Full text of "Revista"
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A
J
> *
m\m mwMki
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
GEOGRAPHIGO E ETHi\OGRAPHlCO DO BRASIL.
FCNDADO >0 KIO DE JANEIBO
DEBAIXO DA IMMEDiATA PROTECÇÃO DE S. U. I.
rrOliMO IKLIKIK.
IliiC fficit^ ut longos durini bcnc gesta per annoSf
Et jwssint sei'à poster itatc frui.
RIO DE JANEIRO.
RUA DA CARIOCA K. ZA.
• • •
xiàf"^ REVISTA TRIIWENSÂL
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DO
WWm SISTOBICO, GEOGRAPHICO EETDKOGRAPHICO DO BBASiL
»»9I08«««
i.o TBlilIESTRE DE IMO.
A FRANCA ANTÁRCTICA.
BOSQUEJO HISTÓRICO DO ESTABELECIMENTO DOS FRANCEZES
NO Rip OK JANEIRO E SUA EXPULSÃO NO SÉCULO XVI E
DAS SU\S NOVAS INVASÕES NO XVIII.
PELO
Cónego Dr. %. <£• iFrrnanítfií i9inl)fíro.
O am(yr da patrin e o desejo de contribuir coin o
noiso fraco contingente para a vulgarisação dos factos
mais gloriosos da nossa historia^ nos levaram a escrever
um opv^culo sobre a fundação da cidade do Rio de Ja-
neiro, hoje capital do Grande Império Americano.
Folheando as velhas chronicas, vimos que os francezes
buscaram estabelecer-se nesta terra e lançar os alicer-
ces d' uma colónia muito antes que os portuguezes pen-
sassem em firmar o seu dominio na magestosa bahia de
Nirtheroy. Suggeriu-nos isto a ideia d* examinar quaes
0$ c^iu^as e resultados da invasão franceza^ tractan-
do igualmente das expedições de Duclerc c de Duguay-
Trouin, que, postoque afastadas da primeira tentativa
de Villegainon por um espaço (te cento e cincoenta e
einco annoSj formam como que o seu' complemento.
_ 4 —
Parpce qne só muito tarde abandonaram os francezes
a ideia de se estabelecerem no Rio de Janeiro y e ao
passo que os hollandezes forcejaram por se assegurar
da posse das capitanias do norte olhava a França
com olhos de cobiça para a nossa cidade. Quasi todos
os escríptores que ttactáram doesse assumpto, quer
nacionaes, quer estrangeiros , são apaixonados , e a
linguagem da imparcialidade ainda se não fez ouvir :
não temos a pretenção d'emittir o nosso juizo como
infallivel; queremos unicamente disperlar Ingenhos
curiosos, chamando á arena da discussão um ponto
que tanto nos interessa.
Todos sabem quão árduo é o trabalho que toma-
mos sobre nós: quão difficil é o colleccionar docu-
mentos^ que andam esparsos; ler grossos volumes
pesquizando um facto, um nçme, ou uma dacta; e
achar no cahos de narrações desencontradas a verdade
para sobre ella assentar a pedra do nosso edifício.
Os nossos chronistas como S. de Vasconcellos Jaboa-
tão, Rocha-Pitta, Fr. Gaspar, Silva Lisboa e Pizar-
ro, escrevem sem critica alguma; Thevet e Lery tra-
vam entre si encarnecida lucta. : Hans-Stadens, mais
imparcial, de pouco, ou nada nos serciu para o plano
que haviamos adoptado ; os valiosíssimos trabalhos dos
Senrs, Ferdinand Dénis, Varnhagen e Norberto nos
foram porém de grande auxilio: e folgamos de ren-
der-lhes publico testemunho de nossa gratidão.
Dividiremos a nossa memoria em três partes: na
primeira occupar-nos-hemos com o estabclecimeiíto de
Villegaignon,' e traçaremos wn rápido esboço histórico
da projectada França Antárctica ; e na segunda e ter-
ceira tradaremos das expedições da Duclerc e de
Ihiguay-Tromn.
Sem amor nem ódio diremos com franqueza o que
pensamos acerca dos francezes e de seus ensaios de
colonisação e de conquista ; procuraremos averiguar
quaes foram os motivos que os trouxeram ás nossas
plagas^ e a que deveremos attribuir a pouca fortuna
que tiveram de não se conservarem n^um paiz^ onde
gozaram de tantas sympathias dos naturaes.
O nosso trabalho nada tem de definitivo: é apenas
um estudo histórico; um gymnasio em que quizemos
adestrar as nossas forças para outros de maior mag-
nitude, que temos em mente.
Depois de havermos feito uma singela narração dos
acontecimentos guiando-nos pelos mais verídicos expo-
sitores, examinaremos com toda a imparcialidade a
questão : si a expulsão dos francezes foi útil, ou pre^
judicial ao Brasil, inclinando-nos pela primeira hy-
pothese pelas razões, que exporemos e que julgamos
que serão partilhadas pela maioria dos leitores.
-*/v\A/\A/Vv>-
— 7 —
PARTE PRIMEIRA.
ESTABELECIMENTO DE VILLEGAIGNON.
I.
DESCOBRIMENTO DO RIO DE JANEIRO.
iNáo nos maravilha que pairem tantas duvidas sodre os
factos afastados de nós por uma longa serie de séculos,
que a Historia encerre problemas de solução quasi impos-
sivel, quando acontecimentos de recente data dão origem
à longas e quasi que intermináveis controvérsias. Suscitou-
se ha pouco tempo na primeira associação litteraria do
paiz uma importantissima discussão acerca do descobri-
mento da Terra de Saneia Cruz, e illustres paladinos que-
braram suas lanças em prol de contrarias opiniões : pre-
tendeu-se que o acaso presidira a este facto, e sustentou-
se com não menos talento e erudicção que a esquadra
portugueza deixara Lisboa com o firme propósito d^apor-
tar ao novo continente, cuja existência acabava Colombo
de revelar á Europa.
A mesma incerteza existe acerca de quem fosse o
ousado navegador que primeiro ancorou na formosa en-
seada de Guanabara. Tão importante ponto da nossa His-
toria parecia ter escapado às investigações d' uma escla-
recida critica e a maioria dos chronistas abraçavam uma
versão que como vamos demonstrar, parece-nos inteira-
mente distituida de fundamento.
Monsenhor Pizarro nas suas Memorias Históricas do
Rio de Janeiro e o Conselheiro Balthasar da Silva Lisboa
nos seus Anna€s, trabalhos de summa importância, que
serão sempre consultados pelos estudiosos, seguem a
opinião que a nossa bahia fora descoberta por Martim
— 8 —
Affonso de Soiiza, que deixara as aguas do Tejo no dia 3
de Dezembro de 1530, commandando uma esquadrilha de
cinco velas na qual se embarcaram fjualrocenlas pessoas,
tendo por fim o explorar a costa do Brasil até a em-
bocadura do Rio da Prata. Pretendem que o dia í.° de
Janeiro de 1531 fora aquelle em que pela primeira vez
tremulou o pavilhão das lusas quinas aos olhos dos
absortos Tamoyos.
Procuremos provar que Martim affonso não foi o
primeiro portuguez que entrou neste porto; nem tão
pouco tivera este acontecimento lugar no dia 1.** de
Janeiro de 1331, não se lhe devendo igualmente imputar
a falsa denominação que ainda hoje conserva.
Graças ás lucubrações do Sr. F. A. de Varnhagen,
ao seu zelo infatigável em elucidar os pontos mais
obscuros da nossa Historia possuimos hoje um docu-
mento que prova irrefragavelmenie que Martim Alfonso
não foi o descobridor do Rio de Janeiro. Rcferimo-nos
à importante publicação que o mencionado litterato fez
em Lisboa cm 1839 do Diário da Navegação d* Armada
que foi á Terra do Brasil em 1530 sob a capilãnia-múr
de Martim Affonso de Sonsa, escripto por seu irmão Pêro
Lo\)es de Sousa. O irmão, o companheiro do grande
almirante portuguez, testemunha ocular das ^uas faça-
nhas nos mares do Brasil, fatiando da sua chegada à
nossa bahia assim se exprime:
« Sabbado trinta dias dWbril, ao quarto (Paiva era-
• mos com a boca do Rio de Janeiro, e por nos acal-
« mar o vento, surgimos á par de uma ilha, qm está
« na entrada do dito Rio, um fundo de quinze braças d'arêa
« limpa. Ao meio dia se fez ao vento do mar e entramos
« dentro com as nàos. Este rio 6 muito grand^^ ;
— 9 —
tem dentro oito illias, assi muitos abrigos : faz a entrada
norte sul toma da quarta de noroeste : tem ao sueste
duas ilhas, outras duas ao sul e três ao noroeste ; e
entre ellas podem navegar carraças: é limpo, de
fundo vinte duas braças no mais baixo, sem restin-
ga nenhuma e o fundo limpo. Na bôcca de fora tem
duas ilhas da banda de leste, e da banda de aloesto
tem quatro ilhéos. A bôcca não é mais que d'um tiro
de arcabuz ; tem no meio uma ilha de pedra raza com
o mar; pegado com ella ha fundo de dezoito braças
d'arêa limpa. Está em altura de vinte três gráos e um
quarto.
< Como fomos dentro, mandou o capitão J. fazer uma
casa forte, com cerca por derrador ; e mandou sahir a
gente em terra e pôr cm ordem a ferraria para fazer-
mos cousas, de que tínhamos necessidade. Daqui man-
dou o Capitão J. quatro homens pela terra dentro: e
foram e vieram em dois mezes ; e andaram pela terra
cento e quinze léguas ; e as sessenta e cinco delias foram
por montanhas mui grandes e as cincoenta foram por
um campo mui grande ; e foram ate darem com um
grande rei, senhor de todos aquelles campos, e lhes fez
muita honra, e veio com elles até os entregar ao ca-
pitão J. ; e lhe trouxe muito christal, e deu novas como
no Rio de Peraguaij havia muito ouro e prata. O capi-
tão lhe fez muita honra, e lhe deu muitas dadivas o o
mandou tornar para as suas terras. A gente deste rio
ó como a da Bahia de todos los Santos; seriam quanto é
mais gentil gente. Toda a terra deste rio ó de monta-
nhas e serras mui altas. As melhores aguas ha neste
rio que podem ser. Aqui estivemos três mezes toman-
JANEIRO. i
— IO —
« do manlimenlos, para um anno, e para quatrocentos
f homens que trazíamos ; e fizemos dois bargantins de
« quinze bancos.
« Terça feira primeiro dia d'Agosio de mil quinhentos
« e trinta e um partimos deste Rio de Janeiro cora vento
« nordeste. Faziamos o caminho aloeste a quarto de sa-
« dueste.
D'aqui se deduz claramente que náo foi Martim Affonso
quem denominou o nosso porto de Rio de Janeiro ; por
isso que Pêro Lopes, que escrevia o seu Diaiio à propor-
ção que os acontecimentos se iam dando, como se vê
pelo seu estylo já assim o denomina ; prova manifesta de
ser d^épocha anterior esse erro geographico. Acresce
ainda uma razão que nos parece de grande peso, vem a
ser que dizendo os chronistas que a origentf do nome
fora devida à ter aqui chegado o capitáo-mór no dia 1 ." de
Janeiro de 1531, e sabendo nós pelo referido*í)wiiio que
a esquadrilha sahira de Lisboa à 3 de Dezembro de 1S30
seria preciso ter feito uma viagem de vinte oito dias, o
que é quasi impossível em navios de velas, maxime em
um tempo, em que pelo escasso conhecimento da nossa
costa eram as viagens muito longas navegando-se pouco
de noite. Lembremo-nos também que essa expedição era
feita no inverno, e que devera experimentar, como de
facto experimentou, fortes temporaes e ventos contrários.
O testemunho de Pêro Lopes, que havemos invocado como
o mais competente para a solução doeste problema his-
tórico, servirá igualmente para marcar o tempo da che-
gada de seu illustre irmão às nossas plagas, que segundo
diz-nos fora n'um sabbado 30 d*Abril de 1531. Está pois
evidentemente provado não ter Martim Affonso de Souza
— 11 —
descoberto a bahia de Nictheroy, nem, por uma falsa se-
melhança com o Tejo, cognominando-a de rio.
O chronista castelhano António Herrera dando conta da
ousada navegação dos celebres portuguezes Fernáo de
Magalhães e Ruy Falleiro, que se achavam ao serviço do
imperador Carlos V. serve-se destas palavras.
€ Y continuando su viage entraron à treze de Deziem-
« bre (1519) en una bahia muy grande, que chamavan los
« Portuguezes en la costa dei Brasil la balúa de Género, y
• los Castelhanos de Saneia Lúcia ; porque en tal dia en-
€ traron en ella. » (Decad. 2.* Lib. 4.*^ cap. lO.^j.
fá por occasião da vinda ao nosso porto d'esses dois
navegadores que a ingratidão da pátria levou a voltar
contra ella o seu pasmoso génio e grandiosa audácia, era
elle conheci(}o pelo nome que ainda hoje conserva : e se
refletirmos que essa viagem de circumnavegação tivera
lugar doze annos antes da expedição de Martim Affonso
juntaremos outro voto não menos valioso ao de Pêro Lo-
pes:. e ficaremos certos de que já em 1519 sabiam os cas-
telhamos que os portuguezes haviam -nos precedido na
posse da nossa magestosa enseada, e tinham-lhe dado um
nome, que talvez por julgarcm-no impróprio, pretende-
ram trocal-o pelo de Santa Luzia, em commemoraç^o do
dia em que aqui aportaram. (1)
Nem tão pouco podemos attribuir tal descobrimento á
João Dias Solis, que em sua viagem para o Rio da Prata
em 1515 tocou no nosso porto ; pois que além do silencio
que guarda Gomara à semelhante respeito, temos a asse-
veração positiva d'Herrera « de haverem chegado (os cas-
telhanos) ao Rio de Janeiro na costa do Brasil » É fora de
duvida que si os castelhanos da expedição de Solis fossem
- 12 —
os primeiros a avistarem a nossa bahía não deixariam os
seus chronisias de fazer d'am semelhante successo ex-
pressa menção, como sempre practicarara acerca de outros
sitios de muito menor importância.
Pensaram alguns escriptores que tal honra coubera ao
douto florentino Américo Vespucci. Discutamos esta hy-
potlicse na qual descobrimos mais algum fundamento. (2)
Sabe-se que Américo Vespucci semu de piloto e cos-
mographo nas duas primeiras frotinhas enviadas para ex-
plorar a costa do Brasil : era porém o seu emprego secun-
dário não podia por tanto dar nomes ás terras descober-
tas, prerogativa esta que sempre pertenceu aos chefes.
Pensamos porém que estivera elle ancorado neste porto
pelos annos de 1302 à 1303. Citemos em abono doesta
opinião um trecho d'um moderno e illustrado escriptor
hespanhol o Sr. D. Martin Fernandez Navarrete :
« De estas declaraciones puede deducir-se que Amerigo
t navego per la costa dei Brasil, y endo probabelmente
« como individuo subalterno dei equipage, ó trepulation
t de alguna de las nãos portuguezas que desde 1301 á
« 1504 fueran despachadas desde Lisboa para reconhecer,
I ó poblarlospaizesdescobiertosrecientimente. » (Colec.
de las viag. y descob. etc. a tom. 3.*^ pag. 320).
Caminhando de conjectura em conjectura aproximamo-
nos à épocha do descobrimento do Brasil, e tudo nos in-
duz a crer que a nossa terra foi uma das primeiras visitadas
pelos audazes aventureiros, que corriam então a costa afim
de reconhecôl-a. Pensamos mesmo que apenas distou um,
ou dois annos, do desembarque de Cabral em Porto Se-
guro, e que Gonçalo Coelho, chefe da primeira expedição
foi o verdadeiro descobridor do Rio de Janeiro. Ora, si.
— 13 —
como mui jutliciosamonlc observa o Sr. Varnliagen, á
primeira frotinha exi)lorailora se deve allribuir os nomes
postos ao Cabo de Santo Agostinho (siiccosso este que teve
lugar à 16 d' Agosto de 1501) como tambom as outras
paragens da costa, tendo sempre os exploradores o ca-
lendário na mão, devoram entrar no nosso porto no mez
de Janeiro de 1302 talvez que mesmo no dia primeiro
doesse mez, visto (|iie jà no dia da Epiphania se achavam
n^altura da Ilha Grande, que chamavam Angra dos Reis,
proseguindo em sua derrota para o sul.
Preferimos esta opinião por nos parecer muito mais
fundada do que as que havemos combalido e formamos
votos para que um feliz acaso depare á algum estudioso
com os roteiros, que necessariamente apresentariam aos
seus respectivos governos os chefes das primeiras expedi-
ções; documentos estes que lançariam sobre este e muitos
outros pontos vivamente disputados grande luz, se não
puzessem logo termo ao debate.
II.
ORIGEM DA EXPEDIÇÃO FRANCEZA AO RIO DE JANEIRO.
O estal)elecimento dos hespanhoes e portuguezes causou
grande ciúme á todas as potencias maritimas da Europa :
todas se arrependeram de não terem prestado ouvidos ás
proposições do navegador genovez. A Inglaterra reparou
em breve o erro que commettêra apoderando-se da parle
mais septentrional do novo continente, e a França têl-a-hia
imitado fundando algum estabelecimento duradouro nas
regiões recentemente descobertas, si, como muito bem
observa o Sr. Cantu, não se mostrasse alheia às grandes
- 14 —
emprezas, absorvida como estava pelas guerras de reli-
gião e intrigas de côrle. Todavia alguns aventureiros nor-
mandos e bretões, seguindo a trilha dos Colombos e dos
Cabraes, exploraram « os mares nunca dantes navegados »
e, segundo pensa o Sr. Ferdinand Dénis, já desde 1508
os marinheiros d^Honfleur visitaram o nosso porto.
Os normandos, assas conhecidos pelo seu espirito auda-
cioso, foram os que se avantajaram nessas expedições : tra-
varam estreita alliança com os selvagens, aprenderam a
sua lingua, e muitos d'elles renunciaram a vida civilisada
para vagarem pelas florestas, à imitação dos indigenas. Lu-
crativo conunercio faziam elles permutando o precioso
ibirapitanga (3) por vidrilhos e outros objectos de nenhum
valor. Hans-Stadens, que residio por muito tempo entre
os Tupinambàs nos pinta o estado degenerado de muitos
d'esses transfugas da civilisação, que não escrupulisavam,
para se tornarem bem quistos à seus hospedes, de toma-
rem parte nos horrendos festins d^antropophagia. (4) As
narrações d'esses primeiros viajantes exageradas pelo gosto
romanesco da sua nação deveu a Europa o conhecimento
do nosso paiz, cuja existência o suspeitoso Portugal dese-
java occultar aos olhos do mundo inteiro.
A principio tinham essas expedições um caracter parti-
cular: eram os armadores que enviavão os seus navios
para negociarem com os naturaes do Brasil : nenhuma
ideia de conquista, nenhum pensamento de colonisaçáo,
ou de permanência existia. Mais tarde quiz o governo
francez intervir e sustentar os seus pretendidos direitos
sobre as costas do Brasil e da Guiné. Temos a este res-
peito um precioso documento citado pelo Sr. Ferdinand
Dénis. (5) É uma communicação de Marino Cavalli, em-
!!%
— 15 —
baixador de Veneza junto à côrie d'Henrique II, que em
data de 1^46 assim se expremia :
€ Com Portugal não pôde haver bôa intelligencia ; pois
€ que ha uma guerra-surda entre os dous paizes. Os fran-
« cezes pretendem poder navegar para Guiné e o Brasil,
f e os portuguezes pensam o contrario. Si se encontram
« no mar e sendo os francezes os mais fracos os outros
« atacam e mettem ao fundo os seus navios: o que até
« certo ponto justifica as cruéis represálias que se com-
< mettem contra os navios portuguezes. »
Náo havia declaração alguma de guerra ; as relações di-
plomáticas náo se tinham interrompido, e um embaixador
d'el-rei D. João III não duvidava levar a sua condescendên-
cia à ponto de assistir á uma extravagante festividade, em
que simulava-se um combale naval no fim do qual um
navio portuguez era presa das chammas. As esquadras
porém das duas nações batiam-se no alto mar como acon-
teceu a que capitaneava Martim Affonso, que aprisionou
três náos francezas na altura do cabo de Santo Agostinho
e Gaspar Gomes era detido dous mezes e meio no Rio de
Janeiro pelo commandante de um vaso d'essa nação.
Factosde tamanha magnitude náo serviam para desper-
tar o governo portuguez do seu somno lethargico. e sabe
Deus porquanto tempo nelle jazeria si a França não pen-
sasse em firmar seriamente o seu dominio na plaga austral
do continente americano.
Como já vimos occupava então o throno de França
Henrique II, em cujo reinado tomaram maior vulto as dis-
cussões entre os catholicos e os calvinistas, que havião co-
meçado no tempo de seu pai Francisco I. Cedendo ás ins-
tigações de sua irman Margarida, que publicamente abra-
— IC —
çára as doulrinas protestantes, favoreceu a Maurício deSa-
xonia ; pòz-se em hostilidade com a Sancta Sé occupando
Parma, e declarando que jamais veria no concilio de Trento
senáo um conciliábulo, á cujos decretos recusava obede-
cer. Pouco tempo depois tomava um partido diametral-
mente opi)osto e pelas suggestóes do cardeal de Lorena e
das famosas Catharina de Medicis e Diana de Poitiers; or-
denava perseguições contra os huguenotes. e obrigava-se
j)or um artigo secreto do tratado Cateau-Cambrésis (1559)
à extirpar a heresia do seu reino. O almirante Gaspar de
Ck)ligny, à cujo nobre caracter hoje rende homenagem a
historia, era effectivamente o chefe do partido protestante,
gozando por algum tempo de grande e bem merecida in-
lluencia. Testemunha das sanguinárias sentenças lavradas
pelos tribunaes excepcionaes (chambres ardentes) e com-
pungido pelas lagrimas das victiraas de Paris e dos Alpes
pensou em procurar para os seus co-religionarios perse-
guidos em sua pátria um seguro asylo além dos mares»
Suas vistas se voltaram logo para a terra de Gmmbàra ha-
bitada pelos Tamoyos, fieis alliados dos francezes, e julgou
encontrar em Yillegaignon o homem necessário para táo
diflicil quão gloriosa empreza.
Estudaremos mais tarde o caracter doeste chefe e analy-
sarcmoscom imparcialidade a sua conducta ; contentando-
nos por agora em citar um trecho de Lery, que mostra cla-
ramente qual foi a causa da expedição dos francezes ao
Rio de Janeiro.
« No anno de 1555 um certo Yillegaignon, cavaJleiro
t de Malta cuja ordem é também chamada de S. João de
• Jerusalém, achando-se em França e bastante descon-
» tente na Bretanha, onde então residia, fez conhecer á
— 17 —
€ diversas personagens moradoras em dilferentcs locali-
€ dades do reino de França, qne ha muito tempo conce-
« bera a ideia de retirar-se para algum lugar longínquo,
f onde podesse livre e puramente servir a Deus. conformo
e a reforma do Evangelho ; e (pie desejava outrosim pre-
« parar um retiro para os que quizesscm evit:ir as pcrse-
« guições; as quaes eram reahnente taes, que muitas
* personagens de todos os sexos e idades eram em muitos
« lugares do reino queimadas vivas por sentença dos Par-
« lamentos, confiscados os seus bens por motivo de rc-
« ligiáo. » (G)
ÍII.
FUNDAÇÃO DO FOUTE COLKJNY.
Nicoláo Durand de Villegaignon, o chefe escolhido para
essa empreza era jà vantajosamente conhecido em França
pela sua coragem e sciencia militar. Cilavam-se as suas
proezas em Argel e a maneira destemida com que trans-
portara de Dunkerque á França a rainha da Escossia Maria
Stwart. A esquadrilha, composta de dous navios de du-
zentas toneladas e de uma chalupa deixou o Ilavre (então
chamado Vmnciscoiiolh) no dia G de Mai(» de 15Í55, se-
gundo o testemunho de André Thevet, franciscano d'An-
goalème, que acorapanliou Villegaignon, por ser elle iin
homme (jénérenx et auíant bien accompli, sai à la marine,
soit à (rantres lionnetez. (7) Contratempos obrigaram-no á
arribar a Dieppe, onde os habitantes lhe ajudaram á repa-
rar as avarias, que haviam experimentado os seus navios,
e após uma hmga e perigosa viagem ancorou no nossf>
porto a li de Novembro do referido anno.
Não sabemos com que fundamento allirma o eloquente
jAM:mo. :i
- 18 —
autlior (la Historia (lAmerim Portarjueza que o Tice-al-
miranie da Bretanha vagava com algum mvios á sua
casta anmdos, buscando presas e estimulado da cobiça, ou
do valor (8) ; dando assim um caracter particular, e apre-
sentando como um acto de pirataria o- que só era o
resultado da politica franceza, que queria estabelecer
no Brasil uma feitoria que protegesse o commercio que
de ha muito os seus navegadores aqui faziam. Nâo de-
vemos menospresar a expedição por compor-se de pou-
cos navios; porque bem pequena era também a de Co-
lombo, à qual se deve a desço berta d'America : e todos
os documentos que havemos consultado nos induzem a
(Tcr, que Villegaignon sulcou os nossos mares, nâo como
um aventureiro, mas sim como o representante de uma
grande nação , cujos projectos acerca da posse do nosso
paiz podiáo não ser justos, mas certamente justificados
pelas ideias da épocha.
Assignalaremos também outro equivoco, que julgamos
commettêra o referido Rocha-Pitta no lugar supra-citado
quando diz que o almirante francez desembarcara em Cabo
Frio, e que contrahira alii uma alliança com os Tamoyos
regressando á sua pátria mais tarde (em 1560) e com
avantajado poder apossar -se da enseada do Rio de Jnneiro.
Semelhante proposição, além de inexacta, encerra em si
um grande anachronismo. Thevei eLery, que escreveram
sobre esta expedição, antagonistas implacáveis, concor-
dam que a chegada de Villegaignon tivera lugar no mez
de Novembro do anno de 1333, e nenhuma menção fazem
d'essa viagem do chefe francez partindo de Cabo-Frio
para regressar cinco annos depois, à frente de forças res-
peitáveis, para fazer a conquista da bahia de Guanabúni.
— 19 -
Neste posilo, como em muitos outros, foi o douto historia-
dor levado ao erro por falsas informações.
Suppomos comtudo que Viilegaignon estivera em Calio
Frio ( paragen\ esta mui frequentada nesse tempo pelos
francezes) antes d^aproar para o Rio de Janeiro: e só as-
sim se explica como tendo sabido do Havre a 6 de Maio
só chegasse aqui à 14 de Novembro, trajecto excessiva-
mente longo, dando ainda desconto ao tempo que gastaria
em Dieppe á reparar as avarias; viagem sem exemplo
para homens que não eram estranhos á arte da navegação.
Mais curial é pensar que aportaram primeiro a Cabo-Frio;
iiáo só para refrescarem, como aíim de colherem inlbr-
macões mais exactas acerca do paiz que demandavam.
Ora, esse paiz nôo lhes era de todo desconhcoido porque
muitos annos antes nàos de sua nação haviam-no visitado
e feito com os selvagens grande commercio, mas como
era a mesma nça que habitava Cabo-Frio e o Rio de Ja-
neiro aconselhava a prudência que começassem logo a têl-a
por alhada aproveitando-se habilmente do ensejo de vive-
rem em constantes rixas os Tamoyos com os habitantes de
S. Vicente, offerecessem àquelles a sua amisade. Thevet
se contradiz neste ponto quando depois de haver dito nas
suas Simjularklades da França Antárctica que Viilegaignon
se demorara sò três dias em Cabo-Frio assevera depois na
sua Cosmõgraphia que ahi estivera por alguns mezes.
Oiçamos a tal respeito uma testemunha mui qualificada :
« A' esse tempo, tendo sulcado os mares do Sul Nicoláo
• Durand de Viilegaignon. francez nobre do habito de S.
« João, e achando-se em Cabo-Frio, situailo na latitude de
« 23^ e a longitude 34^^ 3' 27'\ ou na latitude 22^ 35' e
« longitude de Londres 41^ 15\ facil lhe foi em convir
— 20 —
« com aquelles, a quem o oclio contra os declarados con-*
« trarios fomentou a liga com os taes hospedes, trazidos
* da fortuna em soccorro da sua defensa, à custa dos
• fniclos e drogas da terra que lhe promettêram. » (9)
Levantando os ferros e desferindo as velas chegaram os
francezcs com prospera navegarão ao Rio de Janeiro, e o
magestoso panorama da nossa bahia não causou -lhes a
impressão que se devera esperar. Compararam-na com o
lago de Genebra, mesquinho paradigma para essa gran-
diosa enseada, digna de igualar-se ao bello golfo de Nápo-
les, ou ao sublime Bosphoro. O hieroglypho do futuro
império do cruzeiro não lhes mereceu senã® o prosaico
nome de pote de manteiga (pot de beurre), substituído pe-
los portugaezes por outro não menos impróprio de Pão
d*Assu€m\ commettendo ura inqualificável erro geogra-
phico denominaram de rio de Gnanabára, o immenso la-
gamar que oíTcrecc amplo ancodouro ás esquadras do
mundo inteiro. E o cosmographo Thevet, chronista oíB-
m\ da expedição, não protestou contra a impropriedade
d^esses nomes ! ! !
Cercado por uma população que lhe era devotada e dis-
pondo de tantos lugares onde poderia estabelecer-se com
fixidade, Villegaignon, para que a disciphna da sua tropa
fosse melhor observada, desembarcou em um rochedo de
cem à cento e vinte passos de circumferencia, collocado
na entrada da barra, batido constantemente pelas vagas,
tentando ahi construir um forte de madeira. (10)
Havendo-lhe porém demonstrado a experiência que era
impossivel conservar-se em semelhante sitio lançou o al-
mirante as suas vistas para uma pequena ilha, situada mais
próxima a terra, de c^rca de mil pés de circuito, rodeada
%
- âl -
ilc cachopos, à llòr tragiia, sendo accossivel iinicamentn
pelo lado de terra. Fortificou esto lugar, já por sua natu-
reza inexpugnável, o o guarneceu com oitenta homens. (H)
O Iheologo calvinista João de Lery (chamado individa-
mente pelo consellieiro B. da S. Lishòa (Vabbmle ), que vi-
sitou a colónia franceza um anno depois da sua rundação..
diz-nos que nas extremidades da ilha existião dous outei-
ros, onde Villegaignon fez construir duas casinhas, collo-
cando a sua residência sobre um rochedo de cincoenta à
sessenta pés de altura. Aplanando as escabrosidades do
terreno fizeram os francezes algumas praças onde ergue-
ram a casa da oração, o refeitoiio (o que indica que co-
miam em commum) e os seus modestos aposentos, cuja
maior parte era de páo á pique e cobertos de sapé, ao gosto
dos selvagens que haviam sido seus architectos. (12)
Para lisongear ao seu protector deu Villegaignon à
nova colónia o nome de forte Colhjmj, e a toda a terra o
de França Antárctica, por onde facilmente se deprehende
quaes as suas vistas de permanência no nosso paiz, que
devera ser para o seu o que mais tarde foi para Portugal,
fecundo manancial de incalculáveis riquezas. Tencionava
mais tarde, depois de mais amplo conhecimento do ter-
reno, edificar na praia fronteira (talvez que as da Gloria.
Flamengo ou Botafogo) uma grande cidade, que devera
tomar o nome do monarcha reinante ( Henri-Ville ) sendo
porém desviado d'esse intento por graves occurrencias í|ue
tiveram lugar, e de que mais tarde faremos menção.
Lery accusa fortemente de falsario h Tlievet por ler
mencionado em sua Cosmographia h essa cidade como
•existente, offerecendo uma planta d'ella ao rei Ilenri-
■que II (13). Somos completamente neutral na lide travada
— 2S —
f^ntre os dons chronistas francezes, reconhecemos que
írnibos tem muito mérito e que prestaram relevantes ser-
viços a nossa historia, dando conta de factos que sem o
seu testemunho jazeriam quiçá no olvido : náo podemos
comtudo dissimular que Thevet sacriíicou neste ponto a
verdade ao maravilhoso realisando com elle o quod volu-
mus facile credimm. Segundo a sua própria confissão (14)
embarcou-se para a França à bordo de um navio comman-
<lado por Bois-le-Comte á 31 de Janeiro de 1556, havendo
apenas permanecido na America dous mezes e alguns
dias, e durante esse período não é crivei que se tivesse
começado á erigir a nova cidade, estando o chefe da ex-
pedição à braços com os trabalhos de forlificaçóes a que jà
alhidimos ; razões estas a que devemos addicionar a asse-
veração de Lery de não haver nenhum vestigio da pro-
jectada Henri-Ville, quando d'aqui sahio, dezoito mezes
depois de Thevet. Note-se que o mencionado Lery appella
para a reminiscência de todos os francezes que antes e de-
pois d^elle haviam estado no Rio de Janeiro, e náo nos
consta que ninguém apparecesse para contrarial-o. O res-
peitável chronista da Companhia de Jezus, Simão de Vas-
concellos, tão minucioso sempre em suas narrativas, não
faz tão pouco menção d'essa cidade, que. á nosso vêr,
nunca teve se quer um começo de realidade.
IV.
ALLIA.NÇA DOS FRANCEZES COM OS INDÍGENAS.
Jà vimos que desde oanno de 1508 os armadores d'IIon-
fleur na Normandia expediam os seus navios às terras
então mui pouco conhecidas do Brasil e citam-se os nomes
d'um certo Dionysio e do pai do famoso João Ango como
— 23 —
dos que mais se destinguiram nessas arriscadas explora-
ções. Guilherme Tastu, Barre, e o celebre Jacques Soro
adquiriram a reputação d^ousados navegadores, juntando
também à ella a gloria litteraria. Dos dois primeiros exis-
tem interessantes escriptos, como o famoso Roteiro de Gui-
lherme Tastu, composto em 1355, e as Cartas acerca da
navegação do cavalleiro de VUlegaljnon , publicadas em
1337 por Nicoláo Barre, que, como creoSr. Ferdinand
Dénis, foi provalmente o primeiro documento sobre o
Brasil impresso em França. (15)
As relações commerciaes mantidas pelas principaes ci-
dades marítimas (em cujo numero se contava Dieppe) com
os naturaes do Brasil trouxe a necessidade d'uma classe
de homens, que tiveram nessa époclia grande importância,
queremos fallar dos interpretes (truchements) dos quaes
trataremos pcrfunctoriamente.
Ou fosse por despeito para com a sociedade, em cujo
grémio tinhim vivido, despeito, que tem dado origem á
grandes aberrações, como os paradoxos de Rousseau e de
lord Byron, ou levados pela auri sacra fames, viu-se nesse
século alguns homens p;^netrarem cm nossas florestas, co-
piarem tão ao natural o modo de vida dos indígenas que
podiam ser tomados por verdadeiros selvagens. Cobriam-
se dos mais extravagantes ornatos; perfuravam o lábio su-
perior e as faces para introduzirem ahi enormes batoques,
armavam-se d'arco e flecha, revestiam-se de pennase pin-
tavam o corpo com as mais caprichosas cores. Adheriam
completamente á causa das aldeias, onde se haviam natu-
ralisado : esposavam as íilhas dos maioraes, marchavam
para a gaerra dirigindo os seus alliados com conselhos o
empregando em seu favor as armas de fogo e a estratégia
— á4 —
européas assegaravam-lhes o triumplio sobre os seus ini-
migos. Já dissemos qre o seu despreso levava-os á tomar
parle nos festins anlropophagos, excedendo em crueldade
aos seus preceptores. Adoptando de bom grado a poly-
gamia pouco se embaraçavam com a sorte da sua progénie,
que abandonada a seus próprios instinctos perdia até os
vestigios da sua origem européa.
A múr pr^rle d'esses homens eram francezes, e especi-
almente normandos, e as suas informações transmittidas
aos seus compatriotas, que visitavam táo frequentemente
os nossos portos, c talvez mesmo (jue algumas cartas, que
escrevessem para a pátria, sejam as fontes à que recorre-
ram os que primeiro deram ao m.mdo civilisado noticias
ílos usos e costumes dos aborígenes brasileiros. Lery e
Thevet refcrem-se constantemente ao testemunho dos in-
terpretes ; posto que estigmatisem o seu inqualificável pro-
ceder, e Hans-Stadens. na relação dos seus soffrimentos
entre os Tupinambâs dá-nosbem a conhecer qual a sua
influencia entre os indígenas, quando refere-nos que da
decisão d"um d'elles esteve pendente o seu destino. (IG).
D'essi mesma relação do viajante allemáo se deprehende
quanta estima votavam os selvagens aos francezes ; porque
dizendo-se elle, no acto de ser aprisionado, pertencente
a essa nação, deveu a tal circunstancia o não ser condem-
nando á morte. OsTupinambás c os Tamoyos. que tinham
uma commum origem, procuravam com avidez a sua ami-
zade appellidando-os de perfeilOH alliados, e todos os his-
toriadores são concordes em asseverar que nos mais crí-
ticos momentos lhes guardavam escrupulosa fidelidade.
Semelhante resultado devera ser a natural recompensa
d^esses homens, que deTiamhmlo as nossas plagas com o
fim de eariíjaeccreni, oa talvez qae pelo espirito de cu-
riosidade, não se faziam detestar pelos nacionaes: não
lhes captivavam as filhas, não lhes extorquiam o oiro, a
que aliás davam os indígenas pouco valor, nem os expul-
savam à ferro e a fogo dos lugares consagrados pelas mais
tocantes scénas da vida humana.
O estabelecimento de Villegaignon no Kio de Janeiro
nada tem do caracter odioso íFimia conquista : chega como
alliado e recebe dos Tamoyos nâo equivocas provas de
jubilo e de affeiçáo. Não expelle os nalaraes das suas tabas,
e poílendo, como já dissemos escolher os melhores sitios
para fundar a sua feitoria, fortiíica-se em uma ilha até en-
táo abamlonada e mostra-sc» severo para com os seus pela
mais leve infracção dos tractados (juc firmara com os
filhos do paiz. Esperando que ce;Jo, ou tarde seria ata-
cado pelos portuguezes, aos ipiaes pela própria confissão
do Padre S. de Vasconcellos não foi o primeiro á aggre-
dir (17), e de perfeito accôrdo com os selvagens adestrou-
os no manejo das armas, fazen lo dellcs excellentes sol-
dados.
Sobre o modo porque eram tratados os indigenas
pelos francezes não podemos citar melhor testemunho
do que o de Mem de Sá, 3^ Governador Geral da Bra-
sil, n'uma carta escripta de S. Vicente aos 16 de Junho de
i360àel-reiD. JoãollI.
Fallando à respeito de Villegaignon assim se exprime
o delegado do governo portuguez : « Elle leva muito diíTe-
« rente ordem com os gentios que nós levamos : é liberal
€ em extremo com elles e faz-lhes muita justiça, enforca
< os francezes por culpas sem processo, com isto ó muito
< temido dos seus, e amado dos gentios : manda-os cnsi-
JANEIRO. 4
^ 2C —
« nnr a todo o género (l'ofliclos e críirmas, ajinla-os nas
« suas giien*as. O gentio é muito e dos mais valentes da
• costa era'pouco tempo se pode fazer muito fórle. (18) »
Grande é o [)eso que deve merecer- nos as palavras do
illustre Mem de Sà : só a forra da verdade actuando n\mia
alma nobre como a sua poderia dictar este juizo pronun-
ciado acerca d\mi inimigo da sua nação, e cujos entrin-
cheiramentos elle acabava d^arrasar com lanto denodo.
Em conclusão diremos que os francezes pelas suas jna-
nciras alTaveis, pelo seu tracto cav;dIieiresco souberam gran-
gear as sympathias dos nossos indigenas.
CONDUCTA DE VILLEGAIGNON V\r\\ COM OS CALVINISTAS.
É tempo de examinarmos o procedimento de Ville-
gaignon para com os sectários da religião reformada, e de
verificar si merecida, ou injustamente lhe deram estes o
ignominioso epitheto de Caim d America.
Sabemos que o cavalleiro de Malta vivia afastadj da
corte e esquecidos os seus serviços quííndo pela interven-
ção do celebre Gaspar de Coligny, aquém o ni Henri-
que II testemunhava grande estima e veneração, foi elle
incumbido da tarefa de limiar o dominio fraiicez nWme-
rica do Sul. Ora, como já referimos, o almiraníe Coligny,
pertencente á nobilÍ6.>ima casa dr Chatillon era o chefe os-
tensivo dos protestantes do reino, e o astuto Villegaignon
apnn^eitou-se doesta circamstancia para inculcando-se con-
vertido à doutrina de Galviíio ad(iuirir em Coligny um
protector. Já vimos como pela sua influencia esquipou elle
uma frotinha com que se apresentou no lUo de Janeiro, e
como simulando um sentimento que por certo não existia
— 27 —
em sua alma, condecorou com o nome do illustre almi-
rante o rorliPilo em (jue se forlilicára. Quasi todos os seus
companheiros seguiam a nova doutrina, ou pelo menos
haviam disso feito promessa, e parece «luc doeste numero
não se exceptuava o próprio franciscano André Thevet.
Xa carti eicri[)ta á Calvino e citada integralmenle por
Ler/ hVsc o seguinte periodo.
« Poniue os irmãos que tinham vindo commigo de
€ França para esse fim (o do exercicio da religião) desa-
« nimadoá pelas difficuklades da obra voltaram jmra o E(j\j-
< pUh allegando cada qual um pretexto. > Quem estiver
ao facto da linguagem empregada nas polemicas religiosas
da épocha saberá que a plirase voltar ^xira o Egijpto era
synonymade regres.>nr para o grémio da religião catholica;
e Villegaignon ([ueixando-se à Calvino do abandono em
que haviam deixado os primeiros operários do Evangelho
agradcce-lhe a vinda dos novos ministros Richier e Chnr-
ticr . que traziam em sua companhia alguns outros theolo-
gos de Genebra, sendo um delles João de Lery, a quem
S4)mo3 devedores d'um excellente livro, que foi das mais
abundantes fontes a que recorremos para a confecção doeste
nosso tosco trabalho.
Chegando á America o primeiro cuidado de Villegaig-
non foi o de pedir ministros da religião refoimada jmra
morigerar aos seus e catheehisar aos selvagem, prestando a
maior obediência a igreja de Genebra. Náo nos causa
pasmo que o almirante Coligny, homem de guerra, do
franco e generoso caracter, fosse iHudido pelas fallacias
do seu protegido; admira-nos porém que (divino, cujo
espirito subtil se havia ainda mais aguç-ado nas (juestões
theologicas, sendo afamado pela sua argúcia, se deixasse
kidibriar por um hmnem (pie llèe era muita inferior em
- 28 —
conhecimentos. Para attenuar porém a impressão que na-
turalmente causa o ver tantas pessoas honestas victimas
da mais negra perfídia devemos lembrar-nos que o pro-
jecto de crcar-sc um estabelecimento n'America era o
mais popular possivel ; que todos contribuíam para elle
com enthusiasmo, uns levados por vistas politicas, outros
por cálculos dlnteresse individual, e finalmente outros,
entre os quaes devemos comprehender Calvino, pelo vivo
desejo de propagar a nova crença além do athlantico.
O venerando Philippc de Corguilleray, senhor Du-Pont,
cuja honrada velhice se deslisava em Genebra, foi solici-
tado por cartas do almirante Coligny, e por vivas instan-
cias de Calvino para dirigir a expedição enviada em auxilio
de Villegaignon. Esquecendo os inconunodos inherentes
a uma tal empreza, muito mais sensiveis no inverno da
vida, deixou as doçuras do lar domestico partindo à 16 de
Septembro de looC para Chatillon sur Loing, onde o
aguardava o almirante: de quem elle, e os seus treze com-
panheiros ouviram as mais animadoras expressões. Após
um mez de demora em Pariz, onde se lhes reuniram mais
alguns fidalgos partiram os peregrinos para Honfleur, de
cujo porto deram à vela para a França Antárctica a 20 de
Novembro do referido anno.
Compunha-se a expedição de três navios transportando
cento e vinte pessoas, sendo o supremo commando con-
fiado a Bois-le Comte, com o titulo de vice-almirante. Este
Bois-le Comte, sobrinho de Villegaignon é o mesmo a
quem o illustrado Author dos Annaes do Rio rfe Janeiro
chama de conde de Bois, sem duvida equivocado pelo seu
segundo nome, que é ao mesmo tempo um titulo de no-
breza e um appellido de familia. (19)
Sobre a memoria desses homens que tão heroicamente
— 29 —
se expatriaram posam mui graves accusações si dermos
credito ao qae à seu respeito diz Thevet. Oiçamos as suas
palavras:
< Esquecia-me de dizer-vos que pouco tempo antes
houvera uma sedição entre os francezes, occasionada
pela divisão e parcialidade de quatro ministros da reli-
gião nova, que Calvino para ahi enviara a fim de plan-
tar o seu sanguinolento Evangelho : o principal d^elles
era um ministro sedicioso chamado Richier, que tinha
sido carmelita e doutor de Paris alguns annos antes.
Estes ridiculos pregadores não cuidando senão em
enriquecerem-se e apoderarem-se do que podiam fize-
ram conluios e intrigas secretas originando-se d'ahi
que alguns dos nossos fossem por e!les mortos. Porém
sendo presos alguns d'esses sediciosos foram executa-
dos e entregues os seus corpos aos peixes : outros sal-
varam-se, em cujo numero se achava o referido Richier,
o qual pouco tempo depois serviu de ministro em Ro-
chella : onde penso que ainda está. Irritados os selva-
gens por semelhante tragedia pouco faltou para que não
se precipitassem sobre nós, matando aos que res-
tavam. 1 (20)
Para contrariar o libello do franciscano dWngouleme
senir-nos-hemos d'um documento de que já fizemos men-
ção, isto é, da carta que Villegaignon escreveu á Calvino
agradecendo-lhe o ter annuido aos votos que lhe expri-
mira na sua primeira missiva relativamente á urgente ne-
cessidade que sentia de novos cooperadores. Posto que a
tenhamos unicamente lido na obra de Lerj' (Historia d*uma
Viagem á terra do Brasil, aliás França Antárctica) repu-
tamo-la authentica ; por isso que diz -nos este escriptor
que o original escripto em latim e com tincta do Brasil,
— 30 —
parava em mãos idóneas havendo já sido impressa uma sua
traducção.
Justificando a escolha que lizera da ilhota de SerUjipe
para o primeiro núcleo da colonisarão, aíim, como já dis-
semos, d'observar entre os seus a mais restricta disciplina
cortando-lhes toda a communicaçáo com a terra, povoada
por selvagens assim se exprime o chefe francez.
t Aconteceu contudo (pie alguns vinte seis dos nossos
€ mercenários, estimulados pelos apetites sensuaes cons-
« piraram para matar-me. No dia porém assignado para
« a execução foi-me revelada a trama por irni dos com-
» plices na mesma occasilo em que deligentemente pro-
« curavam-me para cahirem sobre mim. Evitei o perigo
t pela maneira seguinte: havendo feito armar à cinco
• criados meus investimos contra elles, que possuídos de
« terror e pasmo deixaram-se facilmente vencer. Prendi a
« quatro dos principaes conspiradores, cujos nomes me
t haviam sido revelados ; occultando-se os outros depois
• deterem deposto as armas. Mandei no dia seguinte sol-
« tar à um para que podesse na maior liberdade pleitear
« a sua causa ; maspondo-se á correr lançou-se no mar,
« onde afogou-se. Os restantes sendo conduzidos à mi-
« nha presença, amarrados como estavam, declararam o
« que eu já sabia, da boca do complice e dilator: istoé,
« que um d'elles havendo sido pouco antes castigado por
• mim por entreter relações illicitas com uma mulher de
« má vida captou por presentes o pai d'essa mulher para
« que o livrasse do meu poder no caso d^obstinar-me eu
« em interromper as ditas relações. Tal foi o primeiro
« pensamento da revolta. Fi-lo enforcar e estrangular p ir
« semelhante crime. Gommutei à dois outros a pena de
« morte na de prisáo com trabalho : e quanto aos mab
— ;h -^
f náo quiz tomar conhecimento do seu delicio alim de que
« não fosse obrigado à punil-os ; o qae importaria n'um
■ grande desfalque d^operarios para as obras que tenho
« emprehendido. »
Em todi esta narrativa não se faz a menor menção dln-
trigas e suggestôes dos ministros calvinistas, que por for-
ma alguma poderiam ter concorrido para a supracitada se-
dição; por isso que náo tinham ainda chegado ao paiz.
Esta carta tem a data de 31 de Março de 1357 ; (í sabemos
(jue os companheiros de Du-Pont clicgáram ao forte Co-
ligny á iodo referido mez eanno, e os factos referidos por
Villegaignon passaram-se nos primeiros tempos da sua
chegada, como se deduz das suas próprias palavras. Si os
emissários de Calvino se tivessem manchado com tão negro
crime por certo que Villegaignon náo deixaria de fazer
amarga queixa d^elles nessa carta dirigida á seu chefe, e
não nos consta que depois d'essa revolta houvesse mais al-
guma no estabelecimento francez. É por tanto fora de du-
vida que é inteiramente calumniosa a asserção de Thevet,
c que o ódio que nutria para com os sectários da reforma
foi o único motor de tão cruel quáo infundado juizo. Ora
esse ódio era tanto mais excessivo, quanto, como já deixa-
mos entrever, o íilho de S. Francisco parece que não pos-
suiu sempre uma inabalável convicção acerca da superiori-
dade da religião catholica sobre todos os cultos dissidentes,
ou então, o que não lhe é menos deshonroso introduziu-se
entre os protestantes de Villegaignon, para, á seu exemplo,
alraiçoal-os e conspurcal-os comas suas falsidades e diatri-
bes. O antagonismo religioso não deve por maneira alguma
auctorisar a infracção das leis da verdade.
Prosigamos no exame da conducta de Villegaignon.
Com falsas apparencias de grande regosijo recebeu elle
— sã-
os seus novos conijiaiilieiros, e convocando a guarnição do
forte, em uma pequena sala situada no meio da ilha, ouviu
cheio de compuncção e prédica do ministro llichier, a pri-
meira, observa Lery, «jue se fez n^America conforme o
culto protestante. Mandou distribuir pelos recem-chegados
rações de peixe assado ao modo dos selvagens, raizes co-
zidas debaixo da cinza e para saciarem a sede foi-lhes dada
a verde negra e salobra agua diurna cisterna. Alojou-os em
cabanas cobertas de palln destinando apenas um quarto
para Du-Pont e os dois ministros Richier e Chartier. Tão
desabrida recepção foi seguida d'acerbo trabalho a que con-
demnou os seus hospedes, empregando-os em carregar
barro e pedra desd'o nascimento até o occaso do sol. Longe
de soprar o espirito da revolta no animo dos colonos, des-
contentes por tão bárbaro tratramento, aconselhava-os
Richier que supportassem as privações com paciência, e
vissem em Yillegaignon um novo S. Paulo. De facto nin-
guém melhor do (jue elle sabia representar o papel de
zelador ardente do Evangelho e de fervoroso apostolo da
reforma : seus discursos, transcriptos por Lery, são re-
passados d'uncçáo, e trazem-nos à memoria a linguagem
biblica de Gromwell nas suas proclamações e ordens do dia.
Pensamos que a chegada da missão, que elle tão arden-
temente pedira, causou-lhe grande contrariedade, ou por
compòr-se de pessoas illustradas, que não deixariam de
condemnar o despotismo que aqui exercia, dando-se d^elle
conhecimento à França, ou porque visse em Du-Pont um
ancião, cuja virtuosa conducta contrastava com a sua, ou
finalmente porque já tivesse recebido do cardeal de Lorena,
seu occulto protector, ordem para levantar a mascara da
hypo^isia.
M'uma épocha em que os debates religiosos estavam em
— :]:] —
grande voga depois que Lulhero proclamara o principio do
livre exame, que fazia de cada fiel um juiz da sua crença, e
interprete da palavra divina, não parecerá estranho que um
official de marinha se ingerisse em questões theologicas e
exercesse as funcções do pregador. Sustentou contra o
ministro Chartier uma opinião diversa relativamente á
Céa (21) ; mas fingindo desejar ser melhor instruído sobre
este ponto enviou-o á Franca para consultar os doutores,
e muito principalmente a Calvino. Era este um meio hábil
j)ara dcscartar-se pouco á pouco dos que lhe faziam sombra.
Sem se importar com a resposta dos quesitos que fizera
para a Europa declarou o seu juizo como o único infallivel
e mudando da linguagem que até então tivera disse publi-
camente que reputava a Calvino como um herege, e inimigo
de Deus. Semelhante apjstasia não devera surprehender
à ninguém ; pois que já uma vez por motivos de mero in-
teresse abjurara Villegaignon a religião de seus pais;e
quem assim procede está sempre disposto a regular a sua
consciência por uma tarifa, mais, ou menos elevada.
Como que envergonhado de tal proceder tractou os seus
antigos co-religionarios com o mais excessivo rigor. Exas-
perados os calvinistas dirigiram-se ao seu conductor (Du-
Pont) e lhe supplicaramque alcançasse de Villegaignon a per-
missão para regressarem á seus lares. Du-Pont representou
ao chefe da colónia que a sua nova abjuração tornando inútil
o fim para que tinham vindo á America e não existindo
nqui a liberdade de consciência, que através de mil perigos,
tinham vindo procurar, lhes fosse ao menos concedida a
licença que imploravam os seus companheiros de infor-
túnio. Depois d'alguma hesitação annuiu Villegaignon ao
peJidoquelhe era feito, e os calvinistas, a[)ós oito mezes
j.v.NEiRo. y
— 34 —
dos mais rudes trabalhos iio fórlc Coligny, passaram ao
continente, onde ainda, se demoraram dois, aguardando
um navio que os transportasse à Prança.
Nutrindo negros projectos de vingança contra esses ho.
mens, que d'est'arte sesubtrahiam ao seu jugo. dissimulou
o seu ódio e indignação parecendo approvar o seu desígnio
dizia que assim como se regosijára com a sua vinda quando
cria achar nellcs o que procurava ; assim folgava que re-
gressassem mna vez que nâo podiam estar d^accordo. Entre-
gou porém a Martin Beaudoin, capitão do navio Jacques,
(|ue os conduzia um cofre coberto com encerado, onde in-
cluirá o processo (lue lhes fizera, acompanhado d'mna pre-
catória ás authoridades do porto de França onde chegassem
para que fizessem-nos queimar como revoltosos e hereges.
A Providencia Divina porém que nâo {X)dia concorrer para
semelhante crime, fez com que aportassem á Blauet, na
Bretanha, onde dominava o partido protestante,^ que lhe fez
a mais cordial recepção.
Remettemos o leitor curioso para a interessante obra de
Lery, verdadeira odysséa d'essa longa e perigosa navegação
de quatro mezes e meio, em que elle e seus companheiros
encaravam de perto à morte, jà vendo o seu navio quasi
despedaçado nos baixios, jà experimentando as torturas da
sede e os horrores da fome.
Quando o Jacqiies, que roçara nos rocliedos submarinos
fíizia agua por todas as partes alguns viajantes preferiram
os perigos de terra aos do mar, e desembarcando em um
escaler voltaram aos domínios de Villegaignon. Bem de-
pressa tiveram d'arrepender-se de semelhante resolução ;
pois que cahindo nas garras do irritado tigre [)agavam al-
guns cojii a vida i\ sua audácia, fugindo oulros para as
I
— 35 —
povoações portitguezas, onde, para viverem, liveram (rahra-
í;ar ocatholicismo.
Qual seria a causa cFessa mudança que tão subitamente
se operara no animo de Villegaignon ?
Abramos as paginas da Historia de Franga^ e vejamos
se nos pôde ella dára solução do enigma.
É geralmente sabido que pela exaltação ao Ihrono d^Hen-
rique II, os Guises, que no precedente reinado tinham sido
privados de toda a influencia, se viram rehabilitados nas
boas graças do monarcha e partilhavam com os Montmo-
rencys e Chatillons das primeiras posições olliciaes. Entri^
as facções diversas que nessa épocha dividiam a França
oscillava o espirito pouco enérgico do rei : e assim se ex-
plica como Gaspar de Chatillon, conde de Coligny, reunia
em si os cargos d\almirante e coronel general d'infantaria,
em quanto o duque de Guise, commandava o exercito, que
repellia á Carlos V dos muros de Metz, e seu irmão Cláudio,
cardeal de Lorena, tinha a suprema administração da fa-
zenda publica, send;) incontestavelmente a primeira in-
telligencia do clero. Todas essas ambições rivaes. todos
esses caracteres oppostos, não podiam viverem harmonia :
uns procuravam supplantar aos outros no espirito do rei.
Como era natural o almirante Coligny succumbiu na lucta ;
e uma intriga urdida pela duqueza de Valentinois (Diana
de Poitiers) fez com que exfriassem as boas relações entre
Henrique II e seu virtuoso ministro.
Foi provavelmente nessa occasião que o cardeal de Lo-
rena escreveu a Villegaignon para que deixasse o seu dis-
farce porque nada mais podia esperar do almirante, e que
se declarasse abertamente catholico ; e este, à imiLação de
lodos os renegados que querem, por excesso de zelo dar
— »8 —
índia carregailos de immensas riquezas, accommelteria as
principaes povoações do littoral brasilico submeltendo-as
com facilidade, attento o estado de fraqueza era que se
achavam. O temor de vêr cortado o commercio do Oriente
e perdidas as praças mais importantes que possuia na re-
cente colónia, além do sentimento que lhe causaria a pro-
pagação do protestantismo, que seria inevitável com o
triumpho de Villegaignon, que então era geralmente con-
siderado como sectário da Reforma, influíram poderosa-
mente no animo do politico e catholico Rei D. João III,
que deu terminantes ordens para a expulsão dos francezes
dos seus dominios ultra-marinos.
Apenas chegou à Bahia cuidou Mem de Sà de dar cum-
primento à ordem regia ; mas para uma empreza na qual
a honra nacional se achava empenhada apenas lhe havia
mandado a corte três máos navios de guerra, abandonando,
com indesculpável incúria o governador geral aos fracos
recursos que lhe podiam ministrar os colonos.
Sobre o estado de penúria em que se achava a capital do
Brasil interroguemos os chronistas e Rocha Pitta nos res-
ponderá :
c Estavam a cidade da Bahia e seu recôncavo faltos de
f tudo o que era preciso para tanta empreza. Não haviam
t navios, era pouca agente, por se achar muita noem-
« prego da conquista dos gentios, cuja guerra, posto que
• porfiada era mui differente da que agora emprehendia
f com a nação franceza, tão conhecidamente valerosa :
« haviam poucos instrumentos próprios e precisos para as
€ expugnaçôes. Os viveres e vitualhas não eram propor-
c cionadas para a facção. > (25)
A' esta falta quasi que absoluta de meios necessários
— 37 —
administral-a tom o titulo do governador geral a Mem de
Sá. desembargador da Casa da Supplicação, varão conspí-
cuo pelas suas luzes e raras virtudes, que faziáo-no digno
irmão do grande poeta Francisco de Sá e Miranda, o il-
lustre emulo de Camões. A esc4)lha de um homem. da lei,
de um cultor das letras parecia indií^ar que a metrópole
occupava-se mais seriamente com a sorte dos seus vassal-
Jos dWmerica, e que ífueria terminar o regimen arbitrário
que até então nella prevalecera, accedendo às representi-
ções da camará da Bahia que em 1356 pedia era nome de
todo o povo que, pelas chagas de Cliristo mandasse com
brevidade governador e ouvidor geral retirando os que es-
tavão ; pois que para penitencia de peccados já bastava
tanto tempo. (24)
A discórdia que reinava entre os francezes era ignorada
pelos seus rivaes. que julgavam-nos enraizados no paiz.
tanío pela sua favorável posição topographica, como muito
principalmente pelas sympathias que haviam sabido inspi-
rar aos Tupinambàs e Tamoyos, tribus guerreiras , que
dominavam n'esta parte do Brasil, e já D. Duarte da Costa
nos últimos tempos do seu governo pedia reforço a Portu-
gal para desaloja-los. O que porém julgamos que decidiu a
corte a tomar uma resolução enérgica a tal respeito foram
as solicitações dos Jesuítas, que de tudo tinham sido in-
formados, e que, pela sua inimitável politica, sabiam que
um corpo de dez mil francezes, flamengos, e aventureiros
de outras nações, estava prestes a partir para a França
Antárctica em soccorro de Villegaignon, á quem também
se attribuia o projecto de ir a Europa -equipar mm esqua-
dra, com que depois de ter feito grandes damivos ao com-
mercioportugiiez, íiprisionando os galeões que voltavam da
-^ 40 -
Religiosos da Companhia os padres Fernão Luiz e Gaspar
Lourenro.
Animados os porlugaezes com os auxílios que acabavam
de receber resolveram proseguir no malogrado ataque do
forte Coligny. Forçaram a barra, apezar da tenaz resis-
tência dos francezes que Ih^a queriam tolher, e fazendo
entrar os navios c canoas tentaram um desembarque na
I)raia fronteira da ilha. Esta porém se achava fortificada
de modo à faze-la enexpugnavel si ás obras d'arte se tives-
sem junctado o enthusiasmo guerreiro dos defensores, es-
timulados por um chefe hábil gosando de suas afTeições.
Xos dois extremos da ilha haviam, como jà fica dito, dois
oiteiros cobertos de bastiões, no meio um rochedo do cin-
coenta á sessenta pés. onde se via a c^sa do governador
abrigada por ameias, seteiras e torrinhas (áO) ; fortes mu-
ralhas e profundas trincheiras tornavam diíBcil senáo im-
praticável o seu accesso. Seria uma nova Diu si nella com-
mandasse algum D. João de Mascarenhas: mas o seu chefe
e fundador a havia desamparado partindo para a Europa,
oito ou nove mezes antes, com o fim real ou supposto, de
agenciar reforços. Não cabe á historia o avaliar das inlea-
çócs de quem quer que seja ; o sanctuario d'alma fica im-
penetrável aos olhos dos homens ; só Deus pode nelle en-
contrar motivos para galardão, ou castigo. A dobrez po-
rém do caracter de Villegaignon nos faz sus[)eitar que ha-
vendo perdido as esperanças de constituir-se um grande
senhor feudal, e quiçá soberano independenle nas lougi-
í|uas terras da America, e vendo falharem as pmiuessas
que lhe haviam sido feitas resolvesse partir para a França
aimunciando aos seus companheiros (jue (lue.hia buscar
soccorros para roílisar gigantescos planos. D^ahi certa-
— 41 —
mente provieram os boatos a que acima alludimos, e de
que os Jesuítas fizeram sciente â El-rei D. João III. (27)
Desanimados pela ausência do chefe e pela incerteza
que pairava sobre o futuro do seu estabelecimento maravi-
Iha-nos a coragem que ostentaram os francezes na defesa
das suas fortificações. Havendo-ihes intimado Mem de Sá
que deixassem a terra, pois pertencia esta a el-rei de Por-
tugal, responderam-lhe altivamente os da praça ; preen-
chidas assim as formalidades exigidas pelos estylos da guer-
ra romperam as hostilidades.
Desembarcaram os portuguezes na ilha n'uma sexta feira
13 de Março e durante dois dias e duas noites houve entre
estes e os sitiados vivissimo fogo. A resistência dos da
praç>a arrancou a admiraçáo do governador geral que assim
se exprime na sua participação official : « Porqtie siipposto
que vy mmto e hj menos a my parece que senão viu outra for-
taleza tam fúríe no mundo: • tentando um derradeiro es-
forço, porque sua coragem jà começ^ava a fraquear « can-
çados da demasia do trabalho e de combate tão vigoroso,
diz S. de Vasconcellos na vida d* Anchieta, em que erão jà
mortos muitos e bons soldados e estavam feridos muitos
mais » escalaram os portuguezes as muralhas i)elo lado do
arsenal e apoderáram-se à viva força do monte das palmei-
ras, que era considerado como a sua cidadélla d'onde fa-
zendo mortífero fogo obrigaram os inimigos á evacuarem
a ilha procurando salvar as vidas nas canoas nas quaos |>as-
sàram ao continente,
Segundo o testemunho do próprio Mem de Sá o numero
dos francezes que capitularam era de setenta c quatro
além de alguns escravos ; a cujo numero se jnnctâram os
que andavam em terra bem como a tripularão do tima iiáo
JANEIRO. • H
— 42 —
franceza aprisionada pela galera Ezaura. Os gentios eram
mais de mi! e tão bons espUigardeiros, diz o govemador-gc-
ral, co)no os francezes. Os assaltantes não passavam de
duzentos e sessenta, entre portuguezes e indigenas.
Senhores da i;ha apressáram-se os portuguezes em ren-
dei' graças ao Céo pelo seu assignalado triumpho celebrando
o sacrifício da missa os dois Jesuítas que tinham guiado os
índios de S. Vicente.
Passados os momentos de cnlhusiasmo e de agradeci-
mento ao Todo Poderoso pela vicloria que havia obtido
pensou o governador geral ser tempo de também attende-
rem-se às razões politicas de presidiar, ou arrasar o forte,
convocando para semelhante fim um conselho dos princi-
pae5 ofliciaes. Opinaram alguns pela necessidade de deixar
uma forte guarnição na conquistada ilha afim de impedira
volta dos francezes, que não deixariam de frequentar a
terra, onde por (pia tro annos haviam permanecido. A razão
porém de não ser conveniente dividir as forças de que se
havia mister, não só para submetter os gentios, como para
rechassar qualquer invasão estranha prevaleceu. Nesta con-
formidade ordenou Mem de Sá que fosse totalmente arra-
zado o forte Coligny e recolhidos aos navios portuguezes a
artilhería e grande quantidade de despoj(íS do inimigo.
Feitos todos os preparativos de viagem deixou o gover-
nador geral o nosso porto desembarcando à 31 de Março
em S. Vicente, onde a nova dos brilhantes successos ope-
rados no Rio de Janeiro eda completa derrota dos france-
zes foi recebida com grande alvoroço dos moradores, e
mui principalmente por Nóbrega e Anchieta, que tanto
tinham contribuído para o bom resultado da aniscaiki
cmpreza.
— 43 —
Vil.
ATAQUE D'uRlÇLMmiM — MORTE dV-STACIO DE SÁ.
Como muito bem previra Mem de Sà (28) náo tardaram
os francezes em voltarem ao Rio de Janeiro onde contavam
com a alliança dos naturaes e achando-o completamente
abandonado pelos portugiiezes escolheram melhores posi-
ções fortilicando as aldeias á'Uniçumirim e Parampucu^
hy ; (áO) doestas aldeias a primeira estava no continente,
situada juncto á foz do ribeiro Carioca (30), que como diz
Gabriel Soares no Roteiro do Brasil, ficava na extremidade
da enseada de Fra)icisco Velho (Botafoíjo) no lugar hoje
denominado praia do F/am(?/ií/o devendo o seu nome (PUni^^.
çumirim, segundo affirma o nosso illustrado collega e ami-
go o Sr. Norberto, a um chefe indio que alli commandava.
A segunda (Paranapuctihtj) achava-se n'uraa grande ilha,
hoje conhecida pela do Governador por ter pertencido a
Salvador Corrêa primo e successor de Estacio de Sá (31).
No espaço de vinte annos em que o metrópole deixou
em olvido o Rio de Janeiro repararam os francezes as suas
perdas e bem que pareça náo haverem intentado a funda-
ção de novas colónias continuaram a entreter relações
d'amizade e commercio com os Tamoyos. a dirigi l-os em
suas guerras, n'uma palavra a exercer sobre elles uma es-
pécie de protectorado funesto em todos os sentidos ao
dominío portuguez. As duas famosas aldeias, que acima
mencionamos não eram governadas pelos francezes e sim
por chefes indígenas ; mas defendiam-nas as bonbardas e
arcabuzes sendo a tatic^ militar dos povos cultos emprega-
da em sustentar a barbaria contra a civilisaçáo. Tudo pa-
rece indicar que nessa épocha os francezes já náo pretea-
— 44 —
(liam, como no lempo de Villegaignon. fundar um estabe-
lecimento dependente da metrópole e que servisse de
núcleo a futuras colónias da sua nação, mas unicamente pro-
longar o staíu quo com que tanto lucravam, oi)pondo-se
com todas as suas forças a que os portuguezes, ou qual-
quer outro povo, conquistassem o paiz.
Fieis á esse programma vemo-los exacerbar o ódio
que os tamoyos nutriam contra os successores de Ca-
bral pondo em perigo as suas recentes povoações. S. Vi-
qente e Piratininga foram ameaçadas de total extermínio;
e sem os heróicos esforços de Nóbrega e Anchieta que na
conferencia álperoUi] presidida pelo prudente Piíulobuçú,
e a que assistiram ós principaes chefes da confederação
tamoya, celebraram esse famoso armistício que fez por um
momento suppur que a paz se hia restabelecer entre os
antigos e os novos senhores do Brasil. O antagonismo
porém das duas raças era manifesto e profundo; de modo
que não podemos ao certo affirmar si foram os portugue-
zes, ou os tamoyos, que primeiro violaram o tratado.
A noticia que os formidáveis filhos das florestas tropicaes
haviam jurado pela boca dos seus pagés cessarem d'hostili-
sar aos neo-lusitanos causou excessiva alegria por todo o
Brasil, alegria esta de que participou a própria corte de
Lisboa. A senhora D. Catharina. irman do imperador
Carlos V, que governava Portugal na menoridade de seu
neto D. Sebastião, entendeu que offerecia-se azada occa-
siáo para povoar o Rio de Janeiro, privando d^est^arte os
francezes (Puma favorável localidade d'onde tinham em
constantes sustos os seus vassallos d'além-mar.
Com o tino governativo, que tanto caracterisava a viuva
de D. João III, e ajudada pelos conselhos de D. Aleixo de
— líJ —
Menezes, náo fui difficil a escolha do homem que devera
ser incumbido de tão nobre tarcfii. A illustre famiUa dos
Sàs. offerecia à coroa servidores de provado zelo e dedi-
cação; assim pois Estacio de Sá, jà conhecido pelos seus
gloriosos precedentes, recebeu ordem de partir para a
Bailia com dois galeões, carregados com toda sorte de
petrechos de guerra, e alli receber as instrucçôes do go-
vernador-geral para o bom êxito da sua commissão.
Chegando á antiga capitai do Brasil no principio do
anno de 1S64 entregou a seu nobre tio as cartas da rai-
nha-regente nas quaes depois de elogial-o pelos relevantes
serviços que prestara ao Estado com a tomada do forte
Coligny e a expulsão dos francezes, recommendava-lhe que
aproveitando-se do feliz ensejo do armistício dlperohy tra-
tasse de povoar o Rio de Janeiro desligando para sempre
os tamoyos dos seus antigos e temiveis alliados. Deu-se
pressa o zeloso Mem de Sà de executar as ordens de sua
soberana, e pondo à disposição de seu valente sobrinho as
poucas forças coloniaes, prescreveu-lhe que se dirigisse ao
nosso porto, fazendo escala por alguns outros da costa,
onde podesse receber novos auxilies.
Obedecendo a estas instrucçôes aportou Estacio de Sá ao
Espirito Santo, onde pelos esforços do ouvidor Braz Fra-
goso, poude alcançar a amizade do prestimoso Ararigboia
chefe dos esforçados tupiminós. encarniçados inimigos dos
tamoyos. t Cheio d'enthusiasmo, diz o Sr. Norberto,
t anhelando o feliz êxito de tamanha empresa não Hmitou
« Ararigboia o seu soccorro em acompanha-lo com gente
t de peleja que escolheu entre os seus mais bravos guer-
• reiros; porém administrou também armas para os índios
• e os favoreceu com abastança de mantimentos. » (32)
- 4C -
Determinava o regimento da frota que demandasse esta
o Rio de Janeiro com apparato bellico attrahindo os fran-
cezcs para uma batalha naval fora da barra, fazendo semjnr
jwr conservar as pazes com os hidios tamoyos ; nâo poude
porém o capitâo-mór dar cumprimento á esta clausula; por
isso que aqui chegando no mez de Fevereiro soube que os
indigenas haviam rompido o armistício, e d'isso íeve evi-
dentes provas com a morte de quatro marinheiros perten-
centes a um batei, que procurando fazer aguada em uma
ribeira fora acommettido por sete canoas dMndios ar-
mados.
A vinda dos portuguezes era de ha muito esperada:
todas as praias estavam guarnecidas dMmpavidos guerrei-
ros vestidos de pennas de guarás e tucanos brandindo ter-
ríveis tocápes, ornadas as frontes desses lindos cocares, que
quaes os turbantes dos sectários do Koran, tâo marcial as-
pecto lhes dava e a quem chamava dos cerros das quebra-
ílas e dos outeiros
« A terrível inubia que assignala
« A hora da investida e retirada » (33)
A prudência aconselhou ao capitão -mór que com tão
débeis forças não arriscasse a arrojada empresa ; assim
pois desfraldou as velas para S. Vicente, onde contava
com a nunca desmentida fidelidade dos seus liabitantes.
No porto de Santos, onde em breves dias entrou a es-
quadra soube com grande regosijo que os tamoyos de Pi-
ratininga ainda se conservavam addictos ao convénio d^lpe^
rohy, e que o fiel Cunhwnbeba continlia em respeito os
inquietos tupis. Ainda esta vez Nóbrega e Anchieta em-
pregam o prestigio que as suas sobre -humanas virtudes
— i7 —
lhes haviam grangearlo e da exhausta c^ipitaiiia surgem
novas forns. Com os soc^orros ahi recebidos elevou-se a
expedição a seis navios de guerra, alguns barcos ligeiros e
nove canoas de misliços e Índios.
Ordenara o provincial dos jesuitas no Brasil (34) ao
Padre Gonçalo d^Oliveira e ao irmão José d'Anchieta quo
s^mbarcassem nessa frota para animarem os Índios cm
cujo espirito suas palavras exerciam incontestável influxo.
No dia 20 de Janeiro de loG6, memorável nos fastos da
igreja pelo martyrio de S. Sebastião, partiu Estacio de Sá
do iwrto de Berriquiúca (33) com destino á capitania do
Espirito Santo, d'onde dcmorando-sc o tempo unicamente
necessário para receber nova provisão de gente e de man-
timentos, aproou para o Rio de Janeiro e â áO de Março
avistou o Pão d'Assucar. (36)
Juncto â esse natural monolitho, quiçá testemunha das
primeiras revoluções geológicas do globo, desembarcou o
capitão-mór não sem grande resistência di parte <los
francezes e tamoyos. Escolhido este sitio para seu acom-
panhamento fortiíica-o com fossos e trincheiras, desem-
barca a artilhería dos galeões e prepara-se para sustentar
renhida lucta que deve ser coroada pela mais brilhante
victoria.
Acerca da posição topographica do campo portuguez,
que serviu de berço à nossa hoje opulenta capital, não
estão de accordo os historiadores : querendo uns, como
Pizarro, que fosse junto à moderna fortaleza de S. João,
e outros, como Balthazar da Silva Lisboa, na var:íea viú-
tiha. Pensa o Sr. Varnhagen. e julgamos que com todo o
fundamento, que pode ser elle assignado no lugar actual-
mente chamado Praia- Vermelha, onde se ergue o monu-
— 48 —
mental hospício, à que um piedoso mouarcha deu o seu
nome. Ao testemunho, sempre valioso do nosso iliusliado
e laborioso consócio, podemos juntar, o não menos impor-
tante, do inspirado contar dos tamoyos.
« Junto do alto penedo Páo-d'Assucar
* Balisa natural do immenso golpho.
« Já o capitao-mór entrincheirado
« De forte praça os bastiões erguia
« Na praia que Vermelha hoje chammos (:i7)
Pouparemos aos leitores a fastidiosa narrativa dos pe-
quenos combates, verdadeiras escaramuças, sem resultado
algum definitivo, que tiveram lugar por espaço de dez
raezes entre os tamoyos, capitaneados pelos francezes, e
os portuguezes, ao mando de Estacio de Sà. Entre esses
conflictos avultam a tomada d'uma náo franceza tripulada
por cento e dez homens que se dísiam catJwlicos, na phrasc
dWnchieta. e aos quaes permittiu o capitáo-mór o seu re-
gresso à Europa ; bem como o famoso combate de sele
canoas portuguezas contra sessenta e quatro indígenas em
que a victoria se declarou pelas primeiras,, graç^is, dizem
os chronistas, á ostensiva intervençJo do glorioso martyr
sob cujo patrocínio pelejavam os luzitanos. Essas a^pa-
riçóe^ de santos no meio das batalhas estava muifc no
gosto dos nossos antepassados, que também attribuiam a
victoria d'Aljubarrota á miraculosa presença de S. Jorge.
Longe de desenganar o povo, chamando-o a um chris-
tianismo illustrado, o clero d^essa épocha introdusiacm
suas chronicas fabulosas lendas, fíivorecendo d'est'arte o
fanatismo, lâo fatal à verdadeira religião como à impiedade.
Não transcreveremos tão [)()uco as falias e proclamações do
— tn —
<:oramaiidaíite portuguoK poniue ncDliuma fó nos merecem
semelhantes documentos, cuja falta d'authenticidade reco-
nhece-sc ao primeiro exame, nâo necessitando grande
perspicácia para descobrir-so em todas ellas a pcnna do
padre S. de Vasconcellos , chronista da companhia de
Jesus.
Para mostrar aos seus o íirme propósito (lue havia for-
mado de nâo abandonar o Rio de Janeiro, como já uma
\'òz imprudentemente se íizéra, ordenou ao capitáo-mór a
partida dos navios, que haviam transportado a expedição.
Paliando a tal respeito assim se exprime um illustre
historiador contemporâneo :
« Já então tinham os nossos um baluarte de taipa e
« alguns ranchos e casas cobertas, e feitas em redor da
€ cerca muitas roças e plantado legumes e inhames ; e o
« capitâo-mór para prender melhor os seus aterra, e ti-
« rar-lhes do pensamento a possibilidade da retirada,
€ despediu todos os navios. Sem os incendiar, como Aga-
4L tocles era Africa, sem os encalhar, como praticara alguns
< anãos antes Cortez no México, conseguio resultados
€ idênticos. » (38)
Apezarda heróica tenacidade do chefe portuguez, apezar
dos conselhos, das exhortaçóes e até das [)rop]iecias dos
Jesuítas, a coragem dos soldados começava a fraquear e
os índios davam evidentes indícios de quererem regressar
às suas tabas. Crítica era por certo a posição d^Estacio
de Sá.
N'esta conjunctura uma circumslancia, cm si de pouco
valor para o futuro da colónia, veio apressar o dosfeicho
da crise. José <rAnghieia, que como já vimos, era simples
irmão coadjuctor, foi chamado á Bahia pelo segundo bispo
do Brasil, D. Pedro Leilão, que houvera sido seu compa-
JANEIRO. 7
— :jo —
nheiro na universidade deCoimbya, para completar a sua
ordenação recebendo ordens sacras inclusive o presbyte-
rado. Gozava este santo varão de grande estima em todo o
Brasil ; assim pois foram ouvidos com grande acatamento
os seus conselhos acerca da urgente necessidade de pres-
tarem-sc soccorros ao capitáo-môr do Rio de Janeiro. O
governador, o bispo, e o padre Ignacio d' Azevedo, que aca-
bava do chegar com a patente de visitador geral dos jesuítas,
tomaram a peito de seguirem o nobre impulso que lhes
dava o joven loviUi, a quem a posteridade agradecida devera
denominar um dia — Apostolo do Novo Mundo,
Pondo de parte outros negócios, (jue exigiam a sua pre-
senra na capilal do Estado, os três protogonistas doeste
drama resolveram invidar todas as suas forças para que
í^Tandes e promptos auxílios fossem por elles levados ao
Rio de Janeiro. (39)
Sahindo da Bahia em Novembro de 156G com destino à
capitania dos Ilhéos, onde o governador-geral puniu cora
scv«.MÍdade a revolta dos Aymorés. assegurando assim a
tranquilidade das vizinhas povoações durante a sua ausência,
deixou essa capitania no primeiro de Janeiro de 1567 vindo
surgir defronte da nossa barra a 18 do mesmo mezeanno,
ante-vespera de S. Sebastião, (juetão estreitamente se
acha ligado coma historia da nossa cidade, que ainda n'um
século de geral descrença se ufana de contal-o por pa-
droeiro.
Animado Estacio de Sá com o inesperado soccorro, que
tào opportunamente lhe trazia seu preclaro tio, foi de pa-
recer que se atacassem as aldeias fortificadas no próprio
dia do martyr, opinião esta que prevaleceu no conselho,
adrede convocado pelo governador-geral, incumbindo-se o
capitão-mór de dirigir o combate.
— 51 —
IkMxauilo-se apenas um dia para rofocillar as al(piel>radas
forçais <los lassos coinbalentes foi tudo disposto para que
o sol do 20 de Janeiro aliuiniasse a victoria, ou a completa
ilerrota dos portuguezes.
O clangor das trombetas e o rufar dos tambores annun-
^jou logo ao despontar d'aurora um dia de peleja ; mas
nessa era o soldado catholico não se batia com denodo se
não contasse com o auxilio do céo, si genuflexu ante os
altares onde se celebrava o cucharistico myslerio. nãoofle-
recesse a sua vida em holocausto ao seu Deus, que descia
ao sanctuario do sua alma, puriíicada pelo sacramento da
penitencia. Assim, depois de ouvirem missa, coumiimga-
rem e re<^eberem abençam apostólica, (jue lhes lançou o
bispo D. Pedro Leitão, accommetteram os portuguezes e
os seus alliados a aldeia irUruçumirim princii)al acam|)a-
mento dos inimigos.
Dirigiu o capilão-mór uma enérgica falia aos seus sol-
dados lembrando-lhes a victoria em nome do sancto pa-
droeiro. Encarniçada foi a peleja ; os tamoyos e francezes
oppuzeram obstinada resistência aos esforços dos guer-
reiros d^Estacio de Sá ; o pelouro cruzava-se nos ares com
a ervada sela e a espada encontrava -s(í coma tacape. Era
uma scena de horror e confusão; uma guerra d(M*anni-
baes. Os tupiminós cevavam o seu implacável ódio secular
vingança no sangue dos tamoyos; vendo igualmente os
portuguezes nos filhos da bellicosa Gallia outros tantos he-
reges, cujas vidas não lhes era permittido poupar. Assim
ás crueldades inherentes a todas as guerras— junclava-se
ainda o implacável furor das contendas religiosas. O de
lírio do combate os tinha cegado; sua alma se feichára a
lodos os sentimentos nobres e generosos ; uma só ideia
sobre elles predominava-a d(» arrazar as aldeias contrarias
— cíá —
exterminando os seus ilefensores. — O chronista di Compa-
nhia diz-nos com plácida indiíTerença que nem um só ta-
moijo escapou com vida, e dos francezes cinco, que cahíram
nas mãos dos porlnguezes, furam pendurados em um pau para
escarmento dos outros ! (40) O que respeitou o arcabuz c a
bombarda completou o incêndio, que devorou em poucas
horas as pobres cabanas dos fdhos das palmeiras. Apenas
perderam os assaltantes doze homens (o que demonstra a
superioridade de suas armas ) contando entre os mortos o
capitão de Porto-Seguro Gaspar Barbosa, assaz notável
pelos seus importantes serviços, e entre os feridos á Esta-
cio de Sá. (41)
Era conveniente aproveitar o bellicoso ardor da solda-
desca ; resolveu-se portanto atacar immediatamente a ilha
do Governador chamada então Paranapuciày, onde o ini-
migo possuia um fortissimo reihicto, rodeado de cercas
duplicadas que o tornavam quasi inexpugnável. Para ahi
foi pois transportada a artiihería, cujo horrisono estam-
pido repercurtido pelos cchos da bahia misturava-se com
a confusa grita dos selvagens e os rôcos sons dos seus ba-
res. Esse dia devera ser fatal aos adoradores de Tupau :
tiveram de ceder á fortuna de seus contrários, e abando-
nando suas aldeias, que o fogo consummia, foram buscar
nas regiões ainda desconhecidas temporário asylo, d'onde
também devera expelli-los a desenfreada cobiça dos coloni-
sadores. Os epenicios da victoria e os cânticos de jubilo
foram interrompidos para dar lugar ao luto e ás lagrimas :
o heróico Estacio de Sá acabava de expirar, victima do
occulto veneno, que lhe trouxera a seta do dextro tamoyo,
ou quiçá da impericia dos Esculápios da époclia.
Foi o seu corpo depositado na capella da Villa-Velha no
meio da geral consternação sendo mais tarde (em 1583)
— 53 —
Irnslndados os seus ossos para a igroja tie S. Sebastião do
Cistello, onde aguardam que a gratidão nacional lhes erga
um digno monumento, que legue á posteri<laíle a plástica
lembrança do primeiro capitâo-mór do Uio de Janeiro a
quem devemos o estabelecimento do dominio luzitano
nestas paragens. Oxalá que em breve soe a hora da repa-
ração c que não possa um bardo fluminense dizer um dia
iFEstacio de Sá o que com toda a razão disse Garret acerca
do grande épico luzitano, (42)
VIII.
FDNDAÇÃO DA CIDADE DK S. SERASTIÂO. — EXPULSÃO DOS
FRANCEZES.
Já vimos que Estacio de Sá desembarcando juncto ao
Pão de Assucar dera começo a uma povoação, que depois
(Icnominou-se Villa-Velha, sob o patrocínio de S. Sebastião,
pm lionra do desventurado príncipe, que então occupava
o sólio alTonsino. Francisco Dias Pinto, nomeado alcaide-
mór da futura cidade por provisão de 10 de Dezembro de
1305. empossou à 13 de Septembro do ando seguinte ao
referido capitão-mór, como resavam as suas instrucções,
com todas as formalidades então usadis e de que faz ex-
pressa mensáo o Author dos Annaes do Rio de Janeiro. Essa
primitiva povoação consistia apenas em algumas cabanas
edificadas em torno da fortaleza, uma das quaes servia de
capella, onde se celebravam os officios divinos, e onde,
como dissemos, fora sepultado o primeiro capitão-mór.
Tudo tinha ainda o caracter provisório : dependia tudo do
êxito da guerra.
Havendo pago à naturesa o tributo de dor que lhe cau-
sara a prematura morte do seu valente sobrinho cuidou
— 54 —
Mem (lo Sà de dar estabilidade à nascente colónia. Não lhe
parecendo porém próprio o sitio onde fora ella assentada
deliberou muda-la para um lugar mais visinho ao anco-
radouro dos navios, e que apenas distava do primeiro uma
Icgoa.
O local eleito para n'ellc lançarem-sc os alicerces da ac-
tual metrópole do Brasil foi no angulo em que vemos hoje
o Hospital (la Misericórdia a que presidiava o forte de S.
Thiago (43). Para a defesa da barra construiram-se do
lado do Pão tT Assacar as fortalezas de S. Diogo e S. Theo-
dosio (44) e fronteira á elle a de Nossa Senhora da
Guia (43) no mesmo lugar onde Villegaignon levantara
algumas ligeiras fortificações. Na montanha que ficava á
cavalleiro (o castello) erguêram-se o forte de S. Januário,
a matriz, (45) as casas da camará e do governador, assig-
nando-se ahi o competente terreno para a edilicação do
collegio dos padres da Companhia, cuja doação foi aceita
em nome da ordem pelo visitador geral, padre Ignacio de
Azevedo.
Tinha pressa Mem de Sá de tornar á Bahia, onde sua
presenç^i era reclamada pelos interesses do Estado, por-
tanto demorando-se aqui somente dois mezes deixou o
nosso porto havendo confiado a administração da conquista
a seu sobrinho Salvador Corrêa de Sà, que assaz se distin-
guira durante a guerra,
E' pois à este governador que deve a nossa cidade a rea-
lisaçâo do plano concebido pelo illustre Mem de Sà. Foi
em seu tempo que começaram a alçarem-se as casas feitas
de pedra e cal em substituição das humildes choças, que o
machado e o fogo derribaram os robles seculares para darem
lugar às ruas e às praças, e que sobre a chlamide virginal
da natureza veio a civilisaçào plantar seu throno. (47)
— ;)D —
Os Índios alliados c os citechumenos dos jesuifas eram
os operários com que entáo se contava ; porque nessa era
a escravidão africana, abuso clamoroso da força constituido
em direito, náo polluia a terra de Santa Cruz.
O cego empyrismo presidiu à edificação da nossa capital;
e n'um clima abrasador, debaixo dos raios dardejantes do
Gipricornio, foram as habitações construidas pelo medeio
das que existiáo no rehw. O ferro iconoclasta do colono não
deixou nas praças uma só arvore que abrigasse o cami-
nhante dos ardores do sol, ea agua, cuja abundância tor-
na-se indispensável nos paizes cálidos, era escassa e dada
á golas, á sequiosa população, antes que fosse conduzida
sobre seu magestoso arco triumphal.
€ Infelizmente aqui, diz o Sr. Varnhagcn, como jà succc-
€ dera na Bahia e nas demais povoações adoi)tou-se com
« servilismo o systema de construcçáo de Portugal e nem
« da Ásia, nem dos modelos da architectura civil na Pe-
€ ninsula, isto é do uso dos numerosos pateos com rcpuchos
« o dos eirados, ou açotéas, houve quem se lembrasse.
« como mais aproposito para o nosso clima. Para certas
< vialicas tudo depende do principio. » (48)
Logo que a terra começou a ser cultivada recompensou
ella com explendida liberalidade o trabalho do lavrador, e
as abundantes colheitas trouxeram ao seu casal a satisfação
intima, que resulta ao pai de familia quando vè em torno
de si contentes os seres que lhe são caros, e que se pren-
dem à sua existência, como os liames os annoso tronco.
A brilhante victoria dos portuguezes levara o desanimo
ao espirito dos tamoyos ; julgaram ter ouvido em seus ma-
racás a tétrica vóz d*An1iangá ; e fatalistas, como quasi todos
os povos bárbaros, resignàram-se á sua sorte com stoica re-
signação, promettendo aos conquistadores não |)crturbar
— 56 —
jamais scusocègo. Debalde procuraram os francezes des-
pertar-lhes os brios ; foram insensíveis às suas exhortaçôes,
e cahíram nesse estado de marasmo, de lethargia moral,
visinho à morte :
Consamjaineus letisopor como diz Virgílio. (49)
Apezar de semelhante disposição e receiando que o seu
despertar seria, qual o do tigre, mandou Salvador Corrêa
romper as matas para facilitarem- se as communicacões e
tirar aos inimigos os meios de fazerem ciladas, e, para mor
segurança, circumvallou a cidade de muralhas. (SO)
Nâo eram infundados os temores do governador ; porque
os francezes que poderam escapar com vida, vendo que os
tamoyos do Rio de Janeiro recusavam prestarem-se á sua
vingançíi, retiráram-se para Cabo -Frio, aguardando a che-
gada de navios da sua nação com que podessem de novo
tentar a sorte, estreitando no entanto as suas relações com
os naturaes do paiz.
O dia da vingança, tâo ardentemente desejado, não se
íez por muito tempo esperar; e a colónia ha pouco fundada
teria certamente sucumbido sem a dedicação, e a nobre
conducta do valente Ararigboia, de quem jà falíamos, mais
conhecido pelo seu nome christáo de Martin Affonso de
Souza.
• Recebera este chefe dos tupiminós do politico Mem de
Sà, terrenos próprios para o estabelecimento da sua tribu
na plaga opposta á nova cidade para que lhe servisse como
que de baluarte, e no alto da montanha, onde os jcsuitas
Gonçalo d'01ivcira e Ralthazar Alvares erigiram uma capella
dedicada ao martyr S. Lourenço, se desseminàram as pic-
torescas cabanas dos indígenas^ collocadas como d^atalaia
[)ara correrem ao primeiro signal era defesa dos colonos.
« Colloc:\da (diz o seu eloquente historiographo) n'um
— ÍJ/ —
I como regaço da montanha dir-se-hia ([uo ella se assen-
■ tara á margem da enseada de Maruhy fechada como um
f lago em cujas praias contornadas de montes expiram as
t ondas plácidas e brandas sem arruido, para tomar sobre
€ os seus joelhos essa jóia religiosa, que um povo pagão
t votara ao Senhor, ao abraçar a sua religião, e que altiva
€ reclinara a sua fronte, cingida do cocar, formado por um
« grupo de cpqueiros ; . . . ma5 hoje descalvada e ainda as-
« sim tão bella, se destaca n^um horisonte diaphano e puro,
€ sem uma nódoa, cujo azul de saphiras contrista com o
< verde d^esmeralda da gramma de qfte está escamada, e o
• sol ao surgir parece que por momentos lhe empresta
€ seus raios para cingil-a tPuma aureola radiante, e ao do-
€ brar-se no horisonte do accidente ainda seus raios mor-
t bidos e bellos vem colorir os vidros das janellas de seu
t rústico templo. » (M)
O chefe Guaixarà, que havia sido derrotado por Ara-
rigboia no celebre combate das camas, de que já fizemos
menção, aproveitando se da opportuna chegada de quatro
náos francezas foi atacar a aldeã de S. Lourenço, onde se
achava o seu temível adversário. Sendo porém avisado a
tempo Salvador Corrêa mandou pedir reforços á S. Vicente
e dispòz tudo para impedir á aggrossáo dos invasores.
N'uma bella tarde quando o sol no occaso annunciava a
approximação d^uma d'essas esplendidas noites tropicaes,
em que o Cêo tachonado d'estrellas se espelha nas tranquillas
aguas da formosa Nictheroy, devisou-se á entrada da barra
uma esquadra composta de quatro náos, oito lanchas, e
um inlinito numero de canoas. Alvoroçada a pcípiena guar-
nição da cidade corre a seus postos ; rufam as caixas e tocam
os sinos a rebate; de todas as parles prccipitam-se os ho-
JANEIRO. 8
— 58 -
mens ás trincheiras, c as mulheres às igrejas. Do alto de
sua montanha descobre Ararigboia o perigo (|uc ameaça os
seus alHados e tomando o conselho dos padres Gonçalo
d'Oliveira e Balthazar Alvares resolve esperar pelos inimigos
em seu acampamento, defendido por novos fojos, estacíi-
das e trincheiras. Ahi recebeu elle o soccorro de trinta e
cinco portuguezes, expedidos pelo governador, e ao mando
do capitão Duarte Martins Mourão, o que muito estimou,
por isso que jà podia contar com guerreiros europeos que
oppuzessem aos francezes armas iguaes.
Havendo fortificaío a sua aldeia, abrigando-a de qual-
quer surpresa, que por ventura contra ella tentassem os
inimigos, foi no meio das trevas da noite offerecer-lhes
batalha, que teve lugar no sitio onde hoje se ostenta a riso-
nha Nictheroy, o não na Bica dos Marinheiros, como por
engano alTirma o Sr. Varnhagen. (52)
Peçamos a um coUega nosso a descri|)ção d>sle heróico
feito d'armas ; oiçamos suas palavras, dictadas pelo mais
ardente patriotismo, e selladas com o cunho da verdade :
* Despertam os tamoyos ao brado de guerra ; entre o
« horror da escuridão da noite trava-se combate horrivel,
• mortífero ; o estrondo d;is armas o grito dos combaten-
« tes augmcntam aiiida mais a confusão ; o inimigo sem
« ordem, envolto em si mesmo, volta as annas contra o
* seu próprio seio como uma serpente que se dilacera
« com seus dentes, não vendo o damno que causa; c de
« parte a parte o valor despula a victoria matando, ferin-
« do; já juncando as praias de cadáveres, já tingindo as
« areias de sangue; e de parte a parte avançam, atropel-
t lam-se e a confusão que reinava ha muito entre os ta-
í paoyos, acaba por obriga-los a procurarem na fuga a
— ;;9 —
« .«salvarão »ie suas vitlas: lá protegidos das trevas ganliam
« as canoas e conseguem se afastar das praias, que deixam
• ao triumpho das armas (rArarigboia. p (33)
As nàos francezes não podendo por causa da vasante da
maré, que as conservava encalhadas e adornadas, usar da
sua artilharia, solírêram vivíssimo fogo de terra que lhes
fazia Mm falcão e aproveitando-se do terral da manhan sahi-
i-am pela barra fora com direcção a Cabo-Frio. Para com-
pletar a sua victoria entendeu o governador que seria con-
veniente persegui-los c apresiona-Ios no porto em que se
Jiaviam recolhido. Quando porém ahi chegou só estava
ancorado um galeão, que tomou depois de porfiada lurXa,
Irazendo-o Iriumphalmente para o Rio do Janeiro.
Não estava porém segura a nossa cidade de novas c re-
pelidas invasões enquanto não fossem completamente ar.
razados os estabelecimentos que os francezes possuíam em
Cabo-frio : o que só teve lugar no tempo de Constantino
Meneláo.
Avisado Salvador Correia pelo governador-geral do Bra-
sil, (íaspar de Sousa, que nàos inglezas estacionavam
n'aquellas paragens, onde os tamoyos proseguiam em seu
systeraa de favorecer os seus corsários e d'impedir a fun-
dação de colónias portuguezas, assentou fortificar Cabo-Frio
lançando alli os alicerces d'uma povoação.
Auxiliado por uma força de quatrocentos indiôs de Se-
petiba e dos portuguezes, que espontaneamente o quizeram
accompanhar, visitou Meneláo com a sua esquadrilha toda
a costa, e fundou o forte de S. Ignacio no lugar que os
francezes haviam escolhido de preferencia para o theatro
de suas operações.
A cidade de S. Helena, edificada pelo governador do Kio
— GO —
de Janeiro, era uma garantia da permanência do domínio
portuguez e a aldeia de S. Pedro, situada a duas léguas de
distancia, c povoada por Índios amigos, era como um forte
destocado, que impedia aos francezes a continuação das
suas correrias do lucrativo commercio do ibirapitamja,
Desacoroçoados em suas infructiferas tentativas parece-
ram os compatriotas de Villegaignon terem renunciado á
posse da nossa terra e por largos annos as brisas guanaba-
renses não enfunaram o pavilhão dos lyrios.
Antes de terminar esta primeira parte do nosso trabalho
seja-nos licito lamentar, como jà o fizemos n'outro lu-
gar, (54) que a intolerância religiosa levasse ao patíbulo
ao infeliz João du Bordel (55) pelo único crime de ser
calvinista I Sentimos que no próprio anno da sua fundação
assistisse o Rio de Janeiro a tão cruel espetaculo, e visse
o venerando Anchieta, por um zelo funesto e uma piedade
mal entendida, constituir-se ajudante do algoz ! . . . A di-
versidade de crença não pôde constituir um delicto ; e o
Estado não deve por forma alguma erigir-se em Juiz
d'uma causa cujo conhecimento só à Deus pertence.
Apezar de ser tal attentado contra a liberdade de cons-
ciência commettido a instigações de alguns ecclesiasticos,
a quem os poucos conhecimentos philosophicos impediam
d^encarar a questão no seu verdadeiro ponto de vista, não
pôde ser a Igreja responsável por elle ; porque jamais eri-
giu em dogmas princípios contrários à doutrina do seu
Divino Fundador.
Copiemos as palavras d'um grande phílosopho contem-
porâneo em abono da nossa asserção :
« Je le díl a Phonneur de TEglise et pour la defense de
« lEglise: quand (4le se íit oppressive, quand elle invoca
í\
— 01 —
lo hras séeulier contre Ia liberte de consoienco, olle fiU
infidèle h son caractere età sa mission. Elle servil les
passions des hommes el cessa d'obéir a Pinspiration di-
vine. A ce moment-là elle oublia TEvangile. Le jour
oà rinquisition fut fondée 11 fut vrai de dire que TEvan-
gile était trahi .
« Non, ce n'esl pas le Chrislianisme qui a fondé Fin-
quisition et fait la saint-Barthélemy. Ceux qui vienneut
nous dire aujourdMiuy que rinquisition était necessaire
et que la saint-Barthélemy était juste, calomnient le
Christianisme. S^ils avaient raison, les ennemis de Ia foi
n'auraient besoin poiír Técraser que de rhistoire. Ces
horreurs que vous mettez à la charge de la foi chré-
tienne, ont été enfantés par Tintolerance et le fana-
tisme. » (r>())
^ig^^g^qft"
— 63 —
PARTE SEGUNDA
INVASÃO DE DUCLERC.
I.
MOROSO INCREMENTO DO RIO DE JANEIRO.
Péssima era a posição climatológica da nova colónia, c
como muito bem ponderou um autlior inglez citado pelo Sr.
Ferdinand Dénis, (37) os arredores do calabo^iço eram de
tal natureza que podiam singularmente comprometter a
existência de uma grande cidade. Parece porém que por
largos annos a população circumscreveu-se nos estreitos
limites que lhe traçara MemdeSá. e receando alguma nova
invasão não ousava afastar-se do Castello, sua verdadeira
acropolis. Rodeada de [)aúes. e cobertas as suas colinas
de densas florestas, que lhe interceptavam a livre circula-
rão do ar, não admira que a nossa ten\i gozasse da reputa-
ção de pouco saudável. Vagaroso foi o seu de3envolvimento,
e podemos datar os seus progressos do íim ds século i7-^
quando os emprehendedores paulistas, embrenhando-se
pelos nossos sertões, descobriram riquissimas minas nessa
região, que d'ellas derivou seu nome.
Corramos rapidamente os dedos pelo teclado da sua his-
toria até o anno de 1710, em que occorréram os graves
successos, que nos propomos narrar.
Em seus paternaes braços recebera Salvador Corrêa de
Sá a nascente colónia ; seu governo foi tal qual convinha
ao nobre encargo que sobre si tomara. Sua longa adminis-
tração iMjde aM' comparada ao reinado de Numa Pompilio
— tíi —
(jue tão grata recordarão deixou nos annaes romanos, c
podem ser appiicadas h sua vida as palavras do Evangelho :
pertranmnl bene-faciendo. Tece-lhe este pomposo elogio o
illustrado conselheiro B. da Silva Lisboa :
« Poupou o sangue dos indigenas quanto lhe foi possi-
« vel, repelliu os inimigos externos, protegeu a innocen-
« cia, afugentou o crime pelo seu horror e despreso dos
« màos, ganhando a opinião publica no campo da honra ;
« pois sem os soccorros de Portugal cobriu a sua fronte
« de bem merecidos louros. Pc a sua probidade não ou-
« savam aproximar-se d'elle os reptis venenosos da lisonja
« afim de envenenarem o ar puro que respirava. » (38)
A' Christovâo de Barros immediato successor de Salva-
dor Corrêa deveu o Rio de Janeiro o promover a cultura
das fazendas, estabelecidas no recôncavo da cidade: e ao
Dr. António de Salena (que com o titulo de governador-
geral veio administrar a capitania do Sul, quando entendeu
a metrópole ser conveniente a divisão do Brasil em dous
governos independentes) a vigilância em defender as suas
costas até a Ilha-Grande. sempre infestadas de corsários,
c o desbarato dos tamoyos de Cabo Frio por uma forra de
400 portuguezcs auxiliada por 700 indios alliados.
Martim Corrêa de Sá, nunca esquecido das heróicas tra-
dições de sua família, contribuiu para tornar defensável
a nossa capital mandando construir de pedra e cal as for-
talezas de Santa Cruz, S. Thiago e S. Sebastião, que até
então eram de barro e madeira. Sob o regimen todo mi-
litar doeste benemérito varão serve croasis a edificação do
convento de Santo António, que devera ser um dia o Athe-
neu (lo Brasil.
Assignala-se Constantino Meneláo pela expulsão dos
"»
— ():> —
frnncezes do Caha-Frio, c pela fundarão, já anloriormente
referida, da cidade de Santa-Helena, actualmente conhe-
cida por Nossa Senhora d^Assmnpção. Foi também em seu
tempo (|uc teve lugar a conquista dos campos dos Goijtã'
vazes, hoje uma das mais importantes comarcas da nossa
ubciTima província.
Enquanto fruia o bom povo lluminense das doçuras de
governos justos e enérgicos passava Portugal pelas forcas
auuimas da occupação estrangeira. Expirara a sua nacio-
nalidade com o desditoso D. Sebastião na batalha d'Alcaçar-
Kebir ; e O reinado ephemero do Cardeal-Rei servia ape-
nas para dar a Philippe II o temjio necessário para asse-
gurar-se da posse do paiz. Portugal era riscado domappa
das nações e a vasta monarcliia liespanhóla parecia realisar
o dourado sonho de Carlos V.
Tão gigantescos acontecimentos pouca, ou nenhuma re-
cursáo exerciam na nossa pátria : era-nos indifferente rece-
ber ordens de Lisboa, ou de Madrid; porque nem uma, nem
outra corte, cuidava seriamente da nossa prosperidade.
Guiados unicamente por seus nobres sentimentos e não
por instrucções da metrópole fizeram estes, e alguns ou-
Iros governadores, era nosso favor o pouco bem que liies
era licito fazer.
A noticia da tomada da Bahia á 9 de llaio de lGá4 pela
esquadra hollandeza commandada pelo almirante Jacob
Willekens e a d'OUnda, antiga capital de Pernambuco,
pelos chefes batavos Loncif Adryens e Wierdemburgh á
10 de Fevereiro de 1630 causou extraordinária sensação
no Rio de Janeiro; não só pelo interesse que lhe insi)irava
a sorte de suas co-irmans como pelo justo receio que igual
destino lhe estivesse reservado.
JA-NEIRO. 9
— CG —
Um só pensanioiilo — o da defesa do porto e das fortili-
cacões da cidade — animou a todos os habitantes que deram
nessa épocha inequívocas provas do seu acrisolado patrio-
tismo. Não houve individuo que se subtrahisse ao serviço;
concorreram todos com singular espontaneidade, jcá com
suas pessoas e as de seus escravos, e já com o seu dinheiro
para as obras, que sob a intelligentc direcção do gover-
nador interino Duarte Corrêa de Vasqueanes por toda a
parte se faziam, sendo entre estas as mais notáveis a da
fortaleza da Lage, que ainda existe, e a do grande dique
que da €arioc:i prolongava -se até a Prainha, cujos vestí-
gios se deixaram ver por mais de um século. (59)
Era porém feliz esse povo que assim se devotava tão
nobremente em prol de seus penates 1 E' o que passamos
a examinar.
Seu commercio e industria tocavam aos últimos paro-
xismos; e a olhos vistos definhava a sua lavoura. Si pre-
cisássemos demonstrar esta proposiçtlo que ninguém, lida
cm nossa, historia, nos contestaná, bastaria citar o se-
guinte facto:
Querendo o governador Rodrigo de Miranda Henriques
abastecer a cidade d'agua potável, cuja falta tornava-se por
demais sensível, propoz ao senado da camará o encana-
mento das da Carioca, para cujas despesas estabeleceu-se
o imposto de 160 rs. por canada de vinho que fosse im-
portado. Semelhante imposição porém tornou-se inexe-
quível por haver tanta carestia doesse género que os pró-
prios sacerdotes haviam deixado de celebrar ! (GO) Muitas
eram as cousas que contribuíam para a miséria que tão
cruelmente se fazia sentir não sendo dos últimos os falsos
princípios que então predominavam em economia politica.
— G7 —
conrclando-sc a liboriladc das tnnsacçoes por meio do ta-
rifas <jue regulavam todos os preços, como as (pie prohi-
biam os oleiros de levarem mais de 20:000 rs. por milhei-
ro de teiliae 3:000 i)e!o de tijolo. Até os boticários tiveram
um regimeiílo marcando os preços porque deveram vender
«)s seus medicamentos. Apezar d>stas medidas anti-econo-
micas o mono{?:)lio, (jual voraz almtre estendia as suas
negras azas sobre a incauta população , e na lerra da
abundância fez-se a fome muitas vezes sentir.
Ura illustre fluminense, Salvador Correia de Sá e Bene-
vides, empunhou o bastáo de governador em tão difíiceis
conjuncturas. Seu nome importava um titulo de recom-
mendação ; c nos archivos da sua nobilissima familia en-
contraria as melhores normas para bem administrar um
povo, que tinha-se habituado á ver sahir da casa dos Cor-
reias de Sá seus mus Ínclitos governantes.
Tomou-se o nosso benemérito compatriota recommen-
davel pelos relevantes serviços aqui prestados. Seu zelo c
actividade eram proverbiacs ; tudo procurava ver, conhe-
cer, e examinar por si mesmo. Fez immensas concessões
de sesmarias ; fundou a igreja de S. Salvador de Campos
nas pictorescas margens do Parahyba ; estabeleceu gran-
des engenhos de assucar promovendo o cultivo da c mna
nessa tão fértil localidade; abriu estradas que a communi-
cassem com o Rio de Janeiro, espalhando por ellas aldeias
d^indios e colónias d'europeus. Coube-lhe igualmente a
honra de proclamar aqui a restauração da monarcUia lu-
zitana na pessoa de D. João IV.
Sirvam estes preclaros feitos, que somos o primeiro a
reconhecer de attenuar a triste impressão (jue experiniímta
todo o fluminense ao lembrar-se que foielle, que pelo seu
— C8 —
caracter imperativo, levou o paciíico povo do Rio de Ja-
neiro á sul)Ievar-se contra a sua autlioridade no dia 8 do
Novembro de iCGO.
Em seu terceiro governo vimm seus compatriotas que o
liabil administrador tinha sido eclypsado pelo denodada
guerreiro, e que a gloria militar absorvia nelle todos os
outros. Cuidando unicamente em presidiar a praça contra
qualquer inesperado ataque volveu as suas \istas parar
objectos bellicos com completo sacrifício dos outros ramos
do serviço publico, Augmentar o numero de soldados era
fácil á um governo que não respeitava a liberdade indivi-
dual: a difficuldade porém consistia em sustental-os com
os fracos recursos da fazenda real. Recorreu Benavides ao
senado da camará para que lançando fintas obtivesse a
somma que desejava. Esta respeitável corporação, que tão
fielmente representava o povo, fez-llic respeitosamente
vêr que as fontes da riqueza pidjflica tinhara-sc seccado
com a funesta creaçáo da compaiúia decammercio, seu fatal
previlegio do estanco de todos os géneros. Tal foi o mo-
tivo da desintelligencia entre o governo e a camará : pro-
tegendo aquelle o monopólio, que lhe promettêra fornecer
dinheiro para as tropas, e defendendo esta os direitos dos
miseros moradores , que se viam ate privados do azeite
para luz e do sal para adubar a comida.
Exacerbados crest^arto os ânimos não podia tardar a ex-
plosão.
Havendo o governador partido para S. Vicente pareceu
favorável o ensejo para romper a sedição. A' maneira dos
romanos retirando-se para o Monte Sayrado passaram os
sediciosos a bahia de Nictheroy, e armando-sc em S. Gon-
çalo accommettêram aciíbde: depozéram ao governador
— 09 —
interino Thomt; Corrêa dWIvarongn» c forçaram a Agostinho
Barbalho Rozerra â asumir à governança.
Reprovamos altamente semelhantes excessos : não cons-
tituimos a rebelliâo em direito; mas também não desco-
nhecemos que é ella muitas vezes uma justa reacção contra
os al)usos <la autlioridade. Em um governo livre, como o
que felizmente possuimos, onde impera um principe. cujo
palácio, semelhante »á habitação dos tribunos de Roma. é
accessivel â todos, tem sempre o povo meios de fazer ouvir
a sua voz, e levar suas (jueixas aos degráos do throno.
Quando porém o despotismo impera, quando as válvulas
da opinião publica são cuidadosamente fechadas, tornam-so
frequentes e inevitáveis as revoluções. Desappareceram
ellas da Inglaterra desde (jue a imprensa e a tribuna torná-
ram-se realidades, e reproduzem-se na Hespanha, onde
a sinistra sombra da luíiuisição faz empallcdeccr as insti-
luiçóesHbcracs.
Pedimos vénia para (hscordar da opinião do esclarecido
author do Plutardw Brasileiro, que fallando das causas
doeste movimento popular assim se enuncia :
«... não eram questões de momento que os ha-
« \iam armado ( os revoltosos ) ; eram interesses de par-
« tidos políticos; e podia o partido do infante D. Pedro
« consentir no governo do Rio de Janeiro a Salvador Cor-
« reía de Sã e Benavidcs. quando os ânimos dos seus co-
« religionarios politicos de Portugal trabalhavam por depor
« o rei D. AíTonso e elevar ao throno o infante? Qualquer
€ movimento neste sentiilo para se firmar e solidificar,
« necessitava de ser acceito e abraçado em todos os domi-
• nios da coroa por tugueza. » (Gl)
— 70 —
O nosso digno consócio é muito versado na liistoria de
Portugal para ignorar (|uo a deposição de D. Âlíonso VI e
a exaltaçáo ao Ihrono de seu irmão D, Pedro foi uma ver-
dadeira revohiçm de palácio, em que a naçáo não tomou
parte alguma; e que os partidistas do infante estavam
entre os fidalgos de Lisboa c não no Rio de Janeiro, pobre
colónia inteiramente alheia á essas viscissitudes politicas.
Não tinha a sedição um programma bem delineado :
faltava -lhe um chefe ; pois que Agostinho Barbalho decli-
nara de si essa responsabilidade ; era apenas, como fizemos
vôr, unia reacção contra os clamorosos abusos do poder.
As medidas enérgicas de Benavides, seus bandos alterra-
dores, pozeram fim a agitação popular.
Foi altamente desapprovado pela metrópole o proceder
de seu delegado no Rio de Janeiro ; jádando-lheem Pedro
de Mello um successor, já mandando pôr em liberdade,
condecorados com o habito de Christo, aos procuradores
do povo, aos quaes a alçada do desembargador Peçanha
mandara presos para Lisboa, Note-se que tudo istofazia-se
ainda no reinado de D. AfTonsoVI, (62) cuja deposição
só teve lugar em 23 de Novembro de 1667 ; eé sabido que
pela fidelidade de Salvador Corrêa à causa doesse desgra-
çado principe soffreu elle dez annos de prisão no fim da
sua longa e gloriosa existência.
Demoramo-nos mais do que tencionávamos na aprecia-
ção doesse episodio da nossa historia porque quizemos, em
honra dos nossos avós, lavar essa única nódoa que porven-
tura se queira notar em sua nunca assas louvada fi-
delidade.
Pedro de Mello foi a continuação de Benavides— menos
o prestigio da gloria :— exactor no ultimo ponto só pensava
— Ti-
na suslentação do presidio arrancando da camará novas
contribuições forçou-a a táo impolilicas medidas que o
próprio ouvidor geral teve de representar contra ellas.
.Vesses déspotas que flagelláram a nossa terra segiiiu-se
o patriarchal governo do tenente-general João da Silva e
Souza. « O novo governador, diz um chronisla, pareceu
t um anjo tutelar, enviado do Céo para adorar os males
« públicos, baseando o seu governo na justiça, prudência
• e religião. » (63)
Já a miséria n^uma progressão ascendente de modo tal
que o senado da camará teve de fazer subir ao tlirono uma
tocante representação expondo-lhe a impossibilidade em
que se achavam os povos doesta capitania de contribuirem
com a somma de quatrocentos mil reis annuaes para a Jíí«te
das Missões , crcada com o píissimo fim d'evangelizar o
Brasil. ConsuUe-se este importante documento onde vèr-
se-ha em nobre e singela linguagem o verídico quadro das
desgraçais que então opprimiam o povo fluminense.
Como se não bastassem tantos e tão repetidos males
vieram ainda augmentar a calamidade publica a falta de
moóda, que paralysava todas as transacções, e a borrivcl
mortandade de mais de cinco mil escravos, que succumbí-
ram victimas da peste das bexigas; porque ainda nesse
tempo nâo havia apparecido Jenner, um dos maiores bem-
feitores da humanidade.
Táo cruéis desgraças não podiam deixar de tocarosensi-
tbI coração do governador, que na impossibilidade de
remedial-as pranteava com o povo a sua desdita; imia-se
à camará nas representações à coroa ; e fazia-lhc vôr que o
monopólio da companliia do commercio exhauria as forras da
t:o!onia, cujos míseros habitantes tiravam o pâo de seus fi-
— ia —
llios i)ara rcmellerem annualmente âcôrle a sua quota para
o dote (la infanta, depois rainha d'Inglaterra, e para as in-
demnisações que portugal tinha-se obrigado á pagar à llol-
landa (]uando assignou a páz com esta nação. Surdo aos
justos clamores dos seus vassalos americanos ordenava a me-
trópole ao governador que attemlesse ás fortalezas da bana,
ex\}ressando-lhe que o menor descuido lhe serveria de culpa.
Tão estreitamente alliára o general João da Silva a sua
causa com a dos seus governados, que o não tomaram estes
solidário com os desatinos minisleriaes. Para deixar aos
vindouros a memoria de tão egrégio varâo resolveu a ca-
mará mandar tirar- lhe o retrato coUocando-o na sala das
suas sessões ; dirigindo-lhe ao mesmo tempo uma allocu-
çáo concebida nos mais patheticos termos. Digno e hon-
roso galardão para quem tão bem comprehendêra o desem.
penho dos seus deveres !
Afeita a nossa cidade às scênas d'arbitrariedado experi-
mentou contudo sentimento de justa indignação ao vôr o
administrador ccclesiastico, à requerimento do reitor dos
Jesuítas, excommungar ao senado da camará por sustentar
este o livre uso dos mangues, onde a pobreza procurava
allivio á sua miséria, tirando d'elles mariscos, carangueijos
e lenha para o seu uso domestico. Pretendiam os fdhos de
S. Ignacio que eram de sua exclusiva propriedade, e olvi-
dados do seu sagrado ministério, recorriam aos raios da
Igreja para apoiar os seus mesquinhos interesses ! ! . . .
Terminou este desagradav(»l incidente pela categórica de-
terminação da carta regia de 4 de Dezembro de 1G78, que
mandou conservar aos moradores na posse em que estavam
dos mangues. Tal era porém a influencia da Companhia de
Jesus, e o temor que inspirava, (pie não se lè uf^sse documen-
— Ta-
lo oflicial uma só expressão condemnando sua reprehensivel
conducta. !
No rápido esboço que fazemos dos principaes padecimen-
tos, porque teve de passar o Rio de Janeiro no espaço de
cento e quarenta e três annos não devemos esquecer os fu-
nestos abusos commettidos pelos seus psemlo-defensores,
como se depreliende da representação que endereçou a el-
rei o senado no governo de Duarte Teixeira Chaves para que
houvesse por bem « mamlar smpender a hospitalidade da in-
€ fantaria no seio das famílias, pelo (jramle detrimento que
« com isso soffriam os moradores d'' esta terra vendo perturba-
« daaharmonia e a honestidade de suas habitações. » A'seme-
Ihantes queixas pespondia-se-lhe < que ficasse erilendendo
€ que lio reino se acommodavam, na falta de alojamentos, os
• soldados nas casas as mais honradas, e sem repararem na-
€ qiielle inconveniente, e que nesta capitania se devera com
« mais especial razão praticar-se aquelle soccôrro á favor da
« infantaria, que sahlra do reino em servir em parte tão dis-
« tante, largando convenimcias da pátria, em que nascera,
« fazendo-se por isso mais digna de toda a attenção para não
« ficar exposta á padecer as incommodidades que do contraiio
€ experimentaria. » f64) Revoltam tanto aos corações brasi-
leiros estas palavras que deixalas-hemos sem commentario.
Foi de tal sórle justo o governo de João Furtado de Men-
donça que a camará agradeceu ao rei, como uma graça, o
have-lo homeado c pediu a prorogaçâo do seu triénio.
D. Francisco Nauper d'Alencastre, que tomou posse do
governo em 1689 occupou-se unicamente om visitar forta-
lezas c fazer manejos d\irmas, partindo no anno seguinte
para a colónia do Sacramento com três companhias em uma
das melhores náos da frota.
JANEIRO. 10
— 74 —
Á frente dos negócios públicos achou-se èm ÍGOO Luiz
César de Menezes, que deixou de si tão bòa feputaçlD que
á seu respeito costumavam dizer os nossos íiniepassadDs :—
ou César, ouuada.— Curta porém foi a sua henelica admi-
nistração sendo succedido em 1692 por Afltonio Pnes de
Sande, varão conspicuo, que seguiu com gldHa a vefèda de
seu illustre antecessor. Teve o prazer de íazer i>al)lica a
carta-regia que ordenava a suspensão do dítoativo pela páz
com a Hollanda e para o dóle da Infanta, ^ tanto ijbhtri-
buíra para impobrecer esta terra, e dirigindo ao throno os
seus agradecimentos por tão fausto motivd pedia qUe fosse
o povo fluminense isempto dos soccorros que incessante-
mente prestava de gente, dinheiro e munilóe^ par.l a nova
colónia do Sacramento. Não foi menor o fegosijo do bom
Sande em pôr em execução a carta-regia dé 12 de Deícmbro
de 1693, que mandava criar nesta capital uma cítóa dVx-
postos applicando acamara para este santd fim As sobras do
imposto sobre o sal c o szeite doce desliriàdo para o soldo
dos governadores.
Nos últimos dias do anno de 1694 dfesceu ad tumulo,
coberto da bênçãos do povo pelas suas egrégias tirtudes,
António Paes de Sande, e por provisão do govcrnador-geral
do estado do Brasil de 15 de Novembro doesse mesmo anno
foi nomeado para succeder-lhc o mestre de campo D. João
(rAlencastre. Pouco tempo lhe foi dado O empunhír o bas-
tão do mando tendo de cedô-lo a Sobastlfio de Caslbo escos
Ihido pela carta-regia de 19 de Abril de Í09rj.
Por esse tempo começaram a apparecdi* om nosso* portos
alguns navios francezes com o pretexto de fazon^m hj(uada
edese proverem de mantimentos mas Chm o principal fim
dMntroduzirem por contrabando as fa^íbndns que ITaziam
com prejuiso do lis«:o e contra as leis da moiinrchiíl, que
— 75 —
filavam tpJo o coininercio estrangeiro. Causou a sua pro-
ffinça grande sustes ao governarlor, que recommcndou A
pamara (Jf Ilha-Grande que lhos recusasse todo o agasalho.
Corria q anuo de 169Ç guaiido mostrou-se uma esquadra
à vista (Jn barra derramando grande susto pela população,
que t0(|Q correu tás arnjas. animada pelo governador que
eleclr|^ou-lhe a coragem com o seu exemplo, Sendo «f.
gada f licença que pedia para se refazer de mantimentos
dirirfu-se á Ilha-Grande onde obteve o que desejava. Re-
pre^endeu SebífStiâo de Castro ao senado d'essa Villa (hoje
GÍ(l|dede Angra dos Reis) pelo seu procedimento e recom-
njf ndou-Ihe a maior vigilância com as embarcações estran- .
^iras. A chegada da infantaria de Lisboa no começo do
feguinte anno ca«(||f||p grande enthusiasmoips fluminenses,
que agradeceram ád Rei, pelo órgão da sua ptlÉ^palidad ,
por tão assignalado favor. Corcordam Pízarròíl» Lisboa
em tributar os maiores encómios a Sebastiáíí^ Castro^
que além d'esforçado capitão era eminente jjiotitico. Não
faltou porém quem denegrisse a sua conduqíbpor occasiáo
da invasão franceza solTrendo por isso sequestro em seus
bens, que só foi levantado quando por sentença da casa da
supplicação da corte foi reconhecida sua innoccncia.
Arthur de Sà e Menezes foi o primeiro que governou o
Rio de Janeiro com a cathegoria de governador e capitáo-
general ad honorein por carta regia de 8 de Novembro de
1696. Ligam-seà sua administração muitos factos notáveis,
taes como a erecção da villa de S. António de Sá nas mar-
gens do Rio Macaeú ; o estabelecimento d' uma casa da
moeda nessa cidade ; o dos hospitaes militares e dos lázaros;
as acertadas providencias concernentes às sesmarias; a
restituição das terras, que haviam sido doadas para patri-
mónio dos Índios ; os regulamentos prohibindo que se in-
\
— 7C —
Jligissem aos escmvos bárbaros castigos devendo estes serem
sustentados â custa de seus senhores, e muitas outras me-
didas dignas d'um illustrado administrador : infebzmente
porém pouca persistência fêz Arthm* de Sá nesta capital ;
por isso que a recente descoberta das minas e os conflictos
que frequentemente se davam entre os aventureiros que
ei^lorâvam-na reclamava a sua presença nessas paragens.
A prolongada auzcncia do governador, táo prejudicial
aos negócios, deu motivo ao decreto de 30 de Junho de
1702 que prohibia nos termos os mais explicites tanto a
elle como aos seus §uccessòres o irem as minas sem espe-
cial determinarão regia. O meio poróra mais adequado para
remediar-se este inconveniente , que resultava da vasta
extenção do território dependente do ^o de Janeiro con-
sistia antes aa criação de novas capitanias, expediente este
que só mais tarde foi adoptado.
Aos ephemeros governos de D. Álvaro da Silveira e Al-
buquerque e D. Fernando Martins Mascarenhas d^Alencastre
succedeu era 80 de Abril de 17 10 o de Francisco de Castro
Moraes, que já havia substituido o capitão-general Arthur
de Menezes e Sà durante a sua estada em Minas. Gozou
apenas do titulo de governador e foi em seu tempo que
tiveram lugar os graves eventos das expedições de Duclerc
e de Dugnay Trouin que vamos historiar.
ÍI.
CAUSAS DA NOVA INVASÃO FRANCEZA.
Para bem avaliarmos os motivos que trouxeram os fran-
cezes às nossas plagas cumpre retrogradar alguns annos e
examinarmos qual era o estado das relações entre Portugal
e essa nação.
-7 // -
Um dos priíicipaes cuidados de D. João IV. apenas su-
biu ao sólio dos scns maiores, graças à cavallieiresca de-
dicação da nobreza liizitana, foi deputar ao rei de França
Luiz XlIIdois homens da maior confiança, Francisco do
Mello, vedor-mór do reino, e o doutor, António Cloelho de
Carvalho ({55) ; afim d'implorar a sua protecção na grande
lacta, que ia empenhar contra Philii)pe IV. : cuja embai-
xada foi recebida em Paris com toda a solemnidade. O há-
bil politico cardeal de Ilichelieu viu com prazer que a
revolução de Portugal, assim como a da Gathalunha, que
pouco a precedera, nâo podiam deixar de causar grande
diversão nas forças da monarchia hcspanhóia, que deseja-
va humilhar o seu profundo ódio pela casa d'Austria. Pela
influencia doesse poderoso ministro conseguiram os envia-
dos portuguezes sentarem-se no congresso de Munster.
onde ventilavam então as clausulas d'uma paz geral. Som-
raas consideráveis foram emprestadas pela França para a
consolidação do throno portuguez, como se prova pela
correspondência entre a rainha D. Luíza de Gusmão e o
embaixador de França, o cavalheiro de Jant. Vemos final-
mente em 16G0 por ordem de Luiz XIV. passar secreta-
mente ao serviço de Portugal o marechal Frederico de
Schomberg, à frente de seiscentos officiaes francezes :
contribuindo poderosa mente para as victorias dWn^^ixial
e Montes-CIaros, que lavraram o^auto d'emancipaçáo dos
netos de Viriato, e renovaram d'est'arte os prodígios d' Al-
jubarrota.
A influencia franceza dominava em Lisboa contrabalan-
çando a ingleza e pareceu mesmo tê-la sobrepujado quando
tratando-se de dar uma esposa ao joven rei D. Aflonso VI
recahiu a escolha sobre uma princeza d'aquella nação D.
Maria Francisca Isabel de Sabóia, filha do Duque de Ne
— 78 »-
\
mours, espirito fino c enérgico, que táo grande parte
tomou nos successos politicos d'essa épocha.
Por seu lado a Inglaterra lOontra-minava ^ ihfhiencia
franceza, já celebrando o consorcio do seu rei Carlos II
com a infanta D. Gatharina recebendo em dote dois mi-
lhões de cruzados, além de Bombaim na Ásia, e de Tanger
n' Africa, já determinando aos Est«do§-Geraes da Hollanda
á firmarem a paz com portugal, mediante a indemnisaçáo
de cinco milhões de cruzados, pagos em 16 annos, dos
quaes coube ao Brasil contribuir com 120:000 crazados.
Fez a Inglaterra retribuir a sua interferência neste nego-
cio alcançíindo o previlegio de poderem seus súbditos es-
tabeleccrem-se na Bahia. Pernambuco, Rio de Janeiro e
mais dominios portuguezes jias índias occidentaes até o
numero de quatro famlias com suas casas de negocio ou
feitorias, gozando das mesmas immunidades de que esta-
vam de posse os naturaes. (66)
Semelhantes concessões firiram a susceptibilidade da
nação franceza, que forcejou por obter outras idênticas,
allegando os relevantes serviços que prestara a Portugal
n'uma épocha para elle bem calamitosa ; e depois de mui-
tas fadigas só ganhou a sua diplomacia que se expedissem
ordens para que os navios francezes que demandassem os
nos^s portos lecebessem netles todo -o acolhimento e
protecção. Foi em virtude de uma tal graça que notou-se
no fim do século 17.® grande numero de navios d'essa na-
ção nas aguas territoriaes do Brasil, dando lugar ao con-
íliclo aqui occorrido em 1696. A noticia de tal emergência
e mais que tudo o tratado de 1 6 de Março de 1 703 muito co-
nhecido na historia pelo nome do seu negociador, (67) que
outorgava as maiores izempções ao commercio britânico,
com exclusão de todos os outros, indispoz considerável-
— 79 —
mente 08 negociantes francezes conlra Portugal e preparou
assim a empreza dos armadores de Brest contra o Rio
de Janeiro.
A' estas razões de interesse particular póde-se addicio-
nar um grande motivo politico,: falíamos da guerra de
siiccessão à coroa hespanlióta.
Todos sabem como Luiz XIV aceitando em favor de seu
neto o Duque d'Anjou o testamento de D. Carlos II ex-
clamara perante a sua corte : Não lia mais Pyreneos I (68)
(íste dito do glorioso monarcha francez despertando os
ciúmes da Allemanha, Inglaterra e Ilollanda provocou a
longa guerra que encheu de amargura seus últimos dias.
Portugal, que apenas acabava de reivindicar o seu lugar
entre as jiaçóes da Europa 49pois de ter celebrado com a
JFíanç^ em 1701 uma liga offensiva e defensiva bandeou-se
cm 1703 para o partido da Inglatorra e da Ilollanda.
Sua alliança nesta guerra era ardentemente cobiçada ;
e o seu gladio faria pender a balança para qualquer dos
lados em que elle se lançasse. Sua posição de potencia li-
Ihítrophe, a coragem dos seus soldados provada na guerra
dà independência, náo deveram ser desprezadas nas combi-
hàçóes politicas da épocha.
Anhelava o pequeno reino que se Ihe^lTerecessc uma
bpportunidade para estender a sua csplníra do acção : de-
sejava por sua parte invadir a Hespanba. « Por duas vc-
t les, diz ulli eloquente historiador contemporâneo, fò-
t rtm as luzalB quinas vingar em Madrid a grande afronta
« que receberam dos leões de Castella, (|uando por GO
« annos fluctuou o seu pavilhão sobre as torres de Lis-
* bôa. » (69)
E' claro pois que o govwiij;) francez, vendo em Portugal
— só-
tão poderoso inimigo, longo de cohibir o procedimento
dos seus armadores animava-os, e protogia-os ; tomando
mais tarde (em 171 1 ) abertamente parte na empreza de
apossar-se de uma das suas mais ricas e importantes co-
lónias.
' III.
ATAQUE DA CIDADE — DERROTA DE DUCLERC.
A opulência da nossa cidade tinlia-sc tornado notória na
Europa. Sahiam annualmentc do seu porto ricos carrega-
mento? Jc oiro, diamantes e outras pedras preciosas com di-
decçáo às praças de Lisboa e Porto : e a tradicçáo popular
guarda lembrança daesplendida magnificência dos antigos
fluminenses. Apezar das consUmtes vexações que tinha sof-
frido a pretexto de defendel-o, ora o Rio de JaTieiro mal
guardado; pouco respeitadas as suas fortalezas (70) cons-
tando a sua guarnição de dois regimentos de infantaria (71)
e duas companhias de artilhería de tropa de linha que de
mais â mais se achavam incompletos. A essa fon>i juncta-
vam-se a milicia e as ordenanças formadas de cidadãos ar-
mados e ignorantes da táctica militar. Commandava á essa
pequena guarnição um chefe pusillamine, cuja reprehensi-
vel conducta vamos apreciar.
Chegando aos ouvidos dos armadores de Brest a situa-
ção em (pie se achava a rica colónia fluminense enviaram
contra cila uma expedição composta de cinco navios, uma
I)alandra, c mil homens de desembarque, commandados
pelo cavalleiro João Francisco Duclerc. Essas expedições
mandaflas por simples [)articulares e patrocinadas pelos
governos eram mui communs então, como infelizmente
ainda o sá() nos Estados-Unidos, e o mais é que mereceram
a sancção do direito internaçioaal. {l^z)
— 81 —
Á 6 de Agosto de 1710 noiáram os habitantes de Gabo
frio a passagem de algumas embarcações que navegavam
para o sul, do que deram immediatamente parte para o Rio
de Janeiro ao governador Francisco de Castro Moraes, que
mandou guarnecer ao fortalezas, chamando toda a milicia
às armas. Em breve conheceu-se que os habitantes de
Cabo Frio não se haviam enganado; porque á 17 d'esse
mesmo mez e anno apparecêram os navios francezes á
vista da barra procurando força-la. Havendo dhe feito sig-
na) a fortaleza de Santa Cruz para que fundeassem, assim
o fizeram, seguindo a sua derrota para a Ilha-Grande no
dia seguinte ao romper da aurora, depois de haverem
aprisionado uma sumaca da Bahia, que nessa occasião en-
trava. Ancoraram a 27 na Ilha-Grande occupando-se em
saquear algumas fazendas ; e bombardearam por dois dias
a villa, causando-lhe apenas pequeno damno aos conventos
do Carmo e Santo António. Estava a defeza d'essa villa
confiada unicamente às ordenanças, mas soube o seu com-
mandante, o capitão de infantaria João Gonçalves Vieira
arrostar às intimações do poderoso inimigo, que alli
perdeu alguns homens, que receberam das mãos dos mo-
radores o premio das suas rapinas.
Resolvendo Duclerc atacar a cidade por terra desembar-
cou a sua gente na Guaratiba fazendo uma penosa maicha
por caminhos pouco trilhados, afim d'evitar o encontro das
tropas que o governador havia expedido contra elle. Nessa
marcha em que, segundo o testemunho de Pizarro, foram
os francezes guiados por um preto deram derâo elles pro-
vas de grande constância, ao passo que demostra ella a
culpável negligencia de Francisco de Castro, que com a
maior facilidade poderia dcbellar o exercito invasor nos
JANEIUO. 11
— 82 —
cliDiccis (lesliladeiros por que linha de passar. « Os desta-
« camentos, diz o tenente Nunes, ((ue mandou ao caminho
< por onde cHes marchavam mais serviram de tetemunhar
• a sua jornada do que lh\i impedir; pois que em sete
« dias de marcha náo se lhes disparou um tiro. » (73)
Expedindo da Guaratiba dois navios e a balandra para
sondar a costa emquanto o grosso das forças seguia por
terra desembarcaram alguns homens aguerridos na praia
da Copacabann (74). onde encontrando vigorosa resistência
da parte das ordenanças, reforçadas por dois destacamentos
dos regimentos de linha, e nlo lhes favorecendo a aspere-
za do terreno tiveram de retirar-se com alguma perda.
Chegando ao conhecimento do governador a noticia doesse
desembarque mandou logo tocara rebate accudindo muitos
voluntários do recôncavo, aos quaes distribuíram-se armas
para junctamente com as miiwlas da terra defenderem o
o boqueirão di Carioca (73) onde se conservaram até o
dia 17 de Septqmbro
Divulgando-se nesse dia que os francezes, desembarca-
dos na Guaratiba, caminhavam a marchas forçadas para a
cidade mandou o governador postar toda a tropa de linlia
no Campo do Rosw io (76) abrindo ahi uma trincheira cuja
direita se apoiava no tnorro da CéOnccição e a esíiuerda no
de »S. António, O Bispo diocesano foi abençoar 03 defen-
sores nesse improvisado campo, para onde havia allluido
grande numero de pessoas de todas as classes, principal-
mente a dos estudantes. Um grave annalisla nosso narra
por essa occasião um facto, bem caracteristico das ideias
do lemi)0 ; reliro-me á imlenie de capitão conferida pelo
(jovernador á S. Anton:o que ale então tinha praça c recebia
o ^oldo de simples soldado!. (77)
— s:í —
No (lia 18 cliegáram os inimigos ao Engenho Velho, fa-
zenda (los jesuítas, a quem causaram grandes prejuízos
era gados, assucar e mais productos agricolos e ahi per-
noitaram. No dia seguinte ao amanhecer tomaram pela
estrada do Barro-Vermelho, e observando a posição do
exercito portuguez, que conservava-se impassível no Cam-
po do Rozario chegaram pelas sete horas da manhan â La-
goa da Seniinella, (78) em cujo lugar Bastante molestou-os
o capitão Bento do Amaral Gurgel com a sua companhia
d'esludantes ; contornando o morro de S.^^ Thereza (7d)
pela azinhaga de Matacavallos penetraram no coração da
cidade. Suppondo o governador que tomavam este cami-
nho para atacarem o forte da Praia- Vermelha (o que seria
rematada loucura) mandou que o mestre de campo João
de Paiva fosse em seu encalço. Perguntando esle si devera
pelejar respondcu-lhe Francisco de Castro que Hw mandava
defender a fortaleza, e não obstante fizesse o que a ocasião
lhe pennittisse (80). Resposta digna do um chefe, cuja
prespicacia igualava a coragem.
Na descida do morro de S.'^ Thereza foram os francezcs
investidos por duzentos paizanos armados tendo por chefe
a um religioso Trino por nome Fr. Francismo de Menezes,
em cujo ataque tiveram os invasores grande numero de
mortos e feridos, Aflirma o tenente ^Nunes que Duclerc
marchava à frente dos seus soldados sem outras armas
mais que uma rodela e um bastão I
Apressando a sua entrada na cidade chegaram á igreja
de Nossa Senhora d^Ajwla onde experimentaram vivíssimo
fogo no forte de S. Sebastião (81) continuando porém a sua
marcha para a Praça do Carmo (82) pelas ruas d^ Ajuda e de
S. José. Procuraram subir a montanha n^um lugar chama
— Si-
do Poço (lo Porteiro afim de so apossarem do CasteUo domi-
nando d\illi Ioda a povoação : não conseguiram porém o
seu intento polo fogo d'artilheria (fue lhos era feito.
No seu transito do Largo d Ajuda para a Praça do Carmo
experimentaram grandes revezes, vendo-se feridos e ipor-
tos pelas continuas descargar de mosquetaria que recebiam
das bocas das ruas. Desistindo do intento de tomarem o
convento do Carmo que se adiava bem guarnecido de
tropas, fizeram alto na rua Dtreita diante do trapiche da
cidade. (83)
Defendia este importante posto o capitão de cavallaria
António Dutra, que portou-se com extraordinária coragem.
Nesse ataque deu-se uma occurrencia que poderia ter fu-
nestas consequências ; fatiamos do incêndio ateado nos
barris de pólvora, que estavam armazenados n\alfandega,
contigua ao palácio dog governadores (84), d^onde resul-
tou a completa ruina d^aquelle edificio c a morte de três
estudantes.
Ao ruido da explosão destacou o governador seu irmão
o benemérito mestre de campo Gregório de Castro Moraes,
com o seu terço, o qual fazendo juncçáo com os estudan-
tes, que defendiam a entrada do palácio bateu-se com
summo denodo até que cahiu traspassado por uma baila.
Não diminuiu este triste successo o valor dos combatentes,
que vingaram nos inimigos a morte do seu chefe.
Vendo-se Duclerc accommettido por forças muito su-
periores ás suas e havendo sofTrido o desfalque de quatro-
centos homens que juncavam com os seus corpos o campo
da batalha, deliberou encerrar-se no trapiche, fazendo-se
nelle forte com a sua infantaria, o que levou àeííeito depois
de ter-se apossado de seis peças d'arlilhería, que assesta-
— 85 —
das na praia causáram-lhe no principio gramlc damno.
Um troço de com homens, que tinham ficado de reserva,
investindo desordenadamente pelas ruas da cidade, foi
lodo morto pelos moradores, apesar de pedirem a vida com
vivos sígnaes dimmaildade ; já lançando-se por terra com
os chapéos nas mãos, como diz Silva Lisboa, jàlevantando-
os e abaixando-os em testemunho da sua desventura. De-
vera ser bem profundo o ódio e a indignação que experi-
mentaram os habitantes do Rio de Janeiro \yeh inqualifi-
cável invasão franccza para que d'esf arte se esquecessem
da sua proverbial hospitalidade.
Quando o governador que até então se consorrára im-
movel no Campo do Rozario.
« Qval de ferro fundido esfatm eqmstre, » (85)
soabeque o chefe inimigo commettêra a temeridade d^en-
cerrar-scn'um trapiche, resolução esta que só parece dicta-
da pelo desespero da sua causa, pôz-se em marcha á frente
das suas cohortes para a cidade, intimando a Duclerc que
se rendesse a descrição do sen vencedor!!
Ouvindo porém o commandante francez o repique dos
sinos, que festejavam a victoriados portuguezes, recusou-
se obstinadamente entrar em qualquer negociação. Mandou
então o governador buscar a artilhería da Ilha das Cobras,
afim de constrangêl-o por este meio a deporás armas sendo
n^essa occasião morto o capitão de cavallaria António Du-
tra da Silva, que quíz ser o primeiro a entrar no armazém.
Por falta de transporte não era possivel que chegassem as
peças com a brevidade desejada tomou então o expediente
bárbaro de fazer saltar o trapiche, mandando ahi collocar
muitos barris de pólvora, o que si fosse levado a effeito
não somente causaria a morte do todos os francozes alli
— 86 —
sitiados, como ainda a de grande numero de moradoresi
cujas casas licavam próximas.
É digno dYspecial menção o patriotismo exaltado d'um
fluminense, alferes A'' ordenanças, que offereceu-se para
lançar elle mesmo fogo ao trapiche, nâo obstante residir
na casa contigua com sua mãi. irmans, mulher e filhos !
Admiramos, posto que nâo sympathisemos, com semelhan-
tes acções, mais próprias dos fastos gregos e romanos, em
que o amor da pátria era anteposto ao da familia.
Rec4íiando que o governador piizesse em pratica o seu
ultimatum e para salvar a sua vida e a dos seus compa-
nheiros d'armas assentou Duclerc em capitular. Entregà-
ram-sc portanto prisioneiros seis centos e quarenta fran-
cezes , entre elles duzentos feridos, sendo calculado o
numero dos seus mortos em perto de quatrocentos. Da
nossa parte tivemos apenas cincoenta mortos e oitenta
feridos. (86)
Foi conduzido Duclerc para o collegio dos Padres da
Companhia com alguns ofliciaes em numero de treze, ou
qualorze : sendo distribaidos os soldados', seguros por
grilhões, pela casa da moeda, cadêa e conventos com sen-
tinellas à vista, em quanto se lhes não destinava apro-
priada prisão.
Segundo o testemunho de Mons. Pizarro não escapou
do exercito invasor sertão o negro, que lhe servia de guia.
o qual levou aos navios, surtos no porto da llha-Grande, a
funesta noticia da completa derrota dos seus compa-
triotas. (87)
Dois dias depois (à 21 de Septembro) apparecêram à en-
trada da barra os navios francezes, que pareciam dispostos
a bombardear a cidade, quando Duclerc escreveu a seu
— 87 —
commandanle pedindo-lhc que sustasse as hostilidades para
não aggravar a sua triste sorte ; assim como que lhe man-
dasse à terra alguns cirurgiões para curar os feridos, o que
se fez com o assentimento do governador.
O regosijo por tão assignalado triumpho manifestou-se
por Iodas as formas, entoaram 7V-í)í?m7ís; fizeram-se pro-
cissões; e declarou-se o dia 19 de Septembro, em que a
igreja celebra o martyrio de S. Januário, festivo dos muros
para dentro
Mal informada a corte do occorrido cm tão longiniiua
colónia mandou louvar o governador pelo seu valor e tino
e agraciou-o com uma commenda declarando El-Rei D.
João V que se dava por muito bem servido agradecendo
por essa occasião aos briosos fluminenses que unicamente
o mereciam. (88)
Monsenhor Pizarro e o Conselheiro B. da Silva Lisboa
avaliam diversamente a conducta do governador Francisco
de Castro Moraes : para o primeiro foi clle um chefe inepto
senão traidor, e para o segundo um leal servidor do Esta-
do, posto que sem talentos militares, chegando mesmo a
proferir em seu abono esta CvStranha proposição: t Não
está a (jloria do general nos sais planos bem dirUjidos contra
o inimigo mas no bom successo das acções militares ! » (89)
Cremos ter posto à toda a luz em nossa singela narrativa
a incapacidade do homem a quem estavam entregues os
destinos da nossa terra. Não Analisaremos este capitulo
sem dizermos duas palavras acerca da mysteriosa morte
deDuclerc. Deixamo-lo no coliegio dos jesuitas, onde de-
morou-se algum tempo havendo depois obtido do gover-
nador licença para residir na cidade em uma casa que para
esse fim alugara. Ahi, na noite 18 de Março de 171 1, foi
— 88 -
assassinado por dois sugeilos rebuçados sem que a seme-
lhante crime se oppuzessem os soldados que o guarda-
vam : liem deligencia alguma se fizesse para descobrir os
malfeitores. Copiamos a sua certidão d'obito, extrahida por
Pizarro dos assentos da freguezia da Sc : •
• Em 18 de Março ás sete para as oito horas da noite
« de 1714 annos mataram o general dos francezes que
í entraram à tomar esta terra: o qual mataram dois rebu-
t çados que lhe entraram pela porta a dentro estando na
« cama, e dois £càram guardando a porta da escada e
« tinha sentinellas para que não .i)asseasse e não lhe valê-
t ram.; chamava-sc João Francisco, que era o nome da
t jua, e ^ nome de guerra Moçu de Cré ; está entenr.ido
« na capella de S. Pedro na igreja de Nossa Senhora da
< Candellaria. »
As seguintes palavras de Pizarro que lhe servemde com-
mentario parecem denotar a existência d'um horrendo
crime official. Eis como s'exprime o infatigável author das
Memorias HistoriC/Qs do Rio de Janeiro.
« M."" Duclerc, pouco satisfeito do seu destino muito
« contrario aos projectos que formara, intentou conspirar
• contra o povo depois de passados alguns mezes, e como
« se descobrisse a trama foi assasinado na noite 18 de
« Março de 1711. » (90)
Um illustre historiador inglez attribue a morte de Du-
clerc à desafronta por algum ciúme que tivesse inspirado
à alguém, que lançou mão d' um meio traiçoeiro para des-
ciirtar-se do seu rival. (91)
Sendo o governador Castro Moraes arguido por Duguay-
Trouin de complicidade nesse assassinato assim procurou
jusliíic:ir-se:
H
— 89 —
« Quanto à morte de M.'" Duclerc dei-lho, â pedido
« seu, a melhor casa doeste paiz, onde foi moito. Não
€ pude descobrir quem foi o matador por mais deiigencias
« que se fizeram, tanto da minha parte como da justi-
« ça; (92) e vos asseguro que si fòr encontrado o assas-
« sino ha de ser punido como merece. É pura verdade
« ter-se tudo passado segimdo vos exponlio. » (93)
Não obstante a denegação cathegorica de Francisco de
Castro cremos que não foi elle extranho a semelhante cri-
me, commettido com flagrante violação de todo o direito
inter-nacional. A presença de Duclerc o incommodava ex-
traordinariamente e não sabia como desfazer-se d'elle. Jà
€m data de 9 de Novembro do anno anterior reclamara da
corte providencias a este respeito e antes que lhe chegasse
provisão regia, que transcrevemos em nota, era o com-
mandante francez assassinado com circunstancias taes, que
si o lú) constituem author doesse attentado pelo menos
accusam-no decomplicidade. (94)
JANEIRO. 12
— 91 —
PARTE TERCEIRA.
EXPEDIÇÃO DE DUGUAY-TROUIN.
I.
VOLTA DOS FRANCEZES — BOMBARDEAMENTO DO RIO DE JANEIRO.
O mào êxito da invasão de Duclerc impressionou viva-
mente OS ânimos francezes : pensaram que a honra nacio-
nal exigia prompta desforra; e seu espirito audaz e
aventureiro inspirou-lhes a ideia de virem com forças su-
periores vingar a afironta recebida. Proseguia com encar-
niçamento a guerra de successáo à coroa de Hespanha : «s
duas maiores potencias marítimas da Europa, a Inglaterra
e a Hollanda, se haviam ligado contra a fortuna de Luiz
XIV ; e o astro do grande rei caminhava para o seu occaso.
A marinha franceza, que com tanto esmero formara Colbert,
soffria constantes revezes : suas rivaes pareciam ter decre-
tado o seu completo aniquilamento, contra o qual porém
protestava um valente corsário cujo nome tornou-se popu-
lar. Jean Bart é o symbolo da gloria marítima da França,
assim como Bayard o é da sua gloria cavalheiresca. Du-
guay-Trouin, discípulo e emulo de Jean Bart, forneceu,
como veremos, uma pagina brilhante para a historia de seu
paiz e de opprobrio para o nosso. Elle próprio nos con-
fessa em suas Memorias que a noticia da derrota do seu
xx)mpatriota lhe inspirara o desejo de vir ao Rio de Janeiro
lavar a nódoa do seu pavilhão, e colher vantagens pecuniá-
rias, que animassem os armadores a emprehenderem ou-
tras expedições. Sabe-se que nessa épocha o thesouro
— l)á —
(I'i'l-rei clirisliaiiissirno se ncb.nva em grandes apuros sen-
<lo-llie suiiimniuenfe penoso o manter os exércitos, que
pelejavam pelos direitos de seu neto: circunstancia esta
que de certo teria impossibilitado a expedição projectada
si Duguay-Trouin nâo se lembrasse de interessar nella os
negociantes, dando-lhe d^esfarte um duplo caracter.
Munido do dinheiro preciso, que lhe foi fornecido pelas
principaes casas de S. Maio dirigiu-se á Versailles, onde
graçíis á intervenção de Coulange poude obter a eíTicacis-
sima protecção do conde de Toulouse, grande ahnirante
de França, e com ella o assentimento do rei que lhe con-
fiou seus navios e tropas.
Apezar das precauções tomadas para que o armamento
se fizesse com o maior segredo ignorando-sc o alvo da ex-
pedição foi todavia d'elle informada a corte de Lisboa,
que expediu onlem ás capitanias maritimas do Brasil para
que estivessem prei)aradas para qualquer agn ssâo. Con-
seguiram ainda os embaixadores de Portugal cm Londres
que a rainha Anna mandasse uma esquadra a Brest, d'onde
se suppunha que parteria Duguay-Trouin ; que illudindo a
vigilância dos cruzadores inglezes sahiu do porto de Ro-
chelle à 9 de Junho de 17H.
Compunha-sc a esquadra de dezoito velas, no numero
das quaes contavam-se cinco nãos e três fragatas e demais
de trcs mil homens de tropas de desembarque, ainda assim
insuflicientes para tomar uma cidade defendida por dez
mil soldados, posto que infelizmente commandados por
um péssimo cliefe. As fortalezas, ainda que mal construi-
das, estavam bem guardadas, e formavam com os baluar-
tes e trincheiras uma cintura de granito e de fogo. que
poderiam torna-las iiíexpugnaveis. Quatro nàos e três fra--
- 93 —
gatas dl frota que nesse teni[)o costumava comboiar os na-
vios mercantes, que navegavam para os portos da me-
trópole , constituíam outras tantas baterias flutuantes,
dispostas em linha de batalha desde Sancta Cruz até a
Bua-Viagem.
Avisado pelos moradores de (Íabo-Frio da passagem
diurna numerosa armada deu o governador ordem para
que todos corressem aos s «us postos ; e por alguns dias
apresentou o Rio de Janeiro um aspecto de tal modo mar-
cial, que seria capaz d'incutir respeito aos mais destimidos
invasores. Semelhante aspecto porém contrariava os há-
bitos pacíficos do governador , que conhecendo que tinha
havido engano no aviso recebido, mandou desguarneceras
fortalezas da barra, cessando todas as cautelas que a pru-
dência aconselhava, à vista da communicação que se fizera
de Lisboa e de que fora portador um paquete de guerra
inglez.
Quando o perigo parecia conjurado, quando já Francisco
de Moraes era comprimentado pela energia e tino que havia
desenvolvido, eis que a 12 de Septembro doesse mesmo
anno assoma a esquadra franceza por entre um denso ne-
voeiro. Eram duas horas da tarde.
Posto que desguarnecidas romperam as fortalezas e ba-
terias vivíssimo fogo sobre o inimigo que nesse primeiro
ataque teve perto de tresentos homens fora de combate
(93). Esta confissão do próprio almirante nos parece do
grande peso, maximc mostrando-se elle tão ufano de sua
felicidade em se .apoderar da nossa terra ; e querendo
apresentar este facto como resultado da coragem e pericia
dos seus e cobardia dos naturaes; e não sabemos em que
se fundava Silva Lisboa para dizer (9G) que os mvios fran-
-- 94 —
cej^s passárGm pelas nossas fortalems sem, que estas lhes
dessem um sútiro!
Verdade é que a resistência foi de curta duração; pois
que dentro d'uma hora fundeava a esquadra inimiga de-
fronte da Ilha das Cobras, eas nàos e fragatas portuguezas,
commandadas por Gaspar da Costa, conhecido pelo Ma-
qtúmz, vinham encalhar perto de terra buscando o abrigo
das baterias. Nem ahi julgando-as seguras mandou-lhe o
Maquinez lançar fogo. do qual apenas escapou uma que os
francezes puderam salvar. Assim desappareceu miseravel-
mente uma esquadra, victima da inépcia, ou da traição do
seu chefe, onde tremulavam as lusas quinas, que haviam
illustrado os heróes da índia !
A única fortaleza que poude receber soccorros de terra
quando se devisàram as nàos francezas foi a de Ville-
gaignon , e essa mesma teve em breve de ficar silenciosa
em razão do incêndio que uma bomba occasionou no paiol
da pólvora, d'onde resultou a morte de dois capitães, um
dos quaes era sobrinho do governador, e filho do mestre^
de-campo Gregório de Castro, que tanto se destinguira no
anno anterior. A da Ilha das Cobras, foi abandonada por
ordem de Francisco de Moraes á pretexto de concentrar as
forças, e occupada por quinhentos francezes commanda-
dos pelo cavalleiro de Goyon, que alli se fortificara, cau^
sando grande domno a cidade, e principalmente ao mos-
teiro de S. Bento: o qual todavia era defendido pelas ba-
terias, que ahi fizera construir um normando por nome du
Bocage, que se naturalisára porluguez, prestando relevan-
tes serviços nesta conjunctura contra os seus compa-
triotas, jh dirigindo acertado fogo sobre as suas embarca-
ções, já obtendo por meio d'um engenhoso estratagema o
informar-se do estado das suas forças.
— 95 —
No segando dia da sua chegada desembarcaram os ini-
migos na praia do Vallongo em numero de três mil e tre-
sentos homens, sem encontrarem opposição alguma, col-
locando dois mil no morro de S. Diogo, apoderando-se da
liha do Pina, onde estabeleceram uma bateria, postando
quatro fragatas defronte do Saco do Alferes. O exercito
invasor dividiu-se em três brigadas, de três batalhões cada
uma, sendo a da vanguarda commandada pelo cavalleiro
de Goyon, a da retaguarda pelo cavalleiro de Courserac e
do centro pelo próprio Duguay-Trouin, tendo por ajudante-
de-campo o cavalleiro de Beauve. Para quartel general
francês foi escoHiido o palácio episcopal da Conceição.
Em quanto apoderava-se o inimigo dos pontos mais im-
portantes da cidade conservava-se o governador impassi-
vel no seu acampamento do Rozario, como na invasáo de
Duclerc, esperando talvez que os erros dos assaltantes lhe
assegurassem a victoria como da vez passada. As circums-
tamcias porém haviam mudado, e a colónia portugueza
útítA agora de haver-se com um exercito aguerrido, de-
baixo das ordens d'um chefe hábil e cheio de prestigio.
Admirados os francezes de tanta inação quizeram cortar
lun posto do inimigo situado no morro sobranceiro à
Lagoa da Sentinella ; reconhecendo porém ser-lhes impos-
possivel em razão dos mangues e pântanos que o cerca-
vam como se expressa o próprio Duguay-Trouin : « Ap-
« pliquei toda a minha attenção em reconhecer o terreno.
« e achei-o tão impracticavel que quando mesmo tivesse
« quinze mil homens ser-me-hia impossível o impedir que
# esta gente se retirasse com as suas riquezas para os
« matos e montanhas. »
Todas as fortalezas tinham emudecido fluctuando sobre
— 96 —
os seus muros o pavilhão dos lyrios, inclusive a de S. Se-
bastião, que capitulou á intimação d'Auberville, capitão de
granadeiros da brijjada Goyon. Perderam então os defen-
sores da praça toda a esperança de poder conserva-la, e
pensando jà em procurarem a sua salvação na fuga incen-
diaram uma nào e duas fragatas ancoradas próximo ao
morro de S. Bento; assim como vários armazéns e trapi-
ches da cidade.
O contagio porém da cobardia não contaminou á todos
os corações: houveram alguns briosos guerreiros que
protestaram por sua conducta contra tanto aviltamento :
(listinguindo-se entre estes o capitão Bento do Amaral
Gurgel Coitinho, que morreu valentemente combatendo
em prol da pátria no intempestivo soccorro levado á for-
taleza de S. João. Cumpre todavia confessar, para vergo-
nha nossa, que os actos de heroismo que assignaláram os
vencedores de Duclerc foram mui raros nesta segunda
invasão : e só podemos explicar tal mudanç^^, operada no
periodo de um anno, pela applicaçáo do engenhoso pen-
samento do épico lusitano :
« Lm fraco rei faz fraca a forte gente. »
e as distincções honorificas conferidas á um indigno go-
vernador á um chefe i)usillanime pela influencia de seu tio
o reitor do collegio de S. Antão e valido d'El-rei, deve-
ram profundamente desmoralisar os seus subordinados e
produzir um terrível eíTcito no animo dos que ainda se
gloriassem do antigo nome portuguez.
Desejando terminar a conquista com a maior presteza e
receando os funestos resultados que poderiam provir da
jííTda de tempo mandou Duguay-Trouin um tambòi' como
— 97 —
volaliin ao governador enviando-Ihe uma carta em (jue lhe
intimava que entregasse a praça á mercê d'el-rei de França
queixando-se do máo trato que haviam recebido os prisio-
neiros da passado expedição ao que respondeu Francisco
de Castro dizendo que a defenderia até a ultima (jota de seu
sangue negando ter maltratado os prisioneiros francezes
bem como ser complice da morte de Duclerc. (97)
Semelhante respostíi parecia fazer esperar que o gover-
nador iria alfim despertar-se do sen somno lethargico e
sahindo dos seus arraiaes forçar os francezes a procurarem
asylo em seus navios e levarem ao seu paiz a triste nova
da sua derrota.
Nada porém d'isto aconteceu. Reuniu-se com toda a so-
lemnidade um conselho em que foi decidido ser mais con-
veniente o abandonar-se a cidade. A tal alvitre oppuzé-
ram-se o sargento-mór da Colónia Domingos Henriques e
vários officiaes requerendo-se em nome d'el- rei que se não
abandonasse a praça : seus votos porém foram supplanta-
dos pelos da cobarde maioria.
O governador, depois de haver ordenado que lúnguem
mb pena de morte abandomsse o sen i)osto, fugiu vergonho-
samente com quasi toda a tropa de linha para a fazenda
dos jesuitas conhecida pela denominação áe Engenho Novo.
Apenas conhecida a resolução de Francisco de Castro foi
geral a fuga: começando o mestre de campo Balthazar de
Abreu Cardoso por deixar desguarnecida a cadêa e a ma-
rinha, que guardava com o seu terço de ordenanças.
Ao passo que taes acontecimentos se passavam na cidade,
onde reinava a mais horrivel confusão, onde cada qual pro-
curava salvar-se ordenava Duguay-Trouin o bombardea-
mento. O fogo do Céo e o da terra pareciam conjurados
J.VMilRO. 13
— 98 —
para deslruirem as liabitações cios nossos avós : desorevía
o relâmpago ellipses na abobada celeste em quanlo as bailai^
c as granadas sulcavam o ar ; repercutindo os échos da
bahia em sua hyperbolica voz esta liorrisona orchesta.
Aterrados fugiam os moradores em direcções oppostas ;
embrenhando-se uns pelas matas, occuHando-se outros
nas grutas, c galgando alguns os pincaros dos montes. O
marido procurava a mulher, a maio filho, o irmão áirman;
morriam afogadas as crianças nas torrentes, ou transidas
de frio pela copiosa chuva, que de suas cataractas despe-
nhava o Céo; envolvendo as trevas da noite com o seu véo
de crepe este dantesco quadro, digno do pincel de Buo-
narotti.
Contava-se 20 de Septembro do anno da graça 1711, jus-
tamente um anno e um dia depois da derrota de Duclerc.
Ao amanhecer do dia 21 quando Duguay-Trouin prepa-
rava-se para dar um assalto geral appareceu-lhe la Salle,
<|ue fora ajudante de campo de Duclerc, noticiando-lhe que
a cidade estava deserta existindo apenas nella duzentos e
tantos prisioneiros da primeira expedição que havendo ar-
rombado as portas de seus cárceres entregavam-se ao
saque.
Tomando as precauções que o caso pedia marchou o al-
mirante para a cidade onde verificou por si mesmo a vera-
cidade da informação do seu compatriota e teve de lamen-
tar a scena de desolação que lhe apresentava uma ix)voaçáo
ainda ha pouco tão florescente. A mór parte dos moradores
haviam deixado todas as suas preciosidades, em virtude do
bando do governador para que ningueni tirasse nada de swts
casas sob pena de ser tomado por perdido; medida esta que
parece dictada pela mais negra traição, facilitando ao inimi-
— go-
go um rico ílespojo. De facto os prisioneiros apenas se vi-
ram soltos entraram pelas casas roubando tudo o que de
melhor achavam, e taes excessos commeltêram que o pró-
prio Duguay-Trouin viu-se constrangido, para manter a dis-
ciplina e evitar o contagio de tão funesto exemplo, á man-
da-los encerrar no forte de S. Bento. Queixa-se elle amar-
gamente da tendência para o roubo que tinham os seus
sohJados e marinheiros, tendência esta que zombava de
suas ordens repressivas, nãor achando outro meio para con-
te-los senão fazendo-os trabalhar constantemente. Leamos
a sua confissão.
« Fiz postar sen ti nellas e collocar corpos de guarda em
« todos os lugares necessários ; ordenei que se fizessem
« rondas noite e dia com proliibicáo, sob pena de morte.
« aos soldados e marinheiros de eritrarem na cidade. Não
« despresei n'uma palavra nenhuma das precauções prat:-
« caveis: porém a paixão pelo saque sobrepujou ao temor
« do castigo. Os que compunham os corpos de guarda e
« as rondas foram os primeiros em augmentar a desordem
< durante a noite ; de sorte que no dia seguinte de ma-
€ nhan três quartos dos armazéns e casas se achavam ar-
€ rombados, os vinhos derramados, os viveres, mercado-
« rias e moveis espalhados pelo meio das ruas e pela lama ;
« tudo emfim n'uma desordem e confusão inexprimíveis.
« Mandei sem remissão quebrar a cabeçíi de muitos, que
« estavam incursos no bando publicado; porém não sendo
€ sufficientes todos os castigos junctos para deter o seu
€ furor, tomei o partido, para salvar alguma coisa, de fa-
€ zer trabalhar as tropas desde manhan até á noite car-
« regando para os armazéns, (para onde o senhor de Ri-
< couart mandou escrivães e pessoas de confiança ) lodos
« os objectos que se podessem encontrar. » (98j
— 1Í)0 —
Em sua justa imlignac-lo pí^la inqualificável ag{?ressíío
íle Duguay-Trouiii envolvem os nossos liistoriadorcs todos
os francezes em suas censuras chamando-os na phrase de
Tácito, alieimrum rerum cupidissimi. Sejamos porém im-
parciaes, e reconheçamos que os attentados contra a pro-
priedade, commettidos por uma soldadesca mercenária,
eram altamente desapprovados pelo commandante da es-
quadra.
Contava assim a França mais uma cidade : pertencia-lhe
o Rio de Janeiro par le droit de conqiiete : vejamos agom
como foi resgatado volvendo ao domínio — portuguez.
II
VKHGONHOSA CAPITULAÇÃO.
Estavam os francezes no dia 22 de Septembro definiti-
vamente senhores da cidade e suas ímmediações havendo
expedido alguns batalhões pela estrada de Catumby afim
d'occuparem os postos que os resguardassem d^algum ata-
que dos portuguezes, que de modo algum cogitavam em
recuperar o que haviam perdido partindo o governador e
seus asseclas, por mór segurança, para Iguassú.
Senhor da nosáa capital cuidou Duguay-Trouin, como
elle próprio no-lo diz, dos interesses dos armadoí es e sendo-
lhe impossivel conservar a praça em razão dos poucos vi-
veres que n'ella encontrara, e da dificuldade de penetrar
no interior do paiz para se abastecer d'elles; julgou que
seria opportuno entrar em transação com a gente da terra.
O saque importara em doze milhões líquidos porque só
no convento de S. António acharam os invasores dois em
oiro e prata, n'um sitio chamado sumidouro, que servia de
caixa económica aos nossos maiores : nâo era porém esta
— m —
somma sudicionle para contentar á avidez dos estrangeiros.
Passava a nossa pátria por uma cidade immensamente rica ;
fallava-se comemphase das fabulosas sommas que os quin-
tos produziam para o erário da metrópole ; assim pois en-
tendeu o almirante que podia exigir pelo seu resgate uma
considerável quantia. Escreveu ao governador dizendo-lhe
que si não apressasse em entrar em negociações com ellc
relativamente a entrega da colónia arrazal-a-liia inteira-
mente.
Esta urgência dos francezes explica-se hoje facilmente
pela declaração que nos faz seu chefe de que estava infor-
mado por alguns desertores que António d'AIbuquerque,
ex-governador do Rio de Janeiro e então de Minas e S.
Paulo, marcliava para o litoral com forças consideráveis,
que elle calculava em três mil homens mas que os es-
criptores nacionaes elevam a nove. ou dez mil, queapezar
de serem de mlicias e^rdemtH^s poderiam contudo arran-
car-Ihe o triumpbo, que com tanta facilidade obtivera.
Querendo dar uma prova de que estava disposto à levar
a effeito a sua ameaça ordenou Duguay-Trouin que duas
companhias de granadeiros fossem ((ueimar todas as casas
de campo na circunferência de meia légua : o que realiza-
ram quasi sem opposiçáo. Dizemos quasi porque foi nesta
occasião que teve lugar o único feito brioso d'esta guerra
a que acima alludimos, quando mencionámos a heróica
morte do capitão Bento do Amaral Coitinho, cujas armas e
cavallo foram levados como trophéos ao almirante, que tece
os maiores encómios à sua coragem.
Não era menos urgente a precisão que sentia Castro
Moraes de terminar este estado dúbio. Convinha-lhe dar a
forma de capitulação ao seu cobarde abandono da cidade ;
justificar pelas leis da guerra actos de que a sua própria
— 102 —
consciência não lhe poderia absolver. Lançou pois rnâo com
toda a solicitude do offereciínento que lhe fazia o padre
António Cordeiro da Companhia de Jesus, que licàra no
seu collegio, onde hospedara o almirante e mais officiaes
para servir de medianeiro n'este negocio. Escolheu o juiz
de fora Luiz Fortes de Bustunante e Sá e o mestre de
campo João de Paiva Souto Maior para em mtne do j)ovo
convir nas condições da capitulação : conferindo-lhes os
poílêres necessários para ajustarem o resgate da cidade por
contribuição da fazenda publica e particular. (99)
Entrando em conferencia os delegados de ambas as
partes contractantes mostráram-se os francezes summa-
mentc exigentes e com toda a razão attenta a fraqueza dos
seus contrários. Pediram doze milhões pela soberania da
terra (100) fortalezas, aríilheriase cidade entrando os conven-
tos e tudo o que lhes pertencia : ao que responderam os com-
missarios portuguezes que não ei^ possível dar mais de
tresentos à quatrocentos mil cruzados que em tanto im.-
portavam os redditcs dos quintos, moeda, alfandega e con-
tractos como poderiam certilicar-se pelos livros e inven-
tários, que estavam em seu poder. Não querendo annuir
á essa reducção da quantia arbitrada deram os enviados
francezes por finda a conferencia promettendo que hia
ser destruida a cidade.
Pela segunda vêz intentou Duguay-Trouin intimidar aos
portuguezes fazendo-lhes crer que executaria o que era
inteiramente contrario aos seus interesses ; e que certa-
mente não tinha a menor vontade de fazer. Tendo tido a
cautela de occupar as alturas e os desfiladeiros mandou que
vários corpos cercassem as nossas tropas, e contando com
a cobardia do governador cahiu sobre o seu flanco ; fican-
do a vanguarda ás ordens do cavalleiro de Goyon ao ai-
— 103 —
cance de meio tiro de fusil do nosso accampamento. Ainda
desta vêz logrou o almirante o seu propósito : humilhou-se
Francisco de Castro ; enviou-lhe dois officiaes acompanha-
dos d'um jesuíta a representar-lhe a absoluta impossibili-
dade de contribuir com maior somma do que a promettida;
podendo apenas concorrer com mais dez mil cruzados de
saa fortuna particular, quinhentas caixas d'assucar e o
gado necessário para o sustento da expedição ; e caso mo
fosse recebida a stia proposição então o batesse como fôsíie do
seu agrado, arrasasse a culade e o paiz, ou tomasse o partido
que bem qmzesse (iOi) Devemos observar que a somma de
quatro centos mil cruzados, oíTerecida da primeira entre-
vista para o resgate, fora elevada depois à seiscentos, não
conseguindo-se nem assim contentar os francezes, que
como vimos, romperam as negociações, e recorreram aos
argumentos ad terrorem.
Recebendo este ultimaium do governador convocou o
almirante os seus offlçiaes à conselho e alli decidiu-se una-
nimemente em aceitar a proposta ; porque si quizesse levar
o inimigo ao derradeiro apuro arriscar-se-hiam a perder a
ultima esperança que lhe restava. Estipulou-se pois que a
mencionada quantia seria paga dentro de um prazo de
quinze dias, fornecendo-se aos francezes o gado de que
precizassem, ficando dois olTiciaes como reféns da obser-
vância de taes condições. Como general prudente cuidon
Duguay-Trouin d'assegurar a sua retirada na hypothese,
por elle sempre temida, que António dWlbnquerque não qui-
zesse, â sua chegada, subscrever à clausulas tão aviltantes
para a sua nação : ordenando que se reforçassem imme-
diatamente todos os postos militares de defesa e as forta-
lezas, como as da Ilha das Cobras, Villegaignon e Santa
Cruz para proteger a sabida dos seus navios.
— 104 —
No dia seguinte que se contava 11 de Outubro, chegava
de Minas António d' Albuquerque para ser mudo e impas-
sivel testemunha di degradação dos seus compatriotas.
Não contente de fazer umi morosa marcha quando as cir-
ciimstancias reclamavam a maior velocidade, não protes-
tou, como Camillo. contra o vm victis do novo Brenno I
Parece que o máo fado de Portugal escarnecia dos Albu-
querqnes terribeis e Castros fortes, que symbolisavam a sua
prisca gloria í (102).
Realisando-se o ultimo pagamento no dia 4 de Novem-
bro foi entregue a cidade a seus primitivos possuidores
guardando sempre os francezes as fortalezas que lhes per-
mittiam o seu fácil regresso. Só a mais decidida cobardia
poderia abandonar uma povoarão de mais de vinte mil al-
mas defendida por um respeitável corpo de tropas, abri-
gada por fortes muralhas, bordadas de canhões á merco
de pouco mais de três mil homens que depois de lhe ha-
verem imposto as condições que lhes dictou o seu alvidrio
se retiraram muito a seu salvo havendo-a possuído por
quarenta e quatro dias í I (103)
Ainda ficaram os francezes até o dia 13 do dito mez
em que deram à vela demandando sua pátria tendo-sc
conservado entre nós dojs mczes e um dia. Sobre a sua
conducta aqui durante o tempo decorrido entre a capitu-
lação e a sua partida oiçamos o juizo d'uma testemunha
occular, que não pode ser averbada de suspeita. Manuel
de Vasconcellos Velho n'uma carta escripta â seu amigo
Domingo José da Silveira, assistente em Lisboa, serve-se
doestas expressões :
t Em todo o tempo que aí[ui se detiveram depois das
« capitulações ajustadas nos Iralninos cpmo hcrnianos;
« ferveram os negócios, compras de navios e fazendas ; e
— 103 —
€ não podemos duvidar que o Gabo d' Armada M.^ Dugcl
« é um famosíssimo soldado ; porque teve muito particu-
€ lar attençáo a que se não bolisse em sagrado, de tal sorte
« que chegou a arcabuziar dezoito soldados seus por lhe
€ serem achadas nas máos cousas da Igreja. E da mesma
• sorte se teve grande respeito a algumas mulheres pri-
« sioneiras ; havendo-se com muita piedade com os doen-
« tes e feridos, que ficaram nos hospitaes, e com muita
€ lastima do estrago que se fêz nos moradores, dizendo se
« queixassem do seu governador; pois, ou é que os podia de-
€ feuder ou imo : se os podia defender para que fugiu? e si os
€ não podia defender porque não capitulou ? pois com lhe dar
€ os gastos d' Armada escusava de saltar francez em terra.
€ Da mesma sorte se haviam os mais ofílciaes e geme mais
« luzida, que não ha duvida que era toda guerreira e ex-
« perimentada. » (104)
Estas palavras confiadas amizade acham-se em perfeito
accordo com o que a tal respeito diz Duguay-Trouin em
suas Memorias, jà por nós tantas vezes citadas:
« Desde o primeiro dia da minha entrada na cidade tive
€ grande cuidado de ajuntar todos os vasos sagrados,
« prata e ornamento das igrejas ; fizéra-os guardar pelos
t nossos capelláes em grandes cofres, punindo com a pena
« de morte a todos os nossos soldados e marinheiros, que
• tiveram a impiedade de profanal-os , apoderando-se
« d'elles. Por occasião da minha partida confiei este de-
€ posito aos jesuitas como os únicos ccclesiasticos d'este
€ paiz que achei dignos da minha confiança: (103) in-
« cumbí-os de entregai -os ao bispo do lugar. Devo fazer
€ a estes padres a justiça de dizer que contribuíram cllcs
• muito para salvar esta florescente colónia, induzindo o
JANKIRO. l't
— 106 —
t governador a resgatar a cidade, sem o que eu tél-a-hia ar-
« razado apezar da vinda d'Antonio d'Albuquerque cora
€ todos os seus negros. Esta perda que teria sido irrepa-
€ ravel para o rei de Portugal não seria d utilidade alguma
< para a minha empreza. » (106)
Assevera o Sr. Varnhagen que Duguay-Trouin deixara
no Rio de Janeiro alguns negociantes e um cônsul de sua
nação: cuja existência é mencionada nas disposições pre-
liminares da páz d'Uttrech ; os chronistas porém guardam
sobre esta circumstancias o mais completo silencio.
Acharam abrigo na esquadra franceza José Gomes, seus
filhos e alguns outros christáos novos, que a inquisição
destinava às suas hecatombes e que deveram aos desastres
porque acabava de passar a sua pátria, o subtrahir-se ao
cruel fanatismo de que era um dos agentes o bispo dioce-
sano D. Francisco de S. Jeronymo, que d'est arte s*esquecia
da sua missão de paz e de brandura.
Apenas se retiram os francezes o senado da camará di-
rigiu-se ao convento de S. Bento d'Iguassú onde se achava
António d'Albuquerque e instou com elle para que tomasse
conta do governo da capitania de que se mostrara tão in-
digno Francisco de Castro Moraes fazendo ao mesmo tempo
subir ao throno uma enérgica representação contra o seu
proceder na melindrosa crise porque acabava de passar esta
cidade. Albuquerque annuindo aos votos dos represen-
tantes do povo assumiu às rédeas da governança não que-
rendo porém prender o culpado governador, como d elle
s^exigia, sem ordem expressa da côrle.
Esta ordem não se fez por muito tempo esperar. O al-
vará de 22 de Junho de 1712 ordenava ao clianceller da
Relação da Bahia Francisco de Mello e Silva que imine-
— 107 —
flinlamenle embarcasse para esta cidade a devassar sobre
a sua criminosa entrega sendo-lhe mais tarde ( a 27 de
Julho) commettido o julgamento dos réos d'alta traição.
Do minucioso exame a que procedeu a alçada acerca da
conducta do governador Castro Moraes náo resultou que
fosse elle traidor, como lhe encrepàram os seus inimigos,
nem provou-se por forma alguma que entretivesse relações
com o inimigo. Sua inqualificável cobardia deu motivo a
suspeitar-se da sua lealdade, parecendo incrível que tantos
desatinos fossem praticados de bôa fé. (i07)
A noticia da tomada do Rio de Janeiro pela esquadra
franceza causou na Europa a maior sensação: ignorando-se
ainda o resgate da cidade e a consequente retirada de Du-
guay-Trouin receou-se que o gabinete de Versailles se obs-
tinasse em possuir a sua França Antárctica compensando-
se d'est'arte dos últimos revezes que acabava d'experimen-
tar na guerra da successão hespanhóla. Os diplomatas
portuguezes, reunidos em Uttrech, para negociarem a paz
geral chamaram sobre este ponto a attençáo da Inglaterra
e da Hollanda, que como potencias marítimas eram inte-
ressadas em obstar os ambiciosos projectos de Luiz XIV
sobre as colónias luzitanas : e constando então que Du-
guay-Trouin fizera soíTrer à Bahia a mesma sorte do Rio
de Janeiro chegaram a lembrar-se da conveniência d'equi-
par-se uma armada luzo-anglo-hoUandeza para recuperar
as praças conquistadas pelas armas francezas. O receio po-
rém, diz Southey, (108) de que em retribuição doesse au-
xilio pedissem as potencias alliadas algumas vantagens
para o seu commercio, que iriam ferir o monopólio que a
metrópole desejava conservar a todo o transe, fez abando-
nar a ideia ; felizmente sem funestas consequências para o
— i08 —
futuro (la sua irnportanlissinia colónia americana : o posto
que três annos mais tarde (em 1714) pretendessem alguns
armadores francezes, auxiliados pelo seu governo, enviar
uma nova expedição á Bahia, commandada por Mr. de
Cassar, que gosava de grande nomeada, não teve este pro-
jecto execução , sendo substituído por outros reputados
mais lucrativos; devendo-se unicamente a esta circumstan-
cia o íicar a capital do Brasil livre de tão grande cala-
midade.
lil.
EPILOGO.
Ponhamos aqui termo á nossa descolorida narrativa e
examinemos a questão si a expulsão dos francezes foi útil,
ou prejudicial ao Rio de Janeiro.
Afastando-nos da respeitável opinião do nosso benemé-
rito consócio, o Sr. Dr. Gonçalves Dias, que pretende que a
expulsão dos francezes levara comágo muitas esperanças (109)
procuremos demonstrar o contrario pensando que tanto
esta como a dos hollandezes foram de summa vantagem
para nossa pátria e em geral para o Brasil inteiro; porque
sem isso não seriamos hoje uma nação que pela sua uni-
dade de raça e de religião começa a pesar tão poderosa-
mente na balança dós destinos políticos da America, e pa-
rece pela Providencia chamada a um glorioso futuro.
Reconhecemos faltando de Villegaignon que os france-
zes sabiam muito melhor do que os portuguezes captar a
benevolência dos indígenas : e que unicamente âs suas
discórdias civis e dissensões religiosas devemos attribuir o
não se haverem estabelecido com mais permanência na
ierra de Guanabara, Estamos porém convencido de que
— lOí) —
cedo, 011 tarde, teriam do abandonar a sua colónia, ou vcn-
dendo-a como fizeram com a Liúziama, ou deixando-a
perder como aconteceu com as suas feitorias nas índias
Orieniaes, ou finalmente revolucionando-a como succedeu
com o Haittj. É um facto reconhecido pelos seus próprios
escriptores que a nação franceza sabe conquistar com va-
lor, e talvez mesmo fazer-se estimar pelos povos conquis-
tados ; mas que falta-llie o talento de conservar as suas
possessões, ou em resultado da natural inconstância que a
caracterisa, ou porque os seus naturaes tenham grantlc
repugnnncia de se afastarem do s')lo natal.
Não é esta uma hypothese gratuita ; pois que a Historia
traz o seu valioso testemunho em prol do nosso asserto.
Durante os caliginosos reinados de Carlos IX e de Henri-
que III, durante o sanguinolento periodo da iuja, como
poderia a França attender às necessidades da sua colónia
d^além-mar quando seu próprio território na Europa se
via ameaçado? quando sem a timidez do Tibério do
16.*^ século ter-lhe-hia a batalha de S. Quintino aberto
as portas de Paris? Quem ha ahi que ignore quantos
perigos correu a integridade franceza antes que as vic-
torias d' Arques e dlvry servissem de preliminares à paz
de Vervins?
Quando por uma feliz casualidade a nascente colónia
guanabarense, entregue a seus fracos recursos, escapasse
aos reiterados ataques da população portugueza que a ro-
deava, atravessando d^esf arte a violenta crise porque pas-
sava a sua metrópole, poderemos acreditar que não fosse
mais tarde presa dos hollandezes, ou dos inglezes, que
arrebataram aos successores de Dupleix, Bussy, e SuíTren
as férteis regiões que possuíam n\\sia ? O que lhe resta do
— no —
sea domínio na America senão algumas pequenas ilhas es-
palhadas pelo mar das Antilhas e a pestífera Cayenna ? An-
tes que a marinha militar surgisse ao toque da vara magica
de Colbert a França Antarctka teria sido riscada do cata-
logo das suas colónias. Modernamente vimos que Argel,
ligado a Paris pelos fios do telegrapho eléctrico, foi por
muito tempo reputado como inútil senão prejudicial, ser-
vindo apenas de vasto campo de Marte à metrópole onde
adestrava as suas legiões para envia-las, como ainda ha
pouco fez, ao Bosphoro Cimmerio, ou ao Chersoneso Cimbrico.
t Os francezes, diz o douto Cantú, nunca mostraram fun-
t dando colónias, a paciência tenaz e a constância intre-
t pida dos hespanhóes e dos hollandezes. » (HO)
Procede a opinião favorável da contemplação dos abusos
que praticaram os portuguezes em nossa terra. Longe de
dissimula-los fizemos expressa menção d'e!les quando apon-
tamos as causas do vagaroso incremento do Rio de Janeiro,
fadado pela sua posição geographica, para um rápido pro-
gresso. Sejamos porém justos, e confessemos à face do
mundo, que da ignorância mais do que da má vontade dos
nossos maiores proveio o estado de atrazo em que o en-
controu o sol do Ypiranga. Soflremos a applicaçáo dos
erróneos principios económicos que então predominavam :
o colono era uma espécie de servo de gleba para quem só
haviam deveres e não direitos, uma força productora,
destinada a abastecer os mercados da metrópole. A ideia
de chamar de algum modo à vida politica e civil a homens
de outra raça, reputados como infiíjis, e por isso fora das
fronteiras da humanidade, era muito subtil para ser com-
prehendida e praticada pelos governos d^essa épocha. E
uQte-se que então eram Portugal e a Hespanha as duas pri-
— m —
meíras nações da Europa, que sustinham em suas possan-
tes dextras os phanaes da civilisaçáo.
Acerca do systema colonial hespanhol e portuguez oi-
çamos o juízo que cmitte o grande economista italiano
Rossi :
t No ponto de vista económico foram estas colónias sub-
mettidas ás regras do systema mercantil. Ainda a tal
respeito as máximas dos governos hespanhol e portu-
guez eram as mesmas : com a única diíTercnça de que o
governo hespanhol applicava-as com mais zelosa seve-
ridade. A primeira d'essas máximas era a absoluta ex-
clusão de todo o estrangeiro: ninguém podia entrar
n''uma colónia hespanhóla e ainda menos ahi estabele-
cer-se se náo fosse hespanhol. A importância dos seus
capitães, a natureza dos seus talentos, o poder da sua
industria eram para o estrangeiro outros tantos moti-
vos para se vêr repellido d'essas inhospitas terras. Náo
havia mesmo igualdade de direitos para o hespanhol
nascido nas colónias; também elles eram collocados
n'uma ordem inferior aos nascidos na Europa.
t As colónias náo deveram produzir senáo cousas cuja
producçáo fosse necessária á mái pátria ; abstendo-se
de tudo quanto esta lhe podesse vender. Ter-se-hia ar-
rancado o cepo da vinha que o colono plantasse e infli-
gindo um castigo a quem pretendesse naturalisar a
oliveira. Assegurando-se assim d'um mercado sem con-
currencia fixava a metrópole as condições dos seus es-
cambios com as colónias. » (Hl)
Só muito tarde a Hollanda e a Inglaterra admittiram em
suas possessões princípios mais liberaes: devendo-lhes
aquella a conservação de Sumatra, Bornco, Java e as Mo-
— 112 —
lucas, e esta o seu vasto império indostanico, momenta-
neamente perturbado pela estulta e cruel revolta dos cy-
jmos, e a fidelidade do Canadá, surdo ás instigações dos
yankees.
A ordem natural das cousas exige que as colónias se
destaquem das suas metrópoles; assim como os filhos dei-
xam a casa paterna quando emancipados. O Brasil teria de
constituir-se uma nação independente; teria no futuro de
separar-se de qualquer nação que o houvesse colonisado ;
resta a examinarmos si nos seria mais proveitoso o fraccio-
namento do território entre os francezes, hollandezes e
portuguezes, ou si a uniâj de todo o paiz debaixo d'uma
só macionalidade.
Não haverá um só brasileiro, verdadeiramente amigo do
seu paiz, que desejasse ver quebrado este magnifico vaso de
porcellana, na expressão de um moderno escriptor nosso
(112); que não agradeça á Providencia Divina de ter-nos
conservado essa integridade, base fundamental da nossa
futura grandeza. Hollandezes no norte, portuguezes no
centro francezes no sul seriamos fracos e desunidos ; fal-
lariamos três línguas, teríamos talvez duas religiões: e o
gigante dos trópicos, que q^uçà deterá um dia no isthmo
de Panamá a marcha invasora do audaz anglo-saxonio,
fazendo recuar a águia do Mississipi, seria olhado com des-
preso, e nem se quer escutado nos conselhos da America.
A unidade religiosa e politica do Brasil foi obra de Deus
e não dos homens : foi o Céo que auxiliou os Vieiras, ao
Vidaes ao Camarões e aos Dias ; foi elle que nos deu as
victorias dos Guararapes e Giiaxendiiha, que subtrahiu o Rio
de Janeiro das mãos de Villegaignon, Duclerc e Duguay-
Trouin. A despeito dos erros gravíssimos dos governantes
— ii3 —
o paiz crescia e prosperava ; entregues a nós mesmos ex-
pulsamos do nosso solo o estrangeiro todas as vezes que
nelle se quiz estabelecer. Sem as fogueiras da inquisição
guardamos a nossa fé religiosa : não respondemos ao appello
de Minas e Pernambuco quando nos convidaram à trocar o
sceptro e a coroa pelo barrete phrygio : e só fomos nação
quando podemos ser império.
Gloriemo-nos da nossa origem : somos os herdeiros do
Gama ; falíamos a lingua de Camões ; e vemos sentado em
nosso throno um neto de D. Manoel, o Venturoso. Somos
uma raça vigorosa e intelligente ; nascemos na terra da li-
berdade e fomos embalados com o hymno da independên-
cia. Sebastianopolis não tem saudades d'FIenri-Ville; o
Rio de Janeiro não lamenta a França Antárctica.
lANKlRO. 1-i
— 113 —
NOTAS.
(I; Pigoíetta (jne acompanhou a MagalliJes oní siw Via-
gem ao redor Jo mundo escrevendo uma Relação iVe^^x
viagem, que foi publicada em Milão no anno do 180Ò por
Cartos kmoreiíi, assim se exprime quando tracta da sua
passagem pela nossa terra :
« In questo porto (Rio de Janeiro) entrammo iJ di de S.
€ Lúcia, avendo il sole alio zenit nel i^iezzodi, ed ebbimo
« nel tempo dei nostro soggiorno cola piu caldo die non
« n^avevamo provato sotto la linea eçiumoziale. • (Pruno
Via^gio intorno ai globo terraccjueo fatto dei cavalier ÂJi-
toftio Pigafetta, patrizio vicentino sulla squadra dei Cap.
JMlíiggalianes negli anni 13i9— 1522— Lib. I. pag. Í7)
(2) Na grande collecçáo de Ramusio lemos duas cartas
d'Americo Vespucci escriptas à Pedro Soderini, Gonfalo-
niero da Republica Florentinn, dando conta das duas pri-
meiras expedições á Terra de Vera Cruz. Explicando a
maneira porque entrara para o serviço de Portugal assim
se exprime :
« Stando in Sibilia reposandomi (Ja molto ijjiiie fatiche
cif in due viaggi fatti per il Serenissimo Re Don Fer-
nando de Castiglia nell Indiè Occidentali haueuo pas-
sate e con volontà de rittornar di nuouo alia terra deWe
perle, quando la Jortuna non contenta dei miei trauagli
fece che venne in pensiero à auesto Serenissimo Be
Don Manuello di Portugallo voíersi seruire di me, &.
stando in Sibilia fuori d'ogni pensiero di venireà Portu-
gallo, mi venne uu messaggiero con lettcre di sua real
coronna, che mi comandaua che io venisse qui à Lis-
bonna, à parlarli, promettendo farmi molte gratie. io
fu consigliato di non partirmi airhcM^a, & però espe-
detti il messaggiero, dicendogli chMo stava male. 4
quando fosse risanato, & che sua altezza si volesse pur
seruirdi me, che farei quanto mi commandasse, la onde
che visto sua altezza, che1 non me poteua hauere, deli-
bero di mandare per me Giuliano di Barlholomeo dei
~ HG —
Gioconilo, staiile (|iii in Lisbunna, con commissione che
iii ()<íni modo mi conducesse, veime il deito Giuliano à
Sibilia. per la vciuita & preghi dei quale, fu forzato à
venire : à futenula à male la mie partila da qiianti mi
conosceuano, per essermi partito di Castiglia, doue me
era fatto honore, & il Re mi teneua in bona reputatione.
peggio fú che mi parti insalutato hospite, & appresentan-
domi innanzi à questo Re, mostro hauer piacere delia
mia venuta & pregommi cif io andasse in compagnia di
tre sue naui, che stauano in ordine per andar a scoprir
nuoue terre, & perche un prego d'un Re, è comanda-
mento, hebbi á consentire a quanto mi comandaua. »
(Vide Delle Navigationi et Viaggi raccolte da Gio. Battista
Ramusio Volume I pag. 128 Venetia. MC VI.)
D'essa primeira carta consta que a frotinha em que Ves-
pucci ia de piloto, descobrira o cabo de S. Agostinho no
anuo de 1501 :
t Partimmo di questo luogo e comenciammo la nostra
« navigatione fra leuante esirocco, che cosi corre Ia terra, &
« facemmo molte scale. & mai trouammo gente, che con
« esso noi volessino conuersare, óc cosi nauigammo tanto
• che trouammo che la torra faceua la volte per libeccio,
« & come voltammo vn cano, ai quale mettemmo nome el
« capo de Sant^Agostino.
Continuando a navegar para o sul parece ter entrado no
nosso porto, cuja posição geographica assignala, posto que
não o nomee ; assnn como deixa de faze-lo à outras locali-
dades por elle visitadas na carta meridional do Brasil.
(3) Páo brasil.
(4) Histoire fl'um pays sitiié dans le Nouvean Mond nom-
mé Ainerique por Hans-Stadens d' Homberg.
(5) Une fete brésilienne.
(6) Hist, d^un Voy. fakten la terre du Brésil anlremenl
dite Ameriqm cJuip. I.
(7) Singularitez de la France Antarcíique pag. 2.
I
- 117 —
(8) Roclia Pitta. Hist. d' Am. Port. livr. IH. §1G.
(9) Mons. Pizarro Mem. Hist. do R. de Janeiro tom. I.
livr. L cap. I. pag. 9.
(\0) Os francezes chamavam a este rochedo Ratier e os
portiiguezes Lage.
(il) Denominavam os indigenas a esta ilhota de Se-
ri(j'q)e.
{^i) Lery Hist, d*um voij. faiei en la iene da Brésil,
autremeiít dite Ameriq, chap. VIL pag. 88.
(13) Lery ibidem.
(14) LesSiiujularitezdelaFrance Aíitarctiqiie, chup. GO.
(IT)) Apparece na jà citada Collecção di Ramuzio a Rela-
ção da viagem d'mu capitão de Dieppe (Pedro Crignon)
escripta em 1339, que marca a épocha dos descobrimentos
francezes no litoral do Brasil , recoídiecendo a priori-
dade dos portuguezes :
« Questa terra dei Brasile fu primamente scoperta da
« Portoghesi in qualcho parte, e sono circa trentacinque
€ anni. L\i]tra parte fu scoperta per vno di Honlleur, chia-
• mato Dionizio di Honfleur da venti anni in qua. . . »
Em um luminoso e recente opúsculo intitulado — Exa-
men de quehiues polnts de I' Historie Geoyraphique du Brésil,
o Sr. Varnhagen, fallando acerca da prctenção que tem a
marinln franceza de ter sido a primeira em explorar as
nossas costas, assim se expressa :
€ Je suis íoin d'abriter, à propôs de la priorité, ou de
« rimportance des anciennes navigations françaises au
« Brésildes idées de jalousie ou d'injustice, que la-dessus
t je puis bien m^enorgueiUir de pouvoir ré[)ondre avec le
< grand nombre de faits et de documents que j'ai fait co-
€ naitre raoi-même, donnant plus de relief et dlmpor-
* tance aux navigations françaises au Brésil ; et je dois
« ajouter que queíques ims de ces faits en faveur des ex-
— 118 -^
« ploits (Ic Tancionne marine française, onl été foumis
« par des documents originaux de ma proprie colleclion,
^ que j'aurais bion pu conserver par divers moi, et que je
€ me suis fait un plaisir de publier.
« Et je respecte tant les aspirations des peuples à gar-
« der leiír, gloires historiques même ura peu hasardcuses^
« que ne puis que louer les Dieppois quand ils pretendent
« avoir decouvert rAmêriqne avant Colomb. em 1488, de
t mème que certaines familles du Brésil pretendent en-
« core que le Portugais João Ramalho etait allé a Saint
« Paul, à peu prés à la même epoque. également avant de
« a decouverte de rAmérique par Colond). »
(1 6) Véníable Histoire et descripHon xtum pays sUué datis
rAménqiie par Hans-Stadens d'Homberg chap. 26.
(17) Posto que tão fortificados os francezes náo fa-
ziam comtudo hostilidades nem guerra ofTensiva aos por-
tuguezes satisfeitos <x)m gozarem da terra quietos, (S. de
Vasc. Vid. d^Anch. livr. III. cap. 1.)
(18) Pizarro Mem. Hist. do Rio de Janeiro livr. I cap. I.
(ID) B. da S. Lisboa— Anna^s do Rio de Ja«eiro livr. I.
cap. U. pag. 64.
(20) The\el — Cosmogr^)l^ie. iom. II. livr. XXI, chap.
2.™* pag. 908.
(21) Nome que os protestantes dão à Eiwharistia.
(22) Une Fète Rrésilienne— Notes— pag. 70.
(23) Aos 11 de Julho de 1557, na idade de 33 annos
havendo reinado 35.
<a4) Hist. Geral do Brasil pelo Sr. F. A.ide Variihagen,
tomo 4.« Secç. XVII pag. 232.
(25) Rocha-Pittaflist. d' Am. Portug.Livr.IU, p^g.i56.
- 119 -
(36) Este rochedo, que extetia no meio da ilha clia-
mado monte das palmeiras, foi mandado demolir assim como
os oiteiros dos extremos por ordem regia de 22 de Sep-
tembro de 1761 ordenando que continuasse a bateria em
circulo na forma da planto remettida pelo governador Go-
mes Freire dWndrada, cuja obra prmcipiou a executar o
vice-rei conde da Canha e ultimou o marquez de Lavradio.
(Mem. hist. do Rio de Janeiro pelo mons. Pizarro tom. 7."
cap. l,^paç. 14.) O Sr. Varnhagen no tom. 2.° secç. 43.^
pag. 194 diz que esta obra só se terminara cm 1761, sendo
apenas esta a data da ordem da secretaria doestado appro-
vando a planta remettida à curte por Gomes Freire e ao
concluir-se ella como diz Pizarro, que nos parece bem in-
formado, no tempo do marquez de Lavradio devera ser
depois de 1769; pois que à 4 de Novembro do referido
anno tomou elle posse do vice-reinado.
(27) Diz o Sr. Varnliagen (Ilist. Geral do Brasil tom.
1.** secç. 18.* pag. 240) ^uc poucos annos depois recla-
mava Villegaignon indemnisações ao governo portuguez,
ás quaes seu embaixador em Paris. João Pereira Dantas,
aconselhava que se attendesse para o calar,
(28) Carta de Mem de Sá inserta nas memorias íFEl-rei
D. Sebastião pelo Abbade Barbosa tom. 1.^ pag. 438.
(2í)j O Sr. Varnliagen quer que se diga Paramipuana ;
mas todos os chronistas escrevem como acima o fizemos.
(30) Actualmente conhecido pelo nome de Catete.
(31) Xâo saI)emos com que fundamento aíTirma o au-
IhordoSanctuarioMarianno que a aldeia (rUrHimmivim era
na ilha depois chamada de Villegaignon.
(32) Mera. Hist. Docum. das Aid. dos ind. da prov. do
Bio de Janeiro cap. 2.^ pag. 34.
(33) Conf. dos Tamouos pelo Sr. D. J. G. de Magalhães
cinto li pag. 37.
(34) Que enWo era o padre Manwl da Nóbrega.
— láO —
(33) Assim escreve Pizarro dizendo que o seu actual
nome de Beríiôga é corrompido.
(36) t Balisa tropical meta lusente,
€ Throno do Capricórnio, á cujo aceno
€ O eclyptico galope dos ethontes
« Pára e recua no celeste circo »
na bellissima expressão do eximio poeta brasileiro e nosso
particular amigo o Sr. M. de Araújo Porto-Alegre.
(37) Conf. dos Tamoyos canto X pag. 325.
(38) Ilist. Geral do Brasil pelo Sr. Varnhagen Tom. 1.^
secç. 19.» pag. 231.
(39) Consideramos o padre Azevedo como uma perso-
nagem igual ao governador e ao bispo, pois (jue na sua
catnegoria de visitador geral era o superior dos Jesuitas.
cuja influencia é geralmente reconhecida.
(40) S. deVasc. VidadWnch. livr. Ilcap.XIIIpag. H7.
(4i) Apartamo-nos aqui da opinião do Sr. Varnhagen
e da do conselheiro Silva Lisboa que dizem ter sido Estacio
de Sá ferido no assalto de Puranapuctàij preferindo a de
S. de Vasconcellos, que assevera que tivera lugar este
successo no ataque crÚniçumlrim.
(42) Onde jaz portuguezes o moimento
Que do immortal cantor as cinzas guarda ?
Homenagem tardia lhe pagastes
No sepulchro sequer raça d'ingratos !
Camões Poema de J. B. de Almeida Garret canto X pag. 205.
(43) Depois chamado do Calabouço e onde se acha agora
o arsenal da guerra.
(44) Ambas formam a moderna fortaleza de S. João.
— 121 —
(45) Actualmente de Santa Cruz.
(46) A antiga Sj e presentemente igreja e convento dos
capuchinhos.
(47) Este quadro é primorosamente traçado pelo Sr.
Porto- AIegi'e nestes lindos versos:
t As fouces e os machados manobrando
* Vão amputando o perystillo umbroso
« Da verde tenda monumento inculto
o Que d'indomitas feras foi asylo
« E os accentos canoros de mil aves
« Nas perfumadas folhas embebera :
« Onde em bárbaro coro a simia astuta
« Outr'ora se embalava, té que a frecha
« Do certeiro tamoyo o ar fendendo
« Co' a ponta ervada Ibe enfiasse a morte. »
(DesL das /lor^sto^— Brasiliana— canto Ipag. li.)
(48) Hisl. Geral do Brasil tom. l.« secç. XIX pag. 255.
(49) iEn. livr. VI vers. 278.
(50) Silva Lisboa Ann. do Rio de Janeiro tom. I livr. I
cap. Ipag. H6.
(51) Mem. Hist. e Doe. das Aldeias de indios da pro-
víncia do Rio de Janeiro pelo Sr. J. Norberto de S. S. cap.
^.^ pag. 58.
(52) Na sua erudita Historia Geral do Brasil (tom. 1."
secç. XIX pag. 256) diz o nosso douto consócio (lue a
aldeia do Moçarúra Ararigboia estava do lado da cidade de
S, Sebastião no local depois chamado Bicados Marinheií os ;
contra esta opinião porém protestam todos os historiado-
res e chronistas que consultamos, que são concordes em
assignar à aldeia d' Ararigboia o sitio onde hoje vegetam
seus miseros descendentes.
(53) Mem. Hist. e Doe. das Aldeias de indios da pro-
víncia do Rio de Janeiro pelo Sr. Norberto cap. 2.^ j)ag. 60.
JWKIRO. IC
— 122 —
(o4) Eus, sobre os jesuitas, inserto na Rev. Trim. do
Inst. Ilist. tora. 18 part. 2.» pag. 128.
(o3) Pensamos que este é o seu verdadeiro nome. como
o encontramos em Ler}', e não Boles, como escreve S^de
Vasconcellos.
(56) Jules Simon Liberte de Conscieme leçon IV pag. 272.
(57) Le Brésil pag. 65.
(38) Annaes do Rio de Janeiro tom. I.^cap. ft.^pag. 318.
(59) Vide Ann. do Rio de Janeiro por S. Lisboa tom. 11
pag. 10.
(60) Ibidem tom. II pag. 18.
(61) Plutarcho Brasil. Pefò Sr. Dr. J. M. Pereira da Silva
tom. 11 pag. 52.
(62) Vide Ann. do Rio de Janeiro tora. IV pag. 72.
(63) Silv. Lisb. Ann. do Rio de Janeiro tom. IV pag. 225.
(64) Annaes do Rio de Janeiro tom. V. pag. 9.
(65) A' 21 de Janeiro de 1641. \'u\e o Qmdro Elem.
das rei. dipl. entre Portugal e as prindpaes poteiíciasda Eu-
ropa pelo visconde de Santarém tom. IV Int. pag. 199.
(66) llist. Geral do Brasil pelo Sr. Varnhagen tom. 2."
secç. 33 pag. 62.
(67) Methuen.
(68) O Sr. Ed. Fournier no seu interessante e recente
livrinho intitulado — UEsprit dans rUistoire — contesta a
authenticidade doeste dito attribuido ao rei por Voltaire no
seu Século de Luiz X/F, e re|)eti(lo depois d'elle pelos
mais graves historiadores. Referiíido-se ao Jornal de Dan-
qeau sustenta que somilhantes palavras niuica foram pro-
feridas pelo rei de França ; mas que o embaixador de lies-
— lá:] -
panha querendo convencer a Pliilippe V (duque d'Anjou)
da comraodidnde da jornada para a sua capital disse-lhe
que os Pynmneos estavam fumlidos ; o que lhe parece muito
conforme à emphase castelhana, e também mais verosímil.
(G9) Vile Mignet Neíjotlatiom relaúves à la succession
d'Esim(jne som Louls XIV tom. 11 pag. 213. •
(70) Eram tão fracas e insignificantes as fortalezas que
houve ideia de fechar o porto com cadêas de ferro, que
de modo algum poderiam resistir a acção da artilhería.
Citemos a carta-regia endereçada ao governador do Rio de
Janeiro no anno seguinte ao da invasão de Duclerc e quando
o governo portuguez devera estaY- mais amestrado pela
experiência :
« Francisco de Castro Moraes— Eu El -Rei vos envio
i muito saudar. Encommendo^vos procureis vêr si se pode
• fechar com cadêas essa barra; e quando se possa con-
« seguir o ponhaes em execução por licar assim esse porto
• mais defensável; impedindo com isto a entrada aos
€ nossos inimigos. Lisboa a 5 de Maio de Í7H— Rei—
• Miguel Carlos— Para o Governador do Rio de Janeiro. »
(7i) Os regimeti tos velho e novo.
(72) Vide Vatel— Z)roií des Gens tom. II, livr. III, chap.
XV, § 21Q—Des annateurs.
(73) Vide a Mem. do Dose. e Fund. da Cíd. de S. Se-
bastião do Rio de Janeiro escripla pelo tenente A. Duarte
Nunes e publicada no tom. I da Rev. Trim. do Inst. Híst.
Geog. do Brasil.
(74) Então chamada de Secoj)enopán.
(75) Assim era conhecido todo o espaço comprehendido
entre este chafariz e o mar.
(76) Onde se acha actualmente a igreja do Rozario e
vulgarmente conhecido pelo Largo da Sé.
(77) Silva Lisb. Ann. do Rio de Janeiro tom. V cap. VI
pag. 278.
— l±í —
(78) Esta lagoa que hoje já não existe achava-se entre as
ruas Nova do Conde e a do Areal.
(79) Então chamado do Desterro.
(80) Pizarro Mem. Hist. do Rio de Janeiro tom. I cap.
H pag. 30. .
(81) OCastello.
(82) O Largo do Paço.
(83) Então chamado de Luiz da Motta.
(84) Chamado áe\)o'\é— Casados Contos, onde estão hoje
o Correio e a Caixa d^AmorUsação.
(85) Suspiros poéticos do Sr. Magalhães— Napoleão em
Waterloo.
(86) Pensamos que ha equivoco da parte do author dos
Ann. do Rio de Janeiro quando orça em quinhentos o nu-
mero dos nossos mortos. Mons. Pizarro, á vista de um
documento muito authentico, ( o Livro d'obítos da fregue-
zia da Sé ) assevera terem sido somente cincoenta.
(87) Vide Mem. Hist. do Rio de Janeiro tom. I cap. II
pag. 48.
(88) Munido de uma portaria do Governo Imperial e
auxiliado pela benignidade do Sr. Commendador Barbosa,
digníssimo Director interino do Archivo Pubhco deparámos
nesta repartição, confiada á seu zelo e intelligencia, com
alguns documentos importantes e relativos às duas ultimas
invasões francezas. Mencionaremos aqui duas provisões
regias, uma agradecendo ao governador do Rio de Janeiro
pela sua conducta por occasião da invasão de Duclerc, e a
outra ordenando-lne que informasse em segredo sobre o
procedimento de alguns oíDciaes. Citemo-las integral-
mente :
« Francisco de Castro Moraes — Eu El-Rei vos envio
« muito saudar. Vi a conta que me destes da forma com
- 12o —
(|iio nss;jlláram os fraiicezes essa ciilailo e o glorioso
successo que tiveram nossas armas com a morte de
muitos inimigos e òs mais prisioneiros, e a noticia que
os oíTiciaos da camera Me deram do valor com (|ue vos
portastes no dito conflicto, e a singular disposição com
que acodistes á toda parle por salvar o nosso perigo :
E pareceu -me agradecer- vos (como por esta agradeço)
a honrada acção o valeroso animo com que defendestes
rssa praça, e. o destroço que fizeste nos nossos inimigos,
como também as singulares disposições com que vos
houvestes para se conseguir um tão feliz successo com a
perda total dos francezes, e para que as mais pessoas,
que a assignalàram nesta occasiáo, possam ser pre-
miadas, conforme o seu merecimento e qualidade : Vos
ordeno Me mandeis uma relação d'ellas com toda a dis-
tincçâo. Escripta em Lisboa á 10 de Março de 1711.—
André Lopes de Lavre— Para o Governador do Rio de
Janeiro. »
Apezar do propósito deliberado em que pareciam estar
todos em occultar ao Rei a verdade dos successos aqui oc-
corridos chegou, não sabemos como, ao seu conhecimento
a cobardia d algims chefes e officiaes, o que deu lugar a
dirigir a Francisco de Castro (o mais cobarde de todos) a
seguinte Provisão:
« Francisco de Castro Moraes — Eu El-Rei vos envio
€ muito saudar. Por ser informado de que alguns cabos
« de guerra procederam na occasiáo que houve comos
€ francezes dessa cidade com frouxidão e fraqueza Vos
€ ordeno Me informeis com todo o segre do e mdividua-
€ çáo jatf^ie particular ; quaes foram para Me ser presente
f esta noticia. Escripta em Lisboa á 7 de Março de 1711 —
« André Loj)es de Lavre— Para o Governador do Rio de
« Janeiro. »
(89) Ann. do Rio de Janeiro tom. V cap. VI pag. 291.
(90) Mem. Ilist. do Rio de Janeiro tom. I cap. II
pag. 34.
(91) t Duclerc havingbeen at one time lodged in the
€ Jesiiirs college , and afterwards in fort S. Sebastian,
— I2G —
« (ihlaifièil pprmission to take a house, wheve, aboulsix
« moiiths aftor liis surreiíder, he was found dead oiie
t moniing, liaving l)een murderêd during the nighl.
« Tliis assassination assiiredly was not an act of popular
t fury; it coidd oídy have bèen the work of private ven-
« geance anil jealonsy, inalllikchood, was the cause.
• But inquiry was not institued, as it ought to have beea
« in any case, and more espocially in one wherein the
« ualioiíal faitlnvould apear to be implicated. » (Soutiiey
Ilistory o f Brasil— ¥i\rí. III chap. XXXIII i)ag. H3.)
(9á) Taes dehgencias não chegaram ao conhecimento
(h)s historiadores nacionaes, ou estrangeiros.
(9t>) Vide iVfm. de Bmjucnj-Tromii, pag. 185.
(94) Eis o documento a que acima alludimos, extrahido
por nós do Archivo Pubhco :
1 Francisco de Castro Moraes— Eu El -Rei vos envio
muito saudar. Vendo o que me escreveste em carta de
9 de Novembro <lo anno p. p. do que determináveis
obrar com os prisioneiros francezes tomando o expe-
diente de os mandares nas embarcações que sahíssem
para outros portos, assi por diminuir esta gente e fi-
cardes com menos cuidado como também por náo ha-
ver mantimentos com que se possam, sustentar escre-,
vendo aos governadores os tenham seguros até minha
ordem representando-me que o Cabo Mr. Duclerc e um
rehgioso do Carmo que fora por capelláo dos francezes
tinheis tenção de mandar para mais longe por serem
estes dois sugeitos demasiadamente inquietos, e que náo
convinha tornarem para a França para não moverem o
seu Rei a outras facções semelhantes; Me pareceu di-
zer-vos que tendes obrado bem na expedição que to-
maste em mandar estes prisioneiros francezes para os
portos do Brasil, advertindo -vos porém que só o façais
para a Bahia, porque não convém na conjunctura pre-
sente passem para Pernambuco, e a Mr. Duclerc e ao
religioso do Carmo enviareis para a mesma praça em
uma náo de guerra para que se náo dê occasiáo a que
— 127 —
t possam fugir, e ao governador da Bahia aviso o (|ue ha
t de obrar nesle particular. Escripta rm Lisboa a sete de
« Março de 17il.-^André Lopes de Lavre— Para o Go-
« vernador do Rio de Janeiro. »
(9o) Vide Mem. de Duguay-Trouin pag. iG7.
(96) Vide Annaes do Rio de Janeiro tom. V cap. VI
pag. 308.
(97) Eis a integra doestas duas cartas, (jue reproduzi-
mos neste lugar, apezar de jà terem sido citadas pelo con-
selheiro Silva Lisboa eo Sr. Varniiagen, aíim d(» tomarmos
mais completo este nosso trabalho.
A' 19 de SeptembribDugnay-Trouin mandou um tam-
bor levar ao governador a seguinte carta :
« Senhor.— El-rei meu amo querendo alcançar satisfa-
ção da crueldade exercida com os ofliciaes e soldados
que fizestes prisioneiros o anno passado, e bem infor-
mado Sua Magestade de que depois de fazerdes assassi-
nar os cirurgiões, a quem havieis consentido que des-
embarcassem dos navios para curar os feridos os deixas-
tes perecer á fome e à miséria, e <le que havieis tido em
captiveiro (contra a observância dos ajustes entre as co-
roas de França e Portugal, ) a tropa que ficou prisio-
neira, me mandou com seus navios e tropas [)ara vos
obrigar a ficardes á sua discripçáo, entregando-me os
prisioneiros francezes, e fazesdo pagar aos habitantes
doesta colónia as contribuições que forem bastantes para
punil-os de suas crueldades, e satisfazer amplamente á
S. M. da despeza que fez para este tão respeitável ar-
mamento. Não lenho querido intimar-vos que vos ren-
daes, achando-me em estado de vos obrigar a isso, e de
reduzir a cinzas o vosso paiz ea vossa cidade, esperando
que o façaes entregando -vos â discrição d'el-rei meu
senhor, que me ordenou náo olfender aos que se sub-
raettessem de bom grailo arre[)endendo-s ^ de have-lo
olTendido nas pessoas de seus ofliciaes e de suas tropas.
€ Soube também, senhor, que se fez assassinar a \lr. Du-
clerc que os coauuandava e não (piiz usar de reprezalias
— hi8 —
sobre os portuguczes que cahírara em meu poder, por-
que a intenção de S. M. não é fazer a guerra d'uma ma-
neira indigna d'um rei christianissimo ; e ainda que
estou persuadido de que não tivestes parte naquelle ver-
gonhoso assassinato, não obstante S. M. quer que me
indiíiueis os authores para que se faça justiça exemplar.
« Si não obedecerdes logo à sua vontade nem vossas
peças, tropas e barricadas, me embaraçarão de executar
as suas ordens, e de levar a ferro e fogo todo este paiz.
« Espero, senhor, resposta prompta e decisiva, e sem
duvida conhecereis que si até agora vos tenho poupado
tem sido para fugir ao horror d'cnvolver os innocentes
com os culpados. Sou, ác—Duguaij-Tronin. »
Ao que lhe respondeu o governador:
t Ví, senhor, os motivos que i^ trouxeram de França
a este paiz. Segui no tratamento dos prisioneiros fran-
cezes os estylos da guerra, não lhes faltando pão de mu-
nição e outros soccorros ; posto que o não merecessem
pelo modo porque atacaram este paiz d'el-rei, meu se-
nhor, e mesmo sem faculdade d'eNrei christianissimo,
exercendo unicamente a pirateria ; comtudo eu poupei
a vida a seiscentos homens como o poderão certificar os
mesmos prisioneiros a quem salvei do furor da espada.
Em nada tenho faltado ao ^|ue careciam segundo as in-
tenções d'el-rei meu senhor.
€ Quanto á morte de Mr. Duclerc, dei-lhe a pedido seu,
a melhor casa doeste paiz, onde foi morto. Não pude
descobrir quem foi o-matador por mais deligencias que
se fizeram, tanto da minha parte como da da justiça ; e
vos asseguro que si for encontrado o assassino ha de
ser punido como merece. E' pura verdade ter-se tudo
passado segundo vos exponho,
t Emquanto á entregar- vos a cidade pelas ameaças que
me fazeis, havendo-me ella sido confiada por el-rei,
meu senhor, não tenho outra resposta á dar-vos senão
que a hei de defender até a ultima gota do meu sangue.
Espero que o Deus dos exércitos não me abandonará em
uma causa tão justa, como a da defeza d'esta praça, de
que pretendeis assenhorear- vos com tão frivolos pre-
textos e tão extemporaneamente.
— láO —
■ Deus guarde a V. S. de quem sou <5ec.— F/Yí/ímco
« de Castro Moraes. » ( Mem. de Duguay-Trouin paiç.
181—185.)
(98) Memoires de Dmjuaxj-Trouin pag. 190.
( 99 ) Citemos o termo da nomearão dos negociadores
escolhidos para esta capitulação, e por nós extrahido do
Archivo Publico livr. 1.^ dos termos, homemujens e assentos.
« Em 30 de Setembro de 17M em o sitio do Engenho-
Novo dos reverendos padres da Companhia do Collegio
do Rio de Janeiro, onde se achava acampado o gover-
nador doesta capitania Francisco de Castro Moraes ahi
convocou as pessoas da nobresa e negocio que se acha-
vam presentes ás quaes propoz que o general da armada
d^el-roi de França que tinha entrado na cidade lhe havia
feito presente a queimaria, e ao paiz, si acaso os mora-
dores d'ella a não quizessem resgatar contribuindo com
o preço que os deputados d'uma e d^outra parte concor-
dassem, para conclusão de cujo negocio cessariam por
espaço de cinco dias as armas, pelo (|ue era preciso que
sobre esta matéria accordassem o que convinha e decla-
rassem si eram contentes que as pessoas que elle para
esta conferencia com o inimigo havia nomeado eram as
que elles queriam para o mesmo eíTeito e lhes dava um
poder para em seus nomes e de todo o mais povo tra-
tarem doesta capitulação ; o que visto e ouvido por elles
disseram que approvavam pelo que lhes tocava às ditas
pessoas que eram o Dr. Juiz de Fora Luiz Fortes de
Bustamante e o mestre de campo João de Paiva Souto-
Maior aos quaes concediam os poderes necessários para
effeituar este resgate, assim da cidade como das fazen-
das e o mais que lhes tocasse. E pelo que tocava a S.
M., que Deus guarde, e estava a cargo d'elle dito go-
vernador lhes concedia os mesmos i)odêres. De que
mandou fazer este termo que cu Manuel Borges de Ma-
dureira escrevi em ausência do secretario doeste go-
verno. — Francisco de Castro Moraes — Luiz Fortes de
Bustamante — Manuel Pimenta Tello — João de Paiva
Souto-Maior— João Areias dWguirrc — Manuel Corrêa
JANKIRO. 17
— lao —
^
« Vasques-^Christuvão Pereira trAbrcu — Mathias Bar-
» bosa da Silva. »
(100) Ainda que o conselheiro B. da Silva Lisboa cite
um trecho da carta do Juiz de Fora, primeiro plenipoten-
ciário da negociação, julgamos prestar um serviço aos
nossos leitores dando-a aqui integralmente e tal qual acha-
mo-la transcripta no jà citado livro dos termos, hometia/jens
e assentos :
« Em os dois dias do mez de Outubro de 1711 estando
acampado o governador doesta capitania Francisco de
Castro Moraes no sitio atraz declarado recebeu a carta
seguinte do Dr. Juiz de Fora Luiz Fortes de Bustamante
eSá:
« Meu senhor.— Hoje ( ntramos em conferencia com os
nomeados pelo general Duguay e de manhan não se
ajustou cousa alguma, por só gastar o tempo em dispu-
tar por parte d'elles o grande rendimento que el-rei
aqui tinha em quintos, moeda, contracto dasbalêas.
íisco e mais contractos, si acaso os ha, o que eu não
sei ; dissemo-lhes que tudo isto importaria, segundo
nossa noticia, em trezentos mil cruzados, o que podia
melhor certificar-se pelos livros e inventários, que se
achavam em seu mesmo poder, ao que não quizeram
dar crcilito, e por lim de contas vieram esta tarde a
pedir dois milhões pela soberania da terra, forta'ezas,
artilheríp.s c cidade, entrando conventos e tudo o que
lhes pertence. Respondi-lhes que si S. S. se não punham
na razão averiguando o que a terra podia dar de si, e
conforma ndo-se com a possibilidade d'ella, se rompesse
a conferencia, porque a impossíveis ninguém era obri-
gado, e lhe demos a entender que o que poderia dar-sc
por tudo seria trezentos até quatrocentos mil cruzados,
e que avisávamos a V. S. para determinar com a gente
da governança o que com efTeito se daria pelo sobredito
resgate, e assignâram para isto vinte e quatro horas
dentro das quaes, ou m:us cedo si fôrpossivel, nosman-
d u*à V. S. a resolução do que póJe contribuir-si^, para
vermos o que havemos de assentar. É também neces-
sário saber-se para o ajuste que a cidade está toda sa-
- VM —
qiioíula o os moveis quebrados e inallratadose a fazenda
que Ilies pareceu recolhida em dez ou doze armazéns a
qual dizem venderão e quando o principal se ajuste
virão mercadores a compra-la si quizerem.
« A' vista da carta o dito governador a propoz às i)es-
soas abaixo nomeadas para que dando os seus votos se
tomasse resolução para a resposta, e todos uniforme-
mente assintiram que pela cidade fortificações, edificios
e munições sem reserva alguma se podia dar até dois
milli(3es entrando também as fazendas e mais bens que
se achassem nas casas e só ficarão de fora para novo
ajuste aquellas que estiverem misturadas e não se po-
der saber quem são seus donos. Do que mandou fazer
este termo que eu Manuel B )rges de Madureira por au-
sência do secretario do governo escrevi. — Francisco de
Castro Moraes — João Areias d'Aguirre— Manuel Pi-
menta Tello— Domingos Henriques— Luiz de Albuquer-
que Maranhão— Martim Corrêa de Sá— Manuel Corrêa
Vasques— Pedro de Azambuja RH^eiro- Mathias Bar-
bosa da Silva— Christováo Pereira de Abreu. »
(lOi) Vide Annaes do Rio de Janeiro tomo V cap. VI
pag. 363.
(102) Podemos encontrar no Archivo Publico o seguinte
termo da pretendida capitulação entre o governador e o
almirante :
« Saibam quantos este nublico instrumento dado e pas-
sado era publica forma ao officio de mim tabelião virem
que no anno do Nascimento de Nosso Senhor J. C. de
17H annos aos onze dias do mez de Novembro do dito
anno nesta cidade do Rio de Janeiro em pouzadas do
Dr. Juiz de Fora. Luiz Fortes de Bustamante, aonde eu
tabelião fui, e sendo ahi por elle me foi apresentada uma
resposta do Sr. Governador ás capitulações do Sr. Ge-
neral francez. cujo theor é o segumte :
t Que promette de pagar seis centos mil cruzados, em
doze, ou quinze dias ; e aue por não sentir d'onde possa
tirar mais contribuição aeste povo ofTerece a S. S. cem
caixas d^assucar duzentos bois e dez mil cruzados em
— I3á —
* dinheiro, íicamio com sonlimenlo de não se achar coní
« mais para lho ofíerccor, e o sobredito ajuste é pelo
« resgate da soberania da terra, cidade redonda, e suas
« fortalezas com todas as artilherías á ellas pertencentes.
« Que a pólvora se comprará aos Srs. officiaes fran-
cezes.
• Que pela manhan irão os reféns até satisfazer o dinhei-
t ro promettido.
« Que as mais condições se acommodaram com a inten-
t çáo de S. S. para o embarque das tropas.
« E que para as mercadorias enviará homens de nego-
« cio que tenham dinheiro para compra-las, ficando desde
« hoje em paz, assim com os moradores do paiz, como
ff com as embarcações que entrarem nelle. — Campanha
ff 10 de Outubro de 1711 annos — Le Chevalier Duguay-
« Trouim — Vu pour nous Chevalier et Conseiller du Roy
« en Ses Conseils, Inspecteur General de la marine et
ff Conseiller au Parlement de Metz — De Ricouart — João
« de Paiva Souto Maior — o qual treslado dinstrumento
ff tresladei bem e fielmente do próprio a que me reporto,
ff e corri, concertei, escrevi e assignei em publico e raso
ff nesta cidade do Rio de Janeiro aos onze dias do mez
ff de Novembro de 1711 annos — João de Carvalho e
ff Mattos— Em testemunho de verdade.—
(103) Eis o documento por onde se prova que Duguay-
Trouin recebera a somma estipulada pelo resgate da ci-
dade, assim como pela pólvora que os portuguezes foram
obrigados a comprar aos seus vencedores: documentos
estes também extrahidos do Archivo Publico.
ff Nous Chevalier de POrdre militaire de S. Louis,
ff Commandant General des troupes et de Tescadre des
ff vaisseaux de S. M dans Ia rade de Riogcnero, et nous
ff Chevallier et Conseiller du Roy en Ses Conseils, Con-
« seiller de S. M. en Sa Cour Souveraine du Parlement:
ff certifions à tous qu'il appartiendra (jue pour les six
• cents dix mil cruzados dont nous sommes convenus
ff avecM."" D. Francisco de Castro Moraes, governeur pour
ff la capitulation de la ville el des forteresses da Riogene-
— i:í3 —
« ro noiís avons reçu voiigt six nrrohos et demye et deiix
• cenls (luatrc-vingt-dix sei)t octaves de ptjudre d\)r sur
■ le |)rix de quatoi-ze lestons et quatre vingtins Poctave,
« onze arrobes dix-neuf livres soixante et une octave et
« iieniye d'or en barres lingots, ou monnayes d'or prestes
€ a màrquer sur le vingt quatre monnayes d'or et un
« quart de nouvelles fabrique de quarente huit testons ia
€ piece; plus nous avous reçu deux cents boeufs pour le
€ refraichissement des dites troupes et cent caísses de
€ sucre ; tous les reçus pour le dites sorames de quelaue
€ espèce quMls soient demeueront nuls: et dans la elite
€ capitulation de la ville í t des forteresses nous n'y avons
€ pas compris la poudre. En foy de quoy nous avons
€ signé le present pour servir et valoirainsy que de raison
« à bord du vaisseau — le Lys — le sixierae Noverabre
17H — Duguay-Trouira. — De Ricouart.
« Nous Chevallier de TOrdre milítaire &ca : certifions a
€ tous qu'il appartiendra que nous avons reçu pour deux
€ mil cinquante barrils de poudre a tirer la somme de
« auarente six mil cinq cents soixante croisades en pou-
4 (Ire iVor sur le prix de quatorze testons et quatre
t vingtins Toctave et en barres, ou lingot a seize testons
€ Poctave. En foy de quoy nons avons signé le present
« pour servir rt valoir ainsy mie de raison a la rade de
€ Riogenero le sixeme Novemore 1711 a bord du vais-
« seau du Roy — Le Lys — Duguay-Trouim.
(104) Vide Pizarro Mem. Ilist. do Rio de Janeiro tom.
I. pag. 71—72.
(10o) Os jesuitas tinham também sabido sMnsinuar no
animo do almirante francez o oue fez dizer ao menciona-
do Vasconceilos Velho — os padres da Companhia que em
toda a ocasião são famosos deixaram ficar no coUegio o pa-
dre António Cordeiro, &.
(106) Mem. de Duguay-Trouin pag. 198.
(107) Dando conta das sentenças proferidas pela alçada,
assim s'exprime Rocha Pitta :
t Juntos os ministros procedeu o Chanceller em sua
« devassa do caso náo faltaram ofiiniões (pie também in-
Loj^o que recebi o programma tratei de oollier as tra-
dições que pudessem existir; estas são de duas espécies ou
mais ou menos verídicas referidas a épocas determinadas,
e archivadas nas paginas dos historiadores, ou conserva-
das na bocca do povo, e adulteradas de mil modos: ambas
porém fornecem dados pouco valiosos para adiantar um
passo ao menos na solução do obscuro problema. Tradi-
ções escriptas poucas existem, e estas desde logo me foram
fornecidas pelo nosso infatigável consócio o Sr. Joaquim
Norberto de Souza e Silva, o que me foi um poderoso au-
xilio, pois devo confessar que tenho mais aptid:\o para de-
cifrar os jeroglyphos com que a natureza gravou a sua his-
toria desde o tempo da crystallisação dos granitos, até a
extinção dos mastodontes de que para pesquizar os respei-
táveis fólios prodiízidos pelo ingenho humano. Quanto «ás
tradições guardadas pelo povo, suppuz que facilmente as
obteria escrevendo aos Presidentes de algumas províncias,
na esperança de que elles me mandassem o que fosse pos-
sível colher; demoréi-me três annos; e no fim dcUes con-
venci-me de que esses senhores eram demasiado conscien-
ciosos, e que não querendo fornecer-me dados incertos,
esperavam que um dia suas almas depois de libertadas do
envoltório de chrysalida, que as prende a este mando,
voem por esses sertões e dotadas do poder de penetrar os
mysterios do passado, me respondão. Esgotada por fim a
minha paciência requeri ao Instituto que mandasse pedir
as informações de que eu necessitava, e cm treze mezes foi
clle pouco mais feliz do que eu pois só seis Presidentes
responderam ; os outros nem si quer cum[)ríram os pre-
ceitos da corlezia.
Pelo que diz respeito aos vesligios geologiro^. j)».]í^mos
- 137 —
dizer que nos adiámos a margem de um vasto oceano,
dispondo apenas de uma triste canôinha de pescador para
cxploral-o. Nós podemos, sem o menor receio de que nos
taxem de exagerado, asseverar que da geologia brasílica
quasi nada se sabe. pois alguns trabalhos que nos vieram
a mão tendentes a osclarecêl-a, e devidos a curiosidade de
alguns engenheiros nossos que percorreram em commis-
são os sertões, sâo inintelligiveis. Para justificar-me só cita-
rei algumas amostras : temos a palavra granito , que é
aplicada as rochas graníticas com os três elementos dis-
tinctos, e ahi vae o greis, os granitos, syenitos, protogi-
nos etc, logo que um dos elementos deixa de se apresentar
com muita saliência, ou se falta então ha uma brilhante
escapadéla que é o monosyllabo « grés » que significa tudo
principalmente, p. ex. os pegmatitos, leucinitos, o itaca-
lumito, as breccias, os trachytos, dioritos, até margas e o
itabirito e o cipolino ! Atraz deste substantivo universal
vem muitas vezes uma descripçáo a maneira da nomen*
clatura de Gaspar Bauhin, qae só serve para vender a obra
e trahir o author. A palavra schisto também é de muito uso,
o que ha porém de mais notável é certamente a variedade
de combustíveis, fosseis que tem sido descoberta, assim já
vi ura lodo lacustre com 807o de argila e protoxido de
ferro ser intitulado carvão de pe Ira, com a observação mui
curiosa, que queima perfellameiite ! Vimos asphalto, le-
nhitos schisto algum tanto bituminosos, e até psilomelano
figurarem como carvão de pedra I Também vimos mica
baptisada • estanho, » gneiz do qual nascia ouro, c mais
interessante ainda é uma memoria que descreve a riqueza
fabulosa da Província de Minas em cobre, o bom do author
olhava como tal a canga que se estende por legoas o legoas
JANEIRO. 18
— 138 —
de terreno, naquelles lugares. Aiada mais: uma pessoa pro-
fessional, e de capacidade jurou-nos pela salvação de sua
alma que possuia mineraes do interior com impressões de
algas marinhas, mas ao dar-me uma amostra reconheci
serem dondritos de ferro. Ora a vista de tantas brilha turas,
ou sacrilégios scientificos, creio que nos será permittido
duvidar da veracidade dos factos relatados pela maior parte
dos nossos prophetas conterrâneos.
Vejamos agora o que aproveitámos dos apóstolos da sci-
encia, que sobre as ondas pelágicas aportaram ás nossas
praias: Darroin de quem teriamos direito de esperar algu-
ma cousa valiosa, apenas tocou o nosso littoral. Os papeis
do Dr. Sellow a que temos bom direito estão se fossilifi-
cando em Berlin, Helmreichen não concluio os seus tra-
balhos, e o que delie se publicou é pouco ; as observações
de Perris se extendem muito pouco. Quanto aos mais
pouco se pôde esperar de quem vai escrever sobre pedras
com a arte pratica em mãos, ou de individuos que só es-
crevem para imposturar e serem tidos por alguma cousa
quando nada absolutamente valem. Assim p. ex., que cre-
dito nos merecerá um Pedro Clausen que veio ao Brasil
como creado do Dr. Sellow, e depois passou de mascate a
negociante com o nome de Pedro Cláudio Dinamarquez
de gloriosa memoria nas praças do Rio de Janeiro e Ouro-
Preto, e que por fim foi buscar um capôllo e pergaminho?
Devemos por ventura acceitar o que nos revela um Dr.
Parigot ao qual perguntámos de que modo se apresenta em
S. Catharina a formação carbonifera, e elle com uma eva-
siva procurou demonstrar-nos que o povo brasileiro não
tinha fé, nem dignidade ? talvez nos tomasse por um pobre
allemão que emigrava para o Brasil ! Devemos por ventura
prestar attenç-áo a um Sr. De Cislclnau que nos ensina
— 139 —
logo no inincipio ile sim obra, que a bahia do Uio de Ja-
neiro é uma cratera de sublevação'? parece que esse tão
victoriado viajante só tencionava ser lido nos toucadores
de Paris. Outros ainda tiveram a franqueza de confessar
que pouco escrúpulo tinham em commetter erros, por es-
tarem convencidos que não seriam verificados tão cedo, e
desfarte a geologia não teve como a botânica o seo S. Hi-
laire, o seo Gardner e outros distinctos naturalistas.
É de lastimar (jue no lirasil onde se pensa tanta cousa
bôa, e grandiosa, ainda se não tenha cuidado em preparar os
elementos para uma exploração scientifica, de que tanta
utilidade tirariamos, quando mais não fosse, o sermos
tratados com consideração, e não com desprezo pelo es-
trangeiro, a quem até hojj ainda se deve o que a sciencia
tem descoberto sobre este vasto império. Digo preparar os
elementos, porque mandar vir exploradores munidos de
cabedal scientilico de pouco servirá, pois esses homens tem
outra lingua , outros hábitos , e outra natureza muito
diílerente da nossa. De modo que os habitantes do inte-
rior lhes repugnão, no que ficam pagos com usura, e até
chegam a serem victimas de suas excentricidades. Assim
tivemos ainda ha pouco tempo a visita de uma notabilidade
européa, que descendo de sua cathedra, deixando os pa-
ginados companheiros de sua vida, e concedendo repouso
à fluente penna que tanto prodigio fizera, aportou às nossas
plagas com a singular pretençáo de viajar a provincia de
Minas em malle poste e estudar a natureza debruçado con-
fortavelmente nas janellas de hotéis guarnecidos de veludos
e sedas ! esse sábio cahiu por fim de um burro parado, e
teve a desgraça de fracturar uma perna, equem perdeo foi
a sciencia e a nossa civilísação como elle mesmo o disse.
O fallecido Helmreichen foi acolhido com muita hospita-
— I'i0 —
lidatle no nosso interior: em troca publicou iimnrtigo na
Allemanha em que dizia que um fazendeiro de Minas só
podia ser tido por homem de mérito, depois de ler com-
mettido um assassinato 1 outros escreveram sobre o Brasil
informações , que os matutos e sertanejos que encontra-
vam lhes forneciam, respondendo muitas vezes a perguntas
scientilicas que elles entendiam lá a seo modo. Outros
exploradores vindo commissionados com grande aparato e
estrondo, davam-nos como novas descobertas, cousas tri-
vices que a muito conlieciamos. Até dignos varões se en-
contram que pintaram ticoticos e picapàos e os classifica-
ram como espécies novas, afim de obterem um emprego
no nosso musêo, e ainda ha quem nesta nossa terra tenha
taes cliarlatáes por profundos naturalistas. Numerosos
exemplos poderiamos citar para provar que scientifica-
mente o paiz deve ser estudado por gente própria, como o
fizeram todas as nações cultas.
Em quanto esperamos p t dados, que uma exploração,
nos possa fornecer, entraremos em matéria colhendo as
raras e indigestas migalhas que c possivel alcançar, para
tirar algumas conclusões incompletas e duvidosas. No en-
tretanto pedimos ao Instituto que nâo desespere, porque
entáo, se Deus vida e forças nos conceder, apresentaremos
trabalhos documentados que possam satisfazer cabalmente
ao que se nos pede.
Diremos tanJ)em alguma cousa sobre a probabihdadc de
terremotos futuros no Brasil, para evitar que não appareça
algum outro programma que nos supponha dotado da
habilidade do celebre cabildo de Guanaxuato que em uma
proclamação declarou (pio « eu su sabUluria reconheceria o
momento do perigo, e aconselharia a fuga ! »
Só consideraremos aquelles terremotos que tem a sua ori-
— 141 -
gem om potoncios ahyssodynamions, dcsdo o mais brando
ruido subterrâneo até essas niodoniias convulsões da su-
perfície terrestre cujos eíTeitos sáo mais terríveis e mais mor-
tíferos (jueas esquadras do Báltico, e Mar Negro reunidas,
ou da mais vehemenle epidemia que tenha devastado os
povos. As concussões devidas á desmoramentos de rochas
e barrancos, á desabamentos de montanhas excavadas por
torrentes do seu interior, etc. e os estrondos subterrâ-
neos provenientes da quebra de pedras levadas pelos rios.
e outros phenonemos semelhantes, não mencionaremos
visto serem acções inteiram^ nte locaes, e haver a certeza
de nunca se estenderem além de um limilte certo e muito
restricto.
É sabido que os terremotos não são outra cousa, mais
do que erupções volcanicas, e que se cingem a certos cen-
tros ou linhas d^erupçáo que formão um pequeno numero
de zonas, doestas existem três na Ásia : uma partindo dos
montes Uraes até Irkutrk, a segunda do lago d^Aral até a
China c terceira parallela as duas precedentes correndo ao
longo do Ilimalaya. Uma outra zona é a curva que vae de
Java. Sumatra, as Philippinas, Japão, encontrar-se noar-
chipelago aleutino com a zona parolica da America boreal,
a qual termina na Califórnia. Depois desta segue a de Gua-
temala que atravessa o isthmo do Panamá, corre parallela
ao declive occidental dos Andes e vae morrer nos gelos do
Cabo de llorn. Sensivelmente perpendicular a esta até a
ilha da Trindade domina a pequena porém funesta zona
venezuelensc, a qual na sua extremidade oriental é cortada
por uma outra também pequena vinda de Charlestown em
direcção de SS. E. atravessando Guadeloupe as outras An-
tilhas, tocando em parte da Guiana franceza, o Cabo do
— i42 —
Norte (» al)alaíulo tambom uma porçáo do formiflavol delia
do Amazonas. Porém de todos os campos de batalha das
potencias abyssodynamicas, contra a rigidez da crosta ter-
restre e onde esta tem de ceder vencida é sem duvida aquellc
que se estende paralieio ao equador desde os Açores até
a Pérsio, abrangendo do sul até chapadas dos paizes bar-
barescos, e ao norte o Cáucaso, os Carpathos. os Alpes as
serranias do meio dia da Franca e os Pyrineos. Além
dessas existem ainda outras zonas menores como a do
Rheno, de Islândia, da Groenlândia do va!le do Missisipi.
Todas estas zonas se caracterisáo pelas cadeias de volcões
(jue ellas encerram, não só activos como vemos na linha ja-
vanica, na Guatemala, Períi, Chile, e sul da Itália, mas tam-
bém extinctos como no Rheno etc.
Vemos do exposto que a superfície do nosso globo é co-
berta de uma rede formada pelas linhas de commoçáo,
contendo essas fontes por onde se esgotáo os productos
do seo laboratório interno e fechadas ou impedidas de um
modo qualquer esses benéficos esgotos, logo começáo os
tremores c convulsões em toda a linha e para felicidade
nossa o Brasil forma uma malha dessa grande rede tendo
por defensores contra as concussões no occidente. os Andes
e no norte as montanhas de Parinje. Este nosso isola-
mento dos terrenos frequentemente abalados , é ainda
marcado por uma circumstancia curiosa que mencionare-
mos porque algum dia poderá ser aproveitada com van-
tagem por algum poeta, e vem a ser o seguinte : os bo-
tânicos estudando a distribuição geographica das plantas,
viram que certas famílias se reúnem de preferencia em
regiões limitadas, attendendo a isto lembráram-se elles de
dividir a superfície do globo, sem a menor intenção de
— 143 —
offender nacionalirtaiJcs, em diversos reinos e para facil-
mente recordar os nomes dos viajantes qae o exploraram,
os repartiram amigavelmente entre si, assim o norte do
Brasil forma parte do reino dos urumbebas e zaborandis
pertencentes a Jacquin, o centro, que é o dominio dos co-
queiros, quaresmas, c pixiricas, sob a direcção de Mar-
tins ; o sul em lim ó o reino synanthereas arborescentes,
vulgo das candeias, que foi confiado a S. Uilaire, estes três
reinos tem por limite ao poente e ao norte o reino das
quinas (cascas febrífugas bem entendido) de modo que se
acham por elle abraçados, e o chefe doesse reino ó um dos
principaes perscrutadores de terremotos , o Sr. Alexandre
deHumboldt. Ora d'essa nossa posiçSo especial concluímos
em primeiro lugar que o Brasil provavelmente aindu não
teve centro de commoçõcs, em segundo lugar temos a favòr
d'essa nossa deducção a falta completa de vulcões activos.
e se os ha extinctos não sabemos, pois faltam explorações
que o provem. Quanto aos numerosos montes encantados
que por ahi abundam, sempre teremos por fabula toda
historia íjue d'ellesse refira em quanto não forem estuda-
dos em regra : doesta espécie são o morro do estrondo no
Rio Grande do Norte onde se ouvem trovões subterrâneos,
e que tem no seo cume um rodamoinho de arôa. O sumi-
douro em Minas que as vezes fumega (algum fogo de qui-
lombolas) ou o cerro de Butucarahy no Rio Grande do Sul ;
o qual fumega no verão, ronca como tiro de grosso canhão.
e sobretudo em noites claras e serenas expelle uma exhala-
çáo que ao cahir no chão estoira. Segundo me consta o
Dr. Frederico Sellow subiu este cerro e nada encontrou
de volcanico. Também S. Catharina e S. Paulo tem as suas
montanhas tonantes, n'esta ultima provincia é provável
(fíie os ruidos sejam produzidos pelas catadupas subterra-
- 144 —
neas do rio Tiett', e visto o som na terra propiígar-se a
grandes distancias, como abaixo veremos, é possível que
seja ouvido em montes bastante afastados do rio.
Se as agoas thermaesde Goyaz Minas, Paraná e Santa Ca-
tliarina, devem a sua elevada temperatura a acções volcani-
cas, ou a decomposições chimicas ainda resta averiguar,
e é cousa que não depende de sciencia transcendente.
Em Minas existem tradições de ter-se fendido em vários
lugares á terra e as vezes com estrondo e ter-se ao mesmo
tempo sentido forte cheiro d'enxofre : não cremos também
que este phenomeno seja vulcânico, pois terreno argiloso
depois d'uma aturada sêcca pôde rachar muito considera-
velmente, e qualquer phosphorescencia, qualquer vestígio
de ozon que se espalhe no ar dà vasta matéria para as in-
venções da superstição popular ; pôde também n'alguma
camada inferior se achar uma porção de pyrites em de-
composição, o que desenvolve calor suBiciente para inílam-
mar madeiras, e sobre a massa quente cahindo rapida-
mente alguma porção d\igoa infdtrada se reduz logo a
vapor, rompe pelo terreno levando comsigo algum acido sul-
furoso dando o cheiro d^enxofre. Oa finalmente pode ainda
essa tradição ser algum fragmento do terremoto de Lisboa,
que vendo-se o narrador, que o apanhou, obrigado a dar-
Ihe patri:i, fal-o em o primeiro lugar que lhe occorre a
memoria. Em quanto pois se não averiguar o quanto existe
de real em todas as mencionadas tradições, c phenomenos
sustentaremos a nossa asserção emittida.
Em terceiro lugar nos assiste a circumstancia da falta de
uma tradição ainda que obscura entre os indígenas, os
quaes conservam a memoria d'um deluvio, o (jue é acon-
tecimento de nmito menos i^erigo do que um terremoto
— Wi —
ora regra, pois aunuacia-se com anlecedeuciu, o sendo de
uma extençiío como se costuma suppôr não vem por certo
de súbito como as vezes as inundações cujo circulo activo
sempre é limitado. Agora de passagem seja-nos permittido
notar que duvidamos bastando da existência de um diluvio
no Brasil em tempo histórico, pois já em outro lugar ti-
vemos occasião de mostrar que os taes chamados terrenos
alluviaes das nossas formações graníticas são justamente o
contrario do ijue se suppõe. c que nunca uma das molécu-
las que as compõe se achou suspensa n^agoa, além d'isso
a salvação do Deucalião c da Pyrrha americanos n'um co-
queiro é bem pouco lógico, assemelha-se a alguma d^essas
edificantes lendas com que os Santos Padres convertiam
os Índios.
Se o Brasil antes da descoberta foi re.ilmentc tão povoado
como no-lo asseveram os historiadores, por ex. NieulolT
o qual nos conta que em 1545 só o Rio Grande podia apre-
sentar em campo um exercito de 100,000 homens grande
estrago por certo n'elles faria algum notável terremoto,
assim ao menos devemos concluir por analogia dos factos
conservados pela historia, dos quaes citaremos alguns no-
táveis. Assim no anno de 5á6, 200.000 almas perderam
advida na Syria e Ásia menor, em 1693 pereceram 60,000
habitantes na Sicilia debaixo das ruinas de Catania e 49
povoações, outros tantos em 1755 em Lisboa, em 1794
40,000 foram sepultados nas ruinas de Anito; igual nu-
mero nos terremotos de Uiobamba em 1797, em uma só
noite 18 villas e numerosas aldèas foram arrazadas na
Syria não escapando uma só cabana em 18ái2, esse mesmo
anno em que o Chile foi tão fortemente abalailo, a cada
passo vem')s mencionadas catastro[)h<Js d'esla natureza
JAMilllO. 19
— 146 —
na historia tias republicas americanas do pacilico, em Ve-
nezuela, Java, as Philippinas, etc, e se no Brasil tivesse
tido lugar algum terremoto como os que acabamos de citar
infallivelmente os selvagens conservariam alguma tradição;
mas debalde a procurámos.
Ainda outros são os effeitos dos terremotos que deixam
signaes indeléveis para marcar a sua passagem na memo-
ria dos homens, e nas rígidas penedias que mais resistem
a voracidade do tempo ; doesta natureza são os vehementes
choques vindos do interior da terra, e dirigidos contra ura
ponto de sua superfície, sublevando-a com força de modo
a arremessar edifícios, pedras e homens a alturas superiores
a 150 pjilmos, como se deo em Riobamba. N'esse movi-
mento a terra se abre como em muitos lugares, e as fendas
produzidas, engolem homens animaes arvores para depois
vomital-os emprensados como as valiosas relíquias e pa-
drões de gloria de um botânico, como em 1783 acontecia
frequentemente na horrorosa catastrophe da Calábria ; ou
bem preserval-os como o cães de Sodré todo de mármore
em Lisboa, o qual foi submergido com 4.000 pessoas (es-
capando só a que as contou) as quacs sobre elle buscavam
refugio para em vindouros séculos reapparecerem petrifica-
das talvez no meio dos restos dos possantes saveiros, o que
dará insano trabalho aos sábios geólogos dos quaes BufTon
dizia que estavam nas mesmas circumstancias dos antigos
augures que se não encontravam sem se rirem ; e Licthen-
berg reunindo os conhecimentos geológicos do seo tempo,
observa que posto não oflereçam material para a historia
da terra, ao menos contribuem muito para o esclareci-
mento da historia dos desvarios do juizo humano, não cabe
essa critica á geologia de hoje em geral, mas no Brasil
afianço com toda sinceridade, que estamos no século de
%
— 148 —
charia, em todos os sentidos, ahi sj) houve comprador que
quiz fazer acquisiçáo barata da mesma ilha segundo me in-
formou pessoa sensata do higar.
Antes de enumerar os terremotos de que ha noticia no
Brasil (e as que vieram) e fazer sobre elles algumas consi-
derações, seja-nos permittido mencionar alguns factos
observados sobre a sua propagação para fazer abaixo appli-
cação,
As erupções abyssodimanicas manifestam-se frequente-
mente sobre uma extensa linha, lateralmente a ella, aterra
sobe e desce alternativamente à maneira das ondas do mar.
e como doestas em grande extençâo se propague o movi-
mento do solo, são essas elevações taes que as veges arvo-
res chegam a abaixar a copa até tocar o chão, e levantam-se
para produzir o mesmo phenomeno do lado opposto. A
estas oscillações que costumam ser repetidas não resiste
ordinariamente a consistência da terra pois produzindo as
phases uma dilatação e compressão alternadas, o resultado
são fendas etc, também muralhas desabam debaixo doseo
poderoso impulso ; as erupções centraes são apenas um
caso especial das lineares. Os effeitos mais devastadores da
terra undosa se dão quando uma vibração no transito en-
contra um obstáculo parcial, forma-se então redomoinho.
que desloca porções inteiras de terreno, transpondo lagos
d^om lugar para outro como na Calábria, ou edifícios como
em Riobamba ou torcendo arvores que se achavam juntas. A
propagação de ondas encontrando serranias não continua
por ser amortecida pelas lacerações profundas que se acham
na base doestas diz Humboldt : pedimos licença ao illustre
sábio para observar que também a diíTerença das massas
chocadas tem sua não pequena parte nisso, pois os terre-
— IÍ7 —
Licllienberg, a respeito de geolufçia. Mns voltando as com-
moções como ellns rompem a terra, também abrem roche-
dos c pedregosas serras deixando aberturas permanentes
em quanto áquellas comos desinoronamenlos e acc-imulação
de vegetação desapparecem. nas len las dos povos encon-
Ira-so sempre alguma siguilicação dada a esses indicios de
terremoto, a exemplo de um rochedo com profunda fenda
no littoral de Gaeta que ainda hoje é um signal de vene-
ração para os navegantes d'aqiiellas paragens, pois diz a
crença popular que ella foi aberta por um terremoto no
anno da morte do Salvador. Ora em nossas montanhas po-
derão haver fendas d'essas. que foram porem passadas
desapercebidas porque nenliuma tradição dos indigenas as
nota como reminiscência d'um plienomeno assustador;
pois como tal se devera consiilerar todo terremoto, do qual
Humboldt diz que varre de uma vez a nossa inabalável
crença na solidez do solo que pisamos, por isso é tanto
mais impressionavel nos entes cuja civilisaçáo está atrazada,
c até mesmo as feras profundamente se recentem, pois os
silenciosos crocodilhos do Orenoco, n'essasoccasiõescora
urros medonhos abandonam suas immersas moradias, a
procurar refugio nas florestas. Apenas encontramos uma
historia d'uraa pedra que com estrondo se abrira na rua de
S. Diogo na noite do 7 de Abril de 1831, e patriota houve
que nos asseverou ter sentido cheiro d'enxofre no campo
d'Acclamação, a única cousa que se ve éque poderia ter ha-
vido algum desmoronamento causado pelas chuvas, de que
mesmo hoje náo ha vestigio. Também não foi terremoto
que fez desabar o morro do Castello no tempo do Bitu, nem
tão pouco os recentes bramidos da ilha do Araújo cm qu(^
interveio aucloridade que sup|)5z (|ue em breve ella ra-
— Uí) —
moios baixos poderam lalvoz s r considerados uma camada
superficial, em quanto as montanhas forçoso é supjml-as
dotadas de profundas raizes c essa porçáo colossal de ma-
téria mesmo no seu interior pode se oppòr á formação
dos Cxinaes para escoamento dos gazes etc. que as mon-
lanlias também transmittem abalos provam os terremotos
que se notam nos Pampas e na Bolivia synchronos com os
do Chile. Também o Padre Ayres de Cazal nosreferc que
era Matto-Grosso se sentiu o terremoto que em 1740 des-
truio Lima e Calláo, o mesmo acontecêo com o grande ter-
remoto de Cutch em Í8i9.
Qpanto às distancias a que as commoções se transpor-
tam temos alguns casos muito notáveis, no dia da^destrui-
çáo de Lisboa sentíram-se abalos em Stockhohno, em Abo,
e no mar das Antilhas os marinheiros d^alguns navios fo-
ram arremessados a altara de i8 pollegadas, n^essas ilhas
o mar subiu consideravelmente assim como em New-York,
e as agoas do lago Ontário ; felizmente essas catastrophes
não perseguiram os nossos antepassados aquém do equa-
dor. Outro exemplo de propagação ainda mais notável foi
aquella produzida pelo terremoto do Chile em 7 de No-
vembro de 1837 que chegou até as ilhas dos navegantes,
ali em Opolu sentíram-se vários abalos nos dias 7 e 8 que
foram seguidos por movimentos violentos do mar : em
Owahn umas das ilhas de Sandwick só se sentiram as osci-
lações do nivel do mar, o qual em Ilawin chegou abaixar
14 palmos, mas rapidamente e!evou-se depois 30 acima da
praia. Mais facilmente que os abalos da terra percorrem
grandes estenções, os bramidos subteraneos e no chão
ainda mais rapidamente que no mar, de ordinário estes
rumores são devidos a erupções volcanicas. assim quando
— VM —
o Tamboró Smumbava entrou em actÍTidade em Í815 ou-
via-se na cidade Javaneza de Djakjukarta que d'elles dista
95 legoas, um violento estampido de canhão, que fez com
que se mandassem marchar tropas a toda pressa em auxilio
d'um destacamento visinho suppondo que elle tinha sido
atacado, fizeram-se também sahir embarcações para socòr*
rer navios qje se cria davanj signal de perigo. As deto-
nações do Conguina em Nicarágua em 1834 foram ouvidas
como uma forte trovoada em S. Fé de Bogotá em que dista
d'ella 350 legoas. Os estampidos do S. Vicente nas pequenag
antilhas em 30 de Abril de 1812 ouviram-se até Carraças,
Calabozo e mesmo nas margens do Apure, isto é, a 120 le-
goas. O ruido do Ca topaxi 1744 ouviu-se em Honda que
dVlIe dista 109 legoas, e está abaixo d'elle 1 7,000 pés. Estes
ruídos subterrâneos também se manifestam sem apparente
influencia de um vulcão, como em 1744 em Guanaxuato,
repetíram-se por muito tempo sem que houvesse mesmo
o menor estremecimento nem nas montanhas nem nas
minas de 2, 300 palmos de profundidade, também em 1822
até o anno seguinte a ilha dalmatinameleda foi o campo de
trovoadas subterrâneas mui frequentes, e só raras vezes as
detonações eram acompanhadas de tremor de terra.
No Chile frequentemente a acção dos terremotos produz
uma considerável elevação da terra acima do nivel do mar.
A mesma causa attribue a elevação do templo de Serapis
perto de Nápoles; cujas columnas carcomidas do bicho
naostram ter-se levantado 36 palmos. Também a costa
Oriental da Scandinavia mostra um subir continuado que
é mais forte em Tornea.
Volcões extinctos são muitas vezes indícios mais que
certo d' um plutónio gigante dormindo dfibaixo de frágil
- 151 -
crosta terrestre, elles sáo as vedettas avançadas que an-
nunciam o accordar terrível n'um dia indeterminado. No
tempo de Plinio o Vesúvio passava por um volcáo extincto
na sua cratera pastava o gado e nas encostas vegetavam
viçosos mattos, e na base floreciam Herculano e Pompeia
sabemos todos qoáo horroroso foi o seu acordar. O vene-
rando Ararat que no sagrado Epos mozaico nos é apresen-
tado como o ponto em que foi salvo o género humano»
nunca por historiador algum foi accuzado de ter lançado
ao menos gazes, apezar de sua natureza volcanica. O dia
20 de Junho de 1840 veio destruir a reputada tranquilidade
patriarchal doesse monte. Anniquilados foram n'um momen-
to o convento de S. Jacob a aldeia Arghuri e numerosas
povoações até omar Caspio, com todos os seus milhares de
habitantes. Arghuri opulenta estava situada n'um valle for.
mado por penedos que se elevavam até 9,000 palmos, uma
fonte a abastecia comagoas claras e cristallinas, e na maior
paz repousavam aquelles lugares encostados ao Ararat, eis
que no dia marcado antes do pôr do sol, convulsões rápidas,
e uma trovoada que assombrou toda Arménia, annunciou o
principio da catastrophe. e em poucos momentos no fundo
do valle abriu-se uma medonha furna vomitando agoa e
lodo fervendo, vapores, enormes calháos, no fim d^uiaa
hora cessou o bombardeamento; de aldeia, convento cam-
pos, e pomares, nenhum vestigio restava, só na bôcca do
valle existia uma enorme muralha formada dos projeclis
c do lodo que as entranhas da terra vomitaram. Essa nova
bacia foi recebendo as agoas das chuvas, gelos e neves que
se derretiam, e no fim de quatro dias a pressáo vencêo o
dique e innundou os campos, levantou em vários pontos
represas de 150 palmos de altura formadas de cadáveres,
— I;í2 —
lerra arvores c pedregulhos que fechavam oleilodo Karasu
e Araxes. O primeiro destruio em Erivan Bajarid e outroá
lugares mais de 6,000 prédios, e nas margens e alveos dos
mencionados rios levantàram-se repuchos lodacentos, re-
domoinhos, e fendas lançando gazes ; todo paiz circumvi-
sinho foi transformado n'um vasto pântano e depois de
sêcco, encontrou-se o valle do Arghuri coberto em muitos
lugares até altura de 300 palmos de fragmentos de roche-
dos, e nem da aldeia, nem do convento houve mais notícia.
A cristallina fonte foi transformada n'uma fétida corrente
d^agoa sulfurosa. Depois o Arara t calou-se, e nenhuma
labareda d'esde então indica o seo perigoso caracter.
As formações geológicas nenhuma influencia tem sobre
os terremotos ; ellas apparecem nos terrenos graniticos,
Ião bem como nas formações de transiç^áo, nos cretáceos
terciários, e nos puramanle volcanicos; a única cousa que
se dá ó ser o choque quebrado pela resistência das ro-
chas. Assim Messinaem 1783 sollreu muito mais n'aquella
parte cuja base era alluviáo marinha, do que a (}ue mais
no interior assentava sobre granitos. A parte occidental
de Lisboa erigida sobre calcário hypuritico e basalto pouco
soílrera em quanto a outra sDbre camadas terciárias foi
bastante abalada, e a terceira que repousava sobre marg i
argilosa foi completamente destruída, o mesmo aconteceo,
com as visinhanças, Queluz e Odivellos, cuja base são ba-
saltos pouco solfrêram, em quanto Sacavém fundada sobre
terreno terciário foi consideravelmente prejudicado. Em
1843, a 8 de Fevereiro conta-nos Deville todas as locali-
dades da Guadelupe, c sobre tudo Poinle e Pitres que
surgiam de margas e recifes de coráes, foram destruídas em
ijuanto, as povoações com base mais solida licáram bastante
preservadas.
Vamos agora examinar o que encontrámos no Brasil, c
como applicar-lhe os factos citados.
l .^ Vasconcellos Chronica da Companhia de Jesus livr.
86, pg. 233 em 1560 diz « neste comenos se levantou so-
bre todas aquellas villas de S. Vicente, uma tormenta a
mais desusada que viram os homens havia muitos tempos.
De improviso junto ao pôr do sol, se começou a desfazer o
céo em ventos chuvas raios e trovões, com espantoso es-
trondo e tremor de terra horrível, que parecia desfazcr-se
a maquina do universo toda, e não com pequeno estrago
porque levava pelos ares as arvores as casas e os próprios
homens aonde muitos pereciam !! etc, n^uma confusão
d esta natureza podem pequenos abalos locacs ser pro-
duzidos, alem d'isso bastante abalado deve estar cm seme-
lhantes occasiões o espirito d ;s testemunhas para ter o
necessário sangue frio aíim de relatar os factos sem exa-
gerarem, por isso essa noticia tão vaga para nós pouco
valor tem.
2." Rocha Pitta no seo livro da America Portugucza
(Livr. 96, pag. 124) menciona a lagoa de Jacuné que tem
6O0 braças da qual ha tradição fora uma aldeia que alli se
sovertera. Balthasar da Silva Lisboa (Ânnacs do Rio de
Janeiro § H pag. 365, e §25 pag. 380 do Tom. l.«) men-
ciona a Manditiba, uma aldeia de indios n'aquella altura.
O nosso consócio o Sr. Norberto de Souza e Silva mandou
pedir informações nas visinhanças e com ellas nada adian-
tou, outro tanto nos acontece com um facto táo vago, e
tão isolado que não podemos atribuil-o de modo algum a
effcitos de forças subterrâneas, quando muito alguma es-
cavação devida as agoas.
3.*^ O Padre Ayres em a Con^graphia Brasílica (Umi. i.'
JANKIRO. 20
— 154 —
pag. á(H) diz « a ii de Seplcmbro (de 1744) ao meio dia
e tempo claro, se ouviu um trovão subterrâneo, e immc-
diatamonle tremeo a terra dando vários balanços compas-
sados, que causaram grande susto em todos os lugares do
Matto-Grosso e Cuyabá. Já n**esse temi>o dominava a sêcca
que durou até 49. Todos os maltos arderam e na atmos-
l)hera só se viam nuvens de fumo, todos os viventes pade-
ceram fome e outras calamidades, do que morreo uma
grande parte. Esta noticia ó importante, porém nâo é
suíliciente i)ara nos provar a existência de um foco volca-
nico iraijuella provincia, somos antes levados a crer que
esse tremor de terra e estrondo são devidos a alguma erup-
ção do Sorota ou algum outro vulcão da extremidade da
serie chilena. O Presidente de Matto-Grosso cita osannaes
da camará do Cuyabá, ou antes a memoria do advogado
José Barbosa do Sá e refere-se ao anno de 1747 (24 de
Seplembro) diz que a terra deo três balanços. —Parece que
no anno houve erro de cópia.
Outros indicies ainda ha de terremotos [). ex. n uns
programmas da sociedade brasílica da academia dos re-
nascidos fundada no Rio de Janeiro em 1759, apparece um
com o seguinte texto : Porque causa no Brasil não são gran-
des e fretjuentes os terremotos como nas mais partes do
mundo? e mais nâo disse, nenhuma menção apparece so-
bre os dados que possuíam. \ brilhante memoria do Dr.
Vieira do Couto nenhuma confiança, nos inspira, pois n'eila
declara elle ao governo de seu tempo, ([ue tinha alcançado
mais (}ue os alchimistas d^outr^ora, visto elle ter transfor-
mado no soo cadinho ferro em cobre.
As outras tradições existentes provam ter havido terre-
motos no littoral, e muito principalmente em duas zonas
— Vio —
limiladns lima n») an^iilo foninJo |)i'lt» Wu) da lYal 1 1» o
Oceano, c a outra do Espirito Sanlo alé o iscará. Ksla ul-
tima talvez se reduza unicamente a terreno comprehendido
entre a bifurcação da serra de Ipiassaba. que forma as ser-
ras de Araripe Barlmcêna e hnlmràra.
Na primeira zona entra Montevideo onde ha noticias de
dois terremotos um antigo cuja dacta nâo podemos ainda
obter, c talvez seja o mesmo (pie se sentiu em Porto Alegre
em 1812 ou 13 de que teve abondade de nos dar notícia o
nosso consócio o Sr. António Alves Peiuíira C mija ; os
elTeitos doesse tremor se reduziram a (piebra de garrafas e
louç^as nas prateleiras, tanto neste como no de ISÍil o mar
em Montevideo subiu consideravelmente, como o circulo
d'accão fosse pequeno c a sua acção máxima noiittoral.
somos levados a crer que essas commoções vieram |)ropa-
gadas do longe, talvez das torras antárcticas onde existem
vulcões, ou em todo caso acções submarinas (pie vieram se
porder nas praias do continente.
Da provincia do Kspirito Santo existem (Uias cartas a 1.^
rcferindo-se a uma memoria do fallecido Luciano da Gama
Pereira que menciona ter havido um só terremoto n'a(piella
provincia, no 1.^ de Agosto de 17G7 ás 8 horas da noite.
a 2.* do commendador Josó Francisco Andrade e Almada
Monjardim que cita o mesmo dia poróm dá oanno de 17(50
o que será erro de C('>pia, por(3m que pouco damniti(;ará o
caso, pois falta o mais importante que seria mencionar at(3
onde se sentiu o terremoto etc.
Em Pernambuco ouvimos dizer que também se sentiu
uma branda commoção. Será por ventura a mesma que em
8 de Agosto de 1808 se espalhou pela maior parte da Pro-
vincia do Hio Grande do Norte? O Juiz de Direito João
— loG —
Valerilino Dantas Pingo refero sobre ollo osegainlo: no
anno tlc 1808, cm 8 de Agosl;) pelas 8 horas da manhã na
povoarão hoje cidade do Assú ouviu-se um grande estron-
do vago, a maneira de um trovão subterrâneo, que se di-
rigia de Lesti* a Oeste, e ap:')s elle sentiu-se tremer a terra
por algum tempo, abalando as pessoas q le mal podiam
soster-se em pó, e causando choque nos vidros e louças
que buscavam sahir dos lugares cm que haviam sido
postos. — Este terremoto foi sentido em todo o sertão do
Assú, da costa cm busca do sertão até mais de 20 legoas,
e ao longo da costa até o sertão do Piauhy ; onde se disse
que attribuiu-se o terremoto a castigo , por haverem
alli umas mulheres torrado uma criança pagã, pondo-a
dentro d'um taxo sobre brazas para fazerem feiticeria corá
suas cinzas !— Passado o terremoto conta-se que ficara o
céo nublado de cinza espessa que oíTuscára a luz do sol ; c
que o povo tomava por castigo mandado por Deos tudo,
ou por signal de grande acontecimento tudo quanto aca-
bavam de observar.— E sem duvida não foi pequeno acon-
tecimento chegar nesse anno a familia real ao Brasil. O ul-
timo phenomeno da maneira como é relatado, de cobrir-
se o céo de cinza, é muito commum nas erupções volca-
nicas; mas não os havendo activos n\aquellas paragens,
talvez fosse alguma forte cerração. Cartas de outros luga-
res da mesma Província concordam com a data, estrondo c
tremor de terra sem mais osplicações só a camará muni-
cipal de Porto Alegre diz que se ouviram estrondos poste-
teriormenle, porém sem commoção.
O Presidente da Província do Ceará Dr. Joaquim Vilella
de Castro Tavares diz (|uo al;i só no dia 2 de Dezembro de
185^ de 1 para 2 horas da tarde ouviu-se na cidade do
— IS7 —
Aracily ninjíranJe estrondo o qiinl foi acompanhado d'um
ligeiro tremor de terra que augmentou-se para parles do
Wmo de S. Bernardo fazendo raxar a terra em algnns
lugares.
Em iode Janeiro do corrente anno diz-nos a camará
municipal da villa de Touros no Rio Grande do Norte que
pelas 7 horas (da manhã ?) ouviu-se ura estrondo que pa-
recia ser no ár da parte do Leste ; e logo no mesmo ins-
tante um tremor na terra que chegaria a durar um minuto
pouco mais ou menos, e deste phenomeno aconteceo tre-
merem as paredes das casas, erigirem as telhas das mes-
mas, assim como algumas móbil ias sem que fizesse estrago
algum nem mal a nenhum vivente, isto pois foi na dis-
tancia de duas legoas cm circunferência onde percebeo-se
o mesmo effeito.
Segundo essas noticias parece fora de duvida que no Rio
Grande do Norte houve com effeito terremotos, e que todos
vinham do lado do Oceano, e precedidos de estrondo, o que
nos induz a crer que elles podem ser devidos a alguma
erupção vulcânica submarina, o que não deixa de ter
sua probabilidade pois a duzentas legoas d'aquella costa
Krusenstern em 1803 e pouco mais distante Ferguson
em 183G verificaram a existência d um banco com volcões
immersos activos, e como vimos acima ha exemplos de
propagação de som e commoçóesa distancias ainda maiores.
O terremoto do Espirito Santo da mesma forma pôde vir
do Oceano pois a 180 legoas distante de suas praias existe
a peqaena ilha da Trindade e mais Assumpção que ambas
sáo volcões extinctos, e como jà vimos não ha que fiar na
tranquillidado doestes, tanto mais que fronteiro ás costas
do Brasil veriíicou-se ler o mar uma profundidade de
— 158 —
â7,G00 pés, o que dá sobre cada palmo quadrado no fundo
uma pressão de 25.000 arrobas, ora por qualquer pequena
communicaçilo que por um acaso se possa estabelecer en-
tre o fundo do mar e agum canal igneo (Pessas mesmas
ilhas, a agoa será injectada com violência, e encontrando
corpos incandescentes se transformara em vapor com a
expansão de alguns milheiros de atmospheras a qual pro-
curará sabida, e poderá achal-a na nossa visinhança mais
facilmente que em outros lugares.
Do (jue liça dito veriíic;nnos a nossa sup|>osição ^nitlida
que no Brasil realmente não parece existir foco subterrâ-
neo algum, mais sim na sua visinhança, no Oceano
Atlanthico.
Um facto bastante notável que merece ser averiguado é
uma sublevação do terreno da bahia do Rio de Janeiro: em
S. Christovão vimos um lugar que parecia ter sido ba-
nhado antigamente pelo mar e procedendo a um nivella-
mento achámos esse porto 15 palmos acima das altas ma-
rés. A rua do Sabão da cidade nova apresenta dois palmos
abaixo de sua superfície areia com conchas, e as altas marés
ainda ficam consideravelmente abaixo doesse nivel. Para
porém verificar se realmente existe esse levantamento da
costa é mister fazer observações em pontos numerosos.
Vimos também rochas volcanicas que nos asseveravam
ser de S. Catharina ; se realmente assim fôr, teremos um
ponto de apoio para attribuir á fricção volcanica, a tempe-
ratura elevada das agoas thermaes que alli se encontram.
É porém necessário que também isto seja verificado. Se
realmente alli se encontrar a má visinha que por ora só
queremos suppòr, então poderemos contar com o outro
Ararat n'aquella Provincia.
— 159 —
De tudo quanto liça dito concluímos: 1." que realmente
houve no Brasil terremotos inoffensivos . a maneira
d'aquelles que os peruanos accolhem com gosto, como
agouros de chuvas fertilisadoras. 2.® Que esses terremotos
sô foram emprestados, que por ora não os temos próprios ;
3.® Que apezar d'isso não estamos livres de peiores.
Rio de Janeiro, 24 de Novembro de 1854.
Dr. G. S. de Capanéma.
«^■0 B»'
TYP. IMPARCIAL DE J. M. N. GARCIA.
nUA DA CARIOCA N. 34.
í
REVISTA TRIMENSAL
DO
IHSTITUTO BISTOBICO, 6E0GBAPHIC0 E ETHNOGRiPHlCO DO BRASIL.
i4@fOf«^i
t.o TRIUIESTBE HE MW.
Pt LO
SR. PHEUPPE JOSÉ PEBEIRÂ LEAL
SOBRE OS ACOMFXIMEMOS POLÍTICOS (iUK TIVERAM LIGAR
NO PARÁ EM 18áá— I8á:{.
As mudanças politicas operadas em Lisboa no dia 15 de
Septembro de 1820 foram a causi motriz dos successos que
se vão descrever e deram lugar a que Folippe Alberto Pa-
troni, estudante que passava as férias n^aquella capital,
possuiado-se de enthusiasmo pela liberdade do seu paiz,
interrompesse os seus estudos, se embarcasse para o Pará,
onde chegou em Novembro d*aquelle anuo, e astucioso, e
de caracter inquftto empregasse os meios c conseguisse
formar um partido e dispor o povo e tropa para procla-
marem no dia i.^ de Janeiro de ISH a Constituição que
fizessem as cortes Portuguezas.
Julgando-se por isto com direito a ter ingerência nos ne-
gócios da provincia estimula-se por não ter sido contem-
plado Membro do Governo Provisório, que então se ins-
talou ; e não tendo sido provido no emprego publico, que
sollicitou, começou a cabalar contra o Governo, que para
dcsembaraçar-se Av sua influencia o mandou para Lisboa
— 102 —
com o titulo (te Procurador, ao Sollicitador dos interesses
da província, dando-lhe um ordenado suflicientc c corres-
pondente à sua qualidade.
Chegando áqueUa cspiíàl preiendeo ser introduzido nas
cortes como Deputado, mas sendo repeli ido principiou a
forjar planos e conccbeo o projeGlo da liberdade dos es-
cravos, o qual fez imprimir no n.® ÍO do Indagador Cons-
titucional e em separado ; e o maodou distribuir pela gente
de còr, que pela sua leitura concebco i<leias e esperanças
de liberdade e a dispoz para a Independência, para que
elle e outros começavam a trabalhar.
Patroni, que até então era amado por grande numero
de Brasileiros, foi desde aquella época considerado pelos
escravos como seu redemptor, e ao mesmo tempo que es-
palhava pelo Pará os papeis que fazia imprimir em Lisboa,
procurava desacreditar o Governo da sua provincia e se-
mear entre os seus habitantes a descordia por meio de um
impresso que intitulou— Circular.— Foi um dos primeiros
paraenses que, logo depois da revolução portugueza, co-
meçou a exaltar o espirito de seus palricios. dando-lhes es-
peranças de Independência, inculcando-se como único ca-
paz de a dirigir e mandando para o ParàT)roclamações para
dispor os ânimos à Independência.
Os três irmãos Vasconcellos, que foram presos e remet-
tidos para Portugal, eram dos seus correspondentes os
que mais se distinguiram em propalnr taes ideias e espa-
lhar os escriptos incendiários que lhes mandava e que
eram causa de que elle não ousasse voltar à sua Pátria em-
quanto existissem no Governo os Membros da Junta Pro-
visória, que elle alcafi(;ára desacreditar no animo dos habi-
tantes do Pará.
— IG3 —
Onando nas cortes se tractoii do projecto de organisarão
dos Governos Ultramarinos, Patroni tornou a julgar-se
com direito de ser nomeado Membro do Governo que de-
cretassem ; redobrou seus esforços e correspondências, e
só esperou a publicação do Decreto do 1.^ de Outubro de
1821 para regressar ao Pará. onde suas esperanças foram
novamente illudidas, náo obstante os exforços emprega-
dos pelos seus amigos, para que fosse eleito Membro do
Governo Provisório ou Deputado ás cortes: tal era a in-
fluencia que ainda n^aquelle tempo conservavam os Portu-
guezes I Entretanto Patroni náo desanimou e electrisando
os paraenses pela esperança de uma próxima Independên-
cia augmentou consideravelmente o numero de seus ami-
gos e prosélitos.
Esta era a situação politica do Pará quando em Abril de
1822 chegou o Governador das Armas José Maria de
Moura.
No dia immediato ao da sua chegada a Junta Provisória
lhe requisitou que puzesse ás suas ordens um corpo orga-
nisado com as mesmas attribuições que em Lisboa se de-
ram á Guarda Real de Policia; esta requisição, que não
foi satisfeita por falta de authoridade. foi a origem da des-
harmonia entre a Junta e o Governo das Armas.
N'este tempo os partidários e amigos de Patroni deram,
sem que a Junta o impedisse, em honra da Independência,
uma ceia. em que só se serviram iguarias brasileiras e se
lançaram pelas janellas as Européas : um dos principaes
authores deste festim foi o Arcediago da Sé, que foi victima
de uma indigestão.
Em Maio, Patroni constituiu-se redactor do periódico
Paraense, e chegou do Rio de Janeiro o Marechal de Campo
— IG4 —
Manuel Mnrqiies d^Elvns Portugal levando impressos e a
noticia da próxima chegada da escuna Maria da Gloria cora
ordem do Piincipe Real para a eleição de deputados ou
Procuradores das provincias nas côríes do Rio de Janeiro :
em Junho verificou-se a chegada da escuna ; mas não dando
a Junta publicidade aos olTicios que tinha recebido, os
partidários da Independência se prevaleceram da conducta
do Governo para activamente chamar ao seu partido a opi-
nião dos habitantes da capital.
O Governador das Armas, que collocado no Pará por Sua
Magestade Fidelissima nâo podia obedecer aos Decretos do
Príncipe Real, e cuja opinião era contraria «^ Independên-
cia, vendo o silencio que a Junta guardava sobre os ofB-
cios que tinha recebido do Rio de Janeiro, e considerando
que a falta de uma prompta explicação devia augmentar o
numero dos partidários <la Independência, chamou os com-
mandantes dos corpos para lembrar- lhes seus deveres
para com o Governo Portuguez, e conseguiu que todos no-
vamente protestassem que os corpos de seus commandos
jamais se afastariam da obediência que deviam ao Governo
de Portugal.
A publicação desta conferencia, que foi communicada a
todos os corpos, não só amorteceu o enthusiasmo dos in-
(lepeniientes como forçou a Junta a convocar para a ma-
nhâí^ seguinte um conselho, a que assistiu o Governador
das Armas, que teve o prazer de ver repellidas as preten-
ções do Governo do Rio de Janeiro e dos partidários da
Independência, osquaes, faltando-lhe o apoio da tropa, pro-
curavam desfazer-se do Governador das Armas. A maioria
da Junln, e com especialidade o seu Presidente, que fa-
vorecia os independentes necessitando chamar a si a opi-
— 105 —
niíU) publica, julgou quo n imprensa deposilnda nas máos
de Palroni o seus amigos era o melhor meio para conse-
guir o seu fim e destruir a força moral do Governador das
Armas, e por isso concederam decidida protecção aos re-
dactores do Paraense.
Tendo sido Patroni preso c remcttido para Lisboa em
virtude de ordem d'aquella corte passou a redacção do pe-
riódico aos enthusiaslas cónego Joáo Baptista Gonçalves
Campos e José Baptista da Silva, que, mais enérgicos,
desenvolveram com mais amplitude a desunião entre Bra-
sileiros c Portuguezes e começaram a aliciar a tropa e a
fazer com que os seus comprovincianos ameaçassem os
Portuguezes com expulsão do paiz e demissão dos empre-
gos públicos. A Junta empenhada em hostilisar ao Gover-
nador das Armas protegia e instigava os redactores do Pa-
raense a escreverem contra clle por acredital-o firme na
resolução de resistir â projectada independência e de im-
pedir que a Junta se correspondesse directamente com as
authoridades que lhes eramimmediatamente subordinadas.
Em Setembro de i 822 houveram denuncias de que se
projectava uma revolução para se installar Um Governo
Independente de Portugal : a Junta prevalecendo-se d'ellas
insistiu em vão pe!a creação do corpo de Policia. Crescen-
do as probabilidades do rebentar a revolução denunciada,
alguns Europeos resolvêram-sc a apresentar ao Governa-
nador das Armas denuncias escriptas, que foram pela
Junta mandadas ao Ouvidor, que fez prender os accusados
e pronunciou o cónego João Baptista Gonçalves Campos,
Capitão-Mór Amândio Pantoja, Tenente-Coronel de Milicias
Domingos Simões da Cunha, Procurador de causas João
Marques de Mattos e outros, que em Novembro foram
- IGG —
soltos por acconião <la Jiint;i de Justiça, de que era Presi-
dente e da Provisória, o Doutor em medicina António Cor-
reia de Lacerda protector dos independentes.
A soltura destes liomens junta ás noticias do que se pas-
sava nas províncias do Sul animou os independentes, en-
corajou o Panense a redobrar de energia, desacoroçoou
os (|ue pretendiam jurar na devassa, e fez o Governador
das Armas tomar medidas para rebater a revolução que se
dizia dever apparecer em Dezembro, e para separar da ca-
pital alguns ofíiciaes da primeira e segunda linha que cons-
tava estarem envolvidos e terem o projecto de assassínal-o.
Em fins de Dezembro de 1822, ou principios de Janeiro
de 1823, chegou a noticia da revolução do Ceará ePiauhy.
a qual encorajou os Paraenses de tal modo que o Governa-
dor das Armas julgou difficil conservar esta província obe-
diente a Portugal sem o auxilio de tropa europea, que já
por mais de uma vez tinha directamente pedido ao Ministro
Portuguez por estar convencido de que a Junta Provisória
protegia a tendência dos Paraenses.
Por esta épocha se jurou a Constituiç-áo : os Brasileiros
desenvolveram toda a energia e mostraram sua populari-
dade na eleição para a nova camará de que nenhum euro-
peo foi eleito vereador: o acto da posse dos novos Sena-
dores foi um verdadeiro festejo triumphal: por toda a
parte se ouvia t Está cliegado o tempo dos Brasileiros mos-
trarem o qtie são eo que podem ; a iwssa camará constitucio-
nal é composta de gente que ha de fazer vêr aos europeos que
o paiz é nosso e que elles são estrangeiros. > Isto, e cousas
semelhantes repetidas publicamente pelas ruas e praças,
inquietou os europeos, que mais se exasperaram vendo
que todos os membros da nova camará se apresentaram no
— 167 —
acto (la posse com ramos e luvas verdes, o fòram para suas
casas acompanhados por immenso povo, que lançava ao ar
gyrandolas de foguetes. Estes festejos continuaram pela
noite e talvez produzissem desordens si o Governador das
Armas náo fizesse logo reunir aos quartéis as praças de
linha e nâo lançasse fortes patrulhas pelas ruas da cidade.
Os oílicios, que por este tempo se receberam do Go-
verno do Maranhão descrevendo o estado daquella pro-
víncia e pedindo auxilio de tropa e a noticia de se haver o
Príncipe Real acclamado Imperador do Brasil, causaram
no animo dos Brasileiros uma impressão, que só se pôde
conjecturar: e si nâo fossem as medidas de ante-mâo to-
madas pelo Governador das Armas, em fins de Janeiro ou
princípios de Fevereiro, teria apparecido a revolução para
a Independência que a Junta Provisória parecia proteger.
Pensando o Governador das Armas que a segurança do
Pará dependia da conservação do Maranhão, que estava
em risco de succumbir ao poder dos independentes do
Ceará e Piauhy. embarcou e fez seguir no dia 16 de Fe-
vereiro para aquella província 130 praças da melhor gente
que havia nos diminutos corpos de primeira linha, que
estavão fatigados pelos contínuos alarmes.
Os commandantes dos corpos sabendo que os Brasileiros
alicia vão seus soldados e que a Junta Provisória dominada
pelo seu Presidente, Doutor Lacerda tolerava a exaltação
dos independentes e da imprensa, projectaram depor os
membros da mesma Junta. Não havendo em cada corpo
força sufflciente para completar um quarto de guarda, no
dia 1.® de Março de 1823 era o serviço detalhado por todos
elles e reunidos no largo do Palácio para se tirarem os
contingentes, os commandantes mandaram os oCQciaes in-
— IG8 —
feriores intimar aos Membros da Junta o da nova camará
constitucional que não sahissem de suas casas até segunda
ordem, e aos antigos camaristas e a todas as authoridades
civis, ecciesiasticas e militares, monos o Governador das
Armas, para que comparecessem no palácio das sessões da
Junta Provisória. Reunidas estas authoridades e lido um
manifesto explicativo das causas porque depunham a Junta
Provisória, convidaram a camará, authoridades, corpo do
conunercio e povo alli reunido para elegerem uma nova
Junta, que por unanimidade licou composta do Governa-
dor (lo Bispado Romualdo António de Seixas para Presi-
dente, do Oflicial-Maior da Secretaria do Governo Geraldo
José de Abreu, do Juiz de Fora Joaquim Correia da Gama
Paiva, Francisco Custodio Correia, Joaquim António da
Silva. Theodozio Justino de Chermont e João Baptista Ledo
para vogaes.
Este acto sedicioso praticado ás G horas da manhãa, só
chegou ao conhecimento do Governador das Armas ás 8
horas quando elle se dirigia ao Palácio, d'onde a esse tem-
po sahia uma deputação do corpo militar para participar-
Ihe (jue se achava installada a nova Junta, declarando elles
que tomavam sobre si a responsabilidade do acto que para
considerar-se consummado só faltaVa que os novos eleitos
prestassem juramento de íiJelidade ao Monarcha Portu-
guez, e com o qual o Governador das Armas julgou ser
de absoluta necessidade conformar-se.
A nova Junt?. convidou o Governador das Armas, com-
mandantes dos corpos de primeira e segunda linha e o Ou-
vidor da Comarca para se reunirem no dia 2 de Março c
decidirem (juaes os lugares para onde deviam, na forma
de unia indicação expressa n • manifesto, ser de|)orlados
— 109 —
nlfíiins imlividiioá considerados como chefes da exaltação
popular. A deposição da Junta e a deportação dos redac-
tores do Paraense e de alguns influentes assustou e conteve
por alguns dias os Brasileiros que jà em Cnmctá, Santa-
rém e outros lugares do interior começavam a defender
abertamente a opinião da Independência.
Do I.« de Março ao 1.° de Abril ile i823gozoua capital
fio Pará de socègo, mas já nos primeiros dias deste mez
apparecêram denuncias de que haviam em algumas noites
reuniões de gente armada nos matos próximos à cidade,
e de que nos dias 4 ou 3 se juntaria no sitio de Bacory
grande numero de gente de côr dirigida por homens bran-
cos, (|ue se suppunha terem em vista uma surpreza na
capital.
O Governador das Armas foi com alguma tropa reco -
nliecer o sitio e nada achando acreditou que o partido in-
dependente, estando de todo desfallecido e não se achando
em estado de apresentar-se em campo, inventava estas no-
ticias para cansara tropa.
Das O para ás 10 horas da manháa do dia 13 do Abril
foi o Governador das Armas avisado pelo cirurgião-mór do
Estado António Manuel de Souza e depois pelo Ajudante
do 1." regimento de melicias, das suspeitas que tinham do
que na madrugada seguinte se verificasse a revolução (juo
lhes havia sido denunciada por dous soldados do regimento
n. 3 de infantaria, os quaes tinham sido convidados por
outros para se reunirem em uma casa, confiando-lhes que
de madrugada se lhe reuniria muita gente ao signal de
dous foguetes do ar.
Não apparecendo os dous soldados, que o Governador
das Armas mantlou immediatamente busrar, reunio os
ABIUL. 22
— 170 —
commainlantes liob corpos para prcviui -los da denuncia
que acabava de receber. ordenou-Ihes que estivessem vi-
gilantes e reunissem todos os oíliciaes. e determinou ao
do 3.° regimento, cujo quartel era contiguo ao Arsenal de
Guerra que, logo que houvesse algum rumor ou toque de
rebate, reforçasse a guarda do dito Arsenal, c se pozesse
prompto para marchar.
Ás 1 1 honis da no*te mandou o Governador das Armas
observar a casa em que se lhe disse que toria de verificar-se
a reunião dos soldados do 3.° regimento; depois da meia
noite foi em pessoa rondar a cidade e quartéis e com es-
pecialidade os do 2.° e 3." regimentos, contra os quaes ti-
nha algumas suspeitas; e nada encontrou que podesse
causar desconOanra.
Á uma e meia hora da madrugada ordenou ao Tenente-
Coronel João António Nunes, commandante do corpo do
artilharia, que fosse com uma escolta examinar a casa de-
nunciada ; voltando este com a noticia de que só encon-
trara duas ou três tapuias e combinando esta parte com o
que tinha visto, persuadio-se de que a denuncia era infun-
dada ; mas por cautela determinou aos commandantes dos
corpos que se conservassem nos seus quartéis, concedendo
recoiherem-se ás suas casas os officiaes que mais o neces-
sitassem ; e das 2 para as 3 horas voltou para o seu quar-
tel onde se conservou vestido.
Depois das 4 horas foi o Governador das Armas avisado
pelo commandante da sua guarda, de (jue ouvira o estam-
pido de dois foguetes para o lado do convento de S. Fran-
cisco o grande algazarra no largo dos Quartéis, e o mesmo
Governador de suas janellas ouvio gritos e vivas, que a
distan-ia não permiltif) enteuíler : <lirigio-sr' immcdiata-
— 171 —
mente ao e«liticio (un que estavam aquartelados o 1/' e 2."
regimentos: achou o I.'' formado tendo á sua frente o
seu ('om-nanrtante, o Coronel João Pereira Villaça, ao qual
se haviam reuniilo grau Ic parte dos oITiciaes do 2.^ que ao
si;j[nal dos fogueies se havia formado no cam[)() da parada
sob o commando de pessoas que a cscurid lo da noite não
deixou conhecer, e que ao som de vivas ao Imperador e
Independência do Brasil convidaram os soldados do 1 .®
regimentíj a unircm-se-lhes ; mas que vendo preparadas
e aponta-las [)ara ellas as armas do 1 ." tomaram a direcção
da rua da Cadeia, levando muita gente que se lhes reunira.
O Governador das Armas immedialamente expedio or-
dem ao 3." regimento {)ara marchar para o quartel de ar-
tilheria. O 2/ regimento, e a gente que se lhe tinha reu-
nido, se encaminhou para o quartel do 3.® com quem
contava, mas a quem o seu commandantc o major Fran-
cisco Josó Ribeiro, fez calar os vivas à Independência,
que deram alguns dos seus soldados, que obrigou a dar
vivas à Sua Magestade Fidelissima, dizendo-lhes ao com-
passo de pranchadas — primeiro está o pai que o filho.
Vendo os conjurados, cujo plano era apossarcm-se do
Arsenal de Guerra, Deposito da Pólvora, e Parque de Ar-
tilhería, que o 3.° regimento nâo se lhes reunia, marcha-
ram pela rua de Santo António para coadjuvarem o ataque
que parte do mesmo regimento, esquadrão de cavallaria e
muitos paisanos deviam fazer ao quartel da artilhería, de
que jà estavam de posse quando o Governador das Armas
mandou o 3.® regimento em seu soccorro.
A noite estava tenebrosa, o 1.*^ regimento apenas con-
tava em forma de 90 a 100 baionetas, ignorava-se o nu-
mero dos conjurados e si tinham reunido a escravatura
— I7á —
(•orno aiilíTionufriíc se havia nnnunciado; o Govomaflor
«las Armas julgando o Arsenal de Guerra seguro, e prote-
gido o quartel da artilliería. resolveu esperar que se lhe
reunissem os soldados que dormiam fora dos quartéis e
que aclarasse o dia para mandar tocar a rebate. Então se
ouvio um tiro de canhão e logo depois uma descarga de
fuzileria para o lado do quartel de artilhería, e pouco de-
pois recebcu-se a noticia de haverem os conjurados tomado
aquelle quartel, ferido mortalmente o commandante do
corpo, cujos soldados foram desarmados, depois da morte
de um e do grave ferimento de dous. O Tenente-Coronel
Nunes, que se tinha preparado para repellir qualquer
ataque conservando as peças carregadas de mitralha e fe-
chado o portão do quartel, descançava em uma rede
quando pelas 4 horas bateram à porta e lhe disse a sen-
tinella que era a ronda superior, que n^aquella noite com-
petia ao Coronel Villaça com cuja voz o mesmo Tenente-
Coronel se illudio. Logo que o portão, por ordem do Te-
nente-Coronel e sem as necessárias cautelas, foi aberto^
entrou um grupo de soldados de baionetas caladas condu-
sidos por um subalterno do â.° regimento gritando— maia,
inata : atraz deste grupo entraram outros de maneira que
o Tenente-Coronel foi preso antes de poder prevenir os
officiaes e soldados que dormiam em seus alojamentos e
que assim foram desarmados e presos. Os conjurados im-
mediatamente tiraram para a rua duas peças que estavam
carregadas e se disposéram a conduzir preso para o Arse-
nal de Guerra o Tenente-Coronel Nunes, que levado de
um excesso de desesperação por ter sido surprehendido
aproveitou-so da proximidade em que estava de uma peça
IKira lançar mão de um murráo aceso, aponta-la para a
I
— 173 —
lodo em qiio lhe parecro estnr mnis gente, e dar-Ilie fogo :
a escuridão da noite, a perturbarão e preeipitação com (|ue
fez a pontaria mallográram seus intentos, ponpie só foi
gravemente ferido um sargento de cavallaria ; os conjura-
dos, então, lhe dirigiram uma descarga que dada â queima
roupa o traspassou com seis balas, de cujas feridas mor-
reu três dias depois.
Momentos depois de se ter ouvido a descarga de fusi-
laria, começaram a reunir-se no largo dos Quartéis alguns
soldados de linha e milicianos, e apenas ao raiar do dia, se
tocou are])ate a concurrencia dos milicianos e paisanos foi
tal que o Governador das Armas se achou habilitado para
mandar reforçar o 3.** Regimento que não tendo chegado
a tempo de soccorrer o corpo de Artilhería pôde com tudo
apossar-se do quartel que os conjurados tinham abando-
nado depois de prenderem e desarmarem os soldados,
destacar de 30 a 40 homens para auxiliar a guarda do De-
posito da Pólvora, a qual já tinha sido desarmada pelo es-
quadrão de cavallaria, cujo quartel era contiguo ao Depo-
sito e occupar por um destacamento de 60 a 70 homens o
reducto e bateria de Santo António para que pela estrada
de Una não se evadissem os conjurados, que, também pela
situação queocc upava o 3.^ regimento, não podiam retirar-
se pelo Largo da Pólvora. O Governador das Armas, sa-
bendo que os esforços com que o Major Ribeiro tinha con-
tido o 3.° regimento haviam impedido os conjurados de
tomar a guarda do Arsenal de Guerra , mandou alli
apromptar duas divisões de artilhería de calibre 6 para
coUocxir nas bôccas das duas únicas ruas por onde podiam
evadir-se os conjurados, e d'onde podia fulminar o largo
de Santo António, e dividio o resto da força em duas co-
luranas dando o commando da primeira ao Coronel Villaça
— 17G —
fazem sua principal nutrição, seria inevitável a desespera-
ção dos pòYos e certa uma nova sublevação.
O Governador das Armas immediatamente preparou
uma expedição de duzentos homens de infantaria e arti-
Iheria com duas peças de calibre 3, e exigio da Junta Pro-
visória (jue posesse á sua disposição um i canlioneira e ca-
noas para transportar a força, cujo conanando entregou
ao Major do 3.° regimento Francisco José Ribeiro, o qual
partio às 7 horas da manhâa do dia 2 de Junho.
Apresteza da expedição acobardou os revoltosos do
Muanà, que fizeram alguma resistência mantendo por al-
gum tempo tiroteio contra as canoas (|ue levavam a tropa,
mas, succumbindo avista da canhoneira, desertaram, eno
dia 4 tomou o Major Ribeiro posse da villade Muanà. Esta
noticia e a de que jà se achavam presos mais de cento e
cincoenta revoltosos e os outros espalhados pelos matos,
fez cahir a revolução (jue jà ia lavrando por toda a ilha e
por algumas povoações do continente, e os chefes da re-
volução de 14 de Abril vendo o resultado da de Muanà
socegàram e adoptaram uma apparente conformidade.
Algumas pessoas ou por modo de uma nova revolução, ou
para protegerem os presos e pronunciados pelos sucessos
de 14 de Abril persuadiram a algiins membros da Junta
Provisória da necessidade de desvial-os do foro criminal e
mandal-os para Lisboa com aprovação do Governador das
Armas, a quem dirigiram um oflicio pintando com cores
atterradoras a urgente necessidade de não serem senten-
ciados e justiçados os réos n'a(|uella Capital, e fazendo re-
flexões sobrea|)ouca confiança (jue se devia terna oHiciali-
dado e tropa. O Governador das Armas res|);)ndeu (jue jà
mais interviria n*eále negocio que nãí) era de sua oompe-
— 177 —
lencia por eslarem os réos entregues ásaullioridmles civis,
áqiiem cumpria dar-llies o desliuo que determinam as leis.
Esta resposta desagradou e fez desaparecer a appareule
harmonia que existia entre o (Governador das Armas e a
Junta Provisória, que de accórdo com a opinião de um
conselho , para outros lins convocado, resolveu mandar
para Lisboa em Julho de 18á3 os duzentos e setenta e cinco
presos complicados nas revoluções da Capital e Ilha de
Marajó.
Desde 14 de Abril se convenceu o Governador das Armas
de que á vista do progresso que o partido da Independên-
cia fazia nas Províncias do Sul. da inacção em que pareciam
estar a tropa e esquadra portugueza na Bahia, e do perigo
em que se achava o Maranhão de succumbir aos ataques
das forças Brasileiras do Ceará e Piauhy seria milagrosa a
conservação do Para sinão fosse promptamente soccorrido
por tropas portuguezas, que muitas vezes tinha sollicitndo;
mas para cumprir o seu dever e de algum modo supprir
esta falia aproveitou-se dos corpos de cavallaria e artilhería
do commercío, das sete companhias de milícias e da mari-
nhagem para coadjuvar a força de linlia no serviço da
guarnição e policia, e fez com que todos os officiaes per-
noitassem nos seus respectivos quartéis, que clle mesmo
rondava todas as noites.
Era este o estado do Pará quando em á4 de Julho en-
trou o navio Palhaço trazendo a seu bordo o Bispo Dioce-
sano e noticias exactas dos acontecimentos i|ue tiveram lu-
gar em Portugal nos fins de Maio e princípios de Junho
d^aquelle anno. Apenas desembarcou o Bispo exigio o Go-
vernador das Armas da Junta Provisória uma conCeroncia
aíim de se fazerem as alterações e muilaiir is (]ue [)areccs-
— 178 —
sem mais coiiformos às que Sua Mageslade Fidelissiina
tinha praticado em Portugal : e aresta conferencia, que
teve lugar em 25 de Julho, deliberou a Junta não fazer al-
teração alguma na forma do Governo em quanto não se re-
cebessem ordens d'aquella Corte : em consequência doesta
resolução da Junta apparecêram entre os habitantes algu-
mas dissenções que obrigaram o Governador das Armas a
proclamar no dia 1.^ de Agosto Sua Magestade e sua Au-
gusta Familia, e par \ que este acto fosso acompanhado de
toda a solemnidade derigiu á Junta Provisória e Bispo as
seguintes cartas. • Illm. e Ex. Sr.— Tendo destinado o
corpo militar dar amanháa vivas a Sua Magestade El-Rei
o Senhor D. João 6.^ à Sua Augusta Familia e Dinastia,
tem o mesmo corpo militar rogado ao Exm. e Rvm.
Bispo doesta Diocese haja de secundar este acto com um
Te-deum cantado na Cathedral doesta cidade. Eu c o
mesmo corpo militar rogamos a V. Ex. se digne honrar
estes actos militar e Religioso com sua assistência; pro-
testando em meu nome e em nome das mesmas corpo-
rações que de maneira alguma nos intrometteremos em
reformas de Governo, e que si para evitar a versatilida-
de de opiniões desenvolvidas em Abril o Maio pretéritos
fôr necessário antes de chegarem as ordens de Sua Ma-
gestade, nova forma de Governo mais adequado e con-
forme ás actuaes circumstancias politicas da monarchia
e que para este effeito se julgue indespensavel minha
deposição do lugar que exerço, de bom gra<lo e sem o
menor obstáculo eu e o corpo militar conviremos n'esta
medida com tanto que por ella se mantenha a indisso-
lubilidade da grande Nação de que todos somos lilhos.
O quí» em meu nome e em nome das mesmas cor|>ora-
— 179 —
ções militares comnuiriico á V. Ex. rogandi)-lhe haja de
prevenir á Gamara e mais aathorid ides. Pará 3 1 de Julho
de I8á3. Illm. e Exm. Sr. Presidente e Membros da
Junta Provisória. José Maria de Moura.— Illm. eRvm.
Sr. Náo tendo chegado o navio Epliigenia em que se dizia
virem as ordens de Sua Magestade para as mudanças
politicas doeste Governo as quaes se devem pôr em pra-
tica em consequência de iguaes mudanças praticadas em
Portugal cuja sorte e systema governativo dezeja seguir
a generalidade dos habitantes doesta Província, dezejan-
do eu e o corpo militar do meu commando evitar os ter-
ríveis resultados da versatilidade de opiniões desenvol-
vidas nos dias 14 de Abril e 28 de Maio pretérito tem o
mesmo corpo militar destinado não obstante a opinião
da Exma. Junta Provisória, que quer se esperem por or-
dens, o dia de a manhãa para em grande parada dar os
vivas á Sua Magestade El-Rei o Senhor D. João 6.^ á Sua
Augusta Esposa a Rainha nossa Senhora, e a toda a sua
Real Família, antes mesmo da recepção de quaesquer
ordens, e dezejando que esta solemnidade seja seccun-
dada por V. Ex. lhe rogo em meu nome e em nome dos
chefes, ofliciaes e mais praças dos corpos de linha e mi-
lícias doesta guarnição se digne ordenar que se celebre
na cathedral doesta cidade um Te-Deum em acção de
graças. Eu e o corpo militar, em cujo nome officio á
V. Ex. não nos intrometteremos no systema governativo
da Província ; porém si ainda antes de chegarem as or-
dens de Sua Magestade se julgar necessária minha de-
missão do lugar que occupo, em meu nome e em nome
de tmlas as corporações do meu commando asseguro á
V. Ex.. á Fxma. Junta Provisória e ã todos os habitan-
— 180 —
* íos <r<'sta l^rovinrin que so para se manter $m tranqiii-
« liílade é neressario tal demissão de bom grado desístii^ei
« do empre^ío de Governador das Armas e nenhum dos
< corpos militares deixará de se conformar com as medi-
« das que so jid«,'an»m precisas para manter a mesma tran-
€ quilidade e indissolubilidade com a nação portugueza
t de que todos somos Mlbos. Deos Guarde â V. Ex. Pará
« 31 de Julho de Í8á3. Illm. e Rvm. Sr. D. Romualdo,
t Bispo do Pnrà. José Maria de Moura. »
Pareceu ao Governador das Armas que adiantando este
passo mesmo sem consultar a Junta Provisória ou re-
ceber ordens íla corte satisfaria a um dever para cora Sua
Magestade. acalmaria a efferveccncia dos espiritos e man-
teria a pu})lica segurança até se receberem as menciona-
das ordens. Fez-se a solemnidade da accJamaçâo com a
maior pompa concorrendo todos os empregados públicos
e corporações do commercio e agricultura; mas apesar de
todas as demonstrações de regosijo e de todas as cautelas
e vigilância policiaes empregadas neste e nos seguintes
dous dias de festejo para evitar desordens ou outros pro-
cedimentos do partido descidente, náo se pôde impedir
que alguns individues dessem vivas ao Imperador e Inde-
pendencin do Brasil.
Este procedimento do Governador das Armas náo tran-
quiiisou os espiritos : os partidos continuarão a bater-se,
querendo uns que immedialatamente se mudasse a forma
do Governo Constitucional, outros que se conservasse até
se receberem ordens de Lisboa pretextando que mudanças
de tal natureza eráo sempre arrisc^as quando náo tinháo
por base ordens ligitimas, que desvanecessem a ideia de
procedimentos arbitrários tanto mais perigosos no Pará
— 181 —
quanto a experiência darainenle mostrava a existência
de um poderoso parliilo que, empenhado em separar
aquella provincia da nacionalidade portugueza. se prevale-
ceria de qualquer acto praticado pelas authoridades exis-
tentes para excitar contra ellas os amigos da Indepen-
dência.
O Governador das Armas sabendo destas dissenções co-
nheceu qu{' si com tempo as nâo atalliasse o partido adhe-
ente a Portugal se enfraqueceria, e então mais ihividosa
em a conservação da Provincia; e n'esta convicção no dia
de Agosto dirigiu à Jfmta Provisória o segiiinte oflicio :
Illm. e lixm. Sr. O estado de desassocogo em que me
consta por ditlerentes vias se acha grande parte dos ha-
bitantes desta cidade opinando uns que se deve conser-
var o systema governativo civil e militar no pé em que
se acha até se receberem ordens de Sua Magestade, e
pretendendo outros mudanças no mesmo systema aná-
logas às actuaes circiimstancias politicas de Portugal,
determinarão a convocar hoje no meu quartel todos os
chefes dos corpos de linha e milícias doesta guarnição
para accordar com todos o modo mais capaz de evitar
os effeitos da diversidade de opiniões até que as ordens
de Sua Magestade venháo acalmar os espíritos. Concor-
dando todos sobre a necessidade de se tomarem medidas
de prudente cautela para evitar choques e commoções
populares o convieram unanimamente em a necessidade
de convidar a V. Ex. para convocar na salla de suas ses-
sões uma assembléa composta de deputações militares
e corporações civis afim de se deliberar si convém mais
ao socêgo publico conservar o systema governativo mili-
tar e civil tal qual presentemente existe, ou si dar-lhe
uma nova forma mais análoga às actuaes circumstancias
— 18i —
« politicas de Portugal, julgando-se ao mesmo tempo ne-
t cessario fazer publico por bando o resultado desta con-
« ferencia afnu de que os habitantes desta capital e mesmo
« de toda a Província fiquem ao facto das deliberações
« que a este respeito se tomarem. Em consequência desta
« unanimidade de pareceres proponho a V. Ex. a convo-
« cação da sobredita assembléa rogando com urgência
t a V. Ex. haja de indicar-me a hora do dia de amanhâa
« em qne se pôde reunir para fazer os avisos necessários,
t e caso porém que V. Ex. não convenha na reunião pro-
« posta exijo que haja de declararm'o para meu governo.
« Deus Guarde a V. Ex. 4 de Agosto <le 1823. lllms. e
€ Exms. Srs. Presidente e Membros da Junta Provisória,
t Josó Maria de Moura.
No dia seguinte a Junta respondeu pela maneira que se
vê no offlcicio abaixo transcripto.
t Illm. e Exm. Sr.— Recebeu esta Junta o officio de V.
€ Ex. da data de hontem depois das 10 horas da noite, e
t por essa razão se conveio responder agora que se acha
t reunida. Esta Junta concorda com a requisição de V.
• Ex. para se formar .um conselho para se deliberar sobre
• o objecto que expressa pois que se tem em vista o soce-
€ go publico, e passa immediaía mente a fazer os avisos
• necessários para ás H horas do dia. Deus Guarde a V,
€ Ex. Pará no Palácio do Governo em 5 de Agosto de
€ 1823. Illm. e Exm. Sr. José Maria de Moura. Joaquim
« Correia da Gama Paiva, Presidente; Geraldo José de
• Abreu, Secretario; Franciscx) Custodio Correia; Joaquim
« António da Silva; Theodosio Constantino de Chennont ;
« João Baptista Ledo.
A hora aprasada reuniu-se o conselho, cujo parecer foi
immediatamente publicado por bando e he do theôr se-
— 183 —
guiiite— « Sessão do dia 5 de Agosto de 1823— Abriu-se
a sessão às H horas; e concorrendo o Exm. Governador
das Armas que havia exigido um conselho para dehbe-
rar nas matérias abaixo expressadas, e sendo também
presentes os que para este acto foram comvocados a
saber : o Exm. e Rvm. Bispo Diocesano ; o Marechal de
Campo Manoel Marques. Inspector das tropas; as depu-
tações da Junta da Fazenda e do Senado da Gamara; o
Juiz da Alfandega ; o Juiz substituto e vários cidadãos
como representantes das classes do commercio e pro-
prietários, foi lido o officio da data de honlem abaixo
transcripto do Exm. Governador das Armas, e depois
fallou o mesmo explanando suas ideias, e o mesmo fize-
ram alguns dos membros do conselho, e julgando-se a
matéria sufficientemente discutida foi posto a votos o
seguinte quesito — Convém mais ao socego publico que
se conserve o systema governativo civil e militar tal qual
presentemente existe, ou dar-lhe uma outra forma mais
análoga as actuaes circumstancias politicas de Portugal?
Decidiu-sc por maioria absoluta, isto he 29 votos con-
tra 9. que continuasse o systema do governo militar e
civil como se acha até chegarem as ordens de Sua Ma-
gestade. Declaro que se abstiveram de votar os Exms.
Bispo, Governador das Armas, Membros desta Junta, o
Marechal de Campo Manoel Marques, e o Ouvidor da
Comarca pela suspeição que alegaram,
t Entrou mais em votação si seria conveniente ao soce-
go publico fazer occupar a cadeira de Presidente da
Junta pelos Exm. e Rvm. Bispo Diocesano, e decidia-se
unanimamente que sim. Exigiu o Governador das Ar-
mas a declaração do conselho, si os corpos militares
podiam usar do laço azul e encarnado em lugar do na-
— 184 —
cioiíul ílecretado pc'as còrles. mesmo anlf^s de se rece-
berem ordens da curte; decidiu-se que sim. pois tal era
o liso cm Portugal como indubitavelmente já constava.
Propoz mais o Exm. Governador das Armas que so ape-
zar das medidas adoptadas n'estc conselho para se man-
ter o socego publico appare^essem alguns perversos a
perturba-lo qual era o meio de puni-los. Decidiu-se
unanimamente que ficavam em vigor as leis existentes,
que seriam aplicadas convenientemente segundo as cir-
cumstancias.— Romualdo Bispo do Pará ; José Maria de
Moura ; Joaquim Correia da Gamma Paiva, Presidente ;
Geraldo José de Âi)reu, Secretario ; Francisco Custodio
Correia ; Joaíjuim António da Silva ; Thedosio Constan-
tino de Chermont ; João Baptista Ledo ; o Marechal do
Campo Manoel Marques de Elvas Portugal ; Manoel de
Freitas d'Anlas ; José Thomaz Nabuco de Araújo, Ma-
noel José Cardozo, Presidente da Camará ; António Pe-
reira de Lima ; José Ferreira Brito ; Marcello António
Fernandes; Bernardino José Carneiro da Silva Reis;
José Caetano Ribeiro da Cunha ; o Cónego José de Or-
nellas Souza Monteiro; o (Sonego André Fernandes de
Souza; o Coronel João Pereira Villaça; o Capitão João
Pedro da Costa; o Ajudante Álvaro Botelho da Cunha ;
o Major Francisco Marques de Elvas Portug.d, o Capitão
António Valente Cordeiro; o Alferes José Deziderio de
Castro; o Capitão Martinho Leite Pereira; o Tenente
António Marques de Souza ; o Capitão Ignacio Pereira ;
o Capitão de Artilhería Joaquim Rodrigues de Andrade ;
o a.® Tenente Manoel Ignacio de Macedo ; o Sargento-
Mór Jeronymo de Faria Gaio ; o Capitão Manoel Caetano
Prestes; o Alferes João Rodrigues de Souza; o Major
Domingos José da Silva; Joaquim Francisco Danim,
— 183 —
« Commandanle da ciivallnria volunlaria ; Camillo José de
« Campos. Commandante dos cívicos de Artilhcría ; Joa-
« quim Epifânio da Cunha; Francisco Carneiro Pinto Viei-
t ra do Mello, Ouvidor da Comarca; João Ignacio de Oli-
« veira Cavalleiro, Juiz Substituto; AíTonso de Pinho de
* Castilho; Domingos José Antunes; João da Fonseca Frei-
« tas ; Fernando José da Silva ; João de Araújo Roso ;
« Francisco Gonçalves Lima; Luiz António Golçalves;
« Agostinho Brandão e Castro. — Está conforme o 2.®
« official Manoel Ramos de Carvalho.
Esta deliberação, que collocou o Bispo na Presidência
da Junta vaga pelo destino que para fora da provinda teve
Romualdo António de Seixas, desagradou a muita gente ;
c por conseguinte não extinguiu o gérmen das dissensões
que adrede erão excitadas pelos partidários da independên-
cia para enfraquecerem o partido portuguez, que constava
ter perdido em 14 de Julho a cidade do Maranhão sitiada
pelas forças Brazileiras do Ceará e Piauhy, já possuidores
de todo o continente da Provincia. Esta noticia animou e
tornou a desenvolver a actividade dos patriotas do Pará, de
maneira que algims oíTiciaes e soldados dos dilTercntes cor-
pos e particularmente do 2.® Regimento começaram a dar
novamente indícios de que estavam dispostos a seguir
o partido Brasileiro, que [)or sua parte intentou e conse-
guiu derramar a sisania entre os corpos de linha, que o
Governador das Armas deligenciava manter em boa har-
monia empregando toda a vigilância para comprimir na
capital as demonstrações que já principiavam a apparecer
pelo sertão. Estas precauções comtudo, não podiam tran-
quilizar o Governador das Armas, por (luo além do ciúme
que havia entre alguns dos corpos, a miior parte da tropa,
ABRIL. 24
— 186 —
de (jue necessitava servir-se para sustentar a causa portu-
gueza. estava possuída da ideia de Independência. O 2."
Regimento, bem como todo o esquadrão de cavallaria, que
já se tinham involvido na revolução de 14 de Abril, eo
corpo de artilhería depois de ter perdido o seu comman-
dante o Tenente Coronel João António Nunes, já não me-
reciáo sua confiança ; no mesmo caso estava o 3." regi-
mento ainda mesmo commandado pelo Major Francisco
José Ribeiro que substituiu o suspeito Tenente Coronel
José Narciso. O 1 .° regimento do commamlo do Coronel
João Pereira Villaça era o único com que o Governador das
Armas podia contar ; porém a sua força era de duzentas
baionetas, que não era prudente empregar fora das vistas
do seu chefe pelo receio de que se unissem aos indepen-
dentes.
Este era o estado da capital do Pará quando cm II de
Agosto de 1823 appareceu n'aquelle porto um brigue, que
se annunciou como parlamentario da esquadra comman-
dada por Lord Cocrane. levando oíficios para a Junta Provi-
sória, e dando a noticia da retirada da tropa e esquadra
portuguezas que estavam .na Bahia, de ter esta Provincia
bem como a do Maranhão adherido a Independência, e de
que o parlamentario tinha por objecto intimar os habitan-
tes do Pará para que se resolvessem a acceder à Indepen-
dência ou asollrer oselTeitos d'um bloqueio, para cujo fim
a esquadra de que elle fazia parte, já se achava [)roxima das
Salinas.
Estas noticias, a presença do brigue e a ideia da exis-
tência da esquadra nas aguas do Pará animaram e decidi-
ram todos os Brasileiros a se declararem pela indepen-
dência ; e o partido doesta se fez t;mlo mais forte (juanto
— 187 —
se tornou fraco o dos portiigiiezes (*ín quem se divisíivam
impotentes desejos de sustentar a causa da metrópole.
Não era necessário o concurso de tantas circumstancias
favoráveis aos desejos dos filhos do Paiz para os encorajar
e decidir pela Independência : elles viam todo o Brasil
desafrontado de tropas e esquadras portuguezas, e procu-
ravam á muito tempo occasiáo de formar parte integrante
do Império Brasileiro, do qual o Pará era a única Provinda
que então estava separada. Esta consideração, que rapi-
Tlamente electrisou os Paraenses, collocou o Governador
(las Armas na mais critica posição; porque a força total dos
corpos de linha, inclusive trezentos recrutas, não excedia
a seiscentas baionetas existentes na capital, as quaes, além
da pouca confiança que lhe mereciam, não eram sufficien-
tes para reforçar a fortaleza da Barra guarnecer as más ba-
terias do Castello e forte de S. Pedro Nolasco, occupar os
pontos de Maguary e Iguarapé de Una. por onde facilmente
se pode entrar na Cidade, pôr á disposição do Intendente
(la Marinha a força necessária para guarnecer a charrua
Gentil Americana e uma barca canhoneira que havia, e re-
servar uma força sufficiente para conter os Brasileiros, man-
ter a ordem na Capital e accudir onde conviesse. Estes
preparativos eram indispensáveis e se tornavam impossi-
veis com seiscentos homens de linha em grande parte re-
crutas e dous terços dos quaes se reuniriam aos Brasileiros,
que entravam por metade na& duzentas e cincoenta praças
de que se compunhão as milicias ; restando as companhias
de cavallaria e artilhería do commercio que com quanto
fossem de confiança . faltava-lhes a desciplina necessária
para habilital-os a entrar em fogo com a ordem que nVstes
casos 6 mister.
— 188 —
Para tomar as providencias mencionadas era necessária
e indispensável a c(;operação da Junta Provisória, da de
Fazenda, do Intenílonte da Marinha, authoridades inde-
pendentes do Governador das Armas; para obter esta
cooperação dirigiu ellc um officio em que dizia à Junta
Povisoria que ia reunir no seu quartel os commandantes
dos corpos aíim de tomar medidas tendentes a eviUir alguns
tumultos; o que para objecto de segurança do porto e ou-
tras providencias julgava indispensável uma conferencia
com a mesma Junta, que não tardou em mandar-lhe a se-
guinte resposta. « Illm. e Exm. Sr.— Esta Junta accusa rc-
« cebido o officio de V. Ex. datado de hoje : em conse-
t quencia dos officios , que recebeu de Lord Cocrane ,
• chefe da Esquadra do Hio de Janeiro, que se acha fun-
• deado abaixo da barra doeste porto, convocou um conse-
« lho para deliberar sobre o objecto do dito officio para o
« qual convida à V. Ex. e a todos os chefes c comman-
f dantes dos corpos de 1.* e 2.» linha, que V. Ex. se
f dignará mandar assistir a elle, que terá lugar às sete
• horas da noite. Deos Guarde a V. Ex. No Palácio Epis-
• copal em 11 de Agosto de 1823. Illm. e Exm. Sr. José
« Maria de Moura. Romualdo, Bispo do Pará Presidente;
« Geraldo José de Abreu, Secretario; Joaquim Corrêa da
« Gama Paiva ; Joaquim António da Silva ; Theodosio Cons-
« tantino de Chermont ; João Baptista Ledo. »
Quauilo o Governador das Armas recebeo este officio jà
se achavam em seu quartel os commandantes dos corpos,
e declarando-lhes o seu contheudo ordenou-Ihes que fossem
com elle assistir à conferencia para que os convidava a
Junta, de cuja boa fé o Governador das Armas duvidou
por ter afirmado (pie a esquadra de Lord Cocrane estava
— 189 —
funiloada abaixo da fortaleza da barra ao sol posto, o não
havia tempo de se examinar si com eíTeito estava ou não
alli fundeada.
Fez-se o conselho cujo resultado esttá consignado na
acta que ó do theôr seguinte. « Sessão extraordinária do
dia 1 1 de Agosto de 1823. Abriu-se a Sessão ás 8 horas
da noite; e tendo sido convocado um Conselho pela
Exma. Junta Provisória, composto do Exm. Governador
das Armas, Senado da Gamara e todas as demais autho-
ridades civis, eclesiásticas e militares e muitos cidadãos
probos, em consequência de ter recebido a mesma Exma.
Junta um oíBcio do Illm. c Exm. Lord Gocrane, chefe
das forças navaes do Rio de Janeiro, assim como um ma-
nifesto do bloqueio doeste porto e um oflicio original da
Exma. Junta Provisória do Maranhão; exigindo o refe-
rido Lord em nome de Sua Magestade Imperial o Se-
nhor Dom Pedro, Primeiro Imperador do Brasil, que esta
Provinda do Grão Pará adherisse ao systema geral do
Império Brasiliense, os quaes documentos sendo lidos
pelo Secretario da Exma. Junta assim como também o
periódico em que se acha transcripta a correspondência
relativa a Independência politica proclamada no Mara-
nhão, propôz o Exm. Sr. Bispo , Presidente da Junta,
ao conselho que o objecto para que tinha sido convocado
era decidir-se qual o systema que esta Provincia devia
adoptar nas actuaes circumstancias expondo as suas re-
flexões de que a utilidade e tranquilidade doesta Provin-
cia exigia que se adherisse ao systema do Rio de Janeiro,
como o único meio mais eíDcaz para a salvar dos horro-
res da anarchia : foi este parecer seguido por grande
numero de membros que opinavam no mesmo sentido,
e passando-se à votação se decidia unanimemente que se
— 190 —
iTconliecessc a Independência politica do Brasil debaixo
das ordens de Sua Magestade Imperial o Senhor Dom
Pedro Primeiro, a excepção do Exm. Governador das
Armas que declarou somente annuir á esta medida si se
verificasse a existência e qualidade das forças do blo-
queio; e propondo o Exm. Sr. Bispo Presidente esta in-
dicação se decidiu geralmente a expeçáo de oito mem-
bros que se proclamasse a dita Independência, sem
imlagação alguma das referidas forças.
« Finalmente pedio o referido Governador das Armas
que se lhe admittisse o seu voto em separado edecidiu-
se que sim. o qual irá aqui transcripto e para tudo constar
se mandou lavrar o presente que todos os membros do
conselho comigo assignàram. Geraldo José de Abreu,
Secretario da Exma. Junta que o escrevi. Romualdo,
Kispo do Pará Presidente ; José Maria de Moura; o Ma-
rechal de Cami)o Manoel Marques de Elvas Portugal;
Geraldo José de Abreu. Secretario ; Joaquim Corrêa da
Gama Paiva; Joaquim António da Silva ; Theodosio Cons-
tantino de Chermont ; João Baptista Ledo; José Thoraaz
Nabuco de Araújo, Juiz da Alfandega Procurador inte-
rino da Real Coroa e Fazenda ; Manoel de Freitas de An-
tas. Escrivão Deputado ; Manoel José Cardoso, Presi-
dente do Senado ; Martinho de Souza Cunha, Vereador;
António Pereira de Lima. Vereador ; José Ferreira de
Brito, Vereador; João António Lopes, Vereador; Mar-
cello António Fernandes ; Bernardino José Carneiro da
Silva Reis, Procurador ; José Caetano Ribeiro da Cunha,
Escrivão da Camará ; O Cónego José de Ornellas de Souza
Monteiro; O Cónego André Fernandes de Souza; O Co-
ronel João Pereira Villaça ; O Major Francisco Marques
de Elvas Portugal : O Major Francisco José Ribeiro ; O
— 191 —
Capitão Jgnacio Pereira ; O Sargcnto-mór do 1.*» de Mi-
lícias leronymode Faria Gaio; O Major Domingos José
da Silva ; Joaquim Francisco Danim, comraandante da
cavallaria Civica; Camillo Josc de Campos, comraan-
dante daArtilhería voluntária ; Joaquim Epifânio da Cu-
nha, Intendente da Marinha; José Lopes dos Santos
Valadim, Capitão de Mar e Guerra comraandante da Fra-
gata; Pedro José Corrêa, Primeiro Tenente comman-
dante ; António Joaquim de Barros e Vasconcellos, Co-
ronel e Governador de Marajó ; Francisco Carneiro
Pinto Vieira de Mello, Ouvidor da Comarca ; João Igna-
cio de Oliveira Cavalleiro, Juiz Substituto; O Coronel
João de Araújo Roso ; O Tenente Coronel João da Fon-
ceca Freitas ; O Coronel António Bernardo Cardoso ; O
Capitão de Milicias José Vasques da Cunha ; Fernando
José da Silva; Domingos José Antunes, Ambrósio Hen-
rique da Silva Pombo ; AíTonso de Pinho Castilho ; O Te-
nente Coronel Luiz António Gonçalves; Manoel Caetano
Prestes; João Felippe Pimenta ; O Alferes Romão Ro-
drigues da Silva; Francisco Gonçalves Lima.
f Voto do encarregado do Governo das Armas do Pará
na Sessão da noite do dia l i de Agosto de 1823 : O in-
frascripto sendo informado pela Exm. Junta Provisória
do conteúdo d'ura oflicio que recebera do lllm. e Exm.
Almirante Lord Cocrane, comraandante das forças na-
vaes de Sua Magestade o Imperador do Brasil, e de ou-
tros papeis que acompanharam o dito ofBcio e que che-
garam a este porto no Brigue Infante D. Miguel, e ao
mesmo tempo tendo em vista a deliberação que todas as
authoridades civis, militares c Municipaes e deputações
do cori)o do commercio e agricultura tomaram no dia
— 192 —
õ (lo corrente votando todas que se conservasse a admi-
nistração politica no pé em que se achava até se recebe-
rem ordens de Sua Magestade Fidelissima El-Rei o Se-
nhor Dom Joáo G.^ sobre os destinos do Pará; vendo
que mudanças extraordinárias no systema governativo
podem comprometter a Província e ás authoridades que
a regem quando semelhantes mudanças náo tem por fun-
damento urgentes e demonstradas causas e reflectindo
que a simples aparição d'um navio de guerra, quesean-
nuncia parlamentario d'uma esquadra não é a mesma es-
quadra, vota que se expeça immediatamente uma em-
barcação com officio ao Exm, Almirante Lord Gocrane
em que se lhe faça ver a deliberação que tomaram no
dia 3 do corrente as authoridades doesta Província de
esperarem as ordens de Sua Magestade, as quaes é de
suppôr conciliem os interesses do mesmo Augusto Se-
nhor com os de Sua Magestade Imperial, e que á vista
da resposta do mesmo Exm. Almirante depois de infor-
mado do estado politico doesta Província, e dos aconte-
cimentos havidos em Portugal em Junho pretérito, e
verificada por este modo a existência du esquadra nas
aguas do Pará a Assembléa delibere o que mais conforme
parecer ao bem geral da mesma Província, com refe-
rencia ao estado melindroso em que se acham os povos,
e aos effeitos que de necessidade devem produzir nos
espíritos a i)resença da dita esquadra e a mensagem di-
rigida á Exma. Junta pelo dito Exm. Almirante.
• Sendo de tal parecer, o infrascripto declara que em cir-
cumstancias tão melindrosas, quaes aquellas em que pre-
so» temente se acha o Pará, elle só tem em vista evitar a
inútil eílusão de sangue, salvar sua reputação e honra, e
— 193 —
« hal)ilitar-se para responder pela suaconducta a Sua Ma-
■ gestade Fidelíssima, que por sua carta Regia o collocou
t no lugar que até. este momento occupa. Pará 11 de
« Agosto de 1823. José Maria de Moura.
Vendo o Governador das Armas a direcção que tomavam
03 negócios e que lhe faltavam meios de poder interrom-
per o seu curso, alli mesmo declarou que nâo podendo con-
servar a Província unida a Portugal, d'esde aquelle mo-
mento se considerava desligado do commando das Armas.
Que n^este conselho existiam muitas pessoas dispostas a
votar pela Independência, ninguém o duvidava, pois era
manifesto o grande partido que a promovia ; mas que fossem
as principaes authoridades a quem Sua Magestade Fidelís-
sima deu empregos de consideração quem decididamente
encaminhasse por seus discursos os membros do conselho
á votar pela Independência do Brasil, é o que não se es-
perava, mas aconteceu : por exemplo ; o Bispo, collocado
no dia 3 pelo voto unanime na Presidência da Junta como
affecto a Sua Magestade e á união com Portugal, foi o pri-
meiro que por seus discursos deciarou ao conselho no dia
li ser absolutamente necessário que o Pará adherisse a In-
dependência do Brasil : o Intendente da Marinha Joaquim
Epifânio da Cunha, que pouco antes tinha sido elevado ao
posto de Chefe de Devisão, e í|ue na occasião em que de-
sembarcou o Bispo na presença de povo lançou ao mar o
laço nacional para substituil-o pelo Real, e que 22 dias de-
pois arremessou este para tomar o da Independência de-
clarando ao conselho que ninguém mais do que elle era
grato a Sua Magestade Fidelíssima, fez os mais enérgicos
exforços para que os votantes se decidissem pca Indepen-
dência: finalmente a Junta Provisória, a excepção d'um
membro, o Governador da iliia xMarajó o muitas outras
ABRIL. ' ta
— 194 —
autlviridades civis, militares e ecclesiasticas so decidiram
pela Independência: e foi tal o enthusiasmo que os discur-
sos doestas pessoas communicou à qaasi todo o conselho
que se fez a votaç lo tumultuariamente e grítando-se está
vencido, está veticido.
Esta deliberação acabou de decidir o povo e tropa e pro-
duziu no animo de todos os habitantes da Capital os mes-
mos effeitos que produziria e presença de toda a Esquadra
de Lord Gocrane. O Governador das Armas fez todos os
exforços para sustentar os direitos de Portugal, empregou
todos os meios a seu alcance para fazer vêr que esta de-
liberação era imprudente e até opposta à que se tinha to-
tomado seis dias antes, tudo foi inútil ; propôz que se
mandasse verificar a existência da esquadra e sua força, e
sua indicação não foi acceita.
Logo que às H horas da noite se dissolveu o conselho
immediatamente se divulgou o seu resuitado pela cidade e
quartéis ; em taes circumstancias si o Governador das Ar-
mas quizesse reunir alguma tropa para se oppôr à delibe-
ração tomada não veria a seu lado um só filho do paiz, e
sacrificaria sem proveito da sua causa os portuguezes que
tivessem a coragem de segui'-o. Si em lugar de seiscen-
tos homens de tropa do paiz, jà então possuídos do espi-
rito da Indopenlencia, tivesse ao menos trezentos ou qua-
trocentos de tropa portiigueza, talvez a decisão do conselho
não fosse tão opposta aos interesses de Portugal. A decla-
ração das Juntas Provisória e da Fazenda c do Intendente
da Marinha, privou o Governador das Armas da coopera-
ção e soccorros necessários para a deffesa do porto e cidade.
6 toda a tentativa para conservar a Província na obediên-
cia portugucza seria chimerica e não faria mais do quo
augmcntar a cíTervecencia do povo i» tropa.
— IWii —
 iin|)íkssibiliil:rle, qat3 tinha o Governa«lor das Armas de
conservar a Província sob o domínio porln^uez, fez com
que no dia 12 se dimítisse do seu empreg) e pedisse o seu
passaporte , o qual lhe foi negado , e elle mandado prezo
e ín(X)nimunicavel para bordo do Brigue parlamentario.
Para rebater as prolençõcs de Lord Cocrane e manter a
segurança da Capitai o Governador das Armas julgava ne-
cessário reforçar a fortaleza da Barra com 70 a 80 homens
abastecendo-a de mantimentos para 140 ao menos por 40
«lias; acabar promptamente as fortificações de Valle de
Caens, guarnecer esta bateria c fornecer-lhe munições de
liocca e guerra ; ter à sua disposição lanchões e canoas ar-
madas e tripuladas ; completar as guarnições da charrua
Gentil Americina e canhoneira; approveitara fragata nova
como bateria volante ; pagar em tempo o soldo o etape
da tropa; e muitas ojtras cousas mais; porém como a
maior. parte ou quasi t)d )s estes meios eram da exclusiva
competência das Juntas Provisória e da Fazenda, e do In-
tendente da Marinha, e estas authoridades se haviam decla-
i-ado iHíla Independência, conheceu o Governador das Ar-
mas que era mais conforme a razío, prudência e humani-
dade e também seria mais do agrado de Sua Magestade
Fidelissima que se poupassem as vidas e bens dos habitan-
tes do Pará e por isso cedendo á força e império das cir-
cumstancias deixou de empenhar-se em uma disacisada e
desigual contenda, da qual só podiam resultar persiguições
e desgraças incalculáveis.
Depois do que se passou na noite de H de Agosto
mandou a Junta no dia seguinte cumprimentar o comman-
dante do Brigue e convidal-o para aproximar-se da Capital.
Com muitos indivíduos, que se achavam homisiados, apre-
sentaram-se no dia 13 os enthusiastas Cónego João Baptista
— 196 —
Gonçalves Campos e Josó Ribeiro Guimarães com indica-
ções sobre a nova fórnn do Governo que devia instalar-se.
Entre os diversos planos foi adoptado o de Ribeiro Gui-
marães para q:ie o Governo da Província fosse elleito pelo
Povo e composto de cinco membros coma denominação de
Governo geral da Provincia do Pará e mando sobre todas
as authoridades e rep:irtições, civis ecclesiasticas e mi-
litares.
No dia 1 4 depois de presos o ex-Govern ador das Armas
e o Coronel Villaça convocáram-se os cidadãos para a ellei-
çáo do novo Governo. No dia 15 o Castello e a Fragata
arvoniram a Randeira Rrasileira, houve a grande parada em
que se fizeram os cortejos militares ao Imperador do Brasil
e solemne Te-Deum, a que assistiram jà cora laço verde e
amarello o Intendente da Marinha Joaquim Epifânio da
Canha, o Governador de Marajó António Joaquim de Barros
Vasconcellos. o Ouvidor da Comarca Francisco Carneiro
Pinto Vieira de Mello e o Major Ajudante de ordens do Go-
verno José de Brito Inglez, que achando-se com parte de
doente quando appareceu o Brigue Parlamentario se deu
por prompto logo que o Marechal Manoel Marques tomou
conta do Governo das Armas e começou a inculcar-se como
o mais zeloso partidista do systema Brasileiro, forjando
planos oííerecendo indicações para que o Governo da In-
dependência incommodasse com pretenções sobre a en-
trega de papeis c cartas topographicas o General que o tinha
abrigado em sua casa e finalmente promovendo assigna-
turas de requerimentos em que so exigia que o ex-Gover-
nador das Armas fosse preso e remettido para o Rio de Ja-
neiro : este homem, cujo caracter volúvel e inconstante o
faz desconhecer os nobres sentimentos da gratidão, eujo
— i97 —
espirito ambicioso, vailoso o dnsojoso th liLjurar o trans-
forma em bandeirinha de todas as nações, julgou (}ue fazia
a sua fortuna mostrando-se muito oflicioso para com os in-
dependentes; e com elfcito os serviços que lhos prestou nos
primeiros dias da installação do novo Govi»rno lhe rende-
ram o commando cpiasi momentâneo do l.^ Regimento de
infantaria de linha, que poucos dias depois lhe foi tirado
pelos despropósitos que fez, e por ser conhecido o seu pés-
simo caracter até d\aquelles a quem ultimamente prestou
esses serviços com desprezo dos deveres de vassallo de Sua
Magestadc Fidelissima, a quem devia a representação e for-
tuna de que gozava.
Os festejos e mais signaes de regosijo duraram por mui-
tos dias : no dia 15 jurou-se obediência ao Imperador do
Brasil; e fez-se a eleição do Governo Geral da província,
na qual se regeiláram todas as listas que continham nomes
de «Europeos e do Bispo apesar de ser Brasileiro e ter to-
mado a palavra no dia H de Agosto para favorecer a causa
da Independência, dando-se por motivo desta repulsa ser
pobre de espirito e homem de pouca confiança pela incons-
tância do seu caracter. Sahíram eleitos para Presidente
Geraldo José de Abreu, para secretario José Ribeiro Gui-
marães e para membros o cónego João Baptista Gonçalves
Campos, João Henriques de Mattos e Félix António Cle-
mente Malciíer : esta eleição assustou a todos os Europeos
e desgostou a muitos Brasileiros, porque n'ella enxerga-
ram a origem dos males que infelizmente deviam pesar
sobre a provincia.
Os rápidos progressos que teve o partido da Indepen-
dência no Par»â foram devidos ao Decreto das Cortes Por-
tuguezas do 1." de Outubro de 1821, porque creando em
— im —
cada provinda ilo Brasil dons Governos independentes nm
civil e outro railitar, e náo se lembrando de acompanha-lo
com Ilegulamentos ou Regimentos que lixassem a con-
ducta destas duas aulhoridades e marcassem a linha divi-
sória de suas attribuições. náo reflectiram que os traria a
conllictos prejudiciaes â causa public:» e era f.icil de prever
que a Junta do Governo, formada pela eleição popular se
havia de afrontar com a presença de um Governador das
Armas de mais representação do que cada um dos seus
membros e que tinha a força armada á sua disposição.
Homens que nunca tiveram empregos públicos e que
em outros tempos apenas aspirariam aos lugares de verea-
dores ou almotaccs. tirados de suas casas para lugares
importantes, tornam-se, de ordinário, vaidosos e capri-
chosos, quando uma boa educação e prudente reflexão náo
modera estes vicios, e a considoraçáo de que o lugar que
exercem ou para que foram chamados, é devido à opinião
do merecimento que delles formaram os eleitores, os faz
presumpçosos, soberbos e vaidosos : eis o qiie se observou
nas Juntas das demais Provincias.
Não tendo Regimento por onde se regulasse no exercí-
cio de suas funcçóes entendeu que era mais do que o Go-
vernador das Armas, e assim o inculcaram os periódicos,
que podia mais e que tinha direito a ser obedecido ; achan-
do, porém, resistência n'esta authoridade ás invasões que
ella tentava fazer na sua repartição, entendeo que o Go-
vernador lhe fazia afronta : eis-aqui um motivo para decla-
rar guerra ao Governador das Armas, e porque relações
de amisade e parentesco de sete homens filhos do Paiz ou
ha muito alli estabelecidos íhes dava um numero de parti-
distas incomparavelmente maior do que aquelle que pode-
— 109 —
ria achiuirir cm pouco tempo uma authoridade estranha ao
Paiz, a consideração desta superioridade de partidistas
ainda mais a encorajava a hostilisar o dito Governador ;
estas armas, porém ainda eram fracas. A sua esperança se
firmava no auxilio da imprensa manejada por aquelles que
projectavam predispor o povo e tropa para a Independên-
cia. AJunta para atacar o Governador das Armas e fazer-Iho
perder a força moral abriga e protege estes homens, que
se prevalecem desta protecção não só para hostilisarem
uma authoridade que temiam e que lhes não convinha na
província, mas também para propagarem os seus escriptos
subversivos. O resultado destes ataques, e protecção a
quem os fazia, foi o que se observou em Agosto de 1823;
resultado que não appareceria si acaso o Decreto do 1.**
de Outubro não coUocasse em províncias tão remotas de
Portugal duas authoridades tão poderosas independentes
entre si e só responsáveis ao Governo de Lisboa.
Além dos terríveis inconvenientes que deveriam resul-
tar e de facto resultaram da instalação do duas authori-
dades iguaes e independentes em uma mesma província,
outros ainda maiores trouxeram ao socego dos habitantes
do Brasil a certesa de que os Governadores das Armas
jamais seriam nomeados por eleições e que nunca seriam
escolhidos para estes empregos Generaes ou ofticiaes su-
periores Brasileiros. Isto os encommodou e afligio porque
vendo por um lado que se lhes dava a liberdade de elege-
rem os Deputados ás Cortes e os membros do ôoverno
civil, ao mesmo tempo observavam que aquella authori-
dade debaixo de cuja direcção devia ficar a força armada
sempre havia de ser Européa e escolhida pelo Governo su-
premo.
— 200 —
Coníiar-Ihes a eleição das aulhoridadcs desarmadas, e
priva-los de, ao menos, proporem aijuellas que tinham o
poder da força, os pôz em muita desconfiança de que se-
melhante disposição legislativa tinha fins oppostos ás ideias
de liberdade, e igualdade de direitos que as extinctas
Cortes lhes tinham promettido. D'aqui proveio o ciúme e
até pouco affecto com que eram olhados os Governadores
das Armas, pois os consideravam como instrumentos de
que deveria scrvir-se o Governo de Portugal para coloni-
sa-los e também destas desconfianças nasceram os exforços
que desde logo começaram a fazer algumas provincias bra-
sileiras para se separarem de Portugal ; cxforços que tal-
vez se não verificassem si as disposições do Decreto do 1.**
de Outubro de I8ál fossem concebidas em termos mais
conciliadores dos desejos e vontade dos Brasileiros,
No Pará ainda se poderiam remetliar os maus resultados
daquele Decreto se quando pelas contas dadas ao Minis-
tério pelo Governador das Armas, o Brigadeiro José Maria
de Moura sobre o estado politico da provincia e por cora-
municações de diversas pessoas alli residentes feitas aos
seus correspondentes em Portugal, nas ([uaes se descrevia
o perigo em que se achava a provincia de adherir à Inde-
pendência do Brasil, o Ministério julgasse conveniente
mandar alguma tropa Européa com a qual se podesse ata-
lhar os progressos da opinião Brasileira,
— áOl —
WEAfi-SK
iS CAXOEIRAS DE PiULO AFFOISO.
Iniprirniinloesta carta do Dr. José Vieira de Carvalho c
Silva, dirigida ao Sr. Dr Capanem-i, temos em vista tor-
nar publica essa ijuaiitidade de noticias fiistoricas. geogra-
phicas, e estatisticas (jiie encerra, e o tributar à memoria
doeste nosso finado consócio, que lâo heroicamente mor-
reo em Porto Alegro, victima de sua dedica(;âo e zelo (juan-
doali invadio a cholera-morbus, um signal de respeito c
de saudade.
A família do nosso consócio recebeo dos altos poderes
do Estado um testemunho do apreço de seus serviços com
a pensão que lhe foi Címferida.
Pelo elleito produsido n.i sala do Instituto quando em
repetidas sessões ahi fora lida esta carta, julguei supprimir
algumas linhns, que a liberdade do estylo epistolar no cor*
rer da penna Linçára sem maior reflecção. e ás vozes com
o único lim de ostentar uma erudição mal cabida n'este gé-
nero de escriptos, como se verá do que ainda licou.
As opinioens acerca dos individuos que ahi vão. perten-
cem ao morto, e o Instituto nâo é responsável por ellas ;
porque nunca o ha sido de escripto algum, mas tão somen-
te dos que comportam o seu cunho ollicial.
Este Itinerário do magestoso rio de S. Francisco desde
a sua foz até às caxoeiras de Paulo AtTonso terá grand(í valia
no futuro, mormentíi quando mais civihsadas a(}uel[as re-
gioens compararem o seu presente com o passado a(}uides-
cripto.
O Dr. Carvalho passará na opinião dos homens estudio-
sos como um pequeno Pausanias doKio de São Francisco;
e o seu trabalho unido ao do Sr. Halfeld, que também de-
senhou as caxoeiras de Paulo AlTono, serão de todo o inte-
resse para os estudos do Instituto e de lodos os (|ue igual-
mente d'elles se occupam. O itinerário de Cunha Mattos
não é mais interessante do que este, e de quanta utilidade
nâo tem sido para os qu(í procuráo saber nossas cois-ts ?
Rio 24 de Abril de í8jí).
Poíío-aleíjre.
.vimiL. JG
— 20á —
IIIdi. Sr. Dr. G. Schuch de Cnpanémn.
Váo quatro aunos que em uma sala das do Museu Na-
cional se encoutraram dons homens ; o i)iimeiro regia
uma íiideira da Escola Militar ua Côrle do Império ; o
segundo devia cm poucos dias partir, para reger uma
Comarca nas nwrgens do magestoso Rio de S. Francisco
na Provi ncia das Alagoas. Vesse encontro trocaram-se
pouca* jKilavras; e uma promessa foi sellada jielo Jurista,
E'essa promessa que fiz no momento de dar o meu e re-
ceber o vosso bilhete, Sr. Capanêma, que pretendo cum-
prir: não espereis de mim cousa digna de vossa espe •
rança; por quanto são os Juizes estéreis em suas narrati-
vas; que o agro oflicio de lidar com os inimigos da sociedade
( os criminosos ) gera um sentimento, que mata o bello
humor que deve de presidir o trabalho de contar-voso
que vi, o que me contaram, e o que seja esse soberbo ma-
nancial d'aguas sem cessar, entornadas pela mão do Om-
nipotente por sobní este pedregoso— Gigante — Paulo
Affonso— que, sentado e encarando a Súl. sepnrou-o em
duas porções, marcando pela sua altura o leito, por onde
devem correr as aguas da iK)rção inferior, em quanto as
da superior impellem-se com inaudito fragor ix)r entre
os braços e penias ; debruçío-se pelos hombros, e se pre-
típitão enfurecidas no profundíssimo abysmo. Para me-
lhor satisfazer-vos na descripção do Rio de S. Francisco
-suppôr-me-hei entrado pela sua barra, e por e!lo nave-
gando até que dô ao petrificado Gigante a minha ultima
saudação: direi além disso alguma cousa, ainda que per-
functoriamente, sobre a minha Comarca.
Afóz do Rio de S. Francisco demora, em 10 grãos c
54'' de latitude Súl, corre nordeste, sudueste. Sua— Barra
?>
— â03 —
— senão torna perigosa por alcantilados rochedos que
ameacem ao descuidado nauta, ou pelos encobertos que
possão enganar a experiência do mais avisado prático ;
porém, sendo este Rio im|)etuôso era sua corrente, e ar-
rastando com e!la as areias de suas margens, fazem-na
temida pelas estuosas syrtes que se mudâo à sua vontade,
€ põe sempre incert.i a entrada para— o Navegador— que
ha pouco (l'ella sahíra. Dias ha em que se a navegará, como
em um Lago lijíeiramente encrespado por branda viração,
outros virão cora que a onda encapellada pelos ventos do
Súl e Nordeste atterrará o mais traquejado marinheiro,
parecendo que as alpinas Serras se desabão sobre o frá-
gil lenho, que, afoitado, as envistir ; e como seja um só o
eanál, e estreito, e sobre, de pouco fundo, é quasi infalli-
vel pagar o atrevido, com summa usura, a injuria feita á
sua passagem. Nada direi acerca do aspecto d'ella, vista
de mar em fora; porém começarei a minha narrativa des
que as doces aguas separão-se das amaras.
Destinguem-se as duasraargens do Rio pelas signativas
palavras de Baliia e Pernarabuco, a esta Província pertence
a margem esquerda ; a aquella a margem direita; por esta
explicação ficareis sabendo quaes os logares, Povoações.
e Villas, e Cidades situadas em uma e outra margem ; posto
que d^esde abaixo da espantosa Cachoeira, e no riacho
Chingó se bem divise pertencer toda a margem direita k^f^
Provincia de Sergipe d'El-Rei, e a marg^.esquerda á áW
Alagoas ; que domina d'esde o Rio Moxotó, duas léguas
sobre a referida Cachoeira onde findáo os meus domínios
judiciários. Da entrada da fóz do Rio de S. Francisco, fica
á margem direita, o conhecido parcél do cabeço, cruel ini-
migo, que raso e humilde, parece afagar os Nautas; po-
rém triste do que se a elle aproxima, porque é então que
— 204 —
tornnnílo a aiToctada brandura om furor, o despodaç^T som
piedade, com o rancor d'um vilião de quem confiaram o
cargo. Á margem esquerda está. a cavalleira, o arenoso
Morro doPonlál, coroado de suas pequenas cabanas, seus
coqueiros, e raros cajueiros : na sua fralda ancora a Ve-
leira Catraia, a cujo Palrâo eslá incumbido o cuidado de
avisar aos que entrâo. e snhem. se lhes será prospera ou
perigosa a passagem. É a Sybilla da Barra, e ás vezes
bast intemente usa de suas ambáges, para demonstrar a
necessidade, e sabedoria de seu emprego.
Segue pelo cordão do Pontal, e pela esquerda— Sara-
menha. e o Riacho— Caranha ; e pela direita os Riachos,
Arambipe, ou Gaú, que communica, por uma valia, entre
mangues, quasi com. o Rio o mar na Costa do Somíko. e o
Parapúca. que faz a barra, chamada— Nova:— Estão era
meio do Rio as Ilhas das Paturis, a da Negra que toma
diversos nomes, fertilissima , e d'onde vem excellentes
mangas ; e a de — José Thomé. — São estas Ilhas extensos
cannavenes, e próprias para toda aplantagem que deman-
de frescura.
Corre pela margem direita uma corda de Oiteiros mais
elevados, e vestidos de grandes mangues e outros arvore-
dos, havendo nas abas. e perto do Rio. as pequeninas Po-
voações de— Tauóca— Rezina de Baixo, v Rezinade Cima,
lívos painéis da miséria ; mas demonstrativos da bondade
do Creador que dá vida, e vida vigorosa n^este Brasil a
aqueíles de seus filhos, mesmo que vivem nus e crus sobre
a terra, tendo a esta por leito, e o Cêo, sempre assetina-
do, por cobertor.
Paga seu tributo ao grande Rio o riacho— Paraiina—
pelo canal do— Souza, — seguindo-se os— Riachão— e Ba-
gres— formando dilTerentes Penínsulas, e Ilhas em suas
— 205 —
enchentes, e rega boas propriedades. Fica pela esquerda
o riacho— Gurugy também tributário, sendo adiante o—
Batingas— á borda do qual situou o velho Capitão José An-
tónio da Costa uma bôa propriedade de Engenho, pondo-
-lhe o nome do mesmo riacho. Em frente vai o lugar Costa
do Quebra Costellas.
Contínuão pela esquerda os três Engenhos— Bôa Sorte—
Paraizo, e Cerquinha, e logo a Povoação de Piassabussú, e
pela direita a bella propriedade de Engenho — Mucury—
sendo seu proprietário o Sr. Telles da Serra, e o ancora-
douro do— Dendê— e o engenho— Bandara-do Coronel
João de Aguiar ; ficando entre-meio as Ilhas do— Toco—
ou da Finada Custodia, e a do Bemvenuto, ou dos Frades
Bentos.
Devo aqui dizer que quasi todas as Ilhas do Rio de S.
Francisco, que estão perto da Barra, pertencem aos Reli-
giosos de S. Bento, d^onde tirão soífrivel renda. A Po-
voação de— Piassabussú— é a primeira de importância,
que se encontra ; poderá conter trezentas e tantas casas
com uma pequena Igreja no centro, do Padroeiro S. Fran-
cisco—e um Oratório da Santa Cruz. Foi em 1796^que
Fuão de Seixas principiou a Povoação. É um districto de
Paz, e Subdelegado ; seus habitantes vivem decrear, e la-
vrar cannas e outras plantações ; tem pouco commercio,
posto que olTereça um bello ancoradouro, e onde fundeão,
logo que entráo as embarcações, que velejão de barra
fora.
Ha alguns Engenhos de fazer assucar, e estabelecimen-
tos de distillação : O seu mais forte mercado é uma feira
aos sabbados, porém tão mesquinha que por isso merece-
ria ma is o nome de quitanda, do que o pomposo de feira.
A melhor casa e engenho do lado direito é do Exm. Barão
— á()(> —
(la (lofiiigiiil).'), cuja caside vivenda, corpo de engeiílio,
macliiiias e terras sao exccíllentes, e nem éra de esperar
outra cousa d'um Barão, que ainda tem seus laivos dos
da meia idade. A vista que olTerece a Barra olhada doesta
Povoação é bella, e vos envio os traços d'ella, tomados n
olho, que pois neia |)ossur) eu os instrumentos conhecidos
por camarás escuras ou lúcidas.
O ancoradouro do — Dende— que fica defronte de Pias-
sabussú tem proporções para o fácil embarque dos assu-
cares de Cotinguiba. e para alli vàoalgims barcos á carga,
e voltáo da— Bahia carregados do fazendas, c géneros:
creio (pie nenhuma íiscalisação se exerce, senão a da von-
tade dos interessados. Corre (fesse lado o Riacho— Ca-
poeira— que baptiza a Povoação (Feste nome, a qual se
liga com a do Brejo Grande. Estas duas povoações for-
mão uma peninsula, quando o Rio grande de S. Francisco
recolhe -se ao alveo natural ; passa a ser Ilha nas enchen-
tes; é a reunião dos melhores Engenhos d^esses togares
com fertilissimas terras para tudo quanto vegeta ; a uva
branca, a ferral, as mangas, os cheirosos e coroados ana-
nazes. os melões, cm íim fructas e ílôres pejão os pomares
e os hortos.
Os famosos limões alli cheirando,
Estão virgineas tetas imitando.
E sobre tudo a canna ò a da melhor qualidade e succo-
lenta: contem cento e setenta casas pouco mais ou menos,
contando os Engenhos c uma Capella da Invocação da Con-
ceição. Pela esquerda se deslisa em fraca veia o riacho que
faz a barra do— Bongue,— separando o povoado do enge-
nho—Correnteza— de João de Deus e Silva ; segue-lhe o
— 207 —
lugar— Parreiras— sem que nenhuma vido n*elle biolc, o
pela direita o— Cajuhipe ; creio também que sem um pé
d'essa espécie de cajii pequenino e d'um ácido forte, muito
procurado para a confeitaria. Ergue-se de próximo n^esse
logar um Engenho de propriedade do Major José Nunes
de Barros Leite, e pelo principio dà que esperar.
xMedeião uma e outra margem as Ilhas da Tliereza e a
dos Bois ; a primeira fertilissima, e a segunda além d'isso
é já um povo de perto de cem vizinhos com uma Igreja
da Invocação de S. António. Além da fertilidade da inti-
tulada Ilha do— Brejo Grande— é notável esta porção de
terra, por aprcscntar-sc pertencente a duas Provincias ao
mesmo tempo I É, quanto ao ecciesiastico, da Freguezia
doesta Cidade do Penedo, e quanto às justiças, da Villa e
termo da Comarca de— Villa Nova ; com tudo sendo os
eleitores por parochias, votão os habitantes em a Fregue-
zia de — Villa Nova — e para eleições de que não são fre-
guezes, isto é, de Sergipe 1 É um doestes contra sensos
que se depara a cada passo entre a nossa defeituosíssima
organisação civil e occlesiastica : a estes se pôde bemappli-
car o anexim— não sabem de que freguezia são.— Acima
do Cajuhipe está collado o Engenho de outro João de Deus :
a barra da— Caiçara— sem importância ; o Serrão, e o fun-
deadouro do Betume.
É este logar um ancoradouro seguro e commodissimo
para o embarque das caixas e outros géneros que descem
pelo riacho da— Goiaba.— De muita utilidade veria a ser
para as Provincias de Alagoas e de Sergipe a abertura
desse porto pelo riacho dito, ç aventura-so que com a li-
gação do dous pequenos canacs, de menos de meia légua,
far-se-hia communicavel o Rio de S. Francisco com o Rio
— Cotinguiba , e talvez até a Bahia, se podesse ir sempre
— á08 —
por agua. Nada mais direi a respeito por estar fora do
meu propósito. Acima do logar— Parreiras— está a — Pon-
ta Grossa,— a Barra das Larangeiras, e a— Ponta Mofina ;
— este appellido é optimamente cabido, porque na verdade
é raro aos que sobem de rio acima, ainda com o vento de
feição, não encontrarem-no ahi mofino e mào I
Entremciâo esses logares marginaes as Illias do— Gon-
dim— também chamada do— Gregório— e do Barro:— a
do Cachimbáo que tira o nome de sua forma, e a do —
Matlo.— Além do Betume vè-se o logar — Porteiras, Morro
do Aracaré,— Aracaré— e barra do Aracaré, pequenino
regato.
Além da— Ponta Mofina— corre a margem com sitios e
propriedades internadas até a Cidade do— Penedo — com
diversas peninsulas que se tornão um archipelago nas en-
chentes : São essas Ilhas a da— Gallinlia— a do— Barão, —
á Grande, —a do— Aaraçà— c a do— Bamba : Ha nellas
outras propriedades de engenhos, a de Luiz Alves, e a do
Dr. Berkett que é a melhor, etc.
Quanto à Ilha Grande é ella um Encapellado colhido, em
bellos tempos, pelas orações dos Benedictinos a dous pios
devotos : D. Arcangela Brandão, e o Coronel Belchior Al-
ves Fagundes. A terra é abençoada para creação de gados
grossos e miúdos, e tem mui ricos massapés. Ao Religioso
Fr. António de S. Brás Pinheiro deve-se a bella e ampla
casa de vivenda. Conta esta fazenda de canrias, uma bôa
— queira— de escravos crioulos e pardos, moços e d'um
valor subido, e tudo isto para que os frades digão três
Missas por anno ! —Deus nobis hec otia fecit— dirão em
suas céllulas os que rezâo contra as cobras e serpentes !
Está acima da barra do Aracaré a Villa Nova, cabeça da
Comarca doeste nome, e coutmua-se a vôr a barra de outra
—Caiçara,— a Cambraia,— as barras do Zalóque,— e a do
yueriqnindim. A passagem ó a reunião de poucas e fra-
quíssimas casas e que licando bem fronteira á Cidade do
Peuèdo off.^rece o melhor lanço de vista sobre ella.
Segue-se a— Barra das Tabocas— e a de outro— Bongue,
e a Povoação do Carrapicho. Toda esta extensio fica pela
frente da Cidade do Penedo que se estende d'esde o arre-
balde— Cortume, até o outro do Barro Vermellio; tendo
de permeií) as Ilhas do— Carrapicho, São Pedro, a do Ca-
pitão Manoel Joaquim dos Reis.
Deraorar-me-hei por aqui fazendo [)or desenfado a des-
cripçáo doestas três povoações,— Cidade do Penedo, Villa
Nova, e Carrapicho; pois que jà muito venho fatigado da
viagem da Barra, que contáo sete loguas, duas da Barra a
Piassabjssú, e d'este logar mais cinco ao Penedo. Situada
está a Cidade do Penedo, como no vértice d'um angulo,
cijjas extremidades dos lados pousão cada uma sobre um
Povoado ; ume a— Villa xNova- e outro— Carrapicho— Am-
bos estão derramados em duas rasas collinas ; ao passo
que o Penedo se ostenta sobre alcantiladas rochas de pedra
arenosa, que parecem cuidadosamente sobrepostas umas
ás outras ; e assim no meio doestas duas Irmãs se sobre-
avantaja pelo elevado talhe. Villa Nova se appellida de ca-
beça de Comarca, mas não è ahi a residência do Juiz de
Direito que preferio para elia a Villa de Proj)riá— (hoje
por Lei Provincial doeste anno foi transferida a cabeça da
Comarca para Própria )—aquella conta diizentas casas,
uma Matriz em obras do Padroeiro Santo António de Lis-
boa : poucos são os edilicios dignos de mensão— o Palácio
do Barão ; que antes de c-iegar ao respaldo parou; se con-
cluir-se será de feito uma morada Senlioril. Tem um Juiz
Municipal, Bacharel, e mais authoridades de nossa orga-
ABRIL. 27
— áio —
nisaçiío policial c judiciaria, e uma Mesu de Rondas, cuja
arrecadarão é deminuta; para não ir mais longe, é um
feudo no rigor da palavra.
A Povoação do Carrapicho conta cento e vinte vizinhos;
tem duas Olarias de fazer louça vidrada. Seus habitantes
crião e la\Tâo em pequena escala, a pedreira que possuo
faz a s ia nascente industria que pôde vir a crescer; lavráo
soleiras, umbraes, e varandas; é a pedreira de óptima qua-
lidade—a amostra N. 1 .® : É d'ahi que parte a estrada geral
para a— Cotinguiba— e que segue até a Capital da Bahia
de S. Salvador. Entre — Villa Nova — e Carrapincho — existe
o logar— Passagem;— doeste logar que é como disse acima
o melhor. Tem o Rio de S. Francisco neste logar cinco
mil e novecentos palmos, com o fundo de quatorze pés nas
vasantes, pois que até aqui ainda muito influem as marés,
fazendo -se sensivel o crescimento de ({uatro \)Í6 sobre o
nivél do Rio nas de lançamento.
A Villa Nova conta mais a Capella de Nossa Senhora do
Rosário e Santa Cruz : as casas em geral são mal construi-
das, e pois que a pedra está â porta, fazem-nas de madei-
ra, seguindo o rifão de nossos povoadores— ^m casa de
ferreiro espeto de pão, —
A Primeira Povoaçíio (Fesde a fóz do Rio de S. Fran-
cisco até a — Cachoeira de Paulo Ailonso, e a mais impor-
tante é a Cidade do Penedo, Cabeça de Comarca do mesmo
nome. A vista da Cidade é muito attractiva por ser esta
collocada como em um anpliitheatro, e ofTerecer, à pri-
meira vista, seus melhores edifícios e Templos. Conta ella
perto de mil e cem casas, das quacs a maior parle é de
grandes sobrados, alguns de dous andares.
A edincação é geralmele de madeiramento com as fníu-
tes de [)edra e cal ; é uma excepção arjuella toda feita de
— áll —
cantnria ou alvenaria. A casa mais insigiiificanto é forrada
de cantaria, e se precisa de degràos, por ser a Cidade mon-
tanhosa, ou mesmo por um erro antiquissimo de se não
nivelarem os terrenos antes da edificação ; são elles de
bôa cantaria, e em algumas parecem mais um átrio de
Igreja do que limiares.
As ruas são péssimas no calçamento e nem mesmo as
Camarás tem sabido aproveitar o soccôrro que lhe submi-
nislra a natureza, dando quasi ruas inteiras lageadas de
arenosa rocha nativa, as quaes lornar-se-hião transitáveis
com o fácil e pouco despendioso aplainamento. A melhor
das ruas é a chamada da Praia, que corre ao longo da mar-
gem do Rio, e que seria perfeitamente uma rua de Com-
mercio ; pois que nella estão armadas as mais fartas lojas ;
se os negociantes tivessem o gosto que observào os tenta-
dores da do Ouvidor n'essa Corte, para atrahir Freguezes,
e se houvesse um Cães que desse-lhc a elegância e afor-
moseamento, ainda desconhecido nas pequenas Cidades,
ou para melhor ex[)ressar-me, desconhecido pelos nossos
homens do interior que julgão que a riqueza, a paz, e a
segurança de vida, e de propriedade está na mesquinhez de
tudo, e no monótono— rojão— em que ouvirão marchar
seus pais, e estes a seus Avós ! « Ninguém ainda fez » é a
desculpa dos estacionários, porém não qu(Tem vêr que
para se dizer— já se fez,— e este pretérito servir de exem-
plo, è de nec/essidade que haja quem diga— vou ou vamos
fazer,— porque esta é a voz do progresso, a qual tem in-
corajado os Inglezes e Norte Americanos, para que depois
das grandes catàsthofres exclamem alegremente— allready !
— e sigão para diante ! Com tudo devo em verdade dizer-
vos que se o génio dos Penedenses dér algum dia para a
edificação de grandes obras e edificios sumptuosos, elles
— 212 —
tem ao |>ê de si os mnleri-^es precisos para uma Cidade de
Palácios, oauma nova— Génova.—
Conta a Cidade do Penedo, alf^m da Igreja Matriz da Pa-
droeira do Rosário, um Convento de Franciscanos e as
Igrejas, da Corrente, S. Gonçalo Garcia, Rosário dos pre-
tos e S. Gonçalo de Amarante, havendo de mais os pro-
priamente ditos— Oratórios da Penha— Santa Cruz do—
Cortume— e Santa Cruz do— Barro Vermelho,— A Matriz
é um Templo ha pouco Erecto, espaçoso ; e poderia apre-
sentar bòa prespectiv;!, se nâio o coUocassem em mào ter-
reno, ainda que pôde ser reparado esse erro, se lhe sou-
berem constrtiir o adro, de mnneira ato chegar ao plano
da pequena praça ou parallelogramo. em que estão igual-
mente a casa da Camará, e Cadeia, e Aposentadoria dos an-
tigos Ouvidores.
De passagem direi quo a casa da Camará é ampla e de-
cente e nella se celebrão as Sessões do Tribunal do Jury ;
ainda tem seus estufados de damasco vermelho, e seus respos-
teiros das cores do tempo do dominio portuguez ; devido
este asseio ao Desembargador Luiz António Barbosa de
Oliveira qne foi o [uimeiro Ouvidor. A casa da Ouvidoria
está bastante arruinada porém ambos os edifícios são no-
bres ; e poderiáo servir em qualquer outra Cidade mais
opulenta : a esse respeito o Penedo não deve invejar.
O Convento dos Franciscanos, no interior e altares e a
sua Ordem Terceira, é de obra de talha antiqiussima, pois
tem o Convento era anterior a mil seis centos e oitenta e
oito, e foi reparada a frente e feito o peristillo em mil sete
centos e cincoenta e nove, e por isso a preciadissima por
mim. ainda qu!> à moderna aprecia-se ligeireza e ouropel.
Fundo esta opinião de ser anterior a mi! seis centos e oi-
tenta e oito em ter visto e lido em um livro de eleições da
f%
— 21:í —
sua Ordem Terceira uma acta delias la\Tada do Convento
de Nossa Senhora dos Anjos na Villa cio Penedo em mil
seis centos e oitenta e oito, a fls. 12; d'onde collijo que
nas folhas primeiras outras houve. Não encontrei nos
archivos da Camará documento algum sobre a época certa
da creaçáo da Villa, porém esse que acabo de citar revela
que foi antes de mil seis centos e oitenta e oito ; pois que
declara na Villa do Penedo. O Diccionario de Mr. Milliet
do Saint Adolphe dà a elevação em mil oito centos e seis.
porém c um erro palmar. Occorre que mesmo dos livros
carcomidos da Camará consta uma acta do antigo Senado
na éra de mil oito centos e tantos, náose percebendo exic-
lamente o resto pelo estado miserável dos archivos.
Vou expender- vos tudo quanto tenho colhido acerca da
primitiva existência do Penedo.
Nas Instituitjóes canónicas do Dr. Soares Mariz se aflir-
ma que o Penedo fora elevado a Villa a 12 de Abril de 1836
— quando igualmente o foi a Povoação de Porto Calvo com
titulo de Bom Successo, esta, e aquella com o de S. Fran-
cisco ; seguindo o mesmo Doutor a opinião do Autor das
memorias diárias. A historia do Brasil por Francisco So-
rano Constâncio— tratando do anno de mil seiscentos e
trinta e seis dà a mesma época, dando também como fun-
dador da Villa a Duarte de Albuquerque. Na Villa Nova ha
registro d'um offlcio em que a Comarca d'ali disse para a
d'aqui que a Villa fora fundada em 1G14— o que não pa-
rece exacto, pois que sendo em 1613—0 primeiro desco-
bridor, e povoador doestas paragens o Capitão Christovão
da Rocha, não podia em 1614 estar capaz de ser Villa o Rio
de S. Francisco. O mesmo Rocha, fimdou a Igreja (hoje
Matriz) com a invocação de Santo António, e lhe deo uma
légua de terras, fazendo pião da Igreja, e correndo para
— ál4 —
cima ale a Mata d*Alileia, o para baixo a outra meia légua,
dando de renda dez crusados, sendo a doação assignada
por Belchior Alves, como seu Procurador, e tendo dado a
licença o Bispo D. Constantino Barradas, 4.° Bispo do
Brasil. Duarte de Albuquerque deo para património da
Villa — 1 — légua de terras — fazendo pião no Piloirinho.
Sendo esta Comarca tomada pelos Ilollandezes à viva força,
como o foi toda a Capitania, retiráo-se todos, e até Belchior
Alves, para Bahia depois voltou elle, e se reunio ao IIol-
landoz, e apoderou-se <las terras, vendendo e doando. De-
pois da expulsão dos Hollandezes ; o vigário— Manoel Vi-
eira Lemos, quiz revendicar as terras, e pleiteou com a
Camará, e outros que se diziào copossuidores, isto jà em
1690— e foi Juiz julgador— Josc de Sá Mendonça, que sen-
tenciou os autos em Olinda a Ití de Setembro do anno ci-
tado, reconhecendo a obrigação dos dez crusados para
a Igreja Matriz hoje de Nossa Senhora do Rosário, cabendo
o domínio á Camará ; porém hoje a terra pertence à Igreja,
a Camará nada tem e muitos intrusos donos se chamâo
d>lla. É a sentença qnem muito esclarece, e por compri-
da não a transcrevo aqui. O reduto, ou forte Ilollandez,
foi situado a pouca distancia por detrás da Igreja, domi-
nando o Rio pelo logar rocheira. e a rua hoje do Convento.
Tem apparecido vestigios doesse domínio Batavo; a Sra.
D. Anna Felicia de Macedo — escavando para um acréscimo
da propriedade onde mora, encontrou uma espécie de abo-
bada de tijolo, e quebrada esta uma cruz dos mesmos ti-
jolos tendo no feixo da cruz uma telha emborcada, e en-
caliçada ; quebrado o encaHçamento encontrou uma chave
grande de forro, antiga, como indicava os ramos, c corta-
dos da mesma chave no lugar de pegar-se; não se podendo
dar com a porta cuja era ella.
— âlo —
Estou qiio seria tudo isto uma sopallura, e a chave do
sarcórigo, onde eslarião os restos de algum magnata dos
conquistadores.
Dizem mais que corria em direcção doesse achado, um
corredor, e um ladrilho de grandes pedras, em cujas fun-
das, introdusindo-se compridas varas não tomaN^áo pé, c
que temendo-se nâo fosse isso um abysmo, taparão a esca-
vação. De presente edifica -se uma casa sobre os restos
do fallado reducto, e se tem encontrado balas ; e caximbos,
como os da amostra — N. 2.° — Na llocheira, ha algumas pe-
dras muito altas, e ligadas àroclia nativa, lavradas a picão,
não se sabendo quem isso fêz, e para (jue. Muitas fabulas
se narrão a esmo, que escuso n'ellas tocar por incríveis.
Tem o Convento um claustro de vinte cinco passos (jua-
drados acolumnaíio e arcado de cantaria, assim como os
umbraes, frontispício, pateo, escadaria, c adro com seu
cruzeiro.
Ha um coro sofrível com os ornatos costumeiros i)ara
a mesa da oração diante do Senhor dos Exércitos, porém
jà as vozes deprecantes não resoão pelas naves d'essa casa
de Deus, e nem tão pouco á hora dada distribuem à porta-
ria o caldo para os fdhos ou irmãos mendicantes. Tinha
uma extensa cerca de pedra e cal, hoje tem dado ella para
duas ruas, e se resume a um estreito quintal. Tem o edi-
fício dous andares de cubículos e espaçosos Salões, tudo
re Jusido a ermo ! e posto que seu relógio marque as horas
de oração, um cântico se quer não se escuta reboar, e que
trazido pela branda viração toque o coração indurecido de
alguma ovelha desgarrada, e a faça tornar ao aprisco.—
Ah! quantas vezes.—
— ál() —
No silencio da noite a vóz pungida
Do Christâo que orações aos céos envia
Náo me tililla o peito
E ao íuizo que fiz de ser matéria.
Náo deo matéria mais p'ra convencer-me,
Que existe um Deus Eterno ! 1
São estes frouxos versos d'ura meu escripto debatendo
o atheismo, náo pude forrar-mo d'aqui enchertal-os para
remoque aos meus confrades de burel.
Seria este Convento digno de visita, se a inércia, e irri-
ligiosidade dos irmãos seráficos não deixassem que a mão
do tempo ferisse o Templo, e que a vegetação se desenvol-
vesse tão espontaneamente nos telhados e frontão, que jâ
náo consente que o gnllo que serve de grimpa á pequena
torre se volva ao querer dos ventos t São, como os da Or-
dem, mendicantes; porém da sacola e bordão é do quc
menos curão I Tenho os visto, mesmo de habito jogando
no bi har. e nos theatros, com despreso de suas regras, e
das fulminações dos Concílios.
Os terceiros tem pobres reditos ; e posto pensem bem
de sua Capella ao lado esquerdo da Igreja, náo podem,
ainda querendo, fazer mais; finalmente c Ordem sem
compromisso ; pois que ainda não o tem approvado.
A Igreja da Corrente é sit lada bem defronte do cáes de
desembarque que se limita á entrada da rua desse nome :
foi ella obra de gosto, feita pelos progenitores da familia
Lemos: é bem acabada e decente; e melhor brilharia, se
seus dourados não fossem enegrecidos por dous raios, ca-
bidos ali ; não sei se alguém fez offrendas impuras no ta-
bernáculo, e que por isso a mão do Senhor, fez baixar o
fogo celeste para o|)anir. como contra Nadah e Abiti.
_ 217 -
A de S. Gonçalo Garcia, se fosse acabada, seria o maior
e o melhor dos Templos d'esta terra : é de cantaria parda
com seus baixos-relevos. Possue nos seis altares lateraes
|)erfeitas imagens ; não direi que as esculpira o sinzel de
Phidias ou Canova ou do moderno— Limart,— nem as en-
carnarão os Tecianos, Raphaeis ou Sanches Coelho, po-
rém são em vulto exactas representações dos actos doridos
da Paixão Sagrada do Nosso Redemptor.
Contra o estillo, e mesmo a fé, sahem estas Santas Ima-
gens todos os annos na procissão de Sexta feira da Paixão I
Quando o crucificido espira no Golgotha apresental-o no
esquife, e vivo ainda em tormentos, é muito affrontar a
piedade dos chrístãos I Não pára aqui esse absoléto costu-
me ; o mais censurável é a mercancia que em alta grita faz ,
para cada Passo^um dos que tiveráo a devoção de o carre-
ar» offerecendo anéis de prata ou de àço— quem troca os
anéis do Senhor dos Passos, quem os quer do Senhor á
columna? e as sete vozes dos pregoeiros devotos fazem
tanta confusão, e nojo que bem valia, por honra ao pri-
meiro preceito do Decálogo, que se abolisse.
São christãos : dirá talvez algum herege ; mas como
não lucrarão nos trinta dinheiros porque os vendemos e
nem no sorteio das vestes, agora lhe vendem os anéis.
Foi protector e factor da Igreja um ricaço João Pereira
Alves, e depois em mil sete centos e sessenta e sete fun-
dou um hospital de caridade, dando-lhe para sua mantença
a renda do Capital de doze mil crusados. É um estabele-
cimento de summa utilidade para a pobreza, mas existe
ura pouco— prode relictus— c não presta quanto era de es-
perar : além d'esses juros tem oito casas doa ias para alu-
gar, e porquanto entende o Thesoureiro: em fim são bens
de (juem não falia, e dos quaes dizia o General Dora Mar-
ABRIL. á8
— 248 —
C08 de Noronha, Conde dWrcos— quereria ser Administra-
dor náo sendo Capitão General.
A Irmandade de S. Gonçalo sob cuja vigilância está o
hospital tem uma organisação de protectores, que uns
descanção nos outros, e a cousa marcha mais— sua sponte
—do que pelo impulso que lhe dà o zelo de tanto Zelador.
O commodo para enfermaria das mulheres não é muito
mào ; porém o da enfermaria para homens é muito estreito
corredor que dá escassamente logar para os leitos, e um
espaço para o enfermeiro andar enviesado. Ha esperanças
de melhorar-se por promessa que fez o Dr. Berkett, encar-
regado da clinica do mesmo estabelecimento pela qual per-
cebe quinhentos mil reis em moeda sonante, fornecendo
os remédios. iNâo admittem-se os tocados de moléstias
contagiosas ; á vista da pequenhez da casa que poderá
admittir dez a doze homens, e outras tantas mulheres e
somente com duas enfermarias, acho bem preventiva essa
medida.
Tem finalmente seu acanhado jardim, cujos fundos estâa
à margem do rio.
A Igreja do Rosário da Irmandade dos pretos é um tem-
plo por acabar, ainda que espaçoso, não tem cousa notá-
vel : fica em uma collina rasteira e se o renque de casas
que lhe fiei á esquerda da entrada não se unisse tanto,
quasi que lhe encobre a esquina, ficaria ella no meio do
largo e melhor vista se gosaria. Hum costume inveterado
faz percorrer as ruas no sabbado o Terço da Mâe de Deus,
a qual é recebida de todas as janellas, as mais humildes,
com luzes ; e além do grosso acompanhamento de homens
que vão na dianteira, outro igual de mulheres e mais bri-
lhante faz cauda, contando entre essas devotas as principaes
senhoras da terra.
- 2li -
A Religiosidade que se ostenta no culto externo nesl^
logar seria signal infallivel de funda moral, se as acções
reaes não desmintissera as apparencias.
São Gonçalo de Amarante, o Padroeiro dos casamentos,
f^stà erecto no logar mais elevado de toda a Cidade que vai
ella desde as ribas do Rio sempre subindo. Seu Templo
porém é visto mais pela altura em que o collocaram, do que
pela altura de suas paredes ; è uma capella de arrebalde, e
de facto para ahi correm as famílias quando o abanar da ele-
vada bandeira lhes annuncia que o Velho Ermitão vai ser
festejado. É o largo mais amplo que teiios cercado de
soffriveis casas, e que se enchem de familias n'esse tempo
feliz, quando a donzella apparece formosa e louça sem o
recato rotineiro da Cidade. Chamáo-lhe aqui o pequeno
— Bomfim— em arremedo ao da Bahia, que lá também o
festeijáo, ainda que, se os cotejásseis, a diíTerença seria
d'um Pigmco para um Gigante : Com tudo bem religiosas,
ricas, e devertidas que são suas festividades, principal-
mente quando às reverencias da Igrej:i, se addícionão os
festeijos chamados de rua, e nelles vemannunciadas as an-
tigas cavalhadas. As Dulcineas Penedenses mais e mais se
esmerão para verem (every one as he listes) o seu decan-
tado cavalheiro da Mancha. Que vos direi dos Cavalheiros ?
Que se presumem os dozes escolhidos pelo Duque de Alen-
castro, e dos quaes nos relata os feitos o príncipe dos
Poetas, a quem parece que fora feichado um olho do rosto
para se lhe abrirem quatro na intelligencia. Não applica-
reis a estes heróes de cà os versos que forão feitos para
os de lá.
Mastigâo os cavallos escumando
Os áureos freios com feroz sembrante.
(Est.— 61)
— Íá20 —
Dos cavallos o estrépito parece
Que faz que o chão debaixo todo treme
O coração no peito que estremece
De quem os olha se alvoroça e temo.
(Est.— 64.)
E então é a garótice Senhora d'elles, que, atormentados,
não volláo muitas vezes á liça. Foram os edificadores doesta
Capella dous Frades Barbadjnhos. que para ahi vieram, e
ahi morreram : Ha além das Igrejas, como acima digo,
casas de oração e muitas Irmandades : a mais rica é a do
Santissimo Sacramento, que possuemn património de mais
de í 2,000:000 em casas e fazendas, e ornamento de custo,
sendo a Capella muito decente. As casas de oração não
merecem que sejáo falladas, cora tudo todas, tanto Irman-
dades, como Imagens tem suas festas ; e tanto lia que
fazer a esse respeito, e quem faça vida de agenciar festas,
e muzicas, e enterros por devoção, que não toca isso para
qualquer bilhostre : a esses por descargo de consciência
applicarei o epigrama do— Boccage :
Procurador não me enganas.
Tu procuras para ti.—
Ora visto que fallei em festas, não penseis que tustáo
ellas grossos capitães, que felicidade ó para os devotos a
barateza doesse género, pela quantidade da offerta ; porém
o que vos posso assegurar é ser a muzica adoptada como
principio de educação, pelo que dou parabéns ; e se não
fora ella não se adoçaria a rudez d*esta Nayadc.
Dos que se dedicão a esta arte ha dous grupos que odiáo-
se como se fossem dous bandos políticos; e ornais galante
é que nesta rivalidade apparecem as pessoas gradas, e
— 221 —
cada uma se empenha por seus Orphêus e Amphyões, a
ponto de, em casos crus. tocarem uns as festas de graça,
só para que os. outros não toquemt
Tenho assistido a Missas cantadas em que entôâo, sopráo
e tocáo 16 á 20 muzicos por preço de 4$000 ! Claro está
que não o apreço d'arte nem o lucro, mas o requintado
igoismo dirige as arcadas I
Doesta rivalidade (se entre outra gente fosse) tirar-se-hia
proveito , reduzida ella a emuíaçáo; porque só esta fàz a
génio percorrer o estádio de sua intelligencia.
A preguiça de uns, e a falta de meios de outros, final-
mente o não quererem fazer dMsso uma vida habitual corta
as azas aos que se ensaiáo para erguer esses voos que ele-»
varam— Mercadante— Marcos Portugal— e Bellini.
Atrellão-se a dous ou três glorias de caus, ao memento
do prezo e muita vez sobe a— 'Sagrada Forma — ao som vo-
luptuoso das quadrilhas, tiradas da Norma O Espirito
e o que propriamente appellidáo os hoje súbditos de Na-
poleão—3.®— de— amabilidade, se aqui andou algum dia,
desconfiado fugio ; e a razão de sobra para este juizo é a
falta de sociabilidade. Força-se quasi um individuo para
jantar, ou passar algumas horas da noite, c tomar uma
chávena de chá 1 Os costumes são ainda longe doesse verniz
do alto, e grande mundo, d^essas complacências que temos
para não encommodar ás pessoas de certa ordem— a uma
Senhora— e antes dar-lhe prazer— as vezes com detrimen-
to, somente por ouvir-mos o pomposo e nobre nome de —
Cavalheiro.—
O verniz ainda está por polir, e as complacências apenas
lampejão.
Se alguns mettem-se nisso, são pennas de pavão sobre
a nojenta gralha da fabula; e feitos os primeiros rompan--
— 222 —
tes. desmudáo-se, mostrando cada um para oqueé. Bera
aventuro, desculpando esse methodo como filho de crassa
ignorância de alguns— Potencias— que brilhâo como os
corujões nas frontarias das Igrejas pela parda noite, mas
que fogem e se irritão com o Sói apino I Cifra -se todo o
divertimento hoje por mim conhecido em um theatrinho
particular : náo é um Sing— Song— chinez, nem pela am-
bulância nem pelo scenario, nem pelas roupagens; poderá
preencher satisfactoriamente alguns en tremeses.
Dizem-me sócios que é uma excellente estufa, e que da
companhia— de curiosos — só tem mérito um cómico gra-
cioso e que faz nos papeis de bêbado, a cousa muito ao na-
tural ; com tudo deve-se essa caricatura ao Dr. António
Gonçalves Martins, quando Juiz de Direito doesta Comar-
ca : pôde desfazer repugnancias. que tinhão alguns pais
de familias. talvez imbuidos nosprincipios do Philosofode
Genebra que tanto guerriou a criação d'uma semelhante
escola em sua Pátria imitando a Demosthenes.
 instrucçâo pnblica tem por apanágio duas Cadeiras de
l .** Letras para o sexo masculino e uma para o sexo femi-
nino : além de uma Cadeira de Latinidade. Hoje ha outra
do sexo feminino. Pouco seria para uma Cidade que conta
mais de 1,000 casas, se o amor dos estudos fosse arrei-
gado na mocidade: pelo contrario as esperaoças a este res-
peito sáo agoadas, e é uma lastima a direcção que seguem
os Jovens, e o espirito de desobediência e desenvoltura
que apresentão— salvas as honrosas excepções ; pois muitos
ha morigerados, e que demonstrão as lições recebidas de
seus Pais ou preceptores. Náo lhes devo negar com tudo
o talento que reveláo, e só desculpo muitas travessuras que
por aqui fazem, dignas de correcçáo, applicandoa máxima
seguinte de— Rochefoncontd.—
— 2á3 -
La jeúnesse est une ívresse continulle ; c^est .'a lievre de
la raison.
Ha uma Mesa de Rendas Geraes internas, cuja impor-
tância montou nos 3 annos últimos na quantia de Rs.
14,402:570— e o recolhimento dos dinheiros de Orphãos
que importou em Rs. 14,064:914 — bens de ausentes
131,863— evento 69,000.
A Mesa Provincial que arrecada a exportação, é impor-
tante ; e pelos géneros despachados ajuisareís da cultura e
industria d'estes logares.
Despacha-se algodão, assucar, sola, couros, pelles
legumes , azeite de rícino , caroà , cera , lã de paina ,
chamada aqui— barriguda — lã de caianna — óleos purifi-
cados, etc.
A quantidade d*estes artigos no exercido de Julho de
1831 até 1832— foi de 38,505 arrobas e 15 libras de al-
godão, 34,948 arrobas de assucar, 25,717 meios desola,
22,872 pelles, 944 couros de gado; farinha de mandioca
3,012 alqueires, feijão 990 alqueires, milho 6,801 alquei-
res, arroz 3,93o alqueires, mamona em grão 108 alquei-
res; azeite 3,370 canadas, óleos purificados 5, 169 canadas;
caroà 13 arrobas; lã de barriguda e caianna 25 e 1/2 ar-
robas; o valor da exportação montou a 300,239:420 rs.,
dando de direitos 13,414:352 rs. , no exercício de
49 á 50 importou em 400,414:845 rs., dando de renda
18,919:850 rs.,
É necessário fazer-vos uma advertência, que as medidas
d^aqui são excessivamente grandes, sendo o alqueire maior
4 vezes que o do Rio de Janeiro, e contendo a canada 10
garrafas regulares. As casas fortes não são aqui conheci-
das; duvido que haja capitalista, proprietário, ou negoci-
ante que possua de seu 100,000:000, não direi em negocio.
— 2il — .
porque os ha ile maior somma, porém falfó de fortan<i
desobrigada, ou por outra forma, sólida.
O Commercio, cujas casas avQltáo nos algarismos, que
abaixo darei, no geral é todo a fé de preço, cõmpráo à Bahia
ou a Pernambuco para revenderem, não ha uma casa que
propriamente mereça o nome de armaiem, cujas transa-
ções se facão por atacado ; e algumas que isso tem tentado,
luctáo com difliculdades, qaasi insuperáveis; porque sendo
pela mór parte as lojas fornecidas pelo Commercio da Bahij][
principalmente, náo faz conta ao Commercio d'ali que ha-
ja aqui depósitos, ainda que de fazendas lá complradas,
que absorvão a multidão de immensos Mascates, queabor-
dâo à margem doeste grande Rio, e percorrem o centro.
Vai a morrer ó gyro de fazendas, se deixarem-se illudir
os logistas mais fortes que com àquella Praça commer-
ciáo ; pois que trazendo estes a fé de preço, e a prasos
curtos, grandes sommas, e não podendo fazer aqui praça
de mais extenso mercado, para que nella se abasteçâo os
Mascates de rio acima, ficarão redusidos ao varejo ; trafego
que nunca lhes proporcionará meios de pagarem seus etú-
penhos.
Demais, estabelecida a pratica dos mesmos negociantes
da Bahia enviarem para aqui seus caixeiros, ou Propostos,
carregados com fazendas e géneros mais l)aratos e com o
pregão de que vão para a Bahia buscar tudo directamente ;
que terão mais commodo e com os mesmíssimos prasoâ
concedidos aos maiores logistas, é isso completamente
empenharem -se em acabar d' uma vez o Commercio d'este
logar, ou irem-no matando lentamente.
Existem abertas— 37— lojas de fazendas, e 10 de mo-
lliados, 3— de marcinerias— muitas de carpina, muitas de
alfaiates e de sapateiros— duas de funileria, 2 dq tanoaria,
^
poucos Calafates, poucos Ferreiros, duas lendas de Bar-'
beiros. porém que não podem dizer — Io sono um barbiere
de qualitá — por serem libertos e mesmo pouco saberem
de tesourar e raspar queixos, mas prestáo elles para muzica,
que dous bandos ha d'esses Orpheus, côr da escura noite,
e que andáo também em continua polemica, como jà vos
disse.
Uma botica, nâo porque falte moléstias, porém porque
a homoBopatbia vai aqui em progresso, eas boticas de al-
gibeira trazem tanta provisão das ovas de aranha, como
chama, os miraculosos glóbulos, o nosso Senador e insigne
Medico — ^Jobim; — que um só frasquinho será capaz de
curar— urbes et orbes, e digo um erro, porque, segun-
do a fé da sciencin, basta um glóbulo e que este, segundo
va sempre dinaraísado— per omnia secula seculorum ! — O
Dr. Berkett é Eccletyco, isto é, usa d'umae outra sciencia-,
6 cura á vontade do enfermo com a sua proverbial pa-
chorra : ainda com este vamos bem porque tem um titulo,
ou está autorisado para dar até receitas à morte, se per-
der a foice como dizia o Boccage no seu bellissimo epi-
grama.
A morte perdendo a foice
Crêo sua força desfeita
Disse-lhe um medico insigne
Aqui tens uma receita.
Porém muitos doutores lia por aqui qne tanto homoeopá-
thica como halopaticamente são mais inconscienciosos que
o Dulcamara— c também apregoáo— sem a graça do bufo
fio Elexir — Comprati il mio elexir— Io per pouco velo dou I
Muitas casas de dislillaçâo existem até bem no meio da
— 226 —
população e o bello Camboís faz com que muitos sigáo as
lições do intemperante — Baccho — contra os sãos princí-
pios da sociedade de temperança nascida no foco dos —
grogues — e dos odres de cerveja. A melhor d'esse género
e a mais bem montada é a de Peixoto Villas-Bôas.
Algumas prensas de espremer a mamona existem pela
inór parte depào, eextrahem o azeite preto e nauseabun-
do—a única que merece o nome de fabrica é a da casa de
Araújo & Filhos, que trabalha com quatro maquinas de
nova invenção e de ferro, e que podem espremer 200 ca-
nadas por dia , e dê óleo de ricino e azeite purificado
inodoro e ctoro como agua, algumas vezes.
Tem isso dado grande impulso á plantação de ricino, e
tanta tem sido a colheita, que fornece já a mais de 10 ou
12 prensas, sem fallar na de Araújo & Filhos que móe an-
nualmente 1,200 a 1,600 alqueires doesse grão.
Os proprietários doesse estabelecimento chegaram a pa-
gar ao principio, para animar os lavradores, o alqueire a
10,000 e 12,0001 Hoje o preço regular é de 5,800 a
6,400 rs. Este anno esteve a mais de 12,000 rs. É um
serviço importante que elles tem prestado à Provincia,
promovendo esta cultura, quasi abandonada, e feito cres-
cer a receita dos dizimos de lavouras que só os d'este
Termo se arremataram por preço deRs. 2:6008000 haven-
ilo rendido antes do estabelecimento das fabricas 600,000.
A praça de mercado é a feira nos sabbados de cada se-
mana, acciímulão-se à margem do Rio, na Rua chamada da
Praia, as vezes perto de 300 canoas, e providas de tudo
quanto cada bofarinheiro pôde aggregar nos outros dias
para sua exposição sabbatinal.
Trazem pela mór parte os géneros de primeira neces-
vsidade, fructos, hortaliças, e até flores ; e é a reunião de
— 227 —
feirantes muitas vezes excedente de 2,000 pessoas, porque
concorrera muitos do centro a cavallo, carroças e a pó.
Diz a Escriptura que Deus no septimo descançou, e por
isso aqui também n'esse dia não se trabalha, e somente
vende-se, e compra-se que comer e o preciso para 7 dias;
pois nos outros não concorre cousa de que se alimente
a gente.
Vamos á própria casa, e direi somente o que é ella aqui
no Penedo — Fazei ideia d'uma margem de rio estradada
de canoas de todos os tamanhos, e carregadas de todos os
géneros vendáveis, d'esde os mais conhecidos até o gini-
papo bravio, o jaracatiá, etc. Fazei ideia d'uma aglomera-
ção de pessoas de todas as idades, de todas as cores e tra-
jos, e até condições, a procurar que comer c em uma rua
que não terá das casas ao bordo do Rio — cem passos — e
fareis ideia do mais. Quanto a mim é esse costume o con-
ductor da necessidade e fome constante, e mào passadio
de que se rescente esta Cidade, em razão de que o mais
fresco, o melhor se perde ; ou porque não dura atè sab-
bado, ou porque no sabbado come-se passado, ou porque
vem ao mercado, máo, e precoce, para aproveitar-se a
venda d'essc dia previlegiado, que dá logar a tanta con-
fusão, e procura precipitada, pelo receio de não se terem
as cousas ; o que tudo faz que n'esse dia não haja pai por
filho, nem filho por pai !— É o—dies iroB f Quem viajar o
Penedo n'esse dia, fará ideia da actividade d'uma Cidade
Commerciante, ao passo que nos dias seguintes parecer-
Ihe-ha que são estatuas mudas os logistas e o povo que no
sabbado corria. É uma vida cm languida modorra, da
qual se disperta pela diliranto febre de 8 em 8 dias.
Tenho até aqui descanç-ado, pois que desenfadado e^tou,
proseguirei na minha viagem de Rio acima, e a farei—
— tiH —
paulatiin sed anibulamlo— e dir-vos-hei, ({ue logo com a
Cidade do Penedo» se liga o engonho—Iboiacica — pro-
priedade— do Commandante Superior n^formado doeste
Termo — o finado Coronel José Ignacio de Barros Leite. —
É um logar aprasivel, e mais se torna nas épocas das va-
santes pelo grande pescado que dà a Tapagem— que tem
o mesmo nome, por ser feita no Riacho Iboiacica. Pode-
ria esta veia, beneficiada pela máo prodigiosa da industria
humana, ser navegável umas 6 ou 7 legoas, para o centro ;
que tantas lançâo as enchentes, porém como tudo por aqui
está na primitiva, só se aproveita e disperdiça com a na-
tureza.
Sabeis — Sr. Capanêma — o que é uma tapagem na bocca
d'um riacho que tanto ao longe hospeda as aguas de tão
grande Soberano, como é o S. Francisco ; e por isso não
me demorarei em discrever-vo-la ; porém com tudo força
é referir que para ahi concorrem em tal numero os povoa-
dores do húmido elemento, que este anuo foi arrematada
por I:700í e tantos reis, e que o Tapageiro arrematante
teve um dia de 18,000 peixes ! I ! Por essa batalha (em que
ficaram no campo tantos mortos I) conliecer-se-ha que,
posto tenha a Camará este ramo de receita, o damno é in-
calculável. Não se pôde fazer uma ideia do furor, com o
qual um doestes conquistadores das aguas estraga os povos
conquistados, são os nivaróes de — Terracina — não poupa
nem sexo, nem idade !
A rapidez, com que escoáo-se as aguas às vezes, faz o
peixe, por sahir, furioso ; e ou seja pela estagnação depois,
ou pela ira dos conquistados nos espaços de sua liberdade,
tem sido elles muitas vezes alimento damnoso â saúde pu-
blica, e apparecido tem as Camarás de sangue, e as ailicas
entre a população miserável, que mais se farta nos des-
pojos.
Contâo-me antigos— que antes das tapagens, o Rio far-
tíssimo era de pescado c os tenho ouvido— que n'esse tem-
po as Tubaranas envestião as canoas e alguma dava de
jantar ou de cear ao accommettido^ que de bom grado
lhe perdoava o susto pelo bem que lhe sabia : Ora, se assim
parece ser verdade, uma lei deveria sancionar a abolição
das tapagens em ambas as margens ; e assim tornara abun-
dância ao pobre, que fora da épocha de conquista, lucta
coma tarrafa, noite e dia, sem colher uma — piaba!...
Ha logo pegado ao Engenho uma Capella abandonada,
cujo começo indica gosto, é pertencente aos Irmãos da
rica ordem dos— Bentos— e tem a invocação de S. Amaro
que não é Sancto nú, e por isso não atino com a razão, por
que nua deixaram -lhe a casa. Corre pela direita a vargem
— de Mathias de Souza— origem de duvidas entre herdei-
ros e novos donos — e entremeiáo diversas Ilhas sendo a
mais mencionavel a de D. Antónia que conta fertilissimos
massapés para cannas ; são os cannaveaes d'ahi que ali-
mentáo a moagem do proprietário jà fallado o mais conta
dous pequenos Engenhos. A diante do Mathias de Souza,
vai a Senhora da Saúde, cuja capellinha alva como a co-
lumba da arca, não lhe assentaria màl — o sic illa ad arca
reversa est — porque na verdade é também uma certeza e
uma desejada esperança aos que descem de — Piranhas—
para o— Penedo.
Logo que se diz— estamos na — Saúde — sente-se uma im-
pressão semelhante a que nos causa a palavra — terra —
quando estamos com longa viagem de alto màr. É collo-
cada cm uma Povoação ou arraial composta de boas casas.
— 2:]2 --
São de barro, e ainda nus
Estão ambos os outoens,
Na térrea còr nâo reluz
O lindo astro ao nascer
Vai-se n'elles fenecer.
Assim ella edificada
Por paupérrimo devoto.
De unidos troncos cercada,
Foi plantada n'este outeiro
Doeste rio a cavalleiro.
Isolou sua devoção,
Como a si esse devoto
£ lhe põz a invocação
Da virgem de seus cuidados.
Que nos perdoa os peccados.
Entre o mato isoladinho
Sobre um pincaro firmouse.
Como Águia firma o ninho,
E a cruz da redempçào
Elevou ao céo então.
9.0
Doeste mundo segregado.
Talvez por arrependido
Do que n'elle tinha obrado.
Pregou as vistas no céo
Reformou o peito seu.
— ^1M\ —
10.*»
Só por companheiros linha
O bosque que dava o fructo,
O Rio que corre azinha,
E dentro do coração
O pensar da salvação.
Não tinha outro a fazer
Que adorar a virgem pura»
A virgem de seu prazer,
E por isso a appellidou
J)o prazer com que lidou.
O feio monte fragoso
Ornado doesta Igrejinha.
Esse refugio gostoso,
Por anliphrase mudou
Prazeres se appellidou.
Quem navega nVste rií)
Busca a vêr esse devoto ;
Mas ninguém conta que o vio,
E assim a devoção
Passou com a tradiccão.
Pela direita vão as habitações do Mi)rrinho da Pindobít
— os Morrinhos — e o Sacco — tendo em meio a Ilha das
graças e a coroa dos Caldeirões. Não povoáo a Ilha as aves
ABBIL. 30
que lhe dão o nome ; que apaixonado ou pela caça ahi
nunca as vi que me excitassem a queimar com ellas uma
espoleta.
Depois do Sacco vereis as casas do Midiíi, com seu ca-
nal, formado com a Ilha da Formosinha, e do lado esquer-
do o — Arraial — Itinba — com sua Coroa do mesmo nome.
A Itinba — não gosa bons créditos a bem da ordem e
tranquilidade publica: o fundador doesse ramo é um serva
da Ley na phrase dos criminalistas. A diante do — Miahú
está o— Morro da Càl e pegado a este a grande Villa de
Própria : tem à vista os Cajueiros-^ Urubu, e a Povoação e
Matriz do Porto Real do Collegio.
Deito aqui a ponta de minha canoa, por ser essa phrase
mais própria ao caso, do que as expressões do author do&
Luziadas.
Toniáo velas; aniaina-se a verga alta
Da ancora o már ferido em cima salta
e tendo feito outras sete léguas, tornarei a refocíllar, di-
zendo o que de mais notável se fizer n'estes dous viveiros
de gente.
A Villa de Própria é a segunda Povoação doeste bello
Rio, conta 498 casas pouco mais ou menos, uma elegante
Matriz cuja capella-mór — é recentemente lavrada de talha
e bem dourada, d'entro é espaçosa e possue a capclla da
Sacramento lageada de mármore ebcm decorada.
Quando visitei esta Igreja, disse-me um dos da terra
(|ne o mármore do lageado era achado nas ])edreiras do
logar, o que de alguma forma surprehendeo-me ; pelas
duas cores de branco, e acinzentado, epelo trabalho opti-
mamente preparado — não dei credito ao individuo, e veri-
fiquei ser vindo da Europa.
— 2:];> —
A M itriz de Própria foi antiga capella com a invocação
de S. António do Urubu.
Tem mais a Igreja do Rosário e a casa de oração dedicada
à Sancta Cruz. A Villa está dividida em dous bairros cada
um em sua eollina, sendo no Valle uma Lagoa que sangra
para o Rio por um canal de— 20 — palmos, está à beira do
Rio todo o Gommcrcio. As propriedades à margem do
Rio são quasi todas de sobrado e alguns bem edificados
ainda que seguem o mesmo prejuiso de despresar a pedra
que tem à porta, para construírem de úiadeira, que vão
buscar de algumas léguas longe, c tál é o deleixo; culpa
da Municipaliílade, que por não ter-se o trabalho de depo-
sitar alguns milheiros de lages que estão ao pé da Villa, e
com ellas fazer, pelo menos um càes de pedra secca, tem
o Rio em suas enchentes levado ruas inteiras I Parece in-
crível que no século dos progressos materiaes sejâo aqui
e!les tão esquecidos ; mas é ponjue não é o século que in-
flue; são os homens do século, os quaes faltão n^estes lo-
gares entregues à inércia, ou ao acaso.
Tem uma feira aos sabbados tál qual a do Penedo sendo
que as medidas daqui para cima são ainda maiores f Á frente
da Villa tem um banco de arêa que faz com a margem onde
a acimentarão, um canal ; o notável d'elle é ser um viveiro
de tão ávidas e vorazes Piranhas que raro é o infeliz huma-
no que por ali passa inpunemente; não sei se existe algu-
ma— Calipso — transformada em peixe que também diz aos
náufragos e viajantes — Sachez. . . qu' on ne vient point im-
punemente dans mon empire— pois os que se tem salvado
trazem a reminiscência de seu infortúnio na falta d^uma
barriga de perna, dedo, e as vezes até no ventre custu-
radol ! ! . . É a residência do Juiz de Direito que fugindo
ao feudo da Villa Nova fez por sua segurança d'essa Villa
— 230 —
a cabeça da Comarca, hoje confirmada por Lei Provincial
(Peste anno. Tem ella as auíhoridades de nossa organisa-
çâo. Civil. Policial e Judiciaria e Ecciesiastica. O adianta-
mento a lodos os respeitos é abaixo do da Cidade do
Penedo.
Não adiantarei mais a respeito doeste logar, para que náo
commetta alguma inexactidão; por quanto só me demorei
n^essa Viila umas 24 horas. Muito me arrebatou a figura
colossal d'um frade — Beneditino que apresenta uma cor-
fK)lenta arvore inrraisada na ponta do — Morro— da càl, sua
cimeira destaca-se isolada para as nuvens fazendo um cha-
peo desabado, o tronco limpo entre o chapeo e corpo da
arvore, pela claridade do àr, finge perfeitamente o rosto
alvo d'um homem, e o resto da arvore um apanhado dos
hábitos, e está como quem desembarcou naquellas pa-
ragens, evai subindo desafrontado o morro nomeado!
muito me arrebatou essa ideia fantástica produsida pelos
contornos d'essa arvore !
A Povoação do Collegio foi antiga Missão dos Jesuítas e
hoje é uma Freguezia com o mesmo nome de Porto Real
do Collegio. Está assentada em um teso à borda do Rio,
cujas margens estão orladas de rochedos de granito, e
bastante fragosos ; terá uns cem vizinhos pela mór parle
de raça indigena ou mistiços. A Matriz é miserável, e tudo
vai em ruinas e decadência !
Aqui a fama das obras e gosto e velhacaria Jusuitica tão
temida, ê um real contraste ! O convento terá merecido
este nome se lambem costumavam assim appellidar a uma
perfeita espelunca ; pois que é esse edifício rasteiro sobrado
e de janellas. e portas tão apertadas que mais se parece
com um pombal, do que com habitação de frades, e da
que frades !
— 237 —
Penso que os fundadores náo pertenciáo á tál ordem,
porque náo ha traço ou vestígio que demonstre os dedos
dos gigantes que só foráo derribados pelo poder de outro
— o Marquez de Pombal.
Alguma alegria que o coberto coração do viajante que
vai ao Collegio pôde ter, é pela vista fronteira, a Villa de
Própria. — que na verdade fica bem esbelta e senhoril com-
parada com a sórdida Povoação sua vizinha de frente.
Concorre muito para essa sua belleza a largura do Rio
n'este logar sem Ilha alguma de permeio.— É uma das
maiores bolinas (jue tem a canjar aquelles que sobem ao
Sertão ; porém o quadro visto em dia claro e com vento
franco é uma bella passagem.
Hoje por Lei Provincial d*este anno está mudada a Sede
da Freguezia para o Povoado de S. Braz. É isso mais um
dos excessos que commettem as nossas Assembléas, que
até determináo aos Vigários onde, e quando devem orar ao
Altíssimo! No seguimento ao Collegio vão os logares—
Correnteza— e Domingos de Mattos — ficando do outro lado
— o Lagamar — Pào ôco— Sucuruiú — Morro do Prego —
Lagoa Tapada— e Campínhos — que é um colle alcatifado
de verdura em todos os sentidos, á cavalleira do Rio, e co-
roado d'uma espaçosa casa. residência, no Campo do Juiz
de Direito da Comarci— de Villa Nova — o Dr. Bernardo
Machado da Costa Dória, que teve melhor escolha para si-
tuar seu casal do que os fallados Padres da Companhia, es"
colhendo o Collegio.
A estes logares fronteiros estão na margem esquerda os
do Sampaio, e o Povoado — Tibiry,— cousa insignificante, e
S. Caetano, e o Povoado de S. Braz com as Ilhas de S.
Braz, e do Rosário, tendo à vista o— Amparo—com uma
pequeníssima Igreja e má. — Jaguaripe— João Soares — e
— áas —
Rua do Fogo — assim cliamada por ter um renque de pe-
quenas cas^s, cujos moradores acccndera Iodas as noites
muitas fogueiras.
A Povoação de S. Braz conta perto de 170 casas com
duas Igrejas de S. Braz, o Padroeiro, e N. S. do Rosário e
um Oratório da S. Cmz.
Tem uns dous sobradinhos e as casas são mais limpas c
melhores que não as do Collegio : a forrn dos liabitantes
da Freguezia e Districto tem concorrido para aqui. Tem
um grande canal que dá hoje váo, e com uma grande coroa
em frente, dando assim péssimo desembarque. É extensa
a criação de porcos, ea factura de sabão da terra, além de
criação de gados e lavouras. É notável este logar pelas
scenas occorridas entre os partidos politicos appellidados
de — Galante e — Caborge.
Segue-se o Morro do Gaio, dizem os habibantes, ainda
que parece-me ser uma contraçâo de — Galho — e indica isso
as grandes arvores que servem de cocar ao pedregoso ou-
teiro, cujo aspecto se mira no espelho das aguas. As Emen-
dadas (casas)— e a Povoação da Lagoa Cumprida, queapre-
senta-se bastante alegre por serem as casas todas á borda
do Rio, caiadas, e cgm arvores corpolentas pela margem,
de maneira que formão um sombrio agradável, concorren-
do assim para que ali se faça, quasi sempre, parada no su-
bir, ou descer para gosar do fresco dessa alameda natural,
prodigio de nossa vegetação.
Tem uma Igreja pobre, mas decente ; e pela frente uma
grande coroa em que dà muito plantio de arroz pelas lamas
que lhe deixão as enchentes. São os habitantes pela mór
parte criadores e cortidores : e finalmente a Lagoa do Reis
com um pardieiro, que nada tem de régio Solar, para que
a Lagoa que existe n'elle, tenha tão pomposo appellido.
— úU9 —
Com a Rua do Fogo emenda-se a— Borda da Mata—
antiga fazenda de gados do curandeiro — Capitão Piza, que
parece fora de grandes interesses pelos curraes de pedra e
cal; porém hoje methamorfoseada em Engenhos de moer
cannas do proprietário o— Major Francisco Joaquim da
Silva Lemos, o qual aventura muito boas safras pelos soc-
corros dos vizinhos fronteiros do Povoado— Munguengue—
que serão seus infalliveis lavradores, pela quantidade de
cannas, que plantão, e que não moíão por falta de força ;
a qual de presente encontrão na Borda da Mata.
É o— Munguengue terreno dos melhores para planta-
ção de tudo, pertence a muitos herdeiros e ainda que do
Rio se vejáo poucas habitações vão ellas emboscadas de
beira Rio e para dentro obra de meia légua. lia nesse lo-
gar muitos cortumes de couros e pelles; e alguém jà cor-
tio as pellicas perdenJo-se hoje essa industria porque
morreo com o dono.
D'esse logar principiáo a apparecer os rochedos Mica-
cliistos como os das amostras— N.® 3 N.° 4.— Adiante da
Borda da Mata,— seguem as— Amigas— Covão— Uma ris —
é Curiaes, pequenas casas. O Covão é um alcantilado ro-
chedo escalvado por onde no inverno se despenha uma es-
pumante cachoeira.
Caminhão por esse mesmo lado muitos morros ate o lo-
gar—Tijuco— ao passo que pela esquerda preenchem este
intrevallo os do Ouricury, povoado do Rabello com sua La-
goa do Toumbury, e os Sítios do— Bode Melado— Co-
roas—Lagoa Grande e Lagoa Funda.
O Arraial do Rabello é tão galante como sua nova e pe-
quenina Capella, é esse logarinho uma bella Cécem aberta
no meio de Silva. O Tijuco é celebre pelas façanhas de seu
fundador conhecido por Chico do Tijuco, seus grandes e
— áiO —
rendosos meios de vida erãu a lavoura, criaçào e o cor-
tumc.
Não fazia elle as atrocidades dos Cavalleiros de— Vi-
reau — cujos bosques tinháo Cadáveres seccos das victimas
de saa prepotência, os quaes balançados pelos ventos, cho-
calhando os ossos, davão esses sons na intitulada — Lyra
de — Vireau ; porém bem lhe poderíamos chamar um des-
ses espadachins de temer.
Contãoque possuia um bacamarte que alcançava a largu-
ra do Rio, que nesse logar não terá menos de um quarto de
légua ! Bem poderia supprir a falta do Celebre Casàpo que
tinha a legenda a— quem meu Senhor oílender a cem lé-
guas buscarei.
Ao Tijuco segue-se a Serra da— Tabanga— quefica so-
branceira às Collinas e Rochedos micachisticos dos logares
—Marcação— nome tirado do riaclio que por alii desagua
— Saccão— e Villa do Porto da Folha, conhecida igualmente
por Traipu. Tenho feito sete léguas, e força ó tomar as velas
e abicar ao porto, para que mais socegado vos conte a horri-
vel belleza destas fragoas, e o que seja esta Villa cabeça do
segundo Termo dos meus dominios judiciários. Ologar-^
Saccâo — propriedade do Dr. Antoxio Joaquim Monteiro
Sampaio é umrazo monte de rocha negra fragosa e em semi-
círculo, de forma que sua testada para com a coroa que beija
a longa Serra da— Tabanga,— fazem um perfeito— X— e
é nesse apertado, e que nas vazantes do Rio terá a distancia
de um tiro de besta, que correndo todo o Rio, demonstra
visivelmente um cogulo, tornando-se passagem perigosís-
sima, visto como são os ventos ahi sempre ponteiros. Se a
pode bem appellidar de Adamastor do Rio de S. Francisco,
É de uma rocha micachistica como da amostra— N. S — que
se desprende por laminas umas doiradas e outras prateadas.
~ á41 —
Náo Jhe medi a altura e distancia senão pelo Barómetro—
e Theodolito— de meus olhos, éum arremedo do Corcova-
do que faz parte desse Gigante a quem a Voz Divina lhe
grita — Surge, et Impera. — Ahi o Rio se encapella e
— falia— horrendo e grosso, que parece sahir la de seu
fundo. É uma sentinella do soberbo— Paulo Aflonso,— e
que por ordem delle pode perguntar igualmente aos --Na-
ve^mtes.
Pois vens vèr os segredos escondidos
Da natureza e do húmido elemento?
Sabe que quantas nãos esta viagem
(Jue ta fazes fizerem de atrevidas
Inimiga terão esta paragem.
Ahi parece que a natureza alteoj a terra: estradou a
margem opposta de rochedos ; cavou profundamente o rio ;
es'iureceo as aguas; pôz os ventos ponteiros, e estreitou a
passagem para atterrar, e ata \\i\r o atrevido homem em
seus passos 1 !
. É a belleza que em vez de— Thotis— encontrara— Ada-
mastor.
Um duro monte
De ásperos matos de espess ira brava
As sinuosidades que faz a grossa arterea desde os mor-
ros—Três Irmãos— até a— Tabanga— da-lhes transfigura-
ções dignas de registrarem-se. Para quem vem debaixo
estes não ofTerecem outra belleza. mais do que a de Ver-
des Montanhas, cada uma Cí)m sua casa, mais ou menos
bem edificada; porém mal que tílias vão ficando pela
pôppa da canoa» nos parece cada morro um Elephante
ABRIL. 31
— i4á -
♦>nit 3^a— OjoabJfTy — mais, ou menos rico, e a Sem — Ta-
^1^ — ;]( ttôl desse rebanho ! Esta ao deixar-se lambem
piM- >íjtt vn^ unindo seii todo ao Outeiro, representa per-
i^MtÉÉmip nâo mais a Elephante entre os íílbos ; porém
IMIA MDQSlruosa Toninha que, embebendo -se nas doces
a^juaií;. subio até aqui ; e querendo regressar a seus lares
sàl^tos encalhou na larga e extensa coroa, e ahi i>etrili-
ciHhse. Sobre os rochedos que entestão com a Serra su-
liwmencionada.collocaram seus fundadores a Vd a do Porto
da Folha, conhecida igualmente por— Traipíi.— Foi ella
uma fazenda de gados dos antepassados de Manuel dos
Santos Lima. Fica norte sul. por este lado— corre o S.
Francisco pelo de leste a Lagoa da Igreja, e pelo oeste a
Lagoa do (iarlos, e o rio Traipú, formando assim do Po-
voado nas enchentes uma peninsula ligada com a terra fir-
me pelo lado norte. Conta a Povoação 212 casas sendo al-
gumas de sobrado e com a mesma maneira de edificação —
madeiramento.
Seguem as ruas as tortuosidades da margem do Rio e
tem as casas os fundos sobre elle, tornando-se por isso
sua vista triste como a de objectos vistos pelas costas!
Possue uma Matriz em obras, sendo toda de pedra e cal :
pôde vir a ser um soffrivel Tempío, A antiga Matriz foi
levantada no logar Sacco por D. António de Giquià em
1760 : dizem que a Imagem da Senhora do O' fugia para
Porto da Folha, e contradizia assim a teima de a levarem
para o Sacco. Em 1781 o Padre— Rezende— mudou-a de-
finitivamente para Porto da Folha— ou Traipú,— e seu so-
brinho o Missionário PadreFrancisco JoséCorreia- obteve
a doaçáo de meia legua de terras feita pelo proprietário
Manuel dos Santos Lima, e sua mulher Rita Maria da Con-
ceição, estando preso nas cadêas do Penedo, não pude sa-
— 243 —
ber porque motivo. Seu genro ainda existente, o Alferes
António Nunes Coelho , tem 94 annos, e ainda monta a
cavallo, casou se em 1790, tem 17 filhos, e sua mulher
Anna Maria dos Santos Lima vive ainda, os filhos sáo 5
senhoras e 12 homens, e entre estes, netos e um bis-
neto conto 103 descendentes! O Commercio é soífrivel,
é a geral occupação dos residentes dentro da Villa, sendo
a dos habitantes de fora a lavoura, e a criaçáo.
A lavra de arroz é em grande escálla, e as Lagoas que a
isso se prestáo dão atè renda para os seus proprietários.
Aqui também está estabelecida a conquista aquática, e
rendeo a tapagem do Traipu 400 e tantos mil réis, porém
este anno os povos conquistados, ajudados pelo favor da
enchente que foi mesquinha, libertaram-se, fazendo o ava-
rento e cruel tapageiro perder no preço porque os preten-
dia escravisar.
O Riacho— Traipú— não ésusceptivel de navegação; tem
longo custo no inverno e suas cabeceiras não váo além da
Serra— Broxa— deixando, desde as das Mãos— até ao logar
Cachoeira do Traipú,— poços que servem d'aguadas nesses
borrados Sertões; nelles curtem os coiros, epelles, e la-
vão o caroá cujos campos são vastos e quasi inesgotáveis.
Não ha cadêa, e a casa da Camará, que também serve
para a do Jury, é muito insufflciente. Restão comtudo es-
peranças pela consignação, que na Assembléa alcançou o
Deputado— o Tenente-Coronel Theotonio Ribeiro e Silva,
de 6:000 i 000 rs. para a dita cadêa. Se este canto náo
tivesse o seu representante Provincial bem creio que náo
se lembrarião delle. é por essa razão que tive e tenho
como idéa fixa, que a representação Provincial devia ser
por Villas, ou Municipios, como é a Geral por Provincias.
O rochedo que circunda a Villa apresenta varias locas, e
— 244 —
algumas tão amplos á borda do Rio que dâo logar a sob el-
las, abrigarem-se muitas pessoas de uma vez. São logares
de óptimos banhos naturalmente cavados peias aguas.
As amostras que envio de N.^ 6 dentro de uma caixinlia
indica uma mina de granadas, e de algum metal precioso.
AS amostras de N.° 7 que vâo também em outra caixi-
nha, s jo tiradas do logar indicado no rosto do embrulho,
e dizem os habitantes ter uma mina de prata, ou cobre,
porém inclino-me a pensar que seja de ferro, pela capa-
rosa ou vetriolo verde.
A pedra que vai com o N.*^ 8 é achada na Lagoa da Pe-
dra, 14 léguas para o centro nas terras de Manuel Ray-
mundo Duarte, e parece ser alahastrina, ou bello már-
more branco.
Não digo que semelhante ao de Paris, ou Garrara; mas
quem sabe se esse cabeço que alveijou sobre a superfície
do Solo, e donde lascaram um grande pedaço, c.ija peque-
nina porção me coube, não será a veia de uma rica pe-
dreira e de preciosissima qualidade? Achâo-se no RiífchD
— Traipú— em algumas das Lagoas referidas ; e que cer-
cão a Villa os mariscos que morão nas conchas— sob N.° 9
e que aventura-se serem os creadores das pérolas.
Tenho feito algumas experiências, é verdade que talviez
extemporâneas; porém cousa alguma tenho obtido.
A concha de amostra indica alguns pequenos tubérculos,
que não ousei classificar ; pode muito bem ser que na sa-
zão, que ainda não acertei, produzão; principalmente nno
havendo lavrado o mexilhão, onde, segundo os entendidos,
se encontrão muitas vezes as pjrolas. Não ésemappli-
cação, tempo, e tempo apropriado que se descobrem estes
thesouros: a um Juiz de Direito e que se de liça a seus
deveres é isso, de mais, impossiveL
— 245 —
Neste logarsão as vargens cobertas de macieiras bravas,
cujo fructo porém é muito saboroso, feito'd6ce, o qual é
muito apreciado, maxime o de calda. O terreno dà excel-
lentemente a batata ingleza e de cada pé vi colher mais de
25 ! t ! ainda que de tamanho pequeno.
Bafeja o vento, é preciso aproveitar as primeiras refe-
gas e seguir. Emquanto a Villa do Porto da Fo'ha vai mor-
rer nos seus arrebaldes da outra margem do Riacho— Trai-
pú— observa-a de um alto appellidado— Gordo— uma bella
casa de uma fazenda de criar, que pertenceo ao manso
Pastor da Freguezia de N. S. do O', o Reverendo Francisco
Vital da Silva, e hoje de propriedade do Cidadão Manuel
xVntonio Gomes Ribeiro. Em frente estão os logares — Bu-
raco de Maria Pereira—e Covão. E' a separação da Serra
— ^Tabanga — e Morro do Covão que parece uma valia pra-
ticada nas serras, e donde constantemente sopra um vento
em rajadas, e tufões, que assim nominaram.
Seu aspecto é medonho e máo, e quando por elle se
desprende o vento, depois de ter-se passado a — Taban-
ga, — muito arremeda e nos recorda os pensamentos poé-
ticos.
Bramindo muito ao longe o mar soou
Como se desse em vão n'algum rochedo.
Diversas tradições dão os antigos a esse appellido um
pouco repugnante. Uns que fora uma celebre Maria l*e-
reira que cora dous filhos neste buraco resistio ao dominio
—Batavo— outros que alli vivera em guerra com a justiça
do Paiz : o certo é q je estava a tal Maria nesse buraco,
porém sua historia se perde na noite dos tempos.
Alguém me tem dito que nesse logar e sobre a— Taban-
ga— tem apparecido balas de artilharia, sobre o que não
— 246 —
posso ajuisar com certeza pela falta dos archi vos destas Yíllas
que não existiram jamais, ou que se destruíram pela mão do
deleixo I Não é inverosímil que o Hollandez taliasse até
aqui, quando, occupando as Províncias, ao Norte da Bahia
até Ceará, furam Senhores do Rio de S. Francisco, como é
constante na historia.
Mais tenho escutado, que nessa Caverna que dá sahida
aos furiosos vendavaes. sem serem os de Éolo, ha uma mi-
na de salitre e que nella se encontrão pedras de um pezo
metálico.
Antes de irmos para diante voltarei à belleza que offerc-
cem as coroas oblongas que se formão à margem do rio
para alem logo do Riacho— Traipú— as quaes vestidas de
plantação de arroz, e igual em verdura e tamanho, repre-
sentão estes jardins fluctuantes de que nos fallão os histo-
riadores do— México.
Visitei a Caverna de Maria Pereira, e o que encontrei
digno de menção, aqui vai. O leito de um Riacho é o que
appellidaram de Buraco, e caminha clle estreito entre os
altíssimos talhados da Serra só depois de mais de quarto se
depara com moradas, e jà nas baixadas.
Encontrei na rocha a amostra— N.*^ 10— que não me
parece salitre e nem cousa semelhante. O que ha de proveito
é uma rica mina de granadas do tamanho das que lhe envio,
ê d'ahi para cima, e para muita colheta se a explorarem,
e ultimamente a pedra da aniostra— N.^ H. — Fundi o pe-
daço de uma, e deo o resultado que vereis da amostra
— N.^ 12 — e creio que deo ouro, e ferro.
Emendão-se— ao Covão— os logares— Lagoa do Cabo —
Lagoa do meífc— e Lagoa Primeira- e Limoeiro— até à
povoação crescente denominada— Curral de Pedras — em-
quanto que pek) lado de Pernambuco correm o — Morro
— 2i7 —
ff Areia — Queimados— Lagoa Sêcca — Patos— e Lagoa do
Tição : — vai ã vista do Limoeiro.
A Povoação do Curral das Pedias— dà presentemente
grandes esperanças — contem perto de iOO casas e disputa
a preferencia de Villa à do Porto da Folha que é actual-
mente, e que foi antigamente Povoação do Buraco. Per-
suado-me que o engano que se encontra nas cartas
Topographicas do Visconde de Villieux — é originada de
haverem duas Villas do mesmo nome, Porto da Folha —
uma pertencente a esta Província — e outra à de Sergipe,
fáz elle menção da Villa de Traipú e do Porto da Folha,
ambas à margem esquerda, quando o Porto da Folha de
Alagoas fica na esquerda no ponto — Traipú— e o Porto da
Folha de Sergipe no ponto chamado por elle— Porto da
Folha; quem está á margem direita, e perto de uma bôa
légua para fora da margem do Rio.
Quem observa visualmente este Rio, conhece perfeita-
mente as inexactidões do citado Mappa. que, cotejado
com o material do terreno, crê-se descrever um paiz
muito differente ; taes sáo as cartas levantadas por infor-
mações 1 1 Depois do logar — Tiçáo, está a Lagoa dos
Defuntos, e logo adiante o — Sacco.
Ha alguma relação entre Defuntos, e Tições, certo será
que estes são as únicas tochas que levão aquelles para
esclarecer o caminho do infaliivel transito desta vida de
podridão, como dizia — Rousseau — para a da Eternidade
como éde fé. No Sacco estão as ruinas da 1.* collocaçáo
que deram à Senhora do O', hoje padroeira da Freguezia
do mesmo nome na Villa do Porto d\ Folha : e ainda se
distinguem suas paredes em ruina, e em perfeito aban-
dono servindo somente de alimentar a vida das parasitas.
As Cabaceiras com seu pequeno pqvôado—Genipatuba—
— 248 —
e o Sitio— Porto da Folha— seguem pelo lad j direito, em-
quanto as fazendas — Riacho Grande— Jacobina— e Mundo
Novo— pela esquerda. Na Fazenda Jacobina ha. uma bella
lagoa para o plantio do arroz dá de renda ao dono de lOOS
a 2008. E' do Sitio Porto da Foi lia que principia o— Mor-
gado—pertencente a D. Maria Joaquim Gomes Castel!o
Branco, mâi do Exm. Baráo da Gajaiba, e é desse Sitio
que tiraram o nome para a Villa de que fallei acima. Tem
este Morgado 22 léguas de margem, de fundo 12 nos
logares mais largos, e meia nos mais estreitos, rende de
eOOg a 7008.
Com o Sitio do PoHo da Folha emendáo-se os logares
— Tupete de Baixo — e Tupete de Cima— Curraes Velhos —
Itanis — e o Morro do Aijó. e com o afundo Novo os
logares — Cotovelo —^ e Pedregulho. Só as— Itans— que
é hoje um pequeno Povoado , merece menção, os mais
são Sitios sem importância. X Povoação das Itans. se
appellida de Ilha por ciusa de assim tornar-se com as
enchentes.
Depois do Pedregiilho— segue-se o povoado do Riacho
— Panema, cuja extensão tem defronte os logares— Porte-
rias— Francisca— Bòa Vista— Ilha do Ouro e— Faria— ;
em meio está a formosa Ilha, e monte dos Prazeres. E'
um engano do Sr. de Saint Adolphe— alcunhar este monte
dos Prazeres de Ilha do Ouro. A Ilha das Itans pertence
ao Morgado ; o Vigário xManuel Joaquim de Lima Cortes,
por intrigas politicas com o Tenente-Coronel João Fer-
nandes da Silva Tavares, e a pretexto de que as Ilhas do
Rio pertencem a D. Antónia de Giquià, e sua descendência,
comprou a quem sem consciência vendeo o alheio ; cor-
reo-se grande pleito, e vencêo o Morgado, todo o motivo
era tirar a influencia de Tavares, sobre os votantes. Elei-
— yí9 —
ções em lodo o caso, ora lodos os passos da vida de um
Brasileiro ! ! . .
A Povoação do Panema derrama -se pela margem do Rio,
6 por um e outro bordo do Riacho ; as casas são boas, e
algumas brilhão por entre copadas Quixabeiras, e Joazei-
ros, e lhe dão muita graça, pode-se dizer que è a povoa-
ção formada por mais de 30 Sitios vizinhos uns dos
outros. O Riacho dá commodo para plantação do arroz em
suas beiradas e em seu leito muitas vezes.
A Ribeira é creadôra de gados grossos. O que achei de
mais raro e digno de aqui trazer, são as tradicções erró-
neas e fíibíilosas ditas existirem neste Riacho e em suas
-Serras ! ! Acima de sua foz perto de duas léguas ha entre
dous talhados um Poro profundíssimo e cercado desses
talhados que em relação são alterosos : o Poço é extenso,
mais quasi circular ; basta esta configuração para explicar,
os sons, vozes, e estrondos que se ouvem em alta noite,
ao mais brando ciciar do vento, ou á queda da mais pe-
quena pedra ; comtudo os habitantes o tem por covil de
espectros, e duendes, e casos narráo de súbitas mortes
nos que se aíToitaram a ir ali pescar os monstruosos Mon-
dius e Surubins, que é fama viverem na([uelle Poço en-
cantado.
Antigamente na fenda das Serras fizeram uma cerca de
pedras, como se chamão aqui os muros de pedras seccas,
e dizem-me ali ter havido uma Cancella, porém as tradic-
ções attribuem esse feito á invasão Hollandeza, e muito se
honrão que ella tivesse tocado até tão alto, para allegarem
8 exaltarem o esforço de justamente terem-na repellido.
No fim do Poço ha uma subida, como que feita por arte
na rocha, estes degráos conduzem o viajante a uma furna
de 31 palmos de comprimento, e 15 de largura, e de
ABRIL. 32
— í;ío —
alliini de mais de um homem com a mão levantada, é divi-
dida em dous aposentos por uma parede de pedra secca ;
parece que foi habitada por alguém.
A mais celebre destas fabulas ó o Poço do Ouro I A famí-
lia do Rodrigues Gaias que são os proprietários da mór
parle dessa Ribeira de cima, e desse logar, dizem que um
Ourives comprara a um tarrafeiro um Vergai hão de íitetal
que lhe trouxera em lanço a tarrafa, e que tocado se veri-
ficou ser ouro de subido quilate ; ou fosse assim, ou o
Ourives quizesse zombar dos simplesados desconhecedores
dessas riquezas naturaes, o certo é que a fama desse the-
souro, mergulhado no fundo de um profundo Poço, correo
e excitou a dormente avareza destas brenhas.
Alguns tentaram esgotar o Poço; que não venceriâo
ainda com o invento do parafuzo de— Archimedes ; — pois
que é elle uma fonte perene das aguas, que continuamente
minão dos leitos dos nossos rios Sêccos ; e as cubas e ga-
mellas de toda aquella redondeza se puzeram em acção por
meio de robustos braços, alimentados por carne e leite t
O desaccordo e desanimo succedeo a tanto afan, e o des-
engano occupou o logar do desejo de riqueza. E' de admi-
rar que ainda até hoje alguns crêem que existe a enorme
rocha de ouro, donde crescem vergalhõcs ! e só dizem,^
para se lhes não exprobar a inércia sobre tanto ouro, está
hoje areado o poço ! 1 — Areados estão os juizos, não que
seja impossível, haver ouro no riacho, — Panema — porque
isso passa por veridico, pois por ser em tanta quantidade
e volume. Vamos adiante, subamos mais ás suas cabecei-
ras e encontraremos as tradicções das pedras e o caixão, e
Arremetcdeira.
Ha ncllas como que entalhadas umas figuras ou inintel-
UgivcJs— hieroglyficos que se tomão por indicadores de
— 2ol —
grandes riquezas, ahi sepultadas ainda pela mão invasora
da Republica Balava.
A Ilha do Ouro é pequeno povoado bem fronteiro ao do-
Panema ; conta menos de 50 casas : dizem que o nome
corresponde á riqueza do logar ; porém a esse respeito
náo vos sei dizer certezas.
O Riacho que tem o mesmo nome e que nas enchentes
ilha a Povoação tem de notável dar assim navegação para
canoas até a Villa do Porto da Folha, conhecida também
pela do Buraco — , e suas várzeas são campos de arroz que
produzem milhares de alqueires, e de medida maior ainda
que a do Penedo ! !
Voici des Dieux
* L^asile aimable,
Goíilez des cieux
La paix durable
(Bernardis)
Eis aqui dos Deoses
Um asylo amável,
Gozai dos Céos
A paz durável.
D'un roc penchant et fendu
La terreur du voisinage
D'en bas Tagreste ermitage.
(Bertin)
Sobre inclinada rocha e jà fendida
Terror de quem por ella faz seguida,
Está plantada a campezina Ermida.
Os versos que ficáo escriptos do gentil Bernardis e Bertin
— 232 —
— pinláo assas o Monte dos Prazeres. É um simile da Se-
nhora da Penha n^essa Baliia de S. Sebastião.
, E uma penha negra e escarpada pelo lado de cima, alte-
rosa e vertida de áspera verdura ; tem isolada em seu cume
a branca Igreja da Senhora dos Prazeres ; pela parte de
baixo faz como que uma cauda d'uma grande e extensa
coroa de areia brilhante, e com muitas doestas pedrinhas
de differentes tamanhos, e cores, como as da amostra N.** 13
— parecem areias* corridas de terrenos diamantinos pelo
seu brilho.
É na verdade um prazer de que sente-se assaltada
aquella pessoa que subindo até a Capella derrama as vistas
em redondo I As habitações entre ramagens; seu plácido
rio, que se deslisa lambendo os verd^ campos de arroz ;
finas e embastecidas, como o pello ondeante do velludo, as
reverberantes areias da coroa ; as fazendas, e Povoação da
margem opposta ; a claridade das aguas n'este logar ; os
bandos de alvas e rosadas garças, e outras aves, e pássaros
aquáticos, que se banháo, e mariscâo nas claras e doces
aguas do S. Francisco ; o doirado e verde — Patury — que
se infileira nas bordas das correntezas e Ilhas, tudo indica
que doestes quadros arrebatadores, só pinta a mão prodi-
giosa da natureza pura e simples I
As vozes da Nympha namorada, louca por Narciso, — de
quem pintou tão sublimemente as paixões o Poeta — Cas-
tilho, estão aqui fugitivas; e com o uso das aguas puras;
e que não se corrompem guardadas por muitos mezes ;
afinou ella a vóz sentida de suas queixas amargas contra o
ingrato. Na raiz do monte pelo lado da casa do Capellâo
basta subir-se obra de uma braça, para ordenar-se que a
Nympha repita fiielmente tudo quanto se deseja dizer, ou
seja prosa ; ou seja verso, ou seja brando, sentido, irado
— 253 —
ou choroso I Emfim que dôr não me causou ouvir—Écho
repetir estas suas queixas contra o tyranno de seu co-
ração.
Narciso I, pude eu ter tuas palavras
No duro tronco menos duro que ellasl
Eu pude : e os olhos meus desfiz em pranto.
Por três vezes senti tremer meus lábios
Fugir-me a lúz, enregelar-se o sangue;
Três vezes desmaiei junto do choupo.
Este phenomeno de acústica, sobre que tanto se tem es-
cripto, sem que se conheça sua verdadeira causa, porém
que a maior parte dos Physicos accorda em dar-se infalli-
velmente nos logares côncavos, como nas abóbadas d^uma
cisterna, ou em circulares tectos, ou entre serras, evalles;
porque a vóz, embaçando n'ellas, repercute no nosso ou-
vido, aqui é o contrario I Só ha de montes, o dos Praze-
res ; o mais sáo Campinas rasas e a coroa plana como uma
sala de baile 1 1 Outra cousa a notar-se é, que o que falia do
monte náo ouve as respostas, ou repercuçâo, ao passo que
aquelles que estáo no plano perto d'elle, duas a três bra-
ças, ouvem tudo perfeitamente, e como tenho exposto ! ! I
Os que, embarcados, descem pela calada, ouvem o que
falláo e as respostas ! ! Com o que mais se admirão esses
phenomenos.
A Capella dos Prazeres dizem que foi edificada de ma-
deira, e cuberta de sola por Maria Pereira — (não sabendo
se é a mesma do buraco) doou-lhe terras que eráo entáo
pegadas ao montinho, porém náo ha vestigio dMsso : hoje
possue a Capella a terra onde está erecta, e a coroa, que
lhe rende 24 $ 000 rs. annuaes. Depois de Maria Pereira,
o primeiro Morgado que veio ao Rio S. Francisco chamado
— 254 —
Castello Branco— fez o corpo, e capella Mór de pedra e
càl. de accordo comos habitantes da banda de Pernambu-
co, e finalmente o Missionário— Corrêa. — fez os corredo-
res— tem a Capella a era de 1694.
Corre pela mesma banda do Panema o logar— Varzinha
— Gruta Grande, e a pedregosa Povoação da Lagoa Funda
—Salgada como seu riacho— e a— Restinga ;— e pela banda
da Ilha do Ouro— Maris— e Ponta da Júlia— Tapera e—
Sipó.
A pedregosa Povoação da Lagoa Funda, é um povoado
de mais de 50 vizinhos e collocados sobre rochedos mica-
chisticos, a sua vista é agradável, e como sejão as casas
espalhadas pelos Outeiros, que dominâo as grandes várzeas
e Lagoa, representa muito mais do que na realidade é.
Tem uma Capella da Senhora do Rosário e Santa Cruz,
e quasi sempre os povos pagão a um Capellão : compoêm-
se os habitantes de duas familias. Soares, e Feitozas, que
se entrelaçáo por afinidades reciprocas; com tudo é tal
o parentesco, que não podem effectuar qualquer alliança
sem dispensas. A grande Lagoa que fica ao Norte desagua
para o Sul, fazendo barra perto do rochedo, que com a
ponta da Júlia fazem ambos o lugar — Sacco, — além dMsso
é a povoação cortada de riachos, ou que despejão na Lagoa,
ou no Grande Rio. Foi o edificador da Capella um Frade,
cujo nome se perdeo. A Ponta da Júlia é logar notável
pelos navegantes, como difficil de montar-se na subida, e
á vela ; somente os peritos em manobras a vingáo sem o
risco de darem á Costa.
Nos tempos de enchentes é tida como de grande perigo,
pela corrente impetuosa, e ondas que se alção como os
marítimos escarcéos.
Os habitantes crião, lavráo, e curtem. O Riacho— Sal-
— 25o —
gado — ainda é domínio da Lagoa Funda como assim ató
o Cajueiro, sendo o Morro do Morim, onde está erecta a
Capellinlia da Senhora do Rosário, pertencente ao Districto
e Povoação do Limoeiro — Deste logar para cima por Lei
Provincial de 3 de Março de J8o4 creou-sea nova Co-
marca de Mata Grande.
Seguindo-se pelo lado do — Sípó — a várzea e Lagoa do
Araticú. A Povoação do Limoeiro é situada sobre um ter-
reno quasi férreo contará 30 casas (se tantas) mas estende-
se muito por diversas moradas interiores : Tem sua Ca-
pella de Invocação de— Jesus Maria José— e todo esse Ou-
teiro é uma mina d^essa pedra esverdiada — a amostra N. 14
^A Igreja é um encapellado creado pelos avós do pardo
Manuel de Jesus Barbosa— João Carlos de Mello com mna
légua de terra e 6 vaccas por património. — N'esse logar
encontra-se a amostra N. 13 que me parece — guinites.
A Povoação é fartíssima de criação de aves, e os ovos
vendem-se de 3 á 4 por 20 rs. A Várzea e Lagoa do Ara-
ticú é o logar doeste Rio, onde tenho visto mais caça; creio
que é ahi o viveiro d'onde sahem todos os voláteis, que po-
voão ambas as margens I
Não deveis Sr. Capanêma, tomar este meu dito por uma
hyperbole, podeis crêl-o como de vista 1
Os patos» garças» marrecões, differentes gaibotas, mar-
recas, grajáos, patoris, e gaburús, etc. voão, de fazer ru-
mor» e anuviáo o àr I O grajà tem o bico de tartaruga,
como vereis da amostra— N.® 16.
A bravura e presteza com que levantão-se ao presenti-
rem o caçador, e o esvoaçar em torno d'elle endoidecem-
no a não saber designar a victima, e o resultado, é soffrer
o SÓI abrasador, cansaço, e regressar sem os despojos cor-
respondentes ao inimigo que afronta, estando este inerme ! f
— 256 —
Continuâo pela Povoação do Limoeiro os logares— Ta-
pera—nome tirado do seu riacho - Jacaresinho— S. Thiago
—com sua lagoa — continuando pelo — Araticú — o Sitio das
Pedras— Riacho fundo— e a Povoação de S. Pedro Dias,
que tem lambem o nome de Ilha, por assim tornar-se nas
occasiões de cheias.
É notável esta Povoação por ter sido jà Villa. em 1833 ; e
foi antigamente uma missão bastante populosa. No tempo
da Omnipotência dos Juizes de Paz — Manuel do Rosário—
por anthonomozia— Pacú — teve a animosidade de prender
a Gamara ^Municipal em corpo — e desse despropósito origi-
nou-se a dâSerção das pessoas mais gradas que se julga-
ram em risco por este despotismo— resultando que restou
somente o dito— Pacú— na Villa— sendo por isso esta
transferida para a Povoação do Buraco, hoje Porto da Fo-
lha d'onde vinha a nata que abrilhantava a suppremida
Villa. xNunca um Povo soube punir melhor um déspota
como este, pondo-o a sós e despresado, a ponto de cahir
tudo em ruinas, como de presente, que conta apenas 58
casas, e na frente da Igreja em forma de parallelogramo —
tendo de saliente o Palácio Imperial que é a residência do
Imperador do Espirito Santo, cuja festividadde annualéde
tóm n'esta despresada Villa.
A Igreja é má e estava arruinadissima. Este anno o Mis-
sionário Fr. Dorotheu a tem reedificado, e vai melhor.
Um milagre está depositado n'esta Igreja, digno de nar-
rar-se. — Uma escolta que mais se podia chamar de assas-
sinos do que de soldados acompanhavão a um prezo do
ordem d'um Juiz de Paz para as Cadeias do Penedo— foi
o prezo assassinado, e para poderem sumil-o, e dizerem
que se tinha evadido, amarraram no pescoço da victima, e
nos pés, duas pedras, uma de duas arrobas, e outra de
— 257 —
perto disso, e o lançaram no Rio em logar profundo : de-
pois de três dias appareceu o cadáver encalhado na coroa de
S. Pedro Dias, e com as pedras ainda atadas nos mesmos
logares ! I
Deo nihil impossibile est ! !
Foi seu infinito poder que arrancou contra todas as re**
gras de gravitação o corpo do infeliz— Renovalo, conheci-
do por— Mandú— e o poz sobre a terra, para que a Jus-
tiça dos homens punisse seus matadores ! Hoje a Justiça
Pubhca jà alcançou a punição d'um que foi condemnado,
sob minha Presidência, no Jury da Villa do Porto dâ Fo-
lha,, ou Traipú, na pena de galés por 20 annos.
Grand Dieu, dont la seule presence soutient la nature,
et raaintient Tharmonie des lois de Tunivers !
Exclamava — Buffon— no estasis de suas contemplações
philosoíicas !
Estou convencido como christão e pensador, que em
tudo neste mundo máo e pequeno— como dizia— Bossuet
— está a máo do creador ; e se não fora esta, como se re*
veíariáo os crimes n'este nosso Paiz, coberto de matas ex*
tensas e serradas, cortado de rios gigantes, e pela mór parte
despovoado, em que o viajante está entregue a Deus e a
sua consciência !
Mas tál é a força da Omnipotência e sabedoria ce este
qued'esses ermos e brenhas, como que os troncos e as pe-
nhas se animão e falláo, para designar o malvado! I
Senhor! grandes são as tuas obras! dizia o Psalmista
Rei.— Magna sunt opera tua !
Si Dieu n'existait pas, il faudrait Tinvenler
Que les sages, Tinnocent. et que Ics grands le craignent»
(Voltaire)
ABRIL. l33
— 2:íS —
Se não existe Deus, força é suppól-o
A quem se acurve o sábio, o néscio, e o grande*
As pedras estão na Igreja, e eu as vi e pasmei 1 1 Pelo
lado da Lagoa S. Tiago— vão os Sitios— Espinhos— Morro
do Faria— Deserto — Riacho do Faria e Aranha— (Fazenda)
— e Tororó— e pelo da Ilha de S. Pedro— a Gaissára —
com sua alterosa — Serra — a Lagoa do Surubim, com seu
morro do mesmo nome — o ensanguentado — Morro do
Calvário ! — Mucambo— Jaciobá — e Tapera.
As tradições sobre o Morro do Calvário merecem bem o
— horresco referens — do Virgílio. Foi por muito tempo
esta paragem mn perfeito logar de supplicío: conta-se
que para alli eráo levadas e executadas as victímas das vin-
ganças brutaes dos nossos Sertões! É o aspecto do Morro
feio e carregado ; a natureza, me parece que mais ahi se
apertou, à vista de tantos crimes, para assim demonstrar
sua reprovação! Quando ouço semelhante narração, ede
que algumas d*essas atrocidades foram ordenadas, julgo
impossivel ser-se Juiz no meio de tanto barbarismo, po-
rém é um engano manifesto porque tudo nasce da má di«
recção dos superiores.
O Brasileiro é summamente obdiente, e segue os bons
ou màos exemplos, se são exercidos por gente mais alta a
quem a ignorância gosta de imitar sem apreciar as dividas
distincções a fazer-se. . .
Deixarei estes quadros hediondos, descançando das dez
léguas, que acabo de percorrer do Traipii aqui, e irei vos
fallar da prospera Povoação de Pão d^Assucar— cujo nome
tira de sua alcantilada Serra — que fica ao Oeste da Povoação
4 para 3 léguas ; esta Serra é um arremedo do— Obelisco
natural que está de atalaia na Bahia da Capital do Império,
e que serve de pés ao imracnso gigante, com adifferença
— 259 —
de que a de cá domina sobre os vastos Sertões com um al-
cance de mais de 20 léguas em circulo f !
A Caverna que Mr. Milliet de Saint Adolphe— em seu
Diccionario Geográfico do Brasil, chama de medonha e
impraticável, foi por mim e minha companheira investiga-
da : a ella descemos, e nada tem de medonha, e até é muito
praticável sem receio; e pouco profunda.
As outras sumidades em comparação doesta assemelháo-
se a pequenos combros disseminados em uma vasta cam-
pina. Por esta capoeira rasa futurisão alguns o desvio do
Rio, mas quem isso conseguir — et eris magnus Apollol —
Mesmo uma estrada de ferro . . . será trabalho muito cus-
toso e prolongado, ainda que possivel ; com tudo forçoso
será principial-a de muito longe para nivelal-a. O progresso
parece que não conhece impossiveis ; eu porém, posto que
hospede n'estas matérias, vou mais para a opinião de que
a mais próxima e effectuavel será a estrada para carros de
quatro rodas , salvo o melhor conselho dos peritos,
O Arraial do Pão de Assucnr conta 230 casas, o terreno
plano lhe proporciona o bello arruamento que vai tendo,
e o Commercio que afflue do centro, lhe presagia um riso-
nho futuro. Ha alguns bons sobrados, e soffriveis casas.
ACapella do— Santíssimo Coração de Jesus — está em obras
ainda de sua edificação, e já está elevada em Freguezia
por Lei de 1853— de H de Julho N.*^ 227— e este anno
pela Lei citada, Villa : tanta é a emulação e desejo de reta-
lhar, e fazer de cada canto um império, se possivel fosse.
A Povoação nas enchentes torna-se uma península pelas
Lagoas e riacho que a cercão : nestas ha em grande abun-
dância o marisco de que acima tenho fallado, e que se
«uppoe madrepérola, e tanto ha do circular como do
oblongo. O Commercio é Jiovo, mas activo, e dá csperan-
- 260 —
ças de ser nesse ponlo o empório deste Rio, se houver a
estrada que ligue os dous rios de cima, e de baixo, como
aqui appellidáo as partes separadas pelas grandes Cachoei-
ras, e pela de— Paulo Aflbnso.
Os habitantes são coramerciantes, os da Villa, creadores
e lavradores, os das Serras, e os do interior.
Dá muito legume, maxime feijáo, e colhem-se as bellas
—atas— ou pinhas, que sendo quasi que exclusivas da
Província do Ceará, aqui também as ha, ou se educáo bella-
mente nesta secca Campina. O terreno é todo de fresca
alluvião e de tão fina terra, que no veráo faz parte do
ambiente que se respira. Cobre todos os objectos e vive
na atmosphera de tal forma, que excusado é dar-se a gente
ao trabalho de espanar. O galante é que tem os moradores
que a poeira faz bem á vista 1 O que devo dizer em abono
da verdade, é que nem por isso as ophtalmias são muito
frequentes.
As enchentes transportando as arêas para frente da
Povoação, formaram uma coroa que terá cerca de 300 pas-
sos ao Porto de embarque, com isso suppõe-se o Rio
muito apertado, porém tem bastante fundo no canal. As
casas estão nas linhas dos quatro ventos geraes. Pão de
Assucar antes do Hollandez em 28 de Janeiro de 1665—
foi sesmaria de 2 léguas com o nome de Jaciobá, feita a
D. Maria Barboza de Almeida pelo viso Rei e Capitáo-Ge-
neral de Estado Conde d'Obidos D. Vasco de Mascarenhas
rectificou-se em 4 léguas, e Barboza vendeo a seu irmão
Sebastião Barboza de Almeida, passando depois em 1660
ao Desembargador André Leitão de Mello, passando por
herança a seus filhos D. Ignez Maria Gertrudes do Valle e
Mello e outros herdeiros de Lisboa. Em 1821, era ainda
Fazenda de gados de António Luiz Dantas, depois a fami-
— 2Gi —
lia de António Rodrigues Delgado, foi o primeiro povoa-
dor fazendo casas, etc , António Manuel das Dores conti-
nuou ; fez a Capella com o Padre Baldaia pondo a primeira
pedra em 1840— doando 2:0008000 para sua edificação.
Rosa Benta Pereira e D. Anna Thereza de Jesus, doaram
as terras. Foi Freguezia em Abril de 1853, e Villa por
Lei de 3 de Março de 1854, sendo installada à 7 de Agosto
do mesmo anno.
A duas leguas-^desta Província — nologarAldêa — Fa-
zenda do Poço Grande— entrando-se para a Catinga— en-
contrei em uma Cassimba— Ossos fosseis de Megatheriou,
ou Mnsthadonte, e assim afllrmo, por ter ido ao logar, e à
vista da confrontação que fiz do osso que vos remetto —
Amostra N.^ 17— com o esqueleto debuxado na obra de
— Bendant— curso elementar de Historia Natural : o qual
assemelha -se ao humerario. P(3de ser também de Mastha-
donte. Dizem-mc que deste logar ao da Fazenda da Lagoa
das Pedras— de José da Rocha Lira, que dista meia légua
—também ha fosseis, e bem assim nos logares — Salgadi-
nho—do Padre Simões— Fazenda Velha — de António Ana-
cleto—e Olho d' Agua das Flores do finado— Padre Antó-
nio Duarte de Albuquerque.
E' pena que, não se dando apreço algum a essa rari-
dade, se tenhâo inutilisado muitos desses ossos! Creio
pois que para se alcançar hoje um esqueleto completo náo
se despenderá pouco : faço esse juizo pelos do logar que
vi onde estaváo ao campo muitos quebrados e inteiramente
inutilisados. As amostras N.^^ 18 e 19 sáo productos acha-
dos em Pão de Assucar, onde parece haver também ouro,
pela amostra N.*^ 20. Este anno o governo ordenou a
escavação desses fosseis, dessa commissáo estou encarrega-
do, e hei-de fazer tudo por preenche-la satisfatoriamente.
— 262 —
Vou continuar a minha subida pelo Rio e ao— primeira
bafejar — As velas dando as ancoras levamos.
Fica pelo lado esquerdo o Morro do Cavallete— que está
isolado, como uma — pyramide — na extrema esquerda da
Povoação seguem as Fazendas— Pào Ferro— Algodão, e o
miserável — Povoado das Trairás — ficando pelo ladooppos-
to— Sacco Grande — e Lagoa das Pedras— e Cajueiros.
Aqui é o Rio bastante largo, e bem assim em os logares
— Riacho Grande— e Genipapo, que ficâo a cima, da es-
querda a direita banda, váo por esta as habitações— Patos
— Bom Successo— e Ilha do Ferro, e o povoado perten-
cente ao Capitão Luiz da Silva Tavares, cuja Tormosa casa
indica seus possuidores, e sua inftuencia as muitas hiunil-
des que a cercão: eporaquella — Quixába — ^Boqueirão—
Sipoálha— e Ilha do Ferro— cujo nome aqui appljca-se a
ambas as margens.
Desde aqui vai-se o Rio insando de rochedos negros e
polidos, como ferro envernizado, e a navegação se torna
cheia de cuidados. São as primeiras sentinellas perdidas
de— Paulo AíTonso— que nos dispertáo de que estamos
não longe de seus domínios, que ficão muito além. Na
margem direita estão os— Morrinlios— Pào da Canoa, e
pela esquerda — Riacho das Antas — e Beldruegas : nestas
paragens estreita-se o Rio, accommodando-se ao leito por
onde corre entre rochedos e morros, e que parecem feitos
de ferro, pelo lustroso de suas pedras talhadas como de
propósito para fácil carreto, e qualquer edificação ! Slo
inspirados pelo horrivel da terra, e ao correr da canoa, os
versos abaixo.
— 263 —
Mm eoiíjectiira» sobre o» Itlonte» pedrcsoso»
do Rio de íi. Franeitteo.
Que seriáo talvez estes penedos
Quando o liat de Deus fez o universo!
Seriáo elles já pedrosos montes,
Ou frondosa floresta onde moravão
Voláteis bandos, ou louçans Napeyas?
E quem sabe se as aguas soberbando
Não occuparam já acima delles.
E sobre elles rolaram por mil séculos!
Quem sabe se golfínhos e Baleias
Nos vales, hoje a luz. nâo depozeram
Sobre o leito pedroso a infantil cria,
Emquanto o enorme galeão sulcava
A salsa veia c' o esporão doirado.
Pejado dos productos d'algum povo,
D'algum povo feliz, que em outras eras
Tenaz, e audacioso conquistava
Outros povos que estaváo separados
Por longo espaço, que occupavão aguas ?
Hoje onde elles ? quem são, ou que memoria
Deixaram d'existencia? a conjectura,
A conjectura fallaz eis o que resta 1
Foram elles quaes são feras, asperosos.
Ou verdes tapisados lindos combros,
Habitação de Nymphas que não viram
Esta raça infeliz que habita o globo 1
Quem sabe se estas rochas atiradas
Sobre o dorso dos morros não seriáo
As paredes das grutas, ou não foram
— 2Ci —
Dos erguidos palácios a textura.
Q' uma grande mudanç-a revolvem t
Se assim foi, que alamedas não cobrião
Os ditosos mortaes. que as habitavão!
Que maviosas falias não fallaram,
iy estranhas linguas, que ademans estranhou
Não praticaram, não fallaram esses
Que nos tempos (Pentão aqui viverão f
Alli está a vertical muralha.
Talvez erecta em defensão ; do tempo
A poderosa mão baixou sobre ella
E os estragos á vista estão dos evos.
tiaveria batalhas sanguinosas!
O fogo, e o ferro nos robustos braços
Os edifícios, e os homens derrotava I
Erão ellcs gigantes, oupigmeos!
A conjectura fallaz, eis o que resta !
Oh 1 tu que pensas sempre, e sempre ufano
De haveres a razão sobre outros entes.
Se pensas recto, se conheces tudo
Dize o que foram esses feios montes.
Emendão-se com o logar — Pào da Canoa*— o do Capim
Assíi — Mata da Gallinha — Mata da Onça-^^e Papagaio, e
com as Beldruegas — Curralinho de Baixo— Lagoa — Ca-
poeira e Pào da Canoa.— Estreita-se outra vez o Rio ; e
devo dizer-vos que se vai tornando sempre escuro, estreito,
fundo, pedregoso e medonho, e p!)U(ío povoado, tendo es-
paços totalmente desertos.
Pelo lado do Papagaio está o — Pantaleão — Mala Com-
prida— Bonito— e Sacco, e pelo do — Paó da Canoa— èstà o
— 265 —
Curralinho Novo — Morro de Paulo AlToiíso— Capueira—
Macaca — Bebedor — e Jacaré — tendo em meio a Ilha de Sa-
bacú. São muitas aqui as pedras. Pelo numero de rochedos
já se podem chamar as primeiras patrulhas ou piquete de
descoberta. Passadas estas, está depois do Sacco — a Ban-a
das Cabaças— e a Povoação do Armazém— tendo do outro
lado— o Cajueiro. É um deserto — árido— e pedregoso, e
o Rio cheio de cascalho, bem estreito, e com pouco e tor-
tuoso canal até o Morrão do Inferno ; e pelo lado direito
até o Collête — tendo por intermédio — Angico— uma fazen*
da e pelo lado esquerdo — Remanço— e Alegria. Em uma
restinga de cascalho está o porto do Armazém— Povoado
novo, e de pouca importância — com 48 casas e uma pe-
quenina Capella da Senhora da Conceição, é seu edificador
— Anacleto de Jesus Maria Brandão, — ainda vivo, e muito
honrado, e bom Pai de familia. Temo Povoado pouca pla-
nície, que está captivae abafada entre dousprincipaes Mor-
ros—tendo em frente Serrarias.
O Commercio é de poucos, é perfeitamente a porta sobre
o Rio que tem mais facilmente os productos do Mato
Grande— hoje Villa, e Comarca. Até aqui fazem 5 léguas
os que vem de Pão d^Assucar, e os vindos da Barra, ou foz
como eu, fazem 36 léguas. O nome de Morrão do Inferno
ó bem cabido por ter um terreno avermelhado no meio de
rochedos negros, como já tenho dito I Principião deste lo-
gar as pedras, tão unidas e salientes, que formão um serrado
esquadrão, e quem vem de longe duvida de que dê o Rio
pissagem. É bem semelhante á um Cardume das Toninhas,
que no alto már apparecem as vezes em ordem, todas ne*
gras e movendo-se com perfeita disciplina; e que c um si*
gnal de alguma borrasca, e tanto que a(jui tão bem não
são estas petrificadas de bom agouro ; pois que muito se
ABRIL. 34
— im —
nihnirãi» ns que as vem |>ela primeira vez, e de susId Sf;
IcHiia o coração do viajante.
IK) Armazém— a Piranhas— fazem duas léguas de nave-
garão perigosíssima, c algumas vezes é preciso tomar prati-
co |>ara evitar desastres, queroccasionados pelos rochedos,
quer pelos furiosos ventos que conspirão com elles contra
os atrevidos, que intentão devassar esses bellos horríveis,
que a natureza se esmera em apresentar aos olhos dos
homens, para demonstração de seu poder e mais realçar a
cí)ragem de quem os vinga. Segue-se pela esquerda— o
Sacco do Sininú)íi — e Magalhães e Montevideo, tendo pelo
lado direito — Montes de Granito — e o logar— íierimin.
Entremeiáo estes lognres podras perigosíssimas e conhe-
cidas por nomes distinctos que se apro[)rião á sua figura,
tamanho, perigo e qualidade. As mais salientes são as do
—Sinimbu — do Lima — Cabeço, etc. Não são Magalhães —
nem o Montevideo esses lognres da America do Sul, a pri-
meira descoberta por esse intrépido Portuguez — entre a
terra firme e a terra do Fogo — e o segundo hoje a repu-
blica— Oriental ; porém ambos os nomes tem sua ligação
principalmente o estreito. E' só passando as perigosas
rochas do — Matlieus — e Lima, que se aparta, sempre en-
tre pedras, â Piranhas — Povoação do lado esquerdo que se
divide era Piranhas de baixo e de rima— e que fica fron-
teira aos logares— Canto— e Furado, cada um com sua
cabana em ruinas, n;fugio de criminosos.
Com effeíto, somente a pratica, como a do Piloto— de
que nos falia — Cooper— pôde fazer navegar-se por sobre
rochedos á noite, e com vento furioso, e em canoas que
não podem andar à orça.
A Povoação está sepultada debaixo de altas montanhas
ou sobre ellas trepada ; ê uméarremedo dos arrabaldes da
— á67 —
cidade de Angra dos Reis, pelos seus montes e pedregosas
margens. E' dividida além disso por diversos riachos, os
mais notáveis são o Fundo, ou Piranhas e o Tapera ; conta
a Povoação 93 casas e algumas solTriveis. com sua Gapella
de Santo António— cujo Instituidor foi António dos Santos
Brandão, que lhe deo poucas terras de património.
O Commercio é maior do qne o do Armazém, e apezar
de sua fealdade, é Piranhas um ponto frequentado por
todos os habitantes e productos da — Mata d' Agua Branca
desta Província — Tacaratú— Pajeíi — e outras partes extre-
mas da de Pernambuco.
Seus montes, suas rochas em terra, e no Rio, seus vizi-
nhos fronteiros, tudo concorre para que se appellide este
logar de feio como uma — Piranha, — a cuja dentadura bem
imitão as aguçadas pedras que muitas vezos mordem, e
engolem as canoas.
A Pedra do Matheus — a mais temivel e notada, é Scylla
e Carybles, pois os navegantes cojn qualquer descuido, ou
devem ir de encontro a ella ou serem engollidos pelos
redomoinhos (panellas) que se vèm em continua rotação e
que em tempos das aguas estouráo cora horrível estrondo ! A
catadura feia do logar não apartou deile as riquezas natu-
raes— talvez para verificar-se o adagio— Fortuna dos feios !
Da margem do Rio subindo para os Morros e cortando
o Riacho — Tapera — emcruz,encontra-se — Pyrites e Quar-
tzos— bêm à flor da terra, como a amostra N.<* 21 .
Signaes que indicáo uma rica mina de ouro ; além disso
sobre a Serra do Tinguihá a amostra N." 22 o que são tur-
malinas como são chamadas em Minas Geraes.
Destle o Armazém que entre o cascalho se encontrão —
ágatas— e a onix, e que apparecem entre as arêas signaes
de ouro.
— 268 —
Nas Piranhas de Baixo subindo a estrada do Sertão ha
um rochedo que parece estar a esborrondar-se sobre os
viandantes— Subi nelle, e — com verdade a pequena pedra
que sustenta a mole de granito está até fendida, e confesso
que tive meu terror e desci— mais apressado do que fora,
como nos diz o Camões do seu intrépido — Vellozo— E' uma
degradação de granito semelhante aos encontradosnas planí-
cies centraes da França ou nas Cordilheiras do— Limousin.
Com muita difficuldade ha ainda quem và enfiando peri-
gos até o logar — Canindé — casa do Coronel Lino, ficando-
lhe fronteiro e do lado esquerdo a fazenda — Sipó. — O Dic*
cionario do Exm. Sr. Senador José Saturnino — dá Canin-
dé, e Agua Branca como pertencentes a Pernambuco,
quando são, o 1.** de Sergipe, e o 2.° logar de Alagoas, e
fica 12 léguas apartado da Cachoeira, em parallela.
Desde Piranhas até ali as pedras alteiáo a queda do Rio,
e as Panellas que se formão sobre as pedras são immensas
sendo que as mais falladas são— Garganta — ficando além a
pedra do — Navio— e do Engenho. Não ousei p6r-me na
guella de Guião semelhante.
Até aqui é o Rio de baixo navegável e no logar— Canin-
dé— faz uma espécie de bacia — mansa como um lago, não
parecendo crivei que depois de tanto tropeço se encon-
trasse descanço. Tradicções imittidas por pessoas fide-
dignas afianção ter o finado Francisco Manuel, dono desse
logar, tirado bastante ouro em pó de suas margens ; mas
eu investigando essas arêas, e cascalhos parecem-me serem
el!as, e aquelles corridos das montanhas com as aguas flu-
viaes. A amostra N.° 21 indica as arêas ; nellas existem
pequenos— Jacyntos— microscópicos — escarlates, como as
gabadinhas de— Bohemia — pyropas— granadas, etc!
Quebro aqui os remos, e ferro as velas de minha canôíi
— 209 —
para proseguir por terra a enfadonha viagem até á Ca-
choeira. Cortarei a narração do passado neste trajecto —
de 14 léguas — quasi deserto, e apenas com miseráveis
habitações de longe em longo ; porque na verdade ter-se a
noticia desse — Portento — e saber-se que para ve!-o não ha
uma estrada, e que é forçado o curioso a levar guias, e
assim mesmo a estragar o fato nos espinhos, e a paciência
no abaixar-se aos páos, e montar precipicios, é cousa
reprehensivel para uma Nação tão presumpçosa, como a
Brasileira II.. No logar Olho d'Agua do Casado 4 léguas
distante de Piranhas e— 10 da Cachoeira— fazenda do Te-
nente-Coronel Manuel Severo Soares de Mello — ha uma
bebida onde existem fosseis de Megatheriuos, e Mastha-
dontes.
O Creador, para se apreciar o bello, collocou antes delle
as difficuldades, como que para occultal-o ás vistas profa-
nas dos ingratos mundanos.
As pragas que se rogão, os incommodos que se sofirem
nas veredas para a Cachoeira, tudo se dá por bem suppor-
tado . ao avistal-a 1 1 Nisto resumiria o que houvesse de
dizer sobre o Paulo AlTonso, mas estou que não teria vos
satisfeito, e portanto, cavalgado sobre um penhasco duro
e negro, com os olhos espantados, por observar tanta
grandeza, principiarei a dizer-vos o que seja este logar,
que tanta bulha tem feito antiga e modernamente, e sobre
que tanto se tem fabulado.
Sempre qne ouvi anteriormente fallar da Cachoeira de
Paulo Affonso pareciáo-me fabulosas as grandezas que
delia contavão. Não tem ella com efTeito a figura de Caval-
leiro vista de longe ; não orvalháo seus vapores meia légua
em roda, não se ouve seu estrondo 6 ou 8 léguas de longe,
mas por duas vezes, que a tenho observado a minha admi-
— 270 —
rarão, e posso dizer- vos, pasmo me Itm feito exclamar
com Saint Lambert.
Ouço o som do trováo que estoira ao longe,
Das ondas o bramir do ar em chammas ;
Das palmeiras do valle as palmas tremem,
Echôa o monte o som triste e profundo,
E o surdo e lento som compunge o mundo.
Quando se vence a vereda, quasi intransitável, por onde
se chega ao logar da Cachoeira, o aspérrimo solo onde só
vôgetáo a jaramataia e a pellada Carahiba, o negro feio de
seus rochedos escarpados, ora h*zos e polidos como o ferro,
aqui pont agudos, ali cavados, acolá fendidos, e ame.i-
çando o observador ; ninguém haverá que náo admire a
profunda solidão que buscou I
Ali só Deus, e as suas obras! O homem pensante, o cóo
puro e ardente, os arbustos torrados, a areia em brasa, e
os rochedos como monstros que parecem letantar-se con-
tra o indiscreto que os veio procurar no seu desamparo! !
Se os papagaios fazem suas gralhadas ao longe; se o va-
riado curupião trina seus gorgeios ; se o mocó, sentado
sobre os pés esfrega com as mãos o focinho e foge guin-
chando, é para mais nos convencerem de que só elles aU
habitão ! No logar onde pousei, as pessoas que me acom-
panharam disseram-me ter havido uma casa e curraes,
para servir de retiro, mas nem vestigios deixaram estas
edificações! Náo é sem muita dificuldade que, superando
os rochedos e pequenos braços do rio, e algumas torren-
tes se pode aproximar a esta maravilha.
Nâa vos mentirei dizendo que logares ha bem seme-
lhantes a esses talhados propyleos granitos das Ilhas de
Shetiand !
— á71 —
Pensar- se> como sempre suppuz, que se [mk observar
a Cachoeira de— Paulo AíTonso— como a da— Ti jucá— nessa
Corte, ou a do— Niagara— nos Estados Americanos do
Norte — é um erro que para muita gente ainda perdura.
As aguas corriáo do nivel do terreno do nosso rancho;
e somente depois que galgamos uns e descemos outros ro-
chedos, passando por entre fendas, ou vingando-as de um
salto, ou nos sepultando nos torneados — pilões (trabalhos
operados pelas aguas em redomoinho) é que nos colloca-
mos em posição de investigar suas diíTerenles quedas.
Antes de chegar à Cachoeira, o Rio de S. Francisco
corre sempre empedrado, e anfráctuoso, mas em um
plano, a que os francezrs chamão— platcau. É levando
em suas torrentes as areias que estava > [)or entre as enor-
mes rochas de Granito, que sua força pode desenterrar a
ossada do petrificado Gigante— Paulo AlTonso— medindo
a sua queda principal pela altura do agigantado tronco,
e debruçando-se entáo sobre elle por cinco aberturas que
tantas são as vias abertas p^ra sua passagem. Não julgueis
com tudo que só por estas quedas desce o Rio de baixo
lento, pois por muitos desvios e pequenos canaes vem elle
mo6trar-se fronteiro á bania esquerda na vistosa Cachoei-
ra, cuja estampa — N.® 33 — vos remetto com varias
outras. Relevo ainda acrescentar que raras serào as vistas
da Cachoeira de Paulo AlTonso que tiradas em diversos
dias, mezes, ou annos se irmanem ! !
De cada vez que o observador tocar nestas paragens en-
contrará o Gigante como tendo mudado de posição, por-
que as quedas lhe parecerão muito modificadas para mais
ou para menos, algumas torrentes novas, e algumas sup-
primidas I f Igualmente como a Cachoeira se despenha por
entre rochedos, qualquer mudança de posiçáo para a ob-
— 27á —
senjr» muda inteiramente a vista, ora encobrindo, orâ
descobrindo a queda das aguas.
Para vos descrever bem o modo porque se observa a
iiichoeira, imaginai uma collossal figura de homçm, sen-
tado C4>m os joelhos e braços levantados, e o Rio de S.
Francisco cahíndo-lhe com toda sua forço sobre as costas,
porém ao qual não podeis vér sem estar trepado em um
dos braços ou em outra qualquer parte que lhe fique ao
nivel, ou a cavalleiro sobre acabeçi. Parece arrebentar
de debaixo dos pés, como a formosa cascata de Tivoli junto
a Roma.
É um espectáculo assombroso 1 I Os penhascos sobr?,
que nos firmamos — eu e miíilia senhora — parecíáo fugir-
nos de sob os pés, e quererem seguir a velocidade das
correntezas !
Um mugir surdo e continuado, como os preparos para
um terramoto, serve de acompanhamento á musica estron-
dosa dos variados e diversos sons produzidos pelos cho-
ques das aguas 1 1 Quer ellas vcnhão correndo velocíssimas,
ou saltando por cima das cristas das montanhas; quer
indo em grandes massas de encontro a ellas, e delias re-
trocedendo; cahindo de borbotão nos abysmos, e delles
se erguendo em húmida poeira, quer torcendo-se nas
vascas do desespero, ou levantando-se em espumantes
escarceos; quer estourando como uma bomba ; quer che-
gando-se aos vaivéns, (1) e brandamente crescendo, ou
recuando rapidamente, e com irresistível força: quer ca-
hindo em espadanas, ou era flocos de espuma alvíssima,
como arminhos, é um espectáculo assombroso e admirável.
ObservamoNa ao raiar do dia, e ao clarão da Lua : quando
observamol-a aos primeiros raios matutinos ; as aguas por
(1) As aguas que nas beiradas se Rvanção impellidas. porém que para segui-
rem 6 força da corrente recuão apressadamente e com violência.
— 273 —
tíles abrilhantadas ; as nuvens do húmido pó, sobre que
SC estampavão muitas iris ; os dourados vapoi*es da aurora ;
o brando vento da manhã ; as alvas neviías que se ião des-
fazendo ao erguer do Sol, e representando no Céo, antes
do se esvaicerem, dilTerentes phanthasmagorias ; o quieto
balançar dos ramos; os cantos matinaes das aves ; o es-
voaçar dos papagaios, anu-íinas e grandes aves branas,
como um cysne do encontros pretos, que buscavão beber
as aguas ; as calvas calieças dos Montes pardos, ou esver-^
dinhadas pelo limo, mas agora dourados pelo alvorecer ;
as arvores e ar])ustos infesados por um perpetuo inverno,
mas agora praticadas como revérberos de luz: tudo faz o
complexo do bello o maravilhoso ! !
O luctar das agir.s feridas pelo sol ô semelhante a esses
jogos hydraulicos coloridos (|ue observamos nessa Corte,
executados em 1839 por Mr. Leroux.
Se deixamos de contem[)lar este (juadro e volvemos as
vistas para os abysmos fumegantes, a alma estremece, como
aborda d'ama cratera. Xão se eleváo aos cêos as provas
ardentes, nem se derramão torrentes de encendida lava,
como do Vesúvio ou do Orizaba ; é porém um arremedo
dos rufos annunciadores da próxima exp!osáo, e os turbi-
lhões da húmida fumaça sobem além de sua altura. Não ha
vivente (pie n'elles preci[)itado não succumba ! ! Consta
que o pei.xe que chega a indireitar carreira pela impetuosi-
dade, apparece morto no rio debaixo, e muitos casos se
lem dado semelhantes ! Vista com clarão da Lua é um qua-
dro lúgubre e medonho, que aperta o coração! A Lua fere
de leve um ou outro cimo dos pe<lregosos montes; não re-
flecte nos bosques nem nas aguas que íicão assombreadas
nas cavidades dos rochedos ; e o ronco continuado e ge-
mente ; o fracasso das aguas, seus estouros {)ela sua im-
ABRIL. 35
— 274 —
piílsão; e seus recuos, como ondas em planos iiicIinadoSy
e escarpados pedregallios, fazem-na semelhante a uma
grande e populosa Cidade assaltada nas trevas, da qual
arruináo, e dcrrocão os edilicios e os templos, e seus habi-
tantes surprehendidos levantão em confusão aos céos os
lamentos de sua inesperada desgraça.
Três sentimentos tomâo o observador ao chegar-se para
a Caclioeira, ode medo — o de respeito— e o de prazer, em
quanto se trepão estes rochedos discon versáveis, só o medo
d'um desastre irreparável nos encoraja, e nos faz supe-
ral-os; depois de firmados os pés — o respeito — a vista
d'essas maravilhas nos força a exclamar com B. Rousseau
— Grand Dieu ! Oh ! que tes (tnvres soni belles / E é só depois
de entrar o sangue em sua circulação normal que apparece
um prazer insaciável ! A altura da grande queda foi calcu-
lada cm 302 palmos— pelo meu amigo e muito hábil En-
genheiro o Sr. Fernando Halfeld. E' um erro pensar-sc
que as aguas da Cachoeira cahem sobre o àlveo do Rio de
baixo : ellas vão de cachoeira em cachoeini ate o logar —
Piranhas— onde principia a ser navegável com mais fran-
queza para as canoas abertas.
São as Caclioeiras as seguintes, designando-vos as mais
notáveis — Forquilha — Veados— Ventura — Vaivém — Três
Inn:los de cima— Trcs Irmãos de baixo— Boa Vista— Gar-
ganta—Na garganta corre todo o Rio cm largura de 85
palmos I ! e os rochedos marginaes dão talhados de 700 à
800 pés de altura I ! São as bellezas horriveis que só ex-
pressão bem o — ierríblemeni pretij — dos ínglezes !
Encantado— Salgado— Riacho fundo— Lamarão— Topo
—Ouro fino— Veado— Canindó Velho— e Canindé.
São estas— 17— Cachoeiras verdadeiros degráos do alto
— 273 —
throno onde se assentou o Gigante, de quem vos tenho
por tantas vezes fallado com o nome— Paulo Affonso I !
Uma diis melhores vistas é a que observâo as pessoas
que sobem a chamada furna — e a vista N. 24 — éd'ali to-
mada. Multas grutas apresentâo rochedos doeste logar —
Sombrias, arejadas, arruadas de christalinas areias e ba-
nhadas das frigidas Lymphas ; são perfeitas habitações de
Fabulosas Nayades. Muito foi para notar-se que nomezde
Novembro, apogéo do calor n'estes Sertões, de maneira
tàl que das 9 horas do dia por diante os rochedos da ca-
choeira se tornáo como o ferro em brasa, pensando encon-
trar em cada poro uma thermal, as aguas estivessem frias
como um sorvete, e tão saborosas que as bebiamos por
prazer ! 1
Parece que o Rio em suas enchentes assoberba os ro-
chedos, pois (|ue vi poços extensos e profundos, e com
aguas tão limosas que indicão estarem estagnadas por
muitos tempos, e só renovadas pelas alluviões . . . Sobre al-
guns pequenos e já deseccados encontrei esta pasta de fino
papel natural que vai na amostra N. 22 — (aj feito do
certo pelo frequente bater das marêtas d*este már doce.
Todos os— pilões — frinchas — e cavidades próximas às
torrentes estão cheias de pedras grandes e pequenas das
amostras N. 23— N. 24, — e bem posso aventurar que ha-
bitem os fundos d'essassepulturasalgimsbrilhantes— wmijf^s
(dizem os matutos) que sejáo como os da Rússia, o Regente,
e menos como da nossa bagagem, porém de menos quila-
tes. As amostras N.^^ 25 e 26— indicâo a qualidade dos
rochedos da Cachoeira c das areias. A amostra N. 27 —
assemelha-se ao granito verde do— Voges— A furna ou
Morcegueiro é uma caverna apontada como um assombro,
e dizião-me que ninguém podia visital-a senão descalça e
— 27G -
com muilo cuidado : examinando-a não acliei diíTicuIdade
nem na descida, nem na siil)ida, fazendo-as com minha Se-
nhora; e fomos até calcados. A rocha onde o Rio a prati-
cou é toda dividida em pequenos prismas e como [)or de-
gráos; náo a compararei <á celebre gimla de Fingal na Ilha
de Stoffa e nem tem semelhança com esse prodigio : quando
para ella se desce os rochedos parecem estas grandes cal-
çadas de gigantes conhecidos na Irlanda, e em Françíi
entre Vais e Eutraignes, porém sem essa pasmosa regu-
laridade.
As amostras N. 28 — indicãoque essas roclias tem — micjx
— feldspatho, etc. A gruta tem duas entradas, uma menos
extensa e baixa, e outra mais longa e alta : a maior tem de
comprimento,subindo-se sempre por um declive doce — 262
passos, e de largura 23 a 26, e a pequena oitenta, e de lar-
gara—16 :— a altura é prodigiosa !
Um homem de pulso não fará cliegar um seixo ao tecto!
Não apresenta nem (Fesses fenómenos conhecidos por —
Stalactiles.
As pedras do tecto costumão a destacar-se, e a cahir
como nos indicaram varias por sua recente queda. São am-
bas o viveiro de morcegos que assemelháo-sí? aos — pte-
rodactyles— de que falia— Bendant, mas em logar dos bicos
de ave tem a cabeça d'um perfeito cão de fila com orelhas
redondas, no mais igualáo, e são da grandeza de perto de
dous palmos de cada aza. Na frente da caverna ha um vai-
vém que é por certo o operário que cada um nas enchen-
tes trabalha em sua escavação : mostrão-se mesmo em frente
duas camadas de prismas, uma mais alterosa, e outra mais
humilde, que altestão terem pertencido â parede que serve
para divisão das duas grutas. O vaivém traz para esse logar
Ironcos e páos de todos os tamanhos e de forma variadas.
— 277 —
como voreis pelaamoslrn — N. áO. Quando os ohsíTvoi pn-
recia-mo oslar vondo com um microscópio um som nume-
ro de — infíisarios— fosseis — segundo a sua prodigiosa, e
infinita variedade de que nos falia — Mr. Khrenberg.
São talhados e hnmidos pelo movimento das aguas esses
páos ; e consta (jue nns enchentes, e quando essa immen-
sidade de jvios sobre nadão, se ouve uma desarmonia in-
fernal à semelhançi do coaxar dos sapos, e rãs, e gias dos
grandes lagos estagnados.
Pelo damno que fazem os morcegos aos creadores, estes
lodos os annos ajuntão as lenhas trazidas pelas aguas e
accendem grandes fogos em que abrasão as furnas, mas
não extinguem a praga : acontecendo por isso talvez a calci-
nação das pedras calcarias e as suas frequentes dissoluções,
que tornão assustadoras as visitas a esses togares. Se qui-
zesse narrar vos um Romance, dir-vos-hia que os primei-
ros neophytos ou cathecumcnos. perseguidos pelos Césa-
res—aqui somente acharam guarida e deixaram para con-
firmação no presente, de que ahi fora então uma cova de
christãos, um Ermitão e sou Acólito petrificados I !
D'ahi corre o Rio até a Cachoeira da Forquilha muito
apert^ido em Serranias talhadas perpendicularmente ; e tão
esquadrilhadossão os penhascos uns sobre os outros, que
nos pareceo ser fácil sua desmoronação, não de balde lucta-
mos com os mais insignificantes, apezar de estarem até
inclinados sobre o Rio. D>ssa paragem de cima do Mor-
cégueiro nos parecia que o Rio não terií? mais de 8 braç^as
d'uma a outra serra ; correndo manso, profundissimo e es-
curo ; lançamos algumas p: dras com toda a força : porém
não cahião ás vezes nem sobre agua ! ! Só com uma funda
podemos conseguir, depois de algum tempo, ouvir-se o som
que produziáo ao ferir a margem opposta.
— 278 —
Na— Gurímga— como chamão os naturaes— o abysmo
fumegante— experimentamos se os seixos vingavão a beira
opposta, e pareceo-nos que sim : seria talvez por estar o
Rio no osso, como é fraze technica. O meu Escrivão do
Jury— o Capitão José Correia Leal, vaquiano d'esses Joga-
res, e que nos acompanhou em todas as excursões, disse-
me ter ouvido dizer a antigos que cm um dos rochedos,
sobre que se dispunha o grande salto, havia uma ponta de
rocha, a qual, servindo de travanca à livre passagem das
aguas, causava maior estrondo e repuxo, o que por essa
razão se viáo de mais longe os vapores, e se ouviáo roncar.
O que é certo é que tal empecilho não existe, e que es-
tando nós pela noite na Fazenda da— Cruz, quatro léguas
longe da cachoeira, ouviamos, por intervallos, um surdo
rumor que alíirmavão os moradores ser da cachoeira; po-
rém como seguem outras muitas por diante, talvez se não
possa aflirmar ser o som da de — Paulo AlTonso.— mas a de
alguma mais próxima ; pois que dormindo nessa mesma
noite perto da cachoeira, menos por um quarto de légua,
não ouviamos esse estrondo tão fallado, e tão pronun-
ciado.
Finalmente os rochedos apresentão formas diversas, e
em certos logares, como os desenhos que vão sob o N.° 30.
Ao deixar a cachoeira ao ouvir gradualmente sumirem-se
seus roncos— lembrou-me a oitava 60 do Camões — no
canto ?).«
Assim contava com um medonho choro
Súbito diante os olhos se apartou :
Desfez-se a nuvem negra e c'um sonoro
Bramido muito longe o mar soou.
Tenho dado ao Pedregoso Gigante o meu derradeiro
— 279 —
ailfus, e liirno ao Porto de Piranhas para viajar agora de
ilifferente maneira. Então a minha canoa espi rava os ven-
tos para seguir avante. Iioje só deseja que o seu tlêspola os
encarcere, ouvindo o— Quos ego !
Et dicto citius túmida irquora plac >t.
Collectasque fugal nubis. solemqu(^ reducit.
Cf>mo nos refere o cysne Mantunno; para ([ue piano como
um espelho todo o Rio, possa minha canoa deslisar ao som
da torrente até minha residência ! Em quanto a canoa na-
vega atoa— deitado ou antes encaixotado na tolda irei nar-
rando-vos as bellezas ribeirinhas, c a forma da navcgaçílo.
sua importância e as riquezas em pcscính), e no mais que
correr aos bicos da penna, acerca do graníhoso Rio de S.
Francisco.
D'esde— Piranhas até a Barra do Rio navega -se em gran-
des e pequenas canoas ou solteiras, ou ajoujadas : As es-
tampas N.^^ IH a 33 mostrão suas formas, e mastreação, c
massame, que ordinariamente é de nossos tecidos de al-
godão, e de caruá. O mais notável nellas são as velas c o
commodo para o viajante— O numero— 1 .** indica a tolda— o
é esta a melhor camará doestes Navios— o í.*» c o 3.*^ as
velas que parecem, em comparação da canoa, umas azas ;
e o modo de encolher uma e outra, ou de as (»stender para
viajar é singular, principalmente visto de longo e com vento
fresco : igualo-as a uma branca Garça em vòo rasteiro.
x\ tolda, e as velas são uma antithese do navegação; [mis
que acamara melhor está na proa, e as velas ição-scquandr)
s^as quer ferrar, e arreáo-se quando sas quer abrir! Não
se navega para cima senão com vento, o qual é providen-
cial e constante depois de 10 horas da manhã até alta noite,
cora suas excepções, conforme a estação.
— i8() —
As caiiO)as passão onliiiariaiiieiite por uma mclhanior*
pliose, sorvem primeinsmenlc feixadas, porque sao de um
só madeiro: depois porem (pic solTreni radias, ou (piai -
quer lesão no fundo, abrem-se; o que consiste em ra-
char-se a canoa; e de!la fo'rmar-se outra com cavernas,
servindo as bandas da que s(» rachou de peças principaes
nas curvaturas lateraes, de forma que quando velhas iicam
maiores e mais gordas: segucMJi a regra das mulheres que
depois de velhas (piasi sem[)re eiigordão*.. Para descer-sc
ou navegar-se para baixo usâodas vogas, ou deixâo atoa,
e corre a canoa pela corrente, ou quando solTrem o vento
contrario, cortão um grande ramo, e o soltão n\agua
preso por uma corda na pôi)a. A corrente leva o ramo, e
com a força de leval-o. leva igualmente a canoa e navega-se
ainda com antithese— de popa ! ! — Quasi senipre a melhor
descida é pela calada entre a cessarão do vento á noite, e
em quanto não chega pela manhâa; acho porém bastante
perigoso este methodo, e è confiar de mais na fortuna, e
cojno não me supponho— César, ou Napoleão — o Grande—
procuro sempre trazer remeiros. que em noites de lua até
me divertem, fazendo seus outeiros improvisados : e ó de
notar que alguns tem queda i)ara isso. You referir-vos
algumas quadras destes, cantadas em desaíio e ao som do
compassado bater dos remos.
Lá vem a lua sahindo,
Resplandecendo alegria,
Tomando os raios do sol,
Fazendo da noile o dia.
Debaixo de um verde ramo
Dorme um somno o passarinho,
NYio cuides (jue eu te deixo ;
Vive, amor, descansadinho.
— á81 —
Cale lá suas cantigas;
Và metter n'um forno frio ;
Com semelhantes cantigas
Não se canta um desafio.
Queime lá você as suas,
iMetten Jo n'um forno quente :
Que as suas são estudadas.
As minhus são de repente.
Náo deixâo de ter muita grara, e de avivar saudades
essas rimas expressadas em som de solàos em alta noite
observando-se o ameno clarão da Prosérpina, pintando
uma facha estrellada sobre as aguas do Rio I
Tu dos amantes silenciosa amiga
Que d'amor os mysterios apadrinhas
O' noite I manda favoráveis auras !
(B. Barros,)
Em tempo de Rio cheio a velocidade como sabeis é
maior, e posso afflrmar-vos que tenho sabido de Traipú
pelas— 9— horas da manhãa. descançando das 2 até as 4
da tarde e chegado ao Penedo ao romper d'alva, fazendo
pela corrente 14 léguas, que 'tantas são as— comidas pela
Justiça de um a outro Termo. Regulando mais de meia
legua por hora.
Algumas destas canoas abortas tem até 30 palmos de
comprimento, e 8 a iO de hocca, e carregáo muita carga;
um ajoujo (tenho visto) levar muitas vezes de 90 a 100
saccas de algodão, e muitos outros objectos miúdos. Tanto
os pilotos como as canoas se alugão por dias, ou por via-
gem, regulando a tripulação — que para cada canoa basta
ser de duas pessoas— de 500 á 640 rs. por dia, e o barco
—de 800 à 1 g 000. Sendo por viagem, calculáo pelos
ABníL. 36
— 282 —
(Jiiis a levar conrorme a estação, e firmâo os ajustes; cal-
culo pelo passado commigo — paguei do Penedo ao Porto
da Folha 4 8 000, pela canoa e G g 000 por dons Pilotos—
de Porto da Folha a Piranhas 8 S 000 de canoa e 10 S 000
para os Pilotos. Do Penedo para a Barra regulou 4 § 000
da canoa e 6 g 000 de Pilotos ; portanto pôde regular daí
Barra á Piranhas cada canoa e dous Pilotos de 308000 a
408000 de despeza, importando quasí de 800 a IgOOO por
légua.
Uma outra antithese marítima é que a canoa e a tripu-
lação navcgáo, tanto na ida como na voíta, por conta do
fretador, o qual sustenta os Pilotos ! í Acontece algumas
vezes ( maxime com os fretadores como eu ) voltar a canoa
vasia e tá disposição dos Pilotos, qiie a carregão, e lucrão
em seu proveito os fretes !
A dilTerençíi que parece excessiva do Penedo â Barra
em comparação do Penedo no Porto da Folha— é devida á
razão de que do Penedo para a Barra são as cimòas sujei*
ta» ao Gusano— Vulgarmente— Bussano : entendo que o&
donos tem summa razão ; pois que este moUusco. da forma
de upia minhoca parda e curta, tem o vigor de por o fundo
das canoas arrenda las !I e só com a galla de enxofre se
retarda esse damno.
Tát3 crescido é o numero das canoas em uma e outra
margem que não exagero, dizendo-vos que montaram a
mais de 800 de toda a lotaç^âo inclusive as de pesca. Para
a navegação de — Cabotagem — existem— 6 barcos actual-
mente a saber— o Paticho Boa Ventura que demanda 14
palmos e de 190 toneladas; a Sumaca — Deligencia que
demanda 14 palmos e de 141) toneiadas— Ditta Flor do
llio que demanda 13 palmos e de 148 toneladas— Dita
Santa Cruz Defensora «pie demanda 121/2 palmos ede
— 283 —
ili toneladas— Dita Nova Andorinha que demaníla IS
palmos e de 104 toneladas— O llyate Boa Sorte que de-
manda iO 1/2 palmos e de 71 toneladas. Estes barcos dáo
regularmente tt viagens por anno. Sahem e entrão nas ma-
rés vivas, e vão tâo carregados dos géneros de exportação,
€ principalmente de assucar e algodão que se os visseis,
não acreditaríeis que podião dar vela sem submorgi-
rem-se I Tenho os visto carregados de saccas até o— cesto
de gáveas !
Posturas ha ipie prohibem esse modo perigoso ; porem
a avareza não conhece limites, e por amor delia muitas
perdas tem havido de fortunas e vidas — o— auri sacra fa-
ines— do Virgílio — éa lei fundamental do commercio. Não
vos fallo em um que cahio a pouco, e que se está a mas-
trear. A carreira seguida é para o Porto da Bahia de S.
Salvador e desta para aqui, vindo carregados de fazendas
seccas e molhadas.
A importação é calculada por bons entendedores em
mais de 2:000:000 íf 000 rs, annualmente, e o valor da
exportação jà acima vos dei. Os valores dos fretes estão
lixados á 200 rs. por arroba, e de 100, 120 e 140 rs. por
canada de liquidos. De Ganindé até abaixo do Armazém o
Rio é todo empedrado, dessa paragem para baixo só as ro-
chas são marginaes, e os empecilhos para a navegação
reduzem-se ás grandes Coroas que se formão e desman-
chão segundo a força das enchentes, e que tornão a velejar
—de zigue zague— dando sempre um constante canal pela
corrente.
Não direi que para grandes vapores como o Bengal ou o
— Queen of the south — ou mesmo para os do porte do
finado heroe — D. Affonso — possão fazer a navegaçião do
S I^Yancisco mas estou convencido de que os de lotação
— 284 —
como a— Imperatriz— poderão granjar francamente ate a
Cidade do Penedo, e outros menores e apropriados ate o
Páo d'Âssucar; pois persuado-me que dá-se um canal
constante de 10, 20 e de 37 a 30 e mais pés.
Não contando com os benefícios concernentes a desobs-
truição dos Rios, As tradições são acordes em que, jà tem-
po houve, no qual — Sumacas — subiram até — Páo d'Assu-
car, e apontão ter subido até o Limoeiro o Patacho do
Mestre de Campo— Caetano de Sá ; e em 1834 para 1835
dous Hyates — um do Capitão Luiz de França, morador
no— Peba — e outro de pessoa desconhecida ; comtudo o
que vos posso afirmar, é que grandes Barcaças chegâo
até — Armazém, — e que uma pessoa de nome Raymundo
Jorge— navegou até o— Bonito — com um Hyate ou cha-
lupa carregada de Sal.
O Rio de S. Francisco, como vos tenho dito, é muito
anfractuoso, e de tal forma que, em alguns lanços corre
de Norte à Sul ; em outros parecerá que corre de Sul ã
Norte e em outros se fechâo tanto as montanhas, e pontas
que vos parecerá um angipasto ! Quanto mais se sobe o
Rio mais é elle augusto, e logares ha onde as correntes
com os ventos faz( m ondas como as do alto mar, em ou-
tros ha remansos em que estão as aguas como o mar em
calma podre ! ! É nesses pacificos lagos que as Piranhas
(das quaes vos mando a mandibula inferior) fazem sua
manjua dos infelizes que nelles cahem ou mortos ou vivos.
São seus montes ou collinas de alta e baixa verdura;
esveltos e bonitos no inverno ; escarpados, duros e abro-
Ihosos no verão. As margens e baixas são lindas ; e logares
ha encantadores.
Os combros, formados pelas aíliivióes são os terrenos
abençoados para as lavras de fiuno, rícino, cannas de as-
— 285 —
sucnr, milho e todos os legumes. De espaço a espaço os-
tentão-se arvores corpulentrs e copadas, cujos ramos se
espe^hão nas aguas, e prestâo sombrios deliciosos.
As quebradas das Ilhas apresentão uma singularidade
que é as camadas de terras acarretadas pelas alluviões, e de
formação em filetes horisontaes, podendo se contar por
elles os annos das enchentes, e em algumas contei até mais
de 300 filetes, como na Ilha dos — Coqueiros.
A plantação do arroz é em verdade miraculosa ! Depois
das enchentes formáo-se n-^s bordas do Rio — e coroas uma
terra argilosa, resultado da putrefacçáo dos vegetaes e
mais objectos decompostos, a que chamão aqui lamas —
as quaes vão successivamente apparecendo, «^ proporção
que as enchentes váo abaixando: os cultivadores de arroz
calculáo exactamente como se fosse a columna graduada iJo
Lago— deMeris,— a altura e descida das aguas, e com tempo
preventivo— fazem canteiros, ou sementeiras, no logar em
que primeiro se mostráo ns lamas — semcião a porção de
arroz que pertcndem lavrar : esta sementeira com o crés -
cimento d^um palmo é transplantada para as lamas, que
progressivamente vão-sc mostrando pelo abaixamento das
aguas; desta maneira proseguem até final transplantação
do todo ! Cada pé que c lançado (as vezes ainda sobre a
lama lavada pelas aguas) faz uma toceirade muitos caixos!
Sem rotear o solo, nem mais amanho do que o expendido,
aguardáo tão somente a maturação para seifa I ! É este o
raethodo usado em toda a beira do S. Francisco, e pelo qual
só pelo lado esquerdo se faz a colheita da cifra indicada na
exportação, a f )ra a do consumo I A esses cultivadores se
não devem applicar os pensamentos do Dr. Sthokler.
O misero cultor que industrioso
Do fértil seio da benigna terra
— ^86 —
Faz nbrolhar os preciosos fructos
Que a vida nos sustentáo ;
Por quanto nenhuma industria empregáo a respeito do
arroz os felices cultores d'aqui ! O capim de planta chama-
do de Angola, nasce espontaneamente pelas Ilhas e beira-
das! Ascannasde assucar, plantadas em alguns Jogares,
dao mais de 20 folhas, e no Brejo Grande são bens de raiz 1
o que igualmente me pasmou, foi vêr alguns cannaveaes,
cujas cannas, com dous e três annos de nascidas, ainda es •
taváo frescas para a moagem ! Flexão e não se perdem
como na Bahia e outros terrenos ; antes as d'aqui engros-
sáo, filhlo, crião pampros (que são cannas quasi pyrami-
daes) e sem perderem as propriedades sacarinas I ! Oh I
terra abençoada ! senão és a promettida pelas Escripturas,
outra não te levará as lampas ! I Remetto-vos as vistas da
Foz do Rio vista de Piassabuçú, as de Própria e Penedo
etc, tomadas a olho por mim mesmo, esperando um sin-
cero perdão pelo atrevimento. Quando aqui cheguei, e fiz
a minha primeira viagem á Cachoeira— informaram-me de
que o Rio possuia barreiras marnosas : não me souberam
explicar onde erâo ellas, e nem sabia eu o que fosse mar-
ne ; senão pela difinição de marnel que dá o Phylologo —
Moraes— em quanto não procurei melhores mestres,
dizião-me uns que era o mame a amostra N.® 29 e outros
as amostras N.° 30 e N.® 31 . Depois porém que li a obra de
Raspail, soube o que era, e à vista das suas explicações,
incHno-me a amostra N.° 32 por ser saponacea dar louça,
e parecer-me menos inquinada de ferro. O Sr. Halfeld
affirmou-me que no Rio debaixo não havia minas de
mame, mas ainda me não desenganei, attento a que as re-
commendaçóes que para o Presidente desta Provincia man-
dou o Exm. Sr. Conselheiro— Hollanda Cavalcanti— para
- 28; —
«e investigar esse novo estrume , de que uni viajante —
Francez — fallou asseverando ter tanto, capaz de carregar
muitos Navios. Se existe esta riqueza ainda a ignorância a
faz occulta, apezar de que qualquer das amostras applica-
das como estrume produz effeito satisfatório, sendo a ar-
gilosa abundantissima por toda a margem. Sobre todas
estas bellezas, o ftio. Lagoas e Riachos que recebem as
aguas do Soberanos. Francisco são povoados de peixes das
seguintes qualidades — Camurupim — Camurim mirim e
assú— Surubim (peixe de couro) Tu!)arana— doirada e
branca — Bagre— pocomom—niquim—cumbá, de maior a
menor (de couro;) uma cousa notável ca reprodução que
fazem pela bocca. e sabem os filhos, como os que vão no
frasco com espirito de vinho : E o peíjueno — Bagre— capaz
de nadar e pegado a um ovo, c<imo a gema d'um pinto ao
tirar da casca. — Pira (couro) Mandin assú — branco — ama-
rello— armado— capadinho—e es(|uentado (couro)— Guri -
mala— Matrincham tem a bocca como aslamprôas— Curu-
vina, conhecida em Minas Geraos — pelo nome de Paripu-
tug;i — RubàIo— Traíra— assú e mirim— Matraúé— Piau
cotia — preto—e branco, de maior a menor— Piranha —
Pacú — Pirambéba— Lambia, muito parecido com asLam-
j)rêas — Sardinha — Sara pó — Sabeirú ou Aragú — Gará —
Piaba de papo — Piaba de carcunda — Piaba ordinária — Acari
de pedra — de casco— de lama— e de espinho— Mussú — es-
pecial de caramurú—Jundiá— Solha — vulgarmente— Soia
— Caborge — é imia espécie do Sapo, caminha para terra co-
berto de espuma, com a c^lma descança, e vtdta ás aguas
quando lhe apraz, ou é surprehendido :
Perto da Barra, ha muitos Tubarões e Botos e nos pân-
tanos ha Cágados e Jacarés; em todo o Rio ha Pitus — gran-
dissimos, cuja pata vos remeto N. 32 e pelo dedo se conhe-
— a88 —
cera o gigante— Camarão— Aratanha — e Camarão de cor-
renteza.
Não tenho ouvido nem tratar se quer dos— minhocões
— monstruosos, de que falia o Escriptor— Accioli — posto
que da minhoca é assas abundante toda a margem, e fazem
delia isca para a pesca, porém nem por isso existem muitas
amphisbenas. O Camurupim é o peixe maior: tenho-os
visto de mais de 12 palmos, e os Surubins, maiores do que
um homem ! ! As— Tubaranas— e Camurins são até de 4 à
S palmos. Os retratos de alguns peixes vos farão conhe-
cel-os mellior : maxime a Piranha, digna de todos os res-
peitos.
A navegação é constante, ao cahir do vento sahem frotas
as vezes de, 20 l\0 e mais canoas, e se reúnem, principal-
mente nos sabbados na volta das feiras, tantas que coalhão
o Rio ! É então um quadro bello, e ao alongarem-se, da
costa, duas velas latinas, ou como um quadrado truncado,
alvas como cysne fazem recordar a cantata do Garção.
Jà no roxo horisontebranqueaváo
As prenhes velas da Troianna frota
E entre as vagas azues do már doirado
Sobre as azas do vento se escondião.
Em algumas— Lagoas como na do Goitiseiro, 5 léguas
desta Cidade, ha sauguexugas. tão boas como as da Euro-
pa, e muitas apanháo os matutos, porém para espairecerem
(como dizem elles) e não por viverem disso.
Se são pitorescas as margens do S. Francisco com as
aguas baixas e recolhidas a seu leito, se apresenláo paisa-
gens arrebatadoras, que se debuxão em suas correntes
crystallinas, o melhor c velo correndo velozmente, 'occu-
pando todos os logares liaixos, arrastando troncos e
— á8U —
halseiros, e com elles formando— líhas—ílucluantcs I
Apresentando todas as suas— Ilhas — sem areias, todas as
margens sem ribanceiras, e todo elle sem coroas ; e o povo
aquático cm innumeraveis bandos festejando a invasão ou
pequeno deluvio que òs desalojou uc suas liabitações e os
forçou a descançar ncs bosques! ou a andar esvc.çando
sem um húmido pouso; e ílepois de sua victoria, de suas
innundaç<)es para o interi(;r, de muitas léguas, abrir cami-
nho por duas boccns nos salgados senhorios misturando
suas aguas doces com as amaras do Grande Atlântico!
Fazem do magestuso a sua descda, movendo continua-
mente essas enormes massas de liquido; e depois de visitar
seus domínios ruraes; de fazer-lhes as doações de força e
de fertilidade, então plácido e claro como o crystal, reco-
Iher-se á sua casa de descanço— o seu alveo— costumei-
ro!!
É uma missão annual, da qual o braço Omnipotente o
encarregou, e para que testifique o Infinito poder descri-
pto nestes grandes versos de— Rousseau —
II prend sa course, il s'avnce
Comme un superbe geant
Bientôt sa marche feconde
Embrasse Ic tour du monde.
Et par sa force puissante
La nature languissante
Se reanime, et se nourit. ! . .
A enchente de 1792— subio 49 palmos sobre o nivel! ! !
e a de 1838—36 ! ! ! Com tudo tantas são as vargens que
primeiro que ellas se occupem, tarde ou nunca será toma-
da a Cidade nas partes altas.
Estou aqui ha mais de três annos e ainda não me encheo
ABRIL. 37
— 290 —
de |)asino, ou de medo a e evação das aguas deste Neréo
de Agua doce.
lÁ estilo á vista as torres da Matriz, os edilicios ainda
estão nebulados ; porem é a Cidade do Penedo,
Vou tornar ao meu humilde albergue, e não poderei di-
zer como o Piloto Melindano
K se do mando niíiis não desejais
Vosso trabalho longo aíjui fenece.
Pois i|ue esttni bem lembrado de que a minha ultima
promessa foi dizer- vos alguma cousa, ainda queperfun-
ctoriamente, sobre a minha Comarca.
A (iOmarca da Cidade do Penedo na Província das Ala-
goas é situada á margem esquerda do Rio de S. Francisco,
e segundo infomiações limita-se a cima duas léguas da
Cachoeira de — Paulo Affonso — com a Provincia de Per-
nambuco pelo Riacho— Moxotó— Serra do Exú e Riacho
— Manary : com a Comarca de Anadia, da Provincia das
Alagoas, pelo logar—C^nòa— cabeceiras do Rio— Panema
e do Riacho — Capiá, c pelo Kio— Cururypc até sahir na
Carta do mar, e finalmente correndo a costa do Peba e
entrando barra dentro do Rio de S. Francisco; seguindo
o Rio á cima até encontrar outra vez o Moxotó.
Neste espaço comprehcnde dous termos— o 1.° da Ci-
dade do Penedo, que é a cabeça da Comarca, e o 2.^ da
Yilla do Porto da Folha conhecida igualmente por Traipú
como já vos disse. Compõe-se o primeiro termo das Fre-
guezias da Cidade e da de Porto Real do Coilegio, e o
segundo das Freguezias do Porto da Folha, Pão d'Assucar
(creado este anno) S. Anna, e Mata Grande.
A Freguezia do Penedo abrange os Povoados da Cidade
— Piassabussú— Feliz Deserto — Salomé— e Brejo Grande—
— 291 —
os qiiaes são districtos de Paz sob duas Subdelegacias de
Piassabussii e Penedo, e uma Delegacia da Cidade. São as
Justiças do Brejo Grande pertencentes á Província de Ser-
gipe d'El-Rei.
Dà esta Fregaezia— Cl —Eleitores, e sua população
monta em 20,938 almas, constando só na cidade de 333
escravos que pagão taxa, e mais 130 exemptos pela idadcí
menor, etc.
Não TOS numero a escravatura empregada na lavoura
que poderá montar talvez de 3 a 4 mil. A Freguezia do
Collegio comprehende as Povoações do mesmo nome e as
de Sío Braz, Lagoa Comprida, com dous districtos de jus-
tiças de Paz. e uma Subdelegada, e dá IS Eleitores com
3,íX)4 almas, entre livres e escravos.
A Freguezia do Porto da Folha comprehende os Povoa-
dos da Villa — Mombaça— ou Preáca— (Serras) Canoa pelo
centro, e beira Rio — os povoados — Munguengue— Rabello
— Lagoa Funda— Panema— Limoeiro— e Pão de Assucar,
hoje Freguezia pela Lei Provincial citada : conta esta Fre-
guezia três districtos de Paz com duas Subdelegacias, e dà
24 Eleitores, e tem 17,747 almas livres e escravos.
A Freguezia de SanfAnna (central) comprehende o seu
Povoado, tem um districto de Paz uma Subdelegaria, e dà
12 Eleitores, com 5,31o almas contando escravos — Foram
os factores da Capella então— Martinho Vieira do Rego, e
sua mulher Thereza Joaquina doando terras.
A Freguezia de Mata Grande (hoje Villa) por Lei Pro-
vincial de 1852 comprehende os Povoados da Villa e de
Agua Branca, e na beira do Rio, os povoados de Piranhas
e Armazém, conta trcs districtos de Paz, dá 24 Eleitores,
e tem 12,633 almas inclusive os escravos.
As Serras de Mombaça e Priaca indicão mineraesi, e
— 294 —
nellas encontrei os crystaes que vão nas amostras N.**^ 32,
33, e 34. A^ém Ji^so achei as pedras das amostras—
N.o 3g_a tipella de Mata Granda foi erecta em 1781
pelo criolo Ant ni» d) Hosarin, e a de Mata Branca por
Pedro No'asco de Araújo e sua mulher em 1770— outros
dizem qiio ;jor Faustino Vieira de Sandes. Mata Grande
foi Villa em 22 df» Janeiro do 1838— supprimida em 1846,
e restaurada em 1832.
A Serra chamada— Pellada—é toda da amostra N." 36—
é alva como nevp. muito mais baixa está do que a da
Priaca.
Subindo-se o píncaro da ultima Serra, de que vos fat-
iei, encontra-se um bosque formado de arvores copadas e
direitas, e collocadas todas em ordem, e distancias que
parecem regulares columnas de ordem corinthia, de umas
para outras descem franças que fingem arcadas, às quaes
se adherem parasitas, engrinaldando-as com suas flores e
cores differentes.
O bosque assenta sobre uma chapada de 30 passos em
quadrado ; em torno vegetáo arbustos cheirosos e de lindas
flores, e finalmente é tapisada de gramma verde, e no
interior a Sambamljaia (ou barba de bode) macia como
uma enxerga de pluma, dâ o melhor commodo, sobre de-
liciosa sombra.— E' uma morada de Nympha ! Por qual-
quer lado (fue se derrame a vista, ávida sempre nestas
occasiões, descortinão-se vastos Sertões rodeados de ma-
tas, c de longe em longe habitações.
Quanta alegria nâo sobresalta o observador quando vô
um grupo de mais algumas casas, e entre estas alguma
alvejando, e mais espaçosa f
Admiramos a constância dos que se internáo, e táo lon-
ge vivem, fora do que chamamos mundo ; porém é na
— 293 -•
verdade tanto maior o sentimento de sociedade, e de ci-
vilisaçáo que nos salteia, quanto vemos maior reuniáo de
Brasileiros, quasi no meio das feras, e entregues a seus
fracos recursos pliysicos, e moraes ! !
Pelo lado do Rio é a Serra talhada a prumo, e táo alterosa,
que salvando muitas outras summidades, avista-se a Yilla
de Própria, e a Cidade do Penedo em tempo claro, jmis
que todos estes cumes deitáo pela manha seu branco bar-
rete de nevoeiro, que só o tirão, em respeito ao Deus dos
Incas.
Observei o Rio que parecia um regato, e a Serra— Ta-
banga um cômoro á margem delle ! I Tudo o mais, não re-
presenta senão uma campina com alguns tesos e cliar-
nécas.
Rolando-se grandes pedras de sobre o talhado da Serra
levão ellas espaço para tocar o fundo do abysmo, e pelos
sons, se avalia da profundidade delle, e da altura delia.
Aquelle que ainda não cavalgou sobre uma Serra Gi-
gante, e que de seu pináculo, onde se crê isolado no am-
biente, não espraiou seus olhos pelas vastidões de nossos
Sertões ; que ainda não contemplou assim o azul de nosso
Céo puro, e o horisonte immênso que nos cerca, não pôde
fazer uma idéa do bello maravilhoso, e da magestade do
infinito ! I Os rochedos da Serra são dispostos em camadas
horisontaes, brancos e com areias brancas assimilhando-se
ás deixados pe!o recuo do mar.
Oh ! quem sabe se a gruta que pisamos
Não foi a casa d'humida Serèa,
Que por ordem suprema.
Ao recuar das aguas, despeijou-a
Quando o espirito de Dons andou sobre ellas?!
— 294 —
Soffrei mais estes da própria lavra, e desculpai; que è
de mào poeta querer em tudo inserir versos seus.
Seguindo— o córrego — que tem as fontes nas ditas Ser-
ras, achão-se areias como as da Amostra N.° 37 e soter-
radas lages graudes da Amostra N. 38 :
Ha tradições de que jà se tem extrahido ouro, o que pôde
muito bem ser.
No Termo do Penedo ha a Serra — Marabá — que dizem
é vista do mar. e que serve de balisa aos navegantes, que
demandão a Barra : ha nella crystaes; e informáo-meque
melhores, do que os da Priaca; mas não os hei visto.
O furo do Termo do Penedo compóe-se de um Juiz de
Direito, um Juiz Municipal e Orphâos, formados em Di-
reito e è igualmente o Delegado de Policia — dous Subde-
legados e cinco Juizes de Paz, dous Tabelliáes de Notas e
Escrivães de geral, que destribuem entre si, sendo parti-
cularmente um encarregado da Policia, e o outro do Re-
gisto das Hypothécas; um Escrivão de Orphãos, um pri-
vativo do Jury. c execuções criminaes, a fora os dos Sub-
delegados, e Juizes de Paz; e um de Capella, e Residuos.
Não ha um Advogado formado, excepto o Promotor Pu-
blico, e por isso as causas são mal defendidas, e sacrifi-
cadas a rábulas alguns totalmente hospedes de direito.
Causou-me admiração que esta Comarca dando 7 filhos
formados em Direito, e 6 em medicina, nenhum se qui-
zesse estabelecer em sua Pátria ! Estarão com o protesto
do despeitado da antiguidade; ingrata Pátria, — mn poce-
debis ossa meu !
Dà dous Batalhões de Guardas Nacionaes de mais de
1,200 praças sob um Commando Superior. Além das Igre-
jas referidas, conta ns casas de oração de Salomé, Santa
Cruz do Morro Vermelho, Junqueiro> Igreja Nova, e Pi-
r%
— 29o —
ranga. O Termo <lo Porto da Folha a cjue está ariiiexa a
Villa da Mata Grande, compõe o seu foro de Juizes Muni-
cipaes Supplentes— dous Tabelliáes do geral, accumulando
um os trabalhos do Jur}' e execuções e bens do evento
e capellas e residuos, e o outro a Policia; um escrivão de
Orphãos— e bens de ausentes— não tem Advogados — está
como o Penedo.
Dá dous Batalhões Nacionaes, sob um (lommando Supe-
rior contendo ambos mais de 1,600 praças. Além das
Igrejas ditas ha as casas de oração de — Giraô— Mambaca—
Priaca—Riacháo— Santa Cruz— do Velho Nunes— Santa
Cruz de Mestre Félix — e Santa Cruz dos Veados.
Tem a Comarca — um Juiz de Direito — um Juiz Munici-
pal—um Promotor Publico— três Delegados— sete Subde-
legados—e doze Juizes de Paz.
O dizimo de gados rendeo o— Município do Penedo
6:2008000-0 de Traipú 9:660g000— e o de Mata Grande
5:200ÍIOOO— total 2!:080$000.
O clima dl Comarca é muito variado desde a fóz do Rio
até a Cachoeira. O desta cidade é doentio, loj(o depois do
escoo das enchentes, experimenta-se nella alguma semc-
lhanç4i a essa inconstância da do Rio de Janeiro.
Também dias apparecem, em que o Rio cobre-se de uma
serração tão densa que não se vêm os objectos que estão
ao pé. O Sertão vai mais sadio, e as Serras são salubres,
e nellas se sente frio tão intenso como o de Minas ou
S. Paulo, maxime de Agosto até Outubro.
Os logares mais invulneráveis às febres amarellas foram
Traipú, e S. Braz ; como me admirei do primeiro, porque
liça sobre uma rocha que, escandecida pelo sol ti*opical,
será capaz de evaporar todos os miasmas do mundo, [)o-
rém de S. Braz sim, porque além de possuir duas léguas
— 290 —
próximas do Povovido, c tanta a criação suina qiieexcre-
mentáo as ruas ao ponto de as porem intransitáveis 1 1
Creio no que me disse certo ;\lcdico que estes males pro-
curam antes os limpos, que os sórdidos; sendo o contrario
das de mais epidemias.
As febres intermittentcs sâo indemicas, e nâo raros os
casos de mortes repentinas por estupores principalmente.
lia ervas, plantas, arvores, e raizes medicinaes— ccmo :
— contra-erva— lingua de vacca — batata de purga — ma-
cella — ipecacuanha preta e branca — cainana — que tem o
effeito do azougue— estramonia — tingui — o louco, planta
cáustica com mais proveito que a cantharida — quinaquina
— angelim. ou lombrigueira — ruibarbo — barbatimáo— al-
caçús, etc. etc. — Manacá— mal vaisco—extragata. etc. etc.
Ha um sipó chamado cunanám que cortado deita ura leite
phosphorico. e que queima como agua forte — experimen-
tei, e à noite em um ranxo veritiquei esse grande pheno-
meno.
E' farta de madeiras, como toda a— Provincia — para
edificação — tem Pào— d^arco de liôr roxa e amarella. Sa-
pucaia— madeira que se desfiia para ripas— coração de
negro — Gitay — Louro— ingá, e verdadeiro— Cedro— Man-
gue— Baraúna — Pào de óleo, de que se extrahe o óleo de
cupaiba. Para construcções navaes— Louro, Arapiràca—
Gitay — Cedro — Sicopira — Potumojú— -Páo Santo. Para
marcenaria — Pào d'Arco — Gitay — Cedro— Jacarandàrana
— Coração de negro— Peroba — Emburána— Canafistola —
Condurú— branco— e não vermelho como o da Bahia —
Gonçaloalves— Angico ( I )— Potumojú — Gijuiba — Tatajuba
(também para tinturaria) — Bálsamo — Pào de óleo — Gini-
papo, Joazeiro (que pela sua alvura serve para embutidos) —
0) o Angico destila gommu optiiDa para as doenvas de peito, e a casca c
folhas 6 um andidoto para quedas.
— Ú\)'J —
Massaraiiduba — Macieira — tão llexivel que serve para ai"cos
de barril e pipas — é a mesma que dá o fructo para o dôre
de qu(* fallei, e de que mando aamostra N. 3í) — Vi Cardeiros
— de tí a 7 palmos de rircumfereucia no tronco, e lendo
perlo de 70 de hastes : fazem doce do chamado — chique-
cliique — e cabeça de frade : ha o — Alaslrado — que assado
parece amacacheira ouaipy, etc. — O propriamente — Man-
dacazú — dá um pello— da ajnostra N.*' 40, e a capa, ou
casca um papel que fresco se pôde escrever com facili-
dade tomando bem a linta, amostra N\° 41 .
No cardo palmatória, se cria a coxônilha, que ha em
abundância no centro, e a poucas léguas da beira do Rio,
é a amostra N. 4i.
Vou narrar-vos agora algumas raridades. Houve aqui
um liomem que náo podia ouvir bater ovos, pois que sen-
li i crescerem-lhe os beiros enormemente. lia ainda um
que náo come arroz e se o faz padece repentinamente uma
elefantíase, crescendo-lhe Iodas as extremidades do rosto.
Ha um para SanfAnna quo a cada palavra dá um bodèjo
tal, que seria capaz e poderia illudir qualquer — cabra—
causando aos bodes a sensação de que escreveo o Épico
Latino— na Bucólica 3.^
Novimus et que te.... transversa tuculibus hin^ís,
Et quo, sed faciles nymphe risêre. sacello.
Houve aqui um Juiz que inventariou r)4í)?láO toda for-
lima de um finado, e dividio-a, dando— 315390 para divi-
das—298410 para funeral— yOÍ^7Go de custas \m\\ si e
seus offlciaes ! — e dividio o resto por 31 herdeiros, fazen-
do quinhões da quantia de ai íí 147— ate 881 réis !!!...—
de maneira que foi o maior herdeiro do finado !...
Houve um Jury em que os Jurados tiveram de respon-
AimiL. 38
— 298 —
der a 91 — perguntas— por ter o Promotor ollerecido o
Libello contra o Réo — Serafim— pelos crimes seguintes :
— 5 mortes— 2 tentativas do mesmo crime — e 1 roubo,
com todas as aggravantes do Código, desde 4 até 17 ! ! Ha
um homem que se jacta de ser Atheu,— Um que bebe agua
e vinho cada uma bebida por sua vez, e que as lança
depois á vontade de quem as pede separadas é pciotiqueiro
innato. — Outro que serve para todos os ofiBcius de letras,
mecânicas. — Um que blasona de rico — absoluto— mas que
só possae para pagar o terço das dividas.
Um que rifa constantemente objectos, porém que se náo
sabe ainda qua! o feliz que tirasse um premio. Na Mata
Branca houve um escravo do vigário, hoje de Paracatu —
o Padre Miguel Arcanjo Torres, que era hermaphrodita —
tendo os dous sexos bem desenvolvidos. De presente um
que era havido por senhora ; aos 20 annos largou a saia, o
veio enliar as calças e os modernos paletós! ! mora em Páo
d'Assucar, e chama-se Maria, e hoje Mariano. Se conti-
nuasse com as raridades compor-vos-hia um musêo ; mas
uma carta não tem salão para tanto.
Ultimarei esta minha narrativa fazendo algumas refle-
xões que julgo dignas de attençáo eque só ellas serião ca-
pazes, em execução, de tirar este soberbo Rio e suas mar-
gens do abatimento e abandono a (|ue parccco estar
condemnado.
A extensão da Comarca do Penedo é de comprimento
na parte mais septentrional de — 50 a 52 léguas, — e nu
parte mais occidental de — 26 a 30.
A Comarca de Villa Nova da Provincia de Sergipe tem
de longura 40 a 42 léguas e de largura 16 a 20. Seu clima
c variado, como a cima vos disse ; e as riquezas de seu
solo dão grandes esperanças : só lhe falta a civilisaçáo, e
r%
— 299 —
que esta espanque as trevas em que os preconceitos tem
involvido estes bellos, e virgens logares. Instrucçáo, civi-
lisação, communicaçáó; parece que Deus rimou estas
palavras para demonstrar que sem ellas não prospera um
povo.
A instrucçáo inventa, descobre; a civilisaçáo aceita, usa
dos inventos e das descobertas; a communicaçáó as espa-
lha, applica-as em beneficio geral. A riqueM nasce dessa
reunião, e com ella a satisfacçáo do povo, que, farto e co
nhecendo o seu, procura respeitar o alheio, e assim reci-
procamente. A segurança publica é composta de muitas
seguranças particulares ; náo é senão segurando-se muitos,
ou a maior parte que a Sociedade Civil tem também se-
gurança.
Mas como virá tocar esse futuro ao Rio de S. Francisco?
me perguntareis vós e eu vos responderei facilmente.
Abri aos olhos do especulador, e ávido extranho os the-
souros fechados nestas ribeiras de uma vejetaçáo fabulosa !
uni suas duas margens, fazendo uma só Província, que
tudo apparecerá transformado.
Náo é possível, como está, nem um augmento ; cada
margen pertence a uma diíTerente Província, ejurisdicçáo,
distando da Capital mais de 30 léguas ; e a acção do go-
verno chega tardia e illudida.
Tudo de mão em uma, se vasa reciproca e facilmente
na outra, e estes raáos elementos, conservados e augmen-
tados por poucos, que tem interesse immediato no atraso
de tudo, que olhão para a idéa de progresso, cora maior
horror, do que para uma cascavel, é a maior esterelidade a
combater, é a peior febre amarella a estinguir.
É esse o germem de corrupção que arruina a prosperi-
— 300 —
(laile. liberdade o segurança, o que mala no berço o espi-
rito, e o corpo dos Povos.
Não ha raciocinar alem dos maioraes da terra, e nem
usar da liberdade a mais legal, sem suas approvações ! A
morte deste — digamol-o — despotismo — só com uma tal
transformação, se dará. Desde o decimo quinto século
que se descobriram estes logares, ha mais de 300 annos que
os deshabitaram os selvagens, e tudo demonstra a natureza
pura e singela com as modificações somente da necessidade
absoluta. Ainda a mão do progresso não poz em acç^lo,
com a devida sinceridade, tantos recursos I
As obras que se observáo nesta Cidade do Penedo indi-
cão que houve mais vida, e hoje os indícios sáo de progres-
siva decadência.
É preciso mudar de vida, activar os homens, destruindo
as rotinas perniciosas, mas, seguidas á risca, e por capricho
egoistico por quem não conhece os bens provenientes do
progresso a todos os respeitos, ou leme escurecer-se á
vista da luz.
O Quadro do rendimento desta Comarca é animador:
quero mesmo que não tanto renda a Comarca de Villa No-
va, comtudo não seria preciso ao Governo fazer despezas
impossíveis para ter e manter uma nova Província.
Não podemos cafcular a importação estrangeira ; mas se
é exacto o calculo de que mais de três mil contos de va-
lores, entrão pelo S. Francisco nos Barcos de Cabotagem ;
esses valores triplicarão no commercio com o estrangeiro.
Um homem creador que se dedicasse ao árduo trabalho
da prosperidade de luna nova Província ; muito poderia
fazer em beneficio destes povos governados pela Provi-
dencia, cujos costumes são ainda rudes, porém porque*
não acháo exemplos nos maiores..
— 301 —
\s producções naturaes desafião o Colono e fôram so-
mente ellas que arrancaram ao meu cbarà — ^José Vieira do
Couto— aqucllas exclamações agouras de prospero futuro.
Eras virão em que os povos correrão em chusmas sobre
estas ribeiras, Ac.
Que não aventuraria elle, se entio esperasse uma linha
de vapores já em carreira, e que esta será talvez a precur-
sora de uma via férrea para visitarmos essa assombrosa
obra da Mão Poderosissima— a Cachoeira de Paulo Affon-
so! ! Estou que se isto tudo, que indico, dependesse de
uma só vontade — Soberana — a proveitosa creação, de que
vos fallo, seria feita, pois que são esses feitos, dos que dão
renome aos Príncipes, e futuro às Nações; pois o — Rei
reina e não governa; disse o politico — Mr. Thiers.— Essa
máxima terrível apoquentou o génio dos Monarchas ; abdi-
caram o pensamento nos Ministros dos governos represen-
tativos ; e não se pensa, senão pelos moldes das Consti-
tuições, e querer delles.
Feliz do Rei que pôde fazer ao Povo todo o bem que
imaginar, e que tem bons conselheiros para apartal-o do
todo o mal 1
Não sei se poderemos assentar este pensamento entre os
partidos políticos ? Quantas vezes não desconhecem elles o
bem de que se podem também aproveitar seus contrários
só porque não o gozáo exclusivamente! I
De certo que não vos terei satisfeito com estas informa-
ções : infeliz do espirito fraco que se arroja a embarcar em
altas emprezas, por que raras vezes escapa do naufrágio !
Sou sinceramente
Vosso affectuoso Amigo por Sympathia
José Vieira Rodrigues de Carvalho k Silva.
Penedo, em 1854.
injiiAt
DAS
6DEBBAS FEITAS iOS PAUABES BE PEBIÂIBUCO
NO TEMPO DO GOVCHNADOR D. PEDRO DE ALMEIDA
DE 1673 A 1678.
(M. S. ojfereddo pelo Exm. Sr, Conselheiro Drummond. )
Restituídas as capitanias de Peinambuco ao dominio de
Siia Alí^/a. livre jà dos inimigos que de fóia as vieram
(•ònqui.^ i^r; s.^ndo poderosas as nossas armas para saccu-
diro iniuiigo, que tantos annos nos opprimio; nunca foram
efficiízes para destruir o contrario, que das portas adentro
nos infestou; náo sendo menores os damnos deste, do que
linha sido as hostilidades d'aquelle; nâo foi o descuido a
causa de se nflo conseguir este negocio ; porque todos os
Governadores, que nesta praça assistiram com cuidado se
empregaram nesia empresa; porém as diíTiculdades do
sitii;, a as[>eresa dos caminhos, a impossibidade das con-
duções, fez impossível, a quem o valor não fez poderoso ;
os melhores Cabos desta Praça, os mais experimentados
soldados desta Guerra se occuparam nestas levas, e não
sendo pouco o trabalho, que padeceram, foi muiío pouco
o fructo que alcançaram.
E para que com alguma evidencia se conheça o incon-
trastavel desta empresa, brevemente recopilarei as noti-
cias, que a experiência descobrio ; estende pela parte su-
perior do Rio de S. Francisco uma corda de mata brava,
í[ac vem a fazer termo sobre o sertão do Cabo de Santo
Agostinho, correndo quasi Norte a Sul, do mesmo modo
que corre a costa do mar; são as arvores principaes Pai-
— aOi —
meiras agrestes, ([ue deram ao terreno o nome de Palma-
res ; são estas tão fecundas para todos os usos da vida hu-
mana, que delias se fazem vinho, azeite, cal, roupas; as
follias servem ãs casas de cobertura ; os ramos de esteios,
os fruitos de sustento; e da contextura com que as pencas
se cobrem no tronco, se fazem cordas para tolo o género
<le ligaduras, e amarras; não correm tão uniformemente
estes Palmares, que os não separem outras matas de di-
versas arvores, com que na distancia de sessenta léguas,
se achão distinctos palmares : a saber ao Noroeste o Mu-
cambo do Zambi, dezesseis léguas de Porto Calvo ; e ao
Norte deste distancia de cinco léguas o de Xrotíreiíe ; e logo
para a parte do Leste destes dous Mucambos chamados os
das Tabocas; e destes ao Noroeste quatorze léguas o de
Dambrabuwja, e ao Norte deste oito léguas a Cerca chamada
Subnpim ; e ao Norte desta seis léguas a Cerca Real cha-
mada o Macaco; ao Oeste desta cinco léguas o Mocambo do
Osenga, e nove léguas da nossa povoação de Serinhaem
para o Noroeste a cerca do Amaro ; e vinte cinco léguas das
Alagoas para o Noroeste o Palmar de Andalaquituxe ; Irmão
do Zambi ; e entre todos estes que são os maiores e mais
defensáveis, ha outros de menor conta, e de menor gente ;•
distão estes Mocambos das nossas povoaçôens mais ou me-
nos léguas, conforme o lançamento delles, ponjue como
occupão o vão de quarenta ou cincoenta léguas, uns estão
mais remotos, outros mais próximos.
É o sitio naturalmente áspero, montuoso, e agreste, se-
meado de toda a variedade de arvores conhecidas, e igno-
tas, com tal espessura , e confusão de ramos , que em
muitas partes é impenetrável a toda a luz ; a diversidade de
espinhos, e arvores rasteiras nocivas servem de impedir
os passos, e de intrincar os koncos; entre os montes se
— 3()o —
ospraião algumas várzeas fertelissimas para as plantas ; c
para a parte do Oeste do sertão dos Palmares se dilatão
Campos largamente estendidos, porém infructi^eros, e só
para pastos acommodados.
A este inculto e natural couto se recolheram alguns ne-
gros, a quem ou os seus delictos, ou a intractabilidade de
seus Senliores, fez parecer menor castigo, do que o que
receiavão; podendo nelles tanto a imaginação, que se
davão por seguros , onde podião estar mais arriscados.
Facilitou-lhes a comedia a estancia, e com presas, que co-
meçarião a fazer, e com persaações da liberdade, que co-
meçaram a espalhar se foram multiplicando.
Ha opinião que do tempo que houve negros captivos
nestas Capitanias começaram a ter habitadores os Palma-
res;notempoqueaIlolIandaoccupouestasPraç:ís engrossou
aquelle numero; porque a mesma perturbação dos Senho-
res era a soHura dos escravos ; o tempo o fez crescer na
quantidade, e a vizinhança dos moradores os fez destros
nas armas ; usáo hoje de todas, umas que fazem, outras
que roubão, e muitas que comprâo ; as que fazem são
arcos e frechas, as que roubão, e comprâo são de fogo ;
os nossos assaltos os tem feito prevenidos, e o seu exer-
cício os tem feito experimentados ; não vivem todos juntos
porque um successo não acabe a todos, em palmares dis-
tinctos tem sua habitação, assim pelo sustento, como pela
segurança ; são grandemente trabalhadores, plantão todos
os legumes da terra, de cujos fruitos formão providamente
celeiros para os tempos da guerra, e do inverno; o seu
principal sustento é o milho grosso, delle fazem varias
iguarias; as caças os ajudão muito, porque são aquelles
matos abundantes delias.
Toda a forma do Guerra se acha nelles, com todos os
ABRIL. 39
— soe —
Cabos Maiores e inferiores, assim para o successo das i>e^
lejas, como para a assistência do Rei ; reconhecem-se to-
dos obedientes a um que se chama o Ganga Zumba, ([ue
(juer dizer Senhor Grande ; a este tem por seu Rei e Se-
nhor todos os mais assim naturaes dos Palmares, como
vindos de fora ; lem palácio, C^ipas da sua familia,é assistida
de guardas e oíDciaes, que custum o ter as Casas Reaes;
c tratado com todos os respeitos de Rei. e com todas as
ceremonias de Senhor ; os que chegão á sua presença põem
Jogo o joelho no chão, e batem as palmas das mãos signal
do seu reconhecimento, e protestação da sua excellencia ;
fallão-lhe por Magestade, obedecem-lhe por admiração; ha-
bita na sua Cidade Real, que cliaraáo o Macaco, nome sor-
tido da morte, que n'aquelle logar se deo a um animal
destes ; osta é a metropoli entre as mais Cidades e povoa-
ções ; está fortificada toda em ura cerco de pào a pique/
com treneiras abertas para oíTenderem a seu salvo os com-
batentes ; e pela parte de fora toda se semeia de estrepes
de ferro, e de fojos tão cavilosos, que perigará nelles a
maior vigilância ; occupa esta Cidade dilatado espaço, for-
ma-se de mais de mil e quinhentas casas; ha entre elles
Ministros de Justiça para as execuções necessárias, e todos
os arremedos de qualquer Republica se achão entre elles :
E com serem estes Bárbaros tão esquecidos de toda a
sugeição. não perderam de todo o reconhecimento da
Igreja ; nesta Cidade tem Capella a que recorrem nos seus
apertos , e imagens a que encommendáo suas tenções,
quando se entrou nesta Capella, achou-se uma Imagem do
Menino Jesus muito perfeita ; outra da Senhora da Con-
ceição, outra de S. Braz ; escolhem um dos mais ladinos,
a quem veneram como a Parrocho, este os baptiza c os
casa : porém o baptismo é sem a forma determinada pela
— 307 —
igreja, e os casamentos sem as singularidades, que pode
inda a lei da natureza ; o seu apelile é a regra da sua elei-
ção ; cada um tem as mulheres, que quer, ensináo-se entre
elles algumas orações Christáes, observão-se os documen-
tos da fé que cabem na sua capacidade; o Rei que nesta
Cidade assistia estava acommodado com Ires mulheres,
uma mulata e duas crioulas, da primeira teve muitos filhos,
das outras nenhum ; o modo de vestir entre si, é o mesmo
que observáo entre nós; mais ou menos emroupados con-
forme as possibilidades.
Esta c a principal Cidade dos Palmares, este o Rei que
os domina, as mais Cidades estão a cargo de potentados, e
Cabos Maiores que as governão, e assistem nellas : umas
maiores, e outras menores conforme o sitio, e a fertilidade
os convida, a segunda Cidade chama-se Stibupira ; nesU
assiste o Irmão do Rei, que se chama o Zona, {\)k forti-
ficada toda de madeira e pedras, comprehende mais de oito
centas casas ; occupa o vão de perto d'uma légua de com-
prido. É abundante de aguas porque corre por ella o Rio
Cachingi; esta era a estancia onde se prepara vão os negros
para o combate de nossos assaltos : toda a cercavão fojos,
e por todas as partes por vias aos nossos impulsos, estava
semeada de estrepes ; das mais Cidades e povoações darei
noticia, quando lhe referir as ruinas.
Este é o inimigo que das portas a dentro destas Capita-
nias se conserva a tantos annos, a quem defendia mais o
sitio, que a constância ; os damnos que deste inimigo nos
tem resultado são innumeraveis ; porque com elles periga
a Coroa, e se destroem os moradores ; periga a Coroa por-
que a seus insultos se dispovoavão os logares circumvizi-
nhos ; e se despejavão as Capitanias adjacentes ; e deste
(IjOsengá?
— 308 —
damno iiifallivel se seguiáo outros inevitáveis, como era
impossibilitar-se a conservação de todo Pernambuco ; por-
que como occupão os Palmares do Rio de S. Francisco té
o Cabo de S. Agostinho, ficão imminentesa Pojuca, Seri-
nhaem, Alagôa? Vna, Porto Calvo, S. Miguel, povoações
donde se recolhem mantimentos para todas as mais Villas,
e freguezias, que estão á beira mar; sem cujos provimen-
tos ficáo todas inc^nservaveis ; porque os fruitos. que dão.
são os de que mais se necessita : a saber: gados, farinhas,
assucares, tabacos, legumes, madeiras, peixe, azeites.
Destroem-se os Vassallos, porque a vida, e honra, a fa-
zenda, porque lha destroçáo, e lhe roubáo os escravos, as
honras porque as mulheres, lilhas irreverentemente se
tratão ; as vidas porque estão expostos sempre a repentinos
assaltos ; Demais que os Caminhos não são livres, as Jor-
nadas pouco seguras; e só se marcha com tropas, que
possão rebater os seos encontros.
E parecendo fácil destruir-se este damno, foi té agora
impossivel coaseguir-se este intento : porque depois da
restauração destas Praças, vinte cinco entradas se fizeráo
aos Palmares, e malogrando-se nellas grandes cabedaes,
a si da fazenda real, como da dos moradores, e perecendo
muitos soldados, nunca se lhe enfraqueceram as forças; e
para que conste com evidencia o grande cuidado que tem
dado este negocio ; e os grandes abalos que tem causa-
do este empenho, refirirei o nome dos Cabos que lá fizeram
entradas.
Despojados os Hollandezes destas Capitanias, que injus-
tamente domina vão pelo memorável Mestre de Campo Ge-
neral Francisco Barreto, cujo nome não só merece enta-
Ihar-se nos mármores da eternidade, mas também impri-
mir-se nas laminas da nossa memoria ; pois foi o farol que
— 809 —
nas trevoas do nosso capliveíro. despedindo os raios do
seu valor, que Hollanda sentio, nos conduzio ao porto se-
guro da liberdade, que hoje logramos; recolhendo-se
restaurador de todas estas Capitanias, náo quiz deixar de
as remir ultimamente de todos os seus contrários ; e a si
entre os parabéns dos saccessos passados se acendeo o
brio para os estragos futuros, e prevenindo perto de seis-
centos homens com tudo o mi is necessário para as mar-
chas, os entregou á ordem do Capitão André da Rocha para
que fizesse a primeira entrada por aquellas matas nunca
dantes penetradas : entrou a gente, começou a desemba-
raçar os estorvos d'aquellas montanhas, e a buscar os ha-
bitadores d*aquclles desertos; porém como erão os Capi-
tães, que entrarão, briosos, e os soldados resolutos, a dis-
córdia os desunio : do que tendo noticia o Mestre de Campo
General mandou o Tenente Antotúo Jacome Bezerra para
continuar o empenho; o que fez com tanto acerto, que al-
cançou uma famosa victoria. em que acabaram muitos dos
Palmaristas, e se capti varam quasi duzentos.
Este foi o primeiro estrago que sentiram aquellespaizes;
esta foi a primeira fortuna com que se ensaiaram as nossas
resoluções ; este foi o ultimo applauso com que se coroou o
Mestre de Campo General em Pernambuco ; tendo a gloria
de ser o único restaurador destas Capitanias ; e o renome
de ser o primeiro conquistador dos Palmares.
Teve circumstancias de prodigiosa aquella victoria ; por-
que n aquelle tempo, as experiências erão muito poucas,
e a multidão dos negros era muito grande ; julga-se susten-
taváo aquelles matos de dezeseis té vinte mil almas ; que
com este feliz successo foráo declinando, porque ficaram os
segundos mais descobertos para as nossas entradas ; e os
negras mais timidos para os seus assaltos.
— 310 —
Entraram depois vários Capitães, Sargentos Mores, e
Mestres de Campo, e todos mereceram louvor, porque so-
bre os trabalhos que padeceram, causaram damnos que se
sentiram ; e porque no breve deste papel náo cabe a rela-
ção do que obraram sirva-lhes só a declaração dos nomes
para gloria do que mereceram.
Entraram nos Palmares o Capitáo-Mór Sebaldo Luiz, o
Capitão Clemente da Rocha, o Capitáo-Mór Christovão Luiz,
o Capitão José de Barros, o Capitão-Mór Gonsalo Moreira,
o Capitão Cipriano Lopes, o Capitão Manoel Rebello de
Abreo, o Tenente António Jacome, o Capitão Braz da
Rocha, o Capitão António da Silva, o Capitão Belchior
Alvares, o Capitão Manoel Alvares Pereira, o Capitão Se-
bastião de Sá, o Capitão Domingos de Aguiar, o Capitão
Francisco do Amaral, o Mestre de Campo António Dias
Cardoso, o Coronel Zenobio Acheoli; o Sargento-Mór
Manoel Lopes.
Com todas estas entradas ficaram as nossas povoações
destruidas, e os Palmares conservados; sendo a causa
principal deste damno a difficuldade dos caminhos, a falta
das aguas, o descomodo dos soldados, porque como são
montuosas as serras, infecundas as arvores, espessos os
matos, para se abrirem é o trabalho excessivo, porque
os espinhos são infinitos, as ladeiras muito precipitadas, e
incapazes de carruagens para os mantimentos com que é
forçoso que cada soldado leve às costas a arma, pólvora,
bailas, capote, farinha,' agua, peixe, carne e rede com que
possa dormir; com a carga, que os opprime, é maior que
o estorvo, que os impede; ordinariamente adoecem muitos,
assim pelo excesso do trabalho, como pelo rigor do frio ;
e estes ou se conduzem a hombros, ou se desamparão ás
feras ; e como os negros são senhores daquelles matos, e
— 3n —
experimentados naínicl.'as serras, o uso oá tem feito robus-
tos naquelle trabalho, e fortes naquelle cxercicio; com que
nestas jornadas nos costumão fazer muitos damnos, sem
poderem receber nenhum estrago, porque encobertos dos
matos, e defendidos dos troncos se livnlo a si, e nos mal-
tratãoa nós.
Este era o estado em que achou os Palmares D. Pedro
de Almeida, quando entrou a governar estas Capitanias ;
e como os clamores do perigo commum, e a guerra da
insolência dos negros era geralmente lamentada de todos
os moradores; logo tratou de acudir ao remédio daquelles
Povos, e de conquistar a soberba daquelles inimigos; e
dispondo com ordens as povoações de Sirinhaem, Porto
Calvo, Vna, Alagoas, erio de S. Francisco: mandou pre-
venir carnes e farinhas, para as levas que queria mandar;
determinou a gente que das mesmas freguezias se havia
de tirar, ellegeo os soldados pagos que havião de entrar,
prevenio botica, Cirurgião, religiosos e tudo mais que era
necessário para a jornada, o que tudo entregou à ordem
do Sargento-Mór Manoel Lopes, cuja experiência, zelo, e
valor prometteo bom successo as esperanças que nelle se
fundaram.
Achou -se na Povoação do Porto Calvo era 23 de Sep-
terabrode 1675, com 280 homens entre brancos, mulatos,
e Índios ; em 21 de Novembro partio para os Palmar, s, on-
de foram grandes os trabalhos, excessivas as necessidades,
e continuos os perigos que se padeceram até 22 de Dezem-
bro em que se descobrio uma grande Cidade de mais de
2,000 casas, fortificada de estacadi de pào a pique, e de-
fendida com 3 forças e com somma grande de defensores,
prevenidos com todo o género de armas, e depois de se
pellejar de uma e outra parte mais de 2 1/2 horas, larga-
— 352 —
ram os nossos soldados fogo a algumas casas, que como
são de matéria capaz de incêndios começaram a arder e os
negros a fugir. Deram s jbre eres, mataram muitos, feri-
ram não poucos e prederam 70 ; ao dia seguinte se encor-
poraram outra vez os negros, e reconhecido pela nossa
parte o sitio, foram investidos, renhio-se fortemente com
damno considerável dos Palaiarislas ; até que no seu retiro
tiveram o sou remédio; Assistio o Sargento-Mór cora
nrrayal formado perto de 3 mezcs entre os segredos áspe-
ros daquelle sertão padecendo indesiveis misérias, exces-
sivos trabalhos, e fomes grandes; campeando sempre
íiquellas espessuras : grande fracto se colheo desta assis-
tência do arrayal, porque timidos os negros de táo próxima
vizinhança mais de 100 peças se recolheram ao povoado
buscar seus senhores.
Nestas esperas alcanç>ou por notícias o Sargento-Mor,
que se tinhão passado os negros 23 léguas além dos Pal-
mares entre as fragosidades de mis carreiros tão espinho-
sos e bravos, que parecião incontrastaveis a toda a resolu-
ção ; porém não os apatrocinou ainda assim a asperesa,
porque assaltados dos nossos ficaram muitos mortos, e os
n;ais fugiram, aqui íc ferio com uma bala ao General das
Armas, que se chamava o Zambi, que quer dizer Deus da
guerra. Negro de singular valor, grande animo, e constân-
cia rara. Este é o espectador dos mais, porque a sua indus-
tria, juizo e fortaleza aos nossos serve de embaraço, aos
seus de exemplo, ficou vivo. porém alejado de uma perna.
Chegaram estas novas cora o Sargento-Mór a D. Pedro
de Almeida, e comprehendendo dos Palmares o sitio, das
entradas o perigo, dos moldados o descomaiodo, dos
negros a resolução, das cidades a fortaleza, com madureza
grande e zelo maior tratou de dar ultimo fim aquelles ini-
— :í13 —
migos, e prevenindo todos os estorvos, que os successos
passados lhe linháo desciiberto com singular resolução,
tomou a seu cargo esta empresa, e tendo noticia que na
Capitania de Sergipe d'el-Rei pertencente ao governo geral
da Bahia, assistia o Capitão-Mór Fernão Carrilho a quem a
fama tinha feito conhecido nestas Capitanias de Pernam-
buco, pelos successos felizes, que no Sertão da Bahia tinha
conseguido, destruindo os Mocambos e Aldeãs dos Tapuyas
que infestaváo aquellas partes, cujo valor e experiência foi
a causa da quietação e seguranç^a, que hoje logra aquella
cidade, eseus arredores, poisjíi estão os caminhos livres,
os engenhos seguros, as fazendas sem receios, os gados
quietos, e os moradores gostosos, sendo neste empenho
tão intentado de muitos, e não conseguido de nenhum, o
seu assumpto o serviço de sua Alteza, e não o interesse de
suas conveniências, porque é patente a todo o Brasil, que
nestas occupações destroçou o seu cabedal, enão rccolheo
nenhum emolimaento, achando-se por bem pago das victo-
rias que alcançou com o nome e gloria que universal-
mente mereceo.
A este Capitão-Mór escreveo apertadamente D. Pedro de
Almeida para lhe entregar a Gommissâo deste negocio tão
considerável ; aceitou com gosto a empresa, e convidando
alguns parentes e alliados seus partio logo para Pernambuco
a avistar-se com D. Pedro ; e conhecendo D. Pedro nelle
valor, e experiência, e satisfeito da pratica com que discorria
sobre os Sertões, escreveo logo a todas as Camarás destas
Capitanias, para que dessem o concurso necessário ao in-
tento que determina conseguir ; empenhou juntamente com
cartas aos homens nobres e principaes das povoações cir-
cumvizinhas aos Palmares, applicando-lhes a gloria daquella
facão ; estiraulando-os cora a honra daquella empresa.
ABHU.. 40
— 314 —
Miiíto facilitou as Gamaras, e a nobresa daquellas povoa-
ções a cortez industria com que D. Pedro se mostrou
independente da gloria do uttimo successo, e juntamente
a isenção singular do desinteresse com que lhes escreveo,
que a Jóia que se costumava dar aos Governadores, elle
Ília offerecia para premio do seu trabalho : e só queria ter
parabém de ver livre estas Gapitanias dos sobresaltos con-
tinuos, e dos perigos iminentes em que fluctuavão para a
sua ruina ; e que o seu intento todo era o serviço que
nesta matéria resultava a Deus, e a Sua Alteza, e o socego
a seus vassallos; pois ao contrario se seguião duasmons-
trosidades indignas de se publicarem no mundo, a pri-
meira levantareni-se com o dominio das melhores Capita-
nias de Pernambuco, negros cativos, a segunda era
dominarem a seus próprios senhores seus mesmos escra-
vos.
Foráo estas razões pelo que levaram de cortezia e zelo,
efficazes motivos para obrigar os ânimos dos que as leram,
e poderosos empenhos para rebater os impedimentos, que
se lhes oppuzeram ; porque no mesmo tempo, que despe-
dia D. Pedro avisos para o que se intentava, se despacha-
vão correios, para estorvar o que se pretendia, sendo toda
a causa desta contrariedade diflBcultar a empresa, ou reser-
var o successo para opportunidade, que mal fundadas
esperanças lingiáo; querendo assim indignamente negar
a gloria a quem também dispunha os meios, porém a ver-
dade da causa desarmou as tiras da inveja, que ordinaria-
mente prevalece mais o zelo para as empresas, que os
enganos para o estorvo.
Dispostos desta sorte os ânimos, prevenidos pelas Gama-
ras os bastimentos, assignalando-se entre todas a da Viila
de Olinda, c a da Capitania de Porto Calvo, porque aquella
— 315 —
assistio com doiis mil cruzados, e esta com fiOOgOOO, e as
mais com o que poderam.
Partio desta praça do Arrecife, e da presença de D. Pe-
dro, Fernão Carrilho levando todas as ordens necessárias
para a empresa, e todas as disposições convenientes para o
intento. Causa principal do bom successo que se conse-
guio : porque no lançamento das primeiras linhas consiste
a perfeição da melhor fabrica, e como se tinha empenhado
D. Pedro em sahir à luz com este emprego, estudou muito
particularmente o modo com que se havia de fazer a guerra
servia-lhes alguns desacertos das levas passadas, de pre-
venção para o acerto das esperanças presentes, todas as
pessoas que tinhão alguma experiência daquellas monta-
nhas consultou, para colher de todas a resolução mais
certa para as direções, e assim foi o regimento, mais acer-
tado ao sitio, e mais nocivo aos inimigos, que até ao pre-
sente se tinha feito, e como entendeo que a causa princi-
pal para se conseguir este fim, consistia, em perpetuar
arraial no coração daquelles desertos, para delles se faze.
rem assaltos, e terem sempre inquietos os negros ; orde-
nou a Fernão Carrilho, que todo o seu cuidado havia de
se perseverar, e persistir com arraial fortificado dentro dos
Palmares ; e como este empenho era o mais diíDcultoso
desta conquista, porque a experiência tinha mostrado ser
impossivel assistir naquelle sertão; pelos frios excessivos,
grandes descommodos, faltas de mantimentos que se não
podem prevenir là em cima, e são difiicultosos de conduzir
das povoações de baixo. Attendendo a tudo D Pedro com
singular providencia dispoz pelas povoações circumvizinhas
os mantimentos, de sorte que não faltassem a seu tempo
aos assistentes no arraial.
Com todos estes dictames, conselhos e ordens partio
— 3JG —
Fernão Carrilho para a Capitania do Porto Calvo, onde o
estava esperando a gente que se tinha conduzido das mais
freguezias; que segundo a ordem de D. Pedro havião do
ser quatrocentos homens : achou Fernão Carrilho muito
menos, e feita resenha contaram-se cento e oitenta e cinco,
entre brancos e índios do Camarão ; era tão pouco este
numero para a multidão dos negros, que difficultou a Ca-
mará de Porto Calvo se era conveniente fazer- se a en-
trada : porém como Fernan Carrilho tinha conhecido bem
o empenho de D. Pedro, atreveo-se a todas as difliculda-
des, e pedindo se fizesse algum acto de religião para que
patrocinasse o Céo a jornada. Cantou-se solemnemente
uma Missa a que assistio a nobresa daquella Villa e todos
os que haviáo de entrar naquella Campanha.
Aos vinte um de Septembro de seis centos e setenta e
sete fez o primeiro passo para os Palmares, Fernão Carri-
lho sahindo da Villa acompanhado té entrar no mato do
Capitão Alvares, Christovão Lins, e seu Irmão Sibaldo
Lins como mais experimentados n'aquellas manhas, e mais
interessados na boa fortuna que se esperava ; Fernão Car-
rilho então juntando todos os soldados que levava com-
sigo : lhes disse : que o numero não dava nem tirava o
animo aos valorosos, que o valor próprio só faria animados
os soldados ; que posto a multidão dos inimigos era grande,
era multidão de escravos, a quem a natureza, criou mais
para obedecer, que para resistir ; que os negros pelejaváo
como fugidos, que elles os ião buscar como Senhores ;
que as suas honras estavão perigosas pelos seus desman-
chos; snas fazendas pouco seguras pelos seus roubos, suas
vidas muito arriscadas pelos seus atrevimentos, que ne-
nhum dos que o acompanhavão defendiáo o alheio ; e todos
pelejavão pelo próprio ; que era grande discredito para
— 317 -
todo Pernambuco, servir-llie do açoute, os mesmos negros,
que por elles foram muitas vezes açoutados ; que só mu-
davão da guerra o modo, e não o uso ; por tantos annos
estiveram com as armas nas mãos sempre contra Hollanda.
e inda hoje estavão do mesmo modo contra os Palma-:
ristas; que se o modo de guerrear era diverso por não ser
em Campanha, era também mais fácil por ser de assaltos ;
que elle não queria do seu trabalho outro premio mais que
o bom successo; quem mais semeasse mais recolheria:
porque as presas para elles havião de ser : que o Governa-
dor D. Pedro nem jóia queria para si : que a sua melhor
jóia era a gloria de fazer este serviço a Sua Alteza, e de
livrar de tão consideráveis damnos estns Capitanias; e que
se destruissem os Palmaristns terião terras para a sua cul-
tura, negros para o seu serviço, honra para a sua estima-
ção ; que o seu intento era ir buscar o maior poder, porque
queria ou acabar, ou vencer ; porque do contrario se se-
guiria teremos negros noticia do pouco poder, que levava,
e zombarem da guerra que lhes fazia:
Receberam todos os Soldados com bom animo estas
razões, e logo partiram em demanda da Cerca de AqiiaU
tune, este c o nome da mac do Rei, que assiste em um Mu-
cambo fortificado, trinta léguas distante do Porto Calvo ao
Noroeste, contaváo-se então quatro de Outubro; tanto
que do Mucambo se sentio a nossa gente precipitadamente
desampararam a Cerca, deram sobre elles os nossos, ma-
taram muitos, e sorprenderam nove, ou dez; a mãe do
Rei nem viva, nem morta appareceo, e passados alguns
dias, se achou a Dona que a acompanhava morta.
Sérvio este successo de nos dar Guias, e noticias porque
pelos prisioneiros constou de certo que estava o Rei Gan-
gazumba com seu Irmão Gano Jona, e todos os mais poten-
— 318 —
lados, e Cabos maiores na Cerca Real chamada Subupira;
occupa este Mucambo uma grande Cidade muito fortificada
na distancia de três montes, de páo a pique com batarias de
pedra, e madeira; distante da Cidade Real cinco ou seis
léguas, da Villa de Porto Calvo quarenta e cinco ; servia
então de praça d'armas, e nella intentava o Rei esperar a
nossa gente, para se defender em forma de batalha.
Aos nove de Outubro partio Fernão Carrilho para a Cerca
de Subupira, e prevenidos do necessário foi abrindo aquelles
matos, té que chegou a ter vista da Cidade, onde mandando
fazer alto com todo o silencio, e socego, despedio oitenta
homens a descubrir as circumstancias da Cerca, situação
da Cidade, e fortaleza das estacadas; voltaram os explora-
dores dizendo que tinha o inimigo lançado fogo á Cidade,
e que só as cinzas erão demonstração da sua grandeza ;
com que se entendeo que tendo os Negros noticia pelos
fugitivos de Acatirene, que Fernão Carrilho os buscava,
quizeram mais arruinar a Cidade que por em perigo as pes-
soas: apoderou-se deste sitio a nossa Gente, nelle formou
arraial, fortificouse em baterias, e deo-lhe o titulo de Bom
Jesius, e a Cruz; titulo que elegeo para padrão da sua for-
tuna, e mandou que se invocasse em todos os successos.
e encontros ; d^aqui despedio dous soldados a dar noticia
ao Governador D. Pedro de tudo o antecedente ; pedindo-
Ihe soccorro de gente, e de mantimentos, pois n'aquelle
sitio determinava fazer assento ; despedidos os Correios,
ordenou uma tropa para bater aquelles matos, e combater
aquelles inimigos ; vagando pelo inculto d'aquellas aspe-
rezas em descubimento dos Negros ; passados oito dias na
esperança de alguma fortuna se recolheram desunidos, e
amotinados, com falta de vinte cinco homens, que ao rigor
do trabalho se retiraram fugitivos, d'ahi a poucos dias des-
— 319 —
tipareceram outros vinte cinco podendo mais o desabrido
do sitio para os levar, que o brio da empresa para os
deter ; com que se achou no arraial Fernão Carrilho com
i 30 homens.
Chegados os avisos a D. Pedro, e convocando a conseho
os Cabos Maiores da praça, poz em pareceres a forma que
havia de seguir no soccorro, que Fernão Carrilho pedia ;
para conseguir o fim que se intentava, e continuar no sitio
em que se aquartelara ; resolveram todos, que despedisse
um Cabo Maior deste exercito com trinta soldados pagos a
fazer gente pelas povoações circumvizinhas, e para lhe en-
viar os mantimentos necessários para o arraial ; votaram
todos na pessoa do Sargento -Mór Manuel Lopes, porque
a experiência d'aquellc negocio, o tinha bem opinado no
conceito geral de todos.
Partio o Sargento-Mór com trinta homens e fez alto nas
Alagoas para a expedição da gente, e dos mantimentos ;
acção foi esta em que luzio muito o zelo de D. Pedro, e o
empenho desta conquista ; porque como desejava levar as
novas desta fortuna sollicitou os meios mais acertados para
conseguir esta felicidade.
Animou-se muito o arraial tanto que teve noticia do cui-
dado com que o Governador lhe prevenia o necessário para
o sustento, e lhe multiplicava os companheiros para o tra-
balho ; despedio então Fernão Carrilho cincoenta soldados
à obediência de três Capitães Gonçalo Pereira da Costa,
Malhias Fernandes, e Estevão Gonçalves, a discortinar os
segredos d'aquelles bosques; os guias seguindo uma trilha
que descobriram tiveram um famoso encontro com os ne-
gros, que estavão juntos, de que conseguiram uma me-
morável victoria ; em que perecerão muitos, e se prende-
ram cincoenta e seis ; entrando nelles por prisioneiro o
Ganga muisa mestre de Cani|)o da gente de Angola ; era
este grande Cossario, muito soberbo, e insolente ; foi tal
o estrago nesta occasião, que se avaliou o successo mais
por fíivor do Céo, (jue por esforço dos soldados ; acabaram
nelle os Cabos de maior fama : como foram Gaspar Capitão
da Guarda do Rei, João Tapuya Ambrósio ambos Capitães
afamados e outros a quem a ignorância dos mesmos sepul-
tou em perpetuo esquecimento; o Rei fugio com alguma
gente que se livrou do assalto.
Tanto que a noticia deste feliz successo bateo as portas
do nosso arraial foi grande o alvoroço que elegeo a todos,
e maior a resolução com que se animaram para a empre*
sa; logo se espedio outra leva, a cargo dos capitães Es-
tevão Gonsalves. e Manoel da Silveira Candoro; e em es-
paço de vinte e dous dias aos onze de Novembro tive-
ram noticia que o Rei estava encorporado com o Amaro
no seu Mucambo; é este Amaro celebrado naquelles Pal-
mares, e timido nas nossas povoações; habita nove léguas
distante de Serinhaem, occupa o sitio perto uma légua de
distancia, inclue mil castas o Mucambo. Aqui se dava por
seguro o Rei, porém aqui o foi descobrira nossa vigilân-
cia; tanto que a noss.vgente soube de certo, que nelle esta-
va o Rei : com tanto Ímpeto investiram o Mucambo, que
tízeram um notável estrago, tri)uxerão vivos ao arraial qua-
renta e sete peças; duas negras forras, e uma mulatinha
lilha natural de um morador nobre de Serinhaem, que ti-
nha sido roubo dos mesmos negros ; captivaram o Acajuba
com dous lilhos do Rei, um m^cho chamado Zambi; e ou-
tro por nome Acainene, e entre netos e sobrinhos do mes-
mo Rei (pie se captivaram serião vinte; pereceo o Tuciilo
íilho também do Rei, grande Cossario, e o Pacassa pode-
rosos Senhores entre elles; o Rei do furor dos nossos Ca-
— :m —
pilãcs se retirou fugindo. Ião arrojadamenlc i[Le laryou
uma pistola dourada, ea espada de que usava; c foi voz
Tal que uma frecha o ferira com o ferro, e o fizera voar
^ as penas de todos os negros que se conglomeraram com
aro a maior parte acabou â nossa faria, a outros sal-
'la ligeireza.
los ao arraial estes capitães com as noticias do
^cendeo-sc o animo dos nossos ; e em seu se-
io outra leva de cincoenta homens, e (juatro
. saber, José de Brito, Gonçalo de Siqueira, I)o-
y)S de Brit ) e Gonçalo Reis de Araújo discorreram
cstes iH3la vastidão daquelles matos em seguimento das
reliquias do Mucambo do \maro, não tiveram do Rei
noticia; jjorém tiveram encontro com uma tropa, que o
terror de nossos assaltos trazia atemorisada sem domicilio
certo, nem descanço seguro, porque como delirava a cabe-
ça do Rei entre os contínuos riscos, (jue os assalta vão
discorriam os Vassallos por aquellas brenhas sem ordem,
e sem governo ; captivaram trinta e seis peças, mataram
muitos, entre os mortos se conheceo o Gone potentado
entre elles ; e atrevido entre nós.
Logo sahio o Capitão Mathias Fefnandes com vinte ho-
mens i^ela outra parte dosMucambos, e grassando aquelles
€í)ntornos. descobrío alguns que andavão vagos sem se
atreverem a fazer assento certo; forão matéria ao nosso
estrago, e íicaram presos quatorze.
Como a fortuna estava favorável aos nossos intentos,
todos òs soldados receiaváo sahir aos encontros, para se
recolherem com despojos, esta foi a causa porque ia com
menos prevenção se espalhavão por aíjuellas asperesas
como dominadores, e não como estranhos, e assim o
Capitão Mathias Fernandes com a sua tropa, sahio animoso
a::r!l. 41
— 32á —
c recoltieo-se animado, porque aos fios cia sua espada se
alaváo vinte e ura presos, e ficaram por elia enfiados
muitos mortos ; o mesmo succedeo aos Capitães António
Velho Tinoco, e Felippe de Mello de Albuquerque, os
ífuaes lançando-se para a parte do Mucambo do Amaro, se
recolheram com presas, e ficaram alguns com damno.
Neste mesmo tempo que o nosso arraial estava domi-
nante n'aquellas brenhas, cujas vias incultas nunca foram
examinadas por outros passos, de tal maneira se facilitaram
as nossas tropas na divagação d^aquelles desertos, que gras-
savão ião confiados, que não receaváo ser offendidos tudo
vence o valor, tudo contrasta a deligencia ; tudo facilita a
constância, d'aqui se colhe por ditame certo, que nenhum
trabalho é insuperável á resolução intrépida ; c neidums
soldados repugnão a perigos formidáveis se lhes presidem
corações animosos: como D. Pedro era a alma que alen-
tava esta empresa, do seu brio aprenderão os Soldados a
serem constantes, do seu zelo a serem deligentes, da sua
vigilância a serem cuidadosos ; da sua disposição a serem
prudentes : com todas estas influencias do Governador D.
Pedro se conseguio em quatro mczes, o que se intentou
ha muitos annos ; p»receo o successo por maravilhoso,
lisonja que a fortuna lhe quiz fazer; e pesada bemascir-
cumstancias foi acerto que a prudência soube dispor; mais
custou a disposição que o successo, pois gastando D. Pedro
três annos em lavrar estes impossíveis, colheoem quatro
mezes o fruito destes trabalhos : não deixa de emular esta
acção prodigiosa a restauração singular destas Capitanias;
só digo que se na primeira se venceo um inimigo, que de
fora nos veio conquistar, nesta se superou outro que das
portas a dentro nos dominava.
Neste toflipo que se contavão vinte e nove de Janeiro de
— 323 —
mil seis centos e setenta e oito sahio do Arraial do Bom
Jesus e a Cruz, Fernão Carrilho cora um soldado menos que
morreo, e com alguns feridos que mandou curar, e reco-
Iheo-se na Villa de Porto Calvo, dando por destruídos os
Palmares, e por vencidos os Negros. Foi recebido com
todas as demonstrações do a plauso, e com todos os para-
béns que merecia triumpho tão desejado; e como na tropa
dos negros, que se captivaram na guerra se conhecesse um
negro por nome Mathias Dmnbi, e uma negra Angola por
nome Magdalena, já de maior idade, que era sogro d'um
dos filhos do Uei, Fernão Carrilho dando-lhe o necessário
para o provimento da viagem, os mandou se fossem em
boa hora a buscar os seus companheiros, e lhes dissesse,
que o seu arraial ficava fortificado, e que se não rendessem
todos ao Governo de Pernambuco, logo havia de tornar a
consumir, e a a cabar o Rei e asreliquias que ficaram ; com
este recado partiram os dous velhos ; e com a mais tropa a
si de soldados como negros e com a Camará e mais No-
breza, e povo da Villa, e seus contornos, se foi para a Ca-
pella do Bom Jesus, onde se cantou solemnemente uma
Missa em acção de graças do felicis^mo vencimento com
que se dominaram aquelles inimigos; e com que se con-
trastaram aquelles impossíveis ; que na opinião dos cursan-
tes d'aquelles matos, e dos experimentados n'aquellas mon-
tanhas, foi o successomais beneficio queoCéo nos fez, que
fortuna que o valor conseguio.
Logo conforme a ordem que levava Fernão Carrilho do
Governador D. Pedro se separarão os quintos para sua Al-
teza, e as mais peças se repartiram pelos soldados; feita a
repartição por seis homens desinteressados, com que fica--
ram os soldados satisfeitos do trabalho, que padeceram, e
contentes do desinteresse que enxergavão. Acçáo foi esta
— ná4 —
de grande orcdiío para o Govornador D. Pedro, pois nolb
se conliecoo publicamente o seo intento que era fazer a
Sua Magestade este ser\iço tão grande, como libertar estas
Capitanias do jugo tyranno. que as opprimia, sem espe-
rança outra mais que a gloria de a conseguir.
Nesta mesma occasiáo chegou aviso em como uma tropa
que tinha despedido o Sargento-Mór Manuel Lopes, que
assistia nas Alagoas para a condução dos Mantimentos a
cargo de João Coelho, c Manuel de S. Paio, para correr os
Campos de S. Miguel, topara com uma marcha de negros
retirando-se dos assaltos do arraial; deo a tropa sobre elles
prenderam quinze e mataram muitos; pelos prezos soube-
ram que encaminhava aquella leva, o Gana Ioml)a, Irmão do
Rei negro valoroso, e reconhecido d^aquelles brutos como
Rei também.
Logo chegou outra noticia que o Capitão Francico Alves
Camello, com cento e trinta homens se espalhara pelos
mesmos Campos, com despezas de sua fazenda, e zelo do
serviço de Sua Alteza e nelles gastara de assistência perto
de três mezes, e pelo Rio de Mondau, que lava as faldas a
dous Montes altos, e incultos encontrara com uma tropa de
negros, escondidos entre os rochedos, e matos, que o Rio
e Montes fazem, porém como foram os nossos sentidos,
escaparam os mais, e morreram alguns.
Todas estas noticias chegaram a D. Pedro de Almeida
juntamente com Fernão Carrilho, o qual foi recebido com
os parabéns e alegrias geraes que pedia successo tão favo-
rável a todo o Pernambuco : e tomando D. Pedro infor-
mação particular do que restava nos Palmares, alcançou
que as Cidades principaes. Cabos, e a melhor gente de
guerra ficava morta e destruida, e que algum resto que
ficava em companhia do Rei andava espalhado esperando a
— :{2:í —
sua ultima raina ; voando onlão do uma prudento industria
o razão de estado, mandou um Alferes doutrinado na dis-
ciplina d\nquellas montanhas ; que subisse aqucl los deser-
tos, e dissesse aos negros, que ficava preparando Fçmáo
Carrilho para voltar a destruir as pequenas reliquias que
tinhão ficado ; e qtie mandava discorrer todo aquclle Ser-
tão, para que nenhum habitador delle ficasse com vida ;
que se clles quizessem viver cm paz com os Moradores,
elle lhe asseguraria em nome de Sua Alteza toda a união, e
bom tratamento, e llies assinalaria terras para a sua viven-
da, e lhes entregariáo as mulheres, e filhos que em nosso
poder esta vão.
Passados todos estes successos, alegres os povos com
estes triumphos. livres os soldados destas marclias, socce-
gados os moradores destes insultos, e recebendo D. Pedro
os vivas, e parabéns desta tão singular fortuna, correram
os mezes seguintes de Abril cm que largou o Governo
destas Capitanias a Aires de Sousa e Castro seu successor;
era cujos dias brevemente se confirmou a verdade desta
relação ; e lhe locou parte da gloria que D. Pedro soube
dispor.
Porque aos 18 de Junho do mesmo anno em um sabbado
â tarde, vespora do dia em que na Parochial do Arrecife se
celebrava a festa do nosso Portuguez S. António, entrou
o Alferes que tinha mandado D. Pedro aos Palmares cora
aviso, acompanhado de 3 filhos do Rei com 12 negros mais,
gs quês se \ieram prostrar aos pés de D. Pedro de Almeida
com ordem do Rei para lhe renderem vassalagem, e pedi-
rem a paz que desejavão disendo que só elle podóra con-
quistar a dificuldade dos Palmares, que tantos Governadores
e Cabos intentaram, e não conseguiram ; que se vinháo
ofTerecer a seu arbitrio, que não querião mais guerra.
— 326 —
que só procui^o salvar as vidas dos que ficaram, que esta-
vão sem Cidades, sem mantimentos, sem mulheres, nem
filhos; e que disposesse dos que rcstaváo como a sua no-
breza e gosto determinasse.
Notável foi o alvoroço que causou a vista daquelles
bárbaros; porque entraram com seus arcos e flechas; e
uma arma de fogo, cubertas as partes naturaes como
costumão uns com panos, outros com pelles, com as bar-
bas, uns trançados, outros corridos, outros rapados, cor-
pulentos, e valentes todos; a cavallo vinha o filho do Rei,
mais velho, porque vinha ferido da guerra passada ; todos
se foram prostrar aos pés de D. Pedro de Almeida, e lhe
bateram as palmas em signal do seu rendimento, e em
protestarão da sua victoria ; ali lhe pediram a paz com os
brancos.
D. Pedro recebendo-os com grande demonstração de
alegria, não querendo adoptar a si aquelle applauso, os
remetteo logo ao Governador Aires de Sousa para que ti-
vesse também a gloria daquelle rendimento ; prostaram-se
todos a seus pés, disendo que nâo queriam mais guerra,
que o Rei os mandava sollicitar a paz, que se vinhão sugef-
tar às suas disposições: que querião ter com os Moradores
Commercio, e trato, e queriâo servir a Sua Alteza no que
lhes mandasse, que só pedião a liberdade para os nascidos
nos Palmares, que entregariam os que para elles tinhâo
fugido das nossas povoações, que largariam os Palmares,
queihes assignasso sitio onde podessem viver a sua obe-
diência.
^ Grande foi o gosto com que o Governador Aires de
Sousa recebeo estes negros, e singular complacência com
que se vio adorado destes inimigos ; tratou-os com summa
afabilidade, fallou-lhes com grande brandura, e prometteo-
— 3á7 —
lhes grandes seguranças ; mandou vestir alguns e adorna-
los de fitas varias, com que ficaram os negros contonlis-
simos ; e o povo todo geralmente applaudio de D. Pedro a
fortuna, de Aires de Sousa a benevolência.
Ao dia seguinte que se contavâo 20 de Junho, entraram
na Igreja Matriz do Arrecife Aires da Cunha e Castro, e
D. Pedro de Almeida levando diante de si a tropa dos ne-
gros a dar a Deus as graças e ao glorioso S. António da
mercê que nos fisera em conseguirmos a vassalagem da-
quelles bárbaros ; estava a Capella Mór da Igreja ricamente
de sedas adornada, o Sanctissimo exposto em um throno
vistosamente perfeito, muito farto de luzes, e mui brin-
cado de adornos; e mandando-os prostrar o Governador
Aires de Sousa todos adorâo ao Senhor ; e todos admiraram
a pompa.
Aqui foi o applauso avantejadamente crescido, porque
lodos concorreram a ver aquelia novidade : grandes, pe-
quenos, brancos, negros e todos com seus clamores e
tumultos multiplicaram a gloria da festa do dia, e acres-
centaram o -applauso dos rendimentos presentes ; quiz o
Governador que logo se baptisassem, para que com a nova
vida da graça, começassem alegrar os novos beneficios da
paz : e posto que os negros mesmos desejavão receber o
baptismo, foi necessário diflirir-se para mais opportuna
occasião ; para que com mais cuidado se impenhassem no
intento a que vinháo; e com maiores informações recebes-
sem o sacramento que procuraváo. Cantou-sc solemne-
raente a Missa» subio ao púlpito o Vigário da mesma
freguesia, e náo faltou a dar a Deus as graças, que se lhe
devião, nem a S. António as glorias que lhe redondavão,
nem aos 2 Governadores os parabéns que esta vão mere-
cendo.
— :]i8 —
Ao dia seguinte convocou o Conselho, o Governador,
para se discutir a resolução mais conveniente que se havia
de seguir; para a segurança da paz que se pretendia;
acharam-se em palácio D. Pedro de Almeida, o Ouvidor
Geral Lino Camelo, o Provedor da Fazenda real João do
Rego Barros, o Sargento-Mór Manoel Lopes, e oSargento-
Mór Jorge Lopes Alonso ; propoz Aires de Sousa a petição
do Roi dos Palmares, em que pedia, paz, liberdade, sitio,
e entrega das mulheres ; D. Pedro de Almeida como tinha
manoseado todo este negocio, e tinha experimentado as
diíliculdades da conquista, votou com singular acerto, a
que todos os mais que estavão presentes se sujeitaram; foi
o seu parecer, que lhes dessem para vivenda ositioquo
elles apontassem, e a paz para sua habitação, e plantas; que
se assentasse a paz; e que o Rei se recolhesse a habitar
o logar determinado ; que fossem livres os nascidos nos
Palmares ; que teriam commercio, e trato com os mora-
dores; e que lograriam os foros de Vassalos de Sua
Alteza ; e reparando -se no Conselho se seria o Rei Ga7iga
sumba poderoso para condusir alguns cossarios, que viviâo
distantes das suas cidades, respondeo o fdho, que o Rei
condusiria a todos ao nosso dominio, e quando algum por
rebelde repugnasse a sua e nossa obediência elle o conquis-
taria, e daria guias para as nossas armas o desbaratarem.
Com estas advertências se assentou a paz, e sd concluio
o Conselho, de que tudo mandou o Governador Aires de
Sousa fazer papel, para que os negros levassem por escripto,
o que se tinha tractado por conferencia; e assim os despe-
dio a cargo de um Sargento-Mór do terço de Henrique
Dias que sabia ler e escrever, para que lesse e declarasse
ao Rei e aos mais o tractado de paz; reservando o Gover-
nador á negros para que ficassem em companhia do lilho
— 329 —
do liei. que nâo estava capaz de fazer viagem pela ferida
que trouxera; a este mandou assistir com todo o cuidado
para a cura ; e aos mais como necessário para o sustento.
Esta é a relação da ruina em que vieram cair os Palma-
res tâo temidos nestas Capitanias, e tão poderosos na sua
opinião, chegou-lhes o tempo da sua declinação, para ter
Sua Alteza a gloria do seu vencimento ; que como se jul-
gava impossivel pelas diíflculdades, deve recrescer na
estimação pela fortuna ; já se correm livres aquellas mon-
tanhas, que até agora eram impenetráveis a toda a diligen-
cia ; já se dão os moradores por seguros, as fazendas por
augmenkidas, os caminhos por desempedidos; e sendo
este triumpho para Sua Alteza de grandes rendimentos,
não foi esta campanha para sua real fasenda de nenhum
custo; porque sem descmbolço, nem despesa do seu cabe-
dal, seagmentou como lucro dos quintos, que se cobraram
e com a esperança de multiplicados augmentos que se
podem colher; por serem aquelles sertões ricos de excel-
lentes madeiras com vargeas fortissimas para engenhos, e
pastos estendidos para gados.
Agora é que concluio a restauração total destas Capitanias
de Pernambuco, porque agora se acháo dominantes do mes-
mo inimigo, que dos portos a dentro as inquietava a tantos
annos ; com tão felizes successos que aquelles mesmos que
nos destroião com suas armas, nos prometlem servir com
seus trabalhos. Toda felicidade desta gloria, toda a gloria
desta conquista soube merecer o zelo generoso: e a pru-
dência singular de D. Pedro de Almeida, que não reparando
em nenhum impossivel se dispoz a conseguir esta fortuna;
seu nome será eterno na lembrança dos filhos de Pernam-
buco; seu valor aclamado nas incultas montanhas dos Pal-
mares, seu aplauso estendido nos perpétuos brados da fama.
ABRIL. 42
lEEAIEIM
DB LA YICTORU QUE LOS PORTUGUBbBS DE PERIfAMfiUCO
ALCANÇARON DE LOS DB LA GOMPANIA DEL BRASIL. EM
LOS GARBRAPES, A 19 DB FBBRERO DB 16&9.
Las acciones grandes son más para admiradas, que para
repetidas ; porque aquello que tiene de mayores, haze que
no puedan reíirir se como ellas son. Es difícil escrivir el
engenio con la pluma, lo que el valor obra con las armas:
una forma sus caracteres con la tinta, yotras los imprimo
con Ia sangre. Pêro esta dificultad, no es poderosa, para
que la verdad, como alma de los sucessos, dexe de publi-
carlo o brado, ya para el exemplo, ya para el aplauso,
pues tanto, y aun màs, nos incitan las historias presen-
tes, que las passadas. Tienem estas de vividoras, lo que
aquellas de espantosas : y seria offender la memoria de tan
gloriosos hechos, si el receio de no ser igual lo escrito a
lo obrado, los dexasse sepultados en eterno olvido.
La victoria que los Portugueses alcançaron ultimamete
de los de la Compania de Olanda en Pernambuco, es de las
que merecen eternizar se; pues por grande lajuzgaran
milagrosa. Y en effeto lo parece, se consideramos, que
tan inferior numero de gente, desnuda, desproveida, y
desemparada, venciesse, y desbaratasse aun poderoso exer-
cito, governado por muchos, y expertos Cabos, cuyas es-
peranças no eran menores, que la entera conquista de toda
aquella campana.
Y porque las relaciones, que delia publicaron los pró-
prios enemigos, se Iiallan diminutas, y sin aquellas cir-
cunstancias que la pueden hazer útil, y gloriosa, repitiré
com senzillez, y sin affecto, la verdad de lo sucedido, para
— 332 —
que se conosca no solo el valor, y resolucion de aquellos
Portugueses, pêro los repetidos fabores, con que el cielo
acompana de continuo sus armas, y sus victorias.
Aviendo los navios, que la Compania de Olãda trae en el
Brazil, quemado algunos molinos de Assucar, en la Bahia,
dezenganãdo su General de lo poço que podia obrar contra
aquella placa, y costas, se retiraron ai Recife. Y deseoso
el Coronel Brinch, que governava las tropas, que alli se
hallavan. de obrar alguna accion digna de su valor, se re-
solvió a salir en camparia, y acabar de una vez con los Por-
tugueses, que la seílorean. Ayudòle este pençanriento la in-
formacion que le dieron diez Italianos, huydos dei arraya!
Português ai Recife, affirmando-le, que los Portugueses
eran poço más de dós mil hombres. y essos sin monicio-
nes, ni bastimentos. Peroel General Sigismundo, hombre
de gran valor, y experiência, y que se havia hallado en las
mayores emprezas de aquelle Estado, le procuro dissuadir
el intento, assigurando-le, que seria desbaratado, y roto,
se quiziesse pelear con los Portuguezes en la campana ;
porque conocia su resolucion, como el avia experimentado
en la rota que le dieron a 19 de Abril dei ano passado,
adonde fuera tan mal herido. que aun estava incapaz de
poder tomar las armas. Representó-le como la gente que
tenia en su exercito era la mayor parte inexperta, y de va-
rias naciones, y que los Portugueses peleavan como des-
esperados: que si en los princípios de aquella guerra,
bastava solo el nombre de Glandes, para intimidados, tenia
conocido, que solo la vista de los Portugueses le desbara-
taria : que su parecer era, dcxar perecer aquella gente de
hãbre, pues carecia de todo, ó aguardasse mayor socorro
de Olanda, para hazermais sigura la victoria. Mas el Co-
ronel Brinch, obstinado en su resolucion, sin atender a lô
— 333 —
acertado de aqael consejo, se dispiiso a la empresa, y para
mostrar la segiiriíláo que teiiia de siibuen sucesso, aposto
una suma de diiiero con el General Sigismundo, que avia
de salir vencedor, aun que le mostro la experiência, que
no sole fue vencido, mas perdió la apuesta con la vida.
Salió pues dei Recife jueves por la manána a J8 de Fe-
brero, con más de quatro mil hombres, a saber 3,500 Sol-
dados de los sinco Tercios. de que eram Maesses de Capo,
el mismo Coronel Brinch. que los gobernava, Vandebrand,
Anten, Oitz, y Greveer ; iOO índios, y por su Regidor Pe-
dro Poty, dos companias de negros, y 300 Marineiros,
có seis pieças do campana, y el bagage necessário. Dividió
todo el exercito en nueve batallones, y marchando hasta
los oteros de los Garerapes, aJonde avia sido la batalha,
que prrdiera Segismundo, a dos léguas de sus fortalezas
se hizieron senores de aquellos puestos, como iminentes,
y avanlajosos; en frente de una trincheira, que los Portu-
gueses tenian levantado, en el camino que va hazia la Par-
rochia de Moribeca.
Advertido el Maesse de Campo General Francisco Bar-
reto, que el enemigo era salido dei Recife, y teííia ocupado
aquel sitio, vino el mismo dia con dos mil Portugueses de
los Tercios de los Maesses de Campo Andres Yi<Jal de Ne-
greros, Juan Fernandes Vieira, y Francisco de Figueroa,
seis cientos índios, y Negros de las tropas dei Capitan
mayor Camaran, y dei Governador Henrique Dias, con más
dos companias de cavallos, de que eram Capitanis Antó-
nio de Silva, y Manuel de Arahujo de Miranda. Fue tan
grande su deligencia que llegó con su gente a la trinchera,
por Ias ocho de la noche : y despues de alojado, inquiefó
el resto delia ai enemigo con alarmas, y rebatos. Al dia se-
gmente viernes le fue a reconocer en persona. acompa-
— 334 —
liado de los trez Maesses de Campo, contra los qaales ti-
raaon alganos cailonaços sin effeto, y como bailasse deffi-
cultoso, y aun arriesgado poder pelear con el enemigo ,
sin hazer una deshilada grande, por cauza de unos Pânta-
nos entre la trinchera, y los Garerapes, dió orden ai Ca-
pilan António Rodrigues Franca estuviesse con su Com-
pania, a vista dei Olandes, para que le advertiesse de sus
designios, con atalaias, y corredores por toda parte : y es-
cogiendo algunas tropas de los mejores soldados, los embió
a la retaguarda dei enemigo. que fue mucha parte de la
victoria.
Dispuesto lo necessário^ por las dós de la tarde dei mis-
mo viernes 19 de Febrero. dió aviso el Capitan Franca ai
Maesso de Campo General, que el enemigo avia dexado los
Garerapes, y se ina la buelta dei Recife, y como el no
aguardava otra cosa para enbestirle, que verle fuera de
aquellas eminências, embió ai mismo. instante las dos cõ-
panias de cavallos, y quatro de infanteria, para que entre-
tuviess ai Olandis, enquanto il se avansava com il resto dei
exercito, lo que hizieron con admirable valor, y por algu-
nos prisioneros que se tomaron subo, que avian desempa-
rado aquel puesto, para obligar a los Potugueses ai comba-
te, aun que atas dixeron, se balvion ai Recife, para em-
presa. Pêro conociose ser lo primero, de la revolucion
con que de Glandes bolvió a querer hazerse senôr de las
mismas eminências. Lo que no pudieron conseguir por la
diligencia grande que il Maesse de Campo General tuvo en
avansar su exercito, nó con pequena deficuldad, pues no
podia marchar formado. Maesso de Campo Andres Vidal
de Negreros se apodero de una eminência a la parte de-
recha, y Juan Fernandes Vieira con un troço de su Tercio,
de la íiníestra, a donde socorrió los que estavan peleando
— 335 —
en Boqueron, cuya resistência, y oposicion era tán grande,
que ya la avanguardia Portugueza se retirava. Y porque
el General entendió, que algunos de los batallones, que es-
tavan a lo largo, pretendian cortarle, dio ordem a Andres
Vidal para que se avançasse con sua gente, y peleando con
ellos, fue rechaçado com muerte dei Sargento mayor Paulo
de Acuna Sotomayor, y dei cavallo dei mismo Vidal ; que
subido em otro, y socorrido dei Maesse de Campo Fran-
cisco de Figueiroa, bolvió de nuevo a la pelea. Ya por
todas partes estava encendida la batalla, acudiendo a todo
el General, y los de màs Cabos con aque! valor que avian
mostrado en tantas, y tá gloriosas ocasiones. No se des-
cuidava Juan Fernandes Vieira, que assistido de sua Sar-
gento Mayor, dei Camaran, e de Henrique Dias, hizieron
acciones dignas de toda alabança. Por esta parte fue la
primera que los enemigos no pudieron sufrir el valor Por-
tuguez, empeçando a huir con tal desorden, y miedo, que
luégo hizieron lo mismo los de más. Fue la rota cruel, y
sangrienta. y los Portugueses matando a todos los que en-
contravan ; continuarão la victoria distancia de dos léguas,
hasta la Barreta, adõde el General dexó algunas companias
para impedir el passo a los fugitivos. Cançados todos
unos de huir, y otros de matar, y vencer. Y por espacio
de trez dias andaran los Portugueses dando muerte, y cau-
tivando aios qué se avian retirado, y escondido em aquellos
bosques, y montafias.
En esta admirable victoria perdíeron los Olandeses màs
de 2,500 hombres, entre muertos, y presos, com casi to-
dos los Cabos, y OflQciales de su exercito ; osapando solo
dós Maesses de Campo, uno dellos herido en la garganta,
un Sargento Mayor, y quatro Capitancs, mil Soldados, y
cerca de 500 heridos.
— 3:W —
Murieron el Coronel Brincli, que los governava, dos
Maesses de Campo, el Almirante de la Armada, que se
avia querido hailar en la balara, con oiros muchos Capi-
tanes de navios, y Ofliciales de la artilleria. Prisioneiros
HO en que entran algunos Cabos, y entre ellos el Regidor
Pedro Po/y, que hizo Ia victoria nicás gustoza, por ser
aquel índio el que más dano hazia a los Portugueses en la
campana; y se escapo uno de los dei supremo consejo de
la companhia uamado Vangot.
Tomaron los Portugueses las seis piecas de cãpaiía de
bronze, todo el bngage, municiones, y armas, porque los
fugitivos las dcxaron, para correr con menos embaraço ; y
de doze banderas que trahion. solo dos b{);vieron ai Recife.
La Rclacion impressa em Olanda, dizepordieí^on 151
Ofliciales, y más de mil Soldados entre muortos, y presos,
pêro las cartas escritas dei Recife a estos Paizes, repiten
lo referido; y presos aun que digan, p.^ra deminuir em
parte, la glória que los Portugueses consigiiieron, fue em
una emboscada, y no en batalla renida, no dexan todos de
confessar, quedaran desbaratados, con tão sennlada perdia.
De los Portugueses murieron el Sargento Mayor Paulo
de Acúna Sotomnyor, el Capitan de cavallos Manuel de
Araújo de Miranda, pcrsonas de conocido valor, quarenta
e sinco Soldados, y cerca de aOO heridos, uno dellos el
Governador Henrique Dias, y diez Olficiales nienores. Como
tambien los Maesses de Campos Andres Vidal de Ncgreros,
y Juan Fernandes Vieira, salieron cõ las sefiales de dos
balas, no sin particular favor dei cielo, pues parece res-
petaron el zelo con que se emplean a tantos anos en la de-
fensa de aquellos miscrables moradores, contra las tira-
nias, que los de la Compania usavam com ellos.
Del Maessc de Campo Ceneral Francisco B^irreto, basla
— 337 —
dizcr-se que se deve la mayor parte desta victoria, pues
de su acertada disposicion, valor, y diligencia, resulto el
alcançar-se tan gloriosamente ; sin querer empenar-se con
el inimigo ; hasta que deixo aquel eminente puesto que
lenia ocupado. No siendo menor el valor, y cuidado de su
Tiniente General Felipe Bandeira de Melo. pues aviendo
distribuído las ordens necessárias para el combate, se me-
zeló com los enemigos, hizo sentir a muchos con su espada>
lo que en otras ocasiones avian experimentado.
Los Sargentos Mayores António Dias Cardoso, y Hieroni-
mo de Hinojosa, y los de más Capitanes, y soldados, obraran
con tanta resoluciõn, y orden, que sobra para su gloria el
aversalido victoriosos, dando muchoqueembediaratodos.
Pêro no deve dexar de publicar-se de zelo, y fervor con
que los Reverendos Padres Fr. Matheus de S. Francisco
Administrador General de aquel exercito, y Francisco de
Avelar de la Compania de Jesus, acudieron a todos los
exercícios Christianos ; alentando aios soldados con sudo-
trina, confessando a los que en ella mudieron, y curando a
los heridos com raro exemplo de piedad, y devocion. Lo
mismo biso el Licenciado Domingos Vieira de Lima VL
cario geral de aquella Capitania, por su persona, y por la
de algunos Sacerdotes que embió en esta ocasion, expo-
niendo el Sanctissimo Sacramento sinco dias antes de la
batal a. y três dias continues despues delia, todo a su costa,
y dei clero, para implorar el favor divino, y en hazimienlo
de gracias por tan felice sucesso.
Da ré fin a esta Relacíon, considerando lo poço que pueden
esperarlos de la Compania dei Brasil, de aquel la guerra tan
arriesgada, y costosa, pues en diez mezes de tiempo perdie-
ron dos tan celebres batallas, y en ellas más de sinco mil hó-
bres, con todos los mejores y más expertos Cabos que tenion.
ABRIL. 43
AS liTiS DiS iLiGOiS.
ProTiAenclaft áeerca delias e sua deacrlpção*
As matas das Alagoas do Sul, que comas mais matas
desta Capitania de Pernambuco formão um cordão ao longo
da costa do mar do Norte ao Sul, com extençáo de mais de
noventa léguas até aos Caricés, ou Taboleiros de Goiana,
tem todas o seu principio oito léguas ao Norte do rio de
S. Francisco, que divide esta Capitania da da Bahia, em
um logar chamado Pescoço, cuja mata tem de comprido
cinco léguas, no fim das quaes abre dous ramos, um^que
caminha ao Noroeste chamado Riacho-secco com extençáo
de quatro para cinco léguas, atè os campestres, ou catin-
gas do sertão, que neste logar ficáo muito vezinhas: o
outro ramo se dirige ao Norte com extençáo de sete léguas,
formando differentes ramos, como sejáo Cururipe, Alagôa
<lo Páo, Poxim, Jiquiha, ate a beira d'uma grande Lagoa
jDom extençáo de três léguas, chamada de Jiquiha, que se
iança no mar ; todas estas matas tem de longitude da costa
do mar quatro, cinco, e seis léguas, com fundos de cinco,
e seis para o sertão, em cujos fundos se achâo muitos ra-
mos de matas de Pào-Brasil, de que se fez em algum tempo
grande extraçáo pani sua Magestade ; porém no presente
tempo se aehão todas extinctas, em razão da irregularidade
4X)m que se lizerão os cortes ; porém darão a mesma quan-
tidade para o futuro se houver cuidado em defender estas
matas, por se acharem os antigos cortes com muitas ma-
deiras novas, de que se poderá fazer a mesma extraçáo,
passados doze annos. Da Alagôa de Jiquià acima dita, con-
tinua© as matas para o Norte com a extençáo de sete le-
goas, até o Rio S. Miguel com os mesmos fundos, e os
ine^os ramos de matas de Páo-Brasil nos seus fundos.
— 340 —
que se acliáo igualmente no estado dos antecedentes. To-
das estas matas, desde o logar do Pescoço até a barra de S.
Miguel, com extcnção de dezenove léguas de comprido,
sáo abundantíssimas de madeiras de Secupiras ; porém
todas ellas sáo muito curtas, pouco grossas, e de fracas di-
mensões, que só servem para construções de Navios mer-
cantis de todi a grandeza ; por serem estes terrenos áridos,
e seccos; destas matas se prove toda a marinha mercantil
da Bahia, depois da prohibição das matas dos Palmares, e
nos portos destas matas se construem muitas embarca-
ções ; de sorte, que presentemente se acháo sete. ou oito
no estaleiro.
Estas matas, sáo as que devem ficar reservadas para a
marinha mercantil, vista a sua qualidade, c não serem ellas
capazes de criarem era tempo algum, madeiras de cons-
trucçáo, a excepção de algum pão. que se acha em alguma
grota mais fresca ; porém devem ficar feichados, e vedados
os ramos de matas de Pào-Brasil, que ficáo nos seus fundos,
dos quaes pode tirar a Real Coroa muitos interesses para
o fucturo, assim como também se deve vedara Paroba-
amarella para aduellas, de que abundão alguns logares
destas matas.
Do rio de S. Miguel para o Norte principiáo as matas do
Riacháo, com extençáo de quatro para cinco léguas, no fim
das quaes 'priçcipião as famosas, e bem conhecidas matas
dos Palmares, tanto pela fertilidade delias, como pela ex-
traordinária grandeza de suas madeiras. Estas matas se
estendem para o Norte até o rio S. Antonio-grande com
extençáo pelos seus fundos de vinte léguas, formando vá-
rios, e grossos ramos, como sejáo Tangil, Parangàba, Ma-
tarâca, Branca. Conceição. Salobro. Cabeça do Cavallo*
João Dias. Satúba. Canoé. Anhumas. Riachão. Pão-ama*
— 341 —
rello. Urucú; Pedra talhada, Golangí, Riacho das Canoas,
Canudos, Manimbú, Poço da volta, Capapim, Juçaràl, Mi-
rim, Caxoeira, Cobra, Pôço-grande, Xoqueiro, Porco brabo*
Nacenças da Saúde, Piabas, Santiago, Cabeceiras de Sa-
pucahi, Jitituba, Rio do peixe. Pacas, Porco cortado, Per-
piri : Sáo estas matas cortadas de excellente rios, como
sejão S. Miguel, o rio do Mirim, e S. António grande; e
duas grandes Lagoas, uma denominada a do Sul, de que
toma o seu nome a Yilla das Alagoas do Sul situada a mar-
gem da mesma Lagoa, que tem de extençáo oito léguas,
até o mar, onde faz barra ; nella desagoáo os rios Sebauma,
Salgado, Utinga, e Parahiba ; a outra chamada Alagôa do
Norte com três léguas de extençáo até o mar, onde faz
barra junta com a Alagôa do Sul; n'ella desagoáo os rios
Satuba, e Mundàu, e tanto estes rios, como os outros,
todos vêem do interior das matas, as quaes ficáo distantes da
beira-mar dez e doze léguas. Teem além disto as mesmas
matas seis excellentes portos, quaes sáo S. Miguel, Porto
do Francez, Jaragoà, o melhor de todos, e de toda esta Ca-
pitania, Papicàra, Mirim, S. António grande. Ha nos fun-
dos destas grandes matas, muitas matas de Pào-amarello,
os melhores, que se conhecem em toda esta Capitania,
tanto pela sua boa qualidade, como pela grandeza d^elles;
as quaes ficáo em distancia da beira-mar vinte e cinco, e
trinta léguas; d'ellas se tem sempre extrahido todas as ma-
deiras, que nesta Capitania se tem feito para Sua Mages-
tade. Todas estas matas, tanto de Secupiras, como de
amarellos, se acháo hoje muito destruidas, em razão dos
muitos roçados, e fogos, que nellas se tem introduzido : sáo
ellas as que teem sofrido todas as construcções, tanto
Reaes, como mercantis, que nesta Comarca se tem feito,
desde o descoberto destas conquistas : apezar porém de
— 342 —
tantos estragos, só elias são as uDicas. que tem suprido as;
formidáveis madeiras, que tenho mandado construir por
ordem de V. Ex. para as Náos de cento e dez, oitenta e
quatro, e setenta e quatro peças ; ainda que se acha oem
grande distancia de mar, por cuja razão são dificultosos os
seus arrastos.
Ao Norte do rio Santo António— grande continuáo as ma-
tas, formando differentes ramos, como são as de Gamara-
gibe, que se estendem até as de Porto Calvo por espaço de
oito léguas ; estas matas, de que os seus terrenos são fer-
telissimos, capazes de produzirem grandes madeiras, e com
a qualidade de serem regadas d'um florente rio denomi-
nado Gamaragihe, se achão hoje de todo destruidas em
razão dos muitos roçados, que nellas se tem feito pelas
margens do mesmo rio, pessoas, que nellas se tem intro-
duzido, sem titulo algum ; porém tanto estas matas como
parte das de Porto Calvo, sendo vedadas e feichadas po-
derão para o fucturo restabelecer-so, e tirar delias grande
utilidade a Real Coroa. As matas de Porto Calvo continuáo
ao Norte com differentes ramos, como sejão duas boccas,
vizinhas ao rio Manguàba, Japaratúba, as quaes se achão
no estado das antecedentes; destas matas continuáo dous
rsmos, um ao Noroeste denominado Bacha-secca, outro ao
Norte chamado Piabas, Canhoto, duas barras com exten-
ção de quatro para cinco léguas : nestes ramos se crião
muitas madeiras de Secupíras de toda a grandeza, capazes
de Nàos de Linha do maior porte ; ficão ellas distantes da
barra grande, porto do embarque destas matas cinco, e
seis léguas ; porém parte deste caminho ó trabalhoso. Das
duas barras para o Norte se achão as matas de Pào-ama-
rello, e Boenos-ayres, que terminão no riacho Precinunga,
aonde finda esta Comarca ; vindo todos estes ramos, qqe
— 313 —
se acháo desde Porto Calvo até Precinunga, formar uma
extenção de sete para oito léguas, nos fundos das quaes,
se acháo as matas de amarello de Jacuipe ; cujas matas,
po4o que fossem das mais consideráveis desta Capitania,
se acháo hoje quasi de todos destruídas, pela grande ex-
traçáo, que delias tem feito os Povos ; de sorte que algumas
que se poderão tirar, seráo por um preço extraordinário,
como sucedeu na occasiáo em que pertendi tirar madeiras
delias para Sua Magestade. que tirando taboados de cin-
€oenta palmos de comprido nas matas dos Palmares á cin-
coenta mil reis á dúzia, nestas delncuipe, o náo quizeráo
fazer por menos de cem mil reis, como fiz constar a V. Ex.
por um termo assignado pelos mesmos Fabricantes. Duas
legiias ao Norte do riacho Precinunga, onde termina esta
Comarca, fica o rio Una ; nestas duas léguas se acháo vá-
rios ramos de matas, que se estendem ao longo do mesmo
rk) Una caminhando á Oeste cinco para seis legoas, até a
barra do rio Jacuipe, incravados em muitos Engenhos,
como sejáo matas de Crauàssú de baixo. Aldeia velha, Ara-
goàba Crauàssú de cima e outros : tanto estes ramos do
matas ao sul do Rio Una, como os que ficáo ao Norte do
mesmo Rio, desde Duas bocas, distante delle duas léguas,
até a Engenho Ilha grande, Frescondim, Sauhé de cima.
Cabeça de Porco, sáo de excelentes madeiras de Secupira,
capazes para Nãos da ultima grandeza.
Todas estas matas, que ficáo entre o Rio S. Miguel, eo
riacho Precinunga, onde termina esta commarca, que
formão uma extençáo de vinte oito léguas ao longo da
praia, e a de trinta e cinco para trinta e seis, pelo o inte-
rior das matas, em razáo das suas voltas, se devem desti-
nar para Sua Magestade, por serem estas matas as mais
capazes para as construcçôes de Sua Magestade em toda
— 341 —
esta Capítaaia a estas se devem unir as duas léguas, qae
iicáo ao Sul do rio Una, como também as duas, que tição
ao Norte do mesmo rio, pela sua boa qualidade ; todas as
mais, que continuáo ao Norte até os Carices, ou Taboleiros
de Goiana com extenção de mais de quarenta léguas, são
inúteis para as construções de Sua Magestade, como são
as matas do Rio-formoso, Serinhaem. Ipojúca, Cabo; as
quaes se acháo muito destruídas por se arharem occupadas
de muitos moradores, e Engenhos que se estendem hoje
muitas léguas pela terra a dentro em grande distancia da
beira mar; de sorte que algumas madeiras, que se achâo
ainda nos fundos destas situações, sâo dificultosas de se ti-
rarem ; não só pela grande distancia em que se achâo ; mas
também pela asperesa dos caminhos, por onde se deveriâo
transportar ; muito principalmente por não haverem rios
livres de Caxoeiras por onde se possão conduzir as ma-
deiras construídas ; porquanto o Rio-formoso não admite
navegação de semelhantes madeiras por ser um riacho do
Engenho para cima : o rio de Serinhaem, e o de Ipojúca.
se encontrão muitas caxoeiras no curso delles ; de sorte
que não pôde fazer conta a extração de madeiras de seme-
lhantes lugares.
É pôr este motivo, que nunca jamais em tempo algum
se fizeram madeiras nestes logares, tanto para S. Magesta-
de, como para o commercio ; o que não succederia assim,
sem elles as houvessem; porquanto não era natural, que ha-
vendo madeiras de 15, e 16 léguas as viessem procurar
nesta Comarca, em distancia de 90 a 80 léguas.
O mesmo succede as matas, que ficão pelo Rio Capibaribe
acima, matas de S. Antão, S, Amaro Jaboatão, costeando
por fora de Moribéca, e Cabo pelo Rio Cabassú, procurando
cabeceiras do Rio Ipojúca; a excepção das matas da Parai-
— 345 -^-
ba, que também seacháo hoje muito destruídas, e distantes
do porto do embarque, só tem S. Magestade nesta Capita-
nio as matas de que tenho feito menção para as suas Reaes
Construções : cuja demarcação, ou toml)o deve principiar
no Rio de S. Miguel com rumo de Norte até o Rio Una,
incluindo nella o ramo do Norte de que tenho feito menção;
e do Rio Una deve correr rumo de Noroeste até os fundos
das matas do Pào-Amarello do Rio Pirangi-grande, que
confinam com os Campestres, Catingas do certão : deste
logar deve correr o rumo de Oeste pelos fundos das matas
de Jacuipe, Serras de Manguaba, Mariquita, o Carimá,
pelas Serras do Barriga, Cruatá, Dous-irmáos, Bananal,
Taipú, Principe, até finalizar nas cabeceiras do Rio de S.
Miguel, distante da sua fóz, loa 17 léguas, que vem a for-
mar uma extenção de matas de 30 a 32 léguas de comprido
ao longo da costa do mar, de que ficão distantes em alguns
logares 10, e 12 léguas, e em outros 5, O c 7 léguas.
Dentro desta demarcação, ou tombo ficão incluídos os
melhores ramos de matas, tanto de secupiras, como de
amarellos, que S. Magestade tem nesta Capitania para cujas
matas parece ser de maior interesse para a Real Coroa a
creaçáo de um supperitendente a quem fique pertencendo
semelhante fiscalisação com regência de alguns coutei ros,
ou guardas divididos pelos respectivos destrictos ; si ndo
corridas por dillerentes patrulhas de índios na forma, que
tenho exposto com excluzão de outro qualquer uzo.
Porto de Pedras de Agosto 2 de 1797.
José de Mendonça de Mattos Moreira.
Tenho a honra de receber a Carta, que V. Ex.* foi
servido derigir-me em Ití de Junho do corrente anno, com
o Edital para todos os Sesmeiros appresentarem suas Ses-
ABRIL. 44
— 34G —
marias, e para tudo o mais que nelle se declara ; delle fiz
logo exlrahir 16 copias as quaes não só mandei publicar
em todas as Villas desta Comarca; mas também em todas
as Freguezias, e Logares públicos delia, para que melhor
conste delle a todos, c ninguém possa allegar ignorância
como tudo se faz ver da certidão do Escrivão da Correrão,
que tenho a honra por na respeitável presença de V. Ex.'
Náo á Exm. Sr. um meio mais elicaz, para a conservação,
e augmento das matas, do que é serem da propriedade ex-
clusiva da Real Coroa todas as matas, e arvoredos a borda
da costa do mor, ou de Rios por onde cm jangadas, e ca-
noas possáo ser condusidas as madeiras cortadas; porém
devo diser a V. Ex.* pela larga experiência, que tenho, e
conhecimento individual de todas estas matas, e arvoredos,
que o meio de serem obrigados os Sesmeiros a appresen-
tarem suas Cartas de Sesmarias, e serem estas unidas ao
Património Real, indemnisando-se os respectivos Sesmei-
ros em outros logares no interior do Paiz, achando-se nas
terras dadas de Sesmaria bemfeitorias, porque se lhe deva
fazer esta indemnisação. não é ainda o meio capaz de con-
seguir o fim de tão saudável determinação; porquanto as
porções de terrenos, que seachão nas mesmas matas usur-
padas a Real Coroa sâo ainda muito maiores em alguns
logares, do queaquelles, quesecontempláonas Sesmarias,
que não farão, nem ainda uma terça parte daquelles, em
razão' de que muitas pessoas se introdusem no interior das
matas, as quaes destroem não só com rosados, que nellas
fazem, e que pela maior parte os não plantão; mas ainda
muito mais com fogos, que se lhes introdusem ateados dos
mesmos rosados; de sorte que à muitos logares, onde os
fogos se atearam pelo espaço de muitas léguas, como eu
mesmo, tenho sido testemunha ocular; por cuja razão.
— HM —
se não achâo hoje matas inteiras, apenas alguns farragios
delias em dillerentes logares, onde se fazem as Construções
Reaes : outros dando-se-lhe por Carta de Sesmaria, meia
Jegua de terra, como nunca a demarcáo na forma que são
obrigados, se apossáo de 2 e 3 léguas : outros alcançando
somente ordem da Junta da Fazenda Real para as Camarás
respectivas passarem Editaes, para ver seá ou não terceiro
prejudicado, se apossão das lerras perdidas, sem jamais
tirarem as Cartas de Sesmarias: destes tem V. Ex.' alguns
exemplos, como fosse Pedro de Araújo que pedindo uma
légua de terras de Sesmarias no Rio de Camaragibe, e man-
dando a Junta da Fazenda Real à Gamara respectiva passar
Editaes do estilo, elle se metteo na posse delias, e de so-
ciedade çom Gregório de Oliveira Costa erigiram mn En-
genho, que denunpiando este ãtquelle depois de passados
muitos annos. lhe mandou justamente a Junta Real passar
Carta de Sesmaria : destes à outros muitos exemplos, como
seja António Moreira no mesmo Rio, que tendo somente
alcançado despacho da mesma Junta para a Camará res-
pectiva mandar por Editaes, elle. sem se lhe passar a res-
pectiva Carta, se meteu com vários parentes, e outros agre-
gados no interior das matasgr onde por espaço de muitos
annos tem feito os maiores estragos, tanto em roçados,
como em fogos, que lhes tem introduzido ; e destes ha ou-
tros muitos que não chega a noticia delles, por se não
terem feito os exames necessários: outros ha, que tendp
vendido as terras, que lhe forão dadas de sesmaria, andào
estas hoje em terceiro, e quarto possuidor, sem que obti-
vessem Licença da Junta da Fazenda Real. como são abri-
gados em semelhantes vendas para a obterem, e pagarem
o justo Laudemio em reconhecimento do directo dominio
que nellas tem a Real Coroa; por não terem nellas os ses-
— 348 —
meiros, se não uso fructo ; sendo ta! o excesso em se pe-
direm semelhantes sesmarias, que muitos tempos foi entre
estes povos uma espécie de negociação ; por quanto hou-
verão pessoas, que por si, e por terceiros alcançarão três,
e quatro sesmarias, e depois as venderás a outros por dous
mil cruzados, um conto de reis, e quatro centos mil reis,
e o que mais admira é, que muitos as devidem, e as ven-
dem a retalhos de que ha muitos exemplos : outros flnal-
mente possuem terrenos nas mesmas matas, sem titulos
alguns , por onde conste a legitimidadade dos seus domí-
nios ; de sorte que ate o presente tem sido as matas co-
muas, e livres a toda a pessoa que se quer introduzir nellas,
e ainda alguns tomarem posse de muitas léguas, sem titu-
los, como V. Ex. verá da certidão, que tenho a honra por
na respeitável presença de V. Ex. ; e desta forma se achâo
rotas, e destruídas as mais bellas matas, que Sua Mages-
tade pode ter no Brasil ; não só pela grandeza delias, mas
ainda muito mais por serem estes uns terrenos próprios
de criarem secupiras, o que é bem raro nas mais matas ;
e o que mais admira é que todas estais destruições não tira
a Real Coroa, e o Publico utilidade alguma, por serem ellas
feitas pela maior parte por pessoas indigentes, e crimino-
sas, que por escaparem as penas dos seus delictos procu-
rão o escondrijo das matas, como um azilo seguro ; de
sorte que a maior parte das sesmarias já dadas, a excepção
de algumas muito poucas, em que se erigiu algum Enge-
nho todas as mais não tem bemfeitorias, que lhes devão
ser indemnisadas, por se acharem mais deterioradas, do
que quando lhe forâo dadas. Todos estes injustos possui-
dores se não vem denunciar pelo presente Edital, quando
muitos, que o mesmo comprehende o não farão, sem se
recorrer a outros meios ; pois vemos que sendo os Editaea
r%
— 349 —
publicados a mais de trinta dias ainda não houve um só
sesmeiro, que viesse apresentar a sua Carta, na forma, que
determina o mesmo Edital; para virmos pois no conheci-
mento de todos elles ó necessária uma escrupulosa, eexata
averiguarão desde o luf^^ar, onde principiâo as matas des-
tinadas para Sua Magestade, até o fim delias ; cujo exame,
sendo feito com a exacçáo devida na occasião, que se fizer
o Tombo das mesmas matas, que a ser feito com as for-
malidades necessárias, se não poderá fazer menos de uns
poucos de annos. Estes serão, Exm. Sr., os maiores tra-
balhos deste novo estabelecimento, quando Sua Magestade,
seja servido mandal-o crear; porque sobre tão escrupulo-
sas, e laboriosas indagações, é da maior attenção, que
fiquem separados terrenos para as plantações doPaiz, cos
necessários para a marinha mercantil, e uso dos Povos; o
que tudo se pode nwiito bem executar, e estabelecer sem
prejuizo das matas, e arvoredos destinados para Sua Ma-
gestade, a vista do estado a que se acha hoje reduzido todo
este Paiz, por haverem muitas léguas da beira mar para
o certão, sem matas e arvoredos; por se acharem estes
lugares povoados com plantações, e Engenhos, sem que
haja necessidade para o augmento delias de passarem as
matas, que principiâo hoje longe da costa do mar dez, e
doze léguas em alguns lugares, depois de acabados os ter-
renos povoados : estas matas, onde se criáo as secupiras
tem sete, e oito léguas de largo no fim das quaes principiâo
as matas de amarello, que vão finalisar nos campestres, ou
catingas do certão : e ainda que nestas matas de amarello
se achem algumas secupiras, de'las se não pode fazer uso
algum, pelaasperesa dos lugares por onde se deveriáo con-
duzir, muito principalmente por serem os rios, que descem
n aquelles logares, cheios de muitas caxoeiras:; as quaes
á
•tt
— 350 —
não admitem conducção de madeiras de coilslrucçáo, e o
mesmo succede ainda em muitos lugares nas matas de se-
cupiras. Igualmente se deve proceder com o mesmo es-
crúpulo nas sesmarias dadas para ter logar aindemnisação
de que faz mensáo o mesmo Edital ; por ser necessário,
que conste veridicamente se as terras dadas de sesmarias
tem algumas bemfeiterias, por que se lhe deva fazer esta
indemnisação, o que nunca poderá ter logar a excepção
d'aquelias em que se acharem alguns Engenhos ; antes a
Real Coroa as receberá em maior deterioraçio, segundo o
costume gerai de todos os sesmeiros, que é abrirem elles,
e seus agregados muitos roçados com os qi^aes, ecom os
fogos, que lhe introduzem destroem as terras, que lhes
íoráo dadas de sesmaria; por quanto todo o fim de procu-
rarem elles as matas, e arvoredos nío é pon falta de terra
para as plantações, que essa^ são infinitas no Paiz, é tão
somente; porque nás matas evitáo as limpas, que são obri-
gados dar nas mais^erras, a que chamão capueiras : e desta
forma por um tão injusto motivo vão destruindo as matas
até a sua total extinção, como eu pessoalmente tenho visto
(de que dei parte a V. Ex.) lugares no interior das matas,
em que destruirão cora roçados, e fogos muito mil pàos de
construcçâo para Náos da ultima grandeza, e destes ha
muitos exemplos por toda a extenção das matas. Quanto
porém aquellas sesmarias em que se achão Engenhos, o
que Sua Magestade por Sua Real Clemência manda conser-
var, deverão sempre os Senhores delles serem abrigados con-
servar todas as madeiras Reaes, que se acharem ns com-
prehensão dos mesmos Engenhos, como sejáo Secupira-
mirim, Pào de arco, Getahi, Angelim amargoso, Mirindiba,
Jetobá, é Sapucaia, de cujas madeiras estão bem conhe-
cidas as auas boas qualidades, das quaes nio tem neces-
— 331 —
sidade os Engenhos para as suas laborações, a excepçáo
de alguns pàos para obras dos mesmos Engenhos, os quaes
náo fazem falta as construcçóes ; sendo os mesmos senho-
res de Engenho obrigados a náo deixarem abrir roçados
nas malas dos mesmos Engenhos, de que lhe resulta a elles
um beneficio ainda lAuito maior, do que as mesmas cons-
trucçóes; porque da destruicção das matas procedeu a ex-
tinção de alguns, e a decadência em que se acháo hoje
muitos Engenhds, e pela falta de lenhas para os seus cosi-
raentos. Finalmente, Exm. Sr., todo o objecto da Real
Coroa para a conservação da sua Real marinha, da mari-
nha mercantil, e do bem commum deste Paiz ; cuja riqueza
consiste na conservacçáo dos mesmos arvoredos, pois
vemos, que faltando estes, os terrenos ficáo sem valor, ó
reservarem-se os melhores terrenos para Sua Magestade,
e nestes haver o muor cuidado de se im{)edir com as mais
graves p^nas a abertura de roçados, e cortes para particu-
lares; fazendo- se uma demarcação, oô Tombo Real, e in-
dividual de todas as matte reservadas, tirando-se mappas
de plantas baixas de todos os ramos das matas, compre-
hendidos na demarcação ; cujas matas deverão todos os
annos ser revistas por um Super-intendente delias, e dos
Reaes cortes, abrindo-se devassas em alguns districtos das
mesmas matas, contra os transgressores das ordens, que
se derem para a sua conservação, destinando-se os terre-
nos mais fracos para a marinha mercantil, e uso dos povos:
e como Sua Magestade no interior destas matas tem dous
Presidies desde o tempo dos negros dos Palmares, quaes
são os de Nossa Senhora das Brotas na Villa da Atalaia, e
o de S. Caetano em Jacuipe com sessenta índios em cada
nm delles, a quem a mesma Senhora paga, sem lhe fazer
serviço algum; destes deve o mesmo Ministro mandar em
— 3ÍJ2 —
certos tcmi)Os do anno dillerenles patrulhas, que corráo as
mesmas malas com pontos certos de união, procedendo-se
contra os que acharem ndla trabalhando.
Desta forma, Exm. Sr. . se conservanlo as matas, que
ainda existem para suprirem as prezentes construcçôes ; e
as que se achão destruidas com esta providencia se res-
tabeleceram para o futuro, como forão em algum tempo,
e nâo experimentará a Real Coroa falta de madeiras de
construcção, antes as poderá ter por um preço muito mais
commodo para o futuro: e seguro a V. Ex. que a faltarem
estns providencias em muito poucos annos ficarão as matas
de construcção de todo destruidas, e Sua Magestade não
terá mais Leames para a factura de suas Náos; porquanto
ainda que o cordão de malas desta Capitania, que principia
nas malas do pescoço, e acaba nos Carices, ou Taboleiros
de Goyanna tenha de estenção, com pouca dilTerença, no-
venta léguas, apenas se achão em toda esta dilatada dis-
tancia os ramos de matas dos Palmares, outros no destri-
cto de Porto Calvo, e alguns farragios de matas encrava-
dos em mais de quarenta Engenhos na Freguezia de Una,
donde se podem tirar madeiras de construcção ; porque
todas as mais matas, umas se achão de todo destruidas,
outras os seus terrenos são áridos e fracos, as madeiras,
que nelles se criâo apenas servem para Mavios mercantes,
e observa-se, que ainda (jue as arvores sejão antigas nun-
ca crescem, e cngrossáo muito : esta bòa qualidade só a
têm as matas dos Palmares, onde as Secupiras, e as mais
madeiras de construcção são pela maior parte agigantadas;
de sorte que apezar de tantos estragos, que nellas se en-
contrão, e de terem ellas sofrido todas as construcçôes
Reaes, e mercantes desde o descoberto destas conquista são
só as únicas aonde achei madeiras para as Nàos de cen-
— 353 —
lo e dez, oitenta e quatro, e settenta e quatro peças de
quo me aclio encarregado, e todas de Secupira-mirim,
sem entrar em Ioda esta construcção um só páo de outra
qualidade de madeira, e posto que estas madeiras se tirão
hoje em uma tão dilatada distancia do porto do embarque
eu tenho a gloria de que cilas ficarão para Sua Magesta-
de pelo mesmo preço; porque se fizeram as madeiras que
ha perto de quarenta annos se reraettêrão das mesmas
matas para a construcção das Xâos Sajito António e Madre
de Deus, e outras que Sua Majestade foi servido mandar
construir na cidade da Bahia, sendo estas Nàos de muito
menor porte, e tendo sido tiradas as suas madeiras em
muito curta distancia do porto do embarque; de sorte que
algumas delias não exceleo a meia légua de distancia,
quando as que hoje mando construir, ficáo dez, e doze
léguas do porto do embarque.
Tem alem disto as malas dos Palmares a boa qualidade
de serem cortadas por férteis, e abundantes rios, como
sejão os rios de S. Miguel, as 2 Lagoas de Norte, e Sul,
que desagoão no mar; nas quacs desembocão vários rios;
como sejao na do Sul, o rio Sebauma, Vtinga, Salgado, e
Paraíba, e na do Norte, os rios Mundau, e Satuba; alem
destes em distancia de 6 léguas teem os rios Mirim, e S.
Antonio-grande, e em todos estes togares portos corres-
pondentes para o embarque das madeiras : com grandes
fundos nas mesmas matas de Páos amarellos, donde sempre
se teem feito grandes extrações para S. Magestade, por se-
rem elles os de maior grandeza, e melhor qualidade de
Ioda esta Capitania. l*or todas estas razões, que tenho a
honra pôr na respeitável presença de V. Ex. se mostra a
difliculdade que se encontra era ser feita com a brendade
que V. Ex, ordena, uma demarcação, ou tombo circuns-
ABaiL. 45
— 354 —
tanciado com um exame individual de todos os peçuidores
das mesmas matas, ou sejão por Sesmarias, ou por outros
quaesquer titulos.que deverão ser appresentados com ave-
riguação de todas as bemfeitorias, que nas mesmas terras
Sesmadas se acharem dignas de indemnisaçâo ; a qual deve
ser regulada pelo valor em que forem julgadas as mesmas
bemfeitorias ; porque alem de serem precisos annos para
se fazer esta deligencia com a exação que pede uma maté-
ria de tanta importância so a pode fazer um Ministro
creado para este serviço ; por ser incompativel com a boa
ordem da Justiça, que um Ministro Ouvidor desta Comarca,
que é obrigado fazer as correçóes das Villas delia, e acudir
aos negócios públicos das partes, possa este mesmo Minis-
tro ser encarregado ao mesmo tempo de serviços laboriosos;
muito mais se for encarregado de tão numerosas construc-
ções, como as de que presentemente me acho incumbido
para S. Magestade a ordem de V. Ex. porque sendo a sua
assistência pessoal necessária nestes serviços, em qualquer
delles que falte, ou hade padecer o serviço de S. Magestade,
ou o dos Povos : por esta razão parece ser de maior impor-
tância ao serviço da mesma Senhora a creação de um supe-
ritendente das matas destinadas para S. Magestade para
este encarregado de todos estes serviços, e do todos os
mais pertencentes a esta repartição, na execução dos quaes
será forçoso ter um immenso trabalho, alem da pratica e
conhecimento, que deve ter em semelhantes matérias para
ser bem regulado um estabelecimento de tanta considera-
ção. Apezar porem de todos estes obstáculos se V. Ex. for
servido, que desde ja entre neste serviço, com a determi-
nação de V. Ex. vou pôr em execução tudo quanto for
servido ordenar-me. É igualmente da maior diíDculdade
calcular uma perfeita contabilidade em que se mostre o
— 355 ~
preço certo, porque sahe cada um páo de construcção; por
ser o valor destes regulado conforme as suas maiores, e
menores dimenções, a distancia em que se tirão, e a diffi-
culdade de seus arrastos, que esta ó a despeza de maior
consideração nas construcçôes, por não haver certeza, ou
regularidade nos logares, em que se construem ; por cujo
motivo pode muito bem succeder que um páo com as mes-
mas vitolas faça differença de outro igual da ametade da
sua despeza, sendo, por paridade, feito um delles em dis-
tancia de 3 e 6 léguas, e o outro de 10 e 12; e ainda esta
differença pode succeder, tirados ambos em iguaes distan-
cias, sendo o caminho de um delles bom, e do outro escabro-
so, como nos está succedendo todos os dias ; e ainda muito
mais havendo um tão grande excesso de preço, como o que
hoje se experimenta em todo este paiz em todas as cousas
necessárias, como sejão de Bois para os arrastos das ma-
deiras, e nos viveres para sustentação dos trabalhadores :
por cuja razão se tem pacteado com os fabricantes que as
madeiras lhes sejão pagas por uma justa avaluacáo com
attenção a estas differenças, fixando-se nella o preço certo
de cada um dos páos, segundo as suas differentes classes,
achando-seel!es feitos com perfeição, e com as vitolas que
lhe foram dadas, e na falia de tudo isto lhe serem pagas
pela a metade do preço da sua avaluação : quanto porem af
melhor economia dos cortes será muito útil a Fazenda
Real, que se abrão alguns por conta da mesma, debaixo da
inspecç>áo do mesmo Ministro; para este fim se devem
procurar alguns ramos de matas mais vizinhos a rios para
maior comodidade dos seus arrastos; cujos cortes devem
ser separados uns dos outros, em razão da diíBculdade,
que se encontra de pastos naquelles logares para conserva-
ção de grandes boiadas para as conduções das mesmas
madeiras.
— 356 —
Além de liilo, quanto tenho tido a honra expor na Res-
[)eilavcl Presença de V. Ex. será da maior importância,
sendo Sua Magestade servida criar este estabelecimento,
e mandar proceder no Tombo das mesmas matas, se facão
algumas conferencias na Respeitável Presença de V. Ex. a
respeito de todas estas matérias para melhor se poderem
pôr em pratica ; em cuja occasião en terei a honra de di-
zer a Y. Ex. tudo, quanto é necessário, c útil ao serviço
íle Sua Magestade.
Deus Guarde a V. Ex. como muito lhe desejo.
De V. Ex.
O mais humilde Súbdito
Josi: DE Mendonça de Mattos Moreiilv.
Porto de Pedras, :J0 de Julho de 1797.
TYP. IMPARCIAL DE J. M. N. GARCIA.
RUA DA CARIOCA N. 34.
REVISTA TRIMENSAL
DO
IHSTITDTO inSTOBIGO. GEOfiRiPHICO E ETHNOfiliPmCO DO BRASIL.
i4®l096^i
S.o TBIJIIESTBE DE MM.
DA CinAnE DO SAIiVADOR
EsGRiPTÀ POA D. Màmuel deMbnezes
CHROMSTA MOn E CHROSMOGRAPHO DE SUA MAGESTADE E CAPI-
TÃO GERAL DA ARMADA DE PORTUGAL NAQUELLA EMPERSA, CÓ-
PIA COTEJADA COM O MANUSCRIPTO ORIGINAL DE MADRID — POR
FRÂICISCO ADOLPHO DE TABIHÍ6EI.
LIVRO PRIMEIRO.
Dos successos que tentarão fazer em as armadas á vella da
Ilha de Santiago.
Enfim me resolvo escrever a protecção que uma parte das
armadas de Espanha fez ao Brazil para castigar a uma
ofensa dos Olandeses rebeldes, que esquecidos de Deus,
da obediência davida ao seu Rei e Senhor natural e de
suas próprias forças se atreveram e intentavam fundar um
novo império na parte oriental da America a mais pro-
porcionada a seus intentos que todas as do mundo su-
geitas ás coroas desta monarchia. Argumento verdadeira-
mente da fraqueza do engenho humano a quem os bons
successos de alguns intentos assim desvanecem, e cami-
nhando a olhos cegos vem ordinariamente parar em sua
total ruína.
JUNHO 4G
— 358 —
Esta gente septentrional habitadora de estreitas teiras e
ainda mal seguras em guerras contra forças do mar oceano,
pobres de todas as cousas que podem engrandecer qualquer
província, ajudada porém dos potentados erecticos, e por
ventura de alguns catholicos invejosos, ou temerosos da
grandeza de Espanha, ou tomada por instrumento da pro-
videncia divina infestam já de muitos annos as costas delia,
e as que a coroa de Portugal conquistoa em Africa, Ásia,
America, e todos os seus mares. Ordenaram companhia a
que chamaram oriental em que concorreram os povos e
os homens de negocio com gram soma de dineiro pêra a
fabrica e apresto de armadas que enviavam ha muitos an-
nos para as partes da índia, e Mar Sul. Mas como quasi
todo o fundamento destas forças não era fixo senão assenta^
dos no propósito que lhes avia de resultar de suas pilhagens,
posto que Deus por ocultos juízos lhes desse alguns bons
successos com grande damno desta coroa veio, pela des-
peza que excedeu a receita, e pela pouca verdade ainda
com agente do Oriente, a descair. Ordenou -se outra aqne
chamaram occidental para a America quarta parte do mundo
maior que qualquer das outras com grande excesso, e toda
destas coroas, nella se discorreu com razões d'Estado apa-
rentes, não se fazendo conta com as forças do Príncipe
a que oíTendiam, sobre o modo de que se havia de fundar
o império que senhoreasse o ^tnundo todo. É a cifra da
verdadeira desdita ousar em matérias de conquistas muito
mais do que pôde gente que tem que perder pátria que
tanto estimam. Vio-se um discorrer do anno de mil seis
centos e vinte três em Burgo de Hain feito segundo se
disse feito por João Andréa Noeboseq dirigido ao conde
Maurício e aos deputados das províncias de Olanda, em
que se pretendia provar que não podia emprender aquella
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companhia empresa mais fácil, de proveito mais certo, ou
de maior gloria que a conquista do Brazil porque a nação
portugueza moradora n'aquellas terras, que entre as outras
natural, estrangeira podéra fazer maior resistência era
grande parte da nação hebrea, nascidos em ódio da Hes-
panhola, que com facilidade sugeitariam à sua obediência.
Que se bem a provincia era mui grande não havia em toda
ella mais que duas praças principaes, Bahia e Pernambuco,
as quaes uma vez conquistadas, fortificadas e guarnecidas
ficava segura toda conquista, e a conservação delia. Estas
se ganhariam facilmente por uma interpresa estando como
todas as mais ao longo do mar aonde podiam chegar suas
armadas, e não podiam dar-se a mão pela grande distancia
d'uma a outra nem esperar soccorro de outras povoações
por serem fracas, e mui distantes. Mormente que fora de
ser a gente pela mór parte mal nascida, fraca, carecia to-
talmente de disciplina militar estava com grandissimo des-
cuido. Que para que tudo se assegurasse, e fortificasse da-
ria largo tempo ahi a solucção dos soccorros de Espanha,
ainda que não fossem prevenidos com armadas de muita
força d\iquellas províncias, e seus confederados como se
esperava. Que para a despeza de tudo daria largamente o
que se achasse n'aquelles portos de navios e mercadorias,
sem a fazenda e riquezas que El-Rei de Espanha, o clero
e mercadores tinham n'aquelle estado. Quanto ao proveito
não podia haver duvida pela fertilidade da terra em que se po-
diam plantar cana viaes de assucar,efabrica!-os. Tabaco, Gen-
gibre, Arroz, Algodão : que tudo iria em augmento sendo
os portuguezes que ahi ficassem conservados em justiça, e
em sua religião: os hebreus na sua qualquer que fosse sem
medo de inquisição pelo que soíTriam uns e outros grandes
imposições e contribuições; faziam estreitas contas de mer*
— 360 —
cador do numero das caixas de assucar que o Brazíl dava,
dos fretes e direitos que se pagavam d'ahi a Portugal, e de
Portugal a Flandres ; de mais dequasi outro tanto que El-
Rei de Espanha levava de entradas, e sabidas. Tratavam
do proveito de reflnar os assucares, do que importava o
páo-brazil, das rendas reaes edas do commercio que exa-
geravam muito. Discorriam do augmento d'aquellas pro-
víncias com táo grossos tratos, do que acresceria de di-
nheiro peia razão de que os naturaes de Olanda costuma-
dos a mercadiar em França, Alemanha, Inglaterra achando
em sua pátria tudo o que buscavam nella o empregariam e
ficaria tudo em si mesma. Que logo ajuntariam a isto o trato
do Cabo Verde, Angola e Guiné resgatando marfim, e ou-
tras mercadorias. Que quando nâo quizesse embarcar-se
com o trato dos negros não faltariam particulares que o
exercitassem pagando por cada um os reales que El-Reide
Hespanha levava do primeiro direito fora os fretes e outros.
Faziam conta do proveito que teriam da sacca dos assuca-
res que os Italianos, Francezes, Alemães, Inglezes, e ou-
tros navios faziam de Olanda faltando-lhes em Portugal
o que tudo resultava aquellas províncias um proveito im-
menso, e a Hespanha em perdas irreparáveis com que afio-
xaria nas guerras de Flandres por se lhe perder grande
parte de suas índias occidentaes com que ficaria mui di-
minuída em suas armadas, e Portugal em muito mór aperto
com a falta do Brazil sustancia de suas alfandegas, e com-
panhia oriental teria maior mão e conunodídade de Ihè to-
mar mais terras na Índia obrigando-os acudir com muito
maior despeza a sustental-as. Ponderavam outra excessiva
que acrescia a estas coroas pretendendo inutilmente acaba
de tempos recuperar o perdido fazendo novos fortes pro-
vendo-os de artillieria e soldados tudo mais que na mate-
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ria se pôde considerar dizia o discurso longamente com
particulari dades necessárias ao pouco que queria persuadir,
e prolixas para este logar. A respeito da gloria diziam vai-
dades chamando legitimo senhor dos reinos de Portugal
ao íilho do desditado D. António pertencer antigamente
delles com o direito que vio. Gosavam antícipada e van-
mente de victoria presumida contra as forças de El-Rei seu
senhor inimigo poderoso de sua infidelidade a quem com
entranharei ódio, e medo sempre pretende offender, as
vezes offendem, ou porque Deus assim o quer, dando forças
aos inferiores nellas. ou por a pouca conta que S. M. delles
faz, cousa damnosissima nas grandes monarchias. e sertã
ruina nas pequenas. Aprestou n'aquelle anno de 623, a
companhia uma armada de doze navios do estado mui bem
aprestado capitana almiranta de quarenta peças de ferro
algumas de bronze e outros a trinta, a vinte seis, a menos
de outros tantos fretados pelo mesmo estado e alguns pa-
tachos, por general delias a Jacques Guilhelme, Hollandez
maior deannos mestre capitão de navios toda sua vida que
tinha estado em Lisboa com seu trato muitas vezes. Por
ahnirante Pedro Peres inglez , por superintendente , e
como vedor general dos muitos fretados e cabo delles com
titulo de coronel Joáo Doart, Olandez de calidade e fa-
zenda, nomeado pelo conde Maurício segundo disseram, por
governador do Brasil no primeiro triénio. Era de três mil
homens de mar e guerra por igual numero.
A despesa comum entre o Estado e mercadores sairam
deOlandaa 21 de Dezembro. Sobrevindo uma borrasca se
dividiram, entraram em Pleamua 16 : todos se juntaram
em S. Vicente Ilha das do Cabo verde. Aqui diz que abri-
ram ir^strucçôes ; e acharam uma serrada pêra abriren em
cinquo gráos da parte do Sul. Detiveram-se 7 dias pêra se
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migo vencedor qae estava de posse delle qae a cotiladas o
desalojou, e se fora soccorrido poderá ser de grande con-
sequência seu esforço. Nem é justo fique em sflencio o
como se ouve Brás da Silva de Meneses» que se tem por
filho de Fernão da SUva de Meneses, um dos mais califi-
cados fidalgos de Portugal que sendo capitão da praia e
forte de Santo Alberto, foi mandado chamar pelo gover-
nador logo que soube da retirada da gente de cavallo, e
infanteria da ponta de Santo António não obedeceu ficando-
se no seu posto, segando o recado com contra senha dado
por hum ajudante de sargento mayor com ordem de que
deixado aquelle posto em que não havia resistência fosse
occupar outro a Seé e o fortificasse^ obedeceo, mas tudo
sem proveito não achando mais que algumas exportas,
nem lugar mais que confusão. Acompanhou o bispo d'a-
quella provincia D. Marcos Teixeira que se retirou para
uma aldeia vesinha com alguns particulares, desembarga-
dores, e ouvidor geral Antão de Mesquita de Oliveira, e
com elie sérvio com muita satisfação, como contou a D.
Fadrique de Toledo por certidão de sua letra e por sinal
que D. Manuel de Meneses levou pretendendo se lhe desse
algum legar onrrado, mas outrem lhe tinha occupado os
ouvidos com falsas informações e lhe foram antepostos
alguns muito desyguaes. Retirado o bispo, varão verdadei-
ramente apostólico, propôz em conselho o miserável estado
em que se viam, ou por culpas de homens ou por ocultos
juízos de Deus que pois sua divina justiça asy o permi-
tirainvocassem sua divina misericórdia acudindo com todas
as forsas a sustentar as relíquias de uma metropoli da
quella grande provincia que com gloria dos portugueses
fora sustentada tantos anos: convieram que comosoffi-
ciaes da camará retirados por outros lugares signalasem
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cabeça que os governase, para o que se abriram as vias cm
que S. M. nomeava sucessor aquelle governo em falta de
presente, costumo novamente intredusido naquelle Estado
a imitação da índia. Avisaram que estava na primeira, a
Mathias de Albuquerque governador de Parnambuco por
seu irmão Duarte de Albuquerque Coelho donatário da-
quella grande capitania : e como a distancia dos lugares
era grande, e danosa a dilação, elegeram Antão de Mes-
quita ouvidor geral para acodir as acurrencias com titulo
de capitão mor de Parnambuco despachou logo Mathias
de Albuquerque a Espanha com aviso a S. M. do bispo do
ouvidor geral, e dos mais unidos. Chegou a Lisboa a 26
de Julho, e no ultimo do mesmo à meia noite a Madrid.
S. M. resignado (como despois mostrou por muitas cartas
aos governadores de Portugal de 9 de Agosto, de 20 de
Setembro, de 3 de Desembro) na divina vontade estimou o
castigo de Deus no preço que muito convém se estime re-
presentando-se-lhe mais vivamente na memoria o desacato
de culto divino em mão dos impios despresadores delle
com a maior barbaridade que nunca se vio : não se esque-
cendo do que devia a reputação de suas armas, ao remédio
do trabalho com que Espanha era ameaçada nas coroas de
Portugal e Castella, e lembrado de alguns successos adver-
tissemos nos annos próximos passados, perda de Ormuz
e outros a todos patentes, se oppoz com real animo ao cas-
tigo de seus vassalos rebeldes. Acompanhou-o com animo
galhardo o conde Duque seu Sumilher de Corsp. e confi-
dentíssimo ministro oferecendo a S. M. aquelle pronto e
rendido animo a seu real serviço con vontade tão experi-
mentada de antes que escusava novo offerecimento. E sem
dilação foram avisados todos os conventos de religiosos e
religiosas sanitas da corte aonde ha muitos pedisem mise-
juNiio. 47
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ricordia a Deus pelas ofensas de sua divina magestade, e
imediatamente tomada a resolução com seus concelhos es-
creveu em 7 de Agosto aos governadores de Portugal que es-
tava disposto a soccorrer aquella coroa com todas as forças
de mar qae em tal presa se podese ajuntar ficando somente
para guarda das costas dez ou doze navios, acusando que
as de Portugal se reforsasem empenhando-se e vendendo
sua real fazenda e estivesem prestes para 20 daquelle mez
concluindo com as palabras seguintes de sua real mão.—
No dudo que tales vasallos en obligaciones, amor, y valor
acudiran en esta ocasion a servirme, y a volver por sy mis-
mos con tales veras quo aya de aver maior trabajo en atajar
que no vaian. que en animarles para este pues es cierto
que yo los estimo, y amo tanto que olgara in con mi persona
en esta jornada para mostrarles quanto deseo la
conservacion de essa corona, sino aumentaria, y engran-
deserla, como tales vasallos mereceu. Logo pelos conse-
lhos de Portugal, e Castella despachou a D. Fadrique de
Toledo Ozorio que elegia para aquella empresa aprestase a
armada do mar occeano, e as esquadras de Biscaya, e qua-
tro vilhas ; a D. João Faiardo pusesé em orden a sua do
estreito que avia de levar fazendo oficio de Almirante da
Armada Real de D. Fadrique : a D. Manuel de Meneses fez
mercê por carta de 9 de Agosto de o eleger para levar a
seu cargo a de Portugal ordenando-lhe se fose juntar a D.
Fadrique de Toledo. A Diogo Lopes de Sousa conde de
Miranda governador da casa do eivei da cidade do Porto
pusese muita deligencia com que naquelle porto, em Viana
e nos outros marítimos de Antredouro e minho se apres*
tase para a empresa todo o pocivel de navios particulares.
Grandes defeculdades, antes impocibilidades inpediam
tanta preç^a porque nas de castella faltavam bastimentos e
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dinheiro para se aprestar na de Portugal náo avia mais (jue
quatro navios de porte, e força, e estes trazia na costa D.
Manuel de Meneses com outros fretados de pouca conside*
raçáo, e faltos de artilheria esperando a nao S* Thomé que
vinha da índia com fama de mais rica que náo podia desem.
parar. Em quanto estas presas que com grande ardor fer-
viam ordenaram os governadores de Portugal avisar de
tudo aos infelises moradores da Bahya animando-os não
tão somente com a esperança de grande soccorro, mas com
efleito mui importante naquelle tempo. Era tal o cuidado
que uma deligencia se encadeava com outra. A 8 de Agos-
to mandaram os capitães Pedro Cadena e Francisco Gomes
de Mello pessoas de valor e experiência do Brasil em duas
caravelas com socorro de gente, arcabuzes, monisões que
poude caber nellas com instrucção que fosse a Parnãobuco
veleiando todo o pocivel e porque nada se torcia levase à
Ilha da madeira uma carta de aviso a pesoa que ao presen-
te a governase; antes de chegar a Parnãobuco fose ao Cabo
branco tomar lingua do estado daquella praça ; e achando
que estavam navios inimigos no porto> daquelle cabo de-
sembarcasem, e por terra se metessem nella com aviso do
governador do lugar a que se encaminha-se. A Pedro Car-
dena em particular se dizia no regimento que sendo caso
cayse em mãos de inimigos tivesse cuidado de afundir os
despachos, cartas e instrucção que parese náo iam dupli-
cados, para que não podese vir a suas mãos. A Mathias de
Albuquerque que escrevia sua M. em resposta de suas car-
tas de 31 de Maio, do primeiro e 6 de Junho, de28e 31 de
Julho mostrando os sentimentos da perda da Bahya pelo
dano que resultava a seus vasalos. e a resolução que tomara
de lançar o Inimigo daquelle estado com o castigo que me-
recia, advertindo de muitas coisas tocantes ao bom governo
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naquelles princípios para que os rebeldes se náo poilesso
aproveitar de algum descuido nosso. A Francisco Coelho
de Carvalho a quem tinha enviado por governador do
Maranhão se detivese em Parnambuco com a gente que
levava, enquanto fosse necessário. A Mathias de Albuíiuer-
que que hia o Alvará em que lhe confirmava o governo
que tinha por sucecáo das vias com ordem de que assistin-
do em Parnãobuco governase o estado sem embargo da
provisão pasada sobre os governadores asestice na Bahya ;
com ella uma informação de Estevão de Brito Freire que
de parte de S.M. se lhe tinha pedido para que delia se aju-
dase. Entre tantos cuidados estava S. M. mais lembrado da
honra de Deus, e consolação daquella gente que de sua
reputação que tanto estima. Encarecia ao governador o
cuidado e deligencia, em prevenir que os rebeldes não es-
palhase algims livros ereticos, o que com maior encareci-
mento escrevia o bispo mostrando muito sentimento do
successo pelo particular que lhe tocava estimando o haver
se retirado para a Aldeã do Espirito Santo para recolher a
gente, e dar a todos novos brios.
A Antão de Mesquita eleito capitão mor da Bahya en-
comendava muito a guerra contra os rebeldes por todas
as vias para que não saise nem se aproveitasse do coisa al-
guma, trabalhassen por lhes queimar sous navios, c con-
servar o gentio se lhe não pasase. A. Marlim de Saã Ca-
pitão do Rio de Janeiro avisava que lhe mandava seu fdho
Salvador de Saã com um navio de socorro. Aos demais
capitães da Parayba e Rio grande avisava fazendo-os certos
destas prevenções. Com tantas ordens tão continuas de S.
M. e, vontade com que em seu real nome mostrava o con-
de duque pronto sempre a tudo o que se propusese, com-
petiam os governadores de Portugal com a execução pre-
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tendendo ajuntar gente e forças com que o rebelde enscr-
rado não saise de seus reparos. Aprestaram três caravelas
nomearam pesoas praticas, e de valor, D. Francisco de
Moura com titulo de capitão mor, capitães das outras Hie-
ronymo Serrão de Paiva, Francisco Pereira de Vargas. A
pesoa de D. Francisco de Moura abonou muito sua M. por
carta de 7de Setembro, a Mathias de Albuquerque que in-
viava por capitão mor do destrito da Bahya para alentar e
conservar a gente e fazer todo o damno ao inimigo, orde-
nando-lhe tratase juntos em Parnãobuco do modo com
que mais seguramente podese cumprir as instruções que
levava de maneira que sem dilação chegase com o socorro
ao lugar em que a gente estivesse recolhida donde podese
usar das ocasiões que o tempo desse de asaltar, inquietar
o inimigo, e impidir suas fortificações. Avisava como suas
armadas se ficavão aprestando para com o favor de Deus
sair na primeira monção. Repetia o escrito ja muitas vezes
da prevenção de mantimentos en toda a cantydade pocivel
para a gente que ahy desembarcnse, e porque era necesa-
rio que a de Parnarabuco e dás capitanias Espírito Santo,
Porto Seguro, estivese pronto para o que se oferecesse or-
denase que a gente nobre daquella capitania a do Presi-
dio das ordenanç^is da vila e do destrito que tivesem
armas e fosem maisa propósito para as tomar, estivesem
alistados e prestes repartidos em terços com titulo de mes-
tres de campo, ou coronéis, e em companhias com seus
capitães, sargentos mores e mais oficiaes para que os tive-
se exercitados. Ordenase que os gentios do Rio Grande e
da Parayba até o rio de S. Francisco estivesse naquella
capitania a 15 de Desembro armados de frechas para se
embarcar quando a armada chegase aquella capitania com
a mais gente d'ella dos navios que tivese juntos não dei-
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xando sair nenhum represando os que de novo chegSo alé
a chegada das armadas áquella paragem. Da capitania de
Seregipe delRei e das mais partes onde ouvese gados se
íisese toda a cantidade de chacina. Nas capitanias do sul
ouvese ordem para que em Janeiro seguinte de 025 estive^
sem caravelas e navios da costa com farinhas de guerra o
mais que fosse pocivel ; da de S. Paulo acodisem farinhas
de trigo, e porcos chãsinados o que tudo se levaria ãBahya
pêra provisão das armadas. O socorro que se enviase à Al^
dea do Spírito Santo para inquietar o inimigo se desposese
de modo que elle não se aproveitase dos frutos da terra.
A instrução de D. Francisco de Moura era que fosse
em direitura do Brazil ao Porto de Parnãobuco tomando
primeiro língua entre Parayba, e a Ilha Tamaracã por se
acaso naquella barra estivesen inimigos, conviesse com Ma«
thias de Albuquerque asentando com seu parecer onde roais
convynha desembarcar a gente e monições, advertindo que
Antão de Mesquita avisara que o socorro fosse de mandar
certo porto da Torre de Garcia da vila, e postas as embar-
cações a vista tirasem uma ou duas peças para que da ter-
ra fosse quem as metesse nelle. asentado tudo se partise,
e chegando ao lugar onde estava a gente unida chmase os
oíBciaes, e cappitães, e mais gente em presença do bispo
lhe deciarase como hia por cappitâo mor de todo o destri-
to daquella cappitania dando-lhes a carta de crença, signi-
íicando-lhes a comfiança que S. M. tinha de que mostrase
o valor que delles se esperava, tomase mostra da gente
portugueza, reconhecese as monições. dando armas aos
desarmados, vise o posto que tinha tomado se era cómo-
do para o efeito que se pretendia, e se parecendo-lhe o
mudase, conservase os dois coronéis que ia estavão nomea-
dos António Cardoso de Barros, e Lourenço Cavalcante nos
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ditos officios se entendesse que convinha a seu real servi-
ço elegese cappitáes dos que levava com patente do cargo se
conviese, procurase que os Olandezes se não comunicasem
com o gentio, deste se ajudase contra elles no queenten-
dese ser de efeito, conservase os negros para os empregar
no trabalho necesario, trabalhase por impedir-lhe as forti-
ficações que fasiam segundo se disia; e da verdade se in-
íormase do numero da gente que tinham, que monições,
que artelheria, quantos navios, os socorros que lhe fossem
vindo, o modo com que no mar e terra se guardavam, avi-
sando de tudo ao governador do estado para que as arma-
das ali achasen o aviso necessário. Encomendava-lhe a bôa
correspondência com o bispo pelo lugar que ocupava, co-
mo pela satisfação que tinha de seus procedimentos; de-
darase de sua parte as pessoas a que cometese alguma
empresa digna de se lhe fazer mercê, que cumprindo nella
o que se esperava lha mandaria fazer conforme ao que
meresecem, e constasse de suas informaçóis, e por ins-
trução secreta para comonicar somente com o governador
lhe ordenava que tanto que chegase ao destrito da Bahya
tirase em segredo huã de vaca da perda da cidade, e lha
inviase. Acontecendo que alguns Portuguezes o que náo
esperava, estivese com o inimigo trabalhase pelos reduzir
admetíndo-os em seu nome com algum elTeito honroso com
que mostrase o conhecimento de seu erro com aquella
mostra de arrependimento. Em H de Setembro lhe es-
creveu que tanto que fosse no destrito enviasse à Torre de
Garcia Davila huma pessoa pratica e confidente a que avi-
saria todos os oito dias de tudo o que com grandes deligen-
cias podesse alcançar do inimigo por mar, e terra para que
este avisase pelas embarcações que aly iriam, ou de Par-
nambuco ou da armada que disto iria advertindo para que
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tudo alcansase comacertesa necessária fazendo sempre os
despachos duplicados. A os vereadores e oflQciaes da ca-
mará da cappitania da Bahya encarregava muito asistise ao
cappitao mor D. Francisco de Moura cumprindo suas or-
dens com muito cuidado, e prontidão. A António Cardoso
de Barros, e a Lourenço Cavalcanty mostrava por carta
aprovar muito a eleição que de suas pessoas se fizera como
tinha entendido por cartas do Bispo d'aquelle estado, aven-
do por seu serviço continuase em o cargo, comprindo com
as ordens de D. Francisco de Moura, mostrando -lhes a
confiança que delles fazia. A Antão de Mesquita avisava de
como mandava a D. Francisco de Moura com o cargo de
que o desobrigava avendo respeito a sua idade, profição e
obrigações encomendando-lhe asestisse guardando suas
ordens. Foi acertadissima a eleição do cappitao mor, e
cappitães, como consultada pelos governadores de Portu-
gal que tanto se desvelam no real serviço de S. M. como a
todos é notório, e pelos mais ministros do conselho de es-
tado. Todas as pessoas eram de valor e experiência. D.
Francisco de Moura o tinha mostrado em ocasiões da índia,
e mares do Sul contra Olandezes, natural do Brazil. pa-
rente mui chegado do coronel Lourenço Cavalcanty, amigo
do outro António Cardoso de Barros, muito parente de
Francisco Gomes de Mello vesinhos de Pernambuco, pra-
tico das terras como de suas casas, Pedro Cadena morador
da Parayba, e ahi casado, todos conformes no desejo de
asertar ; a estes acompanhavam as mais pessoas, ou pra-
ticas naquellas partes, ou de tal experiência das armadas,
e melicia d'ellas que facilmente alcançariam a notícia ne-
cessária. Nisto e em tudo o mais fez S. M. a mercê a seus
vassalos de Portugal que moraçe atentando como os reis
antigos portuguez es por tudo tanto que sendo avisado do
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governa Jor por cartas de 18 de Julho (estando já D. Fran-
cisco de Moura cm Bellem para partir com aplauso com-
mum por estas conveniências) que ficava aprestando Fran-
cisco Nunes Marinho de esa para levar socorro a Bahya,
e servir nellà de cappitáo mor lhe aprovava a eleição pela
boa conta que sempre de sy dera aquelle cappitáo e expe-
riência que tinha da guerra, e a Francisco Nunes escrevia
o mesmo agradecendo-lhe o bom modo com que a isso se
despusera mui conforme ao que delle esperava, e ao pro-
cedimento com que sempre se ouvera en seu real serviço
encomendando-lhe asestise naquele destrito ajudando, e
aconselhando a D. Francisco de Moura. Em 29 daquele
mes avisou ao governador que a nàoS. Thomé que somen-
te aquele ano partira da índia entrara no porto de Lisboa a
a? e com cia a armada da coroa de Portugal que sem per-
der hora de tempo se apresentava, para se juntar á de Cas-
tella e fazer logo sua viagem. E porque aviam de tomar
aquele porto para nelle se reforçar, e refazer tomando a
gente que d^ahi podesem levar Portuguezes, ou índios, lhe
encomendara tivesse prevenido navios prestes para a levar.
Nos primeiros de Outubro se teve de Flandres aviso do
socorro de Olanda para a Bahya de que se fallava varia-
mente. Pelo conselho de estado de Castella avisou S. M. a
D. Fradique de Toledo que era de 6.000 homens com apres-
tos por em terra mil de cavalo. Ao governador do Brazil
por carta de 13 de Outubro que estivese com cuidado e vi -
gilancia, porque se chegasse primeira estesoccorro que as
armadas, o que náo parece pocivel, poderia intentar
aquelle porto, e se depois, poderia ser que achando os seus
sitiados delias trabalhase pelas devertir por este meio. Os
cuidados de acudir a este aperto não livravam d^outros,
oem ainda dos que paresem podiam dilatarse. Nosmes-
juMio. 48
— 374 —
mos dias a instancias de Francisco Coelho de Carvalho
mandava a Mathias de Albuquerque lhe desepor contado
sua real fazenda certas embarcações que pedia para a co-
monicação das cappitanias, e povoasõis do Maranhão, para
socorrer e avisa em ocasiões de guerra, e outras ocuren-
ciasi e se comonicar com a cappitania de Parnambuco
aonde àquele tempo estava. Partiu por aqueles dias Sal-
vador de Saâ de Benevides em hum navio com a gente, e
monisões de socorro a Martin de Saâ seu pai. Este e mais
socorros chegaram a salvamento, e foram de grande elTei*
to. As armadas da coroa de Castella se aprestavam com
muita deligencia, mandando S. M. âquella facção ministros
confidentes com novas comisões entre as quaes se signa -
lou muito na deligencia, e intereza Tomas de Ybio Calde^
ron veedor general da armada do mar oceano em quem
estão outras muitas e mui boas qualidades concorrem o
secretario Bartolomeu de Anaya não falando nos ministros
ordinários que costumam asistir àqueles aprestos. Nenhu-
ma inveja tinha a coroa de Portugal a estas ou a outras
algumas mostras que vassalos em algum tempo desem de
se abonar com estremos no serviço de seus reis. Porque
estando mui falta de dinheiro pelas guerras com que suas
alfandegas perdem a mór parte de seus rendimentos, com
os sucesos máos das armadas da índia tinha padecido muito
não vindo o ano precedente mais que uma mui pequena
naveta, e no presente uma náo deixado o trabalho fatal dos
passados. A fazenda real mui agitada ia de muitos anos.
Ao remédio de tanta falta prevenio a devina bondade com
animo e asistencia dos Governadores de Portugal que ven-
cia todas as defelcudades. E com a honrrada conpetencia
entre a cidade de Lisboa como em nome do Estado popu-
lar, com o eclesiástico, e nobreza. Fez serviço a S. M. de
— 375 —
lOOS crusados que foi grande esforço para o estado em
que estava e curtas rendas que tem pela piedade, justiça e
igualdade com que se governa sem opresão do povo que em
outras padece muito em excessivas imposisõis e alcavalas;
os senhores deram mais que o estado de suas rendas em-
penhadas permitia. Com quatro regras disia o mayor se-
nhor vasalo Duque de Bragança D. Theodosio, segundo
deste nome ao secretario doestado soubese dos governado-
res a quem se aviam de entregar vinte mil crusados com
que servia a S. M. o Duque de Caminha Marquez de Villa-
real D. Miguel de Meneses com quasi igual quantin. O Mar-
quez de Gastei Rodrigo D. Manuel de Moura Corte Real
com huma luzida companhia de mosqueteiros única na-
quelle exercito. O Duque de Villa-hermosa Conde de Fica-
Iho D. Carlos de Borja com soma de dinheiro de contado.
O Conde de Castanheira D. João de Attayde com semelhante
efeito significou sua vontade ; o Conde de Castanhede D.
Pedro de Meneses quiz mandar seu filho D. António her-
deiro de sua casa, o que por algumas duvidas e inconve-
nientes não ouve efeito suprindo este desgosto com sair de
sua casa a fazer gente que mandou à sua custa. Dom Pedro
Coiitinho cappitão geral que foy de Ormuz, Francisco Soa-
res fidalgo riquo, D. Pedro de Alcaseva neto do conde das
Idanhas, Constantino de Magalhais senhor da Ponte da
Barra, o correo mór de Portugal António Gomes da Mata.
acudiram com dinheiro conforme suas rendas avendo mui-
tas resois para não ser com as pessoas. Tristão de Men-
doça Furtado còmprio com ambas as obrigaçois por seu
braço, com hum navio grande à sua custa aprestado da
gente de mar, e guerra, artilheria e monisois sem soldo ou
reçáo da fazenda real. Os prelados impedidos por seu es-
tado a servir pessoalmente trabalharam por suprir com a
— 37C —
quafttia de diaheiro pocivel nesta católica impresa. O Ar-
cebispo Metropolitano de Lisboa D. Miguel de Castro de-
via de ver-se em grande aperto porque tudo o que contri-
buise era dos pobres possuidores de sua fazenda, modo
acharia para dar alguns mil crusado» que ofereceo ; o Ar-
cebisjK) de Braga Primaz de Espanha D. Afonso Furtado de
MemloDfça que bem tinha ajudado no lusimento a sea pa-
rente Tristão de Mendonçí mandou dar mil crusados ; o
de Évora D. José de Melo; o bispo eleito de Coimbra D,
João Manuel, o de Guarda D. Francisco de Castro, o do
Porto D. Rodrigo da Cunha, e outros prelados fidalgos que
me não lembra. Pessoas particulares se bem não chegaram
a ígualarr-se na cantidade de dinheiro com alguns senhores^
a respeito desua fazenda, nâo ficaram inferiores^. João Fer-
reira nomeado por S. M. em Provedor da fazenda do Bra-
zil, Domingos Gil da Afonsecca, António Alvares de Si-
queira, Manuel Dias Guedes, Afonso de Barros Caminha^
largaram o frete de seus navios, e por cappitães foram
nellesa Lisboa, com diferença que Domingos Gil dWfon-
secca deu com o navio fretes de vinho, biscouto pól-
vora e mosquete. Os filhos de Eitor Mendes, os mercado-
res italianos, os Alenlães, os homens de negocio do Reino^
os da nação franceza todos oontribuiram. Desta maneira
ficou a fazenda real em boa parte alyviada. Os sentores e
fidalgos de Porlugal poderam fazer gloriosa a- impresa en-
trando nella quando de si o não fora tanto e posto que cada
um delles foi emulo da verdade e não das pessoas-, estando
com tal animo que se não poderá facilmeí>tc dizer (|ual foy
o segundo.
Não se pôde negar que foi o primeiro D. Afonso de No-
ronha (|ue tendo ocupado os poslos de Portugal começando
por soldado na vhida dos iugteses sendo ja casado, por
í-
soldado na armada de Fernão Telles, por capitão almirante
da armada da índia, capitão geral de Septa, de Tangere, da
armada real de Portugal, governador do Algarve, eleito
viso rei da índia aonde navegava e achando-se naquela oca-
sião com so un filho D. Miguel de Noronha conde de Li-
nhares, cappitâo geral de Tangere casado com lilha herdada
de D. Pedro de Meneses e com filhos : e sendo de idade
posto que não tanto como parece mostram os cargos que
sérvio saindo do conselho d'Estado, de que he ministro anti-
go, quando chegou a carta de ElRei de de Agosto
entrou na casa do consulado, e recebendo pequeno soldo se
alistou por soldado para a empresa, exemplo uflo necessá-
rio para a disposição de animo com que estavam os mais
senhores e fidalgos, mas eficas para os abrasar quando frios
e esquecidos estivesen. O Conde de S. João Luiz Alvares de
Távora, podendo escusar a idade, e mandar António de
Távora seu filho herdeiro tendo poucos se alistou. D. Afon-
so de Portugal conde de Vimioso que não pode ser o pri-
meiro de Lisboa para exemplo de todos por estar na corte
em negócios e pertenções de sua casa importantíssimos foy
la primeiro a se offerecera S. M. e ao conde duque: o con-
de de Távora D. Duarte de Meneses moço casado de pouco
com a filha do conde de Faro, neto de D. Duarte de Mene-
ses, terceiro neto de D. Duarte de Meneses Viso rey da
índia, quinto daquelle D. Duarte de Meneses com conde de
Viana. Duarte de Albuquerque Coelho senhor da Cappitania
de Parnãobuco, Álvaro Pires de Távora, filho de Rodrigues
Lourenço de Távora Viso rey da índia, João da Sylva T«lles
de Meneses senhor de Avoeiras filho de Diogo da Sylva re-
gedor herdado, D. Henrique de Meneses senhor do morga-
do e casa do Bourisal, D. Álvaro Coutinho senhor da Torre
de Almorol, António Corrêa da Sylva senhor de Bolas, D.
— 378 —
Lopo 4a Cunha seohor iJe Santar, Buí de Moam Tdks âP-
nhí>r ^la Poroa e Mealha, D. António de CasleOiraiio se*
nbordo antigo morgado de PombeilD. Maitím Af^juso de
(Mirem senhor do morgado de Oliveira, D. Frandsco de
Portogai comendador de Fronteira, D. João de Sousa al-
caide mordeThomar, PeiirodaSrlfagOTernadorecapiMtfo
gerai que for da Mina, filho do Regedor Loorenço da Sjfn,
Luiz César de Meneses filho herdeiro de Vasco Fernandes
César provedor do Almaseis e armadas de Portugal, D. Bo>
drígo da Costa filho de D. Gileanes da Costa cappitáo que for
da Speta, do conselho doestado. Presidente do Paço, Pedro
César de Esa filho de Luiz Cezar provedor dos Almaseis,
Estevam de Brítii Freire, Nuno da Cunha, Hieronvmo de
Mello de Castro, Joáo de Mello, estes foram casados de qoe
me lembro náo falando dos ocupados em carregar. Dos
Síilteiros vieram a minha notícia António Luiz de Távora,
iilho herdeiro do conde de S. João, D. João de Portugal
filho herdeiro de D. Nuno Ah'ares de Portugal um dos go-
vernadores deste reino, cujo filho mais velho D. Luiz de
PortDgal entrava em religião na ordem de S. Domingos,
António Telles da Sylva que seu pai Luiz da Sylva do con-
selho doestado veedor da fazenda ofereceu com Joân Gomes
da Sylva seu filho primeiro, que por ocupações da Corte
náo foy na empresa. D. Francisco Luiz de Faro filho mais
moço do conde de Faro que na armada de Castella trasia
seu filho segundo D. Francisco de Faro com grande despeza
de sua fascnda, D. Afonso de Meneses da casa deCatanhede
herdado, D. Joáo de Lima filho do Visconde D. Lourenço,
Álvaro de Sousa gentil homen da boca de S. M. Alcaide mor
da Amieira, filho primeiro de Gaspar de Sousa do conselho
d^Estado, governador que foy do Brasil, Manoel de Sousa
Coutinho senhor dos conselhos de Bayáo, e S. Christovão
— .379 —
de Nogueira, D. Diogo de Vasconcellos e Menezes, e D.
Sebastião seu irmão da casa de Penela, Rui de Figueredo
fdho mais velho de seu pay, António de Figueiredo, e Luiz
Gomes de Figueiredo, seus irmáos, Lourenço Rodrigues
Carvalho, herdeiro de seu pay Gonçalo Piz Carvalho pro-
vedor das obras do Paço. D. Nuno Mascarenhas da Costa,
Sebastião de Saâ de Meneses herdeiro de seu pay, D. Lou-
renço de Almada herdeiro D. Diogo da Sylveira herdado D.
Rodrigo da Sylveira filho herdeiro de D. Luiz Lobo da Syl-
veira senhor deSerzedas eSovereira Formoza, e Fernão da
Sylveira seu irmão. D. Henrique Henriques herdeiro de
Alcasovas, Jorje de Mello filho de Manoel de Mello Monteiro
mor, Estevam Soares de Mello, Álvaro de Sousa. Francisco
de Mendonça Furtado herdeiro, Christovam de Mendonça
seu irmão. D, Álvaro Coutinho, D. Francisco Coutinho fi-
lhos do Marichal D. Fernando, Simão de Miranda, Brás
Soares de Sousa, o capitão Ruy Corrêa Lucas, Rodrigo de
Miranda Henriques, Pedro da Sylva da Cunha. António da
Sylva filho do chanseler Pedro da Sylva, Martim Afonso de
Távora filho do reposteiro mor, Manoel de Sousa Mascare-
nhas, D. João de Meneses, António Carneiro de Aragão,
Nuno Gonçalves de Faria filho de Nicolao de Faria Almo-
tacé mor, Pedro Lopes Lobo, António de Abreu. Fernão
Alvares de Toledo seu irmão, Gonçalo de Tavares de Sousa,
Joanne Mendes de Vasconcellos filho de Luiz Mendes de
Vasconcellos governador que foy de Angola, D. Diogo de
Noronha, João Machado de Brito senhor
António de Sampayo, D. Manuel Lobo, Ruy Dias da Cu-
nha, D. Francisco de Esa, Duarte de Mello Pereira com
dois filhos. Martim Afonso de Mello, e José de Mello, Lo-
po de Sousa de Santarém, António Pinto Coelho senhor de
Felgueras, Simão Freire de Andrada, Paulo Soares, Anto-
— 380 —
nio TaTeira. Henrkpe Corrêa da Svlva, Martim Carrea sea
írmáo, FrsDcisco Mana da Sjha, Garcia Velez de Gastei
branco* Donrte Péíioto da SjlTa, Pedro da Costa Traraços»
José de Souza de Samparo, e ootros que porqoe não vie-
ram á minha noticia, não faiando em outras pessoas mor
calííicadas de (acíl coosa de contar-se por não estaren ma-
trícjlados nos livros da casa real por seu descuido oo de
seos aTôs» oa algama rasáo particular. Os ocupados, D. Ma-
nuel de Meneses general da Armada, D. Francisco de Al-
meida Almirante, D. António de Meneses da casa de Villa
real c-ippitáo de infanteria, Tristáo de Mendonça Furtado
ca{)pítáo de Accabuseirosde quem falamos, D. Rodrigo Lobo
eappitáo de infanteria e de cm gabão, Ruy Barreto de Mou-
ra cappitáo de Mosqueteiros do Marquez de castel-rodrígo
de sua linhage, João Alvares de Moura, seu irmão maisve'
lho, Manoel Dias de Andrada, Constantino de Mello Pereira,
Domingos da Cimara capitães de infanteria estes casados.
António Monis Barreto mestre de campo do terço do socor-
ro, D. Álvaro de Abranches da Camará, Gonçalo de Sousa»
D. Sancho de Faro filho do conde de Vimieiro, Symão
Mascarenhas, Chrístovam Cabral, cappitáes de infanteria, D.
João Tello de Meneses, filho do gene ral capitão daCapitania.
A estimação que S. M. fez destes serviços foy mayor que
todo o merecimento, como significou por palavras nas car-
tas dos governadores mostrando-se satisfeito com encare-
cimento, ede seu cuidado, e assistência delles. da vontade
dos prelados, e do animo da maior nobreza de Portugal ;
nem foram menos as mercês, fazendo-a aos filhos cujos
pais falecesen na jornada, do que por elles vagaseda Coroa,
ou das ordens melitares. e aos que as não tivesem lhe fazia
equivalente. Mercê que depois ampliou por sua real gran-
deza declarando com palavras dignas de tam gram monarca
— 3S\ —
qiic era servido que onvescn efeito aquellas mercês posto
que a não mcrcsen, e porque não escapase algum de tanta
liberalidade por qualquer via, ou contingência. Morrendo
Francisco de Saã de Menezes em sua casa sem alguns ser-
viços que eu saiba quando seu filho Sebastião de Saâ 4e
Menezes ctiegou a ella da Bahya achou duas comendas que
negavam, uma delias de importância sem que para tam gram
mercê fossen necessárias petição, ou consultas, porque co-
mo os reis justos sâo no modo possível retratos de Deus na
terra quer S. M. seja seu governo retrato da providencia
procurando -lhe o Conde Duque tudo o grandioso sem al-
guma extrínseca lembrança. Estavam as coroas de Portugal
eCaslelIa, em continua competência ciosissimas do serviço
deEfeus, e de seu rey de sua real reputação nesta empresa,
quesemdavida foy das mais importantes por não dizer a
mais de nossos tempos. Do Conselho d^Estodo de Portugal
se pediam cm principio quinze galeões somente da armada
do mar oceano, abundante socorro para expunaç^o de uma
praça que como se cuidava os poucos bisonhos da Bahya
tinham enserradae S. M. vencendo a proposta por decreto
a seus conselhos quiz der mais com grande excesso, c a
pessoa de D. Fadrique de Toledo porque asy se abalase a
nobreza castelhana.
A armada de Castcllase dizia estar prestes para sair bre-
vissimamente fazendo isto muy crivei o não haver sahido
omtodo o verão, e tanto aporta aguarda necessária da frota
de Índias, e porque a resolução e afecto era muy conforme a
importância da empresa queria S. M. que a jornada fosse
até 20 de Agosto, e conformando-se com as consultas de
Portugal que ato 20 de Setembro para o que D. Fadrique
de Toledo com a sua armada que diziam estar aprestada
fosse a Lisboa sem dilação, vendo -se depois algumas de-
JUNHO 49
— 382 —
liculdades, considerado que era tempo muy conveniente
octubro resolveu S. M. que em 20 d'aquele mez partisse
com o que podesse levar de Portugal se a armada não es-
teve a ponto, como era de querer o que sentiria muito,
avia continues cercos com que se encarecia a prontidão de
huma, e necessidade de deligencia na outra, em huma de
28 de Setembro mostrava clara desconfiança dos aprestos
na de Portugal avendo verdadeiramente grandes deficul-
tades, chegar ao porto de Lisboa a 27, cançada a gente de
andar na costa todo o verão, apodrecida a enxárcia, gas-
tadas as velas esvaidosos navios, pedia S. M. lhe mandase
de Lisboa pilotos contramestres, guardiões, homens prá-
ticos nas costas do Brazil. Mas tal foi assistência dos go-
vernadores, de Ruy da Silva vedor da fazenda, Vasco
Fernandes César provedor dos almasens, e mais ministros
que isto apoyaram com seu cuydado que todas as deficul-
dades se venceram como S. M. mostrou por carta de 19
de Outubro agradecendo aos governadores o muito que
tinham feito; mudado já de opinião assentou que a armada
de Portugal saysse logo acharia a de Castella no Cabo de
S. Vicente, e noutro correio que não a achando no Cabo a
fosse buscar a Cadix. Fervia em Lisboa a obra, no mesmo
tempo se dava querena aos navios, se reformava a enxár-
cia, se faziam velas, se aprestavam mantimentos por outra
parte os pretechos para o sitio, pás, enxadas, machados,
picos, foucinhos, padiolas rodadas exportas ; no mesmo se
alistava a gente se faziam as pagas liberalmente, se ajun-
tavam as munições; outros ministros atendiam a embar-
rilar pregadura grossa e sorteada, taxas e estopares, es-
topa gran cantidade de breu, e mais cousas necessárias
para concertos dos navios na Bahya, indo tudo isto em
abundantes cantidades de que se valeram alguns navios da
I
— 383 —
Castella no que necessytavam e ficou muito no Brazil. A
escolha dos maatimeatos era com estremada deligencia
asestindo pessoas de confiança ao lavrar e embarricar o
bescouto, a carregação dos vinhos de preço subido, ao
fazer e compor as carnes de porco, e vaca que foram esti-
madas; atentava-se náo ao necessário, mas ao regalo,
amêndoas, pacas, assucar, farinhas, queijos de alentejo,
fora de resões ordinárias. Obrava Deus com as mãos dos
homens eíTeitos maravilhosos mostrando em tudo ser a
causa sua. O conde de Miranda executava o mandado de
S. M. mostrando notável cuidado, vigilância, e continua
asistencia, vesitando em pessoa os portos, persuadindo
com muitas palavras os moradores ao serviço de Deus, de
S. M. e recuperação da honra jà perdida ; accendeo a emu-
lação nos moradores de Viana lugar rico, e de gente nobre
de maneira qnasi viram notáveis exemplos vencer os an-
tigos gregos, e romanos. Máy nobre e rica que ofereceu
seu filho único em sua casa e em sua consolaç-ão ; conten-
das entre pay e filho qual se havia de alistar, alegando o
pay a experiência da navegação, o filho as obrigações do
pay, a sua casi, mulher e filhos, outro que impedido man-
dou seu filho de doze anos com vinte soldados á sua custa.
Vendo os governadores sua tenra idade o quizeram per-
suadir se tornase para seu pay indo a gente; respondeu
que não era aquella a mercê que de tan grandes senhores
esperava. Todos três irmãos de uma casa honrada se re-
solveram ir na jornada. Piedade injusta parecia o desam-
paro que se representava, força que ficasse huma dificul-
dade mayor de qual seria, tomase por meio a sorte dos
dados, foram dois João Ferreira e Diogo Ferreira, ambos
morreram servindo igualmente, desiguais no modo. João
Ferreira rendido do trabalho no apresto da armada nas
— 384 —
couâas tocantes ao seu oficio de provedor niór do exercita
da empresa e do estado do Brazil, Diogo Ferreira depois
de muito trabalho no mesmo oficio no Gabo Verde e na
Bahya o espera uma bala de artilheria estando com a sua
companhia de guarda nas trincheiras.
Grande falta para meneo das cousas, grande pêra o ge-
neral que nelle descançava, se pode chamar-se falta a per-
da de tal pessoa, grande lastima para sua casa. Sendo Via-
na dos mais nobres lagares de Portugal, e de taes exem-
plos, merece verdadeiramente particular memoria, man-
dou três navios e tresentos homens de mar e guerra entre
elles pessoas muy principais, João Ferreira, Diogo Ferrei-
ra, Gonçalves Lobo Barreto, Afonso de Barros Caminha,
João Casado Jacome, Bento do Rego, capitães deinfanteria
D. António de Lima, João Barboza de Almeida, Manuel
de Lima, Francisco Pedroso, Bernardo Velho, Boto, Ma-
nuel Caminha Corrêa, João de Govêa Corrêa, António Pin-
to. Manuel do Rego, Jacome da Silva, quatro filhos de
Pedro Velho Travasos, António de Morim Serrão, João
Barbosa, Diogo Jacome Beserra, Domingos Ferreira, Bel-
chior Preoles, Thomaz Fernandes, Fernando Munhos Cor-
rêa, Gabriel Fajardo Beserra, Valentim de Sousa, Domin-
gos Pereira Jacome, Domingos Borgueira. Bento Rangel,
António Branode Távora, Simão Salgado capitão de um
patacho, Manuel Dias, Manuel Faria, Gaspar Maciel, Lou-
renço de Amorin, António Borges Pacheco, António Ve-
lho Gondim. Afonso do Porto, Manuel Corrêa Jorge Pin-
to, Jacinto de Alpoim, Gaspar Lisio, Baltasar Sisio Cogo-
minho, Luis Pinto Pedroso, António de Magalhães, Simão
Fagundes Jacome. João da Rocha Fagundes, Estevom Ro-
drigues da Rocha a que as oi'dens sacras não tiraram o ai)e-
tile das armas, cappelão no exercito.
I
— 383 —
Sayo (lo Porto junta esta esquadra de dez navios á ordem
tle Tristão de Mendonça Furtado, e em Lisboa desembar-
cou muy lusida gente. O trabalho e cuidado do Conde de
Miranda neste bom serviço o estimou S. M. e muito, e
mostrou por carta que lhe escreveu em 2o de Novembro-
Fez-se toda a armada á vela no Porto de Lisboa com alegria
commua, esperanças em Deus de bom successo, segunda fei-
ra pela manhã 18 de Novembro dado fundo em Bethiem se
deteve para acabar de recolher a gente, e aperfeiçoar alguá
coisa se faltava como se acontecer em outras de mais bre-
ve jornada, ate 22 estando aquela manhã os governadores
em sua falua para desamarrar a capitania se levantou supi-
tamente um vento nordeste, lesnordeste furioso que cau-
sou novidade nos mais práticos marinheiros. Disse D. Ma-
nuel de Menezes que lhe parecia não convynha desamarrar-
a armada com tal vento, porque se não podia dobrar o ca-
bo para ir na volta de Cadix, nem nelle espe-
rar pela de Castella porque em 24 horas desaparelhariam
os mais navios que eram de particulares de velas, enxárcias
desporporcionadas aquelle trabalho, nem pairar por serem
alguns velhos, e mil tratados sem risco notável de se per-
der parte da armada, ou derotar. Como a. necessidade era
tão urgente em cousa tão essencial, e por outra parte eri-
tava os sentimentos da delação, o ver podia sair D. Fadri-
quc( posto que vulgarmente se disia que estava de vagar,
não faltando resões para se diser) ou menos cncobriase
aos olhos o efeito da-deligencia que em Liboa no apresto
da armada se fisera, começaram os governadores a entra-
em novos pensamentos se averia porto en que esta armar
da esperasse a de Castella, das Canárias se desenganaram,
fallouse em Cabo verde, ouAe pessoa que com grande vay-
dade se mostrou practico naquellas ilhas Jumtaram-se alguns
~ 386 -
pilotos e mestres, D, Afonso de Norona, D. Manuel de Aíe-
nezes, com os governadores, assentou que a de mayo tinha
porto capas de todas as armadas, abundantissima de carne,
fructa, regida de Ribeiros de muy boa agoa. Bera se pode
esperar de taes pessoas os condes D. Diogo da Silva Doa
Diogo de Castro qualquer grande resolução, mas ordem
ílivina foy digníssima de hum gran discurso que naquella
hora se resolvesse fora do regimento real a que a armada
fosse naquella volta. Mandaram a Luis Falcão que estava
presente fisese novo regimento em nome de S. .M se man-
dava a D. Manuel de Meneses que consideradas as circuns-
tancias se fizesse á vela em demanda das ilhas de Cabo
Verde e nellas esperase por D. Fadrique de Toledo.
Estou como com anciã desjando chegar a estas ilhas não
para descançar do trabalho de escrever, he a leitura breve
posto que cansativa, meuda esecn conforme a o nome en-
talada entre os limites rigorosos da verdade que muitos
verão e espreytarão sem me poder chegar a elles, tanto
menos passalos com discursos ou praticas, compostas para
deleitar os delicados ouvidos deste tempo, que tudo o ai con-
denam, mas por apregoar as misericórdias de Deus, que
violentou a vontade dos que a receberam acertos guiados
por sua divina bondade tommdo por instrumentos delles
aos orados discursos humanos, temerários atrevimentos ;
perturba este gosto e sucesso un galeão, dano de amigos
perda de muita gente que miseravelmente se afogou. Por
atalhar a tanto fastio me pareceu grande trabalho copiar
aqui alguns capítulos de cartas que D. Munuel de Menezes
escrevia a S. M. em que lhe dá conta do sucedido. Esta éa
primeira ; Foi Y. M. servido por muy justos respeitos que
para isso ouve de me mandar que com esta armada viesse
as Ilhas de Cabo Verde. Logo em chegando despachase uma
^
— 387 —
caravela com aviso de ser chegado. Parti a 22 de Novembro
com vento nordeste rijo, e se nessa costa cursaraip os
tempos que passamos, juigaram os práticos por mercê par-
ticular de Deus a resolução dos governadores, porque
depois que o nordeste esbravejou cinco ou seis dias ame-
açou o vento deste que vareou pelo sul com choveíros no
lugar em que estávamos surtos muito para temer na estação
do inverno, e deixado o perigo que corria nesta armada, se
iria com tanta dilação desbaratando, e inpossibilitando
como o esperar no Cabo de S. Vicente era a total mina, e
não pequena a detença em Cadix se o tempo fora para to-
mar aquelle porto, aonde avia de aver inconvenientes, e
desmanchos, se aly nos entrase o inverno ( o que bem se
pode presumir pois até oje não chega D. Fadrique de Toledo
que estava prestes para partir conforme sua carta cuja có-
pia envio a V. M.) correr esta armada muitos riscos, tantos
navios juntos os mais de particulares pobres, mal apresta-
dos de ancoras, e amarras. Vim com mayor cuidado nesta
armada do que nunca tive noutra porque como se mormu^
rou que alguns destes navios oferecidos a V. M. traziam ne-
gocio e mercancia, como se me apartavam, os dava por
derrotados, o que agora me alivia suspeitando que alguns
que me faltam estarão em Parnáobuco. Chegamos a 28 á
Ilha da Madeira, e a 7 de Dezembro avendo navegado com
vento mais brando, mas de chuveiros nos posemos na altu-
ra de Tanarife e passamos por entre ella e a Palnia achando-
nos em 10 muy perto da Ferro, Aqui começaram alguns
navios a descuidaren-se da vigia apartandose nos muito
por uma e outra banda a almiranta, esperava por todos a
cappitana. Faltounos a caridade, que achamos desveleyados
até que se entendeu não podia ficar por popa. A 14 indo a
cappitana com pouco panno passou a Conceição veleyaía
— 388 —
ao tope adeantando-se de maneira que de tarde estava a
vista, c não vimos mais. Outros navios perderam o farol c
se nos náo ajuntaram posto que navegamos contra aquelle
mesurado, escuadeira somente, sofrendo por esta causa
grandes balanços, A 18 em que dizem se perdeu a Concei-
ção passou a cappilana por altura de 16 quarenta Icguas
pelo meu ponto a lesnordeste da Ilha de Maio e a desenove
por quinze e un terço, dose legoas da ilha. As duas depois
do meio dia se nos mostrou uma sem aver piloto nesta
cappitana que a conhecesse e da armada uns diziam que era
a do Sal, outros a de Mayo, podendo ao que mostrava a proa
passala por barlavento, temendo alguns baixos nos Azemos
antes da noite ao mar noutra de sudoeste, por náo descair
com os mares que eram grossos voltamos antes da meia
noite a noronoroeste. Levado o sol nos ficava como quatro
léguas, tanto descaymos naquella volta. Vendo-me aquila-
vento fui de ló tudo o que putie, comtudo ao meio dia ja a
não viamos achando-nos em quinze graus e meio. Conside-
rei os erros das cartas e padrões de Portugal, quam neces-
sário he haver quem as emende para que se navegue sem
perdições desculpadas, chamei caravelas para me informar
de outros navios que vinham aportados, mas afora ser o
tempo tromentoso estavam muy longe e náo acudiram.
Aquela tarde vimos a ilha de S. Thiago que os pilotos desta
cappitana opondo-se ao que un dizia afirmaram com jura-
mentos que era fogo que dizian reconhecer por certos sínaes
e todos fíilços. Fomos toda a noite correndo com tromenta
fazendo escassamente o caminho de Noroeste posto que
apontávamos quasy ao Norte. Na manhã de 21 bem levan-
tado ja o sol e estando ja mais brando o vento se nos che-
garam alguns navios e uma caravela, aconselharam que nos
fizéssemos na outra volta do sueste ; indo nesta largamos
I
— :)89 —
vela de gávea e por puro descuido, e depois por teima de
algufis se nos quebrou o mastareo grande, e juntamente o
gariindeo com que ficando sem remédio de bolinar. Indo
com aquella proa vimos a do Fogo ao Sudoeste, e se serti-
ficaram q ico era, o que me foy de grande alivio, porque jà
me requeriam que fossemos a Parnãobuco pois era o ven-
to geral, e estávamos aguilavento de tudo.
Foi Deus servido que alargasse o vento quando com
menos esperança estavam, sem vela de gávea, ultima
desesperação, e podemos ir alessueste com que nos che-
gamos ao abrigo da ilha que já tínhamos perdido. A 22
estivemos perto de terra, e nos chegou a caravela de Mon-
tearey o que eu tinha enviado diante a pedir piloto, e me
deu a triste nova do naufrágio da Conceição na liba do
Mayo ainda estavam muitos dos nossos navios, e no Porto
de San Tiago a caravela de Sebastião Marques mandado
sondar ao longo da costa para surgirmos, e sem ordem se
fora ao porto. Também soube que ficava aly a caravela de
Cosme do Couto que a nossa partença ficou nesse porto
de Lisboa. Despachey logo ao governador Francisco de
Vasconcellos mandase uma ou todas as caravelas para acu-
dir à perdição da ilha do Mayo indo tudo a ordem de João
Coelho da Cunha cuja é aquella ilha, c me tinha escrito
oferecendo-se a V. M. com sua pessoa fazenda, bois, carros
e escravos. Terça-feira 24 surgimos neste porto da Praya
duas legoas para a parte de leste de San Tiago guiados por
um piloto da ilha da Madeira o mais pratico dos que na-
vegam aquellas ilhas, que estava nesta acaso com seu ne-
gocio, e trato com uma caravelinha no porto de San Tiago,
e sem elle mal poderamos escolher este de que lhe mandei
passar certidão. Chegados ao porto que desejava não posso
discorrer brevemente no modo com que Deus nos fez tanta
lUNHO. 80
- 390 —
mercê e apesar de tudo o que se ha de amplificar deve ter
principio no de menor para caminhar ao de maior consi-
deração, aqui onde tudo é maravilhoso escusado fica qual-
quer género de artificio. Náo estava aprestada a armada
de CastQlla tam adiante como se pensava, antes atrasada»
que se a de Portugal fora a Cadix se pôde ter por certo,
como muitos intendentes da matéria confessaram que nem
muitos dias depois que partiu podia partir. Foi a delibe-
ração, e saida delia humas esporas e aguilhão, causou
pensamento de que poderia achar-se naquella empresa
(não se tinha tanta opinião da força do inimigo antes a
comum juizo não seria achado no Brazil ou é que o receo
tudo facilita) uma viva emulação ourada inveja que obri-
gou aos ministros vencer grandíssimas dificuldades; se
D. Fadrique tardava não avia sair depois pela nova de que
Inglaterra se armava contra Espanha com grandíssima
força perdia-se tudo raetendo-se tempo em meio
o gentio ir constante ao ardiloso Glandes a gente vinda da
Bahya com esperança próxima de grau socorro se susten-
tava; se o inimigo não quisesse degolalos, ou desalojalos
cahyaem necessária desesperação. O inimigo se fortificava
mui á vontade com os materiaes, pedra, vigas, e tudo o
mais que os edificios do Carmo, e San Bento lhes dariam
largamente, desmantelando-os quando se não quisesse can-
sar nos matos, e nas canteiras, chegando-lhe socorro, na-
vios de força, artilheria, munições junto ao que tinham,
deixando presidiada a praça entrava hum exercito pela
terra dentro para o que tinha pequenas peças de campa-
nha commodos encavalgamentos, pistolas, peitos, espal-
dares, selas bridas ; conseguia todo seu intento. Toda esta
maquina andou sobre este couce de sayr a armada Portu-
gueza, todo o movimento deu aquella resolução dos go-
%
— 391 —
vernadores, nem parece foi acaso a súbita fúria dos nor-
destes não è temeridade dizer que tomou Deus aquelle
meio para que saisse. Os pilotos que facilitaram tudo ofe-
recendo portos, nada sabiam ; foi necessária sua ignorante
temeridade ; se tiveram noticia certa da ilha de Maio, não
aconselharam que se buscasse porque é estéril, provida
somente de cabras danosissimo mantimento pira gente
acostumada a outros diferentes ; de nenhumas frutas de
nenhum regalo, de nenhum morador senão de alguns ne-
gros do senhor delia que assistem a um pobre feitor para
matança deste animalejos de que as peles é o principal
proveito, ainda que pouco. Nos rios, nas fontes, que fin-
giam se enganavam. No porto não ha agua; a da pobre
ilha é como lago detido, por larguissimo caminho apartado
da costa em que se havia de surgir. Aly se consumira a
gente com descomodos, sedes e fomes, de que se lhes
avia de causar grandes doenças, o que parece Deus quis
atalhar não permitindo que a cappitana estando por bar-
lavento da parte em que avia de surgir dese fundo nella
fazendo que os pilotos práticos a não conhecessem, como
também não quis que fose surgir ao porto de San Tiago
aonde vão ordinariamente os navios marchantes, porque
indo aly não ouvera de ficar ancora nem amarra nos primei-
ros dias que se detivesse. Quis S. Divina Magestade asy
parece, mostrar o ultimo trabalho perdesse esta nào o gar-
lindeo, e mastareo íicando-lhe jà o porto por barlavento
para, mudando os ventos geraes, aproveita ndo-se dos se-,
gredos de certas horas e marés que nenhum dos da ar-
mada conhecia, aonde em muy bom fundo de poucas
braças esteve aqueila armada sem perda de amarras de
que hia mui falta. Acharam-se bastantes regalos, galinhas,
frangãos, capões, cabritos^, leitões, limas doces, cidraèi, li*
~ 3íh2 —
móes, laranjas de toda a sorte excelenles, muito e mui bum
peixe que pescavam, muitos porcos, vitelas mui gordas,
carne de vaca gordissima a preço mui baixo, muito arroz,
manteigas, fructas de muitas sortes, uvas, . figos, melões
cocos, ribeiras de agua, posto que distantes, mas naquelie
porto hum pouco inexbasto de que alguns dias depois se
soube por experiência ser de mui boa agua para a armada,
assentando-se brevemente, tenha de que sem trabalho ou
custo se proviam longamente, parte emfim em que se po-
deram ir fazer chacinas para as armadas, em que com
muito paze saúde esperou cincoenta dias por D. Fadrique.
Aqui chegou João Coelho que enviei à de Maio cora
gente e petrechos na caravela de Cosme do Couto, para ti-
rar a artilheria ao que tudo se oppunha alegando impossi-
bilidades : com o vento rijo arribou ao terceiro dia. Man-
dei logo a de Monteroyo o que levava mestre mui experto,
e mui boa pessoa ; esta também arribou tendo vista de hum
pataxinho, vinha este de Guine, e era do governador ; e
porque o vento se levantou tromentoso não houve remédio
que esperar abrandasse algum tanto. Tornou em 4 de Ja-
neiro levando João Coelho, e Egas Coelho seu irmão e o
auditor geral deste exercito que com mui franca vontade
se ofereceu, e afirmo a V. M. que é pessoa notável mere-
cedor de muitas mercês que V. M. lhe fará quando vir seu
procedimento ; foi com elle João do Loureiro seu primo
que seguio as letras em direito civil, e é muito para as ar-
enas, e me parece será de importância para as armadas, o
que permiti, posto que o auditor leva ofícios, a que con-
vém assista, persuadido convinha muito ao serviço de S. M.
ver tudo com os olhos, o estado da nào, o logar em ((ue
se perdeu, a possibilidade de lhe tirarmos a artilheria e se
informar de outras cousas. Terra feira 7 do me? abran-
I
— 393 -
dando a brisa tornaram com muitos aprestos, artilheiros
dos melhores e outros homens do mar todo a ordem de
Francisco Duarte, mestre do navio em que vem Tristão de
Mendonça, e neile tem parte Tomé de forças, saúde, expe-
riência, e notavelmente desejos de entrar no serviço de
V. M. havendo-o ahy por bem Tristão de Mendonça que
para este efeito mo largou oferecendo o navio e sua pes-
soa. Partiram às oito da noite chegaram no outro dia á
tarde. Terça feira 14 do mez chegou aqui o auditor, fican-
do lá toda agente com mui boas novas da artelheria dei-
xandohuma peçaenterrada.huma naprancha,e outra para se
meter nella. Naquelle dia terça feira mandei Heronymo de
Gouvea mestre desta cappitania, bom marinheiro e de mui
boa resolução que se me ofereceu, e a meia noite pouco
mais chegou aqui com dois carretois que avia na cidade.
A 15 do mez foy Monteroyo, e Couto com petrechos de f
novo e mais gente e porque as caravelas se fizeram á vela
sem levar hum batelão necessário para que com mais faci-
lidade SC tirar a artilheria. nem poderiam quisais por ser
pequenas e estar a de Couto aberta pela aguada desta ar-
mada em que assas se trabalha ; foy necessário mandar
hum patacho capaz de trazer a artelheria que já agora com
ajuda de Deosem gran parte estará tirada. Não foi a ca-
ravela de Marques que é grande é possante porque
Isto 6 o que passa até agora 16 de Janeiro de 1625.
Pela devasa que envio verá V. M. como passou a per-
dição do navio, e afirmo a V. M. que me vejo era aperto
no que escreva; estou magoadissimo de tamanha perda
sendo tal a ocasião que carrega tanto sobre mim, e avendo
que não foy c>ausado o mal por algun dos desastres que no
mar aconlese, senão por pura fraqnesa e inhabilidade de
homens mandei prender o mestre e o piloto
— 394 ^
Esta é a verdade do caso, mas por outra parle se hade con^
siderar qne não tem aqui logar malicia humana para suspei-
tar que deixasse os oíBciaes deiigencia alguma para livrar
o navio do perigo, é desastre que a muitos pôde acontecer
e a mim a quem o tempo tem ensinado muito a minha arte.
Estavam naquelles dias aquellas ilhas mui cobertas de né-
voa, como estão gran parte do anno, não se vendo que de
mui perto. Corre aquella costa em que o navio se perdeu
quasi noroeste e sueste, o vento nordeste rijo; pela proa
que levava bem se cuidava podia costear livremente ; em
verdade que digo a V. M., o que entendo como se com os
olhos o estivera vendo, indo com esta intenção apartados o
que pareceo necessário, viram de longe romper os mares
pela proa. o que não foy crido pelo piloto, porque não
esta nas cartas a restinga tanto ao mar, nem os roteiros
a dão tam afastada da costa ; com tudo se fez na volta do
noroeste, e como os mares eram grossos e o vento pesado
voltou-se en roda e com isto se chegou o navio mais a
terra aonde se vio metido em novo trabalho com outra res-
tinga pela proa, valeo-se do remédio que o tempo dà, sur-
gio com huma ancora, e depois com duas juntas. Nada
lhe valeu, como naturalmente em costa com tal vento não
podia contrastar ao perigo, engenho ou arte humana ; se
convinha mandar sindar com um batel, de que ató para se
salvar fugio a gente entre taes ondas descorrrera os que
estamos fora do aperto. Vi valentes descuidados em se-
milhantes trances, de outras cousas mais fáceis. Vi desa-
parecesse o leme muito antes^ de dar a costa, faltar-me
quem fosse cortar as boisas, a entena do traquete
faltar que fosse buscar as amarras com que a meu pesar
queria surgir, salvar-se os pilotos, e marinheiros em hum
batel, deixando-mc na nào, inteira, e sem tocar; a nin-
■0
— ;i9.j —
guem castiguei tendo jurisdição de V. M. para o fazer em
casos de maior crime a2 de Janeiro de 16iS o titulo
deste livrinho oferece contar algum caso particular quando
delle se podem tirar avisos para semelhantes ocasiões e
proveitosas ensinuanças. Posto que todos os fidalgos neste
naufrágio por diverso modo fizeram seu dever é necessá-
rio tomar delles por mostra dos de mais. e assim approvo
muito o procedimento de D. António de Meneses, naquello
aperto náo inorando que gloria et virtus infensas habet ui
animus ex propinqtw diversa arguens; fiou-se no galiio de-
liberado ajudar a salvação de muitos, com huma constância
digni de imitar-se em transe semilhante. a onde o amor
próprio perde tudo, e alguma vez a mesma vida, que ar-
riscada a honra mais estima. Deixey esta carta para ultima
e remate de contas de nossa artilheria. Feitas as deligen-
cias entendi que o cuidadoem que a gente estava de que
podia chegar D. Fadrique e acontecer ficarem-se na iiha,
seria causa de se apressarem deixando parte da artelheria
mandei de novo mais gente do que me pediam assegdran-
do-os por minha palavra esperaria por todcs confiado em
que não havia Deos de permitir que olandeses que breve-
mente aportaram naquella ilha para carregar de sal como
costumam se aproveitasem de tam boa artilheria triumfan-
do de nossa desgraça. Fez no S. D. M. mercê em três de
Fevereiro as três hora» e mea depois do meio dia nos che-
gou a caravela de Monteroyo, com as ultimas peças, repa-
ros, e algumas muniçois. Cuido que mandando somente
entre tantas impossibilidades que me punham, e geral de-
sesperação tenho trabalhado muito , mas nem com
isto encaresse bem o que fez aquella gente que o executou
por serviço de V. M., sem declararas circunstancias. He
aquella costa brava de grande ressaca de mares mui levan-
— 396 -
tados neste tempo, o vento travesáo muy rijo sem abrigo
algum. Estava o corpo do navio combatido dos mares.
mas entrado delies que quando a gente se sayo por não
perecer miseravelmente. Entrou esta vencev o temor, ron-
peu as ondas pondo as mãos ao trabalho. Tirava-se com
muito perigo a artelheria porque estava mui encostado.
As pranchadas em que devia de vir a terra sobre serem
trabalhosas de ordenar vinham com risco grande de se vol-
tar como a conteceo a huma das primeiras com perigo dos
que nella vinham. Na praia depois de passados no mar ar-
recifes perigosos, os espera não huns medões de área solta
e fdnda deficeis de passar por gente não ocupada. Daly ao
lugar onde estavam as caravelas o pataxo avia quasy três
legoas que se passavam com dificuldade e vagar por falta
de carros e de boys que eram seis somente. Depois de
tirar a artilheria estava a gente tam pronta a despresar pe-
rigos que sulcavam os mares espreitando o fundo para ti-
rar duas peças que o navio alyara antes de surgir, e ven-
do-se hum sembrante não faltou quem mergulhase e reco-
nhecesse que era fuste de huma ancora. Salvou-se tudo o
que se achou, e logo como levaram por regimento, recu-
peram o costado, entraram no payol do mestre, tiraram
velas, moretes, paveses, archotes de cera, fio, pregadura ;
dos camarotes fazenda dos particulares, e com tudo se re-
colheram a esta armada, João Coelho da Cunha assistio com
sua pessoa, escravos, e boys, sustentando muitos dias ses-
senta homens, matando-lhes seus gados com largueza mui
conforme ao zelo que de principio mostrou pelo que merece
que V. M. lhe faça mercê de o honrrar. Ao outro dia terça
feira 4 do mez estando escrevendo esta chega huma fragata
de S. Lucar, me dá novas que D. Fadrique de Toledo sayo
ha 22 dias de Cadiz com sua armada, que por esta conta
— 397 —
foy a 14 de Janeiro, e jà nos não toma de sobresalto. Que-
ria eia quanto a de Portugal espera a deCastelia entáo com-
modo porto contra os sucessos das armas olandesas por
mar e terra, mas foy táo exessivo o trabalho que nâo ouve ^
logar que para padeselo. C ontudo posto que anteponha,
ou propunliam injusto será ficar em silencio. E se revelas
hey por relações que tive sem obrigar nelas o escrúpulo
da certesa com que escrevo. A folhas 27 de Julho de 624
sayo Jaques Guilhelme da Bahia com onse nàos bem arti-
lhadas da armada em que fora general, destas se nâo soube
mais que tornar-sc pêra Olanda com carga de sal; nâo le-
varam mais gente que a do mar. A seis de Agosto sayo
outra esquadra de seis navios, e dous pataxos com pouca
genla de guerra tirada das companhias que ficavam na
Bahya. Nesta foy Pedro Perez almirante da armada na
volta de Angola aonde chegou a 30 de Outubro deixando-se
estar à vista da Loanda 30 dias. Tudo estava prevenido
por aviso de S. M. e socorro que os governadores de Por-
tugal, tinham mandado com Bento Banha Cardoso, e pelo
cuidado, e assistência do novo governador daquella pro-
vincia Fernam de Souza que entáo chegara ; feita presa de
huma náode Sevilha, e outros dois pataxos de pouco porte,
sem dano seu, e ainda sem riscp se fez na voltada costa do
Brazil, em Março de 62 S entrou no porto do Spirito Santo
de que aquella cappitania toma o nome de que era dona-
tário Francisco da Guiar Coutinho que a governava. Que-
ria Deus livrar esta província de piratas estando aquelle
porto sem força falto de munições se achou nelle acaso Sal-
vador de Saâ de Benevides que tinha ido de socorro ao Rio
de Janeiro, e seu pay Martim de Saâ a mandava com duas
caravelas e quatro canoas a socorrer a gente unida da Ba-
hya, dizem, com duzentos homens brancos e Índios de
JUNHO. 5i
/
— 398 —
arcabuses e frechas. Juntas as forças sahiram a encontrar
o inimigo o que apregoando paz em altas vozes hyam mar-
chando pêra o lugar. Não lhes pareceo aos nossos bom
partido a escaramuça de arcabuses, de gente pouco practi-
ca, e de frechas tiradas por índios que tenho por causa de
nenhum efeito em corpos vestidos, contra cento e vinte
mosqueteiros que o olandes levava. Mas com resolução
portuguesa aproveisando-se dos melhores frecheiros os
envestiram a espada com tanto valor, que deixaram o posto
fugindo sem ordem, largando mosquetes faltos de animo
para empunhar a espada. Com despojos se recolheram os
nossos à povoação, e elles com sua afronta feridos, e es-
pancadas as suas lanchas, com perda de vinte cinco homens,
mortos no primeiro encontro. O dia seguinte sentindo uma
emboscada eni que Salvador de Saâ os esperava não ousa-
ram tentar fortuna, nem poderam escapar de suas mãos
pelejando no rio de uma barcaça, e duas lanchas, e o Saâ
de suas canoas com que os poz em fugida tomando-lhes
hmna, escapando outra com o remo empunho. Morreram
querenta do inimigo fora os feridos. Esta esquadra foy na
volta da Bahya, e achando nella a armada catholica fez sua
derrota para o norte passando a vista de Parnambuco a
quatro de Maio.
No destricto da Bahya ouve por este tempo muitas mu-
danças de governo. Antão de Mesquita foy eleyto em se
unindo a gente, por capitão mor para acudir a que o ini-
migo não sayse da cidade facsão de que nas relasões se faz
gran caso, e por ventura deu ocasião a grande trabalho, e
maior risco como se vera. Sendo asy que por muitas in-
quirições que depois se tiraram e me vieram á mão contou
que com pena de morte era proybido nenhun saise dos
marcos da cidade, e por esta conta os que sayam era gente
(k pouca consideração, e desobediente. Com o novo go*
vernador foram eleytos cappitáes. Lourenço Cavalcanti de
Albuquerque, Lourenço de Brito» Diogo da Sylva, Belchior
Brandão, Belchior da Fonseca. Francisco de Barbuda. Mas
vista a impossibilidade de Antão de Mesquita por idade e
achaques os oiliciaes da camará que residiam em Pitanga
termo da cidade elegeram dois coronéis, Lourenço Caval-
canti e António Cardoso de Barros pessoas naturaes da-
quellas terras sem nenhuma consciência a cujo cargo es-
tivesen as cousas da guerra, e neste tempo deviam os ve-
readores a modo de sisma de eleger por capitão mor ao
bispo que deixada a aldeã do Spirito Sancto em que resi-
dia, se mudou para rio Vermelho huma légua da cidade,
porque em huma carta de 12 de Setembro em que Antão
de Mesquita dá novas ao capitão Malhias de Albuquerque
de ser chegado o capitão mor Francisco Nunes Marinho
fala como apaixonado e resentido alegando muito o que
mereceu ao serviço deS. M. na paciência com que desimu-
lou os agravos que recebia do bispo, a quem carrega muito
com synonimos gramáticos de ambicioso, se queixa do
ódio que lhe tinha mui antigo por resáo das contendas com
a relação sobre querer uzurpar a jurisdição real. Mas foy
este prelado excelente pessoa, e aquella relação se extin-
guio por ordem de S. M. Deixou este valeroso prelado
crescer a barba, vestiu roupa de burel por baixo do joelho,
chapeo de abas grandes representando nas acções das armas
hum grande general, hum exemplo de vida na modéstia,
com hun cruz nas mãos santo do ermo. As armas de suas
bandeiras, era a ditosa arvore em que o filho de Deus mor-
reu por nós. xYjuntando a gente achou mil e quatrocentos
homens brancos, e duzentos e cincoenta indiosque lhe asis'*
tiam com muito gosto, c cuidado, o que depois da sua morte
^ 400 —
mudailo tudo não foi asy. Aquartelouse cm rio VermelliO/
ordenou trincheiras de terra, e faxina com seus traveses,
plantou em certas plataformas seis peças de artilheria. seis
roqueiras três falcões, com que tudo ficou a seu parecer de-
fensável da forçai com que o inimigo poderia acocmeter
deixando o presidio da cidade. No traballio da pa e da en-
xada era o primeiro exemplo. Deste governo que durou
quase quatro meses tive algumas relações muito meudas
de morte de alguns olandeses que se desmandavam, de ou-
tros que sayam a buscar alguma i^es, ou a lavar sua roupa,
de alguns assaltos ora no rio ora junto a seus reparos da ci-
dade. Assinalavase nestes o capitão iManuel Gonçalves, e
com particularidade o capitão Francisco de Padilha natural
do Brazil que trasia sua origem de Portugal. Sayo a 15 de
Junho o coronel João Doart a cavallo acompanhado de al-
guns soldados tocando trombetinha diante ; acudio esto
capitão com a gente de sua bandeira, e do primeiro arca-
busaço matou o cavallo do coronel, e arremetendo sem es-
cutar rasões, ou promesas lhe cortou a cabeça, e invistindo
a companhia os poz em fugida, e lhes foy no alcance hum
gran pedaço. Alguns dos inimigos se acharam mortos, nem
o numero dos feridos se soube. Em logar do morto coro-
nel foy eleyto Alberto Scott. Entre os fortesinhos da Ba-
hya só o de San Phelippe ocupou o inimigo com trinta
soldados e hum cabo. Está a huma pequena legua da ci-
dade da parte do norte mandado fazer pelo governador D.
Francisco de Souza para seu regalo, e entretenimentos. O
sitio chamado TajKigipe é uma peninsula eminente que
com trabalho de poucas gastadores se poderá islar, e des-
mantelada a do Salvador como impossivel de defenderse
pelos padrastos que a Coroam, epovoarse nella uma cidade
digna de metropoli daquella gran província. Tudo o que o
— 401 —
mar lava em cercuito heresaca, arrecife e costa brava, tem
huma fonte e avera outra se as buscaren, e a falta delias
poderão deferir sistemas mui capazes. Não tem padrasto
donde possa receber dano, sitio excelente, lindas vistas,
como o porto fronteiro ás armadas que entraren pela barra,
a terra fertilissima ; meterão-lhe algumas peças de artilhe-
ria tendo-o como refugio (se é verdade o que este cabo
disse sendo juridicamente perguntado em Lisboa, do que
muito duvido ) para se recolher se por má fortuna fossen
desalojado da cidade. Querendo este cabo regalar com pes-
cado fresco o novo coronel sayo em 3 de Agosto con três
companheiros para o tomar a huns negros que tinham atra-
vessado lium esteiro com parede de pedra solta deixando-
lhe huma aberta por onde o peixe os rebeldes em barcos
em que apenas cabiam, em esteiros mui estreitos e os nos-
sos entrinclieirados por suas margens. D. Francisco de
Moura quarto capitão mor do exercito dos assaltos, e re-
côncavo da Bahya, chegou á Torre de Garcia d'Avila em
sete barcos a 19 ou 20 de Novembro. A 3 de Desembro
lhe entregou Francisco Nunes Marinho o cargo conforme
a orden de S. M., e como dono mais próprio dispoz as cou-
sas com mais vagar e descurso. A Manuel de Souza de Eçít
que tinha ido por capitão mor do Gran Pará encarregou
de fortificar alguns portos donde se pudesse acodiras sorti-
das que o inimigo fizesse apicorea ea dano dos engenhos,
e por atalhar todas as vias esquipou algumas embarcações
para guarda dos estreitos por onde se vão aos engenhos.
Destas fez cabo João de Salazar de Almeida, sinalou ins-
tancias particulares aos cappitães Francisco de Padilha,
Lourenço de Brito, a quen dava a de Rio Vermelho, a Ma-
nuel Gonçalves a de Tapagípe. Serviram nestas ocasiões os
capitães Pedro de Campos, António de Moraes, Jorge de
— 402 —
Aguiar, Diogo Mendes Barradas, António Casemiro Falcalo^
Gabriel da Costa, Agostinho de Paredes, Francisco de Cas-
tro, Cachoeiras, natural deste estado, e outro que não vie-
ram à minha noticia. Neste governo ouve vários assaltos
com bom sucessos achando se em alguns delles D. Francis-
de Moura.
Os bandos que na cidade havia que ninguém saísse ao
campo sem licença, agora escreve os crédulos se aper-
taram mais por av:r jà no exercito muitos mosquetos, mu-
nisões e infanteria diferente, o que tudo se bem pôde ser
verdade, foi certissimo caminho para o triste successo
que depois se padeceu. Náo cuidei que táo largo fosse o
aparato, pudera reclamar sobre o titulo do livrinho, e não
menos sobre a proposição. Mas verdadeiramente mais pe-
sado fora à nação Portugueza prontíssima ao serviço de
seus reys. e nesta ocasião com tanto excesso das passa-
das, zeladora de sua real reputação, deixando de escre-
ver estes successos, do que aprasivel aos engenhosos crí-
ticos se cortando-os passava a cousas mais sustanciaes.
Está o animo desejando de levar ancoras, estender ve-
las das armadas catholicas aos nordestes com que áo de
sair do Cabo Verde para chegar ao fim do que pretendi
escrever mas vejo a isto necessária delação. Partiu D.
Fadrique de Toledo Osório Marques de Vilhanueba de
Vaulduesa, capitão general da armada e exercito do mar
oceano, avendo-se cansado com trabalho excessivo, e assis-
tência continua no apresto de sua armada, de Cadix a 14
de Janeiro de 62S, e sem cuidado que de uma borrasca
desembocando o Cabo de S. Vicente, e de hum navio e
tartana derotados que pouco depois se lhe ajuntaram, che-
gou ao porto da Praya a 6 de Fevereiro quando se punha
o sol com pujantíssima armada. A sua cappitana real, a real
— 403 —
(lo estreito qiic fazia o o oficio de almirante real, a cappi-
tana de Nápoles, de Biscaya, de Quatro vilhas. Vinte e
cinco navios de força, afora e outras de bastante
artilharia, e ya guiada pelo capitão Cosme do Couto, que
D. Manuel de Menezes capitão general da armada de Por-
tugal tinha enviado á ilha de Maio a encontrar a deCastella.
Ouve as salvas costmnadas, e com excessos nas cortesias
pela excelente naturesa de D. Fadrique. Não ouve logar
aquella noite de visitas, por recados ao seguinte a ora con-
veniente da manhã se embarcou D. Manuel acompanhado
em sua falua, e noutras que o seguiam da mais em nu-
mero, mais rica, mais caliiicada nobreza de Portugal que
em outra qualquer ocasião, em que a pessoa real não fosse
se tinha achado. Quiz venselo em cortesia o general de
toda a empresa D. Fadrique, e o venceo, mas por falua
mais ligeira em que no mesmo porto se embarcou, nave-
gando cada uma delias para a outra cappitana em copetencia
qual primeiro chegaria. Chegou D. Manuel a Castelhana
estando jà D. Fadrique na Portugueza; voltou logo e es-
perou logo baixasse D. Fadrique para o acompanhar a sua
capitana como estava obrigado, avendo sobre isto dilata-
díssimos comprimentos. Obedeseo enfim D. Manuel, re-
cebeu visita na sua varanda. Acompanhavam a D. Fadri-
que o general D. João Feijardo, D. Afonso de Lencastre
filho do duque de Aveiro D. Henrique de Alagon seu so-
brinho filho de D. Martin conde de São Thiago, e de sua
prima com irmãa a condesa D. Caterina Pimentel filha do
Marquez de Távora, o Marquez de Cropam mestre de campo
general da empresa, e mestre de campo D. Pedro Bócio,
D. Manuel de Gusmão, e outros muitos fidalgos, e capitães.
Díspedindo-se não permitio que D. Manuel baixase, mas
seguindo-o a gran voga chegou antes e subiu a sua cappi^
— 404 — '
tana, aonde se deteve mu gran espaço. O gosto com que
estas armadas se ajuntaram se poderam mal engrandecer
com poucas palavras. Contase que quando D. Fadrique
descobrio a de Portugal dando graças a Deos pela mercê
disse Juanes Baptista em martes dia que sempre deseja es-
colher para suas impresas até nisto se conformarão que
aquellamesma afeição tem D, Manuel as terças-feiras sendo
Menezes, e aribas Mendoç^isda casa do du que do infantado.
Quatro dias se deteve naquelle porto D. Fadrique excluido
o em que chegou e o em que partio. Nestes fez gran deli-
gencia em refazer os navios de que faltava, no que ajuda-
ram com muito cuidado as caravelas de Portugal, em
quanto esta aguada se fez, porque este tempo se não perca,
será muy a propósito de ver-se que jurisdição foy S. M.
servido levassem os generaes de Castella e Portugal que
toda veo por decretos do conselho de estado de Portugal
que não quebrou, ou alterou algumas das antigas assenta-
das por consentimento de ambas as coroas.
COPIA DO ALVArA sobre 0 MODO DAS BANDEIRAS E OUTRAS
PREUEMINENCIAS.
Eu ElRey faço saber aos que este alvará virem que aven-
do visto o que se me representou por parte da coroa de
Portugal acerca das preheminencias do seu estandarte,
quando as armadas delle navegarem em companhia das de
mar oceano. E querendo dar tal ordem que fosse assentada
e estabelecida para o diante consideradas as conveniências
de meu serviço e autoridade da mesma coroa que se ofere-
cem para aver de ordenar, ei por bem e mando que as
eappitanas das armadas da mesma coroa assim as que forem
e vierem da índia oriental , como quaesquer outras que
— 403 —
com o nome e titulo de armada real se foren e aprcsentaren
naquelles reinos por conta delles tragam estandartes qua-
drados nos calseses com as armas reaesde Portugal, como
as costumam trazer as cappitanas dos ditos reinos ; sen-
do a cor dos ditos estandartes azul, vermelhos, ou qual o
meu Visíi rey de Portugal escolher, náo branca como tra-
zem as armadas da coroa de Castclla para que aja diferença
entre umas, e outras e possam sempre ser conhecidas dos
navios de suas cappitanas c iião trarão as ditas capitanas de
Portugal estandarte na pcpa o que somente fica reservado
para a cappitana real do mar occeano, ou sua almiranta em
sua ausencia.com declaração que as ditas cappitanas de Por-
tugal quando encontraròn a real do mar occeano ou sua
almiranta em sua ausência no mar, ou no porto o não sahir
delle lhe abaterão os estandartes, e a salvarâo com quatro
peças de artilheria logo que chegarem a vista, e a real lhe
responderá com duas ; e depois tornarão as ditas cappita-
nas de Portugal a arvorar os estandartes, e estavão e nave-
ga vão com elles. e tendo ordem minha particular para se
ajuntaren, e navegaren com a dita armada no mar oceano
não levarão farol aseso, e seguirão e guardarão os meus
cappitáes geraes, ou capitães mores das ditas armadas de
Portugal as ordens do capitão geral do mar oceano em tudo
e por tudo no que tocar a viage e guerra, porém o dito
capitão geral do mar oceano náo terá jurisdição criminal
sobre os casos que nas ditas armadas de Portugal sucederem
nem entenderá no governo particular das ditas armadas,
provisão das capitaneas despesas dos mantimentos e mo-
niçõos, nem outras cousas semilhantes, e para que tudo o
conteúdo neste alvará se cumpra e guarde inteiramente —
10 de Julho do 1618. Sobre os moradores do Brazil ouve
S. M. por seu serviço que D. Fadrique tivesse jurisdição
JUNHO 52
— 406 —
em matérias de guerra sem dar parte a D. Manuel, salvo
na gente de guerra que de Portugal tinha ido ao socorro,
e naquelle tempo melitava com D. Francisco de Moura.
Do primeiro consta pelo alvará seguinte.
Eu ElRey faço saber ao governador do Estado do Brasil
eaos capitães das fortalezas delle, e a todos e a quaesquer
ofiQciaes de guerra que no dito Estado me serven asy na terra
como no mar : e aos desembargadores e ofDciaes de justi-
ça, e de minha fasenda e de todas as demais pessoas que
nelle assistem e de qualquer calidade, estados condição que
sejáo a que este alvará for mostrado que enviando eu agora
ao dito Estado a D. Fadrique de Toledo Osório meu cappitão
general da armada do mar oceano para recuperar a cidade
do Salvador da Bahya de todos os Santos que os inimigos
ocuparam por convir a meu serviço pêra a boa direcção
dos efeitos que hade emprehender, ey por bem e mando
que o dito governador, como todos os capitães, ofliciaes e
ministros meus de qualquer calidade e condição que sejam
obedeçam ao dito D. Fadrique de Toledo, c guarden e
cumpram suas ordens, nas matérias de guerra e dependen-
tes delia, assy na terra como no mar tão inteiramente como
se por mim lhe foram dadas, sem dúvida nem contradição
alguma, e que não o fazendo assim, ou avendo para isso
outra particular resão de meu serviço os possa o dito D.
Fadrique de Toledo tirar, e por outros quaes lhes parecer
em seus lugares, para o que lhe dou todo o poder, comissão
e autoridade que se requer, e quero, e mando que este
alvará tenha forças e vigor e se cumpra sem em-
bargo de quaesquer leis 1 de Outubro de 1624. O
como S. M. foy servido dispor no segundo ponto, consta
pelas palavras seguintes do Regimento que mandou a D.
Manuel. D. Francisco de Moura que mandei ao recôncavo
~ 407 —
<la Bahya pêra servir aly de capitão mor liade ter a seu car-
go toda a gente com que aly o achares, ficando porem com
ella a vossa ordem com a mais gente que levais na armada
Asy o fez a saber a D. Francisco de Moura. Eu ElRey vos
envio muito saudar. Tendo por certo que com a vossa che-^
gada a essas partes se haverá melhorado t^nto as coisas do
jmevL serviço nellas que quando com o favor de Deus che-
garen à Bahya as minhas armadas em cuja companhia
recebereis esta haja pouco que fazer em desalojar esses
inimigos se ainda estiveren nas fortificações em caso que
ahy se achem tanto que o exercito que vay nestas armadas
for em terra ou com qualquer recado que tiveres antes dis-
to acudireis logo a ella no que se vos ordenar dando inteiro
Comprimento às ordens que receberdes com a pontuali-
dade que de vos confio, advertindo que esta impreza vai
cometida a D. Fadrique de Toledo e que tudo hade estar a
sua obediência porém vos com a que tiverdes a vosso cargo
aveis de eslar á orden de D. Manuel de Meneses general da
armada da coroa que hade fazer em tudo o que tocara ella
e mesmo oíBcio, ou seja no mar, ou seja na terra, conforme
a isto emquanto elle ahy estiver sessarà a jurisdição que
daqui levastes que hade ficar nelle pêra uzar delia confor-
me aos regimentos que aqui mandei dar ; e porque de vossa
inteligência, experiência e valor tenho por certo que nas
ocasiões que se oflereceren respondereis inteiramente à
confiança que faço de vossa pessoa, e que os mesmos façam
os capitães e soldados que militam com nosco, deixo de
vos lembrar o mesmo que de vos, e delle se espera e o
cuidado com que deveis procurar que os naturaes deste
recôncavo, o os moradores dos engenhos dclle sirvam nes-
ta ocasião, e acuda com mantimentos ao provimento das
armadas, c exercito 19 de Novembro 624!
— 408 —
lie Lintoasyquo S. M. quiz dará D. Manuel de Meneses
Ioda a jurisdição de sua armada que depois de lhe manda-
ren seu regimento que dê a D. Fadrique de Toledo o numero
que \\r convém para o sitio limita com o seguinte!! Com
que a armada fique segura e provida no mar de maneira
que não tam somente se possa defender dos inimigos se
sobrevieren e acometere mais desbarlalose alcançar delles
a vitoria que espero em Deus e da nobreza que levais com
vosco tenho por certo que aparte delia que fycaren nos
navios seguindo nisso as ordens que lhe derdes entendam
que me serven nisso mais que os que desembarcarem em
terra ; como da mesma maneira devem de entender os que
saltaren em terra em comprimento de vossas ordens, que
me serven nisso mais que em ficnrem no mar ; de modo que
seja presuposto para uns e outros que a calificação* do
serviço consiste em não se fezer diferença de uma cousa a
outra, e que a sustancia e merecimento está em se acudir
igualmente ao mar c a terra conforme as ordens que nisso
derdes ; e que este á o ponto a que deven deferir, e em que
se hade mostrar mais a obediência, e o valor, e o zelo de
meu serviço E porque conste o de jastira como cons-
tou agora o da guerra se vê no Alvará segiinle sobre a for-
ma em que avia de proceder nos casos nelle apontados.
Eu El-Rey faço sibor a vos D. Manuel de Meneses capi-
tão geral da armada da costa do Portugal do socorro do
Br^zil que por asy cumprir a meu serviço e boa adminis-
tração de justiça, ey por bem evos mando qu^ sendo doente
ou impedido o bacliarel António Rodrigues de Figueredo
ouvidor da dita armada demaneira que não possa servir-vos
possacs nomear outro ouvidor em seu lugar que sirva em
quanto durar tal impedimento, ou eu nome;:r outra pessoa,
e os ouvidores por vós nomeados guardarão em tudo o re-
— 409 —
gimcnto que tenho mandado dar ao dito António Rodri-
gues no qual lhe concedo que nos casos crimes que suce-
derem nesta armada durante a navegação deste porto ao
Brazil. E asy no tempo qae se detiver naquella província
tenha alçada em todas as pessons de qualquer sorte e con-
dição que sejam, sem appelaçáo nem agravo, e nos casos
de morte ou de cortamento de membro, ou de execução
de tratos proceda tomamdo por adjuntos três cappitáes da
ditta armada que vos nomeareis e que também tereis voto
e náo se podendo ajuntar os ditos capitães o façais com três
fidalgos, ou outras pessoas graves e de bom entendimento
que outro sy vos lhe nomeareis, e que sucedendo crime
em porto onde haja corregedor ou ouvido por mim o sen-
tenciasse com elle, e com dois capitães presidindo vós que
tereis voto na forma sobredita, e que cometendo-se os ditos
casos era qualquer dos outros navios os capitães delles lhe
remetesse os culpados, para delles conhecer pela sobredita
maneira : porque asy lho mando pelo dito regimento e que
estando a armada na Bahya sentencie aos ditos casos con
cinco desembargadores da Relação do Brazil se os ouvcr,
e náo avendo tantos os despache com quatro desembar-
gadores, e náo avendo quatro com dois ; e que navegando
a dita armada de torna viago para esta cidade proceda com
os adjuntos que lhes vos nomeardes na forma sobredita
com as penas ate morte natural inclusive contra aquelles
que cometerem rebelliáo, motim ou alevantamento contra
vossa pessoa, ou de vosso navio, ou de não investirem o
inimigo quando lhe for mandado, ou roubar algumas cou-
sas dos navios que se visiíarem por averiguar se são de
inimigos. E asy me praz que vos náo possaes tirar do dito
cargo de ouvidor ao dito António Rodrigues enquanto eu
náo mandar o contrario, o sendo caso que elle cometa ai-
— 410 —
gum crime, ou excesso porque nos pareça merece ser de-
posto de seu oflicio fareis disso autos para que possa contar
das ditas culpas os quaes trareis a esta cidade, e remetereis
aos desembargadores do Paço, para dahy se mandar fazer
justiça, com declaração que sendo o crime ou excesso ca-
pital o podereis prender, e pôr outro ouvidor em seulogar.
E porque D. Francisco de Moura que enviei com as cara-
velas de socorro aquellas partes levou jurisdição nas ma-
térias de justiça e sobre os soldados que com elle foram,
ey por bem que tanto que esta armada chegar á Bahya e o
dito ouvidor estiver desempedido para usar de sua juris-
dição em terra, cesse a jurisdição que nas ditas matérias
levou o dito D. Francisco de Moura, e que dos delitos dos
ditos soldados, conheça b dito ouvidor como lhe mandei
declarar em seu regimento, e vos asy o fareis cumprir. E
sendo caso que o dito ouvidor seja julgado, ou dando-se
elle de suspeito a alguma pessoa vos nomeareis outro juiz
em seu logar que tenha para isso as calidades necessárias.
E este alvará cumprireis inteiramente come se nelle con-
tem Lisboa 19 de Novembro 624.
Por estas formalidades publicas reconhece o gosto que
S. M. mostrou de honrar a D. Manuel, a estimação que fez
de sua pessoa. Mas encommendando a D. Fadrique de To-
ledo sertã impresa avendo logar nas instruções secretas,
lhe mandava S. M. a comonica-se com elle somente hon-
rando-o com muitas palavras. O capitulo lhe mostrou D.
Fadrique em segredo estando em junta particular. Depois
o disse em conselho não faltando nelle mostras de resen-
timento. Antes que se íizesse á vela ouve conselho sobre
se aver de tornar Pernambuco como S. M. mandava. Con-
siderando a estação do tempo, a dilação procedente se re-
solveu navegassem em direitura à Bahya avisando de tudo
— 411 —
a Mathias de Albuquerque. Despachou D. Manuel o capitão
Cosme do Coulo em sua caravella com despachos e cartas
de D. Fadrique, e suas dando-lhe por regimento que não
se detendo mais que quatro dias em Pernambuco fosse
buscar a armada da Bahya de todos os Santos. Como che-
gasse a onze grãos se afastasse da costa oito ou des léguas.
Chegando a ponta de Itapoan toma-se lingua da terra,
e não sendo chegado a armada fosse ao morro de S. Paulo
aonde avia de aguar ordem do que avia de fazer. Encon-
trando em Pernambuco os navios dos capitães Lansarote
da França, Bento do Rego ou a caravela de Manuel de
Palhais, ou qualquer delles lhe desse a mesma ordem.
(Fim do livro prímeiro.)
n
QSEEESPSBlEBiEA
RELATIVA AOS SUCCESSOS DADOS El PORTUGAL. E HO
RRASIL, DE 1822—1823.
N." 1. — Copia da cauta do Sr. Felisberto Caldeira ao
Desembargador V. J. F. C. da C. dirigida para Sua
Magestade em 18 de' Setembro de 1822, e que pela
SUA AUZENCIA DA DITA IlHA FOI POR ELLE RECEBIDA EM
Lisboa nos prlncipios de Janeiro seguinte.
Illm. Sr. Vicente José Ferreira Cardoso da Costa.— Meu
Sr. Tendo de longo tempo a maior consideração, e respeito
pelos talentos, e caracter de V. S., não sabia com tudo que
a tão eminentes qualidades ajuntava a de ser Brazileiro, o
que para mim, e para nossa Pátria é nas circumstancias
actuaes do maior interesse. Se eu podesse apresentar jà
com V. S. á testa da Assembléa Legislativa do Rio de Ja-
neiro faria por certo a todo o Brazil, e ao Princepe Augus-
to, que se Declarou nosso Protector o mais bello presente
no momento de fazer a Sua Constituição. Como porém
tanto bem excede as minhas faculdades, e por outro lado a
prudência aconselha toda circunspecção na mudança de
terra ao Homem, que como V. S. se acha casado, e talvez
com diminuição de saúde, e fazenda em consequoncia de
tantos trabalhos, e injustiças, que do Governo, c Nação
Portugueza ha recebido, tomo a resolução <lo me tlirigir a
V. S. solicitando a sua attenção a favor da nossa pátria, c
pedindo-lhe que me indique a maneira porque lhe seria
agradável mudar-se para o Rio. do Janeiro, e que soccorros,
e meios quereria. Eu conto se S. A. R. não mandar ocon-
JULHO. 53
4
Â
— 414 —
trario retirar-me cm Novembro, e cabe bem no tempo re-
ceber resposta de V. S. É bem natural que V. S. estranhe
táo franca, e cordial linguagem da parte d'um homem, que
não conhece, e em outras circumstancias eu 'me nâo atreve-
ria a escrever-lhe sem ser apoiado de muitas recommenda-
ções, mas não ha tempo a perder, e supponho bastante a
introducção do nosso compatriota o Sr. Hypolito José da
Costa.
Estimarei receber boas noticiaç da saúde de V. S., e que
me dê occasiões de mostrar a consideração e estima com
que sou. — De V. S.— Patricioeatiento Cmdo.— Felisberto
Caldeira Brant Pontes.— 18 de Setembro de 1822.— P. S.—
Eis aqui a minha direcção. — 10— Allsops Buildings— New
Road— London.
N.® 2. — Resposta do dito Desembargador á carta
ANTECEDENTE.
Illm. Exm. Sr. Felisberto Caldeira Brant Pontes — Meu
Sr. Somente agora posso responder â Carta de V. Ex.,
datada de 18 de Septembro passado, porque a muito pou-
cos dias me veio á mão, sendo cila dirigida para S. Miguel,
quando eu estava em Lisboa.
É verdade que nasci na Bahia, e tendo a Providencia as-
sim destinado, que pertencesse por minha origem ao novo
mundo, nem estava em meu poder alterar os seus decretos,
nem tão pouco ser indifferente aos destinos, e á prosperi-
dade, ou desgraça do Brazil.
V. Ex. verá pelo folheto, que tenho a honra de offere-
cer-lhe, como o tive sempre diante dos olhos desde os
acontecimentos Politicos de Portugal em 1820, procurando
desviar já a desmembração da Monarchia, jà o grande pe-
rigo de se tomarem ochlocraticas as Capitanias do Brazil.
— 4IS —
E quando vi meu nome entre os dez, que no dia 4 de de-
zembro de 1821 ás Cortes Constituintes forSo propostos
pela Commissão da Justiça Civil, para delles se escolherem
sinco, que organizassem o Projecto do Código Civil, es-
crevi a meu amigo LuizMaitins Bastos, que era da dita
Commissão, e Deputado pelo Rio, rogando-lhe que pro-
curasse com seus Collegas conduzir as cousas de modo que
se desviasse a dita desmembração, porque ella me faria só
ter lagrimas para dar á difizão da nossa familia, em voz de
génio para escrever Códigos. Tanto me recordava eu da
minha Pátria ! E tanto dezejava, que os meus estudos, e
serviços simultaneamente aproveitassem aos Portuguezcs
da Europa, e mais da America !
Mas
Vktrix Diis causa placuit t
e declarada a Independência do Brazil, e inaugurado nelle
hum novo Império, recebo a de V. Ex., que lizongea o
meu amor próprio com a idéa de que eu poderia prestar
muito no estabelecimento daquelle Estado, e em que me
pergunta — jwrque maneira me seria agradável, mudar-me
jmra o Rio de Janeiro, e que succorros, e m^ios quereria?
Vejo pois, que V. Ex. não conhece perfeitamente as
minhas actuaescircumstancias: e devo informar-lhe delias,
antes de responder ao referido. Levado a S. Miguel pela
arbitrariedade, e rivalidade de um dos secretários do go-
verno de Lisboa em 1810, e que inteiramente o dirigia,
não obstante as negras apparencias, com que me manda-
rão, escolheu-me para seu marido a senhora de uma das
primeiras casas dos Açores, cujo rendimento hia de trinta
a quarenta mil cruzados. Era até formoza : dos mais res-
peitáveis costumes : e em idade muito proporcionada á
minha, porque tinha menos vinte annos do que eu V. Ex.
— 4i6 —
acreditará muito facilmente, que o seu consorcio seria
procurado em S. Miguel por todos, que a elle podessem
aspirar. E ella lembrou-se de mira, que havia chegado â
sua Ilha não só prófugo, como Eneas a Carthago, mas re-
movido de Portugal com ares de muito criminoso. Man-
dou-me olTerecer, o que outros muito disveladamentc pro-
cura và o I
Não he possível pois, que, sem a vontade de uma tal
mulher, eu disponha de mim p^a cousa alguma, que me
possa alongar delia. São estes os sentimentos, que Y. Ex.
achará por mim exprimidos já cm Março de i8iâl na Carla
impresso a fl. 48 do já referido Folheto.
Conheço, (|ue minha mulher tem muito pezadas obriga-
ções para com Augusto Principe, escolhido para Imperador
do Brazil. Seu Primogénito o Gommendador José Ignacio
Machado, casado com uma fdha de Pedro José Caupers,
esteve no Rio, e devem summo favor ao mesmo Senhor,
quando Principe Real, e até a honra da sua correspondên-
cia, quando sè retirou para Lisboa. Conheço, que minha
mulher se recordava disto com summo reconhecimento, e
gratidão, e que presaria qualquer oportunidade de se mos-
trar grata a tão distincta bondade, e honra para com seu
filho. Mas nem os seus receios do mar, nem as moléstias
nervozas, que padece, e que sua imaginação converte em
muito graves, lhe permittiráo deixar S. Miguel, para me
acompanhar por alguns mezes a Lisboa, e muito menos
lhe consentirão mais longa viagem. E eu nem posso, nem
devo separar-me delia.
Se, n'outras circumstancia de mim dependesse mudar-
me para o Rio, á proposta de V. Ex. responderia muito
francamente, que para isso me ser agradável nada mais
seria preciso, do que entender-se, e fazer-sc-me constar.
— 417 —
que o Brazíl, a que eu devera o nascimento, confiava, ees-
l)crava alguma cousa das minhas letras, e dos meus estu-
dos a pró da sua prosperidade.
Posso porém desde jà, e sem ouvir minha mulher, se-
gurar a V. Ex., que o Brazil me achará sempre muito
prom[)to em S. Miguel para o emprego dos meus taes, quaes
conhecimentos, quando elles possão concorrer para o bem
dos Brazileiros.
Muito dolorosa me é a divisão da nossa familia ! Mas tem
direito ao meu tal qual préstimo literário assim os Portu-
guezes da Europa, como os da America, e nem a uns, nem
a outros hoi-de negar-me, quando entendão, que delle po-
dem tirar qualquer proveito. É esta hoje a minha profissão
de fé politicai, que francamente enuncio, sempre que disso
se oíTerece occasiáo. Quizera, que os meus Irmãos, Euro-
peos, e Americanos, vivessem unidos: mas, se isto não é
possivel, dezejo ao menos, que, supposto separados, uns,
e outros sejão felizes. E arrastado por estes sentimentos
V. Ex. me permitirá, que estenda alguma cousa mais os
lemites desta carta.
Náo posso negar, que alguns Europeos, relativamente
às cousas do Brazil, mesmo em discursos públicos, tem
tido muito reprehensiveis abusos, e excessos de frazes,
que náo podiáo deixar de azedar as mutuas relações, que
convinha manter entre a Europa, e a America Portugueza.
Mas quem me dera, que o Brazil se mostrasse superior ao
ressentimento de semelhantes affecçôes, e que não empre-
gasse semelhante linguagem nas suas relações com Por-
tugal !
V. Ex. recorda-se na sua Carta do máo tratamento, que
eu tenho tido do Governo, e da Nação Portugueza. E eu
nunca soube confundir esta com um, oudous homens, que
— 4i8 —
nestas, ou naquellas circumslancias, se acharáo senhores
do Publico Poder, e que abusando delle, me depremiráo.
Fui expatriado , como suspeito aos interesses da minha
Nação ; fui na Magistratura preterido por todos, e até por
muitos que anda vão nas primeiras aulas, quando meu nome
já era conhecido no mundo, como o d'um Jurisconsulto
Portuguez. Entretanto eu seria injusto, se imputasse estes
à^esultados à Naçáo. E assim que em seu nome se convida-
rão os Jurisconsultos Portuguezes, para concorrerem aos
trabalhos do seu Código, Civil, eu appareci logo, promptifi-
cando-me a servil-a, como a V. Ex. constará pelo Opúscu-
lo, que tenho a honra de offerecer-lhe. E poderia eu sem
injustiça, attribuir à Narão, o que era obra de alguns dos
individuos, que a compunháo? ou tratar aquella, pelo que
estes me merecíão ? Chego a Lisboa em Septembro. e sem-
pre que aos Papeis Públicos se offerece occasiáo de fallar
no meu nome, elle apparece honrado d'uma maneira capaz
de me dar cuidado, pelo ciúme, que pôde produzir, sem
haverem alguns outros, queoscontradigão. Era pois acaso
a Nação, que eu devia considerar para comigo avessa, ou
injusta?
Eis aqui, Exm. Sr., como eu dezejava, que também o
Brazil olhasse para aquellas frazes azedas, ou indiscretas,
relativamente ás suas cousas, para que ellas não fossem
tidas como da Nação, nem sobre esta recahisse o ressen-
timento Brazileiro pelas grosserias d'um par de Europeos
ou mais inflamáveis nas discussões por caracter, ou menos
polidos pelo habito da sua vida, oumaiscortezóes, e lison-
jeiros da multidão, que aplaude quasi sempre aquella lin-
guagem. Queria V. Ex. acreditar, e inculcar esta verdade,
sempre que poder, -r-a Posteridade Iwnrará sem duvida a
aquella das duas partes, que mais moderada, e tolerante se
— 4J9 —
mostrar para com a outra. — Isto mesmo scrà o testemunho
da sua superioridade, e grandeza. E se alguma não come-
çar com magnanimidade a corrigir os extremos da outra,
aonde hiráo; Exm.Sr., para os males, e os seus resultados?
Somos o mesmo sangue, falíamos a mesma lingua, fizemos
uma só familia, e cumpre mostrar, que fomos, e somos
Irmãos, ainda quando ella se divida. O Chefe do Império,
além de tudo, nasceu neste clima, tem aqui seu Augusto
Pai, e não corresponderá ao lustre, que lhe cabe, se não
for superior, e insensível ás affecções, que ferem o com-
mum dos homens.
A Ochlocracià do Brazil. Exm. Sr., é outro grande
objecto, que deve merecer toda a attençáo, e que jamais
se deve perder de vista. É a maior enfermidade, que vejo
desenvolvida, e que mais estragos ameaça á nossa pátria.
A vontade individual substitue-sc todos os dias à vontade
geral ; e então as diversas idéas, e os diversos interesses
multiplicando ao infinito aquellas vontades, produzem sue-
cessivos choques d'umas partes do Corpo Politico com as
outras, os quaes progressivamente o enfraquecem, e se não
parão, hão-de leval-o infallivelmente a total ruina. Perdeu-
se a força moral, e é preciso ressuscital-a. E perdida ella
uma vez, é extremamente difficil esta ressurreição, muito
mais em paizes tão extensos, c tão deslocados do centro do
movimento, como 6 o Brazil. Quanto porém mais se dila-
tar o curativo daquella moléstia, mais rebelde ella se tor-
nará depois a todos os medicamentos ; porque a repetição
dos movimentos ochlocraticos ratefica o habito morbozo,
que forma com o tempo uma nova natureza, summamente
defllcil de atenuar, ou de mudar.
Tenho estudado, e reflectido muito sobre o tratamento,
que convém a esta enfermidade, e reduzi mesmo as minhas
— 420 —
idéas nesta matéria a um systema em escritos que conservo
em S. Miguel. Direi com tudo aqui a V. Ex. em geral, o
que me pareceria mais útil remédio nas actuaes circums-
tancias do Brazil.
Os movimentos ochlocraticos apparecem regularmente
promovidos por alguns poucos, que delles esperâo tirar
partido, e interesse, e que para o dito fim se combináo, e
fazem obrar a multidão, illudida, jà com o excitamento das
paixões, que a podem aíTectar, já com as esperanças de
grandes bens, que se lhe anunciáo. £ as lições da historia
antiga, e moderna tem mostrado, que nem os demagogos,
e agentes daquelles movimentos chegáo commumente a
ganhar, o que esperavão, nem jamais deixão de trazer
desgraças sobre a multidão, que illudem, de que se servem,
e sem a qual nada poderiáo ter praticado.
A relação pois destes successos, deduzida dos diversos
capítulos da Historia, e successivamente divulgados em
folhas de papel, que se fizessem chegar ao maior numero
de mãos, que fosse possível, assustaria sem duvida os de-
magogos, e chefes das facções, para que o não fossem, e
preveniria a multidão contra as suas illuzões, e tentativas.
E hum grande remédio se applicaria ao mal na sua origem,
a luz contra as trevas, verdade contra seductores enganos.
O Governo deve ser entretanto summamente tolerante,
moderado, e circunspecto.
Tolerante para não irritar os ânimos, dispostos a serem
agitados facilmente, não dando nenhuma idca, nem por
palavras, nem por factos, de terá uns como de um sys-
tema, e aos outros do contrario. He o grande conselho d^
Demosthenes na celebre Carta ao Senado, e ao povo de
Athenas— Não invectiveis com acrimonia, lhes diz elle,
contra nenhuma classe, nem contra nenhum dos indivi-
— 421 —
duos, que vos tiver parecido declarar-se pelo systema, que
vós quereis corrigir, em huma palavra convém o inteiro
esquecimento do passado. O receio da vossa indignação, e
da vossa raiva, ha de fazer unir ainda mais os principaes
chefes do dito systema, e aquelles, que tendo-se declarado
seus amigos recearem de correr grandes riscos. E livres
então destes sustos, elles hão de fazer-se mais tratáveis, e
hão de unir-se mais facilmente ao que pertendeis— A dis-
crição, e a sabedoria reluz neste conselho 1
A moderação fará não excitar novas paixões, e novas
descontentamentos, que sejão outras tantas faiscas capazes
de atear o incêndio entre materiaes tão inflamáveis. E a
circunspecção graduando a linha de conducta. que se deve
seguir entre tão vários, e tão diversos interesses indivi-
duaes para que intendão todos, que o bem geral, e que a
justiça he a bússola, que dirige o Governo, acabará de
extinguira tendências para a Ochlocracia, eoseo alimento»
ou pertexto que principalmente consiste na desigual admi-
nistração, exercitada entre os cidadãos.
Bem quereria dizer a V. Ex. alguma cousa, sobre as novas
instituições, que as presentes circunstancias hão de trazer
ao Brazil: mas não o permittem os limites desta Carta, jà
demasiadamente extensa. Não me dispenso com tudo de
indicar a V. Ex., que a Natureza deve ser a nossa mestra,
e que ella nada faz de salto, consumindo muito mais tempo
naquillo, a que destina mais extensa duração. A cana de
milho chega em poucas semanas a altura, que o pinheiro,
ou sobreiro só consegue no fim de annos. Os Estados Po-
liticos são corpos, cuja vida se deve contar por séculos.
Não se caminhe pois a seu respeito percipitadamente. Não
se intente passar do absolutismo para a completa liber-
dade, de um dia para o outro. E' necessário, que os ho-
JULHO. 54
— 422 —
mens se vão acostumando pouco a pouco a osle alimento,
para que sejão capazes delle, e não lhe substituão a licença.
Não destruir tudo, para tudo reedificar de novo. Iláo de
provocar-se por esse meio reacções immensas, provenien-
tes dos velhos hábitos, e antigos costumes ; e sem ir ama-
ciando, e alterando estes, para que se lhe possáo amalga-
mar as novas instituições, elles anullarão, ou farão inutili-
sar estas.
Tenho mostrado a V. Ex. os meus bons desejos pelo
Brazil ; não posso ser indifferente à sorte dos homens,
mesmo em geral, e como o seria para com a dos Brazilei-
ros, com quem me prendeu a natureza pelo meu nasci-
mento? Estimarei sempre muití) boas novas de V. Ex. a
quem Deus Guarde mais annos. Lisboa 31 de Janeiro de
1823 — De V. Ex. Patrício, e muito certo cridido.— Vicente
José Ferreira Cardoso da Costa,
N.** 3. — Requerimento para ser apresentado Ás cortes
EM os FINS DE FEVEREmO, LOGO QUE NA PRIMEIRA VOTA-
ÇÃO PARA 0 CONSELHO DOESTADO PELO BRASIL O DESEMBAR-
GADOR V. J. F. C. DA C. VIO SEU NOME COM 38 VOTOS.
Senhor.— O Dr. Vicente Josó Ferreira Cardoso da Costa,
vendo inesperadamente seu nome com um crescido nu-
mero de votos na lista dos que hão de entrar em segundo
scrutinio para a proposta do Conselho d'Estado pelo Bra-
zil, deveria apresentar-se perante V. M. só para lhe agra-
decer muito reverentemente o credito, que V. M. se dignou
accrescentar por aquella maneira à sua tal qual reputação.
Mas V. M. hade permittir, que o supplicante junte aos re-
feridos protestos do seu agradecimento, o que vai expor
agora na Sua Respeitável Presença.
— 423 —
Não só a honra do Supplicante, mas principalmente o
interesse da Nação pede. que elle realise o projecto do Có-
digo Civil, de que jà apresentou o prospecto a V. M., e ao
Publico. A Resolução de V. M., para que o projecto do Có-
digo Criminal, primeiramente incumbido a uma Commis-
sáo. fosse também entregue ao concurso dos Jurisconsul-
tos Portuguezes, conduzio o supplicante à necessidade de
tomar sobre os seus hombros esta tarefa juntamente com
a outra; por isso que havia notado no opúsculo, já apre-
sentado a V. M., o lugar que cabia ao dito Código em um
completo, e perfeito systema de legislação ; tendo deixado
esse vazio no seu prospecto unicamente pelo respeito de-
vido àquella primeira deliberação de V. M., motivo, que
agora cessa. Por fim a emenda do Sr. Marciano de Azeve-
do sobre o Decreto relativo ao Código do Commercio,
sendo adoptada, como foi, por V. M., veio a ser uma letra
quasi directamente saccada sobre o supplicante, a que cila
não podia recusar o aceite pelo summo credito dos respei-
tabilissimos saccadores
Por tanto o Supplicante dispoz-se a partir logo para S.
Miguel, com o fim de empenhar suas forças, para satisfazer
todos os mencionados trabalhos, esperando apresentar a
V. M. os projectos do Código Civil, do Código Criminal, e
do Código do Commercio, nas epochas marcadas por V. M.
Jã pedio para a sua viagem licença a £l-Rei, e o seu passa-
porte às authoridades competentes. Mas todo o referido
destino do supplicante se transtornará, em desproveito pu-
blico, segundo elle entende, se V. M. se não dignar des-
vial-o da proposta para o Conselho d'Estado, em cujo exer-
cício mal poderá organisar aquelles Códigos.
Parecerá talvez. Senhor, a V. M. muito estranho, que
o Supplicante procure ser excluído d'um dos primeiros
— 424 —
empregos na ordem politica da sua Nação : e parecerá da
mesma sorle estranho talvez ao Brazil, que elle busque
desviar-se de ser Conselheiro d'Estado por aquella parte
da Monarchia, que lhe deu o nascimento. Mas sendo os
seus passos dirigidos, pelo que lhe parece ser mais útil
serviço da Nação, espera o supplicante. que nem V. M.,
nem a pátria, de que elle muito se preza, os verá com desa-
grado. Se o Supplicante quizesse olhar para si com pre-
ferencia e tudo o mais, anteporia sem duvida ás ditas consi-
derações o entrar na proposta dos lUustres Representantes
da sua Nação para o Conselho d'Estado : mais não será pos-
sível, que V. M. crimine, querer o Supplicante antes ser-
vir, e ser ulil aos seus concidadãos na obscuridade, do que
luzir nos grandes empregos.
Isto pois conduz, Senhor, o Supplicante muito reveren-
temente á Prezença de V. M., para que dignando-se de to-
mar em Sua Alta Consideração o expendido, achando-o
digno de attenção, como o supplicante espera, haja por
bem desviai -o da sobredita proposta, visto estar ainda a
tempo de o fazer : não reservando o supplicante esta sup-
plicaparaS. M., receiando, que o Mesmo Senhor se recuse
a deferir-lhe, quando a proposta de V. M. se junte á pu-
blica opinião, que tão decisivamente, e por tão diversas
maneiras se tem proximamente declarado favorável ao
supplicante ; e por isso.— -P a V. M. haja por bem desviar
o supplicante da proposta para o Conselho d'Estado, a lim
de o não desviar da opportunidade de servir os Portugue-
zes nos Projectos dos referidos Códigos.— E. U. M. —
Desembargador Y. I. F. C. da C.
— 42o —
N.^ 4. — Carta escrita pelo desembargador V. J. F. C.
DA C. A S. £x. o Ministro da Justiça^ exprimindo, o
QUE vocalmente LHE DISSERA, QUANDO A S. £x. LHE FAL-
LOU SOBRE A PROPOSTA PilRA O CONSELHEIRO DOESTADO, EM
QUE HIA O SEU NOME, PARA QUE S. Ex. A POIÍESSE LEVAR
AO CONHECIMENTO DE S. M. E 0 MESMO SENHOR REZOLVER,
O QUE HOUVESSE POR BEM.
Illm. e Exm. Sr.— Ainda que já vocalmente expuz a
V. Ex., o que nesta repito agora por escrito, com tudo de-
terminei-me a fazel-a, para que V. Ex. a podesse levar á
Prezença de S. Magestade, se assim lhe parecesse.
O Emprego de Conselheiro d'Estado é de tão grande con-
sideração, e credito, para quem fôr a elle promovido, que
não pode haver nem suspeita, de que alguém o busque des-
viar de si, não tendo justiffcadissimos motivos. Meu nome
acha-se na Proposta a S. M. para o novo Conselho, e não
me cabe esperar, que o Mesmo Senhor se lembre de o es-
colher, indo em terceiro lugar, e no primeiro, e segundo
outros, que supposto me não sejão conhecidos, tenho como
de mais préstimo, até porque para isso pouco basta.
Entretanto porque ali se acha, pode ser escolhido, e isso
me conduz a rogar a V. Ex. a mercê de levar a Alta Con-
sideração de V. Magestade o que vou expor-lhe, e que pa-
rece condemnar-me a ser privado d'uma tão distincta
honra. Já não me lembro de minha mulher, senhora d'uma
das principaes cazas dos Açores, e que escolhendo-me para
seu marido, quando proseguido, e infamado, veio por isso
a adquirir um incontestável direito a todos os dias da mi-
nha vida : ella é demasiadamente virtuoza, para que eu
duvide dos seus sentimentos, mesmo na privação do que
lhe pertence, e qtie lhe é mais caro^ quando isso importe
— 42G —
ao Serviço de S. M., c da Nação. Trato pois somente do
que tem relação com o publico. É nelle conhecido o com-
prometimento, em que acho, relativamente à organisação
dos Códigos, de que a Constituição carece para marchar.
Sei ; que* ales me não forão particularmente incumbidos,
e que muitos outros Jurisconsultos Portuguezes poderão
talvez estar procurando nisto servir a sua pátria. É com
tudo certo, que eu já lhe prometti nisto meus serviços, e
que a publica opinião tem seus olhos fitos sobre o cumpri-
mento de minhas promessas. Faltar a ellas, é-me desairoso,
e pode ser que em desproveito da Nação, e é-me impossí-
vel cumpril-as sem dar a este trabalho toda a minha medi-
tação, o que só posso conseguir no retiro de minha caza
em S. Miguel. Na copia junta achará também V. Ex. o
theor da carta, que na minlia ausência foi ter aS. Miguel,
eque minha mulher abriu, e dl que me remetteu o tras-
lado. Ella mesma talvez daria naquella ilha noticia deste
acontecimento, ou desta communicaçáo ; e eu aqui a par-
ticipei a alguns amigos confidencialmente, para lhes incul-
car a necessidade que tinha de regressar quanto antes pari
S. Miguel, a fim de tirar de cuidados minha mulher, que se
morteficaria muito, se lhe lembrasse, que eu me poderia
deslumbrar com aquelle convite. As circumstancias de
Portugal, e do Brazil podem levar ao Conselho muitas vezes
negócios, em que eu haja de opinar relativos aos dous rei-
nos. Quem sabe se eu me deixaria alguma vez affectar, por
insensível, e inconsiderada gratidão, àquelle testemunho
do caso, que se fazia do meu nome ? Quem sabe se alguma
vez reputarão os outros, que minhas opiniões são filhas do
dezejo de agradecer aquelle testemunho?
Haverá meu voto a inteira confiança de S. M., quando
SC tratarem cousas do Brazil, sabendo isto? Ou deverei eu
— 427 —
occullar-lhc esta circumstancia, quando o Mesmo Senhor
tem de escolher na Proposta para o seu Conselho d'Esta-
do, hindò nelle meu nome?
Se as prezentes circumstancias publicas do Reino nSo
fossem taes, quaes são, rogaria a Y. Ex., quizessepormim
supplicar a S. M. a merco de me privar d^umanhonra, que
sei avaliar, e de que só táo urgentes motivos poderiáo des-
viar meus dezejos. Nellas porém não me atrevo a mais, do
que a pedir a V. Ex. queira levar esta ao Seu Real conhe-
cimento, para que o Mesmo Senhor saiba tudo, e prinr
cipalmente, que eu não posso fezer os Códigos nfrexerci-
cio de Conselheiro d'Estado, e depois resolverá, como fôr
do Seu Real Agrado ; e como entender piais conveniente ao
Seu serviço, e da Naçáo.
Aproveito esta opportunidade, para offerecer a V. Ex.
toda a minha consideração, e obediência. Deus Guarde a
V. Ex. muitos annos. fcisboa 2 de Março de 1823.— De
V. Ex.— Muito reverente obrigado Venerador e Criado. —
Illm. eExm. Sr. José da Silva Carvalho.— V. J. F. C.daC.
(Seguia-se a copia da Carta do Sr. Felisberto Caldeira,
que é a que vai no N/ 1 .^ desta collecção.)
N.° 5. — Carta ao dr. Manoel Alves do Rio, Deputado
Ás CORTES constituintes DE PoRTUGAL SOBRE AS COUSAS
POLITICAS DA Monarquia em Março 1821.
Meu Amigo e Sr. do C. V. S. tem agora pouco tempo
para correspondências particulares, mettida no trabalho
das cortes de que temos aqui visto o extracto das Sessões
até ao dia 8 de Fevereiro, e talvez alguém tenha ainda pe-
riódico, que refira mais algum dia depois. Cã tenho visto
as suas moções, e muito gostei da que he relativa aos nos-
— 428 —
SOS militares, deixados em França por esquecidos na- Con-
venção de Cintra : e dice comigo, elle pôde applicar a si o
Non ignora mali, miseris succurrere disco.
Era próprio de um do Amazonas acudir ás outras victimas
da mesm? data. Mas rogo» e insto a V. S. para da sua parte
conduzir as cousas quanto puder, de modo que Portugal só
concorde com o Brazil. Tudo pôde ficar bem desta sorte, e
de outra, temo males incalculáveis para a Nação, e para o
Rei. A Santa Aliança ha de empregar a força, que puder con-
tra as idéas liberaes. Os Thronos podem baquear: porque
os seus exércitos poderão também querer dictar a lei de
uma. ou de outra vez, como fizeráo os de Hespanha, Na-
polés, e Portugal, e nesse caso a força moral ha de ceder à
força real. Mas se isto assim náo for: e se os soldados do
norte julgarem preferível a tudo viver do sul da Europa,
como viverão 4, ou 5 annos na França, que desgraças náo
teremos de vêr? E concordando-se Portugal, e o Brazil,
podemos ganhar uma Constituição, que haja de garantir
a nossa Liberdade Civil, e que nos livre in perpetuam de
Setembrisaidas : que nos dê as nossas Cortes annuaes, de
que se podem esperar, e de que podem vir todos os me-
lhoramentos possíveis. S. M. agora ha de vir as boas:
como João sem terra veio com os Inglezes, quando lhe deu
a sua Magna Carta, que he a origem das suas liberdades.
O Rei também a deu, e nem por isso os Inglezes ficarão
em peor estado, do que estarião, se elles mesmos formas-
sem para si a dita Carta. Meu Amigo rem, quoirwdo cumque
rem. Ganhar, o que se pertende,'e o que convém. E náo
arriscar isso pelo modo de o conseguir. O meio mais fácil
de o conseguir he o melhor. Eis -aqui um artigo de fé
politica. Eu náo cessarei de pregar hoje isto para Lisboa :
— 429 —
assim como não cessarei de pregar para o Brazil, çíí^av
roncorde com Portmjal, ainda que possa pela força de seus
aliados fazer retrogradar as cousas ao que dantes ei^ão. Nestes
dous mandamentos se incerra toda a minha missão para o
Velho, e Novo Mundo, e se para sen-ir nella utilmente for
preciso passar dez vezes a linha, hei de fazel-o de muito
boa vontade. O tempo mostrará então, se eu era, ou não
quem me empenhava pelo melhor a bem da minha pátria 1
O meio do segurar as Constituições para os Estados não ho
certamente, meu Amigo, o dos juramentos, muito mais es-
tando este tão vulgarisado, como V. S. sabe. Mirabeau
disse uma vez na Tribuna, se ternos um juramento, então
não tem remédio nenhum já a causa da liberdade. Mútuos
interesses bem combinados, eis-aqui o grande juramento,
e o único capaz de segurar as instituições politicas. Enten-
derem todos, que ganhão, e que interessáo. Eis-aqui a an-
cora, que segura a permanência das Constituições. V. S.
e seus Collegas estão no theatro ; e de V. S., c delles de-
pende muito bem, ou muito mal, para a causa publica. Não
armem grandes classes de inimigos à liberdade ! Arriscão-a
assim. Tudo se pôde fazer : mas caminhando-se indirecta-
mente ás cousas. Hindo-sea ellas directamente, chocáo-se
as paixões, armão-se partidos, e dispoem-se reacções. E
então depois a sorte, e o acaso he, que decide do resultado.
E he servir mal a liberdade deixa-la exposta ao jogo dos
dados. Segurem-a agora : ainda que não seja inteirissima.
Ganhem o essencial, tem feito grande serviço. Os acciden-
tes virão depois. E ainda que não venhão, havendo o es-
sencial da liberdade, pôde passar-se sem os accídentes. E
se pelos accidentes se arrisca o essencial, fazer-se umjogo
indiscreto : e ainda que se não perca, não se ganhará o
credito de bom jogador. Ou governar a Europa toda com a
JULHO. 55
— 430 —
ponta do dedo, ou hir para Santa Helena às ordens, dos
que se pertendia governar ! Desvie V. S. quanto puder, que
o nosso Portugal faça agora jogos destes. Grande gloria se
lhes apresenta para se illustrarem com ella, se salvão a pá-
tria ! Mas a sua salvação depende de se evitarem os extre-
mos. Quasi todo o Portugal he agora hespanhol, pelo que
vejo, e ha de esquecer- lhe então o quieii todo lo quiere todo
lo fáerde. Os homens extremos em suas pertenções são or-
dinariamente mais prejudiciaes do que úteis ao partido,
que abraçâo. Dê V. S. todo o credito, e toda a considera-
ção a estas vozes da sabedoria imparcial. Eu bem sei. que
nas actuaes circumstancias não he este o meio de ganhar.
No Brazil talvez agrade mais, quem fallar na linguagem da
proclamação de 24 de Agosto. E em Portugal ha de agra-
dar também com preferencia, quem proclamar illimitada-
mente as idéas liberaes. He facillimo agradar aos discen-
tes, e apaixonados : e deflcillimo servi-los utilmente. Aquillo
consegue-se lisongeando-se as paixões do momento, ou seja
em boa, ou em má fé : ou seja discreta, ou indiscretamente.
Isto somente se alcança tendo a virtude de descontares ou-
tros; e a coragem de dizer verdades. No primeiro caso he
se egoista, pertende-se ganhar : no segundo olha-se para
os outros mais do que para si, pertende-se servir aos ou-
tros, e não tirar delles interesse. Portanto, meu amigo,
eu bem vejo, e bem sei o que faço. He o mesmo que fazia,
quando das prizões da Terceira mandei para o Rio as obser-
vações á Gazeta sabendo muito bem, que là nem mas havião
de agradecer, nem pagar. Quiz escrever, e assignar com o
meu nome nos Estados Porluguezes á dez annos, o que
ninguém nelles então se atrevia a escrever, e assignar, e que
hoje escrevem, e assignão todos. Não he pois também o
dezejo de ganhar, que hoje me guia : mas sim a cobiça de
%
— MH —
servir utilmenle a minha pátria, sendo o Quincio Capito-
lino entre a Naçáo, e o Rei, ainda que ambos se desconten-
tem de mim. Dem-me o gosto de eu os concordar, e fiquem
ambos mal commigo. Perdoo-'he isto inteiramente. Assim o
tenho dito para a Corte, e assim o digo para V. S., e por
V. S. a todos os meus amigos nas Cortes, e a todo o Por-
tugal. Cheguem as cousas ás circumstancias. que chegarem,
se a Portugal for necessário, quem vá ao Rio para esforçar-
sc em concordar S. M. com a Naçáo, ofiereça-me V. S. que
eu estou prompto. E igual oílerecimento tenho feito à
Corte relativamente a Portugal. Se perferirem quebrar as
cabeças, praza a Deus, que os dias se me encurtem, para
que eu não veja taes desgraças ! Aqui envio á V.S. uma Carta,
que vai para o meu copiador, aonde estão as muitas outras,
que a dez annos tão inultilmente escrevi para o Rio. Deus
queira, que esta nâo tenha a mesma infeliz sorte ! E que
náo sirva algum dia, como hoje as outras, para desacredi-
tar, quem delias não fez casot Acaba-se o papel, e eu a
Carta, dezejando a V. S. muita saúde, e confessando-me
De V. S., &c. S. Miguel, 24 de Março de 1821.
N.*^ 6. — Carta ao Sr. Hippolyto José da Costa em data
DE S DE ABRIL PASSADO SOBRE AS ACTUAES CIRCUMSTANCIAS
DE Portugal, e do Brazil ; e a que se remette a carta
PARA 0 Sr. António Luiz em data de 6 de maio de 1823.
Illm. Sr. Hippolyto José da Costa. — Meu Patrício Amigo
e Sr. Já respondi a de V. S., em data de 20 de Septembro,
por 1 .*, e 2.« via; sendo esta entregue em Lisboa ao De-
sembargador João Severiano. que ficava a partir d'ali para
Inglaterra, quando deixei aquella Cidade no meio do mez
passado. Desembarcando porém nesta ilha achei este
— 4^2 —
navio do partida para essa. e delle me aproveito para es-
crever novamente a V. S.
Pelos papeis públicos de Lisboa, que terá visto, saberia
V. S. que as Cortes me propuzerão a S. M. entre os nove
Conselheiros d^Estado, de que o mesmo Senhor havia
de escolher três pelas Provindas do Brazil, que ainda se
náo tinhão declarado separadas de Portugal. E posso se-
gurar a V. S., que muita consolação me derão, em me con-
siderarem como pertencendo ainda áquella parte do mun-
do, que me deu o nascimento, e a que eu dezejarei ser útil,
e servir em todos os dias de minha vida.
Nas copias juntas achará V. S. assim a supplica. que di-
rigi ás mesmas Cortes, tanto me vi comprehendido na pri-
meira votação para o dito Conselho d'Estado, como a Carta
que escrevi ao ^Ministro da Justiça, quando elle me partici-
pou, queS. M. lhe havia dito — aqui temos innboin; — vendo
o meu nome na dita Proposta (são as copias ns. S.^^e 4.^.
As circumstancias politicas não me deixarão esperar, que
podesse ser prestadio. nem a minha pátria, nem a Portu-
gal, naquelle exercicio, e elle não me podia ser lisongeiro.
se não quando me desse alguma esperança de ser útil aos
Brazileiros. e aos Portuguezes. Devia além disso esporar,
ser chamado ao Congresso Portuguez, como l.^Supplente
por S. Miguel, visto que um dos seus Deputados so dizia,
pela sua saúde, inhabilitado para encher o sou lugar, c
julguei então por uma parte, que não deveria hir muito
temporariamente ter um exercicio, que pouco depois seria
obrigado a largar, e pela outra, que no dito Congresso po-
deria ser mais útil ainda, assim a uma, como à outra parte
da nossa antiga Monarchia.
V. S. verá pois da dila 2/* Copia, como fui conduzido à
necessidade de manifestar a S. M. a proposta, que se me
%
— 433 —
havia feito na Carta do Sr. Felisberto Caldeira. Não mos-
trei a de V. S., visto que ella continha algumas clausulas
desagradáveis aos regeneradores, que os indisporião a seu
respeito, o que me pareceu útil desviar.
Fallei mesmo pessoalmente a S. M., e lhe li a Carta do
dito Sr. Felisberto, que elle ouvia com a sua natural bon-
dade, fallando-me duas vezos no Seu Filho com a sensibi-
lidade própria d'um tal Pai.
Já na dita carta entregou ao Desembargador Joáo Seve-
riano. participava a V. S., que a opinião se tinha em Lisboa
tornado mais doce relativamente às cousas da nossa pátria ;
e que mesmo nas Cortes a Commissâo do Ultramar, que
dantes tão azeda apparecía, sempre que tratava do Brazil,
se não tinha apressado a aprezentar o seu parecer sobre a
declaração da Independência, e do novo Império. Um dos
seus Membros mais exaltados, tratando comigo familiar-
mente a este respeito, me manifestou discretos sentimen-
tos, que muito haveriáo aproveitado, se fossem mais tempo-
ranos : mas, que supposto tardios, tratei de rateficar, quanto
em mim cabia : e muito lizongeiro me seria, se podesse
persuadír-me, que esta mudança de espirito publico era
em alguma parte devida à propalaçáo das minhas idéas,
sempre avessas à discórdia entre os dous reinos.
Não me esquece porém nunca o Brazil, levado desgraça-
damente ás circumstancias, de se estar aniquilando por
meio de dissenções intestinas, que hão de durar, em maior,
ou menor gráo, em quanto elle se não entender franca-
mente com Portugal. Até que isto se verifique, haverá sem
duvida esperanças no partido Europêo, e disconfianças no
outro Brazileiro : e estas duas causas produzirão desgraça
para um, e outro, e vantagens para nenhum delles.
A Constituição Portugueza, declarado irretractavel em
— 434 -
algum (los seus artigos por quatro annos, c decretando a
integridade da Monarchia no velho, e novo mundo, e as
Provindas que a constituem em um, e outro, parece tornar
impossivel legalmente o reconhecimento da Independência
das Provincias do Su-, que presentemente formão o novo
Império. Mas não vejo impedimento algum para uma tré-
gua, que entretanto estabeleça relações amigáveis, ecom-
merciaes, e faça desde logo cessar aquellas dissenções in-
testinas; reservando-se para o congresso, passados os di-
los quatro annos, tratar definitivamente da questão da
Independência. Assim começarão também a terminar as
desavenças entre a Hespanha, e as Provincias Unidas ; e
precedendo uma trégua de doze annos, se me não engano,
se depois de sessenta foi que aquella reconheceu a Inde-
pendência destas. Nesse intrevallo porém procederão en-
tre si, como amigas, sem se hostilisarem mutuamente, e
veio a ser na realidade nominal o reconhecimento da Inde-
pendência, que se lhe seguiu. Parece-me, que estamos no
mesmo caso, e que o mesmo remédio nos pode aproveitar
agora. O tempo esfria as paixões, e torna mais tratáveis
todos os ânimos. E uma trégua, trazendo todos os bens
d'uma paz, salva o amor próprio da Mãi-Patria; quando a
Filha se lhe tira dos braços. Somos todos Portuguezcs.
temos quasi todos o m'"smo sangue , falíamos a mesma
lingua, professamos a mesma religião, e em taes circums-
tancias nada menos pode convir-nos, do que estarmos der-
ramando o sangue uns dos outros, e tratando-nos. como
inimigos. Até felizmente o Pai é reconhecido Rei em uma
parte, e o Filho Imperador na outra. E quem sabe, se al-
gum dia os dous Estados virão ainda a fazer um todo debaixo
d'uma organisação social, que satisfaça os dezejos, c os in-
teresses de ambos elles ?
— 433 —
É ao Brazil porém a quem compete fazer uma semelhante
proposição, visto ser a parte do todo que se desmembrou.
Eis aqui tem pois V. S. as minhas idéas sobre as actuacs
circumstancias da nossa pátria, relativamente a Portugal.
Se ellas lhe parecerem bem, promova V. S., com que se
mettão a caminho. E pôde contar tanto com toda a minha
cooperação para o referido, que, se quizer, pode inculcar-
me, e cu aceitarei a commissáo de entrar nisso, mesmo
ostensivelmente pelo Império do Brazil, se ao Seu Augusto
Chefe agradar, servir-se para isso do meu tal, qual présti-
mo, ou seja encarregando-me só, ou associando-me a qual-
quer outro agente. Lembro porém sempre a V. S. nesse
caso a necessidade de instrucções muito claras, sobre al-
gumas circumstancias, que se dezejem, para que eu me
possa conduzir com a segurança de contentar em meu ser-
viço. Como o Congresso Portuguez me considerou Brazi-
leiro, na dita proposta para o conselho d'Estado, náo po-
derá estranhar, que eu figure como tal, para se tratar da
concórdia dos dous Estados. Ainda quando esta commissáo
me venha achar nas cortes de Lisboa, sendo necessário,
deixarei o lugar de Representante por S. Miguel, afim de
intervir na negociação, como agente do Brazil. Persua-
dido como estou, de servir nisto igualmente aos Brazileiros
e aos Portuguezes, não entenderei jamais, que oílendo a
estas, sahindo da sua representação nacional, para ser o
conciliador entre uns, e outros. A publica opinião, que em
Portugal me é muito favorável, poderá ajudar meus bons
dezejos nesta parte, e prestar à causa da humanidade, que
tanto interessa nesta conciliação.
Xáo sei o tempo, que poderei demorar-me por S. Mi-
guel, o que conviria indicar a V. S., para saber, aonde po-
deria dirigir-me a sua correspondência. Se as Cortes Ex-
— 436 —
traordinarias tiverem lugar em Lisboa, como se destinava
na occasiáo da minha sabida para esta ilha, e tantas e tão
poderosas causas parecião fazer indispensáveis, poderes
estar naquella Cidade pelo meio de Maio, paia o fim de to-
mar assento nellas. Alias sempre por todo o Julho deverei
achar-me ah. como prometti na minha despedida, para
serviço em que me julgarão indispensável, e a que me nâo
devia negar.
Sendo porém as viagens do Rio para Portugal pela altura
dos Açores, seria muito fácil a qualquer Navio tocar em S.
Miguel na sua passagem, 9 entregar-me as cartas que se
me quizerem diriigir, no caso de ah me achar, levando-as
abas para Lisboa, a fim de serem entregues, ou a meu cor-
respondente Francisco Xavier Vasques, Negociante muito
conhecido na dita Praça, ou ao meu enteado o commenda-
dor José Ignacio Machado, residente nacaza, e companhia
de Pedro José Campos, pelas quaes vias me senão promta-
mente dirigidas, fosse qual fosse a minha rezidencia. E es-
te mesmo caminho se deverá seguir, quando, ou por V. S.,
ou do Rio, se me haja de escrver por Lisboa. Hindo as car-
tas cobertas com sobscritos aos referidos, virão ter à minha
mão seguramente : mas convirá sempre repeti-los por duas
vias, para se prevenir o descaminho de alguma delias, o
que muito importa, tratando-se de cousas taes.
Nâo sabendo, se V. S. estará em Londres, mando tam-
bém desta uma copia ao Sr. Felisberto Caldeira: e se
souber, que do Fayal sabe para o Rio proximamente al-
gum Navio em direitura como aqui se entende, farei con-
duzir nclle outra, que possa chegar ao conhecimento de
S. M., ou seja pelo Sr. José Bonifácio, ou por algum dos
outros meus amigos, naquella Corte. E cuido ter desta
sorte correspondido devidamente à honra, que V. S. e o
- 437 —
Sr. Felisberto me fizorão nas suas cartas de Setembro pas-
sado. E concluo com os protestos dos meus desejos pela
saúde de V. S., e offerecendo-lhe toda a minha obediên-
cia. Deus Guarde a V. S. muitos annos. S. Miguel, 5 de
Abril de 1823 — P. S.— Para evitar repetição de copias, a
que nfio dava lugar a sabida de Navio, escrevo ao Sr. Fe-
lisberto somente, participando-lhe, que a V. S. mando
esta, e a direcção porque dia vai. aflm de que elle a haja
de procurar, receber, e abrir, tendo-a como sua. no caso
de V. S. se não achar em Londres. E V. S. lhe commu-
nicará sua matéria, no caso de a receber. As copias jun-
tas, que envio só para V. S. ser plenamente informado de
tudo, será servido não lhe dar publicidade, bem que da
sua substancia, e do facto pode fallar, tendo sido publica
em Lisboa, e sendo possivel por tanto, que V. S. o soubes-
se, sem ser de mim directamente.
IV. ^ 7. — Copia da carta do Sr. IIippolvto José da Cos-
ta AO Dr. V. J. F. C. daC, datada de Londres aos
20 de Setembro de 1822.
Illm. Sr. Vicente José Ferreira Cardozo da Costa.— Re-
cebi com summo prazer, no principio deste mez, a carta
que V. S. me fez o favor dirigir em 5 de Julho próximo pas-
sado, com os valiozos documentos que a acompanhavão; c
supposto a grandeza de volume não pejmitlisse inserillos
todos no Correio Braziliense, vai com tudo ja o annuncio
do seu importante opúsculo, sobro o Código Civil, ao qual
darei toda a publicidade que puder.
Os negócios politicos de Portugal tomarão uma direc-
ção tão alheia do que eu desejava, que desde o meado do
aíino passado comecei a escrever aos meus amigos em Lis-
boa, fazendo lhes ver os erros, em que se hião precipi-
JULHO. 56
— 438 —
lando, posto que continiuisse no Correio Brasiliensea sus-
tentar e apoiar a reforma, que sempre me pareceu não só
útil, mas necessária á existência da Monarchia, como ex-
abundante provão os meus escriptos ; mas pelas respostas
que recebi, e muito mais pelos factos, me desenganei, pou-
co depois, que as medidas, que censurava, não erão elTeito
de erro accidental. mas filhas do systema, que se havia
adoptado por hum partido dominante, o qual olha para a
união de Portugal à Hespanha, ainda à custa da separação
do Brasil, como única anchora da salvação dos Regenera-
dores.
Convencido disto, preciso foi, que eu mudasse de objec-
to, e comecei então a dirigir-me ás cousas do Brasil ; por-
que, prevendo a scisáo da Monarchia ; por dever, e por
persuazáo forçozo era, que me ajuntasse àquella das duas
partes desligadas, aonde tinha nascido, e que mais imme-
diatamente tem direito aos meus serviços, visto que em tal
caso era impossível ficar neutral.
Vejo agora pela sua carta, que V. S. é, o que eu não sa-
bia, também natural do Brazil, e por tanto ouso reclamar
a sua cooperação a favor do nosso paiz natal. Se as suas cir-
cunstancias de familia, de saúde, ou outras lhe não permit-
tem hir para o Brazil, aonde sua reputação valeria mais que
um exercito em aux.lio daquelle Governo, que sem duvida
o aprecia, como deve, e que se aproveitaria de seus talen-
tos, como não souberão fazer os de Portugal; pelo menos
pode ajudar-nos com os seus escritos, e a pátria necessitan-
do tanto, tem direito a exigir de V. S. o seu valiozo con-
tingente.
Em todo caso, peço-lhe encarecidamente a continuação
de suas communicações, que me dão sempre tanto prazer.
- 439 -
quanta ò a estima com que sou— De V. S. — muito atenito
venerador e menor criado — Hippolyto José da Costa.
P. S.— Comrauniquei o contheudo da carta de V. S. ao
Marechal Felisberto Caldeira Brant Pontes, que se acha eín
Londres, e ficou cheio de prazer, sabendo, queV. S. era
Brasiliense por nascimento. Cheio do zelo patriótico que o
anima,« disse-me que hia escrever-lhe, e eu lhe recommen-
dei, que o fizesse logo, na idéa, de que, quando se trata
da causa publica, nenhuma introducçáo ou, conhecimen-
to prévio é necessário, para communicação que só tem em
vista o bem publico.
««•Q^»
aSFIJL
DE TRÊS CARTAS DO IRIAO JOAQUII
EXTRAIIIDA DOS ORIGINAES.
liouvado seja o Santíssimo Sacramento.
A paz (lo nosso Bom Deus lhes assista em seus corações
[)ara que sempre o adorem com rendimentos de uma per-
petua humildade. Já a Vms. lhes tinha escripto dando parte
fia minha chegada á esta Cidade, porém de próximo irei
para Lisboa, que me parece iremos por todo o mez de Ja-
neiro até os princípios de Fevereiro a concluir a grande
empreza de que estou encarregado, queira o mesmo Bom
Deus ajudar-me nella guiando-me sempre com sua graça.
Eu cada vez vivo cercado das misericórdias Divinas com
que me tem favorecido, pois certamente não deixará elle
mesmo de ajudar-me até o fim apezar da minha fraqueza e
miséria ; náo esqueçáo nunca de pedirem ao mesmo Senhor
me de o dom da perseverança : a batalha é certa e a fra-
(fueza é grande ; porém com os socorros da graça tudo se
vence.
Hei de estimar que essas meninas se váo criando para
Esposas do Senhor Deus, a fim de que haja quem desagra-
ve o nosso Bom Deus, que também espero se faça nessa
Ilha, ainda que muitos háo de duvidar, porém as obras
de Deus padecem muitas contradicçóes.
Vm. mandadará o Livrinho que lhe dei das Memorias do
Sacramento, que é para dar ao seu dono, que me pedio nes-
ta Cidade, que pretendo trazer outros de Lisboa ; emfim
— 442 -
Nosso Bom Deus hade sempre concorrer com sua costuma-
da misericórdia. Muitas recomendações ao Sr. Manoel Ro-
drigues e a Sra. Irma Antónia, e todos em geral.
Capella da Senhora Santa Anna 10 de Dezembro de 1794.
Deste humilde servo
Irmão Joaquim Francisco do Livramento.
I^ouirado eeja o Santíssimo Sacranieiito*
Horitem recebi a sua carta, e nella vejo o que Vm. me
diz, e fico esperando em Deus tudo hade cumprir com sua
Divina vontade, e agora pelo mesmo portador envio as
duas varas de renda de ouro fino para o nosso bom Fidalgo,
elle nos queira ajudar na santa empreza de que ando en-
carregado. Vms. nâo cessem de orar ao mesmo Senhor
nos dê sempre a sua graça, para que eu tenha forças de
poder resistir aos assaltos, que de continuo armão os ini-
migos contra tudo que é da gloria de Deus. Muito estimo
que o Sr. João de Âviz se resolva ir para a Charidade,
porém veja que lá vai achar muitas cruzes, e duvido a
sua perseverança, nisso tenho muito gosto para quando-
lá chegar velo. Minhas Irmãs, não cessem de louvar ao
Senhor Deus, que me tome sempre à sua conta, para que
vá seguindo em tudo sua vontade Santíssima. Vms. darão
muitas recommendações à minha querida Mái, dizendo que
tome esta por sua, e que me lance a sua benção, que eu
em todos os dias da minha vida não deixarei de orar ao
Senhor Deus lhes prospere com aquellas felicidades espi-
rituaes, que tanto lhes desejo, que o mais é terra, immun-
dicie, vaidade, trabalho, contradicções, e finalmente morle.
— 443 —
Eli estou do partida para Lisboa, c náo se admirem caso
haja mais alguma demora, que talvez seja para maior se-
gurança da santa empreza : facão humildes suppicas ao
Senhor, que me dê perseverança.
Fiz toda a dihgencia para ir a'gum Missionário para essa
Illia c continente, não pude alcançar por ora, mas licou dis-
posto para depois lá terem a consolação : o tempo está
muito calamitoso para andarem Missionários, porém o mes-
mo Senhor hade permittir que havemos dever bem logra-
dos os annuncios desta nova Religião do Desaggravo para
haver homens que zelem a honra de Deus. e reparem a
nossa Santa Mãi, que è a igreja de Deus. Eu assim o con-
fio, como Vms. lá o terão lido na vida, da Venerável Padre
Maria do Lado, e serão ditosos os que o Senhor chamar a
esta santa obra. As meninas correm muito perigo as suas
vocações, se ellas não forem acauteladas, pois a mocidade
do tempo presente vive muito arriscada, pois o demónio
em seus principies trabalha para derrubar dos bons propó-
sitos para depois terem de sua mão; diga a ellas que cui-
dem muito á ser acauteladas; que o Senhor é poderoso
para ajudar a quem por seu amor offerece a sua vontade,
e que não deixa de dar as providencias contra os assaltos do
demónio, mundo, e carne; facão nisto muito estudo, que
sempre agradem a Deus ; muitos são os chamados, porém
poucos os escolhidos.
A minlia Irmã Maria não perca a esperança no Santo Ha-
bito, e das que hão de servir do Desaggravo do Santíssimo
Sacramento, Muitas recommcndações a todos, que sendo
Deus servido nos vejamos cedo. Rio, 22 de Janeiro de 1798.
De Vm.
O mais humilde servo inútil
Irhâo Joaquim.
— 444 —
Beiudlto e I<oovm1o «eja o SS. Sacrameiito.
Sra. D. Rita.
A graça do Divino Senhor sempre lhe assista para um
f)erfeito complemento de sua santíssima vontade, alim de o
ouvar com as suas santas determinações. Ha poucos dias
fallei com o Rvm. Sr. Padre Mestre Salazar, me deu por no-
ticia que o Sr. Fr. Manoel «disse Missa nova, e que está o
Rvm. Padre Provincial muito satisfeito, etc; continue as suas
santas orações por elle para que seja bom Religioso, e lam-
bem por mim. Estamos dando principio na Ilha Grande so-
bre o que queria a muitos annos estabelecer nesta Corte, o
agora parece que talvez abençoe o nosso bom Deus os meus
antigos desejos ; e rogo peça a Nosso Senhor me faça um
verdadeiro humilde, e essas almas que algum tempo queriáo
desaggravar ao mesmo Senhor, não se desanimem ; se não
fôr por um modo será por outro; facão muitas orações e
mortificações, pois o nosso Deus tem sido muito ultrajado.
Remetto estas relações dos desacatos para oíTerecer às
ditas almas, para que nestes infelizes dias orem ao mesmo
Senhor com duplicadas orações e mortificações ; talvez que
ainda haja alguma casa lá, como desejamos já a muitos an-
nos. O poder de Deus é o mesmo, e ainda é aquelle que de
nada fez tudo. Muitas recommendarões à rainha querida
Mái, ea todos de nossa familia. A Sra. Maria que nunca se
esqueça de pedir ao nosso Deus Menino se compadeça das
minhas necessidades, e o mesmo a todas essas almas devo-
tas. Eu já estive por duas vezes a ir para essa, porém a
Providencia me embaraçou, e ainda me vai eml>araçando.
O Bom Deus como verdadeiro Caminho, Viíla, Verdade
nos conceda a sua Santa paz, para que nos amemos como
elle quer.
Rio, de Janeiro 2 de 1810.
De Vm.
O mais humilde escravo
Irmão Joaquim.
Muitas recommcndações ao Sr. António José.
"%
SAflXSEAelt
FEITA PELO BEI E i RAUHÂ DE HESPAIIA
CO]II TICEIVTE YAIVEZ PIIVZOIV IVO AIVIVO DE IMi.
Don Aniceto de la Hlsnera, dei Ilustre Cole-
-lo de Aliasado09 y de la Soeledad eeonoinlea
de aiiiiso0 dei Pai» de Sev^illta, Seereterio de
H. ]fl« y auditor Honorário de Cnerra y Jfiari-
na^ y Areliiirero dei Cinerai de índias en esta
Cidad.
Certifico: que en consecuencia de la Real ordem fecha
vcintay dos de Enero de mil ochocientos cuarenta y seis,
por la que se me manda facilitar noticias históricas, rela-
tivas á America, a Mr. Francisco Adolfo de Varnliagen,
agregado cntónces à la legacion dei Brasil en Lisboa; por
su sefialamiento hé reconocido los libros de Registro en la
Secretaria dei Perii, correspondentes à el ano de mil qui-
nientos uno y a su folia treinta y seis, he encontrado Ia
Capitulacion hecha por el Rey y la Reyna con Vicente Ya-
fiez l'inzon la cual literahnente dice asi.
Capitulacion de Vicente Janez. — ElRey e la Reyna— El
asiento que por mestro mandado se tomo con vós Vicente
Janez Pinzon sobre las islãs ó tierra firme que voshabeis
descubierto es lo siguiente.
Primcramente que por cuanto vos el dicho Vicente Ja-
nez Pinzon vicino de la Villa de Paios, por nuestro man-
dado, é con nuestra licença, é facultad fuistes à vuestra
costa ó mision con algunas personas, é parientes, é ami-
gos vuestros à descubrir en el mar Occeano, alas partes de
las índias con cuatro navios, à donde con el ayuda de
JULHO. • 37
— 44G —
Dios niicstro Seíior, é con vueslra industria é Iraliajó, ó
diligencia descobristes cicrtas islãs ó tierra firme, que po-
sistes los nombres siguientes : Santa Maria de la Conso-
lacion, c Rostro hermoso, é desde alli seguistes Ia costa
que se corre ai Norueste fasta el Rio grande que llamastes
Santa Maria de la Mar-dulce, ó por el mismo Norueste,
toda la tierra de luengo fasta el Cabo de San Vicente quês
la misma tierra donde por las descubrir é aliar posistes
vuestras personas á mucho riesgo c peligro, por nuestro
servicio, é pasirtes niuchos trabajôs, é se vos recreció mu-
chas perdidas, é costas, é acatando el dicho servicio que
nos fecistes, é esperamos que nos haréis de aqui adelante,
tenemos por bien é queremos que enquanto nuestra mer-
ced, é voluntad fuere, ayades c gozedes de las casas que
adelante en esta Capitulacion serân declaradas, é conte -
nidas; conviene a saber, en remuneracion de los servicios
é gastos; 6 los daSios que se vos recrecieron en el dicho
viaje, vos el dicho Vicente Jafíez quanto nuestra merced é
voluntad fuere seades nuestro Capitan é Gobernador de las
dichas tierras de suso nombradas desde la dicha punta de
Santa Maria de la Consolacion seguiendo la costa fasta Ros-
tro hermoso, é deallé toda la costa que se corre ai No-
rueste hasta el dicho rio que vos posistes nombre Santa
Maria de la Mar-du!ce con las islãs questán á la boca dei
dicho rio que se nombra marina ttibulo ai qual dicho ofi-
cio ó cargo de Capitan é Gobernador podades usar é eger-
cer, ó usedes é egercedes oor vos é por quien, vuestro
poder aviere con todas las cosas anexas é concernientes ai
dicha cargo segund que lo usan. c lo pueden. é deben
usar los otros nuestros Capitanes ó Gobernadores de las
semejantes islãs é tierra nuevamente descubierta.
Iteu que es nuestra merced é voluntad de que Ias cosas.
r%
— 447 —
ô interesses é provecho que en las diclias tierras de suso
nombradas, é rios, é islãs, é se oviere é allare é adquiricre
de aqui adelante, asi oro, como plala, cobre ó otro qual-
quiera metal ó perlas, é piedras preciosas, ó drogueria é
especeria é otras qualesquier cosas de animales é pesca-
dos, é aves, ó arboles, é yerbas, é otras cosas de qualquier
• natura ó calidad que sean, en quanto nuestra merced é
é voluntad fuere ayades é gozedes la sesma parte de loque
nos ovieremos en esta manera : que se nos embiaremos á
nuestra costa h las dichas islãs é tierra. é rios por vos
descubiertas algunos navios é gente que sacando primera-
mente toda la costa de armazàn e fletes que dei interese
(jue remaneciere, ayaraos é elevemos nos las cinco sesmas
partes, é vos el dicho Vicente Janez la otra sesma parte,
ó si alguna, ó algunas personas con nuestra licencia é
mandado, fueren a las dichas islãs, é tierras, é rios, de lo
que las tales personas nos ovieren á dar por razon de los
dichastales licencias ó viajes ayamos é llevemos para nos.
las cinco sesmas partes, é vos el dicho Vicente Janez la
otra sesma parte.
Iten que si vos el dicho Vicente Jafiez Pinzon, quisier-
des ir dentro de un aiio que se cuenten dei dia de la fecha
desta Capitulacion ó asiento con algun navio ó navios, á las
dichas islas, é tierras, é rios, á rescatar é traer qualquer
cosa de interese é provecho que por el mismo viaje que
fuerdes, sacando primeramef te para vos las costas que
ovierdes fecho en los fletes é armazon dei dicho primero
viaje que dei interese que remaneciere ayamos 6 llevemos
nos la quinta parte, é vos el dicho Vicente Jaíiez las quatro
(juintas partes con tanto que no podaes traer esclavos ni
esclavas algunas, ni vayaes à las islas ó tierra firme que
hasta hoy son descubiert*, ó se han de descubrirpor naes-
— 448 —
Iro mandado, é con nuestra licencia, ni a las islãs c tierrii
íirrao dei Sereníssimo Rey de Portugal principe nuestro
muy caro, é muy amado hijo, nin podades delas traer in-
terese ni provecho alguno, salvo mantenimento para la
gente que llevardes por vuestros dineros, é pasando le
dicho ano no podades gozar ni gozedes de lo contenido cn
esta dicha capitulacíon.
Iten para que se sepa lo que asi ovierdes en el dícho
viaje, è en ello no se pueda hacer fraude ni engano al-
gunç nos pongamos en cada uno de los dichos navios una
ò dos personas que en nuestro nombre, é por nuestro
mandado, este presente á todo Io que se ovicre é rescatare
en los dichos navios de las cosas suso dichas é lo pongan
por escrito, é fagan dello libro é tengan dello cuenta é
razon, é lo que se rescatare c ouviere en cada un navio se
ponga é guarde en arcas cerradas, è en cada una aya dos
llaves, é por la tal persona, ó personas que por nuestro
mandado fueren en el tal navio tenga una llave é vos el
dicho Vicente Janez ó quien vos nombraredes otra, por
manera que no se pueda facer fraude ni engano alguno.
Iten que vos el dicho Vicente Janez ni otra persona al-
guna, ni personas algunas de los dichos navios, ó compa-
nla delias non puedan rescatar ni contratar ni hnber cosa
alguna de Ias susodichas sin ser presente á ello Ia dicha
persona ó personas que por nuestro mandado fueren en
cada uno de los dichos naviq^.
Iten que las tales persona ó personas que eu cada uno
de los dichos navios fueren por nuestro mandado, ganen
parte como las otras personas que en cl dicho navio fueren.
Iten que todo Io suso dicho que asi se oviere é rescatare
en qualquer manera, sin disminuicion ni falta se trava á Ia
Ciudad ó puerto de Sevilla ó Caéis c se presenten ante el
%
— 449 —
niicstro oficial que alli resídiere para de alli se tome Ia
parte que de alii avieremos de aver, é que por la dicha
parte que asi dello ovleredes de aver non pagueis ni seays
obligado á pagar de la primera venta alcavala ni aduana ni
almoxarifadgo ni outros derechos algunos.
Iten que antes que comenzeis el dicho viaje, vos vades á
presentar à la Cibdad de Sevilha ó Cádis, ante Gonzalo Go-
mez de Servantes nuestro Corregidor de Xerez, é Ximeno
de Briviesca nuestro Official, con los navios é gentes con
(jue ovierdes de facer el dicho viaje para quellos lo vean é
asicnten la relacion dello en los nuestros libros é hajan Ias
otras diligencias necesarias.
Para lo qual facemos nuestro Capitan de los dichos na-
vios e gente que con ellos fueren, á vos el dicho Vicente
Yanez Pinzon, evos damos nuestro poder cumplido é jure-
dicion cevile c criminal, con todas sus incidências, é de-
pendências, óanexidades, e conexidades, é mandamos alas
personas que en los dichos navios fueren, que portal nues-
tro Capitan vos ovedescan, en todos, e por todos, é vos
consientan usar de la dicha juredicion, con tanto que non
podais matar persona alguna, ni cortar miembro.
Iten que para seguridad que vos el dicho Vicente Yaíiez
Pinzon, c las otras personas que en los dichos navios irán,
fareis, o complireis, é será complido é guardado, todo Io
en esta Capitulacion conténido, é cada cosa é parte dello.
Antes que comenzeis il dicho viaje, deis fianzas lianas é
abonadas à contentamiento dei dicho Conzalo Gomez de
Servantes ó de su lugar teniente.
Iten, vos el dicho Vicente Yanez, ó las otras personas
que tn los navios fueren, fagados, c cumplades todo lo con-
ténido en esta capitulacion, é cada casa é parte d*ello, sópe-
na que qualquicr persona que Io contrario ficiere, por el mis-
— UiO —
mo. fecho, aya perdido é pierda todo lo que se rescalare, n
oviere, é todo el interese é provecho que dei dicho viaje po-
driavenir sentuplicato, c desde agora lo aplicamos á nues-
tra camará é fisco é el culpado este â la nucstra merced.
Lo qual todo que dicho es, é cada casa é parte delia fe-
chas por vos las dichas diligencias, prometemos de vos man-
dar guardar é cumplir à vos el dicho Vicente Yafiez Pinzon
que en ello ni en cosa alguna, ni parte dello, non vos será
puesto impedimento alguno, delo qual vos mandamos dar
Ia presente firmmada de nuestros nombres. — Fecha en
Granada á cinco de Setiembre de mil c quinhetos ó un aíios'
— Io el Rey. — Io la Reyna. — por mandado dei Rey o de
la Reyna— Gaspar de Gricio.
Lo copiado corresponde á la letra con su original á que
me refiero. I para que conste doy lo presente en seis hojas
de papel dei sello cuarto. rubricadas en el margen por mi.
Sevilha quince de Diciebrc de mil ochocientos cincuenta y
sicte.— Aniceto de la Iliguera.
Conforme. — Joaquim Maria Nascentes d' Azamduja.
DOCUIEITOS
Relativos a JFouo Pereira Ramos e sens irmãos*
DECRETO.
Tendo presentes os relevantes serviços do Doutor João
Pereira Ramos de Azeredo Coutinho, do Meu Conselho,
Procurador da CiOròa, e Desembargador do Paço, assim no
laborioso exercício destes lugares, que tem servido com
fidelidade, desinteresse, e fortaleza própria de um digno
iMagistrado, como em outras commissôes da maior impor-
tância, que lhe tem sido encarregadas, como o foi a dos
Estatutos da Universidade de Coimbra, que formulou, e
illustrou para melhoramento dos Estudos das Sciencias
Maiores, mostrando neste trabalho os seus vastos, e só-
lidos conhecimentos, com tanto aproveitamento dos Meus
Vassallos, que os cultivão, como he notório: E Tendo
também presentes os Serviços de seu Irmáo D. Francisco
de Lemos, Bispo de Coimbra (por elle assim mo pedir)
que depois de o ter auxiliado na obra dos ditos Estatutos,
executou como Reformador Reitor da Universidade os mes-
mos Estatutos, plantando, e creando a nova Reformação
com tão adiantados, e felices progressos: Querendo grati-
licallos, e remunerallos com a destincçáo, que elles mere-
cem, em combinação com os maiores, que se tem remu"
ncrado na sua ordem, c provar-lhe juntamente a boa von-
tade com que assim o Honro : Hei por bem por uns, e
outros Serviços, e respeitos fazer Mercê ao dito Doutor
João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho do Senhorio da
Villa de Pereira na Comarca de Coimbra, onde tem parte
da sua Casa ; de uma Alcaidaria Mór, das que houver va-
â
— 452 —
gas; e da Commenda de São Salvador de Serrazcs na Ordem
de Christo sita no Bispado de Vizeu, tudo em três vidas :
Confiando do mesmo Doutor João Pereira Ramos, que ha
de continuar a servir-me tâo dignamente, como até agora
o fez merecer, como espero, que Eu lhe responda compe-
tentemente, accrescentando-o em Graças, e Mercês, como
será justiça, e razáo. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda
em dezassete de Dezembro de mil sete centos noventa e
dois. — Com Rubrica.
PETIÇÃO.
Senhora.— O Doutor João Pereira Ramos de Azeredo
Coutinho Desembargador do Paço e Procurador da Real
Coroa de V. Magestade, tem a honra de representar a V.
Magestade com a mais profunda submissão, e reverencia,
que tendo elle nascido de Pais Nobres, e Honrados na sua
Casa de Marapicú, das mais fartas, e bem estabelecidas em
fazendas do Recôncavo da Cidade do Rio de Janeiro, passou
delia à Universidade de Coimbra a seguir os Estudos para
se habilitar para o Real Serviço de V. Magestade, e nella
se graduou Doutor em Cânones em 19 de Julho de 1744.
e desde esse dia ate o presente Maio de 1791, tem-se em-
pregado no Real Serviço pelo longo espaço de 47 annos
quasi completos, contínuos, e sem interrupção, primeira-
mente nos exercicios da vida de Oppositor às Cadeiras da
Universidade, em que senio ao Augustissimo Senhor Rei
D. João V, nos últimos seis annos da Sua Vida, sendo Al-
motacépelo Corpo Académico no anno de 1747, Vice-
Conservador, e Ouvidor dos Coutos no de 1748, e Conse-
lheiro no mesmo anno. Pondo-se em Concurso em 1749
a ultimo Cathedrilha de Cânones, ostentou, e fez opposição
'\
— 453 —
a ella em 44.** Lugar, e pelas acçoens desse Concurso veio
informado ao dito Soberano com muita destincção.
Na mesma Profissão da Vida Académica continuou a
servir ao Augustissimo Senhor Rei D. José I, substituindo
a ultima Cathedrilha de Cânones por todo o anno de 1751,
foi creado Deputado no anno de 1754, e tornou a substi-
tuir a mesma Cathedrilha por todo, o anno de 1754 ; e além
desses Empregos, que todos sérvio por eleição dos res-
pectivos Conselhos, substituio também a Cadeira do Sexto,
c outras ; e todos os sobreditos Lugares por Avizos do
Reitor em outras occasiões de moléstia, ou auzencia dos
Proprietários, e eleitos para os servirem ; para o que sem-
pre rezidio na Universidade, e esteve prompto para a servir
em todos os cargos, e funcções, em que foi por ella occu-
pado.
Vindo a esta Capital depois de Terremoto de 1.® de No-
vembro de 1755, foi convidado para uma Becca do Collcgio
de S. Paulo por Carta do Reitor delle de 4 de Maio de 1 758.
Estando porém ainda nesta Corte no anno de 1750, foi
nella occupado pelo Conde de Oeiras em Serviço particular
do dito Augustissimo Senhor, assistindo às Conferencias,
que sobre a Reforma dos Estudos da Universidade se fazião
em Caza do Reformador Reitor delia Gaspar de Snldanha;
e sem embargo de se interromperem as ditas conferencias-
pela Guerra com Hespanha, sempre ficou empregado no
Serviço Régio, sustentando-se por causa delle à sua custa
sem Lugar algum, e renda até 2 de Abril de 1763, em que foi
despachado Dezembargador da Relação da Bahia, ficando em-
pregado na Corte em Serviço particular do dito Senhor,
mandando tomar posse da dita Beca por seu procurador,
e sendo contado como prezente. Em 7 de Janeiro de 1708
foi provido em um Lugar Ordinário de Dezembargador da
jui.Ho. 58
— 454 —
Reinção do Porto. E por Decreto de 18 dí) mesmo de Ja-
neiro foi nomeado Ajudante do Procurador da Coroa ((lue
era nesse tempo o Sábio, e Egrégio Magistrado, que lioje
tem a honra de ser Ministro e Secretario de Estado de V.
Magestade da Repartição dos Negócios do Reino) com fa-
culdade de o ser, assim para o despacho dos feitos, como
lambera para os papeis^ dos Tribunaes; e neste exercicio
iicou fazendo nesta Corte o lugar de Dezembargador do
Porto.
Creando o mesmo Augustissimo Senhor nesse mesmo
anno de 1768 a Real Meza Censória, o nomeou Deputado
Ordinário delia por Decreto de 9 de Abril, no qual decla-
rou fazer-lhe Mercê do dito Lugar em consideração do
merecimento. Letras, e conhecido zelo do serviço de Deus,
e Seu, que nelle concorriáo.
Por outro Real Decreto de 17 do Outubro próximo se-
guinte lhe fez o mesmo Soberano a Mercê de nomeal-o
Dezembargador da Caza da Supplicaçáo, para nella ter
exercicio, com a mesma declaração do bem que elle o tinha
servido ; e tomando posse do dito Lugar em 5 de Novem-
bro do dito anno, desde então exercitou, na Meza da Coroa
o Officio de Ajudante delia, em que jà estava provido. Em
29 de Março de 1769 foi provido Procurador Geral da Santa
Igreja de Lisboa, por Alvará passado peloCollegio da mes-
ma Santa Igreja, para vigiar sobre a execução do Novo Re-
gimento então dado pelo Em. Cardeal Saldanha para a
administração, e arrecadação da Fazenda delia, tudo coma
Regia Approvação do mesmo Senhor.
Auzentando-se o Sábio Pi^ocurador da Coroa seu Coadju-
tor seu Director, e seu Mestre nas funcçóes, e exercicios
de Ajudante, em Agosto de 1769 para a sua Quinta do Ca-
nal, ficou o Supplicante servindo o Lugar de Procuradoí*
%
da Coroa, c como Serventuário delie continuou a servil-o
até 18 de Junho de 1771, em que passou a exercital-o como
Proprietário do mesmo Lugar, que vagando entáo pela
promoção do mesmo Sábio Procurador da Coroa para o
Lugar de Ministro, e Secretario de Estado, foi conferido ao
Supplicante por Decreto de 7 de Junho, depois de haver
sido creado Dezembargador Ordinário de Aggravos para o
servir por outro Decreto de 4 do mesmo mez.
Havendo tornado a lembrar a urgente necessidade de se
accudir com prompto remédio a grande decadência, em que
se achavão os Estudos Geraes da Universidade de Coim-
bra. Creou o mesmo Senhor Rei Reitor delia por Decreto
de 14 de Maio de 1770 ao Dr. Francisco de Lemos de Fa-
ria Pereira Coutinho, Irmão do Supplicante, que sendo
Juiz Geral das Ordens Militares, Deputado do Santo Ofli-
cio, da Real Meza Censória, e Dezembargador da Caza da
Supplicação, e estando nella servindo uma Casa de Ag-
gravos, fora nomeado Vigário Capitular, sem rezerva, do
Bispado de Coimbra, e neste interino Governo se achava
naquella Cidade. Para se cuidar effectivamente naprejec-
lada Reforma dos Estatutos creou o mesmo Senhor uma
Junta com a denominação da— Providencia Litteraria— por
Decreto de 23 de Dezembro do mesmo anno, e no numero
dos Conselheiros, de que formou, incluio o supplicante, e
o novo Reitor seu Irmão. Teve a dita Junta a s.ia primeira
Sessão em 29 de Janeiro de 1771, e trabalhando com o
mais incansável disvelo na composição de Novos Estatutos
para R(í forma Geral de todas as Sciencias, se concluio fe-
lizmente a dita importantíssima obra em 28 de Agosto do
anno seguinte, approvada, e revestida de força de Lei per-
petua, e mandada executar, honrando muito o dito Monar-
cha o exemplar 2e!o, e acerto, com que nella procedeu a
— 436 —
mi^^^HKi Junta, e dando a conhecer a grande, e completa
^lisfa^áo. que delia recebeu, tanto pela grande importân-
cia da obra. como pelo acerto, com que fora levada á sua
uhiuKt conclusão.
Da parte que nesta obra tiverão o supplicante, e o novo
Reitor, seu Irmão nada diz o supplicante. Ao Régio Gabi-
nete do Real Despacho de V. Magestade concorrem duas
testemunhas ambas de vista, e ambas tão superiores a toda
a excepção, como são os dous Sábios, e Egrégios Minis-
tros, e Secretários de Estado dos Negócios do Reino, e do
Ultramar, que depois de assistirem ambos a todas as Ses-
sões da Junta, e de presenciarem tudo o que nella se pas-
sava, subião a dar, ou a ouvir dar conta ao Augustissimo
Senhor Rei D. José dos progressos da obra ; e principal-
mente o dos Negócios do Reino, com o qual sempre o sup-
plicaníe conferia as ideias, e planos, que formava, e com
cujas luminosas, e judiciosas reflexões os aperfeiçoava, e
se animava a produzil-os na Junta : confissão que o suppli-
cante faz na Real Prezença de V. Magestade com a inge-
nuidade que sempre fói característica do seu animo; para
ficar servindo de perpetuo monumento da sua gratidão, do
seu reconhecimento, e da justiça, que elle deve ás supe-
riores luzes do seu verdadeiro Mestre, do seu Director, e
do seu Bemfeitor.
Da grande estimação, e apreço que dos novos Estatutos
fez o xVugustissimo Senhor Rei Regenerador das Sciencias,
ó evidente testemunho a Regia Carta de Sua Approvação.
E do alto conceito que deiles fizerão as Naç(3es Sabias, e
illustradas da Europa, são irrefragaveis tcslemunlios os
que correm estampados nos Diários, e papeis periódicos
da Historia Litteraria daquelles tempos, em que chegão a
dizer, que nenhuma Nação se pode gloriar de ter um corpo
I
— 457 —
de Estatutos de Iodas as Sciencias tão judiciosamente com-
binado; eque se elles se observarem exactamente na Uni-
versidade de Coimbra, ver-se-hâo sahir delia Sábios da pri-
meira ordem ; além de outros semelhantes louvores da
summa Ghristandade, e Religião, que por todas as partes
resplandece nos mesmos Estatutos.
Provido no Lugar de Procurador da Coroa, continuou
a emprcgar-se no mesmo trabnlho da Reforma que conti-
nuou ató final conclusão, que foi a 28 de Agosto de i772 ;
respondendo ao mesmo tempo à numerosa alluviâo dos pa-
peis das Confirmações Geraes, a que o mesmo Soberano
havia chamado a seus Povos por Alvará de 6 de Maio
de 1779.
No anno de 1774 teve ordem do Marquez de Pombal
para assistir nas quartas feiras, e sabbados de cada sema-
na ás Conferencias, que faziáo em sua Caza, sobre Negócios
do Erário, e duraváo todo o dia, sendo os outros Confe-
rentes os Ministros de Estado, o Procurador da Fazenda, e
o Thezoureiro Mór do dito Erário; e este novo trabalho,
que tirava duas sétimas partes de cada uma semana, durou
ate a fclicissima Exaltação de V. Magestade ao Excelso
Throno destes Reinos.
No mesmo anno de 1774, estando o Cardeal Conti para
se recolher a Cúria Romana, finda a sua Legação Apostó-
lica, ajustou com elle o Marquez de Pombal uma Concor-
data com o Papa sobre os principaes pontos de Disciplina,
e da Jurisdicçáo, que davão frequentes occasiões a queixas,
que algumas vezes passarão a rompimentos formaes, com
^perturbação da paz, e concórdia entre o Sacerdócio, e o
^Império ; para assistir á composição dos artigos delia cha-
mou tão somente o supplicante, debaixo de todas as re-
commendaçóes de segredo ; e com effeito, sendo elle pre-
â
— 458 —
sente em quanto durou a obra, se concluio a tal Concordala.
e entregou ao dito Cardeal quando partio para Roma. Âc-
contecendo porém íallecer o Santo Padre Clemente XIV.
poucos dias depois da chegada de Conli a Roma, ficou a
dita Concordata sem eíTeito.
Era Abril do mesmo anno, pendente o trabalho da Con-
cordata, e chegando o supplicante a Caza do Marquez a tem-
po, em que com clle estava o Bispo de Beja, lhe entregou
o dito Marquez um papel, dizenrlo-lhe que o lesse. Prin-
cipiou o supplicante a lêl-o; vendo porém pelas primeiras
regras delle, que o dito papel era um Decreto, em que o
Augustissimo Senhor Rei D. José lhe fazia Merco do Lugar
de Guarda Mor da Torre do Tombo, parando com a Leitura
delle, disse ao dito Marquez, que não devia concluil-a, sem
que primeiro lhe rendesse as graças devidas pela dita Mer-
cê, que até se fazia muito estimável pela circumstancia
delle nem se ter lembrado de pedil-a ; ao que respondeu o
dito Marquez, que quando o merecimento fallava, nâo era
necessário pedir; etudo presenciou o Bispo de Beja. queâ
dita resposta do Marquez disse, que ainda assim sempre era
necessário olhar com bons olhos.
Pelo mesmo tempo sendo-lhe commettido na forma do
costume, a liscaUsação dos Breves Facultativos das Graças,
e Poderes, com que Mons.' Mutti, Arcebispo de Petra vi-
nha succeder ao Cardeal Conli na Nunciatura Apostólica
destes Reinos, fez um largo olTicio, em que requereu não
só que se declarassem abusivas, e infraclorias das Cartas
reversaes dos Núncios, algumas interpretações, que ellcs,
o os Ministros da Legacia davão ás restrincções de algumas
Graças, e Poderes, com que erão admitlidos os seus Breves ;
mas também que se lhes restringissem de novo algumas
outras, que não erâo menos prejudiciaes, c nocivas â Igre-
\
— 439 —
ja, â Coroa, c ao Bem Commiim dos Povos, as qiiaes apon-
tava; accrescenlando, e concluindo, que lambem sedeviáo
reformar as Minutas dos ditos Breves, de que vinhão mu-
nidos os Núncios, formando-se paraelles novo Formulário
concordado primeiramente com o Ministro de Estado do
Reino, para que nelies se nâo incluisse Graça Faculdade,
ou Poder algum, dos que se lhe achaváo já restrictos, e se
houvessem de restringir quando se formassem.
No anno de 1773, santificado pela Igreja com o Jubileu
do Anno Santo, dividindo-se os votos dos Deputados da
Real Meza Censória sobre a concessão do Régio Beneplá-
cito á Bulia do dito Jubileu, expedida à Igreja, e á Naçáo
Porlugueza ; e fazendo-se sobre esta mataria alguns papeis,
com que os dous Partidos se degladiavâo, e batião com bas-
tante acrimonia ; querendo o supplicante occorrer a algu-
mas desordens, e mas consequências de se chegar a pôr
em votos o merecimento dos ditos papeis ; deu conta ao
Ministério do destemperado calor, de que estaváo agitados
os espíritos, requerendo-lhe pozesse termo àquella nociva
devisão de sentimentos dos Ministros delia. E teve ordem
para dizer no acto em que se fosse a votar sobre a]dita ma-
téria, que por Ordem deS. Magestade participada pelo Mi-
nistro, e Secretario de Estado dos Negócios do Reino se
achava encarregado de intimar á Meza, que o mesmo Se-
nhor era Servido de Mandar-lbe, que todos os papeis que
se havião feito sobre o dito assumpto, se sepultassem no
mais secreto da Meza, para que delles nada traspirasse ao
publico; impondo-se com o dito fim perpetuo silencio em
tudo o que ao dito respeito se tinha passado na Meza ; e
com esta diligencia cessou aquella indecorosa contenda, e
se publicou a dita Bulia do Jubileu.
Empunhando Y. Magestade o Real Sceptro Luzitanopara
_ 460 —
Uem universal de todos os Povos, e Vassallos, que Deus
sujeitou ao Seu Supremo Império, e Havendo-se Servido
por um puro effeito da Sua Real Benignidade de conservar
o supplicante no exercício de lodos os referidos Lugares,
que lhe havião sido conferidos por Seu Augustissimo Pai,
lem o mesmo supplicante tido a grande, e inestimável
honra de haver servido, e servir actualmente nelles a Y.
Magestade, continuando em fiel desempenho do de Procu-
rador da Coroa a promover, e defender os Direitos da Sua
Real Coroa com o mesmo zelo, constância, e inteireza,
com que já o havia feito em todo o Reinado de Seu Au-
gustissimo Pai,
Por Seu Real Decreto de 7 de Agosto de 1778 foi V. Ma-
gestade Servida fazer Mercê ao supplicante de um lugar
ordinário de Dezembargador do Paço, conservando-lhe o
lugar de Procurador da Coroa, e em consequência desta
apreciável Mercê, lhe fez também a do Titulo do Seu Con-
selho, de que prestou Juramento em 27 de Septembro do
mesmo anno. Juramento, que elle tem sempre trabalhado
para cumprir, e observar religiosamente em todas as occa-
siões, e actos, em que deve guardal-o.
Achando-se o supplicante sem Ajudante para as fun-
ções, e exercícios do lugar de Procurador da Coroa, por
ter sido promovido a lugar ordinário de Aggravos o De-
zembargador António Teixeira da Matta, que até enlâe ti-
nha sido seu Ajudante : Houve V. Magestade por bem No-
mear-Ihe para seu Ajudante o Dezembargador Bruno Ma-
noel Monteiro, por Decreto de 22 de Agosto de 1783; e
nelle foi Servida Declarar o que consta do theor do mesmo
Real Decreto, concebido na forma, em que o supplicante
o transcreve, para prova do muito que V. Magestade o
honrou nelle.
■*
— 461 —
« Teiulo Consideração a que os muitos Negócios, e ex-
« traordinarios. de que Tenho encarregado immediata-
« mente, c Poderei encarregar ao Dr. João Pereira Ramos
« de Azeredo Coutinho, Procurador da Minha Coroa, fa-
« zem impraticável, que elle possa responder em tempo
« ao grande numero de papeis, que lhe são remettidos em
« razão do seu olTicio pelo expediente ordinário dos Tri-
« bunaes : Hei por bem Nomear-lhe por Ajudante o Dr.
« Bruno Manoel Monteiro, DezembargadordosAggravos
€ da Caza da Supplicação, para que, como se fora Serven-
€ luario, haja de responder por si só a todos os papeis, que
« pelo Procurador da Coroa lhe forem commettidos ; bem
t entendido, que nunca poderá commetter-lhe aquelles
« papeis, que pelos Tribunaes lhe forem especialmente di-
« rígidos. O Chanceller da Caza da Supplicação Ac.
Querendo V. Magestade reformar a Legislação dos Seus
Reinos, útil. e glorioso projecto para a felicidade desta Mo-
narchia, tirando-a da confuzão, em que se acha pela mul-
tidão de Leis, fez convocar uma Junta de Ministros, a que
assistio o supplicante; e foi de parecer, que para a pro
jectada Reforma das Leis se poder fazer em forma digna do
gloriosíssimo Reinado de V. Magestade, e com maior uti-
lidade dos Seus Vassallos, se devia proceder à composição
d'um Novo Código, que fosse um corpo systematico com-
pleto, e organísado com todas as suas partes, e ordenadas
pelo methodo natural.
V. Magestade o incluio no numero dos Censores, e nesta
qualidade assistio às Conferencias por muito tempo na Caza-
do Respeitável Sábio, e Circunspecto Visconde, Ministro,
c Secretario de Estado, e Presidente da Junta. E por quanto
o Livro 2.® SC achava em lermos de se offerecerá Censura,
para se apurar, c pôr em estado de se poder approvar, e
JULHO. 59
/
— 462 —
authorisar por V. Magestado : Houve Y. Magestade por
bem Crear Nova Junta de Ministros para a Censura, e apu-
ração delle, debaixo da Luminosa Inspecção, e Presidência
do Egrégio Ministro, e Secretario d*Estado actual dos
Negócios do Reino, na forma do Decreto de 3 de Fevereiro
de 1789. E Mandando V. Magestade no mesmo Seu Real
Decreto, que á dita Junta concorra também o supplicante,
quando para eíla for chamado pelo mesmo Seu Ministro de
Estado ; foi Servida explicar-se acerca delle com as expres-
sões, que se lêem no mesmo Real Decreto (ibi.)
« E por quanto o Dr. João Pereira Ramos de Azeredo
í Coutinho do Meu Conselho, Dezembargador do Paço. c
« Procurador da Minha Real Coroa, assim em razão do seu
« oflicio, como principalmente pelas luzes claras, e supc-
« rioros, que tem nestas matérias, asquaes elle com zelo,
« e descripçáo, depois de ser o primeiro, que nestes tem-
« posas cultivou; foi também o primeiro, que procurou
• influíl-as, e derramal-as : Hei por bem que assista, e
t dirija as Conferencias dos ditos Magistrados ; sempre
« que para ellas for chamado pelo Presidente.
Expressões verdadeiramente gloriosas para o supplicante
e summamente dignas do mais alto apreço d'um vassallo.
Por Decreto de 17 de Junho, e Alvará de 2 de Julho de
1789 V. Magestade lhe fez a Mercê de Juiz Conservador
Geral, e Executor do Tabaco.
O Senhor Rei D. Pedro Hl, qucjaz em Santa Paz, cDes-
canço, lhe Conferio um Lugar de Deputado da Meza Prio-
ral do Crato, por Carta de 27 de Agosto de 1784. E por
extincção da dita Meza Prioral, foi provido pelo Principo
Nosso Senhor em um Lugar da Junta do Infantado, por
Decreto de 18 de Dezembro de 1790, no qm\ tem a grande
honra de servir presentemente aS. A. R.
n
— 403 —
Por Decreto de ál de Novembro de 1789. FoiV. Ma-
gestade Servida Nomeal-o Ministro da Junta do Exame do
estado actual, e melhoramento temporal das Ordens Ue-
guiares.
E por Alvará de 21 de Abril de 1790 lhe fez V. Mages-
tade a outra inestimável honra de Creal-o Secretario da
Princeza Nossa Senhora.
Sendo tantos, e tão diversos os Empregos do Real Ser-
viço, em que o supplicante tem sido sempre occupado
desde que teve a honra de entrar nelle ; tendo elle feito
tantos, e tão importantes serviços, como sâo os referidos,
assim ordinários, e próprios dos lugares, em que tem sido
provido, como também os extraordinários, que por serem
de outra ordem superior, e não pertencerem ás funções
da Magistratura, se devem qualificar de mais relevantes; e
além dos referidos, outros muitos, que expõem, por serem
constantes, e notórios a V. Magestade, aos Ministros, e
Secretários de Estado, e ao publico, poderia parecer ao
supplicante, que por todos, e cada um dos ditos serviços
se tem elle feito digno na Real Prezença de V. Magestade
d'uma remunerarão, e premio correspondente, não ao
valor intrínseco delles, que o supplicante reconhece ser
nenhum; porque muito mais deve, e deverá sempre o
supplicante á honrti, que os Augustissimos Senhores Reis
Pai, e Avô de V. Magestade lhe tem feito de o habilitarem,
c empregarem no mesmo Seu Real Serviço, eá que V. Ma-
gestade da mesma sorte lhe tem feito, e faz de o conservar
nos lugares, em que elle foi provido por Seu Auguslissi-
mo Pai, e conferido os outros já referidos, com que mais o
tem honrado, e condecorado ; mas sim tão somente á gran-
de impressão, que no Generoso, e Liberal Animo de V.
Magestade costumâo fazer os Serviços obrados por Vassal-
— I6f —
I io4u$ iv; erforÇriís possíveis para servir a V.
rbaani. eomzelu. com lealdade, com justi-
K com intelligencia, e com desinteresse, c
.^^•m ^rrilííMndo a bem do Real Serviço com muita
^í^rti^xjk\ egosto todos os seus interesses, como é publico,
^ in^MrJo ter feito o supplicante.
IMrèin» Augustissimo Senhora, para que os Serviços
«èrsKios pelo supplicante a V. Magestade, e a Seus Augus-
tissímos Pai, e Avô possão fazer a mesma impressão no Real
Animo de V. Magestade, faz-se também preciso ao suppli-
cante mover, e inclinara seu favor a Real, e Incomparável
Piedade de V. Magestade, e pedir-lhe as Suas Máos Auxi-
liares com a Sua Real Grandeza. Para esse fim representa
mais a V. Magestade. que tendo elle tido a honra ãe servir
a tantos, e tão Generosos, e Magnânimos Monarchas, pelo
longo espaço dos já numerados 46 para 47 annos, ató agora
não tem recebido da Sua Regia, e Incomparável Grandeza
Mercê, ou Demonstração alguma ulil, e fructuosa de lhe
terem sido os seus serviços bera acceitos. Pois que a única
Mercê Regia dessa natureza, que tem hido em toda a sua
vida, é a do simples Habito de Christo com a insignificante
Tença de 20 S rs. por Mercê do Augustissimo Senlior Rei
D. João V, de 1729, requerida por seu Pai em premio dos
serviços d' um parente estando o supplicante ainda na in-
fância. Nem também o supplicante se tem animado ató
agora a supplicar a V. Magestade Despacho de seus serviços,
por se achar plenamente convencido de que o não tem
merecido, e querer servir mais tempo para poder mais
merecer.
O Suppficante. Augiistissima Senhora, está chegado no
ultimo quartel da sua vida ; vc-sc cercado de filhos ; olha
para a caza, em que nasceu, c vô-a reduzida do florente
^
— 4G5 -r
estado, cm que deixou quando delia sahio, tâo somente
para se empregar no Régio Serviço, ao de uma lamentável
•decadência, causada por uma parte pela longa auzencia do
suppiicante delia ha mais de 30 annos ; e pela outra parte
pelas grossas e avultadas despezas, com que ella lhe tem
contribuído, primeiramente para a própria sustentação delle
n(5stes Reinos, c logo depois para a de três Irmáos seus.
que elle fez vir para a sua companhia para os educar, o
habilitar para o mesmo Real serviço, em que também tem
tido a honra de haverem sido occupados.
E para se não entregar á ultima perturbação do seu es-
pirito com as tristes considerações da futura sorte dos seus
filhos, e da sua familia depois das suas cinzas, nem se expor
a que sendo prevenido pela morte, até lhe falte o tempo
para pedir a V. Magestade o Despacho dos ditos serviços.
Recorre finalmente ao mesmo tempo á Soberana Grandeza,
cá Summa Piedade de V. Magestade, e lhe supplica com a
mais profunda submissão, e reverencia que Haja por bem
Attendello, e Despachallo por todos os seus referidos ser-
viços, com aquellas Honras, Graças, c Mercês, que lhe
dictarem ambas as ditas Reaes Virtudes igualmente pos-
suidas porV. Magestade no gráo mais heróico, para que
honradas, e utilizadas com ellas na própria pessoa do sup-
piicante as cans por elle adquiridas no Real Serviço de V.
Magestade (as quaes poucas esperanças lhe dão de poder
desfructallas por muito tempo) e contemplado também nas
mesmas Mercês Regias, pela forma, e modo que mais for
do Real Agrado de V. Magestade, o filho primogénito do
suppiicante; (que jà frequenta as Aulas de Coimbra, para
poder também aspirar á honra de servir a V. Magestade) e
na falta delle, o que houver de succeder na sua Gaza; possa
o suppiicante passar o resto de seus dias com mais satis-
— 46C —
façáo, c socego de espirito ; e cobrando com as ditas Mer-
cês novos alentos, possa também com maior consolarão, e
alacridade esperar no Real Serviço de V. Magestade o dia
fatal, e nelle mesmo exhale os últimos 'alentos da vida —
E. R. M.
Relação dos Doemuentos Juntos.
Certidão dos Serviços de Oppozitor às Cadeiras da Univer-
sidade feitos nos annosde 1744. até o de 1753.
Cartas dos Reitores do Collegio deS. Paulo, de que consta
ter sido acceito Collegial do dito Collegio, de 4 de De-
zembro de 1738, de 7, e 20 de Fevereiro, e de 3, 21, c
24 de Maio de 1762.
Carta do Desembargador da Relaçáo da Bahia, ficando occu-
pado na Corte no Real Serviço, de 14 de Junho de 1763.
Carta ao Chanceller da Bahia para se lhe pagarem là so-
mente as braçagens do dito lugar, por lhe ter S. Mages-
tade Mandado pagar o Ordenado, e Propinas pelo Real
Erário, de 2 de Novembro de 1763.
Carta de Desembargador da Relação e Caza do Porto de 9 de
Janeiro de 1708.
Decreto da Nomeação de Ajudante do Procurador da Coroa
de 18 de Janeiro de 1768.
Carta de Deputado da Real Meza Censória de 22 de Abril
de 1768.
Carta de Desembargador da Caza da Supplicação de 27 de
Outubro de 1768.
Alvará de Procurador Geral da Santa Igreja de Lisboa de
29 de Março de 1769.
— 467 —
Carla do Erocçíio da Junta da Providencia Littcraria de 23
de Dezembro de 1770.
Carta de um Lugar de Desembargador dos Aggravos de 14
de Junho de 1771.
Carla de Procurador da Coroa de 14 de Junho de 1771.
Carta de Confirmação dos Novos Estatutos da Universi-
dade de Coimbra de 28 de Agosto de 1772.
Carta de Guarda Mór do Real Archivo da Torre do Tombo
de 29 de Abril de 1774.
Decreto da Nomeação de Conselheiro do Código de 31 de
Março de 1778.
Carta de Desembargador do Paço, e Petições de 17 de
Agosto de 1778.
Carta do Titulo do Conselho de S. Magestade de 23 de
Agosto de 1778.
Decreto da Nomeação do Dr. Bruno Manoel Monteiro para
seu Ajudante de 22 de Agosto de 1783.
Carta de Deputado da Meza Prioral do Crato de 27 de Agos-
to de 1784.
Decreto para assistir, e dirigir as Conferencias do Exame,
e Censura do Direito Publico, sempre que para ellas for
avizado pelo Presidente de 3 de Fevereiro de 1789.
Alvará de Juiz Conservador da Junta da Administração do
Tabaco de 2 Julho de 1789.
Decreto da Nomeação de Deputado da Junta do Exame do
estado actual, e melhoramento temporal das Ordens Re-
gulares de 21 de Novembro de 1789.
Decreto da Nomeação de Secretario da Princeza N. Senho-
ra de 16 de Novembro de 1790.
Carta de Deputado da Junta da Sereníssima Caza do Infan-
tado de 12 de Janeiro de 1791.
^ 468 —
PETIÇÃO.
Senhora. — Além dos próprios Serviços, que o Suppli-
cante acaba de expor, tem mais os de seu Irmão Clemente
Pereira de Azeredo Coutinho e Sello, que lhe pertencem
por titulo de Doação causa mor tis.
O dito seu Irmão desde os seus primeiros annostendo-se
applicado às Letras, seguiu a Universidade, onde se For-
mou, e fez Actos Grandes da Faculdade de Cânones, em
que deu publicamente todas as provas dos seus bons ta-
lentos, e da sua instrucção : porém abrasado no dezejo de
se empregar com mais promptidáo no Serviço do Seu So-
berano, e ser útil ao Estado ? parecendo-lhe vagaroza a car-
reira, que seguia, e em que via o supplicante, e que lhe re-
tardava os passos do seu animo propenso à Profissão Mili-
tar; procurou servir no exercicio das Armas, como em um
Elemento próprio para dar toda a extensão ao seu génio.
Com eíTeito conseguio que o Senhor Rei D. José o Despa-
chasse Capitão de Dragoens, por Decreto de 28 de Maio de
1760, levantando uma companhia á sua custa no Piauhy,
de que se lhe passou Patente em 3 de Junho, e outra do
1.® de Julho, todas do mesmo anno, para vir exercitar o
referido Posto, depois de ter ali servido seis annos, pelo
dito Decreto de 28 de Maio ; pelo que assentou Praça na
Vedoria desta Corte em 7 de Julho do mesmo anno, ficando
Capitão Aggregado á Companhia de Cavallaria, de que era
Capitão o Marquez de Fronteira no Regimento de Cavalla-
ria de Alcântara.
Não teve o Irmão do Supplicante nesta Corte mais de-
mora do que a necessária para a expedição das suas Pa-
tentes, do armamento, e mais aprestos respectivos á dita
Companhia; e partio na fi^imeira occaziáo, qee teve de
— 409 —
.\avio pan a Cidade de S. Luiz do iMaranhâo, aonde, dispon-
do-se com a mesma promptidáo a principiar a jornada do
sertão, que lhe restava, chegou à Capital do Piauhy a 23 de
Dezembro do dito anno : nelia appresentou as suas Paten-
tes ao Governador da Capitania, que entáo era João Pereira
Caldas, c por despacho do mesmo Governador teve naquella
Vedoria a 27 do mesmo mez assento de Capitão da compa-
nhia de Dragões, que S. Magestade Mandava Crear de novo.
Não apparecendo porém outras Ordens mais especificas
para a creação da dita companhia de Dragões, que não fos-
sem as referidas Patentes do Supplicante, que elle appre-
sentou, duvidou-se se elle devia ser só por ellas admittido
a levantalla : para remover esta duvida sujeitou-se por Ter-
mo, que fez a estar por tudo quanto o Senhor Rei D. José
Determinasse a este respeito ; applicando por este modo os
meios, que lhe erão possiveis para que tivesse prompto
cíTeito o serviço da dita companhia. Duvidou-se também se
com elle se deveria praticar o Contrato estabelecido neste
Reino com os Capitães deCavallo; e reconhecendo elle,
que esta decizão dependia da Resolução do Senhor Rei D.
José, a quem o Governador devia informar do que fosse
naquella Capitania mais conveniente ao Real Serviço; não
só se absteve de fazer os requerimentos, que Iheconvinhão;
mas esteve por muitos mezes fazendo á sua custa todas as
preparações, e concertos necessários á dita companhia, até
que o dito Governador os principiou a mandar fazer por
despeza daquelle Almoxarifado ; perdendo elle, não só aâ
despczas já feitas á sua custa, mas todos os interesses, que
poderia ter, praticando-se alli as providencias da arca, c
contrato ; c ficando percebendo naquelle sertão tão somente
o Soldo de 40 S rs. por mez, que é o dos Capitães de Ca-
vallos das Terras da Gosta.
JULHO. 60
'- _ 470 —
O dito Irmão do Supplicanto encheu Iodas as condições,
a que se tinha obrigado: levantou a sua companhia, fome-
cendo-a toda ã sua custa com os melhores, e mais luzidos
armamentos, Cavallos, aprestos, e petrechos, como testi-
ficou o dito Governador João Pereira Caldas na sua Attesta-
çâo passada no 1.** de Agosto de 1769, em que declara es-
pecificamente que o Irmão do Supplicante satisfizera com
muito grande bizarria, não só na que praticou na nomeação
dos Postos dos seus OflQciaes Subalternos, em que, contra
o ordinário costume, se dispensou de todo o interesse;
como também na que igualmente observou na compra, e
escolha de todos aquelles excellentes, e perfeitíssimos ar-
mamentos, e mais preparos, e pertenças da dita companhia,
por ser tudo do melhor, que podia descobrir. E que de-
pois disso não só se tinha empregado com muita destincçáo
no Real Serviço, executando exactissimamente todas as or-
dens, e diligencias, de que o tinha encarregado o dito Go-
vernador; como também por o ter acompanhado em todas
as repetidas, dilatadas, e escabrozas jornadas, que por
aquelles sertões tinha feito abem do mesmo Real Serviço;
assistindo juntamente á fundação de todas as Villas. que
por Ordem do Senhor Rei D. José tinha andado erigindo
por aquelle Governo, eportando-se sempre em todas aquel-
las, e mais occaziões com muito luzimento, grande honra,
actividade, e préstimo.
Por ordem do dito Governador de 24 de Janeiro de 17GG
foi o dito Irmão do Supplicante acompanhar o Conde da
Azambuja quando passou a governar a Bahia, passando com
elle inexplicáveis inclemências, e perigos, pelos riscos da
jornada por aquelles sertões faltos até do necessário sus-
tento, e de agoa, que apenas se achava nos pestilentes
charcos, pela grande sêcca que então havia ; de sorte que
r^
— 471 —
morrerão os cavallos, e se virão precisados a caminhar a
pé ; c nesta occazião trabalhou o mesmo Irmão do Suppli-
cante com grande constância, e valor pondo em execução
(juanto este Governador lhe ordenou, como elle especifica
na sua Attestação de o de Maio de 1766.
Voltando da Cidade da Bahia com uma partida de Solda-
dos da sua Companhia, que sustentou à sua custa, com-
prando novos cavallos para a retirada, chegou ao Piauhy
em 24 de Dezembro do dito anno, como tudo consta da fó
de oílicio. Preenchidos, não só os seis annos ; mas também
todo o tempo que vai de 27 de Dezembro de 1760, em que
assentou Praça na Capital de Piauhy, ató H de Junho de
1770, em que deu baixa da Praça, que nella tinha obtido,
de Capitão da Companhia de Dragões, ficou sempre con-
servando a de Capitão Aggregado ao Regimento de Caval-
laria da Corte, fazendo nesta jornada muito avultadas des-
pezas á sua própria custa.
Tendo de fazer o dito irmão do Supplicante o seu re-
gresso pelo Porto do Maranhão, sem attender ás commo-
didades, que lhe resultarião de o fazer por um caminho mais
breve, e mais seguido, foi voluntariamente á vista de S. João
da Pernahiba, cento e dez legoas distante da capital de
Piauhy, encarregado pelo seu Governador; que então era
Gonçallo Lourenço Botelho, de diligencias muito interes-
santes ao Real Serviço ; e nesta Villa se deteve o tempo ne-
cessário a concluillas no meio da cruel epidemia, que in-
festava, e que levava todos os dias á sepultura muito dos
seus moradores.
Feito este serviço, passou o Irmão do supplicante ao Ma-
ranhão, onde embarcou para esta Corte ; e depois de ter a
honra de beijar a Augusta Mão do Senhor Rei D. José, foi
Despachado Governador da Capitania do Maranhão, de que
— 47a —
SC lhe passou Patente em 23 de Janeiro de 1774, onde cer-
tamente faria grandes, e úteis serviços, como já tinha dado
bastantes provas, se a morto não encurtasse tanto a sua
vida : ficando inúteis, e perdidas todas as dcspezas, que
tinha feito para o seu transporte desta Corte, que lhe im-
portarão em mais de 10 g cruzados, além de mais de 20 $
que gastou em ir a Paiz tão remoto levantar a dita compa-
nhia de Dragões, sem nelles se incluirem os gastos d\
creaçâo da dita companhia, os quaes todos tem recaindo na
pessoa do supplicante, e em sustentar-se por tão longas, e
repetidas jornadas em procurar os meios mais elTicazes de
fazer effectivas as diligencias, de que foi incumbido, e em
manter a independência, e desinteresse, que devem ter, os
que lem a honra de servir aos seus Soberanos, muito prin-
cipalmente naquelles Paizes.
Por todo estes 14 annos de seniços contados desde 24
de Dezembro de 1760, cm que assentou praça, até 13 de
Fevereiro de 1774, em que faleceu em actual exercicio; os
quaes serviços pertencem ao supplicante por virtude da
dita Doação, espera o supplicante que V. Magostade se
digne attendello com a Liberdade própria da Sua Real
Grandeza.— E. R. M.
Relaçtlo dos Doetimentos Juntos.
Escriptura de Doaçáo causa mortis celebrada em 8 de Maio
de 17G5 nas Notas de Francisco Xavier Lino. Tnbellião
na Cidade de Oeiras, Freguezia de N. S. da Victoria da
Capitania de S. José de Piauhy.
Patente de Capitão da companhia de Dragões, creada no
Piauhy em 3 de Junho de 1760.
Patente de Capitão de Dragões em o 1 ." de Jullio do 1760,
n
— 473 —
Certidão do dia cm que assentou Praça de Capitão de Dra-
gões, que foi em 7 de Julho de 1760.
Fé de OlGcios de Capitão de Dragões no Piauhy em 10 de
Junho de 1770.
Certidão do Termo que fez no levantamento da compa-
nhia &c. em 8 de Abril de 1761 &c.
Altestação dos serviços feitos no Piauhy em Praça de Capi-
tão de Dragões em o 1 .® de Agosto de 1769, passada por
João Pereira Caldas Governador da dita Capitania.
Attestação dos mesmos serviços, passada por Gonçalo Lou-
renço Botelho, Governador da dita Capitania em 7 de Ju-
nho de 1770.
Certidão passada pelo Conde de Azambuja, Governador,
e Capitão General da Bahia em 5 de Maio de 1766.
Certidão do Alvará de folha corrida em 19 de Maio de 1770.
Patente de Governador do Maranhão em 25 de Janeiro
de 1774.
Carta de S. Magestade para se lhe dar a posse, na mesma
dat:).
Carta de participação de S. Magestade para os Ofliciaes da
Camará da dita Capitania na mesma data.
Certidão de Óbito, que foi a 13 de Fevereiro de 1774. É
passada pelo Prior da Freguezia de Santos.
PETIÇÃO.
é
Senhora.— O Bispo Conde dezejoso de mostrar-se agra-
decido a seu Irmão o Desembargador João Pereira Ramos
de Azeredo Coutinho, ao qual deveu sempre desde os pri-
meiros annos todos os cuidados d'um bom Pai, vem rogar
a V. Magestade queira dignar-se fazer ao dito seu Irmáo, e
f
~ 474 —
a seu Filho, que lhe houver de succcdcr na sua caza,
aquella Graça, que o Supplicante poderia esperar da Gran-
deza de V. Magestade pelos Serviços que o supplicante
tem feito a V. Magestade, ao Augustissimo Senhor Rei D.
José de Glorioza Memoria, e ao Estado.
O Supplicante conhece o quanto os seus serviços são pe-
quenos ; elle mesmo não tem animo de os appresentar a V.
Magestade ; pois que a simples ideia de pedir por elles a
mais pequena recompensa o enche de pejo, e de vergonha :
elle ficaria mudo, se a Benignidade de V. Magestade, e dos
Seus Soberanos Progenitores não tivessem permittido. e
mesmo mandado pelas suas Leis, que os Yassallos que ti-
vessem servido ao Estado, appresentassem as provas dos
seus serviços ; sem duvida, ou para serem recompensados,
dando-se um exemplo a todos para mais, e mais os convi-
dar a bem servirem ; ou para serem desprezados, em cas-
tigo do pouco, ou nada. que satisfizerão os seus deveres.
Esta Ordem, consoladora para o supplicante, o anima a
pedir a V. Magestade, se digne conceder-lhe alguns ins-
tantes para fazer uma breve exposição dos seus trabalhos
litterarios, e daquillo, de que V. Magestade e Seu Augusto
Pai e encarregarão.
O supplicante entrou para o Gollegio dos Militares, como
porcionista, em 30 de Junho de 1732: passou a ser Colle-
gial do mesmo Gollegio em 6 de Septerabro de 17o4 ; e no
dia 24 de Outubro do mesmo anno foi Graduado Doutor
emGanones. Continuou depois a vida Académica: e sendo
Oppozitor ás Cadeiras rezidio amargamente ; fez lições
aos estudantes nos Bacharéis, Formaturas, c Actos Gran-
des ; argumentou nas Goncluzões Magnas, pelos turnos ;
substituio Cadeiras; ostentou, c fez Opposição á Cadeira
do L.o G.® das Decretaes, que'se pôz em Concurso no anno
%
— 473 —
de 1 7Gíj ; o a ludo satisfez na conformidade do Decreto de
23 de Janeiro do mesmo anno, que deu nova forma para os
Actos Littcrarios nos Concursos das Cadeiras.
Sendo Reitor do Collegio dos Militares em 31 de Julho
de 17GI, promoveu utilmente a adiantamento, e interesses
do mesmo Collegio. Nos seus exercidos Académicos sérvio
o Supplicante ao Augustissimo Senhor Rei D. José por
tempo de doze annos e meio contínuos, desde 1704, cm
que tomou o Grão de Doutor, ató 29 de Agosto de 17G7,
em que o mesmo Senhor lhe fez Mercê do Lugar de Juiz
Geral das Ordens MiHtares ; c vindo logo exercitallo nesta
Corte, foi, pouco depois, despachado Desembargador da
Gaza da Supplicaçáo, por Decreto de 18 de Janeiro de
17G8, com a clauzula de fazer Exame vago antes da posse
do dito Lugar, por virtude da sua Carta de 16 de Julho do
mesmo anno, em breves tempos passou a seryir uma Gaza
de Aggravos, em que trabalhou por mostrar a sua activida-
de, inteireza e rectidão.
Por Carta de 29 do dito mez de Janeiro, e anno de 1768
foi o supplicante provido ein um lugar Extraordinário do
Tribunal do Santo Oflicio da Inquisição de Lisboa : e crean-
do o Senhor Rei D. José a Meza Censória, foi o suppli-
cante um dos primeiros Deputados Ordinários delia no-
meado na Carta de 22 de Abril do dito anno de 1768.
Estando o supplicante empregado nos ditos Lugares, foi
nomeado Vigário capitular pelo Cabido de Coimbra, para,
sem reserva alguma de Jurisdicção. governar aquelle Bis-
pado, pelo impedimento do seu legitimo Pastor: o que tudo
foi approvado pelo Senhor Rei D. José por Carta de 12 de
Dezembro de 17G8, dirigida no Avizo de 17 de Dezembro
do mesmo anno.
Esta commissáo era critica, sem duvida, pelas circums^
/
— 476 —
tancias, e desordens, em que as cousas se achavão: alizon-
ja, e a intriga principiarão logo a fazer os seus oíTicios.
accumulando males sobre males, que a custa de nâo peque-
nas fadigas pôde o supplicante desviar, e pôr tudo em paz,
e no mesmo estado, em que o seu antecessor tinha dei-
xado.
No exercido das ditas occupações se conservou o suppli-
cante até 14 de Maio de 1770, em que o mesmo Senhor
Rei D. José o Nomeou Reitor da Universidade de Coimbra,
para a Reforma dos Estudos, aos quaes se hia dar novo me-
thodo, e bom gosto. Para este fim veio o Supplicante
promptamente a esta Corte a beijar a Regia Mão Benéfica,
e prestar o Juramento do seu importantíssimo lugar. E
creando o mesmo Senhor no dito anno a Junta da Provi-
dencia Litteraria, para nella se disporem os meios mais
próprios, e conducentes para se reformarem os Estudos
de todas as Sciencias, e Faculdades, o Nomeou um dos
Conselheiros no Decreto de 23 de Dezembro de 1 770. Con-
cluída a Obra dos Novos Estatutos, foi provido no lugar de
Reformador por Decreto de H de Septembro de 1772, c
condecorado com Titulo do Conselho de S. Magestade.
Depois partiu o supplicante para aquella Cidade a man-
dar apromptar as cousas necessárias, e as Cazas para o
Estabelecimento da Reforma encarregada pelo dito Senhor
.10 Marquez de Pombal; etudo executou promptamente,
de modo que o dito Marquez pôde facilmente executar a
Regia Commissão, e recolher-se a esta Capital no breve
espaço d' um mez.
O dito Marquez, como Lugar Tenente de S. Magestade
para a dita Reforma, depois de significar â mesma Univer-
sidade o quanto o dito Senhor estava satisfeito do zelo, c
dezempenho, com que o supplicante se tinha comportado
I
— 477 —
nas suas obrigações, o encarregou de tudo o mais, que se
devera fazer era consequência. Era necessário reformar os
Estudantes; reformar e fazer de novo muitos edifícios: o
supplicantc passa a dará V. Magestade uma breve noçáo do
que pertence aos Edifícios ; depois passará ao que pertence
aos estudantes.
Novos Estudos, novas Sciencias pedião novas Aulas, no-
vos edifícios para a sua boa accommodaçSo . O supplicante
fez edifícar de novo um magnifíco Muzeu, que em todo o
tempo, não só fizesse ver a Poderosa, e Augusta Mão do
seu Autor ; mas também, que tivesse as Cazas necessárias.
Fez também bom Gabinete de Historia Natural, com salas
proporcionadas, para nellas se depozitarem as ricas, e raras
producções da Natureza, destribuidas pelos trez Reinos
Animal, Vegetal, eMineral.Fezoutro Gabinete de Physica
Experimental com muitas Maquinas, e Instrumentos ri-
quíssimos da melhor escolha para todas as experiências.
Fez de novo um Laboratório Chimico com todas as suas
Officinas necessárias: um Dispensatório Pharmaceutico :
um Observatório Astronómico com muitos e diversos Te-
lescópios : um Hospital com Aulaspara a Medicina Pratica :
um Theatro Anatómico : uma Imprensa Regia com os ca-
racteres, e Instrumentos necessários.
No antigo Paço das Escolas fez renovar as Aulas, e man-
dou abrir Tribunaes em cada uma delias para os Reitores
com facilidade, e sem serem vistos, de dentro da Gaza Rei-
toral verem, c ouvirem quasi ao mesmo tempo todos os
Exercicios Académicos. Por baixo das abobadas das ditas
Aulas, e nas lojeas delias, que quasi de nada servião, fez o
supplicante abrir accommodações excellentes para uma boa
Caza de Secretaria, e seu Cartório, o para salas do Con-
selho da Fazenda : uma Caza forte para o Cofre ; reformou
JULHO. 64
— 478 —
a Caza Reitoral ; e fez abrir communicações interiores para
todas as ditas Aulas, Salas, e Gazas.
Fez uma Caza para as Audiências da Conservatória, e
uma Cadeia lavada dos ventos, tudo por baixo da grande
Livraria da Universidade. Deu principio a um Jardim Bo-
tânico, para o qual descobriu agua em abundância, e para
a Cidade: Concertou Aulas, Sellas, e OíTicinas do Real
Collegio das Artes : fez estabelecer uma Fabrica de Azule-
jos, e de telhas vidradas para as mesmas Obras da Univer-
sidade.
Ao mesmo tempo foi o supplicante também encarregado
da Inspecção das Obras do Real Convento de Santa Clara da-
quella Cidade? por Carta Regia de 3 de Dezembro de 1773.
De todas as obras da Universidade remetteu o suppli-
cante o Balanço geral com a boa administração da Fazenda,
que tudo foi approvado, mandando-se continuar o plano,
que fez dos Balanços no fim de cada mez, para melhor co-
nhecimento das despezas. Deu -se -lhe faculdade ampla
para fazer todas as mais obras, que ao supplicante pare-
cessem convenientes, com a certeza de serem indefecti-
velmente approvadas, como foráo todas as que o suppli-
cante completou; assim como também os meios, de que
uzou para suprir a falta de dinheiro, que então havia no
Cofre da Fazenda da Universidade : tudo consta das Cartas
juntas a esta Supplica, escritas ao supplicante pelo Marquez
de Pombal, Ministro de Estado, que então era.
Vendo porém o Senhor Rei D. José que as rendas, que
até então tinha aquella Universidade, não erão bastantes
para bem encher as suas altas ideias, lhe fez com Mão Li-
beral uma Doação, digna, sem duvida, da Grandeza de
um Soberano, e que fará eterna a sua memoria nos Fastos
d'aquaella Reformada Academia.
%
— 47» —
Pelo que pertence aos Estudantes, conhecendo o suppli-
cante que as Universidades são Escolas, não só de Letras,
mas também de virtudes ; trabalhou por uma parte em ex-
tinguir a abuziva liberdade da dissolução dos costumes da
mocidade, inspirando-lhes os princípios da boa moral ;c
por outra parte suscitando-lhes sentimentos de honra, ede
applicação para os Estudos ; e com effeito foi notável a
emulação, que se introduziu entre el!es, e o ardor, com
que principiaváo o seu novo Curso : nas noites observava-
se um silencio profundo, e náoseviáo Estudantes nas ruas
no tempo do Estudo. De dia vinhão todas às Aulas, sem fal-
tarem ; e depois se recolhião a continuar os seus Estudos.
Todas as suas conversações dentro, e fora de caza erão
sobre a matéria das Lições. Todos os lugares de distracção
até ahi frequentadas, e se vião dezertos : não houve bulhas,
dissensões, prisões, e nem o supplicante teve motivo de
reprehender ; sendo que em outro tempo não bastavão as
cadeias, erão necessárias tropas de cavallaria armadas, e
os mais rigorosos castigos.
Vai-se a mocidade toda cheia de modéstia, toda apartada
das antigas liberdades, toda civil, e com uma attençáo
grande em mostrar melhoramento na sua conducta ; assis-
tindo ás Funções Académicas, Sagradas, ou Litterarias,
com gravidade, sizudeza, e Religião ; e dando em tudo
signaes, que respeita vão a Ordem Publica.
O supplicante é o mesmo que confessa, que em todo este
tempo fui supérflua a sua inspecção, e nem se sentio falta de
Leis de Policia ; porque todos procuraváo satisfazer os seus
deveres. Este espectáculo de modéstia, de applicação, de
traníiuilidade, e de ordem era visto com admiração de toda
a Cidade, a qual cheia de Estudantes, se via como dezerta,
pelo retiro, e recolhimento dos mesmos.
— 480 —
Passados alguns annos, principiou n ir-se sentindo al-
guma alteração nesta paz, e ordem causada por alguns va-
dios, que se vestiâo de batina para passarem por Estudan-
tes. Deu isto occaziáo a uma Representação, que fez o
supplioante ao Marquez de Pombal ; o qual por uma Pro-
vizão mandou, que se expulsassem fora da Cidade os ditos
vadios, e perturbadores, debaixo de penas graves, se tor-
nassem à Cidade; e que ninguém podesse trazer batina,
senão os Estudantes, e aquelles, que pertencessem ao Cor-
po do Clero.
Para evitar que a relaxação senão introduzisse com
ruina dos Estudos, e dos costumes, havia providencia de
se rondarem de noite as ruas, e de se proliibirem as Cazas
de Jogo ; de impedir-se que não houvesse comedias na Ci-
dade, e de se prenderem aquelles que se achavão cúmpli-
ces. São factos notórios, que não podem ser contestados,
e se colligem das ditas cartas juntas a esta Supplica ; todas
muito honrozas para o supplicante ; e por não cançar pa-
ciência de S. Magestade, bastará parte d'uma delias, para
se ver o muito que o Augustissimo Senhor Rei D. José se
deu sempre por bem servido de tudo quanto o supplicante
fez, como lhe significou o dito Ministro de E^^tado nas se-
guintes palavras.
t A bem deduzida conta, que Y. Ex. me dirigiu na data
« de 2G de Outubro próximo precedente, sobre o estado
« actual dessa Universidade, foi logo prezente a El-Rei
« Meu Senhor. S. Magestade conheceu com as suas cla-
« rissimas Luzes serem os meios muito ajustados para os
« dczejados fins de se crearem nessa Universidade homens
« sábios, e proveitosos ; e de se esperarem uns progressos
« Litterarios, que correspondão á Sua Real Expectação.
« A vigilância, e incansável cuidado, com que V. Ex. não
i
481
« poupa nenhuma diligencia, que possa conduzir aos refc*
« ridos fins, merece um digno louvor.
No meio de ludo isto se não descuidou jà mais o suppli-
cante do Governo do llispado. de que estava encarregado ;
e cuidou logo na reforma dos costumes das suas Ovelhas,
contcndo-as na pureza da Religião, e da Fé; e fez conser-
var em todo o seu cxplendor a magnificência do Culto
Divino.
Depois querendo o- Senhor Rei D. José que se provesse
o dito Bispado de Coadjuctor, e futuro Successor, pelo im-
pedimento do Bispo, que entáo era, Nomeou o Supplicante,
o qual foi Confirmado pelo Santo Padre Clemente XIV.,
que expediu as Bulias em conformidade das Instancias do
dito Senhor.
Estando o supplicantc no exercicio dos ditos Empregos,
foi chamado pelo respeitável, e Sábio Visconde (hoje Mar-
quez de Ponte de Lima) Ministro, e Secretario de Estado,
por Avizo de 5 de Junho de 1777 para vir da parte daquelle
Corpo Académico achar-se prezente à Exaltação de V. Ma-
gestade ao Excelso Throno dos Soberanos Seus Antepas-
sados; c assistir ao Juramento que S. Magestade se dignou
prestar, na qualidade de Protectora da Universidade a
exemplo dos Seus Gloriozos Predecessores.
E querendo então o supplicante dar Conta a S. Magesta-
de da sua Administração, apprezentou um volume, em que
descreveu uma relação geral do estado da Universidade de
Coimbra, desde o principio da Nova Reforma, até o mez
de Septcmbro de 1777, em que o supplicante teve também
a honra de appresentar o Plano das providencias, que ainda
se fazião indispensáveis para o complemento da grande
Obra da Reformação dos Estudos.
Em 16 de Novembro do mesmo anno se dignou S. Ma-
— 482 —
gestade Mandar que o Supplicante continuasse no exercí-
cio do Governo Académico, honrando-o com Expressões
tão gloriozas para o Supplicante, que elle se náo pode
dispensar de as referir.
« Confiando do zelo, e vigilância, que tendes mostrado
• em adiantar a cultura das sciencias na mesma Universi-
€ dade: Tenho por muito certo que fareis observar os Es-
« tatutos delia, promovendo a boa Ordem, e Disciplina, e
€ os Estudos, que nelle se recommendão ; em quanto não
«' Mandar dar as Providencias necessárias para mais eili-
f cazmente se facilitar o mesmo fim.
Tendo-se porém introduzido algumas relaxações nos
Exames das Disciplinas Preparatórias, mandou o suppli-
cante fixar um Edital para as obviar, e destruir, o qual pôz
na Prezença de S. Magesta le, que achando-o conforme ao
bom regimen dos Estudos, se dignou Approvallo sem res-
tricçâo.
Fellecendoo Bispo de Coimbra, D. Miguel da Anunciação
em. . .de de deu o supplicante conta a S.
Magestade, de que na conformidade da Bulia da sua
Coadjuloria, e fuctura successão, deveria immediatamente
entrar de posse daquelle Bispado então vago pela morte do
dito Prelado ; e ao mesmo tempo pediu a demissão dos
Cargos de Reitor, e Reformador pelas razões, que então
expôz a S. Magestade, que achando-as muito justas, se
dignou dispensallo, fazendo prover nos ditos dous lugares
ao Virtuozo, Sábio, e Prudente Principal Mendonça, hoje
Em. Cardeal Patriarcha da Santa Igreja Patriarchal de
Lisboa.
Estes são, Soberana Senhora, os esforços, que o suppli-
cante tem feito para bem servir a S. Magestade, e a seu Au-
guslissimo Pai o Senhor Rei D. José por espaço de 26 annos
— 483 —
conlinuos. Os primeiros i4 nos exercicios da vida Acadé-
mica desde 24 de Outubro de 1734, em que se Doutorou,
ate 29 de Agosto de i767, em que foi despachado Juiz das
Ordens Militares; três immediatamente seguintes no ser-
viço da Magistratura, como Juiz Geral das Ordens, Deputado
do Santo Ofllcio, e da Real Meza Censória, e Desembarga-
dor da Gaza da Supplicaçáo, onde occupou a serventia de
uma Gaza de Aggravos, da qual saliio para o Governo do
Bispado, conservando todos os lugares da Magistratura,
que occupava. Finalmente mais 10 para H annos desde
i4 de Maio de 1770, em que foi Nomeado Reitor, e Gon-
selheiro da Junta Litteraria, trabalhando nos Novos Esta-
tutos, que depois fez pôr em pratica, como Reitor, e Re-
formador ; e sendo também inspector, e Executor de todas
as obras, que se fizeráo na Universidade até o fallecimento
do Augustissimo Senhor Rei D. José, e depois no Feliz
Reinado de V. Magestade.
Mas, Soberana Senhora, tudo isto é nada. O supplicante só
espera da Liberalidade, e Grandeza de V. Magestade. Elle
só põe na prezença de V. Magestade uma divida eterna,
de que se vê onerado.
O supplicante lembrado do grande affecto, e amor, que
desde os seus primeiros annos deveu sempre a seu Irmão
o Desembargador João Pereira Ramos de Azeredo Couti-
nho, e do muito que elle contribuio com a sua doutrina,
direcção, e despezas para melhor o dispor, e habilitar para
o Real Serviço ; querendo este dar-lhe um testemunho do
seu reconhecimento, e ser-lhe de alguma sorte agradecido :
roga a V. Magestade se digne fazer-lhe a Mercê de Despa-
char na pessoa do dito seu Irmão, e em seu Filho primo-
génito, e na falta delle, no que succeder na sua Gaza, a
cada um in soluUm todos os serviços, que elle supplicante
— 484 —
tem tido a honra de fazer a V. Magesladc, e a seu Aiigus-
tissimo Pai nos diversos Empregos, em que elle Suppli-
cante foi occupado, e para este fim os cede lodos na Real
Prezença de V. Magestade a cada um delles in solidum.
E quando a V. Magestade pareça, que os Serviços do
Supplicante merecem alguma altenção, V. iWageslade com
um só Despacho fará dous contentes.— E. R. M.— Fran-
cisco Bispo Co)ide.
RelAçao dos Doetimentos Juiitofi.
Certidão dos Serviços feitos na Universidade datada de 2 de
Março de 1791.
Dita da Provisão de Porcionista no CoUegio dos Militares
da Cidade de Coimbra em 30 de Junho de 1752.
Dita da Provisão de CoUegial no Real Collegio dos Milita-
res em data de R do mez de Septembro de 1734.
Dita da Provisão de Reitor do Collegio dos Militares, da-
tada de 31 do mez de Julho do anno de 1761.
Dita da Provisão do Lugar de Juiz Geral das Ordens, com
data de 9 do mez de Agosto do anno de 17G3.
Dita da Provisão de Deputado do Santo OflQcio da Inqui-
ziçáo de Lisboa em data de 29 do mez de Janeiro de
1768.
Dita da Carta de Desembargador da Gaza da Supplicação,
com a data de 16 do mez de Julho do anno de 1768.
Dita da Carta Regia de Deputado da Real Meza Censória,
em 22 do mez de Abril de 1768.
Dita da Carta do Cabido, da Nomeação de Vigário Capi -
tular, em 12 de Dezembro de 1768.
Dita do Avizo de Participação desta Nomeação, em 17 de
Dezembro de 1768.
— 483 —
Dita (la Carla Regia de Reitor da Universidade, em 14 de
Maio de 1770.
Dita da Nomeação de Deputado da Junta da Providencia
Litteraria. em 23 de Dezembro de 1770.
Dita da Carta do Titulo do Conselho de S.Magestade, em 2
de Septembro de 1772.
Dita do Decreto de Nomeação de Reformador da Universi-
dade, em 11 de Septembro de 1772.
Dita do Avizo Régio para continuar na mesma Reformação
por mais 3 annos, em 2 de Outubro de 1773.
Dita da Carta Regia de Inspector das Obras do Convento de
Santa Clara, em 23 de Dezembro de 1773.
Dita que comprehende varias Cartas, e outros Documentos,
que servem de testemunhos dos Serviços feitos em os
Lugares de Reitor, e Reformador da Universidade. É
passada pelo Secretario da mesma Universidade, em data
de 27 de Fevereiro de 1791.
••€M<9»
JULUO. 62
REIiAÇAU
dasdlirerentespeçnedeniuBlca^que ItlarcoB For»
tusal tem feito desde que H. A. WL. o Prinelpe
R. nr.S* houve por bem empresal-o no seu Beal
Serviço % espeelileando as eomposiçôes para
I9reja9 tanto Instrumentaes eomo de Capella^
muslea de theatro tanto em liisboa eomo na
Itália? onde o dito eomposltor foi por duas
vesees eom lleença empressa do mesmo Augus-
to Senhor, devendo as époehas que não vào
declaradas eoustar ao eerto pelos orlf^lnaes,
de que a maior parte emlste em liisboa.
liisboa ItS de Junho 9 no anno de iS09.
niARcos portijc;ai..
Theatro.
Operas sérias, em diversas partes da Itália.
1793 — II Cina Era Florença, no thea-
tro delia Pérgola.
179G— Zulima • . . Era Florença, no thea-
tro alia Palia -corda.
1797 — Ritorno di Serse No mesmo theatro.
1793 — Demofonte Em Milão, no theatro
delia Scala.
1799— I Sacrifizj d'Ecate o sia
Idante No mesmo theatro.
1798 — Fernando nel Messico. Era Veneza, no theatro
S. Benetto.
1799— Alceste Em Veneza, no theatro
delia Fenice.
%
— 489 —
1799— Orazj c Curiazj Em Ferrara,no theatro
novo e na occazião da
sua abertura.
Burleiías também em diversas partes da Itália.
1793— 1 (lue gobbi Em Florença, no tbea-
tro alia Palla-corda.
1794— La Vedova reggiretrice Em Florença, no thea-
tro delia Pérgola.
179e — LMngano poço dura.. Em Nápoles, no theatro
dei Fiorentini.
1 796 — La Dona d'ingenio volu-
bile Em Veneza, no theatro
S. Moisé.
1698 — L'ecquivoco in ecquivo-
co Em Verona, no theatro
grande.
1799— LeNozzediFigaro.f Era Veneza, no thea-
tro S. Benetto.
Farças em um sú acto.
1793 — II Príncipe i|^nzza ca-
mino Em Veneza, no thea-
tro S. Moisé.
1793 — Rinaldo d^Arte Dito.
1797 — Lc Donne cambiate,o sia
il Cíabattino Dito.
1797— La Maschera Fortunata. Dito.
1798— La Madre amorosa.... Dito.
1798— II fdosofo Dito.
179S — L^awenturiere Em Florença para um
theatro particular.
t
■%
^ 490 —
Operas seiias, feitas para o theatro de S. Carlos em Lisboa,
1800— L^Adrasto
1801 — Semiramide
1801— Zaira
1802 — Trionfo di Clelia
1802— Sofonisba.
1803 — Ritorno di Serse Differenle musica de
outra escripta pelo
mesmo autor, em
Florença.
1804 — Fernando nel Messico. . Também quasi toda
differente de outra
escripta em Veneza.
1804— Merope^
1804— La Ginebra di Scoria..
1805— II Duca (di Foix
1806— La morte di Mitridate.
1806 — Artaserse
1807 — li Demoponte
Uma Burletta para o m^esm^ tliealro,
1803— L'ôro non compra anaore
Cantatas,
1 809 — La speranza, osia il felice
augúrio Cantata completa com
coros : executada no
theatro de S. Carlos
em Lisboa no dia 13
de Maio : annos de
S. A. R. o Principe
R. N. S.
— 491 —
1793— II natal (l'Uliisse Para se executar no
Palácio do RealCas-
tello em Lisboa.
Cantatas com o único acompanhamento de forte^piano, e so-
mente a uma voz para pessoa particular,
L^amor tímido . • Em Lisboa.
II Sogno Dito.
La tempesta Dito.
La danza Dito.
Uma outra cantata em portuguez com todo o inslrumefital.
1806 — O génio americano.... Em Lisboa para se
executar na Bahia.
1808 — La speranza Cantata a S. A. R. no
theatrodeS. Carlos*
1808— L^orgoglio abaltuto . . . Theatro deS. Carlos.
Burlettas em Portuguez: no theatro do Salitre em Lisboa.
1790 — A Esposa fingida Traduzida do Italiano
de uma intitulada—
le Trame diluse.
1791 — Os Viajantes ditosos. . . Traduzida do Italiano
de outra intitulada :
I viaggiatori felici.
1792 — o mundo da lua Traduzida também do
Italiano; mas com
os reccitativos em
prosa.
j
— 49Í —
Entremezes no dito theativ do Salitre.
j ^ O Amor artífice
^ A Castanheira
g A Casa de Café
o
^ Os bons amigos
òo O amante militar
Cl
S Elogio
CD»
:5 Elogio
í« Elogio
Alem disto— muitas Árias, Duettos, Tercetos, e outras
peças soltas, que nào é possivel lembrar.
Farçãs iw Tlieatro da Rua dos Condes em Lisboa.
1794 — O Basculho de chaminé. Traducçáo do italiano
de uma intitulada
II Príncipe spazzaca-
mino do mesmo Au-
tor, mas quazi diffe-
rente do primeiro
original.
i794 — O Rinaldo d'Aste Com as mesmas cir-
cumstancias.
1802 — A caza de campo. .... Traducçáo do italiano
de uma intitulada la-
villa.
1802 — Quem busca lãa fica tos-
queado Traducçáo do italiano
de uma intitulada
L'ccquivoco.
\
— 493 —
1802—0 Sapateiro ( Estas tem muita
1 analogia cora ou-
j trás do mesmo Au-
1 802 — A Mascara ' tor feitas em Itália.
I\ S.
1812— A saloia namorada Para se executar na
quinta da Bella Vis-
ta pelos Escravos de
S. A. R.
Muzica particular, e feita por motu-proprio do mesmo Autor.
1809— Um Hymno da Naçáo
portugueza, comoacom-
panliameuto de toda a
banda militar Dedicado a S. A. U o
Príncipe R. N. S.
1808 — Retro Hymno , cora o
acompanhamento tam-
bém de toda a banda
militar Dedicado a mesma
Naçáo portugueza.
Igreja.
Missas.
1783- Uma Missa a canto de
orgáo Para a Patriarchal.
1784— Dita Dita.
1784— Dita Dita.
1780 — Dita com instrumental. Sem destino.
1781— Dita com instrumental. Particular.
1782— Dita com instrumental. Executou-se no dia de
S.*' Barbara na Real
Capella de Queluz.
JULHO. 63
— 494 -
1791 — Dita instrumenta; Por ordem de S. M.
em Nossa Senhora do
Livramento.
1809 — Dita a 2 sopranos e um
contralto com acom-
panhamento de forte
piano Para capella particu-
lar.
Por ordem de S. A Real o Príncipe R, N. S,
1788— Dita com fagotes, violon-
cellose órgão Na Real capella de
Queluz.
1789 — Dita e da mesma quali-
dade Dita.
1802— Dita com instrumental. Dita.
1804 — Dita com 4 órgãos obri-
gados Para a Real Bazilica
de Mafra.
1805 — Dita da mesma quali-
dade Dita.
1806 — Dita breve Dita c na noite de
Natal.
1807 — Dita com 6 órgãos obri-
gados Dita.
1811 — Dita a grande instrumental para a Real capella
do Rio de Janeiro.
1831 — Dita pequena de instrumental, para a capella da
Real quinta da Bella Vista.
1816 — Uma Missa de Requien com todo o inteiro ins-
trumental, para servir nas exéquias da Rainha
D. Maria I na Real capella do Rio de Janeiro.
'^
— 495 —
Jogos de vésperas inteiros por ordem de S.A.R,o Príncipe
R. N, S,
1800— Um de Nossa Senhora
com fagotes violoncel-
los, e orgão Para a Real capella de
Queluz
1804 — Dito de S. Francisco
com 4 órgãos alternadas
com o coro Para a Real Bazilica
de Mafra.
1805 — Dito de S. Francisco
com 6 orgâos inteiros . . Dito.
Psalmo soltos, e fora de jogo : sem ser por ordem Real : a
excepção dos apontados.
1781 — Dixit a 8 e a canto de
orgão Para a Patriarchal.
"^ Dito a 4 Dita.
Dito Dita.
; Laudate pueri a 4 Dita.
! Laudate pueri a 5 Dita.
Dito a solo de Baixo Particular
^ Dito a solo de Soprano . . Para a Capella d'Aju-
i da. (Violani)
^ Dito a solo de Contralto . . . Dita — ( Martini)
, Dito a solo de Contralto. . . Dita — ( Venâncio)
f Dixit, Laudate ; Confitebor
' *p com instrumental Particular.
1807— Laudate pueri a 6 órgãos
obrigados Por ordem deS. A* R.
na vespei^i do tliu dos
seus aiinos, Na Hoal
Bazilica de Mafra.
à
— 496 —
o Confitebor a 4 vozes, e a
C; canto de orgáo Para a Palriardial.
S Dito Dita.
cT^ Dito Dita.
P Dito Dita.
1805 — Confitebor tibi Domine
in verba cordis mei. . . Por ordem de S. A.
R. para o Real Ga-
pella da Bemposta.
o Beatus vir a 4 vozes, e a
2^ anto d'orgão Para a Patriarchal.
^ Dito Dita.
o Dito Dita.
1800 — In Exituacantod'orgão. Por ordem de S. A.
R. para a Capella de
Queluz.
1800 — Memento Dita.
18C0 — Deprofundis Dita.
1807 — Dito com 5 órgãos obri-
gados e alterados com
o coro Por ordem de S. A.
R. para a Bazilica do
Mafra.
1807 — Beati omnes dito Dita.
1782 — Magniíicat a canto d'or-
gão Para a Patriarchal.
1783 — Dita Dita.
1807 — Magnifica ta 6 órgãos obri-
gados Por ordem Rca! i)ara
^ Real Bazilica de Ma-
fra.
— 497 —
1807 — Dita da mesma qualidade. Dita.
1776 — Miserere a 4 vozes, e a
canto d^orgão Sem destino.
1782 — Dito a 5 vozes Para a Patriarchal.
1807 — Dito com O orgâos obri-
gados Para a Real Bazilica
de Mafra, e perten-
cendo aos Respon-
sorios da 5.* Feira
Sancta.
iV. B.
1807 — Dixií Dominus a 6 orgáos
obrigados Na Real Bazilica de
Mafra,
1810 — Laudate pueri a solo de
tenor Particular.
1 81 3 — Um jogo de vésperas, com
violoncellos , fagotes ,
contrabaixos, e órgão
para a Capella Real do
Rio de Janeiro
1815- Além do orgáo, accres-
centou o seu autkor a
este mesmo jogo um
acompanhamento com-
pleto de todo o instru-
mental
I'com or-J
fíáo e to-{ Real Capella do Rio
do o ins-í de Janeiro*
.trumenlO
.^
cJ
— 498 —
Jogos de Matinas por ordein de S. A. R. o Priticipe R, N. S.
1795— Matinas da Conceição
com todo instrumen-
tal Para a Real Capella
de Queluz em acção
de graças.
1802 — Outras ditas Dita e por igual oc-
casião.
1804 — Ditas de S. Francisco íi
4 órgãos obrigados. . . Para a Real Bazilica
de Mafra.
1907 — Ditas de Reis a 5 órgãos
obrigados Dita.
1813^— Reduzidas a pequeno ins-
trumental para a Capella
Real do Rio de Janeiro.
1807 — Ditas de Santo António
a 3 órgãos obrigados. Dita
1807— Ditas de S. Pedro rega-
lado a 6 órgãos obri-
gados Dita.
1807— Ditas que se cantão na
5* Feira Sancta Dita.
1813 — Reduzidas a pequeno ins-
trumental para a Capella
Real do Rio de Janeiro.
1807 — Ditas de Defuntos, a 6 ór-
gãos obrigados Dita.
1813 — Reduzidas a grande instru-
mental para as exéquias
do Sr. D. Pedro Carlos.
— 49» —
18H — Ditas do Natal, com clari-
netes , trompas, fago-
tes, violoncellos, evio-
lettas Para a Gapella Real
do Rio de Janeiro.
Responso^ios soltos, e compostos sem ser por ordem Real, á
excepção dos apotitados.
1789— Dous Resp.®* dos Marty-
res com instrumental. Para a Igreja deS.
Julião.
1809— Três Resp.*>^ de Santo An-
tónio a canto d'orgâo,
com fagotes e violon-
cellos Para a Sancta Igreja
Patriarchal, em ac-
ção de Graças pela
restauração da Ci-
dade do Porto
i781 — Si quoeris miracula a 4
vozes, e canto d'orgão. Sem destino.
1 809 — Dito a dous sopranos e um
contralto com o acom-
panhamento de forte
piano Para Capella parti-
cular.
1807 — Dito com 6 órgãos obriga-
dos Por ordem de S.
Â. R. para a Real
Bazilica de Mafra. 1
1809— Dous Responsorios de N.
S. da Conceição com
órgão obrigado Para o Convento de
S, Pedro lie Atcnn-
tara.
f*
— 500 —
1809— Quem vidistis pastores?
Responsorio do Natal
com órgão obrigado. . Para o Convento de
S. Pedro de Alcân-
tara.
Por ordem,
1815 — Dous Responsorios para
se cantarem no Domin-
go do Espirito Sancto
com orgâo e instrumen-
tos de vento Real Capei la do Rio
de Janeiro.
181 — Um te Deum a 8 vozes com
todo o instrumentai Por convite doEmi
nentissimo Cardeal
Patriarcha, para se
cantar no dia de S.
Silvestre na Igreja
Patriarchal.
1782— Dito a canto de órgão. . . Para a Patriarchal.
Por ordem de S. A. R, o Prhicipe Regente N. S, em occazião
de nascimento de Pessoas Reaes,
1793 — Um te Deum com instru-
mental No Paço de Queluz.
1795— Dito com instrumental. . . Dito.
1802— Dito Dito.
1807 — Dito com 5 órgãos obriga-
dos Na Real Bazilica de
Mafra.
1814— Este mesmo reduzido a to-
do instrumental para a
Real Capella do Rio de
Janeiro Em acção de graças.
— 501 —
Seqiuncias ]H)r ordem de S. A. R. o Pnncipe Regente N. S.
i807— Victime paschali a 6 or-
* gâos obrigados Na Real Bazilica de
Mafra.
1813 — Reduzida com violinos,
fagotes . contrabaixos
o órgão para a Real Ca-
I)e!la do Rio de Janeiro
1807 — Veni Saneie Spiritus. . . Dito.
Í8I3 — Reduzida da mesma ma-
neira Para a Real Gapella
do Rio de Janeiro.
1807— Lauda Sion da mesma
qualidade mas alterada
com o coro Dito.
1813 — Reduzida da mesma ma-
neira Para a Real Gapella
do Rio de Janeiro.
1792— Confirma hoc Deus a
canto d'orgáo. e a 5
vozes Esta não foi por or-
dem Real, mas sér-
vio na Patriarchal em
occasiãodeChrisma.
Motletíos.
1807 — Uma peça de musica for-
mada à maneira de
Mottetto ; extrahida de
diversos Psalmos, for-
mando um todo ; a 6
órgãos obrigados. ... Na Real Bazilica de
Mafra : em 13 de
Maio.
lULHO. 64
— S02 —
Esla mesma reduzida a instrumentos de vento
juntamente com órgão para a Real Capella do
Rio de Janeiro.
1796— Um Motteto com ins-
trumental a solo de so-
prano Particular (TedeUno) .
1787 — Dito de Soprano Particular (Toti.)
1792 — Dito de Baixo Particular (Brizzi.)
1783— Dous ditos também de
Baixo Particulares (Taddeo
Puzzi.)
Ladainhas soltas.
1779 — Ladainha a 4 vozes, com
acompanhamento de
cravo • No Seminário.
1807 — Dita com G órgãos obri-
gados, e variada.... Na Real Bazilica de
Mafra por ordem de
S. A. R.
1808 — Dita a 3 vozes: 2 sopra-
nos e 1 contralto, com
acompanhamento de
forté-piano : também
variado Para Capella parti-
cular.
Ajitiphonas,
1780 — Salve Regina a canto de
órgão Para a Patriarchal.
1780— Sub tuum presidium dito Dita.
1809— Dito a dous sopranos, e
um contralto com for-
te-piano obrigado. . . Para Capella particu-
lar.
— S03 —
1809 — Dito da mesma qualidade Dila.
Cânticos.
1806 — Benedictus com 4 órgãos
obrigados Na Real Bazilica de
Mafra.
181 1 — Novena de N. S. do Mon-
te do Carmo Para a Real Capella
do Rio de Janeiro.
1813— Novenade S.João Baptista Para a Real quinta da
Bella Vista.
Kalendas.
1806— Uma Kalenda a solo de
soprano com todo o ins-
trumental Para se executar na
Ilha Terceira.
1809— Dita com simples acom-
panhamento d'orgão. Particular.
Muitas Lamentações da 4S 5^ e 6* Feira Sancta : compos-
tas em differente épochas ; sendo umas com instrumental,
e a maior parte com simples acompanhamento d^orgão, e
para dilTerentes destinos. Além disto também : diversas
Jaculatórias.
— 504 —
COPIA FIEI<
Do Original em mao do Sr. Dr. J. M. Nunes Garcia
Em o qual se vê, por notas do próprio punho do Padre
José Maurício, qtie até o dia 6 de Setembro de 1811
tinlia elle escripto as seguintes composiçoens mmicaes pa-
ra a Capella Real :
BIklU Dominuii
Coflitebor
Beatus vir
I^audate ptierl
I^audate Boiuiiium
JUasnlIlra
lioetatas
IVlsl Bomlnus oedlllraverlt
I^aadá Jerusalém
In euLltn
BlITereutea paalmofli avulsos.
memeiUo Boiítinl
Credidl
BeatI onínes
Bomlul probasti
Ineonvertendo Bomlni
EnLaltobo te
Conlltebor quonmlain audlste.
Psalnios alternados s jogos
I^adalnlias
Antífonas
Ave Beslna eoelorunt
— 505 —
Alma Redrntptorl»
Bei^lna eieli lietare
Si queris miraeala
IVIoUetoii da treasena de S. António
St Abat }llater
HloUetoii das Boree
Semana sãnetá:
Responeorloo e lamentaçoens de 4» S^ 6» ffein
Toda a Semana Saneta da Sé
maUnae da Reirarreição*
Responsorloo
Ofllelo der defuntos
lUce Mem
missa eom grande orquestra
Bitas a vozes e ors^ano
Solos avulsos
Hlottettos eom grande orquestra
Bito eom violoneellos e fagotes
-«— a vozes eorgano
IVovenas t de S. José
Bita do Coração de Jesus
do Carmo
Sequenelas
Te Beum landamns
Bitos de violoneellos e flsgotes
a vozes e organo
£eee Saeerdos
O Salntarls hóstia
— 506 —
Tantam erso t
O saerum Coit^lwlntus t
miiia» do Adweuto e da Quaresma.
Hlottettoii daa S doinlitsaa da Quareama, e das
iluatro do Advento.
Beitedlrtaa «
DUo de TioloueeUofli e fagotes
a voses e or^auo
dasprorlasoeiis
matinas
Bita de vloloneellos e fagotes
a vozes e or^ano
!Viottettoa |tara a proelasao de Corpo de Beui
Pançe llnj:a.
llyninop a vozes M
Missas lie eaiitoehao Amarado 4
REVISTk TRIMENSkL
DO
INSTITUTO HISTÓRICO» GEOGBAPHIGO B ETHNOGRAPHIGO
DO
4.« TBIAIESTBE DK iflft»
SOBRE Â FUNDAÇÃO DAS FACULDADES DE DIREITO NO BRASIL.
A diíBculdade de obter todos os documentos relativos as
Faculdad.es de Direito, e que seriam necessários para fazer
a historia completa d'ellas desde a sua fundação, ^ tf o recor
nhecida que eu espero merecer indulgência pelas lacunas e
imperfeições deste trabalho, que, para ser compIcKfo. siwrfei
mister que me fosse possivel ir estudar minuciosamente Oí
archivos das Faculdades de Olinda e S. Paulo e coUigjr todos
os documentos que sobre ellas devem existir ifii sãeçSò
respectiva na Secretaria d'Estado dos Negócios do Império.
Por mais de um motivo me era isto impossivel; e por tanto
fui forçado a demorar o meu trabalho, podendo só 0M^
colher algumas noticias e desenvolvel-o sobre poucâBj%-
completas, e algumas talvez erradas informações.
A pouca curiosidade dos nossos patrícios sobre as cousas,
ainda mesmo as mais úteis e admiráveis de nossa terra» é
bem notória; apesar do estimulo qiMkeste Instituto procura
desenvolver, e do qual alguns de seus dignos membros tem
dado louváveis exemplos em relevantes serviços que tem
prestado á Litteratura, á Historia, e à Geographia do Brasil,
e quando as bellezas e as riquezas naturaes do paiz nos tem
OUTUBRO 65
— 508 —
íiílo moslradas por estrangeiros que vem do longe admirai-
9$ nio DOS devemos surprehender ao ouvir dizer que nada
se tem coHigido, e que em geral nada se sabe sobre a origem^
sob a utilidade, e sob a historia de muitos dos nossos mais
importantes estabelecimentos, e menos ainda sobre as causas
que motivaram a fundação de cada um d'elles.
Está pois em harmonia com o estado de nossas cousas, a
âífficuldade, ou antes a impossibilidade, de encontrar os
documentos precisos para coordenar a historia de um*Bsta-
belecimento de letras no Brasil onde elles começam agora
à ter mais regular direcção e cujo aperfeiçoamento é de es^
perar da solicitude do Governo Imperial para este ramo do
serviço publico*
O memorável acontecimento da Independência do Brasil,
tão fértil em resultados grandiosos de civilisação e de pro-
gr^síopâraa Terra de Santa Cruz, marco j a epocha do
fpoMço dis instituições de toda a natureza com que um
fiíliclp^ Illustrado e Magnânimo adornou a sua coroa de
gtvrias durante os poucos annos de seu reinado, cada um
doB (fitííM íicou assignalado na Historia Nacional por fun*
dações sabias e úteis à prosperidade que então se presagiava
do novo Império. O commercío crescia com a população
qaa-^ disseminando pelo nosso vasto continente, hia pene-
trando as virgens florestas, afugentava os gentios, fazia
correr para longe as feras, derrubava os vetustos madeiros
para dar caminho ao génio civilisador, substituía por po-
voações regulares, as mesquinhas aldeias, ou ranchos de
primitivos habitantes^ e o homem civilisado da Europa hia
levar a industria e a cultura ao seio dos desertos ameri-
oauos, até então fechados pelas cadeias coloniaes à luz da
civilisação. A fertilidade e riqueza destas terras povoavam
rapidamente os sertões que gradualmente se descobriram e
— Õ09 —
nos quaes novas propriedades se estabeleciam. Mas se por
um lado a vida do industrioso aventureiro era a cada mo'^
mento ameaçada pelo bramir da fera, ou pelo sibillar da
sétta do gentio do deserto, não menos o era a propriedade
que elle com tanto esforço e coragem adquiria, e que a co*
bica de seus próprios patrícios procurava constantemente
usurpar. Esta lucta do direito de propriedade era natural em
uma população que pela maior parte tinha sido formada de
homens da plebe e de criminosos que Portugal degradava
para os seus domínios do Brasil, à cujos administradores o
Governo Portuguez dava amplos poderes para castigar,
salvando somente a pena capital aos nobres para quem
El-Rei se reservou o direito de decreta-la. Este rigor, este
amplo poder conferido aos Capitães Gcneraes deixa compre-
Iiender sufficientementc que tal necessidade era indicada
pela natureza dos povos que elles governavam.
Os Missionários mandados em grande numero para todsA.
as partes do Brasil, onde se assentava uma nova povoaçáb^
eram insuflicientes para chamar ao seio da Igreja as hordasde
selvagens que difficilmente cediam seus desertos e abando^
navam sua vida errante para viverem em fraternidade evan-
gélica com os Europeos, cujos excessos c attentados muitas
vezes inutilisavam os esforços da cathechese que conaeçata
apresentar seus benelicos resultados. Por estas razões a
previdência do Governo Portuguez não mandava somente
soldados da Igreja, como também mandava os da justiça que
auxiliassem os Governadores no honroso encargo de garan-
tir as vidas, e as propriedades dos povos contra os crimes,
e as tentativas la avaresa.
Assim cresceo a civilisação, a riqueza e a população do
território brasileiro até que circumstancias politicas, que
não cabe aqui desenvolver, promoveram a emanciparão dc^
^ 510 —
Estado colooial que se tornou independente. Este facto
memorável accrescentou à pouca moralidade e à pouca cíyí*
lisação dos povos todos os inconvenientes das exagerações
de princípios e opiniões politicas manifestadas por homens
que em geral desconheciam os limites do justo e do honesto
e dos direitos civis que adquiriam com a Independência do
Brasil, e não nos devemos admirar que isso acontecesse
então, se até ha bem poucos annos tantas dissenções en-
torpeceram o florescimento e engrandecimento do Império,
(porque a ambição de alguns homens se apoiava na igno-
rância das massas da população para tentar a realisação de
inqualificáveis e insólitas pretenções), e ainda hoje grande
porção de povo desta capital, mosirando-se completamente
ignorante e inappreciadora de suas conveniências mercadeja
um direito que lhe é conferido pela constituição do Império.
Os princípios liberaes que presidiram a organisaçâo da
nossa lei fundamental, eas divisões administrativas de nosso
Império deram iugar ao apparecimento de maiores e mais
amplas ambições, e se nos tempos coloniaes os homens de
mesquinha consciência tentavam senhorear-sc de riquezas
por meio da fraude e de crimes, vio-se depois a pretençáo
de honras e de influencia politica em homens que não es-
tavam em circumstancias de manifestal-a, mas que por ella
se distinguiram nas pequenas localidades, não duvidando
para isso pôr em pratica attentados contra as vidas e pro-
priedades de seus concidadãos. A vasta extensão do nosso
território e a pouca população muito disseminada neUe
tomaram uma necessidade as subdivisões politicas e admi-
nistrativas em harmonia com os princípios políticos estabe-
lecidos, e a magistratura foi uma grande, e ta vez a maior
necessidade de então para a fiel e regular execução das leis
e para garantir os direitos dos povos; porém sendo muito
— 511 —
limitado no paiz o numero dos formados em direito, e sendo
de mister proporcionar aos brasileiros todas as commodi-
dades e gosos, dando-se-lhes jurisconsultos, e magistrados,
havendo mesmo necessidade de generalisar a instrucçáo
em todos os ramos dos conhecimentos, necessidade ur-
gentissima para o duplo fim de illustrar a população e de
cumprir uma das promessas de melhoramento que a consti-
tuição havia annunciado. Estas mesmas circumstancias e a
imperiosa necessidade de magistrados, reclamada pelo
rápido augmento da população que se dissemaniva por todo
o Brasil, foram pois as causas que induziram á fundação de
Academias Juridicas no Brasil ; e como a extensão do Im-
pério não removeria a circumstancia da longa distancia da
fonte da sciencia para os filhos das províncias mais remotas
d'aquella em que ella fosse estabelecida, o Governo Imperial
promoveo a lei de 11 de Agosto de 1827, pela qual foram
fundados dous Cursos Jurídicos sendo um na cidade de
Olinda em Pernambuco, e outro na cidade de S. Paulo.
Anteriormente à esta fundação houvera a ideia de cre-
ar-se uma Academia Juridica na cidade do Rio de Janeiro,
e para este fim o fallecido Marquez de Inhambupe, então
Ministro do Império, havia chamado o Dr , José Maria d' Avellar
Brotéro, formado pela Universidade de Coimbra, o qual foi
nomeado Lente para Academia de S. Paulo por Decreto de
12 de Outubro de 1827, e em Janeiro do anno seguinte,
sendo Ministro do Império o Exm. Sr. Dr. Pedro d' Araújo
Lima, hoje Marquez de Olinda, e actualmente com a pasta
do Império, recebeo o dito Dr. Brotéro ordem para partir
para S. Paulo a fim de abrir a respectiva Academia, o que
teve lugar no 1.^ de Março seguinte. Em 12 de Outubro de
1827 também tinha sido despachado Director da Academia o
fallecido Tenente General José Arouche de Toledo Rendon,
— 312 —
e este junto com o então Presidente da Provinda o Conse-
lheiro Thomaz Xavier Garcia d'Aimeida, o Bispo Diocesano,
que era o fallecido D. Manoel Joaquim Gonsalves dWndrade,
authoridades civis e quasí todo povo da cidade assistiram a
inauguração da Academia, a qual ficou sendo a primeira em
antiguidade, porque a de Olinda por causas desconhecidas
só se abrio alguns mezes depois. Doeste modo ficou fundada
a Faculdade Jurídica de S. Paulo, sendo aberta a aula do l^
annoem 1.*de Março, principiando o Dr. José Maria d^Avel*
lar Brotéro a ler direito natural. O Governo Geral tinha de
ante mão acceitado a olTerta dos Religiosos de S» Francisca
e mandado tomar posse, para os trabalhos da Academia»
do cla.istro do convento. (*) A inauguração e as lições da
aula tiveram lugar em sala que foi apromptada na anti^
sachristia. Foram logo nomeados Lentes para S. Paulo os
Drs. Balthasar da Silva Lisboa o Luiz Nicoláo Fagundes
Varellà, por Decretos de 22 de Julho de 1828. com os quaea
começaram os actos do 1 .' anno. O Visconde de Cachoeira
havia formulado os estatutos para a projectada Faculdade
de Direito do Rio de Janeiro, á cuja installaçáo parece
que obstou o Conselho d'Estado dessa épocha, e esses es-
tatutos regeram os dous Cursos Jurídicos até 30 de Marca
de 18ò2, em que foram postos em execução os (**) de 7
(*) Os Religiosos largaram a final todo o convento aos 8 de No*
vembro de 18^; tendo sido voliiutariamentc cedido pelo Provinciak
Isso consta do aviso de 31 de Agosto do mesmo anno.
(*•) Os esta lutos que regeram o Cur»co Jurídico de S. Paulo appns
vados pela resolução legislativa de 7 de Novembro de 1831 foram
assignados pelos Lentes Drs.BrotTo, Fagundes Varella, Carneiro de
Campos. Fernandes Torres, e Thí)maz José Pinto de Cerqueira (estes
últimos dous professores pediram suas demissões logo depois. ) O Dr.
António M:tria de Moura foi despachado Lente Cathedratico de Pratica
— 513 —
de Novembro de 1831, e durante o período decorrido desde
a installaçâo do Curso Jurídico de S. Paulo até o anno de
1834 foram despachados Lentes, além dos que jà vão men**
cionados, o Dr. Carlos Carneiro de Campos, por Decreto de
9 de Fevereiro de 1829, o Dr. José Joaquim Fernandes
Torres, por Decreto de 3 de Março de 1829, o Dr. Prudencio
Geraldes da Veiga Cabral, por Decreto de 6 de Abril de
1829, o Dr. Balthasar pedio sua demissão de Lente em 20
de Outubro de 1829, foi nomeado o Dr. Clemente Falcáo de
Sousa, por Decreto de 30 de Novembro de 1830 Substituto;
e proprietário por Dicreto de 20 de Abril de 1831. O Dr.
Manoel Joaquim do Amaral Gurgel, Lente Substituto por
Decreto de 12 de Outubro de 1833 e proprietário por carta
de 20 de Fevereiro de 1834, finalmente os Drs. Dias de
Toledo, Pires da Motta por cartas de 22 de Maio de 1834, o
o Dr. Anacleto Ribeiro Cõbtinho, por Titulo passado em 31
de Julho de 1834 Substituto ; e Lente proprietário por
Decreto de 10 de Outubro do mesmo anno. Por Decreto de
30 de Setembro de 1828 foi nomeado Secretario da Aca-
demia o Dr. Luiz Nicoláo Varella, com a gratificação mensal
de vinte mil róis, igual nomeação e com o mesmo venci-
mento coube aoDr. Pedro Autran para Olinda. A inaugu-
ração da Faculdade deScienciasSociaese Jurídicas de Olinda
do Processo— 1.* cadeira do 5.* anno por Decreto de 11 de Agosto
de 1828. O Dr. Silveira da MoUa, qae depois o substituio está hoje
neita corte advogando tendo-se jabilado.
Em qaanto ao eomporlaménto dos estudantes nos Paços da Aca-
demia é auperior a todo elogio» os estrangeiros que vão vesital^a
nada tem que extranfaar ou apontar como novo .
No principio das Academias houve falta de respeito para com os
mestues, talvei isto pelo principio de om liberalismo mal entendido.
— 514 —
teve lugar no dia 15 de Maio de 1828. referindo-me ao que
me foi comraunicado por escripto pelo seu respectivo fun-
dador o Exm, Sr. Desembargador Lourenço José Ribeiro, a
quem ouvi a respeito. Diz S. Ex. em uma carta que tenho
presente. « A missão de fundar a Faculdade de Direito em
Pernambuco me foi confiada pelo Exm. Sr. Pedro de Araújo
Lima, então, assim como hoje. Ministro do Império, e
Marquez de Olinda, e partindo da corte em 2 de Abril do
dito anno apresentaram-se quarenta e dous estudantes, que
se matricularam depois de feitos os exames preparatórios, e
a Academia insta!lou-se no dia 13 de Maio do referido anno,
em presença de numeroso concurso e das primeiras au-
thoridades, proferindo eu um discurso análogo ao objecto.
Era então Presidente de Pernambuco o fallecido Senador
José Carlos Mayrinck da Silva Ferrão, que de muito boa
vontade se prestou a todas as requisições, occupava o lugar
de Commandante de Armas o fallecido Barão de Tramandahy,
então Brigadeiro Antero José Ferreira de Brito, que muito
concorreo para o brilhantismo deste acto, apresentando-se
em Olinda com toda tropa do seu commando, e um parque
de artilharia, que salvou depois de concluido o mesmo
acto. » A Academia foi installada no convento de S. Bento,
cujos Monges de mui boa vontade cederam a parte delle que
foi requisitada. Entre os quarenta e dous alumnos que se
matricularam nesse anno, diz o Sr. Desembargador L. José
Ribeiro, tive a fortuna de encontrar muitos estudantes dis-
tinctosque ainda hoje servem ao paizcomsumma distincçáo
em diversas posições, bem como o Conselheiro d'Estado
Eusébio de Queiroz, Sérgio Teixeira de Macedo, seu finado
Irmão Dr. Álvaro, S. Ex. Rev. o Sr. Bispo Conde Ca-
pellão Mor, Senador Dantas, e muitos outros que muito me
honram jà na Tribuna do Senado, Camará dos Deputados, jà
— 515 —
no Ministério, Conselho de Estado, Diplomacia, Presidências
de Província, Magistratura Ac. Ac. »
Quanto a doutrina peio Sr. Desembargador L. José Ribeiro
professada e os seus actos, diz elie, que melhor podem in-
formar os seus discipulos, e o mesmo Sr. Marquez de Olinda,
que sendo alli mandado pelo Sr. D. Pedro 1 .% em j^829,
para syndicar o estado do estabelecimento, teve a bondade de
communicar-lhe esta missão, e quanto voltava satisfeito para
informar à Sua Magestade Imperial. Teve o Sr. Desembar-
gador a tarefa de analysar no segundo anno a Constitui-
ção do Império e deste insano trabalho immensa vantagem
resultou não só aos seus discipulos (como elles diziam)
como também a toda Província, porque era a Constitui-
ção alli olhada com horror pelos dous partidos que então a
retalhavam. Os absolutistas a despresavam receiando que
pela sua demasiada franqueza viesse a degenerar em um
Governo Republicano, e os republicanos a detestavam por
causa do Poder Moderador que consideravam hostis ás
liberdades publicas e um despotismo encoberto. As lições
do Sr. Desembargador Ribeiro os desenganaram de seme-
lhante erro, muito mais quando transcriptas nos periódicos
correram toda a província, e |foi então que se formou
o grande partido constitucional que é hoje o maior c o
mais forte de tola Província. Em 1831 retirou-se para a
cidade do Recife por incommodos de saúde; e d'essa ci*
dade partio para a Corte, pedindo sua demissão de Dire-
ctor do Curso Jurídico, a qual lhe foi concedida em 10
de Fevereiro de 1832, sendo elle nomeado Secretario do
Supremo Tribunal de Justiça. Jà a muito que instava pela
dita demissão depois de alguns acontecimentos que ti-
veram lugar na Academia. O assassinato do estudante
do 1.^ anno Francisco da Costa Moreira commettido
Outubro fi6
- 516 -
em 1831 pelo estudaiite do 4.*' Joaquim Sarapião de Can»
valho, a arbitrariedade do Lente Dr. Manoel José da Sitva
Porto, que convocava a congregação sem sua licença es-
tando elle na cidade do Recife, as lutas que teve com o
Dr. Moura Magalhães, donde resultara a representação que
este fez ao Governo Imperial como consta das folhas do
Itfino de 1830, a respeito da qual fora ouvido e se defendera
eoinpletamentesendo aquelle Lente advertido pelo Groverno,
motivaram sua retirada da administração da Academia sendo
Homeado em seu lugar pela Regência em nome do Impe-
rador, por Decreto de 15 de Maio de 1832, o Dr. Manoel
Ignacio de Carvalho, o qual tomou posse em 9 de Janeiro
dô mesmo anno.
D^e a installaçáo da Academia de Olinda foram no-
meados Lentes os Drs. António José Coelho, Jansem,
ífaroos António d' Araújo e Abreo, Manoel José da Silva
Porto todos estes por Decreto de 22 de Julho de 1828,
assim como o Dr. Pedro de Cerqueira Lima, e Pedro Fran-
cisco de Paula Cavalcanti de Abulquerque, e Manoel Maria
do Amaral por Decreto de 9 de Fevereiro de 1829.
Em S. Paulo também f) occorreram alguns successos
entre Lentes e o respectivo Director o General Toledo,
sendo este quasi compellido a 23 de Outubro de 1829 á
pedir sua demissáo por virtude da desabrida guerra que
(*) Em 1935 em S. Paulo sendo Director o Dr. Carlos Carneiro
de Campos, apparccco uma crise terrivel de anarchia para o que
ceocorreram causas extraordinárias pessoaes e politicas. Foi então
que um estudante deo publicamente uma bofetada em um professor,
(o qnallogo deixou de o ser]. £ste acto foi processado criminalmente,
pofém o acadcmico não teve o menor castigo, conseguio seu diploma,
e a Congregação dos Lentes mostrou fraqueza, c nenhum espirito de
corporação.
- 517 —
lhe fazia o Dr. José Maria de Avellar Brotéro. O Governo
Imperial, certo dos bons serviços que ia prestando o referido
Director Toledo, fez expedir um Aviso em 1829, sendo
Ministro do Império o finado José Clemente Pereira, adver*
tindo o referido Lente pela maneira porque desconsiderava
o Director da Faculdade. (*)
O Governo Imperial no empenho de desenvolver todos os
elementos moraes da educação e da instrucção nacional côa*
fiada à seus cuidados, e uzando da authorisação que Ihefftii
confiada no Decreto n."* 608 de 16 de Agosto de 1851 julgou
ter attendido a mais vital necessidade da Faculdacte Jurídica
reformando seus estatutos, e foram pois não só ampliados,
mas melhor distribuídas as matérias do ensino. Estes esta«
tutos foram dados por Decreto n."" íiZh de 80 de Março de
1853 e depois delle appareceu outro Decretou."* iS86 de 28
de Abril de l8oi dando novos estatutos, por virtude da au-
thorisação dada pelo Decreto n.* 71i de 9 de Setembro de
1853. £ ultimamente baixou o Decreto n.^ 1568 de 2i de
Fevereiro de 1855approvando o RegulamoRto complementar
das Faculdades. Neste intuito, o Governo aproveitou as luzes
e a experiência das respectivas corporações scientificas e das
pessoas illustradas. Por occasiáo. da reforma bem convinha
ter o Governo instituído nas Faculdades uma formatura em
scíencias sociaes somente que habilitasse para os cargos que
nío exigem um conhecimento particular do Direito Civil.
Esta formatura que se poderia fazer em três annos de estudo
(*) Apparcceo dr pois deste facto o Decreto de 19 de Agoslo de 183T
marcando a maneira porque devem ser processados academicamenic
of cstadantesque faltarem.o respeito devido aos professores, deixando
• julgamento a mercê áh Congregaçâo.Gom os novos estatutos ouiraft>
providencias foram tomadas.
— 518 —
das matérias dispersas pelos 5 annos, assim abreviaria uma
carreira a mocidade estudiosa, e facilitando as habilitações
officiaes, dando mais ampla ambição á aquelles que veem-se
circurnscriptos a carreira judiciaria.
Com os novos {Istatutos foram creadas duas cadeiras,
e deste modo foi satisfeita uma das necessidades recor
nhecidas por todos aquelles que estudam Jurisprudência,
ainda que por eOeito destas creações se sobrecarregassem de
Ipbalho alguns annos; estes annos são o l,"" e o 5.* ensi?
Hando-se neste. Direito Administrativo além de outras
Qiaterias, e n'aquelle o Direito Romano. Este tem de ser
invocado não só para esclarecer a nossa legislação civil como
pnra supprir suas lacunas, e o Direito Administrativo cujo es-
tudo era ha muito reclamado, por onde se mostra a acção e
Oômpetencia do poder executivo central e dos poderes locaes
Antes da reforma dos Estatutos e depois delia tem sido
nomeados Professores para S. Paulo os Substitutos Drs.
Coares, Ramalho, e Furtado de Mendonça, sendo nomeados
pelo Governo Imperial Substitutos os Drs. Gabriel José
Rodrigues dos Santos, António Joaquim Ribas, e Martim
Francisco, por carta de 19 de Julho de 185í. O Pr. João
Dabney d'Avellar Brotero nomeado Substituto por carta
Imperial de 13 de Junho de 1855 tomou posse na Faculr
dade de Direito da Cidade do Recife no dia 6 de Outubro de
1855, foi removido para a Faculdade do Direito da Cidade
de S. Fanlo por Decreto de 3t d(3 Maio de 18õÇ, e tomou
posse em 17 de Junho do mesmo anno. Ficaram Substitutos
OS Drs. João da Silva Carrão e Luiz Pedreira do Couto
Ferraz, aquelle nomeado por carta de 5 de Julho de 1845,
e este por Carta de 2p de Outubro de 1839. O Curso Juri-
diço d'01inda teve vários Directores depois dos dous acima
referidos: forapa ellos os Srs. Padre Miguel do Sacramento
— rii9 —
Lopes Gama, Conselheiro Pedro irAraujo Lipia, Conselheiro
António Peregrino Maciel Monteiro, Bispo D. Thomaz de
Noronha, Visconde de Goyanna. Na reforma foi nomeado
Director o Dr. Pedro Cavalcanti, hoje Baráo de Camaragibe.
Lente Jubilado da mesma Eschola, por Decreto de de 22 de
Julho de 1854; tomando posse em 11 do mez de Novembro
lio dito anno. (*)
Sáo Professores da Acaderaii Judiciaria do Recife os Drs.
Autran que alli serve desde 31 de Julho de 1828 principiando
como Substituto, e Secretraio, e nomeado em l.** de Março
de 1830 Lente cathedratico do 1.* anno, teve prorogação
de ensino por Decreto de 4 de Agosto de 185o passando a
reger a cadeira de Economia Politica, for.io em 1835 nomear
dos Lentes os Drs. Paub Baptista, Bandeira de Mello, José
Bento da Cunha e Figueredo, e em 1851 o Dr. Nuno Ayque
d'Avellos Annes Goés de Brito Inglez, que começou como
Substituto em 14 de Janeiro de 1837 ; o Dr. Lourenço Trigo
de Loureiro, que sendo nomeado Professor de Francez do
Collegio das Artes em 14 de Fevereiro de 1828, e Secretario
(^j Em S. Paulo tem havido os seguintes Directores: o Tenente
General José Ârouche de Toledo, do qual já demos noticia, que sérvio
desde Í827 até 23 d'Agosto de 1813, pedindo sua demissão, â.^* o Dr*
(^rlos Carneiro de Campos que sefvio desde Agosto de 1833 ale 5 de
Novembro de 1835, 3.® o Senador José da Gosta Carvalho, hoje Maquez
de Monte Alegre.que sérvio de 25 de Novembro de 1835 atende Junho
de 1836, que pedio sua demissão, 4.<^ o Senador Nicoláo Pereira de
lampos Vergueiro que sérvio desde 8 de Março de 1837 até 1841. Na
falta dos Directores a é academia governac|a pelos Lentes roais anti-
gos. Depois do Senador Vergueiro occupou o lugar de Director o Dr.
Brolero; e actualmente depois de feita a reforma foi nomeado o Dr.
Manoel Joaquim do Amaral Gurgel que ha três annos dirige os
trabalhos da Faculdade, onde (ambem é Lente desde 12 de Outubro
<le 1SI33 a qqe já a dirigia alguns annos antes dosta ultim reforma.
— 820 —
interino do Curso Ju^ico em 5 do mesmo mez e do aaino
de 1833, Bibliolhecaría neste mesmo mez e anno, e Lente
Substituto em 1.** de Julho de 1840 passou a Proprietária
por Decreto de 15 de Mj^ío de 1852 e transferido para a 1.^
cadeira do i.* anno.
Na reformi foram nomeados pi^oprietarios os Db.
Joaquim Vilella de Castro Tavares, que era Substituto desde
7 de Julho de 1840, o, Dr. Jerónimo VHeHa de Castro que
era Substituto desde 30 de Abril de 1844, o Dr. Manoel
Mendes da Canha e Azevedo, e o Dr. Zacharias de Góes e
Vasconcellos que jà era Substituto desde Julho de 18*0.
O Dr. Manoel Mendes da Cunha e Azevedo foi nomeado eia
!.• de Julho de 1854, Professor da nova cadeira de Direito
Romano, o Dr. João José Ferreira d' Aguiar, por igual De-
creto, e pela Jubiiaçâo dada ao Conselheiro Zacharias de
Góes e Vasconcellos foi nomeado Professor da Cadeira dè
Direito Administrativo, o Dr. Vicente Pereira do Rego quo
jà era Substituto desde 36 de Abril de 1835. Proprietam
por Decreto de 17 d' Abril deste anno, tendo a Facoldade
mais os seguintes Substitutos, todos elles nomeados na
occasião da reforma, menos o ultimo o que foi em 3 de
Junho deste anno: sâo os Drs. Braz Florentino Henriques
de Sousa, José António de Figueiredo Júnior, Joáo Silveira
de Sousa, José Bonifácio dWndradu o Silva, e Manoel
do Nascimento Machado Portella. Depois da reforma dos
Estatutos tem já sido escriptos os seguintes compêndios:
Da pratica do processo criminal composto para uso da aula
da segunda cadeira do 3." anno pelo Dr. Joaquim Ignacio
Ramalho.
Da Pratica do processo civil, organisado pelo Lente da
mesma cadeira na Faculdade do Direito do Recife o Dr.
Francisco de Paulo Baptista, obra recommendavel que tem
— 521 —
sido hem acceita em ambas as Academias, merecendo
justos elogios dos professionaes.
Da Pratica do Processo Criminal e do Militar pelo Dr.
Prudencio Geraldes Tavares da Veiga Cabral.
Compendio de Direito Administrativo pelo Dr. Vicente
Pereira do Rego.
Muitos serviços tem sido prestados por vários Profes*
sores das Faculdades.
O Dr. Braz, Professor Substituto da Faculdade de Direito
do Recife, anotando o Código Commercial Brasileiro com
toda legislação respectiva que se lhe seguio depois da data
de sua publicação, prestou um valiososerviço ã todos aquelles
que tem necessidade de consultar frequentemente esse ramo
da nossa legislação pátria, e que consideram o tempo como
um capital precioso para não o consumir em buscado Avisos,
Decretos, Regulamentos disseminados peia nossa jà corpu-
lenta collecção de Leis.
ODr. Joaquim Jeronymo Villela publicando as Instituições
do Direito Publico Ecciesiastico, matéria sobre a qual pouco
ou quasi nada se tem escripto no Brasil, fez um serviço mui
relevante à aquelles que estudam as matérias ecclesiasticas,
porquanto nada existia a semelhante respeito. Este fructo
de aturada leitura do distincto Professor de Direito veio
alliviar a situação dos que ignoram os fundamentos da fé
catholica e entregam-se sem exame a obras fúteis, falsas» e
ridículas.
O Dr. Loureiro, Professor da Faculdade de Pernambuco»
que jà tem enriquecido as lettras pátrias publicando vários
compêndios sobre diversos ramos de Direito, brindou a
Academia com uma nova edicção correcta e augmentada
das suas Instituições de Direito Civil Brasileiro. Era a muito
tempo sentida a falta de semelhante obra, porquanto é bem
— 5íí2 —
sabida a difficuldade que entre nós existe de encontrar-se
liei. clara, e systemathicamente em ura só compendio toda
legislação civil pátria. O Dr. Jerónimo Villela, Professor
da Academia do Recife também publicou uma importante
obra de Direito Ecciesiastico, e flnalmente entre os Profes*
sores distinctos da Faculdade de Direito do Recife, apre-
senta-se o illustre decano d'aquella Faculdade que confiou
aos prelos um novo compendio de Direito Publico Universal
e um tratado de Economia Politica. O nome do Conselheiro
Dr. Autran é náo só conhecido pelas suas producções,
como bem por ser um dos mais fecundos talentos da Aca-
demia de Direito do Recife, sempre admirado pe as suas
doutas e eloquentes lições nas cadeiras de Direito Natiiral^
de Direito Publico, e Economia Politica. Eu que tive a honra
de ouvir suas sabias lições fiquei muitas vezes extasiado e
encantado de tanta eloquência e erudicçáo. O Conselheiro
Autran conta uraa idade maior de cincoenta annos, e vinte
nove de Professor, náo sentio ainda a sua fértil penna en-
fraquecida pelo uso continuado nem a sua cabeça opprimid»i
pelo peso dos annos. Cada dia umnovo triumpho distingue
seu nome, e mais um padrão de gloria lhe ergue a sua
eloquência e profundeza, ganhando uma memoria que fará
o orgulho de seus descendentes, e não hoje que quando se
lê uma obra náo se pensa um instante na cabeça que a
produziu, nem na utilidade qae delia deve resultar, nem os
sacrificios que ella trouxe ao seu author. A Europa tem dado
provas mais de uma vez do apreço em que tem o economista
Autran é credor, e servindo desde 1828 na Academia de
Sciencias Sociaes e Juridicas nem um só instante foi o dito
Conselheiro distrahido de tão honroso empenho, conse
guindo mediante sja única voncarregada de formar uma
lista das obras necessárias para poder suppril-as. Nem me
%
— 523 ~
tade ser hoje o economista admirado e consumado, como
o sábio da Sciencia.
O numero dos Bacharéis Formados nas Aciídemias Jurídi-
cas lio Brasil desde a sua fundação até o anno próximo pas-
sado anda em 180i; deste numero deve deduzir talvez perto
de cem que linhâo fallecido, não se podendo considerar
excessivo, antes pelo contrario é suficiente para as neces-
sidades do paiz, porque existem milhares de localidades do
Império que não tem Advogados formados em Direito, tendo
as Relações dos Destrictos de nomear dentre o Solicitadores
do foro peio menos três para cada Municipio forense,
lie verdade que a maior parte d'elles vivem agglomerados
nas capitães, ao passo que muitas comarcas estão sem um
Bacharel em Leis, para fazer o mais simples requerimento,
ainda que muitos destes lugares não desafie a residência do
Bacharel pela falta de segurança individual e absoluta priva-
ção das commodidades. Entretanto os poderes do Estado
tem preferido os formados em Sciencias Sociaes c Jurídicas
para diversos empregos d' Administração, e muitos delles
tem sido despachados para Secretarias d'Estado, Corpo Di-
plomático, empregos de Fazenda, Tríbunaes do Conuner-
cio, Ac. &c.
Até 18Õ1 existião formados 1324
De 1 852 até 1856 480
Não cansarei a paciência do Instituto com outros factos
occorridos nas Academias, estado de suas Bibliothecas, que
não satisfazem ao seo fim. porque possuindo ellas obras
muito curiosas sobre Theologia, Philosophia; e de antigos
Jurisconsultos notão-se nellas falta de escriptores modernos
e que mais comesinhos são nas mãos dos Estudantes, cons-
ta-me porém que uma Commissâo de Lentes acha-se en-
Outubro 67
— 511 —
eaiTegaila áe formar uma lista das obras ncessarías pam
suppril-as. Nem me demorarei em mostrarnesta resumida
memoria a importante missão civilisadora das Faculdades
Jurídicas, sua grande influencia sobre os costumes, apenas
direi: o que erâo as letras? o que erâo as sciencias em a
nosso Bra^'l antes que se estabelecessem na cidade d'01inda
% S. Paulo as dous ornamentos destas duas Provindas.
Sobmersos e neglegienciados na obscuridade eram ellas
t|ixasi objecto de escameo e de despreso, em regra os filhos
do paiz entregavam-se às ordens religiosas, ao estado cle«
rical, e a não ser alguns filhos afortunados de ricos fazen-
deiros oa do abastados capitalistas que demandavam o velho
mundo e procuravam umi formatura na famosa e decrépita
Coimbra. Más logo que o patriotismo de alguns dos nosso
Legisladores erigio estes dous estabelecimentos jurídicos,
o gosto pelas lettras a[^areceo, as luzes derramaram-se
pela imprensa, Olinda c S. Paulo dotaram o Império com
boas Ministros, dístinctos Legisladores, excellentes Magis-
trados, óptimos \dv(^ados, diplomatas que já nâo nos en-
vergonham». Estadistas consumados, dedicados esteios do
D0S80 sábio e adorado Monarcha e ocupados inteiramente na
prosperídade e engrandecimentoda patría- A terra do Brasil
de árida que era tem-se tornado fértil, tem visto desabro-
char no seu seio venlcs e esperançosos loureiros, e os ma-
gistrados, fillios destas duas Academias, tem sabido honrai-
as, contendo os génios perversos reprímindo as injustiças
onde quer que ellas se achem o qualquer que seja a capa
com que se tenhão encoberto, amigos da lei e fieis execu
fores delia eUes dáo brilho e ornamento à torra donde sáo
íUlios; Dão pactuando com a prepotência, e a inequídade
qualquer que seja o apparato do força, ou de seducçôes de
que se cerquem; elles tem sabido ciunprir sua missão, satis^
— 523 —
fazendo suas próprias consciências, conservando sempre a
rasáo serena e fria como o exige a sciencia, e muitos delles
já eslâo sentados entre aquelles que hontem foram seos
mestres e hoje são seos pares. Os mocos caminham na
vanguarda di civilisacâo por toda parte formam-se asso-
ciações literárias. No Recife e S. Paulo onde estão as duas
Faculdades, os estudantes delias reunem-se em socieda-
deslitterarias e estudam as leis que determinam o desen-
volvimento progressivo dos seres que se movem no mundo
da liberdade e dos elementos constituitivos da ordem moral.
Em Pernambuco o Athenôo e o Monte Pio Académico tem
produzido os fructos que naturalmente deveram esperar os
seos instituidores, Estes levitasdo Direito, devotão-se ao
santo e sublime sacerdócio da sciencia, divertem-se pas-
sando o tempo em discussões sobre o estudo da Jurispru-
dência tendo elles um jornal no qual se lêem vários artigos
sobre importantes questões Jurídicas. lie uma escola onde
a mocidade se ensaia pela palavra e pela penna para as
grandes lutas da inteligência que um dia o aguardào para
foro e na tribuna.
O Monte Pio Académico continuando a soccorrer alguns
mancebos pobres, mas distinctos pelo talento e reconhecido
mérito se tem feito depods de todos os elogios. Devem-se
aos Professores das Faculdades estos benefioos resultados,
por virtude das doutrinas que elles procurão transmittir a
mocidade que os escuta. O século cessou de ser politico ; a
moderação e a concórdia se tem feito sentir em todo o
Império de tempos a esta parte e vai congraçando todos os
indivíduos e todas as classes outr'ora divididas pela exage-
ração e rancor dos partidos. A mocidade estudiosa do
Brasil caminha no movimento que vae dominando em o
Império.
~ 526 —
Parece poder dizer-se que a segunda metade do século
19 será toda scientifica e industrial.
A mocidade comprehendeo bem que, em um p;nz novo
onde tanto ha a fazer, e que entretanto já se assignala
por tantos feitos gloriosos não querendo ella ficar atraz na
carreira do progresso e da civilisação, não lhe sobra tempo
para consumi!-o em mesquinhos ódios, sendo todo elle
pouco para o estudo das sciencias, a meditação e a pratica
dos grandes princípios sociaes. Aquellas associações provam
do modo mais formal que os estudantes de ambas as Facul-
dades são dominados por boas ideias, e trilham agora uma
senda da qual fora para desejar que nunca tivessem o menor
desvio.
Desculpae-me, Sonhores, se não cumpri como devia a
missão que tomei sobre mim, quando me inscrevi o anno
passado. E' a fraqueza de minha intelligencia que me inhibe
de não tornar mais methodica, mais clara, e mais correcta
esta memoria. A Providencia não dá a todos a mesma
missão; aquellesa quem ella dotou de uma intelligencia
luminosa e collocou a frente de seos irmãos, como um
farol, devem preencher esta missão, sejam quaes foVem os
óbices que tenham que vencer, e as dores que tenham que
soíTrer. A mim só é dado pedir perdão por ter abusado da
paciência de N. M. I e de meus estudiosos e caros collegas.
Rio, 9 de Outubro de 1857.
Carlos Honório de Figueiredo.
DA CIDADE DO SALVADOR.
ESCRIPTA POR D. MaMUEL DE MeNEZES
CIIRONISTA MOR E CIlROSMOGRAPHO DE SUA MAGESTADfi E CAPI-
TÃO GERAL DA ARMADA DE PORTUGAL NAQUELLA EMPERSA. CO-
PLV COTEJADA COM O MANUSCRIPTO ORIGINAL DE MADRID — POR
FRANCISCO ADOLPHO DE VARNHAGEM.
LIVRO SEGUNDO.
Do que aconteceo aié render-se praça.
A onze de Fevereiro lerça-feira, as oito da manhã, des-
fraldou a real do inarocceano o que no mesmo ponto imi-
tou a real de Portugal e foram seguindo as outras. Constava
esta armada de Portugal de vinte e três vellas redondas, e de
quatro caravelas. A cappitana, S. António e S. Vicente que
se algum do mundo podia merecer tanto nome de taes
santos, era ella verdadeiramente por grandeza, em que
excedia com grande vantagem as outras reaes do mar
occeano, estreito mas com muito maior nobreza que nella
hya, pessoas mui consideráveis por casas e calidades : a al-
miranta S. José de que era capitão D. Rodrigo Lobo, S.
João Soldouradode Manoel DiasdeAndrada, S.Bertolameu,
de Domingos da Gamara, Santa Gruz, de Gonstantino de
Mello Pereira, Nossa Senhora do Rosário, de Tristão de
Mendonça Furtado, outro do mesmo nome de Ruy Barreto
de Moura e Menezes, Nossa Senhora da Ajuda, de Gregório
Soares Pereira, Penha de França, de Diogo de Varajão,
— »28~
Rosário menor de Xptevão Cabral, Neves mayor, de Do-
mingos Gil da Aionsecca, Menor, de Gonçalo Lobo Barreto,
S. Joio Evangelista, de Diogo Ferreira, Nossa Senhora da
Bonanç^i, de Affonso Barros Caminha. S. Bom Homem, do
João Cazado Jacomo, Boa Viigemque hya com mantimentos,
de Symão Dias Salgado, S. António que também liya occu-
pado, e Rosário menor sem outro navio fretado por Duarte
de Albuquerque Coelho para sua despenca e matelotage.
Nas caravelas hyam os capitães Cosmo Couto Barbosa,
Roque de Monteroyo, Sebastião Marques, náo se achando
nesta viagem a urca Caridade e outro navio era que hyam
os capitães Lansarole da França de Mendonça, Bento do
Rego Barbosa, nem a caravela de Manoel de Palhais quo se
derrotaram nem a Conceição que fez naufrágio. A sinquo
de Março passaram estas armadas a linha padecendo por
aquella parage excessivas calmas a que ajudavam as cesõis
curtas da agua pela muita gente que levavam os navios, e
roim aguada que se tinha feito no Cabo Verde pelo risco cora
queaspipasse embarcaram no porto de Santiago por falta de
aprestos o tempo, occupada a gente em salvar a artilheria,
e na armada de Castella pela pressa cora que se fez sem
conserto algum de lousa. Eníim foram extraordinárias a
respeito da paragem em que lhes parecia navegavam chega-
dosà costado Brrsi! estando na verJade mui distantes delia,
metidos em Guine como depois se coligio pelo que tardou
a costa aos pilotos Cresceo o enfadamento por a ver tam
grande cantidade de chinchas e outros sevandijas que mais
parecia castigo de Deos que fruto de máo tempo, mais im-
portunos que a mesma navcgaçara. Vio-sc terra do Brasil
a 27 de Março em altura de doze graus e dois terços. Des-
pachou logo D. Fadrique de Toledo o capitão José Furtado
a tomar lingua, e por esta via e pela da torre de Garcia d€
^
— í)29 —
Ávila a donde se não descuidavam teve aviso de tudo o qua
se tinha alcançado por espias ou por alguer outra. A 29
dava a armada fundo ao noroeste do forte de S. António
perto de terra, Aliy se soube que a 9 de Janeiro junto à
barra de Parahyha dera nos baixos de Lucena a urca Cari-
dade e lhe fora necessário cortar os mastros para se salvar
o casco e tudo o mais mandando com grande deligencia
acudir a tudo Mathias de Albuquerque luzindo muito
naquelle aperto o trabalho de André Velho filho do doutor
Álvaro Velho do desembargo e camará de S. M. Na-
quelle mesmo dia entrou Lansarote da França com a sua
comi)anhia em quatro barcos acomodadas embarcações
para navegar por aquella costa contra as monsões. Que o
capilão Bento do Rego entrara no Arecife de Parnãobuco
daly navegara ao morro de S. Paulo. Este chegou á Bahya
a 4 de Abril com a caravela de Manuel de Palhais, e outra
que D. Fadrique despachara da Bahya de Cadiz. Veo D,
Francisco de Moura capiiáo mor acompanharam-no Lou-
renço de Brito e alguma gente escolhida. Avisou a D. Fa-
drique do que tinha alcançado das forças do inimigo e
ditosos sucessos dos assaltos as relações sobre que se havia
de fundar o numero e disposição da gente para o sitio d'a-
quella praça foram varias, e já demenuindo as forças do
inimigo, ja acarrando causas ao temor. Mas todos convinham
que a praça fora ja recuperada se ouvera qualquer socorro.
Huns afirmavam que o bispo com esse pouco poder que
tinha estivera mui perto de intentar a imprensa ; que outro
deixara a seo sucessor muitas escadas feitas com que estava
para cometer o asalto a escala a vista. Poderá aquella pre-
sunção causar aborrecimento se em outra cousa se cuidara
que no serviço de Deos de se ajudarem uns aos outros para
conseguir o que convinha ao real serviço de S. M. Que
— 530 —
dentro da cidade averia oitocentos e quando muito nove«
centos homens; feita a receita dos que disiam ficar nella que
eram mil e quatrocentos e a despesa de trezentos para
quatrocentos, que os asaltos e alguma doença tinham con-
sumido fora muitos enfermos e por isso inútil. Que entre
todos averia trezentos que tinham praça de soldado. Os
mais era canalha, a todos faltam mantimentos pelos muitos
negros que Ih^os ajudavam a comer, que já a necessidade
os obrigava a comer os cavallos que lhes ficaram. Tam ame-
drontados todos que seguramente podia o exercito catho-
lico armar-se a seus reparos com segurança de que não
sairia dellôs o inimigo. Lembra-me que fazendo-se muito
caso disto como se fez pecados dos homens ou juízos de
Deos, a Sanfele tendo ja notado, Sy saldran selos
apiertan, mas premitio Deus que nem aly entrase nem fosse
ouvido como devera. Das fortificações da terra havia pouca
diferença, nas relações se bem que acresentavam cousas, e
demenuyam o numero das peças, ou que nâo contaram
bem ou q le depois meteo outras o inimigo. A verdade he
que imaginando a cidade como um meo ovado ao comprido
de norte e sul a corcova para levante. A linha direita para
ponente sobre o mar. nas pontas e na volta averia perto de
sinquenta peças. Pela linha direita nâo seriam de efeito
pelo despenhadouro com que se levanta sobre o mar. Avia
somente no terreiro do governador algumas peças mui
boas, e junto a see três de ferro em um trinchoirão de
fraca espalda abocadas para a parte do norte. Todas aquellas
partes intrincheiradas repartidas com valuaries terraplena-
dos, traveses e cortaduras. Na porta de Santa Luzia duas
meias luas mui polidas como era tudo o qne fizeram em
lugar de parapeito cercado de pipas em ordem dobrada
terraplenadas. Bella-vista indigna de ser pintada 8 relra-
— S31 —
trada como foy, mas para a defença iflutilíssima pela ma-
téria, tudo adobes de terra que náo tem consistência alguma
por mais socada ao pilão que seja, nem ainda em seu
próprio e natural luguar. (Aqui fingiam cappassiciraas abo-
bedas, e minas para voar os atrevidos.) Para todas as de-
tenças torriões, traveses, reducto^, plataformas havia ca-
minho desembaraçado pêra soccorrer pela parte interior,
avendo para isto desmontado arvoredos, desmatelado casas,
e edifícios chamados seus cemitérios. Na parte do Norte
avia outros fortes como os de Santa Luzia quasi yguais em
altura e perfeitos no artificio como fracos na matéria, huns
e outros baluartes mui bem terraplenados, coroados de
pentens daquella madeira que he fortissima cujas pontas
agudas sayam da escarpa mais de sete ou oito palmos vas-
tan temente carregados de terra mui bem socada. A estes
servia de poço huma profundidade natural como a outro o
vasio que ficou da terra com que levantaram as defenças.
Ali fingiam estacas de mui forte madeira fincadas na terra,
de pontas ferradas com que se asseguravam de ser entradas
por aly sem grandíssima defeculdade* Pela parte de levante
avia quasi a mesma forma de poço pela terra que tirara para
as defenças. Mas tudo a formoseava hum lago com dique
(|ue o atravessava pelo largo com sua inclusa tudo bem feito
por extremo. A' margem exterior visinha ao dique tinham
semeado de abrolhos de ferro de três pontas farpadas de
qual parte caissem igualmente nocivas. Defronte do dique
porta de socorro entre dois travesôes, quanto a traça tudo
ordenado por bons mestres. Este lago exageravam fingin-
do-lhe huma Peça e mea em alto pela muita terra cortada
apâ, enxada e ferrão talhado, sendo a verdade de huma
pouca de agua junta de algumas fontes que regavam aquelle
Tale povoado de pomares de suas frutas desabridas e algumas
OUTUBRO 68
— 632 -
crtas, ajuntando a isto a agua da chuva que sempre aly se
detinha. Estas aguas enserraram com hum valado grosso
de terra pela parte do norte por onde costumava desaguar.
Aqui flngiam barcos com que se pescava pêra regalo dos
capitães, o que faz parecer-me a partes fundo como dez ou
doze palmos, e a partes muito menos de maneira que as pe^*
quenas arvores mostravam em cima das aguas seus delga*
dos troncos. Contavam que todo o mato ao redor tinha sido
rossado a tiro de mosquete mas também não vi sinal de tal
rossado» Das fortificações da ponta do norte baixava direi**
tamente como bem esquadria huma estacada de ma leira até
a fonte dos Padres da Companhia que está na praya. Outra
semelhante das portas de Santa Lusia igualmente distante
a outra (ao que se podia julgar) até feneser na praya. Estas
se corriam peia parte de dentro por caminhos mui desem-*
bancados. Os términos destas palissadas cujas pontas que
eram agudas, e fingiam de ferro, ajuntavam as fortificações
da praya que fica como lado direito do ovado que disemos.
Destas avia informações de pessoa que delia tinham saído a
principal era de Fernão Florim natural de Lisboa que fiira
tmnado em hum navio, entrara na Bahya dia de natal e
tinha visto tudo de vagar. Todas as ruas que desembocam
na {H*aya estavam intrincheiradas e providas de artilhería.
No càes dos Padres da Companhia huma plataforma com
boas pessoas, outras no forte de Santo Alberto, hum pa-
redão antigo de pedra e cal junto á nossa senhora da Con-
seição o ocupavam com sete ou oito peças. Sobre as casas
dos Padres de S. Bento e seu pavimento mui bem fortificado
outra plataforma com quatro peças abertas as paredes em
calfaeteiras para mosqueteria, mais para as olarias outra, e
na ultima ponta do sul duas peças huma de grande alcance
com que varejam aquella praya por gran distancia. No fortt
— 5sa —
novo que tinham sete peças de bronze mas easalsavam estd
força e maito mais o artificio contando que nelle ha?Í9
huma fornalha de três bocas para fazer ascua às balas com
que haviím deabrazar todos os navios que se lhe chegasse.
Sendo aquella fornalha ordinária para trabalharem os fer-
reiros em qualquer occurrencia e dizem qoe para fundir
balas se faltasse. ' Asy passava tudo como costuma em seme^
Ihantes ocasiões donde as tezes procedem pelos tempos
adiante indignas credulidades apesar dos que bem sabem
duvidar, mas verdade he que aquella era a parte de mayor
força por donde cuidavam ser aconoetidos por mar, com
estas relações vinha também a de quatro navios, presas que
o inimigo tinha cheios de artificio de fogo para qoe com
Tento em popa se chegar as cs^itanas, e abrasalas para o
que sempre estavam promptos de verga dTabo Amsyoheceu
o ditoso dia do ^orioso triumpho e resureição de Jesus
Christo Senhor Nosso. A vista do mar era bellissima esmal-
tada das armadas catholicas competin(k> as capitanas e
almirantas na galhardia de flâmulas, estendarte, armonia
de doçainas e charamellas mostrava-se a terra infelice, mas
aprasivel à vista por extremo, a formosa enseada que vai
apartando montes de frescos e verdes arvoredos. A triste
cidade do Salvador sobre huma serra muiingrime revestida
toda de bosques e ervas aprasivelmente verdes, vilmente
entregue pelos seus a mais inimiga gente que sofre a igreja
de Deus. Sobre o mais alto da sua igreja cathedral cam-
peavam e tremulavam as bandeiras de Mauricio, pela mad-
rinha junto da terra vinte c dois navios redondos de verga
dTalto. entre elles seis de força quatro grandes e dois
mayores de seiscentas toneladas com'cantidadedeartilberia
bastante. Todos os principaes aformoseados de bandeiras,
flâmulas, e estcndartes, mal se poderá detreminar qual che-
— 534 —
garia a mayor excesso de alegria dos espanhoes com a pre-»
sença dos inimigos que já fingiam vencidos e castigados se
a tristesa destes vendo não de longe a sua irreparável ruinst
em luguar do socorro septentrional que esperavam, e com
a primeira vista desta armada presumiram. Convocado o
conselho para a capitanarcal de CastellapropozD. Fadrique
de Toledo por modo mui consertado que de mui boa von-
tade aqui pusera se a memoria me ajudara. Dava muitas
graças a Deus pelas graças que fizera a seus servos trazen-
do-os unidos e inteiros a entrada da Bahya, com que até a
fugida, ultimo remédio dos miseráveis se tirava aos olan-
dezes. O praso da jornada era mayor que o tempo poderia
oferecer pela gloria que de Deus esperava ajudado de taes
companheiros, de se ver recuperada a praça de mais im-
portância que todas as do império da Espanha, a qual por
occultos juízos e permisão divina com ignominia não pe-r
quena do nome espanhol fora ocupada por seus rebeldes.
De tal exercito como ao presente se não podia coligir que
tivesse diante dos olhos outro intento que a gloria de ven-
cedor. Mas que seu interesse entre tão nobres conside^
rações tivesse algum luguar muito grande era o que nas
mãos se entregava. Porque aquella praça escala degrandis-
sima parte das navegações do mundo, aonde os olandeses
pretendiam fundar monarquia a que chamavam nova Olaiida
tinha conduzido todas as riquezas que podcram ajuntar para
suas mercancia, e comércios sem as imensas que se lhe
tinham entregado em suas mãos por aquelle espaço de
tempo que a senhoreavam os que mui pequena parte delias
tinham levado; estando tão segos que fozendo tliesouro en^
terra alheia e de tão grande Senhor, o tinham todo encer*
rado na cidade. Fazia exemplo a outros que averiam entrado
com o navio de Buenos Ayares avaliado em muitos centos
— 535 —
de mil crusados em que D. Francisco Sarmento trazia
sua casa, mulher, filhos e genro. Constava não ter levado
para Olanda, ouro, ou prata, principal fructo d'aquelle
empório, nem outras fazendas ricas senão em vinte e oito
de maio huma nao con assucar, tabaco e cousas de pouco
preço; e outros quatro navios em julho com a vilesa de
semelhante carga em que foy o desditoso fidalgo Diogo de
Mendonça Furtado e o Provincial da Companhia com seus
companeiros que aly entrara mcegamente na volta de visitar
as suas casas da parte do sul. As forças que levavam eram
com grande excessos superiores as do inimigo sobre sal-
teaílo quando mais seguro estava de seu socorro, e no des-
cuido com (jue seus esmelos invejosos culpam a monarquia
de Espanha, pela sua posse (não fallando no socorro do
ceo que em todas as acções umanas se estima mais que tudo
e pela divina vontade de Deus estava com o exercito calho-
lico) militava tudo que nas ocasiões de guerra soen ter toda
a importância. A terra amiga, muita e muy boa gente nella,
e muy escolhida a que lhe tinha vindo com os socorros, a
noticia do paiz como de suas casas, a inorancia que nisto
padecia o inimigo, que se lhes representava diante dos
olhos qual animo o mtentaria estando de antes oprimido de
huma pouca de gente pela mayor parte bisonha, desar-
mada, e dos frecheiros naturacs da terra expostos as in-
jurias do tempo, como agora vise defronte de suas cortinas,
e valuartes aquartelados os pujantes exércitos de Espanha,
por mais que se cançava na consideração nas forças e braços
de inimigo ciliado para se opor a humas e desfazer as outras,
confesí^ava que não podia presumir outra cousa que a certisr
sima victoria desejada, senão que lhe parecia inferior a im-
presa a tanta força pelo desalento com que estava o inimigo
conforme naquella junta se lhe afirmava. As palavras ul-
- 586 -
tima$ que disso foram ouvidas com grande aplauso, não ^
lemèrando mais que de maldizer a ora que podia haver de
dilação. Acharam-se naquelle conselho com D* Fadrique
de Toledo, de Portugal D. Manuel de Menezes general da
armada. D. Francisco de Almeida almirante, Mestre de
Gampo António Munis Barreto, D. Afonso de Noronha da
conselho de estado, os Condes de Vimioso, S- JoSo. e de
Tarouca, o morgado de Oliveira por ordem particular. D.
Francisco de Moura. Lourenço de Brito. Da armada de
Castella D. João Fajardo general do estreito e almirante, o>
Marques de Cropani mestre de campo general do exercito,,
o Marques de Torrecusso, D. Pedro Ozorio, D. Joãade
Orellana mestres de campo, o governador San Feliche. D.
Álvaro de Losada capitão de cavatlos em Flandres que en-^
trava por ordem particular, D. Francisco de Azevedo ge-
neral da armada de quatro velhas, Martin de Valhesilhav a
sargento mayor Diogo Rodrigues, o Murga, o Coscou,
Armeutevos e Sebastião Granero tenentes generaes da
artitheria de terra e mar. Resolveu-se que posto que pelo
conselho de Castella vinha deteroúnado que^ a praça se-
batese por hum quartel com oito canhões somente qua
hiam pern este efeito, se setiase com dous visto estar ja
tão chegado ao tempo do inverno, e se batese com mais.
canhões. Pêra ocupar estes bastavam quatro mil homens,,
dois mil das esquadras e armada de Castetta, mil e qui-^
nhentos de Portugal, quinhentos Italianos, ao qual numera
se avia de juntar D. Francisco de Moura com sua gente que
eram mil e quatrocentos portuguezes, e quatrocentos na-^
turaes de arcos e frechas. Advirttiu D. Afonso de Noronha
seria acertada pelas consequências se fizesse saber na cidade
que a culpa se remetia e se dava livres sayda a todo& de
qualquer nação que nío fosse Olandeza que quizesse sayr
— ,>37 —
á^ cidade. Era tatitá a preca e afervorado o alvoroso de
cada hum para desembarcar que avendo se assentado le^
vase mantimento para três dias foram poucos os Portugueeed
que o leVaram padecendo depois bastantes fomes porcas^
tigo de tão leve culpa que não era contra Deos ou contra
o próximo. Conhecendo D. Manoel em toda a nobreza o de*
sejo de sayr em terra em huns o receo, e tfoutros deserem
se náo sayse julgados variamente dos que desembarcavam,
e presentindo a defeculdade se quizesse usar de seu regi*
mento se resolveu em dar gosto a todos fazendo conta que
sempre na armada ficariam algumas pessoas superiores na
calidade dos Olandezes que viese na armada de socorro, è
não inferiores na experiência dos criados que acompa*
nhavam seus amos« Não deixou de ler o regimento a alguns
mostrando a estimação que S. M* fazia igualmente de hum
e outro serviço e o mui grande de que todos obedesesemas
ordens que lhe dese. Se buscavam perigo e trabalhos, no
mar o tinham esperando-se cada dia pela armada inimiga.
A isto com que cuidou que os pigava responderam que sem
dilaçSo acodiriam. Bem vio que se punha impossibilidades.
Como aviam desamparar seus postos? que tempo aviam
mister para chegar? que praya visinha tinham ou sem
resaca para se embarcar? que armada inimiga podia ama-
nhecer na barra, e em menos de huma ora e estar embara*
cada com a de Espai^» que quando esta não chegase tio
depressa os navios de fogo bastavam para dar cuidado, quô
estando prontos para se dar á vela quando não alcasase o
intento de abraçar as cappitanas as aviam de advertir com
que suas nãos podese sayr, levando os thesouros e gentft
de consideração (o que se temia muito). Era necessâârio
seguil-os e desbaratados. Estava tão posto a comprazer a
toda a nobreza que pretendendo D. Francisco de Almeida
— 538 —
almirante da armada obrigado a elia sayr em terra, repre*
sentaado-lhe porém algumas resois em contrario, e mos-
trando-liie a fúria d^aquella epidemia o ajudou em seu intento
com D. Fadrique de Toledo e permitio que do terço da
armada levase a sua companhia. Sobre esta resolução ouve
muitas duvidas. António Monis Barreto alegava que era
mestre de campo do socorro nomeado aliy por S. M. que
avendo de sayr D. Francisco de Almeida com este nome
fundado em ser governador do terço lhe ficava precedendo
por aucianidade. D. Monueldeu de tudo conta a D. Fadri-
que que não desejava menos de compraser a todos e mui
particularmente aos fidalgos portuguezes, e com mais cir-
cumstancia a D. Francisco de Almeida que lhe tinha de
antes proposta sua pre tenção e elle prometido de o ajudar
Estando todos quatro juntos se compoz tudo assentando-se
que se não fazia agravo a António Moniz, ainda que elle
dizia que tudo o que se desse a D. Francisco se lhe tirava
a elle pois ficava incluso em seu terço com o nome de so-
corro. As presedencias tomou D. Fadrique a sua conta
determinando apartal-os. Que do numero da gente levasse
António Monis a sua, e D. Francisco os que da armada
podese ajuntar ató quinhentos homens. Para ajuntar estes
avia novas defeculdades, porque com as companhias de
António Monis tenha saydo da armada muito mais gente da
que se lhe tinha limitado que eram mil homens, e como
com a gente nobre sayam todos seus criados ficava a ar-
mada mui falta para poder dar tanta gente. O capitão Gon-
çalo de Sousa rogado, e persuadido pelo almirante o quiz
seguir com a sua companhia. Não achou no capitão Cons-
tantino de Mello Pereira a mesma modéstia ou brandura
escusando-se que tinha a na veta Santa Cruz a sua conta por
ordem de S. M., que se D. Manuel mandase obedeceria
— 539 —
cnlregandoJIia desencarregado delia e nâo de outrâ maneira.
Nem pode D. Francisco por aqui venser a defecoldade. Òs
mais capitães de infanteria do terço eram juntamente ca-
pitães de navios, avendo em cada hum delles em seu tanto
o mesmo despejo que na cappitana dâ gente nobre e seus
criados. O capitão Manuel Dias de Andradã somente estava
sem navio porque o em que fora por estar inútil estava en-
tregue a que o fretara, mas nomeado naquella ausência de
D. Francisco por ser muito para aquelle c^rgo foram tantas
e tão apertadas as instancias de D. Francisco por varias ma-
neiras, e a vontade de D. Manuel tão pronta a lhe dar gosto
que sayo aquelle capitão a terra mais porfiado que persua-
dido, em cujo lugar ficou Jorge Mexia Fouto sobrinho do
bispo de Coimbra D. Martim António Mexia governador de
Portugal capitão que tinha sido de infanteria, e de navios
por S* M. Começou a desembarcar a gente pela praya junto
ao forte de S. António, o terço de D. Pedro Ozorio, o de
António Monis Barreto, o do Marques de Torrecusso, o de
D. João de Orelhana. Consideravam soldados práticos qual
era a disposição di terra para impedir a embarcação, ou
consumir os que desembarcasem. A praya de inumeráveis
penhas, até mea agua chea mas sempre com resaca, e des-
coberta a artilheria do forte. Acabada a parte que a maré
lava comessa hum areal fundo e solto mão de passar por
qualquer despejada. A este abraça hum bosque de arvoredo
mui espesso que poderá dar cuidado as valentes que o
queiram investir avendo nelle duzentos mosqueteiros. Ven-
cido este fica huma costa bem erguida e logo caminham
fundos estreitos sercados de arvoredos, e malesa. Facção
era pêra Olandeses arriscarem duas emboscadas duzentos
e cincoenta homens, mas injustamente se poderam acusar
os Portuguezes de culpados menos de onze mezes antes
Outubro 69
— 540 —
que sendo a terra, a cidade, e campanha sua a náo defen^
^Dram por aquelle caminho bosque, e areal livres da re-
saca contra gente estrangeira, ignorante das ciladas tendo
campanha, terra, e cidade contra sy. Âquella noite pas-
saram alguns desembarcados por aquelles áreas, aqui foy
o das fomes que emleavam bebendo agua turba dehnma
âlagoa mal limpa. Foy o mestre de campo general com
alguns práticos da terra, com elle D. Francisco de Faro
reconhecer os portos e fortificações, do inimigo do pouquis-^
simo que vio dando-^se por satisfeito trouxe boas novas a
Dw Fadrique de Toledo mui a gosto dos restauradores. De-
sembarcou ao outro dia pela manhí com gram resaca que
lhe voltou huma falua na praya cbea de gente do acompa-
nhamento. Abateram- se-lhes as bandeiras todas postas em
armas. Deitou-se dando para devida aos que metesom mão
& espada, faca, ou adaga. Marcliando a cavalo fez noite em
a ermida de S. Francisco. Levava novecentos homens, e
maudouque do terço de António Monis lhe fossem tresentos
de mosquetes, arcabuzes, e peças em numero igual. Esta
gente que marchava diante alcançou, e passou acompanhado
de D. Francisco de Moura, e por largo rodeo se foi meter
no Carmo como em sua casa. Tal era a confiança que faziam
da mizeria do inimigo. Encontrava pelos caminhos frechei-
ros pintados em tropas que lhe engrandeciam os práticos
muito de animo e resolução. Vagava por tudo como no seu
agente que primeiro tinha chegado àquella parte do Carmo
Com liberdade se metia pelo arvoredo a colher limas e la-
ranjas táo visinhos as fortiíicasõis da cidade que ao ruido
dos ramos desparavam peças, tiravam mosqueter ia. Naquelle
dia em que D. Fadrique desembarcou a tarde, sayo quasi
toda a nobreza de Portugal, muitos criados, muita infan-
teria que na primeira tarde não poude desembarcar. Fiie-
- 8*1 ~
mm muitos caminhando a mesma conta de mantimento que
os primeiros, senão que nem levavam ordem de exercitou
nem marchavam em fileiras. Caminharam toda a noite a pé
a cavallo como podiam posto qne pessoas grandes quizeram
caminhar a pé com suas armas as costas. Entretanto vari-
edade de gente necessária era a desordem, huns passavam
outros ficavam cansados, alguns por se desembaraçar melhor
deixavam suas peças ou mosquetes. Era grande o rodeo
deiundo a montanha que era dorso continuado coroa H
cidiJ- pelo le^^ante a mâo esquerda .Chegaram o mesmo dia
que 0. Fadrique ao bairo do Carmo, em que estava a gente
de [). Francisco de Moura, por onde se agasalharam com
a mesma segurança. Eram os terços de António Monis
Barreto que acabou de chegar a dois de Abril, e D. Joâa
de Orelhana. O marques de Cropani com os terços de D.
Pedro Ozorio, o maques de Torrecusso, de D. Francisco
de Almeida tendo o alojamento mais visinho em S. Bento>
marchou com mellior ordem indo na vanguarda D^ Henrique
de Alagon, e outros cappitáes. Para este quartd estavam
tigelados dois mil homens, mas em nenhum dos terços
avia toda gente porque D. Francisco da Almeida não tinha
em tem inas que sua companhia e os Gdalgos aventureiros
de sua almiranta, e a companhia de Gonçalo de Sousa. De
todos estes nâo averia no quartel quarenta por andarem
com dos terços deTorrecusso, e muitos de D. Pedro Ozorio
acapados em conduzir a artilharia que desembarcada na
praia de S. António pêra ambos os quartéis não se avendo
ainda feito coula do caminho pelo porto de agua dos me-
ninos) se levava grandíssima defeculdadepostoquea gente
da terra acudio cora cuidado pela ordem que tinha dado
D. Francisco de Moura. Mas com grandissima diferença
asistio Estevam de Brito Freire, fidalgo riconaquellaBahya
-- 54S -
que em Lisboa se ofereceu par^ a impresa vensendo o que
pirecia impocibiiidade, a fraqueza corporal da convaleseih
cia de huma larga e grande enfermidade. Muito desejou
levãu* comsigo a Gaspar de Brito $eu filho herdeiro e casado
O que não ouye efeito por certo embaraço. Parece que o
gO^to lhe esforçou a natureza, achando-se no mar com gran-
de melhoria e depois em terra com saúde. Foi de muita im-
portância sua presença porque serviu com seus criados com
dpentos escravos de seus engenhos, barcos, carros e bois
tudo de mui grande utilidade, porque como em Espanha
se não tratou m^is que de oito canhões para a expugnação,
para perto de quarenta que se levaram aos quartéis yam
mui foltos de carros matos, cabrilhas encavalgamentos, e
08 mais petrechos inescusáveis, ao que se juntava pouqiusn
simos gastadores pêra levar artilheria, monições, alhanar
caminhos, desmontar bosques, faltando quasy em tudo o
de que tinham informado a S. M., e terem tão fracos
aquelles negros e naturaes neste género de serviço que
quatro, sinquo faziam apenas o que hum bom trabalhador.
Aquella noite depois de desembarcados os fidalgos sayo D.
Manuel em sua falua reconhecer a marinha, chegando ao
pè da armada olandesa, avisando ainda a volta a toda a
armada tivesse boa vigia, estivesse sobre huma ancora
aboyada que largasse por mão pêra seguir a inimiga fa-
zendo se à vela. Para assistir a estas e outras ocupações
se discreptou de toda as outras transferindo em D.
Francisco de Moura toda a jurisdição que S- M. lhe dava
em terra e na gente que melitava debaixo da sua bandeira.
Hyam-se ajuntando aos quartéis, comessavam a ordenar
suas barracas a quem não coube casa de alojamento. Tal
foy a apreenção que se fez de que por nenhum caso
^yria o inimigo que todos se chegaram à cidade sem
— 518 —
modo de valados, ou trincheiras, sem disposição de portas
ou sentinelas, sendo asy que o inimigo se não descuidafSi,
disparando prodigamente a artilharia sentindo que se lhe
chegavam. Esta apreenção tenho por causa principal do
ruim successo de dois de Abril no quartel de S. Bento,
desgraça para todo o tempo notável, em principio da im-
presa de muito ruim pronostico, e mayor consideração,
ocupada a mayor parte da gente em sobir a artilheria, es-
tava a outra em descuido qual poderia ter em suas casas, e
porque a calma daquellas partes é grande, e aquelle dia se
dava a sentir mais pelo cansaso com que tinham chegado
se começaram a despir descuidando-se das armas. Não perdeu
a ocasião o inimigo; fez huma sortida que pareseo de
cento e cincoenta mosqueteiros por baixo da porta de
Santa Lusía, e rua que vae para S. Bento. Comessaram a de«
golar sem aver violência. O mestre de campo D. Pedro
Ozorio como era valente fidalgo, soldado velho, os investiu
com huma cana na mão dando voses aos seus animando-os
com resolução digna de seus avos. Acodio o mestre de
campo general da quem a idade não demenuya o animo
se bem as forças. Diogo Rodrigues, e Pedro Corrêa da
Gama sargento menor do terço de D. Francisco de Al-
meida valentes soldados de Flandres se mo^ravam com
valor notável. D. Francisco de Faro como estava em
AJmilha de lenço branco tomando a peça nas mãos com
que foy exemplo a quatorze ou quinze que o seguiram* e
com o capitão D. João de Ouviria moço valente e de gentis
partes que assistio com os mosqueteiros que achou de
morrões acesos se oppoz ao impeto do inimigo e o susteve.
O capitão Lourenço de Brito que fora aly mandado asistir
COO) sua companhia como pratico daquelles postos, e tinha
na rua por onde passavam o seu corpo de guarda se
— 514 —
portoa naquelle aperto como valente soldado: dada sun
carga se recolheu o inimigo até nisto acordado porque
levou nos espanhoes que o segiam até os meterem debaixcv
da sua artilheria, descobertos e de mui perto. Dos reparos
junto a porta os receberam com muitas balas de mosquete^
e da porta que se abrio para recolhei' os seus, com seme-
Ihlnte carga de artilheria meuda cargada com lanternas, e
pedaços de ferro com que fizera grande destroso. O Gapitáo.
Lais da Gama portuguezes se asinalou notavelmente, e nãa
menos Simio de Vianna alferes da companhia de D. Francisco
de Almeida, e Francisco Carrilho pardo decôr, mui valente
soldado se adiantoumuitocom grande valor com que ahyfoy
morto como os dois que sendo nomeados acharam aly
Úuarte Rebello, António Rebello e Jo5o de Sousa filho deO
provedor das armadas navaes do Algarve; feriram António
Rebello levemente e a Joáo de Sousa de hum mosquetaça
de que cayo e o tiverampor morto, chegou Duarte Rebello
e ouvindo esta nova passou adiante sem parar com grande
pressa dizendo aos que ficavam que o encomendase a dois
foy desigualissima a perda de D. Pedro Ozorio, morto de
hum balaso pessoa da mais principaes de todo o exercito,
por nobreza, por valor, por experiência deixando geral-
mente sentimento notável como mercse em semelhantes
ocasiões a perda de tantas partes, e calidades. O habito de
S. Francisco de quem se não esperáo vanlentias sublimavam
mais a do pa !re frei {**) confessor e cotinuo companheira
do Marques de Cropani que com grande constância se an-
dava metendo aonde era mayor o aperto, e confusão.
Morreo neste confiito D. Francisco Manuel do babito do
(*) Não traz o nome o original.
(**) Falur i^almeote o nome no manuscripto d'ondc se eslrahta
esta copia.
- 545 -
8. Joáo capiláo de infanteria do terço de D. Fran-
cisco Ozorio. Foram feridos D. AIodso da Gama capitão
de picas sobrinho do almirante D. Alonso de Moxica e
morreu ao terceiro dia. D. Pedro de S. Estevam capitão
de arcabuzeiros sobrinho do mestre de Campo general que
morreo brevemente da ferida Feriram com um mosquetaço
na mão direita ao capitão D. Henrique de Alagon fidalgo
moço de gran calidade, que estava com os de vanguardia.
Os capitães Diogo de Espinosa. D. Diogo de Bamires de
Maro, fidalgo rico visinho de Madrid, D. Diogo de Gusmão
filho de D. Pedro de Gusmão Erdado, sobrinho do patriaca
arcebispo de Sevilha, D. Diogo de Malva, e outros muitos
soldados contando-se entre mortos e feridos cento e no-
venta e cinco pessoas. Alguns pelas espaldes com rumor
que os espanhoes visinhos que acudiratp tarde atiravam de
longe 06 matavam. Os Olandezes fizeram sua facção em
trassa, talor e sem custo. Hum faltou que D. Francisco de
iFaro amarrou e entregou amarrado Melhor sorte foi Deus
èervido dar a Espanha nos meos e nos fins. Daly por diante
se passavam com mais recato senão foi alguma ora a cautela
demasiada. Contam-se de uns rozins que huma noite se
soltaram e de hum boy por outra vez que fizeram reparar
A alguns com a imaginação da sortida passada. Aquella
hoite desampararam os rebeldes o forte Tapagipe deixando
Uguma pólvora e monições, e algumas peças de artilheria
áé que logo correo fama ávida por certa que fora treta pêra
^r os nossos que o fossem ocupar deixando no meo da
bfaçahuma abobeda cheade pólvora hum morrão aceso com
jnedida proporcionada ao tempo que terminaram pêra o
lUcendio, que a isto acudira Deus por meo de hum soldado
?ue arrojando-se anticipadamente apagou o morrão. Enca-
bfcimento como os demais. Tínhamos Olandezes feito
^ ft46 -
qaellá abobeda, como tudo o mais, mui a propósito parSi
conservar sua pólvora enxuta, era forrada de taboado bem
coberta com um quartel que a defendia das injurias do
tempo, e de bombas, ou granadas se inimigo lhe lanrase.
Na mesma noite ja bem tarde levou Chritováo de Mendoça
a D. Manuel, huma carta de D. Fadrique em que dizia que
havia dois dias que estava tam junto ao inimigo daquella
parte do Carmo que a mosqueteria passava pelas cabeça
sem ter com que se cobrir, o que não se pondo em efeito
aquella noite seria mui danoso ; pedia que logo lhe man-
dasse todas as chalupas que podesse carregadas de pás,
enxadas, picos, machados, fouces, esportas ; que se não deti-
vessem senão que logo que huma que podesse, se desse preça
em chegar, que o inimigo era soldado e bem o mostrava»
mas que esperava em Deos que avia de pagar seu pecado.
Foy a pressa conforme a necessidade. Na mesma noite em
breve espaço foy da quelles petrechos grandes cantidade ôe
carpinteiros juntamente pêra os encavar. Desembarcou tudo
em Agua dos Meninos aonde estavam duzentos soldados
de guarda. Já estava reconhecido quanto se enganavam os
dos assaltos, he mostrar despreso do inimigo cousa danosis.
sima na guerra ainda que os inimigos não fosse Olandeses
gente de valor como tem mostrado. Dizia-se depois que
em estado esteve a gente desaquartelada que se o inimigo
se resolvera a outra sortida poria tudo em grande risca ;
o que não pôde negar he que fora peor a tarde que o meo
dia em que a sortida se fez se quando os primeiros se reco-
lheram sayssem duzentos de refresco pela mesma porta
com grande defeculdade se salvariam as bandeiras que
estavam juntas mas sem ordem de frente nem valado.
Tal foy a desordem daquella ora que dizia o Marques de
Cropani (segundo se conta) que muitos dos capitães que aly
— Sàl -
estavam eram indignos de guineta por falia, e desacordo
que sentio. Hyase aquartelando o exercito pela parte do
Carmo, e S* Bento cora grande cuidado e deligencia mos-
trava-se natural fervor nos senhores e fidalgos portuguezes
no cortar e levar as costas a faxina, e mâyor nos que
foram criados com mais regalo. Estenderam-se ramos de
trincheiras visínhas ao inimigo, ordenaram-se plataformas.
Lusia muito o trabalho nas mãos do terço de Nápoles em
que se não havia mais de mil quatrocentos e cincoenta
(ficavam os mais na armada) todos mancebos nos annos
eram soldados velhos relíquia do terço do valente mestre de
campo Carlos Spineli, cujo sobrinho emitador era o Marques
deTorrecusso que os governava. Deram-se tal preça que a
sinquo de Abril alarde comessaram bater a cidade da pri-
meira plataforma que fizeram na faxalda do monte de S.
Bento descoberta ao mar. Pela parte de terra se apertava
o sitio, e no mar era grande a competência a quem mais
se chegaria ã armada inimiga, e por atalhar excessos
asentaram os generaes D. João Fajardo e D. Manuel de
Menezes se coroase dos navios de mais força de fora em
outra grinalda mais espalhada ficasse os inferiores resolutos
a alarse por espias para dar carga ao inimigo, e dada
virar sobre suas ancoras ocupando o primeiro posto.
Muita artilheria fugou naquella tarde dos navios e forte
novo, muitas mais balas lhe tiraram os espanhoes foy
para ver e retratar a ordem em que tudo estava : diante
as cappitanas reaes de Castella, Portugal e estreito, e a de
Nápoles, a de quatro vilhas e suas almirantas, e outros
navios de gram força, a de Biscaya com seu general
Martim de Valhesilha, estavam outros dois navios de guarda
na porta de S. António para fazer sinal se visse a armada
de socorro. Tendo prevenido tudo D. Fadrique como
Outubro 7Q
— Ô48 —
general de l.mta experiencii, e valor sobre sim grande
calidade; como estavam os n ivos perto fio inimigo faziam
circumferencia pequena em qae pelos mares se ajuntavam
demasiadamente, asy acontece i aquelh tarde ficar quasy
embaraçadas as três roes. Avia onlem precisa que to las
as noites fossem de guarda algumas chalipis da armada a
reconhecer os navios ohmleses se avia nelle^ movimento
para se escaparem. Logo a primeira noite prevenindo as
faluas se fizeram a vela dois navios aven lo precedido des-
parar-se alguma artilheria sem balas seria para levantar^
fumo com que as velas se encobrissem. O vento era
leste que as trasia em p.^pa pêra as eappitanas que es-
tavam naquelle estado. L'>go que se viram se advertio
seriam as de fogo que ellas não encobriram tirando
bombas, e coetes e asendendo-se imediatamente fizeram
notável aparência de fumara la negra espessa e lavaredas
grandes por entre ella. Com tal vento e boas velas se
chegaram tão depressa que eslm lo tudo prevenido, an-
coras aboyadas para hrgar, correram risco a de Portugal,
e a do Estreito e mayor sfias alinirantas. Jorqe Mexia se
vio quasy abordado, e mal to mais Roque Senteno almi-
rantes, fizeram-se to los a vela o a todos pareceu tarde
posto que eslavam a p )nio que não havia mais que des-
fraldar t raquete, e cassar escotas. D. Manuel se vio em
grande aperto pela doença de (íouvea mestre da cappitana,
posto que asy acu«lio com gran lo resolução animan>!o a
muitos. Alguns marinheiros dos Bonés tinham saydo sem
licença a sombra d )s fidalgos cujas de:^penças tinham a
cargo. Dos inorantes avian muitos que apresentavam a
confusão uma e outra gente de mar e guerra e embarcava
feem aver offlcial que acudisse a a-uoí^trar-lhes os cabos
com que $e avia de marear mostrando os soldados do terço
mui grande Jesejo de asertar em tudo. 1). Manuel acudia
sem poder a tudo. Pessoas ouve q le se deitavam ao mar
nas chalapas e canoas que tinham a bordo, outras acodiam
às portinholas baixas * p?r:i se deitarem; foy o aperto
como se po le imaginar. O navio se fez na volta de no-
roeste c logo ao norte sempre com a senda na máo.
Acudiram os capitães Diogo de Varajão. e Cosmo doCouto,
a este encarreg )u D. Man icl fosse ao navio de fogo que
par^^xia vinha seguindo, elho cortasse a falua que costumam
trazer para se salvar i}uem g »vei na emquanto o fogo não
esperta; peru o acompanhar ouve grande competência
entre s )ldad )s do terro (piorend ) cada um ser o primeiro.
Com 1 vio quo o incêndio tiniia decimado na maior força,
mandou voltar sobre clle, e vi»nd'j tudo abrasado acudiu a
tomar o passo aos navios olanJezcs se acaso fosse aquelle
ardid p^ra se fazer a vela ; o achando tudo quieto ocupou
seu posto, e pela manhã estava sobre a ancora que deixava
aboyada. Os mais navios amanheceram desviados alguns
mui longe que a tudo do lugar a vasta capacidade da fer-
mosa Bahya. Considerou-se a desgraça do inimigo, não
digo no efeito que náo surtiram seus navios, porque ver-
dadeiramente defecultoso será de conseguir cm bahya tão
larga, em que a corrente da maré náo ajudava contra os
principais que pretendia consumir mas de não c^^ir em
conta tam aohaJa com») esperar qaoos navios se chegassem
mais e eil »s fazend > pedaços cada dia sem dano seu consi-
derável, pela diferença que vai de bater de plataforma, e
ser batido de navios, e sempre lhe ficava lugar se visem
sesud )s osEspanhoesemnâo ensestir (do que duvido muito
que fosse) de largar o vento ás velas de seus navios de fogo
Não foy este o may(3r trabalho que D. Manuel padeceu es-
tando em sua capitana com poucos que o podessem ajudai"
— 550 —
posto que foy mais intenço. Porque se fosse necessário
acodir combastimentos e vinho a gente de terra nem tinha
officiaes nem barcos que os levasem estando os dos engenhos
rotos, metidos pelos esteiros, e os que avia de serviço ofe-
recidos por seus donos a D. Fadrique, outros tomados por
seus oíQciaes/ ou de D. João Fajardo para desembarcar a
artilheria, petrechos, munições, vigas, barrotes, tabões
para esplanadas, immensídade de taboas pêra almaseis, e
barracas. Deixada esta deficuldade não tinha oíliciaes que
na praia o recebesem, almaseis em que os recolhessem,
quem os levase aos quartéis, quem os destribuise, sendo
necessário para isto muitos ofliciaesquena armada não avia
nem pessoas de talento para semelhante negocio. Era ne-
cessário que o auditor geral fizesse com o seu oíBcio o de
provedor mor das armadas o exercito e dos pretrechos que
eram muitos, de veedor general; de tenodor debastimentos
e despenseiro hum soldado que era escrivão da nao, ordi-
nário em todos os navios para asistir as resois, porque
mostrou deficiência ; fazia juntamente o oificio de escrivão
do auditor, e do officio do provedor. E sendo impocivel
cada um acudir a tanto, nema mayor parte tudoseesperdi-
çava. Fizeram muitos sacos de lona gistando-se nisso as
morretas. e vellas velhas. Estes so um carrinho faziam
porque em chegando cada hum sargento levava os que que^
ria e nunca mais tornavam. Ordenouse levar o vinho
em botijas porque não acudiam carros ao serviço áa,
coroa de Portugal, nem avia mais comodidade do que
se fora de Olanda. Estas tiveram o mesmo fim; tudo se
repartia avontade dos sargentos, e ainda dos inferio-
res sem mais limites nas resoes que o que sua boca pro-
nunciava, nenhuma vedoria, nenhuma contadoria, nenhuma
Qrdem. Acoi]^tesia chalupas irem carregadas de biscoufo
— 551 —
estar dois dias na praya sem aver, como estava consertado,
quem dos quartéis desse ordem para se tirar e molhando-se
iicar inútil pêra se levar. Em faltando tudo era queixas a
D. Fadrique culpando D. Manuel; avia cartas e respostas
de que se colegia a boa fidalguia de aquelle e desejo de'
acomodar tudo, e a verdade deste posta em campo contra
as injustas culpas causadas pela ausência. Diziam que
mandasem officiaes assistentes em cada quartel y outros de
pluma para que la gente tuviese sus raciones y no las
llevase demasyadas. Respondia que em Portugal e suas
armadas não avia mais pluma que a de hum escrivão para
fazerem descargas dos navios cada hum no seu, hum só
despenseiro hum olheiro que na cappitana era o general,
em cada navio hum capitão que naquella ocasião estava em
terra. Pedia -lhe fizesse mercê de não crer acusações por-
que em outra cousa não trabalhava que em mandar basti-
mentos, o que bem se vio pois quando chegou o biscouto
em sacos, como sempre avia receios que não fortasem, e
vinho em botijas ao qqartel do Carmo não avia Ia outro, e
delle comeram e beberam Castelhanos e Portuguezes; de
mandar também que do que avia para huns se provesem
^odos e iria acudindo por todos os modos que achase. Desta
maneira se concluyo, como se vô nas palavras seguintes de
de uma carta de seis de Abril. Tengo lastima a V. S.* de la
poça ajuda con que se alia de ministros y oflQciales y sin
ellos neguna con se puede executar ny abreviar porque
alia hade aver quien despache, y aqui quien receba he tra-
tado que el tenedor de bastimentos dei armada que se halla
aqui en tierra recibe todo cuanto V, S." Iheenbiar. Sy V. S.'
gostar dello con que tendra V. S.* descanso, y la hacienda
buen paradero porque el recebir y entregar se hace con
cuenta y razon . . . . Yo he mandado que do que aqua tubie-
^ 55i —
remos se reparta Satisfeitas ficavam com isto o&
daquelle quartel. D. Manuel conhecendo o enleo dando-so
por vencido calava, conhecendo que náo avia tomar mostra
(le gente, nem baixa de reçoes dos ausentes que eram
'muitos, espalhados alguns pelos engenhos, outros quecon
tava na tomarem reção, E contanlo se naquelle quartel mil
quinhentos c quarenta c oito reçoes, avia queixas de que
ora menor o numero da gente. Valiam-se das ordens de
Castella na medida e nas reçoes mostras contra o regimento
de Portugal. Emfim asy se foy passando entre apertos e
liberalidade. Verdadeiro é o encarecimento do engenho da
necessidade. Veo com óculo huma ceada apagada que ape-
nas aparecia huma parte delia por entre a rama que veste
a montanha, sobre que está o mosteiro de S. Bento, pare-
sei-lhe seria caminho antigo que baixase a marinha por
onde se poderia communicar com grande comodidade coma
armada aquelle quartel. Dando conta a D. João Fajardo re-
conheceram o citio a sinquD de Abril, Epor entre o bosque
seguiram ao quartel a visitar os amigos pos que com grande
trabalho porque a send.i não passava do meo do caminho (em
que avia pedreira velh:i) começando do alto Comtudo se re-
solveram ao trnbilho porque em voltis parece se podia su-
bir com bastimentos que \mm p^r S. António huma légua
de mar outra de terra por mãos caminho Puzeram se as mãos
da gente bicnynha adosm mtar, rossare csplanar, foyse mos-
trando o caminho airoso coberto de huma e outra parto de
frondoso arvored). Foi ^oces^ario em algum logar cortar
eminências, e n'outro encher os baixos, atravessar outro
com vigotas, c faxina com que udo ficou de maneira que se
esperou: mais do q le de antes se pretendia. Pareceu que
por elle subiria a artilheria para o quart- 1 de S. Bento,
Vieram engenheiros acharam defeculdade (trabalho per-
-• »53 —
(lido lhe chamavam) na subida na desembircaçáo impocí*
bilidades. Afastararase penedos com facilidade, cortouso
outro pedaço de caminho desmontadose bosque por onda
pedesse voltar a artilheria em cavalgada ; fese uma caleta
por onde os bate'õis as deitavam em terra. Mostrou o
effeito o acerto da traça porque em menos de ora e moa se
punham em cima peças de vinte e sinquo libras, com pressa
notável subiam as munições e bastimento. À facilidade de
tudo dobrava o gosto de servir. Neste trabalho se avantajou
muito o governador Francisco de Valhesilha, valente sol-
dado e pratico marinheiro, irmão do general Martim do
Valhesilha. Pela parte do norte subia a artilheria da praya
da Agua dos meninos com mayor trabalho, mas supria tudo
á asistencía do general D. Francisco de Azevedo, que pondo
âs mãos a tudo molhado e enlodado dava exemplo a quo
nenhum se escusase. Com a facilidade qae se vio do porto
a que chamaram Novo, nome que parece lho ficara eterna-
mente, ordenaram que por elle subisse a artilheria para o
quartel do Carmo, por um atalho que se descobrio por onde
se comunicavam os quartéis. A seis de Abril a tarde foi fe«
rido Martim Afonso de Oliveira senhor do morgado daquelle
nome no quartel do Carmo de huma bala de artilheria do
que morreu dentro do vinte horas passadas com grande
constância entre terríveis dores por lhe averem por boa
cora (que por o surugiáo mor da armada do Portugal que
depois chegou por reprovada) serrada a perna caso verda-
deiramente se ha outro lastimoso. Porque nem foi entrin-
cheirado nem em conflito de guerra mas asentado em casa
do Conde de S. João seu cunhado como posto a cavallo
sobre o peitoril de huma janella, ao parecer de todos mui
longe de tal perigo. Dísiam fora a bala resortida da parede
fronteira outros considerando o sitio e achando isto impo-
^ 6S4 —
cíTel afirmavam ser tirada com certa elevação, mas com nio
ouVe outras disiam devia de chegar que brada a força pas^
sando paredes e dando por alguns telhados. Era este fi-
dalgo de honrado valor; e como erdado de sua casa desde
menino, e casado em mancebo não servia. Mas a affeição
ao serviço de S. M. se encobre mal em peitos generosos.
Sérvio depois em muitas ocasiões dando-se grandissima
pressa como pesoroso do tempo perdido, e temeroso da
brevidade do futuro. Embarcoa-se nesta jornada afírman-
do-lhe os surugiões que se arriscava muito por certo
achaque de qual actualmente se curava. Fugio do pronostico
burlesco de hum amigo que sempre lhe disia, vendo o
afeiçoado as armadas, que não queria senão morrer afogado,
e nio da morte (contingências do tempo) que nellas foi
buscar. S. M. o honrou muito nas palavras com que ma-
nifestou o sentimento de sua morte a sua mulher, pessoa
de muita calydade, irmãa do Conde Sortella. E o Conde
Duque com outros de igual sentimento, e lembrança de
satisfação com que S. M. por seus reaes olhos com mercês
naquella casa. O dia seguinte chegou Lourenço Cavalcante
de Albuquerque do morro de S. Paulo avendo-se retirado
a huma abra seis léguas pêra o sul em hum navio grande
com quatorze peças de artilharia aprestado em Pernambuco
por ordem de S. M. pelo governador seu parente. Acom-
panhavam no aventureiro, mui lusidos huns a sua própria
custa, outros a do capitão : aquella parte se tinha retirado
de huma briga que tivera vindo para entrar na Bahya com
hum patacho olandez, segundo disia de dezoito peças de
que ficava destrossado. Continuava-se da plataforma dos
italianos a bateria da cidade com quatro meos canhões ea
da armada inimiga do quartel do Carmo com seis de que
comessaram sentir o dano alguns navios em alguns paos.
e obras mortas, estes desemalavam com muitas bandeiras
galhardetes, e qaízeram atalhar, e atalharam plantando
algumas peças em hama emínencii» junto ao coUegioda
companhia com que feriram e mataram alguns edestrairam.
algumas peças. Durou a períia poucos dias, porque ma-^
tando hmncabo que asestia a plataforma ficou desemparadái
A cappitana olandesa que ficava como alvo de todas as balas-
sentio o mayor dano, entrando-lhei a agua pela rotura das-
balas assentou a proa e fioon direita^ e inteira naaparencia^
Consideravam os práticos a necessidade de engenheiros,
por ser aquella plataforma feita em lugar mui alto donde»
se tirava aos navios compendio qoasy de mea esquadria
podendo ser quão baixa quizesse e ficar excelente. E bem:
seria que a tudo dava a mayor pressa pelo temor do tempo
tão entrado. A esplanada fora pouco funda com que ficou
com mui fraca espalda decoberta ao inimigo. A novd
daquelle mes fugio pêra o exercito hum francez que enca-^
receu o dano que da parte de S. Bento se faria na cidade,
derrubando todas as defenças, arruinando as paredes que
as balas achavam diante. Que avia entre as nações Ing^ezesvi
Franceses, Allemães, Flamengos descobertas desavenças
não sé fiando hans dos outros. Que no campo e armada
não havia que temer se não algum navio de fogo. Que tinha
pólvora, munições e bastímentos pêra seis meses. Di Fa»*
drique se cansava muito parecendo-lhe que corria com
varar o sitio, considerado o inverno visinho, e o tempo
limitado de monsão pêra a volta de Espanha. Entendeu
que aprestar muito e com muita brevidade curava tudo,!
(piiz ocupar outro posto muito a propósito, junto à fonte
nova, que chamaram das palmas por algumas que^ly aviaj
Encaregado disto o mestre de campo D. João de Orellana
pedio mil e quinhentos homens^ sobre o que D- Fadrique
Outubro 71
— K» -
escre?eu a D. MaaiwI que lhe respondca que pedia justiça
IK Joio. Avisou Ioga D. João Fajardo que ficando as cappi--
taas e ainurautas com sua infanteria tirasse dos outros
navios daquella coroa mil homens e que ficasse com a gente
do mar» e de guerra a que podesse. D. ioúo dando conta
disto a D. Manuel lhe pedío socorro de duzentos homens, o
qual consyderando a pouquíssima gente de alguns naviose,
a importância daquelle posto tirou a infanteria do navio de
Bento do Rego, e de outro de Diogo Ferreira e alguma de
Santa Cruz encheu o numero e a enviou a ordem de seus
capities. Do posto que se ocupou presentio o dano o
inimigo por lhe ficar a cavaleiro, e mui vi»nho trabalhou
por lhe pedir tirando pêra aquella parta muita artilheria.
As ocupações de D. Fadriqne eram mui grandes tendo
assaz a que atender no quartel do Carmo, visitando os
postos muitas vezes e reconhecendo as forças do inimigo,
pUtaformas que levantava, fortificações que fazia com tra«
balho de dia e de noite, e tendo em S* Bento o mestre de
campo general soldado velho de bastante experiência acom*
panhado das pessoas que havia naquelles terços descançava
algum tanto nelle, e por ser a distancia grande de hum a
outro quartel não acudia a visital-o. Terça-feira 13 de
Abril avistou achando-se com elie D. João Fajardo, e D.
Manuel de Menezes. Ordenou que daly se desecem homens
com dois capitães pêra o pDsto que ocupava (o que se
pode fazer com menos descomodidade pela companhia de
Lourenço Cavalcanti que D. Manuel mandara aquelle quartel
logo que chegou] que do Cirmo se deviam de dar três ou
quatro companhias, com que se prefizesse os mil e qui-
nhentos homens. Não faltaram invejosos que mudado o
nome chamaram desunido a falta de tempo de D. Fadrique.
Alegavam o Marques Spinela mui continuo nas visitas dos
— 557 -
quartéis posto que distantes e tivesse tal pessoa em quê
descauçar como a de D. Gonçalo de Córdova. Ajuntavam a
isto o de que fariam grande culpa que a armida ficava no u\i
timo desamparo, porque a de Portugal constava de sinquo ou
seis navios de força sendo os mais de pouca consyderaçâo e na
de Castella não avia infanteria n'outras que cappitanas e aN
mirantas e nessas não mui sobrada; que seria aparecendo o
socorro que cada hora esperavam? que forças para o vencer
e porem fugida? impedindo-ihe meter o socorro na cidadel
Se avia de acodir a infanteria dei.\ando os quartéis e seus
postos? que oquízessefazercomqae tempo? com que barcos?
em que prayas de mares brandas se aviam de embarcar?
que resolução tomariam os sitiados com a vista de 36
yelas que espera vem vendo despejar os portos pêra socorro
da armada inimiga? e outras queixas ordinárias de inferio-
res de que não podem exentarse os superiores ainda os
de taes procedimentos como D. Fadrique de Toledo. A^
que se intentava de lançar com a jusante da maré huma
caravela e alguns barcos com machinas de fogo costumadas
pêra queimar a armada Olandeza se mostrou oposto D Manuel
de Menezes dizendo que não chegariam aos navios que es-
tavam prevenidos tudo tendo por trincheiras buços velhos
afundados, que estavam guarnecidos de mosquetería que
entrava de guarda todas as noites, que como tão espertos
estarião com toda a yigia necessária, não seria mais que
dar- lhes matéria de riiso, e mostrar que não cayam os es-
panhoes nestas e outras prevenções que estavam prontas-
Pareceu conveniente que o forte de S. António se artilhase
e presediase. Pará isto tirou D. Manuel da sua armada sete
peças de artilheria e com o governador Francisco de Valhe-
silha subiram em o dia sinquo, e deixaram em cavalgadas e
com ellas o Condestable que tinha ydo no navio S. João, e
jftínqiK) artilheiros qae lhe assistiam, e as outras duas pêra
se porem ao outro dia em seus reparos. No quartel de S*
Bento avia graudes desgostos e desavensas porque levando
D. Fadríque comsigo o mestre de campo general» deixara
ordenado que o Marques e D. Francisco de Almeida gover-
nasem alternativamente (16 Abril) Queixa vase D. Francisco
de sua desgraça cabendolheem sorte darse nelle principio»
nque gente italiana ou de outra nação não estivesem a ordem
da Espanhola. To los os soldados de Flandres disiam que
nn intredução inevitavelmente guardada que nem hum
sargento maior espanhol estivesse à ordem de hum mestre
de campo estrangeiro. Escreveu D. Manuel a D. Fadriqua
encarecendQlhe as queixas de D. Franeisco, não permitise
S. S.* que hum fidalgo português que las cans e calydade
se queixase podendo remediar con justiça clara e sem es-
cândalo, e ao que se dizia entre os soldados quando D.
Francisco pretendeu desembarcar em terra que não era
mais que governador do terço sem título de mestre de
campo tinha dito a S. S.* que com este o tinha ouvido no-
mear a Ruy da Sylva do conselho d'E$tado veedor da fazenda
de S. M. na repartição das armadas . Comtudo não ouve
remédio para que isto se melhorase pela patente que faltava
Tendo D. Manuel de Menezes dado para o forte de S. Antó-
nio a artilheria que podia escusar de sua armada pelo de
Castella pretendendo fazer junto da praya huma plataforma
donde prometia fazer grande dano a armada inimiga. Sendo
aprovado o seu intento se lhe levaram a terra duas peças
de desoito libras; fez para estas huma plataforma em mea
ladeira do monte, afunJandoa tanto que pela parte alta ficava
huma pica, pela fronteira espalda natural imensa, pêra o
ponente um parapeito para o mar grosissimo de tudo que
se afundava e de toda a terra (fao se tinha tirado, não só
— 559 —
isegura de caohâo mas fora de todo o receo» £ reconhecendo
outro posto mais a preposito por mais visinho 90 mari e ao
inimigo fez outra semilbante em que pos buma 4as peçaae
destas duas plataformas se tirara com grande dano da ar«
mada inimiga. Vendo que seu trabalho da?a bom frato
louvado de todos se adiantou mais de cem paços e colB0»«
sou a esplanar e por em ordem outra plataforma que sendo
cubicada por D. João Fajardo lha largou reconhecendo na
mesma ora outro posto adiante melhorado aonde, fez outva.
£ considerando que o dano notável de duas peças remedi'*
ava o inimigo acudindo cóm pranctes a seus navios sq adi*-
anto 1 tanto que sem dar grandes wzes era ouvido^âb;
entre aqneile bosque fez a quarta plataforma para dqts
saíres pequenos nem podia ir outras peças porque aviam,
de romper bosques e passar por despenhaderos» o que coíd
pequena carga poude pôr em efeito com muito trabalho.
Estes tiravam saquinhos de balas de mosquete a hum redu**
cto de muita gente junto à praya da ponta do Siil. Bem traba*
Ihou o inimigo de estrovar èata plataforma com mais força
que as primeiras fazendo outra em hum sobrado dâ huma
^asdalta mui bem escorada aonde plantaram quatro saques,
com que tirando sempre faziam arisoado o trabalho da
plataforma. Carregando aly com muita mosqueteria oom
qne mataram e feriram algunsentre elles a Manoel de Faria
mui bom soldado do terço que estava de guarda da polvo!r|
falando com D. Manuel» este morreu de huma bala de hum
mosquete que Ibe atravessou as fontes. Estava com eUa
Joáo de Araújo seu irmão que vendo o outro m^to em
seus braços comessou a lamentalo. O alferes Ignacio de
Mendonça e Yasconcellos governador da infanteiia qne
cobria as plataformas tomando-o pelo braço disse : iatonio
é tempo de chorar vamos vingar a morte de vosso irmáo»
lemiftaado o Tenabulo levou comsigo os prfaneíros que
adiou, e passando por tlguma molesa que aly avia se pos
«m campanha rasa, revestiu as trincheiras e metendose
pelo bosque com grande valor se posas mosquetadas com
o inimigo. Foy aquelle dia de grande confusão a huns e
grande desembaraço a outros, que desemparados os postos
acolheram seguindo o seu cappitáo. Achavamse emGm com
as cargas dos sacres os navios desemparados do socorro de
soa gente, e sussecivamente comessando peios demais
perto, comessaram a cahir metendo as gáveas no mar, e se
o jogo durara mais tiveram todos o mesmo íim, porque
nrâihum durava um dia inteiro. D. João Fajardo visitava
aquelles portos muitas vezes e trabalhava com grandissima
assistência em fazer conduzir aos quartéis artilheria, e mo
nições acudindo com officiaes carpinteiros pêra adereçar
os reparos das peças que quebravam muitas vezes, na ora
em que se pediam ao general Martim de Yalhesilha se devia
mAw parte do facto deste trabalho porque em tudo se
achou sempre com D. Manuel, ordenando, mandando e
obrando por suas mãos apontando com elle as peças com
arte e valor, amanhecendo e anoitecendo com elle muitas.
Tezes nas plataformas, aonde todos os dias acudia sofrendo
as calmas do Brazil, enterrado nos baixos da plataforma
Com elle se achou também Pedro Gesar de Esa acompa-
nhando sem aver falta todos os dias com o valor erdado
de seus avôs. Não descansava Torrecusso trabalhado por se
chegar mais á cidade estendendo os ramos das trincheiras
ate hum bosque de larangeiras aonde fez duas plataformas;
a este posto chamaram o do Naranyos pelas muitas laran-
geiras que aly cortaram; na maior jugação huma camarada
de quatro meos canhões, e na outra um sacre e um meo
canhão, com que arrasava tudo o oposto sem resistência
- 561 -
nenhuma. Desmoronavamse os baluartes rodando as pipas
terraplenadas, cayam os ediíicios de pedra e cal, não avia
peça do inimigo que durasse porque logo em tirando de
logar novo era desencavalgada. E porque aqaelle posto es-
tava já visinhode S. Bento com os seus quatro centos eciji-
cuenta italianos que no trabalho pareciam mil e quinhentos
abrio hum ramo de trincheira com que se deu a mão com
aquelle posto que ocupavam os portuguezes. Considerei
aquella industria e folguei de aprender a caminhar seguro
das balas de mosquete, estando tão perto que chegariam pis-
tolas. Em balde trabalharia o inimigo se quizesse canho-
neala pela grossura de pé em que se fundava era também
metidi a fachina com a terra que a fazia mossica notavel-
mente, a escarpa mui bem ordenada. Pelo interior seu fossete
e banqueta por onde se passava seguramente e os mosque*
teirosfícavam mui apreposito, não se fazia vara que logo se
não cobrisse com soldado Toda hya guarnecida de saquinhos
de terra desencontrados para frontaria e guarda de soldados.
E posto que esta é a ordem que ordinariamente se deve
guardar nem sempre se faz a obra com tanta perfeição.
Lembra-me que em pé passava sem receyo dos italianos
ao posto dos portuguezes. O terço de D. Pedro Ozoríe
que estava a cargo de D. João de Betrían seu sargento
mayor, hya-se por sua parte igualando quanto podia na
distancia do inimigo com os italianos continuando com
snas trincheiras. No posto de S. Bento que ocupava D.
Francisco de Almeida avia menos gente de trabalho, com
tudo se abriam trincheiras, com grande perigo, e se fez
huma plataforma para quatro canhões. O posto das palmas
se ocupou com pouco dano, ordenando-se fronte de ban-
deiras. Levantaram-sc algumas barracas, lavrou-se huma
trincheira em meã lua, com terra e fáchina, que o mesmo
— 5M —
fogiillhe davt; comèssou^^se outra espalda como ponta.de:
diamaote. Pêra se levar a artilheria a este posto avia muita
defeculdade avendo*se de atravessar huma terra alagadissa
por onde desaguam as aguas do lago que os rebeldes flzeram
e rio cahyr a agua dos meninos. Aqui se fez huma ponte
de ^gas arrancadas das casas aonde se achavam acabando-se
tudo brevemente pelo trabalho e industria de Tristão de
Mendonça Furtado que a tomara à sua conta. Não iusia
menos o seu trabalho em levar a artilheria para esta e
oatras partes. Neste ponto matou huma bala de artilheria
antes que a sua se planta-se ao capitão Diogo Ferreira de
Víanna« ouja morte pelas consequências fora princípio de
algws desgostos entre osgeneraes se fora outra sua natu-
reza porque avendo pretensor para o gineta porque qualquer
Biodo que fosse, não achando outro se pedio a companhia a
D. Fadrique contando se que a prometera. Foi D. Manuel
avkado de que estava provida. Escreveu a D. Fadrique em
SQstancia que os officios e companhias que vagase na ar-
mada e exercito de Portugal avia de prover conforme S. Af .
^treminara, mormente que a companhia não chegava a
Tinte e sinquo soldados porque os aventureiros que levava
estavam em terra desde o primeiro dia que comessou a
desembarcar a gente ; que estes se podiam repartir pelas
companhias de Bento do Rego, e Constantino de Mello que
UStava no mesmo estado. Consydero em algum ocioso,
visto rú6 p^der ser aqueila ocasião e negociação em odío
de D. Manuel que o não merecia, se podia tanto o desejo
de avantajar hum amigo que puzesse em risco a jurisdição
dè Portugal em ponto de tantas consequências, poderá este
entremes picar mais por cahir sobre huma prisão que o
dia de antes fizera o auditor geral castelhano pessoa sezuda,
de ca^ydade, e boas letras mas nisto arrojado, e não sem
— 563 —
risco de D. Manuel, como estava ocupado cora suas plata-
formas se achava no mar. Queixou-se hum nestiço soldado
de D. Francisco de Moura a D. Fadrique, que hum mari-
nheiro lhe relinha serto escravo e como era necessário
mostrar justiça e favor aos naturaes particularmente em
matéria de queixa de gente do exercito, mandou ao editor
fizesse deligencia, indo ao mar achou que eira da caravek
de Cosme do Couto. Foy a cappitana e como não achou a
D. Manuel, passou a caravela e prendeu o marinheiro. O
capitão instantemente apertou a remetesse ao auditor geraí
de Portugal que estava na cappitana aonde todos três tor-
naram. O auditor que estava muito enfermo e o espirito
neste estado do corpo nem sempre esta pronto, não acodio
com os brios de outro tempo. O marinheiro foy levado e
preso em corpo de guarda. Mas huma cousa e outra passou
bem. Amateriadejurisdiçõeshe mui perigosa, e cada hum
pretende, quando menos, sustentar a sua e mais segura*
mente os de melhor fortuna, e mal se] defendem os limites
próprios sem alguma offensa dos confinantes. Pelo quartel
do Carmo se não tinha inveja aos italianos porque estavami
abertas muitas trincheiras, feita huma plataforma de seis
canhões e outra de quatro que se chamou de D. Fadrique
por ser o primeiro que elegeo o posto donde se fez muitrf
dano ao inimigo, mas detinha o exercício da artilheria:
delas ambas pretendendo que todas as baterias se dessem
juntas, em consideração que descarregando estas sem as
demais carregaria aly toda a força do inimigo» que entre-
tanto triunfava bravamente tjendo sobre o dormitório dos
PP. da companhia, e n'outra plataforma junta oito péçaff
que mataram e feriram muita gente, o que se atalhava
com tirar aquella como se vio que em tirando os seis
canhões e outro da plataforma donde se batiam primeiro os
Outubro 72
— 56i -
oavios se fez tanto dano que sessou quasi totalmente a arti.
beria olandeza ; e a morte dos espanhões daquelle dia em
Ique não ouve mais que hum morto e algum ferido, esteg
fora da bateria ; que nelia era impossivel pela boa espalda
fue tete. Neste mesmo dia 20 de Abril comessou tirar a
artilheria do posto de S. Bento que era quatro raeos canhões;
logo a plataforma de D. ^Fadrique com outros tantos : em
hnrna parte e n'outra com grande dano das defensas ini-
migas. Aqui com sucessos notáveis não avendo peça das
aoas que durasse duas horas sem que logo não fosse desa-
lojada, e descavalgada. A das palmas tardou mais, mas
como ficava a cavaleiro, e muy vesinha nio deixava plata-
forma segura, nem reduto, nem parava nada a seis canhões
qpie aly avia; mas como era grande a falta de engenheiros,
6 hum que era o principal fora morto pouco antes no
quartel de S. Bento por hum balaso (era este João Oviedo
de nação aragonês de habito de Montera muy boa pessoa,
disiam que mais destro em artificies de fogo que na forti-
ficação) sayo a esplanada sobre as canoneiras, e
por isso de tão curta retirada que ficaram as rodas asen-
tadas na terra donde se não podiam tirar sem grande tra-
balho, e logo depois da primeira carga foy necessário re-
medear-se a esplanada portugueza a falta de outros. Com
a vinda de Salvador de Saa que chegara pDuco antes de
socorro do Rio Janeiro com cento e oitenta pessoas,
disiam que oitenta brancos, os mais indios de arco e frecha
(e todos passavam ao posto de S. Bento) ouvo novo género
de alvoroto encarecendo muito a gente do Brasil, a in-
dustria e destreza daquelles frecheiros, e a facilidade com
que conseguiam qualquer bom effeito com as canoas em
que vinham. Contavam de nãos oíandezas, tomadas pela
presteza com que se lhe metiam debaixo da arlilheria, e
- 365 -
os espanliõcs a crer quanto lhe disiam daquella matéria
não bastando o passado para desenganalos. E verdadei-
ramente se aquillo se nâo hade crer como de fee, e tem-
lugar o discurso para julgar, e os olhos licença para ver de-
fecultosamente se crera o que com facilidade se conta porque
são estas embarcações hum tronco de arvore cavado mui
esguias, que se não for o pezo por balança subitamente se
resolve, os que as governam tristes índios nus todos api--
nlioados que a bala que lhe der por proa os irà matando
em (|uanto qualquer Ímpeto lhe durar, ainda que balas em
taei corpos seriam mal empregadas. A sua destresa ouvi se
vira em terra poseram-lhes aos que pareciam escolhidos
hum colete de anta náo pêra alvo que seria afronta para
homens que matam hum passarinho pelo ar, cortam com a
segunda frecha a primeira que tiram por esses ares quando
vem caindo, mas para experimentar a fúria que encareciam^
muito. Erram alguns acertaram dous. Apenas chegou a
ponta de huraa estando de mui perto a passava ante. Huma
das fáceis cousas que estes se proposeram foi a queima dos
navios de Olanda. Salvador de Sa mancebo brioso pouco
lembrado dos preceitos da íilosophia, despresador da vid^
qual fosse a occasião, se oíYereceo e facilitou a empresa que
aviade fazer em suas canoas contra vaso de guerra, e guerra
presente mui grandes, mui altas, olandezas aprestaram-se
faluas em grande numero providas de camizas, lançois, e
mais petrechos de fogo ; {)or cabo delias o capitão Gaspar
de Carrassa por terra se signalassam duzentos homens de
guarda se acodissc o inimigo pela praya a defensa de seos
navios a ordem deHyerouimo Serra capitão de infanteria;
e do outro. Isto se passava na tarde de 22 de de Abril em.
que estando D. Manuel com D. João Fajardo em sua almi-t
ranta, entrou aquelle capitão, e fallou apartado, Vinhase
•- 666 -
dispedir delle. D. João qui2 que D. Manuel soubesse da
resolução em que se estava, de que elle se mostrou mui
sentido quando não fora pela perda de tão boa pessoa pa-
recendolhe que era injusto não avisarem a D. Fadrique
advertindo de seu parecer ainda que sobre tudo dispuseso
o qoe lhe parecese. D. João achava o remédio impossive)
«atando ja o negocio naquelle estado. D. Manuel lhe instou
que como conselheiro de guerra estava obrigado a dizer o
ijue lhe parecese melhor covinha ao serviço deS. Jtf- Emfin)
^m nome de ambos escreveu trazendo alguns inconve-
nientes; e que se estas não fossem bastantes se dilatasse o
Intento porque era aq\ielle dia de oposição de lua, e o tempo
claro. Se esperassem mais dois dias em que entre a ausência
do soU e chegada da lua averia alguma sombra com que
4e alguma maneira se encobrisse ao menos de longe aquella
frota de canoas, e faluas. Escreveo também a Cropani muy
encarecidamente, e D. Manuel a D. Fadrique estendendo
mais seu parecer. Que tretas conviriam aos olandezes e nãQ
nos espanhoesqueapuros canhonasses faziam pedaços sem
pivios, ao que elle estava determinado de suas plataformas
de que se hya vendo o fruto com alguns no fundo. Coni
estas ou semelhantes palavras entendeu satisfazia com suq
Diagoa, e obrigação, e porque estava ainda bem alto o sol
ouve tempo para tudo. Menos bastara para persuadir a D.
Fadrique a que parase o intento, -^ntes porhuma rerpostíi
se vio claramente que não fora naquella traça que sem
ordem sua se fizera. No fim da caria escrita ja a vinte e
Ires, dizia estas palavras. Suplico a V. S.* que por ninguma
via se trate de la toma dei fortesilho que aviendo-se visto
(ieaca, y reconocido, y tratadolo todas las personas platicas
pomos todos de parecer de que isso se intente, Io uno por
poser puesto necessário para ganarla tierra, lo otro por c;u6
^
— 567 —
el inimigo holgarâ mucho de ver a V. S.* dentro de el para
hacerle pedaços siondo paesto sugeto a toda su fuerza con
solas estas dos rasones no áy que pasar alas de mas. El
maestro de campo general estando escreviendo esto a ha-
ccrme sobre el!o nueba instancia, y ay buelvo a suplicara
V. S.* (]uc dello no se trate por ningun caso. Suponha que
D. Manuel intentava entrar por sua pessoa como no campo
SC desia que poderia fazer quando se falava na boa eleição,
e pressa de suas plataformas, passando tanto pelo contrario
que fazendo-lhe a sua infanteria que tinha em terra que era
mui escolhida muita instancia tomando por medianeiros ao
alferes Ignacio de Mendoça, e Joio do Loureiro para que
lhe desse licença, os nâo admitio, e por nenhum modo es-
tando as cousas naquelles termos sem reconhecer os postos
c forças do inimigo, e sem ordem tal nâo consenteria.
E de maneira hya a declinação de força nasdefenças que náo
faltariam atrevidos, o que bemsevio paraaquellesdias. Joáo
Vidal, Aragonês, da companhia de D. Afonso de Lencastre
metido entre a malesa chegou ao pé de huma cortina baixa
e cayda por onde subio ao terrapleno sem aver guarda que
o vise. Levantou a cabeça vio no poço passear hum a ca-
vallo faltando com outros de pee, e voltando as costas deu
dois balanços a bandeira que estava arvorada, e com ella
baixou pela ruyna. Acodiram vendo fa tar a bandeira, mas
estava ja metido pelo mato cuberto de mosqueteria e arte-
Iheria com que lhes varriam todas as defenças. Mostraram
o sentimento disbarando descobertos muitas balas de mos-
quete, o que nâo foy com pouca perda sua, mas pouquíssima
daoutra paite. E tal averia sem se ariscar muito que trzia
um olandez se podesecom o peso, e este fizesea resistência
íjas bandeiras. Grande aperto era este em que se viam os
^iti^(Jos, e o pior que crecia deseonfiancia entre as nações
— 568 ~
desesperados todos de remédio, carregando os olandeses
mais a obrigação de morrer furiosamente oferecendo seus
corpos em luguar de parapeitos e trincheiras. À todos se
lhe representava huma escalada por espanhôcs irritados
pelo presente pelo passado, a justíssima vingança que os
tinha condenado, ao cutelo, se a constância durava em
muitos quilates tinha eido. O coronel que sucedera a João
Doart coBtam que nío lha parecendo ser ja tempo de tem-
porisar quiz ciaram ente saber, que spirito animava a cada
huma das cabeças, confessando em huma brevíssima pratica
o estado em que se fiam. As forças do inimigo, e os brios
a que a fortuna alegremente o convidava ; via presente o
risco a que se puiduim contynuando o emparo daquella
cidade que o Conde Maurício, estados de Olanda tinha li-
vrado sobre seu valor e lealdade, confessava o desemparo,
mas que a armada nío podia tardar quatro dias, que a
valor daquella nação não se fundava nos socorros que
podiam faltar, mas emsy mesmo intrínseca e naturalmente^
Asy não podiam temer a multidão dos inimigos, sendo
costumados com a pelejar elles em campanha, fazendo-se
com inferior numero, senhores de muitos ocupando-lhes
suas praças ; que contra a parte que eram portuguezes
cuja a impresa era mui fresca estava a memoria de quaes
sucessos aly tiveram, deixando innumeraveis exemplos
assas modernos; que se resolvesse a esperar com valor
assaltos por algumas partes porque em Deus obrador do
maravilhas, (entre os quaes não contaria o bom processo
contra espanhões seus inimigos, e capitães de sua religião)
esperava que avia de ser aquella ocasião a segurança do
império pretendido na nova Olanda, e coroa do gloria pêra
sua nação conhecida no mundo por mais valorosa; que de
taes inimigos se não podia confiarem amísade reconciliada,,
I
— 5G0 —
nem esperar misericórdia, mas procedimentos os mais
espantosos que se podesse imaginar. A desesperação era
o caminho honrado e mais seguro em fortunas semelhantes.
Não consentiram outros que fosse por diante mostrando
qual era a praça, qual o sitio, que força a dos sitiadores a
immensidade da gente, que quando delia matasse quatro
centos na resistência de hum asalto, e dos seus não morresse
mais de vinte, o mesmo tempo os avia de consumir. Bem
se via que naquella armada tinham vindo mais de doze mil
homens de gjorra (mal se persuadiram que estava erma)
sem dois mil daquellas terras quando menos delle ajunta-
vam, c sem a immsdiata que cada dia se podia juntar; que
o aperto era igual ao de Rembergh (senão que era immensa
a distancia de suas terras) pois o mesmo era consumir-se
por incêndio a pólvora de monição que faltar-lhe luguar em
quea exercitase, igual remédio se lhe avia debuscar quando
não ouvesse outros que primeiro se atentariam. Não ne-
gavam a lealdade que deviam a seu principe Mauricio e
«os estados mais que não se podia esperar que hum fizesse
maravilhas quando se lhe faltasse com osmeos necessários,
posives o naturaes. Que armadas, que gente, que socorro
lhes tinham mandado? adonde sepultaram tantas promessas
os confederados, que no mesmo tempo e logo iriam armadas
ao Brasil que outras a destroir e asolar as costas de Espanha?
cousa era para rir se a miséria presente o premetise
cuidar que se persuadiam em Olauda que tão pouca gente
snserrada por mar, e terra com taes padrastos se podia
sustentar contra tão grandes forças. As defenças em que
tanto trabalharam todo o anno igualadas com o chão em
quatro dias. Nenhum luguar seguro para atravesar huma
rua das mais interiores da cidade. O mar que podia ser o
ultimo refugio lhes mostrava a ultima desconfiança, pela
— 570 ~
(larte do norte o primeiro navio assentado na área, pelo
do sol tantos a fundo todos acrivelados, ate o de artiOcios
de fogo em que algum tempo esperavam fizesse grande
dano ao inimigo, alagado, sem remédio para cair como os
demais. Replicava o coronel huma e outra vez lho impe-*
diam ate que a cólera lhe venceu o sofrimento^ e rompeu
anameassas com palavras descorteses, a que logo se seguio
temulto quasy motin que obrigou a meter mão á espada,
parecendo-lhe mais com tngano, que tinha muitos do seu
bando, e carregando sobre elle o feriram no rostro, e
nas máos. Esta é a forma que logo se entendeo. Más por
informação de alguns Olandezes de que me qoiz informar,
alcancei, niosei com que verdade que nada disto precedera,
senão que era aquelle coronel vissiosicimo em vinho, e
Hiulheres, a que igualmente se entregava quando os sitiados
mais necesetavam da asistencia de sua pessoa; o que vendo
o asy os do conselho, o quizeram privar algumas vezes, e
que a pouca emenda e os disparates cmn que respcmdia
foram a causa d'aquellas cutiladas. Como quer que fosse
elegeram outro, e com elle se resolveram a pedir tréguas
para tratar de consertos. E segunda-feira ^8 de Abril co-
messando anticipadamente a disparar algumas peças de
artilheria mui espassadas, da plataforma dos dois sacres,
logo em apontando o sol cayram sobre hum luguar que pa^
recia corpo de guardiã, e tinham coberto com velas innume^
raveis balas de mosquete dos saquinhos com que tiravam.
Alguma mà hora lhes devia chegar com que sayo de debaixo
do toldo ja mui roto huma tropa de gente com temor de
segundo perigo. Os italianos que com grande destresa se
tinham adiantado muito com suas trincheiras sayram delias
ao descoberto. Daquella parte de S. Bento que ficava
avista destes movimentos acudiram ao foço desordenados,
— 671 ~
os Alferes Igiiacio de Mendonça Joáo do Loureií^o, entre
os quaes e italianos avia grandes eompetenciís, e loiniiias
de qaem primeiro na ocasião subiria as trincheiras inimrgai;
arremeteu com o seu sargento, e nor^nta e dois soldados
que tinha de guardiã das plataformas, e chegando a buiti
pequeno raluarte quasy no fim da palissada o veo á encoft^
trar hum soldado mandado pelo capitão que de cima Uie
pedia se chegasse. Adíantouse o alferes ecoí o sargento»
João do Loureiro, e Condestable Joio Ribeira, e com eiies
hum trombeta de D. Fadrique que acpielle dia o tinha ido
a visitar. O capitão lhe disse que mandasse retirar sua gente
pêra dizer cousas de importância . e de segredo* Sobio
primeiro João do Loureiro e dando a mão ao alferes^
e sargento entraram todos três somente a» oito oras (pie
parecera da manhã. Ouve entre os soldados rumor ciiidaÂdo
de seu alferes, duvidando de algornsoccesso; foram ae
chegando ao fosso donde o alferes mostrande-se os fes re»
tirar. Àcudio hum capitão italiano com alguma gente arH
mando-se pêra eilti^ar pela parte da estacada que ficava mea
faldra de hum outeiro. Os de dentro não seguros de algmáa
cilada lhe tiraram por alto dois mosquetassos. O alferes Ih^
disse que aquelle forte estava ocupado por .D/ Manuè) de
Menezes, e convidando que entrasse, mandou ao sargento
que o guiase. Sobiu e demorandose pouco se recolheufao
seu posto. Baixou de sima uma grande tropa de gente €m
que vinha o almirante Sanson. o hum sar^nto maior per-
guntando da parte do coronel com que ordem se chegara
tanto respondeu que para vingar a morte de hum soldado
que estimara muito, eo dia antes lhe mataram. Respondeu
que trinta e sete lhe tinham morto suas balas. Nem podia
ser outra cousa que trazer ordem pêra tratar de paas, e asy
queriam saber qual era o general a quem se avia de acudir
Outubro 73
ft
— 572 ^
A. ostas palavras mal entendidas se respondeu que ai).
Cádcicpie de Tcdedo que alojava no quartel do Carmo.
PergoDlaram se queria o alferes deterse aly até que tornase
húmátambor que queriam mandar em nome de seu eoroneU
O' que consentido pelo alferes ficou com elles de guarda o
sargento mayor e Sanson. Ouve muitas ^ostras de amisade
GOnvidados os hospedes com carne de porco fresca, e os de
fofa com laranjas e batatas cosidas e o trombeta com huma
br&da de tafetá azul. Serião quasy quatro boras da tarde
quando veo hum soldado da parte do coronel dizendo que
ovatambor era tornado com resposta de D. Fadrique de
tréguas por três horas. Despediram o alferes advertindo
nSo trabalhasse entanto seus soldados nem se chegassem
a seus reparos que avendo de ficar inimigas levantariam
huma baíideira, tirasse elle hum mosquetasso em sipal que
adtertir, e poderiam tornar as armas como dantes. Em
quanto estes recados corriam say o D. Fadrique a reconhecer
de mui perto os postos, e o estado declinante das fortiC-
caoões avisando antes ao mar a D. João Fajardo» e a D.
Manuel de Menezes do succedido, mas o aviso chegou j.a
levado o sol do dia seguinte. Embarcaramse sem dilação
subiram ao quartel achando tudo em tréguas depois do
primeiro lemite que foram três horas tiveram muitas con*
firmações passaram emfim a noite amigavelmente. Avia
reféns de de huma parte e outra, de Espanha na cidade
Diogo Rodrigues e o sargento mayor Murga, e no Carmo
pela do inimigo o capitão Mansfelt olandez e o capitão Quit
que parecia francez na pronunciação: o que se ordenou na
noite de antes por junta particular que para isso D. Fadri-
que convocou. Emquanto se esperava caminhava o atambor
descoberta pelas cortinas tocando caixa pêra o quartel do
Carmo; ao |)assarpela pi^rle fronteira ao ik)sIo das palmas
k
- 573 —
mandou o mestre de campo D. João de Orellana posessem
fogo aos seis canhões em que mataram alguma gente que
estava sem cuidado pelas cortinas. Ouve grande queixa que
nem guardava as ordens da milícia nem o costume da&
gentes. O mestre de campo general mandou estranhar a de^
sordem, e mostrar aos daeidade que receberia qualqueo
recado. Baixou o atimbor acompanhada de dois soidadosi
foy levado a barraca de D. João de Orellana que esteve mui
mesurado, e mao de servir, negando-lhe a mão que coiir
forme aos seus costumes lhe pedia, e daly ao Carmo com
isto se deixou a ordem de postas e o capitão Lansarote <la
França que estava de vanguardia, subio pelos reparos e com
elle Tristão de Mendoça, que logo se retirou porque lhe
queriam a j)mbos tapar os olhos, metendo a mão a espada
e se retirou as trincheira aonde contynuamente andava.
D. Fadrique tinha ido aqueila manhã visitar o quartel de
S. Bento e passando pela trincheiras da$ Palmas ordenado
não sessase a artílhería. Com o aviso da vinda do atambor
sa posacavallo, e a passo apressado veo ao Carmo mui alegre
no semblante e nas palavras; passando pelas palma aonde
postos em armas o esperavam se lhe deu a carta seguinte;
 sua excelência, cl general dei arma y exercito de la
Bahya de Sam Salvador.
Nos el coronel y los demas dei consejo desta ciudad de
Sam Salvador, por aver entendido que da Ia parte de V. Ex."
ilamaron um atambor mestro para hablar, enbiamos este
para saber o que V. Ex.* quiere mandar desimos confiados
en que V. Ex.* nos le boi vera a inviar conforme el uso de
guerre. Bogando a Dios guarde a V. E/ muchos annos.
Fecha en esta ciudad de San Salvador em 28 de ibril de
6á5, asinados, HansFrenet, Biffe, Quanilt Frenst coronel.
Respondeu D. Fadrique. A los senores coronel y xonsejo
f- 574 -^
euia carta acabo de rccevir su fecha de 28 deste respon-
4ieBdo à lo qne contiene digo que deste exercito no se ha
ecbo Uamada. Sy conforme a la costumbre de sitiados Ud
tíe&e qoe desirme como no sea contra el servicío de Dios
y de SQ magestad los oyerè con cortesia. Del quartel dei
OHrmen los 28 de Abril 1625 D. Fadriqoe de Toledo Ozorio
Enquanto estes recados corriam sayo D. Fadrique de muy
perto os postos e o estado declinante das fortificações des
ÍBCfaa&do antes ao niar oom aviso a D. João Fajardo, e a
D« Manoel de Menezes de que Mo chegou a suas capitanas
senfo ja levado o sol do dia seguinte. Embarcaram-se su-
biram ao quartel acharam tudo em tregoas que depois do
jprtmeiro limite de três horas tiveram muitas reformas, e
se passaram emfím a noite mui amigavelm^te avendo
reféns de uma parte e outra, de Espanha na cidade D.
Diogo Rodrigues, e o sargento mayor Murga, e no Carmo
peto do inimigo os capitães Mansfeit olandes, e Qoist que
ni pronunciaçto parecia Irancez avia notáveis de
mal contentes clamando que logo passada a primeira refpr-r
ina das tréguas avia d^e contynuar aliateria sem cessar ; que
o Mais cessando das armas toda uma noite era mostrar de^
masiado desejo de concertos, dar lugar a que as fortifica-
ções fossem por diante, e outras queixas semelhantes náo
sem risco de outros muitos. Quantas notes (e quasi todas)
se tinham passado entre estes exércitos sem aver huma
bala de que motejavam muitos chamando o citio de com-
|padres> que podiam fortificar os miseráveis no espaço de
huma breve noite, se o fortificado em humanno reinara em
(So poucos dias. Aquelle dia como as des horas da manhã
vseo a cart2( a O, Fadrique, e capitulos seguintes.
A Su exceienda-^lllustrissimo sennoraviendo recebido
|a carta de ^ de este y entendido la nobleza de V. 3/
— 575 —
•
de cuia persona nos confiamos, emos juntado niestro
consejo e resolvemos de entregar la ciudad sobre las capi-
tulaciones comprehendidas em los capítulos que com esta
van sobre los quales aguardamos respuesta de V. E.x^ cuia
persona Dios guarde, fecha en San Salvador a 29 de Abril
de 6i5. £1 coronel etc . Capítulos conspirados po el senoi;
coronel, y los dei consejo en l9 Bahya para oferecera S. E.x*
D. Fadriquc de Toledo general de S. M. de Espanha. Pri-
meiramente que nos los sobredíchos residentes en esta
ciudad de San Salvador le avemos de entregar a S. £/ la
dicha ciudade ^obre la condicione^ seguientes. a saber,
Que S. E.x* DOS hade d^ir el tíempo de três semanas para
que en dicho tiempo podamos concertar queslras nãos que
p qua tenen^os, y provehernos de mantimentos, agua ,e
otras cousas necessari£(s, y logo que para eso nos faltare
para haser a viage para nuestra pátria nos hade proveher
S. E.* y que será necessário por h multitud de nuestra
gente otros quatro navios cada uno por lo menos de quatro
cientas toneladas S. Ex/ nps hade proveher dellos; que nos
otros todos hemos de sahyr desta ciudad ai cabo dei dicho
tiempo com todo nuestro hato, bíenes, artelheria, y mo-
piciones, y los cappitanes y soldados con sus aimfis. Ias
vanderas súbitas, muron encendido y balas en boca. y I03
capitanes e marineros en suo^ naos« Que S. Ex.* ai cabo dei
dicho tiempo, ycuando estubieremos, aperejados mandará
recoger toda las nãos de su armada de donde agora estoo
y ancorar detrás de fuerte de San Filipe, para que nos otros
en el salir de la Bahya tengamos el passage libre, y salyr
sin nigun dano. Que tanbien todos nuestros eclesiásticos
saldran con todos sus Ubros. y hatos sin niguna mo lestia.
Que tambien a oinguno de nos otros en particular ni a
(odo$ en comum les seram pedidos los bienes conquistados
— S76 —
O pillados en la conquista de la ciudad. Ny tanpoco to
despues conquistado, ó pillado. Tambien algunos portu-
goezes que por su livre Toluniadan quedado en esta ciudad,
y nos otros los emos entretenido no tengan por ese mo-
léstia alguna. Sy S. £x. consenUere e acordare los dichos-
capitulas, hemos de entregarle la persona dei senor D.
Francisco Sarmiento de Sotomayor livre y sin rescale que
ha sido governador dei Potosi, D. Àgustino, y D. Fran-
cisco sus hijos, D. Juan su hierno y D. Âlonço Barba y
Verdugo, y mas la muger de D. Francisco, y dos byjas,
y los demas de su familia que estan aqui presos. Tamibien
entregaremos a V. E\. el padre frai Visente Palia, y su
campanero de la orden de S. Agostin confessor dei dicho
D. Francisco Sarmiento. Que los de mas prisioneros de
ambas partes seran libertados sin rescate ny costas. Y para
que de ambas partes se cumpra lo dicho daremos porsegu^
ridad persooas de ambas partes principales en confiança;
y será condicion que S. Ex. no hade llegar mas serca desta
ciudad con sus trinches y obras de lo que esta de pre-
sente, ny entrar en la dicha ciudad antes que a hijamos
salido con mestra gente, y echo volaran nuestros navios.
Que 9. Ex. nos hade dexar haser mestro viage livremente
{vara mestra pátria sin dexarnos perseguir con níngunas
nãos de su armada ny consentir que por ellas no sea hecho
ningun estorvo, El coronel. A estes capitules e praticas
propostas pelos embaixadores que amplificavam com mais
palavras principalmente o capitão Quist, que fallava caste-
lhano ainda que nHo bem cortado respondeu D. Fadrique
discretamente com palavras mui edificases engrandecendo
as forças de seu exercito representando o estado daquella
praça, louvando os sitiados que a tinham defendido mui com-
pridamentee com muito valor, cat^ando muito aos estados que
— 377 —
os não tivesse socorrido afirmando que nfu) podia achar-s«
gente tão desemparada como á daquella ciJade, e respondeu
por escripto.— Al colonel. Hé recebido la r^irta do Ud y
los capítulos que con ella vienem resueltos por el consejp
a que respondo en papel a parte. Hé oydo á luís con toda
la buena corespondencia militar. Syno se conlcnlar con lo
que concedo que es mas do lo justo volveremos a las armas
destrocando los rehenes. Guarde Dios a Ud en el quartel
dei Cármen à 29 de Abril de 1625 anos Don Fadri(|ae. Alo*
cappitolos. Aios capitolos prepuestos por el senor coronel
y consejo que reside en la ciudad dei Salvador respondo lo
seguiente D. Fadrique &. Que se halla en su mísmo pais,
y los sitiados fuera dei suyo. Que se halla con tanto numeru
de gente que no ha querido valer-se de la mucha que la
tierra le offerece, ny ha querido desembarcar mucha parte
de la que tiene. Que los citiados no pueden tener socorm,
y cuando le uvieram tendo no era de efeito contra tanto
poder. Que se halla con três quarteles sobre la plaza com
treinta y tantas peças de artilheria con que ha entrado a batilla
por quatro ó sinquo partes con trincheos quasy ai foço.
Segunto do lo mal, y la costumbre de la melicia, ny los
citiados pueden pedir lo que piden como soldados, ny I03
citiadores se lo pueden conseder; pêro mostrando la beni-
gnidad que su magestad usa con todos se les consede las
vidas, y pasage para sus tierras, y Ia ropa de su vestido, y el
vastimento que fuere necessário se les dava dando seguridad
de la paga. Todos los prisioneros se han de restituir, y en
primer luguar el governador Diogo de Mendonça Hurtado.
Los citiados.- A S. Ex.avemos entendido por la carta ycapi*
tolos de V. Ex. la resolucion sobre lo qual la respuesta va con
esta: y por ser lo que en ella alegamosjustocontiamosenDios
que nos hade socorrer, y guardar de todo mal ; y contanto
- 578 —
Diosmestro senor guarde a V. Kx. fecha en laciudaddeS.Sal-
iradoaa29de Abril de l62o. Áloscapitolosi Lossenores co«
roneliy consejo aviando visto la respuestade S. Ex. D. Fadri-
que&sobre los capítulos oferecidos a S. Ex. responde Io segui
ente quenos otrosnopodemosbaserotracosasyno conforme
lascondicionesemos oferecido aS.Ex." por ser rasonables y
necessárias para la comodidad de mestroviage e defensa dei ^
y que S. Ex. notiene razonde lo rehusar sinoes en abreviar
el tiempo condicionquenos deu navios sayo bastantes y pr(H
vehidos para el viage de nucstra pátria sin costas ningunas.
Qoe de ninguna manera somos de intento de dexar esta
ciudad tan fortificada, y provehyda como es seu salir dé
ella sin armas, ny bato siendo resueltos antes de defendela
como soldados honrados mientras tubieremos sangre. Enlo
()tte toca á la persona de Diogo de Mendoçá Burlado no
esta en mestro poder, por estar mucbo tiempo ha eu
(Handa, y no poder nos outros prescrevir leys a nuestrof
príncipe y estado roas que S. Ex.* mire por el bien y coú
servacion de D. Francisco Sarmiento Sotomayor, y los hijos
fecha en esta ciudad de San Salvador a 29 de Abri de i625
El coronel. Todas estas propostas e respostas corriam
pelos reféns Mausfel, y Quist que D. Fadrique ouvia em
pé presentes os generaes. o mestre de campo general e
todos os do conselho. E posto que trabalhase por nwstrar
constância bem se via nelles que se haviam de moderar
muito mais que as propostas. Vieram emfim depois de
bem regateado por huma piirte e outra em que se lhes
dariam navios de que pagariáo fretes, bastiraentos se acaso
alguns lhes faltase fazendo conta com os que tinham, que
en luguar de farinhas de Espanha de que havia na cidade
grande cantydade lhe dariam biscouto, pois eram boas
para terra e ynutcis para o mar. Vinho e ascites tinham
— W9 —
bastantes. Qae a honn lhes parecia nSo tinhan desme^
recido Da defença daquella praça, e asy esperavam que
D. Fadriqoe lha não intentasse demenuir negando-ltaes o
sayr a embarcarse senão com bandeiras tendidas com suaâ
armas, e^sínias como soldados honrados. Nisto se mos-
traram mai constantes declarando por mui bons termos
qnenão veriam o contrario, antes estar prontos pêra tomar
as armas. Isto tratavam os reféns autorisando suas pessoas
obrigandose que por elles asentado ccmflrmariam o do coúf
selho; e com í;>to se recolheram a seus apozentos aondd
estavam mui regalados. D. Fadrique se assentou e 08 do
conselho, mandando que todos os que estavam na saia de
fora e no corredor visinho do claustro sobre que linha ja
nelles a sala do conselho despejassem porque como náo era
pequena e muitos os da junta pudessem votar seguros de
não ser ouvidos, propoz D. Fadrique representando bem
quem era por calidade, por valor, juiso, e experiência, dis
correndo pelo estalo dos citiadores, dos citisKlos, moetran^
do quietação e constância de animopera o que se ofereceâd
de trabalho naquelle citio, de maneira que mais secotegiría
delle intento de gloria que a inclinação a consertos destti^
sidos a nação Espanhola. Viaseque toda a resoluçam andava
sobre hum ponto de sayr o inimigo com armas, ou desar-
mado. Discorriam variamente, huns queS. M. ajuntara tão
gran poder de mar e terra para castigara desobediência de
seus rebeldes não só pêra recuperação daquella praçá; qpie
levados desta gloria se resolveram aeáhores, e fidalgos Vor*
tuguezes a deixar mulher e filhos estando alguns por ^ua
idade, e outras circunstancias muy consideráveis desobH^
gados de servirem em jornadas^ tanto mais emnavegaçSotão
larga como a do Bra^l quando nella níofosse apessoartaA :
que eram indignos de misericórdia aquelles Ereges pele
Outubro 74
— 580 -
atrevimento com que primeiro prepopuseram; qiie mais
poderá dizer um embaixador de um rey de França sendo
ocupada a praça por seu exercito real. Da clemência de
S. M. era justo que em todo aperto esperasem vida seus
vassallos rebeldes, mas verdadeiramente aqueles eram
indignos delia, e quando se lhes consedessem fossem taes
as condições, que pêra outra gente que não fosse piratas
servisse a mesma vida de exemplo do castigo. Que isto era
o que entendiam convinha a reputação de Espanha . Tivessem
embora vida posto que não faltou quem quizesse levar tudo
a sangue e fogo, mas saysem desarmados, descobertos com
varinhas brancas nas mãos. Estava ali Diogo Rodrigues
soldado velho de valor conhecido que considerara como
jttiso o estado daquella praça as horas que nella estava disía
que os citiados tinham huma grande falta que os obrigaria
a qualquer coudição que se lhes oferecesem. Perguntavalhe
que falta eraaquella, ellea nio sabia, mas devia de ser balas
e outras monições. Com esta opinião de pessoa de muitos
annos de Flandres, de autoridade, teniente de mestre de
campo general ficava aquelle e outros votos semilhantes
mais corevorados, de maneira que havia por esta parte
muitos caminhantes. Outros descorríam com pensamentos
mais humanos, alvirtindo-os da inconstância das coisas in-
feriores ; que os brios com que os olandezes se defendiam,
ainda em consideração do futuro, eram merecedores de
honradas correspondências; que a empreza se ordenava
para recuperar aquella praça, sendo mui honrosa a que con-
seguia sem intento Nisto estava verdadeiramente a repu-
tação da Espanha, antes o pretender que com vilesa sayse
o inimigo era direitamente contra ella, vendose no teatro
do mundo contra qual gente se occuparam três quartéis, se
tomaram tantos postos, se ajuntara tanta artilhería com
— 58Í —
tanto excesso sobre o que de Espanha se limitara, quanto
sem causa se desamparara a armado pêra crescer o numero
dos citiadores; que aquella gente punha injustamente o
nome de piratas sendo inimigos de Espanha, por cujos pe-
cados, ou por outros juizos de Deos estavam ingreidos com
os sucessos que se chamavam, e não nos secretos, os es-
tados livres das provindas unidas, era hum exercito do
principe Mauricio e estados de Olanda, gente que tinham
quartéis defronte dos exércitos católicos, que de gente de
valor se não quizessem partidos afrontosos, antes se cui-
dasse que só com ouvidos se evitasse e resolvesse a esperar
a ultima fortuna defendendose de seus reparos que para
sustentar assaltos por escala vista eram, pela escala e pen-
tens mui a propósito não havendo ja que esperar da artí-
Iheria mais efeito; que naquelle exercito não avia cabeças
para que faltando esta ou aquella, o que Deus não permitisse
encher o lugar. Tudo fallando em geral para desembocar
fossos tapar muralhas, ordenar minas, subir escadas, gente
bisonha. Que era muito para sentir, e S. M. sentiria mais a
perda de tantos senhores, e fidalgos espanhoes. Dos de
Portugal estava visto que sobre ser cada hum o primeiro
arriscaria a vida, e o que mais é por não ficar o segundo.
O mesmo se presumia dos de Castella, pois não conhecem
suprioridade, e a igualdade apenas a sofre cuidarse que a
praça se renderia no primeiro assalto era sem fundamento.
Sendo rechassados com muita perda e da gente mais gráua-
da ou morta ou ferida, como necessariamente avia de ser
quem ficava para o segundo que as vidas dos taes bem ven-
didas ficão por serviçiy dos reis na toma de cidade, quando
he necessário, por escalada mais injustisimamente perdi-
das por se pretender que tal inimigo saya com desowd;
que arriscar buma só horaa recuperação da praça era conto
~;í82 —
a reputação» contra ô senriço de S. M. umana, e defina que
m trincheiras mais fisinlias, nSo estavam no fosso e para
chegar necessitarnn de tempo mais do que algons cuida.
WÊU outras vinhân coxeando, algumas tais que fora melhor
Qfo ter principio. Esta mesma delaçáo não era menos pre-
Indicíal por ser entrado o inferno que por misericórdia de
Deus tiiúia tardado muito, que nas trinchefras se alagava
a gente a chuiva importuna seguia calor intolerável e por
€8ta destemperànça adoecia muita gento que não cabia nas
grandes enfermarias deputadas. De novo se ocupavam casas
if» não bastavam; morriam pela umidade, e quentura da
Itrra todos os feridos, de doenças muitas, alguns quasj ao
^tosampm^ pela falta de medicamentos, e pela de frangas
6 galinhas notáveis. Sobre a carestia insofrival, que pêra
«oprir esta falta acudia com alguma carne de porco por
regiK por hum abuso da terra semelhante aos demais de
ser aquelbi carne san pena doentes, não prestando nem pêra
os sãos, e faitandopera todosainda quebuscatia com solici-
tnde edeligencia, que o ordinário se supria com carne de
vaca em todas as mfermarías. Se carregasse o inverno? se
cresesem as doenças? seenfermase a nobreza que sustentava
muito? Mas se chegasse o socorro que tardava muito con-
forme ao que os olandezes aguardavam, e os espanhoes era
wsio centravam? Alegre comedia se representaria ao
inimigo quando visse a confusão de gente que acudia aos
navios desemparando os quartéis, quando se visse socor*
rido com pouco estorvoque navios fantásticos lhe causariâo
cappitaaas e almirantas foriam todo o esforço chegando se
'us inimigos emquanto o fundo de alguns bancos o permit-
tissem. Que oafinnado por Diogo Rodrigues com sua revê-
nttút, nenhtun lugnartinha pois nada sabia de serto, qiie
ttta(agi»aç6esftunatiassã<>a verdadeira inserteza em que se
— 588 —
Dáo funde um triste alpendre tanto meno6 edificio tto
grande, toda a importância da empresa. Adrirtisese ootm
cousa, quaiqnando este socorro nio chegase addade effifim
serendesesoem qualquer pequena dilação estava gran raiM
aparelhada, gastavase a monição, que ja estava aríscada pelo
tempo que avia mister para carenas de navios velhos, jfàfíí
pendores dos de mais; que a este respeito somente» quaod»*
tudo mais se facilitasse e senão fizesse mençlode outra eotiat:
alguma, não havia outro que se opusesse; que ao itiimigft te
avia de fazer honra com que cada um sajrse cargado de sm
mosquete, sobre mechas acesaa, ou apagadas, sobrebagaga
ouvesse embora disputas, contanto que fossem braivesalgims
dos 5«nhores portugoezes replicou ao que se desia que ú
seu sangue se havia de poupar mostrando sentimentos de
proposta; o que votava sentindo os brios naturaes naqueUa
nação, parecendo-lhe, que estava respondido com a opiaílo
commua, quasy não cortou o fio do que desia, comtudo oAo
faltaram, segundas instancias e ditos mal declaraà)8, que
todavia se entendiam do que D. ioáo Fajardo que ja tinha
votado, tomou cólera. Tendo, que aqueUa linguagem eia
ajudada de algum soldado velho, e entre muitas coiatfl
disse que se não podia sofrer cpiealgmis fidalgos honrassem
sua galhardia e bisarrias sobre o siso de outros, o que^e
tinha tanto de bisarro oomo todos, easy declarava seu toIo
se não desse luguar ao costume de semelhantes casos, nem
a clemência ou piedade, fossem todos degolados» eqmado
alastima vencese saysem despidos,o esbofeteados. Mas logo
sesson a cólera e yoltou ao votado de antes* Nisto vierani
todos os soldados vellios e em que se dese armas com que
saysem com mechas apagadas e sem bandeiras. D. Fa--
drique resmoio <pie nislo se ccmformava, mas queaa^arauta
se Bio desem seoio depois 4e eadMreaios, a quaieala
— 684 —
aceitase o partido se lhe consedese. Instou D. Manuel de
Henezes que com sua licença se defreria muito, que negar-
lhes armas ou consederlhas não havia ser por gosto, mas
pér aver para huma ou para outra cousa, fundamento; seu
par^er era que julgando sua senhoria que não era justo
dttrenselhes, sempre se lhes negase. Todavia resolveu
ce«io tmha determinado. Este conselho se acabou com
moitas oras da noite; e D. Manuel não podendo acabar
comsigo dormir fora de sua cappitana. chuvendo o que
bastava para fazer piores aquelles mãos caminhos, baixou a
Agua de Meninos, sendo jà partido o governador San Feliche
emk a carta de creensa que se segue para tratar a matéria
como coronel e com os mais do conselho, c Al sargento mayor
San Feliche remito lo que se me oferese disir a Vd em res-
paesta dei papel de 29 deste que cabo de recebir, y como el
general que tambien passage a echo a Olandeses que he
tenido prisioneros estare desculpado en volver a las armas
despues de haser descortesias que Vds han visto guarde
mestro senor &c 29 de Abril de 1623. • Â manhã seguinte
se foy D. Manuel pêra D. Fadrique, e tornando-se a
jantar o conselho se vio que alguns dos que tinham
votado, vendo, parese, tinham cumprido com sua obri-
gação, ou pela cidade ou por outras consyderações, estavam
resumidos ao mais umano. No votar não avia differença,
proposto, ou ansyanidade, senão por ordem como cada
hum estava asentado. Cayo o voto a D. Manuel; escu-
s?iva-se de votar de novo, porque de novo não avia nada
com a volta de San Feliche, e vinda dos comissários que
haviam de assistir ás capitulações, na conformidade que
os reféns no dia de antes tinham consertado. Mas por
obedecer a D. Fadrique, falando com D. Josepe de Sarabia
secretario de D. Fadrique que nas juntas fazia o oíficio de
— 585 —
secretario delias, lhe díse que escrerèsse o seu parecer
com as mesmas palavras que o disia para que delias
constase a todo tempo, apesar que todavia se estava em
sua fraqueza da noite passada, e na pretenção da avareza
de tão bom sangue como avia avendo meio pêra se pou{mr,
recuperando-se a praça e onradamente, e que todas as
mais rasões do dia de antes dava por repetidas so huma
acressentava pêra desculpa do temor que mostrava muito
contra sua natureza; que elle por ordem precysa de S. M.
asistia cm sua cappitana, e podia asistir, em quanto voasem
diante as trincheiras, e o sítio se apertase com o bom
sucesso que Deos lhe daria em seus assaltos, e escaladas,
que nellas tão grandes, tão fortes como se via pêra
qualquer caso tinha quarenta e quatro pessas de artilheria,
monissões bastantes, muitos soldados de valor, e sua pessoa
que tinha visto e padecido muito e comido acabou aqueUa
seção e com o seguinte. C^rta dos citiados. Por el sargento
mayor San Feliche havemos recebido la de V. ^x. ai qual
remelio V. Ex. logo que se lhe oferecio de sir ai quad
oymos, y asy mandamos das personas de nuestro consejo
para responder a V. Ex. vocablemente e representar«lo
demos de nuestro mtento; de los cargos que ha tenido de
S. M. y el bien que siempre biso con los nuestros estamos
advertidos y satisfechos, y que siempre lo usara com per-
sona tan poderosa aquien Dios guarde a 30 de Abril de 1625.
Carta de crehencia. A S. Ex. el Senor &. Nos el coronel
y consejo damos poder, y abremos por bien por isto que
los senores Guilhelmo Scop, Ugo António, Francisco
Duquesme personas de nuestro consejo vayam a tratar eop
su*Ex. el Marques D. Fádrique de Toledo sobre la entr^
de la ciudad dei Salvador y consertar c(m S. Ex. los oçri^
tulos presentados de mestra parte en la mejor forma qpe
— 586 —
j^erom, y lo que los dichos senores tratarem teãdremoa
por bien, y hecho sy to que cumplíremos puntealmente y
éOQ sinceridade; fectia en la ciudad dei Salvador a 30 de
Abril de 1625. Capitulaciones. En el quartel dei Cármen
ft SO de Abril de 1625 el senor D. Fadrique & parecieron
los senores cappitanes Guilhelmo Scop, general dei arti-
Hieria. y Hugo António comissário general e Francisco
Doqoesme todos três dei consejo los quales truxieron co-
mission dei senor coronel» y consejo que se hallaa en la
ciudad de S* Salvador de Bahya de todos Santos para haser
y concluir las capitulaciones seguientes para entregar a S.
M. y ai senor D. Fadrique de Toledo en su nombre la dicha
ciudad de S. Salvador que ai presente poseen« obligados de
las armas, de S. M.; y el dicho senor D. Fadrique ordeno ai
senor D. Juande Orellaoa, maestro de campo de infanteria
espanola, ai seçor D. Francisco de Almeida almirante de
h armada de Portugal y maestro de campo de otro tercio
de infanteria espanola, ai senor D. Hieronymo de Quixada
y Solorzano auditor general dei armada y exercito, ai senor
Diogo Rodrigues teniente de maestro de campo general, y
quartel maestre general y ai senor governador Juan Vi-
eencio S. Feliche todos dei consejo que juntos asistan a
eonfrir y tratar lo contendo, y asentarem y conclueron Ias
capitulaciones seguientes. Primeramente que ai senor
coronel y consejo hande entregar-Ia dicha ciudad de S.
Salvador ai senor D. Fadrique de Toledo en nombre de
8. M. en el mismo estado en que se baila oy dia de la fecha
eon toda la artilheria, armas, vandeiras» y mouiciones,
pertrechos, vastimentos, y navios que dei puerto y Ia
ciudad se allare, todo el dinero, oro, plata, yoyas, mercan-
stas, menage. negros, negras, esclavos, cavaUos, y de mais
cosas que se allare en la dicha ciudad y navios dequalquier
I
— 597 -
calidad y condiciones que sea; y qoalquier nacion vasalOiSs
de S. M. qae no tomaron ias armas contra S. M. ny sus
vasâlos hasta despues de llegara (Manda dr. El senor B*
Fadriqne de Toledo en nombre de S. M. les consede que
dichos senores, coronel ministros, capitanes; of^ciales, f
soldadoS; y sus criados, y toda la gente de mar. y todos los
demas olandeses, itemengos; inglezes, franceses, aleman^
como sean los que tf uxieron comsigo» salgan livremente,
sin nigun impedimento com toda a su ropa de vestir, y
dormir, y que los coroneles> y capitanes, y officiales puedam
Uevar en baúles, y caxas la<licha ropa de vestir, y dormir,
y no otro cosa, y los soldados con sus mochilas. Que el
dicho senor D. Fadrique de Toledo, les dará passaporte
para todos los navios de S. M. paraque no se les haga dano
niguno, no aliando los fuera dela derota de'sutierra.
Que el senor D. Fadrique les hade dar vastiméntos neces-
sários para três meses y médio. Que toda la gente hade
sahir de la ciudad todos juntos.. Que el dicho senor D. Fa-
drique hade sinalar per^onas que visitando los dichos sol-
dados, y demais personas que salierem para que se caso
que Ueven alguna cosa fuera de lo capitulo que el dicho
senor D. Fadrique aya de restituir ai dicho senor coronal
todos los prisioneiros que se allaren en pie aqui. Que
ningun soldado de los dei exercito dei dicho senor D. Fa-
drique haya de haser agravio a ninguno de los olandeses
y gente sobredicha dei dicho senor coronel. Que los hade
dar los instrumentos de la naveg^cion que tryen en sus
navios. Que el dicho senor D. Fadrique les aya de dar las
armas para su defensa en su yiage. Que hasta los dichos
navios ayande salir sin armas ningunas exceto los capitanes
que podran llevar espadas. Que el dicho senor coronel aya
de dar esta noche huma puerta abierta coa su cuerpo de
Outubro 75
^tardia ai dicho mm D. FadríqM d^tm da ta tuti^Ila,
ffl senM- D. Ftfiriqiíe Im de r^^tibs ^ su icòntetitopara
A segorifltd ^tretanto qtíe esta^ capituiacfoQs ^ cample;
1Mia<m id qoariiâ dei GariMfn a SO de Abril de 1625.
Gsta^ c^^^lações £íe eoticliiinam às «fés liaras da tarde, e
^finnaratti D. F^ríqúè 4è toledo Osório, Guilhclmo Stop,
Hogo Anteoío, e i^raiK^isco iDuqú^iti<9.
ÍLIVRÒ tERGEIRO.
Ofuesmedeuaêegueitsúrmadiístitoriéâasderam
veia perawka de Espanha &.
Eitaja ^si scfl t>osto e não podiam acabar de se -tirar
k%tk<ança§. travessas, atulho •com que as pettas de Santa
Gáletína por donde bavia^dé «ntmr a ii^ranteria conforme
ts<»t^talaç6es. Tiradois emfim os impedimentos comqne
{Nirece ^ fortificaram contra a força de ^Petarde foram en-
Iriando o 'mestre de campo igeneral, o mestre de campo B.
VMo^de Orellanacom sinquo companhias; não levaram
Imodefras, costome observado na entrada de praças que se
Wítregaím. Lançou-se vanáo qoe nenhuma outra pessoa
«atrase sob pena devida, e traidor aEl-Rey. E advertido
O. Fadrique de quem por verttura despois o não guardou,
tnandou ajuntar ao vando que debaixo das mesmas penas
Mnhum soldado das companhias que ^travam sayse da
«asa qoese lhes desse pêra •seualojameifto. D. Álvaro de
dlbranches £cou com sua companhia ^e guarda da porta
'{ijpWém ^ia parte de fora) com a -ordem que ninguém
«tttwise, nem saysse, sem -nova ordem de D. Fadrique, que
ffály a paiíeo espaço entrou na cidade, y foy alojar as casas
4o ^overmaddr. D. Mafa:U€(l^']ffe»efií6fs qtie de^ndo o s^ •
ti4o (I09 vemetedoFCis ocupada em desembaraçar aporta se
fopai pêra sua cappitana. Foi logo peb manhã a dar o ^
raben a D. Fadrique de Toledo da mudança de huma'trí4è
eeia do Carmo cheia de ciudadoa para aquelta casa do que
O acbou satisfeitíssima (dizia muitas vezes qua nunca tSa
J)oa a tivera) por hum jardinote com partido, coriosidadq.
do coronel João Doart,, e por bums^ sak^ que lavrava o got-'
vernador Diogo do Meudouça de vista qo topo sobre èHeu
9 parte da cidade, e boa do mar oceano, mais janelas no
prolongo sobre a bahya e outras pêra o interior delia» e
parte 'setentrional todas livres e pcw outras circumstancias
que acompanham a soberania. Acabada sua visita sayo a
ver qs ruas qqe pelo que tinha ovido em Portugal imagi-
nava diferentes. Considerou por toda) as partes as ruínas,
das defenças, as peças quasy todas dç^neavalgodas, e comQ
o intento era buscar alguns livros curiosos que não avia
enfadado de tio triste espetaqulo se tornou. Poderia relatar
do despojo e de outras particularidades que todos desejaram
saber, e neste luguar esperam com grandíssima inserte^.
Mas parece-the que o autor castelhano, que dizem escrevço
a relação, desta impresa nío foy curto avaliando em
400 V ( * ) senáoincluio nfeto os navios. íabricas e apreatos
deiies e as casas da cidade, O que chammente podem
afirmar é o que lhe dizia hum olandez que mal se poderjit
imaginar a pobresa daquella gente, porque entrando ei]es
com tão apresurada entrepresa, e achando as casais iuteiras
como seus donos as tinham ate* relíquias que traziam aò
pescooo colgadas das camas senlo aohara ouro, nem prata,
nem instrumento que arguisse mais que pobresa; e qçí
nas casas de melhor aparência revolvendo arcas de row'
(•) érmiro^pt9.89/rfcrs.
— Sítf-
branca achavam entre ellas garfbs e colheres algtima lassa
antiga, alguma cadeasinha de ma traça e pouco valor,
aigiins anéis velhos e de ruins pedras, nenhum firmai,
nenhuma garçantilha, nenhuma sinta, que o tomava por
testemunha de sua verdade avendo de ver o pauco
que aly se achava, excepto na fazenda do navio de
D. Francisco Sarmento. Não se pode por este caminho
arguir pobresa do lugaar, porque ordinário he na gente de
negocio portugueza da índia e asy o sera na do Brazil em
seu tanto trazer o seu dinheiro de hum trato era outro não
no empregando emcalvagidaras, joyas, nem ainda naquellas
cousas da índia aprasives ã vista. Mas verdideiramente
considerado bem a fabrica das casa, a traça de todas, bem
se arguira poucos levantados pensamentos como cortado
todos por hum nivel mui conforme a isto he omenage e al-
fayas, os guadaraixinnes, as cadeiras, os leitos, as pinturas.
Avia muitos negros, e negras, poucos Portuguezes, os mais
da nação Hebrea, que se acomodaram a fortuna do vencedor
livres do cuidado quam bem se lembraria Espanha da recu-
peração daquella cidide. Peças de artilheria avia em canty-
dade muitas de navios tomados pequenas, e maas, poucas
boas fora das que na praça avia de antes ; de pólvora e mo-
nições de todo género bastantemente para muitos mezes;
munto de selas, bridas, e todo o adresso, pistolas, armas
ligeiras de infanteria, petos fortes; indicio de pensamentos
conquistadores em que queriam vencer aos portuguezes,
que se contentaram sempre em todas suas boas fortunas,
e conquistas. Nâo era menos de apresto em seus almasis
^e anxarsea, velas, pregadura, graxa, mas a curiosidade se
mostrava mais em seus navios de maquinas de fogo grana-
das de muitas maneiras, bombas, alcansias, roqueiras por
popa abocadas abaixo se fossem cometidos com lanchas
- áôf -
inaumer^teis instratttônios de BaregaçSo. Vioseclaramebfè*
como se eogaDava Diogo Rodrigoes em sua imagiiiaç3o^'
gente de guerra mit e trezetits^ e quinze pessoas de nàHt'
(]uinhentos e seis afora quarenta edois artilheiros; e éii^^
coenta e seis oiliciaes, estes mil novecentos e desenovM
nenhum velho, rarissim^ moços peqúeíic^, todos manceboií
gente escolhida para luzir entre qualquei^ juíanteifia éd"
mundo. Bem se pode ppesuttiir que se quizessemretolverse
onindose conformes (o que com defeculdade seria enti^e-
tal aperto e variedade de âação ) a esperar hum assaílto quis
custaria rios de sangue, e vitoria. Não seria umildade dizert
D. Fadrique o que o outro general, Yini, ni, y Dbs venCiiií^. '
Quinta feira primeiro de Maio as dez da manhã tirada iaf^
bandeira de Maurício se plantou em seu lugar sobre a see
a das armas reaes de S. M. e(»a castellos e leões. Materiía
de notáveis descontentamentos entre os Portugueses, cha^
mando aquillo, se foi enavertencia, ódio nos Castelhanos a
nação portugueza que em tudo se mostrava, e liunca em-
tão publica aparência. Era aque Ia empresa de Portugal dos'
cinco mil e oitocentos homens que assistiram em campanha
os três mil e trezentos portugueses, muitos fidalgos! moita
mais gente nobre, quasi todos aventureiros, enío da pledDí
de que as levas se fazem ordinariamente. A nobreasi>
que mais continuava nas trincheiras, no desmontar mataS;
carregar faxinas, calejaras mãos com a paa, e eqiadir
sendo aqui a de Castella sem offlcio, ou cargo entreteni»
dos cerca de la persona, gente jubilada pêra o trabalho,
que o pençamento dos conselhos, e governo de Portugal
fora somente pedir socorro, persuadidos a que tinhaufi
genetaes; querendo D. Fadrique portuguez pudera mete?
coín as de Portugal as armas de Castella, com que a?
quinas reaes dadas por Deosao Mm^ ficando mu^dto-
— 594 —
das que avia em casas particulares que pareciam de pilhage.
e ainda das inventariadas, alguns soldados particulares que
ipodiam entrar, e sayr rapinavam coisas mui descommodas
.de levar, pipas inteiras de cebo, alguns oSiciaes, as de
Vinho, que segundo se contava logo vendiam alasernado.
Estes e outros taes não tiveram sorte de encontrar caixões
de sedas, meias e outras coisas de moderado preço. Em
^quanto estas negociações e trabalhos se gosam, e padecem,
ibandava D. Manuel recolher a sua infanteria e artilheria
tque tinha em terra, acodir ao provimento da gente que
tinha em ambos os quartéis, aprestar taboado que na terra
não havia e as mais coisas necessárias para querenas, e
pendores para o que náo havia carpinteiros, e calafates,
aendo gran parte dos da armada de navios particulares, e
dd frete que sendo acabada sua obrigação andavam espa-
lhados pela terra dentro, outros ganhando seu jornal que
ali he grande, e náo avia desco]|)rilH0s ; nem era de menos
cuidado a aguada estando as pipas em estado que mui
pouca, eram de serviço sem muito adresso. O que se dizia
que na terra avia muitos tanoeiros, e muitos arcos era
semelhante as outras informações, se não se salva na sim-
plicidade que verdade he que tanoeiros e arcos se acharam
pêra concertar louça de navios» marchantes que com o
euidado de seus donos levaram pouco dano. mas para
tantas mil pipas que saem de mãos de quem se não doe
era impocivel aver apresto: tudo era confusão porque
seus procedimentos na satisfação a todos culpando o de
que avendo tocado a sua cappitana meo banco de área
defronte da cidade, não tratava de lhe dar querena. Que
tudo era alinhar pêra mostrar maiores aparências do efeito
de seu trabalho porque no mesmo tempo queria acudir a
tanta coisa; que avia soldados pelas companhias a que
— 595 —
faltavam sapatos, e aveado muitos de moníção se lhe náo
davam. Pera que se poupava o que era pêra repartir? O
mesmo diziam do dinheiro que não despendiam dando-se-lhe
pera as necessidades do campo : queria adiantar-se com os
ministros portuguezes mostrando a torna viagem que lhe
sobrara; mas elle feitas as contas comsigo entendia que
acertava, prevenindo o poder-lhe faltar os mantimentos de
Espanha que haviam de navegar tantos mares. Nenhuma
cousa o cançava tanto como a preça que avia de ser neces-
sário no apresto dos navios de Portugal que aviam de
ajudar a levar os olandezes avendo-se-lhes de dar todos
meter-se-Ihe logo mantimentos, e pipas pera aguada»
porque se partissem logo não estariam consumindo os man-
timentos que avia, e pera se desencontrarem, como se
pretendia das armadas de socorro que se esperavam não
via melhor caminho pela diíTerença das derrotas dos que
com aquella monção partem pera Europa e dos que da
Europa buscam o Brasil, que detendo-se aly os rendidos
ate que os socorros chegase não faltaria modo por donde
comonicasem e consertasem o luguar de se ajuntar ; e que
com a junta de tais dois mil homens aos de socorro poderia
aver causa de muito receyo intentando alguma facção de
que não podiam deixar de vir advertidos de Olanda se
acaso acliasem a praça rendida, e porque a esta opinião ouviu
que havia outros opostos a mandou propor a D. Fadrique
pelo governador San Feliche e que estimaria muito que
ouvesse junta em que a provocaria aos mais práticos ma-
rinheiros. San Feliche voltou com resposta e ouve replicas
e defeculdades com que estrangeiros e espanhoes vieram
a partir juntamente. Logo que a praça se rendeu ordenou
D. Fadrique de Toledo mandar a nova a S. M. pera o que se
aprestou hum pataxo, mui ligeiro, bem espalmado e en-
Outubro 76
- 596 -
sevado, mui boas velas e todas que o mastro podesse levar.
Era de força e com deseseis peças de artilheria de bronze
a cargo do capitão Martimde LIanes hya o capitão D. Pedro
de Porvas com cento cincoenta soldados, mosqueteiros
escolhidos. Coma nova D. Henrique de Alagon convalecente
do mosquetaço. Partiu a 13 de maio à noite em direitura
a Cadiz. D. Manuel que levava em seu regimento que logo
em chegando ao cabo Verde despachasse caravela com a viso»
e não executava esta ordem pelas ocupações que aly teve»
e chegando à Bahya vira mayor inconveniente por não ser
o mensageiro do infelice principio da empreza. Agora lhe
pareceu necessário. Mandou dar monte a huma caravela e
a aprestou pêra a viagem. Dizem que hum portuguez dera
informação a D. Fadrique que a caravela era embarcação
mui ligeira, que furava os mares e avia de anticiparse, com
a nova a Espanha muitos dias, em huma carta dequelle dia
escreveu o capitulo seguinte : Oy han llegado a desirme
que parte uma caravela esta noche a anticiparse a levar el
•aviso e â llegar primero que el navio que lleva a S. M., esto
parese que la misma rason lo esta desinio que no puede
seer y asy digo las que asy para no persuadirrae a ello pues
quando V. S.' gustare de despachar caravela claro esta que
V. S.* no queria que partiese a tempo que va a hurtar lo
vendicion, y se en esto ay algo creo muy seguramente que
será deligencia de algum particular sin orden de V. S.*
Suplico a V. S.* lo mande averiguar e estorvarlo pues es
tan claro lo que en esto se deve haser, y ami mande V. S.*
A este capitulo respondeu que as benções esperava de quem
as podia dar sem negociações. A partença da caravela tinha
asentado seria com licença de S. S.*, p depois dado seu
navio os dias que lhe parecese como o tinha escrito a S. S.*
em oito daquelle mezdandolhearesáo, que (quando outras
— 597 —
não ouvese que eram muitas ) náo era justo que as senhoras
de Portugal esperasem pelos correos de Madrid somente
cartas de seus maridos que tinham naquella armada, fora
de que por ordem de S. M. levava despachar caravelas
logo em chegando, asy lho tinham mandado os governa-
dores de Portugal que com dobrado gosto e pontualydade
obdecia estando ausente. A D. João Fajardo foy ordem to-
masse as velas as caravelas que não fossem de D. Manuel,
e como corriam com amizade antiga avendo sido D. Manuel
soldado de seu pai algumas vezes deulhe conta da ordem e
depois de mandado executar n'uma caravela que viera a
D. Afonso de Alencastre; estendendose a pratica com lha-
neza veio a dizer que a pessoa que levase a sua conta tal
empreza podiam dar ordens que nenhum outro navio par-
tisse sobre que ouve largos discursos, e distinções mui
necessárias pêra semelhantes ocasiões. Mandou aquella
mesma tarde ao capitão Manuel de Palhares que como de
si fizesse saber a D. Fadrique que elle erà o nomeado pêra
ir a Lisboa com o aviso e asy lhe fizese mercê de ocasiões
de seu serviço. Que a partenca lhe tinha ordenado D.
Manuel seria quando S. S.* o despachase. O dia seguinte
à meia noite veo o mestre de hum navio portuguez tomado
por hum patachinho deOlanda com aviso que ja tinha dado
a D. Fadrique, que fora mandado pelos olandezes á cidade
que tinham por sua saber do estado das cousas, com pre-
ceito tornasse em horas limitadas sob pena que tardando
padeceriam os companheiros; que aquella com duas presas
o navio da ilha da Madeira, e outro de Lisboa esperavam
resposta doutras da ponta de S. António. Sahiulogo Martim
de Valhesilha com os navios Victoria e S. Catharina, e
huma tartana, e a sua ordem mandou D. Manuel dojs pata-
xos que tinha prontos para qualquer ora, e Manuel de
— 598 —
Palhaes na sua caravela. Acháramos olandezes a que deram
cas^ ate a paragem do rio de S. Fraucisco, e os deixaram
▼endoo intervalo com que os vencia em ligeiresa. As presas*
que eram ruins de vela prevenindo o olandez tinha man-
dado se fisesem ao mar. Delas teve vista Manuel de Palhaes
lhes poz a proa mas o general Valhesilha vendo que era
tarde lhe fez sinal e se recolheu. Por este homem se soube
que huma das presas era navio de Lisboa carregado de
bastimento e trazia cartas a D. Manuel, de serem trinta e
cinco velas partidas deOlanda em socorro da Bahya. Sentiu
muito que se recolhese estes navios sem efeito, e como
lhe hya tanto nos bastimentos todas as deligencias lhe pa-
reciam pequenas e pretendeu fazei -as com os seus pataios
somente. Estando com este cuidado de que tinha avisado
a D. Fadrique o avisou D. João Fajardo com muitas horas
da noite, que lhe escrevera que ja se exasara a sayda dos
pataxos que de trabalho os livrava seu sobrinho D. Henrique
de Alagou que estava surto na barra com as duas prezas.
D. Manuel lhe pareceu que o portador da nova não seteria
cançado muito em averiguar, porque parecia que so com
rede se tomavam com brevidade duas prezas por humnavio
só e levando comsigo Tristão de Mendonça baixou pela
Bahya com intenção de chegar á barra; mas com poiícomar
vencido soube que D. Henrique so estava surto na barra
aonde se recolhera por ter vista d^aquellas prezas, seguindo
como disseram, a ordem que levavava que avia de evitar
encontro de inimigos para assegurar a brevidade da nova
que levava de leveir. Com esta certeza fez a volta pela cap-
pitana de D. João Fajardo, e escreveram a D. Fadrique
advertindos que naquellas presas consistia grande parte do
remédio da armada de Portugal que daquelle reino partira
£alta de mantimentos para voltar, Tristão de Mendonça que
— 599 —
quiz levar esta carta trouxe ordem de D. Fadrique para que
hum pataxo da sua armada fosse a seu cargo e acompa-
nhasse aos dois de Portugal, tudo isto era Ja mais chegado
a manhã de 18 de Maio que mea noite. Fízeram-se a ?ela,
e a tarde entraram os dois pataxos ( porque o de Castella
se não poude desembaraçar tão depressa) com a pressa que
abordara e rendera o capitão Gregório Soares que na sua
falua vinha com Tristão de Mendonça, trazendo nove olan-
dezes que na pressa estavam de guarda, avendo nella treze
portugaezes. E chegando estes a cappitana sem perguntar
nada, nem detendo os mais que emquanto os animou
a seu modo delies os mandou D. Manuel a D. Fadrique
que por elle soube a sertesa da armada do socorro) o
por elle o soube D. Manuel. Tinha precedido que D.
Fadrique tinha mandado pedir ainda no meo do caminho
dois olandeses a Tristão de Mendoça por dois recados
differentes. Hum e outro embaixador proposeram a pro-
posta de Tristão de Mendoça tio cruamente e tanto em
publico de castelhanos a portuguezes que lhe pireceu
necessária demonstração publica e mandou não saysse da
cappitana de D. João Fajardo, almiranta real, o que deu
matéria de discursos posto que mui breves. Disiam que
D. Fadrique não tinha jurisdição sem os remetter a D.
Manuel pêra prender fidalgos portuguezes. Outros que
sendo tal a pessoa de D. Fadrique, e a quem S. M. come-
tera aquella empresa fora mui excessivo o termo que
tomando em forma de descortesia e desobediência era
merecedor de advertência mais rigorosa. O que tocava às
jurisdições por mais amplas que fossem as de D. Manuel,
que nunca soldado seu de qualquer calydade que fosse
podia ficar isento de guardar grande decoro a pessoa de
D. Fadrique nem S. M. avia de prevenir caso semelhante
— 600 —
sem excetuar no regimento de D. Manuel o em que D.
Fadrique podia mandar prender naquella forma. Logo na
manhã seguinte.pediu D. Manuel a D. Fadrique fosse sor-
tido de mandar Tristão de Mendoça para o seu navio donde
niosajria sem sua ordem, ou pêra a Almiranta de Portugal
piras e atalhar o fallar-se em jurisdições pois isto não eraes-
eosa-lo da prisão; deu-lhe muitas rasões e sobre tudo lhe
pedio por mui particular mercê emfim sua excellente na-
tareza, e fidalguia mostrando a D. Manuel muito desejo de
o soltar estava como violentada em sinquo dias que Tristão
de Mendoça esteve regalado com U. João Fajardo. Pouco
depois sayrem os dois pataxos e rendeu o capitão Gregório
Soares a outra presa. Emquanto vinha mercansia da ilha
da Madeira, e cantydade de pipas de vinho pêra o Conde
de Vimioso da sua capitania de machico que lhe foram
restituidas posto que com alguma falta com muito gosto
de D. Fadrique e dos generaes sendo ja presa que custava
a todos. Com os pataxos 4inha ido hum barco ou tartana
de D. João Fajardo quedepoisde rendida apresa se chegou
mais que o pataxo, e outra razão lhe meteo alguns sol-
dados ; depois de surtos no porto tendo aviso da tartana,
foi o auditor general da armada do estreito como a empa-
dronar-se do navio que tinha dentro a gente de Gregório
Soares. Sobrea entrada ouve duvidas e repugnancias doen-^
do-se os portuguezos de ver metida jurisdição alhea em
sua presa; ouve ruido acodiu o auditor general da armada
de Portugal. E emfim acodio D. Manuel, e vendo que toda
a barra funda andava sobre pipas mandou que todos os
soldados portuguezes vencedores se recolhese a seu navio,
ficando os outros de posse pacifica como desejavam. Aper-
tavam os comissários com excesso mas visitas que se fa-
ziam aos olandeses que se hyam embarcando sendo mais
— 601 —
moídos do que aqui se pode escrever sem usar termos
umildes, escandalisava o modo geralmente de maneira
quasy avisado D. Fadrique. O qual com achaque de os
querer ver embarcar baixou a marinha e pondo-se a hum
balcão mandou que fose passando os capitães e os officiaes
com suas espadas, e os mais desarmados conforme as ca-
pitulações, fazendo-lhes todos cortesia de rendidos, e
logo ordenou que livremente lhes deixase levar a estes
seus vestidos, e aos outros seus baQis, e cofres como os
tivese fazendo-lhe nisto muita mercê e mui ajustada com
sua fidalguia e com a necessydade dos vencidos de que
se deram por mui obrigados louvando muito sua grandeza.
Pregam que não teve aly seus limites, mas chegou a suas
terras com outras circumstansyas da nobreza de D. Fa-
drique de Toledo que re conheceram, de maneira que por
ordem dos estados se mandou em Olanda se não fallase
mais naquella matéria ; o que constou p3r carta que a
senhora infanta escreveu a S. II. . Eram muitos dias de
Maio, e não cesavam negócios pesados de cançar a D.
Fadrique que logo nos primeiros comesou a tratar das
devasas de que S. M. o encarregava, vendo as que se
tinham tirado sobre que padeceu desgostos Antão de Mes-
quita ouvidor geral que negava pode-los mostrar sem ex-
presso mandado de S. M,. e em certa forma; no que se
gastava muito tempo senJo comprehendida muita gente
ríquaate que foram sentenciados, e alguns à morte, acodia
falta de mantimentos de suas armadas mandando Nuno
Vas Fialho desembargador da relação do Brasil, e commis-
sarios a sua ordem a Boypeva, ao Morro de S. Paulo. Ca-
mamu, e rio de Cayru, e a outros portos mais distantes a
fazer grande cantydade de farinhas de guerra ordinário
sustento daquellas partes. A Sergype d'El-Rey pêra que
— 602 —
Iheviesem vacas para susteato do exercito, e carnes salgadas
pêra a navegação : não era de menor cuidado que todos
estes juntos o de avisar aos portos de índias estivessem
prevenidos porque do socorro de Olanda estava a nova ja
artificiada ja por governadores de Portugal e por aquelles
olandezes. Para este effeito que comunicou com D. Manuel
lhe pedio huma caravella de sua armada, e pessoa que bem
fosse pêra fazer aquella diligencia pêra que lhe nomeou o
capitão Cosmo do Couto que sobre a experiência da guerra
tinha estado por aquellas partes. Partiu na caravela N. S.
Rosário a vinte e quatro com cartas pêra todos os portos
de consideração. Na margarita que era o primeiro avia de
dar três maços, pêra o governador, pêra Porto rico, pêra
o Presidente de S. Domingos, o qual avia de encaminhar
os avisos inclusos pêra S. João de Ulloa, Avana, e outros
portos desviados. Na margarita havia de tomar piloto,
pêra correr a Costa tomando os portos de Cracas, Rio de
la hacha, Santa Marta e i(Cartagena. Daly passara a Porto
fiello. o que não poude fazer por achar ja prestes a frota
pêra Espanha em cuja companhia avia de vir; mas logo o
governador Diogo de Escovar despachou huma fragata com
o aviso.
Foy esta diligencia de D. Fadrique, escutada por Cosme
do Couto, de grandissima importância como logo se vera.
Com tantas ocupações e pela falta de offlciaes se não podia
asistir as quarenas dos navios e conserto das vasilhas pêra
a armada com a pressa necessária psra o tempo tão entrado,
como na armada de Portugal em que avias muito menos
navios e menos cuidados. Aquella noite em partindo Couto,
chegou o capitão Apollinario Ferreira morador em S. Tiago
em Cabo Verde em huma caravela despachado pelo gover-
nador daquelle estado Francisco de Vasconcellos da Cunha
%
— 603 —
em quinze de Abril com cartas pêra os generaes de que em
quatoi^e de aquelle mez apareceram sobre aquelia ilha trez
navios que deram fundo no porto da Praya. e no mesmo
dia chegaram mais vinte, que náo surgiram e se fizeram
todos trinta e três a vela na volta que as armadas de Espa-
nha tinham levado a maior parte daquella armada lhe pare-
ceram navios de pequeno porte ; da ilha de Maio tivera logo
aviso de que era a armida de Olanda com duas cappitanas
por o dizerem oUndezes que desembarcaram em terra como
costumam, em socorro da Bahya. e lavavam ordem achandoa
recuperada pelos bespanbos de pasar ao Rio de Janeiro.
No dia seguinte apareceram sobra a barra da Bahjra as trinta
e três velas de que o governador de Cabo Vçrde mandara
mui certa relação navios pela maior parte mui pequenos, treze
sem artilheria, dose de porte, e neste duas capitanas; o que
tudo se vio mui claramente do forte de S. António aonde
algumas veses quizeram desembarcar, como se coligia pelo
que se chegavam, e não acabavam do sertificarse do estado
da cidade, nem o poderam alcansar por sy, nem pelo pa*»
taxo que mandara diante com quanta diligencia fez. Quando
logo se soube a certezadesta armada foram alguns de
parecer se usase de ardil disparando algumas peças
quando chegasem, fingindo bater-se a praça e a bandeira
das armas de Maurício se puzese no lugar que tinha que
eom esta confiança entraria a surgir no porto e não cayrin
em seu errosenáô despoi$de se ver cativa. Outros deferiam
porque das armas de Espanha se não avia de temer tretas
avendo algum que se persuadise que $em aquelle seu o eu"
trariam as trinta e três velas e se atreveriam apresentar
batalha* A D. Fadrique pareceu que $e oão deviam usar
árdís senío que com Ihanesa avia de ser investida. E instes
navioâ chegando a poata de Santo António se fizeram quanto
Outubro • 77
— 604 —
pela bolina pode ser nas voltas de Nordeste e Sudoeste, com
o vento que era Sueste. Acudiram a cappitana de Por-
tugal a mor parte da nobreza e a almiranta os camaradas
do Almirante, c outros; e asy os mais navios se encheram
muito mais do necessário. Com muitas mostras de alegria
e iguaes ciunprimentos, mandou D Fadrique dizer a D.
Gbristovam de Roxas, que das duas cappitanas envistise a
que quizese e a outra lhe deixase. Alguns amigos davam
a D. Manuel o parabém de tão formoso dia como se apare-
lhava; respondia que não seria o dia mais formoso que té
aly o tinha sido, porque entendia mui bem que os olandezzes
nSo entravam como se dizia vulgarmente, mas se susten-
tavam todo o possivel contra o vento. Quem dizia os alcan-
sara se fugirem, se querem pelejar como não entram? com
estas duvidas se entravam parecendo em geral aos práticos
que era mais seguro esperar que entrasem se gastou a
maior parte da maré jusante de que elles se aproveitaram
afastandose de maneira qiie a parte de força, se ali a avia
estavam distantes por grande espaço. D. Fadrique tinha
ordenado que os navios ligeiros se adiantasem com a maré
e ganhasem o barlavento pela parte de S. António, como
o fizeram chegando huns a tiro de canham a alguns do ini-
migo. E vendo emfim que não entravam se fez a vela, e
com elle as cappitanas; e posto que a maré ja não ajudava
muito, comtudo com o vento que aquela tarde dentro da
Bahya se chamou a Lessueste foram as cappitanas excepto
a de Nápoles, que como outros navios, dava quarena, na
Tolta do sul quarta do sudoeste, e se chegava ao inimigo
que não gosava deste vento que mais chegado à barra era
Sueste foy abatendo os navios pêra o norte notavelmente,
e com muito menos força os olandezes por estarem fora do
canal. D. Fadrique vendose neste estado, e aos navios de
— 60S —
importância e sendo ja de noite deu fundo pouco seguro
de air nos baixos verdadeiramente visto, e considerado
bem por quem o entende, ho que depois diserara homens
com muitas barbas, e alguns de muitas cans se forma diante
dos oltios quam desditosa sorte é a miiicia do mar julgada
sempre por qualquer em suas acções; porque um bomjuizo
em tudo quer discorrer, e não ha algum que do seu não
seja muito satisfeito. O que passa muito pelo contrario em
qualquer das outras artes. Na mercancia não cumpetira o
melhor cortesão com o quaixeiro de qualquer mercado e
nas coisas da corte, e modo de se vistir não admitira que...
ainda que tenha visto e conhecido a mesma corte, e o seu
juizo transcendente comprehende os ventos a que não sabe
os nomes, guia as proas que não saberá encaminhar uma
alagoa, esta penetrando o íntimo do coração dos generaes
do mar e se não ha quem sofra este atrevimento num dis-
creto, como se poderá refrear a cólera em inorantese insen-
çatos. Mormurou-se com principio na gente do Brasil de
que e que D. Fadrique ordenara fariam aparências pêra dar
a entender mui alheo de querer pelejar; porque avendose
feiamente no cometer não proseguira no adeantarse, e dera
fundo com que muitos dos navios se abstiveram em pelejar,
e abordar que o surgir atalhara hum^t acção gloriosa, coroa
de todo o bom suocesso da Bahya, fora a ultima ruina dos
rebeldes a perda daquellas relíquias do ultimo esforço do§
estados ajudado das contribuições violentas dos povos
daquellas províncias; pelo contrario estando inteira aquella
armada, ficava sem alguma segurança toda a costado Brazil.
Entre os navios que mais se adeantaram foi S. Tereza de
Castela, N. Sr.' da* Ajuda de Portugal, este deu no lanço
de S. António, aquella encalhou nos baixos de Tapârica.
vendose pelo sucesso que sem esperança de salvação dei-
- 606 —
tandose muitos ao mar afogados alguú e todos em grande
risco, nem sayo d^aquelle trabalho senão cortado o mastro
grande; dos olandezes um dos maiores não podendo montar
os cabos como estava mais empenhado deu nos mesmos
btiixos de Taparica donde escapou com grande pena cor-
tando as obras mortas aleviando tudo ate cousa de pouco
pôzo, comobarrilinhosde manteiga, cai)Cinhasde Flandres,
canecas e outras miudesas. Esta foy a causa de que correse
a noticia de ser perdida humacappítana. A charam-se corpos
mortos, sete ou oito bateis, e lanchas, em algumas mos-^
quetes» ronqueiras, lanças de fogo, e outros instrumentos,
tanto a btirlavento dos hespanhoes, qual averia nestes su^
porse adiantar qui2esem for<^ar os ventos tanto a dentro das
pontas de S. António, e Taparica? Se os castelhanos pode*
rio pàlejar, quem lho impedio? Osportuguezes não diriam
que poderam sem confessar medo porque nenhuma outra
ordem tiveram que a qiie D. Manuel lhes enviou, e nao
averà algum que dlgalhe fosse outra que não pelejase. A
cappitana de Portugal se poude chegar*por que náo pMejou
pois nSo tinha ordem que lhe estorvasse, e a almiranta ne-*
nhuma fora da D. Manuel. A manhã seguinte não parecia a
Armada senão huma ou duas velas que de madrugada se
viam escassamente; na tarde se juntaram na real a conselho
e como não se sabia da mormuração, persuadidos todos
que cada hum tinha feito seu dever na ocasião do dia dantes
propoz D. Fadrique se convinha ir buscar o inimigo que
como avia nova, estava no morro de S. Paulo, trouxe todas
as resões da gloria que era venselo, do risco daquella pro^
tincia se ficase inteiros. Acertaram de votar primeiro os
que não puzeram em duvida a que logo saisse a armada»
e o consumisse. Ouve logo qtiem advertiu o perigo de sair
tio grande armada, ^ podese sayr com vento sueste por
— 607 —
que desgarrondo huma vez, como era quasi serio nos mais
dos navios pesados era impocivel não poder cobralo porto*
E quando tudo acontecesse navegar com sueste pêra o sul,
chegar ao Morro de S. Paulo, como se avia de permitir que
saysse huma armada, sem lenha, sem agua, sem mantimen**
toscos navios abertos, sem querenas, sentados. Outro
votou conformemente votando que da armada de Portugal t
que como de menos trabalho estava adiantadas de todas
o navio S. José terceiro na força estava na querena por
adrissar; a cappitana ealmiranta por dar pendores com
grandíssima necessidade delles, e em todas faltava, o que
se desia da agua» lenha, e demais. D. Manuel estava sa-
tisfeito daquelles votos que achava se podiam forteficar
com outras muitas resões» e por muitas persisas ne*
cessydades de que a armada em que estava toda a gente
de consyderação, nem por meo dia desemparase aquella
prassa, e chegandolhe seu giro disse, que naquelie lugar
lhe convinha vesti rse de piloto, deixada a pessoa de ge-
neral. Chamados os pilotos mandou que se chegasem; pro*-
poz qual era a derrota por onde se avia de ir buscar o
Morro e qual o vento; perguntou-lhes se atreviam abitalo»
Se era impocivel mal se gastava o tempo averiguar se
convinha. Todos confessavam que não seria pocivel, exceto
hum que o fez fácil fazendo-se o vento Leste. A que D. /oáo
Fajardo que ja tinha votado. No fuera mejor norte y fue-
ramosen popa? ecomo estava logo pronta objeiçáo se
perguntou como tinham ido os olandeses? respondeu D.
Manuel que por serem navios mais ligeiros, melhor des-
palmados, e que o ultimo medo obrigava a muito, mas
que duvidava, antes apostaria que não chegaram. A ins-
tancia que se lhe fez que se tinba feito delles? respondeu
que estarião encobertos de alguma das pontas. £ que se
— 608 —
náo fosse perdidos apareseriam ate amanhan seguinte.
Durou muito a junta e depois de desfeita estan lo ainda
juntos em conversação veo o sargento maior Marga com
aviso de que apareciam sobre a barra. No primeiro de
Junho apareceram juntos arriba de Itapoana velejando todo
o possivel pêra o norte disendo-se depois que parte
daquelles navios se detinham pela parage da Torre de
Garcia de Ávila. D. Manuel enfadado por ventura, de ver
que com estas novas da armada detinha D. Fadrique a cara-
vela dizendo que fosse mui embora, mas que os seus mocos
não havia de dar arriscado o segredo de que avisava a
S. M. em buma caravela ã vista de tantos navios, ou enga-
nado em sua opinião em que estes eram mui inferiores de
forças ao que depois se imprimiu, ou foi maior a confiança
nos seus do que outrem jujgaria por justo escreveu a D.
Fadrique em hum capitulo de huma carta de quatro de
Junho que os seus olanJeses alli se detivessem des ou doze
dias com a sua armada o favor de Deus, e licença de S. S.*
iria desalojal-os isto com toda a singeleza do mundo em
consideração de estar a de Castela em todo o estremo
atrasada. Parece que alguém leo aquella carta que acharia
sobre qualquer bofete náo advertio na dilação que se
pedia naquella se aviam de prover aquelles navios de mais
agua da que ja tinham, e entanto dar-se tado a cappitana
que daly a três dias, e tomando o que hera sem distinção
publicou que D. Manuel também eraafeissoado a aparências
e a tirar gloria devaydades; porque estando sobre hum lado
(representando isto com a mão na ilharga) a sua cappitana
se oferecia sayr comella contra o inimigo. O que mais disia
não se sabe donde o achase que D. Fadrique lho prometia.
Esta fama que eomesou a estranhar-se vindo-lhe dahi a
muitos dias a noticia, sentio muito, e se queixou a D.
— 609 —
Fadrique por carta de qae sua boa intenção, zelo de ser-
viço de S. M. e gosto de o dar a S. S.* lhe acarrease injus-
tamente o nome de fanfarrão que aborrecia igualmente
com todos os mãos. queria por testemunha de que senão
oferecera senão tomado tempo pêra seu apresto. Como as
cartas eram de pouca importância, e não se guardaram
não avia mais provas pêra sua defensão que a fidalguia de
D. Fadrique que sentiria o que elle sentia em tamanho
desgosto : e como as verdades andam mal avaliadas tudo
foi trabalho ; mas depois quando ja a prova era avesada
por ter o tempo com esquecimento apagado aquelle rumor
de leviânda le. se achou a mesma resposta de D. Fadrique
com hum capitulo destas palavras. Emquanto a desalojar
V. S.* a armada dei inimigo, sy se quisiera detener los dias
que V. S. disse siempre me parecerá muy bien, y muy fácil
emV. S.* porque conosco sa valor 4 de Junho de
1625. Mostrava esta armada a extrema necessidade da
agua pretçndendo tomala em todos aquelles luguares Rio
de S. Francisco, Torre de Garcia de Ávila, enseada de
Vasa Barris. Apareceu depois sobre as villasdePernãobuco,
e Paraiba, que Mathias de Albuquerque por sua pessoa
defenderia contra outras maiores forças. Vendo-se sem
remédio porque em toda a parte achavam resistência em
luguar de guias, que avia mister correndo a Costa entraram
na Bahya da Traição, seis léguas a ponente. quasy da Para-
hiba como em terra deserta habitada somente de pobres
gentios se aquartelaram ao longo da praya. outros pêra
huma aldéa donde entravam e traziam algumas vacas.
Sendo avisado Mathias de Albuquerque se quiz logo pôr ao
caminho, mas impedido com protestos públicos da Camará
e Vila, se não auzentase daquella praça de tanta importância
se resolveu sem dilação mandar toda a força que pudese
- 6tO -
escolhendo pêra cabo Francisco Coelho de Carvalho nomeado
governador do Maranhão, que aceitou com vontade mui
pronta, Acompanhava-o a gente que levara de Lisboa, o
outra que se lhe ajuntou, alguma artilheria, munições e
mantimentos. Desembarcou naquclla costa, alojando junto
Mananguapo, Rio distante do. inimigo duas léguas. Tomada
mostrada gente se achou com sete companhias, de Fernâo<
buço, sua, e da Parahiba e alguns indios frecheiros, que
acompanharam dois padres da companhia, que o governador
mandara pêra persuadir aos Tabajares indios visinhos que
socorresem antes a dos Porluguezes. Dali se levantou o
inimigo (não saberei dizer com que nimero de navios ali
chegado porém suspeito que espalhados derrotados, e mal
tratados de sua miséria navegaram, e por serto tenho que
iam mui demenutos) e foy com desesete navios somente
sobre Porto Rico, que estava muito de antes prevenido com
o aviso de D. Fadrique. Daiy sayram canhoneados da forta«
leza com perda de buma nao que tocou não deixando feito
maior dano que pegar o fogo is palhoças daquella povoação
que chamam cidade. Daly passou a S. Domingos que
acharam com a mesma prevenção, e desembarcando gente
em terra lhe mataram alguns, e puseram os mais em fo*-
gida, e perdido outro navio com grande demenuiçáo em
fazenda e reputação se retiraram, não alcancei a que portos
nem quam poucos chegaram a suas terras. Esta nova doestar
desembarcado o inimigo naquella bahya com toda a armada,
aquartelado, forlificado, senhor das terras, todo o gentio
da sua parte {quasy costuma ser em semelhantes ocasiões
quetai>(o vença o rumor a toda a verdade) tiveram os gene-
raes a nove de Julho cartas do governador do primeiro
daquelle mei. Pareceu a D. Fadrique e ao conselho se
esperace por novo aviso ; p3rque peia informação que se
- 611 -
colheu de homeDs práticos não era aquella bahya capaz de
fazer-se delia praça d'armas nem se qaeria que aly se forti-
case. Entendendo-se que o que chamava fortificar-se seria
o que esta gente como tam práticos soldados costumam
fazer, aquartelar-se logo de qualquer maneira que poude,
ainda que não seja mais que pêra huma noite. Vendo que
tardava o segundo aviso hum dia e outro bem se coligio que
o negocio estava bem parado, porem se ajuntou conselho
sobre aquella ocorrência, se convinha ir demandar-se o
inimigo ; discorreu-se sobre a estação do tempo, monção
gastada pêra demandar a costa de Espanha, o estado dos
navios, rotos, velhos, e sem querenas. faltos de velas,
enxárcia, consumido tudo com os maus chuveiros de Guiné
e do Brasil e do gusano da Bahya, falta de mantimentos na
armaJa de Castela nem apenas tinha para chegar a Gadiz.
Lembrava-se muito a necessydade que em Espanha avia
daquellas armadas, parecendo que pêra guarda daquellas
costas, averia somente uma esquadra de poucos baixeis :
era impocivel andar varendo todos os portos aonde desse o
inimigo com poucos navios tão ligeiros, senão fosse com a
armada particular pêra aquelle effeito; que todas aquellas
faltas que padeciam, eram iremediaveis naquellas partes.
Outros faziam pontas diversas; propunham que era o
effeito da impresa deslusido deixando inimigos naquellas
costas, e não respondendo as objeções disiam que tudo avia
ficar desmontado daquelles ladrões. Quem munto nisto e
nesta gloria insistia, fazendo-se-lhe brandamente huma
lembrança por hum dos que tinham votado que lhe res-
pondese só a huma cousa, que se avia de comer? respondeu
que taboas. Muitos ouve (posto que ja os Espanhões iam
aprendendo a sustentar-se com farinha de pao) que repro-
varam o género de mantimentos; dos gloriosos era o
Outubro 78
- 612 -
o Marquez de Cropani, e atalhando os inconvenientes de fal-
tarem as armadas em Espanha, se oferecea para ficar com
huma esqoadra e desalojar o inimigo donde quer que apare-
cesse. Emfim se assentou que, visto não segundar o aviso,
3 necessjrdade que os tinha levado a outros luguares levara
ahy os olandeses a fazer aguada, prover-se do necessário,
6 teriam levado ferro como dos demais. Que sobretudo se
trataria conforme a necessidade que o tempo mostrase o
qne em Pernáobuco se avia de saber aonde aqaeila armada
avia de ir junto. E pêra se ter de tulo verdadeira informa-
ção, e achar-se a matéria bem disposta pareceu mandar
diante pessoa de importância. Partiu o governador S.
Feliche de cuja procedência se podia fiar muito, com elle
o governador Francisco de Yalhesilha e Heitor de la Calse
capitão de infanteria napolitana, com instrucção trabalhasse
por reconhecer o alojamento do inimigo, alcansar verda-
deira informação daquella Bahya, de queachandose presente
duas pessoas honradas que nella estiveram muitos dias, e a
consideração era tão confuza que cada um variava do outro
por intervalo immenso. Acontecimento ordinário entre
Portuguzes a quem os estrangeiros vindos de novo ensinSo
os sitios dos portos e enseadas que navegam de mais de
cem annos antes. Estava a armada de Portugal avia dias,
em seu tanto florentissima todos os navios aprestados com
grande sobra de mantimentos pela prodigalidade com que
os governadores de Portugal a socorreram de biscoito,
azeite, vinho, chasinas, e tudo de estraordinaria bondade,
que não somente bastava mas também socorreu a de Castela
com biscouto que se lhe pedio. Foy Deus servido que
tudo o que mandaram chegasse a salvamento, ou por boa
fortuna dos que escaparam do encontro do inimigo, ou
por valor dos capitães de seus pataxos, que das entrenhas
— 613 —
arrancavam as presas aos piratas. Só D. Manuel não gosava
daquella felecidade com descanço. No conselho que se
ajuntou a três de Junho sobre o numero da gente que havia
ficar de presidio naquella cidade, e de que nação avia de
ser, foi de parecer que o numero fose de oitocentos, posto
que os não poderia sustentar aquelle estado, nem S. H. os
avia de conservar naquelle numero, fossem portuguezes»
e os que faltasem das outras nações que avia, castelhanos
biscaynhos, e italianos. Na mistura ouve muitos daqoelle
parecer, todos no numero se avantajaram entre os limites
de mil e duzentos ate dois mil e quinhentos. Mostravam
pêra isto muitas resões. A extenção da praça trabalhosa de
defender sem muita gente avendo de aver outra que aco-
disse as paragens que eram muitas aonde o inimigo podia
desembarcar a que era necessário dar remédio antes que se
fortificasse. A instancia que se fazia que confessandose ser
mui justo que aly ouvesse mais gente de guerra, todavia
era necessário saber donde se avia de pagar. Do Estado era
impossível, S. M. não avia de sustentar o Brazil como os
de Flandres em que a religião catholica se defendia e era
deixados muitos, a primeira causa e fora sempre desde o
principio de tão excessivas despesas; respondiase que
se não tratara do que o Estado não podia; que aquella
defenção não ficava naquella ocasião por conta de D.
Fadrique e daquelle exercito; e era necessário ser mm
bem fundada, S. M. ordenaria despois o que mais conviese
a seu real serviço. Assentouse ficassem novecentos homens
esperase juntamente se tratase de donde se lhe aviam fazer
pagas, porque sem ellas era impossível cuidaram alguns
improdentes do tempo que avia de ser tirado domais
pronto que na presa se achase. Mas posto que algum o
lembrou, nada naquella junta se concluiu. Pouco despois
— 614 —
se vio ( o que estava bem claro ) que nem castelhanos nem
italianos queriam alistarse ou obrigarse a companhias;
e carregou todo o numero sobre a gente portugueza, que
pela mayor parte eram fidalgos, e seus criados, ou pessoas
de sua obrigação, e outros nobres aventureiros que deixa-
ram a comodidade de suas casas, por servir naquella jor-
nada, entre estes muitos filhos primeiros de seos pais bem
afazendados, calydades p^ra não padecer violência em
lugar de satisfação. Comestes se podiam contar os soldados
do terço da armada, * que podiam chegar a quatrocentos em
sinquo companhias; que nunca S. M. violentou pêra jor-
nada alguma, por mui grande que fosse a necesydade de
gente, e aos que voluntariamente se ofereceram pêra a
índia mandava fazer vantage e mercês. O que aqui mais
danava era que todo o conhecido de qualquer casa, ou de
fidalgo nos livros d'EIRey se queria eximir da lista. Sobre
que vinham grandes queixas dos amos a D. Manuel, alegando
exemplos que os criados de outros não aviam de ficar como
ficavam os seus. Conferencia na verdade injusta avendo
senhores e fidalgos que se avantajavam muito por muitas
circunstancias, e pela grandesa de casa e criados levaram
a sua custa ; tudo conhecido dos mais que queriam gosar
da mesma liberdade. Sobre esta defeculdade de pouca gente
avia a outra de se não sinalar pagas nem ainda de promesí:
D. Fadrique disia que a ordem de S. M. era que toda a
despesa correse pela coroa de Portugal. O Estado do Brazil
estava impocibilitado e pobre pelo que tinha sessadoa Olan
da a sugeições na Bahya e a falta de comercio geral que é
tudo que ahy ha nos tempos florentes. Os soldados que la
militavam principalmente os que tinham ido de Portugal
podiam ser a cifra da ultima necessidade, curtas, más e
incertas resóes. Nenhuma paga, a terra carissima era tudo
- 615 —
o necessário pêra defender o corpo das injurias do tempo.
Daqui nascia desobediência insofrível qual se vio que es-
tando determinado que o capitão Lourenço de Brito fosse
em barcos a dar guarda à nau Bata, navio grande carregado
de mantimentos de Portugal mettido por hum esteiro do
Morro de S. Paulo, nenhum delles que eram naturaes se
quiz embarcartO capitão Hieronimo Serrão, oferecendo à
sua que levara de Portugal, e com ella baixou a marinha
aonde D. Manuel o esperava. Tendo -a embarcado à ordem
de Lourenço de Brito se tornou. Em duas horas faltaram
muitos soldados, e a poucas despois eram todos acudidos.
Pêra isto não havia castigo, por que a gente Portugueza
sem mantimento, sem soldo é como a de mais dura de en-
caminhar; e geralmente em Portugal reina a desobediência
porque nunca os vandos de pena se executam: e estar um
soldado alistado em companhias somente pêra ser castigado
e não pêra se sustentar, sequer miseravelmente, insofrível
parece. Foi necessário que da armada se desse sessenta
soldados com que foy. Com estas mostras da vida que se
aparelhava não avia quem se oferecesse pêra ficar. D.
Fadrique por carta de seis de Junho declarou a D. Manuel
que não avia gente que ouvesse de ficar senão a Portugueza
e que pêra essa não avia ordem de donde se lhe podese dar
soldo; respondeu a que podese ficar da armada estava
mal vestida e mal calsada, e como avia de ficar violentada
se avia de ser presa, e aonde? porque ficando presa bom
exemplo dava a D. Francisco de Moura que todos os dias
fugião. Contudo comessoua executar a violência ordenando
ao mestre de campo António Muniz Barreto terçasse as
companhias ao que se começou a fazer, e apartar gente em
bom numero, entregarse a D. Francisco de Moura fazendose
' a armada baixa das ressoes. Foram mal ospedados no
- 616 -
principio com que todo feitio se per^a signalandose-
de socorro vinte e sínquo reis por dia, mui a prepc
pêra gente violentada, em terra onde hum pão seis p
três seis onças valia vinte. D. Manuel era verdadeiram
violentado lembrandose do gosto com que aquelles po
guezes se ofereceram pêra a jornada que diferente salisí
viam da que tinham merecido. Desejava fétorecer al(
por justissimos respeitos, custa valhe muito ouvir suas (
xas não estando em sua mão podela remediar. Em dis
sandose em hum se abria portas a muitas petições e t
justas. Não bastando os terçados, nempermetir quesold
do terço da armada ficassem, tendo persuadido a mi
pêra compor tam grande numero, ordenou que da g
que ficas^ nas companhias se tirasse a quarta parte.
isto 6 com a voluntária se fizeram setecentos e cinci
homens, maior numero do que nunca julgou se junt
Foise descobrindo nova defeculdade sendo necessário n
apertarse com as companhias, e entrarse por alguns <
tureiros que se tinham alistado nellas por amízad
respeito dos capitães. Cresciam as queixas por que qi
obrigar a taes pessoas que podia acusar deixan^
mesmo terço da armada inteiro, soldados velhos solt
sem obrigações, ajuntavam a isto, muito malfeitores
ruins manhas merecedores de degredo, e outros cast
Comtudo hiâo a D. Fadrique , de maneira que era n
sario acudir a estas queixas, dar satisfação mostr
como osqueixosos se enganavam e informavam apai:
damente dos soldados do terço aonde havia gente i
honrrada bem disiplinada, c muitos casados e a travi
se a ouvese em algum era castigada e avia menos qu
outros terços, e que se não diziam afrontas, ao qi
Fadrique satisfez por esta carta de IA de Junho.
Lh
— 617 —
No me pasa senor por la imaginacion inovar ninguna
cousa de las que V. S. dispusiere que Io que ayer escrevi
a V. S. de que sy los capitanes sy quisiesem que dar com
sus compauias las reciviramos asy nofre des couformarme
con los que Y. S. hase sino abrir el un camino, y el otro
y asy lo dec'aro porque eu todo deseo mostrar satisfacion
que tengo de lo que V. S. executa y V. S. Ia tenga desta
y que nadie lè desea servir como yo, ny le ajudara coui
mas gusto en todo lo que V. S. me mandare. Al auditor
se dicho que execute la orden que tiene de V. S.. Não
eram bastantes estes favores e fidalgas correspondências
que D. Manuel achava em D. Fadrique pêra que não sentise
a grande moléstia que mimos ou impertinências alheas lhe
causavam nem achou modo com que desabafase com ver-
dade sem rebuço que pela preposta seguinte comonicada
primeiro com D. Fadrique. Considerado o estado das coisas
não vejo modo pêra obrigar aos soldados que se ofere-
ceram a S. M. pêra esta recuperação da Bahya que repre-
sentar-Ihes diante dos olhos quanto em Tão trabalharam,
e que serviço fizeram tão pouco pêra estimar-se depois de
recuperada esta praça e desamparada como pretendo fazer
avista dos olandeses não querendo ficar nella, se presedio
por tempo de mui pouca dura» porque S. M. logo com a
nova da mercê que Deos nos fez hade mandar tocar caixa,
fazer leva de gente pêra segurança da praça em que tanto
lhe vay, como tem mostrado mandando a ella tam grande
armada com excessivo gasto de sua real fazenda; e sem
duvida dará licença aos que agora ficam violentados pêra
que tornem a suas casas dando-lhes mantimentos embar-
cações em que pasem e mandando-lhes rematar contas em
seu soldo, e fazer a mercê que couber em suas calydades.
Isto deixada a obrigação natural de servirmos a nosso rei
— 618 —
e senhor bastara pêra obrigara todos, e íicar de táo boa
TOQtade qae fosse necessário fazer-se-Ihes força pêra acom-
panhar esta armada, que ora com o favor de Deos torna a
Espanha. Também conheço outra fonte que me corro de-
clarar, e he que alguns fidalgos e pessoas nobres, que
conhecemos com poucos criados em suas casas favorecem
e amparam alguns soldados que se lhe a costaram, e que
por ventura náo receberam soldo, e que he de mui pouca
consideraçam se todos tiveram reçSo da escotilha de El-Rey:
será cousa vergonhosa que so pêra desemparare o serviço
de S. M. de tanta importância os chamem criados, avendo
de ter todos nos outros testemunhas que despois lhes nSo
acompanham suas salas, e quando verdadeiramente fossem
eriados como ha muitos parece-me que corria obrigação
aos tais fidalgos de se cansar muito em os persuadir, e
que alguma parte delles se ficasse pêra mostrar em tudo o
desvio de servir a S. M. como na resolução de navegar
tantas léguas em seu real serviço. Outra, e oxalá que não
será mui considerada porque estarey mal informado que
ouve capitães que por rogos, e respeitos desobrigaram sol-
dados despois de alistados com os do presidio, e desejando
muito de acudir ao que toca ao serviço de El-Rey nosso
senhor que Deus guarde, como sempre fiz em todas as
ocasiões me pareceu declarar que todo o soldado nomeado
na lista tem de oje por diante senão ficar borrada sua
praça nos livros da armada pêra ração e pêra quaesquer
outras quayes ; nem terá luguar em algum dos navios
delia e por histo ordeno e mando a todos os capitães dos
navios, ou pessoas que os governam não admitam nelles
algum destes soldados sob pena de caso maior, e traidor a
El-Rey, afora a pena que me parecer conforme ao delito
deixando por agora por dizer o modo de que castigarei os
I
— 619 —
soldados, e mestres de navios marchantes se os admitirem.
E porque venha a noticia de todos mindo ao Ajudante
Alonço Rodrigues com esta carta para qnc loJas as cabeças
e capitães a leam e asinem. e por esta via possa chegar a
noticia a todos os soldados. Bahya 22 de Junho dè 1625.
Maior monstro era este do cuidar a quem ler estes escritos
em que se não podem dizer todos os particulares que can-
savam a D. Manuel que quando se dava por livre desta
fadiga soube que a maior parte da gente não acudia as
companhias em que se alistara; persuadido ja que as
armadas partiriam brevemente porque D. Fadrique lhe
escrevia que os navios que não estivessem prontos ficariam
pêra se aprestar, com huma cantydade de dinheiro que
reservava para necessidade precisa tentou novo caminho
propondo quatro escudos em principio de paga algumas
camizas e o mais que ouvesse aos soldados que voluntaria-
mente sentase praça começando emquanto não acudiam de
novo pelos violentados. Deu esta traça mostra em prin-
cipio que avia de ser mui eficaz. E ate nisto avia trabalho
porque não avendo ofliciaes na armada era necessário
neste mesmo tempo em que na marinha se ocupavam huns
em contar dinheiro todo o dia. ou estar prontos pêra
qualquer hora em que os soldados acudissem, assistirem
outros no collegio dos padres da companhia (conforme ao
aviso que lhe mandara o deCropani em 28 do mes passado
/depois que quasy tudo o de valor era ou desencaminhado,
ou repartido) aonde se davam panos podres por excessivos
preços segundo se queixavam os portuguezes, alfinetes,
almofaças, cascavéis, berimbaus, pelo que cabia a esquadra
de Portugal daqueila preça, estas sarcandajas se aviam de
repartir despois por cada companhia conforme o que a
cada hum tocava ; e como a repartição da esquadra de
Outubro 79
- 620 -
Portugal ficoa (aato pêra o cabo veo a faltar pêra a conta
que se lhe repartiu quantia quasy de oito mil cravados pêra
se aver de pagar em Cadiz ou tarde ou mil, ou nunca ;
porque nfto faltasse algum género de enfadamento, qui«
seram alguns fidalgos portuguezes por fazer bem a hum
soldado embarassar as jurisdições destas coroas ; pediram
e importunaram a D. Fadrique de Toledo, confirmase o
título de ajudante a hum soldado que tinha feito aquelle
effioio DO terço de António Moniz Barreto, metendo pêra
bonador a Diogo Rodrigues. D. Manuel considerado quanto
aquillo se afundava, e a seu juiso contra o que S, M. tinha
assentado o nâo permiitio. Alega vase por outra parte que
a impresa do Brazil era fora do conteúdo nos alvarás, e
r^imentos,e nela levava D. Fadriqaeamplicima jurisdição.
Provava D. Manuel o contrario, a seu parecer mui bem
provado com os mesmos regimentos reaes pêra aquella
jornada. Tinha dito. tratando disto a D« Fadrique com
muita cortesia que todos os ofQcios e cargos levantados
pêra aquella impresa sesavam com o fim delia des do supe-
rior ate o ajudante delia que estando elle presente, e sendo
terceiro pedir a D. António Moniz Barreto outro ajudante
como era costume nos terços aver dois aos governadores
de Portugal o negaram aly, e depois o não concederam sem
aproveitarem repricas nem instancias, que se a necessydade
de terço estando em campanha obrigasse a fazer outro,
muitos averia queaceitasem o cargo na ocasião, como ou-
Tera no terço de D. Francisca de Almeida, que nunca o
averia por tal quando náo ouvesse o risco das jurisdições,
pelo terem negado os governadores de Portugal que respei-
tava ausentes, mais se pode ser que em presença Com tantas
resões mal se poderá cuidar teria D. Fadrique sua juris-
dição por demeauida, ma> como quer que fosse ou perfiado
- 621 —
iQstaDtemeate dos preteusores, ou apertado pela palayra,
tentou outros caminhos; quiz n^ndal-o aosofficiaesinlèr
riores que o assentasem. e estendendo bem o laoo nio
achou mais que o auditor general que esta<va mui doenlie.
EÚcrveulhe pelo seu auditor general pedindolhe maandase
asentar aquelle ajudante que ja linha nomeado, ^ue as es<^
cusas se podia aver algumas lhas fosse darem pessoa. Blqá^
pondeulhe que S. Ex. lhe mandava coisa totalmente fora
da sua jurisdição, aonde nSo a tinhi outra que o gdnral dt
Portugal. Pareceu ser aquillo termo de comprhnento ne-
cessário ao promettido. Contentourse o auditor castelhano
que o de Portugal o mandase com poderes que tinha de^
clarado ao escrivão da nao qpoe estava [em terra asistindo
as pagas, quasy o mancyava com seus poderes se os tinha
porque o senhor D. Fadrique o mandava absolutamente sem
o ouvir de seu direito. Considerou D. Manuel qual estava
de enfermo o Auditor, e que pouco bastaria pêra o acabav
que não avia meo entre a paciência servil e a resolução
das armas. Foy mais modesto que resoluto deixando tudo
a que S. M. o julgasse porque sendo justb o que D. Eadri*-
que fazia não era injustiça que padesesse o* auditor. Se o
poder se não estendia tanto trabalho seria fazer nonadas.
Com todos estes trabalhos não se conseguiu o effeito com*'
prido não avendo ainda mais que oitocentos homens com^
qioe Ibe parecia a D. Manuel satisfaria syuntando' os que
B. Eadrique lhe desse como lhe tinha dito que ajudaria com
os que podesse. Mas vendose com algumas cartas de amigos
não quisesse que lhe dessem a cargoo deterse aly a armada
^ pois OQtras coisas a detinha, escreveo a D. Fadrique esta
carta. He dicho a Y. S/ en consejo, y fuere dei que eu Io
que toca a la gente^ he hecho todo lo que he podido y maa
de lo que se podia, y sy V. S.* ubiera propuesto en ía
— 622 —
primera jimta que toda la gente abia de ser partugaeza,
por nÍDgam caso dei mundo tomara por mi quenta sacar
tanta de la armada de Portagual; loasentado fue que la que
faltase se avia de suplir con la castelhana. Tambien di\e a
V. S.* que sin pagas, era impociblejuntarse gente que dela
violentada no se podia haser caso para presidio en placa
abierta. Suplique a V. S/ em presença por escrito por
persona confidente que haviendo de ser hisÍ3mos força
a los soldados, fue V. S. [servido de senalarles carsere ou
cuerpe de guardiã, o parte adondelos enserrasemos. porque
violência y libertad eram incompatibles. Uvo de nombrarse
la gente, y por la ordem que V. S/ aprovo se alistaram
750 ó los que se allaron en la lista dei maestro de campo
António Munis facíl era suplirse los demas. Pêro destos
vyeron tantos que no quedaron ninum apenas quatrocientos
ny se sy llegaron bien a tresientos y cincuenta. Hire um
esfuerço de lo poço que tenia en dineiro para el apresto
dei armada, despues de aver pagada la gente de mar por
conservaria a que no se fuese como se iva, propase cuatro
escudos a cada soldado pDr cuenta de su sueldo. repartiles
camisa y mas cosas que me aviam quedado. Cjm esto que
se alento algo mas la gente, e acudiu de manera que devem
ser cerca de setecentos los alistados, di ordem ai maestro
de campo que todas las campanias que dasem reservando a
los capitanes algunos de sus camaradas. De los que llamon
tersio de la armada quedan muchos, de manera que no abra
para ella tresientos para suplir la falta quetenemos de ma-
rineros porque solo en esta cappitana faltara desyocho de
los poços que trahya. He confessado a V. S.* ha dias en
persona, lunes quatorze deste en consejo que no podia mas.
Com todo esto estam alia en la ciudad ofliciales que aqui no
podia oscu:iar, com labla tenlida, y dencros i^ra haser
I
— 623 —
pagas, y diserme que algaaos acuden. De esta mauera ae
hara mientras que la cappitaua de Nápoles Santa Teresa,
e otros navios noacaban de aprestarse, o V. S." no manda
que nos hagamos a la vela. No trato de la parte de prelea
que cupoa la gente portugueza que no se acaba de repartir
porque eso no puede causar dilacion ala p7rtença pues no
se' quien no gusta mas de irsa à su tierra que esperar Io que
se les va repartindo, aunque fuera de mas preciso. Los sol-
dados de las companias todos ttenen sus armas; los de Ia
purdicion se arman con picas, arcabuzes y mosquetes que
traiamos de respeto, y toJo se ra entregando en la confor-
midade de lo que V. S.* ha ordenado. Estimara yo mucho
detenerartilheria, armas moniciones, para dexar, pues S.H.
manda a S. S/ todo lo que fuere decessario sea dei armada
de Portugal que vénia tan falta que sy la pólvora que V. S.
hade dar, sy fuera servido ir a nuy mar provehida. Y en
resolucion digo que sy me dexam, sien mosqueteros sol-
dados de nuchas armadas que me ham ajudado en ocasione
en que losmarineros me faltaram, oypor los de mas navios
quedan a quarenta o conforme a su porta la demas infante-
ria mandare entregar toda sy la reserva que he dicho de
los capitanes y e sobraram mucha de los nuevecientos; y
sy lo que he dicho puede mijorarse V. S/ me lo mande
por haserme mucho que en todo obedecere como devo; y
no quera Dios que causa mia sea dilacion de uma hora so-
lamente, en matéria en que va toda la importância desta
armada antes de entrado el tiempo que la puede distrai*
re. Guarde Dios a V. S.* Sy algo falta por entregar a lo
causado la esclavitude de un navio nuestro en três meses,
o cerco dellos con la cappitana de Nápoles, sem que se
saque lo que alia tiene, e padese el pobre desudueno.
Não bastavam estas impossibilidades de trabalho que
— 634 —
se padeeia neste mesmo tempo em tirar dos navios de
particnhres pretredios, monicões, e outras miudezas que
sa aviam de entregar ao provedor mor e officiaes da
faieoda naqoeUa praça eonforme o regimento nem ver se
estafam ja entregues mais de oitocentos soldados» muitos
e mui bons artilheiros, e que actualmente asistiam ea
terra officiaes ccmi dinheiro pêra paga de sc^dados que
sempre acudiam nem o saber-se que na armada de Castela
avia muito que aprestar, pcira que os portuguezes da terra
se dessem por satisfeitoa de tanta deligencia, aitf es tudo>
eram queixas que não se acabava de dar cumprimento aa
nqmero de novecentos, que alguns eram moços e mal ves-
tidos. A isto satisfazia que não estavam em terra pêra
eleger senão pêra aceitar o que elle lhe mandasse; e todos
daqaella armada foraqi recetndos no consulado pelos mi-*
niçtros e officiaes de S. M. ; antes eram melhores que os
que tinham ido de antes com os capitães que agora set não
contentavam, pois sobre tio larga viagem tlnhaíB apren-
dido a pratica de milicia naquelle sitio. A verdade be que
íicoQ mui boa gente de que depois quietas as paixões fi-
caram por mui satisfeitos. D. Fadrique que deperto e do
continuo não podia deixar de ouvir queixas de que ainda
não ficava o numero inteiro, não podendo resistir as impor-
tunações de gente ociosa, ou por outros respeitos ordenou
ao Marquez de Cropani fosse a D. Manuel pêra que se con-
duisse; e avendo alguma duvida declarase da sua parte
que toda a dilação da armada^ e as consequências correriam
por sua conta. Foi mui larga a proposta diante de D. João
Fajardo, e outras pessoas de autoridade, e muito mais
largo o que se respondeo. Sobre a dilação da armada se
vefttilou assas, não sem demonstração da causa verdadeira.
Concluiu D. Manuel que tinha servido a S. M. muitos
— 625 —
aonos, com boa 6 má fortana que carregara alguma vez
muito demasiidamente sobre sua fazenda, a honra salva e
reputação pela bondade de Deus em quem esperava que
nunca seus procedimentos no serviço de S. M. serião outros
pêra que jamais ouVesse luguar de que se podassem dar
cargos como nunca, tendo emulos poderosos nos tempos
adversos lhe foram dados. Sua intenção era cumprir o ntt-
mero da gente, se alguma faltava seria muito poua, que
hya fazendo voluntariamente com suavidade, não aplicando
a preça violência vendo que não era este o impedimento a
partença das armadas. E sorrindo-se que logo naquelfe
dia e no seguinte, se daria muito mayor numero sendo
necessário. Domingo 27 foy dia notável. Estando ja D.
Fadrique descançado de huma jornada que fizera pela Babya
metendo-se pelos esteiros delias com grande gostos por
levar huma topografia dos olandeses mui própria; chamou
a conselho em que se acharam muitos dos ordinários e os da
Camará, e sendo da cidade do Salvador. Fállou^lhes discre-
monte dando muitas graças a Deus pela mercê que lhe
fizera na recuperação de tão principal cidade por metropoli
de tam grande provincia, e como por aquellas pessoas
venerandas que o governavam. Por premio do serviço que
lhe tinha feito pretendia o nome de seu protector não, que
era mui levantado com grande excesso, mas de seu soHoi-
tador diante de S. M. Acabada a pratica mandou pelo seu
secretario ler a memoria do que nella deixava de artilhería,
de munições, de pretrechos, de maquinas que se não poderá
negar ^e era muito. Ali gozou verdadeiramente de sua
própria fama, porque ouvio presentes todos muitos louvores
que como em nome dos portaguezes, algum lhe deu com
as graças de deixar aquella praça também presidiada tam
chea de tudo o necessário, qual nunca o Brazil vira depois
- 626 —
de seud^cobrimeDto em tempo de tantos annos. Reis a?ia»
fazenda real tanto importava ; com o que seria muito ingrato
o reino de Portugal se em alguma hora deixasse de os
mostrar obrigadissimo , e outras muitas semelhantes.
Despedida a junta ja mais tarde pediu a D. Manuel que se
nSo fosse e com muitas horas de noite estando o seu au-
ditor presente e o do Brazil António de Mesquita, Francisco
de Barros provedor mor, e muitos do conselho se leo
hnma petiçSo em nome do povo sobre não ser citado, nefti
mecutado por dividas em serto tempo, em considerafiio do
trabalho padecido em hum anno de cativeiro, em que se
nSo trabalhara nos engenhos, nem outras fazendas. Mui
ftvorecedor do povo se mostrava Francisco de Barros c(Ha
muita lastima de suas necessydades alegando que nas obras
o mostrava nâo apertando com algum dos muitos que lhe
deviam. Apostou todavia que na petição se incluya muita
mdicia avendo muitos trapasseiros e interessados em tratos
de que tinham gosados os feitos mais do que lhes cabia, e
agora com aquella graça não queriam restituir sendo asy
que muitos delles não perderam nada com o sesar dos en-
genhos nem em outras iavranças e officios que pelo impedi-
mento se não exercitaram. Antão de Mesquita carregou alj
muito com exageração ; quiz logo concluir com que o des-
pacho que pretendiam era contra as ordenações de Por-
tugal nas quaes os Reis declaravam que so podiam fazer
esperas e ainda em certos limites. O auditor general caste-
lhano dispertou o negocio doutamente conforme a seu juiso
e boas letras aresoando todavia que D. Fadrique podia
fazer aquella graça porque estava em luguar do Príncipe
que podia interpretara ieí como era de crer que o Principe
a declarara se presente fora. Entre a pratica usou algumas
vezes da palavra repiclica que com tanta afeição, gostos
- 627 —
sepe^ii amuitos que acadaperiadoa repetiam arrastoàdo.
lhe por vaotora o sentido ; qaasi todos, oo nmitos, na**
taram que era muita resio que D. Fadrique coocedeae
graças ao povo. NSo faltaodo qiiam se risse sem o iupabuir
qoe se estirefise disputando presentes tantos portuguezcs
quebrantasse as ordenações de Portugal. Era o iiiado.de
fiHaftto áspero que aquillo ^ra contra as (írdcnacôa»
cbras e expv^^sas que D. F^Kinqne $e voo a Qontanttr. eon
qm oirvesat m^do eon que de iodo não ficase csmtmÀ»
de sua liberalidade, ^e aay parece podia eonceder^he oflo
fossem executado dos escravos e lri>ricas doe efigeolMif
A«tão de Mesquita que não pareceu adulador lembrado p(v
ventura da prisão passada ou como he mais de orar som^
traado justiça que às suas cans devia, e a seu cargo jre^^
poAdeu secameAte^ que aqdillo ufto era graça mas ^H»
aotiigo do ftrasil que elles lhe avia de goardar sem fiôv»
aierce alguma. D. Fadrique disse, basta que Ud me ooor
tradise eu la gracia que pretendia faacer j en esta que es-
Íiis4a uo med lugar. Respwdeu que aonde a justiça «n
tam clara escusase S. Ei. a graça que bem tinba mostrada
em tudo o desejo de remedear aqmlle pova «Gonduidi^
tudo fie .ditosamente parece que as ocurrenoias davam
iogar a D. Fadiiqoe a que descançasse. xMas o deísejo 19P
mínifitras inferiores de o agradar o impediram infonotiand^^
do iqptreato da aitnáda mais o gosto que a potpttuaJiidade'
íito eni Qste ma) de agora somente porque am 31 de Haíp
aviaata por carta a D. Manuel que estava refuta deap
fenr á vela por todo o moz de Juubo pelo muito que in-
portava aoirviçodeS. M., de queiotriscava pêra que tivesse
pponta a armada de Portugal pena este tempo que pouco
imporlava que algum navio se iscasse. Agora cada momente
se lhe fariam asnos e não podia acabar de se desembaraçar
Outubro • 80
— 628 —
mofttrandolhe os iaferíores a facilidade de partir se não
fosse ua primeira, na segunda hora de qualquer dia. D.
Manuel como quem estava sempre no mar, e se sabia com
mais particularidade dos aprestos dizendo-lhe da sua parte
D. Jo&o Fajardo que logo se Tazía a Telia, respondeu que a
armada Portugal pronta estava pêra qualquer ora, mas que
por algum dia mais não se anticipase levar ferro peraa?er
de surgir na barra, isto mesmo pelo capitio Felippe de
Laia por D. Joseph de Sarabia, e pelo seu auditor general.
Temia com muita resão a falta de ancoras e amarras que
sabia em toda a sua armada, e quantas era necessário aver
pêra dar fundo em costa brava, aonde as mesmas ondas
impedem o poder se lerar. A 31 daquelle mez as duis
depois do meio dia se fizeraip á vella as cappitanas e alguns
navios; mas antes de chegar a ponta de S. António deram
fundo. No primeiro de Agosto ouve outro rebate pêra
despertar mais os que ficaram no porto, e logo se surgiu
ao sul da ponta de S. António pouco distantes da terra. A
tarde se levaram do porto alguns navios, e o vento daquella
noite mui rijo obrigou a tornar surgir dentro da enseada,
pela manhã com a borrasca perdeu o navio S. duas ancoras
ficando em tal estado qae chegou a navegar sem nenhuma.
Na almiranta de Portugal querendo insistir a levar hmna
ancora que emfim deixou, ouve bravo fracasso matando-lhe
o cabrestante três homens, deixando desconfiados outros
três, não fallando em muitos feridos. Chegou emfim a
hora da partença segunda-feira quatro de Agosto em que se
fizeram a vella quando rompia o sol. Alguns dos navios
com a aguada mal segura pelo mal adresso das vasilhas,
pouco vinho, escassos e maus os mantimentos e tanto como
o que mais necessitado os que se embarcaram os olandezes.
Posto que com se fizerem as armadas h vela, e saírem da
Bahya de todos os Santos fica justamente posto ficou a este
'jbríto conforme a preposiçam se nâo tem sido niaís larga;
nâo pareceu fora de propósito relatar-se brevemente os
sucessos da cappitana de Portugal por huma carta que D.
Manuel de Menezes escreveu a S. M. posto que com algmna
coisa repetida.
Senhor.— Porque falta nova das armadas e cappitan«
real donde podia sair toda a certeza me parece necessário
avisar a V. M. do que vi ; e posso conjecturar por tosed
discursos de marinheiro. Com a nova que se teve de que
a armadinha olandeza estava na Bahya da Traição» ouv^
conselho em quatorze de Julho, fui de parecer, que pela
informação que tinha daquelle porto, era impossível que
nelle estivessem tantas velas, ainda que mui pequenas, e
em particular avendo entre estas seis ou sete navios de bom
porte, e que a mesma necessydade de agua que tinha obri-
gado aos olandezes a procurala no Morro de S. Paulo, pela
paragem do rio Vermelho, da Torre de Garcia de Ávila, da
enseada de Vasa barris, os oubrigara a demandar aquelle
porto pêra daly fazer viagem a suas terras. Àssentou-se que
fosse logo pessoa de bom juizo que informase da certeza
pêra nos avisar quando chegase a Pernãobuco, pêra o qual
effeito foi escolhido o governador S. Feliche acompanhado
de Francisco de Yalhesilha, mui pratico na navegação, e
pessoa de muito merecimento, irmão do general Francisco
de Valhesilha, Eitor de la Galse, capitão italiano, mui valente
soldado, os quaes partiram em vinte daquelle mez, por
fim levamos ferro e viemos dar fundo humi legoa ao sul do
Ittguar do Salvador, defronte de S. António, ficando alguns
navios surtos que estsvam aprestando, e a quatro de Agosto
nos fizemos á vela com os ventos que aquelles dias foy
sueste de grandes serrasdes com que cada hora nos per-
(fiamos de vista. iRdoa noite do 15 de Agoslo com a proa
ao Nonordesté nos fizemos na Tolta de sessaeste, e sueste
como o vento (\m se faz nordeste, dava luguar apartandonos
dÊá costa (|ae viamos todos os dias com mm grande cuidado
áe huma desgraça. Pela manhã ficamos com pouco pano
esperando por D. Fadriqiie de Toledo. E parecende que
MS nSo podia ficar por popa conforme ao vento fomos
navegando desasets oa desasetc trelas, que nos ajuabiilim
na volta de PeiUSobuco^ aonde estava assentado que bos
a^ta^semòs a 10 (kiquelie me^ a noite estivemos a iesf e
éd Cabo de S. Agostinho. Mandei ao piloto navegaae de
maneira proejando em voltas ao mar e a terra que amanhe^
cessem três oa quatro teguas ao sul de Pernáobuco, porcjúe
asy podiamos saber novas e ajunfarmo^nos com D. Fadrí<^
le afcaíonâo fosse chegando; despedi logo huttia laooha
minha por nâk) ter a caravela de V. M. com cartas »
Mathías de Albuquerque para que me avisase de tildo
e say^ a frota se lhe parecesc. O piloto naquella notte pro'
é^jou msà, enganandose sem vela de gávea; e ao ^e se Hie
fvrdi^ia que discaia e aviamos de cajr mais perto de Per»
flSobirco» respondeu que í^inda qvie velejasemos poderiaflios
bhegar. Pela manhã estávamos leste a oeste com aqueiki
▼iiia, e mui perto fiCàndo erti balde toda a minha ditigencia
daquella noite. Fazendose mais ao maf deu fundo hâmà
légua de terra. Achamos aquella manhã desanove navios a
fbra a cappitana de quatro veiaá esuía almirantaqm^eMatait)
softas. Em duas oras se nos rompeu a armada com grandes
Aaires de sueste desgarraram. Demos fundo a ovlra com
fnt)têsto6 de todos os oHkiaes da nao, e ãssenladò ito tí*
tBsrmÉíQ^ aly aquelta norte. Gresen o vento com; chvmroâ
de maneira <pie tínhamos marinheiros no traquete» e seva-
deira com as vetas l«s(as, pêra sajrmos sueste secoropesse
- «1 -
Estando Aeste esttdo eom o jugar extnordinariamente do
Afttio de pd|iA e ptúá, fomos a cicia caliindo sobre a eap^
{Ntiner d6 quatro veilts arejando ajuste dando vosoa qiio
tOò tinha mais que arriscar» e Be nos quebrou oom graode
roído o gar(mpez pe*a entena de baixo acima da segunda
rètíidura. Com grande confuzão e desacordo de muitoa,
cdfttitido á amarra, largamos velas e mareamos de maneira
qáé fios livramos de cair sobre a de quatro TeUas; e.4e
caysf^mos era impossível por mais livrarmos deixar ma
de nos perder» Ifão terei pressa q^ fiz sinal pêra que
oitfro navio se ievase, determinando remeJiar o gorôtyes
e Uvrandome DeusdôS biitosdeS. António esperar (w
D. Fádrique de Toledo fs^endome, ae o vento alargasde,
na volta de terra isto intentei na Mite de vinte e um, mas
0$ ofBciaes o contradiseram com mais fundamento. Em
vinte e dois se me fet o vento lesla com que julguei podi»-
mos ventar. Ajuntei os oiBeiaes e pessoas entendidM%
Asentoftdeque era ímpossiv^ tomar terra conveniente. Da
assentado se fiaram aixioe, e noa a nossa viagem. Ajoiíl»»
ramse com a ^ppi(a»a alaaíranta de quatro velaa. a capf»-
lana de Olanda & Groz, Penha de Franga. Em vinte e mn
de Setembro em altura d;e trinta e sete grada escasaoe eor*
remos tromenla de vento mui grande eu loestevarit^fuê
nos tevou o tmqtiete de ooiter, e smbiinniente a aevadi^
fue fórgamos. Deixandonoa a arvore seea; mas foy Dena
senrídoqne sem dane algum goiveniaase o navio.|iieltM)r que
ipiando otinha e oom meMs baUnQoa^ Peta manhã de vinte
e^isnoadiamds com a ahmraiile aemente, e juízos víemoa
navegando. Jibt de vinte e três se vira do tope três v^tes*
pMa tarde as vimos por debaixo que tivemos pelas noaaaa,
fomoeanibandò httma quarta sobre eUas para que se nos
nto perdesse de vista fastodo bem larol. Quando amanhe*
ceu estava com quatro legoas da ponta de ponente da Ilha
de S. Miguel e mas perto por minha esteira mui velejadas
com velas de gávea, e burriquetes com que me vieram, al-
cançando e se poseram pela guarda de bombordo a tiro
de canhão, e por ver que os soldados se alvoroçavam,
mandei arribar sobre ellas, mas persuadido a que se aviam
de aíiastar. Mas pelo contrario. Ostingaram a mayor, ferra-
ram sevadeira, amainaram de gávea, e huma delia em que
ham floreava com a espada passeando pela popa me pos a
proa* Pelejavam como duas horas com mui boa resolução
pondose a dar carga e recebekt. Com tudo a capittana não
sofiãreu mais e largou vela com que se adiantou, de que
colegi que queria carregarme por outro bordo, e ficando
ccmi as duas me fugiram em popa, dando a almiranta as
bombas com que vertia levadas de agua por hmna e outra
banda. Piiz a proa na cappitana que me estava diante amai*
nada de pano, e lhe fui dando cassa emquanto não deses-
perei de a poder alcançar Voltei logo sobre as duas que
thiham caido mais perto da almiranta quatro vellas ( ama-
nhecera mui longe de mim ) e lhe iam fugindo, e ella
canhoneando-as, e alcançando a almiranta porque a outra
sé adiantou muito e escapou. Como chegou mais perto lhe
deualgumas rosiadas demosquetaria, e a foi desaparelhando,
emfim alcançou e abordou. Indo nos ja perto vimos fumo,
e logo fogo mui vagaroso na olandeza, e apertar- se a nossa
em que pouco depois vimos fumo pela popa, e ir-se aleando
o fogo, e porque o vento era pouco e ya abonançando me
foi mais perto do que quizera, e mandei velejar pêra
acodindo logo com a fragata que trazia com pranchas e
jangadas, e cabos por popa com que se salvaram, cento
quarenta e oito pessoas, gastou-se aquelle dia todo ate que
ja posto o sol não avia gente viva pêra salvar. Aquella
- 633 —
nDite as onze velejamos deixando ja consumidos os navios.
Afirmo a V. M. que nenhuma conjectura posso fazer
pêra presumir que os olandeses se pusesem fogo. Este
mar vi depois todo sujo de navios, mas tão pequenos que
ainda que fossem duzentos, não eram pêra temer, e tão
ligeiros que não avera cousa fraca que a vela lhe escape ;
tudo he velame e cebo, bandeiras de almirantas e cappitanas
com armas olandezas, mas o porte he de navios de turcos.
Tiravam-me de longe donde ladravam, algum se me chegou
de noite tão perto que me levou cargas de mosquetaria.
Quarta-feira oito de outubro tivemos vista de terra e por
parecer Gabo de Espichel, e não se ter tomado o sol de três
dias, discorremos aquella noite, mas era a Boca, e nos
achamos pela manhã perto da Berlenga donde não viéramos
a este porto em muitos dias senão fora huma trovoada de
Oesnoroeste com que nos chegamos, e entramos a barra
de Lisboa terça-feira quatorze deste mez. O tempo he
bonança de todo, o que areja he sueste e susueste e não se
mudando não se pode esperar chegem as armadas e iam
da índia. Os três navios que se me apartaram com a tro-
menta me poderam dar cuidado se no mar andar a armada
grossa, mas todos juntos os que vi de S. Miguel pêra que
me não parecem poderosos pêra render o pataxo Penha di
França com o capitão que traz. A armada me parece que
não virá junta pelas muitas serrações que ti?«ii08, e por
vir toda falta d'agua pelo ruim apresto que liouve na Bahya
de tanoeiros e falta de arcos, e por vinpi abertos os navios
por falta de calaCates, e carpinteiros e passados do bozano.
Julgo que a frota de Brazil vira toda junta com a maior
parte da armada que não pode estar longe esperando em
Deus que ade trazer tudo a salvamento pêra que o real
serviço de V. M. se faça com a prosperidade que lhe de-
sejâo, e procuram estes seus vassalhos.
js:..i
a- J.ií :•
REVISTA
INSTITUTO HISTÓRICO E GÈOGRAPHICO BRASILEIRO.
TOWOXXIL SUPPLEWEHTO, 1859,
ACTAS DAS» SESSèES DE t9ftS.
!.• SESSÃO EM 20 DE MAIO J>E 18j9.
Honrada com a Augusta Presença deS. M. o Imperador,
PRESIDIDA PELO EXM."" SR. VISCONDE DE SaPUCAHY.
A's 6 horas dâ tarde achando-se presentes os seguintes
Srs. Visconde de Sapucahy, Conselheiro Baptista d^Oliveira.
Norberto, Porto- Alegre, Soares, Varnhagen, Coruja, Drs.
Filgueiras, Perdigão, Fernandes de Barros, Fontes, e Fer-
nandes Pinheiro annuncia-se a chegada de S. M., que sendo
recebido com as formalidades do estylo, abre-se a sessi%
O Sr. l.** Secretario dà conta do seguinte
EXPEDIENTE.
l."" Um officio do Sr. Dr. Maximiano Marques de Car-
valho despedíndo-se do Instituto e of!erec<indo o seu prés-
timo na Europa.
2."" Idem do Sr. Conselheiro Azambuja 4^oinmunieando
não poder comparecer por incommcriMo e remettendo o
processo d' António José pertencente ao espolio do Desem-
bargador Silva Pontes.
3.* Idem do Sr. Dr. César Augusto Marques trans-
mittindo dois exemplares da biographia do Dr. Francisco
de Sousa Martins.
81
— 636 —
A." Do Sr. Oflicial Maior da secretaria da Camará dos
Srs. Deputados enviando os Annaes Parlamentares.
S.* Idem do Sr. Henrique Guilherme Fernando Haifeid
agradecendo a honrosa menção que à'elle se fez no relatório
àoSr. 1.* secretario.
6.* Idem do Sr. Presidente da provincia de S.^ Catharina
remettendo a falta com que abriu a sessão da respectiva
Assembléa.
7.* Idem do Sr. Titara enviando-lhes relatórios que or-
ganisou sobre o estado da instrucção publica da província
das Magoas.
8.' Idem do Sr. Rebeyrolles mandando dous exemplares
do Brasil Pittaresco.
9.« Idem do Sr. Ministro do Imperto incluindo os rela-
tórios dos Srs. presidentes das provincias das Alagoas,
Maranhão, Paraná e S. Paulo.
10. Idem do Sr. Secretario Geral do Ministério do Im-
pério remettendo os relatórios dos Srs. Presidentes das
*provincias de S. Pedro e Pará.
11. Do Sr. Consul-Geral da Hollanda enviando alguns
trabalhos da sociedade de Batavia.
12. Do Sr. Coronel ConraJo Jacob de Niemeyer mandan-
do a carta do Brasil lithographada em papel nacional.
13. Do Sr. Ministro do Império enviando a falia do Sr.
Presidente da Bahia à respectiva Assembléa.
i&, Officio do mesmo Sr. Ministro remettendo os docu-
mentos annexos ao relatório do Sr. Presidente de Goyaz.
15. Idem do Sr. Dr. J. B. Nascentes d'Azambuja envian-
do o relatório do Sr. Presidente da província do Amazonas.
16. Idem do Sr. Dr. José Alexandrino Dias de Moura
mandando dous exemplares do relatório com que o Sr.
Presidente das Alagoas abriu a respectiva Assembléa.
- 637 -
17. Oflicio do Sr. José Maria de Freitas remettendo um
exemplar d'uma viagem ao yalle das Furnas na ilha de S.
Miguel.
18. Idem do Sr. Alencastre participando a creaçáo d^umat
Bibliotheca na cidade de Corityba e pedindo para ella a pro-
tecção do Instituto.
19 Idem do Sr. Coronel Conrado agradecendo os elogios
que lhe foram feitos pelo Sr. 1 ." Secretario em seu relatório
do anno findo.
20. Idem do Sr. Miguel Archanjo Galvão remettendo um
exemplar da sua memoria sobre a dizima da chancellaria.
2 >. Idem do Sr. Brigadeiro Polydoro pedindo que lhe
seja concedida uma collecção de Revistas do Instituto para
a bibliotheca da Escola Militar e d'Applicaçâo.
22. Idem do Sr. Dr. Ernesto Ferreira França dizendo
que tendo a Academia das Sciencías de Munich de celebrar
no dia 28 de Março de 1859 o seu primeiro jubileo secular
acharia conveniente que o Instituto se associasse por
qualquer forma ao seu jubilo. —Remett ido ao Sr, !.•* Se-
cretario para responder convenientemente.
23. Idem do Sr. Presidente da provincia de S.'* Catha-
rina enviando uma nota relativa a antiguidade da villa (hoje
cidade) de N. S. da Graça do Rio de S. Francisco do Sul.
Si. Idem do Sr. D. Paschoal {Addadus.Calpe) remettendo
um manuscripto intitulado— Apontamentos Geographicos
e Descriptivos sobre o Grão-Chaco.
O Sr. 1.** Secretario oíferece uma collecção de cartas
sobre a provincia de Santa Catharina escriptas pelo Sr. J.
Gonsalves dos Sanctos e Silva e a relação manuscripta das
festas celebradas no Rio de Janeiro no tempo do Vice-Rei
Luiz de Vasconcellos.
Todas as oíTertas foram recebidas com 'especial agrada.
— 638 —
PROPOSTAS E PARECERES.
O Sr. Porto-Alegre propõe para sócios do InsUtalo os
Srs. Drs. Joáo José Coitinho. Presidente da provincia de
S.*' Gatharina, e J. Gonsalves dos Santos e Silva.— Rc-
mettido a commissão respectiva.
O Sr. Dr. Agostinho Marques Perdigão Malheiros lê
Tarios pareceres relativos á admissão de sócios.— Ficam
sobre a mesa.
IXSCRIPÇÕES.
Inscreveram-se para lerem memorias no decursa das
sessões doeste anno os seguintes Srs. Varnbagen, Filgueiras,
Coruja, e Fernandes Pinheiro.
RECEBIMENTO I)K JORNAES E REVISTAS.
Receberam-se com especial agrado vários jornaes e re-
vistas remettidas pelas respectivas redacções.
ORDEM DO DIA.
Não liavendo mais nada a tractar e obtida a Imperial
vénia levantou o Sr. Presidente a sessão marcando para
ordem do dia seguinte a apresentação de propostas, leitora
de pareceres e trabalhos dos sócios.
Sala das sessões do Instituto no Paço Imperial da Cidade
20 de Maio de 1859.
Cónego Dr, Joaquim Caetano Fet-nandes Pinheiro— 2,
Secretario.
— fi39 —
2." SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1859.
Honrada com a Augusta Presença de S, M, o Imperador.
PRESIDIDA PEIO EXM. SR. VISCONDE DE SAPCCAHY.
A's seis horas da tarde achando-se presentes os seguintes
Senhores : Visconde de Sapucahy, Conselheiro Baptista de
Oliveira, Porto-Alegre, Norberto, Doutores Filgueiras,
Sousa Fontes, Carlos Honório, Franco dWlmeida, Soares,
Cónego Pinto de Cnmpos, Conselheiros Mello, Azambuja,
Dr. Cláudio, e Coruja, annuncia-se a chegada de S. M. O
Imperador o qual é recebido segundo o estylo.
O Sr. Presidente abre a sessáo.
Lida a acta da sessáo antecedente, o Sr. 1.' Secretario
apresenta e ié o seguinte :
EXPEDIENTE.
1." Umofficio do Sr. Cónego Dr. Fernandes Pinheiro
participando não poder, por incommodos de saúde, compa-
racer â presente sessão.
2. Idem do Sr. Francisco José Camará Leal enviando
um exemplar do Relatório, com que o seu antecessor abrio
a Assembléa Provincial do Paraná.
3.* O original do parecer favorável do Sr. barão de
Humboldt sobre os tratados de limites celebrados pelo Mi-
nistro Plenitenciarío Brasileiro Miguel Maria Lisboa com
as Republicas de Venezuella e Nova-Granada, offerecido
pelo Sr. Conselheiro Azambuja.
4.' Um exemplar da Exposição dirigida em Novembro
de 1853. pelo cidadão Lourenço Maria Lleras, ao Presi-
— 640 —
ciente da Republica de Nova-Granada; offerecido pelo Sr.
Conselheiro Azambuja.
5.* Dous exemplares do Relatório do Ministério da
Marinha.
6.'» Variosjornaes pelas repectivas redacções.
7.* Um exemplar daobra— Monumento-Historico-Diplo-
maticos» enviado pela Legaçáo Brasileira em Turim por in-
termédio do mesmo Sr. izambuja.
As offertas foram recebidas com especial agrado.
PROPOSTAS.
O Sr. Norberto submetle ao Instituto uma proposta,
assignada por grande numero de seus sócios, para o fim
de elevar a sócio honorário do mesmo Instituto o Sr.
Manoel de Araújo Porto-Alegre. em attenção aos serviços
prestados pelo mesmo Sr. como eloquente Orador e 1.»
Secretario, e como uma prova do apreço em que sâo tidos
os seus conhecimentos litterarios.
Posta a votos é unanimente aprovada.
PABECERES.
Votaram-se os diversos pareceres apresentados na sessão
anterior e foram aprovados sócios correspondentes os Se-
nhores Padre Lino do Monte Carmello Luna, Braz da Costa
Rubim, Francisco Ignacio Marcondes Homem de Mello,
Capitão de Fragata Lourenço da Silva Amazonas, Luiz
Rybeaud, Ceroni, Primeiro Tenente António Mariano de
Azevedo, A. D. Pascoal e Rodrigo José Ferreira Bretãs.
O Sr. Soares como Membro da Commissão de Fundos e
Orçamento lè o parecer de contas da mesma Commissão.
- 65! —
O Sr. Porto-Alegre pede a palavra e profere um pequeno
discurso no qual felicitando o Instituto pela eíBcacia e alta
protecção de que gosa e fazendo votos pela sua constante
prosperidade communica que tem de retirar-se no primeiro
paquete para Europa e que o faz saudoso e grato as atten-
ções com que foi sempre tratado pelos seus membros.
Não havendo nada mais a tratar e impetrado a Im perial
Permissão o Sr. Presidente levanta a sessão as 7 y, horas
da noite.
Eu 1.^ Secretario supplente. servindo de 2.° Secretario
por impedimento do Sr. Cónego Dr. Fernandes Pinheiro,
lavrei a presente acta que assigno e dato aos 3 de Junho de
1859 no Paço da cidade.
Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras.
3* SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1859.
Honrada com a Au^gusta Presença de S. M. o Imperador,
PRESIDIDA PELO EXM. SR. VISCOíNDE DE SAPUCAHY.
A's seis horas e meia da tarde, achando-se presentes os
Srs. Visconde de Sapucahy, Conselheiro Cândido Baptista,
Norberto, Dr. Macedo» Cónego Dr. Fernandes Pinheiro,
Dr. Filgueiras, Coruja. Drs. Carlos Honório, Emilio Maia,
Homem de Mello, Franco de Almeida, Perdigão Malheiros,
Varnhagon, Cláudio, Conselheiro Azambuja. Rios e Soares,
annuncia-se a chegada de S. M. o I., o qual é recebido
com as honras que lhe são devidas.
- 6iá ^
O Sr. Presidente abre a 4.* sessão do corrente anno.
O Dr. Filgoeiras. 2/ Secretario interino, lè a acta da
sessão antecedente, que é approvada sem discussão.
O Sr. Cónego Dr. Pinheiro, passando a occupar o cargo
de !.• Secretario em virtude da retirada do Sr. Porto- Ale-
gre para a Europa» apresenta e lè o seguinte:
EXPEDIENTE.
!.• Doze exemplares do relatório do ministério da
Guerra, enviados pela respectiva Secretaria.
2/ Um officio do Sr. Ministro do Império, enviando
um exemplar dos relatórios com que o Presidente da pro-
víncia do Paraná e o Vice-Presidente da de Minas-Geraes,
abriram as respectivas Assembléas Legislativas na sessão
do presente anno.
3.* U.n officio do Sr. Presidente da provinda de Sergipe,
enviando um exemplar do relatório, com que o seu ante-
cessor lhe entregou a administração daquella provincia.
4.* Um officio do Inspector Geral di instrucção publica
da provincia do Paraná, acompanhando o relat orio da si-
tuação da instrucção publica d'essa provincia no anno pró-
ximo passado.
S.** Um exemplar da obra do Sr. Dr. Emílio Joaquim da
Silva Maia. que tem por titulo— Quadros Synopticos,—
offerecido pelo seu autor.
*.• Um exemplada obra— Chorographia do Império do
Brasil— offerecido pelo autor o Sr. Dr. Mello Moraes.
?.• Um officio do Sr. Emilio Adet, companhando e offe-
cendo um exemplar da sua obra intitulada— O Cavallo.—
8." Um exempar do almanack da provincia do Maranhão
remettido ao Instituto pelo seu autor.
— 6i8 -
9.* Um laemplarda obn-^FiguriDOS dos corpos do
exercito— remetlido pela Secretaria da Guerra.
10. nom exemplares das {Nrimetras fottus p<il^^jca4ps
do diccionarío portuguez, oíTerecidos pelo seu autor o Sr.
Eduardo de Faria, e aÂ;om|)aQhados de uma carta^ oa qual
promette a continuação da remessa regular.
11 . Vários jornaes, enviados peias respectivas redacções.
As oQèftas são r^ebídas com especial Agrado.
TttOPO^ikS C TA1lf:€Bil£8.
o Sj*. Presideole põe em disCHSsSo o parecer de contas,
apresentado nt sessão axilerior pela commissio de fundos
e wçwyònto. Tomam parte no debate os Srs. Coruja, Se-
bastião Soares, Cónego Dr. Pinheiro e Dr. Cláudio, Encer-
rada a discussão são postos a votos !.• o orçamento apre-
sentado pela commissão.e é rejeitado; "2.* a emenda substi-
tutiva offerecida pelo Sr. Thesoureiro, e é approvada.
O Sr. 1 .• secretario propõe que se dirija ao Sr. Thesou-
reiro ura voto de congratulação pela bôa gerência havida
durante o anno passado dos objectos a seu cargo :— é una-
nimemente approvada a proposta.
LTJTURA.
Passando-se à ultima parte da orâemda^ia^oSr.Cme^*
Or. FerRânâes Pioheino promte ã Jeiítiini dfi BJMigraphia
de Fr. Francisco de MoufAlveme, Mcxiptft fielo Sr.. Qr^
B.i. GudelMagalhies.
IKáo haFôfido mais iuida a iratar, b impelrada a imperial
pfirmifiBia, o fir . ^sideale ievaj^ a sessap te 9 horas cb
xKàWt. Sim Paços <la ^ade aos 17 de lunbo de 1^9.
Dr, Caetano Altm áe Simta Fil^ueirat.
82
- 6ii —
4/ SES6A0 EM i DE JULHO DE 1859.
Honrada eom a Augmta Presença de S. M. o In^perador.
PRESIDÊNCIA DO EX.""" SR. VISCONDE DE SAPUGAHY.
A's 6 Va horas da tarde tendo comparecido os Srs. Vis-
conde de Sapucahy, Conselheiro C. Baptista, Cónego Dr.
Pinheiro» Drs. Filgueiras, Macedo, Sousa Fontes, Cláudio,
Pereira Pinto, Carlos Honório, Homem de Melio» Conqa*
Conselheiro Azambuja, Costa Rubim, Sebastião Soares,
Cónego Pinto de Campos e Dr. Franco de Almeida, annon-
da-se a chegada de S. M. I., que é recebido comas honras
do estylo.
O Sr. Presidente abre ai.* sessão do presente anno, e,
depois de lida a acta da sessSo anterior, o Sr. 1.* Secretario
dá conta do seguinte
EXPEDIENTE :
!.• Cm officio do Secretario da província de Pernam-
buco, acompanhando um exemplar do relatório com que
o Presidente da mesma provincia abrio a assembléa legis*
lativa no corrente anno.
i."" Um exemplar do relatório do ministério do império
remettido pela respectiva secretaria.
3."" Um exemplar do relatório feito ao conselho de bene-
ficência de Lisboa pelo seu Secretario o Sr. João Cardoso
Ferraz de Miranda, offerecido ao Instituto pelo autor por
intermédio do Sr. Dr. Feijó e apresentado nesta sessáo
pelo Sr. Dr. Sousa Fontes.
— 6A5 —
£/ Um exemplar da obra de Lord CockraDe sobre o
BrasU, offerecido pelo Sr. Dr. Homem de Melio.
5.* Um ofiiciodo Sr. Norberto, participando ao Instituto
não poder comparecer, por doente, à presente sessão.
Õ."* Vários jornaes remettidos pelas respectivas redacções.
PROPOSTAS.
O Sr. Dr. Cónego Pinheiro offereceá mesa uma proposta
assignada por todos os sócios presentes para que se eleve
à cathegoria de sócio honorário o Sr. Francisco Molpho
de Warnhagen, ministro residente do Brasil no Paraguay,
em reconhecimento de sua illustraçâo e de valiosos serviços
prestados ao Instituto.
O Sr. Conselheiro Azambuja pv)põe que a mesma dis-
tincção seja estensiva aos Srs. Drs. Domingos JoséGonsalves
de Magalhães e Joaquim Caetano da Silva, visto concor-
rerem nesses Srs. as mesmas condições. Posta a votos a
proposta, é approvada.
REQUERIMENTOS.
O Sr. Conselheiro Azambuja requer algumas providencias
a respeito de alguns sócios remissos do Instituto. O Sr.
l.« Secretario tendo declarado que a mesa jã se occupava
ha algum tempo deste assumpto, e que breve apresentaria
um resultado dessa tarefa, o mesmo Sr. Conselheiro Azam-
buja deo-se por satisfeito e retirou o seu requerimento.
O Sr. Dr. Homem de Mello requer que a obra do Sr.
Cockrane, que offereceo ao Instituto seja remettida ã com--
missão de historia, afim de dar sobre ella, na parte relativa
ao Brasil, um circunstanciado parecer. Este requerimento
é deferido .
^ 646 —
LVlXUBA.
O Sr. Soares lè uiua memoria histoiica— estatística sobre
a alça do preço dos géneros alimentícios.
ENCERRAMENTO.
Não havendo mais nada a tratar, o Sr. Presidente dá
pár»aordem do dio da sessão seguinte: l*"" propostas e
pfttecereft; 2^ continuação da leitora da memoria do Sr.
Soaredv e sendo 9 horas da noite lev^aata a sessão, depois
de impetrada è obtida a imperial rettia. No Paço da cidade
aos 1 de Julho de 1859, btroaa presente acta» o 2.» Se*
cretario— Dr. Caetano Alces de Sousa Fitgmiros.
5.' SESSAO EM 15 DE JULHO DE 1859.
Honrada com a Augusta Presença de 5. M. o Imperador.
PR£Sn>ENCU Do KX.*"" Sft. VISCOXDE DR SAMCAilT.
Vs 6 horas da tarde, verificada a presença dos Srs.
Visconde da Sapucahy, Conselheiro Cândido Baptista, Dr.
Macedo, Con^o Dr. Fernandes Pinheiro, Chrs. Pílgiieiras,
Sousa Pontes, Carlos Honório, Homem de Mello, Comja,
Sebastião Soares, D. Pascoal, Capitão de Mar e Guerra
Amasonas, Rios, Dr. Claadk)^ Bubim, Cónego Pinto de
Gatmpos. Gomos Jardim, Dr. Franco de Almeida, e Castro,
isimiuncia-se a chegada de S. M. o Imperador, o qual é re-
cebido com as honras do cstylo.
— 647 —
O Sr. Presidente abfe a &." sessão do eorreote aono; e
lida a acta da sessflo anterior ^ne & approvada, o Sv» t/
Secreiario 'apresenta e lè o seguinte
expediente:
I.* Um officio do Sr. Norberto participando não poder
comparecer à presente sessão por continuarem os seus in-
commodos de saúde.
S.^" UokexwH^lar da obra— Eisaiie sK^e o seguro das
vidas — do Sr. João de Sousa Moreira, offerecido pelo seu
autor.
S."" Um ofGcio do Sr. Conselheiro Azambuja, explicando
a sua fa ta de comparecimento à presente sessão» e remet-
tendo o seguinte :
&."* Um oflicio do Sr. Felippe José Pereira Leal, lem-
brando ao InstitiUo o nome e mérito do Sr. Dr* Du Pedro
Galvez, Ministro Residente do Peru nas Republicas da
America Central, que lhe dão direito a pertencer ao numero
dos sócios correspondentes do Instituto.
5.* Vários joarnaes remettidos pelas suas redacções* ^
As oíTertas são recebidas ccnn especial agrado.
O Sr. Presidente resolveo queàcercadoofficiadoSr.
Leal, se respondesse ao mesmo Sr. com a copia do Jot.
dos Estatutos, relativo à admissão dos sócios a fim die que
o Sr. Dr. D. Pedro Galvez satisfaça as suas cond:;óes e
possa assim apresentar-se legalmente como candidato ao
titulo pedido de sócio correspondente, titulo que lhe seria
desde jà conferido se ao InstKoto (6ra licito fazet>e*
Passaodo^se & idiíma parte da ordem do dia, o Sr. Df •
Homem de Mello lè^a biographia do Visconde de S J^eof^do.
- «48 -
O Sr. Soares continua a leitora da sua memoria histórica
estatística sobre a alça dos preços dos géneros alimentícios.
Não havendo mais nada a tratar, e solicitada a imperial
vénia, levanta-se a sessáo às 8 horas da noite. No Paço
da cidade aos 15 de Julho de 1859.
Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras, 2.* Secretario inter.*
6.* SESSÃO EM 6 DE AGOSTO DE 1859.
Honrada com a Augusta Presença de S. íí. o Imperador.
PRESIDÊNCIA DO EX.'*" SR. VISGONDB DE SAPUCAHY.
A's 6 horas da tarde, presentes os Srs. Visconde de Sa-
pucahy, Joaquim Norberto, Cónego Dr. Fernandes Pinheiro»
Dr. Filgueiras, Coruja, Drs. Carlos Honório, Fernandes
Barros. Cláudio, Perdigão Malheiros, Conselheiro Azam-
buja, Cónego Pinto de Campos, Capitão de Mar e Guerra
Amasonas e D. Pascoal, annuncia-se a chegada de S. M.
o L, que é recebido com as honras devidas.
O Sr. Presidente abre a 6.* sessão do corrente anno« e
depois de lida e approvada a acta da sessão anterior, o Sr.
*1.* Secretario lè o seguinte
EXPEDIEiNTE l
l.' Um exemplar do 3.* volume dos— Figurinos dos
Corpos do Exercito—, enviado pela Secretaria dos Negócios
da Guerra.
— 649 —
2/ Um officio do Sr« Ministro do Império, acompa-
nhando um requerimento da Sr/ Viscondeça de S. Amaro,
e pedindo ao Instituto um parecer sobre a introducçjo da
vaccina no Brasil no anno de 180il.
S."" Um exemplar do Relatório sobre o estado dos índios
na província do Amasonas, pelo Director Geral dos mesmos
o Sr. João Wilkens de Mattos, offerecído ao Instituto pelo
auctor, por intermédio do Sr. Coruja.
4/ Um exemplar do Relatório com que o Sr. Conselheiro
Ferraz entregou a Presidência da provincia do Rio Grande
do Sul ao 2.* Vice-Presidente da mesma.
5.* Um oíQcio do Sr. Ministro do Império remettendo
um exemplar dos documentos com que o Presidente da
provincia de S. Paulo instruio o Relatório d'abertura da
Assembléa Provincial em Fevereiro doeste anno.
6."* Uma remessa de folhas do Diccionario Portuguez do
Sr. Eduardo de Faria, até pag. 70i.
l."" Um officio do Director da Escola Militar e de Appli-
cação, accusando o recebimento da collecçáo das Revistas,
enviada pela secretaria do Instituto para o Muzeu da mesma
escola.
S."* Um officio do Sr. Dr. Homem de Mello participando
ao Instituto a sua partida para o lugar onde reside na pro*
vínciade S. Paulo e offerecendo ahi o seu préstimo e dedi-
cação aos trabalhos doesta Associação.
9.* O seguinte ofTicio do Sr. Joaquim Norberto commn-
nicando ao Instituto, que na organisação do Archívo da
Secretaria dos Negócios do Império, a que está procedendo,
tem encontrado vários documeutos sobre a historia nacional,
entre os quaes aponta mais particularmente alguns perten-
centes a José Bonifácio de Andrada e Silva :—
lllm. Sr.— Acho-meorganisando o importante archívo
- 6M —
da Mcretaritáe eâzéo dos Degocios do Império, e na mi&ha
arina tarefa não ma tenho esquecido do InstiUito HistoríM,
pai5 tenho deparado mm docimentos qoo tançan algoma
luz sobre a historia da nossapatria, esobrea yidade nossos
homens Ulustres, são, porém, como a afana do licenciado
QvoHu e necessário é deseoterrak^s d'onde md se pensa
qin possam «existir^ como entre a aliuviio de petições nina
do nosso patricio Dom José Joaquim da Cunha deÂzeredb
Goítinho. bispo de Elras^ e que tambemo foi de Pernam-
buco, na qmi se encontram muitas notadas, amdanio
sabidas, para a sua biograpliia. fi" porém tao demasiada-
omite longa que ainda não tíTe tempo de cofwal-a* nem o
aeíMtereá.
JV'esles ultimes dias encontrei os Estatiftos qne para a
Sociedade de Economia da pronncm de Sio Fauto atti for-
Bulon o nosso illa&treJosé Bonifácio de AodradaeSiht, e
^e tem a sua respeitável as»gnatara; patenteam o «qaanla
soMiàeravaelie pela prosperidade da nossa pátria ; não
tem data, mas deitem ser mterkires ao amio de 1892.
fmiscreverei aqui as suas patarras do preambiAo:
<x Mostra a razão, que as bases solidas da riqueza nacio*
nl sáo a agricultura em toda a sua e&tensão o a inda^ia
iábril; iofifô para que essas se arreigaem e prosperem pno-
gressivamente, cumpre fazer oduspirar as forcas dogover*
no, e dos particulares a um centro comBourn. Ora^esta
mhaíão de vontade e de esforços fácil e efBcaemente se
a^ns<^;ue por meio de sociedades patrióticas de homens
saiMOS e cidadãos jselosos^ que appiiquem a tão inuportanies
ias os resultados práticos da physica, mecânica, cbimâc^L
mineralogia, historia natural « economia.
«c Para conseguir, porém, a e^^tabiiidade e pne^eitos de
uma tal associarão, é jweciso :
— 651 —
« í* Dar-lhe boa organisação, para que tudo se faça
desempeçadamente» com zelo, actividade e sem as coIUzões
do egoísmo e dos caprichos da vaidade.
a 2.* Dar prémios e recompensas que estimulem o pa-
triotismo dos cidadãos.
<c S."" Haver cabedaes disponíveis para estes prémios e
recompensas para o costeio interno da sociedade e para a
compra de livros indispensáveis, modelos, machinas, c
instrumentos que não poder subministrar gratuitamente a
generosidade dos sócios e mais concidadãos.
« 4.« Emfim a protecção do governo e dos homens ricos
e distinctos da província.
< Debaixo destes pontos de vista passaremos a organisar
e estabelecer o plano de seus estatutos. »
<t O objecto da sociedade era, como se vê do !.• artigo
dos respectivos estatutos.
l.» Recolher as noticias históricas c as producções do
vasto território da nossa província, que possam ser úteis
e interessantes à agricultura em geral, ás pescarias, às
artes, oificios, e fabricas, e ao commercio tanto interno
como externo da mesma.
2.* Publicar por meio da imprensa em memorias e ins-
trucções claras e methodicas o resultado de lodos os tra-
balhos e indagações da sociedade que possam augmentar e
promover os ramos acima mçncionados.
3.' Soccorrer os lavradores e artistas distinctos que ne-
cessitarem de soccorros pecuniários, dirigindo seus ensaios
e experiências para que melhor consigam os seus fins.
4.* Distribuir annualmenle prémios e recompensas aos
que melhor satisfizerem aos programmas e fins da sociedade.
5." Espalhar a instrucçáo publica^nos ramos da sua com-
petência, communicando a nossos compatriotas os desco-
83
^ as2 -
brimeritos c taethodos modernos que lhe parecerem me-
lhores e raais úteis redigindo compêndios das differenles
doutrinas económicas, em que se aproveitem as luzes theo-
lícase os resultados práticos da experiência.
€.• Emfim, fazer do directório da sociedade o centro
communâi das relações ^ntre lodos os que professam, digo,
por ppofissSo, gosto e zeJo se interessem em cada um dos
ramos do seu Instituto, respondendo aos seus quesitos e
communtcando-lhes as luzes e direcções necessárias.
Disse que náo tinha data e que deviam ser anteriores ao
anno de 1822, porque nesse anno veio José Bonifácio de
Andrada e Silva para o Rio de Janeiro ; mas pelo papel que
traz a marca <iSmhtt & Allnult 181 9 • ée\em ser posteriores
a este anno ultimo.
Ignorava-se até aqui a data do óbito de António de Moraes
e Silva, o nosso illustre lexicographo ; achei-a no requeri-
mento de sua esposa, D. Narcisa Pereira da Silva, que talvez
fosse poitugue^a, pois o casainaento teve lugar no reino
d'alemmar. António de Moraes e Silva baixou á sepultara
na cidade do Recife em 11 de Abril de 182A.
Dcos Guarde a V. S. Nictheroy 3 de Agosto de 1859.—
Illm. Sr. Dr. Cónego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro,
1." Secretario do Instituto Histórico Brasileiro.— /. Nor-
berto de Sousa e Silva,
10, Vários jornaes enviados pelas suas redacções.
As oííertassão recebidas com especial agrado.
Passando-se á ultima parle da ordem do dia^ o Sr. Có-
nego Dr. Fernandes Pinheiro lê a 1.* parte da sua memoria
histórica intitulada : O Brasil Hollandez.
Nâo havendo mais irada a tratar, levanta-se a sessSo ás
8 horas da noite.
— (kJ3 —
Nos Paços (la cidade aos 5 de Agosto de 1859. —Cr. Cae-
tano Âhes de Sousa Filgueiras»
7.* SESSXO EM ^6 DE AGOSTO DE 1859.
Honrada com Augusta Presença de S. M, o Imperador.
PRESIDÊNCIA DO KX."» SR. VISCONDE DE SATUCAMY.
A's o horas da tarde, annuncia-se a chegada de S. M. I,
o qual ê recebido com as honras do estylo, e verificando-se
a presem.^i dos Srs. Visconde de Sapucahy, Conselheiro C.
Baptista, Joaquim Norberto, Cónego Dr. Fernandes Pinhei-
ro, Drs. Filgueiras, Sousa Fontes, Cláudio. Emilio Maia,
Carlos Honório, Perdigão Malheiros, Franco de Almeida. D.
Pascoal, Costa Rubim, Capitão de Mar e Guerra Amazonas,
Gomes Jardim e Beaurepaire Ilohan, o Sr. Presidente abre
a 7.' sessão do corrente anno, c depois de approvada a acta'
da sessão anterior, o Sr . 1 ."* Secretario dà conta do seguinte
EXPEDIENTE :
1 ."^ Um oflicio do Sr. Dr. Macedo communicando não
poder comparecer ã presente sessão por achar-se molesto.
2.* Um exemplar da traduccão franceza da obra do Sr.
Dr. Domingos José Gonsalves de Magalhães, que tem por
titulo Os Factos do Espirito Humano^ offerecido ao Instituto
pelo autor do original.
3.<» Ura oíficio do Sr. António Mendes Ribeiro, oflfere-
cendo á apreciação do Instituto vários documentos pelos
quaes pretende provar que. jà em 1798, seu fallecido pae
introduzira no Rio de Janeiro a beneficio da vaccina, e pe*
dindo que esses documentos sejam submettidos á cam-
missão que tem de dar sobre este objecto um parecer a.
pedido da Sra. Viscondessa de Santo Amaro.
— 654 —
4.» Duas remessas das folhas do diccionario portiiguoz
do Sr. Eduardo de Faria, até ás pags. 768 inclusive.
S.'* Um ollicio do Sr. ex-Ministro dos Negócios Estran-
geiros, remettendo um exemplar do seu relatório, apresen-
tado à assembléa legislativa do corrente anno, e acom-
panhando um exemplar do tratado de commercio entre o
Brasil e a Republica do Uraguay concluido pelo mesmo Sr.
Silva Paranhos.
6.' Um exemplar do relatório com que o Vice-Fresidente
da provincia do Paraná entregou a presidência da mesma
ao actual administrador.
7.* Um exemplar dos relatórios com que os Presidentes
das províncias da Parahyba e Rio Grande do Norte abriram
as respectivas assembléas provinciaes no corrente anno.
8."" Um exemplar do catalogo geral da Bibliotheca da
Bahia, ofTerecido pelo Sr. Coruja.
9.** Um exemplardo relatório com que o Sr. Beaurepaire
Rohan entregou a administração da provincia da Parahyba
do Norte ao seu successor.
10. Um catalogo dos Presidentes da provincia da Para-
hyba do Norte, em continuação do que se acha impresso na
Revista Trimensal, tomo 1.**, 2.* serie do anno de 1846.
pag. 81, offerecido pelo mesmo Sr. Beaurepaire Rohan.
11. Um exemplar do tomo 4.** da collecção das leis e
decretos da provincia do Paraná, enviado pelo Presidente
da mesma provincia.
12. Um officio do Sr. Cônsul Geral do Brasil na Áustria,
pedindo em nome do Sr. Dr. Barão J. J. Tschudi os nú-
meros da Revista Trimensal, que faltam á sua collecção.
13. Um exemplar do opúsculo intitulado Memorias sobre
Christiano Weis apresentada à academia das sciencias de
Baviera na sessão de 28 de Novembro de 1836, escripto
- C55 —
cm allemão, e oílerccido ao Instituto pelo seu autor o Sr
Dr. Marlíus por intermédio do Sr. Paulo Barbosa da
Sdva.
íà. Umofficio do Sr. Dr. Carlos Martins, accusando por
parte da academia das sciencias de Baviera a recepção dos
números remettidos da Revista Trímensal do Instituto» o
participando ao Instituto que publica na actualidade a sua
Flora Brasileira relativa à famiiia das Myrtaceas^ e que se
occupa também com uma Revista da Gentilidade no Brasil.
15. Vários jornaes remettidos pelas suas redacções.
As ofTertas são recebidas com especial agrado, e o oflicio
e documentos enviados pelo Sr. António Mendes Ribeiro
são remettidos à commissão de historia, j& encarregada do
assumpto dos referidos documentos.
PROPOSTAS C PARECERES.
£' submettida á votação do Instituto, e approvada unani-
memente a proposta q le vae junta à presente acta.
Em virtude desta approvação o Sr. Presidente nomeia
para a commissão agenciadora da subscripção pedida na
proposta os Srs. Barão de Mauà, Joaquim Norberto, Dr.
Sousa Fontes, Dr. Franco de Almeida, Cónego Dr. Fernan-
des Pinheiro, Dr. Cláudio, e Cónego Pinto de Campos.
LEITURA.
o Sr. Costa Rubim obtém a palavra e lè uma memoria
sobre os limites da provinda do Espirito Santo, e o Sr. Có-
nego Dr. Fernandes Pinheiro termina a leitura da sua me-
moria intitulada O Brasil Hollandezo
- m —
ENCEaRAMENTO.
Não havendo mais naJa a tratar, o Sr. Presidente dà para
a ordem do dia da sessão seguinte :
i ,• Propostas e pareceres de commissóes.
2.0 Leitura da memoria do Sr. Dr. Magalhães o$ índi-
genas do Brasil perante m%Í9toria.
E em seguida, impetrada a imperial permissão» levanta
a sessão às 8 Vs horas da noite. Nos Paços da cidade aos
26 de Agosto de 1859.
Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras.
PROPOSTA A QUE SE REFERE A ACTA AGIM.V TRANSCRIPTV.
Annunciando-se por parte do convento de Santo António
desta corte, que as urnas que alli existem com ossos que
não (orem reclamadas dentro de três mezes, serão inutili-
sadas, e os ossos lançados n'uma valia commum, propomos
que se salvem desse esquecimento as cinzas do poeta sa-
grado e distincto pregador António Pereira de Sousa
Caldas, nomeando o Instituto uma comimissáo que se encar-
regue de abrir uma subscripção para votar-se um tumulo
ao grande cantor dos psalmos.
Sala das sessões do Instituto em 26 de Agosto de 1859.
Joaquim Norberto de Sousa Silva.— Cónego Dr. Fernandes
Pinheiro,— Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras.
— 637 —
8.- SESSÃO EM 9 DE SETEMBUO DE 1859
Honrada com a Augusta Presença de 5. ií. o Imperador.
PRESIOEIICU DO EXM.** SR. CONSELHEIRO C. BAPTISTA.
A's 6 horas dà tarde, achando**e çr^entes os Srs. Con-
selheiro C. Baptista, Dr. Macedo, Joaquim Norberto. Có-
nego Dr. J^ernandes Pinheiro, Dr. Filgneiras, Sebastião
Soares, Coruja, Dr. Pereira Pinto, Carlos Honório, D. Pascoal»
Beaurepaíre Rohan, Costa Rubitn, Cagitâo de Mar e Guerra
Amazonas e Conselheiro Mello, annnncia-se a chegada de S.
M. o L , o qual é recebido com as honras do estylo.
O Sr. Presidente interino abre-se a 8.* sesséo do cor-
rente anno, e. lida a acta da sessão anterior, o Sr. 1.* Se-
cretario apresenta o seguinte
expediente:
1," Um ofiicio do Sr. Conselheiro Ferraz, Ministro in-
terino dos negócios do Império, remettendo um exemplar
das —Observações Astronómicas feitas em Washington, no
observatório naval durante os annos de 18^19. e 18o0 pelo
Sr. Maury, director do mesmo observatório, offerecido ao
Instituto pelo autor.
2."" Um exemplar do tratado completo da conjugação dos
verbos francezes pelo Sr. Casimiro Lieletaud, e pelo autor
oíTerecido ao Instituto.
3.*» Um oíBcio do Sr. Joaquim Norberto, communicando
que tendo-se dirigido ao convento de Santo António desta
corte, ali soube que os ossos do Padre António Pereira de
Sousa Caldas acham-se irremediavehnente perdidos.
— 658 —
4.« Um exemplar da correspondência offlcíal da presí^
dencía da província da Parahyba do Norte» offerecido pelo
Sr. Beaurepaire Rohan
5/ Duas remessas das folhas do diccionario da língua
portugueza, do Sr. Eduardo de Faria, até ás pag. 832 in-
clusive.
6/ Um exemplar do relatório com que o Sr. Conselheiro
Fernandes Torres passou ao Yice«Presídente a adminis--
tração da província de S. Paulo, remettido pelo Ministro
interino dos negócios do Império*
7.* Um officio do %^ Presidente da província de Santa
Gatharina, remettendo um exemplar das tabeliãs que devem
acompanhar como documentos o relatório com que abrio a
assembléa provincial na sessáo do corrente anno.
8.*" Um officio do Sr. José António Rodrigues, acom-
panhando um exemplar do folheto intitulado : Aponta-
mentos da população, topographia, e noticias chronologicas
do município da cidade de S. João d'El-Rei. offerecido ao
Instituto pelo mesmo Sr. Rodrigues.
D.* Um exemplar do relatório com que o Sr. Presidente
da província do Goyaz, abrio a respectiva assembléa na
sessão deste anno.
10. Um exemplar do à^ volume dos figurinos dos corpos
do exercito, enviado pela secretaria dos negócios da Guerra.
11. Vários jornaes enviados pelas respectivas redacções.
As oíTertas são recebidas com especial agrado.
PROPOSTAS E PARECERES.
Sáo offerecidas ã mesa as duas seguintes propostas:
1 .• c Propomos para sócio correspondente do Instituto
ao Sr. Dr. Ernesto Ferreira França, formado em direito na
— 659 —
Alemanha, aulor de vários opúsculos n^esta sciencia e de
uma memoria acerca dos limites do Brasil, apresentada a
este mesmo Instituto em 1849. Sala das sessões do Instituto
Histórico, aos 9 de Setembro de 1859. — Dr. J. C. Fer-
nandes Pinheiro. — Joaquim Norberto de Sousa e Silva. —
Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras. »
2^* «Propomos que o Instituto Histórico dirija-se a
qualquer dos seus sócios residentes na provincia de S.
Paulo, rogando-lhe que haja de verificar o grau de veraci-
dade e importância histórica que merece a noticia dada pelo
Commercial de Santês, relativamente arf descobrimento dos
restos de um navio encontrados no sitio denominado Poço;
termo da villa de Itanhaem, e aos quaes se attribue uma
grande antiguidade.
Sala das sessões do Instituto, 9 de Setembro de 1859.
—Joaquim Norberto de Sousa e Silva.— Dr. Caetano Alves
de Sousa Filgueiras. — Cónego Dr. J. C. Fernandes Pi-
nheiro. »
O Sr. Presidente, depois de approvadas ambas as pro-
postas, nomeia para o fim requerido na segunda o Sr.
Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira, sócio do
Instituto residente em S. Paulo.
LEITURA.
O Sr. Sebastião Soares continua a leitura da sua memoria
sobre a causa da alça do preço dos géneros alimenticios
na parte relativa às provincias do Rio de Janeiro e Bahia.
Não havendo mais nada a tratar, e solicitada a imperial
vénia, levanta -se a sessão às 8 horas da noite. Nos Paços
da cidade aos 9 de Setembro de 1859.
Dr, Cadano Alves de Sousa Filgueiras.
8i
— 660 —
9.» SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1859.
Honrada eom a Auguita Presença de S. M. o Imperador.
PRESIDÊNCIA DO SR. G. CÂNDIDO BAPTISTA*
À's 6 horas da tarde presentes os Srs. Conselheiro Cân-
dido Baptista, Dr. Macedo, Joaquim Norberto, Cónego Dr.
Piaheiro. Dr. Filgueiras, Dr. Sousa Fontes, Coruja, Drs.
Cláudio. Pereira Pinto, Carlos Honório, Fernandes Barros,
Emílio Maia, CapitSò de mar e guerra Amazonas» BeaiH
paire Rohan, Conselheiro Mello, D. Pascoal, Costa Rulnm*
Sebastião Soares, e Gomes Jardim, annuncia^se a chegada
de S. M. o I., que é recebido comas honras do estylo, e o
Sr. Presidente abre a sessão.
Lida e approvada a acta da sessão anterior, o Or. l.*Sc«*
cretario dà conta do seguinte
EXPEDI£:^T£:
1.» Um officio do Sr. Visconde de Sapucahy. parlici*
pando não poder comparecer á sessão.
2* Um olDcio do Sr. Conselheiro Az.^mbaia no mesmo
sentido.
3* Um exemplar do opúsculo in^itulad© O casamento civil
e casamento religioso pelo Dr. Braz Florentino Henriques
de Sousa, offerecido ao Instituto pelo autor.
A." Um exemplar das 10.' à 17.* serie da obra: Galeria
dos Brasileiros illustres, olTerta do editor A. Sisson.
5.» Um exemplar do Relatório com que o Presidente da
provificia de Sergipe abrio a 2.* sessão da 12* legislatura
da asserabléa provincial.
— 661 —
6.'' Um exemplar das tabelas das distancias entre os
pontos mais notáveis da cidade da Corte, organisadas pela
commissão do completamento da planta da cidade, re^et-
tido ao Instituto pelo Sr, Brigadeiro director do Archivo
Militar.
7.' Vários jornaesremettidos pelas suas redacções.
Lê-se o parecer da commissão subsidiaria de trabalhos
históricos sobre o requerimento em que a Sra. Viscondessa
de Santo Amaro pede permissão ao Governo de S. M. I.
para coHocar na sala publica do Instituto Vaccinico o btisto
em mármore de seu fallectdo Pai o marquez de Barbacena,
como o verdadeiro introductor da vaccína no hnperio do
Brasil, e também sobre o oflicio do Sr. A. Mendes Ribeiro,
em que offerece à consideração do Instituto, documentos
que mostram que seu pai o cirurgião mór Francisco
Mendes Ribeiro de Vasconcellos fora seu introductor jé em
1798. O parecer é approvado» devendo ser remettidas.ao
governo as suas conclusões, que são: l.*que o Sr. Marquez
de Barbacena foi o verdadeiro introductor da vaccina no
bnperio no decurso do anno de 18Q4; 2.^ que o Sr. Fran«
cisco Mendes Ribeiro de Vasconsellos foi quem em 1798
ensinou no Brasil a inoculação da bexiga.
Em seguida é lida e submettida á votação do Instituto a
seguinte
PROPOSTA.
« Propomos que se lembre ao gorverno imperial a con-
veniência de mandar para os nossos archivos copias dos
importantes documentos relativos à historia pátria, tras-
ladados da bibliotheca d'£vora pelos nossas consócios os Srs.
Gonsalves Dias e Lisboa, e que devem existir em algumas
— 662 —
das secretarias de Estado » Sala das sessões no paço impe-
rial da cidade em 23 de Setembro de 1859. — Dr$. J. M*
de Macedo "^J. C. Fernandes Pinheiro — C. A. de Sousa
Filgueiras — Sebastião. Ferreira Soares .
LEITURA.
«O Sr. Sebastião Ferreira Soares continua a leitura da sua
Memoria sobre o^ causas da cdça do preço dos géneros alimen-
tícias na parte relativa às provincias de Pernambuco e Pará.
Tendo-se S. M. o I. retirado com as honras do estylo,
o Sr !.• Secretario apresenta e lê aa seguintes
PROPOSTAS:
« Propomos que o Instituto encarregue a um dos seus
menibros que tem a honra de acompanhar a S. M. Impe-
riaes em sua viagem às provincias do Norte, de escrever a
naí^ratíva da dita viagem. Sala das sessões no.paço imperial
dsi cidade em 23 de Setembro de 1859— Dr. Caetano Â. de
Sousa Filgueiras — Cónego Dr. Fernandes Pinheiro,— J. N.
de Sousa e Silva — Sebastião Ferreira Soarei — António
PereiraPinlo. »
€ Propomos que seja nomeada por parte do Instituto
Histórico uma commissão a fim de ter a honra de, em
nome desta Corporação, despedir-se de SS. MM. II., que
teem de seguir viagem para as provincias do Norte. Sala
das sessões no Paço imperial da cidade em 23 de Setembro
de 1859.— Cónego Dr. J. C. Fernandes Pinheiro— Joaquim
N. de Sousa e Silva— J. M. de Macedo— Sebastião Peneira
Soares.
Os Jornaes e as offertas sáo recebidas com esiieciaj
^ 663 ^
agrado: as prop>stns são todas approvadas, sendo nomeado
para o fim requerido na penúltima o Sr. Conselheiro An-
tónio Manoel de Mello, e para o da ultima os membros da
Mesa, e todos os Srs. sócios, que quizerem no dia marcado
reunir-se-lhes.
Não havendo mais nada a tratar, levanta-se a sessão ás
9 horas da noite. Nos Tacos da cidade aos 23 de Setembro
de 1859.
Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras, 2.** Secretario
interino.
lOv» SESSÃO EM 7 DE OUTUBRO DE 1859.
PRESIDÊNCIA DO EXM.**" SR^ CONSELHEIRO G. BAPTISTA.
A's 6 horas da tarde, presentes os Srs. Conselheiro C.
Baptistíi. Joaquim Norberto, Cónego Dr, Fernandes Pi-
nheiro, Dr. Filgueiras, Coruja, Dr. Cláudio. Sebastião
Soares, Drs. Pereira Pinto, Fernandes Barros, Carlos Ho-
nório, Costa Rubim, Capitão de Mar e Guerra Amasonas,
Pr. Miranda Castro e Francisco José Borges, o Sr. Presi-
dente declara aberta a sessão.
O Sr. t.' Secretario dà conta do seguinte
EXPEDIENTE :
1/ Um exemplar da obra: — Champignons de la pro-
vince de Nice,— offerecido ao Instituto pelo autor o Sr. J.
A. Barla, cônsul de S. M. o Imperador do Prasil em Nice.
— 66i —
2/ Dous exemplares das folhas do— Diccionario da lingua
Portugueza.— do Sr. Eduardo de Faria, de pigs. 83S a
896, inclusive, remettidos pelo autor.
3.* Um officio do Sr. Presidente da província do Rio de
Janeiro, acompanhando um exemplar do relatório com que
no corrente anuo abrio a assembléa respectiva, seguido
dos documentos officiaes que o baseam, em seis folhetos
distinctos.
4.' Um exemplar da traducçáo portugueza da obra: —
Tratado pratico dos Bancos— por J. W. Gilbart, ofleriado
Sr. Dr. Miranda Castro.
5." Um exemplar da obra: —Capital, circulação e
bancos, — do Sr. James Wilson, tradi^zida pelo Sr. Dr.
Luiz Joaquim de Oliveira e Castro, e oflerecida ao Instituto
pelo mesmo Sr. Dr. Miranda Castro.
6."" Um oíTicio do Sr. N. L. Basil, coivde de la Hure,
acompanhando um exemplar do opúsculo:— Príncipes pour
la fondation des colonies au Brèsil,— que pubUcou no Rio
de Janeiro.
7.* Um exemplar da obra-: — Don Pablo de Olavide—
ofierecido ao Instituto pelo Sr. J. À. de Lavalle, ^u autor.
8.' Um exemplar da obra:— Projecto de constitucion
politica,— esrripta pelo Sr. D. Felippe Pardo, e commen-
tada pelo Sr. D. José A. de Lavalle, e pelo coiamentador
offerecido ao Instituto.
9." Vários jomaes, remettidos pelas respectivas re-
dacções.
As offertas sáo recebidas com especial agrado.
São olTerecidas e approvadas as seguintes propostas :
!.■ a Propomos que durante a viagem de SS. MM. If.
pelas províncias do norte se remetta copia das actas das
sessões que celebrarmos ao nosso mui digno Presidente o
-- 668 -
Exm. Sr. V. de âapucahy> a fim de ser presente a S. M. o
Imperador. Sala das sessões 7 de Outubro de 1859.— J.
N. de Sousa e Silva.— Dr. J. C. Fernandes Pinheiro. »
Si.* « Propomos que seja elevado à classe de sócio ho-
norário o Sr. Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira,
um dos nossos sócios mais antigos, e que mereceu ser lau-
reado pelos seus trabalhos elhnographicos. Rio de Janeiro
7 de Outubro de 1859. —A. A. Pereira Coruja, — J. Nor-
berto S. S. — Dr. Cláudio Luiz da Costa. --Dr. J. C. Fernan-
des iPinheiro.— Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras. >
3.* t Existindo nos archivos das secretarias d'Estado
muitos e importantes documentos relativos à Historia e
Geographia pátria, propomos que o Instituto Histórico e
Geographico lembre aos poderes competentes a conveniência
da remessa de taes documentos ou copias d'elles, que muito
interessam aos fins do Instituto. Sala das sessões h de Ou-
tubro de 1859.— C. H. de Figueiredo. — Dr. C. A. de
Sousa Filgueiras*— J. Norberto deS. S.— Dr. J. C. Fer-
nandes Pinheiro.»
tElTURA.
O Sr. Dr. Cláudio lè o seguinte :
Succinta descripção de alguns productos mineraes, como
o salitre e outros, existentes nas serras da villa do Lagarto.
Copiadeumofficioao Ministro do Império em 1858 sobre
a existência de vários outros productos mineraes da pro-
víncia de Sergipe e sobre a existência de um rio subterrâ-
neo em um districto da villa de Simão Dias, pelo Sr. Mon-
senhor António Fernandes da Silveira.
Em seguida, o Sr. Coruja lêo uma relação abreviada das
ilhas do Uruguay, desda o Paço de S. Borja até a Foz do
- 666 —
Arapehy. enviada pelo Padre Joáo Pedro Gay, Vigário de
S; Borja.
Em ultimo lugar, o Sr. Cónego Dr. Fernaildes Pinheiro
lèo a memoria do Sr. Dr. Domingos José Gonsalves de Ma-
galhães,-^Os selvagens do Brasil perante a historia, — na
sua primeira parte.
O Sr. Presidente levanta a sessão às 8 horas da noite*
Nos Paços da cidade aos 7 de Outubro de 1859.
Dr. Caetano Aheà de Sousa Filgueiras , %'' Seciretario
• interino.
11.' SESSÃO EM 21 DE OUTUBRO DE 1859
PRESIDÊNCIA DO EX."*" SR. CONSELHEIRO C. fiAl^TISTA
Â's G horas da tarde, achando-se presentes os Srs. Con-
selheiro G. Baptista, Joaquim Norberto, Cónego Dr. Fer-
nandes Pinheiro, Drs. Caetano Filgueiras, Sousa Fontes,
Carlos Honório, Perdigão Malheiros, Pereira Pinto, Cláu-
dio, Miranda Castro, Capitão de Mar e Guerra Amazonas.
D. Pascoal, Conselheiro Azambuja, Sebastião Soares, Costa
Rubim, Gomes Jardim e Beaurepaire Rohan, o Sr. Presi-
dente declara aberta a sessão.
O Sr. 1.* Secretario dá conta do seguinte
EXPEDIENTE:
1." Varias obras em allemão offerccidas pelo Sr. Dr.
Ernesto Ferreira França.
— «67 —
ã.* Dous exemplares das folhas do Diccionario da lingiia
portugueza do Sr. Eduardo de Faria, desde paginas 897 até
968, inclusive.
3." Um officio do Sr. Dr. Joaquim Caetano da Silva,
agradecendo ao Instituto a honra que Ihè fez elevando-o
ao gráo de sócio honorário.
A.* Um officio do Sr. Ministro da Justiça, communicando
ao Instituto haver expedido ordem ao Conselheiro Director
Geral da Secretaria do seu Ministério para remetter ao Se-
cretario do mesmo Instituto todos os documentos relativos
à historia e geographia pátria, existentes nas repartições
a seu cargo.
5.^ Um officio do Sr. Secretario do Instituto Religioso,
convidando os membros do Instituto Histórico para assis-
tirem à sessão publica anniverseiria da fundação d'aquella
sociedade, a qual deve ter lugar a 2A do corrente, na sala
da Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas e Liberaes.
6.* Um officio do Sr. Ministro da Fazenda, e Interino
do Império pedindo ao Instituto que toda a correspon-
dência entre o mesmo Instituto e as repartições do seu
ministério seja feito em papel almaço. para melhor arranjo
dos papeis do respectivo archivo.
7.' Um officio doSr.Porto-Alegre.offerecendo em nome
do Sr. Innocencio Francisco da Silva um exemplar dos dous
primeiros tomos do seu Diccionario Bibliographico Portu-
guez e propondo o mesmo Sr. para sócio correspondente
do Instituto Histórico.
8.' Um officio do mesmo Sr. acompanhando um exem-
plar do relatório da Sociedade Agrícola do Porto, no qual
officio se lè o seguinte trecho <c Para não deixar de acom-
panhar o Instituto no dia 7 de Setembro, fui a Santarém
ajoelhar-me sobre a campa de Pedro Alvares Gabralt na
8S
1
— 668 —
igreja da Graça, e ahi orei pela prosperiJaile do Império
qae elle descobrio, e pela do Imperador que o rege. »
9.* Um exemplar da Corographia do Império do Brasil,
offerta do seu autor o Sr. Dr. Mello Moraes.
IO/ Uma copia do Itinerário da viagem que fez ao Baixo
Paraguay. por ordem do Sr. Marquez de Caxias, o Capitão
da 2.* Classe do Estado Maior, Manoel Joaquim Pinto Paca.
offerta do Sr Conselheiro Azambuja.
,11, Vários jomaes enviados pelas suas redacções.
^ As oflfertas são recebidas com especial agrado.
Foram oíTerecidas e aprovadas as seguintes
PROPOSTAS.
1 .• t Propomos para membro correspondente do Ins-
tituto Histórico ao Sr. Innocencio Francisco da Silva; sócio
da Academia Real das Sciencias de Lisboa, e autor do Dic-
cionario Bibliographico Portuguez e Brasileiro. Sala das
Sessões do Instituto, em 21 de Outubro de 1839.— Cónego
Dr. Fernandes Pinheiro, — Dr. Caetano Filgueiras, —Joa-
quim Norberto de Sousa e Silva. »
2,* t Propomos para sócio correspondente do Instituto
Histórico ao Sr. Dr. Alexandre José de Mello Moraes, autor
da Corographia histórica, chronologica, genealógica, nobi-
liária e politica do Império do Brasil. Sala das Sessões, em
21 de Outubro de 1859.— Cónego Dr. Fernandes Pinheiro.
Joaquim Noberto de Sousa e Silva.
3.* « Propomos que se olTicic aos Srs. Ministros dos Ne-
gócios Estrangeiros e da Guerra solicitando uma relação dos
mappas que existirem nos respectivos archivos sobre as
nossas fronteiras, afim de que o Instituto Histórico e Geo-
graphico Brasileiro resolva sobre aquclles de que precise
— 669 —
ter o mesmo Instituto copias em seu archivo. Rio, 2í de
Outubrode 1859.— Joaquim Maria Nascentes de Azambuja,
-i.' € Tendo o Sr. Conselheiro António de Menezes Vas-
concellos de Drumond oíTerecido ao Instituto nos ânuos
de 1856 e l8o7 vários documentos de importância, entre
eUes a correspondência de D. Diogo de Sousa, Governador
do Rio-Grande» com o Governo do Rio de Janeiro, ver-
sando, pela maior parte, sobre negócios do Rio da Prata,
documentos estes cuja relação foi publicada nos tomos 19
e 20 da Revista Trimensal d'aqueiles annos, proponho que
me seja entregue essa correspondência para completar,
com a que eu possa alcançar da administração do mesmo
Governador, e que se faça uma relação dos referidos docu-
mentos, classificados por matérias e por sua ordem chro-
nologica, afim de que, lida em sessão do Instituto, se de-
libere sobre o destino que convém dar-lhes. Sala das
Sessões, em 21 dè Outubro de 1859. Conselheiro Joaquim
Maria Nascentes de Azambuja.»
LEITURA.
O Sr. Cónego Dr. Fernandes Pinheiro continua a leitura
da memoria do Sr. Dr. Domingos José Gousalves de
Magalhães : Os indígenas do Brasil perante a historia.
Levanta-se a sessão as 8 horas da noite. Nos Paços da
Cidade em 21 de Outubro de 1859.
Dr. Caetano Alves de Soma Filgueiras. — 2.** Secretario
interino.
i
— 670 —
12/ SESSÃO EM 4 DE NOVEMBRO DE 1859.
PRESIDÊNCIA DO SR. J. NORBERTO DE SOUSA E SILVA.
A's 6 horas da tarde, estando presentes os Srs. Joaquim
Norberto, Cónego Dr. Fernandes Pinheiro, Drs. Caetano
Filgueiras, Sousa Fontes. Conselheiro Azambuja. Coruja,
Dr. Miranda Castro, Capitão de Mar e Guerra Amasonas,
e Beaurepaire Rohan, o Sr. Presidente abre a sessão.
O Sr. !.• Secretario dà conta do seguinte
EXPEDIENTE:
l."" Três oíQcios dos Srs. Conselheiro Cândido Baptista,
D. Pascoal eDr. Carlos Honório, participando não poderem
comparecer, por incommodados, á presente sessão.
2.^* Sete volumes das Memorias e boletins da Sociedade de
Seiencias Naiuraes de Neuchátel, na Suissa, remettidos ao
Instituto pela mesma Sociedade, por intermédio do Sr.
Dr. Francisco de Pury, incumbido d'essa commissáo pelo
Sr. Coulon, Presidente da mesma sociedade.
3.* Um oflicio do Sr. Vice-Presidente da Província de
Santa Catharina, acompanhando o Relatório com que elle
entregou no dia 23 de Setembro do corrente anno a admi-
nistração da mesma Província ao Sr. Dr. João José Coutinho.
4.* Um olBcio do Sr. Presidente da Província do Espi-
rito Santo, acompanhando um exemplar do Relatório com
que o mesmo Sr. abrio a respectiva Assembléa Legislativa
na sessão do corrente anno.
5.*» Um olBcio do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros
communicando ao Instituto que tem ordenado ao Director
Geral da Secretaria do seu Ministério que remetia ao mesmo
~ 671 —
Instituto todos os documentos sobre a historia e geogra-
phia pátria que n'ella se acharem archivados.
G.» Um oÃBcio do Sr. Ministro da Fazenda e interino do
Império sobre o mesmo assumpto, communicando que,
por ordens já dadas, acham-se os archivos da secretaria
do Império e o publico franqueiados à pessoa que for en-
carregada peio Instituto para tirar as copias necessárias.
1."* Um oílicio do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros
acompanhando uma relação dos mappas que existem nos
archivos da Secretaria, entre os quaes se encontram os
(jue se prendem as nossas questões fronteiras.
8.* Vários jornaes f emettídos por suas redacções.
As oflertas são recebidas com especial agrado.
LEITURA.
O Sr. Cónego Dr. Fernandes Pinheiro prosegue na lei-
tura da memoria do Sr. Dr. Domingos José Gonsalves de
Magalhães 0$ indígenas do Brcuil perante a historia.
O Sr. Presidente levanta a sessão as 8 horas da noite.
Paço da Cidade em i de Novembro de 1859.
Dr. Caetano Alves de Sousa Figueiras — 2.° Secretario
mterino.
13.* SESSÃO EM 18 DE NOVEMBRO DE 1859.
PRESIDÊNCIA DO EXM. SR. CONSELHEIRO CÂNDIDO BAPTISTA.
A's 6 horas da tarde, achando-se presentes os Srs. Con-
selheiro Cândido Baptista, Joaquim Norberto» Ckjpego Dr.
i
— 67á —
Fernandes Pinheiro. Drs. Caetano Filgueiras, Sousa Fontes,
Perdigão Malheiros. Pereira Pinto, Coruja, Conselheiro
Azambuja, D. Pascoal, Capitão de iMar e Guerra Amazonas,
Sebastião Soares e Costa Rubim; o Sr. Presidente declara
aberta a sessão.
O Sr. 1 .° Secretario dá conta do seguinte
expediente:
l.** Três oflicios dos Srs Dr. Macedo, BeaurepaireRohan
e Carlos Honório, communicando não poderem comparecer
à presente sessão por se acharem incommodados.
^.** Uma circular do Sr. Ministro do Império pedindo ao
Sr. Conselheiro Vice-Presidente do Instituto informações e
esclarecimentos acerca do mesmo Instituto, a fim de serem
inseridos no relatório d'aquelle Ministério, que tem de ser
apresentado à Assemblea Geral Legislativa.
3.** Um oílicio do Sr. Ministro da Marinha offerecendo
em nome do Sr. Tenente Maury um exemplar do 2." volume
da sua obra intitulada— Sailing-Directions. —
à.° Ura oílicio do Sr. Libanio Augusto da Cunha Mattos,
participando não poder comparecer, e remettendo ao Ins-
tituto um exemplar do — Plani-IIistoria— do sócio o Te-
nenle-Coronel José Joaquim Rodrigues Lopes, por este
oflerecido ao mesmo Instituto.
5." Um oílicio do Sr. Dr. Gonsalves de Magalhães agra-
decendo ao Instituto a sua elevação ao grau de sócio ho-
norário.
6.** Dois exemplares das folhas do Diccionario da Lingua
Portugueza do Sr. Eduardo de Faria, desde pagina 969
até lO/iO.
7.* Uoif oBicio do Sr. Ministro Interino do Império rc-
— 673 —
commcnilando ao Instituto a lypographia nacional pnra a
publicação (la — Revista Trimensal.—
8.** Um oflicio do Sr, Dr. Francisco José da Rocha, re-
dactor do —Jornal da Bahia,— acompanhando os números
do seu periódico era que se publicou o itinerário de S. M.
o Imperador á Caxoeira de Paulo Affonso.
y.» Um exemplar do relatório com que o Presidente da
provincia do Pará abrio a respectiva Assembléa Legislativa
na 2/ sessão da sua li.' Legislatura.
10. Um exemplar da obra em 2 volumes, do Sr. Fran-
cisco Evaristo Leoni intitulada —Génio da Lingua Portu-
gueza,— offerecido por seu autor ao Instituto, por inter-
médio do Sr. Porto-Alegre.
11. Vários jornaes remettidos por suas redacções.
As oílertas sâo recebidas com especial agrado.
São mandadas à mesa e approvadas as seguintes
PROPOSTAS.
Por proposta de todos os membros presentes, o Sr. Pre-
sidente nomêa o Sr. Visconde de Sapucahy orador de uma
commissão de sócios que se acham actualmente em Per-
nambuco, pira, era nome do Instituto, comprimentar a S.
M. o Imperador no faustoso dia de scuanniversario.
O Sr. Norberto apresenta as seguidtes propostas:
1.' « Proponho que se peça ao Sr. Ministro do Império
a sentença proferida pela alçada contra os conjurados
Mineiros de 1789, e quacsquer outros documentos relati-
vos, existentes na Bibliotheca publica doesta corte, certiíi-
€ando-se a S. Ex. que serão rcstituidos logo que se não
tornem necessários.»
2.* cc Proponho que se peça ao Exm. Sr. Ministro da
— 074 —
Guerra copia da ordem do dia relativa a formação dos corpos
pagos do exercito existente n'esta capital por occasiâo da
execução do Alferes Joaquim José da Silva Xavier ( Tira
dentes), que teve lugar no dia 21 de Abril de 1789, solli-
citando-se da benevolência de S. Ex. o mandar vêr, quando
se não encontre no archivo respectivo, se está em algum
livro existente na fortaleza da Lage, bem como a remessa
de copia de qualquer acto relativo á conspiração Mineira
de 1789.»
3/ <t Proponho que se solicite do Exm. Sr. Presidente
da Provincia de Mitias Geraes a remessa de copias dos actos
officiaes, tanto ostensivos como reservados, do Visconde
de Barbacena. capitão general governador da Capitania,
relativos a conjuração mineira de 1789, bem como da cor-
respondência do Vice-Rei D. Luiz de Vasconcellos e Sousa
com o mesmo Governador, e que devem existir no archivo
da mesma Provincia.
A.* t Proponho que se peça ao Rev. ministro provincial
do convento de Santo António doesta corte que se digne de
nos remetter copia de toda a correspondência, tanto reser-
vada como ostensiva, entre a autoridade ecclesiaslica res-
pectiva e as autoridades civis, ou o que constar tradicio-
nalmente acerca das onicns darias relativamente às confis-
sões dos indivíduos que figuravam na conjuração mineira,
presos em differentcs segredos d'esta corte, entre os annos
de 1789 a 1792, bem como tuJo o mais que puder servir
á historia da mesma conjuração, ainda em seus menos im-
portantes pormenores »
5.* f Proponho que se peça a administração da venerável
ordem terceira da Penitencia doesta corte, copia de quaes-
quer ordens dadas pelo Vice-Rei D. Luiz de Vasconcellos e
Sousa^ quando mandou praticar, no edificio do hospital da
— 075 —
mesma ordem, segredos para os presos incommunicaveis
da conjuração mineira de 1789, e na sua falta, o que cons-
tar a respeito. »
6.» Proponho que se sollicite do Rev. prior do convento
dos Carmelitas doesta Corte copia do sermão que pregou Fr.
Fernando de Oliveira Pinto no Te-deum que se cantou em
acção de graças pelo beneficio de ficar esla cidade livre do
contagio da conjuração mineira, na igreja da Ordem terceira
do Carmo no dia 26 de Abril de 1792, e as instrucções que
teve para isso do respectivo Bispo. •
7/ Proponho que se so licite da 111." Gamara Municipal
doesta Corte copia de todos os actos relativos à conspiração
mineira de 1789 existentes no seu arcliivo, bem como o
que constar das actas do antigo senado relativo ao mesmo
objecto desde 1789 até 1792. Sala das sessões do Instituto
Histórico, em 18 de iNovembro de 1859 — Joaqaka Nor-
berto de Sousa e Silva. »
« Proponho para sócio correspondente do Instituto
Histórico do Brasil o Sr. Coronel Evaristo Leoni, autor do
Génio da Lingua Portugueza — e residente na cidade de
Lisboa — Sala das sessões. 18 de Novembro de 1859.—
Cónego Dr. Fernandes Pinheiro.»
V Sendo esta a ultima sessão ordinária do Instituto,
propomos que se nomeie uma deputação para saudar a
SS. MM. II. no regresso de sua viagem ás provincias do
Norte. Sala das sessões, cm 18 de Novembro de 1859. —
J. Norberto deS. S.*--Â. Coruja. --Dr. Sousa Fontes. »
Proponho que a memoria do Sr. Brigadeiro Zeferino
Pimentel Moreira Freire, sobre o Rio Paraguay, na pro-
vincia de Mato Grosso, jà offerecida ao Instituto pelo seu
autor, publicada nos jornaes doesta Corte em o anno de
18/i3, e citada era negociações diplomáticas, seja submet-
86
— 676 —
tida á aprovação do mesmo Instituto para ser opportuna-
mente publicada na sua— Bcristo— coma referida memoria.
Sala das sessões, em 18 de Novembro de 1859.— J. M. N.
de Azambuja.»
Corre o livro das inscripções para a leitura de trabalhos
no anno de 1860. e inscrevem-se os Srs. J. Norberto, Costa
Rubim, Dr. Caetano Filgueiras, D. Pascoal, e o Cónego
Dr. Fernandes Pinheiro» do seguinte modo:
A congpiraçào mineira; — Estudos históricos sobre aspri-
me^as tentativas para a independência nacional^ baseados em
documentos officiaes existentes na secretaria do Império. ^'--J,
Norberto de Sousa e Silva .
Memorias históricas da provinda do Espirito Santo —
Cartographia da provinda do Espirito Santo.— Costa Rubim.
Exame critico sobre as cartas deM. Ch, Manfield^ relati-
vas á sum viagem ao Brasil,-- De Pascoal
Dm trabalho histórico critico. -- Dr . Caetano Filgueiras.
A Carioca^ memoria histórica e documentada. — Cónego
Dr. Fernandes Pineiro.
O Cónego Luiz Gonsalves^ sua vida eswis obras.-- Cónego
Dr. Fernandes Pinheiro.
Luiz do Rego e a Posteridade — Estudo histórico sobre a
revolução pernambucana de 1817 — Cónego Dr. Fernandes
Pinheiro .
O Sr. Cónego Dr. Fernandes Pinheiro continua e termina
aleitura da memoria do Sr. Dr Gonsalves de Magalhães que
tem por titulo— Os Indigenasdo Brasil perante a historia.
Levanta-se a sessão ás 8 horas da noite.
Nos Paços da cidade em 18. de Novembro de 1859.
Dr. Caetano Ahes de Sousa Filgueiras, 2.° Secrcttlfio
inlerino.
~ 677 -
SESSÃO DA ASSEMBLÉA GERAL DOS SÓCIOS EM 21 DE
DEZEMBRO DE 1859.
SOB A PRESIDÊNCIA DO SR. JOAQUIM NORBERTO DE SOUSA E SlLVA.
A's 6 horas da tarde, tendo comparecido os Srs. sócios
Joaquim Norberto de Sousa Silva, Cónego Dr. Fernandes
Pinheiro, Luiz António de Castro. Dr. Cláudio Luiz da
Costa, Coronel Henrique de Beaurepaire Rohan, D. Pascoal,
Capitáo de Mar e Guerra Amasonas, Coruja, e Drs. Pereira
Pinto. Carlos Honório, e Lapa, o Sr. Joaquim Norberto,
3.° Vice-Presidente, no impedimento do Exm. Sr. Conse-
lheiro C. B. de Oliveira, declara aberta a sessão da Assem-
bléa Geral para a eleição dos membros da meza c das
commissões permanentes, que tem de servir no futuro anno
social, e nomeia os Srs. Pereira Pinto e Coruja para es-
crutadores.
Procedendo-se á eleição, ficão pela forma seguinte cons-
tituídas a meza e as commissões.
Os Senhores
Presidente: visconde de Sapucahy.
1/ vice-presidente: Conselheiro C. Baptista de Oliveira.
2.** vice-presidente: Dr. Joaquim Manoel de Macedo.
3.* vice-presidente: Joaquim Norberto de Sousa Silva.
1.'» secretario: Cónego Dr. Joaquim Caetano F. Pinheiro.
2." secretario: Dr. Caetano Alves de Sousa Filgueiras.
Secretaries supplentes: l.^^Dr. José Ribeiro de S. Fontes.
2." Dr. Carlos Honório de Figueir.*
Orador: Dr. Joaquim Manoel de Macedo.
Thesoureiro: Anlonio Alvares Pereira Coruja.
— 678 —
Commissào de fundos e orçamento,
OsSrs.: João José de Sousa Silva Rio.
Braz da Costa Rubím.
Alexandre Maria de Mariz Sarmento.
Commissào de estatutos e redacção,
OsSrs.: Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz.
Dr. Thomaz Gomes dos Santos.
Dr. José Maurício Fernandes Pereira de Barros.
Commissào de revisào de manuseriptos.
OsSrs.: Dr. António Pereira Pinto.
Dr. Ludgero da Rocha Ferreira Lapa.
Sebastião Ferreira Soares.
Commissào de trabalhos históricos.
OsSrs.: Marquez de Mont' Alegre.
Marquez de Abrantes.
Visconde de Maranguape.
Commissào subsidiaria de trabalhos históricos.
OsSrs.: Dr. Joaquin\ Manoel de Macedo.
Dr. João Manoel Pereira da Silva.
Joaquim Norberto de Sousa Silva.
— 679 —
Cammissão de trabalhos jeograpkicos.
OsSrs.: Conselheiro Pedro dd Alcântara Bellegarde.
Conselheiro António Manoel de Mello.
Coronel Conrado Jacob de Niemeyer.
Cammissão subsidiaria de trabalhos geographieos.
OsSrs.: Coronel Henrique de Beaurcpaíre Rohan.
Coronel Ricardo José Gomes Jardim.
Cap." de mar e guerra Lourenço da Silva Araújo
Amasonas.
Cammissão de archeologiae ethnographia.
OsSrs.: Conselheiro Jerónimo Francisco Coelho.
Dr. Cândido de Azeredo Coutinho-
António Diodoro de Pascoal.
Cammissão de admissão de sócios.
OsSrs.: Dr. Agostinho Marques Perdigão Malheiros.
Dr. José Ribeiro de Sousa Fontes.
Dr. Cláudio Luiz da Gosta.
Cammissão de pesquisa de manuscriptos.
OsSrs.: Conselheiro Joaquim MariaNascentes de Azambuja.
Conselheiro Josino do Nascimento Silva.
Commendador Libanio Augusto da Cunha Mattos.
— 680 —
Terminada a eleição, o Sr. Coronel Henrique de Beau-
repaire Rohan inscreveo-se para apresentar na sessão de
1860 um trabalho corographico sobre a Parahyba do Norte.
A's 7 Vi horas da noite o Sr. Presidente deo por encer-
rada a sessão, declarando que o Instituto entrava em ferias.
Sala das sessões do Instituto Histórico e Geographico
Brasileiro» no Paço Imperial da cidade, 21 de Dezembro
de 1869.
Dr. Ludgero da Rocha Ferreira £â]pa,— servindo de 2.*
Secretario.
SESSÃO MAGNA ANNIVERSARIA
DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO DO BRASIL.
DI8CUBSO
DO EX.'** SB. CONSELHEIRO C. BAPTISTA DE OLIVEIRA,
1." VICE-PRESIDENTE.
No legitimo impedimento do seu digno Presidente,
cabe-me hoje a honra de annunciar-vos desta cadeira à
celebração da 21* sessão anniversaria do Instituto Histó-
rico e Geographico Brasileiro.
Gomo sabeis, senhores, é esta sessão destinada a uma
solemnidade litteraria, em que, pelos órgãos competentes,
é o distincto auditório que nos honra circumstanciada-
mente informado dos trabalhos regulares do anno findo,
devidos à dedicação e locubrações dos membros da nossa
associação; acompanhando-nos elle também nas honras
que tributamos por esta occasião à memoria daquelles
sócios que em tão curto periodo a morte roubara ao nosso
grémio.
Ouvireis, pois, senhores, da boca do digno 1."* secretario
do Instituto a leitura do relatório que lhe incumbe fazer
annualmente sobre aquelles trabalhos; e em seguida o
elogio histórico dos sócios fallecidos. tarefa honrosa e
— 682 —
dífficíl que os estatutos commettem ao orador da nossa
escolha.
Pelo que respeita a natureza e importância dos trabalhos
de que se vos dará conta, não deveis por certo esperar
que se vos falle agora da apreciação de factos da ordem
daquelles que enriquecem os annaes de um paiz, jà engran-
decido pela accumulação dos séculos» porquanto apenas
vereis, na relação dos modestos productos da nossa lavra
litteraria, apontamentos sentimentaes, que, collegidos de
anno em anno. servirão um dia para compor a nossa his-
toria quando attingirmos à idade das nações provectas.
É assim que a tenra planta, apenas desabroxada da se-
mente, tende a desenvolver-se» absorvendo dia por dia a
nutrição que lhe depara o solo e atmosphera; mas, con-
templada nesse primeiro periodo do seu crescimento, fica
ella mui distante da corpulenta arvore da sua espécie,
que na estação própria se adorna de viçosas flores ou de
mimosos Tructos. Nem o débil menino, que, libertado das
faxas infantis, ensaia a medo os seus primeiros passos, é
tão pouco o homem.
O elogio histórico do litterato que morrer em nossas
fileiras, não c, senhores, a simples expressão instinctiva
do sentimento que nos causa a perda de um veterano nos
nossos trabalhos, de um meinbro prestante da familia
litteraria: 6 mais que isso; é o solemne reconhecimento
da justira devidi ao mérito real do sócio laborioso, do
distincto homem de lettras : essa justiça tardia, que por
uma deplorável condição da fraqueza humana, só não é
contestada na paz do tumulo t
Entre os sócios fallecidos, cujos nomes temos de com-
memorar na presente sessão, ha um especialmente a quem
as letras c as sciencias devem mais de meio século de
- 683 -^
admiráveis trabalhos, executados na Europa e na America:
e por estes indícios tereis jã adevinhado, senhores, que
eu vou pronunciar o nome do venerando Humboldt, o qual
viveu e fez bastante para que^ sem quebra da própria mo-
déstia, pudesse applicar a si mesmo as memoráveis pa-
lavras proferidas no momento extremo por outro sábio da
sua igualha, e também seu conterrâneo, o famoso Tycho-
Brahe.
Nec frustra viaíuse videor.
Esta aberta a sessão.
RELATÓRIO
DO 1.' SECRETARIO INTERINO GONEGO DR. J. C. FERNAN-
DES PINHEIRO.
Senhores.— O sol da monarchia, aquecendo as regiões
do equador, deixa-nos envoltos nas sombras da saudade,
e no maior dia do Instituto vazias ficam duas cadeiras
onde se sentam o 'génio e a virtude. Forçoso foi porém
obedecer á uma augusta vontade, que não quiz que inter-
rompido fosse o nosso cyclo litterario, lançando-lhe de
longe o reflexo de sua munificência.
Na era da electricidade e do vapor a década substituiu
ao século; permittir-mc-heis portanto que vos recorde
que celebramos hoje o nosso jubileu, que commemoramos
o decimo anniversario dessa memoranda épocha a que o
meu eloquente antecessor denominou de gloriosa hégira.
Dous lustros, senhores, se tem volvido depois do grande
87
— 684 —
dia em que o Imperador, sentando-se no meio de seus súb-
ditos, e batendo com o caducéo do progresso no rochedo do
indiíTerentísmo e do desanimo, fez rebentar a crystallina
limpha da esperança e da coragem que nos tem saciado.
Em duas besi distinctas phases se pôde dividir a nossa
liistoría académica: na primeira vemos alguns generosos
«thletas sustendo a abobada do templo das lettras prestes
a subverter-se; na segunda contemplamos o magnifico
espectáculo da locomotiva do progresso devorando o
espaço ao aceno da imperial dextra.
Graças a este poderoso influxo pasmosa foi a fertilidade
do anno que acaba de findar-se, e que singularmente con-
trasta como anterior, a que o Sr. Porto-Alegre denominava
de parcial eclipse : e como se fora dado à sua vasta intelli-
gencia o perlustrar o futuro, augurava-nos ça ultima
seseâo magna a abundante messe que colhemos compa-
rando as lethargías litteraria? às transformações da chry-
salida.
Sempre honradas pela augusta presença de Sua Mages-
tade foram as sessões deste anuo até o dia em que o seu
acrysolado amor pelo bem publico levou-o a visitaras
províncias septentrionaes do seu império, apartando-sepor
alguns mexes dos angélicos penhores da perpetuidade da
sua dymiastía.
No cortejo da despedida achou-se presente uma com-
missão do Instituto, e pelo órgão do seu orador exprimiu
o seu ardente anlielo pelo prospero regresso dos iroperiaes
viajantes. Desejando outrosim registrar nas paginas da
sua Revista tão fausto acontecimento, incumbiu ao nosso
sábio consócio o Sr. conselheiro Mello de escrever-lhe o
itinerário dessa profícua digressão.- Proseguindo em suas
lucubrações, em obediência ao imperial mandado, deli-
— 685 -
berou o Instituto remetter a seu excelso protector, por
intermédio o Exm* Sr. Visconde de Sapucahy, a acta de
suas sessões, o que com a maior pontualidade tem execu*
tado seu activo o desvellado segundo Secretario interino.
Approximando-se a épociía em que os fidos brasileiros se
dirigirem ao alcaçar da realeza para renderem homenagem
ao herdeiro do heróe do Ypiranga pelo 3eu feliz natalício,,
e profund:imente sentindo o Instituto a temporária privarão
dessa honra, rogou ao seu digno Presidente de nomeiar
uma commissão dos seus membros residentes em Pernam-
buco afim de satisfazerem a táo grato dever. Taes sáo,
senhores, os públicos testemunhos de profunda veneração
c respeitoso reconhecimento que julgou o Instituto dever
prestar aos nossos Augustos Monarchas, lamentando o fi-
carem elles muito àquem^ dos sentimentos que o animam.
Diversas e succuientas memorias occuparam este anno^
a nossa altenção, das quaes passarei a.dar conta, embacian-
do-ns no prisma do meu rude engenho.
Cnvíou-nos de Paris o nosso illustrado consócio* o
Sr. Ur. D. J. Gonçalves de Magalhães, umainteressante
biographiado eximio orador sagrado o padre-mestre Fr.
Francisco de MonfAlVerne. que foi lida n'uma das nossas
primeiras sessões. Cheia de revelações importantes, de
confidencias intimas vasadas no seio da amizade, encerra
este trabalho curiosos, pormenores sobre esta síngnlarexis
tencia, que depois de haver deslund}rado seus contempo^
raneos pelo brilhantismo de sua- eloquência, sumio-se nas
solidões do claustro para delia sahir um dia mais fulgurante
do qae jamais o fora no zemith da sua prisca gloria. E^
porém como philosopho que mais de perto o apreoja o
esclarecidos autor dos Factos do Espirito Humano, reconhe-
cendo que ã migia do seu estylo e ã fascinação que exercia
j
— 686 —
sobre as verdes imaginações deveu o grande franciscano
essa colossal nomeada de quasi meio século. Reduzido às
suas justas dimensões não deixa por isso MonfAlverne de
ser um grande vulto histórico, o ultimo annel dessa glo-
riosa cadèa formada pelos preclaros i;K)mes dos Caldas» S.
Carlos, Sampaios e Januarios.
Um esperançoso mancebo que acabava de deixar os
bancos académicos para sentar-se no senado da historia
pátria* deu-nos momentos de ineffavel prazer lendo a bio-
graphia do nosso primeiro Presidente, o Visconde de S.
Leopoldo. Vedão->me estreitos vínculos de parentescos
de acompanhar ao Sr. Dr. Francisco Ignacio Marcondes
Homem de Mello no juizo que forma do autor dos Annaes
ia Provinda àe 5. Pedro, cuja memoria deve ser grata ao
nobre conterrâneo que tão fragantes flores espargiu-lhe
sobre o tumulo, O diamante só pelo diamante deve ser la-
pidado: digno era o joven e espirituoso escriptor dos Es-
ímíoi Históricos de comprehender e julgar o grave analista
encanecido na trilha da honra e no culto das lettras.
O Sr. Braz da Gosta Rubim. novo adepto da nossa as-
sociação, pagou-lhe o tributo dasuaintelligencia, lendo-nos
uma bem elaborada memoria acerca dos limites da pro-
Tincia do Espírito Santo. Busca demonstrar o nosso con-«
sócio neste seu hunínoso trabalho que infundadas são
as duvidas que sobre as raias da sua província natal teem
até hoje apresentado alguns escriptores, duvidas estas que
até se inGltraram nos documentos ofiQciaes. Entrando nessa
demonstração divide a sua memoria em três partes, exhi-
bindo na primeira a dous importantes e inéditos docu^
mentos, aflm de conhecer- se qual a porção do território
concedido ao primeiro donatário, e qual a demarcaçáo que
pela parte do sul fizera este com o seu visinho. Analysaa-
- 687 ^
(lo-os mostra qual fora o rio que nessa época servira par
divisa, que tão pouco respeitada tem sido. Tratando na
segunda parte das fronteiras septentrionaes da província,
entra na apreciação de todos os antigos documentos; e
confrontando-os com as opiniões de vários autores, refuta
com valiosos argumentos, os erros que se teem commet-
tido, provando à toda luz que fixados estão por lei os li-
mites do norte sendo porém ultrapassados pelos povos
confinantes. Occupa-se na terceira e ultima parte com os
términos occidentaes indicando os pontos que teem sido de«
marcados, e termina formando generosos votos para que se
reivindique para a sua pátria todo o território que por juS"
tiça lhe compete, e de que só a violência e a fraude a tem
esbulhado. Quem souber das dificuldades com que sóe lutar
entre nós o pesquisador de documentos, qifem conhecer a
pobreza dos nossos mananciaes históricos e geographicos,
não deixará de tributar ao Sr. Rubim o testemunho de
respeito e gratidão pelo relevante serviço que acaba de
prestar.
Curta é a distancia da geogmphia à estatística: no seu
nobre empenho de estudar por todas as formas o edemico
torrão com que pródiga a natureza nos mimoseàra; dese-
jando graduar a sua prosperidade pelo thermometro dos
algarismos, ouviu o Instituto com summa satisfação a cu-
riosa memoria do Sr. Sebastião Ferreira Soares, relativa á
producção agrícola do paiz, na qual pretende provar que a
carestia dos géneros alimentícios não provém da falta de
braços destinados á agricultura, porém sim de absoluta
absorpçáo que tem feito a lavoura dos géneros exportáveis
das forças productivas da pequena cultora empregada oós
géneros de primeira necessidade.
Dividiu o nosso consócio o seu trabalho em IreTSif^
— 688 —
tinetas partes, ligadas enh*e si pela unidade do assumpto.
Quer o autor demonstrar na primeira das divisões do seu
trabalho que o café, o assucar, o aigodáq e mais sete pro-
duetos teem duplicado depois da eitincção do traCco dos
africanos, abrangendo em suas investigações as provín-
cias do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Pará e Mara-
nhão. Consagra a segunda parte ao estudo das causas que
originaram a cultura do café» da canna e do algodão, fi-
xando as épochas em que taes culturas começaram. Fal-
tou-nos o tempo para ouvirmos a terceira parte, em que
pretende o nosso coUega tratar dos meios de melhorar a
nossa agricultura, do mais conveniente syslema de coloni-
sacão, e de todas as questões complexas ao grande pro-
blema da actualidade. Abstenho-me de emittir um juizo
sobre objectos que me são perfeitamente estianhos ; le-
va-me» porém, a pensar que exactas devem ser as deduções
do nosso laborioso consócio, a mui attendivd circum-
stancia de haver-se elle circumdado dos melhores e mais.
authenticos documentos para a confecção deste trabatho.
Um nosso prestimoso consócio, a quem importantes
funcções diplomáticas conservam longe do nosso grémio,,
deu-nos este anno duas exuberantes provas do apreço
que lhe merece o Instituto, e do quanto folga em con-
tribuir para a sua opulência litteraria. Comprehendeis,.
senhores, que me refiro ao Sr. Dr. Domingos José Gon-
çalves de Magalhães, que, não satisfeito de nos haver brin-
dado com a biographia de seu venerando mestre> de que
jà vos fallei, remetteu-nos uma extensa e erudita memoria
tendo por titulo— -Of indígenas do Brasil perante a historia.
O profundo cogitador áos-^Factos do Espirito Humano, a
inspirado bardo dos Tamoyos, quiz cingir a nobre fronte
com o diadema da historia, e mostrar à posteridade que a
— 689 —
buril dos Niebhurs, dos iMaccaulays. dos Guizots e dos
Herculanos náo se enfraquecia em sua vigorosa dextra.
VÍDgar os nossos autocthones da negerrima reputação
que lhes crearam os chronistas; esmerilhar no selvagem
o gérmen do bem, depositado nos arcanos do coraçáo
pela mão do Eterno, era sem duvida uma bella empresa^
e delia incumbiu-se o nosso illustrado consócio, iílumi*
nando-acom os esplendores dasciencia. Desde essa in-
génua carta de Pêro Vaz Caminha, certificado de baptismo
da terra de Santa Cruz até a Historia Geral do Brasil pelo
Sr. Yarnhagen foram compulsados todos os documento»,
e dos seus (muitas vezes contraditórios) testemunhos,
concluiu o nosso collega que nem tão bárbaros, nem tão
ferozes eram os aborígenes brasilicos como aprouve a
alguém representa-los.
Começando por aconselhar toda a cautela na apreciação
das narrativas dos primeiros europeus, pensa o Sr. Dr»
Magalhães que exagerados foram os defeitos dos selvagens
e desconhecidas as suas virtudes. No seu grosseiro eulto
descobre a idéa da Providencia, que incessante vela pelos
destinos humanos; em TupanrxAo duvida de reconhecer
o Ente Supremo, bem como em Anhangá o principio do
mal, o anjo decaliido que a sua misera sorte busca
arrastar a humanidade. Vê nas montanhas azues o paraíso
dos indígenas, nos pagis os sacerdotes que em suas peri*
gosas e dííQceis iniciações fazem lembrar os brahmenes
da índia; nos camueins ou ignaçabaã as urnas funerárias,
testemunho do seu respeito pelos mortos e da crença de
uma posterior existência; e victoriosamento refuta a
asserção de Lerj, invocada por Montaigne, negando aos
nossos selvicolas a doce esperança da immortalidade da
alma. Comprova seu cavalherismo pela nobre hospitãdt*
— 690 —
dade toia qúe receberam os Tupiniquins ao venturoso
Cabral e pelo sincero agasalho com que ao heróico Martím
ÃffoQSO acolheram mais tarde os Tamoyos e Guayanazes.
Imiumeras demonstrações da sua industria encontra o
nosso consócio em seus artefactos» na construcçâo de
soas tabas, e nessas pirogas e jangadas com que arros^
travam as fúrias do oceano. Epilogando a serie de argu-
mentos, habilmente concatenados, chama o 8r. Dr. Ma-
galhães as vistas do governo imperial sobre a catechese
dos nossos selvagens, e termina formando votos para que
ao grémio da grande familia brasileira entrem os pariás
da civilisação.
Deve a geographia pátria ao incansável vigário de S.
Borja, em Missões, o Sr. João Pedro Gay, uma minuciosa
memoria que nos foi lida pelo nosso digno consócio o Sr.
António Alvares Pereira Coruja, relativa às ilhas que se
acham no rio Uruguay, desde o Passo de S. Borja até a foz
do Arapehy-Grande. Se na Europa, onde o mais inCnite-
simo território se acha descripto e demarcado, são com
prazer recebidos trabalhos de igual quilate, como nio
deve-los-hemos apreciar nós, cujo inventario topographico
táo exíguo e quiçá táo erróneo se apresenta? Honra ao
benemérito sacerdote que descarte consagra seus min-
guados lazeres enumerando as riquezas de sua pátria
adoptiva.
Trouxe-nos outrosim o contigente do seu desinteres-
sado civismo um respeitável prelado da igreja flminense,
por intermédio de um nosso distincto consócio. A des-
pcriçáo de um rio subterrâneo que corre nas visinhanças
da villa do Lagarto, provincia de Sergipe, feita pelo lilm.
e Revm. Sr. Monsenhor António Fernandes da Silveira,
elida pelo Sr. Dr. Cláudio Luiz da Cost?, levantou-nos
- 691 —
uma dobra desse esmeraldino manto que tanta opulência
geológica occulta.
Também coube-me a honra de entreter a benigna
attenção do Instituto com um estudo histórico, a que
denominei O Brasil Hollande%. O imperioso dever de
relatar-vos todos os successos do nosso anno académico
constrange-me a occiípar-vos por alguns instantes com a
resenha das matérias contidas nesse grosseiro trabalho.
Sempre julguei o periodo hoUandez o mais épico da
nossa historia» e desde os mais verdes annòs lia com
attenção as narrativas dos nossos chronístas, e extasíava-me
perante tantos actos de heroismo da guerra brasílica dos
30annos. Agglomeravam-se porém as duvidas em meu
espirito à proporção que consultava novos escriptores. e
d'ahi o ardente desejo de estudar com pausa este ponto dos
nossos annaes. O mirrado fructo das minhas investigações
oíTereci-o ao Instituto, que semelhante a esses rios gigantes
que náo desprezam o tributo de incógnitos regatos, acolhe
a tosca pedra do humilde operário com o prasenteiro sem-
blante com que recebe as preciosas gemmas dos morgados
das leltras.
Quatro sâo as divisões da minha memoria :
Ânalysei na primeira o estado do nosso paiz quando o
invadiram esses audazes navegadores, que haviam afogado
no Zuyderzée os leões de Castella, e esbocei a fundação da
sua colónia americana. Bosquejei na segunda parte o gran*
dioso quadro de um povo regido por sabias leis e conduzido
à felicidade por um grande homem, cujo nome avultará
com o perpassar dos séculos. Consagrei a terceira secção
ao estudo das causas que trouxeram a decadência do -Br<m7-
Hollandez, e julguei encontra-las na desconfiança, no espirito
de ganância dos accionistas da companhia da$ Indian Oeei^
88
— Í892 —
dmtaes, que desgostando ao magnauímo conde de Nassau,
substituíram as sabias e elevadas vistas do seu paternal go-
verno por uma politica egoistica» conGadas a toupeiras
administrativas. Historiei por ultimo a resurreição do La-
xarthPemanJmcano, erguido do seu sepulchro pelo choque
eléctrico da independência lusitana, e recebendo o baptismo
de fogo nos montes das Tubocat, duas vezes afugentando
os batavos nos Guararopes, e dictando-lhes imperioso a
capitulação do Taborda.
Depois de haver catalogado as memorias que no decurso
do corrente anno foram levadas ao seio do Instituto, justo
é que vos falle do seu regimen económico, do trabalho das
commissões e das propostas que mereceram o seu assenso.
Terminou a mesa administrativa o exame do livro da
matricula dos nossos consócios, e expediu circulares aos
que, por qualquer motivo, tinham ficado em debito. Aguar-
damos as respostas, que certamente não se farão esperar,
e nutro bem fundada crença, de que semelhante medida
prosperará o estado do nosso cofre, habilitando-nos para
despezas de urgente necessidade.
A propósito do nosso estado pecuniário, communico-vos
que, graças à subvenção do thesouro nacional, à activa
cobrança das nossas mensalidades, ao tino económico e
administrativo do nosso honrado e incansável thesoureiro,
tem feito a receita face à despeza, restando-nos algum
saldo, que se acha recolhido a um dos mais acreditados
bancos. A reimpressão, porém, das nossas Revistas, que se
acham exlKiustas. a conclusão da obra do Jaboatão, cujo ter-
ceiro volume, comprehendendo a parle medita, deve appa-
recer no principio do anno vindouro; novas edições de
nossos principaes chronistas e historiadores; a versão de
alguns outros escriptos em línguas estranhas, ecujoconhe-
— 693 —
cimento importa vulgarisar, devem absorver-nos sommas
consideráveis.
Em observância do art. 17 dos nossos estatutos, mandei
organisar um indice geral e alphabetico dos trabalhos pu-
blicados em nossas Revistas, cuja necessidade fazia-se
quotidianamente sentir.
Foi ainda em cumprimento desse mesmo artigo, e agora
que mais folgadas se acham as nossas circumstancias finan-
ceiras, que incumbi a uma pessoa bastantemente habilitada
da confecção de um catalogo da nossa bibliotheca, que
conto possa ser impresso e distribuído no principio de
nossas futuras reuniões. Nenhum de vós, senhores, des-
conhece a vantagem de semelhante empresa, e mais de
uma vez tereis lamentado comigo a ignorância em que
nos achamos acerca das preciosidades que encerra a nossa
livraria, annualmente enriquecida pela munificência impe-
rial, pelos donativos do governo, e pelas importantes
acquisições devidas á benevolência das academias e socie-
dades scientificas e litterarias, assim como das pessoas que
mais vivamente se interessam pela prosperidade do nosso
Instituto.
Em dia se acha a nossa Revisía, cuja venda e assignatura
que eram a à annos uma verba inútil em nosso orçamento
chegaram para a encadernação de 88 volumes da nossa bi-
bliotheca que disso mais necessitavam. Com a maior regu-
laridade tem proseguiJo a nossa correspondência, sendo
eu em todos os trabalhos da secretaria e archivo fructuosa-
mente auxiliado pelos empregados do Instituto, aos quaes
longa pratica, bastante intelligencia e acrysolado zelo re-
commendam á vossa gratidão.
Passarei a tratar das nossas commissões. Dependentes
de sérios estudos à mór parte das questões que lhes sáo
- 694 -
submettidaS; não podem os seus pareceres serem apresen-
tados com a rapidez desejada; compensa porém a demora
que por ventura se possa notar em seus trabalhos o cunho
da madureza e da reflexão que os caracterisam.
Devidamente aquilatando a nobre commissáo de admissão
de sócios as elevadas qualidades dos Srs. A. D. de Pascual
autor de uma excellentc memoria com o modesto titulo de
Breves Refkxões Hisíoricas; padre Lino de Monte Carmelo.
illustre Plutarco do clero Pernambucano, cujas biographias
com tanto talento escrevera; Braz da Costa Rubim, erudito
compilador do Vocabulário Brasileiro; Dr. Francisco Ig-
nacio Marcondes Homem de Mello, ciips Estudos Históricos
Brasileiros promettem-nos mais um eximio escriplor;
Capitão de mar e guerra Lourenço da Silva Araújo Ama-
zonas, que em seu Diccionario Topographico da nossa mais
septenlrional provincia reve!ou-nos um infatigável inves-
tigador dos thesouros e tradições pátrias; 1.* tenente
António Marianno de Azevedo, intrépido explorador das
nossas brenhas, moderno Jasão, que em sua enthusiatica
memoria nos mostrou em Itapura uma nova Colchus ;
Rodrigo José Ferreira Bretãs, elegante biographo do
Miguel Angelo, mineiro, o famoso aleijadinho; finalmente,
de dous beneméritos estrangeiros, os Srs. Reybaud e Ceroni,
notável o primeiro pelo seu bello livro denominado Le
Brésil; e o segundo distincto traductor italiano da Confe-
deraçào dos Tamoyos: apressou-se em uma das nossas pri-
meiras sessões em ler-nos um bem elaborado parecer
propondo que em nosso grémio admittissemos tão pres-
timosos varões. Concordando o Instituto com semelhante
alvitre, registrou seus nomes nos distinctos da associação.
Do subido apreço em que somos tidos pelos altos poderes
do estado novas provas tivemos este anno, sendo uma das
- 695 -
mais salientes a consulta que nos fez o £xm. Sr. ex-ministro
do império acerca da prioridade da introducção da vaccina
no Brasil. O Instituto» grato a este novo testemunho de
consideração, incumbiu à sua segunda commissão de his-
toria de examinar tão importante matéria, recommendando-
lhe a possível urgência. Breve foi o tempo empregado na
pesquiza e estudo dos necessários documentqs; e na sessão
de 23 de Setembro ouvimos com verdadeira satisfação um
luminoso e profundo parecer em que se declarava que a
honra de tão assignalado serviço pertencia ao marquez de
Barbacena. Conformando-se com o juizo da sua laboriosa
commissão, e respondendo nessa conformidade ao governo
imperial, folgou o Instituto de poder prestar-lhe o apoio de
suas luzes e dedicação.
Grande numero de propostas, irrecusável testemunho de
actividade intellectual que ha pouco vos assignalei, foram
apresentadas e mereceram o beneplácito da nossa asso-
ciação.
Propuzeram todos os nossos collegas, presentes à sessão
de 3 de Junho, que fosse elevado á categoria de sócio ho-
norário um dos mais brilhantes luzeiros da litteratura pá-
tria, um dos mais assíduos operários do Instituto, e seu
benemérito 1.** Secretario o Sr. Manoel do Araújo Porto-
Âlegre, cuja saudosa partida para a Europa tão grande e
sensível vácuo deixou entre nós. Inútil será dizer-vos, se-
nhores, que semelhante proposta não necessitou de ser
votada, lastimando todos os sócios ausentes que lhe faltas^
sem as suas assignaturas.
Igual distincção e por não menos honrosos motivos, foi
mais tarde concedida a quatro illustres brasileiros, cujos
nomes importa o mais pomposo elogio, e os quaes com
respeito estamos habituados a proferir. Foram elíes os Srs.
— 696 —
Drs. Magalhães, Silva, commeadador Varnhagen e briga-
deiro Machado de Oliveira.
Anhelando por subtrahir os ossos do Pindaro brasileiro
o exímio Caldas, do olvido e profanação, approvou o Insti-
tuto a proposta de alguns de seus membros para que se
diligenciasse, por meio de uma commissão, a sufficiente
somma, afim de erigir-se-lhe um tumulo. Nenhum andamento
porómpóde dar-se a tão patriótico desejo, por informar-nos
o digno provincial dos franciscanos que irremediavelmente
perdidos estavam os restos do celebre pregador fluminense.
Considera o Instituto como diligentes almenaras os seus
sócios correspondentes nas províncias do Império, e nessa
ctmformidade tem por varias vezes incumbido-os de graves
commissões. E' sem duvida uma das mais notáveis a que,
por proposta de vários membros, acaba de encarregar ao
seu sócio honorário o Sr. brigadeiro Machado de Oliveira,
para que haja de verificar o grào de veracidade que merece
a noticia dada por um jornal da cidade <de Santos relativa
ao descobrimento dos restos de um navio encontrado no
sitio denominado — Pq(^— termo da villa de Itanhaem, aos
quaes se attribue uma grande antiguidade. Nem sempre co-
roadas de feliz êxito semelhantes indagações, releva que
não se entibie a nossa solicitude lembrando-nos que as
collecções que hoje formamos constituirá a futura sciencia
dos nossos archeologos.
Se convém reunir em nosso museu os padrões erguidos
pelos primeiros descobridores, os madeiros das primitivas
cruzes, os fragmentos dos navios naufragados em nossos
ainda desconhecidos parceis, não é menos vantajoso guardar
o Instituto em seu archivo todos os documentos concer-
nentes à historia pátria. Com este intuito deu a suaappro*
vaçáo a uma proposta que lhe fora submettida para que se
- 697 -
lembrasse ao Governo Imperial a conveniência de lhe serem
remettidas as cópias que da Bibliotheca de Évora extrahi-
ram os nossos consócios os Srs. Drs. Gonsalves Dias, e J.
F. Lisboa.
Novas indicações, que não menor acquiescencia lhe me*
receram. levaram ainda o Instituto a pedir aos diversos
ministérios os originaes, ou as copias, dos documentos re-
lativos á nossa historia; bem como a relação dos mappas
das nossas fronteiras que devem existir nos archivos dss
secretarias dos estrangeiros e da guerra.
Com a maior benignidade e solicitude responderam-nos
os Exms. Srs. Ministros interino do Império, da Justiça
e dos Negócios Estrangeiros, facultando o primeiro os ar-
chivos da sua secretaria, e o publico, aos commissarios do
Instituto, afim de que delles possam extrahir as precisas
copias, e remettendo varias obras pertencentes à biblio-
theca americana que alli existiam: o segundo promettendo-
nos a remessa do que houver na repartição a seu cargo, e
o terceiro fazendo igual prommessaeaddicionando-a com a
relação dos mappas dos terrenos limitrophes existentes em
sua secretaria, no q je foi imitado pelo Exm. Sr. Ministro
da Guerra. Dignem-se SS. Exs. de receberem por meu hu-
milde intermédio o testemunho de gratidão que neste dia
solemne lhes vota o Instituto.
Almejando por completar a correspondência de D. Diogo
de Sousa, Capitão-General do Rio Grande do Sul com o Vice-
Rei do Brasil, relativamente aos negócios do Rio da Prata,
que nos annos de 1856 a 1857 lhe fora oflerecida pelo nosso
prestimoso consócio Sr. Conselheiro Drummond, approvou
o Instituto a proposta de outro digno collega nosso, o Sr.
Conselheiro Azambuja, para que lhe fossem entregues esses
documentos incumbindo-o de tão utíl tarefa.
— 698 —
Prestou o Instituto a sua adhesáo a sete propostas do
nosso infatigável e prestimoso consócio o Sr. Joaquim
Norberto de Sousa e Silva, afim de obterem-se das auto-
ridades competentes vários documentos de que necessita
para a sua Historia da Conspiração Mineira de 1789. To-
mando sobre si o nobre encargo de rehabilitar a memoria
desses homens, cuja idéa, por prematura, se malograra,
quiz o Sr. Norberto render sincera homenagem ao excelso
Principe em cujo reinado pôde fulgir a verdade em todo o
seu esplendor, e tributando ao mesmo tempo a sua gra-
tidão pelos meios que lhe facultou de proseguir em seus
laboriosos estudos, com proveito seu, honra nossa e utili-
dade para o paiz.
Foi finalmente encarregado na ultima sessão do Instituto
o nosso illustrado e activo consócio o Sr. coronel Henrique
de Beaurepaire Rohan de examinar com o seu habitual
discernimento a memoria militar que sobre os limites da
provincia de Matto-Grosso escrevera o* Sr. brigadeiro Ze-
pherino Pimentel Moreira Freire. O parecer do nosso douto
collega viva luz lançaié sobre esta matéria do mais subido
alcance, deliberando mais tarde o Instituto acerca da
publicação de ambos os trabalhos nas paginas da sua
Revista.
Continuam a obsequiar^nos os Exms. Srs. Ministros de
estado e Presidentesdô provincias com a regular remessa
dos seus relatórios, cuja collecçâo forma hoje uma das
maiores preciosiíScdes da nossa bibliotheca.
Esforça-se a líieDíoiria em manter -as boas relações com
academias e sociedades estrangeiras, agradecendo com
presteza os seus donativos e retribuindoos com a offeita
das nossas Revistas.
Enviou-nos a academia de Batavia alguns volumes das
— 6»9 —
suas memorias escriptas em bollandez, e abrangendo os
annos de 185ii— 1857; a sociedade geographica de Paris
uma serie de seus buUeiins dos annos de 1852—1858; o
observatório astronómico de Manich os seus Annoes e
Ephemeridei: e a sociedade de Sciencías Naturaes de Neu-
cbatel quatro volumes de seus iuUetins e três de suas tne-
morias.
Avultados donativos feitos por particulares enriqueceram
este anno a nossa bibliotbeca, dos quaes mencionarei
alguns, preferindo os que mais intima relação tem com o
objecto dos nossos trabahos.
Remetteu-nos o Sr. Azevedo um luminoso opúsculo re-
lativo às viagens emprehendidas por Américo Vespuciopor
ordem do governo hespanhoK e as medidas itenerarias em-
pregadas pelos maritimos hespanhoes e portuguezes nos
séculos XV e XYI. Veio derramar brilhante luz sobre os
pontos litigiosos do descobrimento da America a discussão
sussitada no seio da sociedade de geographia de Paris, em
que tão distincta parte tomou um illustre consócio nosso,
o Sr. Yarnhagem, de cujas opiniões apartando-se o Sr.
Avezac, tributa-Ihe a homenagem da mais profunda estima
e veneração. Com proveito consultados serão de ora avante
ambos os trabalhos.
O Sr. Dr. Alexandre José de Mello Moraes fez {Mresente
ao Instituto dos dous volumes publicados da sua Corogra"
phia kiitorica^ thronologica, nobiliária e politica do Império
do Brasil. Fazendo justiça aos nobres eyGjtrioticos esforços
desse benemérito varão que» novo iofTerao, congrega os
documentos esparsos da nossa historia, superando <K>m
singular energia os óbices de tão árdua empreza; propuz,
de combinação com o nosso excellente consócio o Sr:
Nofberto, a sua admissão ao seio do Intituto, que na forma
89
— 700 —
do esiylo sujeitou a nossa proposta ao juizo da sua respec-
tiva commissão.
Offereceu-nos o nosso coUega o Sr. Dr. Flomem de
Mello a Narrativa dos serviços que por occasião da indepefi"
denciado Chile, Perà e Brasil prestou lora Cochrane\ e como
na parte que nos diz respeito grande numero de inexactidões
se encontre, oriundas das paixão que o inspirara, foi, a
pedido do referido nosso consócio, remettida à primeira
conmiissão de historia, cujo parecer aguardamos.
Recebemos por parte do Sr. Ch. Rebeyrolles o primeiro
fasciculo de seu Brasil Pittoresco, cuja obra deve ser acom-
panhada de estampas devidas ao talento do Sr. Victor
Frond, distincto photographo aqui estabelecido. Dignas são
sempre da maior animação semelhantes empresas; releva
que conhecido se torne o nosso paiz aos olhos do mundo
civilisado, porque só dest'arte poderemos victoriosamente
responder às calumnias contra nós lançadas. Alguns des-
culpáveis enganos introduziram-se no trabalho do Sr. Rebey-
rolles, aliás mui recommendavel pelo vivo colorido de seu
estylo, e mais que tudo pela imparciaUdade com que avalia
as nossas instituições.
Com igual prazer acolheu o Instituto a remessa que lhe
fez o Sr. Sisson da importantissima obra de que é editor.
Se a Galeria dos Brasileiros illtMlres não pôde ser ainda
a biographia severa e desapaixonada que deve um dia,
julgar os protogonistas do nosso grande drama politico»
nem por isso é menos curiosa, nem exiguo serviço presta
à historia, arrancando do esquecimento muitos factos que
debalde um dia comafan se buscariam, reflectindo em suas
paginas as varias cores da actualidade.
Mandou-nos o nosso consócio, o Sr. Tenente Coronel
José Joaquim Rodrigues Lopes, a sua Plani-Historiê ou
— 701 ^
Resumo Synoptico-IIisíorico Genealógico do Império do Brasil
e do Reino de Portugal^ e das familias reinantes nestes dous
paizes. Incontestável é hoje a utilidade de semelhantes
trabalhos, que permittem que n'um rápido olhar se possa
entrar no conhecimento de objectos cuja complexidade
exigira longas investigações. Merecedor dos maiores encó-
mios é o nosso distincto collega pela ordem e clareza do
seu methodo. que seguindo a trilha estreada por Le Sage,
grandes melhoramentos recebeu.
As Cartas sobre a provinciade 5. Catharina, escriptas pelo
Sr. José Gonçalves dos Santos Silva, e offerecidas pelo Sr,
Porto-Alegre. são ducumentos do zelo e sincero patriotismo
de um respeitável ancião, que consagrou seus lazeres a
rectificar muitos equivocos que na historia e geographia de
sua província se haviam inoculado. A pedido do respeitável
o0erente foi o Sr. Santos Silva proposto para membro do
Instituto, sempre solicito em franquear o seu ingresso aos
que se identificam com o seu pensamento.
Devemos à generosidade do Sr. Conselheiro J. M. Nas-
centes de Azambuja a Exposição feita ao Presidente da re-
publica da Nova Granada pelo Ministro das relações Estran-
geiras D. Lourenzo Maria Lleras, relativas ao tratado cele^
brado nesse mesmo anno entre o Brasil e esse Estado. Ninguém
desconhecerá a importância de uma tal acquisição, quecon-
tribue para a realisaçáo do propósito em que estamos de
reunirmos em nosso archivo todas as negociações concer-
nentes às nossas fronteiras.
Remetteu ao Instituto oSr. conde de laHure um opúsculo
de lavra própria e intitulada Principes pourla Fondation des
coUmies au Bresil, Para a solução do grande problema da
colonisação de summa utilidade será o ouvir-se o parecer
de todas as pessoas que a este importante ramo hão dedi-
— 702 —
cado suas cogitações. Sem que possamos acompanhar ao
nobre conde em todas as suas deduções, louyamos^lhe o
interesse que em bem de nossa prosperidade manifesta.
Fez-nos presente o Sr. José António Rodrigues dos seus
Apontamentos da população, topographia e notidoi chrono'
lógicas do municipio da cidade de S. João d'El'Rei, pro-
víncia de Minas-Geraes. No nosso paiz, onde uma catpairel
indifferença, uma egoistica apathia, deixa perecer tantos
e táo preciosos documentos, deve considerar-se como um
serviço da maior magnitude a publicação das monographias,
reconhecidos hoje como as melhores e mais puras fontes
históricas.
Um amigo do Instituto, cuja modéstia priva-me de pro-
nunciar o seu nome, enviou para a sua bibliotheca a tra-
ducção franceza dos Factos do Espirito Humano, feita pelo
Sr. Chansselle. E' intuitiva, senhores, a gloria que dessa
versão nos resulta provando aos olhos da culta Europa que
a sciencia de Bacon c de Descartes conta entre nós um dis-
tincto apostolo.
Por intermédio do nosso estimável consócio o Sr. Porto-
Alegre recebemos duas obras de grande mérito, sabidas
dos prelos lisboenses: quero fallar do Diccionario Biblio^
graphico Portuguez pelo Sr. Innocencio Francisco da Silva,
e do Génio da Lingua Portugueza pelo Sr. coronel Fran-
cisco Evaristo Leoni.
De ha muito que reclamavam os estudiosos um trabalho
neste género; pois que incompleta e antiquada era a
Bibliotheca âe Barbosa. Comprchendendo em seif plano os
autores brasileiros, com a resumida enumeração dos seus
escriptos e notas biographicas, concorre o Sr. Innocencio
da Silva, para estreitar os vínculos entre os dous povos,
que partindo de commum origem, professando uma só re-
— 70S —
ligíão e fallando ama mesma língua, postados nas 'duas
margens oppostas do Atlântico, e guardando a sua própria^
autonomia, constituem uma grande e poderosa raça. Dese
josos alguns membros do Instituto de testemunhar a sua
veneração para com o iHusIre escriptor portuguez, con-
descendendo com o desejo apresentado pelo Sr. Porto -
Alegre, propuzeram o digno autor do diccionario para
nosso confrade.
Idênticas razões militaram em favor da Sr. coronel Leoni.
cuja erudita obra é um magestoso monumento alçado ajo
idioma em que fallaram Ferreira, Camões e Barros. Os
vestígios que a lingua dos conquistadores do mundo
deixou impressos cora indeléveis caracteres nos bárbaros dia-
lectos da península ibérica, a corrupção gradual e sensível
do latim clássico até formar essa lingua romana, que as
invasões goda e sarracena não poderam supplantar, são
habilmente analysados pelo distincto philologo, que ambi-
ciono ardentemente ve-lo alistado entre os nossos sócios.
Para não abusar demasiado da vossa benévola attenção,
porei aqui termo à resenha das oíTerendas com que fomos
obsequiados ; antes porém que o faça permittir -me-heis
que commemore a valiosa dadiva que nos fez; o Sr. Dr.
Ernesto Ferreira França da sua Ckrisiomathia da lingua
brasileira. Oxalá que tão nobre exemplo possa ter nume-
rosos imitadores, que com desvelo e dedicação estudem
os dialectos dos nossos aborígenes!... Quantas riquezas
se patentearão com semelhante estudo? Oiiantos pro-
blemas não serão resolvidas? E' para nós o tupi o que é
o sanscrito para os povos do Oriente, a chave de muitos
enigmas, a lingua dos primeiros conquistadores, a dos
brahmeneêedos pagiê. Bem haja o Sr. Dr. França que,
refocilando-se das suas doutas lucubrações jurídicas, tão
— 704 —
uleis livros escreve, indubitáveis provas do sacro amor
pátrio. Como deveis saber, espera em breve o Instituto
contar o illustrado e modesto joven entre os seus colabo-
radores, e teremos talvez mui proximamente o prazer de
ve-lo sentado entre nós.
Mais uma palavra, senhores, e eu termino.
Trouxe-me hoje a este logar a lei do dever, e melhor
que ninguém conhecendo o peso que sobre mim tomava.
Lembra i-vos porém que mais avulta a belleza com o con-
traste: que à volcanica palavra do meu antecessor, cujas
lavas da eloquência abrasaram-nos no mais ardente enthu-
siasmo, substituiu a pallida e fria narrativa que acabais de
ouvir, e que á minha agreste e dissonante voz vão seguir-se
as melodiosas endechas do nosso suaviloquo orador, en-
toando seus saudosos threnos sobre os túmulos semi-
abertos dos peregrinos das lettras.
mmcvnmo
DO ORADOn DO INSTITUTO HISTÓRICO O SR. DR .
JOAQUIM MANOEL DE MACEDO.
Senhores.— A gloria de uma nação é o monumento por-
tentoso e indestructivel que se levanta sobre as virtudes e
o patriotismo dos grandes homens, e atravessando os sécu-
los, falia ás gerações que se succedem com essa voz pode-
rosa c eloquente que acha sempre um éco em todos os
corações generosos, desperta ou inspira os sentimentos he-
róicos, fortalece a honra nacional, e acende o enthusiasmo.
— 705 —
A gloria de uma nação brilha com esse fogo sagrado que se
alimenta das recordações fulgurantes e esplendidas do pas-
sado : é a epopéa immensa e assombrosa que tem cada um
dos seus cantos resumido no epitaphío da sepultura de um
finado illustre; é, emfim, o precioso nobilissimo legado
que os varões beneméritos deixam à pátria, a quem, depois
de ter servido com dedicação e revelancia durante a vida,
ainda além da morte enriquecem com o thesouro inapre-
ciável de seus nomes nobremente famosos.
Entretanto a conservação desse legado, a coordenação
dos cantos dessa epopéa, a perduração desse fogo e desse
monumento somente é licito esperar da historia, que é o
pantheon sublime e universal que confere aos bons que
souberam assignalar-se a immortalidade honrosa, que, por
assim dizer, é na terra um reflexo da eternidade do céo.
Cumpre pois que, registrando em nossos archivos os acon-
tecimentos da nossa época e os feitos dos nossos benemé-
ritos, cumpre que, colhendo no livro dos túmulos as pagi-
nas soltas da vida dos nossos homens notáveis, forgemos a
chave com que para elles devem ser abertas às portas da-
quelle pantheon na posteridade. Neste empenho andam
juntos o interesse e a gratidão da pátria: o interesse, porque
no seio desses túmulos está encerrado o segredo da sua
gloria: a gratidão, porque é este um tributo que ella deve a
seus filhos prestimosos e dedicados, e tanto mais que para
muitos dellesa coroa de louro chega bem tarde, como para
a fronte dos Tassos, ou cinge apenas o craneo do esque-
leto, como DOS Miltons, enos Galilèos: coroa posthuma, ou
por demais tardia, que apenas faz sorrir tristemente o mo-
ribundo, e não pôde ser sentida pelo cadáver; mas que ao
menos serve para deslumbrar os vivos e excitar o seu zelo
e o seu enthusiasmo no serviço da pátria.
— 70C —
O iQstiluio Histórico c Geographico do Brasil reconhece
qae pela própria natureza dos íins que presidiram à sua
orgauisação, é um dos seus mais sérios e imprescriptíyeis
deveres o pagamento desse generoso tributo devido aos
varões íUastres que a morte vai roubando ao paiz: coUi-
gindo e publicando as biographias de cada um delles, vai
recommendando os nomes e os feitos dos beneméritos ao
tribunal da posteridade, que os deve julgar em ultima ins-
tancia, marcando o lugar que lhe compete na galeria da
historia; ainda mais reconhecido porém e mais estreita-
mente ligado áquelles que (iazíam parte de soa iamilia so-
cial, reservou na solemnidadede suas sessões anniversarías
uma hora votada à saúde, e incumbio ao seu orador a
obrigação de fazer o elogio dos seus sócios finados com a
simples menção das virtudes dos trabalhos preciosos, e das
acções meritórias com que elles souberam recommendar-se
á gratidão do Instituto, da nação e da humanidade.
Cabe-nos ainda este anno o desempenho desta importante
tarefa, que aliás devera ter sido incuinbida a quem por ama
intelligencia mais esclarecida fosse verdadeiramente digno
de faliar como órgão de uma associação tão respeitável;
mas a responsabilidade da insufficiencia do orador cabe ao
próprio Instituto que o escolheu, e que em uma nova eleição
corrigirá o seu erro.
Senhores.— Correndo os olhos pelo quadro dos membros
do Instituto Histórico e Geographico do Brasil, encontra-
reis não menos de sete vezes repetidos os lúgubres signaes
da visita da morte no anno de 1859: foram grandes perdas
pdo numero e pela importância dos homens eminentes
que nos deixaram.
No fúnebre cortejo que cumpre fazer desfiliar a vossos
olhos, mostra-vos-hemos, antes de todos os outros o
- 707 -
ataúde que recebeu os últimos despojos de um daquelles
dos nossos consócios, cujos nomes tem um lugar de honra
no quadro dos membros do Instituto Histórico e Geogra-
phíco do Brasil como fundadores desta notável e patriótica
instituição.
O benemérito que agora recordamos é o Dr. Emilío Joa-
quim da Silva Maia.
E' este um nome que não ouvistes repetir nem nas lutas
ardentes dos comicios públicos, nem nos certames arreba-
tados da imprensa politica ; nome que nunca foi endeosado
nem proscripto pelos tribunos, nem nos escreveu jamais
acto algum da alta administração do paiz. Foi o de mn
cidadão que não se encontrava no parlamento, onde se
debatiam os partidos, nem nos gabinetes dos ministros,
onde se combinava as profundas medidas para o governo
do Estado; sua esphera foi mais modesta, seu honsonte
menos brilhante, talvez porém mais vasta sem duvida mais
serena. Qaem o buscava ia à seara do sábio, e tinha a cer
teza de achar o constante e desvelado lavrador manejando o
arado da scioncia. Este facto demonstra só por si o na-
tural e invencível amor que o nosso consócio tributava às
lettras e ás sciencias porque nenhum mais que elle tivera
no berço e na infância diante dos olhos o exemplo do ardor
e do interesse pelas questões politicas, do que aliás soube
sempre conservar-se arredado para exclusivamente en-
tregar-se a seus estudos.
Emílio Joaquim da Silva Maia, fílho legitimo de Joaquim
José da Silva Maia e de D. Joaquina Rosa da Gosta, nasceu
a 8 de Agosto de 1808, na cidade de S. Salvador da Bahia.
Seu pai era negociante matriculado naquella praça, homem
de instrucção, e que não pouco se envolvia em assumptos
politicos.
90
— 708 —
Desde os seus primeiros annos o nosso finado consócio
mostrou grande aptidão para a carreira das lottras : a an-
tiga metrópole do Brasil abundava de bons mestres e com
estes o nosso consócio adiantava-se já no estudo de huma-
nidades, quando em 1823, e aos quinze annos de sua
idade começou a experimentar as consequências das bor-
rascas 6 convulções políticas.
Em 1817t e ainda na infância, contemplara, sem duvida
com a sensibilidade e também coma ligeiresa de menino,
ásvictimas da revolução de Pernambuco: jà aos treze
annos, em 1821, fora testemunha do movimento de 10 de
Fevereiro na sua cidade natal: a época era tempetuosa, e
em 1823, seguindo o destino de seu pai, que se compro-
mettèra na guerra da independência interrompe seus estu-
dos e a 2 de Julho embarca com toda sua familia para o
Maranhão, donde no íim de quatro mezes arrastado pela
foitana paterna, deixa a pátria e vai para Portugal, che-
gando à cidade do Porto no primeiro dia do anno de 1824
bem depressa as aulas da universidade de Coimbra recebem
o joven brasileiro, que vai conquistando applausos e dei-
xando apreciar seu talento: pretendendo seguir o curso de
medicina, tinha jà obtido o grào de bacharel em philoso-
phia natural, quando de novo as luctas politicas vem per-
turbar seus estudos, e dessa vez obrigal-o a trocar o livro
pela espada.
Era a época da guerra entre constitucionaes e absolutistas
o joven estudante, jà pelos exemplos de seu pai, já pelas
próprias convicções e pelo ardor da mocidade, deixa-se
levar pelas ondas revolucionarias, e atira-se no campo
dos combates; sua bandeira é pelo menos bella e nobre, é
a bandeira da liberdade contra absulutismo, a da rainha
contra o usurpador. A victoria corre as armas inimigas,*
— 709 —
e os académicos voluntários, entre os quaes se alistara o
nosso consócio, fogem aos cadafalsos e procuram a terra
estrangeira.
A Hespanha, e depois a Inglaterra, assim o joven brasi*
leiro, que com uma parte de sua familia volta ao Brasil, e
saúda o céo da pátria em 1829. no mesmo anno porém
torna a Europa para completar os seus estudos.. e emGm a
2 de Setembro de i833 obtém o diploma de doutor em
medicina pela universidade de Pariz; e ardendo para tornar
às terras de seu berço, chega em Março de 1834 ao Rio
de Janeiro onde se estabelece.
O nosso finado consócio voltava ao Brasil recommen*
dando-se por um titulo scientifico. vinha cheio de ardor e
de esperança, podia naturalmente trazer no seio aflamma
da ambição, e encontrava o seu paiz em um período de
violenta excitação politica: os partidos abríamos braços e
recrutavam com empenho todos os jovens talentos; via-se
homens novos e sem duvida dignos dos triumphos que
alcançaram, conquistando brilhantes posições: o incentivo
poderoso, o encanto quasi irresistivel; mas o Dr. Emilio
Joaquim da Silva Maia jà tinha feito o voto sagrado de con-
sagrar-se á sciencia; cultivando-a prestaria também rele-
vantes serviços à pátria; voltou pois as costas ao mundo
politico, não se deixou arrebatar pelos sonhos das gran-
dezas sociaes; preferío aos comícios as sociedades litterarias
ã carreira administrativa e politica o exercício da medicina;
às ardentes emoções dos combates parlamentaes os árduos
trabalhos e o cultivo das sciencias naturaes.
Al mais perfeita felicidade domestica dava ao nosso con-
sócio o socego e a paz do coração que animam o homem
no labor da existência: dous mezes depois da sua chegada
ao Rio de Janeiro o Dr. Emilio Joaquim da Silva Maia ca-
— 710 —
sou-se com a lllma. Sra. D. Anna Rita da Silva Gosla, que
foi um yerdadeiro modelo de esposa, e que fez a sua ven-
tura mais risonha e completa: o céo abençoou essa união
com o thesouro de filhos dedicados e amantes.
Feliz no lar domestico, entregue exclusivamente aos
cuidados da sua clinica medica, ao estudo das leltras e sci-
encias, e emfim ao ensino da mocidade, o nosso consócio
pôde contar seus annos por serviços reaes e importantes
prestados ao paiz.
O Dr. Emilío Joaquim da Silva Maia foi um desses ho-
mens laboriosos, incansáveis e prestantes que não precisam
que lhe gravem um epitaphio na lage de sua sepultura,
nem que um biographo parcial e amigo lhe agigante médio-
ores feitos para que seu nome seja lembrado pelos vindouros.
O nome do nosso consócio já está escripto na historia
contemporânea do Brasil com lettras vivas e brilhantes que
a gratidão nacional não deixará apagar-se nunca.
Repete esse nome a humanidade soífredora que elle soc-
correu sempre como medico hábil e caridoso, como o ver-
dadeiro medico catholico que ajunta a applicação do medi-
camento que deve curar o corpo à consolação que chega à
alma do enfermo.
Repete esse nome a camará municipal do cidade do Rio
de Janeiro, em cujos archivos se acham documentos dos
seus trabalhos e provas da sua solicitude em um quatrienio
em que serviu como vereador.
Repetem esse nome as sciencias naturaes, que elle cul-
tivou com esmero, com amor nunca arrefecido, ensinando-
as como professor, utilisando-as como um dos directores
do museu nacional, e adiantando-as com os estudos do seu
gabinete, e com alguns preciosos escriptoscomo o reco-
nheceram sábios naturalistas do velho mundo.
- 711 ~
Repetem O seu nome os jornaes da sociedade Auxiliadora
da Industria Nacional e da Acadenua Imperial de Medicina,
de que elle foi por muito tempo redactor, e a Minerva
Brasileira, que 0 teve por fundador e redactor em chefe,
e muitos outros periódicos litterarios.
Repete o seu nome o Imperial Collegio de Pedro II, de
que elle foi professor de sciencias naturaes desde 1838.
Repete-o, emíim, com um reconhecimento por assim
dizer filial, o Instituto Histórico e Geographico do Brasil,
que o conta e venera como um de seus membros fundado*
res, e sempre como um dos seus mais prestimosos e infati-
gáveis sócios.
As grandes qualidades de que estes serviços dão seguio
testemunho, reunia o Dr. Emilio Joaquim da Silva Maki
outras não menos estimáveis : era bom e extremoso pai
e esposo amante; era amigo fiel, companheiro leal e ci-
dadão honesto.
Homem de trabalho, homem que não perdia um ins-
tante, nem conhecia outro descanço senão o que dà o
somno em breves horas à noite, o nosso illustre consócio
abreviou os seus dias porque não soube poupar-se nem
mesmo quando se sentio perfeitamente ferido pela enfer-
midade que o levou ao tumulo. Doente desde muitos
mezes, só abandonou sua cadeira no collegio e seus livros
no gabinete quando, arrastado para o leito, ouvio dar a
hora da agonia, e exhalou o ultimo suspiro no dia 21 de
Novembro de 1859.
O Dr. Emilio Joaquim da Silva Maio, foi altamente consí*
derado pelos litteratos e pelos sábios: no Brasil quasi
todas as sociedades litterarias e scientificas o contavam
como sócio, c notavelmente o Instituto Histórico e Geo-
graphico do Brasil, a Imperial Academia de Medicina, a
— 712 —
sociedade Auxiliadora da Industria Nacional, o Instituto
Litterario da Bahia, e a sociedade Vetlosiana. Na Europa
está o seu nomeescripto no qnadio dos membros da socie-
dade das Sciencias Medicas de Lisboa, da sociedade de
Sciencias Naturaes de França, e da dos Antiquarias do
Norte.
São numerosos, mas infelizmente acham-se espalhadas
por diversos jomaes, os escriptos do nosso finado consócio.
Memcnrias sobre alguns acontecimentos politicosdo Brasil,
quadros synopticos do reino animal organísados para faci-
litar o estudo da zoologia no imperial collegio de Pedro II;
discurso sobre as sociedades scientifícas e de beneficência
que tem sido estabelecidas na America; elogio histórico
êò José Bonifácio de Andrada e Silva, e diversas memorias
sobre pontos de medicina, de sciencias naturaes, e sobre
questões litterarias, e igualmente muitos discursos acadé-
micos se encontram nas Revistas do Instituto, nos Annaes da
academia de medicina, e em quasi todos os períodos litte-
rarios e scientificos do Rio de Janeiro.
Tal foi o homem que perdemos, e cuja memoria o Insti-
tuto Histórico e Geographico do Brasil honrará sempre
com o mais vivo reconhecimento.
No dia 25 de Maio do anno que vai acabar foi receber
no céo o premio de suas virtudes, deixando no mundo
brilhantes e gloriosos vestigios o nosso estimável consócio
o brigadeiro Miguel de Frias e Vasconcellos.
A sua vida inteira póde-se resumir em três idéas: honra,
bravura e caridade : eis o brigadeiro Miguel de Frias e
Vasconcellos.
O pai do nosso finado consócio era um militar, o lenente-
coronel Joaquim de Frias e Vasconcellos; c como se ade-
vinhasse os grandes acontecimentos que deviam em breve
- 713 -
elevar o Brasil ao gráo de nação independente, deu em
seus filhos novos guerreiros à pátria.
Miguel de Frias e Vasconcellos vio a luz do dia no Rio
de Janeiro a 15 de Outubro de 1805 : nasceu a tempo de
saudar com todo o patriotismo e todo o ardor de um co-
ração de mancebo ênthusiasta a independência do seu
paiz.
Aos5 annos de idade assentou praça como cadete no 1.'
regimento de cavallaria ; dahí a três annosofilcial de arti-
Iberia, cursava ao mesmo tempo a escola militar, esse des-
tinguio-se pelo seu talento e pela sua appbcaçáo, chegando
dentro de poucos annos a servir de lente e de examinador
na mesma academia.
Em 1828 com o seu incontestável merecimento havia
já conquistado as dragonas de major graduado, e em 1831
achava-se encarregado da repartição do quartel -mest re-
generai, quando os criminosos excessos do mez de março
desse anno, e á effervescencia popular fizeram proromper a
revolução de 7 de Abril.
O major Frias era conhecido pelo nobre e fervente espi-
rito de nacionalismo e pelas suas idéas liberaes: se a lucta
chegasse atravar-se, não seria duvidosa a sua posição : o
Sr. D. Pedro I, porém, mostrou-se grande e generoso na
hora da adversidade: não quiz que corresse o sangue bra-
sileiro, e abdicando salvou o Brasil ea monarchia. A ul-
tima palavra do Imperador que descia de um throno foi
recebida pelo major Frias, a quem disse, entregando o de-
creto da abdicação: < Aqui está a minha abdicação. Desejo
que sejam felizes I Retiro-me para a Europa, e deixo um
paiz que tanto amei e ainda amo. »
Os primeiros annos da monarchia de S. M. o Imperador
o Sr. D. Pedro TI marcam uma épocha dolorosa para o
- 714 -
Brasil: as revoltas se succediam umas ás outras, o exercito
indisciplinado tornara-se um perigo, e era por isso dissol-
vido; o governo lactava quasi sem força no meio das facções,
e só um milagre de patriotismo pôde suster o paiz, que
ia precipitar-se naanarchia.
E" n'este periodo tormentoso, que um grave erro vem
interromper a bella carreira do nosso digno consócio, e
obriga-lo a um exílio, que o privou da pátria, e a ella dos
seus seus serviços. Ligado ao partido que se achava em
opposição, e que tomara o título de exaltado, o major
Frias, que com outros ofliciaes se achava preso em uma
de nossas fortalezas, toma parte nos planos de uma revo-
lução; e ignorando que ella tivesse abortado, revolta-se na
fortaleza, e á frente de poucos companheiros vem desem-
barcar na cidade, e marcha para o campo de Sanf Anna no
dia 3 de Abril de 1832. Debalde amigos que o encontram
Iheannunciam asuaperdainfallivel: « E' tarde, responde
elle, jã dei o primeiro passo. • O resultado dessa luta era
de prever. A legalidade triumphou facilmente, e o major
Frias teve de emigrar.
Foi um grave erro, já o dissemos ; qual é porém dos
homens daquella época o que pode atirar a pedra?... A
revolução de 7 de Abril tinha acabado em abraços, flores
e parabéns: uma só gotta de sangue não a havia manchado:
o próprio monarcha, que abdicara uma coroa tinha derra-
mado lagrimas de alegria vendo o enthusiasmo patriótico
com que o povo inteiro acclamava seu augusto filho: as
lições da experiência ainda não eram bastante longas e
acerbas para serem fructuosas: estávamos no noviciado do
systema representativo, e todos sentiam a influencia do
contagio das conspirações: conspiravam todos, conspirava
o povo a 3 e a 17 de Abril, conspirou o próprio governo
— 715 —
a 30 de Jullio de 1832. Vencedares e vencidos erravam
notavemente : não é muito que errasse também o major
Frias aos 27 annos de idade.
O Brasil abro o seio, e nelle recebe com amor o major
Frias que volta à terra da pátria depois do dous annos de
exilio: começa então, ou dentro em pouco, uma serie não
interrompida de serviços relevantes prestados pelo nosso
iHustre e finado consócio.
Eti 18A2 o entáo conde e actual Sr. Marquez de Caxias,
partindo para o Rio Grande do Sul. onde esperava a gloria
de pacificação daquella importante província do Império,
lembra-se do seu irmio de armas; o distincto general não
podia em verdade esquecer-se do bravo que em 1828 de-
nodadamente se batera contra os soldados estrangeiros
revoltados na capital. O m^jor Frias acode á voz da pátria,
serve com distincção nos campos do Sul até o anno de
18^il; e quando outra vez sõgm as trombetas, e o .Brasil
tem de desaggravar-se dos ultrajes e da ousadia do dictador
de Buenos-Ayres, outra vez o bravo Miguel de Frias corre
onrJe tremula a bandeira nacional prompto a dar a vida pela
terra de seu berço.
Assim a brilhante carreira militar do nosso consócio,
que fora interrompida em 1832, de novo era marcada por
serviços relevantes: sua estreita, que uma vez as nuvens da
tempestade tinham obscurecido, tornava a scintillar no céo
brasileiro, e o bravo official ia recebendo o premio do seu
merecimento nos postos a que por direito subia.
Mas não era sò no campo da honra e da batalha que
Miguel de Frias e Vasconcellos conquistava os foros de
benemérito. O governo do Estado puz quasi constantemente
em tributo a sua bella intelligencia e os seus conhecimentos
de engenheiro, assim como a sua habilidade e activa soli-
91
- 716 -
cilude de administrador, confiando-lhe os importantes
cargos de director do arsenal de guerra, de director das
obras militares, de inspector geral das obras publicas, que
exerceu por duas vezes, e de membro da conmiíssão de
melhoramentos do material do exercito, a presidência da
qual occupava ainda quando veio a morte cortar o fio da sua
existência.
Além dos variados e espinhosos trabalhos de adminis-
tração, que por passarem despercebidos aos olhos do pu-
blico nem por isso deixam de ser interessantes, e em muitos
casos de elevada transcendência, o nosso i lustre consócio
legou à capital do Império, como engenheiro, obras que o
recommendaram à consideração do governo e à gratidão
do ^ovo: entre outras falia por todas o encanamento das
aguas de Maracanã, que salvou especialmente a população
pobre da calamidade da sede. que em alguns períodos de
grande secca se fizera sentir,, e levou a agua às portas de
todos, tornando o Rio de Janeiro uma das mais notáveis
cidades do mundo debaixo deste ponto de vista-
Os Fluminenses não podiam cerrar os olhos a tanto me-
recimento : o nome de Miguel de Frias e Yasconcellos,
que jà uma vez tinha sido contemplado entre os nove es-
colhidos do povo para a dilidade da capital, foi de novo
pronunciado nas vésperas de uma eleição : o nosso con-
sócio, membro constante c firme do partido liberal, acha-
va-se então, como os seus companheiros, no campo da
opposição : embora ! as urnas eleitoracs (aliaram, e uma
votação espontânea e numerosa elevou esse digno Brasi-
leiro á presidência da camará : julgou-se que o processo
eleitoral tinha sido viciado, e o governo declarou nulla a
eleição: embora oulra vez! as urnas fallaram de novo,
e Miguel de Frias e Yasconcellos obteve ainda maior nu-
— 717 —
mero de votos : estas victorias não lhe custaram neiu em-
penho próprio nem trabalhosa reoommendação de amigos:
essa candidatura era a manifestação eloquente e decidida
de geraes sympathias : em suas listas o povo escrevia o
nome de Miguel de Frias a impulsos do próprio coração.
E ainda não basta: não encontraremos o brigadeiro
Miguel de Frias e Vasconcellos unicamente na campanha
como soldado; no arsenal de guerra, nas obras militares
e publicas, como administrador c engenheiro: o tempo
lhe sobrava ainda para consagrar-se aos mais philantro-
picos trabalhos.
Na qualidade de sócio, e depois de presidente da Impe-
rial Sociedade Amante da Instrucção. dedicou-se com um
zelo e com um amor de verdadeiro catholico ao cuidado e
auxilio da infância orphãa e desvalida contribuindo com
todas as suas forças para facilitar-lhe a instrucção primaria
e a educação, doce alimento do espirito, que deve preparar
nessas innocentes criancinhas marcadas pelo sello do in-
fortúnio, cidadãos úteis ao estado, e mais de família que
honrem a sociedade. Graças em grande parte à actividade
e ao systema de economia que soube empregar, auxiliado
por companheiros muito dignos, o distincto presidente da
sociedade Amante da Instrucção conseguío que essa bella e
nobre instituição accumulasse*iim capital de 100:000 ;tft.
que dã segurança real ao futuro de suas escolas, e à frente
da sociedade lançou no morro das Neves os fundamentos
de um novo estabelecimento destinado à instrucção e edu-
cação dos orphãos desvalidos de ambos os sexos, e muito
mais conseguiria ainda se não tivesse chegado á hora ex-
trema da vida.
No grande coração do brigadeiro Miguel de Frias e Vas-
concellos, o amor do próximo, a caridade avultava tanto
— 718 —
como era notável o seu de interesse. Um facto basta para
proval-o: diversos capitalistas e cidadãos reconhecidos aos
serviços do nosso illustre compatriota determinaram offere-
cer-lhe um presente em recordação das obras por elle rea-
lisadas do encanamento das aguas de Maracanã: abriram
para esse fim uma subscripção, cujo producto elevou-se a
perto de sete contos de réis. Miguel de Farias e Vascon-
cellos aceitou a offerta dos ricos em beneficio dos pobres,
eaquella quantia foi levada aos cofres da Imperial Sociedade
Amante da Instrucção. Quando batia jà às portas do tumulo
convidava com instancia a um amigo e parente para que,
em seu nome epor sua conta, fosse obter de um capitalista
dezaseis contos de réis para a conclusão das obras do se-
minário daquella mesma sociedade, hypothecando em ga-
rantia seus próprios bens.
Quem procedia assim em nome da caridade, teria proce-
dido como Washington em nome da pátria. Em ema época
em que se ridicularisa o desinteresse, em que se menos-
preza a pobreza honrada, em que se idolatra o ouro, em
em que se chega a mercadejar com os sentimentos, e a
vender coração e consiencia, o brigadeiro Miguel de Frias
e Vasconcellos avultava esplendidamente como uma repro-
vação viva da immoralidade e da corrupção, e como um
exemplo magnifico de honrt e de virtude.
Morreu aos 25 do mez de Maio de 1859 este homem
notável e benemérito cidadão: mas o seu nome ficou inde-
lével na memoria do povo e no coração da pátria: legou à
sua familia pobresa, e â nação a mais justa ufania de um
tão nobre filho,
O brigadeiro Miguel de Frias e Vasconcellos era um mi-
litar bravo, severo mas humano: engenheiro hábil, admi-
nistrador activií^si^lu, zeloso, económico, e de uma hones-
- 719 —
tídade que nem admiltia o sonho de uma suspeita. Probo
como elle; mais do que elle, náo. Em politica pertenceu
sempre às fileiras do partido liberal, e a sua firmeza era
igual à sua lealdade e á sua coragem. Amigo provado na
adversidade, coração aberto à pobreza, alma cheia de cari-
dade e de generosos sentimentos, os seus próprios adver-
sários apenas lhe apontavam os defeitos correspondentes
às suas grandes qualidades*
No brigadeiro Miguel de Frias Vasconcelos o throno
perdeu um defensor extremo, a liberdade um palladim, o
povo um amigo, os pobres um protector, e o Instituto His-
tórico Geographico do Brasil um dos seus mais dignos
sócios.
Baixou também à sepultura na capital do Império o
nosso consócio Joaquim Cândido Guilobel. Portuguez de
nascimento e prestante cidadáo do Brasil, era um habit
engenheiro desenhista em um architecto de merecimento:
foi lento da nossa academia militar, e gozou sempre da
mais bem merecida reputação.
Na província de Pernambuco perdemos o nosso consócio
António da Costa Rego Monteiro. Negociante intelligente e
honrado, cavalheiro perfeito, amigo leal, a estima publica
de que era realmente digno, a firmeza de seus principios
em politica e a cotiauça dos eleitores pernambucanos,
deram-Ihe uma cadeira na camará temporária: no parla-
mento como no commercío, na sua vida publica como na
particular não desmentio jamais o conceito de um homem
honsto o delicado.
Em Buenos-Ayres morreu ainda este annoo nosso illus-
trado consócio D. Pedro de Angelis: sua vida trabalhosa,
e muitas vezes profundamente agitada pelas convulsões
politicas póde-se dividir em duas grandes épocas: a pri-
— 720 —
meira que pertence áhiçtoría do velho mundo, e a segunda,
que está ligada aos principaes acontecimentos contempo-
râneos da America no Rio da Prata.
D. Pedro de Angelis foi esmeradamente educado em iNa-
polés, sua pátria: em annos de juventude sérvio abi em
um corpo de artilharia, e como oíBcial dessa armaassistio
ao sitio da praça de Gaeta debai^io das ordens do general
Massena. e à tomada da ilha de Gapri pelo general La-
marque. Quando se fundou a escola politechnica foi cha-
iqado a exercer nella as funcçôes de professor, sendo
depois encarregado da educação dos íilhos do rei Murat.
Os acontecimentos que vieram quebra o sceptro deste rei
soldado determinaram o exilio voluntário de D. Pedro de
Angelis, que viajou então pela Europa: acbava-se na
Suissa quando prorompeu a revolU(Ç|io de 1820 em Nápoles,
e foi pelo novo governo destinado^a occupar o cargo de
secretario de embaixada em S. Petersburgo, com uma
missão especial junto aos Soberanos que estavam reunidos
em Troppau.
A restauração da monarchia absoluta de elrei Fernando
I, decretada no congresso de Laybach. fez retirar o nosso
consócio à vida privada e ao mais desvelado cultivo das
lettras: nessa épocha tomou parte em Pariz em trabalhos
muito importantes, e notavelmente na biographia universal
e dos contemporâneos.
Em 1826, cedendo às solicitações de Rivadavia, então
presidente das Provincias-Unidas do Rio da Prata, trocou
o velho pelo novo mundo, e estabeleceu-se em Buenos-
Ayres, onde por muitos annos escreveu diversos periódicos
como orgâo official do governo até a queda do dictador
Rosas.
Sua vasta e muito esclarecida intelligencia comprehendeu
- 721 -
e apoderou-se rapidamente de todas as tèas dessa rede
inextricável da politica do Rio da Prata: nem sempre serviu
as melhores causas; mas o seu- concurso era de uma influen-
cia poderosa. O talento e a illustraçáo de D. Pedro de An-
geiis eram ao mesmo tempo uma lança e um escudo: de
ambos soube prevalecer-se o celebre Bosas, e teve mesmo
occasiáo de experimenta-los contra o Brasil. Em compen-
sação o nosso consócio aproveitou um ensejo feliz para
sustentar os direitos do império, e atacar idéas ousadas
de um estrangeiro que contemplara com inveja o gigante
do Amazonas. A sua Memoria $ohrt a navegação ão Ama-
zonas, escripta em resposta ã de Mr. Maury, official da
marinha dos Estados-Unidos, foi um serviço real prestado
à nossa pátria.
D. Pedro de Angelis deixa numerosos escriptos e me-
morias relativas a historia e politica dos Estados do Prata,
biographia de homens notáveis dessa parte da America do
Sul, além de muitos outros preciosos trabalhos que alta-
mente recommendam o seu nome. O nosso finado consócio
era membro de muitas sociedades scientificas da Europa e
da America; de unm erudição vastissima, de um saber
profundo, ninguém jamais lhe poderá negaras honras de-
vidas a uma verdadeira notabilidade.
Na provincia de S. Paulo falleceu o nosso estimado con-
sócio, o brigadeiro Bernando José Pinto Gavião Peixoto.
Tinha este cidadão em sessenta e sete annos de idade mais
de quarenta de serviços importantes prestados ao paiz.
Teve por berço pátrio esse ninho de beneméritos, de que
tanto se ufana o Brasil : nasceu na cidade de S. Paulo no
dia 17 de Maio de 1792 : foram seus pais o marechal de
campo José Joaquim da Costa Gavião « D. Maria da Annun-
ciação de Lara Pinto Gavião. Seguindo a carreira das armas
- 722 -
leve logo aos dezenove annos de provar a vida trabalhosa
e arriscada de uma campanha : nos campos do Sul do Im-
pério batalhou debaixo do commando do general D. Diogo
de Sousa, nos annos de 1811 e 1812 contra osHespanhóes.
e seu peito foi ornado com a gloriosa medalha que se
creou para galardoar os serviços dos officiaes que bem se
houveram nessa guerra.
Na épocha brilhante e faustosa da nossa independência
encontramos o nosso consócio ligado aos patriotas que se
immortalisaram trabalhando com dedicação e esforço pela
regeneração da pátria : em 1822 elle deixa seus lares e os
commodos domésticos, e marcha como commandante de
uma parte da cavallaria de S. Paulo para sustentar a causa
sagrada, e por este.e outros serviços é agraciado com a
commenda da ordem de S. Bento de Aviz, sendo não
menos honroso para o digno brasileiro o facto de haver o
Sr. D. Pedro I por occasiáo de conferir-lhe essa condeco-
ração ajuntado ainda as expressões mais lisongeiras, e que
davam testemunho da nobreza do seu proceder e do seu
caracter.
Distinguido pela amizade particular do Sr. D. Pedro I,
o nosso consócio também o foi e repetidas vezes pela con-
fiança do povo e do governo: porque exerceu o lugar
de presidente da província de S. Paulo, ainda de vice-
presidente da mesma; foi honrado com a nomeaçáo de
veador da imperial camará por Sua Magestade, e seus
comprovincianos reconhecidos o elegeram constantemente
membro do conselho do governo; e depois do acto addi-
cional membro da assembléa provincial em diversas legis-
laturas, clevando-o durante dous quatrienios ao seio da
assembléa geral.
Uma vida tão laboriosa o variada, em que o nosso con-
— 7á3 —
sócio appareceu como militar, como administrador e como
politico, não ha um único dia que lhe deixasse um remorso:
pertencendo às fileiras de um partido politico, seus pró-
prios adversários nunca pensaram em negar lhe o alto me-
recimento de suas virtudes: e se o seu nome foi menos vezes
repetido nos acontecimentos da nossa época, é que a sua
modéstia o escondia aos louvores e à gratidão dos con-
temporâneos.
Pai de familia extremoso e honrado, amigo de uma lealdade
provada e inabalável, honrado e perfeito cavalheiro, cidadão
que esqueceu sempre os próprios interesses para attender
antes de tudo e sobretudo ao interesse publico, o brigadeiro
Bernardo Josó Pinto Gavião Peixoto deixou um nome sem
mancha e uma reputação intacta.
A hora de seu passamento foi digna de sua vida cheia de
acções meritórias: morreu como devem e podem morrer
os bons: morreu plácido e sereno, o como saudando a eter-
nidade dos justos, onde lhe esperava o premio de suas
virtudes.
Também pagou este anno o tributo da morte o venerando
Nicolào Pereira de Campos Vergueiro, nosso illustrado e
respeitável consócio.
O nome deste inclyto varão está escripto nas paginas
mais gloriosas da nossa historia contemporânea: a posteri-
dade terá de marcar-lhe um lugar nobre e distincto entre
os mais beneméritos patriotas do império diamantino.
O Brasil não foi a terra do seu berço; foi porém a pátria
que elle adoptou de coração, e a que serviu com a fide-
lidade, a dedicação e o amor profundo do filho mais ex-
tremoso.
Era um vulto grandioso, um dos últimos representantes
dos nossos tempos heróicos, um dos fortes capitães da
92
i
^ 724 --
guerra santa da independência, em que foi chefe um piin-
cipe magnânimo, e exercito a nação inteira, que se levantou
briosa e enthusiasmada para conquistar a liberdade e a sua
regeneração politica: foi um dos architectos do monumento
sublime do Ypiranga, e ainda depois desde 1822 até 1859
um dos firmes mantenedores do governo constitucional do
Brasil.
Nesse longo periodo de trinta e oito annos, em que tantos
-e láo notáveis acontecimentos políticos se passaram e obras
tão grandes foram realisadas, não ha talvez um só episodio
importante desse immeuso drama em que se possa esquecer
o nome illustre de Vergueiro. Homem de três épocas, com
Q mesmo caracter e com os mesmos princípios em todas
cilas, com a mesma coragem, com a mesma decisão e a
mesma lealdade em todas as situações e circumstancias,
elle foi o denodado companheiro dos Andradas, Rocha.
Januário, Ledo, Lisboa, e tantos outros, na cruzada patrió-
tica da independência; foi o alliado fiel e prestigioso dos
Feijó, Evaristo, Paula e Sousa, Vasconcellos, Lino Couti-
nho, Honório nas lutas difiQceis que se seguiram à revolução
de 7 de Abril de 1831, e foi ainda o amigo fiel e co-religio-
nario distincto de todos esses jovens ou novos estadistas
que vieram reunir-se a elle à sombra da bandeira que foi
sempre sua, e a que nunca voltou o rosto nem se fuitou á
defeza.
A vida do conselheiro Nicoláo Pereira de Campos Ver-
gueiro foi longa, trabalhosa, e muitas vezes abalada pela
violência das tempestades politicas: mas acabou sem uma
leve nódoa que pudesse manchar a alvura de sua virtude:
impávido e calmo no meio das mais assombrosas tormentas
seguia nesse encapelado e terrível oceano o rumo traçado
por sua consciência, e a borrasca serenava emfim, e a sua
— 7á5 —
rida brilhava a todos os olhos com a pureza do mais bellii
céo em dias da mais completa bonança.
Nicoláo Pereira de Campos Vergueiro nasceu aos 20 de
Dezembro de 1778 na freguczia de S. Vicente Ferrer do
lugar de Valporto. termo naquella data da cidade de Bra-
gança no reino de Portugal.
Destinando-seá carreira das lettras, seguio estudos regula-
res, e em 1801 tomou na universidade de Coimbra ográode
bacharel em direito civil: no anno seguinte passou ao Brasil,
e est3belecea-se na província de S. Paulo, onde começou a
exercer a advocacia. Pouco tempo depois casou-se com D.
Maria Angélica de Vasconcellos, filha do capitão José Aq-
drade de Vasconcellos. senhora de uma virtude exemplar.
O joven advogado trazia da Europa as novas idéas que a
revolução franceza espalhava pelo velho mundo : a guilho-
tina dos terroristas afogava em sangue a republica da
França: mas náo pudera afogar os princípios liberaes que
germinavam em quasi todos os paizes e em todos os cora-
ções generosos. A noticia da revolução que em 1820 re-
bentara em Portugal teve um éco na província de S. Paulo,
e nomeando-se ahi um governo provisório foi chamado a
tomar parte nelle Nicolâo Pereira de Campos Vergueiro,
que jà tinha abandonado a advocacia, e se achava em Peri-^
picaba, onde com notável intelligencia fundara e desenvol-
via o seu primeiro estabelecimento agrícola.
Vergueiro acudio á voz do povo, dizendo: c Náo sei
como me sahirei; mas embora fique mal com todos, bei de
ficar bem com a minha consciência. » Estas palavras, que
elle pronunciou ao entrar no- governo provisório de S.
Paulo, revelam o segredo de toda a sua vida politica, que
consistio sempre em um voto de abnegação, e em um pro-
ceder consciencioso e integro.
— 726 —
Deputado á constituinte de Lisboa pelo voto espontâneo
dos eleitores paulistas, Vergueiro testemunha a lucta que
começa a Iravar-se entre o Brasil e Portugal, e não hesita
no partido que deve seguir: a causa do Brasil era a causa
da justiça, e sua pátria não era mais a terra em que nascera,
era a terra que o nutria, que lhe dera uma esposa, e onde
nasciam seus filhos: era a terra dos mais apertados e doces
laços do coração. A vacillaçâo não estava no caracter de
Vergueiro: dccide-se promptamente. Nomeado nas cortes
de Lisboa, a que se apresentara em Fevereiro de 1822.
para a commissão politica dos negócios do Brasil, ofifereceu
eUe um voto em separado que mereceu a honra de ser com-
batido por considerar-se a proclamação mais enérgica da
independência. Logo depois negou-se assignar a constitui-
ção portugueza, porque nella tinham sido desattendidos
os interesses e os direitos do Brasil.
Consumada a obra magestosa do Ypiranga, Vergueiro
volta á sua pátria adoptiva, e como deputado toma assento
na constituinte brasileira ; ahi assume uma posição franca
e bem manifesta entre os liberaes ; e dissolvida a consti-
tuinte, é preso com outros representantes, e conduzido à
fortaleza de Santa Cruz ; não contemplado no exilio que
coube aos Andradas e a outros, Vergueiro apenas se lhe
abrem as portas da prisão , acolhe -se ao remanso e aos
gozos suaves da vida domestica.
Em breve seus concidadãos o chamam de novo à arena
politica: deputado á assembléa legislativa e proposto a
senador pelas provindas de S. Paulo e Minas-Geraes, toma
assento na camará temporária, e apresenta ao paiz o
exemplo da mais inabalável firmeza de principios: em
1828 é de novo proposto a senador pela província de Minas,
e a escolha do monarcha v?J encontra-lo quasi moribundo
■%
— iá7 —
em consequência de umi congestão cerebral : sua robiislai
natureza, os interessantes e admiráveis cuidados de uma
esposa modelo, e os desvelos de amigos dedicados e de
ura medico habilissimo, conseguem arranca-lo á morte e
conserva-lo à pátria.
Em 1831 é o senador Vergueiro um dos signatários da
famosa representação assignada e dirigida no dia 17 de
Março ao Sr. D. Pedro I por vinte e três membros da
assembléa geral, e no dia 7 de Abril os senadores e depu-
tados existentes na corte reunidos extraordinariamente no
paço do senado elegem umi regência provisória, e nella
contemplam Nicolào Pereira de Campos Vergueiro, que
symbolisava todo o pensamento liberal, e era o centro das
sympathias do povo. O Sr. D. Pedro I tinha abdicado: a
tropa, fraternisando com o povo, estava em armas; as
offensas das noites de Março podiam despertar idéas do
vingança; o liberalismo vittorioso ameaçava arrojar-so em
calamitosos extremos: a crise era tremenda: honra porém
seja feita aos extremos chefes do partido vencedor : a
ordem foi mantida, a anarchia esmagada, e o throno cons-
itucional. sobre o qual se mostrava quasi no berço o Sr.
D. Pedro II foi sustentado pelo génio da liberdade que
velou por elle para a integridade, esplendor e gloria da
nação Brasileira.
Foi uma épocha essa de trabalhos hercúleos e de luctas
violentas ; mas então os partidos tinham fé em seus chefes,
o patriotismo era uma realidade, a confiança do povo não
esmorecia, e o desinteresse e a abnegação de muitos esta-
distas dava ao governo toda a força da virtude. O Brasil
foi salvo, a monarchia constitucional triumphou, e um dos
cidadãos que mais contribuio para essa obra de sabedoria,
um dos pilotos que mais constante lidou para livrar de um
— 728 -
naufrágio a náo do EstaJo, foi o senador Nicolào Pereira
de Campos Vergueiro, jà na regência provisória, já no se-
nado brasileiro, e ainda em 1833 como membro de om
ministério.
Em ÍHàO o nosso illustrarlo consócio sustentou a causa
da maioridade, que triumphou, e deu principio a uma
nova épocha para o Brasil.
Em 1841, S. M. o Imperador o Sr. D. Pedro II, por
occasião de sua coroação, agraciou o illustre Vergueiro
com a grâ-cruz da ordem do Cruzeiro.
Em 1842 o distincto chefe liberal achou-se compromettido
na revolta que rebentara em S. Paulo. Apesar de retirado
em sua fazenda, fez-se também recahir sobre elle a res-
ponsabilidade desse lamentável acontecimento ; mas o se-
nado reconheceu a sua innocencia, julgando improcedente
o processo que se lhe formara.
Em 1847, jà abatido pelos annos e pelas moléstias, foi
o nosso illustrado consócio chamado ao governo, e occupon
a pasta da justiça.
Dessa data em diante o conselheiro Nicoláo Pereira de
Campos Vergueiro foi pouco a pouco retirando-se dos cer-
tames parlamentares e das luctas politicas. E' certo que de
longe em longe o venerando ancião mostrava-se ainda na
tribuna da camará vitalicia, e sua voz grave e generosa
deixava ouvir um protesto a favor dosystema constitucional
e dos direitos do povo ; mas o velho guerreiro, descan-
sando dos longos e porfiados combates do passado, deixava
quasi sempre a arena politica aos novos paladins do parla-
mento : náo que a fadiga e a idade lhe tivesse feito arre-
fecer o amor da pátria ; não, que ainda por ella trabalhava.
Comprehendendo que a mais grave das nossas questões
da actualidade e do futuro, que o mais dififlcil problema a
m
— 729 —
resolver no Brasil é a colonisação, e que desse problema
depende a sua prosperidade e a sua riqueza. Vergueiro
consagrou seus últimos annos ao estudo e à experiência
dos diversos systemas de colonisaçáo, e foi um dos pri-
meiros que praticamente demonstrou os proveitos immensos
que delia se pôde colher.
Mas as enfermidades o acabrunhavam; a morte de sua
virtuosa esposa enegrecera para sempre os horizontes de
sua yida ; e o venerando ancião, depois de ter completado
oitenta annos de idade, não pôde resistir a um terceiro
ataque de febre cerebral, expirou, e hoje dorme para sempre
na terra que amou com tanto ardor.
O homem não pôde ser eterno: a morte é inevitável, e
uma vida de oitenta annos jà é um grande favor de Deos :
mas estas considerações não suffocam a dôr nem minoram
a saudade.
Nicoláo Pereira de Campos Vergueiro, velho e tremulo,
com a sua nobre cabeça coroada pela neve dos annos, com
o seu corpo dobrado pelo peso da idade, era auida assim
incansável no serviço do paiz: e o povo se ufanava de ve-lo,
mostrava-o ao estrangeiro que chegava ao Brasil, mos-
trava-o aos jovens que encetavam a carreira publica; mos.
trava-o, porque Vergueiro era uma gloria nacional.
Tão honesto na vida privada, como probo e integro na
publica, o conselheiro Nicolào Pereira de Campos Ver-
gueiro era um homem illustrado, e modesto; na camará
temporária e no senado gosou reputação de orador grave e
lógico; no governo, que aliás nunca procurou, foi sempre
desinteressado, justo e vigoroso.
Atravessou épochas difiiceis e tormentosas, mas era om
homem de convicções, e por isso nunca abandonou o seu
posto nem recuou diante da responsabilidade de suas idéas
— 730 ^
e ainda menos de seus actos. Às reacções, as borrascas
politicas toldavam o horizonte do paiz, bramiam sobre sua
cabeça ; elle porém, inabalável como o rochedo no meio
do oceano ; zombava dos furacões e da tempestade.
Vergueiro foi um verdadeiro typo da firmeza politica.
Victor Hugo observa que não é um bom elogio o dizer-
se de um homem que sua opinião politica não se modificou
no espaço da quarenta annos. Que é isso o mesmo que
dizer que para esse homem não houve reflexão nem ex-
periência.
Longe estamos de condemnar a lealdade e a consciência
com que o homem publico, abafando seu orgulho, reco-
nhece que sua opinião era um erro, e abraça francamente
a dos adversários que combatera. Ha neste proceder digni-
dade e honra, e o homem se exalta elevando-se ã altura da
verdade; mas póde-se bem conservar uma vida inteira con-
vicções profundas, e não ter que modifica-las nunca em
suas idéas essenciaes. Exemplo disso é o próprio conse-
lheiro Nicaláo Pereira de Campos Vergueiro, e tanto mais
respeitável e digno da consideração publica se tomava de-
baixo desse ponto de vista, quanto é certo que a fé politica
não é hoje uma virtude fácil de enconlrar-se, e que são
raras essas convicções inabaláveis, como são poucos os
cidadãos beneméritos da ordem do nosso finado consócio o
conselheiro Nicoláo Pereira de Campos Vergueiro.
Honra, pois, á memoria desse illustro veterano da in-
dependência!
Cumpre-nos agora, senhores, e por ultimo, contemplar
um vulto immenso, que ainda ha poucos mezes era a gloria
viva e pomposa da nossa geração, e que hoje pertence ao
passado ; cumpre-nos fallar de um homem que era o mais
brilhante pharol dascicncia, c que ficará sendo na historia
— 731 —
uma das ufanias do nosso século. Morreu longe de nós,
mas o annuncíodasua morte levou o luto aos pontos mais
afastados da terra. Era um homem que tinha nascido nas
margens do Sprée, e que de direito veio a pertencer a todas
as nações do mundo; era um ente privilegiado, para quem
pareceu pequeno o nosso planeta, e fallou aos mundos que
gyram no espaço depois de ter descido às profundezas da
terra, e esmerilhado os segredos de suas entranhas. Era um
verdadeiro sábio, náo o representante venerando de uma
ou de outra sciencia: era mais do que isso, era a encyclo-
pedia do século XIX.
Esmaga-nos a reputação, o merecimento e o nome deste
grande homem: sua biographia deve ser a obra dos sábios
que o puderem igualar, e que pelo menos delle se aproxi-
marem: nosso espirito, não podendo envia-lo sufficiente-
mente, apenas o admira: nossa boca, não podendo consa-
grar-lhe todos os merecidos louvores, limitar-se-ha a
pronunciar o seu nome, e a marcar algumas das muito im-
portantes datas de sua longa e fructuosissima vida.
O progresso espantoso dos acontecimentos humanos no
século XIX, se patentêa evidente a todos os olhos: a nossa
época ostenta o poder da intelligencia em proporções
gigantescas e desconhecidas nas precedentes idades.
E, como diz Victor Hugo, o século dos milagres da
sciencia, que faz do vapor um cavallo. da pilha de Volta um
obreiro, do fluido eléctrico um correio, do sol um pintor;
que abre sobre os dous infinitos essas duas janellas, o te-
lescópio sobre o infinitamente grande, e o microscópio sobre
o infinitamente pequeno, e encontra no primeiro abysmo
astros, e no segundo abysmo insectos que lhe demonstram
Deos; supprime o tempo, supprime o espaço, supprime a
dor; escreve uma carta de Pariz a Londres, e recebe à
93
i
- 73a —
resposta em dez minutos; afmputa a perna de um homem,
6 o homem canta e ri.
Aproveítando-se de todos os trabalhos, de todas as des-
cobertas dos séculos anteriores, o nosso, diz um outro
escriptor francez, aspira a fazer marchar com o mesmo
passo todas as categorias da sciencia; tende a uni«las em
uma synthese poderosa, da qual elle se serve como de uma
aiavanca para mover o mundo. E' sim um fim determinado,
mas não é precisamente um fim especial que tem em vista.
Háoé como no XV século, por exemplo, a descoberta de
regiões ignotas que elle presente e prepara; melhor do que
isso, é a submissão completa da matéria, é a exploração» o
conhecimento, a possessão do globo inteiro, é de algum
modo o aniquilamento do espaço e do tempo, o domínio
dos ares, da terra e das aguas, que parecem o alvo de seus
audaciosos esforços.
Em épocas de uma actividade ^cientifica tâo pronunciada,
e tujos fortes empenhos tão variados convergem todos
para um fim tão grandioso, são indispensáveis espíritos
vastos para abarcar de uma vista d'olhos a ímmensídade de
todo esse movimento, para coordenar, comparar, fecundar
os resultados obtidos, e actuar ora sobre um, ora sobre
outro, e emfun sobre todos os pontos com uma força pró-
pria engrandecida com as forças de todos.
A sciencia contemporânea conta felizmente alguns desses
interpretes admiráveis, desses homens universaes, dessas
cabeças encyclopedicas; mas nessa família de Alcides da
sabedoria, de monumentos animados da intelligencia hu-
mana, distinguia-se como o astro mais luminoso o vene-
rando Alexandre de Humboldt, que o Instituto Histórico e
Geographico do Brasil se ufanava com razão de contar
entre seus membros.
%
— 733 —
Mas cumpre dizé-io, se os triumphos do grande Hum-
boldt foram quasi todos alcançados no nosso século, é ao
século passado que cabe a honra do seu niscimento. Este
homem extraordírario teve por berço a cidade de Berliiii,
que já se ufanava áe\ tèlo sido também de Frederico o
Grande, Baungartin, de Frederico Anciilon, de Ganitz e
Tieck.
Presidio ao seu nascimento a estrella dos conquistadores.
A natureza, em um destes esforços que não se repetem
muitas vezes no correr dos séculos, produziu em um
mesmo anno dous génios, que deviam encher o mundo com
a fama de seus assombrosos triumphos.
Em 1769 Napoleão Bonaparte nascera a 15 de Agosto
em Ajaccio, e um mez depois, a 14 de Setembro, nascia
Alexandre Ilumboldt em Berlin.
Dous gigantes que tinham de realizar emprezas im-
menssas; dous conquistadores homéricos que deviam
marchar por caminhos oppostos, e immortalisar-se por
victorias admiráveis, mas de natureza diversas. Qual delles
o maior?., qual dos dous o mais potente? A sua força e o
seu génio estão nas obras que deixaram e nas proezas que
obraram.
Em qualquer dos dous a intelligencia feliz e o talento
miraculoso se annunciaram desde os primeiros annos; mas
as tendências oppostas os afastaram um do outro; e em
quanto as escolas militares de Brienne e de Pariz prepa-
ravam o vencedor de Austerlitz, as universidades de Berlin
de Gotingue, de Francfort sobre o Oder, a escola especial
de commercio de Busching, a escola das minas de Fr^her
amestravam o conquistador do (^límboraso.
Na leitura dos heróes Plutarco e nas flammas ardentes
do volcão revolucionário da França, tempéra-se a alma do
— 734 —
grande guerreiro do século; a contemplação da natureza, a
habitação em montanhas afastadas do oceano, que se fazia
desejar em uma época da existência em que a vida parece um
korixonte sem limites o estudo das sciencias naturaes, uma
rápida viagem pe!a HoUanda, Inglaterra e França na com-
panhia de George Forster. que com o capitão Cook fizera
a circumnavegação do globo, inspiram ao barão Alexandre
de Humboldt a idéa de uma viagem às bellas regiões da
zona tórrida.
Os dous génios sentem que se engrandecem.
Em 1790 Bonaparte applaude a primeira arvore da li-
berdade que se planta em Visile, e saúda a revolução que
ha de abrir-lhe o caminho para chegar ao throno; e no
mesmo anno Humboldt publica a sua primeira obra Obser^
vações sobre os basaltos do Rheno que lhe franqueia as portas
do recinto dos sábios.
Em 1793 Napoleão lança a primeira pedra do monumento
da sua gloria em Toulon; e no mesmo anno Humbodt
depois de submergido dous annos no seio das minas de
Freyberg. que tinhm de ser cantadas mais tarde pelo poeta
Kcerner, descobre os segredos da vegetação que se opera
nas cavidades onde não penetra a luz do dia, e dá ao mundo
sábio a sua segunda obra Specimen Flora subterranece Fri-
bergensis que vem firmar a sua reputação de naturalista.
Era 1796 Napoleão commanda o exercito da Itália, e vai
immortalisar-se em uma campanha admirável, e no mesmo
anno Humboldt publicava a sua terceira obra sobre o gaU
vaniemo em geral e sobre a irritação nervosa e muscular dos
animaes, que veio a dar novo brilho á bella descoberta de
Galvani sobre a electricidade por contacto; e emquanto
Bonaparte marchava de victoria em victoria, também elle
operava conquistas scientificas nessa mesma Itália, na
— 735 -
Sicília, na Suissa, em Vienna» e com Leopoldo de Buchnos
cantões montanhosos e agrestes do paiz de Saltzbovrg e da
Styria, e ia parar diante dos Alpes do Tyrol. onde ribon-
bava a artilharia.
Assim, pois, o guerreiro e o sábio tinham já as frontes
ornadas de louros, e proseguiam ambos cada um para seu
lado, cada qual para a sua gloria.
Em 1799 Napoleão atravessa o Mediterrâneo, e deixa o
Egypto para chegar a Pariz e subir ao consulado; e no
mesmo anno Humbodt, que tem passado a Hespanha,
deixa as suas praias, e atravessando o Atlântico, desem-
barca primeiro nas Canárias, escapando, como general
francez, aos navios da Inglaterra.
Na Europa o novo César conquista províncias para a
França e um reino para si : conta suas marchas por victo-
rías; vence em Marengo, em Ulm, em Austerlitz; triumpha
de dous Imperadores, elle que também jà é Imperador, e
se ostenta aos olhos do mundo no zenith do seu poder e
da sua grandeza: o ao mesmo tempo Humboldt começa e
leva ao íim uma excursão de cinco annos e de 9,000 léguas,
conquista para a geographia, para a historia e para as scien-
cias naturaes o novo mundo, completa e patentèa em toda
a sua belleza e opulência a descoberta de Christovão Co-
lombo: nada escapa a seus olhos de sábio, nada à sua am-
bição de conquistador da civilisação e do progrosso dos
conhecimentos humanos; elle apresenta á Europa o quadro
da America sob o ponto de vista da topographia, da phy-
sica, da geologia, da botânica, da astronomia, da zoologia,
e do estado moral e politico dos seus habitantes.
Durante muitos mezes visita a costa de Paris, as missões
dos Índios Ghaymas, a Nova-Andaluzia, a Nova-Barcelona»
Venezuela e a Guyana hespanhola, chega aos vales d'Ara*
- 736 -
gua, depois ás praias do mar das Anliibas , marcha de
Porto-Cjibello até o Equador, atravessando as planícies de
Calaboso, d'Âpura, e dos Ltianos: os indíos Caraíbas o reem
passar, a Jamaica e Cuba o recebem em seu seio: descansa
em Quito de cinco mezes de fadigas, saúda a terra das altas
montanhas e dos volcões tremendos, investiga a cratera do
volcáo de Pechincha, e sobe aos cumes nevados do Ântisana
e do Cotopaxi: vai além, e tenta disputar aos condores o
immenso Chin^raso; águia da sciencia, desprendeu o võo
e chega ac> pico orienta^ o mais elevado, a 23 de Junho de
1802, e estende suas vistas pela immensidade da terra»
elle, o rei do desertOr sentado n'um throno de granito a
19,500 pjs acima do nível do mar, e a 3,485 pés acima do
ponto a que chegara La-Condamine em 17^5. Depois de
visitar a mais alta daquellas montanhas, diríge-se para o
maior dos rios; desce ao Peru pelo dorso dos Andes, chega
a Lima» vai ao México, e explora os antigos domínios de
Montezuma, passa a Havana, d'ahí a Philadelphia, estuda a
America septentrional, e em fim, carregado de mil tbesou-
ros de sciencia, desembarca em França em 180i.
E o sábio sobrevive ao guerreiro. Fontainebleau e a
ilha d'Elba, Waterloo e Santa Helena já pertenciam à his-
toria, e ainda Humboldt ousava effectuar novas conquistas:
em 1829 e aos 60 annos de idade emprehende sob os aus^
picios do governo da Rússia uma outra empreza gigantesca
e ousada: é uma nova viagem em que elle vai caminho da
Sibéria e do mar Caspio, vence o Ural, chega a Tobolsk, ao
paiz dos Mongoes, visita os Kirghsk os Kalmonkos, e As-
trakan, volta pelas terras dos Cossacos do Don a Moscow,
e saúda S. Petersburgo a 13 de Novembro de 1829, depois
de ter feito em menos de um anno uma excursão de
2, li2 léguas.
- 737 —
k missão do guerreiro tinha sido mais estrondosa,
porém mais breve: em 1S15 Deos lhe disse: Basta! e
Santa Helena foi o tumulo que recebeu o heróe ainda vivo.
A missão do sábio durou noventa annos, e desses noventa,
sessenta e nove deram fructos que serio apreciados pelos
séculos futuros, como já o s5o no presente.
Humboldt foi o interprete sublime das grandes obras de
Deos : fallou aos mundos que gyram no espaço, fallou aos
oceanos, fallou as cordilheiras e às entranhas da terra, e
em toda parte descobrio riquezas e thesouros. Emquanto
Napoleão conquistava os reinos da Europa, Humboldt fazia
conquistas nos três grandes reinos da natureza; emquanto
o primeiro dictava códigos para os homens, o segundo en-
sinava as leis de Deos, arrasando os mysterios da creação
universal. Napoleão marcava coma ponta do seu gladio
novos limites aos paizes, e revolucionava a geographia po-
litica ; Humboldt enriqueceu a geographia astronómica e
physica determinando-Ihe regras que a diplomacia e a
guerra não tem o poder de destruir. Napoleão toldava os
horizontes do futuro; Humboldt os esclareceu, assim como
encheu de luz o passado, dissipando espessas duvidas que
o obscureciam. Napoleão emfim victoriava a França no fim
de cada uma de suas victorias, e Humboldt victoriava o
mundo, a humanidade, a natureza, Deos, quando um bello
triumpho, uma descoberta, um principio novo coroava suas
fadigas e seus trabalhos. Milhões de homens mal disseram
do guerreiro ; o mundo inteiro venerou e abençoou o sábio;
por elle foi um abundante foco de sciencia, e os raios de
sua laz chegaram a toda parte.
E a America e o Brasil muito deve a esse grande luzeiro
da Prússia: Humboldt foi um segundo Colombo para o novo
mundo; e sui intelligencia, mais vasfa que a do primeiro.
- 738 -
patenteou toda a magnificência da natureza americana: eile
estudou o nosso céo e o nosso solo, os nossos governos e
os nossos costumes, o nosso passado» a nossa historia, os
nossos productos e nossas riquezas. Foi o sol que nos
mostrou a toda a luz aos olhos do velho mundo: Humboldt
foi o segundo descobridor da America.
E' desnecessário enumerar aqui as suas obras numerosas
e profundas; todos as conhecem, e quem não as conhece
nunca estudou a historia da America e do Brasil.
E' desnecessário fazer o elogio desse homem de intelli-
gencia privilegiada que aos noventa annos sonhava ainda
com um novo Cosmos, e era capaz de faze-lo.
Limitar-nos-hemos a repetir as palavras de umbiographo
deste illustre sabio:
Toma-se bem diiQcil enumerar tudo o que ó o barão de
Humboldt; é porém ainda mais diílicil explicar o que elle
não é; ou não saberia realmente dizer qual dos conheci-
mentos humanos é estranho às investigações deste homem
illustre. Geographo, geólogo, physico, chimico, botânico,
philosopho, moralista e economista, homem de estado
quando é preciso que o seja. homem do mundo elegante,
e até mesmo poeta, pois que elle escreveu dous volumes
de poesia puramente descriptiva, onde brilha um sentimento
poético muito notável, conhecendo com a maior precisão
o nosso miserável e pequeno planeta, tendo estudado e ex-
plorado em todos os sentidos na superfície e no interior,
do Oriente ao Occidente. do Equador aos pólos, em suas
cavernas as mais profundas e sobre as mais elevadas mon-
tanhas, em seus mais terriveis volcóes e nos seus mares
mais tempestuosos, nos seus innumeraveis productos do
reino mineral, vegetal e animal, em seus habitantes de
todas as espécies e de todas as cores, na historia, nos cos-
— 739 —
lumes, na organisação social e politica desses mesmos ha-
bitantes, possuindo além disso um conhecimento tão com-
pleto dos phenomenos do céo como dos da terra, nãoteodo
competidor que o iguale quando se trata de determinar
uma longitude e uma latitude, observar, descrever uma
estrella, um eclipse, um cometa, e comprehender no seu
todo o movimento geral dos astros; capaz desahircom
honra de qualquer diillculdade se achasse só e abandonado
no meio do oceano em um batel em que achasse uma vela,
um leme, uma bússola e um telescópio; sabendo, em uma
palavra, de cór o seu zodiaco, seu globo terrestre e a sua
humanidade, da qual falia todas asliiiguas, o Sr. Humboldt
ainda teve tempo bastante para adquirir toda a sciencia de
um perfeito cortezão, toda a amenidade e delicadeza dos
salões, todo o conhecimento das intrigas politicas e diplo-
máticas.
Eis ahi, senhores, o illustre Frederico Henrique Ale-
xandre, barão de Humboldt, que aos 9Q annos de idade,
mas ainda vigoroso, e com todo o fulgor de sua miraculosa
intelligencia, a morte arrebatou ao mundo no mez de Maio
do corrente anno.
A agonia do sábio encheu de amargura, e o seu passa-*
mento cubrio de luto todos os povos civilisados.
Em seu funeral foram-lhe tributadas subidas honras, que
deram testemunho do alto apreço em que devidamente era
tido.
Eis a concisa noticia que dessa triste solemnidade pu-
blicou um dos jornaes da Europa.
t Berlim, terça-feira, 10 de Maio, às 9 horas da manhãa.
c O solemne préstito fúnebre de Alexandre de Humboldt
vai seguindo para a cathedral. Tudo o que representa a
sciencia, a arte e a intelligencia em Berlim toma parte neste
U
i
- 740 -
grave acompaQhameDto. Três camaristas do paço em
grande uniforme» levando as insigmas das ordens do illustr^
finado» precedem o carro funerário que vai puxado por
seis cavalios das cavallarias da casa real. Sobre o carro
Tè-se um simples ataúde de nogal adornado de flores de
louro. Aos lados do carro marcham os estudantes com
palmas verdes nas mSos. Uma fileira immensa de carros
fecha o préstito. O príncipe regente e todos os príncipes e
príncezas se acham reunidos à porta da Sé esperando a
chegada dos restos mortaes do grande philosopho. O luto
ccòvQ toda a cidade. »
Senhores» devemos parar aqui. Depois de ter contem-
plado o tumulo deHumboldt, não nos é licito passar além.
APPfiNDlCE
AO RELATÓRIO DE 1859.
OBAaS, impressos, MANUSGRIPTOS, OFFBREGIDOS \6 INSTITUTO
HISTÓRICO NO ANNO DE 1859.
Uinisíerio do Império.
1859 JuUio 1. Relatório apresentodoà Âssembléa Geral
Legislativa na 3 /sessão da 10/ Legislatura pelo Ministro
e Secretario d'Estado dos Negócios do Império Sérgio
Teixeira de Macedo. —(1 exemplar in folio).— Rio de Ja-
neiro 1859.
1859 Junho 3. Relatório que ao Exm. Sr. Presidente da
provincia do Paraná Dr. Francisco Liberato de Mattos
apresenta o Dr. Joaquim Ignacio Silveira da Motta, Ins-
pector Geral da Instrucção Publica da mesma provincia.
(2 exemplares).— Corytiba 1859.
i8o9 Maio 20. Relatório da directoria da Instrucção Pu-
blica da provincia do Paraná. — (lexemplar in8.').—
Corytiba 1859.
MinisUrio do Império.
1859 Maio 20. Relatório do Presidente da provincia de S.
Pedro Angelo Muniz da Silva Ferraz, apresentado ã
Âssembléa da mesma provincia em 1858.— (1 exemplar
in 4/)
Idem. Documentos annexos. (1 exemplar in i."")
i85a Agosto 6 Relatório com que o Exm. Sr. Conselheira
— 742 —
Angelo Muniz da Silva Ferraz entregou à presidência da
província de S. Pedro do Rio Grande do Sol, ao 2." Vice-
Presidente o Exm. Sr. Commendador Patrício Corrêa da
Camará no dia 22 de Abril, e este ao R\m. Sr. Conse-
lheiro Joaquim Antão Fernandes Leáo em 4 de Maio oe
1859.— (1 exemplar, folio).— Porto- Alegre 1859.
1859 Maio 20. Falia recitada na abertura da Assembléa
Legislativa da província da Bahia, pelo Presidente da
mesma provinciâ Francisco Xavier Paes Barreto. --{1
exemplar in 4.^).— Bahia 1859.
I85& Junho 17. Relatório com que foi entregue a admi-
nistração da província de Sergipe no dia 7 de Março de
1859 ao Exm. Sr. Dr. Manuel da Cunha Gah^ão pelo Exm.
Sr. Dr. João Dabney de Avellar Brotero.— (1 exemplar
ini.*)— Sergipe 1859.
1859 Maio âO. Falia dirigida a Assembléa Legislativa das
Alagoas pelo Presidente da província o Exm. Sr. Angelo
Thomaz do Amaral em 1858. — (3 exemplares in 8.').
1859 Agosto 26 Relatório que a Assembléa Legislativa
Provincial do Rio Grande do Norte apresentou no dia 1 4
de Fevereiro de 1859. por occasião de sua ínstallaçío.
o Exm. Sr- Presidente da província Dr. António M. N.
Gonçalves.— (1 exemplar folio). —Maranhão 1859.
1859 Maio 20. Relatório do Presidente da província do
Maranhão Dr. João Lustosa da Cunha Paranaguá.— (1
exemplar).— Maranhão 1859.
1859 Maio 20 Relatório do Vice-Presídente da província
do Pará Dr. Ambrósio Leitão da Cunha, apresentado a
Assembléa Legislativa da mesfiia província era 1858.—
(2 exemplares in 4.°).
1859 Maio áO. Relatório lido pelo Exm. Vicc-Prcsidente da
província du Pará Dr. Ambrósio Leitão da Cunha na
- 74:3 -
abertura da Assembléa Provincial em 15 de Agosto de
1858.— (1 exemplar in &."").
1859 Maio 20. Relatório que a Assembléa Legislativa doAma-
zonas em 1858 apresentou o Presidente da dita provinda
em sua sessão ordinária.— (1 exemplar). —Manaos 1858.
1859 Maio 20. Relatório apresentado a Assembléa Legis-
lativa Provincial de Goyaz na sessão de 1858 pelo Presi-
dente da provincia Dr. Francisco Januário da Gama Cer-
queira.—;! exemplar in 4. •).— Goyaz.— Documentos
annexos.
1859 Setembro 9. Relatório apresentado a Assembléa Le-
gislativa de Goyaz, na sessão ordinária de 1859. pelo
Exm. Presidente Dr. Francisco Januário da Gama Cer-
queira.—(1 exemplar)* — Goyaz 1859.
1859 Maio 20. Relatório que à Assembléa Legislativa de
Minas-Geraes apresentou na abertura da mesma o Presi-
dente o Exm. Sr. Carlos Carneiro de Campos. — (2 exem-
plares).-Ouro-Preto 1858.
1859 Junho 17. Falia que a Assembléa Legislativa Provin-
cial de Minas-Geraes dirigio no acto da abertura da sessão
ordinária de 1859, o Dr. Ignacio Delfino Ribeiro da
Luz !.• Vice-Presidente.— (1 exemplar in 4.*)— Ouro-
Preto, 1859.
1859 Maio 20. Discurso com que o Presidente da pro-
vincia de S. Paulo, Conselheiro José Joaquim Fernandes
Torres abrio a sessão da Assembléa Legislativa da mesma
provincia.— (1 exemplar in 4." ).— S, Paulo 1859.
Idem. Documentos (1 exemplar folio).
1859 Setembro 9. Relatório com que o Illm. Exm. Sr.
Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres, Presidente
da provincia de S. Paulo passou a administrarão da pro-
vincia ao Illra. e Exm. Sr. Vice-Presidente Dr. Hypolito
I
— lífi —
José Soares de Sousa, no dia 6 de Junho de LjK^.— (1
exemplar).— S. Paulo 1859,
Ministério de Siír§ngeiros .
18o9 Agosto 26. Relatório da RepartiçiQ dos Negócios
Estrangeiros, apresentado à A^sembléa G^ral Legislatifa
na 3.' sessão da 10/ Legislatura pelo reupectivo Ministro
o Exm. Sr. Conselheiro José Maria áâ Silva Paranhos.
(1 vol. folio).— Rio de Janeiro 1859,
Idem Anneio ao mesmo Relatório (1 vol. folio).
Ministério da Guerra,
1859 Maio 20. CoUecçâo de desenhos das figuras e deta»
lhes que designam os diflerentes uniformes para todos os
corpos do exercito, em virtude do aviso do Ministério
da Guerra de 8 de Abril de 1858, mandou o Exm. Sr.
Tenente General Barto de Suruhy.— Lithographado e
impresso em cores. Bio de Janeiro 1859 (vols... in
folio max).
Idem Tabeliãs das distancias entre os pontos mais notáveis
da cidade marcadas em palmos, passos, e tempo, orga-
nisadas pela Commissão do completamento da planta da
cidade— 1859.— (Rio de Janeiro) 1 exemplar.
1859 Junho 17 Relatório apresentado á Assembléa Geral
Legislativa na 3.' sessão da 10.« Legislatura, pelo Minis-
tro e Secretario d'Estado dos Negócios da Guerra Ma-
noel Felizardo de Sousa e Mello. Rio de Janeiro 1839.
(i vol. folio).
— 7/i5 —
Stíhisterio da Marinha.
1859 Junho S. Relatório apresentado a Assembléa Geral
Legislativa na 3/ sessão da 10.' Legislatura, pelo Mi-
nistro e Secretario d'Estado dos Negócios da Marinha
o Sr. Visconde de Abaete. — Rio de Janeiro, 1859. ( 2
exemplares in folio.)
Presidência de Santa Calhar ina.
1839 Maio 20. Falia que o Presidente da provincia de
Santa Catharina Dr. ioão José Coutinho dirigío á Assem-
bléa Legislativa Provincial no acto da abertura da sessão
de 1859. Santa Catharina, 1859. (1 exemplar).
1859 Novembro i. Relatório apresentado ao Exm. Vice-
Presidente da provincia de Santa Catharina o Dr. Speri-
dião Eloy de Barros Ktoentel, pelo Presidente o Dr. João
José Coutinho, por occasíão de passar-lhe a administra-
ção da mesma provincia em 23 de Setembro de 1839.—
Desterro— 1859. (1 exemplar).
Presidência do Rio de Janeiro.
1859 Outubro 7. Relatório apresentado ao Exm. Presidente
da provincia do Rio de Janeiro o Sr. Dr. Ignacio Fran-
cisco Silveira da Motta, pelo ex-PresiJente o Dr. João de
Almeida Pereira sobre a administração da mesma pro-
vincia.—Nitheroy—185i (1 exemplar folio).
Idem. Relatório apresentado á Assembléa Legislativa Pro-
vincial do Rio de Janeiro na 2.* sessão dal3.' Legislatura,
pelo Presidente Dr. Ignacio Francisco Silveira da Motta
— Nitheroy— 1859 (1 exemplar folio).
Idem. Orçamento da Receita e Despeza da província do Rio
de Janeiro para o exercício de 1860.— Rio de Janeiro—
1839 (1 exemplar in A.**).
Idem. Regulamento da Directoria da Fazenda da província
do Rio de Janeiro. —Rio de Janeiro— 1859 (1 exemplar
in 4.*).
Idem. Balanço Ja Receita e Despeza da província do Rio de
Janeiro no exercício de 1858.— Rio de Janeiro— 1859
(1 exemplar ia folio).
Idem Regulamento da Secretaria do Governo da província
do Rio de Janeiro (1 exemplar in 8.*»).
Presidência do Espirito Santo,
1859 Novembro A Relatório do Presidente da província
do Espirito o Bacharel Pedro Leáo Velloso, na abertura
da Assembléa Legislativa Provincial no dia 25 de Maia de
1839— Victoria— 1859 (1 exemplar).
Presidência da Provinda de Sergype,
1839 Outubro 21 Relatório com que foi aberta a 2.' sessão
da duodécima Legislatura da Assembléa Provincial de
Sergype, no dia 27 de Abril de 1859 pelo Presidente
Dr. ManoeldaCunhaGalvâo.— Bahia— 1859 (1 exemplar)
Presidência de Pernambuco,
1859 Julho 1 Relatório com que o Sr. Conselheiro José
António Saraiva abrio a sessão ordinária da Assembléa
Legislativa doesta província no 1.° de Março de 1859.—
Pernamburo— 18.59 (1 exemplar in folio).
■%
- 7A7 -
Presidência da Parahyba do Norte,
1859 Agosto 26. Relatório apresentado ao Illm. eE&m.
Sr. Dr. Ambrósio Leitão da Cunha no acto de tomar
posse do cargo de Presidente da provincia dâ Parahyba
do Norte por Henrique de Beaurepaire Rohan. ^Para-
hyba—1859 (l exemplar).
Idem Relatório apresentado a Assembléa Legislativa da
Parahyba do Norte pelo Presidente da província Dr.
Ambrósio Leitão da Gunha em 1839.— Parahyba— 1859.
(1 exemplar folio).
Presidência do Maranhão,
1859 Setembro 9. Relatoriot que a Assembléa Legislativa
Provincial do Rio Grande do Norte apresentou no dià
l/l de Fevereiro de 1859. por occasião de sua installaçâo,
o Exm. Sr* Presidente da provincia Dr. António M. N.
Gonçalves. (1 exemplar).— Maranhão.
Presidência do Grúm-Pará*
1859 Novembro 18. Falia dirigida a Assembléa Legislativa
da provincia do Pará na segunda sessão da 11.* Legis-
latura pelo Exm. Sr. Tenente -Coronel Manoel de Frias e
Vasconcellos, Presidente da mesma provincia em 1 de
Outubro de 1858. (1 exemplar).— Pará 1859.
Presidência do Paraná.
1859 Maio 20. Relatório do Presidente da provincia do
95
— 7Í8 -
Paraná Francisco Liberato de Mattos, apresentado n.l
sessão em 1858. (1 exemplar i.*)
1859 Junho 17. Relatório do Presidente da prorincia do
Paraná Francisco Liberato de Mattos na abertura da
Assembléa Legislativa Provincial em Janeiro de 1859.
(1 exemplar ín 4.*)
1859 Junho 3. Relatório do Presidente da provincia do
Paraná Francisco Liberato de Mattos na abertura da
Assembléa Legislativa Provincial em 7 de Janeiro de
1859. (1 exemplar in 4.*).— Curytiba 1859.
1859 Agosto 26. Relatoriodo estado da provincia do Paraná
apresentado ao Presidente o Exm Dr. José Francisco
Cardoso pelo Vice-Presidente Luiz Francisco da Camará
Leal, por occasião de lhe entregar a administração da
mesmo provincia. (1 exemplar folio).— Corytiba 1859.
1859 Agosto 26. Collecçáo de Leis e Decretos da provincia
do Paraná, (o Tomo VI).— Corytiba 1859.
Academia de Batavin.
1859 Maio 20. Tydschrift voor Indiscbc Taal, LanJ en
Wolkenkunde witgegeven doori lIcl Bataviaasch Genoots
chappen. (o n"').— Batavia 1856.
1859 Maio 20. Verhandelingcn van Het Bataviaasch Ge-
nootschap van Kunsten em Wetenschappen. (1 vol. in
4.^).— Balavia 18o/i— 1857.
Sociedade de Geographia de Pariz,
l838Maio20.BijlhetindelasocietédeGéographic, redige par
M.de la Roquete. (Tomos IV e XVI), —Pariz 1852 1858.
í^
^ 7i9 -
Observatório Astronómico de Munich.
1859 Outubro 21. Observationes astronomicae in Specttla
Regia Monachiensi institutae. (Vol. 1 a 15.)
Idem. Annalen fur Meleorologie und Erdmagnetismus.
(Fascículos 1 a 12.)
Idem- Jahrbuch der KoniglichenSternwarte bei Munchen.
(1838—1841.)
Idem. Âstronomischer Kalender fur das Kooigreiche Bajr-
crn. (1850-1853.)
Idem. Verzeichnissder vorzuglichesten io Konigreiche
Bayern gemessenem Hohenpunkte, &.
Idem. Jahresbericht der Munchener Sternwarte. (1852—
1854.)
Idem. Annalen der Koniglichen Sternwarte bei Munchen.
(Vol. 1 a 10.)
Idem. Beobachtugen der meteorologischen observatorium3
auf dem Hohenpeissemberge von. (1752—1850.)
Idem. Supplementbaud zu den Annalen der Munchener
Steruwarte. (1752-^1850.)
Idem. Resultate des Magnetischen obscrvatoriums in Mun-
chin wahrend der dreijahring periode. (18A3--44--45.):
Idem. Bestimnugemi der Horizontal-Intensitat des Erd-
magnetismus nach absoluta.
Idem. Beschreibung der and. der Munchener Sternwarte
zu den Beobachtungen verwendeten neum Instrumente
und Apparate.
Idem. Magnetische Ortsbestimmuogen an versehiedienem.:
Punkten des Kornigreich Bayern und and einigem aus-
wartigen Stationem. Munchen (1854—1856). — 2voK
in-8.«
Idjem. Magnetische Karten von Deutschland. und Bayern.
^ 7&0 —
IJcra Unter si^hungen uber die Richtuag uaJ Starke Jes
Erdmagnetismiis an verschiedenen Pankten des Sud^
estUehes Europa. (1858)--1 vol. in-folio.
Sociedade de Sciencias Naíuraes de NeucháíeL
1859 Novembro A. BuUetin de la Société des Sciences Na-
toreUes de Neuchalel-1846, 1847 a 1852, 1853 a 1855,
1856 a 1858 (4 vol in-8.«)-Neuchatel 1847—1858.
lem. Memoire de la Sociétc des Sciences Naturelles de Neu-
chatel (3 vol. in-4.* grande).— Neuchatel l83ft— 4846.
Ensaio Philosophico Paulistana-
1869 Agosto 26. Revista Mensal do Ensaio Philosophica
Paulistano (l.'^n.^..) S. Paulo, 1859.
Charles Rikeyrolles.
1^859 Maio 20. Brasil Pittoresco, Historia. Descripções.
Viagens, Instituições, Colonisação: por Charles Ribey-
roUes ; acompanhado de um Álbum de vistas : por
Victor Frond (l.* vol in-folio pequeno)— Rio de Janeiro.
1859.
Bernardino José de Senna Frei las.
185? Maio íM) Uma viagem ao Valle das Furnas na Ilha de
S. Miguel em Junho de 1840, por Bernardino José de
Senna Freitas (1 vol. in-i.*)— Lisboa » 1845.
~ 751 ~
Jtf. Archanjo dal tão.
1859 Maio 30. pizima da Chancellaria, Reflexões sobre a
Historia e Legislação desta renda e sua arrecadação até
1835-1856 (1 Yol in-S.*»)— Rio de Janeiro, 1858.
Official Maior da Secretaria da Catnara dos Deputados.
1859 Maio 20. Annaes do Parlamento Brasileiro (5 vol.
in-*.')— Rio de Janeiro, 1857.
José Correia da St lia Titara.
1839 Maio 20. Relatório acerca da instrucção Publica das
Alagoas relativamente ao anno de 1833. (1 exemplar.)
Idem. Dito, dito de 1855 e 1857 (á exemplares).
3f. De Áveiac.
1859 Maio 20. Les voyages de Améric Vespuceau compte
de TEspagne et les mesures ilinéraires employés par les
marins Espagnols et Portuoais des XV et XVI siecles ;
par M. D^Avezac (1 vol. in-8.*).— Paris. 1858.
• Francisco António Pessoa de Barros.
1859 Maio 20. Rodolpho ou o Louco Assassino, por Fran-
cisco António Pessoa de Barros (1 vol. in-8.*).— Per-
nambuco. 1838.
— 752 —
Dr, B. Mariin de Moussy.
t859 Maio 20. La Confederacion Argentina. Quadro Geo-
gráfico y descriptivo completo, por el Dr. D. Martin de
Moussy (1 vol in-4.*),— Coucepcion dei Uruguay. 18a9.
Dr, César Augutío Marquei,
18o9 Maio 20. Biograpbia do Illustre Piauhyense Dr.
Francisco de Sousa Martins. (Publicado no n. 8. do E*.-
pectador de 8 de Outubro de 1858.)
Constantino do Amaral Tavares,
IS,")» Maio 20. Elogio Dramático composto para ser repre-
sentado no Theatro do S, Joáo da Bahia, no dia 2 de
Julho de 1857, pelo i." tenente da armada Constantino,
do Amaral Tavares (i vol).— Bahia. 1857.
Fcrdinand Denis,
18S9 Maio 20. Do la vocation ou moyen d'attcindre sa fia
dans Ic mariage et dans la vie parfaite. par M. Luqnel,
Évéque d^Hésèbon (o 2." vol).— Paris. 1837.
Giovani Baptista Adriant.
1859 Junho 3. Memorie delia vita e dei Tempi di Monsi-
gnor Gio Secondo Ferrero Ponziglione Referendário
Apostólico, perGiovani Baptista Adriani. (1 vol. folio) —
Torino, 1836.
— 753 —
ISíJd Junho 3. Moaumenli Storico-Diplomatici degli Ar-
chivi Ferrero-Ponziglione e di altre nobile Case Subal-
pine dalla fine dei secolo XII ai principio dei XIX, ra-
coUi et iliustrati per Giovani Baptista Adriani. (1 vol.
folio) — Torino. 1858.
Conselheiro Joaquim Maria Nascentes de Azambuja.
1859 Junho 3. Exposicion hecha en 18 de Noviembre de
1853 ai ciudadano Presidente de la Republica, por Lo-
renzo Maria Lleras, Secretario de Estado en el Despacho
de Relaciones exteriores, sobre los Tratados de araistad
i limites, d:c., celebro conS. Ex. el Seiior Miguel Maria
Lisboa, Ministro Residente dei Brasil, coaun mapa. (1
vol. in 8.*) — Bogotá.
Dr Emílio Joaquim da Sika Maia,
1839 Junho 17. Quadros synopticos do Reino animal, por
E. J. da Silva Maia. { 1 vol. folio) — Rio de Janeiro.
Dr, Alexandre José de Mello Moraes.
1859 Junho 17 e Outubro. Corographia Histórica, Chro-
nologica Nobiliária e Politica do Império do Brasil, pelo
Dr. A. J. de Mello Moraes. (1." e 2." vols. in 4.') — Rio
de Janeiro.
Emilio Adet.
1859 Junho 17. Zootechnia applicada. — O cavallo, raças,
producções, creaçáo, hygiene exterior; por Emilio
Adel. (1 vol. in 8.*) — Rio Je Janeiro.
— 754 —
fi. de Mattos.
1859 Janho 17. Almanach da província do Maranhão, por
B. de Mattos. )1 vol. in 8/) — Maranháo, 1859.
Eduardo de Faria.
1859 Junho 17. Novo Diccionario da língua portugueza,
seguido do diccionario de synonímos, por Eduardo de
Faria, diversos fascículos. (2 exemplares) Rio de Janeiro.
António Alves Pereira Coruja.
1859 Agosto 26. Catalogo geral da bibliotheca publica da
Bahia. (1 vol. in 8.-) — Rahia, 1859.
Dr. Carlos F. F. de Martius.
1859 Agosto 29. Dinkrede anf Christian Samuel Beit Cari*
F. Phil.-Martíus. (1 vol. foi.) - Munich, 1856-
Thomas Earl Dundonal^ G. C. B.
1859 Julho 1. Narrative of servíces in the libei*ation of
Chile, Peru, and Brasil. (2 vols. in 8.')— London, 1859.
João Cardoso Ferraz de Miranda.
1859 Julho 1. Relatório acerca de alguns estabelecimentos
de beneficência existentes cm Londres, Paris, Belgic^i e
Roma» por Joáo Cardoso Ferraz do Miranda. (1 vol. in
8.^) - Lisboa. 1857.
João de Sousa Moreira,
1859 Julho 15. Ensaio sobre os seguros da vida, ou
breves considerações acerca de sua utilidade, objecto e
desenvolvimento e theorias de seus cálculos,— por
João de Sousa Moreira. (I vol. in 8.0). — Rio de Ja-
neiro 1859.
Desiderio José da Cosia Tibau,
1859 Julho 15. A nova medicina fundada sobre a lei fun-
damental da natureza, ou segundo os cinco principies
que constituem a natureza humana para conhecer o prin-
cipio da vida, por Desiderio José da Costa Tibau. (1 vol.
in 8.0).— Rio de Janeiro 1859.
Joào Wilkens de Mattos,
l'8õ9 Agosto 6. Relatório sobre o estado dos índios da
provincia do Amazonas, por João Wilkens de Mattos,
Director Geral. (1 vol. inA.'»).— Amazonas 1859.
Casimiro Lieutaíid.
1859 Setembro 9. Tratado completo da conjugação dos
verbos francezes regidares e irregulares, por Casimiro
Lieutaud. (1 vol. in 8.»).— Rio de Janeiro 1859.
M. F. Maury,
18;i9 Setembro 9. Astronomical observations made du-
ring the years 18i9 and 1850 at the U. S. Naval Obser-
96
— 756 —
valory, Washington &c. by M. F. Maury. (o5.o vol. folio)
Washington 1859.
Henrique de Beaurcpaire Rohan.
1859 Setembro 9. Correspondência oíTicial da presidência
da provincia da ParahyLa do Norte. (1 vol. folio, pcq.)
José António fíodrigues.
1859 Setembro 9. Aponlamenlos da população, topo-
graphia e noticias chronologicas do municipio da cidade
de S. Joio d'El-rei, provincia de Minas-Geraes, por José
António Rodrigues. (1 vol.).— S. Joãod'El-Rei 1859.
Dr. Brax Florentino Henriques de Sousa.
1859 Setembro 23. O casamento civil e o casamento reli-
gioso, exame da proposta do governo apresentada á ca-
mará dos Deputados na sessão de 19 de Julho do anno
passado, pelo Dr. Braz Florentino Henriques do Sousa.
(1 vol. in-8.'\ -Recife 1859.
A, Stsson.
1Q59 Setembro 23. Galeria dos Brasileiros illustres, le-
tratos dos homens mais illustres do Brasil na politira,
sciencias e lettras, desde a guerra da Independência at»^
aos nossos dias. copiados do natural c litographados por
S. A. Sisson. (diversos ns. om continunção do lO.";. —
Rii» ih' Jnneiro 185S.
- 757 -.
P. A. de Lavallc.
1859 Outubro 7. Dom Pablo de Olavide— Apurites sobre
su vida y sus obras por P. A. de Lavalle (1 vol. in 4.»)—
Lima, 1859.
Dr. António Maria de Miranda Castro.
Idem. Capital, circulação e bancos &c, por James Wilson,
traduzido pelo Dr. Luiz Joaquim de Oliveira e Castro
(1 vol. in8.°)— Rio de Janeiro. 1860.
Idem. Tratado pratico dos bancos por James William Gil-
bart, traduzido polo Dr. Luiz Joaquim de Oliveira e Castro
(3 vols. in S.^^j—Rio de Janeiro, 1859.
Jo$é A . de Lavalle.
Idem. Proyecto de conslilucion politica escrito por el Sr.
D. Felipe Pardo. & com algunas cxplicaciones y com-
mentarios por José A. de Livalle— segunda edicion —
(1 voL in8/)-Lima. 1859.
T*. L. Baril, comte de la llure.
1859 Outubro 7. Colonisatiou ~- Príncipes pour la fon-
dation de colonies au Brésil, par V. L. Baril, comte de*
la Ilure. (1 vol. in8.^)— Rio de Janeiro, 1859.
J. B. Barla.
Idem. Les Cbampignons de la [>roviucc de Nice et prin-
cipalcmenl les espèces comestibles, suspectcs ou véné-
— 758 -
neases, par J. B. Biirla.— Orne de 48 planches lithogra-
phiées et coloriêes. (1 vol in 4.* grande oblg. nitida-
mente encadernado)— Nice, 1859.
SIanoel de Araújo Porío-Alegre.
1859 Outubro 21. Documentos, relatório e notas relativas
á exposição de Agricultura, realisadas nos dias 12, 13 e
lA de Julho de 1857, e promovida por uma commissão
da Sociedade Agricola do Porto colligidos pelo Dr. José
Fructuoso Ayres de GouvéaOsono (1 vol. in8.')— Porto,
18S7.
1859 Maio 20. Cartas acerca da [)rovincia de SanUi Catha-
rina (1 vol. in folio)— Santa Catharina, 1857.
Innocencio Francisco da Silva,
1859 Outudro 21. Diccionario bibliographico portuguez,
estudos de Innocencio Francisco da Silva applicaveis a
Portugal c ao Brasil (2 voIs.inS.*^)— Lisboa, 1858—1839.
M. F, Maury.
1859 Novembro 18. Explanations and sailing Directions
to accompany the wind and currcnt chart approved by
Capitain D. N. Ingrahani &c. By M. F. Maury. 1 vol.
in 4.* ío 2.*^)— Washington. 1859.
José Joaquim Rodrigues Lopes.
idem. Plani-Hisloria Resumo Synoptico-llistorico-Genea-
logico do império do Brasil, do Reino de Portugal edas
— 750 —
Famílias Reinantes n^esles paizes, oíTerecido à S. M. o
Sr. D. Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor
Perpetuo do Brasil, e a S. M. F. o Sr. D. Pedro V, Rei
de Portugal e dos Algarves, por José Joaquim Rodrigues
Lopes (1 vol. in folio)— Pernambuco, 1858.
Francisco Evaristo Leoni.
1859 Novembro 18. Génio da LinguaPortugucza ou causas
racionaes e physiologicas detodas as formas e derivações
da mesma Lmgua &c, por Francisco Evaristo Leoni (2
vols. in 8.«)--Lisboa, 1858.
Dr. Francisco ^osi da Rocha,
Idem. 3 números do Jornal da Bahia de Outubro doeste
anno em que se publicou o Itinerário deS. M. o Impera-
dor á Cachoeira de Paulo Affonso.
Anonymo.
1859 Agosto 26. Faits de Tesprit humaine — Philoso-
phie— parD. J.G. de Magalhães, traduit duPortugais par
N. P. Chansselle (1 vol. in 8.°)— Paris, 1859.
MANUSGRIPTOS
Ministério dos Negócios Estrangeiros.
1859 Novembro í. Catalogo dos mappas da Secretaria
d^Estado dos Negócios Estrangeiros.
— 760 —
Manoel de Araújo Porto Alegre.
1859 Maio 20. Relação dos magníficos carros que se fizerâo
de architectura, prospectiva c fogos, os quaes se execu-
taram por ordem do Illm. Exm. Sr. LuizdeVasconcellos,
Capitão-general de Mar e Terra, Vice-Rei dos Estados do
Brasil, nas festividades dos desposorios dos Sereníssi-
mos Srs. Infantes de Portugal n'esta cidade do Rio de
Janeiro cm 2 de Fevereiro de 1786.
Conselheiro Joaquim Maria Nascentes de Azambuja.
1839 Junho 3. Parecer favoravel do Sr. Barão de Humboldt
sobre os tratados de limites celebrados pelo Ministro
Brasileiro o Sr. Miguel Maria Lisboa com as Republicas
de Venezuela e Nova Granada Original.
Idem. Peças do Processo do António José. ( que perten-
ceram ao Desembargador Silva Pontes. )
Idem. Copia do Itenerario di viagem que fez ao Baixo
Paraguay por ordem do Sr. Marquez de Caxias, o Cnipitão
da 2.* classe do Estado Maior, Manoel Joaquim Pinto
Pacca.
A, D, d^ Pascuah.
I8Õ3 Maio í20. Apuntes gêographicos-descriptivos sobre
el Gran-chaco Gualambâ, por Adadus Calpe— Rio de
Janeiro 1853.
Henrique de Beaurepaire Rohan.
18Õ0 Agosto 26. Catalogo dos Governadores e Presidentes
— 7G1 — •
da provinda da Parahyba do Norte ( coiUinuaçâo do
que SC acha impresso na Revista Trimcnsâl a pag. 81,
do tom. 1/ da 2.* serie de 1656. )
Dr. Cláudio Luiz da Costa.
1859 Outubro 7. Doscripçãoda Villa do Lagarto feita pelo
Monsenhor António Fernandes da SiWeira.
— 763 —
SÓCIOS CORESIPONDENTES
APPROVADOS EM 18o9.
A. D. Pascual.
António Marianno de Azevedo.
Padre Lino do Monte Carmelo Luua.
Braz da Costa Rubim.
Francisco Ignacio Marcondes Homem de Mello.
Capitão Mar e Guerra Lourenço da Silva Araújo Amazonas.
Rodrigo José Ferreira Bretãs.
Reyband.
Ceroni.
97
ÍNDICE
GERAL ALPHABETICO
DAS
HEMORUS D0C1]HE1!1T0$ E BIOGRAPHUS
PUBLICADOS NOS
VOLUMES 1 A 22 D\ REVISTA
DO
IUSTITIJTO HISTÓRICO E «EOGRAPHICO
BRA01I.E1RO
1839 A 1859.
Abrantes (Marquez d') Qual a origem da cultura e com-
mercio do Anil entre nós e quaes as causas do seu pro-
gresso e da sua decadência?— iProgramma desenvolvido
pelo Sr...» Vol. 15, pag. 42.
Abreu (Capitão Manoel Joaquim de-) Diário Roteiro do
arraial do Pesqueiro de Arauary até o rio Oyapoko. Vol.
12, pag. 96.
Acauã (Dr. Benedicto Marques da Silva) Relatório dirigido
ao Governo Imperial em 15 de Abril de 18í7, sendo
Inspector geral dos terrenos diamantinos da provincia da
Bahia. Vol. 9, pag. 227.
Actas das sessões do Instituto Histórico e Geographico
Brasileiro de Dezembro de 1838. Vo'. 1, pag. 48.
Idem de 1839. Vol. 1.-, pags. 49, 131, 235, 8*2.
Idem de 18A0. » Z\ » 136. 239. 391, 5U.
Idem de 1841. . 3.*, » 119, 227, 347, 436.
— 766 —
Idem de 18^2.
Vol
à.'.
pag-
95. 213.
379, 519,
Idem de 1843,
f
5.«.
1
88, 239,
355, 499.
Idem de 1844.
»
6.'.
»
lá3. 253.
37á. 498.
Idem de 1845.
D
7.'.
>
116. 263,
413. 539.
Idem de 18^6.
I
S.\
»
144. 284,
402. 347.
Idem de 1847.
»
9.'.
>
127. 265.
409. 360.
Idem de 1848.
I
10.
»
120. 2/i6,
390. 547.
Idem de 1849.
9
12.
>
277. 413.
530.
Idem de 1850.
»
13,
1
i'iS. 406.
518.
Idem de 1851.
»
13,
>
461.
2A8.
Idem Ce 1852.
1»
17.
»
70.
Idem de 1853.
)>
17.
»
74. 577.
Idem de 1854.
D
17.
»
583.
Idem de 1835.
18.
>
418.
Idem de 1856.
19.
>
1, suppl.
87. suppl.
Idem de 1837.
20.
»
1. suppl.
Idem de 1858.
21.
>
Ji69.
Idem de 1859.
22.
»
635.
Alencastre (José Martins Pereira de.. .)— Memoria chronolo-
gica, histórica e corographica da província do Piauhy,
Vol. 20, pag. 5.
Alencastre — Mappa estatistico das fazendas nacionaes em
1854. Vol. 20, pag. 60.
Alencastre — Mappa das cadeiras de instrucção primaria e
secundaria da província em 1854. Vol. 20, pag. 75.
Alencastre — Quadro da Guarda Nacional da província.
Vol. 20, pag. 82.
Alencastre — Notas. Vol. 20, pag. liO.
Alincourt (Luiz d') oíTicio do engenheiro—,, em 10 do
Novembro de 182i, contendo noticias interessantes
sobre a parte meridional da província de Matto-Grosso*
— 767 —
(Ms. oíTerecido pelo Sr. Libanio Augusto da Cunha Mattos)
Vol. 20, pag. 332.
Alincourt. Resumo das explorações feitas pelo engenheiro
— , desde o registro de Camapuã até à cidade de Guyabà.
(Ms. oíTerecido ao Instituto pelo Sr. Libanio Augusto da
Cunha Mattos). Vol. 20, pag. 334.
Alincourt Resumo das observações feitas pelo engenhei-
ro—,, desde a cidade de Cuyabà até a villa do Paraguay
Diamantino em 1826.
(Ms. oíTerecido ao Instituto pelo Sr. Libanio Augusto da
Cunha Mattos) Vol. 20, pag. 345.
Alincourt Reflexões sobre o systema de defeza que se
deve adoptar na fronteira do Paraguay em consequência
da revolta e dos insultos praticados ultimamente pela
nação dos índios Guaycurús ou cavalleiros; pelo sargento-
mór de engenheiro^,, Cuyabà 1826,
( Ms. oíTerecido ao Instituto pele Sr. Libanio Augusto da
Cunha Mattos) Vol. 20, pag. 360.
Almanach histórico da ciJade de S. Sebastião do Rio de
Janeiro, composto por António Duarte Nunes, Tenente
de Bombeiros, para o anno de 1799, acompanhado de
um mappa da força marítima e terrestre do Duguay
Troum. Vol. 21, pag. 5.
Almeida e Sousa (capitão de granadeiros Cândido Xavier
de. . .) Copia da parte que deu o—,, sobre o descobri-
mento do Rio Uguarehy.
( Ms. oíTerecido ao Instituto Histórico pelo Sr. António da
Costa Pinto e Silva) Vol. 18, pag. 2i4.
Almeida. (Gabriel Ribeiro de) Memoria da tomada dos
sete povos de missões brasileiras. Vol. 5. pag. 3.
Almeida. (Hemernegildo António Barbosa de—) Viagem às
villas de Caravellas, Viçosa, Porto-Alegre. de Mucury,
e aos rios de Mucury e Peruhipe. Vol. 9, pag 425.
— 766 —
Idem de 18i2. Vol. k; pag.
Idem de 4843. > 5.«. >
Idem de 1844. > 6.*, »
Idem de 1845. » 7.°. >
Idem de 1846, . S.', »
Idem de 1847. » 9.% »
Idem de 1848. > 10. »
Idem de 1849. » 12, >
Idem de 185a. » 13, >
Idem de 1851. » jj"'
Idem òe 1852. » 17. »
Idem de 1853. » 17. »
Idem de 1854. » 17, »
Idem de 1835. > 18. >
Idem de 1856. > 19. >
Idem de 1837. > SO. >
Idem de 185S. > 21. >
Idem de 1859. » 22. »
95, 213. 379. 5l9.
88. 239, 355. 499.
123. 253. 37á. 498.
116. 263. AIS, 559.
144. 284. 402. 547.
127. 265, 409, 560.
120. 246, 390. 547.
277. 413. 530.
128. 406. 518.
461.
248.
70.
74. 577.
583.
418.
1, suppl. 87, suppl.
1, suppl.
469.
635.
Alencastre (José Martins Pereira de.. .)— Memoria chronolo-
gica, histórica e corographica da provincia do Piauliy.
Vol. 20, pag. 5.
Alencastre — Mappa estatístico das fazendas nacionaes em
1854. Vol. 20, pag. 60.
Alencastre — Mappa das cadeiras de instrucção primaria e
secundaria da provincia em 1854. Vol. 20, pag. 75.
Alencastre — Quadro da Guarda Nacional da provincia.
Vol. 20. pag. 82.
Alencastre— Notas. Vol. 20, pag. 140.
Alincourt (Luiz d') oíGcio do engenheiro—,, em 10 de
Novembro de 1824. contendo noticias interessantes
sobre a parte meridional da provincia de Matto-Grosso*
[<
— 'iiu
(Ms. onorcrido |i('lo Sr. Lihanio Aii^iislod;) Ciinh:) M.Ulo%^
Vol. 20, pag. 33i,
Aiincourt. Resumo das oxplora^Vs foilas pi»lo «Mi^^^diiMi-,*
— , desde o registro de CamapiK\atr;\ ridade do CnvalO
(Ms. oITerecido no Instituto prio Sr. I.dtauio Xitiiuslo d.i
Cunha Mattos). V<»l. ao. iKig. 3;i4.
Aiincourt. Resumo das ol)servaci>«*s foitas polo rugouliri
ro— ,, desde a cidade de CuyabA i\U\ a \illa do Paiasuax
Diamantino em 18^0.
(Ms. oíTerecido ao Instituto p(*lo Sr. Lilmnio Augusto da
Cunha Mattos) Vol. SO. pag. :i45.
Aiincourt. Kellexôes sohru o syst(*ma do dele/a ipio m«
deve adoptar na fronteira do Paraguay em roit>V(|uen«'ia
da revolta e dos insultos praticados ultimamente |H'la
naçlodos índios (iuayciuús ou cavalleints: |n'1o sugento
mor de engenheiro—,, Cuyahá 182li.
( Ms. oiTereci Jo ao Instituto peh; Sr. Lihanio Augusto da
Cunha Mattos) Vol. 20, pag. *Í6LK
Almanach histórico da cí lade de S. Sebastí;io do Itio do
Jan<?iro. composto por António Duarte Num^s. Tenentt*
}àÈ Bombeiros, para o anno de 17!M), acom|Kiniiado de
i mappa da força maritima c terrestre do Duguay
Vol. 21, pig. r>.
e Sousa (capitão de granadeiros (M-unlido Xavier
àê., .) Copia da parte que deu o—., sobre o deseoliri-
meitlo «lo Rio Uguarehy.
i. oílerecido ao Instituto Histórico pelo Sr. António d.i
Pinto e Silva) Vol. 18, pag. 2i4.
^ ^-abríel Ribeiro de) Memoria da toma-la dos
njpr dç missões brasileiras. Vol. 5. fwg. 3.
Éfciti. ífíjernegildo António Barbosa de—) Viagi^m à^
Aiét Caravel/as, Víçom, Porlo-AJegre. <le Mufoir.
f»in6dcMucury c Peruhfpe. Vol. íl \ii\\^
- 768 -
Amazonas (província do. ..) Extractos do relatório apre-
sentado à Assembléa Legislativa Provincial pelo Exm-
Sr. Presidente Dr. João Pedro Dias Vieira, no dia 8 de
Julhode 1856. Vol. 20, pag. 461.
Amazonas. Extractos da falia dirigida à mesma Assembléa
em o 1.° de Outubro de 1857, pelo Presidente o Exm.
Sr. Angelo Thomaz do Amaral. Vol. 20, pag. 467.
Amazonas. Oflicio do director interino das obras publicas,
oSr. João Wilkens de Mattos. Vol. 20, pag. 471.
Anchieta. (Padre Josó de—) carta escripta de S. Vicente
ao padre mestre Diogo Laynes em 16 de Abril de 1563.
Vol. 2, pag. 538.
Anchieta. Informações dos casamentos dos índios do
Brasil, manuscripto oíTerecido ao Instituto por F. A. de
Varnhagen. Vol. 8, pag. 254.
Andrada. (Martim Francisco Ribeiro de—) diário de uma
viagem mineralógica pela provincia de S. Paulo no anno
de 1803. Vol. 9, pag. 527.
Apontamentos sobre a vidado Inlio GuiJo Pockrane, c
sobre o Fraocez Guido Marlière.
OíTerecido ao Instituto pelo sócio o Exm. Sr. Conse-
lheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz. ) Vol. 18. pag.
AIO.
Aditamento aos — &c. Vol. 18, pag. 416.
Arcebispo da Bahia ( D. Romualdo António de Seixas. )—
Breve memoria acerca da naturalidade do Padre António
Vieira, da Companhia de Jesus, de que foi encarregado
pelo Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. Vol.
19, pag. 5.
Artigo extraindo do Panorama, sobre o Brasil. Vol. 7,
pag. o2i.
Artigos regulamentares da Arca de Sigilo ( Acta de 30 de
Agosto de 1850. ) Vol. 13, pag. íl4.
~ 769 —
Auto de posse que se deu ao Governador João Fernandes
Vieira das terras do porto do Touro ao Ceará-mirim.—
( Copia oiíerecida ao Instituto pelo sócio eiTectivo o Sr.
António Gonsalves Dias. ) Vol, 19, pag. 159.
Azambuja ( Conde de—, D. António Rolim de Moura )
Relação da viagem que fez da cidade de S. Paulo para a
villade Cuyabà em 1751, remetlidapor F. A. de Yarnha-
gen. Vol. 7, pag. 4(i9.
Baena ( António Ladislào Monteiro. ) — Conta que deu da
instauracção do obelisco da estrada de Nazareth ao Exm.
Sr. Dr. Miranda, Presidente da Provincia do Pará. Vol.
3, pag. 20i.
Baena — Memoria sobre o intento que tem os Inglezes de
Demerara de usurpar as terras ao Oeste do Rio Repunuri
adjacentes á face central da Cordilheira do Rio Branco
para amplificar a sua colónia. Vol. 3, pag. 332.
Baena — Observações ou notas illustradvas dos primeiros
três capitules da parte 2.* do Thesouro descoberto no
Rio Amazonas. Vol. 5, pag. 253.
Baena — Correspondência acompanhando três documentos
officiaes sobre a Provincia do Pará. Vol. 7, pag. 829,
Baena — Resposta.
Barata ( Sargento mór Francisco José Rodrigues— ) Memo-
ria em que se mostram algumas providencias tendentes
ao melhoramento da agricultura e commercio de Goyaz
Vol. li, pag. 336.
Barata— Vide — Diário &c.
Barbosa ( Francisco de Oliveira ) Notícias da Capitania de
São Paulo escriptas no anno de 1792. Vol. 5, pag. 22.
Barbosa ( Cónego Januário da Cunha ] Discurso recitado
no acto de estatuir-se o Instituto Histórico e Geogra-
phico Brasileiro. Vol. 1, pag. 9.
- 770 -
Barbosa ( Cónego Januário da Cunha ) Se a introducção dos
escravos Africanos no Brasil embaraça a civilisaçáo dos
nossos indígenas? Vol. 1, pag. 145.
Barbosa ( Cónego Januário da Cunha ) Relatório dos traba-
lhos do Instituto no l.*anno académico. Vol.l, pag. 259.
Barbosa ( Cónego Januário da Cunha ) Qual seria hoje o
melhor systema de colonisar os índios entranhados em
nossos sertões? drc. Vol. 2, pag. 3.
Barbosa ( Cónego Januário da Cunha ) Relatório dos tra-
balhos do Instituto no 2. *" anno académico. Vol. 2, pag. 13
Barbosa ( Cónego Januário da Cunha ) Relatório dos traba-
lhos do Instituto no 3/ anno académico. Vol. 3, pag. 7.
( Suppl. )
Barbosa ( Cónego Januário da Cunha ) Relatório dos traba-
lhos do Instituto no 4.* anno social. Vol. J, pag, 4.
( Suppl. )
Barboza ( Cónego Januário da Cunha ) Relatório dos tra-
balhos académicos do Instituto no S."" anno. Vol. 5,
pag. 4.
Barroso ( José Líberato ) Creação da Villa de Aracahy na
província do Ceará, e outras noticias ministradas a pre-
sidência da Provincia pelo Sr.— Vol. 20, pag. 170.
Bases para as instrucções que o governo imperial tem de
dar aos membros da commissão scientifica encarregada
da exploração de algumas das províncias do Império.
(Acta de ià de Novembro de 18i6). Vol. 19, pag. Í3. Suppl.
Bastos. (Manoel José de Oliveira) Boieiro das capitanias do
Pará, Maranhão, Piauhy. Pernambuco e Bahia, pelos
seus caminhos e rios centraes. Vol. 9, pag. 527.
Beaurepaire Rohan. (Henrique de—) Viagem de Cuyabà
ao Rio de Janeiro pelo Paraguay. corrientes, Rio Grande
do Sul e Santa Catharina em 1846. Vol. 9, pag. 37G.
- 771 -
Bellegarde. (Pedro de Alcântara) — Elogio histórico do
fallecido sócio correspondente o Major Henrique Luiz
de Niemeyer Bellegarde. Yol. 1. pag. 278.
Bellegarde. Elogio histórico do fallecido Vice-Presidente
Marechal Riymundo José da Cunha Mattos. Vol. i, pag.
271.
Bellegarde. Elogio histórico do fallecido membro honorário
o Conselheiro Balthazar da Silva Lisboa. Vol. 2, pag. 3à.
Bellegarde. Notas ao parecer sobre a memoria histórica do
Sr. J. J. Machado de Oliveira, acerca da questão de li-
mites entre o Brasil • Montevideo. Vol. 16. pag. S45.
Betamio. (Sebastião Francisco) — Noticia particular do
continente do Rio Grande do Sul, dada por—,, ao Vice-
Rei Luiz de Vasconcellos e Sousa, 1780. Vol. 21, pag.
239.
Bivar ( Dr. Diogo Soares da Silva de ) — • Elogio histórico
de Francisco Agostinho Gomos, membro correspondente
do Instituto, recitado pelo Orador do mesmo Instituto.
Vol. i, pag. 28.
Bivar ( Dr. Diogo da Silva de ) — Appendice á chronica do
anno de 1842. Vol. 5, pag. 386.
Bivar ( Dr. Diogo Soares da Silva de ) — Parecer sobre o
Índice chronologico do Sr. Dr, Agostinho Marques Per-
digão Malheiros. Vol. 15, pag. 77.
Blasques ( Padre António ) — Carta de algumas cousas que
hião em a nào que se perdeu, do Bispo, para nosso
Padre Ignacio. Vol. 5, pag. 21 í.
Bobadella (Conde de)— Instrucção e norma que deu o...» a
seu irmãoo preclarissimo José António Freire d'Andrade,
para o governo de Minas; a quem veio succederpela ausên-
cia de seu irmão, quando passou ao Sul. Vol. 16, pag. 350.
Branco Muniz Barreto ( Domingos Alves ) — Plano sobre
98
- 772 —
a civilisnçáo doâ índios no BrasiU e principalmente para
a capital na Bahia, com uma breve noticia da missão qiic
entre os mesmos índios foi feita pelos proscriplos Je-
suítas. — Dedicado ao Sereníssimo Sr. D. João Príncipe
do Brasil, por t Capitão de Infanteria do Regimento
de Estremoz. Yol. 10, pag. 33.
Branco Muniz Barreto ( DomingosAlves) —Requerimento
feito a Sua Magestade em nome dos índios domesticados
da capitania da Bihin. Vol. 19, pag. 91.
Bram ( João Vasco Manoel e )— Roteiro Corographico da
viagem que o Governador e Gapitão-general do Estado
do Brasil Martinho de Sjusa e Albuqtierque, determinou
fazer ao rio das Amizonas. Vol. 12, pag. 289.
Braz (AíTonso)— Carta mandada do Porto do Espirito Santo,
do anno de 1531. Vol. 6, pag. 4il.
Bueno ( João Ferreira de Oliveira)— Simples narração da
viagem que fez ao Rio ParanA o Thesoureiro-mòr da Só
de S. Paulo em 1810. Yol. 1, pag. 16j.
Bueno ( Dr. José António Pimenta)— Extracto do seu dis-
curso sen lo PresLlente d3 Matto Grosso, na abertura da
Assemblca Provincial em o 1.* de Março de 1837. Vol.
2, pag. 168.
Caldas ( Cartas do Padre António Pereira de Sousa ) —
Vol.3,p3gs. Uie2l6, vol. 13.pags.95. 2IG.
Camará (Sebastião Xavier da Veiga Cabral da)— Evgoverna-
dor da capitania do Rio Grande de S. Pedro do Sul...)
— Representaç^ío feita em 24 de Agosto de 1801— sobro
a necessidade de separar aqiielle território, como também
o da Ilha de Santa Catharina, da JurisJicção do Bispado
do Rio de Janeiro. Vol. 16, pag. 3i7.
Camello (João António Cabral)— Noticias praticas das mii^is
do Cnycabà e Goyazes, na capitania de S. Pauloe Cuyabà,
- 773 -
dadas ao Reverendo Padre Diogo Soares pelo Capitão
sobre a viagem que fez às minas do Cuyabà no anno
de 1727. Vol. 4,pag.497.
Campo das Yaccas Brancas,— 1858. Vol. 21, pag. 823.
Capanema ( Dr. Guilherme Schúch de)-^Relatorio do Sr.
—y, sobre a conmiissão scíentiiica que tem de explorar
o interior de algumas provincias, lido na sessão anniver-
saria de 15 de Dezembro de 1857, pelo Sr. A. Alves
Fereira Coruja. Vol. 20, pag. 63 suppl.
Capanema (Dr. Guilherme Schúch de)— Memoria do Sr—,,
lida na sessão de 2i do Novembro de I85i, desenvol-
vendo o seguinte ponto: Quaesastradicções ou vestígios
que nos levam á certeza de terem havido terremotos no
Brasil? VoL 22. pag. 153.
Capitulação feita pelo Rei e a Rainha de Hespanha com
Vicente Yanez Pínzon. YoK 22, pag. 445.
Carneiro de Campos (Frederico)— Catalogo dos Governa-
dores e Presidentes da província da Parahyba do Norte,
organisado pelo Tenente «Coronel — Vol. 8, pag. 81.
Carneiro (Coronel IgnacioPereira Duarte)— Copia do officio
de 7 de Janeiro de 1831 sobre a estrada da cidade da
Victoria para a província de Minas Geraes. VoK 6, pag.
466.
Carta escripta ao Padre Dr. Torres a 10 de Junho de 156ã.
Vol. 2, pag. 418.
Carta de Matheus Saraiva escripta ao Abbade D. Diogo Bar-
bosa Machado dando noticia dos escríptores da America
Lusitanos. Vol. 6, pag. 357.
Carta (copia da) do commandante da praça de Igatemy,
em que dá parte ao Governador e Capitão-general D.
Luiz António de Sousa Botelho e Mourão do descobri-
mento que fez dos fundamentos de uma grande povoação.
^ TIA —
que se suppóe ser as ruioas da antiga cidade de Real.
Vol. 18,pag. 277.
Carta Regia de 10 de Maio de 1758, a qual depois de relatar
os serviços de Pedro Dias Paes Leme. e alguns de seu
pai, ainda não remunerados, lhe concedeu a pensão au-
Dual de cinco mil cruzados. Vol. 6, pag. 224.
Garta Regia de 13 de Maio de 1798 a D. Francisco de Sousa
Coitinho, Governador e Capitão General do Estado do
Pará, encarregando -o da direcção de todas as disposições
que julgar convenientes para conseguir a navegação dessa
capitania para Matto Grosso. Vol. A, pag. 232.
Carla Regia de 12 de Julho de 1799. ordenando ao Gover-
nador e Capitão-general da capitania da Rabia D. Fer-
nando José de Portugal que nomeie um magistrado e um
ofQcial de artilheria para examinarem todos os terrenos
de minas e matas quo pretanie Francisco Agostinho
Gomes, que se propunlia a estabelecer uma com|)anhia
para escavação das minasde cobre e ferro. Vol.4. pag. 103.
Carta Regia sobre o corte de madeiras a Fernando Delgado
Freire de Castilhos. Vol. 6, pag. A47.
Carta Regia e plano sobre os cortes das madeiras de cons-
trucção. Vol. 6. pag. 452.
Carla Regia de 10 de \gosto de 1810, sobre a estrada para
Minas pelo Rio Doce. Vol. 6, pag. 3A3.
Carla Regia sobre o trabalho que se deve emprehender a
respeito da estatística do Brasil. Vol. 6, pag. -448.
Carta Regia de lá de Maio de 1798 ao Capitão-general do
Pará acerca da emancipação e civilisaçâo dos índios, e
resposta do mesmo acerca da sua execução. Vol. 20,
pag. 433.
Cartas do Irmão Joaquim ( Copia de três ), extrahidas dos
origiaacs. Vol. 2i. pag. 441.
— 775 —
Carvalho (Cónego Francisco Freire de)— Memoria que tem
por objecto reivindicar para a nação Brasileira a gloria da
invenção das machínas acrostaticas. Yol. 12, pag. 336.
Carvalho (1 ."" Tenente José Carlos de) — Informação sobro
as mattas de Jacuhipé. Vd. 13, pag. 336.
Carvalho (Tenente Coronel José Simões de)— Noticia sobre
a ilha de Joannes. Yol. 12, pag. 362.
Carvalho e Silva (Dr. iosi Vieira Rodrigues de)— Viagem
ás Cachoeiras de Paulo Aflonso. Vol. 22, pag. 201.
Castelnaa (Relatório dirigido ao Ministro da Instrucção
publica pelo dito Sr.) encarregado de uma commissão
na America Meridional. Vol. 7, pag. 196.
Castilho (Conselheiro José Feliciano de)— Discurso sobre
a necessidade de se protegerem as sciencias, as lettras
e as artes no Império do Brasil. Yol. 11, pag. 259.
Castro (Luiz António de) — Recordação recitada na sessão
solemne do 1.» de Julho de I8í7, commemorativa do
passamento do Sr. D. Affonso, primDgeníto deSS. MM.
II. Yol. 11, pag. 59.
Catalogo dos Capitães-móres, Governadores; Capitães-Ge-
neraes e Vice-Reis que tem governado a capitania do Rio
de Janeiro desde sua primeira fundação em 1565 até o
annode 1811. Vol. 1, pag. 293, e vol. 2, pag. 49.
Catalogo dos Governadores e Presidentes da provincia da
Parahyba do Norte, vide— Carneiro de Campos (Frede-
rico).
Catalogo das obras do Padre Velloso. Yol. 3, pag. 53 suppl.
Catalogo dos Capítães-mores e Governadores da capitania
do Rio Grande do Norte. Yol. 17, pag. 23.
Catalogo dos Capitães-mores Yol. 17, pag. 22.
Annotações e documentos do dito Citalogo. Vol. 17, pag.
25 e 46.
— 776 —
Cerqueira e Silva (Igoacío Accidi de)— Dissertação histórica
ethDOgraphica e politica sobre as tribos aborigeaes que
habitavam a Provincia da Bahia ao tempo em que o Brasil
foi conquistado: sobre as suas matas, madeiras eaníEiaes
que a povoam, iSrc. Vol. 12, pag. Ii3.
ChroDologia do pessoal do conselho da Fazenda. \(A. 21,
pag. m.
Ck)elho ( Felipe José Nogueira )— Memorias chronologieas
da capitania de Matto Grosso» principakaente da pro-
vedoria da fazenda reale intendência do ouro. Vol. 13,
pag. 137.
Coelho ( João José Teixeira Desembargador da Relação do
Porto )— Instrucção para o Governo da Capitania de
Minas Geraes — 1780. Vol. 15, pag. 257.
Collecção das memorias archivadas pela Camará da viila de
Sabarà, compiladas por Manoel José Pires da Silva Pontes.
Vol. 6, pag. S69.
Collecção das memorias archivadas pela Camará de Pitan-
guy. Vol. 6, pag. 28i.
Cometa (o) de 1813. VoK 5» pag. 379.
Communicações ofSciaes (copias de algumas), relativas
à fundação do forte de Santa Theresa, tomada do mesmo,
e invasão do Rio Grande, 1762 e 1763. Vol. 21, pag.
325.
Compendio das épocas da capitania de Minas Geraes, desde
o anno de 1694 até o de 1780. Vol. 8, pag. 53.
Compillação dos objectos mais essenciaes de que está en-
carregado o commandante do rio de S. Francisco Xavier,
segundo as ordens existentes no archivo do mesmo
commando: e alguns apontamentos de instrucção para
regulara sua conducta no mesmo commando. Vol. 11»
pag. 487.
— 777 —
Correspondência. Vol 7, pag. 219.
Correspondência relativa aos successos dados em Portugal
e no Brasil de 18S2 a 1823. Vol. 32, pag. 413.
Coruja (António Alvares Pereira) — Collecçáo de vocábulos
e phrases usados na província de S. Pedro do Rio Grande
do Sul. Vol. 15, pag. 210.
Coruja (António Alvares Pereira)— Algumas annotações às
Memorias Históricas do Monsenhor Pizarro, na parte
relativa ao continente do Rio Grande do Sul. Vol. 21,
pag. 303.
Costa (Conselheiro António Robrigues da) — Consulta do
Conselheiro ultramarino a S.M. no anno de 1732, offe*
recido ao Instituto pelo Sr. Joaquim Heleodoro da Cunha
Rivara. Vol. 7, pag. 498.
Costa (Miguel Pereira da)— Relatório apresentado ao Vice-
Rei Vasco Fernandes César, quando voltou da commi<(são
em que fora ao districto das minas do rio de Contas.
Vol. 5, pag. 36.
Coutinho ( Aureliano de Sousa e Oliveira ) — Discurso da
abertura da 2.^ sessão publica anniversaria do Insti-
tuto. Vol. 2. pag. 4 suppl.
Couto (Dr. José Vieira) — Memoria sobre a capitania de
Minas Geraes, seu território, clima, e producções metal-
licas: sobre a necessidade de se restabelecer o animar a
mineração decadente do Brasil : sobre o commercio e
exportação dos metaes e interesses régios. Escripta em
1799. Vol. 11. pag. 28D.
Cunha (Cónego Benigno José de Carvalho e) —Memoria
sobre a situação da antiga cidade abandonada, que se diz
descoberta nos sertões do Brasil por aventureiros em
1753. Vol. 3. pag. 197.
Cunha (Cónego Benigno .íosé de Ciirvalhoe) —Carla escripta
— 778 —
ao 1.» Secretario perpetuo do Instituto. Vol. 1, pag. 399.
Cunha (Cónego Benigno José de Carvalho e)— Correspon-
dência quando occupado nos sertões da Bahia, em desco-
brimento da cidade abandonada. Vol. 6, pag. 318.
Cunha (Cónego Benigno José de Carvalho e) — Officío ao
Exm. Presidente da Bahia, o Sr. Tenente General
Andréa, sobre a cidade abandonada, que ha três annos
procura nos sertões d'essa província. Vol. 7. pag. 102.
Cunha (Cónego Benigno José de Carvalho e)— Breve noticia
sobre as minas ha pouco descobertas no Assuruà na
provincia da Bahia. Vol. 12, pag. 52i.
Cunha (Francisco Manoel da) — Informação que deu sobre
a província, entlo capitania do Espirito Santo, ao Minis-
tro d'Estado António de Araújo e Azevedo. Vol. i, pag.
2i0.
Cunha (Francisco Manoel da)— Oflicio dirigido em 1811 ao
Conde de Linhares, sobre a capitania hoje província do
Espirito Santo. Vol. 12, pag. 511.
Cunha (Capitão Jacinto Rodrigues da)— Diário da expedição
de Gomes Freire de Andrade às Missões do Uruguày.
Vol. 16, pag. 137 e 259.
Descripção da costa de Pernambuco até os baixos de S.
Roque. Vol. 6. pag. 335.
Descripção geographica da capitania de Matto-Grosso: anno
de 1797. Vol. 20, pag. 185.
Diário roteiro da diligencia de que foi encarregado em
1791 Manoel Joaquim de Abreu, Ajudante da Praça de
Macapá. Vol. 11, pag. 366.
Diário do Rio da Madeira.— Viagem que a expedição des-
tinada á demarcação de limites fez no Rio Negro até
Villa Bclla, Capital do Governo de Matto Grosso.Vol. 20
pag. 397.
— 779 -^
Diarioda viagem que fez à colónia hollandezadeSurimam,
o porta-bandeira da 7/ companhia do Regimento da
cidade do Pará, Francisco José Rodrigues Barata, pelos
sertões e rios deste estado, em diligencia do realserviço
Vol. 8, pag. i. elo7.
Dias (Dr. António Gonçalves)— Canto inaugural à me-
moria do Cónego Januário da Cunha Barbosa.Vol.il
pag. 385.
Dias(Dr. António Gonçalves )— Exame nos Archivos
dos Mosteiros e das Repartições publicas para a colleção
dos documentos históricos relativos ao Maranhão. Vol.
16, pag. 370
Dias ( Dr. António Gonçalves)— A Memoria histórica do
Sr. Machado de Oliveira e o parecer do Sr. Duarte da
Ponte Ribeiro. Vol. 16, pag. il69.
Dias (Dr. António Gonçalves) — Resposta do Sr.» à
defeza do parecer sobre a Memoria histórica do Sr.
Machado de Oliveira. Vol. 16, pag. 547.
Dias ( Dr, António Gonçalves) — Vocabulário da língua
geral usada hoje em dia no Alto Amazonas. Vol. 17,
pag. 553.
Dias(Dr. António Gonçalves) —Amazonas. — Memoria
escripta em desenvolvimento ao programma dado por
S. M. I. ao sócio effectivo. » Vol. 18 pag. 5.
Dias ( Dr. António Gonçalves ) Reflexões acerca da Memo-
ria doillustre membro o Sr. Joaquim Norberto de Sousa
Silva lidas na sessão de 28 de Maiode I8íi. Vol. 18,
pag. 289.
Dias (Henrique )— Carta ( extrahida do Valeroso Lucideno)
Vol. 3, pag. 258.
Documento official.— Informação dada pelo Capitão de en-
genheiros Ricardo Franco de Almeida Serra, e o Dr.
99
- 780 —
António Pires da Silva Pontes, em virtude da ordem
que tiveram de subir o Rio Branco ou Parimé e dVlle
fossem successivamenle entrando nos Rios Mahú, Ta-
cutú e Pirará, e que examinassem as communicações
que poderiam ler com a colónia Hollandeza deSurinaaie.
Vol. 5, pag. 84.
Documento officiai datado de Barcellos, em 19 de Julho
de 1781 no qual dão conta da commissão de que foram
encarregados Ricardo Franco de Almeida Serra e Dr.
António Pires da Silva Pontes, de saber o rio Branco,
ou Parimé, entrando nos rios Mahú,Tacutá,e Pirará, exa-
minando as communicações que por aquella parte pode-
ríamos ter com a colónia Hollandeza de Surimam, como
lambem que serras poderiam haver, ou outras marcas
naturaes que pudessem para sempre servir de raia entro
os dominios portuguezes e os da sobredita colónia, &c.
Vol. 10, pag. 213.
Documentos oíliciados pelo sócio correspondente o Sr.
Commendador Gabriel Getulio Monteiro de Mendonça.
Vol. 6, pag. 469.
Documentos oíTiciaes inéditos, relativos ao alvará de 5 de
Janeiro de 1785. que extinguiono Brasil todas as fabricas
c manufacturas de ouro, prata, sedas, algodão, linho,
lãa, &e. Vol. 10, pag. 213.
Documentos ofliciacs :
1 .'^ Representação sobre as providencias necessárias para
promover o commercio da cidade do Pará para as minas
de Matto-Grosso ditaJa em 9 de Setembro de 1797.
2." Carta regia de 12 de Maio de 1798, mandando pôr cm
pratica o plano di communicnçâo ontro a cidade do Pará
- 781 -
e as minas de MaltoGrosso, e outras providencias. Vol.
5, pag. 7(5.
Documentos ofliciaes :
1/ Informação que dá o Capitáo-mór da conquista, do
sertão que medèa das minas para a do Cuyabà, de 1 de
Setembro de 1761.
2.'' E^cposíçáo da commissão de estatistíca da camará dos
Deputados, concernente a antiga e mui debatida questão
do limites entre as provincias do Maranhão e Goyaz,
datada de 28 de MarçD de 18/i5.
S."" Parecer apresentado ao Exm. Sr. Cândido José de
Araújo Vianna, Ministro dos Negócios do Império pelo
Sr. José Joaquim Machado de Oliveira em o !.• de De-
zembro de 1841, acerca do plano de colonisação a bene-
íicio dos índios Botocados, que andam errantes no ter-
ritório entre o rio Doce ou de S. Matheos, apresentado
por Porfírio dos Santos Lisboa.
4.» Offlcio do Sr. J. J. Machado de Oliveira, de 26 de
Julho do 1844, apresentado ao Governo Imperiri o plano
de uma colónia militar no Brasil. Yol. 7, pag. 221.
Documentos ofliciaes. Declarações feitas pelo Sargento Nor-
berto Roirigues de Medeiros, sobre a abertura da pi-
cada para o Cuité, mandada fazer, e contratada pelo Pre-
sidenteda província do Espirito Santo. Vol. 10, pag. -408.
Documentos ofliciaes a que se referem às instrucções
dadas ao Visconde de Barbacena, publicados em o nu*
21 da Revista. Vol. 6, pag. 197.
Documentos interessantes e meditos relativos à demissão
do Marquez de Pombal. Vol. 8, pag. 65.
Djcumcntos i>crtencenles à memoria sobre a campanha de
ISÍGpiblioada cm o u. 26. Vol. 7, pag. 278.
— 782 —
Documentos sobre o Rio Doce offerecidos pelo Sr. Coronel
José Joaquim Machado d'01iveira. Vol 7, pag. 351-
Documentos relativos a João Pereira Ramos e seus Irmãos.
Vol. 22, pag. 451.
EUiot (Joáo Henrique)— Itinerário das viagens exploradas,
emprehendidas pelo Barão d'Ântonina para descobrir
uma via de communicação entre o Torto da villa de An-
tonina e o baixo Paraguay na proTincia de Matto -Grosso:
feitas no anno de 184 1 a 18 H, pelo Sertanista Joaquim
José Lopes. Vol. iO, pag. 153.
Epitome da erecção e creaçio do novo Bispado deS. Paulo,
Rei que impetrou esta graça, Pontifice que a concedBu,
seu primeiro Bispo c Cónegos com que se fundou a
cathedral. Vol. 18» pag. 226.
Etymologias Brasilicas ( Coilecçâo de) — Vide Praieres
Maranhão.
Excerpto de uma Memoria manuscripta sobre a Historia do
Rio de Janeiro, durante o Governo de Salvador Corrêa
de Sã e Benevides que se acha na Bibliotheca Publica
d^esta^ Corte. Vol. 3, pag. 3.
Excerpto de varias listas de condemnados pela Inquisição
de Lisboa, desde o anno de 1711 ao de 1767, compre-
hendendo só os Brasileiros, ou colonos estabelecidos no
Brasil, por Varnhagen. Vol. 7, pag. 54.
Extracto dos Estatutos do Instituto Histórico eGeographico
Brasileiro. Vol. 1, pag. 18.
Extractos das Actas &c, vide— Actas (extractos das)^
Extractos dos Livros e ordens regias da Bahia offerecidos
pelo Sr. Coronel Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva.
Vol. 7, pag. 383.
Ferreira (Dr. Alexandre Rodrigues) —Noticia dos escriptos
do—. Vol. 2, pag. 503.
- 783 ~
Ferreira (Dr. Alexandre Rodrigues)— Descripçáo da Gruta
do Inferno, feita em Cuyabà. Vol. 4, pag. 363.
Ferreira (Or. Alexandre Rodrigues) •— ProprieJade e
posse das terras do Cabo do Norte pela coroa de Por-
tugal. Memoria escrípta no Pará em 1792. Vol. 3'
pag» 339.
Ferreira (Dr. Alexandre Rodrigues)— Viagem à gruta das
Onças* Vol. 12, pag. 87.
Figueiredo (Dr. Carlos Honório de) — Fuíidação do Bispado
do Rio de Janeiro. Vol. 19, pag. 579.
Figueiredo (Dr. Carloà Honório de)— Fundação das Facul-
dades de Direito do Brasil. Vol. 22, pag. K07.
Filgueiras (Dr. Caetano Alves de Sousa) —Reflexões sobre
as primeiras épocas da Historia do Brasil em geral e
sobrea instituição das capitanias em particular. Vol 19,
pag. 398.
Fonseca (Alferes José Pinto da) — Copia da carta que escreveo
ao Exm. General de Goyaz, dando-lhe conta do desco-
brimento de duas nações de índios. Vol. 8« pag. 376.
Fonseca e Silva (Tbomé Maria da)^ Breve noticia sobre a
colónia dos Suissos fundada em Nova Priburgo Vol. 12,
pag. 137.
Fontes (Dr. José Ribeiro de Sousa) — Quaes foram os
animaes introduzidos na America pelos conquistadores?
memoria pelo Sr,— „ Voi. 19, pag. 609.
Foral da capitania da Bahia e cidade de S. Salvador Vol. 18,
pag. 159.
Fragmentos de uma memoria sobre as sesmarias da Bahia.
Vol. 3, pag. 875.
Fragmenítos que existem na Torre do Tombo, das ins*-
tracções dadas porEl'ReíD. Manuel, a Pedro Alvares
Cabral, quando chefe da aimada, ({ue indo à índia desço
— 78A —
brio casualmente o BrasJLcopiadosporVarnbagen. Vol. 8^
pag. 99.
Freire Allemão (Dr. FraocisíM)) — Qaaessáo as principacs
plantas que boje «e adiam acclímitadas no Brasil? Me-
morias, pelo Sr— ,, Vol. 19, pag. 539.
Gandavo (Pedro de Magaliiâes]—Introducçao ao tratado da
terra do Bra^. Vol. 2, pag. i2i.
Gandavo.— Historia da província de Santa Cruz, a que vul-
garmente cbamamos Brasil, por—, dirigida ao muito
illusirissimo Sr. D. Lionii Pereira, Governador que foi
do Malaca e das mais partes do Sul da índia, impresso
em Lisboa, na oincina de António Gonçalves, anno de
1576. Vol. 21, pag. 367.
Garcia (Diogo)— (iirta do (1526) Vol. 15, pag. 6.
Gay (Vigário João PcJro) — Itinerario da viagem que fez
o Sr. Joaquim António de Moraes Dutra, desde a foz do
Rio Passo-Fundo no Uruguay até o passo do S. Borja,
pelo Sr... 1858. Vol. 21, pag. 31o.
Góes (Pêro) — Carta para El-Rei. Da vilía da Rainlia
(Campos). Copia da Torro do Tombo por Varnhageo.
Vol. 5, |ag. /iW.
Guerra civil ou sedições de Pernambuco. Exemplo memo-
rável aos vindouros. Vol. 16. pag. o.
Guerras (Relação das) — feitas aos Palmares de Perman-
buco no tempo do Governador D. Pedi-o de Almeida.
Vol. 22. pag. 303.
Guimarães (Cónego José da Silva) Memoria sobre usos, costu
mes c linguagem dos Apiacàs, e descobrimento de novas
minas na provinciade Matto-Grosso. Vol. 6, pag. 2v)7.
Gurjâo (Hilário iMaximiano Antunes)— Descri pção da viagem
íeita desde u cidade da Barra do Uio Negro, pelo úy do
mesmo nome, por—,, Vol. 18, p\g, 177»
- 785 —
Gusmão (Alexandre do)— Extracto da resposta que deu,
como Secretario do conselho Ultramarino, ao Brigadeiro
António PeJro de Vasconcellos, sobre o negocio da praça
da Colónia Vol. 1, pag. 322.
Gusman (Ruy Dias de) — Sobre alguns factos notáveis
que se acham relatados na historia da fundação da cidade
da Assumpção, capital do Paraguay, e das conquistas
dos hespanhóes no Rio da Prata; obra escripta no co-
meço do século XVII, pelo Paraguayo— ,. descendente
de um dos conquistadores. Vol. 17, pag. 5.
Informação sobre o modo porque se eífectua a navegação
do Pará para Matto-Grosso. Vol. 2, pag. 281.
Informação do Brasil e suas capitanias 15SÂ Vol. 6, pag. 404.
Instrucção para D. António de Noronha, Governador e
Capitão-general da capitania de Minas-Geraes. Vol. 6,
pag. 215.
Instrucção militar para Martim Lopes Lobo de Saldanha,
Governador e Capitão-general da capitania de S. Paulo.
Vol. 4, pag. 350.
Instrucção para o Visconde de Barbacena. Luiz António
Furtado de Mendonça, governador e Capitão-general da
capitania de Minas-Geraes. Vol. 6, pag. 3.
Instrucçõcs do governo para Francisco Delgado Freire de
Castilho, Governador da Parabyba. Vol. O, pag. í36.
Inventario de todos os papeis ofliciaes que por óbito do
Tenente General Sebastião Xavier da Veiga Cabral da
Camará, Governador do continente do Rio Grande do
Sul, ficaram à cargo do Sargenlo-mór José Ignacio da
Silva. Vol. 11. pag.4il3.
llcnerario desde os confins septenlrionacs da capitania do
Rio Grande do Sul, até a cidade de S, Paulo, 1797. Vol.
21, pag. 3Í2.
— 780 —
Jardim ( Ricardo Josj Gomes)— Creação da directoria dos
índios na Província de Mato Grosso. Officío dirigido ao
Governo Imperial em 18í6 pelo Coronel Presidente da
da mesma provincia. Vol. 9, pag. 548.
Jefferson ( Thomaz )— Extractos da correspondência do
mesmo senhor. Vol. 3, pag 208.
Joáo ( Mestre )— Carta do physico d' El -Rei, para o Sr. de
Vera Cruz ao l.« de Maio de ISOO, encontrada oa torre
do Tombo p)r ámhigim . Vol. 5, pag. 342.
S. João de Ypanema.— Descripçáo do morro do mineral de
ferro, sua riqueza, methodo usado na antiga fal^rica,
seus defeitos. Vol. 18, pag. 235.
Joaquim (Irmão)— Vide: —Cartado » Vol. 22, pag. 441.
Jomard ( M ) Noticia sobre os Botocudo^, acompanhada de
um vocabulário de seu idioma, e de algumas observações
Vol. 9, pag. 107.
Joseph ( Padre ) — r Copia de uma carta escripta da Bahia
do todos os Santos em Julho de 1565, ao Dr. Jacome
Martins, provincial da C. de Jesus. Vol. 3, pag, 248.
S. José (Fr. Rodrigo de) — C^antico recitado na sessão
solemue do 1 ."* de Julho de 1847, commemorativa do
passamento do Sr, D. AlTonso, primogénito de SS. MM.
II. Vol. II, pag. 49.
S. Josó (Bispo U. Frei. João de)— Viagem e visita do sertão
em o bispado ao Grâo-Parà em 1762 e 1763. Vol. 9,
pags. 43. 179. e 476.
Juízo sobre os annaes da provincia de S. Pedro, publicados
por Josj Feliciano Fernandes Pinheiro Visconde de S.
Leopoldo (2.' ediccáo) Vol. 1, pag. 315.
Juízo da commissão de historia sobre a obra— compendio
das eras da provincia do Pará— por A. Ladisláo Monteiro
Ihem. Vol. 2, pag. 235.
— 787 -
Juízo sobre a obra intitulada-— Examen critique rbistoire
de la géographie du nouveau continent, par Alexandre
de Humboldt. Vol. 2, pag. lOS.
Juízo sobre a obra intitulada— Histoire des relations com-
merciales entre la France et le Brésil, par Horace Say.
publicada em Paris em 1839. Vol. 1, pag. 308.
Juízo sobre a historia do Brasil publicada em Pariz pelo
Dr. Francisco Solano Constâncio. Vol. 1, pag. 91.
Juízo sobre a obra-^Notícia descriptiva da província do
Rio Grande de S. Pedro do Sul— por Nicoláo Dreys.
Vol. 2, pag. 49.
Lacerda e Almeida (Dr. Francisco José de) — Memoria a
respeito dos rios Baurés, Branco, da Conceição, de S.
Joaquim, Itonamas e Maxupo ; e das três Missões da
Magdalena, da Conceição, e de S. Joaquim. Vol. 12,
pag. 106.
Lagos (Manuel Ferreira)— Elogio Histórico do Padre mestre
Fr. José Mariano da Conceição Velloso. Vol- 2. pag. iO
(Suppl)
Lagos— Relatório dos trabalhos do Instituto, no 6/ anno
académico. Vol. 6. pag. 4. (Suppl.)
Lagos— Relatório dos trabalhos do Instituto Historio, lido
na sessão publica de 9 de Setembro de 1847. Vol. 11,
pag. 89.
Lara(DíogoArouche de Moraes)— Memoria da campanha
de 1816, com a exposição dos acontecimentos militares
das fronteiras de Missões e Rio Pardo, da capitania do Rio
Grande de S. Pedro do Sul. Vol. 7, pags. 125. e 273.
Lavradio (Marquez de)— Relatório a Luiz de Vasconcellos e
Sousa, seu successor no vice-reinado do Rio de Janeiro.
Vol. 4, pag. 409.
Leal (Felippe José Pereira) — Memoria do Sr.— sobre os
100
- 788 -
aconlecimenlos poHlicos que tiveram lagar no Pará era
1822-^1823. Vol. 22, pag. ICl.
Leite (Diogo) —Cirta de— pira El-Rei, em 30 de Abril de
1528, encontrada c copiada na Torre do Tombo por Var-
nhagen. Vol. 6. pag. 2á2.
Leite (Maximiano Antoníoda Silva)— Memoria sobre oeclípse
do Sol, de 15 de Março de 1833. Vol. 1, p:ig. 57.
Leite — Memoria sobre o cometa visto em Março de 1843
no Rio de Janeiro. Vol. 5. pag. 207.
Lembrança! do que devem procurar nas províncias os sócios
do Instituto, para remetterem ao Rio de Janeiro. Vol. 1
pag. 128.
Leme (Pedro Taques de Almeida Paes)— Historia da Capi-
tania de S. Vicente, desde a sua fundaçãs por Martim
Affonsode Sousa em '1531. escripta em 1772, por — >
Vol. 9, pag^. 137, 2í)3, 4i5.
Leme (Pedro Taques de Almeida Paes)— Noticia histórica
da expulsão dos Jesuítas do collegio de S. Paulo. Vol. 12
pag. 5.
Leonardo ( Padre )— Copia de uma carta do mesmo, es-
cripla deS. Vicente a 23 de Junho de 1565. Vol. 4,
pag. 22i.
S. LeopDllo ( Visconde de ) — Programma histórico —
O Instituto Histórico c Geographico Brasileiro é o re-
presentante das idéas de illustração, que em differcntes
epochas se manifestaram em o nosso continente. Vol. 1,
pag. G6.
S. Leopoldo ( Visconde de)— Discurso de abertura na
sessão publica anniversaria do Instituto, era 3 de No-
vembro dcl838. Vol. 1, pag, 255.
S. Leopoldo (Visconde de )— Discurso de abertura da 3.
sess5n anniversaria em lail. Vol. 3, pag, 3. Suppl. •
— 789 -
S. Leopoldo ( Visconde de )— Discurso de abertura da 4.'
sessão aoniversaria em 18i2. NoI. A, pag. 1. Suppl.
Levantamento em Minas Geraes, no anno de 1708 (Extracto
da vida do Padre Belchior de Pontes, escripta pelo Padre
Manoel da Fonseca, Jesuitas naturaes de S. Paulo. )
Vol. 3, pag. 261.
Limo ( Padre Francisco das Chagas ) — Memoria sobre o
descobrimento e Colónia de Guarapuava. Vol. í, pag. iS3.
Lisboa ( Conselheiro Balthazar da Silva )— Extracto dos
annaes do Rio de Janeiro. Das pessoas distinctas que
ajudaram á fundação e edificarão do Riotle Janeiro YoK
4. pag. 248 e 318.
Lisboa ( Conselheiro Balthazar da Silva )— Extracto dos
annaes do Rio de Janeiro. Vol. 5, pag. 403.
Lisboa (Conselheiro Balthazar da Silva)— Recordação
memorável das pessoas illustres que serviram á gloria
deste paiz, até a epocha de 1710. VoL 5, pag. A20.
Lisboa ( Conselheiro José António ) — Elogio histórico
do Conselheiro Silvestre Pinheiro Ferreira. Vol. II,
pag. 195.
Lisboa ( Miguel Maria )—Memorandum sobre limites do
Brasil. Vol. 9, pag. 436.
Lista dos Membros do Instituto, em 1839. Vol. 1, pags.
1/42, 252, 367.
Lopes (Joaquim Francisco) — • Itinerário da digressão que
fez no exame de uma communicação de carro para o
Paraguay. Vol. 13, pag. 315.
Lund (Doutor) —Carta escripta da Lagoa Santa (Minas-Geraes)
ao Sr. 1.* Secretario do Instituto. Vol. 4, pag. 80.
iand (Doutor)— Correspondência do mesmo Sr. da Ligôa
Santa, sobre novas descobertas de ossos e craneos achados
em suas escavações. Vol. 6, pag. 326.
— 790 -
Macedo (Dr. Joaquim Manoel de) — O amor da gloria—
Hymno Bíblico. VoK 11. pag. 276.
Macedo (Dr. Joaquim Manoel de)— Relatório dos trabalhos
do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro^ durante
o anno de 1852. VoK 15. pag. iS80.
Idem de 1853 Vol. 16, pag. 563.
Idem de 185i > 17, » 3. suppl.
Idem de 1855 » 18. » 3. suppl.
Idem de 1856 t 19. » 91. suppl.
Macedo (Dr. Joaquim Manoel de)— Elogio histórico dos
S0GÍQ8 do Instituto Histórico, fallecidos durante o anno
de 1857. lido na sessão anniversaria de 15 de Dezembro
do dito anuo. Vol. 20, pag. 67. (Suppl.)
Idem. durante o anno de 1858. Vol. 21. pag. 530.
Idem. durante o anno de 1859. Vol. 22. pag. 704. Suppl.
Machado (Francisco Xavier) — Memoria relativas ás capi-
tanias do Piauby e Maranhão. Vol. 17, pag. 56.
Madre de Deos (Fr. Gaspar da)— Noticia dos annos em que
se descobriu o Brasil, e das entradas das Religiões, e
suas fundnçõcs, &c; copiada de um manuscripto do Mos-
teiro de S. Bento de S.Paulo. Vol. 2. pag. 425.
Magalhães (Dr. Domingos José Gonçalves áS) — Memoria
histórica e documentada da revolução da província do
Maranhão, desde 1839 até 18AC. ol. 10, pag. 263.
Maia (Dr. Emílio Joaquim da Silva) — - Elogio histórico do
Dr. José Pinto de Azevedo. Vol. 2, pag. 59, (Suppl. )
Maia (Dr. Emilio Joaquim da Silva) — Discurso recitado
na sessão solemne do l.' de Julho de 18A7, commema*
rativa do passamento do Sr. D. Affonso. Primogénito de
SS. MM. lí. Vol. 11, pag. 32.
Manuscriptos (Relação dos) offerecidos ao Instituto His-
tórico e Geographico Brasileiro desde 16 de Setembro de
— 791 —
1847 até 10 de Dezembro de 1853. Vol. 15. pag.
$i8.
Manuscriptos de 18j3 Vol. 16, pag. 626.
Idem de 1854 Vol. 17, pag. 97. suppl.
Idem de 1855 i 13, » 76. suppl.
Idem de 1856 > 19, > 168. suppl.
Idem de 1857 i 20, i 112. suppl.
Idem de 1858 » 21, » 585.
Idem de 1859 i 22. d 759. suppl.
Mappa das tres princtpaes batalhas da campanha de 1816,
perteuceute ao apêndice da memoria respectiva. Vide
Lara. Vol. 7« pag. 328.
Mappas oflerecidos ao Instituto Histórico no anno de 185i.
Vol. 17, pag. 88.
Marcos e José Mauricio» catalogo de suas obras. Vol. 22,
pag. 487.
Martins (Francisco de Sousa)*-Progresso do jornalismo do
Brasil. Vol. 8, pag. 326.
Martins (Dr. Carlos Frederico Ph. de)— Como se deve es-
crevera historia do Brasil.— Vol. G, pag. 381.
Mascarenha ( D. Francisco de Assis )— Carta escripta pelo
mesmo Sr. no dia em que deu posse do Gorerno da
da Capitania de Goyaz a Fernando Delgado Freire de
Castilho, nomeado seu successor. Vol. 5, pag. 58.
Mascarenha ( José Freire de Montenegro )— Os Orizcs con-
quistados, ou noticia da conversão dos indómitos Orizes
Procazes, povos habitantes e guerreiros do Sertão do
Brasil; na qual se descreve também a asperesa do sitio
da sua habitaçáOp a cegueira da sua idolatria e barbari-
dade de seus ritos. Vol. 8, pag. i94.
Matas das Alagoas ( As )— Providencias acerca delias, e sua
descripçáo. Vol. 22, pag. 339.
- 792 —
Mattos (João Wilkens de )— Alguns esclarecimentos sobre
as missões cia Província do Amazonas por)— Vol. 19,
pag. 12i.
Medição, direcção e observações da nova estrada que da
cachoeira do Rio Santa Maria, termo da villa da Victo-
ria. segue pelo Sertão intermédio á villa Rica. Vol. 6,
pag. /i63.
Mello ( Sebastião José de Carvalho e ) — OfBcio que como
Ministro Portuguez em Londres escreveo para a Corte
de Lisboa em 8 de Julho de 17^1. Vol. 4, pag. 505.
Memoria da fundação da igreja de S. Sebastião; com um
catalogo dos prelados administradores da jurisdicçáo
ecclesiastica, e dos reverendo bispos que tem havido ató
o presente. Vol. ti, pag. 173.
Memoria da nova navegação do Rio Arinos até a villa de
Santarém, estado do Gráo-Parà. Vol. 19, pag. 99.
Menezes (Dr. Francisco de Paula)— Ode recitada na sessão
solemne do l."* de Julho de 1847, commemorativa da
passamento do Sr. D. Affonso, Primogénito de SS. MM.
II. Vol. 11, pag. 79.
Menezes (Dr. Francisco de Paula) — Elogio histórico do
Cónego Januário da Cunha Barbo-a. Vol. 11, pag. 2í0.
Menezes (Dr. Francisco de Paula)— Discurso do orador in-
terino—na sessão publica anni versaria do Instituto His-
tórico em 13 de Dezembro de 1833» Vol. 16, pag. €00.
Menezes (José Pedro Cezar de) — Roteiro para seguir a
melhor estrada do Maranhão para a corte do Rio de
Janeiro, feito em 18i0. Vol, 3, pag. 46i.
Menezes (D. Manuel de) — Ilecuperaçáo da cidade do Sal-
vador,—escripta por» Copia cotejada com omanuscripto
original deMarlrid, por Francisco Adolpho deVarnhagen.
Vol. 22, pag. 357.
— 793 —
Mesa e commissões (Reação dos membros da) do Insti-
tuto Histórico qae devem dirigir os trabalhos do mesmo
Instituto noannodeI856. Vol. I9,png. 172. (SuppK)
Idem de I808 Vol. 20, pag. 3». (suppl.)
Idem de 1850 . 21. . 495.
Montenegro (General Caetano Pinto de Miranda)— Resposta
ao parecer sobre o aldeamento dos índios Uaicurús e
Guanàs. do Corone! Ricardo Franco do Almeida Serra.
Vol. 7, pag. 213.
Moreno (Coronel José Ignacio do Couto)— Extracto de uma
memoria enviada ao Governo da província, com data de
27 de Novembro de 18i3. Vol. 6, pag. H3.
Museu de antiguidades americanas, fundado em Copenhagen
pela sociedade Real dos Antiquários do Norte, sob pro-
posta de seu Secretario o Sr. C. C. Rafn. Vol. 7. pag. 9i.
Navarro (Desembargador Luiz Thomaz de)— Itinerário da
viagem que fez por terra da Bahia ao Rio de Janeiro,
por ordem do Príncipe Regente, em 1808. Vol. 7.
pag. /i33.
Necrologia d.3 Marechal de Campo Ray^nundo José da
Cunha Mattos. Vol. 1» pag. 72.
Necrolo;5Ía do sócio eíTectiv.) Major Henrique Luiz de
Niemeyer Bellegarde. Vol. 1. pig. 138.
^^^[fibrega (Padre Manoel da)— Copia de uma carta que es-
'crííilPip Illm. Cardeal de S. Vicente, 1.* de Julho de
1560. Vojf^S, pag. 328.
NolvM^lPadre Manoel da) —Carta qae escreveu ao Padre
mestre Simão em 1549. Vol. 5, pags. A29. 433 ei3o.
Nóbrega (Padre Manoel da)— Carta mandada da capitania
de Pernambuco, em o anno de 1351. Vol. 6, pag. 104 .
Nóbrega (Pa Ire Manoel da)— Carta copiada do rcnl archivo
de Lisboa. Vol. 2, pag. 277.
— 794 —
Nobregi (Padre Manoel da) — Informação das terras do
Brasil, mandada pelo mesmo. V(4. 6, pag. 91.
Nogaeira (Capítáo-Tenente José Maria)— Viagem feita pelo
Commandante do rapor de goerra Goaptassú» primeiro
que subio o Amazonas. Vol. 6, pag. 378 «
Notas, apontamentos e noticias para a historia da protincia
doEspirílo-Santo. Vol. i9, pag. 161.
Notas lidas pelo Barâo de Cayrú sobre a questão Wise.
Vol. 14, pag. 475.
Noticia ( Breve )— Sobre a creaçáo do Instituto Histórico
e Geographico Brasileiro. Vol. I, pag. 3.
Noticia sobre o thesouro descoberto no máximo rio Ama-
zonas, escripta por F. A. de Varnhagem. Vol. 2, pag.
319.
Noticia sobre os índios Tupinambás, seus costumes, écc.
Vide Soares de Sousa ( Gabriel. )
Noticia sobre a obra publicada em Compenhagen pela
Socieda Je Real dos Antiquários do Norte— com o titolo
— Antiquitates Americanae. Vol. 2, pag. 202.
Noticia da fundação e principios da aldèa de S. João de
Queluz, província de S. Paulo. Vol. 5, pag. 69.
Noticia da sessão publica anniversaria do Instituto, cele-
brada no dia U de Dezembro de 1844. Vol. 6. pag. 1.
( Suppl. )
Noticia dos acontaciraentos pela presente guerra nos sele
povos de Missões e n'esta fronteira do Rio tfrande de
S. Pedro. ( Anno de 1801. ) Vol. 10. pag. 3^.
Noticias e reflexões sobre as minas deCantagallo, na provín-
cia do Rio de Janeiro, escripta em 1803. Vol 12, pag. 518.
Nunes (António Duarte)— Memoria do descobrimento e
fundação (Ja Cidade do Rio de Janeiro, no anno delõ67.
Vol. 1, pags. 110, e2!8.
— 793 —
NuDes ( AntODÍo Duarte }— Almanaeh histórico da Cidade
de S. Sebastião do Rio de Janeiro, Vide AlmaQch &c.
Voi. 21. pag. 5.
Nuues (Diogo Carta de)— Escripta a D. Joio III, encon-
trada e copiada na Torre do Tombo por Varnhagen.
Vol.2. pag. 36i.
Oblação do Instituto Histórico ã memoria de seu Presi-
dente Honorário o Sr. D. ÂíTonso» Augusto Primogénito
deSS. MM. 11. Vol. 11, pag. 5.
Obra que concorreu aos prémios propostos por S. M. h
e pelo Instituto Histórico (1855). Vol. 18, pag. 90.
Obras e impressões (Relação das) oílerecidas ao Instituto
Histórico e Gcographico Brasileiro.desde 16 de Setembro
de l8/i7, ato 10 de Dezembro de 1852. Vol. 15,
pag. 556.
Idem de 1853 Vol.
16,
pag.
616.
Idem de 1854 >
17,
f
88suppl.
Idem de 1855 »
18.
X>
79 suppl.
Idem de 1856 >
19,
»
155suppl.
Idem de 1857 .
20.
»
96 suppl.
Idem de 1858 >
ai.
»
565.
Idem de 1859 >
22.
»
742.
OíTicio do Coronel Gommandante das forças do Sul da pro-
vincia de S. Paulo, e outros documentos relativos à des-
coberta que acaba de eííectuar na mesma província, dos
campos denominados do — Paiqueré— copias remettidas
ao Instituto por aviso do ministério da guerra. Vol. 4,
pag. 519. (Âcta de 6 de Outubro de 1842).
OfÚcio e relatório que ao ministério da guerra, dirigiu o
Coronel Commandante Superior João da Silva Machado,
a respeito das explorações feitas nos campos denomi-
nados do— Paiqueré. —Copias remettidas í^o Instituto
101
— 796 —
por avisado míoisterio da gaerra. Vol. 4, pag. 99.
(I Jem de 9 de Fevereiro de 1843. j
Officio do Governador participando ao ministério, náo só
conter riqueza de ouro os córregos da estrada de Mitítís,
como de haver três familias de índios Puris procurado
aldearem-se junto ao quartel da vílla do Príncipe. —
Resposta ao officio supra, e descripçâo da estrada para
aprovinciade Minas-Geraes pelo rio Santa Maria. Yols. 6,
pags. 460e461.
Officio do Governador de Cabo-Frio, Constantino de Me-
nekUi dfttado do Rio de Janeiro a 1 de Outubro de 1625.
Vol; 18. pag. 407.
OfBcio sobre a estatística, despezas e administração da
província de ftfatto-<}rosso, de 1821. a 1826. Vol. 20,
pag. 366.
Oliveira (Conselheiro Cândido Baptista de) — Nota sobre
um trecho do parecer apresentado ao Instituto na sessão
de 22 de Novembro de 1850, pelo sócio effectivo Diogo
Soares da Silva de Bivar. acerca da obra publicada pelo
Sr. Agostinho Marques Perdigâ^o Malheiros, sob o titulo
de Indígenas Chronolúgico dos factos maié hotaveis da
Historia do Brasil. Vt)l. 15, pag. 113.
Oliveira (Conselheiro Cândido Baptista de)— Parecer sobre
a memoria histórica do Sr. Josó Joaquim Machado de
Oliveira, àoerca da questão de limites entre o Brasil e
Montevideo. Vol. 16, pag. 46i.
Oliveira (Conselheiro Cândido Baptista de) — Discurso de
abertura da sessão publica anniversaria do Instituto His-
tórico no anno de 1859. Vol. 22. pag. 681 suppl.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de)— A celebração
da Paixão de Jesus Christo entre os Guaranis. Vol. 4,
pag. 331.
- 797 -
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de) -<- Descripção
do Convento da Penha na província do Espirito-Santo .
Vol. 5, pag. 118.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de)*'-Programma—
Se todas os Indígenas do Brasil conhecidos até hoje,
tinham idéa de umi única Divindade, étc— Desenvolvido
por.— Vol. 6. pag. 133.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machadode)— Programioa—
Qual era a condição social do sexo feminino entre os
indigenas do Brasil-r- Desenvolvido por— VqI. 4,p9g. 108.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de) — Plano de
uma colónia militar no Brasil. Yol. 7, pag. 3/i0.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de) — Noticia
sobre as aldèas dos índios da província de S. Pwlo
desde o seu começo até aactualidade. Vol. 8, pag. 204.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de)— Memoria
histórica sobre a questão de liimte^ entro o Brasil e
Montevideo. Vol. 16, pag. 385.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de) — MieiBorias
sobre o descobrimento do Brasil, — algumas conside-
rações, por.— Vol. 18, pag. 279.
Oliveira (Coronel José Joaquim Machado de)— À emigração
dos Cayuaz — Narração coordenada sob apoiUa^ientos
dados pelo Sr. João Henrique Elliot. Vol. 19, pag. 4i34.
Oliveira (Msyor Manoel Rodrigues de) — Novos indícios
da existência de uma antiga povoação abandonada no
interior da província da Bahia: noticia coi^municada
ao Instituto pelo Sr.— Vol. 10, pag. 3163.
Oltoni (Theophilo Benedicto) — Noticia sobre os selvagens
doMucury.em uma carta do Sr.— Vol. 21, pag. 191.
Paes Leme (Pedro Taques de Almeida)— Copia fiel do titulo
de Taques Pompeu que fez— pelo anno de 1763, e que
— 798 —
se acha em poder de João Pereira Ramos de Azeredo
Coulinho. Vol. 18, pag. 190.
Paim (Roque Monteiro) — Copia da resposta que o Secre-
tario de Estado deu a Mr. de Bouíllé, Enodmixador de
França em Lisboa/ sobre a sua replica offerecida para
mostrar que pertencem à coroa de França as terras de
Cabo-Frio, Vol. 8, pag.A53.
Paiva (Joaquim Gomes de 01i?eira) — Memoria histórica
sobre a colónia allemáa de S. Pedro de Alcântara,
estabelecida na prorincia de S. Catharina. Vol. 10,
pag. 504»
Parecer da Commissão de Historia acerca da obra intitulada
« Reflexões criticas sobre o escripto do século t6.* im-
presso com o titulo de < Noticia do Brasil por F. A. de
Varnhagem. Vol. 2, pag. 109.
Parecer da Gommissão de Geographia sobre os mappas
seguintes : 1 .* Mappa ou planta topagraphica planisphe-
rica da Imperial provincia de S. Paulo» levantada pelo
Tenente Coronel d'Engenheiros José António Teixeira
Cabral. — 2.« Mappa da Comarca do Sabarà, levantado
em 1817 por Bernardo José da Gama. Vol. 2, pag. 118.
Parecer sobre a 2/ pirte da chronica dos frades menores
da provincia de Santo António do Brasil, por Fr. António
de Santa Maria Jaboatão. Vol. 2, pag. 369.
Parecer sobre o 1.** e S.** vol. da obra « Voyage pittoresque
au Brésil par J. B. Debret. Vol. 3, pag. 95.
Parecer da Gommissão especial encarregada de examinar
os ossos fosseis remettidos de Cantagallo ao Instituto por
M. Jacob Van Erwen. Vol. 7, pag. 519.
Parecer da Coramissáo especial encarregada pelo Instituto
de ajuizar do mérito das duas memorias que se offere-
ceram ao concurso do premio proposto sobre o melhor
— 799 —
plano de se escrever a historia antiga e moderna. (Acta
de 20 de Maio de 18J17.) Vol. 9. pag. 273.
Parecer da Gommissão acerca da creaçáo d'uma arca de
sigillo no grémio do Instituto. (Acta de 16 Fevereiro
. del850. )Vol. 13, pag. 133.
Parecer da Commissâo de Historia sobre o escripto de Mr.
F. Denis « Une fete brésilienne a Rouen. » Vol. 14 pag.
O Senhor D. Pedro II. ( S. M. I. ) Veja-se Resposta.
Pereira (Hyppolito José da Costa)— Memoria sobre a viagem
aos Estados-Unidos em 1798, por —y> ( 1801. ) Vol. 21,
pag. 351 .
Pereira ( Padre Joaquim José)— Memoria qae contém a
descripção problemática da longitude e latitude do sertão
da capitania geral de S. Luiz do Maranhão, que igual-
mente diz respeito ao numero das Freguezias, e ao das
almas de que consta a mesma capitania, dirigida e con-
sagrada ao [llm. Exm. Sr. D. Rodrigo de Sousa Coutinho,
Ministro e Secretario d'Estado dos Negócios da Marinha
e dominios ultramarinos, &c. Anno de 1798. Vol. 20,
pag. 165.
Pereira ( Padre Joaquim José )— Memoria sobre a extrema
fome e triste situação em que se achava o sertão da
Ribeira do Apody da capitania do Rio Grande do Norte,
da comarca da Parahyba de Pernambuco, onde se des-
crevem os meios deoccorrer a estes males futuros írc—
anno de 1798. Vol. 20, pag. 175.
Pinheiro ( Cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes ) —
Ensaio sobre os Jesuitas. Vol. 17, pag. 67.
Pinheiro (Cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes) — Breves
reflexões sobre o systema de cathequese seguido pelos
Jesuitas no Brasil. Vol. 19, pag. 379.
— 800 —
Pinheiro (Cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes)— Apon-
tamentos biographícos sobre o Visconde de S. Leopoldo.
Yol.l9. pag. 132.
Pinheiro ( Cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes ) —
Discurso proferido na occasião de dar-se a sepukura o
cadáver do Sócio Honorário Fr. Francisco de Monte
AI?eme. Vol. 21, pag. A97.
Pinheiro ( Cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes ) —
A França Ântirtica.Bosquejo Histórico do estabelecimento
•dosFrancezesno Rio de Janeiro e sua expulsão no século
XVI, e das suas novas invasões no século XVHÍ. Vol. 22
pag. 3.
Pinheiro ( Cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes ) —
Relatório dos trabalhos do Instituto Histórico e Geogra-
pbico BrasileirO; no anno de 1859, pelo I •* Secretario
interino. Vol. 22, pag. 683 (Suppl. )
Pinto ( Dr. António Pereira )— Allocução.-* Recitada na
sessão solemne do i.* de Julho del8i7, commemorativa
do passamento do Sr. D. Affonso, Primogénito de SS.
MM. II. Vol. 11. pag. 66.
Pinto ( Dr. António Pereira )— Elogio biographico do
Conselheiro António Carlos Ribeiro de Andrada Machado
e Silva. Vol. 11, pag. 206.
Pinto ( Dr. António Pereira )— Memoria sobre peniten-
ciarias, lida na sessão do Instituto Histórico de 4 de Ou-
tubro de 1856. Vol. 21, pag LM.
Pinto {Bento Teixeira )— Relação do Naufrágio que passou
Jorge de Albuquerque Coelho, vindo do Brasil no anno
de 1565. Vol. 13, pag. 279.
Pinto Bandeira ( Joaquim José ) — Noticia dá descoberta
Jo Campo de Palmas. Vol. 14, pag. 423.
Pires ( Padre António )— Carta que escreveu do Brasil, da
- 801 -
ca]>itaDÍa de Pernambuco, ao3 irmãos da companhia, de
2 de Agosto de 1551. Vol. 6, pag. 95.
Pizarro (Monsenhor)— Eiitracto das memorias sobre o Rio
de Janeiro T. 6, cap. 7.*-^ Do assento primeiro da
igreja cathedral. da sua mudança para outros lugares.
Vol. 5. pag. 443.
Plano económico e provincial para o estabelecimento do
correio desta corte para a cidade da Bahia. Vol. 7^
pag. 464.
Pontes (Manoel José Pires da Silva) — Extractos de uma
viagem feita à província do Espirito-Santo, pelo mesmo
Sr. Vol. 1, pag. 333.
Pontes (R. de S. da Silva)— Programma:— Onde appren-
deram, e quem foram os artistas que iizeram levantar
os templos dos Jesuitas em missões, e fabricaram as
estatuas que alli se acharam coliocadas?— Desenvolvido
pelo mesmo Sr. Vol. 4, pag. 65.
Pontes (R. de S. da Silva)— Programma:—Quaes os meios
de que se deve lançar mão para obter o maior numero
possível de documentos relativos à Historia e Geographia
do Brasil. Desenvolvido por.— Vol. A, pag. Ii9.
Porto-Alegre ( Manoel de Araújo ) — Memoria sobre a
antiga escola de pintura fluminense. Vol. 3, pag. 33,
suppl.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Elogio dos sócios Onados
no 6."" anno académico. Vol. 6, pag. 33, suppl.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Discurso recitado no
acto de baixar á sepultura o corpo do Secretario per-
petuo o Cónego Januário da Cunha Barbosa. (Acta de 8
deMarçodel846.) Vol. 8, pag. 145.
Porto-Alegre(ManoeideAraujo)— Discurso recitado na sessão
solemne do 1 .* do Julho de 18/i7, commeroorativa da
- 802 -
perda do Sr. D. Affonso. Primogénito de SS. MM. II.
Vol. II. pag. 10.
Porto-\legre(Maao6lde Araújo)— Elogio histórico geral dos
membros fallecidos, recitado na sessão publica de 9 de
Setembro de 1847. VoL 11, pag. 150.
Porto- Alegre (Manoel de Araújo) — Discurso recitado na
sessão publica, em 6 de Abril de 1848, para inaugua-
ração dos bustos do Cónego Januário da Cunha Barbosa,
e do Marechal Raymundo Josó d:\ Cunha Mattos, funda-
dores do Instituto. Vol. 11, pag. 219.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Discurso proferido à
beira do tumulo em que foram sepultados os restos
mortaes do proclai*o brasileiro, o senador Francisco de
Paula Sousa Mello. Vo!. 15, pag. 2/il.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Discurso do Orador do
Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, o Sr. —
proferido na sessão publica do mesmo Instituto, em 15
de Dezembro de 1852. Vol. 15, pag. 513.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Discurso recitado pelo
Orador do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro o
Sr. — no enterro do Commendador José de Paiva Ma-
galhães Cal vet, membro eOectivo do Instituto. Vol. 16».
pag. 133.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo) — Discurso recitado na
sessão publica anni versaria em 15 de Dezembro de 1854.
Vol. 17, pag. 51, suppl.
Porlo-Alegre (Manoel de Araújo)— Idem na sessão publica
anniversaria de 15 de Dezembro do 1855. Vol. 18,
pag. 33, suppl.
Porto-Alegre ( Manoel de Araújo ) — Idem na sessão
Magna em 15 de Dezembro de 1856. Vol. 19, pag. 123,
snppl.
— 803 —
Porlo-Alegre (Manoel do Araújo)— Iconographia Brasileira
Vol. 19, pag. 349.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Apontamentos sobre a
Yidae obras do Padre José Maurício Nunes Garcia.
Vol. 19, pag. 35A.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Valentim da Fonseca
e Silva. Vol. 19, pag. 369.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Francisco Pedro do
Amaral. Vol. 19, pag. 375.
Porto-Alegre (Manuel de Araújo)— Relatório do 1 / Secre-
tario o Sr. — dos trabalhos do Instituto Histórico no
anuo de 1857. Vol. 20, pag. 38. suppl.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo) — Idem — no anno de
1858. Vol. 21. pag. 505.
Porto-Alegre (Manoel de Araújo)— Discurso proferido pelo
Sr.— por occasiáo de dar-se a sepultura o cadáver do
sócio honorário Fr. Francisco de Monte Alverne. Vol. 21,
pag. 499.
Prado (Francisco Rodrigues do) — Historia dos índios ca-
valleiros, oa da nação Guaycurú, escripta no real pre-
sidio de Coimbra. Vol. 1, pag. 21.
Prazeres Maranhão (Fr. Francisco dos) — Collecção de
etymologias brasileiras. Vol. 1. pag. 69.
Prémios propostos por S. M. o Imperador. Vols. 3 e 19,
pags. 45 el5*, (suppls.)
Prémios propostos pelo Instituto Histórico. Vols. 2, 3.
4, 6e 11, pags. 628, A3. 35. Í6 e 148. (suppls).
Privilégios (Translado dos) que S. M. concedeu aos cida-
dãos da Bahia de Todos os Santos. Vol.8,pag. 612.
Projecto de uma estrada da Bahia ao Rio de Janeiro. Vol 5,
pag. 251.
Projecto de uma estrada da cidade do Desterro às Missões
102
— 804 —
doUruguay. e de outras provindencias que devera servir
de ensaio ao melboramealo da província de Santa Ca-
tharina. Vol. 7, pag. 834,
Provisão Regia do anno de 1752, para se construir uma
fortaleza no rio Branco. Vol. 4, pag. 501.
Przewodwski (André)— Communicação entre a cidade da
Bahia e a vílla do Joazeiro. Vol. 10, pag. 37i.
Quadro das distancias em léguas de vinte ao grão entre a
capital, cidades, villas, freguezias e mais povoados da
província do Amasonas; eitrabido do rebtorio do Pre-
sidente da mesma província, do anno de 1857. Vol. 20,
pag. iS86.
Quadro das forças de terra e mar no Rio de Janeiro, Santa
Catharina, Rio Grande, Minas Geraes e Praça da Colónia
em 1776. Vol. 21, pag. 181.
Quoniambabe(Chefelndío)— Retrato do— (1557). Vol. 13,
pag. 517.
Rafn (C. C.)— Memoria sobre o descobrimento d^America
no século lO.v Vol. 2, pag. 208.
aamirez(Luiz)— Carta de— (1528). Vol. 15, pag. 14.
Raposo de Almeida (Francisco Manoel) — Oblação do sócio
correspondente— recitada na sessão solemne do !.• de
Julbo de l8i7,cominemorativa do passamento do Sr. D.
AíTonso, primogénito dô SS. MM. II. Vol. A. pag. 48.
Raposo de Almeida (Francisco Manoel)— Elc^io Académico
do Eminentíssimo Sr. D. Francisco II Cardeal Patriarchi
de Lisboa. Vol. 11, pag. 198.
Raposode Almeida (Francisco Manoel)— Elogio histórico do
Marechal Raymundo José da Cunha Mattos. Vol. 11,
pag. 234.
Raposo de Almeida (Francisco Manoel)— Origem do Collegio
de Pedro II. Vol. 19, pag. 528.
— 803 —
Rebello (José Silvestre)— Programma:— Se a iniroducçâo
dos escravos no Brasil embaraça a clvilísaçio dos nossos
Indígenas.— Desenvolvido por—. Vol. 1, pag. 133.
Rebello.— Discurso sobre a palavra— Brasil, Vol. 1, pag.
286.
Rebello.— Discurso sobre a palavra t Brasil» para servir de
supplemento à Memoria lida na 1 .* sessSo publica anni-
versaria. Vol. 2, pag. 66. (suppl.)
Rebello e Silva (Thomaz da Costa Correia)— Memoria sobre
a provincia de Missões, copiada de um Ms. offerecido
ao Instituto. Vol. 2, pag. 1S3.
Regimento dado a António Cardoso de Barros, cavalieiro
fidalgo da casa de El-Rei como Provedor-mór da Fazenda
que primeiro foi ao Brasil. Vol. 18, pag. 166.
Registo do Regimento de S. A. Real, que trouxe Roque da
Costa Barreto, do conselho de S. A., General do Estado
do Brasil, a cujo cargo está o governo d'elle. Vol. 5,
pag. 288.
Reinault (Pedro Victor)— Relatório da exposição dos rios
Mucury e Todos os Santos, feito por ordem do Exm.
Governo de Minas Geraes, tendente a procurar um ponto
para degredo. Vol. 8, pag. 356.
Reis (Coronel Manoel Martins do Couto)— Memoria sobre
a fazenda de Sanla Cruz. Vol. 5, pag. ii3.
Relação dos Membros premiados pelo Instituto Histórico,
em cumprimento do programma apresentado m sessão
Publica de 14 de Dezembro de 1844. Vol. 11, pag.
147.
Relação histórica de uma occulta e grande povoação anti-
quissima sem moradores, que se descobrio no anno de
1753, nos sertões do Brasil. Vol. 1, pag. 181.
Relação de uma viagemã serra dos Órgãos. Vol. ã, pag. 7&.
- 806 —
Relação do levantamento que houve nas Minas-Geraes no
anno de 1720, governando o Conde de AssumarD.
Pedro de Almeida. Vol. 3, pag. 275.
Relação dos manuscriptos â respeito do Brasil existentes
no Archivo da Secretaria d^Estado dos Negócios Estran-
geiros. Vol. A, pag. 394.
Relação verdadeira de tudo o succedido na restauração da
Bahia de Todos os Santos, desde o dia em que partiram
as armadas de S. M., até o em que em a dita cidade
foram arvorados os seus estandartes. Vol. 5, pag. 476.
Relação abbreviada da republica que os religiosos Jesuitas
das provincias de Portugal e Hespanha estabeleceram
nos domínios Ultramarinos das duas Monarchias, e
da guerra que n'elles tem movido e sustentado contra
os exércitos hespanhoes e portuguezes. Vol. 4. pag.
265.
Relação da acclamação que se fez na capitania do Rio de
Janeiro do estado do Brasil, e nas mais do Sul, ao Sr.
Rei D. João IV por verdadeiro Rei e Senhor de seu.
Reino de Portugal. Vol. 5, pag. 319.
Relação das mattas da capitania da Parahyba. Vol. 6,
pag. 331.
Relação das mattas das Alagoas, que tem principio no lago
do Pescoço, e de todas as que ficam ao Norte doesta até
ao Rio da Ipojuca, distante 10 léguas de Pernambuco.
Vol. 7, pag. 507.
Relation de la victoria que los Portugueses de Pernambuco
alcançaran de los de la compania dei Brazil. em los Ga-
rerapes, a 19 de Febrero de 1649. Vol. 22, pag. 331.
Relatório sobre a inscripção da Gavia mandada examinar
pelo Instituto. Vol. 1, pag. 86.
Rendon ( José Arouche de Toledo)— Memoria sobre as
— 807 -
aldèas de índios da província de S. Paulo, segundo as
observações feitas no anno de 1798. Vol. A, pag. 295.
Representação dirigida em 1707 a El-Rei D. João V., pelos
portuguezes residentes no Rio de Janeiro, acerca do
procedimento que contra elles tinham os filhos da terra
nas eleições do Senado da Gamara. Vol. 10, pag. 108.
Requerimento ( copia do ) que fez o Bispo de Marianna
com data de 13 de Abril de 1752. Vol. 6, pag. 202.
Resposta que S. M. I. se dignou darão discurso do Excel,
lentíssimo Presidente do Instituto, no acto de assistir
o mesmo Augusto Senhor à sessão do Instituto. Vol. 12,
pag. 551.
Resposta (Fac-simile da)— Toda escripta do punho impe-
rial entregue por S. M. No fim do mesmo Vol.
Resumo do itinerário de uma viagem exploradora pelos
rios Verde. Itararé, Parapanema, e seus affluentes. pelo
Paraná, Iraby e sertões adjacentes emprehendida por
ordem do Exm. Sr. Barão de Antonina. Vol. 9, pag. 17.
Ribeiro ( Duarte da Ponte ) — Parecer sobre a memoria
histórica acerca da questão de limites entre o Brasil
e Montevideo, do Sr. J. J. Machado de Oliveira. Vol. 16*
pag. 425.
Ribeiro (Duarte da Ponte)— Annexos ao Parecer mencio-
nado. Vol. 16, pag. 452.
Ribeiro (Duarte da Ponte)— Defeza do Parecer sobre a me-
moria histórica do Sr. Machado de Oliveira. Vol. 16,
pag. 506.
Ribeiro (Duarte da Ponte)— Appensos. Vol. 16, pags. 516
8 529,
Ribeiro (Major Francisco de Paula)— Memoria sobre as na-
ções gentias que habitam o continente do Maranhão—
Escripta em 1819 pelo —Vol. 3, pags. 184, 297 e 894.
— 808 —
Ribeiro (Major Francisco de Paula)— Roteiro da viagem que
fet ás fronteiras da capitania do Maranhão e da de Goyaz
iioannode 1815. Vol. 10, pag. 5.
Ribeiro (Major Francisco de Paula) — Descripção do terri-
tório de Pastos Bons nos sertões do Maranhão, proprie-
dades dos seus terrenos, suas producções, caracter de
seus habitantes, colonos e estado actual de seus estabe-
lecimentos. Yol. 12» pag. àl.
Ribeiro (Santiago Nunes) -^Canto elegíaco dedicado a S. M-
A Imperatriz. Vol. 11» pag. 18.
Rifara (Joaquim Heleodoro da Cunha)— Artigo acerca dos
Indígenas da costa do Brasil (extrahido do Panorama.
Vol. 7. pag. sai.
Roscio (Francisco João)— Breve noticia dos sete povos das
Missões Guaranis, chamados commummente Tapes Ori-
entaes ao Uruguay. Vol. 21. pag. 239.
Roteiro da viagem do Desembargador Henrique da Silva, e
do Major de engenheiros Manoel Cardoso Saldanha, acerca
dos montes altos para o estabelecimento da fabrica de
salitre. &c. \o\ 5, pag. 4A7.
Roteiro corographico da viagem que se costuma fazer do
Forte do Príncipe da Beira à Villa-Bella, capital de Matto-
Grosso.— Anno de 1781. Vol. 20, pag. 390.
Rubim (Braz da Costa) — Noticia Chronologíca dos factos
mais notáveis da historia da província do Espirito Santo,
desde o seu descobrimento até a nomeação do governo
provisório. Vol. 19, pag. 336.
Sà (ManoclJosé Maria da Costa e)— Relatório sobre as obras
do Dr. Ferreira, apresentado à Academia real das scien-
ciasde Lisboa. Vol. 2, pag. 510.
Saldanha (José de)— Diário resumido do reconhecimento
— 809 —
(los campos de novo descobertos sobre a serra geral nas
cabeceiras do rio Pardo. Vol. 3, pag. 64.
Sampaio (António Botelho de)— Descoberta dos, campos de
Guarapuava, Vol. 18, pag. 252.
Sampaio (Bacharel Francisco Xavier Ribeiro de)— Extncto
da viagem, que em visita e correição das povoações da
capitania de S. José do Rio Negro fez o mesmo Bacharel»
como Ouvidor e Intendente Geral, dos annos de 177i e
1775. Vol. 1, pag. 97.
Sampaio (Bacharel Francisco Xavier Ribeiro de)— Relação
geographica histórica do Rio Branco da America Pprtu-
gueza. Vol. 13, pag. 200.
Santarém (Visconde de)— Carta acerca detim memorandum
publicado no 2."" vol. da 2.* série pag. 436, sobre questões
de limites do Brasil. Vol. 12, pag. 414.
Sapucahy (Visconde de )— Cândido José de Araújo Vianna,
depois— . Discurso do Exm. Sr. Vice-Presidenle do
Instituto Histórico, na abertura da 5.* sessão publica
anniversaría do mesmo Instituto em 10 de Dezembro de
1843. Vol. 5, pag. 2. Suppl.
Sapucahy ( Visconde de )— Cândido José de Araújo Vianna
depois —.Discurso do Exm. Sr. Vice-Presidentg na
sessão publica annivcrsasia de l& de Dezembro de 184i.
Vol. 5, pag. 2. Suppl.
Sapucahy ( Visconde de ) — . Discurso recitado na sessão
solemne em o 1.* de Julho de 18A7, para commemorar
a saudade que deixa ao Instituto, o seu Presidente Ho-
norário, e Senhor D. Affonso, Primogénito de SS. MM. II.
Vol. 11, pag. 8.
Sapucahy ( Visconde de)— Discurso recitado na abertura
da sessão publica anui versaria em 9 de Setembro de 1847.
Vol. 11, pag. 87.
— 810 -
Sapacahy ( Visconde de)— Discurso recitado na sessão
publica em 6 de Abril de 1848, para a inauguração dos
bustos do Cónego Januário da Cunha Barbosa, e do
Marechal Raymundo José da Cunha Mattos, Fundadores
do Instituto. Vol. 11, pag. 216.
Sapucahy ( Visconde de )— Discurso dirigido a S. M. o
Inaperador, na occasiáo de assistir o mesmo Augusto
Senhor a sessão do Institutoeml5 de Dezembro de 1849.
Vol. 12. pag. 550.
Sapucahy (Visconde de) —Discurso na sessão publica anni ver-
saria em 15 de Dezembro de 1852. Vol. 15, pag. 477.
Sapucahy (Visconde de)— Discurso na sessão publica anni-
versaria em 15 de Dezembro de 1853. Vol. 16, pag. 561.
Sapucahy ( Visconde de )— Discurso na sessão publica
anniversaria em 15 de Dezembro de 185í. Vol. 17.
pag. 1. Suppl.
Sapucahy ( Visconde de ) — Discurso na sessão publica
anniversaria em 15 de Dezembro de 1855. Vol. 18 pag.
1. Suppl.
Sapucahy ( Visconde de ) — Discurso na sessão publica
anniversaria em 15 de Dezembro de 1856. Vol 19, pag.
88. Suppl.
Sapucahy ( Visconde de ) — Discurso na sessão publica
anniversaria em 15 de Dezembro de 1857, Vol. 20 pag.
35. Suppl.
Sapucahy ( Visconde de )— Discurso na sessão publica an-
niversaria em lõde Dezembro de 1858. Vol. 21, pag. 503.
Saraiva ( Malheus ) — Carta do mesmo abbade Diogo Bar-
bosa Machado, em 17A2. Vol. 6, pag. 357.
Segurado (Dr. Rufino Theolonio) — Viagem de Goyaz ao
Pará em 1846-1847. Vol. 10, pag. 178.
- 811 —
Sentença proferida contra os réos implicados na conspi-
ração de Minas-Geraos, cm 1788. Vol. 8, pag. 311.
Sequeira (Joaquim da Costi)— Compendio histórico chrono-
logico das noticias de Guyabà. repartição da capitania de
Matto-Grosso, desde o principio do anno de 1778 até
o fim do anno de 1817. Vol. 13, pag. 5.
Serqueira (Thomaz José Pinto) — Elogio histórico dos
membros fallecidos no 3."* anno social. Vol. 3. pag. 2A.
sgppl.
Serra (Ricardo Franco de Almeida)— Memoria ou infor-
mação dada ao Governo sobre a capitania de Matto-Grosso
em 31 de Janeiro de 1800. Vol. 2. pag. 19.
Serra (Ricardo Franco de Almeida)— Extracto da descripção
geographica da província de Matto-Grosso, feita em 1797.
Vol. 6, pag. 156.
Serra (Ricardo Franco de Almeida) —Parecer sobre o aldea-
mento dos índios Uaicurús e Guanàs. com a descripção
de seus usos, religião, estabilidade e costumes. Vols. 7
e 13, pags. 20A e 3/i8.
Serra (Ri;ardo Franco de Almeida) — Navegação do Rio
Tapajós para o Parà,escripta em 1799. sendo Governador
Caetano Pinto de Miranda Montenegro, Vol. 9, pag. 1.
Serra (Ricardo Franco de Almeida) — Reflexões sobre a
capitania de Matto-Grosso, oíTerecidas ao Governador e
Capitão general da mesma capitania João de Albuquerque
de Mello Pereira Cáceres, — pelos Tenentes-Coroneis
Joaquim José Ferreira e— . Vol. 12, pag. 377.
Serra (Ricardo Franco de Almeida)— Diário da diligencia
do reconhecimento do Paraguay, desde o lugar do marco
da boca do Jaurú, até abaixo do presidio de nova
Coimbra, que comprehende a configuração das lagoas
Caiba, Uberaba, Mandioré, e das serras do Paraguay, c
103
- 812 -
ígaalnicnle o reconhecimento do rio Cuyabá nlê a villa
deste nome, e delia por S. Pedro d'EI-Rci ate à villa
Bella— (no anno de 1786). Vol. 20, pag. 293.
Sessão publica annirersaria do Instituto Histórico e Geo-
graphico Brasileiro no dia 3 de Novembro de 1838 (Celc"
braçio di l.*). Vol. 1, pag. 253.
Sessão idem no dia 27 de Novembro de 18 lO. Vol. 2,
pag. 1, suppl.
Sessão idem em 30 de Novembro de 1851. Vol. 3. pag. 1,
suppl.
Sessão idem cm 27 de Novembro de 1852. Vol. i, pag. 1,
suppl.
Sessão idem de I8ií. Vol. 6, pag. 1, suppl.
Sessão idem em 9 de Setembro de 18í7. Vol. 11, pag. 85.
Sessão publica no dia 6 de Abril de 18-íS. para inaugunção
dos bustos do Ck)Qego Januário da Cunha B;irbo8a» e do
Marechal Raymundo José da Cunha Mattos, fundad,ores
do Instituto. Vol. 11, pag 215.
Sessão publica annivcrsaria do Instituto cm 15 de Dezembro
de 1852. Vol. 13. pag. 477.
Sessão publica anni versaria do Intitulo cm 15 de Dezembro
de 1853. Vol, 16. png. 561.
Sessão publica anniversaria do Instituto em 15 de Dezoíiíbw
de 18.j6. Vol. 87, pag. 19. Suppl.
Sigaud ( Dr. J. h\ )— Elogio histórico do Secretario per-
petuo Cónego Januário da Cunha Barbosa. Vol. 11, pag.
185.
Silva ( Joio Caetano da )— Digressão feita por — , em 1817
(»ara descobrir a nova navegação entre a capitania de
Goyaz e a de S. Paulo. Vol. 2, pag. 312.
Silva (Dr. Joa(|uim Caetano da)— Memoria subrc os limiles
do Brasil com a Cuyana Fianceza, conforme o sentido
— &13 —
exa.ílo tio art. 8 »
ik> Traiaio.
pag. 421.
de Utricht VoL t3,
Silva ( I)i\ Joaq lim Caelaao da )— Apemlice ao parecer do
Sr. Diôg ) Soares da Silva de Bivar s:)bre o Índice chro-
nologicodo Sr. Agostmho Marques Perdigão Malheiros.
Vol. 1.;. pag. 87.
Silva (Joaquijii Norberto deSousn)—I&iratadedicaiia a S. M.
a Imperatriz, recitada na sessão solemne do !.• de Julho
de 1847. commem-irativa do passamento do Sr. D.
Affonso. Primogénito dcSS, MM. 11, Vol. 11, pag. 38.
Silva (JoaquinvNorberto de Sousa)— Cântico idem Vol. 11,
pag. 41.
Silva (Joaquim Norberto de Sousa) —Visão idem. VòL ti/
pag. 68.
Silva (Joaqiiim Norberto de Sousa)— Januário da. Cunha;
Barbosa. Canto. inauguaral, Vol. 11, pag. 2G6.
Silva (Joaquim Norberto de Sousa)— O descobrimento do
Brasil por Pedro Alvares Cabra', foi devido a um mero
acaso, ou tem ellc alguns indicios para isso? (Pro-
grammadosen vol vido p?lo Sr;)— Vol. 15, pagi 125.
Silva (Joaquim Norberto di3 Sou^a) — Memoria histórica
documentada das aklèas de Itt'^lios da proviíiciado Rio.
de Janeiro —Laureada na sessão magna de 1 5de Dezembro
de 18&á, com o premio ImperiaU Vol. 17, pag, lOft.
Silva (Joaquim Norberto de Sousa)— Uefutaçáo ás reflexões
do digno membro o Srv António Gcmsalves Dias, lida:,
n.s sessões de 13 de Setembro, lide Outubro, 24 de
Novembro c 7 do Dezembro de 18S4. na Augusta Pre-
seura de S. M. I. Vol. 18, pag. 335.
Silva (Joaquim Norberto de Sousa)— Discurso proferido
em. nome do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro
ao dar-se a sepultura o cadáver do sócio honorário o Sr.
Manoel Alves Branco, Visconde de Caravellas. Yol. 18,
pag. 456.
Silva (Joaqaim Norberto de Soasa) — Discurso proferido
em nome do Instituto Histórico e Geographico Brasi-
leiro, ao dar-se a sepultura o cadiver do Vioe-Presidente
o Sr. Aurelino de Sousa e Oliveira Coutinho, Visconde
deSepetiba. Vol, 18, pag. 438.
Silva (Joaquim Norberto da Sousa) — Extractos do ensaio
politico c histórico chronologico de Fr. Manoel Joa-
quim da Mãi dos Homens, procedidos de uma noticia
sobre o autor e sua obra, pelo sócio effectivo— -Vol. 19,
pag. 477.
Silva (Manoel de Campos) — Descripção do rio Paraná.
Vol. 2, pag. 304.
Silva (Tenente -Coronel Vicente Ayres da)— Itinerário pelo
rio do Somno acima, desde a sua confluência no To-
cantins, Vol. 13. pag. 438.
Soares de Sousa (Gabriel) — Noticia dos Tupinambàs— r
um resumo dos cap. U7 o segg, da 2.* parle da obra
mencionada. Vol. 1, pag. 190.
Soares Sousa (Gabriel)— Tratado descriptiva do Brasil em
1587, commenlado por F. A. de Varnhagen. Vol. 14,
pags. 1 e 4á2.
Sdcíos admiltidos ao grémio do Instituto Histórico, desde
16 de Setembro de 1847 até 10 de Dezembro de 1852.
Vol. 15, pag. 577.
Sócios admiltidos em 18.^3 Vol.
16,
pag. 630.
Sócios a:lmittidos em 185i »
17.
> 100,
suppl.
Sócios admitlidcs em 1855 »
18,
» 91,
suppl.
Sócios admiltidos em 1856 »
19.
. 172,
suppl.
Sócios admiltidos em 1857 »
20.
» 118,
suppl.
Sócios admiltidos cm 1859 »
22,
» 763.
suppl.
- 815 -
Sjuthey (Roberto)— Ci>nspiraçáo em Minas-Geraes noanno
de 1788 pira a Independência do Brasil. Aitigo tra-
duzido da historia do Brasil de — e illastrado de
notas pelo Conselheiro José de Rezende Costa. Vol. 8,
pag. 297.
Sjusa (Cónego André Fernandes de) — Noticias geogn-
phicas da capitania do Rio Negro no grande rio Ama-
zonas, exornada com varias noticias históricas do paiz,
do seu governo civil e politico» e de outras cousas dignas
de attenção. Vol. 10, pag. ili.
Sousa (Padre Luiz António da Silva)-'Memoria sobre o
descobrimento, governo, população o cousas mais notá-
veis da capitania de Goyaz. E' reimpressão da que se
publicou na 3/ subscripçáo do Patriota do Rio de Ja-
neiro, Julho e Agosto de 181A. Vol. 12, pag. A2d.
Sousa (Luiz de Vasconcellos c)— OíTicio do mesmo Vice-
Rei com a copia da relação instructiva |e circum-
stanciada para ser entregue ao seu successor. Vol. 4,
pags.2 el2».
Teixeira (Bento) —Relação do naufrágio da nào Santo An*
tonio. Vol. 13, pig. 279.
Teixeira ( Fr. Domingos ) — Extracto da vida de Gomes
Freire de Andrade. Capitão-general do iMaranháo. Pará
e riodas Amazonas no Estado do Brasil. Vol. 3. pag. ilO.
Teixeira ( Dr. José João )— Extracto da memoria manus-
oripta do mesmo—, pelo Sr. Manoel José Pires da Silva
Pontes. Vol. 6, pag, 28í..
Termo de rivali.iaçáo de posse, ou sendo neceçFario, de
nova posse, tomaJa por parte de S. M., do logar queató
agora se chama— Fecho dos Morros — , sobre as margens
do Rio Paraguay, noanno de 1775. Vol. 20, pag, 330.
Thesouro descoberto no rio Amazonas ( principio da 2/
— 8fC -
pulo ) Vol. á. pig^. 328 e 415.. Vol. 3. 'p.igs. 15S,.
272 e 362.
Toynr (Manuel Vieira do Albiniierqae)— Informnç:la do
mesmo sobre a na regara o d i rio Doce. VoL 1, pap[.
151).
Tmbailio oderecido porá servir de titulo do admissão ile
socicís, na £orm:i do arL G.* dosEstitiitos. Vol. 18,
pig. 90.
Trabaíhos dos sócios— Memoria*» pintos dosonvolvidos e
outros traballios d)s sócios do Instituto desde a sessão
de IR de Setoml>ro de 1847, ale 10 de Dezembro do.
1852. VoK 15, pag. S45.
Idem em 1833. Vol. 16. pig. 6Sa.
Idem em. 185/i. Vol. 17, iwg. 87, suppl.
Tuggia(Fr. RapSiael) — Mappis dos In lios Cierenles e-Cha-
vantes, na nova povoa^áo do Tlieresa Chrislina no rio
Tocantins* e dos índios Cliaráos da aidèa de Pedro
Alíonso nas margens do mesmo rio. ao norte da pro-
vinda de Goyaz, pelo Missionário Apostólico Capuchinho.
Vol. 19. pag. 119.
Van-Lc;le (Círios)— Geologia da provincia de Santa Catha-
rina— Artigo oxtraliido da memoria histórica, cstatislicít
> o commercial. do mesmo Sr. sobre a provincia de Sant\
Cilharina. ol. 7, pags. 87 c 178.
Variedades. Vol. 5, pag. 383.
Varnhagen (Fran^risco Adolpho de)— Sobre a necessidade
d ) estudo c ensino d:is linguas indigenas no Brasil. Vol.
3. pag. 53.
Varnhagen — Cornsponilcncia acerca dos habitantes do
Brasil condemna los p.do S:nito Oilicio de Lisboa, desde
oannodíí 1711 ató 17fi7. Vol. O, pag. 322.
VarnhaíTen— Juízo subracttido aj Instilut) acerca do com-
- 817 —
pendioda historia do Brasil pelo Sr. J. Ignacio de Abreu
Lim;]. Vol. 6, p,ig. CO.
Varnhagen— Additaincnto —vide— Exccrplos dcc. Vul. 7,
p;ig. 51 e427.
Varnhagem— O Caranuirú perante a Historia.— Dissertoçáo
apresentada em concurço aberto pelo Instituto c pre-
miada, sendo o premio renunciado pelo autor. Vol. 10.
pag. Iá9.
Varnhagen— r^rta em additamento ao Juizo acerca do
compendio da historia do Brasil do Sr. J. J. de Abreu
Lima, escriptaem Sevilhíiem 18.í6. Vol. 13, pig. âOlí.
Varnhagen— Carla sobre cthnographia indigena, línguas,
emigrações e archeologia. padrões de mármore dos
primeiros descobridores, iSrc. Vols. 12 e21, pag. 8C6
e 431.
Varnhagen— Commentarios á obra de Gabriel Soares. Vul.
l/l. pag. 367.
Varnhagen— Gabriel Soares de Sousa. Memoria. Vol. 21,
pag. 4i5.
Vasconcellos e Sousa (Luiz de) — Vide Sousa.
Vianna {(>andido José de Araújo) — Vide Snpucahy (Vis-
conde de).
Vianna (Dr. João António de Sampaio) — Breve noticia da
primeira planta de café que houve na comarca de Cara-
relias ao sul da i>rovincia da Bahia, escripta em 18i2-
Vol. õ, pig. 73.
Vieira (Padre António) — Annua da missáo dos mares
verdes, — do anno de lG2.i — 1625, mand:ida a Roma
pelo—. Vol. 5, pag. 335.
Vieira (Padre António) -- Annua da missão da capitania do
Espirito Sanlo, do anno de 1624 — 1623. Vol. 5, pag.
3:W.
- 818 -
Vieira (Pa lie António ) — Copia de uma carta para El*Rei
Nosso Sonhor, sobre as misesós do Ceará, do Mara-
nhSo, d') Vài% e do grande rio das Amazonas. Vol. 4,
pag. 111.
Villa Real (Thomaz de Sousa. — Viagem de — pelos rios
Tocantins, Araguaya, e Vermelho : acompanhada de do-
cumentos ofliciaes relativos ã mesma navegação. Vol. 11,
pag. ^01.
Villegagnon (Nicolào)— Carla (traducçáo da— que— ) es-
creveu da America fRio de Janeiro) a Calvino. Vol. 2,
pag. 198.
Vocabulário da língua Bugre. — Vol. 15. pag. 60.
Vocabulário dos índios Cayuar — Vol. 19, pag. HS.
Warden — Investigações sobre as povoações primitivas da
America, etc. Vol. 5. pag. 187.
BIOGBAPHIAS.
D. Affonsc (S. A. o Príncipe Imperial) — Composições de
differentes sócios cm prosa c verso, por occasião de sua
morte. (4/ tomo da 2.' serie) — Vol. 11, pags. 8 a 84.
Alexandre Rodrigues Ferreira, por R. de S. S. Pontes. Vol.
2. pag. 499.
António Josc da Silva, por Varnhagen. Vol. 9, pag. HA.
António de Moraes e Silva, por Varnhagen. Vol. 15, pag.
2i4.
Doutor Padre António Pereira de Sousa Caldas. Vol. 2,
pag. 126,
António Vieira (Padre) — Epitome da vida do — por Ro-
quete. Vol. í, pag. 2C7.
— 819 —
Arnrigboya ( depois Martim AíTonso ) pelo Cónego J. da
Cunha Barbosa. Vol. 4, pag. 207.
Conselheiro Balthazar da Silva Lisboa, pelo Exm. Sr. Bento
da Silva Lisboa ( Barão de Cayrú ) Vol. 2, pag. 383.
Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, pelo Cónego Januário
da Cunha Barbosa. Vol. 2, pag. 253.
Bento Teixeira Pinto. Vol. 13, pags. ?7í e402.
Bernardo Vieira Ravasco. Vol. 4, pag. 377.
Caravellas— Vide Marquez de )—
Cayrú —Vide José da Silva Lisboa.
Christovão Colombo — Traduzida pelo Exm. Bispo do Pará
D. José Affonso de Moraes. Vol. 7, pag. 3.
Fr. Chistovão da Madre de Deos Luz, pelo Abbadc Barbosa
Vol. 13, pag. 12.j.
D. Clara Felippa Camarão, pelo Sr. Joaquim Norberto de
Sousa e Silva. Vol. 10, pag. 387.
Cláudio Manoel da Costa, pelo Sr. J. Manoel P. da Silva.
Vol. 12, pag. 5i9.
Clemente Pereira do Azeredo Coutinho e Mello, pelo Cónego
J. da Cunha Barbosa. Vol. 4, pag. 88.
Diogo Arouche de Moraes Lara, pelo Sr. José Joaquim Ma-
chado de Oliveira. Vol. 7, pag. 3:i6.
Domingos Caldas Barbosa ( Beneficiado ) pelo Cónego J. da
C. Barbosa. Vol. /i,ag. 210.
Domingos Caldas Barbosa. Outra biographia(com o retrato)
p:)r F. A. de Varnhagen. ol. lí, pag. 4i9.
Eduardo Olimpio Machado, pelo Sr. Francisco Sotero dos
Reis. Vol. 19, pag. 607.
Eusébio de Mattos, por F. A. de Varnhagen. Vol. 8, pag.
5Í0.
Francisco Agostinho Gomes, peio Sr. Bivar. Vol. 4, pag, 28
Suppl.
lOi
— 820 —
Francisco de Brito Freire, por Diogo Barbosa Machado.
Vol. 6, pag. 369.
Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, por F. A.
de Varnhagen. Vol. 2, pag. 377.
Dr. Francisco de Mello Franco. Vol. 5, pag. 353.
Fr. Francisco de Santa Theresa de Jesus Sampaio (Do Os-
tensor Brasileiro). Vol. 7, pag. 260.
Fr. Francisco deS. Carlos, pelo Sr. J. M. Pereira da Silva.
Vol. 10, pag. 525.
Padre Francisco de Sousa, pelo Abbadc Barbosa. Vol. 10,
pag. 255.
Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, copiada dp um Ms.
do Porto. Vol. 7, pag. 405.
Fr. Francisco Xavier de Santa Theresa, por Diogo Barbosa.
Vol. 5. pag. 80.
Doutor Gaspar Gonçalves de Araújo. Vol. 5, pag. 349.
Cónego Gaspar Ribeiro Pereira (das Memorias de Pizarro).
Vol. 5, pag. 494.
Gregório de Mattos, pelo Cónego J. da Cunha Barbosa.
Vol. 3, pag. 333.
Conselheiro Henrique de Walerstein, pelo Cónego Januário
da Cunha Barbosa. Vol. 6, pag. ili.
Brigadeiro Ignacio de Andrade Souto Maior Uendon, pelo
Cónego J. da Cunha Barbosa. Vol. õ, pag. 227.
Ignacio José oWlvarenga Peixoto. Vols. 12c13;pags.
400 e 513.
Fr. Ignacio Ramos, pelo AbbaJe Barbosa. Vol. 13, pag.
126.
João Baptista Vieira Godinho— -Copiada da Minerva n. 15.
Vol. 6, pag. 492.
João de Brito e Lima, por F. A. de Varnhagen. Vol. 10,
pag. 116.
— 821 —
Jojo FeraanJes Vieira (o Castriolo Lusitano): cscriptapar
o Panorama, por F. A. de Varnhagen. Vol. 5, pag. 82.
João Pereira liamos de Ascredo Coutinho, pelo Cónego J.
da Cunlia Barbosa. Vol. 2, pag. 118.
Joaquim Francisco do Livramento, pelo Sr. Padre Joaquim
Gomes de Oliveira Paiva. Vol. 8, pag. 391.
Jorge de Albuquerque Coelho, pelo Abbade Barbosa. |Vol.
5, pag. 79.
O Jesuita Josií de Anchieta, pelo Sr. Accioli. Vol. 7,
pag. 551.
Conselheiro José António Lisboa, pelo Conselheiro Barão
de Cayrú. Vol. 15, pag. HG.
Tenente General José Arouche de Toledo Rendon, pelo Sr.
Dr. Manoel Joaquim do Amaral Grugel. Vol. 5, pag.
àdí.
José Basilio da Gama. Vol. 1, pag. 139.
José Bonifácio de Andrada e Silva, — Elogio histórico pelo
Sr. Dr. Emilio Joaquim da Silva Maia. Vol.S, pag. IIC.
José Borges de Barros, polo Abbade Barbosa. Vol. 7, pag.
357.
José Eloy Pessoa, pelo Sr. Ignacio Accioli de Cerqueira c
Silva. Vol. /i. pag. 91.
D. José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho. Vols. 1, e7,
pags.337 c 106.
D. José Joaquim Justiniano Mcscarenhas Castello Branco
(das Memorias de M. Pizarro). Vol. 4, pag. 368.
José Monteiro de Noronha, pelo Cónego Januário da Cunha
Barbo.a. Vol. 2, pag. 252.
José de Sá B:ttancourt Accioli, pelo Sr. J. Accioli de Cer-
queira e Silva. Vol. G, pag. 107.
Fr. José deSmlaRit^Djrão, por F. A. de Varnhagen. Vol.
8, pag. Í76.
/
/
- 822 ~
Josú dl Silva Lisboa. Vi>con:le <le Cayrií—oscripla por seu
filho o Conselliciru BlmiIo da Silva Lisboa (Barão de
Cayrú). Vol. 1. pag. 227.
Monserdior Josii deSjusa Azuved ) Pizarro e Araújo. Vol. 1,
pag. 3/iO.
Coiieg.) J JSi) de Sousa Marmelo— Copiada das Memorias de
Pizarro. Vol. 6. pag. 4í)5.
Junqueira Freire— pelo Sr. Dr. João Manoel Poreira da
Silva. Vol. 19. pag. 425.
Luiz de Niomeyer Bellegarde (artigo ne.:rologico) Vul. 1.
pag. 12-í.
Manoel Botelho d.3 Oliveira, por F. A. de Varn-ingcri.
Vol. í), pag. 1-2Í.
Manoel Dias— o llomano. Vol. 11, pag. JOC.
Brigadeiro Manoel Ferreira de Ara-ijo Guimarães, pelo Sr.
António Joaquim Damásio. Vol. 6. pag. 362.
Dr. Manoel Ferreira da Camará Uittancourt e Sá. pelo Sr.
Dr. J. F. Sigaud. Vol. 4, pig. 513.
Dr. Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, polo Cónego J. da
C. Barbosa. Vol. 3, pag. 338.
Manoel da Nóbrega (Jesuita), p;ílo Sr. Accioli. Vol. 7, pag.
4C6.
Fr. Manoel de Santa Maria Itaparica, por F. A. dj Var-
nha.Ljen. Vul. IO, pag. 2*0.
D. Mu*ia Úrsula de Abre.i Lenr.astre, pjlo Sr. J, Nor!)orlo
de Sou<a e Silva. Vol. 3, pag. 2iõ.
Manjuííz de Caravellas, J-jsé Joaquim Carneiro de Campos,
pelo Cónego J. di Cunha BuIjosi. Vol. 3. pag. 431.
Marquez de Paranag.iá, pelo Sr. C')nsellieiru C:in:Iido Ba-
ptista de Oliveira. Vul. 9, [»ag. 3)8.
Marlim AlTonso de Sousa, por V. A. de Varnhagen. Vols. 5
e G, p:ig<.á32e 118.
- 823 -
Pc Iro Alvares Cabral. Yo. 5, pag. 490.
Pêro Lopes de Sousa, por F. A. de Varnhagen. Vols. 5 c
6, pags. 352 e 118.
D. Romualdo de Sousa Coelho, Bispo do Pará» por A. L.
Monteiro Baena. Vol. 3, pag. A2:).
D. Uoza Maria de Siqueira, pelo Sr. Joaquim Norberto de
Sousa e Silva. Vol. 3, pag. 222.
Salvador Corrêa de Sà e Benevides, por F. A. do Varnhagen.
Vol. 3, pag. 100.
Complemento. Vol. 5, png. 22i.
Sebastião da Rocha Pita, pelo Sr. Joáo Manotl Pereira <Li
Silva. Vol. 12. pag. 258.
Thomaz António Gonzaga, por F. k. do Varnhagen. Vols.
12 e 13, pag. 120 e 405.
Vicente Coelho de Seabra, por F. A. de Varnhagen. Vol. 9,
pag. 261.
Visconde de Cayrú— Vide José da Silva Lisboa.
Visconde de Pelotas (Patrício José Corrêa da Camará).
Vol. 9, pag. 555.
Visconde de S. Leopoldo— Apontamentos biographicos
sobre o— pelo Cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes
Pinheiro Vol. 19, pag. 132.