  letras  parecia  indií^ar  que  a  metrópole 
occupava-se  mais  seriamente  com  a  sorte  dos  seus  vassal- 
Jos  dWmerica,  e  que  ífueria  terminar  o  regimen  arbitrário 
que  até  então  nella  prevalecera,  accedendo  às  representi- 
ções  da  camará  da  Bahia  que  em  1356  pedia  era  nome  de 
todo  o  povo  que,  pelas  chagas  de  Cliristo  mandasse  com 
brevidade  governador  e  ouvidor  geral  retirando  os  que  es- 
tavão ;  pois  que  para  penitencia  de  peccados  já  bastava 
tanto  tempo.  (24) 

A  discórdia  que  reinava  entre  os  francezes  era  ignorada 
pelos  seus  rivaes.  que  julgavam-nos  enraizados  no  paiz. 
tanío  pela  sua  favorável  posição  topographica,  como  muito 
principalmente  pelas  sympathias  que  haviam  sabido  inspi- 
rar aos  Tupinambàs  e  Tamoyos,  tribus  guerreiras ,  que 
dominavam  n'esta  parte  do  Brasil,  e  já  D.  Duarte  da  Costa 
nos  últimos  tempos  do  seu  governo  pedia  reforço  a  Portu- 
gal para  desaloja-los.  O  que  porém  julgamos  que  decidiu  a 
corte  a  tomar  uma  resolução  enérgica  a  tal  respeito  foram 
as  solicitações  dos  Jesuítas,  que  de  tudo  tinham  sido  in- 
formados, e  que,  pela  sua  inimitável  politica,  sabiam  que 
um  corpo  de  dez  mil  francezes,  flamengos,  e  aventureiros 
de  outras  nações,  estava  prestes  a  partir  para  a  França 
Antárctica  em  soccorro  de  Villegaignon,  á  quem  também 
se  attribuia  o  projecto  de  ir  a  Europa  -equipar  mm  esqua- 
dra, com  que  depois  de  ter  feito  grandes  damivos  ao  com- 
mercioportugiiez,  íiprisionando  os  galeões  que  voltavam  da 


-^  40  - 

Religiosos  da  Companhia  os  padres  Fernão  Luiz  e  Gaspar 
Lourenro. 

Animados  os  porlugaezes  com  os  auxílios  que  acabavam 
de  receber  resolveram  proseguir  no  malogrado  ataque  do 
forte  Coligny.  Forçaram  a  barra,  apezar  da  tenaz  resis- 
tência dos  francezes  que  Ih^a  queriam  tolher,  e  fazendo 
entrar  os  navios  c  canoas  tentaram  um  desembarque  na 
I)raia  fronteira  da  ilha.  Esta  porém  se  achava  fortificada 
de  modo  à  faze-la  enexpugnavel  si  ás  obras  d'arte  se  tives- 
sem junctado  o  enthusiasmo  guerreiro  dos  defensores,  es- 
timulados por  um  chefe  hábil  gosando  de  suas  afTeições. 
Xos  dois  extremos  da  ilha  haviam,  como  jà  fica  dito,  dois 
oiteiros  cobertos  de  bastiões,  no  meio  um  rochedo  do  cin- 
coenta  á  sessenta  pés.  onde  se  via  a  c^sa  do  governador 
abrigada  por  ameias,  seteiras  e  torrinhas  (áO) ;  fortes  mu- 
ralhas e  profundas  trincheiras  tornavam  diíBcil  senáo  im- 
praticável o  seu  accesso.  Seria  uma  nova  Diu  si  nella  com- 
mandasse  algum  D.  João  de  Mascarenhas:  mas  o  seu  chefe 
e  fundador  a  havia  desamparado  partindo  para  a  Europa, 
oito  ou  nove  mezes  antes,  com  o  fim  real  ou  supposto,  de 
agenciar  reforços.  Não  cabe  á  historia  o  avaliar  das  inlea- 
çócs  de  quem  quer  que  seja ;  o  sanctuario  d'alma  fica  im- 
penetrável aos  olhos  dos  homens ;  só  Deus  pode  nelle  en- 
contrar motivos  para  galardão,  ou  castigo.  A  dobrez  po- 
rém do  caracter  de  Villegaignon  nos  faz  sus[)eitar  que  ha- 
vendo perdido  as  esperanças  de  constituir-se  um  grande 
senhor  feudal,  e  quiçá  soberano  independenle  nas  lougi- 
í|uas  terras  da  America,  e  vendo  falharem  as  pmiuessas 
que  lhe  haviam  sido  feitas  resolvesse  partir  para  a  França 
aimunciando  aos  seus  companheiros  (jue  (lue.hia  buscar 
soccorros  para  roílisar  gigantescos  planos.   D^ahi  certa- 


—  41   — 

mente  provieram  os  boatos  a  que  acima  alludimos,  e  de 
que  os  Jesuítas  fizeram  sciente  â  El-rei  D.  João  III.  (27) 

Desanimados  pela  ausência  do  chefe  e  pela  incerteza 
que  pairava  sobre  o  futuro  do  seu  estabelecimento  maravi- 
Iha-nos  a  coragem  que  ostentaram  os  francezes  na  defesa 
das  suas  fortificações.  Havendo-ihes  intimado  Mem  de  Sá 
que  deixassem  a  terra,  pois  pertencia  esta  a  el-rei  de  Por- 
tugal, responderam-lhe  altivamente  os  da  praça ;  preen- 
chidas assim  as  formalidades  exigidas  pelos  estylos  da  guer- 
ra romperam  as  hostilidades. 

Desembarcaram  os  portuguezes  na  ilha  n'uma  sexta  feira 
13  de  Março  e  durante  dois  dias  e  duas  noites  houve  entre 
estes  e  os  sitiados  vivissimo  fogo.  A  resistência  dos  da 
praç>a  arrancou  a  admiraçáo  do  governador  geral  que  assim 
se  exprime  na  sua  participação  official :  «  Porqtie  siipposto 
que  vy  mmto  e  hj  menos  a  my  parece  que  senão  viu  outra  for- 
taleza tam  fúríe  no  mundo:  •  tentando  um  derradeiro  es- 
forço, porque  sua  coragem  jà  começ^ava  a  fraquear  «  can- 
çados  da  demasia  do  trabalho  e  de  combate  tão  vigoroso, 
diz  S.  de  Vasconcellos  na  vida  d* Anchieta,  em  que  erão  jà 
mortos  muitos  e  bons  soldados  e  estavam  feridos  muitos 
mais  »  escalaram  os  portuguezes  as  muralhas  i)elo  lado  do 
arsenal  e  apoderáram-se  à  viva  força  do  monte  das  palmei- 
ras, que  era  considerado  como  a  sua  cidadélla  d'onde  fa- 
zendo mortífero  fogo  obrigaram  os  inimigos  á  evacuarem 
a  ilha  procurando  salvar  as  vidas  nas  canoas  nas  quaos  |>as- 
sàram  ao  continente, 

Segundo  o  testemunho  do  próprio  Mem  de  Sá  o  numero 
dos  francezes  que  capitularam  era  de  setenta  c  quatro 
além  de  alguns  escravos ;  a  cujo  numero  se  jnnctâram  os 
que  andavam  em  terra  bem  como  a  tripularão  do  tima  iiáo 

JANEIRO.  •  H 


—  42  — 

franceza  aprisionada  pela  galera  Ezaura.  Os  gentios  eram 
mais  de  mi!  e  tão  bons  espUigardeiros,  diz  o  govemador-gc- 
ral,  co)no  os  francezes.  Os  assaltantes  não  passavam  de 
duzentos  e  sessenta,  entre  portuguezes  e  indigenas. 

Senhores  da  i;ha  apressáram-se  os  portuguezes  em  ren- 
dei' graças  ao  Céo  pelo  seu  assignalado  triumpho  celebrando 
o  sacrifício  da  missa  os  dois  Jesuítas  que  tinham  guiado  os 
índios  de  S.  Vicente. 

Passados  os  momentos  de  cnlhusiasmo  e  de  agradeci- 
mento ao  Todo  Poderoso  pela  vicloria  que  havia  obtido 
pensou  o  governador  geral  ser  tempo  de  também  attende- 
rem-se  às  razões  politicas  de  presidiar,  ou  arrasar  o  forte, 
convocando  para  semelhante  fim  um  conselho  dos  princi- 
pae5  ofliciaes.  Opinaram  alguns  pela  necessidade  de  deixar 
uma  forte  guarnição  na  conquistada  ilha  afim  de  impedira 
volta  dos  francezes,  que  não  deixariam  de  frequentar  a 
terra,  onde  por  (pia tro  annos  haviam  permanecido.  A  razão 
porém  de  não  ser  conveniente  dividir  as  forças  de  que  se 
havia  mister,  não  só  para  submetter  os  gentios,  como  para 
rechassar  qualquer  invasão  estranha  prevaleceu.  Nesta  con- 
formidade ordenou  Mem  de  Sá  que  fosse  totalmente  arra- 
zado  o  forte  Coligny  e  recolhidos  aos  navios  portuguezes  a 
artilhería  e  grande  quantidade  de  despoj(íS  do  inimigo. 

Feitos  todos  os  preparativos  de  viagem  deixou  o  gover- 
nador geral  o  nosso  porto  desembarcando  à  31  de  Março 
em  S.  Vicente,  onde  a  nova  dos  brilhantes  successos  ope- 
rados no  Rio  de  Janeiro  eda  completa  derrota  dos  france- 
zes foi  recebida  com  grande  alvoroço  dos  moradores,  e 
mui  principalmente  por  Nóbrega  e  Anchieta,  que  tanto 
tinham  contribuído  para  o  bom  resultado  da  aniscaiki 
cmpreza. 


—  43  — 
Vil. 

ATAQUE    D'uRlÇLMmiM — MORTE    dV-STACIO    DE    SÁ. 

Como  muito  bem  previra  Mem  de  Sà  (28)  náo  tardaram 
os  francezes  em  voltarem  ao  Rio  de  Janeiro  onde  contavam 
com  a  alliança  dos  naturaes  e  achando-o  completamente 
abandonado  pelos  portugiiezes  escolheram  melhores  posi- 
ções fortilicando  as  aldeias  á'Uniçumirim  e  Parampucu^ 
hy ;  (áO)  doestas  aldeias  a  primeira  estava  no  continente, 
situada  juncto  á  foz  do  ribeiro  Carioca  (30),  que  como  diz 
Gabriel  Soares  no  Roteiro  do  Brasil,  ficava  na  extremidade 
da  enseada  de  Fra)icisco  Velho  (Botafoíjo)  no  lugar  hoje 
denominado  praia  do  F/am(?/ií/o  devendo  o  seu  nome  (PUni^^. 
çumirim,  segundo  affirma  o  nosso  illustrado  collega  e  ami- 
go o  Sr.  Norberto,  a  um  chefe  indio  que  alli  commandava. 
A  segunda  (Paranapuctihtj)  achava-se  n'uraa  grande  ilha, 
hoje  conhecida  pela  do  Governador  por  ter  pertencido  a 
Salvador  Corrêa  primo  e  successor  de  Estacio  de  Sá  (31). 

No  espaço  de  vinte  annos  em  que  o  metrópole  deixou 
em  olvido  o  Rio  de  Janeiro  repararam  os  francezes  as  suas 
perdas  e  bem  que  pareça  náo  haverem  intentado  a  funda- 
ção de  novas  colónias  continuaram  a  entreter  relações 
d'amizade  e  commercio  com  os  Tamoyos.  a  dirigi l-os  em 
suas  guerras,  n'uma  palavra  a  exercer  sobre  elles  uma  es- 
pécie de  protectorado  funesto  em  todos  os  sentidos  ao 
dominío  portuguez.  As  duas  famosas  aldeias,  que  acima 
mencionamos  não  eram  governadas  pelos  francezes  e  sim 
por  chefes  indígenas ;  mas  defendiam-nas  as  bonbardas  e 
arcabuzes  sendo  a  tatic^  militar  dos  povos  cultos  emprega- 
da em  sustentar  a  barbaria  contra  a  civilisaçáo.  Tudo  pa- 
rece indicar  que  nessa  épocha  os  francezes  já  náo  pretea- 


—  44  — 

(liam,  como  no  lempo  de  Villegaignon.  fundar  um  estabe- 
lecimento dependente  da  metrópole  e  que  servisse  de 
núcleo  a  futuras  colónias  da  sua  nação,  mas  unicamente  pro- 
longar o  staíu  quo  com  que  tanto  lucravam,  oi)pondo-se 
com  todas  as  suas  forças  a  que  os  portuguezes,  ou  qual- 
quer outro  povo,  conquistassem  o  paiz. 

Fieis  á  esse  programma  vemo-los  exacerbar  o  ódio 
que  os  tamoyos  nutriam  contra  os  successores  de  Ca- 
bral pondo  em  perigo  as  suas  recentes  povoações.  S.  Vi- 
qente  e  Piratininga  foram  ameaçadas  de  total  extermínio; 
e  sem  os  heróicos  esforços  de  Nóbrega  e  Anchieta  que  na 
conferencia  álperoUi]  presidida  pelo  prudente  Piíulobuçú, 
e  a  que  assistiram  ós  principaes  chefes  da  confederação 
tamoya,  celebraram  esse  famoso  armistício  que  fez  por  um 
momento  suppur  que  a  paz  se  hia  restabelecer  entre  os 
antigos  e  os  novos  senhores  do  Brasil.  O  antagonismo 
porém  das  duas  raças  era  manifesto  e  profundo;  de  modo 
que  não  podemos  ao  certo  affirmar  si  foram  os  portugue- 
zes, ou  os  tamoyos,  que  primeiro  violaram  o  tratado. 

A  noticia  que  os  formidáveis  filhos  das  florestas  tropicaes 
haviam  jurado  pela  boca  dos  seus  pagés  cessarem  d'hostili- 
sar  aos  neo-lusitanos  causou  excessiva  alegria  por  todo  o 
Brasil,  alegria  esta  de  que  participou  a  própria  corte  de 
Lisboa.  A  senhora  D.  Catharina.  irman  do  imperador 
Carlos  V,  que  governava  Portugal  na  menoridade  de  seu 
neto  D.  Sebastião,  entendeu  que  offerecia-se  azada  occa- 
siáo  para  povoar  o  Rio  de  Janeiro,  privando  d^est^arte  os 
francezes  (Puma  favorável  localidade  d'onde  tinham  em 
constantes  sustos  os  seus  vassallos  d'além-mar. 

Com  o  tino  governativo,  que  tanto  caracterisava  a  viuva 
de  D.  João  III,  e  ajudada  pelos  conselhos  de  D.  Aleixo  de 


—  líJ  — 

Menezes,  náo  fui  difficil  a  escolha  do  homem  que  devera 
ser  incumbido  de  tão  nobre  tarcfii.  A  illustre  famiUa  dos 
Sàs.  offerecia  à  coroa  servidores  de  provado  zelo  e  dedi- 
cação; assim  pois  Estacio  de  Sá,  jà  conhecido  pelos  seus 
gloriosos  precedentes,  recebeu  ordem  de  partir  para  a 
Bailia  com  dois  galeões,  carregados  com  toda  sorte  de 
petrechos  de  guerra,  e  alli  receber  as  instrucçôes  do  go- 
vernador-geral  para  o  bom  êxito  da  sua  commissão. 

Chegando  á  antiga  capitai  do  Brasil  no  principio  do 
anno  de  1S64  entregou  a  seu  nobre  tio  as  cartas  da  rai- 
nha-regente  nas  quaes  depois  de  elogial-o  pelos  relevantes 
serviços  que  prestara  ao  Estado  com  a  tomada  do  forte 
Coligny  e  a  expulsão  dos  francezes,  recommendava-lhe  que 
aproveitando-se  do  feliz  ensejo  do  armistício  dlperohy  tra- 
tasse de  povoar  o  Rio  de  Janeiro  desligando  para  sempre 
os  tamoyos  dos  seus  antigos  e  temiveis  alliados.  Deu-se 
pressa  o  zeloso  Mem  de  Sà  de  executar  as  ordens  de  sua 
soberana,  e  pondo  à  disposição  de  seu  valente  sobrinho  as 
poucas  forças  coloniaes,  prescreveu-lhe  que  se  dirigisse  ao 
nosso  porto,  fazendo  escala  por  alguns  outros  da  costa, 
onde  podesse  receber  novos  auxilies. 

Obedecendo  a  estas  instrucçôes  aportou  Estacio  de  Sá  ao 
Espirito  Santo,  onde  pelos  esforços  do  ouvidor  Braz  Fra- 
goso, poude  alcançar  a  amizade  do  prestimoso  Ararigboia 
chefe  dos  esforçados  tupiminós.  encarniçados  inimigos  dos 
tamoyos.  t  Cheio  d'enthusiasmo,  diz  o  Sr.  Norberto, 
t  anhelando  o  feliz  êxito  de  tamanha  empresa  não  Hmitou 
«  Ararigboia  o  seu  soccorro  em  acompanha-lo  com  gente 
t  de  peleja  que  escolheu  entre  os  seus  mais  bravos  guer- 

•  reiros;  porém  administrou  também  armas  para  os  índios 

•  e  os  favoreceu  com  abastança  de  mantimentos.  »  (32) 


-  4C  - 

Determinava  o  regimento  da  frota  que  demandasse  esta 
o  Rio  de  Janeiro  com  apparato  bellico  attrahindo  os  fran- 
cezcs  para  uma  batalha  naval  fora  da  barra,  fazendo  semjnr 
jwr  conservar  as  pazes  com  os  hidios  tamoyos ;  nâo  poude 
porém  o  capitâo-mór  dar  cumprimento  á  esta  clausula;  por 
isso  que  aqui  chegando  no  mez  de  Fevereiro  soube  que  os 
indigenas  haviam  rompido  o  armistício,  e  d'isso  íeve  evi- 
dentes provas  com  a  morte  de  quatro  marinheiros  perten- 
centes a  um  batei,  que  procurando  fazer  aguada  em  uma 
ribeira  fora  acommettido  por  sete  canoas  dMndios  ar- 
mados. 

A  vinda  dos  portuguezes  era  de  ha  muito  esperada: 
todas  as  praias  estavam  guarnecidas  dMmpavidos  guerrei- 
ros vestidos  de  pennas  de  guarás  e  tucanos  brandindo  ter- 
ríveis tocápes,  ornadas  as  frontes  desses  lindos  cocares,  que 
quaes  os  turbantes  dos  sectários  do  Koran,  tâo  marcial  as- 
pecto lhes  dava  e  a  quem  chamava  dos  cerros  das  quebra- 
ílas  e  dos  outeiros 

«  A  terrível  inubia  que  assignala 

«  A  hora  da  investida  e  retirada  »  (33) 

A  prudência  aconselhou  ao  capitão -mór  que  com  tão 
débeis  forças  não  arriscasse  a  arrojada  empresa ;  assim 
pois  desfraldou  as  velas  para  S.  Vicente,  onde  contava 
com  a  nunca  desmentida  fidelidade  dos  seus  liabitantes. 

No  porto  de  Santos,  onde  em  breves  dias  entrou  a  es- 
quadra soube  com  grande  regosijo  que  os  tamoyos  de  Pi- 
ratininga  ainda  se  conservavam  addictos  ao  convénio  d^lpe^ 
rohy,  e  que  o  fiel  Cunhwnbeba  continlia  em  respeito  os 
inquietos  tupis.  Ainda  esta  vez  Nóbrega  e  Anchieta  em- 
pregam o  prestigio  que  as  suas  sobre -humanas  virtudes 


—  i7  — 

lhes  haviam  grangearlo  e  da  exhausta  c^ipitaiiia  surgem 
novas  forns.  Com  os  soc^orros  ahi  recebidos  elevou-se  a 
expedição  a  seis  navios  de  guerra,  alguns  barcos  ligeiros  e 
nove  canoas  de  misliços  e  Índios. 

Ordenara  o  provincial  dos  jesuitas  no  Brasil  (34)  ao 
Padre  Gonçalo  d^Oliveira  e  ao  irmão  José  d'Anchieta  quo 
s^mbarcassem  nessa  frota  para  animarem  os  Índios  cm 
cujo  espirito  suas  palavras  exerciam  incontestável  influxo. 

No  dia  20  de  Janeiro  de  loG6,  memorável  nos  fastos  da 
igreja  pelo  martyrio  de  S.  Sebastião,  partiu  Estacio  de  Sá 
do  iwrto  de  Berriquiúca  (33)  com  destino  á  capitania  do 
Espirito  Santo,  d'onde  dcmorando-sc  o  tempo  unicamente 
necessário  para  receber  nova  provisão  de  gente  e  de  man- 
timentos, aproou  para  o  Rio  de  Janeiro  e  â  áO  de  Março 
avistou  o  Pão  d'Assucar.  (36) 

Juncto  â  esse  natural  monolitho,  quiçá  testemunha  das 
primeiras  revoluções  geológicas  do  globo,  desembarcou  o 
capitão-mór  não  sem  grande  resistência  di  parte  <los 
francezes  e  tamoyos.  Escolhido  este  sitio  para  seu  acom- 
panhamento fortiíica-o  com  fossos  e  trincheiras,  desem- 
barca a  artilhería  dos  galeões  e  prepara-se  para  sustentar 
renhida  lucta  que  deve  ser  coroada  pela  mais  brilhante 
victoria. 

Acerca  da  posição  topographica  do  campo  portuguez, 
que  serviu  de  berço  à  nossa  hoje  opulenta  capital,  não 
estão  de  accordo  os  historiadores :  querendo  uns,  como 
Pizarro,  que  fosse  junto  à  moderna  fortaleza  de  S.  João, 
e  outros,  como  Balthazar  da  Silva  Lisboa,  na  var:íea  viú- 
tiha.  Pensa  o  Sr.  Varnhagen.  e  julgamos  que  com  todo  o 
fundamento,  que  pode  ser  elle  assignado  no  lugar  actual- 
mente chamado  Praia-  Vermelha,  onde  se  ergue  o  monu- 


—  48  — 

mental  hospício,  à  que  um  piedoso  mouarcha  deu  o  seu 
nome.  Ao  testemunho,  sempre  valioso  do  nosso  iliusliado 
e  laborioso  consócio,  podemos  juntar,  o  não  menos  impor- 
tante, do  inspirado  contar  dos  tamoyos. 

«  Junto  do  alto  penedo  Páo-d'Assucar 

*  Balisa  natural  do  immenso  golpho. 

«  Já  o  capitao-mór  entrincheirado 

«  De  forte  praça  os  bastiões  erguia 

«  Na  praia  que  Vermelha  hoje  chammos  (:i7) 

Pouparemos  aos  leitores  a  fastidiosa  narrativa  dos  pe- 
quenos combates,  verdadeiras  escaramuças,  sem  resultado 
algum  definitivo,  que  tiveram  lugar  por  espaço  de  dez 
raezes  entre  os  tamoyos,  capitaneados  pelos  francezes,  e 
os  portuguezes,  ao  mando  de  Estacio  de  Sà.  Entre  esses 
conflictos  avultam  a  tomada  d'uma  náo  franceza  tripulada 
por  cento  e  dez  homens  que  se  dísiam  catJwlicos,  na  phrasc 
dWnchieta.  e  aos  quaes  permittiu  o  capitáo-mór  o  seu  re- 
gresso à  Europa ;  bem  como  o  famoso  combate  de  sele 
canoas  portuguezas  contra  sessenta  e  quatro  indígenas  em 
que  a  victoria  se  declarou  pelas  primeiras,,  graç^is,  dizem 
os  chronistas,  á  ostensiva  intervençJo  do  glorioso  martyr 
sob  cujo  patrocínio  pelejavam  os  luzitanos.  Essas  a^pa- 
riçóe^  de  santos  no  meio  das  batalhas  estava  muifc  no 
gosto  dos  nossos  antepassados,  que  também  attribuiam  a 
victoria  d'Aljubarrota  á  miraculosa  presença  de  S.  Jorge. 
Longe  de  desenganar  o  povo,  chamando-o  a  um  chris- 
tianismo  illustrado,  o  clero  d^essa  épocha  introdusiacm 
suas  chronicas  fabulosas  lendas,  fíivorecendo  d'est'arte  o 
fanatismo,  lâo  fatal  à  verdadeira  religião  como  à  impiedade. 
Não  transcreveremos  tão  [)()uco  as  falias  e  proclamações  do 


—  tn  — 

<:oramaiidaíite  portuguoK  poniue  ncDliuma  fó  nos  merecem 
semelhantes  documentos,  cuja  falta  d'authenticidade  reco- 
nhece-sc  ao  primeiro  exame,  nâo  necessitando  grande 
perspicácia  para  descobrir-so  em  todas  ellas  a  pcnna  do 
padre  S.  de  Vasconcellos  ,  chronista  da  companhia  de 
Jesus. 

Para  mostrar  aos  seus  o  íirme  propósito  (lue  havia  for- 
mado de  nâo  abandonar  o  Rio  de  Janeiro,  como  já  uma 
\'òz  imprudentemente  se  íizéra,  ordenou  ao  capitáo-mór  a 
partida  dos  navios,  que  haviam  transportado  a  expedição. 

Paliando  a  tal  respeito  assim  se  exprime  um  illustre 
historiador  contemporâneo : 

«  Já  então  tinham  os  nossos  um  baluarte  de  taipa  e 
«  alguns  ranchos  e  casas  cobertas,  e  feitas  em  redor  da 
€  cerca  muitas  roças  e  plantado  legumes  e  inhames ;  e  o 
«  capitâo-mór  para  prender  melhor  os  seus  aterra,  e  ti- 
«  rar-lhes  do  pensamento  a  possibilidade  da  retirada, 
€  despediu  todos  os  navios.  Sem  os  incendiar,  como  Aga- 
4L  tocles  era  Africa,  sem  os  encalhar,  como  praticara  alguns 
<  anãos  antes  Cortez  no  México,  conseguio  resultados 
€  idênticos.  »  (38) 

Apezarda  heróica  tenacidade  do  chefe  portuguez,  apezar 
dos  conselhos,  das  exhortaçóes  e  até  das  [)rop]iecias  dos 
Jesuítas,  a  coragem  dos  soldados  começava  a  fraquear  e 
os  índios  davam  evidentes  indícios  de  quererem  regressar 
às  suas  tabas.  Crítica  era  por  certo  a  posição  d^Estacio 
de  Sá. 

N'esta  conjunctura  uma  circumslancia,  cm  si  de  pouco 
valor  para  o  futuro  da  colónia,  veio  apressar  o  dosfeicho 
da  crise.  José  <rAnghieia,  que  como  já  vimos,  era  simples 
irmão  coadjuctor,  foi  chamado  á  Bahia  pelo  segundo  bispo 
do  Brasil,  D.  Pedro  Leilão,  que  houvera  sido  seu  compa- 

JANEIRO.  7 


—  :jo  — 

nheiro  na  universidade  deCoimbya,  para  completar  a  sua 
ordenação  recebendo  ordens  sacras  inclusive  o  presbyte- 
rado.  Gozava  este  santo  varão  de  grande  estima  em  todo  o 
Brasil ;  assim  pois  foram  ouvidos  com  grande  acatamento 
os  seus  conselhos  acerca  da  urgente  necessidade  de  pres- 
tarem-sc  soccorros  ao  capitáo-môr  do  Rio  de  Janeiro.  O 
governador,  o  bispo,  e  o  padre  Ignacio  d' Azevedo,  que  aca- 
bava do  chegar  com  a  patente  de  visitador  geral  dos  jesuítas, 
tomaram  a  peito  de  seguirem  o  nobre  impulso  que  lhes 
dava  o  joven  loviUi,  a  quem  a  posteridade  agradecida  devera 
denominar  um  dia  —  Apostolo  do  Novo  Mundo, 

Pondo  de  parte  outros  negócios,  (jue  exigiam  a  sua  pre- 
senra  na  capilal  do  Estado,  os  três  protogonistas  doeste 
drama  resolveram  invidar  todas  as  suas  forças  para  que 
í^Tandes  e  promptos  auxílios  fossem  por  elles  levados  ao 
Rio  de  Janeiro.  (39) 

Sahindo  da  Bahia  em  Novembro  de  156G  com  destino  à 
capitania  dos  Ilhéos,  onde  o  governador-geral  puniu  cora 
scv«.MÍdade  a  revolta  dos  Aymorés.  assegurando  assim  a 
tranquilidade  das  vizinhas  povoações  durante  a  sua  ausência, 
deixou  essa  capitania  no  primeiro  de  Janeiro  de  1567  vindo 
surgir  defronte  da  nossa  barra  a  18  do  mesmo  mezeanno, 
ante-vespera  de  S.  Sebastião,  (juetão  estreitamente  se 
acha  ligado  coma  historia  da  nossa  cidade,  que  ainda  n'um 
século  de  geral  descrença  se  ufana  de  contal-o  por  pa- 
droeiro. 

Animado  Estacio  de  Sá  com  o  inesperado  soccorro,  que 
tào  opportunamente  lhe  trazia  seu  preclaro  tio,  foi  de  pa- 
recer que  se  atacassem  as  aldeias  fortificadas  no  próprio 
dia  do  martyr,  opinião  esta  que  prevaleceu  no  conselho, 
adrede  convocado  pelo  governador-geral,  incumbindo-se  o 
capitão-mór  de  dirigir  o  combate. 


—  51   — 

IkMxauilo-se  apenas  um  dia  para  rofocillar  as  al(piel>radas 
forçais  <los  lassos  coinbalentes  foi  tudo  disposto  para  que 
o  sol  do  20  de  Janeiro  aliuiniasse  a  victoria,  ou  a  completa 
ilerrota  dos  portuguezes. 

O  clangor  das  trombetas  e  o  rufar  dos  tambores  annun- 
^jou  logo  ao  despontar  d'aurora  um  dia  de  peleja ;  mas 
nessa  era  o  soldado  catholico  não  se  batia  com  denodo  se 
não  contasse  com  o  auxilio  do  céo,  si  genuflexu  ante  os 
altares  onde  se  celebrava  o  cucharistico  myslerio.  nãoofle- 
recesse  a  sua  vida  em  holocausto  ao  seu  Deus,  que  descia 
ao  sanctuario  do  sua  alma,  puriíicada  pelo  sacramento  da 
penitencia.  Assim,  depois  de  ouvirem  missa,  coumiimga- 
rem  e  re<^eberem  abençam  apostólica,  (jue  lhes  lançou  o 
bispo  D.  Pedro  Leitão,  accommetteram  os  portuguezes  e 
os  seus  alliados  a  aldeia  irUruçumirim  princii)al  acam|)a- 
mento  dos  inimigos. 

Dirigiu  o  capilão-mór  uma  enérgica  falia  aos  seus  sol- 
dados lembrando-lhes  a  victoria  em  nome  do  sancto  pa- 
droeiro. Encarniçada  foi  a  peleja ;  os  tamoyos  e  francezes 
oppuzeram  obstinada  resistência  aos  esforços  dos  guer- 
reiros d^Estacio  de  Sá ;  o  pelouro  cruzava-se  nos  ares  com 
a  ervada  sela  e  a  espada  encontrava -s(í  coma  tacape.  Era 
uma  scena  de  horror  e  confusão;  uma  guerra  d(M*anni- 
baes.  Os  tupiminós  cevavam  o  seu  implacável  ódio  secular 
vingança  no  sangue  dos  tamoyos;  vendo  igualmente  os 
portuguezes  nos  filhos  da  bellicosa  Gallia  outros  tantos  he- 
reges, cujas  vidas  não  lhes  era  permittido  poupar.  Assim 
ás  crueldades  inherentes  a  todas  as  guerras— junclava-se 
ainda  o  implacável  furor  das  contendas  religiosas.  O  de 
lírio  do  combate  os  tinha  cegado;  sua  alma  se  feichára  a 
lodos  os  sentimentos  nobres  e  generosos ;  uma  só  ideia 
sobre  elles  predominava-a  d(»  arrazar  as  aldeias  contrarias 


—  cíá  — 

exterminando  os  seus  ilefensores. — O  chronista  di  Compa- 
nhia diz-nos  com  plácida  indiíTerença  que  nem  um  só  ta- 
moijo  escapou  com  vida,  e  dos  francezes  cinco,  que  cahíram 
nas  mãos  dos  porlnguezes,  furam  pendurados  em  um  pau  para 
escarmento  dos  outros !  (40)  O  que  respeitou  o  arcabuz  c  a 
bombarda  completou  o  incêndio,  que  devorou  em  poucas 
horas  as  pobres  cabanas  dos  fdhos  das  palmeiras.  Apenas 
perderam  os  assaltantes  doze  homens  (o  que  demonstra  a 
superioridade  de  suas  armas )  contando  entre  os  mortos  o 
capitão  de  Porto-Seguro  Gaspar  Barbosa,  assaz  notável 
pelos  seus  importantes  serviços,  e  entre  os  feridos  á  Esta- 
cio  de  Sá.  (41) 

Era  conveniente  aproveitar  o  bellicoso  ardor  da  solda- 
desca ;  resolveu-se  portanto  atacar  immediatamente  a  ilha 
do  Governador  chamada  então  Paranapuciày,  onde  o  ini- 
migo possuia  um  fortissimo  reihicto,  rodeado  de  cercas 
duplicadas  que  o  tornavam  quasi  inexpugnável.  Para  ahi 
foi  pois  transportada  a  artiihería,  cujo  horrisono  estam- 
pido repercurtido  pelos  cchos  da  bahia  misturava-se  com 
a  confusa  grita  dos  selvagens  e  os  rôcos  sons  dos  seus  ba- 
res. Esse  dia  devera  ser  fatal  aos  adoradores  de  Tupau : 
tiveram  de  ceder  á  fortuna  de  seus  contrários,  e  abando- 
nando suas  aldeias,  que  o  fogo  consummia,  foram  buscar 
nas  regiões  ainda  desconhecidas  temporário  asylo,  d'onde 
também  devera  expelli-los  a  desenfreada  cobiça  dos  coloni- 
sadores.  Os  epenicios  da  victoria  e  os  cânticos  de  jubilo 
foram  interrompidos  para  dar  lugar  ao  luto  e  ás  lagrimas : 
o  heróico  Estacio  de  Sá  acabava  de  expirar,  victima  do 
occulto  veneno,  que  lhe  trouxera  a  seta  do  dextro  tamoyo, 
ou  quiçá  da  impericia  dos  Esculápios  da  époclia. 

Foi  o  seu  corpo  depositado  na  capella  da  Villa-Velha  no 
meio  da  geral  consternação  sendo  mais  tarde  (em  1583) 


—  53  — 

Irnslndados  os  seus  ossos  para  a  igroja  tie  S.  Sebastião  do 
Cistello,  onde  aguardam  que  a  gratidão  nacional  lhes  erga 
um  digno  monumento,  que  legue  á  posteri<laíle  a  plástica 
lembrança  do  primeiro  capitâo-mór  do  Uio  de  Janeiro  a 
quem  devemos  o  estabelecimento  do  dominio  luzitano 
nestas  paragens.  Oxalá  que  em  breve  soe  a  hora  da  repa- 
ração c  que  não  possa  um  bardo  fluminense  dizer  um  dia 
iFEstacio  de  Sá  o  que  com  toda  a  razão  disse  Garret  acerca 
do  grande  épico  luzitano,  (42) 

VIII. 

FDNDAÇÃO  DA    CIDADE   DK   S.  SERASTIÂO.  —  EXPULSÃO  DOS 
FRANCEZES. 

Já  vimos  que  Estacio  de  Sá  desembarcando  juncto  ao 
Pão  de  Assucar  dera  começo  a  uma  povoação,  que  depois 
(Icnominou-se  Villa-Velha,  sob  o  patrocínio  de  S.  Sebastião, 
pm  lionra  do  desventurado  príncipe,  que  então  occupava 
o  sólio  alTonsino.  Francisco  Dias  Pinto,  nomeado  alcaide- 
mór  da  futura  cidade  por  provisão  de  10  de  Dezembro  de 
1305.  empossou  à  13  de  Septembro  do  ando  seguinte  ao 
referido  capitão-mór,  como  resavam  as  suas  instrucções, 
com  todas  as  formalidades  então  usadis  e  de  que  faz  ex- 
pressa mensáo  o  Author  dos  Annaes  do  Rio  de  Janeiro.  Essa 
primitiva  povoação  consistia  apenas  em  algumas  cabanas 
edificadas  em  torno  da  fortaleza,  uma  das  quaes  servia  de 
capella,  onde  se  celebravam  os  officios  divinos,  e  onde, 
como  dissemos,  fora  sepultado  o  primeiro  capitão-mór. 
Tudo  tinha  ainda  o  caracter  provisório :  dependia  tudo  do 
êxito  da  guerra. 

Havendo  pago  à  naturesa  o  tributo  de  dor  que  lhe  cau- 
sara a  prematura  morte  do  seu  valente  sobrinho  cuidou 


—  54  — 

Mem  (lo  Sà  de  dar  estabilidade  à  nascente  colónia.  Não  lhe 
parecendo  porém  próprio  o  sitio  onde  fora  ella  assentada 
deliberou  muda-la  para  um  lugar  mais  visinho  ao  anco- 
radouro dos  navios,  e  que  apenas  distava  do  primeiro  uma 
Icgoa. 

O  local  eleito  para  n'ellc  lançarem-sc  os  alicerces  da  ac- 
tual metrópole  do  Brasil  foi  no  angulo  em  que  vemos  hoje 
o  Hospital  (la  Misericórdia  a  que  presidiava  o  forte  de  S. 
Thiago  (43).  Para  a  defesa  da  barra  construiram-se  do 
lado  do  Pão  tT Assacar  as  fortalezas  de  S.  Diogo  e  S.  Theo- 
dosio  (44)  e  fronteira  á  elle  a  de  Nossa  Senhora  da 
Guia  (43)  no  mesmo  lugar  onde  Villegaignon  levantara 
algumas  ligeiras  fortificações.  Na  montanha  que  ficava  á 
cavalleiro  (o  castello)  erguêram-se  o  forte  de  S.  Januário, 
a  matriz,  (45)  as  casas  da  camará  e  do  governador,  assig- 
nando-se  ahi  o  competente  terreno  para  a  edilicação  do 
collegio  dos  padres  da  Companhia,  cuja  doação  foi  aceita 
em  nome  da  ordem  pelo  visitador  geral,  padre  Ignacio  de 
Azevedo. 

Tinha  pressa  Mem  de  Sá  de  tornar  á  Bahia,  onde  sua 
presenç^i  era  reclamada  pelos  interesses  do  Estado,  por- 
tanto demorando-se  aqui  somente  dois  mezes  deixou  o 
nosso  porto  havendo  confiado  a  administração  da  conquista 
a  seu  sobrinho  Salvador  Corrêa  de  Sà,  que  assaz  se  distin- 
guira durante  a  guerra, 

E'  pois  à  este  governador  que  deve  a  nossa  cidade  a  rea- 
lisaçâo  do  plano  concebido  pelo  illustre  Mem  de  Sà.  Foi 
em  seu  tempo  que  começaram  a  alçarem-se  as  casas  feitas 
de  pedra  e  cal  em  substituição  das  humildes  choças,  que  o 
machado  e  o  fogo  derribaram  os  robles  seculares  para  darem 
lugar  às  ruas  e  às  praças,  e  que  sobre  a  chlamide  virginal 
da  natureza  veio  a  civilisaçào  plantar  seu  throno.  (47) 


—  ;)D  — 

Os  Índios  alliados  c  os  citechumenos  dos  jesuifas  eram 
os  operários  com  que  entáo  se  contava ;  porque  nessa  era 
a  escravidão  africana,  abuso  clamoroso  da  força  constituido 
em  direito,  náo  polluia  a  terra  de  Santa  Cruz. 

O  cego  empyrismo  presidiu à edificação  da  nossa  capital; 
e  n'um  clima  abrasador,  debaixo  dos  raios  dardejantes  do 
Gipricornio,  foram  as  habitações  construidas  pelo  medeio 
das  que  existiáo  no  rehw.  O  ferro  iconoclasta  do  colono  não 
deixou  nas  praças  uma  só  arvore  que  abrigasse  o  cami- 
nhante dos  ardores  do  sol,  ea  agua,  cuja  abundância  tor- 
na-se  indispensável  nos  paizes  cálidos,  era  escassa  e  dada 
á  golas,  á  sequiosa  população,  antes  que  fosse  conduzida 
sobre  seu  magestoso  arco  triumphal. 

€  Infelizmente  aqui,  diz  o  Sr.  Varnhagcn,  como  jà  succc- 
€  dera  na  Bahia  e  nas  demais  povoações  adoi)tou-se  com 
«  servilismo  o  systema  de  construcçáo  de  Portugal  e  nem 
«  da  Ásia,  nem  dos  modelos  da  architectura  civil  na  Pe- 
€  ninsula,  isto  é  do  uso  dos  numerosos  pateos  com  rcpuchos 
«  o  dos  eirados,  ou  açotéas,  houve  quem  se  lembrasse. 
«  como  mais  aproposito  para  o  nosso  clima.  Para  certas 
<  vialicas  tudo  depende  do  principio.  »  (48) 

Logo  que  a  terra  começou  a  ser  cultivada  recompensou 
ella  com  explendida  liberalidade  o  trabalho  do  lavrador,  e 
as  abundantes  colheitas  trouxeram  ao  seu  casal  a  satisfação 
intima,  que  resulta  ao  pai  de  familia  quando  vè  em  torno 
de  si  contentes  os  seres  que  lhe  são  caros,  e  que  se  pren- 
dem à  sua  existência,  como  os  liames  os  annoso  tronco. 

A  brilhante  victoria  dos  portuguezes  levara  o  desanimo 
ao  espirito  dos  tamoyos ;  julgaram  ter  ouvido  em  seus  ma- 
racás  a  tétrica  vóz  d*An1iangá ;  e  fatalistas,  como  quasi  todos 
os  povos  bárbaros,  resignàram-se  á  sua  sorte  com  stoica  re- 
signação, promettendo  aos  conquistadores  não  |)crturbar 


—  56  — 

jamais  scusocègo.  Debalde  procuraram  os  francezes  des- 
pertar-lhes  os  brios ;  foram  insensíveis  às  suas  exhortaçôes, 
e  cahíram  nesse  estado  de  marasmo,  de  lethargia  moral, 
visinho  à  morte : 
Consamjaineus  letisopor  como  diz  Virgílio.  (49) 
Apezar  de  semelhante  disposição  e  receiando  que  o  seu 
despertar  seria,  qual  o  do  tigre,  mandou  Salvador  Corrêa 
romper  as  matas  para  facilitarem- se  as  communicacões  e 
tirar  aos  inimigos  os  meios  de  fazerem  ciladas,  e,  para  mor 
segurança,  circumvallou  a  cidade  de  muralhas.  (SO) 

Nâo  eram  infundados  os  temores  do  governador ;  porque 
os  francezes  que  poderam  escapar  com  vida,  vendo  que  os 
tamoyos  do  Rio  de  Janeiro  recusavam  prestarem-se  á  sua 
vingançíi,  retiráram-se  para  Cabo -Frio,  aguardando  a  che- 
gada de  navios  da  sua  nação  com  que  podessem  de  novo 
tentar  a  sorte,  estreitando  no  entanto  as  suas  relações  com 
os  naturaes  do  paiz. 

O  dia  da  vingança,  tâo  ardentemente  desejado,  não  se 
íez  por  muito  tempo  esperar;  e  a  colónia  ha  pouco  fundada 
teria  certamente  sucumbido  sem  a  dedicação,  e  a  nobre 
conducta  do  valente  Ararigboia,  de  quem  jà  falíamos,  mais 
conhecido  pelo  seu  nome  christáo  de  Martin  Affonso  de 
Souza. 

•  Recebera  este  chefe  dos  tupiminós  do  politico  Mem  de 
Sà,  terrenos  próprios  para  o  estabelecimento  da  sua  tribu 
na  plaga  opposta  á  nova  cidade  para  que  lhe  servisse  como 
que  de  baluarte,  e  no  alto  da  montanha,  onde  os  jcsuitas 
Gonçalo  d'01ivcira  e  Ralthazar  Alvares  erigiram  uma  capella 
dedicada  ao  martyr  S.  Lourenço,  se  desseminàram  as  pic- 
torescas  cabanas  dos  indígenas^  collocadas  como  d^atalaia 
[)ara  correrem  ao  primeiro  signal  era  defesa  dos  colonos. 
«  Colloc:\da  (diz  o  seu  eloquente  historiographo)  n'um 


—  ÍJ/  — 


I   como  regaço  da  montanha  dir-se-hia  ([uo  ella  se  assen- 
■  tara  á  margem  da  enseada  de  Maruhy  fechada  como  um 
f  lago  em  cujas  praias  contornadas  de  montes  expiram  as 
t  ondas  plácidas  e  brandas  sem  arruido,  para  tomar  sobre 
€  os  seus  joelhos  essa  jóia  religiosa,  que  um  povo  pagão 
t  votara  ao  Senhor,  ao  abraçar  a  sua  religião,  e  que  altiva 
€  reclinara  a  sua  fronte,  cingida  do  cocar,  formado  por  um 
«  grupo  de  cpqueiros ; . . .  ma5  hoje  descalvada  e  ainda  as- 
«  sim  tão  bella,  se  destaca  n^um  horisonte  diaphano  e  puro, 
€  sem  uma  nódoa,  cujo  azul  de  saphiras  contrista  com  o 
<  verde  d^esmeralda  da  gramma  de  qfte  está  escamada,  e  o 
•  sol  ao  surgir  parece  que  por  momentos  lhe  empresta 
€  seus  raios  para  cingil-a  tPuma  aureola  radiante,  e  ao  do- 
€  brar-se  no  horisonte  do  accidente  ainda  seus  raios  mor- 
t  bidos  e  bellos  vem  colorir  os  vidros  das  janellas  de  seu 
t  rústico  templo.  »  (M) 

O  chefe  Guaixarà,  que  havia  sido  derrotado  por  Ara- 
rigboia  no  celebre  combate  das  camas,  de  que  já  fizemos 
menção,  aproveitando  se  da  opportuna  chegada  de  quatro 
náos  francezas  foi  atacar  a  aldeã  de  S.  Lourenço,  onde  se 
achava  o  seu  temível  adversário.  Sendo  porém  avisado  a 
tempo  Salvador  Corrêa  mandou  pedir  reforços  á  S.  Vicente 
e  dispòz  tudo  para  impedir  á  aggrossáo  dos  invasores. 

N'uma  bella  tarde  quando  o  sol  no  occaso  annunciava  a 
approximação  d^uma  d'essas  esplendidas  noites  tropicaes, 
em  que  o  Cêo  tachonado  d'estrellas  se  espelha  nas  tranquillas 
aguas  da  formosa  Nictheroy,  devisou-se  á  entrada  da  barra 
uma  esquadra  composta  de  quatro  náos,  oito  lanchas,  e 
um  inlinito  numero  de  canoas.  Alvoroçada  a  pcípiena  guar- 
nição da  cidade  corre  a  seus  postos ;  rufam  as  caixas  e  tocam 
os  sinos  a  rebate;  de  todas  as  parles  prccipitam-se  os  ho- 

JANEIRO.  8 


—  58  - 

mens  ás  trincheiras,  c  as  mulheres  às  igrejas.  Do  alto  de 
sua  montanha  descobre  Ararigboia  o  perigo  (|uc  ameaça  os 
seus  alHados  e  tomando  o  conselho  dos  padres  Gonçalo 
d'Oliveira  e  Balthazar  Alvares  resolve  esperar  pelos  inimigos 
em  seu  acampamento,  defendido  por  novos  fojos,  estacíi- 
das  e  trincheiras.  Ahi  recebeu  elle  o  soccorro  de  trinta  e 
cinco  portuguezes,  expedidos  pelo  governador,  e  ao  mando 
do  capitão  Duarte  Martins  Mourão,  o  que  muito  estimou, 
por  isso  que  jà  podia  contar  com  guerreiros  europeos  que 
oppuzessem  aos  francezes  armas  iguaes. 

Havendo  fortificaío  a  sua  aldeia,  abrigando-a  de  qual- 
quer surpresa,  que  por  ventura  contra  ella  tentassem  os 
inimigos,  foi  no  meio  das  trevas  da  noite  offerecer-lhes 
batalha,  que  teve  lugar  no  sitio  onde  hoje  se  ostenta  a  riso- 
nha Nictheroy,  o  não  na  Bica  dos  Marinheiros,  como  por 
engano  alTirma  o  Sr.  Varnhagen.  (52) 

Peçamos  a  um  coUega  nosso  a  descri|)ção  d>sle  heróico 
feito  d'armas ;  oiçamos  suas  palavras,  dictadas  pelo  mais 
ardente  patriotismo,  e  selladas  com  o  cunho  da  verdade : 

*  Despertam  os  tamoyos  ao  brado  de  guerra ;  entre  o 

«  horror  da  escuridão  da  noite  trava-se  combate  horrivel, 

•  mortífero ;  o  estrondo  d;is  armas  o  grito  dos  combaten- 
«  tes  augmcntam  aiiida  mais  a  confusão ;  o  inimigo  sem 
«  ordem,  envolto  em  si  mesmo,  volta  as  annas  contra  o 

*  seu  próprio  seio  como  uma  serpente  que  se  dilacera 
«  com  seus  dentes,  não  vendo  o  damno  que  causa;  c  de 
«  parte  a  parte  o  valor  despula  a  victoria  matando,  ferin- 
«  do;  já  juncando  as  praias  de  cadáveres,  já  tingindo  as 
«  areias  de  sangue;  e  de  parte  a  parte  avançam,  atropel- 
t  lam-se  e  a  confusão  que  reinava  ha  muito  entre  os  ta- 
í  paoyos,  acaba  por  obriga-los  a  procurarem  na  fuga  a 


—  ;;9  — 

«  .«salvarão  »ie  suas  vitlas:  lá  protegidos  das  trevas  ganliam 
«  as  canoas  e  conseguem  se  afastar  das  praias,  que  deixam 
•  ao  triumpho  das  armas  (rArarigboia.   p   (33) 

As  nàos  francezes  não  podendo  por  causa  da  vasante  da 
maré,  que  as  conservava  encalhadas  e  adornadas,  usar  da 
sua  artilharia,  solírêram  vivíssimo  fogo  de  terra  que  lhes 
fazia  Mm  falcão  e  aproveitando-se  do  terral  da  manhan  sahi- 
i-am  pela  barra  fora  com  direcção  a  Cabo-Frio.  Para  com- 
pletar a  sua  victoria  entendeu  o  governador  que  seria  con- 
veniente persegui-los  c  apresiona-Ios  no  porto  em  que  se 
Jiaviam  recolhido.  Quando  porém  ahi  chegou  só  estava 
ancorado  um  galeão,  que  tomou  depois  de  porfiada  lurXa, 
Irazendo-o  Iriumphalmente  para  o  Rio  do  Janeiro. 

Não  estava  porém  segura  a  nossa  cidade  de  novas  c  re- 
pelidas invasões  enquanto  não  fossem  completamente  ar. 
razados  os  estabelecimentos  que  os  francezes  possuíam  em 
Cabo-frio :  o  que  só  teve  lugar  no  tempo  de  Constantino 
Meneláo. 

Avisado  Salvador  Correia  pelo  governador-geral  do  Bra- 
sil, (íaspar  de  Sousa,  que  nàos  inglezas  estacionavam 
n'aquellas  paragens,  onde  os  tamoyos  proseguiam  em  seu 
systeraa  de  favorecer  os  seus  corsários  e  d'impedir  a  fun- 
dação de  colónias  portuguezas,  assentou  fortificar  Cabo-Frio 
lançando  alli  os  alicerces  d'uma  povoação. 

Auxiliado  por  uma  força  de  quatrocentos  indiôs  de  Se- 
petiba  e  dos  portuguezes,  que  espontaneamente  o  quizeram 
accompanhar,  visitou  Meneláo  com  a  sua  esquadrilha  toda 
a  costa,  e  fundou  o  forte  de  S.  Ignacio  no  lugar  que  os 
francezes  haviam  escolhido  de  preferencia  para  o  theatro 
de  suas  operações. 

A  cidade  de  S.  Helena,  edificada  pelo  governador  do  Kio 


—  GO  — 

de  Janeiro,  era  uma  garantia  da  permanência  do  domínio 
portuguez  e  a  aldeia  de  S.  Pedro,  situada  a  duas  léguas  de 
distancia,  c  povoada  por  Índios  amigos,  era  como  um  forte 
destocado,  que  impedia  aos  francezes  a  continuação  das 
suas  correrias  do  lucrativo  commercio  do  ibirapitamja, 

Desacoroçoados  em  suas  infructiferas  tentativas  parece- 
ram os  compatriotas  de  Villegaignon  terem  renunciado  á 
posse  da  nossa  terra  e  por  largos  annos  as  brisas  guanaba- 
renses  não  enfunaram  o  pavilhão  dos  lyrios. 

Antes  de  terminar  esta  primeira  parte  do  nosso  trabalho 
seja-nos  licito  lamentar,  como  jà  o  fizemos  n'outro  lu- 
gar, (54)  que  a  intolerância  religiosa  levasse  ao  patíbulo 
ao  infeliz  João  du  Bordel  (55)  pelo  único  crime  de  ser 
calvinista  I  Sentimos  que  no  próprio  anno  da  sua  fundação 
assistisse  o  Rio  de  Janeiro  a  tão  cruel  espetaculo,  e  visse 
o  venerando  Anchieta,  por  um  zelo  funesto  e  uma  piedade 
mal  entendida,  constituir-se  ajudante  do  algoz ! . . .  A  di- 
versidade de  crença  não  pôde  constituir  um  delicto ;  e  o 
Estado  não  deve  por  forma  alguma  erigir-se  em  Juiz 
d'uma  causa  cujo  conhecimento  só  à  Deus  pertence. 

Apezar  de  ser  tal  attentado  contra  a  liberdade  de  cons- 
ciência commettido  a  instigações  de  alguns  ecclesiasticos, 
a  quem  os  poucos  conhecimentos  philosophicos  impediam 
d^encarar  a  questão  no  seu  verdadeiro  ponto  de  vista,  não 
pôde  ser  a  Igreja  responsável  por  elle ;  porque  jamais  eri- 
giu em  dogmas  princípios  contrários  à  doutrina  do  seu 
Divino  Fundador. 

Copiemos  as  palavras  d'um  grande  phílosopho  contem- 
porâneo em  abono  da  nossa  asserção : 

«  Je  le  díl  a  Phonneur  de  TEglise  et  pour  la  defense  de 
«  lEglise:  quand  (4le  se  íit  oppressive,  quand  elle  invoca 


í\ 


—  01   — 

lo  hras  séeulier  contre  Ia  liberte  de  consoienco,  olle  fiU 
infidèle  h  son  caractere  età  sa  mission.  Elle  servil  les 
passions  des  hommes  el  cessa  d'obéir  a  Pinspiration  di- 
vine.  A  ce  moment-là  elle  oublia  TEvangile.  Le  jour 
oà  rinquisition  fut  fondée  11  fut  vrai  de  dire  que  TEvan- 
gile  était  trahi . 

«  Non,  ce  n'esl  pas  le  Chrislianisme  qui  a  fondé  Fin- 
quisition  et  fait  la  saint-Barthélemy.  Ceux  qui  vienneut 
nous  dire  aujourdMiuy  que  rinquisition  était  necessaire 
et  que  la  saint-Barthélemy  était  juste,  calomnient  le 
Christianisme.  S^ils  avaient  raison,  les  ennemis  de  Ia  foi 
n'auraient  besoin  poiír  Técraser  que  de  rhistoire.  Ces 
horreurs  que  vous  mettez  à  la  charge  de  la  foi  chré- 
tienne,  ont  été  enfantés  par  Tintolerance  et  le  fana- 
tisme.  »  (r>()) 


^ig^^g^qft" 


—  63  — 

PARTE  SEGUNDA 

INVASÃO  DE  DUCLERC. 
I. 

MOROSO     INCREMENTO    DO    RIO    DE   JANEIRO. 

Péssima  era  a  posição  climatológica  da  nova  colónia,  c 
como  muito  bem  ponderou  um  autlior  inglez  citado  pelo  Sr. 
Ferdinand  Dénis,  (37)  os  arredores  do  calabo^iço  eram  de 
tal  natureza  que  podiam  singularmente  comprometter  a 
existência  de  uma  grande  cidade.  Parece  porém  que  por 
largos  annos  a  população  circumscreveu-se  nos  estreitos 
limites  que  lhe  traçara  MemdeSá.  e  receando  alguma  nova 
invasão  não  ousava  afastar-se  do  Castello,  sua  verdadeira 
acropolis.  Rodeada  de  [)aúes.  e  cobertas  as  suas  colinas 
de  densas  florestas,  que  lhe  interceptavam  a  livre  circula- 
rão do  ar,  não  admira  que  a  nossa  ten\i  gozasse  da  reputa- 
ção de  pouco  saudável.  Vagaroso  foi  o  seu  de3envolvimento, 
e  podemos  datar  os  seus  progressos  do  íim  ds  século  i7-^ 
quando  os  emprehendedores  paulistas,  embrenhando-se 
pelos  nossos  sertões,  descobriram  riquissimas  minas  nessa 
região,  que  d'ellas  derivou  seu  nome. 

Corramos  rapidamente  os  dedos  pelo  teclado  da  sua  his- 
toria até  o  anno  de  1710,  em  que  occorréram  os  graves 
successos,  que  nos  propomos  narrar. 

Em  seus  paternaes  braços  recebera  Salvador  Corrêa  de 
Sá  a  nascente  colónia ;  seu  governo  foi  tal  qual  convinha 
ao  nobre  encargo  que  sobre  si  tomara.  Sua  longa  adminis- 
tração iMjde  aM'  comparada  ao  reinado  de  Numa  Pompilio 


—  tíi  — 

(jue  tão  grata  recordarão  deixou  nos  annaes  romanos,  c 
podem  ser  appiicadas  h  sua  vida  as  palavras  do  Evangelho : 
pertranmnl  bene-faciendo.  Tece-lhe  este  pomposo  elogio  o 
illustrado  conselheiro  B.  da  Silva  Lisboa : 

«  Poupou  o  sangue  dos  indigenas  quanto  lhe  foi  possi- 

«  vel,  repelliu  os  inimigos  externos,  protegeu  a  innocen- 

«  cia,  afugentou  o  crime  pelo  seu  horror  e  despreso  dos 

«  màos,  ganhando  a  opinião  publica  no  campo  da  honra ; 

«  pois  sem  os  soccorros  de  Portugal  cobriu  a  sua  fronte 

«  de  bem  merecidos  louros.  Pc  a  sua  probidade  não  ou- 

«  savam  aproximar-se  d'elle  os  reptis  venenosos  da  lisonja 

«  afim  de  envenenarem  o  ar  puro  que  respirava.  »  (38) 

A'  Christovâo  de  Barros  immediato  successor  de  Salva- 
dor Corrêa  deveu  o  Rio  de  Janeiro  o  promover  a  cultura 
das  fazendas,  estabelecidas  no  recôncavo  da  cidade:  e  ao 
Dr.  António  de  Salena  (que  com  o  titulo  de  governador- 
geral  veio  administrar  a  capitania  do  Sul,  quando  entendeu 
a  metrópole  ser  conveniente  a  divisão  do  Brasil  em  dous 
governos  independentes)  a  vigilância  em  defender  as  suas 
costas  até  a  Ilha-Grande.  sempre  infestadas  de  corsários, 
c  o  desbarato  dos  tamoyos  de  Cabo  Frio  por  uma  forra  de 
400  portuguezcs  auxiliada  por  700  indios  alliados. 

Martim  Corrêa  de  Sá,  nunca  esquecido  das  heróicas  tra- 
dições de  sua  família,  contribuiu  para  tornar  defensável 
a  nossa  capital  mandando  construir  de  pedra  e  cal  as  for- 
talezas de  Santa  Cruz,  S.  Thiago  e  S.  Sebastião,  que  até 
então  eram  de  barro  e  madeira.  Sob  o  regimen  todo  mi- 
litar doeste  benemérito  varão  serve  croasis  a  edificação  do 
convento  de  Santo  António,  que  devera  ser  um  dia  o  Athe- 
neu  (lo  Brasil. 

Assignala-se  Constantino  Meneláo  pela  expulsão  dos 


"» 


—  ():>  — 

frnncezes  do  Caha-Frio,  c  pela  fundarão,  já  anloriormente 
referida,  da  cidade  de  Santa-Helena,  actualmente  conhe- 
cida por  Nossa  Senhora  d^Assmnpção.  Foi  também  em  seu 
tempo  (|uc  teve  lugar  a  conquista  dos  campos  dos  Goijtã' 
vazes,  hoje  uma  das  mais  importantes  comarcas  da  nossa 
ubciTima  província. 

Enquanto  fruia  o  bom  povo  lluminense  das  doçuras  de 
governos  justos  e  enérgicos  passava  Portugal  pelas  forcas 
auuimas  da  occupação  estrangeira.  Expirara  a  sua  nacio- 
nalidade com  o  desditoso  D.  Sebastião  na  batalha  d'Alcaçar- 
Kebir ;  e  O  reinado  ephemero  do  Cardeal-Rei  servia  ape- 
nas para  dar  a  Philippe  II  o  temjio  necessário  para  asse- 
gurar-se  da  posse  do  paiz.  Portugal  era  riscado  domappa 
das  nações  e  a  vasta  monarcliia  liespanhóla  parecia  realisar 
o  dourado  sonho  de  Carlos  V. 

Tão  gigantescos  acontecimentos  pouca,  ou  nenhuma  re- 
cursáo  exerciam  na  nossa  pátria :  era-nos  indifferente  rece- 
ber ordens  de  Lisboa,  ou  de  Madrid;  porque  nem  uma,  nem 
outra  corte,  cuidava  seriamente  da  nossa  prosperidade. 

Guiados  unicamente  por  seus  nobres  sentimentos  e  não 
por  instrucções  da  metrópole  fizeram  estes,  e  alguns  ou- 
Iros  governadores,  era  nosso  favor  o  pouco  bem  que  liies 
era  licito  fazer. 

A  noticia  da  tomada  da  Bahia  á  9  de  llaio  de  lGá4  pela 
esquadra  hollandeza  commandada  pelo  almirante  Jacob 
Willekens  e  a  d'OUnda,  antiga  capital  de  Pernambuco, 
pelos  chefes  batavos  Loncif  Adryens  e  Wierdemburgh  á 
10  de  Fevereiro  de  1630  causou  extraordinária  sensação 
no  Rio  de  Janeiro;  não  só  pelo  interesse  que  lhe  insi)irava 
a  sorte  de  suas  co-irmans  como  pelo  justo  receio  que  igual 
destino  lhe  estivesse  reservado. 

JA-NEIRO.  9 


—  CG  — 

Um  só  pensanioiilo — o  da  defesa  do  porto  e  das  fortili- 
cacões  da  cidade — animou  a  todos  os  habitantes  que  deram 
nessa  épocha  inequívocas  provas  do  seu  acrisolado  patrio- 
tismo. Não  houve  individuo  que  se  subtrahisse ao  serviço; 
concorreram  todos  com  singular  espontaneidade,  jcá  com 
suas  pessoas  e  as  de  seus  escravos,  e  já  com  o  seu  dinheiro 
para  as  obras,  que  sob  a  intelligentc  direcção  do  gover- 
nador interino  Duarte  Corrêa  de  Vasqueanes  por  toda  a 
parte  se  faziam,  sendo  entre  estas  as  mais  notáveis  a  da 

fortaleza  da  Lage,  que  ainda  existe,  e  a  do  grande  dique 
que  da  €arioc:i  prolongava -se  até  a  Prainha,  cujos  vestí- 
gios se  deixaram  ver  por  mais  de  um  século.  (59) 

Era  porém  feliz  esse  povo  que  assim  se  devotava  tão 
nobremente  em  prol  de  seus  penates  1  E'  o  que  passamos 
a  examinar. 

Seu  commercio  e  industria  tocavam  aos  últimos  paro- 
xismos; e  a  olhos  vistos  definhava  a  sua  lavoura.  Si  pre- 
cisássemos demonstrar  esta  proposiçtlo  que  ninguém,  lida 
cm  nossa,  historia,  nos  contestaná,  bastaria  citar  o  se- 
guinte facto: 

Querendo  o  governador  Rodrigo  de  Miranda  Henriques 
abastecer  a  cidade  d'agua  potável,  cuja  falta  tornava-se  por 
demais  sensível,  propoz  ao  senado  da  camará  o  encana- 
mento das  da  Carioca,  para  cujas  despesas  estabeleceu-se 
o  imposto  de  160  rs.  por  canada  de  vinho  que  fosse  im- 
portado. Semelhante  imposição  porém  tornou-se  inexe- 
quível por  haver  tanta  carestia  doesse  género  que  os  pró- 
prios sacerdotes  haviam  deixado  de  celebrar !  (GO)  Muitas 
eram  as  cousas  que  contribuíam  para  a  miséria  que  tão 
cruelmente  se  fazia  sentir  não  sendo  dos  últimos  os  falsos 
princípios  que  então  predominavam  em  economia  politica. 


—  G7  — 

conrclando-sc  a  liboriladc  das  tnnsacçoes  por  meio  do  ta- 
rifas <jue  regulavam  todos  os  preços,  como  as  (pie  prohi- 
biam  os  oleiros  de  levarem  mais  de  20:000  rs.  por  milhei- 
ro de  teiliae  3:000  i)e!o  de  tijolo.  Até  os  boticários  tiveram 
um  regimeiílo  marcando  os  preços  porque  deveram  vender 
«)s  seus  medicamentos.  Apezar  d>stas  medidas  anti-econo- 
micas  o  mono{?:)lio,  (jual  voraz  almtre  estendia  as  suas 
negras  azas  sobre  a  incauta  população ,  e  na  lerra  da 
abundância  fez-se  a  fome  muitas  vezes  sentir. 

Ura  illustre  fluminense,  Salvador  Correia  de  Sá  e  Bene- 
vides, empunhou  o  bastáo  de  governador  em  tão  difíiceis 
conjuncturas.  Seu  nome  importava  um  titulo  de  recom- 
mendação ;  c  nos  archivos  da  sua  nobilissima  familia  en- 
contraria as  melhores  normas  para  bem  administrar  um 
povo,  que  tinha-se  habituado  á  ver  sahir  da  casa  dos  Cor- 
reias de  Sá  seus  mus  Ínclitos  governantes. 

Tomou-se  o  nosso  benemérito  compatriota  recommen- 
davel  pelos  relevantes  serviços  aqui  prestados.  Seu  zelo  c 
actividade  eram  proverbiacs ;  tudo  procurava  ver,  conhe- 
cer, e  examinar  por  si  mesmo.  Fez  immensas  concessões 
de  sesmarias ;  fundou  a  igreja  de  S.  Salvador  de  Campos 
nas  pictorescas  margens  do  Parahyba ;  estabeleceu  gran- 
des engenhos  de  assucar  promovendo  o  cultivo  da  c  mna 
nessa  tão  fértil  localidade;  abriu  estradas  que  a  communi- 
cassem  com  o  Rio  de  Janeiro,  espalhando  por  ellas  aldeias 
d^indios  e  colónias  d'europeus.  Coube-lhe  igualmente  a 
honra  de  proclamar  aqui  a  restauração  da  monarcUia  lu- 
zitana  na  pessoa  de  D.  João  IV. 

Sirvam  estes  preclaros  feitos,  que  somos  o  primeiro  a 
reconhecer  de  attenuar  a  triste  impressão  (jue  experiniímta 
todo  o  fluminense  ao  lembrar-se  que  foielle,  que  pelo  seu 


—  C8  — 

caracter  imperativo,  levou  o  paciíico  povo  do  Rio  de  Ja- 
neiro á  sul)Ievar-se  contra  a  sua  autlioridade  no  dia  8  do 
Novembro  de  iCGO. 

Em  seu  terceiro  governo  vimm  seus  compatriotas  que  o 
liabil  administrador  tinha  sido  eclypsado  pelo  denodada 
guerreiro,  e  que  a  gloria  militar  absorvia  nelle  todos  os 
outros.  Cuidando  unicamente  em  presidiar  a  praça  contra 
qualquer  inesperado  ataque  volveu  as  suas  \istas  parar 
objectos  bellicos  com  completo  sacrifício  dos  outros  ramos 
do  serviço  publico,  Augmentar  o  numero  de  soldados  era 
fácil  á  um  governo  que  não  respeitava  a  liberdade  indivi- 
dual: a  difficuldade  porém  consistia  em  sustental-os  com 
os  fracos  recursos  da  fazenda  real.  Recorreu  Benavides  ao 
senado  da  camará  para  que  lançando  fintas  obtivesse  a 
somma  que  desejava.  Esta  respeitável  corporação,  que  tão 
fielmente  representava  o  povo,  fez-llic  respeitosamente 
vêr  que  as  fontes  da  riqueza  pidjflica  tinhara-sc  seccado 
com  a  funesta  creaçáo  da  compaiúia  decammercio,  seu  fatal 
previlegio  do  estanco  de  todos  os  géneros.  Tal  foi  o  mo- 
tivo da  desintelligencia  entre  o  governo  e  a  camará :  pro- 
tegendo aquelle  o  monopólio,  que  lhe  promettêra  fornecer 
dinheiro  para  as  tropas,  e  defendendo  esta  os  direitos  dos 
miseros  moradores ,  que  se  viam  ate  privados  do  azeite 
para  luz  e  do  sal  para  adubar  a  comida. 

Exacerbados  crest^arto  os  ânimos  não  podia  tardar  a  ex- 
plosão. 

Havendo  o  governador  partido  para  S.  Vicente  pareceu 
favorável  o  ensejo  para  romper  a  sedição.  A'  maneira  dos 
romanos  retirando-se  para  o  Monte  Sayrado  passaram  os 
sediciosos  a  bahia  de  Nictheroy,  e  armando-sc  em  S.  Gon- 
çalo accommettêram  aciíbde:  depozéram  ao  governador 


—  09  — 

interino  Thomt;  Corrêa  dWIvarongn»  c  forçaram  a  Agostinho 
Barbalho  Rozerra  â  asumir  à  governança. 

Reprovamos  altamente  semelhantes  excessos :  não  cons- 
tituimos  a  rebelliâo  em  direito;  mas  também  não  desco- 
nhecemos que  é  ella  muitas  vezes  uma  justa  reacção  contra 
os  al)usos  <la  autlioridade.  Em  um  governo  livre,  como  o 
que  felizmente  possuimos,  onde  impera  um  principe.  cujo 
palácio,  semelhante  »á  habitação  dos  tribunos  de  Roma.  é 
accessivel  â  todos,  tem  sempre  o  povo  meios  de  fazer  ouvir 
a  sua  voz,  e  levar  suas  (jueixas  aos  degráos  do  throno. 
Quando  porém  o  despotismo  impera,  quando  as  válvulas 
da  opinião  publica  são  cuidadosamente  fechadas,  tornam-so 
frequentes  e  inevitáveis  as  revoluções.  Desappareceram 
ellas  da  Inglaterra  desde  (jue  a  imprensa  e  a  tribuna  torná- 
ram-se  realidades,  e  reproduzem-se  na  Hespanha,  onde 
a  sinistra  sombra  da  luíiuisição  faz  empallcdeccr  as  insti- 
luiçóesHbcracs. 

Pedimos  vénia  para  (hscordar  da  opinião  do  esclarecido 
author  do  Plutardw  Brasileiro,  que  fallando  das  causas 
doeste  movimento  popular  assim  se  enuncia : 

«...     não  eram  questões  de  momento  que  os  ha- 

«  \iam  armado  ( os  revoltosos ) ;  eram  interesses  de  par- 

«  tidos  políticos;  e  podia  o  partido  do  infante  D.  Pedro 

«  consentir  no  governo  do  Rio  de  Janeiro  a  Salvador  Cor- 

«  reía  de  Sã  e  Benavidcs.  quando  os  ânimos  dos  seus  co- 

«  religionarios  politicos  de  Portugal  trabalhavam  por  depor 

«  o  rei  D.  AíTonso  e  elevar  ao  throno  o  infante?  Qualquer 

€  movimento  neste  sentiilo  para  se  firmar  e  solidificar, 

«  necessitava  de  ser  acceito  e  abraçado  em  todos  os  domi- 

•  nios  da  coroa  por tugueza.  »  (Gl) 


—  70  — 

O  nosso  digno  consócio  é  muito  versado  na  liistoria  de 
Portugal  para  ignorar  (|uo  a  deposição  de  D.  Âlíonso  VI  e 
a  exaltaçáo  ao  Ihrono  de  seu  irmão  D,  Pedro  foi  uma  ver- 
dadeira revohiçm  de  palácio,  em  que  a  naçáo  não  tomou 
parte  alguma;  e  que  os  partidistas  do  infante  estavam 
entre  os  fidalgos  de  Lisboa  c  não  no  Rio  de  Janeiro,  pobre 
colónia  inteiramente  alheia  á  essas  viscissitudes  politicas. 

Não  tinha  a  sedição  um  programma  bem  delineado : 
faltava -lhe  um  chefe ;  pois  que  Agostinho  Barbalho  decli- 
nara de  si  essa  responsabilidade ;  era  apenas,  como  fizemos 
vôr,  unia  reacção  contra  os  clamorosos  abusos  do  poder. 
As  medidas  enérgicas  de  Benavides,  seus  bandos  alterra- 
dores,  pozeram  fim  a  agitação  popular. 

Foi  altamente  desapprovado  pela  metrópole  o  proceder 
de  seu  delegado  no  Rio  de  Janeiro ;  jádando-lheem  Pedro 
de  Mello  um  successor,  já  mandando  pôr  em  liberdade, 
condecorados  com  o  habito  de  Christo,  aos  procuradores 
do  povo,  aos  quaes  a  alçada  do  desembargador  Peçanha 
mandara  presos  para  Lisboa,  Note-se  que  tudo  istofazia-se 
ainda  no  reinado  de  D.  AfTonsoVI,  (62)  cuja  deposição 
só  teve  lugar  em  23  de  Novembro  de  1667 ;  eé  sabido  que 
pela  fidelidade  de  Salvador  Corrêa  à  causa  doesse  desgra- 
çado principe  soffreu  elle  dez  annos  de  prisão  no  fim  da 
sua  longa  e  gloriosa  existência. 

Demoramo-nos  mais  do  que  tencionávamos  na  aprecia- 
ção doesse  episodio  da  nossa  historia  porque  quizemos,  em 
honra  dos  nossos  avós,  lavar  essa  única  nódoa  que  porven- 
tura se  queira  notar  em  sua  nunca  assas  louvada  fi- 
delidade. 

Pedro  de  Mello  foi  a  continuação  de  Benavides— menos 
o  prestigio  da  gloria :—  exactor  no  ultimo  ponto  só  pensava 


—  Ti- 
na suslentação  do  presidio  arrancando  da  camará  novas 
contribuições  forçou-a  a  táo  impolilicas  medidas  que  o 
próprio  ouvidor  geral  teve  de  representar  contra  ellas. 

.Vesses  déspotas  que  flagelláram  a  nossa  terra  segiiiu-se 
o  patriarchal  governo  do  tenente-general  João  da  Silva  e 
Souza.  «  O  novo  governador,  diz  um  chronisla,  pareceu 
t  um  anjo  tutelar,  enviado  do  Céo  para  adorar  os  males 
«  públicos,  baseando  o  seu  governo  na  justiça,  prudência 
•  e  religião.  »  (63) 

Já  a  miséria  n^uma  progressão  ascendente  de  modo  tal 
que  o  senado  da  camará  teve  de  fazer  subir  ao  tlirono  uma 
tocante  representação  expondo-lhe  a  impossibilidade  em 
que  se  achavam  os  povos  doesta  capitania  de  contribuirem 
com  a  somma  de  quatrocentos  mil  reis  annuaes  para  a  Jíí«te 
das  Missões ,  crcada  com  o  píissimo  fim  d'evangelizar  o 
Brasil.  ConsuUe-se  este  importante  documento  onde  vèr- 
se-ha  em  nobre  e  singela  linguagem  o  verídico  quadro  das 
desgraçais  que  então  opprimiam  o  povo  fluminense. 

Como  se  não  bastassem  tantos  e  tão  repetidos  males 
vieram  ainda  augmentar  a  calamidade  publica  a  falta  de 
moóda,  que  paralysava  todas  as  transacções,  e  a  borrivcl 
mortandade  de  mais  de  cinco  mil  escravos,  que  succumbí- 
ram  victimas  da  peste  das  bexigas;  porque  ainda  nesse 
tempo  nâo  havia  apparecido  Jenner,  um  dos  maiores  bem- 
feitores  da  humanidade. 

Táo  cruéis  desgraças  não  podiam  deixar  de  tocarosensi- 
tbI  coração  do  governador,  que  na  impossibilidade  de 
remedial-as  pranteava  com  o  povo  a  sua  desdita;  imia-se 
à  camará  nas  representações  à  coroa ;  e  fazia-lhc  vôr  que  o 
monopólio  da  companliia  do  commercio  exhauria  as  forras  da 
t:o!onia,  cujos  míseros  habitantes  tiravam  o  pâo  de  seus  fi- 


—  ia  — 

llios  i)ara  rcmellerem  annualmente  âcôrle  a  sua  quota  para 
o  dote  (la  infanta,  depois  rainha  d'Inglaterra,  e  para  as  in- 
demnisações  que  portugal  tinha-se  obrigado  á  pagar  à  llol- 
landa  (]uando  assignou  a  páz  com  esta  nação.  Surdo  aos 
justos  clamores  dos  seus  vassalos  americanos  ordenava  a  me- 
trópole ao  governador  que  attemlesse  ás  fortalezas  da  bana, 
ex\}ressando-lhe  que  o  menor  descuido  lhe  serveria  de  culpa. 

Tão  estreitamente  alliára  o  general  João  da  Silva  a  sua 
causa  com  a  dos  seus  governados,  que  o  não  tomaram  estes 
solidário  com  os  desatinos  minisleriaes.  Para  deixar  aos 
vindouros  a  memoria  de  tão  egrégio  varâo  resolveu  a  ca- 
mará mandar  tirar- lhe  o  retrato  coUocando-o  na  sala  das 
suas  sessões ;  dirigindo-lhe  ao  mesmo  tempo  uma  allocu- 
çáo  concebida  nos  mais  patheticos  termos.  Digno  e  hon- 
roso galardão  para  quem  tão  bem  comprehendêra  o  desem. 
penho  dos  seus  deveres ! 

Afeita  a  nossa  cidade  às  scênas  d'arbitrariedado  experi- 
mentou contudo  sentimento  de  justa  indignação  ao  vôr  o 
administrador  ccclesiastico,  à  requerimento  do  reitor  dos 
Jesuítas,  excommungar  ao  senado  da  camará  por  sustentar 
este  o  livre  uso  dos  mangues,  onde  a  pobreza  procurava 
allivio  á  sua  miséria,  tirando  d'elles  mariscos,  carangueijos 
e  lenha  para  o  seu  uso  domestico.  Pretendiam  os  fdhos  de 
S.  Ignacio  que  eram  de  sua  exclusiva  propriedade,  e  olvi- 
dados do  seu  sagrado  ministério,  recorriam  aos  raios  da 
Igreja  para  apoiar  os  seus  mesquinhos  interesses ! ! . . . 
Terminou  este  desagradav(»l  incidente  pela  categórica  de- 
terminação da  carta  regia  de  4  de  Dezembro  de  1G78,  que 
mandou  conservar  aos  moradores  na  posse  em  que  estavam 
dos  mangues.  Tal  era  porém  a  influencia  da  Companhia  de 
Jesus,  e  o  temor  que  inspirava,  (pie  não  se  lè  uf^sse  documen- 


—  Ta- 
lo oflicial  uma  só  expressão  condemnando  sua  reprehensivel 
conducta.  ! 

No  rápido  esboço  que  fazemos  dos  principaes  padecimen- 
tos, porque  teve  de  passar  o  Rio  de  Janeiro  no  espaço  de 
cento  e  quarenta  e  três  annos  não  devemos  esquecer  os  fu- 
nestos abusos  commettidos  pelos  seus  psemlo-defensores, 
como  se  depreliende  da  representação  que  endereçou  a  el- 
rei  o  senado  no  governo  de  Duarte  Teixeira  Chaves  para  que 
houvesse  por  bem  «  mamlar  smpender  a  hospitalidade  da  in- 
€   fantaria  no  seio  das  famílias,  pelo  (jramle  detrimento  que 
«  com  isso  soffriam  os  moradores  d'' esta  terra  vendo  perturba- 
«  daaharmonia  e a  honestidade  de  suas  habitações. »  A'seme- 
Ihantes  queixas  pespondia-se-lhe  <  que  ficasse  erilendendo 
€   que  lio  reino  se  acommodavam,  na  falta  de  alojamentos,  os 
•  soldados  nas  casas  as  mais  honradas,  e  sem  repararem  na- 
€   qiielle  inconveniente,  e  que  nesta  capitania  se  devera  com 
«    mais  especial  razão  praticar-se  aquelle  soccôrro  á  favor  da 
«  infantaria,  que  sahlra  do  reino  em  servir  em  parte  tão  dis- 
«   tante,  largando  convenimcias  da  pátria,  em  que  nascera, 
«    fazendo-se  por  isso  mais  digna  de  toda  a  attenção  para  não 
«  ficar  exposta  á  padecer  as  incommodidades  que  do  contraiio 
€  experimentaria.  »  f64)  Revoltam  tanto  aos  corações  brasi- 
leiros estas  palavras  que  deixalas-hemos  sem  commentario. 

Foi  de  tal  sórle  justo  o  governo  de  João  Furtado  de  Men- 
donça que  a  camará  agradeceu  ao  rei,  como  uma  graça,  o 
have-lo  homeado  c  pediu  a  prorogaçâo  do  seu  triénio. 

D.  Francisco  Nauper  d'Alencastre,  que  tomou  posse  do 
governo  em  1689  occupou-se  unicamente  om  visitar  forta- 
lezas c  fazer  manejos  d\irmas,  partindo  no  anno  seguinte 
para  a  colónia  do  Sacramento  com  três  companhias  em  uma 
das  melhores  náos  da  frota. 

JANEIRO.  10 


—  74  — 

Á  frente  dos  negócios  públicos  achou-se  èm  ÍGOO  Luiz 
César  de  Menezes,  que  deixou  de  si  tão  bòa  feputaçlD  que 
á  seu  respeito  costumavam  dizer  os  nossos  íiniepassadDs  :— 
ou  César,  ouuada.—  Curta  porém  foi  a  sua  henelica  admi- 
nistração sendo  succedido  em  1692  por  Afltonio  Pnes  de 
Sande,  varão  conspicuo,  que  seguiu  com  gldHa  a  vefèda  de 
seu  illustre  antecessor.  Teve  o  prazer  de  íazer  i>al)lica  a 
carta-regia  que  ordenava  a  suspensão  do  dítoativo  pela  páz 
com  a  Hollanda  e  para  o  dóle  da  Infanta,  ^  tanto  ijbhtri- 
buíra  para  impobrecer  esta  terra,  e  dirigindo  ao  throno  os 
seus  agradecimentos  por  tão  fausto  motivd  pedia  qUe  fosse 
o  povo  fluminense  isempto  dos  soccorros  que  incessante- 
mente prestava  de  gente,  dinheiro  e  munilóe^  par.l  a  nova 
colónia  do  Sacramento.  Não  foi  menor  o  fegosijo  do  bom 
Sande  em  pôr  em  execução  a  carta-regia  dé  12  de  Deícmbro 
de  1693,  que  mandava  criar  nesta  capital  uma  cítóa  dVx- 
postos  applicando  acamara  para  este  santd  fim  As  sobras  do 
imposto  sobre  o  sal  c  o  szeite  doce  desliriàdo  para  o  soldo 
dos  governadores. 

Nos  últimos  dias  do  anno  de  1694  dfesceu  ad  tumulo, 
coberto  da  bênçãos  do  povo  pelas  suas  egrégias  tirtudes, 
António  Paes  de  Sande,  e  por  provisão  do  govcrnador-geral 
do  estado  do  Brasil  de  15  de  Novembro  doesse  mesmo  anno 
foi  nomeado  para  succeder-lhc  o  mestre  de  campo  D.  João 
(rAlencastre.  Pouco  tempo  lhe  foi  dado  O  empunhír  o  bas- 
tão do  mando  tendo  de  cedô-lo  a  Sobastlfio  de  Caslbo  escos 
Ihido  pela  carta-regia  de  19  de  Abril  de  Í09rj. 

Por  esse  tempo  começaram  a  apparecdi*  om  nosso*  portos 
alguns  navios  francezes  com  o  pretexto  de  fazon^m  hj(uada 
edese  proverem  de  mantimentos  mas  Chm  o  principal  fim 
dMntroduzirem  por  contrabando  as  fa^íbndns  que  ITaziam 
com  prejuiso  do  lis«:o  e  contra  as  leis  da  moiinrchiíl,  que 


—  75  — 

filavam  tpJo  o  coininercio  estrangeiro.  Causou  a  sua  pro- 
ffinça  grande  sustes  ao  governarlor,  que  recommcndou  A 
pamara  (Jf  Ilha-Grande  que  lhos  recusasse  todo  o  agasalho. 
Corria  q  anuo  de  169Ç  guaiido  mostrou-se  uma  esquadra 
à  vista  (Jn  barra  derramando  grande  susto  pela  população, 
que  t0(|Q  correu  tás  arnjas.  animada  pelo  governador  que 
eleclr|^ou-lhe  a  coragem  com  o  seu  exemplo,  Sendo  «f. 
gada  f  licença  que  pedia  para  se  refazer  de  mantimentos 
dirirfu-se  á  Ilha-Grande  onde  obteve  o  que  desejava.  Re- 
pre^endeu  SebífStiâo  de  Castro  ao  senado  d'essa  Villa  (hoje 
GÍ(l|dede  Angra  dos  Reis)  pelo  seu  procedimento  e  recom- 
njf  ndou-Ihe  a  maior  vigilância  com  as  embarcações  estran- . 
^iras.  A  chegada  da  infantaria  de  Lisboa  no  começo  do 
feguinte  anno  ca«(||f||p grande enthusiasmoips fluminenses, 
que  agradeceram  ád  Rei,  pelo  órgão  da  sua  ptlÉ^palidad  , 
por  tão  assignalado  favor.  Corcordam  Pízarròíl»  Lisboa 
em  tributar  os  maiores  encómios  a  Sebastiáíí^  Castro^ 
que  além  d'esforçado  capitão  era  eminente  jjiotitico.  Não 
faltou  porém  quem  denegrisse  a  sua  conduqíbpor  occasiáo 
da  invasão  franceza  solTrendo  por  isso  sequestro  em  seus 
bens,  que  só  foi  levantado  quando  por  sentença  da  casa  da 
supplicação  da  corte  foi  reconhecida  sua  innoccncia. 

Arthur  de  Sà  e  Menezes  foi  o  primeiro  que  governou  o 
Rio  de  Janeiro  com  a  cathegoria  de  governador  e  capitáo- 
general  ad  honorein  por  carta  regia  de  8  de  Novembro  de 
1696.  Ligam-seà  sua  administração  muitos  factos  notáveis, 
taes  como  a  erecção  da  villa  de  S.  António  de  Sá  nas  mar- 
gens do  Rio  Macaeú ;  o  estabelecimento  d' uma  casa  da 
moeda  nessa  cidade ;  o  dos  hospitaes  militares  e  dos  lázaros; 
as  acertadas  providencias  concernentes  às  sesmarias;  a 
restituição  das  terras,  que  haviam  sido  doadas  para  patri- 
mónio dos  Índios ;  os  regulamentos  prohibindo  que  se  in- 


\ 


—  7C  — 

Jligissem  aos  escmvos  bárbaros  castigos  devendo  estes  serem 
sustentados  â  custa  de  seus  senhores,  e  muitas  outras  me- 
didas dignas  d'um  illustrado  administrador :  infebzmente 
porém  pouca  persistência  fêz  Arthm*  de  Sá  nesta  capital ; 
por  isso  que  a  recente  descoberta  das  minas  e  os  conflictos 
que  frequentemente  se  davam  entre  os  aventureiros  que 
ei^lorâvam-na  reclamava  a  sua  presença  nessas  paragens. 

A  prolongada  auzcncia  do  governador,  táo  prejudicial 
aos  negócios,  deu  motivo  ao  decreto  de  30  de  Junho  de 
1702  que  prohibia  nos  termos  os  mais  explicites  tanto  a 
elle  como  aos  seus  §uccessòres  o  irem  as  minas  sem  espe- 
cial determinarão  regia.  O  meio  poróra  mais  adequado  para 
remediar-se  este  inconveniente ,  que  resultava  da  vasta 
extenção  do  território  dependente  do  ^o  de  Janeiro  con- 
sistia antes  aa  criação  de  novas  capitanias,  expediente  este 
que  só  mais  tarde  foi  adoptado. 

Aos  ephemeros  governos  de  D.  Álvaro  da  Silveira  e  Al- 
buquerque e  D.  Fernando  Martins  Mascarenhas  d^Alencastre 
succedeu  era  80  de  Abril  de  17 10  o  de  Francisco  de  Castro 
Moraes,  que  já  havia  substituido  o  capitão-general  Arthur 
de  Menezes  e  Sà  durante  a  sua  estada  em  Minas.  Gozou 
apenas  do  titulo  de  governador  e  foi  em  seu  tempo  que 
tiveram  lugar  os  graves  eventos  das  expedições  de  Duclerc 
e  de  Dugnay  Trouin  que  vamos  historiar. 

ÍI. 

CAUSAS    DA    NOVA    INVASÃO    FRANCEZA. 

Para  bem  avaliarmos  os  motivos  que  trouxeram  os  fran- 
cezes  às  nossas  plagas  cumpre  retrogradar  alguns  annos  e 
examinarmos  qual  era  o  estado  das  relações  entre  Portugal 
e  essa  nação. 


-7   //   - 

Um  dos  priíicipaes  cuidados  de  D.  João  IV.  apenas  su- 
biu ao  sólio  dos  scns  maiores,  graças  à  cavallieiresca  de- 
dicação da  nobreza  liizitana,  foi  deputar  ao  rei  de  França 
Luiz  XlIIdois  homens  da  maior  confiança,  Francisco  do 
Mello,  vedor-mór  do  reino,  e  o  doutor,  António  Cloelho  de 
Carvalho  ({55) ;  afim  d'implorar  a  sua  protecção  na  grande 
lacta,  que  ia  empenhar  contra  Philii)pe  IV. :  cuja  embai- 
xada foi  recebida  em  Paris  com  toda  a  solemnidade.  O  há- 
bil politico  cardeal  de  Ilichelieu  viu  com  prazer  que  a 
revolução  de  Portugal,  assim  como  a  da  Gathalunha,  que 
pouco  a  precedera,  nâo  podiam  deixar  de  causar  grande 
diversão  nas  forças  da  monarchia  hcspanhóia,  que  deseja- 
va humilhar  o  seu  profundo  ódio  pela  casa  d'Austria.  Pela 
influencia  doesse  poderoso  ministro  conseguiram  os  envia- 
dos portuguezes  sentarem-se  no  congresso  de  Munster. 
onde  ventilavam  então  as  clausulas  d'uma  paz  geral.  Som- 
raas  consideráveis  foram  emprestadas  pela  França  para  a 
consolidação  do  throno  portuguez,  como  se  prova  pela 
correspondência  entre  a  rainha  D.  Luíza  de  Gusmão  e  o 
embaixador  de  França,  o  cavalheiro  de  Jant.  Vemos  final- 
mente em  16G0  por  ordem  de  Luiz  XIV.  passar  secreta- 
mente ao  serviço  de  Portugal  o  marechal  Frederico  de 
Schomberg,  à  frente  de  seiscentos  officiaes  francezes : 
contribuindo  poderosa  mente  para  as  victorias  dWn^^ixial 
e  Montes-CIaros,  que  lavraram  o^auto  d'emancipaçáo  dos 
netos  de  Viriato,  e  renovaram  d'est'arte  os  prodígios  d' Al- 
jubarrota. 

A  influencia  franceza  dominava  em  Lisboa  contrabalan- 
çando a  ingleza  e  pareceu  mesmo  tê-la  sobrepujado  quando 
tratando-se  de  dar  uma  esposa  ao  joven  rei  D.  Aflonso  VI 
recahiu  a  escolha  sobre  uma  princeza  d'aquella  nação  D. 
Maria  Francisca  Isabel  de  Sabóia,  filha  do  Duque  de  Ne 


—  78  »- 


\ 


mours,  espirito  fino  c  enérgico,  que  táo  grande  parte 
tomou  nos  successos  politicos  d'essa  épocha. 

Por  seu  lado  a  Inglaterra  lOontra-minava  ^  ihfhiencia 
franceza,  já  celebrando  o  consorcio  do  seu  rei  Carlos  II 
com  a  infanta  D.  Gatharina  recebendo  em  dote  dois  mi- 
lhões de  cruzados,  além  de  Bombaim  na  Ásia,  e  de  Tanger 
n' Africa,  já  determinando  aos  Est«do§-Geraes  da  Hollanda 
á  firmarem  a  paz  com  portugal,  mediante  a  indemnisaçáo 
de  cinco  milhões  de  cruzados,  pagos  em  16  annos,  dos 
quaes  coube  ao  Brasil  contribuir  com  120:000  crazados. 
Fez  a  Inglaterra  retribuir  a  sua  interferência  neste  nego- 
cio alcançíindo  o  previlegio  de  poderem  seus  súbditos  es- 
tabeleccrem-se  na  Bahia.  Pernambuco,  Rio  de  Janeiro  e 
mais  dominios  portuguezes  jias  índias  occidentaes  até  o 
numero  de  quatro  famlias  com  suas  casas  de  negocio  ou 
feitorias,  gozando  das  mesmas  immunidades  de  que  esta- 
vam de  posse  os  naturaes.  (66) 

Semelhantes  concessões  firiram  a  susceptibilidade  da 
nação  franceza,  que  forcejou  por  obter  outras  idênticas, 
allegando  os  relevantes  serviços  que  prestara  a  Portugal 
n'uma  épocha  para  elle  bem  calamitosa ;  e  depois  de  mui- 
tas fadigas  só  ganhou  a  sua  diplomacia  que  se  expedissem 
ordens  para  que  os  navios  francezes  que  demandassem  os 
nos^s  portos  lecebessem  netles  todo -o  acolhimento  e 
protecção.  Foi  em  virtude  de  uma  tal  graça  que  notou-se 
no  fim  do  século  17.®  grande  numero  de  navios d'essa  na- 
ção nas  aguas  territoriaes  do  Brasil,  dando  lugar  ao  con- 
íliclo  aqui  occorrido  em  1696.  A  noticia  de  tal  emergência 
e  mais  que  tudo  o  tratado  de  1 6  de  Março  de  1 703  muito  co- 
nhecido na  historia  pelo  nome  do  seu  negociador,  (67)  que 
outorgava  as  maiores  izempções  ao  commercio  britânico, 
com  exclusão  de  todos  os  outros,  indispoz  considerável- 


—  79  — 

mente  08  negociantes  francezes  conlra  Portugal  e  preparou 
assim  a  empreza  dos  armadores  de  Brest  contra  o  Rio 
de  Janeiro. 

A'  estas  razões  de  interesse  particular  póde-se  addicio- 
nar  um  grande  motivo  politico,:  falíamos  da  guerra  de 
siiccessão  à  coroa  hespanlióta. 

Todos  sabem  como  Luiz  XIV  aceitando  em  favor  de  seu 
neto  o  Duque  d'Anjou  o  testamento  de  D.  Carlos  II  ex- 
clamara perante  a  sua  corte :  Não  lia  mais  Pyreneos  I  (68) 
(íste  dito  do  glorioso  monarcha  francez  despertando  os 
ciúmes  da  Allemanha,  Inglaterra  e  Ilollanda  provocou  a 
longa  guerra  que  encheu  de  amargura  seus  últimos  dias. 

Portugal,  que  apenas  acabava  de  reivindicar  o  seu  lugar 
entre  as  jiaçóes  da  Europa  49pois  de  ter  celebrado  com  a 
JFíanç^  em  1701  uma  liga  offensiva  e  defensiva  bandeou-se 
cm  1703  para  o  partido  da  Inglatorra  e  da  Ilollanda. 

Sua  alliança  nesta  guerra  era  ardentemente  cobiçada ; 
e  o  seu  gladio  faria  pender  a  balança  para  qualquer  dos 
lados  em  que  elle  se  lançasse.  Sua  posição  de  potencia  li- 
Ihítrophe,  a  coragem  dos  seus  soldados  provada  na  guerra 
dà  independência,  náo  deveram  ser  desprezadas  nas  combi- 
hàçóes  politicas  da  épocha. 

Anhelava  o  pequeno  reino  que  se  Ihe^lTerecessc  uma 
bpportunidade  para  estender  a  sua  csplníra  do  acção :  de- 
sejava por  sua  parte  invadir  a  Hespanba.  «  Por  duas  vc- 
t  les,  diz  ulli  eloquente  historiador  contemporâneo,  fò- 
t  rtm  as  luzalB  quinas  vingar  em  Madrid  a  grande  afronta 
«  que  receberam  dos  leões  de  Castella,  (|uando  por  GO 
«  annos  fluctuou  o  seu  pavilhão  sobre  as  torres  de  Lis- 
*  bôa.  »  (69) 

E'  claro  pois  que  o  govwiij;)  francez,  vendo  em  Portugal 


—  só- 
tão poderoso  inimigo,  longo  de  cohibir  o  procedimento 
dos  seus  armadores  animava-os,  e  protogia-os ;  tomando 
mais  tarde  (em  171 1 )  abertamente  parte  na  empreza  de 
apossar-se  de  uma  das  suas  mais  ricas  e  importantes  co- 
lónias. 

'  III. 

ATAQUE    DA    CIDADE  —  DERROTA    DE    DUCLERC. 

A  opulência  da  nossa  cidade  tinlia-sc  tornado  notória  na 
Europa.  Sahiam  annualmentc  do  seu  porto  ricos  carrega- 
mento? Jc  oiro,  diamantes  e  outras  pedras  preciosas  com  di- 
decçáo  às  praças  de  Lisboa  e  Porto :  e  a  tradicçáo  popular 
guarda  lembrança  daesplendida  magnificência  dos  antigos 
fluminenses.  Apezar  das  consUmtes  vexações  que  tinha  sof- 
frido  a  pretexto  de  defendel-o,  ora  o  Rio  de  JaTieiro  mal 
guardado;  pouco  respeitadas  as  suas  fortalezas  (70)  cons- 
tando a  sua  guarnição  de  dois  regimentos  de  infantaria  (71) 
e  duas  companhias  de  artilhería  de  tropa  de  linha  que  de 
mais  â  mais  se  achavam  incompletos.  A  essa  fon>i  juncta- 
vam-se  a  milicia  e  as  ordenanças  formadas  de  cidadãos  ar- 
mados e  ignorantes  da  táctica  militar.  Commandava  á  essa 
pequena  guarnição  um  chefe  pusillamine,  cuja  reprehensi- 
vel  conducta  vamos  apreciar. 

Chegando  aos  ouvidos  dos  armadores  de  Brest  a  situa- 
ção em  (pie  se  achava  a  rica  colónia  fluminense  enviaram 
contra  cila  uma  expedição  composta  de  cinco  navios,  uma 
I)alandra,  c  mil  homens  de  desembarque,  commandados 
pelo  cavalleiro  João  Francisco  Duclerc.  Essas  expedições 
mandaflas  por  simples  [)articulares  e  patrocinadas  pelos 
governos  eram  mui  communs  então,  como  infelizmente 
ainda  o  sá()  nos  Estados-Unidos,  e  o  mais  é  que  mereceram 
a  sancção  do  direito  internaçioaal.  {l^z) 


—  81  — 

Á  6  de  Agosto  de  1710  noiáram  os  habitantes  de  Gabo 
frio  a  passagem  de  algumas  embarcações  que  navegavam 
para  o  sul,  do  que  deram  immediatamente  parte  para  o  Rio 
de  Janeiro  ao  governador  Francisco  de  Castro  Moraes,  que 
mandou  guarnecer  ao  fortalezas,  chamando  toda  a  milicia 
às  armas.  Em  breve  conheceu-se  que  os  habitantes  de 
Cabo  Frio  não  se  haviam  enganado;  porque  á  17  d'esse 
mesmo  mez  e  anno  apparecêram  os  navios  francezes  á 
vista  da  barra  procurando  força-la.  Havendo  dhe  feito  sig- 
na) a  fortaleza  de  Santa  Cruz  para  que  fundeassem,  assim 
o  fizeram,  seguindo  a  sua  derrota  para  a  Ilha-Grande  no 
dia  seguinte  ao  romper  da  aurora,  depois  de  haverem 
aprisionado  uma  sumaca  da  Bahia,  que  nessa  occasião  en- 
trava. Ancoraram  a  27  na  Ilha-Grande  occupando-se  em 
saquear  algumas  fazendas ;  e  bombardearam  por  dois  dias 
a  villa,  causando-lhe  apenas  pequeno  damno  aos  conventos 
do  Carmo  e  Santo  António.  Estava  a  defeza  d'essa  villa 
confiada  unicamente  às  ordenanças,  mas  soube  o  seu  com- 
mandante,  o  capitão  de  infantaria  João  Gonçalves  Vieira 
arrostar  às  intimações  do  poderoso  inimigo,  que  alli 
perdeu  alguns  homens,  que  receberam  das  mãos  dos  mo- 
radores o  premio  das  suas  rapinas. 

Resolvendo  Duclerc  atacar  a  cidade  por  terra  desembar- 
cou a  sua  gente  na  Guaratiba  fazendo  uma  penosa  maicha 
por  caminhos  pouco  trilhados,  afim  d'evitar  o  encontro  das 
tropas  que  o  governador  havia  expedido  contra  elle.  Nessa 
marcha  em  que,  segundo  o  testemunho  de  Pizarro,  foram 
os  francezes  guiados  por  um  preto  deram  derâo  elles  pro- 
vas de  grande  constância,  ao  passo  que  demostra  ella  a 
culpável  negligencia  de  Francisco  de  Castro,  que  com  a 
maior  facilidade  poderia  dcbellar  o  exercito  invasor  nos 

JANEIUO.  11 


—  82  — 

cliDiccis  (lesliladeiros  por  que  linha  de  passar.  «  Os  desta- 
«  camentos,  diz  o  tenente  Nunes,  ((ue  mandou  ao  caminho 
<  por  onde  cHes  marchavam  mais  serviram  de  tetemunhar 
•  a  sua  jornada  do  que  lh\i  impedir;  pois  que  em  sete 
«  dias  de  marcha  náo  se  lhes  disparou  um  tiro.  »  (73) 

Expedindo  da  Guaratiba  dois  navios  e  a  balandra  para 
sondar  a  costa  emquanto  o  grosso  das  forças  seguia  por 
terra  desembarcaram  alguns  homens  aguerridos  na  praia 
da  Copacabann  (74).  onde  encontrando  vigorosa  resistência 
da  parte  das  ordenanças,  reforçadas  por  dois  destacamentos 
dos  regimentos  de  linha,  e  nlo  lhes  favorecendo  a  aspere- 
za do  terreno  tiveram  de  retirar-se  com  alguma  perda. 

Chegando  ao  conhecimento  do  governador  a  noticia  doesse 
desembarque  mandou  logo  tocara  rebate  accudindo  muitos 
voluntários  do  recôncavo,  aos  quaes  distribuíram-se  armas 
para  junctamente  com  as  miiwlas  da  terra  defenderem  o 
o  boqueirão  di  Carioca  (73)  onde  se  conservaram  até  o 
dia  17  de  Septqmbro 

Divulgando-se  nesse  dia  que  os  francezes,  desembarca- 
dos na  Guaratiba,  caminhavam  a  marchas  forçadas  para  a 
cidade  mandou  o  governador  postar  toda  a  tropa  de  linlia 
no  Campo  do  Rosw  io  (76)  abrindo  ahi  uma  trincheira  cuja 
direita  se  apoiava  no  tnorro  da  CéOnccição  e  a  esíiuerda  no 
de  »S.  António,  O  Bispo  diocesano  foi  abençoar  03  defen- 
sores nesse  improvisado  campo,  para  onde  havia  allluido 
grande  numero  de  pessoas  de  todas  as  classes,  principal- 
mente a  dos  estudantes.  Um  grave  annalisla  nosso  narra 
por  essa  occasião  um  facto,  bem  caracteristico  das  ideias 
do  lemi)0 ;  reliro-me  á  imlenie  de  capitão  conferida  pelo 
(jovernador  á  S.  Anton:o  que  ale  então  tinha  praça  c  recebia 
o  ^oldo  de  simples  soldado!.  (77) 


—  s:í  — 

No  (lia  18  cliegáram  os  inimigos  ao  Engenho  Velho,  fa- 
zenda (los  jesuítas,  a  quem  causaram  grandes  prejuízos 
era  gados,  assucar  e  mais  productos  agricolos  e  ahi  per- 
noitaram. No  dia  seguinte  ao  amanhecer  tomaram  pela 
estrada  do  Barro-Vermelho,  e  observando  a  posição  do 
exercito  portuguez,  que  conservava-se  impassível  no  Cam- 
po  do  Rozario  chegaram  pelas  sete  horas  da  manhan  â  La- 
goa da  Seniinella,  (78)  em  cujo  lugar  Bastante  molestou-os 
o  capitão  Bento  do  Amaral  Gurgel  com  a  sua  companhia 
d'esludantes ;  contornando  o  morro  de  S.^^  Thereza  (7d) 
pela  azinhaga  de  Matacavallos  penetraram  no  coração  da 
cidade.  Suppondo  o  governador  que  tomavam  este  cami- 
nho para  atacarem  o  forte  da  Praia- Vermelha  (o  que  seria 
rematada  loucura)  mandou  que  o  mestre  de  campo  João 
de  Paiva  fosse  em  seu  encalço.  Perguntando  esle  si  devera 
pelejar  respondcu-lhe  Francisco  de  Castro  que  Hw  mandava 
defender  a  fortaleza,  e  não  obstante  fizesse  o  que  a  ocasião 
lhe  pennittisse  (80).  Resposta  digna  do  um  chefe,  cuja 
prespicacia  igualava  a  coragem. 

Na  descida  do  morro  de  S.'^  Thereza  foram  os  francezcs 
investidos  por  duzentos  paizanos  armados  tendo  por  chefe 
a  um  religioso  Trino  por  nome  Fr.  Francismo  de  Menezes, 
em  cujo  ataque  tiveram  os  invasores  grande  numero  de 
mortos  e  feridos,  Aflirma  o  tenente  ^Nunes  que  Duclerc 
marchava  à  frente  dos  seus  soldados  sem  outras  armas 
mais  que  uma  rodela  e  um  bastão  I 

Apressando  a  sua  entrada  na  cidade  chegaram  á  igreja 
de  Nossa  Senhora  d^Ajwla  onde  experimentaram  vivíssimo 
fogo  no  forte  de  S.  Sebastião  (81)  continuando  porém  a  sua 
marcha  para  a  Praça  do  Carmo  (82)  pelas  ruas  d^ Ajuda  e  de 
S.  José.  Procuraram  subir  a  montanha  n^um  lugar  chama 


—  Si- 
do Poço  (lo  Porteiro  afim  de  so  apossarem  do  CasteUo  domi- 
nando d\illi  Ioda  a  povoação :  não  conseguiram  porém  o 
seu  intento  polo  fogo  d'artilheria  (fue  lhos  era  feito. 

No  seu  transito  do  Largo  d  Ajuda  para  a  Praça  do  Carmo 
experimentaram  grandes  revezes,  vendo-se  feridos  e  ipor- 
tos  pelas  continuas  descargar  de  mosquetaria  que  recebiam 
das  bocas  das  ruas.  Desistindo  do  intento  de  tomarem  o 
convento  do  Carmo  que  se  adiava  bem  guarnecido  de 
tropas,  fizeram  alto  na  rua  Dtreita  diante  do  trapiche  da 
cidade.  (83) 

Defendia  este  importante  posto  o  capitão  de  cavallaria 
António  Dutra,  que  portou-se  com  extraordinária  coragem. 
Nesse  ataque  deu-se  uma  occurrencia  que  poderia  ter  fu- 
nestas consequências ;  fatiamos  do  incêndio  ateado  nos 
barris  de  pólvora,  que  estavam  armazenados  n\alfandega, 
contigua  ao  palácio  dog  governadores  (84),  d^onde  resul- 
tou a  completa  ruina  d^aquelle  edificio  c  a  morte  de  três 
estudantes. 

Ao  ruido  da  explosão  destacou  o  governador  seu  irmão 
o  benemérito  mestre  de  campo  Gregório  de  Castro  Moraes, 
com  o  seu  terço,  o  qual  fazendo  juncçáo  com  os  estudan- 
tes, que  defendiam  a  entrada  do  palácio  bateu-se  com 
summo  denodo  até  que  cahiu  traspassado  por  uma  baila. 
Não  diminuiu  este  triste  successo  o  valor  dos  combatentes, 
que  vingaram  nos  inimigos  a  morte  do  seu  chefe. 

Vendo-se  Duclerc  accommettido  por  forças  muito  su- 
periores ás  suas  e  havendo  sofTrido  o  desfalque  de  quatro- 
centos homens  que  juncavam  com  os  seus  corpos  o  campo 
da  batalha,  deliberou  encerrar-se  no  trapiche,  fazendo-se 
nelle  forte  com  a  sua  infantaria,  o  que  levou  àeííeito  depois 
de  ter-se  apossado  de  seis  peças  d'arlilhería,  que  assesta- 


—  85  — 

das  na  praia  causáram-lhe  no  principio  gramlc  damno. 
Um  troço  de  com  homens,  que  tinham  ficado  de  reserva, 
investindo  desordenadamente  pelas  ruas  da  cidade,  foi 
lodo  morto  pelos  moradores,  apesar  de  pedirem  a  vida  com 
vivos  sígnaes  dimmaildade ;  já  lançando-se  por  terra  com 
os  chapéos  nas  mãos,  como  diz  Silva  Lisboa,  jàlevantando- 
os  e  abaixando-os  em  testemunho  da  sua  desventura.  De- 
vera ser  bem  profundo  o  ódio  e  a  indignação  que  experi- 
mentaram os  habitantes  do  Rio  de  Janeiro  \yeh  inqualifi- 
cável invasão  franccza  para  que  d'esf  arte  se  esquecessem 
da  sua  proverbial  hospitalidade. 

Quando  o  governador  que  até  então  se  consorrára  im- 
movel  no  Campo  do  Rozario. 

«  Qval  de  ferro  fundido  esfatm  eqmstre,  »  (85) 
soabeque  o  chefe  inimigo  commettêra  a  temeridade  d^en- 
cerrar-scn'um  trapiche,  resolução  esta  que  só  parece  dicta- 
da  pelo  desespero  da  sua  causa,  pôz-se  em  marcha  á  frente 
das  suas  cohortes  para  a  cidade,  intimando  a  Duclerc  que 
se  rendesse  a  descrição  do  sen  vencedor!! 

Ouvindo  porém  o  commandante  francez  o  repique  dos 
sinos,  que  festejavam  a  victoriados  portuguezes,  recusou- 
se  obstinadamente  entrar  em  qualquer  negociação.  Mandou 
então  o  governador  buscar  a  artilhería  da  Ilha  das  Cobras, 
afim  de  constrangêl-o  por  este  meio  a  deporás  armas  sendo 
n^essa  occasião  morto  o  capitão  de  cavallaria  António  Du- 
tra da  Silva,  que  quíz  ser  o  primeiro  a  entrar  no  armazém. 
Por  falta  de  transporte  não  era  possivel  que  chegassem  as 
peças  com  a  brevidade  desejada  tomou  então  o  expediente 
bárbaro  de  fazer  saltar  o  trapiche,  mandando  ahi  collocar 
muitos  barris  de  pólvora,  o  que  si  fosse  levado  a  effeito 
não  somente  causaria  a  morte  do  todos  os  francozes  alli 


—  86  — 

sitiados,  como  ainda  a  de  grande  numero  de  moradoresi 
cujas  casas  licavam  próximas. 

É  digno  dYspecial  menção  o  patriotismo  exaltado  d'um 
fluminense,  alferes  A'' ordenanças,  que  offereceu-se  para 
lançar  elle  mesmo  fogo  ao  trapiche,  nâo  obstante  residir 
na  casa  contigua  com  sua  mãi.  irmans,  mulher  e  filhos ! 
Admiramos,  posto  que  nâo  sympathisemos,  com  semelhan- 
tes acções,  mais  próprias  dos  fastos  gregos  e  romanos,  em 
que  o  amor  da  pátria  era  anteposto  ao  da  familia. 

Rec4íiando  que  o  governador  piizesse  em  pratica  o  seu 
ultimatum  e  para  salvar  a  sua  vida  e  a  dos  seus  compa- 
nheiros d'armas  assentou  Duclerc  em  capitular.  Entregà- 
ram-sc  portanto  prisioneiros  seis  centos  e  quarenta  fran- 
cezes ,  entre  elles  duzentos  feridos,  sendo  calculado  o 
numero  dos  seus  mortos  em  perto  de  quatrocentos.  Da 
nossa  parte  tivemos  apenas  cincoenta  mortos  e  oitenta 
feridos.  (86) 

Foi  conduzido  Duclerc  para  o  collegio  dos  Padres  da 
Companhia  com  alguns  ofliciaes  em  numero  de  treze,  ou 
qualorze :  sendo  distribaidos  os  soldados',  seguros  por 
grilhões,  pela  casa  da  moeda,  cadêa  e  conventos  com  sen- 
tinellas  à  vista,  em  quanto  se  lhes  não  destinava  apro- 
priada prisão. 

Segundo  o  testemunho  de  Mons.  Pizarro  não  escapou 
do  exercito  invasor  sertão  o  negro,  que  lhe  servia  de  guia. 
o  qual  levou  aos  navios,  surtos  no  porto  da  llha-Grande,  a 
funesta  noticia  da  completa  derrota  dos  seus  compa- 
triotas. (87) 

Dois  dias  depois  (à  21  de  Septembro)  apparecêram  à  en- 
trada da  barra  os  navios  francezes,  que  pareciam  dispostos 
a  bombardear  a  cidade,  quando  Duclerc  escreveu  a  seu 


—  87  — 

commandanle  pedindo-lhc  que  sustasse  as  hostilidades  para 
não  aggravar  a  sua  triste  sorte ;  assim  como  que  lhe  man- 
dasse à  terra  alguns  cirurgiões  para  curar  os  feridos,  o  que 
se  fez  com  o  assentimento  do  governador. 

O  regosijo  por  tão  assignalado  triumpho  manifestou-se 
por  Iodas  as  formas,  entoaram  7V-í)í?m7ís;  fizeram-se  pro- 
cissões; e  declarou-se  o  dia  19  de  Septembro,  em  que  a 
igreja  celebra  o  martyrio  de  S.  Januário,  festivo  dos  muros 
para  dentro 

Mal  informada  a  corte  do  occorrido  cm  tão  longiniiua 
colónia  mandou  louvar  o  governador  pelo  seu  valor  e  tino 
e  agraciou-o  com  uma  commenda  declarando  El-Rei  D. 
João  V  que  se  dava  por  muito  bem  servido  agradecendo 
por  essa  occasião  aos  briosos  fluminenses  que  unicamente 
o  mereciam.  (88) 

Monsenhor  Pizarro  e  o  Conselheiro  B.  da  Silva  Lisboa 
avaliam  diversamente  a  conducta  do  governador  Francisco 
de  Castro  Moraes :  para  o  primeiro  foi  clle  um  chefe  inepto 
senão  traidor,  e  para  o  segundo  um  leal  servidor  do  Esta- 
do, posto  que  sem  talentos  militares,  chegando  mesmo  a 
proferir  em  seu  abono  esta  CvStranha  proposição:  t  Não 
está  a  (jloria  do  general  nos  sais  planos  bem  dirUjidos  contra 
o  inimigo  mas  no  bom  successo  das  acções  militares  !  »  (89) 
Cremos  ter  posto  à  toda  a  luz  em  nossa  singela  narrativa 
a  incapacidade  do  homem  a  quem  estavam  entregues  os 
destinos  da  nossa  terra.  Não  Analisaremos  este  capitulo 
sem  dizermos  duas  palavras  acerca  da  mysteriosa  morte 
deDuclerc.  Deixamo-lo  no  coliegio  dos  jesuitas,  onde  de- 
morou-se  algum  tempo  havendo  depois  obtido  do  gover- 
nador licença  para  residir  na  cidade  em  uma  casa  que  para 
esse  fim  alugara.  Ahi,  na  noite  18  de  Março  de  171 1,  foi 


—  88  - 

assassinado  por  dois  sugeilos  rebuçados  sem  que  a  seme- 
lhante crime  se  oppuzessem  os  soldados  que  o  guarda- 
vam :  liem  deligencia  alguma  se  fizesse  para  descobrir  os 
malfeitores.  Copiamos  a  sua  certidão  d'obito,  extrahida  por 
Pizarro  dos  assentos  da  freguezia  da  Sc :  • 

•  Em  18  de  Março  ás  sete  para  as  oito  horas  da  noite 
«  de  1714  annos  mataram  o  general  dos  francezes  que 
í  entraram  à  tomar  esta  terra:  o  qual  mataram  dois rebu- 
t  çados  que  lhe  entraram  pela  porta  a  dentro  estando  na 
«  cama,  e  dois  £càram  guardando  a  porta  da  escada  e 
«  tinha  sentinellas  para  que  não  .i)asseasse  e  não  lhe  valê- 
t  ram.;  chamava-sc  João  Francisco,  que  era  o  nome  da 
t  jua,  e  ^  nome  de  guerra  Moçu  de  Cré ;  está  entenr.ido 
«  na  capella  de  S.  Pedro  na  igreja  de  Nossa  Senhora  da 
<  Candellaria.  » 

As  seguintes  palavras  de  Pizarro  que  lhe  servemde  com- 
mentario  parecem  denotar  a  existência  d'um  horrendo 
crime  official.  Eis  como  s'exprime  o  infatigável  author  das 
Memorias  HistoriC/Qs  do  Rio  de  Janeiro. 

«  M.""  Duclerc,  pouco  satisfeito  do  seu  destino  muito 
«  contrario  aos  projectos  que  formara,  intentou  conspirar 
•  contra  o  povo  depois  de  passados  alguns  mezes,  e  como 
«  se  descobrisse  a  trama  foi  assasinado  na  noite  18  de 
«  Março  de  1711.   »  (90) 

Um  illustre  historiador  inglez  attribue  a  morte  de  Du- 
clerc à  desafronta  por  algum  ciúme  que  tivesse  inspirado 
à  alguém,  que  lançou  mão  d' um  meio  traiçoeiro  para  des- 
ciirtar-se  do  seu  rival.  (91) 

Sendo  o  governador  Castro  Moraes  arguido  por  Duguay- 
Trouin  de  complicidade  nesse  assassinato  assim  procurou 
jusliíic:ir-se: 


H 


—  89  — 

«  Quanto  à  morte  de  M.'"  Duclerc  dei-lho,  â  pedido 
«  seu,  a  melhor  casa  doeste  paiz,  onde  foi  moito.  Não 
€  pude  descobrir  quem  foi  o  matador  por  mais  deiigencias 
«  que  se  fizeram,  tanto  da  minha  parte  como  da  justi- 
«  ça;  (92)  e  vos  asseguro  que  si  fòr  encontrado  o  assas- 
«  sino  ha  de  ser  punido  como  merece.  É  pura  verdade 
«  ter-se  tudo  passado  segimdo  vos  exponlio.  »  (93) 

Não  obstante  a  denegação  cathegorica  de  Francisco  de 
Castro  cremos  que  não  foi  elle  extranho  a  semelhante  cri- 
me, commettido  com  flagrante  violação  de  todo  o  direito 
inter-nacional.  A  presença  de  Duclerc  o  incommodava  ex- 
traordinariamente e  não  sabia  como  desfazer-se  d'elle.  Jà 
€m  data  de  9  de  Novembro  do  anno  anterior  reclamara  da 
corte  providencias  a  este  respeito  e  antes  que  lhe  chegasse 
provisão  regia,  que  transcrevemos  em  nota,  era  o  com- 
mandante  francez  assassinado  com  circunstancias  taes,  que 
si  o  lú)  constituem  author  doesse  attentado  pelo  menos 
accusam-no  decomplicidade.  (94) 


JANEIRO.  12 


—  91  — 

PARTE   TERCEIRA. 

EXPEDIÇÃO  DE  DUGUAY-TROUIN. 
I. 

VOLTA  DOS  FRANCEZES — BOMBARDEAMENTO  DO  RIO  DE  JANEIRO. 

O  mào  êxito  da  invasão  de  Duclerc  impressionou  viva- 
mente OS  ânimos  francezes :  pensaram  que  a  honra  nacio- 
nal exigia  prompta  desforra;  e  seu  espirito  audaz  e 
aventureiro  inspirou-lhes  a  ideia  de  virem  com  forças  su- 
periores vingar  a  afironta  recebida.  Proseguia  com  encar- 
niçamento a  guerra  de  successáo  à  coroa  de  Hespanha :  «s 
duas  maiores  potencias  marítimas  da  Europa,  a  Inglaterra 
e  a  Hollanda,  se  haviam  ligado  contra  a  fortuna  de  Luiz 
XIV ;  e  o  astro  do  grande  rei  caminhava  para  o  seu  occaso. 
A  marinha  franceza,  que  com  tanto  esmero  formara  Colbert, 
soffria  constantes  revezes :  suas  rivaes  pareciam  ter  decre- 
tado o  seu  completo  aniquilamento,  contra  o  qual  porém 
protestava  um  valente  corsário  cujo  nome  tornou-se  popu- 
lar. Jean  Bart  é  o  symbolo  da  gloria  marítima  da  França, 
assim  como  Bayard  o  é  da  sua  gloria  cavalheiresca.  Du- 
guay-Trouin,  discípulo  e  emulo  de  Jean  Bart,  forneceu, 
como  veremos,  uma  pagina  brilhante  para  a  historia  de  seu 
paiz  e  de  opprobrio  para  o  nosso.  Elle  próprio  nos  con- 
fessa em  suas  Memorias  que  a  noticia  da  derrota  do  seu 
xx)mpatriota  lhe  inspirara  o  desejo  de  vir  ao  Rio  de  Janeiro 
lavar  a  nódoa  do  seu  pavilhão,  e  colher  vantagens  pecuniá- 
rias, que  animassem  os  armadores  a  emprehenderem  ou- 
tras expedições.   Sabe-se  que  nessa  épocha  o  thesouro 


—  l)á  — 

(I'i'l-rei  clirisliaiiissirno  se  ncb.nva  em  grandes  apuros  sen- 
<lo-llie  suiiimniuenfe  penoso  o  manter  os  exércitos,  que 
pelejavam  pelos  direitos  de  seu  neto:  circunstancia  esta 
que  de  certo  teria  impossibilitado  a  expedição  projectada 
si  Duguay-Trouin  nâo  se  lembrasse  de  interessar  nella  os 
negociantes,  dando-lhe  d^esfarte  um  duplo  caracter. 

Munido  do  dinheiro  preciso,  que  lhe  foi  fornecido  pelas 
principaes  casas  de  S.  Maio  dirigiu-se  á  Versailles,  onde 
graçíis  á  intervenção  de  Coulange  poude  obter  a  eíTicacis- 
sima  protecção  do  conde  de  Toulouse,  grande  ahnirante 
de  França,  e  com  ella  o  assentimento  do  rei  que  lhe  con- 
fiou seus  navios  e  tropas. 

Apezar  das  precauções  tomadas  para  que  o  armamento 
se  fizesse  com  o  maior  segredo  ignorando-sc  o  alvo  da  ex- 
pedição foi  todavia  d'elle  informada  a  corte  de  Lisboa, 
que  expediu  onlem  ás  capitanias  maritimas  do  Brasil  para 
que  estivessem  prei)aradas  para  qualquer  agn  ssâo.  Con- 
seguiram ainda  os  embaixadores  de  Portugal  cm  Londres 
que  a  rainha  Anna  mandasse  uma  esquadra  a  Brest,  d'onde 
se  suppunha  que  parteria  Duguay-Trouin ;  que  illudindo  a 
vigilância  dos  cruzadores  inglezes  sahiu  do  porto  de  Ro- 
chelle  à  9  de  Junho  de  17H. 

Compunha-sc  a  esquadra  de  dezoito  velas,  no  numero 
das  quaes  contavam-se  cinco  nãos e  três  fragatas e  demais 
de  trcs  mil  homens  de  tropas  de  desembarque,  ainda  assim 
insuflicientes  para  tomar  uma  cidade  defendida  por  dez 
mil  soldados,  posto  que  infelizmente  commandados  por 
um  péssimo  cliefe.  As  fortalezas,  ainda  que  mal  construi- 
das,  estavam  bem  guardadas,  e  formavam  com  os  baluar- 
tes e  trincheiras  uma  cintura  de  granito  e  de  fogo.  que 
poderiam  torna-las  iiíexpugnaveis.  Quatro  nàos  e  três  fra-- 


-  93  — 

gatas  dl  frota  que  nesse  teni[)o  costumava  comboiar  os  na- 
vios mercantes,  que  navegavam  para  os  portos  da  me- 
trópole ,  constituíam  outras  tantas  baterias  flutuantes, 
dispostas  em  linha  de  batalha  desde  Sancta  Cruz  até  a 
Bua-Viagem. 

Avisado  pelos  moradores  de  (Íabo-Frio  da  passagem 
diurna  numerosa  armada  deu  o  governador  ordem  para 
que  todos  corressem  aos  s  «us  postos ;  e  por  alguns  dias 
apresentou  o  Rio  de  Janeiro  um  aspecto  de  tal  modo  mar- 
cial, que  seria  capaz  d'incutir  respeito  aos  mais  destimidos 
invasores.  Semelhante  aspecto  porém  contrariava  os  há- 
bitos pacíficos  do  governador ,  que  conhecendo  que  tinha 
havido  engano  no  aviso  recebido,  mandou  desguarneceras 
fortalezas  da  barra,  cessando  todas  as  cautelas  que  a  pru- 
dência aconselhava,  à  vista  da  communicação  que  se  fizera 
de  Lisboa  e  de  que  fora  portador  um  paquete  de  guerra 
inglez. 

Quando  o  perigo  parecia  conjurado,  quando  já  Francisco 
de  Moraes  era  comprimentado  pela  energia  e  tino  que  havia 
desenvolvido,  eis  que  a  12  de  Septembro  doesse  mesmo 
anno  assoma  a  esquadra  franceza  por  entre  um  denso  ne- 
voeiro. Eram  duas  horas  da  tarde. 

Posto  que  desguarnecidas  romperam  as  fortalezas  e  ba- 
terias vivíssimo  fogo  sobre  o  inimigo  que  nesse  primeiro 
ataque  teve  perto  de  tresentos  homens  fora  de  combate 
(93).  Esta  confissão  do  próprio  almirante  nos  parece  do 
grande  peso,  maximc  mostrando-se  elle  tão  ufano  de  sua 
felicidade  em  se  .apoderar  da  nossa  terra ;  e  querendo 
apresentar  este  facto  como  resultado  da  coragem  e  pericia 
dos  seus  e  cobardia  dos  naturaes;  e  não  sabemos  em  que 
se  fundava  Silva  Lisboa  para  dizer  (9G)  que  os  mvios  fran- 


--  94  — 

cej^s  passárGm  pelas  nossas  fortalems  sem,  que  estas  lhes 
dessem  um  sútiro! 

Verdade  é  que  a  resistência  foi  de  curta  duração;  pois 
que  dentro  d'uma  hora  fundeava  a  esquadra  inimiga  de- 
fronte da  Ilha  das  Cobras,  eas  nàos  e  fragatas  portuguezas, 
commandadas  por  Gaspar  da  Costa,  conhecido  pelo  Ma- 
qtúmz,  vinham  encalhar  perto  de  terra  buscando  o  abrigo 
das  baterias.  Nem  ahi  julgando-as  seguras  mandou-lhe  o 
Maquinez  lançar  fogo.  do  qual  apenas  escapou  uma  que  os 
francezes  puderam  salvar.  Assim  desappareceu  miseravel- 
mente uma  esquadra,  victima  da  inépcia,  ou  da  traição  do 
seu  chefe,  onde  tremulavam  as  lusas  quinas,  que  haviam 
illustrado  os  heróes  da  índia ! 

A  única  fortaleza  que  poude  receber  soccorros  de  terra 
quando  se  devisàram  as  nàos  francezas  foi  a  de  Ville- 
gaignon ,  e  essa  mesma  teve  em  breve  de  ficar  silenciosa 
em  razão  do  incêndio  que  uma  bomba  occasionou  no  paiol 
da  pólvora,  d'onde  resultou  a  morte  de  dois  capitães,  um 
dos  quaes  era  sobrinho  do  governador,  e  filho  do  mestre^ 
de-campo  Gregório  de  Castro,  que  tanto  se  destinguira  no 
anno  anterior.  A  da  Ilha  das  Cobras,  foi  abandonada  por 
ordem  de  Francisco  de  Moraes  á  pretexto  de  concentrar  as 
forças,  e  occupada  por  quinhentos  francezes  commanda- 
dos  pelo  cavalleiro  de  Goyon,  que  alli  se  fortificara,  cau^ 
sando  grande  domno  a  cidade,  e  principalmente  ao  mos- 
teiro de  S.  Bento:  o  qual  todavia  era  defendido  pelas  ba- 
terias, que  ahi  fizera  construir  um  normando  por  nome  du 
Bocage,  que  se  naturalisára  porluguez,  prestando  relevan- 
tes serviços  nesta  conjunctura  contra  os  seus  compa- 
triotas, jh  dirigindo  acertado  fogo  sobre  as  suas  embarca- 
ções, já  obtendo  por  meio  d'um  engenhoso  estratagema  o 
informar-se  do  estado  das  suas  forças. 


—  95  — 

No  segando  dia  da  sua  chegada  desembarcaram  os  ini- 
migos na  praia  do  Vallongo  em  numero  de  três  mil  e  tre- 
sentos  homens,  sem  encontrarem  opposição  alguma,  col- 
locando  dois  mil  no  morro  de  S.  Diogo,  apoderando-se  da 
liha  do  Pina,  onde  estabeleceram  uma  bateria,  postando 
quatro  fragatas  defronte  do  Saco  do  Alferes.  O  exercito 
invasor  dividiu-se  em  três  brigadas,  de  três  batalhões  cada 
uma,  sendo  a  da  vanguarda  commandada  pelo  cavalleiro 
de  Goyon,  a  da  retaguarda  pelo  cavalleiro  de  Courserac  e 
do  centro  pelo  próprio  Duguay-Trouin,  tendo  por  ajudante- 
de-campo  o  cavalleiro  de  Beauve.  Para  quartel  general 
francês  foi  escoHiido  o  palácio  episcopal  da  Conceição. 

Em  quanto  apoderava-se  o  inimigo  dos  pontos  mais  im- 
portantes da  cidade  conservava-se  o  governador  impassi- 
vel  no  seu  acampamento  do  Rozario,  como  na  invasáo  de 
Duclerc,  esperando  talvez  que  os  erros  dos  assaltantes  lhe 
assegurassem  a  victoria  como  da  vez  passada.  As  circums- 
tamcias  porém  haviam  mudado,  e  a  colónia  portugueza 
útítA  agora  de  haver-se  com  um  exercito  aguerrido,  de- 
baixo das  ordens  d'um  chefe  hábil  e  cheio  de  prestigio. 

Admirados  os  francezes  de  tanta  inação  quizeram  cortar 
lun  posto  do  inimigo  situado  no  morro  sobranceiro  à 
Lagoa  da  Sentinella ;  reconhecendo  porém  ser-lhes  impos- 
possivel  em  razão  dos  mangues  e  pântanos  que  o  cerca- 
vam como  se  expressa  o  próprio  Duguay-Trouin :  «  Ap- 
«  pliquei  toda  a  minha  attenção  em  reconhecer  o  terreno. 
«  e  achei-o  tão  impracticavel  que  quando  mesmo  tivesse 
«  quinze  mil  homens  ser-me-hia  impossível  o  impedir  que 
#  esta  gente  se  retirasse  com  as  suas  riquezas  para  os 
«  matos  e  montanhas.  » 

Todas  as  fortalezas  tinham  emudecido  fluctuando  sobre 


—  96  — 

os  seus  muros  o  pavilhão  dos  lyrios,  inclusive  a  de  S.  Se- 
bastião, que  capitulou  á  intimação  d'Auberville,  capitão  de 
granadeiros  da  brijjada  Goyon.  Perderam  então  os  defen- 
sores da  praça  toda  a  esperança  de  poder  conserva-la,  e 
pensando  jà  em  procurarem  a  sua  salvação  na  fuga  incen- 
diaram uma  nào  e  duas  fragatas  ancoradas  próximo  ao 
morro  de  S.  Bento;  assim  como  vários  armazéns  e  trapi- 
ches da  cidade. 

O  contagio  porém  da  cobardia  não  contaminou  á  todos 
os  corações:  houveram  alguns  briosos  guerreiros  que 
protestaram  por  sua  conducta  contra  tanto  aviltamento  : 
(listinguindo-se  entre  estes  o  capitão  Bento  do  Amaral 
Gurgel  Coitinho,  que  morreu  valentemente  combatendo 
em  prol  da  pátria  no  intempestivo  soccorro  levado  á  for- 
taleza de  S.  João.  Cumpre  todavia  confessar,  para  vergo- 
nha nossa,  que  os  actos  de  heroismo  que  assignaláram  os 
vencedores  de  Duclerc  foram  mui  raros  nesta  segunda 
invasão :  e  só  podemos  explicar  tal  mudanç^^,  operada  no 
periodo  de  um  anno,  pela  applicaçáo  do  engenhoso  pen- 
samento do  épico  lusitano : 

«    Lm  fraco  rei  faz  fraca  a  forte  gente.  » 

e  as  distincções  honorificas  conferidas  á  um  indigno  go- 
vernador á  um  chefe  i)usillanime  pela  influencia  de  seu  tio 
o  reitor  do  collegio  de  S.  Antão  e  valido  d'El-rei,  deve- 
ram profundamente  desmoralisar  os  seus  subordinados  e 
produzir  um  terrível  eíTcito  no  animo  dos  que  ainda  se 
gloriassem  do  antigo  nome  portuguez. 

Desejando  terminar  a  conquista  com  a  maior  presteza  e 
receando  os  funestos  resultados  que  poderiam  provir  da 
jííTda  de  tempo  mandou  Duguay-Trouin  um  tambòi'  como 


—  97  — 

volaliin  ao  governador  enviando-Ihe  uma  carta  em  (jue  lhe 
intimava  que  entregasse  a  praça  á  mercê  d'el-rei  de  França 
queixando-se  do  máo  trato  que  haviam  recebido  os  prisio- 
neiros da  passado  expedição  ao  que  respondeu  Francisco 
de  Castro  dizendo  que  a  defenderia  até  a  ultima  (jota  de  seu 
sangue  negando  ter  maltratado  os  prisioneiros  francezes 
bem  como  ser  complice  da  morte  de  Duclerc.  (97) 

Semelhante  respostíi  parecia  fazer  esperar  que  o  gover- 
nador iria  alfim  despertar-se  do  sen  somno  lethargico  e 
sahindo  dos  seus  arraiaes  forçar  os  francezes  a  procurarem 
asylo  em  seus  navios  e  levarem  ao  seu  paiz  a  triste  nova 
da  sua  derrota. 

Nada  porém  d'isto  aconteceu.  Reuniu-se  com  toda  a  so- 
lemnidade  um  conselho  em  que  foi  decidido  ser  mais  con- 
veniente o  abandonar-se  a  cidade.  A  tal  alvitre  oppuzé- 
ram-se  o  sargento-mór  da  Colónia  Domingos  Henriques  e 
vários  officiaes  requerendo-se  em  nome  d'el- rei  que  se  não 
abandonasse  a  praça :  seus  votos  porém  foram  supplanta- 
dos  pelos  da  cobarde  maioria. 

O  governador,  depois  de  haver  ordenado  que  lúnguem 
mb  pena  de  morte  abandomsse  o  sen  i)osto,  fugiu  vergonho- 
samente com  quasi  toda  a  tropa  de  linha  para  a  fazenda 
dos  jesuitas  conhecida  pela  denominação  áe  Engenho  Novo. 
Apenas  conhecida  a  resolução  de  Francisco  de  Castro  foi 
geral  a  fuga:  começando  o  mestre  de  campo  Balthazar  de 
Abreu  Cardoso  por  deixar  desguarnecida  a  cadêa  e  a  ma- 
rinha, que  guardava  com  o  seu  terço  de  ordenanças. 

Ao  passo  que  taes  acontecimentos  se  passavam  na  cidade, 
onde  reinava  a  mais  horrivel  confusão,  onde  cada  qual  pro- 
curava salvar-se  ordenava  Duguay-Trouin  o  bombardea- 
mento. O  fogo  do  Céo  e  o  da  terra  pareciam  conjurados 

J.VMilRO.  13 


—  98  — 

para  deslruirem  as  liabitações  cios  nossos  avós :  desorevía 
o  relâmpago  ellipses  na  abobada  celeste  em  quanlo  as  bailai^ 
c  as  granadas  sulcavam  o  ar ;  repercutindo  os  échos  da 
bahia  em  sua  hyperbolica  voz  esta  liorrisona  orchesta. 
Aterrados  fugiam  os  moradores  em  direcções  oppostas ; 
embrenhando-se  uns  pelas  matas,  occuHando-se  outros 
nas  grutas,  c  galgando  alguns  os  pincaros  dos  montes.  O 
marido  procurava  a  mulher,  a  maio  filho,  o  irmão  áirman; 
morriam  afogadas  as  crianças  nas  torrentes,  ou  transidas 
de  frio  pela  copiosa  chuva,  que  de  suas  cataractas  despe- 
nhava o  Céo;  envolvendo  as  trevas  da  noite  com  o  seu  véo 
de  crepe  este  dantesco  quadro,  digno  do  pincel  de  Buo- 
narotti. 

Contava-se  20  de  Septembro  do  anno  da  graça  1711,  jus- 
tamente um  anno  e  um  dia  depois  da  derrota  de  Duclerc. 

Ao  amanhecer  do  dia  21  quando  Duguay-Trouin  prepa- 
rava-se  para  dar  um  assalto  geral  appareceu-lhe  la  Salle, 
<|ue  fora  ajudante  de  campo  de  Duclerc,  noticiando-lhe  que 
a  cidade  estava  deserta  existindo  apenas  nella  duzentos  e 
tantos  prisioneiros  da  primeira  expedição  que  havendo  ar- 
rombado as  portas  de  seus  cárceres  entregavam-se  ao 
saque. 

Tomando  as  precauções  que  o  caso  pedia  marchou  o  al- 
mirante para  a  cidade  onde  verificou  por  si  mesmo  a  vera- 
cidade da  informação  do  seu  compatriota  e  teve  de  lamen- 
tar a  scena  de  desolação  que  lhe  apresentava  uma  ix)voaçáo 
ainda  ha  pouco  tão  florescente.  A  mór  parte  dos  moradores 
haviam  deixado  todas  as  suas  preciosidades,  em  virtude  do 
bando  do  governador  para  que  ningueni  tirasse  nada  de  swts 
casas  sob  pena  de  ser  tomado  por  perdido;  medida  esta  que 
parece  dictada  pela  mais  negra  traição,  facilitando  ao  inimi- 


—  go- 
go um  rico  ílespojo.  De  facto  os  prisioneiros  apenas  se  vi- 
ram soltos  entraram  pelas  casas  roubando  tudo  o  que  de 
melhor  achavam,  e  taes  excessos  commeltêram  que  o  pró- 
prio Duguay-Trouin  viu-se  constrangido,  para  manter  a  dis- 
ciplina e  evitar  o  contagio  de  tão  funesto  exemplo,  á  man- 
da-los encerrar  no  forte  de  S.  Bento.  Queixa-se  elle  amar- 
gamente da  tendência  para  o  roubo  que  tinham  os  seus 
sohJados  e  marinheiros,  tendência  esta  que  zombava  de 
suas  ordens  repressivas,  nãor  achando  outro  meio  para  con- 
te-los senão  fazendo-os  trabalhar  constantemente.  Leamos 
a  sua  confissão. 

«  Fiz  postar  sen  ti  nellas  e  collocar  corpos  de  guarda  em 
«  todos  os  lugares  necessários ;  ordenei  que  se  fizessem 
«  rondas  noite  e  dia  com  proliibicáo,  sob  pena  de  morte. 
«  aos  soldados  e  marinheiros  de  eritrarem  na  cidade.  Não 
«  despresei  n'uma  palavra  nenhuma  das  precauções  prat:- 
«  caveis:  porém  a  paixão  pelo  saque  sobrepujou  ao  temor 
«  do  castigo.  Os  que  compunham  os  corpos  de  guarda  e 
«  as  rondas  foram  os  primeiros  em  augmentar  a  desordem 

<  durante  a  noite ;  de  sorte  que  no  dia  seguinte  de  ma- 
€  nhan  três  quartos  dos  armazéns  e  casas  se  achavam  ar- 
€  rombados,  os  vinhos  derramados,  os  viveres,  mercado- 
«  rias  e  moveis  espalhados  pelo  meio  das  ruas  e  pela  lama ; 
«  tudo  emfim  n'uma  desordem  e  confusão  inexprimíveis. 
«  Mandei  sem  remissão  quebrar  a  cabeçíi  de  muitos,  que 
«  estavam  incursos  no  bando  publicado;  porém  não  sendo 
€  sufficientes  todos  os  castigos  junctos  para  deter  o  seu 
€  furor,  tomei  o  partido,  para  salvar  alguma  coisa,  de  fa- 
€  zer  trabalhar  as  tropas  desde  manhan  até  á  noite  car- 
«  regando  para  os  armazéns,  (para  onde  o  senhor  de  Ri- 

<  couart  mandou  escrivães  e  pessoas  de  confiança )  lodos 
«    os  objectos  que  se  podessem  encontrar.  »  (98j 


—  1Í)0  — 

Em  sua  justa  imlignac-lo  pí^la  inqualificável  ag{?ressíío 
íle  Duguay-Trouiii  envolvem  os  nossos  liistoriadorcs  todos 
os  francezes  em  suas  censuras  chamando-os  na  phrase  de 
Tácito,  alieimrum  rerum  cupidissimi.  Sejamos  porém  im- 
parciaes,  e  reconheçamos  que  os  attentados  contra  a  pro- 
priedade, commettidos  por  uma  soldadesca  mercenária, 
eram  altamente  desapprovados  pelo  commandante  da  es- 
quadra. 

Contava  assim  a  França  mais  uma  cidade :  pertencia-lhe 
o  Rio  de  Janeiro  par  le  droit  de  conqiiete :  vejamos  agom 
como  foi  resgatado  volvendo  ao  domínio — portuguez. 

II 

VKHGONHOSA  CAPITULAÇÃO. 

Estavam  os  francezes  no  dia  22  de  Septembro  definiti- 
vamente senhores  da  cidade  e  suas  ímmediações  havendo 
expedido  alguns  batalhões  pela  estrada  de  Catumby  afim 
d'occuparem  os  postos  que  os  resguardassem  d^algum  ata- 
que dos  portuguezes,  que  de  modo  algum  cogitavam  em 
recuperar  o  que  haviam  perdido  partindo  o  governador  e 
seus  asseclas,  por  mór  segurança,  para  Iguassú. 

Senhor  da  nosáa  capital  cuidou  Duguay-Trouin,  como 
elle  próprio  no-lo  diz,  dos  interesses  dos  armadoí  es  e  sendo- 
lhe  impossivel  conservar  a  praça  em  razão  dos  poucos  vi- 
veres que  n'ella  encontrara,  e  da  dificuldade  de  penetrar 
no  interior  do  paiz  para  se  abastecer  d'elles;  julgou  que 
seria  opportuno  entrar  em  transação  com  a  gente  da  terra. 

O  saque  importara  em  doze  milhões  líquidos  porque  só 
no  convento  de  S.  António  acharam  os  invasores  dois  em 
oiro  e  prata,  n'um  sitio  chamado  sumidouro,  que  servia  de 
caixa  económica  aos  nossos  maiores :  nâo  era  porém  esta 


—  m  — 

somma  sudicionle  para  contentar  á  avidez  dos  estrangeiros. 
Passava  a  nossa  pátria  por  uma  cidade  immensamente  rica ; 
fallava-se  comemphase  das  fabulosas  sommas  que  os  quin- 
tos produziam  para  o  erário  da  metrópole  ;  assim  pois  en- 
tendeu o  almirante  que  podia  exigir  pelo  seu  resgate  uma 
considerável  quantia.  Escreveu  ao  governador  dizendo-lhe 
que  si  não  apressasse  em  entrar  em  negociações  com  ellc 
relativamente  a  entrega  da  colónia  arrazal-a-liia  inteira- 
mente. 

Esta  urgência  dos  francezes  explica-se  hoje  facilmente 
pela  declaração  que  nos  faz  seu  chefe  de  que  estava  infor- 
mado por  alguns  desertores  que  António  d'AIbuquerque, 
ex-governador  do  Rio  de  Janeiro  e  então  de  Minas  e  S. 
Paulo,  marcliava  para  o  litoral  com  forças  consideráveis, 
que  elle  calculava  em  três  mil  homens  mas  que  os  es- 
criptores  nacionaes  elevam  a  nove.  ou  dez  mil,  queapezar 
de  serem  de  mlicias  e^rdemtH^s  poderiam  contudo  arran- 
car-Ihe  o  triumpbo,  que  com  tanta  facilidade  obtivera. 

Querendo  dar  uma  prova  de  que  estava  disposto  à  levar 
a  effeito  a  sua  ameaça  ordenou  Duguay-Trouin  que  duas 
companhias  de  granadeiros  fossem  ((ueimar  todas  as  casas 
de  campo  na  circunferência  de  meia  légua :  o  que  realiza- 
ram quasi  sem  opposiçáo.  Dizemos  quasi  porque  foi  nesta 
occasião  que  teve  lugar  o  único  feito  brioso  d'esta  guerra 
a  que  acima  alludimos,  quando  mencionámos  a  heróica 
morte  do  capitão  Bento  do  Amaral  Coitinho,  cujas  armas  e 
cavallo  foram  levados  como  trophéos  ao  almirante,  que  tece 
os  maiores  encómios  à  sua  coragem. 

Não  era  menos  urgente  a  precisão  que  sentia  Castro 
Moraes  de  terminar  este  estado  dúbio.  Convinha-lhe  dar  a 
forma  de  capitulação  ao  seu  cobarde  abandono  da  cidade ; 
justificar  pelas  leis  da  guerra  actos  de  que  a  sua  própria 


—  102  — 

consciência  não  lhe  poderia  absolver.  Lançou  pois  rnâo  com 
toda  a  solicitude  do  offereciínento  que  lhe  fazia  o  padre 
António  Cordeiro  da  Companhia  de  Jesus,  que  licàra  no 
seu  collegio,  onde  hospedara  o  almirante  e  mais  officiaes 
para  servir  de  medianeiro  n'este  negocio.  Escolheu  o  juiz 
de  fora  Luiz  Fortes  de  Bustunante  e  Sá  e  o  mestre  de 
campo  João  de  Paiva  Souto  Maior  para  em  mtne  do  j)ovo 
convir  nas  condições  da  capitulação :  conferindo-lhes  os 
poílêres  necessários  para  ajustarem  o  resgate  da  cidade  por 
contribuição  da  fazenda  publica  e  particular.  (99) 

Entrando  em  conferencia  os  delegados  de  ambas  as 
partes  contractantes  mostráram-se  os  francezes  summa- 
mentc  exigentes  e  com  toda  a  razão  attenta  a  fraqueza  dos 
seus  contrários.  Pediram  doze  milhões  pela  soberania  da 
terra  (100)  fortalezas,  aríilheriase  cidade  entrando  os  conven- 
tos e  tudo  o  que  lhes  pertencia :  ao  que  responderam  os  com- 
missarios  portuguezes  que  não  ei^  possível  dar  mais  de 
tresentos  à  quatrocentos  mil  cruzados  que  em  tanto  im.- 
portavam  os  redditcs  dos  quintos,  moeda,  alfandega  e  con- 
tractos como  poderiam  certilicar-se  pelos  livros  e  inven- 
tários, que  estavam  em  seu  poder.  Não  querendo  annuir 
á  essa  reducção  da  quantia  arbitrada  deram  os  enviados 
francezes  por  finda  a  conferencia  promettendo  que  hia 
ser  destruida  a  cidade. 

Pela  segunda  vêz  intentou  Duguay-Trouin  intimidar  aos 
portuguezes  fazendo-lhes  crer  que  executaria  o  que  era 
inteiramente  contrario  aos  seus  interesses ;  e  que  certa- 
mente não  tinha  a  menor  vontade  de  fazer.  Tendo  tido  a 
cautela  de  occupar  as  alturas  e  os  desfiladeiros  mandou  que 
vários  corpos  cercassem  as  nossas  tropas,  e  contando  com 
a  cobardia  do  governador  cahiu  sobre  o  seu  flanco ;  fican- 
do a  vanguarda  ás  ordens  do  cavalleiro  de  Goyon  ao  ai- 


—  103  — 

cance  de  meio  tiro  de  fusil  do  nosso  accampamento.  Ainda 
desta  vêz  logrou  o  almirante  o  seu  propósito :  humilhou-se 
Francisco  de  Castro ;  enviou-lhe  dois  officiaes  acompanha- 
dos d'um  jesuíta  a  representar-lhe  a  absoluta  impossibili- 
dade de  contribuir  com  maior  somma  do  que  a  promettida; 
podendo  apenas  concorrer  com  mais  dez  mil  cruzados  de 
saa  fortuna  particular,  quinhentas  caixas  d'assucar  e  o 
gado  necessário  para  o  sustento  da  expedição ;  e  caso  mo 
fosse  recebida  a  stia  proposição  então  o  batesse  como  fôsíie  do 
seu  agrado,  arrasasse  a  culade  e  o  paiz,  ou  tomasse  o  partido 
que  bem  qmzesse  (iOi)  Devemos  observar  que  a  somma  de 
quatro  centos  mil  cruzados,  oíTerecida  da  primeira  entre- 
vista para  o  resgate,  fora  elevada  depois  à  seiscentos,  não 
conseguindo-se  nem  assim  contentar  os  francezes,  que 
como  vimos,  romperam  as  negociações,  e  recorreram  aos 
argumentos  ad  terrorem. 

Recebendo  este  ultimaium  do  governador  convocou  o 
almirante  os  seus  offlçiaes  à  conselho  e  alli  decidiu-se  una- 
nimemente em  aceitar  a  proposta ;  porque  si  quizesse  levar 
o  inimigo  ao  derradeiro  apuro  arriscar-se-hiam  a  perder  a 
ultima  esperança  que  lhe  restava.  Estipulou-se  pois  que  a 
mencionada  quantia  seria  paga  dentro  de  um  prazo  de 
quinze  dias,  fornecendo-se  aos  francezes  o  gado  de  que 
precizassem,  ficando  dois  olTiciaes  como  reféns  da  obser- 
vância de  taes  condições.  Como  general  prudente  cuidon 
Duguay-Trouin  d'assegurar  a  sua  retirada  na  hypothese, 
por  elle  sempre  temida,  que  António  dWlbnquerque  não  qui- 
zesse, â  sua  chegada,  subscrever  à  clausulas  tão  aviltantes 
para  a  sua  nação :  ordenando  que  se  reforçassem  imme- 
diatamente  todos  os  postos  militares  de  defesa  e  as  forta- 
lezas, como  as  da  Ilha  das  Cobras,  Villegaignon  e  Santa 
Cruz  para  proteger  a  sabida  dos  seus  navios. 


—  104  — 

No  dia  seguinte  que  se  contava  11  de  Outubro,  chegava 
de  Minas  António  d' Albuquerque  para  ser  mudo  e  impas- 
sivel  testemunha  di  degradação  dos  seus  compatriotas. 
Não  contente  de  fazer  umi  morosa  marcha  quando  as  cir- 
ciimstancias  reclamavam  a  maior  velocidade,  não  protes- 
tou, como  Camillo.  contra  o  vm  victis  do  novo  Brenno  I 
Parece  que  o  máo  fado  de  Portugal  escarnecia  dos  Albu- 
querqnes  terribeis  e  Castros  fortes,  que  symbolisavam  a  sua 
prisca  gloria  í  (102). 

Realisando-se  o  ultimo  pagamento  no  dia  4  de  Novem- 
bro foi  entregue  a  cidade  a  seus  primitivos  possuidores 
guardando  sempre  os  francezes  as  fortalezas  que  lhes  per- 
mittiam  o  seu  fácil  regresso.  Só  a  mais  decidida  cobardia 
poderia  abandonar  uma  povoarão  de  mais  de  vinte  mil  al- 
mas defendida  por  um  respeitável  corpo  de  tropas,  abri- 
gada por  fortes  muralhas,  bordadas  de  canhões  á  merco 
de  pouco  mais  de  três  mil  homens  que  depois  de  lhe  ha- 
verem imposto  as  condições  que  lhes  dictou  o  seu  alvidrio 
se  retiraram  muito  a  seu  salvo  havendo-a  possuído  por 
quarenta  e  quatro  dias  í  I  (103) 

Ainda  ficaram  os  francezes  até  o  dia  13  do  dito  mez 
em  que  deram  à  vela  demandando  sua  pátria  tendo-sc 
conservado  entre  nós  dojs  mczes  e  um  dia.  Sobre  a  sua 
conducta  aqui  durante  o  tempo  decorrido  entre  a  capitu- 
lação e  a  sua  partida  oiçamos  o  juizo  d'uma  testemunha 
occular,  que  não  pode  ser  averbada  de  suspeita.  Manuel 
de  Vasconcellos  Velho  n'uma  carta  escripta  â  seu  amigo 
Domingo  José  da  Silveira,  assistente  em  Lisboa,  serve-se 
doestas  expressões : 

t  Em  todo  o  tempo  que  aí[ui  se  detiveram  depois  das 
«  capitulações  ajustadas  nos  Iralninos  cpmo  hcrnianos; 
«  ferveram  os  negócios,  compras  de  navios  e  fazendas ;  e 


—  103  — 

€  não  podemos  duvidar  que  o  Gabo  d' Armada  M.^  Dugcl 
«  é  um  famosíssimo  soldado ;  porque  teve  muito  particu- 
€  lar  attençáo  a  que  se  não  bolisse  em  sagrado,  de  tal  sorte 
«  que  chegou  a  arcabuziar  dezoito  soldados  seus  por  lhe 
€  serem  achadas  nas  máos  cousas  da  Igreja.  E  da  mesma 

•  sorte  se  teve  grande  respeito  a  algumas  mulheres  pri- 
«  sioneiras ;  havendo-se  com  muita  piedade  com  os  doen- 
«  tes  e  feridos,  que  ficaram  nos  hospitaes,  e  com  muita 
€  lastima  do  estrago  que  se  fêz  nos  moradores,  dizendo  se 
«  queixassem  do  seu  governador;  pois,  ou  é  que  os  podia  de- 
€  feuder  ou  imo :  se  os  podia  defender  para  que  fugiu?  e  si  os 
€  não  podia  defender  porque  não  capitulou  ?  pois  com  lhe  dar 
€  os  gastos  d' Armada  escusava  de  saltar  francez  em  terra. 
€  Da  mesma  sorte  se  haviam  os  mais  ofílciaes  e  geme  mais 
«  luzida,  que  não  ha  duvida  que  era  toda  guerreira  e  ex- 
«  perimentada.  »  (104) 

Estas  palavras  confiadas  amizade  acham-se  em  perfeito 
accordo  com  o  que  a  tal  respeito  diz  Duguay-Trouin  em 
suas  Memorias,  jà  por  nós  tantas  vezes  citadas: 

«  Desde  o  primeiro  dia  da  minha  entrada  na  cidade  tive 

€  grande  cuidado  de  ajuntar  todos  os  vasos  sagrados, 

«  prata  e  ornamento  das  igrejas ;  fizéra-os  guardar  pelos 

t  nossos  capelláes  em  grandes  cofres,  punindo  com  a  pena 

«  de  morte  a  todos  os  nossos  soldados  e  marinheiros,  que 

•  tiveram  a  impiedade  de  profanal-os ,  apoderando-se 
«  d'elles.  Por  occasião  da  minha  partida  confiei  este  de- 
€  posito  aos  jesuitas  como  os  únicos  ccclesiasticos  d'este 
€  paiz  que  achei  dignos  da  minha  confiança:  (103)  in- 
«  cumbí-os  de  entregai -os  ao  bispo  do  lugar.  Devo  fazer 
€  a  estes  padres  a  justiça  de  dizer  que  contribuíram  cllcs 

•  muito  para  salvar  esta  florescente  colónia,  induzindo  o 

JANKIRO.  l't 


—  106  — 

t  governador  a  resgatar  a  cidade,  sem  o  que  eu  tél-a-hia  ar- 
«  razado  apezar  da  vinda  d'Antonio  d'Albuquerque  cora 
€  todos  os  seus  negros.  Esta  perda  que  teria  sido  irrepa- 
€  ravel  para  o  rei  de  Portugal  não  seria  d  utilidade  alguma 
<  para  a  minha  empreza.  »  (106) 

Assevera  o  Sr.  Varnhagen  que  Duguay-Trouin  deixara 
no  Rio  de  Janeiro  alguns  negociantes  e  um  cônsul  de  sua 
nação:  cuja  existência  é  mencionada  nas  disposições  pre- 
liminares da  páz  d'Uttrech ;  os  chronistas  porém  guardam 
sobre  esta  circumstancias  o  mais  completo  silencio. 

Acharam  abrigo  na  esquadra  franceza  José  Gomes,  seus 
filhos  e  alguns  outros  christáos  novos,  que  a  inquisição 
destinava  às  suas  hecatombes  e  que  deveram  aos  desastres 
porque  acabava  de  passar  a  sua  pátria,  o  subtrahir-se  ao 
cruel  fanatismo  de  que  era  um  dos  agentes  o  bispo  dioce- 
sano D.  Francisco  de  S.  Jeronymo,  que  d'est  arte  s*esquecia 
da  sua  missão  de  paz  e  de  brandura. 

Apenas  se  retiram  os  francezes  o  senado  da  camará  di- 
rigiu-se  ao  convento  de  S.  Bento  d'Iguassú  onde  se  achava 
António  d'Albuquerque  e  instou  com  elle  para  que  tomasse 
conta  do  governo  da  capitania  de  que  se  mostrara  tão  in- 
digno Francisco  de  Castro  Moraes  fazendo  ao  mesmo  tempo 
subir  ao  throno  uma  enérgica  representação  contra  o  seu 
proceder  na  melindrosa  crise  porque  acabava  de  passar  esta 
cidade.  Albuquerque  annuindo  aos  votos  dos  represen- 
tantes do  povo  assumiu  às  rédeas  da  governança  não  que- 
rendo porém  prender  o  culpado  governador,  como  d  elle 
s^exigia,  sem  ordem  expressa  da  côrle. 

Esta  ordem  não  se  fez  por  muito  tempo  esperar.  O  al- 
vará de  22  de  Junho  de  1712  ordenava  ao  clianceller  da 
Relação  da  Bahia  Francisco  de  Mello  e  Silva  que  imine- 


—  107  — 

flinlamenle  embarcasse  para  esta  cidade  a  devassar  sobre 
a  sua  criminosa  entrega  sendo-lhe  mais  tarde  ( a  27  de 
Julho)  commettido  o  julgamento  dos  réos  d'alta  traição. 

Do  minucioso  exame  a  que  procedeu  a  alçada  acerca  da 
conducta  do  governador  Castro  Moraes  náo  resultou  que 
fosse  elle  traidor,  como  lhe  encrepàram  os  seus  inimigos, 
nem  provou-se  por  forma  alguma  que  entretivesse  relações 
com  o  inimigo.  Sua  inqualificável  cobardia  deu  motivo  a 
suspeitar-se  da  sua  lealdade,  parecendo  incrível  que  tantos 
desatinos  fossem  praticados  de  bôa  fé.  (i07) 

A  noticia  da  tomada  do  Rio  de  Janeiro  pela  esquadra 
franceza  causou  na  Europa  a  maior  sensação:  ignorando-se 
ainda  o  resgate  da  cidade  e  a  consequente  retirada  de  Du- 
guay-Trouin  receou-se  que  o  gabinete  de  Versailles  se  obs- 
tinasse em  possuir  a  sua  França  Antárctica  compensando- 
se  d'est'arte  dos  últimos  revezes  que  acabava  d'experimen- 
tar  na  guerra  da  successão  hespanhóla.  Os  diplomatas 
portuguezes,  reunidos  em  Uttrech,  para  negociarem  a  paz 
geral  chamaram  sobre  este  ponto  a  attençáo  da  Inglaterra 
e  da  Hollanda,  que  como  potencias  marítimas  eram  inte- 
ressadas em  obstar  os  ambiciosos  projectos  de  Luiz  XIV 
sobre  as  colónias  luzitanas :  e  constando  então  que  Du- 
guay-Trouin  fizera  soíTrer  à  Bahia  a  mesma  sorte  do  Rio 
de  Janeiro  chegaram  a  lembrar-se  da  conveniência  d'equi- 
par-se  uma  armada  luzo-anglo-hoUandeza  para  recuperar 
as  praças  conquistadas  pelas  armas  francezas.  O  receio  po- 
rém, diz  Southey,  (108)  de  que  em  retribuição  doesse  au- 
xilio pedissem  as  potencias  alliadas  algumas  vantagens 
para  o  seu  commercio,  que  iriam  ferir  o  monopólio  que  a 
metrópole  desejava  conservar  a  todo  o  transe,  fez  abando- 
nar a  ideia ;  felizmente  sem  funestas  consequências  para  o 


—  i08  — 

futuro  (la  sua  irnportanlissinia  colónia  americana :  o  posto 
que  três  annos  mais  tarde  (em  1714)  pretendessem  alguns 
armadores  francezes,  auxiliados  pelo  seu  governo,  enviar 
uma  nova  expedição  á  Bahia,  commandada  por  Mr.  de 
Cassar,  que  gosava  de  grande  nomeada,  não  teve  este  pro- 
jecto execução ,  sendo  substituído  por  outros  reputados 
mais  lucrativos;  devendo-se  unicamente  a  esta  circumstan- 
cia  o  íicar  a  capital  do  Brasil  livre  de  tão  grande  cala- 
midade. 

lil. 

EPILOGO. 

Ponhamos  aqui  termo  á  nossa  descolorida  narrativa  e 
examinemos  a  questão  si  a  expulsão  dos  francezes  foi  útil, 
ou  prejudicial  ao  Rio  de  Janeiro. 

Afastando-nos  da  respeitável  opinião  do  nosso  benemé- 
rito consócio,  o  Sr.  Dr.  Gonçalves  Dias,  que  pretende  que  a 
expulsão  dos  francezes  levara  comágo  muitas  esperanças  (109) 
procuremos  demonstrar  o  contrario  pensando  que  tanto 
esta  como  a  dos  hollandezes  foram  de  summa  vantagem 
para  nossa  pátria  e  em  geral  para  o  Brasil  inteiro;  porque 
sem  isso  não  seriamos  hoje  uma  nação  que  pela  sua  uni- 
dade de  raça  e  de  religião  começa  a  pesar  tão  poderosa- 
mente na  balança  dós  destinos  políticos  da  America,  e  pa- 
rece pela  Providencia  chamada  a  um  glorioso  futuro. 

Reconhecemos  faltando  de  Villegaignon  que  os  france- 
zes sabiam  muito  melhor  do  que  os  portuguezes  captar  a 
benevolência  dos  indígenas :  e  que  unicamente  âs  suas 
discórdias  civis  e  dissensões  religiosas  devemos  attribuir  o 
não  se  haverem  estabelecido  com  mais  permanência  na 
ierra  de  Guanabara,  Estamos  porém  convencido  de  que 


—  lOí)  — 

cedo,  011  tarde,  teriam  do  abandonar  a  sua  colónia,  ou  vcn- 
dendo-a  como  fizeram  com  a  Liúziama,  ou  deixando-a 
perder  como  aconteceu  com  as  suas  feitorias  nas  índias 
Orieniaes,  ou  finalmente  revolucionando-a  como  succedeu 
com  o  Haittj.  É  um  facto  reconhecido  pelos  seus  próprios 
escriptores  que  a  nação  franceza  sabe  conquistar  com  va- 
lor, e  talvez  mesmo  fazer-se  estimar  pelos  povos  conquis- 
tados ;  mas  que  falta-llie  o  talento  de  conservar  as  suas 
possessões,  ou  em  resultado  da  natural  inconstância  que  a 
caracterisa,  ou  porque  os  seus  naturaes  tenham  grantlc 
repugnnncia  de  se  afastarem  do  s')lo  natal. 

Não  é  esta  uma  hypothese  gratuita ;  pois  que  a  Historia 
traz  o  seu  valioso  testemunho  em  prol  do  nosso  asserto. 
Durante  os  caliginosos  reinados  de  Carlos  IX  e  de  Henri- 
que III,  durante  o  sanguinolento  periodo  da  iuja,  como 
poderia  a  França  attender  às  necessidades  da  sua  colónia 
d^além-mar  quando  seu  próprio  território  na  Europa  se 
via  ameaçado?  quando  sem  a  timidez  do  Tibério  do 
16.*^  século  ter-lhe-hia  a  batalha  de  S.  Quintino  aberto 
as  portas  de  Paris?  Quem  ha  ahi  que  ignore  quantos 
perigos  correu  a  integridade  franceza  antes  que  as  vic- 
torias  d' Arques  e  dlvry  servissem  de  preliminares  à  paz 
de  Vervins? 

Quando  por  uma  feliz  casualidade  a  nascente  colónia 
guanabarense,  entregue  a  seus  fracos  recursos,  escapasse 
aos  reiterados  ataques  da  população  portugueza  que  a  ro- 
deava, atravessando  d^esf  arte  a  violenta  crise  porque  pas- 
sava a  sua  metrópole,  poderemos  acreditar  que  não  fosse 
mais  tarde  presa  dos  hollandezes,  ou  dos  inglezes,  que 
arrebataram  aos  successores  de  Dupleix,  Bussy,  e  SuíTren 
as  férteis  regiões  que  possuíam  n\\sia  ?  O  que  lhe  resta  do 


—  no  — 

sea  domínio  na  America  senão  algumas  pequenas  ilhas  es- 
palhadas pelo  mar  das  Antilhas  e  a  pestífera  Cayenna  ?  An- 
tes que  a  marinha  militar  surgisse  ao  toque  da  vara  magica 
de  Colbert  a  França  Antarctka  teria  sido  riscada  do  cata- 
logo das  suas  colónias.  Modernamente  vimos  que  Argel, 
ligado  a  Paris  pelos  fios  do  telegrapho  eléctrico,  foi  por 
muito  tempo  reputado  como  inútil  senão  prejudicial,  ser- 
vindo apenas  de  vasto  campo  de  Marte  à  metrópole  onde 
adestrava  as  suas  legiões  para  envia-las,  como  ainda  ha 
pouco  fez,  ao  Bosphoro  Cimmerio,  ou  ao  Chersoneso  Cimbrico. 
t  Os  francezes,  diz  o  douto  Cantú,  nunca  mostraram  fun- 
t  dando  colónias,  a  paciência  tenaz  e  a  constância  intre- 
t  pida  dos  hespanhóes  e  dos  hollandezes.  »  (HO) 

Procede  a  opinião  favorável  da  contemplação  dos  abusos 
que  praticaram  os  portuguezes  em  nossa  terra.  Longe  de 
dissimula-los  fizemos  expressa  menção  d'e!les  quando  apon- 
tamos as  causas  do  vagaroso  incremento  do  Rio  de  Janeiro, 
fadado  pela  sua  posição  geographica,  para  um  rápido  pro- 
gresso. Sejamos  porém  justos,  e  confessemos  à  face  do 
mundo,  que  da  ignorância  mais  do  que  da  má  vontade  dos 
nossos  maiores  proveio  o  estado  de  atrazo  em  que  o  en- 
controu o  sol  do  Ypiranga.  Soflremos  a  applicaçáo  dos 
erróneos  principios  económicos  que  então  predominavam : 
o  colono  era  uma  espécie  de  servo  de  gleba  para  quem  só 
haviam  deveres  e  não  direitos,  uma  força  productora, 
destinada  a  abastecer  os  mercados  da  metrópole.  A  ideia 
de  chamar  de  algum  modo  à  vida  politica  e  civil  a  homens 
de  outra  raça,  reputados  como  infiíjis,  e  por  isso  fora  das 
fronteiras  da  humanidade,  era  muito  subtil  para  ser  com- 
prehendida  e  praticada  pelos  governos  d^essa  épocha.  E 
uQte-se  que  então  eram  Portugal  e  a  Hespanha  as  duas  pri- 


—  m  — 

meíras  nações  da  Europa,  que  sustinham  em  suas  possan- 
tes dextras  os  phanaes  da  civilisaçáo. 

Acerca  do  systema  colonial  hespanhol  e  portuguez  oi- 
çamos o  juízo  que  cmitte  o  grande  economista  italiano 
Rossi : 

t  No  ponto  de  vista  económico  foram  estas  colónias  sub- 
mettidas  ás  regras  do  systema  mercantil.  Ainda  a  tal 
respeito  as  máximas  dos  governos  hespanhol  e  portu- 
guez eram  as  mesmas :  com  a  única  diíTercnça  de  que  o 
governo  hespanhol  applicava-as  com  mais  zelosa  seve- 
ridade. A  primeira  d'essas  máximas  era  a  absoluta  ex- 
clusão de  todo  o  estrangeiro:  ninguém  podia  entrar 
n''uma  colónia  hespanhóla  e  ainda  menos  ahi  estabele- 
cer-se  se  náo  fosse  hespanhol.  A  importância  dos  seus 
capitães,  a  natureza  dos  seus  talentos,  o  poder  da  sua 
industria  eram  para  o  estrangeiro  outros  tantos  moti- 
vos para  se  vêr  repellido  d'essas  inhospitas  terras.  Náo 
havia  mesmo  igualdade  de  direitos  para  o  hespanhol 
nascido  nas  colónias;  também  elles  eram  collocados 
n'uma  ordem  inferior  aos  nascidos  na  Europa. 

t  As  colónias  náo  deveram  produzir  senáo  cousas  cuja 
producçáo  fosse  necessária  á  mái  pátria ;  abstendo-se 
de  tudo  quanto  esta  lhe  podesse  vender.  Ter-se-hia  ar- 
rancado o  cepo  da  vinha  que  o  colono  plantasse  e  infli- 
gindo um  castigo  a  quem  pretendesse  naturalisar  a 
oliveira.  Assegurando-se  assim  d'um  mercado  sem  con- 
currencia  fixava  a  metrópole  as  condições  dos  seus  es- 
cambios  com  as  colónias.  »  (Hl) 
Só  muito  tarde  a  Hollanda  e  a  Inglaterra  admittiram  em 
suas  possessões  princípios  mais  liberaes:  devendo-lhes 
aquella  a  conservação  de  Sumatra,  Bornco,  Java  e  as  Mo- 


—  112  — 

lucas,  e  esta  o  seu  vasto  império  indostanico,  momenta- 
neamente perturbado  pela  estulta  e  cruel  revolta  dos  cy- 
jmos,  e  a  fidelidade  do  Canadá,  surdo  ás  instigações  dos 
yankees. 

A  ordem  natural  das  cousas  exige  que  as  colónias  se 
destaquem  das  suas  metrópoles;  assim  como  os  filhos  dei- 
xam a  casa  paterna  quando  emancipados.  O  Brasil  teria  de 
constituir-se  uma  nação  independente;  teria  no  futuro  de 
separar-se  de  qualquer  nação  que  o  houvesse  colonisado ; 
resta  a  examinarmos  si  nos  seria  mais  proveitoso  o  fraccio- 
namento do  território  entre  os  francezes,  hollandezes  e 
portuguezes,  ou  si  a  uniâj  de  todo  o  paiz  debaixo  d'uma 
só  macionalidade. 

Não  haverá  um  só  brasileiro,  verdadeiramente  amigo  do 
seu  paiz,  que  desejasse  ver  quebrado  este  magnifico  vaso  de 
porcellana,  na  expressão  de  um  moderno  escriptor  nosso 
(112);  que  não  agradeça  á  Providencia  Divina  de  ter-nos 
conservado  essa  integridade,  base  fundamental  da  nossa 
futura  grandeza.  Hollandezes  no  norte,  portuguezes  no 
centro  francezes  no  sul  seriamos  fracos  e  desunidos ;  fal- 
lariamos  três  línguas,  teríamos  talvez  duas  religiões:  e  o 
gigante  dos  trópicos,  que  q^uçà  deterá  um  dia  no  isthmo 
de  Panamá  a  marcha  invasora  do  audaz  anglo-saxonio, 
fazendo  recuar  a  águia  do  Mississipi,  seria  olhado  com  des- 
preso,  e  nem  se  quer  escutado  nos  conselhos  da  America. 

A  unidade  religiosa  e  politica  do  Brasil  foi  obra  de  Deus 
e  não  dos  homens :  foi  o  Céo  que  auxiliou  os  Vieiras,  ao 
Vidaes  ao  Camarões  e  aos  Dias ;  foi  elle  que  nos  deu  as 
victorias  dos  Guararapes  e  Giiaxendiiha,  que  subtrahiu  o  Rio 
de  Janeiro  das  mãos  de  Villegaignon,  Duclerc  e  Duguay- 
Trouin.  A  despeito  dos  erros  gravíssimos  dos  governantes 


—  ii3  — 

o  paiz  crescia  e  prosperava ;  entregues  a  nós  mesmos  ex- 
pulsamos do  nosso  solo  o  estrangeiro  todas  as  vezes  que 
nelle  se  quiz  estabelecer.  Sem  as  fogueiras  da  inquisição 
guardamos  a  nossa  fé  religiosa :  não  respondemos  ao  appello 
de  Minas  e  Pernambuco  quando  nos  convidaram  à  trocar  o 
sceptro  e  a  coroa  pelo  barrete  phrygio :  e  só  fomos  nação 
quando  podemos  ser  império. 

Gloriemo-nos  da  nossa  origem  :  somos  os  herdeiros  do 
Gama ;  falíamos  a  lingua  de  Camões ;  e  vemos  sentado  em 
nosso  throno  um  neto  de  D.  Manoel,  o  Venturoso.  Somos 
uma  raça  vigorosa  e  intelligente ;  nascemos  na  terra  da  li- 
berdade e  fomos  embalados  com  o  hymno  da  independên- 
cia. Sebastianopolis  não  tem  saudades  d'FIenri-Ville;  o 
Rio  de  Janeiro  não  lamenta  a  França  Antárctica. 


lANKlRO.  1-i 


—   113  — 
NOTAS. 


(I;  Pigoíetta  (jne  acompanhou  a  MagalliJes  oní  siw  Via- 
gem ao  redor  Jo  mundo  escrevendo  uma  Relação  iVe^^x 
viagem,  que  foi  publicada  em  Milão  no  anno  do  180Ò  por 
Cartos  kmoreiíi,  assim  se  exprime  quando  tracta  da  sua 
passagem  pela  nossa  terra  : 

«  In  questo  porto  (Rio  de  Janeiro)  entrammo  iJ  di  de  S. 
€  Lúcia,  avendo  il  sole  alio  zenit  nel  i^iezzodi,  ed  ebbimo 
«  nel  tempo  dei  nostro  soggiorno  cola  piu  caldo  die  non 
«  n^avevamo  provato  sotto  la  linea  eçiumoziale.  •  (Pruno 
Via^gio  intorno  ai  globo  terraccjueo  fatto  dei  cavalier  ÂJi- 
toftio  Pigafetta,  patrizio  vicentino  sulla  squadra  dei  Cap. 
JMlíiggalianes  negli  anni  13i9— 1522— Lib.  I.  pag.  Í7) 

(2)  Na  grande  collecçáo  de  Ramusio  lemos  duas  cartas 
d'Americo  Vespucci  escriptas  à  Pedro  Soderini,  Gonfalo- 
niero  da  Republica  Florentinn,  dando  conta  das  duas  pri- 
meiras expedições  á  Terra  de  Vera  Cruz.  Explicando  a 
maneira  porque  entrara  para  o  serviço  de  Portugal  assim 
se  exprime : 

«  Stando  in  Sibilia  reposandomi  (Ja  molto  ijjiiie  fatiche 
cif  in  due  viaggi  fatti  per  il  Serenissimo  Re  Don  Fer- 
nando de  Castiglia  nell  Indiè  Occidentali  haueuo  pas- 
sate  e  con  volontà  de  rittornar  di  nuouo  alia  terra  deWe 
perle,  quando  la  Jortuna  non  contenta  dei  miei  trauagli 
fece  che  venne  in  pensiero  à  auesto  Serenissimo  Be 
Don  Manuello  di  Portugallo  voíersi  seruire  di  me,  &. 
stando  in  Sibilia  fuori  d'ogni  pensiero  di  venireà  Portu- 
gallo, mi  venne  uu  messaggiero  con  lettcre  di  sua  real 
coronna,  che  mi  comandaua  che  io  venisse  qui  à  Lis- 
bonna,  à  parlarli,  promettendo  farmi  molte  gratie.  io 
fu  consigliato  di  non  partirmi  airhcM^a,  &  però  espe- 
detti  il  messaggiero,  dicendogli  chMo  stava  male.  4 
quando  fosse  risanato,  &  che  sua  altezza  si  volesse  pur 
seruirdi  me,  che  farei  quanto  mi  commandasse,  la  onde 
che  visto  sua  altezza,  che1  non  me  poteua  hauere,  deli- 
bero di  mandare  per  me  Giuliano  di  Barlholomeo  dei 


~  HG  — 

Gioconilo,  staiile  (|iii  in  Lisbunna,  con  commissione  che 
iii  ()<íni  modo  mi  conducesse,  veime  il  deito  Giuliano  à 
Sibilia.  per  la  vciuita  &  preghi  dei  quale,  fu  forzato  à 
venire :  à  futenula  à  male  la  mie  partila  da  qiianti  mi 
conosceuano,  per  essermi  partito  di  Castiglia,  doue  me 
era  fatto  honore,  &  il  Re  mi  teneua  in  bona  reputatione. 
peggio  fú  che  mi  parti  insalutato  hospite,  &  appresentan- 
domi  innanzi  à  questo  Re,  mostro  hauer  piacere  delia 
mia  venuta  &  pregommi  cif  io  andasse  in  compagnia  di 
tre  sue  naui,  che  stauano  in  ordine  per  andar  a  scoprir 
nuoue  terre,  &  perche  un  prego  d'un  Re,  è  comanda- 
mento,  hebbi  á  consentire  a  quanto  mi  comandaua.  » 

(Vide  Delle  Navigationi  et  Viaggi  raccolte  da  Gio.  Battista 

Ramusio  Volume  I  pag.  128  Venetia.  MC VI.) 
D'essa  primeira  carta  consta  que  a  frotinha  em  que  Ves- 

pucci  ia  de  piloto,  descobrira  o  cabo  de  S.  Agostinho  no 

anuo  de  1501 : 

t  Partimmo  di  questo  luogo  e  comenciammo  la  nostra 

«  navigatione  fra  leuante  esirocco,  che  cosi  corre  Ia  terra,  & 

«  facemmo  molte  scale.  &  mai  trouammo  gente,  che  con 

«  esso  noi  volessino  conuersare,  óc  cosi  nauigammo  tanto 

•  che  trouammo  che  la  torra  faceua  la  volte  per  libeccio, 

«  &  come  voltammo  vn  cano,  ai  quale  mettemmo  nome  el 

«  capo  de  Sant^Agostino. 

Continuando  a  navegar  para  o  sul  parece  ter  entrado  no 
nosso  porto,  cuja  posição  geographica  assignala,  posto  que 
não  o  nomee ;  assnn  como  deixa  de  faze-lo  à  outras  locali- 
dades por  elle  visitadas  na  carta  meridional  do  Brasil. 

(3)  Páo  brasil. 

(4)  Histoire  fl'um  pays  sitiié  dans  le  Nouvean  Mond  nom- 
mé  Ainerique  por  Hans-Stadens  d'  Homberg. 

(5)  Une  fete  brésilienne. 

(6)  Hist,  d^un  Voy.  fakten  la  terre  du  Brésil  anlremenl 
dite  Ameriqm  cJuip.  I. 

(7)  Singularitez  de  la  France  Antarcíique  pag.  2. 


I 


-    117  — 

(8)  Roclia  Pitta.  Hist.  d'  Am.  Port.  livr.  IH.  §1G. 

(9)  Mons.  Pizarro  Mem.  Hist.  do  R.  de  Janeiro  tom.  I. 
livr.  L  cap.  I.  pag.  9. 

(\0)  Os  francezes  chamavam  a  este  rochedo  Ratier  e  os 
portiiguezes  Lage. 

(il)  Denominavam  os  indigenas  a  esta  ilhota  de  Se- 
ri(j'q)e. 

{^i)  Lery  Hist,  d*um  voij.  faiei  en  la  iene  da  Brésil, 
autremeiít  dite  Ameriq,  chap.  VIL  pag.  88. 

(13)  Lery  ibidem. 

(14)  LesSiiujularitezdelaFrance  Aíitarctiqiie,  chup.  GO. 

(IT))  Apparece  na  jà  citada  Collecção  di  Ramuzio  a  Rela- 
ção da  viagem  d'mu  capitão  de  Dieppe  (Pedro  Crignon) 
escripta  em  1339,  que  marca  a  épocha  dos  descobrimentos 
francezes  no  litoral  do  Brasil ,  recoídiecendo  a  priori- 
dade dos  portuguezes : 

«  Questa  terra  dei  Brasile  fu  primamente  scoperta  da 
«  Portoghesi  in  qualcho  parte,  e  sono  circa  trentacinque 
€  anni.  L\i]tra  parte  fu  scoperta  per  vno  di  Honlleur,  chia- 

•  mato  Dionizio  di  Honfleur  da  venti  anni  in  qua. . .  » 

Em  um  luminoso  e  recente  opúsculo  intitulado  —  Exa- 
men  de  quehiues  polnts  de  I' Historie  Geoyraphique  du  Brésil, 
o  Sr.  Varnhagen,  fallando  acerca  da  prctenção  que  tem  a 
marinln  franceza  de  ter  sido  a  primeira  em  explorar  as 
nossas  costas,  assim  se  expressa : 

€  Je  suis  íoin  d'abriter,  à  propôs  de  la  priorité,  ou  de 
«  rimportance  des  anciennes  navigations  françaises  au 
«  Brésildes  idées  de  jalousie  ou  d'injustice,  que  la-dessus 
t  je  puis  bien  m^enorgueiUir  de  pouvoir  ré[)ondre  avec  le 
<  grand  nombre  de  faits  et  de  documents  que  j'ai  fait  co- 
€  naitre  raoi-même,  donnant  plus  de  relief  et  dlmpor- 

*  tance  aux  navigations  françaises  au  Brésil ;  et  je  dois 
«  ajouter  que  queíques  ims  de  ces  faits  en  faveur  des  ex- 


—  118  -^ 

«  ploits  (Ic  Tancionne  marine  française,  onl  été  foumis 

«  par  des  documents  originaux  de  ma  proprie  colleclion, 

^  que  j'aurais  bion  pu  conserver  par  divers  moi,  et  que  je 

€  me  suis  fait  un  plaisir  de  publier. 

«  Et  je  respecte  tant  les  aspirations  des  peuples  à  gar- 

«  der  leiír,  gloires  historiques  même  ura  peu  hasardcuses^ 

«  que  ne  puis  que  louer  les  Dieppois  quand  ils  pretendent 

«  avoir  decouvert  rAmêriqne  avant  Colomb.  em  1488,  de 

t  mème  que  certaines  familles  du  Brésil  pretendent  en- 

«  core  que  le  Portugais  João  Ramalho  etait  allé  a  Saint 

«  Paul,  à  peu  prés  à  la  même  epoque.  également  avant  de 

«  a  decouverte  de  rAmérique  par  Colond).  » 

(1 6)  Véníable  Histoire  et  descripHon xtum  pays  sUué datis 
rAménqiie  par  Hans-Stadens  d'Homberg  chap.  26. 

(17)  Posto  que  tão  fortificados  os  francezes  náo  fa- 
ziam comtudo  hostilidades  nem  guerra  ofTensiva  aos  por- 
tuguezes  satisfeitos  <x)m  gozarem  da  terra  quietos,  (S.  de 
Vasc.  Vid.  d^Anch.  livr.  III.  cap.  1.) 

(18)  Pizarro  Mem.  Hist.  do  Rio  de  Janeiro  livr.  I  cap.  I. 

(ID)  B.  da  S.  Lisboa— Anna^s  do  Rio  de  Ja«eiro  livr.  I. 
cap.  U.  pag.  64. 

(20)  The\el  —  Cosmogr^)l^ie.  iom.  II.  livr.  XXI,  chap. 
2.™*  pag.  908. 

(21)  Nome  que  os  protestantes  dão  à  Eiwharistia. 

(22)  Une  Fète  Rrésilienne— Notes— pag.  70. 

(23)  Aos  11  de  Julho  de  1557,  na  idade  de  33  annos 
havendo  reinado  35. 

<a4)  Hist.  Geral  do  Brasil  pelo  Sr.  F.  A.ide  Variihagen, 
tomo  4.«  Secç.  XVII  pag.  232. 

(25)  Rocha-Pittaflist.  d' Am.  Portug.Livr.IU,  p^g.i56. 


-  119  - 

(36)  Este  rochedo,  que  extetia  no  meio  da  ilha  clia- 
mado  monte  das  palmeiras,  foi  mandado  demolir  assim  como 
os  oiteiros  dos  extremos  por  ordem  regia  de  22  de  Sep- 
tembro  de  1761  ordenando  que  continuasse  a  bateria  em 
circulo  na  forma  da  planto  remettida  pelo  governador  Go- 
mes Freire  dWndrada,  cuja  obra  prmcipiou  a  executar  o 
vice-rei  conde  da  Canha  e  ultimou  o  marquez  de  Lavradio. 
(Mem.  hist.  do  Rio  de  Janeiro  pelo  mons.  Pizarro  tom.  7." 
cap.  l,^paç.  14.)  O  Sr.  Varnhagen  no  tom.  2.°  secç.  43.^ 
pag.  194  diz  que  esta  obra  só  se  terminara  cm  1761,  sendo 
apenas  esta  a  data  da  ordem  da  secretaria  doestado  appro- 
vando  a  planta  remettida  à  curte  por  Gomes  Freire  e  ao 
concluir-se  ella  como  diz  Pizarro,  que  nos  parece  bem  in- 
formado, no  tempo  do  marquez  de  Lavradio  devera  ser 
depois  de  1769;  pois  que  à  4  de  Novembro  do  referido 
anno  tomou  elle  posse  do  vice-reinado. 

(27)  Diz  o  Sr.  Varnliagen  (Ilist.  Geral  do  Brasil  tom. 
1.**  secç.  18.*  pag.  240)  ^uc  poucos  annos  depois  recla- 
mava Villegaignon  indemnisações  ao  governo  portuguez, 
ás  quaes  seu  embaixador  em  Paris.  João  Pereira  Dantas, 
aconselhava  que  se  attendesse  para  o  calar, 

(28)  Carta  de  Mem  de  Sá  inserta  nas  memorias  íFEl-rei 
D.  Sebastião  pelo  Abbade  Barbosa  tom.  1.^  pag.  438. 

(2í)j  O  Sr.  Varnliagen  quer  que  se  diga  Paramipuana ; 
mas  todos  os  chronistas  escrevem  como  acima  o  fizemos. 

(30)  Actualmente  conhecido  pelo  nome  de  Catete. 

(31)  Xâo  saI)emos  com  que  fundamento  aíTirma  o  au- 
IhordoSanctuarioMarianno  que  a  aldeia  (rUrHimmivim  era 
na  ilha  depois  chamada  de  Villegaignon. 

(32)  Mera.  Hist.  Docum.  das  Aid.  dos  ind.  da  prov.  do 
Bio  de  Janeiro  cap.  2.^  pag.  34. 

(33)  Conf.  dos  Tamouos  pelo  Sr.  D.  J.  G.  de  Magalhães 
cinto  li  pag.  37. 

(34)  Que  enWo  era  o  padre  Manwl  da  Nóbrega. 


—  láO  — 

(33)  Assim  escreve  Pizarro  dizendo  que  o  seu  actual 
nome  de  Beríiôga  é  corrompido. 

(36)  t  Balisa  tropical  meta  lusente, 

€  Throno  do  Capricórnio,  á  cujo  aceno 
€  O  eclyptico  galope  dos  ethontes 
«  Pára  e  recua  no  celeste  circo  » 

na  bellissima  expressão  do  eximio  poeta  brasileiro  e  nosso 
particular  amigo  o  Sr.  M.  de  Araújo  Porto-Alegre. 

(37)  Conf.  dos  Tamoyos  canto  X  pag.  325. 

(38)  Ilist.  Geral  do  Brasil  pelo  Sr.  Varnhagen  Tom.  1.^ 
secç.  19.»  pag.  231. 

(39)  Consideramos  o  padre  Azevedo  como  uma  perso- 
nagem igual  ao  governador  e  ao  bispo,  pois  (jue  na  sua 
catnegoria  de  visitador  geral  era  o  superior  dos  Jesuitas. 
cuja  influencia  é  geralmente  reconhecida. 

(40)  S.  deVasc.  VidadWnch.  livr.  Ilcap.XIIIpag.  H7. 

(4i)  Apartamo-nos  aqui  da  opinião  do  Sr.  Varnhagen 
e  da  do  conselheiro  Silva  Lisboa  que  dizem  ter  sido  Estacio 
de  Sá  ferido  no  assalto  de  Puranapuctàij  preferindo  a  de 
S.  de  Vasconcellos,  que  assevera  que  tivera  lugar  este 
successo  no  ataque  crÚniçumlrim. 

(42)  Onde  jaz  portuguezes  o  moimento 

Que  do  immortal  cantor  as  cinzas  guarda  ? 

Homenagem  tardia  lhe  pagastes 

No  sepulchro  sequer raça  d'ingratos ! 

Camões  Poema  de  J.  B.  de  Almeida  Garret  canto  X  pag.  205. 

(43)  Depois  chamado  do  Calabouço  e  onde  se  acha  agora 
o  arsenal  da  guerra. 

(44)  Ambas  formam  a  moderna  fortaleza  de  S.  João. 


—  121   — 

(45)  Actualmente  de  Santa  Cruz. 

(46)  A  antiga  Sj  e  presentemente  igreja  e  convento  dos 
capuchinhos. 

(47)  Este  quadro  é  primorosamente  traçado  pelo  Sr. 
Porto- AIegi'e  nestes  lindos  versos: 

t  As  fouces  e  os  machados  manobrando 
*  Vão  amputando  o  perystillo  umbroso 
«  Da  verde  tenda  monumento  inculto 
o  Que  d'indomitas  feras  foi  asylo 
«  E  os  accentos  canoros  de  mil  aves 
«  Nas  perfumadas  folhas  embebera : 
«  Onde  em  bárbaro  coro  a  simia  astuta 
«  Outr'ora  se  embalava,  té  que  a  frecha 
«  Do  certeiro  tamoyo  o  ar  fendendo 
«  Co'  a  ponta  ervada  Ibe  enfiasse  a  morte.  » 

(DesL  das  /lor^sto^— Brasiliana— canto  Ipag.  li.) 

(48)  Hisl.  Geral  do  Brasil  tom.  l.«  secç.  XIX  pag.  255. 

(49)  iEn.  livr.  VI  vers.  278. 

(50)  Silva  Lisboa  Ann.  do  Rio  de  Janeiro  tom.  I  livr.  I 
cap.  Ipag.  H6. 

(51)  Mem.  Hist.  e  Doe.  das  Aldeias  de  indios  da  pro- 
víncia do  Rio  de  Janeiro  pelo  Sr.  J.  Norberto  de  S.  S.  cap. 
^.^  pag.  58. 

(52)  Na  sua  erudita  Historia  Geral  do  Brasil  (tom.  1." 
secç.  XIX  pag.  256)  diz  o  nosso  douto  consócio  (lue  a 
aldeia  do  Moçarúra  Ararigboia  estava  do  lado  da  cidade  de 
S,  Sebastião  no  local  depois  chamado  Bicados  Marinheií os ; 
contra  esta  opinião  porém  protestam  todos  os  historiado- 
res e  chronistas  que  consultamos,  que  são  concordes  em 
assignar  à  aldeia  d' Ararigboia  o  sitio  onde  hoje  vegetam 
seus  miseros  descendentes. 

(53)  Mem.  Hist.  e  Doe.  das  Aldeias  de  indios  da  pro- 
víncia do  Rio  de  Janeiro  pelo  Sr.  Norberto  cap.  2.^  j)ag.  60. 

JWKIRO.  IC 


—   122  — 

(o4)  Eus,  sobre  os  jesuitas,  inserto  na  Rev.  Trim.  do 
Inst.  Ilist.  tora.  18  part.  2.»  pag.  128. 

(o3)  Pensamos  que  este  é  o  seu  verdadeiro  nome.  como 
o  encontramos  em  Ler}',  e  não  Boles,  como  escreve  S^de 
Vasconcellos. 

(56)  Jules  Simon  Liberte  de Conscieme  leçon  IV  pag.  272. 

(57)  Le  Brésil  pag.  65. 

(38)  Annaes  do  Rio  de  Janeiro  tom.  I.^cap.  ft.^pag.  318. 

(59)  Vide  Ann.  do  Rio  de  Janeiro  por  S.  Lisboa  tom.  11 
pag.  10. 

(60)  Ibidem  tom.  II  pag.  18. 

(61)  Plutarcho  Brasil.  Pefò  Sr.  Dr.  J.  M.  Pereira  da  Silva 
tom.  11  pag.  52. 

(62)  Vide  Ann.  do  Rio  de  Janeiro  tora.  IV  pag.  72. 

(63)  Silv.  Lisb.  Ann.  do  Rio  de  Janeiro  tom.  IV  pag.  225. 

(64)  Annaes  do  Rio  de  Janeiro  tom.  V.  pag.  9. 

(65)  A'  21  de  Janeiro  de  1641.  \'u\e  o  Qmdro  Elem. 
das  rei.  dipl.  entre  Portugal  e  as  prindpaes  poteiíciasda  Eu- 
ropa pelo  visconde  de  Santarém  tom.  IV  Int.  pag.  199. 

(66)  llist.  Geral  do  Brasil  pelo  Sr.  Varnhagen  tom.  2." 
secç.  33  pag.  62. 

(67)  Methuen. 

(68)  O  Sr.  Ed.  Fournier  no  seu  interessante  e  recente 
livrinho  intitulado — UEsprit  dans  rUistoire — contesta  a 
authenticidade  doeste  dito  attribuido  ao  rei  por  Voltaire  no 
seu  Século  de  Luiz  X/F,  e  re|)eti(lo  depois  d'elle  pelos 
mais  graves  historiadores.  Referiíido-se  ao  Jornal  de  Dan- 
qeau  sustenta  que  somilhantes  palavras  niuica  foram  pro- 
feridas pelo  rei  de  França ;  mas  que  o  embaixador  de  lies- 


—  lá:]  - 

panha  querendo  convencer  a  Pliilippe  V  (duque  d'Anjou) 
da  comraodidnde  da  jornada  para  a  sua  capital  disse-lhe 
que  os  Pynmneos  estavam  fumlidos ;  o  que  lhe  parece  muito 
conforme  à  emphase  castelhana,  e  também  mais  verosímil. 

(G9)  Vile  Mignet  Neíjotlatiom  relaúves  à  la  succession 
d'Esim(jne  som  Louls  XIV  tom.  11  pag.  213.     • 

(70)  Eram  tão  fracas  e  insignificantes  as  fortalezas  que 
houve  ideia  de  fechar  o  porto  com  cadêas  de  ferro,  que 
de  modo  algum  poderiam  resistir  a  acção  da  artilhería. 
Citemos  a  carta-regia  endereçada  ao  governador  do  Rio  de 
Janeiro  no  anno  seguinte  ao  da  invasão  de  Duclerc  e  quando 
o  governo  portuguez  devera  estaY-  mais  amestrado  pela 
experiência : 

«  Francisco  de  Castro  Moraes— Eu  El -Rei  vos  envio 
i  muito  saudar.  Encommendo^vos  procureis  vêr  si  se  pode 

•  fechar  com  cadêas  essa  barra;  e  quando  se  possa  con- 
«  seguir  o  ponhaes  em  execução  por  licar  assim  esse  porto 

•  mais  defensável;  impedindo  com  isto  a  entrada  aos 
€  nossos  inimigos.  Lisboa  a  5  de  Maio  de  Í7H— Rei— 

•  Miguel  Carlos— Para  o  Governador  do  Rio  de  Janeiro. » 

(7i)  Os  regimeti tos  velho  e  novo. 

(72)  Vide  Vatel— Z)roií  des  Gens  tom.  II,  livr.  III,  chap. 
XV,  §  21Q—Des  annateurs. 

(73)  Vide  a  Mem.  do  Dose.  e  Fund.  da  Cíd.  de  S.  Se- 
bastião do  Rio  de  Janeiro  escripla  pelo  tenente  A.  Duarte 
Nunes  e  publicada  no  tom.  I  da  Rev.  Trim.  do  Inst.  Híst. 
Geog.  do  Brasil. 

(74)  Então  chamada  de  Secoj)enopán. 

(75)  Assim  era  conhecido  todo  o  espaço  comprehendido 
entre  este  chafariz  e  o  mar. 

(76)  Onde  se  acha  actualmente  a  igreja  do  Rozario  e 
vulgarmente  conhecido  pelo  Largo  da  Sé. 

(77)  Silva  Lisb.  Ann.  do  Rio  de  Janeiro  tom.  V  cap.  VI 
pag.  278. 


—  l±í  — 

(78)  Esta  lagoa  que  hoje  já  não  existe  achava-se  entre  as 
ruas  Nova  do  Conde  e  a  do  Areal. 

(79)  Então  chamado  do  Desterro. 

(80)  Pizarro  Mem.  Hist.  do  Rio  de  Janeiro  tom.  I  cap. 
H  pag.  30.  . 

(81)  OCastello. 

(82)  O  Largo  do  Paço. 

(83)  Então  chamado  de  Luiz  da  Motta. 

(84)  Chamado  áe\)o'\é— Casados  Contos,  onde  estão  hoje 
o  Correio  e  a  Caixa  d^AmorUsação. 

(85)  Suspiros  poéticos  do  Sr.  Magalhães— Napoleão  em 
Waterloo. 

(86)  Pensamos  que  ha  equivoco  da  parte  do  author  dos 
Ann.  do  Rio  de  Janeiro  quando  orça  em  quinhentos  o  nu- 
mero dos  nossos  mortos.  Mons.  Pizarro,  á  vista  de  um 
documento  muito  authentico,  ( o  Livro  d'obítos  da  fregue- 
zia  da  Sé )  assevera  terem  sido  somente  cincoenta. 

(87)  Vide  Mem.  Hist.  do  Rio  de  Janeiro  tom.  I  cap.  II 
pag.  48. 

(88)  Munido  de  uma  portaria  do  Governo  Imperial  e 
auxiliado  pela  benignidade  do  Sr.  Commendador  Barbosa, 
digníssimo  Director  interino  do  Archivo  Pubhco  deparámos 
nesta  repartição,  confiada  á  seu  zelo  e  intelligencia,  com 
alguns  documentos  importantes  e  relativos  às  duas  ultimas 
invasões  francezas.  Mencionaremos  aqui  duas  provisões 
regias,  uma  agradecendo  ao  governador  do  Rio  de  Janeiro 
pela  sua  conducta  por  occasião  da  invasão  de  Duclerc,  e  a 
outra  ordenando-lne  que  informasse  em  segredo  sobre  o 
procedimento  de  alguns  oíDciaes.  Citemo-las  integral- 
mente : 

«  Francisco  de  Castro  Moraes  —  Eu  El-Rei  vos  envio 
«  muito  saudar.  Vi  a  conta  que  me  destes  da  forma  com 


-  12o  — 

(|iio  nss;jlláram  os  fraiicezes  essa  ciilailo  e  o  glorioso 
successo  que  tiveram  nossas  armas  com  a  morte  de 
muitos  inimigos  e  òs  mais  prisioneiros,  e  a  noticia  que 
os  oíTiciaos  da  camera  Me  deram  do  valor  com  (|ue  vos 
portastes  no  dito  conflicto,  e  a  singular  disposição  com 
que  acodistes  á  toda  parle  por  salvar  o  nosso  perigo : 
E  pareceu -me  agradecer- vos  (como  por  esta  agradeço) 
a  honrada  acção  o  valeroso  animo  com  que  defendestes 
rssa  praça,  e. o  destroço  que  fizeste  nos  nossos  inimigos, 
como  também  as  singulares  disposições  com  que  vos 
houvestes  para  se  conseguir  um  tão  feliz  successo  com  a 
perda  total  dos  francezes,  e  para  que  as  mais  pessoas, 
que  a  assignalàram  nesta  occasiáo,  possam  ser  pre- 
miadas, conforme  o  seu  merecimento  e  qualidade :  Vos 
ordeno  Me  mandeis  uma  relação  d'ellas  com  toda  a  dis- 
tincçâo.  Escripta  em  Lisboa  á  10  de  Março  de  1711.— 
André  Lopes  de  Lavre— Para  o  Governador  do  Rio  de 
Janeiro.  » 

Apezar  do  propósito  deliberado  em  que  pareciam  estar 
todos  em  occultar  ao  Rei  a  verdade  dos  successos  aqui  oc- 
corridos  chegou,  não  sabemos  como,  ao  seu  conhecimento 
a  cobardia  d  algims  chefes  e  officiaes,  o  que  deu  lugar  a 
dirigir  a  Francisco  de  Castro  (o  mais  cobarde  de  todos)  a 
seguinte  Provisão: 

«  Francisco  de  Castro  Moraes  —  Eu  El-Rei  vos  envio 
€  muito  saudar.  Por  ser  informado  de  que  alguns  cabos 
«  de  guerra  procederam  na  occasiáo  que  houve  comos 
€  francezes  dessa  cidade  com  frouxidão  e  fraqueza  Vos 
€  ordeno  Me  informeis  com  todo  o  segre  do  e  mdividua- 
€  çáo  jatf^ie  particular ;  quaes  foram  para  Me  ser  presente 
f  esta  noticia.  Escripta  em  Lisboa  á  7  de  Março  de  1711  — 
«  André  Loj)es  de  Lavre— Para  o  Governador  do  Rio  de 
«  Janeiro.  » 

(89)  Ann.  do  Rio  de  Janeiro  tom.  V  cap.  VI  pag.  291. 

(90)  Mem.  Ilist.  do  Rio  de  Janeiro  tom.  I  cap.  II 
pag.  34. 

(91)  t  Duclerc  havingbeen  at  one  time  lodged  in  the 
€  Jesiiirs  college ,  and  afterwards  in  fort  S.  Sebastian, 


—  I2G  — 

«  (ihlaifièil  pprmission  to  take  a  house,  wheve,  aboulsix 

«  moiiths  aftor  liis  surreiíder,   he  was  found  dead  oiie 

t  moniing,   liaving  l)een  murderêd  during  the  nighl. 

«  Tliis  assassination  assiiredly  was  not  an  act  of  popular 

t  fury;  it  coidd  oídy  have  bèen  the  work  of  private  ven- 

«  geance anil  jealonsy,  inalllikchood,  was  the  cause. 

•  But  inquiry  was  not  institued,  as  it  ought  to  have  beea 

«  in  any  case,  and  more  espocially  in  one  wherein  the 

«  ualioiíal  faitlnvould  apear  to  be  implicated.  »  (Soutiiey 
Ilistory  o f  Brasil— ¥i\rí.  III  chap.  XXXIII  i)ag.  H3.) 

(9á)  Taes  dehgencias  não  chegaram  ao  conhecimento 
(h)s  historiadores  nacionaes,  ou  estrangeiros. 

(9t>)  Vide  iVfm.  de  Bmjucnj-Tromii,  pag.  185. 

(94)  Eis  o  documento  a  que  acima  alludimos,  extrahido 
por  nós  do  Archivo  Pubhco  : 

1  Francisco  de  Castro  Moraes— Eu  El -Rei  vos  envio 
muito  saudar.  Vendo  o  que  me  escreveste  em  carta  de 
9  de  Novembro  <lo  anno  p.  p.  do  que  determináveis 
obrar  com  os  prisioneiros  francezes  tomando  o  expe- 
diente de  os  mandares  nas  embarcações  que  sahíssem 
para  outros  portos,  assi  por  diminuir  esta  gente  e  fi- 
cardes com  menos  cuidado  como  também  por  náo  ha- 
ver mantimentos  com  que  se  possam,  sustentar  escre-, 
vendo  aos  governadores  os  tenham  seguros  até  minha 
ordem  representando-me  que  o  Cabo  Mr.  Duclerc  e  um 
rehgioso  do  Carmo  que  fora  por  capelláo  dos  francezes 
tinheis  tenção  de  mandar  para  mais  longe  por  serem 
estes  dois  sugeitos  demasiadamente  inquietos,  e  que  náo 
convinha  tornarem  para  a  França  para  não  moverem  o 
seu  Rei  a  outras  facções  semelhantes;  Me  pareceu  di- 
zer-vos  que  tendes  obrado  bem  na  expedição  que  to- 
maste em  mandar  estes  prisioneiros  francezes  para  os 
portos  do  Brasil,  advertindo -vos  porém  que  só  o  façais 
para  a  Bahia,  porque  não  convém  na  conjunctura  pre- 
sente passem  para  Pernambuco,  e  a  Mr.  Duclerc  e  ao 
religioso  do  Carmo  enviareis  para  a  mesma  praça  em 
uma  náo  de  guerra  para  que  se  náo  dê  occasiáo  a  que 


—  127  — 

t  possam  fugir,  e  ao  governador  da  Bahia  aviso  o  (|ue  ha 

t  de  obrar  nesle  particular.  Escripta  rm  Lisboa  a  sete  de 

«  Março  de  17il.-^André  Lopes  de  Lavre— Para  o Go- 

«  vernador  do  Rio  de  Janeiro.  » 

(9o)  Vide  Mem.  de  Duguay-Trouin  pag.  iG7. 

(96)  Vide  Annaes  do  Rio  de  Janeiro  tom.  V  cap.  VI 
pag.  308. 

(97)  Eis  a  integra  doestas  duas  cartas,  (jue  reproduzi- 
mos neste  lugar,  apezar  de  jà  terem  sido  citadas  pelo  con- 
selheiro Silva  Lisboa  eo  Sr.  Varniiagen,  aíim d(»  tomarmos 
mais  completo  este  nosso  trabalho. 

A'  19  de  SeptembribDugnay-Trouin  mandou  um  tam- 
bor levar  ao  governador  a  seguinte  carta  : 

«  Senhor.— El-rei  meu  amo  querendo  alcançar  satisfa- 
ção da  crueldade  exercida  com  os  ofliciaes  e  soldados 
que  fizestes  prisioneiros  o  anno  passado,  e  bem  infor- 
mado Sua  Magestade  de  que  depois  de  fazerdes  assassi- 
nar os  cirurgiões,  a  quem  havieis  consentido  que  des- 
embarcassem dos  navios  para  curar  os  feridos  os  deixas- 
tes perecer  á  fome  e  à  miséria,  e  <le  que  havieis  tido  em 
captiveiro  (contra  a  observância  dos  ajustes  entre  as  co- 
roas de  França  e  Portugal, )  a  tropa  que  ficou  prisio- 
neira, me  mandou  com  seus  navios  e  tropas  [)ara  vos 
obrigar  a  ficardes  á  sua  discripçáo,  entregando-me  os 
prisioneiros  francezes,  e  fazesdo  pagar  aos  habitantes 
doesta  colónia  as  contribuições  que  forem  bastantes  para 
punil-os  de  suas  crueldades,  e  satisfazer  amplamente  á 
S.  M.  da  despeza  que  fez  para  este  tão  respeitável  ar- 
mamento. Não  lenho  querido  intimar-vos  que  vos  ren- 
daes,  achando-me  em  estado  de  vos  obrigar  a  isso,  e  de 
reduzir  a  cinzas  o  vosso  paiz  ea  vossa  cidade,  esperando 
que  o  façaes  entregando -vos  â  discrição  d'el-rei  meu 
senhor,  que  me  ordenou  náo  olfender  aos  que  se  sub- 
raettessem  de  bom  grailo  arre[)endendo-s  ^  de  have-lo 
olTendido  nas  pessoas  de  seus  ofliciaes  e  de  suas  tropas. 
€  Soube  também,  senhor,  que  se  fez  assassinar  a  \lr.  Du- 
clerc  que  os  coauuandava  e  não  (piiz  usar  de  reprezalias 


—  hi8  — 


sobre  os  portuguczes  que  cahírara  em  meu  poder,  por- 
que a  intenção  de  S.  M.  não  é  fazer  a  guerra  d'uma  ma- 
neira indigna  d'um  rei  christianissimo ;  e  ainda  que 
estou  persuadido  de  que  não  tivestes  parte  naquelle  ver- 
gonhoso assassinato,  não  obstante  S.  M.  quer  que  me 
indiíiueis  os  authores  para  que  se  faça  justiça  exemplar. 
«  Si  não  obedecerdes  logo  à  sua  vontade  nem  vossas 
peças,  tropas  e  barricadas,  me  embaraçarão  de  executar 
as  suas  ordens,  e  de  levar  a  ferro  e  fogo  todo  este  paiz. 
«  Espero,  senhor,  resposta  prompta  e  decisiva,  e  sem 
duvida  conhecereis  que  si  até  agora  vos  tenho  poupado 
tem  sido  para  fugir  ao  horror  d'cnvolver  os  innocentes 
com  os  culpados.  Sou,  ác—Duguaij-Tronin.  » 
Ao  que  lhe  respondeu  o  governador: 

t  Ví,  senhor,  os  motivos  que  i^  trouxeram  de  França 
a  este  paiz.  Segui  no  tratamento  dos  prisioneiros  fran- 
cezes  os  estylos  da  guerra,  não  lhes  faltando  pão  de  mu- 
nição e  outros  soccorros ;  posto  que  o  não  merecessem 
pelo  modo  porque  atacaram  este  paiz  d'el-rei,  meu  se- 
nhor, e  mesmo  sem  faculdade  d'eNrei  christianissimo, 
exercendo  unicamente  a  pirateria ;  comtudo  eu  poupei 
a  vida  a  seiscentos  homens  como  o  poderão  certificar  os 
mesmos  prisioneiros  a  quem  salvei  do  furor  da  espada. 
Em  nada  tenho  faltado  ao  ^|ue  careciam  segundo  as  in- 
tenções d'el-rei  meu  senhor. 

€  Quanto  á  morte  de  Mr.  Duclerc,  dei-lhe  a  pedido  seu, 
a  melhor  casa  doeste  paiz,  onde  foi  morto.  Não  pude 
descobrir  quem  foi  o-matador  por  mais  deligencias  que 
se  fizeram,  tanto  da  minha  parte  como  da  da  justiça ;  e 
vos  asseguro  que  si  for  encontrado  o  assassino  ha  de 
ser  punido  como  merece.  E'  pura  verdade  ter-se  tudo 
passado  segundo  vos  exponho, 
t  Emquanto  á  entregar- vos  a  cidade  pelas  ameaças  que 
me  fazeis,  havendo-me  ella  sido  confiada  por  el-rei, 
meu  senhor,  não  tenho  outra  resposta  á  dar-vos  senão 
que  a  hei  de  defender  até  a  ultima  gota  do  meu  sangue. 
Espero  que  o  Deus  dos  exércitos  não  me  abandonará  em 
uma  causa  tão  justa,  como  a  da  defeza  d'esta  praça,  de 
que  pretendeis  assenhorear- vos  com  tão  frivolos  pre- 
textos e  tão  extemporaneamente. 


—  láO  — 

■  Deus  guarde  a  V.  S.  de  quem  sou  <5ec.— F/Yí/ímco 
«  de  Castro  Moraes.  »  ( Mem.  de  Duguay-Trouin  paiç. 
181—185.) 

(98)  Memoires  de  Dmjuaxj-Trouin  pag.  190. 

( 99 )  Citemos  o  termo  da  nomearão  dos  negociadores 
escolhidos  para  esta  capitulação,  e  por  nós  extrahido  do 
Archivo  Publico  livr.  1.^  dos  termos,  homemujens  e  assentos. 

«  Em  30  de  Setembro  de  17M  em  o  sitio  do  Engenho- 
Novo  dos  reverendos  padres  da  Companhia  do  Collegio 
do  Rio  de  Janeiro,  onde  se  achava  acampado  o  gover- 
nador doesta  capitania  Francisco  de  Castro  Moraes  ahi 
convocou  as  pessoas  da  nobresa  e  negocio  que  se  acha- 
vam presentes  ás  quaes  propoz  que  o  general  da  armada 
d^el-roi  de  França  que  tinha  entrado  na  cidade  lhe  havia 
feito  presente  a  queimaria,  e  ao  paiz,  si  acaso  os  mora- 
dores d'ella  a  não  quizessem  resgatar  contribuindo  com 
o  preço  que  os  deputados  d'uma  e  d^outra  parte  concor- 
dassem, para  conclusão  de  cujo  negocio  cessariam  por 
espaço  de  cinco  dias  as  armas,  pelo  (|ue  era  preciso  que 
sobre  esta  matéria  accordassem  o  que  convinha  e  decla- 
rassem si  eram  contentes  que  as  pessoas  que  elle  para 
esta  conferencia  com  o  inimigo  havia  nomeado  eram  as 
que  elles  queriam  para  o  mesmo  eíTeito  e  lhes  dava  um 
poder  para  em  seus  nomes  e  de  todo  o  mais  povo  tra- 
tarem doesta  capitulação ;  o  que  visto  e  ouvido  por  elles 
disseram  que  approvavam  pelo  que  lhes  tocava  às  ditas 
pessoas  que  eram  o  Dr.  Juiz  de  Fora  Luiz  Fortes  de 
Bustamante  e  o  mestre  de  campo  João  de  Paiva  Souto- 
Maior  aos  quaes  concediam  os  poderes  necessários  para 
effeituar  este  resgate,  assim  da  cidade  como  das  fazen- 
das e  o  mais  que  lhes  tocasse.  E  pelo  que  tocava  a  S. 
M.,  que  Deus  guarde,  e  estava  a  cargo  d'elle  dito  go- 
vernador lhes  concedia  os  mesmos  i)odêres.  De  que 
mandou  fazer  este  termo  que  cu  Manuel  Borges  de  Ma- 
dureira escrevi  em  ausência  do  secretario  doeste  go- 
verno. —  Francisco  de  Castro  Moraes — Luiz  Fortes  de 
Bustamante  —  Manuel  Pimenta  Tello  — João  de  Paiva 
Souto-Maior— João  Areias  dWguirrc  —  Manuel  Corrêa 

JANKIRO.  17 


—  lao  — 


^ 


«   Vasques-^Christuvão  Pereira  trAbrcu  —  Mathias  Bar- 
»  bosa  da  Silva.  » 

(100)  Ainda  que  o  conselheiro  B.  da  Silva  Lisboa  cite 
um  trecho  da  carta  do  Juiz  de  Fora,  primeiro  plenipoten- 
ciário da  negociação,  julgamos  prestar  um  serviço  aos 
nossos  leitores  dando-a  aqui  integralmente  e  tal  qual  acha- 
mo-la transcripta  no  jà  citado  livro  dos  termos,  hometia/jens 
e  assentos  : 

«  Em  os  dois  dias  do  mez  de  Outubro  de  1711  estando 
acampado  o  governador  doesta  capitania  Francisco  de 
Castro  Moraes  no  sitio  atraz  declarado  recebeu  a  carta 
seguinte  do  Dr.  Juiz  de  Fora  Luiz  Fortes  de  Bustamante 
eSá: 

«  Meu  senhor.— Hoje  ( ntramos  em  conferencia  com  os 
nomeados  pelo  general  Duguay  e  de  manhan  não  se 
ajustou  cousa  alguma,  por  só  gastar  o  tempo  em  dispu- 
tar por  parte  d'elles  o  grande  rendimento  que  el-rei 
aqui  tinha  em  quintos,  moeda,  contracto  dasbalêas. 
íisco  e  mais  contractos,  si  acaso  os  ha,  o  que  eu  não 
sei ;  dissemo-lhes  que  tudo  isto  importaria,  segundo 
nossa  noticia,  em  trezentos  mil  cruzados,  o  que  podia 
melhor  certificar-se  pelos  livros  e  inventários,  que  se 
achavam  em  seu  mesmo  poder,  ao  que  não  quizeram 
dar  crcilito,  e  por  lim  de  contas  vieram  esta  tarde  a 
pedir  dois  milhões  pela  soberania  da  terra,  forta'ezas, 
artilheríp.s  c  cidade,  entrando  conventos  e  tudo  o  que 
lhes  pertence.  Respondi-lhes  que  si  S.  S.  se  não  punham 
na  razão  averiguando  o  que  a  terra  podia  dar  de  si,  e 
conforma ndo-se  com  a  possibilidade  d'ella,  se  rompesse 
a  conferencia,  porque  a  impossíveis  ninguém  era  obri- 
gado, e  lhe  demos  a  entender  que  o  que  poderia  dar-sc 
por  tudo  seria  trezentos  até  quatrocentos  mil  cruzados, 
e  que  avisávamos  a  V.  S.  para  determinar  com  a  gente 
da  governança  o  que  com  efTeito  se  daria  pelo  sobredito 
resgate,  e  assignâram  para  isto  vinte  e  quatro  horas 
dentro  das  quaes,  ou  m:us  cedo  si  fôrpossivel,  nosman- 
d  u*à  V.  S.  a  resolução  do  que  póJe  contribuir-si^,  para 
vermos  o  que  havemos  de  assentar.  É  também  neces- 
sário saber-se  para  o  ajuste  que  a  cidade  está  toda  sa- 


-  VM  — 

qiioíula  o  os  moveis  quebrados  e  inallratadose  a  fazenda 
que  Ilies  pareceu  recolhida  em  dez  ou  doze  armazéns  a 
qual  dizem  venderão  e  quando  o  principal  se  ajuste 
virão  mercadores  a  compra-la  si  quizerem. 
«  A'  vista  da  carta  o  dito  governador  a  propoz  às  i)es- 
soas  abaixo  nomeadas  para  que  dando  os  seus  votos  se 
tomasse  resolução  para  a  resposta,  e  todos  uniforme- 
mente assintiram  que  pela  cidade  fortificações,  edificios 
e  munições  sem  reserva  alguma  se  podia  dar  até  dois 
milli(3es  entrando  também  as  fazendas  e  mais  bens  que 
se  achassem  nas  casas  e  só  ficarão  de  fora  para  novo 
ajuste  aquellas  que  estiverem  misturadas  e  não  se  po- 
der saber  quem  são  seus  donos.  Do  que  mandou  fazer 
este  termo  que  eu  Manuel  B  )rges  de  Madureira  por  au- 
sência do  secretario  do  governo  escrevi. — Francisco  de 
Castro  Moraes  —  João  Areias  d'Aguirre— Manuel  Pi- 
menta Tello— Domingos  Henriques— Luiz  de  Albuquer- 
que Maranhão— Martim  Corrêa  de  Sá— Manuel  Corrêa 
Vasques— Pedro  de  Azambuja  RH^eiro- Mathias  Bar- 
bosa da  Silva— Christováo  Pereira  de  Abreu.  » 

(lOi)  Vide  Annaes  do  Rio  de  Janeiro  tomo  V  cap.  VI 
pag.  363. 

(102)  Podemos  encontrar  no  Archivo  Publico  o  seguinte 
termo  da  pretendida  capitulação  entre  o  governador  e  o 
almirante  : 

«  Saibam  quantos  este  nublico  instrumento  dado  e  pas- 
sado era  publica  forma  ao  officio  de  mim  tabelião  virem 
que  no  anno  do  Nascimento  de  Nosso  Senhor  J.  C.  de 
17H  annos  aos  onze  dias  do  mez  de  Novembro  do  dito 
anno  nesta  cidade  do  Rio  de  Janeiro  em  pouzadas  do 
Dr.  Juiz  de  Fora.  Luiz  Fortes  de  Bustamante,  aonde  eu 
tabelião  fui,  e  sendo  ahi  por  elle  me  foi  apresentada  uma 
resposta  do  Sr.  Governador  ás  capitulações  do  Sr.  Ge- 
neral francez.  cujo  theor  é  o  segumte : 
t  Que  promette  de  pagar  seis  centos  mil  cruzados,  em 
doze,  ou  quinze  dias ;  e  aue  por  não  sentir  d'onde  possa 
tirar  mais  contribuição  aeste  povo  ofTerece  a  S.  S.  cem 
caixas  d^assucar  duzentos  bois  e  dez  mil  cruzados  em 


—  I3á  — 

*  dinheiro,  íicamio  com  sonlimenlo  de  não  se  achar  coní 

«  mais  para  lho  ofíerccor,   e  o  sobredito  ajuste  é  pelo 

«  resgate  da  soberania  da  terra,  cidade  redonda,  e  suas 

«  fortalezas  com  todas  as  artilherías  á  ellas  pertencentes. 

«  Que  a  pólvora  se  comprará  aos  Srs.  officiaes  fran- 
cezes. 

•  Que  pela  manhan  irão  os  reféns  até  satisfazer  o  dinhei- 
t  ro  promettido. 

«  Que  as  mais  condições  se  acommodaram  com  a  inten- 
t  çáo  de  S.  S.  para  o  embarque  das  tropas. 

«  E  que  para  as  mercadorias  enviará  homens  de  nego- 
«  cio  que  tenham  dinheiro  para  compra-las,  ficando  desde 
«  hoje  em  paz,  assim  com  os  moradores  do  paiz,  como 
ff  com  as  embarcações  que  entrarem  nelle. — Campanha 
ff  10  de  Outubro  de  1711  annos  — Le  Chevalier  Duguay- 
«  Trouim  —  Vu  pour  nous  Chevalier  et  Conseiller  du  Roy 
«  en  Ses  Conseils,  Inspecteur  General  de  la  marine  et 
ff  Conseiller  au  Parlement  de  Metz  —  De  Ricouart  — João 
«  de  Paiva  Souto  Maior  —  o  qual  treslado  dinstrumento 
ff  tresladei  bem  e  fielmente  do  próprio  a  que  me  reporto, 
ff  e  corri,  concertei,  escrevi  e  assignei  em  publico  e  raso 
ff  nesta  cidade  do  Rio  de  Janeiro  aos  onze  dias  do  mez 
ff  de  Novembro  de  1711  annos  —  João  de  Carvalho  e 
ff  Mattos— Em  testemunho  de  verdade.— 

(103)  Eis  o  documento  por  onde  se  prova  que  Duguay- 
Trouin  recebera  a  somma  estipulada  pelo  resgate  da  ci- 
dade, assim  como  pela  pólvora  que  os  portuguezes  foram 
obrigados  a  comprar  aos  seus  vencedores:  documentos 
estes  também  extrahidos  do  Archivo  Publico. 

ff  Nous  Chevalier  de  POrdre  militaire  de  S.  Louis, 
ff  Commandant  General  des  troupes  et  de  Tescadre  des 
ff  vaisseaux  de  S.  M  dans  Ia  rade  de  Riogcnero,  et  nous 
ff  Chevallier  et  Conseiller  du  Roy  en  Ses  Conseils,  Con- 
«  seiller  de  S.  M.  en  Sa  Cour  Souveraine  du  Parlement: 
ff  certifions  à  tous  qu'il  appartiendra  (jue  pour  les  six 
•  cents  dix  mil  cruzados  dont  nous  sommes  convenus 
ff  avecM.""  D.  Francisco  de  Castro  Moraes,  governeur  pour 
ff  la  capitulation  de  la  ville  el  des  forteresses  da  Riogene- 


—  i:í3  — 

«  ro  noiís  avons  reçu  voiigt  six  nrrohos  et  demye  et  deiix 
•  cenls  (luatrc-vingt-dix  sei)t  octaves  de  ptjudre  d\)r  sur 
■  le  |)rix  de  quatoi-ze  lestons  et  quatre  vingtins  Poctave, 
«  onze  arrobes  dix-neuf  livres  soixante  et  une  octave  et 
«  iieniye  d'or  en  barres  lingots,  ou  monnayes  d'or  prestes 
€  a  màrquer  sur  le  vingt  quatre  monnayes  d'or  et  un 
«  quart  de  nouvelles  fabrique  de  quarente  huit  testons  ia 
€  piece;  plus  nous  avous  reçu  deux  cents  boeufs  pour  le 
€  refraichissement  des  dites  troupes  et  cent  caísses  de 
€  sucre ;  tous  les  reçus  pour  le  dites  sorames  de  quelaue 
€  espèce  quMls  soient  demeueront  nuls:  et  dans  la  elite 
€  capitulation  de  la  ville  í  t  des  forteresses  nous  n'y  avons 
€  pas  compris  la  poudre.  En  foy  de  quoy  nous  avons 
€  signé  le  present  pour  servir  et  valoirainsy  que  de  raison 
«  à  bord  du  vaisseau  —  le  Lys  —  le  sixierae  Noverabre 
17H  —  Duguay-Trouira.  — De  Ricouart. 

«  Nous  Chevallier  de  TOrdre  milítaire  &ca :  certifions  a 
€  tous  qu'il  appartiendra  que  nous  avons  reçu  pour  deux 
€  mil  cinquante  barrils  de  poudre  a  tirer  la  somme  de 
«  auarente  six  mil  cinq  cents  soixante  croisades  en  pou- 
4  (Ire  iVor  sur  le  prix  de  quatorze  testons  et  quatre 
t  vingtins  Toctave  et  en  barres,  ou  lingot  a  seize  testons 
€  Poctave.  En  foy  de  quoy  nons  avons  signé  le  present 
«  pour  servir  rt  valoir  ainsy  mie  de  raison  a  la  rade  de 
€  Riogenero  le  sixeme  Novemore  1711  a  bord  du  vais- 
«  seau  du  Roy  —  Le  Lys  —  Duguay-Trouim. 

(104)  Vide  Pizarro  Mem.  Ilist.  do  Rio  de  Janeiro  tom. 
I.  pag.  71—72. 

(10o)  Os  jesuitas  tinham  também  sabido  sMnsinuar  no 
animo  do  almirante  francez  o  oue  fez  dizer  ao  menciona- 
do Vasconceilos  Velho — os  padres  da  Companhia  que  em 
toda  a  ocasião  são  famosos  deixaram  ficar  no  coUegio  o  pa- 
dre António  Cordeiro,  &. 

(106)  Mem.  de  Duguay-Trouin  pag.  198. 

(107)  Dando  conta  das  sentenças  proferidas  pela  alçada, 
assim  s'exprime  Rocha  Pitta : 

t  Juntos  os  ministros  procedeu  o  Chanceller  em  sua 
«  devassa  do  caso  náo  faltaram  ofiiniões  (pie  também  in- 


Loj^o  que  recebi  o  programma  tratei  de  oollier  as  tra- 
dições que  pudessem  existir;  estas  são  de  duas  espécies  ou 
mais  ou  menos  verídicas  referidas  a  épocas  determinadas, 
e  archivadas  nas  paginas  dos  historiadores,  ou  conserva- 
das na  bocca  do  povo,  e  adulteradas  de  mil  modos:  ambas 
porém  fornecem  dados  pouco  valiosos  para  adiantar  um 
passo  ao  menos  na  solução  do  obscuro  problema.  Tradi- 
ções escriptas  poucas  existem,  e  estas  desde  logo  me  foram 
fornecidas  pelo  nosso  infatigável  consócio  o  Sr.  Joaquim 
Norberto  de  Souza  e  Silva,  o  que  me  foi  um  poderoso  au- 
xilio, pois  devo  confessar  que  tenho  mais  aptid:\o  para  de- 
cifrar os  jeroglyphos  com  que  a  natureza  gravou  a  sua  his- 
toria desde  o  tempo  da  crystallisação  dos  granitos,  até  a 
extinção  dos  mastodontes  de  que  para  pesquizar  os  respei- 
táveis fólios  prodiízidos  pelo  ingenho  humano.  Quanto  «ás 
tradições  guardadas  pelo  povo,  suppuz  que  facilmente  as 
obteria  escrevendo  aos  Presidentes  de  algumas  províncias, 
na  esperança  de  que  elles  me  mandassem  o  que  fosse  pos- 
sível colher;  demoréi-me  três  annos;  e  no  fim  dcUes  con- 
venci-me  de  que  esses  senhores  eram  demasiado  conscien- 
ciosos, e  que  não  querendo  fornecer-me  dados  incertos, 
esperavam  que  um  dia  suas  almas  depois  de  libertadas  do 
envoltório  de  chrysalida,  que  as  prende  a  este  mando, 
voem  por  esses  sertões  e  dotadas  do  poder  de  penetrar  os 
mysterios  do  passado,  me  respondão.  Esgotada  por  fim  a 
minha  paciência  requeri  ao  Instituto  que  mandasse  pedir 
as  informações  de  que  eu  necessitava,  e  cm  treze  mezes  foi 
clle  pouco  mais  feliz  do  que  eu  pois  só  seis  Presidentes 
responderam ;  os  outros  nem  si  quer  cum[)ríram  os  pre- 
ceitos da  corlezia. 

Pelo  que  diz  respeito  aos  vesligios  geologiro^.  j)».]í^mos 


-  137  — 

dizer  que  nos  adiámos  a  margem  de  um  vasto  oceano, 
dispondo  apenas  de  uma  triste  canôinha  de  pescador  para 
cxploral-o.  Nós  podemos,  sem  o  menor  receio  de  que  nos 
taxem  de  exagerado,  asseverar  que  da  geologia  brasílica 
quasi  nada  se  sabe.  pois  alguns  trabalhos  que  nos  vieram 
a  mão  tendentes  a  osclarecêl-a,  e  devidos  a  curiosidade  de 
alguns  engenheiros  nossos  que  percorreram  em  commis- 
são  os  sertões,  sâo  inintelligiveis.  Para  justificar-me  só  cita- 
rei algumas  amostras :  temos  a  palavra  granito ,  que  é 
aplicada  as  rochas  graníticas  com  os  três  elementos  dis- 
tinctos,  e  ahi  vae  o  greis,  os  granitos,  syenitos,  protogi- 
nos  etc,  logo  que  um  dos  elementos  deixa  de  se  apresentar 
com  muita  saliência,  ou  se  falta  então  ha  uma  brilhante 
escapadéla  que  é  o  monosyllabo  «  grés  »  que  significa  tudo 
principalmente,  p.  ex.  os  pegmatitos,  leucinitos,  o  itaca- 
lumito,  as  breccias,  os  trachytos,  dioritos,  até  margas  e  o 
itabirito  e  o  cipolino !  Atraz  deste  substantivo  universal 
vem  muitas  vezes  uma  descripçáo  a  maneira  da  nomen* 
clatura  de  Gaspar  Bauhin,  qae  só  serve  para  vender  a  obra 
e  trahir  o  author.  A  palavra  schisto  também  é  de  muito  uso, 
o  que  ha  porém  de  mais  notável  é  certamente  a  variedade 
de  combustíveis,  fosseis  que  tem  sido  descoberta,  assim  já 
vi  ura  lodo  lacustre  com  807o  de  argila  e  protoxido  de 
ferro  ser  intitulado  carvão  de  pe  Ira,  com  a  observação  mui 
curiosa,  que  queima  perfellameiite !  Vimos  asphalto,  le- 
nhitos  schisto  algum  tanto  bituminosos,  e  até  psilomelano 
figurarem  como  carvão  de  pedra  I  Também  vimos  mica 
baptisada  •  estanho,  »  gneiz  do  qual  nascia  ouro,  c  mais 
interessante  ainda  é  uma  memoria  que  descreve  a  riqueza 
fabulosa  da  Província  de  Minas  em  cobre,  o  bom  do  author 
olhava  como  tal  a  canga  que  se  estende  por  legoas  o  legoas 

JANEIRO.  18 


—  138  — 

de  terreno,  naquelles  lugares.  Aiada  mais:  uma  pessoa  pro- 
fessional,  e  de  capacidade  jurou-nos  pela  salvação  de  sua 
alma  que  possuia  mineraes  do  interior  com  impressões  de 
algas  marinhas,  mas  ao  dar-me  uma  amostra  reconheci 
serem  dondritos  de  ferro.  Ora  a  vista  de  tantas  brilha turas, 
ou  sacrilégios  scientificos,  creio  que  nos  será  permittido 
duvidar  da  veracidade  dos  factos  relatados  pela  maior  parte 
dos  nossos  prophetas  conterrâneos. 

Vejamos  agora  o  que  aproveitámos  dos  apóstolos  da  sci- 
encia,  que  sobre  as  ondas  pelágicas  aportaram  ás  nossas 
praias:  Darroin  de  quem  teriamos  direito  de  esperar  algu- 
ma cousa  valiosa,  apenas  tocou  o  nosso  littoral.  Os  papeis 
do  Dr.  Sellow  a  que  temos  bom  direito  estão  se  fossilifi- 
cando  em  Berlin,  Helmreichen  não  concluio  os  seus  tra- 
balhos, e  o  que  delie  se  publicou  é  pouco ;  as  observações 
de  Perris  se  extendem  muito  pouco.  Quanto  aos  mais 
pouco  se  pôde  esperar  de  quem  vai  escrever  sobre  pedras 
com  a  arte  pratica  em  mãos,  ou  de  individuos  que  só  es- 
crevem para  imposturar  e  serem  tidos  por  alguma  cousa 
quando  nada  absolutamente  valem.  Assim  p.  ex.,  que  cre- 
dito nos  merecerá  um  Pedro  Clausen  que  veio  ao  Brasil 
como  creado  do  Dr.  Sellow,  e  depois  passou  de  mascate  a 
negociante  com  o  nome  de  Pedro  Cláudio  Dinamarquez 
de  gloriosa  memoria  nas  praças  do  Rio  de  Janeiro  e  Ouro- 
Preto,  e  que  por  fim  foi  buscar  um  capôllo  e  pergaminho? 
Devemos  por  ventura  acceitar  o  que  nos  revela  um  Dr. 
Parigot  ao  qual  perguntámos  de  que  modo  se  apresenta  em 
S.  Catharina  a  formação  carbonifera,  e  elle  com  uma  eva- 
siva procurou  demonstrar-nos  que  o  povo  brasileiro  não 
tinha  fé,  nem  dignidade  ?  talvez  nos  tomasse  por  um  pobre 
allemão  que  emigrava  para  o  Brasil !  Devemos  por  ventura 
prestar  attenç-áo  a  um  Sr.  De  Cislclnau  que  nos  ensina 


—  139  — 

logo  no  inincipio  ile  sim  obra,  que  a  bahia  do  Uio  de  Ja- 
neiro é  uma  cratera  de  sublevação'?  parece  que  esse  tão 
victoriado  viajante  só  tencionava  ser  lido  nos  toucadores 
de  Paris.  Outros  ainda  tiveram  a  franqueza  de  confessar 
que  pouco  escrúpulo  tinham  em  commetter  erros,  por  es- 
tarem convencidos  que  não  seriam  verificados  tão  cedo,  e 
desfarte  a  geologia  não  teve  como  a  botânica  o  seo  S.  Hi- 
laire,  o  seo  Gardner  e  outros  distinctos  naturalistas. 

É  de  lastimar  (jue  no  lirasil  onde  se  pensa  tanta  cousa 
bôa,  e  grandiosa,  ainda  se  não  tenha  cuidado  em  preparar  os 
elementos  para  uma  exploração  scientifica,  de  que  tanta 
utilidade  tirariamos,  quando  mais  não  fosse,  o  sermos 
tratados  com  consideração,  e  não  com  desprezo  pelo  es- 
trangeiro, a  quem  até  hojj  ainda  se  deve  o  que  a  sciencia 
tem  descoberto  sobre  este  vasto  império.  Digo  preparar  os 
elementos,  porque  mandar  vir  exploradores  munidos  de 
cabedal  scientilico  de  pouco  servirá,  pois  esses  homens  tem 
outra  lingua  ,  outros  hábitos  ,  e  outra  natureza  muito 
diílerente  da  nossa.  De  modo  que  os  habitantes  do  inte- 
rior lhes  repugnão,  no  que  ficam  pagos  com  usura,  e  até 
chegam  a  serem  victimas  de  suas  excentricidades.  Assim 
tivemos  ainda  ha  pouco  tempo  a  visita  de  uma  notabilidade 
européa,  que  descendo  de  sua  cathedra,  deixando  os  pa- 
ginados companheiros  de  sua  vida,  e  concedendo  repouso 
à  fluente  penna  que  tanto  prodigio  fizera,  aportou  às  nossas 
plagas  com  a  singular  pretençáo  de  viajar  a  provincia  de 
Minas  em  malle  poste  e  estudar  a  natureza  debruçado  con- 
fortavelmente nas  janellas  de  hotéis  guarnecidos  de  veludos 
e  sedas !  esse  sábio  cahiu  por  fim  de  um  burro  parado,  e 
teve  a  desgraça  de  fracturar  uma  perna,  equem  perdeo  foi 
a  sciencia  e  a  nossa  civilísação  como  elle  mesmo  o  disse. 
O  fallecido  Helmreichen  foi  acolhido  com  muita  hospita- 


—   I'i0  — 

lidatle  no  nosso  interior:  em  troca  publicou  iimnrtigo  na 
Allemanha  em  que  dizia  que  um  fazendeiro  de  Minas  só 
podia  ser  tido  por  homem  de  mérito,  depois  de  ler  com- 
mettido  um  assassinato  1  outros  escreveram  sobre  o  Brasil 
informações  ,  que  os  matutos  e  sertanejos  que  encontra- 
vam lhes  forneciam,  respondendo  muitas  vezes  a  perguntas 
scientilicas  que  elles  entendiam  lá  a  seo  modo.  Outros 
exploradores  vindo  commissionados  com  grande  aparato  e 
estrondo,  davam-nos  como  novas  descobertas,  cousas  tri- 
vices  que  a  muito  conlieciamos.  Até  dignos  varões  se  en- 
contram que  pintaram  ticoticos  e  picapàos  e  os  classifica- 
ram como  espécies  novas,  afim  de  obterem  um  emprego 
no  nosso  musêo,  e  ainda  ha  quem  nesta  nossa  terra  tenha 
taes  cliarlatáes  por  profundos  naturalistas.  Numerosos 
exemplos  poderiamos  citar  para  provar  que  scientifica- 
mente  o  paiz  deve  ser  estudado  por  gente  própria,  como  o 
fizeram  todas  as  nações  cultas. 

Em  quanto  esperamos  p  t  dados,  que  uma  exploração, 
nos  possa  fornecer,  entraremos  em  matéria  colhendo  as 
raras  e  indigestas  migalhas  que  c  possivel  alcançar,  para 
tirar  algumas  conclusões  incompletas  e  duvidosas.  No  en- 
tretanto pedimos  ao  Instituto  que  nâo  desespere,  porque 
entáo,  se  Deus  vida  e  forças  nos  conceder,  apresentaremos 
trabalhos  documentados  que  possam  satisfazer  cabalmente 
ao  que  se  nos  pede. 

Diremos  tanJ)em  alguma  cousa  sobre  a  probabihdadc  de 
terremotos  futuros  no  Brasil,  para  evitar  que  não  appareça 
algum  outro  programma  que  nos  supponha  dotado  da 
habilidade  do  celebre  cabildo  de  Guanaxuato  que  em  uma 
proclamação  declarou  (pio  «  eu  su  sabUluria  reconheceria  o 
momento  do  perigo,  e  aconselharia  a  fuga !  » 

Só  consideraremos  aquelles  terremotos  que  tem  a  sua  ori- 


—  141  - 

gem  om  potoncios  ahyssodynamions,  dcsdo  o  mais  brando 
ruido  subterrâneo  até  essas  niodoniias  convulsões  da  su- 
perfície terrestre  cujos  eíTeitos  sáo  mais  terríveis  e  mais  mor- 
tíferos (jueas  esquadras  do  Báltico,  e  Mar  Negro  reunidas, 
ou  da  mais  vehemenle  epidemia  que  tenha  devastado  os 
povos.  As  concussões  devidas  á  desmoramentos  de  rochas 
e  barrancos,  á  desabamentos  de  montanhas  excavadas  por 
torrentes  do  seu  interior,  etc.  e  os  estrondos  subterrâ- 
neos provenientes  da  quebra  de  pedras  levadas  pelos  rios. 
e  outros  phenonemos  semelhantes,  não  mencionaremos 
visto  serem  acções  inteiram^  nte  locaes,  e  haver  a  certeza 
de  nunca  se  estenderem  além  de  um  limilte  certo  e  muito 
restricto. 

É  sabido  que  os  terremotos  não  são  outra  cousa,  mais 
do  que  erupções  volcanicas,  e  que  se  cingem  a  certos  cen- 
tros ou  linhas  d^erupçáo  que  formão  um  pequeno  numero 
de  zonas,  doestas  existem  três  na  Ásia :  uma  partindo  dos 
montes  Uraes  até  Irkutrk,  a  segunda  do  lago  d^Aral  até  a 
China  c  terceira  parallela  as  duas  precedentes  correndo  ao 
longo  do  Ilimalaya.  Uma  outra  zona  é  a  curva  que  vae  de 
Java.  Sumatra,  as  Philippinas,  Japão,  encontrar-se  noar- 
chipelago  aleutino  com  a  zona  parolica  da  America  boreal, 
a  qual  termina  na  Califórnia.  Depois  desta  segue  a  de  Gua- 
temala que  atravessa  o  isthmo  do  Panamá,  corre  parallela 
ao  declive  occidental  dos  Andes  e  vae  morrer  nos  gelos  do 
Cabo  de  llorn.  Sensivelmente  perpendicular  a  esta  até  a 
ilha  da  Trindade  domina  a  pequena  porém  funesta  zona 
venezuelensc,  a  qual  na  sua  extremidade  oriental  é  cortada 
por  uma  outra  também  pequena  vinda  de  Charlestown  em 
direcção  de  SS.  E.  atravessando  Guadeloupe  as  outras  An- 
tilhas, tocando  em  parte  da  Guiana  franceza,  o  Cabo  do 


—  i42  — 

Norte  (» al)alaíulo  tambom  uma  porçáo  do  formiflavol  delia 
do  Amazonas.  Porém  de  todos  os  campos  de  batalha  das 
potencias  abyssodynamicas,  contra  a  rigidez  da  crosta  ter- 
restre e  onde  esta  tem  de  ceder  vencida  é  sem  duvida  aquellc 
que  se  estende  paralieio  ao  equador  desde  os  Açores  até 
a  Pérsio,  abrangendo  do  sul  até  chapadas  dos  paizes  bar- 
barescos,  e  ao  norte  o  Cáucaso,  os  Carpathos.  os  Alpes  as 
serranias  do  meio  dia  da  Franca  e  os  Pyrineos.  Além 
dessas  existem  ainda  outras  zonas  menores  como  a  do 
Rheno,  de  Islândia,  da  Groenlândia  do  va!le  do  Missisipi. 
Todas  estas  zonas  se  caracterisáo  pelas  cadeias  de  volcões 
(jue  ellas  encerram,  não  só  activos  como  vemos  na  linha  ja- 
vanica,  na  Guatemala,  Períi,  Chile,  e  sul  da  Itália,  mas  tam- 
bém extinctos  como  no  Rheno  etc. 

Vemos  do  exposto  que  a  superfície  do  nosso  globo  é  co- 
berta  de  uma  rede  formada  pelas  linhas  de  commoçáo, 
contendo  essas  fontes  por  onde  se  esgotáo  os  productos 
do  seo  laboratório  interno  e  fechadas  ou  impedidas  de  um 
modo  qualquer  esses  benéficos  esgotos,  logo  começáo  os 
tremores  c  convulsões  em  toda  a  linha  e  para  felicidade 
nossa  o  Brasil  forma  uma  malha  dessa  grande  rede  tendo 
por  defensores  contra  as  concussões  no  occidente.  os  Andes 
e  no  norte  as  montanhas  de  Parinje.  Este  nosso  isola- 
mento dos  terrenos  frequentemente  abalados  ,  é  ainda 
marcado  por  uma  circumstancia  curiosa  que  mencionare- 
mos porque  algum  dia  poderá  ser  aproveitada  com  van- 
tagem por  algum  poeta,  e  vem  a  ser  o  seguinte :  os  bo- 
tânicos estudando  a  distribuição  geographica  das  plantas, 
viram  que  certas  famílias  se  reúnem  de  preferencia  em 
regiões  limitadas,  attendendo  a  isto  lembráram-se  elles  de 
dividir  a  superfície  do  globo,  sem  a  menor  intenção  de 


—  143  — 

offender  nacionalirtaiJcs,   em  diversos  reinos  e  para  facil- 
mente recordar  os  nomes  dos  viajantes  qae  o  exploraram, 
os  repartiram  amigavelmente  entre  si,  assim  o  norte  do 
Brasil  forma  parte  do  reino  dos  urumbebas  e  zaborandis 
pertencentes  a  Jacquin,  o  centro,  que  é  o  dominio  dos  co- 
queiros, quaresmas,  c  pixiricas,  sob  a  direcção  de  Mar- 
tins ;  o  sul  em  lim  ó  o  reino  synanthereas  arborescentes, 
vulgo  das  candeias,  que  foi  confiado  a  S.  Uilaire,  estes  três 
reinos  tem  por  limite  ao  poente  e  ao  norte  o  reino  das 
quinas  (cascas  febrífugas  bem  entendido)  de  modo  que  se 
acham  por  elle  abraçados,  e  o  chefe  doesse  reino  ó  um  dos 
principaes  perscrutadores  de  terremotos ,  o  Sr.  Alexandre 
deHumboldt.  Ora  d'essa  nossa  posiçSo  especial  concluímos 
em  primeiro  lugar  que  o  Brasil  provavelmente  aindu  não 
teve  centro  de  commoçõcs,  em  segundo  lugar  temos  a  favòr 
d'essa  nossa  deducção  a  falta  completa  de  vulcões  activos. 
e  se  os  ha  extinctos  não  sabemos,  pois  faltam  explorações 
que  o  provem.  Quanto  aos  numerosos  montes  encantados 
que  por  ahi  abundam,  sempre  teremos  por  fabula  toda 
historia  íjue  d'ellesse  refira  em  quanto  não  forem  estuda- 
dos em  regra :  doesta  espécie  são  o  morro  do  estrondo  no 
Rio  Grande  do  Norte  onde  se  ouvem  trovões  subterrâneos, 
e  que  tem  no  seo  cume  um  rodamoinho  de  arôa.  O  sumi- 
douro em  Minas  que  as  vezes  fumega  (algum  fogo  de  qui- 
lombolas)  ou  o  cerro  de  Butucarahy  no  Rio  Grande  do  Sul ; 
o  qual  fumega  no  verão,  ronca  como  tiro  de  grosso  canhão. 
e  sobretudo  em  noites  claras  e  serenas  expelle  uma  exhala- 
çáo  que  ao  cahir  no  chão  estoira.  Segundo  me  consta  o 
Dr.  Frederico  Sellow  subiu  este  cerro  e  nada  encontrou 
de  volcanico.  Também  S.  Catharina  e  S.  Paulo  tem  as  suas 
montanhas  tonantes,   n'esta  ultima  provincia  é  provável 
(fíie  os  ruidos  sejam  produzidos  pelas  catadupas  subterra- 


-    144  — 

neas  do  rio  Tiett',  e  visto  o  som  na  terra  propiígar-se  a 
grandes  distancias,  como  abaixo  veremos,  é  possível  que 
seja  ouvido  em  montes  bastante  afastados  do  rio. 

Se  as  agoas  thermaesde  Goyaz  Minas,  Paraná  e  Santa  Ca- 
tliarina,  devem  a  sua  elevada  temperatura  a  acções  volcani- 
cas,  ou  a  decomposições  chimicas  ainda  resta  averiguar, 
e  é  cousa  que  não  depende  de  sciencia  transcendente. 
Em  Minas  existem  tradições  de  ter-se  fendido  em  vários 
lugares  á  terra  e  as  vezes  com  estrondo  e  ter-se  ao  mesmo 
tempo  sentido  forte  cheiro  d'enxofre :  não  cremos  também 
que  este  phenomeno  seja  vulcânico,  pois  terreno  argiloso 
depois  d'uma  aturada  sêcca  pôde  rachar  muito  considera- 
velmente, e  qualquer  phosphorescencia,  qualquer  vestígio 
de  ozon  que  se  espalhe  no  ar  dà  vasta  matéria  para  as  in- 
venções da  superstição  popular ;  pôde  também  n'alguma 
camada  inferior  se  achar  uma  porção  de  pyrites  em  de- 
composição, o  que  desenvolve  calor  suBiciente  para  inílam- 
mar  madeiras,  e  sobre  a  massa  quente  cahindo  rapida- 
mente alguma  porção  d\igoa  infdtrada  se  reduz  logo  a 
vapor,  rompe  pelo  terreno  levando  comsigo  algum  acido  sul- 
furoso dando  o  cheiro  d^enxofre.  Oa  finalmente  pode  ainda 
essa  tradição  ser  algum  fragmento  do  terremoto  de  Lisboa, 
que  vendo-se  o  narrador,  que  o  apanhou,  obrigado  a  dar- 
Ihe  patri:i,  fal-o  em  o  primeiro  lugar  que  lhe  occorre  a 
memoria.  Em  quanto  pois  se  não  averiguar  o  quanto  existe 
de  real  em  todas  as  mencionadas  tradições,  c  phenomenos 
sustentaremos  a  nossa  asserção  emittida. 

Em  terceiro  lugar  nos  assiste  a  circumstancia  da  falta  de 
uma  tradição  ainda  que  obscura  entre  os  indígenas,  os 
quaes  conservam  a  memoria  d'um  deluvio,  o  (jue  é  acon- 
tecimento de  nmito  menos  i^erigo  do  que  um  terremoto 


—   Wi  — 

ora  regra,  pois  aunuacia-se  com  anlecedeuciu,  o  sendo  de 
uma  extençiío  como  se  costuma  suppôr  não  vem  por  certo 
de  súbito  como  as  vezes  as  inundações  cujo  circulo  activo 
sempre  é  limitado.  Agora  de  passagem  seja-nos  permittido 
notar  que  duvidamos  bastando  da  existência  de  um  diluvio 
no  Brasil  em  tempo  histórico,  pois  já  em  outro  lugar  ti- 
vemos occasião  de  mostrar  que  os  taes  chamados  terrenos 
alluviaes  das  nossas  formações  graníticas  são  justamente  o 
contrario  do  ijue  se  suppõe.  c  que  nunca  uma  das  molécu- 
las que  as  compõe  se  achou  suspensa  n^agoa,  além  d'isso 
a  salvação  do  Deucalião  c  da  Pyrrha  americanos  n'um  co- 
queiro é  bem  pouco  lógico,  assemelha-se  a  alguma  d^essas 
edificantes  lendas  com  que  os  Santos  Padres  convertiam 
os  Índios. 

Se  o  Brasil  antes  da  descoberta  foi  re.ilmentc  tão  povoado 
como  no-lo  asseveram  os  historiadores,  por  ex.  NieulolT 
o  qual  nos  conta  que  em  1545  só  o  Rio  Grande  podia  apre- 
sentar em  campo  um  exercito  de  100,000  homens  grande 
estrago  por  certo  n'elles  faria  algum  notável  terremoto, 
assim  ao  menos  devemos  concluir  por  analogia  dos  factos 
conservados  pela  historia,  dos  quaes  citaremos  alguns  no- 
táveis. Assim  no  anno  de  5á6,  200.000  almas  perderam 
advida  na  Syria  e  Ásia  menor,  em  1693  pereceram  60,000 
habitantes  na  Sicilia  debaixo  das  ruinas  de  Catania  e  49 
povoações,  outros  tantos  em  1755  em  Lisboa,  em  1794 
40,000  foram  sepultados  nas  ruinas  de  Anito;  igual  nu- 
mero nos  terremotos  de  Uiobamba  em  1797,  em  uma  só 
noite  18  villas  e  numerosas  aldèas  foram  arrazadas  na 
Syria  não  escapando  uma  só  cabana  em  18ái2,  esse  mesmo 
anno  em  que  o  Chile  foi  tão  fortemente  abalailo,  a  cada 
passo    vem')s  mencionadas  catastro[)h<Js  d'esla  natureza 

JAMilllO.  19 


—  146  — 

na  historia  tias  republicas  americanas  do  pacilico,  em  Ve- 
nezuela, Java,  as  Philippinas,  etc,  e  se  no  Brasil  tivesse 
tido  lugar  algum  terremoto  como  os  que  acabamos  de  citar 
infallivelmente  os  selvagens  conservariam  alguma  tradição; 
mas  debalde  a  procurámos. 

Ainda  outros  são  os  effeitos  dos  terremotos  que  deixam 
signaes  indeléveis  para  marcar  a  sua  passagem  na  memo- 
ria dos  homens,  e  nas  rígidas  penedias  que  mais  resistem 
a  voracidade  do  tempo ;  doesta  natureza  são  os  vehementes 
choques  vindos  do  interior  da  terra,  e  dirigidos  contra  ura 
ponto  de  sua  superfície,  sublevando-a  com  força  de  modo 
a  arremessar  edifícios,  pedras  e  homens  a  alturas  superiores 
a  150  pjilmos,  como  se  deo  em  Riobamba.  N'esse  movi- 
mento a  terra  se  abre  como  em  muitos  lugares,  e  as  fendas 
produzidas,  engolem  homens  animaes  arvores  para  depois 
vomital-os  emprensados  como  as  valiosas  relíquias  e  pa- 
drões de  gloria  de  um  botânico,  como  em  1783  acontecia 
frequentemente  na  horrorosa  catastrophe  da  Calábria ;  ou 
bem  preserval-os  como  o  cães  de  Sodré  todo  de  mármore 
em  Lisboa,  o  qual  foi  submergido  com  4.000  pessoas  (es- 
capando só  a  que  as  contou)  as  quacs  sobre  elle  buscavam 
refugio  para  em  vindouros  séculos  reapparecerem  petrifica- 
das talvez  no  meio  dos  restos  dos  possantes  saveiros,  o  que 
dará  insano  trabalho  aos  sábios  geólogos  dos  quaes  BufTon 
dizia  que  estavam  nas  mesmas  circumstancias  dos  antigos 
augures  que  se  não  encontravam  sem  se  rirem ;  e  Licthen- 
berg  reunindo  os  conhecimentos  geológicos  do  seo  tempo, 
observa  que  posto  não  oflereçam  material  para  a  historia 
da  terra,  ao  menos  contribuem  muito  para  o  esclareci- 
mento da  historia  dos  desvarios  do  juizo  humano,  não  cabe 
essa  critica  á  geologia  de  hoje  em  geral,  mas  no  Brasil 
afianço  com  toda  sinceridade,  que  estamos  no  século  de 


% 


—   148  — 

charia,  em  todos  os  sentidos,  ahi  sj)  houve  comprador  que 
quiz  fazer  acquisiçáo  barata  da  mesma  ilha  segundo  me  in- 
formou pessoa  sensata  do  higar. 

Antes  de  enumerar  os  terremotos  de  que  ha  noticia  no 
Brasil  (e  as  que  vieram)  e  fazer  sobre  elles  algumas  consi- 
derações, seja-nos  permittido  mencionar  alguns  factos 
observados  sobre  a  sua  propagação  para  fazer  abaixo  appli- 
cação, 

As  erupções  abyssodimanicas  manifestam-se  frequente- 
mente sobre  uma  extensa  linha,  lateralmente  a ella,  aterra 
sobe  e  desce  alternativamente  à  maneira  das  ondas  do  mar. 
e  como  doestas  em  grande  extençâo  se  propague  o  movi- 
mento do  solo,  são  essas  elevações  taes  que  as  veges  arvo- 
res chegam  a  abaixar  a  copa  até  tocar  o  chão,  e  levantam-se 
para  produzir  o  mesmo  phenomeno  do  lado  opposto.  A 
estas  oscillações  que  costumam  ser  repetidas  não  resiste 
ordinariamente  a  consistência  da  terra  pois  produzindo  as 
phases  uma  dilatação  e  compressão  alternadas,  o  resultado 
são  fendas  etc,  também  muralhas  desabam  debaixo  doseo 
poderoso  impulso ;  as  erupções  centraes  são  apenas  um 
caso  especial  das  lineares.  Os  effeitos  mais  devastadores  da 
terra  undosa  se  dão  quando  uma  vibração  no  transito  en- 
contra um  obstáculo  parcial,  forma-se  então  redomoinho. 
que  desloca  porções  inteiras  de  terreno,  transpondo  lagos 
d^om  lugar  para  outro  como  na  Calábria,  ou  edifícios  como 
em  Riobamba  ou  torcendo  arvores  que  se  achavam  juntas.  A 
propagação  de  ondas  encontrando  serranias  não  continua 
por  ser  amortecida  pelas  lacerações  profundas  que  se  acham 
na  base  doestas  diz  Humboldt :  pedimos  licença  ao  illustre 
sábio  para  observar  que  também  a  diíTerença  das  massas 
chocadas  tem  sua  não  pequena  parte  nisso,  pois  os  terre- 


—   IÍ7  — 

Licllienberg,  a  respeito  de  geolufçia.  Mns  voltando  as  com- 
moções  como  ellns  rompem  a  terra,  também  abrem  roche- 
dos c  pedregosas  serras  deixando  aberturas  permanentes 
em  quanto  áquellas  comos  desinoronamenlos  e  acc-imulação 
de  vegetação  desapparecem.  nas  len  las  dos  povos  encon- 
Ira-so  sempre  alguma  siguilicação  dada  a  esses  indicios  de 
terremoto,  a  exemplo  de  um  rochedo  com  profunda  fenda 
no  littoral  de  Gaeta  que  ainda  hoje  é  um  signal  de  vene- 
ração para  os  navegantes  d'aqiiellas  paragens,  pois  diz  a 
crença  popular  que  ella  foi  aberta  por  um  terremoto  no 
anno  da  morte  do  Salvador.  Ora  em  nossas  montanhas  po- 
derão haver  fendas  d'essas.  que  foram  porem  passadas 
desapercebidas  porque  nenliuma  tradição  dos  indigenas  as 
nota  como  reminiscência  d'um  plienomeno  assustador; 
pois  como  tal  se  devera  consiilerar  todo  terremoto,  do  qual 
Humboldt  diz  que  varre  de  uma  vez  a  nossa  inabalável 
crença  na  solidez  do  solo  que  pisamos,  por  isso  é  tanto 
mais  impressionavel  nos  entes  cuja  civilisaçáo  está  atrazada, 
c  até  mesmo  as  feras  profundamente  se  recentem,  pois  os 
silenciosos  crocodilhos  do  Orenoco,  n'essasoccasiõescora 
urros  medonhos  abandonam  suas  immersas  moradias,  a 
procurar  refugio  nas  florestas.  Apenas  encontramos  uma 
historia  d'uraa  pedra  que  com  estrondo  se  abrira  na  rua  de 
S.  Diogo  na  noite  do  7  de  Abril  de  1831,  e  patriota  houve 
que  nos  asseverou  ter  sentido  cheiro  d'enxofre  no  campo 
d'Acclamação,  a  única  cousa  que  se  ve  éque  poderia  ter  ha- 
vido algum  desmoronamento  causado  pelas  chuvas,  de  que 
mesmo  hoje  náo  ha  vestigio.  Também  não  foi  terremoto 
que  fez  desabar  o  morro  do  Castello  no  tempo  do  Bitu,  nem 
tão  pouco  os  recentes  bramidos  da  ilha  do  Araújo  cm  qu(^ 
interveio  aucloridade  que  sup|)5z  (|ue  em  breve  ella  ra- 


—  Uí)  — 

moios  baixos  poderam  lalvoz  s  r  considerados  uma  camada 
superficial,  em  quanto  as  montanhas  forçoso  é  supjml-as 
dotadas  de  profundas  raizes  c  essa  porçáo  colossal  de  ma- 
téria mesmo  no  seu  interior  pode  se  oppòr  á  formação 
dos  Cxinaes  para  escoamento  dos  gazes  etc.  que  as  mon- 
lanlias  também  transmittem  abalos  provam  os  terremotos 
que  se  notam  nos  Pampas  e  na  Bolivia  synchronos  com  os 
do  Chile.  Também  o  Padre  Ayres  de  Cazal  nosreferc  que 
era  Matto-Grosso  se  sentiu  o  terremoto  que  em  1740  des- 
truio  Lima  e  Calláo,  o  mesmo  acontecêo  com  o  grande  ter- 
remoto de  Cutch  em  Í8i9. 

Qpanto  às  distancias  a  que  as  commoções  se  transpor- 
tam temos  alguns  casos  muito  notáveis,  no  dia  da^destrui- 
çáo  de  Lisboa  sentíram-se  abalos  em  Stockhohno,  em  Abo, 
e  no  mar  das  Antilhas  os  marinheiros  d^alguns  navios  fo- 
ram arremessados  a  altara  de  i8  pollegadas,  n^essas  ilhas 
o  mar  subiu  consideravelmente  assim  como  em  New-York, 
e  as  agoas  do  lago  Ontário ;  felizmente  essas  catastrophes 
não  perseguiram  os  nossos  antepassados  aquém  do  equa- 
dor. Outro  exemplo  de  propagação  ainda  mais  notável  foi 
aquella  produzida  pelo  terremoto  do  Chile  em  7  de  No- 
vembro de  1837  que  chegou  até  as  ilhas  dos  navegantes, 
ali  em  Opolu  sentíram-se  vários  abalos  nos  dias  7  e  8  que 
foram  seguidos  por  movimentos  violentos  do  mar :  em 
Owahn  umas  das  ilhas  de  Sandwick  só  se  sentiram  as  osci- 
lações do  nivel  do  mar,  o  qual  em  Ilawin  chegou  abaixar 
14  palmos,  mas  rapidamente  e!evou-se  depois  30  acima  da 
praia.  Mais  facilmente  que  os  abalos  da  terra  percorrem 
grandes  estenções,  os  bramidos  subteraneos  e  no  chão 
ainda  mais  rapidamente  que  no  mar,  de  ordinário  estes 
rumores  são  devidos  a  erupções  volcanicas.  assim  quando 


—  VM  — 

o  Tamboró  Smumbava  entrou  em  actÍTidade  em  Í815  ou- 
via-se  na  cidade  Javaneza  de  Djakjukarta  que  d'elles  dista 
95  legoas,  um  violento  estampido  de  canhão,  que  fez  com 
que  se  mandassem  marchar  tropas  a  toda  pressa  em  auxilio 
d'um  destacamento  visinho  suppondo  que  elle  tinha  sido 
atacado,  fizeram-se  também  sahir  embarcações  para  socòr* 
rer  navios  qje  se  cria  davanj  signal  de  perigo.  As  deto- 
nações do  Conguina  em  Nicarágua  em  1834  foram  ouvidas 
como  uma  forte  trovoada  em  S.  Fé  de  Bogotá  em  que  dista 
d'ella  350  legoas.  Os  estampidos  do  S.  Vicente  nas  pequenag 
antilhas  em  30  de  Abril  de  1812  ouviram-se  até  Carraças, 
Calabozo  e  mesmo  nas  margens  do  Apure,  isto  é,  a  120  le- 
goas. O  ruido  do  Ca  topaxi  1744  ouviu-se  em  Honda  que 
dVlIe  dista  109  legoas,  e  está  abaixo  d'elle  1 7,000 pés.  Estes 
ruídos  subterrâneos  também  se  manifestam  sem  apparente 
influencia  de  um  vulcão,  como  em  1744  em  Guanaxuato, 
repetíram-se  por  muito  tempo  sem  que  houvesse  mesmo 
o  menor  estremecimento  nem  nas  montanhas  nem  nas 
minas  de  2, 300  palmos  de  profundidade,  também  em  1822 
até  o  anno  seguinte  a  ilha  dalmatinameleda  foi  o  campo  de 
trovoadas  subterrâneas  mui  frequentes,  e  só  raras  vezes  as 
detonações  eram  acompanhadas  de  tremor  de  terra. 

No  Chile  frequentemente  a  acção  dos  terremotos  produz 
uma  considerável  elevação  da  terra  acima  do  nivel  do  mar. 
A  mesma  causa  attribue  a  elevação  do  templo  de  Serapis 
perto  de  Nápoles;  cujas  columnas  carcomidas  do  bicho 
naostram  ter-se  levantado  36  palmos.  Também  a  costa 
Oriental  da  Scandinavia  mostra  um  subir  continuado  que 
é  mais  forte  em  Tornea. 

Volcões  extinctos  são  muitas  vezes  indícios  mais  que 
certo  d' um  plutónio  gigante  dormindo  dfibaixo  de  frágil 


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crosta  terrestre,  elles  sáo  as  vedettas  avançadas  que  an- 
nunciam  o  accordar  terrível  n'um  dia  indeterminado.  No 
tempo  de  Plinio  o  Vesúvio  passava  por  um  volcáo  extincto 
na  sua  cratera  pastava  o  gado  e  nas  encostas  vegetavam 
viçosos  mattos,  e  na  base  floreciam  Herculano  e  Pompeia 
sabemos  todos  qoáo  horroroso  foi  o  seu  acordar.  O  vene- 
rando Ararat  que  no  sagrado  Epos  mozaico  nos  é  apresen- 
tado como  o  ponto  em  que  foi  salvo  o  género  humano» 
nunca  por  historiador  algum  foi  accuzado  de  ter  lançado 
ao  menos  gazes,  apezar  de  sua  natureza  volcanica.  O  dia 
20  de  Junho  de  1840  veio  destruir  a  reputada  tranquilidade 
patriarchal  doesse  monte.  Anniquilados  foram  n'um  momen- 
to o  convento  de  S.  Jacob  a  aldeia  Arghuri  e  numerosas 
povoações  até  omar  Caspio,  com  todos  os  seus  milhares  de 
habitantes.  Arghuri  opulenta  estava  situada  n'um  valle  for. 
mado  por  penedos  que  se  elevavam  até  9,000  palmos,  uma 
fonte  a  abastecia  comagoas  claras  e  cristallinas,  e  na  maior 
paz  repousavam  aquelles  lugares  encostados  ao  Ararat,  eis 
que  no  dia  marcado  antes  do  pôr  do  sol,  convulsões  rápidas, 
e  uma  trovoada  que  assombrou  toda  Arménia,  annunciou  o 
principio  da  catastrophe.  e  em  poucos  momentos  no  fundo 
do  valle  abriu-se  uma  medonha  furna  vomitando  agoa  e 
lodo  fervendo,  vapores,  enormes  calháos,  no  fim  d^uiaa 
hora  cessou  o  bombardeamento;  de  aldeia,  convento  cam- 
pos, e  pomares,  nenhum  vestigio  restava,  só  na  bôcca  do 
valle  existia  uma  enorme  muralha  formada  dos  projeclis 
c  do  lodo  que  as  entranhas  da  terra  vomitaram.  Essa  nova 
bacia  foi  recebendo  as  agoas  das  chuvas,  gelos  e  neves  que 
se  derretiam,  e  no  fim  de  quatro  dias  a  pressáo  vencêo  o 
dique  e  innundou  os  campos,  levantou  em  vários  pontos 
represas  de  150  palmos  de  altura  formadas  de  cadáveres, 


—  I;í2  — 

lerra  arvores  c  pedregulhos  que  fechavam  oleilodo  Karasu 
e  Araxes.  O  primeiro  destruio  em  Erivan  Bajarid  e  outroá 
lugares  mais  de  6,000  prédios,  e  nas  margens  e  alveos  dos 
mencionados  rios  levantàram-se  repuchos  lodacentos,  re- 
domoinhos,  e  fendas  lançando  gazes ;  todo  paiz  circumvi- 
sinho  foi  transformado  n'um  vasto  pântano  e  depois  de 
sêcco,  encontrou-se  o  valle  do  Arghuri  coberto  em  muitos 
lugares  até  altura  de  300  palmos  de  fragmentos  de  roche- 
dos, e  nem  da  aldeia,  nem  do  convento  houve  mais  notícia. 
A  cristallina  fonte  foi  transformada  n'uma  fétida  corrente 
d^agoa  sulfurosa.  Depois  o  Arara t  calou-se,  e  nenhuma 
labareda  d'esde  então  indica  o  seo  perigoso  caracter. 

As  formações  geológicas  nenhuma  influencia  tem  sobre 
os  terremotos ;  ellas  apparecem  nos  terrenos  graniticos, 
Ião  bem  como  nas  formações  de  transiç^áo,  nos  cretáceos 
terciários,  e  nos  puramanle  volcanicos;  a  única  cousa  que 
se  dá  ó  ser  o  choque  quebrado  pela  resistência  das  ro- 
chas. Assim  Messinaem  1783  sollreu  muito  mais  n'aquella 
parte  cuja  base  era  alluviáo  marinha,  do  que  a  (}ue  mais 
no  interior  assentava  sobre  granitos.  A  parte  occidental 
de  Lisboa  erigida  sobre  calcário  hypuritico  e  basalto  pouco 
soílrera  em  quanto  a  outra  sDbre  camadas  terciárias  foi 
bastante  abalada,  e  a  terceira  que  repousava  sobre  marg  i 
argilosa  foi  completamente  destruída,  o  mesmo  aconteceo, 
com  as  visinhanças,  Queluz  e  Odivellos,  cuja  base  são  ba- 
saltos pouco  solfrêram,  em  quanto  Sacavém  fundada  sobre 
terreno  terciário  foi  consideravelmente  prejudicado.  Em 
1843,  a  8  de  Fevereiro  conta-nos  Deville  todas  as  locali- 
dades da  Guadelupe,  c  sobre  tudo  Poinle  e  Pitres  que 
surgiam  de  margas  e  recifes  de  coráes,  foram  destruídas  em 
ijuanto,  as  povoações  com  base  mais  solida  licáram  bastante 
preservadas. 


Vamos  agora  examinar  o  que  encontrámos  no  Brasil,  c 
como  applicar-lhe  os  factos  citados. 

l  .^  Vasconcellos  Chronica  da  Companhia  de  Jesus  livr. 
86,  pg.  233  em  1560  diz  «  neste  comenos  se  levantou  so- 
bre todas  aquellas  villas  de  S.  Vicente,  uma  tormenta  a 
mais  desusada  que  viram  os  homens  havia  muitos  tempos. 
De  improviso  junto  ao  pôr  do  sol,  se  começou  a  desfazer  o 
céo  em  ventos  chuvas  raios  e  trovões,  com  espantoso  es- 
trondo e  tremor  de  terra  horrível,  que  parecia  desfazcr-se 
a  maquina  do  universo  toda,  e  não  com  pequeno  estrago 
porque  levava  pelos  ares  as  arvores  as  casas  e  os  próprios 
homens  aonde  muitos  pereciam !!  etc,  n^uma  confusão 
d  esta  natureza  podem  pequenos  abalos  locacs  ser  pro- 
duzidos, alem  d'isso  bastante  abalado  deve  estar  cm  seme- 
lhantes occasiões  o  espirito  d  ;s  testemunhas  para  ter  o 
necessário  sangue  frio  aíim  de  relatar  os  factos  sem  exa- 
gerarem, por  isso  essa  noticia  tão  vaga  para  nós  pouco 
valor  tem. 

2."  Rocha  Pitta  no  seo  livro  da  America  Portugucza 
(Livr.  96,  pag.  124)  menciona  a  lagoa  de  Jacuné  que  tem 
6O0  braças  da  qual  ha  tradição  fora  uma  aldeia  que  alli  se 
sovertera.  Balthasar  da  Silva  Lisboa  (Ânnacs  do  Rio  de 
Janeiro  §  H  pag.  365,  e  §25  pag.  380  do  Tom.  l.«)  men- 
ciona a  Manditiba,  uma  aldeia  de  indios  n'aquella  altura. 
O  nosso  consócio  o  Sr.  Norberto  de  Souza  e  Silva  mandou 
pedir  informações  nas  visinhanças  e  com  ellas  nada  adian- 
tou, outro  tanto  nos  acontece  com  um  facto  táo  vago,  e 
tão  isolado  que  não  podemos  atribuil-o  de  modo  algum  a 
effcitos  de  forças  subterrâneas,  quando  muito  alguma  es- 
cavação devida  as  agoas. 

3.*^  O  Padre  Ayres  em  a  Con^graphia  Brasílica  (Umi.  i.' 

JANKIRO.  20 


—  154  — 

pag.  á(H)  diz  «  a  ii  de  Seplcmbro  (de  1744)  ao  meio  dia 
e  tempo  claro,  se  ouviu  um  trovão  subterrâneo,  e  immc- 
diatamonle  tremeo  a  terra  dando  vários  balanços  compas- 
sados, que  causaram  grande  susto  em  todos  os  lugares  do 
Matto-Grosso  e  Cuyabá.  Já  n**esse  temi>o  dominava  a  sêcca 
que  durou  até  49.  Todos  os  maltos  arderam  e  na  atmos- 
l)hera  só  se  viam  nuvens  de  fumo,  todos  os  viventes  pade- 
ceram fome  e  outras  calamidades,  do  que  morreo  uma 
grande  parte.  Esta  noticia  ó  importante,  porém  nâo  é 
suíliciente  i)ara  nos  provar  a  existência  de  um  foco  volca- 
nico  iraijuella  provincia,  somos  antes  levados  a  crer  que 
esse  tremor  de  terra  e  estrondo  são  devidos  a  alguma  erup- 
ção do  Sorota  ou  algum  outro  vulcão  da  extremidade  da 
serie  chilena.  O  Presidente  de  Matto-Grosso  cita  osannaes 
da  camará  do  Cuyabá,  ou  antes  a  memoria  do  advogado 
José  Barbosa  do  Sá  e  refere-se  ao  anno  de  1747  (24  de 
Seplembro)  diz  que  a  terra  deo  três  balanços. —Parece  que 
no  anno  houve  erro  de  cópia. 

Outros  indicies  ainda  ha  de  terremotos  [).  ex.  n  uns 
programmas  da  sociedade  brasílica  da  academia  dos  re- 
nascidos fundada  no  Rio  de  Janeiro  em  1759,  apparece  um 
com  o  seguinte  texto :  Porque  causa  no  Brasil  não  são  gran- 
des e  fretjuentes  os  terremotos  como  nas  mais  partes  do 
mundo?  e  mais  nâo  disse,  nenhuma  menção  apparece  so- 
bre os  dados  que  possuíam.  \  brilhante  memoria  do  Dr. 
Vieira  do  Couto  nenhuma  confiança,  nos  inspira,  pois  n'eila 
declara  elle  ao  governo  de  seu  tempo,  ([ue  tinha  alcançado 
mais  (}ue  os  alchimistas  d^outr^ora,  visto  elle  ter  transfor- 
mado no  soo  cadinho  ferro  em  cobre. 

As  outras  tradições  existentes  provam  ter  havido  terre- 
motos no  littoral,  e  muito  principalmente  em  duas  zonas 


—   Vio  — 

limiladns  lima  n»)  an^iilo  foninJo  |)i'lt»  Wu)  da  lYal  1 1»  o 
Oceano,  c  a  outra  do  Espirito  Sanlo  alé  o  iscará.  Ksla  ul- 
tima talvez  se  reduza  unicamente  a  terreno  comprehendido 
entre  a  bifurcação  da  serra  de  Ipiassaba.  que  forma  as  ser- 
ras de  Araripe  Barlmcêna  e  hnlmràra. 

Na  primeira  zona  entra  Montevideo  onde  ha  noticias  de 
dois  terremotos  um  antigo  cuja  dacta  nâo  podemos  ainda 
obter,  c  talvez  seja  o  mesmo  (pie  se  sentiu  em  Porto  Alegre 
em  1812  ou  13  de  que  teve  abondade  de  nos  dar  notícia  o 
nosso  consócio  o  Sr.  António  Alves  Peiuíira  C  mija ;  os 
elTeitos  doesse  tremor  se  reduziram  a  (piebra  de  garrafas  e 
louç^as  nas  prateleiras,  tanto  neste  como  no  de  ISÍil  o  mar 
em  Montevideo  subiu  consideravelmente,  como  o  circulo 
d'accão  fosse  pequeno  c  a  sua  acção  máxima  noiittoral. 
somos  levados  a  crer  que  essas  commoções  vieram  |)ropa- 
gadas  do  longe,  talvez  das  torras  antárcticas  onde  existem 
vulcões,  ou  em  todo  caso  acções  submarinas  (pie  vieram  se 
porder  nas  praias  do  continente. 

Da  provincia  do  Kspirito  Santo  existem  (Uias  cartas  a  1.^ 
rcferindo-se  a  uma  memoria  do  fallecido  Luciano  da  Gama 
Pereira  que  menciona  ter  havido  um  só  terremoto  n'a(piella 
provincia,  no  1.^  de  Agosto  de  17G7  ás  8  horas  da  noite. 
a  2.*  do  commendador  Josó  Francisco  Andrade  e  Almada 
Monjardim  que  cita  o  mesmo  dia  poróm  dá  oanno  de  17(50 
o  que  será  erro  de  C('>pia,  por(3m  que  pouco  damniti(;ará  o 
caso,  pois  falta  o  mais  importante  que  seria  mencionar  at(3 
onde  se  sentiu  o  terremoto  etc. 

Em  Pernambuco  ouvimos  dizer  que  também  se  sentiu 
uma  branda  commoção.  Será  por  ventura  a  mesma  que  em 
8  de  Agosto  de  1808  se  espalhou  pela  maior  parte  da  Pro- 
vincia do  Hio  Grande  do  Norte?  O  Juiz  de  Direito  João 


—   loG   — 

Valerilino  Dantas  Pingo  refero  sobre  ollo  osegainlo:  no 
anno  tlc  1808,  cm  8  de  Agosl;)  pelas  8  horas  da  manhã  na 
povoarão  hoje  cidade  do  Assú  ouviu-se  um  grande  estron- 
do vago,  a  maneira  de  um  trovão  subterrâneo,  que  se  di- 
rigia de  Lesti*  a  Oeste,  e  ap:')s  elle  sentiu-se  tremer  a  terra 
por  algum  tempo,  abalando  as  pessoas  q  le  mal  podiam 
soster-se  em  pó,  e  causando  choque  nos  vidros  e  louças 
que  buscavam  sahir  dos  lugares  cm  que  haviam  sido 
postos. —  Este  terremoto  foi  sentido  em  todo  o  sertão  do 
Assú,  da  costa  cm  busca  do  sertão  até  mais  de  20  legoas, 
e  ao  longo  da  costa  até  o  sertão  do  Piauhy ;  onde  se  disse 
que  attribuiu-se  o  terremoto  a  castigo  ,  por  haverem 
alli  umas  mulheres  torrado  uma  criança  pagã,  pondo-a 
dentro  d'um  taxo  sobre  brazas  para  fazerem  feiticeria  corá 
suas  cinzas !— Passado  o  terremoto  conta-se  que  ficara  o 
céo  nublado  de  cinza  espessa  que  oíTuscára  a  luz  do  sol ;  c 
que  o  povo  tomava  por  castigo  mandado  por  Deos  tudo, 
ou  por  signal  de  grande  acontecimento  tudo  quanto  aca- 
bavam de  observar.— E  sem  duvida  não  foi  pequeno  acon- 
tecimento chegar  nesse  anno  a  familia  real  ao  Brasil.  O  ul- 
timo phenomeno  da  maneira  como  é  relatado,  de  cobrir- 
se  o  céo  de  cinza,  é  muito  commum  nas  erupções  volca- 
nicas;  mas  não  os  havendo  activos  n\aquellas  paragens, 
talvez  fosse  alguma  forte  cerração.  Cartas  de  outros  luga- 
res da  mesma  Província  concordam  com  a  data,  estrondo  c 
tremor  de  terra  sem  mais  osplicações  só  a  camará  muni- 
cipal de  Porto  Alegre  diz  que  se  ouviram  estrondos  poste- 
teriormenle,  porém  sem  commoção. 

O  Presidente  da  Província  do  Ceará  Dr.  Joaquim  Vilella 
de  Castro  Tavares  diz  (|uo  al;i  só  no  dia  2  de  Dezembro  de 
185^  de  1  para  2  horas  da  tarde  ouviu-se  na  cidade  do 


—   IS7  — 

Aracily  ninjíranJe  estrondo  o  qiinl  foi  acompanhado  d'um 
ligeiro  tremor  de  terra  que  augmentou-se  para  parles  do 
Wmo  de  S.  Bernardo  fazendo  raxar  a  terra  em  algnns 
lugares. 

Em  iode  Janeiro  do  corrente  anno  diz-nos  a  camará 
municipal  da  villa  de  Touros  no  Rio  Grande  do  Norte  que 
pelas  7  horas  (da  manhã  ?)  ouviu-se  ura  estrondo  que  pa- 
recia ser  no  ár  da  parte  do  Leste ;  e  logo  no  mesmo  ins- 
tante um  tremor  na  terra  que  chegaria  a  durar  um  minuto 
pouco  mais  ou  menos,  e  deste  phenomeno  aconteceo  tre- 
merem as  paredes  das  casas,  erigirem  as  telhas  das  mes- 
mas, assim  como  algumas  móbil  ias  sem  que  fizesse  estrago 
algum  nem  mal  a  nenhum  vivente,  isto  pois  foi  na  dis- 
tancia de  duas  legoas  cm  circunferência  onde  percebeo-se 
o  mesmo  effeito. 

Segundo  essas  noticias  parece  fora  de  duvida  que  no  Rio 
Grande  do  Norte  houve  com  effeito  terremotos,  e  que  todos 
vinham  do  lado  do  Oceano,  e  precedidos  de  estrondo,  o  que 
nos  induz  a  crer  que  elles  podem  ser  devidos  a  alguma 
erupção  vulcânica  submarina,  o  que  não  deixa  de  ter 
sua  probabilidade  pois  a  duzentas  legoas  d'aquella  costa 
Krusenstern  em  1803  e  pouco  mais  distante  Ferguson 
em  183G  verificaram  a  existência  d  um  banco  com  volcões 
immersos  activos,  e  como  vimos  acima  ha  exemplos  de 
propagação  de  som  e  commoçóesa  distancias  ainda  maiores. 

O  terremoto  do  Espirito  Santo  da  mesma  forma  pôde  vir 
do  Oceano  pois  a  180  legoas  distante  de  suas  praias  existe 
a  peqaena  ilha  da  Trindade  e  mais  Assumpção  que  ambas 
sáo  volcões  extinctos,  e  como  jà  vimos  não  ha  que  fiar  na 
tranquillidado  doestes,  tanto  mais  que  fronteiro  ás  costas 
do  Brasil  veriíicou-se  ler  o  mar  uma  profundidade  de 


—  158  — 

â7,G00  pés,  o  que  dá  sobre  cada  palmo  quadrado  no  fundo 
uma  pressão  de  25.000  arrobas,  ora  por  qualquer  pequena 
communicaçilo  que  por  um  acaso  se  possa  estabelecer  en- 
tre o  fundo  do  mar  e  agum  canal  igneo  (Pessas  mesmas 
ilhas,  a  agoa  será  injectada  com  violência,  e  encontrando 
corpos  incandescentes  se  transformara  em  vapor  com  a 
expansão  de  alguns  milheiros  de  atmospheras  a  qual  pro- 
curará sabida,  e  poderá  achal-a  na  nossa  visinhança  mais 
facilmente  que  em  outros  lugares. 

Do  (jue  liça  dito  veriíic;nnos  a  nossa  sup|>osição  ^nitlida 
que  no  Brasil  realmente  não  parece  existir  foco  subterrâ- 
neo algum,  mais  sim  na  sua  visinhança,  no  Oceano 
Atlanthico. 

Um  facto  bastante  notável  que  merece  ser  averiguado  é 
uma  sublevação  do  terreno  da  bahia  do  Rio  de  Janeiro:  em 
S.  Christovão  vimos  um  lugar  que  parecia  ter  sido  ba- 
nhado antigamente  pelo  mar  e  procedendo  a  um  nivella- 
mento  achámos  esse  porto  15  palmos  acima  das  altas  ma- 
rés. A  rua  do  Sabão  da  cidade  nova  apresenta  dois  palmos 
abaixo  de  sua  superfície  areia  com  conchas,  e  as  altas  marés 
ainda  ficam  consideravelmente  abaixo  doesse  nivel.  Para 
porém  verificar  se  realmente  existe  esse  levantamento  da 
costa  é  mister  fazer  observações  em  pontos  numerosos. 

Vimos  também  rochas  volcanicas  que  nos  asseveravam 
ser  de  S.  Catharina ;  se  realmente  assim  fôr,  teremos  um 
ponto  de  apoio  para  attribuir  á  fricção  volcanica,  a  tempe- 
ratura elevada  das  agoas  thermaes  que  alli  se  encontram. 
É  porém  necessário  que  também  isto  seja  verificado.  Se 
realmente  alli  se  encontrar  a  má  visinha  que  por  ora  só 
queremos  suppòr,  então  poderemos  contar  com  o  outro 
Ararat  n'aquella  Provincia. 


—  159  — 

De  tudo  quanto  liça  dito  concluímos:  1."  que  realmente 
houve  no  Brasil  terremotos  inoffensivos .  a  maneira 
d'aquelles  que  os  peruanos  accolhem  com  gosto,  como 
agouros  de  chuvas  fertilisadoras.  2.®  Que  esses  terremotos 
sô  foram  emprestados,  que  por  ora  não  os  temos  próprios ; 
3.®  Que  apezar  d'isso  não  estamos  livres  de  peiores. 

Rio  de  Janeiro,  24  de  Novembro  de  1854. 


Dr.  G.  S.  de  Capanéma. 


«^■0  B»' 


TYP.  IMPARCIAL  DE  J.  M.  N.  GARCIA. 

nUA    DA   CARIOCA    N.    34. 


í 


REVISTA  TRIMENSAL 


DO 


IHSTITUTO  BISTOBICO,  6E0GBAPHIC0  E  ETHNOGRiPHlCO  DO  BRASIL. 


i4@fOf«^i 


t.o  TRIUIESTBE  HE  MW. 

Pt  LO 

SR.  PHEUPPE  JOSÉ  PEBEIRÂ  LEAL 

SOBRE    OS    ACOMFXIMEMOS    POLÍTICOS   (iUK    TIVERAM    LIGAR 

NO  PARÁ  EM  18áá— I8á:{. 

As  mudanças  politicas  operadas  em  Lisboa  no  dia  15  de 
Septembro  de  1820  foram  a  causi  motriz  dos  successos  que 
se  vão  descrever  e  deram  lugar  a  que  Folippe  Alberto  Pa- 
troni,  estudante  que  passava  as  férias  n^aquella  capital, 
possuiado-se  de  enthusiasmo  pela  liberdade  do  seu  paiz, 
interrompesse  os  seus  estudos,  se  embarcasse  para  o  Pará, 
onde  chegou  em  Novembro  d*aquelle  anuo,  e  astucioso,  e 
de  caracter  inquftto  empregasse  os  meios  c  conseguisse 
formar  um  partido  e  dispor  o  povo  e  tropa  para  procla- 
marem no  dia  i.^  de  Janeiro  de  ISH  a  Constituição  que 
fizessem  as  cortes  Portuguezas. 

Julgando-se  por  isto  com  direito  a  ter  ingerência  nos  ne- 
gócios da  provincia  estimula-se  por  não  ter  sido  contem- 
plado Membro  do  Governo  Provisório,  que  então  se  ins- 
talou ;  e  não  tendo  sido  provido  no  emprego  publico,  que 
sollicitou,  começou  a  cabalar  contra  o  Governo,  que  para 
dcsembaraçar-se  Av  sua  influencia  o  mandou  para  Lisboa 


—   102  — 

com  o  titulo  (te  Procurador,  ao  Sollicitador  dos  interesses 
da  província,  dando-lhe  um  ordenado  suflicientc  c  corres- 
pondente à  sua  qualidade. 

Chegando  áqueUa  cspiíàl  preiendeo  ser  introduzido  nas 
cortes  como  Deputado,  mas  sendo  repeli  ido  principiou  a 
forjar  planos  e  conccbeo  o  projeGlo  da  liberdade  dos  es- 
cravos, o  qual  fez  imprimir  no  n.®  ÍO  do  Indagador  Cons- 
titucional e  em  separado ;  e  o  maodou  distribuir  pela  gente 
de  còr,  que  pela  sua  leitura  concebco  i<leias  e  esperanças 
de  liberdade  e  a  dispoz  para  a  Independência,  para  que 
elle  e  outros  começavam  a  trabalhar. 

Patroni,  que  até  então  era  amado  por  grande  numero 
de  Brasileiros,  foi  desde  aquella  época  considerado  pelos 
escravos  como  seu  redemptor,  e  ao  mesmo  tempo  que  es- 
palhava pelo  Pará  os  papeis  que  fazia  imprimir  em  Lisboa, 
procurava  desacreditar  o  Governo  da  sua  provincia  e  se- 
mear entre  os  seus  habitantes  a  descordia  por  meio  de  um 
impresso  que  intitulou— Circular.— Foi  um  dos  primeiros 
paraenses  que,  logo  depois  da  revolução  portugueza,  co- 
meçou a  exaltar  o  espirito  de  seus  palricios.  dando-lhes  es- 
peranças de  Independência,  inculcando-se  como  único  ca- 
paz de  a  dirigir  e  mandando  para  o  ParàT)roclamações  para 
dispor  os  ânimos  à  Independência. 

Os  três  irmãos  Vasconcellos,  que  foram  presos  e  remet- 
tidos  para  Portugal,  eram  dos  seus  correspondentes  os 
que  mais  se  distinguiram  em  propalnr  taes  ideias  e  espa- 
lhar os  escriptos  incendiários  que  lhes  mandava  e  que 
eram  causa  de  que  elle  não  ousasse  voltar  à  sua  Pátria  em- 
quanto  existissem  no  Governo  os  Membros  da  Junta  Pro- 
visória, que  elle  alcafi(;ára  desacreditar  no  animo  dos  habi- 
tantes do  Pará. 


—  IG3  — 

Onando  nas  cortes  se  tractoii  do  projecto  de  organisarão 
dos  Governos  Ultramarinos,  Patroni  tornou  a  julgar-se 
com  direito  de  ser  nomeado  Membro  do  Governo  que  de- 
cretassem ;  redobrou  seus  esforços  e  correspondências,  e 
só  esperou  a  publicação  do  Decreto  do  1.^  de  Outubro  de 

1821  para  regressar  ao  Pará.  onde  suas  esperanças  foram 
novamente  illudidas,  náo  obstante  os  exforços  emprega- 
dos pelos  seus  amigos,  para  que  fosse  eleito  Membro  do 
Governo  Provisório  ou  Deputado  ás  cortes:  tal  era  a  in- 
fluencia que  ainda  n^aquelle  tempo  conservavam  os  Portu- 
guezes  I  Entretanto  Patroni  náo  desanimou  e  electrisando 
os  paraenses  pela  esperança  de  uma  próxima  Independên- 
cia augmentou  consideravelmente  o  numero  de  seus  ami- 
gos e  prosélitos. 

Esta  era  a  situação  politica  do  Pará  quando  em  Abril  de 

1822  chegou  o  Governador  das  Armas  José  Maria  de 
Moura. 

No  dia  immediato  ao  da  sua  chegada  a  Junta  Provisória 
lhe  requisitou  que  puzesse  ás  suas  ordens  um  corpo  orga- 
nisado  com  as  mesmas  attribuições  que  em  Lisboa  se  de- 
ram á  Guarda  Real  de  Policia;  esta  requisição,  que  não 
foi  satisfeita  por  falta  de  authoridade.  foi  a  origem  da  des- 
harmonia  entre  a  Junta  e  o  Governo  das  Armas. 

N'este  tempo  os  partidários  e  amigos  de  Patroni  deram, 
sem  que  a  Junta  o  impedisse,  em  honra  da  Independência, 
uma  ceia.  em  que  só  se  serviram  iguarias  brasileiras  e  se 
lançaram  pelas  janellas  as  Européas :  um  dos  principaes 
authores  deste  festim  foi  o  Arcediago  da  Sé,  que  foi  victima 
de  uma  indigestão. 

Em  Maio,  Patroni  constituiu-se  redactor  do  periódico 
Paraense,  e  chegou  do  Rio  de  Janeiro  o  Marechal  de  Campo 


—  IG4  — 

Manuel  Mnrqiies  d^Elvns  Portugal  levando  impressos  e  a 
noticia  da  próxima  chegada  da  escuna  Maria  da  Gloria  cora 
ordem  do  Piincipe  Real  para  a  eleição  de  deputados  ou 
Procuradores  das  provincias  nas  côríes  do  Rio  de  Janeiro : 
em  Junho  verificou-se  a  chegada  da  escuna ;  mas  não  dando 
a  Junta  publicidade  aos  olTicios  que  tinha  recebido,  os 
partidários  da  Independência  se  prevaleceram  da  conducta 
do  Governo  para  activamente  chamar  ao  seu  partido  a  opi- 
nião dos  habitantes  da  capital. 

O  Governador  das  Armas,  que  collocado  no  Pará  por  Sua 
Magestade  Fidelissima  nâo  podia  obedecer  aos  Decretos  do 
Príncipe  Real,  e  cuja  opinião  era  contraria  «^  Independên- 
cia, vendo  o  silencio  que  a  Junta  guardava  sobre  os  ofB- 
cios  que  tinha  recebido  do  Rio  de  Janeiro,  e  considerando 
que  a  falta  de  uma  prompta  explicação  devia  augmentar  o 
numero  dos  partidários  <la  Independência,  chamou  os  com- 
mandantes  dos  corpos  para  lembrar- lhes  seus  deveres 
para  com  o  Governo  Portuguez,  e  conseguiu  que  todos  no- 
vamente protestassem  que  os  corpos  de  seus  commandos 
jamais  se  afastariam  da  obediência  que  deviam  ao  Governo 
de  Portugal. 

A  publicação  desta  conferencia,  que  foi  communicada  a 
todos  os  corpos,  não  só  amorteceu  o  enthusiasmo  dos  in- 
(lepeniientes  como  forçou  a  Junta  a  convocar  para  a  ma- 
nhâí^  seguinte  um  conselho,  a  que  assistiu  o  Governador 
das  Armas,  que  teve  o  prazer  de  ver  repellidas  as  preten- 
ções  do  Governo  do  Rio  de  Janeiro  e  dos  partidários  da 
Independência,  osquaes,  faltando-lhe  o  apoio  da  tropa,  pro- 
curavam desfazer-se  do  Governador  das  Armas.  A  maioria 
da  Junln,  e  com  especialidade  o  seu  Presidente,  que  fa- 
vorecia os  independentes  necessitando  chamar  a  si  a  opi- 


—  105  — 

niíU)  publica,  julgou  quo  n  imprensa  deposilnda  nas  máos 
de  Palroni  o  seus  amigos  era  o  melhor  meio  para  conse- 
guir o  seu  fim  e  destruir  a  força  moral  do  Governador  das 
Armas,  e  por  isso  concederam  decidida  protecção  aos  re- 
dactores do  Paraense. 

Tendo  sido  Patroni  preso  c  remcttido  para  Lisboa  em 
virtude  de  ordem  d'aquella  corte  passou  a  redacção  do  pe- 
riódico aos  enthusiaslas  cónego  Joáo  Baptista  Gonçalves 
Campos  e  José  Baptista  da  Silva,  que,  mais  enérgicos, 
desenvolveram  com  mais  amplitude  a  desunião  entre  Bra- 
sileiros c  Portuguezes  e  começaram  a  aliciar  a  tropa  e  a 
fazer  com  que  os  seus  comprovincianos  ameaçassem  os 
Portuguezes  com  expulsão  do  paiz  e  demissão  dos  empre- 
gos públicos.  A  Junta  empenhada  em  hostilisar  ao  Gover- 
nador das  Armas  protegia  e  instigava  os  redactores  do  Pa- 
raense a  escreverem  contra  clle  por  acredital-o  firme  na 
resolução  de  resistir  â  projectada  independência  e  de  im- 
pedir que  a  Junta  se  correspondesse  directamente  com  as 
authoridades  que  lhes  eramimmediatamente  subordinadas. 

Em  Setembro  de  i  822  houveram  denuncias  de  que  se 
projectava  uma  revolução  para  se  installar  Um  Governo 
Independente  de  Portugal :  a  Junta  prevalecendo-se  d'ellas 
insistiu  em  vão  pe!a  creação  do  corpo  de  Policia.  Crescen- 
do as  probabilidades  do  rebentar  a  revolução  denunciada, 
alguns  Europeos  resolvêram-sc  a  apresentar  ao  Governa- 
nador  das  Armas  denuncias  escriptas,  que  foram  pela 
Junta  mandadas  ao  Ouvidor,  que  fez  prender  os  accusados 
e  pronunciou  o  cónego  João  Baptista  Gonçalves  Campos, 
Capitão-Mór  Amândio  Pantoja,  Tenente-Coronel  de  Milicias 
Domingos  Simões  da  Cunha,  Procurador  de  causas  João 
Marques  de  Mattos  e  outros,  que  em  Novembro  foram 


-    IGG  — 

soltos  por  acconião  <la  Jiint;i  de  Justiça,  de  que  era  Presi- 
dente e  da  Provisória,  o  Doutor  em  medicina  António  Cor- 
reia de  Lacerda  protector  dos  independentes. 

A  soltura  destes  liomens  junta  ás  noticias  do  que  se  pas- 
sava nas  províncias  do  Sul  animou  os  independentes,  en- 
corajou o  Panense  a  redobrar  de  energia,  desacoroçoou 
os  (|ue  pretendiam  jurar  na  devassa,  e  fez  o  Governador 
das  Armas  tomar  medidas  para  rebater  a  revolução  que  se 
dizia  dever  apparecer  em  Dezembro,  e  para  separar  da  ca- 
pital alguns  ofíiciaes  da  primeira  e  segunda  linha  que  cons- 
tava estarem  envolvidos  e  terem  o  projecto  de  assassínal-o. 

Em  fins  de  Dezembro  de  1822,  ou  principios  de  Janeiro 
de  1823,  chegou  a  noticia  da  revolução  do  Ceará  ePiauhy. 
a  qual  encorajou  os  Paraenses  de  tal  modo  que  o  Governa- 
dor das  Armas  julgou  difficil  conservar  esta  província  obe- 
diente a  Portugal  sem  o  auxilio  de  tropa  europea,  que  já 
por  mais  de  uma  vez  tinha  directamente  pedido  ao  Ministro 
Portuguez  por  estar  convencido  de  que  a  Junta  Provisória 
protegia  a  tendência  dos  Paraenses. 

Por  esta  épocha  se  jurou  a  Constituiç-áo :  os  Brasileiros 
desenvolveram  toda  a  energia  e  mostraram  sua  populari- 
dade na  eleição  para  a  nova  camará  de  que  nenhum  euro- 
peo  foi  eleito  vereador:  o  acto  da  posse  dos  novos  Sena- 
dores foi  um  verdadeiro  festejo  triumphal:  por  toda  a 
parte  se  ouvia  t  Está  cliegado  o  tempo  dos  Brasileiros  mos- 
trarem o  qtie  são  eo  que  podem ;  a  iwssa  camará  constitucio- 
nal é  composta  de  gente  que  ha  de  fazer  vêr  aos  europeos  que 
o  paiz  é  nosso  e  que  elles  são  estrangeiros.  >  Isto,  e  cousas 
semelhantes  repetidas  publicamente  pelas  ruas  e  praças, 
inquietou  os  europeos,  que  mais  se  exasperaram  vendo 
que  todos  os  membros  da  nova  camará  se  apresentaram  no 


—  167  — 

acto  (la  posse  com  ramos  e  luvas  verdes,  o  fòram  para  suas 
casas  acompanhados  por  immenso  povo,  que  lançava  ao  ar 
gyrandolas  de  foguetes.  Estes  festejos  continuaram  pela 
noite  e  talvez  produzissem  desordens  si  o  Governador  das 
Armas  náo  fizesse  logo  reunir  aos  quartéis  as  praças  de 
linha  e  nâo  lançasse  fortes  patrulhas  pelas  ruas  da  cidade. 

Os  oílicios,  que  por  este  tempo  se  receberam  do  Go- 
verno do  Maranhão  descrevendo  o  estado  daquella  pro- 
víncia e  pedindo  auxilio  de  tropa  e  a  noticia  de  se  haver  o 
Príncipe  Real  acclamado  Imperador  do  Brasil,  causaram 
no  animo  dos  Brasileiros  uma  impressão,  que  só  se  pôde 
conjecturar:  e  si  nâo  fossem  as  medidas  de  ante-mâo  to- 
madas pelo  Governador  das  Armas,  em  fins  de  Janeiro  ou 
princípios  de  Fevereiro,  teria  apparecido  a  revolução  para 
a  Independência  que  a  Junta  Provisória  parecia  proteger. 

Pensando  o  Governador  das  Armas  que  a  segurança  do 
Pará  dependia  da  conservação  do  Maranhão,  que  estava 
em  risco  de  succumbir  ao  poder  dos  independentes  do 
Ceará  e  Piauhy.  embarcou  e  fez  seguir  no  dia  16  de  Fe- 
vereiro para  aquella  província  130  praças  da  melhor  gente 
que  havia  nos  diminutos  corpos  de  primeira  linha,  que 
estavão  fatigados  pelos  contínuos  alarmes. 

Os  commandantes  dos  corpos  sabendo  que  os  Brasileiros 
alicia  vão  seus  soldados  e  que  a  Junta  Provisória  dominada 
pelo  seu  Presidente,  Doutor  Lacerda  tolerava  a  exaltação 
dos  independentes  e  da  imprensa,  projectaram  depor  os 
membros  da  mesma  Junta.  Não  havendo  em  cada  corpo 
força  sufflciente  para  completar  um  quarto  de  guarda,  no 
dia  1.®  de  Março  de  1823  era  o  serviço  detalhado  por  todos 
elles  e  reunidos  no  largo  do  Palácio  para  se  tirarem  os 
contingentes,  os  commandantes  mandaram  os  oCQciaes  in- 


—   IG8  — 

feriores  intimar  aos  Membros  da  Junta  o  da  nova  camará 
constitucional  que  não  sahissem  de  suas  casas  até  segunda 
ordem,  e  aos  antigos  camaristas  e  a  todas  as  authoridades 
civis,  ecciesiasticas  e  militares,  monos  o  Governador  das 
Armas,  para  que  comparecessem  no  palácio  das  sessões  da 
Junta  Provisória.  Reunidas  estas  authoridades  e  lido  um 
manifesto  explicativo  das  causas  porque  depunham  a  Junta 
Provisória,  convidaram  a  camará,  authoridades,  corpo  do 
conunercio  e  povo  alli  reunido  para  elegerem  uma  nova 
Junta,  que  por  unanimidade  licou  composta  do  Governa- 
dor (lo  Bispado  Romualdo  António  de  Seixas  para  Presi- 
dente, do  Oflicial-Maior  da  Secretaria  do  Governo  Geraldo 
José  de  Abreu,  do  Juiz  de  Fora  Joaquim  Correia  da  Gama 
Paiva,  Francisco  Custodio  Correia,  Joaquim  António  da 
Silva.  Theodozio  Justino  de  Chermont  e  João  Baptista  Ledo 
para  vogaes. 

Este  acto  sedicioso  praticado  ás  G  horas  da  manhãa,  só 
chegou  ao  conhecimento  do  Governador  das  Armas  ás  8 
horas  quando  elle  se  dirigia  ao  Palácio,  d'onde  a  esse  tem- 
po sahia  uma  deputação  do  corpo  militar  para  participar- 
Ihe  (jue  se  achava  installada  a  nova  Junta,  declarando  elles 
que  tomavam  sobre  si  a  responsabilidade  do  acto  que  para 
considerar-se  consummado  só  faltaVa  que  os  novos  eleitos 
prestassem  juramento  de  íiJelidade  ao  Monarcha  Portu- 
guez,  e  com  o  qual  o  Governador  das  Armas  julgou  ser 
de  absoluta  necessidade  conformar-se. 

A  nova  Junt?.  convidou  o  Governador  das  Armas,  com- 
mandantes  dos  corpos  de  primeira  e  segunda  linha  e  o  Ou- 
vidor da  Comarca  para  se  reunirem  no  dia  2  de  Março  c 
decidirem  (juaes  os  lugares  para  onde  deviam,  na  forma 
de  unia  indicação  expressa  n  •  manifesto,  ser  de|)orlados 


—   109  — 

nlfíiins  imlividiioá  considerados  como  chefes  da  exaltação 
popular.  A  deposição  da  Junta  e  a  deportação  dos  redac- 
tores do  Paraense  e  de  alguns  influentes  assustou  e  conteve 
por  alguns  dias  os  Brasileiros  que  jà  em  Cnmctá,  Santa- 
rém e  outros  lugares  do  interior  começavam  a  defender 
abertamente  a  opinião  da  Independência. 

Do  I.«  de  Março  ao  1.°  de  Abril  ile  i823gozoua  capital 
fio  Pará  de  socègo,  mas  já  nos  primeiros  dias  deste  mez 
apparecêram  denuncias  de  que  haviam  em  algumas  noites 
reuniões  de  gente  armada  nos  matos  próximos  à  cidade, 
e  de  que  nos  dias  4  ou  3  se  juntaria  no  sitio  de  Bacory 
grande  numero  de  gente  de  côr  dirigida  por  homens  bran- 
cos, (|ue  se  suppunha  terem  em  vista  uma  surpreza  na 
capital. 

O  Governador  das  Armas  foi  com  alguma  tropa  reco - 
nliecer  o  sitio  e  nada  achando  acreditou  que  o  partido  in- 
dependente, estando  de  todo  desfallecido  e  não  se  achando 
em  estado  de  apresentar-se  em  campo,  inventava  estas  no- 
ticias para  cansara  tropa. 

Das  O  para  ás  10  horas  da  manháa  do  dia  13  do  Abril 
foi  o  Governador  das  Armas  avisado  pelo  cirurgião-mór  do 
Estado  António  Manuel  de  Souza  e  depois  pelo  Ajudante 
do  1."  regimento  de  melicias,  das  suspeitas  que  tinham  do 
que  na  madrugada  seguinte  se  verificasse  a  revolução  (juo 
lhes  havia  sido  denunciada  por  dous  soldados  do  regimento 
n.  3  de  infantaria,  os  quaes  tinham  sido  convidados  por 
outros  para  se  reunirem  em  uma  casa,  confiando-lhes  que 
de  madrugada  se  lhe  reuniria  muita  gente  ao  signal  de 
dous  foguetes  do  ar. 

Não  apparecendo  os  dous  soldados,  que  o  Governador 
das  Armas  mantlou  immediatamente  busrar,    reunio  os 

ABIUL.  22 


—  170  — 

commainlantes  liob  corpos  para  prcviui -los  da  denuncia 
que  acabava  de  receber.  ordenou-Ihes  que  estivessem  vi- 
gilantes e  reunissem  todos  os  oíliciaes.  e  determinou  ao 
do  3.°  regimento,  cujo  quartel  era  contiguo  ao  Arsenal  de 
Guerra  que,  logo  que  houvesse  algum  rumor  ou  toque  de 
rebate,  reforçasse  a  guarda  do  dito  Arsenal,  c  se  pozesse 
prompto  para  marchar. 

Ás  1 1  honis  da  no*te  mandou  o  Governador  das  Armas 
observar  a  casa  em  que  se  lhe  disse  que  toria  de  verificar-se 
a  reunião  dos  soldados  do  3.°  regimento;  depois  da  meia 
noite  foi  em  pessoa  rondar  a  cidade  e  quartéis  e  com  es- 
pecialidade os  do  2.°  e  3."  regimentos,  contra  os  quaes  ti- 
nha algumas  suspeitas;  e  nada  encontrou  que  podesse 
causar  desconOanra. 

Á  uma  e  meia  hora  da  madrugada  ordenou  ao  Tenente- 
Coronel  João  António  Nunes,  commandante  do  corpo  do 
artilharia,  que  fosse  com  uma  escolta  examinar  a  casa  de- 
nunciada ;  voltando  este  com  a  noticia  de  que  só  encon- 
trara duas  ou  três  tapuias  e  combinando  esta  parte  com  o 
que  tinha  visto,  persuadio-se  de  que  a  denuncia  era  infun- 
dada ;  mas  por  cautela  determinou  aos  commandantes  dos 
corpos  que  se  conservassem  nos  seus  quartéis,  concedendo 
recoiherem-se  ás  suas  casas  os  officiaes  que  mais  o  neces- 
sitassem ;  e  das  2  para  as  3  horas  voltou  para  o  seu  quar- 
tel onde  se  conservou  vestido. 

Depois  das  4  horas  foi  o  Governador  das  Armas  avisado 
pelo  commandante  da  sua  guarda,  de  (jue  ouvira  o  estam- 
pido de  dois  foguetes  para  o  lado  do  convento  de  S.  Fran- 
cisco o  grande  algazarra  no  largo  dos  Quartéis,  e  o  mesmo 
Governador  de  suas  janellas  ouvio  gritos  e  vivas,  que  a 
distan-ia  não  permiltif)  enteuíler :  <lirigio-sr' immcdiata- 


—   171   — 

mente  ao  e«liticio  (un  que  estavam  aquartelados  o  1/'  e  2." 
regimentos:  achou  o  I.''  formado  tendo  á  sua  frente  o 
seu  ('om-nanrtante,  o  Coronel  João  Pereira  Villaça,  ao  qual 
se  haviam  reuniilo  grau  Ic  parte  dos  oITiciaes  do  2.^  que  ao 
si;j[nal  dos  fogueies  se  havia  formado  no  cam[)()  da  parada 
sob  o  commando  de  pessoas  que  a  cscurid  lo  da  noite  não 
deixou  conhecer,  e  que  ao  som  de  vivas  ao  Imperador  e 
Independência  do  Brasil  convidaram  os  soldados  do  1 .® 
regimentíj  a  unircm-se-lhes ;  mas  que  vendo  preparadas 
e  aponta-las  [)ara  ellas  as  armas  do  1 ."  tomaram  a  direcção 
da  rua  da  Cadeia,  levando  muita  gente  que  se  lhes  reunira. 

O  Governador  das  Armas  immedialamente  expedio  or- 
dem ao  3."  regimento  {)ara  marchar  para  o  quartel  de  ar- 
tilheria.  O  2/  regimento,  e  a  gente  que  se  lhe  tinha  reu- 
nido, se  encaminhou  para  o  quartel  do  3.®  com  quem 
contava,  mas  a  quem  o  seu  commandantc  o  major  Fran- 
cisco Josó  Ribeiro,  fez  calar  os  vivas  à  Independência, 
que  deram  alguns  dos  seus  soldados,  que  obrigou  a  dar 
vivas  à  Sua  Magestade  Fidelissima,  dizendo-lhes  ao  com- 
passo de  pranchadas — primeiro  está  o  pai  que  o  filho. 

Vendo  os  conjurados,  cujo  plano  era  apossarcm-se  do 
Arsenal  de  Guerra,  Deposito  da  Pólvora,  e  Parque  de  Ar- 
tilhería,  que  o  3.°  regimento  nâo  se  lhes  reunia,  marcha- 
ram pela  rua  de  Santo  António  para  coadjuvarem  o  ataque 
que  parte  do  mesmo  regimento,  esquadrão  de  cavallaria  e 
muitos  paisanos  deviam  fazer  ao  quartel  da  artilhería,  de 
que  jà  estavam  de  posse  quando  o  Governador  das  Armas 
mandou  o  3.®  regimento  em  seu  soccorro. 

A  noite  estava  tenebrosa,  o  1.*^  regimento  apenas  con- 
tava em  forma  de  90  a  100  baionetas,  ignorava-se  o  nu- 
mero dos  conjurados  e  si  tinham  reunido  a  escravatura 


—  I7á  — 

(•orno  aiilíTionufriíc  se  havia  nnnunciado;  o  Govomaflor 
«las  Armas  julgando  o  Arsenal  de  Guerra  seguro,  e  prote- 
gido o  quartel  da  artilliería.  resolveu  esperar  que  se  lhe 
reunissem  os  soldados  que  dormiam  fora  dos  quartéis  e 
que  aclarasse  o  dia  para  mandar  tocar  a  rebate.  Então  se 
ouvio  um  tiro  de  canhão  e  logo  depois  uma  descarga  de 
fuzileria  para  o  lado  do  quartel  de  artilhería,  e  pouco  de- 
pois recebcu-se  a  noticia  de  haverem  os  conjurados  tomado 
aquelle  quartel,  ferido  mortalmente  o  commandante  do 
corpo,  cujos  soldados  foram  desarmados,  depois  da  morte 
de  um  e  do  grave  ferimento  de  dous.  O  Tenente-Coronel 
Nunes,  que  se  tinha  preparado  para  repellir  qualquer 
ataque  conservando  as  peças  carregadas  de  mitralha  e  fe- 
chado o  portão  do  quartel,  descançava  em  uma  rede 
quando  pelas  4  horas  bateram  à  porta  e  lhe  disse  a  sen- 
tinella  que  era  a  ronda  superior,  que  n^aquella  noite  com- 
petia ao  Coronel  Villaça  com  cuja  voz  o  mesmo  Tenente- 
Coronel  se  illudio.  Logo  que  o  portão,  por  ordem  do  Te- 
nente-Coronel e  sem  as  necessárias  cautelas,  foi  aberto^ 
entrou  um  grupo  de  soldados  de  baionetas  caladas  condu- 
sidos  por  um  subalterno  do  â.°  regimento  gritando— maia, 
inata  :  atraz  deste  grupo  entraram  outros  de  maneira  que 
o  Tenente-Coronel  foi  preso  antes  de  poder  prevenir  os 
officiaes  e  soldados  que  dormiam  em  seus  alojamentos  e 
que  assim  foram  desarmados  e  presos.  Os  conjurados  im- 
mediatamente  tiraram  para  a  rua  duas  peças  que  estavam 
carregadas  e  se  disposéram  a  conduzir  preso  para  o  Arse- 
nal de  Guerra  o  Tenente-Coronel  Nunes,  que  levado  de 
um  excesso  de  desesperação  por  ter  sido  surprehendido 
aproveitou-so  da  proximidade  em  que  estava  de  uma  peça 
IKira  lançar  mão  de  um  murráo  aceso,  aponta-la  para  a 


I 


—  173  — 

lodo  em  qiio  lhe  parecro  estnr  mnis  gente,  e  dar-Ilie  fogo  : 
a  escuridão  da  noite,  a  perturbarão  e  preeipitação  com  (|ue 
fez  a  pontaria  mallográram  seus  intentos,  ponpie  só  foi 
gravemente  ferido  um  sargento  de  cavallaria  ;  os  conjura- 
dos, então,  lhe  dirigiram  uma  descarga  que  dada  â  queima 
roupa  o  traspassou  com  seis  balas,  de  cujas  feridas  mor- 
reu três  dias  depois. 

Momentos  depois  de  se  ter  ouvido  a  descarga  de  fusi- 
laria,  começaram  a  reunir-se  no  largo  dos  Quartéis  alguns 
soldados  de  linha  e  milicianos,  e apenas  ao  raiar  do  dia,  se 
tocou  are])ate  a  concurrencia  dos  milicianos  e  paisanos  foi 
tal  que  o  Governador  das  Armas  se  achou  habilitado  para 
mandar  reforçar  o  3.**  Regimento  que  não  tendo  chegado 
a  tempo  de  soccorrer  o  corpo  de  Artilhería  pôde  com  tudo 
apossar-se  do  quartel  que  os  conjurados  tinham  abando- 
nado depois  de  prenderem  e  desarmarem  os  soldados, 
destacar  de  30  a  40  homens  para  auxiliar  a  guarda  do  De- 
posito da  Pólvora,  a  qual  já  tinha  sido  desarmada  pelo  es- 
quadrão de  cavallaria,  cujo  quartel  era  contiguo  ao  Depo- 
sito e  occupar  por  um  destacamento  de  60  a  70  homens  o 
reducto  e  bateria  de  Santo  António  para  que  pela  estrada 
de  Una  não  se  evadissem  os  conjurados,  que,  também  pela 
situação  queocc  upava  o  3.^  regimento,  não  podiam  retirar- 
se  pelo  Largo  da  Pólvora.  O  Governador  das  Armas,  sa- 
bendo que  os  esforços  com  que  o  Major  Ribeiro  tinha  con- 
tido o  3.°  regimento  haviam  impedido  os  conjurados  de 
tomar  a  guarda  do  Arsenal  de  Guerra  ,  mandou  alli 
apromptar  duas  divisões  de  artilhería  de  calibre  6  para 
coUocxir  nas  bôccas  das  duas  únicas  ruas  por  onde  podiam 
evadir-se  os  conjurados,  e  d'onde  podia  fulminar  o  largo 
de  Santo  António,  e  dividio  o  resto  da  força  em  duas  co- 
luranas  dando  o  commando  da  primeira  ao  Coronel  Villaça 


—  17G  — 

fazem  sua  principal  nutrição,  seria  inevitável  a  desespera- 
ção dos  pòYos  e  certa  uma  nova  sublevação. 

O  Governador  das  Armas  immediatamente  preparou 
uma  expedição  de  duzentos  homens  de  infantaria  e  arti- 
Iheria  com  duas  peças  de  calibre  3,  e  exigio  da  Junta  Pro- 
visória (jue  posesse  á  sua  disposição  um  i  canlioneira  e  ca- 
noas para  transportar  a  força,  cujo  conanando  entregou 
ao  Major  do  3.°  regimento  Francisco  José  Ribeiro,  o  qual 
partio  às  7  horas  da  manhâa  do  dia  2  de  Junho. 

Apresteza  da  expedição  acobardou  os  revoltosos  do 
Muanà,  que  fizeram  alguma  resistência  mantendo  por  al- 
gum tempo  tiroteio  contra  as  canoas  (|ue  levavam  a  tropa, 
mas,  succumbindo  avista  da  canhoneira,  desertaram,  eno 
dia  4  tomou  o  Major  Ribeiro  posse  da  villade  Muanà.  Esta 
noticia  e  a  de  que  jà  se  achavam  presos  mais  de  cento  e 
cincoenta  revoltosos  e  os  outros  espalhados  pelos  matos, 
fez  cahir  a  revolução  (jue  jà  ia  lavrando  por  toda  a  ilha  e 
por  algumas  povoações  do  continente,  e  os  chefes  da  re- 
volução de  14  de  Abril  vendo  o  resultado  da  de  Muanà 
socegàram  e  adoptaram  uma  apparente  conformidade. 

Algumas  pessoas  ou  por  modo  de  uma  nova  revolução,  ou 
para  protegerem  os  presos  e  pronunciados  pelos  sucessos 
de  14  de  Abril  persuadiram  a  algiins  membros  da  Junta 
Provisória  da  necessidade  de  desvial-os  do  foro  criminal  e 
mandal-os  para  Lisboa  com  aprovação  do  Governador  das 
Armas,  a  quem  dirigiram  um  oflicio  pintando  com  cores 
atterradoras  a  urgente  necessidade  de  não  serem  senten- 
ciados e  justiçados  os  réos  n'a(|uella  Capital,  e  fazendo  re- 
flexões sobrea|)ouca  confiança  (jue  se  devia  terna  oHiciali- 
dado  e  tropa.  O  Governador  das  Armas  res|);)ndeu  (jue  jà 
mais  interviria  n*eále  negocio  que  nãí)  era  de  sua  oompe- 


—  177  — 

lencia  por  eslarem  os  réos  entregues  ásaullioridmles  civis, 
áqiiem  cumpria  dar-llies  o  desliuo  que  determinam  as  leis. 
Esta  resposta  desagradou  e  fez  desaparecer  a  appareule 
harmonia  que  existia  entre  o  (Governador  das  Armas  e  a 
Junta  Provisória,  que  de  accórdo  com  a  opinião  de  um 
conselho ,  para  outros  lins  convocado,  resolveu  mandar 
para  Lisboa  em  Julho  de  18á3  os  duzentos  e  setenta  e  cinco 
presos  complicados  nas  revoluções  da  Capital  e  Ilha  de 
Marajó. 

Desde  14  de  Abril  se  convenceu  o  Governador  das  Armas 
de  que  á  vista  do  progresso  que  o  partido  da  Independên- 
cia fazia  nas  Províncias  do  Sul.  da  inacção  em  que  pareciam 
estar  a  tropa  e  esquadra  portugueza  na  Bahia,  e  do  perigo 
em  que  se  achava  o  Maranhão  de  succumbir  aos  ataques 
das  forças  Brasileiras  do  Ceará  e  Piauhy  seria  milagrosa  a 
conservação  do  Para  sinão  fosse  promptamente  soccorrido 
por  tropas  portuguezas,  que  muitas  vezes  tinha  sollicitndo; 
mas  para  cumprir  o  seu  dever  e  de  algum  modo  supprir 
esta  falia  aproveitou-se  dos  corpos  de  cavallaria  e  artilhería 
do  commercío,  das  sete  companhias  de  milícias  e  da  mari- 
nhagem para  coadjuvar  a  força  de  linlia  no  serviço  da 
guarnição  e  policia,  e  fez  com  que  todos  os  officiaes  per- 
noitassem nos  seus  respectivos  quartéis,  que  clle  mesmo 
rondava  todas  as  noites. 

Era  este  o  estado  do  Pará  quando  em  á4  de  Julho  en- 
trou o  navio  Palhaço  trazendo  a  seu  bordo  o  Bispo  Dioce- 
sano e  noticias  exactas  dos  acontecimentos  i|ue  tiveram  lu- 
gar em  Portugal  nos  fins  de  Maio  e  princípios  de  Junho 
d^aquelle  anno.  Apenas  desembarcou  o  Bispo  exigio  o  Go- 
vernador das  Armas  da  Junta  Provisória  uma  conCeroncia 
aíim  de  se  fazerem  as  alterações  e  muilaiir  is  (]ue  [)areccs- 


—  178  — 

sem  mais  coiiformos  às  que  Sua  Mageslade  Fidelissiina 
tinha  praticado  em  Portugal :  e  aresta  conferencia,  que 
teve  lugar  em  25  de  Julho,  deliberou  a  Junta  não  fazer  al- 
teração alguma  na  forma  do  Governo  em  quanto  não  se  re- 
cebessem ordens  d'aquella  Corte :  em  consequência  doesta 
resolução  da  Junta  apparecêram  entre  os  habitantes  algu- 
mas dissenções  que  obrigaram  o  Governador  das  Armas  a 
proclamar  no  dia  1.^  de  Agosto  Sua  Magestade  e  sua  Au- 
gusta Familia,  e  par  \  que  este  acto  fosso  acompanhado  de 
toda  a  solemnidade  derigiu  á  Junta  Provisória  e  Bispo  as 
seguintes  cartas.  •  Illm.  e  Ex.  Sr.— Tendo  destinado  o 
corpo  militar  dar  amanháa  vivas  a  Sua  Magestade  El-Rei 
o  Senhor  D.  João  6.^  à  Sua  Augusta  Familia  e  Dinastia, 
tem  o  mesmo  corpo  militar  rogado  ao  Exm.  e  Rvm. 
Bispo  doesta  Diocese  haja  de  secundar  este  acto  com  um 
Te-deum  cantado  na  Cathedral  doesta  cidade.  Eu  c  o 
mesmo  corpo  militar  rogamos  a  V.  Ex.  se  digne  honrar 
estes  actos  militar  e  Religioso  com  sua  assistência;  pro- 
testando em  meu  nome  e  em  nome  das  mesmas  corpo- 
rações que  de  maneira  alguma  nos  intrometteremos  em 
reformas  de  Governo,  e  que  si  para  evitar  a  versatilida- 
de de  opiniões  desenvolvidas  em  Abril  o  Maio  pretéritos 
fôr  necessário  antes  de  chegarem  as  ordens  de  Sua  Ma- 
gestade, nova  forma  de  Governo  mais  adequado  e  con- 
forme ás  actuaes  circumstancias  politicas  da  monarchia 
e  que  para  este  effeito  se  julgue  indespensavel  minha 
deposição  do  lugar  que  exerço,  de  bom  gra<lo  e  sem  o 
menor  obstáculo  eu  e  o  corpo  militar  conviremos  n'esta 
medida  com  tanto  que  por  ella  se  mantenha  a  indisso- 
lubilidade da  grande  Nação  de  que  todos  somos  lilhos. 
O  quí»  em  meu  nome  e  em  nome  das  mesmas  cor|>ora- 


—   179  — 

ções  militares  comnuiriico  á  V.  Ex.  rogandi)-lhe  haja  de 
prevenir  á  Gamara  e  mais  aathorid  ides.  Pará  3 1  de  Julho 
de  I8á3.  Illm.  e  Exm.  Sr.  Presidente  e  Membros  da 
Junta  Provisória.  José  Maria  de  Moura.—  Illm.  eRvm. 
Sr.  Náo  tendo  chegado  o  navio  Epliigenia  em  que  se  dizia 
virem  as  ordens  de  Sua  Magestade  para  as  mudanças 
politicas  doeste  Governo  as  quaes  se  devem  pôr  em  pra- 
tica  em  consequência  de  iguaes  mudanças  praticadas  em 
Portugal  cuja  sorte  e  systema  governativo  dezeja  seguir 
a  generalidade  dos  habitantes  doesta  Província,  dezejan- 
do  eu  e  o  corpo  militar  do  meu  commando  evitar  os  ter- 
ríveis resultados  da  versatilidade  de  opiniões  desenvol- 
vidas nos  dias  14  de  Abril  e  28  de  Maio  pretérito  tem  o 
mesmo  corpo  militar  destinado  não  obstante  a  opinião 
da  Exma.  Junta  Provisória,  que  quer  se  esperem  por  or- 
dens, o  dia  de  a  manhãa  para  em  grande  parada  dar  os 
vivas  á  Sua  Magestade  El-Rei  o  Senhor  D.  João  6.^  á  Sua 
Augusta  Esposa  a  Rainha  nossa  Senhora,  e  a  toda  a  sua 
Real  Família,  antes  mesmo  da  recepção  de  quaesquer 
ordens,  e  dezejando  que  esta  solemnidade  seja  seccun- 
dada  por  V.  Ex.  lhe  rogo  em  meu  nome  e  em  nome  dos 
chefes,  ofliciaes  e  mais  praças  dos  corpos  de  linha  e  mi- 
lícias doesta  guarnição  se  digne  ordenar  que  se  celebre 
na  cathedral  doesta  cidade  um  Te-Deum  em  acção  de 
graças.  Eu  e  o  corpo  militar,  em  cujo  nome  officio  á 
V.  Ex.  não  nos  intrometteremos  no  systema  governativo 
da  Província ;  porém  si  ainda  antes  de  chegarem  as  or- 
dens de  Sua  Magestade  se  julgar  necessária  minha  de- 
missão do  lugar  que  occupo,  em  meu  nome  e  em  nome 
de  tmlas  as  corporações  do  meu  commando  asseguro  á 
V.  Ex..  á  Fxma.  Junta  Provisória  e  ã  todos  os  habitan- 


—   180  — 

*  íos  <r<'sta  l^rovinrin  que  so  para  se  manter  $m  tranqiii- 
«  liílade  é  neressario  tal  demissão  de  bom  grado  desístii^ei 
«  do  empre^ío  de  Governador  das  Armas  e  nenhum  dos 
<  corpos  militares  deixará  de  se  conformar  com  as  medi- 
«  das  que  so  jid«,'an»m  precisas  para  manter  a  mesma  tran- 
€  quilidade  e  indissolubilidade  com  a  nação  portugueza 
t  de  que  todos  somos  Mlbos.  Deos  Guarde  â  V.  Ex.  Pará 
«  31  de  Julho  de  Í8á3.  Illm.  e  Rvm.  Sr.  D.  Romualdo, 
t  Bispo  do  Pnrà.  José  Maria  de  Moura.  » 

Pareceu  ao  Governador  das  Armas  que  adiantando  este 
passo  mesmo  sem  consultar  a  Junta  Provisória  ou  re- 
ceber ordens  íla  corte  satisfaria  a  um  dever  para  cora  Sua 
Magestade.  acalmaria  a  efferveccncia  dos  espiritos  e  man- 
teria a  pu})lica  segurança  até  se  receberem  as  menciona- 
das ordens.  Fez-se  a  solemnidade  da  accJamaçâo  com  a 
maior  pompa  concorrendo  todos  os  empregados  públicos 
e  corporações  do  commercio  e  agricultura;  mas  apesar  de 
todas  as  demonstrações  de  regosijo  e  de  todas  as  cautelas 
e  vigilância  policiaes  empregadas  neste  e  nos  seguintes 
dous  dias  de  festejo  para  evitar  desordens  ou  outros  pro- 
cedimentos do  partido  descidente,  náo  se  pôde  impedir 
que  alguns  individues  dessem  vivas  ao  Imperador  e  Inde- 
pendencin  do  Brasil. 

Este  procedimento  do  Governador  das  Armas  náo  tran- 
quiiisou  os  espiritos :  os  partidos  continuarão  a  bater-se, 
querendo  uns  que  immedialatamente  se  mudasse  a  forma 
do  Governo  Constitucional,  outros  que  se  conservasse  até 
se  receberem  ordens  de  Lisboa  pretextando  que  mudanças 
de  tal  natureza  eráo  sempre  arrisc^as  quando  náo  tinháo 
por  base  ordens  ligitimas,  que  desvanecessem  a  ideia  de 
procedimentos  arbitrários  tanto  mais  perigosos  no  Pará 


—   181  — 


quanto  a  experiência  darainenle  mostrava  a  existência 
de  um  poderoso  parliilo  que,  empenhado  em  separar 
aquella  provincia  da  nacionalidade  portugueza.  se  prevale- 
ceria de  qualquer  acto  praticado  pelas  authoridades  exis- 
tentes para  excitar  contra  ellas  os  amigos  da  Indepen- 
dência. 

O  Governador  das  Armas  sabendo  destas  dissenções  co- 
nheceu qu{'  si  com  tempo  as  nâo  atalliasse  o  partido  adhe- 
ente  a  Portugal  se  enfraqueceria,  e  então  mais  ihividosa 
em  a  conservação  da  Provincia;  e  n'esta  convicção  no  dia 
de  Agosto  dirigiu  à  Jfmta  Provisória  o  segiiinte  oflicio  : 
Illm.  e  lixm.  Sr.  O  estado  de  desassocogo  em  que  me 
consta  por  ditlerentes  vias  se  acha  grande  parte  dos  ha- 
bitantes desta  cidade  opinando  uns  que  se  deve  conser- 
var o  systema  governativo  civil  e  militar  no  pé  em  que 
se  acha  até  se  receberem  ordens  de  Sua  Magestade,  e 
pretendendo  outros  mudanças  no  mesmo  systema  aná- 
logas às  actuaes  circiimstancias  politicas  de  Portugal, 
determinarão  a  convocar  hoje  no  meu  quartel  todos  os 
chefes  dos  corpos  de  linha  e  milícias  doesta  guarnição 
para  accordar  com  todos  o  modo  mais  capaz  de  evitar 
os  effeitos  da  diversidade  de  opiniões  até  que  as  ordens 
de  Sua  Magestade  venháo  acalmar  os  espíritos.  Concor- 
dando todos  sobre  a  necessidade  de  se  tomarem  medidas 
de  prudente  cautela  para  evitar  choques  e  commoções 
populares  o  convieram  unanimamente  em  a  necessidade 
de  convidar  a  V.  Ex.  para  convocar  na  salla  de  suas  ses- 
sões uma  assembléa  composta  de  deputações  militares 
e  corporações  civis  afim  de  se  deliberar  si  convém  mais 
ao  socêgo  publico  conservar  o  systema  governativo  mili- 
tar e  civil  tal  qual  presentemente  existe,  ou  si  dar-lhe 
uma  nova  forma  mais  análoga  às  actuaes  circumstancias 


—  18i  — 

«  politicas  de  Portugal,  julgando-se  ao  mesmo  tempo  ne- 
t  cessario  fazer  publico  por  bando  o  resultado  desta  con- 
«  ferencia  afnu  de  que  os  habitantes  desta  capital  e  mesmo 
«  de  toda  a  Província  fiquem  ao  facto  das  deliberações 
«  que  a  este  respeito  se  tomarem.  Em  consequência  desta 
«  unanimidade  de  pareceres  proponho  a  V.  Ex.  a  convo- 
«  cação  da  sobredita  assembléa  rogando  com  urgência 
t  a  V.  Ex.  haja  de  indicar-me  a  hora  do  dia  de  amanhâa 
«  em  qne  se  pôde  reunir  para  fazer  os  avisos  necessários, 
t  e  caso  porém  que  V.  Ex.  não  convenha  na  reunião  pro- 
«  posta  exijo  que  haja  de  declararm'o  para  meu  governo. 
«  Deus  Guarde  a  V.  Ex.  4  de  Agosto  <le  1823.  lllms.  e 
€  Exms.  Srs.  Presidente  e  Membros  da  Junta  Provisória, 
t  Josó  Maria  de  Moura. 

No  dia  seguinte  a  Junta  respondeu  pela  maneira  que  se 
vê  no  offlcicio  abaixo  transcripto. 

t  Illm.  e  Exm.  Sr.— Recebeu  esta  Junta  o  officio  de  V. 
€  Ex.  da  data  de  hontem  depois  das  10  horas  da  noite,  e 
t  por  essa  razão  se  conveio  responder  agora  que  se  acha 
t  reunida.  Esta  Junta  concorda  com  a  requisição  de  V. 

•  Ex.  para  se  formar  .um  conselho  para  se  deliberar  sobre 

•  o  objecto  que  expressa  pois  que  se  tem  em  vista  o  soce- 
€  go  publico,  e  passa  immediaía mente  a  fazer  os  avisos 

•  necessários  para  ás  H  horas  do  dia.  Deus  Guarde  a  V, 
€  Ex.  Pará  no  Palácio  do  Governo  em  5  de  Agosto  de 
€  1823.  Illm.  e  Exm.  Sr.  José  Maria  de  Moura.  Joaquim 
«  Correia  da  Gama  Paiva,  Presidente;  Geraldo  José  de 

•  Abreu,  Secretario;  Franciscx)  Custodio  Correia;  Joaquim 
«  António  da  Silva;  Theodosio  Constantino  de  Chennont ; 
«  João  Baptista  Ledo. 

A  hora  aprasada  reuniu-se  o  conselho,  cujo  parecer  foi 
immediatamente  publicado  por  bando  e  he  do  theôr  se- 


—  183  — 

guiiite—  «  Sessão  do  dia  5  de  Agosto  de  1823— Abriu-se 
a  sessão  às  H  horas;  e  concorrendo  o  Exm.  Governador 
das  Armas  que  havia  exigido  um  conselho  para  dehbe- 
rar  nas  matérias  abaixo  expressadas,  e  sendo  também 
presentes  os  que  para  este  acto  foram  comvocados  a 
saber :  o  Exm.  e  Rvm.  Bispo  Diocesano ;  o  Marechal  de 
Campo  Manoel  Marques.  Inspector  das  tropas;  as  depu- 
tações da  Junta  da  Fazenda  e  do  Senado  da  Gamara;  o 
Juiz  da  Alfandega ;  o  Juiz  substituto  e  vários  cidadãos 
como  representantes  das  classes  do  commercio  e  pro- 
prietários, foi  lido  o  officio  da  data  de  honlem  abaixo 
transcripto  do  Exm.  Governador  das  Armas,  e  depois 
fallou  o  mesmo  explanando  suas  ideias,  e  o  mesmo  fize- 
ram alguns  dos  membros  do  conselho,  e  julgando-se  a 
matéria  sufficientemente  discutida  foi  posto  a  votos  o 
seguinte  quesito  —  Convém  mais  ao  socego  publico  que 
se  conserve  o  systema  governativo  civil  e  militar  tal  qual 
presentemente  existe,  ou  dar-lhe  uma  outra  forma  mais 
análoga  as  actuaes  circumstancias  politicas  de  Portugal? 
Decidiu-sc  por  maioria  absoluta,  isto  he  29  votos  con- 
tra 9.  que  continuasse  o  systema  do  governo  militar  e 
civil  como  se  acha  até  chegarem  as  ordens  de  Sua  Ma- 
gestade.  Declaro  que  se  abstiveram  de  votar  os  Exms. 
Bispo,  Governador  das  Armas,  Membros  desta  Junta,  o 
Marechal  de  Campo  Manoel  Marques,  e  o  Ouvidor  da 
Comarca  pela  suspeição  que  alegaram, 
t  Entrou  mais  em  votação  si  seria  conveniente  ao  soce- 
go publico  fazer  occupar  a  cadeira  de  Presidente  da 
Junta  pelos  Exm.  e  Rvm.  Bispo  Diocesano,  e  decidia-se 
unanimamente  que  sim.  Exigiu  o  Governador  das  Ar- 
mas a  declaração  do  conselho,  si  os  corpos  militares 
podiam  usar  do  laço  azul  e  encarnado  em  lugar  do  na- 


—  184  — 

cioiíul  ílecretado  pc'as  còrles.  mesmo  anlf^s  de  se  rece- 
berem ordens  da  curte;  decidiu-se  que  sim.  pois  tal  era 
o  liso  cm  Portugal  como  indubitavelmente  já  constava. 
Propoz  mais  o  Exm.  Governador  das  Armas  que  so  ape- 
zar  das  medidas  adoptadas  n'estc  conselho  para  se  man- 
ter o  socego  publico  appare^essem  alguns  perversos  a 
perturba-lo  qual  era  o  meio  de  puni-los.  Decidiu-se 
unanimamente  que  ficavam  em  vigor  as  leis  existentes, 
que  seriam  aplicadas  convenientemente  segundo  as  cir- 
cumstancias.— Romualdo  Bispo  do  Pará ;  José  Maria  de 
Moura ;  Joaquim  Correia  da  Gamma  Paiva,  Presidente ; 
Geraldo  José  de  Âi)reu,  Secretario ;  Francisco  Custodio 
Correia ;  Joaíjuim  António  da  Silva ;  Thedosio  Constan- 
tino de  Chermont ;  João  Baptista  Ledo  ;  o  Marechal  do 
Campo  Manoel  Marques  de  Elvas  Portugal ;  Manoel  de 
Freitas  d'Anlas ;  José  Thomaz  Nabuco  de  Araújo,  Ma- 
noel José  Cardozo,  Presidente  da  Camará ;  António  Pe- 
reira de  Lima ;  José  Ferreira  Brito ;  Marcello  António 
Fernandes;  Bernardino  José  Carneiro  da  Silva  Reis; 
José  Caetano  Ribeiro  da  Cunha ;  o  Cónego  José  de  Or- 
nellas  Souza  Monteiro;  o  (Sonego  André  Fernandes  de 
Souza;  o  Coronel  João  Pereira  Villaça;  o  Capitão  João 
Pedro  da  Costa;  o  Ajudante  Álvaro  Botelho  da  Cunha  ; 
o  Major  Francisco  Marques  de  Elvas  Portug.d,  o  Capitão 
António  Valente  Cordeiro;  o  Alferes  José  Deziderio  de 
Castro;  o  Capitão  Martinho  Leite  Pereira;  o  Tenente 
António  Marques  de  Souza ;  o  Capitão  Ignacio  Pereira ; 
o  Capitão  de  Artilhería  Joaquim  Rodrigues  de  Andrade ; 
o  a.®  Tenente  Manoel  Ignacio  de  Macedo ;  o  Sargento- 
Mór  Jeronymo  de  Faria  Gaio ;  o  Capitão  Manoel  Caetano 
Prestes;  o  Alferes  João  Rodrigues  de  Souza;  o  Major 
Domingos  José  da  Silva;  Joaquim  Francisco  Danim, 


—  183  — 

«  Commandanle  da  ciivallnria  volunlaria ;  Camillo  José  de 

«  Campos.  Commandante  dos  cívicos  de  Artilhcría ;  Joa- 

«  quim  Epifânio  da  Cunha;  Francisco  Carneiro  Pinto  Viei- 

t  ra  do  Mello,  Ouvidor  da  Comarca;  João  Ignacio  de  Oli- 

«  veira  Cavalleiro,  Juiz  Substituto;  AíTonso  de  Pinho  de 

*  Castilho;  Domingos  José  Antunes;  João  da  Fonseca  Frei- 

«  tas ;  Fernando  José  da  Silva ;  João  de  Araújo  Roso ; 

«  Francisco  Gonçalves  Lima;   Luiz  António  Golçalves; 

«  Agostinho  Brandão  e  Castro.  —  Está  conforme  o  2.® 

«  official  Manoel  Ramos  de  Carvalho. 

Esta  deliberação,  que  collocou  o  Bispo  na  Presidência 
da  Junta  vaga  pelo  destino  que  para  fora  da  provinda  teve 
Romualdo  António  de  Seixas,  desagradou  a  muita  gente ; 
c  por  conseguinte  não  extinguiu  o  gérmen  das  dissensões 
que  adrede  erão  excitadas  pelos  partidários  da  independên- 
cia para  enfraquecerem  o  partido  portuguez,  que  constava 
ter  perdido  em  14  de  Julho  a  cidade  do  Maranhão  sitiada 
pelas  forças  Brazileiras  do  Ceará  e  Piauhy,  já  possuidores 
de  todo  o  continente  da  Provincia.  Esta  noticia  animou  e 
tornou  a  desenvolver  a  actividade  dos  patriotas  do  Pará,  de 
maneira  que  algims  oíTiciaes  e  soldados  dos  dilTercntes  cor- 
pos e  particularmente  do  2.®  Regimento  começaram  a  dar 
novamente  indícios  de  que  estavam  dispostos  a  seguir 
o  partido  Brasileiro,  que  [)or  sua  parte  intentou  e  conse- 
guiu derramar  a  sisania  entre  os  corpos  de  linha,  que  o 
Governador  das  Armas  deligenciava  manter  em  boa  har- 
monia empregando  toda  a  vigilância  para  comprimir  na 
capital  as  demonstrações  que  já  principiavam  a  apparecer 
pelo  sertão.  Estas  precauções  comtudo,  não  podiam  tran- 
quilizar o  Governador  das  Armas,  por  (luo  além  do  ciúme 
que  havia  entre  alguns  dos  corpos,  a  miior  parte  da  tropa, 

ABRIL.  24 


—  186  — 

de  (jue  necessitava  servir-se  para  sustentar  a  causa  portu- 
gueza.  estava  possuída  da  ideia  de  Independência.  O  2." 
Regimento,  bem  como  todo  o  esquadrão  de  cavallaria,  que 
já  se  tinham  involvido  na  revolução  de  14  de  Abril,  eo 
corpo  de  artilhería  depois  de  ter  perdido  o  seu  comman- 
dante  o  Tenente  Coronel  João  António  Nunes,  já  não  me- 
reciáo  sua  confiança ;  no  mesmo  caso  estava  o  3."  regi- 
mento ainda  mesmo  commandado  pelo  Major  Francisco 
José  Ribeiro  que  substituiu  o  suspeito  Tenente  Coronel 
José  Narciso.  O  1 .°  regimento  do  commamlo  do  Coronel 
João  Pereira  Villaça  era  o  único  com  que  o  Governador  das 
Armas  podia  contar ;  porém  a  sua  força  era  de  duzentas 
baionetas,  que  não  era  prudente  empregar  fora  das  vistas 
do  seu  chefe  pelo  receio  de  que  se  unissem  aos  indepen- 
dentes. 

Este  era  o  estado  da  capital  do  Pará  quando  cm  II  de 
Agosto  de  1823  appareceu  n'aquelle  porto  um  brigue,  que 
se  annunciou  como  parlamentario  da  esquadra  comman- 
dada  por  Lord  Cocrane.  levando  oíficios  para  a  Junta  Provi- 
sória, e  dando  a  noticia  da  retirada  da  tropa  e  esquadra 
portuguezas  que  estavam  .na  Bahia,  de  ter  esta  Provincia 
bem  como  a  do  Maranhão  adherido  a  Independência,  e  de 
que  o  parlamentario  tinha  por  objecto  intimar  os  habitan- 
tes do  Pará  para  que  se  resolvessem  a  acceder  à  Indepen- 
dência ou  asollrer  oselTeitos  d'um  bloqueio,  para  cujo  fim 
a  esquadra  de  que  elle  fazia  parte,  já  se  achava  [)roxima  das 
Salinas. 

Estas  noticias,  a  presença  do  brigue  e  a  ideia  da  exis- 
tência da  esquadra  nas  aguas  do  Pará  animaram  e  decidi- 
ram todos  os  Brasileiros  a  se  declararem  pela  indepen- 
dência ;  e  o  partido  doesta  se  fez  t;mlo  mais  forte  (juanto 


—  187  — 

se  tornou  fraco  o  dos  portiigiiezes  (*ín  quem  se  divisíivam 
impotentes  desejos  de  sustentar  a  causa  da  metrópole. 

Não  era  necessário  o  concurso  de  tantas  circumstancias 
favoráveis  aos  desejos  dos  filhos  do  Paiz  para  os  encorajar 
e  decidir  pela  Independência :  elles  viam  todo  o  Brasil 
desafrontado  de  tropas  e  esquadras  portuguezas,  e  procu- 
ravam á  muito  tempo  occasiáo  de  formar  parte  integrante 
do  Império  Brasileiro,  do  qual  o  Pará  era  a  única  Provinda 
que  então  estava  separada.  Esta  consideração,  que  rapi- 
Tlamente  electrisou  os  Paraenses,  collocou  o  Governador 
(las  Armas  na  mais  critica  posição;  porque  a  força  total  dos 
corpos  de  linha,  inclusive  trezentos  recrutas,  não  excedia 
a  seiscentas  baionetas  existentes  na  capital,  as  quaes,  além 
da  pouca  confiança  que  lhe  mereciam,  não  eram  sufficien- 
tes  para  reforçar  a  fortaleza  da  Barra  guarnecer  as  más  ba- 
terias do  Castello  e  forte  de  S.  Pedro  Nolasco,  occupar  os 
pontos  de  Maguary  e  Iguarapé  de  Una.  por  onde  facilmente 
se  pode  entrar  na  Cidade,  pôr  á  disposição  do  Intendente 
(la  Marinha  a  força  necessária  para  guarnecer  a  charrua 
Gentil  Americana  e  uma  barca  canhoneira  que  havia,  e  re- 
servar uma  força  sufficiente  para  conter  os  Brasileiros,  man- 
ter a  ordem  na  Capital  e  accudir  onde  conviesse.  Estes 
preparativos  eram  indispensáveis  e  se  tornavam  impossi- 
veis  com  seiscentos  homens  de  linha  em  grande  parte  re- 
crutas e  dous  terços  dos  quaes  se  reuniriam  aos  Brasileiros, 
que  entravam  por  metade  na&  duzentas  e  cincoenta  praças 
de  que  se  compunhão  as  milicias ;  restando  as  companhias 
de  cavallaria  e  artilhería  do  commercio  que  com  quanto 
fossem  de  confiança .  faltava-lhes  a  desciplina  necessária 
para  habilital-os  a  entrar  em  fogo  com  a  ordem  que  nVstes 
casos  6  mister. 


—  188  — 

Para  tomar  as  providencias  mencionadas  era  necessária 
e  indispensável  a  c(;operação  da  Junta  Provisória,  da  de 
Fazenda,  do  Intenílonte  da  Marinha,  authoridades  inde- 
pendentes do  Governador  das  Armas;  para  obter  esta 
cooperação  dirigiu  ellc  um  officio  em  que  dizia  à  Junta 
Povisoria  que  ia  reunir  no  seu  quartel  os  commandantes 
dos  corpos  aíim  de  tomar  medidas  tendentes  a  eviUir  alguns 
tumultos;  o  que  para  objecto  de  segurança  do  porto  e  ou- 
tras providencias  julgava  indispensável  uma  conferencia 
com  a  mesma  Junta,  que  não  tardou  em  mandar-lhe  a  se- 
guinte resposta.  «  Illm.  e  Exm.  Sr.— Esta  Junta  accusa  rc- 
«  cebido  o  officio  de  V.  Ex.  datado  de  hoje :  em  conse- 
t  quencia  dos  officios ,  que  recebeu  de  Lord  Cocrane , 

•  chefe  da  Esquadra  do  Hio  de  Janeiro,  que  se  acha  fun- 

•  deado  abaixo  da  barra  doeste  porto,  convocou  um  conse- 
«  lho  para  deliberar  sobre  o  objecto  do  dito  officio  para  o 
«  qual  convida  à  V.  Ex.  e  a  todos  os  chefes  c  comman- 
f  dantes  dos  corpos  de  1.*  e  2.»  linha,  que  V.  Ex.  se 
f  dignará  mandar  assistir  a  elle,  que  terá  lugar  às  sete 

•  horas  da  noite.  Deos  Guarde  a  V.  Ex.   No  Palácio  Epis- 

•  copal  em  11  de  Agosto  de  1823.  Illm.  e  Exm.  Sr.  José 
«  Maria  de  Moura.  Romualdo,  Bispo  do  Pará  Presidente; 
«  Geraldo  José  de  Abreu,  Secretario;  Joaquim  Corrêa  da 
«  Gama  Paiva ;  Joaquim  António  da  Silva ;  Theodosio  Cons- 
«  tantino  de  Chermont ;  João  Baptista  Ledo.  » 

Quauilo  o  Governador  das  Armas  recebeo  este  officio  jà 
se  achavam  em  seu  quartel  os  commandantes  dos  corpos, 
e  declarando-lhes  o  seu  contheudo  ordenou-Ihes  que  fossem 
com  elle  assistir  à  conferencia  para  que  os  convidava  a 
Junta,  de  cuja  boa  fé  o  Governador  das  Armas  duvidou 
por  ter  afirmado  (pie  a  esquadra  de  Lord  Cocrane  estava 


—  189  — 

funiloada  abaixo  da  fortaleza  da  barra  ao  sol  posto,  o  não 

havia  tempo  de  se  examinar  si  com  eíTeito  estava  ou  não 

alli  fundeada. 
Fez-se  o  conselho  cujo  resultado  esttá  consignado  na 

acta  que  ó  do  theôr  seguinte.  «  Sessão  extraordinária  do 
dia  1 1  de  Agosto  de  1823.  Abriu-se  a  Sessão  ás  8  horas 
da  noite;  e  tendo  sido  convocado  um  Conselho  pela 
Exma.  Junta  Provisória,  composto  do  Exm.  Governador 
das  Armas,  Senado  da  Gamara  e  todas  as  demais  autho- 
ridades  civis,  eclesiásticas  e  militares  e  muitos  cidadãos 
probos,  em  consequência  de  ter  recebido  a  mesma  Exma. 
Junta  um  oíBcio  do  Illm.  c  Exm.  Lord  Gocrane,  chefe 
das  forças  navaes  do  Rio  de  Janeiro,  assim  como  um  ma- 
nifesto do  bloqueio  doeste  porto  e  um  oflicio  original  da 
Exma.  Junta  Provisória  do  Maranhão;  exigindo  o  refe- 
rido Lord  em  nome  de  Sua  Magestade  Imperial  o  Se- 
nhor Dom  Pedro,  Primeiro  Imperador  do  Brasil,  que  esta 
Provinda  do  Grão  Pará  adherisse  ao  systema  geral  do 
Império  Brasiliense,  os  quaes  documentos  sendo  lidos 
pelo  Secretario  da  Exma.  Junta  assim  como  também  o 
periódico  em  que  se  acha  transcripta  a  correspondência 
relativa  a  Independência  politica  proclamada  no  Mara- 
nhão, propôz  o  Exm.  Sr.  Bispo ,  Presidente  da  Junta, 
ao  conselho  que  o  objecto  para  que  tinha  sido  convocado 
era  decidir-se  qual  o  systema  que  esta  Provincia  devia 
adoptar  nas  actuaes  circumstancias  expondo  as  suas  re- 
flexões de  que  a  utilidade  e  tranquilidade  doesta  Provin- 
cia exigia  que  se  adherisse  ao  systema  do  Rio  de  Janeiro, 
como  o  único  meio  mais  eíDcaz  para  a  salvar  dos  horro- 
res da  anarchia :  foi  este  parecer  seguido  por  grande 
numero  de  membros  que  opinavam  no  mesmo  sentido, 
e  passando-se  à  votação  se  decidia  unanimemente  que  se 


—  190  — 


iTconliecessc  a  Independência  politica  do  Brasil  debaixo 
das  ordens  de  Sua  Magestade  Imperial  o  Senhor  Dom 
Pedro  Primeiro,  a  excepção  do  Exm.  Governador  das 
Armas  que  declarou  somente  annuir  á  esta  medida  si  se 
verificasse  a  existência  e  qualidade  das  forças  do  blo- 
queio; e  propondo  o  Exm.  Sr.  Bispo  Presidente  esta  in- 
dicação se  decidiu  geralmente  a  expeçáo  de  oito  mem- 
bros que  se  proclamasse  a  dita  Independência,  sem 
imlagação  alguma  das  referidas  forças. 
«  Finalmente  pedio  o  referido  Governador  das  Armas 
que  se  lhe  admittisse  o  seu  voto  em  separado  edecidiu- 
se  que  sim.  o  qual  irá  aqui  transcripto  e  para  tudo  constar 
se  mandou  lavrar  o  presente  que  todos  os  membros  do 
conselho  comigo  assignàram.  Geraldo  José  de  Abreu, 
Secretario  da  Exma.  Junta  que  o  escrevi.  Romualdo, 
Kispo  do  Pará  Presidente  ;  José  Maria  de  Moura;  o  Ma- 
rechal de  Cami)o  Manoel  Marques  de  Elvas  Portugal; 
Geraldo  José  de  Abreu.  Secretario ;  Joaquim  Corrêa  da 
Gama  Paiva;  Joaquim  António  da  Silva ;  Theodosio  Cons- 
tantino de  Chermont ;  João  Baptista  Ledo;  José  Thoraaz 
Nabuco  de  Araújo,  Juiz  da  Alfandega  Procurador  inte- 
rino da  Real  Coroa  e  Fazenda ;  Manoel  de  Freitas  de  An- 
tas. Escrivão  Deputado ;  Manoel  José  Cardoso,  Presi- 
dente do  Senado ;  Martinho  de  Souza  Cunha,  Vereador; 
António  Pereira  de  Lima.  Vereador ;  José  Ferreira  de 
Brito,  Vereador;  João  António  Lopes,  Vereador;  Mar- 
cello  António  Fernandes ;  Bernardino  José  Carneiro  da 
Silva  Reis,  Procurador ;  José  Caetano  Ribeiro  da  Cunha, 
Escrivão  da  Camará ;  O  Cónego  José  de  Ornellas  de  Souza 
Monteiro;  O  Cónego  André  Fernandes  de  Souza;  O  Co- 
ronel João  Pereira  Villaça ;  O  Major  Francisco  Marques 
de  Elvas  Portugal :  O  Major  Francisco  José  Ribeiro ;  O 


—  191  — 

Capitão  Jgnacio  Pereira ;  O  Sargcnto-mór  do  1.*»  de  Mi- 
lícias leronymode  Faria  Gaio;  O  Major  Domingos  José 
da  Silva ;  Joaquim  Francisco  Danim,  comraandante  da 
cavallaria  Civica;  Camillo  Josc  de  Campos,  comraan- 
dante daArtilhería  voluntária ;  Joaquim  Epifânio  da  Cu- 
nha, Intendente  da  Marinha;  José  Lopes  dos  Santos 
Valadim,  Capitão  de  Mar  e  Guerra  comraandante  da  Fra- 
gata; Pedro  José  Corrêa,  Primeiro  Tenente  comman- 
dante ;  António  Joaquim  de  Barros  e  Vasconcellos,  Co- 
ronel e  Governador  de  Marajó  ;  Francisco  Carneiro 
Pinto  Vieira  de  Mello,  Ouvidor  da  Comarca ;  João  Igna- 
cio  de  Oliveira  Cavalleiro,  Juiz  Substituto;  O  Coronel 
João  de  Araújo  Roso ;  O  Tenente  Coronel  João  da  Fon- 
ceca  Freitas ;  O  Coronel  António  Bernardo  Cardoso ;  O 
Capitão  de  Milicias  José  Vasques  da  Cunha ;  Fernando 
José  da  Silva;  Domingos  José  Antunes,  Ambrósio  Hen- 
rique da  Silva  Pombo ;  AíTonso  de  Pinho  Castilho ;  O  Te- 
nente Coronel  Luiz  António  Gonçalves;  Manoel  Caetano 
Prestes;  João  Felippe  Pimenta  ;  O  Alferes  Romão  Ro- 
drigues da  Silva;  Francisco  Gonçalves  Lima. 

f  Voto  do  encarregado  do  Governo  das  Armas  do  Pará 
na  Sessão  da  noite  do  dia  l  i  de  Agosto  de  1823 :  O  in- 
frascripto  sendo  informado  pela  Exm.  Junta  Provisória 
do  conteúdo  d'ura  oflicio  que  recebera  do  lllm.  e  Exm. 
Almirante  Lord  Cocrane,  comraandante  das  forças  na- 
vaes  de  Sua  Magestade  o  Imperador  do  Brasil,  e  de  ou- 
tros papeis  que  acompanharam  o  dito  ofBcio  e  que  che- 
garam a  este  porto  no  Brigue  Infante  D.  Miguel,  e  ao 
mesmo  tempo  tendo  em  vista  a  deliberação  que  todas  as 
authoridades  civis,  militares  c  Municipaes  e  deputações 
do  cori)o  do  commercio  e  agricultura  tomaram  no  dia 


—  192  — 

õ  (lo  corrente  votando  todas  que  se  conservasse  a  admi- 
nistração politica  no  pé  em  que  se  achava  até  se  recebe- 
rem ordens  de  Sua  Magestade  Fidelissima  El-Rei  o  Se- 
nhor Dom  Joáo  G.^  sobre  os  destinos  do  Pará;  vendo 
que  mudanças  extraordinárias  no  systema  governativo 
podem  comprometter  a  Província  e  ás  authoridades  que 
a  regem  quando  semelhantes  mudanças  náo  tem  por  fun- 
damento urgentes  e  demonstradas  causas  e  reflectindo 
que  a  simples  aparição  d'um  navio  de  guerra,  quesean- 
nuncia  parlamentario  d'uma  esquadra  não  é  a  mesma  es- 
quadra, vota  que  se  expeça  immediatamente  uma  em- 
barcação com  officio  ao  Exm,  Almirante  Lord  Gocrane 
em  que  se  lhe  faça  ver  a  deliberação  que  tomaram  no 
dia  3  do  corrente  as  authoridades  doesta  Província  de 
esperarem  as  ordens  de  Sua  Magestade,  as  quaes  é  de 
suppôr  conciliem  os  interesses  do  mesmo  Augusto  Se- 
nhor com  os  de  Sua  Magestade  Imperial,  e  que  á  vista 
da  resposta  do  mesmo  Exm.  Almirante  depois  de  infor- 
mado do  estado  politico  doesta  Província,  e  dos  aconte- 
cimentos havidos  em  Portugal  em  Junho  pretérito,  e 
verificada  por  este  modo  a  existência  du  esquadra  nas 
aguas  do  Pará  a  Assembléa  delibere  o  que  mais  conforme 
parecer  ao  bem  geral  da  mesma  Província,  com  refe- 
rencia ao  estado  melindroso  em  que  se  acham  os  povos, 
e  aos  effeitos  que  de  necessidade  devem  produzir  nos 
espíritos  a  i)resença  da  dita  esquadra  e  a  mensagem  di- 
rigida á  Exma.  Junta  pelo  dito  Exm.  Almirante. 

•  Sendo  de  tal  parecer,  o  infrascripto  declara  que  em  cir- 
cumstancias  tão  melindrosas,  quaes  aquellas  em  que  pre- 
so» temente  se  acha  o  Pará,  elle  só  tem  em  vista  evitar  a 
inútil  eílusão  de  sangue,  salvar  sua  reputação  e  honra,  e 


—  193  — 

«  hal)ilitar-se  para  responder  pela  suaconducta  a  Sua  Ma- 
■  gestade  Fidelíssima,  que  por  sua  carta  Regia  o  collocou 
t  no  lugar  que  até.  este  momento  occupa.  Pará  11  de 
«  Agosto  de  1823.  José  Maria  de  Moura. 

Vendo  o  Governador  das  Armas  a  direcção  que  tomavam 
03  negócios  e  que  lhe  faltavam  meios  de  poder  interrom- 
per o  seu  curso,  alli  mesmo  declarou  que  nâo  podendo  con- 
servar a  Província  unida  a  Portugal,  d'esde  aquelle  mo- 
mento se  considerava  desligado  do  commando  das  Armas. 
Que  n^este  conselho  existiam  muitas  pessoas  dispostas  a 
votar  pela  Independência,  ninguém  o  duvidava,  pois  era 
manifesto  o  grande  partido  que  a  promovia ;  mas  que  fossem 
as  principaes  authoridades  a  quem  Sua  Magestade  Fidelís- 
sima deu  empregos  de  consideração  quem  decididamente 
encaminhasse  por  seus  discursos  os  membros  do  conselho 
á  votar  pela  Independência  do  Brasil,  é  o  que  não  se  es- 
perava, mas  aconteceu  :  por  exemplo ;  o  Bispo,  collocado 
no  dia  3  pelo  voto  unanime  na  Presidência  da  Junta  como 
affecto  a  Sua  Magestade  e  á  união  com  Portugal,  foi  o  pri- 
meiro que  por  seus  discursos  deciarou  ao  conselho  no  dia 
li  ser  absolutamente  necessário  que  o  Pará  adherisse  a  In- 
dependência do  Brasil :  o  Intendente  da  Marinha  Joaquim 
Epifânio  da  Cunha,  que  pouco  antes  tinha  sido  elevado  ao 
posto  de  Chefe  de  Devisão,  e  í|ue  na  occasião  em  que  de- 
sembarcou o  Bispo  na  presença  de  povo  lançou  ao  mar  o 
laço  nacional  para  substituil-o  pelo  Real,  e  que  22  dias  de- 
pois arremessou  este  para  tomar  o  da  Independência  de- 
clarando ao  conselho  que  ninguém  mais  do  que  elle  era 
grato  a  Sua  Magestade  Fidelíssima,  fez  os  mais  enérgicos 
exforços  para  que  os  votantes  se  decidissem  pca  Indepen- 
dência: finalmente  a  Junta  Provisória,  a  excepção  d'um 
membro,  o  Governador  da  iliia  xMarajó  o  muitas  outras 
ABRIL.       '  ta 


—  194  — 

autlviridades  civis,  militares  e  ecclesiasticas  so  decidiram 
pela  Independência:  e  foi  tal  o  enthusiasmo  que  os  discur- 
sos doestas  pessoas  communicou  à  qaasi  todo  o  conselho 
que  se  fez  a  votaç  lo  tumultuariamente  e  grítando-se  está 
vencido,  está  veticido. 

Esta  deliberação  acabou  de  decidir  o  povo  e  tropa  e  pro- 
duziu no  animo  de  todos  os  habitantes  da  Capital  os  mes- 
mos effeitos  que  produziria  e  presença  de  toda  a  Esquadra 
de  Lord  Gocrane.  O  Governador  das  Armas  fez  todos  os 
exforços  para  sustentar  os  direitos  de  Portugal,  empregou 
todos  os  meios  a  seu  alcance  para  fazer  vêr  que  esta  de- 
liberação era  imprudente  e  até  opposta  à  que  se  tinha  to- 
tomado  seis  dias  antes,  tudo  foi  inútil ;  propôz  que  se 
mandasse  verificar  a  existência  da  esquadra  e  sua  força,  e 
sua  indicação  não  foi  acceita. 

Logo  que  às  H  horas  da  noite  se  dissolveu  o  conselho 
immediatamente  se  divulgou  o  seu  resuitado  pela  cidade  e 
quartéis ;  em  taes  circumstancias  si  o  Governador  das  Ar- 
mas quizesse  reunir  alguma  tropa  para  se  oppôr  à  delibe- 
ração tomada  não  veria  a  seu  lado  um  só  filho  do  paiz,  e 
sacrificaria  sem  proveito  da  sua  causa  os  portuguezes  que 
tivessem  a  coragem  de  segui'-o.  Si  em  lugar  de  seiscen- 
tos homens  de  tropa  do  paiz,  jà  então  possuídos  do  espi- 
rito da  Indopenlencia,  tivesse  ao  menos  trezentos  ou  qua- 
trocentos de  tropa  portiigueza,  talvez  a  decisão  do  conselho 
não  fosse  tão  opposta  aos  interesses  de  Portugal.  A  decla- 
ração das  Juntas  Provisória  e  da  Fazenda  c  do  Intendente 
da  Marinha,  privou  o  Governador  das  Armas  da  coopera- 
ção e  soccorros  necessários  para  a  deffesa  do  porto  e  cidade. 
6  toda  a  tentativa  para  conservar  a  Província  na  obediên- 
cia portugucza  seria  chimerica  e  não  faria  mais  do  quo 
augmcntar  a  cíTervecencia  do  povo  i»  tropa. 


—   IWii  — 

  iin|)íkssibiliil:rle,  qat3  tinha  o  Governa«lor  das  Armas  de 
conservar  a  Província  sob  o  domínio  porln^uez,  fez  com 
que  no  dia  12  se  dimítisse  do  seu  empreg)  e  pedisse  o  seu 
passaporte ,  o  qual  lhe  foi  negado ,  e  elle  mandado  prezo 
e  ín(X)nimunicavel  para  bordo  do  Brigue  parlamentario. 

Para  rebater  as  prolençõcs  de  Lord  Cocrane  e  manter  a 
segurança  da  Capitai  o  Governador  das  Armas  julgava  ne- 
cessário reforçar  a  fortaleza  da  Barra  com  70  a  80  homens 
abastecendo-a  de  mantimentos  para  140  ao  menos  por  40 
«lias;  acabar  promptamente  as  fortificações  de  Valle  de 
Caens,  guarnecer  esta  bateria  c  fornecer-lhe  munições  de 
liocca  e  guerra ;  ter  à  sua  disposição  lanchões  e  canoas  ar- 
madas e  tripuladas ;  completar  as  guarnições  da  charrua 
Gentil  Americina  e  canhoneira;  approveitara  fragata  nova 
como  bateria  volante ;  pagar  em  tempo  o  soldo  o  etape 
da  tropa;  e  muitas  ojtras  cousas  mais;  porém  como  a 
maior. parte  ou  quasi  t)d  )s  estes  meios  eram  da  exclusiva 
competência  das  Juntas  Provisória  e  da  Fazenda,  e  do  In- 
tendente da  Marinha,  e  estas  authoridades  se  haviam  decla- 
i-ado  iHíla  Independência,  conheceu  o  Governador  das  Ar- 
mas que  era  mais  conforme  a  razío,  prudência  e  humani- 
dade e  também  seria  mais  do  agrado  de  Sua  Magestade 
Fidelissima  que  se  poupassem  as  vidas  e  bens  dos  habitan- 
tes do  Pará  e  por  isso  cedendo  á  força  e  império  das  cir- 
cumstancias  deixou  de  empenhar-se  em  uma  disacisada  e 
desigual  contenda,  da  qual  só  podiam  resultar  persiguições 
e  desgraças  incalculáveis. 

Depois  do  que  se  passou  na  noite  de  H  de  Agosto 
mandou  a  Junta  no  dia  seguinte  cumprimentar  o  comman- 
dante  do  Brigue  e  convidal-o  para  aproximar-se  da  Capital. 
Com  muitos  indivíduos,  que  se  achavam  homisiados,  apre- 
sentaram-se  no  dia  13  os  enthusiastas  Cónego  João  Baptista 


—  196  — 

Gonçalves  Campos  e  Josó  Ribeiro  Guimarães  com  indica- 
ções sobre  a  nova  fórnn  do  Governo  que  devia  instalar-se. 
Entre  os  diversos  planos  foi  adoptado  o  de  Ribeiro  Gui- 
marães para  q:ie  o  Governo  da  Província  fosse  elleito  pelo 
Povo  e  composto  de  cinco  membros  coma  denominação  de 
Governo  geral  da  Provincia  do  Pará  e  mando  sobre  todas 
as  authoridades  e  rep:irtições,  civis  ecclesiasticas  e  mi- 
litares. 

No  dia  1 4  depois  de  presos  o  ex-Govern  ador  das  Armas 
e  o  Coronel  Villaça  convocáram-se  os  cidadãos  para  a  ellei- 
çáo  do  novo  Governo.  No  dia  15  o  Castello  e  a  Fragata 
arvoniram  a  Randeira  Rrasileira,  houve  a  grande  parada  em 
que  se  fizeram  os  cortejos  militares  ao  Imperador  do  Brasil 
e  solemne  Te-Deum,  a  que  assistiram  jà  cora  laço  verde  e 
amarello  o  Intendente  da  Marinha  Joaquim  Epifânio  da 
Canha,  o  Governador  de  Marajó  António  Joaquim  de  Barros 
Vasconcellos.  o  Ouvidor  da  Comarca  Francisco  Carneiro 
Pinto  Vieira  de  Mello  e  o  Major  Ajudante  de  ordens  do  Go- 
verno José  de  Brito  Inglez,  que  achando-se  com  parte  de 
doente  quando  appareceu  o  Brigue  Parlamentario  se  deu 
por  prompto  logo  que  o  Marechal  Manoel  Marques  tomou 
conta  do  Governo  das  Armas  e  começou  a  inculcar-se  como 
o  mais  zeloso  partidista  do  systema  Brasileiro,  forjando 
planos  oííerecendo  indicações  para  que  o  Governo  da  In- 
dependência incommodasse  com  pretenções  sobre  a  en- 
trega de  papeis  c  cartas  topographicas  o  General  que  o  tinha 
abrigado  em  sua  casa  e  finalmente  promovendo  assigna- 
turas  de  requerimentos  em  que  so  exigia  que  o  ex-Gover- 
nador  das  Armas  fosse  preso  e  remettido  para  o  Rio  de  Ja- 
neiro :  este  homem,  cujo  caracter  volúvel  e  inconstante  o 
faz  desconhecer  os  nobres  sentimentos  da  gratidão,  eujo 


—  i97  — 

espirito  ambicioso,  vailoso  o  dnsojoso  th  liLjurar  o  trans- 
forma em  bandeirinha  de  todas  as  nações,  julgou  (}ue  fazia 
a  sua  fortuna  mostrando-se  muito  oflicioso  para  com  os  in- 
dependentes; e  com  elfcito  os  serviços  que  lhos  prestou  nos 
primeiros  dias  da  installação  do  novo  Govi»rno  lhe  rende- 
ram o  commando  cpiasi  momentâneo  do  l.^  Regimento  de 
infantaria  de  linha,  que  poucos  dias  depois  lhe  foi  tirado 
pelos  despropósitos  que  fez,  e  por  ser  conhecido  o  seu  pés- 
simo caracter  até  d\aquelles  a  quem  ultimamente  prestou 
esses  serviços  com  desprezo  dos  deveres  de  vassallo  de  Sua 
Magestadc  Fidelissima,  a  quem  devia  a  representação  e  for- 
tuna de  que  gozava. 

Os  festejos  e  mais  signaes  de  regosijo  duraram  por  mui- 
tos dias :  no  dia  15  jurou-se  obediência  ao  Imperador  do 
Brasil;  e  fez-se  a  eleição  do  Governo  Geral  da  província, 
na  qual  se  regeiláram  todas  as  listas  que  continham  nomes 
de  «Europeos  e  do  Bispo  apesar  de  ser  Brasileiro  e  ter  to- 
mado a  palavra  no  dia  H  de  Agosto  para  favorecer  a  causa 
da  Independência,  dando-se  por  motivo  desta  repulsa  ser 
pobre  de  espirito  e  homem  de  pouca  confiança  pela  incons- 
tância do  seu  caracter.  Sahíram  eleitos  para  Presidente 
Geraldo  José  de  Abreu,  para  secretario  José  Ribeiro  Gui- 
marães e  para  membros  o  cónego  João  Baptista  Gonçalves 
Campos,  João  Henriques  de  Mattos  e  Félix  António  Cle- 
mente Malciíer :  esta  eleição  assustou  a  todos  os  Europeos 
e  desgostou  a  muitos  Brasileiros,  porque  n'ella  enxerga- 
ram a  origem  dos  males  que  infelizmente  deviam  pesar 
sobre  a  provincia. 

Os  rápidos  progressos  que  teve  o  partido  da  Indepen- 
dência no  Par»â  foram  devidos  ao  Decreto  das  Cortes  Por- 
tuguezas  do  1."  de  Outubro  de  1821,  porque  creando  em 


—  im  — 

cada  provinda  ilo  Brasil  dons  Governos  independentes  nm 
civil  e  outro  railitar,  e  náo  se  lembrando  de  acompanha-lo 
com  Ilegulamentos  ou  Regimentos  que  lixassem  a  con- 
ducta  destas  duas  aulhoridades  e  marcassem  a  linha  divi- 
sória de  suas  attribuições.  náo  reflectiram  que  os  traria  a 
conllictos  prejudiciaes  â  causa  public:»  e  era  f.icil  de  prever 
que  a  Junta  do  Governo,  formada  pela  eleição  popular  se 
havia  de  afrontar  com  a  presença  de  um  Governador  das 
Armas  de  mais  representação  do  que  cada  um  dos  seus 
membros  e  que  tinha  a  força  armada  á  sua  disposição. 

Homens  que  nunca  tiveram  empregos  públicos  e  que 
em  outros  tempos  apenas  aspirariam  aos  lugares  de  verea- 
dores ou  almotaccs.  tirados  de  suas  casas  para  lugares 
importantes,  tornam-se,  de  ordinário,  vaidosos  e  capri- 
chosos, quando  uma  boa  educação  e  prudente  reflexão  náo 
modera  estes  vicios,  e  a  considoraçáo  de  que  o  lugar  que 
exercem  ou  para  que  foram  chamados,  é  devido  à  opinião 
do  merecimento  que  delles  formaram  os  eleitores,  os  faz 
presumpçosos,  soberbos  e  vaidosos :  eis  o  qiie  se  observou 
nas  Juntas  das  demais  Provincias. 

Não  tendo  Regimento  por  onde  se  regulasse  no  exercí- 
cio de  suas  funcçóes  entendeu  que  era  mais  do  que  o  Go- 
vernador das  Armas,  e  assim  o  inculcaram  os  periódicos, 
que  podia  mais  e  que  tinha  direito  a  ser  obedecido ;  achan- 
do, porém,  resistência  n'esta  authoridade  ás  invasões  que 
ella  tentava  fazer  na  sua  repartição,  entendeo  que  o  Go- 
vernador lhe  fazia  afronta :  eis-aqui  um  motivo  para  decla- 
rar guerra  ao  Governador  das  Armas,  e  porque  relações 
de  amisade  e  parentesco  de  sete  homens  filhos  do  Paiz  ou 
ha  muito  alli  estabelecidos  íhes  dava  um  numero  de  parti- 
distas incomparavelmente  maior  do  que  aquelle  que  pode- 


—  109  — 

ria  achiuirir  cm  pouco  tempo  uma  authoridade  estranha  ao 
Paiz,  a  consideração  desta  superioridade  de  partidistas 
ainda  mais  a  encorajava  a  hostilisar  o  dito  Governador ; 
estas  armas,  porém  ainda  eram  fracas.  A  sua  esperança  se 
firmava  no  auxilio  da  imprensa  manejada  por  aquelles  que 
projectavam  predispor  o  povo  e  tropa  para  a  Independên- 
cia. AJunta  para  atacar  o  Governador  das  Armas  e  fazer-Iho 
perder  a  força  moral  abriga  e  protege  estes  homens,  que 
se  prevalecem  desta  protecção  não  só  para  hostilisarem 
uma  authoridade  que  temiam  e  que  lhes  não  convinha  na 
província,  mas  também  para  propagarem  os  seus  escriptos 
subversivos.  O  resultado  destes  ataques,  e  protecção  a 
quem  os  fazia,  foi  o  que  se  observou  em  Agosto  de  1823; 
resultado  que  não  appareceria  si  acaso  o  Decreto  do  1.** 
de  Outubro  não  coUocasse  em  províncias  tão  remotas  de 
Portugal  duas  authoridades  tão  poderosas  independentes 
entre  si  e  só  responsáveis  ao  Governo  de  Lisboa. 

Além  dos  terríveis  inconvenientes  que  deveriam  resul- 
tar e  de  facto  resultaram  da  instalação  do  duas  authori- 
dades iguaes  e  independentes  em  uma  mesma  província, 
outros  ainda  maiores  trouxeram  ao  socego  dos  habitantes 
do  Brasil  a  certesa  de  que  os  Governadores  das  Armas 
jamais  seriam  nomeados  por  eleições  e  que  nunca  seriam 
escolhidos  para  estes  empregos  Generaes  ou  ofticiaes  su- 
periores Brasileiros.  Isto  os  encommodou  e  afligio  porque 
vendo  por  um  lado  que  se  lhes  dava  a  liberdade  de  elege- 
rem os  Deputados  ás  Cortes  e  os  membros  do  ôoverno 
civil,  ao  mesmo  tempo  observavam  que  aquella  authori- 
dade debaixo  de  cuja  direcção  devia  ficar  a  força  armada 
sempre  havia  de  ser  Européa  e  escolhida  pelo  Governo  su- 
premo. 


—  200  — 

Coníiar-Ihes  a  eleição  das  aulhoridadcs  desarmadas,  e 
priva-los  de,  ao  menos,  proporem  aijuellas  que  tinham  o 
poder  da  força,  os  pôz  em  muita  desconfiança  de  que  se- 
melhante disposição  legislativa  tinha  fins  oppostos  ás  ideias 
de  liberdade,  e  igualdade  de  direitos  que  as  extinctas 
Cortes  lhes  tinham  promettido.  D'aqui  proveio  o  ciúme  e 
até  pouco  affecto  com  que  eram  olhados  os  Governadores 
das  Armas,  pois  os  consideravam  como  instrumentos  de 
que  deveria  scrvir-se  o  Governo  de  Portugal  para  coloni- 
sa-los  e  também  destas  desconfianças  nasceram  os  exforços 
que  desde  logo  começaram  a  fazer  algumas  provincias  bra- 
sileiras para  se  separarem  de  Portugal ;  cxforços  que  tal- 
vez se  não  verificassem  si  as  disposições  do  Decreto  do  1.** 
de  Outubro  de  I8ál  fossem  concebidas  em  termos  mais 
conciliadores  dos  desejos  e  vontade  dos  Brasileiros, 

No  Pará  ainda  se  poderiam  remetliar  os  maus  resultados 
daquele  Decreto  se  quando  pelas  contas  dadas  ao  Minis- 
tério pelo  Governador  das  Armas,  o  Brigadeiro  José  Maria 
de  Moura  sobre  o  estado  politico  da  provincia  e  por  cora- 
municações  de  diversas  pessoas  alli  residentes  feitas  aos 
seus  correspondentes  em  Portugal,  nas  ([uaes  se  descrevia 
o  perigo  em  que  se  achava  a  provincia  de  adherir  à  Inde- 
pendência do  Brasil,  o  Ministério  julgasse  conveniente 
mandar  alguma  tropa  Européa  com  a  qual  se  podesse  ata- 
lhar os  progressos  da  opinião  Brasileira, 


—  áOl  — 

WEAfi-SK 

iS  CAXOEIRAS  DE  PiULO  AFFOISO. 

Iniprirniinloesta  carta  do  Dr.  José  Vieira  de  Carvalho  c 
Silva,  dirigida  ao  Sr.  Dr  Capanem-i,  temos  em  vista  tor- 
nar publica  essa  ijuaiitidade  de  noticias  fiistoricas.  geogra- 
phicas,  e  estatisticas  (jiie  encerra,  e  o  tributar  à  memoria 
doeste  nosso  finado  consócio,  que  lâo  heroicamente  mor- 
reo  em  Porto  Alegro,  victima  de  sua  dedica(;âo  e  zelo  (juan- 
doali  invadio  a  cholera-morbus,  um  signal  de  respeito  c 
de  saudade. 

A  família  do  nosso  consócio  recebeo  dos  altos  poderes 
do  Estado  um  testemunho  do  apreço  de  seus  serviços  com 
a  pensão  que  lhe  foi  Címferida. 

Pelo  elleito  produsido  n.i  sala  do  Instituto  quando  em 
repetidas  sessões  ahi  fora  lida  esta  carta,  julguei  supprimir 
algumas  linhns,  que  a  liberdade  do  estylo  epistolar  no  cor* 
rer  da  penna  Linçára  sem  maior  reflecção.  e  ás  vozes  com 
o  único  lim  de  ostentar  uma  erudição  mal  cabida  n'este  gé- 
nero de  escriptos,  como  se  verá  do  que  ainda  licou. 

As  opinioens  acerca  dos  individuos  que  ahi  vão.  perten- 
cem ao  morto,  e  o  Instituto  nâo  é  responsável  por  ellas ; 
porque  nunca  o  ha  sido  de  escripto  algum,  mas  tão  somen- 
te dos  que  comportam  o  seu  cunho  ollicial. 

Este  Itinerário  do  magestoso  rio  de  S.  Francisco  desde 
a  sua  foz  até  às  caxoeiras  de  Paulo  AtTonso  terá  grand(í  valia 
no  futuro,  mormentíi  quando  mais  civihsadas  a(}uel[as  re- 
gioens  compararem  o  seu  presente  com  o  passado  a(}uides- 
cripto. 

O  Dr.  Carvalho  passará  na  opinião  dos  homens  estudio- 
sos como  um  pequeno  Pausanias  doKio  de  São  Francisco; 
e  o  seu  trabalho  unido  ao  do  Sr.  Halfeld,  que  também  de- 
senhou as  caxoeiras  de  Paulo  AlTono,  serão  de  todo  o  inte- 
resse para  os  estudos  do  Instituto  e  de  lodos  os  (|ue  igual- 
mente d'elles  se  occupam.  O  itinerário  de  Cunha  Mattos 
não  é  mais  interessante  do  que  este,  e  de  quanta  utilidade 
nâo  tem  sido  para  os  qu(í  procuráo  saber  nossas  cois-ts  ? 

Rio  24  de  Abril  de  í8jí). 

Poíío-aleíjre. 
.vimiL.  JG 


—  20á  — 
IIIdi.  Sr.  Dr.  G.  Schuch  de  Cnpanémn. 

Váo  quatro  aunos  que  em  uma  sala  das  do  Museu  Na- 
cional se  encoutraram  dons  homens ;  o  i)iimeiro  regia 
uma  íiideira  da  Escola  Militar  ua  Côrle  do  Império ;  o 
segundo  devia  cm  poucos  dias  partir,  para  reger  uma 
Comarca  nas  nwrgens  do  magestoso  Rio  de  S.  Francisco 
na  Provi ncia  das  Alagoas.  Vesse  encontro  trocaram-se 
pouca*  jKilavras;  e  uma  promessa  foi  sellada  jielo  Jurista, 
E'essa  promessa  que  fiz  no  momento  de  dar  o  meu  e  re- 
ceber o  vosso  bilhete,  Sr.  Capanêma,  que  pretendo  cum- 
prir: não  espereis  de  mim  cousa  digna  de  vossa  espe  • 
rança;  por  quanto  são  os  Juizes  estéreis  em  suas  narrati- 
vas; que  o  agro  oflicio  de  lidar  com  os  inimigos  da  sociedade 
( os  criminosos )  gera  um  sentimento,  que  mata  o  bello 
humor  que  deve  de  presidir  o  trabalho  de  contar-voso 
que  vi,  o  que  me  contaram,  e  o  que  seja  esse  soberbo  ma- 
nancial d'aguas  sem  cessar,  entornadas  pela  mão  do  Om- 
nipotente por  sobní  este  pedregoso— Gigante  — Paulo 
Affonso— que,  sentado  e  encarando  a  Súl.  sepnrou-o  em 
duas  porções,  marcando  pela  sua  altura  o  leito,  por  onde 
devem  correr  as  aguas  da  iK)rção  inferior,  em  quanto  as 
da  superior  impellem-se  com  inaudito  fragor  ix)r  entre 
os  braços  e  penias ;  debruçío-se  pelos  hombros,  e  se  pre- 
típitão  enfurecidas  no  profundíssimo  abysmo.  Para  me- 
lhor satisfazer-vos  na  descripção  do  Rio  de  S.  Francisco 
-suppôr-me-hei  entrado  pela  sua  barra,  e  por  e!lo  nave- 
gando até  que  dô  ao  petrificado  Gigante  a  minha  ultima 
saudação:  direi  além  disso  alguma  cousa,  ainda  que  per- 
functoriamente,  sobre  a  minha  Comarca. 

Afóz  do  Rio  de  S.  Francisco  demora,  em  10  grãos  c 
54''  de  latitude  Súl,  corre  nordeste,  sudueste.  Sua— Barra 


?> 


—  â03  — 

—  senão  torna  perigosa  por  alcantilados  rochedos  que 
ameacem  ao  descuidado  nauta,  ou  pelos  encobertos  que 
possão  enganar  a  experiência  do  mais  avisado  prático ; 
porém,  sendo  este  Rio  im|)etuôso  era  sua  corrente,  e  ar- 
rastando com  e!la  as  areias  de  suas  margens,  fazem-na 
temida  pelas  estuosas  syrtes  que  se  mudâo  à  sua  vontade, 
€  põe  sempre  incert.i  a  entrada  para— o  Navegador— que 
ha  pouco  (l'ella  sahíra.  Dias  ha  em  que  se  a  navegará,  como 
em  um  Lago  lijíeiramente  encrespado  por  branda  viração, 
outros  virão  cora  que  a  onda  encapellada  pelos  ventos  do 
Súl  e  Nordeste  atterrará  o  mais  traquejado  marinheiro, 

parecendo  que  as  alpinas  Serras  se  desabão  sobre  o  frá- 
gil lenho,  que,  afoitado,  as  envistir ;  e  como  seja  um  só  o 

eanál,  e  estreito,  e  sobre,  de  pouco  fundo,  é  quasi  infalli- 
vel  pagar  o  atrevido,  com  summa  usura,  a  injuria  feita  á 
sua  passagem.  Nada  direi  acerca  do  aspecto  d'ella,  vista 
de  mar  em  fora;  porém  começarei  a  minha  narrativa  des 
que  as  doces  aguas  separão-se  das  amaras. 

Destinguem-se  as  duasraargens  do  Rio  pelas  signativas 
palavras  de  Baliia  e  Pernarabuco,  a  esta  Província  pertence 
a  margem  esquerda ;  a  aquella  a  margem  direita;  por  esta 
explicação  ficareis  sabendo  quaes  os  logares,  Povoações. 
e  Villas,  e  Cidades  situadas  em  uma  e  outra  margem ;  posto 
que  d^esde  abaixo  da  espantosa  Cachoeira,  e  no  riacho 
Chingó  se  bem  divise  pertencer  toda  a  margem  direita  k^f^ 
Provincia  de  Sergipe  d'El-Rei,  e  a  marg^.esquerda  á  áW 
Alagoas ;  que  domina  d'esde  o  Rio  Moxotó,  duas  léguas 
sobre  a  referida  Cachoeira  onde  findáo  os  meus  domínios 
judiciários.  Da  entrada  da  fóz  do  Rio  de  S.  Francisco,  fica 
á  margem  direita,  o  conhecido  parcél  do  cabeço,  cruel  ini- 
migo, que  raso  e  humilde,  parece  afagar  os  Nautas;  po- 
rém triste  do  que  se  a  elle  aproxima,  porque  é  então  que 


—  204  — 

tornnnílo  a  aiToctada  brandura  om  furor,  o  despodaç^T  som 
piedade,  com  o  rancor  d'um  vilião  de  quem  confiaram  o 
cargo.  Á  margem  esquerda  está.  a  cavalleira,  o  arenoso 
Morro  doPonlál,  coroado  de  suas  pequenas  cabanas,  seus 
coqueiros,  e  raros  cajueiros :  na  sua  fralda  ancora  a  Ve- 
leira Catraia,  a  cujo  Palrâo  eslá  incumbido  o  cuidado  de 
avisar  aos  que  entrâo.  e  snhem.  se  lhes  será  prospera  ou 
perigosa  a  passagem.  É  a  Sybilla  da  Barra,  e  ás  vezes 
bast  intemente  usa  de  suas  ambáges,  para  demonstrar  a 
necessidade,  e  sabedoria  de  seu  emprego. 

Segue  pelo  cordão  do  Pontal,  e  pela  esquerda— Sara- 
menha.  e  o  Riacho— Caranha ;  e  pela  direita  os  Riachos, 
Arambipe,  ou  Gaú,  que  communica,  por  uma  valia,  entre 
mangues,  quasi  com.  o  Rio  o  mar  na  Costa  do  Somíko.  e  o 
Parapúca.  que  faz  a  barra,  chamada— Nova:— Estão  era 
meio  do  Rio  as  Ilhas  das  Paturis,  a  da  Negra  que  toma 
diversos  nomes,  fertilissima  ,  e  d'onde  vem  excellentes 
mangas ;  e  a  de — José  Thomé. — São  estas  Ilhas  extensos 
cannavenes,  e  próprias  para  toda  aplantagem  que  deman- 
de frescura. 

Corre  pela  margem  direita  uma  corda  de  Oiteiros  mais 
elevados,  e  vestidos  de  grandes  mangues  e  outros  arvore- 
dos, havendo  nas  abas.  e  perto  do  Rio.  as  pequeninas  Po- 
voações de— Tauóca— Rezina  de  Baixo,  v  Rezinade  Cima, 
lívos  painéis  da  miséria ;  mas  demonstrativos  da  bondade 
do  Creador  que  dá  vida,  e  vida  vigorosa  n^este  Brasil  a 
aqueíles  de  seus  filhos,  mesmo  que  vivem  nus  e  crus  sobre 
a  terra,  tendo  a  esta  por  leito,  e  o  Cêo,  sempre  assetina- 
do,  por  cobertor. 

Paga  seu  tributo  ao  grande  Rio  o  riacho— Paraiina— 
pelo  canal  do— Souza, — seguindo-se  os— Riachão— e  Ba- 
gres— formando  dilTerentes  Penínsulas,  e  Ilhas  em  suas 


—  205  — 

enchentes,  e  rega  boas  propriedades.  Fica  pela  esquerda 
o  riacho— Gurugy  também  tributário,  sendo  adiante  o— 
Batingas— á  borda  do  qual  situou  o  velho  Capitão  José  An- 
tónio da  Costa  uma  bôa  propriedade  de  Engenho,  pondo- 
-lhe  o  nome  do  mesmo  riacho.  Em  frente  vai  o  lugar  Costa 
do  Quebra  Costellas. 

Contínuão  pela  esquerda  os  três  Engenhos— Bôa  Sorte— 
Paraizo,  e  Cerquinha,  e  logo  a  Povoação  de  Piassabussú,  e 
pela  direita  a  bella  propriedade  de  Engenho — Mucury— 
sendo  seu  proprietário  o  Sr.  Telles  da  Serra,  e  o  ancora- 
douro do— Dendê— e  o  engenho— Bandara-do  Coronel 
João  de  Aguiar ;  ficando  entre-meio  as  Ilhas  do— Toco— 
ou  da  Finada  Custodia,  e  a  do  Bemvenuto,  ou  dos  Frades 
Bentos. 

Devo  aqui  dizer  que  quasi  todas  as  Ilhas  do  Rio  de  S. 
Francisco,  que  estão  perto  da  Barra,  pertencem  aos  Reli- 
giosos de  S.  Bento,  d^onde  tirão  soífrivel  renda.  A  Po- 
voação de— Piassabussú— é  a  primeira  de  importância, 
que  se  encontra ;  poderá  conter  trezentas  e  tantas  casas 
com  uma  pequena  Igreja  no  centro,  do  Padroeiro  S.  Fran- 
cisco—e um  Oratório  da  Santa  Cruz.  Foi  em  1796^que 
Fuão  de  Seixas  principiou  a  Povoação.  É  um  districto  de 
Paz,  e  Subdelegado ;  seus  habitantes  vivem  decrear,  e  la- 
vrar cannas  e  outras  plantações ;  tem  pouco  commercio, 
posto  que  olTereça  um  bello  ancoradouro,  e  onde  fundeão, 
logo  que  entráo  as  embarcações,  que  velejão  de  barra 
fora. 

Ha  alguns  Engenhos  de  fazer  assucar,  e  estabelecimen- 
tos de  distillação  :  O  seu  mais  forte  mercado  é  uma  feira 
aos  sabbados,  porém  tão  mesquinha  que  por  isso  merece- 
ria ma  is  o  nome  de  quitanda,  do  que  o  pomposo  de  feira. 
A  melhor  casa  e  engenho  do  lado  direito  é  do  Exm.  Barão 


—  á()(>  — 

(la  (lofiiigiiil).'),  cuja  caside  vivenda,  corpo  de  engeiílio, 
macliiiias  e  terras  sao  exccíllentes,  e  nem  éra  de  esperar 
outra  cousa  d'um  Barão,  que  ainda  tem  seus  laivos  dos 
da  meia  idade.  A  vista  que  olTerece  a  Barra  olhada  doesta 
Povoação  é  bella,  e  vos  envio  os  traços  d'ella,  tomados  n 
olho,  que  pois  neia  |)ossur)  eu  os  instrumentos  conhecidos 
por  camarás  escuras  ou  lúcidas. 

O  ancoradouro  do — Dende—  que  fica  defronte  de  Pias- 
sabussú  tem  proporções  para  o  fácil  embarque  dos  assu- 
cares  de  Cotinguiba.  e  para  alli  vàoalgims  barcos  á  carga, 
e  voltáo  da— Bahia  carregados  do  fazendas,  c  géneros: 
creio  (pie  nenhuma  íiscalisação  se  exerce,  senão  a  da  von- 
tade dos  interessados.  Corre  (fesse  lado  o  Riacho— Ca- 
poeira— que  baptiza  a  Povoação  (Feste  nome,  a  qual  se 
liga  com  a  do  Brejo  Grande.  Estas  duas  povoações  for- 
mão uma  peninsula,  quando  o  Rio  grande  de  S.  Francisco 
recolhe -se  ao  alveo  natural ;  passa  a  ser  Ilha  nas  enchen- 
tes; é  a  reunião  dos  melhores  Engenhos  d^esses  togares 
com  fertilissimas  terras  para  tudo  quanto  vegeta ;  a  uva 
branca,  a  ferral,  as  mangas,  os  cheirosos  e  coroados  ana- 
nazes.  os  melões,  cm  íim  fructas  e  ílôres  pejão  os  pomares 
e  os  hortos. 

Os  famosos  limões  alli  cheirando, 
Estão  virgineas  tetas  imitando. 

E  sobre  tudo  a  canna  ò  a  da  melhor  qualidade  e  succo- 
lenta:  contem  cento  e  setenta  casas  pouco  mais  ou  menos, 
contando  os  Engenhos  c  uma  Capella  da  Invocação  da  Con- 
ceição. Pela  esquerda  se  deslisa  em  fraca  veia  o  riacho  que 
faz  a  barra  do— Bongue,— separando  o  povoado  do  enge- 
nho—Correnteza— de  João  de  Deus  e  Silva ;  segue-lhe  o 


—  207  — 

lugar— Parreiras— sem  que  nenhuma  vido  n*elle  biolc,  o 
pela  direita  o— Cajuhipe ;  creio  também  que  sem  um  pé 
d'essa  espécie  de  cajii  pequenino  e  d'um  ácido  forte,  muito 
procurado  para  a  confeitaria.  Ergue-se  de  próximo  n^esse 
logar  um  Engenho  de  propriedade  do  Major  José  Nunes 
de  Barros  Leite,  e  pelo  principio  dà  que  esperar. 

xMedeião  uma  e  outra  margem  as  Ilhas  da  Tliereza  e  a 
dos  Bois ;  a  primeira  fertilissima,  e  a  segunda  além  d'isso 
é  já  um  povo  de  perto  de  cem  vizinhos  com  uma  Igreja 
da  Invocação  de  S.  António.  Além  da  fertilidade  da  inti- 
tulada Ilha  do— Brejo  Grande— é  notável  esta  porção  de 
terra,  por  aprcscntar-sc  pertencente  a  duas  Provincias  ao 
mesmo  tempo  I  É,  quanto  ao  ecciesiastico,  da  Freguezia 
doesta  Cidade  do  Penedo,  e  quanto  às  justiças,  da  Villa  e 
termo  da  Comarca  de— Villa  Nova ;  com  tudo  sendo  os 
eleitores  por  parochias,  votão  os  habitantes  em  a  Fregue- 
zia de — Villa  Nova — e  para  eleições  de  que  não  são  fre- 
guezes,  isto  é,  de  Sergipe  1  É  um  doestes  contra  sensos 
que  se  depara  a  cada  passo  entre  a  nossa  defeituosíssima 
organisação  civil  e  occlesiastica :  a  estes  se  pôde  bemappli- 
car  o  anexim— não  sabem  de  que  freguezia  são.— Acima 
do  Cajuhipe  está  collado  o  Engenho  de  outro  João  de  Deus : 
a  barra  da— Caiçara— sem  importância ;  o  Serrão,  e  o  fun- 
deadouro  do  Betume. 

É  este  logar  um  ancoradouro  seguro  e  commodissimo 
para  o  embarque  das  caixas  e  outros  géneros  que  descem 
pelo  riacho  da— Goiaba.—  De  muita  utilidade  veria  a  ser 
para  as  Provincias  de  Alagoas  e  de  Sergipe  a  abertura 
desse  porto  pelo  riacho  dito,  ç  aventura-so  que  com  a  li- 
gação do  dous  pequenos  canacs,  de  menos  de  meia  légua, 
far-se-hia  communicavel  o  Rio  de  S.  Francisco  com  o  Rio 
— Cotinguiba ,  e  talvez  até  a  Bahia,   se  podesse  ir  sempre 


—  á08  — 

por  agua.  Nada  mais  direi  a  respeito  por  estar  fora  do 
meu  propósito.  Acima  do  logar— Parreiras— está  a — Pon- 
ta  Grossa,— a  Barra  das  Larangeiras,  e  a— Ponta  Mofina ; 
— este  appellido  é  optimamente  cabido,  porque  na  verdade 
é  raro  aos  que  sobem  de  rio  acima,  ainda  com  o  vento  de 
feição,  não  encontrarem-no  ahi  mofino  e  mào  I 

Entremciâo  esses  logares  marginaes  as  Illias  do— Gon- 
dim— também  chamada  do— Gregório— e  do  Barro:— a 
do  Cachimbáo  que  tira  o  nome  de  sua  forma,  e  a  do — 
Matlo.— Além  do  Betume  vè-se  o  logar — Porteiras,  Morro 
do  Aracaré,— Aracaré— e  barra  do  Aracaré,  pequenino 
regato. 

Além  da— Ponta  Mofina— corre  a  margem  com  sitios  e 
propriedades  internadas  até  a  Cidade  do— Penedo — com 
diversas  peninsulas  que  se  tornão  um  archipelago  nas  en- 
chentes :  São  essas  Ilhas  a  da— Gallinlia— a  do— Barão, — 
á  Grande, —a  do— Aaraçà— c  a  do— Bamba  :  Ha  nellas 
outras  propriedades  de  engenhos,  a  de  Luiz  Alves,  e  a  do 
Dr.  Berkett  que  é  a  melhor,  etc. 

Quanto  à  Ilha  Grande  é  ella  um  Encapellado  colhido,  em 
bellos  tempos,  pelas  orações  dos  Benedictinos  a  dous  pios 
devotos :  D.  Arcangela  Brandão,  e  o  Coronel  Belchior  Al- 
ves Fagundes.  A  terra  é  abençoada  para  creação  de  gados 
grossos  e  miúdos,  e  tem  mui  ricos  massapés.  Ao  Religioso 
Fr.  António  de  S.  Brás  Pinheiro  deve-se  a  bella  e  ampla 
casa  de  vivenda.  Conta  esta  fazenda  de  canrias,  uma  bôa 
— queira— de  escravos  crioulos  e  pardos,  moços  e  d'um 
valor  subido,  e  tudo  isto  para  que  os  frades  digão  três 
Missas  por  anno !  —Deus  nobis  hec  otia  fecit— dirão  em 
suas  céllulas  os  que  rezâo  contra  as  cobras  e  serpentes ! 
Está  acima  da  barra  do  Aracaré  a  Villa  Nova,  cabeça  da 
Comarca  doeste  nome,  e  coutmua-se  a  vôr  a  barra  de  outra 


—Caiçara,— a  Cambraia,— as  barras  do  Zalóque,— e  a  do 
yueriqnindim.  A  passagem  ó  a  reunião  de  poucas  e  fra- 
quíssimas casas  e  que  licando  bem  fronteira  á  Cidade  do 
Peuèdo  off.^rece  o  melhor  lanço  de  vista  sobre  ella. 

Segue-se  a— Barra  das  Tabocas— e  a  de  outro— Bongue, 
e  a  Povoação  do  Carrapicho.  Toda  esta  extensio  fica  pela 
frente  da  Cidade  do  Penedo  que  se  estende  d'esde  o  arre- 
balde— Cortume,  até  o  outro  do  Barro  Vermellio;  tendo 
de  permeií)  as  Ilhas  do— Carrapicho,  São  Pedro,  a  do  Ca- 
pitão Manoel  Joaquim  dos  Reis. 

Deraorar-me-hei  por  aqui  fazendo  [)or  desenfado  a  des- 
cripçáo  doestas  três  povoações,— Cidade  do  Penedo,  Villa 
Nova,  e  Carrapicho;  pois  que  jà  muito  venho  fatigado  da 
viagem  da  Barra,  que  contáo  sete  loguas,  duas  da  Barra  a 
Piassabjssú,  e  d'este  logar  mais  cinco  ao  Penedo.  Situada 
está  a  Cidade  do  Penedo,  como  no  vértice  d'um  angulo, 
cijjas  extremidades  dos  lados  pousão  cada  uma  sobre  um 
Povoado ;  ume  a— Villa  xNova- e  outro— Carrapicho— Am- 
bos estão  derramados  em  duas  rasas  collinas ;  ao  passo 
que  o  Penedo  se  ostenta  sobre  alcantiladas  rochas  de  pedra 
arenosa,  que  parecem  cuidadosamente  sobrepostas  umas 
ás  outras ;  e  assim  no  meio  doestas  duas  Irmãs  se  sobre- 
avantaja  pelo  elevado  talhe.  Villa  Nova  se  appellida  de  ca- 
beça de  Comarca,  mas  não  è  ahi  a  residência  do  Juiz  de 
Direito  que  preferio  para  elia  a  Villa  de  Proj)riá— (hoje 
por  Lei  Provincial  doeste  anno  foi  transferida  a  cabeça  da 
Comarca  para  Própria  )—aquella  conta  diizentas  casas, 
uma  Matriz  em  obras  do  Padroeiro  Santo  António  de  Lis- 
boa :  poucos  são  os  edilicios  dignos  de  mensão— o  Palácio 
do  Barão ;  que  antes  de  c-iegar  ao  respaldo  parou;  se  con- 
cluir-se  será  de  feito  uma  morada  Senlioril.  Tem  um  Juiz 
Municipal,  Bacharel,  e  mais  authoridades  de  nossa  orga- 

ABRIL.  27 


—  áio  — 

nisaçiío  policial  c  judiciaria,  e  uma  Mesu  de  Rondas,  cuja 
arrecadarão  é  deminuta;  para  não  ir  mais  longe,  é  um 
feudo  no  rigor  da  palavra. 

A  Povoação  do  Carrapicho  conta  cento  e  vinte  vizinhos; 
tem  duas  Olarias  de  fazer  louça  vidrada.  Seus  habitantes 
crião  e  la\Tâo  em  pequena  escala,  a  pedreira  que  possuo 
faz  a  s  ia  nascente  industria  que  pôde  vir  a  crescer;  lavráo 
soleiras,  umbraes,  e  varandas;  é  a  pedreira  de  óptima  qua- 
lidade—a amostra  N.  1 .® :  É  d'ahi  que  parte  a  estrada  geral 
para  a— Cotinguiba— e  que  segue  até  a  Capital  da  Bahia 
de  S.  Salvador.  Entre — Villa  Nova — e  Carrapincho — existe 
o  logar— Passagem;— doeste  logar  que  é  como  disse  acima 
o  melhor.  Tem  o  Rio  de  S.  Francisco  neste  logar  cinco 
mil  e  novecentos  palmos,  com  o  fundo  de  quatorze  pés  nas 
vasantes,  pois  que  até  aqui  ainda  muito  influem  as  marés, 
fazendo -se  sensivel  o  crescimento  de  ({uatro  \)Í6  sobre  o 
nivél  do  Rio  nas  de  lançamento. 

A  Villa  Nova  conta  mais  a  Capella  de  Nossa  Senhora  do 
Rosário  e  Santa  Cruz :  as  casas  em  geral  são  mal  construi- 
das,  e  pois  que  a  pedra  está  â  porta,  fazem-nas  de  madei- 
ra, seguindo  o  rifão  de  nossos  povoadores— ^m  casa  de 
ferreiro  espeto  de  pão, — 

A  Primeira  Povoaçíio  (Fesde  a  fóz  do  Rio  de  S.  Fran- 
cisco até  a — Cachoeira  de  Paulo  Ailonso,  e  a  mais  impor- 
tante é  a  Cidade  do  Penedo,  Cabeça  de  Comarca  do  mesmo 
nome.  A  vista  da  Cidade  é  muito  attractiva  por  ser  esta 
collocada  como  em  um  anpliitheatro,  e  ofTerecer,  à  pri- 
meira vista,  seus  melhores  edifícios  e  Templos.  Conta  ella 
perto  de  mil  e  cem  casas,  das  quacs  a  maior  parle  é  de 
grandes  sobrados,  alguns  de  dous  andares. 

A  edincação  é  geralmele  de  madeiramento  com  as  fníu- 
tes  de  [)edra  e  cal ;  é  uma  excepção  arjuella  toda  feita  de 


—  áll  — 

cantnria  ou  alvenaria.  A  casa  mais  insigiiificanto  é  forrada 
de  cantaria,  e  se  precisa  de  degràos,  por  ser  a  Cidade  mon- 
tanhosa, ou  mesmo  por  um  erro  antiquissimo  de  se  não 
nivelarem  os  terrenos  antes  da  edificação ;  são  elles  de 
bôa  cantaria,  e  em  algumas  parecem  mais  um  átrio  de 
Igreja  do  que  limiares. 

As  ruas  são  péssimas  no  calçamento  e  nem  mesmo  as 
Camarás  tem  sabido  aproveitar  o  soccôrro  que  lhe  submi- 
nislra  a  natureza,  dando  quasi  ruas  inteiras  lageadas  de 
arenosa  rocha  nativa,  as  quaes  lornar-se-hião  transitáveis 
com  o  fácil  e  pouco  despendioso  aplainamento.  A  melhor 
das  ruas  é  a  chamada  da  Praia,  que  corre  ao  longo  da  mar- 
gem do  Rio,  e  que  seria  perfeitamente  uma  rua  de  Com- 
mercio ;  pois  que  nella  estão  armadas  as  mais  fartas  lojas ; 
se  os  negociantes  tivessem  o  gosto  que  observào  os  tenta- 
dores da  do  Ouvidor  n'essa  Corte,  para  atrahir  Freguezes, 
e  se  houvesse  um  Cães  que  desse-lhc  a  elegância  e  afor- 
moseamento,  ainda  desconhecido  nas  pequenas  Cidades, 
ou  para  melhor  ex[)ressar-me,  desconhecido  pelos  nossos 
homens  do  interior  que  julgão  que  a  riqueza,  a  paz,  e  a 
segurança  de  vida,  e  de  propriedade  está  na  mesquinhez  de 
tudo,  e  no  monótono— rojão— em  que  ouvirão  marchar 
seus  pais,  e  estes  a  seus  Avós !  «  Ninguém  ainda  fez  »  é  a 
desculpa  dos  estacionários,  porém  não  qu(Tem  vêr  que 
para  se  dizer— já  se  fez,— e  este  pretérito  servir  de  exem- 
plo, è  de  nec/essidade  que  haja  quem  diga— vou  ou  vamos 
fazer,— porque  esta  é  a  voz  do  progresso,  a  qual  tem  in- 
corajado  os  Inglezes  e  Norte  Americanos,  para  que  depois 
das  grandes  catàsthofres  exclamem  alegremente— allready ! 
— e  sigão  para  diante !  Com  tudo  devo  em  verdade  dizer- 
vos  que  se  o  génio  dos  Penedenses  dér  algum  dia  para  a 
edificação  de  grandes  obras  e  edificios  sumptuosos,  elles 


—  212  — 

tem  ao  |>ê  de  si  os  mnleri-^es  precisos  para  uma  Cidade  de 
Palácios,  oauma  nova— Génova.— 

Conta  a  Cidade  do  Penedo,  alf^m  da  Igreja  Matriz  da  Pa- 
droeira do  Rosário,  um  Convento  de  Franciscanos  e  as 
Igrejas,  da  Corrente,  S.  Gonçalo  Garcia,  Rosário  dos  pre- 
tos e  S.  Gonçalo  de  Amarante,  havendo  de  mais  os  pro- 
priamente ditos— Oratórios  da  Penha— Santa  Cruz  do— 
Cortume— e  Santa  Cruz  do— Barro  Vermelho,— A  Matriz 
é  um  Templo  ha  pouco  Erecto,  espaçoso ;  e  poderia  apre- 
sentar bòa  prespectiv;!,  se  nâio  o  coUocassem  em  mào  ter- 
reno, ainda  que  pôde  ser  reparado  esse  erro,  se  lhe  sou- 
berem constrtiir  o  adro,  de  mnneira  ato  chegar  ao  plano 
da  pequena  praça  ou  parallelogramo.  em  que  estão  igual- 
mente a  casa  da  Camará,  e  Cadeia,  e  Aposentadoria  dos  an- 
tigos Ouvidores. 

De  passagem  direi  quo  a  casa  da  Camará  é  ampla  e  de- 
cente e  nella  se  celebrão  as  Sessões  do  Tribunal  do  Jury ; 
ainda  tem  seus  estufados  de  damasco  vermelho,  e  seus  respos- 
teiros  das  cores  do  tempo  do  dominio  portuguez ;  devido 
este  asseio  ao  Desembargador  Luiz  António  Barbosa  de 
Oliveira  qne  foi  o  [uimeiro  Ouvidor.  A  casa  da  Ouvidoria 
está  bastante  arruinada  porém  ambos  os  edifícios  são  no- 
bres ;  e  poderiáo  servir  em  qualquer  outra  Cidade  mais 
opulenta :  a  esse  respeito  o  Penedo  não  deve  invejar. 

O  Convento  dos  Franciscanos,  no  interior  e  altares  e  a 
sua  Ordem  Terceira,  é  de  obra  de  talha  antiqiussima,  pois 
tem  o  Convento  era  anterior  a  mil  seis  centos  e  oitenta  e 
oito,  e  foi  reparada  a  frente  e  feito  o  peristillo  em  mil  sete 
centos  e  cincoenta  e  nove,  e  por  isso  a  preciadissima  por 
mim.  ainda  qu!>  à  moderna  aprecia-se  ligeireza  e  ouropel. 
Fundo  esta  opinião  de  ser  anterior  a  mi!  seis  centos  e  oi- 
tenta e  oito  em  ter  visto  e  lido  em  um  livro  de  eleições  da 


f% 


—  21:í  — 

sua  Ordem  Terceira  uma  acta  delias  la\Tada  do  Convento 
de  Nossa  Senhora  dos  Anjos  na  Villa  cio  Penedo  em  mil 
seis  centos  e  oitenta  e  oito,  a  fls.  12;  d'onde  collijo  que 
nas  folhas  primeiras  outras  houve.  Não  encontrei  nos 
archivos  da  Camará  documento  algum  sobre  a  época  certa 
da  creaçáo  da  Villa,  porém  esse  que  acabo  de  citar  revela 
que  foi  antes  de  mil  seis  centos  e  oitenta  e  oito ;  pois  que 
declara  na  Villa  do  Penedo.  O  Diccionario  de  Mr.  Milliet 
do  Saint  Adolphe  dà  a  elevação  em  mil  oito  centos  e  seis. 
porém  c  um  erro  palmar.  Occorre  que  mesmo  dos  livros 
carcomidos  da  Camará  consta  uma  acta  do  antigo  Senado 
na  éra  de  mil  oito  centos  e  tantos,  náose  percebendo  exic- 
lamente  o  resto  pelo  estado  miserável  dos  archivos. 

Vou  expender- vos  tudo  quanto  tenho  colhido  acerca  da 
primitiva  existência  do  Penedo. 

Nas  Instituitjóes  canónicas  do  Dr.  Soares  Mariz  se  aflir- 
ma  que  o  Penedo  fora  elevado  a  Villa  a  12  de  Abril  de  1836 
— quando  igualmente  o  foi  a  Povoação  de  Porto  Calvo  com 
titulo  de  Bom  Successo,  esta,  e  aquella  com  o  de  S.  Fran- 
cisco ;  seguindo  o  mesmo  Doutor  a  opinião  do  Autor  das 
memorias  diárias.  A  historia  do  Brasil  por  Francisco  So- 
rano  Constâncio— tratando  do  anno  de  mil  seiscentos  e 
trinta  e  seis  dà  a  mesma  época,  dando  também  como  fun- 
dador da  Villa  a  Duarte  de  Albuquerque.  Na  Villa  Nova  ha 
registro  d'um  offlcio  em  que  a  Comarca  d'ali  disse  para  a 
d'aqui  que  a  Villa  fora  fundada  em  1G14— o  que  não  pa- 
rece exacto,  pois  que  sendo  em  1613—0  primeiro  desco- 
bridor, e  povoador  doestas  paragens  o  Capitão  Christovão 
da  Rocha,  não  podia  em  1614  estar  capaz  de  ser  Villa  o  Rio 
de  S.  Francisco.  O  mesmo  Rocha,  fimdou  a  Igreja  (hoje 
Matriz)  com  a  invocação  de  Santo  António,  e  lhe  deo  uma 
légua  de  terras,   fazendo  pião  da  Igreja,  e  correndo  para 


—  ál4  — 

cima  ale  a  Mata  d*Alileia,  o  para  baixo  a  outra  meia  légua, 
dando  de  renda  dez  crusados,  sendo  a  doação  assignada 
por  Belchior  Alves,  como  seu  Procurador,  e  tendo  dado  a 
licença  o  Bispo  D.  Constantino  Barradas,  4.°  Bispo  do 
Brasil.  Duarte  de  Albuquerque  deo  para  património  da 
Villa — 1 — légua  de  terras — fazendo  pião  no  Piloirinho. 
Sendo  esta  Comarca  tomada  pelos  Ilollandezes  à  viva  força, 
como  o  foi  toda  a  Capitania,  retiráo-se  todos,  e  até  Belchior 
Alves,  para  Bahia  depois  voltou  elle,  e  se  reunio  ao  IIol- 
landoz,  e  apoderou-se  <las  terras,  vendendo  e  doando.  De- 
pois da  expulsão  dos  Hollandezes ;  o  vigário— Manoel  Vi- 
eira Lemos,  quiz  revendicar  as  terras,  e  pleiteou  com  a 
Camará,  e  outros  que  se  diziào  copossuidores,  isto  jà  em 
1690— e  foi  Juiz  julgador— Josc  de  Sá  Mendonça,  que  sen- 
tenciou os  autos  em  Olinda  a  Ití  de  Setembro  do  anno  ci- 
tado, reconhecendo  a  obrigação  dos  dez  crusados  para 
a  Igreja  Matriz  hoje  de  Nossa  Senhora  do  Rosário,  cabendo 
o  domínio  á  Camará ;  porém  hoje  a  terra  pertence  à  Igreja, 
a  Camará  nada  tem  e  muitos  intrusos  donos  se  chamâo 
d>lla.  É  a  sentença  qnem  muito  esclarece,  e  por  compri- 
da não  a  transcrevo  aqui.  O  reduto,  ou  forte  Ilollandez, 
foi  situado  a  pouca  distancia  por  detrás  da  Igreja,  domi- 
nando o  Rio  pelo  logar  rocheira.  e  a  rua  hoje  do  Convento. 
Tem  apparecido  vestigios  doesse  domínio  Batavo;  a  Sra. 
D.  Anna  Felicia  de  Macedo — escavando  para  um  acréscimo 
da  propriedade  onde  mora,  encontrou  uma  espécie  de  abo- 
bada de  tijolo,  e  quebrada  esta  uma  cruz  dos  mesmos  ti- 
jolos tendo  no  feixo  da  cruz  uma  telha  emborcada,  e  en- 
caliçada ;  quebrado  o  encaHçamento  encontrou  uma  chave 
grande  de  forro,  antiga,  como  indicava  os  ramos,  c  corta- 
dos da  mesma  chave  no  lugar  de  pegar-se;  não  se  podendo 
dar  com  a  porta  cuja  era  ella. 


—  âlo  — 

Estou  qiio  seria  tudo  isto  uma  sopallura,  e  a  chave  do 
sarcórigo,  onde  eslarião  os  restos  de  algum  magnata  dos 
conquistadores. 

Dizem  mais  que  corria  em  direcção  doesse  achado,  um 
corredor,  e  um  ladrilho  de  grandes  pedras,  em  cujas  fun- 
das, introdusindo-se  compridas  varas  não  tomaN^áo  pé,  c 
que  temendo-se  nâo  fosse  isso  um  abysmo,  taparão  a  esca- 
vação. De  presente  edifica -se  uma  casa  sobre  os  restos 
do  fallado  reducto,  e  se  tem  encontrado  balas ;  e  caximbos, 
como  os  da  amostra — N.  2.° — Na  llocheira,  ha  algumas  pe- 
dras muito  altas,  e  ligadas  àroclia  nativa,  lavradas  a  picão, 
não  se  sabendo  quem  isso  fêz,  e  para  (jue.  Muitas  fabulas 
se  narrão  a  esmo,  que  escuso  n'ellas  tocar  por  incríveis. 
Tem  o  Convento  um  claustro  de  vinte  cinco  passos  (jua- 
drados  acolumnaíio  e  arcado  de  cantaria,  assim  como  os 
umbraes,  frontispício,  pateo,  escadaria,  c  adro  com  seu 
cruzeiro. 

Ha  um  coro  sofrível  com  os  ornatos  costumeiros  i)ara 
a  mesa  da  oração  diante  do  Senhor  dos  Exércitos,  porém 
jà  as  vozes  deprecantes  não  resoão  pelas  naves  d'essa  casa 
de  Deus,  e  nem  tão  pouco  á  hora  dada  distribuem  à  porta- 
ria o  caldo  para  os  fdhos  ou  irmãos  mendicantes.  Tinha 
uma  extensa  cerca  de  pedra  e  cal,  hoje  tem  dado  ella  para 
duas  ruas,  e  se  resume  a  um  estreito  quintal.  Tem  o  edi- 
fício dous  andares  de  cubículos  e  espaçosos  Salões,  tudo 
re  Jusido  a  ermo !  e  posto  que  seu  relógio  marque  as  horas 
de  oração,  um  cântico  se  quer  não  se  escuta  reboar,  e  que 
trazido  pela  branda  viração  toque  o  coração  indurecido  de 
alguma  ovelha  desgarrada,  e  a  faça  tornar  ao  aprisco.— 
Ah!  quantas  vezes.— 


—  ál()  — 

No  silencio  da  noite  a  vóz  pungida 
Do  Christâo  que  orações  aos  céos  envia 

Náo  me  tililla  o  peito 
E  ao  íuizo  que  fiz  de  ser  matéria. 
Náo  deo  matéria  mais  p'ra  convencer-me, 

Que  existe  um  Deus  Eterno  !  1 

São  estes  frouxos  versos  d'ura  meu  escripto  debatendo 
o  atheismo,  náo  pude  forrar-mo  d'aqui  enchertal-os  para 
remoque  aos  meus  confrades  de  burel. 

Seria  este  Convento  digno  de  visita,  se  a  inércia,  e  irri- 
ligiosidade  dos  irmãos  seráficos  não  deixassem  que  a  mão 
do  tempo  ferisse  o  Templo,  e  que  a  vegetação  se  desenvol- 
vesse tão  espontaneamente  nos  telhados  e  frontão,  que  jâ 
náo  consente  que  o  gnllo  que  serve  de  grimpa  á  pequena 
torre  se  volva  ao  querer  dos  ventos  t  São,  como  os  da  Or- 
dem, mendicantes;  porém  da  sacola  e  bordão  é  do  quc 
menos  curão  I  Tenho  os  visto,  mesmo  de  habito  jogando 
no  bi  har.  e  nos  theatros,  com  despreso  de  suas  regras,  e 
das  fulminações  dos  Concílios. 

Os  terceiros  tem  pobres  reditos ;  e  posto  pensem  bem 
de  sua  Capella  ao  lado  esquerdo  da  Igreja,  náo  podem, 
ainda  querendo,  fazer  mais;  finalmente  c  Ordem  sem 
compromisso ;  pois  que  ainda  não  o  tem  approvado. 

A  Igreja  da  Corrente  é  sit  lada  bem  defronte  do  cáes  de 
desembarque  que  se  limita  á  entrada  da  rua  desse  nome : 
foi  ella  obra  de  gosto,  feita  pelos  progenitores  da  familia 
Lemos:  é  bem  acabada e  decente;  e  melhor  brilharia,  se 
seus  dourados  não  fossem  enegrecidos  por  dous  raios,  ca- 
bidos ali ;  não  sei  se  alguém  fez  offrendas  impuras  no  ta- 
bernáculo, e  que  por  isso  a  mão  do  Senhor,  fez  baixar  o 
fogo  celeste  para  o|)anir.  como  contra  Nadah  e  Abiti. 


_  217  - 

A  de  S.  Gonçalo  Garcia,  se  fosse  acabada,  seria  o  maior 
e  o  melhor  dos  Templos  d'esta  terra :  é  de  cantaria  parda 
com  seus  baixos-relevos.  Possue  nos  seis  altares  lateraes 
|)erfeitas  imagens ;  não  direi  que  as  esculpira  o  sinzel  de 
Phidias  ou  Canova  ou  do  moderno— Limart,— nem  as  en- 
carnarão os  Tecianos,  Raphaeis  ou  Sanches  Coelho,  po- 
rém são  em  vulto  exactas  representações  dos  actos  doridos 
da  Paixão  Sagrada  do  Nosso  Redemptor. 

Contra  o  estillo,  e  mesmo  a  fé,  sahem  estas  Santas  Ima- 
gens todos  os  annos  na  procissão  de  Sexta  feira  da  Paixão  I 
Quando  o  crucificido  espira  no  Golgotha  apresental-o  no 
esquife,  e  vivo  ainda  em  tormentos,  é  muito  affrontar  a 
piedade  dos  chrístãos  I  Não  pára  aqui  esse  absoléto  costu- 
me ;  o  mais  censurável  é  a  mercancia  que  em  alta  grita  faz , 
para  cada  Passo^um  dos  que  tiveráo  a  devoção  de  o  carre- 
ar» offerecendo  anéis  de  prata  ou  de  àço— quem  troca  os 
anéis  do  Senhor  dos  Passos,  quem  os  quer  do  Senhor  á 
columna?  e  as  sete  vozes  dos  pregoeiros  devotos  fazem 
tanta  confusão,  e  nojo  que  bem  valia,  por  honra  ao  pri- 
meiro preceito  do  Decálogo,  que  se  abolisse. 

São  christãos :  dirá  talvez  algum  herege ;  mas  como 
não  lucrarão  nos  trinta  dinheiros  porque  os  vendemos  e 
nem  no  sorteio  das  vestes,  agora  lhe  vendem  os  anéis. 

Foi  protector  e  factor  da  Igreja  um  ricaço  João  Pereira 
Alves,  e  depois  em  mil  sete  centos  e  sessenta  e  sete  fun- 
dou um  hospital  de  caridade,  dando-lhe  para  sua  mantença 
a  renda  do  Capital  de  doze  mil  crusados.  É  um  estabele- 
cimento de  summa  utilidade  para  a  pobreza,  mas  existe 
ura  pouco— prode  relictus— c  não  presta  quanto  era  de  es- 
perar :  além  d'esses  juros  tem  oito  casas  doa  ias  para  alu- 
gar, e  porquanto  entende  o  Thesoureiro:  em  fim  são  bens 
de  (juem  não  falia,  e  dos  quaes  dizia  o  General  Dora  Mar- 

ABRIL.  á8 


—  248  — 

C08  de  Noronha,  Conde  dWrcos— quereria  ser  Administra- 
dor  náo  sendo  Capitão  General. 

A  Irmandade  de  S.  Gonçalo  sob  cuja  vigilância  está  o 
hospital  tem  uma  organisação  de  protectores,  que  uns 
descanção  nos  outros,  e  a  cousa  marcha  mais— sua  sponte 
—do  que  pelo  impulso  que  lhe  dà  o  zelo  de  tanto  Zelador. 
O  commodo  para  enfermaria  das  mulheres  não  é  muito 
mào ;  porém  o  da  enfermaria  para  homens  é  muito  estreito 
corredor  que  dá  escassamente  logar  para  os  leitos,  e  um 
espaço  para  o  enfermeiro  andar  enviesado.  Ha  esperanças 
de  melhorar-se  por  promessa  que  fez  o  Dr.  Berkett,  encar- 
regado da  clinica  do  mesmo  estabelecimento  pela  qual  per- 
cebe quinhentos  mil  reis  em  moeda  sonante,  fornecendo 
os  remédios.  iNâo  admittem-se  os  tocados  de  moléstias 
contagiosas ;  á  vista  da  pequenhez  da  casa  que  poderá 
admittir  dez  a  doze  homens,  e  outras  tantas  mulheres  e 
somente  com  duas  enfermarias,  acho  bem  preventiva  essa 
medida. 

Tem  finalmente  seu  acanhado  jardim,  cujos  fundos  estâa 
à  margem  do  rio. 

A  Igreja  do  Rosário  da  Irmandade  dos  pretos  é  um  tem- 
plo por  acabar,  ainda  que  espaçoso,  não  tem  cousa  notá- 
vel :  fica  em  uma  collina  rasteira  e  se  o  renque  de  casas 
que  lhe  fiei  á  esquerda  da  entrada  não  se  unisse  tanto, 
quasi  que  lhe  encobre  a  esquina,  ficaria  ella  no  meio  do 
largo  e  melhor  vista  se  gosaria.  Hum  costume  inveterado 
faz  percorrer  as  ruas  no  sabbado  o  Terço  da  Mâe  de  Deus, 
a  qual  é  recebida  de  todas  as  janellas,  as  mais  humildes, 
com  luzes ;  e  além  do  grosso  acompanhamento  de  homens 
que  vão  na  dianteira,  outro  igual  de  mulheres  e  mais  bri- 
lhante faz  cauda,  contando  entre  essas  devotas  as  principaes 
senhoras  da  terra. 


-  2li   - 

A  Religiosidade  que  se  ostenta  no  culto  externo  nesl^ 
logar  seria  signal  infallivel  de  funda  moral,  se  as  acções 
reaes  não  desmintissera  as  apparencias. 

São  Gonçalo  de  Amarante,  o  Padroeiro  dos  casamentos, 
f^stà  erecto  no  logar  mais  elevado  de  toda  a  Cidade  que  vai 
ella  desde  as  ribas  do  Rio  sempre  subindo.  Seu  Templo 
porém  é  visto  mais  pela  altura  em  que  o  collocaram,  do  que 
pela  altura  de  suas  paredes ;  è  uma  capella  de  arrebalde,  e 
de  facto  para  ahi  correm  as  famílias  quando  o  abanar  da  ele- 
vada bandeira  lhes  annuncia  que  o  Velho  Ermitão  vai  ser 
festejado.  É  o  largo  mais  amplo  que  teiios  cercado  de 
soffriveis  casas,  e  que  se  enchem  de  familias  n'esse  tempo 
feliz,  quando  a  donzella  apparece  formosa  e  louça  sem  o 
recato  rotineiro  da  Cidade.  Chamáo-lhe  aqui  o  pequeno 
— Bomfim— em  arremedo  ao  da  Bahia,  que  lá  também  o 
festeijáo,  ainda  que,  se  os  cotejásseis,  a  diíTerença  seria 
d'um  Pigmco  para  um  Gigante  :  Com  tudo  bem  religiosas, 
ricas,  e  devertidas  que  são  suas  festividades,  principal- 
mente quando  às  reverencias  da  Igrej:i,  se  addícionão  os 
festeijos  chamados  de  rua,  e  nelles  vemannunciadas  as  an- 
tigas cavalhadas.  As  Dulcineas  Penedenses  mais  e  mais  se 
esmerão  para  verem  (every  one  as  he  listes)  o  seu  decan- 
tado cavalheiro  da  Mancha.  Que  vos  direi  dos  Cavalheiros  ? 
Que  se  presumem  os  dozes  escolhidos  pelo  Duque  de  Alen- 
castro,  e  dos  quaes  nos  relata  os  feitos  o  príncipe  dos 
Poetas,  a  quem  parece  que  fora  feichado  um  olho  do  rosto 
para  se  lhe  abrirem  quatro  na  intelligencia.  Não  applica- 
reis  a  estes  heróes  de  cà  os  versos  que  forão  feitos  para 
os  de  lá. 

Mastigâo  os  cavallos  escumando 
Os  áureos  freios  com  feroz  sembrante. 

(Est.— 61) 


—  Íá20  — 

Dos  cavallos  o  estrépito  parece 
Que  faz  que  o  chão  debaixo  todo  treme 
O  coração  no  peito  que  estremece 
De  quem  os  olha  se  alvoroça  e  temo. 

(Est.— 64.) 

E  então  é  a  garótice  Senhora  d'elles,  que,  atormentados, 
não  volláo  muitas  vezes  á  liça.  Foram  os  edificadores  doesta 
Capella  dous  Frades  Barbadjnhos.  que  para  ahi  vieram,  e 
ahi  morreram :  Ha  além  das  Igrejas,  como  acima  digo, 
casas  de  oração  e  muitas  Irmandades :  a  mais  rica  é  a  do 
Santissimo  Sacramento,  que  possuemn  património  de  mais 
de  í  2,000:000  em  casas  e  fazendas,  e  ornamento  de  custo, 
sendo  a  Capella  muito  decente.  As  casas  de  oração  não 
merecem  que  sejáo  falladas,  cora  tudo  todas,  tanto  Irman- 
dades, como  Imagens  tem  suas  festas ;  e  tanto  lia  que 
fazer  a  esse  respeito,  e  quem  faça  vida  de  agenciar  festas, 
e  muzicas,  e  enterros  por  devoção,  que  não  toca  isso  para 
qualquer  bilhostre :  a  esses  por  descargo  de  consciência 
applicarei  o  epigrama  do— Boccage : 

Procurador  não  me  enganas. 
Tu  procuras  para  ti.— 

Ora  visto  que  fallei  em  festas,  não  penseis  que  tustáo 
ellas  grossos  capitães,  que  felicidade  ó  para  os  devotos  a 
barateza  doesse  género,  pela  quantidade  da  offerta ;  porém 
o  que  vos  posso  assegurar  é  ser  a  muzica  adoptada  como 
principio  de  educação,  pelo  que  dou  parabéns ;  e  se  não 
fora  ella  não  se  adoçaria  a  rudez  d*esta  Nayadc. 

Dos  que  se  dedicão  a  esta  arte  ha  dous  grupos  que  odiáo- 
se  como  se  fossem  dous  bandos  políticos;  e  ornais  galante 
é  que  nesta  rivalidade  apparecem  as  pessoas  gradas,  e 


—  221  — 

cada  uma  se  empenha  por  seus  Orphêus  e  Amphyões,  a 
ponto  de,  em  casos  crus.  tocarem  uns  as  festas  de  graça, 
só  para  que  os.  outros  não  toquemt 

Tenho  assistido  a  Missas  cantadas  em  que  entôâo,  sopráo 
e  tocáo  16  á  20  muzicos  por  preço  de  4$000 !  Claro  está 
que  não  o  apreço  d'arte  nem  o  lucro,  mas  o  requintado 
igoismo  dirige  as  arcadas  I 

Doesta  rivalidade  (se  entre  outra  gente  fosse)  tirar-se-hia 
proveito ,  reduzida  ella  a  emuíaçáo;  porque  só  esta  fàz  a 
génio  percorrer  o  estádio  de  sua  intelligencia. 

A  preguiça  de  uns,  e  a  falta  de  meios  de  outros,  final- 
mente o  não  quererem  fazer  dMsso  uma  vida  habitual  corta 
as  azas  aos  que  se  ensaiáo  para  erguer  esses  voos  que  ele-» 
varam— Mercadante— Marcos  Portugal— e  Bellini. 

Atrellão-se  a  dous  ou  três  glorias  de  caus,  ao  memento 
do  prezo  e  muita  vez  sobe  a— 'Sagrada  Forma — ao  som  vo- 
luptuoso das  quadrilhas,  tiradas  da  Norma  O  Espirito 
e  o  que  propriamente  appellidáo  os  hoje  súbditos  de  Na- 
poleão—3.®— de— amabilidade,  se  aqui  andou  algum  dia, 
desconfiado  fugio ;  e  a  razão  de  sobra  para  este  juizo  é  a 
falta  de  sociabilidade.  Força-se  quasi  um  individuo  para 
jantar,  ou  passar  algumas  horas  da  noite,  c  tomar  uma 
chávena  de  chá  1  Os  costumes  são  ainda  longe  doesse  verniz 
do  alto,  e  grande  mundo,  d^essas  complacências  que  temos 
para  não  encommodar  ás  pessoas  de  certa  ordem— a  uma 
Senhora— e  antes  dar-lhe  prazer— as  vezes  com  detrimen- 
to, somente  por  ouvir-mos  o  pomposo  e  nobre  nome  de — 
Cavalheiro.— 

O  verniz  ainda  está  por  polir,  e  as  complacências  apenas 
lampejão. 

Se  alguns  mettem-se  nisso,  são  pennas  de  pavão  sobre 
a  nojenta  gralha  da  fabula;  e  feitos  os  primeiros  rompan-- 


—  222  — 

tes.  desmudáo-se,  mostrando  cada  um  para  oqueé.  Bera 
aventuro,  desculpando  esse  methodo  como  filho  de  crassa 
ignorância  de  alguns— Potencias— que  brilhâo  como  os 
corujões  nas  frontarias  das  Igrejas  pela  parda  noite,  mas 
que  fogem  e  se  irritão  com  o  Sói  apino  I  Cifra -se  todo  o 
divertimento  hoje  por  mim  conhecido  em  um  theatrinho 
particular :  náo  é  um  Sing— Song— chinez,  nem  pela  am- 
bulância nem  pelo  scenario,  nem  pelas  roupagens;  poderá 
preencher  satisfactoriamente  alguns  en tremeses. 

Dizem-me  sócios  que  é  uma  excellente  estufa,  e  que  da 
companhia— de  curiosos — só  tem  mérito  um  cómico  gra- 
cioso e  que  faz  nos  papeis  de  bêbado,  a  cousa  muito  ao  na- 
tural ;  com  tudo  deve-se  essa  caricatura  ao  Dr.  António 
Gonçalves  Martins,  quando  Juiz  de  Direito  doesta  Comar- 
ca :  pôde  desfazer  repugnancias.  que  tinhão  alguns  pais 
de  familias.  talvez  imbuidos  nosprincipios  do  Philosofode 
Genebra  que  tanto  guerriou  a  criação  d'uma  semelhante 
escola  em  sua  Pátria  imitando  a  Demosthenes. 

  instrucçâo  pnblica  tem  por  apanágio  duas  Cadeiras  de 
l  .**  Letras  para  o  sexo  masculino  e  uma  para  o  sexo  femi- 
nino :  além  de  uma  Cadeira  de  Latinidade.  Hoje  ha  outra 
do  sexo  feminino.  Pouco  seria  para  uma  Cidade  que  conta 
mais  de  1,000  casas,  se  o  amor  dos  estudos  fosse  arrei- 
gado na  mocidade:  pelo  contrario  as  esperaoças  a  este  res- 
peito sáo  agoadas,  e  é  uma  lastima  a  direcção  que  seguem 
os  Jovens,  e  o  espirito  de  desobediência  e  desenvoltura 
que  apresentão— salvas  as  honrosas  excepções ;  pois  muitos 
ha  morigerados,  e  que  demonstrão  as  lições  recebidas  de 
seus  Pais  ou  preceptores.  Náo  lhes  devo  negar  com  tudo 
o  talento  que  reveláo,  e  só  desculpo  muitas  travessuras  que 
por  aqui  fazem,  dignas  de  correcçáo,  applicandoa  máxima 
seguinte  de— Rochefoncontd.— 


—  2á3  - 

La  jeúnesse  est  une  ívresse  continulle ;  c^est  .'a  lievre  de 
la  raison. 

Ha  uma  Mesa  de  Rendas  Geraes  internas,  cuja  impor- 
tância montou  nos  3  annos  últimos  na  quantia  de  Rs. 
14,402:570— e  o  recolhimento  dos  dinheiros  de  Orphãos 
que  importou  em  Rs.  14,064:914  — bens  de  ausentes 
131,863— evento  69,000. 

A  Mesa  Provincial  que  arrecada  a  exportação,  é  impor- 
tante ;  e  pelos  géneros  despachados  ajuisareís  da  cultura  e 
industria  d'estes  logares. 

Despacha-se  algodão,  assucar,  sola,  couros,  pelles 
legumes ,  azeite  de  rícino ,  caroà ,  cera ,  lã  de  paina , 
chamada  aqui— barriguda  — lã  de  caianna — óleos  purifi- 
cados, etc. 

A  quantidade  d*estes  artigos  no  exercido  de  Julho  de 
1831  até  1832— foi  de  38,505  arrobas  e  15  libras  de  al- 
godão, 34,948  arrobas  de  assucar,  25,717  meios  desola, 
22,872  pelles,  944  couros  de  gado;  farinha  de  mandioca 
3,012  alqueires,  feijão  990  alqueires,  milho  6,801  alquei- 
res, arroz  3,93o  alqueires,  mamona  em  grão  108  alquei- 
res; azeite  3,370  canadas,  óleos  purificados  5, 169  canadas; 
caroà  13  arrobas;  lã  de  barriguda  e  caianna  25  e  1/2  ar- 
robas; o  valor  da  exportação  montou  a  300,239:420  rs., 
dando  de  direitos  13,414:352  rs.  ,  no  exercício  de 
49  á  50  importou  em  400,414:845  rs.,  dando  de  renda 
18,919:850  rs., 

É  necessário  fazer-vos  uma  advertência,  que  as  medidas 
d^aqui  são  excessivamente  grandes,  sendo  o  alqueire  maior 
4  vezes  que  o  do  Rio  de  Janeiro,  e  contendo  a  canada  10 
garrafas  regulares.  As  casas  fortes  não  são  aqui  conheci- 
das; duvido  que  haja  capitalista,  proprietário,  ou  negoci- 
ante que  possua  de  seu  100,000:000,  não  direi  em  negocio. 


—  2il  —   . 

porque  os  ha  ile  maior  somma,  porém  falfó  de  fortan<i 
desobrigada,  ou  por  outra  forma,  sólida. 

O  Commercio,  cujas  casas  avQltáo  nos  algarismos,  que 
abaixo  darei,  no  geral  é  todo  a  fé  de  preço,  cõmpráo  à  Bahia 
ou  a  Pernambuco  para  revenderem,  não  ha  uma  casa  que 
propriamente  mereça  o  nome  de  armaiem,  cujas  transa- 
ções se  facão  por  atacado ;  e  algumas  que  isso  tem  tentado, 
luctáo  com  difliculdades,  qaasi  insuperáveis;  porque  sendo 
pela  mór  parte  as  lojas  fornecidas  pelo  Commercio  da  Bahij][ 
principalmente,  náo  faz  conta  ao  Commercio  d'ali  que  ha- 
ja aqui  depósitos,  ainda  que  de  fazendas  lá  complradas, 
que  absorvão  a  multidão  de  immensos  Mascates,  queabor- 
dâo  à  margem  doeste  grande  Rio,  e  percorrem  o  centro. 

Vai  a  morrer  ó  gyro  de  fazendas,  se  deixarem-se  illudir 
os  logistas  mais  fortes  que  com  àquella  Praça  commer- 
ciáo ;  pois  que  trazendo  estes  a  fé  de  preço,  e  a  prasos 
curtos,  grandes  sommas,  e  não  podendo  fazer  aqui  praça 
de  mais  extenso  mercado,  para  que  nella  se  abasteçâo  os 
Mascates  de  rio  acima,  ficarão  redusidos  ao  varejo ;  trafego 
que  nunca  lhes  proporcionará  meios  de  pagarem  seus  etú- 
penhos. 

Demais,  estabelecida  a  pratica  dos  mesmos  negociantes 
da  Bahia  enviarem  para  aqui  seus  caixeiros,  ou  Propostos, 
carregados  com  fazendas  e  géneros  mais  l)aratos  e  com  o 
pregão  de  que  vão  para  a  Bahia  buscar  tudo  directamente ; 
que  terão  mais  commodo  e  com  os  mesmíssimos  prasoâ 
concedidos  aos  maiores  logistas,  é  isso  completamente 
empenharem -se  em  acabar  d' uma  vez  o  Commercio  d'este 
logar,  ou  irem-no  matando  lentamente. 

Existem  abertas— 37— lojas  de  fazendas,  e  10  de  mo- 
lliados,  3— de  marcinerias— muitas  de  carpina,  muitas  de 
alfaiates  e  de  sapateiros— duas  de  funileria,  2  dq  tanoaria, 


^ 


poucos  Calafates,  poucos  Ferreiros,  duas  lendas  de  Bar-' 
beiros.  porém  que  não  podem  dizer — Io  sono  um  barbiere 
de  qualitá — por  serem  libertos  e  mesmo  pouco  saberem 
de  tesourar  e  raspar  queixos,  mas  prestáo  elles  para  muzica, 
que  dous  bandos  ha  d'esses  Orpheus,  côr  da  escura  noite, 
e  que  andáo  também  em  continua  polemica,  como  jà  vos 
disse. 

Uma  botica,  nâo  porque  falte  moléstias,  porém  porque 
a  homoBopatbia  vai  aqui  em  progresso,  eas  boticas  de  al- 
gibeira trazem  tanta  provisão  das  ovas  de  aranha,  como 
chama,  os  miraculosos  glóbulos,  o  nosso  Senador  e  insigne 
Medico — ^Jobim; — que  um  só  frasquinho  será  capaz  de 
curar— urbes  et  orbes,  e digo  um  erro,  porque,  segun- 
do a  fé  da  sciencin,  basta  um  glóbulo  e  que  este,  segundo 
va  sempre  dinaraísado— per  omnia  secula  seculorum ! — O 
Dr.  Berkett  é  Eccletyco,  isto  é,  usa  d'umae  outra  sciencia-, 
6  cura  á  vontade  do  enfermo  com  a  sua  proverbial  pa- 
chorra :  ainda  com  este  vamos  bem  porque  tem  um  titulo, 
ou  está  autorisado  para  dar  até  receitas  à  morte,  se  per- 
der a  foice  como  dizia  o  Boccage  no  seu  bellissimo  epi- 
grama. 

A  morte  perdendo  a  foice 
Crêo  sua  força  desfeita 
Disse-lhe  um  medico  insigne 
Aqui  tens  uma  receita. 

Porém  muitos  doutores  lia  por  aqui  qne  tanto  homoeopá- 
thica  como  halopaticamente  são  mais  inconscienciosos  que 
o  Dulcamara— c  também  apregoáo— sem  a  graça  do  bufo 
fio  Elexir — Comprati  il  mio  elexir— Io  per  pouco  velo  dou  I 

Muitas  casas  de  dislillaçâo  existem  até  bem  no  meio  da 


—  226  — 

população  e  o  bello  Camboís  faz  com  que  muitos  sigáo  as 
lições  do  intemperante — Baccho — contra  os  sãos  princí- 
pios da  sociedade  de  temperança  nascida  no  foco  dos — 
grogues — e  dos  odres  de  cerveja.  A  melhor  d'esse  género 
e  a  mais  bem  montada  é  a  de  Peixoto  Villas-Bôas. 

Algumas  prensas  de  espremer  a  mamona  existem  pela 
inór  parte  depào,  eextrahem  o  azeite  preto  e  nauseabun- 
do—a única  que  merece  o  nome  de  fabrica  é  a  da  casa  de 
Araújo  &  Filhos,  que  trabalha  com  quatro  maquinas  de 
nova  invenção  e  de  ferro,  e  que  podem  espremer  200  ca- 
nadas por  dia ,  e  dê  óleo  de  ricino  e  azeite  purificado 
inodoro  e  ctoro  como  agua,  algumas  vezes. 

Tem  isso  dado  grande  impulso  á  plantação  de  ricino,  e 
tanta  tem  sido  a  colheita,  que  fornece  já  a  mais  de  10  ou 
12  prensas,  sem  fallar  na  de  Araújo  &  Filhos  que  móe  an- 
nualmente  1,200  a  1,600  alqueires  doesse  grão. 

Os  proprietários  doesse  estabelecimento  chegaram  a  pa- 
gar ao  principio,  para  animar  os  lavradores,  o  alqueire  a 
10,000  e  12,0001  Hoje  o  preço  regular  é  de  5,800  a 
6,400  rs.  Este  anno  esteve  a  mais  de  12,000  rs.  É  um 
serviço  importante  que  elles  tem  prestado  à  Provincia, 
promovendo  esta  cultura,  quasi  abandonada,  e  feito  cres- 
cer a  receita  dos  dizimos  de  lavouras  que  só  os  d'este 
Termo  se  arremataram  por  preço  deRs.  2:6008000  haven- 
ilo  rendido  antes  do  estabelecimento  das  fabricas  600,000. 

A  praça  de  mercado  é  a  feira  nos  sabbados  de  cada  se- 
mana, acciímulão-se  à  margem  do  Rio,  na  Rua  chamada  da 
Praia,  as  vezes  perto  de  300  canoas,  e  providas  de  tudo 
quanto  cada  bofarinheiro  pôde  aggregar  nos  outros  dias 
para  sua  exposição  sabbatinal. 

Trazem  pela  mór  parte  os  géneros  de  primeira  neces- 
vsidade,  fructos,  hortaliças,  e  até  flores ;  e  é  a  reunião  de 


—  227  — 

feirantes  muitas  vezes  excedente  de  2,000  pessoas,  porque 
concorrera  muitos  do  centro  a  cavallo,  carroças  e  a  pó. 
Diz  a  Escriptura  que  Deus  no  septimo  descançou,  e  por 
isso  aqui  também  n'esse  dia  não  se  trabalha,  e  somente 
vende-se,  e  compra-se  que  comer  e  o  preciso  para  7  dias; 
pois  nos  outros  não  concorre  cousa  de  que  se  alimente 
a  gente. 

Vamos  á  própria  casa,  e  direi  somente  o  que  é  ella  aqui 
no  Penedo — Fazei  ideia  d'uma  margem  de  rio  estradada 
de  canoas  de  todos  os  tamanhos,  e  carregadas  de  todos  os 
géneros  vendáveis,  d'esde  os  mais  conhecidos  até  o  gini- 
papo  bravio,  o  jaracatiá,  etc.  Fazei  ideia  d'uma  aglomera- 
ção de  pessoas  de  todas  as  idades,  de  todas  as  cores  e  tra- 
jos, e  até  condições,  a  procurar  que  comer  c  em  uma  rua 
que  não  terá  das  casas  ao  bordo  do  Rio — cem  passos — e 
fareis  ideia  do  mais.  Quanto  a  mim  é  esse  costume  o  con- 
ductor  da  necessidade  e  fome  constante,  e  mào  passadio 
de  que  se  rescente  esta  Cidade,  em  razão  de  que  o  mais 
fresco,  o  melhor  se  perde ;  ou  porque  não  dura  atè  sab- 
bado,  ou  porque  no  sabbado  come-se  passado,  ou  porque 
vem  ao  mercado,  máo,  e  precoce,  para  aproveitar-se  a 
venda  d'essc  dia  previlegiado,  que  dá  logar  a  tanta  con- 
fusão, e  procura  precipitada,  pelo  receio  de  não  se  terem 
as  cousas ;  o  que  tudo  faz  que  n'esse  dia  não  haja  pai  por 
filho,  nem  filho  por  pai !— É  o—dies  iroB  f  Quem  viajar  o 
Penedo  n'esse  dia,  fará  ideia  da  actividade  d'uma  Cidade 
Commerciante,  ao  passo  que  nos  dias  seguintes  parecer- 
Ihe-ha  que  são  estatuas  mudas  os  logistas  e  o  povo  que  no 
sabbado  corria.  É  uma  vida  cm  languida  modorra,  da 
qual  se  disperta  pela  diliranto  febre  de  8  em  8  dias. 

Tenho  até  aqui  descanç-ado,  pois  que  desenfadado  e^tou, 
proseguirei  na  minha  viagem  de  Rio  acima,  e  a  farei— 


—  tiH  — 

paulatiin  sed  anibulamlo— e  dir-vos-hei,  ({ue  logo  com  a 
Cidade  do  Penedo»  se  liga  o  engonho—Iboiacica — pro- 
priedade— do  Commandante  Superior  n^formado  doeste 
Termo — o  finado  Coronel  José  Ignacio  de  Barros  Leite. — 
É  um  logar  aprasivel,  e  mais  se  torna  nas  épocas  das  va- 
santes  pelo  grande  pescado  que  dà  a  Tapagem— que  tem 
o  mesmo  nome,  por  ser  feita  no  Riacho  Iboiacica.  Pode- 
ria esta  veia,  beneficiada  pela  máo  prodigiosa  da  industria 
humana,  ser  navegável  umas  6  ou  7  legoas,  para  o  centro ; 
que  tantas  lançâo  as  enchentes,  porém  como  tudo  por  aqui 
está  na  primitiva,  só  se  aproveita  e  disperdiça  com  a  na- 
tureza. 

Sabeis — Sr.  Capanêma — o  que  é  uma  tapagem  na  bocca 
d'um  riacho  que  tanto  ao  longe  hospeda  as  aguas  de  tão 
grande  Soberano,  como  é  o  S.  Francisco  ;  e  por  isso  não 
me  demorarei  em  discrever-vo-la ;  porém  com  tudo  força 
é  referir  que  para  ahi  concorrem  em  tal  numero  os  povoa- 
dores do  húmido  elemento,  que  este  anuo  foi  arrematada 
por  I:700í  e  tantos  reis,  e  que  o  Tapageiro  arrematante 
teve  um  dia  de  18,000  peixes !  I  !  Por  essa  batalha  (em  que 
ficaram  no  campo  tantos  mortos  I)  conliecer-se-ha  que, 
posto  tenha  a  Camará  este  ramo  de  receita,  o  damno  é  in- 
calculável. Não  se  pôde  fazer  uma  ideia  do  furor,  com  o 
qual  um  doestes  conquistadores  das  aguas  estraga  os  povos 
conquistados,  são  os  nivaróes  de — Terracina — não  poupa 
nem  sexo,  nem  idade  ! 

A  rapidez,  com  que  escoáo-se  as  aguas  às  vezes,  faz  o 
peixe,  por  sahir,  furioso ;  e  ou  seja  pela  estagnação  depois, 
ou  pela  ira  dos  conquistados  nos  espaços  de  sua  liberdade, 
tem  sido  elles  muitas  vezes  alimento  damnoso  â  saúde  pu- 
blica, e  apparecido  tem  as  Camarás  de  sangue,  e  as  ailicas 


entre  a  população  miserável,  que  mais  se  farta  nos  des- 
pojos. 

Contâo-me  antigos— que  antes  das  tapagens,  o  Rio  far- 
tíssimo era  de  pescado  c  os  tenho  ouvido— que  n'esse  tem- 
po as  Tubaranas  envestião  as  canoas  e  alguma  dava  de 
jantar  ou  de  cear  ao  accommettido^  que  de  bom  grado 
lhe  perdoava  o  susto  pelo  bem  que  lhe  sabia :  Ora,  se  assim 
parece  ser  verdade,  uma  lei  deveria  sancionar  a  abolição 
das  tapagens  em  ambas  as  margens ;  e  assim  tornara  abun- 
dância ao  pobre,  que  fora  da  épocha  de  conquista,  lucta 
coma  tarrafa,  noite  e  dia,  sem  colher  uma — piaba!... 

Ha  logo  pegado  ao  Engenho  uma  Capella  abandonada, 
cujo  começo  indica  gosto,  é  pertencente  aos  Irmãos  da 
rica  ordem  dos— Bentos— e  tem  a  invocação  de  S.  Amaro 
que  não  é  Sancto  nú,  e  por  isso  não  atino  com  a  razão,  por 
que  nua  deixaram -lhe  a  casa.  Corre  pela  direita  a  vargem 
— de  Mathias  de  Souza— origem  de  duvidas  entre  herdei- 
ros e  novos  donos — e  entremeiáo  diversas  Ilhas  sendo  a 
mais  mencionavel  a  de  D.  Antónia  que  conta  fertilissimos 
massapés  para  cannas ;  são  os  cannaveaes  d'ahi  que  ali- 
mentáo  a  moagem  do  proprietário  jà  fallado  o  mais  conta 
dous  pequenos  Engenhos.  A  diante  do  Mathias  de  Souza, 
vai  a  Senhora  da  Saúde,  cuja  capellinha  alva  como  a  co- 
lumba  da  arca,  não  lhe  assentaria  màl — o  sic  illa  ad  arca 
reversa  est — porque  na  verdade  é  também  uma  certeza  e 
uma  desejada  esperança  aos  que  descem  de — Piranhas— 
para  o— Penedo. 

Logo  que  se  diz— estamos  na — Saúde — sente-se  uma  im- 
pressão semelhante  a  que  nos  causa  a  palavra — terra — 
quando  estamos  com  longa  viagem  de  alto  màr.  É  collo- 
cada  cm  uma  Povoação  ou  arraial  composta  de  boas  casas. 


—  2:]2  -- 

São  de  barro,  e  ainda  nus 
Estão  ambos  os  outoens, 
Na  térrea  còr  nâo  reluz 
O  lindo  astro  ao  nascer 
Vai-se  n'elles  fenecer. 

Assim  ella  edificada 
Por  paupérrimo  devoto. 
De  unidos  troncos  cercada, 
Foi  plantada  n'este  outeiro 
Doeste  rio  a  cavalleiro. 

Isolou  sua  devoção, 
Como  a  si  esse  devoto 
£  lhe  põz  a  invocação 
Da  virgem  de  seus  cuidados. 
Que  nos  perdoa  os  peccados. 

Entre  o  mato  isoladinho 
Sobre  um  pincaro  firmouse. 
Como  Águia  firma  o  ninho, 
E  a  cruz  da  redempçào 
Elevou  ao  céo  então. 

9.0 

Doeste  mundo  segregado. 
Talvez  por  arrependido 
Do  que  n'elle  tinha  obrado. 
Pregou  as  vistas  no  céo 
Reformou  o  peito  seu. 


—  ^1M\  — 

10.*» 

Só  por  companheiros  linha 
O  bosque  que  dava  o  fructo, 
O  Rio  que  corre  azinha, 
E  dentro  do  coração 
O  pensar  da  salvação. 

Não  tinha  outro  a  fazer 
Que  adorar  a  virgem  pura» 
A  virgem  de  seu  prazer, 
E  por  isso  a  appellidou 
J)o  prazer  com  que  lidou. 

O  feio  monte  fragoso 
Ornado  doesta  Igrejinha. 
Esse  refugio  gostoso, 
Por  anliphrase  mudou 
Prazeres  se  appellidou. 

Quem  navega  nVste  rií) 
Busca  a  vêr  esse  devoto ; 
Mas  ninguém  conta  que  o  vio, 
E  assim  a  devoção 
Passou  com  a  tradiccão. 

Pela  direita  vão  as  habitações  do  Mi)rrinho  da  Pindobít 
— os  Morrinhos — e  o  Sacco — tendo  em  meio  a  Ilha  das 
graças  e  a  coroa  dos  Caldeirões.  Não  povoáo  a  Ilha  as  aves 

ABBIL.  30 


que  lhe  dão  o  nome ;  que  apaixonado  ou  pela  caça  ahi 
nunca  as  vi  que  me  excitassem  a  queimar  com  ellas  uma 
espoleta. 

Depois  do  Sacco  vereis  as  casas  do  Midiíi,  com  seu  ca- 
nal, formado  com  a  Ilha  da  Formosinha,  e  do  lado  esquer- 
do o — Arraial — Itinba — com  sua  Coroa  do  mesmo  nome. 

A  Itinba — não  gosa  bons  créditos  a  bem  da  ordem  e 
tranquilidade  publica:  o  fundador  doesse  ramo  é  um  serva 
da  Ley  na  phrase  dos  criminalistas.  A  diante  do — Miahú 
está  o— Morro  da  Càl  e  pegado  a  este  a  grande  Villa  de 
Própria :  tem  à  vista  os  Cajueiros-^ Urubu,  e  a  Povoação  e 
Matriz  do  Porto  Real  do  Collegio. 

Deito  aqui  a  ponta  de  minha  canoa,  por  ser  essa  phrase 
mais  própria  ao  caso,  do  que  as  expressões  do  author  do& 
Luziadas. 

Toniáo  velas;  aniaina-se  a  verga  alta 
Da  ancora  o  már  ferido  em  cima  salta 

e  tendo  feito  outras  sete  léguas,  tornarei  a  refocíllar,  di- 
zendo o  que  de  mais  notável  se  fizer  n'estes  dous  viveiros 
de  gente. 

A  Villa  de  Própria  é  a  segunda  Povoação  doeste  bello 
Rio,  conta  498  casas  pouco  mais  ou  menos,  uma  elegante 
Matriz  cuja  capella-mór — é  recentemente  lavrada  de  talha 
e  bem  dourada,  d'entro  é  espaçosa  e  possue  a  capclla  da 
Sacramento  lageada  de  mármore  ebcm  decorada. 

Quando  visitei  esta  Igreja,  disse-me  um  dos  da  terra 
(|ne  o  mármore  do  lageado  era  achado  nas  ])edreiras  do 
logar,  o  que  de  alguma  forma  surprehendeo-me ;  pelas 
duas  cores  de  branco,  e  acinzentado,  epelo  trabalho  opti- 
mamente preparado — não  dei  credito  ao  individuo,  e  veri- 
fiquei ser  vindo  da  Europa. 


—  2:];>  — 

A  M  itriz  de  Própria  foi  antiga  capella  com  a  invocação 
de  S.  António  do  Urubu. 

Tem  mais  a  Igreja  do  Rosário  e  a  casa  de  oração  dedicada 
à  Sancta  Cruz.  A  Villa  está  dividida  em  dous  bairros  cada 
um  em  sua  eollina,  sendo  no  Valle  uma  Lagoa  que  sangra 
para  o  Rio  por  um  canal  de— 20 — palmos,  está  à  beira  do 
Rio  todo  o  Gommcrcio.  As  propriedades  à  margem  do 
Rio  são  quasi  todas  de  sobrado  e  alguns  bem  edificados 
ainda  que  seguem  o  mesmo  prejuiso  de  despresar  a  pedra 
que  tem  à  porta,  para  construírem  de  úiadeira,  que  vão 
buscar  de  algumas  léguas  longe,  c  tál  é  o  deleixo;  culpa 
da  Municipaliílade,  que  por  não  ter-se  o  trabalho  de  depo- 
sitar alguns  milheiros  de  lages  que  estão  ao  pé  da  Villa,  e 
com  ellas  fazer,  pelo  menos  um  càes  de  pedra  secca,  tem 
o  Rio  em  suas  enchentes  levado  ruas  inteiras  I  Parece  in- 
crível que  no  século  dos  progressos  materiaes  sejâo  aqui 
e!les  tão  esquecidos ;  mas  é  ponjue  não  é  o  século  que  in- 
flue;  são  os  homens  do  século,  os  quaes  faltão  n^estes  lo- 
gares  entregues  à  inércia,  ou  ao  acaso. 

Tem  uma  feira  aos  sabbados  tál  qual  a  do  Penedo  sendo 
que  as  medidas  daqui  para  cima  são  ainda  maiores  f  Á  frente 
da  Villa  tem  um  banco  de  arêa  que  faz  com  a  margem  onde 
a  acimentarão,  um  canal ;  o  notável  d'elle  é  ser  um  viveiro 
de  tão  ávidas  e  vorazes  Piranhas  que  raro  é  o  infeliz  huma- 
no que  por  ali  passa  inpunemente;  não  sei  se  existe  algu- 
ma— Calipso — transformada  em  peixe  que  também  diz  aos 
náufragos  e  viajantes — Sachez. . .  qu'  on  ne  vient  point  im- 
punemente dans  mon  empire— pois  os  que  se  tem  salvado 
trazem  a  reminiscência  de  seu  infortúnio  na  falta  d^uma 
barriga  de  perna,  dedo,  e  as  vezes  até  no  ventre  custu- 
radol ! ! . .  É  a  residência  do  Juiz  de  Direito  que  fugindo 
ao  feudo  da  Villa  Nova  fez  por  sua  segurança  d'essa  Villa 


—  230  — 

a  cabeça  da  Comarca,  hoje  confirmada  por  Lei  Provincial 
(Peste  anno.  Tem  ella  as  auíhoridades  de  nossa  organisa- 
çâo.  Civil.  Policial  e  Judiciaria  e  Ecciesiastica.  O  adianta- 
mento a  lodos  os  respeitos  é  abaixo  do  da  Cidade  do 
Penedo. 

Não  adiantarei  mais  a  respeito  doeste  logar,  para  que  náo 
commetta  alguma  inexactidão;  por  quanto  só  me  demorei 
n^essa  Viila  umas  24  horas.  Muito  me  arrebatou  a  figura 
colossal  d'um  frade — Beneditino  que  apresenta  uma  cor- 
fK)lenta  arvore  inrraisada  na  ponta  do — Morro— da  càl,  sua 
cimeira  destaca-se  isolada  para  as  nuvens  fazendo  um  cha- 
peo  desabado,  o  tronco  limpo  entre  o  chapeo  e  corpo  da 
arvore,  pela  claridade  do  àr,  finge  perfeitamente  o  rosto 
alvo  d'um  homem,  e  o  resto  da  arvore  um  apanhado  dos 
hábitos,  e  está  como  quem  desembarcou  naquellas  pa- 
ragens, evai  subindo  desafrontado  o  morro  nomeado! 
muito  me  arrebatou  essa  ideia  fantástica  produsida  pelos 
contornos  d'essa  arvore ! 

A  Povoação  do  Collegio  foi  antiga  Missão  dos  Jesuítas  e 
hoje  é  uma  Freguezia  com  o  mesmo  nome  de  Porto  Real 
do  Collegio.  Está  assentada  em  um  teso  à  borda  do  Rio, 
cujas  margens  estão  orladas  de  rochedos  de  granito,  e 
bastante  fragosos ;  terá  uns  cem  vizinhos  pela  mór  parle 
de  raça  indigena  ou  mistiços.  A  Matriz  é  miserável,  e  tudo 
vai  em  ruinas  e  decadência ! 

Aqui  a  fama  das  obras  e  gosto  e  velhacaria  Jusuitica  tão 
temida,  ê  um  real  contraste !  O  convento  terá  merecido 
este  nome  se  lambem  costumavam  assim  appellidar  a  uma 
perfeita  espelunca ;  pois  que  é  esse  edifício  rasteiro  sobrado 
e  de  janellas.  e  portas  tão  apertadas  que  mais  se  parece 
com  um  pombal,  do  que  com  habitação  de  frades,  e  da 
que  frades ! 


—  237  — 

Penso  que  os  fundadores  náo  pertenciáo  á  tál  ordem, 
porque  náo  ha  traço  ou  vestígio  que  demonstre  os  dedos 
dos  gigantes  que  só  foráo  derribados  pelo  poder  de  outro 
— o  Marquez  de  Pombal. 

Alguma  alegria  que  o  coberto  coração  do  viajante  que 
vai  ao  Collegio  pôde  ter,  é  pela  vista  fronteira,  a  Villa  de 
Própria. — que  na  verdade  fica  bem  esbelta  e  senhoril  com- 
parada com  a  sórdida  Povoação  sua  vizinha  de  frente. 

Concorre  muito  para  essa  sua  belleza  a  largura  do  Rio 
n'este  logar  sem  Ilha  alguma  de  permeio.— É  uma  das 
maiores  bolinas  (jue  tem  a  canjar  aquelles  que  sobem  ao 
Sertão ;  porém  o  quadro  visto  em  dia  claro  e  com  vento 
franco  é  uma  bella  passagem. 

Hoje  por  Lei  Provincial  d*este  anno  está  mudada  a  Sede 
da  Freguezia  para  o  Povoado  de  S.  Braz.  É  isso  mais  um 
dos  excessos  que  commettem  as  nossas  Assembléas,  que 
até  determináo  aos  Vigários  onde,  e  quando  devem  orar  ao 
Altíssimo!  No  seguimento  ao  Collegio  vão  os  logares— 
Correnteza— e  Domingos  de  Mattos — ficando  do  outro  lado 
— o  Lagamar — Pào  ôco— Sucuruiú — Morro  do  Prego — 
Lagoa  Tapada— e  Campínhos — que  é  um  colle  alcatifado 
de  verdura  em  todos  os  sentidos,  á  cavalleira  do  Rio,  e  co- 
roado d'uma  espaçosa  casa.  residência,  no  Campo  do  Juiz 
de  Direito  da  Comarci— de  Villa  Nova — o  Dr.  Bernardo 
Machado  da  Costa  Dória,  que  teve  melhor  escolha  para  si- 
tuar seu  casal  do  que  os  fallados  Padres  da  Companhia,  es" 
colhendo  o  Collegio. 

A  estes  logares  fronteiros  estão  na  margem  esquerda  os 
do  Sampaio,  e  o  Povoado — Tibiry,— cousa  insignificante,  e 
S.  Caetano,  e  o  Povoado  de  S.  Braz  com  as  Ilhas  de  S. 
Braz,  e  do  Rosário,  tendo  à  vista  o— Amparo—com  uma 
pequeníssima  Igreja  e  má. —  Jaguaripe— João  Soares — e 


—  áas  — 

Rua  do  Fogo — assim  cliamada  por  ter  um  renque  de  pe- 
quenas cas^s,  cujos  moradores  acccndera  Iodas  as  noites 
muitas  fogueiras. 

A  Povoação  de  S.  Braz  conta  perto  de  170  casas  com 
duas  Igrejas  de  S.  Braz,  o  Padroeiro,  e  N.  S.  do  Rosário  e 
um  Oratório  da  S.  Cmz. 

Tem  uns  dous  sobradinhos  e  as  casas  são  mais  limpas  c 
melhores  que  não  as  do  Collegio :  a  forrn  dos  liabitantes 
da  Freguezia  e  Districto  tem  concorrido  para  aqui.  Tem 
um  grande  canal  que  dá  hoje  váo,  e  com  uma  grande  coroa 
em  frente,  dando  assim  péssimo  desembarque.  É  extensa 
a  criação  de  porcos,  ea  factura  de  sabão  da  terra,  além  de 
criação  de  gados  e  lavouras.  É  notável  este  logar  pelas 
scenas  occorridas  entre  os  partidos  politicos  appellidados 
de — Galante  e — Caborge. 

Segue-se  o  Morro  do  Gaio,  dizem  os  habibantes,  ainda 
que  parece-me  ser  uma  contraçâo  de — Galho — e  indica  isso 
as  grandes  arvores  que  servem  de  cocar  ao  pedregoso  ou- 
teiro, cujo  aspecto  se  mira  no  espelho  das  aguas.  As  Emen- 
dadas (casas)— e  a  Povoação  da  Lagoa  Cumprida,  queapre- 
senta-se  bastante  alegre  por  serem  as  casas  todas  á  borda 
do  Rio,  caiadas,  e  cgm  arvores  corpolentas  pela  margem, 
de  maneira  que  formão  um  sombrio  agradável,  concorren- 
do assim  para  que  ali  se  faça,  quasi  sempre,  parada  no  su- 
bir, ou  descer  para  gosar  do  fresco  dessa  alameda  natural, 
prodigio  de  nossa  vegetação. 

Tem  uma  Igreja  pobre,  mas  decente ;  e  pela  frente  uma 
grande  coroa  em  que  dà  muito  plantio  de  arroz  pelas  lamas 
que  lhe  deixão  as  enchentes.  São  os  habitantes  pela  mór 
parte  criadores  e  cortidores :  e  finalmente  a  Lagoa  do  Reis 
com  um  pardieiro,  que  nada  tem  de  régio  Solar,  para  que 
a  Lagoa  que  existe  n'elle,  tenha  tão  pomposo  appellido. 


—  úU9  — 

Com  a  Rua  do  Fogo  emenda-se  a— Borda  da  Mata— 
antiga  fazenda  de  gados  do  curandeiro — Capitão  Piza,  que 
parece  fora  de  grandes  interesses  pelos  curraes  de  pedra  e 
cal;  porém  hoje  methamorfoseada  em  Engenhos  de  moer 
cannas  do  proprietário  o— Major  Francisco  Joaquim  da 
Silva  Lemos,  o  qual  aventura  muito  boas  safras  pelos  soc- 
corros  dos  vizinhos  fronteiros  do  Povoado— Munguengue— 
que  serão  seus  infalliveis  lavradores,  pela  quantidade  de 
cannas,  que  plantão,  e  que  não  moíão  por  falta  de  força ; 
a  qual  de  presente  encontrão  na  Borda  da  Mata. 

É  o— Munguengue  terreno  dos  melhores  para  planta- 
ção de  tudo,  pertence  a  muitos  herdeiros  e  ainda  que  do 
Rio  se  vejáo  poucas  habitações  vão  ellas  emboscadas  de 
beira  Rio  e  para  dentro  obra  de  meia  légua.  lia  nesse  lo- 
gar  muitos  cortumes  de  couros  e  pelles;  e  alguém  jà  cor- 
tio  as  pellicas  perdenJo-se  hoje  essa  industria  porque 
morreo  com  o  dono. 

D'esse  logar  principiáo  a  apparecer  os  rochedos  Mica- 
cliistos  como  os  das  amostras— N.®  3  N.°  4.— Adiante  da 
Borda  da  Mata,— seguem  as— Amigas— Covão— Uma  ris — 
é  Curiaes,  pequenas  casas.  O  Covão  é  um  alcantilado  ro- 
chedo escalvado  por  onde  no  inverno  se  despenha  uma  es- 
pumante cachoeira. 

Caminhão  por  esse  mesmo  lado  muitos  morros  ate  o  lo- 
gar—Tijuco— ao  passo  que  pela  esquerda  preenchem  este 
intrevallo  os  do  Ouricury,  povoado  do  Rabello  com  sua  La- 
goa do  Toumbury,  e  os  Sítios  do— Bode  Melado— Co- 
roas—Lagoa  Grande  e  Lagoa  Funda. 

O  Arraial  do  Rabello  é  tão  galante  como  sua  nova  e  pe- 
quenina Capella,  é  esse  logarinho  uma  bella  Cécem  aberta 
no  meio  de  Silva.  O  Tijuco  é  celebre  pelas  façanhas  de  seu 
fundador  conhecido  por  Chico  do  Tijuco,  seus  grandes  e 


—  áiO  — 

rendosos  meios  de  vida  erãu  a  lavoura,  criaçào  e  o  cor- 
tumc. 

Não  fazia  elle  as  atrocidades  dos  Cavalleiros  de— Vi- 
reau  —  cujos  bosques  tinháo  Cadáveres  seccos  das  victimas 
de  saa  prepotência,  os  quaes  balançados  pelos  ventos,  cho- 
calhando os  ossos,  davão  esses  sons  na  intitulada  — Lyra 
de  —  Vireau ;  porém  bem  lhe  poderíamos  chamar  um  des- 
ses espadachins  de  temer. 

Contãoque  possuia  um  bacamarte  que  alcançava  a  largu- 
ra do  Rio,  que  nesse  logar  não  terá  menos  de  um  quarto  de 
légua  !  Bem  poderia  supprir  a  falta  do  Celebre  Casàpo  que 
tinha  a  legenda  a— quem  meu  Senhor  oílender  a  cem  lé- 
guas buscarei. 

Ao  Tijuco  segue-se  a  Serra  da— Tabanga— quefica  so- 
branceira às  Collinas  e  Rochedos  micachisticos  dos  logares 
—Marcação— nome  tirado  do  riaclio  que  por  alii  desagua 
— Saccão— e  Villa  do  Porto  da  Folha,  conhecida  igualmente 
por  Traipu.  Tenho  feito  sete  léguas,  e  força  ó  tomar  as  velas 
e  abicar  ao  porto,  para  que  mais  socegado  vos  conte  a  horri- 
vel  belleza  destas  fragoas,  e  o  que  seja  esta  Villa  cabeça  do 
segundo  Termo  dos  meus  dominios judiciários.  Ologar-^ 
Saccâo  —  propriedade  do  Dr.  Antoxio  Joaquim  Monteiro 
Sampaio  é  umrazo  monte  de  rocha  negra  fragosa  e  em  semi- 
círculo, de  forma  que  sua  testada  para  com  a  coroa  que  beija 
a  longa  Serra  da— Tabanga,— fazem  um  perfeito— X—  e 
é  nesse  apertado,  e  que  nas  vazantes  do  Rio  terá  a  distancia 
de  um  tiro  de  besta,  que  correndo  todo  o  Rio,  demonstra 
visivelmente  um  cogulo,  tornando-se  passagem  perigosís- 
sima, visto  como  são  os  ventos  ahi  sempre  ponteiros.  Se  a 
pode  bem  appellidar  de  Adamastor  do  Rio  de  S.  Francisco, 
É  de  uma  rocha  micachistica  como  da  amostra— N.  S — que 
se  desprende  por  laminas  umas  doiradas  e  outras  prateadas. 


~  á41  — 

Náo  Jhe  medi  a  altura  e  distancia  senão  pelo  Barómetro— 
e  Theodolito— de  meus  olhos,  éum  arremedo  do  Corcova- 
do que  faz  parte  desse  Gigante  a  quem  a  Voz  Divina  lhe 
grita — Surge,  et  Impera. —  Ahi  o  Rio  se  encapella  e 
— falia—  horrendo  e  grosso,  que  parece  sahir  la  de  seu 
fundo.  É  uma  sentinella  do  soberbo— Paulo  Aflonso,— e 
que  por  ordem  delle  pode  perguntar  igualmente  aos  --Na- 
ve^mtes. 

Pois  vens  vèr  os  segredos  escondidos 
Da  natureza  e  do  húmido  elemento? 
Sabe  que  quantas  nãos  esta  viagem 
(Jue  ta  fazes  fizerem  de  atrevidas 
Inimiga  terão  esta  paragem. 

Ahi  parece  que  a  natureza  alteoj  a  terra:  estradou  a 
margem  opposta  de  rochedos ;  cavou  profundamente  o  rio ; 
es'iureceo  as  aguas;  pôz  os  ventos  ponteiros,  e  estreitou  a 
passagem  para  atterrar,  e  ata  \\i\r  o  atrevido  homem  em 
seus  passos  1 ! 

.  É  a  belleza  que  em  vez  de— Thotis— encontrara— Ada- 
mastor. 

Um  duro  monte 

De  ásperos  matos  de  espess  ira  brava 

As  sinuosidades  que  faz  a  grossa  arterea  desde  os  mor- 
ros—Três  Irmãos— até  a— Tabanga— da-lhes  transfigura- 
ções dignas  de  registrarem-se.  Para  quem  vem  debaixo 
estes  não  ofTerecem  outra  belleza.  mais  do  que  a  de  Ver- 
des Montanhas,  cada  uma  Cí)m  sua  casa,  mais  ou  menos 
bem  edificada;  porém  mal  que  tílias  vão  ficando  pela 
pôppa  da  canoa»   nos  parece  cada  morro  um  Elephante 

ABRIL.  31 


—  i4á  - 

♦>nit  3^a— OjoabJfTy — mais,  ou  menos  rico,  e  a  Sem — Ta- 
^1^ — ;](  ttôl  desse  rebanho !  Esta  ao  deixar-se  lambem 
piM-  >íjtt  vn^  unindo  seii  todo  ao  Outeiro,  representa  per- 
i^MtÉÉmip  nâo  mais  a  Elephante  entre  os  íílbos ;  porém 
IMIA  MDQSlruosa  Toninha  que,  embebendo -se  nas  doces 
a^juaií;.  subio  até  aqui ;  e  querendo  regressar  a  seus  lares 
sàl^tos  encalhou  na  larga  e  extensa  coroa,  e  ahi  i>etrili- 
ciHhse.  Sobre  os  rochedos  que  entestão  com  a  Serra  su- 
liwmencionada.collocaram  seus  fundadores  a  Vd  a  do  Porto 
da  Folha,  conhecida  igualmente  por— Traipíi.— Foi  ella 
uma  fazenda  de  gados  dos  antepassados  de  Manuel  dos 
Santos  Lima.  Fica  norte  sul.  por  este  lado— corre  o  S. 
Francisco  pelo  de  leste  a  Lagoa  da  Igreja,  e  pelo  oeste  a 
Lagoa  do  (iarlos,  e  o  rio  Traipú,  formando  assim  do  Po- 
voado nas  enchentes  uma  peninsula  ligada  com  a  terra  fir- 
me pelo  lado  norte.  Conta  a  Povoação  212  casas  sendo  al- 
gumas de  sobrado  e  com  a  mesma  maneira  de  edificação — 
madeiramento. 

Seguem  as  ruas  as  tortuosidades  da  margem  do  Rio  e 
tem  as  casas  os  fundos  sobre  elle,  tornando-se  por  isso 
sua  vista  triste  como  a  de  objectos  vistos  pelas  costas! 
Possue  uma  Matriz  em  obras,  sendo  toda  de  pedra  e  cal : 
pôde  vir  a  ser  um  soffrivel  Tempío,  A  antiga  Matriz  foi 
levantada  no  logar  Sacco  por  D.  António  de  Giquià  em 
1760  :  dizem  que  a  Imagem  da  Senhora  do  O'  fugia  para 
Porto  da  Folha,  e  contradizia  assim  a  teima  de  a  levarem 
para  o  Sacco.  Em  1781  o  Padre— Rezende— mudou-a  de- 
finitivamente para  Porto  da  Folha— ou  Traipú,— e  seu  so- 
brinho o  Missionário  PadreFrancisco  JoséCorreia- obteve 
a  doaçáo  de  meia  legua  de  terras  feita  pelo  proprietário 
Manuel  dos  Santos  Lima,  e  sua  mulher  Rita  Maria  da  Con- 
ceição, estando  preso  nas  cadêas  do  Penedo,  não  pude  sa- 


—  243  — 

ber  porque  motivo.  Seu  genro  ainda  existente,  o  Alferes 
António  Nunes  Coelho ,  tem  94  annos,  e  ainda  monta  a 
cavallo,  casou  se  em  1790,  tem  17  filhos,  e  sua  mulher 
Anna  Maria  dos  Santos  Lima  vive  ainda,  os  filhos  sáo  5 
senhoras  e  12  homens,  e  entre  estes,  netos  e  um  bis- 
neto conto  103  descendentes!  O  Commercio  é  soífrivel, 
é  a  geral  occupação  dos  residentes  dentro  da  Villa,  sendo 
a  dos  habitantes  de  fora  a  lavoura,  e  a  criaçáo. 

A  lavra  de  arroz  é  em  grande  escálla,  e  as  Lagoas  que  a 
isso  se  prestáo  dão  atè  renda  para  os  seus  proprietários. 
Aqui  também  está  estabelecida  a  conquista  aquática,  e 
rendeo  a  tapagem  do  Traipu  400  e  tantos  mil  réis,  porém 
este  anno  os  povos  conquistados,  ajudados  pelo  favor  da 
enchente  que  foi  mesquinha,  libertaram-se,  fazendo  o  ava- 
rento e  cruel  tapageiro  perder  no  preço  porque  os  preten- 
dia escravisar. 

O  Riacho— Traipú— não  ésusceptivel  de  navegação;  tem 
longo  custo  no  inverno  e  suas  cabeceiras  não  váo  além  da 
Serra— Broxa— deixando,  desde  as  das  Mãos— até  ao  logar 
Cachoeira  do  Traipú,— poços  que  servem d'aguadas  nesses 
borrados  Sertões;  nelles  curtem  os  coiros,  epelles,  e  la- 
vão  o  caroá  cujos  campos  são  vastos  e  quasi  inesgotáveis. 

Não  ha  cadêa,  e  a  casa  da  Camará,  que  também  serve 
para  a  do  Jury,  é  muito  insufflciente.  Restão  comtudo  es- 
peranças pela  consignação,  que  na  Assembléa  alcançou  o 
Deputado— o  Tenente-Coronel  Theotonio  Ribeiro  e  Silva, 
de  6:000  i  000  rs.  para  a  dita  cadêa.  Se  este  canto  náo 
tivesse  o  seu  representante  Provincial  bem  creio  que  náo 
se  lembrarião  delle.  é  por  essa  razão  que  tive  e  tenho 
como  idéa  fixa,  que  a  representação  Provincial  devia  ser 
por  Villas,  ou  Municipios,  como  é  a  Geral  por  Provincias. 

O  rochedo  que  circunda  a  Villa  apresenta  varias  locas,  e 


—  244  — 

algumas  tão  amplos  á  borda  do  Rio  que  dâo  logar  a  sob  el- 
las,  abrigarem-se  muitas  pessoas  de  uma  vez.  São  logares 
de  óptimos  banhos  naturalmente  cavados  peias  aguas. 

As  amostras  que  envio  de  N.^  6  dentro  de  uma  caixinlia 
indica  uma  mina  de  granadas,  e  de  algum  metal  precioso. 

AS  amostras  de  N.°  7  que  vâo  também  em  outra  caixi- 
nha, s  jo  tiradas  do  logar  indicado  no  rosto  do  embrulho, 
e  dizem  os  habitantes  ter  uma  mina  de  prata,  ou  cobre, 
porém  inclino-me  a  pensar  que  seja  de  ferro,  pela  capa- 
rosa  ou  vetriolo  verde. 

A  pedra  que  vai  com  o  N.*^  8  é  achada  na  Lagoa  da  Pe- 
dra, 14  léguas  para  o  centro  nas  terras  de  Manuel  Ray- 
mundo  Duarte,  e  parece  ser  alahastrina,  ou  bello  már- 
more branco. 

Não  digo  que  semelhante  ao  de  Paris,  ou  Garrara;  mas 
quem  sabe  se  esse  cabeço  que  alveijou  sobre  a  superfície 
do  Solo,  e  donde  lascaram  um  grande  pedaço,  c.ija  peque- 
nina porção  me  coube,  não  será  a  veia  de  uma  rica  pe- 
dreira e  de  preciosissima  qualidade?  Achâo-se  no  RiífchD 
— Traipú— em  algumas  das  Lagoas  referidas  ;  e  que  cer- 
cão a  Villa  os  mariscos  que  morão  nas  conchas— sob  N.°  9 
e  que  aventura-se  serem  os  creadores  das  pérolas. 

Tenho  feito  algumas  experiências,  é  verdade  que  talviez 
extemporâneas;  porém  cousa  alguma  tenho  obtido. 

A  concha  de  amostra  indica  alguns  pequenos  tubérculos, 
que  não  ousei  classificar ;  pode  muito  bem  ser  que  na  sa- 
zão, que  ainda  não  acertei,  produzão;  principalmente  nno 
havendo  lavrado  o  mexilhão,  onde,  segundo  os  entendidos, 
se  encontrão  muitas  vezes  as  pjrolas.  Não  ésemappli- 
cação,  tempo,  e  tempo  apropriado  que  se  descobrem  estes 
thesouros:  a  um  Juiz  de  Direito  e  que  se  de  liça  a  seus 
deveres  é  isso,  de  mais,  impossiveL 


—   245  — 

Neste  logarsão  as  vargens  cobertas  de  macieiras  bravas, 
cujo  fructo  porém  é  muito  saboroso,  feito'd6ce,  o  qual  é 
muito  apreciado,  maxime  o  de  calda.  O  terreno  dà  excel- 
lentemente  a  batata  ingleza  e  de  cada  pé  vi  colher  mais  de 
25 !  t !  ainda  que  de  tamanho  pequeno. 

Bafeja  o  vento,  é  preciso  aproveitar  as  primeiras  refe- 
gas e  seguir.  Emquanto  a  Villa  do  Porto  da  Fo'ha  vai  mor- 
rer nos  seus  arrebaldes  da  outra  margem  do  Riacho— Trai- 
pú— observa-a  de  um  alto  appellidado— Gordo— uma  bella 
casa  de  uma  fazenda  de  criar,  que  pertenceo  ao  manso 
Pastor  da  Freguezia  de  N.  S.  do  O',  o  Reverendo  Francisco 
Vital  da  Silva,  e  hoje  de  propriedade  do  Cidadão  Manuel 
xVntonio  Gomes  Ribeiro.  Em  frente  estão  os  logares — Bu- 
raco de  Maria  Pereira—e  Covão.  E'  a  separação  da  Serra 
— ^Tabanga — e  Morro  do  Covão  que  parece  uma  valia  pra- 
ticada nas  serras,  e  donde  constantemente  sopra  um  vento 
em  rajadas,  e  tufões,  que  assim  nominaram. 

Seu  aspecto  é  medonho  e  máo,  e  quando  por  elle  se 
desprende  o  vento,  depois  de  ter-se  passado  a — Taban- 
ga, — muito  arremeda  e  nos  recorda  os  pensamentos  poé- 
ticos. 

Bramindo  muito  ao  longe  o  mar  soou 
Como  se  desse  em  vão  n'algum  rochedo. 

Diversas  tradições  dão  os  antigos  a  esse  appellido  um 
pouco  repugnante.  Uns  que  fora  uma  celebre  Maria  l*e- 
reira  que  cora  dous  filhos  neste  buraco  resistio  ao  dominio 
—Batavo— outros  que  alli  vivera  em  guerra  com  a  justiça 
do  Paiz  :  o  certo  é  q je  estava  a  tal  Maria  nesse  buraco, 
porém  sua  historia  se  perde  na  noite  dos  tempos. 

Alguém  me  tem  dito  que  nesse  logar  e  sobre  a— Taban- 
ga— tem  apparecido  balas  de  artilharia,  sobre  o  que  não 


—  246  — 

posso  ajuisar  com  certeza  pela  falta  dos  archi vos  destas  Yíllas 
que  não  existiram  jamais,  ou  que  se  destruíram  pela  mão  do 
deleixo  I  Não  é  inverosímil  que  o  Hollandez  taliasse  até 
aqui,  quando,  occupando  as  Províncias,  ao  Norte  da  Bahia 
até  Ceará,  furam  Senhores  do  Rio  de  S.  Francisco,  como  é 
constante  na  historia. 

Mais  tenho  escutado,  que  nessa  Caverna  que  dá  sahida 
aos  furiosos  vendavaes.  sem  serem  os  de  Éolo,  ha  uma  mi- 
na de  salitre  e  que  nella  se  encontrão  pedras  de  um  pezo 
metálico. 

Antes  de  irmos  para  diante  voltarei  à  belleza  que  offerc- 
cem  as  coroas  oblongas  que  se  formão  à  margem  do  rio 
para  alem  logo  do  Riacho— Traipú— as  quaes  vestidas  de 
plantação  de  arroz,  e  igual  em  verdura  e  tamanho,  repre- 
sentão  estes  jardins  fluctuantes  de  que  nos  fallão  os  histo- 
riadores do— México. 

Visitei  a  Caverna  de  Maria  Pereira,  e  o  que  encontrei 
digno  de  menção,  aqui  vai.  O  leito  de  um  Riacho  é  o  que 
appellidaram  de  Buraco,  e  caminha  clle  estreito  entre  os 
altíssimos  talhados  da  Serra  só  depois  de  mais  de  quarto  se 
depara  com  moradas,  e  jà  nas  baixadas. 

Encontrei  na  rocha  a  amostra— N.*^  10— que  não  me 
parece  salitre  e  nem  cousa  semelhante.  O  que  ha  de  proveito 
é  uma  rica  mina  de  granadas  do  tamanho  das  que  lhe  envio, 
ê  d'ahi  para  cima,  e  para  muita  colheta  se  a  explorarem, 
e  ultimamente  a  pedra  da  aniostra— N.^  H. — Fundi  o  pe- 
daço de  uma,  e  deo  o  resultado  que  vereis  da  amostra 
— N.^  12 — e  creio  que  deo  ouro,  e  ferro. 

Emendão-se— ao  Covão— os  logares— Lagoa  do  Cabo — 
Lagoa  do  meífc— e  Lagoa  Primeira- e  Limoeiro— até  à 
povoação  crescente  denominada— Curral  de  Pedras — em- 
quanto  que  pek)  lado  de  Pernambuco  correm  o — Morro 


—  2i7  — 

ff  Areia — Queimados— Lagoa  Sêcca — Patos— e  Lagoa  do 
Tição : — vai  ã  vista  do  Limoeiro. 

A  Povoação  do  Curral  das  Pedias— dà  presentemente 
grandes  esperanças — contem  perto  de  iOO  casas  e  disputa 
a  preferencia  de  Villa  à  do  Porto  da  Folha  que  é  actual- 
mente, e  que  foi  antigamente  Povoação  do  Buraco.  Per- 
suado-me  que  o  engano  que  se  encontra  nas  cartas 
Topographicas  do  Visconde  de  Villieux —  é  originada  de 
haverem  duas  Villas  do  mesmo  nome,  Porto  da  Folha — 
uma  pertencente  a  esta  Província — e  outra  à  de  Sergipe, 
fáz  elle  menção  da  Villa  de  Traipú  e  do  Porto  da  Folha, 
ambas  à  margem  esquerda,  quando  o  Porto  da  Folha  de 
Alagoas  fica  na  esquerda  no  ponto — Traipú— e  o  Porto  da 
Folha  de  Sergipe  no  ponto  chamado  por  elle— Porto  da 
Folha;  quem  está  á  margem  direita,  e  perto  de  uma  bôa 
légua  para  fora  da  margem  do  Rio. 

Quem  observa  visualmente  este  Rio,  conhece  perfeita- 
mente as  inexactidões  do  citado  Mappa.  que,  cotejado 
com  o  material  do  terreno,  crê-se  descrever  um  paiz 
muito  differente ;  taes  sáo  as  cartas  levantadas  por  infor- 
mações 1 1  Depois  do  logar  —  Tiçáo,  está  a  Lagoa  dos 
Defuntos,  e  logo  adiante  o — Sacco. 

Ha  alguma  relação  entre  Defuntos,  e  Tições,  certo  será 
que  estes  são  as  únicas  tochas  que  levão  aquelles  para 
esclarecer  o  caminho  do  infaliivel  transito  desta  vida  de 
podridão,  como  dizia — Rousseau — para  a  da  Eternidade 
como  éde  fé.  No  Sacco  estão  as  ruinas  da  1.*  collocaçáo 
que  deram  à  Senhora  do  O',  hoje  padroeira  da  Freguezia 
do  mesmo  nome  na  Villa  do  Porto  d\  Folha :  e  ainda  se 
distinguem  suas  paredes  em  ruina,  e  em  perfeito  aban- 
dono servindo  somente  de  alimentar  a  vida  das  parasitas. 

As  Cabaceiras  com  seu  pequeno  pqvôado—Genipatuba— 


—  248  — 

e  o  Sitio— Porto  da  Folha— seguem  pelo  lad j  direito,  em- 
quanto  as  fazendas — Riacho  Grande— Jacobina— e  Mundo 
Novo— pela  esquerda.  Na  Fazenda  Jacobina  ha. uma  bella 
lagoa  para  o  plantio  do  arroz  dá  de  renda  ao  dono  de  lOOS 
a  2008.  E'  do  Sitio  Porto  da  Foi  lia  que  principia  o— Mor- 
gado—pertencente  a  D.  Maria  Joaquim  Gomes  Castel!o 
Branco,  mâi  do  Exm.  Baráo  da  Gajaiba,  e  é  desse  Sitio 
que  tiraram  o  nome  para  a  Villa  de  que  fallei  acima.  Tem 
este  Morgado  22  léguas  de  margem,  de  fundo  12  nos 
logares  mais  largos,  e  meia  nos  mais  estreitos,  rende  de 
eOOg  a  7008. 

Com  o  Sitio  do  PoHo  da  Folha  emendáo-se  os  logares 
— Tupete  de  Baixo — e  Tupete  de  Cima— Curraes  Velhos — 
Itanis  —  e  o  Morro  do  Aijó.  e  com  o  afundo  Novo  os 
logares  —  Cotovelo —^  e  Pedregulho.  Só  as— Itans— que 
é  hoje  um  pequeno  Povoado ,  merece  menção,  os  mais 
são  Sitios  sem  importância.  X  Povoação  das  Itans.  se 
appellida  de  Ilha  por  ciusa  de  assim  tornar-se  com  as 
enchentes. 

Depois  do  Pedregiilho— segue-se  o  povoado  do  Riacho 
— Panema,  cuja  extensão  tem  defronte  os  logares— Porte- 
rias— Francisca— Bòa  Vista— Ilha  do  Ouro  e— Faria— ; 
em  meio  está  a  formosa  Ilha,  e  monte  dos  Prazeres.  E' 
um  engano  do  Sr.  de  Saint  Adolphe— alcunhar  este  monte 
dos  Prazeres  de  Ilha  do  Ouro.  A  Ilha  das  Itans  pertence 
ao  Morgado ;  o  Vigário  xManuel  Joaquim  de  Lima  Cortes, 
por  intrigas  politicas  com  o  Tenente-Coronel  João  Fer- 
nandes da  Silva  Tavares,  e  a  pretexto  de  que  as  Ilhas  do 
Rio  pertencem  a  D.  Antónia  de  Giquià,  e  sua  descendência, 
comprou  a  quem  sem  consciência  vendeo  o  alheio ;  cor- 
reo-se  grande  pleito,  e  vencêo  o  Morgado,  todo  o  motivo 
era  tirar  a  influencia  de  Tavares,  sobre  os  votantes.  Elei- 


—  yí9  — 

ções  em  lodo  o  caso,  ora  lodos  os  passos  da  vida  de  um 
Brasileiro ! ! . . 

A  Povoação  do  Panema  derrama -se  pela  margem  do  Rio, 
6  por  um  e  outro  bordo  do  Riacho ;  as  casas  são  boas,  e 
algumas  brilhão  por  entre  copadas  Quixabeiras,  e  Joazei- 
ros,  e  lhe  dão  muita  graça,  pode-se  dizer  que  è  a  povoa- 
ção formada  por  mais  de  30  Sitios  vizinhos  uns  dos 
outros.  O  Riacho  dá  commodo  para  plantação  do  arroz  em 
suas  beiradas  e  em  seu  leito  muitas  vezes. 

A  Ribeira  é  creadôra  de  gados  grossos.  O  que  achei  de 
mais  raro  e  digno  de  aqui  trazer,  são  as  tradicções  erró- 
neas e  fíibíilosas  ditas  existirem  neste  Riacho  e  em  suas 
-Serras ! !  Acima  de  sua  foz  perto  de  duas  léguas  ha  entre 
dous  talhados  um  Poro  profundíssimo  e  cercado  desses 
talhados  que  em  relação  são  alterosos :  o  Poço  é  extenso, 
mais  quasi  circular ;  basta  esta  configuração  para  explicar, 
os  sons,  vozes,  e  estrondos  que  se  ouvem  em  alta  noite, 
ao  mais  brando  ciciar  do  vento,  ou  á  queda  da  mais  pe- 
quena pedra ;  comtudo  os  habitantes  o  tem  por  covil  de 
espectros,  e  duendes,  e  casos  narráo  de  súbitas  mortes 
nos  que  se  aíToitaram  a  ir  ali  pescar  os  monstruosos  Mon- 
dius  e  Surubins,  que  é  fama  viverem  na([uelle  Poço  en- 
cantado. 

Antigamente  na  fenda  das  Serras  fizeram  uma  cerca  de 
pedras,  como  se  chamão  aqui  os  muros  de  pedras  seccas, 
e  dizem-me  ali  ter  havido  uma  Cancella,  porém  as  tradic- 
ções attribuem  esse  feito  á  invasão  Hollandeza,  e  muito  se 
honrão  que  ella  tivesse  tocado  até  tão  alto,  para  allegarem 
8  exaltarem  o  esforço  de  justamente  terem-na  repellido. 

No  fim  do  Poço  ha  uma  subida,  como  que  feita  por  arte 
na  rocha,  estes  degráos  conduzem  o  viajante  a  uma  furna 
de  31  palmos  de  comprimento,  e  15  de  largura,  e  de 

ABRIL.  32 


—  í;ío  — 

alliini  de  mais  de  um  homem  com  a  mão  levantada,  é  divi- 
dida em  dous  aposentos  por  uma  parede  de  pedra  secca ; 
parece  que  foi  habitada  por  alguém. 

A  mais  celebre  destas  fabulas  ó  o  Poço  do  Ouro  I  A  famí- 
lia do  Rodrigues  Gaias  que  são  os  proprietários  da  mór 
parle  dessa  Ribeira  de  cima,  e  desse  logar,  dizem  que  um 
Ourives  comprara  a  um  tarrafeiro  um  Vergai  hão  de  íitetal 
que  lhe  trouxera  em  lanço  a  tarrafa,  e  que  tocado  se  veri- 
ficou ser  ouro  de  subido  quilate ;  ou  fosse  assim,  ou  o 
Ourives  quizesse  zombar  dos  simplesados  desconhecedores 
dessas  riquezas  naturaes,  o  certo  é  que  a  fama  desse  the- 
souro,  mergulhado  no  fundo  de  um  profundo  Poço,  correo 
e  excitou  a  dormente  avareza  destas  brenhas. 

Alguns  tentaram  esgotar  o  Poço;  que  não  venceriâo 
ainda  com  o  invento  do  parafuzo  de— Archimedes ; — pois 
que  é  elle  uma  fonte  perene  das  aguas,  que  continuamente 
minão  dos  leitos  dos  nossos  rios  Sêccos ;  e  as  cubas  e  ga- 
mellas  de  toda  aquella  redondeza  se  puzeram  em  acção  por 
meio  de  robustos  braços,  alimentados  por  carne  e  leite  t 
O  desaccordo  e  desanimo  succedeo  a  tanto  afan,  e  o  des- 
engano occupou  o  logar  do  desejo  de  riqueza.  E'  de  admi- 
rar que  ainda  até  hoje  alguns  crêem  que  existe  a  enorme 
rocha  de  ouro,  donde  crescem  vergalhõcs !  e  só  dizem,^ 
para  se  lhes  não  exprobar  a  inércia  sobre  tanto  ouro,  está 
hoje  areado  o  poço !  1 — Areados  estão  os  juizos,  não  que 
seja  impossível,  haver  ouro  no  riacho, — Panema — porque 
isso  passa  por  veridico,  pois  por  ser  em  tanta  quantidade 
e  volume.  Vamos  adiante,  subamos  mais  ás  suas  cabecei- 
ras e  encontraremos  as  tradicções  das  pedras  e  o  caixão,  e 
Arremetcdeira. 

Ha  ncllas  como  que  entalhadas  umas  figuras  ou  inintel- 
UgivcJs— hieroglyficos  que  se  tomão  por  indicadores  de 


—  2ol   — 

grandes  riquezas,  ahi  sepultadas  ainda  pela  mão  invasora 
da  Republica  Balava. 

A  Ilha  do  Ouro  é  pequeno  povoado  bem  fronteiro  ao  do- 
Panema ;  conta  menos  de  50  casas :  dizem  que  o  nome 
corresponde  á  riqueza  do  logar ;  porém  a  esse  respeito 
náo  vos  sei  dizer  certezas. 

O  Riacho  que  tem  o  mesmo  nome  e  que  nas  enchentes 
ilha  a  Povoação  tem  de  notável  dar  assim  navegação  para 
canoas  até  a  Villa  do  Porto  da  Folha,  conhecida  também 
pela  do  Buraco — ,  e  suas  várzeas  são  campos  de  arroz  que 
produzem  milhares  de  alqueires,  e  de  medida  maior  ainda 
que  a  do  Penedo ! ! 

Voici  des  Dieux 
*  L^asile  aimable, 
Goíilez  des  cieux 
La  paix  durable 
(Bernardis) 

Eis  aqui  dos  Deoses 
Um  asylo  amável, 
Gozai  dos  Céos 
A  paz  durável. 

D'un  roc  penchant  et  fendu 
La  terreur  du  voisinage 
D'en  bas  Tagreste  ermitage. 

(Bertin) 

Sobre  inclinada  rocha  e  jà  fendida 
Terror  de  quem  por  ella  faz  seguida, 
Está  plantada  a  campezina  Ermida. 

Os  versos  que  ficáo  escriptos  do  gentil  Bernardis  e  Bertin 


—  232  — 

— pinláo  assas  o  Monte  dos  Prazeres.  É  um  simile  da  Se- 
nhora da  Penha  n^essa  Baliia  de  S.  Sebastião. 
,  E  uma  penha  negra  e  escarpada  pelo  lado  de  cima,  alte- 
rosa e  vertida  de  áspera  verdura ;  tem  isolada  em  seu  cume 
a  branca  Igreja  da  Senhora  dos  Prazeres ;  pela  parte  de 
baixo  faz  como  que  uma  cauda  d'uma  grande  e  extensa 
coroa  de  areia  brilhante,  e  com  muitas  doestas  pedrinhas 
de  differentes  tamanhos,  e  cores,  como  as  da  amostra  N.**  13 
— parecem  areias* corridas  de  terrenos  diamantinos  pelo 
seu  brilho. 

É  na  verdade  um  prazer  de  que  sente-se  assaltada 
aquella  pessoa  que  subindo  até  a  Capella  derrama  as  vistas 
em  redondo  I  As  habitações  entre  ramagens;  seu  plácido 
rio,  que  se  deslisa  lambendo  os  verd^  campos  de  arroz ; 
finas  e  embastecidas,  como  o  pello  ondeante  do  velludo,  as 
reverberantes  areias  da  coroa ;  as  fazendas,  e  Povoação  da 
margem  opposta ;  a  claridade  das  aguas  n'este  logar ;  os 
bandos  de  alvas  e  rosadas  garças,  e  outras  aves,  e  pássaros 
aquáticos,  que  se  banháo,  e  mariscâo  nas  claras  e  doces 
aguas  do  S.  Francisco ;  o  doirado  e  verde — Patury — que 
se  infileira  nas  bordas  das  correntezas  e  Ilhas,  tudo  indica 
que  doestes  quadros  arrebatadores,  só  pinta  a  mão  prodi- 
giosa da  natureza  pura  e  simples  I 

As  vozes  da  Nympha  namorada,  louca  por  Narciso, — de 
quem  pintou  tão  sublimemente  as  paixões  o  Poeta — Cas- 
tilho, estão  aqui  fugitivas;  e  com  o  uso  das  aguas  puras; 
e  que  não  se  corrompem  guardadas  por  muitos  mezes ; 
afinou  ella  a  vóz  sentida  de  suas  queixas  amargas  contra  o 
ingrato.  Na  raiz  do  monte  pelo  lado  da  casa  do  Capellâo 
basta  subir-se  obra  de  uma  braça,  para  ordenar-se  que  a 
Nympha  repita  fiielmente  tudo  quanto  se  deseja  dizer,  ou 
seja  prosa ;  ou  seja  verso,  ou  seja  brando,  sentido,  irado 


—  253  — 

ou  choroso  I  Emfim  que  dôr  não  me  causou  ouvir—Écho 
repetir  estas  suas  queixas  contra  o  tyranno  de  seu  co- 
ração. 

Narciso  I,  pude  eu  ter  tuas  palavras 
No  duro  tronco  menos  duro  que  ellasl 
Eu  pude :  e  os  olhos  meus  desfiz  em  pranto. 
Por  três  vezes  senti  tremer  meus  lábios 
Fugir-me  a  lúz,  enregelar-se  o  sangue; 
Três  vezes  desmaiei  junto  do  choupo. 

Este  phenomeno  de  acústica,  sobre  que  tanto  se  tem  es- 
cripto,  sem  que  se  conheça  sua  verdadeira  causa,  porém 
que  a  maior  parte  dos  Physicos  accorda  em  dar-se  infalli- 
velmente  nos  logares  côncavos,  como  nas  abóbadas  d^uma 
cisterna,  ou  em  circulares  tectos,  ou  entre  serras,  evalles; 
porque  a  vóz,  embaçando  n'ellas,  repercute  no  nosso  ou- 
vido, aqui  é  o  contrario  I  Só  ha  de  montes,  o  dos  Praze- 
res ;  o  mais  sáo  Campinas  rasas  e  a  coroa  plana  como  uma 
sala  de  baile  1 1  Outra  cousa  a  notar-se  é,  que  o  que  falia  do 
monte  náo  ouve  as  respostas,  ou  repercuçâo,  ao  passo  que 
aquelles  que  estáo  no  plano  perto  d'elle,  duas  a  três  bra- 
ças, ouvem  tudo  perfeitamente,  e  como  tenho  exposto ! !  I 
Os  que,  embarcados,  descem  pela  calada,  ouvem  o  que 
falláo  e  as  respostas ! !  Com  o  que  mais  se  admirão  esses 
phenomenos. 

A  Capella  dos  Prazeres  dizem  que  foi  edificada  de  ma- 
deira, e  cuberta  de  sola  por  Maria  Pereira —  (não  sabendo 
se  é  a  mesma  do  buraco)  doou-lhe  terras  que  eráo  entáo 
pegadas  ao  montinho,  porém  náo  ha  vestigio  dMsso :  hoje 
possue  a  Capella  a  terra  onde  está  erecta,  e  a  coroa,  que 
lhe  rende  24  $  000  rs.  annuaes.  Depois  de  Maria  Pereira, 
o  primeiro  Morgado  que  veio  ao  Rio  S.  Francisco  chamado 


—  254  — 

Castello  Branco— fez  o  corpo,  e  capella  Mór  de  pedra  e 
càl.  de  accordo  comos  habitantes  da  banda  de  Pernambu- 
co, e  finalmente  o  Missionário— Corrêa. — fez  os  corredo- 
res— tem  a  Capella  a  era  de  1694. 

Corre  pela  mesma  banda  do  Panema  o  logar— Varzinha 
— Gruta  Grande,  e  a  pedregosa  Povoação  da  Lagoa  Funda 
—Salgada  como  seu  riacho— e  a— Restinga ;— e  pela  banda 
da  Ilha  do  Ouro— Maris— e  Ponta  da  Júlia— Tapera  e— 
Sipó. 

A  pedregosa  Povoação  da  Lagoa  Funda,  é  um  povoado 
de  mais  de  50  vizinhos  e  collocados  sobre  rochedos  mica- 
chisticos,  a  sua  vista  é  agradável,  e  como  sejão  as  casas 
espalhadas  pelos  Outeiros,  que  dominâo  as  grandes  várzeas 
e  Lagoa,  representa  muito  mais  do  que  na  realidade  é. 

Tem  uma  Capella  da  Senhora  do  Rosário  e  Santa  Cruz, 
e  quasi  sempre  os  povos  pagão  a  um  Capellão :  compoêm- 
se  os  habitantes  de  duas  familias.  Soares,  e  Feitozas,  que 
se  entrelaçáo  por  afinidades  reciprocas;  com  tudo  é  tal 
o  parentesco,  que  não  podem  effectuar  qualquer  alliança 
sem  dispensas.  A  grande  Lagoa  que  fica  ao  Norte  desagua 
para  o  Sul,  fazendo  barra  perto  do  rochedo,  que  com  a 
ponta  da  Júlia  fazem  ambos  o  lugar — Sacco, — além  dMsso 
é  a  povoação  cortada  de  riachos,  ou  que  despejão  na  Lagoa, 
ou  no  Grande  Rio.  Foi  o  edificador  da  Capella  um  Frade, 
cujo  nome  se  perdeo.  A  Ponta  da  Júlia  é  logar  notável 
pelos  navegantes,  como  difficil  de  montar-se  na  subida,  e 
á  vela ;  somente  os  peritos  em  manobras  a  vingáo  sem  o 
risco  de  darem  á  Costa. 

Nos  tempos  de  enchentes  é  tida  como  de  grande  perigo, 
pela  corrente  impetuosa,  e  ondas  que  se  alção  como  os 
marítimos  escarcéos. 

Os  habitantes  crião,  lavráo,  e  curtem.  O  Riacho— Sal- 


—  25o  — 

gado — ainda  é  domínio  da  Lagoa  Funda  como  assim  ató 
o  Cajueiro,  sendo  o  Morro  do  Morim,  onde  está  erecta  a 
Capellinlia  da  Senhora  do  Rosário,  pertencente  ao  Districto 
e  Povoação  do  Limoeiro — Deste  logar  para  cima  por  Lei 
Provincial  de  3  de  Março  de  J8o4  creou-sea  nova  Co- 
marca de  Mata  Grande. 

Seguindo-se  pelo  lado  do — Sípó — a  várzea  e  Lagoa  do 
Araticú.  A  Povoação  do  Limoeiro  é  situada  sobre  um  ter- 
reno quasi  férreo  contará  30  casas  (se  tantas)  mas  estende- 
se  muito  por  diversas  moradas  interiores :  Tem  sua  Ca- 
pella  de  Invocação  de— Jesus  Maria  José— e  todo  esse  Ou- 
teiro é  uma  mina  d^essa  pedra  esverdiada — a  amostra  N.  14 
^A  Igreja  é  um  encapellado  creado  pelos  avós  do  pardo 
Manuel  de  Jesus  Barbosa— João  Carlos  de  Mello  com  mna 
légua  de  terra  e  6  vaccas  por  património. — N'esse  logar 
encontra-se  a  amostra  N.  13  que  me  parece — guinites. 

A  Povoação  é  fartíssima  de  criação  de  aves,  e  os  ovos 
vendem-se  de  3  á  4  por  20  rs.  A  Várzea  e  Lagoa  do  Ara- 
ticú é  o  logar  doeste  Rio,  onde  tenho  visto  mais  caça;  creio 
que  é  ahi  o  viveiro  d'onde  sahem  todos  os  voláteis,  que  po- 
voão  ambas  as  margens  I 

Não  deveis  Sr.  Capanêma,  tomar  este  meu  dito  por  uma 
hyperbole,  podeis  crêl-o  como  de  vista  1 

Os  patos»  garças»  marrecões,  differentes  gaibotas,  mar- 
recas, grajáos,  patoris,  e  gaburús,  etc.  voão,  de  fazer  ru- 
mor» e  anuviáo  o  àr  I  O  grajà  tem  o  bico  de  tartaruga, 
como  vereis  da  amostra— N.®  16. 

A  bravura  e  presteza  com  que  levantão-se  ao  presenti- 
rem  o  caçador,  e  o  esvoaçar  em  torno  d'elle  endoidecem- 
no  a  não  saber  designar  a  victima,  e  o  resultado,  é  soffrer 
o  SÓI  abrasador,  cansaço,  e  regressar  sem  os  despojos  cor- 
respondentes ao  inimigo  que  afronta,  estando  este  inerme !  f 


—  256  — 

Continuâo  pela  Povoação  do  Limoeiro  os  logares— Ta- 
pera—nome  tirado  do  seu  riacho  -  Jacaresinho— S.  Thiago 
—com  sua  lagoa — continuando  pelo — Araticú — o  Sitio  das 
Pedras— Riacho  fundo— e  a  Povoação  de  S.  Pedro  Dias, 
que  tem  lambem  o  nome  de  Ilha,  por  assim  tornar-se  nas 
occasiões  de  cheias. 

É  notável  esta  Povoação  por  ter  sido  jà  Villa.  em  1833 ;  e 
foi  antigamente  uma  missão  bastante  populosa.  No  tempo 
da  Omnipotência  dos  Juizes  de  Paz — Manuel  do  Rosário— 
por  anthonomozia— Pacú — teve  a  animosidade  de  prender 
a  Gamara  ^Municipal  em  corpo — e  desse  despropósito  origi- 
nou-se  a  dâSerção  das  pessoas  mais  gradas  que  se  julga- 
ram em  risco  por  este  despotismo— resultando  que  restou 
somente  o  dito— Pacú— na  Villa— sendo  por  isso  esta 
transferida  para  a  Povoação  do  Buraco,  hoje  Porto  da  Fo- 
lha d'onde  vinha  a  nata  que  abrilhantava  a  suppremida 
Villa.  xNunca  um  Povo  soube  punir  melhor  um  déspota 
como  este,  pondo-o  a  sós  e  despresado,  a  ponto  de  cahir 
tudo  em  ruinas,  como  de  presente,  que  conta  apenas  58 
casas,  e  na  frente  da  Igreja  em  forma  de  parallelogramo — 
tendo  de  saliente  o  Palácio  Imperial  que  é  a  residência  do 
Imperador  do  Espirito  Santo,  cuja  festividadde  annualéde 
tóm  n'esta  despresada  Villa. 

A  Igreja  é  má  e  estava  arruinadissima.  Este  anno  o  Mis- 
sionário Fr.  Dorotheu  a  tem  reedificado,  e  vai  melhor. 

Um  milagre  está  depositado  n'esta  Igreja,  digno  de  nar- 
rar-se. — Uma  escolta  que  mais  se  podia  chamar  de  assas- 
sinos do  que  de  soldados  acompanhavão  a  um  prezo  do 
ordem  d'um  Juiz  de  Paz  para  as  Cadeias  do  Penedo—  foi 
o  prezo  assassinado,  e  para  poderem  sumil-o,  e  dizerem 
que  se  tinha  evadido,  amarraram  no  pescoço  da  victima,  e 
nos  pés,  duas  pedras,  uma  de  duas  arrobas,  e  outra  de 


—  257  — 

perto  disso,  e  o  lançaram  no  Rio  em  logar  profundo :  de- 
pois de  três  dias  appareceu  o  cadáver  encalhado  na  coroa  de 
S.  Pedro  Dias,  e  com  as  pedras  ainda  atadas  nos  mesmos 
logares !  I 

Deo  nihil  impossibile  est ! ! 

Foi  seu  infinito  poder  que  arrancou  contra  todas  as  re** 
gras  de  gravitação  o  corpo  do  infeliz— Renovalo,  conheci- 
do por— Mandú— e  o  poz  sobre  a  terra,  para  que  a  Jus- 
tiça dos  homens  punisse  seus  matadores !  Hoje  a  Justiça 
Pubhca  jà  alcançou  a  punição  d'um  que  foi  condemnado, 
sob  minha  Presidência,  no  Jury  da  Villa  do  Porto  dâ  Fo- 
lha,, ou  Traipú,  na  pena  de  galés  por  20  annos. 

Grand  Dieu,  dont  la  seule  presence  soutient  la  nature, 
et  raaintient  Tharmonie  des  lois  de  Tunivers ! 

Exclamava — Buffon— no  estasis  de  suas  contemplações 
philosoíicas ! 

Estou  convencido  como  christão  e  pensador,  que  em 
tudo  neste  mundo  máo  e  pequeno— como  dizia— Bossuet 
— está  a  máo  do  creador ;  e  se  não  fora  esta,  como  se  re* 
veíariáo  os  crimes  n'este  nosso  Paiz,  coberto  de  matas  ex* 
tensas  e  serradas,  cortado  de  rios  gigantes,  e  pela  mór  parte 
despovoado,  em  que  o  viajante  está  entregue  a  Deus  e  a 
sua  consciência ! 

Mas  tál  é  a  força  da  Omnipotência  e  sabedoria  ce  este 
qued'esses  ermos  e  brenhas,  como  que  os  troncos  e  as  pe- 
nhas se  animão  e  falláo,  para  designar  o  malvado!  I 

Senhor!  grandes  são  as  tuas  obras!  dizia  o  Psalmista 
Rei.— Magna  sunt  opera  tua ! 

Si  Dieu  n'existait  pas,  il  faudrait  Tinvenler 
Que  les  sages,  Tinnocent.  et  que  Ics  grands  le  craignent» 

(Voltaire) 
ABRIL.  l33 


—  2:íS  — 

Se  não  existe  Deus,  força  é  suppól-o 

A  quem  se  acurve  o  sábio,  o  néscio,  e  o  grande* 

As  pedras  estão  na  Igreja,  e  eu  as  vi  e  pasmei  1 1  Pelo 
lado  da  Lagoa  S.  Tiago— vão  os  Sitios— Espinhos— Morro 
do  Faria— Deserto — Riacho  do  Faria  e  Aranha— (Fazenda) 
— e  Tororó— e  pelo  da  Ilha  de  S.  Pedro— a  Gaissára — 
com  sua  alterosa — Serra — a  Lagoa  do  Surubim,  com  seu 
morro  do  mesmo  nome  — o  ensanguentado — Morro  do 
Calvário  ! — Mucambo— Jaciobá — e  Tapera. 

As  tradições  sobre  o  Morro  do  Calvário  merecem  bem  o 
— horresco  referens — do  Virgílio.  Foi  por  muito  tempo 
esta  paragem  mn  perfeito  logar  de  supplicío:  conta-se 
que  para  alli  eráo  levadas  e  executadas  as  victímas  das  vin- 
ganças  brutaes  dos  nossos  Sertões!  É  o  aspecto  do  Morro 
feio  e  carregado ;  a  natureza,  me  parece  que  mais  ahi  se 
apertou,  à  vista  de  tantos  crimes,  para  assim  demonstrar 
sua  reprovação!  Quando  ouço  semelhante  narração,  ede 
que  algumas  d*essas  atrocidades  foram  ordenadas,  julgo 
impossivel  ser-se  Juiz  no  meio  de  tanto  barbarismo,  po- 
rém é  um  engano  manifesto  porque  tudo  nasce  da  má  di« 
recção  dos  superiores. 

O  Brasileiro  é  summamente  obdiente,  e  segue  os  bons 
ou  màos  exemplos,  se  são  exercidos  por  gente  mais  alta  a 
quem  a  ignorância  gosta  de  imitar  sem  apreciar  as  dividas 
distincções  a  fazer-se. . . 

Deixarei  estes  quadros  hediondos,  descançando  das  dez 
léguas,  que  acabo  de  percorrer  do  Traipii  aqui,  e  irei  vos 
fallar  da  prospera  Povoação  de  Pão  d^Assucar—  cujo  nome 
tira  de  sua  alcantilada  Serra — que  fica  ao  Oeste  da  Povoação 
4  para  3  léguas ;  esta  Serra  é  um  arremedo  do— Obelisco 
natural  que  está  de  atalaia  na  Bahia  da  Capital  do  Império, 
e  que  serve  de  pés  ao  imracnso  gigante,  com  adifferença 


—  259  — 

de  que  a  de  cá  domina  sobre  os  vastos  Sertões  com  um  al- 
cance de  mais  de  20  léguas  em  circulo  f ! 

A  Caverna  que  Mr.  Milliet  de  Saint  Adolphe— em  seu 
Diccionario  Geográfico  do  Brasil,  chama  de  medonha  e 
impraticável,  foi  por  mim  e  minha  companheira  investiga- 
da :  a  ella  descemos,  e  nada  tem  de  medonha,  e  até  é  muito 
praticável  sem  receio;  e  pouco  profunda. 

As  outras  sumidades  em  comparação  doesta  assemelháo- 
se  a  pequenos  combros  disseminados  em  uma  vasta  cam- 
pina. Por  esta  capoeira  rasa  futurisão  alguns  o  desvio  do 
Rio,  mas  quem  isso  conseguir — et  eris  magnus  Apollol — 
Mesmo  uma  estrada  de  ferro . . .  será  trabalho  muito  cus- 
toso e  prolongado,  ainda  que  possivel ;  com  tudo  forçoso 
será  principial-a  de  muito  longe  para  nivelal-a.  O  progresso 
parece  que  não  conhece  impossiveis ;  eu  porém,  posto  que 
hospede  n'estas  matérias,  vou  mais  para  a  opinião  de  que 
a  mais  próxima  e  effectuavel  será  a  estrada  para  carros  de 
quatro  rodas ,  salvo  o  melhor  conselho  dos  peritos, 

O  Arraial  do  Pão  de  Assucnr  conta  230  casas,  o  terreno 
plano  lhe  proporciona  o  bello  arruamento  que  vai  tendo, 
e  o  Commercio  que  afflue  do  centro,  lhe  presagia  um  riso- 
nho futuro.  Ha  alguns  bons  sobrados,  e  soffriveis  casas. 
ACapella  do— Santíssimo  Coração  de  Jesus — está  em  obras 
ainda  de  sua  edificação,  e  já  está  elevada  em  Freguezia 
por  Lei  de  1853— de  H  de  Julho  N.*^  227— e  este  anno 
pela  Lei  citada,  Villa :  tanta  é  a  emulação  e  desejo  de  reta- 
lhar, e  fazer  de  cada  canto  um  império,  se  possivel  fosse. 

A  Povoação  nas  enchentes  torna-se  uma  península  pelas 
Lagoas  e  riacho  que  a  cercão :  nestas  ha  em  grande  abun- 
dância o  marisco  de  que  acima  tenho  fallado,  e  que  se 
«uppoe  madrepérola,  e  tanto  ha  do  circular  como  do 
oblongo.  O  Commercio  é  Jiovo,  mas  activo,  e  dá  csperan- 


-  260  — 

ças  de  ser  nesse  ponlo  o  empório  deste  Rio,  se  houver  a 
estrada  que  ligue  os  dous  rios  de  cima,  e  de  baixo,  como 
aqui  appellidáo  as  partes  separadas  pelas  grandes  Cachoei- 
ras, e  pela  de— Paulo  Aflbnso. 

Os  habitantes  são  coramerciantes,  os  da  Villa,  creadores 
e  lavradores,  os  das  Serras,  e  os  do  interior. 

Dá  muito  legume,  maxime  feijáo,  e  colhem-se  as  bellas 
—atas— ou  pinhas,  que  sendo  quasi  que  exclusivas  da 
Província  do  Ceará,  aqui  também  as  ha,  ou  se  educáo  bella- 
mente  nesta  secca  Campina.  O  terreno  é  todo  de  fresca 
alluvião  e  de  tão  fina  terra,  que  no  veráo  faz  parte  do 
ambiente  que  se  respira.  Cobre  todos  os  objectos  e  vive 
na  atmosphera  de  tal  forma,  que  excusado  é  dar-se  a  gente 
ao  trabalho  de  espanar.  O  galante  é  que  tem  os  moradores 
que  a  poeira  faz  bem  á  vista  1  O  que  devo  dizer  em  abono 
da  verdade,  é  que  nem  por  isso  as  ophtalmias  são  muito 
frequentes. 

As  enchentes  transportando  as  arêas  para  frente  da 
Povoação,  formaram  uma  coroa  que  terá  cerca  de  300  pas- 
sos ao  Porto  de  embarque,  com  isso  suppõe-se  o  Rio 
muito  apertado,  porém  tem  bastante  fundo  no  canal.  As 
casas  estão  nas  linhas  dos  quatro  ventos  geraes.  Pão  de 
Assucar  antes  do  Hollandez  em  28  de  Janeiro  de  1665— 
foi  sesmaria  de  2  léguas  com  o  nome  de  Jaciobá,  feita  a 
D.  Maria  Barboza  de  Almeida  pelo  viso  Rei  e  Capitáo-Ge- 
neral  de  Estado  Conde  d'Obidos  D.  Vasco  de  Mascarenhas 
rectificou-se  em  4  léguas,  e  Barboza  vendeo  a  seu  irmão 
Sebastião  Barboza  de  Almeida,  passando  depois  em  1660 
ao  Desembargador  André  Leitão  de  Mello,  passando  por 
herança  a  seus  filhos  D.  Ignez  Maria  Gertrudes  do  Valle  e 
Mello  e  outros  herdeiros  de  Lisboa.  Em  1821,  era  ainda 
Fazenda  de  gados  de  António  Luiz  Dantas,  depois  a  fami- 


—  2Gi  — 

lia  de  António  Rodrigues  Delgado,  foi  o  primeiro  povoa- 
dor fazendo  casas,  etc  ,  António  Manuel  das  Dores  conti- 
nuou ;  fez  a  Capella  com  o  Padre  Baldaia  pondo  a  primeira 
pedra  em  1840— doando  2:0008000  para  sua  edificação. 
Rosa  Benta  Pereira  e  D.  Anna  Thereza  de  Jesus,  doaram 
as  terras.  Foi  Freguezia  em  Abril  de  1853,  e  Villa  por 
Lei  de  3  de  Março  de  1854,  sendo  installada  à  7  de  Agosto 
do  mesmo  anno. 

A  duas  leguas-^desta  Província — nologarAldêa — Fa- 
zenda do  Poço  Grande— entrando-se  para  a  Catinga— en- 
contrei em  uma  Cassimba— Ossos  fosseis  de  Megatheriou, 
ou  Mnsthadonte,  e  assim  afllrmo,  por  ter  ido  ao  logar,  e  à 
vista  da  confrontação  que  fiz  do  osso  que  vos  remetto — 
Amostra  N.^  17— com  o  esqueleto  debuxado  na  obra  de 
— Bendant— curso  elementar  de  Historia  Natural :  o  qual 
assemelha -se  ao  humerario.  P(3de  ser  também  de  Mastha- 
donte.  Dizem-mc  que  deste  logar  ao  da  Fazenda  da  Lagoa 
das  Pedras— de  José  da  Rocha  Lira,  que  dista  meia  légua 
—também  ha  fosseis,  e  bem  assim  nos  logares — Salgadi- 
nho—do Padre  Simões— Fazenda  Velha — de  António  Ana- 
cleto—e Olho  d' Agua  das  Flores  do  finado— Padre  Antó- 
nio Duarte  de  Albuquerque. 

E'  pena  que,  não  se  dando  apreço  algum  a  essa  rari- 
dade, se  tenhâo  inutilisado  muitos  desses  ossos!  Creio 
pois  que  para  se  alcançar  hoje  um  esqueleto  completo  náo 
se  despenderá  pouco :  faço  esse  juizo  pelos  do  logar  que 
vi  onde  estaváo  ao  campo  muitos  quebrados  e  inteiramente 
inutilisados.  As  amostras  N.^^  18  e  19  sáo  productos  acha- 
dos em  Pão  de  Assucar,  onde  parece  haver  também  ouro, 
pela  amostra  N.*^  20.  Este  anno  o  governo  ordenou  a 
escavação  desses  fosseis,  dessa  commissáo  estou  encarrega- 
do,   e  hei-de  fazer  tudo  por  preenche-la  satisfatoriamente. 


—  262  — 

Vou  continuar  a  minha  subida  pelo  Rio  e  ao— primeira 
bafejar — As  velas  dando  as  ancoras  levamos. 

Fica  pelo  lado  esquerdo  o  Morro  do  Cavallete— que  está 
isolado,  como  uma — pyramide — na  extrema  esquerda  da 
Povoação  seguem  as  Fazendas— Pào  Ferro— Algodão,  e  o 
miserável — Povoado  das  Trairás — ficando  pelo  ladooppos- 
to— Sacco  Grande — e  Lagoa  das  Pedras— e  Cajueiros. 
Aqui  é  o  Rio  bastante  largo,  e  bem  assim  em  os  logares 
— Riacho  Grande— e  Genipapo,  que  ficâo  a  cima,  da  es- 
querda a  direita  banda,  váo  por  esta  as  habitações— Patos 
— Bom  Successo— e  Ilha  do  Ferro,  e  o  povoado  perten- 
cente ao  Capitão  Luiz  da  Silva  Tavares,  cuja  Tormosa  casa 
indica  seus  possuidores,  e  sua  inftuencia  as  muitas  hiunil- 
des  que  a  cercão:  eporaquella — Quixába — ^Boqueirão— 
Sipoálha— e  Ilha  do  Ferro— cujo  nome  aqui  appljca-se  a 
ambas  as  margens. 

Desde  aqui  vai-se  o  Rio  insando  de  rochedos  negros  e 
polidos,  como  ferro  envernizado,  e  a  navegação  se  torna 
cheia  de  cuidados.  São  as  primeiras  sentinellas  perdidas 
de— Paulo  AíTonso— que  nos  dispertáo  de  que  estamos 
não  longe  de  seus  domínios,  que  ficão  muito  além.  Na 
margem  direita  estão  os— Morrinlios— Pào  da  Canoa,  e 
pela  esquerda — Riacho  das  Antas — e  Beldruegas :  nestas 
paragens  estreita-se  o  Rio,  accommodando-se  ao  leito  por 
onde  corre  entre  rochedos  e  morros,  e  que  parecem  feitos 
de  ferro,  pelo  lustroso  de  suas  pedras  talhadas  como  de 
propósito  para  fácil  carreto,  e  qualquer  edificação !  Slo 
inspirados  pelo  horrivel  da  terra,  e  ao  correr  da  canoa,  os 
versos  abaixo. 


—  263  — 

Mm  eoiíjectiira»  sobre  o»  Itlonte»  pedrcsoso» 
do  Rio  de  íi.  Franeitteo. 

Que  seriáo  talvez  estes  penedos 
Quando  o  liat  de  Deus  fez  o  universo! 
Seriáo  elles  já  pedrosos  montes, 
Ou  frondosa  floresta  onde  moravão 
Voláteis  bandos,  ou  louçans  Napeyas? 

E  quem  sabe  se  as  aguas  soberbando 
Não  occuparam  já  acima  delles. 
E  sobre  elles  rolaram  por  mil  séculos! 
Quem  sabe  se  golfínhos  e  Baleias 
Nos  vales,  hoje  a  luz.  nâo  depozeram 

Sobre  o  leito  pedroso  a  infantil  cria, 
Emquanto  o  enorme  galeão  sulcava 
A  salsa  veia  c'  o  esporão  doirado. 
Pejado  dos  productos  d'algum  povo, 
D'algum  povo  feliz,  que  em  outras  eras 

Tenaz,  e  audacioso  conquistava 
Outros  povos  que  estaváo  separados 
Por  longo  espaço,  que  occupavão  aguas  ? 
Hoje  onde  elles  ?  quem  são,  ou  que  memoria 
Deixaram  d'existencia?  a  conjectura, 

A  conjectura  fallaz  eis  o  que  resta  1 
Foram  elles  quaes  são  feras,  asperosos. 
Ou  verdes  tapisados  lindos  combros, 
Habitação  de  Nymphas  que  não  viram 
Esta  raça  infeliz  que  habita  o  globo  1 

Quem  sabe  se  estas  rochas  atiradas 
Sobre  o  dorso  dos  morros  não  seriáo 
As  paredes  das  grutas,  ou  não  foram 


—  2Ci  — 

Dos  erguidos  palácios  a  textura. 
Q'  uma  grande  mudanç-a  revolvem  t 

Se  assim  foi,  que  alamedas  não  cobrião 
Os  ditosos  mortaes.  que  as  habitavão! 
Que  maviosas  falias  não  fallaram, 
iy  estranhas  linguas,  que  ademans  estranhou 
Não  praticaram,  não  fallaram  esses 

Que  nos  tempos  (Pentão  aqui  viverão  f 
Alli  está  a  vertical  muralha. 
Talvez  erecta  em  defensão ;  do  tempo 
A  poderosa  mão  baixou  sobre  ella 
E  os  estragos  á  vista  estão  dos  evos. 

tiaveria  batalhas  sanguinosas! 
O  fogo,  e  o  ferro  nos  robustos  braços 
Os  edifícios,  e  os  homens  derrotava  I 
Erão  ellcs  gigantes,  oupigmeos! 
A  conjectura  fallaz,  eis  o  que  resta ! 

Oh  1  tu  que  pensas  sempre,  e  sempre  ufano 
De  haveres  a  razão  sobre  outros  entes. 
Se  pensas  recto,  se  conheces  tudo 
Dize  o  que  foram  esses  feios  montes. 

Emendão-se  com  o  logar — Pào  da  Canoa*— o  do  Capim 
Assíi — Mata  da  Gallinha — Mata  da  Onça-^^e  Papagaio,  e 
com  as  Beldruegas — Curralinho  de  Baixo— Lagoa — Ca- 
poeira e  Pào  da  Canoa.— Estreita-se  outra  vez  o  Rio ;  e 
devo  dizer-vos  que  se  vai  tornando  sempre  escuro,  estreito, 
fundo,  pedregoso  e  medonho,  e  p!)U(ío  povoado,  tendo  es- 
paços totalmente  desertos. 

Pelo  lado  do  Papagaio  está  o — Pantaleão — Mala  Com- 
prida— Bonito— e  Sacco,  e  pelo  do — Paó  da  Canoa— èstà  o 


—  265  — 

Curralinho  Novo — Morro  de  Paulo  AlToiíso— Capueira— 
Macaca — Bebedor — e  Jacaré — tendo  em  meio  a  Ilha  de  Sa- 
bacú.  São  muitas  aqui  as  pedras.  Pelo  numero  de  rochedos 
já  se  podem  chamar  as  primeiras  patrulhas  ou  piquete  de 
descoberta.  Passadas  estas,  está  depois  do  Sacco — a  Ban-a 
das  Cabaças—  e  a  Povoação  do  Armazém— tendo  do  outro 
lado— o  Cajueiro.  É  um  deserto — árido— e  pedregoso,  e 
o  Rio  cheio  de  cascalho,  bem  estreito,  e  com  pouco  e  tor- 
tuoso canal  até  o  Morrão  do  Inferno ;  e  pelo  lado  direito 
até  o  Collête — tendo  por  intermédio — Angico— uma  fazen* 
da  e  pelo  lado  esquerdo — Remanço— e  Alegria.  Em  uma 
restinga  de  cascalho  está  o  porto  do  Armazém— Povoado 
novo,  e  de  pouca  importância — com  48  casas  e  uma  pe- 
quenina Capella  da  Senhora  da  Conceição,  é  seu  edificador 
— Anacleto  de  Jesus  Maria  Brandão, — ainda  vivo,  e  muito 
honrado,  e  bom  Pai  de  familia.  Temo  Povoado  pouca  pla- 
nície, que  está  captivae  abafada  entre  dousprincipaes  Mor- 
ros—tendo  em  frente  Serrarias. 

O  Commercio  é  de  poucos,  é  perfeitamente  a  porta  sobre 
o  Rio  que  tem  mais  facilmente  os  productos  do  Mato 
Grande— hoje  Villa,  e  Comarca.  Até  aqui  fazem  5  léguas 
os  que  vem  de  Pão  d^Assucar,  e  os  vindos  da  Barra,  ou  foz 
como  eu,  fazem  36  léguas.  O  nome  de  Morrão  do  Inferno 
ó  bem  cabido  por  ter  um  terreno  avermelhado  no  meio  de 
rochedos  negros,  como  já  tenho  dito  I  Principião  deste  lo- 
gar  as  pedras,  tão  unidas e  salientes,  que  formão  um  serrado 
esquadrão,  e  quem  vem  de  longe  duvida  de  que  dê  o  Rio 
pissagem.  É  bem  semelhante  á  um  Cardume  das  Toninhas, 
que  no  alto  már  apparecem  as  vezes  em  ordem,  todas  ne* 
gras  e  movendo-se  com  perfeita  disciplina;  e  que  c  um  si* 
gnal  de  alguma  borrasca,  e  tanto  que  a(jui  tão  bem  não 
são  estas  petrificadas  de  bom  agouro ;  pois  que  muito  se 

ABRIL.  34 


—  im  — 

nihnirãi»  ns  que  as  vem  |>ela  primeira  vez,  e  de  susId  Sf; 
IcHiia  o  coração  do  viajante. 

IK)  Armazém— a  Piranhas— fazem  duas  léguas  de  nave- 
garão perigosíssima,  c  algumas  vezes  é  preciso  tomar  prati- 
co |>ara  evitar  desastres,  queroccasionados  pelos  rochedos, 
quer  pelos  furiosos  ventos  que  conspirão  com  elles  contra 
os  atrevidos,  que  intentão  devassar  esses  bellos  horríveis, 
que  a  natureza  se  esmera  em  apresentar  aos  olhos  dos 
homens,  para  demonstração  de  seu  poder  e  mais  realçar  a 
cí)ragem  de  quem  os  vinga.  Segue-se  pela  esquerda— o 
Sacco  do  Sininú)íi — e  Magalhães  e  Montevideo,  tendo  pelo 
lado  direito — Montes  de  Granito — e  o  logar— íierimin. 

Entremeiáo  estes  lognres  podras  perigosíssimas  e  conhe- 
cidas por  nomes  distinctos  que  se  apro[)rião  á  sua  figura, 
tamanho,  perigo  e  qualidade.  As  mais  salientes  são  as  do 
—Sinimbu — do  Lima — Cabeço,  etc.  Não  são  Magalhães — 
nem  o  Montevideo  esses  lognres  da  America  do  Sul,  a  pri- 
meira descoberta  por  esse  intrépido  Portuguez — entre  a 
terra  firme  e  a  terra  do  Fogo — e  o  segundo  hoje  a  repu- 
blica— Oriental ;  porém  ambos  os  nomes  tem  sua  ligação 
principalmente  o  estreito.  E'  só  passando  as  perigosas 
rochas  do — Matlieus — e  Lima,  que  se  aparta,  sempre  en- 
tre pedras,  â  Piranhas — Povoação  do  lado  esquerdo  que  se 
divide  era  Piranhas  de  baixo  e  de  rima— e  que  fica  fron- 
teira aos  logares— Canto— e  Furado,  cada  um  com  sua 
cabana  em  ruinas,  n;fugio  de  criminosos. 

Com  effeíto,  somente  a  pratica,  como  a  do  Piloto— de 
que  nos  falia — Cooper— pôde  fazer  navegar-se  por  sobre 
rochedos  á  noite,  e  com  vento  furioso,  e  em  canoas  que 
não  podem  andar  à  orça. 

A  Povoação  está  sepultada  debaixo  de  altas  montanhas 
ou  sobre  ellas  trepada  ;  ê  uméarremedo  dos  arrabaldes  da 


—  á67  — 

cidade  de  Angra  dos  Reis,  pelos  seus  montes  e  pedregosas 
margens.  E'  dividida  além  disso  por  diversos  riachos,  os 
mais  notáveis  são  o  Fundo,  ou  Piranhas  e  o  Tapera ;  conta 
a  Povoação  93  casas  e  algumas  solTriveis.  com  sua  Gapella 
de  Santo  António— cujo  Instituidor  foi  António  dos  Santos 
Brandão,  que  lhe  deo  poucas  terras  de  património. 

O  Commercio  é  maior  do  qne  o  do  Armazém,  e  apezar 
de  sua  fealdade,  é  Piranhas  um  ponto  frequentado  por 
todos  os  habitantes  e  productos  da — Mata  d' Agua  Branca 
desta  Província — Tacaratú— Pajeíi — e  outras  partes  extre- 
mas da  de  Pernambuco. 

Seus  montes,  suas  rochas  em  terra,  e  no  Rio,  seus  vizi- 
nhos fronteiros,  tudo  concorre  para  que  se  appellide  este 
logar  de  feio  como  uma — Piranha, — a  cuja  dentadura  bem 
imitão  as  aguçadas  pedras  que  muitas  vezos  mordem,  e 
engolem  as  canoas. 

A  Pedra  do  Matheus — a  mais  temivel  e  notada,  é  Scylla 
e  Carybles,  pois  os  navegantes  cojn  qualquer  descuido,  ou 
devem  ir  de  encontro  a  ella  ou  serem  engollidos  pelos 
redomoinhos  (panellas)  que  se  vèm  em  continua  rotação  e 
que  em  tempos  das  aguas  estouráo  cora  horrível  estrondo !  A 
catadura  feia  do  logar  não  apartou  deile  as  riquezas  natu- 
raes— talvez  para  verificar-se  o  adagio— Fortuna  dos  feios ! 

Da  margem  do  Rio  subindo  para  os  Morros  e  cortando 
o  Riacho — Tapera — emcruz,encontra-se — Pyrites  e  Quar- 
tzos— bêm  à  flor  da  terra,  como  a  amostra  N.<*  21 . 

Signaes  que  indicáo  uma  rica  mina  de  ouro ;  além  disso 
sobre  a  Serra  do  Tinguihá  a  amostra  N."  22  o  que  são  tur- 
malinas  como  são  chamadas  em  Minas  Geraes. 

Destle  o  Armazém  que  entre  o  cascalho  se  encontrão — 
ágatas— e  a  onix,  e  que  apparecem  entre  as  arêas  signaes 
de  ouro. 


—  268  — 

Nas  Piranhas  de  Baixo  subindo  a  estrada  do  Sertão  ha 
um  rochedo  que  parece  estar  a  esborrondar-se  sobre  os 
viandantes— Subi  nelle,  e — com  verdade  a  pequena  pedra 
que  sustenta  a  mole  de  granito  está  até  fendida,  e  confesso 
que  tive  meu  terror  e  desci— mais  apressado  do  que  fora, 
como  nos  diz  o  Camões  do  seu  intrépido — Vellozo— E' uma 
degradação  de  granito  semelhante  aos encontradosnas  planí- 
cies centraes  da  França  ou  nas  Cordilheiras  do— Limousin. 

Com  muita  difficuldade  ha  ainda  quem  và  enfiando  peri- 
gos até  o  logar — Canindé — casa  do  Coronel  Lino,  ficando- 
lhe  fronteiro  e  do  lado  esquerdo  a  fazenda — Sipó. — O  Dic* 
cionario  do  Exm.  Sr.  Senador  José  Saturnino — dá  Canin- 
dé, e  Agua  Branca  como  pertencentes  a  Pernambuco, 
quando  são,  o  1.**  de  Sergipe,  e  o  2.°  logar  de  Alagoas,  e 
fica  12  léguas  apartado  da  Cachoeira,  em  parallela. 

Desde  Piranhas  até  ali  as  pedras  alteiáo  a  queda  do  Rio, 
e  as  Panellas  que  se  formão  sobre  as  pedras  são  immensas 
sendo  que  as  mais  falladas  são— Garganta — ficando  além  a 
pedra  do — Navio— e  do  Engenho.  Não  ousei  p6r-me  na 
guella  de  Guião  semelhante. 

Até  aqui  é  o  Rio  de  baixo  navegável  e  no  logar— Canin- 
dé— faz  uma  espécie  de  bacia — mansa  como  um  lago,  não 
parecendo  crivei  que  depois  de  tanto  tropeço  se  encon- 
trasse descanço.  Tradicções  imittidas  por  pessoas  fide- 
dignas afianção  ter  o  finado  Francisco  Manuel,  dono  desse 
logar,  tirado  bastante  ouro  em  pó  de  suas  margens ;  mas 
eu  investigando  essas  arêas,  e  cascalhos  parecem-me  serem 
el!as,  e  aquelles  corridos  das  montanhas  com  as  aguas  flu- 
viaes.  A  amostra  N.°  21  indica  as  arêas ;  nellas  existem 
pequenos— Jacyntos— microscópicos — escarlates,  como  as 
gabadinhas  de— Bohemia — pyropas— granadas,  etc! 

Quebro  aqui  os  remos,  e  ferro  as  velas  de  minha  canôíi 


—  209  — 

para  proseguir  por  terra  a  enfadonha  viagem  até  á  Ca- 
choeira. Cortarei  a  narração  do  passado  neste  trajecto  — 
de  14  léguas — quasi  deserto,  e  apenas  com  miseráveis 
habitações  de  longe  em  longo ;  porque  na  verdade  ter-se  a 
noticia  desse — Portento — e  saber-se  que  para  ve!-o  não  ha 
uma  estrada,  e  que  é  forçado  o  curioso  a  levar  guias,  e 
assim  mesmo  a  estragar  o  fato  nos  espinhos,  e  a  paciência 
no  abaixar-se  aos  páos,  e  montar  precipicios,  é  cousa 
reprehensivel  para  uma  Nação  tão  presumpçosa,  como  a 
Brasileira  II..  No  logar  Olho  d'Agua  do  Casado  4  léguas 
distante  de  Piranhas  e— 10  da  Cachoeira— fazenda  do  Te- 
nente-Coronel  Manuel  Severo  Soares  de  Mello — ha  uma 
bebida  onde  existem  fosseis  de  Megatheriuos,  e  Mastha- 
dontes. 

O  Creador,  para  se  apreciar  o  bello,  collocou  antes  delle 
as  difficuldades,  como  que  para  occultal-o  ás  vistas  profa- 
nas dos  ingratos  mundanos. 

As  pragas  que  se  rogão,  os  incommodos  que  se  sofirem 
nas  veredas  para  a  Cachoeira,  tudo  se  dá  por  bem  suppor- 
tado .  ao  avistal-a  1 1  Nisto  resumiria  o  que  houvesse  de 
dizer  sobre  o  Paulo  AlTonso,  mas  estou  que  não  teria  vos 
satisfeito,  e  portanto,  cavalgado  sobre  um  penhasco  duro 
e  negro,  com  os  olhos  espantados,  por  observar  tanta 
grandeza,  principiarei  a  dizer-vos  o  que  seja  este  logar, 
que  tanta  bulha  tem  feito  antiga  e  modernamente,  e  sobre 
que  tanto  se  tem  fabulado. 

Sempre  qne  ouvi  anteriormente  fallar  da  Cachoeira  de 
Paulo  Affonso  pareciáo-me  fabulosas  as  grandezas  que 
delia  contavão.  Não  tem  ella  com  efTeito  a  figura  de  Caval- 
leiro  vista  de  longe ;  não  orvalháo  seus  vapores  meia  légua 
em  roda,  não  se  ouve  seu  estrondo  6  ou  8  léguas  de  longe, 
mas  por  duas  vezes,  que  a  tenho  observado  a  minha  admi- 


—  270  — 

rarão,  e  posso  dizer- vos,  pasmo  me  Itm  feito  exclamar 
com  Saint  Lambert. 

Ouço  o  som  do  trováo  que  estoira  ao  longe, 
Das  ondas  o  bramir  do  ar  em  chammas ; 
Das  palmeiras  do  valle  as  palmas  tremem, 
Echôa  o  monte  o  som  triste  e  profundo, 
E  o  surdo  e  lento  som  compunge  o  mundo. 

Quando  se  vence  a  vereda,  quasi  intransitável,  por  onde 
se  chega  ao  logar  da  Cachoeira,  o  aspérrimo  solo  onde  só 
vôgetáo  a  jaramataia  e  a  pellada  Carahiba,  o  negro  feio  de 
seus  rochedos  escarpados,  ora  h*zos  e  polidos  como  o  ferro, 
aqui  pont  agudos,  ali  cavados,  acolá  fendidos,  e  ame.i- 
çando  o  observador ;  ninguém  haverá  que  náo  admire  a 
profunda  solidão  que  buscou  I 

Ali  só  Deus,  e  as  suas  obras!  O  homem  pensante,  o  cóo 
puro  e  ardente,  os  arbustos  torrados,  a  areia  em  brasa,  e 
os  rochedos  como  monstros  que  parecem  letantar-se  con- 
tra o  indiscreto  que  os  veio  procurar  no  seu  desamparo! ! 
Se  os  papagaios  fazem  suas  gralhadas  ao  longe;  se  o  va- 
riado curupião  trina  seus  gorgeios ;  se  o  mocó,  sentado 
sobre  os  pés  esfrega  com  as  mãos  o  focinho  e  foge  guin- 
chando, é  para  mais  nos  convencerem  de  que  só  elles  aU 
habitão !  No  logar  onde  pousei,  as  pessoas  que  me  acom- 
panharam disseram-me  ter  havido  uma  casa  e  curraes, 
para  servir  de  retiro,  mas  nem  vestigios  deixaram  estas 
edificações!  Náo  é  sem  muita  dificuldade  que,  superando 
os  rochedos  e  pequenos  braços  do  rio,  e  algumas  torren- 
tes se  pode  aproximar  a  esta  maravilha. 

Nâa  vos  mentirei  dizendo  que  logares  ha  bem  seme- 
lhantes a  esses  talhados  propyleos  granitos  das  Ilhas  de 
Shetiand  ! 


—  á71  — 

Pensar- se>  como  sempre  suppuz,  que  se  [mk  observar 
a  Cachoeira  de— Paulo  AíTonso— como  a  da— Ti  jucá— nessa 
Corte,  ou  a  do— Niagara— nos  Estados  Americanos  do 
Norte — é  um  erro  que  para  muita  gente  ainda  perdura. 

As  aguas  corriáo  do  nivel  do  terreno  do  nosso  rancho; 
e  somente  depois  que  galgamos  uns  e  descemos  outros  ro- 
chedos, passando  por  entre  fendas,  ou  vingando-as  de  um 
salto,  ou  nos  sepultando  nos  torneados — pilões  (trabalhos 
operados  pelas  aguas  em  redomoinho)  é  que  nos  colloca- 
mos  em  posição  de  investigar   suas  diíTerenles  quedas. 

Antes  de  chegar  à  Cachoeira,  o  Rio  de  S.  Francisco 
corre  sempre  empedrado,  e  anfráctuoso,  mas  em  um 
plano,  a  que  os  francezrs  chamão— platcau.  É  levando 
em  suas  torrentes  as  areias  que  estava  >  [)or  entre  as  enor- 
mes rochas  de  Granito,  que  sua  força  pode  desenterrar  a 
ossada  do  petrificado  Gigante— Paulo  AlTonso—  medindo 
a  sua  queda  principal  pela  altura  do  agigantado  tronco, 
e  debruçando-se  entáo  sobre  elle  por  cinco  aberturas  que 
tantas  são  as  vias  abertas  p^ra  sua  passagem.  Não  julgueis 
com  tudo  que  só  por  estas  quedas  desce  o  Rio  de  baixo 
lento,  pois  por  muitos  desvios  e  pequenos  canaes  vem  elle 
mo6trar-se  fronteiro  á  bania  esquerda  na  vistosa  Cachoei- 
ra, cuja  estampa  —  N.®  33  —  vos  remetto  com  varias 
outras.  Relevo  ainda  acrescentar  que  raras  serào  as  vistas 
da  Cachoeira  de  Paulo  AlTonso  que  tiradas  em  diversos 
dias,  mezes,  ou  annos  se  irmanem ! ! 

De  cada  vez  que  o  observador  tocar  nestas  paragens  en- 
contrará o  Gigante  como  tendo  mudado  de  posição,  por- 
que as  quedas  lhe  parecerão  muito  modificadas  para  mais 
ou  para  menos,  algumas  torrentes  novas,  e  algumas  sup- 
primidas  I  f  Igualmente  como  a  Cachoeira  se  despenha  por 
entre  rochedos,  qualquer  mudança  de  posiçáo  para  a  ob- 


—  27á  — 

senjr»  muda  inteiramente  a  vista,  ora  encobrindo,  orâ 
descobrindo  a  queda  das  aguas. 

Para  vos  descrever  bem  o  modo  porque  se  observa  a 
iiichoeira,  imaginai  uma  collossal  figura  de  homçm,  sen- 
tado C4>m  os  joelhos  e  braços  levantados,  e  o  Rio  de  S. 
Francisco  cahíndo-lhe  com  toda  sua  forço  sobre  as  costas, 
porém  ao  qual  não  podeis  vér  sem  estar  trepado  em  um 
dos  braços  ou  em  outra  qualquer  parte  que  lhe  fique  ao 
nivel,  ou  a  cavalleiro  sobre  acabeçi.  Parece  arrebentar 
de  debaixo  dos  pés,  como  a  formosa  cascata  de  Tivoli  junto 
a  Roma. 

É  um  espectáculo  assombroso  1  I  Os  penhascos  sobr?, 
que  nos  firmamos — eu  e  miíilia  senhora — parecíáo  fugir- 
nos  de  sob  os  pés,  e  quererem  seguir  a  velocidade  das 
correntezas ! 

Um  mugir  surdo  e  continuado,  como  os  preparos  para 
um  terramoto,  serve  de  acompanhamento  á  musica  estron- 
dosa dos  variados  e  diversos  sons  produzidos  pelos  cho- 
ques das  aguas  1 1  Quer  ellas  vcnhão  correndo  velocíssimas, 
ou  saltando  por  cima  das  cristas  das  montanhas;  quer 
indo  em  grandes  massas  de  encontro  a  ellas,  e  delias  re- 
trocedendo; cahindo  de  borbotão  nos  abysmos,  e  delles 
se  erguendo  em  húmida  poeira,  quer  torcendo-se  nas 
vascas  do  desespero,  ou  levantando-se  em  espumantes 
escarceos;  quer  estourando  como  uma  bomba ;  quer  che- 
gando-se  aos  vaivéns,  (1)  e  brandamente  crescendo,  ou 
recuando  rapidamente,  e  com  irresistível  força:  quer  ca- 
hindo em  espadanas,  ou  era  flocos  de  espuma  alvíssima, 
como  arminhos,  é  um  espectáculo  assombroso  e  admirável. 
ObservamoNa  ao  raiar  do  dia,  e  ao  clarão  da  Lua :  quando 
observamol-a  aos  primeiros  raios  matutinos ;  as  aguas  por 

(1)  As  aguas  que  nas  beiradas  se  Rvanção  impellidas.  porém  que  para  segui- 
rem 6  força  da  corrente  recuão  apressadamente  e  com  violência. 


—  273  — 

tíles  abrilhantadas ;  as  nuvens  do  húmido  pó,  sobre  que 
SC  estampavão  muitas  iris ;  os  dourados  vapoi*es  da  aurora ; 
o  brando  vento  da  manhã ;  as  alvas  neviías  que  se  ião  des- 
fazendo ao  erguer  do  Sol,  e  representando  no  Céo,  antes 
do  se  esvaicerem,  dilTerentes  phanthasmagorias  ;  o  quieto 
balançar  dos  ramos;  os  cantos  matinaes  das  aves ;  o  es- 
voaçar dos  papagaios,  anu-íinas  e  grandes  aves  branas, 
como  um  cysne  do  encontros  pretos,  que  buscavão  beber 
as  aguas ;  as  calvas  calieças  dos  Montes  pardos,  ou  esver-^ 
dinhadas  pelo  limo,  mas  agora  dourados  pelo  alvorecer ; 
as  arvores  e  ar])ustos  infesados  por  um  perpetuo  inverno, 
mas  agora  praticadas  como  revérberos  de  luz:  tudo  faz  o 
complexo  do  bello  o  maravilhoso ! ! 

O  luctar  das  agir.s  feridas  pelo  sol  ô  semelhante  a  esses 
jogos  hydraulicos  coloridos  (|ue  observamos  nessa  Corte, 
executados  em  1839  por  Mr.  Leroux. 

Se  deixamos  de  contem[)lar  este  (juadro  e  volvemos  as 
vistas  para  os  abysmos  fumegantes,  a  alma  estremece,  como 
aborda  d'ama  cratera.  Xão  se  eleváo  aos  cêos  as  provas 
ardentes,  nem  se  derramão  torrentes  de  encendida  lava, 
como  do  Vesúvio  ou  do  Orizaba ;  é  porém  um  arremedo 
dos  rufos  annunciadores  da  próxima  exp!osáo,  e  os  turbi- 
lhões da  húmida  fumaça  sobem  além  de  sua  altura.  Não  ha 
vivente  (pie  n'elles  preci[)itado  não  succumba ! !  Consta 
que  o  pei.xe  que  chega  a  indireitar  carreira  pela  impetuosi- 
dade, apparece  morto  no  rio  debaixo,  e  muitos  casos  se 
lem  dado  semelhantes !  Vista  com  clarão  da  Lua  é  um  qua- 
dro lúgubre  e  medonho,  que  aperta  o  coração!  A  Lua  fere 
de  leve  um  ou  outro  cimo  dos  pe<lregosos  montes;  não  re- 
flecte nos  bosques  nem  nas  aguas  que  íicão  assombreadas 
nas  cavidades  dos  rochedos  ;  e  o  ronco  continuado  e  ge- 
mente ;  o  fracasso  das  aguas,  seus  estouros  {)ela  sua  im- 

ABRIL.  35 


—  274  — 

piílsão;  e  seus  recuos,  como  ondas  em  planos  iiicIinadoSy 
e  escarpados  pedregallios,  fazem-na  semelhante  a  uma 
grande  e  populosa  Cidade  assaltada  nas  trevas,  da  qual 
arruináo,  e  dcrrocão  os  edilicios  e  os  templos,  e  seus  habi- 
tantes surprehendidos  levantão  em  confusão  aos  céos  os 
lamentos  de  sua  inesperada  desgraça. 

Três  sentimentos  tomâo  o  observador  ao  chegar-se  para 
a  Caclioeira,  ode  medo — o  de  respeito— e  o  de  prazer,  em 
quanto  se  trepão  estes  rochedos  discon versáveis,  só  o  medo 
d'um  desastre  irreparável  nos  encoraja,  e  nos  faz  supe- 
ral-os;  depois  de  firmados  os  pés — o  respeito — a  vista 
d'essas  maravilhas  nos  força  a  exclamar  com  B.  Rousseau 
— Grand  Dieu !  Oh !  que  tes  (tnvres  soni  belles /  E  é  só  depois 
de  entrar  o  sangue  em  sua  circulação  normal  que  apparece 
um  prazer  insaciável !  A  altura  da  grande  queda  foi  calcu- 
lada cm  302  palmos— pelo  meu  amigo  e  muito  hábil  En- 
genheiro o  Sr.  Fernando  Halfeld.  E' um  erro  pensar-sc 
que  as  aguas  da  Cachoeira  cahem  sobre  o  àlveo  do  Rio  de 
baixo :  ellas  vão  de  cachoeira  em  cachoeini  ate  o  logar — 
Piranhas— onde  principia  a  ser  navegável  com  mais  fran- 
queza para  as  canoas  abertas. 

São  as  Caclioeiras  as  seguintes,  designando-vos  as  mais 
notáveis — Forquilha  — Veados— Ventura — Vaivém — Três 
Inn:los  de  cima— Trcs  Irmãos  de  baixo— Boa  Vista— Gar- 
ganta—Na  garganta  corre  todo  o  Rio  cm  largura  de  85 
palmos  I !  e  os  rochedos  marginaes  dão  talhados  de  700  à 
800  pés  de  altura  I !  São  as  bellezas  horriveis  que  só  ex- 
pressão bem  o — ierríblemeni  pretij — dos  ínglezes ! 

Encantado— Salgado— Riacho  fundo— Lamarão— Topo 
—Ouro  fino— Veado— Canindó  Velho— e  Canindé. 

São  estas— 17— Cachoeiras  verdadeiros  degráos  do  alto 


—  273  — 

throno  onde  se  assentou  o  Gigante,  de  quem  vos  tenho 

por  tantas  vezes  fallado  com  o  nome— Paulo  Affonso  I ! 

Uma  diis  melhores  vistas  é  a  que  observâo  as  pessoas 
que  sobem  a  chamada  furna — e  a  vista  N.  24 — éd'ali  to- 
mada. Multas  grutas  apresentâo  rochedos  doeste  logar — 
Sombrias,  arejadas,  arruadas  de  christalinas  areias  e  ba- 
nhadas das  frigidas  Lymphas ;  são  perfeitas  habitações  de 
Fabulosas  Nayades.  Muito  foi  para  notar-se  que  nomezde 
Novembro,  apogéo  do  calor  n'estes  Sertões,  de  maneira 
tàl  que  das  9  horas  do  dia  por  diante  os  rochedos  da  ca- 
choeira se  tornáo  como  o  ferro  em  brasa,  pensando  encon- 
trar em  cada  poro  uma  thermal,  as  aguas  estivessem  frias 
como  um  sorvete,  e  tão  saborosas  que  as  bebiamos  por 
prazer !  1 

Parece  que  o  Rio  em  suas  enchentes  assoberba  os  ro- 
chedos, pois  (|ue  vi  poços  extensos  e  profundos,  e  com 
aguas  tão  limosas  que  indicão  estarem  estagnadas  por 
muitos  tempos,  e  só  renovadas  pelas  alluviões . . .  Sobre  al- 
guns pequenos  e  já  deseccados  encontrei  esta  pasta  de  fino 
papel  natural  que  vai  na  amostra  N.  22 —  (aj  feito  do 
certo  pelo  frequente  bater  das  marêtas  d*este  már  doce. 

Todos  os— pilões — frinchas — e  cavidades  próximas  às 
torrentes  estão  cheias  de  pedras  grandes  e  pequenas  das 
amostras  N.  23— N.  24, — e  bem  posso  aventurar  que  ha- 
bitem os  fundos  d'essassepulturasalgimsbrilhantes— wmijf^s 
(dizem  os  matutos)  que  sejáo  como  os  da  Rússia,  o  Regente, 
e  menos  como  da  nossa  bagagem,  porém  de  menos  quila- 
tes. As  amostras  N.^^  25  e  26— indicâo  a  qualidade  dos 
rochedos  da  Cachoeira  c  das  areias.  A  amostra  N.  27 — 
assemelha-se  ao  granito  verde  do— Voges— A  furna  ou 
Morcegueiro  é  uma  caverna  apontada  como  um  assombro, 
e  dizião-me  que  ninguém  podia  visital-a  senão  descalça  e 


—  27G  - 

com  muilo  cuidado :  examinando-a  não  acliei  diíTicuIdade 
nem  na  descida,  nem  na  siil)ida,  fazendo-as  com  minha  Se- 
nhora; e  fomos  até  calcados.  A  rocha  onde  o  Rio  a  prati- 
cou é  toda  dividida  em  pequenos  prismas  e  como  [)or  de- 
gráos;  náo  a  compararei  <á  celebre  gimla  de  Fingal  na  Ilha 
de  Stoffa  e  nem  tem  semelhança  com  esse  prodigio  :  quando 
para  ella  se  desce  os  rochedos  parecem  estas  grandes  cal- 
çadas de  gigantes  conhecidos  na  Irlanda,  e  em  Françíi 
entre  Vais  e  Eutraignes,  porém  sem  essa  pasmosa  regu- 
laridade. 

As  amostras N.  28 — indicãoque  essas  roclias  tem — micjx 
— feldspatho,  etc.  A  gruta  tem  duas  entradas,  uma  menos 
extensa  e  baixa,  e  outra  mais  longa  e  alta :  a  maior  tem  de 
comprimento,subindo-se  sempre  por  um  declive  doce — 262 
passos,  e  de  largura  23  a  26,  e  a  pequena  oitenta,  e  de  lar- 
gara—16  :— a  altura  é  prodigiosa ! 

Um  homem  de  pulso  não  fará  cliegar  um  seixo  ao  tecto! 
Não  apresenta  nem  (Fesses  fenómenos  conhecidos  por — 
Stalactiles. 

As  pedras  do  tecto  costumão  a  destacar-se,  e  a  cahir 
como  nos  indicaram  varias  por  sua  recente  queda.  São  am- 
bas o  viveiro  de  morcegos  que  assemelháo-sí?  aos — pte- 
rodactyles— de  que  falia— Bendant,  mas  em  logar  dos  bicos 
de  ave  tem  a  cabeça  d'um  perfeito  cão  de  fila  com  orelhas 
redondas,  no  mais  igualáo,  e  são  da  grandeza  de  perto  de 
dous  palmos  de  cada  aza.  Na  frente  da  caverna  ha  um  vai- 
vém que  é  por  certo  o  operário  que  cada  um  nas  enchen- 
tes trabalha  em  sua  escavação :  mostrão-se  mesmo  em  frente 
duas  camadas  de  prismas,  uma  mais  alterosa,  e  outra  mais 
humilde,  que  altestão  terem  pertencido  â  parede  que  serve 
para  divisão  das  duas  grutas.  O  vaivém  traz  para  esse  logar 
Ironcos  e  páos  de  todos  os  tamanhos  e  de  forma  variadas. 


—  277  — 

como  voreis  pelaamoslrn — N.  áO.  Quando  os  ohsíTvoi  pn- 
recia-mo  oslar  vondo  com  um  microscópio  um  som  nume- 
ro de — infíisarios— fosseis — segundo  a  sua  prodigiosa,  e 
infinita  variedade  de  que  nos  falia — Mr.  Khrenberg. 

São  talhados  e  hnmidos  pelo  movimento  das  aguas  esses 
páos  ;  e  consta  (jue  nns  enchentes,  e  quando  essa  immen- 
sidade  de  jvios  sobre  nadão,  se  ouve  uma  desarmonia  in- 
fernal à  semelhançi  do  coaxar  dos  sapos,  e  rãs,  e  gias  dos 
grandes  lagos  estagnados. 

Pelo  damno  que  fazem  os  morcegos  aos  creadores,  estes 
lodos  os  annos  ajuntão  as  lenhas  trazidas  pelas  aguas  e 
accendem  grandes  fogos  em  que  abrasão  as  furnas,  mas 
não  extinguem  a  praga  :  acontecendo  por  isso  talvez  a  calci- 
nação das  pedras  calcarias  e  as  suas  frequentes  dissoluções, 
que  tornão  assustadoras  as  visitas  a  esses  togares.  Se  qui- 
zesse  narrar  vos  um  Romance,  dir-vos-hia  que  os  primei- 
ros neophytos  ou  cathecumcnos.  perseguidos  pelos  Césa- 
res—aqui  somente  acharam  guarida  e  deixaram  para  con- 
firmação no  presente,  de  que  ahi  fora  então  uma  cova  de 
christãos,  um  Ermitão  e  sou  Acólito  petrificados  I ! 

D'ahi  corre  o  Rio  até  a  Cachoeira  da  Forquilha  muito 
apert^ido  em  Serranias  talhadas  perpendicularmente ;  e  tão 
esquadrilhadossão  os  penhascos  uns  sobre  os  outros,  que 
nos  pareceo  ser  fácil  sua  desmoronação,  não  de  balde  lucta- 
mos  com  os  mais  insignificantes,  apezar  de  estarem  até 
inclinados  sobre  o  Rio.  D>ssa  paragem  de  cima  do  Mor- 
cégueiro  nos  parecia  que  o  Rio  não  terií?  mais  de  8  braç^as 
d'uma  a  outra  serra ;  correndo  manso,  profundissimo  e  es- 
curo ;  lançamos  algumas  p:  dras  com  toda  a  força :  porém 
não  cahião  ás  vezes  nem  sobre  agua  ! !  Só  com  uma  funda 
podemos  conseguir,  depois  de  algum  tempo,  ouvir-se  o  som 
que  produziáo  ao  ferir  a  margem  opposta. 


—  278  — 

Na— Gurímga— como  chamão  os  naturaes— o  abysmo 
fumegante— experimentamos  se  os  seixos  vingavão  a  beira 
opposta,  e  pareceo-nos  que  sim  :  seria  talvez  por  estar  o 
Rio  no  osso,  como  é  fraze  technica.  O  meu  Escrivão  do 
Jury— o  Capitão  José  Correia  Leal,  vaquiano  d'esses  Joga- 
res, e  que  nos  acompanhou  em  todas  as  excursões,  disse- 
me  ter  ouvido  dizer  a  antigos  que  cm  um  dos  rochedos, 
sobre  que  se  dispunha  o  grande  salto,  havia  uma  ponta  de 
rocha,  a  qual,  servindo  de  travanca  à  livre  passagem  das 
aguas,  causava  maior  estrondo  e  repuxo,  o  que  por  essa 
razão  se  viáo  de  mais  longe  os  vapores,  e  se  ouviáo  roncar. 

O  que  é  certo  é  que  tal  empecilho  não  existe,  e  que  es- 
tando nós  pela  noite  na  Fazenda  da— Cruz,  quatro  léguas 
longe  da  cachoeira,  ouviamos,  por  intervallos,  um  surdo 
rumor  que  alíirmavão  os  moradores  ser  da  cachoeira;  po- 
rém como  seguem  outras  muitas  por  diante,  talvez  se  não 
possa  aflirmar  ser  o  som  da  de — Paulo  AlTonso.— mas  a  de 
alguma  mais  próxima ;  pois  que  dormindo  nessa  mesma 
noite  perto  da  cachoeira,  menos  por  um  quarto  de  légua, 
não  ouviamos  esse  estrondo  tão  fallado,  e  tão  pronun- 
ciado. 

Finalmente  os  rochedos  apresentão  formas  diversas,  e 
em  certos  logares,  como  os  desenhos  que  vão  sob  o  N.°  30. 
Ao  deixar  a  cachoeira  ao  ouvir  gradualmente  sumirem-se 
seus  roncos— lembrou-me  a  oitava  60  do  Camões  —  no 
canto  ?).« 

Assim  contava  com  um  medonho  choro 
Súbito  diante  os  olhos  se  apartou : 
Desfez-se  a  nuvem  negra  e  c'um  sonoro 
Bramido  muito  longe  o  mar  soou. 

Tenho  dado  ao  Pedregoso  Gigante  o  meu  derradeiro 


—  279  — 

ailfus,  e  liirno  ao  Porto  de  Piranhas  para  viajar  agora  de 
ilifferente  maneira.  Então  a  minha  canoa  espi  rava  os  ven- 
tos para  seguir  avante.  Iioje  só  deseja  que  o  seu  tlêspola  os 
encarcere,  ouvindo  o—  Quos  ego ! 

Et  dicto  citius  túmida  irquora  plac  >t. 
Collectasque  fugal  nubis.  solemqu(^  reducit. 

Cf>mo  nos  refere  o  cysne  Mantunno;  para  ([ue  piano  como 
um  espelho  todo  o  Rio,  possa  minha  canoa  deslisar  ao  som 
da  torrente  até  minha  residência !  Em  quanto  a  canoa  na- 
vega atoa— deitado  ou  antes  encaixotado  na  tolda  irei  nar- 
rando-vos  as  bellezas  ribeirinhas,  c  a  forma  da  navcgaçílo. 
sua  importância  e  as  riquezas  em  pcscính),  e  no  mais  que 
correr  aos  bicos  da  penna,  acerca  do  graníhoso  Rio  de  S. 
Francisco. 

D'esde— Piranhas  até  a  Barra  do  Rio  navega -se  em  gran- 
des e  pequenas  canoas  ou  solteiras,  ou  ajoujadas :  As  es- 
tampas N.^^  IH  a  33  mostrão  suas  formas,  e  mastreação,  c 
massame,  que  ordinariamente  é  de  nossos  tecidos  de  al- 
godão, e  de  caruá.  O  mais  notável  nellas  são  as  velas  c  o 
commodo  para  o  viajante— O  numero— 1  .**  indica  a  tolda— o 
é  esta  a  melhor  camará  doestes  Navios— o  í.*»  c  o  3.*^  as 
velas  que  parecem,  em  comparação  da  canoa,  umas  azas ; 
e  o  modo  de  encolher  uma  e  outra,  ou  de  as  (»stender  para 
viajar  é  singular,  principalmente  visto  de  longo  e  com  vento 
fresco :  igualo-as  a  uma  branca  Garça  em  vòo  rasteiro. 

x\  tolda,  e  as  velas  são  uma  antithese  do  navegação;  [mis 
que  acamara  melhor  está  na  proa,  e  as  velas  ição-scquandr) 
s^as  quer  ferrar,  e  arreáo-se  quando  sas  quer  abrir!  Não 
se  navega  para  cima  senão  com  vento,  o  qual  é  providen- 
cial e  constante  depois  de  10  horas  da  manhã  até  alta  noite, 
cora  suas  excepções,  conforme  a  estação. 


—  i8()  — 

As  caiiO)as  passão  onliiiariaiiieiite  por  uma  mclhanior* 
pliose,  sorvem  primeinsmenlc  feixadas,  porque  sao  de  um 
só  madeiro:  depois  porem  (pic  solTreni  radias,  ou  (piai - 
quer  lesão  no  fundo,  abrem-se;  o  que  consiste  em  ra- 
char-se  a  canoa;  e  de!la  fo'rmar-se  outra  com  cavernas, 
servindo  as  bandas  da  que  s(»  rachou  de  peças  principaes 
nas  curvaturas  lateraes,  de  forma  que  quando  velhas  iicam 
maiores  e  mais  gordas:  segucMJi  a  regra  das  mulheres  que 
depois  de  velhas  (piasi  sem[)re  eiigordão*..  Para  descer-sc 
ou  navegar-se  para  baixo  usâodas  vogas,  ou  deixâo  atoa, 
e  corre  a  canoa  pela  corrente,  ou  quando  solTrem  o  vento 
contrario,  cortão  um  grande  ramo,  e  o  soltão  n\agua 
preso  por  uma  corda  na  pôi)a.  A  corrente  leva  o  ramo,  e 
com  a  força  de  leval-o.  leva  igualmente  a  canoa  e  navega-se 
ainda  com  antithese— de  popa  ! ! — Quasi  senipre  a  melhor 
descida  é  pela  calada  entre  a  cessarão  do  vento  á  noite,  e 
em  quanto  não  chega  pela  manhâa;  acho  porém  bastante 
perigoso  este  methodo,  e  è  confiar  de  mais  na  fortuna,  e 
cojno  não  me  supponho— César,  ou  Napoleão — o  Grande— 
procuro  sempre  trazer  remeiros.  que  em  noites  de  lua  até 
me  divertem,  fazendo  seus  outeiros  improvisados :  e  ó  de 
notar  que  alguns  tem  queda  i)ara  isso.  You  referir-vos 
algumas  quadras  destes,  cantadas  em  desaíio  e  ao  som  do 
compassado  bater  dos  remos. 

Lá  vem  a  lua  sahindo, 
Resplandecendo  alegria, 
Tomando  os  raios  do  sol, 
Fazendo  da  noile  o  dia. 

Debaixo  de  um  verde  ramo 
Dorme  um  somno  o  passarinho, 
NYio  cuides  (jue  eu  te  deixo ; 
Vive,  amor,  descansadinho. 


—  á81  — 

Cale  lá  suas  cantigas; 
Và  metter  n'um  forno  frio ; 
Com  semelhantes  cantigas 
Não  se  canta  um  desafio. 

Queime  lá  você  as  suas, 
iMetten Jo  n'um  forno  quente : 
Que  as  suas  são  estudadas. 
As  minhus  são  de  repente. 

Náo  deixâo  de  ter  muita  grara,  e  de  avivar  saudades 
essas  rimas  expressadas  em  som  de  solàos  em  alta  noite 
observando-se  o  ameno  clarão  da  Prosérpina,  pintando 
uma  facha  estrellada  sobre  as  aguas  do  Rio  I 

Tu  dos  amantes  silenciosa  amiga 
Que  d'amor  os  mysterios  apadrinhas 
O'  noite  I  manda  favoráveis  auras  ! 

(B.  Barros,) 

Em  tempo  de  Rio  cheio  a  velocidade  como  sabeis  é 
maior,  e  posso  afflrmar-vos  que  tenho  sabido  de  Traipú 
pelas— 9— horas  da  manhãa.  descançando  das  2  até  as  4 
da  tarde  e  chegado  ao  Penedo  ao  romper  d'alva,  fazendo 
pela  corrente  14  léguas,  que 'tantas  são  as— comidas  pela 
Justiça  de  um  a  outro  Termo.  Regulando  mais  de  meia 
legua  por  hora. 

Algumas  destas  canoas  abortas  tem  até  30  palmos  de 
comprimento,  e  8  a  iO  de  hocca,  e  carregáo  muita  carga; 
um  ajoujo  (tenho  visto)  levar  muitas  vezes  de  90  a  100 
saccas  de  algodão,  e  muitos  outros  objectos  miúdos.  Tanto 
os  pilotos  como  as  canoas  se  alugão  por  dias,  ou  por  via- 
gem, regulando  a  tripulação — que  para  cada  canoa  basta 
ser  de  duas  pessoas— de  500  á  640  rs.  por  dia,  e  o  barco 
—de  800  à  1  g  000.  Sendo  por  viagem,  calculáo  pelos 
ABníL.  36 


—  282  — 

(Jiiis  a  levar  conrorme  a  estação,  e  firmâo  os  ajustes;  cal- 
culo pelo  passado  commigo — paguei  do  Penedo  ao  Porto 
da  Folha  4  8  000,  pela  canoa  e  G  g  000  por  dons  Pilotos— 
de  Porto  da  Folha  a  Piranhas  8  S  000  de  canoa  e  10  S  000 
para  os  Pilotos.  Do  Penedo  para  a  Barra  regulou  4  §  000 
da  canoa  e  6  g  000  de  Pilotos ;  portanto  pôde  regular  daí 
Barra  á  Piranhas  cada  canoa  e  dous  Pilotos  de  308000  a 
408000  de  despeza,  importando  quasí  de  800  a  IgOOO  por 
légua. 

Uma  outra  antithese  marítima  é  que  a  canoa  e  a  tripu- 
lação navcgáo,  tanto  na  ida  como  na  voíta,  por  conta  do 
fretador,  o  qual  sustenta  os  Pilotos !  í  Acontece  algumas 
vezes  ( maxime  com  os  fretadores  como  eu )  voltar  a  canoa 
vasia  e  tá  disposição  dos  Pilotos,  qiie  a  carregão,  e  lucrão 
em  seu  proveito  os  fretes ! 

A  dilTerençíi  que  parece  excessiva  do  Penedo  â  Barra 
em  comparação  do  Penedo  no  Porto  da  Folha— é  devida  á 
razão  de  que  do  Penedo  para  a  Barra  são  as  cimòas  sujei* 
ta»  ao  Gusano— Vulgarmente— Bussano :  entendo  que  o& 
donos  tem  summa  razão ;  pois  que  este  moUusco.  da  forma 
de  upia  minhoca  parda  e  curta,  tem  o  vigor  de  por  o  fundo 
das  canoas  arrenda  las  !I  e  só  com  a  galla  de  enxofre  se 
retarda  esse  damno. 

Tát3  crescido  é  o  numero  das  canoas  em  uma  e  outra 
margem  que  não  exagero,  dizendo-vos  que  montaram  a 
mais  de  800  de  toda  a  lotaç^âo  inclusive  as  de  pesca.  Para 
a  navegação  de — Cabotagem — existem— 6  barcos  actual- 
mente a  saber— o  Paticho  Boa  Ventura  que  demanda  14 
palmos  e  de  190  toneladas;  a  Sumaca — Deligencia  que 
demanda  14  palmos  e  de  141)  toneiadas— Ditta  Flor  do 
llio  que  demanda  13  palmos  e  de  148  toneladas— Dita 
Santa  Cruz  Defensora  «pie  demanda  121/2  palmos  ede 


—  283  — 

ili  toneladas— Dita  Nova  Andorinha  que  demaníla  IS 
palmos  e  de  104  toneladas— O  llyate  Boa  Sorte  que  de- 
manda iO  1/2  palmos  e  de  71  toneladas.  Estes  barcos  dáo 
regularmente  tt  viagens  por  anno.  Sahem  e  entrão  nas  ma- 
rés vivas, e  vão  tâo  carregados  dos  géneros  de  exportação, 
€  principalmente  de  assucar  e  algodão  que  se  os  visseis, 
não  acreditaríeis  que  podião  dar  vela  sem  submorgi- 
rem-se  I  Tenho  os  visto  carregados  de  saccas  até  o— cesto 
de  gáveas  ! 

Posturas  ha  ipie  prohibem  esse  modo  perigoso ;  porem 
a  avareza  não  conhece  limites,  e  por  amor  delia  muitas 
perdas  tem  havido  de  fortunas  e  vidas — o— auri  sacra  fa- 
ines— do  Virgílio — éa  lei  fundamental  do  commercio.  Não 
vos  fallo  em  um  que  cahio  a  pouco,  e  que  se  está  a  mas- 
trear.  A  carreira  seguida  é  para  o  Porto  da  Bahia  de  S. 
Salvador  e  desta  para  aqui,  vindo  carregados  de  fazendas 
seccas  e  molhadas. 

A  importação  é  calculada  por  bons  entendedores  em 
mais  de  2:000:000  íf  000  rs,  annualmente,  e  o  valor  da 
exportação  jà  acima  vos  dei.  Os  valores  dos  fretes  estão 
lixados  á  200  rs.  por  arroba,  e  de  100,  120  e  140  rs.  por 
canada  de  liquidos.  De  Ganindé  até  abaixo  do  Armazém  o 
Rio  é  todo  empedrado,  dessa  paragem  para  baixo  só  as  ro- 
chas são  marginaes,  e  os  empecilhos  para  a  navegação 
reduzem-se  ás  grandes  Coroas  que  se  formão  e  desman- 
chão  segundo  a  força  das  enchentes,  e  que  tornão  a  velejar 
—de  zigue  zague— dando  sempre  um  constante  canal  pela 
corrente. 

Não  direi  que  para  grandes  vapores  como  o  Bengal  ou  o 
— Queen  of  the  south —  ou  mesmo  para  os  do  porte  do 
finado  heroe — D.  Affonso —  possão  fazer  a  navegaçião  do 
S  I^Yancisco  mas  estou  convencido  de  que  os  de  lotação 


—  284  — 

como  a— Imperatriz— poderão  granjar  francamente  ate  a 
Cidade  do  Penedo,  e  outros  menores  e  apropriados  ate  o 
Páo  d'Âssucar;  pois  persuado-me  que  dá-se  um  canal 
constante  de  10,  20  e  de  37  a  30  e  mais  pés. 

Não  contando  com  os  benefícios  concernentes  a  desobs- 
truição  dos  Rios,  As  tradições  são  acordes  em  que,  jà  tem- 
po houve,  no  qual — Sumacas — subiram  até — Páo  d'Assu- 
car,  e  apontão  ter  subido  até  o  Limoeiro  o  Patacho  do 
Mestre  de  Campo— Caetano  de  Sá ;  e  em  1834  para  1835 
dous  Hyates — um  do  Capitão  Luiz  de  França,  morador 
no— Peba — e  outro  de  pessoa  desconhecida  ;  comtudo  o 
que  vos  posso  afirmar,  é  que  grandes  Barcaças  chegâo 
até — Armazém, — e  que  uma  pessoa  de  nome  Raymundo 
Jorge— navegou  até  o— Bonito — com  um  Hyate  ou  cha- 
lupa carregada  de  Sal. 

O  Rio  de  S.  Francisco,  como  vos  tenho  dito,  é  muito 
anfractuoso,  e  de  tal  forma  que,  em  alguns  lanços  corre 
de  Norte  à  Sul ;  em  outros  parecerá  que  corre  de  Sul  ã 
Norte  e  em  outros  se  fechâo  tanto  as  montanhas,  e  pontas 
que  vos  parecerá  um  angipasto !  Quanto  mais  se  sobe  o 
Rio  mais  é  elle  augusto,  e  logares  ha  onde  as  correntes 
com  os  ventos  faz(  m  ondas  como  as  do  alto  mar,  em  ou- 
tros ha  remansos  em  que  estão  as  aguas  como  o  mar  em 
calma  podre ! !  É  nesses  pacificos  lagos  que  as  Piranhas 
(das  quaes  vos  mando  a  mandibula  inferior)  fazem  sua 
manjua  dos  infelizes  que  nelles  cahem  ou  mortos  ou  vivos. 

São  seus  montes  ou  collinas  de  alta  e  baixa  verdura; 
esveltos  e  bonitos  no  inverno ;  escarpados,  duros  e  abro- 
Ihosos  no  verão.  As  margens  e  baixas  são  lindas ;  e  logares 
ha  encantadores. 

Os  combros,  formados  pelas  aíliivióes  são  os  terrenos 
abençoados  para  as  lavras  de  fiuno,  rícino,  cannas  de  as- 


—  285  — 

sucnr,  milho  e  todos  os  legumes.  De  espaço  a  espaço  os- 
tentão-se  arvores  corpulentrs  e  copadas,  cujos  ramos  se 
espe^hão  nas  aguas,  e  prestâo  sombrios  deliciosos. 

As  quebradas  das  Ilhas  apresentão  uma  singularidade 
que  é  as  camadas  de  terras  acarretadas  pelas  alluviões,  e  de 
formação  em  filetes  horisontaes,  podendo  se  contar  por 
elles  os  annos  das  enchentes,  e  em  algumas  contei  até  mais 
de  300  filetes,  como  na  Ilha  dos — Coqueiros. 

A  plantação  do  arroz  é  em  verdade  miraculosa !  Depois 
das  enchentes  formáo-se  n-^s  bordas  do  Rio — e  coroas  uma 
terra  argilosa,  resultado  da  putrefacçáo  dos  vegetaes  e 
mais  objectos  decompostos,  a  que  chamão  aqui  lamas — 
as  quaes  vão  successivamente  apparecendo,  «^  proporção 
que  as  enchentes  váo  abaixando:  os  cultivadores  de  arroz 
calculáo  exactamente  como  se  fosse  a  columna  graduada  iJo 
Lago— deMeris,— a  altura  e  descida  das  aguas,  e  com  tempo 
preventivo— fazem  canteiros,  ou  sementeiras,  no  logar  em 
que  primeiro  se  mostráo  ns  lamas — semcião  a  porção  de 
arroz  que  pertcndem  lavrar :  esta  sementeira  com  o  crés  - 
cimento  d^um  palmo  é  transplantada  para  as  lamas,  que 
progressivamente  vão-sc  mostrando  pelo  abaixamento  das 
aguas;  desta  maneira  proseguem  até  final  transplantação 
do  todo !  Cada  pé  que  c  lançado  (as  vezes  ainda  sobre  a 
lama  lavada  pelas  aguas)  faz  uma  toceirade  muitos  caixos! 
Sem  rotear  o  solo,  nem  mais  amanho  do  que  o  expendido, 
aguardáo  tão  somente  a  maturação  para  seifa  I !  É  este  o 
raethodo  usado  em  toda  a  beira  do  S.  Francisco,  e  pelo  qual 
só  pelo  lado  esquerdo  se  faz  a  colheita  da  cifra  indicada  na 
exportação,  a  f  )ra  a  do  consumo  I  A  esses  cultivadores  se 
não  devem  applicar  os  pensamentos  do  Dr.  Sthokler. 

O  misero  cultor  que  industrioso 
Do  fértil  seio  da  benigna  terra 


—  ^86  — 

Faz  nbrolhar  os  preciosos  fructos 
Que  a  vida  nos  sustentáo ; 

Por  quanto  nenhuma  industria  empregáo  a  respeito  do 
arroz  os  felices  cultores  d'aqui !  O  capim  de  planta  chama- 
do de  Angola,  nasce  espontaneamente  pelas  Ilhas  e  beira- 
das! Ascannasde  assucar,  plantadas  em  alguns  Jogares, 
dao  mais  de  20  folhas,  e  no  Brejo  Grande  são  bens  de  raiz  1 
o  que  igualmente  me  pasmou,  foi  vêr  alguns  cannaveaes, 
cujas  cannas,  com  dous  e  três  annos  de  nascidas,  ainda  es  • 
taváo  frescas  para  a  moagem !  Flexão  e  não  se  perdem 
como  na  Bahia  e  outros  terrenos ;  antes  as  d'aqui  engros- 
sáo,  filhlo,  crião  pampros  (que  são  cannas  quasi  pyrami- 
daes)  e  sem  perderem  as  propriedades  sacarinas  I !  Oh  I 
terra  abençoada !  senão  és  a  promettida  pelas  Escripturas, 
outra  não  te  levará  as  lampas !  I  Remetto-vos  as  vistas  da 
Foz  do  Rio  vista  de  Piassabuçú,  as  de  Própria  e  Penedo 
etc,  tomadas  a  olho  por  mim  mesmo,  esperando  um  sin- 
cero perdão  pelo  atrevimento.  Quando  aqui  cheguei,  e  fiz 
a  minha  primeira  viagem  á  Cachoeira— informaram-me  de 
que  o  Rio  possuia  barreiras  marnosas :  não  me  souberam 
explicar  onde  erâo  ellas,  e  nem  sabia  eu  o  que  fosse  mar- 
ne ;  senão  pela  difinição  de  marnel  que  dá  o  Phylologo — 
Moraes—  em  quanto  não  procurei  melhores  mestres, 
dizião-me  uns  que  era  o  mame  a  amostra  N.®  29  e  outros 
as  amostras  N.°  30  e  N.®  31 .  Depois  porém  que  li  a  obra  de 
Raspail,  soube  o  que  era,  e  à  vista  das  suas  explicações, 
incHno-me  a  amostra  N.°  32  por  ser  saponacea  dar  louça, 
e  parecer-me  menos  inquinada  de  ferro.  O  Sr.  Halfeld 
affirmou-me  que  no  Rio  debaixo  não  havia  minas  de 
mame,  mas  ainda  me  não  desenganei,  attento  a  que  as  re- 
commendaçóes  que  para  o  Presidente  desta  Provincia  man- 
dou o  Exm.  Sr.  Conselheiro— Hollanda  Cavalcanti— para 


-  28;  — 

«e  investigar  esse  novo  estrume ,  de  que  uni  viajante — 
Francez — fallou  asseverando  ter  tanto,  capaz  de  carregar 
muitos  Navios.  Se  existe  esta  riqueza  ainda  a  ignorância  a 
faz  occulta,  apezar  de  que  qualquer  das  amostras  applica- 
das  como  estrume  produz  effeito  satisfatório,  sendo  a  ar- 
gilosa abundantissima  por  toda  a  margem.  Sobre  todas 
estas  bellezas,  o  ftio.  Lagoas  e  Riachos  que  recebem  as 
aguas  do  Soberanos.  Francisco  são  povoados  de  peixes  das 
seguintes  qualidades — Camurupim — Camurim  mirim  e 
assú— Surubim  (peixe  de  couro)  Tu!)arana— doirada  e 
branca — Bagre— pocomom—niquim—cumbá,  de  maior  a 
menor  (de  couro;)  uma  cousa  notável  ca  reprodução  que 
fazem  pela  bocca.  e  sabem  os  filhos,  como  os  que  vão  no 
frasco  com  espirito  de  vinho :  E  o  peíjueno — Bagre— capaz 
de  nadar  e  pegado  a  um  ovo,  c<imo  a  gema  d'um  pinto  ao 
tirar  da  casca. — Pira  (couro)  Mandin  assú — branco — ama- 
rello— armado— capadinho—e  es(|uentado  (couro)— Guri - 
mala— Matrincham  tem  a  bocca  como  aslamprôas— Curu- 
vina,  conhecida  em  Minas  Geraos — pelo  nome  de  Paripu- 
tug;i  —  RubàIo— Traíra— assú  e  mirim— Matraúé— Piau 
cotia — preto—e  branco,  de  maior  a  menor— Piranha — 
Pacú — Pirambéba— Lambia,  muito  parecido  com  asLam- 
j)rêas  —  Sardinha  —  Sara  pó  —  Sabeirú  ou  Aragú — Gará — 
Piaba  de  papo — Piaba  de  carcunda — Piaba  ordinária — Acari 
de  pedra — de  casco— de  lama— e  de  espinho— Mussú —  es- 
pecial de  caramurú—Jundiá— Solha — vulgarmente— Soia 
— Caborge  — é  imia  espécie  do  Sapo,  caminha  para  terra  co- 
berto de  espuma,  com  a  c^lma  descança,  e  vtdta  ás  aguas 
quando  lhe  apraz,  ou  é  surprehendido : 

Perto  da  Barra,  ha  muitos  Tubarões  e  Botos  e  nos  pân- 
tanos ha  Cágados  e  Jacarés;  em  todo  o  Rio  ha  Pitus — gran- 
dissimos,  cuja  pata  vos  remeto  N.  32  e  pelo  dedo  se  conhe- 


—  a88  — 

cera  o  gigante— Camarão— Aratanha — e  Camarão  de  cor- 
renteza. 

Não  tenho  ouvido  nem  tratar  se  quer  dos— minhocões 
— monstruosos,  de  que  falia  o  Escriptor— Accioli — posto 
que  da  minhoca  é  assas  abundante  toda  a  margem,  e  fazem 
delia  isca  para  a  pesca,  porém  nem  por  isso  existem  muitas 
amphisbenas.  O  Camurupim  é  o  peixe  maior:  tenho-os 
visto  de  mais  de  12  palmos,  e  os  Surubins,  maiores  do  que 
um  homem ! !  As— Tubaranas— e  Camurins  são  até  de  4  à 
S  palmos.  Os  retratos  de  alguns  peixes  vos  farão  conhe- 
cel-os  mellior :  maxime  a  Piranha,  digna  de  todos  os  res- 
peitos. 

A  navegação  é  constante,  ao  cahir  do  vento  sahem  frotas 
as  vezes  de,  20  l\0  e  mais  canoas,  e  se  reúnem,  principal- 
mente nos  sabbados  na  volta  das  feiras,  tantas  que  coalhão 
o  Rio !  É  então  um  quadro  bello,  e  ao  alongarem-se,  da 
costa,  duas  velas  latinas,  ou  como  um  quadrado  truncado, 
alvas  como  cysne  fazem  recordar  a  cantata  do  Garção. 

Jà  no  roxo  horisontebranqueaváo 
As  prenhes  velas  da  Troianna  frota 
E  entre  as  vagas  azues  do  már  doirado 
Sobre  as  azas  do  vento  se  escondião. 

Em  algumas— Lagoas  como  na  do  Goitiseiro,  5  léguas 
desta  Cidade,  ha  sauguexugas.  tão  boas  como  as  da  Euro- 
pa, e  muitas  apanháo  os  matutos,  porém  para  espairecerem 
(como  dizem  elles)  e  não  por  viverem  disso. 

Se  são  pitorescas  as  margens  do  S.  Francisco  com  as 
aguas  baixas  e  recolhidas  a  seu  leito,  se  apresenláo  paisa- 
gens arrebatadoras,  que  se  debuxão  em  suas  correntes 
crystallinas,  o  melhor  c  velo  correndo  velozmente,  'occu- 
pando  todos  os  logares   liaixos,   arrastando  troncos  e 


—  á8U  — 

halseiros,  e  com  elles  formando— líhas—ílucluantcs  I 
Apresentando  todas  as  suas— Ilhas — sem  areias,  todas  as 
margens  sem  ribanceiras,  e  todo  elle  sem  coroas ;  e  o  povo 
aquático  cm  innumeraveis  bandos  festejando  a  invasão  ou 
pequeno  deluvio  que  òs  desalojou  uc  suas  liabitações  e  os 
forçou  a  descançar  ncs  bosques!  ou  a  andar  esvc.çando 
sem  um  húmido  pouso;  e  ílepois  de  sua  victoria,  de  suas 
innundaç<)es  para  o  interi(;r,  de  muitas  léguas,  abrir  cami- 
nho por  duas  boccns  nos  salgados  senhorios  misturando 
suas  aguas  doces  com  as  amaras  do  Grande  Atlântico! 
Fazem  do  magestuso  a  sua  descda,  movendo  continua- 
mente essas  enormes  massas  de  liquido;  e  depois  de  visitar 
seus  domínios  ruraes;  de  fazer-lhes  as  doações  de  força  e 
de  fertilidade,  então  plácido  e  claro  como  o  crystal,  reco- 
Iher-se  á  sua  casa  de  descanço— o  seu  alveo— costumei- 
ro!! 

É  uma  missão  annual,  da  qual  o  braço  Omnipotente  o 
encarregou,  e  para  que  testifique  o  Infinito  poder  descri- 
pto  nestes  grandes  versos  de— Rousseau — 

II  prend  sa  course,  il  s'avnce 
Comme  un  superbe  geant 
Bientôt  sa  marche  feconde 
Embrasse  Ic  tour  du  monde. 
Et  par  sa  force  puissante 
La  nature  languissante 
Se  reanime,  et  se  nourit. !  .  . 

A  enchente  de  1792— subio  49  palmos  sobre  o  nivel! ! ! 
e  a  de  1838—36 ! ! !  Com  tudo  tantas  são  as  vargens  que 
primeiro  que  ellas  se  occupem,  tarde  ou  nunca  será  toma- 
da a  Cidade  nas  partes  altas. 

Estou  aqui  ha  mais  de  três  annos  e  ainda  não  me  encheo 

ABRIL.  37 


—  290  — 

de  |)asino,  ou  de  medo  a  e  evação  das  aguas  deste  Neréo 
de  Agua  doce. 

lÁ  estilo  á  vista  as  torres  da  Matriz,  os  edilicios  ainda 
estão  nebulados ;  porem  é  a  Cidade  do  Penedo, 

Vou  tornar  ao  meu  humilde  albergue,  e  não  poderei  di- 
zer como  o  Piloto  Melindano 

K  se  do  mando  niíiis  não  desejais 
Vosso  trabalho  longo  aíjui  fenece. 

Pois  i|ue  esttni  bem  lembrado  de  que  a  minha  ultima 
promessa  foi  dizer- vos  alguma  cousa,  ainda  queperfun- 
ctoriamente,  sobre  a  minha  Comarca. 

A  (iOmarca  da  Cidade  do  Penedo  na  Província  das  Ala- 
goas é  situada  á  margem  esquerda  do  Rio  de  S.  Francisco, 
e  segundo  infomiações  limita-se  a  cima  duas  léguas  da 
Cachoeira  de — Paulo  Affonso — com  a  Provincia  de  Per- 
nambuco pelo  Riacho— Moxotó— Serra  do  Exú  e  Riacho 
— Manary :  com  a  Comarca  de  Anadia,  da  Provincia  das 
Alagoas,  pelo  logar—C^nòa— cabeceiras  do  Rio— Panema 
e  do  Riacho — Capiá,  c  pelo  Kio— Cururypc  até  sahir  na 
Carta  do  mar,  e  finalmente  correndo  a  costa  do  Peba  e 
entrando  barra  dentro  do  Rio  de  S.  Francisco;  seguindo 
o  Rio  á  cima  até  encontrar  outra  vez  o  Moxotó. 

Neste  espaço  comprehcnde  dous  termos— o  1.°  da  Ci- 
dade do  Penedo,  que  é  a  cabeça  da  Comarca,  e  o  2.^  da 
Yilla  do  Porto  da  Folha  conhecida  igualmente  por  Traipú 
como  já  vos  disse.  Compõe-se  o  primeiro  termo  das  Fre- 
guezias  da  Cidade  e  da  de  Porto  Real  do  Coilegio,  e  o 
segundo  das  Freguezias  do  Porto  da  Folha,  Pão  d'Assucar 
(creado  este  anno)  S.  Anna,  e  Mata  Grande. 

A  Freguezia  do  Penedo  abrange  os  Povoados  da  Cidade 
— Piassabussú— Feliz  Deserto — Salomé— e  Brejo  Grande— 


—  291  — 

os  qiiaes  são  districtos  de  Paz  sob  duas  Subdelegacias  de 
Piassabussii  e  Penedo,  e  uma  Delegacia  da  Cidade.  São  as 
Justiças  do  Brejo  Grande  pertencentes  á  Província  de  Ser- 
gipe d'El-Rei. 

Dà  esta  Fregaezia—  Cl  —Eleitores,  e  sua  população 
monta  em  20,938  almas,  constando  só  na  cidade  de  333 
escravos  que  pagão  taxa,  e  mais  130  exemptos  pela  idadcí 
menor,  etc. 

Não  TOS  numero  a  escravatura  empregada  na  lavoura 
que  poderá  montar  talvez  de  3  a  4  mil.  A  Freguezia  do 
Collegio  comprehende  as  Povoações  do  mesmo  nome  e  as 
de  Sío  Braz,  Lagoa  Comprida,  com  dous  districtos  de  jus- 
tiças de  Paz.  e  uma  Subdelegada,  e  dá  IS  Eleitores  com 
3,íX)4  almas,  entre  livres  e  escravos. 

A  Freguezia  do  Porto  da  Folha  comprehende  os  Povoa- 
dos da  Villa — Mombaça— ou  Preáca— (Serras)  Canoa  pelo 
centro,  e  beira  Rio — os  povoados — Munguengue— Rabello 
— Lagoa  Funda— Panema— Limoeiro— e  Pão  de  Assucar, 
hoje  Freguezia  pela  Lei  Provincial  citada  :  conta  esta  Fre- 
guezia três  districtos  de  Paz  com  duas  Subdelegacias,  e  dà 
24  Eleitores,  e  tem  17,747  almas  livres  e  escravos. 

A  Freguezia  de  SanfAnna  (central)  comprehende  o  seu 
Povoado,  tem  um  districto  de  Paz  uma  Subdelegaria,  e  dà 
12  Eleitores,  com  5,31o  almas  contando  escravos — Foram 
os  factores  da  Capella  então— Martinho  Vieira  do  Rego,  e 
sua  mulher  Thereza  Joaquina  doando  terras. 

A  Freguezia  de  Mata  Grande  (hoje  Villa)  por  Lei  Pro- 
vincial de  1852  comprehende  os  Povoados  da  Villa  e  de 
Agua  Branca,  e  na  beira  do  Rio,  os  povoados  de  Piranhas 
e  Armazém,  conta  trcs  districtos  de  Paz,  dá  24  Eleitores, 
e  tem  12,633  almas  inclusive  os  escravos. 

As  Serras  de  Mombaça  e  Priaca  indicão  mineraesi,  e 


—  294  — 

nellas  encontrei  os  crystaes  que  vão  nas  amostras  N.**^  32, 
33,  e  34.  A^ém  Ji^so  achei  as  pedras  das  amostras— 
N.o  3g_a  tipella  de  Mata  Granda  foi  erecta  em  1781 
pelo  criolo  Ant  ni»  d)  Hosarin,  e  a  de  Mata  Branca  por 
Pedro  No'asco  de  Araújo  e  sua  mulher  em  1770— outros 
dizem  qiio  ;jor  Faustino  Vieira  de  Sandes.  Mata  Grande 
foi  Villa  em  22  df»  Janeiro  do  1838— supprimida  em  1846, 
e  restaurada  em  1832. 

A  Serra  chamada— Pellada—é  toda  da  amostra  N."  36— 
é  alva  como  nevp.  muito  mais  baixa  está  do  que  a  da 
Priaca. 

Subindo-se  o  píncaro  da  ultima  Serra,  de  que  vos  fat- 
iei, encontra-se  um  bosque  formado  de  arvores  copadas  e 
direitas,  e  collocadas  todas  em  ordem,  e  distancias  que 
parecem  regulares  columnas  de  ordem  corinthia,  de  umas 
para  outras  descem  franças  que  fingem  arcadas,  às  quaes 
se  adherem  parasitas,  engrinaldando-as  com  suas  flores  e 
cores  differentes. 

O  bosque  assenta  sobre  uma  chapada  de  30  passos  em 
quadrado ;  em  torno  vegetáo  arbustos  cheirosos  e  de  lindas 
flores,  e  finalmente  é  tapisada  de  gramma  verde,  e  no 
interior  a  Sambamljaia  (ou  barba  de  bode)  macia  como 
uma  enxerga  de  pluma,  dâ  o  melhor  commodo,  sobre  de- 
liciosa sombra.— E'  uma  morada  de  Nympha !  Por  qual- 
quer lado  (fue  se  derrame  a  vista,  ávida  sempre  nestas 
occasiões,  descortinão-se  vastos  Sertões  rodeados  de  ma- 
tas, c  de  longe  em  longe  habitações. 

Quanta  alegria  nâo  sobresalta  o  observador  quando  vô 
um  grupo  de  mais  algumas  casas,  e  entre  estas  alguma 
alvejando,  e  mais  espaçosa  f 

Admiramos  a  constância  dos  que  se  internáo,  e  táo  lon- 
ge vivem,   fora  do  que  chamamos  mundo ;  porém  é  na 


—  293  -• 

verdade  tanto  maior  o  sentimento  de  sociedade,  e  de  ci- 
vilisaçáo  que  nos  salteia,  quanto  vemos  maior  reuniáo  de 
Brasileiros,  quasi  no  meio  das  feras,  e  entregues  a  seus 
fracos  recursos  pliysicos,  e  moraes ! ! 

Pelo  lado  do  Rio  é  a  Serra  talhada  a  prumo,  e  táo  alterosa, 
que  salvando  muitas  outras  summidades,  avista-se  a  Yilla 
de  Própria,  e  a  Cidade  do  Penedo  em  tempo  claro,  jmis 
que  todos  estes  cumes  deitáo  pela  manha  seu  branco  bar- 
rete de  nevoeiro,  que  só  o  tirão,  em  respeito  ao  Deus  dos 
Incas. 

Observei  o  Rio  que  parecia  um  regato,  e  a  Serra— Ta- 
banga  um  cômoro  á  margem  delle  !  I  Tudo  o  mais,  não  re- 
presenta senão  uma  campina  com  alguns  tesos  e  cliar- 
nécas. 

Rolando-se  grandes  pedras  de  sobre  o  talhado  da  Serra 
levão  ellas  espaço  para  tocar  o  fundo  do  abysmo,  e  pelos 
sons,  se  avalia  da  profundidade  delle,  e  da  altura  delia. 

Aquelle  que  ainda  não  cavalgou  sobre  uma  Serra  Gi- 
gante, e  que  de  seu  pináculo,  onde  se  crê  isolado  no  am- 
biente, não  espraiou  seus  olhos  pelas  vastidões  de  nossos 
Sertões ;  que  ainda  não  contemplou  assim  o  azul  de  nosso 
Céo  puro,  e  o  horisonte  immênso  que  nos  cerca,  não  pôde 
fazer  uma  idéa  do  bello  maravilhoso,  e  da  magestade  do 
infinito !  I  Os  rochedos  da  Serra  são  dispostos  em  camadas 
horisontaes,  brancos  e  com  areias  brancas  assimilhando-se 
ás  deixados  pe!o  recuo  do  mar. 

Oh !  quem  sabe  se  a  gruta  que  pisamos 
Não  foi  a  casa  d'humida  Serèa, 

Que  por  ordem  suprema. 
Ao  recuar  das  aguas,  despeijou-a 
Quando  o  espirito  de  Dons  andou  sobre  ellas?! 


—  294  — 

Soffrei  mais  estes  da  própria  lavra,  e  desculpai;  que  è 
de  mào  poeta  querer  em  tudo  inserir  versos  seus. 

Seguindo— o  córrego — que  tem  as  fontes  nas  ditas  Ser- 
ras, achão-se  areias  como  as  da  Amostra  N.°  37  e  soter- 
radas lages  graudes  da  Amostra  N.  38  : 

Ha  tradições  de  que  jà  se  tem  extrahido  ouro,  o  que  pôde 
muito  bem  ser. 

No  Termo  do  Penedo  ha  a  Serra — Marabá — que  dizem 
é  vista  do  mar.  e  que  serve  de  balisa  aos  navegantes,  que 
demandão  a  Barra  :  ha  nella  crystaes;  e  informáo-meque 
melhores,  do  que  os  da  Priaca;  mas  não  os  hei  visto. 

O  furo  do  Termo  do  Penedo  compóe-se  de  um  Juiz  de 
Direito,  um  Juiz  Municipal  e  Orphâos,  formados  em  Di- 
reito e  è  igualmente  o  Delegado  de  Policia — dous  Subde- 
legados e  cinco  Juizes  de  Paz,  dous  Tabelliáes  de  Notas  e 
Escrivães  de  geral,  que  destribuem  entre  si,  sendo  parti- 
cularmente um  encarregado  da  Policia,  e  o  outro  do  Re- 
gisto das  Hypothécas;  um  Escrivão  de  Orphãos,  um  pri- 
vativo do  Jury.  c  execuções  criminaes,  a  fora  os  dos  Sub- 
delegados, e  Juizes  de  Paz;  e  um  de  Capella,  e  Residuos. 

Não  ha  um  Advogado  formado,  excepto  o  Promotor  Pu- 
blico, e  por  isso  as  causas  são  mal  defendidas,  e  sacrifi- 
cadas a  rábulas  alguns  totalmente  hospedes  de  direito. 

Causou-me  admiração  que  esta  Comarca  dando  7  filhos 
formados  em  Direito,  e  6  em  medicina,  nenhum  se  qui- 
zesse  estabelecer  em  sua  Pátria !  Estarão  com  o  protesto 
do  despeitado  da  antiguidade;  ingrata  Pátria, — mn  poce- 
debis  ossa  meu  ! 

Dà  dous  Batalhões  de  Guardas  Nacionaes  de  mais  de 
1,200  praças  sob  um  Commando  Superior.  Além  das  Igre- 
jas referidas,  conta  ns  casas  de  oração  de  Salomé,  Santa 
Cruz  do  Morro  Vermelho,  Junqueiro>  Igreja  Nova,  e  Pi- 


r% 


—  29o  — 

ranga.  O  Termo  <lo  Porto  da  Folha  a  cjue  está  ariiiexa  a 
Villa  da  Mata  Grande,  compõe  o  seu  foro  de  Juizes  Muni- 
cipaes  Supplentes— dous  Tabelliáes  do  geral,  accumulando 
um  os  trabalhos  do  Jur}'  e  execuções  e  bens  do  evento 
e  capellas  e  residuos,  e  o  outro  a  Policia;  um  escrivão  de 
Orphãos— e  bens  de  ausentes— não  tem  Advogados — está 
como  o  Penedo. 

Dá  dous  Batalhões  Nacionaes,  sob  um  (lommando  Supe- 
rior contendo  ambos  mais  de  1,600  praças.  Além  das 
Igrejas  ditas  ha  as  casas  de  oração  de  — Giraô— Mambaca— 
Priaca—Riacháo— Santa  Cruz— do  Velho  Nunes— Santa 
Cruz  de  Mestre  Félix  — e  Santa  Cruz  dos  Veados. 

Tem  a  Comarca — um  Juiz  de  Direito — um  Juiz  Munici- 
pal—um Promotor  Publico— três  Delegados— sete  Subde- 
legados—e doze  Juizes  de  Paz. 

O  dizimo  de  gados  rendeo  o— Município  do  Penedo 
6:2008000-0  de  Traipú  9:660g000— e  o  de  Mata  Grande 
5:200ÍIOOO— total  2!:080$000. 

O  clima  dl  Comarca  é  muito  variado  desde  a  fóz  do  Rio 
até  a  Cachoeira.  O  desta  cidade  é  doentio,  loj(o  depois  do 
escoo  das  enchentes,  experimenta-se  nella  alguma  semc- 
lhanç4i  a  essa  inconstância  da  do  Rio  de  Janeiro. 

Também  dias  apparecem,  em  que  o  Rio  cobre-se  de  uma 
serração  tão  densa  que  não  se  vêm  os  objectos  que  estão 
ao  pé.  O  Sertão  vai  mais  sadio,  e  as  Serras  são  salubres, 
e  nellas  se  sente  frio  tão  intenso  como  o  de  Minas  ou 
S.  Paulo,  maxime  de  Agosto  até  Outubro. 

Os  logares  mais  invulneráveis  às  febres  amarellas  foram 
Traipú,  e  S.  Braz  ;  como  me  admirei  do  primeiro,  porque 
liça  sobre  uma  rocha  que,  escandecida  pelo  sol  ti*opical, 
será  capaz  de  evaporar  todos  os  miasmas  do  mundo,  [)o- 
rém  de  S.  Braz  sim,  porque  além  de  possuir  duas  léguas 


—  290  — 

próximas  do  Povovido,  c  tanta  a  criação  suina  qiieexcre- 
mentáo  as  ruas  ao  ponto  de  as  porem  intransitáveis  1 1 
Creio  no  que  me  disse  certo  ;\lcdico  que  estes  males  pro- 
curam antes  os  limpos,  que  os  sórdidos;  sendo  o  contrario 
das  de  mais  epidemias. 

As  febres  intermittentcs  sâo  indemicas,  e  nâo  raros  os 
casos  de  mortes  repentinas  por  estupores  principalmente. 

lia  ervas,  plantas,  arvores,  e  raizes  medicinaes— ccmo : 
— contra-erva— lingua  de  vacca — batata  de  purga — ma- 
cella — ipecacuanha  preta  e  branca — cainana — que  tem  o 
effeito  do  azougue— estramonia — tingui — o  louco,  planta 
cáustica  com  mais  proveito  que  a  cantharida — quinaquina 
— angelim.  ou  lombrigueira — ruibarbo — barbatimáo—  al- 
caçús,  etc.  etc. — Manacá— mal vaisco—extragata.  etc.  etc. 
Ha  um  sipó  chamado  cunanám  que  cortado  deita  ura  leite 
phosphorico.  e  que  queima  como  agua  forte — experimen- 
tei, e  à  noite  em  um  ranxo  veritiquei  esse  grande  pheno- 
meno. 

E'  farta  de  madeiras,  como  toda  a— Provincia — para 
edificação — tem  Pào— d^arco  de  liôr  roxa  e  amarella.  Sa- 
pucaia— madeira  que  se  desfiia  para  ripas— coração  de 
negro — Gitay — Louro— ingá,  e  verdadeiro— Cedro— Man- 
gue— Baraúna — Pào  de  óleo,  de  que  se  extrahe  o  óleo  de 
cupaiba.  Para  construcções  navaes— Louro,  Arapiràca— 
Gitay — Cedro — Sicopira — Potumojú— -Páo  Santo.  Para 
marcenaria — Pào  d'Arco — Gitay — Cedro— Jacarandàrana 
— Coração  de  negro— Peroba — Emburána— Canafistola — 
Condurú— branco— e  não  vermelho  como  o  da  Bahia — 
Gonçaloalves— Angico  ( I )— Potumojú — Gijuiba — Tatajuba 
(também  para  tinturaria) — Bálsamo — Pào  de  óleo — Gini- 
papo,  Joazeiro  (que  pela  sua  alvura  serve  para  embutidos) — 

0)  o  Angico  destila  gommu  optiiDa  para  as  doenvas  de  peito,  e  a  casca  c 
folhas 6  um  andidoto  para  quedas. 


—  Ú\)'J  — 

Massaraiiduba — Macieira — tão  llexivel  que  serve  para  ai"cos 
de  barril  e  pipas — é  a  mesma  que  dá  o  fructo  para  o  dôre 
de  qu(*  fallei,  e  de  que  mando  aamostra  N.  3í) — Vi  Cardeiros 
— de  tí  a  7  palmos  de  rircumfereucia  no  tronco,  e  lendo 
perlo  de  70  de  hastes :  fazem  doce  do  chamado — chique- 
cliique — e  cabeça  de  frade :  ha  o — Alaslrado — que  assado 
parece  amacacheira  ouaipy,  etc. — O  propriamente — Man- 
dacazú — dá  um  pello— da  ajnostra  N.*'  40,  e  a  capa,  ou 
casca  um  papel  que  fresco  se  pôde  escrever  com  facili- 
dade tomando  bem  a  linta,  amostra  N\°  41 . 

No  cardo  palmatória,  se  cria  a  coxônilha,  que  ha  em 
abundância  no  centro,  e  a  poucas  léguas  da  beira  do  Rio, 
é  a  amostra  N.  4i. 

Vou  narrar-vos  agora  algumas  raridades.  Houve  aqui 
um  liomem  que  náo  podia  ouvir  bater  ovos,  pois  que  sen- 
li  i  crescerem-lhe  os  beiros  enormemente.  lia  ainda  um 
que  náo  come  arroz  e  se  o  faz  padece  repentinamente  uma 
elefantíase,  crescendo-lhe  Iodas  as  extremidades  do  rosto. 
Ha  um  para  SanfAnna  quo  a  cada  palavra  dá  um  bodèjo 
tal,  que  seria  capaz  e  poderia  illudir  qualquer — cabra— 
causando  aos  bodes  a  sensação  de  que  escreveo  o  Épico 
Latino— na  Bucólica  3.^ 

Novimus  et  que  te....  transversa  tuculibus  hin^ís, 
Et  quo,  sed  faciles  nymphe  risêre.  sacello. 

Houve  aqui  um  Juiz  que  inventariou  r)4í)?láO  toda  for- 
lima  de  um  finado,  e  dividio-a,  dando— 315390  para  divi- 
das—298410  para  funeral— yOÍ^7Go  de  custas  \m\\  si  e 
seus  offlciaes ! — e  dividio  o  resto  por  31  herdeiros,  fazen- 
do quinhões  da  quantia  de  ai  íí  147— ate  881  réis  !!!...— 
de  maneira  que  foi  o  maior  herdeiro  do  finado !... 

Houve  um  Jury  em  que  os  Jurados  tiveram  de  respon- 
AimiL.  38 


—  298  — 

der  a  91 — perguntas— por  ter  o  Promotor  ollerecido  o 
Libello  contra  o  Réo — Serafim— pelos  crimes  seguintes : 
— 5  mortes— 2  tentativas  do  mesmo  crime — e  1  roubo, 
com  todas  as  aggravantes  do  Código,  desde  4  até  17 ! !  Ha 
um  homem  que  se  jacta  de  ser  Atheu,— Um  que  bebe  agua 
e  vinho  cada  uma  bebida  por  sua  vez,  e  que  as  lança 
depois  á  vontade  de  quem  as  pede  separadas  é  pciotiqueiro 
innato. — Outro  que  serve  para  todos  os  ofiBcius  de  letras, 
mecânicas. — Um  que  blasona  de  rico — absoluto— mas  que 
só  possae  para  pagar  o  terço  das  dividas. 

Um  que  rifa  constantemente  objectos,  porém  que  se  náo 
sabe  ainda  qua!  o  feliz  que  tirasse  um  premio.  Na  Mata 
Branca  houve  um  escravo  do  vigário,  hoje  de  Paracatu — 
o  Padre  Miguel  Arcanjo  Torres,  que  era  hermaphrodita — 
tendo  os  dous  sexos  bem  desenvolvidos.  De  presente  um 
que  era  havido  por  senhora ;  aos  20  annos  largou  a  saia,  o 
veio  enliar  as  calças  e  os  modernos  paletós! !  mora  em  Páo 
d'Assucar,  e  chama-se  Maria,  e  hoje  Mariano.  Se  conti- 
nuasse com  as  raridades  compor-vos-hia  um  musêo ;  mas 
uma  carta  não  tem  salão  para  tanto. 

Ultimarei  esta  minha  narrativa  fazendo  algumas  refle- 
xões que  julgo  dignas  de  attençáo  eque  só  ellas  serião  ca- 
pazes, em  execução,  de  tirar  este  soberbo  Rio  e  suas  mar- 
gens do  abatimento  e  abandono  a  (|ue  parccco  estar 
condemnado. 

A  extensão  da  Comarca  do  Penedo  é  de  comprimento 
na  parte  mais  septentrional  de — 50  a  52  léguas, — e  nu 
parte  mais  occidental  de — 26  a  30. 

A  Comarca  de  Villa  Nova  da  Provincia  de  Sergipe  tem 
de  longura  40  a  42  léguas  e  de  largura  16  a  20.  Seu  clima 
c  variado,  como  a  cima  vos  disse ;  e  as  riquezas  de  seu 
solo  dão  grandes  esperanças :  só  lhe  falta  a  civilisaçáo,  e 


r% 


—  299  — 

que  esta  espanque  as  trevas  em  que  os  preconceitos  tem 
involvido  estes  bellos,  e  virgens  logares.  Instrucçáo,  civi- 
lisação,  communicaçáó;  parece  que  Deus  rimou  estas 
palavras  para  demonstrar  que  sem  ellas  não  prospera  um 
povo. 

A  instrucçáo  inventa,  descobre;  a  civilisaçáo  aceita,  usa 
dos  inventos  e  das  descobertas;  a  communicaçáó  as  espa- 
lha, applica-as  em  beneficio  geral.  A  riqueM  nasce  dessa 
reunião,  e  com  ella  a  satisfacçáo  do  povo,  que,  farto  e  co 
nhecendo  o  seu,  procura  respeitar  o  alheio,  e  assim  reci- 
procamente. A  segurança  publica  é  composta  de  muitas 
seguranças  particulares ;  náo  é  senão  segurando-se  muitos, 
ou  a  maior  parte  que  a  Sociedade  Civil  tem  também  se- 
gurança. 

Mas  como  virá  tocar  esse  futuro  ao  Rio  de  S.  Francisco? 
me  perguntareis  vós  e  eu  vos  responderei  facilmente. 

Abri  aos  olhos  do  especulador,  e  ávido  extranho  os  the- 
souros  fechados  nestas  ribeiras  de  uma  vejetaçáo  fabulosa ! 
uni  suas  duas  margens,  fazendo  uma  só  Província,  que 
tudo  apparecerá  transformado. 

Náo  é  possível,  como  está,  nem  um  augmento ;  cada 
margen  pertence  a  uma  diíTerente  Província,  ejurisdicçáo, 
distando  da  Capital  mais  de  30  léguas ;  e  a  acção  do  go- 
verno chega  tardia  e  illudida. 

Tudo  de  mão  em  uma,  se  vasa  reciproca  e  facilmente 
na  outra,  e  estes  raáos  elementos,  conservados  e  augmen- 
tados  por  poucos,  que  tem  interesse  immediato  no  atraso 
de  tudo,  que  olhão  para  a  idéa  de  progresso,  cora  maior 
horror,  do  que  para  uma  cascavel,  é  a  maior  esterelidade  a 
combater,  é  a  peior  febre  amarella  a  estinguir. 

É  esse  o  germem  de  corrupção  que  arruina  a  prosperi- 


—  300  — 

(laile.  liberdade  o  segurança,  o  que  mala  no  berço  o  espi- 
rito, e  o  corpo  dos  Povos. 

Não  ha  raciocinar  alem  dos  maioraes  da  terra,  e  nem 
usar  da  liberdade  a  mais  legal,  sem  suas  approvações !  A 
morte  deste — digamol-o — despotismo — só  com  uma  tal 
transformação,  se  dará.  Desde  o  decimo  quinto  século 
que  se  descobriram  estes  logares,  ha  mais  de  300  annos  que 
os  deshabitaram  os  selvagens,  e  tudo  demonstra  a  natureza 
pura  e  singela  com  as  modificações  somente  da  necessidade 
absoluta.  Ainda  a  mão  do  progresso  não  poz  em  acç^lo, 
com  a  devida  sinceridade,  tantos  recursos  I 

As  obras  que  se  observáo  nesta  Cidade  do  Penedo  indi- 
cão  que  houve  mais  vida,  e  hoje  os  indícios  sáo  de  progres- 
siva decadência. 

É  preciso  mudar  de  vida,  activar  os  homens,  destruindo 
as  rotinas  perniciosas,  mas,  seguidas  á  risca,  e  por  capricho 
egoistico  por  quem  não  conhece  os  bens  provenientes  do 
progresso  a  todos  os  respeitos,  ou  leme  escurecer-se  á 
vista  da  luz. 

O  Quadro  do  rendimento  desta  Comarca  é  animador: 
quero  mesmo  que  não  tanto  renda  a  Comarca  de  Villa  No- 
va, comtudo  não  seria  preciso  ao  Governo  fazer  despezas 
impossíveis  para  ter  e  manter  uma  nova  Província. 

Não  podemos  cafcular  a  importação  estrangeira ;  mas  se 
é  exacto  o  calculo  de  que  mais  de  três  mil  contos  de  va- 
lores, entrão  pelo  S.  Francisco  nos  Barcos  de  Cabotagem ; 
esses  valores  triplicarão  no  commercio  com  o  estrangeiro. 

Um  homem  creador  que  se  dedicasse  ao  árduo  trabalho 
da  prosperidade  de  luna  nova  Província ;  muito  poderia 
fazer  em  beneficio  destes  povos  governados  pela  Provi- 
dencia, cujos  costumes  são  ainda  rudes,  porém  porque* 
não  acháo  exemplos  nos  maiores.. 


—  301  — 

\s  producções  naturaes  desafião  o  Colono  e  fôram  so- 
mente ellas  que  arrancaram  ao  meu  cbarà — ^José  Vieira  do 
Couto— aqucllas  exclamações  agouras  de  prospero  futuro. 
Eras  virão  em  que  os  povos  correrão  em  chusmas  sobre 
estas  ribeiras,  Ac. 

Que  não  aventuraria  elle,  se  entio  esperasse  uma  linha 
de  vapores  já  em  carreira,  e  que  esta  será  talvez  a  precur- 
sora de  uma  via  férrea  para  visitarmos  essa  assombrosa 
obra  da  Mão  Poderosissima— a  Cachoeira  de  Paulo  Affon- 
so! !  Estou  que  se  isto  tudo,  que  indico,  dependesse  de 
uma  só  vontade — Soberana — a  proveitosa  creação,  de  que 
vos  fallo,  seria  feita,  pois  que  são  esses  feitos,  dos  que  dão 
renome  aos  Príncipes,  e  futuro  às  Nações;  pois  o  —  Rei 
reina  e  não  governa;  disse  o  politico — Mr.  Thiers.— Essa 
máxima  terrível  apoquentou  o  génio  dos  Monarchas ;  abdi- 
caram o  pensamento  nos  Ministros  dos  governos  represen- 
tativos ;  e  não  se  pensa,  senão  pelos  moldes  das  Consti- 
tuições, e  querer  delles. 

Feliz  do  Rei  que  pôde  fazer  ao  Povo  todo  o  bem  que 
imaginar,  e  que  tem  bons  conselheiros  para  apartal-o  do 
todo  o  mal  1 

Não  sei  se  poderemos  assentar  este  pensamento  entre  os 
partidos  políticos  ?  Quantas  vezes  não  desconhecem  elles  o 
bem  de  que  se  podem  também  aproveitar  seus  contrários 
só  porque  não  o  gozáo  exclusivamente!  I 

De  certo  que  não  vos  terei  satisfeito  com  estas  informa- 
ções :  infeliz  do  espirito  fraco  que  se  arroja  a  embarcar  em 
altas  emprezas,  por  que  raras  vezes  escapa  do  naufrágio ! 

Sou  sinceramente 
Vosso  affectuoso  Amigo  por  Sympathia 
José  Vieira  Rodrigues  de  Carvalho  k  Silva. 
Penedo,  em  1854. 


injiiAt 


DAS 

6DEBBAS  FEITAS  iOS  PAUABES  BE  PEBIÂIBUCO 

NO  TEMPO  DO  GOVCHNADOR  D.    PEDRO  DE  ALMEIDA 
DE    1673    A    1678. 

(M.  S.  ojfereddo  pelo  Exm.  Sr,  Conselheiro  Drummond. ) 

Restituídas  as  capitanias  de  Peinambuco  ao  dominio  de 
Siia  Alí^/a.  livre  jà  dos  inimigos  que  de  fóia  as  vieram 
(•ònqui.^  i^r;  s.^ndo  poderosas  as  nossas  armas  para  saccu- 
diro  iniuiigo,  que  tantos  annos  nos  opprimio;  nunca  foram 
efficiízes  para  destruir  o  contrario,  que  das  portas  adentro 
nos  infestou;  náo  sendo  menores  os  damnos  deste,  do  que 
linha  sido  as  hostilidades  d'aquelle;  nâo  foi  o  descuido  a 
causa  de  se  nflo  conseguir  este  negocio ;  porque  todos  os 
Governadores,  que  nesta  praça  assistiram  com  cuidado  se 
empregaram  nesia  empresa;  porém  as  diíTiculdades  do 
sitii;,  a  as[>eresa  dos  caminhos,  a  impossibidade  das  con- 
duções, fez  impossível,  a  quem  o  valor  não  fez  poderoso ; 
os  melhores  Cabos  desta  Praça,  os  mais  experimentados 
soldados  desta  Guerra  se  occuparam  nestas  levas,  e  não 
sendo  pouco  o  trabalho,  que  padeceram,  foi  muiío  pouco 
o  fructo  que  alcançaram. 

E  para  que  com  alguma  evidencia  se  conheça  o  incon- 
trastavel  desta  empresa,  brevemente  recopilarei  as  noti- 
cias, que  a  experiência  descobrio  ;  estende  pela  parte  su- 
perior do  Rio  de  S.  Francisco  uma  corda  de  mata  brava, 
í[ac  vem  a  fazer  termo  sobre  o  sertão  do  Cabo  de  Santo 
Agostinho,  correndo  quasi  Norte  a  Sul,  do  mesmo  modo 
que  corre  a  costa  do  mar;  são  as  arvores  principaes  Pai- 


—  aOi  — 

meiras  agrestes,  ([ue  deram  ao  terreno  o  nome  de  Palma- 
res ;  são  estas  tão  fecundas  para  todos  os  usos  da  vida  hu- 
mana, que  delias  se  fazem  vinho,  azeite,  cal,  roupas;  as 
follias  servem  ãs  casas  de  cobertura ;  os  ramos  de  esteios, 
os  fruitos  de  sustento;  e  da  contextura  com  que  as  pencas 
se  cobrem  no  tronco,  se  fazem  cordas  para  tolo  o  género 
<le  ligaduras,  e  amarras;  não  correm  tão  uniformemente 
estes  Palmares,  que  os  não  separem  outras  matas  de  di- 
versas arvores,  com  que  na  distancia  de  sessenta  léguas, 
se  achão  distinctos  palmares  :  a  saber  ao  Noroeste  o  Mu- 
cambo  do  Zambi,  dezesseis  léguas  de  Porto  Calvo ;  e  ao 
Norte  deste  distancia  de  cinco  léguas  o  de  Xrotíreiíe ;  e  logo 
para  a  parte  do  Leste  destes  dous  Mucambos  chamados  os 
das  Tabocas;  e  destes  ao  Noroeste  quatorze  léguas  o  de 
Dambrabuwja,  e  ao  Norte  deste  oito  léguas  a  Cerca  chamada 
Subnpim ;  e  ao  Norte  desta  seis  léguas  a  Cerca  Real  cha- 
mada o  Macaco;  ao  Oeste  desta  cinco  léguas  o  Mocambo  do 
Osenga,  e  nove  léguas  da  nossa  povoação  de  Serinhaem 
para  o  Noroeste  a  cerca  do  Amaro ;  e  vinte  cinco  léguas  das 
Alagoas  para  o  Noroeste  o  Palmar  de  Andalaquituxe ;  Irmão 
do  Zambi ;  e  entre  todos  estes  que  são  os  maiores  e  mais 
defensáveis,  ha  outros  de  menor  conta,  e  de  menor  gente  ;• 
distão  estes  Mocambos  das  nossas  povoaçôens  mais  ou  me- 
nos léguas,  conforme  o  lançamento  delles,  ponjue  como 
occupão  o  vão  de  quarenta  ou  cincoenta  léguas,  uns  estão 
mais  remotos,  outros  mais  próximos. 

É  o  sitio  naturalmente  áspero,  montuoso,  e  agreste,  se- 
meado de  toda  a  variedade  de  arvores  conhecidas,  e  igno- 
tas, com  tal  espessura  ,  e  confusão  de  ramos ,  que  em 
muitas  partes  é  impenetrável  a  toda  a  luz ;  a  diversidade  de 
espinhos,  e  arvores  rasteiras  nocivas  servem  de  impedir 
os  passos,  e  de  intrincar  os  koncos;  entre  os  montes  se 


—  3()o  — 

ospraião  algumas  várzeas  fertelissimas  para  as  plantas ;  c 
para  a  parte  do  Oeste  do  sertão  dos  Palmares  se  dilatão 
Campos  largamente  estendidos,  porém  infructi^eros,  e  só 
para  pastos  acommodados. 

A  este  inculto  e  natural  couto  se  recolheram  alguns  ne- 
gros, a  quem  ou  os  seus  delictos,  ou  a  intractabilidade  de 
seus  Senliores,  fez  parecer  menor  castigo,  do  que  o  que 
receiavão;  podendo  nelles  tanto  a  imaginação,  que  se 
davão  por  seguros ,  onde  podião  estar  mais  arriscados. 
Facilitou-lhes  a  comedia  a  estancia,  e  com  presas,  que  co- 
meçarião  a  fazer,  e  com  persaações  da  liberdade,  que  co- 
meçaram a  espalhar  se  foram  multiplicando. 

Ha  opinião  que  do  tempo  que  houve  negros  captivos 
nestas  Capitanias  começaram  a  ter  habitadores  os  Palma- 
res;notempoqueaIlolIandaoccupouestasPraç:ís  engrossou 
aquelle  numero;  porque  a  mesma  perturbação  dos  Senho- 
res era  a  soHura  dos  escravos ;  o  tempo  o  fez  crescer  na 
quantidade,  e  a  vizinhança  dos  moradores  os  fez  destros 
nas  armas ;  usáo  hoje  de  todas,  umas  que  fazem,  outras 
que  roubão,  e  muitas  que  comprâo ;  as  que  fazem  são 
arcos  e  frechas,  as  que  roubão,  e  comprâo  são  de  fogo ; 
os  nossos  assaltos  os  tem  feito  prevenidos,  e  o  seu  exer- 
cício os  tem  feito  experimentados ;  não  vivem  todos  juntos 
porque  um  successo  não  acabe  a  todos,  em  palmares  dis- 
tinctos  tem  sua  habitação,  assim  pelo  sustento,  como  pela 
segurança ;  são  grandemente  trabalhadores,  plantão  todos 
os  legumes  da  terra,  de  cujos  fruitos  formão  providamente 
celeiros  para  os  tempos  da  guerra,  e  do  inverno;  o  seu 
principal  sustento  é  o  milho  grosso,  delle  fazem  varias 
iguarias;  as  caças  os  ajudão  muito,  porque  são  aquelles 
matos  abundantes  delias. 

Toda  a  forma  do  Guerra  se  acha  nelles,  com  todos  os 

ABRIL.  39 


—  soe  — 

Cabos  Maiores  e  inferiores,  assim  para  o  successo  das  i>e^ 
lejas,  como  para  a  assistência  do  Rei ;  reconhecem-se  to- 
dos obedientes  a  um  que  se  chama  o  Ganga  Zumba,  ([ue 
(juer  dizer  Senhor  Grande ;  a  este  tem  por  seu  Rei  e  Se- 
nhor todos  os  mais  assim  naturaes  dos  Palmares,  como 
vindos  de  fora ;  lem  palácio, C^ipas  da  sua  familia,é  assistida 
de  guardas  e  oíDciaes,  que  custum  o  ter  as  Casas  Reaes; 
c  tratado  com  todos  os  respeitos  de  Rei.  e  com  todas  as 
ceremonias  de  Senhor ;  os  que  chegão  á  sua  presença  põem 
Jogo  o  joelho  no  chão,  e  batem  as  palmas  das  mãos  signal 
do  seu  reconhecimento,  e  protestação  da  sua  excellencia ; 
fallão-lhe  por  Magestade,  obedecem-lhe  por  admiração;  ha- 
bita na  sua  Cidade  Real,  que  cliaraáo  o  Macaco,  nome  sor- 
tido da  morte,  que  n'aquelle  logar  se  deo  a  um  animal 
destes ;  osta  é  a  metropoli  entre  as  mais  Cidades  e  povoa- 
ções ;  está  fortificada  toda  em  ura  cerco  de  pào  a  pique/ 
com  treneiras  abertas  para  oíTenderem  a  seu  salvo  os  com- 
batentes ;  e  pela  parte  de  fora  toda  se  semeia  de  estrepes 
de  ferro,  e  de  fojos  tão  cavilosos,  que  perigará  nelles  a 
maior  vigilância ;  occupa  esta  Cidade  dilatado  espaço,  for- 
ma-se  de  mais  de  mil  e  quinhentas  casas;  ha  entre  elles 
Ministros  de  Justiça  para  as  execuções  necessárias,  e  todos 
os  arremedos  de  qualquer  Republica  se  achão  entre  elles  : 

E  com  serem  estes  Bárbaros  tão  esquecidos  de  toda  a 
sugeição.  não  perderam  de  todo  o  reconhecimento  da 
Igreja ;  nesta  Cidade  tem  Capella  a  que  recorrem  nos  seus 
apertos ,  e  imagens  a  que  encommendáo  suas  tenções, 
quando  se  entrou  nesta  Capella,  achou-se  uma  Imagem  do 
Menino  Jesus  muito  perfeita ;  outra  da  Senhora  da  Con- 
ceição, outra  de  S.  Braz ;  escolhem  um  dos  mais  ladinos, 
a  quem  veneram  como  a  Parrocho,  este  os  baptiza  c  os 
casa :  porém  o  baptismo  é  sem  a  forma  determinada  pela 


—  307  — 

igreja,  e  os  casamentos  sem  as  singularidades,  que  pode 
inda  a  lei  da  natureza ;  o  seu  apelile  é  a  regra  da  sua  elei- 
ção ;  cada  um  tem  as  mulheres,  que  quer,  ensináo-se  entre 
elles  algumas  orações  Christáes,  observão-se  os  documen- 
tos da  fé  que  cabem  na  sua  capacidade;  o  Rei  que  nesta 
Cidade  assistia  estava  acommodado  com  Ires  mulheres, 
uma  mulata  e  duas  crioulas,  da  primeira  teve  muitos  filhos, 
das  outras  nenhum ;  o  modo  de  vestir  entre  si,  é  o  mesmo 
que  observáo  entre  nós;  mais  ou  menos  emroupados  con- 
forme as  possibilidades. 

Esta  c  a  principal  Cidade  dos  Palmares,  este  o  Rei  que 
os  domina,  as  mais  Cidades  estão  a  cargo  de  potentados,  e 
Cabos  Maiores  que  as  governão,  e  assistem  nellas :  umas 
maiores,  e  outras  menores  conforme  o  sitio,  e  a  fertilidade 
os  convida,  a  segunda  Cidade  chama-se  Stibupira ;  nesU 
assiste  o  Irmão  do  Rei,  que  se  chama  o  Zona,  {\)k  forti- 
ficada toda  de  madeira  e  pedras,  comprehende  mais  de  oito 
centas  casas ;  occupa  o  vão  de  perto  d'uma  légua  de  com- 
prido. É  abundante  de  aguas  porque  corre  por  ella  o  Rio 
Cachingi;  esta  era  a  estancia  onde  se  prepara  vão  os  negros 
para  o  combate  de  nossos  assaltos :  toda  a  cercavão  fojos, 
e  por  todas  as  partes  por  vias  aos  nossos  impulsos,  estava 
semeada  de  estrepes ;  das  mais  Cidades  e  povoações  darei 
noticia,  quando  lhe  referir  as  ruinas. 

Este  é  o  inimigo  que  das  portas  a  dentro  destas  Capita- 
nias se  conserva  a  tantos  annos,  a  quem  defendia  mais  o 
sitio,  que  a  constância ;  os  damnos  que  deste  inimigo  nos 
tem  resultado  são  innumeraveis ;  porque  com  elles  periga 
a  Coroa,  e  se  destroem  os  moradores ;  periga  a  Coroa  por- 
que a  seus  insultos  se  dispovoavão  os  logares  circumvizi- 
nhos ;  e  se  despejavão  as  Capitanias  adjacentes ;  e  deste 

(IjOsengá? 


—  308  — 

damno  iiifallivel  se  seguiáo  outros  inevitáveis,  como  era 
impossibilitar-se  a  conservação  de  todo  Pernambuco ;  por- 
que como  occupão  os  Palmares  do  Rio  de  S.  Francisco  té 
o  Cabo  de  S.  Agostinho,  ficão  imminentesa  Pojuca,  Seri- 
nhaem,  Alagôa?  Vna,  Porto  Calvo,  S.  Miguel,  povoações 
donde  se  recolhem  mantimentos  para  todas  as  mais  Villas, 
e  freguezias,  que  estão  á  beira  mar;  sem  cujos  provimen- 
tos ficáo  todas  inc^nservaveis ;  porque  os  fruitos.  que  dão. 
são  os  de  que  mais  se  necessita  :  a  saber:  gados,  farinhas, 
assucares,  tabacos,  legumes,  madeiras,  peixe,  azeites. 

Destroem-se  os  Vassallos,  porque  a  vida,  e  honra,  a  fa- 
zenda, porque  lha  destroçáo,  e  lhe  roubáo  os  escravos,  as 
honras  porque  as  mulheres,  lilhas  irreverentemente  se 
tratão ;  as  vidas  porque  estão  expostos  sempre  a  repentinos 
assaltos ;  Demais  que  os  Caminhos  não  são  livres,  as  Jor- 
nadas pouco  seguras;  e  só  se  marcha  com  tropas,  que 
possão  rebater  os  seos  encontros. 

E  parecendo  fácil  destruir-se  este  damno,  foi  té  agora 
impossivel  coaseguir-se  este  intento :  porque  depois  da 
restauração  destas  Praças,  vinte  cinco  entradas  se  fizeráo 
aos  Palmares,  e  malogrando-se  nellas  grandes  cabedaes, 
a  si  da  fazenda  real,  como  da  dos  moradores,  e  perecendo 
muitos  soldados,  nunca  se  lhe  enfraqueceram  as  forças;  e 
para  que  conste  com  evidencia  o  grande  cuidado  que  tem 
dado  este  negocio  ;  e  os  grandes  abalos  que  tem  causa- 
do este  empenho,  refirirei  o  nome  dos  Cabos  que  lá  fizeram 
entradas. 

Despojados  os  Hollandezes  destas  Capitanias,  que  injus- 
tamente domina  vão  pelo  memorável  Mestre  de  Campo  Ge- 
neral Francisco  Barreto,  cujo  nome  não  só  merece  enta- 
Ihar-se  nos  mármores  da  eternidade,  mas  também  impri- 
mir-se  nas  laminas  da  nossa  memoria ;  pois  foi  o  farol  que 


—  809  — 

nas  trevoas  do  nosso  capliveíro.  despedindo  os  raios  do 
seu  valor,  que  Hollanda  sentio,  nos  conduzio  ao  porto  se- 
guro da  liberdade,  que  hoje  logramos;  recolhendo-se 
restaurador  de  todas  estas  Capitanias,  náo  quiz  deixar  de 
as  remir  ultimamente  de  todos  os  seus  contrários ;  e  a  si 
entre  os  parabéns  dos  saccessos  passados  se  acendeo  o 
brio  para  os  estragos  futuros,  e  prevenindo  perto  de  seis- 
centos homens  com  tudo  o  mi  is  necessário  para  as  mar- 
chas, os  entregou  á  ordem  do  Capitão  André  da  Rocha  para 
que  fizesse  a  primeira  entrada  por  aquellas  matas  nunca 
dantes  penetradas  :  entrou  a  gente,  começou  a  desemba- 
raçar os  estorvos  d'aquellas  montanhas,  e  a  buscar  os  ha- 
bitadores d*aquclles  desertos;  porém  como  erão  os  Capi- 
tães, que  entrarão,  briosos,  e  os  soldados  resolutos,  a  dis- 
córdia os  desunio :  do  que  tendo  noticia  o  Mestre  de  Campo 
General  mandou  o  Tenente  Antotúo  Jacome  Bezerra  para 
continuar  o  empenho;  o  que  fez  com  tanto  acerto,  que  al- 
cançou uma  famosa  victoria.  em  que  acabaram  muitos  dos 
Palmaristas,  e  se  capti varam  quasi  duzentos. 

Este  foi  o  primeiro  estrago  que  sentiram  aquellespaizes; 
esta  foi  a  primeira  fortuna  com  que  se  ensaiaram  as  nossas 
resoluções ;  este  foi  o  ultimo  applauso  com  que  se  coroou  o 
Mestre  de  Campo  General  em  Pernambuco ;  tendo  a  gloria 
de  ser  o  único  restaurador  destas  Capitanias ;  e  o  renome 
de  ser  o  primeiro  conquistador  dos  Palmares. 

Teve  circumstancias  de  prodigiosa  aquella  victoria ;  por- 
que n  aquelle  tempo,  as  experiências  erão  muito  poucas, 
e  a  multidão  dos  negros  era  muito  grande ;  julga-se  susten- 
taváo  aquelles  matos  de  dezeseis  té  vinte  mil  almas ;  que 
com  este  feliz  successo  foráo  declinando,  porque  ficaram  os 
segundos  mais  descobertos  para  as  nossas  entradas ;  e  os 
negras  mais  timidos  para  os  seus  assaltos. 


—  310  — 

Entraram  depois  vários  Capitães,  Sargentos  Mores,  e 
Mestres  de  Campo,  e  todos  mereceram  louvor,  porque  so- 
bre os  trabalhos  que  padeceram,  causaram  damnos  que  se 
sentiram ;  e  porque  no  breve  deste  papel  náo  cabe  a  rela- 
ção do  que  obraram  sirva-lhes  só  a  declaração  dos  nomes 
para  gloria  do  que  mereceram. 

Entraram  nos  Palmares  o  Capitáo-Mór  Sebaldo  Luiz,  o 
Capitão  Clemente  da  Rocha,  o  Capitáo-Mór  Christovão  Luiz, 
o  Capitão  José  de  Barros,  o  Capitão-Mór  Gonsalo  Moreira, 
o  Capitão  Cipriano  Lopes,  o  Capitão  Manoel  Rebello  de 
Abreo,  o  Tenente  António  Jacome,  o  Capitão  Braz  da 
Rocha,  o  Capitão  António  da  Silva,  o  Capitão  Belchior 
Alvares,  o  Capitão  Manoel  Alvares  Pereira,  o  Capitão  Se- 
bastião de  Sá,  o  Capitão  Domingos  de  Aguiar,  o  Capitão 
Francisco  do  Amaral,  o  Mestre  de  Campo  António  Dias 
Cardoso,  o  Coronel  Zenobio  Acheoli;  o  Sargento-Mór 
Manoel  Lopes. 

Com  todas  estas  entradas  ficaram  as  nossas  povoações 
destruidas,  e  os  Palmares  conservados;  sendo  a  causa 
principal  deste  damno  a  difficuldade  dos  caminhos,  a  falta 
das  aguas,  o  descomodo  dos  soldados,  porque  como  são 
montuosas  as  serras,  infecundas  as  arvores,  espessos  os 
matos,  para  se  abrirem  é  o  trabalho  excessivo,  porque 
os  espinhos  são  infinitos,  as  ladeiras  muito  precipitadas,  e 
incapazes  de  carruagens  para  os  mantimentos  com  que  é 
forçoso  que  cada  soldado  leve  às  costas  a  arma,  pólvora, 
bailas,  capote,  farinha,'  agua,  peixe,  carne  e  rede  com  que 
possa  dormir;  com  a  carga,  que  os  opprime,  é  maior  que 
o  estorvo,  que  os  impede;  ordinariamente  adoecem  muitos, 
assim  pelo  excesso  do  trabalho,  como  pelo  rigor  do  frio ; 
e  estes  ou  se  conduzem  a  hombros,  ou  se  desamparão  ás 
feras ;  e  como  os  negros  são  senhores  daquelles  matos,  e 


—  3n  — 

experimentados  naínicl.'as  serras,  o  uso  oá  tem  feito  robus- 
tos naquelle  trabalho,  e  fortes  naquelle  cxercicio;  com  que 
nestas  jornadas  nos  costumão  fazer  muitos  damnos,  sem 
poderem  receber  nenhum  estrago,  porque  encobertos  dos 
matos,  e  defendidos  dos  troncos  se  livnlo  a  si,  e  nos  mal- 
tratãoa  nós. 

Este  era  o  estado  em  que  achou  os  Palmares  D.  Pedro 
de  Almeida,  quando  entrou  a  governar  estas  Capitanias ; 
e  como  os  clamores  do  perigo  commum,  e  a  guerra  da 
insolência  dos  negros  era  geralmente  lamentada  de  todos 
os  moradores;  logo  tratou  de  acudir  ao  remédio  daquelles 
Povos,  e  de  conquistar  a  soberba  daquelles  inimigos;  e 
dispondo  com  ordens  as  povoações  de  Sirinhaem,  Porto 
Calvo,  Vna,  Alagoas,  erio  de  S.  Francisco:  mandou  pre- 
venir carnes  e  farinhas,  para  as  levas  que  queria  mandar; 
determinou  a  gente  que  das  mesmas  freguezias  se  havia 
de  tirar,  ellegeo  os  soldados  pagos  que  havião  de  entrar, 
prevenio  botica,  Cirurgião,  religiosos  e  tudo  mais  que  era 
necessário  para  a  jornada,  o  que  tudo  entregou  à  ordem 
do  Sargento-Mór  Manoel  Lopes,  cuja  experiência,  zelo,  e 
valor  prometteo  bom  successo  as  esperanças  que  nelle  se 
fundaram. 

Achou -se  na  Povoação  do  Porto  Calvo  era  23  de  Sep- 
terabrode  1675,  com  280  homens  entre  brancos,  mulatos, 
e  Índios ;  em  21  de  Novembro  partio  para  os  Palmar,  s,  on- 
de foram  grandes  os  trabalhos,  excessivas  as  necessidades, 
e  continuos  os  perigos  que  se  padeceram  até  22  de  Dezem- 
bro em  que  se  descobrio  uma  grande  Cidade  de  mais  de 
2,000  casas,  fortificada  de  estacadi  de  pào  a  pique,  e  de- 
fendida com  3  forças  e  com  somma  grande  de  defensores, 
prevenidos  com  todo  o  género  de  armas,  e  depois  de  se 
pellejar  de  uma  e  outra  parte  mais  de  2  1/2  horas,  larga- 


—  352  — 

ram  os  nossos  soldados  fogo  a  algumas  casas,  que  como 
são  de  matéria  capaz  de  incêndios  começaram  a  arder  e  os 
negros  a  fugir.  Deram  s  jbre  eres,  mataram  muitos,  feri- 
ram não  poucos  e  prederam  70 ;  ao  dia  seguinte  se  encor- 
poraram  outra  vez  os  negros,  e  reconhecido  pela  nossa 
parte  o  sitio,  foram  investidos,  renhio-se  fortemente  com 
damno  considerável  dos  Palaiarislas ;  até  que  no  seu  retiro 
tiveram  o  sou  remédio;  Assistio  o  Sargento-Mór  cora 
nrrayal  formado  perto  de  3  mezcs  entre  os  segredos  áspe- 
ros daquelle  sertão  padecendo  indesiveis  misérias,  exces- 
sivos trabalhos,  e  fomes  grandes;  campeando  sempre 
íiquellas  espessuras :  grande  fracto  se  colheo  desta  assis- 
tência do  arrayal,  porque  timidos  os  negros  de  táo  próxima 
vizinhança  mais  de  100  peças  se  recolheram  ao  povoado 
buscar  seus  senhores. 

Nestas  esperas  alcanç>ou  por  notícias  o  Sargento-Mor, 
que  se  tinhão  passado  os  negros  23  léguas  além  dos  Pal- 
mares entre  as  fragosidades  de  mis  carreiros  tão  espinho- 
sos e  bravos,  que  parecião  incontrastaveis  a  toda  a  resolu- 
ção ;  porém  não  os  apatrocinou  ainda  assim  a  asperesa, 
porque  assaltados  dos  nossos  ficaram  muitos  mortos,  e  os 
n;ais  fugiram,  aqui  íc  ferio  com  uma  bala  ao  General  das 
Armas,  que  se  chamava  o  Zambi,  que  quer  dizer  Deus  da 
guerra.  Negro  de  singular  valor,  grande  animo,  e  constân- 
cia rara.  Este  é  o  espectador  dos  mais,  porque  a  sua  indus- 
tria, juizo  e  fortaleza  aos  nossos  serve  de  embaraço,  aos 
seus  de  exemplo,  ficou  vivo.  porém  alejado  de  uma  perna. 

Chegaram  estas  novas  cora  o  Sargento-Mór  a  D.  Pedro 
de  Almeida,  e  comprehendendo  dos  Palmares  o  sitio,  das 
entradas  o  perigo,  dos  moldados  o  descomaiodo,  dos 
negros  a  resolução,  das  cidades  a  fortaleza,  com  madureza 
grande  e  zelo  maior  tratou  de  dar  ultimo  fim  aquelles  ini- 


—  :í13  — 

migos,  e  prevenindo  todos  os  estorvos,  que  os  successos 
passados  lhe  linháo  desciiberto  com  singular  resolução, 
tomou  a  seu  cargo  esta  empresa,  e  tendo  noticia  que  na 
Capitania  de  Sergipe  d'el-Rei  pertencente  ao  governo  geral 
da  Bahia,  assistia  o  Capitão-Mór  Fernão  Carrilho  a  quem  a 
fama  tinha  feito  conhecido  nestas  Capitanias  de  Pernam- 
buco, pelos  successos  felizes,  que  no  Sertão  da  Bahia  tinha 
conseguido,  destruindo  os  Mocambos  e  Aldeãs  dos  Tapuyas 
que  infestaváo  aquellas  partes,  cujo  valor  e  experiência  foi 
a  causa  da  quietação  e  seguranç^a,  que  hoje  logra  aquella 
cidade,  eseus  arredores,  poisjíi  estão  os  caminhos  livres, 
os  engenhos  seguros,  as  fazendas  sem  receios,  os  gados 
quietos,  e  os  moradores  gostosos,  sendo  neste  empenho 
tão  intentado  de  muitos,  e  não  conseguido  de  nenhum,  o 
seu  assumpto  o  serviço  de  sua  Alteza,  e  não  o  interesse  de 
suas  conveniências,  porque  é  patente  a  todo  o  Brasil,  que 
nestas  occupações  destroçou  o  seu  cabedal,  enão  rccolheo 
nenhum  emolimaento,  achando-se  por  bem  pago  das  victo- 
rias  que  alcançou  com  o  nome  e  gloria  que  universal- 
mente mereceo. 

A  este  Capitão-Mór  escreveo  apertadamente  D.  Pedro  de 
Almeida  para  lhe  entregar  a  Gommissâo  deste  negocio  tão 
considerável ;  aceitou  com  gosto  a  empresa,  e  convidando 
alguns  parentes  e  alliados  seus  partio  logo  para  Pernambuco 
a  avistar-se  com  D.  Pedro ;  e  conhecendo  D.  Pedro  nelle 
valor,  e  experiência,  e  satisfeito  da  pratica  com  que  discorria 
sobre  os  Sertões,  escreveo  logo  a  todas  as  Camarás  destas 
Capitanias,  para  que  dessem  o  concurso  necessário  ao  in- 
tento que  determina  conseguir ;  empenhou  juntamente  com 
cartas  aos  homens  nobres  e  principaes  das  povoações  cir- 
cumvizinhas  aos  Palmares,  applicando-lhes  a  gloria  daquella 
facão ;  estiraulando-os  cora  a  honra  daquella  empresa. 

ABHU..  40 


—  314  — 

Miiíto  facilitou  as  Gamaras,  e  a  nobresa  daquellas  povoa- 
ções a  cortez  industria  com  que  D.  Pedro  se  mostrou 
independente  da  gloria  do  uttimo  successo,  e  juntamente 
a  isenção  singular  do  desinteresse  com  que  lhes  escreveo, 
que  a  Jóia  que  se  costumava  dar  aos  Governadores,  elle 
Ília  offerecia  para  premio  do  seu  trabalho :  e  só  queria  ter 
parabém  de  ver  livre  estas  Gapitanias  dos  sobresaltos  con- 
tinuos,  e  dos  perigos  iminentes  em  que  fluctuavão  para  a 
sua  ruina ;  e  que  o  seu  intento  todo  era  o  serviço  que 
nesta  matéria  resultava  a  Deus,  e  a  Sua  Alteza,  e  o  socego 
a  seus  vassallos;  pois  ao  contrario  se  seguião  duasmons- 
trosidades  indignas  de  se  publicarem  no  mundo,  a  pri- 
meira levantareni-se  com  o  dominio  das  melhores  Capita- 
nias de  Pernambuco,  negros  cativos,  a  segunda  era 
dominarem  a  seus  próprios  senhores  seus  mesmos  escra- 
vos. 

Foráo  estas  razões  pelo  que  levaram  de  cortezia  e  zelo, 
efficazes  motivos  para  obrigar  os  ânimos  dos  que  as  leram, 
e  poderosos  empenhos  para  rebater  os  impedimentos,  que 
se  lhes  oppuzeram ;  porque  no  mesmo  tempo,  que  despe- 
dia D.  Pedro  avisos  para  o  que  se  intentava,  se  despacha- 
vão  correios,  para  estorvar  o  que  se  pretendia,  sendo  toda 
a  causa  desta  contrariedade  diflBcultar  a  empresa,  ou  reser- 
var o  successo  para  opportunidade,  que  mal  fundadas 
esperanças  lingiáo;  querendo  assim  indignamente  negar 
a  gloria  a  quem  também  dispunha  os  meios,  porém  a  ver- 
dade da  causa  desarmou  as  tiras  da  inveja,  que  ordinaria- 
mente prevalece  mais  o  zelo  para  as  empresas,  que  os 
enganos  para  o  estorvo. 

Dispostos  desta  sorte  os  ânimos,  prevenidos  pelas  Gama- 
ras os  bastimentos,  assignalando-se  entre  todas  a  da  Viila 
de  Olinda,  c  a  da  Capitania  de  Porto  Calvo,  porque  aquella 


—   315  — 

assistio  com  doiis  mil  cruzados,  e  esta  com  fiOOgOOO,  e  as 
mais  com  o  que  poderam. 

Partio  desta  praça  do  Arrecife,  e  da  presença  de  D.  Pe- 
dro, Fernão  Carrilho  levando  todas  as  ordens  necessárias 
para  a  empresa,  e  todas  as  disposições  convenientes  para  o 
intento.  Causa  principal  do  bom  successo  que  se  conse- 
guio :  porque  no  lançamento  das  primeiras  linhas  consiste 
a  perfeição  da  melhor  fabrica,  e  como  se  tinha  empenhado 
D.  Pedro  em  sahir  à  luz  com  este  emprego,  estudou  muito 
particularmente  o  modo  com  que  se  havia  de  fazer  a  guerra 
servia-lhes  alguns  desacertos  das  levas  passadas,  de  pre- 
venção para  o  acerto  das  esperanças  presentes,  todas  as 
pessoas  que  tinhão  alguma  experiência  daquellas  monta- 
nhas consultou,  para  colher  de  todas  a  resolução  mais 
certa  para  as  direções,  e  assim  foi  o  regimento,  mais  acer- 
tado ao  sitio,  e  mais  nocivo  aos  inimigos,  que  até  ao  pre- 
sente se  tinha  feito,  e  como  entendeo  que  a  causa  princi- 
pal para  se  conseguir  este  fim,  consistia,  em  perpetuar 
arraial  no  coração  daquelles  desertos,  para  delles  se  faze. 
rem  assaltos,  e  terem  sempre  inquietos  os  negros ;  orde- 
nou a  Fernão  Carrilho,  que  todo  o  seu  cuidado  havia  de 
se  perseverar,  e  persistir  com  arraial  fortificado  dentro  dos 
Palmares ;  e  como  este  empenho  era  o  mais  diíDcultoso 
desta  conquista,  porque  a  experiência  tinha  mostrado  ser 
impossivel  assistir  naquelle  sertão;  pelos  frios  excessivos, 
grandes  descommodos,  faltas  de  mantimentos  que  se  não 
podem  prevenir  là  em  cima,  e  são  difiicultosos  de  conduzir 
das  povoações  de  baixo.  Attendendo  a  tudo  D  Pedro  com 
singular  providencia  dispoz  pelas  povoações  circumvizinhas 
os  mantimentos,  de  sorte  que  não  faltassem  a  seu  tempo 
aos  assistentes  no  arraial. 

Com  todos  estes  dictames,  conselhos  e  ordens  partio 


—  3JG  — 

Fernão  Carrilho  para  a  Capitania  do  Porto  Calvo,  onde  o 
estava  esperando  a  gente  que  se  tinha  conduzido  das  mais 
freguezias;  que  segundo  a  ordem  de  D.  Pedro  havião  do 
ser  quatrocentos  homens  :  achou  Fernão  Carrilho  muito 
menos,  e  feita  resenha  contaram-se  cento e  oitenta  e  cinco, 
entre  brancos  e  índios  do  Camarão ;  era  tão  pouco  este 
numero  para  a  multidão  dos  negros,  que  difficultou  a  Ca- 
mará de  Porto  Calvo  se  era  conveniente  fazer- se  a  en- 
trada :  porém  como  Fernan  Carrilho  tinha  conhecido  bem 
o  empenho  de  D.  Pedro,  atreveo-se  a  todas  as  difliculda- 
des,  e  pedindo  se  fizesse  algum  acto  de  religião  para  que 
patrocinasse  o  Céo  a  jornada.  Cantou-se  solemnemente 
uma  Missa  a  que  assistio  a  nobresa  daquella  Villa  e  todos 
os  que  haviáo  de  entrar  naquella  Campanha. 

Aos  vinte  um  de  Septembro  de  seis  centos  e  setenta  e 
sete  fez  o  primeiro  passo  para  os  Palmares,  Fernão  Carri- 
lho sahindo  da  Villa  acompanhado  té  entrar  no  mato  do 
Capitão  Alvares,  Christovão  Lins,  e  seu  Irmão  Sibaldo 
Lins  como  mais  experimentados  n'aquellas  manhas,  e  mais 
interessados  na  boa  fortuna  que  se  esperava ;  Fernão  Car- 
rilho então  juntando  todos  os  soldados  que  levava  com- 
sigo :  lhes  disse :  que  o  numero  não  dava  nem  tirava  o 
animo  aos  valorosos,  que  o  valor  próprio  só  faria  animados 
os  soldados ;  que  posto  a  multidão  dos  inimigos  era  grande, 
era  multidão  de  escravos,  a  quem  a  natureza,  criou  mais 
para  obedecer,  que  para  resistir ;  que  os  negros  pelejaváo 
como  fugidos,  que  elles  os  ião  buscar  como  Senhores ; 
que  as  suas  honras  estavão  perigosas  pelos  seus  desman- 
chos; snas  fazendas  pouco  seguras  pelos  seus  roubos,  suas 
vidas  muito  arriscadas  pelos  seus  atrevimentos,  que  ne- 
nhum dos  que  o  acompanhavão  defendiáo  o  alheio ;  e  todos 
pelejavão  pelo  próprio ;  que  era  grande  discredito  para 


—  317  - 

todo  Pernambuco,  servir-llie  do  açoute,  os  mesmos  negros, 
que  por  elles  foram  muitas  vezes  açoutados ;  que  só  mu- 
davão  da  guerra  o  modo,  e  não  o  uso ;  por  tantos  annos 
estiveram  com  as  armas  nas  mãos  sempre  contra  Hollanda. 
e  inda  hoje  estavão  do  mesmo  modo  contra  os  Palma-: 
ristas;  que  se  o  modo  de  guerrear  era  diverso  por  não  ser 
em  Campanha,  era  também  mais  fácil  por  ser  de  assaltos ; 
que  elle  não  queria  do  seu  trabalho  outro  premio  mais  que 
o  bom  successo;  quem  mais  semeasse  mais  recolheria: 
porque  as  presas  para  elles  havião  de  ser :  que  o  Governa- 
dor D.  Pedro  nem  jóia  queria  para  si :  que  a  sua  melhor 
jóia  era  a  gloria  de  fazer  este  serviço  a  Sua  Alteza,  e  de 
livrar  de  tão  consideráveis  damnos  estns  Capitanias;  e  que 
se  destruissem  os  Palmaristns  terião  terras  para  a  sua  cul- 
tura, negros  para  o  seu  serviço,  honra  para  a  sua  estima- 
ção ;  que  o  seu  intento  era  ir  buscar  o  maior  poder,  porque 
queria  ou  acabar,  ou  vencer ;  porque  do  contrario  se  se- 
guiria teremos  negros  noticia  do  pouco  poder,  que  levava, 
e  zombarem  da  guerra  que  lhes  fazia: 

Receberam  todos  os  Soldados  com  bom  animo  estas 
razões,  e  logo  partiram  em  demanda  da  Cerca  de  AqiiaU 
tune,  este  c  o  nome  da  mac  do  Rei,  que  assiste  em  um  Mu- 
cambo  fortificado,  trinta  léguas  distante  do  Porto  Calvo  ao 
Noroeste,  contaváo-se  então  quatro  de  Outubro;  tanto 
que  do  Mucambo  se  sentio  a  nossa  gente  precipitadamente 
desampararam  a  Cerca,  deram  sobre  elles  os  nossos,  ma- 
taram muitos,  e  sorprenderam  nove,  ou  dez;  a  mãe  do 
Rei  nem  viva,  nem  morta  appareceo,  e  passados  alguns 
dias,  se  achou  a  Dona  que  a  acompanhava  morta. 

Sérvio  este  successo  de  nos  dar  Guias,  e  noticias  porque 
pelos  prisioneiros  constou  de  certo  que  estava  o  Rei  Gan- 
gazumba  com  seu  Irmão  Gano  Jona,  e  todos  os  mais  poten- 


—  318  — 

lados,  e  Cabos  maiores  na  Cerca  Real  chamada  Subupira; 
occupa  este  Mucambo  uma  grande  Cidade  muito  fortificada 
na  distancia  de  três  montes,  de  páo  a  pique  com  batarias  de 
pedra,  e  madeira;  distante  da  Cidade  Real  cinco  ou  seis 
léguas,  da  Villa  de  Porto  Calvo  quarenta  e  cinco ;  servia 
então  de  praça  d'armas,  e  nella  intentava  o  Rei  esperar  a 
nossa  gente,  para  se  defender  em  forma  de  batalha. 

Aos  nove  de  Outubro  partio  Fernão  Carrilho  para  a  Cerca 
de  Subupira,  e  prevenidos  do  necessário  foi  abrindo  aquelles 
matos,  té  que  chegou  a  ter  vista  da  Cidade,  onde  mandando 
fazer  alto  com  todo  o  silencio,  e  socego,  despedio  oitenta 
homens  a  descubrir  as  circumstancias  da  Cerca,  situação 
da  Cidade,  e  fortaleza  das  estacadas;  voltaram  os  explora- 
dores dizendo  que  tinha  o  inimigo  lançado  fogo  á  Cidade, 
e  que  só  as  cinzas  erão  demonstração  da  sua  grandeza ; 
com  que  se  entendeo  que  tendo  os  Negros  noticia  pelos 
fugitivos  de  Acatirene,  que  Fernão  Carrilho  os  buscava, 
quizeram  mais  arruinar  a  Cidade  que  por  em  perigo  as  pes- 
soas: apoderou-se  deste  sitio  a  nossa  Gente,  nelle  formou 
arraial,  fortificouse  em  baterias,  e  deo-lhe  o  titulo  de  Bom 
Jesius,  e  a  Cruz;  titulo  que  elegeo  para  padrão  da  sua  for- 
tuna, e  mandou  que  se  invocasse  em  todos  os  successos. 
e  encontros ;  d^aqui  despedio  dous  soldados  a  dar  noticia 
ao  Governador  D.  Pedro  de  tudo  o  antecedente ;  pedindo- 
Ihe  soccorro  de  gente,  e  de  mantimentos,  pois  n'aquelle 
sitio  determinava  fazer  assento ;  despedidos  os  Correios, 
ordenou  uma  tropa  para  bater  aquelles  matos,  e  combater 
aquelles  inimigos ;  vagando  pelo  inculto  d'aquellas  aspe- 
rezas em  descubimento  dos  Negros ;  passados  oito  dias  na 
esperança  de  alguma  fortuna  se  recolheram  desunidos,  e 
amotinados,  com  falta  de  vinte  cinco  homens,  que  ao  rigor 
do  trabalho  se  retiraram  fugitivos,  d'ahi  a  poucos  dias  des- 


—  319  — 

tipareceram  outros  vinte  cinco  podendo  mais  o  desabrido 
do  sitio  para  os  levar,  que  o  brio  da  empresa  para  os 
deter ;  com  que  se  achou  no  arraial  Fernão  Carrilho  com 
i  30  homens. 

Chegados  os  avisos  a  D.  Pedro,  e  convocando  a  conseho 
os  Cabos  Maiores  da  praça,  poz  em  pareceres  a  forma  que 
havia  de  seguir  no  soccorro,  que  Fernão  Carrilho  pedia ; 
para  conseguir  o  fim  que  se  intentava,  e  continuar  no  sitio 
em  que  se  aquartelara ;  resolveram  todos,  que  despedisse 
um  Cabo  Maior  deste  exercito  com  trinta  soldados  pagos  a 
fazer  gente  pelas  povoações  circumvizinhas,  e  para  lhe  en- 
viar os  mantimentos  necessários  para  o  arraial ;  votaram 
todos  na  pessoa  do  Sargento -Mór  Manuel  Lopes,  porque 
a  experiência  d'aquellc  negocio,  o  tinha  bem  opinado  no 
conceito  geral  de  todos. 

Partio  o  Sargento-Mór  com  trinta  homens  e  fez  alto  nas 
Alagoas  para  a  expedição  da  gente,  e  dos  mantimentos ; 
acção  foi  esta  em  que  luzio  muito  o  zelo  de  D.  Pedro,  e  o 
empenho  desta  conquista ;  porque  como  desejava  levar  as 
novas  desta  fortuna  sollicitou  os  meios  mais  acertados  para 
conseguir  esta  felicidade. 

Animou-se  muito  o  arraial  tanto  que  teve  noticia  do  cui- 
dado com  que  o  Governador  lhe  prevenia  o  necessário  para 
o  sustento,  e  lhe  multiplicava  os  companheiros  para  o  tra- 
balho ;  despedio  então  Fernão  Carrilho  cincoenta  soldados 
à  obediência  de  três  Capitães  Gonçalo  Pereira  da  Costa, 
Malhias  Fernandes,  e  Estevão  Gonçalves,  a  discortinar  os 
segredos  d'aquelles  bosques;  os  guias  seguindo  uma  trilha 
que  descobriram  tiveram  um  famoso  encontro  com  os  ne- 
gros, que  estavão  juntos,  de  que  conseguiram  uma  me- 
morável victoria ;  em  que  perecerão  muitos,  e  se  prende- 
ram cincoenta  e  seis ;  entrando  nelles  por  prisioneiro  o 


Ganga  muisa  mestre  de  Cani|)o  da  gente  de  Angola ;  era 
este  grande  Cossario,  muito  soberbo,  e  insolente ;  foi  tal 
o  estrago  nesta  occasião,  que  se  avaliou  o  successo  mais 
por  fíivor  do  Céo,  (jue  por  esforço  dos  soldados ;  acabaram 
nelle  os  Cabos  de  maior  fama :  como  foram  Gaspar  Capitão 
da  Guarda  do  Rei,  João  Tapuya  Ambrósio  ambos  Capitães 
afamados  e  outros  a  quem  a  ignorância  dos  mesmos  sepul- 
tou em  perpetuo  esquecimento;  o  Rei  fugio  com  alguma 
gente  que  se  livrou  do  assalto. 

Tanto  que  a  noticia  deste  feliz  successo  bateo  as  portas 
do  nosso  arraial  foi  grande  o  alvoroço  que  elegeo  a  todos, 
e  maior  a  resolução  com  que  se  animaram  para  a  empre* 
sa;  logo  se  espedio  outra  leva,  a  cargo  dos  capitães  Es- 
tevão Gonsalves.  e  Manoel  da  Silveira  Candoro;  e  em  es- 
paço de  vinte  e  dous  dias  aos  onze  de  Novembro  tive- 
ram noticia  que  o  Rei  estava  encorporado  com  o  Amaro 
no  seu  Mucambo;  é  este  Amaro  celebrado  naquelles  Pal- 
mares, e  timido  nas  nossas  povoações;  habita  nove  léguas 
distante  de  Serinhaem,  occupa  o  sitio  perto  uma  légua  de 
distancia,  inclue  mil  castas  o  Mucambo.  Aqui  se  dava  por 
seguro  o  Rei,  porém  aqui  o  foi  descobrira  nossa  vigilân- 
cia; tanto  que  a  noss.vgente  soube  de  certo,  que  nelle  esta- 
va o  Rei :  com  tanto  Ímpeto  investiram  o  Mucambo,  que 
tízeram  um  notável  estrago,  tri)uxerão  vivos  ao  arraial  qua- 
renta e  sete  peças;  duas  negras  forras,  e  uma  mulatinha 
lilha  natural  de  um  morador  nobre  de  Serinhaem,  que  ti- 
nha sido  roubo  dos  mesmos  negros ;  captivaram  o  Acajuba 
com  dous  lilhos  do  Rei,  um  m^cho  chamado  Zambi;  e  ou- 
tro por  nome  Acainene,  e  entre  netos  e  sobrinhos  do  mes- 
mo Rei  (pie  se  captivaram  serião  vinte;  pereceo  o  Tuciilo 
íilho  também  do  Rei,  grande  Cossario,  e  o  Pacassa  pode- 
rosos Senhores  entre  elles;  o  Rei  do  furor  dos  nossos  Ca- 


—  :m  — 

pilãcs  se  retirou  fugindo.  Ião  arrojadamenlc  i[Le  laryou 

uma  pistola  dourada,  ea  espada  de  que  usava;  c  foi  voz 

Tal  que  uma  frecha  o  ferira  com  o  ferro,  e  o  fizera  voar 

^  as  penas  de  todos  os  negros  que  se  conglomeraram  com 

aro  a  maior  parte  acabou  â  nossa  faria,  a  outros  sal- 

'la  ligeireza. 

los  ao  arraial  estes  capitães  com  as  noticias  do 
^cendeo-sc  o  animo  dos  nossos ;  e  em  seu  se- 
io outra  leva  de  cincoenta  homens,  e  (juatro 
.  saber,  José  de  Brito,  Gonçalo  de  Siqueira,  I)o- 
y)S  de  Brit )  e  Gonçalo  Reis  de  Araújo  discorreram 
cstes  iH3la  vastidão  daquelles  matos  em  seguimento  das 
reliquias  do  Mucambo  do  \maro,   não  tiveram  do  Rei 
noticia;  jjorém  tiveram  encontro  com  uma  tropa,  que  o 
terror  de  nossos  assaltos  trazia  atemorisada  sem  domicilio 
certo,  nem  descanço  seguro,  porque  como  delirava  a  cabe- 
ça do  Rei  entre  os  contínuos  riscos,  (jue  os  assalta  vão 
discorriam  os  Vassallos  por  aquellas  brenhas  sem  ordem, 
e  sem  governo ;  captivaram  trinta  e  seis  peças,  mataram 
muitos,  entre  os  mortos  se  conheceo  o  Gone  potentado 
entre  elles ;  e  atrevido  entre  nós. 

Logo  sahio  o  Capitão  Mathias  Fefnandes  com  vinte  ho- 
mens i^ela  outra  parte  dosMucambos,  e  grassando  aquelles 
€í)ntornos.  descobrío  alguns  que  andavão  vagos  sem  se 
atreverem  a  fazer  assento  certo;  forão  matéria  ao  nosso 
estrago,  e  íicaram  presos  quatorze. 

Como  a  fortuna  estava  favorável  aos  nossos  intentos, 
todos  òs  soldados  receiaváo  sahir  aos  encontros,  para  se 
recolherem  com  despojos,  esta  foi  a  causa  porque  ia  com 
menos  prevenção  se  espalhavão  por  aíjuellas  asperesas 
como  dominadores,  e  não  como  estranhos,  e  assim  o 
Capitão  Mathias  Fernandes  com  a  sua  tropa,  sahio  animoso 
a::r!l.  41 


—  32á  — 

c  recoltieo-se  animado,  porque  aos  fios  cia  sua  espada  se 
alaváo  vinte  e  ura  presos,  e  ficaram  por  elia  enfiados 
muitos  mortos ;  o  mesmo  succedeo  aos  Capitães  António 
Velho  Tinoco,  e  Felippe  de  Mello  de  Albuquerque,  os 
ífuaes  lançando-se  para  a  parte  do  Mucambo  do  Amaro,  se 
recolheram  com  presas,  e  ficaram  alguns  com  damno. 

Neste  mesmo  tempo  que  o  nosso  arraial  estava  domi- 
nante n'aquellas  brenhas,  cujas  vias  incultas  nunca  foram 
examinadas  por  outros  passos,  de  tal  maneira  se  facilitaram 
as  nossas  tropas  na  divagação  d^aquelles  desertos,  que  gras- 
savão  ião  confiados,  que  não  receaváo  ser  offendidos  tudo 
vence  o  valor,  tudo  contrasta  a  deligencia ;  tudo  facilita  a 
constância,  d'aqui  se  colhe  por  ditame  certo,  que  nenhum 
trabalho  é  insuperável  á  resolução  intrépida ;  c  neidums 
soldados  repugnão  a  perigos  formidáveis  se  lhes  presidem 
corações  animosos:  como  D.  Pedro  era  a  alma  que  alen- 
tava esta  empresa,  do  seu  brio  aprenderão  os  Soldados  a 
serem  constantes,  do  seu  zelo  a  serem  deligentes,  da  sua 
vigilância  a  serem  cuidadosos ;  da  sua  disposição  a  serem 
prudentes :  com  todas  estas  influencias  do  Governador  D. 
Pedro  se  conseguio  em  quatro  mczes,  o  que  se  intentou 
ha  muitos  annos ;  p»receo  o  successo  por  maravilhoso, 
lisonja  que  a  fortuna  lhe  quiz  fazer;  e  pesada  bemascir- 
cumstancias  foi  acerto  que  a  prudência  soube  dispor;  mais 
custou  a  disposição  que  o  successo,  pois  gastando  D.  Pedro 
três  annos  em  lavrar  estes  impossíveis,  colheoem  quatro 
mezes  o  fruito  destes  trabalhos :  não  deixa  de  emular  esta 
acção  prodigiosa  a  restauração  singular  destas  Capitanias; 
só  digo  que  se  na  primeira  se  venceo  um  inimigo,  que  de 
fora  nos  veio  conquistar,  nesta  se  superou  outro  que  das 
portas  a  dentro  nos  dominava. 

Neste  toflipo  que  se  contavão  vinte  e  nove  de  Janeiro  de 


—  323  — 

mil  seis  centos  e  setenta  e  oito  sahio  do  Arraial  do  Bom 
Jesus  e  a  Cruz,  Fernão  Carrilho  cora  um  soldado  menos  que 
morreo,  e  com  alguns  feridos  que  mandou  curar,  e  reco- 
Iheo-se  na  Villa  de  Porto  Calvo,  dando  por  destruídos  os 
Palmares,  e  por  vencidos  os  Negros.  Foi  recebido  com 
todas  as  demonstrações  do  a  plauso,  e  com  todos  os  para- 
béns que  merecia  triumpho  tão  desejado;  e  como  na  tropa 
dos  negros,  que  se  captivaram  na  guerra  se  conhecesse  um 
negro  por  nome  Mathias  Dmnbi,  e  uma  negra  Angola  por 
nome  Magdalena,  já  de  maior  idade,  que  era  sogro  d'um 
dos  filhos  do  Uei,  Fernão  Carrilho  dando-lhe  o  necessário 
para  o  provimento  da  viagem,  os  mandou  se  fossem  em 
boa  hora  a  buscar  os  seus  companheiros,  e  lhes  dissesse, 
que  o  seu  arraial  ficava  fortificado,  e  que  se  não  rendessem 
todos  ao  Governo  de  Pernambuco,  logo  havia  de  tornar  a 
consumir,  e  a  a  cabar  o  Rei  e  asreliquias  que  ficaram ;  com 
este  recado  partiram  os  dous  velhos ;  e  com  a  mais  tropa  a 
si  de  soldados  como  negros  e  com  a  Camará  e  mais  No- 
breza, e  povo  da  Villa,  e  seus  contornos,  se  foi  para  a  Ca- 
pella  do  Bom  Jesus,  onde  se  cantou  solemnemente  uma 
Missa  em  acção  de  graças  do  felicis^mo  vencimento  com 
que  se  dominaram  aquelles  inimigos;  e  com  que  se  con- 
trastaram aquelles  impossíveis ;  que  na  opinião  dos  cursan- 
tes  d'aquelles  matos,  e  dos  experimentados  n'aquellas  mon- 
tanhas, foi  o  successomais  beneficio  queoCéo  nos  fez,  que 
fortuna  que  o  valor  conseguio. 

Logo  conforme  a  ordem  que  levava  Fernão  Carrilho  do 
Governador  D.  Pedro  se  separarão  os  quintos  para  sua  Al- 
teza, e  as  mais  peças  se  repartiram  pelos  soldados;  feita  a 
repartição  por  seis  homens  desinteressados,  com  que  fica-- 
ram  os  soldados  satisfeitos  do  trabalho,  que  padeceram,  e 
contentes  do  desinteresse  que  enxergavão.  Acçáo  foi  esta 


—  ná4  — 

de  grande  orcdiío  para  o  Govornador  D.  Pedro,  pois  nolb 
se  conliecoo  publicamente  o  seo  intento  que  era  fazer  a 
Sua  Magestade  este  ser\iço  tão  grande,  como  libertar  estas 
Capitanias  do  jugo  tyranno.  que  as  opprimia,  sem  espe- 
rança outra  mais  que  a  gloria  de  a  conseguir. 

Nesta  mesma  occasiáo  chegou  aviso  em  como  uma  tropa 
que  tinha  despedido  o  Sargento-Mór  Manuel  Lopes,  que 
assistia  nas  Alagoas  para  a  condução  dos  Mantimentos  a 
cargo  de  João  Coelho,  c  Manuel  de  S.  Paio,  para  correr  os 
Campos  de  S.  Miguel,  topara  com  uma  marcha  de  negros 
retirando-se  dos  assaltos  do  arraial;  deo  a  tropa  sobre  elles 
prenderam  quinze  e  mataram  muitos;  pelos  prezos  soube- 
ram que  encaminhava  aquella  leva,  o  Gana  Ioml)a,  Irmão  do 
Rei  negro  valoroso,  e  reconhecido  d^aquelles  brutos  como 
Rei  também. 

Logo  chegou  outra  noticia  que  o  Capitão  Francico  Alves 
Camello,  com  cento  e  trinta  homens  se  espalhara  pelos 
mesmos  Campos,  com  despezas  de  sua  fazenda,  e  zelo  do 
serviço  de  Sua  Alteza  e  nelles  gastara  de  assistência  perto 
de  três  mezes,  e  pelo  Rio  de  Mondau,  que  lava  as  faldas  a 
dous  Montes  altos,  e  incultos  encontrara  com  uma  tropa  de 
negros,  escondidos  entre  os  rochedos,  e  matos,  que  o  Rio 
e  Montes  fazem,  porém  como  foram  os  nossos  sentidos, 
escaparam  os  mais,  e  morreram  alguns. 

Todas  estas  noticias  chegaram  a  D.  Pedro  de  Almeida 
juntamente  com  Fernão  Carrilho,  o  qual  foi  recebido  com 
os  parabéns  e  alegrias  geraes  que  pedia  successo  tão  favo- 
rável a  todo  o  Pernambuco :  e  tomando  D.  Pedro  infor- 
mação particular  do  que  restava  nos  Palmares,  alcançou 
que  as  Cidades  principaes.  Cabos,  e  a  melhor  gente  de 
guerra  ficava  morta  e  destruida,  e  que  algum  resto  que 
ficava  em  companhia  do  Rei  andava  espalhado  esperando  a 


—  :{2:í  — 

sua  ultima  raina ;  voando  onlão  do  uma  prudento  industria 
o  razão  de  estado,  mandou  um  Alferes  doutrinado  na  dis- 
ciplina d\nquellas  montanhas ;  que  subisse  aqucl los  deser- 
tos, e  dissesse  aos  negros,  que  ficava  preparando  Fçmáo 
Carrilho  para  voltar  a  destruir  as  pequenas  reliquias  que 
tinhão  ficado ;  e  qtie  mandava  discorrer  todo  aquclle  Ser- 
tão, para  que  nenhum  habitador  delle  ficasse  com  vida ; 
que  se  clles  quizessem  viver  cm  paz  com  os  Moradores, 
elle  lhe  asseguraria  em  nome  de  Sua  Alteza  toda  a  união,  e 
bom  tratamento,  e  llies  assinalaria  terras  para  a  sua  viven- 
da, e  lhes  entregariáo  as  mulheres,  e  filhos  que  em  nosso 
poder  esta  vão. 

Passados  todos  estes  successos,  alegres  os  povos  com 
estes  triumphos.  livres  os  soldados  destas  marclias,  socce- 
gados  os  moradores  destes  insultos,  e  recebendo  D.  Pedro 
os  vivas,  e  parabéns  desta  tão  singular  fortuna,  correram 
os  mezes  seguintes  de  Abril  cm  que  largou  o  Governo 
destas  Capitanias  a  Aires  de  Sousa  e  Castro  seu  successor; 
era  cujos  dias  brevemente  se  confirmou  a  verdade  desta 
relação ;  e  lhe  locou  parte  da  gloria  que  D.  Pedro  soube 
dispor. 

Porque  aos  18  de  Junho  do  mesmo  anno  em  um  sabbado 
â  tarde,  vespora  do  dia  em  que  na  Parochial  do  Arrecife  se 
celebrava  a  festa  do  nosso  Portuguez  S.  António,  entrou 
o  Alferes  que  tinha  mandado  D.  Pedro  aos  Palmares  cora 
aviso,  acompanhado  de  3  filhos  do  Rei  com  12  negros  mais, 
gs  quês  se  \ieram  prostrar  aos  pés  de  D.  Pedro  de  Almeida 
com  ordem  do  Rei  para  lhe  renderem  vassalagem,  e  pedi- 
rem a  paz  que  desejavão  disendo  que  só  elle  podóra  con- 
quistar a  dificuldade  dos  Palmares,  que  tantos  Governadores 
e  Cabos  intentaram,  e  não  conseguiram ;  que  se  vinháo 
ofTerecer  a  seu  arbitrio,  que  não  querião  mais  guerra. 


—  326  — 

que  só  procui^o  salvar  as  vidas  dos  que  ficaram,  que  esta- 
vão  sem  Cidades,  sem  mantimentos,  sem  mulheres,  nem 
filhos;  e  que  disposesse  dos  que  rcstaváo  como  a  sua  no- 
breza e  gosto  determinasse. 

Notável  foi  o  alvoroço  que  causou  a  vista  daquelles 
bárbaros;  porque  entraram  com  seus  arcos  e  flechas;  e 
uma  arma  de  fogo,  cubertas  as  partes  naturaes  como 
costumão  uns  com  panos,  outros  com  pelles,  com  as  bar- 
bas, uns  trançados,  outros  corridos,  outros  rapados,  cor- 
pulentos, e  valentes  todos;  a  cavallo  vinha  o  filho  do  Rei, 
mais  velho,  porque  vinha  ferido  da  guerra  passada ;  todos 
se  foram  prostrar  aos  pés  de  D.  Pedro  de  Almeida,  e  lhe 
bateram  as  palmas  em  signal  do  seu  rendimento,  e  em 
protestarão  da  sua  victoria ;  ali  lhe  pediram  a  paz  com  os 
brancos. 

D.  Pedro  recebendo-os  com  grande  demonstração  de 
alegria,  não  querendo  adoptar  a  si  aquelle  applauso,  os 
remetteo  logo  ao  Governador  Aires  de  Sousa  para  que  ti- 
vesse também  a  gloria  daquelle  rendimento ;  prostaram-se 
todos  a  seus  pés,  disendo  que  nâo  queriam  mais  guerra, 
que  o  Rei  os  mandava  sollicitar  a  paz,  que  se  vinhão  sugef- 
tar  às  suas  disposições:  que  querião  ter  com  os  Moradores 
Commercio,  e  trato,  e  queriâo  servir  a  Sua  Alteza  no  que 
lhes  mandasse,  que  só  pedião  a  liberdade  para  os  nascidos 
nos  Palmares,  que  entregariam  os  que  para  elles  tinhâo 
fugido  das  nossas  povoações,  que  largariam  os  Palmares, 
queihes  assignasso  sitio  onde  podessem  viver  a  sua  obe- 
diência. 

^  Grande  foi  o  gosto  com  que  o  Governador  Aires  de 
Sousa  recebeo  estes  negros,  e  singular  complacência  com 
que  se  vio  adorado  destes  inimigos ;  tratou-os  com  summa 
afabilidade,  fallou-lhes  com  grande  brandura,  e  prometteo- 


—  3á7  — 

lhes  grandes  seguranças ;  mandou  vestir  alguns  e  adorna- 
los  de  fitas  varias,  com  que  ficaram  os  negros  contonlis- 
simos ;  e  o  povo  todo  geralmente  applaudio  de  D.  Pedro  a 
fortuna,  de  Aires  de  Sousa  a  benevolência. 

Ao  dia  seguinte  que  se  contavâo  20  de  Junho,  entraram 
na  Igreja  Matriz  do  Arrecife  Aires  da  Cunha  e  Castro,  e 
D.  Pedro  de  Almeida  levando  diante  de  si  a  tropa  dos  ne- 
gros a  dar  a  Deus  as  graças  e  ao  glorioso  S.  António  da 
mercê  que  nos  fisera  em  conseguirmos  a  vassalagem  da- 
quelles  bárbaros ;  estava  a  Capella  Mór  da  Igreja  ricamente 
de  sedas  adornada,  o  Sanctissimo  exposto  em  um  throno 
vistosamente  perfeito,  muito  farto  de  luzes,  e  mui  brin- 
cado de  adornos;  e  mandando-os  prostrar  o  Governador 
Aires  de  Sousa  todos  adorâo  ao  Senhor ;  e  todos  admiraram 
a  pompa. 

Aqui  foi  o  applauso  avantejadamente  crescido,  porque 
lodos  concorreram  a  ver  aquelia  novidade :  grandes,  pe- 
quenos, brancos,  negros  e  todos  com  seus  clamores  e 
tumultos  multiplicaram  a  gloria  da  festa  do  dia,  e  acres- 
centaram o  -applauso  dos  rendimentos  presentes ;  quiz  o 
Governador  que  logo  se  baptisassem,  para  que  com  a  nova 
vida  da  graça,  começassem  alegrar  os  novos  beneficios  da 
paz :  e  posto  que  os  negros  mesmos  desejavão  receber  o 
baptismo,  foi  necessário  diflirir-se  para  mais  opportuna 
occasião ;  para  que  com  mais  cuidado  se  impenhassem  no 
intento  a  que  vinháo;  e  com  maiores  informações  recebes- 
sem o  sacramento  que  procuraváo.  Cantou-sc  solemne- 
raente  a  Missa»  subio  ao  púlpito  o  Vigário  da  mesma 
freguesia,  e  náo  faltou  a  dar  a  Deus  as  graças,  que  se  lhe 
devião,  nem  a  S.  António  as  glorias  que  lhe  redondavão, 
nem  aos  2  Governadores  os  parabéns  que  esta  vão  mere- 
cendo. 


—  :]i8  — 

Ao  dia  seguinte  convocou  o  Conselho,  o  Governador, 
para  se  discutir  a  resolução  mais  conveniente  que  se  havia 
de  seguir;  para  a  segurança  da  paz  que  se  pretendia; 
acharam-se  em  palácio  D.  Pedro  de  Almeida,  o  Ouvidor 
Geral  Lino  Camelo,  o  Provedor  da  Fazenda  real  João  do 
Rego  Barros,  o  Sargento-Mór  Manoel  Lopes,  e  oSargento- 
Mór  Jorge  Lopes  Alonso ;  propoz  Aires  de  Sousa  a  petição 
do  Roi  dos  Palmares,  em  que  pedia,  paz,  liberdade,  sitio, 
e  entrega  das  mulheres ;  D.  Pedro  de  Almeida  como  tinha 
manoseado  todo  este  negocio,  e  tinha  experimentado  as 
diíliculdades  da  conquista,  votou  com  singular  acerto,  a 
que  todos  os  mais  que  estavão  presentes  se  sujeitaram;  foi 
o  seu  parecer,  que  lhes  dessem  para  vivenda  ositioquo 
elles apontassem,  e  a  paz  para  sua  habitação,  e  plantas;  que 
se  assentasse  a  paz;  e  que  o  Rei  se  recolhesse  a  habitar 
o  logar  determinado ;  que  fossem  livres  os  nascidos  nos 
Palmares ;  que  teriam  commercio,  e  trato  com  os  mora- 
dores; e  que  lograriam  os  foros  de  Vassalos  de  Sua 
Alteza ;  e  reparando -se  no  Conselho  se  seria  o  Rei  Ga7iga 
sumba  poderoso  para  condusir  alguns  cossarios,  que  viviâo 
distantes  das  suas  cidades,  respondeo  o  fdho,  que  o  Rei 
condusiria  a  todos  ao  nosso  dominio,  e  quando  algum  por 
rebelde  repugnasse  a  sua  e  nossa  obediência  elle  o  conquis- 
taria, e  daria  guias  para  as  nossas  armas  o  desbaratarem. 

Com  estas  advertências  se  assentou  a  paz,  e  sd  concluio 
o  Conselho,  de  que  tudo  mandou  o  Governador  Aires  de 
Sousa  fazer  papel,  para  que  os  negros  levassem  por  escripto, 
o  que  se  tinha  tractado  por  conferencia;  e  assim  os  despe- 
dio  a  cargo  de  um  Sargento-Mór  do  terço  de  Henrique 
Dias  que  sabia  ler  e  escrever,  para  que  lesse  e  declarasse 
ao  Rei  e  aos  mais  o  tractado  de  paz;  reservando  o  Gover- 
nador á  negros  para  que  ficassem  em  companhia  do  lilho 


—  329  — 

do  liei.  que  nâo  estava  capaz  de  fazer  viagem  pela  ferida 
que  trouxera;  a  este  mandou  assistir  com  todo  o  cuidado 
para  a  cura ;  e  aos  mais  como  necessário  para  o  sustento. 
Esta  é  a  relação  da  ruina  em  que  vieram  cair  os  Palma- 
res tâo  temidos  nestas  Capitanias,  e  tão  poderosos  na  sua 
opinião,  chegou-lhes  o  tempo  da  sua  declinação,  para  ter 
Sua  Alteza  a  gloria  do  seu  vencimento ;  que  como  se  jul- 
gava impossivel  pelas  diíflculdades,  deve  recrescer  na 
estimação  pela  fortuna ;  já  se  correm  livres  aquellas  mon- 
tanhas, que  até  agora  eram  impenetráveis  a  toda  a  diligen- 
cia ;  já  se  dão  os  moradores  por  seguros,  as  fazendas  por 
augmenkidas,  os  caminhos  por  desempedidos;  e  sendo 
este  triumpho  para  Sua  Alteza  de  grandes  rendimentos, 
não  foi  esta  campanha  para  sua  real  fasenda  de  nenhum 
custo;  porque  sem  descmbolço,  nem  despesa  do  seu  cabe- 
dal, seagmentou  como  lucro  dos  quintos,  que  se  cobraram 
e  com  a  esperança  de  multiplicados  augmentos  que  se 
podem  colher;  por  serem  aquelles  sertões  ricos  de  excel- 
lentes  madeiras  com  vargeas  fortissimas  para  engenhos,  e 
pastos  estendidos  para  gados. 

Agora  é  que  concluio  a  restauração  total  destas  Capitanias 
de  Pernambuco,  porque  agora  se  acháo  dominantes  do  mes- 
mo inimigo,  que  dos  portos  a  dentro  as  inquietava  a  tantos 
annos ;  com  tão  felizes  successos  que  aquelles  mesmos  que 
nos  destroião  com  suas  armas,  nos  prometlem  servir  com 
seus  trabalhos.  Toda  felicidade  desta  gloria,  toda  a  gloria 
desta  conquista  soube  merecer  o  zelo  generoso:  e  a  pru- 
dência singular  de  D.  Pedro  de  Almeida,  que  não  reparando 
em  nenhum  impossivel  se  dispoz  a  conseguir  esta  fortuna; 
seu  nome  será  eterno  na  lembrança  dos  filhos  de  Pernam- 
buco; seu  valor  aclamado  nas  incultas  montanhas  dos  Pal- 
mares, seu  aplauso  estendido  nos  perpétuos  brados  da  fama. 

ABRIL.  42 


lEEAIEIM 

DB  LA  YICTORU  QUE  LOS  PORTUGUBbBS  DE  PERIfAMfiUCO 
ALCANÇARON  DE  LOS  DB  LA  GOMPANIA  DEL  BRASIL.  EM 
LOS  GARBRAPES,  A    19  DB  FBBRERO   DB  16&9. 

Las  acciones  grandes  son  más  para  admiradas,  que  para 
repetidas ;  porque  aquello  que  tiene  de  mayores,  haze  que 
no  puedan  reíirir  se  como  ellas  son.  Es  difícil  escrivir  el 
engenio  con  la  pluma,  lo  que  el  valor  obra  con  las  armas: 
una  forma  sus  caracteres  con  la  tinta,  yotras  los  imprimo 
con  Ia  sangre.  Pêro  esta  dificultad,  no  es  poderosa,  para 
que  la  verdad,  como  alma  de  los  sucessos,  dexe  de  publi- 
carlo  o  brado,  ya  para  el  exemplo,  ya  para  el  aplauso, 
pues  tanto,  y  aun  màs,  nos  incitan  las  historias  presen- 
tes, que  las  passadas.  Tienem  estas  de  vividoras,  lo  que 
aquellas  de  espantosas :  y  seria  offender  la  memoria  de  tan 
gloriosos  hechos,  si  el  receio  de  no  ser  igual  lo  escrito  a 
lo  obrado,  los  dexasse  sepultados  en  eterno  olvido. 

La  victoria  que  los  Portugueses  alcançaron  ultimamete 
de  los  de  la  Compania  de  Olanda  en  Pernambuco,  es  de  las 
que  merecen  eternizar  se;  pues  por  grande  lajuzgaran 
milagrosa.  Y  en  effeto  lo  parece,  se  consideramos,  que 
tan  inferior  numero  de  gente,  desnuda,  desproveida,  y 
desemparada,  venciesse,  y  desbaratasse  aun  poderoso  exer- 
cito, governado  por  muchos,  y  expertos  Cabos,  cuyas  es- 
peranças no  eran  menores,  que  la  entera  conquista  de  toda 
aquella  campana. 

Y  porque  las  relaciones,  que  delia  publicaron  los  pró- 
prios enemigos,  se  Iiallan  diminutas,  y  sin  aquellas  cir- 
cunstancias que  la  pueden  hazer  útil,  y  gloriosa,  repitiré 
com  senzillez,  y  sin  affecto,  la  verdad  de  lo  sucedido,  para 


—  332  — 

que  se  conosca  no  solo  el  valor,  y  resolucion  de  aquellos 
Portugueses,  pêro  los  repetidos  fabores,  con  que  el  cielo 
acompana  de  continuo  sus  armas,  y  sus  victorias. 

Aviendo  los  navios,  que  la  Compania  de  Olãda  trae  en  el 
Brazil,  quemado  algunos  molinos  de  Assucar,  en  la  Bahia, 
dezenganãdo  su  General  de  lo  poço  que  podia  obrar  contra 
aquella  placa,  y  costas,  se  retiraron  ai  Recife.  Y  deseoso 
el  Coronel  Brinch,  que  governava  las  tropas,  que  alli  se 
hallavan.  de  obrar  alguna  accion  digna  de  su  valor,  se  re- 
solvió  a  salir  en  camparia,  y  acabar  de  una  vez  con  los  Por- 
tugueses, que  la  seílorean.  Ayudòle  este  pençanriento  la  in- 
formacion  que  le  dieron  diez  Italianos,  huydos  dei  arraya! 
Português  ai  Recife,  affirmando-le,  que  los  Portugueses 
eran  poço  más  de  dós  mil  hombres.  y  essos  sin  monicio- 
nes,  ni  bastimentos.  Peroel  General  Sigismundo,  hombre 
de  gran  valor,  y  experiência,  y  que  se  havia  hallado  en  las 
mayores  emprezas  de  aquelle  Estado,  le  procuro  dissuadir 
el  intento,  assigurando-le,  que  seria  desbaratado,  y  roto, 
se  quiziesse  pelear  con  los  Portuguezes  en  la  campana ; 
porque  conocia  su  resolucion,  como  el  avia  experimentado 
en  la  rota  que  le  dieron  a  19  de  Abril  dei  ano  passado, 
adonde  fuera  tan  mal  herido.  que  aun  estava  incapaz  de 
poder  tomar  las  armas.  Representó-le  como  la  gente  que 
tenia  en  su  exercito  era  la  mayor  parte  inexperta,  y  de  va- 
rias naciones,  y  que  los  Portugueses  peleavan  como  des- 
esperados: que  si  en  los  princípios  de  aquella  guerra, 
bastava  solo  el  nombre  de  Glandes,  para  intimidados,  tenia 
conocido,  que  solo  la  vista  de  los  Portugueses  le  desbara- 
taria :  que  su  parecer  era,  dcxar  perecer  aquella  gente  de 
hãbre,  pues  carecia  de  todo,  ó  aguardasse  mayor  socorro 
de  Olanda,  para  hazermais  sigura  la  victoria.  Mas  el  Co- 
ronel Brinch,  obstinado  en  su  resolucion,  sin  atender  a  lô 


—  333  — 

acertado  de  aqael  consejo,  se  dispiiso  a  la  empresa,  y  para 
mostrar  la  segiiriíláo  que  teiiia  de  siibuen  sucesso,  aposto 
una  suma  de  diiiero  con  el  General  Sigismundo,  que  avia 
de  salir  vencedor,  aun  que  le  mostro  la  experiência,  que 
no  sole  fue  vencido,  mas  perdió  la  apuesta  con  la  vida. 

Salió  pues  dei  Recife  jueves  por  la  manána  a  J8  de  Fe- 
brero,  con  más  de  quatro  mil  hombres,  a  saber  3,500  Sol- 
dados de  los  sinco  Tercios.  de  que  eram  Maesses  de  Capo, 
el  mismo  Coronel  Brinch.  que  los  gobernava,  Vandebrand, 
Anten,  Oitz,  y  Greveer ;  iOO  índios,  y  por  su  Regidor  Pe- 
dro Poty,  dos  companias  de  negros,  y  300  Marineiros, 
có  seis  pieças  do  campana,  y  el  bagage  necessário.  Dividió 
todo  el  exercito  en  nueve  batallones,  y  marchando  hasta 
los  oteros  de  los  Garerapes,  aJonde  avia  sido  la  batalha, 
que  prrdiera  Segismundo,  a  dos  léguas  de  sus  fortalezas 
se  hizieron  senores  de  aquellos  puestos,  como  iminentes, 
y  avanlajosos;  en  frente  de  una  trincheira,  que  los  Portu- 
gueses tenian  levantado,  en  el  camino  que  va  hazia  la  Par- 
rochia  de  Moribeca. 

Advertido  el  Maesse  de  Campo  General  Francisco  Bar- 
reto, que  el  enemigo  era  salido  dei  Recife,  y  teííia  ocupado 
aquel  sitio,  vino  el  mismo  dia  con  dos  mil  Portugueses  de 
los  Tercios  de  los  Maesses  de  Campo  Andres  Yi<Jal  de  Ne- 
greros,  Juan  Fernandes  Vieira,  y  Francisco  de  Figueroa, 
seis  cientos  índios,  y  Negros  de  las  tropas  dei  Capitan 
mayor  Camaran,  y  dei  Governador  Henrique  Dias,  con  más 
dos  companias  de  cavallos,  de  que  eram  Capitanis  Antó- 
nio de  Silva,  y  Manuel  de  Arahujo  de  Miranda.  Fue  tan 
grande  su  deligencia  que  llegó  con  su  gente  a  la  trinchera, 
por  Ias  ocho  de  la  noche :  y  despues  de  alojado,  inquiefó 
el  resto  delia  ai  enemigo  con  alarmas,  y  rebatos.  Al  dia  se- 
gmente viernes  le  fue  a  reconocer  en  persona.  acompa- 


—  334  — 

liado  de  los  trez  Maesses  de  Campo,  contra  los  qaales  ti- 
raaon  alganos  cailonaços  sin  effeto,  y  como  bailasse  deffi- 
cultoso,  y  aun  arriesgado  poder  pelear  con  el  enemigo , 
sin  hazer  una  deshilada  grande,  por  cauza  de  unos  Pânta- 
nos entre  la  trinchera,  y  los  Garerapes,  dió  orden  ai  Ca- 
pilan  António  Rodrigues  Franca  estuviesse  con  su  Com- 
pania,  a  vista  dei  Olandes,  para  que  le  advertiesse  de  sus 
designios,  con  atalaias,  y  corredores  por  toda  parte :  y  es- 
cogiendo  algunas  tropas  de  los  mejores  soldados,  los  embió 
a  la  retaguarda  dei  enemigo.  que  fue  mucha  parte  de  la 
victoria. 

Dispuesto  lo  necessário^  por  las  dós  de  la  tarde  dei  mis- 
mo  viernes  19  de  Febrero.  dió  aviso  el  Capitan  Franca  ai 
Maesso  de  Campo  General,  que  el  enemigo  avia  dexado  los 
Garerapes,  y  se  ina  la  buelta  dei  Recife,  y  como  el  no 
aguardava  otra  cosa  para  enbestirle,  que  verle  fuera  de 
aquellas  eminências,  embió  ai  mismo. instante  las  dos  cõ- 
panias  de  cavallos,  y  quatro  de  infanteria,  para  que  entre- 
tuviess  ai  Olandis,  enquanto  il  se  avansava  com  il  resto  dei 
exercito,  lo  que  hizieron  con  admirable  valor,  y  por  algu- 
nos  prisioneros  que  se  tomaron  subo,  que  avian  desempa- 
rado  aquel  puesto,  para  obligar  a  los  Potugueses  ai  comba- 
te, aun  que  atas  dixeron,  se  balvion  ai  Recife,  para  em- 
presa. Pêro  conociose  ser  lo  primero,  de  la  revolucion 
con  que  de  Glandes  bolvió  a  querer  hazerse  senôr  de  las 
mismas  eminências.  Lo  que  no  pudieron  conseguir  por  la 
diligencia  grande  que  il  Maesse  de  Campo  General  tuvo  en 
avansar  su  exercito,  nó  con  pequena  deficuldad,  pues  no 
podia  marchar  formado.  Maesso  de  Campo  Andres  Vidal 
de  Negreros  se  apodero  de  una  eminência  a  la  parte  de- 
recha,  y  Juan  Fernandes  Vieira  con  un  troço  de  su  Tercio, 
de  la  íiníestra,  a  donde  socorrió  los  que  estavan  peleando 


—  335  — 

en  Boqueron,  cuya  resistência,  y  oposicion  era  tán  grande, 
que  ya  la  avanguardia  Portugueza  se  retirava.  Y  porque 
el  General  entendió,  que  algunos  de  los  batallones,  que  es- 
tavan  a  lo  largo,  pretendian  cortarle,  dio  ordem  a  Andres 
Vidal  para  que  se  avançasse  con  sua  gente,  y  peleando  con 
ellos,  fue  rechaçado  com  muerte  dei  Sargento  mayor  Paulo 
de  Acuna  Sotomayor,  y  dei  cavallo  dei  mismo  Vidal ;  que 
subido  em  otro,  y  socorrido  dei  Maesse  de  Campo  Fran- 
cisco de  Figueiroa,  bolvió  de  nuevo  a  la  pelea.  Ya  por 
todas  partes  estava  encendida  la  batalla,  acudiendo  a  todo 
el  General,  y  los  de  màs  Cabos  con  aque!  valor  que  avian 
mostrado  en  tantas,  y  tá  gloriosas  ocasiones.  No  se  des- 
cuidava Juan  Fernandes  Vieira,  que  assistido  de  sua  Sar- 
gento Mayor,  dei  Camaran,  e  de  Henrique  Dias,  hizieron 
acciones  dignas  de  toda  alabança.  Por  esta  parte  fue  la 
primera  que  los  enemigos  no  pudieron  sufrir  el  valor  Por- 
tuguez,  empeçando  a  huir  con  tal  desorden,  y  miedo,  que 
luégo  hizieron  lo  mismo  los  de  más.  Fue  la  rota  cruel,  y 
sangrienta.  y  los  Portugueses  matando  a  todos  los  que  en- 
contravan ;  continuarão  la  victoria  distancia  de  dos  léguas, 
hasta  la  Barreta,  adõde  el  General  dexó  algunas  companias 
para  impedir  el  passo  a  los  fugitivos.  Cançados  todos 
unos  de  huir,  y  otros  de  matar,  y  vencer.  Y  por  espacio 
de  trez  dias  andaran  los  Portugueses  dando  muerte,  y  cau- 
tivando  aios  qué  se  avian  retirado,  y  escondido  em  aquellos 
bosques,  y  montafias. 

En  esta  admirable  victoria  perdíeron  los  Olandeses  màs 
de  2,500  hombres,  entre  muertos,  y  presos,  com  casi  to- 
dos los  Cabos,  y  OflQciales  de  su  exercito ;  osapando  solo 
dós  Maesses  de  Campo,  uno  dellos  herido  en  la  garganta, 
un  Sargento  Mayor,  y  quatro  Capitancs,  mil  Soldados,  y 
cerca  de  500  heridos. 


—  3:W  — 

Murieron  el  Coronel  Brincli,  que  los  governava,  dos 
Maesses  de  Campo,  el  Almirante  de  la  Armada,  que  se 
avia  querido  hailar  en  la  balara,  con  oiros  muchos  Capi- 
tanes  de  navios,  y  Ofliciales  de  la  artilleria.  Prisioneiros 
HO  en  que  entran  algunos  Cabos,  y  entre  ellos  el  Regidor 
Pedro  Po/y,  que  hizo  Ia  victoria  nicás  gustoza,  por  ser 
aquel  índio  el  que  más  dano  hazia  a  los  Portugueses  en  la 
campana;  y  se  escapo  uno  de  los  dei  supremo  consejo  de 
la  companhia  uamado  Vangot. 

Tomaron  los  Portugueses  las  seis  piecas  de  cãpaiía  de 
bronze,  todo  el  bngage,  municiones,  y  armas,  porque  los 
fugitivos  las  dcxaron,  para  correr  con  menos  embaraço ;  y 
de  doze  banderas  que  trahion.  solo  dos  b{);vieron  ai  Recife. 

La  Rclacion  impressa  em  Olanda,  dizepordieí^on  151 
Ofliciales,  y  más  de  mil  Soldados  entre  muortos,  y  presos, 
pêro  las  cartas  escritas  dei  Recife  a  estos  Paizes,  repiten 
lo  referido;  y  presos  aun  que  digan,  p.^ra  deminuir  em 
parte,  la  glória  que  los  Portugueses  consigiiieron,  fue  em 
una  emboscada,  y  no  en  batalla  renida,  no  dexan  todos  de 
confessar,  quedaran  desbaratados,  con  tão  sennlada  perdia. 

De  los  Portugueses  murieron  el  Sargento  Mayor  Paulo 
de  Acúna  Sotomnyor,  el  Capitan  de  cavallos  Manuel  de 
Araújo  de  Miranda,  pcrsonas  de  conocido  valor,  quarenta 
e  sinco  Soldados,  y  cerca  de  aOO  heridos,  uno  dellos  el 
Governador  Henrique  Dias,  y  diez  Olficiales  nienores.  Como 
tambien  los  Maesses  de  Campos  Andres  Vidal  de  Ncgreros, 
y  Juan  Fernandes  Vieira,  salieron  cõ  las  sefiales  de  dos 
balas,  no  sin  particular  favor  dei  cielo,  pues  parece  res- 
petaron  el  zelo  con  que  se  emplean  a  tantos  anos  en  la  de- 
fensa de  aquellos  miscrables  moradores,  contra  las  tira- 
nias, que  los  de  la  Compania  usavam  com  ellos. 

Del  Maessc  de  Campo  Ceneral  Francisco  B^irreto,  basla 


—  337  — 

dizcr-se  que  se  deve  la  mayor  parte  desta  victoria,  pues 
de  su  acertada  disposicion,  valor,  y  diligencia,  resulto  el 
alcançar-se  tan  gloriosamente ;  sin  querer  empenar-se  con 
el  inimigo ;  hasta  que  deixo  aquel  eminente  puesto  que 
lenia  ocupado.  No  siendo  menor  el  valor,  y  cuidado  de  su 
Tiniente  General  Felipe  Bandeira  de  Melo.  pues  aviendo 
distribuído  las  ordens  necessárias  para  el  combate,  se  me- 
zeló  com  los  enemigos,  hizo  sentir  a  muchos  con  su  espada> 
lo  que  en  otras  ocasiones  avian  experimentado. 

Los  Sargentos  Mayores  António  Dias  Cardoso,  y  Hieroni- 
mo  de  Hinojosa,  y  los  de  más  Capitanes,  y  soldados,  obraran 
con  tanta  resoluciõn,  y  orden,  que  sobra  para  su  gloria  el 
aversalido  victoriosos,  dando  muchoqueembediaratodos. 

Pêro  no  deve  dexar  de  publicar-se  de  zelo,  y  fervor  con 
que  los  Reverendos  Padres  Fr.  Matheus  de  S.  Francisco 
Administrador  General  de  aquel  exercito,  y  Francisco  de 
Avelar  de  la  Compania  de  Jesus,  acudieron  a  todos  los 
exercícios  Christianos ;  alentando  aios  soldados  con  sudo- 
trina,  confessando  a  los  que  en  ella  mudieron,  y  curando  a 
los  heridos  com  raro  exemplo  de  piedad,  y  devocion.  Lo 
mismo  biso  el  Licenciado  Domingos  Vieira  de  Lima  VL 
cario  geral  de  aquella  Capitania,  por  su  persona,  y  por  la 
de  algunos  Sacerdotes  que  embió  en  esta  ocasion,  expo- 
niendo  el  Sanctissimo  Sacramento  sinco  dias  antes  de  la 
batal  a.  y  três  dias  continues  despues  delia,  todo  a  su  costa, 
y  dei  clero,  para  implorar  el  favor  divino,  y  en  hazimienlo 
de  gracias  por  tan  felice  sucesso. 

Da  ré  fin  a  esta  Relacíon,  considerando  lo  poço  que  pueden 
esperarlos  de  la  Compania  dei  Brasil,  de  aquel  la  guerra  tan 
arriesgada,  y  costosa,  pues  en  diez  mezes  de  tiempo  perdie- 
ron  dos  tan  celebres  batallas,  y  en  ellas  más  de  sinco  mil  hó- 
bres,  con  todos  los  mejores  y  más  expertos  Cabos  que  tenion. 

ABRIL.  43 


AS  liTiS  DiS  iLiGOiS. 

ProTiAenclaft  áeerca  delias  e  sua  deacrlpção* 

As  matas  das  Alagoas  do  Sul,  que  comas  mais  matas 
desta  Capitania  de  Pernambuco  formão  um  cordão  ao  longo 
da  costa  do  mar  do  Norte  ao  Sul,  com  extençáo  de  mais  de 
noventa  léguas  até  aos  Caricés,  ou  Taboleiros  de  Goiana, 
tem  todas  o  seu  principio  oito  léguas  ao  Norte  do  rio  de 
S.  Francisco,  que  divide  esta  Capitania  da  da  Bahia,  em 
um  logar  chamado  Pescoço,  cuja  mata  tem  de  comprido 
cinco  léguas,  no  fim  das  quaes  abre  dous  ramos,  um^que 
caminha  ao  Noroeste  chamado  Riacho-secco  com  extençáo 
de  quatro  para  cinco  léguas,  atè  os  campestres,  ou  catin- 
gas do  sertão,  que  neste  logar  ficáo  muito  vezinhas:  o 
outro  ramo  se  dirige  ao  Norte  com  extençáo  de  sete  léguas, 
formando  differentes  ramos,  como  sejáo  Cururipe,  Alagôa 
<lo  Páo,  Poxim,  Jiquiha,  ate  a  beira  d'uma  grande  Lagoa 
jDom  extençáo  de  três  léguas,  chamada  de  Jiquiha,  que  se 
iança  no  mar ;  todas  estas  matas  tem  de  longitude  da  costa 
do  mar  quatro,  cinco,  e  seis  léguas,  com  fundos  de  cinco, 
e  seis  para  o  sertão,  em  cujos  fundos  se  achâo  muitos  ra- 
mos de  matas  de  Pào-Brasil,  de  que  se  fez  em  algum  tempo 
grande  extraçáo  pani  sua  Magestade ;  porém  no  presente 
tempo  se  aehão  todas  extinctas,  em  razão  da  irregularidade 
4X)m  que  se  lizerão  os  cortes ;  porém  darão  a  mesma  quan- 
tidade para  o  futuro  se  houver  cuidado  em  defender  estas 
matas,  por  se  acharem  os  antigos  cortes  com  muitas  ma- 
deiras novas,  de  que  se  poderá  fazer  a  mesma  extraçáo, 
passados  doze  annos.  Da  Alagôa  de  Jiquià acima  dita,  con- 
tinua© as  matas  para  o  Norte  com  a  extençáo  de  sete  le- 
goas,  até  o  Rio  S.  Miguel  com  os  mesmos  fundos,  e  os 
ine^os  ramos  de  matas  de  Páo-Brasil  nos  seus  fundos. 


—  340  — 

que  se  acliáo  igualmente  no  estado  dos  antecedentes.  To- 
das estas  matas,  desde  o  logar  do  Pescoço  até  a  barra  de  S. 
Miguel,  com  extcnção  de  dezenove  léguas  de  comprido, 
sáo  abundantíssimas  de  madeiras  de  Secupiras ;  porém 
todas  ellas  sáo  muito  curtas,  pouco  grossas,  e  de  fracas  di- 
mensões, que  só  servem  para  construções  de  Navios  mer- 
cantis de  todi  a  grandeza ;  por  serem  estes  terrenos  áridos, 
e  seccos;  destas  matas  se  prove  toda  a  marinha  mercantil 
da  Bahia,  depois  da  prohibição  das  matas  dos  Palmares,  e 
nos  portos  destas  matas  se  construem  muitas  embarca- 
ções ;  de  sorte,  que  presentemente  se  acháo  sete.  ou  oito 
no  estaleiro. 

Estas  matas,  sáo  as  que  devem  ficar  reservadas  para  a 
marinha  mercantil,  vista  a  sua  qualidade,  c  não  serem  ellas 
capazes  de  criarem  era  tempo  algum,  madeiras  de  cons- 
trucçáo,  a  excepção  de  algum  pão.  que  se  acha  em  alguma 
grota  mais  fresca ;  porém  devem  ficar  feichados,  e  vedados 
os  ramos  de  matas  de  Pào-Brasil,  que  ficáo  nos  seus  fundos, 
dos  quaes  pode  tirar  a  Real  Coroa  muitos  interesses  para 
o  fucturo,  assim  como  também  se  deve  vedara  Paroba- 
amarella  para  aduellas,  de  que  abundão  alguns  logares 
destas  matas. 

Do  rio  de  S.  Miguel  para  o  Norte  principiáo  as  matas  do 
Riacháo,  com  extençáo  de  quatro  para  cinco  léguas,  no  fim 
das  quaes  'priçcipião  as  famosas,  e  bem  conhecidas  matas 
dos  Palmares,  tanto  pela  fertilidade  delias,  como  pela  ex- 
traordinária grandeza  de  suas  madeiras.  Estas  matas  se 
estendem  para  o  Norte  até  o  rio  S.  Antonio-grande  com 
extençáo  pelos  seus  fundos  de  vinte  léguas,  formando  vá- 
rios, e  grossos  ramos,  como  sejáo  Tangil,  Parangàba,  Ma- 
tarâca,  Branca.  Conceição.  Salobro.  Cabeça  do  Cavallo* 
João  Dias.  Satúba.  Canoé.  Anhumas.  Riachão.  Pão-ama* 


—  341  — 

rello.  Urucú;  Pedra  talhada,  Golangí,  Riacho  das  Canoas, 
Canudos,  Manimbú,  Poço  da  volta,  Capapim,  Juçaràl,  Mi- 
rim, Caxoeira,  Cobra,  Pôço-grande,  Xoqueiro,  Porco  brabo* 
Nacenças  da  Saúde,  Piabas,  Santiago,  Cabeceiras  de  Sa- 
pucahi,  Jitituba,  Rio  do  peixe.  Pacas,  Porco  cortado,  Per- 
piri :  Sáo  estas  matas  cortadas  de  excellente  rios,  como 
sejão  S.  Miguel,  o  rio  do  Mirim,  e  S.  António  grande;  e 
duas  grandes  Lagoas,  uma  denominada  a  do  Sul,  de  que 
toma  o  seu  nome  a  Yilla  das  Alagoas  do  Sul  situada  a  mar- 
gem da  mesma  Lagoa,  que  tem  de  extençáo  oito  léguas, 
até  o  mar,  onde  faz  barra ;  nella  desagoáo  os  rios  Sebauma, 
Salgado,  Utinga,  e  Parahiba ;  a  outra  chamada  Alagôa  do 
Norte  com  três  léguas  de  extençáo  até  o  mar,  onde  faz 
barra  junta  com  a  Alagôa  do  Sul;  n'ella  desagoáo  os  rios 
Satuba,  e  Mundàu,  e  tanto  estes  rios,  como  os  outros, 
todos  vêem  do  interior  das  matas,  as  quaes  ficáo  distantes  da 
beira-mar  dez  e  doze  léguas.  Teem  além  disto  as  mesmas 
matas  seis  excellentes  portos,  quaes  sáo  S.  Miguel,  Porto 
do  Francez,  Jaragoà,  o  melhor  de  todos,  e  de  toda  esta  Ca- 
pitania, Papicàra,  Mirim,  S.  António  grande.  Ha  nos  fun- 
dos destas  grandes  matas,  muitas  matas  de  Pào-amarello, 
os  melhores,  que  se  conhecem  em  toda  esta  Capitania, 
tanto  pela  sua  boa  qualidade,  como  pela  grandeza  d^elles; 
as  quaes  ficáo  em  distancia  da  beira-mar  vinte  e  cinco,  e 
trinta  léguas;  d'ellas  se  tem  sempre  extrahido  todas  as  ma- 
deiras, que  nesta  Capitania  se  tem  feito  para  Sua  Mages- 
tade.  Todas  estas  matas,  tanto  de  Secupiras,  como  de 
amarellos,  se  acháo  hoje  muito  destruidas,  em  razão  dos 
muitos  roçados,  e  fogos,  que  nellas  se  tem  introduzido :  sáo 
ellas  as  que  teem  sofrido  todas  as  construcções,  tanto 
Reaes,  como  mercantis,  que  nesta  Comarca  se  tem  feito, 
desde  o  descoberto  destas  conquistas :  apezar  porém  de 


—  342  — 

tantos  estragos,  só  elias  são  as  uDicas.  que  tem  suprido  as; 
formidáveis  madeiras,  que  tenho  mandado  construir  por 
ordem  de  V.  Ex.  para  as  Náos  de  cento  e  dez,  oitenta  e 
quatro,  e  setenta  e  quatro  peças ;  ainda  que  se  acha  oem 
grande  distancia  de  mar,  por  cuja  razão  são  dificultosos  os 
seus  arrastos. 

Ao  Norte  do  rio  Santo  António— grande  continuáo  as  ma- 
tas, formando  differentes  ramos,  como  são  as  de  Gamara- 
gibe,  que  se  estendem  até  as  de  Porto  Calvo  por  espaço  de 
oito  léguas ;  estas  matas,  de  que  os  seus  terrenos  são  fer- 
telissimos,  capazes  de  produzirem  grandes  madeiras,  e  com 
a  qualidade  de  serem  regadas  d'um  florente  rio  denomi- 
nado Gamaragihe,  se  achão  hoje  de  todo  destruidas  em 
razão  dos  muitos  roçados,  que  nellas  se  tem  feito  pelas 
margens  do  mesmo  rio,  pessoas,  que  nellas  se  tem  intro- 
duzido, sem  titulo  algum ;  porém  tanto  estas  matas  como 
parte  das  de  Porto  Calvo,  sendo  vedadas  e  feichadas  po- 
derão para  o  fucturo  restabelecer-so,  e  tirar  delias  grande 
utilidade  a  Real  Coroa.  As  matas  de  Porto  Calvo  continuáo 
ao  Norte  com  differentes  ramos,  como  sejão  duas  boccas, 
vizinhas  ao  rio  Manguàba,  Japaratúba,  as  quaes  se  achão 
no  estado  das  antecedentes;  destas  matas  continuáo  dous 
rsmos,  um  ao  Noroeste  denominado  Bacha-secca,  outro  ao 
Norte  chamado  Piabas,  Canhoto,  duas  barras  com  exten- 
ção  de  quatro  para  cinco  léguas :  nestes  ramos  se  crião 
muitas  madeiras  de  Secupíras  de  toda  a  grandeza,  capazes 
de  Nàos  de  Linha  do  maior  porte ;  ficão  ellas  distantes  da 
barra  grande,  porto  do  embarque  destas  matas  cinco,  e 
seis  léguas ;  porém  parte  deste  caminho  ó  trabalhoso.  Das 
duas  barras  para  o  Norte  se  achão  as  matas  de  Pào-ama- 
rello,  e  Boenos-ayres,  que  terminão  no  riacho  Precinunga, 
aonde  finda  esta  Comarca ;  vindo  todos  estes  ramos,  qqe 


—  313  — 

se  acháo  desde  Porto  Calvo  até  Precinunga,  formar  uma 
extenção  de  sete  para  oito  léguas,  nos  fundos  das  quaes, 
se  acháo  as  matas  de  amarello  de  Jacuipe ;  cujas  matas, 
po4o  que  fossem  das  mais  consideráveis  desta  Capitania, 
se  acháo  hoje  quasi  de  todos  destruídas,  pela  grande  ex- 
traçáo,  que  delias  tem  feito  os  Povos ;  de  sorte  que  algumas 
que  se  poderão  tirar,  seráo  por  um  preço  extraordinário, 
como  sucedeu  na  occasiáo  em  que  pertendi  tirar  madeiras 
delias  para  Sua  Magestade.  que  tirando  taboados  de  cin- 
€oenta  palmos  de  comprido  nas  matas  dos  Palmares  á  cin- 
coenta  mil  reis  á  dúzia,  nestas  delncuipe,  o  náo  quizeráo 
fazer  por  menos  de  cem  mil  reis,  como  fiz  constar  a  V.  Ex. 
por  um  termo  assignado  pelos  mesmos  Fabricantes.  Duas 
legiias  ao  Norte  do  riacho  Precinunga,  onde  termina  esta 
Comarca,  fica  o  rio  Una ;  nestas  duas  léguas  se  acháo  vá- 
rios ramos  de  matas,  que  se  estendem  ao  longo  do  mesmo 
rk)  Una  caminhando  á  Oeste  cinco  para  seis  legoas,  até  a 
barra  do  rio  Jacuipe,  incravados  em  muitos  Engenhos, 
como  sejáo  matas  de  Crauàssú  de  baixo.  Aldeia  velha,  Ara- 
goàba  Crauàssú  de  cima  e  outros :  tanto  estes  ramos  do 
matas  ao  sul  do  Rio  Una,  como  os  que  ficáo  ao  Norte  do 
mesmo  Rio,  desde  Duas  bocas,  distante  delle  duas  léguas, 
até  a  Engenho  Ilha  grande,  Frescondim,  Sauhé  de  cima. 
Cabeça  de  Porco,  sáo  de  excelentes  madeiras  de  Secupira, 
capazes  para  Nãos  da  ultima  grandeza. 

Todas  estas  matas,  que  ficáo  entre  o  Rio  S.  Miguel,  eo 
riacho  Precinunga,  onde  termina  esta  commarca,  que 
formão  uma  extençáo  de  vinte  oito  léguas  ao  longo  da 
praia,  e  a  de  trinta  e  cinco  para  trinta  e  seis,  pelo  o  inte- 
rior das  matas,  em  razáo  das  suas  voltas,  se  devem  desti- 
nar para  Sua  Magestade,  por  serem  estas  matas  as  mais 
capazes  para  as  construcçôes  de  Sua  Magestade  em  toda 


—  341  — 

esta  Capítaaia  a  estas  se  devem  unir  as  duas  léguas,  qae 
iicáo  ao  Sul  do  rio  Una,  como  também  as  duas,  que  tição 
ao  Norte  do  mesmo  rio,  pela  sua  boa  qualidade ;  todas  as 
mais,  que  continuáo  ao  Norte  até  os  Carices,  ou  Taboleiros 
de  Goiana  com  extenção  de  mais  de  quarenta  léguas,  são 
inúteis  para  as  construções  de  Sua  Magestade,  como  são 
as  matas  do  Rio-formoso,  Serinhaem.  Ipojúca,  Cabo;  as 
quaes  se  acháo  muito  destruídas  por  se  arharem  occupadas 
de  muitos  moradores,  e  Engenhos  que  se  estendem  hoje 
muitas  léguas  pela  terra  a  dentro  em  grande  distancia  da 
beira  mar;  de  sorte  que  algumas  madeiras,  que  se  achâo 
ainda  nos  fundos  destas  situações,  sâo  dificultosas  de  se  ti- 
rarem ;  não  só  pela  grande  distancia  em  que  se  achâo ;  mas 
também  pela  asperesa  dos  caminhos,  por  onde  se  deveriâo 
transportar ;  muito  principalmente  por  não  haverem  rios 
livres  de  Caxoeiras  por  onde  se  possão  conduzir  as  ma- 
deiras construídas ;  porquanto  o  Rio-formoso  não  admite 
navegação  de  semelhantes  madeiras  por  ser  um  riacho  do 
Engenho  para  cima :  o  rio  de  Serinhaem,  e  o  de  Ipojúca. 
se  encontrão  muitas  caxoeiras  no  curso  delles ;  de  sorte 
que  não  pôde  fazer  conta  a  extração  de  madeiras  de  seme- 
lhantes lugares. 

É  pôr  este  motivo,  que  nunca  jamais  em  tempo  algum 
se  fizeram  madeiras  nestes  logares,  tanto  para  S.  Magesta- 
de, como  para  o  commercio ;  o  que  não  succederia  assim, 
sem  elles  as  houvessem;  porquanto  não  era  natural,  que  ha- 
vendo madeiras  de  15,  e  16  léguas  as  viessem  procurar 
nesta  Comarca,  em  distancia  de  90  a  80  léguas. 

O  mesmo  succede  as  matas,  que  ficão  pelo  Rio  Capibaribe 
acima,  matas  de  S.  Antão,  S,  Amaro  Jaboatão,  costeando 
por  fora  de  Moribéca,  e  Cabo  pelo  Rio  Cabassú,  procurando 
cabeceiras  do  Rio  Ipojúca;  a  excepção  das  matas  da  Parai- 


—  345  -^- 

ba,  que  também  seacháo  hoje  muito  destruídas,  e  distantes 
do  porto  do  embarque,  só  tem  S.  Magestade  nesta  Capita- 
nio  as  matas  de  que  tenho  feito  menção  para  as  suas  Reaes 
Construções :  cuja  demarcação,  ou  toml)o  deve  principiar 
no  Rio  de  S.  Miguel  com  rumo  de  Norte  até  o  Rio  Una, 
incluindo  nella  o  ramo  do  Norte  de  que  tenho  feito  menção; 
e  do  Rio  Una  deve  correr  rumo  de  Noroeste  até  os  fundos 
das  matas  do  Pào-Amarello  do  Rio  Pirangi-grande,  que 
confinam  com  os  Campestres,  Catingas  do  certão :  deste 
logar  deve  correr  o  rumo  de  Oeste  pelos  fundos  das  matas 
de  Jacuipe,  Serras  de  Manguaba,  Mariquita,  o  Carimá, 
pelas  Serras  do  Barriga,  Cruatá,  Dous-irmáos,  Bananal, 
Taipú,  Principe,  até  finalizar  nas  cabeceiras  do  Rio  de  S. 
Miguel,  distante  da  sua  fóz,  loa  17  léguas,  que  vem  a  for- 
mar uma  extenção  de  matas  de  30  a  32  léguas  de  comprido 
ao  longo  da  costa  do  mar,  de  que  ficão  distantes  em  alguns 
logares  10,  e  12  léguas,  e  em  outros  5,  O  c  7  léguas. 

Dentro  desta  demarcação,  ou  tombo  ficão  incluídos  os 
melhores  ramos  de  matas,  tanto  de  secupiras,  como  de 
amarellos,  que  S.  Magestade  tem  nesta  Capitania  para  cujas 
matas  parece  ser  de  maior  interesse  para  a  Real  Coroa  a 
creaçáo  de  um  supperitendente  a  quem  fique  pertencendo 
semelhante  fiscalisação  com  regência  de  alguns  coutei ros, 
ou  guardas  divididos  pelos  respectivos  destrictos  ;  si  ndo 
corridas  por  dillerentes  patrulhas  de  índios  na  forma,  que 
tenho  exposto  com  excluzão  de  outro  qualquer  uzo. 

Porto  de  Pedras  de  Agosto  2  de  1797. 

José  de  Mendonça  de  Mattos  Moreira. 

Tenho  a  honra  de  receber  a  Carta,  que  V.  Ex.*  foi 
servido  derigir-me  em  Ití  de  Junho  do  corrente  anno,  com 
o  Edital  para  todos  os  Sesmeiros  appresentarem  suas  Ses- 

ABRIL.  44 


—  34G  — 

marias,  e  para  tudo  o  mais  que  nelle  se  declara ;  delle  fiz 
logo  exlrahir  16  copias  as  quaes  não  só  mandei  publicar 
em  todas  as  Villas  desta  Comarca;  mas  também  em  todas 
as  Freguezias,  e  Logares  públicos  delia,  para  que  melhor 
conste  delle  a  todos,  c  ninguém  possa  allegar  ignorância 
como  tudo  se  faz  ver  da  certidão  do  Escrivão  da  Correrão, 
que  tenho  a  honra  por  na  respeitável  presença  de  V.  Ex.' 
Náo  á  Exm.  Sr.  um  meio  mais  elicaz,  para  a  conservação, 
e  augmento  das  matas,  do  que  é  serem  da  propriedade  ex- 
clusiva da  Real  Coroa  todas  as  matas,  e  arvoredos  a  borda 
da  costa  do  mor,  ou  de  Rios  por  onde  cm  jangadas,  e  ca- 
noas possáo  ser  condusidas  as  madeiras  cortadas;  porém 
devo  diser  a  V.  Ex.*  pela  larga  experiência,  que  tenho,  e 
conhecimento  individual  de  todas  estas  matas,  e  arvoredos, 
que  o  meio  de  serem  obrigados  os  Sesmeiros  a  appresen- 
tarem  suas  Cartas  de  Sesmarias,  e  serem  estas  unidas  ao 
Património  Real,  indemnisando-se  os  respectivos  Sesmei- 
ros em  outros  logares  no  interior  do  Paiz,  achando-se  nas 
terras  dadas  de  Sesmaria  bemfeitorias,  porque  se  lhe  deva 
fazer  esta  indemnisação.  não  é  ainda  o  meio  capaz  de  con- 
seguir o  fim  de  tão  saudável  determinação;  porquanto  as 
porções  de  terrenos,  que  seachão  nas  mesmas  matas  usur- 
padas a  Real  Coroa  sâo  ainda  muito  maiores  em  alguns 
logares,  do  queaquelles,  quesecontempláonas  Sesmarias, 
que  não  farão,  nem  ainda  uma  terça  parte  daquelles,  em 
razão' de  que  muitas  pessoas  se  introdusem  no  interior  das 
matas,  as  quaes  destroem  não  só  com  rosados,  que  nellas 
fazem,  e  que  pela  maior  parte  os  não  plantão;  mas  ainda 
muito  mais  com  fogos,  que  se  lhes  introdusem  ateados  dos 
mesmos  rosados;  de  sorte  que  à  muitos  logares,  onde  os 
fogos  se  atearam  pelo  espaço  de  muitas  léguas,  como  eu 
mesmo,  tenho  sido  testemunha  ocular;  por  cuja  razão. 


—  HM  — 

se  não  achâo  hoje  matas  inteiras,  apenas  alguns  farragios 
delias  em  dillerentes  logares,  onde  se  fazem  as  Construções 
Reaes :  outros  dando-se-lhe  por  Carta  de  Sesmaria,  meia 
Jegua  de  terra,  como  nunca  a  demarcáo  na  forma  que  são 
obrigados,  se  apossáo  de  2  e  3  léguas :  outros  alcançando 
somente  ordem  da  Junta  da  Fazenda  Real  para  as  Camarás 
respectivas  passarem  Editaes,  para  ver  seá  ou  não  terceiro 
prejudicado,  se  apossão  das  lerras  perdidas,  sem  jamais 
tirarem  as  Cartas  de  Sesmarias:  destes  tem  V.  Ex.'  alguns 
exemplos,  como  fosse  Pedro  de  Araújo  que  pedindo  uma 
légua  de  terras  de  Sesmarias  no  Rio  de  Camaragibe,  e  man- 
dando a  Junta  da  Fazenda  Real  à  Gamara  respectiva  passar 
Editaes  do  estilo,  elle  se  metteo  na  posse  delias,  e  de  so- 
ciedade çom  Gregório  de  Oliveira  Costa  erigiram  mn  En- 
genho, que  denunpiando  este  ãtquelle  depois  de  passados 
muitos  annos.  lhe  mandou  justamente  a  Junta  Real  passar 
Carta  de  Sesmaria :  destes  à  outros  muitos  exemplos,  como 
seja  António  Moreira  no  mesmo  Rio,  que  tendo  somente 
alcançado  despacho  da  mesma  Junta  para  a  Camará  res- 
pectiva mandar  por  Editaes,  elle.  sem  se  lhe  passar  a  res- 
pectiva Carta,  se  meteu  com  vários  parentes,  e  outros  agre- 
gados no  interior  das  matasgr  onde  por  espaço  de  muitos 
annos  tem  feito  os  maiores  estragos,  tanto  em  roçados, 
como  em  fogos,  que  lhes  tem  introduzido ;  e  destes  ha  ou- 
tros muitos  que  não  chega  a  noticia  delles,  por  se  não 
terem  feito  os  exames  necessários:  outros  ha,  que  tendp 
vendido  as  terras,  que  lhe  forão  dadas  de  sesmaria,  andào 
estas  hoje  em  terceiro,  e  quarto  possuidor,  sem  que  obti- 
vessem Licença  da  Junta  da  Fazenda  Real.  como  são  abri- 
gados em  semelhantes  vendas  para  a  obterem,  e  pagarem 
o  justo  Laudemio  em  reconhecimento  do  directo  dominio 
que  nellas  tem  a  Real  Coroa;  por  não  terem  nellas  os  ses- 


—  348  — 

meiros,  se  não  uso  fructo ;  sendo  ta!  o  excesso  em  se  pe- 
direm semelhantes  sesmarias,  que  muitos  tempos  foi  entre 
estes  povos  uma  espécie  de  negociação ;  por  quanto  hou- 
verão  pessoas,  que  por  si,  e  por  terceiros  alcançarão  três, 
e  quatro  sesmarias,  e  depois  as  venderás  a  outros  por  dous 
mil  cruzados,  um  conto  de  reis,  e  quatro  centos  mil  reis, 
e  o  que  mais  admira  é,  que  muitos  as  devidem,  e  as  ven- 
dem a  retalhos  de  que  ha  muitos  exemplos :  outros  flnal- 
mente  possuem  terrenos  nas  mesmas  matas,  sem  titulos 
alguns ,  por  onde  conste  a  legitimidadade  dos  seus  domí- 
nios ;  de  sorte  que  ate  o  presente  tem  sido  as  matas  co- 
muas, e  livres  a  toda  a  pessoa  que  se  quer  introduzir  nellas, 
e  ainda  alguns  tomarem  posse  de  muitas  léguas,  sem  titu- 
los, como  V.  Ex.  verá  da  certidão,  que  tenho  a  honra  por 
na  respeitável  presença  de  V.  Ex. ;  e  desta  forma  se  achâo 
rotas,  e  destruídas  as  mais  bellas  matas,  que  Sua  Mages- 
tade  pode  ter  no  Brasil ;  não  só  pela  grandeza  delias,  mas 
ainda  muito  mais  por  serem  estes  uns  terrenos  próprios 
de  criarem  secupiras,  o  que  é  bem  raro  nas  mais  matas ; 
e  o  que  mais  admira  é  que  todas  estais  destruições  não  tira 
a  Real  Coroa,  e  o  Publico  utilidade  alguma,  por  serem  ellas 
feitas  pela  maior  parte  por  pessoas  indigentes,  e  crimino- 
sas, que  por  escaparem  as  penas  dos  seus  delictos  procu- 
rão  o  escondrijo  das  matas,  como  um  azilo  seguro ;  de 
sorte  que  a  maior  parte  das  sesmarias  já  dadas,  a  excepção 
de  algumas  muito  poucas,  em  que  se  erigiu  algum  Enge- 
nho todas  as  mais  não  tem  bemfeitorias,  que  lhes  devão 
ser  indemnisadas,  por  se  acharem  mais  deterioradas,  do 
que  quando  lhe  forâo  dadas.  Todos  estes  injustos  possui- 
dores se  não  vem  denunciar  pelo  presente  Edital,  quando 
muitos,  que  o  mesmo  comprehende  o  não  farão,  sem  se 
recorrer  a  outros  meios ;  pois  vemos  que  sendo  os  Editaea 


r% 


—  349  — 

publicados  a  mais  de  trinta  dias  ainda  não  houve  um  só 
sesmeiro,  que  viesse  apresentar  a  sua  Carta,  na  forma,  que 
determina  o  mesmo  Edital;  para  virmos  pois  no  conheci- 
mento de  todos  elles  ó  necessária  uma  escrupulosa,  eexata 
averiguarão  desde  o  luf^^ar,  onde  principiâo  as  matas  des- 
tinadas para  Sua  Magestade,  até  o  fim  delias ;  cujo  exame, 
sendo  feito  com  a  exacçáo  devida  na  occasião,  que  se  fizer 
o  Tombo  das  mesmas  matas,  que  a  ser  feito  com  as  for- 
malidades necessárias,  se  não  poderá  fazer  menos  de  uns 
poucos  de  annos.  Estes  serão,  Exm.  Sr.,  os  maiores  tra- 
balhos deste  novo  estabelecimento,  quando  Sua  Magestade, 
seja  servido  mandal-o  crear;  porque  sobre  tão  escrupulo- 
sas, e  laboriosas  indagações,  é  da  maior  attenção,  que 
fiquem  separados  terrenos  para  as  plantações  doPaiz,  cos 
necessários  para  a  marinha  mercantil,  e  uso  dos  Povos;  o 
que  tudo  se  pode  nwiito  bem  executar,  e  estabelecer  sem 
prejuizo  das  matas,  e  arvoredos  destinados  para  Sua  Ma- 
gestade, a  vista  do  estado  a  que  se  acha  hoje  reduzido  todo 
este  Paiz,  por  haverem  muitas  léguas  da  beira  mar  para 
o  certão,  sem  matas  e  arvoredos;  por  se  acharem  estes 
lugares  povoados  com  plantações,  e  Engenhos,  sem  que 
haja  necessidade  para  o  augmento  delias  de  passarem  as 
matas,  que  principiâo  hoje  longe  da  costa  do  mar  dez,  e 
doze  léguas  em  alguns  lugares,  depois  de  acabados  os  ter- 
renos povoados :  estas  matas,  onde  se  criáo  as  secupiras 
tem  sete,  e  oito  léguas  de  largo  no  fim  das  quaes  principiâo 
as  matas  de  amarello,  que  vão  finalisar  nos  campestres,  ou 
catingas  do  certão  :  e  ainda  que  nestas  matas  de  amarello 
se  achem  algumas  secupiras,  de'las  se  não  pode  fazer  uso 
algum,  pelaasperesa  dos  lugares  por  onde  se  deveriáo  con- 
duzir, muito  principalmente  por  serem  os  rios,  que  descem 
n  aquelles  logares,  cheios  de  muitas  caxoeiras:;  as  quaes 


á 


•tt 


—  350  — 

não  admitem  conducção  de  madeiras  de  coilslrucçáo,  e  o 
mesmo  succede  ainda  em  muitos  lugares  nas  matas  de  se- 
cupiras.  Igualmente  se  deve  proceder  com  o  mesmo  es- 
crúpulo nas  sesmarias  dadas  para  ter  logar  aindemnisação 
de  que  faz  mensáo  o  mesmo  Edital ;  por  ser  necessário, 
que  conste  veridicamente  se  as  terras  dadas  de  sesmarias 
tem  algumas  bemfeiterias,  por  que  se  lhe  deva  fazer  esta 
indemnisação,  o  que  nunca  poderá  ter  logar  a  excepção 
d'aquelias  em  que  se  acharem  alguns  Engenhos ;  antes  a 
Real  Coroa  as  receberá  em  maior  deterioraçio,  segundo  o 
costume  gerai  de  todos  os  sesmeiros,  que  é  abrirem  elles, 
e  seus  agregados  muitos  roçados  com  os  qi^aes,  ecom  os 
fogos,  que  lhe  introduzem  destroem  as  terras,  que  lhes 
íoráo  dadas  de  sesmaria;  por  quanto  todo  o  fim  de  procu- 
rarem elles  as  matas,  e  arvoredos  nío  é  pon  falta  de  terra 
para  as  plantações,  que  essa^  são  infinitas  no  Paiz,  é  tão 
somente;  porque  nás  matas  evitáo  as  limpas,  que  são  obri- 
gados dar  nas  mais^erras,  a  que  chamão  capueiras :  e  desta 
forma  por  um  tão  injusto  motivo  vão  destruindo  as  matas 
até  a  sua  total  extinção,  como  eu  pessoalmente  tenho  visto 
(de  que  dei  parte  a  V.  Ex.)  lugares  no  interior  das  matas, 
em  que  destruirão  cora  roçados,  e  fogos  muito  mil  pàos  de 
construcçâo  para  Náos  da  ultima  grandeza,  e  destes  ha 
muitos  exemplos  por  toda  a  extenção  das  matas.  Quanto 
porém  aquellas  sesmarias  em  que  se  achão  Engenhos,  o 
que  Sua  Magestade  por  Sua  Real  Clemência  manda  conser- 
var, deverão  sempre  os  Senhores  delles  serem  abrigados  con- 
servar todas  as  madeiras  Reaes,  que  se  acharem  ns  com- 
prehensão  dos  mesmos  Engenhos,  como  sejáo  Secupira- 
mirim,  Pào  de  arco,  Getahi,  Angelim amargoso,  Mirindiba, 
Jetobá,  é  Sapucaia,  de  cujas  madeiras  estão  bem  conhe- 
cidas as  auas  boas  qualidades,  das  quaes  nio  tem  neces- 


—  331   — 

sidade  os  Engenhos  para  as  suas  laborações,  a  excepçáo 
de  alguns  pàos  para  obras  dos  mesmos  Engenhos,  os  quaes 
náo  fazem  falta  as  construcçóes ;  sendo  os  mesmos  senho- 
res de  Engenho  obrigados  a  náo  deixarem  abrir  roçados 
nas  malas  dos  mesmos  Engenhos,  de  que  lhe  resulta  a  elles 
um  beneficio  ainda  lAuito  maior,  do  que  as  mesmas  cons- 
trucçóes; porque  da  destruicção  das  matas  procedeu  a  ex- 
tinção de  alguns,  e  a  decadência  em  que  se  acháo  hoje 
muitos  Engenhds,  e  pela  falta  de  lenhas  para  os  seus  cosi- 
raentos.  Finalmente,  Exm.  Sr.,  todo  o  objecto  da  Real 
Coroa  para  a  conservação  da  sua  Real  marinha,  da  mari- 
nha mercantil,  e  do  bem  commum  deste  Paiz ;  cuja  riqueza 
consiste  na  conservacçáo  dos  mesmos  arvoredos,  pois 
vemos,  que  faltando  estes,  os  terrenos  ficáo  sem  valor,  ó 
reservarem-se  os  melhores  terrenos  para  Sua  Magestade, 
e  nestes  haver  o  muor  cuidado  de  se  im{)edir  com  as  mais 
graves  p^nas  a  abertura  de  roçados,  e  cortes  para  particu- 
lares; fazendo- se  uma  demarcação,  oô  Tombo  Real,  e  in- 
dividual de  todas  as  matte  reservadas,  tirando-se  mappas 
de  plantas  baixas  de  todos  os  ramos  das  matas,  compre- 
hendidos  na  demarcação ;  cujas  matas  deverão  todos  os 
annos  ser  revistas  por  um  Super-intendente  delias,  e  dos 
Reaes  cortes,  abrindo-se  devassas  em  alguns  districtos  das 
mesmas  matas,  contra  os  transgressores  das  ordens,  que 
se  derem  para  a  sua  conservação,  destinando-se  os  terre- 
nos mais  fracos  para  a  marinha  mercantil,  e  uso  dos  povos: 
e  como  Sua  Magestade  no  interior  destas  matas  tem  dous 
Presidies  desde  o  tempo  dos  negros  dos  Palmares,  quaes 
são  os  de  Nossa  Senhora  das  Brotas  na  Villa  da  Atalaia,  e 
o  de  S.  Caetano  em  Jacuipe  com  sessenta  índios  em  cada 
nm  delles,  a  quem  a  mesma  Senhora  paga,  sem  lhe  fazer 
serviço  algum;  destes  deve  o  mesmo  Ministro  mandar  em 


—  3ÍJ2  — 

certos  tcmi)Os  do  anno dillerenles  patrulhas,  que  corráo  as 
mesmas  malas  com  pontos  certos  de  união,  procedendo-se 
contra  os  que  acharem  ndla  trabalhando. 

Desta  forma,  Exm.  Sr. .  se  conservanlo  as  matas,  que 
ainda  existem  para  suprirem  as  prezentes  construcçôes ;  e 
as  que  se  achão  destruidas  com  esta  providencia  se  res- 
tabeleceram para  o  futuro,  como  forão  em  algum  tempo, 
e  nâo  experimentará  a  Real  Coroa  falta  de  madeiras  de 
construcção,  antes  as  poderá  ter  por  um  preço  muito  mais 
commodo  para  o  futuro:  e  seguro  a  V.  Ex.  que  a  faltarem 
estns  providencias  em  muito  poucos  annos  ficarão  as  matas 
de  construcção  de  todo  destruidas,  e  Sua  Magestade  não 
terá  mais  Leames  para  a  factura  de  suas  Náos;  porquanto 
ainda  que  o  cordão  de  malas  desta  Capitania,  que  principia 
nas  malas  do  pescoço,  e  acaba  nos  Carices,  ou  Taboleiros 
de  Goyanna  tenha  de  estenção,  com  pouca  dilTerença,  no- 
venta léguas,  apenas  se  achão  em  toda  esta  dilatada  dis- 
tancia os  ramos  de  matas  dos  Palmares,  outros  no  destri- 
cto  de  Porto  Calvo,  e  alguns  farragios  de  matas  encrava- 
dos em  mais  de  quarenta  Engenhos  na  Freguezia  de  Una, 
donde  se  podem  tirar  madeiras  de  construcção ;  porque 
todas  as  mais  matas,  umas  se  achão  de  todo  destruidas, 
outras  os  seus  terrenos  são  áridos  e  fracos,  as  madeiras, 
que  nelles  se  criâo  apenas  servem  para  Mavios  mercantes, 
e  observa-se,  que  ainda  (jue  as  arvores  sejão  antigas  nun- 
ca crescem,  e  cngrossáo  muito :  esta  bòa  qualidade  só  a 
têm  as  matas  dos  Palmares,  onde  as  Secupiras,  e  as  mais 
madeiras  de  construcção  são  pela  maior  parte  agigantadas; 
de  sorte  que  apezar  de  tantos  estragos,  que  nellas  se  en- 
contrão, e  de  terem  ellas  sofrido  todas  as  construcçôes 
Reaes,  e  mercantes  desde  o  descoberto  destas  conquista  são 
só  as  únicas  aonde  achei  madeiras  para  as  Nàos  de  cen- 


—  353  — 

lo  e  dez,  oitenta  e  quatro,  e  settenta  e  quatro  peças  de 
quo  me  aclio  encarregado,  e  todas  de  Secupira-mirim, 
sem  entrar  em  Ioda  esta  construcção  um  só  páo  de  outra 
qualidade  de  madeira,  e  posto  que  estas  madeiras  se  tirão 
hoje  em  uma  tão  dilatada  distancia  do  porto  do  embarque 
eu  tenho  a  gloria  de  que  cilas  ficarão  para  Sua  Magesta- 
de  pelo  mesmo  preço;  porque  se  fizeram  as  madeiras  que 
ha  perto  de  quarenta  annos  se  reraettêrão  das  mesmas 
matas  para  a  construcção  das  Xâos  Sajito  António  e  Madre 
de  Deus,  e  outras  que  Sua  Majestade  foi  servido  mandar 
construir  na  cidade  da  Bahia,  sendo  estas  Nàos  de  muito 
menor  porte,  e  tendo  sido  tiradas  as  suas  madeiras  em 
muito  curta  distancia  do  porto  do  embarque;  de  sorte  que 
algumas  delias  não  exceleo  a  meia  légua  de  distancia, 
quando  as  que  hoje  mando  construir,  ficáo  dez,  e  doze 
léguas  do  porto  do  embarque. 

Tem  alem  disto  as  malas  dos  Palmares  a  boa  qualidade 
de  serem  cortadas  por  férteis,  e  abundantes  rios,  como 
sejão  os  rios  de  S.  Miguel,  as  2  Lagoas  de  Norte,  e  Sul, 
que  desagoão  no  mar;  nas  quacs  desembocão  vários  rios; 
como  sejao  na  do  Sul,  o  rio  Sebauma,  Vtinga,  Salgado,  e 
Paraíba,  e  na  do  Norte,  os  rios  Mundau,  e  Satuba;  alem 
destes  em  distancia  de  6  léguas  teem  os  rios  Mirim,  e  S. 
Antonio-grande,  e  em  todos  estes  togares  portos  corres- 
pondentes para  o  embarque  das  madeiras :  com  grandes 
fundos  nas  mesmas  matas  de  Páos  amarellos,  donde  sempre 
se  teem  feito  grandes  extrações  para  S.  Magestade,  por  se- 
rem elles  os  de  maior  grandeza,  e  melhor  qualidade  de 
Ioda  esta  Capitania.  l*or  todas  estas  razões,  que  tenho  a 
honra  pôr  na  respeitável  presença  de  V.  Ex.  se  mostra  a 
difliculdade  que  se  encontra  era  ser  feita  com  a  brendade 
que  V.  Ex,  ordena,  uma  demarcação,  ou  tombo  circuns- 
ABaiL.  45 


—  354  — 

tanciado  com  um  exame  individual  de  todos  os  peçuidores 
das  mesmas  matas,  ou  sejão  por  Sesmarias,  ou  por  outros 
quaesquer  titulos.que  deverão  ser  appresentados  com  ave- 
riguação de  todas  as  bemfeitorias,  que  nas  mesmas  terras 
Sesmadas  se  acharem  dignas  de  indemnisaçâo ;  a  qual  deve 
ser  regulada  pelo  valor  em  que  forem  julgadas  as  mesmas 
bemfeitorias ;  porque  alem  de  serem  precisos  annos  para 
se  fazer  esta  deligencia  com  a  exação  que  pede  uma  maté- 
ria de  tanta  importância  so  a  pode  fazer  um  Ministro 
creado  para  este  serviço ;  por  ser  incompativel  com  a  boa 
ordem  da  Justiça,  que  um  Ministro  Ouvidor  desta  Comarca, 
que  é  obrigado  fazer  as  correçóes  das  Villas  delia,  e  acudir 
aos  negócios  públicos  das  partes,  possa  este  mesmo  Minis- 
tro ser  encarregado  ao  mesmo  tempo  de  serviços  laboriosos; 
muito  mais  se  for  encarregado  de  tão  numerosas  construc- 
ções,  como  as  de  que  presentemente  me  acho  incumbido 
para  S.  Magestade  a  ordem  de  V.  Ex.  porque  sendo  a  sua 
assistência  pessoal  necessária  nestes  serviços,  em  qualquer 
delles  que  falte,  ou  hade  padecer  o  serviço  de  S.  Magestade, 
ou  o  dos  Povos :  por  esta  razão  parece  ser  de  maior  impor- 
tância ao  serviço  da  mesma  Senhora  a  creação  de  um  supe- 
ritendente  das  matas  destinadas  para  S.  Magestade  para 
este  encarregado  de  todos  estes  serviços,  e  do  todos  os 
mais  pertencentes  a  esta  repartição,  na  execução  dos  quaes 
será  forçoso  ter  um  immenso  trabalho,  alem  da  pratica  e 
conhecimento,  que  deve  ter  em  semelhantes  matérias  para 
ser  bem  regulado  um  estabelecimento  de  tanta  considera- 
ção. Apezar  porem  de  todos  estes  obstáculos  se  V.  Ex.  for 
servido,  que  desde  ja  entre  neste  serviço,  com  a  determi- 
nação de  V.  Ex.  vou  pôr  em  execução  tudo  quanto  for 
servido  ordenar-me.  É  igualmente  da  maior  diíDculdade 
calcular  uma  perfeita  contabilidade  em  que  se  mostre  o 


—  355  ~ 

preço  certo,  porque  sahe  cada  um  páo  de  construcção;  por 
ser  o  valor  destes  regulado  conforme  as  suas  maiores,  e 
menores  dimenções,  a  distancia  em  que  se  tirão,  e  a  diffi- 
culdade  de  seus  arrastos,  que  esta  ó  a  despeza  de  maior 
consideração  nas  construcçôes,  por  não  haver  certeza,  ou 
regularidade  nos  logares,  em  que  se  construem  ;  por  cujo 
motivo  pode  muito  bem  succeder  que  um  páo  com  as  mes- 
mas vitolas  faça  differença  de  outro  igual  da  ametade  da 
sua  despeza,  sendo,  por  paridade,  feito  um  delles  em  dis- 
tancia de  3  e  6  léguas,  e  o  outro  de  10  e  12;  e  ainda  esta 
differença  pode  succeder,  tirados  ambos  em  iguaes  distan- 
cias, sendo  o  caminho  de  um  delles  bom,  e  do  outro  escabro- 
so, como  nos  está  succedendo  todos  os  dias ;  e  ainda  muito 
mais  havendo  um  tão  grande  excesso  de  preço,  como  o  que 
hoje  se  experimenta  em  todo  este  paiz  em  todas  as  cousas 
necessárias,  como  sejão  de  Bois  para  os  arrastos  das  ma- 
deiras, e  nos  viveres  para  sustentação  dos  trabalhadores : 
por  cuja  razão  se  tem  pacteado  com  os  fabricantes  que  as 
madeiras  lhes  sejão  pagas  por  uma  justa  avaluacáo  com 
attenção  a  estas  differenças,  fixando-se  nella  o  preço  certo 
de  cada  um  dos  páos,  segundo  as  suas  differentes  classes, 
achando-seel!es  feitos  com  perfeição,  e  com  as  vitolas  que 
lhe  foram  dadas,  e  na  falia  de  tudo  isto  lhe  serem  pagas 
pela  a  metade  do  preço  da  sua  avaluação :  quanto  porem  af 
melhor  economia  dos  cortes  será  muito  útil  a  Fazenda 
Real,  que  se  abrão  alguns  por  conta  da  mesma,  debaixo  da 
inspecç>áo  do  mesmo  Ministro;  para  este  fim  se  devem 
procurar  alguns  ramos  de  matas  mais  vizinhos  a  rios  para 
maior  comodidade  dos  seus  arrastos;  cujos  cortes  devem 
ser  separados  uns  dos  outros,  em  razão  da  diíBculdade, 
que  se  encontra  de  pastos  naquelles  logares  para  conserva- 
ção de  grandes  boiadas  para  as  conduções  das  mesmas 
madeiras. 


—  356  — 

Além  de  liilo,  quanto  tenho  tido  a  honra  expor  na  Res- 
[)eilavcl  Presença  de  V.  Ex.  será  da  maior  importância, 
sendo  Sua  Magestade  servida  criar  este  estabelecimento, 
e  mandar  proceder  no  Tombo  das  mesmas  matas,  se  facão 
algumas  conferencias  na  Respeitável  Presença  de  V.  Ex.  a 
respeito  de  todas  estas  matérias  para  melhor  se  poderem 
pôr  em  pratica ;  em  cuja  occasião  en  terei  a  honra  de  di- 
zer a  Y.  Ex.  tudo,  quanto  é  necessário,  c  útil  ao  serviço 
íle  Sua  Magestade. 

Deus  Guarde  a  V.  Ex.  como  muito  lhe  desejo. 

De  V.  Ex. 
O  mais  humilde  Súbdito 
Josi:  DE  Mendonça  de  Mattos  Moreiilv. 

Porto  de  Pedras,  :J0  de  Julho  de  1797. 


TYP.  IMPARCIAL  DE  J.  M.  N.  GARCIA. 

RUA   DA   CARIOCA   N.    34. 


REVISTA  TRIMENSAL 


DO 


IHSTITDTO  inSTOBIGO.  GEOfiRiPHICO  E  ETHNOfiliPmCO  DO  BRASIL. 


i4®l096^i 


S.o  TBIJIIESTBE  DE  MM. 

DA  CinAnE  DO  SAIiVADOR 

EsGRiPTÀ  POA  D.  Màmuel  deMbnezes 

CHROMSTA  MOn  E  CHROSMOGRAPHO  DE  SUA  MAGESTADE  E  CAPI- 
TÃO GERAL  DA  ARMADA  DE  PORTUGAL  NAQUELLA  EMPERSA,  CÓ- 
PIA COTEJADA  COM  O  MANUSCRIPTO  ORIGINAL  DE  MADRID — POR 

FRÂICISCO  ADOLPHO  DE  TABIHÍ6EI. 

LIVRO  PRIMEIRO. 

Dos  successos  que  tentarão  fazer  em  as  armadas  á  vella  da 
Ilha  de  Santiago. 

Enfim  me  resolvo  escrever  a  protecção  que  uma  parte  das 
armadas  de  Espanha  fez  ao  Brazil  para  castigar  a  uma 
ofensa  dos  Olandeses  rebeldes,  que  esquecidos  de  Deus, 
da  obediência  davida  ao  seu  Rei  e  Senhor  natural  e  de 
suas  próprias  forças  se  atreveram  e  intentavam  fundar  um 
novo  império  na  parte  oriental  da  America  a  mais  pro- 
porcionada a  seus  intentos  que  todas  as  do  mundo  su- 
geitas  ás  coroas  desta  monarchia.  Argumento  verdadeira- 
mente da  fraqueza  do  engenho  humano  a  quem  os  bons 
successos  de  alguns  intentos  assim  desvanecem,  e  cami- 
nhando a  olhos  cegos  vem  ordinariamente  parar  em  sua 
total  ruína. 

JUNHO  4G 


—  358  — 

Esta  gente  septentrional  habitadora  de  estreitas  teiras  e 
ainda  mal  seguras  em  guerras  contra  forças  do  mar  oceano, 
pobres  de  todas  as  cousas  que  podem  engrandecer  qualquer 
província,  ajudada  porém  dos  potentados  erecticos,  e  por 
ventura  de  alguns  catholicos  invejosos,  ou  temerosos  da 
grandeza  de  Espanha,  ou  tomada  por  instrumento  da  pro- 
videncia divina  infestam  já  de  muitos  annos  as  costas  delia, 
e  as  que  a  coroa  de  Portugal  conquistoa  em  Africa,  Ásia, 
America,  e  todos  os  seus  mares.  Ordenaram  companhia  a 
que  chamaram  oriental  em  que  concorreram  os  povos  e 
os  homens  de  negocio  com  gram  soma  de  dineiro  pêra  a 
fabrica  e  apresto  de  armadas  que  enviavam  ha  muitos  an- 
nos para  as  partes  da  índia,  e  Mar  Sul.  Mas  como  quasi 
todo  o  fundamento  destas  forças  não  era  fixo  senão  assenta^ 
dos  no  propósito  que  lhes  avia  de  resultar  de  suas  pilhagens, 
posto  que  Deus  por  ocultos  juízos  lhes  desse  alguns  bons 
successos  com  grande  damno  desta  coroa  veio,  pela  des- 
peza  que  excedeu  a  receita,  e  pela  pouca  verdade  ainda 
com  agente  do  Oriente,  a  descair.  Ordenou -se  outra  aqne 
chamaram  occidental  para  a  America  quarta  parte  do  mundo 
maior  que  qualquer  das  outras  com  grande  excesso,  e  toda 
destas  coroas,  nella  se  discorreu  com  razões  d'Estado  apa- 
rentes, não  se  fazendo  conta  com  as  forças  do  Príncipe 
a  que  oíTendiam,  sobre  o  modo  de  que  se  havia  de  fundar 
o  império  que  senhoreasse  o  ^tnundo  todo.  É  a  cifra  da 
verdadeira  desdita  ousar  em  matérias  de  conquistas  muito 
mais  do  que  pôde  gente  que  tem  que  perder  pátria  que 
tanto  estimam.  Vio-se  um  discorrer  do  anno  de  mil  seis 
centos  e  vinte  três  em  Burgo  de  Hain  feito  segundo  se 
disse  feito  por  João  Andréa  Noeboseq  dirigido  ao  conde 
Maurício  e  aos  deputados  das  províncias  de  Olanda,  em 
que  se  pretendia  provar  que  não  podia  emprender  aquella 


—  3í)9  - 

companhia  empresa  mais  fácil,  de  proveito  mais  certo,  ou 
de  maior  gloria  que  a  conquista  do  Brazil  porque  a  nação 
portugueza  moradora  n'aquellas  terras,  que  entre  as  outras 
natural,  estrangeira  podéra  fazer  maior  resistência  era 
grande  parte  da  nação  hebrea,  nascidos  em  ódio  da  Hes- 
panhola,  que  com  facilidade  sugeitariam  à  sua  obediência. 
Que  se  bem  a  provincia  era  mui  grande  não  havia  em  toda 
ella  mais  que  duas  praças  principaes,  Bahia  e  Pernambuco, 
as  quaes  uma  vez  conquistadas,  fortificadas  e  guarnecidas 
ficava  segura  toda  conquista,  e  a  conservação  delia.  Estas 
se  ganhariam  facilmente  por  uma  interpresa  estando  como 
todas  as  mais  ao  longo  do  mar  aonde  podiam  chegar  suas 
armadas,  e  não  podiam  dar-se  a  mão  pela  grande  distancia 
d'uma  a  outra  nem  esperar  soccorro  de  outras  povoações 
por  serem  fracas,  e  mui  distantes.  Mormente  que  fora  de 
ser  a  gente  pela  mór  parte  mal  nascida,  fraca,  carecia  to- 
talmente de  disciplina  militar  estava  com  grandissimo  des- 
cuido. Que  para  que  tudo  se  assegurasse,  e  fortificasse  da- 
ria largo  tempo  ahi  a  solucção  dos  soccorros  de  Espanha, 
ainda  que  não  fossem  prevenidos  com  armadas  de  muita 
força  d\iquellas  províncias,  e  seus  confederados  como  se 
esperava.  Que  para  a  despeza  de  tudo  daria  largamente  o 
que  se  achasse  n'aquelles  portos  de  navios  e  mercadorias, 
sem  a  fazenda  e  riquezas  que  El-Rei  de  Espanha,  o  clero 
e  mercadores  tinham  n'aquelle  estado.  Quanto  ao  proveito 
não  podia  haver  duvida  pela  fertilidade  da  terra  em  que  se  po- 
diam plantar  cana  viaes  de  assucar,efabrica!-os.  Tabaco,  Gen- 
gibre, Arroz,  Algodão  :  que  tudo  iria  em  augmento  sendo 
os  portuguezes  que  ahi  ficassem  conservados  em  justiça,  e 
em  sua  religião:  os  hebreus  na  sua  qualquer  que  fosse  sem 
medo  de  inquisição  pelo  que  soíTriam  uns  e  outros  grandes 
imposições  e  contribuições;  faziam  estreitas  contas  de  mer* 


—   360  — 

cador  do  numero  das  caixas  de  assucar  que  o  Brazíl  dava, 
dos  fretes  e  direitos  que  se  pagavam  d'ahi  a  Portugal,  e  de 
Portugal  a  Flandres ;  de  mais  dequasi  outro  tanto  que  El- 
Rei  de  Espanha  levava  de  entradas,  e  sabidas.  Tratavam 
do  proveito  de  reflnar  os  assucares,  do  que  importava  o 
páo-brazil,  das  rendas  reaes  edas  do  commercio  que  exa- 
geravam muito.  Discorriam  do  augmento  d'aquellas  pro- 
víncias com  táo  grossos  tratos,  do  que  acresceria  de  di- 
nheiro peia  razão  de  que  os  naturaes  de  Olanda  costuma- 
dos a  mercadiar  em  França,  Alemanha,  Inglaterra  achando 
em  sua  pátria  tudo  o  que  buscavam  nella  o  empregariam  e 
ficaria  tudo  em  si  mesma.  Que  logo  ajuntariam  a  isto  o  trato 
do  Cabo  Verde,  Angola  e  Guiné  resgatando  marfim,  e  ou- 
tras mercadorias.  Que  quando  nâo  quizesse  embarcar-se 
com  o  trato  dos  negros  não  faltariam  particulares  que  o 
exercitassem  pagando  por  cada  um  os  reales  que  El-Reide 
Hespanha  levava  do  primeiro  direito  fora  os  fretes  e  outros. 
Faziam  conta  do  proveito  que  teriam  da  sacca  dos  assuca- 
res que  os  Italianos,  Francezes,  Alemães,  Inglezes,  e  ou- 
tros navios  faziam  de  Olanda  faltando-lhes  em  Portugal 
o  que  tudo  resultava  aquellas  províncias  um  proveito  im- 
menso,  e  a  Hespanha  em  perdas  irreparáveis  com  que  afio- 
xaria  nas  guerras  de  Flandres  por  se  lhe  perder  grande 
parte  de  suas  índias  occidentaes  com  que  ficaria  mui  di- 
minuída em  suas  armadas,  e  Portugal  em  muito  mór  aperto 
com  a  falta  do  Brazil  sustancia  de  suas  alfandegas,  e  com- 
panhia oriental  teria  maior  mão  e  conunodídade  de  Ihè  to- 
mar mais  terras  na  Índia  obrigando-os  acudir  com  muito 
maior  despeza  a  sustental-as.  Ponderavam  outra  excessiva 
que  acrescia  a  estas  coroas  pretendendo  inutilmente  acaba 
de  tempos  recuperar  o  perdido  fazendo  novos  fortes  pro- 
vendo-os  de  artillieria  e  soldados  tudo  mais  que  na  mate- 


—  361  — 

ria  se  pôde  considerar  dizia  o  discurso  longamente  com 
particulari  dades  necessárias  ao  pouco  que  queria  persuadir, 
e  prolixas  para  este  logar.  A  respeito  da  gloria  diziam  vai- 
dades chamando  legitimo  senhor  dos  reinos  de  Portugal 
ao  íilho  do  desditado  D.  António  pertencer  antigamente 
delles  com  o  direito  que  vio.  Gosavam  antícipada  e  van- 
mente  de  victoria  presumida  contra  as  forças  de  El-Rei  seu 
senhor  inimigo  poderoso  de  sua  infidelidade  a  quem  com 
entranharei  ódio,  e  medo  sempre  pretende  offender,  as 
vezes  offendem,  ou  porque  Deus  assim  o  quer,  dando  forças 
aos  inferiores  nellas.  ou  por  a  pouca  conta  que  S.  M.  delles 
faz,  cousa  damnosissima  nas  grandes  monarchias.  e  sertã 
ruina  nas  pequenas.  Aprestou  n'aquelle  anno  de  623,  a 
companhia  uma  armada  de  doze  navios  do  estado  mui  bem 
aprestado  capitana  almiranta  de  quarenta  peças  de  ferro 
algumas  de  bronze  e  outros  a  trinta,  a  vinte  seis,  a  menos 
de  outros  tantos  fretados  pelo  mesmo  estado  e  alguns  pa- 
tachos, por  general  delias  a  Jacques  Guilhelme,  Hollandez 
maior  deannos  mestre  capitão  de  navios  toda  sua  vida  que 
tinha  estado  em  Lisboa  com  seu  trato  muitas  vezes.  Por 
ahnirante  Pedro  Peres  inglez ,  por  superintendente ,  e 
como  vedor  general  dos  muitos  fretados  e  cabo  delles  com 
titulo  de  coronel  Joáo  Doart,  Olandez  de  calidade  e  fa- 
zenda, nomeado  pelo  conde  Maurício  segundo  disseram,  por 
governador  do  Brasil  no  primeiro  triénio.  Era  de  três  mil 
homens  de  mar  e  guerra  por  igual  numero. 

A  despesa  comum  entre  o  Estado  e  mercadores  sairam 
deOlandaa  21  de  Dezembro.  Sobrevindo  uma  borrasca  se 
dividiram,  entraram  em  Pleamua  16  :  todos  se  juntaram 
em  S.  Vicente  Ilha  das  do  Cabo  verde.  Aqui  diz  que  abri- 
ram ir^strucçôes ;  e  acharam  uma  serrada  pêra  abriren  em 
cinquo  gráos  da  parte  do  Sul.  Detiveram-se  7  dias  pêra  se 


—  364  — 

migo  vencedor  qae  estava  de  posse  delle  qae  a  cotiladas  o 
desalojou,  e  se  fora  soccorrido  poderá  ser  de  grande  con- 
sequência seu  esforço.  Nem  é  justo  fique  em  sflencio  o 
como  se  ouve  Brás  da  Silva  de  Meneses»  que  se  tem  por 
filho  de  Fernão  da  SUva  de  Meneses,  um  dos  mais  califi- 
cados  fidalgos  de  Portugal  que  sendo  capitão  da  praia  e 
forte  de  Santo  Alberto,  foi  mandado  chamar  pelo  gover- 
nador logo  que  soube  da  retirada  da  gente  de  cavallo,  e 
infanteria  da  ponta  de  Santo  António  não  obedeceu  ficando- 
se  no  seu  posto,  segando  o  recado  com  contra  senha  dado 
por  hum  ajudante  de  sargento  mayor  com  ordem  de  que 
deixado  aquelle  posto  em  que  não  havia  resistência  fosse 
occupar  outro  a  Seé  e  o  fortificasse^  obedeceo,  mas  tudo 
sem  proveito  não  achando  mais  que  algumas  exportas, 
nem  lugar  mais  que  confusão.  Acompanhou  o  bispo  d'a- 
quella  provincia  D.  Marcos  Teixeira  que  se  retirou  para 
uma  aldeia  vesinha  com  alguns  particulares,  desembarga- 
dores, e  ouvidor  geral  Antão  de  Mesquita  de  Oliveira,  e 
com  elie  sérvio  com  muita  satisfação,  como  contou  a  D. 
Fadrique  de  Toledo  por  certidão  de  sua  letra  e  por  sinal 
que  D.  Manuel  de  Meneses  levou  pretendendo  se  lhe  desse 
algum  legar  onrrado,  mas  outrem  lhe  tinha  occupado  os 
ouvidos  com  falsas  informações  e  lhe  foram  antepostos 
alguns  muito  desyguaes.  Retirado  o  bispo,  varão  verdadei- 
ramente apostólico,  propôz  em  conselho  o  miserável  estado 
em  que  se  viam,  ou  por  culpas  de  homens  ou  por  ocultos 
juízos  de  Deus  que  pois  sua  divina  justiça  asy  o  permi- 
tirainvocassem  sua  divina  misericórdia  acudindo  com  todas 
as  forsas  a  sustentar  as  relíquias  de  uma  metropoli  da 
quella  grande  provincia  que  com  gloria  dos  portugueses 
fora  sustentada  tantos  anos:  convieram  que  comosoffi- 
ciaes  da  camará  retirados  por  outros  lugares  signalasem 


—  365  — 

cabeça  que  os  governase,  para  o  que  se  abriram  as  vias  cm 
que  S.  M.  nomeava  sucessor  aquelle  governo  em  falta  de 
presente,  costumo  novamente  intredusido  naquelle  Estado 
a  imitação  da  índia.  Avisaram  que  estava  na  primeira,  a 
Mathias  de  Albuquerque  governador  de  Parnambuco  por 
seu  irmão  Duarte  de  Albuquerque  Coelho  donatário  da- 
quella  grande  capitania :  e  como  a  distancia  dos  lugares 
era  grande,  e  danosa  a  dilação,  elegeram  Antão  de  Mes- 
quita ouvidor  geral  para  acodir  as  acurrencias  com  titulo 
de  capitão  mor  de  Parnambuco  despachou  logo  Mathias 
de  Albuquerque  a  Espanha  com  aviso  a  S.  M.  do  bispo  do 
ouvidor  geral,  e  dos  mais  unidos.  Chegou  a  Lisboa  a  26 
de  Julho,  e  no  ultimo  do  mesmo  à  meia  noite  a  Madrid. 
S.  M.  resignado  (como  despois  mostrou  por  muitas  cartas 
aos  governadores  de  Portugal  de  9  de  Agosto,  de  20  de 
Setembro,  de  3  de  Desembro)  na  divina  vontade  estimou  o 
castigo  de  Deus  no  preço  que  muito  convém  se  estime  re- 
presentando-se-lhe  mais  vivamente  na  memoria  o  desacato 
de  culto  divino  em  mão  dos  impios  despresadores  delle 
com  a  maior  barbaridade  que  nunca  se  vio :  não  se  esque- 
cendo do  que  devia  a  reputação  de  suas  armas,  ao  remédio 
do  trabalho  com  que  Espanha  era  ameaçada  nas  coroas  de 
Portugal  e  Castella,  e  lembrado  de  alguns  successos  adver- 
tissemos  nos  annos  próximos  passados,  perda  de  Ormuz 
e  outros  a  todos  patentes,  se  oppoz  com  real  animo  ao  cas- 
tigo de  seus  vassalos  rebeldes.  Acompanhou-o  com  animo 
galhardo  o  conde  Duque  seu  Sumilher  de  Corsp.  e  confi- 
dentíssimo ministro  oferecendo  a  S.  M.  aquelle  pronto  e 
rendido  animo  a  seu  real  serviço  con  vontade  tão  experi- 
mentada de  antes  que  escusava  novo  offerecimento.  E  sem 
dilação  foram  avisados  todos  os  conventos  de  religiosos  e 
religiosas  sanitas  da  corte  aonde  ha  muitos  pedisem  mise- 
juNiio.  47 


—  366  — 

ricordia  a  Deus  pelas  ofensas  de  sua  divina  magestade,  e 
imediatamente  tomada  a  resolução  com  seus  concelhos  es- 
creveu em  7  de  Agosto  aos  governadores  de  Portugal  que  es- 
tava disposto  a  soccorrer  aquella  coroa  com  todas  as  forças 
de  mar  qae  em  tal  presa  se  podese  ajuntar  ficando  somente 
para  guarda  das  costas  dez  ou  doze  navios,  acusando  que 
as  de  Portugal  se  reforsasem  empenhando-se  e  vendendo 
sua  real  fazenda  e  estivesem  prestes  para  20  daquelle  mez 
concluindo  com  as  palabras  seguintes  de  sua  real  mão.— 
No  dudo  que  tales  vasallos  en  obligaciones,  amor,  y  valor 
acudiran  en  esta  ocasion  a  servirme,  y  a  volver  por  sy  mis- 
mos  con  tales  veras  quo  aya  de  aver  maior  trabajo  en  atajar 
que  no  vaian.  que  en  animarles  para  este  pues  es  cierto 
que  yo  los  estimo,  y  amo  tanto  que  olgara  in  con  mi  persona 

en  esta  jornada  para  mostrarles  quanto  deseo la 

conservacion  de  essa  corona,  sino  aumentaria,  y  engran- 
deserla,  como  tales  vasallos  mereceu.  Logo  pelos  conse- 
lhos de  Portugal,  e  Castella  despachou  a  D.  Fadrique  de 
Toledo  Ozorio  que  elegia  para  aquella  empresa  aprestase  a 
armada  do  mar  occeano,  e  as  esquadras  de  Biscaya,  e  qua- 
tro vilhas ;  a  D.  João  Faiardo  pusesé  em  orden  a  sua  do 
estreito  que  avia  de  levar  fazendo  oficio  de  Almirante  da 
Armada  Real  de  D.  Fadrique :  a  D.  Manuel  de  Meneses  fez 
mercê  por  carta  de  9  de  Agosto  de  o  eleger  para  levar  a 
seu  cargo  a  de  Portugal  ordenando-lhe  se  fose  juntar  a  D. 
Fadrique  de  Toledo.  A  Diogo  Lopes  de  Sousa  conde  de 
Miranda  governador  da  casa  do  eivei  da  cidade  do  Porto 
pusese  muita  deligencia  com  que  naquelle  porto,  em  Viana 
e  nos  outros  marítimos  de  Antredouro  e  minho  se  apres* 
tase  para  a  empresa  todo  o  pocivel  de  navios  particulares. 
Grandes  defeculdades,  antes  impocibilidades  inpediam 
tanta  preç^a  porque  nas  de  castella  faltavam  bastimentos  e 


—  367  — 

dinheiro  para  se  aprestar  na  de  Portugal  náo  avia  mais  (jue 
quatro  navios  de  porte,  e  força,  e  estes  trazia  na  costa  D. 
Manuel  de  Meneses  com  outros  fretados  de  pouca  conside* 
raçáo,  e  faltos  de  artilheria  esperando  a  nao  S*  Thomé  que 
vinha  da  índia  com  fama  de  mais  rica  que  náo  podia  desem. 
parar.  Em  quanto  estas  presas  que  com  grande  ardor  fer- 
viam ordenaram  os  governadores  de  Portugal  avisar  de 
tudo  aos  infelises  moradores  da  Bahya  animando-os  não 
tão  somente  com  a  esperança  de  grande  soccorro,  mas  com 
efleito  mui  importante  naquelle  tempo.  Era  tal  o  cuidado 
que  uma  deligencia  se  encadeava  com  outra.  A  8  de  Agos- 
to mandaram  os  capitães  Pedro  Cadena  e  Francisco  Gomes 
de  Mello  pessoas  de  valor  e  experiência  do  Brasil  em  duas 
caravelas  com  socorro  de  gente,  arcabuzes,  monisões  que 
poude  caber  nellas  com  instrucção  que  fosse  a  Parnãobuco 
veleiando  todo  o  pocivel  e  porque  nada  se  torcia  levase  à 
Ilha  da  madeira  uma  carta  de  aviso  a  pesoa  que  ao  presen- 
te a  governase;  antes  de  chegar  a  Parnãobuco  fose  ao  Cabo 
branco  tomar  lingua  do  estado  daquella  praça  ;  e  achando 
que  estavam  navios  inimigos  no  porto>  daquelle  cabo  de- 
sembarcasem,  e  por  terra  se  metessem  nella  com  aviso  do 
governador  do  lugar  a  que  se  encaminha-se.  A  Pedro  Car- 
dena  em  particular  se  dizia  no  regimento  que  sendo  caso 
cayse  em  mãos  de  inimigos  tivesse  cuidado  de  afundir  os 
despachos,  cartas  e  instrucção  que  parese  náo  iam  dupli- 
cados, para  que  não  podese  vir  a  suas  mãos.  A  Mathias  de 
Albuquerque  que  escrevia  sua  M.  em  resposta  de  suas  car- 
tas de  31  de  Maio,  do  primeiro  e  6  de  Junho,  de28e  31  de 
Julho  mostrando  os  sentimentos  da  perda  da  Bahya  pelo 
dano  que  resultava  a  seus  vasalos.  e  a  resolução  que  tomara 
de  lançar  o  Inimigo  daquelle  estado  com  o  castigo  que  me- 
recia, advertindo  de  muitas  coisas  tocantes  ao  bom  governo 


—  368  — 

naquelles  princípios  para  que  os  rebeldes  se  náo  poilesso 
aproveitar  de  algum  descuido  nosso.  A  Francisco  Coelho 
de  Carvalho  a  quem  tinha  enviado  por  governador  do 
Maranhão  se  detivese  em  Parnambuco  com  a  gente  que 
levava,  enquanto  fosse  necessário.  A  Mathias  de  Albuíiuer- 
que  que  hia  o  Alvará  em  que  lhe  confirmava  o  governo 
que  tinha  por  sucecáo  das  vias  com  ordem  de  que  assistin- 
do em  Parnãobuco  governase  o  estado  sem  embargo  da 
provisão  pasada  sobre  os  governadores  asestice  na  Bahya ; 
com  ella  uma  informação  de  Estevão  de  Brito  Freire  que 
de  parte  de  S.M.  se  lhe  tinha  pedido  para  que  delia  se  aju- 
dase.  Entre  tantos  cuidados  estava  S.  M.  mais  lembrado  da 
honra  de  Deus,  e  consolação  daquella  gente  que  de  sua 
reputação  que  tanto  estima.  Encarecia  ao  governador  o 
cuidado  e  deligencia,  em  prevenir  que  os  rebeldes  não  es- 
palhase  algims  livros  ereticos,  o  que  com  maior  encareci- 
mento escrevia  o  bispo  mostrando  muito  sentimento  do 
successo  pelo  particular  que  lhe  tocava  estimando  o  haver 
se  retirado  para  a  Aldeã  do  Espirito  Santo  para  recolher  a 
gente,  e  dar  a  todos  novos  brios. 

A  Antão  de  Mesquita  eleito  capitão  mor  da  Bahya  en- 
comendava muito  a  guerra  contra  os  rebeldes  por  todas 
as  vias  para  que  não  saise  nem  se  aproveitasse  do  coisa  al- 
guma, trabalhassen  por  lhes  queimar  sous  navios,  c  con- 
servar o  gentio  se  lhe  não  pasase.  A.  Marlim  de  Saã  Ca- 
pitão do  Rio  de  Janeiro  avisava  que  lhe  mandava  seu  fdho 
Salvador  de  Saã  com  um  navio  de  socorro.  Aos  demais 
capitães  da  Parayba  e  Rio  grande  avisava  fazendo-os  certos 
destas  prevenções.  Com  tantas  ordens  tão  continuas  de  S. 
M.  e,  vontade  com  que  em  seu  real  nome  mostrava  o  con- 
de duque  pronto  sempre  a  tudo  o  que  se  propusese,  com- 
petiam os  governadores  de  Portugal  com  a  execução  pre- 


—  369  — 

tendendo  ajuntar  gente  e  forças  com  que  o  rebelde  enscr- 
rado  não  saise  de  seus  reparos.  Aprestaram  três  caravelas 
nomearam  pesoas  praticas,  e  de  valor,  D.  Francisco  de 
Moura  com  titulo  de  capitão  mor,  capitães  das  outras  Hie- 
ronymo  Serrão  de  Paiva,  Francisco  Pereira  de  Vargas.  A 
pesoa  de  D.  Francisco  de  Moura  abonou  muito  sua  M.  por 
carta  de  7de  Setembro,  a  Mathias  de  Albuquerque  que  in- 
viava  por  capitão  mor  do  destrito  da  Bahya  para  alentar  e 
conservar  a  gente  e  fazer  todo  o  damno  ao  inimigo,  orde- 
nando-lhe  tratase  juntos  em  Parnãobuco  do  modo  com 
que  mais  seguramente  podese  cumprir  as  instruções  que 
levava  de  maneira  que  sem  dilação  chegase  com  o  socorro 
ao  lugar  em  que  a  gente  estivesse  recolhida  donde  podese 
usar  das  ocasiões  que  o  tempo  desse  de  asaltar,  inquietar 
o  inimigo,  e  impidir  suas  fortificações.  Avisava  como  suas 
armadas  se  ficavão  aprestando  para  com  o  favor  de  Deus 
sair  na  primeira  monção.  Repetia  o  escrito  ja  muitas  vezes 
da  prevenção  de  mantimentos  en  toda  a  cantydade  pocivel 
para  a  gente  que  ahy  desembarcnse,  e  porque  era  necesa- 
rio  que  a  de  Parnarabuco  e  dás  capitanias  Espírito  Santo, 
Porto  Seguro,  estivese  pronto  para  o  que  se  oferecesse  or- 
denase  que  a  gente  nobre  daquella  capitania  a  do  Presi- 
dio  das  ordenanç^is  da  vila  e  do  destrito  que  tivesem 

armas  e  fosem  maisa  propósito  para  as  tomar,  estivesem 
alistados  e  prestes  repartidos  em  terços  com  titulo  de  mes- 
tres de  campo,  ou  coronéis,  e  em  companhias  com  seus 
capitães,  sargentos  mores  e  mais  oficiaes  para  que  os  tive- 
se  exercitados.  Ordenase  que  os  gentios  do  Rio  Grande  e 
da  Parayba  até  o  rio  de  S.  Francisco  estivesse  naquella 
capitania  a  15  de  Desembro  armados  de  frechas  para  se 
embarcar  quando  a  armada  chegase  aquella  capitania  com 
a  mais  gente  d'ella  dos  navios  que  tivese  juntos  não  dei- 


—  370  — 

xando  sair  nenhum  represando  os  que  de  novo  chegSo  alé 
a  chegada  das  armadas  áquella  paragem.  Da  capitania  de 
Seregipe  delRei  e  das  mais  partes  onde  ouvese  gados  se 
íisese  toda  a  cantidade  de  chacina.  Nas  capitanias  do  sul 
ouvese  ordem  para  que  em  Janeiro  seguinte  de  025  estive^ 
sem  caravelas  e  navios  da  costa  com  farinhas  de  guerra  o 
mais  que  fosse  pocivel ;  da  de  S.  Paulo  acodisem  farinhas 
de  trigo,  e  porcos  chãsinados  o  que  tudo  se  levaria  ãBahya 
pêra  provisão  das  armadas.  O  socorro  que  se  enviase  à  Al^ 
dea  do  Spírito  Santo  para  inquietar  o  inimigo  se  desposese 
de  modo  que  elle  não  se  aproveitase  dos  frutos  da  terra. 
A  instrução  de  D.  Francisco  de  Moura  era  que  fosse 
em  direitura  do  Brazil  ao  Porto  de  Parnãobuco  tomando 
primeiro  língua  entre  Parayba,  e  a  Ilha  Tamaracã  por  se 
acaso  naquella  barra  estivesen  inimigos,  conviesse  com  Ma« 
thias  de  Albuquerque  asentando  com  seu  parecer  onde  roais 
convynha  desembarcar  a  gente  e  monições,  advertindo  que 
Antão  de  Mesquita  avisara  que  o  socorro  fosse  de  mandar 
certo  porto  da  Torre  de  Garcia  da  vila,  e  postas  as  embar- 
cações a  vista  tirasem  uma  ou  duas  peças  para  que  da  ter- 
ra fosse  quem  as  metesse  nelle.  asentado  tudo  se  partise, 
e  chegando  ao  lugar  onde  estava  a  gente  unida  chmase  os 
oíBciaes,  e  cappitães,  e  mais  gente  em  presença  do  bispo 
lhe  deciarase  como  hia  por  cappitâo  mor  de  todo  o  destri- 
to  daquella  cappitania  dando-lhes  a  carta  de  crença,  signi- 
íicando-lhes  a  comfiança  que  S.  M.  tinha  de  que  mostrase 
o  valor  que  delles  se  esperava,  tomase  mostra  da  gente 
portugueza,  reconhecese  as  monições.  dando  armas  aos 
desarmados,  vise  o  posto  que  tinha  tomado  se  era  cómo- 
do para  o  efeito  que  se  pretendia,  e  se  parecendo-lhe  o 
mudase,  conservase  os  dois  coronéis  que  ia  estavão  nomea- 
dos António  Cardoso  de  Barros,  e  Lourenço  Cavalcante  nos 


—  371  — 

ditos  officios  se  entendesse  que  convinha  a  seu  real  servi- 
ço elegese  cappitáes  dos  que  levava  com  patente  do  cargo  se 
conviese,  procurase  que  os  Olandezes  se  não  comunicasem 
com  o  gentio,  deste  se  ajudase  contra  elles  no  queenten- 
dese  ser  de  efeito,  conservase  os  negros  para  os  empregar 
no  trabalho  necesario,  trabalhase  por  impedir-lhe  as  forti- 
ficações que  fasiam  segundo  se  disia;  e  da  verdade  se  in- 
íormase  do  numero  da  gente  que  tinham,  que  monições, 
que  artelheria,  quantos  navios,  os  socorros  que  lhe  fossem 
vindo,  o  modo  com  que  no  mar  e  terra  se  guardavam,  avi- 
sando de  tudo  ao  governador  do  estado  para  que  as  arma- 
das ali  achasen  o  aviso  necessário.  Encomendava-lhe  a  bôa 
correspondência  com  o  bispo  pelo  lugar  que  ocupava,  co- 
mo pela  satisfação  que  tinha  de  seus  procedimentos;  de- 
darase  de  sua  parte  as  pessoas  a  que  cometese  alguma 
empresa  digna  de  se  lhe  fazer  mercê,  que  cumprindo  nella 
o  que  se  esperava  lha  mandaria  fazer  conforme  ao  que 
meresecem,  e  constasse  de  suas  informaçóis,  e  por  ins- 
trução secreta  para  comonicar  somente  com  o  governador 
lhe  ordenava  que  tanto  que  chegase  ao  destrito  da  Bahya 
tirase  em  segredo  huã  de  vaca  da  perda  da  cidade,  e  lha 
inviase.  Acontecendo  que  alguns  Portuguezes  o  que  náo 
esperava,  estivese  com  o  inimigo  trabalhase  pelos  reduzir 
admetíndo-os  em  seu  nome  com  algum  elTeito  honroso  com 
que  mostrase  o  conhecimento  de  seu  erro  com  aquella 
mostra  de  arrependimento.  Em  H  de  Setembro  lhe  es- 
creveu que  tanto  que  fosse  no  destrito  enviasse  à  Torre  de 
Garcia  Davila  huma  pessoa  pratica  e  confidente  a  que  avi- 
saria todos  os  oito  dias  de  tudo  o  que  com  grandes  deligen- 
cias  podesse  alcançar  do  inimigo  por  mar,  e  terra  para  que 
este  avisase  pelas  embarcações  que  aly  iriam,  ou  de  Par- 
nambuco  ou  da  armada  que  disto  iria  advertindo  para  que 


—  372  — 

tudo  alcansase  comacertesa  necessária  fazendo  sempre  os 
despachos  duplicados.  A  os  vereadores  e  oflQciaes  da  ca- 
mará da  cappitania  da  Bahya  encarregava  muito  asistise  ao 
cappitao  mor  D.  Francisco  de  Moura  cumprindo  suas  or- 
dens com  muito  cuidado,  e  prontidão.  A  António  Cardoso 
de  Barros,  e  a  Lourenço  Cavalcanty  mostrava  por  carta 
aprovar  muito  a  eleição  que  de  suas  pessoas  se  fizera  como 
tinha  entendido  por  cartas  do  Bispo  d'aquelle  estado,  aven- 
do  por  seu  serviço  continuase  em  o  cargo,  comprindo  com 
as  ordens  de  D.  Francisco  de  Moura,  mostrando -lhes  a 
confiança  que  delles  fazia.  A  Antão  de  Mesquita  avisava  de 
como  mandava  a  D.  Francisco  de  Moura  com  o  cargo  de 
que  o  desobrigava  avendo  respeito  a  sua  idade,  profição  e 
obrigações  encomendando-lhe  asestisse  guardando  suas 
ordens.  Foi  acertadissima  a  eleição  do  cappitao  mor,  e 
cappitães,  como  consultada  pelos  governadores  de  Portu- 
gal que  tanto  se  desvelam  no  real  serviço  de  S.  M.  como  a 
todos  é  notório,  e  pelos  mais  ministros  do  conselho  de  es- 
tado. Todas  as  pessoas  eram  de  valor  e  experiência.  D. 
Francisco  de  Moura  o  tinha  mostrado  em  ocasiões  da  índia, 
e  mares  do  Sul  contra  Olandezes,  natural  do  Brazil.  pa- 
rente mui  chegado  do  coronel  Lourenço  Cavalcanty,  amigo 
do  outro  António  Cardoso  de  Barros,  muito  parente  de 
Francisco  Gomes  de  Mello  vesinhos  de  Pernambuco,  pra- 
tico das  terras  como  de  suas  casas,  Pedro  Cadena  morador 
da  Parayba,  e  ahi  casado,  todos  conformes  no  desejo  de 
asertar ;  a  estes  acompanhavam  as  mais  pessoas,  ou  pra- 
ticas naquellas  partes,  ou  de  tal  experiência  das  armadas, 
e  melicia  d'ellas  que  facilmente  alcançariam  a  notícia  ne- 
cessária. Nisto  e  em  tudo  o  mais  fez  S.  M.  a  mercê  a  seus 
vassalos  de  Portugal  que  moraçe  atentando  como  os  reis 
antigos  portuguez  es  por  tudo  tanto  que  sendo  avisado  do 


—  373  — 

governa  Jor  por  cartas  de  18  de  Julho  (estando  já  D.  Fran- 
cisco de  Moura  cm  Bellem  para  partir  com  aplauso  com- 
mum  por  estas  conveniências)  que  ficava  aprestando  Fran- 
cisco Nunes  Marinho  de  esa  para  levar  socorro  a  Bahya, 
e  servir  nellà  de  cappitáo  mor  lhe  aprovava  a  eleição  pela 
boa  conta  que  sempre  de  sy  dera  aquelle  cappitáo  e  expe- 
riência que  tinha  da  guerra,  e  a  Francisco  Nunes  escrevia 
o  mesmo  agradecendo-lhe  o  bom  modo  com  que  a  isso  se 
despusera  mui  conforme  ao  que  delle  esperava,  e  ao  pro- 
cedimento com  que  sempre  se  ouvera  en  seu  real  serviço 
encomendando-lhe  asestise  naquele  destrito  ajudando,  e 
aconselhando  a  D.  Francisco  de  Moura.  Em  29  daquele 
mes  avisou  ao  governador  que  a  nàoS.  Thomé  que  somen- 
te aquele  ano  partira  da  índia  entrara  no  porto  de  Lisboa  a 
a?  e  com  cia  a  armada  da  coroa  de  Portugal  que  sem  per- 
der hora  de  tempo  se  apresentava,  para  se  juntar  á  de  Cas- 
tella  e  fazer  logo  sua  viagem.  E  porque  aviam  de  tomar 
aquele  porto  para  nelle  se  reforçar,  e  refazer  tomando  a 
gente  que  d^ahi  podesem  levar  Portuguezes,  ou  índios,  lhe 
encomendara  tivesse  prevenido  navios  prestes  para  a  levar. 
Nos  primeiros  de  Outubro  se  teve  de  Flandres  aviso  do 
socorro  de  Olanda  para  a  Bahya  de  que  se  fallava  varia- 
mente. Pelo  conselho  de  estado  de  Castella  avisou  S.  M.  a 
D.  Fradique  de  Toledo  que  era  de  6.000  homens  com  apres- 
tos por  em  terra  mil  de  cavalo.  Ao  governador  do  Brazil 
por  carta  de  13  de  Outubro  que  estivese  com  cuidado  e  vi  - 
gilancia,  porque  se  chegasse  primeira  estesoccorro  que  as 
armadas,  o  que  náo  parece  pocivel,  poderia  intentar 
aquelle  porto,  e  se  depois,  poderia  ser  que  achando  os  seus 
sitiados  delias  trabalhase  pelas  devertir  por  este  meio.  Os 
cuidados  de  acudir  a  este  aperto  não  livravam  d^outros, 
oem  ainda  dos  que  paresem  podiam  dilatarse.  Nosmes- 
juMio.  48 


—  374  — 

mos  dias  a  instancias  de  Francisco  Coelho  de  Carvalho 
mandava  a  Mathias  de  Albuquerque  lhe  desepor  contado 
sua  real  fazenda  certas  embarcações  que  pedia  para  a  co- 
monicação  das  cappitanias,  e  povoasõis  do  Maranhão,  para 
socorrer  e  avisa  em  ocasiões  de  guerra,  e  outras  ocuren- 
ciasi  e  se  comonicar  com  a  cappitania  de  Parnambuco 
aonde  àquele  tempo  estava.  Partiu  por  aqueles  dias  Sal- 
vador de  Saâ  de  Benevides  em  hum  navio  com  a  gente,  e 
monisões  de  socorro  a  Martin  de  Saâ  seu  pai.  Este  e  mais 
socorros  chegaram  a  salvamento,  e  foram  de  grande  elTei* 
to.  As  armadas  da  coroa  de  Castella  se  aprestavam  com 
muita  deligencia,  mandando  S.  M.  âquella  facção  ministros 
confidentes  com  novas  comisões  entre  as  quaes  se  signa - 
lou  muito  na  deligencia,  e  intereza  Tomas  de  Ybio  Calde^ 
ron  veedor  general  da  armada  do  mar  oceano  em  quem 
estão  outras  muitas  e  mui  boas  qualidades  concorrem  o 
secretario  Bartolomeu  de  Anaya  não  falando  nos  ministros 
ordinários  que  costumam  asistir  àqueles  aprestos.  Nenhu- 
ma inveja  tinha  a  coroa  de  Portugal  a  estas  ou  a  outras 
algumas  mostras  que  vassalos  em  algum  tempo  desem  de 
se  abonar  com  estremos  no  serviço  de  seus  reis.  Porque 
estando  mui  falta  de  dinheiro  pelas  guerras  com  que  suas 
alfandegas  perdem  a  mór  parte  de  seus  rendimentos,  com 
os  sucesos  máos  das  armadas  da  índia  tinha  padecido  muito 
não  vindo  o  ano  precedente  mais  que  uma  mui  pequena 
naveta,  e  no  presente  uma  náo  deixado  o  trabalho  fatal  dos 
passados.  A  fazenda  real  mui  agitada  ia  de  muitos  anos. 
Ao  remédio  de  tanta  falta  prevenio  a  devina  bondade  com 
animo  e  asistencia  dos  Governadores  de  Portugal  que  ven- 
cia todas  as  defelcudades.  E  com  a  honrrada  conpetencia 
entre  a  cidade  de  Lisboa  como  em  nome  do  Estado  popu- 
lar, com  o  eclesiástico,  e  nobreza.  Fez  serviço  a  S.  M.  de 


—  375  — 

lOOS  crusados  que  foi  grande  esforço  para  o  estado  em 
que  estava  e  curtas  rendas  que  tem  pela  piedade,  justiça  e 
igualdade  com  que  se  governa  sem  opresão  do  povo  que  em 
outras  padece  muito  em  excessivas  imposisõis  e  alcavalas; 
os  senhores  deram  mais  que  o  estado  de  suas  rendas  em- 
penhadas permitia.  Com  quatro  regras  disia  o  mayor  se- 
nhor vasalo  Duque  de  Bragança  D.  Theodosio,  segundo 
deste  nome  ao  secretario  doestado  soubese  dos  governado- 
res a  quem  se  aviam  de  entregar  vinte  mil  crusados  com 
que  servia  a  S.  M.  o  Duque  de  Caminha  Marquez  de  Villa- 
real  D.  Miguel  de  Meneses  com  quasi  igual  quantin.  O  Mar- 
quez de  Gastei  Rodrigo  D.  Manuel  de  Moura  Corte  Real 
com  huma  luzida  companhia  de  mosqueteiros  única  na- 
quelle  exercito.  O  Duque  de  Villa-hermosa  Conde  de  Fica- 
Iho  D.  Carlos  de  Borja  com  soma  de  dinheiro  de  contado. 
O  Conde  de  Castanheira  D.  João  de  Attayde  com  semelhante 
efeito  significou  sua  vontade ;  o  Conde  de  Castanhede  D. 
Pedro  de  Meneses  quiz  mandar  seu  filho  D.  António  her- 
deiro de  sua  casa,  o  que  por  algumas  duvidas  e  inconve- 
nientes não  ouve  efeito  suprindo  este  desgosto  com  sair  de 
sua  casa  a  fazer  gente  que  mandou  à  sua  custa.  Dom  Pedro 
Coiitinho  cappitão  geral  que  foy  de  Ormuz,  Francisco  Soa- 
res fidalgo  riquo,  D.  Pedro  de  Alcaseva  neto  do  conde  das 
Idanhas,  Constantino  de  Magalhais  senhor  da  Ponte  da 
Barra,  o  correo  mór  de  Portugal  António  Gomes  da  Mata. 
acudiram  com  dinheiro  conforme  suas  rendas  avendo  mui- 
tas resois  para  não  ser  com  as  pessoas.  Tristão  de  Men- 
doça  Furtado  còmprio  com  ambas  as  obrigaçois  por  seu 
braço,  com  hum  navio  grande  à  sua  custa  aprestado  da 
gente  de  mar,  e  guerra,  artilheria  e  monisois  sem  soldo  ou 
reçáo  da  fazenda  real.  Os  prelados  impedidos  por  seu  es- 
tado a  servir  pessoalmente  trabalharam  por  suprir  com  a 


—  37C — 

quafttia  de  diaheiro  pocivel  nesta  católica  impresa.  O  Ar- 
cebispo Metropolitano  de  Lisboa  D.  Miguel  de  Castro  de- 
via de  ver-se  em  grande  aperto  porque  tudo  o  que  contri- 
buise  era  dos  pobres  possuidores  de  sua  fazenda,  modo 
acharia  para  dar  alguns  mil  crusado»  que  ofereceo ;  o  Ar- 
cebisjK)  de  Braga  Primaz  de  Espanha  D.  Afonso  Furtado  de 
MemloDfça  que  bem  tinha  ajudado  no  lusimento  a  sea  pa- 
rente Tristão  de  Mendonçí  mandou  dar  mil  crusados ;  o 
de  Évora  D.  José  de  Melo;  o  bispo  eleito  de  Coimbra  D, 
João  Manuel,  o  de  Guarda  D.  Francisco  de  Castro,  o  do 
Porto  D.  Rodrigo  da  Cunha,  e  outros  prelados  fidalgos  que 
me  não  lembra.  Pessoas  particulares  se  bem  não  chegaram 
a  ígualarr-se  na  cantidade  de  dinheiro  com  alguns  senhores^ 
a  respeito  desua  fazenda,  nâo  ficaram  inferiores^.  João  Fer- 
reira nomeado  por  S.  M.  em  Provedor  da  fazenda  do  Bra- 
zil,  Domingos  Gil  da  Afonsecca,  António  Alvares  de  Si- 
queira, Manuel  Dias  Guedes,  Afonso  de  Barros  Caminha^ 
largaram  o  frete  de  seus  navios,  e  por  cappitães  foram 
nellesa  Lisboa,  com  diferença  que  Domingos  Gil  dWfon- 
secca  deu  com  o  navio  fretes de  vinho,  biscouto  pól- 
vora e  mosquete.  Os  filhos  de  Eitor  Mendes,  os  mercado- 
res italianos,  os  Alenlães,  os  homens  de  negocio  do  Reino^ 
os  da  nação  franceza  todos  oontribuiram.  Desta  maneira 
ficou  a  fazenda  real  em  boa  parte  alyviada.  Os  sentores  e 
fidalgos  de  Porlugal  poderam  fazer  gloriosa  a-  impresa  en- 
trando nella  quando  de  si  o  não  fora  tanto  e  posto  que  cada 
um  delles  foi  emulo  da  verdade  e  não  das  pessoas-,  estando 
com  tal  animo  que  se  não  poderá  facilmeí>tc  dizer  (|ual  foy 
o  segundo. 

Não  se  pôde  negar  que  foi  o  primeiro  D.  Afonso  de  No- 
ronha (|ue  tendo  ocupado  os  poslos  de  Portugal  começando 
por  soldado  na  vhida  dos  iugteses  sendo  ja  casado,  por 


í- 


soldado  na  armada  de  Fernão  Telles,  por  capitão  almirante 
da  armada  da  índia,  capitão  geral  de  Septa,  de  Tangere,  da 
armada  real  de  Portugal,  governador  do  Algarve,  eleito 
viso  rei  da  índia  aonde  navegava  e  achando-se  naquela  oca- 
sião com  so  un  filho  D.  Miguel  de  Noronha  conde  de  Li- 
nhares, cappitâo  geral  de  Tangere  casado  com  lilha  herdada 
de  D.  Pedro  de  Meneses  e  com  filhos  :  e  sendo  de  idade 
posto  que  não  tanto  como  parece  mostram  os  cargos  que 
sérvio  saindo  do  conselho  d'Estado,  de  que  he  ministro  anti- 
go, quando  chegou  a  carta  de  ElRei  de de  Agosto 

entrou  na  casa  do  consulado,  e  recebendo  pequeno  soldo  se 
alistou  por  soldado  para  a  empresa,  exemplo  uflo  necessá- 
rio para  a  disposição  de  animo  com  que  estavam  os  mais 
senhores  e  fidalgos,  mas  eficas  para  os  abrasar  quando  frios 
e  esquecidos  estivesen.  O  Conde  de  S.  João  Luiz  Alvares  de 
Távora,  podendo  escusar  a  idade,  e  mandar  António  de 
Távora  seu  filho  herdeiro  tendo  poucos  se  alistou.  D.  Afon- 
so de  Portugal  conde  de  Vimioso  que  não  pode  ser  o  pri- 
meiro de  Lisboa  para  exemplo  de  todos  por  estar  na  corte 
em  negócios  e  pertenções  de  sua  casa  importantíssimos  foy 
la  primeiro  a  se  offerecera  S.  M.  e  ao  conde  duque:  o  con- 
de de  Távora  D.  Duarte  de  Meneses  moço  casado  de  pouco 
com  a  filha  do  conde  de  Faro,  neto  de  D.  Duarte  de  Mene- 
ses, terceiro  neto  de  D.  Duarte  de  Meneses  Viso  rey  da 
índia,  quinto  daquelle  D.  Duarte  de  Meneses  com  conde  de 
Viana.  Duarte  de  Albuquerque  Coelho  senhor  da  Cappitania 
de  Parnãobuco,  Álvaro  Pires  de  Távora,  filho  de  Rodrigues 
Lourenço  de  Távora  Viso  rey  da  índia,  João  da  Sylva  T«lles 
de  Meneses  senhor  de  Avoeiras  filho  de  Diogo  da  Sylva  re- 
gedor herdado,  D.  Henrique  de  Meneses  senhor  do  morga- 
do e  casa  do  Bourisal,  D.  Álvaro  Coutinho  senhor  da  Torre 
de  Almorol,  António  Corrêa  da  Sylva  senhor  de  Bolas,  D. 


—  378  — 

Lopo  4a  Cunha  seohor  iJe  Santar,  Buí  de  Moam  Tdks  âP- 
nhí>r  ^la  Poroa  e  Mealha,  D.  António  de  CasleOiraiio  se* 
nbordo  antigo  morgado  de  PombeilD.  Maitím  Af^juso  de 
(Mirem  senhor  do  morgado  de  Oliveira,  D.  Frandsco  de 
Portogai  comendador  de  Fronteira,  D.  João  de  Sousa  al- 
caide mordeThomar,  PeiirodaSrlfagOTernadorecapiMtfo 
gerai  que  for  da  Mina,  filho  do  Regedor  Loorenço  da  Sjfn, 
Luiz  César  de  Meneses  filho  herdeiro  de  Vasco  Fernandes 
César  provedor  do  Almaseis  e  armadas  de  Portugal,  D.  Bo> 
drígo  da  Costa  filho  de  D.  Gileanes  da  Costa  cappitáo  que  for 
da  Speta,  do  conselho  doestado.  Presidente  do  Paço,  Pedro 
César  de  Esa  filho  de  Luiz  Cezar  provedor  dos  Almaseis, 
Estevam  de  Brítii  Freire,  Nuno  da  Cunha,  Hieronvmo  de 
Mello  de  Castro,  Joáo  de  Mello,  estes  foram  casados  de  qoe 
me  lembro  náo  falando  dos  ocupados  em  carregar.  Dos 
Síilteiros  vieram  a  minha  notícia  António  Luiz  de  Távora, 
iilho  herdeiro  do  conde  de  S.  João,  D.  João  de  Portugal 
filho  herdeiro  de  D.  Nuno  Ah'ares  de  Portugal  um  dos  go- 
vernadores deste  reino,  cujo  filho  mais  velho  D.  Luiz  de 
PortDgal  entrava  em  religião  na  ordem  de  S.  Domingos, 
António  Telles  da  Sylva  que  seu  pai  Luiz  da  Sylva  do  con- 
selho doestado  veedor  da  fazenda  ofereceu  com  Joân  Gomes 
da  Sylva  seu  filho  primeiro,  que  por  ocupações  da  Corte 
náo  foy  na  empresa.  D.  Francisco  Luiz  de  Faro  filho  mais 
moço  do  conde  de  Faro  que  na  armada  de  Castella  trasia 
seu  filho  segundo  D.  Francisco  de  Faro  com  grande  despeza 
de  sua  fascnda,  D.  Afonso  de  Meneses  da  casa  deCatanhede 
herdado,  D.  Joáo  de  Lima  filho  do  Visconde  D.  Lourenço, 
Álvaro  de  Sousa  gentil  homen  da  boca  de  S.  M.  Alcaide  mor 
da  Amieira,  filho  primeiro  de  Gaspar  de  Sousa  do  conselho 
d^Estado,  governador  que  foy  do  Brasil,  Manoel  de  Sousa 
Coutinho  senhor  dos  conselhos  de  Bayáo,  e  S.  Christovão 


—  .379  — 

de  Nogueira,  D.  Diogo  de  Vasconcellos  e  Menezes,  e  D. 
Sebastião  seu  irmão  da  casa  de  Penela,  Rui  de  Figueredo 
fdho  mais  velho  de  seu  pay,  António  de  Figueiredo,  e  Luiz 
Gomes  de  Figueiredo,  seus  irmáos,  Lourenço  Rodrigues 
Carvalho,  herdeiro  de  seu  pay  Gonçalo  Piz  Carvalho  pro- 
vedor das  obras  do  Paço.  D.  Nuno  Mascarenhas  da  Costa, 
Sebastião  de  Saâ  de  Meneses  herdeiro  de  seu  pay,  D.  Lou- 
renço de  Almada  herdeiro  D.  Diogo  da  Sylveira  herdado  D. 
Rodrigo  da  Sylveira  filho  herdeiro  de  D.  Luiz  Lobo  da  Syl- 
veira senhor  deSerzedas  eSovereira  Formoza,  e  Fernão  da 
Sylveira  seu  irmão.  D.  Henrique  Henriques  herdeiro  de 
Alcasovas,  Jorje  de  Mello  filho  de  Manoel  de  Mello  Monteiro 
mor,  Estevam  Soares  de  Mello,  Álvaro  de  Sousa.  Francisco 
de  Mendonça  Furtado  herdeiro,  Christovam  de  Mendonça 
seu  irmão.  D,  Álvaro  Coutinho,  D.  Francisco  Coutinho  fi- 
lhos do  Marichal  D.  Fernando,  Simão  de  Miranda,  Brás 
Soares  de  Sousa,  o  capitão  Ruy  Corrêa  Lucas,  Rodrigo  de 
Miranda  Henriques,  Pedro  da  Sylva  da  Cunha.  António  da 
Sylva  filho  do  chanseler  Pedro  da  Sylva,  Martim  Afonso  de 
Távora  filho  do  reposteiro  mor,  Manoel  de  Sousa  Mascare- 
nhas, D.  João  de  Meneses,  António  Carneiro  de  Aragão, 
Nuno  Gonçalves  de  Faria  filho  de  Nicolao  de  Faria  Almo- 
tacé  mor,  Pedro  Lopes  Lobo,  António  de  Abreu.  Fernão 
Alvares  de  Toledo  seu  irmão,  Gonçalo  de  Tavares  de  Sousa, 
Joanne  Mendes  de  Vasconcellos  filho  de  Luiz  Mendes  de 
Vasconcellos  governador  que  foy  de  Angola,  D.  Diogo  de 

Noronha,  João  Machado  de  Brito  senhor 

António  de  Sampayo,  D.  Manuel  Lobo,  Ruy  Dias  da  Cu- 
nha, D.  Francisco  de  Esa,  Duarte  de  Mello  Pereira  com 
dois  filhos.  Martim  Afonso  de  Mello,  e  José  de  Mello,  Lo- 
po de  Sousa  de  Santarém,  António  Pinto  Coelho  senhor  de 
Felgueras,  Simão  Freire  de  Andrada,  Paulo  Soares,  Anto- 


—  380  — 

nio  TaTeira.  Henrkpe  Corrêa  da  Svlva,  Martim  Carrea  sea 
írmáo,  FrsDcisco  Mana  da  Sjha,  Garcia  Velez  de  Gastei 
branco*  Donrte  Péíioto  da  SjlTa,  Pedro  da  Costa  Traraços» 
José  de  Souza  de  Samparo,  e  ootros  que  porqoe  não  vie- 
ram á  minha  noticia,  não  faiando  em  outras  pessoas  mor 
calííicadas  de  (acíl  coosa  de  contar-se  por  não  estaren  ma- 
trícjlados  nos  livros  da  casa  real  por  seu  descuido  oo  de 
seos  aTôs»  oa  algama  rasáo  particular.  Os  ocupados,  D.  Ma- 
nuel de  Meneses  general  da  Armada,  D.  Francisco  de  Al- 
meida Almirante,  D.  António  de  Meneses  da  casa  de  Villa 
real  c-ippitáo  de  infanteria,  Tristáo  de  Mendonça  Furtado 
ca{)pítáo  de  Accabuseirosde  quem  falamos,  D.  Rodrigo  Lobo 
eappitáo  de  infanteria  e  de  cm  gabão,  Ruy  Barreto  de  Mou- 
ra cappitáo  de  Mosqueteiros  do  Marquez  de  castel-rodrígo 
de  sua  linhage,  João  Alvares  de  Moura,  seu  irmão  maisve' 
lho,  Manoel  Dias  de  Andrada,  Constantino  de  Mello  Pereira, 
Domingos  da  Cimara  capitães  de  infanteria  estes  casados. 
António  Monis  Barreto  mestre  de  campo  do  terço  do  socor- 
ro, D.  Álvaro  de  Abranches  da  Camará,  Gonçalo  de  Sousa» 
D.  Sancho  de  Faro  filho  do  conde  de  Vimieiro,  Symão 
Mascarenhas,  Chrístovam Cabral,  cappitáes  de  infanteria,  D. 
João  Tello  de  Meneses,  filho  do  gene  ral  capitão  daCapitania. 
A  estimação  que  S.  M.  fez  destes  serviços  foy  mayor  que 
todo  o  merecimento,  como  significou  por  palavras  nas  car- 
tas dos  governadores  mostrando-se  satisfeito  com  encare- 
cimento, ede  seu  cuidado,  e  assistência  delles.  da  vontade 
dos  prelados,  e  do  animo  da  maior  nobreza  de  Portugal ; 
nem  foram  menos  as  mercês,  fazendo-a  aos  filhos  cujos 
pais  falecesen  na  jornada,  do  que  por  elles  vagaseda  Coroa, 
ou  das  ordens  melitares.  e  aos  que  as  não  tivesem  lhe  fazia 
equivalente.  Mercê  que  depois  ampliou  por  sua  real  gran- 
deza declarando  com  palavras  dignas  de  tam  gram  monarca 


—  3S\  — 

qiic  era  servido  que  onvescn  efeito  aquellas  mercês  posto 
que  a  não  mcrcsen,  e  porque  não  escapase  algum  de  tanta 
liberalidade  por  qualquer  via,  ou  contingência.  Morrendo 
Francisco  de  Saã  de  Menezes  em  sua  casa  sem  alguns  ser- 
viços que  eu  saiba  quando  seu  filho  Sebastião  de  Saâ  4e 
Menezes  ctiegou  a  ella  da  Bahya  achou  duas  comendas  que 
negavam,  uma  delias  de  importância  sem  que  para  tam  gram 
mercê  fossen  necessárias  petição,  ou  consultas,  porque  co- 
mo os  reis  justos  sâo  no  modo  possível  retratos  de  Deus  na 
terra  quer  S.  M.  seja  seu  governo  retrato  da  providencia 
procurando -lhe  o  Conde  Duque  tudo  o  grandioso  sem  al- 
guma extrínseca  lembrança.  Estavam  as  coroas  de  Portugal 
eCaslelIa,  em  continua  competência  ciosissimas  do  serviço 
deEfeus,  e  de  seu  rey  de  sua  real  reputação  nesta  empresa, 
quesemdavida  foy  das  mais  importantes  por  não  dizer  a 
mais  de  nossos  tempos.  Do  Conselho  d^Estodo  de  Portugal 
se  pediam  cm  principio  quinze  galeões  somente  da  armada 
do  mar  oceano,  abundante  socorro  para  expunaç^o  de  uma 
praça  que  como  se  cuidava  os  poucos  bisonhos  da  Bahya 
tinham  enserradae  S.  M.  vencendo  a  proposta  por  decreto 
a  seus  conselhos  quiz  der  mais  com  grande  excesso,  c  a 
pessoa  de  D.  Fadrique  de  Toledo  porque  asy  se  abalase  a 
nobreza  castelhana. 

A  armada  de  Castcllase  dizia  estar  prestes  para  sair  bre- 
vissimamente  fazendo  isto  muy  crivei  o  não  haver  sahido 
omtodo  o  verão,  e  tanto  aporta  aguarda  necessária  da  frota 
de  Índias,  e  porque  a  resolução  e  afecto  era  muy  conforme  a 
importância  da  empresa  queria  S.  M.  que  a  jornada  fosse 
até  20  de  Agosto,  e  conformando-se  com  as  consultas  de 
Portugal  que  ato  20  de  Setembro  para  o  que  D.  Fadrique 
de  Toledo  com  a  sua  armada  que  diziam  estar  aprestada 
fosse  a  Lisboa  sem  dilação,  vendo -se  depois  algumas  de- 

JUNHO  49 


—  382  — 

liculdades,  considerado  que  era  tempo  muy  conveniente 
octubro  resolveu  S.  M.  que  em  20  d'aquele  mez  partisse 
com  o  que  podesse  levar  de  Portugal  se  a  armada  não  es- 
teve a  ponto,  como  era  de  querer  o  que  sentiria  muito, 
avia  continues  cercos  com  que  se  encarecia  a  prontidão  de 
huma,  e  necessidade  de  deligencia  na  outra,  em  huma  de 
28  de  Setembro  mostrava  clara  desconfiança  dos  aprestos 
na  de  Portugal  avendo  verdadeiramente  grandes  deficul- 
tades,  chegar  ao  porto  de  Lisboa  a  27,  cançada  a  gente  de 
andar  na  costa  todo  o  verão,  apodrecida  a  enxárcia,  gas- 
tadas as  velas  esvaidosos  navios,  pedia  S.  M.  lhe  mandase 
de  Lisboa  pilotos  contramestres,  guardiões,  homens  prá- 
ticos nas  costas  do  Brazil.  Mas  tal  foi  assistência  dos  go- 
vernadores, de  Ruy  da  Silva  vedor  da  fazenda,  Vasco 
Fernandes  César  provedor  dos  almasens,  e  mais  ministros 
que  isto  apoyaram  com  seu  cuydado  que  todas  as  deficul- 
dades  se  venceram  como  S.  M.  mostrou  por  carta  de  19 
de  Outubro  agradecendo  aos  governadores  o  muito  que 
tinham  feito;  mudado  já  de  opinião  assentou  que  a  armada 
de  Portugal  saysse  logo  acharia  a  de  Castella  no  Cabo  de 
S.  Vicente,  e  noutro  correio  que  não  a  achando  no  Cabo  a 
fosse  buscar  a  Cadix.  Fervia  em  Lisboa  a  obra,  no  mesmo 
tempo  se  dava  querena  aos  navios,  se  reformava  a  enxár- 
cia, se  faziam  velas,  se  aprestavam  mantimentos  por  outra 
parte  os  pretechos  para  o  sitio,  pás,  enxadas,  machados, 
picos,  foucinhos,  padiolas  rodadas  exportas ;  no  mesmo  se 
alistava  a  gente  se  faziam  as  pagas  liberalmente,  se  ajun- 
tavam as  munições;  outros  ministros  atendiam  a  embar- 
rilar  pregadura  grossa  e  sorteada,  taxas  e  estopares,  es- 
topa gran  cantidade  de  breu,  e  mais  cousas  necessárias 
para  concertos  dos  navios  na  Bahya,  indo  tudo  isto  em 
abundantes  cantidades  de  que  se  valeram  alguns  navios  da 


I 


—  383  — 

Castella  no  que  necessytavam  e  ficou  muito  no  Brazil.  A 
escolha  dos  maatimeatos  era  com  estremada  deligencia 
asestindo  pessoas  de  confiança  ao  lavrar  e  embarricar  o 
bescouto,  a  carregação  dos  vinhos  de  preço  subido,  ao 
fazer  e  compor  as  carnes  de  porco,  e  vaca  que  foram  esti- 
madas; atentava-se  náo  ao  necessário,  mas  ao  regalo, 
amêndoas,  pacas,  assucar,  farinhas,  queijos  de  alentejo, 
fora  de  resões  ordinárias.  Obrava  Deus  com  as  mãos  dos 
homens  eíTeitos  maravilhosos  mostrando  em  tudo  ser  a 
causa  sua.  O  conde  de  Miranda  executava  o  mandado  de 
S.  M.  mostrando  notável  cuidado,  vigilância,  e  continua 
asistencia,  vesitando  em  pessoa  os  portos,  persuadindo 
com  muitas  palavras  os  moradores  ao  serviço  de  Deus,  de 
S.  M.  e  recuperação  da  honra  jà perdida ;  accendeo  a  emu- 
lação nos  moradores  de  Viana  lugar  rico,  e  de  gente  nobre 
de  maneira  qnasi  viram  notáveis  exemplos  vencer  os  an- 
tigos gregos,  e  romanos.  Máy  nobre  e  rica  que  ofereceu 
seu  filho  único  em  sua  casa  e  em  sua  consolaç-ão ;  conten- 
das entre  pay  e  filho  qual  se  havia  de  alistar,  alegando  o 
pay  a  experiência  da  navegação,  o  filho  as  obrigações  do 
pay,  a  sua  casi,  mulher  e  filhos,  outro  que  impedido  man- 
dou seu  filho  de  doze  anos  com  vinte  soldados  á  sua  custa. 
Vendo  os  governadores  sua  tenra  idade  o  quizeram  per- 
suadir se  tornase  para  seu  pay  indo  a  gente;  respondeu 
que  não  era  aquella  a  mercê  que  de  tan  grandes  senhores 
esperava.  Todos  três  irmãos  de  uma  casa  honrada  se  re- 
solveram ir  na  jornada.  Piedade  injusta  parecia  o  desam- 
paro que  se  representava,  força  que  ficasse  huma  dificul- 
dade mayor  de  qual  seria,  tomase  por  meio  a  sorte  dos 
dados,  foram  dois  João  Ferreira  e  Diogo  Ferreira,  ambos 
morreram  servindo  igualmente,  desiguais  no  modo.  João 
Ferreira  rendido  do  trabalho  no  apresto  da  armada  nas 


—  384  — 

couâas  tocantes  ao  seu  oficio  de  provedor  niór  do  exercita 
da  empresa  e  do  estado  do  Brazil,  Diogo  Ferreira  depois 
de  muito  trabalho  no  mesmo  oficio  no  Gabo  Verde  e  na 
Bahya  o  espera  uma  bala  de  artilheria  estando  com  a  sua 
companhia  de  guarda  nas  trincheiras. 

Grande  falta  para  meneo  das  cousas,  grande  pêra  o  ge- 
neral que  nelle  descançava,  se  pode  chamar-se  falta  a  per- 
da de  tal  pessoa,  grande  lastima  para  sua  casa.  Sendo  Via- 
na dos  mais  nobres  lagares  de  Portugal,  e  de  taes  exem- 
plos, merece  verdadeiramente  particular  memoria,  man- 
dou três  navios  e  tresentos  homens  de  mar  e  guerra  entre 
elles  pessoas  muy  principais,  João  Ferreira,  Diogo  Ferrei- 
ra, Gonçalves  Lobo  Barreto,  Afonso  de  Barros  Caminha, 
João  Casado  Jacome,  Bento  do  Rego,  capitães  deinfanteria 
D.  António  de  Lima,  João  Barboza  de  Almeida,  Manuel 
de  Lima,  Francisco  Pedroso,  Bernardo  Velho,  Boto,  Ma- 
nuel Caminha  Corrêa,  João  de  Govêa  Corrêa,  António  Pin- 
to. Manuel  do  Rego,  Jacome  da  Silva,  quatro  filhos  de 
Pedro  Velho  Travasos,  António  de  Morim  Serrão,  João 
Barbosa,  Diogo  Jacome  Beserra,  Domingos  Ferreira,  Bel- 
chior Preoles,  Thomaz  Fernandes,  Fernando  Munhos  Cor- 
rêa, Gabriel  Fajardo  Beserra,  Valentim  de  Sousa,  Domin- 
gos Pereira  Jacome,  Domingos  Borgueira.  Bento  Rangel, 
António  Branode  Távora,  Simão  Salgado  capitão  de  um 
patacho,  Manuel  Dias,  Manuel  Faria,  Gaspar  Maciel,  Lou- 
renço de  Amorin,  António  Borges  Pacheco,  António  Ve- 
lho Gondim.  Afonso  do  Porto,  Manuel  Corrêa  Jorge  Pin- 
to, Jacinto  de  Alpoim,  Gaspar  Lisio,  Baltasar  Sisio  Cogo- 
minho,  Luis  Pinto  Pedroso,  António  de  Magalhães,  Simão 
Fagundes  Jacome.  João  da  Rocha  Fagundes,  Estevom  Ro- 
drigues da  Rocha  a  que  as  oi'dens  sacras  não  tiraram  o  ai)e- 
tile  das  armas,  cappelão  no  exercito. 


I 


—  383  — 

Sayo  (lo  Porto  junta  esta  esquadra  de  dez  navios  á  ordem 
tle  Tristão  de  Mendonça  Furtado,  e  em  Lisboa  desembar- 
cou muy  lusida  gente.  O  trabalho  e  cuidado  do  Conde  de 
Miranda  neste  bom  serviço  o  estimou  S.  M.  e  muito,  e 
mostrou  por  carta  que  lhe  escreveu  em  2o  de  Novembro- 
Fez-se  toda  a  armada  á  vela  no  Porto  de  Lisboa  com  alegria 
commua,  esperanças  em  Deus  de  bom  successo,  segunda  fei- 
ra pela  manhã  18  de  Novembro  dado  fundo  em  Bethiem  se 
deteve  para  acabar  de  recolher  a  gente,  e  aperfeiçoar  alguá 
coisa  se  faltava  como  se  acontecer  em  outras  de  mais  bre- 
ve jornada,  ate  22  estando  aquela  manhã  os  governadores 
em  sua  falua  para  desamarrar  a  capitania  se  levantou  supi- 
tamente  um  vento  nordeste,  lesnordeste  furioso  que  cau- 
sou novidade  nos  mais  práticos  marinheiros.  Disse  D.  Ma- 
nuel de  Menezes  que  lhe  parecia  não  convynha  desamarrar- 
a  armada  com  tal  vento,  porque  se  não  podia  dobrar  o  ca- 
bo para  ir  na  volta  de  Cadix,  nem nelle  espe- 
rar pela  de  Castella  porque  em  24  horas  desaparelhariam 
os  mais  navios  que  eram  de  particulares  de  velas,  enxárcias 
desporporcionadas  aquelle  trabalho,  nem  pairar  por  serem 
alguns  velhos,  e  mil  tratados  sem  risco  notável  de  se  per- 
der parte  da  armada,  ou  derotar.  Como  a.  necessidade  era 
tão  urgente  em  cousa  tão  essencial,  e  por  outra  parte  eri- 
tava  os  sentimentos  da  delação,  o  ver  podia  sair  D.  Fadri- 
quc(  posto  que  vulgarmente  se  disia  que  estava  de  vagar, 
não  faltando  resões  para  se  diser)  ou  menos  cncobriase 
aos  olhos  o  efeito  da-deligencia  que  em  Liboa  no  apresto 
da  armada  se  fisera,  começaram  os  governadores  a  entra- 
em  novos  pensamentos  se  averia  porto  en  que  esta  armar 
da  esperasse  a  de  Castella,  das  Canárias  se  desenganaram, 
fallouse  em  Cabo  verde,  ouAe  pessoa  que  com  grande  vay- 
dade  se  mostrou  practico  naquellas  ilhas  Jumtaram-se  alguns 


~  386  - 

pilotos  e  mestres,  D,  Afonso  de  Norona,  D.  Manuel  de  Aíe- 
nezes,  com  os  governadores,  assentou  que  a  de  mayo  tinha 
porto  capas  de  todas  as  armadas,  abundantissima  de  carne, 
fructa,  regida  de  Ribeiros  de  muy  boa  agoa.  Bera  se  pode 
esperar  de  taes  pessoas  os  condes  D.  Diogo  da  Silva  Doa 
Diogo  de  Castro  qualquer  grande  resolução,  mas  ordem 
ílivina  foy  digníssima  de  hum  gran  discurso  que  naquella 
hora  se  resolvesse  fora  do  regimento  real  a  que  a  armada 
fosse  naquella  volta.  Mandaram  a  Luis  Falcão  que  estava 
presente  fisese  novo  regimento  em  nome  de  S.  .M  se  man- 
dava a  D.  Manuel  de  Meneses  que  consideradas  as  circuns- 
tancias se  fizesse  á  vela  em  demanda  das  ilhas  de  Cabo 
Verde  e  nellas  esperase  por  D.  Fadrique  de  Toledo. 

Estou  como  com  anciã  desjando  chegar  a  estas  ilhas  não 
para  descançar  do  trabalho  de  escrever,  he  a  leitura  breve 
posto  que  cansativa,  meuda  esecn  conforme  a  o  nome  en- 
talada entre  os  limites  rigorosos  da  verdade  que  muitos 
verão  e  espreytarão  sem  me  poder  chegar  a  elles,  tanto 
menos  passalos  com  discursos  ou  praticas,  compostas  para 
deleitar  os  delicados  ouvidos  deste  tempo,  que  tudo  o  ai  con- 
denam, mas  por  apregoar  as  misericórdias  de  Deus,  que 
violentou  a  vontade  dos  que  a  receberam  acertos  guiados 
por  sua  divina  bondade  tommdo  por  instrumentos  delles 
aos  orados  discursos  humanos,  temerários  atrevimentos  ; 
perturba  este  gosto  e  sucesso  un  galeão,  dano  de  amigos 
perda  de  muita  gente  que  miseravelmente  se  afogou.  Por 
atalhar  a  tanto  fastio  me  pareceu  grande  trabalho  copiar 
aqui  alguns  capítulos  de  cartas  que  D.  Munuel  de  Menezes 
escrevia  a  S.  M.  em  que  lhe  dá  conta  do  sucedido.  Esta  éa 
primeira ;  Foi  Y.  M.  servido  por  muy  justos  respeitos  que 
para  isso  ouve  de  me  mandar  que  com  esta  armada  viesse 
as  Ilhas  de  Cabo  Verde.  Logo  em  chegando  despachase  uma 


^ 


—  387  — 

caravela  com  aviso  de  ser  chegado.  Parti  a  22  de  Novembro 
com  vento  nordeste  rijo,  e  se  nessa  costa  cursaraip  os 
tempos  que  passamos,  juigaram  os  práticos  por  mercê  par- 
ticular de  Deus  a  resolução  dos  governadores,  porque 
depois  que  o  nordeste  esbravejou  cinco  ou  seis  dias  ame- 
açou o  vento  deste  que  vareou  pelo  sul  com  choveíros  no 
lugar  em  que  estávamos  surtos  muito  para  temer  na  estação 
do  inverno,  e  deixado  o  perigo  que  corria  nesta  armada,  se 
iria  com  tanta  dilação  desbaratando,  e  inpossibilitando 
como  o  esperar  no  Cabo  de  S.  Vicente  era  a  total  mina,  e 
não  pequena  a  detença  em  Cadix  se  o  tempo  fora  para  to- 
mar aquelle  porto,  aonde  avia  de  aver  inconvenientes,  e 
desmanchos,  se  aly  nos  entrase  o  inverno  ( o  que  bem  se 
pode  presumir  pois  até  oje  não  chega  D.  Fadrique  de  Toledo 
que  estava  prestes  para  partir  conforme  sua  carta  cuja  có- 
pia envio  a  V.  M.)  correr  esta  armada  muitos  riscos,  tantos 
navios  juntos  os  mais  de  particulares  pobres,  mal  apresta- 
dos  de  ancoras,  e  amarras.  Vim  com  mayor  cuidado  nesta 
armada  do  que  nunca  tive  noutra  porque  como  se  mormu^ 
rou  que  alguns  destes  navios  oferecidos  a  V.  M.  traziam  ne- 
gocio e  mercancia,  como  se  me  apartavam,  os  dava  por 
derrotados,  o  que  agora  me  alivia  suspeitando  que  alguns 
que  me  faltam  estarão  em  Parnáobuco.  Chegamos  a  28  á 
Ilha  da  Madeira,  e  a  7  de  Dezembro  avendo  navegado  com 
vento  mais  brando,  mas  de  chuveiros  nos  posemos  na  altu- 
ra de  Tanarife  e  passamos  por  entre  ella  e  a  Palnia  achando- 
nos  em  10  muy  perto  da  Ferro,  Aqui  começaram  alguns 
navios  a  descuidaren-se  da  vigia  apartandose  nos  muito 
por  uma  e  outra  banda  a  almiranta,  esperava  por  todos  a 
cappitana.  Faltounos  a  caridade,  que  achamos  desveleyados 
até  que  se  entendeu  não  podia  ficar  por  popa.  A  14  indo  a 
cappitana  com  pouco  panno  passou  a  Conceição  veleyaía 


—  388  — 

ao  tope  adeantando-se  de  maneira  que  de  tarde  estava  a 
vista,  c  não  vimos  mais.  Outros  navios  perderam  o  farol  c 
se  nos  náo  ajuntaram  posto  que  navegamos  contra  aquelle 
mesurado,  escuadeira  somente,  sofrendo  por  esta  causa 
grandes  balanços,  A  18  em  que  dizem  se  perdeu  a  Concei- 
ção passou  a  cappilana  por  altura  de  16  quarenta  Icguas 
pelo  meu  ponto  a  lesnordeste  da  Ilha  de  Maio  e  a  desenove 
por  quinze  e  un  terço,  dose  legoas  da  ilha.  As  duas  depois 
do  meio  dia  se  nos  mostrou  uma  sem  aver  piloto  nesta 
cappitana  que  a  conhecesse  e  da  armada  uns  diziam  que  era 
a  do  Sal,  outros  a  de  Mayo, podendo  ao  que  mostrava  a  proa 
passala  por  barlavento,  temendo  alguns  baixos  nos  Azemos 
antes  da  noite  ao  mar  noutra  de  sudoeste,  por  náo  descair 
com  os  mares  que  eram  grossos  voltamos  antes  da  meia 
noite  a  noronoroeste.  Levado  o  sol  nos  ficava  como  quatro 
léguas,  tanto  descaymos  naquella  volta.  Vendo-me  aquila- 
vento  fui  de  ló  tudo  o  que  putie,  comtudo  ao  meio  dia  ja  a 
não  viamos  achando-nos  em  quinze  graus  e  meio.  Conside- 
rei os  erros  das  cartas  e  padrões  de  Portugal,  quam  neces- 
sário he  haver  quem  as  emende  para  que  se  navegue  sem 
perdições  desculpadas,  chamei  caravelas  para  me  informar 
de  outros  navios  que  vinham  aportados,  mas  afora  ser  o 
tempo  tromentoso  estavam  muy  longe  e  náo  acudiram. 
Aquela  tarde  vimos  a  ilha  de  S.  Thiago  que  os  pilotos  desta 
cappitana  opondo-se  ao  que  un  dizia  afirmaram  com  jura- 
mentos que  era  fogo  que  dizian  reconhecer  por  certos  sínaes 
e  todos  fíilços.  Fomos  toda  a  noite  correndo  com  tromenta 
fazendo  escassamente  o  caminho  de  Noroeste  posto  que 
apontávamos  quasy  ao  Norte.  Na  manhã  de  21  bem  levan- 
tado ja  o  sol  e  estando  ja  mais  brando  o  vento  se  nos  che- 
garam alguns  navios  e  uma  caravela,  aconselharam  que  nos 
fizéssemos  na  outra  volta  do  sueste ;  indo  nesta  largamos 


I 


—  :)89  — 

vela  de  gávea  e  por  puro  descuido,  e  depois  por  teima  de 
algufis  se  nos  quebrou  o  mastareo  grande,  e  juntamente  o 
gariindeo  com  que  ficando  sem  remédio  de  bolinar.  Indo 
com  aquella  proa  vimos  a  do  Fogo  ao  Sudoeste,  e  se  serti- 
ficaram  q  ico  era,  o  que  me  foy  de  grande  alivio,  porque  jà 
me  requeriam  que  fossemos  a  Parnãobuco  pois  era  o  ven- 
to geral,  e  estávamos  aguilavento  de  tudo. 

Foi  Deus  servido  que  alargasse  o  vento  quando  com 
menos  esperança  estavam,  sem  vela  de  gávea,  ultima 
desesperação,  e  podemos  ir  alessueste  com  que  nos  che- 
gamos ao  abrigo  da  ilha  que  já  tínhamos  perdido.  A  22 
estivemos  perto  de  terra,  e  nos  chegou  a  caravela  de  Mon- 
tearey  o  que  eu  tinha  enviado  diante  a  pedir  piloto,  e  me 
deu  a  triste  nova  do  naufrágio  da  Conceição  na  liba  do 
Mayo  ainda  estavam  muitos  dos  nossos  navios,  e  no  Porto 
de  San  Tiago  a  caravela  de  Sebastião  Marques  mandado 
sondar  ao  longo  da  costa  para  surgirmos,  e  sem  ordem  se 
fora  ao  porto.  Também  soube  que  ficava  aly  a  caravela  de 
Cosme  do  Couto  que  a  nossa  partença  ficou  nesse  porto 
de  Lisboa.  Despachey  logo  ao  governador  Francisco  de 
Vasconcellos  mandase  uma  ou  todas  as  caravelas  para  acu- 
dir à  perdição  da  ilha  do  Mayo  indo  tudo  a  ordem  de  João 
Coelho  da  Cunha  cuja  é  aquella  ilha,  c  me  tinha  escrito 
oferecendo-se  a  V.  M.  com  sua  pessoa  fazenda,  bois,  carros 
e  escravos.  Terça-feira  24  surgimos  neste  porto  da  Praya 
duas  legoas  para  a  parte  de  leste  de  San  Tiago  guiados  por 
um  piloto  da  ilha  da  Madeira  o  mais  pratico  dos  que  na- 
vegam aquellas  ilhas,  que  estava  nesta  acaso  com  seu  ne- 
gocio, e  trato  com  uma  caravelinha  no  porto  de  San  Tiago, 
e  sem  elle  mal  poderamos  escolher  este  de  que  lhe  mandei 
passar  certidão.  Chegados  ao  porto  que  desejava  não  posso 
discorrer  brevemente  no  modo  com  que  Deus  nos  fez  tanta 

lUNHO.  80 


-  390  — 

mercê  e  apesar  de  tudo  o  que  se  ha  de  amplificar  deve  ter 
principio  no  de  menor  para  caminhar  ao  de  maior  consi- 
deração, aqui  onde  tudo  é  maravilhoso  escusado  fica  qual- 
quer género  de  artificio.  Náo  estava  aprestada  a  armada 
de  CastQlla  tam  adiante  como  se  pensava,  antes  atrasada» 
que  se  a  de  Portugal  fora  a  Cadix  se  pôde  ter  por  certo, 
como  muitos  intendentes  da  matéria  confessaram  que  nem 
muitos  dias  depois  que  partiu  podia  partir.  Foi  a  delibe- 
ração, e  saida  delia  humas  esporas  e  aguilhão,  causou 
pensamento  de  que  poderia  achar-se  naquella  empresa 
(não  se  tinha  tanta  opinião  da  força  do  inimigo  antes  a 
comum  juizo  não  seria  achado  no  Brazil  ou  é  que  o  receo 
tudo  facilita)  uma  viva  emulação  ourada  inveja  que  obri- 
gou aos  ministros  vencer  grandíssimas  dificuldades;  se 
D.  Fadrique  tardava  não  avia  sair  depois  pela  nova  de  que 
Inglaterra  se  armava  contra  Espanha  com  grandíssima 

força  perdia-se  tudo  raetendo-se  tempo  em  meio 

o  gentio  ir  constante  ao  ardiloso  Glandes  a  gente  vinda  da 
Bahya  com  esperança  próxima  de  grau  socorro  se  susten- 
tava; se  o  inimigo  não  quisesse  degolalos,  ou  desalojalos 
cahyaem  necessária  desesperação.  O  inimigo  se  fortificava 
mui  á  vontade  com  os  materiaes,  pedra,  vigas,  e  tudo  o 
mais  que  os  edificios  do  Carmo,  e  San  Bento  lhes  dariam 
largamente,  desmantelando-os  quando  se  não  quisesse  can- 
sar nos  matos,  e  nas  canteiras,  chegando-lhe  socorro,  na- 
vios de  força,  artilheria,  munições  junto  ao  que  tinham, 
deixando  presidiada  a  praça  entrava  hum  exercito  pela 
terra  dentro  para  o  que  tinha  pequenas  peças  de  campa- 
nha commodos  encavalgamentos,  pistolas,  peitos,  espal- 
dares, selas  bridas ;  conseguia  todo  seu  intento.  Toda  esta 
maquina  andou  sobre  este  couce  de  sayr  a  armada  Portu- 
gueza,  todo  o  movimento  deu  aquella  resolução  dos  go- 


% 


—  391  — 

vernadores,  nem  parece  foi  acaso  a  súbita  fúria  dos  nor- 
destes não  è  temeridade  dizer  que  tomou  Deus  aquelle 
meio  para  que  saisse.  Os  pilotos  que  facilitaram  tudo  ofe- 
recendo portos,  nada  sabiam ;  foi  necessária  sua  ignorante 
temeridade ;  se  tiveram  noticia  certa  da  ilha  de  Maio,  não 
aconselharam  que  se  buscasse  porque  é  estéril,  provida 
somente  de  cabras  danosissimo  mantimento  pira  gente 
acostumada  a  outros  diferentes ;  de  nenhumas  frutas  de 
nenhum  regalo,  de  nenhum  morador  senão  de  alguns  ne- 
gros do  senhor  delia  que  assistem  a  um  pobre  feitor  para 
matança  deste  animalejos  de  que  as  peles  é  o  principal 
proveito,  ainda  que  pouco.  Nos  rios,  nas  fontes,  que  fin- 
giam se  enganavam.  No  porto  não  ha  agua;  a  da  pobre 
ilha  é  como  lago  detido,  por  larguissimo  caminho  apartado 
da  costa  em  que  se  havia  de  surgir.  Aly  se  consumira  a 
gente  com  descomodos,  sedes  e  fomes,  de  que  se  lhes 
avia  de  causar  grandes  doenças,  o  que  parece  Deus  quis 
atalhar  não  permitindo  que  a  cappitana  estando  por  bar- 
lavento da  parte  em  que  avia  de  surgir  dese  fundo  nella 
fazendo  que  os  pilotos  práticos  a  não  conhecessem,  como 
também  não  quis  que  fose  surgir  ao  porto  de  San  Tiago 
aonde  vão  ordinariamente  os  navios  marchantes,  porque 
indo  aly  não  ouvera  de  ficar  ancora  nem  amarra  nos  primei- 
ros dias  que  se  detivesse.  Quis  S.  Divina  Magestade  asy 
parece,  mostrar  o  ultimo  trabalho  perdesse  esta  nào  o  gar- 
lindeo,  e  mastareo  íicando-lhe  jà  o  porto  por  barlavento 
para,  mudando  os  ventos  geraes,  aproveita ndo-se  dos  se-, 
gredos  de  certas  horas  e  marés  que  nenhum  dos  da  ar- 
mada conhecia,  aonde  em  muy  bom  fundo  de  poucas 
braças  esteve  aqueila  armada  sem  perda  de  amarras  de 
que  hia  mui  falta.  Acharam-se  bastantes  regalos,  galinhas, 
frangãos,  capões,  cabritos^,  leitões,  limas  doces,  cidraèi,  li* 


~  3íh2  — 

móes,  laranjas  de  toda  a  sorte  excelenles,  muito  e  mui  bum 
peixe  que  pescavam,  muitos  porcos,  vitelas  mui  gordas, 
carne  de  vaca  gordissima  a  preço  mui  baixo,  muito  arroz, 
manteigas,  fructas  de  muitas  sortes,  uvas, .  figos,  melões 
cocos,  ribeiras  de  agua,  posto  que  distantes,  mas  naquelie 
porto  hum  pouco  inexbasto  de  que  alguns  dias  depois  se 
soube  por  experiência  ser  de  mui  boa  agua  para  a  armada, 
assentando-se  brevemente,  tenha  de  que  sem  trabalho  ou 
custo  se  proviam  longamente,  parte  emfim  em  que  se  po- 
deram  ir  fazer  chacinas  para  as  armadas,  em  que  com 
muito  paze  saúde  esperou  cincoenta  dias  por  D.  Fadrique. 
Aqui  chegou  João  Coelho  que  enviei  à  de  Maio  cora 
gente  e  petrechos  na  caravela  de  Cosme  do  Couto,  para  ti- 
rar a  artilheria  ao  que  tudo  se  oppunha  alegando  impossi- 
bilidades :  com  o  vento  rijo  arribou  ao  terceiro  dia.  Man- 
dei  logo  a  de  Monteroyo  o  que  levava  mestre  mui  experto, 
e  mui  boa  pessoa ;  esta  também  arribou  tendo  vista  de  hum 
pataxinho,  vinha  este  de  Guine,  e  era  do  governador ;  e 
porque  o  vento  se  levantou  tromentoso  não  houve  remédio 
que  esperar  abrandasse  algum  tanto.  Tornou  em  4  de  Ja- 
neiro levando  João  Coelho,  e  Egas  Coelho  seu  irmão  e  o 
auditor  geral  deste  exercito  que  com  mui  franca  vontade 
se  ofereceu,  e  afirmo  a  V.  M.  que  é  pessoa  notável  mere- 
cedor de  muitas  mercês  que  V.  M.  lhe  fará  quando  vir  seu 
procedimento ;  foi  com  elle  João  do  Loureiro  seu  primo 
que  seguio  as  letras  em  direito  civil,  e  é  muito  para  as  ar- 
enas, e  me  parece  será  de  importância  para  as  armadas,  o 
que  permiti,  posto  que  o  auditor  leva  ofícios,  a  que  con- 
vém assista,  persuadido  convinha  muito  ao  serviço  de  S.  M. 
ver  tudo  com  os  olhos,  o  estado  da  nào,  o  logar  em  ((ue 
se  perdeu,  a  possibilidade  de  lhe  tirarmos  a  artilheria  e  se 
informar  de  outras  cousas.  Terra  feira  7  do  me?  abran- 


I 


—  393  - 

dando  a  brisa  tornaram  com  muitos  aprestos,  artilheiros 
dos  melhores  e  outros  homens  do  mar  todo  a  ordem  de 
Francisco  Duarte,  mestre  do  navio  em  que  vem  Tristão  de 
Mendonça,  e  neile  tem  parte  Tomé  de  forças,  saúde,  expe- 
riência, e  notavelmente  desejos  de  entrar  no  serviço  de 
V.  M.  havendo-o  ahy  por  bem  Tristão  de  Mendonça  que 
para  este  efeito  mo  largou  oferecendo  o  navio  e  sua  pes- 
soa. Partiram  às  oito  da  noite  chegaram  no  outro  dia  á 
tarde.  Terça  feira  14  do  mez  chegou  aqui  o  auditor,  fican- 
do lá  toda  agente  com  mui  boas  novas  da  artelheria  dei- 
xandohuma  peçaenterrada.huma  naprancha,e  outra  para  se 
meter  nella.  Naquelle  dia  terça  feira  mandei  Heronymo  de 
Gouvea  mestre  desta  cappitania,  bom  marinheiro  e  de  mui 
boa  resolução  que  se  me  ofereceu,  e  a  meia  noite  pouco 
mais  chegou  aqui  com  dois  carretois  que  avia  na  cidade. 
A  15  do  mez  foy  Monteroyo,  e  Couto  com  petrechos  de  f 
novo  e  mais  gente  e  porque  as  caravelas  se  fizeram  á  vela 
sem  levar  hum  batelão  necessário  para  que  com  mais  faci- 
lidade SC  tirar  a  artilheria.  nem  poderiam  quisais  por  ser 
pequenas  e  estar  a  de  Couto  aberta  pela  aguada  desta  ar- 
mada em  que  assas  se  trabalha  ;  foy  necessário  mandar 
hum  patacho  capaz  de  trazer  a  artelheria  que  já  agora  com 
ajuda  de  Deosem  gran  parte  estará  tirada.  Não  foi  a  ca- 
ravela de  Marques  que  é  grande  é  possante  porque 

Isto  6  o  que  passa  até  agora  16  de  Janeiro  de  1625. 
Pela  devasa  que  envio  verá  V.  M.  como  passou  a  per- 
dição do  navio,  e  afirmo  a  V.  M.  que  me  vejo  era  aperto 
no  que  escreva;  estou  magoadissimo  de  tamanha  perda 
sendo  tal  a  ocasião  que  carrega  tanto  sobre  mim,  e  avendo 
que  não  foy  c>ausado  o  mal  por  algun  dos  desastres  que  no 
mar  aconlese,  senão  por  pura  fraqnesa  e  inhabilidade  de 
homens mandei  prender  o  mestre  e  o  piloto 


—  394  ^ 

Esta  é  a  verdade  do  caso,  mas  por  outra  parle  se  hade  con^ 
siderar  qne  não  tem  aqui  logar  malicia  humana  para  suspei- 
tar que  deixasse  os  oíBciaes  deiigencia  alguma  para  livrar 
o  navio  do  perigo,  é  desastre  que  a  muitos  pôde  acontecer 
e  a  mim  a  quem  o  tempo  tem  ensinado  muito  a  minha  arte. 
Estavam  naquelles  dias  aquellas  ilhas  mui  cobertas  de  né- 
voa, como  estão  gran  parte  do  anno,  não  se  vendo  que  de 
mui  perto.  Corre  aquella  costa  em  que  o  navio  se  perdeu 
quasi  noroeste  e  sueste,  o  vento  nordeste  rijo;  pela  proa 
que  levava  bem  se  cuidava  podia  costear  livremente ;  em 
verdade  que  digo  a  V.  M.,  o  que  entendo  como  se  com  os 
olhos  o  estivera  vendo,  indo  com  esta  intenção  apartados  o 
que  pareceo  necessário,  viram  de  longe  romper  os  mares 
pela  proa.  o  que  não  foy  crido  pelo  piloto,  porque  não 
esta  nas  cartas  a  restinga  tanto  ao  mar,  nem  os  roteiros 
a  dão  tam  afastada  da  costa ;  com  tudo  se  fez  na  volta  do 
noroeste,  e  como  os  mares  eram  grossos  e  o  vento  pesado 
voltou-se  en  roda  e  com  isto  se  chegou  o  navio  mais  a 
terra  aonde  se  vio  metido  em  novo  trabalho  com  outra  res- 
tinga pela  proa,  valeo-se  do  remédio  que  o  tempo  dà,  sur- 
gio  com  huma  ancora,  e  depois  com  duas  juntas.  Nada 
lhe  valeu,  como  naturalmente  em  costa  com  tal  vento  não 
podia  contrastar  ao  perigo,  engenho  ou  arte  humana ;  se 
convinha  mandar  sindar  com  um  batel,  de  que  ató  para  se 
salvar  fugio  a  gente  entre  taes  ondas  descorrrera  os  que 
estamos  fora  do  aperto.  Vi  valentes  descuidados  em  se- 
milhantes  trances,  de  outras  cousas  mais  fáceis.  Vi  desa- 
parecesse o  leme  muito  antes^  de  dar  a  costa,  faltar-me 

quem  fosse  cortar  as  boisas,  a  entena  do  traquete 

faltar  que  fosse  buscar  as  amarras  com  que  a  meu  pesar 
queria  surgir,  salvar-se  os  pilotos,  e  marinheiros  em  hum 
batel,  deixando-mc  na  nào,  inteira,  e  sem  tocar;  a  nin- 


■0 


—  ;i9.j  — 

guem  castiguei  tendo  jurisdição  de  V.  M.  para  o  fazer  em 

casos  de  maior  crime a2  de  Janeiro  de  16iS  o  titulo 

deste  livrinho  oferece  contar  algum  caso  particular  quando 
delle  se  podem  tirar  avisos  para  semelhantes  ocasiões  e 
proveitosas  ensinuanças.  Posto  que  todos  os  fidalgos  neste 
naufrágio  por  diverso  modo  fizeram  seu  dever  é  necessá- 
rio tomar  delles  por  mostra  dos  de  mais.  e  assim  approvo 
muito  o  procedimento  de  D.  António  de  Meneses,  naquello 
aperto  náo  inorando  que  gloria  et  virtus  infensas  habet  ui 
animus  ex  propinqtw  diversa  arguens;  fiou-se  no  galiio  de- 
liberado ajudar  a  salvação  de  muitos,  com  huma  constância 
digni  de  imitar-se  em  transe  semilhante.  a  onde  o  amor 
próprio  perde  tudo,  e  alguma  vez  a  mesma  vida,  que  ar- 
riscada a  honra  mais  estima.  Deixey  esta  carta  para  ultima 
e  remate  de  contas  de  nossa  artilheria.  Feitas  as  deligen- 
cias  entendi  que  o  cuidadoem  que  a  gente  estava  de  que 
podia  chegar  D.  Fadrique  e  acontecer  ficarem-se  na  iiha, 
seria  causa  de  se  apressarem  deixando  parte  da  artelheria 
mandei  de  novo  mais  gente  do  que  me  pediam  assegdran- 
do-os  por  minha  palavra  esperaria  por  todcs  confiado  em 
que  não  havia  Deos  de  permitir  que  olandeses  que  breve- 
mente aportaram  naquella  ilha  para  carregar  de  sal  como 
costumam  se  aproveitasem  de  tam  boa  artilheria  triumfan- 
do  de  nossa  desgraça.  Fez  no  S.  D.  M.  mercê  em  três  de 
Fevereiro  as  três  hora»  e  mea  depois  do  meio  dia  nos  che- 
gou a  caravela  de  Monteroyo,  com  as  ultimas  peças,  repa- 
ros, e  algumas  muniçois.  Cuido  que  mandando  somente 
entre  tantas  impossibilidades  que  me  punham,  e  geral  de- 
sesperação tenho  trabalhado  muito  ,  mas  nem  com 
isto  encaresse  bem  o  que  fez  aquella  gente  que  o  executou 
por  serviço  de  V.  M.,  sem  declararas  circunstancias.  He 
aquella  costa  brava  de  grande  ressaca  de  mares  mui  levan- 


—  396  - 

tados  neste  tempo,  o  vento  travesáo  muy  rijo  sem  abrigo 
algum.  Estava  o  corpo  do  navio  combatido  dos  mares. 
mas  entrado  delies  que  quando  a  gente  se  sayo  por  não 
perecer  miseravelmente.  Entrou  esta  vencev  o  temor,  ron- 
peu  as  ondas  pondo  as  mãos  ao  trabalho.  Tirava-se  com 
muito  perigo  a  artelheria  porque  estava  mui  encostado. 
As  pranchadas  em  que  devia  de  vir  a  terra  sobre  serem 
trabalhosas  de  ordenar  vinham  com  risco  grande  de  se  vol- 
tar como  a  conteceo  a  huma  das  primeiras  com  perigo  dos 
que  nella  vinham.  Na  praia  depois  de  passados  no  mar  ar- 
recifes perigosos,  os  espera  não  huns  medões  de  área  solta 
e  fdnda  deficeis  de  passar  por  gente  não  ocupada.  Daly  ao 
lugar  onde  estavam  as  caravelas  o  pataxo  avia  quasy  três 
legoas  que  se  passavam  com  dificuldade  e  vagar  por  falta 
de  carros  e  de  boys  que  eram  seis  somente.  Depois  de 
tirar  a  artilheria  estava  a  gente  tam  pronta  a  despresar  pe- 
rigos que  sulcavam  os  mares  espreitando  o  fundo  para  ti- 
rar duas  peças  que  o  navio  alyara  antes  de  surgir,  e  ven- 
do-se  hum  sembrante  não  faltou  quem  mergulhase  e  reco- 
nhecesse que  era  fuste  de  huma  ancora.  Salvou-se  tudo  o 
que  se  achou,  e  logo  como  levaram  por  regimento,  recu- 
peram o  costado,  entraram  no  payol  do  mestre,  tiraram 
velas,  moretes,  paveses,  archotes  de  cera,  fio,  pregadura ; 
dos  camarotes  fazenda  dos  particulares,  e  com  tudo  se  re- 
colheram a  esta  armada,  João  Coelho  da  Cunha  assistio  com 
sua  pessoa,  escravos,  e  boys,  sustentando  muitos  dias  ses- 
senta homens,  matando-lhes  seus  gados  com  largueza  mui 
conforme  ao  zelo  que  de  principio  mostrou  pelo  que  merece 
que  V.  M.  lhe  faça  mercê  de  o  honrrar.  Ao  outro  dia  terça 
feira  4  do  mez  estando  escrevendo  esta  chega  huma  fragata 
de  S.  Lucar,  me  dá  novas  que  D.  Fadrique  de  Toledo  sayo 
ha  22  dias  de  Cadiz  com  sua  armada,  que  por  esta  conta 


—  397  — 

foy  a  14  de  Janeiro,  e  jà  nos  não  toma  de  sobresalto.  Que- 
ria eia  quanto  a  de  Portugal  espera  a  deCastelia  entáo  com- 
modo  porto  contra  os  sucessos  das  armas  olandesas  por 
mar  e  terra,  mas  foy  táo  exessivo  o  trabalho  que  nâo  ouve  ^ 
logar  que  para  padeselo.  C  ontudo  posto  que  anteponha, 
ou  propunliam  injusto  será  ficar  em  silencio.  E  se  revelas 
hey  por  relações  que  tive  sem  obrigar  nelas  o  escrúpulo 
da  certesa  com  que  escrevo.  A  folhas  27  de  Julho  de  624 
sayo  Jaques  Guilhelme  da  Bahia  com  onse  nàos  bem  arti- 
lhadas da  armada  em  que  fora  general,  destas  se  nâo  soube 
mais  que  tornar-sc  pêra  Olanda  com  carga  de  sal;  nâo  le- 
varam mais  gente  que  a  do  mar.  A  seis  de  Agosto  sayo 
outra  esquadra  de  seis  navios,  e  dous  pataxos  com  pouca 
genla  de  guerra  tirada  das  companhias  que  ficavam  na 
Bahya.  Nesta  foy  Pedro  Perez  almirante  da  armada  na 
volta  de  Angola  aonde  chegou  a  30  de  Outubro  deixando-se 
estar  à  vista  da  Loanda  30  dias.  Tudo  estava  prevenido 
por  aviso  de  S.  M.  e  socorro  que  os  governadores  de  Por- 
tugal, tinham  mandado  com  Bento  Banha  Cardoso,  e  pelo 
cuidado,  e  assistência  do  novo  governador  daquella  pro- 
vincia  Fernam  de  Souza  que  entáo  chegara ;  feita  presa  de 
huma  náode  Sevilha,  e  outros  dois  pataxos  de  pouco  porte, 
sem  dano  seu,  e  ainda  sem  riscp  se  fez  na  voltada  costa  do 
Brazil,  em  Março  de  62  S  entrou  no  porto  do  Spirito  Santo 
de  que  aquella  cappitania  toma  o  nome  de  que  era  dona- 
tário Francisco  da  Guiar  Coutinho  que  a  governava.  Que- 
ria Deus  livrar  esta  província  de  piratas  estando  aquelle 
porto  sem  força  falto  de  munições  se  achou  nelle  acaso  Sal- 
vador de  Saâ  de  Benevides  que  tinha  ido  de  socorro  ao  Rio 
de  Janeiro,  e  seu  pay  Martim  de  Saâ  a  mandava  com  duas 
caravelas  e  quatro  canoas  a  socorrer  a  gente  unida  da  Ba- 
hya, dizem,  com  duzentos  homens  brancos  e  Índios  de 

JUNHO.  5i 


/ 


—  398  — 

arcabuses  e  frechas.  Juntas  as  forças  sahiram  a  encontrar 
o  inimigo  o  que  apregoando  paz  em  altas  vozes  hyam  mar- 
chando pêra  o  lugar.  Não  lhes  pareceo  aos  nossos  bom 
partido  a  escaramuça  de  arcabuses,  de  gente  pouco  practi- 
ca,  e  de  frechas  tiradas  por  índios  que  tenho  por  causa  de 
nenhum  efeito  em  corpos  vestidos,  contra  cento  e  vinte 
mosqueteiros  que  o  olandes  levava.  Mas  com  resolução 
portuguesa  aproveisando-se  dos  melhores  frecheiros  os 
envestiram  a  espada  com  tanto  valor,  que  deixaram  o  posto 
fugindo  sem  ordem,  largando  mosquetes  faltos  de  animo 
para  empunhar  a  espada.  Com  despojos  se  recolheram  os 
nossos  à  povoação,  e  elles  com  sua  afronta  feridos,  e  es- 
pancadas as  suas  lanchas,  com  perda  de  vinte  cinco  homens, 
mortos  no  primeiro  encontro.  O  dia  seguinte  sentindo  uma 
emboscada  eni  que  Salvador  de  Saâ  os  esperava  não  ousa- 
ram tentar  fortuna,  nem  poderam  escapar  de  suas  mãos 
pelejando  no  rio  de  uma  barcaça,  e  duas  lanchas,  e  o  Saâ 
de  suas  canoas  com  que  os  poz  em  fugida  tomando-lhes 
hmna,  escapando  outra  com  o  remo  empunho.  Morreram 
querenta  do  inimigo  fora  os  feridos.  Esta  esquadra  foy  na 
volta  da  Bahya,  e  achando  nella  a  armada  catholica  fez  sua 
derrota  para  o  norte  passando  a  vista  de  Parnambuco  a 
quatro  de  Maio. 

No  destricto  da  Bahya  ouve  por  este  tempo  muitas  mu- 
danças de  governo.  Antão  de  Mesquita  foy  eleyto  em  se 
unindo  a  gente,  por  capitão  mor  para  acudir  a  que  o  ini- 
migo não  sayse  da  cidade  facsão  de  que  nas  relasões  se  faz 
gran  caso,  e  por  ventura  deu  ocasião  a  grande  trabalho,  e 
maior  risco  como  se  vera.  Sendo  asy  que  por  muitas  in- 
quirições que  depois  se  tiraram  e  me  vieram  á  mão  contou 
que  com  pena  de  morte  era  proybido  nenhun  saise  dos 
marcos  da  cidade,  e  por  esta  conta  os  que  sayam  era  gente 


(k  pouca  consideração,  e  desobediente.  Com  o  novo  go* 
vernador  foram  eleytos  cappitáes.  Lourenço  Cavalcanti  de 
Albuquerque,  Lourenço  de  Brito»  Diogo  da  Sylva,  Belchior 
Brandão,  Belchior  da  Fonseca.  Francisco  de  Barbuda.  Mas 
vista  a  impossibilidade  de  Antão  de  Mesquita  por  idade  e 
achaques  os  oiliciaes  da  camará  que  residiam  em  Pitanga 
termo  da  cidade  elegeram  dois  coronéis,  Lourenço  Caval- 
canti e  António  Cardoso  de  Barros  pessoas  naturaes  da- 
quellas  terras  sem  nenhuma  consciência  a  cujo  cargo  es- 
tivesen  as  cousas  da  guerra,  e  neste  tempo  deviam  os  ve- 
readores a  modo  de  sisma  de  eleger  por  capitão  mor  ao 
bispo  que  deixada  a  aldeã  do  Spirito  Sancto  em  que  resi- 
dia, se  mudou  para  rio  Vermelho  huma  légua  da  cidade, 
porque  em  huma  carta  de  12  de  Setembro  em  que  Antão 
de  Mesquita  dá  novas  ao  capitão  Malhias  de  Albuquerque 
de  ser  chegado  o  capitão  mor  Francisco  Nunes  Marinho 
fala  como  apaixonado  e  resentido  alegando  muito  o  que 
mereceu  ao  serviço  deS.  M.  na  paciência  com  que  desimu- 
lou  os  agravos  que  recebia  do  bispo,  a  quem  carrega  muito 
com  synonimos  gramáticos  de  ambicioso,  se  queixa  do 
ódio  que  lhe  tinha  mui  antigo  por  resáo  das  contendas  com 
a  relação  sobre  querer  uzurpar  a  jurisdição  real.  Mas  foy 
este  prelado  excelente  pessoa,  e  aquella  relação  se  extin- 
guio  por  ordem  de  S.  M.  Deixou  este  valeroso  prelado 
crescer  a  barba,  vestiu  roupa  de  burel  por  baixo  do  joelho, 
chapeo  de  abas  grandes  representando  nas  acções  das  armas 
hum  grande  general,  hum  exemplo  de  vida  na  modéstia, 
com  hun  cruz  nas  mãos  santo  do  ermo.  As  armas  de  suas 
bandeiras,  era  a  ditosa  arvore  em  que  o  filho  de  Deus  mor- 
reu por  nós.  xYjuntando  a  gente  achou  mil  e  quatrocentos 
homens  brancos,  e  duzentos  e  cincoenta  indiosque  lhe  asis'* 
tiam  com  muito  gosto,  c  cuidado,  o  que  depois  da  sua  morte 


^  400  — 

mudailo  tudo  não  foi  asy.  Aquartelouse  cm  rio  VermelliO/ 
ordenou  trincheiras  de  terra,  e  faxina  com  seus  traveses, 
plantou  em  certas  plataformas  seis  peças  de  artilheria.  seis 
roqueiras  três  falcões,  com  que  tudo  ficou  a  seu  parecer  de- 
fensável da  forçai  com  que  o  inimigo  poderia  acocmeter 
deixando  o  presidio  da  cidade.  No  traballio  da  pa  e  da  en- 
xada era  o  primeiro  exemplo.  Deste  governo  que  durou 
quase  quatro  meses  tive  algumas  relações  muito  meudas 
de  morte  de  alguns  olandeses  que  se  desmandavam,  de  ou- 
tros que  sayam  a  buscar  alguma  i^es,  ou  a  lavar  sua  roupa, 
de  alguns  assaltos  ora  no  rio  ora  junto  a  seus  reparos  da  ci- 
dade. Assinalavase  nestes  o  capitão  iManuel  Gonçalves,  e 
com  particularidade  o  capitão  Francisco  de  Padilha  natural 
do  Brazil  que  trasia  sua  origem  de  Portugal.  Sayo  a  15  de 
Junho  o  coronel  João  Doart  a  cavallo  acompanhado  de  al- 
guns soldados  tocando  trombetinha  diante ;  acudio  esto 
capitão  com  a  gente  de  sua  bandeira,  e  do  primeiro  arca- 
busaço  matou  o  cavallo  do  coronel,  e  arremetendo  sem  es- 
cutar rasões,  ou  promesas  lhe  cortou  a  cabeça,  e  invistindo 
a  companhia  os  poz  em  fugida,  e  lhes  foy  no  alcance  hum 
gran  pedaço.  Alguns  dos  inimigos  se  acharam  mortos,  nem 
o  numero  dos  feridos  se  soube.  Em  logar  do  morto  coro- 
nel foy  eleyto  Alberto  Scott.  Entre  os  fortesinhos  da  Ba- 
hya  só  o  de  San  Phelippe  ocupou  o  inimigo  com  trinta 
soldados  e  hum  cabo.  Está  a  huma  pequena  legua  da  ci- 
dade da  parte  do  norte  mandado  fazer  pelo  governador  D. 
Francisco  de  Souza  para  seu  regalo,  e  entretenimentos.  O 
sitio  chamado  TajKigipe  é  uma  peninsula  eminente  que 
com  trabalho  de  poucas  gastadores  se  poderá  islar,  e  des- 
mantelada a  do  Salvador  como  impossivel  de  defenderse 
pelos  padrastos  que  a  Coroam,  epovoarse  nella  uma  cidade 
digna  de  metropoli  daquella  gran  província.  Tudo  o  que  o 


—  401  — 

mar  lava  em  cercuito  heresaca,  arrecife  e  costa  brava,  tem 
huma  fonte  e  avera  outra  se  as  buscaren,  e  a  falta  delias 
poderão  deferir  sistemas  mui  capazes.  Não  tem  padrasto 
donde  possa  receber  dano,  sitio  excelente,  lindas  vistas, 
como  o  porto  fronteiro  ás  armadas  que  entraren  pela  barra, 
a  terra  fertilissima ;  meterão-lhe  algumas  peças  de  artilhe- 
ria  tendo-o  como  refugio  (se  é  verdade  o  que  este  cabo 
disse  sendo  juridicamente  perguntado  em  Lisboa,  do  que 
muito  duvido )  para  se  recolher  se  por  má  fortuna  fossen 
desalojado  da  cidade.  Querendo  este  cabo  regalar  com  pes- 
cado fresco  o  novo  coronel  sayo  em  3  de  Agosto  con  três 
companheiros  para  o  tomar  a  huns  negros  que  tinham  atra- 
vessado lium  esteiro  com  parede  de  pedra  solta  deixando- 
lhe  huma  aberta  por  onde  o  peixe  os  rebeldes  em  barcos 
em  que  apenas  cabiam,  em  esteiros  mui  estreitos  e  os  nos- 
sos entrinclieirados  por  suas  margens.  D.  Francisco  de 
Moura  quarto  capitão  mor  do  exercito  dos  assaltos,  e  re- 
côncavo da  Bahya,  chegou  á  Torre  de  Garcia  d'Avila  em 
sete  barcos  a  19  ou  20  de  Novembro.  A  3  de  Desembro 
lhe  entregou  Francisco  Nunes  Marinho  o  cargo  conforme 
a  orden  de  S.  M.,  e  como  dono  mais  próprio  dispoz  as  cou- 
sas com  mais  vagar  e  descurso.  A  Manuel  de  Souza  de  Eçít 
que  tinha  ido  por  capitão  mor  do  Gran  Pará  encarregou 
de  fortificar  alguns  portos  donde  se  pudesse  acodiras  sorti- 
das que  o  inimigo  fizesse  apicorea  ea  dano  dos  engenhos, 
e  por  atalhar  todas  as  vias  esquipou  algumas  embarcações 
para  guarda  dos  estreitos  por  onde  se  vão  aos  engenhos. 
Destas  fez  cabo  João  de  Salazar  de  Almeida,  sinalou  ins- 
tancias particulares  aos  cappitães  Francisco  de  Padilha, 
Lourenço  de  Brito,  a  quen  dava  a  de  Rio  Vermelho,  a  Ma- 
nuel Gonçalves  a  de  Tapagípe.  Serviram  nestas  ocasiões  os 
capitães  Pedro  de  Campos,  António  de  Moraes,  Jorge  de 


—  402  — 

Aguiar,  Diogo  Mendes  Barradas,  António  Casemiro  Falcalo^ 
Gabriel  da  Costa,  Agostinho  de  Paredes,  Francisco  de  Cas- 
tro, Cachoeiras,  natural  deste  estado,  e  outro  que  não  vie- 
ram à  minha  noticia.  Neste  governo  ouve  vários  assaltos 
com  bom  sucessos  achando  se  em  alguns  delles  D.  Francis- 
de  Moura. 

Os  bandos  que  na  cidade  havia  que  ninguém  saísse  ao 
campo  sem  licença,  agora  escreve  os  crédulos  se  aper- 
taram mais  por  av:r  jà  no  exercito  muitos  mosquetos,  mu- 
nisões  e  infanteria  diferente,  o  que  tudo  se  bem  pôde  ser 
verdade,  foi  certissimo  caminho  para  o  triste  successo 
que  depois  se  padeceu.  Náo  cuidei  que  táo  largo  fosse  o 
aparato,  pudera  reclamar  sobre  o  titulo  do  livrinho,  e  não 
menos  sobre  a  proposição.  Mas  verdadeiramente  mais  pe- 
sado fora  à  nação  Portugueza  prontíssima  ao  serviço  de 
seus  reys.  e  nesta  ocasião  com  tanto  excesso  das  passa- 
das, zeladora  de  sua  real  reputação,  deixando  de  escre- 
ver estes  successos,  do  que  aprasivel  aos  engenhosos  crí- 
ticos se  cortando-os  passava  a  cousas  mais  sustanciaes. 
Está  o  animo  desejando  de  levar  ancoras,  estender  ve- 
las das  armadas  catholicas  aos  nordestes  com  que  áo  de 
sair  do  Cabo  Verde  para  chegar  ao  fim  do  que  pretendi 
escrever  mas  vejo  a  isto  necessária  delação.  Partiu  D. 
Fadrique  de  Toledo  Osório  Marques  de  Vilhanueba  de 
Vaulduesa,  capitão  general  da  armada  e  exercito  do  mar 
oceano,  avendo-se  cansado  com  trabalho  excessivo,  e  assis- 
tência continua  no  apresto  de  sua  armada,  de  Cadix  a  14 
de  Janeiro  de  62S,  e  sem  cuidado  que  de  uma  borrasca 
desembocando  o  Cabo  de  S.  Vicente,  e  de  hum  navio  e 
tartana  derotados  que  pouco  depois  se  lhe  ajuntaram,  che- 
gou ao  porto  da  Praya  a  6  de  Fevereiro  quando  se  punha 
o  sol  com  pujantíssima  armada.  A  sua  cappitana  real,  a  real 


—  403  — 

(lo  estreito  qiic  fazia  o  o  oficio  de  almirante  real,  a  cappi- 
tana  de  Nápoles,  de  Biscaya,  de  Quatro  vilhas.  Vinte  e 

cinco  navios  de  força,  afora e  outras  de  bastante 

artilharia,  e  ya  guiada  pelo  capitão  Cosme  do  Couto,  que 
D.  Manuel  de  Menezes  capitão  general  da  armada  de  Por- 
tugal tinha  enviado  á  ilha  de  Maio  a  encontrar  a  deCastella. 
Ouve  as  salvas  costmnadas,  e  com  excessos  nas  cortesias 
pela  excelente  naturesa  de  D.  Fadrique.  Não  ouve  logar 
aquella  noite  de  visitas,  por  recados  ao  seguinte  a  ora  con- 
veniente da  manhã  se  embarcou  D.  Manuel  acompanhado 
em  sua  falua,  e  noutras  que  o  seguiam  da  mais  em  nu- 
mero, mais  rica,  mais  caliiicada  nobreza  de  Portugal  que 
em  outra  qualquer  ocasião,  em  que  a  pessoa  real  não  fosse 
se  tinha  achado.  Quiz  venselo  em  cortesia  o  general  de 
toda  a  empresa  D.  Fadrique,  e  o  venceo,  mas  por  falua 
mais  ligeira  em  que  no  mesmo  porto  se  embarcou,  nave- 
gando cada  uma  delias  para  a  outra  cappitana  em  copetencia 
qual  primeiro  chegaria.  Chegou  D.  Manuel  a  Castelhana 
estando  jà  D.  Fadrique  na  Portugueza;  voltou  logo  e  es- 
perou logo  baixasse  D.  Fadrique  para  o  acompanhar  a  sua 
capitana  como  estava  obrigado,  avendo  sobre  isto  dilata- 
díssimos comprimentos.  Obedeseo  enfim  D.  Manuel,  re- 
cebeu visita  na  sua  varanda.  Acompanhavam  a  D.  Fadri- 
que o  general  D.  João  Feijardo,  D.  Afonso  de  Lencastre 
filho  do  duque  de  Aveiro  D.  Henrique  de  Alagon  seu  so- 
brinho filho  de  D.  Martin  conde  de  São  Thiago,  e  de  sua 
prima  com  irmãa  a  condesa  D.  Caterina  Pimentel  filha  do 
Marquez  de  Távora,  o  Marquez  de  Cropam  mestre  de  campo 
general  da  empresa,  e  mestre  de  campo  D.  Pedro  Bócio, 
D.  Manuel  de  Gusmão,  e  outros  muitos  fidalgos,  e  capitães. 
Díspedindo-se  não  permitio  que  D.  Manuel  baixase,  mas 
seguindo-o  a  gran  voga  chegou  antes  e  subiu  a  sua  cappi^ 


—  404  —    ' 

tana,  aonde  se  deteve  mu  gran  espaço.  O  gosto  com  que 
estas  armadas  se  ajuntaram  se  poderam  mal  engrandecer 
com  poucas  palavras.  Contase  que  quando  D.  Fadrique 
descobrio  a  de  Portugal  dando  graças  a  Deos  pela  mercê 
disse  Juanes  Baptista  em  martes  dia  que  sempre  deseja  es- 
colher para  suas  impresas  até  nisto  se  conformarão  que 
aquellamesma  afeição  tem  D,  Manuel  as  terças-feiras  sendo 
Menezes,  e  aribas  Mendoç^isda  casa  do  du  que  do  infantado. 
Quatro  dias  se  deteve  naquelle  porto  D.  Fadrique  excluido 
o  em  que  chegou  e  o  em  que  partio.  Nestes  fez  gran  deli- 
gencia  em  refazer  os  navios  de  que  faltava,  no  que  ajuda- 
ram com  muito  cuidado  as  caravelas  de  Portugal,  em 
quanto  esta  aguada  se  fez,  porque  este  tempo  se  não  perca, 
será  muy  a  propósito  de  ver-se  que  jurisdição  foy  S.  M. 
servido  levassem  os  generaes  de  Castella  e  Portugal  que 
toda  veo  por  decretos  do  conselho  de  estado  de  Portugal 
que  não  quebrou,  ou  alterou  algumas  das  antigas  assenta- 
das por  consentimento  de  ambas  as  coroas. 

COPIA    DO   ALVArA    sobre    0    MODO    DAS   BANDEIRAS    E    OUTRAS 
PREUEMINENCIAS. 

Eu  ElRey  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  aven- 
do  visto  o  que  se  me  representou  por  parte  da  coroa  de 
Portugal  acerca  das  preheminencias  do  seu  estandarte, 
quando  as  armadas  delle  navegarem  em  companhia  das  de 
mar  oceano.  E  querendo  dar  tal  ordem  que  fosse  assentada 
e  estabelecida  para  o  diante  consideradas  as  conveniências 
de  meu  serviço  e  autoridade  da  mesma  coroa  que  se  ofere- 
cem para  aver  de  ordenar,  ei  por  bem  e  mando  que  as 
eappitanas  das  armadas  da  mesma  coroa  assim  as  que  forem 
e  vierem  da  índia  oriental ,  como  quaesquer  outras  que 


—  403  — 

com  o  nome  e  titulo  de  armada  real  se  foren  e  aprcsentaren 
naquelles  reinos  por  conta  delles  tragam  estandartes  qua- 
drados nos  calseses  com  as  armas  reaesde  Portugal,  como 
as  costumam  trazer  as  cappitanas  dos  ditos  reinos ;  sen- 
do a  cor  dos  ditos  estandartes  azul,  vermelhos,  ou  qual  o 
meu  Visíi  rey  de  Portugal  escolher,  náo  branca  como  tra- 
zem as  armadas  da  coroa  de  Castclla  para  que  aja  diferença 
entre  umas,  e  outras  e  possam  sempre  ser  conhecidas  dos 
navios  de  suas  cappitanas  c  iião  trarão  as  ditas  capitanas  de 
Portugal  estandarte  na  pcpa  o  que  somente  fica  reservado 
para  a  cappitana  real  do  mar  occeano,  ou  sua  almiranta  em 
sua  ausencia.com  declaração  que  as  ditas  cappitanas  de  Por- 
tugal quando  encontraròn  a  real  do  mar  occeano  ou  sua 
almiranta  em  sua  ausência  no  mar,  ou  no  porto  o  não  sahir 
delle  lhe  abaterão  os  estandartes,  e  a  salvarâo  com  quatro 
peças  de  artilheria  logo  que  chegarem  a  vista,  e  a  real  lhe 
responderá  com  duas ;  e  depois  tornarão  as  ditas  cappita- 
nas de  Portugal  a  arvorar  os  estandartes,  e  estavão  e  nave- 
ga vão  com  elles.  e  tendo  ordem  minha  particular  para  se 
ajuntaren,  e  navegaren  com  a  dita  armada  no  mar  oceano 
não  levarão  farol  aseso,  e  seguirão  e  guardarão  os  meus 
cappitáes  geraes,  ou  capitães  mores  das  ditas  armadas  de 
Portugal  as  ordens  do  capitão  geral  do  mar  oceano  em  tudo 
e  por  tudo  no  que  tocar  a  viage  e  guerra,  porém  o  dito 
capitão  geral  do  mar  oceano  náo  terá  jurisdição  criminal 
sobre  os  casos  que  nas  ditas  armadas  de  Portugal  sucederem 
nem  entenderá  no  governo  particular  das  ditas  armadas, 
provisão  das  capitaneas  despesas  dos  mantimentos  e  mo- 
niçõos,  nem  outras  cousas  semilhantes,  e  para  que  tudo  o 
conteúdo  neste  alvará  se  cumpra  e  guarde  inteiramente  — 
10  de  Julho  do  1618.  Sobre  os  moradores  do  Brazil  ouve 
S.  M.  por  seu  serviço  que  D.  Fadrique  tivesse  jurisdição 

JUNHO  52 


—   406  — 

em  matérias  de  guerra  sem  dar  parte  a  D.  Manuel,  salvo 
na  gente  de  guerra  que  de  Portugal  tinha  ido  ao  socorro, 
e  naquelle  tempo  melitava  com  D.  Francisco  de  Moura. 
Do  primeiro  consta  pelo  alvará  seguinte. 

Eu  ElRey  faço  saber  ao  governador  do  Estado  do  Brasil 
eaos  capitães  das  fortalezas  delle,  e  a  todos  e  a  quaesquer 
ofiQciaes  de  guerra  que  no  dito  Estado  me  serven  asy  na  terra 
como  no  mar :  e  aos  desembargadores  e  ofDciaes  de  justi- 
ça, e  de  minha  fasenda  e  de  todas  as  demais  pessoas  que 
nelle  assistem  e  de  qualquer  calidade,  estados  condição  que 
sejáo  a  que  este  alvará  for  mostrado  que  enviando  eu  agora 
ao  dito  Estado  a  D.  Fadrique  de  Toledo  Osório  meu  cappitão 
general  da  armada  do  mar  oceano  para  recuperar  a  cidade 
do  Salvador  da  Bahya  de  todos  os  Santos  que  os  inimigos 
ocuparam  por  convir  a  meu  serviço  pêra  a  boa  direcção 
dos  efeitos  que  hade  emprehender,  ey  por  bem  e  mando 
que  o  dito  governador,  como  todos  os  capitães,  ofliciaes  e 
ministros  meus  de  qualquer  calidade  e  condição  que  sejam 
obedeçam  ao  dito  D.  Fadrique  de  Toledo,  c  guarden  e 
cumpram  suas  ordens,  nas  matérias  de  guerra  e  dependen- 
tes delia,  assy  na  terra  como  no  mar  tão  inteiramente  como 
se  por  mim  lhe  foram  dadas,  sem  dúvida  nem  contradição 
alguma,  e  que  não  o  fazendo  assim,  ou  avendo  para  isso 
outra  particular  resão  de  meu  serviço  os  possa  o  dito  D. 
Fadrique  de  Toledo  tirar,  e  por  outros  quaes  lhes  parecer 
em  seus  lugares,  para  o  que  lhe  dou  todo  o  poder,  comissão 
e  autoridade  que  se  requer,  e  quero,  e  mando  que  este 
alvará  tenha  forças  e  vigor  e  se  cumpra sem  em- 
bargo de  quaesquer  leis 1  de  Outubro  de  1624.  O 

como  S.  M.  foy  servido  dispor  no  segundo  ponto,  consta 
pelas  palavras  seguintes  do  Regimento  que  mandou  a  D. 
Manuel.  D.  Francisco  de  Moura  que  mandei  ao  recôncavo 


~  407  — 

<la  Bahya  pêra  servir  aly  de  capitão  mor  liade  ter  a  seu  car- 
go toda  a  gente  com  que  aly  o  achares,  ficando  porem  com 
ella  a  vossa  ordem  com  a  mais  gente  que  levais  na  armada 
Asy  o  fez  a  saber  a  D.  Francisco  de  Moura.  Eu  ElRey  vos 
envio  muito  saudar.  Tendo  por  certo  que  com  a  vossa  che-^ 
gada  a  essas  partes  se  haverá  melhorado  t^nto  as  coisas  do 
jmevL  serviço  nellas  que  quando  com  o  favor  de  Deus  che- 
garen  à  Bahya  as  minhas  armadas  em  cuja  companhia 
recebereis  esta  haja  pouco  que  fazer  em  desalojar  esses 
inimigos  se  ainda  estiveren  nas  fortificações  em  caso  que 
ahy  se  achem  tanto  que  o  exercito  que  vay  nestas  armadas 
for  em  terra  ou  com  qualquer  recado  que  tiveres  antes  dis- 
to  acudireis  logo  a  ella  no  que  se  vos  ordenar  dando  inteiro 
Comprimento  às  ordens  que  receberdes  com  a  pontuali- 
dade que  de  vos  confio,  advertindo  que  esta  impreza  vai 
cometida  a  D.  Fadrique  de  Toledo  e  que  tudo  hade  estar  a 
sua  obediência  porém  vos  com  a  que  tiverdes  a  vosso  cargo 
aveis  de  eslar  á  orden  de  D.  Manuel  de  Meneses  general  da 
armada  da  coroa  que  hade  fazer  em  tudo  o  que  tocara  ella 
e  mesmo  oíBcio,  ou  seja  no  mar,  ou  seja  na  terra,  conforme 
a  isto  emquanto  elle  ahy  estiver  sessarà  a  jurisdição  que 
daqui  levastes  que  hade  ficar  nelle  pêra  uzar  delia  confor- 
me aos  regimentos  que  aqui  mandei  dar  ;  e  porque  de  vossa 
inteligência,  experiência  e  valor  tenho  por  certo  que  nas 
ocasiões  que  se  oflereceren  respondereis  inteiramente  à 
confiança  que  faço  de  vossa  pessoa,  e  que  os  mesmos  façam 
os  capitães  e  soldados  que  militam  com  nosco,  deixo  de 
vos  lembrar  o  mesmo  que  de  vos,  e  delle  se  espera  e  o 
cuidado  com  que  deveis  procurar  que  os  naturaes  deste 
recôncavo,  o  os  moradores  dos  engenhos  dclle  sirvam  nes- 
ta ocasião,  e  acuda  com  mantimentos  ao  provimento  das 
armadas,  c  exercito 19  de  Novembro  624! 


—  408  — 

lie  Lintoasyquo  S.  M.  quiz  dará  D.  Manuel  de  Meneses 
Ioda  a  jurisdição  de  sua  armada  que  depois  de  lhe  manda- 
ren  seu  regimento  que  dê  a  D.  Fadrique  de  Toledo  o  numero 
que  \\r  convém  para  o  sitio  limita  com  o  seguinte!!  Com 
que  a  armada  fique  segura  e  provida  no  mar  de  maneira 
que  não  tam  somente  se  possa  defender  dos  inimigos  se 
sobrevieren  e  acometere  mais  desbarlalose  alcançar  delles 
a  vitoria  que  espero  em  Deus  e  da  nobreza  que  levais  com 
vosco  tenho  por  certo  que  aparte  delia  que  fycaren  nos 
navios  seguindo  nisso  as  ordens  que  lhe  derdes  entendam 
que  me  serven  nisso  mais  que  os  que  desembarcarem  em 
terra ;  como  da  mesma  maneira  devem  de  entender  os  que 
saltaren  em  terra  em  comprimento  de  vossas  ordens,  que 
me  serven  nisso  mais  que  em  ficnrem  no  mar ;  de  modo  que 
seja  presuposto  para  uns  e  outros  que  a  calificação*  do 
serviço  consiste  em  não  se  fezer  diferença  de  uma  cousa  a 
outra,  e  que  a  sustancia  e  merecimento  está  em  se  acudir 
igualmente  ao  mar  c  a  terra  conforme  as  ordens  que  nisso 
derdes ;  e  que  este  á  o  ponto  a  que  deven  deferir,  e  em  que 
se  hade  mostrar  mais  a  obediência,  e  o  valor,  e  o  zelo  de 
meu  serviço E  porque  conste  o  de  jastira  como  cons- 
tou agora  o  da  guerra  se  vê  no  Alvará  segiinle  sobre  a  for- 
ma em  que  avia  de  proceder  nos  casos  nelle  apontados. 

Eu  El-Rey  faço  sibor  a  vos  D.  Manuel  de  Meneses  capi- 
tão geral  da  armada  da  costa  do  Portugal  do  socorro  do 
Br^zil  que  por  asy  cumprir  a  meu  serviço  e  boa  adminis- 
tração de  justiça,  ey  por  bem  evos  mando  qu^  sendo  doente 
ou  impedido  o  bacliarel  António  Rodrigues  de  Figueredo 
ouvidor  da  dita  armada  demaneira  que  não  possa  servir-vos 
possacs  nomear  outro  ouvidor  em  seu  lugar  que  sirva  em 
quanto  durar  tal  impedimento,  ou  eu  nome;:r  outra  pessoa, 
e  os  ouvidores  por  vós  nomeados  guardarão  em  tudo  o  re- 


—  409  — 

gimcnto  que  tenho  mandado  dar  ao  dito  António  Rodri- 
gues no  qual  lhe  concedo  que  nos  casos  crimes  que  suce- 
derem nesta  armada  durante  a  navegação  deste  porto  ao 
Brazil.  E  asy  no  tempo  qae  se  detiver  naquella  província 
tenha  alçada  em  todas  as  pessons  de  qualquer  sorte  e  con- 
dição que  sejam,  sem  appelaçáo  nem  agravo,  e  nos  casos 
de  morte  ou  de  cortamento  de  membro,  ou  de  execução 
de  tratos  proceda  tomamdo  por  adjuntos  três  cappitáes  da 
ditta  armada  que  vos  nomeareis  e  que  também  tereis  voto 
e  náo  se  podendo  ajuntar  os  ditos  capitães  o  façais  com  três 
fidalgos,  ou  outras  pessoas  graves  e  de  bom  entendimento 
que  outro  sy  vos  lhe  nomeareis,  e  que  sucedendo  crime 
em  porto  onde  haja  corregedor  ou  ouvido  por  mim  o  sen- 
tenciasse com  elle,  e  com  dois  capitães  presidindo  vós  que 
tereis  voto  na  forma  sobredita,  e  que  cometendo-se  os  ditos 
casos  era  qualquer  dos  outros  navios  os  capitães  delles  lhe 
remetesse  os  culpados,  para  delles  conhecer  pela  sobredita 
maneira :  porque  asy  lho  mando  pelo  dito  regimento  e  que 
estando  a  armada  na  Bahya  sentencie  aos  ditos  casos  con 
cinco  desembargadores  da  Relação  do  Brazil  se  os  ouvcr, 
e  náo  avendo  tantos  os  despache  com  quatro  desembar- 
gadores, e  náo  avendo  quatro  com  dois ;  e  que  navegando 
a  dita  armada  de  torna  viago  para  esta  cidade  proceda  com 
os  adjuntos  que  lhes  vos  nomeardes  na  forma  sobredita 
com  as  penas  ate  morte  natural  inclusive  contra  aquelles 
que  cometerem  rebelliáo,  motim  ou  alevantamento  contra 
vossa  pessoa,  ou  de  vosso  navio,  ou  de  não  investirem  o 
inimigo  quando  lhe  for  mandado,  ou  roubar  algumas  cou- 
sas dos  navios  que  se  visiíarem  por  averiguar  se  são  de 
inimigos.  E  asy  me  praz  que  vos  náo  possaes  tirar  do  dito 
cargo  de  ouvidor  ao  dito  António  Rodrigues  enquanto  eu 
náo  mandar  o  contrario,  o  sendo  caso  que  elle  cometa  ai- 


—  410  — 

gum  crime,  ou  excesso  porque  nos  pareça  merece  ser  de- 
posto de  seu  oflicio  fareis  disso  autos  para  que  possa  contar 
das  ditas  culpas  os  quaes  trareis  a  esta  cidade,  e  remetereis 
aos  desembargadores  do  Paço,  para  dahy  se  mandar  fazer 
justiça,  com  declaração  que  sendo  o  crime  ou  excesso  ca- 
pital o  podereis  prender,  e  pôr  outro  ouvidor  em  seulogar. 
E  porque  D.  Francisco  de  Moura  que  enviei  com  as  cara- 
velas de  socorro  aquellas  partes  levou  jurisdição  nas  ma- 
térias de  justiça  e  sobre  os  soldados  que  com  elle  foram, 
ey  por  bem  que  tanto  que  esta  armada  chegar  á  Bahya  e  o 
dito  ouvidor  estiver  desempedido  para  usar  de  sua  juris- 
dição em  terra,  cesse  a  jurisdição  que  nas  ditas  matérias 
levou  o  dito  D.  Francisco  de  Moura,  e  que  dos  delitos  dos 
ditos  soldados,  conheça  b  dito  ouvidor  como  lhe  mandei 
declarar  em  seu  regimento,  e  vos  asy  o  fareis  cumprir.  E 
sendo  caso  que  o  dito  ouvidor  seja  julgado,  ou  dando-se 
elle  de  suspeito  a  alguma  pessoa  vos  nomeareis  outro  juiz 
em  seu  logar  que  tenha  para  isso  as  calidades  necessárias. 
E  este  alvará  cumprireis  inteiramente  come  se  nelle  con- 
tem  Lisboa  19  de  Novembro  624. 

Por  estas  formalidades  publicas  reconhece  o  gosto  que 
S.  M.  mostrou  de  honrar  a  D.  Manuel,  a  estimação  que  fez 
de  sua  pessoa.  Mas  encommendando  a  D.  Fadrique  de  To- 
ledo sertã  impresa  avendo  logar  nas  instruções  secretas, 
lhe  mandava  S.  M.  a  comonica-se  com  elle  somente  hon- 
rando-o  com  muitas  palavras.  O  capitulo  lhe  mostrou  D. 
Fadrique  em  segredo  estando  em  junta  particular.  Depois 
o  disse  em  conselho  não  faltando  nelle  mostras  de  resen- 
timento.  Antes  que  se  íizesse  á  vela  ouve  conselho  sobre 
se  aver  de  tornar  Pernambuco  como  S.  M.  mandava.  Con- 
siderando a  estação  do  tempo,  a  dilação  procedente  se  re- 
solveu navegassem  em  direitura  à  Bahya  avisando  de  tudo 


—  411  — 

a  Mathias  de  Albuquerque.  Despachou  D.  Manuel  o  capitão 
Cosme  do  Coulo  em  sua  caravella  com  despachos  e  cartas 
de  D.  Fadrique,  e  suas  dando-lhe  por  regimento  que  não 
se  detendo  mais  que  quatro  dias  em  Pernambuco  fosse 
buscar  a  armada  da  Bahya  de  todos  os  Santos.  Como  che- 
gasse a  onze  grãos  se  afastasse  da  costa  oito  ou  des  léguas. 
Chegando  a  ponta  de  Itapoan  toma-se  lingua  da  terra, 
e  não  sendo  chegado  a  armada  fosse  ao  morro  de  S.  Paulo 
aonde  avia  de  aguar  ordem  do  que  avia  de  fazer.  Encon- 
trando em  Pernambuco  os  navios  dos  capitães  Lansarote 
da  França,  Bento  do  Rego  ou  a  caravela  de  Manuel  de 
Palhais,  ou  qualquer  delles  lhe  desse  a  mesma  ordem. 

(Fim  do  livro  prímeiro.) 


n 


QSEEESPSBlEBiEA 

RELATIVA  AOS  SUCCESSOS  DADOS  El  PORTUGAL.  E  HO 
RRASIL,  DE  1822—1823. 


N."  1. — Copia  da  cauta  do  Sr.  Felisberto  Caldeira  ao 
Desembargador  V.  J.  F.  C.  da  C.  dirigida  para  Sua 
Magestade  em  18  de' Setembro  de  1822,  e  que  pela 

SUA  AUZENCIA  DA  DITA  IlHA  FOI  POR  ELLE  RECEBIDA  EM 

Lisboa  nos  prlncipios  de  Janeiro  seguinte. 

Illm.  Sr.  Vicente  José  Ferreira  Cardoso  da  Costa.— Meu 
Sr.  Tendo  de  longo  tempo  a  maior  consideração,  e  respeito 
pelos  talentos,  e  caracter  de  V.  S.,  não  sabia  com  tudo  que 
a  tão  eminentes  qualidades  ajuntava  a  de  ser  Brazileiro,  o 
que  para  mim,  e  para  nossa  Pátria  é  nas  circumstancias 
actuaes  do  maior  interesse.  Se  eu  podesse  apresentar  jà 
com  V.  S.  á  testa  da  Assembléa  Legislativa  do  Rio  de  Ja- 
neiro faria  por  certo  a  todo  o  Brazil,  e  ao  Princepe  Augus- 
to, que  se  Declarou  nosso  Protector  o  mais  bello  presente 
no  momento  de  fazer  a  Sua  Constituição.  Como  porém 
tanto  bem  excede  as  minhas  faculdades,  e  por  outro  lado  a 
prudência  aconselha  toda  circunspecção  na  mudança  de 
terra  ao  Homem,  que  como  V.  S.  se  acha  casado,  e  talvez 
com  diminuição  de  saúde,  e  fazenda  em  consequoncia  de 
tantos  trabalhos,  e  injustiças,  que  do  Governo,  c  Nação 
Portugueza  ha  recebido,  tomo  a  resolução  <lo  me  tlirigir  a 
V.  S.  solicitando  a  sua  attenção  a  favor  da  nossa  pátria,  c 
pedindo-lhe  que  me  indique  a  maneira  porque  lhe  seria 
agradável  mudar-se  para  o  Rio. do  Janeiro,  e  que  soccorros, 
e  meios  quereria.  Eu  conto  se  S.  A.  R.  não  mandar  ocon- 

JULHO.  53 


4 


 


—  414  — 

trario  retirar-me  cm  Novembro,  e  cabe  bem  no  tempo  re- 
ceber resposta  de  V.  S.  É  bem  natural  que  V.  S.  estranhe 
táo  franca,  e  cordial  linguagem  da  parte  d'um  homem,  que 
não  conhece,  e  em  outras  circumstancias  eu 'me  nâo  atreve- 
ria a  escrever-lhe  sem  ser  apoiado  de  muitas  recommenda- 
ções,  mas  não  ha  tempo  a  perder,  e  supponho  bastante  a 
introducção  do  nosso  compatriota  o  Sr.  Hypolito  José  da 
Costa. 

Estimarei  receber  boas  noticiaç  da  saúde  de  V.  S.,  e  que 
me  dê  occasiões  de  mostrar  a  consideração  e  estima  com 
que  sou. — De  V.  S.— Patricioeatiento  Cmdo.— Felisberto 
Caldeira  Brant  Pontes.— 18  de  Setembro  de  1822.— P.  S.— 
Eis  aqui  a  minha  direcção. — 10— Allsops  Buildings— New 
Road— London. 


N.®  2.  —  Resposta  do  dito  Desembargador  á  carta 

ANTECEDENTE. 

Illm.  Exm.  Sr.  Felisberto  Caldeira  Brant  Pontes — Meu 
Sr.  Somente  agora  posso  responder  â  Carta  de  V.  Ex., 
datada  de  18  de  Septembro  passado,  porque  a  muito  pou- 
cos dias  me  veio  á  mão,  sendo  cila  dirigida  para  S.  Miguel, 
quando  eu  estava  em  Lisboa. 

É  verdade  que  nasci  na  Bahia,  e  tendo  a  Providencia  as- 
sim destinado,  que  pertencesse  por  minha  origem  ao  novo 
mundo,  nem  estava  em  meu  poder  alterar  os  seus  decretos, 
nem  tão  pouco  ser  indifferente  aos  destinos,  e  á  prosperi- 
dade, ou  desgraça  do  Brazil. 

V.  Ex.  verá  pelo  folheto,  que  tenho  a  honra  de  offere- 
cer-lhe,  como  o  tive  sempre  diante  dos  olhos  desde  os 
acontecimentos  Politicos  de  Portugal  em  1820,  procurando 
desviar  já  a  desmembração  da  Monarchia,  jà  o  grande  pe- 
rigo de  se  tomarem  ochlocraticas  as  Capitanias  do  Brazil. 


—  4IS  — 

E  quando  vi  meu  nome  entre  os  dez,  que  no  dia  4  de  de- 
zembro de  1821  ás  Cortes  Constituintes  forSo  propostos 
pela  Commissão  da  Justiça  Civil,  para  delles  se  escolherem 
sinco,  que  organizassem  o  Projecto  do  Código  Civil,  es- 
crevi a  meu  amigo  LuizMaitins  Bastos,  que  era  da  dita 
Commissão,  e  Deputado  pelo  Rio,  rogando-lhe  que  pro- 
curasse com  seus  Collegas  conduzir  as  cousas  de  modo  que 
se  desviasse  a  dita  desmembração,  porque  ella  me  faria  só 
ter  lagrimas  para  dar  á  difizão  da  nossa  familia,  em  voz  de 
génio  para  escrever  Códigos.  Tanto  me  recordava  eu  da 
minha  Pátria !  E  tanto  dezejava,  que  os  meus  estudos,  e 
serviços  simultaneamente  aproveitassem  aos  Portuguezcs 
da  Europa,  e  mais  da  America ! 

Mas 

Vktrix  Diis  causa  placuit  t 

e  declarada  a  Independência  do  Brazil,  e  inaugurado  nelle 
hum  novo  Império,  recebo  a  de  V.  Ex.,  que  lizongea  o 
meu  amor  próprio  com  a  idéa  de  que  eu  poderia  prestar 
muito  no  estabelecimento  daquelle  Estado,  e  em  que  me 
pergunta — jwrque  maneira  me  seria  agradável,  mudar-me 
jmra  o  Rio  de  Janeiro,  e  que  succorros,  e  m^ios  quereria? 

Vejo  pois,  que  V.  Ex.  não  conhece  perfeitamente  as 
minhas  actuaescircumstancias:  e  devo  informar-lhe  delias, 
antes  de  responder  ao  referido.  Levado  a  S.  Miguel  pela 
arbitrariedade,  e  rivalidade  de  um  dos  secretários  do  go- 
verno de  Lisboa  em  1810,  e  que  inteiramente  o  dirigia, 
não  obstante  as  negras  apparencias,  com  que  me  manda- 
rão, escolheu-me  para  seu  marido  a  senhora  de  uma  das 
primeiras  casas  dos  Açores,  cujo  rendimento  hia  de  trinta 
a  quarenta  mil  cruzados.  Era  até  formoza :  dos  mais  res- 
peitáveis costumes :  e  em  idade  muito  proporcionada  á 
minha,  porque  tinha  menos  vinte  annos  do  que  eu  V.  Ex. 


—  4i6  — 

acreditará  muito  facilmente,  que  o  seu  consorcio  seria 
procurado  em  S.  Miguel  por  todos,  que  a  elle  podessem 
aspirar.  E  ella  lembrou-se  de  mira,  que  havia  chegado  â 
sua  Ilha  não  só  prófugo,  como  Eneas  a  Carthago,  mas  re- 
movido de  Portugal  com  ares  de  muito  criminoso.  Man- 
dou-me  olTerecer,  o  que  outros  muito  disveladamentc  pro- 
cura và  o  I 

Não  he  possível  pois,  que,  sem  a  vontade  de  uma  tal 
mulher,  eu  disponha  de  mim  p^a  cousa  alguma,  que  me 
possa  alongar  delia.  São  estes  os  sentimentos,  que  Y.  Ex. 
achará  por  mim  exprimidos  já  cm  Março  de  i8iâl  na  Carla 
impresso  a  fl.  48  do  já  referido  Folheto. 

Conheço,  (|ue  minha  mulher  tem  muito  pezadas  obriga- 
ções para  com  Augusto  Principe,  escolhido  para  Imperador 
do  Brazil.  Seu  Primogénito  o  Gommendador  José  Ignacio 
Machado,  casado  com  uma  fdha  de  Pedro  José  Caupers, 
esteve  no  Rio,  e  devem  summo  favor  ao  mesmo  Senhor, 
quando  Principe  Real,  e  até  a  honra  da  sua  correspondên- 
cia, quando  sè  retirou  para  Lisboa.  Conheço,  que  minha 
mulher  se  recordava  disto  com  summo  reconhecimento,  e 
gratidão,  e  que  presaria  qualquer  oportunidade  de  se  mos- 
trar grata  a  tão  distincta  bondade,  e  honra  para  com  seu 
filho.  Mas  nem  os  seus  receios  do  mar,  nem  as  moléstias 
nervozas,  que  padece,  e  que  sua  imaginação  converte  em 
muito  graves,  lhe  permittiráo  deixar  S.  Miguel,  para  me 
acompanhar  por  alguns  mezes  a  Lisboa,  e  muito  menos 
lhe  consentirão  mais  longa  viagem.  E  eu  nem  posso,  nem 
devo  separar-me  delia. 

Se,  n'outras  circumstancia  de  mim  dependesse  mudar- 
me  para  o  Rio,  á  proposta  de  V.  Ex.  responderia  muito 
francamente,  que  para  isso  me  ser  agradável  nada  mais 
seria  preciso,  do  que  entender-se,  e  fazer-sc-me  constar. 


—  417  — 

que  o  Brazíl,  a  que  eu  devera  o  nascimento,  confiava,  ees- 
l)crava  alguma  cousa  das  minhas  letras,  e  dos  meus  estu- 
dos a  pró  da  sua  prosperidade. 

Posso  porém  desde  jà,  e  sem  ouvir  minha  mulher,  se- 
gurar a  V.  Ex.,  que  o  Brazil  me  achará  sempre  muito 
prom[)to  em  S.  Miguel  para  o  emprego  dos  meus  taes,  quaes 
conhecimentos,  quando  elles  possão  concorrer  para  o  bem 
dos  Brazileiros. 

Muito  dolorosa  me  é  a  divisão  da  nossa  familia !  Mas  tem 
direito  ao  meu  tal  qual  préstimo  literário  assim  os  Portu- 
guezes  da  Europa,  como  os  da  America,  e  nem  a  uns,  nem 
a  outros  hoi-de  negar-me,  quando  entendão,  que  delle  po- 
dem tirar  qualquer  proveito.  É  esta  hoje  a  minha  profissão 
de  fé  politicai,  que  francamente  enuncio,  sempre  que  disso 
se  oíTerece  occasiáo.  Quizera,  que  os  meus  Irmãos,  Euro- 
peos,  e  Americanos,  vivessem  unidos:  mas,  se  isto  não  é 
possivel,  dezejo  ao  menos,  que,  supposto  separados,  uns, 
e  outros  sejão  felizes.  E  arrastado  por  estes  sentimentos 
V.  Ex.  me  permitirá,  que  estenda  alguma  cousa  mais  os 
lemites  desta  carta. 

Náo  posso  negar,  que  alguns  Europeos,  relativamente 
às  cousas  do  Brazil,  mesmo  em  discursos  públicos,  tem 
tido  muito  reprehensiveis  abusos,  e  excessos  de  frazes, 
que  náo  podiáo  deixar  de  azedar  as  mutuas  relações,  que 
convinha  manter  entre  a  Europa,  e  a  America  Portugueza. 
Mas  quem  me  dera,  que  o  Brazil  se  mostrasse  superior  ao 
ressentimento  de  semelhantes  affecçôes,  e  que  não  empre- 
gasse semelhante  linguagem  nas  suas  relações  com  Por- 
tugal ! 

V.  Ex.  recorda-se  na  sua  Carta  do  máo  tratamento,  que 
eu  tenho  tido  do  Governo,  e  da  Nação  Portugueza.  E  eu 
nunca  soube  confundir  esta  com  um,  oudous  homens,  que 


—  4i8  — 

nestas,  ou  naquellas  circumslancias,  se  acharáo  senhores 
do  Publico  Poder,  e  que  abusando  delle,  me  depremiráo. 
Fui  expatriado ,  como  suspeito  aos  interesses  da  minha 
Nação ;  fui  na  Magistratura  preterido  por  todos,  e  até  por 
muitos  que  anda  vão  nas  primeiras  aulas,  quando  meu  nome 
já  era  conhecido  no  mundo,  como  o  d'um  Jurisconsulto 
Portuguez.  Entretanto  eu  seria  injusto,  se  imputasse  estes 
à^esultados  à  Naçáo.  E  assim  que  em  seu  nome  se  convida- 
rão os  Jurisconsultos  Portuguezes,  para  concorrerem  aos 
trabalhos  do  seu  Código,  Civil,  eu  appareci  logo,  promptifi- 
cando-me  a  servil-a,  como  a  V.  Ex.  constará  pelo  Opúscu- 
lo, que  tenho  a  honra  de  offerecer-lhe.  E  poderia  eu  sem 
injustiça,  attribuir  à  Narão,  o  que  era  obra  de  alguns  dos 
individuos,  que  a  compunháo?  ou  tratar  aquella,  pelo  que 
estes  me  merecíão  ?  Chego  a  Lisboa  em  Septembro.  e  sem- 
pre que  aos  Papeis  Públicos  se  offerece  occasiáo  de  fallar 
no  meu  nome,  elle  apparece  honrado  d'uma  maneira  capaz 
de  me  dar  cuidado,  pelo  ciúme,  que  pôde  produzir,  sem 
haverem  alguns  outros,  queoscontradigão.  Era  pois  acaso 
a  Nação,  que  eu  devia  considerar  para  comigo  avessa,  ou 
injusta? 

Eis  aqui,  Exm.  Sr.,  como  eu  dezejava,  que  também  o 
Brazil  olhasse  para  aquellas  frazes  azedas,  ou  indiscretas, 
relativamente  ás  suas  cousas,  para  que  ellas  não  fossem 
tidas  como  da  Nação,  nem  sobre  esta  recahisse  o  ressen- 
timento Brazileiro  pelas  grosserias  d'um  par  de  Europeos 
ou  mais  inflamáveis  nas  discussões  por  caracter,  ou  menos 
polidos  pelo  habito  da  sua  vida,  oumaiscortezóes,  e  lison- 
jeiros da  multidão,  que  aplaude  quasi  sempre  aquella  lin- 
guagem. Queria  V.  Ex.  acreditar,  e  inculcar  esta  verdade, 
sempre  que  poder, -r-a  Posteridade  Iwnrará  sem  duvida  a 
aquella  das  duas  partes,  que  mais  moderada,  e  tolerante  se 


—  4J9  — 

mostrar  para  com  a  outra. — Isto  mesmo  scrà  o  testemunho 
da  sua  superioridade,  e  grandeza.  E  se  alguma  não  come- 
çar com  magnanimidade  a  corrigir  os  extremos  da  outra, 
aonde  hiráo;  Exm.Sr.,  para  os  males,  e  os  seus  resultados? 
Somos  o  mesmo  sangue,  falíamos  a  mesma  lingua,  fizemos 
uma  só  familia,  e  cumpre  mostrar,  que  fomos,  e  somos 
Irmãos,  ainda  quando  ella  se  divida.  O  Chefe  do  Império, 
além  de  tudo,  nasceu  neste  clima,  tem  aqui  seu  Augusto 
Pai,  e  não  corresponderá  ao  lustre,  que  lhe  cabe,  se  não 
for  superior,  e  insensível  ás  affecções,  que  ferem  o  com- 
mum  dos  homens. 

A  Ochlocracià  do  Brazil.  Exm.  Sr.,  é  outro  grande 
objecto,  que  deve  merecer  toda  a  attençáo,  e  que  jamais 
se  deve  perder  de  vista.  É  a  maior  enfermidade,  que  vejo 
desenvolvida,  e  que  mais  estragos  ameaça  á  nossa  pátria. 
A  vontade  individual  substitue-sc  todos  os  dias  à  vontade 
geral ;  e  então  as  diversas  idéas,  e  os  diversos  interesses 
multiplicando  ao  infinito  aquellas  vontades,  produzem  sue- 
cessivos  choques  d'umas  partes  do  Corpo  Politico  com  as 
outras,  os  quaes  progressivamente  o  enfraquecem,  e  se  não 
parão,  hão-de  leval-o  infallivelmente  a  total  ruina.  Perdeu- 
se  a  força  moral,  e  é  preciso  ressuscital-a.  E  perdida  ella 
uma  vez,  é  extremamente  difficil  esta  ressurreição,  muito 
mais  em  paizes  tão  extensos,  c  tão  deslocados  do  centro  do 
movimento,  como  6  o  Brazil.  Quanto  porém  mais  se  dila- 
tar o  curativo  daquella  moléstia,  mais  rebelde  ella  se  tor- 
nará depois  a  todos  os  medicamentos ;  porque  a  repetição 
dos  movimentos  ochlocraticos  ratefica  o  habito  morbozo, 
que  forma  com  o  tempo  uma  nova  natureza,  summamente 
defllcil  de  atenuar,  ou  de  mudar. 

Tenho  estudado,  e  reflectido  muito  sobre  o  tratamento, 
que  convém  a  esta  enfermidade,  e  reduzi  mesmo  as  minhas 


—   420  — 

idéas  nesta  matéria  a  um  systema  em  escritos  que  conservo 
em  S.  Miguel.  Direi  com  tudo  aqui  a  V.  Ex.  em  geral,  o 
que  me  pareceria  mais  útil  remédio  nas  actuaes  circums- 
tancias  do  Brazil. 

Os  movimentos  ochlocraticos  apparecem  regularmente 
promovidos  por  alguns  poucos,  que  delles  esperâo  tirar 
partido,  e  interesse,  e  que  para  o  dito  fim  se  combináo,  e 
fazem  obrar  a  multidão,  illudida,  jà  com  o  excitamento  das 
paixões,  que  a  podem  aíTectar,  já  com  as  esperanças  de 
grandes  bens,  que  se  lhe  anunciáo.  £  as  lições  da  historia 
antiga,  e  moderna  tem  mostrado,  que  nem  os  demagogos, 
e  agentes  daquelles  movimentos  chegáo  commumente  a 
ganhar,  o  que  esperavão,  nem  jamais  deixão  de  trazer 
desgraças  sobre  a  multidão,  que  illudem,  de  que  se  servem, 
e  sem  a  qual  nada  poderiáo  ter  praticado. 

A  relação  pois  destes  successos,  deduzida  dos  diversos 
capítulos  da  Historia,  e  successivamente  divulgados  em 
folhas  de  papel,  que  se  fizessem  chegar  ao  maior  numero 
de  mãos,  que  fosse  possível,  assustaria  sem  duvida  os  de- 
magogos, e  chefes  das  facções,  para  que  o  não  fossem,  e 
preveniria  a  multidão  contra  as  suas  illuzões,  e  tentativas. 
E  hum  grande  remédio  se  applicaria  ao  mal  na  sua  origem, 
a  luz  contra  as  trevas,  verdade  contra  seductores  enganos. 

O  Governo  deve  ser  entretanto  summamente  tolerante, 
moderado,  e  circunspecto. 

Tolerante  para  não  irritar  os  ânimos,  dispostos  a  serem 
agitados  facilmente,  não  dando  nenhuma  idca,  nem  por 
palavras,  nem  por  factos,  de  terá  uns  como  de  um  sys- 
tema, e  aos  outros  do  contrario.  He  o  grande  conselho  d^ 
Demosthenes  na  celebre  Carta  ao  Senado,  e  ao  povo  de 
Athenas— Não  invectiveis  com  acrimonia,  lhes  diz  elle, 
contra  nenhuma  classe,  nem  contra  nenhum  dos  indivi- 


—  421  — 

duos,  que  vos  tiver  parecido  declarar-se  pelo  systema,  que 
vós  quereis  corrigir,  em  huma  palavra  convém  o  inteiro 
esquecimento  do  passado.  O  receio  da  vossa  indignação,  e 
da  vossa  raiva,  ha  de  fazer  unir  ainda  mais  os  principaes 
chefes  do  dito  systema,  e  aquelles,  que  tendo-se  declarado 
seus  amigos  recearem  de  correr  grandes  riscos.  E  livres 
então  destes  sustos,  elles  hão  de  fazer-se  mais  tratáveis,  e 
hão  de  unir-se  mais  facilmente  ao  que  pertendeis— A  dis- 
crição, e  a  sabedoria  reluz  neste  conselho  1 

A  moderação  fará  não  excitar  novas  paixões,  e  novas 
descontentamentos,  que  sejão  outras  tantas  faiscas  capazes 
de  atear  o  incêndio  entre  materiaes  tão  inflamáveis.  E  a 
circunspecção  graduando  a  linha  de  conducta.  que  se  deve 
seguir  entre  tão  vários,  e  tão  diversos  interesses  indivi- 
duaes  para  que  intendão  todos,  que  o  bem  geral,  e  que  a 
justiça  he  a  bússola,  que  dirige  o  Governo,  acabará  de 
extinguira  tendências  para  a  Ochlocracia,  eoseo  alimento» 
ou  pertexto  que  principalmente  consiste  na  desigual  admi- 
nistração, exercitada  entre  os  cidadãos. 

Bem  quereria  dizer  a  V.  Ex.  alguma  cousa,  sobre  as  novas 
instituições,  que  as  presentes  circunstancias  hão  de  trazer 
ao  Brazil:  mas  não  o  permittem  os  limites  desta  Carta,  jà 
demasiadamente  extensa.  Não  me  dispenso  com  tudo  de 
indicar  a  V.  Ex.,  que  a  Natureza  deve  ser  a  nossa  mestra, 
e  que  ella  nada  faz  de  salto,  consumindo  muito  mais  tempo 
naquillo,  a  que  destina  mais  extensa  duração.  A  cana  de 
milho  chega  em  poucas  semanas  a  altura,  que  o  pinheiro, 
ou  sobreiro  só  consegue  no  fim  de  annos.  Os  Estados  Po- 
liticos  são  corpos,  cuja  vida  se  deve  contar  por  séculos. 
Não  se  caminhe  pois  a  seu  respeito  percipitadamente.  Não 
se  intente  passar  do  absolutismo  para  a  completa  liber- 
dade, de  um  dia  para  o  outro.  E'  necessário,  que  os  ho- 

JULHO.  54 


—  422  — 

mens  se  vão  acostumando  pouco  a  pouco  a  osle  alimento, 
para  que  sejão  capazes  delle,  e  não  lhe  substituão  a  licença. 
Não  destruir  tudo,  para  tudo  reedificar  de  novo.  Iláo  de 
provocar-se  por  esse  meio  reacções  immensas,  provenien- 
tes dos  velhos  hábitos,  e  antigos  costumes ;  e  sem  ir  ama- 
ciando, e  alterando  estes,  para  que  se  lhe  possáo  amalga- 
mar as  novas  instituições,  elles  anullarão,  ou  farão  inutili- 
sar  estas. 

Tenho  mostrado  a  V.  Ex.  os  meus  bons  desejos  pelo 
Brazil ;  não  posso  ser  indifferente  à  sorte  dos  homens, 
mesmo  em  geral,  e  como  o  seria  para  com  a  dos  Brazilei- 
ros,  com  quem  me  prendeu  a  natureza  pelo  meu  nasci- 
mento? Estimarei  sempre  muití)  boas  novas  de  V.  Ex.  a 
quem  Deus  Guarde  mais  annos.  Lisboa  31  de  Janeiro  de 
1823 — De  V.  Ex.  Patrício,  e  muito  certo  cridido.— Vicente 
José  Ferreira  Cardoso  da  Costa, 


N.**  3.  — Requerimento  para  ser  apresentado  Ás  cortes 

EM  os  FINS  DE  FEVEREmO,  LOGO  QUE  NA  PRIMEIRA  VOTA- 
ÇÃO PARA  0  CONSELHO  DOESTADO  PELO  BRASIL  O  DESEMBAR- 
GADOR   V.    J.    F.    C.    DA    C.    VIO    SEU    NOME  COM  38  VOTOS. 

Senhor.— O  Dr.  Vicente  Josó  Ferreira  Cardoso  da  Costa, 
vendo  inesperadamente  seu  nome  com  um  crescido  nu- 
mero de  votos  na  lista  dos  que  hão  de  entrar  em  segundo 
scrutinio  para  a  proposta  do  Conselho  d'Estado  pelo  Bra- 
zil, deveria  apresentar-se  perante  V.  M.  só  para  lhe  agra- 
decer muito  reverentemente  o  credito,  que  V.  M.  se  dignou 
accrescentar  por  aquella  maneira  à  sua  tal  qual  reputação. 
Mas  V.  M.  hade  permittir,  que  o  supplicante  junte  aos  re- 
feridos protestos  do  seu  agradecimento,  o  que  vai  expor 
agora  na  Sua  Respeitável  Presença. 


—  423  — 

Não  só  a  honra  do  Supplicante,  mas  principalmente  o 
interesse  da  Nação  pede.  que  elle  realise  o  projecto  do  Có- 
digo Civil,  de  que  jà  apresentou  o  prospecto  a  V.  M.,  e  ao 
Publico.  A  Resolução  de  V.  M.,  para  que  o  projecto  do  Có- 
digo Criminal,  primeiramente  incumbido  a  uma  Commis- 
sáo.  fosse  também  entregue  ao  concurso  dos  Jurisconsul- 
tos Portuguezes,  conduzio  o  supplicante  à  necessidade  de 
tomar  sobre  os  seus  hombros  esta  tarefa  juntamente  com 
a  outra;  por  isso  que  havia  notado  no  opúsculo,  já  apre- 
sentado a  V.  M.,  o  lugar  que  cabia  ao  dito  Código  em  um 
completo,  e  perfeito  systema  de  legislação ;  tendo  deixado 
esse  vazio  no  seu  prospecto  unicamente  pelo  respeito  de- 
vido àquella  primeira  deliberação  de  V.  M.,  motivo,  que 
agora  cessa.  Por  fim  a  emenda  do  Sr.  Marciano  de  Azeve- 
do sobre  o  Decreto  relativo  ao  Código  do  Commercio, 
sendo  adoptada,  como  foi,  por  V.  M.,  veio  a  ser  uma  letra 
quasi  directamente  saccada  sobre  o  supplicante,  a  que  cila 
não  podia  recusar  o  aceite  pelo  summo  credito  dos  respei- 
tabilissimos  saccadores 

Por  tanto  o  Supplicante  dispoz-se  a  partir  logo  para  S. 
Miguel,  com  o  fim  de  empenhar  suas  forças,  para  satisfazer 
todos  os  mencionados  trabalhos,  esperando  apresentar  a 
V.  M.  os  projectos  do  Código  Civil,  do  Código  Criminal,  e 
do  Código  do  Commercio,  nas  epochas  marcadas  por  V.  M. 
Jã  pedio  para  a  sua  viagem  licença  a  £l-Rei,  e  o  seu  passa- 
porte às  authoridades  competentes.  Mas  todo  o  referido 
destino  do  supplicante  se  transtornará,  em  desproveito  pu- 
blico, segundo  elle  entende,  se  V.  M.  se  não  dignar  des- 
vial-o  da  proposta  para  o  Conselho  d'Estado,  em  cujo  exer- 
cício mal  poderá  organisar  aquelles  Códigos. 

Parecerá  talvez.  Senhor,  a  V.  M.  muito  estranho,  que 
o  Supplicante  procure  ser  excluído  d'um  dos  primeiros 


—  424  — 

empregos  na  ordem  politica  da  sua  Nação :  e  parecerá  da 
mesma  sorle  estranho  talvez  ao  Brazil,  que  elle  busque 
desviar-se  de  ser  Conselheiro  d'Estado  por  aquella  parte 
da  Monarchia,  que  lhe  deu  o  nascimento.  Mas  sendo  os 
seus  passos  dirigidos,  pelo  que  lhe  parece  ser  mais  útil 
serviço  da  Nação,  espera  o  supplicante.  que  nem  V.  M., 
nem  a  pátria,  de  que  elle  muito  se  preza,  os  verá  com  desa- 
grado. Se  o  Supplicante  quizesse  olhar  para  si  com  pre- 
ferencia e  tudo  o  mais,  anteporia  sem  duvida  ás  ditas  consi- 
derações o  entrar  na  proposta  dos  lUustres  Representantes 
da  sua  Nação  para  o  Conselho  d'Estado :  mais  não  será  pos- 
sível, que  V.  M.  crimine,  querer  o  Supplicante  antes  ser- 
vir, e  ser  ulil  aos  seus  concidadãos  na  obscuridade,  do  que 
luzir  nos  grandes  empregos. 

Isto  pois  conduz,  Senhor,  o  Supplicante  muito  reveren- 
temente á  Prezença  de  V.  M.,  para  que  dignando-se  de  to- 
mar em  Sua  Alta  Consideração  o  expendido,  achando-o 
digno  de  attenção,  como  o  supplicante  espera,  haja  por 
bem  desviai -o  da  sobredita  proposta,  visto  estar  ainda  a 
tempo  de  o  fazer :  não  reservando  o  supplicante  esta  sup- 
plicaparaS.  M.,  receiando,  que  o  Mesmo  Senhor  se  recuse 
a  deferir-lhe,  quando  a  proposta  de  V.  M.  se  junte  á  pu- 
blica opinião,  que  tão  decisivamente,  e  por  tão  diversas 
maneiras  se  tem  proximamente  declarado  favorável  ao 
supplicante ;  e  por  isso.— -P  a  V.  M.  haja  por  bem  desviar 
o  supplicante  da  proposta  para  o  Conselho  d'Estado,  a  lim 
de  o  não  desviar  da  opportunidade  de  servir  os  Portugue- 
zes  nos  Projectos  dos  referidos  Códigos.— E.  U.  M. — 
Desembargador  Y.  I.  F.  C.  da  C. 


—  42o  — 

N.^  4. — Carta  escrita  pelo  desembargador  V.  J.  F.  C. 
DA  C.  A  S.  £x.  o  Ministro  da  Justiça^  exprimindo,  o 

QUE  vocalmente  LHE  DISSERA,  QUANDO  A  S.  £x.  LHE  FAL- 
LOU  SOBRE  A  PROPOSTA  PilRA  O  CONSELHEIRO  DOESTADO,  EM 
QUE  HIA  O  SEU  NOME,  PARA  QUE  S.  Ex.  A  POIÍESSE  LEVAR 
AO  CONHECIMENTO  DE  S.  M.  E  0  MESMO  SENHOR  REZOLVER, 
O   QUE    HOUVESSE    POR   BEM. 

Illm.  e  Exm.  Sr.— Ainda  que  já  vocalmente  expuz  a 
V.  Ex.,  o  que  nesta  repito  agora  por  escrito,  com  tudo  de- 
terminei-me  a  fazel-a,  para  que  V.  Ex.  a  podesse  levar  á 
Prezença  de  S.  Magestade,  se  assim  lhe  parecesse. 

O  Emprego  de  Conselheiro  d'Estado  é  de  tão  grande  con- 
sideração, e  credito,  para  quem  fôr  a  elle  promovido,  que 
não  pode  haver  nem  suspeita,  de  que  alguém  o  busque  des- 
viar de  si,  não  tendo  justiffcadissimos  motivos.  Meu  nome 
acha-se  na  Proposta  a  S.  M.  para  o  novo  Conselho,  e  não 
me  cabe  esperar,  que  o  Mesmo  Senhor  se  lembre  de  o  es- 
colher, indo  em  terceiro  lugar,  e  no  primeiro,  e  segundo 
outros,  que  supposto  me  não  sejão  conhecidos,  tenho  como 
de  mais  préstimo,  até  porque  para  isso  pouco  basta. 

Entretanto  porque  ali  se  acha,  pode  ser  escolhido,  e  isso 
me  conduz  a  rogar  a  V.  Ex.  a  mercê  de  levar  a  Alta  Con- 
sideração de  V.  Magestade  o  que  vou  expor-lhe,  e  que  pa- 
rece condemnar-me  a  ser  privado  d'uma  tão  distincta 
honra.  Já  não  me  lembro  de  minha  mulher,  senhora  d'uma 
das  principaes  cazas  dos  Açores,  e  que  escolhendo-me  para 
seu  marido,  quando  proseguido,  e  infamado,  veio  por  isso 
a  adquirir  um  incontestável  direito  a  todos  os  dias  da  mi- 
nha vida :  ella  é  demasiadamente  virtuoza,  para  que  eu 
duvide  dos  seus  sentimentos,  mesmo  na  privação  do  que 
lhe  pertence,  e  qtie  lhe  é  mais  caro^  quando  isso  importe 


—  42G  — 

ao  Serviço  de  S.  M.,  c  da  Nação.  Trato  pois  somente  do 
que  tem  relação  com  o  publico.  É  nelle  conhecido  o  com- 
prometimento, em  que  acho,  relativamente  à  organisação 
dos  Códigos,  de  que  a  Constituição  carece  para  marchar. 
Sei ;  que*  ales  me  não  forão  particularmente  incumbidos, 
e  que  muitos  outros  Jurisconsultos  Portuguezes  poderão 
talvez  estar  procurando  nisto  servir  a  sua  pátria.  É  com 
tudo  certo,  que  eu  já  lhe  prometti  nisto  meus  serviços,  e 
que  a  publica  opinião  tem  seus  olhos  fitos  sobre  o  cumpri- 
mento de  minhas  promessas.  Faltar  a  ellas,  é-me  desairoso, 
e  pode  ser  que  em  desproveito  da  Nação,  e  é-me  impossí- 
vel cumpril-as  sem  dar  a  este  trabalho  toda  a  minha  medi- 
tação, o  que  só  posso  conseguir  no  retiro  de  minha  caza 
em  S.  Miguel.  Na  copia  junta  achará  também  V.  Ex.  o 
theor  da  carta,  que  na  minlia  ausência  foi  ter  aS.  Miguel, 
eque  minha  mulher  abriu,  e  dl  que  me  remetteu  o  tras- 
lado. Ella  mesma  talvez  daria  naquella  ilha  noticia  deste 
acontecimento,  ou  desta  communicaçáo ;  e  eu  aqui  a  par- 
ticipei a  alguns  amigos  confidencialmente,  para  lhes  incul- 
car a  necessidade  que  tinha  de  regressar  quanto  antes  pari 
S.  Miguel,  a  fim  de  tirar  de  cuidados  minha  mulher,  que  se 
morteficaria  muito,  se  lhe  lembrasse,  que  eu  me  poderia 
deslumbrar  com  aquelle  convite.  As  circumstancias  de 
Portugal,  e  do  Brazil  podem  levar  ao  Conselho  muitas  vezes 
negócios,  em  que  eu  haja  de  opinar  relativos  aos  dous  rei- 
nos. Quem  sabe  se  eu  me  deixaria  alguma  vez  affectar,  por 
insensível,  e  inconsiderada  gratidão,  àquelle  testemunho 
do  caso,  que  se  fazia  do  meu  nome  ?  Quem  sabe  se  alguma 
vez  reputarão  os  outros,  que  minhas  opiniões  são  filhas  do 
dezejo  de  agradecer  aquelle  testemunho? 

Haverá  meu  voto  a  inteira  confiança  de  S.  M.,  quando 
SC  tratarem  cousas  do  Brazil,  sabendo  isto?  Ou  deverei  eu 


—  427  — 

occullar-lhc  esta  circumstancia,  quando  o  Mesmo  Senhor 
tem  de  escolher  na  Proposta  para  o  seu  Conselho  d'Esta- 
do,  hindò  nelle  meu  nome? 

Se  as  prezentes  circumstancias  publicas  do  Reino  nSo 
fossem  taes,  quaes  são,  rogaria  a  Y.  Ex.,  quizessepormim 
supplicar  a  S.  M.  a  merco  de  me  privar  d^umanhonra,  que 
sei  avaliar,  e  de  que  só  táo  urgentes  motivos  poderiáo  des- 
viar meus  dezejos.  Nellas  porém  não  me  atrevo  a  mais,  do 
que  a  pedir  a  V.  Ex.  queira  levar  esta  ao  Seu  Real  conhe- 
cimento, para  que  o  Mesmo  Senhor  saiba  tudo,  e  prinr 
cipalmente,  que  eu  não  posso  fezer  os  Códigos  nfrexerci- 
cio  de  Conselheiro  d'Estado,  e  depois  resolverá,  como  fôr 
do  Seu  Real  Agrado ;  e  como  entender  piais  conveniente  ao 
Seu  serviço,  e  da  Naçáo. 

Aproveito  esta  opportunidade,  para  offerecer  a  V.  Ex. 
toda  a  minha  consideração,  e  obediência.  Deus  Guarde  a 
V.  Ex.  muitos  annos.  fcisboa  2  de  Março  de  1823.— De 
V.  Ex.— Muito  reverente  obrigado  Venerador  e  Criado. — 
Illm.  eExm.  Sr.  José  da  Silva  Carvalho.— V.  J.  F.  C.daC. 

(Seguia-se  a  copia  da  Carta  do  Sr.  Felisberto  Caldeira, 
que  é  a  que  vai  no  N/  1  .^  desta  collecção.) 


N.°  5. — Carta  ao  dr.  Manoel  Alves  do  Rio,  Deputado 

Ás   CORTES   constituintes   DE  PoRTUGAL    SOBRE   AS  COUSAS 

POLITICAS  DA  Monarquia  em  Março  1821. 

Meu  Amigo  e  Sr.  do  C.  V.  S.  tem  agora  pouco  tempo 
para  correspondências  particulares,  mettida  no  trabalho 
das  cortes  de  que  temos  aqui  visto  o  extracto  das  Sessões 
até  ao  dia  8  de  Fevereiro,  e  talvez  alguém  tenha  ainda  pe- 
riódico, que  refira  mais  algum  dia  depois.  Cã  tenho  visto 
as  suas  moções,  e  muito  gostei  da  que  he  relativa  aos  nos- 


—  428  — 

SOS  militares,  deixados  em  França  por  esquecidos  na- Con- 
venção de  Cintra :  e  dice  comigo,  elle  pôde  applicar  a  si  o 

Non  ignora  mali,  miseris  succurrere  disco. 

Era  próprio  de  um  do  Amazonas  acudir  ás  outras  victimas 
da  mesm?  data.  Mas  rogo»  e  insto  a  V.  S.  para  da  sua  parte 
conduzir  as  cousas  quanto  puder,  de  modo  que  Portugal  só 
concorde  com  o  Brazil.  Tudo  pôde  ficar  bem  desta  sorte,  e 
de  outra,  temo  males  incalculáveis  para  a  Nação,  e  para  o 
Rei.  A  Santa  Aliança  ha  de  empregar  a  força,  que  puder  con- 
tra as  idéas  liberaes.  Os  Thronos podem  baquear:  porque 
os  seus  exércitos  poderão  também  querer  dictar  a  lei  de 
uma.  ou  de  outra  vez,  como  fizeráo  os  de  Hespanha,  Na- 
polés,  e  Portugal,  e  nesse  caso  a  força  moral  ha  de  ceder  à 
força  real.  Mas  se  isto  assim  náo  for:  e  se  os  soldados  do 
norte  julgarem  preferível  a  tudo  viver  do  sul  da  Europa, 
como  viverão  4,  ou  5  annos  na  França,  que  desgraças  náo 
teremos  de  vêr?  E  concordando-se  Portugal,  e  o  Brazil, 
podemos  ganhar  uma  Constituição,  que  haja  de  garantir 
a  nossa  Liberdade  Civil,  e  que  nos  livre  in  perpetuam  de 
Setembrisaidas :  que  nos  dê  as  nossas  Cortes  annuaes,  de 
que  se  podem  esperar,  e  de  que  podem  vir  todos  os  me- 
lhoramentos possíveis.  S.  M.  agora  ha  de  vir  as  boas: 
como  João  sem  terra  veio  com  os  Inglezes,  quando  lhe  deu 
a  sua  Magna  Carta,  que  he  a  origem  das  suas  liberdades. 
O  Rei  também  a  deu,  e  nem  por  isso  os  Inglezes  ficarão 
em  peor  estado,  do  que  estarião,  se  elles  mesmos  formas- 
sem para  si  a  dita  Carta.  Meu  Amigo  rem,  quoirwdo  cumque 
rem.  Ganhar,  o  que  se  pertende,'e  o  que  convém.  E  náo 
arriscar  isso  pelo  modo  de  o  conseguir.  O  meio  mais  fácil 
de  o  conseguir  he  o  melhor.  Eis -aqui  um  artigo  de  fé 
politica.  Eu  náo  cessarei  de  pregar  hoje  isto  para  Lisboa : 


—  429  — 

assim  como  não  cessarei  de  pregar  para  o  Brazil,  çíí^av 
roncorde  com  Portmjal,  ainda  que  possa  pela  força  de  seus 
aliados  fazer  retrogradar  as  cousas  ao  que  dantes  ei^ão.  Nestes 
dous  mandamentos  se  incerra  toda  a  minha  missão  para  o 
Velho,  e  Novo  Mundo,  e  se  para  sen-ir  nella  utilmente  for 
preciso  passar  dez  vezes  a  linha,  hei  de  fazel-o  de  muito 
boa  vontade.  O  tempo  mostrará  então,  se  eu  era,  ou  não 
quem  me  empenhava  pelo  melhor  a  bem  da  minha  pátria  1 
O  meio  do  segurar  as  Constituições  para  os  Estados  não  ho 
certamente,  meu  Amigo,  o  dos  juramentos,  muito  mais  es- 
tando este  tão  vulgarisado,  como  V.  S.  sabe.  Mirabeau 
disse  uma  vez  na  Tribuna,  se  ternos  um  juramento,  então 
não  tem  remédio  nenhum  já  a  causa  da  liberdade.  Mútuos 
interesses  bem  combinados,  eis-aqui  o  grande  juramento, 
e  o  único  capaz  de  segurar  as  instituições  politicas.  Enten- 
derem todos,  que  ganhão,  e  que  interessáo.  Eis-aqui  a  an- 
cora, que  segura  a  permanência  das  Constituições.  V.  S. 
e  seus  Collegas  estão  no  theatro ;  e  de  V.  S.,  c  delles  de- 
pende muito  bem,  ou  muito  mal,  para  a  causa  publica.  Não 
armem  grandes  classes  de  inimigos  à  liberdade !  Arriscão-a 
assim.  Tudo  se  pôde  fazer :  mas  caminhando-se  indirecta- 
mente ás  cousas.  Hindo-sea  ellas  directamente,  chocáo-se 
as  paixões,  armão-se  partidos,  e  dispoem-se  reacções.  E 
então  depois  a  sorte,  e  o  acaso  he,  que  decide  do  resultado. 
E  he  servir  mal  a  liberdade  deixa-la  exposta  ao  jogo  dos 
dados.  Segurem-a  agora :  ainda  que  não  seja  inteirissima. 
Ganhem  o  essencial,  tem  feito  grande  serviço.  Os  acciden- 
tes  virão  depois.  E  ainda  que  não  venhão,  havendo  o  es- 
sencial da  liberdade,  pôde  passar-se  sem  os  accídentes.  E 
se  pelos  accidentes  se  arrisca  o  essencial,  fazer-se  umjogo 
indiscreto :  e  ainda  que  se  não  perca,  não  se  ganhará  o 
credito  de  bom  jogador.  Ou  governar  a  Europa  toda  com  a 

JULHO.  55 


—  430  — 

ponta  do  dedo,  ou  hir  para  Santa  Helena  às  ordens,  dos 
que  se  pertendia  governar !  Desvie  V.  S.  quanto  puder,  que 
o  nosso  Portugal  faça  agora  jogos  destes.  Grande  gloria  se 
lhes  apresenta  para  se  illustrarem  com  ella,  se  salvão  a  pá- 
tria !  Mas  a  sua  salvação  depende  de  se  evitarem  os  extre- 
mos. Quasi  todo  o  Portugal  he  agora  hespanhol,  pelo  que 
vejo,  e  ha  de  esquecer- lhe  então  o  quieii  todo  lo  quiere  todo 
lo  fáerde.  Os  homens  extremos  em  suas  pertenções  são  or- 
dinariamente mais  prejudiciaes  do  que  úteis  ao  partido, 
que  abraçâo.  Dê  V.  S.  todo  o  credito,  e  toda  a  considera- 
ção a  estas  vozes  da  sabedoria  imparcial.  Eu  bem  sei.  que 
nas  actuaes  circumstancias  não  he  este  o  meio  de  ganhar. 
No  Brazil  talvez  agrade  mais,  quem  fallar  na  linguagem  da 
proclamação  de  24  de  Agosto.  E  em  Portugal  ha  de  agra- 
dar também  com  preferencia,  quem  proclamar  illimitada- 
mente  as  idéas  liberaes.  He  facillimo  agradar  aos  discen- 
tes, e  apaixonados :  e  deflcillimo  servi-los  utilmente.  Aquillo 
consegue-se  lisongeando-se  as  paixões  do  momento,  ou  seja 
em  boa,  ou  em  má  fé :  ou  seja  discreta,  ou  indiscretamente. 
Isto  somente  se  alcança  tendo  a  virtude  de  descontares  ou- 
tros; e  a  coragem  de  dizer  verdades.  No  primeiro  caso  he 
se  egoista,  pertende-se  ganhar :  no  segundo  olha-se  para 
os  outros  mais  do  que  para  si,  pertende-se  servir  aos  ou- 
tros, e  não  tirar  delles  interesse.  Portanto,  meu  amigo, 
eu  bem  vejo,  e  bem  sei  o  que  faço.  He  o  mesmo  que  fazia, 
quando  das  prizões  da  Terceira  mandei  para  o  Rio  as  obser- 
vações á  Gazeta  sabendo  muito  bem,  que  là  nem  mas  havião 
de  agradecer,  nem  pagar.  Quiz  escrever,  e  assignar  com  o 
meu  nome  nos  Estados  Porluguezes  á  dez  annos,  o  que 
ninguém  nelles  então  se  atrevia  a  escrever,  e  assignar,  e  que 
hoje  escrevem,  e  assignão  todos.  Não  he  pois  também  o 
dezejo  de  ganhar,  que  hoje  me  guia :  mas  sim  a  cobiça  de 


% 


—  MH  — 

servir  utilmenle  a  minha  pátria,  sendo  o  Quincio  Capito- 
lino  entre  a  Naçáo,  e  o  Rei,  ainda  que  ambos  se  desconten- 
tem de  mim.  Dem-me  o  gosto  de  eu  os  concordar,  e  fiquem 
ambos  mal  commigo.  Perdoo-'he  isto  inteiramente.  Assim  o 
tenho  dito  para  a  Corte,  e  assim  o  digo  para  V.  S.,  e  por 
V.  S.  a  todos  os  meus  amigos  nas  Cortes,  e  a  todo  o  Por- 
tugal. Cheguem  as  cousas  ás  circumstancias.  que  chegarem, 
se  a  Portugal  for  necessário,  quem  vá  ao  Rio  para  esforçar- 
sc  em  concordar  S.  M.  com  a  Naçáo,  ofiereça-me  V.  S.  que 
eu  estou  prompto.  E  igual  oílerecimento  tenho  feito  à 
Corte  relativamente  a  Portugal.  Se  perferirem  quebrar  as 
cabeças,  praza  a  Deus,  que  os  dias  se  me  encurtem,  para 
que  eu  não  veja  taes  desgraças !  Aqui  envio  á  V.S.  uma  Carta, 
que  vai  para  o  meu  copiador,  aonde  estão  as  muitas  outras, 
que  a  dez  annos  tão  inultilmente  escrevi  para  o  Rio.  Deus 
queira,  que  esta  nâo  tenha  a  mesma  infeliz  sorte !  E  que 
náo  sirva  algum  dia,  como  hoje  as  outras,  para  desacredi- 
tar, quem  delias  não  fez  casot  Acaba-se  o  papel,  e  eu  a 
Carta,  dezejando  a  V.  S.  muita  saúde,  e  confessando-me 
De  V.  S.,  &c.  S.  Miguel,  24  de  Março  de  1821. 


N.*^  6. — Carta  ao  Sr.  Hippolyto  José  da  Costa  em  data 

DE    S   DE    ABRIL    PASSADO  SOBRE  AS  ACTUAES  CIRCUMSTANCIAS 

DE  Portugal,  e  do  Brazil  ;  e  a  que  se  remette  a  carta 
PARA  0  Sr.  António  Luiz  em  data  de  6  de  maio  de  1823. 

Illm.  Sr.  Hippolyto  José  da  Costa. — Meu  Patrício  Amigo 
e  Sr.  Já  respondi  a  de  V.  S.,  em  data  de  20  de  Septembro, 
por  1  .*,  e  2.«  via;  sendo  esta  entregue  em  Lisboa  ao  De- 
sembargador João  Severiano.  que  ficava  a  partir  d'ali  para 
Inglaterra,  quando  deixei  aquella  Cidade  no  meio  do  mez 
passado.    Desembarcando  porém  nesta  ilha  achei  este 


—  4^2  — 

navio  do  partida  para  essa.  e  delle  me  aproveito  para  es- 
crever novamente  a  V.  S. 

Pelos  papeis  públicos  de  Lisboa,  que  terá  visto,  saberia 
V.  S.  que  as  Cortes  me  propuzerão  a  S.  M.  entre  os  nove 
Conselheiros  d^Estado,  de  que  o  mesmo  Senhor  havia 
de  escolher  três  pelas  Provindas  do  Brazil,  que  ainda  se 
náo  tinhão  declarado  separadas  de  Portugal.  E  posso  se- 
gurar a  V.  S.,  que  muita  consolação  me  derão,  em  me  con- 
siderarem como  pertencendo  ainda  áquella  parte  do  mun- 
do, que  me  deu  o  nascimento,  e  a  que  eu  dezejarei  ser  útil, 
e  servir  em  todos  os  dias  de  minha  vida. 

Nas  copias  juntas  achará  V.  S.  assim  a  supplica.  que  di- 
rigi ás  mesmas  Cortes,  tanto  me  vi  comprehendido  na  pri- 
meira votação  para  o  dito  Conselho  d'Estado,  como  a  Carta 
que  escrevi  ao  ^Ministro  da  Justiça,  quando  elle  me  partici- 
pou, queS.  M.  lhe  havia  dito — aqui  temos  innboin; — vendo 
o  meu  nome  na  dita  Proposta  (são  as  copias  ns.  S.^^e  4.^. 
As  circumstancias  politicas  não  me  deixarão  esperar,  que 
podesse  ser  prestadio.  nem  a  minha  pátria,  nem  a  Portu- 
gal, naquelle  exercicio,  e  elle  não  me  podia  ser  lisongeiro. 
se  não  quando  me  desse  alguma  esperança  de  ser  útil  aos 
Brazileiros.  e  aos  Portuguezes.  Devia  além  disso  esporar, 
ser  chamado  ao  Congresso  Portuguez,  como  l.^Supplente 
por  S.  Miguel,  visto  que  um  dos  seus  Deputados  so  dizia, 
pela  sua  saúde,  inhabilitado  para  encher  o  sou  lugar,  c 
julguei  então  por  uma  parte,  que  não  deveria  hir  muito 
temporariamente  ter  um  exercicio,  que  pouco  depois  seria 
obrigado  a  largar,  e  pela  outra,  que  no  dito  Congresso  po- 
deria ser  mais  útil  ainda,  assim  a  uma,  como  à  outra  parte 
da  nossa  antiga  Monarchia. 

V.  S.  verá  pois  da  dila  2/*  Copia,  como  fui  conduzido  à 
necessidade  de  manifestar  a  S.  M.  a  proposta,  que  se  me 


% 


—  433  — 

havia  feito  na  Carta  do  Sr.  Felisberto  Caldeira.  Não  mos- 
trei a  de  V.  S.,  visto  que  ella  continha  algumas  clausulas 
desagradáveis  aos  regeneradores,  que  os  indisporião  a  seu 
respeito,  o  que  me  pareceu  útil  desviar. 

Fallei  mesmo  pessoalmente  a  S.  M.,  e  lhe  li  a  Carta  do 
dito  Sr.  Felisberto,  que  elle  ouvia  com  a  sua  natural  bon- 
dade, fallando-me  duas  vezos  no  Seu  Filho  com  a  sensibi- 
lidade própria  d'um  tal  Pai. 

Já  na  dita  carta  entregou  ao  Desembargador  Joáo  Seve- 
riano.  participava  a  V.  S.,  que  a  opinião  se  tinha  em  Lisboa 
tornado  mais  doce  relativamente  às  cousas  da  nossa  pátria ; 
e  que  mesmo  nas  Cortes  a  Commissâo  do  Ultramar,  que 
dantes  tão  azeda  apparecía,  sempre  que  tratava  do  Brazil, 
se  não  tinha  apressado  a  aprezentar  o  seu  parecer  sobre  a 
declaração  da  Independência,  e  do  novo  Império.  Um  dos 
seus  Membros  mais  exaltados,  tratando  comigo  familiar- 
mente a  este  respeito,  me  manifestou  discretos  sentimen- 
tos, que  muito  haveriáo  aproveitado,  se  fossem  mais  tempo- 
ranos :  mas,  que  supposto  tardios,  tratei  de  rateficar,  quanto 
em  mim  cabia :  e  muito  lizongeiro  me  seria,  se  podesse 
persuadír-me,  que  esta  mudança  de  espirito  publico  era 
em  alguma  parte  devida  à  propalaçáo  das  minhas  idéas, 
sempre  avessas  à  discórdia  entre  os  dous  reinos. 

Não  me  esquece  porém  nunca  o  Brazil,  levado  desgraça- 
damente ás  circumstancias,  de  se  estar  aniquilando  por 
meio  de  dissenções  intestinas,  que  hão  de  durar,  em  maior, 
ou  menor  gráo,  em  quanto  elle  se  não  entender  franca- 
mente com  Portugal.  Até  que  isto  se  verifique,  haverá  sem 
duvida  esperanças  no  partido  Europêo,  e  disconfianças  no 
outro  Brazileiro :  e  estas  duas  causas  produzirão  desgraça 
para  um,  e  outro,  e  vantagens  para  nenhum  delles. 

A  Constituição  Portugueza,  declarado  irretractavel  em 


—  434  - 

algum  (los  seus  artigos  por  quatro  annos,  c  decretando  a 
integridade  da  Monarchia  no  velho,  e  novo  mundo,  e  as 
Provindas  que  a  constituem  em  um,  e  outro,  parece  tornar 
impossivel  legalmente  o  reconhecimento  da  Independência 
das  Provincias  do  Su-,  que  presentemente  formão  o  novo 
Império.  Mas  não  vejo  impedimento  algum  para  uma  tré- 
gua, que  entretanto  estabeleça  relações  amigáveis,  ecom- 
merciaes,  e  faça  desde  logo  cessar  aquellas  dissenções  in- 
testinas; reservando-se  para  o  congresso,  passados  os  di- 
los  quatro  annos,  tratar  definitivamente  da  questão  da 
Independência.  Assim  começarão  também  a  terminar  as 
desavenças  entre  a  Hespanha,  e  as  Provincias  Unidas ;  e 
precedendo  uma  trégua  de  doze  annos,  se  me  não  engano, 
se  depois  de  sessenta  foi  que  aquella  reconheceu  a  Inde- 
pendência destas.  Nesse  intrevallo  porém  procederão  en- 
tre si,  como  amigas,  sem  se  hostilisarem  mutuamente,  e 
veio  a  ser  na  realidade  nominal  o  reconhecimento  da  Inde- 
pendência, que  se  lhe  seguiu.  Parece-me,  que  estamos  no 
mesmo  caso,  e  que  o  mesmo  remédio  nos  pode  aproveitar 
agora.  O  tempo  esfria  as  paixões,  e  torna  mais  tratáveis 
todos  os  ânimos.  E  uma  trégua,  trazendo  todos  os  bens 
d'uma  paz,  salva  o  amor  próprio  da  Mãi-Patria;  quando  a 
Filha  se  lhe  tira  dos  braços.  Somos  todos  Portuguezcs. 
temos  quasi  todos  o  m'"smo  sangue ,  falíamos  a  mesma 
lingua,  professamos  a  mesma  religião,  e  em  taes  circums- 
tancias  nada  menos  pode  convir-nos,  do  que  estarmos  der- 
ramando o  sangue  uns  dos  outros,  e  tratando-nos.  como 
inimigos.  Até  felizmente  o  Pai  é  reconhecido  Rei  em  uma 
parte,  e  o  Filho  Imperador  na  outra.  E  quem  sabe,  se  al- 
gum dia  os  dous  Estados  virão  ainda  a  fazer  um  todo  debaixo 
d'uma  organisação  social,  que  satisfaça  os  dezejos,  c  os  in- 
teresses de  ambos  elles  ? 


—  433  — 

É  ao  Brazil  porém  a  quem  compete  fazer  uma  semelhante 
proposição,  visto  ser  a  parte  do  todo  que  se  desmembrou. 
Eis  aqui  tem  pois  V.  S.  as  minhas  idéas  sobre  as  actuacs 
circumstancias  da  nossa  pátria,  relativamente  a  Portugal. 
Se  ellas  lhe  parecerem  bem,  promova  V.  S.,  com  que  se 
mettão  a  caminho.  E  pôde  contar  tanto  com  toda  a  minha 
cooperação  para  o  referido,  que,  se  quizer,  pode  inculcar- 
me,  e  cu  aceitarei  a  commissáo  de  entrar  nisso,  mesmo 
ostensivelmente  pelo  Império  do  Brazil,  se  ao  Seu  Augusto 
Chefe  agradar,  servir-se  para  isso  do  meu  tal,  qual  présti- 
mo, ou  seja  encarregando-me  só,  ou  associando-me  a  qual- 
quer outro  agente.  Lembro  porém  sempre  a  V.  S.  nesse 
caso  a  necessidade  de  instrucções  muito  claras,  sobre  al- 
gumas circumstancias,  que  se  dezejem,  para  que  eu  me 
possa  conduzir  com  a  segurança  de  contentar  em  meu  ser- 
viço. Como  o  Congresso  Portuguez  me  considerou  Brazi- 
leiro,  na  dita  proposta  para  o  conselho  d'Estado,  náo  po- 
derá estranhar,  que  eu  figure  como  tal,  para  se  tratar  da 
concórdia  dos  dous  Estados.  Ainda  quando  esta  commissáo 
me  venha  achar  nas  cortes  de  Lisboa,  sendo  necessário, 
deixarei  o  lugar  de  Representante  por  S.  Miguel,  afim  de 
intervir  na  negociação,   como  agente  do  Brazil.  Persua- 
dido como  estou,  de  servir  nisto  igualmente  aos  Brazileiros 
e  aos  Portuguezes,  não  entenderei  jamais,  que  oílendo  a 
estas,  sahindo  da  sua  representação  nacional,  para  ser  o 
conciliador  entre  uns,  e  outros.  A  publica  opinião,  que  em 
Portugal  me  é  muito  favorável,  poderá  ajudar  meus  bons 
dezejos  nesta  parte,  e  prestar  à  causa  da  humanidade,  que 
tanto  interessa  nesta  conciliação. 

Xáo  sei  o  tempo,  que  poderei  demorar-me  por  S.  Mi- 
guel, o  que  conviria  indicar  a  V.  S.,  para  saber,  aonde  po- 
deria dirigir-me  a  sua  correspondência.  Se  as  Cortes  Ex- 


—  436  — 

traordinarias  tiverem  lugar  em  Lisboa,  como  se  destinava 
na  occasiáo  da  minha  sabida  para  esta  ilha,  e  tantas  e  tão 
poderosas  causas  parecião  fazer  indispensáveis,  poderes 
estar  naquella  Cidade  pelo  meio  de  Maio,  paia  o  fim  de  to- 
mar assento  nellas.  Alias  sempre  por  todo  o  Julho  deverei 
achar-me  ah.  como  prometti  na  minha  despedida,  para 
serviço  em  que  me  julgarão  indispensável,  e  a  que  me  nâo 
devia  negar. 

Sendo  porém  as  viagens  do  Rio  para  Portugal  pela  altura 
dos  Açores,  seria  muito  fácil  a  qualquer  Navio  tocar  em  S. 
Miguel  na  sua  passagem,  9  entregar-me  as  cartas  que  se 
me  quizerem  diriigir,  no  caso  de  ah  me  achar,  levando-as 
abas  para  Lisboa,  a  fim  de  serem  entregues,  ou  a  meu  cor- 
respondente Francisco  Xavier  Vasques,  Negociante  muito 
conhecido  na  dita  Praça,  ou  ao  meu  enteado  o  commenda- 
dor  José  Ignacio  Machado,  residente  nacaza,  e  companhia 
de  Pedro  José  Campos,  pelas  quaes  vias  me  senão  promta- 
mente  dirigidas,  fosse  qual  fosse  a  minha  rezidencia.  E  es- 
te mesmo  caminho  se  deverá  seguir,  quando,  ou  por  V.  S., 
ou  do  Rio,  se  me  haja  de  escrver  por  Lisboa.  Hindo  as  car- 
tas cobertas  com  sobscritos  aos  referidos,  virão  ter  à  minha 
mão  seguramente :  mas  convirá  sempre  repeti-los  por  duas 
vias,  para  se  prevenir  o  descaminho  de  alguma  delias,  o 
que  muito  importa,  tratando-se  de  cousas  taes. 

Nâo  sabendo,  se  V.  S.  estará  em  Londres,  mando  tam- 
bém desta  uma  copia  ao  Sr.  Felisberto  Caldeira:  e  se 
souber,  que  do  Fayal  sabe  para  o  Rio  proximamente  al- 
gum Navio  em  direitura  como  aqui  se  entende,  farei  con- 
duzir nclle  outra,  que  possa  chegar  ao  conhecimento  de 
S.  M.,  ou  seja  pelo  Sr.  José  Bonifácio,  ou  por  algum  dos 
outros  meus  amigos,  naquella  Corte.  E  cuido  ter  desta 
sorte  correspondido  devidamente  à  honra,  que  V.  S.  e  o 


-  437  — 

Sr.  Felisberto  me  fizorão  nas  suas  cartas  de  Setembro  pas- 
sado. E  concluo  com  os  protestos  dos  meus  desejos  pela 
saúde  de  V.  S.,  e  offerecendo-lhe  toda  a  minha  obediên- 
cia. Deus  Guarde  a  V.  S.  muitos  annos.  S.  Miguel,  5  de 
Abril  de  1823 — P.  S.— Para  evitar  repetição  de  copias,  a 
que  nfio  dava  lugar  a  sabida  de  Navio,  escrevo  ao  Sr.  Fe- 
lisberto somente,  participando-lhe,  que  a  V.  S.  mando 
esta,  e  a  direcção  porque  dia  vai.  aflm  de  que  elle  a  haja 
de  procurar,  receber,  e  abrir,  tendo-a  como  sua.  no  caso 
de  V.  S.  se  não  achar  em  Londres.  E  V.  S.  lhe  commu- 
nicará  sua  matéria,  no  caso  de  a  receber.  As  copias  jun- 
tas, que  envio  só  para  V.  S.  ser  plenamente  informado  de 
tudo,  será  servido  não  lhe  dar  publicidade,  bem  que  da 
sua  substancia,  e  do  facto  pode  fallar,  tendo  sido  publica 
em  Lisboa,  e  sendo  possivel  por  tanto,  que  V.  S.  o  soubes- 
se, sem  ser  de  mim  directamente. 


IV. ^  7. — Copia  da  carta  do  Sr.  IIippolvto  José  da  Cos- 
ta AO  Dr.  V.  J.  F.  C.  daC,  datada  de  Londres  aos 
20  de  Setembro  de  1822. 

Illm.  Sr.  Vicente  José  Ferreira  Cardozo  da  Costa.— Re- 
cebi com  summo  prazer,  no  principio  deste  mez,  a  carta 
que  V.  S.  me  fez  o  favor  dirigir  em  5  de  Julho  próximo  pas- 
sado, com  os  valiozos  documentos  que  a  acompanhavão;  c 
supposto  a  grandeza  de  volume  não  pejmitlisse  inserillos 
todos  no  Correio  Braziliense,  vai  com  tudo  ja  o  annuncio 
do  seu  importante  opúsculo,  sobro  o  Código  Civil,  ao  qual 
darei  toda  a  publicidade  que  puder. 

Os  negócios  politicos  de  Portugal  tomarão  uma  direc- 
ção tão  alheia  do  que  eu  desejava,  que  desde  o  meado  do 
aíino  passado  comecei  a  escrever  aos  meus  amigos  em  Lis- 
boa, fazendo  lhes  ver  os  erros,  em  que  se  hião  precipi- 

JULHO.  56 


—  438  — 

lando,  posto  que  continiuisse  no  Correio  Brasiliensea  sus- 
tentar e  apoiar  a  reforma,  que  sempre  me  pareceu  não  só 
útil,  mas  necessária  á  existência  da  Monarchia,  como  ex- 
abundante  provão  os  meus  escriptos ;  mas  pelas  respostas 
que  recebi,  e  muito  mais  pelos  factos,  me  desenganei,  pou- 
co depois,  que  as  medidas,  que  censurava,  não  erão  elTeito 
de  erro  accidental.  mas  filhas  do  systema,  que  se  havia 
adoptado  por  hum  partido  dominante,  o  qual  olha  para  a 
união  de  Portugal  à  Hespanha,  ainda  à  custa  da  separação 
do  Brasil,  como  única  anchora  da  salvação  dos  Regenera- 
dores. 

Convencido  disto,  preciso  foi,  que  eu  mudasse  de  objec- 
to, e  comecei  então  a  dirigir-me  ás  cousas  do  Brasil ;  por- 
que, prevendo  a  scisáo  da  Monarchia ;  por  dever,  e  por 
persuazáo  forçozo  era,  que  me  ajuntasse  àquella  das  duas 
partes  desligadas,  aonde  tinha  nascido,  e  que  mais  imme- 
diatamente  tem  direito  aos  meus  serviços,  visto  que  em  tal 
caso  era  impossível  ficar  neutral. 

Vejo  agora  pela  sua  carta,  que  V.  S.  é,  o  que  eu  não  sa- 
bia, também  natural  do  Brazil,  e  por  tanto  ouso  reclamar 
a  sua  cooperação  a  favor  do  nosso  paiz  natal.  Se  as  suas  cir- 
cunstancias de  familia,  de  saúde,  ou  outras  lhe  não  permit- 
tem  hir  para  o  Brazil,  aonde  sua  reputação  valeria  mais  que 
um  exercito  em  aux.lio  daquelle  Governo,  que  sem  duvida 
o  aprecia,  como  deve,  e  que  se  aproveitaria  de  seus  talen- 
tos, como  não  souberão  fazer  os  de  Portugal;  pelo  menos 
pode  ajudar-nos  com  os  seus  escritos,  e  a  pátria  necessitan- 
do tanto,  tem  direito  a  exigir  de  V.  S.  o  seu  valiozo  con- 
tingente. 

Em  todo  caso,  peço-lhe  encarecidamente  a  continuação 
de  suas  communicações,  que  me  dão  sempre  tanto  prazer. 


-  439  - 

quanta  ò  a  estima  com  que  sou— De  V.  S. — muito  atenito 
venerador  e  menor  criado  — Hippolyto  José  da  Costa. 

P.  S.— Comrauniquei  o  contheudo  da  carta  de  V.  S.  ao 
Marechal  Felisberto  Caldeira  Brant  Pontes,  que  se  acha  eín 
Londres,  e  ficou  cheio  de  prazer,  sabendo,  queV.  S.  era 
Brasiliense  por  nascimento.  Cheio  do  zelo  patriótico  que  o 
anima,«  disse-me  que  hia  escrever-lhe,  e  eu  lhe  recommen- 
dei,  que  o  fizesse  logo,  na  idéa,  de  que,  quando  se  trata 
da  causa  publica,  nenhuma  introducçáo  ou,  conhecimen- 
to prévio  é  necessário,  para  communicação  que  só  tem  em 
vista  o  bem  publico. 


««•Q^» 


aSFIJL 

DE  TRÊS  CARTAS  DO  IRIAO  JOAQUII 

EXTRAIIIDA  DOS  ORIGINAES. 


liouvado  seja  o  Santíssimo  Sacramento. 

A  paz  (lo  nosso  Bom  Deus  lhes  assista  em  seus  corações 
[)ara  que  sempre  o  adorem  com  rendimentos  de  uma  per- 
petua humildade.  Já  a  Vms.  lhes  tinha  escripto  dando  parte 
fia  minha  chegada  á  esta  Cidade,  porém  de  próximo  irei 
para  Lisboa,  que  me  parece  iremos  por  todo  o  mez  de  Ja- 
neiro até  os  princípios  de  Fevereiro  a  concluir  a  grande 
empreza  de  que  estou  encarregado,  queira  o  mesmo  Bom 
Deus  ajudar-me  nella  guiando-me  sempre  com  sua  graça. 
Eu  cada  vez  vivo  cercado  das  misericórdias  Divinas  com 
que  me  tem  favorecido,  pois  certamente  não  deixará  elle 
mesmo  de  ajudar-me  até  o  fim  apezar  da  minha  fraqueza  e 
miséria ;  náo  esqueçáo  nunca  de  pedirem  ao  mesmo  Senhor 
me  de  o  dom  da  perseverança :  a  batalha  é  certa  e  a  fra- 
(fueza  é  grande ;  porém  com  os  socorros  da  graça  tudo  se 
vence. 

Hei  de  estimar  que  essas  meninas  se  váo  criando  para 
Esposas  do  Senhor  Deus,  a  fim  de  que  haja  quem  desagra- 
ve o  nosso  Bom  Deus,  que  também  espero  se  faça  nessa 
Ilha,  ainda  que  muitos  háo  de  duvidar,  porém  as  obras 
de  Deus  padecem  muitas  contradicçóes. 

Vm.  mandadará  o  Livrinho  que  lhe  dei  das  Memorias  do 
Sacramento,  que  é  para  dar  ao  seu  dono,  que  me  pedio  nes- 
ta Cidade,  que  pretendo  trazer  outros  de  Lisboa ;  emfim 


—  442  - 

Nosso  Bom  Deus  hade  sempre  concorrer  com  sua  costuma- 
da misericórdia.  Muitas  recomendações  ao  Sr.  Manoel  Ro- 
drigues e  a  Sra.  Irma  Antónia,  e  todos  em  geral. 

Capella  da  Senhora  Santa  Anna  10  de  Dezembro  de  1794. 

Deste  humilde  servo 

Irmão  Joaquim  Francisco  do  Livramento. 


I^ouirado  eeja  o  Santíssimo  Sacranieiito* 

Horitem  recebi  a  sua  carta,  e  nella  vejo  o  que  Vm.  me 
diz,  e  fico  esperando  em  Deus  tudo  hade  cumprir  com  sua 
Divina  vontade,  e  agora  pelo  mesmo  portador  envio  as 
duas  varas  de  renda  de  ouro  fino  para  o  nosso  bom  Fidalgo, 
elle  nos  queira  ajudar  na  santa  empreza  de  que  ando  en- 
carregado. Vms.  nâo  cessem  de  orar  ao  mesmo  Senhor 
nos  dê  sempre  a  sua  graça,  para  que  eu  tenha  forças  de 
poder  resistir  aos  assaltos,  que  de  continuo  armão  os  ini- 
migos contra  tudo  que  é  da  gloria  de  Deus.  Muito  estimo 
que  o  Sr.  João  de  Âviz  se  resolva  ir  para  a  Charidade, 
porém  veja  que  lá  vai  achar  muitas  cruzes,  e  duvido  a 
sua  perseverança,  nisso  tenho  muito  gosto  para  quando- 
lá  chegar  velo.  Minhas  Irmãs,  não  cessem  de  louvar  ao 
Senhor  Deus,  que  me  tome  sempre  à  sua  conta,  para  que 
vá  seguindo  em  tudo  sua  vontade  Santíssima.  Vms.  darão 
muitas  recommendações  à  minha  querida  Mái,  dizendo  que 
tome  esta  por  sua,  e  que  me  lance  a  sua  benção,  que  eu 
em  todos  os  dias  da  minha  vida  não  deixarei  de  orar  ao 
Senhor  Deus  lhes  prospere  com  aquellas  felicidades  espi- 
rituaes,  que  tanto  lhes  desejo,  que  o  mais  é  terra,  immun- 
dicie,  vaidade,  trabalho,  contradicções,  e  finalmente  morle. 


—  443  — 

Eli  estou  do  partida  para  Lisboa,  c  náo  se  admirem  caso 
haja  mais  alguma  demora,  que  talvez  seja  para  maior  se- 
gurança da  santa  empreza  :  facão  humildes  suppicas  ao 
Senhor,  que  me  dê  perseverança. 

Fiz  toda  a  dihgencia  para  ir  a'gum  Missionário  para  essa 
Illia  c  continente,  não  pude  alcançar  por  ora,  mas  licou  dis- 
posto para  depois  lá  terem  a  consolação :  o  tempo  está 
muito  calamitoso  para  andarem  Missionários,  porém  o  mes- 
mo Senhor  hade  permittir  que  havemos  dever  bem  logra- 
dos os  annuncios  desta  nova  Religião  do  Desaggravo  para 
haver  homens  que  zelem  a  honra  de  Deus.  e  reparem  a 
nossa  Santa  Mãi,  que  è  a  igreja  de  Deus.  Eu  assim  o  con- 
fio, como  Vms.  lá  o  terão  lido  na  vida,  da  Venerável  Padre 
Maria  do  Lado,  e  serão  ditosos  os  que  o  Senhor  chamar  a 
esta  santa  obra.  As  meninas  correm  muito  perigo  as  suas 
vocações,  se  ellas  não  forem  acauteladas,  pois  a  mocidade 
do  tempo  presente  vive  muito  arriscada,  pois  o  demónio 
em  seus  principies  trabalha  para  derrubar  dos  bons  propó- 
sitos para  depois  terem  de  sua  mão;  diga  a  ellas  que  cui- 
dem muito  á  ser  acauteladas;  que  o  Senhor  é  poderoso 
para  ajudar  a  quem  por  seu  amor  offerece  a  sua  vontade, 
e  que  não  deixa  de  dar  as  providencias  contra  os  assaltos  do 
demónio,  mundo,  e  carne;  facão  nisto  muito  estudo,  que 
sempre  agradem  a  Deus ;  muitos  são  os  chamados,  porém 
poucos  os  escolhidos. 

A  minlia  Irmã  Maria  não  perca  a  esperança  no  Santo  Ha- 
bito, e  das  que  hão  de  servir  do  Desaggravo  do  Santíssimo 
Sacramento,  Muitas  recommcndações  a  todos,  que  sendo 
Deus  servido  nos  vejamos  cedo.  Rio,  22  de  Janeiro  de  1798. 

De  Vm. 
O  mais  humilde  servo  inútil 
Irhâo  Joaquim. 


—  444  — 

Beiudlto  e  I<oovm1o  «eja  o  SS.  Sacrameiito. 

Sra.  D.  Rita. 

A  graça  do  Divino  Senhor  sempre  lhe  assista  para  um 

f)erfeito  complemento  de  sua  santíssima  vontade,  alim  de  o 
ouvar  com  as  suas  santas  determinações.  Ha  poucos  dias 
fallei  com  o  Rvm.  Sr.  Padre  Mestre  Salazar,  me  deu  por  no- 
ticia que  o  Sr.  Fr.  Manoel  «disse  Missa  nova,  e  que  está  o 
Rvm.  Padre  Provincial  muito  satisfeito,  etc;  continue  as  suas 
santas  orações  por  elle  para  que  seja  bom  Religioso,  e  lam- 
bem por  mim.  Estamos  dando  principio  na  Ilha  Grande  so- 
bre o  que  queria  a  muitos  annos  estabelecer  nesta  Corte,  o 
agora  parece  que  talvez  abençoe  o  nosso  bom  Deus  os  meus 
antigos  desejos ;  e  rogo  peça  a  Nosso  Senhor  me  faça  um 
verdadeiro  humilde,  e  essas  almas  que  algum  tempo  queriáo 
desaggravar  ao  mesmo  Senhor,  não  se  desanimem ;  se  não 
fôr  por  um  modo  será  por  outro;  facão  muitas  orações  e 
mortificações,  pois  o  nosso  Deus  tem  sido  muito  ultrajado. 

Remetto  estas  relações  dos  desacatos  para  oíTerecer  às 
ditas  almas,  para  que  nestes  infelizes  dias  orem  ao  mesmo 
Senhor  com  duplicadas  orações  e  mortificações ;  talvez  que 
ainda  haja  alguma  casa  lá,  como  desejamos  já  a  muitos  an- 
nos. O  poder  de  Deus  é  o  mesmo,  e  ainda  é  aquelle  que  de 
nada  fez  tudo.  Muitas  recommendarões  à  rainha  querida 
Mái,  ea  todos  de  nossa  familia.  A  Sra.  Maria  que  nunca  se 
esqueça  de  pedir  ao  nosso  Deus  Menino  se  compadeça  das 
minhas  necessidades,  e  o  mesmo  a  todas  essas  almas  devo- 
tas. Eu  já  estive  por  duas  vezes  a  ir  para  essa,  porém  a 
Providencia  me  embaraçou,  e  ainda  me  vai  eml>araçando. 

O  Bom  Deus  como  verdadeiro  Caminho,  Viíla,  Verdade 
nos  conceda  a  sua  Santa  paz,  para  que  nos  amemos  como 
elle  quer. 

Rio,  de  Janeiro  2  de  1810. 

De  Vm. 

O  mais  humilde  escravo 

Irmão  Joaquim. 

Muitas  recommcndações  ao  Sr.  António  José. 


"% 


SAflXSEAelt 

FEITA  PELO  BEI  E  i  RAUHÂ  DE  HESPAIIA 

CO]II  TICEIVTE  YAIVEZ  PIIVZOIV  IVO  AIVIVO  DE  IMi. 


Don  Aniceto  de  la  Hlsnera,  dei  Ilustre  Cole- 
-lo de  Aliasado09  y  de  la  Soeledad  eeonoinlea 
de  aiiiiso0  dei  Pai»  de  Sev^illta,  Seereterio  de 
H.  ]fl«  y  auditor  Honorário  de  Cnerra  y  Jfiari- 
na^  y  Areliiirero  dei  Cinerai  de  índias  en  esta 
Cidad. 

Certifico:  que  en  consecuencia  de  la  Real  ordem  fecha 
vcintay  dos  de  Enero  de  mil  ochocientos  cuarenta  y  seis, 
por  la  que  se  me  manda  facilitar  noticias  históricas,  rela- 
tivas á  America,  a  Mr.  Francisco  Adolfo  de  Varnliagen, 
agregado  cntónces  à  la  legacion  dei  Brasil  en  Lisboa;  por 
su  sefialamiento  hé  reconocido  los  libros  de  Registro  en  la 
Secretaria  dei  Perii,  correspondentes  à  el  ano  de  mil  qui- 
nientos  uno  y  a  su  folia  treinta  y  seis,  he  encontrado  Ia 
Capitulacion  hecha  por  el  Rey  y  la  Reyna  con  Vicente  Ya- 
fiez  l'inzon  la  cual  literahnente  dice  asi. 

Capitulacion  de  Vicente  Janez.  —  ElRey  e  la  Reyna— El 
asiento  que  por  mestro  mandado  se  tomo  con  vós  Vicente 
Janez  Pinzon  sobre  las  islãs  ó  tierra  firme  que  voshabeis 
descubierto  es  lo  siguiente. 

Primcramente  que  por  cuanto  vos  el  dicho  Vicente  Ja- 
nez Pinzon  vicino  de  la  Villa  de  Paios,  por  nuestro  man- 
dado, é  con  nuestra  licença,  é  facultad  fuistes  à  vuestra 
costa  ó  mision  con  algunas  personas,  é  parientes,  é  ami- 
gos vuestros  à  descubrir  en  el  mar Occeano,  alas  partes  de 
las  índias  con  cuatro  navios,  à  donde  con  el  ayuda  de 

JULHO.  •  37 


—  44G  — 

Dios  niicstro  Seíior,  é  con  vueslra  industria  é  Iraliajó,  ó 
diligencia  descobristes  cicrtas  islãs  ó  tierra  firme,  que  po- 
sistes  los  nombres  siguientes :  Santa  Maria  de  la  Conso- 
lacion,  c  Rostro  hermoso,  é  desde  alli  seguistes  Ia  costa 
que  se  corre  ai  Norueste  fasta  el  Rio  grande  que  llamastes 
Santa  Maria  de  la  Mar-dulce,  ó  por  el  mismo  Norueste, 
toda  la  tierra  de  luengo  fasta  el  Cabo  de  San  Vicente  quês 
la  misma  tierra  donde  por  las  descubrir  é  aliar  posistes 
vuestras  personas  á  mucho  riesgo  c  peligro,  por  nuestro 
servicio,  é  pasirtes  niuchos  trabajôs,  é  se  vos  recreció  mu- 
chas  perdidas,  é  costas,  é  acatando  el  dicho  servicio  que 
nos  fecistes,  é  esperamos  que  nos  haréis  de  aqui  adelante, 
tenemos  por  bien  é  queremos  que  enquanto  nuestra  mer- 
ced,  é  voluntad  fuere,  ayades  c  gozedes  de  las  casas  que 
adelante  en  esta  Capitulacion  serân  declaradas,  é  conte - 
nidas;  conviene  a  saber,  en  remuneracion  de  los  servicios 
é  gastos;  6  los  daSios  que  se  vos  recrecieron  en  el  dicho 
viaje,  vos  el  dicho  Vicente  Jafíez  quanto  nuestra  merced  é 
voluntad  fuere  seades  nuestro  Capitan  é  Gobernador  de  las 
dichas  tierras  de  suso  nombradas  desde  la  dicha  punta  de 
Santa  Maria  de  la  Consolacion  seguiendo  la  costa  fasta  Ros- 
tro hermoso,  é  deallé  toda  la  costa  que  se  corre  ai  No- 
rueste hasta  el  dicho  rio  que  vos  posistes  nombre  Santa 
Maria  de  la  Mar-du!ce  con  las  islãs  questán  á  la  boca  dei 
dicho  rio  que  se  nombra  marina  ttibulo  ai  qual  dicho  ofi- 
cio ó  cargo  de  Capitan  é  Gobernador  podades  usar  é  eger- 
cer,  ó  usedes  é  egercedes  oor  vos  é  por  quien,  vuestro 
poder  aviere  con  todas  las  cosas  anexas  é  concernientes  ai 
dicha  cargo  segund  que  lo  usan.  c  lo  pueden.  é  deben 
usar  los  otros  nuestros  Capitanes  ó  Gobernadores  de  las 
semejantes  islãs  é  tierra  nuevamente  descubierta. 
Iteu  que  es  nuestra  merced  é  voluntad  de  que  Ias  cosas. 


r% 


—  447  — 

ô  interesses  é  provecho  que  en  las  diclias  tierras  de  suso 
nombradas,  é  rios,  é  islãs,  é  se  oviere  é  allare  é  adquiricre 
de  aqui  adelante,  asi  oro,  como  plala,  cobre  ó  otro  qual- 
quiera  metal  ó  perlas,  é  piedras  preciosas,  ó  drogueria  é 
especeria  é  otras  qualesquier  cosas  de  animales  é  pesca- 
dos, é  aves,  ó  arboles,  é  yerbas,  é  otras  cosas  de  qualquier 
•  natura  ó  calidad  que  sean,  en  quanto  nuestra  merced  é 
é  voluntad  fuere  ayades  é  gozedes  la  sesma  parte  de  loque 
nos  ovieremos  en  esta  manera :  que  se  nos  embiaremos  á 
nuestra  costa  h  las  dichas  islãs  é  tierra.  é  rios  por  vos 
descubiertas  algunos  navios  é  gente  que  sacando  primera- 
mente  toda  la  costa  de  armazàn  e  fletes  que  dei  interese 
(jue  remaneciere,  ayaraos  é  elevemos  nos  las  cinco  sesmas 
partes,  é  vos  el  dicho  Vicente  Janez  la  otra  sesma  parte, 
ó  si  alguna,  ó  algunas  personas  con  nuestra  licencia  é 
mandado,  fueren  a  las  dichas  islãs,  é  tierras,  é  rios,  de  lo 
que  las  tales  personas  nos  ovieren  á  dar  por  razon  de  los 
dichastales  licencias  ó  viajes  ayamos  é  llevemos  para  nos. 
las  cinco  sesmas  partes,  é  vos  el  dicho  Vicente  Janez  la 
otra  sesma  parte. 

Iten  que  si  vos  el  dicho  Vicente  Jafiez  Pinzon,  quisier- 
des  ir  dentro  de  un  aiio  que  se  cuenten  dei  dia  de  la  fecha 
desta  Capitulacion  ó  asiento  con  algun  navio  ó  navios,  á  las 
dichas  islas,  é  tierras,  é  rios,  á  rescatar  é  traer  qualquer 
cosa  de  interese  é  provecho  que  por  el  mismo  viaje  que 
fuerdes,  sacando  primeramef  te  para  vos  las  costas  que 
ovierdes  fecho  en  los  fletes  é  armazon  dei  dicho  primero 
viaje  que  dei  interese  que  remaneciere  ayamos  6  llevemos 
nos  la  quinta  parte,  é  vos  el  dicho  Vicente  Jaíiez  las  quatro 
(juintas  partes  con  tanto  que  no  podaes  traer  esclavos  ni 
esclavas  algunas,  ni  vayaes  à  las  islas  ó  tierra  firme  que 
hasta  hoy  son  descubiert*,  ó  se  han  de  descubrirpor  naes- 


—  448  — 

Iro  mandado,  é  con  nuestra  licencia,  ni  a  las  islãs  c  tierrii 
íirrao  dei  Sereníssimo  Rey  de  Portugal  principe  nuestro 
muy  caro,  é  muy  amado  hijo,  nin  podades  delas  traer  in- 
terese  ni  provecho  alguno,  salvo  mantenimento  para  la 
gente  que  llevardes  por  vuestros  dineros,  é  pasando  le 
dicho  ano  no  podades  gozar  ni  gozedes  de  lo  contenido  cn 
esta  dicha  capitulacíon. 

Iten  para  que  se  sepa  lo  que  asi  ovierdes  en  el  dícho 
viaje,  è  en  ello  no  se  pueda  hacer  fraude  ni  engano  al- 
gunç  nos  pongamos  en  cada  uno  de  los  dichos  navios  una 
ò  dos  personas  que  en  nuestro  nombre,  é  por  nuestro 
mandado,  este  presente  á  todo  Io  que  se  ovicre  é  rescatare 
en  los  dichos  navios  de  las  cosas  suso  dichas  é  lo  pongan 
por  escrito,  é  fagan  dello  libro  é  tengan  dello  cuenta  é 
razon,  é  lo  que  se  rescatare  c  ouviere  en  cada  un  navio  se 
ponga  é  guarde  en  arcas  cerradas,  è  en  cada  una  aya  dos 
llaves,  é  por  la  tal  persona,  ó  personas  que  por  nuestro 
mandado  fueren  en  el  tal  navio  tenga  una  llave  é  vos  el 
dicho  Vicente  Janez  ó  quien  vos  nombraredes  otra,  por 
manera  que  no  se  pueda  facer  fraude  ni  engano  alguno. 

Iten  que  vos  el  dicho  Vicente  Janez  ni  otra  persona  al- 
guna,  ni  personas  algunas  de  los  dichos  navios,  ó  compa- 
nla  delias  non  puedan  rescatar  ni  contratar  ni  hnber  cosa 
alguna  de  Ias  susodichas  sin  ser  presente  á  ello  Ia  dicha 
persona  ó  personas  que  por  nuestro  mandado  fueren  en 
cada  uno  de  los  dichos  naviq^. 

Iten  que  las  tales  persona  ó  personas  que  eu  cada  uno 
de  los  dichos  navios  fueren  por  nuestro  mandado,  ganen 
parte  como  las  otras  personas  que  en  cl  dicho  navio  fueren. 

Iten  que  todo  Io  suso  dicho  que  asi  se  oviere  é  rescatare 
en  qualquer  manera,  sin  disminuicion  ni  falta  se  trava  á  Ia 
Ciudad  ó  puerto  de  Sevilla  ó  Caéis  c  se  presenten  ante  el 


% 


—  449  — 

niicstro  oficial  que  alli  resídiere  para  de  alli  se  tome  Ia 
parte  que  de  alii  avieremos  de  aver,  é  que  por  la  dicha 
parte  que  asi  dello  ovleredes  de  aver  non  pagueis  ni  seays 
obligado  á  pagar  de  la  primera  venta  alcavala  ni  aduana  ni 
almoxarifadgo  ni  outros  derechos  algunos. 

Iten  que  antes  que  comenzeis  el  dicho  viaje,  vos  vades  á 
presentar  à  la  Cibdad  de  Sevilha  ó  Cádis,  ante  Gonzalo  Go- 
mez  de  Servantes  nuestro  Corregidor  de  Xerez,  é  Ximeno 
de  Briviesca  nuestro  Official,  con  los  navios  é  gentes  con 
(jue  ovierdes  de  facer  el  dicho  viaje  para  quellos  lo  vean  é 
asicnten  la  relacion  dello  en  los  nuestros  libros  é  hajan  Ias 
otras  diligencias  necesarias. 

Para  lo  qual  facemos  nuestro  Capitan  de  los  dichos  na- 
vios e  gente  que  con  ellos  fueren,  á  vos  el  dicho  Vicente 
Yanez  Pinzon,  evos  damos  nuestro  poder  cumplido  é  jure- 
dicion  cevile  c  criminal,  con  todas  sus  incidências,  é  de- 
pendências, óanexidades,  e  conexidades,  é  mandamos  alas 
personas  que  en  los  dichos  navios  fueren,  que  portal  nues- 
tro Capitan  vos  ovedescan,  en  todos,  e  por  todos,  é  vos 
consientan  usar  de  la  dicha  juredicion,  con  tanto  que  non 
podais  matar  persona  alguna,  ni  cortar  miembro. 

Iten  que  para  seguridad  que  vos  el  dicho  Vicente  Yaíiez 
Pinzon,  c  las  otras  personas  que  en  los  dichos  navios  irán, 
fareis,  o  complireis,  é  será  complido  é  guardado,  todo  Io 
en  esta  Capitulacion  conténido,  é  cada  cosa  é  parte  dello. 
Antes  que  comenzeis  il  dicho  viaje,  deis  fianzas  lianas  é 
abonadas  à  contentamiento  dei  dicho  Conzalo  Gomez  de 
Servantes  ó  de  su  lugar  teniente. 

Iten,  vos  el  dicho  Vicente  Yanez,  ó  las  otras  personas 
que  tn  los  navios  fueren,  fagados,  c  cumplades  todo  lo  con- 
ténido en  esta  capitulacion,  é  cada  casa  é  parte  d*ello,  sópe- 
na  que  qualquicr  persona  que  Io  contrario  ficiere,  por  el  mis- 


—  UiO  — 

mo.  fecho,  aya  perdido  é  pierda  todo  lo  que  se  rescalare,  n 
oviere,  é  todo  el  interese  é  provecho  que  dei  dicho  viaje  po- 
driavenir  sentuplicato,  c  desde  agora  lo  aplicamos  á  nues- 
tra  camará  é  fisco  é  el  culpado  este  â  la  nucstra  merced. 

Lo  qual  todo  que  dicho  es,  é  cada  casa  é  parte  delia  fe- 
chas por  vos  las  dichas  diligencias,  prometemos  de  vos  man- 
dar guardar  é  cumplir  à  vos  el  dicho  Vicente  Yafiez  Pinzon 
que  en  ello  ni  en  cosa  alguna,  ni  parte  dello,  non  vos  será 
puesto  impedimento  alguno,  delo  qual  vos  mandamos  dar 
Ia  presente  firmmada  de  nuestros  nombres.  —  Fecha  en 
Granada  á  cinco  de  Setiembre  de  mil  c  quinhetos  ó  un  aíios' 
—  Io  el  Rey.  —  Io  la  Reyna.  —  por  mandado  dei  Rey  o  de 
la  Reyna—  Gaspar  de  Gricio. 

Lo  copiado  corresponde  á  la  letra  con  su  original  á  que 
me  refiero.  I  para  que  conste  doy  lo  presente  en  seis  hojas 
de  papel  dei  sello  cuarto.  rubricadas  en  el  margen  por  mi. 
Sevilha  quince  de  Diciebrc  de  mil  ochocientos  cincuenta  y 
sicte.— Aniceto  de  la  Iliguera. 

Conforme.  — Joaquim  Maria  Nascentes  d'  Azamduja. 


DOCUIEITOS 

Relativos  a  JFouo  Pereira  Ramos  e  sens  irmãos* 


DECRETO. 

Tendo  presentes  os  relevantes  serviços  do  Doutor  João 
Pereira  Ramos  de  Azeredo  Coutinho,  do  Meu  Conselho, 
Procurador  da  CiOròa,  e  Desembargador  do  Paço,  assim  no 
laborioso  exercício  destes  lugares,  que  tem  servido  com 
fidelidade,  desinteresse,  e  fortaleza  própria  de  um  digno 
iMagistrado,  como  em  outras  commissôes  da  maior  impor- 
tância, que  lhe  tem  sido  encarregadas,  como  o  foi  a  dos 
Estatutos  da  Universidade  de  Coimbra,  que  formulou,  e 
illustrou  para  melhoramento  dos  Estudos  das  Sciencias 
Maiores,  mostrando  neste  trabalho  os  seus  vastos,  e  só- 
lidos conhecimentos,  com  tanto  aproveitamento  dos  Meus 
Vassallos,  que  os  cultivão,  como  he  notório:  E  Tendo 
também  presentes  os  Serviços  de  seu  Irmáo  D.  Francisco 
de  Lemos,  Bispo  de  Coimbra  (por  elle  assim  mo  pedir) 
que  depois  de  o  ter  auxiliado  na  obra  dos  ditos  Estatutos, 
executou  como  Reformador  Reitor  da  Universidade  os  mes- 
mos Estatutos,  plantando,  e  creando  a  nova  Reformação 
com  tão  adiantados,  e  felices  progressos:  Querendo  grati- 
licallos,  e  remunerallos  com  a  destincçáo,  que  elles  mere- 
cem, em  combinação  com  os  maiores,  que  se  tem  remu" 
ncrado  na  sua  ordem,  c  provar-lhe  juntamente  a  boa  von- 
tade com  que  assim  o  Honro :  Hei  por  bem  por  uns,  e 
outros  Serviços,  e  respeitos  fazer  Mercê  ao  dito  Doutor 
João  Pereira  Ramos  de  Azeredo  Coutinho  do  Senhorio  da 
Villa  de  Pereira  na  Comarca  de  Coimbra,  onde  tem  parte 
da  sua  Casa ;  de  uma  Alcaidaria  Mór,  das  que  houver  va- 


â 


—  452  — 

gas;  e  da  Commenda  de  São  Salvador  de  Serrazcs  na  Ordem 
de  Christo  sita  no  Bispado  de  Vizeu,  tudo  em  três  vidas : 
Confiando  do  mesmo  Doutor  João  Pereira  Ramos,  que  ha 
de  continuar  a  servir-me  tâo  dignamente,  como  até  agora 
o  fez  merecer,  como  espero,  que  Eu  lhe  responda  compe- 
tentemente, accrescentando-o  em  Graças,  e  Mercês,  como 
será  justiça,  e  razáo.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda 
em  dezassete  de  Dezembro  de  mil  sete  centos  noventa  e 
dois. — Com  Rubrica. 

PETIÇÃO. 

Senhora.— O  Doutor  João  Pereira  Ramos  de  Azeredo 
Coutinho  Desembargador  do  Paço  e  Procurador  da  Real 
Coroa  de  V.  Magestade,  tem  a  honra  de  representar  a  V. 
Magestade  com  a  mais  profunda  submissão,  e  reverencia, 
que  tendo  elle  nascido  de  Pais  Nobres,  e  Honrados  na  sua 
Casa  de  Marapicú,  das  mais  fartas,  e  bem  estabelecidas  em 
fazendas  do  Recôncavo  da  Cidade  do  Rio  de  Janeiro,  passou 
delia  à  Universidade  de  Coimbra  a  seguir  os  Estudos  para 
se  habilitar  para  o  Real  Serviço  de  V.  Magestade,  e  nella 
se  graduou  Doutor  em  Cânones  em  19  de  Julho  de  1744. 
e  desde  esse  dia  ate  o  presente  Maio  de  1791,  tem-se  em- 
pregado no  Real  Serviço  pelo  longo  espaço  de  47  annos 
quasi  completos,  contínuos,  e  sem  interrupção,  primeira- 
mente nos  exercicios  da  vida  de  Oppositor  às  Cadeiras  da 
Universidade,  em  que  senio  ao  Augustissimo  Senhor  Rei 
D.  João  V,  nos  últimos  seis  annos  da  Sua  Vida,  sendo  Al- 
motacépelo  Corpo  Académico  no  anno  de  1747,  Vice- 
Conservador,  e  Ouvidor  dos  Coutos  no  de  1748,  e  Conse- 
lheiro no  mesmo  anno.  Pondo-se  em  Concurso  em  1749 
a  ultimo  Cathedrilha  de  Cânones,  ostentou,  e  fez  opposição 


'\ 


—  453  — 

a  ella  em  44.**  Lugar,  e  pelas  acçoens  desse  Concurso  veio 
informado  ao  dito  Soberano  com  muita  destincção. 

Na  mesma  Profissão  da  Vida  Académica  continuou  a 
servir  ao  Augustissimo  Senhor  Rei  D.  José  I,  substituindo 
a  ultima  Cathedrilha  de  Cânones  por  todo  o  anno  de  1751, 
foi  creado  Deputado  no  anno  de  1754,  e  tornou  a  substi- 
tuir a  mesma  Cathedrilha  por  todo,  o  anno  de  1754 ;  e  além 
desses  Empregos,  que  todos  sérvio  por  eleição  dos  res- 
pectivos Conselhos,  substituio  também  a  Cadeira  do  Sexto, 
c  outras ;  e  todos  os  sobreditos  Lugares  por  Avizos  do 
Reitor  em  outras  occasiões  de  moléstia,  ou  auzencia  dos 
Proprietários,  e  eleitos  para  os  servirem ;  para  o  que  sem- 
pre rezidio  na  Universidade,  e  esteve  prompto  para  a  servir 
em  todos  os  cargos,  e  funcções,  em  que  foi  por  ella  occu- 
pado. 

Vindo  a  esta  Capital  depois  de  Terremoto  de  1.®  de  No- 
vembro de  1755,  foi  convidado  para  uma  Becca  do  Collcgio 
de  S.  Paulo  por  Carta  do  Reitor  delle  de  4  de  Maio  de  1 758. 
Estando  porém  ainda  nesta  Corte  no  anno  de  1750,  foi 
nella  occupado  pelo  Conde  de  Oeiras  em  Serviço  particular 
do  dito  Augustissimo  Senhor,  assistindo  às  Conferencias, 
que  sobre  a  Reforma  dos  Estudos  da  Universidade  se  fazião 
em  Caza  do  Reformador  Reitor  delia  Gaspar  de  Snldanha; 
e  sem  embargo  de  se  interromperem  as  ditas  conferencias- 
pela  Guerra  com  Hespanha,  sempre  ficou  empregado  no 
Serviço  Régio,  sustentando-se  por  causa  delle  à  sua  custa 
sem  Lugar  algum,  e  renda  até  2  de  Abril  de  1763,  em  que  foi 
despachado  Dezembargador  da  Relação  da  Bahia,  ficando  em- 
pregado na  Corte  em  Serviço  particular  do  dito  Senhor, 
mandando  tomar  posse  da  dita  Beca  por  seu  procurador, 
e  sendo  contado  como  prezente.  Em  7  de  Janeiro  de  1708 
foi  provido  em  um  Lugar  Ordinário  de  Dezembargador  da 
jui.Ho.  58 


—  454  — 

Reinção  do  Porto.  E  por  Decreto  de  18  dí)  mesmo  de  Ja- 
neiro foi  nomeado  Ajudante  do  Procurador  da  Coroa  ((lue 
era  nesse  tempo  o  Sábio,  e  Egrégio  Magistrado,  que  lioje 
tem  a  honra  de  ser  Ministro  e  Secretario  de  Estado  de  V. 
Magestade  da  Repartição  dos  Negócios  do  Reino)  com  fa- 
culdade de  o  ser,  assim  para  o  despacho  dos  feitos,  como 
lambera  para  os  papeis^  dos  Tribunaes;  e  neste  exercicio 
iicou  fazendo  nesta  Corte  o  lugar  de  Dezembargador  do 
Porto. 

Creando  o  mesmo  Augustissimo  Senhor  nesse  mesmo 
anno  de  1768  a  Real  Meza  Censória,  o  nomeou  Deputado 
Ordinário  delia  por  Decreto  de  9  de  Abril,  no  qual  decla- 
rou fazer-lhe  Mercê  do  dito  Lugar  em  consideração  do 
merecimento.  Letras,  e  conhecido  zelo  do  serviço  de  Deus, 
e  Seu,  que  nelle  concorriáo. 

Por  outro  Real  Decreto  de  17  do  Outubro  próximo  se- 
guinte lhe  fez  o  mesmo  Soberano  a  Mercê  de  nomeal-o 
Dezembargador  da  Caza  da  Supplicaçáo,  para  nella  ter 
exercicio,  com  a  mesma  declaração  do  bem  que  elle  o  tinha 
servido ;  e  tomando  posse  do  dito  Lugar  em  5  de  Novem- 
bro do  dito  anno,  desde  então  exercitou,  na  Meza  da  Coroa 
o  Officio  de  Ajudante  delia,  em  que  jà  estava  provido.  Em 
29  de  Março  de  1769  foi  provido  Procurador  Geral  da  Santa 
Igreja  de  Lisboa,  por  Alvará  passado  peloCollegio  da  mes- 
ma Santa  Igreja,  para  vigiar  sobre  a  execução  do  Novo  Re- 
gimento então  dado  pelo  Em.  Cardeal  Saldanha  para  a 
administração,  e arrecadação  da  Fazenda  delia,  tudo  coma 
Regia  Approvação  do  mesmo  Senhor. 

Auzentando-se  o  Sábio  Pi^ocurador  da  Coroa  seu  Coadju- 
tor seu  Director,  e  seu  Mestre  nas  funcçóes,  e  exercicios 
de  Ajudante,  em  Agosto  de  1769  para  a  sua  Quinta  do  Ca- 
nal, ficou  o  Supplicante  servindo  o  Lugar  de  Procuradoí* 


% 


da  Coroa,  c  como  Serventuário  delie  continuou  a  servil-o 
até  18  de  Junho  de  1771,  em  que  passou  a  exercital-o  como 
Proprietário  do  mesmo  Lugar,  que  vagando  entáo  pela 
promoção  do  mesmo  Sábio  Procurador  da  Coroa  para  o 
Lugar  de  Ministro,  e  Secretario  de  Estado,  foi  conferido  ao 
Supplicante  por  Decreto  de  7  de  Junho,  depois  de  haver 
sido  creado  Dezembargador  Ordinário  de  Aggravos  para  o 
servir  por  outro  Decreto  de  4  do  mesmo  mez. 

Havendo  tornado  a  lembrar  a  urgente  necessidade  de  se 
accudir  com  prompto  remédio  a  grande  decadência,  em  que 
se  achavão  os  Estudos  Geraes  da  Universidade  de  Coim- 
bra. Creou  o  mesmo  Senhor  Rei  Reitor  delia  por  Decreto 
de  14  de  Maio  de  1770  ao  Dr.  Francisco  de  Lemos  de  Fa- 
ria Pereira  Coutinho,  Irmão  do  Supplicante,  que  sendo 
Juiz  Geral  das  Ordens  Militares,  Deputado  do  Santo  Ofli- 
cio,  da  Real  Meza  Censória,  e  Dezembargador  da  Caza  da 
Supplicação,  e  estando  nella  servindo  uma  Casa  de  Ag- 
gravos, fora  nomeado  Vigário  Capitular,  sem  rezerva,  do 
Bispado  de  Coimbra,  e  neste  interino  Governo  se  achava 
naquella  Cidade.  Para  se  cuidar  effectivamente  naprejec- 
lada  Reforma  dos  Estatutos  creou  o  mesmo  Senhor  uma 
Junta  com  a  denominação  da— Providencia  Litteraria— por 
Decreto  de  23  de  Dezembro  do  mesmo  anno,  e  no  numero 
dos  Conselheiros,  de  que  formou,  incluio  o  supplicante,  e 
o  novo  Reitor  seu  Irmão.  Teve  a  dita  Junta  a  s.ia  primeira 
Sessão  em  29  de  Janeiro  de  1771,  e  trabalhando  com  o 
mais  incansável  disvelo  na  composição  de  Novos  Estatutos 
para  R(í forma  Geral  de  todas  as  Sciencias,  se  concluio  fe- 
lizmente a  dita  importantíssima  obra  em  28  de  Agosto  do 
anno  seguinte,  approvada,  e  revestida  de  força  de  Lei  per- 
petua, e  mandada  executar,  honrando  muito  o  dito  Monar- 
cha  o  exemplar  2e!o,  e  acerto,  com  que  nella  procedeu  a 


—  436  — 

mi^^^HKi  Junta,  e  dando  a  conhecer  a  grande,  e  completa 
^lisfa^áo.  que  delia  recebeu,  tanto  pela  grande  importân- 
cia da  obra.  como  pelo  acerto,  com  que  fora  levada  á  sua 
uhiuKt  conclusão. 

Da  parte  que  nesta  obra  tiverão  o  supplicante,  e  o  novo 
Reitor,  seu  Irmão  nada  diz  o  supplicante.  Ao  Régio  Gabi- 
nete do  Real  Despacho  de  V.  Magestade  concorrem  duas 
testemunhas  ambas  de  vista,  e  ambas  tão  superiores  a  toda 
a  excepção,  como  são  os  dous  Sábios,  e  Egrégios  Minis- 
tros, e  Secretários  de  Estado  dos  Negócios  do  Reino,  e  do 
Ultramar,  que  depois  de  assistirem  ambos  a  todas  as  Ses- 
sões da  Junta,  e  de  presenciarem  tudo  o  que  nella  se  pas- 
sava, subião  a  dar,  ou  a  ouvir  dar  conta  ao  Augustissimo 
Senhor  Rei  D.  José  dos  progressos  da  obra ;  e  principal- 
mente o  dos  Negócios  do  Reino,  com  o  qual  sempre  o  sup- 
plicaníe  conferia  as  ideias,  e  planos,  que  formava,  e  com 
cujas  luminosas,  e  judiciosas  reflexões  os  aperfeiçoava,  e 
se  animava  a  produzil-os  na  Junta :  confissão  que  o  suppli- 
cante faz  na  Real  Prezença  de  V.  Magestade  com  a  inge- 
nuidade que  sempre  fói  característica  do  seu  animo;  para 
ficar  servindo  de  perpetuo  monumento  da  sua  gratidão,  do 
seu  reconhecimento,  e  da  justiça,  que  elle  deve  ás  supe- 
riores luzes  do  seu  verdadeiro  Mestre,  do  seu  Director,  e 
do  seu  Bemfeitor. 

Da  grande  estimação,  e  apreço  que  dos  novos  Estatutos 
fez  o  xVugustissimo  Senhor  Rei  Regenerador  das  Sciencias, 
ó  evidente  testemunho  a  Regia  Carta  de  Sua  Approvação. 
E  do  alto  conceito  que  deiles  fizerão  as  Naç(3es  Sabias,  e 
illustradas  da  Europa,  são  irrefragaveis  tcslemunlios  os 
que  correm  estampados  nos  Diários,  e  papeis  periódicos 
da  Historia  Litteraria  daquelles  tempos,  em  que  chegão  a 
dizer,  que  nenhuma  Nação  se  pode  gloriar  de  ter  um  corpo 


I 


—  457  — 

de  Estatutos  de  Iodas  as  Sciencias  tão  judiciosamente  com- 
binado; eque  se  elles  se  observarem  exactamente  na  Uni- 
versidade de  Coimbra,  ver-se-hâo  sahir  delia  Sábios  da  pri- 
meira ordem ;  além  de  outros  semelhantes  louvores  da 
summa  Ghristandade,  e  Religião,  que  por  todas  as  partes 
resplandece  nos  mesmos  Estatutos. 

Provido  no  Lugar  de  Procurador  da  Coroa,  continuou 
a  emprcgar-se  no  mesmo  trabnlho  da  Reforma  que  conti- 
nuou ató  final  conclusão,  que  foi  a  28  de  Agosto  de  i772 ; 
respondendo  ao  mesmo  tempo  à  numerosa  alluviâo  dos  pa- 
peis das  Confirmações  Geraes,  a  que  o  mesmo  Soberano 
havia  chamado  a  seus  Povos  por  Alvará  de  6  de  Maio 
de  1779. 

No  anno  de  1774  teve  ordem  do  Marquez  de  Pombal 
para  assistir  nas  quartas  feiras,  e  sabbados  de  cada  sema- 
na ás  Conferencias,  que  faziáo  em  sua  Caza,  sobre  Negócios 
do  Erário,  e  duraváo  todo  o  dia,  sendo  os  outros  Confe- 
rentes os  Ministros  de  Estado,  o  Procurador  da  Fazenda,  e 
o  Thezoureiro  Mór  do  dito  Erário;  e  este  novo  trabalho, 
que  tirava  duas  sétimas  partes  de  cada  uma  semana,  durou 
ate  a  fclicissima  Exaltação  de  V.  Magestade  ao  Excelso 
Throno  destes  Reinos. 

No  mesmo  anno  de  1774,  estando  o  Cardeal  Conti  para 
se  recolher  a  Cúria  Romana,  finda  a  sua  Legação  Apostó- 
lica, ajustou  com  elle  o  Marquez  de  Pombal  uma  Concor- 
data com  o  Papa  sobre  os  principaes  pontos  de  Disciplina, 
e  da  Jurisdicçáo,  que  davão  frequentes  occasiões  a  queixas, 
que  algumas  vezes  passarão  a  rompimentos  formaes,  com 
^perturbação  da  paz,  e  concórdia  entre  o  Sacerdócio,  e  o 
^Império ;  para  assistir  á  composição  dos  artigos  delia  cha- 
mou tão  somente  o  supplicante,  debaixo  de  todas  as  re- 
commendaçóes  de  segredo ;  e  com  effeito,  sendo  elle  pre- 


â 


—  458  — 

sente  em  quanto  durou  a  obra,  se  concluio  a  tal  Concordala. 
e  entregou  ao  dito  Cardeal  quando  partio  para  Roma.  Âc- 
contecendo  porém  íallecer  o  Santo  Padre  Clemente  XIV. 
poucos  dias  depois  da  chegada  de  Conli  a  Roma,  ficou  a 
dita  Concordata  sem  eíTeito. 

Era  Abril  do  mesmo  anno,  pendente  o  trabalho  da  Con- 
cordata, e  chegando  o  supplicante  a  Caza  do  Marquez  a  tem- 
po, em  que  com  clle  estava  o  Bispo  de  Beja,  lhe  entregou 
o  dito  Marquez  um  papel,  dizenrlo-lhe  que  o  lesse.  Prin- 
cipiou o  supplicante  a  lêl-o;  vendo  porém  pelas  primeiras 
regras  delle,  que  o  dito  papel  era  um  Decreto,  em  que  o 
Augustissimo  Senhor  Rei  D.  José  lhe  fazia  Merco  do  Lugar 
de  Guarda  Mor  da  Torre  do  Tombo,  parando  com  a  Leitura 
delle,  disse  ao  dito  Marquez,  que  não  devia  concluil-a,  sem 
que  primeiro  lhe  rendesse  as  graças  devidas  pela  dita  Mer- 
cê, que  até  se  fazia  muito  estimável  pela  circumstancia 
delle  nem  se  ter  lembrado  de  pedil-a ;  ao  que  respondeu  o 
dito  Marquez,  que  quando  o  merecimento  fallava,  nâo  era 
necessário  pedir;  etudo  presenciou  o  Bispo  de  Beja.  queâ 
dita  resposta  do  Marquez  disse,  que  ainda  assim  sempre  era 
necessário  olhar  com  bons  olhos. 

Pelo  mesmo  tempo  sendo-lhe  commettido  na  forma  do 
costume,  a  liscaUsação  dos  Breves  Facultativos  das  Graças, 
e  Poderes,  com  que  Mons.'  Mutti,  Arcebispo  de  Petra  vi- 
nha succeder  ao  Cardeal  Conli  na  Nunciatura  Apostólica 
destes  Reinos,  fez  um  largo  olTicio,  em  que  requereu  não 
só  que  se  declarassem  abusivas,  e  infraclorias  das  Cartas 
reversaes  dos  Núncios,  algumas  interpretações,  que  ellcs, 
o  os  Ministros  da  Legacia  davão  ás  restrincções  de  algumas 
Graças,  e  Poderes,  com  que  erão  admitlidos  os  seus  Breves ; 
mas  também  que  se  lhes  restringissem  de  novo  algumas 
outras,  que  não  erâo  menos  prejudiciaes,  c  nocivas  â  Igre- 


\ 


—  439  — 

ja,  â  Coroa,  c  ao  Bem  Commiim  dos  Povos,  as  qiiaes  apon- 
tava; accrescenlando,  e  concluindo,  que  lambem  sedeviáo 
reformar  as  Minutas  dos  ditos  Breves,  de  que  vinhão  mu- 
nidos os  Núncios,  formando-se  paraelles  novo  Formulário 
concordado  primeiramente  com  o  Ministro  de  Estado  do 
Reino,  para  que  nelies  se  nâo  incluisse  Graça  Faculdade, 
ou  Poder  algum,  dos  que  se  lhe  achaváo  já  restrictos,  e  se 
houvessem  de  restringir  quando  se  formassem. 

No  anno  de  1773,  santificado  pela  Igreja  com  o  Jubileu 
do  Anno  Santo,  dividindo-se  os  votos  dos  Deputados  da 
Real  Meza  Censória  sobre  a  concessão  do  Régio  Beneplá- 
cito á  Bulia  do  dito  Jubileu,  expedida  à  Igreja,  e  á  Naçáo 
Porlugueza ;  e  fazendo-se  sobre  esta  mataria  alguns  papeis, 
com  que  os  dous  Partidos  se  degladiavâo,  e  batião  com  bas- 
tante acrimonia ;  querendo  o  supplicante  occorrer  a  algu- 
mas desordens,  e  mas  consequências  de  se  chegar  a  pôr 
em  votos  o  merecimento  dos  ditos  papeis ;  deu  conta  ao 
Ministério  do  destemperado  calor,  de  que  estaváo  agitados 
os  espíritos,  requerendo-lhe  pozesse  termo  àquella  nociva 
devisão  de  sentimentos  dos  Ministros  delia.  E  teve  ordem 
para  dizer  no  acto  em  que  se  fosse  a  votar  sobre  a]dita  ma- 
téria, que  por  Ordem  deS.  Magestade  participada  pelo  Mi- 
nistro, e  Secretario  de  Estado  dos  Negócios  do  Reino  se 
achava  encarregado  de  intimar  á  Meza,  que  o  mesmo  Se- 
nhor era  Servido  de  Mandar-lbe,  que  todos  os  papeis  que 
se  havião  feito  sobre  o  dito  assumpto,  se  sepultassem  no 
mais  secreto  da  Meza,  para  que  delles  nada  traspirasse  ao 
publico;  impondo-se  com  o  dito  fim  perpetuo  silencio  em 
tudo  o  que  ao  dito  respeito  se  tinha  passado  na  Meza ;  e 
com  esta  diligencia  cessou  aquella  indecorosa  contenda,  e 
se  publicou  a  dita  Bulia  do  Jubileu. 

Empunhando  Y.  Magestade  o  Real  Sceptro  Luzitanopara 


_  460  — 

Uem  universal  de  todos  os  Povos,  e  Vassallos,  que  Deus 
sujeitou  ao  Seu  Supremo  Império,  e  Havendo-se  Servido 
por  um  puro  effeito  da  Sua  Real  Benignidade  de  conservar 
o  supplicante  no  exercício  de  lodos  os  referidos  Lugares, 
que  lhe  havião  sido  conferidos  por  Seu  Augustissimo  Pai, 
lem  o  mesmo  supplicante  tido  a  grande,  e  inestimável 
honra  de  haver  servido,  e  servir  actualmente  nelles  a  Y. 
Magestade,  continuando  em  fiel  desempenho  do  de  Procu- 
rador da  Coroa  a  promover,  e  defender  os  Direitos  da  Sua 
Real  Coroa  com  o  mesmo  zelo,  constância,  e  inteireza, 
com  que  já  o  havia  feito  em  todo  o  Reinado  de  Seu  Au- 
gustissimo Pai, 

Por  Seu  Real  Decreto  de  7  de  Agosto  de  1778  foi  V.  Ma- 
gestade Servida  fazer  Mercê  ao  supplicante  de  um  lugar 
ordinário  de  Dezembargador  do  Paço,  conservando-lhe  o 
lugar  de  Procurador  da  Coroa,  e  em  consequência  desta 
apreciável  Mercê,  lhe  fez  também  a  do  Titulo  do  Seu  Con- 
selho, de  que  prestou  Juramento  em  27  de  Septembro  do 
mesmo  anno.  Juramento,  que  elle  tem  sempre  trabalhado 
para  cumprir,  e  observar  religiosamente  em  todas  as  occa- 
siões,  e  actos,  em  que  deve  guardal-o. 

Achando-se  o  supplicante  sem  Ajudante  para  as  fun- 
ções, e  exercícios  do  lugar  de  Procurador  da  Coroa,  por 
ter  sido  promovido  a  lugar  ordinário  de  Aggravos  o  De- 
zembargador António  Teixeira  da  Matta,  que  até  enlâe  ti- 
nha sido  seu  Ajudante :  Houve  V.  Magestade  por  bem  No- 
mear-Ihe  para  seu  Ajudante  o  Dezembargador  Bruno  Ma- 
noel Monteiro,  por  Decreto  de  22  de  Agosto  de  1783;  e 
nelle  foi  Servida  Declarar  o  que  consta  do  theor  do  mesmo 
Real  Decreto,  concebido  na  forma,  em  que  o  supplicante 
o  transcreve,  para  prova  do  muito  que  V.  Magestade  o 
honrou  nelle. 


■* 


—  461  — 

«  Teiulo  Consideração  a  que  os  muitos  Negócios,  e  ex- 
«  traordinarios.  de  que  Tenho  encarregado  immediata- 
«  mente,  c  Poderei  encarregar  ao  Dr.  João  Pereira  Ramos 
«  de  Azeredo  Coutinho,  Procurador  da  Minha  Coroa,  fa- 
«  zem  impraticável,  que  elle  possa  responder  em  tempo 
«  ao  grande  numero  de  papeis,  que  lhe  são  remettidos  em 
«  razão  do  seu  olTicio  pelo  expediente  ordinário  dos  Tri- 
«  bunaes :  Hei  por  bem  Nomear-lhe  por  Ajudante  o  Dr. 
«  Bruno  Manoel  Monteiro,  DezembargadordosAggravos 
€  da  Caza  da  Supplicação,  para  que,  como  se  fora  Serven- 
€  luario,  haja  de  responder  por  si  só  a  todos  os  papeis,  que 
«  pelo  Procurador  da  Coroa  lhe  forem  commettidos ;  bem 
t  entendido,  que  nunca  poderá  commetter-lhe  aquelles 
«  papeis,  que  pelos  Tribunaes  lhe  forem  especialmente  di- 
«  rígidos.  O  Chanceller  da  Caza  da  Supplicação  Ac. 

Querendo  V.  Magestade  reformar  a  Legislação  dos  Seus 
Reinos,  útil.  e  glorioso  projecto  para  a  felicidade  desta  Mo- 
narchia,  tirando-a  da  confuzão,  em  que  se  acha  pela  mul- 
tidão de  Leis,  fez  convocar  uma  Junta  de  Ministros,  a  que 
assistio  o  supplicante;  e  foi  de  parecer,  que  para  a  pro 
jectada  Reforma  das  Leis  se  poder  fazer  em  forma  digna  do 
gloriosíssimo  Reinado  de  V.  Magestade,  e  com  maior  uti- 
lidade dos  Seus  Vassallos,  se  devia  proceder  à  composição 
d'um  Novo  Código,  que  fosse  um  corpo  systematico  com- 
pleto, e  organísado  com  todas  as  suas  partes,  e  ordenadas 
pelo  methodo  natural. 

V.  Magestade  o  incluio  no  numero  dos  Censores,  e  nesta 
qualidade  assistio  às  Conferencias  por  muito  tempo  na  Caza- 
do  Respeitável  Sábio,  e  Circunspecto  Visconde,  Ministro, 
c  Secretario  de  Estado,  e  Presidente  da  Junta.  E  por  quanto 
o  Livro  2.®  SC  achava  em  lermos  de  se  offerecerá  Censura, 
para  se  apurar,  c  pôr  em  estado  de  se  poder  approvar,  e 

JULHO.  59 


/ 


—  462  — 

authorisar  por  V.  Magestado :  Houve  Y.  Magestade  por 
bem  Crear  Nova  Junta  de  Ministros  para  a  Censura,  e  apu- 
ração delle,  debaixo  da  Luminosa  Inspecção,  e  Presidência 
do  Egrégio  Ministro,  e  Secretario  d*Estado  actual  dos 
Negócios  do  Reino,  na  forma  do  Decreto  de  3  de  Fevereiro 
de  1789.  E  Mandando  V.  Magestade  no  mesmo  Seu  Real 
Decreto,  que  á  dita  Junta  concorra  também  o  supplicante, 
quando  para  eíla  for  chamado  pelo  mesmo  Seu  Ministro  de 
Estado ;  foi  Servida  explicar-se  acerca  delle  com  as  expres- 
sões, que  se  lêem  no  mesmo  Real  Decreto  (ibi.) 

«  E  por  quanto  o  Dr.  João  Pereira  Ramos  de  Azeredo 
í  Coutinho  do  Meu  Conselho,  Dezembargador  do  Paço.  c 
«  Procurador  da  Minha  Real  Coroa,  assim  em  razão  do  seu 
«  oflicio,  como  principalmente  pelas  luzes  claras,  e  supc- 
«  rioros,  que  tem  nestas  matérias,  asquaes  elle  com  zelo, 
«  e  descripçáo,  depois  de  ser  o  primeiro,  que  nestes  tem- 
«  posas  cultivou;  foi  também  o  primeiro,  que  procurou 
•  influíl-as,  e  derramal-as :  Hei  por  bem  que  assista,  e 
t  dirija  as  Conferencias  dos  ditos  Magistrados ;  sempre 
«  que  para  ellas  for  chamado  pelo  Presidente. 

Expressões  verdadeiramente  gloriosas  para  o  supplicante 
e  summamente  dignas  do  mais  alto  apreço  d'um  vassallo. 

Por  Decreto  de  17  de  Junho,  e  Alvará  de  2  de  Julho  de 
1789  V.  Magestade  lhe  fez  a  Mercê  de  Juiz  Conservador 
Geral,  e  Executor  do  Tabaco. 

O  Senhor  Rei  D.  Pedro  Hl,  qucjaz  em  Santa  Paz,  cDes- 
canço,  lhe  Conferio  um  Lugar  de  Deputado  da  Meza  Prio- 
ral  do  Crato,  por  Carta  de  27  de  Agosto  de  1784.  E  por 
extincção  da  dita  Meza  Prioral,  foi  provido  pelo  Principo 
Nosso  Senhor  em  um  Lugar  da  Junta  do  Infantado,  por 
Decreto  de  18  de  Dezembro  de  1790,  no  qm\  tem  a  grande 
honra  de  servir  presentemente  aS.  A.  R. 


n 


—  403  — 

Por  Decreto  de  ál  de  Novembro  de  1789.  FoiV.  Ma- 
gestade  Servida  Nomeal-o  Ministro  da  Junta  do  Exame  do 
estado  actual,  e  melhoramento  temporal  das  Ordens  Ue- 
guiares. 

E  por  Alvará  de  21  de  Abril  de  1790  lhe  fez  V.  Mages- 
tade  a  outra  inestimável  honra  de  Creal-o  Secretario  da 
Princeza  Nossa  Senhora. 

Sendo  tantos,  e  tão  diversos  os  Empregos  do  Real  Ser- 
viço, em  que  o  supplicante  tem  sido  sempre  occupado 
desde  que  teve  a  honra  de  entrar  nelle ;  tendo  elle  feito 
tantos,  e  tão  importantes  serviços,  como  sâo  os  referidos, 
assim  ordinários,  e  próprios  dos  lugares,  em  que  tem  sido 
provido,  como  também  os  extraordinários,  que  por  serem 
de  outra  ordem  superior,  e  não  pertencerem  ás  funções 
da  Magistratura,  se  devem  qualificar  de  mais  relevantes;  e 
além  dos  referidos,  outros  muitos,  que  expõem,  por  serem 
constantes,  e  notórios  a  V.  Magestade,  aos  Ministros,  e 
Secretários  de  Estado,  e  ao  publico,  poderia  parecer  ao 
supplicante,  que  por  todos,  e  cada  um  dos  ditos  serviços 
se  tem  elle  feito  digno  na  Real  Prezença  de  V.  Magestade 
d'uma  remunerarão,  e  premio  correspondente,  não  ao 
valor  intrínseco  delles,  que  o  supplicante  reconhece  ser 
nenhum;  porque  muito  mais  deve,  e  deverá  sempre  o 
supplicante  á  honrti,  que  os  Augustissimos  Senhores  Reis 
Pai,  e  Avô  de  V.  Magestade  lhe  tem  feito  de  o  habilitarem, 
c  empregarem  no  mesmo  Seu  Real  Serviço,  eá  que  V.  Ma- 
gestade da  mesma  sorte  lhe  tem  feito,  e  faz  de  o  conservar 
nos  lugares,  em  que  elle  foi  provido  por  Seu  Auguslissi- 
mo  Pai,  e  conferido  os  outros  já  referidos,  com  que  mais  o 
tem  honrado,  e  condecorado ;  mas  sim  tão  somente  á  gran- 
de impressão,  que  no  Generoso,  e  Liberal  Animo  de  V. 
Magestade  costumâo  fazer  os  Serviços  obrados  por  Vassal- 


—  I6f  — 

I  io4u$  iv;  erforÇriís  possíveis  para  servir  a  V. 

rbaani.  eomzelu.  com  lealdade,  com  justi- 

K  com  intelligencia,  e  com  desinteresse,  c 

.^^•m  ^rrilííMndo  a  bem  do  Real  Serviço  com  muita 

^í^rti^xjk\  egosto  todos  os  seus  interesses,  como  é  publico, 

^  in^MrJo  ter  feito  o  supplicante. 

IMrèin»  Augustissimo  Senhora,  para  que  os  Serviços 
«èrsKios  pelo  supplicante  a  V.  Magestade,  e  a  Seus  Augus- 
tissímos  Pai,  e  Avô  possão  fazer  a  mesma  impressão  no  Real 
Animo  de  V.  Magestade,  faz-se  também  preciso  ao  suppli- 
cante mover,  e  inclinara  seu  favor  a  Real,  e  Incomparável 
Piedade  de  V.  Magestade,  e  pedir-lhe  as  Suas  Máos  Auxi- 
liares com  a  Sua  Real  Grandeza.  Para  esse  fim  representa 
mais  a  V.  Magestade.  que  tendo  elle  tido  a  honra  ãe  servir 
a  tantos,  e  tão  Generosos,  e  Magnânimos  Monarchas,  pelo 
longo  espaço  dos  já  numerados  46  para  47  annos,  ató  agora 
não  tem  recebido  da  Sua  Regia,  e  Incomparável  Grandeza 
Mercê,  ou  Demonstração  alguma  ulil,  e  fructuosa  de  lhe 
terem  sido  os  seus  serviços  bera  acceitos.  Pois  que  a  única 
Mercê  Regia  dessa  natureza,  que  tem  hido  em  toda  a  sua 
vida,  é  a  do  simples  Habito  de  Christo  com  a  insignificante 
Tença  de  20  S  rs.  por  Mercê  do  Augustissimo  Senlior  Rei 
D.  João  V,  de  1729,  requerida  por  seu  Pai  em  premio  dos 
serviços  d' um  parente  estando  o  supplicante  ainda  na  in- 
fância. Nem  também  o  supplicante  se  tem  animado  ató 
agora  a  supplicar  a  V.  Magestade  Despacho  de  seus  serviços, 
por  se  achar  plenamente  convencido  de  que  o  não  tem 
merecido,  e  querer  servir  mais  tempo  para  poder  mais 
merecer. 

O  Suppficante.  Augiistissima  Senhora,  está  chegado  no 
ultimo  quartel  da  sua  vida ;  vc-sc  cercado  de  filhos ;  olha 
para  a  caza,  em  que  nasceu,  c  vô-a  reduzida  do  florente 


^ 


—  4G5  -r 

estado,  cm  que  deixou  quando  delia  sahio,  tâo  somente 
para  se  empregar  no  Régio  Serviço,  ao  de  uma  lamentável 
•decadência,  causada  por  uma  parte  pela  longa  auzencia  do 
suppiicante  delia  ha  mais  de  30  annos ;  e  pela  outra  parte 
pelas  grossas  e  avultadas  despezas,  com  que  ella  lhe  tem 
contribuído,  primeiramente  para  a  própria  sustentação  delle 
n(5stes  Reinos,  c  logo  depois  para  a  de  três  Irmáos  seus. 
que  elle  fez  vir  para  a  sua  companhia  para  os  educar,  o 
habilitar  para  o  mesmo  Real  serviço,  em  que  também  tem 
tido  a  honra  de  haverem  sido  occupados. 

E  para  se  não  entregar  á  ultima  perturbação  do  seu  es- 
pirito com  as  tristes  considerações  da  futura  sorte  dos  seus 
filhos,  e  da  sua  familia  depois  das  suas  cinzas,  nem  se  expor 
a  que  sendo  prevenido  pela  morte,  até  lhe  falte  o  tempo 
para  pedir  a  V.  Magestade  o  Despacho  dos  ditos  serviços. 
Recorre  finalmente  ao  mesmo  tempo  á  Soberana  Grandeza, 
cá  Summa  Piedade  de  V.  Magestade,  e  lhe  supplica  com  a 
mais  profunda  submissão,  e  reverencia  que  Haja  por  bem 
Attendello,  e  Despachallo  por  todos  os  seus  referidos  ser- 
viços, com  aquellas  Honras,  Graças,  c  Mercês,  que  lhe 
dictarem  ambas  as  ditas  Reaes  Virtudes  igualmente  pos- 
suidas  porV.  Magestade  no  gráo  mais  heróico,  para  que 
honradas,  e  utilizadas  com  ellas  na  própria  pessoa  do  sup- 
piicante as  cans  por  elle  adquiridas  no  Real  Serviço  de  V. 
Magestade  (as  quaes  poucas  esperanças  lhe  dão  de  poder 
desfructallas  por  muito  tempo)  e  contemplado  também  nas 
mesmas  Mercês  Regias,  pela  forma,  e  modo  que  mais  for 
do  Real  Agrado  de  V.  Magestade,  o  filho  primogénito  do 
suppiicante;  (que  jà  frequenta  as  Aulas  de  Coimbra,  para 
poder  também  aspirar  á  honra  de  servir  a  V.  Magestade)  e 
na  falta  delle,  o  que  houver  de  succeder  na  sua  Gaza;  possa 
o  suppiicante  passar  o  resto  de  seus  dias  com  mais  satis- 


—  46C  — 

façáo,  c  socego  de  espirito ;  e  cobrando  com  as  ditas  Mer- 
cês novos  alentos,  possa  também  com  maior  consolarão,  e 
alacridade  esperar  no  Real  Serviço  de  V.  Magestade  o  dia 
fatal,  e  nelle  mesmo  exhale  os  últimos  'alentos  da  vida — 
E.  R.  M. 


Relação  dos  Doemuentos  Juntos. 

Certidão  dos  Serviços  de  Oppozitor  às  Cadeiras  da  Univer- 
sidade feitos  nos  annosde  1744.  até  o  de  1753. 

Cartas  dos  Reitores  do  Collegio  deS.  Paulo,  de  que  consta 
ter  sido  acceito  Collegial  do  dito  Collegio,  de  4  de  De- 
zembro de  1738,  de  7,  e  20  de  Fevereiro,  e  de  3,  21,  c 
24  de  Maio  de  1762. 

Carta  do  Desembargador  da  Relaçáo  da  Bahia,  ficando  occu- 
pado  na  Corte  no  Real  Serviço,  de  14  de  Junho  de  1763. 

Carta  ao  Chanceller  da  Bahia  para  se  lhe  pagarem  là  so- 
mente as  braçagens  do  dito  lugar,  por  lhe  ter  S.  Mages- 
tade Mandado  pagar  o  Ordenado,  e  Propinas  pelo  Real 
Erário,  de  2  de  Novembro  de  1763. 

Carta  de  Desembargador  da  Relação  e  Caza  do  Porto  de  9  de 
Janeiro  de  1708. 

Decreto  da  Nomeação  de  Ajudante  do  Procurador  da  Coroa 

de  18  de  Janeiro  de  1768. 
Carta  de  Deputado  da  Real  Meza  Censória  de  22  de  Abril 

de  1768. 
Carta  de  Desembargador  da  Caza  da  Supplicação  de  27  de 

Outubro  de  1768. 
Alvará  de  Procurador  Geral  da  Santa  Igreja  de  Lisboa  de 

29  de  Março  de  1769. 


—  467  — 

Carla  do  Erocçíio  da  Junta  da  Providencia  Littcraria  de  23 
de  Dezembro  de  1770. 

Carta  de  um  Lugar  de  Desembargador  dos  Aggravos  de  14 
de  Junho  de  1771. 

Carla  de  Procurador  da  Coroa  de  14  de  Junho  de  1771. 

Carta  de  Confirmação  dos  Novos  Estatutos  da  Universi- 
dade de  Coimbra  de  28  de  Agosto  de  1772. 

Carta  de  Guarda  Mór  do  Real  Archivo  da  Torre  do  Tombo 
de  29  de  Abril  de  1774. 

Decreto  da  Nomeação  de  Conselheiro  do  Código  de  31  de 

Março  de  1778. 
Carta  de  Desembargador  do  Paço,  e  Petições  de  17  de 

Agosto  de  1778. 
Carta  do  Titulo  do  Conselho  de  S.  Magestade  de  23  de 

Agosto  de  1778. 

Decreto  da  Nomeação  do  Dr.  Bruno  Manoel  Monteiro  para 
seu  Ajudante  de  22  de  Agosto  de  1783. 

Carta  de  Deputado  da  Meza  Prioral  do  Crato  de  27  de  Agos- 
to de  1784. 

Decreto  para  assistir,  e  dirigir  as  Conferencias  do  Exame, 
e  Censura  do  Direito  Publico,  sempre  que  para  ellas  for 
avizado  pelo  Presidente  de  3  de  Fevereiro  de  1789. 

Alvará  de  Juiz  Conservador  da  Junta  da  Administração  do 
Tabaco  de  2  Julho  de  1789. 

Decreto  da  Nomeação  de  Deputado  da  Junta  do  Exame  do 
estado  actual,  e  melhoramento  temporal  das  Ordens  Re- 
gulares de  21  de  Novembro  de  1789. 

Decreto  da  Nomeação  de  Secretario  da  Princeza  N.  Senho- 
ra de  16  de  Novembro  de  1790. 

Carta  de  Deputado  da  Junta  da  Sereníssima  Caza  do  Infan- 
tado de  12  de  Janeiro  de  1791. 


^  468  — 
PETIÇÃO. 

Senhora. — Além  dos  próprios  Serviços,  que  o  Suppli- 
cante  acaba  de  expor,  tem  mais  os  de  seu  Irmão  Clemente 
Pereira  de  Azeredo  Coutinho  e  Sello,  que  lhe  pertencem 
por  titulo  de  Doação  causa  mor  tis. 

O  dito  seu  Irmão  desde  os  seus  primeiros  annostendo-se 
applicado  às  Letras,  seguiu  a  Universidade,  onde  se  For- 
mou, e  fez  Actos  Grandes  da  Faculdade  de  Cânones,  em 
que  deu  publicamente  todas  as  provas  dos  seus  bons  ta- 
lentos, e  da  sua  instrucção :  porém  abrasado  no  dezejo  de 
se  empregar  com  mais  promptidáo  no  Serviço  do  Seu  So- 
berano, e  ser  útil  ao  Estado  ?  parecendo-lhe  vagaroza  a  car- 
reira, que  seguia,  e  em  que  via  o  supplicante,  e  que  lhe  re- 
tardava os  passos  do  seu  animo  propenso  à  Profissão  Mili- 
tar; procurou  servir  no  exercicio  das  Armas,  como  em  um 
Elemento  próprio  para  dar  toda  a  extensão  ao  seu  génio. 
Com  eíTeito  conseguio  que  o  Senhor  Rei  D.  José  o  Despa- 
chasse Capitão  de  Dragoens,  por  Decreto  de  28  de  Maio  de 
1760,  levantando  uma  companhia  á  sua  custa  no  Piauhy, 
de  que  se  lhe  passou  Patente  em  3  de  Junho,  e  outra  do 
1.®  de  Julho,  todas  do  mesmo  anno,  para  vir  exercitar  o 
referido  Posto,  depois  de  ter  ali  servido  seis  annos,  pelo 
dito  Decreto  de  28  de  Maio ;  pelo  que  assentou  Praça  na 
Vedoria  desta  Corte  em  7  de  Julho  do  mesmo  anno,  ficando 
Capitão  Aggregado  á  Companhia  de  Cavallaria,  de  que  era 
Capitão  o  Marquez  de  Fronteira  no  Regimento  de  Cavalla- 
ria de  Alcântara. 

Não  teve  o  Irmão  do  Supplicante  nesta  Corte  mais  de- 
mora do  que  a  necessária  para  a  expedição  das  suas  Pa- 
tentes, do  armamento,  e  mais  aprestos  respectivos  á  dita 
Companhia;  e  partio  na  fi^imeira  occaziáo,  qee  teve  de 


—  409  — 

.\avio  pan  a  Cidade  de  S.  Luiz  do  iMaranhâo,  aonde,  dispon- 
do-se  com  a  mesma  promptidáo  a  principiar  a  jornada  do 
sertão,  que  lhe  restava,  chegou  à  Capital  do  Piauhy  a  23  de 
Dezembro  do  dito  anno :  nelia  appresentou  as  suas  Paten- 
tes ao  Governador  da  Capitania,  que  entáo  era  João  Pereira 
Caldas,  c  por  despacho  do  mesmo  Governador  teve  naquella 
Vedoria  a  27  do  mesmo  mez  assento  de  Capitão  da  compa- 
nhia de  Dragões,  que  S.  Magestade  Mandava  Crear  de  novo. 
Não  apparecendo  porém  outras  Ordens  mais  especificas 
para  a  creação  da  dita  companhia  de  Dragões,  que  não  fos- 
sem as  referidas  Patentes  do  Supplicante,  que  elle  appre- 
sentou, duvidou-se  se  elle  devia  ser  só  por  ellas  admittido 
a  levantalla :  para  remover  esta  duvida  sujeitou-se  por  Ter- 
mo, que  fez  a  estar  por  tudo  quanto  o  Senhor  Rei  D.  José 
Determinasse  a  este  respeito ;  applicando  por  este  modo  os 
meios,  que  lhe  erão  possiveis  para  que  tivesse  prompto 
cíTeito  o  serviço  da  dita  companhia.  Duvidou-se  também  se 
com  elle  se  deveria  praticar  o  Contrato  estabelecido  neste 
Reino  com  os  Capitães  deCavallo;  e  reconhecendo  elle, 
que  esta  decizão  dependia  da  Resolução  do  Senhor  Rei  D. 
José,  a  quem  o  Governador  devia  informar  do  que  fosse 
naquella  Capitania  mais  conveniente  ao  Real  Serviço;  não 
só  se  absteve  de  fazer  os  requerimentos,  que  Iheconvinhão; 
mas  esteve  por  muitos  mezes  fazendo  á  sua  custa  todas  as 
preparações,  e  concertos  necessários  á  dita  companhia,  até 
que  o  dito  Governador  os  principiou  a  mandar  fazer  por 
despeza  daquelle  Almoxarifado ;  perdendo  elle,  não  só  aâ 
despczas  já  feitas  á  sua  custa,  mas  todos  os  interesses,  que 
poderia  ter,  praticando-se  alli  as  providencias  da  arca,  c 
contrato ;  c  ficando  percebendo  naquelle  sertão  tão  somente 
o  Soldo  de  40  S  rs.  por  mez,  que  é  o  dos  Capitães  de  Ca- 
vallos  das  Terras  da  Gosta. 

JULHO.  60 


'-        _  470  — 

O  dito  Irmão  do  Supplicanto  encheu  Iodas  as  condições, 
a  que  se  tinha  obrigado:  levantou  a  sua  companhia,  fome- 
cendo-a  toda  ã  sua  custa  com  os  melhores,  e  mais  luzidos 
armamentos,  Cavallos,  aprestos,  e  petrechos,  como  testi- 
ficou o  dito  Governador  João  Pereira  Caldas  na  sua  Attesta- 
çâo  passada  no  1.**  de  Agosto  de  1769,  em  que  declara  es- 
pecificamente que  o  Irmão  do  Supplicante  satisfizera  com 
muito  grande  bizarria,  não  só  na  que  praticou  na  nomeação 
dos  Postos  dos  seus  OflQciaes  Subalternos,  em  que,  contra 
o  ordinário  costume,  se  dispensou  de  todo  o  interesse; 
como  também  na  que  igualmente  observou  na  compra,  e 
escolha  de  todos  aquelles  excellentes,  e  perfeitíssimos  ar- 
mamentos, e  mais  preparos,  e  pertenças  da  dita  companhia, 
por  ser  tudo  do  melhor,  que  podia  descobrir.  E  que  de- 
pois disso  não  só  se  tinha  empregado  com  muita  destincçáo 
no  Real  Serviço,  executando  exactissimamente  todas  as  or- 
dens, e  diligencias,  de  que  o  tinha  encarregado  o  dito  Go- 
vernador; como  também  por  o  ter  acompanhado  em  todas 
as  repetidas,  dilatadas,  e  escabrozas  jornadas,  que  por 
aquelles  sertões  tinha  feito  abem  do  mesmo  Real  Serviço; 
assistindo  juntamente  á  fundação  de  todas  as  Villas.  que 
por  Ordem  do  Senhor  Rei  D.  José  tinha  andado  erigindo 
por  aquelle  Governo,  eportando-se  sempre  em  todas  aquel- 
las,  e  mais  occaziões  com  muito  luzimento,  grande  honra, 
actividade,  e  préstimo. 

Por  ordem  do  dito  Governador  de  24  de  Janeiro  de  17GG 
foi  o  dito  Irmão  do  Supplicante  acompanhar  o  Conde  da 
Azambuja  quando  passou  a  governar  a  Bahia,  passando  com 
elle  inexplicáveis  inclemências,  e  perigos,  pelos  riscos  da 
jornada  por  aquelles  sertões  faltos  até  do  necessário  sus- 
tento, e  de  agoa,  que  apenas  se  achava  nos  pestilentes 
charcos,  pela  grande  sêcca  que  então  havia ;  de  sorte  que 


r^ 


—  471  — 

morrerão  os  cavallos,  e  se  virão  precisados  a  caminhar  a 
pé ;  c  nesta  occazião  trabalhou  o  mesmo  Irmão  do  Suppli- 
cante  com  grande  constância,  e  valor  pondo  em  execução 
(juanto  este  Governador  lhe  ordenou,  como  elle  especifica 
na  sua  Attestação  de  o  de  Maio  de  1766. 

Voltando  da  Cidade  da  Bahia  com  uma  partida  de  Solda- 
dos da  sua  Companhia,  que  sustentou  à  sua  custa,  com- 
prando novos  cavallos  para  a  retirada,  chegou  ao  Piauhy 
em  24  de  Dezembro  do  dito  anno,  como  tudo  consta  da  fó 
de  oílicio.  Preenchidos,  não  só  os  seis  annos ;  mas  também 
todo  o  tempo  que  vai  de  27  de  Dezembro  de  1760,  em  que 
assentou  Praça  na  Capital  de  Piauhy,  ató  H  de  Junho  de 
1770,  em  que  deu  baixa  da  Praça,  que  nella  tinha  obtido, 
de  Capitão  da  Companhia  de  Dragões,  ficou  sempre  con- 
servando a  de  Capitão  Aggregado  ao  Regimento  de  Caval- 
laria  da  Corte,  fazendo  nesta  jornada  muito  avultadas  des- 
pezas  á  sua  própria  custa. 

Tendo  de  fazer  o  dito  irmão  do  Supplicante  o  seu  re- 
gresso pelo  Porto  do  Maranhão,  sem  attender  ás  commo- 
didades,  que  lhe  resultarião  de  o  fazer  por  um  caminho  mais 
breve,  e  mais  seguido,  foi  voluntariamente  á  vista  de  S.  João 
da  Pernahiba,  cento  e  dez  legoas  distante  da  capital  de 
Piauhy,  encarregado  pelo  seu  Governador;  que  então  era 
Gonçallo  Lourenço  Botelho,  de  diligencias  muito  interes- 
santes ao  Real  Serviço ;  e  nesta  Villa  se  deteve  o  tempo  ne- 
cessário a  concluillas  no  meio  da  cruel  epidemia,  que  in- 
festava, e  que  levava  todos  os  dias  á  sepultura  muito  dos 
seus  moradores. 

Feito  este  serviço,  passou  o  Irmão  do  supplicante  ao  Ma- 
ranhão, onde  embarcou  para  esta  Corte ;  e  depois  de  ter  a 
honra  de  beijar  a  Augusta  Mão  do  Senhor  Rei  D.  José,  foi 
Despachado  Governador  da  Capitania  do  Maranhão,  de  que 


—  47a  — 

SC  lhe  passou  Patente  em  23  de  Janeiro  de  1774,  onde  cer- 
tamente faria  grandes,  e  úteis  serviços,  como  já  tinha  dado 
bastantes  provas,  se  a  morto  não  encurtasse  tanto  a  sua 
vida :  ficando  inúteis,  e  perdidas  todas  as  dcspezas,  que 
tinha  feito  para  o  seu  transporte  desta  Corte,  que  lhe  im- 
portarão em  mais  de  10  g  cruzados,  além  de  mais  de  20  $ 
que  gastou  em  ir  a  Paiz  tão  remoto  levantar  a  dita  compa- 
nhia de  Dragões,  sem  nelles  se  incluirem  os  gastos  d\ 
creaçâo  da  dita  companhia,  os  quaes  todos  tem  recaindo  na 
pessoa  do  supplicante,  e  em  sustentar-se  por  tão  longas,  e 
repetidas  jornadas  em  procurar  os  meios  mais  elTicazes  de 
fazer  effectivas  as  diligencias,  de  que  foi  incumbido,  e  em 
manter  a  independência,  e  desinteresse,  que  devem  ter,  os 
que  lem  a  honra  de  servir  aos  seus  Soberanos,  muito  prin- 
cipalmente naquelles  Paizes. 

Por  todo  estes  14  annos  de  seniços  contados  desde  24 
de  Dezembro  de  1760,  cm  que  assentou  praça,  até  13  de 
Fevereiro  de  1774,  em  que  faleceu  em  actual  exercicio;  os 
quaes  serviços  pertencem  ao  supplicante  por  virtude  da 
dita  Doação,  espera  o  supplicante  que  V.  Magostade  se 
digne  attendello  com  a  Liberdade  própria  da  Sua  Real 
Grandeza.— E.  R.  M. 


Relaçtlo  dos  Doetimentos  Juntos. 

Escriptura  de  Doaçáo  causa  mortis  celebrada  em  8  de  Maio 
de  17G5  nas  Notas  de  Francisco  Xavier  Lino.  Tnbellião 
na  Cidade  de  Oeiras,  Freguezia  de  N.  S.  da  Victoria  da 
Capitania  de  S.  José  de  Piauhy. 

Patente  de  Capitão  da  companhia  de  Dragões,  creada  no 
Piauhy  em  3  de  Junho  de  1760. 

Patente  de  Capitão  de  Dragões  em  o  1 ."  de  Jullio  do  1760, 


n 


—  473  — 

Certidão  do  dia  cm  que  assentou  Praça  de  Capitão  de  Dra- 
gões, que  foi  em  7  de  Julho  de  1760. 

Fé  de  OlGcios  de  Capitão  de  Dragões  no  Piauhy  em  10  de 
Junho  de  1770. 

Certidão  do  Termo  que  fez  no  levantamento  da  compa- 
nhia &c.  em  8  de  Abril  de  1761  &c. 

Altestação  dos  serviços  feitos  no  Piauhy  em  Praça  de  Capi- 
tão de  Dragões  em  o  1 .®  de  Agosto  de  1769,  passada  por 
João  Pereira  Caldas  Governador  da  dita  Capitania. 

Attestação  dos  mesmos  serviços,  passada  por  Gonçalo  Lou- 
renço Botelho,  Governador  da  dita  Capitania  em  7  de  Ju- 
nho de  1770. 

Certidão  passada  pelo  Conde  de  Azambuja,  Governador, 
e  Capitão  General  da  Bahia  em  5  de  Maio  de  1766. 

Certidão  do  Alvará  de  folha  corrida  em  19  de  Maio  de  1770. 

Patente  de  Governador  do  Maranhão  em  25  de  Janeiro 
de  1774. 

Carta  de  S.  Magestade  para  se  lhe  dar  a  posse,  na  mesma 
dat:). 

Carta  de  participação  de  S.  Magestade  para  os  Ofliciaes  da 
Camará  da  dita  Capitania  na  mesma  data. 

Certidão  de  Óbito,  que  foi  a  13  de  Fevereiro  de  1774.  É 
passada  pelo  Prior  da  Freguezia  de  Santos. 


PETIÇÃO. 

é 

Senhora.— O  Bispo  Conde  dezejoso de  mostrar-se  agra- 
decido a  seu  Irmão  o  Desembargador  João  Pereira  Ramos 
de  Azeredo  Coutinho,  ao  qual  deveu  sempre  desde  os  pri- 
meiros annos  todos  os  cuidados  d'um  bom  Pai,  vem  rogar 
a  V.  Magestade  queira  dignar-se  fazer  ao  dito  seu  Irmáo,  e 


f 


~  474  — 

a  seu  Filho,  que  lhe  houver  de  succcdcr  na  sua  caza, 
aquella  Graça,  que  o  Supplicante  poderia  esperar  da  Gran- 
deza de  V.  Magestade  pelos  Serviços  que  o  supplicante 
tem  feito  a  V.  Magestade,  ao  Augustissimo  Senhor  Rei  D. 
José  de  Glorioza  Memoria,  e  ao  Estado. 

O  Supplicante  conhece  o  quanto  os  seus  serviços  são  pe- 
quenos ;  elle  mesmo  não  tem  animo  de  os  appresentar  a  V. 
Magestade ;  pois  que  a  simples  ideia  de  pedir  por  elles  a 
mais  pequena  recompensa  o  enche  de  pejo,  e  de  vergonha : 
elle  ficaria  mudo,  se  a  Benignidade  de  V.  Magestade,  e  dos 
Seus  Soberanos  Progenitores  não  tivessem  permittido.  e 
mesmo  mandado  pelas  suas  Leis,  que  os  Yassallos  que  ti- 
vessem servido  ao  Estado,  appresentassem  as  provas  dos 
seus  serviços ;  sem  duvida,  ou  para  serem  recompensados, 
dando-se  um  exemplo  a  todos  para  mais,  e  mais  os  convi- 
dar a  bem  servirem ;  ou  para  serem  desprezados,  em  cas- 
tigo do  pouco,  ou  nada.  que  satisfizerão  os  seus  deveres. 

Esta  Ordem,  consoladora  para  o  supplicante,  o  anima  a 
pedir  a  V.  Magestade,  se  digne  conceder-lhe  alguns  ins- 
tantes para  fazer  uma  breve  exposição  dos  seus  trabalhos 
litterarios,  e  daquillo,  de  que  V.  Magestade  e  Seu  Augusto 
Pai  e  encarregarão. 

O  supplicante  entrou  para  o  Gollegio  dos  Militares,  como 
porcionista,  em  30  de  Junho  de  1732:  passou  a  ser  Colle- 
gial  do  mesmo  Gollegio  em  6  de  Septerabro  de  17o4 ;  e  no 
dia  24  de  Outubro  do  mesmo  anno  foi  Graduado  Doutor 
emGanones.  Continuou  depois  a  vida  Académica:  e  sendo 
Oppozitor  ás  Cadeiras  rezidio  amargamente ;  fez  lições 
aos  estudantes  nos  Bacharéis,  Formaturas,  c  Actos  Gran- 
des ;  argumentou  nas  Goncluzões  Magnas,  pelos  turnos ; 
substituio  Cadeiras;  ostentou,  c  fez  Opposição  á  Cadeira 
do  L.o  G.®  das  Decretaes,  que'se  pôz  em  Concurso  no  anno 


% 


—  473  — 

de  1 7Gíj ;  o  a  ludo  satisfez  na  conformidade  do  Decreto  de 
23  de  Janeiro  do  mesmo  anno,  que  deu  nova  forma  para  os 
Actos  Littcrarios  nos  Concursos  das  Cadeiras. 

Sendo  Reitor  do  Collegio  dos  Militares  em  31  de  Julho 
de  17GI,  promoveu  utilmente  a  adiantamento,  e  interesses 
do  mesmo  Collegio.  Nos  seus  exercidos  Académicos  sérvio 
o  Supplicante  ao  Augustissimo  Senhor  Rei  D.  José  por 
tempo  de  doze  annos  e  meio  contínuos,  desde  1704,  cm 
que  tomou  o  Grão  de  Doutor,  ató  29  de  Agosto  de  17G7, 
em  que  o  mesmo  Senhor  lhe  fez  Mercê  do  Lugar  de  Juiz 
Geral  das  Ordens  MiHtares ;  c  vindo  logo  exercitallo  nesta 
Corte,  foi,  pouco  depois,  despachado  Desembargador  da 
Gaza  da  Supplicaçáo,  por  Decreto  de  18  de  Janeiro  de 
17G8,  com  a  clauzula  de  fazer  Exame  vago  antes  da  posse 
do  dito  Lugar,  por  virtude  da  sua  Carta  de  16  de  Julho  do 
mesmo  anno,  em  breves  tempos  passou  a  seryir  uma  Gaza 
de  Aggravos,  em  que  trabalhou  por  mostrar  a  sua  activida- 
de, inteireza  e  rectidão. 

Por  Carta  de  29  do  dito  mez  de  Janeiro,  e  anno  de  1768 
foi  o  supplicante  provido  ein  um  lugar  Extraordinário  do 
Tribunal  do  Santo  Oflicio  da  Inquisição  de  Lisboa :  e  crean- 
do  o  Senhor  Rei  D.  José  a  Meza  Censória,  foi  o  suppli- 
cante um  dos  primeiros  Deputados  Ordinários  delia  no- 
meado na  Carta  de  22  de  Abril  do  dito  anno  de  1768. 

Estando  o  supplicante  empregado  nos  ditos  Lugares,  foi 
nomeado  Vigário  capitular  pelo  Cabido  de  Coimbra,  para, 
sem  reserva  alguma  de  Jurisdicção.  governar  aquelle  Bis- 
pado, pelo  impedimento  do  seu  legitimo  Pastor:  o  que  tudo 
foi  approvado  pelo  Senhor  Rei  D.  José  por  Carta  de  12  de 
Dezembro  de  17G8,  dirigida  no  Avizo  de  17  de  Dezembro 
do  mesmo  anno. 

Esta  commissáo  era  critica,  sem  duvida,  pelas  circums^ 


/ 


—  476  — 

tancias,  e  desordens,  em  que  as  cousas  se  achavão:  alizon- 
ja,  e  a  intriga  principiarão  logo  a  fazer  os  seus  oíTicios. 
accumulando  males  sobre  males,  que  a  custa  de  nâo  peque- 
nas fadigas  pôde  o  supplicante  desviar,  e  pôr  tudo  em  paz, 
e  no  mesmo  estado,  em  que  o  seu  antecessor  tinha  dei- 
xado. 

No  exercido  das  ditas  occupações  se  conservou  o  suppli- 
cante até  14  de  Maio  de  1770,  em  que  o  mesmo  Senhor 
Rei  D.  José  o  Nomeou  Reitor  da  Universidade  de  Coimbra, 
para  a  Reforma  dos  Estudos,  aos  quaes  se  hia  dar  novo  me- 
thodo,  e  bom  gosto.  Para  este  fim  veio  o  Supplicante 
promptamente  a  esta  Corte  a  beijar  a  Regia  Mão  Benéfica, 
e  prestar  o  Juramento  do  seu  importantíssimo  lugar.  E 
creando  o  mesmo  Senhor  no  dito  anno  a  Junta  da  Provi- 
dencia Litteraria,  para  nella  se  disporem  os  meios  mais 
próprios,  e  conducentes  para  se  reformarem  os  Estudos 
de  todas  as  Sciencias,  e  Faculdades,  o  Nomeou  um  dos 
Conselheiros  no  Decreto  de  23  de  Dezembro  de  1 770.  Con- 
cluída a  Obra  dos  Novos  Estatutos,  foi  provido  no  lugar  de 
Reformador  por  Decreto  de  H  de  Septembro  de  1772,  c 
condecorado  com  Titulo  do  Conselho  de  S.  Magestade. 

Depois  partiu  o  supplicante  para  aquella  Cidade  a  man- 
dar apromptar  as  cousas  necessárias,  e  as  Cazas  para  o 
Estabelecimento  da  Reforma  encarregada  pelo  dito  Senhor 
.10  Marquez  de  Pombal;  etudo  executou  promptamente, 
de  modo  que  o  dito  Marquez  pôde  facilmente  executar  a 
Regia  Commissão,  e  recolher-se  a  esta  Capital  no  breve 
espaço  d' um  mez. 

O  dito  Marquez,  como  Lugar  Tenente  de  S.  Magestade 
para  a  dita  Reforma,  depois  de  significar  â  mesma  Univer- 
sidade o  quanto  o  dito  Senhor  estava  satisfeito  do  zelo,  c 
dezempenho,  com  que  o  supplicante  se  tinha  comportado 


I 


—  477  — 

nas  suas  obrigações,  o  encarregou  de  tudo  o  mais,  que  se 
devera  fazer  era  consequência.  Era  necessário  reformar  os 
Estudantes;  reformar  e  fazer  de  novo  muitos  edifícios:  o 
supplicantc  passa  a  dará  V.  Magestade  uma  breve  noçáo  do 
que  pertence  aos  Edifícios ;  depois  passará  ao  que  pertence 
aos  estudantes. 

Novos  Estudos,  novas  Sciencias  pedião  novas  Aulas,  no- 
vos edifícios  para  a  sua  boa  accommodaçSo .  O  supplicante 
fez  edifícar  de  novo  um  magnifíco  Muzeu,  que  em  todo  o 
tempo,  não  só  fizesse  ver  a  Poderosa,  e  Augusta  Mão  do 
seu  Autor ;  mas  também,  que  tivesse  as  Cazas  necessárias. 
Fez  também  bom  Gabinete  de  Historia  Natural,  com  salas 
proporcionadas,  para  nellas  se  depozitarem  as  ricas,  e  raras 
producções  da  Natureza,  destribuidas  pelos  trez  Reinos 
Animal,  Vegetal,  eMineral.Fezoutro  Gabinete  de  Physica 
Experimental  com  muitas  Maquinas,  e  Instrumentos  ri- 
quíssimos da  melhor  escolha  para  todas  as  experiências. 

Fez  de  novo  um  Laboratório  Chimico  com  todas  as  suas 
Officinas  necessárias:  um  Dispensatório  Pharmaceutico : 
um  Observatório  Astronómico  com  muitos  e  diversos  Te- 
lescópios :  um  Hospital  com  Aulaspara  a  Medicina  Pratica : 
um  Theatro  Anatómico :  uma  Imprensa  Regia  com  os  ca- 
racteres, e  Instrumentos  necessários. 

No  antigo  Paço  das  Escolas  fez  renovar  as  Aulas,  e  man- 
dou abrir  Tribunaes  em  cada  uma  delias  para  os  Reitores 
com  facilidade,  e  sem  serem  vistos,  de  dentro  da  Gaza  Rei- 
toral verem,  c  ouvirem  quasi  ao  mesmo  tempo  todos  os 
Exercicios  Académicos.  Por  baixo  das  abobadas  das  ditas 
Aulas,  e  nas  lojeas  delias,  que  quasi  de  nada  servião,  fez  o 
supplicante  abrir  accommodações  excellentes  para  uma  boa 
Caza  de  Secretaria,  e  seu  Cartório,  o  para  salas  do  Con- 
selho da  Fazenda :  uma  Caza  forte  para  o  Cofre ;  reformou 

JULHO.  64 


—  478  — 

a  Caza  Reitoral ;  e  fez  abrir  communicações  interiores  para 
todas  as  ditas  Aulas,  Salas,  e  Gazas. 

Fez  uma  Caza  para  as  Audiências  da  Conservatória,  e 
uma  Cadeia  lavada  dos  ventos,  tudo  por  baixo  da  grande 
Livraria  da  Universidade.  Deu  principio  a  um  Jardim  Bo- 
tânico, para  o  qual  descobriu  agua  em  abundância,  e  para 
a  Cidade:  Concertou  Aulas,  Sellas,  e  OíTicinas  do  Real 
Collegio  das  Artes :  fez  estabelecer  uma  Fabrica  de  Azule- 
jos, e  de  telhas  vidradas  para  as  mesmas  Obras  da  Univer- 
sidade. 

Ao  mesmo  tempo  foi  o  supplicante  também  encarregado 
da  Inspecção  das  Obras  do  Real  Convento  de  Santa  Clara  da- 
quella  Cidade?  por  Carta  Regia  de  3  de  Dezembro  de  1773. 

De  todas  as  obras  da  Universidade  remetteu  o  suppli- 
cante o  Balanço  geral  com  a  boa  administração  da  Fazenda, 
que  tudo  foi  approvado,  mandando-se  continuar  o  plano, 
que  fez  dos  Balanços  no  fim  de  cada  mez,  para  melhor  co- 
nhecimento das  despezas.  Deu -se -lhe  faculdade  ampla 
para  fazer  todas  as  mais  obras,  que  ao  supplicante  pare- 
cessem convenientes,  com  a  certeza  de  serem  indefecti- 
velmente approvadas,  como  foráo  todas  as  que  o  suppli- 
cante completou;  assim  como  também  os  meios,  de  que 
uzou  para  suprir  a  falta  de  dinheiro,  que  então  havia  no 
Cofre  da  Fazenda  da  Universidade :  tudo  consta  das  Cartas 
juntas  a  esta  Supplica,  escritas  ao  supplicante  pelo  Marquez 
de  Pombal,  Ministro  de  Estado,  que  então  era. 

Vendo  porém  o  Senhor  Rei  D.  José  que  as  rendas,  que 
até  então  tinha  aquella  Universidade,  não  erão  bastantes 
para  bem  encher  as  suas  altas  ideias,  lhe  fez  com  Mão  Li- 
beral uma  Doação,  digna,  sem  duvida,  da  Grandeza  de 
um  Soberano,  e  que  fará  eterna  a  sua  memoria  nos  Fastos 
d'aquaella  Reformada  Academia. 


% 


—  47»  — 

Pelo  que  pertence  aos  Estudantes,  conhecendo  o  suppli- 
cante  que  as  Universidades  são  Escolas,  não  só  de  Letras, 
mas  também  de  virtudes ;  trabalhou  por  uma  parte  em  ex- 
tinguir a  abuziva  liberdade  da  dissolução  dos  costumes  da 
mocidade,  inspirando-lhes  os  princípios  da  boa  moral  ;c 
por  outra  parte  suscitando-lhes  sentimentos  de  honra,  ede 
applicação  para  os  Estudos ;  e  com  effeito  foi  notável  a 
emulação,  que  se  introduziu  entre  el!es,  e  o  ardor,  com 
que  principiaváo  o  seu  novo  Curso :  nas  noites  observava- 
se  um  silencio  profundo,  e  náoseviáo  Estudantes  nas  ruas 
no  tempo  do  Estudo.  De  dia  vinhão  todas  às  Aulas,  sem  fal- 
tarem ;  e  depois  se  recolhião  a  continuar  os  seus  Estudos. 

Todas  as  suas  conversações  dentro,  e  fora  de  caza  erão 
sobre  a  matéria  das  Lições.  Todos  os  lugares  de  distracção 
até  ahi  frequentadas,  e  se  vião  dezertos :  não  houve  bulhas, 
dissensões,  prisões,  e  nem  o  supplicante  teve  motivo  de 
reprehender ;  sendo  que  em  outro  tempo  não  bastavão  as 
cadeias,  erão  necessárias  tropas  de  cavallaria  armadas,  e 
os  mais  rigorosos  castigos. 

Vai-se  a  mocidade  toda  cheia  de  modéstia,  toda  apartada 
das  antigas  liberdades,  toda  civil,  e  com  uma  attençáo 
grande  em  mostrar  melhoramento  na  sua  conducta ;  assis- 
tindo ás  Funções  Académicas,  Sagradas,  ou  Litterarias, 
com  gravidade,  sizudeza,  e  Religião ;  e  dando  em  tudo 
signaes,  que  respeita  vão  a  Ordem  Publica. 

O  supplicante  é  o  mesmo  que  confessa,  que  em  todo  este 
tempo  fui  supérflua  a  sua  inspecção,  e  nem  se  sentio  falta  de 
Leis  de  Policia ;  porque  todos  procuraváo  satisfazer  os  seus 
deveres.  Este  espectáculo  de  modéstia,  de  applicação,  de 
traníiuilidade,  e  de  ordem  era  visto  com  admiração  de  toda 
a  Cidade,  a  qual  cheia  de  Estudantes,  se  via  como  dezerta, 
pelo  retiro,  e  recolhimento  dos  mesmos. 


—  480  — 

Passados  alguns  annos,  principiou  n  ir-se  sentindo  al- 
guma alteração  nesta  paz,  e  ordem  causada  por  alguns  va- 
dios, que  se  vestiâo  de  batina  para  passarem  por  Estudan- 
tes. Deu  isto  occaziáo  a  uma  Representação,  que  fez  o 
supplioante  ao  Marquez  de  Pombal ;  o  qual  por  uma  Pro- 
vizão  mandou,  que  se  expulsassem  fora  da  Cidade  os  ditos 
vadios,  e  perturbadores,  debaixo  de  penas  graves,  se  tor- 
nassem à  Cidade;  e  que  ninguém  podesse  trazer  batina, 
senão  os  Estudantes,  e  aquelles,  que  pertencessem  ao  Cor- 
po do  Clero. 

Para  evitar  que  a  relaxação  senão  introduzisse  com 
ruina  dos  Estudos,  e  dos  costumes,  havia  providencia  de 
se  rondarem  de  noite  as  ruas,  e  de  se  proliibirem  as  Cazas 
de  Jogo ;  de  impedir-se  que  não  houvesse  comedias  na  Ci- 
dade, e  de  se  prenderem  aquelles  que  se  achavão  cúmpli- 
ces. São  factos  notórios,  que  não  podem  ser  contestados, 
e  se  colligem  das  ditas  cartas  juntas  a  esta  Supplica ;  todas 
muito  honrozas  para  o  supplicante ;  e  por  não  cançar  pa- 
ciência de  S.  Magestade,  bastará  parte  d'uma  delias,  para 
se  ver  o  muito  que  o  Augustissimo  Senhor  Rei  D.  José  se 
deu  sempre  por  bem  servido  de  tudo  quanto  o  supplicante 
fez,  como  lhe  significou  o  dito  Ministro  de  E^^tado  nas  se- 
guintes palavras. 

t  A  bem  deduzida  conta,  que  Y.  Ex.  me  dirigiu  na  data 
«  de  2G  de  Outubro  próximo  precedente,  sobre  o  estado 
«  actual  dessa  Universidade,  foi  logo  prezente  a  El-Rei 
«  Meu  Senhor.  S.  Magestade  conheceu  com  as  suas  cla- 
«  rissimas  Luzes  serem  os  meios  muito  ajustados  para  os 
«  dczejados  fins  de  se  crearem  nessa  Universidade  homens 
«  sábios,  e  proveitosos ;  e  de  se  esperarem  uns  progressos 
«  Litterarios,  que  correspondão  á  Sua  Real  Expectação. 
«  A  vigilância,  e  incansável  cuidado,  com  que  V.  Ex.  não 


i 


481 


«  poupa  nenhuma  diligencia,  que  possa  conduzir  aos  refc* 
«  ridos  fins,  merece  um  digno  louvor. 

No  meio  de  ludo  isto  se  não  descuidou  jà  mais  o  suppli- 
cante  do  Governo  do  llispado.  de  que  estava  encarregado ; 
e  cuidou  logo  na  reforma  dos  costumes  das  suas  Ovelhas, 
contcndo-as na  pureza  da  Religião,  e  da  Fé;  e  fez  conser- 
var em  todo  o  seu  cxplendor  a  magnificência  do  Culto 
Divino. 

Depois  querendo  o- Senhor  Rei  D.  José  que  se  provesse 
o  dito  Bispado  de  Coadjuctor,  e  futuro  Successor,  pelo  im- 
pedimento do  Bispo,  que  entáo  era,  Nomeou  o  Supplicante, 
o  qual  foi  Confirmado  pelo  Santo  Padre  Clemente  XIV., 
que  expediu  as  Bulias  em  conformidade  das  Instancias  do 
dito  Senhor. 

Estando  o  supplicantc  no  exercicio  dos  ditos  Empregos, 
foi  chamado  pelo  respeitável,  e  Sábio  Visconde  (hoje  Mar- 
quez de  Ponte  de  Lima)  Ministro,  e  Secretario  de  Estado, 
por  Avizo  de  5  de  Junho  de  1777  para  vir  da  parte  daquelle 
Corpo  Académico  achar-se  prezente  à  Exaltação  de  V.  Ma- 
gestade  ao  Excelso  Throno  dos  Soberanos  Seus  Antepas- 
sados; c  assistir  ao  Juramento  que  S.  Magestade  se  dignou 
prestar,  na  qualidade  de  Protectora  da  Universidade  a 
exemplo  dos  Seus  Gloriozos  Predecessores. 

E  querendo  então  o  supplicante  dar  Conta  a  S.  Magesta- 
de da  sua  Administração,  apprezentou  um  volume,  em  que 
descreveu  uma  relação  geral  do  estado  da  Universidade  de 
Coimbra,  desde  o  principio  da  Nova  Reforma,  até  o  mez 
de  Septcmbro  de  1777,  em  que  o  supplicante  teve  também 
a  honra  de  appresentar  o  Plano  das  providencias,  que  ainda 
se  fazião  indispensáveis  para  o  complemento  da  grande 
Obra  da  Reformação  dos  Estudos. 

Em  16  de  Novembro  do  mesmo  anno  se  dignou  S.  Ma- 


—  482  — 

gestade  Mandar  que  o  Supplicante  continuasse  no  exercí- 
cio do  Governo  Académico,  honrando-o  com  Expressões 
tão  gloriozas  para  o  Supplicante,  que  elle  se  náo  pode 
dispensar  de  as  referir. 

«  Confiando  do  zelo,  e  vigilância,  que  tendes  mostrado 
•  em  adiantar  a  cultura  das  sciencias  na  mesma  Universi- 
€  dade:  Tenho  por  muito  certo  que  fareis  observar  os  Es- 
«  tatutos  delia,  promovendo  a  boa  Ordem,  e  Disciplina,  e 
€  os  Estudos,  que  nelle  se  recommendão ;  em  quanto  não 
«'  Mandar  dar  as  Providencias  necessárias  para  mais  eili- 
f  cazmente  se  facilitar  o  mesmo  fim. 

Tendo-se  porém  introduzido  algumas  relaxações  nos 
Exames  das  Disciplinas  Preparatórias,  mandou  o  suppli- 
cante fixar  um  Edital  para  as  obviar,  e  destruir,  o  qual  pôz 
na  Prezença  de  S.  Magesta  le,  que  achando-o  conforme  ao 
bom  regimen  dos  Estudos,  se  dignou  Approvallo  sem  res- 
tricçâo. 

Fellecendoo  Bispo  de  Coimbra,  D.  Miguel  da  Anunciação 

em. .  .de de deu  o  supplicante  conta  a  S. 

Magestade,  de  que  na  conformidade  da  Bulia  da  sua 
Coadjuloria,  e  fuctura  successão,  deveria  immediatamente 
entrar  de  posse  daquelle  Bispado  então  vago  pela  morte  do 
dito  Prelado ;  e  ao  mesmo  tempo  pediu  a  demissão  dos 
Cargos  de  Reitor,  e  Reformador  pelas  razões,  que  então 
expôz  a  S.  Magestade,  que  achando-as  muito  justas,  se 
dignou  dispensallo,  fazendo  prover  nos  ditos  dous  lugares 
ao  Virtuozo,  Sábio,  e  Prudente  Principal  Mendonça,  hoje 
Em.  Cardeal  Patriarcha  da  Santa  Igreja  Patriarchal  de 
Lisboa. 

Estes  são,  Soberana  Senhora,  os  esforços,  que  o  suppli- 
cante tem  feito  para  bem  servir  a  S.  Magestade,  e  a  seu  Au- 
guslissimo  Pai  o  Senhor  Rei  D.  José  por  espaço  de  26  annos 


—  483  — 

conlinuos.  Os  primeiros  i4  nos  exercicios  da  vida  Acadé- 
mica desde  24  de  Outubro  de  1734,  em  que  se  Doutorou, 
ate  29  de  Agosto  de  i767,  em  que  foi  despachado  Juiz  das 
Ordens  Militares;  três  immediatamente  seguintes  no  ser- 
viço da  Magistratura,  como  Juiz  Geral  das  Ordens,  Deputado 
do  Santo  Ofllcio,  e  da  Real  Meza  Censória,  e  Desembarga- 
dor da  Gaza  da  Supplicaçáo,  onde  occupou  a  serventia  de 
uma  Gaza  de  Aggravos,  da  qual  saliio  para  o  Governo  do 
Bispado,  conservando  todos  os  lugares  da  Magistratura, 
que  occupava.  Finalmente  mais  10  para  H  annos  desde 
i4  de  Maio  de  1770,  em  que  foi  Nomeado  Reitor,  e  Gon- 
selheiro  da  Junta  Litteraria,  trabalhando  nos  Novos  Esta- 
tutos, que  depois  fez  pôr  em  pratica,  como  Reitor,  e  Re- 
formador ;  e  sendo  também  inspector,  e  Executor  de  todas 
as  obras,  que  se  fizeráo  na  Universidade  até  o  fallecimento 
do  Augustissimo  Senhor  Rei  D.  José,  e  depois  no  Feliz 
Reinado  de  V.  Magestade. 

Mas,  Soberana  Senhora,  tudo  isto  é  nada.  O  supplicante  só 
espera  da  Liberalidade,  e  Grandeza  de  V.  Magestade.  Elle 
só  põe  na  prezença  de  V.  Magestade  uma  divida  eterna, 
de  que  se  vê  onerado. 

O  supplicante  lembrado  do  grande  affecto,  e  amor,  que 
desde  os  seus  primeiros  annos  deveu  sempre  a  seu  Irmão 
o  Desembargador  João  Pereira  Ramos  de  Azeredo  Couti- 
nho, e  do  muito  que  elle  contribuio  com  a  sua  doutrina, 
direcção,  e  despezas  para  melhor  o  dispor,  e  habilitar  para 
o  Real  Serviço ;  querendo  este  dar-lhe  um  testemunho  do 
seu  reconhecimento,  e  ser-lhe  de  alguma  sorte  agradecido : 
roga  a  V.  Magestade  se  digne  fazer-lhe  a  Mercê  de  Despa- 
char na  pessoa  do  dito  seu  Irmão,  e  em  seu  Filho  primo- 
génito, e  na  falta  delle,  no  que  succeder  na  sua  Gaza,  a 
cada  um  in  soluUm  todos  os  serviços,  que  elle  supplicante 


—  484  — 

tem  tido  a  honra  de  fazer  a  V.  Magesladc,  e  a  seu  Aiigus- 
tissimo  Pai  nos  diversos  Empregos,  em  que  elle  Suppli- 
cante  foi  occupado,  e  para  este  fim  os  cede  lodos  na  Real 
Prezença  de  V.  Magestade  a  cada  um  delles  in  solidum. 

E  quando  a  V.  Magestade  pareça,  que  os  Serviços  do 
Supplicante  merecem  alguma  altenção,  V.  iWageslade  com 
um  só  Despacho  fará  dous  contentes.— E.  R.  M.— Fran- 
cisco Bispo  Co)ide. 


RelAçao  dos  Doetimentos  Juiitofi. 

Certidão  dos  Serviços  feitos  na  Universidade  datada  de  2  de 

Março  de  1791. 
Dita  da  Provisão  de  Porcionista  no  CoUegio  dos  Militares 

da  Cidade  de  Coimbra  em  30  de  Junho  de  1752. 
Dita  da  Provisão  de  CoUegial  no  Real  Collegio  dos  Milita- 

res  em  data  de  R  do  mez  de  Septembro  de  1734. 
Dita  da  Provisão  de  Reitor  do  Collegio  dos  Militares,  da- 
tada de  31  do  mez  de  Julho  do  anno  de  1761. 
Dita  da  Provisão  do  Lugar  de  Juiz  Geral  das  Ordens,  com 

data  de  9  do  mez  de  Agosto  do  anno  de  17G3. 
Dita  da  Provisão  de  Deputado  do  Santo  OflQcio  da  Inqui- 

ziçáo  de  Lisboa  em  data  de  29  do  mez  de  Janeiro  de 

1768. 
Dita  da  Carta  de  Desembargador  da  Gaza  da  Supplicação, 

com  a  data  de  16  do  mez  de  Julho  do  anno  de  1768. 
Dita  da  Carta  Regia  de  Deputado  da  Real  Meza  Censória, 

em  22  do  mez  de  Abril  de  1768. 
Dita  da  Carta  do  Cabido,  da  Nomeação  de  Vigário  Capi  - 

tular,  em  12  de  Dezembro  de  1768. 
Dita  do  Avizo  de  Participação  desta  Nomeação,  em  17  de 

Dezembro  de  1768. 


—  483  — 

Dita  (la  Carla  Regia  de  Reitor  da  Universidade,  em  14  de 
Maio  de  1770. 

Dita  da  Nomeação  de  Deputado  da  Junta  da  Providencia 
Litteraria.  em  23  de  Dezembro  de  1770. 

Dita  da  Carta  do  Titulo  do  Conselho  de  S.Magestade,  em  2 
de  Septembro  de  1772. 

Dita  do  Decreto  de  Nomeação  de  Reformador  da  Universi- 
dade, em  11  de  Septembro  de  1772. 

Dita  do  Avizo  Régio  para  continuar  na  mesma  Reformação 
por  mais  3  annos,  em  2  de  Outubro  de  1773. 

Dita  da  Carta  Regia  de  Inspector  das  Obras  do  Convento  de 
Santa  Clara,  em  23  de  Dezembro  de  1773. 

Dita  que  comprehende  varias  Cartas,  e  outros  Documentos, 
que  servem  de  testemunhos  dos  Serviços  feitos  em  os 
Lugares  de  Reitor,  e  Reformador  da  Universidade.  É 
passada  pelo  Secretario  da  mesma  Universidade,  em  data 
de  27  de  Fevereiro  de  1791. 


••€M<9» 


JULUO.  62 


REIiAÇAU 


dasdlirerentespeçnedeniuBlca^que  ItlarcoB  For» 
tusal  tem  feito  desde  que  H.  A.  WL.  o  Prinelpe 
R.  nr.S*  houve  por  bem  empresal-o  no  seu  Beal 
Serviço  %  espeelileando  as  eomposiçôes  para 
I9reja9  tanto  Instrumentaes  eomo  de  Capella^ 
muslea  de  theatro  tanto  em  liisboa  eomo  na 
Itália?  onde  o  dito  eomposltor  foi  por  duas 
vesees  eom  lleença  empressa  do  mesmo  Augus- 
to Senhor,  devendo  as  époehas  que  não  vào 
declaradas  eoustar  ao  eerto  pelos  orlf^lnaes, 
de  que  a  maior  parte  emlste  em  liisboa. 

liisboa  ItS  de  Junho 9  no  anno  de  iS09. 

niARcos  portijc;ai.. 


Theatro. 
Operas  sérias,  em  diversas  partes  da  Itália. 

1793 —  II  Cina Era  Florença,  no  thea- 
tro delia  Pérgola. 

179G—  Zulima •  . .  Era  Florença,  no  thea- 
tro alia  Palia -corda. 

1797 —  Ritorno  di  Serse No  mesmo  theatro. 

1793 —  Demofonte Em  Milão,  no  theatro 

delia  Scala. 
1799—  I  Sacrifizj  d'Ecate  o  sia 

Idante No  mesmo  theatro. 

1798 —  Fernando  nel  Messico.  Era  Veneza,  no  theatro 

S.  Benetto. 

1799—  Alceste Em  Veneza,  no  theatro 

delia  Fenice. 


% 


—  489  — 

1799—  Orazj  c  Curiazj Em  Ferrara,no  theatro 

novo  e  na  occazião  da 
sua  abertura. 

Burleiías  também  em  diversas  partes  da  Itália. 

1793—  1  (lue  gobbi Em  Florença,  no  tbea- 

tro  alia  Palla-corda. 

1794—  La  Vedova  reggiretrice  Em  Florença,  no  thea- 

tro delia  Pérgola. 
179e —  LMngano  poço  dura..  Em  Nápoles,  no  theatro 

dei  Fiorentini. 

1 796  —  La  Dona  d'ingenio  volu- 

bile Em  Veneza,  no  theatro 

S.  Moisé. 
1698  —  L'ecquivoco  in  ecquivo- 

co Em  Verona,  no  theatro 

grande. 
1799—  LeNozzediFigaro.f  Era  Veneza,  no  thea- 
tro S.  Benetto. 

Farças  em  um  sú  acto. 

1793 —  II    Príncipe  i|^nzza  ca- 

mino Em  Veneza,  no  thea- 
tro S.  Moisé. 
1793  —  Rinaldo  d^Arte Dito. 

1797  —  Lc  Donne  cambiate,o  sia 

il  Cíabattino Dito. 

1797—  La  Maschera  Fortunata.  Dito. 

1798—  La  Madre  amorosa....  Dito. 
1798—  II  fdosofo Dito. 

179S  —  L^awenturiere Em  Florença  para  um 

theatro  particular. 


t 


■% 


^  490  — 

Operas  seiias,  feitas  para  o  theatro  de  S.  Carlos  em  Lisboa, 

1800—  L^Adrasto 

1801  —  Semiramide 

1801—  Zaira 

1802  —  Trionfo  di  Clelia 

1802—  Sofonisba. 

1803  —  Ritorno  di  Serse Differenle  musica  de 

outra  escripta  pelo 
mesmo  autor,  em 
Florença. 
1804 — Fernando  nel  Messico. .  Também  quasi  toda 

differente  de  outra 

escripta  em  Veneza. 
1804—  Merope^ 

1804—  La  Ginebra  di  Scoria.. 

1805—  II  Duca  (di  Foix 

1806—  La  morte  di  Mitridate. 

1806  —  Artaserse 

1807  —  li  Demoponte 

Uma  Burletta  para  o  m^esm^  tliealro, 

1803—  L'ôro  non  compra  anaore 

Cantatas, 

1 809  —  La  speranza,  osia  il  felice 

augúrio Cantata  completa  com 

coros :  executada  no 
theatro  de  S.  Carlos 
em  Lisboa  no  dia  13 
de  Maio :  annos  de 
S.  A.  R.  o  Principe 
R.  N.  S. 


—  491  — 

1793—  II  natal  (l'Uliisse Para  se  executar  no 

Palácio  do  RealCas- 
tello  em  Lisboa. 

Cantatas  com  o  único  acompanhamento  de  forte^piano,  e  so- 
mente a  uma  voz  para  pessoa  particular, 

L^amor  tímido  .  • Em  Lisboa. 

II  Sogno Dito. 

La  tempesta Dito. 

La  danza Dito. 

Uma  outra  cantata  em  portuguez  com  todo  o  inslrumefital. 

1806 —  O  génio  americano....  Em  Lisboa   para  se 

executar  na  Bahia. 

1808  —  La  speranza Cantata  a  S.  A.  R.  no 

theatrodeS.  Carlos* 

1808—  L^orgoglio  abaltuto  . . .  Theatro  deS.  Carlos. 
Burlettas  em  Portuguez:  no  theatro  do  Salitre  em  Lisboa. 

1790  —  A  Esposa  fingida Traduzida  do  Italiano 

de  uma  intitulada— 
le  Trame  diluse. 

1791  —  Os  Viajantes  ditosos. . .  Traduzida  do  Italiano 

de  outra  intitulada : 
I  viaggiatori  felici. 

1792  —  o  mundo  da  lua Traduzida  também  do 

Italiano;  mas  com 
os  reccitativos  em 
prosa. 


j 


—  49Í  — 

Entremezes  no  dito  theativ  do  Salitre. 

j  ^    O  Amor  artífice 

^     A  Castanheira 

g     A  Casa  de  Café 

o 

^     Os  bons  amigos 

òo    O  amante  militar 

Cl 

S    Elogio 

CD» 

:5    Elogio 

í«    Elogio 

Alem  disto— muitas  Árias,  Duettos,  Tercetos,  e  outras 
peças  soltas,  que  nào  é  possivel  lembrar. 

Farçãs  iw  Tlieatro  da  Rua  dos  Condes  em  Lisboa. 

1794  —  O  Basculho  de  chaminé.  Traducçáo  do  italiano 

de  uma  intitulada 
II  Príncipe  spazzaca- 
mino  do  mesmo  Au- 
tor, mas  quazi  diffe- 
rente  do  primeiro 
original. 

i794  —  O  Rinaldo  d'Aste Com  as  mesmas  cir- 

cumstancias. 

1802  —  A  caza  de  campo. ....  Traducçáo  do  italiano 

de  uma  intitulada  la- 
villa. 

1802  —  Quem  busca  lãa  fica  tos- 

queado Traducçáo  do  italiano 

de  uma  intitulada 
L'ccquivoco. 


\ 


—  493  — 

1802—0  Sapateiro (  Estas   tem   muita 

1  analogia  cora  ou- 

j  trás  do  mesmo  Au- 

1 802  —  A  Mascara '  tor  feitas  em  Itália. 

I\  S. 

1812—  A  saloia  namorada Para  se  executar  na 

quinta  da  Bella  Vis- 
ta pelos  Escravos  de 
S.  A.  R. 

Muzica  particular,  e  feita  por  motu-proprio  do  mesmo  Autor. 

1809—  Um  Hymno  da  Naçáo 
portugueza,  comoacom- 
panliameuto  de  toda  a 

banda  militar Dedicado  a  S.  A.  U  o 

Príncipe  R.  N.  S. 
1808  —  Retro  Hymno  ,   cora  o 
acompanhamento  tam- 
bém de  toda  a  banda 

militar Dedicado    a   mesma 

Naçáo  portugueza. 
Igreja. 

Missas. 

1783-  Uma  Missa  a  canto  de 

orgáo Para  a  Patriarchal. 

1784—  Dita Dita. 

1784—  Dita Dita. 

1780  —  Dita  com  instrumental.  Sem  destino. 

1781—  Dita  com  instrumental.  Particular. 

1782—  Dita  com  instrumental.  Executou-se  no  dia  de 

S.*'  Barbara  na  Real 
Capella  de  Queluz. 

JULHO.  63 


—  494  - 

1791  —  Dita  instrumenta; Por  ordem  de  S.  M. 

em  Nossa  Senhora  do 
Livramento. 
1809  —  Dita  a  2  sopranos  e  um 
contralto   com    acom- 
panhamento   de    forte 
piano Para  capella  particu- 
lar. 

Por  ordem  de  S.  A  Real  o  Príncipe  R,  N.  S, 

1788—  Dita  com  fagotes,  violon- 

cellose  órgão Na  Real  capella  de 

Queluz. 

1789  —  Dita  e  da  mesma  quali- 
dade    Dita. 

1802—  Dita  com  instrumental.  Dita. 

1804  —  Dita  com  4  órgãos  obri- 

gados    Para  a  Real  Bazilica 

de  Mafra. 

1805  —  Dita  da  mesma  quali- 

dade    Dita. 

1806  —  Dita  breve Dita  c  na  noite  de 

Natal. 

1807  —  Dita  com  6  órgãos  obri- 

gados   Dita. 

1811  —  Dita  a  grande  instrumental  para  a  Real  capella 
do  Rio  de  Janeiro. 

1831  —  Dita  pequena  de  instrumental,  para  a  capella  da 
Real    quinta  da  Bella  Vista. 

1816  —  Uma  Missa  de  Requien  com  todo  o  inteiro  ins- 
trumental, para  servir  nas  exéquias  da  Rainha 
D.  Maria  I  na  Real  capella  do  Rio  de  Janeiro. 


'^ 


—  495  — 

Jogos  de  vésperas  inteiros  por  ordem  de  S.A.R,o  Príncipe 
R.  N,  S, 
1800—  Um  de  Nossa  Senhora 
com  fagotes  violoncel- 
los,  e  orgão Para  a  Real  capella  de 

Queluz 

1804  —  Dito    de   S.  Francisco 

com  4  órgãos  alternadas 

com  o  coro Para  a  Real  Bazilica 

de  Mafra. 

1805  —  Dito    de   S.   Francisco 

com  6  orgâos  inteiros . .  Dito. 

Psalmo  soltos,  e  fora  de  jogo :  sem  ser  por  ordem  Real :  a 
excepção  dos  apontados. 

1781  —  Dixit  a  8  e  a  canto  de 

orgão Para  a  Patriarchal. 

"^    Dito  a  4 Dita. 

Dito Dita. 

;    Laudate  pueri  a  4 Dita. 

!    Laudate  pueri  a  5 Dita. 

Dito  a  solo  de  Baixo Particular 

^    Dito  a  solo  de  Soprano  . .  Para  a  Capella  d'Aju- 
i  da.   (Violani) 

^     Dito  a  solo  de  Contralto . . .  Dita  —  (  Martini) 

,    Dito  a  solo  de  Contralto. . .  Dita —  (  Venâncio) 
f    Dixit,  Laudate ;  Confitebor 

'  *p        com  instrumental Particular. 

1807—  Laudate  pueri  a  6  órgãos 

obrigados Por  ordem  deS.  A*  R. 

na  vespei^i  do  tliu  dos 
seus  aiinos,  Na  Hoal 
Bazilica  de  Mafra. 


à 


—  496  — 

o    Confitebor  a  4  vozes,  e  a 

C;        canto  de  orgáo Para  a  Palriardial. 

S     Dito Dita. 

cT^     Dito Dita. 

P     Dito Dita. 

1805  —  Confitebor   tibi  Domine 

in  verba  cordis  mei. . .  Por  ordem  de  S.  A. 

R.  para  o  Real  Ga- 
pella  da  Bemposta. 

o     Beatus  vir  a  4  vozes,  e  a 

2^        anto  d'orgão Para  a  Patriarchal. 

^     Dito Dita. 

o     Dito Dita. 

1800  —  In  Exituacantod'orgão.  Por  ordem  de  S.  A. 

R.  para  a  Capella  de 
Queluz. 

1800  — Memento Dita. 

18C0  —  Deprofundis Dita. 

1807  —  Dito  com  5  órgãos  obri- 
gados e  alterados  com 

o  coro Por  ordem  de  S.  A. 

R.  para  a  Bazilica  do 
Mafra. 
1807  —  Beati  omnes  dito Dita. 

1782  —  Magniíicat  a  canto  d'or- 

gão Para  a  Patriarchal. 

1783  — Dita Dita. 

1807  —  Magnifica  ta  6  órgãos  obri- 
gados    Por  ordem  Rca!  i)ara 

^  Real  Bazilica  de  Ma- 
fra. 


—  497  — 

1807  — Dita  da  mesma  qualidade.  Dita. 
1776  — Miserere  a  4  vozes,  e  a 

canto  d^orgão Sem  destino. 

1782  —  Dito  a  5  vozes Para  a  Patriarchal. 

1807  —  Dito  com  O  orgâos  obri- 
gados    Para  a  Real  Bazilica 

de  Mafra,  e  perten- 
cendo aos  Respon- 
sorios  da  5.*  Feira 
Sancta. 
iV.  B. 

1807  —  Dixií  Dominus  a  6  orgáos 

obrigados Na  Real  Bazilica  de 

Mafra, 
1810 — Laudate  pueri  a  solo  de 

tenor Particular. 

1 81 3  —  Um  jogo  de  vésperas,  com 
violoncellos ,  fagotes , 
contrabaixos,  e  órgão 
para  a  Capella  Real  do 
Rio  de  Janeiro 

1815- Além  do  orgáo,  accres- 
centou  o  seu  autkor  a 
este  mesmo  jogo  um 
acompanhamento  com- 
pleto de  todo  o  instru- 
mental   

I'com  or-J 
fíáo  e  to-{  Real  Capella  do  Rio 
do  o  ins-í      de  Janeiro* 
.trumenlO 


.^ 


cJ 


—  498  — 
Jogos  de  Matinas  por  ordein  de  S.  A.  R.  o  Priticipe  R,  N.  S. 

1795—  Matinas  da  Conceição 
com  todo  instrumen- 
tal   Para  a  Real  Capella 

de  Queluz  em  acção 
de  graças. 

1802 —  Outras  ditas Dita  e  por  igual  oc- 

casião. 
1804 —  Ditas  de  S.  Francisco  íi 

4  órgãos  obrigados. . .  Para  a  Real  Bazilica 

de  Mafra. 
1907 —  Ditas  de  Reis  a  5  órgãos 

obrigados Dita. 

1813^—  Reduzidas  a  pequeno  ins- 
trumental para  a  Capella 
Real  do  Rio  de  Janeiro. 

1807  —  Ditas  de  Santo  António 

a  3  órgãos  obrigados.  Dita 

1807—  Ditas  de  S.  Pedro  rega- 
lado a  6  órgãos  obri- 
gados  Dita. 

1807—  Ditas  que  se  cantão  na 

5*  Feira  Sancta Dita. 

1813 —  Reduzidas  a  pequeno  ins- 
trumental para  a  Capella 
Real  do  Rio  de  Janeiro. 

1807  —  Ditas  de  Defuntos,  a  6  ór- 
gãos obrigados Dita. 

1813 —  Reduzidas  a  grande  instru- 
mental para  as  exéquias 
do  Sr.  D.  Pedro  Carlos. 


—  49»  — 

18H  —  Ditas  do  Natal,  com  clari- 
netes ,  trompas,  fago- 
tes, violoncellos,  evio- 
lettas Para  a  Gapella  Real 

do  Rio  de  Janeiro. 
Responso^ios  soltos,  e  compostos  sem  ser  por  ordem  Real,  á 
excepção  dos  apotitados. 
1789—  Dous  Resp.®*  dos  Marty- 

res  com  instrumental.  Para  a  Igreja  deS. 

Julião. 
1809—  Três  Resp.*>^  de  Santo  An- 
tónio a  canto  d'orgâo, 

com  fagotes  e  violon- 

cellos Para  a  Sancta  Igreja 

Patriarchal,  em  ac- 
ção de  Graças  pela 
restauração  da  Ci- 
dade do  Porto 
i781  —  Si  quoeris  miracula  a  4 

vozes,  e  canto  d'orgão.  Sem  destino. 

1 809  —  Dito  a  dous  sopranos  e  um 
contralto  com  o  acom- 
panhamento   de   forte 
piano Para  Capella  parti- 
cular. 

1807  —  Dito  com  6  órgãos  obriga- 
dos   Por  ordem  de  S. 


Â.  R.  para  a  Real 

Bazilica  de  Mafra.  1 


1809—  Dous  Responsorios  de  N. 
S.  da  Conceição  com 
órgão  obrigado Para  o  Convento  de 

S,  Pedro  lie  Atcnn- 

tara. 


f* 


—  500  — 

1809—  Quem  vidistis  pastores? 
Responsorio  do  Natal 
com  órgão  obrigado. .  Para  o  Convento  de 

S.  Pedro  de  Alcân- 
tara. 
Por  ordem, 

1815 —  Dous  Responsorios  para 
se  cantarem  no  Domin- 
go do  Espirito  Sancto 
com  orgâo  e  instrumen- 
tos de  vento Real  Capei  la  do  Rio 

de  Janeiro. 
181  —  Um  te  Deum  a  8  vozes  com 

todo  o  instrumentai Por  convite  doEmi 

nentissimo  Cardeal 
Patriarcha,  para  se 
cantar  no  dia  de  S. 
Silvestre  na  Igreja 
Patriarchal. 
1782—  Dito  a  canto  de  órgão. . .  Para  a  Patriarchal. 
Por  ordem  de  S.  A.  R,  o  Prhicipe  Regente N.  S,  em  occazião 
de  nascimento  de  Pessoas  Reaes, 
1793 —  Um  te  Deum  com  instru- 
mental   No  Paço  de  Queluz. 

1795—  Dito  com  instrumental. . .  Dito. 

1802—  Dito Dito. 

1807 —  Dito  com  5  órgãos  obriga- 
dos   Na  Real  Bazilica  de 

Mafra. 
1814—  Este  mesmo  reduzido  a  to- 
do instrumental  para  a 
Real  Capella  do  Rio  de 
Janeiro Em  acção  de  graças. 


—  501  — 

Seqiuncias  ]H)r  ordem  de  S.  A.  R.  o  Pnncipe  Regente  N.  S. 

i807—  Victime  paschali  a  6  or- 

*  gâos  obrigados Na  Real   Bazilica  de 

Mafra. 
1813 —  Reduzida  com  violinos, 

fagotes .  contrabaixos 
o  órgão  para  a  Real  Ca- 
I)e!la  do  Rio  de  Janeiro 

1807  —  Veni  Saneie  Spiritus. . .  Dito. 

Í8I3  —  Reduzida  da  mesma  ma- 
neira   Para  a  Real  Gapella 

do  Rio  de  Janeiro. 
1807—  Lauda  Sion  da  mesma 

qualidade  mas  alterada 

com  o  coro Dito. 

1813  —  Reduzida  da  mesma  ma- 
neira   Para  a  Real  Gapella 

do  Rio  de  Janeiro. 
1792—  Confirma   hoc   Deus  a 

canto  d'orgáo.  e  a  5 

vozes Esta  não  foi  por  or- 
dem Real,  mas  sér- 
vio na  Patriarchal  em 

occasiãodeChrisma. 
Motletíos. 

1807  —  Uma  peça  de  musica  for- 
mada à  maneira  de 
Mottetto ;  extrahida  de 
diversos  Psalmos,  for- 
mando um  todo ;  a  6 
órgãos  obrigados. ...  Na  Real  Bazilica  de 

Mafra  :   em    13   de 

Maio. 

lULHO.  64 


—  S02  — 

Esla  mesma  reduzida  a  instrumentos  de  vento 
juntamente  com  órgão  para  a  Real  Capella  do 
Rio  de  Janeiro. 
1796—  Um  Motteto  com  ins- 
trumental a  solo  de  so- 
prano   Particular  (TedeUno) . 

1787  —  Dito  de  Soprano Particular  (Toti.) 

1792  —  Dito  de  Baixo Particular  (Brizzi.) 

1783—  Dous  ditos   também  de 

Baixo Particulares  (Taddeo 

Puzzi.) 
Ladainhas  soltas. 

1779 —  Ladainha  a  4  vozes,  com 

acompanhamento    de 

cravo  • No  Seminário. 

1807 —  Dita  com  G  órgãos  obri- 
gados,  e  variada....   Na  Real  Bazilica  de 
Mafra  por  ordem  de 

S.  A.  R. 
1808  —  Dita  a  3  vozes:  2  sopra- 
nos e  1  contralto,  com 
acompanhamento    de 
forté-piano  :  também 

variado Para   Capella   parti- 
cular. 
Ajitiphonas, 

1780 —  Salve  Regina  a  canto  de 

órgão Para  a  Patriarchal. 

1780—  Sub  tuum presidium  dito  Dita. 
1809—  Dito  a  dous  sopranos,  e 

um  contralto  com  for- 

te-piano  obrigado. . .  Para  Capella  particu- 
lar. 


—  S03  — 

1809 —  Dito  da  mesma  qualidade  Dila. 
Cânticos. 

1806  —  Benedictus  com  4  órgãos 

obrigados Na  Real  Bazilica  de 

Mafra. 
181 1  —  Novena  de  N.  S.  do  Mon- 
te do  Carmo Para  a  Real  Capella 

do  Rio  de  Janeiro. 
1813—  Novenade  S.João  Baptista  Para  a  Real  quinta  da 

Bella  Vista. 
Kalendas. 

1806—  Uma  Kalenda  a  solo  de 
soprano  com  todo  o  ins- 
trumental   Para  se  executar  na 

Ilha  Terceira. 
1809—  Dita  com  simples  acom- 
panhamento d'orgão.  Particular. 
Muitas  Lamentações  da  4S  5^  e  6*  Feira  Sancta :  compos- 
tas em  differente  épochas  ;  sendo  umas  com  instrumental, 
e  a  maior  parte  com  simples  acompanhamento  d^orgão,  e 
para  dilTerentes  destinos.  Além  disto  também :  diversas 
Jaculatórias. 


—  504  — 
COPIA    FIEI< 

Do  Original  em  mao  do   Sr.   Dr.  J.  M.    Nunes  Garcia 

Em  o  qual  se  vê,  por  notas  do  próprio  punho  do  Padre 
José  Maurício,  qtie  até  o  dia  6  de  Setembro  de  1811 
tinlia  elle  escripto  as  seguintes  composiçoens  mmicaes  pa- 
ra a  Capella  Real : 


BIklU  Dominuii 

Coflitebor 

Beatus  vir 

I^audate  ptierl 

I^audate  Boiuiiium 

JUasnlIlra 

lioetatas 

IVlsl  Bomlnus  oedlllraverlt 

I^aadá  Jerusalém 

In  euLltn 

BlITereutea  paalmofli  avulsos. 

memeiUo  Boiítinl 

Credidl 

BeatI  onínes 

Bomlul  probasti 

Ineonvertendo  Bomlni 

EnLaltobo  te 

Conlltebor  quonmlain  audlste. 

Psalnios  alternados  s  jogos 

I^adalnlias 

Antífonas 

Ave  Beslna  eoelorunt 


—  505  — 

Alma  Redrntptorl» 

Bei^lna  eieli  lietare 

Si  queris  miraeala 

IVIoUetoii  da  treasena  de  S.  António 

St Abat  }llater 

HloUetoii  das  Boree 

Semana  sãnetá: 

Responeorloo  e  lamentaçoens  de  4»  S^  6»  ffein 

Toda  a  Semana  Saneta  da  Sé 

maUnae  da  Reirarreição* 

Responsorloo 

Ofllelo  der  defuntos 

lUce  Mem 

missa  eom  grande  orquestra 

Bitas  a  vozes  e  ors^ano 

Solos  avulsos 

Hlottettos  eom  grande  orquestra 

Bito eom  violoneellos  e  fagotes 

-«—  a  vozes  eorgano 

IVovenas  t  de  S.  José 

Bita do  Coração  de  Jesus 

do  Carmo 

Sequenelas 

Te  Beum  landamns 

Bitos de  violoneellos  e  flsgotes 

a  vozes  e  organo 

£eee  Saeerdos 

O  Salntarls  hóstia 


—  506  — 

Tantam  erso t 

O  saerum  Coit^lwlntus t 

miiia»  do  Adweuto  e  da  Quaresma. 

Hlottettoii  daa  S  doinlitsaa  da  Quareama,  e  das 

iluatro  do  Advento. 

Beitedlrtaa « 

DUo de  TioloueeUofli  e  fagotes 

a  voses  e  or^auo 

dasprorlasoeiis 

matinas 

Bita de  vloloneellos  e  fagotes 

a  vozes  e  or^ano 

!Viottettoa  |tara  a  proelasao  de  Corpo  de  Beui 
Pançe  llnj:a. 

llyninop  a  vozes M 

Missas  lie  eaiitoehao  Amarado 4 


REVISTk  TRIMENSkL 

DO 

INSTITUTO  HISTÓRICO»  GEOGBAPHIGO  B  ETHNOGRAPHIGO 

DO 


4.«  TBIAIESTBE  DK  iflft» 


SOBRE  Â   FUNDAÇÃO   DAS  FACULDADES   DE  DIREITO   NO    BRASIL. 

A  diíBculdade  de  obter  todos  os  documentos  relativos  as 
Faculdad.es  de  Direito,  e  que  seriam  necessários  para  fazer 
a  historia  completa  d'ellas  desde  a  sua  fundação,  ^  tf  o  recor 
nhecida  que  eu  espero  merecer  indulgência  pelas  lacunas  e 
imperfeições  deste  trabalho,  que,  para  ser  compIcKfo.  siwrfei 
mister  que  me  fosse  possivel  ir  estudar  minuciosamente  Oí 
archivos  das  Faculdades  de  Olinda  e  S.  Paulo  e  coUigjr  todos 
os  documentos  que  sobre  ellas  devem  existir  ifii  sãeçSò 
respectiva  na  Secretaria  d'Estado  dos  Negócios  do  Império. 
Por  mais  de  um  motivo  me  era  isto  impossivel;  e  por  tanto 
fui  forçado  a  demorar  o  meu  trabalho,  podendo  só  0M^ 
colher  algumas  noticias  e  desenvolvel-o  sobre  poucâBj%- 
completas,  e  algumas  talvez  erradas  informações. 

A  pouca  curiosidade  dos  nossos  patrícios  sobre  as  cousas, 
ainda  mesmo  as  mais  úteis  e  admiráveis  de  nossa  terra»  é 
bem  notória;  apesar  do  estimulo  qiMkeste  Instituto  procura 
desenvolver,  e  do  qual  alguns  de  seus  dignos  membros  tem 
dado  louváveis  exemplos  em  relevantes  serviços  que  tem 
prestado  á  Litteratura,  á  Historia,  e  à  Geographia  do  Brasil, 
e  quando  as  bellezas  e  as  riquezas  naturaes  do  paiz  nos  tem 

OUTUBRO  65 


—  508  — 

íiílo  moslradas  por  estrangeiros  que  vem  do  longe  admirai- 
9$  nio  DOS  devemos  surprehender  ao  ouvir  dizer  que  nada 
se  tem  coHigido,  e  que  em  geral  nada  se  sabe  sobre  a  origem^ 
sob  a  utilidade,  e  sob  a  historia  de  muitos  dos  nossos  mais 
importantes  estabelecimentos,  e  menos  ainda  sobre  as  causas 
que  motivaram  a  fundação  de  cada  um  d'elles. 

Está  pois  em  harmonia  com  o  estado  de  nossas  cousas,  a 
âífficuldade,  ou  antes  a  impossibilidade,  de  encontrar  os 
documentos  precisos  para  coordenar  a  historia  de  um*Bsta- 
belecimento  de  letras  no  Brasil  onde  elles  começam  agora 
à  ter  mais  regular  direcção  e  cujo  aperfeiçoamento  é  de  es^ 
perar  da  solicitude  do  Governo  Imperial  para  este  ramo  do 
serviço  publico* 

O  memorável  acontecimento  da  Independência  do  Brasil, 
tão  fértil  em  resultados  grandiosos  de  civilisação  e  de  pro- 
gr^síopâraa  Terra  de  Santa  Cruz,  marco  j  a  epocha  do 
fpoMço  dis  instituições  de  toda  a  natureza  com  que  um 
fiíliclp^  Illustrado  e  Magnânimo  adornou  a  sua  coroa  de 
gtvrias  durante  os  poucos  annos  de  seu  reinado,  cada  um 
doB  (fitííM  íicou  assignalado  na  Historia  Nacional  por  fun* 
dações  sabias  e  úteis  à  prosperidade  que  então  se  presagiava 
do  novo  Império.  O  commercío  crescia  com  a  população 
qaa-^  disseminando  pelo  nosso  vasto  continente,  hia  pene- 
trando as  virgens  florestas,  afugentava  os  gentios,  fazia 
correr  para  longe  as  feras,  derrubava  os  vetustos  madeiros 
para  dar  caminho  ao  génio  civilisador,  substituía  por  po- 
voações regulares,  as  mesquinhas  aldeias,  ou  ranchos  de 
primitivos  habitantes^  e  o  homem  civilisado  da  Europa  hia 
levar  a  industria  e  a  cultura  ao  seio  dos  desertos  ameri- 
oauos,  até  então  fechados  pelas  cadeias  coloniaes  à  luz  da 
civilisação.  A  fertilidade  e  riqueza  destas  terras  povoavam 
rapidamente  os  sertões  que  gradualmente  se  descobriram  e 


—  Õ09  — 

nos  quaes  novas  propriedades  se  estabeleciam.  Mas  se  por 
um  lado  a  vida  do  industrioso  aventureiro  era  a  cada  mo'^ 
mento  ameaçada  pelo  bramir  da  fera,  ou  pelo  sibillar  da 
sétta  do  gentio  do  deserto,  não  menos  o  era  a  propriedade 
que  elle  com  tanto  esforço  e  coragem  adquiria,  e  que  a  co* 
bica  de  seus  próprios  patrícios  procurava  constantemente 
usurpar.  Esta  lucta  do  direito  de  propriedade  era  natural  em 
uma  população  que  pela  maior  parte  tinha  sido  formada  de 
homens  da  plebe  e  de  criminosos  que  Portugal  degradava 
para  os  seus  domínios  do  Brasil,  à  cujos  administradores  o 
Governo  Portuguez  dava  amplos  poderes  para  castigar, 
salvando  somente  a  pena  capital  aos  nobres  para  quem 
El-Rei  se  reservou  o  direito  de  decreta-la.  Este  rigor,  este 
amplo  poder  conferido  aos  Capitães  Gcneraes  deixa  compre- 
Iiender  sufficientementc  que  tal  necessidade  era  indicada 
pela  natureza  dos  povos  que  elles  governavam. 

Os  Missionários  mandados  em  grande  numero  para  todsA. 
as  partes  do  Brasil,  onde  se  assentava  uma  nova  povoaçáb^ 
eram  insuflicientes  para  chamar  ao  seio  da  Igreja  as  hordasde 
selvagens  que  difficilmente  cediam  seus  desertos  e  abando^ 
navam  sua  vida  errante  para  viverem  em  fraternidade  evan- 
gélica com  os  Europeos,  cujos  excessos  c  attentados  muitas 
vezes  inutilisavam  os  esforços  da  cathechese  que  conaeçata 
apresentar  seus  benelicos  resultados.  Por  estas  razões  a 
previdência  do  Governo  Portuguez  não  mandava  somente 
soldados  da  Igreja,  como  também  mandava  os  da  justiça  que 
auxiliassem  os  Governadores  no  honroso  encargo  de  garan- 
tir as  vidas,  e  as  propriedades  dos  povos  contra  os  crimes, 
e  as  tentativas  la  avaresa. 

Assim  cresceo  a  civilisação,  a  riqueza  e  a  população  do 
território  brasileiro  até  que  circumstancias  politicas,  que 
não  cabe  aqui  desenvolver,  promoveram  a  emanciparão  dc^ 


^  510  — 

Estado  colooial  que  se  tornou  independente.  Este  facto 
memorável  accrescentou  à  pouca  moralidade  e  à  pouca  cíyí* 
lisação  dos  povos  todos  os  inconvenientes  das  exagerações 
de  princípios  e  opiniões  politicas  manifestadas  por  homens 
que  em  geral  desconheciam  os  limites  do  justo  e  do  honesto 
e  dos  direitos  civis  que  adquiriam  com  a  Independência  do 
Brasil,  e  não  nos  devemos  admirar  que  isso  acontecesse 
então,  se  até  ha  bem  poucos  annos  tantas  dissenções  en- 
torpeceram o  florescimento  e  engrandecimento  do  Império, 
(porque  a  ambição  de  alguns  homens  se  apoiava  na  igno- 
rância das  massas  da  população  para  tentar  a  realisação  de 
inqualificáveis  e  insólitas  pretenções),  e  ainda  hoje  grande 
porção  de  povo  desta  capital,  mosirando-se  completamente 
ignorante  e  inappreciadora  de  suas  conveniências  mercadeja 
um  direito  que  lhe  é  conferido  pela  constituição  do  Império. 
Os  princípios  liberaes  que  presidiram  a  organisaçâo  da 
nossa  lei  fundamental,  eas  divisões  administrativas  de  nosso 
Império  deram  iugar  ao  apparecimento  de  maiores  e  mais 
amplas  ambições,  e  se  nos  tempos  coloniaes  os  homens  de 
mesquinha  consciência  tentavam  senhorear-sc  de  riquezas 
por  meio  da  fraude  e  de  crimes,  vio-se  depois  a  pretençáo 
de  honras  e  de  influencia  politica  em  homens  que  não  es- 
tavam em  circumstancias  de  manifestal-a,  mas  que  por  ella 
se  distinguiram  nas  pequenas  localidades,  não  duvidando 
para  isso  pôr  em  pratica  attentados  contra  as  vidas  e  pro- 
priedades de  seus  concidadãos.  A  vasta  extensão  do  nosso 
território  e  a  pouca  população  muito  disseminada  neUe 
tomaram  uma  necessidade  as  subdivisões  politicas  e  admi- 
nistrativas em  harmonia  com  os  princípios  políticos  estabe- 
lecidos, e  a  magistratura  foi  uma  grande,  e  ta  vez  a  maior 
necessidade  de  então  para  a  fiel  e  regular  execução  das  leis 
e  para  garantir  os  direitos  dos  povos;  porém  sendo  muito 


—  511  — 

limitado  no  paiz  o  numero  dos  formados  em  direito,  e  sendo 
de  mister  proporcionar  aos  brasileiros  todas  as  commodi- 
dades  e  gosos,  dando-se-lhes  jurisconsultos,  e  magistrados, 
havendo  mesmo  necessidade  de  generalisar  a  instrucçáo 
em  todos  os  ramos  dos  conhecimentos,  necessidade  ur- 
gentissima  para  o  duplo  fim  de  illustrar  a  população  e  de 
cumprir  uma  das  promessas  de  melhoramento  que  a  consti- 
tuição havia  annunciado.  Estas  mesmas  circumstancias  e  a 
imperiosa  necessidade  de  magistrados,  reclamada  pelo 
rápido  augmento  da  população  que  se  dissemaniva  por  todo 
o  Brasil,  foram  pois  as  causas  que  induziram  á  fundação  de 
Academias  Juridicas  no  Brasil ;  e  como  a  extensão  do  Im- 
pério não  removeria  a  circumstancia  da  longa  distancia  da 
fonte  da  sciencia  para  os  filhos  das  províncias  mais  remotas 
d'aquella  em  que  ella  fosse  estabelecida,  o  Governo  Imperial 
promoveo  a  lei  de  11  de  Agosto  de  1827,  pela  qual  foram 
fundados  dous  Cursos  Jurídicos  sendo  um  na  cidade  de 
Olinda  em  Pernambuco,  e  outro  na  cidade  de  S.  Paulo. 

Anteriormente  à  esta  fundação  houvera  a  ideia  de  cre- 
ar-se  uma  Academia  Juridica  na  cidade  do  Rio  de  Janeiro, 
e  para  este  fim  o  fallecido  Marquez  de  Inhambupe,  então 
Ministro  do  Império,  havia  chamado  o  Dr ,  José  Maria  d' Avellar 
Brotéro,  formado  pela  Universidade  de  Coimbra,  o  qual  foi 
nomeado  Lente  para  Academia  de  S.  Paulo  por  Decreto  de 
12  de  Outubro  de  1827,  e  em  Janeiro  do  anno  seguinte, 
sendo  Ministro  do  Império  o  Exm.  Sr.  Dr.  Pedro  d' Araújo 
Lima,  hoje  Marquez  de  Olinda,  e  actualmente  com  a  pasta 
do  Império,  recebeo  o  dito  Dr.  Brotéro  ordem  para  partir 
para  S.  Paulo  a  fim  de  abrir  a  respectiva  Academia,  o  que 
teve  lugar  no  1.^  de  Março  seguinte.  Em  12  de  Outubro  de 
1827  também  tinha  sido  despachado  Director  da  Academia  o 
fallecido  Tenente  General  José  Arouche  de  Toledo  Rendon, 


—  312  — 

e  este  junto  com  o  então  Presidente  da  Provinda  o  Conse- 
lheiro Thomaz  Xavier  Garcia  d'Aimeida,  o  Bispo  Diocesano, 
que  era  o  fallecido  D.  Manoel  Joaquim  Gonsalves  dWndrade, 
authoridades  civis  e  quasí  todo  povo  da  cidade  assistiram  a 
inauguração  da  Academia,  a  qual  ficou  sendo  a  primeira  em 
antiguidade,  porque  a  de  Olinda  por  causas  desconhecidas 
só  se  abrio  alguns  mezes  depois.  Doeste  modo  ficou  fundada 
a  Faculdade  Jurídica  de  S.  Paulo,  sendo  aberta  a  aula  do  l^ 
annoem  1.*de Março,  principiando  o  Dr.  José  Maria  d^Avel* 
lar  Brotéro  a  ler  direito  natural.  O  Governo  Geral  tinha  de 
ante  mão  acceitado  a  olTerta  dos  Religiosos  de  S»  Francisca 
e  mandado  tomar  posse,  para  os  trabalhos  da  Academia» 
do  cla.istro  do  convento.  (*)  A  inauguração  e  as  lições  da 
aula  tiveram  lugar  em  sala  que  foi  apromptada  na  anti^ 
sachristia.  Foram  logo  nomeados  Lentes  para  S.  Paulo  os 
Drs.  Balthasar  da  Silva  Lisboa  o  Luiz  Nicoláo  Fagundes 
Varellà,  por  Decretos  de  22  de  Julho  de  1828.  com  os  quaea 
começaram  os  actos  do  1 .'  anno.  O  Visconde  de  Cachoeira 
havia  formulado  os  estatutos  para  a  projectada  Faculdade 
de  Direito  do  Rio  de  Janeiro,  á  cuja  installaçáo  parece 
que  obstou  o  Conselho  d'Estado  dessa  épocha,  e  esses  es- 
tatutos regeram  os  dous  Cursos  Jurídicos  até  30  de  Marca 
de  18ò2,  em  que  foram  postos  em  execução  os   (**)  de  7 

(*)  Os  Religiosos  largaram  a  final  todo  o  convento  aos  8  de  No* 
vembro  de  18^;  tendo  sido  voliiutariamentc  cedido  pelo  Provinciak 
Isso  consta  do  aviso  de  31  de  Agosto  do  mesmo  anno. 

(*•)  Os  esta  lutos  que  regeram  o  Cur»co  Jurídico  de  S.  Paulo  appns 
vados  pela  resolução  legislativa  de  7  de  Novembro  de  1831  foram 
assignados  pelos  Lentes  Drs.BrotTo,  Fagundes  Varella,  Carneiro  de 
Campos.  Fernandes  Torres,  e  Thí)maz  José  Pinto  de  Cerqueira  (estes 
últimos  dous  professores  pediram  suas  demissões  logo  depois. )  O  Dr. 
António  M:tria  de  Moura  foi  despachado  Lente  Cathedratico  de  Pratica 


—  513  — 

de  Novembro  de  1831,  e  durante  o  período  decorrido  desde 
a  installaçâo  do  Curso  Jurídico  de  S.  Paulo  até  o  anno  de 
1834  foram  despachados  Lentes,  além  dos  que  jà  vão  men** 
cionados,  o  Dr.  Carlos  Carneiro  de  Campos,  por  Decreto  de 
9  de  Fevereiro  de  1829,  o  Dr.  José  Joaquim  Fernandes 
Torres,  por  Decreto  de  3  de  Março  de  1829,  o  Dr.  Prudencio 
Geraldes  da  Veiga  Cabral,  por  Decreto  de  6  de  Abril  de 
1829,  o  Dr.  Balthasar  pedio  sua  demissão  de  Lente  em  20 
de  Outubro  de  1829,  foi  nomeado  o  Dr.  Clemente  Falcáo  de 
Sousa,  por  Decreto  de  30  de  Novembro  de  1830  Substituto; 
e  proprietário  por  Dicreto  de  20  de  Abril  de  1831.  O  Dr. 
Manoel  Joaquim  do  Amaral  Gurgel,  Lente  Substituto  por 
Decreto  de  12  de  Outubro  de  1833  e  proprietário  por  carta 
de  20  de  Fevereiro  de  1834,  finalmente  os  Drs.  Dias  de 
Toledo,  Pires  da  Motta  por  cartas  de  22  de  Maio  de  1834,  o 
o  Dr.  Anacleto  Ribeiro  Cõbtinho,  por  Titulo  passado  em  31 
de  Julho  de  1834  Substituto ;  e  Lente  proprietário  por 
Decreto  de  10  de  Outubro  do  mesmo  anno.  Por  Decreto  de 
30  de  Setembro  de  1828  foi  nomeado  Secretario  da  Aca- 
demia o  Dr.  Luiz  Nicoláo  Varella,  com  a  gratificação  mensal 
de  vinte  mil  róis,  igual  nomeação  e  com  o  mesmo  venci- 
mento coube  aoDr.  Pedro  Autran  para  Olinda.  A  inaugu- 
ração da  Faculdade  deScienciasSociaese  Jurídicas  de  Olinda 

do  Processo— 1.*  cadeira  do  5.*  anno  por  Decreto  de  11  de  Agosto 
de  1828.  O  Dr.  Silveira  da  MoUa,  qae  depois  o  substituio  está  hoje 
neita  corte  advogando  tendo-se  jabilado. 

Em  qaanto  ao  eomporlaménto  dos  estudantes  nos  Paços  da  Aca- 
demia é  auperior  a  todo  elogio»  os  estrangeiros  que  vão  vesital^a 
nada  tem  que  extranfaar  ou  apontar  como  novo . 

No  principio  das  Academias  houve  falta  de  respeito  para  com  os 
mestues,  talvei  isto  pelo  principio  de  om  liberalismo  mal  entendido. 


—  514  — 

teve  lugar  no  dia  15  de  Maio  de  1828.  referindo-me  ao  que 
me  foi  comraunicado  por  escripto  pelo  seu  respectivo  fun- 
dador o  Exm,  Sr.  Desembargador  Lourenço  José  Ribeiro,  a 
quem  ouvi  a  respeito.  Diz  S.  Ex.  em  uma  carta  que  tenho 
presente.  «  A  missão  de  fundar  a  Faculdade  de  Direito  em 
Pernambuco  me  foi  confiada  pelo  Exm.  Sr.  Pedro  de  Araújo 
Lima,  então,  assim  como  hoje.   Ministro  do  Império,   e 
Marquez  de  Olinda,  e  partindo  da  corte  em  2  de  Abril  do 
dito  anno  apresentaram-se  quarenta  e  dous  estudantes,  que 
se  matricularam  depois  de  feitos  os  exames  preparatórios,  e 
a  Academia  insta!lou-se  no  dia  13  de  Maio  do  referido  anno, 
em  presença  de  numeroso  concurso  e  das  primeiras  au- 
thoridades,  proferindo  eu  um  discurso  análogo  ao  objecto. 
Era  então  Presidente  de  Pernambuco  o  fallecido  Senador 
José  Carlos  Mayrinck  da  Silva  Ferrão,  que  de  muito  boa 
vontade  se  prestou  a  todas  as  requisições,  occupava  o  lugar 
de  Commandante  de  Armas  o  fallecido  Barão  de  Tramandahy, 
então  Brigadeiro  Antero  José  Ferreira  de  Brito,  que  muito 
concorreo  para  o  brilhantismo  deste  acto,  apresentando-se 
em  Olinda  com  toda  tropa  do  seu  commando,  e  um  parque 
de  artilharia,  que  salvou  depois   de  concluido  o  mesmo 
acto.  »  A  Academia  foi  installada  no  convento  de  S.  Bento, 
cujos  Monges  de  mui  boa  vontade  cederam  a  parte  delle  que 
foi  requisitada.  Entre  os  quarenta  e  dous  alumnos  que  se 
matricularam  nesse  anno,  diz  o  Sr.  Desembargador  L.  José 
Ribeiro,  tive  a  fortuna  de  encontrar  muitos  estudantes  dis- 
tinctosque  ainda  hoje  servem  ao  paizcomsumma  distincçáo 
em  diversas  posições,  bem  como  o  Conselheiro  d'Estado 
Eusébio  de  Queiroz,  Sérgio  Teixeira  de  Macedo,  seu  finado 
Irmão  Dr.  Álvaro,  S.  Ex.  Rev.   o  Sr.   Bispo  Conde  Ca- 
pellão  Mor,  Senador  Dantas,  e  muitos  outros  que  muito  me 
honram  jà  na  Tribuna  do  Senado,  Camará  dos  Deputados,  jà 


—  515  — 

no  Ministério,  Conselho  de  Estado,  Diplomacia,  Presidências 
de  Província,  Magistratura  Ac.  Ac.  » 

Quanto  a  doutrina  peio  Sr.  Desembargador  L.  José  Ribeiro 
professada  e  os  seus  actos,  diz  elie,  que  melhor  podem  in- 
formar os  seus  discipulos,  e  o  mesmo  Sr.  Marquez  de  Olinda, 
que  sendo  alli  mandado  pelo  Sr.  D.  Pedro  1 .%  em  j^829, 
para  syndicar  o  estado  do  estabelecimento,  teve  a  bondade  de 
communicar-lhe  esta  missão,  e  quanto  voltava  satisfeito  para 
informar  à  Sua  Magestade  Imperial.  Teve  o  Sr.  Desembar- 
gador a  tarefa  de  analysar  no  segundo  anno  a  Constitui- 
ção do  Império  e  deste  insano  trabalho  immensa  vantagem 
resultou  não  só  aos  seus  discipulos  (como  elles  diziam) 
como  também  a  toda  Província,  porque  era  a  Constitui- 
ção alli  olhada  com  horror  pelos  dous  partidos  que  então  a 
retalhavam.  Os  absolutistas  a  despresavam  receiando  que 
pela  sua  demasiada  franqueza  viesse  a  degenerar  em  um 
Governo  Republicano,  e  os  republicanos  a  detestavam  por 
causa  do  Poder  Moderador  que  consideravam  hostis  ás 
liberdades  publicas  e  um  despotismo  encoberto.  As  lições 
do  Sr.  Desembargador  Ribeiro  os  desenganaram  de  seme- 
lhante erro,  muito  mais  quando  transcriptas  nos  periódicos 
correram  toda  a  província,  e  |foi  então  que  se  formou 
o  grande  partido  constitucional  que  é  hoje  o  maior  c  o 
mais  forte  de  tola  Província.  Em  1831  retirou-se  para  a 
cidade  do  Recife  por  incommodos  de  saúde;  e  d'essa  ci* 
dade  partio  para  a  Corte,  pedindo  sua  demissão  de  Dire- 
ctor do  Curso  Jurídico,  a  qual  lhe  foi  concedida  em  10 
de  Fevereiro  de  1832,  sendo  elle  nomeado  Secretario  do 
Supremo  Tribunal  de  Justiça.  Jà  a  muito  que  instava  pela 
dita  demissão  depois  de  alguns  acontecimentos  que  ti- 
veram lugar  na  Academia.  O  assassinato  do  estudante 
do  1.^  anno  Francisco  da  Costa  Moreira  commettido 
Outubro  fi6 


-  516  - 

em  1831  pelo  estudaiite  do  4.*'  Joaquim  Sarapião  de  Can» 
valho,  a  arbitrariedade  do  Lente  Dr.  Manoel  José  da  Sitva 
Porto,  que  convocava  a  congregação  sem  sua  licença  es- 
tando elle  na  cidade  do  Recife,  as  lutas  que  teve  com  o 
Dr.  Moura  Magalhães,  donde  resultara  a  representação  que 
este  fez  ao  Governo  Imperial  como  consta  das  folhas  do 
Itfino  de  1830,  a  respeito  da  qual  fora  ouvido  e  se  defendera 
eoinpletamentesendo  aquelle  Lente  advertido  pelo  Groverno, 
motivaram  sua  retirada  da  administração  da  Academia  sendo 
Homeado  em  seu  lugar  pela  Regência  em  nome  do  Impe- 
rador, por  Decreto  de  15  de  Maio  de  1832,  o  Dr.  Manoel 
Ignacio  de  Carvalho,  o  qual  tomou  posse  em  9  de  Janeiro 
dô  mesmo  anno. 

D^e  a  installaçáo  da  Academia  de  Olinda  foram  no- 
meados Lentes  os  Drs.  António  José  Coelho,  Jansem, 
ífaroos  António  d' Araújo  e  Abreo,  Manoel  José  da  Silva 
Porto  todos  estes  por  Decreto  de  22  de  Julho  de  1828, 
assim  como  o  Dr.  Pedro  de  Cerqueira  Lima,  e  Pedro  Fran- 
cisco de  Paula  Cavalcanti  de  Abulquerque,  e  Manoel  Maria 
do  Amaral  por  Decreto  de  9  de  Fevereiro  de  1829. 

Em  S.  Paulo  também  f)  occorreram  alguns  successos 
entre  Lentes  e  o  respectivo  Director  o  General  Toledo, 
sendo  este  quasi  compellido  a  23  de  Outubro  de  1829  á 
pedir  sua  demissáo  por  virtude  da  desabrida  guerra  que 

(*)  Em  1935  em  S.  Paulo  sendo  Director  o  Dr.  Carlos  Carneiro 
de  Campos,  apparccco  uma  crise  terrivel  de  anarchia  para  o  que 
ceocorreram  causas  extraordinárias  pessoaes  e  politicas.  Foi  então 
que  um  estudante  deo  publicamente  uma  bofetada  em  um  professor, 
(o  qnallogo  deixou  de  o  ser].  £ste  acto  foi  processado  criminalmente, 
pofém  o  acadcmico  não  teve  o  menor  castigo,  conseguio  seu  diploma, 
e  a  Congregação  dos  Lentes  mostrou  fraqueza,  c  nenhum  espirito  de 
corporação. 


-  517  — 

lhe  fazia  o  Dr.  José  Maria  de  Avellar  Brotéro.  O  Governo 
Imperial,  certo  dos  bons  serviços  que  ia  prestando  o  referido 
Director  Toledo,  fez  expedir  um  Aviso  em  1829,  sendo 
Ministro  do  Império  o  finado  José  Clemente  Pereira,  adver* 
tindo  o  referido  Lente  pela  maneira  porque  desconsiderava 
o  Director  da  Faculdade.  (*) 

O  Governo  Imperial  no  empenho  de  desenvolver  todos  os 
elementos  moraes  da  educação  e  da  instrucção  nacional  côa* 
fiada  à  seus  cuidados,  e  uzando  da  authorisação  que  Ihefftii 
confiada  no  Decreto  n."*  608  de  16  de  Agosto  de  1851  julgou 
ter  attendido  a  mais  vital  necessidade  da  Faculdacte  Jurídica 
reformando  seus  estatutos,  e  foram  pois  não  só  ampliados, 
mas  melhor  distribuídas  as  matérias  do  ensino.  Estes  esta« 
tutos  foram  dados  por  Decreto  n.""  íiZh  de  80  de  Março  de 
1853  e  depois  delle  appareceu outro  Decretou."*  iS86  de  28 
de  Abril  de  l8oi  dando  novos  estatutos,  por  virtude  da  au- 
thorisação dada  pelo  Decreto  n.*  71i  de  9  de  Setembro  de 
1853.  £  ultimamente  baixou  o  Decreto  n.^  1568  de  2i  de 
Fevereiro  de  1855approvando  o  RegulamoRto  complementar 
das  Faculdades.  Neste  intuito,  o  Governo  aproveitou  as  luzes 
e  a  experiência  das  respectivas  corporações  scientificas  e  das 
pessoas  illustradas.  Por  occasiáo.  da  reforma  bem  convinha 
ter  o  Governo  instituído  nas  Faculdades  uma  formatura  em 
scíencias  sociaes  somente  que  habilitasse  para  os  cargos  que 
nío  exigem  um  conhecimento  particular  do  Direito  Civil. 
Esta  formatura  que  se  poderia  fazer  em  três  annos  de  estudo 

(*)  Apparcceo  dr  pois  deste  facto  o  Decreto  de  19  de  Agoslo  de  183T 
marcando  a  maneira  porque  devem  ser  processados  academicamenic 
of  cstadantesque  faltarem.o  respeito  devido  aos  professores,  deixando 
•  julgamento  a  mercê  áh  Congregaçâo.Gom  os  novos  estatutos  ouiraft> 
providencias  foram  tomadas. 


—  518  — 

das  matérias  dispersas  pelos  5  annos,  assim  abreviaria  uma 
carreira  a  mocidade  estudiosa,  e  facilitando  as  habilitações 
officiaes,  dando  mais  ampla  ambição  á  aquelles  que  veem-se 
circurnscriptos  a  carreira  judiciaria. 

Com  os  novos  {Istatutos  foram  creadas  duas  cadeiras, 
e  deste  modo  foi  satisfeita  uma  das  necessidades  recor 
nhecidas  por  todos  aquelles  que  estudam  Jurisprudência, 
ainda  que  por  eOeito  destas  creações  se  sobrecarregassem  de 
Ipbalho  alguns  annos;  estes  annos  são  o  l,""  e  o  5.*  ensi? 
Hando-se  neste.  Direito  Administrativo  além  de  outras 
Qiaterias,  e  n'aquelle  o  Direito  Romano.  Este  tem  de  ser 
invocado  não  só  para  esclarecer  a  nossa  legislação  civil  como 
pnra  supprir  suas  lacunas,  e  o  Direito  Administrativo  cujo  es- 
tudo era  ha  muito  reclamado,  por  onde  se  mostra  a  acção  e 
Oômpetencia  do  poder  executivo  central  e  dos  poderes  locaes 

Antes  da  reforma  dos  Estatutos  e  depois  delia  tem  sido 
nomeados  Professores  para  S.  Paulo  os  Substitutos  Drs. 
Coares,  Ramalho,  e  Furtado  de  Mendonça,  sendo  nomeados 
pelo  Governo  Imperial  Substitutos  os  Drs.  Gabriel  José 
Rodrigues  dos  Santos,  António  Joaquim  Ribas,  e  Martim 
Francisco,  por  carta  de  19  de  Julho  de  185í.  O  Pr.  João 
Dabney  d'Avellar  Brotero  nomeado  Substituto  por  carta 
Imperial  de  13  de  Junho  de  1855  tomou  posse  na  Faculr 
dade  de  Direito  da  Cidade  do  Recife  no  dia  6  de  Outubro  de 
1855,  foi  removido  para  a  Faculdade  do  Direito  da  Cidade 
de  S.  Fanlo  por  Decreto  de  3t  d(3  Maio  de  18õÇ,  e  tomou 
posse  em  17  de  Junho  do  mesmo  anno.  Ficaram  Substitutos 
OS  Drs.  João  da  Silva  Carrão  e  Luiz  Pedreira  do  Couto 
Ferraz,  aquelle  nomeado  por  carta  de  5  de  Julho  de  1845, 
e  este  por  Carta  de  2p  de  Outubro  de  1839.  O  Curso  Juri- 
diço  d'01inda  teve  vários  Directores  depois  dos  dous  acima 
referidos:  forapa  ellos  os  Srs.  Padre  Miguel  do  Sacramento 


—  rii9  — 

Lopes  Gama,  Conselheiro  Pedro  irAraujo  Lipia,  Conselheiro 
António  Peregrino  Maciel  Monteiro,  Bispo  D.  Thomaz  de 
Noronha,  Visconde  de  Goyanna.  Na  reforma  foi  nomeado 
Director  o  Dr.  Pedro  Cavalcanti,  hoje  Baráo  de  Camaragibe. 
Lente  Jubilado  da  mesma  Eschola,  por  Decreto  de  de  22  de 
Julho  de  1854;  tomando  posse  em  11  do  mez  de  Novembro 
lio  dito  anno.  (*) 

Sáo  Professores  da  Acaderaii  Judiciaria  do  Recife  os  Drs. 
Autran  que  alli  serve  desde  31  de  Julho  de  1828  principiando 
como  Substituto,  e  Secretraio,  e  nomeado  em  l.**  de  Março 
de  1830  Lente  cathedratico  do  1.*  anno,  teve  prorogação 
de  ensino  por  Decreto  de  4  de  Agosto  de  185o  passando  a 
reger  a  cadeira  de  Economia  Politica,  for.io  em  1835  nomear 
dos  Lentes  os  Drs.  Paub  Baptista,  Bandeira  de  Mello,  José 
Bento  da  Cunha  e  Figueredo,  e  em  1851  o  Dr.  Nuno  Ayque 
d'Avellos  Annes  Goés  de  Brito  Inglez,  que  começou  como 
Substituto  em  14  de  Janeiro  de  1837 ;  o  Dr.  Lourenço  Trigo 
de  Loureiro,  que  sendo  nomeado  Professor  de  Francez  do 
Collegio  das  Artes  em  14  de  Fevereiro  de  1828,  e  Secretario 

(^j  Em  S.  Paulo  tem  havido  os  seguintes  Directores:  o  Tenente 
General  José  Ârouche  de  Toledo,  do  qual  já  demos  noticia,  que  sérvio 
desde  Í827  até  23  d'Agosto  de  1813,  pedindo  sua  demissão,  â.^*  o  Dr* 
(^rlos  Carneiro  de  Campos  que  sefvio  desde  Agosto  de  1833  ale  5  de 
Novembro  de  1835,  3.®  o  Senador  José  da  Gosta  Carvalho,  hoje  Maquez 
de  Monte  Alegre.que  sérvio  de  25  de  Novembro  de  1835  atende  Junho 
de  1836,  que  pedio  sua  demissão,  4.<^  o  Senador  Nicoláo  Pereira  de 
lampos  Vergueiro  que  sérvio  desde  8  de  Março  de  1837  até  1841.  Na 
falta  dos  Directores  a  é  academia  governac|a  pelos  Lentes  roais  anti- 
gos. Depois  do  Senador  Vergueiro  occupou  o  lugar  de  Director  o  Dr. 
Brolero;  e  actualmente  depois  de  feita  a  reforma  foi  nomeado  o  Dr. 
Manoel  Joaquim  do  Amaral  Gurgel  que  ha  três  annos  dirige  os 
trabalhos  da  Faculdade,  onde  (ambem  é  Lente  desde  12  de  Outubro 
<le  1SI33  a  qqe  já  a  dirigia  alguns  annos  antes  dosta  ultim  reforma. 


—  820  — 

interino  do  Curso  Ju^ico  em  5  do  mesmo  mez  e  do  aaino 
de  1833,  Bibliolhecaría  neste  mesmo  mez  e  anno,  e  Lente 
Substituto  em  1.**  de  Julho  de  1840  passou  a  Proprietária 
por  Decreto  de  15  de  Mj^ío  de  1852  e  transferido  para  a  1.^ 
cadeira  do  i.*  anno. 

Na  reformi  foram  nomeados  pi^oprietarios  os  Db. 
Joaquim  Vilella  de  Castro  Tavares,  que  era  Substituto  desde 
7  de  Julho  de  1840,  o,  Dr.  Jerónimo  VHeHa  de  Castro  que 
era  Substituto  desde  30  de  Abril  de  1844,  o  Dr.  Manoel 
Mendes  da  Canha  e  Azevedo,  e  o  Dr.  Zacharias  de  Góes  e 
Vasconcellos  que  jà  era  Substituto  desde  Julho  de  18*0. 
O  Dr.  Manoel  Mendes  da  Cunha  e  Azevedo  foi  nomeado  eia 
!.•  de  Julho  de  1854,  Professor  da  nova  cadeira  de  Direito 
Romano,  o  Dr.  João  José  Ferreira  d' Aguiar,  por  igual  De- 
creto, e  pela  Jubiiaçâo  dada  ao  Conselheiro  Zacharias  de 
Góes  e  Vasconcellos  foi  nomeado  Professor  da  Cadeira  dè 
Direito  Administrativo,  o  Dr.  Vicente  Pereira  do  Rego  quo 
jà  era  Substituto  desde  36  de  Abril  de  1835.  Proprietam 
por  Decreto  de  17  d' Abril  deste  anno,  tendo  a  Facoldade 
mais  os  seguintes  Substitutos,  todos  elles  nomeados  na 
occasião  da  reforma,  menos  o  ultimo  o  que  foi  em  3  de 
Junho  deste  anno:  sâo  os  Drs.  Braz  Florentino  Henriques 
de  Sousa,  José  António  de  Figueiredo  Júnior,  Joáo  Silveira 
de  Sousa,  José  Bonifácio  dWndradu  o  Silva,  e  Manoel 
do  Nascimento  Machado  Portella.  Depois  da  reforma  dos 
Estatutos  tem  já  sido  escriptos  os  seguintes  compêndios: 
Da  pratica  do  processo  criminal  composto  para  uso  da  aula 
da  segunda  cadeira  do  3."  anno  pelo  Dr.  Joaquim  Ignacio 
Ramalho. 

Da  Pratica  do  processo  civil,  organisado  pelo  Lente  da 
mesma  cadeira  na  Faculdade  do  Direito  do  Recife  o  Dr. 
Francisco  de  Paulo  Baptista,  obra  recommendavel  que  tem 


—  521  — 

sido  hem  acceita  em  ambas  as  Academias,  merecendo 
justos  elogios  dos  professionaes. 

Da  Pratica  do  Processo  Criminal  e  do  Militar  pelo  Dr. 
Prudencio  Geraldes  Tavares  da  Veiga  Cabral. 

Compendio  de  Direito  Administrativo  pelo  Dr.  Vicente 
Pereira  do  Rego. 

Muitos  serviços  tem  sido  prestados  por  vários  Profes* 
sores  das  Faculdades. 

O  Dr.  Braz,  Professor  Substituto  da  Faculdade  de  Direito 
do  Recife,  anotando  o  Código  Commercial  Brasileiro  com 
toda  legislação  respectiva  que  se  lhe  seguio  depois  da  data 
de  sua  publicação,  prestou  um  valiososerviço  ã  todos  aquelles 
que  tem  necessidade  de  consultar  frequentemente  esse  ramo 
da  nossa  legislação  pátria,  e  que  consideram  o  tempo  como 
um  capital  precioso  para  não  o  consumir  em  buscado  Avisos, 
Decretos,  Regulamentos  disseminados  peia  nossa  jà  corpu- 
lenta collecção  de  Leis. 

ODr.  Joaquim  Jeronymo  Villela  publicando  as  Instituições 
do  Direito  Publico  Ecciesiastico,  matéria  sobre  a  qual  pouco 
ou  quasi  nada  se  tem  escripto  no  Brasil,  fez  um  serviço  mui 
relevante  à  aquelles  que  estudam  as  matérias  ecclesiasticas, 
porquanto  nada  existia  a  semelhante  respeito.  Este  fructo 
de  aturada  leitura  do  distincto  Professor  de  Direito  veio 
alliviar  a  situação  dos  que  ignoram  os  fundamentos  da  fé 
catholica  e  entregam-se  sem  exame  a  obras  fúteis,  falsas»  e 
ridículas. 

O  Dr.  Loureiro,  Professor  da  Faculdade  de  Pernambuco» 
que  jà  tem  enriquecido  as  lettras  pátrias  publicando  vários 
compêndios  sobre  diversos  ramos  de  Direito,  brindou  a 
Academia  com  uma  nova  edicção  correcta  e  augmentada 
das  suas  Instituições  de  Direito  Civil  Brasileiro.  Era  a  muito 
tempo  sentida  a  falta  de  semelhante  obra,  porquanto  é  bem 


—  5íí2  — 

sabida  a  difficuldade  que  entre  nós  existe  de  encontrar-se 
liei.  clara,  e  systemathicamente  em  ura  só  compendio  toda 
legislação  civil  pátria.  O  Dr.  Jerónimo  Villela,  Professor 
da  Academia  do  Recife  também  publicou  uma  importante 
obra  de  Direito  Ecciesiastico,  e  flnalmente  entre  os  Profes* 
sores  distinctos  da  Faculdade  de  Direito  do  Recife,  apre- 
senta-se  o  illustre  decano  d'aquella  Faculdade  que  confiou 
aos  prelos  um  novo  compendio  de  Direito  Publico  Universal 
e  um  tratado  de  Economia  Politica.  O  nome  do  Conselheiro 
Dr.  Autran  é  náo  só  conhecido  pelas  suas  producções, 
como  bem  por  ser  um  dos  mais  fecundos  talentos  da  Aca- 
demia de  Direito  do  Recife,  sempre  admirado  pe  as  suas 
doutas  e  eloquentes  lições  nas  cadeiras  de  Direito  Natiiral^ 
de  Direito  Publico,  e  Economia  Politica.  Eu  que  tive  a  honra 
de  ouvir  suas  sabias  lições  fiquei  muitas  vezes  extasiado  e 
encantado  de  tanta  eloquência  e  erudicçáo.  O  Conselheiro 
Autran  conta  uraa  idade  maior  de  cincoenta  annos,  e  vinte 
nove  de  Professor,  náo  sentio  ainda  a  sua  fértil  penna  en- 
fraquecida pelo  uso  continuado  nem  a  sua  cabeça  opprimid»i 
pelo  peso  dos  annos.  Cada  dia  umnovo  triumpho  distingue 
seu  nome,  e  mais  um  padrão  de  gloria  lhe  ergue  a  sua 
eloquência  e  profundeza,  ganhando  uma  memoria  que  fará 
o  orgulho  de  seus  descendentes,  e  não  hoje  que  quando  se 
lê  uma  obra  náo  se  pensa  um  instante  na  cabeça  que  a 
produziu,  nem  na  utilidade  qae  delia  deve  resultar,  nem  os 
sacrificios  que  ella  trouxe  ao  seu  author.  A  Europa  tem  dado 
provas  mais  de  uma  vez  do  apreço  em  que  tem  o  economista 
Autran  é  credor,  e  servindo  desde  1828  na  Academia  de 
Sciencias  Sociaes  e  Juridicas  nem  um  só  instante  foi  o  dito 
Conselheiro  distrahido  de  tão  honroso  empenho,  conse 
guindo  mediante  sja  única  voncarregada  de  formar  uma 
lista  das  obras  necessárias  para  poder  suppril-as.  Nem  me 


% 


—  523  ~ 

tade  ser  hoje  o  economista  admirado  e  consumado,  como 
o  sábio  da  Sciencia. 

O  numero  dos  Bacharéis  Formados  nas  Aciídemias  Jurídi- 
cas lio  Brasil  desde  a  sua  fundação  até  o  anno  próximo  pas- 
sado anda  em  180i;  deste  numero  deve  deduzir  talvez  perto 
de  cem  que  linhâo  fallecido,  não  se  podendo  considerar 
excessivo,  antes  pelo  contrario  é  suficiente  para  as  neces- 
sidades do  paiz,  porque  existem  milhares  de  localidades  do 
Império  que  não  tem  Advogados  formados  em  Direito,  tendo 
as  Relações  dos  Destrictos  de  nomear  dentre  o  Solicitadores 
do  foro  peio  menos  três  para  cada  Municipio  forense, 

lie  verdade  que  a  maior  parte  d'elles  vivem  agglomerados 
nas  capitães,  ao  passo  que  muitas  comarcas  estão  sem  um 
Bacharel  em  Leis,  para  fazer  o  mais  simples  requerimento, 
ainda  que  muitos  destes  lugares  não  desafie  a  residência  do 
Bacharel  pela  falta  de  segurança  individual  e  absoluta  priva- 
ção das  commodidades.  Entretanto  os  poderes  do  Estado 
tem  preferido  os  formados  em  Sciencias  Sociaes  c  Jurídicas 
para  diversos  empregos  d' Administração,  e  muitos  delles 
tem  sido  despachados  para  Secretarias  d'Estado,  Corpo  Di- 
plomático, empregos  de  Fazenda,  Tríbunaes  do  Conuner- 
cio,  Ac.  &c. 

Até  18Õ1  existião  formados 1324 

De  1 852  até  1856 480 

Não  cansarei  a  paciência  do  Instituto  com  outros  factos 
occorridos  nas  Academias,  estado  de  suas  Bibliothecas,  que 
não  satisfazem  ao  seo  fim.  porque  possuindo  ellas  obras 
muito  curiosas  sobre  Theologia,  Philosophia;  e  de  antigos 
Jurisconsultos  notão-se  nellas  falta  de  escriptores modernos 
e  que  mais  comesinhos  são  nas  mãos  dos  Estudantes,  cons- 

ta-me  porém  que  uma  Commissâo  de  Lentes  acha-se  en- 
Outubro  67 


—  511  — 

eaiTegaila  áe  formar  uma  lista  das  obras  ncessarías  pam 
suppril-as.  Nem  me  demorarei  em  mostrarnesta  resumida 
memoria  a  importante  missão  civilisadora  das  Faculdades 
Jurídicas,  sua  grande  influencia  sobre  os  costumes,  apenas 
direi:  o  que  erâo  as  letras?  o  que  erâo  as  sciencias  em  a 
nosso  Bra^'l  antes  que  se  estabelecessem  na  cidade  d'01inda 
%  S.  Paulo  as  dous  ornamentos  destas  duas  Provindas. 
Sobmersos  e  neglegienciados  na  obscuridade  eram  ellas 
t|ixasi  objecto  de  escameo  e  de  despreso,  em  regra  os  filhos 
do  paiz  entregavam-se  às  ordens  religiosas,  ao  estado  cle« 
rical,  e  a  não  ser  alguns  filhos  afortunados  de  ricos  fazen- 
deiros oa  do  abastados  capitalistas  que  demandavam  o  velho 
mundo  e  procuravam  umi  formatura  na  famosa  e  decrépita 
Coimbra.  Más  logo  que  o  patriotismo  de  alguns  dos  nosso 
Legisladores  erigio  estes  dous  estabelecimentos  jurídicos, 
o  gosto  pelas  lettras  a[^areceo,  as  luzes  derramaram-se 
pela  imprensa,  Olinda  c  S.  Paulo  dotaram  o  Império  com 
boas  Ministros,  dístinctos  Legisladores,  excellentes  Magis- 
trados, óptimos  \dv(^ados,  diplomatas  que  já  nâo  nos  en- 
vergonham». Estadistas  consumados,  dedicados  esteios  do 
D0S80  sábio  e  adorado  Monarcha  e  ocupados  inteiramente  na 
prosperídade  e  engrandecimentoda  patría-  A  terra  do  Brasil 
de  árida  que  era  tem-se  tornado  fértil,  tem  visto  desabro- 
char no  seu  seio  venlcs  e  esperançosos  loureiros,  e  os  ma- 
gistrados, fillios  destas  duas  Academias,  tem  sabido  honrai- 
as,  contendo  os  génios  perversos  reprímindo  as  injustiças 
onde  quer  que  ellas  se  achem  o  qualquer  que  seja  a  capa 
com  que  se  tenhão  encoberto,  amigos  da  lei  e  fieis  execu 
fores  delia  eUes  dáo  brilho  e  ornamento  à  torra  donde  sáo 
íUlios;  Dão  pactuando  com  a  prepotência,  e  a  inequídade 
qualquer  que  seja  o  apparato  do  força,  ou  de  seducçôes  de 
que  se  cerquem;  elles  tem  sabido  ciunprir  sua  missão,  satis^ 


—  523  — 

fazendo  suas  próprias  consciências,  conservando  sempre  a 
rasáo  serena  e  fria  como  o  exige  a  sciencia,  e  muitos  delles 
já  eslâo  sentados  entre  aquelles  que  hontem  foram  seos 
mestres  e  hoje  são  seos  pares.  Os  mocos  caminham  na 
vanguarda  di  civilisacâo  por  toda  parte  formam-se  asso- 
ciações literárias.  No  Recife  e  S.  Paulo  onde  estão  as  duas 
Faculdades,  os  estudantes  delias  reunem-se  em  socieda- 
deslitterarias  e  estudam  as  leis  que  determinam  o  desen- 
volvimento progressivo  dos  seres  que  se  movem  no  mundo 
da  liberdade  e  dos  elementos  constituitivos  da  ordem  moral. 
Em  Pernambuco  o  Athenôo  e  o  Monte  Pio  Académico  tem 
produzido  os  fructos  que  naturalmente  deveram  esperar  os 
seos  instituidores,  Estes  levitasdo  Direito,  devotão-se  ao 
santo  e  sublime  sacerdócio  da  sciencia,  divertem-se  pas- 
sando o  tempo  em  discussões  sobre  o  estudo  da  Jurispru- 
dência tendo  elles  um  jornal  no  qual  se  lêem  vários  artigos 
sobre  importantes  questões  Jurídicas.  lie  uma  escola  onde 
a  mocidade  se  ensaia  pela  palavra  e  pela  penna  para  as 
grandes  lutas  da  inteligência  que  um  dia  o  aguardào  para 
foro  e  na  tribuna. 

O  Monte  Pio  Académico  continuando  a  soccorrer  alguns 
mancebos  pobres,  mas  distinctos  pelo  talento  e  reconhecido 
mérito  se  tem  feito  depods  de  todos  os  elogios.  Devem-se 
aos  Professores  das  Faculdades  estos  benefioos  resultados, 
por  virtude  das  doutrinas  que  elles  procurão  transmittir  a 
mocidade  que  os  escuta.  O  século  cessou  de  ser  politico ;  a 
moderação  e  a  concórdia  se  tem  feito  sentir  em  todo  o 
Império  de  tempos  a  esta  parte  e  vai  congraçando  todos  os 
indivíduos  e  todas  as  classes  outr'ora  divididas  pela  exage- 
ração e  rancor  dos  partidos.  A  mocidade  estudiosa  do 
Brasil  caminha  no  movimento  que  vae  dominando  em  o 
Império. 


~  526  — 

Parece  poder  dizer-se  que  a  segunda  metade  do  século 
19  será  toda  scientifica  e  industrial. 

A  mocidade  comprehendeo  bem  que,  em  um  p;nz  novo 
onde  tanto  ha  a  fazer,  e  que  entretanto  já  se  assignala 
por  tantos  feitos  gloriosos  não  querendo  ella  ficar  atraz  na 
carreira  do  progresso  e  da  civilisação,  não  lhe  sobra  tempo 
para  consumi!-o  em  mesquinhos  ódios,  sendo  todo  elle 
pouco  para  o  estudo  das  sciencias,  a  meditação  e  a  pratica 
dos  grandes  princípios  sociaes.  Aquellas  associações  provam 
do  modo  mais  formal  que  os  estudantes  de  ambas  as  Facul- 
dades são  dominados  por  boas  ideias,  e  trilham  agora  uma 
senda  da  qual  fora  para  desejar  que  nunca  tivessem  o  menor 
desvio. 

Desculpae-me,  Sonhores,  se  não  cumpri  como  devia  a 
missão  que  tomei  sobre  mim,  quando  me  inscrevi  o  anno 
passado.  E'  a  fraqueza  de  minha  intelligencia  que  me  inhibe 
de  não  tornar  mais  methodica,  mais  clara,  e  mais  correcta 
esta  memoria.  A  Providencia  não  dá  a  todos  a  mesma 
missão;  aquellesa  quem  ella  dotou  de  uma  intelligencia 
luminosa  e  collocou  a  frente  de  seos  irmãos,  como  um 
farol,  devem  preencher  esta  missão,  sejam  quaes  foVem  os 
óbices  que  tenham  que  vencer,  e  as  dores  que  tenham  que 
soíTrer.  A  mim  só  é  dado  pedir  perdão  por  ter  abusado  da 
paciência  de  N.  M.  I  e  de  meus  estudiosos  e  caros  collegas. 

Rio,  9  de  Outubro  de  1857. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo. 


DA  CIDADE  DO  SALVADOR. 

ESCRIPTA   POR    D.    MaMUEL   DE    MeNEZES 

CIIRONISTA  MOR  E  CIlROSMOGRAPHO  DE  SUA  MAGESTADfi  E  CAPI- 
TÃO GERAL  DA  ARMADA  DE  PORTUGAL  NAQUELLA  EMPERSA.  CO- 
PLV  COTEJADA  COM  O  MANUSCRIPTO  ORIGINAL  DE  MADRID — POR 

FRANCISCO  ADOLPHO  DE  VARNHAGEM. 

LIVRO  SEGUNDO. 
Do  que  aconteceo  aié  render-se  praça. 

A  onze  de  Fevereiro  lerça-feira,  as  oito  da  manhã,  des- 
fraldou a  real  do  inarocceano  o  que  no  mesmo  ponto  imi- 
tou a  real  de  Portugal  e  foram  seguindo  as  outras.  Constava 
esta  armada  de  Portugal  de  vinte  e  três  vellas  redondas,  e  de 
quatro  caravelas.  A  cappitana,  S.  António  e  S.  Vicente  que 
se  algum  do  mundo  podia  merecer  tanto  nome  de  taes 
santos,  era  ella  verdadeiramente  por  grandeza,  em  que 
excedia  com  grande  vantagem  as  outras  reaes  do  mar 
occeano,  estreito  mas  com  muito  maior  nobreza  que  nella 
hya,  pessoas  mui  consideráveis  por  casas  e  calidades :  a  al- 
miranta  S.  José  de  que  era  capitão  D.  Rodrigo  Lobo,  S. 
João  Soldouradode  Manoel  DiasdeAndrada,  S.Bertolameu, 
de  Domingos  da  Gamara,  Santa  Gruz,  de  Gonstantino  de 
Mello  Pereira,  Nossa  Senhora  do  Rosário,  de  Tristão  de 
Mendonça  Furtado,  outro  do  mesmo  nome  de  Ruy  Barreto 
de  Moura  e  Menezes,  Nossa  Senhora  da  Ajuda,  de  Gregório 
Soares  Pereira,  Penha  de  França,  de  Diogo  de  Varajão, 


—  »28~ 

Rosário  menor  de  Xptevão  Cabral,  Neves  mayor,  de  Do- 
mingos Gil  da  Aionsecca,  Menor,  de  Gonçalo  Lobo  Barreto, 
S.  Joio  Evangelista,  de  Diogo  Ferreira,  Nossa  Senhora  da 
Bonanç^i,  de  Affonso  Barros  Caminha.  S.  Bom  Homem,  do 
João  Cazado  Jacomo,  Boa  Viigemque  hya  com  mantimentos, 
de  Symão  Dias  Salgado,  S.  António  que  também  liya  occu- 
pado,  e  Rosário  menor  sem  outro  navio  fretado  por  Duarte 
de  Albuquerque  Coelho  para  sua  despenca  e  matelotage. 
Nas  caravelas  hyam  os  capitães  Cosmo  Couto   Barbosa, 
Roque  de  Monteroyo,  Sebastião  Marques,  náo  se  achando 
nesta  viagem  a  urca  Caridade  e  outro  navio  era  que  hyam 
os  capitães  Lansarole  da  França  de  Mendonça,  Bento  do 
Rego  Barbosa,  nem  a  caravela  de  Manoel  de  Palhais  quo  se 
derrotaram  nem  a  Conceição  que  fez  naufrágio.  A  sinquo 
de  Março  passaram  estas  armadas  a  linha  padecendo  por 
aquella  parage  excessivas  calmas  a  que  ajudavam  as  cesõis 
curtas  da  agua  pela  muita  gente  que  levavam  os  navios,  e 
roim  aguada  que  se  tinha  feito  no  Cabo  Verde  pelo  risco  cora 
queaspipasse  embarcaram  no  porto  de  Santiago  por  falta  de 
aprestos  o  tempo,  occupada  a  gente  em  salvar  a  artilheria, 
e  na  armada  de  Castella  pela  pressa  cora  que  se  fez  sem 
conserto  algum  de  lousa.  Eníim  foram  extraordinárias  a 
respeito  da  paragem  em  que  lhes  parecia  navegavam  chega- 
dosà  costado  Brrsi!  estando  na  verJade  mui  distantes  delia, 
metidos  em  Guine  como  depois  se  coligio  pelo  que  tardou 
a  costa  aos  pilotos  Cresceo  o  enfadamento  por  a   ver  tam 
grande  cantidade  de  chinchas  e  outros  sevandijas  que  mais 
parecia  castigo  de  Deos  que  fruto  de  máo  tempo,  mais  im- 
portunos que  a  mesma  navcgaçara.  Vio-sc  terra  do  Brasil 
a  27  de  Março  em  altura  de  doze  graus  e  dois  terços.  Des- 
pachou logo  D.  Fadrique  de  Toledo  o  capitão  José  Furtado 
a  tomar  lingua,  e  por  esta  via  e  pela  da  torre  de  Garcia  d€ 


^ 


—  í)29  — 

Ávila  a  donde  se  não  descuidavam  teve  aviso  de  tudo  o  qua 
se  tinha  alcançado  por  espias  ou  por  alguer  outra.  A  29 
dava  a  armada  fundo  ao  noroeste  do  forte  de  S.  António 
perto  de  terra,  Aliy  se  soube  que  a  9  de  Janeiro  junto  à 
barra  de  Parahyha  dera  nos  baixos  de  Lucena  a  urca  Cari- 
dade e  lhe  fora  necessário  cortar  os  mastros  para  se  salvar 
o  casco  e  tudo  o  mais  mandando  com  grande  deligencia 
acudir  a  tudo  Mathias  de  Albuquerque  luzindo  muito 
naquelle  aperto  o  trabalho  de  André  Velho  filho  do  doutor 
Álvaro  Velho  do  desembargo  e  camará  de  S.  M.  Na- 
quelle mesmo  dia  entrou  Lansarote  da  França  com  a  sua 
comi)anhia  em  quatro  barcos  acomodadas  embarcações 
para  navegar  por  aquella  costa  contra  as  monsões.  Que  o 
capilão  Bento  do  Rego  entrara  no  Arecife  de  Parnãobuco 
daly  navegara  ao  morro  de  S.  Paulo.  Este  chegou  á  Bahya 
a  4  de  Abril  com  a  caravela  de  Manuel  de  Palhais,  e  outra 
que  D.  Fadrique  despachara  da  Bahya  de  Cadiz.  Veo  D, 
Francisco  de  Moura  capiiáo  mor  acompanharam-no  Lou- 
renço de  Brito  e  alguma  gente  escolhida.  Avisou  a  D.  Fa- 
drique do  que  tinha  alcançado  das  forças  do  inimigo  e 
ditosos  sucessos  dos  assaltos  as  relações  sobre  que  se  havia 
de  fundar  o  numero  e  disposição  da  gente  para  o  sitio  d'a- 
quella  praça  foram  varias,  e  já  demenuindo  as  forças  do 
inimigo,  ja  acarrando  causas  ao  temor.  Mas  todos  convinham 
que  a  praça  fora  ja  recuperada  se  ouvera  qualquer  socorro. 
Huns  afirmavam  que  o  bispo  com  esse  pouco  poder  que 
tinha  estivera  mui  perto  de  intentar  a  imprensa ;  que  outro 
deixara  a  seo  sucessor  muitas  escadas  feitas  com  que  estava 
para  cometer  o  asalto  a  escala  a  vista.  Poderá  aquella  pre- 
sunção causar  aborrecimento  se  em  outra  cousa  se  cuidara 
que  no  serviço  de  Deos  de  se  ajudarem  uns  aos  outros  para 
conseguir  o  que  convinha  ao  real  serviço  de  S.  M.  Que 


—  530  — 

dentro  da  cidade  averia  oitocentos  e  quando  muito  nove« 
centos  homens;  feita  a  receita  dos  que  disiam  ficar  nella  que 
eram  mil  e  quatrocentos  e  a  despesa  de  trezentos  para 
quatrocentos,  que  os  asaltos  e  alguma  doença  tinham  con- 
sumido fora  muitos  enfermos  e  por  isso  inútil.  Que  entre 
todos  averia  trezentos  que  tinham  praça  de  soldado.  Os 
mais  era  canalha,  a  todos  faltam  mantimentos  pelos  muitos 
negros  que  Ih^os  ajudavam  a  comer,  que  já  a  necessidade 
os  obrigava  a  comer  os  cavallos  que  lhes  ficaram.  Tam  ame- 
drontados todos  que  seguramente  podia  o  exercito  catho- 
lico  armar-se  a  seus  reparos  com  segurança  de  que  não 
sairia  dellôs  o  inimigo.  Lembra-me  que  fazendo-se  muito 
caso  disto  como  se  fez  pecados  dos  homens  ou  juízos  de 

Deos,  a  Sanfele tendo  ja  notado,   Sy  saldran  selos 

apiertan,  mas  premitio  Deus  que  nem  aly  entrase  nem  fosse 
ouvido  como  devera.  Das  fortificações  da  terra  havia  pouca 
diferença,  nas  relações  se  bem  que  acresentavam  cousas,  e 
demenuyam  o  numero  das  peças,  ou  que  nâo  contaram 
bem  ou  q  le  depois  meteo  outras  o  inimigo.  A  verdade  he 
que  imaginando  a  cidade  como  um  meo  ovado  ao  comprido 
de  norte  e  sul  a  corcova  para  levante.  A  linha  direita  para 
ponente  sobre  o  mar.  nas  pontas  e  na  volta  averia  perto  de 
sinquenta  peças.  Pela  linha  direita  nâo  seriam  de  efeito 
pelo  despenhadouro  com  que  se  levanta  sobre  o  mar.  Avia 
somente  no  terreiro  do  governador  algumas  peças  mui 
boas,  e  junto  a  see  três  de  ferro  em  um  trinchoirão  de 
fraca  espalda  abocadas  para  a  parte  do  norte.  Todas  aquellas 
partes  intrincheiradas  repartidas  com  valuaries  terraplena- 
dos, traveses  e  cortaduras.  Na  porta  de  Santa  Luzia  duas 
meias  luas  mui  polidas  como  era  tudo  o  qne  fizeram  em 
lugar  de  parapeito  cercado  de  pipas  em  ordem  dobrada 
terraplenadas.   Bella-vista  indigna  de  ser  pintada  8  relra- 


—  S31  — 

trada  como  foy,  mas  para  a  defença  iflutilíssima  pela  ma- 
téria, tudo  adobes  de  terra  que  náo  tem  consistência  alguma 
por  mais  socada  ao  pilão  que  seja,  nem  ainda  em  seu 
próprio  e  natural  luguar.  (Aqui  fingiam  cappassiciraas  abo- 
bedas,  e  minas  para  voar  os  atrevidos.)  Para  todas  as  de- 
tenças torriões,  traveses,  reducto^,  plataformas  havia  ca- 
minho desembaraçado  pêra  soccorrer  pela  parte  interior, 
avendo  para  isto  desmontado  arvoredos,  desmatelado  casas, 
e  edifícios  chamados  seus  cemitérios.  Na  parte  do  Norte 
avia  outros  fortes  como  os  de  Santa  Luzia  quasi  yguais  em 
altura  e  perfeitos  no  artificio  como  fracos  na  matéria,  huns 
e  outros  baluartes  mui  bem  terraplenados,  coroados  de 
pentens  daquella  madeira  que  he  fortissima  cujas  pontas 
agudas  sayam  da  escarpa  mais  de  sete  ou  oito  palmos  vas- 
tan temente  carregados  de  terra  mui  bem  socada.  A  estes 
servia  de  poço  huma  profundidade  natural  como  a  outro  o 
vasio  que  ficou  da  terra  com  que  levantaram  as  defenças. 
Ali  fingiam  estacas  de  mui  forte  madeira  fincadas  na  terra, 
de  pontas  ferradas  com  que  se  asseguravam  de  ser  entradas 
por  aly  sem  grandíssima  defeculdade*  Pela  parte  de  levante 
avia  quasi  a  mesma  forma  de  poço  pela  terra  que  tirara  para 
as  defenças.  Mas  tudo  a  formoseava  hum  lago  com  dique 
(|ue  o  atravessava  pelo  largo  com  sua  inclusa  tudo  bem  feito 
por  extremo.  A'  margem  exterior  visinha  ao  dique  tinham 
semeado  de  abrolhos  de  ferro  de  três  pontas  farpadas  de 
qual  parte  caissem  igualmente  nocivas.  Defronte  do  dique 
porta  de  socorro  entre  dois  travesôes,  quanto  a  traça  tudo 
ordenado  por  bons  mestres.  Este  lago  exageravam  fingin- 
do-lhe  huma  Peça  e  mea  em  alto  pela  muita  terra  cortada 
apâ,  enxada  e  ferrão  talhado,  sendo  a  verdade  de  huma 
pouca  de  agua  junta  de  algumas  fontes  que  regavam  aquelle 
Tale  povoado  de  pomares  de  suas  frutas  desabridas  e  algumas 

OUTUBRO  68 


—  632  - 

crtas,  ajuntando  a  isto  a  agua  da  chuva  que  sempre  aly  se 
detinha.  Estas  aguas  enserraram  com  hum  valado  grosso 
de  terra  pela  parte  do  norte  por  onde  costumava  desaguar. 
Aqui  flngiam  barcos  com  que  se  pescava  pêra  regalo  dos 
capitães,  o  que  faz  parecer-me  a  partes  fundo  como  dez  ou 
doze  palmos,  e  a  partes  muito  menos  de  maneira  que  as  pe^* 
quenas  arvores  mostravam  em  cima  das  aguas  seus  delga* 
dos  troncos.  Contavam  que  todo  o  mato  ao  redor  tinha  sido 
rossado  a  tiro  de  mosquete  mas  também  não  vi  sinal  de  tal 
rossado»  Das  fortificações  da  ponta  do  norte  baixava  direi** 
tamente  como  bem  esquadria  huma  estacada  de  ma  leira  até 
a  fonte  dos  Padres  da  Companhia  que  está  na  praya.  Outra 
semelhante  das  portas  de  Santa  Lusia  igualmente  distante 
a  outra  (ao  que  se  podia  julgar)  até  feneser  na  praya.  Estas 
se  corriam  peia  parte  de  dentro  por  caminhos  mui  desem-* 
bancados.  Os  términos  destas  palissadas  cujas  pontas  que 
eram  agudas,  e  fingiam  de  ferro,  ajuntavam  as  fortificações 
da  praya  que  fica  como  lado  direito  do  ovado  que  disemos. 
Destas  avia  informações  de  pessoa  que  delia  tinham  saído  a 
principal  era  de  Fernão  Florim  natural  de  Lisboa  que  fiira 
tmnado  em  hum  navio,  entrara  na  Bahya  dia  de  natal  e 
tinha  visto  tudo  de  vagar.  Todas  as  ruas  que  desembocam 
na  {H*aya  estavam  intrincheiradas  e  providas  de  artilhería. 
No  càes  dos  Padres  da  Companhia  huma  plataforma  com 
boas  pessoas,  outras  no  forte  de  Santo  Alberto,  hum  pa- 
redão antigo  de  pedra  e  cal  junto  á  nossa  senhora  da  Con- 
seição  o  ocupavam  com  sete  ou  oito  peças.  Sobre  as  casas 
dos  Padres  de  S.  Bento  e  seu  pavimento  mui  bem  fortificado 
outra  plataforma  com  quatro  peças  abertas  as  paredes  em 
calfaeteiras  para  mosqueteria,  mais  para  as  olarias  outra,  e 
na  ultima  ponta  do  sul  duas  peças  huma  de  grande  alcance 
com  que  varejam  aquella  praya  por  gran  distancia.  No  fortt 


—  5sa  — 

novo  que  tinham  sete  peças  de  bronze  mas  easalsavam  estd 
força  e  maito  mais  o  artificio  contando  que  nelle  ha?Í9 
huma  fornalha  de  três  bocas  para  fazer  ascua  às  balas  com 
que  haviím  deabrazar  todos  os  navios  que  se  lhe  chegasse. 
Sendo  aquella  fornalha  ordinária  para  trabalharem  os  fer- 
reiros em  qualquer  occurrencia  e  dizem  qoe  para  fundir 
balas  se  faltasse. '  Asy  passava  tudo  como  costuma  em  seme^ 
Ihantes  ocasiões  donde  as  tezes  procedem  pelos  tempos 
adiante  indignas  credulidades  apesar  dos  que  bem  sabem 
duvidar,  mas  verdade  he  que  aquella  era  a  parte  de  mayor 
força  por  donde  cuidavam  ser  aconoetidos  por  mar,  com 
estas  relações  vinha  também  a  de  quatro  navios,  presas  que 
o  inimigo  tinha  cheios  de  artificio  de  fogo  para  qoe  com 
Tento  em  popa  se  chegar  as  cs^itanas,  e  abrasalas  para  o 
que  sempre  estavam  promptos  de  verga  dTabo  Amsyoheceu 
o  ditoso  dia  do  ^orioso  triumpho  e  resureição  de  Jesus 
Christo  Senhor  Nosso.  A  vista  do  mar  era  bellissima  esmal- 
tada das  armadas  catholicas  competin(k>  as  capitanas  e 
almirantas  na  galhardia  de  flâmulas,  estendarte,  armonia 
de  doçainas  e  charamellas  mostrava-se  a  terra  infelice,  mas 
aprasivel  à  vista  por  extremo,  a  formosa  enseada  que  vai 
apartando  montes  de  frescos  e  verdes  arvoredos.  A  triste 
cidade  do  Salvador  sobre  huma  serra  muiingrime  revestida 
toda  de  bosques  e  ervas  aprasivelmente  verdes,  vilmente 
entregue  pelos  seus  a  mais  inimiga  gente  que  sofre  a  igreja 
de  Deus.  Sobre  o  mais  alto  da  sua  igreja  cathedral  cam- 
peavam e  tremulavam  as  bandeiras  de  Mauricio,  pela  mad- 
rinha junto  da  terra  vinte  c  dois  navios  redondos  de  verga 
dTalto.  entre  elles  seis  de  força  quatro  grandes  e  dois 
mayores  de  seiscentas  toneladas  com'cantidadedeartilberia 
bastante.  Todos  os  principaes  aformoseados  de  bandeiras, 
flâmulas,  e  estcndartes,  mal  se  poderá  detreminar  qual  che- 


—  534  — 

garia  a  mayor  excesso  de  alegria  dos  espanhoes  com  a  pre-» 
sença  dos  inimigos  que  já  fingiam  vencidos  e  castigados  se 
a  tristesa  destes  vendo  não  de  longe  a  sua  irreparável  ruinst 
em  luguar  do  socorro  septentrional  que  esperavam,  e  com 
a  primeira  vista  desta  armada  presumiram.  Convocado  o 
conselho  para  a  capitanarcal  de  CastellapropozD.  Fadrique 
de  Toledo  por  modo  mui  consertado  que  de  mui  boa  von- 
tade aqui  pusera  se  a  memoria  me  ajudara.  Dava  muitas 
graças  a  Deus  pelas  graças  que  fizera  a  seus  servos  trazen- 
do-os  unidos  e  inteiros  a  entrada  da  Bahya,  com  que  até  a 
fugida,  ultimo  remédio  dos  miseráveis  se  tirava  aos  olan- 
dezes.  O  praso  da  jornada  era  mayor  que  o  tempo  poderia 
oferecer  pela  gloria  que  de  Deus  esperava  ajudado  de  taes 
companheiros,  de  se  ver  recuperada  a  praça  de  mais  im- 
portância que  todas  as  do  império  da  Espanha,  a  qual  por 
occultos  juízos  e  permisão  divina  com  ignominia  não  pe-r 
quena  do  nome  espanhol  fora  ocupada  por  seus  rebeldes. 
De  tal  exercito  como  ao  presente  se  não  podia  coligir  que 
tivesse  diante  dos  olhos  outro  intento  que  a  gloria  de  ven- 
cedor. Mas  que  seu  interesse  entre  tão  nobres  conside^ 
rações  tivesse  algum  luguar  muito  grande  era  o  que  nas 
mãos  se  entregava.  Porque  aquella  praça  escala  degrandis- 
sima  parte  das  navegações  do  mundo,  aonde  os  olandeses 
pretendiam  fundar  monarquia  a  que  chamavam  nova  Olaiida 
tinha  conduzido  todas  as  riquezas  que  podcram  ajuntar  para 
suas  mercancia,  e  comércios  sem  as  imensas  que  se  lhe 
tinham  entregado  em  suas  mãos  por  aquelle  espaço  de 
tempo  que  a  senhoreavam  os  que  mui  pequena  parte  delias 
tinham  levado;  estando  tão  segos  que  fozendo  tliesouro  en^ 
terra  alheia  e  de  tão  grande  Senhor,  o  tinham  todo  encer* 
rado  na  cidade.  Fazia  exemplo  a  outros  que  averiam  entrado 
com  o  navio  de  Buenos  Ayares  avaliado  em  muitos  centos 


—  535  — 

de  mil  crusados  em  que  D.  Francisco  Sarmento  trazia 
sua  casa,  mulher,  filhos  e  genro.  Constava  não  ter  levado 
para  Olanda,  ouro,  ou  prata,  principal  fructo  d'aquelle 
empório,  nem  outras  fazendas  ricas  senão  em  vinte  e  oito 
de  maio  huma  nao  con  assucar,  tabaco  e  cousas  de  pouco 
preço;  e  outros  quatro  navios  em  julho  com  a  vilesa  de 
semelhante  carga  em  que  foy  o  desditoso  fidalgo  Diogo  de 
Mendonça  Furtado  e  o  Provincial  da  Companhia  com  seus 
companeiros  que  aly  entrara mcegamente  na  volta  de  visitar 
as  suas  casas  da  parte  do  sul.  As  forças  que  levavam  eram 
com  grande  excessos  superiores  as  do  inimigo  sobre  sal- 
teaílo  quando  mais  seguro  estava  de  seu  socorro,  e  no  des- 
cuido com  (jue  seus  esmelos  invejosos  culpam  a  monarquia 
de  Espanha,  pela  sua  posse  (não  fallando  no  socorro  do 
ceo  que  em  todas  as  acções  umanas  se  estima  mais  que  tudo 
e  pela  divina  vontade  de  Deus  estava  com  o  exercito  calho- 
lico)  militava  tudo  que  nas  ocasiões  de  guerra  soen  ter  toda 
a  importância.  A  terra  amiga,  muita  e  muy  boa  gente  nella, 
e  muy  escolhida  a  que  lhe  tinha  vindo  com  os  socorros,  a 
noticia  do  paiz  como  de  suas  casas,  a  inorancia  que  nisto 
padecia  o  inimigo,  que  se  lhes  representava  diante  dos 
olhos  qual  animo  o  mtentaria  estando  de  antes  oprimido  de 
huma  pouca  de  gente  pela  mayor  parte  bisonha,  desar- 
mada, e  dos  frecheiros  naturacs  da  terra  expostos  as  in- 
jurias do  tempo,  como  agora  vise  defronte  de  suas  cortinas, 
e  valuartes  aquartelados  os  pujantes  exércitos  de  Espanha, 
por  mais  que  se  cançava  na  consideração  nas  forças  e  braços 
de  inimigo  ciliado  para  se  opor  a  humas  e  desfazer  as  outras, 
confesí^ava  que  não  podia  presumir  outra  cousa  que  a  certisr 
sima  victoria  desejada,  senão  que  lhe  parecia  inferior  a  im- 
presa  a  tanta  força  pelo  desalento  com  que  estava  o  inimigo 
conforme  naquella  junta  se  lhe  afirmava.  As  palavras  ul- 


-  586  - 

tima$  que  disso  foram  ouvidas  com  grande  aplauso,  não  ^ 
lemèrando  mais  que  de  maldizer  a  ora  que  podia  haver  de 
dilação.  Acharam-se  naquelle  conselho  com  D*  Fadrique 
de  Toledo,  de  Portugal  D.  Manuel  de  Menezes  general  da 
armada.  D.  Francisco  de  Almeida  almirante,  Mestre  de 
Gampo  António  Munis  Barreto,  D.  Afonso  de  Noronha  da 
conselho  de  estado,  os  Condes  de  Vimioso,  S-  JoSo.  e  de 
Tarouca,  o  morgado  de  Oliveira  por  ordem  particular.  D. 
Francisco  de  Moura.  Lourenço  de  Brito.  Da  armada  de 
Castella  D.  João  Fajardo  general  do  estreito  e  almirante,  o> 
Marques  de  Cropani  mestre  de  campo  general  do  exercito,, 
o  Marques  de  Torrecusso,  D.  Pedro  Ozorio,  D.  Joãade 
Orellana  mestres  de  campo,  o  governador  San  Feliche.  D. 
Álvaro  de  Losada  capitão  de  cavatlos  em  Flandres  que  en-^ 
trava  por  ordem  particular,  D.  Francisco  de  Azevedo  ge- 
neral da  armada  de  quatro  velhas,  Martin  de  Valhesilhav  a 
sargento  mayor  Diogo  Rodrigues,  o  Murga,  o  Coscou, 
Armeutevos  e  Sebastião  Granero  tenentes  generaes  da 
artitheria  de  terra  e  mar.  Resolveu-se  que  posto  que  pelo 
conselho  de  Castella  vinha  deteroúnado  que^  a  praça  se- 
batese  por  hum  quartel  com  oito  canhões  somente  qua 
hiam  pern  este  efeito,  se  setiase  com  dous  visto  estar  ja 
tão  chegado  ao  tempo  do  inverno,  e  se  batese  com  mais. 
canhões.  Pêra  ocupar  estes  bastavam  quatro  mil  homens,, 
dois  mil  das  esquadras  e  armada  de  Castetta,  mil  e  qui-^ 
nhentos  de  Portugal,  quinhentos  Italianos,  ao  qual  numera 
se  avia  de  juntar  D.  Francisco  de  Moura  com  sua  gente  que 
eram  mil  e  quatrocentos  portuguezes,  e  quatrocentos  na-^ 
turaes  de  arcos  e  frechas.  Advirttiu  D.  Afonso  de  Noronha 
seria  acertada  pelas  consequências  se  fizesse  saber  na  cidade 
que  a  culpa  se  remetia  e  se  dava  livres  sayda  a  todo&  de 
qualquer  nação  que  nío  fosse  Olandeza  que  quizesse  sayr 


—  ,>37  — 

á^  cidade.  Era  tatitá  a  preca  e  afervorado  o  alvoroso  de 
cada  hum  para  desembarcar  que  avendo  se  assentado  le^ 
vase  mantimento  para  três  dias  foram  poucos  os  Portugueeed 
que  o  leVaram  padecendo  depois  bastantes  fomes  porcas^ 
tigo  de  tão  leve  culpa  que  não  era  contra  Deos  ou  contra 
o  próximo.  Conhecendo  D.  Manoel  em  toda  a  nobreza  o  de* 
sejo  de  sayr  em  terra  em  huns  o  receo,  e  tfoutros  deserem 
se  náo  sayse  julgados  variamente  dos  que  desembarcavam, 
e  presentindo  a  defeculdade  se  quizesse  usar  de  seu  regi* 
mento  se  resolveu  em  dar  gosto  a  todos  fazendo  conta  que 
sempre  na  armada  ficariam  algumas  pessoas  superiores  na 
calidade  dos  Olandezes  que  viese  na  armada  de  socorro,  è 
não  inferiores  na  experiência  dos  criados  que  acompa* 
nhavam  seus  amos«  Não  deixou  de  ler  o  regimento  a  alguns 
mostrando  a  estimação  que  S.  M*  fazia  igualmente  de  hum 
e  outro  serviço  e  o  mui  grande  de  que  todos  obedesesemas 
ordens  que  lhe  dese.  Se  buscavam  perigo  e  trabalhos,  no 
mar  o  tinham  esperando-se  cada  dia  pela  armada  inimiga. 
A  isto  com  que  cuidou  que  os  pigava  responderam  que  sem 
dilaçSo  acodiriam.  Bem  vio  que  se  punha  impossibilidades. 
Como  aviam  desamparar  seus  postos?  que  tempo  aviam 
mister  para  chegar?  que  praya  visinha  tinham  ou  sem 
resaca  para  se  embarcar?  que  armada  inimiga  podia  ama- 
nhecer na  barra,  e  em  menos  de  huma  ora  e  estar  embara* 
cada  com  a  de  Espai^»  que  quando  esta  não  chegase  tio 
depressa  os  navios  de  fogo  bastavam  para  dar  cuidado,  quô 
estando  prontos  para  se  dar  á  vela  quando  não  alcasase  o 
intento  de  abraçar  as  cappitanas  as  aviam  de  advertir  com 
que  suas  nãos  podese  sayr,  levando  os  thesouros  e  gentft 
de  consideração  (o  que  se  temia  muito).  Era  necessâârio 
seguil-os  e  desbaratados.  Estava  tão  posto  a  comprazer  a 
toda  a  nobreza  que  pretendendo  D.  Francisco  de  Almeida 


—  538  — 

almirante  da  armada  obrigado  a  elia  sayr  em  terra,  repre* 
sentaado-lhe  porém  algumas  resois  em  contrario,  e  mos- 
trando-liie  a  fúria  d^aquella  epidemia  o  ajudou  em  seu  intento 
com  D.  Fadrique  de  Toledo  e  permitio  que  do  terço  da 
armada  levase  a  sua  companhia.  Sobre  esta  resolução  ouve 
muitas  duvidas.  António  Monis  Barreto  alegava  que  era 
mestre  de  campo  do  socorro  nomeado  aliy  por  S.  M.  que 
avendo  de  sayr  D.  Francisco  de  Almeida  com  este  nome 
fundado  em  ser  governador  do  terço  lhe  ficava  precedendo 
por  aucianidade.  D.  Monueldeu  de  tudo  conta  a  D.  Fadri- 
que que  não  desejava  menos  de  compraser  a  todos  e  mui 
particularmente  aos  fidalgos  portuguezes,  e  com  mais  cir- 
cumstancia  a  D.  Francisco  de  Almeida  que  lhe  tinha  de 
antes  proposta  sua  pre tenção  e  elle  prometido  de  o  ajudar 
Estando  todos  quatro  juntos  se  compoz  tudo  assentando-se 
que  se  não  fazia  agravo  a  António  Moniz,  ainda  que  elle 
dizia  que  tudo  o  que  se  desse  a  D.  Francisco  se  lhe  tirava 
a  elle  pois  ficava  incluso  em  seu  terço  com  o  nome  de  so- 
corro. As  presedencias  tomou  D.  Fadrique  a  sua  conta 
determinando  apartal-os.  Que  do  numero  da  gente  levasse 
António  Monis  a  sua,  e  D.  Francisco  os  que  da  armada 
podese  ajuntar  ató  quinhentos  homens.  Para  ajuntar  estes 
avia  novas  defeculdades,  porque  com  as  companhias  de 
António  Monis  tenha  saydo  da  armada  muito  mais  gente  da 
que  se  lhe  tinha  limitado  que  eram  mil  homens,  e  como 
com  a  gente  nobre  sayam  todos  seus  criados  ficava  a  ar- 
mada mui  falta  para  poder  dar  tanta  gente.  O  capitão  Gon- 
çalo de  Sousa  rogado,  e  persuadido  pelo  almirante  o  quiz 
seguir  com  a  sua  companhia.  Não  achou  no  capitão  Cons- 
tantino de  Mello  Pereira  a  mesma  modéstia  ou  brandura 
escusando-se  que  tinha  a  na  veta  Santa  Cruz  a  sua  conta  por 
ordem  de  S.  M.,  que  se  D.  Manuel  mandase  obedeceria 


—  539  — 

cnlregandoJIia  desencarregado  delia  e  nâo  de  outrâ  maneira. 
Nem  pode  D.  Francisco  por  aqui  venser  a  defecoldade.  Òs 
mais  capitães  de  infanteria  do  terço  eram  juntamente  ca- 
pitães de  navios,  avendo  em  cada  hum  delles  em  seu  tanto 
o  mesmo  despejo  que  na  cappitana  dâ  gente  nobre  e  seus 
criados.  O  capitão  Manuel  Dias  de  Andradã  somente  estava 
sem  navio  porque  o  em  que  fora  por  estar  inútil  estava  en- 
tregue a  que  o  fretara,  mas  nomeado  naquella  ausência  de 
D.  Francisco  por  ser  muito  para  aquelle  c^rgo  foram  tantas 
e  tão  apertadas  as  instancias  de  D.  Francisco  por  varias  ma- 
neiras, e  a  vontade  de  D.  Manuel  tão  pronta  a  lhe  dar  gosto 
que  sayo  aquelle  capitão  a  terra  mais  porfiado  que  persua- 
dido, em  cujo  lugar  ficou  Jorge  Mexia  Fouto  sobrinho  do 
bispo  de  Coimbra  D.  Martim  António  Mexia  governador  de 
Portugal  capitão  que  tinha  sido  de  infanteria,  e  de  navios 
por  S*  M.  Começou  a  desembarcar  a  gente  pela  praya  junto 
ao  forte  de  S.  António,  o  terço  de  D.  Pedro  Ozorio,  o  de 
António  Monis  Barreto,  o  do  Marques  de  Torrecusso,  o  de 
D.  João  de  Orelhana.  Consideravam  soldados  práticos  qual 
era  a  disposição  di  terra  para  impedir  a  embarcação,  ou 
consumir  os  que  desembarcasem.  A  praya  de  inumeráveis 
penhas,  até  mea  agua  chea  mas  sempre  com  resaca,  e  des- 
coberta a  artilheria  do  forte.  Acabada  a  parte  que  a  maré 
lava  comessa  hum  areal  fundo  e  solto  mão  de  passar  por 
qualquer  despejada.  A  este  abraça  hum  bosque  de  arvoredo 
mui  espesso  que  poderá  dar  cuidado  as  valentes  que  o 
queiram  investir  avendo  nelle  duzentos  mosqueteiros.  Ven- 
cido este  fica  huma  costa  bem  erguida  e  logo  caminham 
fundos  estreitos  sercados  de  arvoredos,  e  malesa.  Facção 
era  pêra  Olandeses  arriscarem  duas  emboscadas  duzentos 
e  cincoenta  homens,  mas  injustamente  se  poderam  acusar 
os  Portuguezes  de  culpados  menos  de  onze  mezes  antes 
Outubro  69 


—  540  — 

que  sendo  a  terra,  a  cidade,  e  campanha  sua  a  náo  defen^ 
^Dram  por  aquelle  caminho  bosque,  e  areal  livres  da  re- 
saca  contra  gente  estrangeira,  ignorante  das  ciladas  tendo 
campanha,  terra,  e  cidade  contra  sy.  Âquella  noite  pas- 
saram alguns  desembarcados  por  aquelles  áreas,  aqui  foy 
o  das  fomes  que  emleavam  bebendo  agua  turba  dehnma 
âlagoa  mal  limpa.  Foy  o  mestre  de  campo  general  com 
alguns  práticos  da  terra,  com  elle  D.  Francisco  de  Faro 
reconhecer  os  portos  e  fortificações,  do  inimigo  do  pouquis-^ 
simo  que  vio  dando-^se  por  satisfeito  trouxe  boas  novas  a 
Dw  Fadrique  de  Toledo  mui  a  gosto  dos  restauradores.  De- 
sembarcou ao  outro  dia  pela  manhí  com  gram  resaca  que 
lhe  voltou  huma  falua  na  praya  cbea  de  gente  do  acompa- 
nhamento. Abateram- se-lhes  as  bandeiras  todas  postas  em 
armas.  Deitou-se  dando  para  devida  aos  que  metesom  mão 
&  espada,  faca,  ou  adaga.  Marcliando  a  cavalo  fez  noite  em 
a  ermida  de  S.  Francisco.  Levava  novecentos  homens,  e 
maudouque  do  terço  de  António  Monis  lhe  fossem  tresentos 
de  mosquetes,  arcabuzes,  e  peças  em  numero  igual.  Esta 
gente  que  marchava  diante  alcançou,  e passou  acompanhado 
de  D.  Francisco  de  Moura,  e  por  largo  rodeo  se  foi  meter 
no  Carmo  como  em  sua  casa.  Tal  era  a  confiança  que  faziam 
da  mizeria  do  inimigo.  Encontrava  pelos  caminhos  frechei- 
ros pintados  em  tropas  que  lhe  engrandeciam  os  práticos 
muito  de  animo  e  resolução.  Vagava  por  tudo  como  no  seu 
agente  que  primeiro  tinha  chegado  àquella  parte  do  Carmo 
Com  liberdade  se  metia  pelo  arvoredo  a  colher  limas  e  la- 
ranjas táo  visinhos  as  fortiíicasõis  da  cidade  que  ao  ruido 
dos  ramos desparavam peças,  tiravam mosqueter ia.  Naquelle 
dia  em  que  D.  Fadrique  desembarcou  a  tarde,  sayo  quasi 
toda  a  nobreza  de  Portugal,  muitos  criados,  muita  infan- 
teria  que  na  primeira  tarde  não  poude  desembarcar.  Fiie- 


-  8*1  ~ 

mm  muitos  caminhando  a  mesma  conta  de  mantimento  que 
os  primeiros,  senão  que  nem  levavam  ordem  de  exercitou 
nem  marchavam  em  fileiras.  Caminharam  toda  a  noite  a  pé 
a  cavallo  como  podiam  posto  qne  pessoas  grandes  quizeram 
caminhar  a  pé  com  suas  armas  as  costas.  Entretanto  vari- 
edade de  gente  necessária  era  a  desordem,  huns  passavam 
outros  ficavam  cansados,  alguns  por  se  desembaraçar  melhor 
deixavam  suas  peças  ou  mosquetes.  Era  grande  o  rodeo 
deiundo  a  montanha  que  era  dorso  continuado  coroa  H 
cidiJ-  pelo  le^^ante  a  mâo  esquerda  .Chegaram  o  mesmo  dia 
que  0.  Fadrique  ao  bairo  do  Carmo,  em  que  estava  a  gente 
de  [).  Francisco  de  Moura,  por  onde  se  agasalharam  com 
a  mesma  segurança.  Eram  os  terços  de  António  Monis 
Barreto  que  acabou  de  chegar  a  dois  de  Abril,  e  D.  Joâa 
de  Orelhana.  O  marques  de  Cropani  com  os  terços  de  D. 
Pedro  Ozorio,  o  maques  de  Torrecusso,  de  D.  Francisco 
de  Almeida  tendo  o  alojamento  mais  visinho  em  S.  Bento> 
marchou  com  mellior  ordem  indo  na  vanguarda  D^  Henrique 
de  Alagon,  e  outros  cappitáes.  Para  este  quartd  estavam 
tigelados  dois  mil  homens,  mas  em  nenhum  dos  terços 
avia  toda  gente  porque  D.  Francisco  da  Almeida  não  tinha 
em  tem  inas  que  sua  companhia  e  os  Gdalgos  aventureiros 
de  sua  almiranta,  e  a  companhia  de  Gonçalo  de  Sousa.  De 
todos  estes  nâo  averia  no  quartel  quarenta  por  andarem 
com  dos  terços  deTorrecusso,  e  muitos  de  D.  Pedro  Ozorio 
acapados  em  conduzir  a  artilharia  que  desembarcada  na 
praia  de  S.  António  pêra  ambos  os  quartéis  não  se  avendo 
ainda  feito  coula  do  caminho  pelo  porto  de  agua  dos  me- 
ninos) se  levava  grandíssima  defeculdadepostoquea  gente 
da  terra  acudio  cora  cuidado  pela  ordem  que  tinha  dado 
D.  Francisco  de  Moura.  Mas  com  grandissima  diferença 
asistio  Estevam  de  Brito  Freire,  fidalgo  riconaquellaBahya 


--  54S  - 

que  em  Lisboa  se  ofereceu  par^  a  impresa  vensendo  o  que 
pirecia  impocibiiidade,  a  fraqueza  corporal  da  convaleseih 
cia  de  huma  larga  e  grande  enfermidade.  Muito  desejou 
levãu*  comsigo  a  Gaspar  de  Brito  $eu  filho  herdeiro  e  casado 
O  que  não  ouye  efeito  por  certo  embaraço.  Parece  que  o 
gO^to  lhe  esforçou  a  natureza,  achando-se  no  mar  com  gran- 
de melhoria  e  depois  em  terra  com  saúde.  Foi  de  muita  im- 
portância sua  presença  porque  serviu  com  seus  criados  com 
dpentos  escravos  de  seus  engenhos,  barcos,  carros  e  bois 
tudo  de  mui  grande  utilidade,  porque  como  em  Espanha 
se  não  tratou  m^is  que  de  oito  canhões  para  a  expugnação, 
para  perto  de  quarenta  que  se  levaram  aos  quartéis  yam 
mui  foltos  de  carros  matos,  cabrilhas  encavalgamentos,  e 
08  mais  petrechos  inescusáveis,  ao  que  se  juntava  pouqiusn 
simos  gastadores  pêra  levar  artilheria,  monições,  alhanar 
caminhos,  desmontar  bosques,  faltando  quasy  em  tudo  o 
de  que  tinham  informado  a  S.  M.,  e  terem  tão  fracos 
aquelles  negros  e  naturaes  neste  género  de  serviço  que 
quatro,  sinquo  faziam  apenas  o  que  hum  bom  trabalhador. 
Aquella  noite  depois  de  desembarcados  os  fidalgos  sayo  D. 
Manuel  em  sua  falua  reconhecer  a  marinha,  chegando  ao 
pè  da  armada  olandesa,  avisando  ainda  a  volta  a  toda  a 
armada  tivesse  boa  vigia,  estivesse  sobre  huma  ancora 
aboyada  que  largasse  por  mão  pêra  seguir  a  inimiga  fa- 
zendo se  à  vela.  Para  assistir  a  estas  e  outras  ocupações 
se  discreptou  de  toda  as  outras  transferindo  em  D. 
Francisco  de  Moura  toda  a  jurisdição  que  S-  M.  lhe  dava 
em  terra  e  na  gente  que  melitava  debaixo  da  sua  bandeira. 
Hyam-se  ajuntando  aos  quartéis,  comessavam  a  ordenar 
suas  barracas  a  quem  não  coube  casa  de  alojamento.  Tal 
foy  a  apreenção  que  se  fez  de  que  por  nenhum  caso 
^yria  o  inimigo  que  todos  se  chegaram  à  cidade  sem 


—  518  — 

modo  de  valados,  ou  trincheiras,  sem  disposição  de  portas 
ou  sentinelas,  sendo  asy  que  o  inimigo  se  não  descuidafSi, 
disparando  prodigamente  a  artilharia  sentindo  que  se  lhe 
chegavam.  Esta  apreenção  tenho  por  causa  principal  do 
ruim  successo  de  dois  de  Abril  no  quartel  de  S.  Bento, 
desgraça  para  todo  o  tempo  notável,  em  principio  da  im- 
presa  de  muito  ruim  pronostico,  e  mayor  consideração, 
ocupada  a  mayor  parte  da  gente  em  sobir  a  artilheria,  es- 
tava a  outra  em  descuido  qual  poderia  ter  em  suas  casas,  e 
porque  a  calma  daquellas  partes  é  grande,  e  aquelle  dia  se 
dava  a  sentir  mais  pelo  cansaso  com  que  tinham  chegado 
se  começaram  a  despir  descuidando-se das  armas.  Não  perdeu 
a  ocasião  o  inimigo;  fez  huma  sortida  que  pareseo  de 
cento  e  cincoenta  mosqueteiros  por  baixo  da  porta  de 
Santa  Lusía,  e  rua  que  vae  para  S.  Bento.  Comessaram  a  de« 
golar  sem  aver  violência.  O  mestre  de  campo  D.  Pedro 
Ozorio  como  era  valente  fidalgo,  soldado  velho,  os  investiu 
com  huma  cana  na  mão  dando  voses  aos  seus  animando-os 
com  resolução  digna  de  seus  avos.  Acodio  o  mestre  de 
campo  general  da  quem  a  idade  não  demenuya  o  animo 
se  bem  as  forças.  Diogo  Rodrigues,  e  Pedro  Corrêa  da 
Gama  sargento  menor  do  terço  de  D.  Francisco  de  Al- 
meida valentes  soldados  de  Flandres  se  mo^ravam  com 
valor  notável.  D.  Francisco  de  Faro  como  estava  em 
AJmilha  de  lenço  branco  tomando  a  peça  nas  mãos  com 
que  foy  exemplo  a  quatorze  ou  quinze  que  o  seguiram*  e 
com  o  capitão  D.  João  de  Ouviria  moço  valente  e  de  gentis 
partes  que  assistio  com  os  mosqueteiros  que  achou  de 
morrões  acesos  se  oppoz  ao  impeto  do  inimigo  e  o  susteve. 
O  capitão  Lourenço  de  Brito  que  fora  aly  mandado  asistir 
COO)  sua  companhia  como  pratico  daquelles  postos,  e  tinha 
na  rua  por  onde  passavam  o  seu  corpo  de  guarda  se 


—  514  — 

portoa  naquelle  aperto  como  valente  soldado:  dada  sun 
carga  se  recolheu  o  inimigo  até  nisto  acordado  porque 
levou  nos  espanhoes  que  o  segiam  até  os  meterem  debaixcv 
da  sua  artilheria,  descobertos  e  de  mui  perto.  Dos  reparos 
junto  a  porta  os  receberam  com  muitas  balas  de  mosquete^ 
e  da  porta  que  se  abrio  para  recolhei'  os  seus,  com  seme- 
Ihlnte  carga  de  artilheria  meuda  cargada  com  lanternas,  e 
pedaços  de  ferro  com  que  fizera  grande  destroso.  O  Gapitáo. 
Lais  da  Gama  portuguezes  se  asinalou  notavelmente,  e  nãa 
menos  Simio  de  Vianna  alferes  da  companhia  de  D.  Francisco 
de  Almeida,  e  Francisco  Carrilho  pardo  decôr,  mui  valente 
soldado  se  adiantoumuitocom  grande  valor  com  que  ahyfoy 
morto  como  os  dois  que  sendo  nomeados  acharam  aly 
Úuarte  Rebello,  António  Rebello  e  Jo5o  de  Sousa  filho  deO 
provedor  das  armadas  navaes  do  Algarve;  feriram  António 
Rebello  levemente  e  a  Joáo  de  Sousa  de  hum  mosquetaça 
de  que  cayo  e  o  tiverampor  morto,  chegou  Duarte  Rebello 
e  ouvindo  esta  nova  passou  adiante  sem  parar  com  grande 
pressa  dizendo  aos  que  ficavam  que  o  encomendase  a  dois 
foy  desigualissima  a  perda  de  D.  Pedro  Ozorio,  morto  de 
hum  balaso  pessoa  da  mais  principaes  de  todo  o  exercito, 
por  nobreza,  por  valor,  por  experiência  deixando  geral- 
mente sentimento  notável  como  mercse  em  semelhantes 
ocasiões  a  perda  de  tantas  partes,  e  calidades.  O  habito  de 
S.  Francisco  de  quem  se  não  esperáo  vanlentias  sublimavam 
mais  a  do  pa  !re  frei  {**)  confessor  e  cotinuo  companheira 
do  Marques  de  Cropani  que  com  grande  constância  se  an- 
dava metendo  aonde  era  mayor  o  aperto,  e  confusão. 
Morreo  neste  confiito  D.   Francisco  Manuel  do   babito  do 

(*)    Não  traz  o  nome  o  original. 

(**)    Falur  i^almeote  o  nome  no  manuscripto  d'ondc  se  eslrahta 
esta  copia. 


-  545  - 

8.  Joáo  capiláo  de  infanteria  do  terço  de  D.  Fran- 
cisco Ozorio.  Foram  feridos  D.  AIodso  da  Gama  capitão 
de  picas  sobrinho  do  almirante  D.  Alonso  de  Moxica  e 
morreu  ao  terceiro  dia.  D.  Pedro  de  S.  Estevam  capitão 
de  arcabuzeiros  sobrinho  do  mestre  de  Campo  general  que 
morreo  brevemente  da  ferida  Feriram  com  um  mosquetaço 
na  mão  direita  ao  capitão  D.  Henrique  de  Alagon  fidalgo 
moço  de  gran  calidade,  que  estava  com  os  de  vanguardia. 
Os  capitães  Diogo  de  Espinosa.  D.  Diogo  de  Bamires  de 
Maro,  fidalgo  rico  visinho  de  Madrid,  D.  Diogo  de  Gusmão 
filho  de  D.  Pedro  de  Gusmão  Erdado,  sobrinho  do  patriaca 
arcebispo  de  Sevilha,  D.  Diogo  de  Malva,  e  outros  muitos 
soldados  contando-se  entre  mortos  e  feridos  cento  e  no- 
venta e  cinco  pessoas.  Alguns  pelas  espaldes  com  rumor 
que  os  espanhoes  visinhos  que  acudiratp  tarde  atiravam  de 
longe  06  matavam.  Os  Olandezes  fizeram  sua  facção  em 
trassa,  talor  e  sem  custo.  Hum  faltou  que  D.  Francisco  de 
iFaro  amarrou  e  entregou  amarrado  Melhor  sorte  foi  Deus 
èervido  dar  a  Espanha  nos  meos  e  nos  fins.  Daly  por  diante 
se  passavam  com  mais  recato  senão  foi  alguma  ora  a  cautela 
demasiada.  Contam-se  de  uns  rozins  que  huma  noite  se 
soltaram  e  de  hum  boy  por  outra  vez  que  fizeram  reparar 
A  alguns  com  a  imaginação  da  sortida  passada.  Aquella 
hoite  desampararam  os  rebeldes  o  forte  Tapagipe  deixando 
Uguma  pólvora  e  monições,  e  algumas  peças  de  artilheria 
áé  que  logo  correo  fama  ávida  por  certa  que  fora  treta  pêra 
^r  os  nossos  que  o  fossem  ocupar  deixando  no  meo  da 
bfaçahuma  abobeda  cheade  pólvora  hum  morrão  aceso  com 
jnedida  proporcionada  ao  tempo  que  terminaram  pêra  o 
lUcendio,  que  a  isto  acudira  Deus  por  meo  de  hum  soldado 

?ue  arrojando-se  anticipadamente  apagou  o  morrão.  Enca- 
bfcimento  como  os  demais.  Tínhamos  Olandezes  feito 


^  ft46  - 

qaellá  abobeda,  como  tudo  o  mais,  mui  a  propósito  parSi 
conservar  sua  pólvora  enxuta,  era  forrada  de  taboado  bem 
coberta  com  um  quartel  que  a  defendia  das  injurias  do 
tempo,  e  de  bombas,  ou  granadas  se  inimigo  lhe  lanrase. 
Na  mesma  noite  ja  bem  tarde  levou  Chritováo  de  Mendoça 
a  D.  Manuel,  huma  carta  de  D.  Fadrique  em  que  dizia  que 
havia  dois  dias  que  estava  tam  junto  ao  inimigo  daquella 
parte  do  Carmo  que  a  mosqueteria  passava  pelas  cabeça 
sem  ter  com  que  se  cobrir,  o  que  não  se  pondo  em  efeito 
aquella  noite  seria  mui  danoso ;  pedia  que  logo  lhe  man- 
dasse todas  as  chalupas  que  podesse  carregadas  de  pás, 
enxadas,  picos,  machados,  fouces,  esportas ;  que  se  não  deti- 
vessem senão  que  logo  que  huma  que  podesse,  se  desse  preça 
em  chegar,  que  o  inimigo  era  soldado  e  bem  o  mostrava» 
mas  que  esperava  em  Deos  que  avia  de  pagar  seu  pecado. 
Foy  a  pressa  conforme  a  necessidade.  Na  mesma  noite  em 
breve  espaço  foy  da  quelles  petrechos  grandes  cantidade  ôe 
carpinteiros  juntamente  pêra  os  encavar.  Desembarcou  tudo 
em  Agua  dos  Meninos  aonde  estavam  duzentos  soldados 
de  guarda.  Já  estava  reconhecido  quanto  se  enganavam  os 
dos  assaltos,  he  mostrar  despreso  do  inimigo  cousa  danosis. 
sima  na  guerra  ainda  que  os  inimigos  não  fosse  Olandeses 
gente  de  valor  como   tem  mostrado.  Dizia-se  depois  que 
em  estado  esteve  a  gente   desaquartelada  que  se  o  inimigo 
se  resolvera  a  outra  sortida  poria  tudo  em  grande  risca ; 
o  que  não  pôde  negar  he  que  fora  peor  a  tarde  que  o  meo 
dia  em  que  a  sortida  se  fez  se  quando  os  primeiros  se  reco- 
lheram sayssem  duzentos  de  refresco  pela  mesma  porta 
com  grande  defeculdade  se  salvariam  as  bandeiras  que 
estavam  juntas  mas  sem  ordem  de  frente  nem  valado. 
Tal  foy  a  desordem  daquella  ora  que  dizia  o  Marques  de 
Cropani  (segundo  se  conta)  que  muitos  dos  capitães  que  aly 


—  Sàl  - 

estavam  eram  indignos  de  guineta  por  falia,  e  desacordo 
que  sentio.  Hyase  aquartelando  o  exercito  pela  parte  do 
Carmo,  e  S*  Bento  cora  grande  cuidado  e  deligencia  mos- 
trava-se  natural  fervor  nos  senhores  e  fidalgos  portuguezes 
no  cortar  e  levar  as  costas  a  faxina,  e  mâyor  nos  que 
foram  criados  com  mais  regalo.  Estenderam-se  ramos  de 
trincheiras visínhas  ao  inimigo,  ordenaram-se  plataformas. 
Lusia  muito  o  trabalho  nas  mãos  do  terço  de  Nápoles  em 
que  se  não  havia  mais  de  mil  quatrocentos  e  cincoenta 
(ficavam  os  mais  na  armada)  todos  mancebos  nos  annos 
eram  soldados  velhos  relíquia  do  terço  do  valente  mestre  de 
campo  Carlos  Spineli,  cujo  sobrinho  emitador  era  o  Marques 
deTorrecusso  que  os  governava.  Deram-se  tal  preça  que  a 
sinquo  de  Abril  alarde  comessaram  bater  a  cidade  da  pri- 
meira plataforma  que  fizeram  na  faxalda  do  monte  de  S. 
Bento  descoberta  ao  mar.  Pela  parte  de  terra  se  apertava 
o  sitio,  e  no  mar  era  grande  a  competência  a  quem  mais 
se  chegaria  ã  armada  inimiga,  e  por  atalhar  excessos 
asentaram  os  generaes  D.  João  Fajardo  e  D.  Manuel  de 
Menezes  se  coroase  dos  navios  de  mais  força  de  fora  em 
outra  grinalda  mais  espalhada  ficasse  os  inferiores  resolutos 
a  alarse  por  espias  para  dar  carga  ao  inimigo,  e  dada 
virar  sobre  suas  ancoras  ocupando  o  primeiro  posto. 
Muita  artilheria  fugou  naquella  tarde  dos  navios  e  forte 
novo,  muitas  mais  balas  lhe  tiraram  os  espanhoes  foy 
para  ver  e  retratar  a  ordem  em  que  tudo  estava :  diante 
as  cappitanas  reaes  de  Castella, Portugal  e  estreito,  e  a  de 
Nápoles,  a  de  quatro  vilhas  e  suas  almirantas,  e  outros 
navios  de  gram  força,  a  de  Biscaya  com  seu  general 
Martim  de  Valhesilha,  estavam  outros  dois  navios  de  guarda 
na  porta  de  S.  António  para  fazer  sinal  se  visse  a  armada 
de  socorro.  Tendo  prevenido  tudo  D.  Fadrique  como 
Outubro  7Q 


—  Ô48  — 

general  de  l.mta  experiencii,    e  valor  sobre  sim  grande 
calidade;  como  estavam  os  n ivos  perto  fio  inimigo  faziam 
circumferencia  pequena  em  qae  pelos  mares  se  ajuntavam 
demasiadamente,  asy  acontece  i  aquelh  tarde   ficar  quasy 
embaraçadas  as  três  roes.    Avia  onlem  precisa  que  to  las 
as  noites  fossem  de  guarda  algumas  chalipis  da  armada  a 
reconhecer  os  navios  ohmleses  se  avia  nelle^  movimento 
para  se  escaparem.  Logo  a  primeira  noite  prevenindo  as 
faluas  se  fizeram  a  vela  dois  navios  aven  lo  precedido  des- 
parar-se  alguma  artilheria  sem  balas  seria  para  levantar^ 
fumo  com   que  as   velas  se    encobrissem.    O    vento  era 
leste  que  as  trasia  em  p.^pa  pêra  as  eappitanas  que  es- 
tavam naquelle  estado.  L'>go  que   se   viram   se  advertio 
seriam  as   de  fogo  que   ellas   não    encobriram  tirando 
bombas,  e  coetes  e  asendendo-se  imediatamente  fizeram 
notável  aparência  de  fumara  la  negra  espessa  e  lavaredas 
grandes  por  entre  ella.  Com  tal  vento  e  boas  velas  se 
chegaram  tão  depressa  que  eslm  lo  tudo  prevenido,  an- 
coras aboyadas  para  hrgar,  correram  risco  a  de  Portugal, 
e  a  do  Estreito  e  mayor  sfias  alinirantas.    Jorqe  Mexia  se 
vio   quasy  abordado,  e  mal  to  mais   Roque  Senteno  almi- 
rantes, fizeram-se  to  los  a  vela  o  a  todos   pareceu  tarde 
posto  que  eslavam  a  p  )nio  que  não  havia  mais  que  des- 
fraldar t  raquete,  e  cassar  escotas.    D.   Manuel  se  vio  em 
grande  aperto  pela  doença  de  (íouvea  mestre  da  cappitana, 
posto  que  asy  acu«lio  com  gran  lo   resolução  animan>!o  a 
muitos.  Alguns  marinheiros  dos  Bonés  tinham  saydo  sem 
licença  a  sombra  d  )s  fidalgos  cujas  de:^penças  tinham  a 
cargo.  Dos   inorantes  avian  muitos  que  apresentavam  a 
confusão  uma  e  outra  gente  de  mar  e  guerra  e  embarcava 
feem  aver  offlcial  que  acudisse  a   a-uoí^trar-lhes  os  cabos 
com  que  $e  avia  de  marear  mostrando  os  soldados  do  terço 


mui  grande  Jesejo  de  asertar  em  tudo.  1).  Manuel  acudia 
sem  poder  a  tudo.  Pessoas  ouve  q  le  se  deitavam  ao  mar 
nas  chalapas  e  canoas  que  tinham  a  bordo,  outras  acodiam 
às  portinholas   baixas  *  p?r:i  se  deitarem;    foy  o  aperto 
como  se  po  le  imaginar.  O  navio  se  fez  na  volta   de  no- 
roeste  c  logo  ao  norte  sempre  com  a  senda  na  máo. 
Acudiram  os  capitães  Diogo  de  Varajão.  e Cosmo  doCouto, 
a  este  encarreg  )u  D.  Man  icl  fosse  ao  navio  de  fogo  que 
par^^xia  vinha  seguindo,  elho  cortasse  a  falua  que  costumam 
trazer  para  se  salvar  i}uem  g  »vei  na  emquanto  o  fogo  não 
esperta;  peru  o  acompanhar  ouve  grande   competência 
entre  s  )ldad  )s  do  terro  (piorend )  cada  um  ser  o  primeiro. 
Com  1  vio  quo  o  incêndio  tiniia  decimado  na  maior  força, 
mandou  voltar  sobre  clle,  e  vi»nd'j  tudo  abrasado  acudiu  a 
tomar  o  passo  aos  navios  olanJezcs  se  acaso  fosse  aquelle 
ardid  p^ra  se  fazer  a  vela  ;  o  achando  tudo  quieto  ocupou 
seu  posto,  e  pela  manhã  estava  sobre  a  ancora  que  deixava 
aboyada.  Os  mais  navios  amanheceram  desviados  alguns 
mui  longe  que  a  tudo  do  lugar  a  vasta  capacidade  da  fer- 
mosa  Bahya.  Considerou-se  a  desgraça  do  inimigo,  não 
digo  no  efeito  que  náo  surtiram  seus  navios,  porque  ver- 
dadeiramente defecultoso  será  de  conseguir  cm  bahya  tão 
larga,  em  que  a  corrente  da  maré  náo  ajudava  contra  os 
principais  que  pretendia  consumir  mas  de  não  c^^ir  em 
conta  tam  aohaJa  com»)  esperar  qaoos  navios  se  chegassem 
mais  e  eil  »s  fazend  >  pedaços  cada  dia  sem  dano  seu  consi- 
derável, pela  diferença  que  vai  de  bater  de  plataforma,  e 
ser  batido  de  navios,  e  sempre  lhe  ficava  lugar  se  visem 
sesud  )s  osEspanhoesemnâo  ensestir  (do  que  duvido  muito 
que  fosse)  de  largar  o  vento  ás  velas  de  seus  navios  de  fogo 
Não  foy  este  o  may(3r  trabalho  que  D.  Manuel  padeceu  es- 
tando em  sua  capitana  com  poucos  que  o  podessem  ajudai" 


—  550  — 

posto  que  foy  mais  intenço.  Porque  se  fosse  necessário 
acodir  combastimentos  e  vinho  a  gente  de  terra  nem  tinha 
officiaes  nem  barcos  que  os  levasem  estando  os  dos  engenhos 
rotos,  metidos  pelos  esteiros,  e  os  que  avia  de  serviço  ofe- 
recidos por  seus  donos  a  D.  Fadrique,  outros  tomados  por 
seus  oíQciaes/  ou  de  D.  João  Fajardo  para  desembarcar  a 
artilheria,  petrechos,  munições,  vigas,  barrotes,  tabões 
para  esplanadas,  immensídade  de  taboas  pêra  almaseis,  e 
barracas.  Deixada  esta  deficuldade  não  tinha  oíliciaes  que 
na  praia  o  recebesem,  almaseis  em  que  os  recolhessem, 
quem  os  levase  aos  quartéis,  quem  os  destribuise,  sendo 
necessário  para  isto  muitos  ofliciaesquena  armada  não  avia 
nem  pessoas  de  talento  para  semelhante  negocio.  Era  ne- 
cessário que  o  auditor  geral  fizesse  com  o  seu  oíBcio  o  de 
provedor  mor  das  armadas  o  exercito  e  dos  pretrechos  que 
eram  muitos,  de  veedor  general;  de  tenodor  debastimentos 
e  despenseiro  hum  soldado  que  era  escrivão  da  nao,  ordi- 
nário em  todos  os  navios  para  asistir  as  resois,  porque 
mostrou  deficiência ;  fazia  juntamente  o  oificio  de  escrivão 
do  auditor,  e  do  officio  do  provedor.  E  sendo  impocivel 
cada  um  acudir  a  tanto,  nema  mayor  parte  tudoseesperdi- 
çava.  Fizeram  muitos  sacos  de  lona  gistando-se  nisso  as 
morretas.  e  vellas  velhas.  Estes  so  um  carrinho  faziam 
porque  em  chegando  cada  hum  sargento  levava  os  que  que^ 
ria  e  nunca  mais  tornavam.  Ordenouse  levar  o  vinho 
em  botijas  porque  não  acudiam  carros  ao  serviço  áa, 
coroa  de  Portugal,  nem  avia  mais  comodidade  do  que 
se  fora  de  Olanda.  Estas  tiveram  o  mesmo  fim;  tudo  se 
repartia  avontade  dos  sargentos,  e  ainda  dos  inferio- 
res sem  mais  limites  nas  resoes  que  o  que  sua  boca  pro- 
nunciava, nenhuma  vedoria,  nenhuma  contadoria,  nenhuma 
Qrdem.   Acoi]^tesia  chalupas  irem  carregadas  de  biscoufo 


—  551  — 

estar  dois  dias  na  praya  sem  aver,  como  estava  consertado, 
quem  dos  quartéis  desse  ordem  para  se  tirar  e  molhando-se 
iicar  inútil  pêra  se  levar.  Em  faltando  tudo  era  queixas  a 
D.  Fadrique   culpando  D.  Manuel;   avia  cartas  e  respostas 
de  que  se  colegia  a  boa  fidalguia  de  aquelle  e  desejo  de' 
acomodar  tudo,  e  a  verdade   deste  posta  em  campo  contra 
as  injustas   culpas  causadas  pela  ausência.  Diziam  que 
mandasem  officiaes  assistentes  em  cada  quartel  y  outros  de 
pluma  para  que   la  gente  tuviese  sus  raciones  y  no  las 
llevase  demasyadas.  Respondia  que  em  Portugal  e  suas 
armadas  não  avia  mais  pluma  que  a  de  hum  escrivão  para 
fazerem  descargas  dos   navios  cada  hum  no  seu,  hum  só 
despenseiro  hum  olheiro  que  na  cappitana  era  o  general, 
em  cada  navio  hum  capitão  que  naquella  ocasião  estava  em 
terra.  Pedia -lhe  fizesse  mercê  de  não  crer  acusações  por- 
que em  outra  cousa  não  trabalhava  que  em  mandar  basti- 
mentos,  o  que  bem  se  vio  pois  quando  chegou  o  biscouto 
em  sacos,   como  sempre  avia  receios  que  não  fortasem,  e 
vinho  em  botijas  ao  qqartel  do  Carmo  não  avia  Ia  outro,  e 
delle  comeram  e  beberam  Castelhanos  e  Portuguezes;  de 
mandar  também  que  do  que  avia  para  huns  se  provesem 
^odos  e  iria  acudindo  por  todos  os  modos  que  achase.  Desta 
maneira  se  concluyo,  como  se  vô  nas  palavras  seguintes  de 
de  uma  carta  de  seis  de  Abril.  Tengo  lastima  a  V.  S.*  de  la 
poça  ajuda  con  que  se  alia  de  ministros  y  oflQciales  y  sin 
ellos  neguna  con  se  puede  executar  ny  abreviar  porque 
alia  hade  aver  quien  despache,  y  aqui  quien  receba  he  tra- 
tado que  el  tenedor  de  bastimentos  dei  armada  que  se  halla 
aqui  en  tierra  recibe  todo  cuanto  V,  S."  Iheenbiar.  Sy  V.  S.' 
gostar  dello  con  que  tendra  V.  S.*  descanso,  y  la  hacienda 
buen  paradero  porque  el  recebir  y  entregar  se  hace  con 
cuenta  y  razon . . . .  Yo  he  mandado  que  do  que  aqua  tubie- 


^  55i  — 

remos  se  reparta Satisfeitas  ficavam  com  isto  o& 

daquelle  quartel.  D.  Manuel  conhecendo  o  enleo  dando-so 
por  vencido  calava,  conhecendo  que  náo  avia  tomar  mostra 
(le  gente,   nem  baixa  de  reçoes  dos  ausentes   que  eram 
'muitos,  espalhados  alguns  pelos  engenhos,  outros  quecon 
tava  na  tomarem  reção,  E  contanlo  se  naquelle  quartel  mil 
quinhentos  c  quarenta  c  oito  reçoes,  avia  queixas  de  que 
ora  menor  o  numero  da  gente.  Valiam-se  das  ordens  de 
Castella  na  medida  e  nas  reçoes  mostras  contra  o  regimento 
de  Portugal.  Emfim  asy  se  foy  passando  entre  apertos  e 
liberalidade.  Verdadeiro  é  o  encarecimento  do  engenho  da 
necessidade.  Veo  com  óculo  huma  ceada  apagada  que  ape- 
nas aparecia  huma  parte  delia  por  entre  a  rama  que  veste 
a  montanha,  sobre  que  está  o  mosteiro  de  S.  Bento,  pare- 
sei-lhe  seria  caminho  antigo  que  baixase  a  marinha  por 
onde  se  poderia  communicar  com  grande  comodidade  coma 
armada  aquelle  quartel.  Dando  conta  a  D.  João  Fajardo  re- 
conheceram o  citio  a  sinquD  de  Abril,  Epor  entre  o  bosque 
seguiram  ao  quartel  a  visitar  os  amigos  pos  que  com  grande 
trabalho  porque  a  send.i  não  passava  do  meo  do  caminho  (em 
que  avia  pedreira  velh:i)  começando  do  alto  Comtudo  se  re- 
solveram ao  trnbilho  porque  em  voltis  parece  se  podia  su- 
bir com  bastimentos  que  \mm  p^r  S.  António  huma  légua 
de  mar  outra  de  terra  por  mãos  caminho  Puzeram  se  as  mãos 
da  gente  bicnynha  adosm  mtar,  rossare  csplanar,  foyse  mos- 
trando o  caminho  airoso  coberto  de  huma  e  outra  parto  de 
frondoso  arvored).  Foi  ^oces^ario  em  algum  logar  cortar 
eminências,  e  n'outro  encher  os  baixos,  atravessar  outro 
com  vigotas,  c  faxina  com  que  udo  ficou  de  maneira  que  se 
esperou:  mais  do  q  le  de  antes  se  pretendia.  Pareceu  que 
por  elle  subiria  a  artilheria  para  o  quart- 1  de  S.  Bento, 
Vieram  engenheiros  acharam  defeculdade  (trabalho  per- 


-•  »53  — 

(lido  lhe  chamavam)  na  subida  na  desembircaçáo  impocí* 
bilidades.  Afastararase  penedos  com  facilidade,  cortouso 
outro  pedaço  de  caminho  desmontadose  bosque  por  onda 
pedesse  voltar  a  artilheria  em  cavalgada  ;  fese  uma  caleta 
por  onde  os  bate'õis  as  deitavam  em  terra.  Mostrou  o 
effeito  o  acerto  da  traça  porque  em  menos  de  ora  e  moa  se 
punham  em  cima  peças  de  vinte  e  sinquo  libras,  com  pressa 
notável  subiam  as  munições  e  bastimento.  À  facilidade  de 
tudo  dobrava  o  gosto  de  servir.  Neste  trabalho  se  avantajou 
muito  o  governador  Francisco  de  Valhesilha,  valente  sol- 
dado e  pratico  marinheiro,  irmão  do  general  Martim  do 
Valhesilha.  Pela  parte  do  norte  subia  a  artilheria  da  praya 
da  Agua  dos  meninos  com  mayor  trabalho,  mas  supria  tudo 
á  asistencía  do  general  D.  Francisco  de  Azevedo,  que  pondo 
âs  mãos  a  tudo  molhado  e  enlodado  dava  exemplo  a  quo 
nenhum  se  escusase.  Com  a  facilidade  qae  se  vio  do  porto 
a  que  chamaram  Novo,  nome  que  parece  lho  ficara  eterna- 
mente, ordenaram  que  por  elle  subisse  a  artilheria  para  o 
quartel  do  Carmo,  por  um  atalho  que  se  descobrio  por  onde 
se  comunicavam  os  quartéis.  A  seis  de  Abril  a  tarde  foi  fe« 
rido  Martim  Afonso  de  Oliveira  senhor  do  morgado  daquelle 
nome  no  quartel  do  Carmo  de  huma  bala  de  artilheria  do 
que  morreu  dentro  do  vinte  horas  passadas  com  grande 
constância  entre  terríveis  dores  por  lhe  averem  por  boa 
cora  (que  por  o  surugiáo  mor  da  armada  do  Portugal  que 
depois  chegou  por  reprovada)  serrada  a  perna  caso  verda- 
deiramente se  ha  outro  lastimoso.  Porque  nem  foi  entrin- 
cheirado nem  em  conflito  de  guerra  mas  asentado  em  casa 
do  Conde  de  S.  João  seu  cunhado  como  posto  a  cavallo 
sobre  o  peitoril  de  huma  janella,  ao  parecer  de  todos  mui 
longe  de  tal  perigo.  Dísiam  fora  a  bala  resortida  da  parede 
fronteira  outros  considerando  o  sitio  e  achando  isto  impo- 


^  6S4  — 

cíTel  afirmavam  ser  tirada  com  certa  elevação,  mas  com  nio 
ouVe  outras  disiam  devia  de  chegar  que  brada  a  força  pas^ 
sando  paredes  e  dando  por  alguns  telhados.  Era  este  fi- 
dalgo  de  honrado  valor;  e  como  erdado  de  sua  casa  desde 
menino,  e  casado  em  mancebo  não  servia.  Mas  a  affeição 
ao  serviço  de  S.  M.  se  encobre  mal  em  peitos  generosos. 
Sérvio  depois  em  muitas  ocasiões  dando-se  grandissima 
pressa  como  pesoroso  do  tempo  perdido,  e  temeroso  da 
brevidade  do  futuro.  Embarcoa-se  nesta  jornada  afírman- 
do-lhe  os  surugiões  que  se  arriscava  muito  por  certo 
achaque  de  qual  actualmente  se  curava.  Fugio  do  pronostico 
burlesco  de  hum  amigo  que  sempre  lhe  disia,  vendo  o 
afeiçoado  as  armadas,  que  não  queria  senão  morrer  afogado, 
e  nio  da  morte  (contingências  do  tempo)  que  nellas  foi 
buscar.  S.  M.  o  honrou  muito  nas  palavras  com  que  ma- 
nifestou o  sentimento  de  sua  morte  a  sua  mulher,  pessoa 
de  muita  calydade,  irmãa  do  Conde  Sortella.  E  o  Conde 
Duque  com  outros  de  igual  sentimento,  e  lembrança  de 
satisfação  com  que  S.  M.  por  seus  reaes  olhos  com  mercês 
naquella  casa.  O  dia  seguinte  chegou  Lourenço  Cavalcante 
de  Albuquerque  do  morro  de  S.  Paulo  avendo-se  retirado 
a  huma  abra  seis  léguas  pêra  o  sul  em  hum  navio  grande 
com  quatorze  peças  de  artilharia  aprestado  em  Pernambuco 
por  ordem  de  S.  M.  pelo  governador  seu  parente.  Acom- 
panhavam no  aventureiro,  mui  lusidos  huns  a  sua  própria 
custa,  outros  a  do  capitão :  aquella  parte  se  tinha  retirado 
de  huma  briga  que  tivera  vindo  para  entrar  na  Bahya  com 
hum  patacho  olandez,  segundo  disia  de  dezoito  peças  de 
que  ficava  destrossado.  Continuava-se  da  plataforma  dos 
italianos  a  bateria  da  cidade  com  quatro  meos  canhões  ea 
da  armada  inimiga  do  quartel  do  Carmo  com  seis  de  que 
comessaram  sentir  o  dano  alguns  navios  em  alguns  paos. 


e  obras  mortas,  estes  desemalavam  com  muitas  bandeiras 
galhardetes,  e  qaízeram  atalhar,  e  atalharam  plantando 
algumas  peças  em  hama  emínencii»  junto  ao  coUegioda 
companhia  com  que  feriram  e  mataram  alguns  edestrairam. 
algumas  peças.  Durou  a  períia  poucos  dias,  porque  ma-^ 
tando  hmncabo  que  asestia  a  plataforma  ficou  desemparadái 
A  cappitana  olandesa  que  ficava  como  alvo  de  todas  as  balas- 
sentio  o  mayor  dano,  entrando-lhei  a  agua  pela  rotura  das- 
balas  assentou  a  proa  e  fioon  direita^  e  inteira  naaparencia^ 
Consideravam  os  práticos  a  necessidade  de  engenheiros, 
por  ser  aquella  plataforma  feita  em  lugar  mui  alto  donde» 
se  tirava  aos  navios  compendio  qoasy  de  mea  esquadria 
podendo  ser  quão  baixa  quizesse  e  ficar  excelente.  E  bem: 
seria  que  a  tudo  dava  a  mayor  pressa  pelo  temor  do  tempo 
tão  entrado.  A  esplanada  fora  pouco  funda  com  que  ficou 
com  mui  fraca  espalda  decoberta  ao    inimigo.  A  novd 
daquelle  mes  fugio  pêra  o  exercito  hum  francez  que  enca-^ 
receu  o  dano  que  da  parte  de  S.  Bento  se  faria  na  cidade, 
derrubando  todas  as  defenças,  arruinando  as  paredes  que 
as  balas  achavam  diante.  Que  avia  entre  as  nações  Ing^ezesvi 
Franceses,  Allemães,  Flamengos  descobertas  desavenças 
não  sé  fiando  hans  dos  outros.  Que  no  campo  e  armada 
não  havia  que  temer  se  não  algum  navio  de  fogo.  Que  tinha 
pólvora,  munições  e  bastímentos  pêra  seis  meses.  Di  Fa»* 
drique  se  cansava  muito  parecendo-lhe  que  corria  com 
varar  o  sitio,  considerado  o  inverno  visinho,  e  o  tempo 
limitado  de  monsão  pêra  a  volta  de  Espanha.  Entendeu 
que  aprestar  muito  e   com  muita  brevidade  curava  tudo,! 
(piiz  ocupar  outro  posto  muito  a  propósito,  junto  à  fonte 
nova,  que  chamaram  das  palmas  por  algumas  que^ly  aviaj 
Encaregado  disto  o  mestre  de  campo  D.  João  de  Orellana 
pedio  mil  e  quinhentos  homens^  sobre  o  que  D-  Fadrique 
Outubro  71 


—  K»  - 

escre?eu  a  D.  MaaiwI  que  lhe  respondca  que  pedia  justiça 
IK  Joio.  Avisou  Ioga  D.  João  Fajardo  que  ficando  as  cappi-- 
taas  e  ainurautas  com  sua  infanteria  tirasse  dos  outros 
navios  daquella  coroa  mil  homens  e  que  ficasse  com  a  gente 
do  mar»  e  de  guerra  a  que  podesse.  D.  ioúo  dando  conta 
disto  a  D.  Manuel  lhe  pedío  socorro  de  duzentos  homens,  o 
qual  consyderando  a  pouquíssima  gente  de  alguns  naviose, 
a  importância  daquelle  posto  tirou  a  infanteria  do  navio  de 
Bento  do  Rego,  e  de  outro  de  Diogo  Ferreira  e  alguma  de 
Santa  Cruz  encheu  o  numero  e  a  enviou  a  ordem  de  seus 
capities.  Do  posto  que  se  ocupou  presentio  o  dano  o 
inimigo  por  lhe  ficar  a  cavaleiro,  e  mui  vi»nho  trabalhou 
por  lhe  pedir  tirando  pêra  aquella  parta  muita  artilheria. 
As  ocupações  de  D.  Fadriqne  eram  mui  grandes  tendo 
assaz  a  que  atender  no  quartel  do  Carmo,  visitando  os 
postos  muitas  vezes  e  reconhecendo  as  forças  do  inimigo, 
pUtaformas  que  levantava,  fortificações  que  fazia  com  tra« 
balho  de  dia  e  de  noite,  e  tendo  em  S*  Bento  o  mestre  de 
campo  general  soldado  velho  de  bastante  experiência  acom* 
panhado  das  pessoas  que  havia  naquelles  terços  descançava 
algum  tanto  nelle,  e  por  ser  a  distancia  grande  de  hum  a 
outro  quartel  não  acudia  a  visital-o.  Terça-feira  13  de 
Abril  avistou  achando-se  com  elie  D.  João  Fajardo,  e  D. 
Manuel  de  Menezes.  Ordenou  que  daly  se  desecem  homens 
com  dois  capitães  pêra  o  pDsto  que  ocupava  (o  que  se 
pode  fazer  com  menos  descomodidade  pela  companhia  de 
Lourenço  Cavalcanti  que  D.  Manuel  mandara  aquelle  quartel 
logo  que  chegou]  que  do  Cirmo  se  deviam  de  dar  três  ou 
quatro  companhias,  com  que  se  prefizesse  os  mil  e  qui- 
nhentos homens.  Não  faltaram  invejosos  que  mudado  o 
nome  chamaram  desunido  a  falta  de  tempo  de  D.  Fadrique. 
Alegavam  o  Marques  Spinela  mui  continuo  nas  visitas  dos 


—  557  - 

quartéis  posto  que  distantes  e  tivesse  tal  pessoa  em  quê 
descauçar  como  a  de  D.  Gonçalo  de  Córdova.  Ajuntavam  a 
isto  o  de  que  fariam  grande  culpa  que  a  armida  ficava  no  u\i 
timo  desamparo,  porque  a  de  Portugal  constava  de  sinquo  ou 
seis  navios  de  força  sendo  os  mais  de  pouca  consyderaçâo  e  na 
de  Castella  não  avia  infanteria  n'outras  que  cappitanas  e  aN 
mirantas  e  nessas  não  mui  sobrada;  que  seria  aparecendo  o 
socorro  que  cada  hora  esperavam?  que  forças  para  o  vencer 
e  porem  fugida?  impedindo-ihe meter  o  socorro  na  cidadel 
Se  avia  de  acodir  a  infanteria  dei.\ando  os  quartéis  e  seus 
postos?  que  oquízessefazercomqae  tempo?  com  que  barcos? 
em  que  prayas  de  mares  brandas  se  aviam  de  embarcar? 
que  resolução  tomariam  os  sitiados  com  a  vista  de  36 
yelas  que  espera  vem  vendo  despejar  os  portos  pêra  socorro 
da  armada  inimiga?  e  outras  queixas  ordinárias  de  inferio- 
res de  que  não  podem  exentarse  os  superiores  ainda  os 
de  taes  procedimentos  como  D.  Fadrique  de  Toledo.  A^ 
que  se  intentava  de  lançar  com  a  jusante  da  maré  huma 
caravela  e  alguns  barcos  com  machinas  de  fogo  costumadas 
pêra  queimar  a  armada  Olandeza  se  mostrou  oposto  D  Manuel 
de  Menezes  dizendo  que  não  chegariam  aos  navios  que  es- 
tavam prevenidos  tudo  tendo  por  trincheiras  buços  velhos 
afundados,  que  estavam  guarnecidos  de  mosquetería  que 
entrava  de  guarda  todas  as  noites,  que  como  tão  espertos 
estarião  com  toda  a  yigia  necessária,  não  seria  mais  que 
dar- lhes  matéria  de  riiso,  e  mostrar  que  não  cayam  os  es- 
panhoes  nestas  e  outras  prevenções  que  estavam  prontas- 
Pareceu  conveniente  que  o  forte  de  S.  António  se  artilhase 
e  presediase.  Pará  isto  tirou  D.  Manuel  da  sua  armada  sete 
peças  de  artilheria  e  com  o  governador  Francisco  de  Valhe- 
silha  subiram  em  o  dia  sinquo,  e  deixaram  em  cavalgadas  e 
com  ellas  o  Condestable  que  tinha  ydo  no  navio  S.  João,  e 


jftínqiK) artilheiros  qae  lhe  assistiam,  e  as  outras  duas  pêra 
se  porem  ao  outro  dia  em  seus  reparos.  No  quartel  de  S* 
Bento  avia  graudes  desgostos  e  desavensas  porque  levando 
D.  Fadríque  comsigo  o  mestre  de  campo  general»  deixara 
ordenado  que  o  Marques  e  D.  Francisco  de  Almeida  gover- 
nasem  alternativamente  (16  Abril)  Queixa  vase  D.  Francisco 
de  sua  desgraça  cabendolheem  sorte  darse  nelle  principio» 
nque  gente  italiana  ou  de  outra  nação  não  estivesem  a  ordem 
da  Espanhola.  To  los  os  soldados  de  Flandres  disiam  que 
nn  intredução  inevitavelmente  guardada  que  nem  hum 
sargento  maior  espanhol  estivesse  à  ordem  de  hum  mestre 
de  campo  estrangeiro.  Escreveu  D.  Manuel  a  D.  Fadriqua 
encarecendQlhe  as  queixas  de  D.  Franeisco,  não  permitise 
S.  S.*  que  hum  fidalgo  português  que  las  cans  e  calydade 
se  queixase  podendo  remediar  con  justiça  clara  e  sem  es- 
cândalo, e  ao  que  se  dizia  entre  os  soldados  quando  D. 
Francisco  pretendeu  desembarcar  em  terra  que  não  era 
mais  que  governador  do  terço  sem  título  de  mestre  de 
campo  tinha  dito  a  S.  S.*  que  com  este  o  tinha  ouvido  no- 
mear a  Ruy  da  Sylva  do  conselho  d'E$tado  veedor  da  fazenda 
de  S.  M.  na  repartição  das  armadas .  Comtudo  não  ouve 
remédio  para  que  isto  se  melhorase  pela  patente  que  faltava 
Tendo  D.  Manuel  de  Menezes  dado  para  o  forte  de  S.  Antó- 
nio a  artilheria  que  podia  escusar  de  sua  armada  pelo  de 
Castella  pretendendo  fazer  junto  da  praya  huma  plataforma 
donde  prometia  fazer  grande  dano  a  armada  inimiga.  Sendo 
aprovado  o  seu  intento  se  lhe  levaram  a  terra  duas  peças 
de  desoito  libras;  fez  para  estas  huma  plataforma  em  mea 
ladeira  do  monte,  afunJandoa  tanto  que  pela  parte  alta  ficava 
huma  pica,  pela  fronteira  espalda  natural  imensa,  pêra  o 
ponente  um  parapeito  para  o  mar  grosissimo  de  tudo  que 
se  afundava  e  de  toda  a  terra  (fao  se  tinha  tirado,  não  só 


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isegura  de  caohâo  mas  fora  de  todo  o  receo»  £  reconhecendo 
outro  posto  mais  a  preposito  por  mais  visinho  90  mari  e  ao 
inimigo  fez  outra  semilbante  em  que  pos  buma  4as  peçaae 
destas  duas  plataformas  se  tirara  com  grande  dano  da  ar« 
mada  inimiga.  Vendo  que  seu  trabalho  da?a  bom  frato 
louvado  de  todos  se  adiantou  mais  de  cem  paços  e  colB0»« 
sou  a  esplanar  e  por  em  ordem  outra  plataforma  que  sendo 
cubicada  por  D.  João  Fajardo  lha  largou  reconhecendo  na 
mesma  ora  outro  posto  adiante  melhorado  aonde,  fez  outva. 
£  considerando  que  o  dano  notável  de  duas  peças  remedi'* 
ava  o  inimigo  acudindo  cóm  pranctes  a  seus  navios  sq  adi*- 
anto  1  tanto  que  sem  dar  grandes  wzes  era  ouvido^âb; 
entre  aqneile  bosque  fez  a  quarta  plataforma  para  dqts 
saíres  pequenos  nem  podia  ir  outras  peças  porque  aviam, 
de  romper  bosques  e  passar  por  despenhaderos»  o  que  coíd 
pequena  carga  poude  pôr  em  efeito  com  muito  trabalho. 
Estes  tiravam  saquinhos  de  balas  de  mosquete  a  hum  redu** 
cto  de  muita  gente  junto  à  praya  da  ponta  do  Siil.  Bem  traba* 
Ihou  o  inimigo  de  estrovar  èata  plataforma  com  mais  força 
que  as  primeiras  fazendo  outra  em  hum  sobrado  dâ  huma 
^asdalta  mui  bem  escorada  aonde  plantaram  quatro  saques, 
com  que  tirando  sempre  faziam  arisoado  o  trabalho  da 
plataforma.  Carregando  aly  com  muita  mosqueteria  oom 
qne mataram  e  feriram  algunsentre  elles  a  Manoel  de  Faria 
mui  bom  soldado  do  terço  que  estava  de  guarda  da  polvo!r| 
falando  com  D.  Manuel»  este  morreu  de  huma  bala  de  hum 
mosquete  que  Ibe  atravessou  as  fontes.  Estava  com  eUa 
Joáo  de  Araújo  seu  irmão  que  vendo  o  outro  m^to  em 
seus  braços  comessou  a  lamentalo.  O  alferes  Ignacio  de 
Mendonça  e  Yasconcellos  governador  da  infanteiia  qne 
cobria  as  plataformas  tomando-o  pelo  braço  disse :  iatonio 
é  tempo  de  chorar  vamos  vingar  a  morte  de  vosso  irmáo» 


lemiftaado  o  Tenabulo  levou  comsigo  os  prfaneíros  que 
adiou,  e  passando  por  tlguma  molesa  que  aly  avia  se  pos 
«m  campanha  rasa,  revestiu  as  trincheiras  e  metendose 
pelo  bosque  com  grande  valor  se  posas  mosquetadas  com 
o  inimigo.  Foy  aquelle  dia  de  grande  confusão  a  huns  e 
grande  desembaraço  a  outros,  que  desemparados  os  postos 
acolheram  seguindo  o  seu  cappitáo.  Achavamse  emGm  com 
as  cargas  dos  sacres  os  navios  desemparados  do  socorro  de 
soa  gente,  e  sussecivamente  comessando  peios  demais 
perto,  comessaram  a  cahir  metendo  as  gáveas  no  mar,  e  se 
o  jogo  durara  mais  tiveram  todos  o  mesmo  íim,  porque 
nrâihum  durava  um  dia  inteiro.  D.  João  Fajardo  visitava 
aquelles  portos  muitas  vezes  e  trabalhava  com  grandissima 
assistência  em  fazer  conduzir  aos  quartéis  artilheria,  e  mo 
nições  acudindo  com  officiaes  carpinteiros  pêra  adereçar 
os  reparos  das  peças  que  quebravam  muitas  vezes,  na  ora 
em  que  se  pediam  ao  general  Martim  de  Yalhesilha  se  devia 
mAw  parte  do  facto  deste  trabalho  porque  em  tudo  se 
achou  sempre  com  D.  Manuel,  ordenando,  mandando  e 
obrando  por  suas  mãos  apontando  com  elle  as  peças  com 
arte  e  valor,  amanhecendo  e  anoitecendo  com  elle  muitas. 
Tezes  nas  plataformas,  aonde  todos  os  dias  acudia  sofrendo 
as  calmas  do  Brazil,  enterrado  nos  baixos  da  plataforma 
Com  elle  se  achou  também  Pedro  Gesar  de  Esa  acompa- 
nhando sem  aver  falta  todos  os  dias  com  o  valor  erdado 
de  seus  avôs.  Não  descansava  Torrecusso  trabalhado  por  se 
chegar  mais  á  cidade  estendendo  os  ramos  das  trincheiras 
ate  hum  bosque  de  larangeiras  aonde  fez  duas  plataformas; 
a  este  posto  chamaram  o  do  Naranyos  pelas  muitas  laran- 
geiras que  aly  cortaram;  na  maior  jugação  huma  camarada 
de  quatro  meos  canhões,  e  na  outra  um  sacre  e  um  meo 
canhão,  com  que  arrasava  tudo  o  oposto  sem  resistência 


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nenhuma.  Desmoronavamse  os  baluartes  rodando  as  pipas 
terraplenadas,  cayam  os  ediíicios  de  pedra  e  cal,  não  avia 
peça  do  inimigo  que  durasse  porque  logo  em  tirando  de 
logar  novo  era  desencavalgada.  E  porque  aqaelle  posto  es- 
tava já  visinhode  S.  Bento  com  os  seus  quatro  centos  eciji- 
cuenta  italianos  que  no  trabalho  pareciam  mil  e  quinhentos 
abrio  hum  ramo  de  trincheira  com  que  se  deu  a  mão  com 
aquelle  posto  que  ocupavam  os  portuguezes.  Considerei 
aquella  industria  e  folguei  de  aprender  a  caminhar  seguro 
das  balas  de  mosquete,  estando  tão  perto  que  chegariam  pis- 
tolas. Em  balde  trabalharia  o  inimigo  se  quizesse  canho- 
neala  pela  grossura  de  pé  em  que  se  fundava  era  também 
metidi  a  fachina  com  a  terra  que  a  fazia  mossica  notavel- 
mente, a  escarpa  mui  bem  ordenada.  Pelo  interior  seu  fossete 
e  banqueta  por  onde  se  passava  seguramente  e  os  mosque* 
teirosfícavam  mui  apreposito,  não  se  fazia  vara  que  logo  se 
não  cobrisse  com  soldado  Toda  hya  guarnecida  de  saquinhos 
de  terra  desencontrados  para  frontaria  e  guarda  de  soldados. 
E  posto  que  esta  é  a  ordem  que  ordinariamente  se  deve 
guardar  nem  sempre  se  faz  a  obra  com  tanta  perfeição. 
Lembra-me  que  em  pé  passava  sem  receyo  dos  italianos 
ao  posto   dos  portuguezes.  O  terço  de  D.  Pedro  Ozoríe 
que  estava  a  cargo  de  D.  João  de  Betrían  seu  sargento 
mayor,  hya-se  por  sua  parte  igualando  quanto  podia  na 
distancia  do  inimigo  com  os  italianos  continuando  com 
snas  trincheiras.  No  posto  de  S.  Bento  que  ocupava  D. 
Francisco  de  Almeida  avia  menos  gente  de  trabalho,  com 
tudo  se  abriam  trincheiras,  com  grande  perigo,  e  se  fez 
huma  plataforma  para  quatro  canhões.  O  posto  das  palmas 
se  ocupou  com  pouco  dano,  ordenando-se  fronte  de  ban- 
deiras. Levantaram-sc  algumas  barracas,  lavrou-se  huma 
trincheira  em  meã  lua,  com  terra  e  fáchina,  que  o  mesmo 


—  5M  — 

fogiillhe  davt;  comèssou^^se  outra  espalda  como  ponta.de: 
diamaote.  Pêra  se  levar  a  artilheria  a  este  posto  avia  muita 
defeculdade  avendo*se  de  atravessar  huma  terra  alagadissa 
por  onde  desaguam  as  aguas  do  lago  que  os  rebeldes  flzeram 
e  rio  cahyr  a  agua  dos  meninos.  Aqui  se  fez  huma  ponte 
de  ^gas  arrancadas  das  casas  aonde  se  achavam  acabando-se 
tudo  brevemente  pelo  trabalho  e  industria  de  Tristão  de 
Mendonça  Furtado  que  a  tomara  à  sua  conta.  Não  iusia 
menos  o  seu  trabalho  em  levar  a  artilheria  para  esta  e 
oatras  partes.  Neste  ponto  matou  huma  bala  de  artilheria 
antes  que  a  sua  se  planta-se  ao  capitão  Diogo  Ferreira  de 
Víanna«  ouja  morte  pelas  consequências  fora  princípio  de 
algws  desgostos  entre  osgeneraes  se  fora  outra  sua  natu- 
reza porque  avendo  pretensor  para  o  gineta  porque  qualquer 
Biodo  que  fosse,  não  achando  outro  se  pedio  a  companhia  a 
D.  Fadrique  contando  se  que  a  prometera.  Foi  D.  Manuel 
avkado  de  que  estava  provida.  Escreveu  a  D.  Fadrique  em 
SQstancia  que  os  officios  e  companhias  que  vagase  na  ar- 
mada e  exercito  de  Portugal  avia  de  prover  conforme  S.  Af . 
^treminara,  mormente  que  a  companhia  não  chegava  a 
Tinte  e  sinquo  soldados  porque  os  aventureiros  que  levava 
estavam  em  terra  desde  o  primeiro  dia  que  comessou  a 
desembarcar  a  gente ;  que  estes  se  podiam  repartir  pelas 
companhias  de  Bento  do  Rego,  e  Constantino  de  Mello  que 
UStava  no  mesmo  estado.  Consydero  em  algum  ocioso, 
visto  rú6  p^der  ser  aqueila  ocasião  e  negociação  em  odío 
de  D.  Manuel  que  o  não  merecia,  se  podia  tanto  o  desejo 
de  avantajar  hum  amigo  que  puzesse  em  risco  a  jurisdição 
dè  Portugal  em  ponto  de  tantas  consequências,  poderá  este 
entremes  picar  mais  por  cahir  sobre  huma  prisão  que  o 
dia  de  antes  fizera  o  auditor  geral  castelhano  pessoa  sezuda, 
de  ca^ydade,  e  boas  letras  mas  nisto  arrojado,  e  não  sem 


—  563  — 

risco  de  D.  Manuel,  como  estava  ocupado  cora  suas  plata- 
formas se  achava  no  mar.  Queixou-se  hum  nestiço  soldado 
de  D.  Francisco  de  Moura  a  D.  Fadrique,  que  hum  mari- 
nheiro lhe  relinha  serto  escravo  e  como  era  necessário 
mostrar  justiça  e  favor  aos  naturaes  particularmente  em 
matéria  de  queixa  de  gente  do  exercito,  mandou  ao  editor 
fizesse  deligencia,  indo  ao  mar  achou  que  eira  da  caravek 
de  Cosme  do  Couto.  Foy  a  cappitana  e  como  não  achou  a 
D.  Manuel,  passou  a  caravela  e  prendeu  o  marinheiro.  O 
capitão  instantemente  apertou  a  remetesse  ao  auditor  geraí 
de  Portugal  que  estava  na  cappitana  aonde  todos  três  tor- 
naram.  O  auditor  que  estava  muito  enfermo  e  o  espirito 
neste  estado  do  corpo  nem  sempre  esta  pronto,  não  acodio 
com  os  brios  de  outro  tempo.  O  marinheiro  foy  levado  e 
preso  em  corpo  de  guarda.  Mas  huma  cousa  e  outra  passou 
bem.  Amateriadejurisdiçõeshe  mui  perigosa,  e  cada  hum 
pretende,  quando  menos,  sustentar  a  sua  e  mais  segura* 
mente  os  de  melhor  fortuna,  e  mal  se]  defendem  os  limites 
próprios  sem  alguma  offensa  dos  confinantes.  Pelo  quartel 
do  Carmo  se  não  tinha  inveja  aos  italianos  porque  estavami 
abertas  muitas  trincheiras,  feita  huma  plataforma  de  seis 
canhões  e  outra  de  quatro  que  se  chamou  de  D.  Fadrique 
por  ser  o  primeiro  que  elegeo  o  posto  donde  se  fez  muitrf 
dano  ao  inimigo,  mas  detinha  o  exercício  da  artilheria: 
delas  ambas  pretendendo  que  todas  as  baterias  se  dessem 
juntas,  em  consideração  que  descarregando  estas  sem  as 
demais  carregaria  aly  toda  a  força  do  inimigo»  que  entre- 
tanto triunfava  bravamente  tjendo  sobre  o  dormitório  dos 
PP.  da  companhia,  e  n'outra  plataforma  junta  oito  péçaff 
que  mataram  e  feriram  muita  gente,  o  que  se  atalhava 
com  tirar  aquella  como  se  vio  que  em  tirando  os  seis 
canhões  e  outro  da  plataforma  donde  se  batiam  primeiro  os 
Outubro  72 


—  56i  - 

oavios  se  fez  tanto  dano  que  sessou  quasi  totalmente  a  arti. 
beria  olandeza ;  e  a  morte  dos  espanhões  daquelle  dia  em 
Ique  não  ouve  mais  que  hum  morto  e  algum  ferido,  esteg 
fora  da  bateria ;  que  nelia  era  impossivel  pela  boa  espalda 
fue  tete.  Neste  mesmo  dia  20  de  Abril  comessou  tirar  a 
artilheria  do  posto  de  S.  Bento  que  era  quatro  raeos  canhões; 
logo  a  plataforma  de  D.  ^Fadrique  com  outros  tantos :  em 
hnrna  parte  e  n'outra  com  grande  dano  das  defensas  ini- 
migas. Aqui  com  sucessos  notáveis  não  avendo  peça  das 
aoas  que  durasse  duas  horas  sem  que  logo  não  fosse  desa- 
lojada, e  descavalgada.  A  das  palmas  tardou  mais,  mas 
como  ficava  a  cavaleiro,  e  muy  vesinha  nio  deixava  plata- 
forma segura,  nem  reduto,  nem  parava  nada  a  seis  canhões 
qpie  aly  avia;  mas  como  era  grande  a  falta  de  engenheiros, 
6  hum  que  era  o  principal  fora  morto  pouco  antes  no 
quartel  de  S.  Bento  por  hum  balaso  (era  este  João  Oviedo 
de  nação  aragonês  de  habito  de  Montera  muy  boa  pessoa, 
disiam  que  mais  destro  em  artificies  de  fogo  que  na  forti- 
ficação) sayo  a  esplanada sobre  as  canoneiras,  e 

por  isso  de  tão  curta  retirada  que  ficaram  as  rodas  asen- 
tadas  na  terra  donde  se  não  podiam  tirar  sem  grande  tra- 
balho, e  logo  depois  da  primeira  carga  foy  necessário  re- 
medear-se  a  esplanada  portugueza  a  falta  de  outros.  Com 
a  vinda  de  Salvador  de  Saa  que  chegara  pDuco  antes  de 
socorro  do  Rio  Janeiro  com  cento  e  oitenta  pessoas, 
disiam  que  oitenta  brancos,  os  mais  indios  de  arco  e  frecha 
(e  todos  passavam  ao  posto  de  S.  Bento)  ouvo  novo  género 
de  alvoroto  encarecendo  muito  a  gente  do  Brasil,  a  in- 
dustria e  destreza  daquelles  frecheiros,  e  a  facilidade  com 
que  conseguiam  qualquer  bom  effeito  com  as  canoas  em 
que  vinham.  Contavam  de  nãos  oíandezas,  tomadas  pela 
presteza  com  que  se  lhe  metiam  debaixo  da  arlilheria,  e 


-  365  - 

os  espanliõcs  a  crer  quanto  lhe  disiam  daquella  matéria 
não  bastando  o  passado  para  desenganalos.  E  verdadei- 
ramente se  aquillo  se  nâo  hade  crer  como  de  fee,  e  tem- 
lugar  o  discurso  para  julgar,  e  os  olhos  licença  para  ver  de- 
fecultosamente  se  crera  o  que  com  facilidade  se  conta  porque 
são  estas  embarcações  hum  tronco  de  arvore  cavado  mui 
esguias,  que  se  não  for  o  pezo  por  balança  subitamente  se 
resolve,  os  que  as  governam  tristes  índios  nus  todos  api-- 
nlioados  que  a  bala  que  lhe  der  por  proa  os  irà  matando 
em  (|uanto  qualquer  Ímpeto  lhe  durar,  ainda  que  balas  em 
taei  corpos  seriam  mal  empregadas.  A  sua  destresa  ouvi  se 
vira  em  terra  poseram-lhes  aos  que  pareciam  escolhidos 
hum  colete  de  anta  náo  pêra  alvo  que  seria  afronta  para 
homens  que  matam  hum  passarinho  pelo  ar,  cortam  com  a 
segunda  frecha  a  primeira  que  tiram  por  esses  ares  quando 
vem  caindo,  mas  para  experimentar  a  fúria  que  encareciam^ 
muito.  Erram  alguns  acertaram  dous.  Apenas  chegou  a 
ponta  de  huraa  estando  de  mui  perto  a  passava  ante.  Huma 
das  fáceis  cousas  que  estes  se  proposeram  foi  a  queima  dos 
navios  de  Olanda.  Salvador  de  Sa  mancebo  brioso  pouco 
lembrado  dos  preceitos  da  íilosophia,  despresador  da  vid^ 
qual  fosse  a  occasião,  se  oíYereceo  e  facilitou  a  empresa  que 
aviade  fazer  em  suas  canoas  contra  vaso  de  guerra,  e  guerra 
presente  mui  grandes,  mui  altas,  olandezas  aprestaram-se 
faluas  em  grande  numero  providas  de  camizas,  lançois,  e 
mais  petrechos  de  fogo ;  {)or  cabo  delias  o  capitão  Gaspar 
de  Carrassa  por  terra  se  signalassam  duzentos  homens  de 
guarda  se  acodissc  o  inimigo  pela  praya  a  defensa  de  seos 
navios  a  ordem  deHyerouimo  Serra  capitão  de  infanteria; 
e  do  outro.  Isto  se  passava  na  tarde  de  22  de  de  Abril  em. 
que  estando  D.  Manuel  com  D.  João  Fajardo  em  sua  almi-t 
ranta,  entrou  aquelle  capitão,  e  fallou  apartado,  Vinhase 


•-  666  - 

dispedir  delle.  D.  João  qui2  que  D.  Manuel  soubesse  da 
resolução  em  que  se  estava,  de  que  elle  se  mostrou  mui 
sentido  quando  não  fora  pela  perda  de  tão  boa  pessoa  pa- 
recendolhe  que  era  injusto  não  avisarem  a  D.  Fadrique 
advertindo  de  seu  parecer  ainda  que  sobre  tudo  dispuseso 
o  qoe  lhe  parecese.  D.  João  achava  o  remédio  impossive) 
«atando  ja o  negocio  naquelle  estado.  D.  Manuel  lhe  instou 
que  como  conselheiro  de  guerra  estava  obrigado  a  dizer  o 
ijue  lhe  parecese  melhor  covinha  ao  serviço  deS.  Jtf-  Emfin) 
^m  nome  de  ambos  escreveu  trazendo  alguns  inconve- 
nientes; e  que  se  estas  não  fossem  bastantes  se  dilatasse  o 
Intento  porque  era  aq\ielle  dia  de  oposição  de  lua,  e  o  tempo 
claro.  Se  esperassem  mais  dois  dias  em  que  entre  a  ausência 
do  soU  e  chegada  da  lua  averia  alguma  sombra  com  que 
4e  alguma  maneira  se  encobrisse  ao  menos  de  longe  aquella 
frota  de  canoas,  e  faluas.  Escreveo  também  a  Cropani  muy 
encarecidamente,  e  D.  Manuel  a  D.  Fadrique  estendendo 
mais  seu  parecer.  Que  tretas  conviriam  aos  olandezes  e  nãQ 
nos  espanhoesqueapuros  canhonasses  faziam  pedaços  sem 
pivios,  ao  que  elle  estava  determinado  de  suas  plataformas 
de  que  se  hya  vendo  o  fruto  com  alguns  no  fundo.  Coni 
estas  ou  semelhantes  palavras  entendeu  satisfazia  com  suq 
Diagoa,  e  obrigação,  e  porque  estava  ainda  bem  alto  o  sol 
ouve  tempo  para  tudo.  Menos  bastara  para  persuadir  a  D. 
Fadrique  a  que  parase  o  intento,  -^ntes  porhuma  rerpostíi 
se  vio  claramente  que  não  fora  naquella  traça  que  sem 
ordem  sua  se  fizera.  No  fim  da  caria  escrita  ja  a  vinte  e 
Ires,  dizia  estas  palavras.  Suplico  a  V.  S.*  que  por  ninguma 
via  se  trate  de  la  toma  dei  fortesilho  que  aviendo-se  visto 
(ieaca,  y  reconocido,  y  tratadolo  todas  las  personas  platicas 
pomos  todos  de  parecer  de  que  isso  se  intente,  Io  uno  por 
poser  puesto  necessário  para  ganarla  tierra,  lo  otro  por  c;u6 


^ 


—  567  — 

el  inimigo  holgarâ  mucho  de  ver  a  V.  S.*  dentro  de  el  para 
hacerle  pedaços  siondo  paesto  sugeto  a  toda  su  fuerza  con 
solas  estas  dos  rasones  no  áy  que  pasar  alas  de  mas.  El 
maestro  de  campo  general  estando  escreviendo  esto  a  ha- 
ccrme  sobre  el!o  nueba  instancia,  y  ay  buelvo  a  suplicara 
V.  S.*  (]uc  dello  no  se  trate  por  ningun  caso.  Suponha  que 
D.  Manuel  intentava  entrar  por  sua  pessoa  como  no  campo 
SC  desia  que  poderia  fazer  quando  se  falava  na  boa  eleição, 
e  pressa  de  suas  plataformas,  passando  tanto  pelo  contrario 
que  fazendo-lhe  a  sua  infanteria  que  tinha  em  terra  que  era 
mui  escolhida  muita  instancia  tomando  por  medianeiros  ao 
alferes  Ignacio  de  Mendoça,  e  Joio  do  Loureiro  para  que 
lhe  desse  licença,  os  nâo  admitio,  e  por  nenhum  modo  es- 
tando as  cousas  naquelles  termos  sem  reconhecer  os  postos 
c  forças  do  inimigo,   e  sem  ordem  tal  nâo  consenteria. 
E  de  maneira  hya  a  declinação  de  força  nasdefenças  que  náo 
faltariam  atrevidos,  o  que  bemsevio  paraaquellesdias.  Joáo 
Vidal,  Aragonês,  da  companhia  de  D.  Afonso  de  Lencastre 
metido  entre  a  malesa  chegou  ao  pé  de  huma  cortina  baixa 
e  cayda  por  onde  subio  ao  terrapleno  sem  aver  guarda  que 
o  vise.  Levantou  a  cabeça  vio  no  poço  passear  hum  a  ca- 
vallo  faltando  com  outros  de  pee,  e  voltando  as  costas  deu 
dois  balanços  a  bandeira  que  estava  arvorada,  e  com  ella 
baixou  pela  ruyna.  Acodiram  vendo  fa  tar  a  bandeira,  mas 
estava  ja  metido  pelo  mato  cuberto  de  mosqueteria  e  arte- 
Iheria  com  que  lhes  varriam  todas  as  defenças.  Mostraram 
o  sentimento  disbarando  descobertos  muitas  balas  de  mos- 
quete, o  que  nâo  foy  com  pouca  perda  sua,  mas  pouquíssima 
daoutra  paite.  E  tal  averia  sem  se  ariscar  muito  que  trzia 
um  olandez  se  podesecom  o  peso,  e  este  fizesea  resistência 
íjas  bandeiras.  Grande  aperto  era  este  em  que  se  viam  os 
^iti^(Jos,  e  o  pior  que  crecia  deseonfiancia  entre  as  nações 


—  568  ~ 

desesperados  todos  de  remédio,  carregando  os  olandeses 
mais  a  obrigação  de  morrer  furiosamente  oferecendo  seus 
corpos  em  luguar  de  parapeitos  e  trincheiras.  À  todos  se 
lhe  representava  huma  escalada  por  espanhôcs  irritados 
pelo  presente  pelo  passado,  a  justíssima  vingança  que  os 
tinha  condenado,  ao  cutelo,  se  a  constância  durava  em 
muitos  quilates  tinha  eido.  O  coronel  que  sucedera  a  João 
Doart  coBtam  que  nío  lha  parecendo  ser  ja  tempo  de  tem- 
porisar  quiz  ciaram  ente  saber,  que  spirito  animava  a  cada 
huma  das  cabeças,  confessando  em  huma  brevíssima  pratica 
o  estado  em  que  se  fiam.  As  forças  do  inimigo,  e  os  brios 
a  que  a  fortuna  alegremente  o  convidava ;  via  presente  o 
risco  a  que  se  puiduim  contynuando  o  emparo  daquella 
cidade  que  o  Conde  Maurício,  estados  de  Olanda  tinha  li- 
vrado sobre  seu  valor  e  lealdade,  confessava  o  desemparo, 
mas  que  a  armada  nío  podia  tardar  quatro  dias,  que  a 
valor  daquella  nação  não  se  fundava  nos  socorros  que 
podiam  faltar,  mas  emsy  mesmo  intrínseca  e  naturalmente^ 
Asy  não  podiam  temer  a  multidão  dos  inimigos,  sendo 
costumados  com  a  pelejar  elles  em  campanha,  fazendo-se 
com  inferior  numero,  senhores  de  muitos  ocupando-lhes 
suas  praças ;  que  contra  a  parte  que  eram  portuguezes 
cuja  a  impresa  era  mui  fresca  estava  a  memoria  de  quaes 
sucessos  aly  tiveram,  deixando  innumeraveis  exemplos 
assas  modernos;  que  se  resolvesse  a  esperar  com  valor 
assaltos  por  algumas  partes  porque  em  Deus  obrador  do 
maravilhas,  (entre  os  quaes  não  contaria  o  bom  processo 
contra  espanhões  seus  inimigos,  e  capitães  de  sua  religião) 
esperava  que  avia  de  ser  aquella  ocasião  a  segurança  do 
império  pretendido  na  nova  Olanda,  e  coroa  do  gloria  pêra 
sua  nação  conhecida  no  mundo  por  mais  valorosa;  que  de 
taes  inimigos  se  não  podia  confiarem  amísade  reconciliada,, 


I 


—  5G0  — 

nem  esperar  misericórdia,  mas  procedimentos  os  mais 
espantosos  que  se  podesse  imaginar.  A  desesperação  era 
o  caminho  honrado  e  mais  seguro  em  fortunas  semelhantes. 
Não  consentiram  outros  que  fosse  por  diante  mostrando 
qual  era  a  praça,  qual  o  sitio,  que  força  a  dos  sitiadores  a 
immensidade  da  gente,  que  quando  delia  matasse  quatro 
centos  na  resistência  de  hum  asalto,  e  dos  seus  não  morresse 
mais  de  vinte,  o  mesmo  tempo  os  avia  de  consumir.  Bem 
se  via  que  naquella  armada  tinham  vindo  mais  de  doze  mil 
homens  de  gjorra  (mal  se  persuadiram  que  estava  erma) 
sem  dois  mil  daquellas  terras  quando  menos  delle  ajunta- 
vam, c  sem  a  immsdiata  que  cada  dia  se  podia  juntar;  que 
o  aperto  era  igual  ao  de  Rembergh  (senão  que  era  immensa 
a  distancia  de  suas  terras)  pois  o  mesmo  era  consumir-se 
por  incêndio  a  pólvora  de  monição  que  faltar-lhe  luguar  em 
quea  exercitase,  igual  remédio  se  lhe  avia  debuscar  quando 
não  ouvesse  outros  que  primeiro  se  atentariam.  Não  ne- 
gavam a  lealdade  que  deviam  a  seu  principe  Mauricio  e 
«os  estados  mais  que  não  se  podia  esperar  que  hum  fizesse 
maravilhas  quando  se  lhe  faltasse  com  osmeos  necessários, 
posives  o  naturaes.  Que  armadas,  que  gente,  que  socorro 
lhes  tinham  mandado?  adonde  sepultaram  tantas  promessas 
os  confederados,  que  no  mesmo  tempo  e  logo  iriam  armadas 
ao  Brasil  que  outras  a  destroir  e  asolar  as  costas  de  Espanha? 
cousa  era  para  rir  se  a  miséria  presente  o  premetise 
cuidar  que  se  persuadiam  em  Olauda  que  tão  pouca  gente 
snserrada  por  mar,  e  terra  com  taes  padrastos  se  podia 
sustentar  contra  tão  grandes  forças.  As  defenças  em  que 
tanto  trabalharam  todo  o  anno  igualadas  com  o  chão  em 
quatro  dias.  Nenhum  luguar  seguro  para  atravesar  huma 
rua  das  mais  interiores  da  cidade.  O  mar  que  podia  ser  o 
ultimo  refugio  lhes  mostrava  a  ultima  desconfiança,  pela 


—  570  ~ 

(larte  do  norte  o  primeiro  navio  assentado  na  área,  pelo 
do  sol  tantos  a  fundo  todos  acrivelados,  ate  o  de  artiOcios 
de  fogo  em  que  algum  tempo  esperavam  fizesse  grande 
dano  ao  inimigo,  alagado,  sem  remédio  para  cair  como  os 
demais.  Replicava  o  coronel  huma  e  outra  vez  lho  impe-* 
diam  ate  que  a  cólera  lhe  venceu  o  sofrimento^  e  rompeu 
anameassas  com  palavras  descorteses,  a  que  logo  se  seguio 
temulto  quasy  motin  que  obrigou  a  meter  mão  á  espada, 
parecendo-lhe  mais  com  tngano,  que  tinha  muitos  do  seu 
bando,  e  carregando  sobre  elle  o  feriram  no  rostro,  e 
nas  máos.  Esta  é  a  forma  que  logo  se  entendeo.  Más  por 
informação  de  alguns  Olandezes  de  que  me  qoiz  informar, 
alcancei,  niosei  com  que  verdade  que  nada  disto  precedera, 
senão  que  era  aquelle  coronel  vissiosicimo  em  vinho,  e 
Hiulheres,  a  que  igualmente  se  entregava  quando  os  sitiados 
mais  necesetavam  da  asistencia  de  sua  pessoa;  o  que  vendo 
o  asy  os  do  conselho,  o  quizeram  privar  algumas  vezes,  e 
que  a  pouca  emenda  e  os  disparates  cmn  que  respcmdia 
foram  a  causa  d'aquellas  cutiladas.  Como  quer  que  fosse 
elegeram  outro,  e  com  elle  se  resolveram  a  pedir  tréguas 
para  tratar  de  consertos.  E  segunda-feira  ^8  de  Abril  co- 
messando  anticipadamente  a  disparar  algumas  peças  de 
artilheria  mui  espassadas,  da  plataforma  dos  dois  sacres, 
logo  em  apontando  o  sol  cayram  sobre  hum  luguar  que  pa^ 
recia  corpo  de  guardiã,  e  tinham  coberto  com  velas  innume^ 
raveis  balas  de  mosquete  dos  saquinhos  com  que  tiravam. 
Alguma  mà  hora  lhes  devia  chegar  com  que  sayo  de  debaixo 
do  toldo  ja  mui  roto  huma  tropa  de  gente  com  temor  de 
segundo  perigo.  Os  italianos  que  com  grande  destresa  se 
tinham  adiantado  muito  com  suas  trincheiras  sayram  delias 
ao  descoberto.  Daquella  parte  de  S.  Bento  que  ficava 
avista  destes  movimentos  acudiram  ao  foço  desordenados, 


—  671  ~ 

os  Alferes  Igiiacio  de  Mendonça  Joáo  do  Loureií^o,  entre 
os  quaes  e  italianos  avia  grandes  eompetenciís,  e  loiniiias 
de  qaem  primeiro  na  ocasião  subiria  as  trincheiras  inimrgai; 
arremeteu  com  o  seu  sargento,  e  nor^nta  e  dois  soldados 
que  tinha  de  guardiã  das  plataformas,  e  chegando  a  buiti 
pequeno  raluarte  quasy  no  fim  da  palissada  o  veo  á  encoft^ 
trar  hum  soldado  mandado  pelo  capitão  que  de  cima  Uie 
pedia  se  chegasse.  Adíantouse  o  alferes  ecoí  o  sargento» 
João  do  Loureiro,  e  Condestable  Joio  Ribeira,  e  com  eiies 
hum  trombeta  de  D.  Fadrique  que  acpielle  dia  o  tinha  ido 
a  visitar.  O  capitão  lhe  disse  que  mandasse  retirar  sua  gente 
pêra  dizer  cousas  de  importância  .  e  de  segredo*  Sobio 
primeiro  João  do  Loureiro  e  dando  a  mão  ao  alferes^ 
e  sargento  entraram  todos  três  somente  a»  oito  oras  (pie 
parecera  da  manhã.  Ouve  entre  os  soldados  rumor  ciiidaÂdo 
de  seu  alferes,  duvidando  de  algornsoccesso;  foram  ae 
chegando  ao  fosso  donde  o  alferes  mostrande-se  os  fes  re» 
tirar.  Àcudio  hum  capitão  italiano  com  alguma  gente  arH 
mando-se  pêra  eilti^ar  pela  parte  da  estacada  que  ficava  mea 
faldra  de  hum  outeiro.  Os  de  dentro  não  seguros  de  algmáa 
cilada  lhe  tiraram  por  alto  dois  mosquetassos.  O  alferes  Ih^ 
disse  que  aquelle  forte  estava  ocupado  por  .D/ Manuè)  de 
Menezes,  e  convidando  que  entrasse,  mandou  ao  sargento 
que  o  guiase.  Sobiu e demorandose pouco  se recolheufao 
seu  posto.  Baixou  de  sima  uma  grande  tropa  de  gente  €m 
que  vinha  o  almirante  Sanson.  o  hum  sar^nto  maior  per- 
guntando da  parte  do  coronel  com  que  ordem  se  chegara 
tanto  respondeu  que  para  vingar  a  morte  de  hum  soldado 
que  estimara  muito,  eo  dia  antes  lhe  mataram.  Respondeu 
que  trinta  e  sete  lhe  tinham  morto  suas  balas.  Nem  podia 
ser  outra  cousa  que  trazer  ordem  pêra  tratar  de  paas,  e  asy 
queriam  saber  qual  era  o  general  a  quem  se  avia  de  acudir 
Outubro  73 


ft 

—  572  ^ 

A.  ostas  palavras  mal  entendidas  se  respondeu  que  ai). 
Cádcicpie  de  Tcdedo  que  alojava  no  quartel  do  Carmo. 
PergoDlaram  se  queria  o  alferes  deterse  aly  até  que  tornase 
húmátambor  que  queriam  mandar  em  nome  de  seu  eoroneU 
O' que  consentido  pelo  alferes  ficou  com  elles  de  guarda  o 
sargento  mayor  e  Sanson.  Ouve  muitas  ^ostras  de  amisade 
GOnvidados  os  hospedes  com  carne  de  porco  fresca,  e  os  de 
fofa  com  laranjas  e  batatas  cosidas  e  o  trombeta  com  huma 
br&da  de  tafetá  azul.  Serião  quasy  quatro  boras  da  tarde 
quando  veo  hum  soldado  da  parte  do  coronel  dizendo  que 
ovatambor  era  tornado  com  resposta  de  D.  Fadrique  de 
tréguas  por  três  horas.  Despediram  o  alferes  advertindo 
nSo  trabalhasse  entanto  seus  soldados  nem  se  chegassem 
a  seus  reparos  que  avendo  de  ficar  inimigas  levantariam 
huma  baíideira,  tirasse  elle  hum  mosquetasso  em  sipal  que 
adtertir,  e  poderiam  tornar  as  armas  como  dantes.  Em 
quanto  estes  recados  corriam  say o  D.  Fadrique  a  reconhecer 
de  mui  perto  os  postos,  e  o  estado  declinante  das  fortiC- 
caoões  avisando  antes  ao  mar  a  D.  João  Fajardo»  e  a  D. 
Manuel  de  Menezes  do  succedido,  mas  o  aviso  chegou  j.a 
levado  o  sol  do  dia  seguinte.  Embarcaramse  sem  dilação 
subiram  ao  quartel  achando  tudo  em  tréguas  depois  do 
primeiro  lemite  que  foram  três  horas  tiveram  muitas  con* 
firmações  passaram  emfim  a  noite  amigavelmente.  Avia 
reféns  de  de  huma  parte  e  outra,  de  Espanha  na  cidade 
Diogo  Rodrigues  e  o  sargento  mayor  Murga,  e  no  Carmo 
pela  do  inimigo  o  capitão  Mansfelt  olandez  e  o  capitão  Quit 
que  parecia  francez  na  pronunciação:  o  que  se  ordenou  na 
noite  de  antes  por  junta  particular  que  para  isso  D.  Fadri- 
que convocou.  Emquanto  se  esperava  caminhava  o  atambor 
descoberta  pelas  cortinas  tocando  caixa  pêra  o  quartel  do 
Carmo;  ao  |)assarpela  pi^rle  fronteira  ao  ik)sIo  das  palmas 


k 


-  573  — 

mandou  o  mestre  de  campo  D.  João  de  Orellana  posessem 
fogo  aos  seis  canhões  em  que  mataram  alguma  gente  que 
estava  sem  cuidado  pelas  cortinas.  Ouve  grande  queixa  que 
nem  guardava  as  ordens  da  milícia  nem  o  costume  da& 
gentes.  O  mestre  de  campo  general  mandou  estranhar  a  de^ 
sordem,  e  mostrar  aos  daeidade  que  receberia  qualqueo 
recado.  Baixou  o  atimbor  acompanhada  de  dois  soidadosi 
foy  levado  a  barraca  de  D.  João  de  Orellana  que  esteve  mui 
mesurado,  e  mao  de  servir,  negando-lhe  a  mão  que  coiir 
forme  aos  seus  costumes  lhe  pedia,  e  daly  ao  Carmo  com 
isto  se  deixou  a  ordem  de  postas  e  o  capitão  Lansarote  <la 
França  que  estava  de  vanguardia,  subio  pelos  reparos  e  com 
elle  Tristão  de  Mendoça,  que  logo  se  retirou  porque  lhe 
queriam  a  j)mbos  tapar  os  olhos,  metendo  a  mão  a  espada 
e  se  retirou  as  trincheira  aonde  contynuamente  andava. 
D.  Fadrique  tinha  ido  aqueila  manhã  visitar  o  quartel  de 
S.  Bento  e  passando  pela  trincheiras  da$  Palmas  ordenado 
não  sessase  a  artílhería.  Com  o  aviso  da  vinda  do  atambor 
sa  posacavallo,  e  a  passo  apressado  veo  ao  Carmo  mui  alegre 
no  semblante  e  nas  palavras;  passando  pelas  palma  aonde 
postos  em  armas  o  esperavam  se  lhe  deu  a  carta  seguinte; 

  sua  excelência,  cl  general  dei  arma  y  exercito  de  la 
Bahya  de  Sam  Salvador. 

Nos  el  coronel  y  los  demas  dei  consejo  desta  ciudad  de 
Sam  Salvador,  por  aver  entendido  que  da  Ia  parte  de  V.  Ex." 
ilamaron  um  atambor  mestro  para  hablar,  enbiamos  este 
para  saber  o  que  V.  Ex.*  quiere  mandar  desimos  confiados 
en  que  V.  Ex.*  nos  le  boi  vera  a  inviar  conforme  el  uso  de 
guerre.  Bogando  a  Dios  guarde  a  V.  E/  muchos  annos. 
Fecha  en  esta  ciudad  de  San  Salvador  em  28  de  ibril  de 
6á5,  asinados,  HansFrenet,  Biffe,  Quanilt  Frenst  coronel. 
Respondeu  D.  Fadrique.  A  los  senores  coronel  y  xonsejo 


f-  574  -^ 

euia  carta  acabo  de  rccevir  su  fecha  de  28  deste  respon- 
4ieBdo  à  lo  qne  contiene  digo  que  deste  exercito  no  se  ha 
ecbo  Uamada.  Sy  conforme  a  la  costumbre  de  sitiados  Ud 
tíe&e  qoe  desirme  como  no  sea  contra  el  servicío  de  Dios 
y  de  SQ  magestad  los  oyerè  con  cortesia.  Del  quartel  dei 
OHrmen  los  28  de  Abril  1625  D.  Fadriqoe  de  Toledo  Ozorio 
Enquanto  estes  recados  corriam  sayo  D.  Fadrique  de  muy 
perto  os  postos  e  o  estado  declinante  das  fortificações  des 
ÍBCfaa&do  antes  ao  niar  oom  aviso  a  D.  João  Fajardo,  e  a 
D«  Manoel  de  Menezes  de  que  Mo  chegou  a  suas  capitanas 
senfo  ja  levado  o  sol  do  dia  seguinte.  Embarcaram-se  su- 
biram ao  quartel  acharam  tudo  em  tregoas  que  depois  do 
jprtmeiro  limite  de  três  horas  tiveram  muitas  reformas,  e 
se  passaram  emfím  a  noite  mui  amigavelm^te  avendo 
reféns  de  uma  parte  e  outra,  de  Espanha  na  cidade  D. 
Diogo  Rodrigues,  e  o  sargento  mayor  Murga,  e  no  Carmo 
peto  do  inimigo  os  capitães  Mansfeit  olandes,  e  Qoist  que 

ni  pronunciaçto  parecia  Irancez  avia  notáveis de 

mal  contentes  clamando  que  logo  passada  a  primeira  refpr-r 
ina  das  tréguas  avia  d^e  contynuar  aliateria  sem  cessar ;  que 
o  Mais  cessando  das  armas  toda  uma  noite  era  mostrar  de^ 
masiado  desejo  de  concertos,  dar  lugar  a  que  as  fortifica- 
ções fossem  por  diante,  e  outras  queixas  semelhantes  náo 
sem  risco  de  outros  muitos.  Quantas  notes  (e  quasi  todas) 
se  tinham  passado  entre  estes  exércitos  sem  aver  huma 
bala  de  que  motejavam  muitos  chamando  o  citio  de  com- 
|padres>  que  podiam  fortificar  os  miseráveis  no  espaço  de 
huma  breve  noite,  se  o  fortificado  em  humanno  reinara  em 
(So  poucos  dias.  Aquelle  dia  como  as  des  horas  da  manhã 
vseo  a  cart2(  a  O,  Fadrique,  e  capitulos  seguintes. 

A  Su  exceienda-^lllustrissimo  sennoraviendo  recebido 
|a  carta  de  ^  de  este  y  entendido  la  nobleza  de  V.  3/ 


—  575  — 

• 

de  cuia  persona  nos  confiamos,  emos  juntado  niestro 
consejo  e  resolvemos  de  entregar  la  ciudad  sobre  las  capi- 
tulaciones  comprehendidas  em  los  capítulos  que  com  esta 
van  sobre  los  quales  aguardamos  respuesta  de  V.  E.x^  cuia 
persona  Dios  guarde,  fecha  en  San  Salvador  a  29  de  Abril 
de  6i5.  £1  coronel  etc .  Capítulos  conspirados  po  el  senoi; 
coronel,  y  los  dei  consejo  en  l9  Bahya  para  oferecera  S.  E.x* 
D.  Fadriquc  de  Toledo  general  de  S.  M.  de  Espanha.  Pri- 
meiramente que  nos  los  sobredíchos  residentes  en  esta 
ciudad  de  San  Salvador  le  avemos  de  entregar  a  S.  £/  la 
dicha  ciudade  ^obre  la  condicione^  seguientes.  a  saber, 
Que  S.  E.x*  DOS  hade  d^ir  el  tíempo  de  três  semanas  para 
que  en  dicho  tiempo  podamos  concertar  queslras  nãos  que 
p  qua  tenen^os,  y  provehernos  de  mantimentos,  agua  ,e 
otras  cousas  necessari£(s,  y  logo  que  para  eso  nos  faltare 
para  haser  a  viage  para  nuestra  pátria  nos  hade  proveher 
S.  E.*  y  que  será  necessário  por  h  multitud  de  nuestra 
gente  otros  quatro  navios  cada  uno  por  lo  menos  de  quatro 
cientas  toneladas  S.  Ex/  nps  hade  proveher  dellos;  que  nos 
otros  todos  hemos  de  sahyr  desta  ciudad  ai  cabo  dei  dicho 
tiempo  com  todo  nuestro  hato,  bíenes,  artelheria,  y  mo- 
piciones,  y  los  cappitanes  y  soldados  con  sus  aimfis.  Ias 
vanderas  súbitas,  muron  encendido  y  balas  en  boca.  y  I03 
capitanes  e  marineros  en  suo^  naos«  Que  S.  Ex.*  ai  cabo  dei 
dicho  tiempo,  ycuando  estubieremos,  aperejados  mandará 
recoger  toda  las  nãos  de  su  armada  de  donde  agora  estoo 
y  ancorar  detrás  de  fuerte  de  San  Filipe,  para  que  nos  otros 
en  el  salir  de  la  Bahya  tengamos  el  passage  libre,  y  salyr 
sin  nigun  dano.  Que  tanbien  todos  nuestros  eclesiásticos 
saldran  con  todos  sus  Ubros.  y  hatos  sin  niguna  mo  lestia. 
Que  tambien  a  oinguno  de  nos  otros  en  particular  ni  a 
(odo$  en  comum  les  seram  pedidos  los  bienes  conquistados 


—  S76  — 

O  pillados  en  la  conquista  de  la  ciudad.  Ny  tanpoco  to 
despues  conquistado,  ó  pillado.  Tambien  algunos  portu- 
goezes  que  por  su  livre  Toluniadan  quedado  en  esta  ciudad, 
y  nos  otros  los  emos  entretenido  no  tengan  por  ese  mo- 
léstia alguna.  Sy  S.  £x.  consenUere  e  acordare  los  dichos- 
capitulas,  hemos  de  entregarle  la  persona  dei  senor  D. 
Francisco  Sarmiento  de  Sotomayor  livre  y  sin  rescale  que 
ha  sido  governador  dei  Potosi,  D.  Àgustino,  y  D.  Fran- 
cisco sus  hijos,  D.  Juan  su  hierno  y  D.  Âlonço  Barba  y 
Verdugo,  y  mas  la  muger  de  D.  Francisco,  y  dos  byjas, 
y  los  demas  de  su  familia  que  estan  aqui  presos.  Tamibien 
entregaremos  a  V.  E\.  el  padre  frai  Visente  Palia,  y  su 
campanero  de  la  orden  de  S.  Agostin  confessor  dei  dicho 
D.  Francisco  Sarmiento.  Que  los  de  mas  prisioneros  de 
ambas  partes  seran  libertados  sin  rescate  ny  costas.  Y  para 
que  de  ambas  partes  se  cumpra  lo  dicho  daremos  porsegu^ 
ridad  persooas  de  ambas  partes  principales  en  confiança; 
y  será  condicion  que  S.  Ex.  no  hade  llegar  mas  serca  desta 
ciudad  con  sus  trinches  y  obras  de  lo  que  esta  de  pre- 
sente, ny  entrar  en  la  dicha  ciudad  antes  que  a  hijamos 
salido  con  mestra  gente,  y  echo  volaran  nuestros  navios. 
Que  9.  Ex.  nos  hade  dexar  haser  mestro  viage  livremente 
{vara  mestra  pátria  sin  dexarnos  perseguir  con  níngunas 
nãos  de  su  armada  ny  consentir  que  por  ellas  no  sea  hecho 
ningun  estorvo,  El  coronel.  A  estes  capitules  e  praticas 
propostas  pelos  embaixadores  que  amplificavam  com  mais 
palavras  principalmente  o  capitão  Quist,  que  fallava  caste- 
lhano ainda  que  nHo  bem  cortado  respondeu  D.  Fadrique 
discretamente  com  palavras  mui  edificases  engrandecendo 
as  forças  de  seu  exercito  representando  o  estado  daquella 
praça,  louvando  os  sitiados  que  a  tinham  defendido  mui  com- 
pridamentee  com  muito  valor,  cat^ando  muito  aos  estados  que 


—  377  — 

os  não  tivesse  socorrido  afirmando  que  nfu)  podia  achar-s« 
gente  tão  desemparada  como  á  daquella  ciJade,  e  respondeu 
por  escripto.— Al  colonel.  Hé  recebido  la  r^irta  do  Ud  y 
los  capítulos  que  con  ella  vienem  resueltos  por  el  consejp 
a  que  respondo  en  papel  a  parte.  Hé  oydo  á  luís  con  toda 
la  buena  corespondencia  militar.  Syno  se  conlcnlar  con  lo 
que  concedo  que  es  mas  do  lo  justo  volveremos  a  las  armas 
destrocando  los  rehenes.  Guarde  Dios  a  Ud  en  el  quartel 
dei  Cármen  à  29  de  Abril  de  1625  anos  Don  Fadri(|ae.  Alo* 
cappitolos.  Aios  capitolos  prepuestos  por  el  senor  coronel 
y  consejo  que  reside  en  la  ciudad  dei  Salvador  respondo  lo 
seguiente  D.  Fadrique  &.  Que  se  halla  en  su  mísmo  pais, 
y  los  sitiados  fuera  dei  suyo.  Que  se  halla  con  tanto  numeru 
de  gente  que  no  ha  querido  valer-se  de  la  mucha  que  la 
tierra  le  offerece,  ny  ha  querido  desembarcar  mucha  parte 
de  la  que  tiene.  Que  los  citiados  no  pueden  tener  socorm, 
y  cuando  le  uvieram  tendo  no  era  de  efeito  contra  tanto 
poder.  Que  se  halla  con  três  quarteles  sobre  la  plaza  com 
treinta  y  tantas  peças  de  artilheria  con  que  ha  entrado  a  batilla 
por  quatro  ó  sinquo  partes  con  trincheos  quasy  ai  foço. 
Segunto  do  lo  mal,  y  la  costumbre  de  la  melicia,  ny  los 
citiados  pueden  pedir  lo  que  piden  como  soldados,  ny  I03 
citiadores  se  lo  pueden  conseder;  pêro  mostrando  la  beni- 
gnidad  que  su  magestad  usa  con  todos  se  les  consede  las 
vidas,  y  pasage  para  sus  tierras,  y  Ia  ropa  de  su  vestido,  y  el 
vastimento  que  fuere  necessário  se  les  dava  dando  seguridad 
de  la  paga.  Todos  los  prisioneros  se  han  de  restituir,  y  en 
primer  luguar  el  governador  Diogo  de  Mendonça  Hurtado. 
Los  citiados.-  A  S.  Ex.avemos  entendido  por  la  carta  ycapi* 
tolos  de  V.  Ex.  la  resolucion  sobre  lo  qual  la  respuesta  va  con 
esta:  y  por  ser  lo  que  en  ella  alegamosjustocontiamosenDios 
que  nos  hade  socorrer,  y  guardar  de  todo  mal ;  y  contanto 


-  578  — 

Diosmestro  senor  guarde  a  V.  Kx.  fecha  en  laciudaddeS.Sal- 
iradoaa29de  Abril  de  l62o.  Áloscapitolosi  Lossenores  co« 
roneliy  consejo  aviando  visto  la  respuestade  S.  Ex.  D.  Fadri- 
que&sobre  los  capítulos  oferecidos  a  S.  Ex.  responde  Io  segui 
ente  quenos  otrosnopodemosbaserotracosasyno conforme 
lascondicionesemos  oferecido  aS.Ex."  por  ser  rasonables  y 
necessárias  para  la  comodidad  de  mestroviage  e  defensa  dei  ^ 
y  que  S.  Ex.  notiene  razonde  lo  rehusar  sinoes  en  abreviar 
el  tiempo  condicionquenos  deu  navios  sayo  bastantes  y  pr(H 
vehidos  para  el  viage  de  nucstra  pátria  sin  costas  ningunas. 
Qoe  de  ninguna  manera  somos  de  intento  de  dexar  esta 
ciudad  tan  fortificada,  y  provehyda  como  es  seu  salir  dé 
ella  sin  armas,  ny  bato  siendo  resueltos  antes  de  defendela 
como  soldados  honrados  mientras  tubieremos  sangre.  Enlo 
()tte  toca  á  la  persona  de  Diogo  de  Mendoçá  Burlado  no 
esta  en  mestro  poder,  por  estar  mucbo  tiempo  ha  eu 
(Handa,  y  no  poder  nos  outros  prescrevir  leys  a  nuestrof 
príncipe  y  estado  roas  que  S.  Ex.*  mire  por  el  bien  y  coú 
servacion  de  D.  Francisco  Sarmiento  Sotomayor,  y  los  hijos 
fecha  en  esta  ciudad  de  San  Salvador  a  29  de  Abri  de  i625 
El  coronel.  Todas  estas  propostas  e  respostas  corriam 
pelos  reféns  Mausfel,  y  Quist  que  D.  Fadrique  ouvia  em 
pé  presentes  os  generaes.  o  mestre  de  campo  general  e 
todos  os  do  conselho.  E  posto  que  trabalhase  por  nwstrar 
constância  bem  se  via  nelles  que  se  haviam  de  moderar 
muito  mais  que  as  propostas.  Vieram  emfim  depois  de 
bem  regateado  por  huma  piirte  e  outra  em  que  se  lhes 
dariam  navios  de  que  pagariáo  fretes,  bastiraentos  se  acaso 
alguns  lhes  faltase  fazendo  conta  com  os  que  tinham,  que 
en  luguar  de  farinhas  de  Espanha  de  que  havia  na  cidade 
grande  cantydade  lhe  dariam  biscouto,  pois  eram  boas 
para  terra  e  ynutcis  para  o  mar.  Vinho  e  ascites  tinham 


—  W9  — 

bastantes.  Qae  a  honn  lhes  parecia  nSo  tinhan  desme^ 
recido  Da  defença  daquella  praça,  e  asy  esperavam  que 
D.  Fadriqoe  lha  não  intentasse  demenuir  negando-ltaes  o 
sayr  a  embarcarse  senão  com  bandeiras  tendidas  com  suaâ 
armas,  e^sínias  como  soldados  honrados.  Nisto  se  mos- 
traram mai  constantes  declarando  por  mui  bons  termos 
qnenão  veriam  o  contrario,  antes  estar  prontos  pêra  tomar 
as  armas.  Isto  tratavam  os  reféns  autorisando  suas  pessoas 
obrigandose  que  por  elles  asentado  ccmflrmariam  o  do  coúf 
selho;  e  com  í;>to  se  recolheram  a  seus  apozentos  aondd 
estavam  mui  regalados.  D.  Fadrique  se  assentou  e  08  do 
conselho,  mandando  que  todos  os  que  estavam  na  saia  de 
fora  e  no  corredor  visinho  do  claustro  sobre  que  linha  ja 
nelles  a  sala  do  conselho  despejassem  porque  como  náo  era 
pequena  e  muitos  os  da  junta  pudessem  votar  seguros  de 
não  ser  ouvidos,  propoz  D.  Fadrique  representando  bem 
quem  era  por  calidade,  por  valor,  juiso,  e  experiência,  dis 
correndo  pelo  estalo  dos  citiadores,  dos  citisKlos,  moetran^ 
do  quietação  e  constância  de  animopera  o  que  se  ofereceâd 
de  trabalho  naquelle  citio,  de  maneira  que  mais  secotegiría 
delle  intento  de  gloria  que  a  inclinação  a  consertos  destti^ 
sidos  a  nação  Espanhola.  Viaseque  toda  a  resoluçam  andava 
sobre  hum  ponto  de  sayr  o  inimigo  com  armas,  ou  desar- 
mado. Discorriam  variamente,  huns  queS.  M.  ajuntara  tão 
gran  poder  de  mar  e  terra  para  castigara  desobediência  de 
seus  rebeldes  não  só  pêra  recuperação  daquella  praçá;  qpie 
levados  desta  gloria  se  resolveram  aeáhores,  e  fidalgos  Vor* 
tuguezes  a  deixar  mulher  e  filhos  estando  alguns  por  ^ua 
idade,  e  outras  circunstancias  muy  consideráveis  desobH^ 
gados  de  servirem  em  jornadas^  tanto  mais  emnavegaçSotão 
larga  como  a  do  Bra^l  quando  nella  níofosse  apessoartaA : 
que  eram  indignos  de  misericórdia  aquelles  Ereges  pele 
Outubro  74 


—  580  - 

atrevimento  com  que  primeiro  prepopuseram;  qiie  mais 
poderá  dizer  um  embaixador  de  um  rey  de  França  sendo 
ocupada  a  praça  por  seu  exercito  real.  Da  clemência  de 
S.  M.  era  justo  que  em  todo  aperto  esperasem  vida  seus 
vassallos  rebeldes,  mas  verdadeiramente  aqueles  eram 
indignos  delia,  e  quando  se  lhes  consedessem  fossem  taes 
as  condições,  que  pêra  outra  gente  que  não  fosse  piratas 
servisse  a  mesma  vida  de  exemplo  do  castigo.  Que  isto  era 
o  que  entendiam  convinha  a  reputação  de  Espanha .  Tivessem 
embora  vida  posto  que  não  faltou  quem  quizesse  levar  tudo 
a  sangue  e  fogo,  mas  saysem  desarmados,  descobertos  com 
varinhas  brancas  nas  mãos.  Estava  ali  Diogo  Rodrigues 
soldado  velho  de  valor  conhecido  que  considerara  como 
jttiso  o  estado  daquella  praça  as  horas  que  nella  estava  disía 
que  os  citiados  tinham  huma  grande  falta  que  os  obrigaria 
a  qualquer  coudição  que  se  lhes  oferecesem.  Perguntavalhe 
que  falta  eraaquella,  ellea  nio  sabia,  mas  devia  de  ser  balas 
e  outras  monições.  Com  esta  opinião  de  pessoa  de  muitos 
annos  de  Flandres,  de  autoridade,  teniente  de  mestre  de 
campo  general  ficava  aquelle  e  outros  votos  semilhantes 
mais  corevorados,  de  maneira  que  havia  por  esta  parte 
muitos  caminhantes.  Outros  descorríam  com  pensamentos 
mais  humanos,  alvirtindo-os  da  inconstância  das  coisas  in- 
feriores ;  que  os  brios  com  que  os  olandezes  se  defendiam, 
ainda  em  consideração  do  futuro,  eram  merecedores  de 
honradas  correspondências;  que  a  empreza  se  ordenava 
para  recuperar  aquella  praça,  sendo  mui  honrosa  a  que  con- 
seguia sem  intento  Nisto  estava  verdadeiramente  a  repu- 
tação da  Espanha,  antes  o  pretender  que  com  vilesa  sayse 
o  inimigo  era  direitamente  contra  ella,  vendose  no  teatro 
do  mundo  contra  qual  gente  se  occuparam  três  quartéis,  se 
tomaram  tantos  postos,  se  ajuntara  tanta  artilhería  com 


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tanto  excesso  sobre  o  que  de  Espanha  se  limitara,  quanto 
sem  causa  se  desamparara  a  armado  pêra  crescer  o  numero 
dos  citiadores;  que  aquella  gente  punha  injustamente  o 
nome  de  piratas  sendo  inimigos  de  Espanha,  por  cujos  pe- 
cados, ou  por  outros  juizos  de  Deos  estavam  ingreidos  com 
os  sucessos  que  se  chamavam,  e  não  nos  secretos,  os  es- 
tados livres  das  provindas  unidas,  era  hum  exercito  do 
principe  Mauricio  e  estados  de  Olanda,  gente  que  tinham 
quartéis  defronte  dos  exércitos  católicos,  que  de  gente  de 
valor  se  não  quizessem  partidos  afrontosos,  antes  se  cui- 
dasse que  só  com  ouvidos  se  evitasse  e  resolvesse  a  esperar 
a  ultima  fortuna  defendendose  de  seus  reparos  que  para 
sustentar  assaltos  por  escala  vista  eram,  pela  escala  e  pen- 
tens  mui  a  propósito  não  havendo  ja  que  esperar  da  artí- 
Iheria  mais  efeito;  que  naquelle  exercito  não  avia  cabeças 
para  que  faltando  esta  ou  aquella,  o  que  Deus  não  permitisse 
encher  o  lugar.  Tudo  fallando  em  geral  para  desembocar 
fossos  tapar  muralhas,  ordenar  minas,  subir  escadas,  gente 
bisonha.  Que  era  muito  para  sentir,  e  S.  M.  sentiria  mais  a 
perda  de  tantos  senhores,  e  fidalgos  espanhoes.  Dos  de 
Portugal  estava  visto  que  sobre  ser  cada  hum  o  primeiro 
arriscaria  a  vida,  e  o  que  mais  é  por  não  ficar  o  segundo. 
O  mesmo  se  presumia  dos  de  Castella,  pois  não  conhecem 
suprioridade,  e  a  igualdade  apenas  a  sofre  cuidarse  que  a 
praça  se  renderia  no  primeiro  assalto  era  sem  fundamento. 
Sendo  rechassados  com  muita  perda  e  da  gente  mais  gráua- 
da  ou  morta  ou  ferida,  como  necessariamente  avia  de  ser 
quem  ficava  para  o  segundo  que  as  vidas  dos  taes  bem  ven- 
didas ficão  por  serviçiy  dos  reis  na  toma  de  cidade,  quando 
he  necessário,  por  escalada  mais  injustisimamente  perdi- 
das por  se  pretender  que  tal  inimigo  saya  com  desowd; 
que  arriscar  buma  só  horaa  recuperação  da  praça  era  conto 


~;í82  — 

a  reputação»  contra  ô  senriço  de  S.  M.  umana,  e  defina  que 
m  trincheiras  mais  fisinlias,  nSo  estavam  no  fosso  e  para 
chegar  necessitarnn  de  tempo  mais  do  que  algons  cuida. 
WÊU  outras  vinhân  coxeando,  algumas  tais  que  fora  melhor 
Qfo  ter  principio.  Esta  mesma  delaçáo  não  era  menos  pre- 
Indicíal  por  ser  entrado  o  inferno  que  por  misericórdia  de 
Deus  tiiúia  tardado  muito,  que  nas  trinchefras  se  alagava 
a  gente  a  chuiva  importuna  seguia  calor  intolerável  e  por 
€8ta  destemperànça  adoecia  muita  gento  que  não  cabia  nas 
grandes  enfermarias  deputadas.  De  novo  se  ocupavam  casas 
if»  não  bastavam;  morriam  pela  umidade,  e  quentura  da 
Itrra  todos  os  feridos,  de  doenças  muitas,  alguns  quasj  ao 
^tosampm^  pela  falta  de  medicamentos,  e  pela  de  frangas 
6  galinhas  notáveis.  Sobre  a  carestia  insofrival,  que  pêra 
«oprir  esta  falta  acudia  com  alguma  carne  de  porco  por 
regiK  por  hum  abuso  da  terra  semelhante  aos  demais  de 
ser  aquelbi  carne  san  pena  doentes,  não  prestando  nem  pêra 
os  sãos,  e  faitandopera  todosainda  quebuscatia  com  solici- 
tnde  edeligencia,  que  o  ordinário  se  supria  com  carne  de 
vaca  em  todas  as  mfermarías.  Se  carregasse  o  inverno?  se 
cresesem  as  doenças?  seenfermase  a  nobreza  que  sustentava 
muito?  Mas  se  chegasse  o  socorro  que  tardava  muito  con- 
forme ao  que  os  olandezes  aguardavam,  e  os  espanhoes  era 
wsio  centravam?  Alegre  comedia  se  representaria  ao 
inimigo  quando  visse  a  confusão  de  gente  que  acudia  aos 
navios  desemparando  os  quartéis,  quando  se  visse  socor* 
rido  com  pouco  estorvoque  navios  fantásticos  lhe  causariâo 
cappitaaas  e  almirantas  foriam  todo  o  esforço  chegando  se 
'us  inimigos  emquanto  o  fundo  de  alguns  bancos  o  permit- 
tissem.  Que  oafinnado  por  Diogo  Rodrigues  com  sua  revê- 
nttút,  nenhtun  lugnartinha  pois  nada  sabia  de  serto,  qiie 
ttta(agi»aç6esftunatiassã<>a  verdadeira  inserteza  em  que  se 


—  588  — 

Dáo  funde  um  triste  alpendre  tanto  meno6  edificio  tto 
grande,  toda  a  importância  da  empresa.  Adrirtisese  ootm 
cousa,  quaiqnando  este  socorro  nio  chegase  addade  effifim 
serendesesoem  qualquer  pequena  dilação  estava  gran  raiM 
aparelhada,  gastavase  a  monição,  que  ja  estava  aríscada  pelo 
tempo  que  avia  mister  para  carenas  de  navios  velhos,  jfàfíí 
pendores  dos  de  mais;  que  a  este  respeito  somente»  quaod»* 
tudo  mais  se  facilitasse  e  senão  fizesse  mençlode  outra  eotiat: 
alguma,  não  havia  outro  que  se  opusesse;  que  ao  itiimigft  te 
avia  de  fazer  honra  com  que  cada  um  sajrse  cargado  de  sm 
mosquete,  sobre  mechas  acesaa,  ou  apagadas,  sobrebagaga 
ouvesse  embora  disputas,  contanto  que  fossem  braivesalgims 
dos  5«nhores  portugoezes  replicou  ao  que  se  desia  que  ú 
seu  sangue  se  havia  de  poupar  mostrando  sentimentos  de 
proposta;  o  que  votava  sentindo  os  brios  naturaes  naqueUa 
nação,  parecendo-lhe,  que  estava  respondido  com  a  opiaílo 
commua,  quasy  não  cortou  o  fio  do  que  desia,  comtudo  oAo 
faltaram,  segundas  instancias  e  ditos  mal  declaraà)8,  que 
todavia  se  entendiam  do  que  D.  ioáo  Fajardo  que  ja  tinha 
votado,  tomou  cólera.  Tendo,  que  aqueUa  linguagem  eia 
ajudada  de  algum  soldado  velho,  e  entre  muitas  coiatfl 
disse  que  se  não  podia  sofrer  cpiealgmis  fidalgos  honrassem 
sua  galhardia  e  bisarrias  sobre  o  siso  de  outros,  o  que^e 
tinha  tanto  de  bisarro  oomo  todos,  easy  declarava  seu  toIo 
se  não  desse  luguar  ao  costume  de  semelhantes  casos,  nem 
a  clemência  ou  piedade,  fossem  todos  degolados»  eqmado 
alastima  vencese  saysem  despidos,o  esbofeteados.  Mas  logo 
sesson  a  cólera  e  yoltou  ao  votado  de  antes*  Nisto  vierani 
todos  os  soldados  vellios  e  em  que  se  dese  armas  com  que 
saysem  com  mechas  apagadas  e  sem  bandeiras.  D.  Fa-- 
drique  resmoio  <pie  nislo  se  ccmformava,  mas  queaa^arauta 
se  Bio  desem  seoio  depois  4e  eadMreaios,  a  quaieala 


—  684  — 

aceitase  o  partido  se  lhe  consedese.  Instou  D.  Manuel  de 
Henezes  que  com  sua  licença  se  defreria  muito,  que  negar- 
lhes  armas  ou  consederlhas  não  havia  ser  por  gosto,  mas 
pér  aver  para  huma  ou  para  outra  cousa,  fundamento;  seu 
par^er  era  que  julgando  sua  senhoria  que  não  era  justo 
dttrenselhes,  sempre  se  lhes  negase.  Todavia  resolveu 
ce«io  tmha  determinado.  Este  conselho  se  acabou  com 
moitas  oras  da  noite;  e  D.  Manuel  não  podendo  acabar 
comsigo  dormir  fora  de  sua  cappitana.  chuvendo  o  que 
bastava  para  fazer  piores  aquelles  mãos  caminhos,  baixou  a 
Agua  de  Meninos,  sendo  jà  partido  o  governador  San  Feliche 
emk  a  carta  de  creensa  que  se  segue  para  tratar  a  matéria 
como  coronel  e  com  os  mais  do  conselho,  c  Al  sargento  mayor 
San  Feliche  remito  lo  que  se  me  oferese  disir  a  Vd  em  res- 
paesta  dei  papel  de  29  deste  que  cabo  de  recebir,  y  como  el 
general  que  tambien  passage  a  echo  a  Olandeses  que  he 
tenido  prisioneros  estare  desculpado  en  volver  a  las  armas 
despues  de  haser  descortesias  que  Vds  han  visto  guarde 
mestro  senor  &c  29  de  Abril  de  1623.  •  Â  manhã  seguinte 
se  foy  D.  Manuel  pêra  D.  Fadrique,  e  tornando-se  a 
jantar  o  conselho  se  vio  que  alguns  dos  que  tinham 
votado,  vendo,  parese,  tinham  cumprido  com  sua  obri- 
gação, ou  pela  cidade  ou  por  outras  consyderações,  estavam 
resumidos  ao  mais  umano.  No  votar  não  avia  differença, 
proposto,  ou  ansyanidade,  senão  por  ordem  como  cada 
hum  estava  asentado.  Cayo  o  voto  a  D.  Manuel;  escu- 
s?iva-se  de  votar  de  novo,  porque  de  novo  não  avia  nada 
com  a  volta  de  San  Feliche,  e  vinda  dos  comissários  que 
haviam  de  assistir  ás  capitulações,  na  conformidade  que 
os  reféns  no  dia  de  antes  tinham  consertado.  Mas  por 
obedecer  a  D.  Fadrique,  falando  com  D.  Josepe  de  Sarabia 
secretario  de  D.  Fadrique  que  nas  juntas  fazia  o  oíficio  de 


—  585  — 

secretario  delias,  lhe  díse  que  escrerèsse  o  seu  parecer 
com  as  mesmas  palavras  que  o  disia  para  que  delias 
constase  a  todo  tempo,  apesar  que  todavia  se  estava  em 
sua  fraqueza  da  noite  passada,  e  na  pretenção  da  avareza 
de  tão  bom  sangue  como  avia  avendo  meio  pêra  se  pou{mr, 
recuperando-se  a  praça  e  onradamente,  e  que  todas  as 
mais  rasões  do  dia  de  antes  dava  por  repetidas  so  huma 
acressentava  pêra  desculpa  do  temor  que  mostrava  muito 
contra  sua  natureza;  que  elle  por  ordem  precysa  de  S.  M. 
asistia  cm  sua  cappitana,  e  podia  asistir,  em  quanto  voasem 
diante  as  trincheiras,  e  o  sítio  se  apertase  com  o  bom 
sucesso  que  Deos  lhe  daria  em  seus  assaltos,  e  escaladas, 
que  nellas  tão  grandes,  tão  fortes  como  se  via  pêra 
qualquer  caso  tinha  quarenta  e  quatro  pessas  de  artilheria, 
monissões  bastantes,  muitos  soldados  de  valor,  e  sua  pessoa 
que  tinha  visto  e  padecido  muito  e  comido  acabou  aqueUa 
seção  e  com  o  seguinte.  C^rta  dos  citiados.  Por  el  sargento 
mayor  San  Feliche  havemos  recebido  la  de  V.  ^x.  ai  qual 
remelio  V.  Ex.  logo  que  se  lhe  oferecio  de  sir  ai  quad 
oymos,  y  asy  mandamos  das  personas  de  nuestro  consejo 
para  responder  a  V.  Ex.  vocablemente  e  representar«lo 
demos  de  nuestro  mtento;  de  los  cargos  que  ha  tenido  de 
S.  M.  y  el  bien  que  siempre  biso  con  los  nuestros  estamos 
advertidos  y  satisfechos,  y  que  siempre  lo  usara  com  per- 
sona  tan  poderosa  aquien  Dios  guarde  a  30  de  Abril  de  1625. 
Carta  de  crehencia.  A  S.  Ex.  el  Senor  &.  Nos  el  coronel 
y  consejo  damos  poder,  y  abremos  por  bien  por  isto  que 
los  senores  Guilhelmo  Scop,  Ugo  António,  Francisco 
Duquesme  personas  de  nuestro  consejo  vayam  a  tratar  eop 
su*Ex.  el  Marques  D.  Fádrique  de  Toledo  sobre  la  entr^ 
de  la  ciudad  dei  Salvador  y  consertar  c(m  S.  Ex.  los  oçri^ 
tulos  presentados  de  mestra  parte  en  la  mejor  forma  qpe 


—  586  — 

j^erom,  y  lo  que  los  dichos  senores  tratarem  teãdremoa 
por  bien,  y  hecho  sy  to  que  cumplíremos  puntealmente  y 
éOQ  sinceridade;  fectia  en  la  ciudad  dei  Salvador  a  30 de 
Abril  de  1625.  Capitulaciones.  En  el  quartel  dei  Cármen 
ft  SO  de  Abril  de  1625  el  senor  D.  Fadrique  &  parecieron 
los  senores  cappitanes  Guilhelmo  Scop,  general  dei  arti- 
Hieria.  y  Hugo  António  comissário  general  e  Francisco 
Doqoesme  todos  três  dei  consejo  los  quales  truxieron  co- 
mission  dei  senor  coronel»  y  consejo  que  se  hallaa  en  la 
ciudad  de  S*  Salvador  de  Bahya  de  todos  Santos  para  haser 
y  concluir  las  capitulaciones  seguientes  para  entregar  a  S. 
M.  y  ai  senor  D.  Fadrique  de  Toledo  en  su  nombre  la  dicha 
ciudad  de  S.  Salvador  que  ai  presente  poseen«  obligados  de 
las  armas,  de  S.  M.;  y  el  dicho  senor  D.  Fadrique  ordeno  ai 
senor  D.  Juande  Orellaoa,  maestro  de  campo  de  infanteria 
espanola,  ai  seçor  D.  Francisco  de  Almeida  almirante  de 
h  armada  de  Portugal  y  maestro  de  campo  de  otro  tercio 
de  infanteria  espanola,  ai  senor  D.  Hieronymo  de  Quixada 
y  Solorzano  auditor  general  dei  armada  y  exercito,  ai  senor 
Diogo  Rodrigues  teniente  de  maestro  de  campo  general,  y 
quartel  maestre  general  y  ai  senor  governador  Juan  Vi- 
eencio  S.  Feliche  todos  dei  consejo  que  juntos  asistan  a 
eonfrir  y  tratar  lo  contendo,  y  asentarem  y  conclueron  Ias 
capitulaciones  seguientes.  Primeramente  que  ai  senor 
coronel  y  consejo  hande  entregar-Ia  dicha  ciudad  de  S. 
Salvador  ai  senor  D.  Fadrique  de  Toledo  en  nombre  de 
8.  M.  en  el  mismo  estado  en  que  se  baila  oy  dia  de  la  fecha 
eon  toda  la  artilheria,  armas,  vandeiras»  y  mouiciones, 
pertrechos,  vastimentos,  y  navios  que  dei  puerto  y  Ia 
ciudad  se  allare,  todo  el  dinero,  oro,  plata,  yoyas,  mercan- 
stas,  menage.  negros,  negras,  esclavos,  cavaUos,  y  de  mais 
cosas  que  se  allare  en  la  dicha  ciudad  y  navios  dequalquier 


I 


—  597  - 

calidad  y  condiciones  que  sea;  y  qoalquier  nacion  vasalOiSs 
de  S.  M.  qae  no  tomaron  ias  armas  contra  S.  M.  ny  sus 
vasâlos  hasta  despues  de  llegara  (Manda  dr.  El  senor  B* 
Fadriqne  de  Toledo  en  nombre  de  S.  M.  les  consede  que 
dichos  senores,  coronel  ministros,  capitanes;  of^ciales,  f 
soldadoS;  y  sus  criados,  y  toda  la  gente  de  mar.  y  todos  los 
demas  olandeses,  itemengos;  inglezes,  franceses,  aleman^ 
como  sean  los  que  tf  uxieron  comsigo»  salgan  livremente, 
sin  nigun  impedimento  com  toda  a  su  ropa  de  vestir,  y 
dormir,  y  que  los  coroneles>  y  capitanes,  y  officiales  puedam 
Uevar  en  baúles,  y  caxas  la<licha  ropa  de  vestir,  y  dormir, 
y  no  otro  cosa,  y  los  soldados  con  sus  mochilas.  Que  el 
dicho  senor  D.  Fadrique  de  Toledo,  les  dará  passaporte 
para  todos  los  navios  de  S.  M.  paraque  no  se  les  haga  dano 
niguno,  no  aliando  los  fuera  dela  derota  de'sutierra. 
Que  el  senor  D.  Fadrique  les  hade  dar  vastiméntos  neces- 
sários para  três  meses  y  médio.  Que  toda  la  gente  hade 
sahir  de  la  ciudad  todos  juntos..  Que  el  dicho  senor  D.  Fa- 
drique hade  sinalar  per^onas  que  visitando  los  dichos  sol- 
dados, y  demais  personas  que  salierem  para  que  se  caso 
que  Ueven  alguna  cosa  fuera  de  lo  capitulo  que  el  dicho 
senor  D.  Fadrique  aya  de  restituir  ai  dicho  senor  coronal 
todos  los  prisioneiros  que  se  allaren  en  pie  aqui.  Que 
ningun  soldado  de  los  dei  exercito  dei  dicho  senor  D.  Fa- 
drique haya  de  haser  agravio  a  ninguno  de  los  olandeses 
y  gente  sobredicha  dei  dicho  senor  coronel.  Que  los  hade 
dar  los  instrumentos  de  la  naveg^cion  que  tryen  en  sus 
navios.  Que  el  dicho  senor  D.  Fadrique  les  aya  de  dar  las 
armas  para  su  defensa  en  su  yiage.  Que  hasta  los  dichos 
navios  ayande  salir  sin  armas  ningunas  exceto  los  capitanes 
que  podran  llevar  espadas.  Que  el  dicho  senor  coronel  aya 
de  dar  esta  noche  huma  puerta  abierta  coa  su  cuerpo  de 
Outubro  75 


^tardia  ai  dicho  mm  D.  FadríqM  d^tm  da  ta  tuti^Ila, 
ffl  senM-  D.  Ftfiriqiíe  Im  de  r^^tibs  ^  su  icòntetitopara 
A  segorifltd  ^tretanto  qtíe  esta^  capituiacfoQs  ^  cample; 
1Mia<m  id  qoariiâ  dei  GariMfn  a  SO  de  Abril  de  1625. 
Gsta^  c^^^lações  £íe  eoticliiinam  às  «fés  liaras  da  tarde,  e 
^finnaratti  D.  F^ríqúè  4è  toledo  Osório,  Guilhclmo  Stop, 
Hogo  Anteoío,  e  i^raiK^isco  iDuqú^iti<9. 

ÍLIVRÒ  tERGEIRO. 

Ofuesmedeuaêegueitsúrmadiístitoriéâasderam 
veia perawka  de  Espanha  &. 

Eitaja  ^si  scfl  t>osto  e  não  podiam  acabar  de  se -tirar 
k%tk<ança§.  travessas,  atulho  •com  que  as  pettas  de  Santa 
Gáletína  por  donde  bavia^dé  «ntmr  a  ii^ranteria  conforme 
ts<»t^talaç6es.  Tiradois  emfim  os  impedimentos  comqne 
{Nirece  ^  fortificaram  contra  a  força  de  ^Petarde  foram  en- 
Iriando  o 'mestre  de  campo  igeneral,  o  mestre  de  campo  B. 
VMo^de  Orellanacom  sinquo  companhias;  não  levaram 
Imodefras,  costome  observado  na  entrada  de  praças  que  se 
Wítregaím.  Lançou-se  vanáo  qoe  nenhuma  outra  pessoa 
«atrase sob  pena  devida,  e  traidor  aEl-Rey.  E  advertido 
O.  Fadrique  de  quem  por  verttura  despois  o  não  guardou, 
tnandou  ajuntar  ao  vando  que  debaixo  das  mesmas  penas 
Mnhum  soldado  das  companhias  que  ^travam  sayse  da 
«asa  qoese  lhes  desse  pêra  •seualojameifto.  D.  Álvaro  de 
dlbranches  £cou  com  sua  companhia  ^e  guarda  da  porta 
'{ijpWém  ^ia  parte  de  fora)  com  a  -ordem  que  ninguém 
«tttwise,  nem  saysse,  sem  -nova  ordem  de  D.  Fadrique,  que 
ffály  a  paiíeo  espaço  entrou  na  cidade,  y  foy  alojar  as  casas 
4o  ^overmaddr.  D.  Mafa:U€(l^']ffe»efií6fs  qtie  de^ndo  o  s^  • 


ti4o  (I09  vemetedoFCis  ocupada  em  desembaraçar  aporta  se 
fopai  pêra  sua  cappitana.  Foi  logo  peb  manhã  a  dar  o  ^ 
raben  a  D.  Fadrique  de  Toledo  da  mudança  de  huma'trí4è 
eeia  do  Carmo  cheia  de  ciudadoa  para  aquelta  casa  do  que 
O  acbou  satisfeitíssima  (dizia  muitas  vezes  qua  nunca  tSa 
J)oa  a  tivera)  por  hum  jardinote  com  partido,  coriosidadq. 
do  coronel  João  Doart,,  e  por  bums^  sak^  que  lavrava  o  got-' 
vernador  Diogo  do  Meudouça  de  vista  qo  topo  sobre  èHeu 
9  parte  da  cidade,  e  boa  do  mar  oceano,  mais  janelas  no 
prolongo  sobre  a  bahya  e  outras  pêra  o  interior  delia»  e 
parte 'setentrional  todas  livres  e  pcw  outras  circumstancias 
que  acompanham  a  soberania.  Acabada  sua  visita  sayo  a 
ver  qs  ruas  qqe  pelo  que  tinha  ovido  em  Portugal  imagi- 
nava diferentes.  Considerou  por  toda)  as  partes  as  ruínas, 
das  defenças,  as  peças  quasy  todas  dç^neavalgodas,  e  comQ 
o  intento  era  buscar  alguns  livros  curiosos  que  não  avia 
enfadado  de  tio  triste  espetaqulo  se  tornou.  Poderia  relatar 
do  despojo  e  de  outras  particularidades  que  todos  desejaram 
saber,  e  neste  luguar  esperam  com  grandíssima  inserte^. 
Mas  parece-the  que  o  autor  castelhano,  que  dizem  escrevço 
a  relação,  desta  impresa  nío  foy  curto  avaliando  em 
400  V  ( * )  senáoincluio  nfeto  os  navios.  íabricas  e  apreatos 
deiies  e  as  casas  da  cidade,  O  que  chammente  podem 
afirmar  é  o  que  lhe  dizia  hum  olandez  que  mal  se  poderjit 
imaginar  a  pobresa  daquella  gente,  porque  entrando  ei]es 
com  tão  apresurada  entrepresa,  e  achando  as  casais  iuteiras 
como  seus  donos  as  tinham  ate*  relíquias  que  traziam  aò 
pescooo  colgadas  das  camas  senlo  aohara  ouro,  nem  prata, 
nem  instrumento  que  arguisse  mais  que  pobresa;  e  qçí 
nas  casas  de  melhor  aparência  revolvendo  arcas  de  row' 

(•)  érmiro^pt9.89/rfcrs. 


—  Sítf- 

branca  achavam  entre  ellas  garfbs  e  colheres  algtima  lassa 
antiga,  alguma  cadeasinha  de  ma  traça  e  pouco  valor, 
aigiins  anéis  velhos  e  de  ruins  pedras,  nenhum  firmai, 
nenhuma  garçantilha,  nenhuma  sinta,  que  o  tomava  por 
testemunha  de  sua  verdade  avendo  de  ver  o  pauco 
que  aly  se  achava,  excepto  na  fazenda  do  navio  de 
D.  Francisco  Sarmento.  Não  se  pode  por  este  caminho 
arguir  pobresa  do  lugaar,  porque  ordinário  he  na  gente  de 
negocio  portugueza  da  índia  e  asy  o  sera  na  do  Brazil  em 
seu  tanto  trazer  o  seu  dinheiro  de  hum  trato  era  outro  não 
no  empregando  emcalvagidaras,  joyas,  nem  ainda  naquellas 
cousas  da  índia  aprasives  ã  vista.  Mas  verdideiramente 
considerado  bem  a  fabrica  das  casa,  a  traça  de  todas,  bem 
se  arguira  poucos  levantados  pensamentos  como  cortado 
todos  por  hum  nivel  mui  conforme  a  isto  he  omenage  e  al- 
fayas,  os  guadaraixinnes,  as  cadeiras,  os  leitos,  as  pinturas. 
Avia  muitos  negros,  e  negras,  poucos  Portuguezes,  os  mais 
da  nação  Hebrea,  que  se  acomodaram  a  fortuna  do  vencedor 
livres  do  cuidado  quam  bem  se  lembraria  Espanha  da  recu- 
peração daquella  cidide.  Peças  de  artilheria  avia  em  canty- 
dade  muitas  de  navios  tomados  pequenas,  e  maas,  poucas 
boas  fora  das  que  na  praça  avia  de  antes ;  de  pólvora  e  mo- 
nições  de  todo  género  bastantemente  para  muitos  mezes; 
munto  de  selas,  bridas,  e  todo  o  adresso,  pistolas,  armas 
ligeiras  de  infanteria,  petos  fortes;  indicio  de  pensamentos 
conquistadores  em  que  queriam  vencer  aos  portuguezes, 
que  se  contentaram  sempre  em  todas  suas  boas  fortunas, 
e  conquistas.  Nâo  era  menos  de  apresto  em  seus  almasis 
^e  anxarsea,  velas,  pregadura,  graxa,  mas  a  curiosidade  se 
mostrava  mais  em  seus  navios  de  maquinas  de  fogo  grana- 
das de  muitas  maneiras,  bombas,  alcansias,  roqueiras  por 
popa  abocadas  abaixo  se  fossem  cometidos  com  lanchas 


-  áôf  - 

inaumer^teis  instratttônios  de  BaregaçSo.  Vioseclaramebfè* 
como  se  eogaDava  Diogo  Rodrigoes  em  sua  imagiiiaç3o^' 
gente  de  guerra  mit  e  trezetits^  e  quinze  pessoas  de  nàHt' 
(]uinhentos  e  seis  afora  quarenta  edois  artilheiros;  e éii^^ 
coenta  e  seis  oiliciaes,  estes  mil  novecentos  e  desenovM 
nenhum  velho,  rarissim^  moços  peqúeíic^,  todos  manceboií 
gente  escolhida  para  luzir  entre  qualquei^  juíanteifia  éd" 
mundo.  Bem  se  pode  ppesuttiir  que  se  quizessemretolverse 
onindose  conformes  (o que  com defeculdade  seria  enti^e- 
tal  aperto  e  variedade  de  âação  )  a  esperar  hum  assaílto  quis 
custaria  rios  de  sangue,  e  vitoria.  Não  seria  umildade  dizert 
D.  Fadrique  o  que  o  outro  general,  Yini,  ni,  y  Dbs  venCiiií^. ' 
Quinta  feira  primeiro  de  Maio  as  dez  da  manhã  tirada  iaf^ 
bandeira  de  Maurício  se  plantou  em  seu  lugar  sobre  a  see 
a  das  armas  reaes  de  S.  M.  e(»a  castellos  e  leões.  Materiía 
de  notáveis  descontentamentos  entre  os  Portugueses,  cha^ 
mando  aquillo,  se  foi  enavertencia,  ódio  nos  Castelhanos  a 
nação  portugueza  que  em  tudo  se  mostrava,  e  liunca  em- 
tão  publica  aparência.  Era  aque  Ia  empresa  de  Portugal  dos' 
cinco  mil  e  oitocentos  homens  que  assistiram  em  campanha 
os  três  mil  e  trezentos  portugueses,  muitos  fidalgos!  moita 
mais  gente  nobre,  quasi  todos  aventureiros,  enío  da  pledDí 
de  que  as  levas  se  fazem  ordinariamente.   A  nobreasi> 
que  mais  continuava  nas  trincheiras,  no  desmontar  mataS; 
carregar  faxinas,  calejaras  mãos  com  a  paa,   e  eqiadir 
sendo  aqui  a  de  Castella  sem  offlcio,  ou  cargo  entreteni» 
dos  cerca  de  la  persona,  gente  jubilada  pêra  o  trabalho, 
que  o  pençamento  dos  conselhos,  e  governo  de  Portugal 
fora  somente  pedir  socorro,  persuadidos  a  que  tinhaufi 
genetaes;  querendo  D.  Fadrique  portuguez  pudera  mete? 
coín  as  de  Portugal  as  armas  de  Castella,  com  que  a? 
quinas  reaes  dadas  por  Deosao  Mm^  ficando  mu^dto- 


—  594  — 

das  que  avia  em  casas  particulares  que  pareciam  de  pilhage. 
e  ainda  das  inventariadas,  alguns  soldados  particulares  que 
ipodiam  entrar,  e  sayr  rapinavam  coisas  mui  descommodas 
.de  levar,  pipas  inteiras  de  cebo,  alguns  oSiciaes,  as  de 
Vinho,  que  segundo  se  contava  logo  vendiam  alasernado. 
Estes  e  outros  taes  não  tiveram  sorte  de  encontrar  caixões 
de  sedas,  meias  e  outras  coisas  de  moderado  preço.  Em 
^quanto  estas  negociações  e  trabalhos  se  gosam,  e  padecem, 
ibandava  D.  Manuel  recolher  a  sua  infanteria  e  artilheria 
tque  tinha  em  terra,  acodir  ao  provimento  da  gente  que 
tinha  em  ambos  os  quartéis,  aprestar  taboado  que  na  terra 
não  havia  e  as  mais  coisas  necessárias  para  querenas,  e 
pendores  para  o  que  náo  havia  carpinteiros,  e  calafates, 
aendo  gran  parte  dos  da  armada  de  navios  particulares,  e 
dd  frete  que  sendo  acabada  sua  obrigação  andavam  espa- 
lhados pela  terra  dentro,  outros  ganhando  seu  jornal  que 
ali  he  grande,  e  náo  avia  desco]|)rilH0s ;  nem  era  de  menos 
cuidado  a  aguada  estando  as  pipas  em  estado  que  mui 
pouca,  eram  de  serviço  sem  muito  adresso.  O  que  se  dizia 
que  na  terra  avia  muitos  tanoeiros,  e  muitos  arcos  era 
semelhante  as  outras  informações,  se  não  se  salva  na  sim- 
plicidade que  verdade  he  que  tanoeiros  e  arcos  se  acharam 
pêra  concertar  louça  de  navios»  marchantes  que  com  o 
euidado  de  seus  donos  levaram  pouco  dano.  mas  para 
tantas  mil  pipas  que  saem  de  mãos  de  quem  se  não  doe 
era  impocivel  aver  apresto:  tudo  era  confusão  porque 
seus  procedimentos  na  satisfação  a  todos  culpando  o  de 
que  avendo  tocado  a  sua  cappitana  meo  banco  de  área 
defronte  da  cidade,  não  tratava  de  lhe  dar  querena.  Que 
tudo  era  alinhar  pêra  mostrar  maiores  aparências  do  efeito 
de  seu  trabalho  porque  no  mesmo  tempo  queria  acudir  a 
tanta  coisa;  que  avia  soldados  pelas  companhias  a  que 


—  595  — 

faltavam  sapatos,  e  aveado  muitos  de  moníção  se  lhe  náo 
davam.  Pera  que  se  poupava  o  que  era  pêra  repartir?  O 
mesmo  diziam  do  dinheiro  que  não  despendiam  dando-se-lhe 
pera  as  necessidades  do  campo :  queria  adiantar-se  com  os 
ministros  portuguezes  mostrando  a  torna  viagem  que  lhe 
sobrara;  mas  elle  feitas  as  contas  comsigo  entendia  que 
acertava,  prevenindo  o  poder-lhe  faltar  os  mantimentos  de 
Espanha  que  haviam  de  navegar  tantos  mares.  Nenhuma 
cousa  o  cançava  tanto  como  a  preça  que  avia  de  ser  neces- 
sário no  apresto  dos  navios  de  Portugal  que  aviam  de 
ajudar  a  levar  os  olandezes  avendo-se-lhes  de  dar  todos 
meter-se-Ihe  logo  mantimentos,    e  pipas  pera  aguada» 
porque  se  partissem  logo  não  estariam  consumindo  os  man- 
timentos que  avia,  e  pera  se  desencontrarem,  como  se 
pretendia  das  armadas  de  socorro  que  se  esperavam  não 
via  melhor  caminho  pela  diíTerença  das  derrotas  dos  que 
com  aquella  monção  partem  pera  Europa  e  dos  que  da 
Europa  buscam  o  Brasil,  que  detendo-se  aly  os  rendidos 
ate  que  os  socorros  chegase  não  faltaria  modo  por  donde 
comonicasem  e  consertasem  o  luguar  de  se  ajuntar ;  e  que 
com  a  junta  de  tais  dois  mil  homens  aos  de  socorro  poderia 
aver  causa  de  muito  receyo  intentando  alguma  facção  de 
que  não  podiam  deixar  de  vir  advertidos  de  Olanda  se 
acaso  acliasem  a  praça  rendida,  e  porque  a  esta  opinião  ouviu 
que  havia  outros  opostos  a  mandou  propor  a  D.  Fadrique 
pelo  governador  San  Feliche  e  que  estimaria  muito  que 
ouvesse  junta  em  que  a  provocaria  aos  mais  práticos  ma- 
rinheiros. San  Feliche  voltou  com  resposta  e  ouve  replicas 
e  defeculdades  com  que  estrangeiros  e  espanhoes  vieram 
a  partir  juntamente.  Logo  que  a  praça  se  rendeu  ordenou 
D.  Fadrique  de  Toledo  mandar  a  nova  a  S.  M.  pera  o  que  se 
aprestou  hum  pataxo,  mui  ligeiro,  bem  espalmado  e  en- 
Outubro  76 


-  596  - 

sevado,  mui  boas  velas  e  todas  que  o  mastro  podesse  levar. 
Era  de  força  e  com  deseseis  peças  de  artilheria  de  bronze 
a  cargo  do  capitão  Martimde  LIanes  hya  o  capitão  D.  Pedro 
de  Porvas  com  cento  cincoenta  soldados,  mosqueteiros 
escolhidos.  Coma  nova  D.  Henrique  de  Alagon  convalecente 
do  mosquetaço.  Partiu  a  13  de  maio  à  noite  em  direitura 
a  Cadiz.  D.  Manuel  que  levava  em  seu  regimento  que  logo 
em  chegando  ao  cabo  Verde  despachasse  caravela  com  a  viso» 
e  não  executava  esta  ordem  pelas  ocupações  que  aly  teve» 
e  chegando  à  Bahya  vira  mayor  inconveniente  por  não  ser 
o  mensageiro  do  infelice  principio  da  empreza.  Agora  lhe 
pareceu  necessário.  Mandou  dar  monte  a  huma  caravela  e 
a  aprestou  pêra  a  viagem.  Dizem  que  hum  portuguez  dera 
informação  a  D.  Fadrique  que  a  caravela  era  embarcação 
mui  ligeira,  que  furava  os  mares  e  avia  de  anticiparse,  com 
a  nova  a  Espanha  muitos  dias,  em  huma  carta  dequelle  dia 
escreveu  o  capitulo  seguinte :  Oy  han  llegado  a  desirme 
que  parte  uma  caravela  esta  noche  a  anticiparse  a  levar  el 
•aviso  e  â  llegar  primero  que  el  navio  que  lleva  a  S.  M.,  esto 
parese  que  la  misma  rason  lo  esta  desinio  que  no  puede 
seer  y  asy  digo  las  que  asy  para  no  persuadirrae  a  ello  pues 
quando  V.  S.'  gustare  de  despachar  caravela  claro  esta  que 
V.  S.*  no  queria  que  partiese  a  tempo  que  va  a  hurtar  lo 
vendicion,  y  se  en  esto  ay  algo  creo  muy  seguramente  que 
será  deligencia  de  algum  particular  sin  orden  de  V.  S.* 
Suplico  a  V.  S.*  lo  mande  averiguar  e  estorvarlo  pues  es 
tan  claro  lo  que  en  esto  se  deve  haser,  y  ami  mande  V.  S.* 
A  este  capitulo  respondeu  que  as  benções  esperava  de  quem 
as  podia  dar  sem  negociações.  A  partença  da  caravela  tinha 
asentado  seria  com  licença  de  S.  S.*,  p  depois  dado  seu 
navio  os  dias  que  lhe  parecese  como  o  tinha  escrito  a  S.  S.* 
em  oito  daquelle  mezdandolhearesáo,  que  (quando  outras 


—  597  — 

não  ouvese  que  eram  muitas )  náo  era  justo  que  as  senhoras 
de  Portugal  esperasem  pelos  correos  de  Madrid  somente 
cartas  de  seus  maridos  que  tinham  naquella  armada,  fora 
de  que  por  ordem  de  S.  M.  levava  despachar  caravelas 
logo  em  chegando,  asy  lho  tinham  mandado  os  governa- 
dores de  Portugal  que  com  dobrado  gosto  e  pontualydade 
obdecia  estando  ausente.  A  D.  João  Fajardo  foy  ordem  to- 
masse as  velas  as  caravelas  que  não  fossem  de  D.  Manuel, 
e  como  corriam  com  amizade  antiga  avendo  sido  D.  Manuel 
soldado  de  seu  pai  algumas  vezes  deulhe  conta  da  ordem  e 
depois  de  mandado  executar  n'uma  caravela  que  viera  a 
D.  Afonso  de  Alencastre;  estendendose  a  pratica  com  lha- 
neza veio  a  dizer  que  a  pessoa  que  levase  a  sua  conta  tal 
empreza  podiam  dar  ordens  que  nenhum  outro  navio  par- 
tisse sobre  que  ouve  largos  discursos,  e  distinções  mui 
necessárias  pêra  semelhantes  ocasiões.  Mandou  aquella 
mesma  tarde  ao  capitão  Manuel  de  Palhares  que  como  de 
si  fizesse  saber  a  D.  Fadrique  que  elle  erà  o  nomeado  pêra 
ir  a  Lisboa  com  o  aviso  e  asy  lhe  fizese  mercê  de  ocasiões 
de  seu  serviço.  Que  a  partenca  lhe  tinha  ordenado  D. 
Manuel  seria  quando  S.  S.*  o  despachase.  O  dia  seguinte 
à  meia  noite  veo  o  mestre  de  hum  navio  portuguez  tomado 
por  hum  patachinho  deOlanda  com  aviso  que  ja  tinha  dado 
a  D.  Fadrique,  que  fora  mandado  pelos  olandezes  á  cidade 
que  tinham  por  sua  saber  do  estado  das  cousas,  com  pre- 
ceito tornasse  em  horas  limitadas  sob  pena  que  tardando 
padeceriam  os  companheiros;  que  aquella  com  duas  presas 
o  navio  da  ilha  da  Madeira,  e  outro  de  Lisboa  esperavam 
resposta  doutras  da  ponta  de  S.  António.  Sahiulogo  Martim 
de  Valhesilha  com  os  navios  Victoria  e  S.  Catharina,  e 
huma  tartana,  e  a  sua  ordem  mandou  D.  Manuel  dojs  pata- 
xos  que  tinha  prontos  para  qualquer  ora,  e  Manuel  de 


—  598  — 

Palhaes  na  sua  caravela.  Acháramos  olandezes  a  que  deram 
cas^  ate  a  paragem  do  rio  de  S.  Fraucisco,  e  os  deixaram 
▼endoo  intervalo  com  que  os  vencia  em  ligeiresa.  As  presas* 
que  eram  ruins  de  vela  prevenindo  o  olandez  tinha  man- 
dado se  fisesem  ao  mar.  Delas  teve  vista  Manuel  de  Palhaes 
lhes  poz  a  proa  mas  o  general  Valhesilha  vendo  que  era 
tarde  lhe  fez  sinal  e  se  recolheu.  Por  este  homem  se  soube 
que  huma  das  presas  era  navio  de  Lisboa  carregado  de 
bastimento  e  trazia  cartas  a  D.  Manuel,  de  serem  trinta  e 
cinco  velas  partidas  deOlanda  em  socorro  da  Bahya.  Sentiu 
muito  que  se  recolhese  estes  navios  sem  efeito,  e  como 
lhe  hya  tanto  nos  bastimentos  todas  as  deligencias  lhe  pa- 
reciam pequenas  e  pretendeu  fazei -as  com  os  seus  pataios 
somente.  Estando  com  este  cuidado  de  que  tinha  avisado 
a  D.  Fadrique  o  avisou  D.  João  Fajardo  com  muitas  horas 
da  noite,  que  lhe  escrevera  que  ja  se  exasara  a  sayda  dos 
pataxos  que  de  trabalho  os  livrava  seu  sobrinho  D.  Henrique 
de  Alagou  que  estava  surto  na  barra  com  as  duas  prezas. 
D.  Manuel  lhe  pareceu  que  o  portador  da  nova  não  seteria 
cançado  muito  em  averiguar,   porque  parecia  que  so  com 
rede  se  tomavam  com  brevidade  duas  prezas  por  humnavio 
só  e  levando  comsigo   Tristão  de  Mendonça  baixou  pela 
Bahya  com  intenção  de  chegar  á  barra;  mas  com  poiícomar 
vencido  soube  que  D.  Henrique  so  estava  surto  na  barra 
aonde  se  recolhera  por  ter  vista  d^aquellas  prezas,  seguindo 
como  disseram,  a  ordem  que  levavava  que  avia  de  evitar 
encontro  de  inimigos  para  assegurar  a  brevidade  da  nova 
que  levava  de  leveir.  Com  esta  certeza  fez  a  volta  pela  cap- 
pitana  de  D.  João  Fajardo,  e  escreveram  a  D.  Fadrique 
advertindos  que  naquellas  presas  consistia  grande  parte  do 
remédio  da  armada  de  Portugal  que  daquelle  reino  partira 
£alta  de  mantimentos  para  voltar,  Tristão  de  Mendonça  que 


—  599  — 

quiz  levar  esta  carta  trouxe  ordem  de  D.  Fadrique  para  que 
hum  pataxo  da  sua  armada  fosse  a  seu  cargo  e  acompa- 
nhasse  aos  dois  de  Portugal,  tudo  isto  era  Ja  mais  chegado 
a  manhã  de  18  de  Maio  que  mea  noite.  Fízeram-se  a  ?ela, 
e  a  tarde  entraram  os  dois  pataxos  (  porque  o  de  Castella 
se  não  poude  desembaraçar  tão  depressa)  com  a  pressa  que 
abordara  e  rendera  o  capitão  Gregório  Soares  que  na  sua 
falua  vinha  com  Tristão  de  Mendonça,  trazendo  nove  olan- 
dezes  que  na  pressa  estavam  de  guarda,  avendo  nella  treze 
portugaezes.  E  chegando  estes  a  cappitana  sem  perguntar 
nada,  nem  detendo  os  mais  que  emquanto  os  animou 
a  seu  modo  delies  os  mandou  D.  Manuel  a  D.  Fadrique 
que  por  elle  soube  a  sertesa  da  armada  do  socorro)  o 
por  elle  o  soube  D.  Manuel.  Tinha  precedido  que  D. 
Fadrique  tinha  mandado  pedir  ainda  no  meo  do  caminho 
dois  olandeses  a  Tristão  de  Mendoça  por  dois  recados 
differentes.  Hum  e  outro  embaixador  proposeram  a  pro- 
posta de  Tristão  de  Mendoça  tio  cruamente  e  tanto  em 
publico  de  castelhanos  a  portuguezes  que  lhe  pireceu 
necessária  demonstração  publica  e  mandou  não  saysse  da 
cappitana  de  D.  João  Fajardo,  almiranta  real,  o  que  deu 
matéria  de  discursos  posto  que  mui  breves.  Disiam  que 
D.  Fadrique  não  tinha  jurisdição  sem  os  remetter  a  D. 
Manuel  pêra  prender  fidalgos  portuguezes.  Outros  que 
sendo  tal  a  pessoa  de  D.  Fadrique,  e  a  quem  S.  M.  come- 
tera aquella  empresa  fora  mui  excessivo  o  termo  que 
tomando  em  forma  de  descortesia  e  desobediência  era 
merecedor  de  advertência  mais  rigorosa.  O  que  tocava  às 
jurisdições  por  mais  amplas  que  fossem  as  de  D.  Manuel, 
que  nunca  soldado  seu  de  qualquer  calydade  que  fosse 
podia  ficar  isento  de  guardar  grande  decoro  a  pessoa  de 
D.  Fadrique  nem  S.  M.  avia  de  prevenir  caso  semelhante 


—  600  — 

sem  excetuar  no  regimento  de  D.  Manuel  o  em  que  D. 
Fadrique  podia  mandar  prender  naquella  forma.  Logo  na 
manhã  seguinte.pediu  D.  Manuel  a  D.  Fadrique  fosse  sor- 
tido de  mandar  Tristão  de  Mendoça  para  o  seu  navio  donde 
niosajria  sem  sua  ordem,  ou  pêra  a  Almiranta  de  Portugal 
piras  e  atalhar  o  fallar-se  em  jurisdições  pois  isto  não  eraes- 
eosa-lo  da  prisão;  deu-lhe  muitas  rasões  e  sobre  tudo  lhe 
pedio  por  mui  particular  mercê  emfim  sua  excellente  na- 
tareza,  e  fidalguia  mostrando  a  D.  Manuel  muito  desejo  de 
o  soltar  estava  como  violentada  em  sinquo  dias  que  Tristão 
de  Mendoça  esteve  regalado  com  U.  João  Fajardo.  Pouco 
depois  sayrem  os  dois  pataxos  e  rendeu  o  capitão  Gregório 
Soares  a  outra  presa.  Emquanto  vinha  mercansia  da  ilha 
da  Madeira,  e  cantydade  de  pipas  de  vinho  pêra  o  Conde 
de  Vimioso  da  sua  capitania  de  machico  que  lhe  foram 
restituidas  posto  que  com  alguma  falta  com  muito  gosto 
de  D.  Fadrique  e  dos  generaes  sendo  ja  presa  que  custava 
a  todos.  Com  os  pataxos  4inha  ido  hum  barco  ou  tartana 
de  D.  João  Fajardo  quedepoisde  rendida  apresa  se  chegou 
mais  que  o  pataxo,  e  outra  razão  lhe  meteo  alguns  sol- 
dados ;  depois  de  surtos  no  porto  tendo  aviso  da  tartana, 
foi  o  auditor  general  da  armada  do  estreito  como  a  empa- 
dronar-se  do  navio  que  tinha  dentro  a  gente  de  Gregório 
Soares.  Sobrea  entrada  ouve  duvidas  e  repugnancias  doen-^ 
do-se  os  portuguezos  de  ver  metida  jurisdição  alhea  em 
sua  presa;  ouve  ruido  acodiu  o  auditor  general  da  armada 
de  Portugal.  E  emfim  acodio  D.  Manuel,  e  vendo  que  toda 
a  barra  funda  andava  sobre  pipas  mandou  que  todos  os 
soldados  portuguezes  vencedores  se  recolhese  a  seu  navio, 
ficando  os  outros  de  posse  pacifica  como  desejavam.  Aper- 
tavam os  comissários  com  excesso  mas  visitas  que  se  fa- 
ziam aos  olandeses  que  se  hyam  embarcando  sendo  mais 


—  601  — 

moídos  do  que  aqui  se  pode  escrever  sem  usar  termos 
umildes,  escandalisava  o  modo  geralmente  de  maneira 
quasy  avisado  D.  Fadrique.  O  qual  com  achaque  de  os 
querer  ver  embarcar  baixou  a  marinha  e  pondo-se  a  hum 
balcão  mandou  que  fose  passando  os  capitães  e  os  officiaes 
com  suas  espadas,  e  os  mais  desarmados  conforme  as  ca- 
pitulações, fazendo-lhes  todos  cortesia  de  rendidos,  e 
logo  ordenou  que  livremente  lhes  deixase  levar  a  estes 
seus  vestidos,  e  aos  outros  seus  baQis,  e  cofres  como  os 
tivese  fazendo-lhe  nisto  muita  mercê  e  mui  ajustada  com 
sua  fidalguia  e  com  a  necessydade  dos  vencidos  de  que 
se  deram  por  mui  obrigados  louvando  muito  sua  grandeza. 
Pregam  que  não  teve  aly  seus  limites,  mas  chegou  a  suas 
terras  com  outras  circumstansyas  da  nobreza  de  D.  Fa- 
drique de  Toledo  que  re  conheceram,  de  maneira  que  por 
ordem  dos  estados  se  mandou  em  Olanda  se  não  fallase 
mais  naquella  matéria ;  o  que  constou  p3r  carta  que  a 
senhora  infanta  escreveu  a  S.  II. .  Eram  muitos  dias  de 
Maio,  e  não  cesavam  negócios  pesados  de  cançar  a  D. 
Fadrique  que  logo  nos  primeiros  comesou  a  tratar  das 
devasas  de  que  S.  M.  o  encarregava,  vendo  as  que  se 
tinham  tirado  sobre  que  padeceu  desgostos  Antão  de  Mes- 
quita ouvidor  geral  que  negava  pode-los  mostrar  sem  ex- 
presso mandado  de  S.  M,.  e  em  certa  forma;  no  que  se 
gastava  muito  tempo  senJo  comprehendida  muita  gente 
ríquaate  que  foram  sentenciados,  e  alguns  à  morte,  acodia 
falta  de  mantimentos  de  suas  armadas  mandando  Nuno 
Vas  Fialho  desembargador  da  relação  do  Brasil,  e  commis- 
sarios  a  sua  ordem  a  Boypeva,  ao  Morro  de  S.  Paulo.  Ca- 
mamu,  e  rio  de  Cayru,  e  a  outros  portos  mais  distantes  a 
fazer  grande  cantydade  de  farinhas  de  guerra  ordinário 
sustento  daquellas  partes.  A  Sergype  d'El-Rey  pêra  que 


—  602  — 

Iheviesem  vacas  para  susteato  do  exercito,  e  carnes  salgadas 
pêra  a  navegação :  não  era  de  menor  cuidado  que  todos 
estes  juntos  o  de  avisar  aos  portos  de  índias  estivessem 
prevenidos  porque  do  socorro  de  Olanda  estava  a  nova  ja 
artificiada  ja  por  governadores  de  Portugal  e  por  aquelles 
olandezes.  Para  este  effeito  que  comunicou  com  D.  Manuel 
lhe  pedio  huma  caravella  de  sua  armada,  e  pessoa  que  bem 
fosse  pêra  fazer  aquella  diligencia  pêra  que  lhe  nomeou  o 
capitão  Cosmo  do  Couto  que  sobre  a  experiência  da  guerra 
tinha  estado  por  aquellas  partes.  Partiu  na  caravela  N.  S. 
Rosário  a  vinte  e  quatro  com  cartas  pêra  todos  os  portos 
de  consideração.  Na  margarita  que  era  o  primeiro  avia  de 
dar  três  maços,  pêra  o  governador,  pêra  Porto  rico,  pêra 
o  Presidente  de  S.  Domingos,  o  qual  avia  de  encaminhar 
os  avisos  inclusos  pêra  S.  João  de  Ulloa,  Avana,  e  outros 
portos  desviados.  Na  margarita  havia  de  tomar  piloto, 
pêra  correr  a  Costa  tomando  os  portos  de  Cracas,  Rio  de 
la  hacha,  Santa  Marta  e  i(Cartagena.  Daly  passara  a  Porto 
fiello.  o  que  não  poude  fazer  por  achar  ja  prestes  a  frota 
pêra  Espanha  em  cuja  companhia  avia  de  vir;  mas  logo  o 
governador  Diogo  de  Escovar  despachou  huma  fragata  com 
o  aviso. 

Foy  esta  diligencia  de  D.  Fadrique,  escutada  por  Cosme 
do  Couto,  de  grandissima  importância  como  logo  se  vera. 
Com  tantas  ocupações  e  pela  falta  de  offlciaes  se  não  podia 
asistir  as  quarenas  dos  navios  e  conserto  das  vasilhas  pêra 
a  armada  com  a  pressa  necessária  psra  o  tempo  tão  entrado, 
como  na  armada  de  Portugal  em  que  avias  muito  menos 
navios  e  menos  cuidados.  Aquella  noite  em  partindo  Couto, 
chegou  o  capitão  Apollinario  Ferreira  morador  em  S.  Tiago 
em  Cabo  Verde  em  huma  caravela  despachado  pelo  gover- 
nador daquelle  estado  Francisco  de  Vasconcellos  da  Cunha 


% 


—  603  — 

em  quinze  de  Abril  com  cartas  pêra  os  generaes  de  que  em 
quatoi^e  de  aquelle  mez  apareceram  sobre  aquelia  ilha  trez 
navios  que  deram  fundo  no  porto  da  Praya.  e  no  mesmo 
dia  chegaram  mais  vinte,  que  náo  surgiram  e  se  fizeram 
todos  trinta  e  três  a  vela  na  volta  que  as  armadas  de  Espa- 
nha tinham  levado  a  maior  parte  daquella  armada  lhe  pare- 
ceram navios  de  pequeno  porte ;  da  ilha  de  Maio  tivera  logo 
aviso  de  que  era  a  armida  de  Olanda  com  duas  cappitanas 
por  o  dizerem  oUndezes  que  desembarcaram  em  terra  como 
costumam,  em  socorro  da  Bahya.  e  lavavam  ordem  achandoa 
recuperada  pelos  bespanbos  de  pasar  ao  Rio  de  Janeiro. 
No  dia  seguinte  apareceram  sobra  a  barra  da  Bahjra  as  trinta 
e  três  velas  de  que  o  governador  de  Cabo  Vçrde  mandara 
mui  certa  relação  navios  pela  maior  parte  mui  pequenos,  treze 
sem  artilheria,  dose  de  porte,  e  neste  duas  capitanas;  o  que 
tudo  se  vio  mui  claramente  do  forte  de  S.  António  aonde 
algumas  veses  quizeram  desembarcar,  como  se  coligia  pelo 
que  se  chegavam,  e  não  acabavam  do  sertificarse  do  estado 
da  cidade,  nem  o  poderam  alcansar  por  sy,  nem  pelo  pa*» 
taxo  que  mandara  diante  com  quanta  diligencia  fez.  Quando 
logo  se  soube  a  certezadesta  armada  foram  alguns  de 
parecer  se  usase  de  ardil  disparando  algumas  peças 
quando  chegasem,  fingindo  bater-se  a  praça  e  a  bandeira 
das  armas  de  Maurício  se  puzese  no  lugar  que  tinha  que 
eom  esta  confiança  entraria  a  surgir  no  porto  e  não  cayrin 
em  seu  errosenáô  despoi$de  se  ver  cativa.  Outros  deferiam 
porque  das  armas  de  Espanha  se  não  avia  de  temer  tretas 
avendo  algum  que  se  persuadise  que  $em  aquelle  seu  o  eu" 
trariam  as  trinta  e  três  velas  e  se  atreveriam  apresentar 
batalha*  A  D.  Fadrique  pareceu  que  $e  oão  deviam  usar 
árdís  senío  que  com  Ihanesa  avia  de  ser  investida.  E  instes 
navioâ  chegando  a  poata  de  Santo  António  se  fizeram  quanto 
Outubro  •  77 


—  604  — 

pela  bolina  pode  ser  nas  voltas  de  Nordeste  e  Sudoeste,  com 
o  vento  que  era  Sueste.  Acudiram  a  cappitana  de  Por- 
tugal a  mor  parte  da  nobreza  e  a  almiranta  os  camaradas 
do  Almirante,  c  outros;  e  asy  os  mais  navios  se  encheram 
muito  mais  do  necessário.  Com  muitas  mostras  de  alegria 
e  iguaes  ciunprimentos,  mandou  D  Fadrique  dizer  a  D. 
Gbristovam  de  Roxas,  que  das  duas  cappitanas  envistise  a 
que  quizese  e  a  outra  lhe  deixase.  Alguns  amigos  davam 
a  D.  Manuel  o  parabém  de  tão  formoso  dia  como  se  apare- 
lhava; respondia  que  não  seria  o  dia  mais  formoso  que  té 
aly  o  tinha  sido,  porque  entendia  mui  bem  que  os  olandezzes 
nSo  entravam  como  se  dizia  vulgarmente,  mas  se  susten- 
tavam todo  o  possivel  contra  o  vento.  Quem  dizia  os  alcan- 
sara  se  fugirem,  se  querem  pelejar  como  não  entram?  com 
estas  duvidas  se  entravam  parecendo  em  geral  aos  práticos 
que  era  mais  seguro  esperar  que  entrasem  se  gastou  a 
maior  parte  da  maré  jusante  de  que  elles  se  aproveitaram 
afastandose  de  maneira  qiie  a  parte  de  força,  se  ali  a  avia 
estavam  distantes  por  grande  espaço.  D.  Fadrique  tinha 
ordenado  que  os  navios  ligeiros  se  adiantasem  com  a  maré 
e  ganhasem  o  barlavento  pela  parte  de  S.  António,  como 
o  fizeram  chegando  huns  a  tiro  de  canham  a  alguns  do  ini- 
migo. E  vendo  emfim  que  não  entravam  se  fez  a  vela,  e 
com  elle  as  cappitanas;  e  posto  que  a  maré  ja  não  ajudava 
muito,  comtudo  com  o  vento  que  aquela  tarde  dentro  da 
Bahya  se  chamou  a  Lessueste  foram  as  cappitanas  excepto 
a  de  Nápoles,  que  como  outros  navios,  dava  quarena,  na 
Tolta  do  sul  quarta  do  sudoeste,  e  se  chegava  ao  inimigo 
que  não  gosava  deste  vento  que  mais  chegado  à  barra  era 
Sueste  foy  abatendo  os  navios  pêra  o  norte  notavelmente, 
e  com  muito  menos  força  os  olandezes  por  estarem  fora  do 
canal.  D.  Fadrique  vendose  neste  estado,  e  aos  navios  de 


—  60S  — 

importância  e  sendo  ja  de  noite  deu  fundo  pouco  seguro 
de  air  nos  baixos  verdadeiramente  visto,  e  considerado 
bem  por  quem  o  entende,  ho  que  depois  diserara  homens 
com  muitas  barbas,  e  alguns  de  muitas  cans  se  forma  diante 
dos  oltios  quam  desditosa  sorte  é  a  miiicia  do  mar  julgada 
sempre  por  qualquer  em  suas  acções;  porque  um  bomjuizo 
em  tudo  quer  discorrer,  e  não  ha  algum  que  do  seu  não 
seja  muito  satisfeito.  O  que  passa  muito  pelo  contrario  em 
qualquer  das  outras  artes.  Na  mercancia  não  cumpetira  o 
melhor  cortesão  com  o  quaixeiro  de  qualquer  mercado  e 
nas  coisas  da  corte,  e  modo  de  se  vistir  não  admitira  que... 
ainda  que  tenha  visto  e  conhecido  a  mesma  corte,  e  o  seu 
juizo  transcendente  comprehende  os  ventos  a  que  não  sabe 
os  nomes,  guia  as  proas  que  não  saberá  encaminhar  uma 
alagoa,  esta  penetrando  o  íntimo  do  coração  dos  generaes 
do  mar  e  se  não  ha  quem  sofra  este  atrevimento  num  dis- 
creto, como  se  poderá  refrear  a  cólera  em  inorantese  insen- 
çatos.  Mormurou-se  com  principio  na  gente  do  Brasil  de 
que  e  que  D.  Fadrique  ordenara  fariam  aparências  pêra  dar 
a  entender  mui  alheo  de  querer  pelejar;  porque  avendose 
feiamente  no  cometer  não  proseguira  no  adeantarse,  e  dera 
fundo  com  que  muitos  dos  navios  se  abstiveram  em  pelejar, 
e  abordar  que  o  surgir  atalhara  hum^t  acção  gloriosa,  coroa 
de  todo  o  bom  suocesso  da  Bahya,  fora  a  ultima  ruina  dos 
rebeldes  a  perda  daquellas  relíquias  do  ultimo  esforço  do§ 
estados  ajudado  das  contribuições  violentas  dos  povos 
daquellas  províncias;  pelo  contrario  estando  inteira  aquella 
armada,  ficava  sem  alguma  segurança  toda  a  costado  Brazil. 
Entre  os  navios  que  mais  se  adeantaram  foi  S.  Tereza  de 
Castela,  N.  Sr.'  da*  Ajuda  de  Portugal,  este  deu  no  lanço 
de  S.  António,  aquella  encalhou  nos  baixos  de  Tapârica. 
vendose  pelo  sucesso  que  sem  esperança  de  salvação  dei- 


-  606  — 

tandose  muitos  ao  mar  afogados  alguú  e  todos  em  grande 
risco,  nem  sayo  d^aquelle  trabalho  senão  cortado  o  mastro 
grande;  dos  olandezes  um  dos  maiores  não  podendo  montar 
os  cabos  como  estava  mais  empenhado  deu  nos  mesmos 
btiixos  de  Taparica  donde  escapou  com  grande  pena  cor- 
tando as  obras  mortas  aleviando  tudo  ate  cousa  de  pouco 
pôzo,  comobarrilinhosde  manteiga,  cai)Cinhasde  Flandres, 
canecas  e  outras  miudesas.  Esta  foy  a  causa  de  que  correse 
a  noticia  de  ser  perdida  humacappítana.  A charam-se  corpos 
mortos,  sete  ou  oito  bateis,  e  lanchas,  em  algumas  mos-^ 
quetes»  ronqueiras,  lanças  de  fogo,  e  outros  instrumentos, 
tanto  a  btirlavento  dos  hespanhoes,  qual  averia  nestes  su^ 
porse  adiantar  qui2esem  for<^ar  os  ventos  tanto  a  dentro  das 
pontas  de  S.  António,  e  Taparica?  Se  os  castelhanos  pode* 
rio  pàlejar,  quem  lho  impedio?  Osportuguezes  não  diriam 
que  poderam  sem  confessar  medo  porque  nenhuma  outra 
ordem  tiveram  que  a  qiie  D.  Manuel  lhes  enviou,  e  nao 
averà  algum  que  dlgalhe  fosse  outra  que  não  pelejase.  A 
cappitana  de  Portugal  se  poude  chegar*por  que  náo  pMejou 
pois  nSo  tinha  ordem  que  lhe  estorvasse,  e  a  almiranta  ne-* 
nhuma  fora  da  D.  Manuel.  A  manhã  seguinte  não  parecia  a 
Armada  senão  huma  ou  duas  velas  que  de  madrugada  se 
viam  escassamente;  na  tarde  se  juntaram  na  real  a  conselho 
e  como  não  se  sabia  da  mormuração,  persuadidos  todos 
que  cada  hum  tinha  feito  seu  dever  na  ocasião  do  dia  dantes 
propoz  D.  Fadrique  se  convinha  ir  buscar  o  inimigo  que 
como  avia  nova,  estava  no  morro  de  S.  Paulo,  trouxe  todas 
as  resões  da  gloria  que  era  venselo,  do  risco  daquella  pro^ 
tincia  se  ficase  inteiros.  Acertaram  de  votar  primeiro  os 
que  não  puzeram  em  duvida  a  que  logo  saisse  a  armada» 
e  o  consumisse.  Ouve  logo  qtiem  advertiu  o  perigo  de  sair 
tio  grande  armada,  ^  podese  sayr  com  vento  sueste  por 


—  607  — 

que  desgarrondo  huma  vez,  como  era  quasi  serio  nos  mais 
dos  navios  pesados  era  impocivel  não  poder  cobralo  porto* 
E  quando  tudo  acontecesse  navegar  com  sueste  pêra  o  sul, 
chegar  ao  Morro  de  S.  Paulo,  como  se  avia  de  permitir  que 
saysse  huma  armada,  sem  lenha,  sem  agua,  sem  mantimen** 
toscos  navios  abertos,  sem  querenas,  sentados.  Outro 
votou  conformemente  votando  que  da  armada  de  Portugal  t 
que  como  de  menos  trabalho  estava  adiantadas  de  todas 
o  navio  S.  José  terceiro  na  força  estava  na  querena  por 
adrissar;  a  cappitana  ealmiranta  por  dar  pendores  com 
grandíssima  necessidade  delles,  e  em  todas  faltava,  o  que 
se  desia  da  agua»  lenha,  e  demais.  D.  Manuel  estava  sa- 
tisfeito daquelles  votos  que  achava  se  podiam  forteficar 
com  outras  muitas  resões»  e  por  muitas  persisas  ne* 
cessydades  de  que  a  armada  em  que  estava  toda  a  gente 
de  consyderação,  nem  por  meo  dia  desemparase  aquella 
prassa,  e  chegandolhe  seu  giro  disse,  que  naquelie  lugar 
lhe  convinha  vesti rse  de  piloto,  deixada  a  pessoa  de  ge- 
neral. Chamados  os  pilotos  mandou  que  se  chegasem;  pro*- 
poz  qual  era  a  derrota  por  onde  se  avia  de  ir  buscar  o 
Morro  e  qual  o  vento;  perguntou-lhes  se  atreviam  abitalo» 
Se  era  impocivel  mal  se  gastava  o  tempo  averiguar  se 
convinha.  Todos  confessavam  que  não  seria  pocivel,  exceto 
hum  que  o  fez  fácil  fazendo-se  o  vento  Leste.  A  que  D.  /oáo 
Fajardo  que  ja  tinha  votado.  No  fuera  mejor  norte  y  fue- 
ramosen  popa?  ecomo  estava  logo  pronta  objeiçáo  se 
perguntou  como  tinham  ido  os  olandeses?  respondeu  D. 
Manuel  que  por  serem  navios  mais  ligeiros,  melhor  des- 
palmados,  e  que  o  ultimo  medo  obrigava  a  muito,  mas 
que  duvidava,  antes  apostaria  que  não  chegaram.  A  ins- 
tancia que  se  lhe  fez  que  se  tinba  feito  delles?  respondeu 
que  estarião  encobertos  de  alguma  das  pontas.  £  que  se 


—  608  — 

náo  fosse  perdidos  apareseriam  ate  amanhan  seguinte. 
Durou  muito  a  junta  e  depois  de  desfeita  estan  lo  ainda 
juntos  em  conversação  veo  o  sargento  maior  Marga  com 
aviso  de  que  apareciam  sobre  a  barra.  No  primeiro  de 
Junho  apareceram  juntos  arriba  de  Itapoana  velejando  todo 
o  possivel  pêra  o  norte  disendo-se  depois  que  parte 
daquelles  navios  se  detinham  pela  parage  da  Torre  de 
Garcia  de  Ávila.  D.  Manuel  enfadado  por  ventura,  de  ver 
que  com  estas  novas  da  armada  detinha  D.  Fadrique  a  cara- 
vela dizendo  que  fosse  mui  embora,  mas  que  os  seus  mocos 
não  havia  de  dar  arriscado  o  segredo  de  que  avisava  a 
S.  M.  em  buma  caravela  ã  vista  de  tantos  navios,  ou  enga- 
nado em  sua  opinião  em  que  estes  eram  mui  inferiores  de 
forças  ao  que  depois  se  imprimiu,  ou  foi  maior  a  confiança 
nos  seus  do  que  outrem  jujgaria  por  justo  escreveu  a  D. 
Fadrique  em  hum  capitulo  de  huma  carta  de  quatro  de 
Junho  que  os  seus  olanJeses  alli  se  detivessem  des  ou  doze 
dias  com  a  sua  armada  o  favor  de  Deus,  e  licença  de  S.  S.* 
iria  desalojal-os  isto  com  toda  a  singeleza  do  mundo  em 
consideração  de  estar  a  de  Castela  em  todo  o  estremo 
atrasada.  Parece  que  alguém  leo  aquella  carta  que  acharia 
sobre  qualquer  bofete  náo  advertio  na  dilação  que  se 
pedia  naquella  se  aviam  de  prover  aquelles  navios  de  mais 
agua  da  que  ja  tinham,  e  entanto  dar-se  tado  a  cappitana 
que  daly  a  três  dias,  e  tomando  o  que  hera  sem  distinção 
publicou  que  D.  Manuel  também  eraafeissoado  a  aparências 
e  a  tirar  gloria  devaydades;  porque  estando  sobre  hum  lado 
(representando  isto  com  a  mão  na  ilharga)  a  sua  cappitana 
se  oferecia  sayr  comella  contra  o  inimigo.  O  que  mais  disia 
não  se  sabe  donde  o  achase  que  D.  Fadrique  lho  prometia. 
Esta  fama  que  eomesou  a  estranhar-se  vindo-lhe  dahi  a 
muitos  dias  a  noticia,  sentio  muito,  e  se  queixou  a  D. 


—  609  — 

Fadrique  por  carta  de  qae  sua  boa  intenção,  zelo  de  ser- 
viço de  S.  M.  e  gosto  de  o  dar  a  S.  S.*  lhe  acarrease  injus- 
tamente o  nome  de  fanfarrão  que  aborrecia  igualmente 
com  todos  os  mãos.  queria  por  testemunha  de  que  senão 
oferecera  senão  tomado  tempo  pêra  seu  apresto.  Como  as 
cartas  eram  de  pouca  importância,  e  não  se  guardaram 
não  avia  mais  provas  pêra  sua  defensão  que  a  fidalguia  de 
D.  Fadrique  que  sentiria  o  que  elle  sentia  em  tamanho 
desgosto :  e  como  as  verdades  andam  mal  avaliadas  tudo 
foi  trabalho ;  mas  depois  quando  ja  a  prova  era  avesada 
por  ter  o  tempo  com  esquecimento  apagado  aquelle  rumor 
de  leviânda  le.  se  achou  a  mesma  resposta  de  D.  Fadrique 
com  hum  capitulo  destas  palavras.  Emquanto  a  desalojar 
V.  S.*  a  armada  dei  inimigo,  sy  se  quisiera  detener  los  dias 
que  V.  S.  disse  siempre  me  parecerá  muy  bien,  y  muy  fácil 

emV.  S.*  porque  conosco  sa  valor 4  de  Junho  de 

1625.  Mostrava  esta  armada  a  extrema  necessidade  da 
agua  pretçndendo  tomala  em  todos  aquelles  luguares  Rio 
de  S.  Francisco,  Torre  de  Garcia  de  Ávila,  enseada  de 
Vasa  Barris.  Apareceu  depois  sobre  as  villasdePernãobuco, 
e  Paraiba,  que  Mathias  de  Albuquerque  por  sua  pessoa 
defenderia  contra  outras  maiores  forças.  Vendo-se  sem 
remédio  porque  em  toda  a  parte  achavam  resistência  em 
luguar  de  guias,  que  avia  mister  correndo  a  Costa  entraram 
na  Bahya  da  Traição,  seis  léguas  a  ponente.  quasy  da  Para- 
hiba  como  em  terra  deserta  habitada  somente  de  pobres 
gentios  se  aquartelaram  ao  longo  da  praya.  outros  pêra 
huma  aldéa  donde  entravam  e  traziam  algumas  vacas. 
Sendo  avisado  Mathias  de  Albuquerque  se  quiz  logo  pôr  ao 
caminho,  mas  impedido  com  protestos  públicos  da  Camará 
e  Vila,  se  não  auzentase  daquella  praça  de  tanta  importância 
se  resolveu  sem  dilação  mandar  toda  a  força  que  pudese 


-  6tO  - 

escolhendo  pêra  cabo  Francisco  Coelho  de  Carvalho  nomeado 
governador  do  Maranhão,  que  aceitou  com  vontade  mui 
pronta,  Acompanhava-o  a  gente  que  levara  de  Lisboa,  o 
outra  que  se  lhe  ajuntou,  alguma  artilheria,  munições  e 
mantimentos.  Desembarcou  naquclla  costa,  alojando  junto 
Mananguapo,  Rio  distante  do. inimigo  duas  léguas.  Tomada 
mostrada  gente  se  achou  com  sete  companhias,  de  Fernâo< 
buço,  sua,  e  da  Parahiba  e  alguns  indios  frecheiros,  que 
acompanharam  dois  padres  da  companhia,  que  o  governador 
mandara  pêra  persuadir  aos  Tabajares  indios  visinhos  que 
socorresem  antes  a  dos  Porluguezes.  Dali  se  levantou  o 
inimigo  (não  saberei  dizer  com  que  nimero  de  navios  ali 
chegado  porém  suspeito  que  espalhados  derrotados,  e  mal 
tratados  de  sua  miséria  navegaram,  e  por  serto  tenho  que 
iam  mui  demenutos)  e  foy  com  desesete  navios  somente 
sobre  Porto  Rico,  que  estava  muito  de  antes  prevenido  com 
o  aviso  de  D.  Fadrique.  Daiy  sayram  canhoneados  da  forta« 
leza  com  perda  de  buma  nao  que  tocou  não  deixando  feito 
maior  dano  que  pegar  o  fogo  is  palhoças  daquella  povoação 
que  chamam  cidade.  Daly  passou  a  S.  Domingos  que 
acharam  com  a  mesma  prevenção,  e  desembarcando  gente 
em  terra  lhe  mataram  alguns,  e  puseram  os  mais  em  fo*- 
gida,  e  perdido  outro  navio  com  grande  demenuiçáo  em 
fazenda  e  reputação  se  retiraram,  não  alcancei  a  que  portos 
nem  quam  poucos  chegaram  a  suas  terras.  Esta  nova  doestar 
desembarcado  o  inimigo  naquella  bahya  com  toda  a  armada, 
aquartelado,  forlificado,  senhor  das  terras,  todo  o  gentio 
da  sua  parte  {quasy  costuma  ser  em  semelhantes  ocasiões 
quetai>(o  vença  o  rumor  a  toda  a  verdade)  tiveram  os  gene- 
raes  a  nove  de  Julho  cartas  do  governador  do  primeiro 
daquelle  mei.  Pareceu  a  D.  Fadrique  e  ao  conselho  se 
esperace  por  novo  aviso ;  p3rque  peia  informação  que  se 


-  611  - 

colheu  de  homeDs  práticos  não  era  aquella  bahya  capaz  de 
fazer-se  delia  praça  d'armas  nem  se  qaeria  que  aly  se  forti- 
case.  Entendendo-se  que  o  que  chamava  fortificar-se  seria 
o  que  esta  gente  como  tam  práticos  soldados  costumam 
fazer,  aquartelar-se  logo  de  qualquer  maneira  que  poude, 
ainda  que  não  seja  mais  que  pêra  huma  noite.  Vendo  que 
tardava  o  segundo  aviso  hum  dia  e  outro  bem  se  coligio  que 
o  negocio  estava  bem  parado,  porem  se  ajuntou  conselho 
sobre  aquella  ocorrência,  se  convinha  ir  demandar-se  o 
inimigo ;  discorreu-se  sobre  a  estação  do  tempo,  monção 
gastada  pêra  demandar  a  costa  de  Espanha,  o  estado  dos 
navios,  rotos,   velhos,  e  sem  querenas.  faltos  de  velas, 
enxárcia,  consumido  tudo  com  os  maus  chuveiros  de  Guiné 
e  do  Brasil  e  do  gusano  da  Bahya,  falta  de  mantimentos  na 
armaJa  de  Castela  nem  apenas  tinha  para  chegar  a  Gadiz. 
Lembrava-se  muito  a  necessydade  que  em  Espanha  avia 
daquellas  armadas,  parecendo  que  pêra  guarda  daquellas 
costas,  averia  somente  uma  esquadra  de  poucos  baixeis : 
era  impocivel  andar  varendo  todos  os  portos  aonde  desse  o 
inimigo  com  poucos  navios  tão  ligeiros,  senão  fosse  com  a 
armada  particular  pêra  aquelle  effeito;  que  todas  aquellas 
faltas  que  padeciam,  eram  iremediaveis  naquellas  partes. 
Outros  faziam  pontas  diversas;  propunham  que  era  o 
effeito  da  impresa  deslusido  deixando  inimigos  naquellas 
costas,  e  não  respondendo  as  objeções  disiam  que  tudo  avia 
ficar  desmontado  daquelles  ladrões.  Quem  munto  nisto  e 
nesta  gloria  insistia,    fazendo-se-lhe  brandamente  huma 
lembrança  por  hum  dos  que  tinham  votado  que  lhe  res- 
pondese  só  a  huma  cousa,  que  se  avia  de  comer?  respondeu 
que  taboas.  Muitos  ouve  (posto  que  ja  os  Espanhões  iam 
aprendendo  a  sustentar-se  com  farinha  de  pao)  que  repro- 
varam o  género  de  mantimentos;   dos  gloriosos  era  o 
Outubro  78 


-  612  - 

o  Marquez  de  Cropani,  e  atalhando  os  inconvenientes  de  fal- 
tarem as  armadas  em  Espanha,  se  oferecea  para  ficar  com 
huma  esqoadra  e  desalojar  o  inimigo  donde  quer  que  apare- 
cesse. Emfim  se  assentou  que,  visto  não  segundar  o  aviso, 
3  necessjrdade  que  os  tinha  levado  a  outros  luguares  levara 
ahy  os  olandeses  a  fazer  aguada,  prover-se  do  necessário, 
6  teriam  levado  ferro  como  dos  demais.  Que  sobretudo  se 
trataria  conforme  a  necessidade  que  o  tempo  mostrase  o 
qne  em  Pernáobuco  se  avia  de  saber  aonde  aqaeila  armada 
avia  de  ir  junto.  E  pêra  se  ter  de  tulo  verdadeira  informa- 
ção, e  achar-se  a  matéria  bem  disposta  pareceu  mandar 
diante  pessoa  de  importância.  Partiu  o  governador  S. 
Feliche  de  cuja  procedência  se  podia  fiar  muito,  com  elle 
o  governador  Francisco  de  Yalhesilha  e  Heitor  de  la  Calse 
capitão  de  infanteria  napolitana,  com  instrucção  trabalhasse 
por  reconhecer  o  alojamento  do  inimigo,  alcansar  verda- 
deira informação  daquella  Bahya,  de  queachandose  presente 
duas  pessoas  honradas  que  nella  estiveram  muitos  dias,  e  a 
consideração  era  tão  confuza  que  cada  um  variava  do  outro 
por  intervalo  immenso.  Acontecimento  ordinário  entre 
Portuguzes  a  quem  os  estrangeiros  vindos  de  novo  ensinSo 
os  sitios  dos  portos  e  enseadas  que  navegam  de  mais  de 
cem  annos  antes.  Estava  a  armada  de  Portugal  avia  dias, 
em  seu  tanto  florentissima  todos  os  navios  aprestados  com 
grande  sobra  de  mantimentos  pela  prodigalidade  com  que 
os  governadores  de  Portugal  a  socorreram  de  biscoito, 
azeite,  vinho,  chasinas,  e  tudo  de  estraordinaria  bondade, 
que  não  somente  bastava  mas  também  socorreu  a  de  Castela 
com  biscouto  que  se  lhe  pedio.  Foy  Deus  servido  que 
tudo  o  que  mandaram  chegasse  a  salvamento,  ou  por  boa 
fortuna  dos  que  escaparam  do  encontro  do  inimigo,  ou 
por  valor  dos  capitães  de  seus  pataxos,  que  das  entrenhas 


—  613  — 

arrancavam  as  presas  aos  piratas.  Só  D.  Manuel  não  gosava 
daquella  felecidade  com  descanço.  No  conselho  que  se 
ajuntou  a  três  de  Junho  sobre  o  numero  da  gente  que  havia 
ficar  de  presidio  naquella  cidade,  e  de  que  nação  avia  de 
ser,  foi  de  parecer  que  o  numero  fose  de  oitocentos,  posto 
que  os  não  poderia  sustentar  aquelle  estado,  nem  S.  H.  os 
avia  de  conservar  naquelle  numero,  fossem  portuguezes» 
e  os  que  faltasem  das  outras  nações  que  avia,  castelhanos 
biscaynhos,  e  italianos.  Na  mistura  ouve  muitos  daqoelle 
parecer,  todos  no  numero  se  avantajaram  entre  os  limites 
de  mil  e  duzentos  ate  dois  mil  e  quinhentos.  Mostravam 
pêra  isto  muitas  resões.  A  extenção  da  praça  trabalhosa  de 
defender  sem  muita  gente  avendo  de  aver  outra  que  aco- 
disse  as  paragens  que  eram  muitas  aonde  o  inimigo  podia 
desembarcar  a  que  era  necessário  dar  remédio  antes  que  se 
fortificasse.  A  instancia  que  se  fazia  que  confessandose  ser 
mui  justo  que  aly  ouvesse  mais  gente  de  guerra,  todavia 
era  necessário  saber  donde  se  avia  de  pagar.  Do  Estado  era 
impossível,  S.  M.  não  avia  de  sustentar  o  Brazil  como  os 
de  Flandres  em  que  a  religião  catholica  se  defendia  e  era 
deixados  muitos,  a  primeira  causa  e  fora  sempre  desde  o 
principio  de  tão  excessivas  despesas;  respondiase  que 
se  não  tratara  do  que  o  Estado  não  podia;  que  aquella 
defenção  não  ficava  naquella  ocasião  por  conta  de  D. 
Fadrique  e  daquelle  exercito;  e  era  necessário  ser  mm 
bem  fundada,  S.  M.  ordenaria  despois  o  que  mais  conviese 
a  seu  real  serviço.  Assentouse  ficassem  novecentos  homens 
esperase  juntamente  se  tratase  de  donde  se  lhe  aviam  fazer 
pagas,  porque  sem  ellas  era  impossível  cuidaram  alguns 
improdentes  do  tempo  que  avia  de  ser  tirado  domais 
pronto  que  na  presa  se  achase.  Mas  posto  que  algum  o 
lembrou,  nada  naquella  junta  se  concluiu.  Pouco  despois 


—  614  — 

se  vio  ( o  que  estava  bem  claro )  que  nem  castelhanos  nem 
italianos  queriam  alistarse  ou  obrigarse  a  companhias; 
e  carregou  todo  o  numero  sobre  a  gente  portugueza,  que 
pela  mayor  parte  eram  fidalgos,  e  seus  criados,  ou  pessoas 
de  sua  obrigação,  e  outros  nobres  aventureiros  que  deixa- 
ram a  comodidade  de  suas  casas,  por  servir  naquella  jor- 
nada, entre  estes  muitos  filhos  primeiros  de  seos  pais  bem 
afazendados,  calydades  p^ra  não  padecer  violência  em 
lugar  de  satisfação.  Comestes  se  podiam  contar  os  soldados 
do  terço  da  armada,  *  que  podiam  chegar  a  quatrocentos  em 
sinquo  companhias;  que  nunca  S.  M.  violentou  pêra  jor- 
nada alguma,  por  mui  grande  que  fosse  a  necesydade  de 
gente,  e  aos  que  voluntariamente  se  ofereceram  pêra  a 
índia  mandava  fazer  vantage  e  mercês.  O  que  aqui  mais 
danava  era  que  todo  o  conhecido  de  qualquer  casa,  ou  de 
fidalgo  nos  livros  d'EIRey  se  queria  eximir  da  lista.  Sobre 
que  vinham  grandes  queixas  dos  amos  a  D.  Manuel,  alegando 
exemplos  que  os  criados  de  outros  não  aviam  de  ficar  como 
ficavam  os  seus.  Conferencia  na  verdade  injusta  avendo 
senhores  e  fidalgos  que  se  avantajavam  muito  por  muitas 
circunstancias,  e  pela  grandesa  de  casa  e  criados  levaram 
a  sua  custa ;  tudo  conhecido  dos  mais  que  queriam  gosar 
da  mesma  liberdade.  Sobre  esta  defeculdade  de  pouca  gente 
avia  a  outra  de  se  não  sinalar  pagas  nem  ainda  de  promesí: 
D.  Fadrique  disia  que  a  ordem  de  S.  M.  era  que  toda  a 
despesa  correse  pela  coroa  de  Portugal.  O  Estado  do  Brazil 
estava  impocibilitado  e  pobre  pelo  que  tinha  sessadoa  Olan 
da  a  sugeições  na  Bahya  e  a  falta  de  comercio  geral  que  é 
tudo  que  ahy  ha  nos  tempos  florentes.  Os  soldados  que  la 
militavam  principalmente  os  que  tinham  ido  de  Portugal 
podiam  ser  a  cifra  da  ultima  necessidade,  curtas,  más  e 
incertas  resóes.  Nenhuma  paga,  a  terra  carissima  era  tudo 


-  615  — 

o  necessário  pêra  defender  o  corpo  das  injurias  do  tempo. 
Daqui  nascia  desobediência  insofrível  qual  se  vio  que  es- 
tando determinado  que  o  capitão  Lourenço  de  Brito  fosse 
em  barcos  a  dar  guarda  à  nau  Bata,  navio  grande  carregado 
de  mantimentos  de  Portugal  mettido  por  hum  esteiro  do 
Morro  de  S.  Paulo,  nenhum  delles  que  eram  naturaes  se 
quiz  embarcartO  capitão  Hieronimo  Serrão,  oferecendo  à 
sua  que  levara  de  Portugal,  e  com  ella  baixou  a  marinha 
aonde  D.  Manuel  o  esperava.  Tendo -a  embarcado  à  ordem 
de  Lourenço  de  Brito  se  tornou.  Em  duas  horas  faltaram 
muitos  soldados,  e  a  poucas  despois  eram  todos  acudidos. 
Pêra  isto  não  havia  castigo,  por  que  a  gente  Portugueza 
sem  mantimento,  sem  soldo  é  como  a  de  mais  dura  de  en- 
caminhar; e  geralmente  em  Portugal  reina  a  desobediência 
porque  nunca  os  vandos  de  pena  se  executam:  e  estar  um 
soldado  alistado  em  companhias  somente  pêra  ser  castigado 
e  não  pêra  se  sustentar,  sequer  miseravelmente,  insofrível 
parece.  Foi  necessário  que  da  armada  se  desse  sessenta 
soldados  com  que  foy.  Com  estas  mostras  da  vida  que  se 
aparelhava  não  avia  quem  se  oferecesse  pêra  ficar.  D. 
Fadrique  por  carta  de  seis  de  Junho  declarou  a  D.  Manuel 
que  não  avia  gente  que  ouvesse  de  ficar  senão  a  Portugueza 
e  que  pêra  essa  não  avia  ordem  de  donde  se  lhe  podese  dar 
soldo;  respondeu  a  que  podese  ficar  da  armada  estava 
mal  vestida  e  mal  calsada,  e  como  avia  de  ficar  violentada 
se  avia  de  ser  presa,  e  aonde?  porque  ficando  presa  bom 
exemplo  dava  a  D.  Francisco  de  Moura  que  todos  os  dias 
fugião.  Contudo  comessoua  executar  a  violência  ordenando 
ao  mestre  de  campo  António  Muniz  Barreto  terçasse  as 
companhias  ao  que  se  começou  a  fazer,  e  apartar  gente  em 
bom  numero,  entregarse  a  D.  Francisco  de  Moura  fazendose 
'  a  armada  baixa  das  ressoes.  Foram  mal  ospedados  no 


-  616  - 

principio  com  que  todo  feitio  se  per^a  signalandose- 

de  socorro  vinte  e  sínquo  reis  por  dia,  mui  a  prepc 

pêra  gente  violentada,  em  terra  onde  hum  pão  seis  p 

três  seis  onças  valia  vinte.  D.  Manuel  era  verdadeiram 

violentado  lembrandose  do  gosto  com  que  aquelles  po 

guezes  se  ofereceram  pêra  a  jornada  que  diferente  salisí 

viam  da  que  tinham  merecido.  Desejava  fétorecer  al( 

por  justissimos  respeitos,  custa valhe  muito  ouvir  suas  ( 

xas  não  estando  em  sua  mão  podela  remediar.  Em  dis 

sandose  em  hum  se  abria  portas  a  muitas  petições  e  t 

justas.  Não  bastando  os  terçados,  nempermetir  quesold 

do  terço  da  armada  ficassem,  tendo  persuadido  a  mi 

pêra  compor  tam  grande  numero,  ordenou  que  da  g 

que  ficas^  nas  companhias  se  tirasse  a  quarta  parte. 

isto  6  com  a  voluntária  se  fizeram  setecentos  e  cinci 

homens,  maior  numero  do  que  nunca  julgou  se  junt 

Foise  descobrindo  nova  defeculdade  sendo  necessário  n 

apertarse  com  as  companhias,  e  entrarse  por  alguns  < 

tureiros  que  se  tinham  alistado  nellas  por  amízad 

respeito  dos  capitães.  Cresciam  as  queixas  por  que  qi 

obrigar  a  taes  pessoas   que  podia  acusar  deixan^ 

mesmo  terço  da  armada  inteiro,  soldados  velhos  solt 

sem  obrigações,  ajuntavam  a  isto,  muito  malfeitores 

ruins  manhas  merecedores  de  degredo,  e  outros  cast 

Comtudo  hiâo  a  D.  Fadrique ,  de  maneira  que  era  n 

sario  acudir  a  estas  queixas,  dar  satisfação  mostr 

como  osqueixosos  se  enganavam  e  informavam  apai: 

damente  dos  soldados  do  terço  aonde  havia  gente  i 

honrrada  bem  disiplinada,  c  muitos  casados  e  a  travi 

se  a  ouvese  em  algum  era  castigada  e  avia  menos  qu 

outros  terços,  e  que  se  não  diziam  afrontas,  ao  qi 

Fadrique  satisfez  por  esta  carta  de  IA  de  Junho. 


Lh 


—  617  — 

No  me  pasa  senor  por  la  imaginacion  inovar  ninguna 
cousa  de  las  que  V.  S.  dispusiere  que  Io  que  ayer  escrevi 
a  V.  S.  de  que  sy  los  capitanes  sy  quisiesem  que  dar  com 
sus  compauias  las  reciviramos  asy  nofre  des  couformarme 
con  los  que  Y.  S.  hase  sino  abrir  el  un  camino,  y  el  otro 
y  asy  lo  dec'aro  porque  eu  todo  deseo  mostrar  satisfacion 
que  tengo  de  lo  que  V.  S.  executa  y  V.  S.  Ia  tenga  desta 
y  que  nadie  lè  desea  servir  como  yo,  ny  le  ajudara  coui 
mas  gusto  en  todo  lo  que  V.  S.  me  mandare.  Al  auditor 
se  dicho  que  execute  la  orden  que  tiene  de  V.  S..  Não 
eram  bastantes  estes  favores  e  fidalgas  correspondências 
que  D.  Manuel  achava  em  D.  Fadrique  pêra  que  não  sentise 
a  grande  moléstia  que  mimos  ou  impertinências  alheas  lhe 
causavam  nem  achou  modo  com  que  desabafase  com  ver- 
dade sem  rebuço  que  pela  preposta  seguinte  comonicada 
primeiro  com  D.  Fadrique.  Considerado  o  estado  das  coisas 
não  vejo  modo  pêra  obrigar  aos  soldados  que  se  ofere- 
ceram a  S.  M.  pêra  esta  recuperação  da  Bahya  que  repre- 
sentar-Ihes  diante  dos  olhos  quanto  em  Tão  trabalharam, 
e  que  serviço  fizeram  tão  pouco  pêra  estimar-se  depois  de 
recuperada  esta  praça  e  desamparada  como  pretendo  fazer 
avista  dos  olandeses  não  querendo  ficar  nella,  se  presedio 
por  tempo  de  mui  pouca  dura»  porque  S.  M.  logo  com  a 
nova  da  mercê  que  Deos  nos  fez  hade  mandar  tocar  caixa, 
fazer  leva  de  gente  pêra  segurança  da  praça  em  que  tanto 
lhe  vay,  como  tem  mostrado  mandando  a  ella  tam  grande 
armada  com  excessivo  gasto  de  sua  real  fazenda;  e  sem 
duvida  dará  licença  aos  que  agora  ficam  violentados  pêra 
que  tornem  a  suas  casas  dando-lhes  mantimentos  embar- 
cações em  que  pasem  e  mandando-lhes  rematar  contas  em 
seu  soldo,  e  fazer  a  mercê  que  couber  em  suas  calydades. 
Isto  deixada  a  obrigação  natural  de  servirmos  a  nosso  rei 


—  618  — 

e  senhor  bastara  pêra  obrigara  todos,  e  íicar  de  táo  boa 
TOQtade  qae  fosse  necessário  fazer-se-Ihes  força  pêra  acom- 
panhar esta  armada,  que  ora  com  o  favor  de  Deos  torna  a 
Espanha.  Também  conheço  outra  fonte  que  me  corro  de- 
clarar, e  he  que  alguns  fidalgos  e  pessoas  nobres,  que 
conhecemos  com  poucos  criados  em  suas  casas  favorecem 
e  amparam  alguns  soldados  que  se  lhe  a  costaram,  e  que 
por  ventura  náo  receberam  soldo,  e  que  he  de  mui  pouca 
consideraçam  se  todos  tiveram  reçSo  da  escotilha  de  El-Rey: 
será  cousa  vergonhosa  que  so  pêra  desemparare  o  serviço 
de  S.  M.  de  tanta  importância  os  chamem  criados,  avendo 
de  ter  todos  nos  outros  testemunhas  que  despois  lhes  nSo 
acompanham  suas  salas,  e  quando  verdadeiramente  fossem 
eriados  como  ha  muitos  parece-me  que  corria  obrigação 
aos  tais  fidalgos  de  se  cansar  muito  em  os  persuadir,  e 
que  alguma  parte  delles  se  ficasse  pêra  mostrar  em  tudo  o 
desvio  de  servir  a  S.  M.  como  na  resolução  de  navegar 
tantas  léguas  em  seu  real  serviço.  Outra,  e  oxalá  que  não 
será  mui  considerada  porque  estarey  mal  informado  que 
ouve  capitães  que  por  rogos,  e  respeitos  desobrigaram  sol- 
dados despois  de  alistados  com  os  do  presidio,  e  desejando 
muito  de  acudir  ao  que  toca  ao  serviço  de  El-Rey  nosso 
senhor  que  Deus  guarde,  como  sempre  fiz  em  todas  as 
ocasiões  me  pareceu  declarar  que  todo  o  soldado  nomeado 
na  lista  tem  de  oje  por  diante  senão  ficar  borrada  sua 
praça  nos  livros  da  armada  pêra  ração  e  pêra  quaesquer 
outras  quayes ;  nem  terá  luguar  em  algum  dos  navios 
delia  e  por  histo  ordeno  e  mando  a  todos  os  capitães  dos 
navios,  ou  pessoas  que  os  governam  não  admitam  nelles 
algum  destes  soldados  sob  pena  de  caso  maior,  e  traidor  a 
El-Rey,  afora  a  pena  que  me  parecer  conforme  ao  delito 
deixando  por  agora  por  dizer  o  modo  de  que  castigarei  os 


I 


—  619  — 

soldados,  e  mestres  de  navios  marchantes  se  os  admitirem. 
E  porque  venha  a  noticia  de  todos  mindo  ao  Ajudante 
Alonço  Rodrigues  com  esta  carta  para  qnc  loJas  as  cabeças 
e  capitães  a  leam  e  asinem.  e  por  esta  via  possa  chegar  a 
noticia  a  todos  os  soldados.  Bahya  22  de  Junho  dè  1625. 
Maior  monstro  era  este  do  cuidar  a  quem  ler  estes  escritos 
em  que  se  não  podem  dizer  todos  os  particulares  que  can- 
savam a  D.  Manuel  que  quando  se  dava  por  livre  desta 
fadiga  soube  que  a  maior  parte  da  gente  não  acudia  as 
companhias  em  que  se  alistara;  persuadido  ja  que  as 
armadas  partiriam  brevemente  porque  D.  Fadrique  lhe 
escrevia  que  os  navios  que  não  estivessem  prontos  ficariam 
pêra  se  aprestar,  com  huma  cantydade  de  dinheiro  que 
reservava  para  necessidade  precisa  tentou  novo  caminho 
propondo  quatro  escudos  em  principio  de  paga  algumas 
camizas  e  o  mais  que  ouvesse  aos  soldados  que  voluntaria- 
mente sentase  praça  começando  emquanto  não  acudiam  de 
novo  pelos  violentados.  Deu  esta  traça  mostra  em  prin- 
cipio que  avia  de  ser  mui  eficaz.  E  ate  nisto  avia  trabalho 
porque  não  avendo  ofliciaes  na  armada  era  necessário 
neste  mesmo  tempo  em  que  na  marinha  se  ocupavam  huns 
em  contar  dinheiro  todo  o  dia.  ou  estar  prontos  pêra 
qualquer  hora  em  que  os  soldados  acudissem,  assistirem 
outros  no  collegio  dos  padres  da  companhia  (conforme  ao 
aviso  que  lhe  mandara  o  deCropani  em  28  do  mes  passado 
/depois  que  quasy  tudo  o  de  valor  era  ou  desencaminhado, 
ou  repartido)  aonde  se  davam  panos  podres  por  excessivos 
preços  segundo  se  queixavam  os  portuguezes,  alfinetes, 
almofaças,  cascavéis,  berimbaus,  pelo  que  cabia  a  esquadra 
de  Portugal  daqueila  preça,  estas  sarcandajas  se  aviam  de 
repartir  despois  por  cada  companhia  conforme  o  que  a 
cada  hum  tocava ;  e  como  a  repartição  da  esquadra  de 
Outubro  79 


-  620  - 

Portugal  ficoa  (aato  pêra  o  cabo  veo  a  faltar  pêra  a  conta 
que  se  lhe  repartiu  quantia  quasy  de  oito  mil  cravados  pêra 
se  aver  de  pagar  em  Cadiz  ou  tarde  ou  mil,  ou  nunca ; 
porque  nfto  faltasse  algum  género  de  enfadamento,  qui« 
seram  alguns  fidalgos  portuguezes  por  fazer  bem  a  hum 
soldado  embarassar  as  jurisdições  destas  coroas ;  pediram 
e  importunaram  a  D.  Fadrique  de  Toledo,  confirmase  o 
título  de  ajudante  a  hum  soldado  que  tinha  feito  aquelle 
effioio  DO  terço  de  António  Moniz  Barreto,  metendo  pêra 
bonador  a  Diogo  Rodrigues.  D.  Manuel  considerado  quanto 
aquillo  se  afundava,  e  a  seu  juiso  contra  o  que  S,  M.  tinha 
assentado  o  nâo  permiitio.  Alega vase  por  outra  parte  que 
a  impresa  do  Brazil  era  fora  do  conteúdo  nos  alvarás,  e 
r^imentos,e  nela  levava  D.  Fadriqaeamplicima  jurisdição. 
Provava  D.  Manuel  o  contrario,  a  seu  parecer  mui  bem 
provado  com  os  mesmos  regimentos  reaes  pêra  aquella 
jornada.  Tinha  dito.  tratando  disto  a  D«  Fadrique  com 
muita  cortesia  que  todos  os  ofQcios  e  cargos  levantados 
pêra  aquella  impresa  sesavam  com  o  fim  delia  des  do  supe- 
rior ate  o  ajudante  delia  que  estando  elle  presente,  e  sendo 
terceiro  pedir  a  D.  António  Moniz  Barreto  outro  ajudante 
como  era  costume  nos  terços  aver  dois  aos  governadores 
de  Portugal  o  negaram  aly,  e  depois  o  não  concederam  sem 
aproveitarem  repricas  nem  instancias,  que  se  a  necessydade 
de  terço  estando  em  campanha  obrigasse  a  fazer  outro, 
muitos  averia  queaceitasem  o  cargo  na  ocasião,  como  ou- 
Tera  no  terço  de  D.  Francisca  de  Almeida,  que  nunca  o 
averia  por  tal  quando  náo  ouvesse  o  risco  das  jurisdições, 
pelo  terem  negado  os  governadores  de  Portugal  que  respei- 
tava ausentes, mais  se  pode  ser  que  em  presença  Com  tantas 
resões  mal  se  poderá  cuidar  teria  D.  Fadrique  sua  juris- 
dição por  demeauida,  ma>  como  quer  que  fosse  ou  perfiado 


-  621  — 

iQstaDtemeate  dos  preteusores,  ou  apertado  pela  palayra, 
tentou  outros  caminhos;  quiz  n^ndal-o aosofficiaesinlèr 
riores  que  o  assentasem.  e  estendendo  bem  o  laoo  nio 
achou  mais  que  o  auditor  general  que  esta<va  mui  doenlie. 
EÚcrveulhe  pelo  seu  auditor  general  pedindolhe  maandase 
asentar  aquelle  ajudante  que  ja  linha  nomeado,  ^ue  as  es<^ 
cusas  se  podia  aver  algumas  lhas  fosse  darem  pessoa.  Blqá^ 
pondeulhe  que  S.  Ex.  lhe  mandava  coisa  totalmente  fora 
da  sua  jurisdição,  aonde  nSo  a  tinhi  outra  que  o  gdnral  dt 
Portugal.  Pareceu  ser  aquillo  termo  de  comprhnento  ne- 
cessário ao  promettido.  Contentourse  o  auditor  castelhano 
que  o  de  Portugal  o  mandase  com  poderes  que  tinha  de^ 
clarado  ao  escrivão  da  nao  qpoe  estava  [em  terra  asistindo 
as  pagas,  quasy  o  mancyava  com  seus  poderes  se  os  tinha 
porque  o  senhor  D.  Fadrique  o  mandava  absolutamente  sem 
o  ouvir  de  seu  direito.  Considerou  D.  Manuel  qual  estava 
de  enfermo  o  Auditor,  e  que  pouco  bastaria  pêra  o  acabav 
que  não  avia  meo  entre  a  paciência  servil  e  a  resolução 
das  armas.  Foy  mais  modesto  que  resoluto  deixando  tudo 
a  que  S.  M.  o  julgasse  porque  sendo  justb  o  que  D.  Eadri*- 
que  fazia  não  era  injustiça  que  padesesse  o*  auditor.  Se  o 
poder  se  não  estendia  tanto  trabalho  seria  fazer  nonadas. 
Com  todos  estes  trabalhos  não  se  conseguiu  o  effeito  com*' 
prido  não  avendo  ainda  mais  que  oitocentos  homens  com^ 
qioe  Ibe  parecia  a  D.  Manuel  satisfaria  syuntando'  os  que 
B.  Eadrique  lhe  desse  como  lhe  tinha  dito  que  ajudaria  com 
os  que  podesse.  Mas  vendose  com  algumas  cartas  de  amigos 
não  quisesse  que  lhe  dessem  a  cargoo  deterse  aly  a  armada 
^  pois  OQtras  coisas  a  detinha,  escreveo  a  D.  Fadrique  esta 
carta.  He  dicho  a  Y.  S/  en  consejo,  y  fuere  dei  que  eu  Io 
que  toca  a  la  gente^  he  hecho  todo  lo  que  he  podido  y  maa 
de  lo  que  se  podia,  y  sy  V.  S.*  ubiera  propuesto  en  ía 


—  622  — 

primera  jimta  que  toda  la  gente  abia  de  ser  partugaeza, 
por  nÍDgam  caso  dei  mundo  tomara  por  mi  quenta  sacar 
tanta  de  la  armada  de  Portagual;  loasentado  fue  que  la  que 
faltase  se  avia  de  suplir  con  la  castelhana.  Tambien  di\e  a 
V.  S.*  que  sin  pagas,  era  impociblejuntarse  gente  que  dela 
violentada  no  se  podia  haser  caso  para  presidio  en  placa 
abierta.  Suplique  a  V.  S/  em  presença  por  escrito  por 
persona  confidente  que  haviendo  de  ser  hisÍ3mos  força 
a  los  soldados,  fue  V.  S.  [servido  de  senalarles  carsere  ou 
cuerpe  de  guardiã,  o  parte  adondelos  enserrasemos.  porque 
violência  y  libertad  eram  incompatibles.  Uvo  de  nombrarse 
la  gente,  y  por  la  ordem  que  V.  S/  aprovo  se  alistaram 
750  ó  los  que  se  allaron  en  la  lista  dei  maestro  de  campo 
António  Munis  facíl  era  suplirse  los  demas.  Pêro  destos 
vyeron  tantos  que  no  quedaron  ninum  apenas  quatrocientos 
ny  se  sy  llegaron  bien  a  tresientos  y  cincuenta.  Hire  um 
esfuerço  de  lo  poço  que  tenia  en  dineiro  para  el  apresto 
dei  armada,  despues  de  aver  pagada  la  gente  de  mar  por 
conservaria  a  que  no  se  fuese  como  se  iva,  propase  cuatro 
escudos  a  cada  soldado  pDr  cuenta  de  su  sueldo.  repartiles 
camisa  y  mas  cosas  que  me  aviam  quedado.  Cjm  esto  que 
se  alento  algo  mas  la  gente,  e  acudiu  de  manera  que  devem 
ser  cerca  de  setecentos  los  alistados,  di  ordem  ai  maestro 
de  campo  que  todas  las  campanias  que  dasem  reservando  a 
los  capitanes  algunos  de  sus  camaradas.  De  los  que  llamon 
tersio  de  la  armada  quedan  muchos,  de  manera  que  no  abra 
para  ella  tresientos  para  suplir  la  falta  quetenemos  de  ma- 
rineros  porque  solo  en  esta  cappitana  faltara  desyocho  de 
los  poços  que  trahya.  He  confessado  a  V.  S.*  ha  dias  en 
persona,  lunes  quatorze  deste  en  consejo  que  no  podia  mas. 
Com  todo  esto  estam  alia  en  la  ciudad  ofliciales  que  aqui  no 
podia  oscu:iar,   com  labla  tenlida,  y  dencros  i^ra  haser 


I 


—  623  — 

pagas,  y  diserme  que  algaaos  acuden.  De  esta  mauera  ae 
hara  mientras  que  la  cappitaua  de  Nápoles  Santa  Teresa, 
e  otros  navios  noacaban  de  aprestarse,  o  V.  S."  no  manda 
que  nos  hagamos  a  la  vela.  No  trato  de  la  parte  de  prelea 
que  cupoa  la  gente  portugueza  que  no  se  acaba  de  repartir 
porque  eso  no  puede  causar  dilacion  ala  p7rtença  pues  no 
se'  quien  no  gusta  mas  de  irsa  à  su  tierra  que  esperar  Io  que 
se  les  va  repartindo,  aunque  fuera  de  mas  preciso.  Los  sol- 
dados de  las  companias  todos  ttenen  sus  armas;  los  de  Ia 
purdicion  se  arman  con  picas,  arcabuzes  y  mosquetes  que 
traiamos  de  respeto,  y  toJo  se  ra  entregando  en  la  confor- 
midade de  lo  que  V.  S.*  ha  ordenado.  Estimara  yo  mucho 
detenerartilheria,  armas  moniciones,  para dexar,  pues  S.H. 
manda  a  S.  S/ todo  lo  que  fuere  decessario  sea  dei  armada 
de  Portugal  que  vénia  tan  falta  que  sy  la  pólvora  que  V.  S. 
hade  dar,  sy  fuera  servido  ir  a  nuy  mar  provehida.  Y  en 
resolucion  digo  que  sy  me  dexam,  sien  mosqueteros  sol- 
dados de  nuchas  armadas  que  me  ham  ajudado  en  ocasione 
en  que  losmarineros  me  faltaram,  oypor  los  de  mas  navios 
quedan  a  quarenta  o  conforme  a  su  porta  la  demas  infante- 
ria  mandare  entregar  toda  sy  la  reserva  que  he  dicho  de 
los  capitanes  y  e  sobraram  mucha  de  los  nuevecientos;  y 
sy  lo  que  he  dicho  puede  mijorarse  V.  S/  me  lo  mande 
por  haserme  mucho  que  en  todo  obedecere  como  devo;  y 
no  quera  Dios  que  causa  mia  sea  dilacion  de  uma  hora  so- 
lamente,  en  matéria  en  que  va  toda  la  importância  desta 
armada  antes  de  entrado  el  tiempo  que  la  puede  distrai* 
re.  Guarde  Dios  a  V.  S.*  Sy  algo  falta  por  entregar  a  lo 
causado  la  esclavitude  de  un  navio  nuestro  en  três  meses, 
o  cerco  dellos  con  la  cappitana  de  Nápoles,  sem  que  se 
saque  lo  que  alia  tiene,  e  padese  el  pobre  desudueno. 
Não  bastavam  estas  impossibilidades  de  trabalho  que 


—  634  — 

se  padeeia  neste  mesmo  tempo  em  tirar  dos  navios  de 
particnhres  pretredios,  monicões,  e  outras  miudezas  que 
sa  aviam  de  entregar  ao  provedor  mor  e  officiaes  da 
faieoda  naqoeUa  praça  eonforme  o  regimento  nem  ver  se 
estafam  ja  entregues  mais  de  oitocentos  soldados»  muitos 
e  mui  bons  artilheiros,  e  que  actualmente  asistiam  ea 
terra  officiaes  ccmi  dinheiro  pêra  paga  de  sc^dados  que 
sempre  acudiam  nem  o  saber-se  que  na  armada  de  Castela 
avia  muito  que  aprestar,  pcira  que  os  portuguezes  da  terra 
se  dessem  por  satisfeitoa  de  tanta  deligencia,  aitf  es  tudo> 
eram  queixas  que  não  se  acabava  de  dar  cumprimento  aa 
nqmero  de  novecentos,  que  alguns  eram  moços  e  mal  ves- 
tidos. A  isto  satisfazia  que  não  estavam  em  terra  pêra 
eleger  senão  pêra  aceitar  o  que  elle  lhe  mandasse;  e  todos 
daqaella  armada  foraqi  recetndos  no  consulado  pelos  mi-* 
niçtros  e  officiaes  de  S.  M. ;  antes  eram  melhores  que  os 
que  tinham  ido  de  antes  com  os  capitães  que  agora  set  não 
contentavam,  pois  sobre  tio  larga  viagem  tlnhaíB  apren- 
dido a  pratica  de  milicia  naquelle  sitio.  A  verdade  be  que 
íicoQ  mui  boa  gente  de  que  depois  quietas  as  paixões  fi- 
caram por  mui  satisfeitos.  D.  Fadrique  que  deperto  e  do 
continuo  não  podia  deixar  de  ouvir  queixas  de  que  ainda 
não  ficava  o  numero  inteiro,  não  podendo  resistir  as  impor- 
tunações de  gente  ociosa,  ou  por  outros  respeitos  ordenou 
ao  Marquez  de  Cropani  fosse  a  D.  Manuel  pêra  que  se  con- 
duisse;  e  avendo  alguma  duvida  declarase  da  sua  parte 
que  toda  a  dilação  da  armada^  e  as  consequências  correriam 
por  sua  conta.  Foi  mui  larga  a  proposta  diante  de  D.  João 
Fajardo,  e  outras  pessoas  de  autoridade,  e  muito  mais 
largo  o  que  se  respondeo.  Sobre  a  dilação  da  armada  se 
vefttilou  assas,  não  sem  demonstração  da  causa  verdadeira. 
Concluiu  D.   Manuel  que  tinha  servido  a  S.  M.  muitos 


—  625  — 

aonos,  com  boa  6  má  fortana  que  carregara  alguma  vez 
muito  demasiidamente  sobre  sua  fazenda,  a  honra  salva  e 
reputação  pela  bondade  de  Deus  em  quem  esperava  que 
nunca  seus  procedimentos  no  serviço  de  S.  M.  serião  outros 
pêra  que  jamais  ouVesse  luguar  de  que  se  podassem  dar 
cargos  como  nunca,  tendo  emulos  poderosos  nos  tempos 
adversos  lhe  foram  dados.  Sua  intenção  era  cumprir  o  ntt- 
mero  da  gente,  se  alguma  faltava  seria  muito  poua,  que 
hya  fazendo  voluntariamente  com  suavidade,  não  aplicando 
a  preça  violência  vendo  que  não  era  este  o  impedimento  a 
partença  das  armadas.  E  sorrindo-se  que  logo  naquelfe 
dia  e  no  seguinte,  se  daria  muito  mayor  numero  sendo 
necessário.  Domingo  27  foy  dia  notável.  Estando  ja  D. 
Fadrique  descançado  de  huma  jornada  que  fizera  pela  Babya 
metendo-se  pelos  esteiros  delias  com  grande  gostos  por 
levar  huma  topografia  dos  olandeses  mui  própria;  chamou 
a  conselho  em  que  se  acharam  muitos  dos  ordinários  e  os  da 
Camará,  e  sendo  da  cidade  do  Salvador.  Fállou^lhes  discre- 
monte  dando  muitas  graças  a  Deus  pela  mercê  que  lhe 
fizera  na  recuperação  de  tão  principal  cidade  por  metropoli 
de  tam  grande  provincia,  e  como  por  aquellas  pessoas 
venerandas  que  o  governavam.  Por  premio  do  serviço  que 
lhe  tinha  feito  pretendia  o  nome  de  seu  protector  não,  que 
era  mui  levantado  com  grande  excesso,  mas  de  seu  soHoi- 
tador  diante  de  S.  M.  Acabada  a  pratica  mandou  pelo  seu 
secretario  ler  a  memoria  do  que  nella  deixava  de  artilhería, 
de  munições,  de  pretrechos,  de  maquinas  que  se  não  poderá 
negar  ^e  era  muito.  Ali  gozou  verdadeiramente  de  sua 
própria  fama,  porque  ouvio  presentes  todos  muitos  louvores 
que  como  em  nome  dos  portaguezes,  algum  lhe  deu  com 
as  graças  de  deixar  aquella  praça  também  presidiada  tam 
chea  de  tudo  o  necessário,  qual  nunca  o  Brazil  vira  depois 


-  626  — 

de  seud^cobrimeDto  em  tempo  de  tantos  annos.  Reis  a?ia» 
fazenda  real  tanto  importava ;  com  o  que  seria  muito  ingrato 
o  reino  de  Portugal  se  em  alguma  hora  deixasse  de  os 
mostrar  obrigadissimo ,  e  outras  muitas  semelhantes. 
Despedida  a  junta  ja  mais  tarde  pediu  a  D.  Manuel  que  se 
nSo  fosse  e  com  muitas  horas  de  noite  estando  o  seu  au- 
ditor presente  e  o  do  Brazil  António  de  Mesquita,  Francisco 
de  Barros  provedor  mor,  e  muitos  do  conselho  se  leo 
hnma  petiçSo  em  nome  do  povo  sobre  não  ser  citado,  nefti 
mecutado  por  dividas  em  serto  tempo,  em  considerafiio  do 
trabalho  padecido  em  hum  anno  de  cativeiro,  em  que  se 
nSo  trabalhara  nos  engenhos,  nem  outras  fazendas.  Mui 
ftvorecedor  do  povo  se  mostrava  Francisco  de  Barros  c(Ha 
muita  lastima  de  suas  necessydades  alegando  que  nas  obras 
o  mostrava  nâo  apertando  com  algum  dos  muitos  que  lhe 
deviam.  Apostou  todavia  que  na  petição  se  incluya  muita 
mdicia  avendo  muitos  trapasseiros  e  interessados  em  tratos 
de  que  tinham  gosados  os  feitos  mais  do  que  lhes  cabia,  e 
agora  com  aquella  graça  não  queriam  restituir  sendo  asy 
que  muitos  delles  não  perderam  nada  com  o  sesar  dos  en- 
genhos nem  em  outras  iavranças  e  officios  que  pelo  impedi- 
mento se  não  exercitaram.  Antão  de  Mesquita  carregou  alj 
muito  com  exageração ;  quiz  logo  concluir  com  que  o  des- 
pacho que  pretendiam  era  contra  as  ordenações  de  Por- 
tugal nas  quaes  os  Reis  declaravam  que  so  podiam  fazer 
esperas  e  ainda  em  certos  limites.  O  auditor  general  caste- 
lhano dispertou  o  negocio  doutamente  conforme  a  seu  juiso 
e  boas  letras  aresoando  todavia  que  D.  Fadrique  podia 
fazer  aquella  graça  porque  estava  em  luguar  do  Príncipe 
que  podia  interpretara  ieí  como  era  de  crer  que  o  Principe 
a  declarara  se  presente  fora.  Entre  a  pratica  usou  algumas 
vezes  da  palavra  repiclica  que  com  tanta  afeição,  gostos 


-  627    — 

sepe^ii  amuitos  que  acadaperiadoa  repetiam  arrastoàdo. 
lhe  por  vaotora  o  sentido ;  qaasi  todos,  oo  nmitos,  na** 
taram  que  era  muita  resio  que  D.  Fadrique  coocedeae 
graças  ao  povo.  NSo  faltaodo  qiiam  se  risse  sem  o  iupabuir 
qoe  se  estirefise  disputando  presentes  tantos  portuguezcs 
quebrantasse  as  ordenações  de  Portugal.  Era  o  iiiado.de 
fiHaftto  áspero  que  aquillo  ^ra  contra  as  (írdcnacôa» 
cbras  e  expv^^sas  que  D.  F^Kinqne  $e  voo  a  Qontanttr.  eon 
qm  oirvesat  m^do  eon  que  de  iodo  não  ficase  csmtmÀ» 
de  sua  liberalidade,  ^e  aay  parece  podia  eonceder^he  oflo 
fossem  executado  dos  escravos  e  lri>ricas  doe  efigeolMif 
A«tão  de  Mesquita  que  não  pareceu  adulador  lembrado  p(v 
ventura  da  prisão  passada  ou  como  he  mais  de  orar  som^ 
traado  justiça  que  às  suas  cans  devia,  e  a  seu  cargo  jre^^ 
poAdeu  secameAte^  que  aqdillo  ufto  era  graça  mas  ^H» 
aotiigo  do  ftrasil  que  elles  lhe  avia  de  goardar  sem  fiôv» 
aierce  alguma.  D.  Fadrique  disse,  basta  que  Ud  me  ooor 
tradise  eu  la  gracia  que  pretendia  faacer  j  en  esta  que  es- 
Íiis4a  uo  med  lugar.  Respwdeu  que  aonde  a  justiça  «n 
tam  clara  escusase  S.  Ei.  a  graça  que  bem  tinba  mostrada 
em  tudo  o  desejo  de  remedear  aqmlle  pova  «Gonduidi^ 
tudo  fie  .ditosamente  parece  que  as  ocurrenoias  davam 
iogar  a  D.  Fadiiqoe  a  que  descançasse.  xMas  o  deísejo  19P 
mínifitras  inferiores  de  o  agradar  o  impediram  infonotiand^^ 
do  iqptreato  da  aitnáda  mais  o  gosto  que  a  potpttuaJiidade' 
íito  eni  Qste  ma)  de  agora  somente  porque  am  31  de  Haíp 
aviaata  por  carta  a  D.  Manuel  que  estava  refuta  deap 
fenr  á  vela  por  todo  o  moz  de  Juubo  pelo  muito  que  in- 
portava  aoirviçodeS.  M.,  de  queiotriscava  pêra  que  tivesse 
pponta  a  armada  de  Portugal  pena  este  tempo  que  pouco 
imporlava  que  algum  navio  se  iscasse.  Agora  cada  momente 
se  lhe  fariam  asnos  e  não  podia  acabar  de  se  desembaraçar 
Outubro  •  80 


—  628  — 

mofttrandolhe  os  iaferíores  a  facilidade  de  partir  se  não 
fosse  ua  primeira,  na  segunda  hora  de  qualquer  dia.  D. 
Manuel  como  quem  estava  sempre  no  mar,  e  se  sabia  com 
mais  particularidade  dos  aprestos  dizendo-lhe  da  sua  parte 
D.  Jo&o  Fajardo  que  logo  se  Tazía  a  Telia,  respondeu  que  a 
armada  Portugal  pronta  estava  pêra  qualquer  ora,  mas  que 
por  algum  dia  mais  não  se  anticipase  levar  ferro  peraa?er 
de  surgir  na  barra,  isto  mesmo  pelo  capitio  Felippe  de 
Laia  por  D.  Joseph  de  Sarabia,  e  pelo  seu  auditor  general. 
Temia  com  muita  resão  a  falta  de  ancoras  e  amarras  que 
sabia  em  toda  a  sua  armada,  e  quantas  era  necessário  aver 
pêra  dar  fundo  em  costa  brava,  aonde  as  mesmas  ondas 
impedem  o  poder  se  lerar.  A  31  daquelle  mez  as  duis 
depois  do  meio  dia  se  fizeraip  á  vella  as  cappitanas  e  alguns 
navios;  mas  antes  de  chegar  a  ponta  de  S.  António  deram 
fundo.  No  primeiro  de  Agosto  ouve  outro  rebate  pêra 
despertar  mais  os  que  ficaram  no  porto,  e  logo  se  surgiu 
ao  sul  da  ponta  de  S.  António  pouco  distantes  da  terra.  A 
tarde  se  levaram  do  porto  alguns  navios,  e  o  vento  daquella 
noite  mui  rijo  obrigou  a  tornar  surgir  dentro  da  enseada, 
pela  manhã  com  a  borrasca  perdeu  o  navio  S.  duas  ancoras 
ficando  em  tal  estado  qae  chegou  a  navegar  sem  nenhuma. 
Na  almiranta  de  Portugal  querendo  insistir  a  levar  hmna 
ancora  que  emfim  deixou,  ouve  bravo  fracasso  matando-lhe 
o  cabrestante  três  homens,  deixando  desconfiados  outros 
três,  não  fallando  em  muitos  feridos.  Chegou  emfim  a 
hora  da  partença  segunda-feira  quatro  de  Agosto  em  que  se 
fizeram  a  vella  quando  rompia  o  sol.  Alguns  dos  navios 
com  a  aguada  mal  segura  pelo  mal  adresso  das  vasilhas, 
pouco  vinho,  escassos  e  maus  os  mantimentos  e  tanto  como 
o  que  mais  necessitado  os  que  se  embarcaram  os  olandezes. 
Posto  que  com  se  fizerem  as  armadas  h  vela,  e  saírem  da 


Bahya  de  todos  os  Santos  fica  justamente  posto  ficou  a  este 
'jbríto  conforme  a  preposiçam  se nâo  tem  sido  niaís larga; 
nâo  pareceu  fora  de  propósito  relatar-se  brevemente  os 
sucessos  da  cappitana  de  Portugal  por  huma  carta  que  D. 
Manuel  de  Menezes  escreveu  a  S.  M.  posto  que  com  algmna 
coisa  repetida. 

Senhor.— Porque  falta  nova  das  armadas  e  cappitan« 
real  donde  podia  sair  toda  a  certeza  me  parece  necessário 
avisar  a  V.  M.  do  que  vi ;  e  posso  conjecturar  por  tosed 
discursos  de  marinheiro.  Com  a  nova  que  se  teve  de  que 
a  armadinha  olandeza  estava  na  Bahya  da  Traição»  ouv^ 
conselho  em  quatorze  de  Julho,  fui  de  parecer,  que  pela 
informação  que  tinha  daquelle  porto,  era  impossível  que 
nelle  estivessem  tantas  velas,  ainda  que  mui  pequenas,  e 
em  particular  avendo  entre  estas  seis  ou  sete  navios  de  bom 
porte,  e  que  a  mesma  necessydade  de  agua  que  tinha  obri- 
gado aos  olandezes  a  procurala  no  Morro  de  S.  Paulo,  pela 
paragem  do  rio  Vermelho,  da  Torre  de  Garcia  de  Ávila,  da 
enseada  de  Vasa  barris,  os  oubrigara  a  demandar  aquelle 
porto  pêra  daly  fazer  viagem  a  suas  terras.  Àssentou-se  que 
fosse  logo  pessoa  de  bom  juizo  que  informase  da  certeza 
pêra  nos  avisar  quando  chegase  a  Pernãobuco,  pêra  o  qual 
effeito  foi  escolhido  o  governador  S.  Feliche  acompanhado 
de  Francisco  de  Yalhesilha,  mui  pratico  na  navegação,  e 
pessoa  de  muito  merecimento,  irmão  do  general  Francisco 
de  Valhesilha,  Eitor  de  la  Galse,  capitão  italiano,  mui  valente 
soldado,  os  quaes  partiram  em  vinte  daquelle  mez,  por 
fim  levamos  ferro  e  viemos  dar  fundo  humi  legoa  ao  sul  do 
Ittguar  do  Salvador,  defronte  de  S.  António,  ficando  alguns 
navios  surtos  que  estsvam  aprestando,  e  a  quatro  de  Agosto 
nos  fizemos  á  vela  com  os  ventos  que  aquelles  dias  foy 
sueste  de  grandes  serrasdes  com  que  cada  hora  nos  per- 


(fiamos  de  vista.  iRdoa  noite  do  15  de  Agoslo  com  a  proa 
ao  Nonordesté  nos  fizemos  na  Tolta  de  sessaeste,  e  sueste 
como  o  vento  (\m  se  faz  nordeste,  dava  luguar  apartandonos 
dÊá  costa  (|ae  viamos  todos  os  dias  com  mm  grande  cuidado 
áe  huma  desgraça.  Pela  manhã  ficamos  com  pouco  pano 
esperando  por  D.  Fadriqiie  de  Toledo.  E  parecende  que 
MS  nSo  podia  ficar  por  popa  conforme  ao  vento  fomos 
navegando  desasets  oa  desasetc  trelas,  que  nos  ajuabiilim 
na  volta  de  PeiUSobuco^  aonde  estava  assentado  que  bos 
a^ta^semòs  a  10  (kiquelie  me^  a  noite  estivemos  a  iesf e 
éd  Cabo  de  S.  Agostinho.  Mandei  ao  piloto  navegaae  de 
maneira  proejando  em  voltas  ao  mar  e  a  terra  que  amanhe^ 
cessem  três  oa  quatro  teguas  ao  sul  de  Pernáobuco,  porcjúe 
asy  podiamos  saber  novas  e  ajunfarmo^nos  com  D.  Fadrí<^ 
le  afcaíonâo  fosse  chegando;  despedi  logo  huttia  laooha 
minha  por  nâk)  ter  a  caravela  de  V.  M.  com  cartas  » 
Mathías  de  Albuquerque  para  que  me  avisase  de  tildo 
e  say^  a  frota  se  lhe  parecesc.  O  piloto  naquella  notte  pro' 
é^jou  msà,  enganandose  sem  vela  de  gávea;  e  ao  ^e  se  Hie 
fvrdi^ia  que  discaia  e  aviamos  de  cajr  mais  perto  de  Per» 
flSobirco»  respondeu  que  í^inda  qvie  velejasemos  poderiaflios 
bhegar.  Pela  manhã  estávamos  leste  a  oeste  com  aqueiki 
▼iiia,  e  mui  perto  fiCàndo  erti  balde  toda  a  minha  ditigencia 
daquella  noite.  Fazendose  mais  ao  maf  deu  fundo  hâmà 
légua  de  terra.  Achamos  aquella  manhã  desanove  navios  a 
fbra  a  cappitana  de  quatro  veiaá  esuía  almirantaqm^eMatait) 
softas.  Em  duas  oras  se  nos  rompeu  a  armada  com  grandes 
Aaires  de  sueste  desgarraram.  Demos  fundo  a  ovlra  com 
fnt)têsto6  de  todos  os  oHkiaes  da  nao,  e  ãssenladò  ito  tí* 
tBsrmÉíQ^  aly  aquelta  norte.  Gresen  o  vento  com;  chvmroâ 
de  maneira  <pie  tínhamos  marinheiros  no  traquete»  e  seva- 
deira  com  as  vetas  l«s(as,  pêra  sajrmos  sueste  secoropesse 


-  «1  - 

Estando  Aeste  esttdo  eom  o  jugar  extnordinariamente  do 
Afttio  de  pd|iA  e  ptúá,  fomos  a  cicia  caliindo  sobre  a  eap^ 
{Ntiner  d6  quatro  veilts  arejando  ajuste  dando  vosoa  qiio 
tOò  tinha  mais  que  arriscar»  e  Be  nos  quebrou  oom  graode 
roído  o  gar(mpez  pe*a  entena  de  baixo  acima  da  segunda 
rètíidura.  Com  grande  confuzão  e  desacordo  de  muitoa, 
cdfttitido  á  amarra,  largamos  velas  e  mareamos  de  maneira 
qáé  fios  livramos  de  cair  sobre  a  de  quatro  TeUas;  e.4e 
caysf^mos  era  impossível  por  mais  livrarmos  deixar  ma 
de  nos  perder»  Ifão  terei  pressa  q^  fiz  sinal  pêra  que 
oitfro  navio  se  ievase,  determinando  remeJiar  o  gorôtyes 
e  Uvrandome  DeusdôS  biitosdeS.  António  esperar  (w 
D.  Fádrique  de  Toledo  fs^endome,  ae  o  vento  alargasde, 
na  volta  de  terra  isto  intentei  na  Mite  de  vinte  e  um,  mas 
0$  ofBciaes  o  contradiseram  com  mais  fundamento.  Em 
vinte  e  dois  se  me  fet  o  vento  lesla  com  que  julguei  podi»- 
mos  ventar.  Ajuntei  os  oiBeiaes  e  pessoas  entendidM% 
Asentoftdeque  era  ímpossiv^  tomar  terra  conveniente.  Da 
assentado  se  fiaram  aixioe,  e  noa  a  nossa  viagem.  Ajoiíl»» 
ramse  com  a  ^ppi(a»a  alaaíranta  de  quatro  velaa.  a  capf»- 
lana  de  Olanda  &  Groz,  Penha  de  Franga.  Em  vinte  e  mn 
de  Setembro  em  altura  d;e  trinta  e  sete  grada  escasaoe  eor* 
remos  tromenla  de  vento  mui  grande  eu  loestevarit^fuê 
nos  tevou  o  tmqtiete  de  ooiter,  e  smbiinniente  a  aevadi^ 
fue  fórgamos.  Deixandonoa  a  arvore  seea;  mas  foy  Dena 
senrídoqne  sem  dane  algum  goiveniaase  o  navio.|iieltM)r  que 
ipiando  otinha  e  oom  meMs  baUnQoa^  Peta  manhã  de  vinte 
e^isnoadiamds  com  a  ahmraiile  aemente,  e  juízos  víemoa 
navegando.  Jibt  de  vinte  e  três  se  vira  do  tope  três  v^tes* 
pMa  tarde  as  vimos  por  debaixo  que  tivemos  pelas  noaaaa, 
fomoeanibandò  httma  quarta  sobre  eUas  para  que  se  nos 
nto  perdesse  de  vista  fastodo  bem  larol.  Quando  amanhe* 


ceu  estava  com  quatro  legoas  da  ponta  de  ponente  da  Ilha 
de  S.  Miguel  e  mas  perto  por  minha  esteira  mui  velejadas 
com  velas  de  gávea,  e  burriquetes  com  que  me  vieram,  al- 
cançando e  se  poseram  pela  guarda  de  bombordo  a  tiro 
de  canhão,  e  por  ver  que  os  soldados  se  alvoroçavam, 
mandei  arribar  sobre  ellas,  mas  persuadido  a  que  se  aviam 
de  aíiastar.  Mas  pelo  contrario.  Ostingaram  a  mayor,  ferra- 
ram sevadeira,  amainaram  de  gávea,  e  huma  delia  em  que 
ham  floreava  com  a  espada  passeando  pela  popa  me  pos  a 
proa*  Pelejavam  como  duas  horas  com  mui  boa  resolução 
pondose  a  dar  carga  e  recebekt.  Com  tudo  a  capittana  não 
sofiãreu  mais  e  largou  vela  com  que  se  adiantou,  de  que 
colegi  que  queria  carregarme  por  outro  bordo,  e  ficando 
ccmi  as  duas  me  fugiram  em  popa,  dando  a  almiranta  as 
bombas  com  que  vertia  levadas  de  agua  por  hmna  e  outra 
banda.  Piiz  a  proa  na  cappitana  que  me  estava  diante  amai* 
nada  de  pano,  e  lhe  fui  dando  cassa  emquanto  não  deses- 
perei de  a  poder  alcançar  Voltei  logo  sobre  as  duas  que 
thiham  caido  mais  perto  da  almiranta  quatro  vellas  ( ama- 
nhecera mui  longe  de  mim )  e  lhe  iam  fugindo,  e  ella 
canhoneando-as,  e  alcançando  a  almiranta  porque  a  outra 
sé  adiantou  muito  e  escapou.  Como  chegou  mais  perto  lhe 
deualgumas  rosiadas  demosquetaria,  e  a  foi  desaparelhando, 
emfim  alcançou  e  abordou.  Indo  nos  ja  perto  vimos  fumo, 
e  logo  fogo  mui  vagaroso  na  olandeza,  e  apertar- se  a  nossa 
em  que  pouco  depois  vimos  fumo  pela  popa,  e  ir-se  aleando 
o  fogo,  e  porque  o  vento  era  pouco  e  ya  abonançando  me 
foi  mais  perto  do  que  quizera,  e  mandei  velejar  pêra 
acodindo  logo  com  a  fragata  que  trazia  com  pranchas  e 
jangadas,  e  cabos  por  popa  com  que  se  salvaram,  cento 
quarenta  e  oito  pessoas,  gastou-se  aquelle  dia  todo  ate  que 
ja  posto  o  sol  não  avia  gente  viva  pêra  salvar.   Aquella 


-  633  — 

nDite  as  onze  velejamos  deixando  ja  consumidos  os  navios. 
Afirmo  a  V.  M.  que  nenhuma  conjectura  posso  fazer 
pêra  presumir  que  os  olandeses  se  pusesem  fogo.  Este 
mar  vi  depois  todo  sujo  de  navios,  mas  tão  pequenos  que 
ainda  que  fossem  duzentos,  não  eram  pêra  temer,  e  tão 
ligeiros  que  não  avera  cousa  fraca  que  a  vela  lhe  escape ; 
tudo  he  velame  e  cebo,  bandeiras  de  almirantas  e  cappitanas 
com  armas  olandezas,  mas  o  porte  he  de  navios  de  turcos. 
Tiravam-me  de  longe  donde  ladravam,  algum  se  me  chegou 
de  noite  tão  perto  que  me  levou  cargas  de  mosquetaria. 
Quarta-feira  oito  de  outubro  tivemos  vista  de  terra  e  por 
parecer  Gabo  de  Espichel,  e  não  se  ter  tomado  o  sol  de  três 
dias,  discorremos  aquella  noite,  mas  era  a  Boca,  e  nos 
achamos  pela  manhã  perto  da  Berlenga  donde  não  viéramos 
a  este  porto  em  muitos  dias  senão  fora  huma  trovoada  de 
Oesnoroeste  com  que  nos  chegamos,  e  entramos  a  barra 
de  Lisboa  terça-feira  quatorze  deste  mez.  O  tempo  he 
bonança  de  todo,  o  que  areja  he  sueste  e  susueste  e  não  se 
mudando  não  se  pode  esperar  chegem  as  armadas  e  iam 
da  índia.  Os  três  navios  que  se  me  apartaram  com  a  tro- 
menta  me  poderam  dar  cuidado  se  no  mar  andar  a  armada 
grossa,  mas  todos  juntos  os  que  vi  de  S.  Miguel  pêra  que 
me  não  parecem  poderosos  pêra  render  o  pataxo  Penha  di 
França  com  o  capitão  que  traz.  A  armada  me  parece  que 
não  virá  junta  pelas  muitas  serrações  que  ti?«ii08,  e  por 
vir  toda  falta  d'agua  pelo  ruim  apresto  que  liouve  na  Bahya 
de  tanoeiros  e  falta  de  arcos,  e  por  vinpi  abertos  os  navios 
por  falta  de  calaCates,  e  carpinteiros  e  passados  do  bozano. 
Julgo  que  a  frota  de  Brazil  vira  toda  junta  com  a  maior 
parte  da  armada  que  não  pode  estar  longe  esperando  em 
Deus  que  ade  trazer  tudo  a  salvamento  pêra  que  o  real 
serviço  de  V.  M.  se  faça  com  a  prosperidade  que  lhe  de- 
sejâo,  e  procuram  estes  seus  vassalhos. 


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a-  J.ií :• 


REVISTA 


INSTITUTO  HISTÓRICO  E  GÈOGRAPHICO  BRASILEIRO. 
TOWOXXIL      SUPPLEWEHTO,      1859, 

ACTAS  DAS»  SESSèES  DE  t9ftS. 

!.•  SESSÃO  EM  20  DE  MAIO  J>E  18j9. 
Honrada  com  a  Augusta  Presença  deS.  M.  o  Imperador, 

PRESIDIDA  PELO  EXM.""   SR.  VISCONDE  DE  SaPUCAHY. 

A's  6  horas  dâ  tarde  achando-se  presentes  os  seguintes 
Srs.  Visconde  de  Sapucahy,  Conselheiro  Baptista  d^Oliveira. 
Norberto,  Porto- Alegre,  Soares,  Varnhagen,  Coruja,  Drs. 
Filgueiras,  Perdigão,  Fernandes  de  Barros,  Fontes,  e  Fer- 
nandes Pinheiro  annuncia-se  a  chegada  de  S.  M.,  que  sendo 
recebido  com  as  formalidades  do  estylo,  abre-se  a  sessi% 

O  Sr.  l.**  Secretario  dà  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE. 

l.""  Um  officio  do  Sr.  Dr.  Maximiano  Marques  de  Car- 
valho despedíndo-se  do  Instituto  e  of!erec<indo  o  seu  prés- 
timo na  Europa. 

2.""  Idem  do  Sr.  Conselheiro  Azambuja 4^oinmunieando 
não  poder  comparecer  por  incommcriMo  e  remettendo  o 
processo  d' António  José  pertencente  ao  espolio  do  Desem- 
bargador Silva  Pontes. 

3.*  Idem  do  Sr.  Dr.  César  Augusto  Marques  trans- 
mittindo  dois  exemplares  da  biographia  do  Dr.  Francisco 
de  Sousa  Martins. 

81 


—  636  — 

A."  Do  Sr.  Oflicial  Maior  da  secretaria  da  Camará  dos 
Srs.  Deputados  enviando  os  Annaes  Parlamentares. 

S.*  Idem  do  Sr.  Henrique  Guilherme  Fernando  Haifeid 
agradecendo  a  honrosa  menção  que  à'elle  se  fez  no  relatório 
àoSr.  1.*  secretario. 

6.*  Idem  do  Sr.  Presidente  da provincia  de  S.^  Catharina 
remettendo  a  falta  com  que  abriu  a  sessão  da  respectiva 
Assembléa. 

7.*  Idem  do  Sr.  Titara  enviando-lhes  relatórios  que  or- 
ganisou  sobre  o  estado  da  instrucção  publica  da  província 
das  Magoas. 

8.'  Idem  do  Sr.  Rebeyrolles  mandando  dous  exemplares 
do  Brasil  Pittaresco. 

9.«  Idem  do  Sr.  Ministro  do  Imperto  incluindo  os  rela- 
tórios dos  Srs.  presidentes  das  provincias  das  Alagoas, 
Maranhão,  Paraná  e  S.  Paulo. 

10.  Idem  do  Sr.  Secretario  Geral  do  Ministério  do  Im- 
pério remettendo  os  relatórios  dos  Srs.  Presidentes  das 

*provincias  de  S.  Pedro  e  Pará. 

11.  Do  Sr.  Consul-Geral  da  Hollanda  enviando  alguns 
trabalhos  da  sociedade  de  Batavia. 

12.  Do  Sr.  Coronel  ConraJo  Jacob  de  Niemeyer  mandan- 
do a  carta  do  Brasil  lithographada  em  papel  nacional. 

13.  Do  Sr.  Ministro  do  Império  enviando  a  falia  do  Sr. 
Presidente  da  Bahia  à  respectiva  Assembléa. 

i&,  Officio  do  mesmo  Sr.  Ministro  remettendo  os  docu- 
mentos annexos  ao  relatório  do  Sr.  Presidente  de  Goyaz. 

15.  Idem  do  Sr.  Dr.  J.  B.  Nascentes  d'Azambuja  envian- 
do o  relatório  do  Sr.  Presidente  da  província  do  Amazonas. 

16.  Idem  do  Sr.  Dr.  José  Alexandrino  Dias  de  Moura 
mandando  dous  exemplares  do  relatório  com  que  o  Sr. 
Presidente  das  Alagoas  abriu  a  respectiva  Assembléa. 


-  637  - 

17.  Oflicio  do  Sr.  José  Maria  de  Freitas  remettendo  um 
exemplar  d'uma  viagem  ao  yalle  das  Furnas  na  ilha  de  S. 
Miguel. 

18.  Idem  do  Sr.  Alencastre  participando  a  creaçáo  d^umat 
Bibliotheca  na  cidade  de  Corityba  e  pedindo  para  ella  a  pro- 
tecção do  Instituto. 

19  Idem  do  Sr.  Coronel  Conrado  agradecendo  os  elogios 
que  lhe  foram  feitos  pelo  Sr.  1 ."  Secretario  em  seu  relatório 
do  anno  findo. 

20.  Idem  do  Sr.  Miguel  Archanjo  Galvão  remettendo  um 
exemplar  da  sua  memoria  sobre  a  dizima  da  chancellaria. 

2 >.  Idem  do  Sr.  Brigadeiro  Polydoro  pedindo  que  lhe 
seja  concedida  uma  collecção  de  Revistas  do  Instituto  para 
a  bibliotheca  da  Escola  Militar  e  d'Applicaçâo. 

22.  Idem  do  Sr.  Dr.  Ernesto  Ferreira  França  dizendo 
que  tendo  a  Academia  das  Sciencías  de  Munich  de  celebrar 
no  dia  28  de  Março  de  1859  o  seu  primeiro  jubileo  secular 
acharia  conveniente  que  o  Instituto  se  associasse  por 
qualquer  forma  ao  seu  jubilo. —Remett ido  ao  Sr,  !.•*  Se- 
cretario para  responder  convenientemente. 

23.  Idem  do  Sr.  Presidente  da  provincia  de  S.'*  Catha- 
rina  enviando  uma  nota  relativa  a  antiguidade  da  villa  (hoje 
cidade)  de  N.  S.  da  Graça  do  Rio  de  S.  Francisco  do  Sul. 

Si.  Idem  do  Sr.  D.  Paschoal  {Addadus.Calpe)  remettendo 
um  manuscripto  intitulado— Apontamentos  Geographicos 
e  Descriptivos  sobre  o  Grão-Chaco. 

O  Sr.  1.**  Secretario  oíferece  uma  collecção  de  cartas 
sobre  a  provincia  de  Santa  Catharina  escriptas  pelo  Sr.  J. 
Gonsalves  dos  Sanctos  e  Silva  e  a  relação  manuscripta  das 
festas  celebradas  no  Rio  de  Janeiro  no  tempo  do  Vice-Rei 
Luiz  de  Vasconcellos. 

Todas  as  oíTertas  foram  recebidas  com 'especial  agrada. 


—  638  — 

PROPOSTAS  E  PARECERES. 

O  Sr.  Porto-Alegre  propõe  para  sócios  do  InsUtalo  os 
Srs.  Drs.  Joáo  José  Coitinho.  Presidente  da  provincia  de 
S.*'  Gatharina,  e  J.  Gonsalves  dos  Santos  e  Silva.— Rc- 
mettido  a  commissão  respectiva. 

O  Sr.  Dr.  Agostinho  Marques  Perdigão  Malheiros  lê 
Tarios  pareceres  relativos  á  admissão  de  sócios.— Ficam 
sobre  a  mesa. 

IXSCRIPÇÕES. 

Inscreveram-se  para  lerem  memorias  no  decursa  das 
sessões  doeste  anno  os  seguintes  Srs.  Varnbagen,  Filgueiras, 
Coruja,  e  Fernandes  Pinheiro. 

RECEBIMENTO  I)K  JORNAES  E  REVISTAS. 

Receberam-se  com  especial  agrado  vários  jornaes  e  re- 
vistas remettidas  pelas  respectivas  redacções. 

ORDEM  DO  DIA. 

Não  liavendo  mais  nada  a  tractar  e  obtida  a  Imperial 
vénia  levantou  o  Sr.  Presidente  a  sessão  marcando  para 
ordem  do  dia  seguinte  a  apresentação  de  propostas,  leitora 
de  pareceres  e  trabalhos  dos  sócios. 

Sala  das  sessões  do  Instituto  no  Paço  Imperial  da  Cidade 
20  de  Maio  de  1859. 


Cónego  Dr,   Joaquim  Caetano   Fet-nandes  Pinheiro— 2, 

Secretario. 


—  fi39  — 
2."  SESSÃO  EM  3  DE  JUNHO  DE  1859. 

Honrada  com  a  Augusta  Presença  de  S,  M,  o  Imperador. 

PRESIDIDA  PEIO  EXM.  SR.  VISCONDE  DE  SAPCCAHY. 

A's  seis  horas  da  tarde  achando-se  presentes  os  seguintes 
Senhores :  Visconde  de  Sapucahy,  Conselheiro  Baptista  de 
Oliveira,  Porto-Alegre,  Norberto,  Doutores  Filgueiras, 
Sousa  Fontes,  Carlos  Honório,  Franco  dWlmeida,  Soares, 
Cónego  Pinto  de  Cnmpos,  Conselheiros  Mello,  Azambuja, 
Dr.  Cláudio,  e  Coruja,  annuncia-se  a  chegada  de  S.  M.  O 
Imperador  o  qual  é  recebido  segundo  o  estylo. 

O  Sr.  Presidente  abre  a  sessáo. 

Lida  a  acta  da  sessáo  antecedente,  o  Sr.  1.'  Secretario 
apresenta  e  ié  o  seguinte : 

EXPEDIENTE. 

1."  Umofficio  do  Sr.  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro 
participando  não  poder,  por  incommodos  de  saúde,  compa- 
racer  â  presente  sessão. 

2.  Idem  do  Sr.  Francisco  José  Camará  Leal  enviando 
um  exemplar  do  Relatório,  com  que  o  seu  antecessor  abrio 
a  Assembléa  Provincial  do  Paraná. 

3.*  O  original  do  parecer  favorável  do  Sr.  barão  de 
Humboldt  sobre  os  tratados  de  limites  celebrados  pelo  Mi- 
nistro Plenitenciarío  Brasileiro  Miguel  Maria  Lisboa  com 
as  Republicas  de  Venezuella  e  Nova-Granada,  offerecido 
pelo  Sr.  Conselheiro  Azambuja. 

4.'  Um  exemplar  da  Exposição  dirigida  em  Novembro 
de  1853.  pelo  cidadão  Lourenço  Maria  Lleras,  ao  Presi- 


—  640  — 

ciente  da  Republica  de  Nova-Granada;  offerecido  pelo  Sr. 
Conselheiro  Azambuja. 

5.*  Dous  exemplares  do  Relatório  do  Ministério  da 
Marinha. 

6.'»  Variosjornaes  pelas  repectivas  redacções. 

7.*  Um  exemplar  daobra— Monumento-Historico-Diplo- 
maticos»  enviado  pela  Legaçáo  Brasileira  em  Turim  por  in- 
termédio do  mesmo  Sr.  izambuja. 

As  offertas  foram  recebidas  com  especial  agrado. 

PROPOSTAS. 

O  Sr.  Norberto  submetle  ao  Instituto  uma  proposta, 
assignada  por  grande  numero  de  seus  sócios,  para  o  fim 
de  elevar  a  sócio  honorário  do  mesmo  Instituto  o  Sr. 
Manoel  de  Araújo  Porto-Alegre.  em  attenção  aos  serviços 
prestados  pelo  mesmo  Sr.  como  eloquente  Orador  e  1.» 
Secretario,  e  como  uma  prova  do  apreço  em  que  sâo  tidos 
os  seus  conhecimentos  litterarios. 

Posta  a  votos  é  unanimente  aprovada. 

PABECERES. 

Votaram-se  os  diversos  pareceres  apresentados  na  sessão 
anterior  e  foram  aprovados  sócios  correspondentes  os  Se- 
nhores Padre  Lino  do  Monte  Carmello  Luna,  Braz  da  Costa 
Rubim,  Francisco  Ignacio  Marcondes  Homem  de  Mello, 
Capitão  de  Fragata  Lourenço  da  Silva  Amazonas,  Luiz 
Rybeaud,  Ceroni,  Primeiro  Tenente  António  Mariano  de 
Azevedo,  A.  D.  Pascoal  e  Rodrigo  José  Ferreira  Bretãs. 

O  Sr.  Soares  como  Membro  da  Commissão  de  Fundos  e 
Orçamento   lè  o  parecer  de  contas  da  mesma  Commissão. 


-  65!  — 

O  Sr.  Porto-Alegre  pede  a  palavra  e  profere  um  pequeno 
discurso  no  qual  felicitando  o  Instituto  pela  eíBcacia  e  alta 
protecção  de  que  gosa  e  fazendo  votos  pela  sua  constante 
prosperidade  communica  que  tem  de  retirar-se  no  primeiro 
paquete  para  Europa  e  que  o  faz  saudoso  e  grato  as  atten- 
ções  com  que  foi  sempre  tratado  pelos  seus  membros. 

Não  havendo  nada  mais  a  tratar  e  impetrado  a  Im  perial 
Permissão  o  Sr.  Presidente  levanta  a  sessão  as  7  y,  horas 
da  noite. 

Eu  1.^  Secretario  supplente.  servindo  de  2.°  Secretario 
por  impedimento  do  Sr.  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro, 
lavrei  a  presente  acta  que  assigno  e  dato  aos  3  de  Junho  de 
1859  no  Paço  da  cidade. 

Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras. 


3*  SESSÃO  EM  17  DE  JUNHO  DE  1859. 
Honrada  com  a  Au^gusta  Presença  de  S.  M.  o  Imperador, 

PRESIDIDA  PELO  EXM.  SR.    VISCOíNDE  DE  SAPUCAHY. 

A's  seis  horas  e  meia  da  tarde,  achando-se  presentes  os 
Srs.  Visconde  de  Sapucahy,  Conselheiro  Cândido  Baptista, 
Norberto,  Dr.  Macedo»  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro, 
Dr.  Filgueiras,  Coruja.  Drs.  Carlos  Honório,  Emilio  Maia, 
Homem  de  Mello,  Franco  de  Almeida,  Perdigão  Malheiros, 
Varnhagon,  Cláudio,  Conselheiro  Azambuja.  Rios  e  Soares, 
annuncia-se  a  chegada  de  S.  M.  o  I.,  o  qual  é  recebido 
com  as  honras  que  lhe  são  devidas. 


-  6iá  ^ 

O  Sr.  Presidente  abre  a  4.*  sessão  do  corrente  anno. 

O  Dr.  Filgoeiras.  2/  Secretario  interino,  lè  a  acta  da 
sessão  antecedente,  que  é  approvada  sem  discussão. 

O  Sr.  Cónego  Dr.  Pinheiro,  passando  a  occupar  o  cargo 
de  !.•  Secretario  em  virtude  da  retirada  do  Sr.  Porto- Ale- 
gre para  a  Europa»  apresenta  e  lè  o  seguinte: 

EXPEDIENTE. 

!.•  Doze  exemplares  do  relatório  do  ministério  da 
Guerra,  enviados  pela  respectiva  Secretaria. 

2/  Um  officio  do  Sr.  Ministro  do  Império,  enviando 
um  exemplar  dos  relatórios  com  que  o  Presidente  da  pro- 
víncia do  Paraná  e  o  Vice-Presidente  da  de  Minas-Geraes, 
abriram  as  respectivas  Assembléas  Legislativas  na  sessão 
do  presente  anno. 

3.*  U.n  officio  do  Sr.  Presidente  da  provinda  de  Sergipe, 
enviando  um  exemplar  do  relatório,  com  que  o  seu  ante- 
cessor lhe  entregou  a  administração  daquella  provincia. 

4.*  Um  officio  do  Inspector  Geral  di  instrucção  publica 
da  provincia  do  Paraná,  acompanhando  o  relat  orio  da  si- 
tuação da  instrucção  publica  d'essa  provincia  no  anno  pró- 
ximo passado. 

S.**  Um  exemplar  da  obra  do  Sr.  Dr.  Emílio  Joaquim  da 
Silva  Maia.  que  tem  por  titulo— Quadros  Synopticos,— 
offerecido  pelo  seu  autor. 

*.•  Um  exemplada  obra— Chorographia  do  Império  do 
Brasil— offerecido  pelo  autor  o  Sr.  Dr.  Mello  Moraes. 

?.•  Um  officio  do  Sr.  Emilio  Adet,  companhando  e  offe- 
cendo  um  exemplar  da  sua  obra  intitulada— O  Cavallo.— 

8."  Um  exempar  do  almanack  da  provincia  do  Maranhão 
remettido  ao  Instituto  pelo  seu  autor. 


—  6i8  - 

9.*  Um  laemplarda  obn-^FiguriDOS  dos  corpos  do 
exercito— remetlido  pela  Secretaria  da  Guerra. 

10.  nom  exemplares  das  {Nrimetras  fottus  p<il^^jca4ps 
do  diccionarío  portuguez,  oíTerecidos  pelo  seu  autor  o  Sr. 
Eduardo  de  Faria,  e  aÂ;om|)aQhados  de  uma  carta^  oa  qual 
promette  a  continuação  da  remessa  regular. 

11 .  Vários  jornaes,  enviados  peias  respectivas  redacções. 
As  oQèftas  são  r^ebídas  com  especial  Agrado. 

TttOPO^ikS  C  TA1lf:€Bil£8. 

o  Sj*.  Presideole  põe  em  disCHSsSo  o  parecer  de  contas, 
apresentado  nt  sessão  axilerior  pela  commissio  de  fundos 
e  wçwyònto.  Tomam  parte  no  debate  os  Srs.  Coruja,  Se- 
bastião Soares,  Cónego  Dr.  Pinheiro  e  Dr.  Cláudio,  Encer- 
rada a  discussão  são  postos  a  votos  !.•  o  orçamento  apre- 
sentado pela  commissão.e  é  rejeitado;  "2.*  a  emenda  substi- 
tutiva offerecida  pelo  Sr.  Thesoureiro,  e  é  approvada. 

O  Sr.  1  .•  secretario  propõe  que  se  dirija  ao  Sr.  Thesou- 
reiro ura  voto  de  congratulação  pela  bôa  gerência  havida 
durante  o  anno  passado  dos  objectos  a  seu  cargo :— é  una- 
nimemente approvada  a  proposta. 

LTJTURA. 

Passando-se  à  ultima  parte  da  orâemda^ia^oSr.Cme^* 
Or.  FerRânâes  Pioheino  promte  ã  Jeiítiini  dfi  BJMigraphia 
de  Fr.  Francisco  de  MoufAlveme,  Mcxiptft  fielo  Sr..  Qr^ 
B.i.  GudelMagalhies. 

IKáo  haFôfido  mais  iuida  a  iratar,  b  impelrada  a  imperial 
pfirmifiBia,  o  fir .  ^sideale  ievaj^  a  sessap  te  9  horas  cb 
xKàWt.  Sim  Paços  <la  ^ade  aos  17  de  lunbo  de  1^9. 
Dr,  Caetano  Altm  áe  Simta  Fil^ueirat. 

82 


-  6ii  — 
4/  SES6A0  EM  i  DE  JULHO  DE  1859. 

Honrada  eom  a  Augmta  Presença  de  S.  M.  o  In^perador. 

PRESIDÊNCIA  DO   EX."""  SR.    VISCONDE  DE  SAPUGAHY. 

A's  6  Va  horas  da  tarde  tendo  comparecido  os  Srs.  Vis- 
conde de  Sapucahy,  Conselheiro  C.  Baptista,  Cónego  Dr. 
Pinheiro»  Drs.  Filgueiras,  Macedo,  Sousa  Fontes,  Cláudio, 
Pereira  Pinto,  Carlos  Honório,  Homem  de  Melio»  Conqa* 
Conselheiro  Azambuja,  Costa  Rubim,  Sebastião  Soares, 
Cónego  Pinto  de  Campos  e  Dr.  Franco  de  Almeida,  annon- 
da-se  a  chegada  de  S.  M.  I.,  que  é  recebido  comas  honras 
do  estylo. 

O  Sr.  Presidente  abre  ai.*  sessão  do  presente  anno,  e, 
depois  de  lida  a  acta  da  sessSo  anterior,  o  Sr.  1.*  Secretario 
dá  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE : 

!.•  Cm  officio  do  Secretario  da  província  de  Pernam- 
buco, acompanhando  um  exemplar  do  relatório  com  que 
o  Presidente  da  mesma  provincia  abrio  a  assembléa  legis* 
lativa  no  corrente  anno. 

i.""  Um  exemplar  do  relatório  do  ministério  do  império 
remettido  pela  respectiva  secretaria. 

3.""  Um  exemplar  do  relatório  feito  ao  conselho  de  bene- 
ficência de  Lisboa  pelo  seu  Secretario  o  Sr.  João  Cardoso 
Ferraz  de  Miranda,  offerecido  ao  Instituto  pelo  autor  por 
intermédio  do  Sr.  Dr.  Feijó  e  apresentado  nesta  sessáo 
pelo  Sr.  Dr.  Sousa  Fontes. 


—  6A5  — 

£/  Um  exemplar  da  obra  de  Lord  CockraDe  sobre  o 
BrasU,  offerecido  pelo  Sr.  Dr.  Homem  de  Melio. 

5.*  Um  ofiiciodo  Sr.  Norberto,  participando  ao  Instituto 
não  poder  comparecer,  por  doente,  à  presente  sessão. 

Õ."*  Vários  jornaes  remettidos pelas  respectivas  redacções. 

PROPOSTAS. 

O  Sr.  Dr.  Cónego  Pinheiro  offereceá  mesa  uma  proposta 
assignada  por  todos  os  sócios  presentes  para  que  se  eleve 
à  cathegoria  de  sócio  honorário  o  Sr.  Francisco  Molpho 
de  Warnhagen,  ministro  residente  do  Brasil  no  Paraguay, 
em  reconhecimento  de  sua  illustraçâo  e  de  valiosos  serviços 
prestados  ao  Instituto. 

O  Sr.  Conselheiro  Azambuja  pv)põe  que  a  mesma  dis- 
tincção  seja  estensiva  aos  Srs.  Drs.  Domingos  JoséGonsalves 
de  Magalhães  e  Joaquim  Caetano  da  Silva,  visto  concor- 
rerem nesses  Srs.  as  mesmas  condições.  Posta  a  votos  a 
proposta,  é  approvada. 

REQUERIMENTOS. 

O  Sr.  Conselheiro  Azambuja  requer  algumas  providencias 
a  respeito  de  alguns  sócios  remissos  do  Instituto.  O  Sr. 
l.«  Secretario  tendo  declarado  que  a  mesa  jã  se  occupava 
ha  algum  tempo  deste  assumpto,  e  que  breve  apresentaria 
um  resultado  dessa  tarefa,  o  mesmo  Sr.  Conselheiro  Azam- 
buja deo-se  por  satisfeito  e  retirou  o  seu  requerimento. 

O  Sr.  Dr.  Homem  de  Mello  requer  que  a  obra  do  Sr. 
Cockrane,  que  offereceo  ao  Instituto  seja  remettida  ã  com-- 
missão  de  historia,  afim  de  dar  sobre  ella,  na  parte  relativa 
ao  Brasil,  um  circunstanciado  parecer.  Este  requerimento 
é  deferido . 


^  646  — 

LVlXUBA. 

O  Sr.  Soares  lè  uiua  memoria  histoiica— estatística  sobre 
a  alça  do  preço  dos  géneros  alimentícios. 

ENCERRAMENTO. 

Não  havendo  mais  nada  a  tratar,  o  Sr.  Presidente  dá 
pár»aordem  do  dio  da  sessão  seguinte:  l*""  propostas  e 
pfttecereft;  2^  continuação  da  leitora  da  memoria  do  Sr. 
Soaredv  e  sendo  9  horas  da  noite  lev^aata  a  sessão,  depois 
de  impetrada  è  obtida  a  imperial  rettia.  No  Paço  da  cidade 
aos  1  de  Julho  de  1859,  btroaa  presente  acta»  o  2.»  Se* 
cretario— Dr.  Caetano  Alces  de  Sousa  Fitgmiros. 


5.'  SESSAO  EM  15  DE  JULHO  DE  1859. 
Honrada  com  a  Augusta  Presença  de  5.  M.  o  Imperador. 

PR£Sn>ENCU  Do  KX.*""  Sft.  VISCOXDE  DR  SAMCAilT. 

Vs  6  horas  da  tarde,  verificada  a  presença  dos  Srs. 
Visconde  da  Sapucahy,  Conselheiro  Cândido  Baptista,  Dr. 
Macedo,  Con^o  Dr.  Fernandes  Pinheiro,  Chrs.  Pílgiieiras, 
Sousa  Pontes,  Carlos  Honório,  Homem  de  Mello,  Comja, 
Sebastião  Soares,  D.  Pascoal,  Capitão  de  Mar  e  Guerra 
Amasonas,  Rios,  Dr.  Claadk)^  Bubim,  Cónego  Pinto  de 
Gatmpos.  Gomos  Jardim,  Dr.  Franco  de  Almeida,  e  Castro, 
isimiuncia-se  a  chegada  de  S.  M.  o  Imperador,  o  qual  é  re- 
cebido com  as  honras  do  cstylo. 


—  647  — 

O  Sr.  Presidente  abfe  a  &."  sessão  do  eorreote  aono;  e 
lida  a  acta  da  sessflo  anterior  ^ne  &  approvada,  o  Sv»  t/ 
Secreiario 'apresenta  e  lè  o  seguinte 

expediente: 

I.*  Um  officio  do  Sr.  Norberto  participando  não  poder 
comparecer  à  presente  sessão  por  continuarem  os  seus  in- 
commodos  de  saúde. 

S.^"  UokexwH^lar  da  obra— Eisaiie  sK^e  o  seguro  das 
vidas  —  do  Sr.  João  de  Sousa  Moreira,  offerecido  pelo  seu 
autor. 

S.""  Um  ofGcio  do  Sr.  Conselheiro  Azambuja,  explicando 
a  sua  fa  ta  de  comparecimento  à  presente  sessão»  e  remet- 
tendo  o  seguinte : 

&."*  Um  oflicio  do  Sr.  Felippe  José  Pereira  Leal,  lem- 
brando ao  InstitiUo  o  nome  e  mérito  do  Sr.  Dr*  Du  Pedro 
Galvez,  Ministro  Residente  do  Peru  nas  Republicas  da 
America  Central,  que  lhe  dão  direito  a  pertencer  ao  numero 
dos  sócios  correspondentes  do  Instituto. 

5.*  Vários  joarnaes  remettidos  pelas  suas  redacções*    ^ 

As  oíTertas  são  recebidas  ccnn  especial  agrado. 

O  Sr.  Presidente  resolveo  queàcercadoofficiadoSr. 
Leal,  se  respondesse  ao  mesmo  Sr.  com  a  copia  do  Jot. 
dos  Estatutos,  relativo  à  admissão  dos  sócios  a  fim  die  que 
o  Sr.  Dr.  D.  Pedro  Galvez  satisfaça  as  suas  cond:;óes  e 
possa  assim  apresentar-se  legalmente  como  candidato  ao 
titulo  pedido  de  sócio  correspondente,  titulo  que  lhe  seria 
desde  jà  conferido  se  ao  InstKoto  (6ra  licito  fazet>e* 

Passaodo^se  &  idiíma  parte  da  ordem  do  dia,  o  Sr.  Df  • 
Homem  de  Mello lè^a  biographia  do  Visconde  de  S  J^eof^do. 


-  «48  - 

O  Sr.  Soares  continua  a  leitora  da  sua  memoria  histórica 
estatística  sobre  a  alça  dos  preços  dos  géneros  alimentícios. 

Não  havendo  mais  nada  a  tratar,  e  solicitada  a  imperial 
vénia,  levanta-se  a  sessáo  às  8  horas  da  noite.  No  Paço 
da  cidade  aos  15  de  Julho  de  1859. 

Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras,  2.*  Secretario  inter.* 


6.*  SESSÃO  EM  6  DE  AGOSTO  DE  1859. 
Honrada  com  a  Augusta  Presença  de  S.  íí.  o  Imperador. 

PRESIDÊNCIA  DO  EX.'*"  SR.  VISGONDB  DE  SAPUCAHY. 

A's  6  horas  da  tarde,  presentes  os  Srs.  Visconde  de  Sa- 
pucahy,  Joaquim  Norberto,  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro» 
Dr.  Filgueiras,  Coruja,  Drs.  Carlos  Honório,  Fernandes 
Barros.  Cláudio,  Perdigão  Malheiros,  Conselheiro  Azam- 
buja, Cónego  Pinto  de  Campos,  Capitão  de  Mar  e  Guerra 
Amasonas  e  D.  Pascoal,  annuncia-se  a  chegada  de  S.  M. 
o L,  que  é  recebido  com  as  honras  devidas. 

O  Sr.  Presidente  abre  a  6.*  sessão  do  corrente  anno«  e 
depois  de  lida  e  approvada  a  acta  da  sessão  anterior,  o  Sr. 
*1.*  Secretario  lè  o  seguinte 

EXPEDIEiNTE  l 

l.'  Um  exemplar  do  3.*  volume  dos— Figurinos  dos 
Corpos  do  Exercito—,  enviado  pela  Secretaria  dos  Negócios 
da  Guerra. 


—  649  — 

2/  Um  officio  do  Sr«  Ministro  do  Império,  acompa- 
nhando um  requerimento  da  Sr/  Viscondeça  de  S.  Amaro, 
e  pedindo  ao  Instituto  um  parecer  sobre  a  introducçjo  da 
vaccina  no  Brasil  no  anno  de  180il. 

S.""  Um  exemplar  do  Relatório  sobre  o  estado  dos  índios 
na  província  do  Amasonas,  pelo  Director  Geral  dos  mesmos 
o  Sr.  João  Wilkens  de  Mattos,  offerecído  ao  Instituto  pelo 
auctor,  por  intermédio  do  Sr.  Coruja. 

4/  Um  exemplar  do  Relatório  com  que  o  Sr.  Conselheiro 
Ferraz  entregou  a  Presidência  da  provincia  do  Rio  Grande 
do  Sul  ao  2.*  Vice-Presidente  da  mesma. 

5.*  Um  oíQcio  do  Sr.  Ministro  do  Império  remettendo 
um  exemplar  dos  documentos  com  que  o  Presidente  da 
provincia  de  S.  Paulo  instruio  o  Relatório  d'abertura  da 
Assembléa  Provincial  em  Fevereiro  doeste  anno. 

6."*  Uma  remessa  de  folhas  do  Diccionario  Portuguez  do 
Sr.  Eduardo  de  Faria,  até  pag.  70i. 

l.""  Um  officio  do  Director  da  Escola  Militar  e  de  Appli- 
cação,  accusando  o  recebimento  da  collecçáo  das  Revistas, 
enviada  pela  secretaria  do  Instituto  para  o  Muzeu  da  mesma 
escola. 

S."*  Um  officio  do  Sr.  Dr.  Homem  de  Mello  participando 
ao  Instituto  a  sua  partida  para  o  lugar  onde  reside  na  pro* 
vínciade  S.  Paulo  e  offerecendo  ahi  o  seu  préstimo  e  dedi- 
cação aos  trabalhos  doesta  Associação. 

9.*  O  seguinte  ofTicio  do  Sr.  Joaquim  Norberto  commn- 
nicando  ao  Instituto,  que  na  organisação  do  Archívo  da 
Secretaria  dos  Negócios  do  Império,  a  que  está  procedendo, 
tem  encontrado  vários  documeutos  sobre  a  historia  nacional, 
entre  os  quaes  aponta  mais  particularmente  alguns  perten- 
centes a  José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva  :— 

lllm.  Sr.— Acho-meorganisando  o  importante  archívo 


-  6M  — 

da  Mcretaritáe  eâzéo  dos Degocios  do  Império,  e  na  mi&ha 
arina  tarefa  não  ma  tenho  esquecido  do  InstiUito  HistoríM, 
pai5  tenho  deparado  mm  docimentos  qoo  tançan  algoma 
luz  sobre  a  historia  da  nossapatria,  esobrea  yidade  nossos 
homens  Ulustres,  são,  porém,  como  a  afana  do  licenciado 
QvoHu  e  necessário  é  deseoterrak^s  d'onde  md  se  pensa 
qin  possam  «existir^  como  entre  a  aliuviio  de  petições  nina 
do  nosso  patricio  Dom  José  Joaquim  da  Cunha  deÂzeredb 
Goítinho.  bispo  de  Elras^  e  que  tambemo  foi  de  Pernam- 
buco, na  qmi  se  encontram  muitas  notadas,  amdanio 
sabidas,  para  a  sua  biograpliia.  fi"  porém  tao  demasiada- 
omite  longa  que  ainda  não  tíTe  tempo  de  cofwal-a*  nem  o 
aeíMtereá. 

JV'esles  ultimes  dias  encontrei  os  Estatiftos  qne  para  a 
Sociedade  de  Economia  da  pronncm  de  Sio  Fauto  atti  for- 
Bulon  o  nosso  illa&treJosé  Bonifácio  de  AodradaeSiht,  e 
^e  tem  a  sua  respeitável  as»gnatara;  patenteam  o  «qaanla 
soMiàeravaelie  pela  prosperidade  da  nossa  pátria ;  não 
tem  data,  mas  deitem  ser  mterkires  ao  amio  de  1892. 
fmiscreverei  aqui  as  suas  patarras  do  preambiAo: 

<x  Mostra  a  razão,  que  as  bases  solidas  da  riqueza  nacio* 
nl  sáo  a  agricultura  em  toda  a  sua  e&tensão  o  a  inda^ia 
iábril;  iofifô  para  que  essas  se  arreigaem  e  prosperem  pno- 
gressivamente,  cumpre  fazer  oduspirar  as  forcas  dogover* 
no,  e  dos  particulares  a  um  centro  comBourn.  Ora^esta 
mhaíão  de  vontade  e  de  esforços  fácil  e  efBcaemente  se 
a^ns<^;ue  por  meio  de  sociedades  patrióticas  de  homens 
saiMOS  e  cidadãos  jselosos^  que  appiiquem  a  tão  inuportanies 
ias  os  resultados  práticos  da  physica,  mecânica,  cbimâc^L 
mineralogia,  historia  natural «  economia. 

«c  Para  conseguir,  porém,  a  e^^tabiiidade  e  pne^eitos  de 
uma  tal  associarão,  é  jweciso : 


—  651  — 

«  í*  Dar-lhe  boa  organisação,  para  que  tudo  se  faça 
desempeçadamente»  com  zelo,  actividade  e  sem  as  coIUzões 
do  egoísmo  e  dos  caprichos  da  vaidade. 

a  2.*  Dar  prémios  e  recompensas  que  estimulem  o  pa- 
triotismo dos  cidadãos. 

<c  S.""  Haver  cabedaes  disponíveis  para  estes  prémios  e 
recompensas  para  o  costeio  interno  da  sociedade  e  para  a 
compra  de  livros  indispensáveis,  modelos,  machinas,  c 
instrumentos  que  não  poder  subministrar  gratuitamente  a 
generosidade  dos  sócios  e  mais  concidadãos. 

«  4.«  Emfim  a  protecção  do  governo  e  dos  homens  ricos 
e  distinctos  da  província. 

<  Debaixo  destes  pontos  de  vista  passaremos  a  organisar 
e  estabelecer  o  plano  de  seus  estatutos.  » 

<t  O  objecto  da  sociedade  era,  como  se  vê  do  !.•  artigo 
dos  respectivos  estatutos. 

l.»  Recolher  as  noticias  históricas  c  as  producções  do 
vasto  território  da  nossa  província,  que  possam  ser  úteis 
e  interessantes  à  agricultura  em  geral,  ás  pescarias,  às 
artes,  oificios,  e  fabricas,  e  ao  commercio  tanto  interno 
como  externo  da  mesma. 

2.*  Publicar  por  meio  da  imprensa  em  memorias  e  ins- 
trucções  claras  e  methodicas  o  resultado  de  lodos  os  tra- 
balhos e  indagações  da  sociedade  que  possam  augmentar  e 
promover  os  ramos  acima  mçncionados. 

3.'  Soccorrer  os  lavradores  e  artistas  distinctos  que  ne- 
cessitarem de  soccorros  pecuniários,  dirigindo  seus  ensaios 
e  experiências  para  que  melhor  consigam  os  seus  fins. 

4.*  Distribuir  annualmenle  prémios  e  recompensas  aos 
que  melhor  satisfizerem  aos  programmas  e  fins  da  sociedade. 

5."  Espalhar  a  instrucçáo  publica^nos  ramos  da  sua  com- 
petência, communicando  a  nossos  compatriotas  os  desco- 

83 


^  as2  - 

brimeritos  c  taethodos  modernos  que  lhe  parecerem  me- 
lhores e  raais  úteis  redigindo  compêndios  das  differenles 
doutrinas  económicas,  em  que  se  aproveitem  as  luzes  theo- 
lícase  os  resultados  práticos  da  experiência. 

€.•  Emfim,  fazer  do  directório  da  sociedade  o  centro 
communâi  das  relações  ^ntre  lodos  os  que  professam,  digo, 
por  ppofissSo,  gosto  e  zeJo  se  interessem  em  cada  um  dos 
ramos  do  seu  Instituto,  respondendo  aos  seus  quesitos  e 
communtcando-lhes  as  luzes  e  direcções  necessárias. 

Disse  que  náo  tinha  data  e  que  deviam  ser  anteriores  ao 
anno  de  1822,  porque  nesse  anno  veio  José  Bonifácio  de 
Andrada  e  Silva  para  o  Rio  de  Janeiro ;  mas  pelo  papel  que 
traz  a  marca  <iSmhtt  &  Allnult  181 9  •  ée\em  ser  posteriores 
a  este  anno  ultimo. 

Ignorava-se  até  aqui  a  data  do  óbito  de  António  de  Moraes 
e  Silva,  o  nosso  illustre  lexicographo ;  achei-a  no  requeri- 
mento de  sua  esposa,  D.  Narcisa  Pereira  da  Silva,  que  talvez 
fosse  poitugue^a,  pois  o  casainaento  teve  lugar  no  reino 
d'alemmar.  António  de  Moraes  e  Silva  baixou  á  sepultara 
na  cidade  do  Recife  em  11  de  Abril  de  182A. 

Dcos  Guarde  a  V.  S.  Nictheroy  3  de  Agosto  de  1859.— 
Illm.  Sr.  Dr.  Cónego  Joaquim  Caetano  Fernandes  Pinheiro, 
1."  Secretario  do  Instituto  Histórico  Brasileiro.—  /.  Nor- 
berto de  Sousa  e  Silva, 

10,  Vários  jornaes  enviados  pelas  suas  redacções. 

As  oííertassão  recebidas  com  especial  agrado. 

Passando-se  á  ultima  parle  da  ordem  do  dia^  o  Sr.  Có- 
nego Dr.  Fernandes  Pinheiro  lê  a  1.*  parte  da  sua  memoria 
histórica  intitulada :   O  Brasil  Hollandez. 

Nâo  havendo  mais  irada  a  tratar,  levanta-se  a  sessSo  ás 
8  horas  da  noite. 


—  (kJ3  — 

Nos  Paços  (la  cidade  aos 5  de  Agosto  de  1859. —Cr.  Cae- 
tano Âhes  de  Sousa  Filgueiras» 

7.*  SESSXO  EM  ^6  DE  AGOSTO  DE  1859. 
Honrada  com  Augusta  Presença  de  S.  M,  o  Imperador. 

PRESIDÊNCIA    DO  KX."»  SR.   VISCONDE  DE  SATUCAMY. 

A's  o  horas  da  tarde,  annuncia-se  a  chegada  de  S.  M.  I, 
o  qual  ê  recebido  com  as  honras  do  estylo,  e  verificando-se 
a  presem.^i  dos  Srs.  Visconde  de  Sapucahy,  Conselheiro  C. 
Baptista,  Joaquim  Norberto,  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinhei- 
ro, Drs.  Filgueiras,  Sousa  Fontes,  Cláudio.  Emilio  Maia, 
Carlos  Honório,  Perdigão  Malheiros,  Franco  de  Almeida.  D. 
Pascoal,  Costa  Rubim,  Capitão  de  Mar  e  Guerra  Amazonas, 
Gomes  Jardim  e  Beaurepaire  Ilohan,  o  Sr.  Presidente  abre 
a  7.'  sessão  do  corrente  anno,  c  depois  de  approvada  a  acta' 
da  sessão  anterior,  o  Sr .  1  ."*  Secretario  dà  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE : 

1  ."^  Um  oflicio  do  Sr.  Dr.  Macedo  communicando  não 
poder  comparecer  ã  presente  sessão  por  achar-se  molesto. 

2.*  Um  exemplar  da  traduccão  franceza  da  obra  do  Sr. 
Dr.  Domingos  José  Gonsalves  de  Magalhães,  que  tem  por 
titulo  Os  Factos  do  Espirito  Humano^  offerecido  ao  Instituto 
pelo  autor  do  original. 

3.<»  Ura  oíficio  do  Sr.  António  Mendes  Ribeiro,  oflfere- 
cendo  á  apreciação  do  Instituto  vários  documentos  pelos 
quaes  pretende  provar  que.  jà  em  1798,  seu  fallecido  pae 
introduzira  no  Rio  de  Janeiro  a  beneficio  da  vaccina,  e  pe* 
dindo  que  esses  documentos  sejam  submettidos  á  cam- 
missão  que  tem  de  dar  sobre  este  objecto  um  parecer  a. 
pedido  da  Sra.  Viscondessa  de  Santo  Amaro. 


—  654  — 

4.»  Duas  remessas  das  folhas  do  diccionario  portiiguoz 
do  Sr.  Eduardo  de  Faria,  até  ás  pags.  768  inclusive. 

S.'*  Um  ollicio  do  Sr.  ex-Ministro  dos  Negócios  Estran- 
geiros, remettendo  um  exemplar  do  seu  relatório,  apresen- 
tado à  assembléa  legislativa  do  corrente  anno,  e  acom- 
panhando um  exemplar  do  tratado  de  commercio  entre  o 
Brasil  e  a  Republica  do  Uraguay  concluido  pelo  mesmo  Sr. 
Silva  Paranhos. 

6.'  Um  exemplar  do  relatório  com  que  o  Vice-Fresidente 
da  provincia  do  Paraná  entregou  a  presidência  da  mesma 
ao  actual  administrador. 

7.*  Um  exemplar  dos  relatórios  com  que  os  Presidentes 
das  províncias  da  Parahyba  e  Rio  Grande  do  Norte  abriram 
as  respectivas  assembléas  provinciaes  no  corrente  anno. 

8.""  Um  exemplar  do  catalogo  geral  da  Bibliotheca  da 
Bahia,  ofTerecido  pelo  Sr.  Coruja. 

9.**  Um  exemplardo  relatório  com  que  o  Sr.  Beaurepaire 
Rohan  entregou  a  administração  da  provincia  da  Parahyba 
do  Norte  ao  seu  successor. 

10.  Um  catalogo  dos  Presidentes  da  provincia  da  Para- 
hyba do  Norte,  em  continuação  do  que  se  acha  impresso  na 
Revista  Trimensal,  tomo  1.**,  2.*  serie  do  anno  de  1846. 
pag.  81,  offerecido  pelo  mesmo  Sr.  Beaurepaire  Rohan. 

11.  Um  exemplar  do  tomo  4.**  da  collecção  das  leis  e 
decretos  da  provincia  do  Paraná,  enviado  pelo  Presidente 
da  mesma  provincia. 

12.  Um  officio  do  Sr.  Cônsul  Geral  do  Brasil  na  Áustria, 
pedindo  em  nome  do  Sr.  Dr.  Barão  J.  J.  Tschudi  os  nú- 
meros da  Revista  Trimensal,  que  faltam  á  sua  collecção. 

13.  Um  exemplar  do  opúsculo  intitulado  Memorias  sobre 
Christiano  Weis  apresentada  à  academia  das  sciencias  de 
Baviera  na  sessão  de  28  de  Novembro  de  1836,  escripto 


-  C55  — 

cm  allemão,  e  oílerccido  ao  Instituto  pelo  seu  autor  o  Sr 
Dr.  Marlíus  por  intermédio  do  Sr.  Paulo  Barbosa  da 
Sdva. 

íà.  Umofficio  do  Sr.  Dr.  Carlos  Martins,  accusando  por 
parte  da  academia  das  sciencias  de  Baviera  a  recepção  dos 
números  remettidos  da  Revista  Trímensal  do  Instituto»  o 
participando  ao  Instituto  que  publica  na  actualidade  a  sua 
Flora  Brasileira  relativa  à  famiiia  das  Myrtaceas^  e  que  se 
occupa  também  com  uma  Revista  da  Gentilidade  no  Brasil. 

15.  Vários  jornaes  remettidos  pelas  suas  redacções. 

As  ofTertas  são  recebidas  com  especial  agrado,  e  o  oflicio 
e  documentos  enviados  pelo  Sr.  António  Mendes  Ribeiro 
são  remettidos  à  commissão  de  historia,  j&  encarregada  do 
assumpto  dos  referidos  documentos. 

PROPOSTAS  C  PARECERES. 

£'  submettida  á  votação  do  Instituto,  e  approvada  unani- 
memente a  proposta  q  le  vae  junta  à  presente  acta. 

Em  virtude  desta  approvação  o  Sr.  Presidente  nomeia 
para  a  commissão  agenciadora  da  subscripção  pedida  na 
proposta  os  Srs.  Barão  de  Mauà,  Joaquim  Norberto,  Dr. 
Sousa  Fontes,  Dr.  Franco  de  Almeida,  Cónego  Dr.  Fernan- 
des Pinheiro,  Dr.  Cláudio,  e  Cónego  Pinto  de  Campos. 

LEITURA. 

o  Sr.  Costa  Rubim  obtém  a  palavra  e  lè  uma  memoria 
sobre  os  limites  da  provinda  do  Espirito  Santo,  e  o  Sr.  Có- 
nego Dr.  Fernandes  Pinheiro  termina  a  leitura  da  sua  me- 
moria intitulada  O  Brasil  Hollandezo 


-  m  — 

ENCEaRAMENTO. 

Não  havendo  mais  naJa  a  tratar,  o  Sr.  Presidente  dà  para 
a  ordem  do  dia  da  sessão  seguinte : 

i  ,•  Propostas  e  pareceres  de  commissóes. 

2.0  Leitura  da  memoria  do  Sr.  Dr.  Magalhães  o$  índi- 
genas  do  Brasil  perante  m%Í9toria. 

E  em  seguida,  impetrada  a  imperial  permissão»  levanta 
a  sessão  às  8  Vs  horas  da  noite.  Nos  Paços  da  cidade  aos 
26  de  Agosto  de  1859. 

Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras. 


PROPOSTA  A  QUE  SE  REFERE   A   ACTA  AGIM.V  TRANSCRIPTV. 


Annunciando-se  por  parte  do  convento  de  Santo  António 
desta  corte,  que  as  urnas  que  alli  existem  com  ossos  que 
não  (orem  reclamadas  dentro  de  três  mezes,  serão  inutili- 
sadas,  e  os  ossos  lançados  n'uma  valia  commum,  propomos 
que  se  salvem  desse  esquecimento  as  cinzas  do  poeta  sa- 
grado e  distincto  pregador  António  Pereira  de  Sousa 
Caldas,  nomeando  o  Instituto  uma  comimissáo  que  se  encar- 
regue de  abrir  uma  subscripção  para  votar-se  um  tumulo 
ao  grande  cantor  dos  psalmos. 

Sala  das  sessões  do  Instituto  em  26  de  Agosto  de  1859. 
Joaquim  Norberto  de  Sousa  Silva.— Cónego  Dr.  Fernandes 
Pinheiro,— Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras. 


—  637  — 

8.-  SESSÃO  EM  9  DE  SETEMBUO  DE  1859 

Honrada  com  a  Augusta  Presença  de  5.  ií.  o  Imperador. 

PRESIOEIICU  DO  EXM.**  SR.  CONSELHEIRO  C.  BAPTISTA. 

A's  6  horas  dà  tarde,  achando**e  çr^entes  os  Srs.  Con- 
selheiro C.  Baptista,  Dr.  Macedo,  Joaquim  Norberto.  Có- 
nego Dr.  J^ernandes  Pinheiro,  Dr.  Filgneiras,  Sebastião 
Soares, Coruja,  Dr.  Pereira  Pinto, Carlos  Honório,  D.  Pascoal» 
Beaurepaíre  Rohan,  Costa  Rubitn,  Cagitâo  de  Mar  e  Guerra 
Amazonas  e  Conselheiro  Mello,  annnncia-se  a  chegada  de  S. 
M.  o  L ,  o  qual  é  recebido  com  as  honras  do  estylo. 

O  Sr.  Presidente  interino  abre-se  a  8.*  sesséo  do  cor- 
rente anno,  e.  lida  a  acta  da  sessão  anterior,  o  Sr.  1.*  Se- 
cretario apresenta  o  seguinte 

expediente: 

1,"  Um  ofiicio  do  Sr.  Conselheiro  Ferraz,  Ministro  in- 
terino dos  negócios  do  Império,  remettendo  um  exemplar 
das  —Observações  Astronómicas  feitas  em  Washington,  no 
observatório  naval  durante  os  annos  de  18^19.  e  18o0  pelo 
Sr.  Maury,  director  do  mesmo  observatório,  offerecido  ao 
Instituto  pelo  autor. 

2.""  Um  exemplar  do  tratado  completo  da  conjugação  dos 
verbos  francezes  pelo  Sr.  Casimiro  Lieletaud,  e  pelo  autor 
oíTerecido  ao  Instituto. 

3.*»  Um  oíBcio  do  Sr.  Joaquim  Norberto,  communicando 
que  tendo-se  dirigido  ao  convento  de  Santo  António  desta 
corte,  ali  soube  que  os  ossos  do  Padre  António  Pereira  de 
Sousa  Caldas  acham-se  irremediavehnente  perdidos. 


—  658  — 

4.«  Um  exemplar  da  correspondência  offlcíal  da  presí^ 
dencía  da  província  da  Parahyba  do  Norte»  offerecido  pelo 
Sr.  Beaurepaire  Rohan 

5/  Duas  remessas  das  folhas  do  diccionario  da  língua 
portugueza,  do  Sr.  Eduardo  de  Faria,  até  ás  pag.  832  in- 
clusive. 

6/  Um  exemplar  do  relatório  com  que  o  Sr.  Conselheiro 
Fernandes  Torres  passou  ao  Yice«Presídente  a  adminis-- 
tração  da  província  de  S.  Paulo,  remettido  pelo  Ministro 
interino  dos  negócios  do  Império* 

7.*  Um  officio  do  %^  Presidente  da  província  de  Santa 
Gatharina,  remettendo  um  exemplar  das  tabeliãs  que  devem 
acompanhar  como  documentos  o  relatório  com  que  abrio  a 
assembléa  provincial  na  sessáo  do  corrente  anno. 

8.*"  Um  officio  do  Sr.  José  António  Rodrigues,  acom- 
panhando um  exemplar  do  folheto  intitulado :  Aponta- 
mentos da  população,  topographia,  e  noticias  chronologicas 
do  município  da  cidade  de  S.  João  d'El-Rei.  offerecido  ao 
Instituto  pelo  mesmo  Sr.  Rodrigues. 

D.*  Um  exemplar  do  relatório  com  que  o  Sr.  Presidente 
da  província  do  Goyaz,  abrio  a  respectiva  assembléa  na 
sessão  deste  anno. 

10.  Um  exemplar  do  à^  volume  dos  figurinos  dos  corpos 
do  exercito,  enviado  pela  secretaria  dos  negócios  da  Guerra. 

11.  Vários  jornaes  enviados  pelas  respectivas  redacções. 
As  oíTertas  são  recebidas  com  especial  agrado. 

PROPOSTAS  E  PARECERES. 

Sáo  offerecidas  ã  mesa  as  duas  seguintes  propostas: 
1  .•  c  Propomos  para  sócio  correspondente  do  Instituto 
ao  Sr.  Dr.  Ernesto  Ferreira  França,  formado  em  direito  na 


—  659  — 

Alemanha,  aulor  de  vários  opúsculos  n^esta  sciencia  e  de 
uma  memoria  acerca  dos  limites  do  Brasil,  apresentada  a 
este  mesmo  Instituto  em  1849.  Sala  das  sessões  do  Instituto 
Histórico,  aos  9  de  Setembro  de  1859.  —  Dr.  J.  C.  Fer- 
nandes Pinheiro.  —  Joaquim  Norberto  de  Sousa  e  Silva.  — 
Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras. » 

2^*  «Propomos  que  o  Instituto  Histórico  dirija-se  a 
qualquer  dos  seus  sócios  residentes  na  provincia  de  S. 
Paulo,  rogando-lhe  que  haja  de  verificar  o  grau  de  veraci- 
dade e  importância  histórica  que  merece  a  noticia  dada  pelo 
Commercial  de  Santês,  relativamente  arf  descobrimento  dos 
restos  de  um  navio  encontrados  no  sitio  denominado  Poço; 
termo  da  villa  de  Itanhaem,  e  aos  quaes  se  attribue  uma 
grande  antiguidade. 

Sala  das  sessões  do  Instituto,  9  de  Setembro  de  1859. 
—Joaquim  Norberto  de  Sousa  e  Silva.— Dr.  Caetano  Alves 
de  Sousa  Filgueiras.  —  Cónego  Dr.  J.  C.  Fernandes  Pi- 
nheiro. » 

O  Sr.  Presidente,  depois  de  approvadas  ambas  as  pro- 
postas, nomeia  para  o  fim  requerido  na  segunda  o  Sr. 
Brigadeiro  José  Joaquim  Machado  de  Oliveira,  sócio  do 
Instituto  residente  em  S.  Paulo. 

LEITURA. 

O  Sr.  Sebastião  Soares  continua  a  leitura  da  sua  memoria 
sobre  a  causa  da  alça  do  preço  dos  géneros  alimenticios 
na  parte  relativa  às  provincias  do  Rio  de  Janeiro  e  Bahia. 
Não  havendo  mais  nada  a  tratar,  e  solicitada  a  imperial 
vénia,  levanta -se  a  sessão  às  8  horas  da  noite.  Nos  Paços 
da  cidade  aos  9  de  Setembro  de  1859. 

Dr,  Cadano  Alves  de  Sousa  Filgueiras. 

8i 


—  660  — 
9.»  SESSÃO  EM  23  DE  SETEMBRO  DE  1859. 

Honrada  eom  a  Auguita  Presença  de  S.  M.  o  Imperador. 

PRESIDÊNCIA  DO  SR.   G.  CÂNDIDO  BAPTISTA* 

À's  6  horas  da  tarde  presentes  os  Srs.  Conselheiro  Cân- 
dido Baptista,  Dr.  Macedo,  Joaquim  Norberto,  Cónego  Dr. 
Piaheiro.  Dr.  Filgueiras,  Dr.  Sousa  Fontes,  Coruja,  Drs. 
Cláudio.  Pereira  Pinto,  Carlos  Honório,  Fernandes  Barros, 
Emílio  Maia,  CapitSò  de  mar  e  guerra  Amazonas»  BeaiH 
paire  Rohan,  Conselheiro  Mello,  D.  Pascoal,  Costa  Rulnm* 
Sebastião  Soares,  e  Gomes  Jardim,  annuncia^se  a  chegada 
de  S.  M.  o  I.,  que  é  recebido  comas  honras  do  estylo,  e  o 
Sr.  Presidente  abre  a  sessão. 

Lida  e  approvada  a  acta  da  sessão  anterior,  o  Or.  l.*Sc«* 
cretario  dà  conta  do  seguinte 

EXPEDI£:^T£: 

1.»  Um  officio  do  Sr.  Visconde  de  Sapucahy.  parlici* 
pando  não  poder  comparecer  á  sessão. 

2*  Um  olDcio  do  Sr.  Conselheiro  Az.^mbaia  no  mesmo 
sentido. 

3*  Um  exemplar  do  opúsculo  in^itulad©  O  casamento  civil 
e  casamento  religioso  pelo  Dr.  Braz  Florentino  Henriques 
de  Sousa,  offerecido  ao  Instituto  pelo  autor. 

A."  Um  exemplar  das  10.'  à  17.*  serie  da  obra:  Galeria 
dos  Brasileiros  illustres,  olTerta  do  editor  A.  Sisson. 

5.»  Um  exemplar  do  Relatório  com  que  o  Presidente  da 
provificia  de  Sergipe  abrio  a  2.*  sessão  da  12*  legislatura 
da  asserabléa  provincial. 


—  661  — 

6.''  Um  exemplar  das  tabelas  das  distancias  entre  os 
pontos  mais  notáveis  da  cidade  da  Corte,  organisadas  pela 
commissão  do  completamento  da  planta  da  cidade,  re^et- 
tido  ao  Instituto  pelo  Sr,  Brigadeiro  director  do  Archivo 
Militar. 

7.'  Vários  jornaesremettidos  pelas  suas  redacções. 

Lê-se  o  parecer  da  commissão  subsidiaria  de  trabalhos 
históricos  sobre  o  requerimento  em  que  a  Sra. Viscondessa 
de  Santo  Amaro  pede  permissão  ao  Governo  de  S.  M.  I. 
para  coHocar  na  sala  publica  do  Instituto  Vaccinico  o  btisto 
em  mármore  de  seu  fallectdo  Pai  o  marquez  de  Barbacena, 
como  o  verdadeiro  introductor  da  vaccína  no  hnperio  do 
Brasil,  e  também  sobre  o  oflicio  do  Sr.  A.  Mendes  Ribeiro, 
em  que  offerece  à  consideração  do  Instituto,  documentos 
que  mostram  que  seu  pai  o  cirurgião  mór  Francisco 
Mendes  Ribeiro  de  Vasconcellos  fora  seu  introductor  jé  em 
1798.  O  parecer  é  approvado»  devendo  ser  remettidas.ao 
governo  as  suas  conclusões,  que  são:  l.*que  o  Sr.  Marquez 
de  Barbacena  foi  o  verdadeiro  introductor  da  vaccina  no 
bnperio  no  decurso  do  anno  de  18Q4;  2.^  que  o  Sr.  Fran« 
cisco  Mendes  Ribeiro  de  Vasconsellos  foi  quem  em  1798 
ensinou  no  Brasil  a  inoculação  da  bexiga. 

Em  seguida  é  lida  e  submettida  á  votação  do  Instituto  a 
seguinte 

PROPOSTA. 

«  Propomos  que  se  lembre  ao  gorverno  imperial  a  con- 
veniência de  mandar  para  os  nossos  archivos  copias  dos 
importantes  documentos  relativos  à  historia  pátria,  tras- 
ladados da  bibliotheca  d'£vora  pelos  nossas  consócios  os  Srs. 
Gonsalves  Dias  e  Lisboa,  e  que  devem  existir  em  algumas 


—  662  — 

das  secretarias  de  Estado  »  Sala  das  sessões  no  paço  impe- 
rial da  cidade  em  23  de  Setembro  de  1859.  —  Dr$.  J.  M* 
de  Macedo "^J.  C.  Fernandes  Pinheiro  —  C.  A.  de  Sousa 
Filgueiras  —  Sebastião.  Ferreira  Soares . 

LEITURA. 

«O  Sr.  Sebastião  Ferreira  Soares  continua  a  leitura  da  sua 
Memoria  sobre  o^  causas  da  cdça  do  preço  dos  géneros  alimen- 
tícias na  parte  relativa  às  provincias  de  Pernambuco  e  Pará. 
Tendo-se  S.  M.  o  I.  retirado  com  as  honras  do  estylo, 
o  Sr  !.•  Secretario  apresenta  e  lê  aa  seguintes 

PROPOSTAS: 

«  Propomos  que  o  Instituto  encarregue  a  um  dos  seus 
menibros  que  tem  a  honra  de  acompanhar  a  S.  M.  Impe- 
riaes  em  sua  viagem  às  provincias  do  Norte,  de  escrever  a 
naí^ratíva  da  dita  viagem.  Sala  das  sessões  no.paço  imperial 
dsi  cidade  em  23  de  Setembro  de  1859— Dr.  Caetano  Â.  de 
Sousa  Filgueiras  —  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro,— J.  N. 
de  Sousa  e  Silva  —  Sebastião  Ferreira  Soarei  —  António 
PereiraPinlo.  » 

€  Propomos  que  seja  nomeada  por  parte  do  Instituto 
Histórico  uma  commissão  a  fim  de  ter  a  honra  de,  em 
nome  desta  Corporação,  despedir-se  de  SS.  MM.  II.,  que 
teem  de  seguir  viagem  para  as  provincias  do  Norte.  Sala 
das  sessões  no  Paço  imperial  da  cidade  em  23  de  Setembro 
de  1859.— Cónego  Dr.  J.  C.  Fernandes  Pinheiro— Joaquim 
N.  de  Sousa  e  Silva— J.  M.  de  Macedo— Sebastião  Peneira 
Soares. 

Os  Jornaes  e  as  offertas  sáo  recebidas  com  esiieciaj 


^  663  ^ 

agrado:  as  prop>stns  são  todas  approvadas,  sendo  nomeado 
para  o  fim  requerido  na  penúltima  o  Sr.  Conselheiro  An- 
tónio Manoel  de  Mello,  e  para  o  da  ultima  os  membros  da 
Mesa,  e  todos  os  Srs.  sócios,  que  quizerem  no  dia  marcado 
reunir-se-lhes. 

Não  havendo  mais  nada  a  tratar,  levanta-se  a  sessão  ás 
9  horas  da  noite.  Nos  Tacos  da  cidade  aos  23  de  Setembro 
de  1859. 

Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras,  2.**  Secretario 
interino. 


lOv»  SESSÃO  EM  7  DE  OUTUBRO  DE  1859. 

PRESIDÊNCIA  DO  EXM.**"  SR^  CONSELHEIRO  G.  BAPTISTA. 

A's  6  horas  da  tarde,  presentes  os  Srs.  Conselheiro  C. 
Baptistíi.  Joaquim  Norberto,  Cónego  Dr,  Fernandes  Pi- 
nheiro, Dr.  Filgueiras,  Coruja,  Dr.  Cláudio.  Sebastião 
Soares,  Drs.  Pereira  Pinto,  Fernandes  Barros,  Carlos  Ho- 
nório, Costa  Rubim,  Capitão  de  Mar  e  Guerra  Amasonas, 
Pr.  Miranda  Castro  e  Francisco  José  Borges,  o  Sr.  Presi- 
dente declara  aberta  a  sessão. 

O  Sr.  t.'  Secretario  dà  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE  : 

1/  Um  exemplar  da  obra:  — Champignons  de  la  pro- 
vince  de  Nice,— offerecido  ao  Instituto  pelo  autor  o  Sr.  J. 
A.  Barla,  cônsul  de  S.  M.  o  Imperador  do  Prasil  em  Nice. 


—  66i  — 

2/  Dous  exemplares  das  folhas  do— Diccionario  da  lingua 
Portugueza.—  do  Sr.  Eduardo  de  Faria,  de  pigs.  83S  a 
896,  inclusive,  remettidos  pelo  autor. 

3.*  Um  officio  do  Sr.  Presidente  da  província  do  Rio  de 
Janeiro,  acompanhando  um  exemplar  do  relatório  com  que 
no  corrente  anuo  abrio  a  assembléa  respectiva,  seguido 
dos  documentos  officiaes  que  o  baseam,  em  seis  folhetos 
distinctos. 

4.'  Um  exemplar  da  traducçáo  portugueza  da  obra:  — 
Tratado  pratico  dos  Bancos—  por  J.  W.  Gilbart,  ofleriado 
Sr.  Dr.  Miranda  Castro. 

5."  Um  exemplar  da  obra:  —Capital,  circulação  e 
bancos,  —  do  Sr.  James  Wilson,  tradi^zida  pelo  Sr.  Dr. 
Luiz  Joaquim  de  Oliveira  e  Castro,  e  oflerecida  ao  Instituto 
pelo  mesmo  Sr.  Dr.  Miranda  Castro. 

6.""  Um  oíTicio  do  Sr.  N.  L.  Basil,  coivde  de  la  Hure, 
acompanhando  um  exemplar  do  opúsculo:— Príncipes  pour 
la  fondation  des  colonies  au  Brèsil,—  que  pubUcou  no  Rio 
de  Janeiro. 

7.*  Um  exemplar  da  obra-:  — Don  Pablo  de  Olavide— 
ofierecido  ao  Instituto  pelo  Sr.  J.  À.  de  Lavalle,  ^u  autor. 

8.'  Um  exemplar  da  obra:— Projecto  de  constitucion 
politica,—  esrripta  pelo  Sr.  D.  Felippe  Pardo,  e  commen- 
tada  pelo  Sr.  D.  José  A.  de  Lavalle,  e  pelo  coiamentador 
offerecido  ao  Instituto. 

9."  Vários  jomaes,  remettidos  pelas  respectivas  re- 
dacções. 

As  offertas  sáo  recebidas  com  especial  agrado. 

São  olTerecidas  e  approvadas  as  seguintes  propostas : 

!.■  a  Propomos  que  durante  a  viagem  de  SS.  MM.  If. 
pelas  províncias  do  norte  se  remetta  copia  das  actas  das 
sessões  que  celebrarmos  ao  nosso  mui  digno  Presidente  o 


--  668  - 

Exm.  Sr.  V.  de  âapucahy>  a  fim  de  ser  presente  a  S.  M.  o 
Imperador.  Sala  das  sessões  7  de  Outubro  de  1859.—  J. 
N.  de  Sousa  e  Silva.— Dr.  J.  C.  Fernandes  Pinheiro. » 

Si.*  «  Propomos  que  seja  elevado  à  classe  de  sócio  ho- 
norário o  Sr.  Brigadeiro  José  Joaquim  Machado  de  Oliveira, 
um  dos  nossos  sócios  mais  antigos,  e  que  mereceu  ser  lau- 
reado pelos  seus  trabalhos  elhnographicos.  Rio  de  Janeiro 
7  de  Outubro  de  1859.  —A.  A.  Pereira  Coruja,  —  J.  Nor- 
berto S.  S.  — Dr.  Cláudio  Luiz  da  Costa. --Dr.  J.  C.  Fernan- 
des iPinheiro.— Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras.  > 

3.*  t  Existindo  nos  archivos  das  secretarias  d'Estado 
muitos  e  importantes  documentos  relativos  à  Historia  e 
Geographia  pátria,  propomos  que  o  Instituto  Histórico  e 
Geographico  lembre  aos  poderes  competentes  a  conveniência 
da  remessa  de  taes  documentos  ou  copias  d'elles,  que  muito 
interessam  aos  fins  do  Instituto.  Sala  das  sessões  h  de  Ou- 
tubro de  1859.— C.  H.  de  Figueiredo.  —  Dr.  C.  A.  de 
Sousa  Filgueiras*—  J.  Norberto  deS.  S.— Dr.  J.  C.  Fer- 
nandes Pinheiro.» 

tElTURA. 

O  Sr.  Dr.  Cláudio  lè  o  seguinte : 

Succinta  descripção  de  alguns  productos  mineraes,  como 
o  salitre  e  outros,  existentes  nas  serras  da  villa  do  Lagarto. 

Copiadeumofficioao  Ministro  do  Império  em  1858  sobre 
a  existência  de  vários  outros  productos  mineraes  da  pro- 
víncia de  Sergipe  e  sobre  a  existência  de  um  rio  subterrâ- 
neo em  um  districto  da  villa  de  Simão  Dias,  pelo  Sr.  Mon- 
senhor António  Fernandes  da  Silveira. 

Em  seguida,  o  Sr.  Coruja  lêo  uma  relação  abreviada  das 
ilhas  do  Uruguay,  desda  o  Paço  de  S.  Borja  até  a  Foz  do 


-  666  — 

Arapehy.  enviada  pelo  Padre  Joáo  Pedro  Gay,  Vigário  de 
S;  Borja. 

Em  ultimo  lugar,  o  Sr.  Cónego  Dr.  Fernaildes  Pinheiro 
lèo  a  memoria  do  Sr.  Dr.  Domingos  José  Gonsalves  de  Ma- 
galhães,-^Os  selvagens  do  Brasil  perante  a  historia, —  na 
sua  primeira  parte. 

O  Sr.  Presidente  levanta  a  sessão  às  8  horas  da  noite* 
Nos  Paços  da  cidade  aos  7  de  Outubro  de  1859. 

Dr.  Caetano  Aheà  de  Sousa  Filgueiras ,  %''  Seciretario 
•     interino. 


11.'  SESSÃO  EM  21  DE  OUTUBRO  DE  1859 

PRESIDÊNCIA  DO  EX."*"  SR.  CONSELHEIRO  C.  fiAl^TISTA 

Â's  G  horas  da  tarde,  achando-se  presentes  os  Srs.  Con- 
selheiro G.  Baptista,  Joaquim  Norberto,  Cónego  Dr.  Fer- 
nandes Pinheiro,  Drs.  Caetano  Filgueiras,  Sousa  Fontes, 
Carlos  Honório,  Perdigão  Malheiros,  Pereira  Pinto,  Cláu- 
dio, Miranda  Castro,  Capitão  de  Mar  e  Guerra  Amazonas. 
D.  Pascoal,  Conselheiro  Azambuja,  Sebastião  Soares,  Costa 
Rubim,  Gomes  Jardim  e  Beaurepaire  Rohan,  o  Sr.  Presi- 
dente declara  aberta  a  sessão. 

O  Sr.  1.*  Secretario  dá  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE: 

1."  Varias  obras  em  allemão  offerccidas  pelo  Sr.  Dr. 
Ernesto  Ferreira  França. 


—  «67  — 

ã.*  Dous  exemplares  das  folhas  do  Diccionario  da  lingiia 
portugueza  do  Sr.  Eduardo  de  Faria,  desde  paginas  897  até 
968,  inclusive. 

3."  Um  officio  do  Sr.  Dr.  Joaquim  Caetano  da  Silva, 
agradecendo  ao  Instituto  a  honra  que  Ihè  fez  elevando-o 
ao  gráo  de  sócio  honorário. 

A.*  Um  officio  do  Sr.  Ministro  da  Justiça,  communicando 
ao  Instituto  haver  expedido  ordem  ao  Conselheiro  Director 
Geral  da  Secretaria  do  seu  Ministério  para  remetter  ao  Se- 
cretario do  mesmo  Instituto  todos  os  documentos  relativos 
à  historia  e  geographia  pátria,  existentes  nas  repartições 
a  seu  cargo. 

5.^  Um  officio  do  Sr.  Secretario  do  Instituto  Religioso, 
convidando  os  membros  do  Instituto  Histórico  para  assis- 
tirem à  sessão  publica  anniverseiria  da  fundação  d'aquella 
sociedade,  a  qual  deve  ter  lugar  a  2A  do  corrente,  na  sala 
da  Sociedade  Auxiliadora  das  Artes  Mecânicas  e  Liberaes. 

6.*  Um  officio  do  Sr.  Ministro  da  Fazenda,  e  Interino 
do  Império  pedindo  ao  Instituto  que  toda  a  correspon- 
dência entre  o  mesmo  Instituto  e  as  repartições  do  seu 
ministério  seja  feito  em  papel  almaço.  para  melhor  arranjo 
dos  papeis  do  respectivo  archivo. 

7.'  Um  officio  doSr.Porto-Alegre.offerecendo  em  nome 
do  Sr.  Innocencio  Francisco  da  Silva  um  exemplar  dos  dous 
primeiros  tomos  do  seu  Diccionario  Bibliographico  Portu- 
guez  e  propondo  o  mesmo  Sr.  para  sócio  correspondente 
do  Instituto  Histórico. 

8.'  Um  officio  do  mesmo  Sr.  acompanhando  um  exem- 
plar do  relatório  da  Sociedade  Agrícola  do  Porto,  no  qual 
officio  se  lè  o  seguinte  trecho  <c  Para  não  deixar  de  acom- 
panhar o  Instituto  no  dia  7  de  Setembro,  fui  a  Santarém 
ajoelhar-me  sobre  a  campa  de  Pedro  Alvares  Gabralt  na 

8S 


1 


—  668  — 

igreja  da  Graça,  e  ahi  orei  pela  prosperiJaile  do  Império 
qae  elle  descobrio,  e  pela  do  Imperador  que  o  rege.  » 

9.*  Um  exemplar  da  Corographia  do  Império  do  Brasil, 
offerta  do  seu  autor  o  Sr.  Dr.  Mello  Moraes. 

IO/  Uma  copia  do  Itinerário  da  viagem  que  fez  ao  Baixo 
Paraguay.  por  ordem  do  Sr.  Marquez  de  Caxias,  o  Capitão 
da  2.*  Classe  do  Estado  Maior,  Manoel  Joaquim  Pinto  Paca. 
offerta  do  Sr  Conselheiro  Azambuja. 

,11,  Vários  jomaes  enviados  pelas  suas  redacções. 
^  As  oflfertas  são  recebidas  com  especial  agrado. 

Foram  oíTerecidas  e  aprovadas  as  seguintes 

PROPOSTAS. 

1  .•  t  Propomos  para  membro  correspondente  do  Ins- 
tituto Histórico  ao  Sr.  Innocencio  Francisco  da  Silva;  sócio 
da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  e  autor  do  Dic- 
cionario  Bibliographico  Portuguez  e  Brasileiro.  Sala  das 
Sessões  do  Instituto,  em  21  de  Outubro  de  1839.— Cónego 
Dr.  Fernandes  Pinheiro,  —  Dr.  Caetano  Filgueiras,  —Joa- 
quim Norberto  de  Sousa  e  Silva.  » 

2,*  t  Propomos  para  sócio  correspondente  do  Instituto 
Histórico  ao  Sr.  Dr.  Alexandre  José  de  Mello  Moraes,  autor 
da  Corographia  histórica,  chronologica,  genealógica,  nobi- 
liária e  politica  do  Império  do  Brasil.  Sala  das  Sessões,  em 
21  de  Outubro  de  1859.— Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro. 
Joaquim  Noberto  de  Sousa  e  Silva. 

3.*  «  Propomos  que  se  olTicic  aos  Srs.  Ministros  dos  Ne- 
gócios Estrangeiros  e  da  Guerra  solicitando  uma  relação  dos 
mappas  que  existirem  nos  respectivos  archivos  sobre  as 
nossas  fronteiras,  afim  de  que  o  Instituto  Histórico  e  Geo- 
graphico  Brasileiro  resolva  sobre  aquclles  de  que  precise 


—  669  — 

ter  o  mesmo  Instituto  copias  em  seu  archivo.  Rio,  2í  de 
Outubrode  1859.— Joaquim  Maria  Nascentes  de  Azambuja, 
-i.'  €  Tendo  o  Sr.  Conselheiro  António  de  Menezes  Vas- 
concellos  de  Drumond  oíTerecido  ao  Instituto  nos  ânuos 
de  1856  e  l8o7  vários  documentos  de  importância,  entre 
eUes  a  correspondência  de  D.  Diogo  de  Sousa,  Governador 
do  Rio-Grande»  com  o  Governo  do  Rio  de  Janeiro,  ver- 
sando, pela  maior  parte,  sobre  negócios  do  Rio  da  Prata, 
documentos  estes  cuja  relação  foi  publicada  nos  tomos  19 
e  20  da  Revista  Trimensal  d'aqueiles  annos,  proponho  que 
me  seja  entregue  essa  correspondência  para  completar, 
com  a  que  eu  possa  alcançar  da  administração  do  mesmo 
Governador,  e  que  se  faça  uma  relação  dos  referidos  docu- 
mentos, classificados  por  matérias  e  por  sua  ordem  chro- 
nologica,  afim  de  que,  lida  em  sessão  do  Instituto,  se  de- 
libere sobre  o  destino  que  convém  dar-lhes.  Sala  das 
Sessões,  em  21  dè  Outubro  de  1859.  Conselheiro  Joaquim 
Maria  Nascentes  de  Azambuja.» 

LEITURA. 

O  Sr.  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro  continua  a  leitura 
da  memoria  do  Sr.  Dr.  Domingos  José  Gousalves  de 
Magalhães  :  Os  indígenas  do  Brasil  perante  a  historia. 

Levanta-se  a  sessão  as  8  horas  da  noite.  Nos  Paços  da 
Cidade  em  21  de  Outubro  de  1859. 

Dr.  Caetano  Alves  de  Soma  Filgueiras.  —  2.**  Secretario 
interino. 


i 


—  670  — 
12/  SESSÃO  EM  4  DE  NOVEMBRO  DE  1859. 

PRESIDÊNCIA  DO  SR.  J.  NORBERTO  DE  SOUSA  E  SILVA. 

A's  6  horas  da  tarde,  estando  presentes  os  Srs.  Joaquim 
Norberto,  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro,  Drs.  Caetano 
Filgueiras,  Sousa  Fontes.  Conselheiro  Azambuja.  Coruja, 
Dr.  Miranda  Castro,  Capitão  de  Mar  e  Guerra  Amasonas, 
e  Beaurepaire  Rohan,  o  Sr.  Presidente  abre  a  sessão. 

O  Sr.  !.•  Secretario  dà  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE: 

l.""  Três  oíQcios  dos  Srs.  Conselheiro  Cândido  Baptista, 
D.  Pascoal  eDr.  Carlos  Honório,  participando  não  poderem 
comparecer,  por  incommodados,  á  presente  sessão. 

2.^*  Sete  volumes  das  Memorias  e  boletins  da  Sociedade  de 
Seiencias  Naiuraes  de  Neuchátel,  na  Suissa,  remettidos  ao 
Instituto  pela  mesma  Sociedade,  por  intermédio  do  Sr. 
Dr.  Francisco  de  Pury,  incumbido  d'essa  commissáo  pelo 
Sr.  Coulon,  Presidente  da  mesma  sociedade. 

3.*  Um  oflicio  do  Sr.  Vice-Presidente  da  Província  de 
Santa  Catharina,  acompanhando  o  Relatório  com  que  elle 
entregou  no  dia  23  de  Setembro  do  corrente  anno  a  admi- 
nistração da  mesma  Província  ao  Sr.  Dr.  João  José  Coutinho. 

4.*  Um  olBcio  do  Sr.  Presidente  da  Província  do  Espi- 
rito Santo,  acompanhando  um  exemplar  do  Relatório  com 
que  o  mesmo  Sr.  abrio  a  respectiva  Assembléa  Legislativa 
na  sessão  do  corrente  anno. 

5.*»  Um  olBcio  do  Sr.  Ministro  dos  Negócios  Estrangeiros 
communicando  ao  Instituto  que  tem  ordenado  ao  Director 
Geral  da  Secretaria  do  seu  Ministério  que  remetia  ao  mesmo 


~  671  — 

Instituto  todos  os  documentos  sobre  a  historia  e  geogra- 
phia  pátria  que  n'ella  se  acharem  archivados. 

G.»  Um  oÃBcio  do  Sr.  Ministro  da  Fazenda  e  interino  do 
Império  sobre  o  mesmo  assumpto,  communicando  que, 
por  ordens  já  dadas,  acham-se  os  archivos  da  secretaria 
do  Império  e  o  publico  franqueiados  à  pessoa  que  for  en- 
carregada  peio  Instituto  para  tirar  as  copias  necessárias. 

1."*  Um  oílicio  do  Sr.  Ministro  dos  Negócios  Estrangeiros 
acompanhando  uma  relação  dos  mappas  que  existem  nos 
archivos  da  Secretaria,  entre  os  quaes  se  encontram  os 
(jue  se  prendem  as  nossas  questões  fronteiras. 

8.*  Vários  jornaes  f  emettídos  por  suas  redacções. 

As  oflertas  são  recebidas  com  especial  agrado. 

LEITURA. 

O  Sr.  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro  prosegue  na  lei- 
tura da  memoria  do  Sr.  Dr.  Domingos  José  Gonsalves  de 
Magalhães  0$  indígenas  do  Brcuil  perante  a  historia. 

O  Sr.  Presidente  levanta  a  sessão  as  8  horas  da  noite. 
Paço  da  Cidade  em  i  de  Novembro  de  1859. 

Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Figueiras — 2.°  Secretario 
mterino. 


13.*  SESSÃO  EM  18  DE  NOVEMBRO  DE  1859. 

PRESIDÊNCIA   DO  EXM.   SR.    CONSELHEIRO  CÂNDIDO  BAPTISTA. 

A's  6  horas  da  tarde,  achando-se  presentes  os  Srs.  Con- 
selheiro Cândido  Baptista,  Joaquim  Norberto»  Ckjpego  Dr. 


i 


—  67á  — 

Fernandes  Pinheiro.  Drs.  Caetano  Filgueiras,  Sousa  Fontes, 
Perdigão  Malheiros.  Pereira  Pinto,  Coruja,  Conselheiro 
Azambuja,  D.  Pascoal,  Capitão  de  iMar  e  Guerra  Amazonas, 
Sebastião  Soares  e  Costa  Rubim;  o  Sr.  Presidente  declara 
aberta  a  sessão. 
O  Sr.  1 .°  Secretario  dá  conta  do  seguinte 

expediente: 

l.**  Três  oflicios  dos  Srs  Dr.  Macedo,  BeaurepaireRohan 
e  Carlos  Honório,  communicando  não  poderem  comparecer 
à  presente  sessão  por  se  acharem  incommodados. 

^.**  Uma  circular  do  Sr.  Ministro  do  Império  pedindo  ao 
Sr.  Conselheiro  Vice-Presidente  do  Instituto  informações  e 
esclarecimentos  acerca  do  mesmo  Instituto,  a  fim  de  serem 
inseridos  no  relatório  d'aquelle  Ministério,  que  tem  de  ser 
apresentado  à  Assemblea  Geral  Legislativa. 

3.**  Um  oílicio  do  Sr.  Ministro  da  Marinha  offerecendo 
em  nome  do  Sr.  Tenente  Maury  um  exemplar  do  2."  volume 
da  sua  obra  intitulada— Sailing-Directions. — 

à.°  Ura  oílicio  do  Sr.  Libanio  Augusto  da  Cunha  Mattos, 
participando  não  poder  comparecer,  e  remettendo  ao  Ins- 
tituto um  exemplar  do  — Plani-IIistoria—  do  sócio  o  Te- 
nenle-Coronel  José  Joaquim  Rodrigues  Lopes,  por  este 
oflerecido  ao  mesmo  Instituto. 

5."  Um  oílicio  do  Sr.  Dr.  Gonsalves  de  Magalhães  agra- 
decendo ao  Instituto  a  sua  elevação  ao  grau  de  sócio  ho- 
norário. 

6.**  Dois  exemplares  das  folhas  do  Diccionario  da  Lingua 
Portugueza  do  Sr.  Eduardo  de  Faria,  desde  pagina  969 
até  lO/iO. 

7.*  Uoif  oBicio  do  Sr.  Ministro  Interino  do  Império  rc- 


—  673  — 

commcnilando  ao  Instituto  a  lypographia  nacional  pnra  a 
publicação  (la  —  Revista  Trimensal.— 

8.**  Um  oflicio  do  Sr,  Dr.  Francisco  José  da  Rocha,  re- 
dactor do  —Jornal  da  Bahia,—  acompanhando  os  números 
do  seu  periódico  era  que  se  publicou  o  itinerário  de  S.  M. 
o  Imperador  á  Caxoeira  de  Paulo  Affonso. 

y.»  Um  exemplar  do  relatório  com  que  o  Presidente  da 
provincia  do  Pará  abrio  a  respectiva  Assembléa  Legislativa 
na  2/  sessão  da  sua  li.'  Legislatura. 

10.  Um  exemplar  da  obra  em  2  volumes,  do  Sr.  Fran- 
cisco Evaristo  Leoni  intitulada  —Génio  da  Lingua  Portu- 
gueza,—  offerecido  por  seu  autor  ao  Instituto,  por  inter- 
médio do  Sr.  Porto-Alegre. 

11.  Vários  jornaes  remettidos  por  suas  redacções. 
As  oílertas  sâo  recebidas  com  especial  agrado. 
São  mandadas  à  mesa  e  approvadas  as  seguintes 

PROPOSTAS. 

Por  proposta  de  todos  os  membros  presentes,  o  Sr.  Pre- 
sidente nomêa  o  Sr.  Visconde  de  Sapucahy  orador  de  uma 
commissão  de  sócios  que  se  acham  actualmente  em  Per- 
nambuco, pira,  era  nome  do  Instituto,  comprimentar  a  S. 
M.  o  Imperador  no  faustoso  dia  de  scuanniversario. 

O  Sr.  Norberto  apresenta  as  seguidtes  propostas: 

1.'  «  Proponho  que  se  peça  ao  Sr.  Ministro  do  Império 
a  sentença  proferida  pela  alçada  contra  os  conjurados 
Mineiros  de  1789,  e  quacsquer  outros  documentos  relati- 
vos, existentes  na  Bibliotheca  publica  doesta  corte,  certiíi- 
€ando-se  a  S.  Ex.  que  serão  rcstituidos  logo  que  se  não 
tornem  necessários.» 

2.*  cc  Proponho  que  se  peça  ao  Exm.  Sr.  Ministro  da 


—  074  — 

Guerra  copia  da  ordem  do  dia  relativa  a  formação  dos  corpos 
pagos  do  exercito  existente  n'esta  capital  por  occasiâo  da 
execução  do  Alferes  Joaquim  José  da  Silva  Xavier  ( Tira 
dentes),  que  teve  lugar  no  dia  21  de  Abril  de  1789,  solli- 
citando-se  da  benevolência  de  S.  Ex.  o  mandar  vêr,  quando 
se  não  encontre  no  archivo  respectivo,  se  está  em  algum 
livro  existente  na  fortaleza  da  Lage,  bem  como  a  remessa 
de  copia  de  qualquer  acto  relativo  á  conspiração  Mineira 
de  1789.» 

3/  <t  Proponho  que  se  solicite  do  Exm.  Sr.  Presidente 
da  Provincia  de  Mitias  Geraes  a  remessa  de  copias  dos  actos 
officiaes,  tanto  ostensivos  como  reservados,  do  Visconde 
de  Barbacena.  capitão  general  governador  da  Capitania, 
relativos  a  conjuração  mineira  de  1789,  bem  como  da  cor- 
respondência do  Vice-Rei  D.  Luiz  de  Vasconcellos  e  Sousa 
com  o  mesmo  Governador,  e  que  devem  existir  no  archivo 
da  mesma  Provincia. 

A.*  t  Proponho  que  se  peça  ao  Rev.  ministro  provincial 
do  convento  de  Santo  António  doesta  corte  que  se  digne  de 
nos  remetter  copia  de  toda  a  correspondência,  tanto  reser- 
vada como  ostensiva,  entre  a  autoridade  ecclesiaslica  res- 
pectiva e  as  autoridades  civis,  ou  o  que  constar  tradicio- 
nalmente acerca  das  onicns  darias  relativamente  às  confis- 
sões dos  indivíduos  que  figuravam  na  conjuração  mineira, 
presos  em  differentcs  segredos  d'esta  corte,  entre  os  annos 
de  1789  a  1792,  bem  como  tuJo  o  mais  que  puder  servir 
á  historia  da  mesma  conjuração,  ainda  em  seus  menos  im- 
portantes pormenores  » 

5.*  f  Proponho  que  se  peça  a  administração  da  venerável 
ordem  terceira  da  Penitencia  doesta  corte,  copia  de  quaes- 
quer  ordens  dadas  pelo  Vice-Rei  D.  Luiz  de  Vasconcellos  e 
Sousa^  quando  mandou  praticar,  no  edificio  do  hospital  da 


—  075  — 

mesma  ordem,  segredos  para  os  presos  incommunicaveis 
da  conjuração  mineira  de  1789,  e  na  sua  falta,  o  que  cons- 
tar a  respeito.  » 

6.»  Proponho  que  se  sollicite  do  Rev.  prior  do  convento 
dos  Carmelitas  doesta  Corte  copia  do  sermão  que  pregou  Fr. 
Fernando  de  Oliveira  Pinto  no  Te-deum  que  se  cantou  em 
acção  de  graças  pelo  beneficio  de  ficar  esla  cidade  livre  do 
contagio  da  conjuração  mineira,  na  igreja  da  Ordem  terceira 
do  Carmo  no  dia  26  de  Abril  de  1792,  e  as  instrucções  que 
teve  para  isso  do  respectivo  Bispo.  • 

7/  Proponho  que  se  so  licite  da  111."  Gamara  Municipal 
doesta  Corte  copia  de  todos  os  actos  relativos  à  conspiração 
mineira  de  1789  existentes  no  seu  arcliivo,  bem  como  o 
que  constar  das  actas  do  antigo  senado  relativo  ao  mesmo 
objecto  desde  1789  até  1792.  Sala  das  sessões  do  Instituto 
Histórico,  em  18  de  iNovembro  de  1859  —  Joaqaka  Nor- 
berto de  Sousa  e  Silva.  » 

«  Proponho  para  sócio  correspondente  do  Instituto 
Histórico  do  Brasil  o  Sr.  Coronel  Evaristo  Leoni,  autor  do 
Génio  da  Lingua  Portugueza  —  e  residente  na  cidade  de 
Lisboa  —  Sala  das  sessões.  18  de  Novembro  de  1859.— 
Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro.» 

V  Sendo  esta  a  ultima  sessão  ordinária  do  Instituto, 
propomos  que  se  nomeie  uma  deputação  para  saudar  a 
SS.  MM.  II.  no  regresso  de  sua  viagem  ás  provincias  do 
Norte.  Sala  das  sessões,  cm  18  de  Novembro  de  1859.  — 
J.  Norberto  deS.  S.*--Â.  Coruja. --Dr.  Sousa  Fontes.  » 

Proponho  que  a  memoria  do  Sr.  Brigadeiro  Zeferino 
Pimentel  Moreira  Freire,  sobre  o  Rio  Paraguay,  na  pro- 
vincia  de  Mato  Grosso,  jà  offerecida  ao  Instituto  pelo  seu 
autor,  publicada  nos  jornaes  doesta  Corte  em  o  anno  de 
18/i3,  e  citada  era  negociações  diplomáticas,  seja  submet- 

86 


—  676  — 

tida  á  aprovação  do  mesmo  Instituto  para  ser  opportuna- 
mente  publicada  na  sua— Bcristo— coma  referida  memoria. 
Sala  das  sessões,  em  18  de  Novembro  de  1859.— J.  M.  N. 
de  Azambuja.» 

Corre  o  livro  das  inscripções  para  a  leitura  de  trabalhos 
no  anno  de  1860.  e  inscrevem-se  os  Srs.  J.  Norberto,  Costa 
Rubim,  Dr.  Caetano  Filgueiras,  D.  Pascoal,  e  o  Cónego 
Dr.  Fernandes  Pinheiro»  do  seguinte  modo: 

A  congpiraçào  mineira; — Estudos  históricos  sobre  aspri- 
me^as  tentativas  para  a  independência  nacional^  baseados  em 
documentos  officiaes  existentes  na  secretaria  do  Império. ^'--J, 
Norberto  de  Sousa  e  Silva . 

Memorias  históricas  da  provinda  do  Espirito  Santo  — 
Cartographia  da  provinda  do  Espirito  Santo.— Costa  Rubim. 

Exame  critico  sobre  as  cartas  deM.  Ch,  Manfield^  relati- 
vas á  sum  viagem  ao  Brasil,--  De  Pascoal 

Dm  trabalho  histórico  critico. --  Dr .  Caetano  Filgueiras. 

A  Carioca^  memoria  histórica  e  documentada. —  Cónego 
Dr.  Fernandes  Pineiro. 

O  Cónego  Luiz  Gonsalves^  sua  vida  eswis obras.--  Cónego 
Dr.  Fernandes  Pinheiro. 

Luiz  do  Rego  e  a  Posteridade  —  Estudo  histórico  sobre  a 
revolução  pernambucana  de  1817  —  Cónego  Dr.  Fernandes 
Pinheiro . 

O  Sr.  Cónego  Dr.  Fernandes  Pinheiro  continua  e  termina 
aleitura  da  memoria  do  Sr.  Dr  Gonsalves  de  Magalhães  que 
tem  por  titulo— Os  Indigenasdo  Brasil  perante  a  historia. 

Levanta-se  a  sessão  ás  8  horas  da  noite. 

Nos  Paços  da  cidade  em  18. de  Novembro  de  1859. 

Dr.  Caetano  Ahes  de  Sousa  Filgueiras,  2.°  Secrcttlfio 
inlerino. 


~  677  - 

SESSÃO  DA  ASSEMBLÉA  GERAL  DOS  SÓCIOS  EM  21  DE 
DEZEMBRO  DE  1859. 

SOB  A  PRESIDÊNCIA  DO  SR.  JOAQUIM  NORBERTO  DE  SOUSA  E  SlLVA. 

A's  6  horas  da  tarde,  tendo  comparecido  os  Srs.  sócios 
Joaquim  Norberto  de  Sousa  Silva,  Cónego  Dr.  Fernandes 
Pinheiro,  Luiz  António  de  Castro.  Dr.  Cláudio  Luiz  da 
Costa,  Coronel  Henrique  de  Beaurepaire  Rohan,  D.  Pascoal, 
Capitáo  de  Mar  e  Guerra  Amasonas,  Coruja,  e  Drs.  Pereira 
Pinto.  Carlos  Honório,  e  Lapa,  o  Sr.  Joaquim  Norberto, 
3.°  Vice-Presidente,  no  impedimento  do  Exm.  Sr.  Conse- 
lheiro C.  B.  de  Oliveira,  declara  aberta  a  sessão  da  Assem- 
bléa  Geral  para  a  eleição  dos  membros  da  meza  c  das 
commissões  permanentes,  que  tem  de  servir  no  futuro  anno 
social,  e  nomeia  os  Srs.  Pereira  Pinto  e  Coruja  para  es- 
crutadores. 

Procedendo-se  á  eleição,  ficão  pela  forma  seguinte  cons- 
tituídas a  meza  e  as  commissões. 

Os  Senhores 

Presidente:  visconde  de  Sapucahy. 
1/  vice-presidente:  Conselheiro  C.  Baptista  de  Oliveira. 
2.**  vice-presidente:  Dr.  Joaquim  Manoel  de  Macedo. 
3.*  vice-presidente:  Joaquim  Norberto  de  Sousa  Silva. 
1.'»  secretario:  Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  F.  Pinheiro. 
2."  secretario:  Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgueiras. 
Secretaries supplentes:  l.^^Dr.  José  Ribeiro  de  S.  Fontes. 
2."  Dr.  Carlos  Honório  de  Figueir.* 
Orador:  Dr.  Joaquim  Manoel  de  Macedo. 
Thesoureiro:  Anlonio  Alvares  Pereira  Coruja. 


—  678  — 
Commissào  de  fundos  e  orçamento, 

OsSrs.:  João  José  de  Sousa  Silva  Rio. 
Braz  da  Costa  Rubím. 
Alexandre  Maria  de  Mariz  Sarmento. 

Commissào  de  estatutos  e  redacção, 

OsSrs.:  Conselheiro  Luiz  Pedreira  do  Couto  Ferraz. 
Dr.  Thomaz  Gomes  dos  Santos. 
Dr.  José  Maurício  Fernandes  Pereira  de  Barros. 


Commissào  de  revisào  de  manuseriptos. 

OsSrs.:  Dr.  António  Pereira  Pinto. 

Dr.  Ludgero  da  Rocha  Ferreira  Lapa. 
Sebastião  Ferreira  Soares. 


Commissào  de  trabalhos  históricos. 

OsSrs.:  Marquez  de  Mont' Alegre. 
Marquez  de  Abrantes. 
Visconde  de  Maranguape. 


Commissào  subsidiaria  de  trabalhos  históricos. 

OsSrs.:  Dr.  Joaquin\  Manoel  de  Macedo. 
Dr.  João  Manoel  Pereira  da  Silva. 
Joaquim  Norberto  de  Sousa  Silva. 


—  679  — 
Cammissão  de  trabalhos  jeograpkicos. 

OsSrs.:  Conselheiro  Pedro  dd  Alcântara  Bellegarde. 
Conselheiro  António  Manoel  de  Mello. 
Coronel  Conrado  Jacob  de  Niemeyer. 

Cammissão  subsidiaria  de  trabalhos  geographieos. 

OsSrs.:  Coronel  Henrique  de  Beaurcpaíre  Rohan. 
Coronel  Ricardo  José  Gomes  Jardim. 
Cap."  de  mar  e  guerra  Lourenço  da  Silva  Araújo 
Amasonas. 

Cammissão  de  archeologiae  ethnographia. 

OsSrs.:  Conselheiro  Jerónimo  Francisco  Coelho. 
Dr.  Cândido  de  Azeredo  Coutinho- 
António  Diodoro  de  Pascoal. 


Cammissão  de  admissão  de  sócios. 

OsSrs.:  Dr.  Agostinho  Marques  Perdigão  Malheiros. 
Dr.  José  Ribeiro  de  Sousa  Fontes. 
Dr.  Cláudio  Luiz  da  Gosta. 


Cammissão  de  pesquisa  de  manuscriptos. 

OsSrs.:  Conselheiro  Joaquim  MariaNascentes  de  Azambuja. 
Conselheiro  Josino  do  Nascimento  Silva. 
Commendador  Libanio  Augusto  da  Cunha  Mattos. 


—  680  — 

Terminada  a  eleição,  o  Sr.  Coronel  Henrique  de  Beau- 
repaire  Rohan  inscreveo-se  para  apresentar  na  sessão  de 
1860  um  trabalho  corographico  sobre  a  Parahyba  do  Norte. 

A's  7  Vi  horas  da  noite  o  Sr.  Presidente  deo  por  encer- 
rada a  sessão,  declarando  que  o  Instituto  entrava  em  ferias. 

Sala  das  sessões  do  Instituto  Histórico  e  Geographico 
Brasileiro»  no  Paço  Imperial  da  cidade,  21  de  Dezembro 
de  1869. 

Dr.  Ludgero  da  Rocha  Ferreira  £â]pa,— servindo  de  2.* 
Secretario. 


SESSÃO  MAGNA  ANNIVERSARIA 


DO 


INSTITUTO  HISTÓRICO  E  GEOGRAPHICO  DO  BRASIL. 


DI8CUBSO 

DO  EX.'**    SB.   CONSELHEIRO  C.    BAPTISTA  DE  OLIVEIRA, 
1."  VICE-PRESIDENTE. 

No  legitimo  impedimento  do  seu  digno  Presidente, 
cabe-me  hoje  a  honra  de  annunciar-vos  desta  cadeira  à 
celebração  da  21*  sessão  anniversaria  do  Instituto  Histó- 
rico e  Geographico  Brasileiro. 

Gomo  sabeis,  senhores,  é  esta  sessão  destinada  a  uma 
solemnidade  litteraria,  em  que,  pelos  órgãos  competentes, 
é  o  distincto  auditório  que  nos  honra  circumstanciada- 
mente  informado  dos  trabalhos  regulares  do  anno  findo, 
devidos  à  dedicação  e  locubrações  dos  membros  da  nossa 
associação;  acompanhando-nos  elle  também  nas  honras 
que  tributamos  por  esta  occasião  à  memoria  daquelles 
sócios  que  em  tão  curto  periodo  a  morte  roubara  ao  nosso 
grémio. 

Ouvireis,  pois,  senhores,  da  boca  do  digno  1."*  secretario 
do  Instituto  a  leitura  do  relatório  que  lhe  incumbe  fazer 
annualmente  sobre  aquelles  trabalhos;  e  em  seguida  o 
elogio  histórico  dos  sócios  fallecidos.  tarefa  honrosa  e 


—  682  — 

dífficíl  que  os  estatutos  commettem  ao  orador  da  nossa 
escolha. 

Pelo  que  respeita  a  natureza  e  importância  dos  trabalhos 
de  que  se  vos  dará  conta,  não  deveis  por  certo  esperar 
que  se  vos  falle  agora  da  apreciação  de  factos  da  ordem 
daquelles  que  enriquecem  os  annaes  de  um  paiz,  jà  engran- 
decido pela  accumulação  dos  séculos»  porquanto  apenas 
vereis,  na  relação  dos  modestos  productos  da  nossa  lavra 
litteraria,  apontamentos  sentimentaes,  que,  collegidos  de 
anno  em  anno.  servirão  um  dia  para  compor  a  nossa  his- 
toria quando  attingirmos  à  idade  das  nações  provectas. 

É  assim  que  a  tenra  planta,  apenas  desabroxada  da  se- 
mente, tende  a  desenvolver-se»  absorvendo  dia  por  dia  a 
nutrição  que  lhe  depara  o  solo  e  atmosphera;  mas,  con- 
templada nesse  primeiro  periodo  do  seu  crescimento,  fica 
ella  mui  distante  da  corpulenta  arvore  da  sua  espécie, 
que  na  estação  própria  se  adorna  de  viçosas  flores  ou  de 
mimosos  Tructos.  Nem  o  débil  menino,  que,  libertado  das 
faxas  infantis,  ensaia  a  medo  os  seus  primeiros  passos,  é 
tão  pouco  o  homem. 

O  elogio  histórico  do  litterato  que  morrer  em  nossas 
fileiras,  não  c,  senhores,  a  simples  expressão  instinctiva 
do  sentimento  que  nos  causa  a  perda  de  um  veterano  nos 
nossos  trabalhos,  de  um  meinbro  prestante  da  familia 
litteraria:  6  mais  que  isso;  é  o  solemne  reconhecimento 
da  justira  devidi  ao  mérito  real  do  sócio  laborioso,  do 
distincto  homem  de  lettras :  essa  justiça  tardia,  que  por 
uma  deplorável  condição  da  fraqueza  humana,  só  não  é 
contestada  na  paz  do  tumulo  t 

Entre  os  sócios  fallecidos,  cujos  nomes  temos  de  com- 
memorar  na  presente  sessão,  ha  um  especialmente  a  quem 
as  letras  c  as  sciencias  devem  mais  de  meio  século  de 


-  683  -^ 

admiráveis  trabalhos,  executados  na  Europa  e  na  America: 
e  por  estes  indícios  tereis  jã  adevinhado,  senhores,  que 
eu  vou  pronunciar  o  nome  do  venerando  Humboldt,  o  qual 
viveu  e  fez  bastante  para  que^  sem  quebra  da  própria  mo- 
déstia, pudesse  applicar  a  si  mesmo  as  memoráveis  pa- 
lavras proferidas  no  momento  extremo  por  outro  sábio  da 
sua  igualha,  e  também  seu  conterrâneo,  o  famoso  Tycho- 
Brahe. 

Nec  frustra  viaíuse  videor. 

Esta  aberta  a  sessão. 


RELATÓRIO 

DO  1.'  SECRETARIO  INTERINO  GONEGO  DR.   J.    C.  FERNAN- 
DES  PINHEIRO. 

Senhores.— O  sol  da  monarchia,  aquecendo  as  regiões 
do  equador,  deixa-nos  envoltos  nas  sombras  da  saudade, 
e  no  maior  dia  do  Instituto  vazias  ficam  duas  cadeiras 
onde  se  sentam  o  'génio  e  a  virtude.  Forçoso  foi  porém 
obedecer  á  uma  augusta  vontade,  que  não  quiz  que  inter- 
rompido fosse  o  nosso  cyclo  litterario,  lançando-lhe  de 
longe  o  reflexo  de  sua  munificência. 

Na  era  da  electricidade  e  do  vapor  a  década  substituiu 
ao  século;  permittir-mc-heis  portanto  que  vos  recorde 
que  celebramos  hoje  o  nosso  jubileu,  que  commemoramos 
o  decimo  anniversario  dessa  memoranda  épocha  a  que  o 
meu  eloquente  antecessor  denominou  de  gloriosa  hégira. 
Dous  lustros,  senhores,  se  tem  volvido  depois  do  grande 

87 


—  684  — 

dia  em  que  o  Imperador,  sentando-se  no  meio  de  seus  súb- 
ditos, e  batendo  com  o  caducéo  do  progresso  no  rochedo  do 
indiíTerentísmo  e  do  desanimo,  fez  rebentar  a  crystallina 
limpha  da  esperança  e  da  coragem  que  nos  tem  saciado. 
Em  duas  besi  distinctas  phases  se  pôde  dividir  a  nossa 
liistoría  académica:  na  primeira  vemos  alguns  generosos 
«thletas  sustendo  a  abobada  do  templo  das  lettras  prestes 
a  subverter-se;  na  segunda  contemplamos  o  magnifico 
espectáculo  da  locomotiva  do  progresso  devorando  o 
espaço  ao  aceno  da  imperial  dextra. 

Graças  a  este  poderoso  influxo  pasmosa  foi  a  fertilidade 
do  anno  que  acaba  de  findar-se,  e  que  singularmente  con- 
trasta como  anterior,  a  que  o  Sr.  Porto-Alegre  denominava 
de  parcial  eclipse :  e  como  se  fora  dado  à  sua  vasta  intelli- 
gencia  o  perlustrar  o  futuro,  augurava-nos  ça  ultima 
seseâo  magna  a  abundante  messe  que  colhemos  compa- 
rando as  lethargías  litteraria?  às  transformações  da  chry- 
salida. 

Sempre  honradas  pela  augusta  presença  de  Sua  Mages- 
tade  foram  as  sessões  deste  anuo  até  o  dia  em  que  o  seu 
acrysolado  amor  pelo  bem  publico  levou-o  a  visitaras 
províncias  septentrionaes  do  seu  império,  apartando-sepor 
alguns  mexes  dos  angélicos  penhores  da  perpetuidade  da 
sua  dymiastía. 

No  cortejo  da  despedida  achou-se  presente  uma  com- 
missão  do  Instituto,  e  pelo  órgão  do  seu  orador  exprimiu 
o  seu  ardente  anlielo  pelo  prospero  regresso  dos  iroperiaes 
viajantes.  Desejando  outrosim  registrar  nas  paginas  da 
sua  Revista  tão  fausto  acontecimento,  incumbiu  ao  nosso 
sábio  consócio  o  Sr.  conselheiro  Mello  de  escrever-lhe  o 
itinerário  dessa  profícua  digressão.-  Proseguindo  em  suas 
lucubrações,  em  obediência  ao  imperial  mandado,  deli- 


—  685  - 

berou  o  Instituto  remetter  a  seu  excelso  protector,  por 
intermédio  o  Exm*  Sr.  Visconde  de  Sapucahy,  a  acta  de 
suas  sessões,  o  que  com  a  maior  pontualidade  tem  execu* 
tado  seu  activo  o  desvellado  segundo  Secretario  interino. 
Approximando-se  a  épociía  em  que  os  fidos  brasileiros  se 
dirigirem  ao  alcaçar  da  realeza  para  renderem  homenagem 
ao  herdeiro  do  heróe  do  Ypiranga  pelo  3eu  feliz  natalício,, 
e  profund:imente  sentindo  o  Instituto  a  temporária  privarão 
dessa  honra,  rogou  ao  seu  digno  Presidente  de  nomeiar 
uma  commissão  dos  seus  membros  residentes  em  Pernam- 
buco afim  de  satisfazerem  a  táo  grato  dever.  Taes  sáo, 
senhores,  os  públicos  testemunhos  de  profunda  veneração 
c  respeitoso  reconhecimento  que  julgou  o  Instituto  dever 
prestar  aos  nossos  Augustos  Monarchas,  lamentando  o  fi- 
carem elles  muito  àquem^  dos  sentimentos  que  o  animam. 

Diversas  e  succuientas  memorias  occuparam  este  anno^ 
a  nossa  altenção,  das  quaes  passarei  a.dar  conta,  embacian- 
do-ns  no  prisma  do  meu  rude  engenho. 

Cnvíou-nos  de  Paris  o  nosso  illustrado  consócio*  o 
Sr.  Ur.  D.  J.  Gonçalves  de  Magalhães,  umainteressante 
biographiado  eximio  orador  sagrado  o  padre-mestre  Fr. 
Francisco  de  MonfAlVerne.  que  foi  lida  n'uma  das  nossas 
primeiras  sessões.  Cheia  de  revelações  importantes,  de 
confidencias  intimas  vasadas  no  seio  da  amizade,  encerra 
este  trabalho  curiosos,  pormenores  sobre  esta  síngnlarexis 
tencia,  que  depois  de  haver  deslund}rado  seus  contempo^ 
raneos  pelo  brilhantismo  de  sua-  eloquência,  sumio-se  nas 
solidões  do  claustro  para  delia  sahir  um  dia  mais  fulgurante 
do  qae  jamais  o  fora  no  zemith  da  sua  prisca  gloria.  E^ 
porém  como  philosopho  que  mais  de  perto  o  apreoja  o 
esclarecidos  autor  dos  Factos  do  Espirito  Humano,  reconhe- 
cendo que  ã  migia  do  seu  estylo  e  ã  fascinação  que  exercia 


j 


—  686  — 

sobre  as  verdes  imaginações  deveu  o  grande  franciscano 
essa  colossal  nomeada  de  quasi  meio  século.  Reduzido  às 
suas  justas  dimensões  não  deixa  por  isso  MonfAlverne  de 
ser  um  grande  vulto  histórico,  o  ultimo  annel  dessa  glo- 
riosa cadèa  formada  pelos  preclaros  i;K)mes  dos  Caldas»  S. 
Carlos,  Sampaios  e  Januarios. 

Um  esperançoso  mancebo  que  acabava  de  deixar  os 
bancos  académicos  para  sentar-se  no  senado  da  historia 
pátria*  deu-nos  momentos  de  ineffavel  prazer  lendo  a  bio- 
graphia  do  nosso  primeiro  Presidente,  o  Visconde  de  S. 
Leopoldo.  Vedão->me  estreitos  vínculos  de  parentescos 
de  acompanhar  ao  Sr.  Dr.  Francisco  Ignacio  Marcondes 
Homem  de  Mello  no  juizo  que  forma  do  autor  dos  Annaes 
ia  Provinda  àe  5.  Pedro,  cuja  memoria  deve  ser  grata  ao 
nobre  conterrâneo  que  tão  fragantes  flores  espargiu-lhe 
sobre  o  tumulo,  O  diamante  só  pelo  diamante  deve  ser  la- 
pidado: digno  era  o  joven  e  espirituoso  escriptor  dos  Es- 
ímíoi  Históricos  de  comprehender  e  julgar  o  grave  analista 
encanecido  na  trilha  da  honra  e  no  culto  das  lettras. 

O  Sr.  Braz  da  Gosta  Rubim.  novo  adepto  da  nossa  as- 
sociação, pagou-lhe  o  tributo  dasuaintelligencia,  lendo-nos 
uma  bem  elaborada  memoria  acerca  dos  limites  da  pro- 
Tincia  do  Espírito  Santo.  Busca  demonstrar  o  nosso  con-« 
sócio  neste  seu  hunínoso  trabalho  que  infundadas  são 
as  duvidas  que  sobre  as  raias  da  sua  província  natal  teem 
até  hoje  apresentado  alguns  escriptores,  duvidas  estas  que 
até  se  inGltraram  nos  documentos  ofiQciaes.  Entrando  nessa 
demonstração  divide  a  sua  memoria  em  três  partes,  exhi- 
bindo  na  primeira  a  dous  importantes  e  inéditos  docu^ 
mentos,  aflm  de  conhecer- se  qual  a  porção  do  território 
concedido  ao  primeiro  donatário,  e  qual  a  demarcaçáo  que 
pela  parte  do  sul  fizera  este  com  o  seu  visinho.  Analysaa- 


-  687  ^ 

(lo-os  mostra  qual  fora  o  rio  que  nessa  época  servira  par 
divisa,  que  tão  pouco  respeitada  tem  sido.  Tratando  na 
segunda  parte  das  fronteiras  septentrionaes  da  província, 
entra  na  apreciação  de  todos  os  antigos  documentos;  e 
confrontando-os  com  as  opiniões  de  vários  autores,  refuta 
com  valiosos  argumentos,  os  erros  que  se  teem  commet- 
tido,  provando  à  toda  luz  que  fixados  estão  por  lei  os  li- 
mites do  norte  sendo  porém  ultrapassados  pelos  povos 
confinantes.  Occupa-se  na  terceira  e  ultima  parte  com  os 
términos  occidentaes  indicando  os  pontos  que  teem  sido  de« 
marcados,  e  termina  formando  generosos  votos  para  que  se 
reivindique  para  a  sua  pátria  todo  o  território  que  por  juS" 
tiça  lhe  compete,  e  de  que  só  a  violência  e  a  fraude  a  tem 
esbulhado.  Quem  souber  das  dificuldades  com  que  sóe  lutar 
entre  nós  o  pesquisador  de  documentos,  qifem  conhecer  a 
pobreza  dos  nossos  mananciaes  históricos  e  geographicos, 
não  deixará  de  tributar  ao  Sr.  Rubim  o  testemunho  de 
respeito  e  gratidão  pelo  relevante  serviço  que  acaba  de 
prestar. 

Curta  é  a  distancia  da  geogmphia  à  estatística:  no  seu 
nobre  empenho  de  estudar  por  todas  as  formas  o  edemico 
torrão  com  que  pródiga  a  natureza  nos  mimoseàra;  dese- 
jando graduar  a  sua  prosperidade  pelo  thermometro  dos 
algarismos,  ouviu  o  Instituto  com  summa  satisfação  a  cu- 
riosa memoria  do  Sr.  Sebastião  Ferreira  Soares,  relativa  á 
producção  agrícola  do  paiz,  na  qual  pretende  provar  que  a 
carestia  dos  géneros  alimentícios  não  provém  da  falta  de 
braços  destinados  á  agricultura,  porém  sim  de  absoluta 
absorpçáo  que  tem  feito  a  lavoura  dos  géneros  exportáveis 
das  forças  productivas  da  pequena  cultora  empregada  oós 
géneros  de  primeira  necessidade. 

Dividiu  o  nosso  consócio  o  seu  trabalho  em  IreTSif^ 


—  688  — 

tinetas  partes,  ligadas  enh*e  si  pela  unidade  do  assumpto. 
Quer  o  autor  demonstrar  na  primeira  das  divisões  do  seu 
trabalho  que  o  café,  o  assucar,  o  aigodáq  e  mais  sete  pro- 
duetos  teem  duplicado  depois  da  eitincção  do  traCco  dos 
africanos,  abrangendo  em  suas  investigações  as  provín- 
cias do  Rio  de  Janeiro,  Bahia,  Pernambuco,  Pará  e  Mara- 
nhão. Consagra  a  segunda  parte  ao  estudo  das  causas  que 
originaram  a  cultura  do  café»  da  canna  e  do  algodão,  fi- 
xando as  épochas  em  que  taes  culturas  começaram.  Fal- 
tou-nos  o  tempo  para  ouvirmos  a  terceira  parte,  em  que 
pretende  o  nosso  coUega  tratar  dos  meios  de  melhorar  a 
nossa  agricultura,  do  mais  conveniente  syslema  de  coloni- 
sacão,  e  de  todas  as  questões  complexas  ao  grande  pro- 
blema da  actualidade.  Abstenho-me  de  emittir  um  juizo 
sobre  objectos  que  me  são  perfeitamente  estianhos ;  le- 
va-me»  porém,  a  pensar  que  exactas  devem  ser  as  deduções 
do  nosso  laborioso  consócio,  a  mui  attendivd  circum- 
stancia  de  haver-se  elle  circumdado  dos  melhores  e  mais. 
authenticos  documentos  para  a  confecção  deste  trabatho. 

Um  nosso  prestimoso  consócio,  a  quem  importantes 
funcções  diplomáticas  conservam  longe  do  nosso  grémio,, 
deu-nos  este  anno  duas  exuberantes  provas  do  apreço 
que  lhe  merece  o  Instituto,  e  do  quanto  folga  em  con- 
tribuir para  a  sua  opulência  litteraria.  Comprehendeis,. 
senhores,  que  me  refiro  ao  Sr.  Dr.  Domingos  José  Gon- 
çalves de  Magalhães,  que,  não  satisfeito  de  nos  haver  brin- 
dado com  a  biographia  de  seu  venerando  mestre>  de  que 
jà  vos  fallei,  remetteu-nos  uma  extensa  e  erudita  memoria 
tendo  por  titulo— -Of  indígenas  do  Brasil  perante  a  historia. 
O  profundo  cogitador  áos-^Factos  do  Espirito  Humano,  a 
inspirado  bardo  dos  Tamoyos,  quiz  cingir  a  nobre  fronte 
com  o  diadema  da  historia,  e  mostrar  à  posteridade  que  a 


—  689  — 

buril  dos  Niebhurs,  dos  iMaccaulays.  dos  Guizots  e  dos 
Herculanos  náo  se  enfraquecia  em  sua  vigorosa  dextra. 

VÍDgar  os  nossos  autocthones  da  negerrima  reputação 
que  lhes  crearam  os  chronistas;  esmerilhar  no  selvagem 
o  gérmen  do  bem,  depositado  nos  arcanos  do  coraçáo 
pela  mão  do  Eterno,  era  sem  duvida  uma  bella  empresa^ 
e  delia  incumbiu-se  o  nosso  illustrado  consócio,  iílumi* 
nando-acom  os  esplendores  dasciencia.  Desde  essa  in- 
génua carta  de  Pêro  Vaz  Caminha,  certificado  de  baptismo 
da  terra  de  Santa  Cruz  até  a  Historia  Geral  do  Brasil  pelo 
Sr.  Yarnhagen  foram  compulsados  todos  os  documento», 
e  dos  seus  (muitas  vezes  contraditórios)  testemunhos, 
concluiu  o  nosso  collega  que  nem  tão  bárbaros,  nem  tão 
ferozes  eram  os  aborígenes  brasilicos  como  aprouve  a 
alguém  representa-los. 

Começando  por  aconselhar  toda  a  cautela  na  apreciação 
das  narrativas  dos  primeiros  europeus,  pensa  o  Sr.  Dr» 
Magalhães  que  exagerados  foram  os  defeitos  dos  selvagens 
e  desconhecidas  as  suas  virtudes.  No  seu  grosseiro  eulto 
descobre  a  idéa  da  Providencia,  que  incessante  vela  pelos 
destinos  humanos;  em  TupanrxAo  duvida  de  reconhecer 
o  Ente  Supremo,  bem  como  em  Anhangá  o  principio  do 
mal,  o  anjo  decaliido  que  a  sua  misera  sorte  busca 
arrastar  a  humanidade.  Vê  nas  montanhas  azues  o  paraíso 
dos  indígenas,  nos  pagis  os  sacerdotes  que  em  suas  peri* 
gosas  e  dííQceis  iniciações  fazem  lembrar  os  brahmenes 
da  índia;  nos  camueins  ou  ignaçabaã  as  urnas  funerárias, 
testemunho  do  seu  respeito  pelos  mortos  e  da  crença  de 
uma  posterior  existência;  e  victoriosamento  refuta  a 
asserção  de  Lerj,  invocada  por  Montaigne,  negando  aos 
nossos  selvicolas  a  doce  esperança  da  immortalidade  da 
alma.  Comprova  seu  cavalherismo  pela  nobre  hospitãdt* 


—  690  — 

dade  toia  qúe  receberam  os  Tupiniquins  ao  venturoso 
Cabral  e  pelo  sincero  agasalho  com  que  ao  heróico  Martím 
ÃffoQSO  acolheram  mais  tarde  os  Tamoyos  e  Guayanazes. 
Imiumeras  demonstrações  da  sua  industria  encontra  o 
nosso  consócio  em  seus  artefactos»  na  construcçâo  de 
soas  tabas,  e  nessas  pirogas  e  jangadas  com  que  arros^ 
travam  as  fúrias  do  oceano.  Epilogando  a  serie  de  argu- 
mentos, habilmente  concatenados,  chama  o  8r.  Dr.  Ma- 
galhães as  vistas  do  governo  imperial  sobre  a  catechese 
dos  nossos  selvagens,  e  termina  formando  votos  para  que 
ao  grémio  da  grande  familia  brasileira  entrem  os  pariás 
da  civilisação. 

Deve  a  geographia  pátria  ao  incansável  vigário  de  S. 
Borja,  em  Missões,  o  Sr.  João  Pedro  Gay,  uma  minuciosa 
memoria  que  nos  foi  lida  pelo  nosso  digno  consócio  o  Sr. 
António  Alvares  Pereira  Coruja,  relativa  às  ilhas  que  se 
acham  no  rio  Uruguay,  desde  o  Passo  de  S.  Borja  até  a  foz 
do  Arapehy-Grande.  Se  na  Europa,  onde  o  mais  inCnite- 
simo  território  se  acha  descripto  e  demarcado,  são  com 
prazer  recebidos  trabalhos  de  igual  quilate,  como  nio 
deve-los-hemos  apreciar  nós,  cujo  inventario  topographico 
táo  exíguo  e  quiçá  táo  erróneo  se  apresenta?  Honra  ao 
benemérito  sacerdote  que  descarte  consagra  seus  min- 
guados lazeres  enumerando  as  riquezas  de  sua  pátria 
adoptiva. 

Trouxe-nos  outrosim  o  contigente  do  seu  desinteres- 
sado civismo  um  respeitável  prelado  da  igreja  flminense, 
por  intermédio  de  um  nosso  distincto  consócio.  A  des- 
pcriçáo  de  um  rio  subterrâneo  que  corre  nas  visinhanças 
da  villa  do  Lagarto,  provincia  de  Sergipe,  feita  pelo  lilm. 
e  Revm.  Sr.  Monsenhor  António  Fernandes  da  Silveira, 
elida  pelo  Sr.  Dr.  Cláudio  Luiz  da  Cost?,  levantou-nos 


-  691  — 

uma  dobra  desse  esmeraldino  manto  que  tanta  opulência 
geológica  occulta. 

Também  coube-me  a  honra  de  entreter  a  benigna 
attenção  do  Instituto  com  um  estudo  histórico,  a  que 
denominei  O  Brasil  Hollande%.  O  imperioso  dever  de 
relatar-vos  todos  os  successos  do  nosso  anno  académico 
constrange-me  a  occiípar-vos  por  alguns  instantes  com  a 
resenha  das  matérias  contidas  nesse  grosseiro  trabalho. 

Sempre  julguei  o  periodo  hoUandez  o  mais  épico  da 
nossa  historia»  e  desde  os  mais  verdes  annòs  lia  com 
attenção  as  narrativas  dos  nossos  chronístas,  e  extasíava-me 
perante  tantos  actos  de  heroismo  da  guerra  brasílica  dos 
30annos.  Agglomeravam-se  porém  as  duvidas  em  meu 
espirito  à  proporção  que  consultava  novos  escriptores.  e 
d'ahi  o  ardente  desejo  de  estudar  com  pausa  este  ponto  dos 
nossos  annaes.  O  mirrado  fructo  das  minhas  investigações 
oíTereci-o  ao  Instituto,  que  semelhante  a  esses  rios  gigantes 
que  náo  desprezam  o  tributo  de  incógnitos  regatos,  acolhe 
a  tosca  pedra  do  humilde  operário  com  o  prasenteiro  sem- 
blante com  que  recebe  as  preciosas  gemmas  dos  morgados 
das  leltras. 

Quatro  sâo  as  divisões  da  minha  memoria : 

Ânalysei  na  primeira  o  estado  do  nosso  paiz  quando  o 
invadiram  esses  audazes  navegadores,  que  haviam  afogado 
no  Zuyderzée  os  leões  de  Castella,  e  esbocei  a  fundação  da 
sua  colónia  americana.  Bosquejei  na  segunda  parte  o  gran* 
dioso  quadro  de  um  povo  regido  por  sabias  leis  e  conduzido 
à  felicidade  por  um  grande  homem,  cujo  nome  avultará 
com  o  perpassar  dos  séculos.  Consagrei  a  terceira  secção 
ao  estudo  das  causas  que  trouxeram  a  decadência  do -Br<m7- 
Hollandez,  e  julguei  encontra-las  na  desconfiança,  no  espirito 
de  ganância  dos  accionistas  da  companhia  da$  Indian  Oeei^ 

88 


—  Í892  — 

dmtaes,  que  desgostando  ao  magnauímo  conde  de  Nassau, 
substituíram  as  sabias  e  elevadas  vistas  do  seu  paternal  go- 
verno por  uma  politica  egoistica»  conGadas  a  toupeiras 
administrativas.  Historiei  por  ultimo  a  resurreição  do  La- 
xarthPemanJmcano,  erguido  do  seu  sepulchro  pelo  choque 
eléctrico  da  independência  lusitana,  e  recebendo  o  baptismo 
de  fogo  nos  montes  das  Tubocat,  duas  vezes  afugentando 
os  batavos  nos  Guararopes,  e  dictando-lhes  imperioso  a 
capitulação  do  Taborda. 

Depois  de  haver  catalogado  as  memorias  que  no  decurso 
do  corrente  anno  foram  levadas  ao  seio  do  Instituto,  justo 
é  que  vos  falle  do  seu  regimen  económico,  do  trabalho  das 
commissões  e  das  propostas  que  mereceram  o  seu  assenso. 

Terminou  a  mesa  administrativa  o  exame  do  livro  da 
matricula  dos  nossos  consócios,  e  expediu  circulares  aos 
que,  por  qualquer  motivo,  tinham  ficado  em  debito.  Aguar- 
damos as  respostas,  que  certamente  não  se  farão  esperar, 
e  nutro  bem  fundada  crença,  de  que  semelhante  medida 
prosperará  o  estado  do  nosso  cofre,  habilitando-nos  para 
despezas  de  urgente  necessidade. 

A  propósito  do  nosso  estado  pecuniário,  communico-vos 
que,  graças  à  subvenção  do  thesouro  nacional,  à  activa 
cobrança  das  nossas  mensalidades,  ao  tino  económico  e 
administrativo  do  nosso  honrado  e  incansável  thesoureiro, 
tem  feito  a  receita  face  à  despeza,  restando-nos  algum 
saldo,  que  se  acha  recolhido  a  um  dos  mais  acreditados 
bancos.  A  reimpressão,  porém,  das  nossas  Revistas,  que  se 
acham  exlKiustas.  a  conclusão  da  obra  do  Jaboatão,  cujo  ter- 
ceiro volume,  comprehendendo  a  parle  medita,  deve  appa- 
recer  no  principio  do  anno  vindouro;  novas  edições  de 
nossos  principaes  chronistas  e  historiadores;  a  versão  de 
alguns  outros  escriptos  em  línguas  estranhas,  ecujoconhe- 


—  693  — 

cimento  importa  vulgarisar,  devem  absorver-nos  sommas 
consideráveis. 

Em  observância  do  art.  17  dos  nossos  estatutos,  mandei 
organisar  um  indice  geral  e  alphabetico  dos  trabalhos  pu- 
blicados em  nossas  Revistas,  cuja  necessidade  fazia-se 
quotidianamente  sentir. 

Foi  ainda  em  cumprimento  desse  mesmo  artigo,  e  agora 
que  mais  folgadas  se  acham  as  nossas  circumstancias  finan- 
ceiras, que  incumbi  a  uma  pessoa  bastantemente  habilitada 
da  confecção  de  um  catalogo  da  nossa  bibliotheca,  que 
conto  possa  ser  impresso  e  distribuído  no  principio  de 
nossas  futuras  reuniões.  Nenhum  de  vós,  senhores,  des- 
conhece a  vantagem  de  semelhante  empresa,  e  mais  de 
uma  vez  tereis  lamentado  comigo  a  ignorância  em  que 
nos  achamos  acerca  das  preciosidades  que  encerra  a  nossa 
livraria,  annualmente  enriquecida  pela  munificência  impe- 
rial, pelos  donativos  do  governo,  e  pelas  importantes 
acquisições  devidas  á  benevolência  das  academias  e  socie- 
dades scientificas  e  litterarias,  assim  como  das  pessoas  que 
mais  vivamente  se  interessam  pela  prosperidade  do  nosso 
Instituto. 

Em  dia  se  acha  a  nossa  Revisía,  cuja  venda  e  assignatura 
que  eram  a  à  annos  uma  verba  inútil  em  nosso  orçamento 
chegaram  para  a  encadernação  de  88  volumes  da  nossa  bi- 
bliotheca que  disso  mais  necessitavam.  Com  a  maior  regu- 
laridade tem  proseguiJo  a  nossa  correspondência,  sendo 
eu  em  todos  os  trabalhos  da  secretaria  e  archivo  fructuosa- 
mente  auxiliado  pelos  empregados  do  Instituto,  aos  quaes 
longa  pratica,  bastante  intelligencia  e  acrysolado  zelo  re- 
commendam  á  vossa  gratidão. 

Passarei  a  tratar  das  nossas  commissões.  Dependentes 
de  sérios  estudos  à  mór  parte  das  questões  que  lhes  sáo 


-  694  - 

submettidaS;  não  podem  os  seus  pareceres  serem  apresen- 
tados com  a  rapidez  desejada;  compensa  porém  a  demora 
que  por  ventura  se  possa  notar  em  seus  trabalhos  o  cunho 
da  madureza  e  da  reflexão  que  os  caracterisam. 

Devidamente  aquilatando  a  nobre  commissáo  de  admissão 
de  sócios  as  elevadas  qualidades  dos  Srs.  A.  D.  de  Pascual 
autor  de  uma  excellentc  memoria  com  o  modesto  titulo  de 
Breves  Refkxões  Hisíoricas;  padre  Lino  de  Monte  Carmelo. 
illustre  Plutarco  do  clero  Pernambucano,  cujas  biographias 
com  tanto  talento  escrevera;  Braz  da  Costa  Rubim,  erudito 
compilador  do  Vocabulário  Brasileiro;  Dr.  Francisco  Ig- 
nacio  Marcondes  Homem  de  Mello,  ciips  Estudos  Históricos 
Brasileiros  promettem-nos  mais  um  eximio  escriplor; 
Capitão  de  mar  e  guerra  Lourenço  da  Silva  Araújo  Ama- 
zonas, que  em  seu  Diccionario  Topographico  da  nossa  mais 
septenlrional  provincia  reve!ou-nos  um  infatigável  inves- 
tigador dos  thesouros  e  tradições  pátrias;  1.*  tenente 
António  Marianno  de  Azevedo,  intrépido  explorador  das 
nossas  brenhas,  moderno  Jasão,  que  em  sua  enthusiatica 
memoria  nos  mostrou  em  Itapura  uma  nova  Colchus ; 
Rodrigo  José  Ferreira  Bretãs,  elegante  biographo  do 
Miguel  Angelo,  mineiro,  o  famoso  aleijadinho;  finalmente, 
de  dous  beneméritos  estrangeiros,  os  Srs.  Reybaud  e  Ceroni, 
notável  o  primeiro  pelo  seu  bello  livro  denominado  Le 
Brésil;  e  o  segundo  distincto  traductor  italiano  da  Confe- 
deraçào  dos  Tamoyos:  apressou-se  em  uma  das  nossas  pri- 
meiras sessões  em  ler-nos  um  bem  elaborado  parecer 
propondo  que  em  nosso  grémio  admittissemos  tão  pres- 
timosos varões.  Concordando  o  Instituto  com  semelhante 
alvitre,  registrou  seus  nomes  nos  distinctos  da  associação. 

Do  subido  apreço  em  que  somos  tidos  pelos  altos  poderes 
do  estado  novas  provas  tivemos  este  anno,   sendo  uma  das 


-  695  - 

mais  salientes  a  consulta  que  nos  fez  o  £xm.  Sr.  ex-ministro 
do  império  acerca  da  prioridade  da  introducção  da  vaccina 
no  Brasil.  O  Instituto»  grato  a  este  novo  testemunho  de 
consideração,  incumbiu  à  sua  segunda  commissão  de  his- 
toria de  examinar  tão  importante  matéria,  recommendando- 
lhe  a  possível  urgência.  Breve  foi  o  tempo  empregado  na 
pesquiza  e  estudo  dos  necessários  documentqs;  e  na  sessão 
de  23  de  Setembro  ouvimos  com  verdadeira  satisfação  um 
luminoso  e  profundo  parecer  em  que  se  declarava  que  a 
honra  de  tão  assignalado  serviço  pertencia  ao  marquez  de 
Barbacena.  Conformando-se  com  o  juizo  da  sua  laboriosa 
commissão,  e  respondendo  nessa  conformidade  ao  governo 
imperial,  folgou  o  Instituto  de  poder  prestar-lhe  o  apoio  de 
suas  luzes  e  dedicação. 

Grande  numero  de  propostas,  irrecusável  testemunho  de 
actividade  intellectual  que  ha  pouco  vos  assignalei,  foram 
apresentadas  e  mereceram  o  beneplácito  da  nossa  asso- 
ciação. 

Propuzeram  todos  os  nossos  collegas,  presentes  à  sessão 
de  3  de  Junho,  que  fosse  elevado  á  categoria  de  sócio  ho- 
norário um  dos  mais  brilhantes  luzeiros  da  litteratura  pá- 
tria, um  dos  mais  assíduos  operários  do  Instituto,  e  seu 
benemérito  1.**  Secretario  o  Sr.  Manoel  do  Araújo  Porto- 
Âlegre,  cuja  saudosa  partida  para  a  Europa  tão  grande  e 
sensível  vácuo  deixou  entre  nós.  Inútil  será  dizer-vos,  se- 
nhores, que  semelhante  proposta  não  necessitou  de  ser 
votada,  lastimando  todos  os  sócios  ausentes  que  lhe  faltas^ 
sem  as  suas  assignaturas. 

Igual  distincção  e  por  não  menos  honrosos  motivos,  foi 
mais  tarde  concedida  a  quatro  illustres  brasileiros,  cujos 
nomes  importa  o  mais  pomposo  elogio,  e  os  quaes  com 
respeito  estamos  habituados  a  proferir.  Foram  elíes  os  Srs. 


—  696  — 

Drs.  Magalhães,  Silva,  commeadador  Varnhagen  e  briga- 
deiro Machado  de  Oliveira. 

Anhelando  por  subtrahir  os  ossos  do  Pindaro  brasileiro 
o  exímio  Caldas,  do  olvido  e  profanação,  approvou  o  Insti- 
tuto a  proposta  de  alguns  de  seus  membros  para  que  se 
diligenciasse,  por  meio  de  uma  commissão,  a  sufficiente 
somma,  afim  de  erigir-se-lhe  um  tumulo.  Nenhum  andamento 
porómpóde  dar-se  a  tão  patriótico  desejo,  por  informar-nos 
o  digno  provincial  dos  franciscanos  que  irremediavelmente 
perdidos  estavam  os  restos  do  celebre  pregador  fluminense. 

Considera  o  Instituto  como  diligentes  almenaras  os  seus 
sócios  correspondentes  nas  províncias  do  Império,  e  nessa 
ctmformidade  tem  por  varias  vezes  incumbido-os  de  graves 
commissões.  E'  sem  duvida  uma  das  mais  notáveis  a  que, 
por  proposta  de  vários  membros,  acaba  de  encarregar  ao 
seu  sócio  honorário  o  Sr.  brigadeiro  Machado  de  Oliveira, 
para  que  haja  de  verificar  o  grào  de  veracidade  que  merece 
a  noticia  dada  por  um  jornal  da  cidade  <de  Santos  relativa 
ao  descobrimento  dos  restos  de  um  navio  encontrado  no 
sitio  denominado  — Pq(^—  termo  da  villa  de  Itanhaem,  aos 
quaes  se  attribue  uma  grande  antiguidade.  Nem  sempre  co- 
roadas de  feliz  êxito  semelhantes  indagações,  releva  que 
não  se  entibie  a  nossa  solicitude  lembrando-nos  que  as 
collecções  que  hoje  formamos  constituirá  a  futura  sciencia 
dos  nossos  archeologos. 

Se  convém  reunir  em  nosso  museu  os  padrões  erguidos 
pelos  primeiros  descobridores,  os  madeiros  das  primitivas 
cruzes,  os  fragmentos  dos  navios  naufragados  em  nossos 
ainda  desconhecidos  parceis,  não  é  menos  vantajoso  guardar 
o  Instituto  em  seu  archivo  todos  os  documentos  concer- 
nentes à  historia  pátria.  Com  este  intuito  deu  a  suaappro* 
vaçáo  a  uma  proposta  que  lhe  fora  submettida  para  que  se 


-  697  - 

lembrasse  ao  Governo  Imperial  a  conveniência  de  lhe  serem 
remettidas  as  cópias  que  da  Bibliotheca  de  Évora  extrahi- 
ram  os  nossos  consócios  os  Srs.  Drs.  Gonsalves  Dias,  e  J. 
F.  Lisboa. 

Novas  indicações,  que  não  menor  acquiescencia  lhe  me* 
receram.  levaram  ainda  o  Instituto  a  pedir  aos  diversos 
ministérios  os  originaes,  ou  as  copias,  dos  documentos  re- 
lativos á  nossa  historia;  bem  como  a  relação  dos  mappas 
das  nossas  fronteiras  que  devem  existir  nos  archivos  dss 
secretarias  dos  estrangeiros  e  da  guerra. 

Com  a  maior  benignidade  e  solicitude  responderam-nos 
os  Exms.  Srs.  Ministros  interino  do  Império,  da  Justiça 
e  dos  Negócios  Estrangeiros,  facultando  o  primeiro  os  ar- 
chivos da  sua  secretaria,  e  o  publico,  aos  commissarios  do 
Instituto,  afim  de  que  delles  possam  extrahir  as  precisas 
copias,  e  remettendo  varias  obras  pertencentes  à  biblio- 
theca americana  que  alli  existiam:  o  segundo  promettendo- 
nos  a  remessa  do  que  houver  na  repartição  a  seu  cargo,  e 
o  terceiro  fazendo  igual  prommessaeaddicionando-a  com  a 
relação  dos  mappas  dos  terrenos  limitrophes  existentes  em 
sua  secretaria,  no  q  je  foi  imitado  pelo  Exm.  Sr.  Ministro 
da  Guerra.  Dignem-se  SS.  Exs.  de  receberem  por  meu  hu- 
milde intermédio  o  testemunho  de  gratidão  que  neste  dia 
solemne  lhes  vota  o  Instituto. 

Almejando  por  completar  a  correspondência  de  D.  Diogo 
de  Sousa,  Capitão-General  do  Rio  Grande  do  Sul  com  o  Vice- 
Rei  do  Brasil,  relativamente  aos  negócios  do  Rio  da  Prata, 
que  nos  annos  de  1856  a  1857  lhe  fora  oflerecida  pelo  nosso 
prestimoso  consócio  Sr.  Conselheiro  Drummond,  approvou 
o  Instituto  a  proposta  de  outro  digno  collega  nosso,  o  Sr. 
Conselheiro  Azambuja,  para  que  lhe  fossem  entregues  esses 
documentos  incumbindo-o  de  tão  utíl  tarefa. 


—  698  — 

Prestou  o  Instituto  a  sua  adhesáo  a  sete  propostas  do 
nosso  infatigável  e  prestimoso  consócio  o  Sr.  Joaquim 
Norberto  de  Sousa  e  Silva,  afim  de  obterem-se  das  auto- 
ridades competentes  vários  documentos  de  que  necessita 
para  a  sua  Historia  da  Conspiração  Mineira  de  1789.  To- 
mando sobre  si  o  nobre  encargo  de  rehabilitar  a  memoria 
desses  homens,  cuja  idéa,  por  prematura,  se  malograra, 
quiz  o  Sr.  Norberto  render  sincera  homenagem  ao  excelso 
Principe  em  cujo  reinado  pôde  fulgir  a  verdade  em  todo  o 
seu  esplendor,  e  tributando  ao  mesmo  tempo  a  sua  gra- 
tidão pelos  meios  que  lhe  facultou  de  proseguir  em  seus 
laboriosos  estudos,  com  proveito  seu,  honra  nossa  e  utili- 
dade para  o  paiz. 

Foi  finalmente  encarregado  na  ultima  sessão  do  Instituto 
o  nosso  illustrado  e  activo  consócio  o  Sr.  coronel  Henrique 
de  Beaurepaire  Rohan  de  examinar  com  o  seu  habitual 
discernimento  a  memoria  militar  que  sobre  os  limites  da 
provincia  de  Matto-Grosso  escrevera  o*  Sr.  brigadeiro  Ze- 
pherino  Pimentel  Moreira  Freire.  O  parecer  do  nosso  douto 
collega  viva  luz  lançaié  sobre  esta  matéria  do  mais  subido 
alcance,  deliberando  mais  tarde  o  Instituto  acerca  da 
publicação  de  ambos  os  trabalhos  nas  paginas  da  sua 
Revista. 

Continuam  a  obsequiar^nos  os  Exms.  Srs.  Ministros  de 
estado  e  Presidentesdô  provincias  com  a  regular  remessa 
dos  seus  relatórios,  cuja  collecçâo  forma  hoje  uma  das 
maiores  preciosiíScdes  da  nossa  bibliotheca. 

Esforça-se  a  líieDíoiria  em  manter  -as  boas  relações  com 
academias  e  sociedades  estrangeiras,  agradecendo  com 
presteza  os  seus  donativos  e  retribuindoos  com  a  offeita 
das  nossas  Revistas. 

Enviou-nos  a  academia  de  Batavia  alguns  volumes  das 


—  6»9  — 

suas  memorias  escriptas  em  bollandez,  e  abrangendo  os 
annos  de  185ii— 1857;  a  sociedade  geographica  de  Paris 
uma  serie  de  seus  buUeiins  dos  annos  de  1852—1858;  o 
observatório  astronómico  de  Manich  os  seus  Annoes  e 
Ephemeridei:  e  a  sociedade  de  Sciencías  Naturaes  de  Neu- 
cbatel  quatro  volumes  de  seus  iuUetins  e  três  de  suas  tne- 
morias. 

Avultados  donativos  feitos  por  particulares  enriqueceram 
este  anno  a  nossa  bibliotbeca,  dos  quaes  mencionarei 
alguns,  preferindo  os  que  mais  intima  relação  tem  com  o 
objecto  dos  nossos  trabahos. 

Remetteu-nos  o  Sr.  Azevedo  um  luminoso  opúsculo  re- 
lativo às  viagens  emprehendidas  por  Américo  Vespuciopor 
ordem  do  governo  hespanhoK  e  as  medidas  itenerarias  em- 
pregadas pelos  maritimos  hespanhoes  e  portuguezes  nos 
séculos  XV  e  XYI.  Veio  derramar  brilhante  luz  sobre  os 
pontos  litigiosos  do  descobrimento  da  America  a  discussão 
sussitada  no  seio  da  sociedade  de  geographia  de  Paris,  em 
que  tão  distincta  parte  tomou  um  illustre  consócio  nosso, 
o  Sr.  Yarnhagem,  de  cujas  opiniões  apartando-se  o  Sr. 
Avezac,  tributa-Ihe  a  homenagem  da  mais  profunda  estima 
e  veneração.  Com  proveito  consultados  serão  de  ora  avante 
ambos  os  trabalhos. 

O  Sr.  Dr.  Alexandre  José  de  Mello  Moraes  fez  {Mresente 
ao  Instituto  dos  dous  volumes  publicados  da  sua  Corogra" 
phia  kiitorica^  thronologica,  nobiliária  e  politica  do  Império 
do  Brasil.  Fazendo  justiça  aos  nobres eyGjtrioticos  esforços 
desse  benemérito  varão  que»  novo  iofTerao,  congrega  os 
documentos  esparsos  da  nossa  historia,  superando  <K>m 
singular  energia  os  óbices  de  tão  árdua  empreza;  propuz, 
de  combinação  com  o  nosso  excellente  consócio  o  Sr: 
Nofberto,  a  sua  admissão  ao  seio  do  Intituto,  que  na  forma 

89 


—  700  — 

do  esiylo  sujeitou  a  nossa  proposta  ao  juizo  da  sua  respec- 
tiva commissão. 

Offereceu-nos  o  nosso  coUega  o  Sr.  Dr.  Flomem  de 
Mello  a  Narrativa  dos  serviços  que  por  occasião  da  indepefi" 
denciado  Chile,  Perà  e  Brasil  prestou  lora  Cochrane\  e  como 
na  parte  que  nos  diz  respeito  grande  numero  de  inexactidões 
se  encontre,  oriundas  das  paixão  que  o  inspirara,  foi,  a 
pedido  do  referido  nosso  consócio,  remettida  à  primeira 
conmiissão  de  historia,  cujo  parecer  aguardamos. 

Recebemos  por  parte  do  Sr.  Ch.  Rebeyrolles  o  primeiro 
fasciculo  de  seu  Brasil  Pittoresco,  cuja  obra  deve  ser  acom- 
panhada de  estampas  devidas  ao  talento  do  Sr.  Victor 
Frond,  distincto  photographo  aqui  estabelecido.  Dignas  são 
sempre  da  maior  animação  semelhantes  empresas;  releva 
que  conhecido  se  torne  o  nosso  paiz  aos  olhos  do  mundo 
civilisado,  porque  só  dest'arte  poderemos  victoriosamente 
responder  às  calumnias  contra  nós  lançadas.  Alguns  des- 
culpáveis enganos  introduziram-se  no  trabalho  do  Sr.  Rebey- 
rolles, aliás  mui  recommendavel  pelo  vivo  colorido  de  seu 
estylo,  e  mais  que  tudo  pela  imparciaUdade  com  que  avalia 
as  nossas  instituições. 

Com  igual  prazer  acolheu  o  Instituto  a  remessa  que  lhe 
fez  o  Sr.  Sisson  da  importantissima  obra  de  que  é  editor. 
Se  a  Galeria  dos  Brasileiros  illtMlres  não  pôde  ser  ainda 
a  biographia  severa  e  desapaixonada  que  deve  um  dia, 
julgar  os  protogonistas  do  nosso  grande  drama  politico» 
nem  por  isso  é  menos  curiosa,  nem  exiguo  serviço  presta 
à  historia,  arrancando  do  esquecimento  muitos  factos  que 
debalde  um  dia  comafan  se  buscariam,  reflectindo  em  suas 
paginas  as  varias  cores  da  actualidade. 

Mandou-nos  o  nosso  consócio,  o  Sr.  Tenente  Coronel 
José  Joaquim  Rodrigues  Lopes,   a  sua  Plani-Historiê  ou 


—  701  ^ 

Resumo  Synoptico-IIisíorico  Genealógico  do  Império  do  Brasil 
e  do  Reino  de  Portugal^  e  das  familias  reinantes  nestes  dous 
paizes.  Incontestável  é  hoje  a  utilidade  de  semelhantes 
trabalhos,  que  permittem  que  n'um  rápido  olhar  se  possa 
entrar  no  conhecimento  de  objectos  cuja  complexidade 
exigira  longas  investigações.  Merecedor  dos  maiores  encó- 
mios é  o  nosso  distincto  collega  pela  ordem  e  clareza  do 
seu  methodo.  que  seguindo  a  trilha  estreada  por  Le  Sage, 
grandes  melhoramentos  recebeu. 

As  Cartas  sobre  a  provinciade  5.  Catharina,  escriptas  pelo 
Sr.  José  Gonçalves  dos  Santos  Silva,  e  offerecidas  pelo  Sr, 
Porto-Alegre.  são  ducumentos  do  zelo  e  sincero  patriotismo 
de  um  respeitável  ancião,  que  consagrou  seus  lazeres  a 
rectificar  muitos  equivocos  que  na  historia  e  geographia  de 
sua  província  se  haviam  inoculado.  A  pedido  do  respeitável 
o0erente  foi  o  Sr.  Santos  Silva  proposto  para  membro  do 
Instituto,  sempre  solicito  em  franquear  o  seu  ingresso  aos 
que  se  identificam  com  o  seu  pensamento. 

Devemos  à  generosidade  do  Sr.  Conselheiro  J.  M.  Nas- 
centes de  Azambuja  a  Exposição  feita  ao  Presidente  da  re- 
publica da  Nova  Granada  pelo  Ministro  das  relações  Estran- 
geiras  D.  Lourenzo  Maria  Lleras,  relativas  ao  tratado  cele^ 
brado  nesse  mesmo  anno  entre  o  Brasil  e  esse  Estado.  Ninguém 
desconhecerá  a  importância  de  uma  tal  acquisição,  quecon- 
tribue  para  a  realisaçáo  do  propósito  em  que  estamos  de 
reunirmos  em  nosso  archivo  todas  as  negociações  concer- 
nentes às  nossas  fronteiras. 

Remetteu  ao  Instituto  oSr.  conde  de  laHure  um  opúsculo 
de  lavra  própria  e  intitulada  Principes  pourla  Fondation  des 
coUmies  au  Bresil,  Para  a  solução  do  grande  problema  da 
colonisação  de  summa  utilidade  será  o  ouvir-se  o  parecer 
de  todas  as  pessoas  que  a  este  importante  ramo  hão  dedi- 


—  702  — 

cado  suas  cogitações.  Sem  que  possamos  acompanhar  ao 
nobre  conde  em  todas  as  suas  deduções,  louyamos^lhe  o 
interesse  que  em  bem  de  nossa  prosperidade  manifesta. 

Fez-nos  presente  o  Sr.  José  António  Rodrigues  dos  seus 
Apontamentos  da  população,  topographia  e  notidoi  chrono' 
lógicas  do  municipio  da  cidade  de  S.  João  d'El'Rei,  pro- 
víncia de  Minas-Geraes.  No  nosso  paiz,  onde  uma  catpairel 
indifferença,  uma  egoistica  apathia,  deixa  perecer  tantos 
e  táo  preciosos  documentos,  deve  considerar-se  como  um 
serviço  da  maior  magnitude  a  publicação  das  monographias, 
reconhecidos  hoje  como  as  melhores  e  mais  puras  fontes 
históricas. 

Um  amigo  do  Instituto,  cuja  modéstia  priva-me  de  pro- 
nunciar o  seu  nome,  enviou  para  a  sua  bibliotheca  a  tra- 
ducção  franceza  dos  Factos  do  Espirito  Humano,  feita  pelo 
Sr.  Chansselle.  E'  intuitiva,  senhores,  a  gloria  que  dessa 
versão  nos  resulta  provando  aos  olhos  da  culta  Europa  que 
a  sciencia  de  Bacon  c  de  Descartes  conta  entre  nós  um  dis- 
tincto  apostolo. 

Por  intermédio  do  nosso  estimável  consócio  o  Sr.  Porto- 
Alegre  recebemos  duas  obras  de  grande  mérito,  sabidas 
dos  prelos  lisboenses:  quero  fallar  do  Diccionario  Biblio^ 
graphico  Portuguez  pelo  Sr.  Innocencio  Francisco  da  Silva, 
e  do  Génio  da  Lingua  Portugueza  pelo  Sr.  coronel  Fran- 
cisco Evaristo  Leoni. 

De  ha  muito  que  reclamavam  os  estudiosos  um  trabalho 
neste  género;  pois  que  incompleta  e  antiquada  era  a 
Bibliotheca  âe  Barbosa.  Comprchendendo  em  seif  plano  os 
autores  brasileiros,  com  a  resumida  enumeração  dos  seus 
escriptos  e  notas  biographicas,  concorre  o  Sr.  Innocencio 
da  Silva,  para  estreitar  os  vínculos  entre  os  dous  povos, 
que  partindo  de  commum  origem,  professando  uma  só  re- 


—  70S  — 

ligíão  e  fallando  ama  mesma  língua,  postados  nas 'duas 
margens  oppostas  do  Atlântico,  e  guardando  a  sua  própria^ 
autonomia,  constituem  uma  grande  e  poderosa  raça.  Dese 
josos  alguns  membros  do  Instituto  de  testemunhar  a  sua 
veneração  para  com  o  iHusIre  escriptor  portuguez,  con- 
descendendo com  o  desejo  apresentado  pelo  Sr.  Porto - 
Alegre,  propuzeram  o  digno  autor  do  diccionario  para 
nosso  confrade. 

Idênticas  razões  militaram  em  favor  da  Sr.  coronel  Leoni. 
cuja  erudita  obra  é  um  magestoso  monumento  alçado  ajo 
idioma  em  que  fallaram  Ferreira,  Camões  e  Barros.  Os 
vestígios  que  a  lingua  dos  conquistadores  do  mundo 
deixou  impressos  cora  indeléveis  caracteres  nos  bárbaros  dia- 
lectos da  península  ibérica,  a  corrupção  gradual  e  sensível 
do  latim  clássico  até  formar  essa  lingua  romana,  que  as 
invasões  goda  e  sarracena  não  poderam  supplantar,  são 
habilmente  analysados  pelo  distincto  philologo,  que  ambi- 
ciono ardentemente  ve-lo  alistado  entre  os  nossos  sócios. 

Para  não  abusar  demasiado  da  vossa  benévola  attenção, 
porei  aqui  termo  à  resenha  das  oíTerendas  com  que  fomos 
obsequiados ;  antes  porém  que  o  faça  permittir -me-heis 
que  commemore  a  valiosa  dadiva  que  nos  fez;  o  Sr.  Dr. 
Ernesto  Ferreira  França  da  sua  Ckrisiomathia  da  lingua 
brasileira.  Oxalá  que  tão  nobre  exemplo  possa  ter  nume- 
rosos imitadores,  que  com  desvelo  e  dedicação  estudem 
os  dialectos  dos  nossos  aborígenes!...  Quantas  riquezas 
se  patentearão  com  semelhante  estudo?  Oiiantos  pro- 
blemas não  serão  resolvidas?  E'  para  nós  o  tupi  o  que  é 
o  sanscrito  para  os  povos  do  Oriente,  a  chave  de  muitos 
enigmas,  a  lingua  dos  primeiros  conquistadores,  a  dos 
brahmeneêedos  pagiê.  Bem  haja  o  Sr.  Dr.  França  que, 
refocilando-se  das  suas  doutas  lucubrações  jurídicas,  tão 


—  704  — 

uleis  livros  escreve,  indubitáveis  provas  do  sacro  amor 
pátrio.  Como  deveis  saber,  espera  em  breve  o  Instituto 
contar  o  illustrado  e  modesto  joven  entre  os  seus  colabo- 
radores, e  teremos  talvez  mui  proximamente  o  prazer  de 
ve-lo  sentado  entre  nós. 

Mais  uma  palavra,  senhores,  e  eu  termino. 

Trouxe-me  hoje  a  este  logar  a  lei  do  dever,  e  melhor 
que  ninguém  conhecendo  o  peso  que  sobre  mim  tomava. 
Lembra  i-vos  porém  que  mais  avulta  a  belleza  com  o  con- 
traste: que  à  volcanica  palavra  do  meu  antecessor,  cujas 
lavas  da  eloquência  abrasaram-nos  no  mais  ardente  enthu- 
siasmo,  substituiu  a  pallida  e  fria  narrativa  que  acabais  de 
ouvir,  e  que  á  minha  agreste  e  dissonante  voz  vão  seguir-se 
as  melodiosas  endechas  do  nosso  suaviloquo  orador,  en- 
toando seus  saudosos  threnos  sobre  os  túmulos  semi- 
abertos dos  peregrinos  das  lettras. 


mmcvnmo 

DO    ORADOn    DO    INSTITUTO    HISTÓRICO    O    SR.    DR . 
JOAQUIM    MANOEL   DE   MACEDO. 

Senhores.— A  gloria  de  uma  nação  é  o  monumento  por- 
tentoso e  indestructivel  que  se  levanta  sobre  as  virtudes  e 
o  patriotismo  dos  grandes  homens,  e  atravessando  os  sécu- 
los, falia  ás  gerações  que  se  succedem  com  essa  voz  pode- 
rosa c  eloquente  que  acha  sempre  um  éco  em  todos  os 
corações  generosos,  desperta  ou  inspira  os  sentimentos  he- 
róicos, fortalece  a  honra  nacional,  e  acende  o  enthusiasmo. 


—  705  — 

A  gloria  de  uma  nação  brilha  com  esse  fogo  sagrado  que  se 
alimenta  das  recordações  fulgurantes  e  esplendidas  do  pas- 
sado :  é  a  epopéa  immensa  e  assombrosa  que  tem  cada  um 
dos  seus  cantos  resumido  no  epitaphío  da  sepultura  de  um 
finado  illustre;  é,  emfim,  o  precioso  nobilissimo  legado 
que  os  varões  beneméritos  deixam  à  pátria,  a  quem,  depois 
de  ter  servido  com  dedicação  e  revelancia  durante  a  vida, 
ainda  além  da  morte  enriquecem  com  o  thesouro  inapre- 
ciável de  seus  nomes  nobremente  famosos. 

Entretanto  a  conservação  desse  legado,  a  coordenação 
dos  cantos  dessa  epopéa,  a  perduração  desse  fogo  e  desse 
monumento  somente  é  licito  esperar  da  historia,  que  é  o 
pantheon  sublime  e  universal  que  confere  aos  bons  que 
souberam  assignalar-se  a  immortalidade  honrosa,  que,  por 
assim  dizer,  é  na  terra  um  reflexo  da  eternidade  do  céo. 
Cumpre  pois  que,  registrando  em  nossos  archivos  os  acon- 
tecimentos da  nossa  época  e  os  feitos  dos  nossos  benemé- 
ritos, cumpre  que,  colhendo  no  livro  dos  túmulos  as  pagi- 
nas soltas  da  vida  dos  nossos  homens  notáveis,  forgemos  a 
chave  com  que  para  elles  devem  ser  abertas  às  portas  da- 
quelle  pantheon  na  posteridade.  Neste  empenho  andam 
juntos  o  interesse  e  a  gratidão  da  pátria:  o  interesse,  porque 
no  seio  desses  túmulos  está  encerrado  o  segredo  da  sua 
gloria:  a  gratidão,  porque  é  este  um  tributo  que  ella  deve  a 
seus  filhos  prestimosos  e  dedicados,  e  tanto  mais  que  para 
muitos  dellesa  coroa  de  louro  chega  bem  tarde,  como  para 
a  fronte  dos  Tassos,  ou  cinge  apenas  o  craneo  do  esque- 
leto, como  DOS  Miltons,  enos  Galilèos:  coroa  posthuma,  ou 
por  demais  tardia,  que  apenas  faz  sorrir  tristemente  o  mo- 
ribundo, e  não  pôde  ser  sentida  pelo  cadáver;  mas  que  ao 
menos  serve  para  deslumbrar  os  vivos  e  excitar  o  seu  zelo 
e  o  seu  enthusiasmo  no  serviço  da  pátria. 


—  70C  — 

O  iQstiluio  Histórico  c  Geographico  do  Brasil  reconhece 
qae  pela  própria  natureza  dos  íins  que  presidiram  à  sua 
orgauisação,  é  um  dos  seus  mais  sérios  e  imprescriptíyeis 
deveres  o  pagamento  desse  generoso  tributo  devido  aos 
varões  íUastres  que  a  morte  vai  roubando  ao  paiz:  coUi- 
gindo  e  publicando  as  biographias  de  cada  um  delles,  vai 
recommendando  os  nomes  e  os  feitos  dos  beneméritos  ao 
tribunal  da  posteridade,  que  os  deve  julgar  em  ultima  ins- 
tancia, marcando  o  lugar  que  lhe  compete  na  galeria  da 
historia;  ainda  mais  reconhecido  porém  e  mais  estreita- 
mente ligado  áquelles  que  (iazíam  parte  de  soa  iamilia  so- 
cial, reservou  na  solemnidadede  suas  sessões  anniversarías 
uma  hora  votada  à  saúde,  e  incumbio  ao  seu  orador  a 
obrigação  de  fazer  o  elogio  dos  seus  sócios  finados  com  a 
simples  menção  das  virtudes  dos  trabalhos  preciosos,  e  das 
acções  meritórias  com  que  elles  souberam  recommendar-se 
á  gratidão  do  Instituto,  da  nação  e  da  humanidade. 

Cabe-nos  ainda  este  anno  o  desempenho  desta  importante 
tarefa,  que  aliás  devera  ter  sido  incuinbida  a  quem  por  ama 
intelligencia  mais  esclarecida  fosse  verdadeiramente  digno 
de  faliar  como  órgão  de  uma  associação  tão  respeitável; 
mas  a  responsabilidade  da  insufficiencia  do  orador  cabe  ao 
próprio  Instituto  que  o  escolheu,  e  que  em  uma  nova  eleição 
corrigirá  o  seu  erro. 

Senhores.— Correndo  os  olhos  pelo  quadro  dos  membros 
do  Instituto  Histórico  e  Geographico  do  Brasil,  encontra- 
reis não  menos  de  sete  vezes  repetidos  os  lúgubres  signaes 
da  visita  da  morte  no  anno  de  1859:  foram  grandes  perdas 
pdo  numero  e  pela  importância  dos  homens  eminentes 
que  nos  deixaram. 

No  fúnebre  cortejo  que  cumpre  fazer  desfiliar  a  vossos 
olhos,  mostra-vos-hemos,  antes  de  todos   os  outros  o 


-  707  - 

ataúde  que  recebeu  os  últimos  despojos  de  um  daquelles 
dos  nossos  consócios,  cujos  nomes  tem  um  lugar  de  honra 
no  quadro  dos  membros  do  Instituto  Histórico  e  Geogra- 
phíco  do  Brasil  como  fundadores  desta  notável  e  patriótica 
instituição. 

O  benemérito  que  agora  recordamos  é  o  Dr.  Emilío  Joa- 
quim da  Silva  Maia. 

E'  este  um  nome  que  não  ouvistes  repetir  nem  nas  lutas 
ardentes  dos  comicios  públicos,  nem  nos  certames  arreba- 
tados da  imprensa  politica ;  nome  que  nunca  foi  endeosado 
nem  proscripto  pelos  tribunos,  nem  nos  escreveu  jamais 
acto  algum  da  alta  administração  do  paiz.  Foi  o  de  mn 
cidadão  que  não  se  encontrava  no  parlamento,  onde  se 
debatiam  os  partidos,  nem  nos  gabinetes  dos  ministros, 
onde  se  combinava  as  profundas  medidas  para  o  governo 
do  Estado;  sua  esphera  foi  mais  modesta,  seu  honsonte 
menos  brilhante,  talvez  porém  mais  vasta  sem  duvida  mais 
serena.  Qaem  o  buscava  ia  à  seara  do  sábio,  e  tinha  a  cer 
teza  de  achar  o  constante  e  desvelado  lavrador  manejando  o 
arado  da  scioncia.  Este  facto  demonstra  só  por  si  o  na- 
tural e  invencível  amor  que  o  nosso  consócio  tributava  às 
lettras  e  ás  sciencias  porque  nenhum  mais  que  elle  tivera 
no  berço  e  na  infância  diante  dos  olhos  o  exemplo  do  ardor 
e  do  interesse  pelas  questões  politicas,  do  que  aliás  soube 
sempre  conservar-se  arredado  para  exclusivamente  en- 
tregar-se  a  seus  estudos. 

Emílio  Joaquim  da  Silva  Maia,  fílho  legitimo  de  Joaquim 

José  da  Silva  Maia  e  de  D.  Joaquina  Rosa  da  Gosta,  nasceu 

a  8  de  Agosto  de  1808,  na  cidade  de  S.  Salvador  da  Bahia. 

Seu  pai  era  negociante  matriculado  naquella  praça,  homem 

de  instrucção,  e  que  não  pouco  se  envolvia  em  assumptos 

politicos. 

90 


—  708  — 

Desde  os  seus  primeiros  annos  o  nosso  finado  consócio 
mostrou  grande  aptidão  para  a  carreira  das  lottras  :  a  an- 
tiga metrópole  do  Brasil  abundava  de  bons  mestres  e  com 
estes  o  nosso  consócio  adiantava-se  já  no  estudo  de  huma- 
nidades,  quando  em  1823,  e  aos  quinze  annos  de  sua 
idade  começou  a  experimentar  as  consequências  das  bor- 
rascas 6  convulções  políticas. 

Em  1817t  e  ainda  na  infância,  contemplara,  sem  duvida 
com  a  sensibilidade  e  também  coma  ligeiresa  de  menino, 
ásvictimas  da  revolução  de  Pernambuco:  jà  aos  treze 
annos,  em  1821,  fora  testemunha  do  movimento  de  10  de 
Fevereiro  na  sua  cidade  natal:  a  época  era  tempetuosa,  e 
em  1823,  seguindo  o  destino  de  seu  pai,  que  se  compro- 
mettèra  na  guerra  da  independência  interrompe  seus  estu- 
dos e  a  2  de  Julho  embarca  com  toda  sua  familia  para  o 
Maranhão,  donde  no  íim  de  quatro  mezes  arrastado  pela 
foitana  paterna,  deixa  a  pátria  e  vai  para  Portugal,  che- 
gando à  cidade  do  Porto  no  primeiro  dia  do  anno  de  1824 
bem  depressa  as  aulas  da  universidade  de  Coimbra  recebem 
o  joven  brasileiro,  que  vai  conquistando  applausos  e  dei- 
xando apreciar  seu  talento:  pretendendo  seguir  o  curso  de 
medicina,  tinha  jà  obtido  o  grào  de  bacharel  em  philoso- 
phia  natural,  quando  de  novo  as  luctas  politicas  vem  per- 
turbar seus  estudos,  e  dessa  vez  obrigal-o  a  trocar  o  livro 
pela  espada. 

Era  a  época  da  guerra  entre  constitucionaes  e  absolutistas 
o  joven  estudante,  jà  pelos  exemplos  de  seu  pai,  já  pelas 
próprias  convicções  e  pelo  ardor  da  mocidade,  deixa-se 
levar  pelas  ondas  revolucionarias,  e  atira-se  no  campo 
dos  combates;  sua  bandeira  é  pelo  menos  bella  e  nobre,  é 
a  bandeira  da  liberdade  contra  absulutismo,  a  da  rainha 
contra  o  usurpador.   A  victoria  corre  as  armas  inimigas,* 


—  709  — 

e  os  académicos  voluntários,  entre  os  quaes  se  alistara  o 
nosso  consócio,  fogem  aos  cadafalsos  e  procuram  a  terra 
estrangeira. 

A  Hespanha,  e  depois  a  Inglaterra,  assim  o  joven  brasi* 
leiro,  que  com  uma  parte  de  sua  familia  volta  ao  Brasil,  e 
saúda  o  céo  da  pátria  em  1829.  no  mesmo  anno  porém 
torna  a  Europa  para  completar  os  seus  estudos.. e  emGm  a 
2  de  Setembro  de  i833  obtém  o  diploma  de  doutor  em 
medicina  pela  universidade  de  Pariz;  e  ardendo  para  tornar 
às  terras  de  seu  berço,  chega  em  Março  de  1834  ao  Rio 
de  Janeiro  onde  se  estabelece. 

O  nosso  finado  consócio  voltava  ao  Brasil  recommen* 
dando-se  por  um  titulo  scientifico.  vinha  cheio  de  ardor  e 
de  esperança,  podia  naturalmente  trazer  no  seio  aflamma 
da  ambição,  e  encontrava  o  seu  paiz  em  um  período  de 
violenta  excitação  politica:  os  partidos  abríamos  braços  e 
recrutavam  com  empenho  todos  os  jovens  talentos;  via-se 
homens  novos  e  sem  duvida  dignos  dos  triumphos  que 
alcançaram,  conquistando  brilhantes  posições:  o  incentivo 
poderoso,  o  encanto  quasi  irresistivel;  mas  o  Dr.  Emilio 
Joaquim  da  Silva  Maia  jà  tinha  feito  o  voto  sagrado  de  con- 
sagrar-se  á  sciencia;  cultivando-a  prestaria  também  rele- 
vantes serviços  à  pátria;  voltou  pois  as  costas  ao  mundo 
politico,  não  se  deixou  arrebatar  pelos  sonhos  das  gran- 
dezas sociaes;  preferío  aos  comícios  as  sociedades  litterarias 
ã  carreira  administrativa  e  politica  o  exercício  da  medicina; 
às  ardentes  emoções  dos  combates  parlamentaes  os  árduos 
trabalhos  e  o  cultivo  das  sciencias  naturaes. 

Al  mais  perfeita  felicidade  domestica  dava  ao  nosso  con- 
sócio o  socego  e  a  paz  do  coração  que  animam  o  homem 
no  labor  da  existência:  dous  mezes  depois  da  sua  chegada 
ao  Rio  de  Janeiro  o  Dr.  Emilio  Joaquim  da  Silva  Maia  ca- 


—  710  — 

sou-se  com  a  lllma.  Sra.  D.  Anna  Rita  da  Silva  Gosla,  que 
foi  um  yerdadeiro  modelo  de  esposa,  e  que  fez  a  sua  ven- 
tura mais  risonha  e  completa:  o  céo  abençoou  essa  união 
com  o  thesouro  de  filhos  dedicados  e  amantes. 

Feliz  no  lar  domestico,  entregue  exclusivamente  aos 
cuidados  da  sua  clinica  medica,  ao  estudo  das  leltras  e  sci- 
encias,  e  emfim  ao  ensino  da  mocidade,  o  nosso  consócio 
pôde  contar  seus  annos  por  serviços  reaes  e  importantes 
prestados  ao  paiz. 

O  Dr.  Emilío  Joaquim  da  Silva  Maia  foi  um  desses  ho- 
mens laboriosos,  incansáveis  e  prestantes  que  não  precisam 
que  lhe  gravem  um  epitaphio  na  lage  de  sua  sepultura, 
nem  que  um  biographo  parcial  e  amigo  lhe  agigante  médio- 
ores  feitos  para  que  seu  nome  seja  lembrado  pelos  vindouros. 

O  nome  do  nosso  consócio  já  está  escripto  na  historia 
contemporânea  do  Brasil  com  lettras  vivas  e  brilhantes  que 
a  gratidão  nacional  não  deixará  apagar-se  nunca. 

Repete  esse  nome  a  humanidade  soífredora  que  elle  soc- 
correu  sempre  como  medico  hábil  e  caridoso,  como  o  ver- 
dadeiro medico  catholico  que  ajunta  a  applicação  do  medi- 
camento que  deve  curar  o  corpo  à  consolação  que  chega  à 
alma  do  enfermo. 

Repete  esse  nome  a  camará  municipal  do  cidade  do  Rio 
de  Janeiro,  em  cujos  archivos  se  acham  documentos  dos 
seus  trabalhos  e  provas  da  sua  solicitude  em  um  quatrienio 
em  que  serviu  como  vereador. 

Repetem  esse  nome  as  sciencias  naturaes,  que  elle  cul- 
tivou com  esmero,  com  amor  nunca  arrefecido,  ensinando- 
as  como  professor,  utilisando-as  como  um  dos  directores 
do  museu  nacional,  e  adiantando-as  com  os  estudos  do  seu 
gabinete,  e  com  alguns  preciosos  escriptoscomo  o  reco- 
nheceram sábios  naturalistas  do  velho  mundo. 


-  711  ~ 

Repetem  O  seu  nome  os  jornaes  da  sociedade  Auxiliadora 
da  Industria  Nacional  e  da  Acadenua  Imperial  de  Medicina, 
de  que  elle  foi  por  muito  tempo  redactor,  e  a  Minerva 
Brasileira,  que  0  teve  por  fundador  e  redactor  em  chefe, 
e  muitos  outros  periódicos  litterarios. 

Repete  o  seu  nome  o  Imperial  Collegio  de  Pedro  II,  de 
que  elle  foi  professor  de  sciencias  naturaes  desde  1838. 

Repete-o,  emíim,  com  um  reconhecimento  por  assim 
dizer  filial,  o  Instituto  Histórico  e  Geographico  do  Brasil, 
que  o  conta  e  venera  como  um  de  seus  membros  fundado* 
res,  e  sempre  como  um  dos  seus  mais  prestimosos  e  infati- 
gáveis sócios. 

As  grandes  qualidades  de  que  estes  serviços  dão  seguio 
testemunho,  reunia  o  Dr.  Emilio  Joaquim  da  Silva  Maki 
outras  não  menos  estimáveis :  era  bom  e  extremoso  pai 
e  esposo  amante;  era  amigo  fiel,  companheiro  leal  e  ci- 
dadão honesto. 

Homem  de  trabalho,  homem  que  não  perdia  um  ins- 
tante, nem  conhecia  outro  descanço  senão  o  que  dà  o 
somno  em  breves  horas  à  noite,  o  nosso  illustre  consócio 
abreviou  os  seus  dias  porque  não  soube  poupar-se  nem 
mesmo  quando  se  sentio  perfeitamente  ferido  pela  enfer- 
midade que  o  levou  ao  tumulo.  Doente  desde  muitos 
mezes,  só  abandonou  sua  cadeira  no  collegio  e  seus  livros 
no  gabinete  quando,  arrastado  para  o  leito,  ouvio  dar  a 
hora  da  agonia,  e  exhalou  o  ultimo  suspiro  no  dia  21  de 
Novembro  de  1859. 

O  Dr.  Emilio  Joaquim  da  Silva  Maio,  foi  altamente  consí* 
derado  pelos  litteratos  e  pelos  sábios:  no  Brasil  quasi 
todas  as  sociedades  litterarias  e  scientificas  o  contavam 
como  sócio,  c  notavelmente  o  Instituto  Histórico  e  Geo- 
graphico do  Brasil,  a  Imperial  Academia  de  Medicina,  a 


—  712  — 

sociedade  Auxiliadora  da  Industria  Nacional,  o  Instituto 
Litterario  da  Bahia,  e  a  sociedade  Vetlosiana.  Na  Europa 
está  o  seu  nomeescripto  no  qnadio  dos  membros  da  socie- 
dade das  Sciencias  Medicas  de  Lisboa,  da  sociedade  de 
Sciencias  Naturaes  de  França,  e  da  dos  Antiquarias  do 
Norte. 

São  numerosos,  mas  infelizmente  acham-se  espalhadas 
por  diversos  jomaes,  os  escriptos  do  nosso  finado  consócio. 
Memcnrias  sobre  alguns  acontecimentos  politicosdo  Brasil, 
quadros  synopticos  do  reino  animal  organísados  para  faci- 
litar o  estudo  da  zoologia  no  imperial  collegio  de  Pedro  II; 
discurso  sobre  as  sociedades  scientifícas  e  de  beneficência 
que  tem  sido  estabelecidas  na  America;  elogio  histórico 
êò  José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva,  e  diversas  memorias 
sobre  pontos  de  medicina,  de  sciencias  naturaes,  e  sobre 
questões  litterarias,  e  igualmente  muitos  discursos  acadé- 
micos se  encontram  nas  Revistas  do  Instituto,  nos  Annaes  da 
academia  de  medicina,  e  em  quasi  todos  os  períodos  litte- 
rarios  e  scientificos  do  Rio  de  Janeiro. 

Tal  foi  o  homem  que  perdemos,  e  cuja  memoria  o  Insti- 
tuto Histórico  e  Geographico  do  Brasil  honrará  sempre 
com  o  mais  vivo  reconhecimento. 

No  dia  25  de  Maio  do  anno  que  vai  acabar  foi  receber 
no  céo  o  premio  de  suas  virtudes,  deixando  no  mundo 
brilhantes  e  gloriosos  vestigios  o  nosso  estimável  consócio 
o  brigadeiro  Miguel  de  Frias  e  Vasconcellos. 

A  sua  vida  inteira  póde-se  resumir  em  três  idéas:  honra, 
bravura  e  caridade :  eis  o  brigadeiro  Miguel  de  Frias  e 
Vasconcellos. 

O  pai  do  nosso  finado  consócio  era  um  militar,  o  lenente- 
coronel  Joaquim  de  Frias  e  Vasconcellos;  c  como  se  ade- 
vinhasse  os  grandes  acontecimentos  que  deviam  em  breve 


-  713  - 

elevar  o  Brasil  ao  gráo  de  nação  independente,  deu  em 
seus  filhos  novos  guerreiros  à  pátria. 

Miguel  de  Frias  e  Vasconcellos  vio  a  luz  do  dia  no  Rio 
de  Janeiro  a  15  de  Outubro  de  1805 :  nasceu  a  tempo  de 
saudar  com  todo  o  patriotismo  e  todo  o  ardor  de  um  co- 
ração de  mancebo  ênthusiasta  a  independência  do  seu 
paiz. 

Aos5  annos  de  idade  assentou  praça  como  cadete  no  1.' 
regimento  de cavallaria ;  dahí  a  três  annosofilcial de arti- 
Iberia,  cursava  ao  mesmo  tempo  a  escola  militar,  esse  des- 
tinguio-se  pelo  seu  talento  e  pela  sua  appbcaçáo,  chegando 
dentro  de  poucos  annos  a  servir  de  lente  e  de  examinador 
na  mesma  academia. 

Em  1828  com  o  seu  incontestável  merecimento  havia 
já  conquistado  as  dragonas  de  major  graduado,  e  em  1831 
achava-se  encarregado  da  repartição  do  quartel -mest re- 
generai, quando  os  criminosos  excessos  do  mez  de  março 
desse  anno,  e  á  effervescencia  popular  fizeram  proromper  a 
revolução  de  7  de  Abril. 

O  major  Frias  era  conhecido  pelo  nobre  e  fervente  espi- 
rito de  nacionalismo  e  pelas  suas  idéas  liberaes:  se  a  lucta 
chegasse  atravar-se,  não  seria  duvidosa  a  sua  posição :  o 
Sr.  D.  Pedro  I,  porém,  mostrou-se  grande  e  generoso  na 
hora  da  adversidade:  não  quiz  que  corresse  o  sangue  bra- 
sileiro, e  abdicando  salvou  o  Brasil  ea  monarchia.  A  ul- 
tima palavra  do  Imperador  que  descia  de  um  throno  foi 
recebida  pelo  major  Frias,  a  quem  disse,  entregando  o  de- 
creto da  abdicação:  <  Aqui  está  a  minha  abdicação.  Desejo 
que  sejam  felizes  I  Retiro-me  para  a  Europa,  e  deixo  um 
paiz  que  tanto  amei  e  ainda  amo.  » 

Os  primeiros  annos  da  monarchia  de  S.  M.  o  Imperador 
o  Sr.  D.  Pedro  TI  marcam  uma  épocha  dolorosa  para  o 


-  714  - 

Brasil:  as  revoltas  se  succediam umas  ás  outras,  o  exercito 
indisciplinado  tornara-se  um  perigo,  e  era  por  isso  dissol- 
vido; o  governo  lactava  quasi  sem  força  no  meio  das  facções, 
e  só  um  milagre  de  patriotismo  pôde  suster  o  paiz,  que 
ia  precipitar-se  naanarchia. 

E"  n'este  periodo  tormentoso,  que  um  grave  erro  vem 
interromper  a  bella  carreira  do  nosso  digno  consócio,  e 
obriga-lo  a  um  exílio,  que  o  privou  da  pátria,  e  a  ella  dos 
seus  seus  serviços.  Ligado  ao  partido  que  se  achava  em 
opposição,  e  que  tomara  o  título  de  exaltado,  o  major 
Frias,  que  com  outros  ofliciaes  se  achava  preso  em  uma 
de  nossas  fortalezas,  toma  parte  nos  planos  de  uma  revo- 
lução; e  ignorando  que  ella  tivesse  abortado,  revolta-se  na 
fortaleza,  e  á  frente  de  poucos  companheiros  vem  desem- 
barcar na  cidade,  e  marcha  para  o  campo  de  Sanf  Anna  no 
dia  3  de  Abril  de  1832.  Debalde  amigos  que  o  encontram 
Iheannunciam  asuaperdainfallivel:  «  E'  tarde,  responde 
elle,  jã  dei  o  primeiro  passo.  •  O  resultado  dessa  luta  era 
de  prever.  A  legalidade  triumphou  facilmente,  e  o  major 
Frias  teve  de  emigrar. 

Foi  um  grave  erro,  já  o  dissemos ;  qual  é  porém  dos 
homens daquella  época  o  que  pode  atirar  a  pedra?...  A 
revolução  de  7  de  Abril  tinha  acabado  em  abraços,  flores 
e  parabéns:  uma  só  gotta  de  sangue  não  a  havia  manchado: 
o  próprio  monarcha,  que  abdicara  uma  coroa  tinha  derra- 
mado lagrimas  de  alegria  vendo  o  enthusiasmo  patriótico 
com  que  o  povo  inteiro  acclamava  seu  augusto  filho:  as 
lições  da  experiência  ainda  não  eram  bastante  longas  e 
acerbas  para  serem  fructuosas:  estávamos  no  noviciado  do 
systema  representativo,  e  todos  sentiam  a  influencia  do 
contagio  das  conspirações:  conspiravam  todos,  conspirava 
o  povo  a  3  e  a  17  de  Abril,  conspirou  o  próprio  governo 


—  715  — 

a  30  de  Jullio  de  1832.  Vencedares  e  vencidos  erravam 
notavemente :  não  é  muito  que  errasse  também  o  major 
Frias  aos  27  annos  de  idade. 

O  Brasil  abro  o  seio,  e  nelle  recebe  com  amor  o  major 
Frias  que  volta  à  terra  da  pátria  depois  do  dous  annos  de 
exilio:  começa  então,  ou  dentro  em  pouco,  uma  serie  não 
interrompida  de  serviços  relevantes  prestados  pelo  nosso 
iHustre  e  finado  consócio. 

Eti  18A2  o  entáo  conde  e  actual  Sr.  Marquez  de  Caxias, 
partindo  para  o  Rio  Grande  do  Sul.  onde  esperava  a  gloria 
de  pacificação  daquella  importante  província  do  Império, 
lembra-se  do  seu  irmio  de  armas;  o  distincto  general  não 
podia  em  verdade  esquecer-se  do  bravo  que  em  1828  de- 
nodadamente se  batera  contra  os  soldados  estrangeiros 
revoltados  na  capital.  O  m^jor  Frias  acode  á  voz  da  pátria, 
serve  com  distincção  nos  campos  do  Sul  até  o  anno  de 
18^il;  e  quando  outra  vez  sõgm  as  trombetas,  e  o  .Brasil 
tem  de  desaggravar-se  dos  ultrajes  e  da  ousadia  do  dictador 
de  Buenos-Ayres,  outra  vez  o  bravo  Miguel  de  Frias  corre 
onrJe  tremula  a  bandeira  nacional  prompto  a  dar  a  vida  pela 
terra  de  seu  berço. 

Assim  a  brilhante  carreira  militar  do  nosso  consócio, 
que  fora  interrompida  em  1832,  de  novo  era  marcada  por 
serviços  relevantes:  sua  estreita,  que  uma  vez  as  nuvens  da 
tempestade  tinham  obscurecido,  tornava  a  scintillar  no  céo 
brasileiro,  e  o  bravo  official  ia  recebendo  o  premio  do  seu 
merecimento  nos  postos  a  que  por  direito  subia. 

Mas  não  era  sò  no  campo  da  honra  e  da  batalha  que 
Miguel  de  Frias  e  Vasconcellos  conquistava  os  foros  de 
benemérito.  O  governo  do  Estado  puz  quasi  constantemente 
em  tributo  a  sua  bella  intelligencia  e  os  seus  conhecimentos 
de  engenheiro,  assim  como  a  sua  habilidade  e  activa  soli- 

91 


-  716  - 

cilude  de  administrador,  confiando-lhe  os  importantes 
cargos  de  director  do  arsenal  de  guerra,  de  director  das 
obras  militares,  de  inspector  geral  das  obras  publicas,  que 
exerceu  por  duas  vezes,  e  de  membro  da  conmiíssão  de 
melhoramentos  do  material  do  exercito,  a  presidência  da 
qual  occupava  ainda  quando  veio  a  morte  cortar  o  fio  da  sua 
existência. 

Além  dos  variados  e  espinhosos  trabalhos  de  adminis- 
tração, que  por  passarem  despercebidos  aos  olhos  do  pu- 
blico nem  por  isso  deixam  de  ser  interessantes,  e  em  muitos 
casos  de  elevada  transcendência,  o  nosso  i  lustre  consócio 
legou  à  capital  do  Império,  como  engenheiro,  obras  que  o 
recommendaram  à  consideração  do  governo  e  à  gratidão 
do  ^ovo:  entre  outras  falia  por  todas  o  encanamento  das 
aguas  de  Maracanã,  que  salvou  especialmente  a  população 
pobre  da  calamidade  da  sede.  que  em  alguns  períodos  de 
grande  secca  se  fizera  sentir,,  e  levou  a  agua  às  portas  de 
todos,  tornando  o  Rio  de  Janeiro  uma  das  mais  notáveis 
cidades  do  mundo  debaixo  deste  ponto  de  vista- 

Os  Fluminenses  não  podiam  cerrar  os  olhos  a  tanto  me- 
recimento :  o  nome  de  Miguel  de  Frias  e  Yasconcellos, 
que  jà  uma  vez  tinha  sido  contemplado  entre  os  nove  es- 
colhidos do  povo  para  a  dilidade  da  capital,  foi  de  novo 
pronunciado  nas  vésperas  de  uma  eleição :  o  nosso  con- 
sócio, membro  constante  c  firme  do  partido  liberal,  acha- 
va-se  então,  como  os  seus  companheiros,  no  campo  da 
opposição :  embora !  as  urnas  eleitoracs  (aliaram,  e  uma 
votação  espontânea  e  numerosa  elevou  esse  digno  Brasi- 
leiro á  presidência  da  camará :  julgou-se  que  o  processo 
eleitoral  tinha  sido  viciado,  e  o  governo  declarou  nulla  a 
eleição:  embora  oulra  vez!  as  urnas  fallaram  de  novo, 
e  Miguel  de  Frias  e  Yasconcellos  obteve  ainda  maior  nu- 


—  717  — 

mero  de  votos :  estas  victorias  não  lhe  custaram  neiu  em- 
penho próprio  nem  trabalhosa  reoommendação  de  amigos: 
essa  candidatura  era  a  manifestação  eloquente  e  decidida 
de  geraes  sympathias :  em  suas  listas  o  povo  escrevia  o 
nome  de  Miguel  de  Frias  a  impulsos  do  próprio  coração. 

E  ainda  não  basta:  não  encontraremos  o  brigadeiro 
Miguel  de  Frias  e  Vasconcellos  unicamente  na  campanha 
como  soldado;  no  arsenal  de  guerra,  nas  obras  militares 
e  publicas,  como  administrador  c  engenheiro:  o  tempo 
lhe  sobrava  ainda  para  consagrar-se  aos  mais  philantro- 
picos  trabalhos. 

Na  qualidade  de  sócio,  e  depois  de  presidente  da  Impe- 
rial Sociedade  Amante  da  Instrucção.  dedicou-se  com  um 
zelo  e  com  um  amor  de  verdadeiro  catholico  ao  cuidado  e 
auxilio  da  infância  orphãa  e  desvalida  contribuindo  com 
todas  as  suas  forças  para  facilitar-lhe  a  instrucção  primaria 
e  a  educação,  doce  alimento  do  espirito,  que  deve  preparar 
nessas  innocentes  criancinhas  marcadas  pelo  sello  do  in- 
fortúnio, cidadãos  úteis  ao  estado,  e  mais  de  família  que 
honrem  a  sociedade.  Graças  em  grande  parte  à  actividade 
e  ao  systema  de  economia  que  soube  empregar,  auxiliado 
por  companheiros  muito  dignos,  o  distincto  presidente  da 
sociedade  Amante  da  Instrucção  conseguío  que  essa  bella  e 
nobre  instituição  accumulasse*iim  capital  de  100:000  ;tft. 
que  dã  segurança  real  ao  futuro  de  suas  escolas,  e  à  frente 
da  sociedade  lançou  no  morro  das  Neves  os  fundamentos 
de  um  novo  estabelecimento  destinado  à  instrucção  e  edu- 
cação dos  orphãos  desvalidos  de  ambos  os  sexos,  e  muito 
mais  conseguiria  ainda  se  não  tivesse  chegado  á  hora  ex- 
trema da  vida. 

No  grande  coração  do  brigadeiro  Miguel  de  Frias  e  Vas- 
concellos, o  amor  do  próximo,  a  caridade  avultava  tanto 


—  718  — 

como  era  notável  o  seu  de  interesse.  Um  facto  basta  para 
proval-o:  diversos  capitalistas  e  cidadãos  reconhecidos  aos 
serviços  do  nosso  illustre  compatriota  determinaram  offere- 
cer-lhe  um  presente  em  recordação  das  obras  por  elle  rea- 
lisadas  do  encanamento  das  aguas  de  Maracanã:  abriram 
para  esse  fim  uma  subscripção,  cujo  producto  elevou-se  a 
perto  de  sete  contos  de  réis.  Miguel  de  Farias  e  Vascon- 
cellos  aceitou  a  offerta  dos  ricos  em  beneficio  dos  pobres, 
eaquella  quantia  foi  levada  aos  cofres  da  Imperial  Sociedade 
Amante  da  Instrucção.  Quando  batia  jà  às  portas  do  tumulo 
convidava  com  instancia  a  um  amigo  e  parente  para  que, 
em  seu  nome  epor  sua  conta,  fosse  obter  de  um  capitalista 
dezaseis  contos  de  réis  para  a  conclusão  das  obras  do  se- 
minário daquella  mesma  sociedade,  hypothecando  em  ga- 
rantia seus  próprios  bens. 

Quem  procedia  assim  em  nome  da  caridade,  teria  proce- 
dido como  Washington  em  nome  da  pátria.  Em  ema  época 
em  que  se  ridicularisa  o  desinteresse,  em  que  se  menos- 
preza a  pobreza  honrada,  em  que  se  idolatra  o  ouro,  em 
em  que  se  chega  a  mercadejar  com  os  sentimentos,  e  a 
vender  coração  e  consiencia,  o  brigadeiro  Miguel  de  Frias 
e  Vasconcellos  avultava  esplendidamente  como  uma  repro- 
vação viva  da  immoralidade  e  da  corrupção,  e  como  um 
exemplo  magnifico  de  honrt  e  de  virtude. 

Morreu  aos  25  do  mez  de  Maio  de  1859  este  homem 
notável  e  benemérito  cidadão:  mas  o  seu  nome  ficou  inde- 
lével na  memoria  do  povo  e  no  coração  da  pátria:  legou  à 
sua  familia  pobresa,  e  â  nação  a  mais  justa  ufania  de  um 
tão  nobre  filho, 

O  brigadeiro  Miguel  de  Frias  e  Vasconcellos  era  um  mi- 
litar bravo,  severo  mas  humano:  engenheiro  hábil,  admi- 
nistrador activií^si^lu,  zeloso,  económico,  e  de  uma  hones- 


-  719  — 

tídade  que  nem  admiltia  o  sonho  de  uma  suspeita.  Probo 
como  elle;  mais  do  que  elle,  náo.  Em  politica  pertenceu 
sempre  às  fileiras  do  partido  liberal,  e  a  sua  firmeza  era 
igual  à  sua  lealdade  e  á  sua  coragem.  Amigo  provado  na 
adversidade,  coração  aberto  à  pobreza,  alma  cheia  de  cari- 
dade e  de  generosos  sentimentos,  os  seus  próprios  adver- 
sários apenas  lhe  apontavam  os  defeitos  correspondentes 
às  suas  grandes  qualidades* 

No  brigadeiro  Miguel  de  Frias  Vasconcelos  o  throno 
perdeu  um  defensor  extremo,  a  liberdade  um  palladim,  o 
povo  um  amigo,  os  pobres  um  protector,  e  o  Instituto  His- 
tórico Geographico  do  Brasil  um  dos  seus  mais  dignos 
sócios. 

Baixou  também  à  sepultura  na  capital  do  Império  o 
nosso  consócio  Joaquim  Cândido  Guilobel.  Portuguez  de 
nascimento  e  prestante  cidadáo  do  Brasil,  era  um  habit 
engenheiro  desenhista  em  um  architecto  de  merecimento: 
foi  lento  da  nossa  academia  militar,  e  gozou  sempre  da 
mais  bem  merecida  reputação. 

Na  província  de  Pernambuco  perdemos  o  nosso  consócio 
António  da  Costa  Rego  Monteiro.  Negociante  intelligente  e 
honrado,  cavalheiro  perfeito,  amigo  leal,  a  estima  publica 
de  que  era  realmente  digno,  a  firmeza  de  seus  principios 
em  politica  e  a  cotiauça  dos  eleitores  pernambucanos, 
deram-Ihe  uma  cadeira  na  camará  temporária:  no  parla- 
mento como  no  commercío,  na  sua  vida  publica  como  na 
particular  não  desmentio  jamais  o  conceito  de  um  homem 
honsto  o  delicado. 

Em  Buenos-Ayres  morreu  ainda  este  annoo  nosso  illus- 
trado  consócio  D.  Pedro  de  Angelis:  sua  vida  trabalhosa, 
e  muitas  vezes  profundamente  agitada  pelas  convulsões 
politicas  póde-se  dividir  em  duas  grandes  épocas:  a  pri- 


—  720  — 

meira  que  pertence  áhiçtoría  do  velho  mundo,  e  a  segunda, 
que  está  ligada  aos  principaes  acontecimentos  contempo- 
râneos da  America  no  Rio  da  Prata. 

D.  Pedro  de  Angelis  foi  esmeradamente  educado  em iNa- 
polés,  sua  pátria:  em  annos  de  juventude  sérvio  abi  em 
um  corpo  de  artilharia,  e  como  oíBcial  dessa  armaassistio 
ao  sitio  da  praça  de  Gaeta  debai^io  das  ordens  do  general 
Massena.  e  à  tomada  da  ilha  de  Gapri  pelo  general  La- 
marque.  Quando  se  fundou  a  escola  politechnica  foi  cha- 
iqado  a  exercer  nella  as  funcçôes  de  professor,  sendo 
depois  encarregado  da  educação  dos  íilhos  do  rei  Murat. 
Os  acontecimentos  que  vieram  quebra  o  sceptro  deste  rei 
soldado  determinaram  o  exilio  voluntário  de  D.  Pedro  de 
Angelis,  que  viajou  então  pela  Europa:  acbava-se  na 
Suissa  quando  prorompeu  a  revolU(Ç|io  de  1820  em  Nápoles, 
e  foi  pelo  novo  governo  destinado^a  occupar  o  cargo  de 
secretario  de  embaixada  em  S.  Petersburgo,  com  uma 
missão  especial  junto  aos  Soberanos  que  estavam  reunidos 
em  Troppau. 

A  restauração  da  monarchia  absoluta  de  elrei  Fernando 
I,  decretada  no  congresso  de  Laybach.  fez  retirar  o  nosso 
consócio  à  vida  privada  e  ao  mais  desvelado  cultivo  das 
lettras:  nessa  épocha  tomou  parte  em  Pariz  em  trabalhos 
muito  importantes,  e  notavelmente  na  biographia  universal 
e  dos  contemporâneos. 

Em  1826,  cedendo  às  solicitações  de  Rivadavia,  então 
presidente  das  Provincias-Unidas  do  Rio  da  Prata,  trocou 
o  velho  pelo  novo  mundo,  e  estabeleceu-se  em  Buenos- 
Ayres,  onde  por  muitos  annos  escreveu  diversos  periódicos 
como  orgâo  official  do  governo  até  a  queda  do  dictador 
Rosas. 

Sua  vasta  e  muito  esclarecida  intelligencia  comprehendeu 


-  721  - 

e  apoderou-se  rapidamente  de  todas  as  tèas  dessa  rede 
inextricável  da  politica  do  Rio  da  Prata:  nem  sempre  serviu 
as  melhores  causas;  mas  o  seu- concurso  era  de  uma  influen- 
cia poderosa.  O  talento  e  a  illustraçáo  de  D.  Pedro  de  An- 
geiis  eram  ao  mesmo  tempo  uma  lança  e  um  escudo:  de 
ambos  soube  prevalecer-se  o  celebre  Bosas,  e  teve  mesmo 
occasiáo  de  experimenta-los  contra  o  Brasil.  Em  compen- 
sação o  nosso  consócio  aproveitou  um  ensejo  feliz  para 
sustentar  os  direitos  do  império,  e  atacar  idéas  ousadas 
de  um  estrangeiro  que  contemplara  com  inveja  o  gigante 
do  Amazonas.  A  sua  Memoria  $ohrt  a  navegação  ão  Ama- 
zonas, escripta  em  resposta  ã  de  Mr.  Maury,  official  da 
marinha  dos  Estados-Unidos,  foi  um  serviço  real  prestado 
à  nossa  pátria. 

D.  Pedro  de  Angelis  deixa  numerosos  escriptos  e  me- 
morias relativas  a  historia  e  politica  dos  Estados  do  Prata, 
biographia  de  homens  notáveis  dessa  parte  da  America  do 
Sul,  além  de  muitos  outros  preciosos  trabalhos  que  alta- 
mente recommendam  o  seu  nome.  O  nosso  finado  consócio 
era  membro  de  muitas  sociedades  scientificas  da  Europa  e 
da  America;  de  unm  erudição  vastissima,  de  um  saber 
profundo,  ninguém  jamais  lhe  poderá  negaras  honras  de- 
vidas a  uma  verdadeira  notabilidade. 

Na  provincia  de  S.  Paulo  falleceu  o  nosso  estimado  con- 
sócio, o  brigadeiro  Bernando  José  Pinto  Gavião  Peixoto. 
Tinha  este  cidadão  em  sessenta  e  sete  annos  de  idade  mais 
de  quarenta  de  serviços  importantes  prestados  ao  paiz. 
Teve  por  berço  pátrio  esse  ninho  de  beneméritos,  de  que 
tanto  se  ufana  o  Brasil :  nasceu  na  cidade  de  S.  Paulo  no 
dia  17  de  Maio  de  1792 :  foram  seus  pais  o  marechal  de 
campo  José  Joaquim  da  Costa  Gavião «  D.  Maria  da  Annun- 
ciação  de  Lara  Pinto  Gavião.  Seguindo  a  carreira  das  armas 


-  722  - 

leve  logo  aos  dezenove  annos  de  provar  a  vida  trabalhosa 
e  arriscada  de  uma  campanha :  nos  campos  do  Sul  do  Im- 
pério batalhou  debaixo  do  commando  do  general  D.  Diogo 
de  Sousa,  nos  annos  de  1811  e  1812  contra  osHespanhóes. 
e  seu  peito  foi  ornado  com  a  gloriosa  medalha  que  se 
creou  para  galardoar  os  serviços  dos  officiaes  que  bem  se 
houveram  nessa  guerra. 

Na  épocha  brilhante  e  faustosa  da  nossa  independência 
encontramos  o  nosso  consócio  ligado  aos  patriotas  que  se 
immortalisaram  trabalhando  com  dedicação  e  esforço  pela 
regeneração  da  pátria :  em  1822  elle  deixa  seus  lares  e  os 
commodos  domésticos,  e  marcha  como  commandante  de 
uma  parte  da  cavallaria  de  S.  Paulo  para  sustentar  a  causa 
sagrada,  e  por  este.e  outros  serviços  é  agraciado  com  a 
commenda  da  ordem  de  S.  Bento  de  Aviz,  sendo  não 
menos  honroso  para  o  digno  brasileiro  o  facto  de  haver  o 
Sr.  D.  Pedro  I  por  occasiáo  de  conferir-lhe  essa  condeco- 
ração ajuntado  ainda  as  expressões  mais  lisongeiras,  e  que 
davam  testemunho  da  nobreza  do  seu  proceder  e  do  seu 
caracter. 

Distinguido  pela  amizade  particular  do  Sr.  D.  Pedro  I, 
o  nosso  consócio  também  o  foi  e  repetidas  vezes  pela  con- 
fiança do  povo  e  do  governo:  porque  exerceu  o  lugar 
de  presidente  da  província  de  S.  Paulo,  ainda  de  vice- 
presidente  da  mesma;  foi  honrado  com  a  nomeaçáo  de 
veador  da  imperial  camará  por  Sua  Magestade,  e  seus 
comprovincianos  reconhecidos  o  elegeram  constantemente 
membro  do  conselho  do  governo;  e  depois  do  acto  addi- 
cional  membro  da  assembléa  provincial  em  diversas  legis- 
laturas, clevando-o  durante  dous  quatrienios  ao  seio  da 
assembléa  geral. 

Uma  vida  tão  laboriosa  o  variada,  em  que  o  nosso  con- 


—  7á3  — 

sócio  appareceu  como  militar,  como  administrador  e  como 
politico,  não  ha  um  único  dia  que  lhe  deixasse  um  remorso: 
pertencendo  às  fileiras  de  um  partido  politico,  seus  pró- 
prios adversários  nunca  pensaram  em  negar  lhe  o  alto  me- 
recimento de  suas  virtudes:  e  se  o  seu  nome  foi  menos  vezes 
repetido  nos  acontecimentos  da  nossa  época,  é  que  a  sua 
modéstia  o  escondia  aos  louvores  e  à  gratidão  dos  con- 
temporâneos. 

Pai  de  familia  extremoso  e  honrado,  amigo  de  uma  lealdade 
provada  e  inabalável,  honrado  e  perfeito  cavalheiro,  cidadão 
que  esqueceu  sempre  os  próprios  interesses  para  attender 
antes  de  tudo  e  sobretudo  ao  interesse  publico,  o  brigadeiro 
Bernardo  Josó  Pinto  Gavião  Peixoto  deixou  um  nome  sem 
mancha  e  uma  reputação  intacta. 

A  hora  de  seu  passamento  foi  digna  de  sua  vida  cheia  de 
acções  meritórias:  morreu  como  devem  e  podem  morrer 
os  bons:  morreu  plácido  e  sereno,  o  como  saudando  a  eter- 
nidade dos  justos,  onde  lhe  esperava  o  premio  de  suas 
virtudes. 

Também  pagou  este  anno  o  tributo  da  morte  o  venerando 
Nicolào  Pereira  de  Campos  Vergueiro,  nosso  illustrado  e 
respeitável  consócio. 

O  nome  deste  inclyto  varão  está  escripto  nas  paginas 
mais  gloriosas  da  nossa  historia  contemporânea:  a  posteri- 
dade terá  de  marcar-lhe  um  lugar  nobre  e  distincto  entre 
os  mais  beneméritos  patriotas  do  império  diamantino. 

O  Brasil  não  foi  a  terra  do  seu  berço;  foi  porém  a  pátria 
que  elle  adoptou  de  coração,  e  a  que  serviu  com  a  fide- 
lidade, a  dedicação  e  o  amor  profundo  do  filho  mais  ex- 
tremoso. 

Era  um  vulto  grandioso,  um  dos  últimos  representantes 
dos  nossos  tempos  heróicos,   um  dos  fortes  capitães  da 

92 


i 


^  724  -- 

guerra  santa  da  independência,  em  que  foi  chefe  um  piin- 
cipe  magnânimo,  e  exercito  a  nação  inteira,  que  se  levantou 
briosa  e  enthusiasmada  para  conquistar  a  liberdade  e  a  sua 
regeneração  politica:  foi  um  dos  architectos  do  monumento 
sublime  do  Ypiranga,  e  ainda  depois  desde  1822  até  1859 
um  dos  firmes  mantenedores  do  governo  constitucional  do 
Brasil. 

Nesse  longo  periodo  de  trinta  e  oito  annos,  em  que  tantos 
-e  láo  notáveis  acontecimentos  políticos  se  passaram  e  obras 
tão  grandes  foram  realisadas,  não  ha  talvez  um  só  episodio 
importante  desse  immeuso  drama  em  que  se  possa  esquecer 
o  nome  illustre  de  Vergueiro.  Homem  de  três  épocas,  com 
Q  mesmo  caracter  e  com  os  mesmos  princípios  em  todas 
cilas,  com  a  mesma  coragem,  com  a  mesma  decisão  e  a 
mesma  lealdade  em  todas  as  situações  e  circumstancias, 
elle  foi  o  denodado  companheiro  dos  Andradas,  Rocha. 
Januário,  Ledo,  Lisboa,  e  tantos  outros,  na  cruzada  patrió- 
tica da  independência;  foi  o  alliado  fiel  e  prestigioso  dos 
Feijó,  Evaristo,  Paula  e  Sousa,  Vasconcellos,  Lino  Couti- 
nho, Honório  nas  lutas  difiQceis  que  se  seguiram  à  revolução 
de  7  de  Abril  de  1831,  e  foi  ainda  o  amigo  fiel  e  co-religio- 
nario  distincto  de  todos  esses  jovens  ou  novos  estadistas 
que  vieram  reunir-se  a  elle  à  sombra  da  bandeira  que  foi 
sempre  sua,  e  a  que  nunca  voltou  o  rosto  nem  se  fuitou  á 
defeza. 

A  vida  do  conselheiro  Nicoláo  Pereira  de  Campos  Ver- 
gueiro foi  longa,  trabalhosa,  e  muitas  vezes  abalada  pela 
violência  das  tempestades  politicas:  mas  acabou  sem  uma 
leve  nódoa  que  pudesse  manchar  a  alvura  de  sua  virtude: 
impávido  e  calmo  no  meio  das  mais  assombrosas  tormentas 
seguia  nesse  encapelado  e  terrível  oceano  o  rumo  traçado 
por  sua  consciência,  e  a  borrasca  serenava  emfim,  e  a  sua 


—  7á5  — 

rida  brilhava  a  todos  os  olhos  com  a  pureza  do  mais  bellii 
céo  em  dias  da  mais  completa  bonança. 

Nicoláo  Pereira  de  Campos  Vergueiro  nasceu  aos  20  de 
Dezembro  de  1778  na  freguczia  de  S.  Vicente  Ferrer  do 
lugar  de  Valporto.  termo  naquella  data  da  cidade  de  Bra- 
gança no  reino  de  Portugal. 

Destinando-seá  carreira  das  lettras,  seguio  estudos  regula- 
res, e  em  1801  tomou  na  universidade  de  Coimbra  ográode 
bacharel  em  direito  civil:  no  anno  seguinte  passou  ao  Brasil, 
e  est3belecea-se  na  província  de  S.  Paulo,  onde  começou  a 
exercer  a  advocacia.  Pouco  tempo  depois  casou-se  com  D. 
Maria  Angélica  de  Vasconcellos,  filha  do  capitão  José  Aq- 
drade  de  Vasconcellos.  senhora  de  uma  virtude  exemplar. 

O  joven  advogado  trazia  da  Europa  as  novas  idéas  que  a 
revolução  franceza  espalhava  pelo  velho  mundo  :  a  guilho- 
tina dos  terroristas  afogava  em  sangue  a  republica  da 
França:  mas  náo  pudera  afogar  os  princípios  liberaes  que 
germinavam  em  quasi  todos  os  paizes  e  em  todos  os  cora- 
ções generosos.  A  noticia  da  revolução  que  em  1820  re- 
bentara em  Portugal  teve  um  éco  na  província  de  S.  Paulo, 
e  nomeando-se  ahi  um  governo  provisório  foi  chamado  a 
tomar  parte  nelle  Nicolâo  Pereira  de  Campos  Vergueiro, 
que  jà  tinha  abandonado  a  advocacia,  e  se  achava  em  Peri-^ 
picaba,  onde  com  notável  intelligencia  fundara  e  desenvol- 
via o  seu  primeiro  estabelecimento  agrícola. 

Vergueiro  acudio  á  voz  do  povo,  dizendo:  c  Náo  sei 
como  me  sahirei;  mas  embora  fique  mal  com  todos,  bei  de 
ficar  bem  com  a  minha  consciência.  »  Estas  palavras,  que 
elle  pronunciou  ao  entrar  no-  governo  provisório  de  S. 
Paulo,  revelam  o  segredo  de  toda  a  sua  vida  politica,  que 
consistio  sempre  em  um  voto  de  abnegação,  e  em  um  pro- 
ceder consciencioso  e  integro. 


—  726  — 

Deputado  á  constituinte  de  Lisboa  pelo  voto  espontâneo 
dos  eleitores  paulistas,  Vergueiro  testemunha  a  lucta  que 
começa  a  Iravar-se  entre  o  Brasil  e  Portugal,  e  não  hesita 
no  partido  que  deve  seguir:  a  causa  do  Brasil  era  a  causa 
da  justiça,  e  sua  pátria  não  era  mais  a  terra  em  que  nascera, 
era  a  terra  que  o  nutria,  que  lhe  dera  uma  esposa,  e  onde 
nasciam  seus  filhos:  era  a  terra  dos  mais  apertados  e  doces 
laços  do  coração.  A  vacillaçâo  não  estava  no  caracter  de 
Vergueiro:  dccide-se  promptamente.  Nomeado  nas  cortes 
de  Lisboa,  a  que  se  apresentara  em  Fevereiro  de  1822. 
para  a  commissão  politica  dos  negócios  do  Brasil,  ofifereceu 
eUe  um  voto  em  separado  que  mereceu  a  honra  de  ser  com- 
batido por  considerar-se  a  proclamação  mais  enérgica  da 
independência.  Logo  depois  negou-se  assignar  a  constitui- 
ção portugueza,  porque  nella  tinham  sido  desattendidos 
os  interesses  e  os  direitos  do  Brasil. 

Consumada  a  obra  magestosa  do  Ypiranga,  Vergueiro 
volta  á  sua  pátria  adoptiva,  e  como  deputado  toma  assento 
na  constituinte  brasileira  ;  ahi  assume  uma  posição  franca 
e  bem  manifesta  entre  os  liberaes  ;  e  dissolvida  a  consti- 
tuinte, é  preso  com  outros  representantes,  e  conduzido  à 
fortaleza  de  Santa  Cruz ;  não  contemplado  no  exilio  que 
coube  aos  Andradas  e  a  outros,  Vergueiro  apenas  se  lhe 
abrem  as  portas  da  prisão ,  acolhe -se  ao  remanso  e  aos 
gozos  suaves  da  vida  domestica. 

Em  breve  seus  concidadãos  o  chamam  de  novo  à  arena 
politica:  deputado  á  assembléa  legislativa  e  proposto  a 
senador  pelas  provindas  de  S.  Paulo  e  Minas-Geraes,  toma 
assento  na  camará  temporária,  e  apresenta  ao  paiz  o 
exemplo  da  mais  inabalável  firmeza  de  principios:  em 
1828  é  de  novo  proposto  a  senador  pela  província  de  Minas, 
e  a  escolha  do  monarcha  v?J  encontra-lo  quasi  moribundo 


■% 


—  iá7  — 

em  consequência  de  umi  congestão  cerebral :  sua  robiislai 
natureza,  os  interessantes  e  admiráveis  cuidados  de  uma 
esposa  modelo,  e  os  desvelos  de  amigos  dedicados  e  de 
ura  medico  habilissimo,  conseguem  arranca-lo  á  morte  e 
conserva-lo  à  pátria. 

Em  1831  é  o  senador  Vergueiro  um  dos  signatários  da 
famosa  representação  assignada  e  dirigida  no  dia  17  de 
Março  ao  Sr.  D.  Pedro  I  por  vinte  e  três  membros  da 
assembléa  geral,  e  no  dia  7  de  Abril  os  senadores  e  depu- 
tados existentes  na  corte  reunidos  extraordinariamente  no 
paço  do  senado  elegem  umi  regência  provisória,  e  nella 
contemplam  Nicolào  Pereira  de  Campos  Vergueiro,  que 
symbolisava  todo  o  pensamento  liberal,  e  era  o  centro  das 
sympathias  do  povo.  O  Sr.  D.  Pedro  I  tinha  abdicado:  a 
tropa,  fraternisando  com  o  povo,  estava  em  armas;  as 
offensas  das  noites  de  Março  podiam  despertar  idéas  do 
vingança;  o  liberalismo  vittorioso  ameaçava  arrojar-so  em 
calamitosos  extremos:  a  crise  era  tremenda:  honra  porém 
seja  feita  aos  extremos  chefes  do  partido  vencedor :  a 
ordem  foi  mantida,  a  anarchia  esmagada,  e  o  throno  cons- 
itucional.  sobre  o  qual  se  mostrava  quasi  no  berço  o  Sr. 
D.  Pedro  II  foi  sustentado  pelo  génio  da  liberdade  que 
velou  por  elle  para  a  integridade,  esplendor  e  gloria  da 
nação  Brasileira. 

Foi  uma  épocha  essa  de  trabalhos  hercúleos  e  de  luctas 
violentas ;  mas  então  os  partidos  tinham  fé  em  seus  chefes, 
o  patriotismo  era  uma  realidade,  a  confiança  do  povo  não 
esmorecia,  e  o  desinteresse  e  a  abnegação  de  muitos  esta- 
distas dava  ao  governo  toda  a  força  da  virtude.  O  Brasil 
foi  salvo,  a  monarchia  constitucional  triumphou,  e  um  dos 
cidadãos  que  mais  contribuio  para  essa  obra  de  sabedoria, 
um  dos  pilotos  que  mais  constante  lidou  para  livrar  de  um 


—  728  - 

naufrágio  a  náo  do  EstaJo,  foi  o  senador  Nicolào  Pereira 
de  Campos  Vergueiro,  jà  na  regência  provisória,  já  no  se- 
nado brasileiro,  e  ainda  em  1833  como  membro  de  om 
ministério. 

Em  ÍHàO  o  nosso  illustrarlo  consócio  sustentou  a  causa 
da  maioridade,  que  triumphou,  e  deu  principio  a  uma 
nova  épocha  para  o  Brasil. 

Em  1841,  S.  M.  o  Imperador  o  Sr.  D.  Pedro  II,  por 
occasião  de  sua  coroação,  agraciou  o  illustre  Vergueiro 
com  a  grâ-cruz  da  ordem  do  Cruzeiro. 

Em  1842  o  distincto  chefe  liberal  achou-se  compromettido 
na  revolta  que  rebentara  em  S.  Paulo.  Apesar  de  retirado 
em  sua  fazenda,  fez-se  também  recahir  sobre  elle  a  res- 
ponsabilidade desse  lamentável  acontecimento ;  mas  o  se- 
nado reconheceu  a  sua  innocencia,  julgando  improcedente 
o  processo  que  se  lhe  formara. 

Em  1847,  jà  abatido  pelos  annos  e  pelas  moléstias,  foi 
o  nosso  illustrado  consócio  chamado  ao  governo,  e  occupon 
a  pasta  da  justiça. 

Dessa  data  em  diante  o  conselheiro  Nicoláo  Pereira  de 
Campos  Vergueiro  foi  pouco  a  pouco  retirando-se  dos  cer- 
tames parlamentares  e  das  luctas  politicas.  E'  certo  que  de 
longe  em  longe  o  venerando  ancião  mostrava-se  ainda  na 
tribuna  da  camará  vitalicia,  e  sua  voz  grave  e  generosa 
deixava  ouvir  um  protesto  a  favor  dosystema  constitucional 
e  dos  direitos  do  povo ;  mas  o  velho  guerreiro,  descan- 
sando dos  longos  e  porfiados  combates  do  passado,  deixava 
quasi  sempre  a  arena  politica  aos  novos  paladins  do  parla- 
mento :  náo  que  a  fadiga  e  a  idade  lhe  tivesse  feito  arre- 
fecer o  amor  da  pátria ;  não,  que  ainda  por  ella  trabalhava. 

Comprehendendo  que  a  mais  grave  das  nossas  questões 
da  actualidade  e  do  futuro,  que  o  mais  dififlcil  problema  a 


m 


—  729  — 

resolver  no  Brasil  é  a  colonisação,  e  que  desse  problema 
depende  a  sua  prosperidade  e  a  sua  riqueza.  Vergueiro 
consagrou  seus  últimos  annos  ao  estudo  e  à  experiência 
dos  diversos  systemas  de  colonisaçáo,  e  foi  um  dos  pri- 
meiros que  praticamente  demonstrou  os  proveitos  immensos 
que  delia  se  pôde  colher. 

Mas  as  enfermidades  o  acabrunhavam;  a  morte  de  sua 
virtuosa  esposa  enegrecera  para  sempre  os  horizontes  de 
sua  yida ;  e  o  venerando  ancião,  depois  de  ter  completado 
oitenta  annos  de  idade,  não  pôde  resistir  a  um  terceiro 
ataque  de  febre  cerebral,  expirou,  e  hoje  dorme  para  sempre 
na  terra  que  amou  com  tanto  ardor. 

O  homem  não  pôde  ser  eterno:  a  morte  é  inevitável,  e 
uma  vida  de  oitenta  annos  jà  é  um  grande  favor  de  Deos  : 
mas  estas  considerações  não  suffocam  a  dôr  nem  minoram 
a  saudade. 

Nicoláo  Pereira  de  Campos  Vergueiro,  velho  e  tremulo, 
com  a  sua  nobre  cabeça  coroada  pela  neve  dos  annos,  com 
o  seu  corpo  dobrado  pelo  peso  da  idade,  era  auida  assim 
incansável  no  serviço  do  paiz:  e  o  povo  se  ufanava  de  ve-lo, 
mostrava-o  ao  estrangeiro  que  chegava  ao  Brasil,  mos- 
trava-o  aos  jovens  que  encetavam  a  carreira  publica;  mos. 
trava-o,  porque  Vergueiro  era  uma  gloria  nacional. 

Tão  honesto  na  vida  privada,  como  probo  e  integro  na 
publica,  o  conselheiro  Nicolào  Pereira  de  Campos  Ver- 
gueiro era  um  homem  illustrado,  e  modesto;  na  camará 
temporária  e  no  senado  gosou  reputação  de  orador  grave  e 
lógico;  no  governo,  que  aliás  nunca  procurou,  foi  sempre 
desinteressado,  justo  e  vigoroso. 

Atravessou  épochas  difiiceis  e  tormentosas,  mas  era  om 
homem  de  convicções,  e  por  isso  nunca  abandonou  o  seu 
posto  nem  recuou  diante  da  responsabilidade  de  suas  idéas 


—  730  ^ 

e  ainda  menos  de  seus  actos.  Às  reacções,  as  borrascas 
politicas  toldavam  o  horizonte  do  paiz,  bramiam  sobre  sua 
cabeça ;  elle  porém,  inabalável  como  o  rochedo  no  meio 
do  oceano ;  zombava  dos  furacões  e  da  tempestade. 

Vergueiro  foi  um  verdadeiro  typo  da  firmeza  politica. 

Victor  Hugo  observa  que  não  é  um  bom  elogio  o  dizer- 
se  de  um  homem  que  sua  opinião  politica  não  se  modificou 
no  espaço  da  quarenta  annos.  Que  é  isso  o  mesmo  que 
dizer  que  para  esse  homem  não  houve  reflexão  nem  ex- 
periência. 

Longe  estamos  de  condemnar  a  lealdade  e  a  consciência 
com  que  o  homem  publico,  abafando  seu  orgulho,  reco- 
nhece que  sua  opinião  era  um  erro,  e  abraça  francamente 
a  dos  adversários  que  combatera.  Ha  neste  proceder  digni- 
dade e  honra,  e  o  homem  se  exalta  elevando-se  ã  altura  da 
verdade;  mas  póde-se  bem  conservar  uma  vida  inteira  con- 
vicções profundas,  e  não  ter  que  modifica-las  nunca  em 
suas  idéas  essenciaes.  Exemplo  disso  é  o  próprio  conse- 
lheiro Nicaláo  Pereira  de  Campos  Vergueiro,  e  tanto  mais 
respeitável  e  digno  da  consideração  publica  se  tomava  de- 
baixo desse  ponto  de  vista,  quanto  é  certo  que  a  fé  politica 
não  é  hoje  uma  virtude  fácil  de  enconlrar-se,  e  que  são 
raras  essas  convicções  inabaláveis,  como  são  poucos  os 
cidadãos  beneméritos  da  ordem  do  nosso  finado  consócio  o 
conselheiro  Nicoláo  Pereira  de  Campos  Vergueiro. 

Honra,  pois,  á  memoria  desse  illustro  veterano  da  in- 
dependência! 

Cumpre-nos  agora,  senhores,  e  por  ultimo,  contemplar 
um  vulto  immenso,  que  ainda  ha  poucos  mezes  era  a  gloria 
viva  e  pomposa  da  nossa  geração,  e  que  hoje  pertence  ao 
passado ;  cumpre-nos  fallar  de  um  homem  que  era  o  mais 
brilhante  pharol  dascicncia,  c  que  ficará  sendo  na  historia 


—  731  — 

uma  das  ufanias  do  nosso  século.  Morreu  longe  de  nós, 
mas  o  annuncíodasua  morte  levou  o  luto  aos  pontos  mais 
afastados  da  terra.  Era  um  homem  que  tinha  nascido  nas 
margens  do  Sprée,  e  que  de  direito  veio  a  pertencer  a  todas 
as  nações  do  mundo;  era  um  ente  privilegiado,  para  quem 
pareceu  pequeno  o  nosso  planeta,  e  fallou  aos  mundos  que 
gyram  no  espaço  depois  de  ter  descido  às  profundezas  da 
terra,  e  esmerilhado  os  segredos  de  suas  entranhas.  Era  um 
verdadeiro  sábio,  náo  o  representante  venerando  de  uma 
ou  de  outra  sciencia:  era  mais  do  que  isso,  era  a  encyclo- 
pedia  do  século  XIX. 

Esmaga-nos  a  reputação,  o  merecimento  e  o  nome  deste 
grande  homem:  sua  biographia  deve  ser  a  obra  dos  sábios 
que  o  puderem  igualar,  e  que  pelo  menos  delle  se  aproxi- 
marem: nosso  espirito,  não  podendo  envia-lo  sufficiente- 
mente,  apenas  o  admira:  nossa  boca,  não  podendo  consa- 
grar-lhe  todos  os  merecidos  louvores,  limitar-se-ha  a 
pronunciar  o  seu  nome,  e  a  marcar  algumas  das  muito  im- 
portantes datas  de  sua  longa  e  fructuosissima  vida. 

O  progresso  espantoso  dos  acontecimentos  humanos  no 
século  XIX,  se  patentêa  evidente  a  todos  os  olhos:  a  nossa 
época  ostenta  o  poder  da  intelligencia  em  proporções 
gigantescas  e  desconhecidas  nas  precedentes  idades. 

E,  como  diz  Victor  Hugo,  o  século  dos  milagres  da 
sciencia,  que  faz  do  vapor  um  cavallo.  da  pilha  de  Volta  um 
obreiro,  do  fluido  eléctrico  um  correio,  do  sol  um  pintor; 
que  abre  sobre  os  dous  infinitos  essas  duas  janellas,  o  te- 
lescópio sobre  o  infinitamente  grande,  e  o  microscópio  sobre 
o  infinitamente  pequeno,  e  encontra  no  primeiro  abysmo 
astros,  e  no  segundo  abysmo  insectos  que  lhe  demonstram 
Deos;  supprime  o  tempo,  supprime  o  espaço,  supprime  a 
dor;  escreve  uma  carta  de  Pariz  a  Londres,  e  recebe  à 

93 


i 


-  73a  — 

resposta  em  dez  minutos;  afmputa  a  perna  de  um  homem, 
6  o  homem  canta  e  ri. 

Aproveítando-se  de  todos  os  trabalhos,  de  todas  as  des- 
cobertas dos  séculos  anteriores,  o  nosso,  diz  um  outro 
escriptor  francez,  aspira  a  fazer  marchar  com  o  mesmo 
passo  todas  as  categorias  da  sciencia;  tende  a  uni«las  em 
uma  synthese  poderosa,  da  qual  elle  se  serve  como  de  uma 
aiavanca  para  mover  o  mundo.  E' sim  um  fim  determinado, 
mas  não  é  precisamente  um  fim  especial  que  tem  em  vista. 
Háoé  como  no  XV  século,  por  exemplo,  a  descoberta  de 
regiões  ignotas  que  elle  presente  e  prepara;  melhor  do  que 
isso,  é  a  submissão  completa  da  matéria,  é  a  exploração»  o 
conhecimento,  a  possessão  do  globo  inteiro,  é  de  algum 
modo  o  aniquilamento  do  espaço  e  do  tempo,  o  domínio 
dos  ares,  da  terra  e  das  aguas,  que  parecem  o  alvo  de  seus 
audaciosos  esforços. 

Em  épocas  de  uma  actividade  ^cientifica  tâo  pronunciada, 
e  tujos  fortes  empenhos  tão  variados  convergem  todos 
para  um  fim  tão  grandioso,  são  indispensáveis  espíritos 
vastos  para  abarcar  de  uma  vista  d'olhos  a  ímmensídade  de 
todo  esse  movimento,  para  coordenar,  comparar,  fecundar 
os  resultados  obtidos,  e  actuar  ora  sobre  um,  ora  sobre 
outro,  e  emfun  sobre  todos  os  pontos  com  uma  força  pró- 
pria engrandecida  com  as  forças  de  todos. 

A  sciencia  contemporânea  conta  felizmente  alguns  desses 
interpretes  admiráveis,  desses  homens  universaes,  dessas 
cabeças  encyclopedicas;  mas  nessa  família  de  Alcides  da 
sabedoria,  de  monumentos  animados  da  intelligencia  hu- 
mana, distinguia-se  como  o  astro  mais  luminoso  o  vene- 
rando Alexandre  de  Humboldt,  que  o  Instituto  Histórico  e 
Geographico  do  Brasil  se  ufanava  com  razão  de  contar 
entre  seus  membros. 


% 


—  733  — 

Mas  cumpre  dizé-io,  se  os  triumphos  do  grande  Hum- 
boldt  foram  quasi  todos  alcançados  no  nosso  século,  é  ao 
século  passado  que  cabe  a  honra  do  seu  niscimento.  Este 
homem  extraordírario  teve  por  berço  a  cidade  de  Berliiii, 
que  já  se  ufanava  áe\  tèlo  sido  também  de  Frederico  o 
Grande,  Baungartin,  de  Frederico  Anciilon,  de  Ganitz  e 
Tieck. 

Presidio  ao  seu  nascimento  a  estrella  dos  conquistadores. 
A  natureza,  em  um  destes  esforços  que  não  se  repetem 
muitas  vezes  no  correr  dos  séculos,  produziu  em  um 
mesmo  anno  dous  génios,  que  deviam  encher  o  mundo  com 
a  fama  de  seus  assombrosos  triumphos. 

Em  1769  Napoleão  Bonaparte  nascera  a  15  de  Agosto 
em  Ajaccio,  e  um  mez  depois,  a  14  de  Setembro,  nascia 
Alexandre  Ilumboldt  em  Berlin. 

Dous  gigantes  que  tinham  de  realizar  emprezas  im- 
menssas;  dous  conquistadores  homéricos  que  deviam 
marchar  por  caminhos  oppostos,  e  immortalisar-se  por 
victorias  admiráveis,  mas  de  natureza  diversas.  Qual  delles 
o  maior?.,  qual  dos  dous  o  mais  potente?  A  sua  força  e  o 
seu  génio  estão  nas  obras  que  deixaram  e  nas  proezas  que 
obraram. 

Em  qualquer  dos  dous  a  intelligencia  feliz  e  o  talento 
miraculoso  se  annunciaram  desde  os  primeiros  annos;  mas 
as  tendências  oppostas  os  afastaram  um  do  outro;  e  em 
quanto  as  escolas  militares  de  Brienne  e  de  Pariz  prepa- 
ravam  o  vencedor  de  Austerlitz,  as  universidades  de  Berlin 
de  Gotingue,  de  Francfort  sobre  o  Oder,  a  escola  especial 
de  commercio  de  Busching,  a  escola  das  minas  de  Fr^her 
amestravam  o  conquistador  do  (^límboraso. 

Na  leitura  dos  heróes  Plutarco  e  nas  flammas  ardentes 
do  volcão  revolucionário  da  França,  tempéra-se  a  alma  do 


—  734  — 

grande  guerreiro  do  século;  a  contemplação  da  natureza,  a 
habitação  em  montanhas  afastadas  do  oceano,  que  se  fazia 
desejar  em  uma  época  da  existência  em  que  a  vida  parece  um 
korixonte  sem  limites  o  estudo  das  sciencias  naturaes,  uma 
rápida  viagem  pe!a  HoUanda,  Inglaterra  e  França  na  com- 
panhia de  George  Forster.  que  com  o  capitão  Cook  fizera 
a  circumnavegação  do  globo,  inspiram  ao  barão  Alexandre 
de  Humboldt  a  idéa  de  uma  viagem  às  bellas  regiões  da 
zona  tórrida. 

Os  dous  génios  sentem  que  se  engrandecem. 

Em  1790  Bonaparte  applaude  a  primeira  arvore  da  li- 
berdade que  se  planta  em  Visile,  e  saúda  a  revolução  que 
ha  de  abrir-lhe  o  caminho  para  chegar  ao  throno;  e  no 
mesmo  anno  Humboldt  publica  a  sua  primeira  obra  Obser^ 
vações  sobre  os  basaltos  do  Rheno  que  lhe  franqueia  as  portas 
do  recinto  dos  sábios. 

Em  1793  Napoleão  lança  a  primeira  pedra  do  monumento 
da  sua  gloria  em  Toulon;  e  no  mesmo  anno  Humbodt 
depois  de  submergido  dous  annos  no  seio  das  minas  de 
Freyberg.  que  tinhm  de  ser  cantadas  mais  tarde  pelo  poeta 
Kcerner,  descobre  os  segredos  da  vegetação  que  se  opera 
nas  cavidades  onde  não  penetra  a  luz  do  dia,  e  dá  ao  mundo 
sábio  a  sua  segunda  obra  Specimen  Flora  subterranece  Fri- 
bergensis  que  vem  firmar  a  sua  reputação  de  naturalista. 

Era  1796  Napoleão  commanda  o  exercito  da  Itália,  e  vai 
immortalisar-se  em  uma  campanha  admirável,  e  no  mesmo 
anno  Humboldt  publicava  a  sua  terceira  obra  sobre  o  gaU 
vaniemo  em  geral  e  sobre  a  irritação  nervosa  e  muscular  dos 
animaes,  que  veio  a  dar  novo  brilho  á  bella  descoberta  de 
Galvani  sobre  a  electricidade  por  contacto;  e  emquanto 
Bonaparte  marchava  de  victoria  em  victoria,  também  elle 
operava  conquistas  scientificas  nessa  mesma  Itália,  na 


—  735  - 

Sicília,  na  Suissa,  em  Vienna»  e  com  Leopoldo  de  Buchnos 
cantões  montanhosos  e  agrestes  do  paiz  de  Saltzbovrg  e  da 
Styria,  e  ia  parar  diante  dos  Alpes  do  Tyrol.  onde  ribon- 
bava  a  artilharia. 

Assim,  pois,  o  guerreiro  e  o  sábio  tinham  já  as  frontes 
ornadas  de  louros,  e  proseguiam  ambos  cada  um  para  seu 
lado,  cada  qual  para  a  sua  gloria. 

Em  1799  Napoleão  atravessa  o  Mediterrâneo,  e  deixa  o 
Egypto  para  chegar  a  Pariz  e  subir  ao  consulado;  e  no 
mesmo  anno  Humbodt,  que  tem  passado  a  Hespanha, 
deixa  as  suas  praias,  e  atravessando  o  Atlântico,  desem- 
barca primeiro  nas  Canárias,  escapando,  como  general 
francez,  aos  navios  da  Inglaterra. 

Na  Europa  o  novo  César  conquista  províncias  para  a 
França  e  um  reino  para  si :  conta  suas  marchas  por  victo- 
rías;  vence  em  Marengo,  em  Ulm,  em  Austerlitz;  triumpha 
de  dous  Imperadores,  elle  que  também  jà  é  Imperador,  e 
se  ostenta  aos  olhos  do  mundo  no  zenith  do  seu  poder  e 
da  sua  grandeza:  o  ao  mesmo  tempo  Humboldt  começa  e 
leva  ao  íim  uma  excursão  de  cinco  annos  e  de  9,000  léguas, 
conquista  para  a  geographia,  para  a  historia  e  para  as  scien- 
cias  naturaes  o  novo  mundo,  completa  e  patentèa  em  toda 
a  sua  belleza  e  opulência  a  descoberta  de  Christovão  Co- 
lombo: nada  escapa  a  seus  olhos  de  sábio,  nada  à  sua  am- 
bição de  conquistador  da  civilisação  e  do  progrosso  dos 
conhecimentos  humanos;  elle  apresenta  á  Europa  o  quadro 
da  America  sob  o  ponto  de  vista  da  topographia,  da  phy- 
sica,  da  geologia,  da  botânica,  da  astronomia,  da  zoologia, 
e  do  estado  moral  e  politico  dos  seus  habitantes. 

Durante  muitos  mezes  visita  a  costa  de  Paris,  as  missões 
dos  Índios  Ghaymas,  a  Nova-Andaluzia,  a  Nova-Barcelona» 
Venezuela  e  a  Guyana  hespanhola,  chega  aos  vales  d'Ara* 


-  736  - 

gua,  depois  ás  praias  do  mar  das  Anliibas ,  marcha  de 
Porto-Cjibello  até  o  Equador,  atravessando  as  planícies  de 
Calaboso,  d'Âpura,  e  dos  Ltianos:  os  indíos  Caraíbas  o  reem 
passar,  a  Jamaica  e  Cuba  o  recebem  em  seu  seio:  descansa 
em  Quito  de  cinco  mezes  de  fadigas,  saúda  a  terra  das  altas 
montanhas  e  dos  volcões  tremendos,  investiga  a  cratera  do 
volcáo  de  Pechincha,  e  sobe  aos  cumes  nevados  do  Ântisana 
e  do  Cotopaxi:  vai  além,  e  tenta  disputar  aos  condores  o 
immenso  Chin^raso;  águia  da  sciencia,  desprendeu  o  võo 
e  chega  ac>  pico  orienta^  o  mais  elevado,  a  23  de  Junho  de 
1802,  e  estende  suas  vistas  pela  immensidade  da  terra» 
elle,  o  rei  do  desertOr  sentado  n'um  throno  de  granito  a 
19,500  pjs  acima  do  nível  do  mar,  e  a  3,485  pés  acima  do 
ponto  a  que  chegara  La-Condamine  em  17^5.  Depois  de 
visitar  a  mais  alta  daquellas  montanhas,  diríge-se  para  o 
maior  dos  rios;  desce  ao  Peru  pelo  dorso  dos  Andes,  chega 
a  Lima»  vai  ao  México,  e  explora  os  antigos  domínios  de 
Montezuma,  passa  a  Havana,  d'ahí  a  Philadelphia,  estuda  a 
America  septentrional,  e  em  fim,  carregado  de  mil  tbesou- 
ros  de  sciencia,  desembarca  em  França  em  180i. 

E  o  sábio  sobrevive  ao  guerreiro.  Fontainebleau  e  a 
ilha  d'Elba,  Waterloo  e  Santa  Helena  já  pertenciam  à  his- 
toria, e  ainda  Humboldt  ousava  effectuar  novas  conquistas: 
em  1829  e  aos  60  annos  de  idade  emprehende  sob  os  aus^ 
picios  do  governo  da  Rússia  uma  outra  empreza  gigantesca 
e  ousada:  é  uma  nova  viagem  em  que  elle  vai  caminho  da 
Sibéria  e  do  mar  Caspio,  vence  o  Ural,  chega  a  Tobolsk,  ao 
paiz  dos  Mongoes,  visita  os  Kirghsk  os  Kalmonkos,  e  As- 
trakan,  volta  pelas  terras  dos  Cossacos  do  Don  a  Moscow, 
e  saúda  S.  Petersburgo  a  13  de  Novembro  de  1829,  depois 
de  ter  feito  em  menos  de  um  anno  uma  excursão  de 
2,  li2  léguas. 


-  737  — 

k  missão  do  guerreiro  tinha  sido  mais  estrondosa, 
porém  mais  breve:  em  1S15  Deos  lhe  disse:  Basta!  e 
Santa  Helena  foi  o  tumulo  que  recebeu  o  heróe  ainda  vivo. 
A  missão  do  sábio  durou  noventa  annos,  e  desses  noventa, 
sessenta  e  nove  deram  fructos  que  serio  apreciados  pelos 
séculos  futuros,  como  já  o  s5o  no  presente. 

Humboldt  foi  o  interprete  sublime  das  grandes  obras  de 
Deos :  fallou  aos  mundos  que  gyram  no  espaço,  fallou  aos 
oceanos,  fallou  as  cordilheiras  e  às  entranhas  da  terra,  e 
em  toda  parte  descobrio  riquezas  e  thesouros.  Emquanto 
Napoleão  conquistava  os  reinos  da  Europa,  Humboldt  fazia 
conquistas  nos  três  grandes  reinos  da  natureza;  emquanto 
o  primeiro  dictava  códigos  para  os  homens,  o  segundo  en- 
sinava as  leis  de  Deos,  arrasando  os  mysterios  da  creação 
universal.  Napoleão  marcava  coma  ponta  do  seu  gladio 
novos  limites  aos  paizes,  e  revolucionava  a  geographia  po- 
litica ;  Humboldt  enriqueceu  a  geographia  astronómica  e 
physica  determinando-Ihe  regras  que  a  diplomacia  e  a 
guerra  não  tem  o  poder  de  destruir.  Napoleão  toldava  os 
horizontes  do  futuro;  Humboldt  os  esclareceu,  assim  como 
encheu  de  luz  o  passado,  dissipando  espessas  duvidas  que 
o  obscureciam.  Napoleão  emfim  victoriava  a  França  no  fim 
de  cada  uma  de  suas  victorias,  e  Humboldt  victoriava  o 
mundo,  a  humanidade,  a  natureza,  Deos,  quando  um  bello 
triumpho,  uma  descoberta,  um  principio  novo  coroava  suas 
fadigas  e  seus  trabalhos.  Milhões  de  homens  mal  disseram 
do  guerreiro ;  o  mundo  inteiro  venerou  e  abençoou  o  sábio; 
por  elle  foi  um  abundante  foco  de  sciencia,  e  os  raios  de 
sua  laz  chegaram  a  toda  parte. 

E  a  America  e  o  Brasil  muito  deve  a  esse  grande  luzeiro 
da  Prússia:  Humboldt  foi  um  segundo  Colombo  para  o  novo 
mundo;  e  sui  intelligencia,  mais  vasfa  que  a  do  primeiro. 


-  738  - 

patenteou  toda  a  magnificência  da  natureza  americana:  eile 
estudou  o  nosso  céo  e  o  nosso  solo,  os  nossos  governos  e 
os  nossos  costumes,  o  nosso  passado»  a  nossa  historia,  os 
nossos  productos  e  nossas  riquezas.  Foi  o  sol  que  nos 
mostrou  a  toda  a  luz  aos  olhos  do  velho  mundo:  Humboldt 
foi  o  segundo  descobridor  da  America. 

E'  desnecessário  enumerar  aqui  as  suas  obras  numerosas 
e  profundas;  todos  as  conhecem,  e  quem  não  as  conhece 
nunca  estudou  a  historia  da  America  e  do  Brasil. 

E'  desnecessário  fazer  o  elogio  desse  homem  de  intelli- 
gencia  privilegiada  que  aos  noventa  annos  sonhava  ainda 
com  um  novo  Cosmos,  e  era  capaz  de  faze-lo. 

Limitar-nos-hemos  a  repetir  as  palavras  de  umbiographo 
deste  illustre  sabio: 

Toma-se  bem  diiQcil  enumerar  tudo  o  que  ó  o  barão  de 
Humboldt;  é  porém  ainda  mais  diílicil  explicar  o  que  elle 
não  é;  ou  não  saberia  realmente  dizer  qual  dos  conheci- 
mentos humanos  é  estranho  às  investigações  deste  homem 
illustre.  Geographo,  geólogo,  physico,  chimico,  botânico, 
philosopho,  moralista  e  economista,  homem  de  estado 
quando  é  preciso  que  o  seja.  homem  do  mundo  elegante, 
e  até  mesmo  poeta,  pois  que  elle  escreveu  dous  volumes 
de  poesia  puramente  descriptiva,  onde  brilha  um  sentimento 
poético  muito  notável,  conhecendo  com  a  maior  precisão 
o  nosso  miserável  e  pequeno  planeta,  tendo  estudado  e  ex- 
plorado em  todos  os  sentidos  na  superfície  e  no  interior, 
do  Oriente  ao  Occidente.  do  Equador  aos  pólos,  em  suas 
cavernas  as  mais  profundas  e  sobre  as  mais  elevadas  mon- 
tanhas, em  seus  mais  terriveis  volcóes  e  nos  seus  mares 
mais  tempestuosos,  nos  seus  innumeraveis  productos  do 
reino  mineral,  vegetal  e  animal,  em  seus  habitantes  de 
todas  as  espécies  e  de  todas  as  cores,  na  historia,  nos  cos- 


—  739  — 

lumes,  na  organisação  social  e  politica  desses  mesmos  ha- 
bitantes, possuindo  além  disso  um  conhecimento  tão  com- 
pleto dos  phenomenos  do  céo  como  dos  da  terra,  nãoteodo 
competidor  que  o  iguale  quando  se  trata  de  determinar 
uma  longitude  e  uma  latitude,  observar,  descrever  uma 
estrella,  um  eclipse,  um  cometa,  e  comprehender  no  seu 
todo  o  movimento  geral  dos  astros;  capaz  desahircom 
honra  de  qualquer  diillculdade  se  achasse  só  e  abandonado 
no  meio  do  oceano  em  um  batel  em  que  achasse  uma  vela, 
um  leme,  uma  bússola  e  um  telescópio;  sabendo,  em  uma 
palavra,  de  cór  o  seu  zodiaco,  seu  globo  terrestre  e  a  sua 
humanidade,  da  qual  falia  todas  asliiiguas,  o  Sr.  Humboldt 
ainda  teve  tempo  bastante  para  adquirir  toda  a  sciencia  de 
um  perfeito  cortezão,  toda  a  amenidade  e  delicadeza  dos 
salões,  todo  o  conhecimento  das  intrigas  politicas  e  diplo- 
máticas. 

Eis  ahi,  senhores,  o  illustre  Frederico  Henrique  Ale- 
xandre, barão  de  Humboldt,  que  aos  9Q  annos  de  idade, 
mas  ainda  vigoroso,  e  com  todo  o  fulgor  de  sua  miraculosa 
intelligencia,  a  morte  arrebatou  ao  mundo  no  mez  de  Maio 
do  corrente  anno. 

A  agonia  do  sábio  encheu  de  amargura,  e  o  seu  passa-* 
mento  cubrio  de  luto  todos  os  povos  civilisados. 

Em  seu  funeral  foram-lhe  tributadas  subidas  honras,  que 
deram  testemunho  do  alto  apreço  em  que  devidamente  era 
tido. 

Eis  a  concisa  noticia  que  dessa  triste  solemnidade  pu- 
blicou um  dos  jornaes  da  Europa. 

t  Berlim,  terça-feira,  10  de  Maio,  às  9  horas  da  manhãa. 

c  O  solemne  préstito  fúnebre  de  Alexandre  de  Humboldt 
vai  seguindo  para  a  cathedral.  Tudo  o  que  representa  a 
sciencia,  a  arte  e  a  intelligencia  em  Berlim  toma  parte  neste 

U 


i 


-  740  - 

grave  acompaQhameDto.  Três  camaristas  do  paço  em 
grande  uniforme»  levando  as  insigmas  das  ordens  do  illustr^ 
finado»  precedem  o  carro  funerário  que  vai  puxado  por 
seis  cavalios  das  cavallarias  da  casa  real.  Sobre  o  carro 
Tè-se  um  simples  ataúde  de  nogal  adornado  de  flores  de 
louro.  Aos  lados  do  carro  marcham  os  estudantes  com 
palmas  verdes  nas  mSos.  Uma  fileira  immensa  de  carros 
fecha  o  préstito.  O  príncipe  regente  e  todos  os  príncipes  e 
príncezas  se  acham  reunidos  à  porta  da  Sé  esperando  a 
chegada  dos  restos  mortaes  do  grande  philosopho.  O  luto 
ccòvQ  toda  a  cidade. » 

Senhores»  devemos  parar  aqui.  Depois  de  ter  contem- 
plado o  tumulo  deHumboldt,  não  nos  é  licito  passar  além. 


APPfiNDlCE 

AO  RELATÓRIO  DE  1859. 

OBAaS,  impressos,  MANUSGRIPTOS,  OFFBREGIDOS  \6  INSTITUTO 
HISTÓRICO  NO  ANNO  DE  1859. 


Uinisíerio  do  Império. 

1859  JuUio  1.  Relatório  apresentodoà  Âssembléa  Geral 
Legislativa  na  3 /sessão  da  10/  Legislatura  pelo  Ministro 
e  Secretario  d'Estado  dos  Negócios  do  Império  Sérgio 
Teixeira  de  Macedo. —(1  exemplar  in  folio).— Rio  de  Ja- 
neiro 1859. 

1859  Junho  3.  Relatório  que  ao  Exm.  Sr.  Presidente  da 
provincia  do  Paraná  Dr.  Francisco  Liberato  de  Mattos 
apresenta  o  Dr.  Joaquim  Ignacio  Silveira  da  Motta,  Ins- 
pector Geral  da  Instrucção  Publica  da  mesma  provincia. 
(2  exemplares).— Corytiba  1859. 

i8o9  Maio  20.  Relatório  da  directoria  da  Instrucção  Pu- 
blica da  provincia  do  Paraná.  —  (lexemplar  in8.').— 
Corytiba  1859. 

MinisUrio  do  Império. 

1859  Maio  20.  Relatório  do  Presidente  da  provincia  de  S. 

Pedro  Angelo  Muniz  da  Silva  Ferraz,  apresentado  ã 

Âssembléa  da  mesma  provincia  em  1858.—  (1  exemplar 

in  4/) 

Idem.  Documentos  annexos.  (1  exemplar  in  i."") 

i85a  Agosto  6  Relatório  com  que  o  Exm.  Sr.  Conselheira 


—  742  — 

Angelo  Muniz  da  Silva  Ferraz  entregou  à  presidência  da 
província  de  S.  Pedro  do  Rio  Grande  do  Sol,  ao  2."  Vice- 
Presidente  o  Exm.  Sr.  Commendador  Patrício  Corrêa  da 
Camará  no  dia  22  de  Abril,  e  este  ao  R\m.  Sr.  Conse- 
lheiro Joaquim  Antão  Fernandes  Leáo  em  4  de  Maio  oe 
1859.— (1  exemplar,  folio).— Porto- Alegre  1859. 

1859  Maio  20.  Falia  recitada  na  abertura  da  Assembléa 
Legislativa  da  província  da  Bahia,  pelo  Presidente  da 
mesma  provinciâ  Francisco  Xavier  Paes  Barreto. --{1 
exemplar  in  4.^).— Bahia  1859. 

I85&  Junho  17.  Relatório  com  que  foi  entregue  a  admi- 
nistração da  província  de  Sergipe  no  dia  7  de  Março  de 
1859  ao  Exm.  Sr.  Dr.  Manuel  da  Cunha  Gah^ão  pelo  Exm. 
Sr.  Dr.  João  Dabney  de  Avellar  Brotero.— (1  exemplar 
ini.*)— Sergipe  1859. 

1859  Maio  âO.  Falia  dirigida  a  Assembléa  Legislativa  das 
Alagoas  pelo  Presidente  da  província  o  Exm.  Sr.  Angelo 
Thomaz  do  Amaral  em  1858.  —  (3  exemplares  in  8.'). 

1859  Agosto  26  Relatório  que  a  Assembléa  Legislativa 
Provincial  do  Rio  Grande  do  Norte  apresentou  no  dia  1 4 
de  Fevereiro  de  1859.  por  occasião  de  sua  ínstallaçío. 
o  Exm.  Sr-  Presidente  da  província  Dr.  António  M.  N. 
Gonçalves.— (1  exemplar  folio). —Maranhão  1859. 

1859  Maio  20.  Relatório  do  Presidente  da  província  do 
Maranhão  Dr.  João  Lustosa  da  Cunha  Paranaguá.—  (1 
exemplar).— Maranhão  1859. 

1859  Maio  20  Relatório  do  Vice-Presídente  da  província 
do  Pará  Dr.  Ambrósio  Leitão  da  Cunha,  apresentado  a 
Assembléa  Legislativa  da  mesfiia  província  era  1858.— 
(2  exemplares  in  4.°). 

1859  Maio  áO.  Relatório  lido  pelo  Exm.  Vicc-Prcsidente  da 
província  du   Pará  Dr.  Ambrósio  Leitão  da  Cunha  na 


-  74:3  - 

abertura  da  Assembléa  Provincial  em  15  de  Agosto  de 
1858.— (1  exemplar  in  &.""). 

1859  Maio  20.  Relatório  que  a  Assembléa  Legislativa  doAma- 
zonas  em  1858  apresentou  o  Presidente  da  dita  provinda 
em  sua  sessão  ordinária.— (1  exemplar). —Manaos  1858. 

1859  Maio  20.  Relatório  apresentado  a  Assembléa  Legis- 
lativa Provincial  de  Goyaz  na  sessão  de  1858  pelo  Presi- 
dente da  provincia  Dr.  Francisco  Januário  da  Gama  Cer- 
queira.—;! exemplar  in  4. •).— Goyaz.— Documentos 
annexos. 

1859  Setembro  9.  Relatório  apresentado  a  Assembléa  Le- 
gislativa de  Goyaz,  na  sessão  ordinária  de  1859.  pelo 
Exm.  Presidente  Dr.  Francisco  Januário  da  Gama  Cer- 
queira.—(1  exemplar)* — Goyaz  1859. 

1859  Maio  20.  Relatório  que  à  Assembléa  Legislativa  de 
Minas-Geraes  apresentou  na  abertura  da  mesma  o  Presi- 
dente o  Exm.  Sr.  Carlos  Carneiro  de  Campos. — (2  exem- 
plares).-Ouro-Preto  1858. 

1859  Junho  17.  Falia  que  a  Assembléa  Legislativa  Provin- 
cial de  Minas-Geraes  dirigio  no  acto  da  abertura  da  sessão 
ordinária  de  1859,  o  Dr.  Ignacio  Delfino  Ribeiro  da 
Luz  !.•  Vice-Presidente.— (1  exemplar  in  4.*)—  Ouro- 
Preto,  1859. 

1859  Maio  20.  Discurso  com  que  o  Presidente  da  pro- 
vincia de  S.  Paulo,  Conselheiro  José  Joaquim  Fernandes 
Torres  abrio  a  sessão  da  Assembléa  Legislativa  da  mesma 
provincia.— (1  exemplar  in  4."  ).— S,  Paulo  1859. 

Idem.  Documentos  (1  exemplar  folio). 

1859  Setembro  9.  Relatório  com  que  o  Illm.  Exm.  Sr. 
Conselheiro  José  Joaquim  Fernandes  Torres,  Presidente 
da  provincia  de  S.  Paulo  passou  a  administrarão  da  pro- 
vincia ao  Illra.  e  Exm.  Sr.  Vice-Presidente  Dr.  Hypolito 


I 


—  lífi  — 

José  Soares  de  Sousa,  no  dia  6  de  Junho  de  LjK^.— (1 
exemplar).— S.  Paulo  1859, 

Ministério  de  Siír§ngeiros . 

18o9  Agosto  26.  Relatório  da  RepartiçiQ  dos  Negócios 
Estrangeiros,  apresentado  à  A^sembléa  G^ral  Legislatifa 
na  3.'  sessão  da  10/  Legislatura  pelo  reupectivo  Ministro 
o  Exm.  Sr.  Conselheiro  José  Maria  áâ  Silva  Paranhos. 
(1  vol.  folio).— Rio  de  Janeiro  1859, 

Idem  Anneio  ao  mesmo  Relatório  (1  vol.  folio). 

Ministério  da  Guerra, 


1859  Maio  20.  CoUecçâo  de  desenhos  das  figuras  e  deta» 
lhes  que  designam  os  diflerentes  uniformes  para  todos  os 
corpos  do  exercito,  em  virtude  do  aviso  do  Ministério 
da  Guerra  de  8  de  Abril  de  1858,  mandou  o  Exm.  Sr. 
Tenente  General  Barto  de  Suruhy.— Lithographado  e 
impresso  em  cores.  Bio  de  Janeiro  1859  (vols...  in 
folio  max). 

Idem  Tabeliãs  das  distancias  entre  os  pontos  mais  notáveis 
da  cidade  marcadas  em  palmos,  passos,  e  tempo,  orga- 
nisadas  pela  Commissão  do  completamento  da  planta  da 
cidade— 1859.—  (Rio  de  Janeiro)  1  exemplar. 

1859  Junho  17  Relatório  apresentado  á  Assembléa  Geral 
Legislativa  na  3.'  sessão  da  10.«  Legislatura,  pelo  Minis- 
tro e  Secretario  d'Estado  dos  Negócios  da  Guerra  Ma- 
noel Felizardo  de  Sousa  e  Mello.  Rio  de  Janeiro  1839. 
(i  vol.  folio). 


—  7/i5  — 
Stíhisterio  da  Marinha. 

1859  Junho  S.  Relatório  apresentado  a  Assembléa  Geral 
Legislativa  na  3/ sessão  da  10.' Legislatura,  pelo  Mi- 
nistro e  Secretario  d'Estado  dos  Negócios  da  Marinha 
o  Sr.  Visconde  de  Abaete.  —  Rio  de  Janeiro,  1859.  ( 2 
exemplares  in  folio.) 

Presidência  de  Santa  Calhar ina. 

1839  Maio  20.  Falia  que  o  Presidente  da  provincia  de 
Santa  Catharina  Dr.  ioão  José  Coutinho  dirigío  á  Assem- 
bléa Legislativa  Provincial  no  acto  da  abertura  da  sessão 
de  1859.  Santa  Catharina,  1859.  (1  exemplar). 

1859  Novembro  i.  Relatório  apresentado  ao  Exm.  Vice- 
Presidente  da  provincia  de  Santa  Catharina  o  Dr.  Speri- 
dião  Eloy  de  Barros  Ktoentel,  pelo  Presidente  o  Dr.  João 
José  Coutinho,  por  occasíão  de  passar-lhe  a  administra- 
ção da  mesma  provincia  em  23  de  Setembro  de  1839.— 
Desterro— 1859.  (1  exemplar). 

Presidência  do  Rio  de  Janeiro. 

1859  Outubro  7.  Relatório  apresentado  ao  Exm.  Presidente 
da  provincia  do  Rio  de  Janeiro  o  Sr.  Dr.  Ignacio  Fran- 
cisco Silveira  da  Motta,  pelo  ex-PresiJente  o  Dr.  João  de 
Almeida  Pereira  sobre  a  administração  da  mesma  pro- 
vincia.—Nitheroy—185i  (1  exemplar  folio). 

Idem.  Relatório  apresentado  á  Assembléa  Legislativa  Pro- 
vincial do  Rio  de  Janeiro  na  2.*  sessão  dal3.'  Legislatura, 
pelo  Presidente  Dr.  Ignacio  Francisco  Silveira  da  Motta 
— Nitheroy— 1859  (1  exemplar  folio). 


Idem.  Orçamento  da  Receita  e  Despeza  da  província  do  Rio 

de  Janeiro  para  o  exercício  de  1860.— Rio  de  Janeiro— 

1839  (1  exemplar  in  A.**). 
Idem.  Regulamento  da  Directoria  da  Fazenda  da  província 

do  Rio  de  Janeiro.  —Rio  de  Janeiro— 1859  (1  exemplar 

in  4.*). 
Idem.  Balanço  Ja  Receita  e  Despeza  da  província  do  Rio  de 

Janeiro  no  exercício  de  1858.— Rio  de  Janeiro—  1859 

(1  exemplar  ia  folio). 
Idem  Regulamento  da  Secretaria  do  Governo  da  província 

do  Rio  de  Janeiro  (1  exemplar  in  8.*»). 

Presidência  do  Espirito  Santo, 

1859  Novembro  A  Relatório  do  Presidente  da  província 
do  Espirito  o  Bacharel  Pedro  Leáo  Velloso,  na  abertura 
da  Assembléa  Legislativa  Provincial  no  dia  25  de  Maia  de 
1839— Victoria— 1859  (1  exemplar). 

Presidência  da  Provinda  de  Sergype, 

1839  Outubro  21  Relatório  com  que  foi  aberta  a  2.' sessão 
da  duodécima  Legislatura  da  Assembléa  Provincial  de 
Sergype,  no  dia  27  de  Abril  de  1859  pelo  Presidente 
Dr.  ManoeldaCunhaGalvâo.— Bahia— 1859  (1  exemplar) 

Presidência  de  Pernambuco, 

1859  Julho  1  Relatório  com  que  o  Sr.  Conselheiro  José 
António  Saraiva  abrio  a  sessão  ordinária  da  Assembléa 
Legislativa  doesta  província  no  1.°  de  Março  de  1859.— 
Pernamburo— 18.59  (1  exemplar  in  folio). 


■% 


-  7A7  - 

Presidência  da  Parahyba  do  Norte, 

1859  Agosto  26.  Relatório  apresentado  ao  Illm.  eE&m. 
Sr.  Dr.  Ambrósio  Leitão  da  Cunha  no  acto  de  tomar 
posse  do  cargo  de  Presidente  da  provincia  dâ  Parahyba 
do  Norte  por  Henrique  de  Beaurepaire  Rohan. ^Para- 
hyba—1859  (l  exemplar). 

Idem  Relatório  apresentado  a  Assembléa  Legislativa  da 
Parahyba  do  Norte  pelo  Presidente  da  província  Dr. 
Ambrósio  Leitão  da  Gunha  em  1839.— Parahyba— 1859. 
(1  exemplar  folio). 

Presidência  do  Maranhão, 

1859  Setembro  9.  Relatoriot  que  a  Assembléa  Legislativa 
Provincial  do  Rio  Grande  do  Norte  apresentou  no  dià 
l/l  de  Fevereiro  de  1859.  por  occasião  de  sua  installaçâo, 
o  Exm.  Sr*  Presidente  da  provincia  Dr.  António  M.  N. 
Gonçalves.  (1  exemplar).— Maranhão. 

Presidência  do  Grúm-Pará* 

1859  Novembro  18.  Falia  dirigida  a  Assembléa  Legislativa 
da  provincia  do  Pará  na  segunda  sessão  da  11.*  Legis- 
latura pelo  Exm.  Sr.  Tenente -Coronel  Manoel  de  Frias  e 
Vasconcellos,  Presidente  da  mesma  provincia  em  1  de 
Outubro  de  1858.   (1  exemplar).— Pará  1859. 

Presidência  do  Paraná. 

1859  Maio  20.  Relatório  do  Presidente  da  provincia  do 

95 


—  7Í8  - 

Paraná  Francisco  Liberato  de  Mattos,  apresentado  n.l 
sessão  em  1858.  (1  exemplar  i.*) 

1859  Junho  17.  Relatório  do  Presidente  da  prorincia  do 
Paraná  Francisco  Liberato  de  Mattos  na  abertura  da 
Assembléa  Legislativa  Provincial  em  Janeiro  de  1859. 
(1  exemplar  ín  4.*) 

1859  Junho  3.  Relatório  do  Presidente  da  provincia  do 
Paraná  Francisco  Liberato  de  Mattos  na  abertura  da 
Assembléa  Legislativa  Provincial  em  7  de  Janeiro  de 
1859.  (1  exemplar  in  4.*).— Curytiba  1859. 

1859  Agosto  26.  Relatoriodo  estado  da  provincia  do  Paraná 
apresentado  ao  Presidente  o  Exm  Dr.  José  Francisco 
Cardoso  pelo  Vice-Presidente  Luiz  Francisco  da  Camará 
Leal,  por  occasião  de  lhe  entregar  a  administração  da 
mesmo  provincia.  (1  exemplar  folio).—  Corytiba  1859. 

1859  Agosto  26.  Collecçáo  de  Leis  e  Decretos  da  provincia 
do  Paraná,  (o  Tomo  VI).— Corytiba  1859. 

Academia  de  Batavin. 

1859   Maio  20.  Tydschrift  voor  Indiscbc   Taal,  LanJ  en 

Wolkenkunde  witgegeven  doori  lIcl  Bataviaasch  Genoots 

chappen.  (o  n"').— Batavia  1856. 
1859  Maio  20.  Verhandelingcn  van  Het  Bataviaasch  Ge- 

nootschap  van  Kunsten  em  Wetenschappen.  (1  vol.   in 

4.^).— Balavia  18o/i— 1857. 

Sociedade  de  Geographia  de  Pariz, 

l838Maio20.BijlhetindelasocietédeGéographic, redige  par 
M.de  la  Roquete.  (Tomos  IV  e  XVI), —Pariz  1852  1858. 


í^ 


^  7i9  - 

Observatório  Astronómico  de  Munich. 

1859  Outubro  21.  Observationes  astronomicae  in  Specttla 

Regia  Monachiensi  institutae.  (Vol.  1  a  15.) 
Idem.  Annalen  fur  Meleorologie  und  Erdmagnetismus. 

(Fascículos  1  a  12.) 
Idem-  Jahrbuch  der  KoniglichenSternwarte  bei  Munchen. 

(1838—1841.) 
Idem.  Âstronomischer  Kalender  fur  das  Kooigreiche  Bajr- 

crn.  (1850-1853.) 
Idem.   Verzeichnissder   vorzuglichesten  io  Konigreiche 

Bayern  gemessenem  Hohenpunkte,  &. 
Idem.  Jahresbericht  der  Munchener  Sternwarte.  (1852— 

1854.) 
Idem.  Annalen  der  Koniglichen  Sternwarte  bei  Munchen. 

(Vol.  1  a  10.) 
Idem.  Beobachtugen  der  meteorologischen  observatorium3 

auf  dem  Hohenpeissemberge  von.  (1752—1850.) 
Idem.  Supplementbaud  zu  den  Annalen  der  Munchener 

Steruwarte.  (1752-^1850.) 
Idem.  Resultate  des  Magnetischen  obscrvatoriums  in  Mun- 

chin  wahrend  der  dreijahring  periode.  (18A3--44--45.): 
Idem.  Bestimnugemi  der  Horizontal-Intensitat  des  Erd- 

magnetismus  nach  absoluta. 
Idem.  Beschreibung  der  and.  der  Munchener  Sternwarte 

zu  den  Beobachtungen  verwendeten  neum  Instrumente 

und  Apparate. 
Idem.  Magnetische  Ortsbestimmuogen  an  versehiedienem.: 

Punkten  des  Kornigreich  Bayern  und  and  einigem  aus- 

wartigen  Stationem.  Munchen  (1854—1856).  —  2voK 

in-8.« 
Idjem.  Magnetische  Karten  von  Deutschland.  und  Bayern. 


^  7&0  — 

IJcra  Unter  si^hungen  uber  die  Richtuag  uaJ  Starke  Jes 
Erdmagnetismiis  an  verschiedenen  Pankten  des  Sud^ 
estUehes  Europa.  (1858)--1  vol.  in-folio. 

Sociedade  de  Sciencias  Naíuraes  de  NeucháíeL 

1859  Novembro  A.  BuUetin  de  la  Société  des  Sciences  Na- 
toreUes  de  Neuchalel-1846, 1847  a  1852, 1853  a  1855, 
1856  a  1858  (4  vol  in-8.«)-Neuchatel  1847—1858. 

lem.  Memoire  de  la  Sociétc  des  Sciences  Naturelles  de  Neu- 
chatel  (3  vol.  in-4.*  grande).— Neuchatel  l83ft— 4846. 

Ensaio  Philosophico  Paulistana- 

1869  Agosto  26.  Revista  Mensal  do  Ensaio  Philosophica 
Paulistano  (l.'^n.^..)  S.  Paulo,  1859. 

Charles  Rikeyrolles. 

1^859  Maio  20.  Brasil  Pittoresco,  Historia.  Descripções. 
Viagens,  Instituições,  Colonisação:  por  Charles  Ribey- 
roUes ;  acompanhado  de  um  Álbum  de  vistas :  por 
Victor  Frond  (l.*  vol  in-folio  pequeno)— Rio  de  Janeiro. 
1859. 

Bernardino  José  de  Senna  Frei  las. 

185?  Maio  íM)  Uma  viagem  ao  Valle  das  Furnas  na  Ilha  de 
S.  Miguel  em  Junho  de  1840,  por  Bernardino  José  de 
Senna  Freitas  (1  vol.  in-i.*)— Lisboa » 1845. 


~  751  ~ 
Jtf.  Archanjo  dal  tão. 

1859  Maio  30.  pizima  da  Chancellaria,  Reflexões  sobre  a 
Historia  e  Legislação  desta  renda  e  sua  arrecadação  até 
1835-1856  (1  Yol  in-S.*»)— Rio  de  Janeiro,  1858. 

Official  Maior  da  Secretaria  da  Catnara  dos  Deputados. 

1859  Maio  20.  Annaes  do  Parlamento  Brasileiro  (5  vol. 
in-*.')— Rio  de  Janeiro,  1857. 

José  Correia  da  St  lia  Titara. 

1839  Maio  20.  Relatório  acerca  da  instrucção  Publica  das 
Alagoas  relativamente  ao  anno  de  1833.  (1  exemplar.) 
Idem.  Dito,  dito  de  1855  e  1857  (á  exemplares). 

3f.  De  Áveiac. 


1859  Maio  20.  Les  voyages  de  Améric  Vespuceau  compte 
de  TEspagne  et  les  mesures  ilinéraires  employés  par  les 
marins  Espagnols  et  Portuoais  des  XV  et  XVI  siecles ; 
par  M.  D^Avezac  (1  vol.  in-8.*).— Paris.  1858. 

•  Francisco  António  Pessoa  de  Barros. 

1859  Maio  20.  Rodolpho  ou  o  Louco  Assassino,  por  Fran- 
cisco António  Pessoa  de  Barros  (1  vol.  in-8.*).— Per- 
nambuco. 1838. 


—  752  — 
Dr,  B.  Mariin  de  Moussy. 

t859  Maio  20.  La  Confederacion  Argentina.  Quadro  Geo- 
gráfico y  descriptivo  completo,  por  el  Dr.  D.  Martin  de 
Moussy  (1  vol  in-4.*),— Coucepcion  dei  Uruguay.  18a9. 

Dr,  César  Augutío  Marquei, 

18o9  Maio  20.  Biograpbia  do  Illustre  Piauhyense  Dr. 
Francisco  de  Sousa  Martins.  (Publicado  no  n.  8.  do  E*.- 
pectador  de  8  de  Outubro  de  1858.) 

Constantino  do  Amaral  Tavares, 

IS,")»  Maio  20.  Elogio  Dramático  composto  para  ser  repre- 
sentado no  Theatro  do  S,  Joáo  da  Bahia,  no  dia  2  de 
Julho  de  1857,  pelo  i."  tenente  da  armada  Constantino, 
do  Amaral  Tavares  (i  vol).— Bahia.  1857. 


Fcrdinand  Denis, 

18S9  Maio  20.  Do  la  vocation  ou  moyen  d'attcindre  sa  fia 
dans  Ic  mariage  et  dans  la  vie  parfaite.  par  M.  Luqnel, 
Évéque  d^Hésèbon  (o  2."  vol).— Paris.  1837. 

Giovani  Baptista  Adriant. 

1859  Junho  3.  Memorie  delia  vita  e  dei  Tempi  di  Monsi- 
gnor  Gio  Secondo  Ferrero  Ponziglione  Referendário 
Apostólico,  perGiovani  Baptista  Adriani.  (1  vol.  folio) — 
Torino,  1836. 


—  753  — 

ISíJd  Junho  3.  Moaumenli  Storico-Diplomatici  degli  Ar- 
chivi  Ferrero-Ponziglione  e  di  altre  nobile  Case  Subal- 
pine  dalla  fine  dei  secolo  XII  ai  principio  dei  XIX,  ra- 
coUi  et  iliustrati  per  Giovani  Baptista  Adriani.  (1  vol. 
folio)  —  Torino.  1858. 

Conselheiro  Joaquim  Maria  Nascentes  de  Azambuja. 

1859  Junho  3.  Exposicion  hecha  en  18  de  Noviembre  de 
1853  ai  ciudadano  Presidente  de  la  Republica,  por  Lo- 
renzo  Maria  Lleras,  Secretario  de  Estado  en  el  Despacho 
de  Relaciones  exteriores,  sobre  los  Tratados  de  araistad 
i  limites,  d:c.,  celebro  conS.  Ex.  el  Seiior  Miguel  Maria 
Lisboa,  Ministro  Residente  dei  Brasil,  coaun  mapa.  (1 
vol.  in  8.*)  —  Bogotá. 

Dr  Emílio  Joaquim  da  Sika  Maia, 

1839  Junho  17.  Quadros  synopticos  do  Reino  animal,  por 
E.  J.  da  Silva  Maia.  { 1  vol.  folio)  —  Rio  de  Janeiro. 

Dr,  Alexandre  José  de  Mello  Moraes. 

1859  Junho  17  e  Outubro.  Corographia  Histórica,  Chro- 
nologica  Nobiliária  e  Politica  do  Império  do  Brasil,  pelo 
Dr.  A.  J.  de  Mello  Moraes.  (1."  e  2."  vols.  in  4.')  —  Rio 
de  Janeiro. 

Emilio  Adet. 

1859  Junho  17.  Zootechnia  applicada.  —  O  cavallo,  raças, 
producções,  creaçáo,  hygiene  exterior;  por  Emilio 
Adel.  (1  vol.  in  8.*)  —  Rio  Je  Janeiro. 


—  754  — 
fi.  de  Mattos. 

1859  Janho  17.  Almanach  da  província  do  Maranhão,  por 
B.  de  Mattos.  )1  vol.  in  8/)  —  Maranháo,  1859. 

Eduardo  de  Faria. 

1859  Junho  17.  Novo  Diccionario  da  língua  portugueza, 
seguido  do  diccionario  de  synonímos,  por  Eduardo  de 
Faria,  diversos  fascículos.  (2  exemplares)  Rio  de  Janeiro. 

António  Alves  Pereira  Coruja. 

1859  Agosto  26.  Catalogo  geral  da  bibliotheca  publica  da 
Bahia.  (1  vol.  in  8.-)  —  Rahia,  1859. 

Dr.  Carlos  F.  F.  de  Martius. 

1859  Agosto  29.  Dinkrede  anf Christian Samuel  Beit  Cari* 
F.  Phil.-Martíus.  (1  vol.  foi.)  -  Munich,  1856- 

Thomas  Earl  Dundonal^  G.  C.  B. 

1859  Julho  1.  Narrative  of  servíces  in  the  libei*ation  of 
Chile,  Peru,  and  Brasil.  (2  vols.  in  8.')— London,  1859. 

João  Cardoso  Ferraz  de  Miranda. 

1859  Julho  1.  Relatório  acerca  de  alguns  estabelecimentos 
de  beneficência  existentes  cm  Londres,  Paris,  Belgic^i  e 
Roma»  por  Joáo  Cardoso  Ferraz  do  Miranda.  (1  vol.  in 
8.^)  -  Lisboa.  1857. 


João  de  Sousa  Moreira, 

1859  Julho  15.  Ensaio  sobre  os  seguros  da  vida,  ou 
breves  considerações  acerca  de  sua  utilidade,  objecto  e 
desenvolvimento  e  theorias  de  seus  cálculos,—  por 
João  de  Sousa  Moreira.  (I  vol.  in  8.0).  —  Rio  de  Ja- 
neiro 1859. 

Desiderio  José  da  Cosia  Tibau, 

1859  Julho  15.  A  nova  medicina  fundada  sobre  a  lei  fun- 
damental da  natureza,  ou  segundo  os  cinco  principies 
que  constituem  a  natureza  humana  para  conhecer  o  prin- 
cipio da  vida,  por  Desiderio  José  da  Costa  Tibau.  (1  vol. 
in  8.0).— Rio  de  Janeiro  1859. 

Joào  Wilkens  de  Mattos, 

l'8õ9  Agosto  6.  Relatório  sobre  o  estado  dos  índios  da 
provincia  do  Amazonas,  por  João  Wilkens  de  Mattos, 
Director  Geral.  (1  vol.  inA.'»).—  Amazonas  1859. 

Casimiro  Lieutaíid. 

1859  Setembro  9.  Tratado  completo  da  conjugação  dos 
verbos  francezes  regidares  e  irregulares,  por  Casimiro 
Lieutaud.  (1  vol.  in  8.»).— Rio  de  Janeiro  1859. 

M.  F.  Maury, 

18;i9  Setembro  9.  Astronomical  observations  made  du- 

ring  the  years  18i9  and  1850  at  the  U.  S.  Naval  Obser- 

96 


—  756  — 

valory,  Washington  &c.  by  M.  F.  Maury.  (o5.o  vol.  folio) 
Washington  1859. 

Henrique  de  Beaurcpaire  Rohan. 

1859  Setembro  9.  Correspondência  oíTicial  da  presidência 
da  provincia  da  ParahyLa  do  Norte.  (1  vol.  folio,  pcq.) 

José  António  fíodrigues. 

1859  Setembro  9.  Aponlamenlos  da  população,  topo- 
graphia  e  noticias  chronologicas  do  municipio  da  cidade 
de  S.  Joio  d'El-rei,  provincia  de  Minas-Geraes,  por  José 
António  Rodrigues.  (1  vol.).— S.  Joãod'El-Rei  1859. 


Dr.  Brax  Florentino  Henriques  de  Sousa. 

1859  Setembro  23.  O  casamento  civil  e  o  casamento  reli- 
gioso, exame  da  proposta  do  governo  apresentada  á  ca- 
mará dos  Deputados  na  sessão  de  19  de  Julho  do  anno 
passado,  pelo  Dr.  Braz  Florentino  Henriques  do  Sousa. 
(1  vol.  in-8.'\ -Recife  1859. 

A,  Stsson. 

1Q59  Setembro  23.  Galeria  dos  Brasileiros  illustres,  le- 
tratos  dos  homens  mais  illustres  do  Brasil  na  politira, 
sciencias  e  lettras,  desde  a  guerra  da  Independência  at»^ 
aos  nossos  dias.  copiados  do  natural  c  litographados  por 
S.  A.  Sisson.  (diversos  ns.  om  continunção  do  lO.";. — 
Rii»  ih'  Jnneiro  185S. 


-  757  -. 
P.   A.   de  Lavallc. 

1859  Outubro  7.  Dom  Pablo  de  Olavide— Apurites  sobre 
su  vida  y  sus  obras  por  P.  A.  de  Lavalle  (1  vol.  in  4.»)— 
Lima,  1859. 

Dr.  António  Maria  de  Miranda  Castro. 

Idem.  Capital,  circulação  e  bancos  &c,  por  James  Wilson, 

traduzido  pelo  Dr.  Luiz  Joaquim  de  Oliveira  e  Castro 

(1  vol.  in8.°)— Rio  de  Janeiro.  1860. 
Idem.  Tratado  pratico  dos  bancos  por  James  William  Gil- 

bart,  traduzido  polo  Dr.  Luiz  Joaquim  de  Oliveira  e  Castro 

(3  vols.  in  S.^^j—Rio  de  Janeiro,  1859. 

Jo$é  A .  de  Lavalle. 

Idem.  Proyecto  de  conslilucion  politica  escrito  por  el  Sr. 
D.  Felipe  Pardo.  &  com  algunas  cxplicaciones  y  com- 
mentarios  por  José  A.  de  Livalle— segunda  edicion  — 
(1  voL  in8/)-Lima.  1859. 

T*.  L.  Baril,  comte  de  la  llure. 

1859  Outubro  7.  Colonisatiou  ~- Príncipes  pour  la  fon- 
dation  de  colonies  au  Brésil,   par  V.  L.  Baril,  comte  de* 
la  Ilure.  (1  vol.  in8.^)— Rio  de  Janeiro,  1859. 

J.  B.  Barla. 

Idem.  Les  Cbampignons  de  la  [>roviucc  de  Nice  et  prin- 
cipalcmenl  les  espèces  comestibles,   suspectcs  ou  véné- 


—  758  - 

neases,  par  J.  B.  Biirla.— Orne  de  48  planches  lithogra- 
phiées  et  coloriêes.  (1  vol  in  4.*  grande  oblg.  nitida- 
mente encadernado)— Nice,  1859. 

SIanoel  de  Araújo  Porío-Alegre. 

1859  Outubro  21.  Documentos,  relatório  e  notas  relativas 
á  exposição  de  Agricultura,  realisadas  nos  dias  12,  13  e 
lA  de  Julho  de  1857,  e  promovida  por  uma  commissão 
da  Sociedade  Agricola  do  Porto  colligidos  pelo  Dr.  José 
Fructuoso  Ayres  de  GouvéaOsono  (1  vol.  in8.')— Porto, 
18S7. 

1859  Maio  20.  Cartas  acerca  da  [)rovincia  de  SanUi  Catha- 
rina  (1  vol.  in  folio)— Santa  Catharina,  1857. 

Innocencio  Francisco  da  Silva, 

1859  Outudro  21.  Diccionario  bibliographico  portuguez, 
estudos  de  Innocencio  Francisco  da  Silva  applicaveis  a 
Portugal  c  ao  Brasil  (2  voIs.inS.*^)— Lisboa,  1858—1839. 

M.  F,  Maury. 

1859  Novembro  18.  Explanations  and  sailing  Directions 
to  accompany  the  wind  and  currcnt  chart  approved  by 
Capitain  D.  N.  Ingrahani  &c.  By  M.  F.  Maury.  1  vol. 
in  4.*  ío  2.*^)— Washington.  1859. 

José  Joaquim  Rodrigues  Lopes. 

idem.  Plani-Hisloria  Resumo  Synoptico-llistorico-Genea- 
logico  do  império  do  Brasil,  do  Reino  de  Portugal  edas 


—  750  — 

Famílias  Reinantes  n^esles  paizes,  oíTerecido  à  S.  M.  o 
Sr.  D.  Pedro  II,  Imperador  Constitucional  e  Defensor 
Perpetuo  do  Brasil,  e  a  S.  M.  F.  o  Sr.  D.  Pedro  V,  Rei 
de  Portugal  e  dos  Algarves,  por  José  Joaquim  Rodrigues 
Lopes  (1  vol.  in  folio)— Pernambuco,  1858. 

Francisco  Evaristo  Leoni. 


1859  Novembro  18.  Génio  da  LinguaPortugucza ou  causas 
racionaes  e  physiologicas  detodas  as  formas  e  derivações 
da  mesma  Lmgua  &c,  por  Francisco  Evaristo  Leoni  (2 
vols.  in  8.«)--Lisboa,  1858. 

Dr.  Francisco  ^osi  da  Rocha, 

Idem.  3  números  do  Jornal  da  Bahia  de  Outubro  doeste 
anno  em  que  se  publicou  o  Itinerário  deS.  M.  o  Impera- 
dor á  Cachoeira  de  Paulo  Affonso. 

Anonymo. 

1859  Agosto  26.  Faits  de  Tesprit  humaine  —  Philoso- 
phie— parD.  J.G.  de  Magalhães,  traduit  duPortugais  par 
N.  P.  Chansselle  (1  vol.  in  8.°)— Paris,  1859. 

MANUSGRIPTOS 

Ministério  dos  Negócios  Estrangeiros. 

1859  Novembro  í.  Catalogo  dos  mappas  da  Secretaria 
d^Estado  dos  Negócios  Estrangeiros. 


—  760  — 

Manoel  de  Araújo  Porto  Alegre. 

1859  Maio  20.  Relação  dos  magníficos  carros  que  se  fizerâo 
de  architectura,  prospectiva  c  fogos,  os  quaes  se  execu- 
taram por  ordem  do  Illm.  Exm.  Sr.  LuizdeVasconcellos, 
Capitão-general  de  Mar  e  Terra,  Vice-Rei  dos  Estados  do 
Brasil,  nas  festividades  dos  desposorios  dos  Sereníssi- 
mos Srs.  Infantes  de  Portugal  n'esta  cidade  do  Rio  de 
Janeiro  cm  2  de  Fevereiro  de  1786. 

Conselheiro  Joaquim  Maria  Nascentes  de  Azambuja. 

1839  Junho  3.  Parecer  favoravel  do  Sr.  Barão  de  Humboldt 
sobre  os  tratados  de  limites  celebrados  pelo  Ministro 
Brasileiro  o  Sr.  Miguel  Maria  Lisboa  com  as  Republicas 
de  Venezuela  e  Nova  Granada  Original. 

Idem.  Peças  do  Processo  do  António  José.  (  que  perten- 
ceram ao  Desembargador  Silva  Pontes. ) 

Idem.  Copia  do  Itenerario  di  viagem  que  fez  ao  Baixo 
Paraguay  por  ordem  do  Sr.  Marquez  de  Caxias,  o  Cnipitão 
da  2.*  classe  do  Estado  Maior,  Manoel  Joaquim  Pinto 
Pacca. 

A,  D,  d^  Pascuah. 

I8Õ3  Maio  í20.  Apuntes  gêographicos-descriptivos  sobre 
el  Gran-chaco  Gualambâ,  por  Adadus  Calpe— Rio  de 
Janeiro  1853. 

Henrique  de  Beaurepaire  Rohan. 

18Õ0  Agosto  26.  Catalogo  dos  Governadores  e  Presidentes 


—  7G1  —    • 

da  provinda  da  Parahyba  do  Norte  (  coiUinuaçâo   do 
que  SC  acha  impresso  na  Revista  Trimcnsâl  a  pag.  81, 
do  tom.  1/  da  2.*  serie  de  1656. ) 

Dr.  Cláudio  Luiz  da  Costa. 

1859  Outubro  7.  Doscripçãoda  Villa  do  Lagarto  feita  pelo 
Monsenhor  António  Fernandes  da  SiWeira. 


—  763  — 
SÓCIOS  CORESIPONDENTES 

APPROVADOS  EM  18o9. 

A.  D.  Pascual. 

António  Marianno  de  Azevedo. 

Padre  Lino  do  Monte  Carmelo  Luua. 

Braz  da  Costa  Rubim. 

Francisco  Ignacio  Marcondes  Homem  de  Mello. 

Capitão  Mar  e  Guerra  Lourenço  da  Silva  Araújo  Amazonas. 

Rodrigo  José  Ferreira  Bretãs. 

Reyband. 

Ceroni. 


97 


ÍNDICE 

GERAL  ALPHABETICO 


DAS 


HEMORUS  D0C1]HE1!1T0$  E  BIOGRAPHUS 

PUBLICADOS   NOS 

VOLUMES  1  A  22  D\  REVISTA 

DO 

IUSTITIJTO  HISTÓRICO  E  «EOGRAPHICO 
BRA01I.E1RO 

1839  A  1859. 

Abrantes  (Marquez d')  Qual  a  origem  da  cultura  e  com- 
mercio  do  Anil  entre  nós  e  quaes  as  causas  do  seu  pro- 
gresso e  da  sua  decadência?— iProgramma  desenvolvido 
pelo  Sr...»  Vol.  15,  pag.  42. 

Abreu  (Capitão  Manoel  Joaquim  de-)  Diário  Roteiro  do 
arraial  do  Pesqueiro  de  Arauary  até  o  rio  Oyapoko.  Vol. 
12,  pag.  96. 

Acauã  (Dr.  Benedicto  Marques  da  Silva)  Relatório  dirigido 
ao  Governo  Imperial  em  15  de  Abril  de  18í7,  sendo 
Inspector  geral  dos  terrenos  diamantinos  da  provincia  da 
Bahia.  Vol.  9,  pag.  227. 

Actas  das  sessões  do  Instituto  Histórico  e  Geographico 
Brasileiro  de  Dezembro  de  1838.  Vo'.  1,  pag.  48. 

Idem  de  1839.  Vol.  1.-,  pags.  49,     131,  235,  8*2. 

Idem  de  18A0.    »    Z\     »      136.  239.  391,  5U. 

Idem  de  1841.     .    3.*,     »      119,  227,  347,  436. 


—  766  — 


Idem  de  18^2. 

Vol 

à.'. 

pag- 

95.  213. 

379,  519, 

Idem  de  1843, 

f 

5.«. 

1 

88,  239, 

355,  499. 

Idem  de  1844. 

» 

6.'. 

» 

lá3.  253. 

37á.  498. 

Idem  de  1845. 

D 

7.'. 

> 

116.  263, 

413.  539. 

Idem  de  18^6. 

I 

S.\ 

» 

144.  284, 

402.  347. 

Idem  de  1847. 

» 

9.'. 

> 

127.  265. 

409.  360. 

Idem  de  1848. 

I 

10. 

» 

120.  2/i6, 

390.  547. 

Idem  de  1849. 

9 

12. 

> 

277.  413. 

530. 

Idem  de  1850. 

» 

13, 

1 

i'iS.  406. 

518. 

Idem  de  1851. 

» 

13, 

> 

461. 

2A8. 

Idem  Ce  1852. 

1» 

17. 

» 

70. 

Idem  de  1853. 

)> 

17. 

» 

74.     577. 

Idem  de  1854. 

D 

17. 

» 

583. 

Idem  de  1835. 

18. 

> 

418. 

Idem  de  1856. 

19. 

> 

1,  suppl. 

87.  suppl. 

Idem  de  1837. 

20. 

» 

1.  suppl. 

Idem  de  1858. 

21. 

> 

Ji69. 

Idem  de  1859. 

22. 

» 

635. 

Alencastre  (José Martins  Pereira  de.. .)— Memoria  chronolo- 

gica,  histórica  e  corographica  da  província  do  Piauhy, 

Vol.  20,  pag.  5. 
Alencastre  —  Mappa  estatistico  das  fazendas  nacionaes  em 

1854.  Vol.  20,  pag.  60. 
Alencastre  —  Mappa  das  cadeiras  de  instrucção  primaria  e 

secundaria  da  província  em  1854.  Vol.  20,  pag.  75. 
Alencastre  —  Quadro  da  Guarda  Nacional  da  província. 

Vol.  20,  pag.  82. 
Alencastre  —  Notas.  Vol.  20,  pag.  liO. 
Alincourt  (Luiz  d')  oíTicio  do  engenheiro—,,  em   10  do 

Novembro  de  182i,  contendo   noticias  interessantes 

sobre  a  parte  meridional  da  província  de  Matto-Grosso* 


—  767  — 

(Ms.  oíTerecido  pelo  Sr.  Libanio  Augusto  da  Cunha  Mattos) 
Vol.  20,  pag.  332. 

Alincourt.  Resumo  das  explorações  feitas  pelo  engenheiro 
— ,  desde  o  registro  de  Camapuã  até  à  cidade  de  Guyabà. 

(Ms.  oíTerecido  ao  Instituto  pelo  Sr.  Libanio  Augusto  da 
Cunha  Mattos).  Vol.  20,  pag.  334. 

Alincourt  Resumo  das  observações  feitas  pelo  engenhei- 
ro—,,  desde  a  cidade  de  Cuyabà  até  a  villa  do  Paraguay 
Diamantino  em  1826. 

(Ms.  oíTerecido  ao  Instituto  pelo  Sr.  Libanio  Augusto  da 
Cunha  Mattos)  Vol.  20,  pag.  345. 

Alincourt  Reflexões  sobre  o  systema  de  defeza  que  se 
deve  adoptar  na  fronteira  do  Paraguay  em  consequência 
da  revolta  e  dos  insultos  praticados  ultimamente  pela 
nação  dos  índios  Guaycurús  ou  cavalleiros;  pelo  sargento- 
mór  de  engenheiro^,,  Cuyabà  1826, 

( Ms.  oíTerecido  ao  Instituto  pele  Sr.  Libanio  Augusto  da 
Cunha  Mattos)  Vol.  20,  pag.  360. 

Almanach  histórico  da  ciJade  de  S.  Sebastião  do  Rio  de 
Janeiro,  composto  por  António  Duarte  Nunes,  Tenente 
de  Bombeiros,  para  o  anno  de  1799,  acompanhado  de 
um  mappa  da  força  marítima  e  terrestre  do  Duguay 
Troum.  Vol.  21,  pag.  5. 

Almeida  e  Sousa  (capitão  de  granadeiros  Cândido  Xavier 
de. . .)  Copia  da  parte  que  deu  o—,,  sobre  o  descobri- 
mento do  Rio  Uguarehy. 

(  Ms.  oíTerecido  ao  Instituto  Histórico  pelo  Sr.  António  da 
Costa  Pinto  e  Silva)  Vol.  18,  pag.  2i4. 

Almeida.  (Gabriel  Ribeiro  de)  Memoria  da  tomada  dos 
sete  povos  de  missões  brasileiras.  Vol.  5.  pag.  3. 

Almeida.  (Hemernegildo  António  Barbosa  de—)  Viagem  às 
villas  de  Caravellas,  Viçosa,  Porto-Alegre.  de  Mucury, 
e  aos  rios  de  Mucury  e  Peruhipe.  Vol.  9,  pag  425. 


—  766  — 


Idem  de  18i2.  Vol.  k;  pag. 

Idem  de  4843.  >  5.«.  > 

Idem  de  1844.  >  6.*,  » 

Idem  de  1845.  »  7.°.  > 

Idem  de  1846,  .  S.',  » 

Idem  de  1847.  »  9.%  » 

Idem  de  1848.  >  10.  » 

Idem  de  1849.  »  12,  > 

Idem  de  185a.  »  13,  > 

Idem  de  1851.  »  jj"' 

Idem  òe  1852.  »  17.  » 

Idem  de  1853.  »  17.  » 

Idem  de  1854.  »  17,  » 

Idem  de  1835.  >  18.  > 

Idem  de  1856.  >  19.  > 

Idem  de  1837.  >  SO.  > 

Idem  de  185S.  >  21.  > 

Idem  de  1859.  »  22.  » 


95,  213.  379.  5l9. 

88.  239,  355.  499. 
123.  253.  37á.  498. 
116.  263.  AIS,  559. 
144.  284.  402.  547. 

127.  265,  409,  560. 
120.  246,  390.  547. 
277.  413.  530. 

128.  406.  518. 
461. 

248. 

70. 

74.     577. 

583. 

418. 

1,  suppl.  87,  suppl. 

1,  suppl. 

469. 

635. 


Alencastre  (José  Martins  Pereira  de.. .)— Memoria  chronolo- 

gica,  histórica  e  corographica  da  provincia  do  Piauliy. 

Vol.  20,  pag.  5. 
Alencastre  —  Mappa  estatístico  das  fazendas  nacionaes  em 

1854.  Vol.  20,  pag.  60. 
Alencastre  —  Mappa  das  cadeiras  de  instrucção  primaria  e 

secundaria  da  provincia  em  1854.  Vol.  20,  pag.  75. 
Alencastre  —  Quadro  da  Guarda  Nacional  da  provincia. 

Vol.  20.  pag.  82. 
Alencastre—  Notas.  Vol.  20,  pag.  140. 
Alincourt  (Luiz  d')  oíGcio  do  engenheiro—,,  em  10  de 

Novembro  de  1824.  contendo   noticias  interessantes 

sobre  a  parte  meridional  da  provincia  de  Matto-Grosso* 


[< 


—  'iiu 


(Ms.  onorcrido  |i('lo  Sr.  Lihanio  Aii^iislod;)  Ciinh:)  M.Ulo%^ 

Vol.  20,  pag.  33i, 
Aiincourt.  Resumo  das  oxplora^Vs  foilas  pi»lo  «Mi^^^diiMi-,* 
— ,  desde  o  registro  de  CamapiK\atr;\  ridade  do  CnvalO 
(Ms.  oITerecido  no  Instituto  prio  Sr.   I.dtauio    Xitiiuslo  d.i 

Cunha  Mattos).  V<»l.  ao.  iKig.  3;i4. 
Aiincourt.  Resumo  das  ol)servaci>«*s  foitas  polo  rugouliri 
ro— ,,  desde  a  cidade  de  CuyabA  i\U\  a  \illa  do  Paiasuax 
Diamantino  em  18^0. 
(Ms.  oíTerecido  ao  Instituto  p(*lo  Sr.  Lilmnio  Augusto  da 

Cunha  Mattos)  Vol.  SO.  pag.  :i45. 
Aiincourt.  Kellexôes  sohru  o  syst(*ma  do  dele/a  ipio  m« 
deve  adoptar  na  fronteira  do  Paraguay  em  roit>V(|uen«'ia 
da  revolta  e  dos  insultos  praticados  ultimamente  |H'la 
naçlodos  índios (iuayciuús  ou  cavalleints:  |n'1o  sugento 
mor  de  engenheiro—,,  Cuyahá  182li. 
( Ms.  oiTereci  Jo  ao  Instituto  peh;  Sr.  Lihanio  Augusto  da 

Cunha  Mattos)  Vol.  20,  pag.  *Í6LK 
Almanach  histórico  da  cí  lade  de  S.  Sebastí;io  do  Itio  do 
Jan<?iro.  composto  por  António  Duarte  Num^s.  Tenentt* 
}àÈ  Bombeiros,  para  o  anno  de  17!M),  acom|Kiniiado  de 
i  mappa  da  força  maritima  c  terrestre  do  Duguay 
Vol.  21,  pig.  r>. 

e  Sousa  (capitão  de  granadeiros  (M-unlido  Xavier 
àê., .)  Copia  da  parte  que  deu  o—.,  sobre  o  deseoliri- 
meitlo  «lo  Rio  Uguarehy. 

i.  oílerecido  ao  Instituto  Histórico  pelo  Sr.  António  d.i 
Pinto  e  Silva)  Vol.  18,  pag.  2i4. 
^  ^-abríel  Ribeiro  de)  Memoria  da  toma-la  dos 
njpr        dç  missões  brasileiras.  Vol.  5.  fwg.  3. 
Éfciti.      ífíjernegildo  António  Barbosa  de—)  Viagi^m  à^ 
Aiét  Caravel/as,  Víçom,  Porlo-AJegre.  <le  Mufoir. 
f»in6dcMucury  c  Peruhfpe.  Vol.  íl  \ii\\^ 


-  768  - 

Amazonas  (província  do. ..)  Extractos  do  relatório  apre- 
sentado à  Assembléa  Legislativa  Provincial  pelo  Exm- 
Sr.  Presidente  Dr.  João  Pedro  Dias  Vieira,  no  dia  8  de 
Julhode  1856.  Vol.  20,  pag.  461. 

Amazonas.  Extractos  da  falia  dirigida  à  mesma  Assembléa 
em  o  1.°  de  Outubro  de  1857,  pelo  Presidente  o  Exm. 
Sr.  Angelo  Thomaz  do  Amaral.  Vol.  20,  pag.  467. 

Amazonas.  Oflicio  do  director  interino  das  obras  publicas, 
oSr.  João  Wilkens  de  Mattos.  Vol.  20,  pag.  471. 

Anchieta.  (Padre  Josó  de—)  carta  escripta  de  S.  Vicente 
ao  padre  mestre  Diogo  Laynes  em  16  de  Abril  de  1563. 
Vol.  2,  pag.  538. 

Anchieta.  Informações  dos  casamentos  dos  índios  do 
Brasil,  manuscripto  oíTerecido  ao  Instituto  por  F.  A.  de 
Varnhagen.  Vol.  8,  pag.  254. 

Andrada.  (Martim  Francisco  Ribeiro  de—)  diário  de  uma 
viagem  mineralógica  pela  provincia  de  S.  Paulo  no  anno 
de  1803.  Vol.  9,  pag.  527. 

Apontamentos  sobre  a  vidado  Inlio  GuiJo  Pockrane,  c 
sobre  o  Fraocez  Guido  Marlière. 
OíTerecido  ao  Instituto  pelo  sócio  o  Exm.  Sr.  Conse- 
lheiro Luiz  Pedreira  do  Couto  Ferraz. )  Vol.  18.  pag. 
AIO. 

Aditamento  aos  —  &c.  Vol.  18,  pag.  416. 

Arcebispo  da  Bahia  (  D.  Romualdo  António  de  Seixas.  )— 
Breve  memoria  acerca  da  naturalidade  do  Padre  António 
Vieira,  da  Companhia  de  Jesus,  de  que  foi  encarregado 
pelo  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro.  Vol. 
19,  pag.  5. 

Artigo  extraindo  do  Panorama,  sobre  o  Brasil.  Vol.  7, 
pag.  o2i. 

Artigos  regulamentares  da  Arca  de  Sigilo  (  Acta  de  30  de 
Agosto  de  1850.  )  Vol.  13,  pag.  íl4. 


~  769  — 

Auto  de  posse  que  se  deu  ao  Governador  João  Fernandes 
Vieira  das  terras  do  porto  do  Touro  ao  Ceará-mirim.— 
( Copia  oiíerecida  ao  Instituto  pelo  sócio  eiTectivo  o  Sr. 
António  Gonsalves  Dias. )  Vol,  19,  pag.  159. 

Azambuja  (  Conde  de—,  D.  António  Rolim  de  Moura ) 
Relação  da  viagem  que  fez  da  cidade  de  S.  Paulo  para  a 
villade  Cuyabà  em  1751,  remetlidapor  F.  A.  de Yarnha- 
gen.  Vol.  7,  pag.  4(i9. 

Baena  (  António  Ladislào  Monteiro. )  —  Conta  que  deu  da 
instauracção  do  obelisco  da  estrada  de  Nazareth  ao  Exm. 
Sr.  Dr.  Miranda,  Presidente  da  Provincia  do  Pará.  Vol. 
3,  pag.  20i. 

Baena  —  Memoria  sobre  o  intento  que  tem  os  Inglezes  de 
Demerara  de  usurpar  as  terras  ao  Oeste  do  Rio  Repunuri 
adjacentes  á  face  central  da  Cordilheira  do  Rio  Branco 
para  amplificar  a  sua  colónia.  Vol.  3,  pag.  332. 

Baena  —  Observações  ou  notas  illustradvas  dos  primeiros 
três  capitules  da  parte  2.*  do  Thesouro  descoberto  no 
Rio  Amazonas.  Vol.  5,  pag.  253. 

Baena  —  Correspondência  acompanhando  três  documentos 
officiaes  sobre  a  Provincia  do  Pará.  Vol.  7,  pag.  829, 

Baena  —  Resposta. 

Barata  ( Sargento  mór  Francisco  José  Rodrigues— )  Memo- 
ria em  que  se  mostram  algumas  providencias  tendentes 
ao  melhoramento  da  agricultura  e  commercio  de  Goyaz 
Vol.  li,  pag.  336. 

Barata—  Vide  —  Diário  &c. 

Barbosa  ( Francisco  de  Oliveira )  Notícias  da  Capitania  de 
São  Paulo  escriptas  no  anno  de  1792.  Vol.  5,  pag.  22. 

Barbosa  ( Cónego  Januário  da  Cunha  ]  Discurso  recitado 
no  acto  de  estatuir-se  o  Instituto  Histórico  e  Geogra- 
phico  Brasileiro.  Vol.  1,  pag.  9. 


-  770  - 

Barbosa  ( Cónego  Januário  da  Cunha  )  Se  a  introducção  dos 
escravos  Africanos  no  Brasil  embaraça  a  civilisaçáo  dos 
nossos  indígenas?  Vol.  1,  pag.  145. 

Barbosa  (  Cónego  Januário  da  Cunha  )  Relatório  dos  traba- 
lhos do  Instituto  no  l.*anno académico.  Vol.l,  pag.  259. 

Barbosa  (  Cónego  Januário  da  Cunha  )  Qual  seria  hoje  o 
melhor  systema  de  colonisar  os  índios  entranhados  em 
nossos  sertões?  drc.  Vol.  2,  pag.  3. 

Barbosa  ( Cónego  Januário  da  Cunha )  Relatório  dos  tra- 
balhos do  Instituto  no  2. *"  anno  académico.  Vol.  2,  pag.  13 

Barbosa  (  Cónego  Januário  da  Cunha )  Relatório  dos  traba- 
lhos do  Instituto  no  3/  anno  académico.  Vol.  3,  pag.  7. 
( Suppl.  ) 

Barbosa  (  Cónego  Januário  da  Cunha )  Relatório  dos  traba- 
lhos do  Instituto  no  4.*  anno  social.  Vol.  J,  pag,  4. 
( Suppl. ) 

Barboza  (  Cónego  Januário  da  Cunha  )  Relatório  dos  tra- 
balhos académicos  do  Instituto  no  S.""  anno.   Vol.  5, 

pag.  4. 

Barroso  ( José  Líberato  )  Creação  da  Villa  de  Aracahy  na 
província  do  Ceará,  e  outras  noticias  ministradas  a  pre- 
sidência da  Provincia  pelo  Sr.—  Vol.  20,  pag.  170. 

Bases  para  as  instrucções  que  o  governo  imperial  tem  de 
dar  aos  membros  da  commissão  scientifica  encarregada 
da  exploração  de  algumas  das  províncias  do  Império. 

(Acta  de  ià  de  Novembro  de  18i6).  Vol.  19,  pag.  Í3.  Suppl. 

Bastos.  (Manoel  José  de  Oliveira)  Boieiro  das  capitanias  do 
Pará,  Maranhão,  Piauhy.  Pernambuco  e  Bahia,  pelos 
seus  caminhos  e  rios  centraes.  Vol.  9,  pag.  527. 

Beaurepaire  Rohan.  (Henrique  de—)  Viagem  de  Cuyabà 
ao  Rio  de  Janeiro  pelo  Paraguay.  corrientes,  Rio  Grande 
do  Sul  e  Santa  Catharina  em  1846.  Vol.  9,  pag.  37G. 


-  771  - 

Bellegarde.  (Pedro  de  Alcântara)  —  Elogio  histórico  do 
fallecido  sócio  correspondente  o  Major  Henrique  Luiz 
de  Niemeyer  Bellegarde.  Yol.  1.  pag.  278. 

Bellegarde.  Elogio  histórico  do  fallecido  Vice-Presidente 
Marechal  Riymundo  José  da  Cunha  Mattos.  Vol.  i,  pag. 
271. 

Bellegarde.  Elogio  histórico  do  fallecido  membro  honorário 
o  Conselheiro  Balthazar  da  Silva  Lisboa.  Vol.  2,  pag.  3à. 

Bellegarde.  Notas  ao  parecer  sobre  a  memoria  histórica  do 
Sr.  J.  J.  Machado  de  Oliveira,  acerca  da  questão  de  li- 
mites entre  o  Brasil  •  Montevideo.  Vol.  16.  pag.  S45. 

Betamio.  (Sebastião  Francisco)  —  Noticia  particular  do 
continente  do  Rio  Grande  do  Sul,  dada  por—,,  ao  Vice- 
Rei  Luiz  de  Vasconcellos  e  Sousa,  1780.  Vol.  21,  pag. 
239. 

Bivar  (  Dr.  Diogo  Soares  da  Silva  de )  — •  Elogio  histórico 
de  Francisco  Agostinho  Gomos,  membro  correspondente 
do  Instituto,  recitado  pelo  Orador  do  mesmo  Instituto. 
Vol.  i,  pag.  28. 

Bivar  ( Dr.  Diogo  da  Silva  de  )  —  Appendice  á  chronica  do 
anno  de  1842.  Vol.  5,  pag.  386. 

Bivar  (  Dr.  Diogo  Soares  da  Silva  de  )  —  Parecer  sobre  o 
Índice  chronologico  do  Sr.  Dr,  Agostinho  Marques  Per- 
digão Malheiros.  Vol.  15,  pag.  77. 

Blasques  ( Padre  António )  —  Carta  de  algumas  cousas  que 
hião  em  a  nào  que  se  perdeu,  do  Bispo,  para  nosso 
Padre  Ignacio.  Vol.  5,  pag.  21  í. 

Bobadella  (Conde  de)—  Instrucção  e norma  que  deu  o...»  a 
seu  irmãoo  preclarissimo  José  António  Freire  d'Andrade, 
para  o  governo  de  Minas;  a  quem  veio  succederpela  ausên- 
cia de  seu  irmão,  quando  passou  ao  Sul.  Vol.  16, pag.  350. 

Branco  Muniz  Barreto  ( Domingos  Alves  )  —  Plano  sobre 

98 


-  772  — 

a  civilisnçáo  doâ  índios  no  BrasiU  e  principalmente  para 
a  capital  na  Bahia,  com  uma  breve  noticia  da  missão  qiic 
entre  os  mesmos  índios  foi  feita  pelos  proscriplos  Je- 
suítas. —  Dedicado  ao  Sereníssimo  Sr.  D.  João  Príncipe 
do  Brasil,  por  t  Capitão  de  Infanteria  do  Regimento 
de  Estremoz.  Yol.  10,  pag.  33. 

Branco  Muniz  Barreto  (  DomingosAlves)  —Requerimento 
feito  a  Sua  Magestade  em  nome  dos  índios  domesticados 
da  capitania  da  Bihin.  Vol.  19,  pag.  91. 

Bram  ( João  Vasco  Manoel  e )—  Roteiro  Corographico  da 
viagem  que  o  Governador  e  Gapitão-general  do  Estado 
do  Brasil  Martinho  de  Sjusa  e  Albuqtierque,  determinou 
fazer  ao  rio  das  Amizonas.  Vol.  12,  pag.  289. 

Braz  (AíTonso)—  Carta  mandada  do  Porto  do  Espirito  Santo, 
do  anno  de  1531.  Vol.  6,  pag.  4il. 

Bueno  ( João  Ferreira  de  Oliveira)—  Simples  narração  da 
viagem  que  fez  ao  Rio  ParanA  o  Thesoureiro-mòr  da  Só 
de  S.  Paulo  em  1810.  Yol.  1,  pag.  16j. 

Bueno  (  Dr.  José  António  Pimenta)—  Extracto  do  seu  dis- 
curso sen  lo  PresLlente  d3  Matto  Grosso,  na  abertura  da 
Assemblca  Provincial  em  o  1.*  de  Março  de  1837.  Vol. 
2,  pag.  168. 

Caldas  ( Cartas  do  Padre  António  Pereira  de  Sousa  )  — 
Vol.3,p3gs.  Uie2l6,  vol.  13.pags.95.  2IG. 

Camará  (Sebastião  Xavier  da  Veiga  Cabral  da)—  Evgoverna- 
dor  da  capitania  do  Rio  Grande  de  S.  Pedro  do  Sul...) 
— Representaç^ío  feita  em  24  de  Agosto  de  1801— sobro 
a  necessidade  de  separar  aqiielle  território,  como  também 
o  da  Ilha  de  Santa  Catharina,  da  JurisJicção  do  Bispado 
do  Rio  de  Janeiro.  Vol.  16,  pag.  3i7. 

Camello  (João  António  Cabral)— Noticias  praticas  das  mii^is 
do  Cnycabà  e  Goyazes,  na  capitania  de  S.  Pauloe  Cuyabà, 


-  773  - 

dadas  ao  Reverendo  Padre  Diogo  Soares  pelo  Capitão 
sobre  a  viagem  que  fez  às  minas  do  Cuyabà  no  anno 
de  1727.  Vol.  4,pag.497. 

Campo  das  Yaccas  Brancas,— 1858.  Vol.  21,  pag.  823. 

Capanema  ( Dr.  Guilherme  Schúch  de)-^Relatorio  do  Sr. 
—y,  sobre  a  conmiissão  scíentiiica  que  tem  de  explorar 
o  interior  de  algumas  provincias,  lido  na  sessão  anniver- 
saria  de  15  de  Dezembro  de  1857,  pelo  Sr.  A.  Alves 
Fereira Coruja.  Vol.  20,  pag.  63  suppl. 

Capanema  (Dr.  Guilherme  Schúch  de)— Memoria  do  Sr—,, 
lida  na  sessão  de  2i  do  Novembro  de  I85i,  desenvol- 
vendo o  seguinte  ponto:  Quaesastradicções  ou  vestígios 
que  nos  levam  á  certeza  de  terem  havido  terremotos  no 
Brasil?  VoL  22.  pag.  153. 

Capitulação  feita  pelo  Rei  e  a  Rainha  de  Hespanha  com 
Vicente  Yanez  Pínzon.  YoK  22,  pag.  445. 

Carneiro  de  Campos  (Frederico)— Catalogo  dos  Governa- 
dores e  Presidentes  da  província  da  Parahyba  do  Norte, 
organisado  pelo  Tenente  «Coronel  —  Vol.  8,  pag.  81. 

Carneiro  (Coronel  IgnacioPereira  Duarte)— Copia  do  officio 
de  7  de  Janeiro  de  1831  sobre  a  estrada  da  cidade  da 
Victoria  para  a  província  de  Minas  Geraes.  VoK  6,  pag. 
466. 

Carta  escripta  ao  Padre  Dr.  Torres  a  10 de  Junho  de  156ã. 
Vol.  2,  pag.  418. 

Carta  de  Matheus  Saraiva  escripta  ao  Abbade  D.  Diogo  Bar- 
bosa Machado  dando  noticia  dos  escríptores  da  America 
Lusitanos.  Vol.  6,  pag.  357. 

Carta  (copia  da)  do  commandante  da  praça  de  Igatemy, 
em  que  dá  parte  ao  Governador  e  Capitão-general  D. 
Luiz  António  de  Sousa  Botelho  e  Mourão  do  descobri- 
mento que  fez  dos  fundamentos  de  uma  grande  povoação. 


^  TIA  — 

que  se  suppóe  ser  as  ruioas  da  antiga  cidade  de  Real. 
Vol.  18,pag.  277. 

Carta  Regia  de  10  de  Maio  de  1758,  a  qual  depois  de  relatar 
os  serviços  de  Pedro  Dias  Paes  Leme.  e  alguns  de  seu 
pai,  ainda  não  remunerados,  lhe  concedeu  a  pensão  au- 
Dual  de  cinco  mil  cruzados.  Vol.  6,  pag.  224. 

Garta  Regia  de  13  de  Maio  de  1798  a  D.  Francisco  de  Sousa 
Coitinho,  Governador  e  Capitão  General  do  Estado  do 
Pará,  encarregando -o  da  direcção  de  todas  as  disposições 
que  julgar  convenientes  para  conseguir  a  navegação  dessa 
capitania  para  Matto  Grosso.  Vol.  A,  pag.  232. 

Carla  Regia  de  12  de  Julho  de  1799.  ordenando  ao  Gover- 
nador e  Capitão-general  da  capitania  da  Rabia  D.  Fer- 
nando José  de  Portugal  que  nomeie  um  magistrado  e  um 
ofQcial  de  artilheria  para  examinarem  todos  os  terrenos 
de  minas  e  matas  quo  pretanie  Francisco  Agostinho 
Gomes,  que  se  propunlia  a  estabelecer  uma  com|)anhia 
para  escavação  das  minasde  cobre  e  ferro.  Vol.4.  pag.  103. 

Carta  Regia  sobre  o  corte  de  madeiras  a  Fernando  Delgado 
Freire  de  Castilhos.  Vol.  6,  pag.  A47. 

Carta  Regia  e  plano  sobre  os  cortes  das  madeiras  de  cons- 
trucção.  Vol.  6.  pag.  452. 

Carla  Regia  de  10  de  \gosto  de  1810,  sobre  a  estrada  para 
Minas  pelo  Rio  Doce.  Vol.  6,  pag.  3A3. 

Carla  Regia  sobre  o  trabalho  que  se  deve  emprehender  a 
respeito  da  estatística  do  Brasil.  Vol.  6,  pag.  -448. 

Carta  Regia  de  lá  de  Maio  de  1798  ao  Capitão-general  do 
Pará  acerca  da  emancipação  e  civilisaçâo  dos  índios,  e 
resposta  do  mesmo  acerca  da  sua  execução.  Vol.  20, 
pag.  433. 

Cartas  do  Irmão  Joaquim  (  Copia  de  três  ),  extrahidas  dos 
origiaacs.  Vol.  2i.  pag.  441. 


—  775  — 

Carvalho  (Cónego  Francisco  Freire  de)— Memoria  que  tem 
por  objecto  reivindicar  para  a  nação  Brasileira  a  gloria  da 
invenção  das  machínas  acrostaticas.  Yol.  12,  pag.  336. 

Carvalho  (1 .""  Tenente  José  Carlos  de)  —  Informação  sobro 
as  mattas  de  Jacuhipé.  Vd.  13,  pag.  336. 

Carvalho  (Tenente  Coronel  José  Simões  de)—  Noticia  sobre 
a  ilha  de  Joannes.  Yol.  12,  pag.  362. 

Carvalho  e  Silva  (Dr.  iosi  Vieira  Rodrigues  de)—  Viagem 
ás  Cachoeiras  de  Paulo  Aflonso.  Vol.  22,  pag.  201. 

Castelnaa  (Relatório  dirigido  ao  Ministro  da  Instrucção 
publica  pelo  dito  Sr.)  encarregado  de  uma  commissão 
na  America  Meridional.  Vol.  7,  pag.  196. 

Castilho  (Conselheiro  José  Feliciano  de)—  Discurso  sobre 
a  necessidade  de  se  protegerem  as  sciencias,  as  lettras 
e  as  artes  no  Império  do  Brasil.  Yol.  11,  pag.  259. 

Castro  (Luiz  António  de)  —  Recordação  recitada  na  sessão 
solemne  do  1.»  de  Julho  de  I8í7,  commemorativa  do 
passamento  do  Sr.  D.  Affonso,  primDgeníto  deSS.  MM. 
II.  Yol.  11,  pag.  59. 

Catalogo  dos  Capitães-móres,  Governadores;  Capitães-Ge- 
neraes  e  Vice-Reis  que  tem  governado  a  capitania  do  Rio 
de  Janeiro  desde  sua  primeira  fundação  em  1565  até  o 
annode  1811.  Vol.  1,  pag.  293,  e  vol.  2,  pag.  49. 

Catalogo  dos  Governadores  e  Presidentes  da  provincia  da 
Parahyba  do  Norte,  vide— Carneiro  de  Campos  (Frede- 
rico). 

Catalogo  das  obras  do  Padre  Velloso.  Yol.  3,  pag.  53  suppl. 

Catalogo  dos  Capítães-mores  e  Governadores  da  capitania 
do  Rio  Grande  do  Norte.  Yol.  17,  pag.  23. 

Catalogo  dos  Capitães-mores  Yol.  17,  pag.  22. 

Annotações  e  documentos  do  dito  Citalogo.  Vol.  17,  pag. 
25  e  46. 


—  776  — 

Cerqueira  e  Silva  (Igoacío  Accidi  de)— Dissertação  histórica 
ethDOgraphica  e  politica  sobre  as  tribos  aborigeaes  que 
habitavam  a  Provincia  da  Bahia  ao  tempo  em  que  o  Brasil 
foi  conquistado:  sobre  as  suas  matas,  madeiras  eaníEiaes 
que  a  povoam,  iSrc.  Vol.  12,  pag.  Ii3. 

ChroDologia  do  pessoal  do  conselho  da  Fazenda.  \(A.  21, 
pag.  m. 

Ck)elho  ( Felipe  José  Nogueira )— Memorias  chronologieas 
da  capitania  de  Matto  Grosso»  principakaente  da  pro- 
vedoria da  fazenda  reale  intendência  do  ouro.  Vol.  13, 
pag.  137. 

Coelho  (  João  José  Teixeira  Desembargador  da  Relação  do 
Porto )—  Instrucção  para  o  Governo  da  Capitania  de 
Minas  Geraes  — 1780.  Vol.  15,  pag.  257. 

Collecção  das  memorias  archivadas  pela  Camará  da  viila  de 
Sabarà,  compiladas  por  Manoel  José  Pires  da  Silva  Pontes. 
Vol.  6,  pag.  S69. 

Collecção  das  memorias  archivadas  pela  Camará  de  Pitan- 
guy.  Vol.  6,  pag.  28i. 

Cometa  (o)  de  1813.  VoK  5»  pag.  379. 

Communicações  ofSciaes  (copias  de  algumas),  relativas 
à  fundação  do  forte  de  Santa  Theresa,  tomada  do  mesmo, 
e  invasão  do  Rio  Grande,  1762  e  1763.  Vol.  21,  pag. 
325. 

Compendio  das  épocas  da  capitania  de  Minas  Geraes,  desde 
o  anno  de  1694 até  o  de  1780.  Vol.  8,  pag.  53. 

Compillação  dos  objectos  mais  essenciaes  de  que  está  en- 
carregado o  commandante  do  rio  de  S.  Francisco  Xavier, 
segundo  as  ordens  existentes  no  archivo  do  mesmo 
commando:  e  alguns  apontamentos  de  instrucção  para 
regulara  sua  conducta  no  mesmo  commando.  Vol.  11» 
pag.  487. 


—  777  — 

Correspondência.  Vol  7,  pag.  219. 

Correspondência  relativa  aos  successos  dados  em  Portugal 
e  no  Brasil  de  18S2  a  1823.  Vol.  32,  pag.  413. 

Coruja  (António  Alvares  Pereira)  —  Collecçáo  de  vocábulos 
e  phrases  usados  na  província  de  S.  Pedro  do  Rio  Grande 
do  Sul.  Vol.  15,  pag.  210. 

Coruja  (António  Alvares  Pereira)—  Algumas  annotações  às 
Memorias  Históricas  do  Monsenhor  Pizarro,  na  parte 
relativa  ao  continente  do  Rio  Grande  do  Sul.  Vol.  21, 
pag.  303. 

Costa  (Conselheiro  António  Robrigues  da)  —  Consulta  do 
Conselheiro  ultramarino  a  S.M.  no  anno  de  1732,  offe* 
recido  ao  Instituto  pelo  Sr.  Joaquim  Heleodoro  da  Cunha 
Rivara.  Vol.  7,  pag.  498. 

Costa  (Miguel  Pereira  da)—  Relatório  apresentado  ao  Vice- 
Rei  Vasco  Fernandes  César,  quando  voltou  da  commi<(são 
em  que  fora  ao  districto  das  minas  do  rio  de  Contas. 
Vol.  5,  pag.  36. 

Coutinho  ( Aureliano  de  Sousa  e  Oliveira )  —  Discurso  da 
abertura  da  2.^  sessão  publica  anniversaria  do  Insti- 
tuto. Vol.  2.  pag.  4  suppl. 

Couto  (Dr.  José  Vieira)  —  Memoria  sobre  a  capitania  de 
Minas  Geraes,  seu  território,  clima,  e  producções  metal- 
licas:  sobre  a  necessidade  de  se  restabelecer  o  animar  a 
mineração  decadente  do  Brasil :  sobre  o  commercio  e 
exportação  dos  metaes  e  interesses  régios.  Escripta  em 
1799. Vol.  11.  pag.  28D. 

Cunha  (Cónego Benigno  José  de  Carvalho  e)  —Memoria 
sobre  a  situação  da  antiga  cidade  abandonada,  que  se  diz 
descoberta  nos  sertões  do  Brasil  por  aventureiros  em 
1753.  Vol.  3.  pag.  197. 

Cunha  (Cónego  Benigno  .íosé  de Ciirvalhoe)  —Carla  escripta 


—  778  — 

ao  1.»  Secretario  perpetuo  do  Instituto.  Vol.  1,  pag.  399. 

Cunha  (Cónego  Benigno  José  de  Carvalho  e)—  Correspon- 
dência quando  occupado  nos  sertões  da  Bahia,  em  desco- 
brimento da  cidade  abandonada.  Vol.  6,  pag.  318. 

Cunha  (Cónego  Benigno  José  de  Carvalho  e)  —  Officío  ao 
Exm.  Presidente  da  Bahia,  o  Sr.  Tenente  General 
Andréa,  sobre  a  cidade  abandonada,  que  ha  três  annos 
procura  nos  sertões  d'essa  província.  Vol.  7.  pag.  102. 

Cunha  (Cónego  Benigno  José  de  Carvalho  e)— Breve  noticia 
sobre  as  minas  ha  pouco  descobertas  no  Assuruà  na 
provincia  da  Bahia.  Vol.  12,  pag.  52i. 

Cunha  (Francisco  Manoel  da)  —  Informação  que  deu  sobre 
a  província,  entlo  capitania  do  Espirito  Santo,  ao  Minis- 
tro d'Estado  António  de  Araújo  e  Azevedo.  Vol.  i,  pag. 
2i0. 

Cunha  (Francisco  Manoel  da)—  Oflicio  dirigido  em  1811  ao 
Conde  de  Linhares,  sobre  a  capitania  hoje  província  do 
Espirito  Santo.  Vol.  12,  pag.  511. 

Cunha  (Capitão  Jacinto  Rodrigues  da)—  Diário  da  expedição 
de  Gomes  Freire  de  Andrade  às  Missões  do  Uruguày. 
Vol.  16,  pag.  137  e  259. 

Descripção  da  costa  de  Pernambuco  até  os  baixos  de  S. 
Roque.  Vol.  6.  pag.  335. 

Descripção  geographica  da  capitania  de  Matto-Grosso:  anno 
de  1797.  Vol.  20,  pag.  185. 

Diário  roteiro  da  diligencia  de  que  foi  encarregado  em 
1791  Manoel  Joaquim  de  Abreu,  Ajudante  da  Praça  de 
Macapá.  Vol.  11,  pag.  366. 

Diário  do  Rio  da  Madeira.—  Viagem  que  a  expedição  des- 
tinada á  demarcação  de  limites  fez  no  Rio  Negro  até 
Villa  Bclla,  Capital  do  Governo  de  Matto  Grosso.Vol.  20 
pag.  397. 


—  779  -^ 

Diarioda  viagem  que  fez  à  colónia  hollandezadeSurimam, 
o  porta-bandeira  da  7/  companhia  do  Regimento  da 
cidade  do  Pará,  Francisco  José  Rodrigues  Barata,  pelos 
sertões  e  rios  deste  estado,  em  diligencia  do  realserviço 
Vol.  8,  pag.  i.  elo7. 

Dias  (Dr.  António  Gonçalves)— Canto  inaugural  à  me- 
moria do  Cónego  Januário  da  Cunha  Barbosa.Vol.il 
pag.  385. 

Dias(Dr.  António  Gonçalves )— Exame  nos  Archivos 
dos  Mosteiros  e  das  Repartições  publicas  para  a  colleção 
dos  documentos  históricos  relativos  ao  Maranhão.  Vol. 
16,  pag.  370 

Dias  (  Dr.  António  Gonçalves)—  A  Memoria  histórica  do 
Sr.  Machado  de  Oliveira  e  o  parecer  do  Sr.  Duarte  da 
Ponte  Ribeiro.  Vol.  16,  pag.  il69. 

Dias  (Dr.  António  Gonçalves)  —  Resposta  do  Sr.»  à 
defeza  do  parecer  sobre  a  Memoria  histórica  do  Sr. 
Machado  de  Oliveira.  Vol.  16,  pag.  547. 

Dias  ( Dr,  António  Gonçalves)  —  Vocabulário  da  língua 
geral  usada  hoje  em  dia  no  Alto  Amazonas.  Vol.  17, 
pag.  553. 

Dias(Dr.  António  Gonçalves)  —Amazonas.  —  Memoria 
escripta  em  desenvolvimento  ao  programma  dado  por 
S.  M.  I.  ao  sócio  effectivo. »  Vol.  18  pag.  5. 

Dias  (  Dr.  António  Gonçalves )  Reflexões  acerca  da  Memo- 
ria doillustre  membro  o  Sr.  Joaquim  Norberto  de  Sousa 
Silva  lidas  na  sessão  de  28  de  Maiode  I8íi.  Vol.  18, 
pag.  289. 

Dias  (Henrique )— Carta  (  extrahida  do  Valeroso  Lucideno) 
Vol.  3,  pag.  258. 

Documento  official.— Informação  dada  pelo  Capitão  de  en- 
genheiros Ricardo  Franco  de  Almeida  Serra,  e  o  Dr. 

99 


-  780  — 

António  Pires  da  Silva  Pontes,  em  virtude  da  ordem 
que  tiveram  de  subir  o  Rio  Branco  ou  Parimé  e  dVlle 
fossem  successivamenle  entrando  nos  Rios  Mahú,  Ta- 
cutú  e  Pirará,  e  que  examinassem  as  communicações 
que  poderiam  ler  com  a  colónia  Hollandeza  deSurinaaie. 
Vol.  5,  pag.  84. 

Documento  officiai  datado  de  Barcellos,  em  19  de  Julho 
de  1781  no  qual  dão  conta  da  commissão  de  que  foram 
encarregados  Ricardo  Franco  de  Almeida  Serra  e  Dr. 
António  Pires  da  Silva  Pontes,  de  saber  o  rio  Branco, 
ou  Parimé,  entrando  nos  rios  Mahú,Tacutá,e Pirará,  exa- 
minando as  communicações  que  por  aquella  parte  pode- 
ríamos ter  com  a  colónia  Hollandeza  de  Surimam,  como 
lambem  que  serras  poderiam  haver,  ou  outras  marcas 
naturaes  que  pudessem  para  sempre  servir  de  raia  entro 
os  dominios  portuguezes  e  os  da  sobredita  colónia,  &c. 
Vol.  10,  pag.  213. 

Documentos  oíliciados  pelo  sócio  correspondente  o  Sr. 
Commendador  Gabriel  Getulio  Monteiro  de  Mendonça. 
Vol.  6,  pag.  469. 

Documentos  oíTiciaes  inéditos,  relativos  ao  alvará  de  5  de 
Janeiro  de  1785.  que  extinguiono  Brasil  todas  as  fabricas 
c  manufacturas  de  ouro,  prata,  sedas,  algodão,  linho, 
lãa,  &e.  Vol.  10,  pag.  213. 

Documentos  ofliciacs : 

1  .'^  Representação  sobre  as  providencias  necessárias  para 
promover  o  commercio  da  cidade  do  Pará  para  as  minas 
de  Matto-Grosso  ditaJa  em  9  de  Setembro  de  1797. 

2."  Carta  regia  de  12  de  Maio  de  1798,  mandando  pôr  cm 
pratica  o  plano  di  communicnçâo  ontro  a  cidade  do  Pará 


-  781  - 

e  as  minas  de  MaltoGrosso,  e  outras  providencias.  Vol. 
5,  pag.  7(5. 

Documentos  ofliciaes : 

1/  Informação  que  dá  o  Capitáo-mór  da  conquista,  do 
sertão  que  medèa  das  minas  para  a  do  Cuyabà,  de  1  de 
Setembro  de  1761. 

2.''  E^cposíçáo  da  commissão  de  estatistíca  da  camará  dos 
Deputados,  concernente  a  antiga  e  mui  debatida  questão 
do  limites  entre  as  provincias  do  Maranhão  e  Goyaz, 
datada  de  28  de  MarçD  de  18/i5. 

S.""  Parecer  apresentado  ao  Exm.  Sr.  Cândido  José  de 
Araújo  Vianna,  Ministro  dos  Negócios  do  Império  pelo 
Sr.  José  Joaquim  Machado  de  Oliveira  em  o  !.•  de  De- 
zembro de  1841,  acerca  do  plano  de  colonisação  a  bene- 
íicio  dos  índios  Botocados,  que  andam  errantes  no  ter- 
ritório entre  o  rio  Doce  ou  de  S.  Matheos,  apresentado 
por  Porfírio  dos  Santos  Lisboa. 

4.»  Offlcio  do  Sr.  J.  J.  Machado  de  Oliveira,  de  26  de 
Julho  do  1844,  apresentado  ao  Governo  Imperiri  o  plano 
de  uma  colónia  militar  no  Brasil.  Yol.  7,  pag.  221. 

Documentos  ofliciaes.  Declarações  feitas  pelo  Sargento  Nor- 
berto Roirigues  de  Medeiros,  sobre  a  abertura  da  pi- 
cada para  o  Cuité,  mandada  fazer,  e  contratada  pelo  Pre- 
sidenteda  província  do  Espirito  Santo.  Vol.  10,  pag.  -408. 

Documentos  ofliciaes  a  que  se  referem  às  instrucções 
dadas  ao  Visconde  de  Barbacena,  publicados  em  o  nu* 
21  da  Revista.  Vol.  6,  pag.  197. 

Documentos  interessantes  e  meditos  relativos  à  demissão 
do  Marquez  de  Pombal.  Vol.  8,  pag.  65. 

Djcumcntos  i>crtencenles  à  memoria  sobre  a  campanha  de 
ISÍGpiblioada  cm  o  u.  26.  Vol.  7,  pag.  278. 


—  782  — 

Documentos  sobre  o  Rio  Doce  offerecidos  pelo  Sr.  Coronel 
José  Joaquim  Machado  d'01iveira.  Vol  7,  pag.  351- 

Documentos  relativos  a  João  Pereira  Ramos  e  seus  Irmãos. 
Vol.  22,  pag.  451. 

EUiot  (Joáo  Henrique)— Itinerário  das  viagens  exploradas, 
emprehendidas  pelo  Barão  d'Ântonina  para  descobrir 
uma  via  de  communicação  entre  o  Torto  da  villa  de  An- 
tonina e  o  baixo  Paraguay  na  proTincia  de  Matto -Grosso: 
feitas  no  anno  de  184 1  a  18 H,  pelo  Sertanista  Joaquim 
José  Lopes.  Vol.  iO,  pag.  153. 

Epitome  da  erecção  e  creaçio  do  novo  Bispado  deS.  Paulo, 
Rei  que  impetrou  esta  graça,  Pontifice  que  a  concedBu, 
seu  primeiro  Bispo  c  Cónegos  com  que  se  fundou  a 
cathedral.  Vol.  18»  pag.  226. 

Etymologias  Brasilicas  ( Coilecçâo  de)  —  Vide  Praieres 
Maranhão. 

Excerpto  de  uma  Memoria  manuscripta  sobre  a  Historia  do 
Rio  de  Janeiro,  durante  o  Governo  de  Salvador  Corrêa 
de  Sã  e  Benevides  que  se  acha  na  Bibliotheca  Publica 
d^esta^ Corte.  Vol.  3,  pag.  3. 

Excerpto  de  varias  listas  de  condemnados  pela  Inquisição 
de  Lisboa,  desde  o  anno  de  1711  ao  de  1767,  compre- 
hendendo  só  os  Brasileiros,  ou  colonos  estabelecidos  no 
Brasil,  por  Varnhagen.  Vol.  7,  pag.  54. 

Extracto  dos  Estatutos  do  Instituto  Histórico  eGeographico 
Brasileiro.  Vol.  1,  pag.  18. 

Extractos  das  Actas  &c,  vide— Actas  (extractos  das)^ 

Extractos  dos  Livros  e  ordens  regias  da  Bahia  offerecidos 
pelo  Sr.  Coronel  Ignacio  Accioli  de  Cerqueira  e  Silva. 
Vol.  7,  pag.  383. 

Ferreira  (Dr.  Alexandre  Rodrigues)  —Noticia  dos  escriptos 
do—.  Vol.  2,  pag.  503. 


-  783  ~ 

Ferreira  (Dr.  Alexandre  Rodrigues)—  Descripçáo  da  Gruta 
do  Inferno,  feita  em  Cuyabà.  Vol.  4,  pag.  363. 

Ferreira  (Or.  Alexandre  Rodrigues)  •—  ProprieJade  e 
posse  das  terras  do  Cabo  do  Norte  pela  coroa  de  Por- 
tugal. Memoria  escrípta  no  Pará  em  1792.  Vol.  3' 
pag»  339. 

Ferreira  (Dr.  Alexandre  Rodrigues)—  Viagem  à  gruta  das 
Onças*  Vol.  12,  pag.  87. 

Figueiredo  (Dr.  Carlos  Honório  de)  — Fuíidação  do  Bispado 
do  Rio  de  Janeiro.  Vol.  19,  pag.  579. 

Figueiredo  (Dr.  Carloà  Honório  de)—  Fundação  das  Facul- 
dades de  Direito  do  Brasil.  Vol.  22,  pag.  K07. 

Filgueiras  (Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa)  —Reflexões  sobre 
as  primeiras  épocas  da  Historia  do  Brasil  em  geral  e 
sobrea  instituição  das  capitanias  em  particular.  Vol  19, 
pag.  398. 

Fonseca  (Alferes  José  Pinto  da) — Copia  da  carta  que  escreveo 
ao  Exm.  General  de  Goyaz,  dando-lhe  conta  do  desco- 
brimento de  duas  nações  de  índios.  Vol.  8«  pag.  376. 

Fonseca  e  Silva  (Tbomé  Maria  da)^  Breve  noticia  sobre  a 
colónia  dos  Suissos  fundada  em  Nova  Priburgo  Vol.  12, 
pag.  137. 

Fontes  (Dr.  José  Ribeiro  de  Sousa)  —  Quaes  foram  os 
animaes  introduzidos  na  America  pelos  conquistadores? 
memoria  pelo  Sr,— „  Voi.  19,  pag.  609. 

Foral  da  capitania  da  Bahia  e  cidade  de  S.  Salvador  Vol.  18, 
pag.  159. 

Fragmentos  de  uma  memoria  sobre  as  sesmarias  da  Bahia. 
Vol.  3,  pag.  875. 

Fragmenítos  que  existem  na  Torre  do  Tombo,  das  ins*- 
tracções  dadas  porEl'ReíD.  Manuel,  a  Pedro  Alvares 
Cabral,  quando  chefe  da  aimada,  ({ue  indo  à  índia  desço 


—  78A  — 

brio  casualmente  o  BrasJLcopiadosporVarnbagen.  Vol.  8^ 
pag.  99. 
Freire  Allemão  (Dr.  FraocisíM))  —  Qaaessáo  as  principacs 
plantas  que  boje  «e  adiam  acclímitadas  no  Brasil?   Me- 
morias, pelo  Sr— ,,  Vol.  19,  pag.  539. 
Gandavo  (Pedro  de  Magaliiâes]—Introducçao  ao  tratado  da 

terra  do  Bra^.  Vol.  2,  pag.  i2i. 
Gandavo.— Historia  da  província  de  Santa  Cruz,  a  que  vul- 
garmente cbamamos  Brasil,   por—,  dirigida  ao  muito 
illusirissimo  Sr.  D.  Lionii  Pereira,  Governador  que  foi 
do  Malaca  e  das  mais  partes  do  Sul  da  índia,  impresso 
em  Lisboa,  na  oincina  de  António  Gonçalves,  anno  de 
1576.  Vol.  21,  pag.  367. 
Garcia  (Diogo)— (iirta  do    (1526)  Vol.  15,  pag.  6. 
Gay  (Vigário  João  PcJro)  —  Itinerario  da  viagem  que  fez 
o  Sr.  Joaquim  António  de  Moraes  Dutra,  desde  a  foz  do 
Rio  Passo-Fundo  no  Uruguay  até  o  passo  do  S.  Borja, 
pelo  Sr...   1858.  Vol.  21,  pag.  31o. 
Góes  (Pêro)  — Carta  para   El-Rei.   Da  vilía  da  Rainlia 
(Campos).  Copia  da  Torro  do  Tombo  por  Varnhageo. 
Vol.  5,  |ag.  /iW. 
Guerra  civil  ou  sedições  de  Pernambuco.  Exemplo  memo- 
rável aos  vindouros.  Vol.  16.  pag.  o. 
Guerras  (Relação  das)  —  feitas  aos  Palmares  de  Perman- 
buco  no  tempo  do  Governador  D.   Pedi-o  de  Almeida. 
Vol.  22.  pag.  303. 
Guimarães  (Cónego  José  da  Silva)  Memoria  sobre  usos,  costu 
mes  c  linguagem  dos  Apiacàs,  e  descobrimento  de  novas 
minas  na  provinciade  Matto-Grosso.  Vol.  6,  pag.  2v)7. 
Gurjâo (Hilário iMaximiano  Antunes)— Descri pção  da  viagem 
íeita  desde  u  cidade  da  Barra  do  Uio  Negro,  pelo  úy  do 
mesmo  nome,  por—,,  Vol.  18,  p\g,  177» 


-  785  — 

Gusmão  (Alexandre  do)— Extracto  da  resposta  que  deu, 
como  Secretario  do  conselho  Ultramarino,  ao  Brigadeiro 
António  PeJro  de  Vasconcellos,  sobre  o  negocio  da  praça 
da  Colónia  Vol.  1,  pag.  322. 
Gusman  (Ruy  Dias  de)  —  Sobre  alguns  factos  notáveis 
que  se  acham  relatados  na  historia  da  fundação  da  cidade 
da  Assumpção,  capital  do  Paraguay,  e  das  conquistas 
dos  hespanhóes  no  Rio  da  Prata;  obra  escripta  no  co- 
meço do  século  XVII,  pelo  Paraguayo— ,.  descendente 
de  um  dos  conquistadores.  Vol.  17,  pag.  5. 
Informação  sobre  o  modo  porque  se  eífectua  a  navegação 

do  Pará  para  Matto-Grosso.  Vol.  2,  pag.  281. 
Informação  do  Brasil  e  suas  capitanias  15SÂ  Vol.  6,  pag.  404. 
Instrucção  para  D.  António  de  Noronha,  Governador  e 
Capitão-general  da  capitania  de  Minas-Geraes.  Vol.  6, 
pag.  215. 
Instrucção  militar  para  Martim  Lopes  Lobo  de  Saldanha, 
Governador  e  Capitão-general  da  capitania  de  S.  Paulo. 
Vol.  4,  pag.  350. 
Instrucção  para  o  Visconde  de  Barbacena.  Luiz  António 
Furtado  de  Mendonça,  governador  e  Capitão-general  da 
capitania  de  Minas-Geraes.  Vol.  6,  pag.  3. 
Instrucçõcs  do  governo  para  Francisco  Delgado  Freire  de 

Castilho,  Governador  da  Parabyba.  Vol.  O,  pag.  í36. 
Inventario  de  todos  os  papeis  ofliciaes  que  por  óbito  do 
Tenente  General  Sebastião  Xavier  da  Veiga  Cabral  da 
Camará,  Governador  do  continente  do  Rio  Grande  do 
Sul,  ficaram  à  cargo  do  Sargenlo-mór  José  Ignacio  da 
Silva.  Vol.  11.  pag.4il3. 
llcnerario  desde  os  confins  septenlrionacs  da  capitania  do 
Rio  Grande  do  Sul,  até  a  cidade  de  S,  Paulo,  1797.  Vol. 
21,  pag.  3Í2. 


—  780  — 

Jardim  ( Ricardo  Josj  Gomes)—  Creação  da  directoria  dos 

índios  na  Província  de  Mato  Grosso.  Officío  dirigido  ao 

Governo  Imperial  em  18í6  pelo  Coronel  Presidente  da 

da  mesma  provincia.  Vol.  9,  pag.  548. 

Jefferson  (  Thomaz  )—  Extractos  da  correspondência  do 

mesmo  senhor.  Vol.  3,  pag   208. 
Joáo  (  Mestre )—  Carta  do  physico  d' El -Rei,  para  o  Sr.  de 
Vera  Cruz  ao  l.«  de  Maio  de  ISOO,  encontrada  oa  torre 
do  Tombo  p)r  ámhigim  .  Vol.  5,  pag.  342. 
S.  João  de  Ypanema.— Descripçáo  do  morro  do  mineral  de 
ferro,  sua  riqueza,  methodo  usado  na  antiga  fal^rica, 
seus  defeitos.  Vol.  18,  pag.  235. 
Joaquim  (Irmão)— Vide:  —Cartado  »  Vol.  22,  pag.  441. 
Jomard  ( M )  Noticia  sobre  os  Botocudo^,  acompanhada  de 
um  vocabulário  de  seu  idioma,  e  de  algumas  observações 
Vol.  9,  pag.  107. 
Joseph  ( Padre )  — r  Copia  de  uma  carta  escripta  da  Bahia 
do  todos  os  Santos  em  Julho  de  1565,  ao  Dr.  Jacome 
Martins,  provincial  da  C.  de  Jesus.  Vol.  3,  pag,  248. 
S.  José  (Fr.  Rodrigo  de)  —  C^antico  recitado   na  sessão 
solemue  do  1  ."*  de  Julho  de  1847,  commemorativa  do 
passamento  do  Sr,  D.  AlTonso,  primogénito  de  SS.  MM. 
II.  Vol.  II,  pag.  49. 
S.  Josó  (Bispo  U.  Frei.  João  de)— Viagem  e  visita  do  sertão 
em  o  bispado  ao  Grâo-Parà  em  1762  e  1763.  Vol.  9, 
pags.  43.  179.  e  476. 
Juízo  sobre  os  annaes  da  provincia  de  S.  Pedro,  publicados 
por  Josj  Feliciano  Fernandes  Pinheiro  Visconde  de  S. 
Leopoldo  (2.'  ediccáo)  Vol.  1,  pag.  315. 
Juízo  da  commissão  de  historia  sobre  a  obra— compendio 
das  eras  da  provincia  do  Pará— por  A.   Ladisláo  Monteiro 
Ihem.  Vol.  2,  pag.  235. 


—  787  - 

Juízo  sobre  a  obra  intitulada-— Examen  critique  rbistoire 

de  la  géographie  du  nouveau  continent,  par  Alexandre 

de  Humboldt.  Vol.  2,  pag.  lOS. 
Juízo  sobre  a  obra  intitulada— Histoire  des  relations  com- 

merciales  entre  la  France  et  le  Brésil,  par  Horace  Say. 

publicada  em  Paris  em  1839.  Vol.  1,  pag.  308. 
Juízo  sobre  a  historia  do  Brasil  publicada  em  Pariz  pelo 

Dr.  Francisco  Solano  Constâncio.  Vol.  1,  pag.  91. 
Juízo  sobre  a  obra-^Notícia  descriptiva  da  província  do 

Rio  Grande  de  S.  Pedro  do  Sul— por  Nicoláo  Dreys. 

Vol.  2,  pag.  49. 
Lacerda  e  Almeida  (Dr.  Francisco  José  de)  —  Memoria  a 

respeito  dos  rios  Baurés,  Branco,  da  Conceição,  de  S. 

Joaquim,  Itonamas  e  Maxupo ;  e  das  três  Missões  da 

Magdalena,  da  Conceição,  e  de  S.  Joaquim.  Vol.   12, 

pag.  106. 
Lagos  (Manuel  Ferreira)— Elogio  Histórico  do  Padre  mestre 

Fr.  José  Mariano  da  Conceição  Velloso.  Vol-  2.  pag.  iO 

(Suppl) 
Lagos— Relatório  dos  trabalhos  do  Instituto,  no  6/  anno 

académico.  Vol.  6.  pag.  4.  (Suppl.) 
Lagos— Relatório  dos  trabalhos  do  Instituto  Historio,  lido 

na  sessão  publica  de  9  de  Setembro  de  1847.  Vol.  11, 

pag.  89. 
Lara(DíogoArouche  de  Moraes)— Memoria  da  campanha 

de  1816,  com  a  exposição  dos  acontecimentos  militares 

das  fronteiras  de  Missões  e  Rio  Pardo,  da  capitania  do  Rio 

Grande  de  S.  Pedro  do  Sul.  Vol.  7,  pags.  125.  e  273. 
Lavradio  (Marquez  de)— Relatório  a  Luiz  de  Vasconcellos  e 

Sousa,  seu  successor  no  vice-reinado  do  Rio  de  Janeiro. 

Vol.  4,  pag.  409. 

Leal  (Felippe  José  Pereira)  —  Memoria  do  Sr.—  sobre  os 

100 


-  788  - 

aconlecimenlos  poHlicos  que  tiveram  lagar  no  Pará  era 
1822-^1823.  Vol.  22,  pag.  ICl. 

Leite  (Diogo) —Cirta  de—  pira  El-Rei,  em  30  de  Abril  de 
1528,  encontrada  c  copiada  na  Torre  do  Tombo  por  Var- 
nhagen.  Vol.  6.  pag.  2á2. 

Leite  (Maximiano  Antoníoda  Silva)— Memoria  sobre  oeclípse 
do  Sol,  de  15  de  Março  de  1833.  Vol.  1,  p:ig.  57. 

Leite  —  Memoria  sobre  o  cometa  visto  em  Março  de  1843 
no  Rio  de  Janeiro.  Vol.  5.  pag.  207. 

Lembrança!  do  que  devem  procurar  nas  províncias  os  sócios 
do  Instituto,  para  remetterem  ao  Rio  de  Janeiro.  Vol.  1 
pag.  128. 

Leme  (Pedro  Taques  de  Almeida  Paes)— Historia  da  Capi- 
tania de  S.  Vicente,  desde  a  sua  fundaçãs  por  Martim 
Affonsode  Sousa  em  '1531.  escripta  em  1772,  por  —  > 
Vol.  9,  pag^.  137,  2í)3,  4i5. 

Leme  (Pedro  Taques  de  Almeida  Paes)— Noticia  histórica 
da  expulsão  dos  Jesuítas  do  collegio  de  S.  Paulo.  Vol.  12 
pag.  5. 

Leonardo  (  Padre  )—  Copia  de  uma  carta  do  mesmo,  es- 
cripla  deS.  Vicente  a  23  de  Junho  de  1565.  Vol.  4, 
pag.  22i. 

S.  LeopDllo  ( Visconde  de  )  —  Programma  histórico  — 
O  Instituto  Histórico  c  Geographico  Brasileiro  é  o  re- 
presentante das  idéas  de  illustração,  que  em  differcntes 
epochas  se  manifestaram  em  o  nosso  continente.  Vol.  1, 
pag.  G6. 

S.  Leopoldo  (  Visconde  de)— Discurso  de  abertura  na 
sessão  publica  anniversaria  do  Instituto,  era  3  de  No- 
vembro dcl838.  Vol.  1,  pag,  255. 

S.  Leopoldo  (Visconde  de  )— Discurso  de  abertura  da  3. 
sess5n  anniversaria  em  lail.  Vol.  3,  pag, 3.  Suppl.  • 


—  789  - 

S.  Leopoldo  (  Visconde  de )—  Discurso  de  abertura  da  4.' 

sessão  aoniversaria  em  18i2.  NoI.  A,  pag.  1.  Suppl. 
Levantamento  em  Minas  Geraes,  no  anno  de  1708  (Extracto 

da  vida  do  Padre  Belchior  de  Pontes,  escripta  pelo  Padre 

Manoel  da  Fonseca,  Jesuitas  naturaes  de  S.  Paulo. ) 

Vol.  3,  pag.  261. 
Limo  ( Padre  Francisco  das  Chagas  )  —  Memoria  sobre  o 

descobrimento  e  Colónia  de  Guarapuava.  Vol.  í,  pag.  iS3. 
Lisboa   (  Conselheiro  Balthazar  da  Silva )— Extracto  dos 

annaes  do  Rio  de  Janeiro.  Das  pessoas  distinctas  que 

ajudaram  á  fundação  e  edificarão  do  Riotle  Janeiro  YoK 

4.  pag.  248  e  318. 
Lisboa  (  Conselheiro  Balthazar  da  Silva  )— Extracto  dos 

annaes  do  Rio  de  Janeiro.  Vol.  5,  pag.  403. 
Lisboa  (Conselheiro  Balthazar  da  Silva)—  Recordação 

memorável  das  pessoas  illustres  que  serviram  á  gloria 

deste  paiz,  até  a  epocha  de  1710.  VoL  5,  pag.  A20. 
Lisboa  ( Conselheiro  José   António  )  —  Elogio  histórico 

do  Conselheiro  Silvestre  Pinheiro  Ferreira.   Vol.  II, 

pag.  195. 
Lisboa  ( Miguel  Maria  )—Memorandum  sobre  limites  do 

Brasil.  Vol.  9,  pag.  436. 
Lista  dos  Membros  do  Instituto,  em  1839.  Vol.  1,  pags. 

1/42,  252,  367. 
Lopes  (Joaquim  Francisco)  — •  Itinerário  da  digressão  que 

fez  no  exame  de  uma  communicação  de  carro  para  o 

Paraguay.  Vol.  13,  pag.  315. 
Lund  (Doutor) —Carta  escripta  da  Lagoa  Santa  (Minas-Geraes) 

ao  Sr.  1.*  Secretario  do  Instituto.  Vol.  4,  pag.  80. 
iand  (Doutor)— Correspondência  do  mesmo  Sr.  da  Ligôa 

Santa,  sobre  novas  descobertas  de  ossos  e  craneos  achados 

em  suas  escavações.  Vol.  6,  pag.  326. 


—  790  - 

Macedo  (Dr.  Joaquim  Manoel  de)  —  O  amor  da  gloria— 
Hymno  Bíblico.  VoK  11.  pag.  276. 

Macedo  (Dr.  Joaquim  Manoel  de)— Relatório  dos  trabalhos 
do  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro^  durante 
o  anno  de  1852.  VoK  15.  pag.  iS80. 

Idem  de  1853  Vol.  16,  pag.  563. 

Idem  de  185i    >     17,    »      3.    suppl. 

Idem  de  1855    »     18.    »      3.    suppl. 

Idem  de  1856    t     19.    »     91.    suppl. 

Macedo  (Dr.  Joaquim  Manoel  de)— Elogio  histórico  dos 
S0GÍQ8  do  Instituto  Histórico,  fallecidos  durante  o  anno 
de  1857.  lido  na  sessão  anniversaria  de  15  de  Dezembro 
do  dito  anuo.  Vol.  20,  pag.  67.       (Suppl.) 

Idem.  durante  o  anno  de  1858.  Vol.  21.  pag.  530. 

Idem.  durante  o  anno  de  1859.  Vol.  22.  pag.  704.  Suppl. 

Machado  (Francisco  Xavier)  —  Memoria  relativas  ás  capi- 
tanias do  Piauby  e  Maranhão.  Vol.  17,  pag.  56. 

Madre  de  Deos  (Fr.  Gaspar  da)— Noticia  dos  annos  em  que 
se  descobriu  o  Brasil,  e  das  entradas  das  Religiões,  e 
suas  fundnçõcs,  &c;  copiada  de  um  manuscripto  do  Mos- 
teiro de  S.  Bento  de  S.Paulo.   Vol.  2.  pag.  425. 

Magalhães  (Dr.  Domingos  José  Gonçalves  áS)  —  Memoria 
histórica  e  documentada  da  revolução  da  província  do 
Maranhão,  desde  1839  até  18AC.  ol.  10,  pag.  263. 

Maia  (Dr.  Emílio  Joaquim  da  Silva)  — -  Elogio  histórico  do 
Dr.  José  Pinto  de  Azevedo.  Vol.  2,  pag.  59,       (Suppl. ) 

Maia  (Dr.  Emilio  Joaquim  da  Silva)  —  Discurso  recitado 
na  sessão  solemne  do  l.'  de  Julho  de  18A7,  commema* 
rativa  do  passamento  do  Sr.  D.  Affonso.  Primogénito  de 
SS.  MM.  lí.  Vol.  11,  pag.  32. 

Manuscriptos  (Relação  dos)  offerecidos  ao  Instituto  His- 
tórico e  Geographico  Brasileiro  desde  16  de  Setembro  de 


—  791  — 

1847  até  10  de  Dezembro  de  1853.   Vol.  15.  pag. 
$i8. 

Manuscriptos  de  18j3  Vol.  16,  pag.  626. 

Idem  de  1854  Vol.  17,  pag.    97.    suppl. 

Idem  de  1855    i     13,     »       76.    suppl. 

Idem  de  1856    >     19,     >     168.    suppl. 

Idem  de  1857     i     20,     i      112.    suppl. 

Idem  de  1858    »     21,     »     585. 

Idem  de  1859    i     22.     d      759.    suppl. 

Mappa  das  tres  princtpaes  batalhas  da  campanha  de  1816, 
perteuceute  ao  apêndice  da  memoria  respectiva.  Vide 
Lara.  Vol.  7«  pag.  328. 

Mappas  oflerecidos  ao  Instituto  Histórico  no  anno  de  185i. 
Vol.  17,  pag.  88. 

Marcos  e  José  Mauricio»  catalogo  de  suas  obras.  Vol.  22, 
pag. 487. 

Martins  (Francisco  de  Sousa)*-Progresso  do  jornalismo  do 
Brasil.  Vol.  8,  pag.  326. 

Martins  (Dr.  Carlos  Frederico  Ph.  de)— Como  se  deve  es- 
crevera historia  do  Brasil.—  Vol.  G,  pag.  381. 

Mascarenha  (  D.  Francisco  de  Assis )— Carta  escripta  pelo 
mesmo  Sr.  no  dia  em  que  deu  posse  do  Gorerno  da 
da  Capitania  de  Goyaz  a  Fernando  Delgado  Freire  de 
Castilho,  nomeado  seu  successor.  Vol.  5,  pag.  58. 

Mascarenha  ( José  Freire  de  Montenegro  )— Os  Orizcs  con- 
quistados, ou  noticia  da  conversão  dos  indómitos  Orizes 
Procazes,  povos  habitantes  e  guerreiros  do  Sertão  do 
Brasil;  na  qual  se  descreve  também  a  asperesa  do  sitio 
da  sua  habitaçáOp  a  cegueira  da  sua  idolatria  e  barbari- 
dade de  seus  ritos.  Vol.  8,  pag.  i94. 

Matas  das  Alagoas  ( As )— Providencias  acerca  delias,  e  sua 
descripçáo.  Vol.  22,  pag.  339. 


-  792  — 

Mattos  (João  Wilkens  de )— Alguns  esclarecimentos  sobre 
as  missões  cia  Província  do  Amazonas  por)—  Vol.  19, 
pag.  12i. 

Medição,  direcção  e  observações  da  nova  estrada  que  da 
cachoeira  do  Rio  Santa  Maria,  termo  da  villa  da  Victo- 
ria.  segue  pelo  Sertão  intermédio  á  villa  Rica.  Vol.  6, 
pag.  /i63. 

Mello  (  Sebastião  José  de  Carvalho  e )  —  OfBcio  que  como 
Ministro  Portuguez  em  Londres  escreveo  para  a  Corte 
de  Lisboa  em  8  de  Julho  de  17^1.  Vol.  4,  pag.  505. 

Memoria  da  fundação  da  igreja  de  S.  Sebastião;  com  um 
catalogo  dos  prelados  administradores  da  jurisdicçáo 
ecclesiastica,  e  dos  reverendo  bispos  que  tem  havido  ató 
o  presente.  Vol.  ti,  pag.  173. 

Memoria  da  nova  navegação  do  Rio  Arinos  até  a  villa  de 
Santarém,  estado  do  Gráo-Parà.  Vol.  19,  pag.  99. 

Menezes  (Dr.  Francisco  de  Paula)— Ode  recitada  na  sessão 
solemne  do  l."*  de  Julho  de  1847,  commemorativa  da 
passamento  do  Sr.  D.  Affonso,  Primogénito  de  SS.  MM. 
II.  Vol.  11,  pag.  79. 

Menezes  (Dr.  Francisco  de  Paula)  —  Elogio  histórico  do 
Cónego  Januário  da  Cunha  Barbo-a.  Vol.  11,  pag.  2í0. 

Menezes  (Dr.  Francisco  de  Paula)— Discurso  do  orador  in- 
terino—na sessão  publica  anni versaria  do  Instituto  His- 
tórico em  13  de  Dezembro  de  1833»  Vol.  16,  pag.  €00. 

Menezes  (José  Pedro  Cezar  de)  —  Roteiro  para  seguir  a 
melhor  estrada  do  Maranhão  para  a  corte  do  Rio  de 
Janeiro,  feito  em  18i0.  Vol,  3,  pag.  46i. 

Menezes  (D.  Manuel  de)  —  Ilecuperaçáo  da  cidade  do  Sal- 
vador,—escripta  por»  Copia  cotejada  com  omanuscripto 
original  deMarlrid,  por  Francisco  Adolpho  deVarnhagen. 
Vol.  22,  pag.  357. 


—  793  — 

Mesa  e  commissões  (Reação  dos  membros  da)  do  Insti- 
tuto Histórico  qae  devem  dirigir  os  trabalhos  do  mesmo 
Instituto  noannodeI856.  Vol.  I9,png.  172.  (SuppK) 

Idem  de  I808  Vol.  20,  pag.  3».        (suppl.) 

Idem  de  1850     .     21.     .     495. 

Montenegro  (General  Caetano  Pinto  de  Miranda)— Resposta 
ao  parecer  sobre  o  aldeamento  dos  índios  Uaicurús  e 
Guanàs.  do  Corone!  Ricardo  Franco  do  Almeida  Serra. 
Vol.  7,  pag.  213. 

Moreno  (Coronel  José  Ignacio  do  Couto)— Extracto  de  uma 
memoria  enviada  ao  Governo  da  província,  com  data  de 
27  de  Novembro  de  18i3.  Vol.  6,  pag.  H3. 

Museu  de  antiguidades  americanas,  fundado  em  Copenhagen 
pela  sociedade  Real  dos  Antiquários  do  Norte,  sob  pro- 
posta de  seu  Secretario  o  Sr.  C.  C.  Rafn.  Vol.  7.  pag.  9i. 

Navarro  (Desembargador  Luiz  Thomaz  de)— Itinerário  da 
viagem  que  fez  por  terra  da  Bahia  ao  Rio  de  Janeiro, 
por  ordem  do  Príncipe  Regente,  em  1808.  Vol.  7. 
pag.  /i33. 

Necrologia  d.3  Marechal  de  Campo  Ray^nundo  José  da 
Cunha  Mattos.  Vol.  1»  pag.  72. 

Necrolo;5Ía  do  sócio  eíTectiv.)  Major  Henrique  Luiz  de 
Niemeyer  Bellegarde.  Vol.  1.  pig.  138. 
^^^[fibrega  (Padre  Manoel  da)— Copia  de  uma  carta  que  es- 
'crííilPip  Illm.  Cardeal  de  S.  Vicente,  1.*  de  Julho  de 
1560.  Vojf^S,  pag.  328. 

NolvM^lPadre  Manoel  da)  —Carta  qae  escreveu  ao  Padre 
mestre  Simão  em  1549.  Vol.  5,  pags.  A29.  433  ei3o. 

Nóbrega  (Padre  Manoel  da)— Carta  mandada  da  capitania 
de  Pernambuco,  em  o  anno  de  1351.  Vol.  6,  pag.  104 . 

Nóbrega  (Pa  Ire  Manoel  da)— Carta  copiada  do  rcnl  archivo 
de  Lisboa.  Vol.  2,  pag.  277. 


—  794  — 

Nobregi  (Padre  Manoel  da)  —  Informação  das  terras  do 
Brasil,  mandada  pelo  mesmo.  V(4.  6,  pag.  91. 

Nogaeira  (Capítáo-Tenente  José  Maria)— Viagem  feita  pelo 
Commandante  do  rapor  de  goerra  Goaptassú»  primeiro 
que  subio  o  Amazonas.  Vol.  6,  pag.  378 « 

Notas,  apontamentos  e  noticias  para  a  historia  da  protincia 
doEspirílo-Santo.  Vol.  i9,  pag.  161. 

Notas  lidas  pelo  Barâo  de  Cayrú  sobre  a  questão  Wise. 
Vol.  14,  pag.  475. 

Noticia  ( Breve )—  Sobre  a  creaçáo  do  Instituto  Histórico 
e  Geographico  Brasileiro.  Vol.  I,  pag.  3. 

Noticia  sobre  o  thesouro  descoberto  no  máximo  rio  Ama- 
zonas, escripta  por  F.  A.  de  Varnhagem.  Vol.  2,  pag. 
319. 

Noticia  sobre  os  índios  Tupinambás,  seus  costumes,  écc. 
Vide  Soares  de  Sousa  ( Gabriel.  ) 

Noticia  sobre  a  obra  publicada  em  Compenhagen  pela 
Socieda  Je  Real  dos  Antiquários  do  Norte— com  o  titolo 

— Antiquitates  Americanae.  Vol.  2,  pag.  202. 

Noticia  da  fundação  e  principios  da  aldèa  de  S.  João  de 
Queluz,  província  de  S.  Paulo.  Vol.  5,  pag.  69. 

Noticia  da  sessão  publica  anniversaria  do  Instituto,  cele- 
brada no  dia  U  de  Dezembro  de  1844.  Vol.  6.  pag.  1. 
( Suppl. ) 

Noticia  dos  acontaciraentos  pela  presente  guerra  nos  sele 
povos  de  Missões  e  n'esta  fronteira  do  Rio  tfrande  de 
S.  Pedro.  ( Anno  de  1801. )  Vol.  10.  pag.  3^. 

Noticias e reflexões  sobre  as  minas  deCantagallo,  na  provín- 
cia do  Rio  de  Janeiro,  escripta  em  1803.  Vol  12,  pag.  518. 

Nunes  (António  Duarte)— Memoria  do  descobrimento e 
fundação  (Ja  Cidade  do  Rio  de  Janeiro,  no  anno  delõ67. 
Vol.  1,  pags.  110,  e2!8. 


—  793  — 

NuDes  ( AntODÍo  Duarte }—  Almanaeh  histórico  da  Cidade 
de  S.  Sebastião  do  Rio  de  Janeiro,  Vide  AlmaQch  &c. 
Voi.  21.  pag.  5. 

Nuues  (Diogo  Carta  de)— Escripta  a  D.  Joio  III,  encon- 
trada  e  copiada  na  Torre  do  Tombo  por  Varnhagen. 
Vol.2.  pag.  36i. 

Oblação  do  Instituto  Histórico  ã  memoria  de  seu  Presi- 
dente Honorário  o  Sr.  D.  ÂíTonso»  Augusto  Primogénito 
deSS.  MM.  11.  Vol.  11,  pag.  5. 

Obra  que  concorreu  aos  prémios  propostos  por  S.  M.  h 
e  pelo  Instituto  Histórico  (1855).  Vol.  18,  pag.  90. 

Obras  e  impressões  (Relação  das)  oílerecidas  ao  Instituto 
Histórico  e  Gcographico  Brasileiro.desde  16  de  Setembro 
de  l8/i7,  ato  10  de  Dezembro  de  1852.  Vol.   15, 


pag.  556. 

Idem  de  1853  Vol. 

16, 

pag. 

616. 

Idem  de  1854    > 

17, 

f 

88suppl. 

Idem  de  1855    » 

18. 

X> 

79  suppl. 

Idem  de  1856    > 

19, 

» 

155suppl. 

Idem  de  1857    . 

20. 

» 

96  suppl. 

Idem  de  1858    > 

ai. 

» 

565. 

Idem  de  1859    > 

22. 

» 

742. 

OíTicio  do  Coronel  Gommandante  das  forças  do  Sul  da  pro- 
vincia  de  S.  Paulo,  e  outros  documentos  relativos  à  des- 
coberta que  acaba  de  eííectuar  na  mesma  província,  dos 
campos  denominados  do  —  Paiqueré— copias  remettidas 
ao  Instituto  por  aviso  do  ministério  da  guerra.  Vol.  4, 
pag.  519.  (Âcta  de  6  de  Outubro  de  1842). 

OfÚcio  e  relatório  que  ao  ministério  da  guerra,  dirigiu  o 
Coronel  Commandante  Superior  João  da  Silva  Machado, 
a  respeito  das  explorações  feitas  nos  campos  denomi- 
nados do— Paiqueré.  —Copias  remettidas  í^o  Instituto 

101 


—  796  — 

por  avisado  míoisterio  da  gaerra.    Vol.  4,  pag.  99. 
(I  Jem  de  9  de  Fevereiro  de  1843.  j 

Officio  do  Governador  participando  ao  ministério,  náo  só 
conter  riqueza  de  ouro  os  córregos  da  estrada  de  Mitítís, 
como  de  haver  três  familias  de  índios  Puris  procurado 
aldearem-se  junto  ao  quartel  da  vílla  do  Príncipe.  — 
Resposta  ao  officio  supra,  e  descripçâo  da  estrada  para 
aprovinciade  Minas-Geraes  pelo  rio  Santa  Maria.  Yols.  6, 
pags.  460e461. 

Officio  do  Governador  de  Cabo-Frio,  Constantino  de  Me- 
nekUi  dfttado  do  Rio  de  Janeiro  a  1  de  Outubro  de  1625. 
Vol;  18.  pag.  407. 

OfBcio  sobre  a  estatística,  despezas  e  administração  da 
província  de  ftfatto-<}rosso,  de  1821.  a  1826.  Vol.  20, 
pag.  366. 

Oliveira  (Conselheiro  Cândido  Baptista  de)  —  Nota  sobre 
um  trecho  do  parecer  apresentado  ao  Instituto  na  sessão 
de  22  de  Novembro  de  1850,  pelo  sócio  effectivo  Diogo 
Soares  da  Silva  de  Bivar.  acerca  da  obra  publicada  pelo 
Sr.  Agostinho  Marques  Perdigâ^o  Malheiros,  sob  o  titulo 
de  Indígenas  Chronolúgico  dos  factos  maié  hotaveis  da 
Historia  do  Brasil.  Vt)l.  15,  pag.  113. 

Oliveira  (Conselheiro  Cândido  Baptista  de)— Parecer  sobre 
a  memoria  histórica  do  Sr.  Josó  Joaquim  Machado  de 
Oliveira,  àoerca  da  questão  de  limites  entre  o  Brasil  e 
Montevideo.  Vol.  16,  pag.  46i. 

Oliveira  (Conselheiro  Cândido  Baptista  de)  —  Discurso  de 
abertura  da  sessão  publica  anniversaria  do  Instituto  His- 
tórico no  anno  de  1859.  Vol.  22.  pag.  681  suppl. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)— A  celebração 
da  Paixão  de  Jesus  Christo  entre  os  Guaranis.  Vol.  4, 
pag.  331. 


-  797  - 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)  -<-  Descripção 
do  Convento  da  Penha  na  província  do  Espirito-Santo . 
Vol.  5,  pag.  118. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)*'-Programma— 
Se  todas  os  Indígenas  do  Brasil  conhecidos  até  hoje, 
tinham idéa  de  umi  única  Divindade, étc— Desenvolvido 
por.— Vol.  6.  pag.  133. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machadode)— Programioa— 
Qual  era  a  condição  social  do  sexo  feminino  entre  os 
indigenas do Brasil-r- Desenvolvido  por—  VqI.  4,p9g.  108. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)  —  Plano  de 
uma  colónia  militar  no  Brasil.  Yol.  7,  pag.  3/i0. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)  —  Noticia 
sobre  as  aldèas  dos  índios  da  província  de  S.  Pwlo 
desde  o  seu  começo  até  aactualidade.  Vol.  8,  pag.  204. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)— Memoria 
histórica  sobre  a  questão  de  liimte^  entro  o  Brasil  e 
Montevideo.   Vol.  16,  pag.  385. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)  —  MieiBorias 
sobre  o  descobrimento  do  Brasil,  —  algumas  conside- 
rações, por.— Vol.  18,  pag.  279. 

Oliveira  (Coronel  José  Joaquim  Machado  de)— À  emigração 
dos  Cayuaz  —  Narração  coordenada  sob  apoiUa^ientos 
dados  pelo  Sr.  João  Henrique  Elliot.  Vol.  19,  pag.  4i34. 

Oliveira  (Msyor  Manoel  Rodrigues  de)  —  Novos  indícios 
da  existência  de  uma  antiga  povoação  abandonada  no 
interior  da  província  da  Bahia:  noticia  coi^municada 
ao  Instituto  pelo  Sr.— Vol.  10,  pag.  3163. 

Oltoni  (Theophilo  Benedicto)  —  Noticia  sobre  os  selvagens 
doMucury.em  uma  carta  do  Sr.— Vol.  21,  pag.  191. 

Paes  Leme  (Pedro  Taques  de  Almeida)— Copia  fiel  do  titulo 
de  Taques  Pompeu  que  fez— pelo  anno  de  1763,  e  que 


—  798  — 

se  acha  em  poder  de  João  Pereira  Ramos  de  Azeredo 
Coulinho.  Vol.  18,  pag.  190. 

Paim  (Roque  Monteiro) — Copia  da  resposta  que  o  Secre- 
tario de  Estado  deu  a  Mr.  de  Bouíllé,  Enodmixador  de 
França  em  Lisboa/ sobre  a  sua  replica  offerecida  para 
mostrar  que  pertencem  à  coroa  de  França  as  terras  de 
Cabo-Frio,  Vol.  8,  pag.A53. 

Paiva  (Joaquim  Gomes  de  01i?eira)  —  Memoria  histórica 
sobre  a  colónia  allemáa  de  S.  Pedro  de  Alcântara, 
estabelecida  na  prorincia  de  S.  Catharina.  Vol.  10, 
pag.  504» 

Parecer  da  Commissão  de  Historia  acerca  da  obra  intitulada 
«  Reflexões  criticas  sobre  o  escripto  do  século  t6.*  im- 
presso com  o  titulo  de  <  Noticia  do  Brasil  por  F.  A.  de 
Varnhagem.  Vol.  2,  pag.  109. 

Parecer  da  Gommissão  de  Geographia  sobre  os  mappas 
seguintes :  1  .*  Mappa  ou  planta  topagraphica  planisphe- 
rica  da  Imperial  provincia  de  S.  Paulo»  levantada  pelo 
Tenente  Coronel  d'Engenheiros  José  António  Teixeira 
Cabral.  — 2.«  Mappa  da  Comarca  do  Sabarà,  levantado 
em  1817  por  Bernardo  José  da  Gama.  Vol.  2,  pag.  118. 

Parecer  sobre  a  2/  pirte  da  chronica  dos  frades  menores 
da  provincia  de  Santo  António  do  Brasil,  por  Fr.  António 
de  Santa  Maria  Jaboatão.  Vol.  2,  pag.  369. 

Parecer  sobre  o  1.**  e  S.**  vol.  da  obra  «  Voyage  pittoresque 
au  Brésil  par  J.  B.  Debret.  Vol.  3,  pag.  95. 

Parecer  da  Gommissão  especial  encarregada  de  examinar 
os  ossos  fosseis  remettidos  de  Cantagallo  ao  Instituto  por 
M.  Jacob  Van  Erwen.  Vol.  7,  pag.  519. 

Parecer  da  Coramissáo  especial  encarregada  pelo  Instituto 
de  ajuizar  do  mérito  das  duas  memorias  que  se  offere- 
ceram  ao  concurso  do  premio  proposto  sobre  o  melhor 


—  799  — 

plano  de  se  escrever  a  historia  antiga  e  moderna.  (Acta 

de  20  de  Maio  de  18J17.)  Vol.  9.  pag.  273. 
Parecer  da  Gommissão  acerca  da  creaçáo  d'uma  arca  de 

sigillo  no  grémio  do  Instituto.  (Acta  de  16  Fevereiro 
.    del850.  )Vol.  13,  pag.  133. 
Parecer  da  Commissâo  de  Historia  sobre  o  escripto  de  Mr. 

F.  Denis « Une  fete  brésilienne  a  Rouen. »  Vol.  14  pag. 

O  Senhor  D.  Pedro  II.  (  S.  M.  I. )  Veja-se  Resposta. 

Pereira  (Hyppolito  José  da  Costa)— Memoria  sobre  a  viagem 
aos  Estados-Unidos  em  1798,  por  —y>  ( 1801. )  Vol.  21, 
pag.  351 . 

Pereira  (  Padre  Joaquim  José)—  Memoria  qae  contém  a 
descripção  problemática  da  longitude  e  latitude  do  sertão 
da  capitania  geral  de  S.  Luiz  do  Maranhão,  que  igual- 
mente diz  respeito  ao  numero  das  Freguezias,  e  ao  das 
almas  de  que  consta  a  mesma  capitania,  dirigida  e  con- 
sagrada ao  [llm.  Exm.  Sr.  D.  Rodrigo  de  Sousa  Coutinho, 
Ministro  e  Secretario  d'Estado  dos  Negócios  da  Marinha 
e  dominios  ultramarinos,  &c.  Anno  de  1798.  Vol.  20, 
pag.  165. 

Pereira  (  Padre  Joaquim  José )—  Memoria  sobre  a  extrema 
fome  e  triste  situação  em  que  se  achava  o  sertão  da 
Ribeira  do  Apody  da  capitania  do  Rio  Grande  do  Norte, 
da  comarca  da  Parahyba  de  Pernambuco,  onde  se  des- 
crevem os  meios  deoccorrer  a  estes  males  futuros  írc— 
anno  de  1798.  Vol.  20,  pag.  175. 

Pinheiro  ( Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes  )  — 
Ensaio  sobre  os  Jesuitas.  Vol.  17,  pag.  67. 

Pinheiro  (Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes) — Breves 
reflexões  sobre  o  systema  de  cathequese  seguido  pelos 
Jesuitas  no  Brasil.  Vol.  19,  pag.  379. 


—  800  — 

Pinheiro  (Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes)— Apon- 
tamentos biographícos  sobre  o  Visconde  de  S.  Leopoldo. 
Yol.l9.  pag.  132. 

Pinheiro  (  Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes  )  — 
Discurso  proferido  na  occasião  de  dar-se  a  sepukura  o 
cadáver  do  Sócio  Honorário  Fr.  Francisco  de  Monte 
AI?eme.  Vol.  21,  pag.  A97. 

Pinheiro  (  Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes  )  — 

A  França  Ântirtica.Bosquejo  Histórico  do  estabelecimento 

•dosFrancezesno  Rio  de  Janeiro  e  sua  expulsão  no  século 

XVI,  e  das  suas  novas  invasões  no  século  XVHÍ.  Vol.  22 

pag.  3. 

Pinheiro  ( Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes  )  — 
Relatório  dos  trabalhos  do  Instituto  Histórico  e  Geogra- 
pbico  BrasileirO;  no  anno  de  1859,  pelo  I  •*  Secretario 
interino.  Vol.  22,  pag. 683  (Suppl. ) 

Pinto  ( Dr.  António  Pereira )—  Allocução.-*  Recitada  na 
sessão  solemne  do  i.*  de  Julho  del8i7,  commemorativa 
do  passamento  do  Sr.  D.  Affonso,  Primogénito  de  SS. 
MM.  II.  Vol.  11.  pag.  66. 

Pinto  (  Dr.  António  Pereira  )— Elogio  biographico  do 
Conselheiro  António  Carlos  Ribeiro  de  Andrada  Machado 
e  Silva.  Vol.  11,  pag.  206. 

Pinto  (  Dr.  António  Pereira  )—  Memoria  sobre  peniten- 
ciarias, lida  na  sessão  do  Instituto  Histórico  de  4  de  Ou- 
tubro de  1856.  Vol.  21,  pag  LM. 

Pinto  {Bento  Teixeira  )—  Relação  do  Naufrágio  que  passou 
Jorge  de  Albuquerque  Coelho,  vindo  do  Brasil  no  anno 
de  1565.  Vol.  13,  pag.  279. 

Pinto  Bandeira  ( Joaquim  José )  —  Noticia  dá  descoberta 
Jo  Campo  de  Palmas.  Vol.  14,  pag.  423. 

Pires  ( Padre  António )—  Carta  que  escreveu  do  Brasil,  da 


-  801   - 

ca]>itaDÍa  de  Pernambuco,  ao3  irmãos  da  companhia,  de 
2  de  Agosto  de  1551.  Vol.  6,  pag.  95. 

Pizarro  (Monsenhor)— Eiitracto  das  memorias  sobre  o  Rio 
de  Janeiro  T.  6,  cap.  7.*-^  Do  assento  primeiro  da 
igreja  cathedral.  da  sua  mudança  para  outros  lugares. 
Vol.  5.  pag.  443. 

Plano  económico  e  provincial  para  o  estabelecimento  do 
correio  desta  corte  para  a  cidade  da  Bahia.  Vol.  7^ 
pag.  464. 

Pontes  (Manoel  José  Pires  da  Silva)  —  Extractos  de  uma 
viagem  feita  à  província  do  Espirito-Santo,  pelo  mesmo 
Sr.  Vol.  1,  pag.  333. 

Pontes  (R.  de  S.  da  Silva)— Programma:— Onde  appren- 
deram,  e  quem  foram  os  artistas  que  iizeram  levantar 
os  templos  dos  Jesuitas  em  missões,  e  fabricaram  as 
estatuas  que  alli  se  acharam  coliocadas?— Desenvolvido 
pelo  mesmo  Sr.   Vol.  4,  pag.  65. 

Pontes  (R.  de  S.  da  Silva)— Programma:—Quaes  os  meios 
de  que  se  deve  lançar  mão  para  obter  o  maior  numero 
possível  de  documentos  relativos  à  Historia  e  Geographia 
do  Brasil.   Desenvolvido  por.— Vol.  A,  pag.  Ii9. 

Porto-Alegre  ( Manoel  de  Araújo )  —  Memoria  sobre  a 
antiga  escola  de  pintura  fluminense.  Vol.  3,  pag.  33, 
suppl. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Elogio  dos  sócios  Onados 
no  6.""  anno  académico.   Vol.  6,  pag.  33,  suppl. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)—  Discurso  recitado  no 
acto  de  baixar  á  sepultura  o  corpo  do  Secretario  per- 
petuo o  Cónego  Januário  da  Cunha  Barbosa.  (Acta de  8 
deMarçodel846.)   Vol.  8,  pag.  145. 

Porto-Alegre(ManoeideAraujo)— Discurso  recitado  na  sessão 
solemne  do  1  .*  do  Julho  de  18/i7,  commeroorativa  da 


-  802  - 

perda  do  Sr.  D.  Affonso.  Primogénito  de  SS.  MM.  II. 
Vol.  II.  pag.  10. 

Porto-\legre(Maao6lde  Araújo)— Elogio  histórico  geral  dos 
membros  fallecidos,  recitado  na  sessão  publica  de  9  de 
Setembro  de  1847.  VoL  11,  pag.  150. 

Porto- Alegre  (Manoel  de  Araújo)  —  Discurso  recitado  na 
sessão  publica,  em  6  de  Abril  de  1848,  para  inaugua- 
ração  dos  bustos  do  Cónego  Januário  da  Cunha  Barbosa, 
e  do  Marechal  Raymundo  Josó  d:\  Cunha  Mattos,  funda- 
dores do  Instituto.  Vol.  11,  pag.  219. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Discurso  proferido  à 
beira  do  tumulo  em  que  foram  sepultados  os  restos 
mortaes  do  proclai*o  brasileiro,  o  senador  Francisco  de 
Paula  Sousa  Mello.  Vo!.  15,  pag.  2/il. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Discurso  do  Orador  do 
Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro,  o  Sr. — 
proferido  na  sessão  publica  do  mesmo  Instituto,  em  15 
de  Dezembro  de  1852.  Vol.  15,  pag.  513. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Discurso  recitado  pelo 
Orador  do  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro  o 
Sr.  —  no  enterro  do  Commendador  José  de  Paiva  Ma- 
galhães Cal  vet,  membro  eOectivo  do  Instituto.  Vol.  16». 
pag.  133. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)  —  Discurso  recitado  na 
sessão  publica  anni  versaria  em  15  de  Dezembro  de  1854. 
Vol.  17,  pag.  51,   suppl. 

Porlo-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Idem  na  sessão  publica 
anniversaria  de  15  de  Dezembro  do  1855.  Vol.  18, 
pag.  33,  suppl. 

Porto-Alegre  (  Manoel  de  Araújo )  —  Idem  na  sessão 
Magna  em  15  de  Dezembro  de  1856.  Vol.  19,  pag.  123, 
snppl. 


—  803  — 

Porlo-Alegre  (Manoel  do  Araújo)— Iconographia  Brasileira 
Vol.  19,  pag.  349. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Apontamentos  sobre  a 
Yidae  obras  do  Padre  José  Maurício  Nunes  Garcia. 
Vol.  19,  pag.  35A. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Valentim  da  Fonseca 
e  Silva.  Vol.  19,  pag.  369. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Francisco  Pedro  do 
Amaral.  Vol.  19,  pag.  375. 

Porto-Alegre  (Manuel  de  Araújo)— Relatório  do  1  /  Secre- 
tario o  Sr.  —  dos  trabalhos  do  Instituto  Histórico  no 
anuo  de  1857.  Vol.  20,  pag.  38.  suppl. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)  —  Idem  —  no  anno  de 
1858.   Vol.  21.  pag.  505. 

Porto-Alegre  (Manoel  de  Araújo)— Discurso  proferido  pelo 
Sr.— por  occasiáo  de  dar-se  a  sepultura  o  cadáver  do 
sócio  honorário  Fr.  Francisco  de  Monte  Alverne.  Vol.  21, 
pag.  499. 

Prado  (Francisco  Rodrigues  do)  —  Historia  dos  índios  ca- 
valleiros,  oa  da  nação  Guaycurú,  escripta  no  real  pre- 
sidio de  Coimbra.  Vol.  1,  pag.  21. 

Prazeres  Maranhão  (Fr.  Francisco  dos)  —  Collecção  de 
etymologias  brasileiras.  Vol.  1.  pag.  69. 

Prémios  propostos  por  S.  M.  o  Imperador.  Vols.  3  e  19, 
pags.  45  el5*,   (suppls.) 

Prémios  propostos  pelo  Instituto  Histórico.  Vols.  2,  3. 
4,  6e  11,  pags.  628,  A3.  35.  Í6  e  148.    (suppls). 

Privilégios  (Translado  dos)  que  S.  M.  concedeu  aos  cida- 
dãos da  Bahia  de  Todos  os  Santos.  Vol.8,pag.  612. 

Projecto  de  uma  estrada  da  Bahia  ao  Rio  de  Janeiro.  Vol  5, 
pag.  251. 

Projecto  de  uma  estrada  da  cidade  do  Desterro  às  Missões 

102 


—  804  — 

doUruguay.  e  de  outras  provindencias  que  devera  servir 

de  ensaio  ao  melboramealo  da  província  de  Santa  Ca- 

tharina.  Vol.  7,  pag.  834, 
Provisão  Regia  do  anno  de  1752,  para  se  construir  uma 

fortaleza  no  rio  Branco.  Vol.  4,  pag.  501. 
Przewodwski  (André)— Communicação  entre  a  cidade  da 

Bahia  e  a  vílla  do  Joazeiro.  Vol.  10,  pag.  37i. 
Quadro  das  distancias  em  léguas  de  vinte  ao  grão  entre  a 

capital,  cidades,  villas,  freguezias  e  mais  povoados  da 

província  do  Amasonas;  eitrabido  do  rebtorio  do  Pre- 
sidente da  mesma  província,  do  anno  de  1857.  Vol.  20, 

pag.  iS86. 
Quadro  das  forças  de  terra  e  mar  no  Rio  de  Janeiro,  Santa 

Catharina,  Rio  Grande,  Minas  Geraes  e  Praça  da  Colónia 

em  1776.  Vol.  21,  pag.  181. 
Quoniambabe(Chefelndío)— Retrato  do— (1557).  Vol.  13, 

pag.  517. 
Rafn  (C.  C.)— Memoria  sobre  o  descobrimento  d^America 

no  século  lO.v  Vol.  2,  pag.  208. 
aamirez(Luiz)— Carta  de— (1528).  Vol.  15,  pag.  14. 
Raposo  de  Almeida  (Francisco  Manoel)  —  Oblação  do  sócio 

correspondente— recitada  na  sessão  solemne  do  !.•  de 

Julbo  de  l8i7,cominemorativa  do  passamento  do  Sr.  D. 

AíTonso,  primogénito  dô  SS.  MM.  II.  Vol.  A.  pag.  48. 
Raposo  de  Almeida  (Francisco  Manoel)— Elc^io  Académico 

do  Eminentíssimo  Sr.  D.  Francisco  II  Cardeal  Patriarchi 

de  Lisboa.  Vol.  11,  pag.  198. 
Raposode  Almeida  (Francisco  Manoel)— Elogio  histórico  do 

Marechal  Raymundo  José   da  Cunha  Mattos.  Vol.    11, 

pag.  234. 
Raposo  de  Almeida  (Francisco  Manoel)— Origem  do  Collegio 

de  Pedro  II.  Vol.  19,  pag.  528. 


—  803  — 

Rebello  (José  Silvestre)— Programma:— Se  a  iniroducçâo 

dos  escravos  no  Brasil  embaraça  a  clvilísaçio  dos  nossos 

Indígenas.— Desenvolvido  por—.  Vol.  1,  pag.  133. 
Rebello.— Discurso  sobre  a  palavra— Brasil,  Vol.  1,  pag. 

286. 
Rebello.— Discurso  sobre  a  palavra  t Brasil»  para  servir  de 

supplemento  à  Memoria  lida  na  1  .*  sessSo  publica  anni- 

versaria.  Vol.  2,  pag.  66.  (suppl.) 
Rebello  e  Silva  (Thomaz  da  Costa  Correia)— Memoria  sobre 

a  provincia  de  Missões,  copiada  de  um  Ms.  offerecido 

ao  Instituto.  Vol.  2,  pag.  1S3. 
Regimento  dado  a  António  Cardoso  de  Barros,  cavalieiro 

fidalgo  da  casa  de  El-Rei  como  Provedor-mór  da  Fazenda 

que  primeiro  foi  ao  Brasil.  Vol.  18,  pag.  166. 
Registo  do  Regimento  de  S.  A.  Real,  que  trouxe  Roque  da 

Costa  Barreto,  do  conselho  de  S.  A.,  General  do  Estado 

do  Brasil,  a  cujo  cargo  está  o  governo  d'elle.  Vol.  5, 

pag.  288. 
Reinault  (Pedro  Victor)—  Relatório  da  exposição  dos  rios 

Mucury  e  Todos  os  Santos,  feito  por  ordem  do  Exm. 

Governo  de  Minas  Geraes,  tendente  a  procurar  um  ponto 

para  degredo.  Vol.  8,  pag.  356. 
Reis  (Coronel  Manoel  Martins  do  Couto)— Memoria  sobre 

a  fazenda  de  Sanla  Cruz.  Vol.  5,  pag.  ii3. 
Relação  dos  Membros  premiados  pelo  Instituto  Histórico, 

em  cumprimento  do  programma  apresentado  m  sessão 

Publica  de  14  de  Dezembro  de  1844.  Vol.  11,  pag. 

147. 
Relação  histórica  de  uma  occulta  e  grande  povoação  anti- 

quissima  sem  moradores,  que  se  descobrio  no  anno  de 

1753,  nos  sertões  do  Brasil.  Vol.  1,  pag.  181. 
Relação  de  uma  viagemã  serra  dos  Órgãos.  Vol.  ã,  pag.  7&. 


-  806  — 

Relação  do  levantamento  que  houve  nas  Minas-Geraes  no 
anno  de  1720,  governando  o  Conde  de  AssumarD. 
Pedro  de  Almeida.  Vol.  3,  pag.  275. 

Relação  dos  manuscriptos  â  respeito  do  Brasil  existentes 
no  Archivo  da  Secretaria  d^Estado  dos  Negócios  Estran- 
geiros. Vol.  A,  pag.  394. 

Relação  verdadeira  de  tudo  o  succedido  na  restauração  da 
Bahia  de  Todos  os  Santos,  desde  o  dia  em  que  partiram 
as  armadas  de  S.  M.,  até  o  em  que  em  a  dita  cidade 
foram  arvorados  os  seus  estandartes.  Vol.  5,  pag.  476. 

Relação  abbreviada  da  republica  que  os  religiosos  Jesuitas 
das  provincias  de  Portugal  e  Hespanha  estabeleceram 
nos  domínios  Ultramarinos  das  duas  Monarchias,  e 
da  guerra  que  n'elles  tem  movido  e  sustentado  contra 
os  exércitos  hespanhoes  e  portuguezes.  Vol.  4.  pag. 
265. 

Relação  da  acclamação  que  se  fez  na  capitania  do  Rio  de 
Janeiro  do  estado  do  Brasil,  e  nas  mais  do  Sul,  ao  Sr. 
Rei  D.  João  IV  por  verdadeiro  Rei  e  Senhor  de  seu. 
Reino  de  Portugal.  Vol.  5,  pag.  319. 

Relação  das  mattas  da  capitania  da  Parahyba.  Vol.  6, 
pag.  331. 

Relação  das  mattas  das  Alagoas,  que  tem  principio  no  lago 
do  Pescoço,  e  de  todas  as  que  ficam  ao  Norte  doesta  até 
ao  Rio  da  Ipojuca,  distante  10  léguas  de  Pernambuco. 
Vol.  7,  pag.  507. 

Relation  de  la  victoria  que  los  Portugueses  de  Pernambuco 
alcançaran  de  los  de  la  compania  dei  Brazil.  em  los  Ga- 
rerapes,  a  19  de  Febrero  de  1649.   Vol.  22,  pag.  331. 

Relatório  sobre  a  inscripção  da  Gavia  mandada  examinar 
pelo  Instituto.  Vol.  1,  pag.  86. 

Rendon  ( José  Arouche  de  Toledo)— Memoria  sobre  as 


—  807  - 

aldèas  de  índios  da  província  de  S.  Paulo,  segundo  as 
observações  feitas  no  anno  de  1798.  Vol.  A,  pag.  295. 

Representação  dirigida  em  1707  a  El-Rei  D.  João  V.,  pelos 
portuguezes  residentes  no  Rio  de  Janeiro,  acerca  do 
procedimento  que  contra  elles  tinham  os  filhos  da  terra 
nas  eleições  do  Senado  da  Gamara.  Vol.  10,  pag.  108. 

Requerimento  (  copia  do )  que  fez  o  Bispo  de  Marianna 
com  data  de  13  de  Abril  de  1752.  Vol.  6,  pag.  202. 

Resposta  que  S.  M.  I.  se  dignou  darão  discurso  do  Excel, 
lentíssimo  Presidente  do  Instituto,  no  acto  de  assistir 
o  mesmo  Augusto  Senhor  à  sessão  do  Instituto.  Vol.  12, 
pag.  551. 

Resposta  (Fac-simile  da)— Toda  escripta  do  punho  impe- 
rial entregue  por  S.  M.  No  fim  do  mesmo  Vol. 

Resumo  do  itinerário  de  uma  viagem  exploradora  pelos 
rios  Verde.  Itararé,  Parapanema,  e  seus  affluentes.  pelo 
Paraná,  Iraby  e  sertões  adjacentes  emprehendida  por 
ordem  do  Exm.  Sr.  Barão  de  Antonina.  Vol.  9,  pag.  17. 

Ribeiro  (  Duarte  da  Ponte )  —  Parecer  sobre  a  memoria 
histórica  acerca  da  questão  de  limites  entre  o  Brasil 
e  Montevideo,  do  Sr.  J.  J.  Machado  de  Oliveira.  Vol.  16* 
pag.  425. 

Ribeiro  (Duarte  da  Ponte)— Annexos  ao  Parecer  mencio- 
nado. Vol.  16,  pag.  452. 

Ribeiro  (Duarte  da  Ponte)— Defeza  do  Parecer  sobre  a  me- 
moria histórica  do  Sr.  Machado  de  Oliveira.  Vol.  16, 
pag.  506. 

Ribeiro  (Duarte  da  Ponte)— Appensos.  Vol.  16,  pags.  516 
8  529, 

Ribeiro  (Major  Francisco  de  Paula)—  Memoria  sobre  as  na- 
ções gentias  que  habitam  o  continente  do  Maranhão— 
Escripta  em  1819  pelo  —Vol.  3,  pags.  184,  297  e  894. 


—  808  — 

Ribeiro  (Major  Francisco  de  Paula)— Roteiro  da  viagem  que 
fet  ás  fronteiras  da  capitania  do  Maranhão  e  da  de  Goyaz 
iioannode  1815.  Vol.  10,  pag.  5. 

Ribeiro  (Major  Francisco  de  Paula)  —  Descripção  do  terri- 
tório de  Pastos  Bons  nos  sertões  do  Maranhão,  proprie- 
dades dos  seus  terrenos,  suas  producções,  caracter  de 
seus  habitantes,  colonos  e  estado  actual  de  seus  estabe- 
lecimentos. Yol.  12»  pag.  àl. 

Ribeiro  (Santiago  Nunes) -^Canto  elegíaco  dedicado  a  S.  M- 
A  Imperatriz.  Vol.  11»  pag.  18. 

Rifara  (Joaquim  Heleodoro  da  Cunha)— Artigo  acerca  dos 
Indígenas  da  costa  do  Brasil  (extrahido  do  Panorama. 
Vol.  7.  pag.  sai. 

Roscio  (Francisco  João)— Breve  noticia  dos  sete  povos  das 
Missões  Guaranis,  chamados  commummente  Tapes  Ori- 
entaes  ao  Uruguay.  Vol.  21.  pag.  239. 

Roteiro  da  viagem  do  Desembargador  Henrique  da  Silva,  e 
do  Major  de  engenheiros  Manoel  Cardoso  Saldanha,  acerca 
dos  montes  altos  para  o  estabelecimento  da  fabrica  de 
salitre.  &c.  \o\  5,  pag.  4A7. 

Roteiro  corographico  da  viagem  que  se  costuma  fazer  do 
Forte  do  Príncipe  da  Beira  à  Villa-Bella,  capital  de  Matto- 
Grosso.— Anno  de  1781.  Vol.  20,  pag.  390. 

Rubim  (Braz  da  Costa)  —  Noticia  Chronologíca  dos  factos 
mais  notáveis  da  historia  da  província  do  Espirito  Santo, 
desde  o  seu  descobrimento  até  a  nomeação  do  governo 
provisório.  Vol.  19,  pag.  336. 

Sà  (ManoclJosé  Maria  da  Costa  e)— Relatório  sobre  as  obras 
do  Dr.  Ferreira,  apresentado  à  Academia  real  das  scien- 
ciasde  Lisboa.  Vol.  2,  pag.  510. 

Saldanha  (José  de)— Diário  resumido  do  reconhecimento 


—  809  — 

(los  campos  de  novo  descobertos  sobre  a  serra  geral  nas 
cabeceiras  do  rio  Pardo.  Vol.  3,  pag.  64. 

Sampaio  (António  Botelho  de)— Descoberta  dos,  campos  de 
Guarapuava,  Vol.  18,  pag.  252. 

Sampaio  (Bacharel  Francisco  Xavier  Ribeiro  de)— Extncto 
da  viagem,  que  em  visita  e  correição  das  povoações  da 
capitania  de  S.  José  do  Rio  Negro  fez  o  mesmo  Bacharel» 
como  Ouvidor  e  Intendente  Geral,  dos  annos  de  177i  e 
1775.  Vol.  1,  pag.  97. 

Sampaio  (Bacharel  Francisco  Xavier  Ribeiro  de)— Relação 
geographica  histórica  do  Rio  Branco  da  America  Pprtu- 
gueza.  Vol.  13,  pag.  200. 

Santarém  (Visconde  de)— Carta  acerca  detim  memorandum 
publicado  no  2.""  vol.  da  2.*  série  pag.  436,  sobre  questões 
de  limites  do  Brasil.  Vol.  12,  pag.  414. 

Sapucahy  (Visconde  de )— Cândido  José  de  Araújo  Vianna, 
depois— .  Discurso  do  Exm.  Sr.  Vice-Presidenle  do 
Instituto  Histórico,  na  abertura  da  5.*  sessão  publica 
anniversaría  do  mesmo  Instituto  em  10  de  Dezembro  de 
1843.  Vol.  5,  pag.  2.  Suppl. 

Sapucahy  ( Visconde  de )—  Cândido  José  de  Araújo  Vianna 
depois —.Discurso  do  Exm.  Sr.  Vice-Presidentg  na 
sessão  publica  annivcrsasia  de  l&  de  Dezembro  de  184i. 
Vol.  5,  pag.  2.  Suppl. 

Sapucahy  ( Visconde  de )  — .  Discurso  recitado  na  sessão 
solemne  em  o  1.*  de  Julho  de  18A7,  para  commemorar 
a  saudade  que  deixa  ao  Instituto,  o  seu  Presidente  Ho- 
norário, e  Senhor  D.  Affonso,  Primogénito  de SS.  MM.  II. 
Vol.  11,  pag.  8. 

Sapucahy  (  Visconde  de)—  Discurso  recitado  na  abertura 
da  sessão  publica  anui  versaria  em  9  de  Setembro  de  1847. 
Vol.  11,  pag.  87. 


—  810  - 

Sapacahy  (  Visconde  de)—  Discurso  recitado  na  sessão 
publica  em  6  de  Abril  de  1848,  para  a  inauguração  dos 
bustos  do  Cónego  Januário  da  Cunha  Barbosa,  e  do 
Marechal  Raymundo  José  da  Cunha  Mattos,  Fundadores 
do  Instituto.  Vol.  11,  pag.  216. 

Sapucahy  ( Visconde  de  )—  Discurso  dirigido  a  S.  M.  o 
Inaperador,  na  occasiáo  de  assistir  o  mesmo  Augusto 
Senhor  a  sessão  do  Institutoeml5  de  Dezembro  de  1849. 
Vol.  12.  pag.  550. 

Sapucahy  (Visconde  de)  —Discurso  na  sessão  publica  anni ver- 
saria em  15  de  Dezembro  de  1852.  Vol.  15,  pag.  477. 

Sapucahy  (Visconde  de)— Discurso  na  sessão  publica  anni- 
versaria  em  15  de  Dezembro  de  1853.  Vol.  16,  pag.  561. 

Sapucahy  (  Visconde  de  )—  Discurso  na  sessão  publica 
anniversaria  em  15  de  Dezembro  de  185í.  Vol.  17. 
pag.  1.  Suppl. 

Sapucahy  ( Visconde  de )  —  Discurso  na  sessão  publica 
anniversaria  em  15  de  Dezembro  de  1855.  Vol.  18  pag. 
1.  Suppl. 

Sapucahy  (  Visconde  de )  —  Discurso  na  sessão  publica 
anniversaria  em  15  de  Dezembro  de  1856.  Vol  19,  pag. 
88.  Suppl. 

Sapucahy  (  Visconde  de  )  —  Discurso  na  sessão  publica 
anniversaria  em  15  de  Dezembro  de  1857,  Vol.  20  pag. 
35.  Suppl. 

Sapucahy  ( Visconde  de  )—  Discurso  na  sessão  publica  an- 
niversaria em  lõde  Dezembro  de  1858. Vol.  21,  pag.  503. 

Saraiva  ( Malheus  )  —  Carta  do  mesmo  abbade  Diogo  Bar- 
bosa Machado,  em  17A2.  Vol.  6,  pag.  357. 

Segurado  (Dr.  Rufino  Theolonio)  —  Viagem  de  Goyaz  ao 
Pará  em  1846-1847.  Vol.  10,  pag.  178. 


-  811  — 

Sentença  proferida  contra  os  réos  implicados  na  conspi- 
ração de  Minas-Geraos,  cm  1788.  Vol.  8,  pag.  311. 

Sequeira  (Joaquim  da  Costi)— Compendio  histórico  chrono- 
logico  das  noticias  de  Guyabà.  repartição  da  capitania  de 
Matto-Grosso,  desde  o  principio  do  anno  de  1778  até 
o  fim  do  anno  de  1817.  Vol.  13,  pag.  5. 

Serqueira  (Thomaz  José  Pinto)  —  Elogio  histórico  dos 
membros  fallecidos  no  3."*  anno  social.  Vol.  3.  pag.  2A. 
sgppl. 

Serra  (Ricardo  Franco  de  Almeida)— Memoria  ou  infor- 
mação dada  ao  Governo  sobre  a  capitania  de  Matto-Grosso 
em  31  de  Janeiro  de  1800.  Vol.  2.  pag.  19. 

Serra  (Ricardo  Franco  de  Almeida)— Extracto  da  descripção 
geographica  da  província  de  Matto-Grosso,  feita  em  1797. 
Vol.  6,  pag.  156. 

Serra  (Ricardo  Franco  de  Almeida) —Parecer  sobre  o  aldea- 
mento dos  índios  Uaicurús  e  Guanàs.  com  a  descripção 
de  seus  usos,  religião,  estabilidade  e  costumes.  Vols.  7 
e  13,  pags.  20A  e  3/i8. 

Serra  (Ri;ardo  Franco  de  Almeida)  —  Navegação  do  Rio 
Tapajós  para  o  Parà,escripta  em  1799.  sendo  Governador 
Caetano  Pinto  de  Miranda  Montenegro,  Vol.  9,  pag.  1. 

Serra  (Ricardo  Franco  de  Almeida)  —  Reflexões  sobre  a 
capitania  de  Matto-Grosso,  oíTerecidas  ao  Governador  e 
Capitão  general  da  mesma  capitania  João  de  Albuquerque 
de  Mello  Pereira  Cáceres,  —  pelos  Tenentes-Coroneis 
Joaquim  José  Ferreira  e— .  Vol.  12,  pag.  377. 

Serra  (Ricardo  Franco  de  Almeida)— Diário  da  diligencia 
do  reconhecimento  do  Paraguay,  desde  o  lugar  do  marco 
da  boca  do  Jaurú,  até  abaixo  do  presidio  de  nova 
Coimbra,  que  comprehende  a  configuração  das  lagoas 
Caiba,  Uberaba,  Mandioré,  e  das  serras  do  Paraguay,  c 

103 


-  812  - 

ígaalnicnle  o  reconhecimento  do  rio  Cuyabá  nlê  a  villa 

deste  nome,  e  delia  por  S.   Pedro  d'EI-Rci  ate  à  villa 

Bella— (no  anno  de  1786).  Vol.  20,  pag.  293. 
Sessão  publica  annirersaria  do  Instituto  Histórico  e  Geo- 

graphico  Brasileiro  no  dia  3  de  Novembro  de  1838  (Celc" 

braçio  di  l.*).   Vol.  1,  pag.  253. 
Sessão  idem  no  dia  27  de  Novembro  de  18  lO.    Vol.  2, 

pag.  1,  suppl. 
Sessão  idem  em  30  de  Novembro  de  1851.  Vol.  3.  pag.  1, 

suppl. 
Sessão  idem  cm 27  de  Novembro  de  1852.  Vol.  i,  pag.  1, 

suppl. 
Sessão  idem  de  I8ií.   Vol.  6,  pag.  1,  suppl. 
Sessão  idem  em  9  de  Setembro  de  18í7.  Vol.  11,  pag.  85. 
Sessão  publica  no  dia  6  de  Abril  de  18-íS.  para  inaugunção 

dos  bustos  do  Ck)Qego  Januário  da  Cunha  B;irbo8a»  e  do 

Marechal  Raymundo  José  da  Cunha  Mattos,  fundad,ores 

do  Instituto.  Vol.  11,  pag  215. 
Sessão  publica  annivcrsaria  do  Instituto  cm  15  de  Dezembro 

de  1852.  Vol.  13.   pag.  477. 
Sessão  publica  anni versaria  do  Intitulo  cm  15  de  Dezembro 

de  1853.  Vol,  16.  png.  561. 
Sessão  publica  anniversaria  do  Instituto  em  15  de  Dezoíiíbw 

de  18.j6.  Vol.  87,  pag.  19.  Suppl. 
Sigaud  (  Dr.  J.  h\  )— Elogio  histórico  do  Secretario  per- 
petuo Cónego  Januário  da  Cunha  Barbosa.  Vol.  11,  pag. 

185. 
Silva  (  Joio  Caetano  da  )—  Digressão  feita  por  — ,  em  1817 

(»ara  descobrir  a  nova  navegação  entre  a  capitania  de 

Goyaz  e  a  de  S.  Paulo.  Vol.  2,  pag.  312. 
Silva  (Dr.  Joa(|uim  Caetano  da)— Memoria  subrc  os  limiles 

do  Brasil  com  a  Cuyana  Fianceza,  conforme  o  sentido 


—  &13  — 

exa.ílo  tio  art.  8 » 

ik>  Traiaio. 

pag.  421. 

de    Utricht  VoL  t3, 


Silva  ( I)i\  Joaq  lim  Caelaao  da )—  Apemlice  ao  parecer  do 
Sr.  Diôg )  Soares  da  Silva  de  Bivar  s:)bre  o  Índice  chro- 
nologicodo  Sr.  Agostmho  Marques  Perdigão  Malheiros. 
Vol.  1.;.  pag.  87. 

Silva  (Joaquijii Norberto deSousn)—I&iratadedicaiia a  S.  M. 
a  Imperatriz,  recitada  na  sessão  solemne  do  !.•  de  Julho 
de  1847.  commem-irativa  do  passamento  do  Sr.  D. 
Affonso.  Primogénito  dcSS,  MM.  11,  Vol.  11,  pag.  38. 

Silva  (JoaquinvNorberto  de  Sousa)— Cântico  idem  Vol.  11, 
pag.  41. 

Silva  (Joaquim  Norberto  de  Sousa) —Visão  idem.  VòL  ti/ 
pag.  68. 

Silva  (Joaqiiim  Norberto  de  Sousa)— Januário  da.  Cunha; 
Barbosa.  Canto. inauguaral,  Vol.  11,  pag.  2G6. 

Silva  (Joaquim  Norberto  de  Sousa)— O  descobrimento  do 
Brasil  por  Pedro  Alvares  Cabra',  foi  devido  a  um  mero 
acaso,  ou  tem  ellc  alguns  indicios  para  isso?  (Pro- 
grammadosen vol  vido  p?lo  Sr;)— Vol.  15,  pagi  125. 

Silva  (Joaquim  Norberto  di3  Sou^a)  — Memoria  histórica 
documentada  das  aklèas  de  Itt'^lios  da  proviíiciado  Rio. 
de  Janeiro  —Laureada  na  sessão  magna  de  1 5de  Dezembro 
de  18&á,  com  o  premio  ImperiaU  Vol.  17,  pag,  lOft. 

Silva  (Joaquim  Norberto  de  Sousa)— Uefutaçáo  ás  reflexões 
do  digno  membro  o  Srv  António  Gcmsalves  Dias,  lida:, 
n.s  sessões  de  13  de  Setembro,  lide  Outubro,  24  de 
Novembro  c  7  do  Dezembro  de  18S4.  na  Augusta  Pre- 
seura  de  S.  M.  I.  Vol.  18,  pag.  335. 

Silva  (Joaquim  Norberto  de  Sousa)— Discurso  proferido 
em.  nome  do  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro 
ao  dar-se  a  sepultura  o  cadáver  do  sócio  honorário  o  Sr. 


Manoel  Alves  Branco,  Visconde  de  Caravellas.  Yol.  18, 
pag.  456. 

Silva  (Joaqaim  Norberto  de  Soasa)  —  Discurso  proferido 
em  nome  do  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasi- 
leiro, ao  dar-se  a  sepultura  o  cadiver  do  Vioe-Presidente 
o  Sr.  Aurelino  de  Sousa  e  Oliveira  Coutinho,  Visconde 
deSepetiba.  Vol,  18,  pag.  438. 

Silva  (Joaquim  Norberto  da  Sousa)  —  Extractos  do  ensaio 
politico  c  histórico  chronologico  de  Fr.  Manoel  Joa- 
quim da  Mãi  dos  Homens,  procedidos  de  uma  noticia 
sobre  o  autor  e  sua  obra,  pelo  sócio  effectivo— -Vol.  19, 
pag. 477. 

Silva  (Manoel  de  Campos)  —  Descripção  do  rio  Paraná. 
Vol.  2,  pag.  304. 

Silva  (Tenente -Coronel  Vicente  Ayres  da)— Itinerário  pelo 
rio  do  Somno  acima,  desde  a  sua  confluência  no  To- 
cantins, Vol.  13.  pag.  438. 

Soares  de  Sousa  (Gabriel)  —  Noticia  dos  Tupinambàs— r 
um  resumo  dos  cap.  U7  o  segg,  da  2.*  parle  da  obra 
mencionada.  Vol.  1,  pag.  190. 

Soares  Sousa  (Gabriel)— Tratado  descriptiva  do  Brasil  em 
1587,  commenlado  por  F.  A.  de  Varnhagen.  Vol.  14, 
pags.  1  e  4á2. 

Sdcíos  admiltidos  ao  grémio  do  Instituto  Histórico,  desde 
16  de  Setembro  de  1847  até  10  de  Dezembro  de  1852. 
Vol.  15,  pag.  577. 


Sócios  admiltidos  em  18.^3  Vol. 

16, 

pag.   630. 

Sócios  a:lmittidos  em  185i     » 

17. 

>      100, 

suppl. 

Sócios  admitlidcs  em  1855     » 

18, 

»        91, 

suppl. 

Sócios  admiltidos  em  1856     » 

19. 

.      172, 

suppl. 

Sócios  admiltidos  em  1857     » 

20. 

»      118, 

suppl. 

Sócios  admiltidos  cm  1859     » 

22, 

»      763. 

suppl. 

-  815  - 

Sjuthey  (Roberto)— Ci>nspiraçáo  em  Minas-Geraes  noanno 
de  1788  pira  a  Independência  do  Brasil.  Aitigo  tra- 
duzido da  historia  do  Brasil  de  —  e  illastrado  de 
notas  pelo  Conselheiro  José  de  Rezende  Costa.  Vol.  8, 
pag.  297. 

Sjusa  (Cónego  André  Fernandes  de)  —  Noticias  geogn- 
phicas  da  capitania  do  Rio  Negro  no  grande  rio  Ama- 
zonas, exornada  com  varias  noticias  históricas  do  paiz, 
do  seu  governo  civil  e  politico»  e  de  outras  cousas  dignas 
de  attenção.  Vol.  10,  pag.  ili. 

Sousa  (Padre  Luiz  António  da  Silva)-'Memoria  sobre  o 
descobrimento,  governo,  população  o  cousas  mais  notá- 
veis da  capitania  de  Goyaz.  E'  reimpressão  da  que  se 
publicou  na  3/  subscripçáo  do  Patriota  do  Rio  de  Ja- 
neiro, Julho  e  Agosto  de  181A.  Vol.  12,  pag.  A2d. 

Sousa  (Luiz  de  Vasconcellos  c)— OíTicio  do  mesmo  Vice- 
Rei  com  a  copia  da  relação  instructiva  |e  circum- 
stanciada  para  ser  entregue  ao  seu  successor.  Vol.  4, 
pags.2  el2». 

Teixeira  (Bento) —Relação  do  naufrágio  da  nào  Santo  An* 
tonio.  Vol.  13,  pig.  279. 

Teixeira  (  Fr.  Domingos  )  —  Extracto  da  vida  de  Gomes 
Freire  de  Andrade.  Capitão-general  do  iMaranháo.  Pará 
e  riodas  Amazonas  no  Estado  do  Brasil.  Vol.  3.  pag.  ilO. 

Teixeira  (  Dr.  José  João )—  Extracto  da  memoria  manus- 
oripta  do  mesmo—,  pelo  Sr.  Manoel  José  Pires  da  Silva 
Pontes.  Vol.  6,  pag,  28í.. 

Termo  de  rivali.iaçáo  de  posse,  ou  sendo  neceçFario,  de 
nova  posse,  tomaJa  por  parte  de  S.  M.,  do  logar  queató 
agora  se  chama— Fecho  dos  Morros  — ,  sobre  as  margens 
do  Rio  Paraguay,  noanno  de  1775.  Vol.  20,  pag,  330. 

Thesouro  descoberto  no  rio  Amazonas  (  principio  da  2/ 


—  8fC  - 

pulo  )  Vol.  á.  pig^.   328  e  415..    Vol.  3.  'p.igs.  15S,. 
272  e  362. 

Toynr  (Manuel  Vieira  do  Albiniierqae)— Informnç:la  do 
mesmo  sobre  a  na  regara  o  d  i  rio  Doce.  VoL  1,  pap[. 
151). 

Tmbailio  oderecido  porá  servir  de  titulo  do  admissão  ile 
socicís,  na  £orm:i  do  arL  G.*  dosEstitiitos.  Vol.  18, 
pig.  90. 

Trabaíhos  dos  sócios— Memoria*»  pintos  dosonvolvidos  e 
outros  traballios  d)s  sócios  do  Instituto  desde  a  sessão 
de  IR  de  Setoml>ro  de  1847,  ale  10  de  Dezembro  do. 
1852.  VoK  15,  pag.  S45. 

Idem  em  1833.  Vol.  16.  pig.  6Sa. 

Idem  em.  185/i.  Vol.  17,  iwg.    87,  suppl. 

Tuggia(Fr.  RapSiael) — Mappis  dos  In  lios  Cierenles  e-Cha- 
vantes,  na  nova  povoa^áo  do  Tlieresa  Chrislina  no  rio 
Tocantins*  e  dos  índios  Cliaráos  da  aidèa  de  Pedro 
Alíonso  nas  margens  do  mesmo  rio.  ao  norte  da  pro- 
vinda de  Goyaz,  pelo  Missionário  Apostólico  Capuchinho. 
Vol.  19.  pag.  119. 

Van-Lc;le  (Círios)— Geologia  da  provincia  de  Santa  Catha- 
rina— Artigo  oxtraliido  da  memoria  histórica,  cstatislicít 
>     o  commercial.  do  mesmo  Sr.  sobre  a  provincia  de  Sant\ 
Cilharina.  ol.  7,  pags.  87  c  178. 

Variedades.  Vol.  5,  pag.  383. 

Varnhagen  (Fran^risco  Adolpho  de)— Sobre  a  necessidade 
d )  estudo  c  ensino  d:is  linguas  indigenas  no  Brasil.  Vol. 
3.  pag.  53. 

Varnhagen  —  Cornsponilcncia  acerca  dos  habitantes  do 
Brasil  condemna  los  p.do  S:nito  Oilicio  de  Lisboa,  desde 
oannodíí  1711  ató  17fi7.  Vol.  O,  pag.  322. 

VarnhaíTen— Juízo  subracttido  aj  Instilut)  acerca  do  com- 


-  817  — 

pendioda  historia  do  Brasil  pelo  Sr.  J.  Ignacio  de  Abreu 
Lim;].  Vol.  6,  p,ig.  CO. 

Varnhagen— Additaincnto  —vide—  Exccrplos  dcc.  Vul.  7, 
p;ig.  51  e427. 

Varnhagem— O  Caranuirú  perante  a  Historia.— Dissertoçáo 
apresentada  em  concurço  aberto  pelo  Instituto  c  pre- 
miada, sendo  o  premio  renunciado  pelo  autor.  Vol.  10. 
pag.  Iá9. 

Varnhagen— r^rta  em  additamento  ao  Juizo  acerca  do 
compendio  da  historia  do  Brasil  do  Sr.  J.  J.  de  Abreu 
Lima,  escriptaem  Sevilhíiem  18.í6.  Vol.  13,  pig.  âOlí. 

Varnhagen— Carla  sobre  cthnographia  indigena,  línguas, 
emigrações  e  archeologia.  padrões  de  mármore  dos 
primeiros  descobridores,  iSrc.  Vols.  12  e21,  pag.  8C6 
e  431. 

Varnhagen— Commentarios  á  obra  de  Gabriel  Soares.  Vul. 
l/l.  pag.  367. 

Varnhagen— Gabriel  Soares  de  Sousa.  Memoria.  Vol.  21, 
pag.  4i5. 

Vasconcellos  e  Sousa  (Luiz  de)  —  Vide  Sousa. 

Vianna  {(>andido  José  de  Araújo)  —  Vide  Snpucahy  (Vis- 
conde de). 

Vianna  (Dr.  João  António  de  Sampaio)  —  Breve  noticia  da 
primeira  planta  de  café  que  houve  na  comarca  de  Cara- 
relias  ao  sul  da  i>rovincia  da  Bahia,  escripta  em  18i2- 
Vol.  õ,  pig.  73. 

Vieira  (Padre  António)  —  Annua  da  missáo  dos  mares 
verdes,  —  do  anno  de  lG2.i  —  1625,  mand:ida  a  Roma 
pelo—.  Vol.  5,  pag.  335. 

Vieira  (Padre  António) --  Annua  da  missão  da  capitania  do 
Espirito  Sanlo,  do  anno  de  1624  —  1623.  Vol.  5,  pag. 
3:W. 


-  818  - 

Vieira  (Pa  lie  António  )  —  Copia  de  uma  carta  para  El*Rei 
Nosso  Sonhor,  sobre  as  misesós  do  Ceará,  do  Mara- 
nhSo,  d')  Vài%  e  do  grande  rio  das  Amazonas.  Vol.  4, 
pag.  111. 

Villa  Real  (Thomaz  de  Sousa.  —  Viagem  de  —  pelos  rios 
Tocantins,  Araguaya,  e  Vermelho  :  acompanhada  de  do- 
cumentos ofliciaes  relativos  ã  mesma  navegação.  Vol.  11, 
pag.  ^01. 

Villegagnon  (Nicolào)— Carla  (traducçáo  da—  que—  )  es- 
creveu da  America  fRio  de  Janeiro)  a  Calvino.  Vol.  2, 
pag.  198. 

Vocabulário  da  língua  Bugre.  —  Vol.  15.  pag.  60. 

Vocabulário  dos  índios  Cayuar  —  Vol.  19,  pag.  HS. 

Warden  —  Investigações  sobre  as  povoações  primitivas  da 
America,  etc.  Vol.  5.  pag.  187. 


BIOGBAPHIAS. 

D.  Affonsc  (S.  A.  o  Príncipe  Imperial)  —  Composições  de 
differentes  sócios  cm  prosa  c  verso,  por  occasião  de  sua 
morte.  (4/  tomo  da  2.'  serie)  —  Vol.  11,  pags.  8  a  84. 

Alexandre  Rodrigues  Ferreira,  por  R.  de  S.  S.  Pontes.  Vol. 
2.  pag.  499. 

António  Josc  da  Silva,  por  Varnhagen.  Vol.  9,  pag.  HA. 

António  de  Moraes  e  Silva,  por  Varnhagen.  Vol.  15,  pag. 
2i4. 

Doutor  Padre  António  Pereira  de  Sousa  Caldas.  Vol.  2, 
pag.  126, 

António  Vieira  (Padre)  —  Epitome  da  vida  do  —  por  Ro- 
quete.  Vol.  í,  pag.  2C7. 


—  819  — 

Arnrigboya  (  depois  Martim  AíTonso  )  pelo  Cónego  J.  da 

Cunha  Barbosa.  Vol.  4,  pag.  207. 
Conselheiro  Balthazar  da  Silva  Lisboa,  pelo  Exm.  Sr.  Bento 

da  Silva  Lisboa  (  Barão  de  Cayrú )  Vol.  2,  pag.  383. 
Bento  de  Figueiredo  Tenreiro  Aranha,  pelo  Cónego  Januário 

da  Cunha  Barbosa.  Vol.  2,  pag.  253. 
Bento  Teixeira  Pinto.  Vol.  13,  pags.  ?7í  e402. 
Bernardo  Vieira  Ravasco.  Vol.  4,  pag.  377. 
Caravellas—  Vide  Marquez  de  )— 
Cayrú  —Vide  José  da  Silva  Lisboa. 
Christovão  Colombo  — Traduzida  pelo  Exm.  Bispo  do  Pará 

D.  José  Affonso  de  Moraes.  Vol.  7,  pag.  3. 
Fr.  Chistovão  da  Madre  de  Deos  Luz,  pelo  Abbadc  Barbosa 

Vol.  13,  pag.  12.j. 
D.  Clara  Felippa  Camarão,  pelo  Sr.  Joaquim  Norberto  de 

Sousa  e  Silva.  Vol.  10,  pag.  387. 
Cláudio  Manoel  da  Costa,  pelo  Sr.  J.  Manoel  P.  da  Silva. 

Vol.  12,  pag.  5i9. 
Clemente  Pereira  do  Azeredo  Coutinho  e  Mello, pelo  Cónego 

J.  da  Cunha  Barbosa.  Vol.  4,  pag.  88. 
Diogo  Arouche  de  Moraes  Lara,  pelo  Sr.  José  Joaquim  Ma- 
chado de  Oliveira.  Vol.  7,  pag.  3:i6. 
Domingos  Caldas  Barbosa  (  Beneficiado  )  pelo  Cónego  J.  da 

C.  Barbosa.  Vol.  /i,ag.  210. 
Domingos  Caldas  Barbosa.  Outra  biographia(com  o  retrato) 

p:)r  F.  A.  de  Varnhagen.  ol.  lí,  pag.  4i9. 
Eduardo  Olimpio  Machado,  pelo  Sr.  Francisco  Sotero  dos 

Reis.  Vol.  19,  pag.  607. 
Eusébio  de  Mattos,  por  F.  A.   de  Varnhagen.  Vol.  8,  pag. 

5Í0. 
Francisco  Agostinho  Gomes,  peio  Sr.  Bivar.  Vol.  4,  pag,  28 
Suppl. 

lOi 


—  820  — 

Francisco  de  Brito  Freire,   por  Diogo  Barbosa  Machado. 

Vol.  6,  pag.  369. 
Francisco  de  Lemos  de  Faria  Pereira  Coutinho,  por  F.  A. 

de  Varnhagen.  Vol.  2,  pag.  377. 
Dr.  Francisco  de  Mello  Franco.  Vol.  5,  pag.  353. 
Fr.  Francisco  de  Santa  Theresa  de  Jesus  Sampaio  (Do  Os- 

tensor  Brasileiro).  Vol.  7,  pag.  260. 
Fr.  Francisco  deS.  Carlos,  pelo  Sr.  J.  M.  Pereira  da  Silva. 

Vol.  10,  pag.  525. 
Padre  Francisco  de  Sousa,  pelo  Abbadc  Barbosa.  Vol.  10, 

pag.  255. 
Francisco  Xavier  Ribeiro  de  Sampaio,   copiada  dp  um  Ms. 

do  Porto.  Vol.  7,  pag.  405. 
Fr.  Francisco  Xavier  de  Santa  Theresa,  por  Diogo  Barbosa. 

Vol.  5.  pag.  80. 
Doutor  Gaspar  Gonçalves  de  Araújo.  Vol.  5,  pag.  349. 
Cónego  Gaspar  Ribeiro  Pereira  (das  Memorias  de  Pizarro). 

Vol.  5,  pag.  494. 
Gregório  de  Mattos,  pelo  Cónego  J.  da  Cunha  Barbosa. 

Vol.  3,  pag.  333. 
Conselheiro  Henrique  de  Walerstein,  pelo  Cónego  Januário 

da  Cunha  Barbosa.   Vol.  6,  pag.  ili. 
Brigadeiro  Ignacio  de  Andrade  Souto  Maior  Uendon,  pelo 

Cónego  J.  da  Cunha  Barbosa.  Vol.  õ,  pag.  227. 
Ignacio  José  oWlvarenga  Peixoto.  Vols.  12c13;pags. 

400 e 513. 
Fr.  Ignacio  Ramos,  pelo  AbbaJe  Barbosa.  Vol.  13,  pag. 

126. 
João  Baptista  Vieira  Godinho— -Copiada  da  Minerva  n.  15. 

Vol.  6,  pag.  492. 
João  de  Brito  e  Lima,  por  F.  A.  de  Varnhagen.  Vol.  10, 
pag.  116. 


—  821  — 

Jojo  FeraanJes  Vieira  (o  Castriolo  Lusitano):  cscriptapar 

o  Panorama,  por  F.  A.  de  Varnhagen.  Vol.  5,  pag.  82. 

João  Pereira  liamos  de  Ascredo  Coutinho,  pelo  Cónego  J. 

da  Cunlia  Barbosa.  Vol.  2,  pag.  118. 
Joaquim  Francisco  do  Livramento,  pelo  Sr.  Padre  Joaquim 

Gomes  de  Oliveira  Paiva.  Vol.  8,  pag.  391. 
Jorge  de  Albuquerque  Coelho,  pelo  Abbade  Barbosa.  |Vol. 

5,  pag.  79. 
O  Jesuita  Josií  de  Anchieta,   pelo  Sr.   Accioli.  Vol.  7, 

pag.  551. 
Conselheiro  José  António  Lisboa,  pelo  Conselheiro  Barão 

de  Cayrú.  Vol.  15,  pag.  HG. 
Tenente  General  José  Arouche  de  Toledo  Rendon,  pelo  Sr. 
Dr.  Manoel  Joaquim  do  Amaral  Grugel.  Vol.  5,  pag. 
àdí. 
José  Basilio  da  Gama.  Vol.  1,  pag.  139. 
José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva,  — Elogio  histórico  pelo 
Sr.  Dr.  Emilio  Joaquim  da  Silva  Maia.  Vol.S,  pag.  IIC. 
José  Borges  de  Barros,  polo  Abbade  Barbosa.  Vol.  7,  pag. 

357. 
José  Eloy  Pessoa,  pelo  Sr.  Ignacio  Accioli  de  Cerqueira  c 

Silva.  Vol.  /i.  pag.  91. 
D.  José  Joaquim  da  Cunha  Azeredo  Coutinho.  Vols.  1,  e7, 

pags.337  c  106. 
D.  José  Joaquim  Justiniano  Mcscarenhas  Castello  Branco 

(das  Memorias  de  M.  Pizarro).  Vol.  4,  pag.  368. 
José  Monteiro  de  Noronha,  pelo  Cónego  Januário  da  Cunha 

Barbo.a.  Vol.  2,  pag.  252. 
José  de  Sá  B:ttancourt  Accioli,  pelo  Sr.  J.  Accioli  de  Cer- 
queira e  Silva.  Vol.  G,  pag.  107. 
Fr.  José  deSmlaRit^Djrão,  por  F.  A.  de  Varnhagen.  Vol. 
8,  pag.  Í76. 


/ 


/ 


-  822  ~ 

Josú  dl  Silva  Lisboa.  Vi>con:le  <le  Cayrií—oscripla  por  seu 

filho  o  Conselliciru  BlmiIo  da  Silva  Lisboa  (Barão  de 

Cayrú).  Vol.  1.  pag.  227. 
Monserdior  Josii  deSjusa  Azuved )  Pizarro  e  Araújo.  Vol.  1, 

pag.  3/iO. 
Coiieg.)  J  JSi)  de  Sousa  Marmelo— Copiada  das  Memorias  de 

Pizarro.  Vol.  6.  pag.  4í)5. 
Junqueira  Freire— pelo  Sr.    Dr.  João  Manoel  Poreira  da 

Silva.  Vol.  19.  pag.  425. 
Luiz  de  Niomeyer  Bellegarde  (artigo  ne.:rologico)  Vul.  1. 

pag.  12-í. 
Manoel  Botelho  d.3  Oliveira,  por  F.   A.  de  Varn-ingcri. 

Vol.  í),  pag.  1-2Í. 
Manoel  Dias— o  llomano.  Vol.  11,  pag.  JOC. 
Brigadeiro  Manoel  Ferreira  de  Ara-ijo  Guimarães,  pelo  Sr. 

António  Joaquim  Damásio.  Vol.  6.  pag.  362. 
Dr.  Manoel  Ferreira  da  Camará  Uittancourt  e  Sá.  pelo  Sr. 

Dr.  J.  F.  Sigaud.  Vol.  4,  pig.  513. 
Dr.  Manoel  Ignacio  da  Silva  Alvarenga,  polo  Cónego  J.  da 

C.  Barbosa.  Vol.  3,  pag.  338. 
Manoel  da  Nóbrega  (Jesuita),  p;ílo  Sr.  Accioli.  Vol.  7,  pag. 

4C6. 
Fr.  Manoel  de  Santa  Maria  Itaparica,  por  F.  A.  dj  Var- 

nha.Ljen.  Vul.  IO,  pag.  2*0. 
D.  Mu*ia  Úrsula  de  Abre.i  Lenr.astre,  pjlo  Sr.  J,  Nor!)orlo 

de  Sou<a  e  Silva.  Vol.  3,  pag.  2iõ. 
Manjuííz  de  Caravellas,  J-jsé  Joaquim  Carneiro  de  Campos, 

pelo  Cónego  J.  di  Cunha  BuIjosi.  Vol.  3.  pag.  431. 
Marquez  de  Paranag.iá,  pelo   Sr.  C')nsellieiru  C:in:Iido  Ba- 
ptista de  Oliveira.  Vul.  9,  [»ag.  3)8. 
Marlim  AlTonso  de  Sousa,  por  V.  A.  de  Varnhagen.  Vols.  5 

e  G,  p:ig<.á32e  118. 


-  823  - 

Pc  Iro  Alvares  Cabral.     Yo.  5,  pag.  490. 

Pêro  Lopes  de  Sousa,  por  F.   A.  de  Varnhagen.  Vols.  5  c 

6,  pags.  352  e  118. 
D.  Romualdo  de  Sousa  Coelho,  Bispo  do   Pará»  por  A.  L. 

Monteiro  Baena.  Vol.  3,  pag.  A2:). 
D.  Uoza  Maria  de  Siqueira,  pelo  Sr.  Joaquim  Norberto  de 

Sousa  e  Silva.  Vol.  3,  pag.  222. 
Salvador  Corrêa  de  Sà  e  Benevides,  por  F.  A.  do  Varnhagen. 

Vol.  3,  pag.  100. 
Complemento.  Vol.  5,  png.  22i. 
Sebastião  da  Rocha  Pita,  pelo  Sr.  Joáo  Manotl  Pereira  <Li 

Silva.  Vol.  12.  pag.  258. 
Thomaz  António  Gonzaga,  por  F.  k.  do  Varnhagen.  Vols. 

12  e  13,  pag.  120  e  405. 
Vicente  Coelho  de  Seabra,  por  F.  A.  de  Varnhagen.  Vol.  9, 

pag.  261. 
Visconde  de  Cayrú— Vide  José  da  Silva  Lisboa. 
Visconde  de  Pelotas  (Patrício  José  Corrêa  da  Camará). 

Vol.  9,  pag.  555. 
Visconde  de  S.  Leopoldo— Apontamentos  biographicos 

sobre  o— pelo  Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes 

Pinheiro  Vol.  19,  pag.  132.